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GEOMORFOLOGIA CASSETI Valter Geomorfologia Sl 2005 Fonte httpsdocsufprbrsantosGeomorfologiaGeologia GeomorfologiaValterCassetipdf Acesso 15022023 Apresentação No domínio da matéria nada é criado do nada e na vida não existe a geração espontânea também no domínio da mente não há idéia cuja existência não se deva a idéias antecedentes numa relação semelhante a pai e filho Assim nossos processos mentais ao serem conduzidos em sua maior parte ao exterior da consciência será difícil descobrir a linhagem das idéias GK Gilbert 1895 in The Origin of Hypotheses O relevo terrestre assume expressão como recurso ou suporte da vida palco do desenvolver da história no dizer de Emmanuel De Martonne 1964 Caracterizase como potencial natural que ao ser apropriado pelo homem adquire significado ideológico tanto pelo caráter geopolítico como pela condição externalizada na abordagem positivista Sun Tzu há mais de 2500 anos quando escreveu A Arte da Guerra destinou capítulo específico sobre terreno atribuindo ao relevo importância estratégica fundamental a formação natural da região é o melhor aliado do soldado se você conhece o inimigo e a si mesmo sua vitória não será posta em dúvida se você conhece o céu e a terra pode tornála completa Também Jean Tricart em Levolution des Versants 1957 ressalta o significado das pesquisas sobre os aplainamentos durante as duas grandes guerras mundiais dada a importância do relevo enquanto estratégia bélica No caso específico os aplainamentos assumiam importância para a construção de campos de pouso O conceito medieval de relevo contempla a noção de acidente no sentido de revanche da natureza considerando as conseqüências de uma apropriação destituída e medidas mitigadoras quanto a eventuais impactos enquanto a noção de altimetria referese ao critério de demarcação das fronteiras territoriais Moreira1994 Fazse aqui a necessária ressalva de que mesmo a superfície relativamente plana excluída da noção de relevo na concepção popular é uma forma que representa determinado compartimento O relevo no contexto ideológico da natureza pode constituir argumento ou substrato do evento do azar ao separar seus processos intrínsecos em relação às atividades humanas justificando a ocorrência dos desastres como ato de Deus Da mesma forma quando os acidentes naturais numa lógica malthusiana são vistos como argumento de triagem ou controle populacional positivo desconsiderase a apropriação diferencial a exemplo da ocupação de áreas de risco diretamente relacionada às condições socioeconômicas A preocupação com as relações processuais responsáveis pela evolução do relevo cada vez mais ganha destaque ao se constituir em importante subsídio ao ordenamento territorial comprovado através de estudos relativos aos riscos urbanos ou de natureza geoambiental Neste sentido destacamse os trabalhos relacionados às formações superficiais1 que inserem a geomorfologia num contexto multidisciplinar aumentando sua crescente tendência para se colocar mais próxima às ciências ambientais das quais eventualmente se afastou Barbosa 1983 Para se entender o relevo na atualidade é imprescindível compreender o seu processo evolutivo em seus diferentes momentos epistemológicos que contribuíram para a sistematização do conhecimento geomorfológico Na presente abordagem o relevo é entendido como resultado das forças antagônicas sintetizadas pelas atividades tectônicas e estruturais e mecanismos morfoclimáticos ao longo do tempo geológico observando que cada momento do relevo constitui um fim em si Cholley 1950 Com este trabalho pretendese oferecer alguns subsídios introdutórios de geomorfologia procurando destacar as relações processuais como fatores intrínsecos à elaboração do relevo Na introdução considerase a natureza da geomorfologia e sua relação com a geografia onde academicamente se alojou ao longo do tempo Apresentase uma síntese evolutiva com respectivos sistemas de referência Os três capítulos seguintes constituem o núcleo estrutural da geomorfologia levando em conta os níveis de abordagem propostos por AbSáber 1969 a compartimentação topográfica a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem Os demais capítulos Cartografia geomorfológica Subsídios da geomorfologia ao estudo integrado da paisagem e A pesquisa geomorfológica têm por objetivo evidenciar alguns recursos ou aplicações voltadas ao ordenamento espacial como estudo da paisagem Assim apresentamse considerações sobre a cartografia geomorfológica os subsídios da geomorfologia para o estudo integrado da paisagem e a pesquisa geomorfológica numa perspectiva que tenha por princípio a teoria o método e a práxis Os três primeiros capítulos resgatam parcialmente conteúdos dos livros do autor Elementos de Geomorfologia e Ambiente e Apropriação do Relevo o que implicou revisão supressão e incorporação de conhecimentos OBJETIVO DO LIVRO 1 oferecer um ordenamento metodológico ao estudo geomorfológico considerando os níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 Notas de Rodapé 1 Segundo Dewolf 1965 formações superficiais são formações continentais friáveis ou secundariamente consolidadas provenientes da desagregação mecânica e da alteração química das rochas que tenham ou não sofrido remanejamento e transporte e qualquer que seja a sua gênese e sua evolução Introdução à Geomorfologia 1 Introdução ao estudo da geomorfologia 11 A natureza da geomorfologia 12 A geomorfologia no contexto da Geografia 13 Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos 14 Sistemas de referência em geomorfologia 141 O sistema de William M Davis 142 O sistema de Walther Penck 143 O sistema de Lester C King 144 O sistema de John T Hack 15 Algumas evidências quanto à velocidade da denudação 16 Os níveis metodológicos em geomorfologia 1 Introdução ao estudo da geomorfologia O que é e para que serve a Geomorfologia Mostrar a importância do estudo do relevo para os diferentes campos do conhecimento planejamento urbano e regional análise ambiental evidenciando a estreita relação com a Geografia As grandes correntes geomorfológicas e a situação atual Evidenciar as duas grandes linhagens epistemológicas escola angloamericana e germânica com respectivas filiações apresentando um panorama da situação atual tendência holística fundamentada na perspectiva germânica Os níveis metodológicos em geomorfologia Mostrar a importância dos três níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 para o estudo da geomorfologia Resgatar a importância das unidades taxonômicas para o estudo do relevo apresentar alguns conceitos básicos como processos morfoclimáticos morfogenéticos e morfodinâmicos considerando as relações têmporoespaciais 11 A natureza da geomorfologia A geomorfologia é um conhecimento específico sistematizado que tem por objetivo analisar as formas do relevo buscando compreender os processos pretéritos e atuais Como componente disciplinar da temática geográfica a geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo como recurso ou suporte considerando a conversão das propriedades geoecológicas em sócioreprodutoras Kügler 1976 caracteriza as funções sócioreprodutoras em suporte e recurso do homem Seu objeto de estudo é a superfície da crosta terrestre apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas sistematizadas pelas atividades tectogenéticas endógenas e mecanismos morfoclimáticos exógenos responsáveis pelas formas resultantes Partindo do princípio de que tanto os fatores endógenos como os exógenos são forças vivas cujas evidências demonstram grandes transformações ao longo do tempo geológico necessário se faz entender que o relevo terrestre não foi sempre o mesmo e que continuará evoluindo Portanto a análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente o conhecimento da evolução que o relevo apresenta o que é possível se obter através do estudo das formas e das sucessivas deposições de materiais preservadas resultantes dos diferentes processos morfogenéticos a que foi submetido O relevo assume importância fundamental no processo de ocupação do espaço fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso cujas formas ou modalidades de apropriação respondem pelo comportamento da paisagem e suas conseqüências Ao se apresentar um estudo integral do relevo devese levar em consideração os três níveis de abordagem sistematizados por AbSaber 1969 e que individualizam o campo de estudo da geomorfologia a compartimentação morfológica o levantamento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem A compartimentação morfológica inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo que apresentam uma importância direta no processo de ocupação Nesse aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de risco que uma área possui oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de ocupação e uso A estrutura superficial ou depósitos correlativos2 se constitui importante elemento na definição do grau de fragilidade do terreno sendo responsável pelo entendimento histórico da sua evolução como se pode comprovar através dos paleopavimentos Sabendo das características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em diferentes condições climáticas tornase possível compreender a dinâmica evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em relação aos níveis de base atuais vinculados ou não a ajustamentos tectônicos A fisiologia da paisagem terceiro nível de abordagem tem por objetivo compreender a ação dos processos morfodinâmicos atuais inserindose na análise o homem como sujeito modificador A presença humana normalmente tem respondido pela aceleração dos processos morfogenéticos como as formações denominadas de tectogênicas abreviando a atividade evolutiva do modelado Mesmo a ação indireta do homem ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal altera de forma substancial as relações entre as forças de ação processos morfogenéticos ou morfodinâmicos e de reação da formação superficial gerando desequilíbrios morfológicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa boçorocamento assoreamento dentre outros chegando a resultados catastróficos a exemplo dos deslizamentos em áreas topograficamente movimentadas No estudo desses níveis do primeiro em relação ao terceiro os processos evoluem de uma escala de tempo geológica para uma escala de tempo histórica ou humana incorporando gradativamente novas variáveis analíticas como relacionadas a derivações antropogênicas e exigindo maior controle de campo o que implica emprego de técnicas como o uso de miras graduadas para controle de processos erosivos podendo chegar a níveis elevados de sofisticação análises específicas O estudo das formas do relevo deriva substancialmente das concepções geológicas do século XVIII que representaram a tendência naturalista voltada aos interesses do sistema de produção tendo o utilitarismo como princípio Em torno de 1850 a geologia havia chegado a grandes interpretações de conjunto da crosta terrestre contando com um corpo teórico ordenado A partir de então se registraram as primeiras contribuições dos geólogos nos estudos do relevo dentre os quais se destacam os trabalhos de A Surell expondo esquema clássico da erosão torrencial de Jean L Agassiz estabelecendo as bases da morfologia glacial de W Jukes apresentando os primeiros conceitos sobre o traçado dos rios de Andrew Ramsay e Grove K Gilbert evidenciando a capacidade de aplainamento pelas águas correntes de John W Powell e Clarence E Dutton calculando os ritmos de arraste e deposição dos sedimentos dentre outros Mendonza et al 1982 No final do mesmo século William M Davis dando prosseguimento aos estudos de G K Gilbert e JW Powell apresenta proposta de uma geomorfologia fundamentada na tendência escolástica da época representada pelo evolucionismo Como se sabe a influência do darwinismo como forma de substituição do modelo mecanicista influenciou significativamente o conhecimento científico geral A escola geomorfológica alemã por outro lado encabeçada por Albrecht Penck e Walther Penck defensora de uma concepção integradora dos elementos que compõem a superfície terrestre se contrapôs às idéias de W Davis fundamentada na noção de ciclo tida como finalista Evidenciase portanto o nascimento de duas escolas geomorfológicas distintas que serão consideradas a seguir e cuja sistematização fundamentouse em estudos desenvolvidos por Leuzinger 1948 e Abreu 1982 e 1983 12 A Geomorfologia no contexto da Geografia A teoria geomorfológica edificouse com nítida vinculação aos campos de interesse da geografia e da geologia Assume importância ao ser abordada no contexto geográfico considerando sua contribuição no processo de ordenamento territorial Em importante revisão bibliográfica Abreu 1982 mostra que o problema da pertinência da geomorfologia em relação à geografia foi tratado em diversas oportunidades como por Hartshorne 1939 Russel 1949 Bryan 1950Taylor 1951 Leighly 1955 dentre outros Wooldridge e Morgan 1946 consideram a pertinência da climatologia e da geomorfologia e de suas aplicações no campo da geografia Nos anos 60e 70 a geomorfologia passa a ser incorporada ao contexto da crítica teóricoconceitual da geografia destacandose aqui os trabalhos de Hamelin 1964 Schmithüsen 1970 Neef 1972 e Kügler 1976 além de outros Para Hamelin 1964 a geomorfologia se erige como uma disciplina por meio de sua própria teoria não interessando em toda sua completude à geografia Ao admitir a possibilidade de avançar em duas dimensões geomorfologia funcional e geomorfologia completa ou integral o autor compreende a geomorfologia como processo de um lado no contexto da geociências devendo ser explorada numa escala temporal de maior magnitude escala geológica e de outro concentrando suas atenções nos fenômenos de duração temporal mais curta valorizando os aspectos das derivações antropogênicas escala humana ou histórica Conclui por uma postura consensual entre autores de língua inglesa e francesa na qual a geomorfologia se erige como uma disciplina através de seu próprio campo e teoria não interessando em toda sua extensão à Geografia Abreu 1982 Schmithüsen 1970 ao procurar articular o campo e o conteúdo da geografia com o intuito de superar o antagonismo geografia física geografia humana propõe uma síntese em que a teoria e o método ocupem um lugar central No Sistema da Ciência Geográfica proposto pelo autor a divisão geografia física geografia humana não encontra lugar assinalando que esta dicotomia mais prejudica do que beneficia o verdadeiro campo da geografia A aproximação ao invés da subordinação da geomorfologia funcional a uma geografia global no conceito de Hamelin 1964 resulta da própria tendência naturalista da escola germânica a partir da década de trinta quando busca uma visão holística Atribuise a Tricart Cailleux 1965 o tratamento do relevo como unidade dialética por entenderem sua evolução como o resultado da ação e reação de forças antagônicas fundamentadas no sistema de referência idealizado por Penck 1924 Neef 1972 numa abordagem mais geográfica dos componentes da paisagem natural procura desenvolver uma postura voltada aos interesses da sociedade As conclusões que Neef alcança são fundamentais deixando cristalino que se a geografia quiser atingir uma posição de mérito na resolução dos problemas mundiais ela deverá aprofundarse em uma concepção que a transforme em uma ciência ambiental Abreu 1982 Nessa trajetória AbSáber 1969 sistematiza os níveis de abordagem metodológica em geomorfologia oferecendo um quadro de referência que valoriza a perspectiva geográfica ao retomar o conceito de fisiologia da paisagem usado por Siegfried Passarge 1912 Para Abreu 1982 AbSáber 1969 assume uma postura naturalista dos estudos de geografia física global Kügler 1976 ao desenvolver pesquisa e mapeamento geomorfológico na República Democrática Alemã conceitua de forma integrada o relevo e o território que se cunham em uma interface extremamente dinâmica produzindo uma paisagem fortemente marcada pela sociedade e por sua estrutura econômica Apóiase indiscutivelmente na clássica visão alemã das diferentes esferas que se interseccionam e definem uma epiderme de pouca espessura consubstanciandose formalmente através da paisagem Abreu 1982 de onde emerge o conceito de Landschaftschülle O conceito de georrelevo concebido por Kügler corresponde a uma superfície limite produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos resgatando o conceito tradicional da geomorfologia alemã A dinâmica e as propriedades adquiridas são fundamentais para se compreender a forma com que se dá a evolução das propriedades geoecológicas do georrelevo em propriedades sócioreprodutoras O uso das propriedades geoecológicas como suporte ou recurso reflete a intensidade e modos de uso face aos custos sociais de reprodução Kügler 1976 utilizase dos eixos tradicionais de evolução da geomorfologia alemã apoiado em Passarge 1912 e Penck 1924 Ao emergir de um contexto geográfico a geomorfologia supera a perspectiva dicotômica interna como a estrutural e climática lembradas por Abreu 1982 culminando com a concepção de georrelevo numa perspectiva paisagística A década de 70 pode ser tomada como o marco inicial de uma discussão mais abrangente das questões ambientais quando aparece a designação geomorfologia ambiental Simpósio de Bringhauton 1970 tendo por objetivo incluir o social ao contexto das ampliações geomorfológicas Os resultados mais significativos considerados por Achkar Dominguez 1994 aparecem no final da década de 80 nova conceitualização da relação sociedadenatureza opondose à visão dualista uma interpretação monista no nível aplicado da geomofologia se apresenta o desafio de gerar respostas às questões de natureza ambiental quanto ao método a geomorfologia busca uma proposta concreta vinculada à elaboração de cartas de diagnóstico ambiental como insumo do ordenamento espacial a revalorização dos antecedentes da geomorfologia alemã no princípio do século XX estabelece uma estreita relação da geomorfologia com a geografia dada a conceitualização monista da natureza Não é por acaso que tais conteúdos comecem com o advento da ecologia a discutir as relações sociedadenatureza enquanto categorias filosóficas Embora devam se admitir importantes avanços com relação à perspectiva de uma maior integração entre geomorfologia e geografia os princípios metafísicos ainda se fazem presentes chegando ao exagero de se separar o geomorfólogo do geógrafo atribuindose muitas vezes ao último a responsabilidade pela decisão da escolha das variáveis de interesse considerando sua visão particular Casseti 1996 Ao se considerar a tendência ambiental numa perspectiva holística3 a geomorfologia peca por desconsiderar os processos na sua integridade ou seja a evolução do relevo como fruto das relações contrárias forças internas e externas ao mesmo tempo se constituindo substrato apropriado pelo homem enquanto componente de relações sociais de produção com interesses distintos com reflexos nas propriedades geoecolócias do relevo A visão holística embora se caracterize como avanço em relação à postura fragmentáriamecanicista carece de mudança paradigmática mais profunda numa perspectiva ecológica4 Tal fato leva conseqüentemente a uma valorização das geociências em detrimento das relações sociais considerando a proximidade ambiental Partindo do princípio de que a base de sustentação teórica para a necessária abordagem ambiental fundamentase na dialética da natureza fica claro que a geomorfologia ao mesmo tempo em que deve se preocupar com a própria fundamentação teórica a geomorfologia em si na visão da geomorfologia integral de Hamelin 1964 carece de uma rediscussão epistemológica em busca de uma geografia total Apropriandose da concepção de dialética da natureza recuperada por Branco 1989 tornase necessário pensar dialeticamente para apreender as novas paisagens da fisis5 objetos disciplinares unidos por um traço comum a dialeticidade Essa compreensão só se torna possível ao resgatar o conceito de natureza Como se sabe a externalização da natureza6 configura o núcleo do programa da modernidade gestado no iluminismo Temse portanto o homem como senhor e possuidor da natureza legitimando a apropriação privada dos meios de produção base de sustentação do sistema capitalista Com base no princípio da externalização promovemse as diferentes formas de alienação o desencantamento do mundo o que permite a apropriação espontaneísta e dilapidante da natureza além do evidente antagonismo de classes sociais Significa portanto que para compreender a natureza em sua integridade numa perspectiva dialética tornase imprescindível compreender além das relações processuais contribuição da geomorfologia em si as relações de produção e suas forças produtivas sem desconsiderar as implicações da superestrutura ideológica responsável pela preservação das diferentes formas de alienação o necessário traço comum para a união dos objetos disciplinares culminando com a apropriação espontaneista do utilitarismo Compreender a dialeticidade da natureza significa compreender a unidade entre o processo histórico natural e a história do homem o que permite concluir que o processo do pensamento é ele próprio elemento da natureza o movimento do pensamento não está isolado do movimento da matéria o que se contrapõe ao dualismo psico físico descarteano substância pensante e substância meramente extensa que fundamentou o princípio de que a natureza interna está dominada em prol da dominação da natureza externa Casseti 1996 Concluise que preocuparse com a perspectiva ambiental em geomorfologia significa preocuparse com a compreensão dialética da natureza numa visão de Engels o que demonstra ser responsabilidade de todos em busca da unidade que tem sido entendida de forma parcial 13 Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos As diferenças históricoculturais européias levaram à individualização de quadros nacionais contrastantes no contexto político continental contribuindo para que se desenvolvessem correntes filosóficas e relações escolásticas distintas levando ao discernimento de duas linhagens epistemológicas em geomorfologia Uma hoje identificada como de natureza angloamericana onde se evidenciou a aproximação da Inglaterra e França com os Estados Unidos e outra de raízes propriamente germânicas que posteriormente incorporou a produção publicada pelos russos e poloneses A linhagem epistemológica angloamericana fundamentase praticamente até a Segunda Guerra Mundial nos paradigmas propostos por Davis 1899 através de sua teoria denominada de Geographical Cycle Para ele o relevo se definia em função da estrutura geológica dos processos operantes e do tempo Apesar de Gilbert 1877 já ter tentado explicar o relevo como resultante da erosão portanto numa perspectiva climática Davis considerava a morfologia em função da estrutura geológica o que mereceu críticas insistentes do meio intelectual germânico contemporâneo por volta de 19089 A geomorfologia davisiana praticamente não tinha qualquer articulação com uma visão processual mais ampla como a incorporação de componentes da climatologia ou da biogeografia amplamente integradas na geomorfologia alemã No final da década de 30 do Século XX os norteamericanos se interessaram pelas críticas de W Penck à teoria davisiana A interpretação de Penck 1924 ao ciclo geográfico divulgada durante o Simpósio de Chicago 1939 foi incorporada pelos seguidores de Davis criando novos paradigmas Durante a Segunda Guerra Mundial a influência do pensamento científico alemão se amplia nos Estados Unidos proporcionando o desenvolvimento de técnicas implementadas com posturas filosóficas bem definidas Um dos autores da corrente angloamericana que utilizou os princípios adotados por Penck foi Lester C King 1953 cujas pesquisas sobre aplainamento caracterizavam o centro das atenções geomorfológicas na época Na oportunidade Kirk Bryan Jean Dresch e André Cholley até então vinculados à linhagem angloamericana começam a distanciarse da concepção davisiana de relevo Cholley 1950 partindo da análise corológica introduz conceitos como dialética das forças em sistema aberto Devese acrescentar que a escola francesa que exerceu posteriormente grande influência no desenvolvimento da geografia e geomorfologia brasileiras se caracterizava pela reprodução do conhecimento científico anglo americano Isso pode ser exemplificado através das influências de Davis nos trabalhos elaborados sob a perspectiva estrutural com Emmanuel de Martonne e André de Lapparent fundamentados na tradição morfoestrutural de Emmanuel de Marguerie 1888 apud Mendonza et al 1982 Progressivamente os autores americanos assumem uma atitude mais crítica contribuindo sobremaneira para a elaboração de outros paradigmas como o do espaço enquanto Davis valorizava o tempo Assim enquanto a escola germânica valorizava as relações processuais e reflexos no modelado da paisagem a angloamericana tendo Davis como principal representante tinha o fator temporal como determinante da evolução do modelado evidenciado pela antropomorfismo do relevo A concepção evolutiva de Davis tinha por objetivo contribuir de maneira despretensiosa para o entendimento evolutivo do modelado embora sem desconhecer a complexidade dos processos Contrariando a postura tida como subjetiva de Davis os autores americanos convertidos propunham fatos objetivos estudados sob a ótica da quantificação valorizando as relações processuais A partir da década de 40 até a de 60 a quantificação a teoria dos sistemas e fluxos e o uso da cibernética geografia quantitativa assumem a vanguarda nos estudos geomorfológicos Valorizamse a análise espacial e o estudo das bacias de drenagem Strahler 1954 Gregory Walling 1973 ao mesmo tempo em que novas posturas começam a surgir como a teoria do equilíbrio dinâmico de Hack 1960 Horton 1932 1945 que já havia estabelecido leis básicas no estudo de bacias de drenagem utilizando propriedades matemáticas assume relevância nos estudos hidrológicos Ainda na linha de adaptação e reforma do paradigma davisiano destacamse H Baulig 1952 e P Birot 1955 O primeiro admitindo a freqüência dos movimentos crustais e as variações relativas ao nível dos mares e o segundo concluindo que a evolução geral do relevo encontrase relacionada a uma modalidade de ciclo morfológico que está em função do clima e da vegetação A inclusão da ação humana como instrumento de modificação das formas do relevo trouxe a vantagem de melhor entendêlas dentro de sistemas geomórficos atuais ampliados pelos processos denominados de morfodinâmicos Cruz 1982 Entre 1960 e início da década de 70 a aplicação dos postulados anteriormente obtidos incorpora a teoria probabilística Esses trabalhos acabaram caindo em formulações estéreis sobretudo pela rejeição ao paradigma davisiano sem serem substituídos por outros universalmente aceitos Se por um lado valorizam o espaço e supostas relações processuais por outro desconsideram as relações temporais julgadas como comprometidas com o paradigma davisiano Abreu 1983 Morley Zunpfer 1976 e Thornes Brunsden 1977 procuram rever as propostas precedentes Não introduzem novos paradigmas mas apresentam posição crítica liberta de preconceitos valorizando as observações de campo Levam em conta a ação processual segundo referencial têmporoespacial Schumm Lichty 1965 A linhagem epistemológica alemã tem Ferdinand von Richthofen 1883 como referência inicial mantendo a pretensão humboldtiana de globalidade harmonia natural Enquanto Davis tinha em sua retaguarda nomes de geólogos von Richthofen tinha como predecessores autores naturalistas que por sua vez tinham Goethe como ponto de referência permanente que empregou pela primeira vez a expressão morfologia como sinônimo de geomorfologia Fica patente a preocupação da escola germânica em tratar o relevo numa perspectiva geográfica o que pode ser atribuído à própria origem de sua linhagem epistemológica relacionada aos naturalistas a exemplo de Alexander von Humboldt 17691859 Enquanto Davis apresentava uma proposição teorizantededutivista von Richthofen se individualizava pela perspectiva empíriconaturalista utilizandose de guia de observações de campo Albrecht Penck 1894 também teve um papel fundamental na orientação da geografia alemã Apesar de compartilhar de algumas noções básicas da teoria davisiana como a de aplainamento A Penck deu ênfase à herança naturalista de Goethe e Humboldt valorizando a observação e a análise dos fenômenos A Penck 1894 sistematiza teorias e formas do relevo tratamento genético das formas tornandose um dos clássicos da Geografia exercendo grande influência no desenvolvimento da geomorfologia alemã nas primeiras décadas do século XX Dentro desse contexto três autores se destacam A Hettner 1927 grande crítico da teoria davisana S Passarge 1912 1913 com a proposição de novos conceitos como fisiologia da paisagem fundamentado na idéia de organismo e S Günther 1934 que desenvolveu uma abordagem processual e crítica ao sistema de referência davisiano Walther Penck 1924 aparece como principal opositor da postura dedutivistahistoricista de Davis valorizando o estudo dos processos Em Morphological Analysis of Landform publicação póstuma utilizase da geomorfologia para subsidiar a geologia e contribuir para a elucidação dos movimentos crustais Contribui assim para o avanço da geomorfologia formalizando conceitos como o de depósitos correlativos Apesar de criticado com a publicação de 1953 versão inglesa levou alguns autores norteamericanos a se interessarem pelos estudos de vertentes e processos Desde Sigfried Passarge 1912 Otto Schüter 1918 e Karl Sapper 1914 os trabalhos de Geografia física coincidem com o estudo científico de diversas configurações resultantes do intercâmbio funcional entre litosfera hidrosfera e atmosfera que se dá na superfície terrestre cuja unidade espacial representa o conceito de paisagem A linha de estudos da geomorfologia climática e climatogenética emerge das pesquisas de J Büdell 1948 que levaram a uma ordenação dos conjuntos morfológicos e origem climática em zonas e andares produzidos pela interação das variáveis epirogenéticas climáticas petrográficas e fitogeográficas Abreu 1983 O temário paisagem evolui com Troll 1932 que reconhece a necessidade tanto teórica quanto prática de uma convergência entre geografia física e ecologia Após a Segunda Guerra a cartografia geomorfológica emerge como instrumento fundamental para a análise do relevo graças às contribuições desenvolvidas na Polônia Tchecoeslováquia e URSS Klimaszewski 1983 Demek 1976 Basenina Trescov 1972 O avanço do mapeamento geomorfológico e seu crescente emprego no planejamento regional mantêm o caráter geográfico da ciência geomorfológica Assim a geomorfologia alemã na Segunda Guerra Mundial se beneficia com o desenvolvimento da cartografia geomorfológica enquanto a geomorfologia angloamericana permanece estagnada As críticas consubstanciadas ao modelo davisiano acabam respondendo por uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva angloamericana aproximandose cada vez mais das bases que subsidiam a linhagem germânica Fig 1 1 Outras considerações contrastantes podem ser notadas entre as escolas anglosaxônica e germânica que justificam as divergências teóricometodológicas a começar por Davis que se utilizou do referencial teorizante apoiado em posturas geológicas A escola germânica por sua vez fundamentase na concepção naturalista de Humboldt Devese acrescentar que a preocupação com o espaço encontrase vinculada a uma Geografia políticoestatística onde a unidade regional é priorizada Enquanto Davis é o principal ponto de referência da geomorfologia angloamericana W Penck se caracteriza como um dos grandes entre muitos Portanto a postura teorizante de Davis e o próprio processo dedutivo contribuem para a evolução do referencial cíclico do relevo em sistemas de tendência axiomática onde a ação processual quantificada romperia com a abordagem historicista A geomorfologia alemã fundamentada na observação caracterizavase como guia de campo Assim se as reformulações conceituais na escola anglo americana evidenciavam ruptura epistemológica a geomorfologia alemã se caracterizava pelo progressivo refinamento de conceitos O estruturalismo e a teoria dos sistemas processaram repercussões distintas no nível epistemológico em ambas as escolas Na Alemanha evidenciouse maior integração das ciências naturais favorecendo as análises geoecológico processuais valorizando a cartografia geomorfológica e a ordenação ambiental ótica marxista identificada nas propostas dos países socialistas ao mesmo tempo demonstrando o caráter geográfico através da sua vinculação com a questões sociais Na escola angloamericana a já considerada ruptura com a abordagem historicista favorece o desenvolvimento de teorias e métodos de análises quantitativas isolando a geomorfologia da geografia e orientandoa para perspectivas geológicas e hidrológicas A tentativa de se harmonizarem as transformações observadas leva ao surgimento de teorias alternativas proporcionando a valorização dos processos geomorfológicos segundo o sistema referencial têmporoespacial Apesar da convergência internacional do conhecimento geomorfológico as duas tendências consideradas apresentamse razoavelmente diferenciadas mesmo com a incorporação gradativa da postura alemã à americana evidenciada gradativamente a partir do Simpósio de Chicago 1939 No Brasil a mais importante contribuição à teoria geomorfológica parte de AbSáber 1969 que salvo melhor juízo parece dar a tônica nos postulados de raízes germânicas Abreu 1983 Recentemente autores soviéticos e franceses Bertrand 1968 Tricart 1977 Sochava 1972 têm procurado desenvolver estudos integrados da paisagem sob a ótica dos geossistemas o que valoriza a perspectiva geomorfológica alemã Assim com o progressivo amadurecimento do estudo da paisagem e dos estudos geoecológicos originados e desenvolvidos a partir da sistematização da geomorfologia alemã tem sido possível articular a natureza à sociedade Retomando Schmithüsen 1970 se queremos compreender a ação do homem não devemos separar a sociedade do meio ambiente que a rodeia Casseti 1991 apropriase do conceito de natureza externalizada como argumento de apropriação espontaneísta do relevo A partir dos subsídios oferecidos pela geomorfologia funcional propõe alternativa para o desenvolvimento de uma geomorfologia integral no conceito de Hamelin 1964 14 Sistemas de referência em geomorfologia Viuse que a sistematização da ciência geomorfológica nasce com W M Davis 1899 nos Estados Unidos representante da tendência angloamericana constituindo a primeira interpretação dinâmica da evolução geral do relevo ciclo de erosão geográfico As idéias de Davis foram contestadas sobretudo por W Penck 1924 representante da escola germânica que culminou na ruptura epistemológica da primeira a partir do Simpósio de Chicago 1939 A escola angloamericana pósdavisiana foi marcada por uma tendência fundamentada na Teoria Geral de Sistemas e no processo de quantificação destacandose os trabalhos de LC King 1955 e J Hack 1960 Com o intuito de resgatar a construção do processo histórico do pensamento geomorfológico apresentamse as principais teorias ou sistemas que contribuíam para a compreensão do processo evolutivo do relevo 141 O Sistema de William M Davis O sistema de WM Davis 1889 fundamentado no conceito de nível de base7 de Powell 1875 sugere que o processo de denudação iniciase a partir de uma rápida emersão da massa continental Diante do elevado gradiente produzido pelo soerguimento em relação ao nível de base geral o sistema fluvial produz forte entalhamento dos talvegues originando verdadeiros canyons que caracterizam o estado antropomórfico denominado de juventude A idéia mais importante é a de que os rios não podem erodir abaixo do seu nível de base Davis portanto se viu obrigado a completar o conceito de nível de base com outro fundamental o de equilíbrio para o que se utilizou da idéia de balanço entre a erosão e a deposição O trabalho comandado pela incisão vertical do sistema fluvial desaparece com o estabelecimento do perfil de equilíbrio8 Fig 12 quando a denudação inicia o rebaixamento dos interflúvios marcando o fim da juventude e o começo da maturidade Alguns escritos em alemão de Davis abordam os possíveis efeitos de levantamento e erosão consecutivos O processo denudacional que individualiza a maturidade para Davis caracterizase pelo rebaixamento do relevo de cima para baixo wearingdown desgastar para baixo o que torna necessário admitir a continuidade da estabilidade tectônica bem como dos processos de erosão Fig 13 A evolução considerada tende a atingir total horizontalização topográfica estágio denominado de senilidade quando a morfologia seria representada por extensos peneplanos às vezes interrompidos por formas residuais determinadas por resistência litológica denominadas monadnocks Nesse instante haveria pratica mente um único nível altimétrico entre interflúvios e os antigos fundos de vales níveis de base os quais estariam representados por cursos meandrantes para Davis a meandração significava a senilidade do sistema fluvial com calhas aluviais inumadas pela redução da capacidade de transporte fluvial Fig 14 Para Davis 1899 o relevo ao atingir o estágio de senilidade seria submetido a novo soerguimento rápido que implicaria nova fase denominada rejuvenescimento dando seqüência ao ciclo evolutivo da morfologia Conforme Carson Kirkby 1972 existem duas suposiçõeschave no sistema descritivo a primeira é a de que a emersão e a denudação não podem ocorrer concomitantemente ou seja a denudação pode somente adquirir alguma importância quando a massa de terra estiver tectonicamente estável A segunda é a suposição de que os rios sofrem duas fases de atividades rápida incisão inicial e depois virtual repouso uma vez atingido o estágio de equilíbrio A condição de virtual repouso significa a continuidade evolutiva sem assumir o esforço indutivo evidenciado na situação anterior Considerações ao sistema ou modelo proposto por Davis têm sido apontadas em ambas as suposições partindo do princípio de que o processo de soerguimento não pode estar dissociado dos efeitos denudacionais ou seja ao mesmo tempo em que o relevo encontrase em ascensão por esforço tectônico os processos morfogenéticos estarão atuando Considerando os resultados de evidências empíricas de que efeitos orogênicos modernos se aproximam de 75 metros a cada 1000 anos dados apresentados por Tsuboi 1933 para o Japão valor comparável com as medidas atuais de ajustamento isostásico em áreas recobertas por geleiras pleistocênicas tornase inadmissível a idéia da referida dissociação Também seria improcedente a idéia de uma estabilidade tectônica da juventude até a senilidade uma vez que com base em níveis modernos de erosão a denudação de aproximadamente 1500 metros de material requereria provavelmente entre 3 a 110 milhões de anos Schumm 1963 Para Davis seriam necessários de 20 a 200 milhões de anos para o aplainamento das cadeias de montanhas como as falhas de Utah tempo mais que suficiente para manifestações de natureza tectodinâmica A impossibilidade de se admitir estabilidade tectônica absoluta por um período geológico tão prolongado inviabiliza inclusive a idéia de se atingir o referido virtual repouso o que faz supor o estabelecimento do perfil de equilíbrio imaginário Tornase difícil admitir a possibilidade de um período de estabilidade tão prolongado para permitir o desenvolvimento do peneplano de Davis caracterizando uma certa comodidade esquemática Davis desconsiderou ainda a possibilidade de mudanças climáticas acidentais no modelo o que resultaria em deformação no sistema imaginado Também o conceito de estágio esboçado por Davis com base nas idéias de Gilbert 1877 tem sido contestado por geólogos americanos como Leopoldo Meddock 1953 que acreditam na existência de estágio relativamente precoce no processo de incisão sugerindo a mudança na atividade fluvial de rápida incisão inicial para o processo de formação de planície aluvial O caráter cíclico utilizado por Davis como modelo evolutivo constitui no conceito científico geral estágio embrionário de qualquer natureza do conhecimento WM Davis por ser geólogo fundamentou sua análise evolutiva no comportamento estrutural ao longo do tempo sendo portanto o componente responsável pela definição dos diferentes estágios As variáveis estruturais e temporais individualizam o seu sistema ficando as considerações processuais num segundo plano ou seja a estrutura geológica quando resistente se constitui no único controle da forma o processo erosivo possui relevância quando a litologia favorece e o tempo assume importância no jogo entre as respectivas componentes Apesar das críticas relativas ao modelo específico sugerido por Davis muitos geomorfólogos o aceitam enquanto noção de um sistema evolucionário Conforme King 1953 algumas autoridades têm rejeitado todo o conceito cíclico enquanto outras têm aceitado a idéia usual da existência de um ciclo evolutivo da morfologia processada pelos efeitos erosionais Em síntese a formulação evolucionista utilizada por Davis é contestada pelo excessivo idealismo discutível generalização do ciclo e limitação temporal da geodinâmica responsável pelo estágio final do equilíbrio hidrológico Tais elementos constituíram os pressupostos básicos de sua teoria a qual implica concepção orgânica do relevo fases antropomórficas e ao mesmo tempo uma simplificação do sistema de referência hipóteses fundamentais simples na observação de Leuzinger 1948 A prática dedutivista observação descrição e generalização e a práxis desligada do resto da Geografia são os principais pontos de contestação pela corrente naturalista da escola germânica que tem como principais representantes Albrecht e Walther Penck Para Leuzinger 1948 na verdade o método aconselhado por Davis não é dedutivo Ele próprio o denominou de método explicativo ou genético e o qualificou como uma combinação dos métodos dedutivo e indutivo O autor explica que o método indutivo aplicado à geomorfologia consiste em observar e descrever primeiramente com detalhes e sem idéias preconcebidas os fatos geomorfológicos tais como eles se apresentam e estabelecer somente após uma hipótese explicativa dos mesmos No método dedutivo ao contrário estabelecemse em primeiro lugar as formas que se devem derivar das forças que agem na superfície da terra e verificase depois se estas formas coincidem com as existentes Davis reunia e analisava o material disponível induzia a generalizações e hipóteses explicativas deduzia as conseqüências que derivam de cada hipótese confrontava essas conseqüências com os fatos tirando as primeiras conclusões revelava e aperfeiçoava as explicações concebidas e tirava uma conclusão final sobre as hipóteses que resistissem às refutações recebendo o nome de teoria Leuzinger 1948 conclui que na verdade esse método é indutivo e as deduções que contém destinamse somente à confirmação das teorias obtidas por indução Carson Kirkby 1972 valorizam a pertinência do modelo davisiano enquanto sistema de referência Christofoletti 1999 p 24 destaca o modelo de WM Davis expresso na linguagem verbalizada em palavras e representadas em blocos diagramas possuindo todo o contexto de um raciocínio lógico 142 O Sistema de Walther Penck Conforme foi dito W Penck foi um dos principais críticos do sistema de Davis sobretudo ao afirmar que a emersão e a denudação aconteciam ao mesmo tempo Fig 15 atribuindo desse modo a devida importância aos efeitos processuais As críticas de Penck fundamentamse no método empregado por Davis e na ausência de conexão com a ciência geográfica uma das principais preocupações da escola germânica Para Davis a denudação BC só teria início após o término do soerguimento AB enquanto que para Penck a denudação BC é concomitante ao soerguimento AB com intensidade diferenciada pela ação da tectônica Fig 15 Penck 1924 procura demonstrar a relação entre entalhamento do talvegue e efeitos denudacionais em função do comportamento da crosta que poderia se manifestar de forma intermitente e com intensidade variável contestando o modelo apresentado por Davis rápido soerguimento da crosta com posterior estabilidade tectônica até que se atingisse a suposta senilidade quando nova instabilidade proporcionaria a continuidade cíclica da evolução morfológica Para Penck o valor da incisão estava na dependência do grau de soerguimento da crosta o que proporcionaria evidências morfológicas ou grupos de declividades vinculados à intensidade da erosão dos rios submetidos aos efeitos tectodinâmicos Fig 16 conforme exemplos constatados na Floresta Negra Alemanha No primeiro instante T1 da Fig 16 a incisão é relativamente incipiente compatível com a intensidade do soerguimento nas demais situações T2 T3 e T4 é progressivamente maior refletindo o grau de soerguimento Penck 1924 propunha que em caso de forte soerguimento da crosta terseia uma correspondente incisão do talvegue que por sua vez implicaria aceleração dos efeitos denudacionais em razão do aumento do gradiente da vertente Admitindose que o efeito denudacional não acompanhasse de imediato a intensidade do entalhamento do talvegue terseia o desenvolvimento de vertentes convexas Fig 171 Concluise que Penck levou em consideração a noção de nível de base local e a correspondência entre soerguimento incisão e denudação valorizando a relação processual própria da concepção germânica Uma segunda situação apresentada por Penck 1924 é a de que existindo um soerguimento moderado da crosta com proporcional incisão do talvegue poderia ocorrer uma compensação equilibrada pelos efeitos denudacionais proporcionando o desenvolvimento de vertentes retilíneas ou manutenção do ângulo de declividade o que foi denominado por ele de superfície primária Fig172 Por último concluise que quando a ascensão da crosta é pequena ocorre um fraco entalhamento do talvegue sendo a denudação superior o que propicia o desenvolvimento de vertentes côncavas Fig 173 Em suma enquanto a forma convexa implica período de crescente intensidade de erosão Fig 171 a forma côncava é prova de enfraquecimento erosivo ou de intensidade de erosão decrescente Penck reconhece a existência de limites para o processo de aceleração ou redução da denudacão da vertente Particularmente na primeira situação esses limites seriam atribuídos à instabilidade tectônica da crosta Para Carson Kirkby 1972 fica a impressão de que Penck considerou os perfis de declividade como resultantes da movimentação da crosta o que tem muito a ver com os escritos de Davis Para os autores não se opor às idéias de Penck é admitir que o sistema de levantamentodenudação proposto por Davis seja provavelmente o mais apropriado na maioria dos casos se a denudação atual se dá via modelo de peneplanização é um assunto bem mais duvidoso Enquanto Davis afirmava que o relevo evoluía de cima para baixo wearingdown Fig18b Penck acreditava no recuo paralelo das vertentes wearingback ou desgaste lateral da vertente Fig 18a constituindose no modelo aceito para o entendimento da evolução morfológica Em síntese a maneira dinâmica da proposta penckiana foi um dos principais argumentos responsáveis pela ruptura epistemológica registrada na linhagem angloamericana à época da Segunda Guerra Mundial até então fielmente adepta das idéias consagradas de Davis 143 O Sistema de Lester C King A idéia de períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta separados por longos períodos de estabilidade tectônica é o ponto principal do sistema apresentado por King 1955 e Pugh 1955 fundamentado em estudo de caso na África do Sul Essa teoria procura restabelecer o conceito de estabilidade tectônica considerado por Davis mas admite o ajustamento por compensação isostática e considera o recuo paralelo das vertentes wearingback como forma de evolução morfológica de acordo com proposta de Penck 1924 Os autores argumentam que o recuo acontece a partir de determinado nível de base iniciado pelo nível de base geral correspondente ao oceano O material resultante da erosão decorrente do recuo promove o entalhamento das áreas depressionárias originando os denominados pedimentos A evolução do recuo por um período de tempo de relativa estabilidade tectônica permitiria o desenvolvimento de extensos pediplanos razão pela qual a referida teoria ficou conhecida como pediplanação Portanto enquanto Davis chamava as grandes extensões horizontalizadas na senilidade de peneplanos King 1955 as considerava como pediplanos com formas residuais denominadas inselbergs O emprego de uma das terminologias peneplano ou pediplano caracteriza a filiação epistemológica angloamericana ou germânica considerando as diferenciações genéticas down wearing ou back wearing Pugh 1955 admite que a diferença no processo de erosão fornece resultados importantes há uma reação isostática quase imediata ao abaixamento vertical da paisagem por erosão lateral Assim a compensação isostática ocorre somente quando um começo de denudação tenha acontecido sendo conseqüentemente um evento intermitente Uma vez acontecido o reajustamento isostático uma nova escarpa e um nível de embutimento nova superfície pediplanada são formados justificando a evolução genética para a sucessão de níveis de aplainamento em um mesmo ciclo morfoclimático Devese considerar que apesar da teoria da pediplanação ter sido originalmente relacionada a um clima úmido como as demais apresentadas partindo do princípio que foram produzidas nas regiões temperadas supõese que a horizontalização topográfica esteja vinculada a um clima seco assim como o desenvolvimento vertical do relevo encontrase relacionado a um clima úmido levando em conta a incisão vertical da drenagem Assim a desagregação mecânica seria a grande responsável pelo recuo paralelo das vertentes e seus detritos a partir da base em evolução se estenderiam em direção aos níveis de base produzindo entulhamento e conseqüente elevação do nível de base local Esse entulhamento se daria por atividades ou processos torrenciais originando as formas conhecidas como bajadas e proporcionando o mascaramento de toda irregularidade topográfica caracterizando a morfologia dos pediplanos Fig 19 144 O Sistema de John T Hack O autor que mais tem trabalhado no enfoque acíclico do conceito de equilíbrio dinâmico é Hack 1960 Esse conceito fundamentase na teoria geral dos sistemas vinculado à linhagem angloamericana pósdavisiana O princípio básico da teoria é o de que o relevo é um sistema aberto mantendo constante troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres estando vinculado à resistência litológica Enquanto a proposta de Penck considera o modelado como resultado da competição entre o levantamento e a erosão Hack o considera como produto de uma competição entre a resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de denudação Gilbert 1877 foi o primeiro a tentar explicar a evolução do relevo com base no equilíbrio dinâmico embora Hack 1957 1960 1965 tenha ampliado consideravelmente as idéias iniciais John T Hack utilizoua com o intuito de interpretar a topografia do vale do Shenandoah na região dos Apalaches levando em consideração as características das redes de drenagem e das vertentes Essa teoria supõe que em um sistema erosivo todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados de modo que eles se modificam na mesma proporção As formas e os processos encontramse em estado de estabilidade e podem ser considerados como independentes do tempo Ela requer um comportamento balanceado entre forças opostas de maneira que as influências sejam proporcionalmente iguais e que os efeitos contrários se cancelem a fim de produzir o estado de estabilidade no qual a energia está continuamente entrando e saindo do sistema Christofoletti 1980 p 168 Toda alternância de energia seja interna ou externa promove alteração no sistema manifestada através da matéria razão pela qual os elementos da morfologia tendem a se ajustar em função das modificações impostas seja pelas forças tectodinâmicas seja pelas alterações processuais subaéreas mecanismos morfoclimáticos Diante disso a morfologia não tenderia necessariamente para o aplainamento visto que o equilíbrio pode ocorrer sob os mais variados panoramas topográficos Fig110 Portanto para Hack as formas de relevo e os depósitos superficiais possuem uma íntima relação com a estrutura geológica litologia e mecanismos de intemperização embora deixando transparecer maior valorização da primeira O autor verificou que a declividade dos canais fluviais diminui com o comprimento do rio e varia em função do material que está sendo escavado Por exemplo na bacia de Shenandoah ele observou 1965 que os canais nos arenitos endurecidos possuíam um gradiente aproximadamente dez vezes maior que o dos canais esculpidos nos folhelhos Assim o equilíbrio é alcançado quando os diferentes compartimentos de uma paisagem apresentam a mesma intensidade média de erosão Enquanto Davis interpreta a uniformidade das cristas da Cordilheira dos Apalaches como resultado de rejuvenescimento de antigo peneplano Hack a vê como manifestação de uma resistência estrutural igual às forças de erosão Tab 11 Na teoria do equilíbrio dinâmico as formas não são estáticas Qualquer alteração no fluxo de energia incidente tende a responder por manifestações no comportamento da matéria evidenciando alterações morfológicas Como exemplo as mudanças climáticas ou eventos tectônicos produzem alterações no fluxo da matéria até a obtenção de novo reajustamento dos componentes do sistema Algo intrínseco ao argumento de Hack é que o modelado do relevo se adapta rapidamente às variações dos fatores de controle ambiental Desse modo quando o sistema readquire o equilíbrio dinâmico desaparecem gradativamente as marcas relacionadas às fases anteriores que estavam presentes na paisagem O referido equilíbrio poderá ser mantido ainda em condições de instabilidade tectodinâmica desde que os efeitos denudacionais acompanhem o mesmo ritmo o que já havia sido admitido anteriormente por Penck 1929 A noção de equilíbrio apesar de empregada por Davis para caracterizar uma condição de estabilidade erosiva como no caso do sistema hidrográfico noção de perfil de equilíbrio é considerada por Hack numa perspectiva sistêmica como o resultado do comportamento balanceado entre os processos morfogenéticos e a resistência das rochas e também leva em consideração as influências diastróficas atuantes na região Christofoletti 1973 Ainda devese considerar que os sistemas abertos podem levar à equifinalização ou seja que condições iniciais diferentes podem conduzir a resultados finais semelhantes Por exemplo os calcários resistentes aos processos físicos podem adquirir em determinado momento semelhanças morfológicas a rochas resistentes aos processos químicos Diante do exposto constatase uma certa relação de dependência entre a proposta de Hack e as teorias discutidas anteriormente Além de incorporar o conceito davisiano de equilíbrio em novo estilo Hack utilizase de relações dinâmicas apresentadas por Gilbert 1877 e posteriormente Penck 1924 O mérito atribuído a Hack é o de estruturar um encadeamento lógico na concepção sistêmica do modelado em detrimento de uma visão fragmentada do relevo A tabela 11 mostra em termos comparativos os principais pontos constantes nos modelos apresentados Davis Penck King e Hack 15 Algumas Evidências quanto à Velocidade da Denudação A relação soerguimentodenudação tem sido até hoje um assunto de muitas controvérsias Cálculos apresentados por Dole Stable 1909 indicam valores médios de denudação da ordem de 0027 a 0057 metros por mil anos entendidos como baixos por serem estimados com base exclusivamente em materiais em suspensão transportados por rios ou cargas sedimentológicas abandonadas pela redução da competência de transporte Langbein Schumm 1958 sugerem níveis de denudação ligeiramente mais altos em torno de 003 a 01 metro por mil anos Os níveis mais altos de produção de sedimentos foram registrados pela Federal InterAgency River Basin Comission 1953 em um pequeno reservatório em Iowa correspondente a uma denudação de 126 metros1000 anos Tab 12 Médias experimentais realizadas em áreas montanhosas demonstram níveis da ordem de 06 a 09 m1000 anos estimadas por Wegmann 1955 nos Alpes do norte e Khosle 1953 em parte do Himalaia Estimativas de taxas de denudação a partir de estudos experimentais em bacias hidrográficas Dole Stabler 1909 Langbein Schumm 1953 1958 Faxman High 1955 e Fed InterAgency River Basin Comission 1953 apud Carson Kirkby 1972 demonstram variações da ordem de 003 a 126 metros1000 metros Tab 12 Estudos realizados em áreas tectonicamente ativas Gilluly 1949 Stone 1961 Tsuboi 1933 Less 1955 Gutenberg 1941 Cailleux 1952 apud Schumm 1963 estimam soerguimentos da ordem de 01 a 750 metros1000 anos Tab 13 demonstrando que os soerguimentos orogênicos são significativamente maiores que as taxas de denudação Com base nessas premissas parece bastante improvável que massas de terras poderiam ser produzidas ou emersas independente do tempo como estimadas por Penck 1924 e Hack 1960 Para Carson Kirkby 1972 esta diferença entre níveis modernos de orogenia e denudação levam a admitir a validade do sistema de Davis considerando rápido soerguimento de cadeias de montanhas com pequenas modificações por erosão até que a orogenia cesse Em síntese tornase muito difícil comprovar a referida relação visto que ao mesmo tempo em que os valores apresentados por Schumm 1963 concernentes às estimativas de níveis de levantamentos encontramse associados aos níveis modernos de orogenia para o entendimento do passado geológico também os níveis modernos de denudação encontramse alterados pelas derivações antropogênicas em franca expansão As forças internas não só se referem ao processo de soerguimento e denudação como interferem diretamente na disposição estrutural das rochas com repercussão em seu comportamento químico ou em sua propriedade física Portanto as forças endógenas implicam comportamento estrutural das rochas as quais se manifestam de modo diferente frente aos processos erosivos Tabela 11 Sistemas de Referência em Geomorfologia CARACTERÍSTICAS WM Davis 1899 W Penck 1924 LCKingJPugh 1955 JT Hack 1960 CARACTERÍSTICA GERAL DO SISTEMA Rápido soergui mento com posterior esta bilidade tectôni ca e eustática Ascensão de massa com intensidade e duração diferentes Longos períodos de estabilidade tectônica separados por períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta Toda alternância de energia interna ou externa gera alteração no sistema através da matéria RELAÇÃO SOERGUIMENTODENUDAÇÃO Início da denu dação coman dada pela in cisão fluvial após estabilida de ascensional Intensidade de denudação associada ao comportamento da crosta Denudação concomitante ao soerguimento Reação do sistema com alteração do fornecimento de energia oscilações climáticas ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIA Evolução mor fológica de cima para baixo wearing down Evolução por recuo paralelo das vertentes wearing back Evolução morfológica por recuo paralelo wearing back Todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados Modificamse na mesma proporção CARACTERÍSTICAS MORFO LÓGICAS Fases antropo mórficas juven tude matu ridade e senilidade peneplano Processos de declividade laterais das vertentes convexas retilíneas e côn cavas relação incisãodenudação por ação crustal Nível de pedimentação coalescência de pedimentos pediplano As formas não são estáticas e imutáveis Íntima relação com a estrutura geológi ca ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIA Peneplanização formas residuais Superfície primária lenta ascensão compensada pela Pediplanação formas residuais Não evolui necessariamente para aplai namento monadnocks denudação Não haveria produção de elevação geral da superfície inselbergs equifinalização O equilíbrio pode ocorrer sob os mais variados panoramas topográficos NOÇÃO DE NÍVEL DE BASE Processo evolutivo comandado pelo nível de base geral Vertente evolui em função do nível de base local Pressupõe a generalização de níveis de base qualquer ponto de um rio é considerado NB para os demais à montante Ajustamento seqüencial VARIÁVEIS QUE COMPÕEM Os SISTEMA Temporalestru tural com subordinação da processual Processo tectônica e tempo Processoforma considerando o fator temporal admitindo implicações isostásicas Relação formasprocessos independentes do tempo processo morfogenético resistência das rochas influências diastróficas Tab 12 Estimativas de Níveis de Denudação em Bacias de Drenagem Bacia de Drenagem em 1000 km2 Níveis de Denudação metros1000 anos Fonte 37228 39 008 0003 00003 003006 003010 006022 255 126 Dole Stabler 1909 Langbein Schumm 1953 Langbein Schumm 1958 Flaxman High 1955 Fed InterAgency River Basin Com 1953 Cfr Carson Kirkby 1972 Tab 13 Estimativas de níveis de levantamento em condições a Orogênica b Isostática e c Epirogênica Localização Levantamento metros1000 anos Fonte Califórnia Sul da Califórnia a Japão Golfo Pérsico 48126 39 60 08750 30 Gilluly 1949 Stone 1961 Tsuboi 1933 Less 1955 Ontário do Sul b Fenoescandinávia c 40 108 0136 Gutenberg 1941 Gutenberg 1941 Cailleux 1952 Com base nas premissas de Shumm 1963 apud Carson Kirkby 1972 Devese observar que a estrutura geológica apresentará comportamento diferente segundo condições climáticas permitindo maior ou menor intensidade denudacional O quartzito por exemplo apresenta maior resistência ao intemperismo químico clima úmido se comparado à sua reação frente à ação morfogenética mecânica clima seco num comportamento oposto ao dos arenitos e calcários É dessa relação rochaclima sem desconsiderar os ajustamentos tectogênicos que se produzirá maior ou menor concentração de material em áreas deposicionais o que responderá numa escala do tempo geológico em maior ou menor reação das forças internas como os ajustamentos isostáticos Assim sendo é necessário entender o relevo como algo dinâmico em constante evolução muito embora certas relações ou resultados não possam ser observados na escala de tempo histórica O fato de se ter atribuído maior importância a um dos elementos estruturais ou climáticos em detrimento do outro deu motivo ao emprego de adjetivos como geomorfologia estrutural ou geomorfologia climática fruto de tendências associadas a linhagens epistemológicas Conforme observou Cholley 1950 não há duas geomorfologias mas apenas uma e sua gênese está ligada à ação de fatores erosivos associados ao clima que constitui um complexo de agentes denominado pelo autor de sistema de erosão que cada clima coloca em evidência Para Cholley 1950 o reflexo da estrutura ou do clima no comportamento morfológico caracteriza estágios que confirmam os conceitos davisianos a erosão normal ao colocar em evidência a estrutura corresponderia a uma fase de maturidade enquanto o esmorecimento da erosão demonstra a última etapa da evolução morfológica caracterizando uma fase senil É natural que determinadas formas específicas demonstrem as conseqüências ou reflexos da estrutura ainda que em outras formas essa estrutura se encontre mascarada pelos processos erosivos Esse fato pode ser diferenciado pela própria escala da observação nas imagens de satélite ou radar em escala média de 1100000 a 1250000 a estrutura se mostra como elemento individualizador da morfologia Uma análise mais detalhada em maior escala maior que 150000 de determinados elementos do relevo como uma vertente revela que a estrutura normalmente se encontra mascarada pelos depósitos de cobertura comandados pelos processos morfogenéticos pretéritos ou atuais Para Cholley 1950 a estrutura é algumas vezes insuficiente mesmo no domínio da erosão normal para explicar todas as formas Por outro lado devese considerar que dificilmente seria possível entender a relação da contextura e composição química da rocha na individualização estrutural se não se levasse em conta a ação dos mecanismos externos A compreensão do significado do clima na elaboração de toda e qualquer morfologia explica o êxito da expressão morfologia climática que de alguma forma marca a reação à atitude dos geógrafos que fizeram da estrutura o princípio de toda morfologia Cholley 1950 O comportamento morfológico numa escala de tempo geológico se manifesta por meio da ação dos mecanismos externos e da reação da estrutura admitindo a participação das forças internas tectodinâmicas A partir do capítulo seguinte serão analisados os efeitos do jogo de forças contrárias para a necessária compreensão do processo evolutivo do relevo Apresentamse a seguir os níveis de abordagem geomorfológica sistematizados por AbSáber 1969 que representam a estrutura metodológica do presente trabalho 16 Os níveis metodológicos em Geomorfologia O estudo da geomorfologia tem sido tratado ao longo do tempo em dois grandes níveis um relacionado à construção do edifício teórico o que promove a base epistemológica para o desenvolvimento da pesquisa e outro correspondente às expectativas associadas às aplicações dos conhecimentos Exemplos que contribuíram para a consolidação de tais fatos podem ser evidenciados através da produção do conhecimento no final do século XIX entre as duas grandes linhagens epistemológicas tendo por objetivo definir um escopo teórico para a geomorfologia os estudos relacionados à paisagem na primeira metade do século XX os estudos voltados aos aplainamentos durante as duas guerras mundiais e ainda o estudo de vertentes assumindo característica ambiental surgido principalmente a partir da década de 70 do século passado Os manuais de geomorfologia via de regra expressam a influência natural dos estágios epistemológicos da geomorfologia podendose evidenciar o forte reflexo da escola estruturalista francesa no Brasil ainda preservando forte tendência anglo americana na fase acadêmicoinstitucional inicial e mais recentemente o reflexo da linhagem epistemológica germânica nos estudos integrados da paisagem Importante para a sistematização desses conhecimentos e para o desenvolvimento da pesquisa geomorfológica no Brasil foi a importante contribuição do professor AbSaber 1969 concebendo a análise do relevo em três dimensões que se integram ou se interagem a compartimentação topográfica a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem Fig 111 a Compartimentação Topográfica Por compartimentação topográfica entendese a separação de determinados domínios morfológicos que se individualizam por apresentarem características específicas como determinados tipos de formas ou domínios altimétricos As formas resultantes do processo evolutivo do relevo podem testemunhar episódios associados a determinados domínios morfoclimáticos refletindo o jogo de forças entre os agentes internos comandados pela estrutura e tectônica e os externos associados aos efeitos climáticos em tempo suficiente para deixar impresso no modelado paleoformas relacionadas a processos morfogenéticos correspondentes A compartimentação reflete a interpenetração de forças contrárias como os processos relacionados ou resultantes da morfogênese associada a climas seco e úmido além dos reflexos proporcionados pela estrutura Durante a atuação de uma fase climática seca a morfogênese mecânica promove por recuo paralelo das vertentes o desenvolvimento de superfícies horizontais caracterizando um estágio avançado de evolução São os chamados níveis de pediplanação Já numa fase de clima úmido com a predominância da morfogênese química há um entalhamento generalizado da rede de drenagem As forças de soerguimento acontecem em ambas as fases climáticas seca e úmida Na fase seca são responsáveis pelos degraus existentes entre um nível de superfície horizontal Na fase úmida essas forças contribuem para o entalhamento da drenagem promovendo a dissecação do relevo É comum que as superfícies horizontais originadas em clima seco sejam dissecadas pela drenagem nas fases úmidas Portanto o clima úmido através da incisão de talvegues tende a destruir as formas horizontalizadas elaboradas em condições climáticas secas e o clima seco tende a destruir as formas verticalizadas elaboradas em clima úmido A sucessão desse jogo de forças contrárias9 levando em consideração o tempo de duração dos respectivos domínios morfoclimáticos é responsável pela composição de formas que expressam situações diferenciadas as quais permitem a compreensão da dinâmica morfogenética e sua história registradas no relevo As formas de relevo resultam da ação dos processos morfogenéticos ao longo do tempo muitas vezes refletindo a resistência da estrutura aos efeitos do jogo de forças Por exemplo uma superfície aplainada em níveis altimétricos mais elevado corresponde via de regra à uma forma mais antiga relacionada a clima seco partindo do princípio de que o relevo foi sendo soerguido ao longo do tempo Podemse constatar também graus de dissecações diferenciados no relevo considerando a relação entre a resistência litológica e as formas dominantes em condições climáticas úmidas o forte gradiente de vertentes em estruturas mais resistentes implica maior intensidade de dissecação ao contrário nas superfícies erosivas mesmo aquelas portadoras de litologias friáveis a dissecação se apresenta incipiente O conceito de compartimentação topográfica na realidade apresenta uma dimensão muito maior que a própria denominação uma vez que transcende a idéia de topografia no que tange aos aspectos morfológicos e morfométricos do relevo resultantes das propriedades adquiridas durante sua gênese Para a sua compreensão tornase imprescindível entender o processo evolutivo considerando a ação diferencial dos processos morfogenéticos as mudanças climáticas no tempo geológico os componentes de natureza estrutural valorizando os mecanismos tectogenéticos e propriedade das rochas sem desconsiderar os efeitos da interface em cada estágio de evolução Portanto tornase indispensável resgatar os conceitos de Penck que envolvem os processos exogenéticos e endogenéticos como fatores morfológicos Valorizase portanto o clima como elemento responsável pela morfogênese diferencial em função do balanço das forças em ação10 b Estrutura Superficial O nível de abordagem correspondente à estrutura superficial referese ao estudo dos depósitos correlativos ao longo das vertentes ou em diferentes compartimentos Esses depósitos são suscetíveis de transformação ao longo do tempo geológico ensejadas por erosão e perturbações tectônicas locais O longo período de tempo necessário para sua formação envolve mudanças climáticas responsáveis por materiais diferentes em sua constituição A denominação depósitos correlativos foi inicialmente apresentada por Penck 1924 quando foram associados às oscilações climáticas acontecidas no passado sendo as mais expressivas aquelas vinculadas às oscilações do pleistoceno a partir de 2 milhões de anos relativamente melhor preservadas em função do tempo frente ao intemperismo Como exemplo as fases glácioeustáticas pleistocênicas caracterizadas pela expansão das calotas polares e redução do nível marinho evidenciavam desenvolvimento de clima semiárido nas regiões intertropicais os processos morfogenéticos respondiam por desagregação mecânica das rochas promovendo recuo paralelo das vertentes e respectivos depósitos correlativos como os pedimentos detríticos As fases interglaciais ao contrário caracterizadas pela redução das calotas polares e aumento do nível marinho respondiam por um clima úmido nas regiões intertropicais favorecendo a organização da drenagem e intemperização química das rochas com coluvionamento de soleiras e depósitos aluviais em superfícies alveolares Pela estrutura superficial podese compreender os processos morfogenéticos pretéritos e oferecer subsídios através das propriedades físicoquímicas dos depósitos de cobertura para o entendimento da vulnerabilidade do terreno A referida abordagem deve estar associada aos demais parâmetros do relevo como o gradiente da vertente bem como aos processos morfodinâmicos atuais Bigarella Mousinho 1965 conceituam depósitos correlativos como seqüências sedimentares resultantes dos processos de agradação ocorrendo simultaneamente como fenômenos de degradação na área fonte Referem se portanto ao material residual depositado em seções de recepção resultante dos mecanismos morfogenéticos pretéritos e atuais motivados por diferenciações climáticas ajustamentos tectônicos ou implicações de natureza antrópica como os depósitos tecnogênicos Com relação ao conceito de depósitos tecnogênicos Oliveira 1990 destaca tal relação com a ação humana originados pela técnica referindose a um novo período geológico denominado de Quinário ou Tecnógeno período em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biológica na modelagem da biosfera desencadeando processos tecnogênicos cuja intensidade supera em muito os processos naturais c Fisiologia da Paisagem A fisiologia da paisagem diz respeito ao momento atual e até subatual do quadro evolutivo do relevo considerando os processos morfodinâmicos como o significado das ocorrências pluviométricas nas áreas intertropicais ou processos específicos nos diferentes domínios morfoclimáticos do globo bem como as transformações produzidas na paisagem pela intervenção antrópica A apropriação do relevo como suporte ou recurso origina transformações que começam com a subtração da cobertura vegetal expondo o solo aos impactos pluvioerosivos A partir de então ocorrem alterações nas relações processuais como as mudanças no jogo das componentes de perpendicular correspondente à infiltração à paralela relacionada ao escoamento superficial ou fluxo por terra No estudo da fisiologia da paisagem denominação utilizada por S Passarge no início do século XX procurase avaliar os processos morfodinâmicos atuais considerando o relevo numa possível perspectiva de Kügler 1976 ou seja considerando suas propriedades geoecológicas e sócioreprodutoras O processo de apropriação do relevo pelo homem seja como suporte ou recurso responde pelo desencadeamento de reações que resultam no comportamento do modelado considerando os efeitos morfodinâmicos convertidos em impactos O conceito de fisiologia da paisagem pode ser sintetizado a partir da abordagem da teoria biorresistásica de Erhart 1958 bem como pela noção de ecodinâmica apresentada por Tricart 1978 que culmina com a caracterização do grau de estabilidade dos diferentes meios Devem ser consideradas no estudo da fisiologia da paisagem as transformações produzidas pelo homem desde a revolução neolítica até os dias atuais indutores das alterações associadas à intensidade e à freqüência dos processos que culminam em impactos no meio físico Para Abreu 1986 enquanto as propriedades geoecológicas se originam de processos biológicos e morfodinâmicos presididos pelas leis biológicas físicas e geoquímicas que cunham as formas e lhes conferem conteúdo plástico as propriedades sócioreprodutoras são definidas pelo interesse imediato dos homens pelo relevo como recurso face ao seu conteúdo solos depósitos minerais etc ou como suporte de edificações de um espaço construído Os níveis de abordagem nos estudos geomorfológicos vistos de uma forma integrada permitem a compreensão do relevo na sua total dimensão Para se evidenciar a importância da análise integrada dos referidos níveis nos estudos do relevo recorrese aos parâmetros imprescindíveis à elaboração de uma carta geomorfológica considerando critério adotado por Tricart 1967 São quatro os parâmetros que integram uma representação do relevo em grande escala morfométricos morfográficos morfogenéticos e cronológicos veja capítulo 5 As informações morfométricas e morfográficas são valorizadas na compartimentação do relevo As morfométricas referemse às dimensões métricas do relevo enquanto as morfográficas às próprias formas existentes transcritas segundo representações apropriadas As informações de natureza cronológica são obtidas por meio de formas específicas terraços níveis de pedimentação dentre outras e principalmente pelo estudo da estrutura superficial Os elementos morfogenéticos referemse tanto aos reflexos dos processos morfodinâmicos atuais enfocados pela fisiologia da paisagem como pretéritos responsáveis pela elaboração do modelado e respectivos depósitos correlativos Outro aspecto digno de nota referese ao grau de envolvimento do pesquisador com as atividades desenvolvidas nos diferentes níveis da análise geomorfológica Nos levantamentos concernentes à compartimentação topográfica o trabalho se caracteriza mais por atividades desenvolvidas no gabinete utilizandose de cartas de base fotografias aéreas ou imagens ficando as atividades de campo restritas a observações e comprovações No estudo da estrutura superficial os levantamentos de campo são imprescindíveis considerando a descrição e análise de perfis disponíveis ou abertura de trincheiras além de coleta de material para análise laboratorial análise granulométricotextural palinológica geocronológica dentre outras Por último no estudo da fisiologia da paisagem o controle de campo se intensifica considerando a necessidade do acompanhamento sistemático dos processos os quais normalmente exigem o emprego de equipamentos específicos e até mesmo recursos técnicos sofisticados como miras graduadas calhas coletoras simuladores de chuva ou traçadores radioativos como os introduzidos por De Ploey 1967 em pesquisas geomorfológicas experimentais Antes de tratar especificamente de cada um dos níveis de abordagem do relevo serão apresentados alguns conceitos importantes relacionados aos aspectos taxonômicos como aqueles relativos aos processos e dimensões espaciais dos fenômenos Primeiramente apresentamse algumas diferenças de determinados termos específicos da geomorfologia como processos morfoclimáticos morfogenéticos e morfodinâmicos Por processos morfoclimáticos entendese aqueles de significativa abrangência espacial com tempo geológico de duração suficiente para elaborar determinados tipos de modelados específicos Exemplo desse processo são os extensos pediplanos de cimeira que ainda podem ser verificados em praticamente todo continente brasileiro relacionados a condições climáticas secas elaborados num tempo geológico provavelmente no Terciário Médio ou posterior com duração suficiente para proporcionar correspondência entre forma e clima ou melhor forma e processo Considerando o ajustamento da paisagem ao domínio climático ao longo das faixas latitudinais Tricart Cailleux 1965 representaram as grandes zonas morfoclimáticas do globo partindo do conceito de que tais compartimentos devem ser entendidos numa determinada dimensão espacial zonal e de domínios regionais com duração temporal dos processos suficiente para imprimir marcas ou formas compatíveis na paisagem Por processo morfogenético entendese a relação entre a modalidade de intemperismo e formas correspondentes que podem variar tanto no tempo de elaboração como na extensão territorial provocando maior ou menor associação na relação processoforma Como exemplo podem se mencionar os processos morfogenéticos responsáveis pelos extensos aplainamentos associados aos climas secos do Terciário Médio ainda bem preservados no CentroOeste brasileiro ou ainda o reafeiçoamento de formas e respectivos depósitos correlativos associados às oscilações climáticas pleistocênicas As fases glácioeustáticas pleistocênicas com duração média de 50000 a 100000 anos foram responsáveis pela elaboração de rampas pedimentadas nas regiões intertropicais bem como formas associadas à expansão dos glaciais nas regiões temperadas Portanto tais processos não tiveram tempo suficiente de duração para imprimir significativamente suas marcas no relevo em nível de domínio e nem mesmo tiveram uma abrangência espacial tão expressiva como os pediplanos por ocasião das condições climáticas semiáridas do Terciário O conceito de processo morfodinâmico tem sido entendido como aquele associado ao intemperismo atual ou seja relacionado à escala de tempo histórica incorporandose às diferentes formas de intervenções destacandose as antropogênicas Portanto são processos mais restritos tanto no tempo quanto no espaço sujeitos a oscilações ou ritmos dos principais agentes naturais como as chuvas considerando as modificações impostas pelo ser humano no processo de apropriação do relevo Encontrase correlacionado ao terceiro nível de abordagem tratado pela fisiologia da paisagem Assim esses termos podem ser empregados considerando os limites impostos à compreensão da especificidade do fenômeno observado Quanto mais distante o evento geomorfológico tempo geológico em relação à impossibilidade de observálo nas suas especificidades diárias tempo humano menor a capacidade de compreendêlo quanto à sua dinâmica Outro assunto importante para melhor compreensão da compartimentação do relevo diz respeito às unidades taxonômicas têmporoespaciais que têm por princípio a dimensão das formas na perspectiva tridimensional tamanho gênese e idade Ross 1992 utilizandose das unidades taxonômicas apresentadas por Demek 1967 propõe seis níveis para a representação geomorfológica Fig 112 1 º táxon que corresponde a uma maior extensão superficial é representado pelas Unidades Morfoestruturais denominado de Domínios Morfoestruturais no manual do IBGE 1995 cuja escala permite a plena identificação dos efeitos da estrutura no relevo como mostram as imagens de radar ou as de satélite em escala média em torno de 1250000 Exemplo pode ser dado para o Estado de Goiás pelos escudos antigos associados aos dobramentos arqueanos e proterozóicos que se distinguem dos depósitos paleomesozóicos da bacia sedimentar do Paraná Este táxon organiza a causa de fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia com os elementos geotectônicos os grandes arranjos estruturais e eventualmente a predominância de uma litologia conspícua IBGE 1995 p 11 2 º táxon referese às Unidades Morfoesculturais denominado de Regiões Geomorfológicas pelo IBGE 1995 contidas em cada Unidade Morfoestrutural Referese a compartimentos que foram gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas mas estão ligadas essencialmente a fatores climáticos atuais ou passados Incluemse neste taxon os planaltos e as serras as depressões periféricas como a da Bacia do Paraná Tominaga 2000 As unidades morfoesculturais em geral não têm relação genética com as características climáticas atuais Ross 1992 3 º táxon representa as Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes correspondente às Unidades Geomorfológicas na metodologia adotada pelo IBGE 1995 que por sua vez encontramse contidas nas Unidades Morfoesculturais Tratase de compartimentos diferenciados em uma mesma unidade relacionados a processos morfoclimáticos específicos com importante participação dos eventos tectônicos ou diferenciações litoestratigráficas sem desconsiderar influências do clima do presente O Manual Técnico de Geomorfologia IBGE 1995 defineo como arranjo de formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado A identificação dessas unidades na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 fundamentouse na visão de conjunto fornecida pela imagem de radar na similitude de formas de relevo no posicionamento altimétrico relativo e na existência de traços genéticos comuns que constituíram a gama de elementos que permitiu a identificação de quatro unidades geomofológicas o Planalto Central Goiano os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná o Planalto dos Guimarães Alcantilados e a Depressão do Araguaia O Planalto Central Goiano integra quatro subunidades morfologicamente distintas Planalto do Distrito Federal Planalto do Alto TocantinsParanaíba Planalto Rebaixado de Goiânia e as Depressões Intermontanas A unidade geomorfológica Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná abrange o Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e o Planalto de MaracajuCampo Grande 4 º táxon referese às formas de relevo individualizadas na unidade de padrão de formas semelhantes correspondente aos Modelados11 na metodologia adotada pelo IBGE 1995 Estas formas quanto à gênese podem ser agradação como as planícies fluviais ou marinhas terraços fluviais ou marinhos ou de denudação como colinas morros e cristas Para o IBGE 1995 p 12 na composição do mapa geomorfológico são delimitados quatro tipos de modelados os de acumulação os de aplanamento sempre que possível identificados pela definição de sua gênese e funcionalidade os de dissecação e os de dissolução Uma unidade de padrão de formas semelhantes é composta por numerosas formas de relevo com morfologia e morfometria semelhantes entre si A identificação morfológica nas manchas ou polígono de modelado correspondente a grupamento de formas do relevo é expressa através de letras Projeto Radambrasil S para formas estruturais E para formas erosivas e A para formas de acumulação As formas de dissecação são identificadas pelas letras a formas aguçadas c formas convexas e t formas tabulares A caracterização morfométrica é estabelecida pela dimensão interfluvial e o aprofundamento da drenagem Ross 1992 sugere a seguinte relação de grandeza das formas de dissecação Tab 14 Tabela 14 Índice de dissecação considerando a relação aprofundamento da drenagem e dimensão interfluvial Dimensão interfluvial em metros Grau de aprofundamento da drenagem Muito grande 1 1500 Grande 2 1500 a 700 Média 3 700 a 300 Pequena 4 300 a 100 Muito pequena 5 100 Muito fraco 1 10 m 11 12 13 14 15 Fraco 2 10 a 20 m 21 22 23 24 25 Médio 3 20 a 40 m 31 32 33 34 35 Forte 4 40 a 80 m 41 42 43 44 45 Muito forte 5 80 m 51 52 53 54 55 Fonte Ross 1992 5 º táxon referese às partes das vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo As vertentes de cada tipologia de forma são geneticamente distintas e cada um dos setores dessas vertentes pode apresentar características geométricas genéticas e dinâmicas diferentes Tominaga 2000 p 17 A representação zonal desse táxon só é possível em escalas grandes 125000 15000 Nas escalas médias 150000 1100000 podem ser individualizadas através de símbolos lineares ou pontuais No Manual Técnico de Geomorfologia do IBGE 1995 o 5º táxon ou ordem de grandeza abrange fatos cuja dimensão espacial implica representação por símbolos lineares ou pontuais 6 º táxon corresponde às pequenas formas de relevo que se desenvolvem por interferência antrópica direta ou indireta ao longo das vertentes São formas geradas pelos processos erosivos e acumulativos atuais Ross 1992 como ravinas voçorocas corridas de lama assoreamentos dentre outros Tais representações só se tornam possíveis em escala grande 15000 11000 O estudo geomorfológico permite o detalhamento de formas além do 6º táxon como o estudo da micromorfologia de materiais na estrutura superficial ou ainda considerações sobre evolução ou formas do relevo à luz da teoria dos fractais Com relação à abordagem fractal Christofoletti 1999 p 67 a evidencia como uma nova linguagem usada para descrever modelar e analisar as formas complexas encontradas na natureza tendo como noção básica a repetividade do padrão geométrico nas diversas escalas de grandeza espacial No estudo das unidades morfoestruturais destacase à expressividade manifesta pela estrutura rochas e tectônica mesmo sabendo que a dissecação enquanto processo foi a responsável pela exumação e exposição das formas associadas à estrutura Como a estrutura é destacada atribuise o fato geomorfológico à tipologia estrutural a exemplo do evidenciado através dos mosaicos de radar ou imagens de satélite em escalas média a pequena 1250000 1500000 Ao contrário quando se trabalha em maior escala como 15000 ou 125000 a estrutura é mascarada pelos depósitos de cobertura evidenciando maior participação dos processos morfogenéticos na compreensão das formas Constatase hoje nos estudos geomorfológicos importante tendência em não se valorizar um componente em detrimento do outro clima x estrutura o que demonstra amadurecimento epistemológico no sentido de se procurar entender o relevo em sua integridade Notas de Rodapé 2 Por depósito correlativo ou estrutura superficial entendese determinado tipo de material associado a processos morfogenéticos determinados por condições climáticas específicas 3 Conforme Rorty 1995 as teorias holísticas parecem dar licença a todos para construírem seu próprio pequeno todo seu próprio pequeno paradigma sua própria pequena prática seu próprio pequeno jogo de linguagem e depois se arrastam para dentro do mesmo 4 Capra 1996 esclarece de forma original a diferença entre os termos holístico e ecológico utilizandose do exemplo da concepção de se ver a bicicleta a visão holística significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender em conformidade com isso as interdependências das suas partes Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso mas acrescentalhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social de onde vêm as matériasprimas que entram nela como foi fabricada como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada e assim por diante 5 Morin 1977 resgata o conceito da physis dos présocráticos no sentido de entender que o universo físico deve ser concebido como o próprio lugar da criação e da organização Nesse sentido parte da idéia de que somos seres físicos o que transforma a physis em princípio significante 6 A externalização da natureza utilizada como certa freqüência significa a externalização do homem em relação à natureza entendida como argumento de promoção à legitimação da apropriação privada dos meios de produção 7 Por nível de base entendese todo e qualquer ponto mais baixo em relação a uma área localizada a montante que se caracteriza como referência aos processos erosivos O nível de base de um curso dágua corresponde ao rio localizado a jusante o qual terá como nível de base outro curso localizado mais abaixo níveis de base locais e regionais O nível de base geral de todos os rios é o nível do mar 8 Perfil de equilíbrio é uma referência teórica que se tem descrita por um curso dágua curva hiperbólica Para se obter o suposto perfil de equilíbrio haveria necessidade de longo tempo de estabilidade tectônica e climática 9 O jogo de forças contrárias ao longo do tempo permite relacionálo a um procedimento dialético considerando suas respectivas leis a passagem da quantidade em qualidade o que pode ser atribuído à persistência de determinada ação morfogenética clima seco ou úmido na elaboração de formas aplainamentos ou incisão vertical pela drenagem e a interpenetração dos contrários correspondente à associação de formas pretéritas e atuais como a existência de testemunhos de aplainamentos em pleno domínio climático úmido 10 Para Penck 1953 os três elementos são 1 processos exógenos 2 processos endógenos e 3 o produto de ambos como podem ser chamadas as feições morfológicas 11 Os Modelados referemse a formas de relevo que apresentam similitude de definição geométrica em função de uma gênese comum e da generalização dos processos morfogenéticos atuantes resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais IBGE 1995 Referências Bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 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compartimentação topográfica Conceito definir o conceito de compartimentação topográfica observando a importância de se considerar as implicações estruturais e paleoclimáticas nos grandes compartimentos Importância da compartimentação falar da importância da compartimentação para o uso e ocupação das áreas considerando a movimentação do relevo evidenciar suas vulnerabilidades e potencialidades Metodologia descrever as principais formas de se fazer uma compartimentação do relevo considerando as diferentes unidades taxonômicas metodologia adotada pelo Radam depois Radambrasil publicada pelo IBGE 1995 consiste na definição das regiões geomorfológicas unidades geomorfológicas e padrão de formas semelhantes vinculadas à dimensão interfluvial e aprofundamento da drenagem As grandes unidades estruturais e principais eventos morfoclimáticos Falar das grandes unidades estruturais do globo escudos antigos estruturas sedimentares e dobramentos modernos mostrando o significado da estrutura na diferenciação dos compartimentos Utilizar imagens na escala média 1250000 para mostrar as diferenças Evidenciar a ação da pediplanação na horizontalização de superfícies e da importância da tectônica no entalhamento da drenagem e elaboração de paisagens diferenciadas Os principais tipos de relevo e suas relações estruturais Apresentar os modelos clássicos de evolução do relevo considerando o jogo das forças antagônicas responsáveis pelo seu processo evolutivo 2 Compartimentação Topográfica A compartimentação topográfica corresponde à individualização de um conjunto de formas com características semelhantes o que leva a se admitir que tenham sido elaboradas em determinadas condições morfogenéticas ou morfoclimáticas que apresentem relações litoestratigráficas ou que tenham sido submetidas a eventos tectodinâmicos A interpenetração das diferentes forças ao longo do tempo leva à caracterização das formas de relevo da situação topográfica ou altimétrica e da existência de traços genéticos comuns como fatores de individualização do conjunto Assim a evolução do modelado terrestre cujas particularidades proporcionam a especificidade de compartimentos resulta do seguinte jogo de forças contrárias Agentes internos comandados pela estrutura considerando o comportamento litoestratigráfico e implicações de natureza tectônica e Agentes externos relacionados aos mecanismos morfogenéticos em que os componentes do clima assumem relevância A expressividade dessas forças no modelado depende tanto da intensidade quanto da duração dos fenômenos Para a elaboração de superfícies aplainadas por exemplo tornase necessário um trabalho prolongado de erosão associado ao intemperismo físico em condições tectônicas e climáticas relativamente estáveis Dessa forma a elaboração dos pediplanos vinculase a uma determinada condição climática ao longo de um tempo geológico e a uma certa estabilidade tectônica Esse comportamento justifica a gênese dos extensos pediplanos de cimeira ainda presentes no modelado brasileiro como a unidade denominada Chapadas do Distrito Federal em processo de dissecação A dissecação atual ou subatual encontrase associada ao entalhamento da drenagem que contou com o soerguimento do relevo ou seja com os mecanismos epirogenéticos positivos responsáveis pela reativação da erosão remontante e conseqüente incisão dos talvegues Assim sendo a compartimentação topográfica evidencia o resultado das relações processuais e respectivas implicações tectônicoestruturais registradas ao longo do tempo considerando o jogo das componentes responsáveis pela elaboração e reelaboração do modelado em que as alternâncias climáticas e as variações estruturais tendem a originar formas diferenciadas Dessa maneira os efeitos paleoclimáticos e eventos tectônicos em determinadas condições estruturais se constituem em pilares de sustentação para a compreensão do modelado atual cuja semelhança ou similitude de formas permite a identificação de um compartimento independente da escala de estudo Um dos referenciais para o estudo dos compartimentos referese às unidades taxonômicas espaciais e temporais ou seja à dimensão espacial da área de estudo e fatores genéticos registrados ao longo do tempo para que sejam definidas as variáveis imprescindíveis à compreensão das formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelados Nesse caso é considerada não apenas a dimensão espacial mas também o número de variáveis necessárias para explicar o modelado Como exemplo no segundo nível taxonômico adotado por Ross 1992 visto no capítulo anterior as unidades morfoesculturais geralmente são identificadas na escala ao milionésimo já no quinto táxon o estudo das vertentes só se torna possível numa escala bem maior preferencialmente entre 15000 até 120000 Enquanto na primeira situação a estrutura geológica e efeitos tectônicos assumem relevância para explicar os traços gerais do modelado no estudo das vertentes os processos morfogenéticos pretéritos e atuais sobretudo os morfodinâmicos considerando as derivações antropogênicas assumem destaque Assim podese constatar a importância da compartimentação do relevo não só para o entendimento da paleogeografia mas também como forma de oferecer subsídios ao uso e ocupação do modelado na escala do tempo histórico É evidente que dispõese de recursos de apropriação para os diferentes compartimentos do relevo independente das supostas restrições ao uso ou ocupação contudo independentemente das potencialidades e possibilidades tecnológicas devese atentar para o significado do custo social de tais investimentos A apropriação racional do relevo enquanto suporte ou recurso além de reduzir os possíveis impactos ambientais possibilita a destinação de investimentos para setores sociais emergentes com vistas à perspectiva de uma economia solidária Dentre os subsídios que a compartimentação do relevo oferecem destacamse a vulnerabilidade e a potencialidade Por vulnerabilidade na perspectiva geomorfológica entendese a suscetibilidade erosiva do relevo tanto em condições naturais quanto prognosticáveis em função de determinados usos ou ocupações tendo o compartimento topográfico como suporte ou recurso A potencialidade conforme o próprio nome indica referese a determinadas individualidades que podem ser racionalmente apropriadas para fins específicos como a destinação de áreas portadoras de depósitos de cobertura com fertilidade natural às atividades agrícolas ou ainda morfologias especiais como as cársticas e falhadas voltadas a explorações turísticas Aliandose os estudos sobre os diferentes graus de vulnerabilidade do relevo a suas potencialidades tornase possível produzir mapas com indicações para usos sustentáveis ou destinados à proteção ambiental A metodologia utilizada para a compartimentação do relevo depende da dimensão ou escala do estudo a qual deverá ajustarse a determinado nível taxonômico A metodologia para o Zoneamento EcológicoEconômico da Amazônia Legal proposta por Becker Egler 1997 sugere por exemplo como subsídio à gestão do território o estudo da vulnerabilidade da paisagem natural e da potencialidade social considerando uma base cartográfica na escala 1250000 portanto de nível regional A caracterização da vulnerabilidade natural fundamentase nos conceitos ecodinâmicos de Tricart 1975 tendo o relevo como componente básico A classificação da paisagem considera três situações quanto ao grau de estabilidade meios estáveis meios instáveis e intergrades A classificação do meio encontrase diretamente associada à relação pedogênese morfogênese A potencialidade social além de levar em conta as condições para o desenvolvimento humano fatores dinâmicos restritivos e intermediários considerando a potencialidade humana produtiva e institucional incorpora parâmetros do potencial natural como recursos minerais aptidão agrícola dos solos e a cobertura vegetal O relevo em tal situação na escala prevista 1250000 seria analisado com base nos três primeiros táxons propostos por Ross 1992 O Projeto Radambrasil aperfeiçoou ao longo dos anos importante contribuição metodológica para a caracterização dos padrões de formas quarto táxon Fundamentado na dissecação do relevo o mapeamento leva em consideração as dimensões interfluviais e o grau de aprofundamento da drenagem o que permite inferir sobre as relações morfogênesepedogênese mencionadas enquanto no domínio de formas tabulares prevalece a pedogênese considerando a superioridade da infiltração sobre o escoamento no domínio de formas aguçadas ao contrário predomina o escoamento O grau de convexização reflete no jogo das componentes tratadas pedogênesemorfogênese o que pode ser justificado pela intensidade da incisão da drenagem cuja densidade reflete na dimensão interfluvial A compartimentação do relevo em escala grande 15000 até 120000 referente ao quinto táxon individualiza os domínios de determinadas formas do relevo tendo a vertente como elemento de representação Nesse caso além da dissecação relacionada à própria densidade da drenagem devese observar o significado geométrico e morfométrico das vertentes o comportamento da estrutura superficial e os elementos atinentes à fisiologia da paisagem Dentre estes destacamse o diagnóstico do uso e ocupação e os impactos relacionados aos processos morfodinâmicos com o intuito de proporcionar melhor caracterização da vulnerabilidade do relevo à erosão O mesmo tratamento ou a mesma intensidade de estudo deve ser destinada ao diagnóstico da potencialidade do relevo na escala em questão A interposição desses parâmetros proporcionará a elaboração de uma carta de síntese subsidiando a gestão do território Embora considerese para os objetivos mencionados a compartimentação do relevo como suporte não se deixa de utilizar os demais níveis de abordagem geomorfológica como a estruturação superficial e a fisiologia da paisagem comprovando a necessária visão integrada dos diferentes componentes nos estudos geomorfológicos A compartimentação topográfica ou do relevo depende dos objetivos e do nível de abordagem proposto para o estudo Abreu 1982 reportase a quatro obras julgadas fundamentais para a classificação dos fatos geomorfológicos Birot 1955 Cailleux Tricart 1956 Tricart 1965 e AbSáber 1969 A proposição de Cailleux Tricart 1956 foi retomada por Tricart 1965 com ampliação de 7 para 8 ordens de grandeza sendo que a valorização excessiva da escala obscureceu algumas considerações sobre a essência do objeto da classificação Tricart 1965 acaba levando o leitor a julgar que a essência do objeto de estudo da disciplina se altera com a escala daí ser necessário adaptar o método à escala de abordagem Isto fica particularmente nítido quando ele trata do mapeamento geomorfológico questão para a qual a classificação dos fatos é fundamental Abreu 1982 p 64 A contribuição dada por AbSáber 1969 foi a de proporcionar o ordenamento escalar dos fatos estudados em três níveis de abordagem revelando uma flexibilidade que permite ajustamento mais satisfatório em relação à essência dos fatos tanto do ponto de vista espacial quanto temporal A compartimentação topográfica como primeiro nível de abordagem da proposta sistematizada por AbSáber 1969 assim como de outros autores1 fundamentase nas relações taxonômicas O Projeto Radambrasil empregou uma metodologia de compartimentação do relevo tendo como base a ordenação dos fatos geomorfológicos fundamentandose no princípio de grupamentos sucessivos de subconjuntos constituídos de tipos de modelados Para Mamede et al 1983 no mapeamento da Folha SE22 Goiânia as Unidades Geomorfológicas correspondem à compartimentação do relevo identificada por um conjunto de matizes de mesma cor A função da compartimentação é subdividir o relevo em unidades que permitam tratamento individual Essas unidades são analisadas por ordem de grandeza e representadas por meio de um conjunto de formas de relevo que apresentam similitude e posição altimétrica individualizada Essas características significam que os processos morfogenéticos que atuaram numa unidade são diferentes dos que agiram nas outras Alguns destes processos foram predominantes em decorrência de condições litológicas estruturais ou climáticas O conjunto dos indicadores mencionados revela ainda a energia da erosão a que foi submetida à unidade seja no passado seja no presente Mamede et al 1983 A denominação das unidades geomorfológicas obedece via de regra à toponímia regional sendo geralmente precedida de termos geomorfológicos amplos como planície planalto e depressão As Unidades Geomorfológicas podem ser divididas em subunidades que identificam particularidades regionais pelo posicionamento altimétrico e por fatores genéticos Como exemplo a Unidade Geomorfológica Planalto Central Goiano Folha SE22 apresenta as seguintes subunidades Planalto do Distrito Federal caracterizada por superfícies erosivas pediplanadas 1200 metros Planalto do Alto TocantinsParanaíba 900 a 1000m descontínuo em área e envolvendo feições geomorfológicas bastante diversificadas Planalto Rebaixado de Goiânia 350 a 850m caracterizado em relação aos relevos vizinhos por diferenciação nas suas posições altimétricas relativas e na variação litológica e Depressões Intermontanas correspondente à superfície rebaixada e suavemente dissecada com altitudes médias que chegam a 700 metros As Unidades Geomorfológicas no exemplo utilizado enquanto compartimentos podem ser tomadas como elementos de referência da evolução do relevo 21 Componentes da compartimentação O relevo resulta da ação processual ao longo do tempo que pode ser reconstituída através das evidências intimamente ligadas a paleoformas como os depósitos correlativos ou formas específicas vinculadas aos mecanismos morfogenéticos A evolução do relevo analisada ao longo do tempo geológico incorpora o antagonismo determinado pelas forças endógenas comandadas pelas atividades tectônicas e exógenas relativas aos processos morfoclimáticos Fig 21 Entretanto a partir do momento em que se analisa o relevo atual os fatores internos ficam num segundo plano visto que seus reflexos são sentidos numa escala de tempo geológico com exceção das manifestações catastróficas como os vulcanismos ou abalos sísmicos evidenciados nas zonas de dobramentos modernos O resultado desse antagonismo de forças ao longo do tempo conhecido como geomorfogênese favorece o desenvolvimento de formas semelhantes em seus tipos de modelados A similitude dessas formas encontrase subordinada à intensidade e freqüência das ações processuais frente às reações tectônicoestruturais capazes de imprimir suas marcas que podem ser relativamente apagadas ou preservadas em função dos domínios subseqüentes A morfologia vista na atualidade resulta assim da interpenetração de formas em contínuo processo de transformação Essa mesma similitude de formas é que caracteriza os compartimentos morfológicos os quais contêm toda uma história evolutiva que pode ser parcialmente contada a partir de certas evidências como por exemplo os depósitos correlativos O relevo é caracterizado de modo geral por superfícies erosivas pediplanadas formas de dissecação como as tabulares convexas e aguçadas podendo apresentar variações ou combinações numa área restrita ou constituir um único domínio morfológico de grande extensão A heterogeneidade de formas de relevo se explica pela diferenciação estrutural e pela influência dos domínios morfoclimáticos A elaboração de vales abertos nas latitudes temperadas por exemplo achase intimamente ligada à ação dos glaciais alpinos no Pleistoceno o domínio de maresdemorros da região sudeste brasileira possui estreita relação com a reativação tectônica terciária e conseqüente retomada dos processos erosivos comandados principalmente pela incisão da drenagem e as grandes extensões aplainadas ainda evidenciadas na região central do Brasil estão estreitamente associadas aos mecanismos morfoclimáticos secos Enfim a morfologia atual preserva muitas vezes indicadores como as formas de relevo ou os depósitos correlativos que permitem a reconstituição de sua história mostrando que sua gênese é decorrente da alternância das forças antagônicas ao longo do tempo geológico Além disso as alterações no relevo observadas na escala do tempo histórico resultam também da ação direta ou indireta do homem não sendo considerada a participação dos processos internos Para melhor contextualização dos eventos geológicos ou geomorfológicos a serem tratados apresentase a escala do tempo com algumas informações suplementares Tab 21 Tabela 21 Escala do tempo geológico 211 As Formas Residuais e o Processo Evolutivo As extensas superfícies horizontais ou aplainadas de maior dimensão na região central do Brasil geneticamente não estão associadas ao clima úmido atual Suas formações superficiais caracterizadas por seqüências concrecionais denominadas de bancadas ferruginosas ou detríticas encontramse vinculadas a efeitos paleoclimáticos2 Tanto a fisionomia do relevo quanto os depósitos correlativos se justificam por processos morfoclimáticos pretéritos cujo material desagregado que capeia tais aplainamentos resulta de um clima agressivo ou mais especificamente de um clima seco árido ou semiárido Para explicar tais superfícies erosivas necessário se faz recorrer ao sistema de referência preconizado por King Pugh 1956 denominado pediplanação que significa o aplainamento do relevo por recuo paralelo das vertentes Para compreender tais processos devese considerar um clima seco onde o efeito da variação da temperatura alta temperatura durante o dia e baixa à noite é responsável pela desagregação mecânica das rochas termoclastia cujo alvo principal são as saliências topográficas das vertentes que vão gradativamente encolhendo ou recuando por desagregação à medida que os detritos de encostas caem pelo efeito gravitacional Assim a evolução do relevo acontece no sentido horizontal Persistindo clima árido ou semiárido existe uma tendência à destruição total das formas passadas proporcionando o nivelamento da superfície em relação ao ponto de referência para o recuo paralelo nível de base local ou regional originandose assim o pediplano A superfície de cimeira pode ser caracterizada por bancadas ferruginosas interpretadas como antigos horizontes B estruturais3 exumados e retrabalhados responsáveis pela resistência dessas superfícies aos efeitos erosivos A atividade erosiva na base da couraça ferralítica implica aluição ou desagregação do material sobrejacente cujos fragmentos provenientes de montante ficam depositados na falda ou sopé da vertente inumando a angularidade estrutural knick point A deposição vai se estendendo com o recuo da vertente podendo ser reafeiçoada pelo transporte associado às chuvas torrenciais próprias das condições semiáridas Fig 22 As superfícies de erosão podem ocorrer sob forma de patamares pequenos degraus intercalados a sucessivos níveis de aplainamento cuja gênese encontrase associada a ajustamentos isostáticos que são compensações de massas rochosas geradas por diferenças de densidades entre as crostas externa e interna A crosta interna conhecida como sima é constituída de silicatos de magnésio e a externa de densidade inferior formada por silicatos de alumina é denominada de sial O sial flutua sobre o sima com base na diferença de densidade porque toda reação manifestada na superfície resulta de acomodação ocorrida em profundidade Fig 22 Assim a parte elevada submetida à erosão sofre alívio de carga e tende a se elevar ainda mais O material retirado dessas partes mais altas vai ser depositado em lugares mais baixos que conseqüentemente sofrerão subsidência ou rebaixamento ao longo do tempo Essa dinâmica expressa pela continuidade desse processo referese à própria acomodação isostática Quando ocorre em um mesmo ciclo erosivo como um ciclo em clima seco originamse degraus topográficos caracterizados por sucessivos pediplanos ou novas superfícies erosivas embutidas nos testemunhos de montante resultando em novas seqüências de depósitos correlativos níveis de erosão correspondentes a materiais desagregados constituintes dos denominados pedimentos detríticos Geralmente são verificados restos de bancadas nos níveis de embutimento4 provenientes do retrabalhamento de concrecionamentos de montante ou materiais resultantes da própria rocha subjacente uma vez que o recuo paralelo estará ocorrendo entre a superfície erosiva e a estrutura geológica localizada imediatamente abaixo A origem das bancadas ferruginosas parece estar associada a efeitos paleoclimáticos ou seja à existência de um clima do tipo tropical com estação seca definida anterior ao processo de aplainamento que teria proporcionado a concentração do ferro na subsuperfície posteriormente exumada e desagregada pelas atividades mecânicas associadas ao clima seco Na condição de clima tropical e ambiente ácido a chuva estimula a solubilização do ferro associado a certos tipos de rocha como a olivina e tantas outras O ferro solubilizado é transportado para as camadas iluviais do solo que possuem baixo grau de permeabilidade como o denominado horizonte B textural onde seria confinado precipitado e concentrado sendo posteriormente endurecido ou concrecionado pela própria deficiência hídrica relacionada ao período seco ou à fase climática transicional Fig 23 O ferro comumente está presente em solução sólida de minerais primários ocupando lugares equivalentes O potencial necessário para converter ferro para o estado férrico se dá em soluções aquosas naturais sobretudo em ambiente ácido5 Em tais condições o ferro dissolvido oxida para um óxido férrico hidratado que é insolúvel e precipitase podendo produzir através do intemperismo processo de laterização A precipitação ocorre preferencialmente no horizonte B por dificultar a migração descendente do ferro uma vez que os espaços intersticiais porosidade do horizonte são reduzidos Tanto o ferro quanto a alumina6 são prejudiciais ao plantio ainda mais quando se encontram em estado de óxidos ou de hidróxidos O estado férrico implica impermeabilização do solo impedindo o desenvolvimento radicular e a infiltração da água a intensa aluminização atua como fator fitotóxico elemento tóxico para as plantas restringindo seu desenvolvimento Além do ferro e da alumina temse também a sílica A sílica é solúvel em meio básico7 concentrandose em meio ácido portanto está menos presente nas latitudes intertropicais em que prevalece ambiente ácido As superfícies erosivas de cimeira são também caracterizadas por outros materiais independentes dos efeitos paleoclimáticos como os representados pelas bancadas ferruginosas Como exemplo os metassedimentos do Grupo Bambuí respondem por seqüências arenosas desagregação dos quartzitos aparecendo muitas vezes superpondo materiais concrecionários canga laterítica ou bancadas concrecionárias autóctones No domínio do Grupo Araxá os micaxistos sobretudo em áreas tectonicamente perturbadas aparecem filonados por quartzo veios de quartzo e a desagregação mecânica do material em ambiente agressivo dá origem a uma superfície detrítica Os fragmentos de quartzo resultantes de maior estabilidade química agregados ou levemente agregados pavimentam a superfície erosiva sob a forma de cascalheiras Esses materiais também podem aparecer superpondo concreções ferralíticas ou mais comumente a própria rocha alterada in situ Constituem inclusive o pavimento de superfícies intermontanas ou níveis de erosão Como tais pediplanos resultam de climas agressivos áridos ou semiáridos provavelmente estejam associados ao período Terciário Médio ou ao Pliopleistoceno Sua formação pode ser constatada a partir das últimas seqüências deposicionais das bacias sedimentares brasileiras correspondentes ao Cretácio e Terciário Grupo Bauru Formação Urucuia Formação Cachoeirinha dentre outras denominações geológicas regionais ou a partir de atividades intrusivas ocorridas na mesma época como as referentes ao Grupo Iporá do Cretáceo Superior Na realidade não é uma superfície composta de níveis relativos a apenas um ciclo erosivo muitos foram os ciclos morfoclimáticos ou morfogenéticos determinados por climas diferentes no decorrer do tempo geológico alguns dos quais destruídos por atividades erosivas posteriores ou mesmo inumados por depósitos que hoje caracterizam estruturas ou formações geológicas materiais litificados ou transformados em rocha Um segundo nível de aplainamento regional de natureza intermontana encontrase embutido entre áreas mais elevadas Na unidade geomorfológica Planalto Rebaixado de Goiânia Folha SE22 Goiânia do Projeto Radambrasil 1983 o pediplano intermontano se localiza entre 620 a 780 metros portanto com uma diferença de 300 a 400 metros em relação aos testemunhos do pediplanos de cimeira considerados mais antigos e é correlacionado à fase semiárida que teve início provavelmente no Plioceno e terminou no começo do Pleistoceno Tab 22 A diferença altimétrica entre ambos demonstra que o pediplano intermontano não estaria geneticamente relacionado apenas a fenômenos de compensação isostática visto que a intensidade de soerguimento para gerar a referida amplitude necessariamente foi muito maior Atribuise a causa desse desnível bem como a posterior formação da superfície intermontana a um fenômeno epirogênico positivo com conseqüente alteração climática de um clima seco para um clima úmido em que a organização da drenagem juntamente com o soerguimento do terreno teria respondido pela elaboração de um novo nível de base bem mais baixo em relação ao anterior comandado pela incisão vertical da drenagem Para se entender esse processo é necessário considerar como se dá o entalhamento do talvegue pela drenagem a partir do soerguimento da crosta o que foi tratado anteriormente quando se fez referência ao sistema de W Penck A epirogênese referese ao movimento ascensional epirogênese positiva ou descensional epirogênese negativa do continente em relação ao nível do mar Tratase de um fenômeno regional ou continental determinado por acomodações internas como articulações convergentes de placas responsáveis pela orogenia terciária como a andina de maior proporção porém em menor velocidade que as compensações isostáticas Portanto para se explicar a diferença topográfica do aplainamento de cimeira em relação ao aplainamento intermontano há de se considerar as atividades epirogenéticas positivas e a incisão da drenagem8 como fatores determinantes da discrepância altimétrica originada a partir do nível de base geral confluência dos rios com o mar Esse desnível resulta em reativação da erosão remontante ou regressiva ou seja na intensificação da incisão fluvial ou aprofundamento do talvegue efeito de epigenia Esse fenômeno se inicia na foz e segue em direção à cabeceira proporcionando o aumento da extensão do rio o que justifica a denominação de erosão regressiva ou seja para trás Fig2 4 Toda irregularidade ou diferença topográfica associada à alteração no nível de base geral ou mesmo local será atacada pela erosão regressiva cuja tendência corresponderia a um perfil de equilíbrio aparente Nessa circunstância o rio deixaria de erodir atingindo um perfil longitudinal idealizado como suavemente concavizado transportando apenas os materiais provenientes das vertentes na abordagem davisiana Em caso contrário ou seja ocorrendo uma epirogênese negativa terseia um afogamento do nível de base geral pelo mar gerando acumulação de material Assim a epirogênese positiva determina retomada de erosão e a negativa colmatação ou sedimentação Tab 22 A construção de reservatórios hidrelétricos exemplifica o fenômeno de colmatação Tabela 22 Eventos cenozóicos e feições associadas ou assoreamento pela elevação do nível de base local determinado pelo barramento do rio No caso de afogamento de vale por eustatismo positivo ou epirogênese negativa o fenômeno de assoreamento sedimentação se constitui numa das principais causas da intensificação de enchentes O desmatamento reduz a infiltração da água da chuva ao mesmo tempo em que favorece a erosão dos solos fluxo por terra com inumação dos talvegues O assoreamento da calha fluvial ou elevação do talvegue em função do assoreamento diminui a capacidade de vazão de um rio Com o acréscimo das intensidades pluviométricas chuvas torrenciais o aumento do escoamento pluvial ou do fluxo por terra leva ao transbordamento do canal fluvial dando origem às enchentes Devese acrescentar ainda que a erosão ou a acumulação determinada por alteração no nível de base geral pode também se dar pelo fenômeno de eustatismo que ao contrário da epirogênese resulta da elevação eustatismo positivo ou abaixamento eustatismo negativo do nível da água oceânica em relação ao continente o que pode estar associado tanto a mudanças climáticas como aos fenômenos tectônicos Geralmente esse processo acontece nas fases glaciais e interglaciais Com a redução da temperatura nas fases glaciais pleistocênicas há uma ampliação das calotas polares a partir da acumulação da neve precipitada A precipitação sob forma de neve é em grande parte proveniente da evaporação das superfícies oceânicas resultando em redução do nível marinho eustatismo negativo Com o acréscimo da temperatura na fase interglacial a fusão do gelo com retorno da água ao mar gera transgressão marinha eustatismo positivo com eventual afogamento de rios fenômenos de rias ou inundação de áreas anteriormente emersas Para se entender a diferença altimétrica entre duas superfícies de aplainamento é necessário estimar a mudança do ciclo morfoclimático passagem do clima seco para o úmido associada a efeito epirogenético positivo que teria ocorrido provavelmente no Terciário Superior pósOligoceno A existência da superfície de aplainamento intermontana significa retorno ao clima seco razão pela qual o recuo paralelo das vertentes se fazia a partir dos novos níveis de base geral regionais e locais A pediplanação ocorreu nas mesmas condições daquelas descritas por King Pugh 1956 apesar de o período de agressividade climática ter sido provavelmente menor o que pode ser estimado em função da menor extensão das formas e suas conformações As superfícies erosivas de cimeira são essencialmente tabulares ou horizontais apesar da natural e incipiente inclinação em direção ao nível de base dada a prolongada condição climática agressiva ou seca Já as superfícies intermontanas além de menor extensão apresentam formas normalmente descaracterizadas pelo processo de dissecação frente à ausência de componentes restritivos como os concrecionamentos registrados nos testemunhos de cimeira Enquanto as superfícies erosivas de cimeira sobretudo nas Chapadas do Distrito Federal encontramse via de regra capeadas por bancadas ferruginosas paleohorizontes B estruturais ou similares os níveis de embutimento e as superfícies erosivas intermontanas apresentamse parcialmente pavimentados por material detrítico Esses paleopavimentos são quase sempre constituídos pelo quartzo remanescente de antigos fragmentos rochosos resultantes da desagregação em clima seco os demais materiais como os da família dos feldspatos são geralmente decompostos pelo intemperismo químico relacionado ao clima úmido subseqüente ressaltando a estabilidade química do quartzo e alguns restos de concreções lateríticas pedaços de bancadas ferruginosas ou cangas provenientes da superfície de cimeira transportadas por processos morfogênicos associados ao recuo de vertentes ou a atividades de erosão remontante Os detritos resultantes da desagregação mecânica quando transportados pelos fortes aguaceiros chuvas torrenciais o que é comum nos ambientes semiáridos preenchem as irregularidades topográficas originando pedimentos Esses pedimentos apresentam uma distribuição granulométrica hierarquizada em relação à região de origem os fragmentos maiores ficam próximos aos pés das vertentes que estão sendo trabalhadas os fragmentos menores são transportados a maiores distâncias podendo coalescer com os próprios níveis de base locais antigos talvegues que serviram de referenciais ao recuo das vertentes originando as denominadas bajadas atualmente correspondentes a depressões relativas do tipo dales ou veredas Fig 24 A compartimentação topográfica pode encontrarse associada aos domínios fitogeográficos que por sua vez mantêm boa relação com as formações superficiais tipos de material decomposto ou edafizado que recobre a rocha As superfícies de cimeira encontramse em geral revestidas por espécies xeromórficas do tipo cerrado com desenvolvimento associado ao grau de concrecionamento e troca de bases solos distróficos9 Na superfície intermontana se desenvolve o cerrado espécies de domínio arbustivo algumas vezes variando para campos sujos espécies herbáceas em maior densidade quanto ao número de espécies quando comparadas às da superfície de cimeira Já nos espaços intermediários entre os níveis de cimeira e os intermontanos ou mesmo abaixo destes devido a processos pedogênicos subatuais e atuais aparecem formações vegetais mais densas que nas faixas de transição são substituídas por espécies de domínio xeromórfico Em tais circunstâncias a vegetação apresenta dificuldade de desenvolvimento tanto radicular considerando a presença de concreções detritolateríticas quanto pelas restrições impostas pelo efeito tóxico determinado pelo alumínio Isso de certa forma explica a presença de estratos herbáceos pontilhados de espécies arbustivas À medida que desaparecem tais restrições a vegetação ganha corpo podendo aparecer espécies arbóreas ou faixas de transição para a superfície de cimeira Tais fatores não apresentam limitações quanto ao desenvolvimento agrícola considerando os avanços científicotecnológicos que superam tanto as restrições físicas quanto as restrições químicas dos solos Pesquisas levam a entender que o cerrado teria surgido em algum momento do Terciário Médio ou Superior associado a um clima seco o que justifica sua caracterização enquanto vegetação xeromórfica A adaptação a condições climáticas mais úmidas evidencia considerável amplitude ecológica visto que ocorrem inclusive em regiões úmidas como os refúgios encontrados na região equatorial Nas áreas relativas a vertentes reafeiçoadas por processos paleoclimáticos atuais ou subatuais principalmente as localizadas entre superfícies ou níveis de aplainamentos distintos as formações florestais se fazem presentes O grau de decomposição clima úmido a que a rocha foi submetida muitas vezes deixa de se constituir em restrições físicas ou químicas apresentando maior capacidade de retenção de água Tratase de áreas cujos testemunhos de erosão passados foram destruídos pelas atividades morfogenéticas penecontemporâneas a serem consideradas posteriormente Apresentamse a seguir considerações quanto ao processo evolutivo do relevo tendo os aplainamentos de cimeira como referência inicial para a compreensão dos compartimentos e modelos atuais 212 As grandes unidades do relevo e suas relações taxonômicas Os grandes compartimentos do relevo serão abordados com base nas três primeiras unidades taxonômicos tratadas por Ross 1992 unidades morfoestruturais unidades morfoesculturais e unidades morfológicas ou padrões de formas semelhantes Os demais níveis taxonômicos serão considerados nos estudos relacionados à estrutura superficial e à fisiologia da paisagem em razão das especificidades das escalas uma vez que as práticas geomorfológicas de compartimentação do relevo têm assumido maior relevância nas abordagens regionais A unidade morfoestrutural presente em qualquer escala de abordagem é observada quanto às suas variações em nível territorial As diferenças morfoestruturais expressas pela estrutura geológica associada a eventos tectônicos encontramse sintetizadas em três grandes unidades escudos antigos bacias sedimentares e dobramentos modernos Os escudos antigos representados pelos escudos das Guianas BrasilCentral e Atlântico são formados por rochas ígneas ou magmáticas e pelas rochas metassedimentares Achamse vinculados aos eventos tectônicos antigos Arqueano e Proterozóico No Brasil Fig 25 são identificados seis grandes eventos tectônicos ou geodinâmicos termotectônicos ou tectomagmáticos associados aos terrenos antigos Schobbenhaus Campos 1984 Alguns de importância continental outros apenas de participação local Jequié 26002700 Ma10 na borda oriental da Chapada Diamantina Transamazônico 2000 Ma correspondente aos escudos setentrional e meridional da Amazônia Parguazense 15001600 Ma na Amazônia ocidental Zona de reativação Espinhaço 10001300 Ma também conhecida como Brasiliana antiga na seção oriental de Goiás e norte de Minas Rondoniense 10001300 Ma em Rondônia e noroeste matogrossense e Brasiliano moderno 450700 Ma correspondente à faixa que atinge parte significativa de Goiás e Tocantins abrangendo a borda oriental da região sudeste Os eventos tectônicos subseqüentes implicam retrabalhamentos das rochas préexistentes levando ao seu rejuvenescimento isotópico A complexidade litológica e os efeitos tectônicos oferecem aos escudos uma configuração especial muitas vezes mascarada pelos eventos morfoclimáticos As bacias sedimentares ou coberturas fanerozóicas abrangem o restante do país bacias sedimentares Amazônica do Meio Norte ou Parnaíba e do Paraná recobrindo estruturas antigas em que condições topográficas favoreceram deposições sedimentares a partir do Paleozóico ora sob condição marinha ora continental em diversos ambientes e condições climáticas definindo o emprego do conceito de grupos formações e fácies geológicas Há ainda o caso das coberturas terciárias que ultrapassam o Mesozóico algumas vezes soerguidas em função das manifestações tectônicas neogênicas denominadas Tectônica Moderna Para Almeida 1967 a reativação Wealdeniana correspondente à tectônica moderna processou reações de modo geocrático na velha ortoplataforma além de outros fenômenos como manifestações magmáticas intrusões básicas ultrabásicas e reativação de falhas Os dobramentos modernos ocorridos no Terciário resultam do choque de placas com soerguimento dos sedimentos que vinham se acumulando desde o Ordoviciano em ambiente marinho Na América do Sul destacamse os dobramentos Andinos A colisão de placas gerou uma série de manifestações tectônicas na crosta como os dobramentos novos falhamentos e reativação de antigas falhas Concomitantemente movimentos epirogenéticos provocaram soerguimentos na parte oriental do Brasil estimulando nova fase de entalhamento da rede de drenagem responsável pela dissecação da paisagem Na faixa préandina falhamentos de grande dimensão originaram o Pantanal Matogrossense Para se ter idéia das grandes diferenças estruturais no relevo considerando as unidades taxonômicas tomase o exemplo SulAmericano em sua integridade o que permitiria obter uma visão dos principais traços que individualizam os respectivos modelados os terrenos antigos muitas vezes expondo formas associadas aos diferentes eventos tectônicos como as formas circulares dos complexos de NiquelândiaSerra da Mesa em Goiás Fig 26 soerguidas por evento vulcanogênico em seqüências do Grupo Araxá as formas tabulares do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná como o Planalto de Rio Verde que acompanha o mergulho das camadas sedimentares em direção ao eixo da bacia do rio Paranaíba ou a estrutura altamente movimentada da cadeia andina onde prevalecem os efeitos da tectônica É possível mesmo nas grandes unidades morfoestruturais estabelecer compartimentos de menores dimensões considerando o conjunto de formas associadas a variações litoestratigráficas implicações tectônicas comandadas principalmente pelos domínios morfoclimáticos Apresentamse a seguir considerações a respeito dessas unidades As unidades morfoesculturais referemse aos grandes traços determinados pela tectônica e eventos morfoclimáticos existentes nas unidades morfoestruturais que podem grosso modo ser identificadas pelas condições topomorfológicas individualizadas por três grandes compartimentos planaltos planícies e depressões Por planalto entendese extensão territorial elevada de diferentes condições geológicas submetidas a processo de dissecação se caracterizando como fornecedor de sedimentos A depressão refere se a compartimento embutido em planaltos posicionada em situação topográfica inferior também submetida a processo de dissecação se caracterizando como fornecedora de sedimentos No mapa geomorfológico relativo à Folha Goiás SD22 Radambrasil 1981 o Planalto Central Goiano incorpora os Planaltos do Alto Tocantins Paranaíba e Planalto do Distrito Federal representado por estruturas metassedimentares magmáticas e vulcanosedimentares Encontramse entrecortados pela Depressão do Tocantins que para oeste coalesce com a Depressão do Araguaia A planície referese a compartimento receptor de sedimentos provenientes de montante encontrandose embutida tanto nos planaltos como nas depressões A Planície do Bananal localizada no médio Rio Araguaia encontrase embutida na Depressão do Araguaia As diferenças utilizadas para a compartimentação das unidades morfológicas do Planalto Central Goiano denominadas de subunidades pelos autores Mamede et al 1981 fundamentamse na similitude de formas associadas aos fatores tectoestruturais e mecanismos morfogenéticos Assim o Planalto do Distrito Federal se caracteriza por extensas chapadas superfícies pediplanadas contínuas com altitude média entre 1000 1200 metros sustentadas por concreções ferralíticas filitos e quartzitos do Grupo Paranoá o Planalto do Alto TocantinsParanaíba se individualiza por formas mais dissecadas fragmentadas com altitude média entre 700 950 metros associadas principalmente às estruturas metassedimentares do Grupo Araxá ou granulíticas do Complexo Goiano Em cada um dos compartimentos são identificados reflexos estruturais superfície estrutural tabular paleoerosivos como as superfícies pediplanadas e as diferentes formas de dissecação aguçadas convexas e tabulares A identificação desses padrões de formas semelhantes encontrase associada ao terceiro táxon a ser apresentado a seguir O terceiro táxon denominado de unidades morfológicas ou padrões de formas semelhantes se refere às manchas de menor extensão territorial que expressam determinadas formas que guardam entre si elevado grau de semelhança quanto ao tamanho de cada forma e ao aspecto fisionômico Ross 1992 Exemplos são as subunidades comentadas anteriormente inseridas no Planalto Central Goiano Planalto do Distrito Federal e Planalto do Alto TocantinsParanaíba A partir desse táxon foi apresentado refinamento morfológico ainda possível na escala 1250000 que permitiu além de caracterizar a forma estrutural erosiva ou de dissecação o estabelecimento de parâmetros morfométricos considerando a dimensão interfluvial e o grau de entalhamento da drenagem Mamede et al 1981 Com base em tais parâmetros tornase possível via de regra inferir sobre a vulnerabilidade erosiva da área quanto maior o grau de dissecação do relevo maior o domínio da morfogênese em relação à pedogênese e viceversa Portanto enquanto no domínio de formas aguçadas prevalece a erosão nas tabulares predomina a infiltração Nesse caso observase uma relação direta entre o grau de dissecação do relevo e a densidade de drenagem o que se reflete no grau de declividade e no jogo das componentes morfogênesepedogênese A compartimentação do relevo deve levar em consideração tanto o papel da estrutura geológica quanto os processos morfogenéticos Enquanto as diferenças litológicas e tectônicas expressam a configuração geral do modelado o clima através dos respectivos processos responde pela dissecação do relevo expondo a estrutura através da erosão diferencial ao mesmo tempo em que a intensidade da dissecação pode estar associada à ação tectônica ou à resistência litológica Assim a relação entre estrutura e clima deve ser vista numa perspectiva integrada da mesma maneira que os componentes que participam de cada um desses parâmetros Por exemplo as diferenças litológicas respondem ora pela gênese de cristas estruturais litologia resistente ora pelo entalhamento da drenagem litologia friável A intensidade tectônica por sua vez reflete se juntamente com a existência de falhas ou fraturas no maior ou menor grau de entalhamento da drenagem o clima responsável pela elaboração do modelado também se comporta de forma diferente ou seja no domínio árido ou semiárido a morfogênese mecânica é responsável pela desagregação das rochas e pelo recuo paralelo de vertentes com possibilidade de desenvolvimento de extensos pediplanos dependendo do tempo de duração do processo No domínio úmido com a organização ou reorganização da drenagem temse o entalhamento dos rios e a evolução do relevo comandada pelo intemperismo químico Enquanto no domínio seco a tendência evolutiva do relevo é a de originar formas horizontalizadas ou tabulares como as superfícies aplainadas no clima úmido a incisão da drenagem e conseqüente evolução das vertentes levam à produção de formas verticalizadas Fica portanto configurada a interpenetração de processos contrários no relevo onde a tendência de um determinado domínio morfoclimático em impor suas marcas à custa da degradação de formas elaboradas no passado acaba culminando com evidências morfológicas e cronodeposicionais relacionadas tanto aos processos atuais subatuais como paleoclimáticos 213 Os principais tipos de relevo e suas relações com o clima e estrutura A gênese e a evolução do relevo são ensejadas pelo jogo de forças antagônicas ou seja o clima e a estrutura geológica A elaboração dos tipos de relevos discutidos a seguir é pautada por essa abordagem mostrando por meio de seqüências evolutivas representadas por figuras a ação tanto da estrutura quanto do clima Tal abordagem tenta enfatizar essa conciliação utilizandose dos modelos clássicos em geomorfologia Os modelos discutidos encontramse caracterizados pelos segundo e terceiro táxons procurandose evidenciar a participação estrutural através das diferenças litológicas e esforços tectônicos sob ação de processos morfoclimáticos distintos 22 Modelos clássicos de gênese e evolução do relevo A classificação por domínios morfoestruturais bacias sedimentares escudos antigos e dobramentos recentes sem desconsiderar as complexidades existentes constituise num esquema útil enquanto recurso metodológico Com base nos referidos domínios serão consideradas as diferentes unidades morfológicas destacando os tipos específicos de relevo procurando evidenciar a interação entre forças endógenas e exógenas na elaboração do modelado Os escudos antigos conceito que incorpora a noção de ortoplataforma e paraplataforma11 correspondem ao craton continental Foram em diferentes momentos submetidos a fenômenos tectônicos tectônica antiga com reativação da tectônica moderna que responderam por elevada complexidade estrutural dobras falhas submetidos a diferentes sistemas erosivos responsáveis pelo arrasamento de superfícies e elaboração de formas verticalizadas em função de reativações tectônicas As atividades epirogenéticas póscretáceas estão constantemente presentes na composição das variáveis antecedentes responsáveis pela exumação de seqüências estruturais sobrejacentes como sucessão de cristas em estruturas dobradas ou soerguimento de testemunhos de aplainamento elaborados em condições paleoclimáticas Como resultado algumas faixas intracratônicas se formaram e foram entulhadas por sedimentos durante o Paleomesozóico sob certa estabilidade tectônica O espessamento associado à subsidência e à litificação progressiva dos sedimentos permitiram o desenvolvimento das bacias sedimentares A partir do Triássico manifestações tectônicas associadas à deriva continental geraram efeitos estruturais que se prolongaram até o início do Terciário associados à orogenia andina Ou seja a convergência de placas com a conseqüente orogenia moderna ocorrida no Terciário resultou de manifestações tectônicas iniciadas no Cretáceo As diferentes unidades estruturais e o tempo transcorrido responsáveis pela elaboração morfológica através dos diferentes mecanismos associados aos elementos do clima repercutiram na intensidade da evolução refletindo no comportamento topográfico Portanto os dobramentos recentes referemse aos níveis altimétricos mais elevados enquanto os escudos antigos apesar de rejuvenescidos por ocasião do soerguimento andino apresentamse desgastados e em posição altimétrica inferior em relação aos modernos Almeida et al 1976 apresentam as grandes unidades geotectônicas da América do Sul Fig 27 com destaque para as plataformas SulAmericana e da Patagônia a cadeia Andina a depressão Préandina o escudo Brasileiro remobilizado no Terciário escudo das Guianas escudo Central do Brasil e escudo Atlântico além das bacias fanerozóicas Essas unidades estruturais apresentam correspondência na disposição geral da morfologia Ab Saber 1975 reconhece na arquitetura dos continentes quatro grandes tipos de massas rochosas 1 Os terrenos de consolidação muito antiga chamados de escudos que podem se apresentar sob aspectos variados Aqui se incluem tanto as noções de ortoplataforma como a de paraplataforma representadas por maciços montanhas em blocos espinhaços montanhosos e estruturas complexas 2 As bacias sedimentares pouco deformadas denominadas intracratônicas por estarem embutidas nos escudos caracterizadas por planaltos sedimentares ou basálticos tabuliformes ou ligeiramente cuestiformes como as bacias sedimentares paleomesozóicas do continente brasileiro 3 Áreas sedimentares muito deformadas por dobramentos conhecidas como zonas de convergência de placas transformadas em cadeias de cordilheiras ou arcos insulares como os dobramentos modernos andinos 4 Áreas de sedimentação moderna ou em processo de sedimentação caracterizando as terras baixas em geral como as planícies de extensão continental tabuleiros e baixos platôs e depressões interiores Os escudos ou cratons correspondem às mais velhas plataformas dos continentes ortoplataformas responsáveis pelo fornecimento de sedimentos que entulharam as faixas intracratônicas gerando compensações isostáticas que permitiram a continuidade da inumação das bacias estimulada pela subsidência e processo de exumação das estruturas cratônicas periféricas por arqueamento Fig 28 As grandes cordilheiras correspondentes aos dobramentos terciários tectônica moderna são entendidas como resultantes da deriva e choque de placas responsáveis pelo soerguimento de depósitos marinhos iniciados no Eopaleozóico seqüência de 5000 a 10000 metros de sedimentos Com o subduccionamento da placa marinha aconteceram dobramentos e soerguimentos do material depositado associados a fenômenos paralelos Fig 29 As condições genéticas e a ação dos efeitos denudacionais ao longo do tempo levaram as unidades estruturais a apresentarem características morfológicas que preservaram suas particularidades Entretanto não se pode deixar de se considerar a possibilidade de mascaramento destas unidades estruturais pela ação dos mecanismos comandados ou ligados ao clima 2211 Características Morfológicoestruturais nas Bacias Sedimentares As bacias sedimentares se formam nas faixas intracratônicas e o processo de entulhamento é favorecido pela subsidência que gera compensação isostática Diante disso assumem espessuras pronunciadas responsáveis pela subsidência central permitindo a continuidade da sedimentação As bacias sedimentares brasileiras por exemplo apresentam espessuras que chegam a 6000 metros Petri Fulfaro 1983 como na baixa bacia Amazônica Fig 210 De modo geral as seqüências sedimentares das bacias se dispõem em forma de sinéclises ou seja a espessura das camadas cresce da borda para o centro com mergulhos que acompanham o substrato cristalino parcialmente atribuído ao próprio processo de subsidência ligeiramente inclinados na periferia das bacias com tendência de horizontalização na seção central Via de regra a sedimentação se inicia em discordância angular contato da sedimentação inicial com a superfície intracratônica dobrada fraturada ou falhada ou discordância erosiva e continua com tendência de manutenção de concordância entre as seqüências litoestratigráficas ou discordância erosiva entre as mesmas Fig 211 O bloco diagrama da bacia do Alto Paraná esquematizado por AbSáber 1954 mostra a disposição das camadas em relação à base cristalina assim como a influência do mergulho na elaboração das cuesta s periféricas resultantes do processo de circundesnudação póscretácea O comportamento das camadas mergulho e as características litológicas dos estratos oferecem uma diferenciação morfológicoestrutural responsáveis pela origem e pela evolução do relevo tabuliforme e do relevo de cuestas analisados a seguir a Relevo Tabuliforme O relevo tabuliforme caracterizado por uma seqüência de camadas sedimentares horizontais ou subhorizontais associadas ou não a derrames basálticos intercalados embora elaborado pelos mecanismos morfoclimáticos reflete diretamente a participação da estrutura Tratase de formas estruturais caracterizadas por seqüências sedimentares horizontalizadas cuja disposição tabular pode diferir daquelas resultantes de processo de pediplanação em estruturas nãohorizontais Ressaltase que a pediplanação também se dá em estruturas horizontais com estreita correspondência entre a superfície de erosão e o comportamento dos estratos Os relevos tabulares tendem a ocorrer com maior freqüência no interior das bacias sedimentares dada a disposição horizontalizada dos estratos As formas mais comuns nas estruturas concordantes se caracterizam por chapadões chapadas e mesas em ordem de grandeza Tais formas são geralmente mantidas à superfície por camadas basálticas ou por sedimentos litificados de maior resistência Quando submetidas a processo de pediplanação podem estar associadas a concreções ferruginosas com vegetação xeromórfica provavelmente ligada às condições ambientais áridas ou semiáridas que deram origem à superfície erosiva O início da evolução dos relevos tabuliformes sobretudo no caso brasileiro encontrase relacionado a uma fase climática úmida responsável pela organização do sistema hidrográfico sobre um pediplano em ascensão por esforços epirogenéticos Assim admitese esquematicamente a seguinte evolução na elaboração do relevo tabuliforme 1 Organização do sistema hidrográfico em fase climática úmida associada a efeitos epirogenéticos Considerando que as seqüências litoestratigráficas superiores das bacias sedimentares brasileiras datam do Cretáceo entendese que a organização da drenagem e a evolução vertical do modelado dadas pela incisão linear da drenagem tenham acontecido a partir daquele período Fig 213 Além disso a orientação do sistema fluvial pode estar associada à imposição do mergulho das camadas ou à orientação topográfica ligada ao processo de pediplanação inclinação em direção ao nível de base local ou regional 2 Devido aos esforços epirogenéticos considerados há uma tendência de aprofundamento dos talvegues e de elaboração de seus vales Nessa circunstância as alternâncias litológicas podem originar patamares estruturais ou formas específicas relacionadas à imposição estrutural Fig 214 Dada a disposição horizontal das camadas os vales comumente apresentam formas simétricas A manutenção da resistência litológica entretanto é relativa transitória ou seja o recuo da camada resistente pode se dar pelo solapamento do material subjacente mais tenro provocando aluição da camada superior Fig 215 A retirada do material friável pode também exumar uma superfície estrutural individualizada pela resistência litológica 3 A tendência de alternância climática como a passagem do clima úmido para o seco evidenciada na evolução morfológica póscretácea brasileira provavelmente no PlioPleistoceno teria sido responsável pela evolução horizontal do modelado dada a aceleração do recuo paralelo das vertentes por desagregação mecânica A abertura dos vales tendo como nível de base os talvegues abandonados teria proporcionado entulhamento do próprio nível de base com tendência de elaboração de pediplano intermontano Fig 216 Enquanto o clima úmido por meio do entalhamento dos talvegues teria respondido pela evolução vertical da morfologia o clima seco tenderia a destruir as formas criadas pelo clima úmido proporcionando a evolução horizontal da morfologia caracterizando deste modo mais uma das relações antagônicas da natureza Observase que enquanto no clima úmido as camadas resistentes ficam pronunciadas no clima seco a desagregação mecânica tende a reduzir as diferenças litoestratigráficas 4 Uma nova fase climática úmida ensejaria uma nova organização da drenagem e conseqüentemente um reentalhamento dos talvegues proporcionando o alçamento de antigos depósitos como os pedimentos detríticos que inumaram áreas depressionárias Temse assim o prosseguimento do trabalho evolutivo por erosão remontante e denudação dos topos interfluviais com exumação parcial de camadas subjacentes resistentes originando as superfícies estruturais ou simplesmente a esculturação dos sedimentos que compõem a camada sobrejacente caracterizando as superfícies esculturais O trabalho comandado pelo sistema hidrográfico enseja a evolução do relevo via erosão regressiva promovendo ramificações de cursos de primeira ordem podendo então aparecer formas residuais como os morrostestemunhos mantidos ou não por coroas litoestruturais como o somital associado a materiais resistentes As diferenças litológicas poderiam ainda proporcionar saliências morfológicas parcialmente mascaradas na fase anterior de clima seco denominadas cornijas Com a abertura dos vales haveria uma tendência a se formarem vales simétricos denominados vales em manjedouras Fig 217 A presença de pedimentos detríticos em processo de retrabalhamento morfológico pela incisão da drenagem é testemunha do clima seco correspondente à fase anterior Um exemplo de morfologia estrutural tabular ocorre principalmente no sudoeste do Estado de Goiás na borda setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná No município de Paraúna chapadas e estruturas ruiniformes em estratos horizontais ou subhorizontais embora posicionadas em situação periférica à bacia não chegam a caracterizar relevos cuestiformes a serem tratados adiante e sim um exemplo típico de relevo tabular Nessa área seqüências sedimentares carboníferas da Formação Aquidauna sotopõem estruturas cristalinas précambrianas gnaisses do Complexo Goiano e micaxistos do Grupo Araxá recobertas ou não por depósitos do jurássicocretácico do Grupo São Bento ou cretácico do Grupo Bauru sobretudo a oeste do município Enquanto nas proximidades da sede do município a presença de mesas e formas residuais lembram modelados de cuestas onde o sistema hidrográfico exumou a estrutura cristalina área de contato estrutural em direção oeste o domínio sedimentar responde pela gênese de extensas chapadas com baixo grau de entalhamento dos talvegues Fig 218 O topo da seqüência sedimentar encontrase seccionado por extenso pediplano que coincide com o topo dos interflúvios da estrutura cristalina em torno de 900 metros com caimento suave em direção sudoeste Com base nas evidências cronoestratigráficas depósitos correlativos admitese que a organização da drenagem seja póscretácica provavelmente miocênica associada a efeito epirogenético positivo que promoveu denudação regional Na borda das chapadas registrase a presença de estruturas ruiniformes favorecidas pela estrutura dos sedimentos carboníferos Formação Aquidauana As juntas ortogonais nos arenitos da Formação Aquidauana favorecem o desenvolvimento de decomposição esferoidal com arredondamento gradativo dos blocos rochosos De modo geral as chapadas são caracterizadas por topos horizontais resultantes ou não de aplainamentos erosivos coincidentes com a disposição estrutural muitas vezes sustentados por bancadas ferruginosas que oferecem resistência ao recuo das vertentes Fig219 As escarpas verticais tendem à concavização na base onde são depositados os detritos mais grosseiros associados ao recuo paralelo Há também estreita relação entre a cobertura vegetal e os elementos morfológicos descritos vegetação herbáceoarbustiva no pediplano de cimeira presença de vegetação pioneira nas escarpas verticais e espécies arbóreoarbustivas na seção do talus ou debris slope base da escarpa normalmente preenchida por colúvios pedogenizados A serra da Portaria no município de ParaúnaGO representada por seqüência silticoarenítica em estrutura concordante horizontal exemplifica a gênese de patamares ou escadarias resultantes de erosão diferencial No clima úmido atual os arenitos portadores de cimento silicoso apresentam maior resistência do que os folhelhos sílticos o que tem como conseqüência a elaboração dos patamares escalonados Os degraus são mantidos pelos arenitos cuja evolução regressiva se dá em maior intensidade nas seqüências representadas pelos folhelhos sílticos subjacentes sobretudo por erosão remontante comandada pelo fluxo por terra escoamento superficial ou pela presença de fontes de camadas entre as seqüências sedimentares enquanto os arenitos permitem maior percolação da água os siltitos por apresentarem baixa permeabilidade retêm a água armazenada que passa a fluir no contato litológico observado com freqüência nas escarpas erosivas ou nas estruturais efeito piping Exemplo de influência litológica no comportamento do relevo pode ser observado na depressão intermontana da Serra da Portaria onde a presença de dique de diabásio JurássicoCretáceo de considerável extensão sentido EW penetrado em arenitos da Formação Aquidauana apresenta saliência topográfica associada à erosão diferencial caracterizando a popularmente conhecida muralha Fig 220 A denudação responsável pela gênese da depressão intermontana da Serra da Portaria respondeu pela exumação do dique que pela resistência apresentada em relação aos arenitos circunjacentes culminou na elaboração de saliência topográfica A grande quantidade de diáclases ortogonais dos diabásios favoreceu a decomposição esferoidal parcial apesar de evidente justaposição dos blocos rochosos b Relevos do tipo Cuestas Os relevos do tipo cuesta s também encontramse associados a estruturas sedimentares com ou sem intercalações de estratos basálticos a exemplo dos modelos clássicos na Depressão Periférica Paulista Diferenciamse dos relevos tabuliformes por corresponderem a seções caracterizadas por camadas litoestratigráficas inclinadas razão pela qual comumente aparecem nas bordas das bacias sedimentares mergulhando em direção ao seu centro Fig212 A disposição dos estratos inclinados define os relevos de cuestas também conhecidos como relevos monoclinais ou homoclinais inclinados em um só sentido Embora se denomine cuesta s para relevos dissimétricos com mergulho de camada de até 30 O Cailleux Tricart 1972 atribuem maior freqüência em declives entre 1 O e 2 O podendo chegar a 7 O a 8 O no máximo Por se tratar de processo de denudação marginal responsável pela gênese de relevo dissimétrico a cuesta também se caracteriza como tal pela morfologia específica de áreas de contato estruturais cristalino e sedimentar O processo evolutivo de um relevo de cuesta pode ser assim apresentado 1 As cuesta s se formam em áreas de estruturas concordantes inclinadas nas periferias das bacias sedimentares onde o contato litológico facilita a ação da erosão remontante Fig 221 O processo ou seqüência evolutiva proposta se inicia a partir de uma superfície pediplanada um pediplano de cimeira como na maior parte dos exemplos clássicos brasileiros quando a drenagem foi organizada a partir de uma fase climática úmida Efeitos epirogenéticos positivos contribuíram para o entalhamento dos talvegues O curso principal que acompanha o mergulho da camada é denominado cataclinal ou conseqüente enquanto seus tributários perpendiculares ao mergulho são denominados ortoclinais ou subseqüentes os quais muitas vezes se encontram orientados por fraturamento 2 Persistindo a condição climática úmida e o levantamento epirogenético da crosta há a continuidade do entalhamento dos talvegues fenômeno conhecido como epigenia antecedência ou superimposição12 originando verdadeiras gargantas Isto sugere a evolução do próprio sistema hidrográfico onde aparecem cursos anaclinais ou obseqüentes contrários ao mergulho das camadas ou cataclinais secundários favoráveis ao mergulho tributários dos cursos ortoclinais ou subseqüentes Fig 222 Generalizase o processo de entalhamento da drenagem ou evolução verticalizada da morfologia Desse modo a erosão passa a ser induzida pela diferença de resistência das camadas litoestratigráficas erosão diferencial caracterizando relevo dissimétrico verticalizada da morfologia espelhar Observase que enquanto na zona de contato estrutural os cursos ortoclinais estão relacionados ao intenso aprofundamento dos talvegues elevada dissecação aqueles mais afastados do contato tiveram menor entalhamento por terem encontrado camada litológica resistente como o basalto a exemplo do comportamento evidenciado na bacia sedimentar do Paraná Essa diferenciação no grau de entalhamento é que permitirá o desenvolvimento da depressão ortoclinal Com a evolução do sistema hidrográfico identificase a partir de então o desenvolvimento de padrão de drenagem do tipo treliça característico das estruturas monoclinais num sistema hidrográfico representado por confluências ortogonais ou subortogonais 3 Admitindo a possibilidade de alternância climática de clima úmido para seco temse a interrupção do entalhamento dos talvegues e o predomínio da desagregação mecânica O recuo paralelo das vertentes associado à desagregação e tendo como referência os níveis de base locais correspondentes a antigos leitos fluviais proporcionaria o alargamento dos vales evolução horizontal da morfologia O material produzido por desagregação tenderia a ocupar as áreas depressionárias promovendo a elevação do nível de base por pedimentação Dependendo do tempo de duração do processo poderia se desenvolver uma superfície pediplanada intermontana Fig 223 4 Com o retorno das condições climáticas úmidas haveria uma nova reorganização da drenagem e uma nova reativação dos processos erosivos Com o aprofundamento da drenagem os paleopavimentos como os pedimentos que ocupavam os vales por ocasião do clima seco Fig 224 ficariam suspensos em relação à posição do talvegue atual As discrepâncias topográficas resultantes sobretudo na depressão ortoclinal em desenvolvimento desencadeariam erosão remontante mais intensa dos cursos anaclinais e cataclinais secundários tributários dos ortoclinais que comporiam o mencionado compartimento Os cursos anaclinais ou obseqüentes responsáveis pela continuidade da evolução da escarpa erosiva poderiam favorecer o desenvolvimento de formas residuais denominadas morrostestemunhos Neste estágio é comum o desenvolvimento de cursos fluviais que nascem no reverso da cuesta e se dirigem para o centro da bacia denominados cataclinais de reverso por acompanharem o mergulho das camadas A dissimetria do relevo é marcada por uma topografia conseqüente de um lado e perpendicular de outro correspondente ao front da cuesta Nesse estágio evolutivo podem se definir os elementos que compõem o relevo de cuesta a Front Corresponde à escarpa erosiva ou costão que se encontra entre a depressão ortoclinal e a parte superior da cuesta referente ao reverso O front normalmente é caracterizado pela cornija constituída de material ou camada resistente que atenua a evolução erosiva do front e pelo talus constituído por depósito de detritos localizados na base do front Fig 225 O talus ou falda da cuesta apresenta forma concavizada ao contrário da cornija que se individualiza pela verticalidade free face b Reverso Corresponde ao compartimento de cimeira da cuesta que tem início na parte terminal superior do front e progride em direção ao centro da bacia sedimentar Quando caracterizado pelas camadas litoestratigráficas denominase reverso estrutural quando representado por sedimentos resultantes da intemperização da rocha subjacente denominase reverso escultural Quando pediplanado pode ser denominado de superfície de erosão c Depressão ortoclinal Referese à área embutida ou deprimida a partir do front da cuesta resultante de processo de denudação comandado pela drenagem ortoclinal cursos subseqüentes No caso de cuestas relacionadas a contato estrutural cristalinosedimentar geralmente as depressões encontramse abertas em direção às rochas mais antigas suporte das seqüências sedimentares e deprimidas em direção ao front Portanto geralmente a depressão apresenta um comportamento dissimétrico com bordas internas íngremes considerando o front como um dos lados e externas relativamente suavizadas considerando o comportamento da estrutura cristalina que foi exumada pelo processo denudacional Ainda devese considerar a possibilidade de percées que são boqueirões escavados no front da cuesta por superimposição de cursos cataclinais ante os esforços epirogenéticos A extensão das percées depende do mergulho da camada ou mais especificamente da extensão do próprio reverso Fig 226 Assim quanto menor o mergulho da camada maior a extensão do reverso e maior a amplitude das percées Os cursos anaclinais ou obseqüentes respondem pela evolução ou recuo do front das cuestas por meio da erosão remontante A velocidade da evolução do front depende do gradiente do mergulho das camadas Isto se justifica em função da quantidade de material necessário a ser retirado abaixo da camada sobrejacente cornija para que esta seja aluída por falta de sustentação basal Portanto o limite de sustentação da cornija é mantido até que o centro de gravidade seja rompido Fig 227 da cornija em função do centro de gravidade G A evolução do front depende também da espessura da cornija quanto mais espessa a camada de material resistente menor será o recuo mencionado anteriormente A maior resistência à aluição leva a uma ação mais prolongada da erosão remontante dos cursos anaclinais visto que maior será o volume de sedimento a ser retirado para romper o limite de sustentação em relação ao centro de gravidade Ainda quanto mais espessa a cornija maior será a sua tendência de se tornar convexa considerando o tempo de exposição da rocha ao intemperismo químico Ao contrário as cornijas delgadas por evoluírem de forma mais rápida considerando a escala de tempo geológico geralmente permanecem angulosas visto que o tempo de exposição ao intemperismo é menor reduzindo a possibilidade de se tornarem convexas Partindo do princípio de que quanto mais fraco o mergulho das camadas litoestratigráficas maior a propensão ao recuo do front concluise que em tais condições maior será a possibilidade de elaboração de formas residuais ou morrostestemunhos resultantes da própria erosão remontante comandada pelos cursos anaclinais Fig 228 A Processo de festonamento do f ront por erosão regressiva dos cursos anaclinais B Recuo do Front evidenciado pela formação de morrotestemunho De acordo com os esquemas apresentados a erosão remontante dos cursos anaclinais provoca retirada gradativa do material subjacente o que pode ser exemplificado por sedimentos friáveis implicando aluição da camada resistente cornija com conseqüente festonamento do front Fig 228 A A evolução remontante é tal que pode inclusive com o surgimento de novos tributários dos próprios cursos anaclinais processar fenômeno similar ao de captura por erosão remontante respondendo pelo cutoff ou seja corte de parte do front com tendência de formação de estrutura residual Assim temse a separação ou desligamento de parte do front por erosão remontante continuando este a ser recuado À medida que a separação do residual de front em relação ao front atual vai sendo consolidada temse a gênese do morro testemunho Fig 228 B protegido ou não por coroamento de material resistente denominado de somital A denominação de morrotestemunho identifica portanto a condição que assume ao testemunhar antiga posição do front Assim sendo quanto mais fraco o mergulho das camadas litoestratigráficas de uma cuesta maior a tendência de recuo do front e conseqüentemente maior a possibilidade de formação de morrostestemunhos o que justifica o maior desenvolvimento destes nas estruturas concordantes horizontais Em Goiás o relevo cuestiforme ocorre na periferia da bacia sedimentar do alto Paraná na Serra do Caiapó destacada em trabalho geomorfológico desenvolvido por AbSáber Costa Jr 1959 Localizase a sudoeste do estado nas imediações de Caiapônia Apresenta extenso front de direção aproximada NE relativamente festonado elaborado basicamente em sedimentos arenosos permocarboníferos do Grupo Aquidauna o mesmo material que representa a depressão ortoclinal O reverso encontrase parcialmente capeado por sedimentos permianos da Formação Irati e sobretudo pela seqüência pelítica terciária da Formação Cachoeirinha O mergulho das camadas varia entre 3 º a 5 º SE ou seja em direção ao eixo da bacia regionalmente comandado pelo Rio Paranaíba Fig 229 Admitese que a evolução morfológica da cuesta do Caiapó esteja vinculada a processo de falhamento responsável também pela gênese da denominada Serra Negra no alto Araguaia e pelo embutimento da calha do próprio Rio Araguaia em fossa tectônica reflexo da orogenia Andina Partindo desse princípio entendese que a elaboração da cuesta do Caiapó teve início em algum momento do Terciário provavelmente no Terciário Superior haja vista a existência de depósitos considerados terciários na porção superior do reverso Por meio de imagens inferese a possibilidade de o Rio Claro em determinados trechos estar vinculado a provável linha de falha o que teria permitido o deslocamento de blocos originando escarpa de falha e preservando a disposição geral do mergulho das camadas Após a organização da drenagem iniciase o recuo paralelo da escarpa por erosão remontante dos cursos anaclinais tributários do Rio Claro promovendo a evolução e conseqüente elaboração de escarpa herdada de falha denominada front Acreditase que o fenômeno tectônico responsável pelo falhamento tenha originado a formação de importante divisor de água regional os cursos que nascem no front da cuesta integram a bacia do Araguaia bacia Amazônica enquanto os que nascem no reverso se dirigem para o Rio Paranaíba bacia Platina O rejeito determinado pela tectônica propiciou o aumento de gradiente e a intensificação do processo de erosão remontante no front da cuesta Fig 230 Isso contribuiu para a retirada de prováveis seqüências delgadas de sedimentos permianos ou mesmo terciários exumando as seqüências carboníferas No reverso a manutenção da declividade do mergulho ou menor efeito da atividade tectônica permitiu o desenvolvimento de cursos cataclinais com baixo gradiente e fraco entalhamento de talvegues proporcionando com freqüência o desenvolvimento de depósitos aluviais holocênicos veredas sobre as coberturas terciárias Esse fato indica redução da capacidade de transporte pela disposição do gradiente e pela própria vazão reduzida A linha de cuesta divide dois compartimentos distintos a depressão ortoclinal abaixo entre 700 e 800 metros de altitude e o reverso da cuesta a aproximadamente 1000 metros de altura A depressão ortoclinal esculpida em sedimentos arenosos da Formação Aquidauana contribui para o desenvolvimento de formas residuais aguçadas do tipo torres ou alcantis Planalto dos Alcantilados de Almeida 1959 Apresenta drenagem dendrítica com fortes angularidades produzidas pelos reflexos da tectônica quebrante O reverso da cuesta Fig 229 recoberto por seqüências deposicionais terciárias apresentase dissecado em formas tabulares amplas com drenagem de padrão treliça tendendo a pinado com direção cataclinal Esses cursos além de proporcionarem a gênese de depósitos holocênicos em superfícies alveolares permitem a exumação da seqüência subjacente referentes a sedimentos permianos Os dois compartimentos refletem formas de apropriação diferenciada do solo enquanto na depressão ortoclinal de formas convexas e estruturas ruiniformes predomina a pecuária extensiva no reverso evidenciamse cultivos comerciais onde a disposição tabular do relevo favorece o processo de mecanização 2212 Características morfoestruturais em Áreas de Deformação Tectônica A partir de agora serão feitas algumas considerações a respeito da evolução morfológica em estruturas deformadas pela tectônica utilizandose dos modelos clássicos em geomorfologia Na oportunidade serão destacados os modelos do tipo Hobback dômico esculpido em dobras e de estruturas falhadas a Relevo do Tipo Hogback Os hogbacks são formas similares às cuestas porém elaborados em estruturas monoclinais com mergulhos superiores a 30 O Considerando o declive necessário à sua caracterização tornase possível entendêlos como vinculados a fenômenos tectônicos uma vez que dificilmente se constatam mergulhos em tais proporções associados unicamente aos processos de deposição Por admitir semelhança evolutiva com o relevo de cuestas será apresentado exemplo goiano que caracteriza a referida morfologia a Serra Dourada localizada na cidade de Goiás A Serra Dourada de direção predominantemente ENE 6080 º NE com front voltado para norte constitui importante divisor entre as bacias Platina e Amazônica Os cursos originados no reverso integram a bacia do Paranaíba e os rios que nascem no front do hogback integram a bacia do Araguaia Sua imponência e extensão devemse aos quartzitos muscovíticos que a sustentam a uma altitude de 1000 metros O front é marcado pela presença quase contínua de cornija estrutural chegando a atingir até 20 metros de exposição em extrema verticalidade freeface a partir da qual colúvios pedogenizados recobrem níveis de pedimentação O talus apresentase preenchido por colúvios provenientes de montante que atenuam a declividade em aproximadamente 30 º O relativo festonamento do front é determinado pelo efeito de erosão remontante de cursos anaclinais como os córregos Pedra de Amolar do Aguapé e Santo Antônio tributários do Rio Vermelho O reverso é marcado por seqüência de cloritaquartzoxistos filitos quartzosos e sericíticos com presença de bancadas escalonadas determinadas por resistência estrutural e realçadas pela incisão dos cursos cataclinais Apresenta elevado mergulho das camadas em torno de 30 a 40 O SSE ou SW refletindo na própria limitação evolutiva do front Os cursos cataclinais de reverso como os córregos Cafundó Conceição e Fundo formam verdadeiras cluses13 coincidentes com falhamentos conseqüentes fato que faz evidenciar a presença de terraços estruturais ao longo dos vales Fig 231 O reverso é marcado por terreno ondulado interrompido por cristas quartzíticas ou ocorrências de cordierita horblenda gnaisses como na Serra São João ou granadamuscovitaxistos na Serra Mangabal A depressão ortoclinal ou setor intermontano 450 650 metros corresponde ao anfiteatro granitognáissico do Complexo Goiano pontilhado de paleo inselbergs Localmente o knick14 é caracterizado pelo contato estrutural Complexo GoianoGrupo Araxá recoberto por espesso nível de pedimentos quartzosos que se adelgaçam à medida que se afastam do front A gênese do hogback em questão é entendida da seguinte forma 1 Estruturalmente resulta de provável braquianticlinal ou seja uma grande anticlinal que teria sido esvaziada restando apenas o flanco meridional responsável pela morfologia resultante Fig 232d Portanto a gênese estrutural estaria relacionada à tectônica justificando as razões do elevado mergulho c Provável ocorrência de falhamentos em direção à bacia do Araguaia como teria acontecido com relação à cuesta de Caiapó vinculada à orogenia Andina Terciário d Elaboração parcial do hogback da Serra Dourada após arrasamento do flanco setentrional da braquianticlinal 2 Após dobramento précambriano que resultou na elaboração da braquianticlinal Fig 232a sucessivos efeitos morfoclimáticos o processo de pediplanação terciária teria respondido pelo seccionamento da parte superior da anticlinal atingindo a faixa dos quartzitos micáceos até então recobertos pelas seqüências de topo cloritaquartzo xistos e quartzoclorita xistos evidenciadas na periferia do reverso Fig 232b A organização da drenagem em fase climática úmida obedeceu à imposição morfoestrutural associada ao mergulho divergente Este fato conferiu à rede de drenagem um padrão radial centrífugo Além disso a epirogênese promoveu entalhamento generalizado dos talvegues 3 Efeitos da tectônica quebrante associados aos reflexos da orogenia Andina foram sentidos no interior do continente brasileiro e foram responsáveis pela elaboração da calha do Araguaia e de uma rede pronunciada de falhamentos que parecem ter atingido a seção setentrional da referida braquianticlinal Fig 232c A drenagem é definitivamente partida permanecendo a área setentrional tectonicamente mais afetada o que permitiu a aceleração dos efeitos erosivos O forte gradiente intensificou a erosão remontante enquanto a parte meridional oposta apresentou comportamento mais estável apesar de os falhamentos transversais terem favorecido o entalhamento dos cursos cataclinais originando as denominadas cluses corte transversal ao eixo da anticlinal ou às direções de camada produzidas por cursos dágua 4 Finalmente temse o arrasamento total da parte setentrional da braquianticlinal com exumação da estrutura subjacente representada pelo Complexo Granulítico granitognaisses e continuidade evolutiva do flanco meridional hoje caracterizado pelo reverso do hogback em questão Fig 232d Provavelmente no Pliopleistoceno nova fase de clima agressivo seco foi responsável pela elaboração de pediplanos intermontanos bem preservados nos topos interfluviais no sudeste do reverso na região de Itaberaí GO A resistência oferecida pelos quartzitos micáceos que compõem a cornija estrutural free face o forte mergulho das camadas 30 a 40 O e o caráter intermitente de grande parte dos cursos anaclinais atenuam os efeitos de uma evolução regressiva do front No reverso a topografia orientada pela estrutura e o uso e ocupação do solo Cambissolos distróficos com horizonte B incipiente contribuem para algumas evidências de erosão acelerada sobretudo comandada pelo escoamento concentrado b Relevo do Tipo Dômico O relevo do tipo dômico corresponde a uma estrutura circular resultante de atividade intrusiva plutonismo ou fenômenos magmáticos que provocou arqueamento da paleomorfologia com conseqüente elaboração de abóbada topográfica Os melhores exemplos são observados em seqüências sedimentares que passaram a ter as seqüências litoestratigráficas em conformação com a disposição do corpo intrusivo A elevada temperatura do material intrusivo gera metamorfismo de contato alterando o comportamento físico ou as propriedades geomorfológicas das rochas A dimensão de um domo varia segundo a proporção do corpo intrusivo que pode estar ou não concordante com as rochas encaixantes ou segundo planos de estratificação ou de xistosidade O sill o lacólito o lopólito e o facólito são exemplos de corpos intrusivos concordantes com as rochas encaixantes enquanto o dique o neck a apófise e o batólito são discordantes Esses corpos intrusivos são de origem tectônica com material proveniente do sima ou parte superior do manto embora os domos salinos sejam entendidos como resultantes de processos atectônicos baixa densidade do cloreto de sódio que tende a ocupar um nível superior em relação às rochas sobrejacentes O efeito intrusivo pode ocasionar anomalia geotérmica explicando em determinadas situações a gênese de águas termais Após efeitos erosivos associados a processos epirogênicos positivos a estrutura dômica tende a proporcionar o desenvolvimento de uma morfologia circular ou elíptica dada a resistência não só do corpo intrusivo como também das rochas encaixantes que foram submetidas a metamorfismo de contato Em função dos processos erosivos o core intrusivo pode ser exumado a exemplo dos dunitos e serpentinitos de Serra Negra no município de Patrocínio Minas Gerais Casseti 1977 ou permanecer encoberto como no caso da Serra de Caldas Novas GO embora este seja também interpretado como antigo aparelho vulcânico preenchido por sedimento Terciário considerando a disposição morfológica e inferências magnetométricas ou ainda interceção de dobras A evolução de uma estrutura dômica pode ser esquematizada da seguinte forma a Com a atividade intrusiva em uma determinada seqüência sedimentar de forma concordante temse o arqueamento estrutural e a conformação dos estratos em função do corpo intrusivo além de possível metamorfismo de contato Fig233 As camadas mais próximas ao core intrusivo tendem a apresentar um mergulho superior em relação às seqüências periféricas com possibilidade de alternância de camadas de resistência variada b Após efeito intrusivo segundo exemplos brasileiros o domo é submetido a efeitos morfoclimáticos agressivos clima seco responsáveis pelo recuo paralelo de vertentes com tendência de pediplanação da área podendo haver seccionamento das rochas arqueadas e exumação do core intrusivo Fig 234 Com o retorno do clima úmido a drenagem é organizada obedecendo a um padrão radial centrífugo em sincronia com os efeitos epirogênicos positivos que ativam o entalhamento dos talvegues c À medida que a área vai sendo soerguida por efeito epirogenético positivo os cursos cataclinais vão cortando por epigenia ou superimposição camadas de diferentes resistências quando começam a aparecer então tributários ortoclinais que se instalam nas camadas circulares de menor resistência levando à configuração de um padrão de drenagem ânuloradial A partir de então os cursos ortoclinais aprofundam os talvegues nas camadas circulares menos resistentes ou friáveis proporcionando o destaque de saliências topográficas das seqüências resistentes e originando vales assimétricos As seqüências resistentes assumem características de pequenos hogbacks também denominados cristas monoclinais Fig 235 e 236 Os cursos cataclinais superimpostos ao serem submetidos ao soerguimento crustal entalham fortemente os talvegues e na elaboração dos vales homoclinais pelos tributários ortoclinais os cortes efetuados pelos primeiros se destacam sob forma de gaps ou gargantas epigênicas As gargantas epigênicas são denominadas de water gap quando atravessadas por cursos dágua e wind gaps quando a drenagem responsável pela sua gênese tenha desaparecido Assim a gênese de vales ortoclinais dissimétricos elaborados pelos cursos homônimos em camadas friáveis coloca em destaque as cristas monoclinais atravessadas por gaps epigênicas ou superimpostas pelos cursos cataclinais Fig 236 A dissimetria dos vales ortoclinais é estabelecida pela relação entre a perpendicularidade das camadas do front de uma crista monoclinal em relação ao reverso da crista anterior que concorda com a disposição do mergulho Numa fase mais adiantada a presença de cursos anaclinais tributários dos ortoclinais promove o recuo do front das cristas monoclinais por erosão remontante sobretudo pelo forte gradiente Observase mais uma vez que quanto maior o gradiente de mergulho da camada menor a tendência de evolução do front Fig 226 O resultado desse estágio evolutivo permitirá a caracterização de uma morfologia representada pela sucessão de cristas e vales circulares ou elípticos associados ao comportamento do corpo intrusivo Como exemplo de relevo dômico temse o domo de Serra Negra no município de Patrocínio em Minas Gerais que abrange uma área de aproximadamente 500 km 2 O corpo intrusivo representado pelo dunito processou o soerguimento dos sedimentos do Grupo Paranoá carregando xenólitos provenientes do manto bem como outras rochas do embasamento Tratase de materiais intrusivos com idade de 82 milhões de anos Cretáceo Superior O caráter intrusivo determinou o arqueamento e lineamento estrutural concêntrico da seqüência estratigráfica e um mergulho das camadas de maneira centrífuga a partir do core Junto à massa dunítica exposta no setor norte o mergulho de acamamento é da ordem de 65 º enquanto no sul é de 50 º Cerca de 50 falhas normais foram registradas as quais na maioria após pediplanação terciária foram ocupadas pela rede de drenagem radial cursos cataclinais o que favoreceu o entalhamento pronunciado dos talvegues Na seqüência litoestratigráfica os quartzitos e folhelhos do Grupo Paranoá metamorfizados pela ação tectônica e depois seccionados pela pediplanação que exumou parcialmente o corpo intrusivo foram cortados indistintamente pela drenagem cataclinal superimposição favorecida pela rede de falhas radiais e efeitos epirogênicos positivos subseqüentes Com a organização dos cursos ortoclinais tributários dos cataclinais nas seqüências anelares representadas pelos folhelhos sílticos ou argilosos iniciouse um processo de elaboração dos vales homoclinais dissimétricos com a conseqüente exposição dos quartzitos ou ortoquartzitos constituindo sucessão de cristas monoclinais concêntricas O entalhamento processado pelos cursos cataclinais nas faixas quartzíticas com elaboração de vales ortoclinais resultou na exposição de gaps epigênicas O restante das formações cobertura detritolaterítica que compõe o topo horizontalizado pediplanado do complexo dômico denominado Chapadão do Ferro encontrase em processo de erosão remontante dos cursos cataclinais onde é exumado o material pertencente ao corpo intrusivo dunitos e serpentinitos No topo a 1200 metros desenvolvese extenso lago atribuído à dissolução do carbonatito que participa do referido corpo Fig 237 A parte periférica do domo além de submetida a processo de pediplanação intermontana nos folhelhos do Subgrupo Paraopeba encontrase parcialmente coluvionada por material proveniente da intemperização do dunito que proporciona fertilidade natural com conseqüente aproveitamento do solo por atividades agrícolas c Relevos Esculpidos em Dobras Dobra é uma curvatura ou flexão produzida em seqüências litoestratigráficas associadas a efeitos tectônicos Para isso é necessário que o material submetido aos efeitos de compressão apresente condições de deformação plástica muitas vezes obtida graças ao tempo de duração das forças aplicadas As rochas apresentam um limite de resistência à compressão o que explica as razões de umas se dobrarem por apresentar maior capacidade de deformação elástica e outras pelo estágio de pressão ultrapassam o limite de resistência Quando a pressão incidente ultrapassa o limite de resistência temse a ruptura que pode se comportar como uma fratura ou como uma falha Esse fato explica porque o quartzito ao ser submetido à compressão se fratura com facilidade sendo entendido como incompetente quanto à deformação enquanto outras como as próprias formações de argilas são maleáveis à pressão mantendo sua forma dobrada sem se fraturar sendo denominadas de rochas competentes As dobras estruturais são compostas de determinados elementos como a sinclinais que correspondem às partes côncavas das dobras b anticlinais que representam os setores convexos c flancos que correspondem aos lados que ligam a anticlinal à sinclinal d eixo ou charneira que se refere à linha ao redor da qual se dá o dobramento e plano axial correspondente à superfície que divide a dobra em duas partes similares Fig 238 indicando seu grau de simetria Existem diferentes tipos de dobras relacionadas ao próprio jogo das forças de compressão anticlinal sinclinal monoclinal que podem ser agrupadas em simétricas quando existe simetria entre os flancos e dissimétricas quando não existe simetria Consideramse dois tipos básicos de relevo elaborado em estrutura dobrada o jurássico e o apalachiano a serem descritos a seguir Dada a duração de tempo necessária para a individualização desses tipos de relevos encontramse na presente abordagem vinculados aos efeitos tectônicos précambrianos sobretudo proterozóicos ou ainda a material sedimentar dobrado em épocas que remontam ao Paleozóico d Relevo do Tipo Jurássico O relevo jurássico nomenclatura proveniente do Jura região dobrada da França é o resultado da evolução morfológica de uma estrutura dobrada onde a intercalação de camadas de diferentes resistências e as atividades morfogenéticas em diferentes condições climáticas respondem pela inversão do relevo ou seja as anticlinais são arrasadas por corresponderem a material friável enquanto as sinclinais ficam alçadas por serem individualizados por rochas duras O processo evolutivo de um relevo do tipo jurássico pode ser assim suposto a Após dobramento em estrutura sedimentar gerando arqueamento de camadas de resistências diferenciadas as anticlinais que constituem as saliências topográficas podem ser submetidas a recuo paralelo por desagregação mecânica sob a ação do clima seco tendo as sinclinais como níveis de base Os mecanismos morfogenéticos mecânicos ao longo do tempo geológico originam pediplanação com destruição das anticlinais enquanto parte do material resultante da desagregação inuma as sinclinais Fig 239 Assim as camadas dobradas de diferentes graus de resistência são seccionadas e parcialmente mascaradas por coberturas detríticolateríticas Com o retorno do clima úmido imaginase a organização de um sistema hidrográfico representado inicialmente por cursos ortoclinais ocupando indistintamente eixos de sinclinais pedimentadas ou anticlinais seccionadas Efeitos epirogenéticos positivos contribuiriam para o entalhamento dos talvegues e a conseqüente erosão diferencial b Após entalhamento significativo dos talvegues a área pode novamente ser submetida à morfogênese mecânica clima agressivo causando desde simples reafeiçoamento das vertentes por recuo paralelo com abertura lateral de vales até o desenvolvimento de pediplanos intermontanos dependendo apenas da duração do período seco Fig 240 No esquema representado Fig 239 os cursos ortoclinais localizados no eixo das sinclinais entalham menos que os localizados na charneira arrasada da anticlinal determinada pela diferenciação litológica ou seja enquanto os primeiros são interrompidos por camada resistente o outro se organiza e se desenvolve em camada friável visto que o mont capa resistente do anticlinal teria sido arrasado anteriormente por processo de pediplanação c Após a possibilidade de abertura dos vales com o retorno ao clima úmido verificase tendência de reorganização da drenagem onde novos tributários dos paleocursos ortoclinais aparecem Fig 241 Temse assim a inversão do relevo com sinclinais alçadas mantidas por resistência litológica se comportando como cornijas estruturais e anticlinais entalhadas por corresponderem a seqüências de materiais friáveis Como exemplo de relevo do tipo jurássico em Goiás podese considerar a inversão morfoestrutural a leste da cidade de Niquelândia O relevo é marcado por sinclinais suspensas revestidas por camadas do Grupo Paranoá Proterozóico Superior enquanto a anticlinal arrasada é representada por seqüência do Grupo Araí Proterozóico Médio A anticlinal arrasada é individualizada por metassiltitos com restos de flancos resistentes denominados gret escarpa de camada dura de flanco da anticlinal voltada para o interior da combe representados pelos quartzitos Formação Traíras do Grupo Araí As sinclinais suspensas encontramse mantidas pelos quartzitos continuação do mont inumadas por restos de sedimentos siltoarenosos do Grupo Paranoá Fig 242 Admitese que o dobramento em questão esteja provavelmente relacionado ao ciclo Brasiliano Proterozóico Superior envolvendo as seqüências metassedimentares dos Grupos Araí Formação Trairas e Paranoá Após processo de pediplanação que teria ocasionado o seccionamento de ambas as formações organizouse a drenagem com conseqüente soerguimento epirogenético onde os cursos entalharam seus talvegues em grau diferenciado pela alternância litológica Devese considerar ainda que a provável existência de falha perpendicular ao eixo do anticlinal teria ocasionado um desvio angular do Rio Bagaginha no início da superimposição rompendo o flanco da anticlinal quartzítica e originando uma cluse passagem de um rio através de um mont O Rio Bagaginha após organizarse ao longo do eixo da sinclinal meridional sentido EW muda abruptamente de direção SN devido ao falhamento transversal razão do rompimento do quartzito dando origem à referida cluse Quando penetra na anticlinal arrasada recebe o ribeirão Conceição passando novamente a assumir a direção EW até desaguar no Rio do Peixe Fig 243 Após o entalhamento da drenagem associado a esforços epirogenéticos positivos com grau diferenciado de erosão dada a variação litoestratigráfica a área foi submetida à morfogênese mecânica clima seco levando à abertura de vales Com o retorno do clima úmido a drenagem foi reorganizada dando prosseguimento à individualização da inversão do relevo Fig 243 A anticlinal esvaziada representada pelas cotas dos 500 metros corresponde ao Vão do Ribeiro caracterizado pelos metassiltitos da Formação Traíras deprimido entre restos de flancos da anticlinal cret caracterizados pelas serras dos Bois 700 metros e dos Rogados 800 metros ou Larga cristas quartzíticas evidenciandose na última a presença de cluse escavada por superimposição do rio Bagaginha Nas sinclinais suspensas 600 metros são encontrados restos das seqüências sedimentares siltitos e arenitos do Grupo Paranoá e Relevo do Tipo Apalacheano Enquanto o relevo do tipo jurássico é entendido como o resultado de inversão do relevo a partir de uma sucessão regular de dobras o apalacheano se caracteriza pelo paralelismo de cristais e vales originados a partir de total aplainamento de estrutura dobrada Para compreender a evolução do relevo apalacheano devem ser consideradas as seguintes premissas a O material dobrado e aplainado deve ser heterogêneo para expor seqüências paralelas representadas por camadas duras e tenras ou friáveis b Organização de drenagem associada a efeito epirogenético positivo responsável pela retomada erosiva No presente caso podem existir também sinclinais suspensas ao lado de anticlinais arrasadas normalmente isoladas ou integrando um conjunto caracterizado por sucessão de cristas As cristas são constituídas por rochas resistentes enquanto os vales identificados por rochas tenras A morfologia resultante a exemplo das sinclinais alçadas da Chapada dos Veadeiros não se enquadra no conceito genético de relevo do tipo jurássico Para se compreender o processo evolutivo do relevo apalacheano que praticamente obedece aos mecanismos descritos no relevo jurássico admitese que a Após processo de pediplanação que gerou extensa superfície de erosão houve um período de umedecimento climático no qual organizouse o sistema hidrográfico comandado por curso cataclinal que se superimpôs e entalhou progressivamente seus talvegues cortando camadas de diferentes resistências Fig 244 b À medida que o curso cataclinal definiu o seu leito rompendo camadas de resistências diferentes começaram a aparecer tributários ortoclinais orientados pelas camadas de menor resistência paralelos à direção das dobras Formouse portanto uma drenagem do tipo retangular com confluências ortogonais e possibilidade de ocorrência de baionetas15 Uma fase agressiva intermediária deve ter ocorrido para favorecer o alargamento de vales com elaboração de níveis de embutimento pediplanados A continuidade da evolução da morfologia comandada pelo sistema hidrográfico proporciona a caracterização tipológica do relevo apalacheano o que define com precisão a sucessão de cristas e vales paralelos com as respectivas denominações Fig 245 Cristas monoclinais anticlinais ou sinclinais são mantidas por camadas resistentes e vales anaclinais cataclinais e sinclinais por camadas tenras com possibilidade de inversão de relevo Como exemplo de relevo do tipo apalacheano podese considerar a sucessão de cristas e vales paralelos evidenciados no município de Alvorada Estado do Tocantins à margem esquerda do rio Tocantins nas proximidades da confluência com o Rio Paranã A imagem de radar permite a nítida observação do aspecto morfológico considerado cuja seção periclinal16 da dobra fechamento da dobra é denominada regionalmente de Serra Grande O relevo em foco encontrase esculpido em estrutura dobrada no Proterozóico representada pelo Grupo Araxá Localmente apresentase individualizado por seqüências estratigráficas diferenciadas metassedimentos caracterizadas pelos quartzitos cristas e micaxistos vales Os testemunhos da pediplanação que seccionou restos de cristas aos 900 metros de altura se constituem no estágio referencial para o entendimento do processo evolutivo desse relevo Assim tornase possível entender esse processo com a organização de um sistema hidrográfico ortoclinal em superfície aplainada onde efeitos epirogênicos positivos ao mesmo tempo em que proporcionavam entalhamento dos talvegues permitiam a acomodação dos referidos cursos nas seqüências menos resistentes no caso específico representadas pelos micaxistos Apesar da ausência de subsídio para maior esclarecimento admitese que os vales tenham sido relativamente alargados pela morfogênese mecânica sob condição de clima seco Uma nova fase de clima úmido teria restabelecido a drenagem e permitido o desenvolvimento de tributários anaclinais e cataclinais tendo os primeiros contribuído para o recuo paralelo de cristas monoclinais Fig 246 A presença de algumas falhas transversais favoreceu o desenvolvimento de cursos que foram superimpostos como o córrego Porteira formando gaps localizadas mais ao norte não evidenciadas no esquema sem qualquer característica genética comandante da referida evolução o que levou à justificativa considerada quanto à ausência de um curso cataclinal responsável pelo processo inicial Cursos ortoclinais como os córregos das Pedras e Água Bonita originaram vales ortoclinais nos micaxistos do Grupo Araxá ou vale anticlinal como no caso do rio das Alminhas O entalhamento dos talvegues associado aos fenômenos denudacionais subseqüentes permitiram o destaque das cristas monoclinais ou isoclinais quartzíticas truncadas durante o processo de pediplanação f Relevo Elaborado em Estrutura Falhada Quando as forças de compressão associadas às atividades tectônicas rompem o limite de resistência de determinada rocha sobretudo aquelas incompetentes que não resistem a esforços de dobramento temse a origem de rupturas como as caracterizadas pelas fraturas ou falhamentos A origem da falha está no deslocamento relativo dos blocos contíguos ao longo de uma fratura favorecido por efeitos de tensão O plano sobre o qual se dá o deslocamento é denominado plano de falha cuja fratura pode ser preenchida por material fragmentado resultante do trituramento da própria rocha com o atrito conhecido por brecha de falha ou milonito A parte exposta resultante do deslocamento é denominada espelho tectônico que submetido à erosão convertese em escarpa de falha O deslocamento dos blocos muitas vezes identificados por camadas guias como as seqüências litoestratigráficas que se deslocaram em função do falhamento é conhecido como rejeito Fig 247 Na análise evolutiva de um relevo falhado devem ser levados em consideração os diferentes tipos de falhas como as normais as transcorrentes ou de deslocamento horizontal sistemas de falhas que explicam a gênese de fossas tectônicas dentre outros Além do tipo de falha devese considerar as respectivas intensidades e grau de complexidade relacionados com os demais componentes estruturais o que acarretará diferenciação evolutiva e caracterização da morfologia resultante Os relevos originados por falhamento dependem do arranjo e extensão dos deslocamentos que afetam preferencialmente regiões cristalinas dada a rigidez das rochas e a sucessão de forças de compressão a que foram submetidas No domínio cristalino as falhas encontramse quase sempre relacionadas aos respectivos ciclos tectogenéticos ou foram remobilizadas por ocasião da orogenia andina como acontece ao longo da costa oriental brasileira A colisão de placas no Terciário repercutiu inclusive nas bacias sedimentares como no deslocamento de blocos na borda ocidental da bacia do alto Paraná exemplificado pelo front da Serra do Caiapó e até mesmo em seqüências mais modernas como em bancadas ferruginosas do Terciário Médio na região de Brasília No caso de falhamento normal podese estimar evolução morfológica a partir da organização do sistema hidrográfico que se estiver estruturalmente conforme poderá intensificar a erosão remontante na escarpa de falha em função do forte gradiente produzido O entalhamento pronunciado de talvegues em gradientes relacionados a espelhos de falhas normais tenderá a elaborar numa primeira fase facetas trapezoidais A abertura progressiva dos vales decorrentes do processo de denudação proporcionará a transformação das facetas trapezoidais em triangulares Fig 248 Uma falha elaborada em seqüências litoestratigráficas de resistências diferentes pode evoluir para a inversão topográfica do relevo Admitindose que a escarpa de falha encontrase protegida por camada resistente sobrejacente a seqüências tenras e seja submetida à ação remontante de cursos conformes ou cataclinais estimase a seguinte possibilidade evolutiva a Os cursos conseqüentes em decorrência do forte gradiente produzido pela falha tendem a entalhar a escarpa atacando inicialmente o material friável subjacente à cornija Com a redução gradativa da seqüência friável podese ultrapassar o limite de sustentação proporcionado pelo centro de gravidade da rocha resultando na aluição da camada resistente sobrejacente Fig 249a Assim progressivamente a escarpa vai sendo erodida transformandose em escarpa herdada de falha Fig 249b enquanto o bloco deprimido permanece inalterado e protegido pela seqüência resistente que corresponde à camada sobrejacente da própria escarpa A erosão mais ativa nos terrenos tenros que compõem a escarpa pode evoluir até fazer com que o bloco originalmente elevado fique rebaixado em relação ao terreno resistente correspondente ao bloco oposto outrora deprimido A partir de então temse o desenvolvimento de escarpa de linha de falha com inversão do relevo e conseqüentemente do sistema hidrográfico Fig 249c O processo pode ser reiniciado em situação oposta até que a erosão diferencial ressalte novamente o plano de falha original promovendo o rejuvenescimento da escarpa Além dos efeitos morfoestruturais da tectônica quebrante no relevo observamse também implicações no comportamento hidrográfico Às vezes as discrepâncias topográficas processadas por deslocamento de blocos foram mascaradas pelos efeitos morfoclimáticos subseqüentes podendo ser inferidas através de anomalias no próprio traçado dos cursos dágua Um dos efeitos principais da tectônica quebrante na disposição dos rios é evidenciado pelas angularidades como as retangulares ou dendríticoretangulares particularizando determinado padrão de drenagem A angularidade conforme o próprio nome indica referese a mudanças bruscas às vezes ortogonais na disposição de um curso dágua evidenciandose a gênese de baionetas acepção dada à sucessão de angularidades como mostra o esquema referente ao baixo Ribeirão Anicuns em GoiâniaGO Fig 250 Como exemplo goiano de relevo elaborado em estrutura falhada temse a Serra Geral do Paranã utilizandose a seção esquemática localizada nas proximidades de São Gabriel de Goiás município de PlanaltinaGO A serra Geral do Paranã corresponde à escarpa herdada de falha inversa cuja capa é formada por quartzitos do Grupo Paranoá anteriormente caracterizado como formação basal do Grupo Bambuí que cavalgam os arcóseos da Formação Três Marias formação ou seqüência de topo do referido grupo Enquanto o pediplano de cimeira sustentado pelos quartzitos capa encontrase marcado pelas cotas de 1200 metros a zona deprimida lapa caracterizada pela Formação Três Marias correspondente ao pediplano intermontano do Vão do Paranã é individualizado pelas cotas médias dos 600 metros Além do deslocamento estrutural produzido por falhamento a erosão diferencial comandada pelo sistema hidrográfico submetido aos efeitos epirogenéticos processou diferença topográfica da ordem de 600 metros Fig 251 Admitese que a escarpa resultante tenha sofrido recuo significativo quando da ação prolongada da morfogênese mecânica responsável pela elaboração do pediplano intermontano Com a organização da drenagem decorrente de uma nova fase de clima úmido os cursos anaclinais como os córregos Itiquira Palmeira e dos Porcos contribuíram para a continuidade da evolução da escarpa o que pode ser comprovado pela existência de uma série de recuos no front associados à erosão remontante proporcionando festonamento relativo Apesar do elevado gradiente o forte mergulho das estruturas metassedimentares atenua o ataque erosivo processado pelos cursos anaclinais Os boqueirões resultantes da erosão remontante na escarpa encontramse ocupados por vegetação herbáceoarbustiva identificando o caráter de estabilidade relativa do relevo Abaixo da cornija estrutural freeface iniciase a zona de deposição de detritos debris slope que transgride em direção ao pediplano intermontano A disposição concavizada do tálus é explicada pela existência de pedimentos detríticos que recobrem o knick resultante do recuo paralelo do front por morfogênese mecânica posteriormente inumado por colúvios pedogenizados clima úmido Assim temse o mascaramento completo da linha de falha O topo pediplanado aos 1200 metros com relevo suavemente dissecado em formas tabulares apresenta caimento suave em direção W pouco trabalhado pelos cursos cataclinais de reverso Ao norte de São Gabriel a presença de riftvalley sistema de falhas de gravidade em quartzitos Fig 251 gera escarpas caracterizadas por facetas triangulares elaboradas pelos tributários do córrego Piedade O córrego Piedade encaixado em falha paralela ao topo da escarpa elaborou um vale amplo e profundo conhecido regionalmente como Vão do Piedade 2213 Características morfológicas em estruturas cársticas e cristalinas Serão feitas algumas considerações a respeito das principais características morfológicas em estruturas cristalinas e cársticas ou calcáreas procurando ressaltar o caráter evolutivo com base no jogo de forças contrárias e reações específicas a Relevo em Estrutura Cristalina A estrutura cristalina incorpora a noção de plataforma conceituada anteriormente classificada em paraplataforma e ortoplataforma A primeira constituise de embasamento menos consolidado que a última As paraplataformas recobremse de sedimentos típicos de plataforma de espessuras geralmente maiores que as verificadas sobre as ortoplataformas além de freqüentemente menos maturos e extensos As paraplataformas resultam de aulacógenos que são grandes fossas tectônicas como os rift valleys africanos preenchidos de sedimentos que foram comprimidos por reativação das ortoplataformas As evidências morfológicas associadas às estruturas cristalinas não se restringem àquelas vinculadas ao processo genético das rochas ígneas mas também às metassedimentares submetidas aos efeitos tectônicos sobretudo proterozóicos aos quais devese incorporar manifestações de natureza ácida e ultrabásica As rochas cristalinas apresentam características próprias decorrentes de condições específicas quanto a estrutura e textura Apesar de possuírem baixo grau de permeabilidade apresentam rede pronunciada de fraturas e diáclases e considerável heterogeneidade de minerais contribuindo para o processo de intemperização química A impermeabilidade e os efeitos tectônicos contribuem para a caracterização de uma drenagem do tipo dendrítica A rede de diáclases muitas vezes ortogonal acelera a decomposição esferoidal em ambientes úmidos dando origem aos matacões e às morfologias convexas O mecanismo essencial de alteração das rochas nas regiões intertropicais úmidas é a hidrólise enquanto os elementos mais suscetíveis à climatização são os silicatos que correspondem a mais de 70 dos minerais presentes na superfície terrestre Maiores considerações sobre o processo de hidrólise serão feitas no capítulo seguinte A água pura ioniza apenas ligeiramente mas reage com os silicatos facilmente intemperizáveis A reação implica destruição praticamente completa da rede silicatada original com remoção do íon magnésio ou potássio no caso do ortoclásio A seqüência de Goldich 1938 apresentada no próximo capítulo mostra a resistência dos minerais à hidrólise considerando as rochas aluminossilicáticas O autor estabelece a seguinte ordem quanto ao grau de estabilidade dos minerais frente à hidrólise plagioclásio cálcico plagioclásio sódico feldspato potássico muscovita e quartzo A seqüência explica as razões de se considerar o quartzo como importante testemunho nos depósitos correlativos com participação na maioria dos paleopavimentos ao contrário dos ferromagnesianos e dos plagioclásios que apresentam alta suscetibilidade à intemperização química Trabalhos como de Strakhov 1967 apud Choley Schumm 1985 demonstram os efeitos do clima na intemperização das rochas Fig 32 Como exemplo a elevada precipitação na zona intertropical se reflete na profundidade do material meteorizado Constatase ainda a importância da hidrólise na espessura do material sialitizado ver capítulo seguinte De maneira geral deduzse que a intensidade e a freqüência dos sistemas morfoclimáticos determinam as particularidades no grau de convexização das formas comandadas principalmente pela densidade hidrográfica Assim enquanto no domínio de climas quentes e úmidos os granitos originam formas de maresdemorros com dissecação de moderada a forte nos quentes e subúmidos mantémse as paleoformas nos topos interfluviais como os remanescentes de aplainamento relacionados à agressividade pretérita de clima seco A forte incisão da drenagem no domínio dos maresdemorros responsável pelas formas convexas pode ser atribuída ao ajustamento tectônico Terciário aliado à orogenia Andina A preservação parcial de pediplanos nas faixas intertropicais subúmidas é justificada pelo menor grau de dissecação em relação à evidenciada no clima úmido Fig 252 AbSáber 1966 observa que o domínio dos maresdemorros corresponde à área de mais profunda decomposição das rochas e de máxima presença de mamelonização topográfica em caráter regional de todo o país A alteração das rochas cristalinas e cristalofilianas atinge aí o seu maior desenvolvimento tanto em profundidade quanto em extensão chegando a ser universal para enormes setores das regiões serranas acidentadas dos planaltos cristalinos do Brasil de Sudeste Outras vezes constatase a presença de formas convexocôncavas como no domínio cristalino das regiões temperadas determinadas pela redução da capacidade de transporte do sistema fluvial que contribui para o acúmulo gradativo de material na base da vertente Além das implicações climáticas na diferenciação morfológica a serem consideradas oportunamente há de se considerar o significado de certas rochas como os embrechitos de elevada resistência proporcionando o desenvolvimento de pãesdeaçúcar correspondentes a maciços inselbergs caracterizados por vertentes íngremes muitas vezes superiores a 40 O que além de dificultarem o desenvolvimento da pedogênese são altamente suscetíveis à esfoliação É comum observar principalmente nas rochas cristalinas do sudeste brasileiro elevado grau de dissecação determinado pela tectônica quebrante associada a efeitos epirogenéticos positivos vinculados à orogenia andina Parece existir amplo consenso quanto ao entendimento de que as rochas cristalofilianas ou metamórficas integram as estruturas cristalinas Assim comparativamente observase em condições de clima úmido que os xistos ou micaxistos são menos resistentes que os quartzitos os quais proporcionam o desenvolvimento de relevos monoclinais como os hogbacks individualizando as cornijas estruturais Os gnaisses dificilmente originam relevos monoclinais visto que os planos de xistosidade são menos expressivos proporciondolhes um comportamento morfológico mais próximo aos granitos Como exemplo goiano de evolução morfoestrutural cristalina consideramse as províncias serranas de Niquelândia Canabrava e Serra da Mesa A Serra da Mesa constituída por granito do mesmo nome é marcada por eixo de braquianticlinal em rocha ígnea intrusiva A reativação tectônica do Proterozóico originou disposição monoclinal das rochas encaixadas representadas por intercalações de xistos e quartzitos do Grupo Araxá A topografia imposta pelo arqueamento produzido pelo corpo intrusivo após processo de pediplanação responsável pelo truncamento das rochas foi intensamente dissecada pelo sistema de drenagem cataclinal ajustandose à rede de falhamento radial associada às manifestações tectônicas Os cursos cataclinais cortaram as seqüências araxaídes de diferentes resistências xistos e quartzitos enquanto os cursos ortoclinais organizados posteriormente entalharam seus talvegues nas seqüências xistosas ressaltando a imponência das cristas monoclinais quartzíticas Fig 253 O mosaico de radar da Serra da Mesa mostra forte imposição estrutural no traçado do Rio Maranhão que depois de submetido a forte angularidade determinada pela resistência do granito Serra da Mesa passa a ocupar seqüências xistosas do Grupo Araxá ladeadas por cristas quartzíticas razão pela qual se aloja em linha de falha inversa isolando o braquianticlinal da Serra da Mantiqueira Dada a complexidade morfológica relacionada às estruturas cristalinas recomendase a leitura dos estudos desenvolvidos por AbSáber 1966 e Bigarella et al 1994 dentre outros b Relevo Cárstico As rochas carbonatadas quando submetidas a intemperismo químico proporcionam o desenvolvimento de formas específicas resultantes do processo de dissolução ou carbonatação Rochas carbonatadas como o calcário que têm a calcita como principal elemento são altamente solubilizadas na presença do ácido carbônico formado a partir da combinação do dióxido de carbono presente na atmosfera com a água A carbonatação é a reação dos minerais carbonatados com o ácido carbônico Sob condições naturais a dissolução do carbonato de cálcio carbonato mais abundante na natureza é um pouco mais complexa uma vez que os ácidos envolvidos são normalmente mais fracos Por exemplo quando o calcário se dissolve com o ácido carbônico o processo pode ser sintetizado da seguinte forma Notase que dois íons HCO são provenientes de fontes diferentes um é liberado pela ionização do H 2 CO 3 e o outro formado pela reação do H do ácido com CaCO 3 Essa reação demonstra o que acontece com o calcário exposto ao ar atmosférico formando cavernas ou quando o mármore é dissolvido por soluções que contêm minérios nas paredes de uma fissura O processo inverso representa a precipitação do carbonato de cálcio no mar bem como cimentação de material em rochas sedimentárias ou quando gotas evaporam na extremidade de uma estalactite Krauskopf 1972 Observase que a solubilidade do CaCO 3 diminui com o aumento da temperatura A decomposição da matéria orgânica na presença do ar ou de água fornece CO 2 em grande quantidade propiciando a maior solubilidade do CaCO 3 existente nas proximidades Devese acrescentar que a água fria dissolve mais gás carbônico que a quente assim como a água sob pressão A maioria dos calcários apresenta certas impurezas insolúveis como argila e areia que se acumulam para formar depósitos residuais Os minerais portadores de ferro são comumente oxidados originando os solos residuais que se destacam na paisagem cárstica Portanto a partir do processo de dissolução ou carbonização referido que também pode ocorrer em função de chuvas ácidas ácido nítrico ou H 2 S temse a elaboração de formas bizarras com a conseqüente precipitação da calcita a exemplo dos depósitos de travertino As formas cársticas17 podem ser caracterizadas como endocársticas referentes àquelas de evolução subterrânea espeleogênese e exocársticas correspondentes às formas superficiais desenvolvidas na zona de absorção das águas onde são muito características Para acontecer a carbonatação é imprescindível a existência de umidade o que justifica a presença de residuais calcários preservados ou pouco alterados quando submetidos a clima seco No caso de excesso de água grande parte das formas originadas no clima seco podem ser intemperizadas deixando vestígios nas seqüências estratigráficas dos depósitos correlativos ou nas cavidades existentes nas paredes das grutas associadas a processo de evorsão O processo de dissolução se dá principalmente através de linhas de fraqueza da rocha visto que os calcários de forma geral apresentam baixa permeabilidade A partir de juntas ou diáclases o ácido carbônico processa a carbonatação passando a elaborar formas específicas No ciclo cárstico a evolução superficial e a subterrânea não se desenvolvem paralelamente embora no início possam seguir etapas similares Formas endocársticas Para Bögli 1964 a espeleogênese inicial ocorre sempre abaixo do nível hidrostático onde se dá a mistura das águas descendentes provenientes da zona vadoza18 com as águas freáticas A diferença de conteúdo de CO 2 e HCO 3 provoca deslocamento do equilíbrio químico aumentando o poder de corrosão da solução Dentre as principais formas endocársticas destacamse as cavernas Bigarella et al 1994 apresentam tópico específico sobre origem e classificação dos espeleotemas destacando as formas de cimeira ou zenitais que crescem verticalmente no sentido da gravidade como as estalactites e cortinas as formas parietais correspondentes a deposições nas paredes das cavernas e as formas pavimentárias como as estalagmites colunas represas de travertino dentre outras A caverna uma das principais formas endocársticas pode ser definida como um leito natural subterrâneo com presença ou ausência de água ocupando um espaço vazio Para Bigarella et al 1994 seu desenvolvimento tornase mais evidente ao longo de linhas de maior fraqueza sendo as diáclases e os planos de estratificação determinantes da sua geometria e orientação Para Lladó 1970 a caverna19 é referida como gruta quando possui uma ornamentação estalactítica proeminente embora essa designação não tenha um significado preciso Algumas galerias podem estar associadas a tributários de drenagem criptorréica que foram desativados ficando suspensos em relação ao nível de base atual que ainda pode estar ocupado pelo rio principal Com a abertura de grutas pelo trabalho da água subterrânea há o desenvolvimento de estalactites a partir de fissuras existentes no teto das cavernas cuja dissolução acarreta a precipitação da calcita gotejamento originando no assoalho as estalagmites A união das estalactites e estalagmites origina colunas que justapostas proporcionam o desenvolvimento de cortinas correspondentes a um fino rastro de calcita As cortinas podem evoluir para lâmina de calcita ondulada branca e translúcida ou tingida pelo sesquióxido de ferro Fig 254 Para Bloon 1970 pelo menos parte da deposição das estalactites é causada quando a água subterrânea movendose sob pressão através da rocha acima da caverna encontra o ar livre e perde algum CO 2 dada a queda de pressão Com a perda do dióxido de carbono em solução parte do bicarbonato de cálcio dissolvido reverte para o carbonato de cálcio menos solúvel usualmente na extremidade de uma saliência sobre a qual a água pinga e flui Alguns tributários subterrâneos podem confluir no interior das cavernas sob forma de fontes de ressurgência contribuindo para a evolução da morfologia cárstica Numa caverna admitese a possibilidade de existirem diferentes níveis de base justificando a denominação de andares Tais níveis em determinadas regiões são muito variáveis Para Derruau 1970 em massas calcárias não deve haver um nível de base único ou uniforme pela interdependência do próprio sistema de circulação subterrânea No Vale do Colorado EUA admitese que o nível cárstico encontravase a centenas de metros abaixo do nível do mar caracterizando uma situação de desembocadura fóssil resultante de paleoclima ou que os referidos níveis não apresentavam qualquer relação com o nível de base geral Formas cársticas fósseis são também encontradas em Vercors de origem préglaciária caracterizadas por dolinas recobertas de morainas20 em processo de reelaboração Como exemplo de abatimento topográfico causado por dissolução considerase a Ponte de Pedra no município de ParaúnaGO que evidencia ser resultante do desabamento de teto superior de paleocaverna Formas Exocársticas Correspondem às formas superficiais do carste desenvolvidas na zona de absorção das águas ou zona subaérea onde são muito características Bigarella et al 1994 Bögli 1980 classifica as formas exocársticas em dois tipos fechadas e abertas As primeiras também denominadas de formas cársticas erosivas superficiais são representadas pelas lapiás dolinas uvalas poljé e canhões ou canyons21 As formas abertas de absorção são definidas por sumidouros ponors abismos e demais formas residuais como muralhas e paredões cones cársticos ou cockpits dentre outras No domínio cárstico é comum a presença de canyons com paredes verticais dispostas segundo a alternância de bancos calcáreos como o canyon de Colorado Os rios alógenos podem a partir de determinado ponto desaparecer abismos caracterizando assim uma drenagem criptorréica ou subterrânea Os abismos são muito generalizados nas regiões cársticas originados a partir de fissuras ou fraturas que se expandem por dissolução e que podem progredir por desmoronamento Assim temse a formação de verdadeiras cavernas que vão sendo ampliadas de acordo com o entalhamento do talvegue e conseqüente dissolução processada pela água subterrânea Canyons só se formam quando o calcário é bastante resistente e as paredes evoluem por solapamento basal Nas planícies cársticas conhecidas como poljé a impermeabilização dos calcários pode contribuir para a concentração de água que promove sua dissolução com conseqüente formação de depressões circulares ou mesmo sinuosas denominadas dolinas A gênese das dolinas assim como a riqueza de detalhes cársticos se relaciona ao grau de pureza da rocha Como exemplo podese considerar o Poço Verde no município de Coromandel Minas Gerais um lago permanente em formação cretácica desconhecendose o seu ponto de ressurgência Também podem se observar formas clássicas de dolinas na região de Padre Bernardo Goiás em calcários do Subgrupo Paraopeba além das registradas no Muquém município de NiquelândiaGO As dimensões das dolinas são muito variáveis de algumas dezenas de metros até alguns quilômetros de diâmetro A coalescência destas associada a processo de dissolução dá origem às uvalas Fig 255 Cursos dágua que se desenvolvem na poljé podem desaparecer em ponors sumidouros e reaparecerem quilômetros adiante sob a forma de fontes de ressurgência ou fontes do tipo vauclusiana s Sobre a superfície das rochas calcárias aparecem sulcamentos processados por dissolução da água superficial escoada enriquecida por ácido úmido presente no solo denominados lapiaz O desenvolvimento de lapiaz pode ser favorecido por linhas de fissuras ou diáclases existentes ou ainda orientados segundo planos de estratificação Ainda como forma cárstica podese considerar a estrutura circular do Muquém no município de Niquelândia formada por paleorrecifes que preservam a estratificação cruzada produzida por ação marinha bem como estruturas de estromatólitos22 do tipo C ollenias e Conophytons Tais ocorrências vinculamse às seqüências do Subgrupo Paraopeba levando a entender pelo caráter circular diâmetro em torno de 10 km estreita relação com antigo atol Para maiores considerações sobre formas desenvolvidas em estruturas cársticas sugerese a consulta das obras citadas no texto Notas de Rodapé 1 A proposta apresentada por Gerasimov 1946 utiliza os conceitos de geotextura morfoestrutura e morfoescultura que se constituem na base para o tratamento taxonômico desenvolvido por Ross 1992 2 Para Novaes Pinto 1988 aos conceitos de pedimentos e pediplanos devem ser incluídos os termos etchiplano e etchiplanação que é o processo de aplainamento típico de regiões tropicais semiúmidas que provoca o rebaixamento topográfico pela retirada parcial ou total do regolito dando origem a uma superfície designada etchiplano 3 Referese a horizontes portadores de alta concentração de ferro por precipitação em condição biostásica exumados pelos mecanismos morfogenéticos característicos das fases transicionais 4 Por níveis de embutimento entendese a retomada de escavação acentuada após um soerguimento marcante ou sensível abaixamento do nível marinho Os rios se encaixam de jusante para montante onde a erosão é desencadeada através da erosão regressiva 5 O óxido férrico precipitase a pH3 sendo completamente estável na maioria dos ambientes de intemperismo sob condições oxidantes 6 O composto Al 2 O 3 reage prontamente com os ácidos e bases e tem alta solubilidade em pHs menores do que 4 ou maiores do que 10 ou seja a alumina é solúvel nos extremos 7 A sílica como ácido monossilícico se ioniza apreciavelmente apenas acima do pH9 8 Clima úmido regionalmente ocorrido no Terciário Superior ou seja entre o pediplano de cimeira provavelmente elaborado no Terciário Médio e o pediplano intermontano cuja origem estaria relacionada ao Pliopleistoceno 9 Para Rizzini 1963 a gênese do cerrado é justificada pelo escleromorfismo oligotrófico pobre em nutrientes nos solos 10 Ma milhões de anos 11 Conforme Leinz Leonardos 1971 Plataforma referese a área rígida da crosta continental em que os movimentos tectônicos são geralmente de modesta grandeza e caráter epirogênico em contraste com as áreas de grande mobilidade denominadas geossinclinais As plataformas dividemse em Ortoplataforma que apresenta alto grau de consolidação de seu embasamento recobremse de espessuras modestas de sedimentos litologicamente muito evoluídos e que podem estenderse a vastas áreas e Paraplataforma que apresenta espessuras de sedimentos geralmente maiores podendo ter caráter imaturo com possibilidade de deformações intensas 12 Rios que se organizam independentemente da estrutura anterior e cortam camadas de diferentes resistências 13Cluse referese a vale transversal ao eixo de um anticlinal ou às direções de camadas elaborado por um rio muitas vezes associado a linha de falha ou de fraturamento 14Knick corresponde ao ângulo formado na base de uma vertente inselbergue em relação à topografia pedimento produzido pela morfogênese mecânica recuo paralelo de vertente 15 A denominação de baioneta em tal circunstância corresponde à sucessão de angularidades que se assemelham à baioneta calada colocada na boca do fuzil 16 O setor periclinal da dobra é conhecido na literatura como dobra em chevron 17 O termo karst é de origem servocroata significando campo de pedras calcárias 18 Zona vadosa corresponde àquela localizada acima do nível hidrostático O nível hidrostático é um nível variável que acompanha aproximadamente a topografia sendo constituído pela água infiltrada no solo sorvida pelos poros 19 De acordo com a União Internacional de Espeleologia para serem consideradas cavernas devem apresentar comprimento superior a 10 metros 20 Morainas ou morenas são depósitos em forma de lombadas ou irregular transportados e sedimentados pelo gelo associados a geleiras do tipo alpino ou continental 21 As lapiás são superfícies intensamente sulcadas devido à ação corrosiva das águas dolinas são depressões em forma de funil relacionadas a processo de dissolução ou resultantes de desmoronamento de teto de cavernas uvalas correspondem à coalescência de dolinas poljés é uma planície cárstica ou uma depressão muito grande resultante da dissolução extensiva canyons ou canhões correspondem a vales de flancos retos e íngremes podendo estar associados a antigos rios subterrâneos que tiveram a abóbada das galerias desmoronadas 22 Pertencentes ou relativos a certo peixe do gênero estromáteo Referências bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 n 12 p 5 23 jandez 1983 Abreu AA Significado e Propriedades do Relevo na Organização do Espaço In Anais do Simpósio de Geografia Física Aplicada 1 B Geogr Teorética Rio Claro v 15 n 2930 154162 1985 AbSáber AN A geomorfologia do Estado de São Paulo In Aspectos Geográficos da Terra Bandeirante Rio de Janeiro Fundação IBGE 197 1954 AbSáber AN O domínio dos maresdemorros no Brasil Geomorfologia 2 IGEOGUSP S Paulo 1966 AbSáber A N Uma revisão do quaternário paulista do 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Urucuia Cretáceo Patamares sustentados por horizontes silicificados Folha Ponte Alta do NorteSC23YA Radambrasil 1976 0 5 km MR 2 Serra do Caiapó ou das Divisões Relevo cuestiforme observandose depressão ortoclinal 500700 metros em seqüência arenosiltosa carbonífera e reverso pediplanado 9001000 metros em sedimentos terciários da Formação Cachoeirinha MR 3 Serra Dourada Hogback sustentado por quartzitos em torno de 1000 metros sotopostos por sedimentos metapsamopelíticos Grupos Araxá Depressão ortoclinal bacia do Rio Araguaia elaborada em granitognaisses em torno de 500 metros do Complexo Goiano MR 4 Serra de Caldas Provável aparelho vulcânico edificado em metassiltitos e metarenitos do Proterozóico Pediplano de cimeira testificado por cobertura detritolaterítica em torno de 1000 metros e zona periférica nivelada aos 700750 metros em seqüência de xistos do Grupo Araxá Folha Morrinhoss SE22XD Radambrasil 1976 0 5 km MR 5 Serra Grande Relevo apalachiano representado por seqüência de cristas quartzíticas até 1000 metros de altura intercaladas por depressões em xistos do Proterozóico 400500 metros Observase com nitidez o fechamento das dobras Folha Alvorada SD22XB Radambrasil 1976 0 5 km MR 6 Falha de São Luiz Falha normal no complexo gnáissicomignático que transcende a seqüência areno siltosa da Formação Aquidauana Pediplano intermontano seção meridional nivelado aos 650 metros com destaque de cristas longitudinais em torno de 820 metros Folha S Luiz Montes Belos SE22XA Radambrasil 1976 0 5 km MR 7 Serra da Mesa Intrusão granítica em seqüência metapsamopelítica do subgrupo Paraopeba Observamse cristas quartzíticas concêntricas em torno de 1000 metros e angularidades estruturais no Rio Tocantins depressão cotada aos 500 metros A nordeste constatase estrutura circular da Serra Branca relativa à intrusão de greisen e granito Folha Porangatu SD22XD Radambrasil 1976 0 5 km Folha Jataí SE22VD Radambrasil 1976 0 5 km Folha S Luiz Montes Belos SE22XA Radambrasil 1976 0 5 km Estrutura Superficial 3 Estrutura Superficial 31 A importância das mudanças climáticas na gênese das formações superficiais 311Formas de intemperismo e suas relações como o clima 32As variações climáticas 321As oscilações climáticas do pleistoceno 322Exemplos de depósitos correlativos 33Depósitos tecnogênicos O estudo da estrutura superficial Conceito apresentar o conceito de estrutura superficial resgatando a noção de depósitos correlativos de Penck Importância da estruturação superficial importância considerando as mudanças climáticas e derivações processadas através dos depósitos correlativos significado destes para a montagem do quadro evolutivo do relevo Importância da estrutura superficial no uso e ocupação de áreas Metodologia considerar a sistematização apresentada por Ruhe 1976 bem como os trabalhos desenvolvidos principalmente por Bigarella e Mousinho A importância das oscilações climáticas pleistocênicas no reafeiçoamento do relevo Apresentar modelo teórico dos mecanismos responsáveis pelas alterações climáticas no pleistoceno reflexos na distribuição da cobertura vegetal e processos morfogenéticos Evidenciar os tipos de depósitos relacionados às diferentes fases glácioeustáticas As principais características da estrutura superficial Apresentar exemplos em diferentes compartimentos mostrando o significado dos depósitos correlativos para a compreensão evolutiva da paisagem 3Estrutura superficial O segundo nível de abordagem sistematizado por AbSáber 1969 referese à estrutura superficial São detritos superficiais ligados a determinadas formas de transportes em condições morfogenéticas específicas É também denominada de depósito de cobertura elaborado por agentes morfogenéticos sob uma determinada condição climática presente nos diferentes compartimentos topográficos O termo estrutura superficial referese à forma de jazimento dos depósitos correlativos em superfície diferindo do conceito de estrutura geológica cujos depósitos originários foram litificados ao longo do tempo perturbados ou não por atividades tectônicas A expressão de depósitos ou formações correlativas é devida a Penck 1924 que a utilizou no sentido de conjunto dos depósitos e entulhamentos resultantes do trabalho da erosão sobre um relevo e que testemunham por suas características a energia desse relevo além dos sistemas de erosão que comandam a evolução Archambault et al 1967 O termo formação superficial muitas vezes utilizado como sinônimo de estrutura superficial é conceituado por Dewolf 1965 como sendo formações continentais friáveis ou secundariamente consolidadas provenientes da desagregação mecânica e da alteração química das rochas que tenham ou não sofrido remanejamento e transporte qualquer que seja a sua gênese e sua evolução Para a autora substrato é a rocha subjacente friável ou coerente que suporta as formações superficiais quer ela derive diretamente deste substrato ou resulte de remanejamento Portanto o conceito de formação superficial assume maior abrangência por incorporar materiais resultantes da alteração in situ o que difere da perspectiva oferecida pela noção de estrutura superficial que tem por princípio oferecer subsídios à reconstrução evolutiva do modelado Outro aspecto digno de nota é que enquanto o estudo das formações superficiais tem sido tratado com objetivos distintos pelas diferentes especialidades principalmente geologia geomorfologia e pedologia o que dificulta a adoção de um conceito comum o estudo da estrutura superficial parece ser exclusivo do geomorfólogo AbSáber 1969 p4 ressalta que custou muito para se compreender que as bases rochosas da paisagem respondem apenas por uma certa ossatura topográfica e que na realidade são os processos morfoclimáticos sucessivos que realmente modelam e criam feições próprias no relevo Partindo do princípio de que a estrutura superficial referese a toda forma de depósito relacionada a uma determinada condição climática entendese que desde as menores extensões como os depósitos de vertentes ou detritos de encostas a exemplo dos pedimentos detríticos associados a relevos residuais até maiores como as superfícies de aplainamento de extensão regional se caracterizam como tal O estudo da estrutura superficial além de oferecer subsídios à compreensão evolutiva do relevo proporciona elementos para a gestão do território Como subsídio à evolução do relevo utilizase da teoria do atualismo ou uniformitarismo atribuída a Hutton 17881 que parte do princípio de que o presente é a chave do passado Isso significa que as relações processuais e depósitos correlativos evidenciados nas diferentes zonas climáticas do globo constituem a chave para o entendimento dos paleodepósitos ou paleopavimentos detríticos encontrados sob a forma de estrutura superficial Considerando as características dos diferentes depósitos com as respectivas relações processuais podese inferir as condições ambientais como subsídio para uma cronologia relativa Quando tais depósitos podem apresentar elementos datáveis como carbono ou outros indicadores passam de portadores de informações cronológicas relativas para absolutas Enquanto subsídio à gestão do território a estrutura superficial contribui por meio de processos como os deslizamentos de massas e atividades erosivas em função de sua suscetibilidade com o estudo da vulnerabilidade do relevo Permite assim o prognóstico de impactos considerando a relação existente entre a rocha e o material sobrejacente Constituise também em componente para o estudo da potencialidade natural de determinada área a exemplo de uma rocha básica que quando alterada in situ com certeza influenciará no depósito correlativo através de determinadas características que se assemelhem ou que resultem de suas condições físicoquímicas O estudo da estrutura superficial só pode ser feito mediante observação de campo utilizandose de cortes de estrada abrindo trincheiras ou efetuando tradagens embora esse último procedimento implique deformação da amostra A análise dos depósitos correlativos feita com a maior fidelidade possível proporciona uma boa visão de sua extensão da intensidade dos seus processos da energia do relevo auxiliando a interpretação sobre a evolução morfológica É importante ressaltar que a estrutura superficial deve ser levantada nos diferentes compartimentos que integram o estudo para que a reconstrução paleogeográfica seja a mais fiel possível Para Ruhe 1975 a análise da estrutura superficial deve fundamentarse em medidas e descrições da seção transversal de uma vertente incluindo a identificação de elementos como cor textura estrutura consistência reação química do material e outras observações consideradas relevantes A cor deve ser descrita de acordo com o padrão de referência Munsell Soil Color a textura que corresponde à dimensão das partículas em uma determinada amostra deve fundamentarse em análises granulométricotexturais a estrutura do material que compreende o conjunto de partículas de minerais dentro dos agregados deve ser correlacionada com os modelos préconcebidos laminar prismática em blocos e esferoidal a consistência correspondente ao grau e o tipo de coesão ou resistência do material ao corte deve ser submetida a testes de laboratório material plástico friável ou firme maciço ou duro a reação que corresponde à resposta do material por sua vez deve ser submetida a testes químicos para identificação da presença de carbonatos A sistematização de tais informações é feita por meio de tratamento gráficoestatístico com vistas à caracterização cronológica dos depósitos perspectiva históricogeológica nos diferentes compartimentos Com base em tais orientações Abreu 1982 apresenta em seu trabalho de livredocência um modelo de ficha de observação de campo anexo ao capítulo final Ainda com relação ao estudo da estrutura superficial Archambolt et al 1967 apresentam considerações sobre elementos essenciais a serem observados durante os levantamentos informações sobre a estratigrafia paleogeologia paleossolos a natureza petrográfica os caracteres granulométricos e por fim a forma dos detritos A estratigrafia é tida como essencial por fornecer inferências cronológicas permitindo reconhecer nos entulhamentos as condições morfogenéticas e através das discordâncias as fases de instabilidade ou alternâncias climáticas As formações descritas podem ainda ser datadas com precisão utilizando técnicas geocronológicas Sobre a paleogeologia os autores observam a presença de fósseis como indicadores do meio em que se deu a acumulação do material marinho lacustre continental proporcionando subsídios sobre o clima contemporâneo Os paleossolos são testemunhos diretos da ação de um sistema de erosão sobre as rochas Podem estar associados à desagregação mecânica ou à decomposição química possibilitando inferências quanto aos processos que concorreram para a elaboração do relevo a presença de depósito de bauxita por exemplo indica gênese ligada a um clima tropical úmido considerando o ambiente em biostasia na concepção de Erhart 1958 A natureza petrográfica ajuda a compreender as condições climáticas responsáveis pela elaboração dos depósitos Como exemplo o sedimento resultante da erosão de um maciço granítico será rico em feldspato se a decomposição química tiver sido fraca ao contrário a ausência de feldspatos convertidos em material argiloso indica um clima quente e úmido Os caracteres granulométricos permitem inferências sobre a energia do relevo e o meio climático contemporâneo Assim quanto mais vigoroso for o relevo maior é o volume e maior a dimensão do calibre dos detritos que se acumulam em sua base embora isso não seja uma regra absoluta A desagregação mecânica associada ao clima semiárido ou árido fornece detritos grosseiros enquanto a decomposição química relacionada a um clima úmido origina detritos finos embora um rápido decréscimo do calibre do material para jusante evoque um clima de aridez marcante A forma dos detritos expressa o grau de transporte do material a diminuição da angularidade do material significa maior distância de transporte que normalmente é feito por água escoamento superficial na época2 A proposta para os levantamentos dos depósitos correlativos adotada por Archamboult et al 1967 fundamenta se nos princípios metodológicos dos estudos estratigráficos Os depósitos de cobertura relacionados aos aplainamentos mais antigos como do Terciário Médio constituem interesse de estudo da estrutura superficial Contudo maior atenção encontrase voltada para as seqüências cronológicodeposicionais pleistocênicas seguida dos reflexos das pequenas variações climáticas registradas no Holoceno Barbosa 1983 ao fazer considerações sobre as aplicações das formações superficiais à geomorfologia ressalta a necessidade de destacar os seguintes problemas origem do material processos de preparação granulometria espessura e morfoscopia Nas relações cronológicas de tempo geológico relativamente curto temse lançado mão não com freqüência de datações utilizandose isótopo de C 14 que tem apresentado bons resultados para testemunhos de no máximo 004005 ma AP mil anos antes do presente Outras técnicas como a Termoluminescência TL também têm sido empregadas embora com maiores restrições sobretudo com relação à qualidade dos testemunhos para correlações A TL utilizada em datações quaternárias consiste na intensidade de emissão de luz medida entre a concentração de elétrons caçados trapped em relação à dose de radiação natural Alguns efeitos amostrais têm reduzido o grau de confiança dos resultados obtidos Aitken 1985 As tentativas de emprego da Eletron Spin Resonance ESR espectroscopia poderão oferecer bons resultados às datações de depósitos de cobertura considerando as vantagens em relação à TL A ESR ou Ressonância Paramagnética Eletrônica RPE é um método físico de detecção da ressonância absorvida a partir da emissão de microondas responsáveis pelo desemparelhamento spin do elétron Ao contrário da TL a ESR não destrói a amostra analisada razão pela qual a acumulação de defeitos não contamina a informação A ESR ou RPE foi utilizada pela primeira vez como técnica de datação em 1975 por Ikeya Osaka University Toyonka em espeleotemas da Akiyoshi Cave no Japão Ikeya 1993 Grun 1989 mostra que essa técnica tem sido empregada nos últimos anos em datações de diferentes materiais e em vários campos das ciências da Terra como em geomorfologia e arqueologia Acreditase que obtendo uma boa correlação morfopedológica podese explicar melhor as diferenças existentes quanto à distribuição de espécies vegetais nativas ou condições edafológicas que representam possibilidades de uso ou ocupação Ampliandose o número de informações cronológicodeposicionais vinculadas a correlações morfopedológicas onde a micromorfologia tem tido importante contribuição poderá ser oferecida uma interpretação mais consistente da evolução do relevo contribuindo ou valorizando ainda mais a análise geomorfológica 31 A importância das mudanças climáticas na gênese das estruturas superficiais As condições climáticas como temperatura umidade e pressão respondem pela intemperização das rochas culminando com a formação dos depósitos correlativos Constatase portanto estreita relação entre clima intemperismo e depósitos correlativos na caracterização da estrutura superficial Para ilustrar essas relações apresentamse algumas considerações sobre as formas de intemperismo e a suscetibilidade das rochas O objetivo é proporcionar um encadeamento seqüencial na análise chamando atenção para a necessidade de consultas suplementares a trabalhos específicos sobre o assunto 311 Formas de intemperismo3 e relações climáticas Os trabalhos que tratam da intemperização das rochas relatam a existência de três tipos de intemperismo químico mecânico ou físico e o biológico O intemperismo químico também conhecido como decomposição representa a quebra da estrutura química dos minerais originais que compõem as rochas O intemperismo físico ou mecânico responsável pela desintegração da rocha envolve processos que conduzem à desagregação sem que haja necessariamente alteração química maior dos minerais constituintes O intemperismo biológico por sua vez referese a ações comandadas por espécies animais e vegetais que se manifestam de forma mecânica e química sobre a rocha tendo participação expressiva no processo de pedogenização a Intemperismo químico Para Bigarella et al 1994 a decomposição de uma rocha efetuase através de um processo muito lento complexo e variado Depende de muitos fatores tais como composição mineralógica e química da rocha forma e estrutura de jazimento bem como condições climáticas regionais predominantes A temperatura influi diretamente sobre o intemperismo químico Demattê 1974 inclui tamanho das partículas da rocha permeabilidade do manto rochoso posição do nível hidrostático relevo temperatura composição e quantidade de água subterrânea oxigênio e outros gases no sistema macroflora e microflora e faunas presentes superfície exposta da rocha e sua modificação pelo intemperismo mecânico solubilidade relativa das rochas originais e dos materiais intemperizados Com relação à composição mineral Goldich 1938 relata a resistência das rochas aluminossilicatadas à hidrólise indo da olivina através do piroxênio anfibólio biotita feldspato alcalino ao quartzo Fig 31 Para Melfi Pedro 1978 no decorrer da alteração há sempre interação entre os diferentes constituintes o quartzo por exemplo provoca um aumento da concentração de SiOZ e pode fazer regredir a hidrólise dos aluminossilicatos alcalinos modificando dessa forma a alteração Bigarella et al 1994 demonstram que os minerais menos resistentes à ação da água com COZ dissolvido são os piroxênios e os anfibólios Seguemse os plagioclásios depois o ortoclásio e finalmente as micas destas a moscovita é a que mais resiste O quartzo não é inteiramente insolúvel Entre os minerais acessórios a apatita e a pirita são facilmente atacadas enquanto a magnetita é relativamente resistente Os mais resistentes são o zircão o coríndon e a cromita entre outros Além das características dos minerais no processo de alteração considerase também a estrutura como as rochas ígneas que sofrem uma ação muito lenta de intemperização principalmente quando localizadas nas regiões temperadas ou mais frias Nas regiões tropicais úmidas a velocidade de alteração é bem maior o que pode ser expresso através da representação de Strakhov 1967 Sem considerar a relação estrutural constata se o significado da distribuição da precipitação com a espessura do material intemperizado demonstrando o efeito da hidrólise no processo de sialitização Fig 32 Quanto à estrutura de jazimento constatase que as rochas ricas em planos de clivagem como os xistos do Grupo Araxá predominantes no CentroOeste bem como as rochas fendilhadas ou com densa rede de diaclasamento tendem a acelerar as reações químicas do intemperismo Para Demattê 1974 as rochas são intemperizadas quimicamente por uma grande diversidade de reações que podem ser classificadas por alguns modelos Os silicatos se decompõem principalmente por hidrólise mas alterações por troca de íons incluindo cátion não H também são importantes Carbonatação hidratação quelação diálise solução simples e reconstituição química são outros mecanismos ativos e importantes do intemperismo químico os quais atacam as diversas rochas e minerais da litosfera Para o autor essas reações são basicamente simples visto que os processos não desenvolvem nada mais complexo do que ionização adição de água e gás carbônico hidrólise e oxidação Dentre os tipos mais comuns de intemperismo químico serão tratados a dissolução a hidratação a hidrólise a carbonatação e a oxidação Apresentamse a seguir algumas características de cada uma dessas modalidades Dissolução referese à alteração química da água em função da concentração de íon H expressa como pH Através da representação de Mason 1966 observase que enquanto a sílica SiO2 é altamente solúvel num meio básico portanto pouco solúvel no meio ácido a alumina Al203 é solúvel nos extremos tanto no meio ácido quanto no básico apresentando baixa solubilidade em condição neutra Fig 33 A dissolução se caracteriza pelo primeiro estágio do processo de intemperismo químico visto que determinados minerais ou rochas são mais facilmente dissolvidos pela água do que outros Como exemplo nos depósitos salinos halita e camadas de gipso a alteração é relativamente intensa enquanto nas rochas carbonatadas como o calcário e o dolomito a ionização é mais lenta ao contrário na sílica como o quartzo formase uma espécie de química neutra sem qualquer ionização apreciável na escala de pH das soluções naturais No caso das rochas carbonatadas constatase que a água contendo CO2 ácido carbônico agindo sobre o calcário transforma o CaCO3 da calcita em bicarbonato solúvel que é lixiviado4 A reação pode ser assim expressa Hidratação referese à adição de água em um mineral e sua adsorção5 dentro de retículo cristalino Tratase portanto da adição de água em minerais para formar hidratos Certos minerais são passíveis de receber moléculas de água em sua estrutura transformandose física e quimicamente como a mudança da anidrita em gipso ou da transformação da hematita em limonita Hurst 1975 observa que a reação e o tempo dos processos nestas circunstâncias dependem da concentração de reagentes e dos seus produtos e das mobilidades dos vários constituintes Por exemplo a reação em um sistema aberto pode ser inteiramente diferente da produzida em um sistema fechado como na alteração do KFeldspato feldspato potássico cujo principal produto pode tanto ser a caulinita como a ilita dependendo do sistema Hidrólise consiste na reação química entre o mineral e a água ou seja entre íons H hidrogênio ou íon hidrônico H 3 O e OH íons hidroxilas A reação de hidrólise pode ser demonstrada através da decomposição dos silicatos feldspatos micas hornblenda augita dentre outros pela água dissolvida Como exemplo Brinkmann 1964 demonstra a seguinte reação de um feldspato alcalino ortoclásio em caulinita Considerando a alteração de aluminossilicatos Pedro 1964 e 1966 observa que podem ser assinaladas duas situações quanto ao resultado da hidrólise 1 hidrólise total os três elementos que constituem um mineral primário como um plagioclásio Si Al Na ou K são completamente liberados e aparecem no meio de alteração sob a forma de hidróxidos Como exemplo SiOH4 e Na OH solúveis são eliminados completamente enquanto AlOH3 que é insolúvel acumulase in situ e se individualiza sob a forma de hidróxido de alumínio do tipo gibbsita 2 hidrólise parcial uma parte da sílica liberada do mineral primário reage com o alumínio para formar sais básicos insolúveis hidroxissilicatos aluminosos argila Tratase portanto do processo de sialitização onde a dessilicificação do meio é incompleta e a eliminação dos cátions básicos pode ser mais ou menos elevada Para Demattê 1974 os principais fatores que influem na hidrólise são a natureza da água se a água saturada com sais não for removida e substituída por outra com concentração de sais menor a hidrólise tende a paralisar reduzindo o desenvolvimento do solo b efeito do pH sobre as solubilidades do Al2O3 e SiO2 hidratado em um pH8 a solubilidade do Al2O3 é reduzida a praticamente zero mas do SiO2 é reduzida apenas para ¼ daquela que era a pH10 conforme podese inferir através da Figura 33 c ação das plantas as plantas vivas fornecem íons H para a argila coloidal em contato com suas raízes e tendem a criar condições de argila ácida que por sua vez intemperiza as rochas e minerais presentes Cabonatação o gás carbônico dissolvido na água dá origem a uma solução ácida denominada hipoteticamente de ácido carbônico H2CO3 que em reação com os minerais carbonatados dá origem ao processo denominado carbonatação Utilizase como exemplo a formação do bicarbonato de cálcio que é bastante solúvel em água a partir da calcita Para Bigarella et al 1994 nas regiões tropicais a carbonatação é intensa e estimulada pela contribuição de CO2 proveniente da vegetação exuberante O transporte posterior do material carbonatado parece ser menor do que aquele verificado para regiões de climas mais frios No primeiro caso há rápida redeposição no próprio relevo cárstico Observam os autores que as pequenas quantidades de argilas e óxidos de ferro existentes no calcário normalmente preenchem as depressões topográficas como as dolinas além de ocorrerem na superfície do relevo cárstico sob a forma de terra rossa Com base em pesquisas realizadas por Bigarella 1948 constatase a formação de depósitos secundários de calcita a partir da solução dos carbonatos de magnésio e de cálcio pelas águas carregadas de CO2 Oxidação e Redução é uma das principais reações que ocorre durante o intemperismo químico quando o oxigênio dissolvido na água combina com um elemento A oxidação se processa principalmente nos primeiros metros da superfície sendo efetiva principalmente na faixa acima da zona de saturação permanente Substâncias tanto orgânicas quanto inorgânicas são comumente oxidadas pelo intemperismo do ambiente A oxidação estritamente inorgânica se processa mais pela ação da água Átomos de ferro e manganês em silicatos são encontrados mais em estado de redução Liberados durante o intemperismo eles podem ser oxidados e se agrupam com átomos de oxigênio para formarem óxidos anidros relativamente estáveis ou então podem se combinar com hidroxilas e formar compostos um pouco menos estáveis A oxidação dos sulfetos largamente disseminados nas rochas é essencialmente importante porque forma ácido sulfúrico que contribui para maior alteração das rochas Hurst 1975 Como exemplo o ferro metálico quando exposto ao ar úmido enferruja devido à formação de um mineral mole de coloração amarela ou castanha denominado de limonita Fe2O3 nH2 O A oxidação da pirita FeS2 se dá da seguinte forma A reação contrária em que o oxigênio é liberado de seus compostos é denominada de redução Reações de redução são comuns e importantes nas zonas de intemperismo sendo a mais expressiva a fotossíntese pela qual as plantas subdividem o CO 2 atmosférico e utilizam o carbono O oxigênio não é necessariamente envolvido na reação como demonstra Hurst 1975 quando o Fe combina com S para formar FeS ou FeS 2 o ferro é oxidado Quando H 2 S reage com O 2 para formar H 2 O e S o enxôfre é oxidado e concomitantemente o oxigênio é reduzido de valência 0 à valência 2 Solução referese ao sistema onde uma fase é finalmente dispersa ou solvida na outra Bloom 1972 considera dispensável citar a solução como processo peculiar de intemperismo pois soluções na água são sempre uma parte do intemperismo Quase todas as substâncias encontradas na atmosfera e litosfera são solúveis de alguma forma na água a água subterrânea geralmente contém em adição álcalis terras alcalinas cloretos sulfatos e constituintes de origem biosférica O mecanismo de solução pode ser visto como uma progressão de trocas de íons ou radicais entre as soluções aquosas e os minerais As formações coloidais se comportam de muitas formas como as soluções Os sistemas coloidais importantes para o intemperismo são notadamente as suspensões nas quais a fase dispersa é matéria orgânica ou mineral e o meio dispersante é água ou solução aquosa Hurst 1975 exemplifica o procedimento através da descensão da água subterrânea através do saprolito6 quando alguns cátions presos à superfície das partículas coloidais tendem a se tornar íons livres À medida que esta retirada de eletrólitos continua as partículas floculadas podem deflocularse e descer em suspensão através dos poros do saprolito No horizonte inferior onde a concentração de eletrólitos é mais alta os colóides dispersos se reprecipitam Num perfil podzólico tal fenômeno acontece próximo à base do horizonteB e pode produzir uma camada distinta de canga geralmente ferruginosa b Intemperismo físico ou mecânico O intemperismo físico ou mecânico embora associado a processos que independem da presença da água pode contribuir para o desenvolvimento do intemperismo químico Dentre as principais formas de intemperismo físico destacamse Abrasão referese à pulverização ou redução do tamanho de rochas e minerais a partir do impacto e atrito de partículas em movimento Como exemplo no transporte pelo vento minerais cliváveis como os feldspatos e micas ficam sujeitos à rápida pulverização e podem ser facilmente separados dos minerais mais resistentes e residuais como o quartzo O movimento pode ser lento como o dos matacões envolvidos em gelo glacial ou rápido como no caso das areias eólicas Para Hurst 1975 no transporte pela água os minerais cliváveis são capazes de resistir ao intemperismo Grãos cada vez maiores transportados pela água mostram uma crescente angularidade indicando que a redução de tamanho é conseguida mais por impacto que por abrasão Descompressão corresponde à desagregação por alívio de carga Como exemplo rochas que foram sujeitas a forças compressivas como aquelas submetidas a empilhamento de sedimentos derrames de lava ou gelo glacial tendem a quebrar por efeito tensional ao longo de uma série de fraturas à medida que o peso das rochas ou material sobrejacente é retirado A descompressão chega a quebrar rochas maciças em folhas de 06 a 60 m de espessura formando canais para a entrada de agentes do intemperismo provenientes da superfície Expansão e contração térmica à medida que a temperatura da rocha muda seu volume também tende a mudar Mockman Lessler 1950 apud Hurst 1975 efetuaram medidas de coeficiente de expansão térmica de muitas rochas e minerais constatando que enquanto os coeficientes parecem pequenos os esforços gerados podem ser grandes termoclastia Experimentos desenvolvidos por Blackwelder 1933 e Griggs 1936 colocam em dúvida o efeito da insolação no processo de desintegração das rochas acreditando que o fraturamento ocorre em função das tensões térmicas associadas a processos tectônicos ou não tectônicos Penteado 1974 considera a expansão e contração térmica como processo pouco eficaz na desagregação mecânica por afetar apenas a película superficial da rocha Congelamentodegelo são fenômenos comumente registrados nas altas latitudes ou altitudes onde a água gela e descongela freqüentemente causando desintegração das rochas até mesmo em larga escala crioclastia ou geliturbação Como se sabe o volume da água aumenta 905 quando transformada em gelo levando ao desenvolvimento de forças de expansão em fissuras ou interstícios de rochas ou minerais em tal situação É considerado o processo mais eficaz no fraturamento das rochas O afastamento das paredes rochosas com produção de lascas cunha de congelamento se dá pelo processo chamado gelivação gelo e degelo Penteado 1974 Cristalização de sais Bloom 1972 relata experimentos que comprovam a desintegração das rochas por processo de cristalização de sais Um dos sais considerado atuante é o sulfato de cálcio hidratado gipso Embora se caracterize como um processo mecânico é entendido como precursor do intemperismo químico ao predispor a rocha à ação desse último Outros processos físicos foram descritos por vários autores como perfuração coloidal colapso mecânico gravitação intemperismo por camada de água umedecimentodissecamento e entumescimento por umidade todos de menor importância em relação aos descritos anteriormente embora possam apresentar relevância em situações particulares c Intemperismo Biológico Os organismos vivos contribuem direta e principalmente indiretamente para o processo de intemperização Dentre os diferentes processos evidenciados destacamse os efeitos físicos e químicos associados aos animais e plantas Efeitos físicos e químicos induzidos por animais e plantas referemse à considerável redução em tamanho de minerais e rochas pela abundância da flora e fauna nos solos de áreas úmidas Dentre os principais causadores desse processo destacamse o atrito produzido cumulativamente pela penetração de organismos como a passagem de partículas de solo através do trato de vermes e outros organismos associado ao acunhamento de raízes ou pela compactação e abrasão de grandes animais que se movem na superfície 32 As variações climáticas e relações morfogenéticas O clima sempre variou ao longo do tempo geológico o que pode ser comprovado através de registros fósseis e palinológicos nas formações geológicas como a partir do Proterozóico cujas evidências ficaram registradas nas seqüências litoestratigráficas Exemplos clássicos são os Mesossaurus brasiliensis nas seqüências carbonatadas da Formação Irati Permiano caracterizando ambiente lacustre ou os sedimentos eólicos da Formação Botucatu JuraCretáceo associados a um ambiente desértico Dignas de nota pela própria proximidade temporal em que pese a escala de tempo geológica são as oscilações climáticas no Pleistoceno onde pelo menos quatro grandes fases glaciais e outras quatro interglaciais responderam pelo reafeiçoamento de vertentes deixando evidências nos depósitos correlativos da região intertropical SalgadoLabouriau et al 1997 em estudo referente às mudanças climáticas em vereda no município de Cromínia GO constataram através de correlações palinológicas uma fase mais úmida em torno de 28000 AP antes do presente um evento seco entre 13000 e 10000 AP e uma nova fase de acréscimo da umidade entre 65005000 AP coincidindo com o aumento das precipitações constatadas em outras áreas do Brasil Central como na Lagoa dos Olhos De Oliveira 1992 e Lagoa Santa Parizzi 1994 Partículas de carvão mostram através de testes de C 14 que a queima vegetal já acontecia entre 32400 até 3500 anos AP Salgado Labouriau FerrazVicentini 1994 Bigarella et al 1994 apresentam evidências de alterações climáticas no Século XIX citadas por Bouchardet 1938 para a Europa Ocidental onde foram constatadas oscilações em períodos médios de 30 a 35 anos divididos em duas metades uma fria e úmida e outra quente e seca três fases frias 1806 a 1820 1836 a 1850 1871 a 1885 com invernos excepcionalmente rigorosos que se intercalaram a três séries de anos quentes 1821 a 1835 1851 a 1870 1885 a 1900 Ocorreram três épocas de chuvas abundantes 1806 a 1825 1841 a 1855 1871 a 1885 alternadas com outras de secas 1826 a 1840 1856 a 1870 1886 a 1900 Com relação às mudanças climáticas atuais atribuídas a derivações antropogênicas utilizase dos exemplos apresentados por Bach 1986 que demonstra o acréscimo de gases do efeito estufa na atmosfera e suas conseqüências o acréscimo anual de gás carbônico CO 2 na atmosfera medido no Mauna Loa Hawai é da ordem de 04 o metano CH 4 medido a partir de 1978 em diversas regiões do globo inclusive no pólo sul registra aumento que chega a 100 ppbv partes por bilhão de volume em apenas 4 anos acréscimo de óxidos nitrosos N 2 O no Oregon e Tasmânia fortalece o argumento de que os gases do efeito estufa têm promovido um aumento médio da temperatura global da ordem de 06 º C com tendência a atingir 15 º C até 2020 321 As oscilações climáticas no Pleistoceno Atendose um pouco mais às oscilações climáticas pleistocênicas eleitas em função das melhores evidências para as correlações com as estruturas superficiais apresentamse algumas considerações quanto à possível gênese das alternâncias registradas bem como reflexos destas nos mecanismos morfogenéticos Atualmente a região intertropical brasileira encontrase sob o domínio de clima úmido evidenciandose no período chuvoso a existência de uma faixa de convergência formada entre a umidade proveniente da Amazônia instabilidades de noroeste resultante dos alísios de sudeste e as ingressões dos fluxos extratropicais Essa situação denominada de Zona de Convergência do Atlântico Sul ZCAS conta com a depressão térmica do Chaco que atrai massas úmidas provenientes do norte gerando extensa faixa que varre o continente brasileiro principalmente as regiões Sudeste CentroOeste e Nordeste No inverno o deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul em direção ao continente brasileiro determina a estabilização de massas impedindo os avanços do fluxo extratropical gerando estiagem prolongada de 4 a 6 meses Segundo Nobre et al 1998 o sistema de circulação de larga escala na baixa troposfera que atua na América do Sul durante o inverno compreende a Zona de Convergência Intertropical ITCZ sobre os oceanos Atlântico e Pacífico associada às atividades convectivas no noroeste da América do Sul Colômbia Venezuela e América Central os sistemas transientes frontais FSs associados às frentes frias na América do Sul temperada e subtropical e o Sistema de Alta Pressão Subtropical do Oceano Atlântico SASH também chamado Anticiclone do Atlântico Sul Fig 34 Durante o inverno ocorre o deslocamento para oeste do Anticiclone do Atlântico Sul SASH em direção ao continente e o movimento para o norte da Zona de Convergência Intertropical ITCZ produzindo subsidência de larga escala típica sobre o Brasil Central e a Amazônia Com isso temse o deslocamento da umidade e nuvens para áreas remotas ao norte e noroeste da Amazônia Esses fenômenos são responsáveis pela escassez de chuvas sobre o continente e pela definição da estação seca no Brasil Central Vianello Alves 1991 O deslocamento do SASH em direção ao continente favorece a entrada de massas de ar provenientes do oceano pela porção nordeste do Brasil Para Damuth Fairbridge 1970 a dinâmica atmosférica atual é bastante parecida à constatada nas fases interglaciais do Pleistoceno responsáveis pelas condições climáticas úmidas Fig 35 Contudo nas fases glaciais relacionadas a condições climáticas semiáridas nas faixas intertropicais registravase deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul para menores latitudes dominando a referida extensão continental Nessas condições além da restrição na dinâmica dos fluxos intertropicais gerando situação de estabilidade proporcionava franco domínio territorial dos fluxos extratropicais Ao mesmo tempo com o resfriamento decorrente dos avanços dos fluxos polares constatavase maior avanço das correntes marítimas frias como as de Falkland corrente das Malvinas em relação à corrente do Brasil bem como maior domínio da corrente fria de Humboldt ou do Peru na costa do Pacífico A primeira situação mostrada no mapa referese à condição de circulação interglacial como a evidenciada na atualidade com o centro anticiclonal do Atlântico Sul posicionado abaixo do Trópico de Capricórnio As correntes quentes do Brasil e do Golfo apresentam grande atuação no continente ficando a fria de Falkland ou Malvinas restrita à seção meridional As massas de ar quente e úmida tropicais marítimas do Atlântico Sul e do Atlântico Norte são responsáveis em parte pelo clima úmido dominante clima subúmido nas latitudes intertropicais A segunda situação Fig 35 esquematiza a fase glacial ou glácioeustática quando se dá o deslocamento dos centros anticiclonais tropicais para faixa equatorial gerando cinturão de subsidência nas menores latitudes Assim a coalescência dos centros anticiclonais Anticiclone do Atlântico Sul com o Anticiclone do Pacífico Sul impede a ascensão de eventual umidade restringindo a possibilidade de chuvas caracterizando uma condição de semiaridez em toda a faixa intertropical O sertão nordestino hoje semiárido nas fases glaciais estava individualizado pelo árido portanto mais seco em relação ao atual Com o deslocamento do centro anticiclonal do Hemisfério Sul para menores latitudes as massas de ar frias dominavam grande parte do continente principalmente a seção meridional Assim as correntes marítimas frias como a de Falkland e a de Humboldt Peru passavam a ocupar maior domínio latitudinal restringindo a ação das correntes quentes como a do Brasil e a do Golfo O domínio da corrente fria respondia pelo resfriamento do ar proveniente do oceano gerando estabilização atmosférica Nessa circunstância a estabilidade atmosférica decorrente do deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul e o resfriamento produzido pelo domínio do fluxo extratropical originavam um clima semiárido fresco em toda região intertropical do Brasil agravando a situação de deficiência hídrica no conhecido Polígono das Secas AbSáber 1977 produziu quadro dos domínios naturais de paisagens da América do Sul correspondente ao período de 13000 a 18000 AP referente à última fase glacial pleistocênica W ürm para os europeus ou W insconsin para os americanos com base em remanescentes da estrutura superficial Na representação Fig36 constatase uma clara tendência de as espécies xeromórficas se expandirem em relação às hidrófilas ao mesmo tempo em que a vegetação relacionada a condições climáticas mesotérmicas se desloca para menores latitudes caso da Araucária que deixa o core do Planalto Meridional em direção às altas altitudes das serras do Mar e Mantiqueira onde as condições termais eram inferiores em relação à situação atual Na faixa intertropical a deficiência hídrica glácioeustática promovia a retração da formação florestal e a expansão da vegetação xeromórfica com o domínio do Cerrado sobre as áreas hoje ocupadas pela Florestas Ombrófilas ao mesmo tempo permitindo o avanço da Caatinga sobre o Cerrado Nessa situação a bacia Amazônica estaria basicamente representada pelo Cerrado nas áreas interfluviais com alguns encraves de Formações Florestais refúgios em áreas mais úmidas depressões relativas O Cerrado ocupava o Planalto Central enquanto a Caatinga estendiase através dos grandes compartimentos topográficos depressionários como as Depressões do São Francisco Tocantins e Araguaia atingindo o Pantanal Matogrossense onde ainda são encontradas espécies dessa natureza no mosaico representado pela complexidade vegetal Tais áreas se individualizavam como eixos de expansão da semiaridez por apresentarem maior deficiência higrométrica Na parte meridional do continente a redução térmica determinada pelo avanço das massas de ar extratropicais e as correntes marítimas frias contribuíram para o avanço da Araucária a partir do Planalto Meridional até o Espinhaço o mesmo ocorrendo nos Andes meridionais No Chaco prevalecia vegetação estépica deserto frio enquanto na seção meridional dos Andes os glaciais alpinos se faziam presentes justificando a gênese dos fijords na região da Terra do Fogo vales produzidos pela corrida do gelo em condição de eustatismo negativo hoje afogados pela transgressão pós Würmiana Com o retorno às condições úmidas pós Würmiana ou holocênica processo contrário foi observado evidenciandose domínio da Formação FlorestalFloresta Ombrófila sobre o Cerrado caso da Amazônia e do Cerrado sobre a Caatinga Planalto Central e Oriental brasileiros embora sejam encontrados encraves de Cerrado em plena Amazônia refúgios Araucária na Serra do Mar e Mantiqueira Caatinga no médio São Francisco médio Araguaia e Pantanal Matogrossense além de outras espécies relacionadas a ambientes semiáridos das fases glaciais Assim registrase uma estreita relação entre os diferentes domínios fitogeográficos com as alternâncias climáticas constatadas no Pleistoceno Num corte temporal poderseia admitir ser o Cerrado uma vegetação arcaica o que justifica a denominação de vegetação clímax anterior ao aparecimento da Formação Florestal7 atual visto que as espécies xeromórficas podem ser correlacionadas às superfícies erosivas ou pediplanos terciárioquaternários Registrase assim estreita relação entre os diferentes domínios fitogeográficos com as alternâncias climáticas constatadas no Pleistoceno 3211 As fases climáticas pleistocênicas e processos morfogenéticos Durante o Pleistoceno foram registradas pelo menos quatro fases glácioeustáticas8 intercaladas a outras tantas interglaciais conforme esquema Fig 37 Bigarella et al 1975 apresentam argumentos baseados em possíveis influências astronômicas para explicar as mudanças paleoclimáticas pleistocênicas concluindo que essas variações são devidas a perturbações gravitacionais inerentes ao próprio sistema planetário Entre os elementos a considerar estão excentricidade da órbita longitude do periélio e obliqüidade da eclíptica Bigarella et al 1994 consideram que as mudanças periódicas e drásticas das condições climáticas durante o Quaternário influíram na distribuição das massas de ar e no sistema dos ventos O regime da temperatura global foi por conseguinte amplamente afetado pela transferência de calor através das correntes marinhas e aéreas Relatam que quando a geleira avançava os cinturões de chuvas nas regiões temperadas deslocavamse sobre as regiões semiáridas e estas por conseguinte sobre as regiões equatoriais quentes e úmidas O fator térmico das águas marinhas reflete as alterações climáticas refletindo no comportamento do nível marinho a queda da temperatura está associada ao abaixamento do nível do mar e viceversa As quedas térmicas registradas nas fases glácioeustáticas passadas repercutiram principalmente no Hemisfério Norte devido à maior proporcionalidade de terras emersas Os efeitos das glaciações atingiram a América do Norte região dos Grandes Lagos e grande parte do continente europeu Na Europa foram observadas deposições ou formas elaboradas pelo deslocamento de geleiras como as morainas que originaram patamares ao longo de vertentes levando ao entendimento da existência de quatro fases glaciais denominadas da mais antiga para a mais recente de Günz Mindell Riss e Würm intercaladas por fases interglaciais Se na fase glacial se dava um decréscimo da temperatura das águas marinhas tendo como referência os mares tropicais na interglacial a temperatura se eleva acarretando o aumento do nível marinho eustatismo positivo pela fusão dos glaciais Considerando as diferenças climáticas entre as fases glaciais e interglaciais pleistocênicas constatase que enquanto nas primeiras prevalecia a morfogênese mecânica nas latitudes intertropicais relacionadas ao clima semiárido nas segundas registravase a morfogênese química associadas ao clima úmido situação próxima ao Holoceno Assim sob diferentes condições climáticas temse diferentes tipos de intemperismos com depósitos correlativos diferenciados Como grande parte da umidade responsável pela precipitação é proveniente dos oceanos aproximadamente 45 resultam de evaporação dos mares a quantidade evaporada nas fases glaciais não retornava aos mares já que as precipitações nas latitudes altas e médias em forma de neve eram acumuladas contribuindo para a expansão da calota polar dos hemisférios inlands e para a origem de banquisas gelos flutuantes em altas latitudes A ausência do retorno cíclico da água é responsável pelo decréscimo do nível marinho eustatismo negativo ou regressão marinha razão por que os processos morfogenéticos agressivos trabalharam em função de um novo nível de base geral Na fase interglacial os inlands entravam em processo de fusão dada a elevação da temperatura com o conseqüente retorno das águas aos oceanos elevando o nível marinho eustatismo positivo ou transgressão marinha e afogando áreas retrabalhadas nas fases glácioeustáticas anteriores Devese considerar que as glaciações pleistocênicas ocasionaram atividades isostáticas quando a concen tração de gelo se dava no centro da calota como na região da Escandinávia a subsidência processada refletia na crosta interna provocando deslocamento de massa com elevação das áreas periféricas Na fase interglacial como a holocênica atual o alívio de carga no centro da calota em decorrência da fusão do gelo inlands produziu soerguimento da crosta interna com conseqüente abaixamento da periferia por compensação A superfície periférica dos inlands além de abaixar por compensação isostática como no pós würmiano sofreu afogamento acarretado pela fusão do gelo conhecida por transgressão flandriana Esse fato pode ser exemplificado na Holanda Países Baixos onde a cada século se verifica um abaixamento da crosta de 30 cm enquanto em Estocolmo ocorreu um levantamento de 19 cm em 50 anos Evidências atuais de transgressão marinha podem ser percebidas na costa oriental brasileira a exemplo das rias dos rios Doce e Paraguaçu afogamento da foz por provável fenômeno epirogenético ou eustático ou o próprio preenchimento da baía da Guanabara No extremo sul da América do Sul durante a fase glacial ocorreu o desenvolvimento de glaciais alpinos gelos nas partes elevadas os quais desciam as encostas criando vales em U decorrentes da erosão por friccionamento ou atrito Nesse período a extensão de áreas emersas era maior uma vez que prevalecia o eustatismo negativo Na fase interglacial o derretimento do gelo eleva o nível marinho provocando o afogamento dos vales fijords criando em conseqüência uma sucessão de pequenas ilhas como na Terra do Fogo sul da América do Sul Além das alternâncias nos domínios fitogeográficos decorrentes das mudanças nos sistemas de circulação aérea e marítima as oscilações climáticas pleistocênicas foram responsáveis pelas variações morfogenéticas associadas aos contrastes nas formas de intemperismo físico ou mecânico e químico com reflexos direto na tipologia dos depósitos correlativos Desse modo nas fases glaciais registrouse morfogênese mecânica devido à condição semiárida nas latitudes intertropicais com pronunciada ou discreta pedimentação enquanto na interglacial registrouse intemperismo químico com entalhamento da drenagem e processo de coluvio namento Os detritos resultantes da desagregação mecânica apresentam uma disposição hierarquizada a partir da fonte de origem próximos ao sopé da vertente são grosseiros reduzindo gradativamente à medida que dele se afastam Essa disposição caracteriza o pedimento A torrencialidade pluviométrica associada às condições climáticas semiáridas tem importante participação no transporte e hierarquização dos detritos Na fase interglacial ou pluvial a drenagem é reorganizada e o intemperismo químico é responsável pela decomposição das rochas procurando inumar os detritos produzidos em condições anteriores através do processo denominado de coluvionamento podendo preservar ou destruir as paleoformas ou paleodepósitos ainda existentes O contraste morfogenético gera diferenças de composição dos depósitos correlativos caracterizados como indicadores para a restituição paleoclimática da área Como exemplo apresentase perfil de vertente comum nas latitudes intertropicais onde são observadas as diferentes seqüências cronodeposicionais Fig 38 Os pedimentos detríticos ou cascalheiras encontramse recobrindo material alterado in situ e sotopostos por colúvio pedogenizado Os detritos ou paleopavimentos encontramse associados à morfogênese mecânica correspondente a uma fase glácioeustática pleistocênica enquanto o colúvio superficial vinculase à morfogênese química ou fase interglacial como o holoceno atual Esse material convertido em solo depois de ter sido colonizado por microorganismos recebe o nome de colúvio pedogenizado Na planície aluvial compartimento topográfico de embutimento elaborado pelo sistema fluvial associado à meandração as seqüências deposicionais são resultantes do trabalho do próprio rio Tratase de cascalheiras inumadas ou suspensas evidenciando alternâncias climáticas distintas São materiais diferentes dos pedimen tos principalmente quanto à forma naquelas são angulosos e apresentam baixo grau de transporte enquanto nestes são arredondados ou ovalados mostrando nítido processo de transporte fluvial por rolamento ou saltitação responsáveis pelo desarestamento Para se entender os depósitos de terraços ou baixos terraços devese considerar um clima semiárido responsável pelo abandono ou redeposição de seixos rolados elaborados pelo transporte fluvial no clima úmido antecedente posicionados ao longo de talvegue remanescente Numa fase seguinte determinada pelo retorno ao clima úmido evidenciase o reentalhamento da drenagem no antigo leito abandonado ou próximo deste os seixos rolados abandonados na fase agressiva anterior depois de exumados pela incisão da drenagem se posicionam acima do talvegue atual muitas vezes sotopostos ou recobertos por sedimentos resultantes do transbordamento do rio como os depósitos aluviais ou provenientes de montantes depósitos coluviais Para que tal incisão epigenia aconteça é necessário gradiente suficiente para ativação da erosão remontante ou então efeito de natureza tectônica epirogênese positiva como Moraes Rego 1933 admite ter acontecido entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno a Relações processuais e depósitos correlativos Além de alterações fitogeográficas mudanças no sistema de circulação atmosférica e marítima as oscilações climáticas pleistocênicas foram responsáveis por outros processos morfogenéticos respondendo por depósitos correlativos distintos comumente encontrados em cortes de talude ou desbarrancados associados a atividades erosivas oferecendo importante subsídio à compreensão dos fenômenos ligados à evolução das vertentes Embora se registre com freqüência perfis de intemperismo relacionados exclusivamente às condições climáticas atuais com variações determinadas pela declividade Figs39 e 310 muitos são os depósitos correlativos que preservam paleopavimentos associados à condições climáticas agressivas Fig311 Fig 39 Perfil típico do manto de intemperismo Sobre a rocha não alterada seguese em transição o elúvio e sobre este o colúvio Nas regiões de condições climáticas úmidas o conjunto é recoberto por vegetação densa do tipo florestal Bigarella 1994 Fig 310 Em muitos lugares das regiões montanhosas úmidas o colúvio jaz diretamente sobre a rocha fresca Neste caso o elúvio foi removido durante uma crise climática anterior O contato abrupto entre a rocha sã e o colúvio desempenha um papel importante na instabilidade das vertentes Bigarella 1994 Por elúvio entendese o material alterado por intemperização química que permanece in situ formando normalmente contato gradacional com a rocha subjacente Muitas vezes o elúvio se constitui num manto bastante decomposto quimicamente podendo encontrarse preservada a estrutura original da rocha Colúvio referese ao material detrítico proveniente de locais topograficamente mais elevados depositado em situação morfológica apropriada como seções embaciadas associado a processo de transporte Tais depósitos podem corresponder ao resultado da movimentação do elúvio Tratase portanto de material que foi produzido a montante transportado por processos comandados pela ação da gravidade Geneticamente colúvio é definido como sendo material transportado em conjunto pelo escoamento superficial ou pela ação da gravidade ao longo da vertente até o seu sopé onde normalmente assume maiores proporções quando não é trabalhado ou retirado por outros processos como o fluvial No sentido descritivo corresponderia aos materiais que descem a encosta Os colúvios são pouco estratificados ou não apresentam estratificação sendo facilmente diferenciados dos solos originais alterados in situ algumas vezes facilmente identificados pela existência de paleopavimentos que os separam dos materiais subjacentes O emprego do termo paleopavimento tem por objetivo diferenciar o material elaborado e depositado em condições pretéritas em relação aos depósitos ou alterações relacionadas ao intemperismo atual Bigarella AbSáber 1964 conceituam paleopavimento como um horizonte guia de extensão apreciável em todo Brasil separando os eventos prépavimentação daqueles póspavimentação além de documentar a última fase seca que teve lugar de forma ampla em quase todo o país Bigarella et al 1994 alegam estar o paleopavimento soterrado por material originado num clima úmido posterior subatual e atual sobre o qual desenvolveramse as pujantes florestas tropicais e subtropicais do Brasil leste e meridional No exemplo acima Fig 311 a rocha alterada in situ é recoberta por cascalho ou colúvio representando um nível de erosão antigo que por sua vez é inumado por material proveniente de montante com superposição de nova linha de pedras em bolsons laterais A colonização por microorganismos do depósito de cobertura recebe o nome de colúvio pedogenizado dando sustentação ao desenvolvimento de vegetação A planície aluvial elaborada por ação fluvial processo de meandração em condição interglacial com possibilidade de alargamento do leito por recuo paralelo de vertentes em condição glácioeustática pode encontrarse preenchida por depósitos aluviais atuais inumando cascalheiras associadas à morfogênese mecânica Tratase de materiais diferentes dos pedimentos ou paleopavimentos localizados nas vertentes por terem normalmente sido trabalhados pelo próprio sistema fluvial Enquanto os paleopavimentos de vertente apresentam características angulosas por terem sido elaborados em condição climática seca resultante da desagregação mecânica e geralmente pouco transportados os inumados pelos sedimentos aluviais holocênicos normalmente encontramse arredondados ou subarredondados em conseq ü ência do transporte fluvial rolamento ou saltação Ambas as formas significam que os detritos foram depositados em condições climáticas agressivas e com o retorno ao clima úmido foram inumados fossilizados constituindo testemunhos das alternâncias climáticas na área Bigarella Andrade 1965 ao tratarem das condições climáticas que deram origem aos paleopavimentos pleistocênicos consideram não terem sido tão severas ou tão extensas como aquelas que originaram os pediplanos ou pedimentos Atentam para a possibilidade de ter existido mais de uma fase de formação de paleopavimentos salientando ser o aspecto atual evidência do resultado de retrabalhamentos sucessivos dos seixos em várias fases secas Bigarella et al 1994 apresentam esquema sobre a origem dos paleopavimentos múltiplos Fig312 observando que após a formação do segundo nível seguese nova deposição de colúvio o que é indicado pelo limite abrupto entre os colúvios inferior e superior Quando o colúvio é pobre em material detrítico mais grosseiro como o quartzo a separação tornase pouco clara dada a ausência de um bom indicador Na representação correspondente à origem dos paleopavimentos Fig 312 constatase a seguinte evolução descrita pelos autores A vertente coberta de vegetação florestal condição climática úmida onde o manto de intemperismo abrange o elúvio 2 B transição climática para o seco ou semiárido com rarefação ou eliminação da cobertura florestal expondo o solo à erosão principalmente pelo escoamento superficial laminar retirando o material fino C com eliminação do material fino em condição seca ou semiárida destacase a presença de um depósito residual grosseiro geralmente rudáceo D o processo de escoamento superficial continua removendo os finos e aumentando a espessura dos grosseiros podendo subseqüentemente ocorrer mudança climática para o úmido com retorno ao intemperismo químico das rochas e desenvolvimento de novo manto de alteração E a linha de pedra 3 foi recoberta por um novo colúvio resultante de movimento de massa procedente de montante área topograficamente mais elevada 4 F transição climática para o seco com repetição do processo de remoção dos finos e concentração de cascalho residual AbSáber 1968 na tentativa de classificação das feições geomórficas e depósitos quaternários no Estado de São Paulo denomina os paleopavimentos mais recentes de stonelines como depósitos inumados por colúvios holocênicos entendidos como depósitos de cobertura o mesmo evidenciado nas planícies alveolares de formações recentes planícies aluviais Os baixos terraços o reafeiçoamento de vertentes os diferentes níveis de pedimentação e os grandes alvéolos pedimentados são classificados como pleistocênicos Bigarella Andrade 1965 admitem uma idade maior para os paleopavimentos sendo os mais antigos correspondentes à primeira fase glácioeustática pleistocênica referentes a depósitos associados às fases secas com sucessivo retrabalhamento do material não distinguível estratigraficamente Bigarella et al 1994 apresentam farto material sobre depósitos correlativos com importante contribuição ao entendimento genético e características texturais Para uma melhor compreensão do estudo da estrutura superficial serão apresentados alguns conceitos consagrados na literatura geomorfológica Depósitos de cobertura são formações detríticas de origem coluvial ou elúviocoluvial presentes nas regiões tropicais úmidas que acompanham todas as irregularidades principais da topografia das vertentes e dos interflúvios mais baixos ou rebaixados atingindo todos os níveis e patamares de relevo mais recentes do território incluindose até mesmo o dorso dos baixos terraços fluviais que ladeiam descontinuamente as atuais planícies de inundação AbSáber 1968 Observa o autor que os depósitos de cobertura mais recentes são tipicamente formações designadas de edafopedogênicas nos códigos estratigráficos Planície de inundação meândricas referese a depósitos aluviais holocênicos ou subatuais relacionados tanto à elaboração das superfícies alveolares a partir de processo de meandração como a transbordamento fluvial em relação ao leito maior por ocasião dos fenômenos de enchentes Para AbSáber 1968 existem diferenças ponderáveis entre a sedimentação flúvioaluvial da base das planícies de inundação quando cotejados com os sedimentos aluviais finos da área superior de aluviação em processo denominados de back swamps A caixa correspondente à planície de inundação também conhecida como planície de conformação alveolar resulta tanto do trabalho evorsivo identificado nas margens côncavas dos meandros como por alagamento local dos vales associado ao recuo paralelo de vertentes por ocasião das fases glácioeustáticas Em tais circunstâncias podem existir baixos terraços veja adiante embutidos descontinuamente em flancos dos alvéolos tornandose possível a identificação cronodeposicional S tone lines ou paleopavimentos referemse à forma de ocorrência de depósitos subsuperficiais rudáceos transportados em condições torrenciais dos climas secos como aqueles relacionados à última fase glacial pleistocênica podendo estar associados a sucessivos retrabalhamentos do material Bigarella Andrade 1965 AbSáber 1968 descreve as stonelines como depósitos de vertentes associados à morfogênese mecânica constituindo sempre o saldo detrítico mais grosso e pesado que estava em trânsito para os talvegues e que foram interrompidos em sua marcha vertente abaixo pelo retorno das condições climáticas morfogenéticas ou pedológicas relacionadas a uma morfogênese química e biogênica Nesse sentido aquilo que estava se deslocando lentamente por gravidade e ação das enxurradas devia ser um tipo de chão pedregoso intertropical ou subtropical reportandonos apenas ao que conhecemos do caso brasileiro Considera como principais fontes de fornecimento das stonelines os fragmentos de cabeças de diques de quartzo fragmentos de quartzo intercalados em xistos como evidenciados no Grupo Araxá em Goiás seixos provenientes do retrabalhamento de cascalheiras de terraços fluviais seixos de velhas gerações intraformacionais fragmentos de calhaus de crostas ou horizontes de limonita fragmentos de geodos ou pseudoseixos de pequenos geodos de sílica ágata ou calcedônia além de fragmentos de antigas cornijas ou outros tipos de afloramentos rochosos Baixos terraços referemse a depósitos normalmente associados a fundos de vale de origem climática inteiramente relacionados às condições hidrodinâmicas e morfogenéticas suficientes para criar calhaus e fragmentos trabalháveis pelos rios a curto e médio espaço de transporte Variando de subarredondados a subangulosos os seixos de tais depósitos estão relacionados quase sempre a um transporte relativamente curto predominando distâncias que vão de 15 a 50 km AbSáber 1968 Pedimentos detríticos referemse a detritos resultantes do processo de pedimentação ou seja recuo paralelo de vertentes em condição climática agressiva clima seco cuja duração e extensão são responsáveis pelo desenvolvimento de níveis erosivos concordantes ou não aos depósitos subjacentes Referemse portanto a eventuais depósitos associados ao recuo paralelo das vertentes determinado pela morfogênese mecânica A desagregação mecânica ao longo do tempo geológico responde pela formação de uma superfície erosiva que se estiver discordante do material subjacente com presença de detrito e recoberta por seqüência coluvial subseqüente pode ser visualizada e individualizada nas suas sucessividades Guerra 1993 atribui a gênese dos pedimentos a paleocanais que fazem lençol à semelhança de um grande leque logo na saída da montanha Todavia esta zona de lençol de detritos será aplainada e constituirá o chamado glacis dérosion Esse material será assim transportado mais para baixo dando origem a uma planície de aluviões chamada de bajada ou de glacis de sédimentation Nessas planícies de bajadas podem se encontrar depressões onde se acumulam água de caráter permanente ou temporário denominadas de playas Superfícies de aplainamento ou de erosão corresponde a uma topografia mais ou menos plana resultando de um trabalho prolongado da erosão em condições tectônicas e climáticas estáveis Archambault et al 1967 Os avanços com relação aos estudos de aplainamento demonstram possibilidade de reajustamento isostático em uma mesma fase de elaboração climática proporcionando a diferenciação de níveis dependendo da ação tectônica veja sistema de referência de King no capítulo 1 Encontramse associadas a processo de pediplanação em fase climática seca Os autores concluem que uma superfície de aplainamento constitui uma etapa importante na história do relevo Ela marca o fim de uma longa evolução e pode constituir o ponto de partida de uma nova etapa do aparecimento de formas após o desencadeamento de uma nova onda de erosão Além do comportamento topográfico outros argumentos contribuem para a caracterização de uma superfície de aplainamento como independência da topografia em relação à estrutura seja ela friável ou resistente testemunhos de uma cobertura discordante sobre a rocha subjacente e testemunhos de uma evolução exposta sob forma de paleossolos Como exemplo apresentamse perfis esquemáticos da evolução das formações superficiais no município de Atibaia Fig 313 produzidos por Carvalho Rota 1974 Os autores alertam para o fato de que o esboço esquemático mostra apenas uma seqüência de eventos sem nenhuma conotação de idade Numa fase inicial a elaboração da superfície pedimentar nível 1 fase I ocorrendo a seguir a deposição de material detrítico de cobertura nível 2 fase II que poderia ou não ser depósito correlativo da superfície inicial Tratase de esquema típico proposto por Ruhe 1960 a partir do qual teriam se desenvolvido as superfícies do município A fase seguinte encontrase caracterizada pelo retrabalhamento das superfícies anteriores e remoção progressiva do material detrítico nas partes mais íngremes do relevo Fase III A fase IV corresponde ao final do entalhe com elaboração do nível 1 que poderia ser resultante de exumação O nível 2 na seção mais suave teria sido preservado pelo menos em parte provavelmente em função de sua maior espessura e posição topográfica Na fase final atual teriam ocorrido depósitos por processos de transporte por coluvionamento de vertentes com conseqüente elaboração do nível 5 b Evolução das vertentes no Pleistoceno Para se ter uma idéia do processo evolutivo relacionado às oscilações climáticas registradas no Pleistoceno apresentase a seguir esquema Fig 314 idealizado por Bigarella Becker 1975 para a Formação Itaipava vale do ItajaíMirim SC I Na fase climática úmida temse o espessamento dos depósitos de cobertura e aluviamento do fundo do vale Prevalecem formas convexas recobertas pela vegetação II Na transição do clima úmido para semiárido verificase o desaparecimento da cobertura vegetal com a retirada do material decomposto das partes mais elevadas pelas atividades torrenciais com conseqüente coluvionamento do fundo do vale material elaborado na fase climática úmida anterior O colúvio em questão sotopõe os depósitos de cobertura da fase anterior III Na semiaridez a desagregação mecânica provoca o recuo paralelo da vertente estrutural e a pedimentação da superfície inumando os colúvios antecedentes Aqui os pedimentos detríticos recobrem os colúvios da fase antecedente IV Em nova fase úmida a incisão da drenagem promove a retirada dos depósitos correlativos em função da reelaboração do vale parcialmente testificado na vertente As novas condições climáticas proporcionam desenvolvimento da pedogênese com a reinstalação da cobertura vegetal Durante o Pleistoceno as oscilações climáticas determinaram as diferenças dos depósitos correlativos onde se alternam materiais decompostos e materiais detríticos como as cascalheiras que caracterizam os pedimentos stonelines ou ainda baixos terraços bem como suas derivações considerados paleopavimentos Esses depósitos geralmente se encontram coluvionados ou aluvionados por materiais relacionados ao clima úmido podendo encontrarse em processo de reentalhamento da drenagem responsável por suas exumações ou a processos associados a atividades antropogênicas ação do homem como o desmatamento que pode ocasionar escoamento laminar ou concentrado com consequente mobilização de cascalhos que se encontravam fossilizados No Holoceno com o retorno ao clima úmido assim como nas condições interglaciais o predomínio do intemperismo químico responderá pela atividade de decomposição das rochas ou formação de depósitos que poderão chegar a futuras formas residuais Desse modo temse o entalhamento da drenagem com respectivo coluvionamento resultante do processo de decomposição nas fases úmidas e o predomínio da morfogênese mecânica com a elaboração de cascalheiras nas fases semiáridas ou secas O grau de aridez assim como sua duração são responsáveis pela intensidade da morfogênese mecânica que pode variar de simples reafeiçoa mento de vertentes com pedimentação até extensos pediplanos como os relacionados às superfícies erosivas de cimeira do ciclo Sul Americano de King 1956 Para ilustrar esse mecanismo foram utilizados esquemas apresentados por Bigarella et al 1965 dando ênfase à evolução dos vales fluviais considerando a sucessão das fases climáticas pleistocênicas Fig 315 a Formação de extenso aplainamento intermontano por processo de pediplanação sob condição climática semiárida bc Reafeiçoamento da superfície aplainada por ligeiro abaixamento do nível de base da erosão local decorrente de curtas flutuações climáticas passagem do clima seco ao úmido d Dissecação generalizada da paleotopografia em condições climáticas úmidas e Alargamento aluvionamento e coluvionamento dos vales acelerados por flutuações climáticas na direção do clima seco dentro do clima úmido f Desagregação lateral e formação de superfície pedimentar dentro do clima semiárido g Reafeiçoamento da superfície do pedimento por ligeiro rebaixamento do nível de base local do escoamento decorrente de pequenas flutuações climáticas para o clima úmido dentro do clima semiárido h Dissecação generalizada da topografia em função do domínio úmido i Alargamento e entulhamento dos vales dentro da época úmida devido essencialmente a flutuações episódicas para condições mais secas O clima árido ou semiárido contribui para a evolução horizontal da paisagem por meio do recuo paralelo das vertentes alargando vales como as calhas aluviais atuais ou processando a destruição de formas elaboradas nos climas úmidos chegando à condição de aplainamento extensivo quando prevalece o clima seco por um longo tempo geológico O clima úmido é responsável pela evolução vertical do relevo promovendo o entalhamento da drenagem que apresentará variação em relação à intensidade dos esforços tectônicos compensações isostáticas fenômenos epirogênicos ou orogênicos ou da própria erosão remontante em função do gradiente do canal As alternâncias climáticas mecanismos morfogenéticos e depósitos correlativos regionais associados ao Terciário e Quaternário foram apresentados anteriormente Tab 22 observando que enquanto a morfogênese mecânica normalmente implicava discreta pedimentação a morfogênese química respondia por processo de incisão da drenagem e coluvionamento de soleiras locais No Terciário a maior duração da morfogênese mecânica proporcionou o desenvolvimento de superfícies erosivas processo de pediplanação Levandose em consideração a intensidade e freqüência de uma ação morfogenética definida admitese uma tendência gradativa ao estabelecimento de um equilíbrio denominado morfoclimático Esse equilíbrio referese à elaboração de formas comandadas por processos morfogenéticos específicos Pela observação de um conjunto de formas com respectivos depósitos correlativos associados a determinado clima temse o equilíbrio morfoclimático atingido Para que esse equilíbrio ocorra há necessidade de um tempo de ação prolongada sob determinado processo morfogenético que apresentará variação em função da freqüência dos componentes climáticos Assim quanto maior a intensidade de determinada forma de intemperismo ligada aos demais componentes processuais maior a evolução ou ajustamento das formas a tais efeitos Como exemplo num clima úmido a densidade de drenagem reflete no grau de dissecação das vertentes tendendo a elaboração de formas convexas Já num clima subúmido considerando a mesma situação tectônica o ajustamento das formas dependerá de um tempo maior Alterando as condições climáticas num tempo relativamente mais curto que aquele gasto para se obter o equilíbrio morfoclimático ocorrerão transformações começando com as fitogeográficas Assim no domínio do clima úmido a vegetação identificada basicamente por Formações Florestais gradativamente vai sendo substituída por espécies xeromórficas como a do tipo Cerrado à medida que o clima vai se tornando mais seco O ajustamento da fisionomia vegetal à condição climática é justificado pelo conceito de clímax Sob clima úmido a evolução morfológica tende ao processo de convexização das vertentes enquanto o intemperismo químico resultante bem como a colonização de micro organismos responderão pela prévia elaboração pedogênica com conseqüente revestimento florestal que em condições estáveis caracteriza o equilíbrio geoecológico 322 Exemplos de depósitos correlativos Alguns exemplos de depósitos correlativos no Estado de Goiás serão apresentados Foram escolhidos em função das características específicas sendo um referente ao processo de pediplanação exemplo c e os demais exemplos a e b concernentes a processos de vertente paleopavimentos associados aos sistemas fluviais relacionados às últimas fases glácioeustáticas a Perfil de estrutura superficial na GO020 GoiâniaBela VistaGO O primeiro exemplo de depósito correlativo referese às formas mais comuns de depósitos quaternários evidenciados na região Os depósitos colúvioaluviais regionais caracterizamse por apresentarem de baixo para cima uma base conglomerática uma zona intermediária concrecionária e uma zona superior laterizada ou seja uma cobertura coluvial pedogenizada Latossolo Geralmente encontramse localizadas em áreas de declives suaves próximas ao topo dos interflúvios e constituem as acumulações popularmente conhecidas como cascalheiras Ianhez et al 1983 consideram o exemplo apresentado como uma das melhores exposições destes depósitos ao longo da rodovia GO020 trecho GoiâniaBela Vista de Goiás Localizada à margem direita do rio Caldas com mais de 200 m de extensão temse a presença de formação superficial recobrindo discordantemente micaxistos do Grupo Araxá em processo de intemperização A base da formação é um conglomerado lenticular com espessura máxima da ordem de 2 m constituído por seixos blocos e matacões de arredondados a angulosos de vários tipos de rocha dispersos em matriz argiloarenosa localmente com cimento ferruginoso A fração rudácea é composta principalmente por fragmentos de quartzo quartzito puro quartzito ferruginoso e rocha cataclástica além de algumas concreções limoníticas as quais são mais freqüentes em direção ao topo A zona intermediária também com espessura variável até 05 m é representada por uma concentração de concreções limoníticas do tipo pisolito de dimensões centimétricas Estas concreções tornamse escassas no sentido do topo onde domina fração argiloarenosa constituindo um solo de coloração castanhoavermelhada ferruginoso Este solo corresponde à zona superior do depósito e tem nos cortes uma espessura variável de 1 a 5 m aproximadamente O perfil esquemático local Fig 316 apresenta duas seqüências de paleopavimentos distintos uma primeira assentada diretamente sobre a rocha alterada in situ micaxisto representada por seixos blocos e matacões de arredondados a angulosos envolvidos por matriz argiloarenosa com nítida relação fluvial e uma segunda denominada de fração rudácea composta de fragmentos ou nódulos de quartzo e quartzito puro ou ferruginizado com presença de concreções limoníticas As concreções limoníticas recobrem parcialmente uma seqüência argilítica que se encontra assentada sobre os seixos conglomerado lenticular Por último prevalecem os colúvios pedogenizados Os conglomerados subovalados e subarredondados caracterizamse principalmente por ortoquartzitos com espessura inicial de aproximadamente 1 m chegando a poucas dezenas de centímetros em direção ao topo do perfil com diâmetro variando de 2 a 10 cm O pavimento detrítico que recobre parcialmente tanto a seqüência dos seixos como o depósito argilítico caracterizase por nódulos de quartzo e quartzito angulosos ou subangulosos ferruginizados com espessura que chega a 050 m e diâmetro dos agregados entre 05 a 20 cm O material coluvial que por longa extensão representa os Latossolos VermelhoAmarelo distróficos localmente apresenta textura argiloarenosa laterizada com espessura inicial de aproximadamente 4 m estreitandose gradativamente à medida que a camada conglomerática se dirige ao topo do perfil O micaxisto alterado in situ apresenta evidências de dobras com planos de xistosidade em torno de 45 º NW e veios de quartzo leitoso concordantes ou subconcordantes aos referidos planos No ponto observado o micaxisto chega a aparecer na superfície em decorrência de processo erosivo superficial com ocorrência de solo autóctone Para se entender a gênese desse depósito correlativo tornase necessário estimar pelo menos quatro momentos climáticos diferenciados I passagem de um clima úmido interglacial MindelRiss para o seco glacial Riss quando os seixos transportados e trabalhados pelo sistema fluvial na fase úmida ficaram abandonados no leito remanescente A presença de matriz argiloarenosa envolvendo o conglomerado encontrase relacionada ao material intemperizado por ocasião do clima úmido antecedente transportado na fase transicional pelas típicas torrencialidades pluviométricas Observase que não são registradas localmente evidências de depósitos relacionados à fase glacial Riss o que pode ser atribuído tanto a uma eventual incipiência morfogenética como à ação erosiva subseqüente responsável pela retirada local de algum testemunho II retorno à fase climática úmida RissWürm com ambiente flúviolacustre o que explica a presença de depósito argilitico recobrindo os seixos dispostos na fase anterior A seqüência pelítica além de caracterizar fornecimento contínuo de sedimento durante a fase de deposição mostra ainda certa aquiescência das águas que pode ser interpretada como fase transicional para um clima mais seco ou tendendo a seco Atualmente esse depósito encontrase parcialmente mosqueado com precipitação de óxidos e hidróxidos de ferro sobretudo ao longo das gretas de contração O depósito encontrase associado ao possível estágio final do clima úmido onde a aquiescência das águas determinada pela redução gradativa do nível lacustre permitia o acamamento de material pelítico transição do clima úmido RissWürm para o seco Würm III fase climática seca Würm onde a desagregação mecânica já se fazia presente com deposição da fração rudácea correspondente a fragmentos de quartzo e concreções limoníticas O material associado ao recuo paralelo de vertentes é proveniente da desagregação de micaxisto localizado a montante importante fonte de quartzo filonamentos ou veios existentes na rocha e mesmo quartzito afloramento evidenciado mais acima em torno de 2700 m do ponto analisado intercalado aos xistos A presença de concreções limoníticas encontrase associada a bancadas ferruginosas testemunhos de pediplanação existentes a montante da área de contribuição desagregadas pela ação do intemperismo Ainda hoje é possível constatar a existência de concreções ferralíticas no topo interfluvial localizado na margem direita do rio Caldas na própria GO 020 a aproximadamente 3 km do depósito em análise Esse material pode ser evidenciado ainda na extensa vertente rampeada que tem como nível de base o rio Caldas em torno de 1400 m acima do perfil em questão atualmente também inumado por colúvio pedogenizado Moraes Rego 1933 constata que ao longo dos cursos dágua mais importantes observamse depósitos elevados sobre o nível atual das águas mesmo nas maiores enchentes São terraços fluviais Esses depósitos consistem em areias e argilas e por vezes cascalho grosso A consistência é pequena As cores quase sempre pálidas parda amarela ou vermelho esbatido Moraes Rego 193741 IV retorno ao clima úmido Holoceno constatandose a existência de nódulos principalmente de quartzo presentes em colúvio de clima transicional Würm Holoceno demonstrando efeito de torrencialidades características da fase de consolidação climática para em seguida em direção ao topo apresentar domínio de material essencialmente intemperizado argiloarenoso caracterizando processo de intemperização química Essas massas coluviais foram denominadas de rampas de colúvio por Bigarella Mousinho 1965 A posição do depósito em relação ao talvegue atual em torno de 500 m de distância e acima de 3 m de altura é justificada pelo possível ajustamento tectônico que Moraes Rego 193741 admite ter acontecido entre o Würm e o Holoceno o que além de ter acentuado a elevação do depósito em relação ao nível de base atual teria respondido por uma reorganização de drenagem em posição diferente da situação anterior Além do soerguimento da margem direita do rio Caldas em relação à margem esquerda criando dissimetria de vale o ajustamento tectônico provocou aceleração da incisão da drenagem em busca do próprio perfil de equilíbrio e conseqüente deslocamento do curso atual b Perfil de estrutura superficial na GO222 NerópolisAnápolis GoialândiaGO O segundo exemplo de depósito correlativo referese ao corte de estrada na GO222 NerópolisAnápolis nas proximidades de Goialândia margem direita do ribeirão João Leite Tratase de um perfil típico de estrutura superficial considerando que na região os depósitos colúvioaluviais apresentam algumas características peculiares por incluírem estratos de sedimentos arenosos siltosos e argilosos com intercalações conglomeráticas Nesta região conforme descreveram Cunha Potiguar 1981 tais depósitos apresentam distribuição descontínua confinada a depressões intermontanas e exibem variações faciológicas nos sentidos horizontal e vertical Assim é que recobrindo discordantemente diferentes litologias do Complexo Goiano encontramse depósitos ora conglomeráticos ora sedimentares arenosos ou siltosos ou ainda argilosos Os conglomerados e os demais sedimentos apresentam espessuras variáveis e mostram contatos bruscos ou gradacionais entre si Nos afloramentos mais espessos como os verificados nos cortes da rodovia em questão Fig317 próximo a Goialândia entre Nerópolis e Anápolis os depósitos atingem em torno de 10 m de espessura Tratase de conglomerados dos tipos petromíticos e ortoquartzíticos conforme a classificação de Suguio 1980 Os conglomerados petromíticos são compostos por seixos blocos e matacões até 30 cm foram observados angulosos e subarredondados constituídos principalmente por quartzo e subordinadamente por quartzito gnaisses metabasito dispersos em matriz microconglomerática argilosa Os ortoquartzíticos contêm essencialmente fragmentos de quartzo envoltos por matriz argiloarenosa Os sedimentos arenosos siltosos e argilosos apresentam colorações avermelhadas e amareladas às vezes mosqueadas devido a concentrações de óxidos e hidróxidos de ferro Muitas vezes estas concentrações formam lâminas onduladas sugerindo dobramentos não tectônicos Mostramse maciços ou estratificados sendo que os pelíticos muitas vezes apresentam laminação planoparalela Em vários afloramentos com sedimentos argilosos maciços verificouse a existência de grãos e grânulos de quartzo dispersos e fraturas conchoidais Além dos afloramentos em cortes da rodovia GO222 esses depósitos foram vistos também ao longo das estradas AnápolisOuro VerdePetrolina de Goiás InhumasNova Veneza e Nova VenezaGoiânia entre outras Ianhez et al 1983 O esquema representado Fig317 oferece uma idéia da disposição relatada oferecendo subsídios para a compreensão da evolução do depósito Os gnaisses alterados in situ encontramse diretamente recobertos por conglomerados petromíticos e ortoquartzíticos subarredondados e subangulosos com espessura em torno dos 050 m associados a processo de transporte fluvial Tais seqüências encontramse inumadas por sedimentos arenosos portadoras de grãos esferoidais avermelhados que chegam a quase 2 m de espessura embora dispostos de forma irregular De forma gradacional registrase a presença dos depósitos siltosos de cor amarelada com mosqueamentos associados à concentração de óxidos e hidróxidos de ferro com bandeamento característico de dobramentos atectônicos Os depósitos siltosos apresentam gradação faciológica horizontal em seção descontínua Recobrindo as seqüências siltosas ou arenosas geralmente subjacentes também de forma gradacional verificamse sedimentos argilosos de cor amarelada e avermelhada com as seguintes características a uma deposição de aproximadamente 280 m de argilito com estrutura poliédrica com presença de gretas de dessecação e b depósito argiloso plaqueado de estrutura laminar evidenciando deposição planoparalela com espessura aproximada de 140 m e coloração amarelada processo de mosqueamento Recobrindo os argilitos temse a presença de um pacote de aproximadamente 080 m de sedimentos siltoargilosos laterizados de cor avermelhada sotopostos por seixos subangulosos de quartzo e ortoquartzitos angulosos com diâmetro entre 3 a 10 cm de eixo Inumando os seixos constatase a presença de concreções limoníticas caracterizadas por nódulos de quartzo subanguloso a subarredondado com diâmetro da ordem de 05 a 20 cm Por fim registrase a presença de colúvio ferruginizado com espessura aproximada de 050 m de textura argilosa O material coluvial apresenta seixos fragmentos e grânulos polilitológicos fracamente empacotados por material argiloso Com base nas seqüências observadas inferese a seguinte evolução para a área I transição do clima úmido interglacial MindelRiss para o clima seco Riss em que os seixos conglomeráticos desarestados durante o clima úmido antecedente por transporte fluvial ficaram depositados ao longo do paleocurso A presença de seixos arredondados e subangulosos evidencia processo de rolamento e saltitação durante a fase climática úmida cuja constituição litológica pode ser justificada pelos materiais existentes na região gnaisses e metabasitos relacionados ao Complexo Goiano A presença de matriz argilo arenosa na interseção conglomerática encontrase associada ao processo de dessoloagem evidenciado na fase transicional pelas torrencialidades pluviométricas II fase climática úmida interglacial RissWürm caracterizada por ambiente flúviolacustre responsável pelas deposições subseqüentes arenosa siltosa e argilosa Entre as fases I e II transição de clima úmido para o seco e para clima úmido não foram registrados depósitos vinculados ao clima seco Riss A seqüência textural dos depósitos pode ser explicada por ambiente lacustre marginal ou seja conectado a processo de transbordamento do sistema fluvial caracterizando ritmito referente ao conjunto de siltitos argilitos e arenitos intercalados admitindose a seguinte explicação para as diferenças deposicionais a fase de maior torrencialidade fluvial intensificação da energia das correntes deposicionais o que justificaria inicialmente a deposição dos materiais arenosos mais pesados em relação aos sedimentos pelíticos b fase de aquiescência transicional ou seja com águas mais calmas em relação à fase anterior o que permitiria a deposição das seqüências siltosas e por fim c fase de aquiescência caminhando para um clima mais seco o que teria permitido deposição da seqüência pelítica onde a disposição planoparalela se faz presente Recobrindo os depósitos argilosos novas seqüências argilosiltosas evidenciam maior turbulência das águas relacionadas às oscilações climáticoprocessuais naturais do sistema transicional III nova transição do clima úmido interglacial RissWürm para o clima seco Würm onde os seixos ou conglomerados subangulosos de quartzo e ortoquartzitos trabalhados pelo sistema fluvial clima úmido antecedente RissWürm ou retrabalhamento de antigas cascalheiras foram abandonados por incompetência de transporte redução da vazão fluvial IV condição climática seca Würm quando a desagregação mecânica e o transporte torrencial contribuíram para a deposição de detritos petromíticos mais angulosos sotopondo os seixos subangulosos subjacentes e compondo o pacote conglomerático A dimensão e angularidade das concreções justificam uma gênese associada ao intemperismo mecânico com baixo deslocamento do material em relação à área fonte A presença da limonita tanto no material depositado como no colúvio subseqüente encontrase associada às rochas gnaissicas ou granulíticas que integram o Complexo Granulítico AnápolisItauçu V clima úmido subatual e atual responsável pelo processo de coluvionamento de material argiloso O grau de ferruginização encontrase determinado pela elevada concentração da limonita resultante da intemperização das rochas sobretudo granulíticas que compõem o quadro geológico regional As alternâncias climáticas pleistoholocênicas resgatadas através dos depósitos correlativos testemunham que a referida vertente passou por várias formas ou ambientes até adquirir a conformação atual a qual com certeza sofrerá novas alterações em função de modificações climáticas A disposição convexa atual encontra se vinculada à forte incisão da drenagem provavelmente estimulada por reajustamento tectônico com anfractuosidade mascarada pelo material proveniente de montante colúvio pedogenizado As derivações antropogênicas atuais desmatamento e implantação de pastagem contribuem para a aceleração dos processos erosivos podendo inclusive antecipar ações morfogenéticas específicas de ambientes transicionais clima úmido para seco visto que a cobertura vegetal foi retirada e o solo exposto a eventuais torrencialidades pluviométricas Os depósitos considerados encontramse localizados na subunidade geomorfológica denominada de Planalto Rebaixado de Goiânia Mamede et al 1983 e contribuem para a reconstituição histórica do processo evolutivo do modelado c Perfil de superfície de erosão na GO184 JataíSerranópolis GO As coberturas detritolateríticas que coroam os topos relacionados principalmente aos pediplanos de cimeira regionais em Goiás recobrindo indiscriminadamente diversas unidades litoestratigráficas são entendidas como relacionadas ao Terciário Médio associadas a aplainamentos processo de pediplanação eou fases erosivo deposicionais como as denominadas formações geológicas terciárias Sabese que para compreendêlas quanto à gênese tornamse necessários conhecimentos específicos como em paleoclimatologia paleogeografia paleopedologia dentre outros no âmbito geomorfológico Exemplo de tais ocorrências pode ser constatado na região de Anápolis ou Leopoldo de Bulhões correspondentes a superfícies erosivas seccionadas aos 1000 a 1100 m Na região sudoeste tais níveis encontramse topograficamente aos 900 a 1000 m de altura correspondentes à periferia da Bacia Sedimentar do Alto Paraná como a região do Parque das Emas reverso da cuesta do Caiapó caindo gradativamente em direção ao centro da bacia acompanhando a grosso modo o mergulho das camadas Para Ianhez et al 1983 as formações superficiais terciárias configuram dois tipos principais de acumulação um geralmente caracterizado por depósito eluvial e o outro por depósito colúvioaluvial O primeiro referese a concreções ferruginosas espessas resistentes que ocorrem como blocos matacões e lajedos constituindo crostas que podem estar ou não inumadas por solos o segundo compreende fragmentos rochosos e concreções ferruginosas de dimensões variadas que podem estar dispersos em matriz arenoargilosa às vezes com cimento limonítico ou silicoso e recobertos por manto coluvial ou ainda dispostos caoticamente na superfície Os concrecionamentos registrados nos topos pediplanados de Anápolis referemse ao primeiro tipo As crostas ferruginosas encontramse constituídas por concreções limoníticas concrecionárias onde se distingue material arenoargiloso associado à rocha original alterada As concreções na maioria arredondadas têm dimensões centímetricas e decimétricas e quase sempre constituem agregados do tipo canga Apresentam espessura média da ordem de 2 a 5 m e se formam por processo de laterização Para Penteado 1976 tais depósitos representam paleohorizonte B concrecionado desenvolvidos em condições tropicais A autora denominouos de bancadas ferruginosas concrecionadas autóctones pedogenéticas por acreditar estarem correlacionadas a horizonte B exumado ressecado pelo clima seco e posteriormente coluvionadas O exemplo esquematizado Fig318 referese às coberturas colúvioaluviais encontrada na estrada GO 184 JataíSerranópolis próximo a Serranópolis a 860 m de altura Tratase de nível conglomerático ondulado correspondente a laterita concrecionada material ferruginoso agregado por cimento limoníticogeotítico com espessura que chega a 25 m assentado sobre arenitos da Formação Botucatu alterado in situ O conglomerado encontrase sotoposto por fragmentos limoníticos grãos grânulos e fragmentos de laterita e quartzo agregados por massa arenoargilosa também dispostos de forma irregular com espessamento variável em torno de 1 m Por fim recobrindo estes paleopavimentos registrase a presença de cobertura detritolaterítica que no ponto observado apresenta mais de 6 m de espessura aumentando progressivamente em direção ao centro da deposição A cobertura detritolaterítica referese a sedimentos argilosos na porção superior e arenoargilosos na inferior com tonalidade avermelhada e presença de grânulos limoníticos A seção superior do depósito encontrase parcialmente proeminente dada a presença de matéria orgânica caracterizando o horizonte A do Latossolo VermelhoAmarelo A grande espessura e extensão das coberturas detritolateríticas foram mapeadas na região como Formação Cachoeirinha de idade Terciária Esse exemplo de estrutura superficial corresponde a uma forma de deposição mais antiga que as evidenciadas anteriormente admitindose uma gênese associada à condição climática que marca a transição de clima úmido para seco com posterior deposição relacionada a ambiente flúviolacustre culminando com processo de pediplanação no Terciário Médio ou Superior Entendese a seguinte evolução para a área Fig 318 I transição de clima úmido para seco provavelmente no Terciário Inferior com deposição dos níveis conglomeráticos sobre os arenitos da Formação Botucatu marcados por superfície de erosão diferencial II clima seco Terciário Médio responsável pela gênese dos fragmentos limoníticos angulosos que inuma os conglomerados subarredondados e subangulosos III clima úmido subseqüente com transição gradual o que poderia justificar a diferença textural da cobertura detritolaterítica associada a ambiente flúviolacustre IV clima seco OligocenoMioceno responsável pelo processo de aplainamento com truncamento altimétrico local de aproximadamente 860 m As alterações climáticas subseqüentes pleistocênicas não chegaram a deixar marcas ou evidências significativas visto que após processo de pediplanação a área teria sido epirogeneticamente soerguida respondendo por uma condição dispersora A preservação do testemunho de aplainamento encontrase associada à resistência das concreções ferralíticas aos intemperismos subseqüentes O perfil descrito encontrase localizado na subunidade geomorfológica denominada de Planalto Setentrional da Bacia do Paraná Mamede et al 1983 que embora dissecada pelos tributários da bacia do rio Verde mantém topos interfluviais preservados com remanescentes de superfícies pediplanadas Superfícies erosivas de cimeira como a exemplificada oferecem subsídios para se montar a história geomorfológica regional que remonta pelo menos ao Terciário Médio Depósitos correlativos pleistocênicos provavelmente encontrados em condições altimétricas inferiores como em seções de embutimento complementariam o panorama evolutivo regional 33 Depósitos Tecnogênicos Depósitos tecnogênicos são aqueles correlativos aos processos antropogênicos atuais ou subatuais ou seja produzidos pela ação do homem quando da apropriação do relevo Por estarem associados às transformações na escala do tempo histórico principalmente em função do crescimento demográfico e da expansão de fronteiras territoriais os depósitos tecnogênicos referemse ao período que já se cogita denominar de Quinário Para Oliveira 1995 o período Tecnógeno ou Quinário referese às novas coberturas pedológicas e às novas fácies geológicas que se encontram em processo de formação fortemente influenciadas pela ação humana Para o autor a expressão antropógeno vem sendo usada por alguns estudiosos sobretudo soviéticos a exemplo de Gerasimov Velitchko 1984 como uma nova fase posterior ao Quaternário para indicar o período geológico mais recente marcado pela evolução e intervenção do homem Advogam o significado do termo Tecnogênico como mais apropriado por representar as derivações produzidas pelo ser humano sobretudo com o advento de tecnologias capazes de impor transformações ou modificações de maiores proporções Quinário ou Tecnógeno seria então o período em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biofísica na modelagem da Biosfera desencadeando processos tecnogênicos cujas intensidades superam em muito os processos naturais Oliveira 1990 Com base em Fanning Fanning 1989 depósitos tecnogênicos referemse a solos altamente influenciados pelo homem Apresentam uma classificação que utiliza quatro categoriais principais para a diferenciação dos depósitos tecnogênicos urbanos 1 materiais úrbicos do inglês urbic que se referem a detritos urbanos materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno freqüentemente em fragmentos como tijolo vidro concreto asfalto prego plástico metais diversos dentre outros 2 materiais garbicos do inglês garbage que são materiais detríticos como lixo orgânico de origem humana e que apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos são suficientemente ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbicas 3 materiais espólicos do inglês spoil que correspondem a materiais terrosos escavados e redepositados por operações de terraplenagem em minas a céu aberto rodovias ou outras obras civis Incluemse os depósitos de assoreamento induzidos pela erosão acelerada e 4 materiais dragados provenientes de dragagem de cursos dágua e comumente depositados em diques topograficamente alçados em relação à planície aluvial De modo geral podese classificar os depósitos tecnogênicos em construídos e induzidos construídos diretos ou imediatos são aqueles que resultam diretamente da ação antropogênica ou seja representam os bota foras as barragens diversas os cortes e aterros os depósitos de resíduos sólidos dentre outros os induzidos indiretos ou mediatos somente são atribuídos à efetuação humana resultando de atividades ligadas ao uso do solo atividades agrossilvopastoris atividades industriais com alterações na cobertura vegetal estimulando os processos erosivos cujo resultado final é a produção de sedimentos Um exemplo seria o assoreamento em seções de baixo gradiente resultante da elevada carga de material em suspensão transportada pelo fluxo pluvial para o sistema fluvial A título de exemplo apresentase corte transversal do córrego Botafogo em Goiânia Fig 319 elaborado por Cunha 2000 onde se pode constatar a presença de depósitos tecnogênicos tanto construído como induzido inumando aluviões holocênicas Com base em levantamentos realizados pelo autor Cunha 2000 na bacia do ribeirão Anicuns imediações da Vila Roriz foram depositados 29 milhões de m3 de sedimentos induzidos e 248 milhões de m3 de sedimentos construídos o que demonstra a potencialidade morfogenética do ser humano em poucas décadas equivalente a alguns milhares de anos de processos naturais em condições de oscilações climáticas como constatadas no Pleistoceno Por meio dos exemplos apresentados podese ter uma idéia do significado da estrutura superficial para a compreensão do processo evolutivo do relevo Dos níveis de aplainamento passando pelos depósitos correlativos pleistocênicos até as formações atuais como as planícies aluviais holocênicas ou depósitos tecnogênicos podese compreender o processo evolutivo do modelado Incorporase à análise tanto os mecanismos morfogenéticos naturais relacionados à escala geológica como os morfodinâmicos associados às derivações antropogênicas na escala histórica Notas de Rodapé 1 McIntyre 1970 ao evidenciar o significado da doutrina do uniformitarismo para a Geologia reconhece em Sir Archibald Geikie a paternidade desse aforismo memorável o presente é a chave do passado sem contudo deixar a importância de Hutton como sintetizador científico 2A caracterização quanto a forma dimensão angularidade e outros parâmetros métricos dos sedimentos é feita através da análise morfoscópica 3 O termo intemperismo é aplicado indistintamente tanto às alterações físicas quanto às químicas a que estão sujeitas as rochas 4 O processo de dissolução em rochas carbonatadas é também denominada de carbonatação 5 Adsorção concentração na superfície de um líquido ou de um sólido de moléculas de gás líquido ou substâncias dissolvidas as quais são mantidas em seus lugares pelas forças Van der Waals Levorsen Nos solos a adsorção de soluções nas superfícies e interfaces de grãos de argila permite a troca iônica princípio da adubação química Leinz Leonardos 1970 6 Saprolitização referese à intemperização das rochas in situ onde a maioria dos minerais primários e produtos secundários do intemperismo formados a partir deles permanecem juntos essencialmente no mesmo lugar de origem Hurst 1975 7 Essa discussão é polêmica Basta considerar a posição de Erhart 1958 que infere a partir da existência de depósitos organógenos associados a condições biostásicas a existência de formações florestais desde o Pré Cambriano 8 O conceito glácioeustático referese às implicações das glaciações no nível do mar ou seja com o resfriamento global a umidade proveniente dos oceanos precipitada sob forma sólida nas altas latitudes implicou redução do nível marinho eustatismo negativo Na fase interglacial com o aquecimento generalizado registravase a fusão dos inlandsis com elevação do nível marinho eustatismo positivo Referências bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de Significado e propriedades do relevo na organização do espaço Anais I Simpósio de Geografia Física Aplicada B Geogr Teorética Rio Claro 15 2930154162 1985 AbSáber A N Uma revisão do quaternário paulista do presente para o passado R Janeiro Rev Brasil de Geografia 31 4151 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noção de georelevo Kügler 1976 considerandoo como conjugação das propriedades geoecológicas e sócio reprodutoras Metodologia apresentar metodologias de estudo ressaltando o significado do controle de campo em tais análises além do instrumental necessário acompanhamento das intensidades de chuva comportamento dos fatores intrínsecos das vertentes formas de apropriação e derivações produzidas pelo homem bem como avaliação de processos resultantes A vertente como categoria do relevo Apresentar os componentes da vertente a partir dos conceitos estabelecidos pela Comissão da UGI O trabalho do Tricart 1957 é importante para evidenciar o processo evolutivo umbral de parada e de destacamento dentre outros Evidenciar o significado dos processos pluvioerosivos na evolução das vertentes intertropicais A apropriação do relevo e os principais impactos ambientais Mostrar a apropriação espontaneista das vertentes e os principais impactos decorrentes das mudanças no jogo das componentes perpendicular e paralela Processos de erosão acelerada e assoreamento 4 A Fisiologia da Paisagem A fisiologia da paisagem corresponde ao terceiro nível de abordagem do relevo na sistematização da pesquisa geomorfológica adotado por AbSáber 1969 Tem por objetivo entender os processos morfoclimáticos e pedogênicos atuais Referese portanto ao estudo da situação do relevo atual fruto das relações morfodinâmicas resultantes da consonância entre os fatores intrínsecos ou seja inerentes ao próprio relevo e os fatores extrínsecos dando ênfase ao uso e ocupação do modelado enquanto interface das forças antagônicas Partindo do princípio de que praticamente toda superfície tenha sido apropriada de alguma forma pelo homem o referido nível necessariamente incorpora as transformações produzidas e conseqüentes intervenções nos mecanismos morfodinâmicos como a alteração na intensidade do fluxo por terra refletindo diretamente no comportamento do relevo Embora a fisiologia da paisagem centre atenção no momento histórico atual não deixa de levar em consideração os resultados dos mecanismos associados ao tempo geológico responsável pela evolução do relevo expresso na compartimentação topográfica e nos depósitos correlativos à estrutura superficial Assim o desenvolvimento do terceiro nível de abordagem do relevo pressupõe conhecimento dos dois níveis antecedentes O estudo do estágio atual dos processos erosivos deve levar em consideração a evolução histórico geomorfológica do relevo Para entender o significado das abordagens precedentes é necessário admitir que a conformação atual do relevo ou da vertente enquanto categoria deste resulta das relações processuais ao longo do tempo considerando uma determinada situação topomorfológica e suas características estruturais Insere na abordagem da fisiologia da paisagem informações sobre os depósitos correlativos os quais encontramse associados aos mecanismos morfogenéticos pretéritos e atuais Estes além de oferecerem subsídios cronológicos à reconstituição da evolução do relevo se constituem em importantes elementos das formações superficiais e das relações morfopedogênicas vigentes É natural que a apropriação do relevo pelo homem como recurso ou suporte implique transformações substanciais tanto na anulação dos processos morfodinâmicos a exemplo da impermeabilização de superfícies como na aceleração destes considerando o próprio desmatamento produzindo modificações em curto espaço de tempo O estudo da fisiologia da paisagem revestese de grande importância na análise do relevo por incorporar conhecimentos envolvendo fatos de interesses diversos e atuais Por inserir o homem na análise dos processos assume relevância enquanto temática de interesse geográfico A apropriação do relevo pelo homem como recurso ou suporte é responsável por alterações substanciais do seu estado natural como a implementação de cultivos que ocasionam desmatamento modificando radicalmente as relações processuais do predomínio da infiltração para o domínio do fluxo por terra o desenvolvimento da morfogênese em detrimento da pedogênese as atividades erosivas em relação ao comportamento biostásico relativo ao estágio precedente as perdas de recursos para adoção de medidas corretivas em detrimento de investimentos que poderiam ser destinados a benefícios sociais No capítulo inicial mencionouse que à medida que se caminha pelos níveis de abordagem de estudo do relevo propostos por AbSáber 1969 intensificase necessariamente o controle de campo obrigando ao tratamento do problema numa escala cada vez maior É natural que ao se compartimentar a morfologia de uma determinada área a correlação de níveis altimétricos numa escala regional se constitui num dos parâmetros metodológicos o que pode ser feito através de cartasbase tornandose dispensável um controle de campo tão sistemático como o exigido nos níveis subseqüentes No segundo nível de abordagem o da estrutura superficial maior controle de campo é necessário para as observações dos depósitos correlativos perfis para o tratamento de amostras e correlações A área de levantamento ou observação tornase mais restrita correspondendo a pontos ou trechos no interior de cada compartimento considerando a expressividade das seqüências disponíveis Já no estudo da fisiologia da paisagem é imprescindível um rígido controle de campo como o emprego de miras graduadas para o controle de erosão associadas a observações pluvioerosivas que podem ser relacionadas com a duração de intensidade das chuvas É preciso ainda um bom conhecimento dos fatores intrínsecos como a disposição forma e constituição conteúdo da vertente e dos fatores extrínsecos como a forma de uso e ocupação do relevo dentre outros aspectos considerados importantes Assim essa análise exige uma restrição maior quanto à dimensão espacial havendo necessidade de se selecionar alvos no interior de cada compartimento em função do controle previsto Dependendo da análise pretendida o experimento pode necessitar até mesmo de observações horárias ou diárias dos processos morfodinâmicos vigentes Por processo morfodinâmico entendese as transformações evidenciadas no relevo considerando a intensidade e freqüência dos mecanismos morfogenéticos no momento atual ou subatual associadas ou não às derivações antropogênicas Enquanto a abordagem morfoclimática leva à compreensão das relações processuais numa escala de tempo geológico a morfodinâmica reporta às relações processuais numa perspectiva histórica em que o homem se constitui no principal agente das alterações As derivações antropogênicas provocam alterações rápidas com respostas muitas vezes diversas em relação àquelas evidenciadas em condições naturais como numa situação de biostasia Salientase que processos morfodinâmicos não deixam de ser também morfogenéticos visto que englobam transformações associadas ao processo de dissecação na elaboração do modelado embora tratados como excepcionalidade em função da intervenção antropogênica Para se compreender melhor as relações morfodinâmicas utilizase do conceito bioresistásico proposto por Erhart 1956 que consiste em estágios morfopedogênicos diferenciados associados a condições climáticas distintas Assim na biostasia a vertente encontrase revestida de cobertura vegetal propriedade geoecológica em meio ácido como nas regiões intertropicais onde a infiltração promove alteração dos silicatos de alumina feldspatos originando a caolinita que juntamente com o quartzo existente na maioria das rochas integra a estrutura física dos solos Os hidróxidos de ferro e alumina solubilizados nesse ambiente ficam retidos e são incorporados ao solo fase residual enquanto os elementos alcalinos ou alcalinoterrosos potássio sódio cálcio e magnésio bem como o silício são transportados pela água escoada fase migradora originando os depósitos de rochas organógenas Fig 41 Na biostasia a atividade geomorfogenética é fraca ou nula existindo um equilíbrio climáxico entre potencial ecológico e exploração biológica O domínio da pedogênese sobre a morfogênese gera um balanço morfogenético negativo A resistasia é identificada pela retirada dos elementos que na biostasia integravam a fase residual elementos minerais hidróxidos de ferro e alumina o que determina a turbidez das águas de superfície cursos dágua que têm como principal indicador o ferro Essa fase passa a ser individualizada a partir do momento em que a cobertura vegetal desaparece o que pode resultar de alterações climáticas na escala de tempo geológico ou por derivações processadas pelo homem na escala de tempo histórica Assim na resistasia a morfogênese domina a dinâmica da paisagem com repercussão no potencial geoecológico desequilíbrio climáxico Como resultado temse um balanço morfogenético positivo com a retirada do material intemperizado reduzindo gradativamente a camada pedogenizada com conseqüente assoreamento de vales Ainda registrase a substituição dos depósitos organógenos da fase biostásica ou fitostásica na concepção de Tricart 1977 por depósitos argilolateríticos Fig 42 O conceito biorresistásico fundamentado na relação morfogênesepedogênese apresenta estreita relação com o balanço de denudação proposto por Jahn 1968 onde os processos em uma vertente se reduzem a dois componentes o primeiro denominado perpendicular caracterizado pela infiltração responsável pela intemperização que permite o desenvolvimento da pedogenização proporcionando a formação de material para eventual transporte e o segundo denominado paralelo paralelo à vertente ou à superfície referese ao processo denudacional morfogênese responsável pela retirada transporte e acumulação do material pré elaborado Dylik 1968 considera Jahn 1968 o primeiro a utilizar o conceito de processo morfodinâmico para tornar decisiva a noção de vertente Tricart 1957 substitui o conceito de balanço denudacional por balanço morfogenético considerado de maior abrangência terminológica visto que incorpora abrasão e acumulação O autor referese à relação entre as componentes perpendicular e paralela enquanto a perpendicular demonstra a ação da infiltração o que pode ser favorecido pela cobertura vegetal a paralela se caracteriza pelos efeitos erosivos o que leva a admitir a retirada da cobertura vegetal favorecendo a ação direta dos elementos do clima Destacase a contribuição de Kügler 1976 apud Abreu 1982 no estudo da fisiologia da paisagem ao tratar o relevo numa perspectiva ambiental Nessa ótica emerge o conceito de georrelevo como superfície de limite externo da geoderme produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos da Landschaftschülle1 e constituída pela superfície limite em si que caracteriza uma descontinuidade neste contexto e seu conteúdo plástico em postura que soma à concentração tradicional da geomorfologia alemã uma perspectiva de análise dialética da natureza desenvolvida em mais alto grau A metodologia de estudo da fisiologia da paisagem pressupõe uma preocupação com uma série de componentes como a intensidade e freqüência das chuvas em uma vertente além das abordagens relacionadas aos níveis considerados anteriormente compartimentação topográfica e estrutura superficial No estudo da fisiologia da paisagem necessário se faz dar ênfase aos componentes que integram a morfodinâmica do relevo como os processos morfogenéticos comandados pelos elementos do clima considerando o significado da interface representada pela cobertura vegetal a forma de uso e ocupação da vertente dentre outros parâmetros O estudo da fisiologia da paisagem pressupõe um bom entendimento da compartimentação topográfica e da estrutura superficial Mas para se entender melhor os processos é fundamental enfocar ainda os principais elementos do clima suas intensidades e freqüências a situação da cobertura vegetal e a modalidade de uso do solo Portanto além dos requisitos atinentes aos aspectos morfométricos e morfográficos do relevo considerados na compartimentação topográfica ou ainda os fatores cronodeposicionais evidenciados pela estrutura superficial tornase prioridade enfocar os principais elementos do clima considerando intensidade e freqüência bem como a situação da cobertura vegetal ou modalidade de uso do solo para se entender os processos na sua integridade Como exemplo destacamse os efeitos pluvioerosivos nas regiões intertropicais a densidade da cobertura vegetal em função dos domínios fitogeográficos ou ainda as diferentes modalidades de uso e ocupação das vertentes com implicações nas relações processuais os efeitos pluvioerosivos nas regiões intertropicais têm como característica principal a ação das duas estações seca e chuvosa sobre pediplanos recobertos por latossolos o que aliado ao desmatamento para a agropecuária gera profundas erosões Para se exercer um controle sobre essas componentes é necessário proceder a seleção dos indicadores temporais e espaciais como a extensão a ser considerada uma bacia hidrográfica por exemplo o tempo de análise como uma série meteorológica dentre outros aspectos relevantes Assim serão definidas as formas de controle dos parâmetros eleitos como instrumental ou equipamento necessário para a análise quantificação de processos oferecendo maior consistência ao conhecimento produzido Apresentamse a seguir considerações sobre o estudo da fisiologia da paisagem tomando como referência o conceito de vertente em geomorfologia 41 A vertente como categoria para o estudo da fisiologia da paisagem O conceito de vertente foi consagrado por Dylik 1968 sendo genericamente entendida como toda superfície terrestre inclinada muito extensa ou distintamente limitada subordinada às leis gerais da gravidade A vertente se caracteriza como a mais básica de todas as formas de relevo razão pela qual assume importância fundamental para os geógrafos físicos Essa importância pode ser justificada sob dois ângulos de abordagem um por permitir o entendimento do processo evolutivo do relevo em diferentes circunstâncias o que leva à possibilidade de reconstituição do modelado como um todo conceito de geomorfologia integral de Hamelim 1964 e outro por sintetizar as diferentes formas do relevo tratadas pela geomorfologia encontrandose diretamente alterada pelo homem e suas atividades conceito de geomorfologia funcional do referido autor Uma vertente contém subsídios importantes para a compreensão dos mecanismos morfogenéticos responsáveis pela elaboração do relevo na escala de tempo geológico propriedades geoecológicas permitindo entender as mudanças processuais recentes processos morfodinâmicos na escala de tempo histórico se individualizando como palco de transformações sóciorreprodutoras O conceito de vertente é essencialmente dinâmico uma vez que permite delimitar um espaço de relações processuais de natureza geomorfológica incorporando os mais diferentes tipos de variáveis Cruz 1982 observa que o estudo geomorfológico da evolução atual das vertentes é extremamente importante quanto ao entendimento espaço temporal dos mecanismos morfodinâmicos atuais e passados Os estudos morfodinâmicos mais atuais levam ao cerne do estudo geomorfológico por excelência ajudando o entendimento das paisagens geográficas Ressalta ainda que são eles que mostram os mecanismos dessa evolução e levam ao melhor entendimento dos estudos morfogenéticos de épocas passadas O estudo da vertente enquanto categoria do relevo assume importância acadêmicoinstitucional a partir da década de 50 do século passado com o trabalho de Tricart 1957 quando afirma ser a vertente o elemento dominante do relevo na maior parte das regiões apresentandose portanto como forma de relevo mais importante para o homem Tanto a agricultura quanto os demais trabalhos de construções estão interessados na evolução das vertentes que acabam comandando por exemplo a perenidade direta e indireta dos cursos dágua pela ação geomorfológica Dylik 1968 observa que as vertentes ocupam um dos mais importantes lugares da geomorfologia atual Destaca nesse sentido dois importantes eventos a respeito Primeiro o simpósio sobre a contribuição de W Penck 1924 organizado pela Associação dos Geógrafos Americanos 1940 e depois a criação da Comissão para o Estudo das Vertentes da União Geográfica Internacional no transcorrer do Congresso Internacional de Geografia realizado em Washington 1952 Ele considera a vertente como um dos problemaschave da moderna geomorfologia compreendendo todos os aspectos da Geografia Física e incluindo um certo número de questões relativas à Geografia Humana Fundamentandose nas idéias de Gilbert 1877 a vertente num sentido geral lato sensu seria um todo dinamicamente ligado aos processos fluviais num sentido restrito stricto sensu seria caracterizada por processos denudacionais intrínsecos à própria vertente A vertente lato sensu incorpora o curso dágua nível de base responsável pelo grau de participação dos elementos areolares da vertente stricto sensu Assim regula a intensidade dos fenômenos areolares tendo como referência o nível de base local caracterizado pelo talvegue Já a vertente stricto sensu encontrase limitada pelas relações morfodinâmicas areolares definida pela extensão delimitada pelo umbral de destacamento onde as atividades processuais têm início até o umbral de parada onde as atividades processuais denudacionais são substituídas pelas fluviais De acordo com o modelo de Penck 1924 o ajustamento tectônico de um curso dágua condiciona o arranjo dos processos areolares e conseqüente evolução da vertente Da mesma forma qualquer alteração climática influi no limiar ou no umbral de processos de uma vertente stricto sensu e por conseguinte na evolução do modelado como um todo vertente lato sensu A noção de umbral aparece nos trabalhos de AN Strahler 1952 sendo definido por Tricart 1957 como o limite referente ao início e fim dos processos específicos de uma vertente stricto sensu em substituição a outros incorporados no conceito de vertente lato sensu como o fluxo fluvial Para o autor em condições dadas de litologia de clima e de vegetação cada processo de abrasão e transporte pode afetar as vertentes que possuem um declive mínimo É o declive mínimo que constitui o umbral de funcionamento dos processos em questão Tricart 1957 considera ainda que os processos simples e elementares dos detritos de gravidade colocam em destaque a existência de dois umbrais um umbral de destacamento de colocação em movimento e um umbral de parada de estabilização Dylik 1968 ao tratar dos elementos da definição de uma vertente observa que são os processos morfogenéticos que determinam a natureza da vertente e que estes diferem dos demais A vertente no sentido morfogenético corresponde à parte das formas do terreno que são modeladas pelos processos de denudação stricto sensu ou seja pelos movimentos de massa e pelo escoamento tanto no presente como no passado Dylik 1968 Como exemplo nas regiões intertropicais os processos morfogenéticos evidenciados em uma vertente stricto sensu encontramse caracterizados principalmente pelas diferentes formas de fluxo de superfície e subsuperfície bem como pelos movimentos de massa diferindo portanto dos processos fluviais que integram o conceito de vertente lato sensu O limite superior de uma vertente é mais difícil de se traçar ou de ser definido em relação ao inferior não correspondendo sempre à linha de divisão de águas Nem mesmo os métodos morfográficos são suficientes para definir o limite restando a possibilidade de fundamentarse nos critérios dinâmicos O limite superior de uma vertente indica o entendimento de uma superfície mais alongada e mais alta de onde provém o material sólido transportado para a base da erosão Dylik 1968 O limite em questão se orienta genericamente de forma paralela ao talvegue embora existam freqüentes desvios da linha reta A base da erosão é estritamente ligada à noção de vertente Corresponde à faixa onde os processos de vertente stricto sensu se extinguem dando lugar a outros agentes ou formas de transporte como as águas correntes os glaciais ou mesmo níveis de base correspondentes à abrasão marinha ou lacustre Partindo do princípio de que os processos de vertente se diferenciam em função do clima ou de efeitos de natureza tectônica temse que o limite do umbral de funcionamento de uma vertente acaba sofrendo alterações sobretudo na escala de tempo geológico suscetível a eventuais mudanças Para Tricart 1957 o limite superior das vertentes na região temperada por ocasião das fases glaciais pleistocênicas acontecia em declive próximo a 2 º comandado pelo processo de solifluxão associado à fusão de geleiras Com o recuo dos glaciais no Holoceno os processos de vertente atuais passam a ser observados em condições de declividade mais elevada Assim a vertente deve ser analisada numa perspectiva de quatro dimensões onde o fator temporal assume relevância para a compreensão do processo evolutivo As relações processuais em uma vertente dependem de fatores como declive litologia e condições climáticas O movimento de massa por exemplo tem possibilidade de ocorrer em declive moderado desde que a presença de água e de argila seja suficiente para reduzir o atrito do material intemperizado em relação à estrutura subjacente Assim tanto o umbral de destacamento quanto o de parada para uma vertente stricto sensu variam em função das condições climáticas do material proveniente ou não da rocha subjacente e da própria declividade A noção de freqüência processual permite colocar em destaque o jogo dos fatores que comandam o afeiçoamento das vertentes intensidade da dissecação estrutura e clima Tricart 1957 A intensidade de dissecação normalmente encontrase associada à evolução dos talvegues que se constituem em nível de base do afeiçoamento das vertentes o que pode estar relacionado tanto a mudanças climáticas como às oscilações glácioeustáticas pleistocênicas como os efeitos de natureza tectônica Assim um ajustamento tectônico como o epirogenético positivo gera ajustamento do talvegue com aumento da declividade da vertente determinando o aumento da intensidade dos processos erosivos Os fatores morfoclimáticos intervêm através das modalidades de meteorização e pedogênese e da natureza dos processos de afeiçoamento das vertentes Já as influências litológicas intervêm de várias maneiras na forma do perfil da vertente na sua declividade média na velocidade do recuo dentre outras Clark Small 1982 apresentam esquema procurando mostrar as relações processuais em uma vertente considerando sua forma Fig 43 Os processos em uma vertente se individualizam pelos fatores exógenos e endógenos Os exógenos são comandados pelo clima os endógenos pela estrutura geológica e tectônica Como agentes de intemperização destacamse a temperatura e a precipitação que em função do comportamento da interface como a vegetação proporcionam maior escoamento fluxo de subsuperfície movimento de massa e fluxo por terra ou infiltração com conseqüentes efeitos no comportamento da vertente A ação processual também depende dos fatores endógenos que reagem em função da composição química do grau de permeabilidade e conseqüente intemperização com produção do regolito Tricart 1957 demonstra que o balanço morfogenético de uma vertente é comandado principalmente pelo valor do declive pela natureza da rocha e pelo clima a valor do declive de forma geral quanto maior o declive da vertente maior a intensificação da componente paralela reduzindo a ação da componente perpendicular Assim com o escoamento mais intenso temse o acréscimo do transporte de detritos adelgaçando o solo ou o material intemperizado Da mesma forma que a tectônica ou a resistência litológica podem provocar aumento do declive a estreita correspondência com a intensidade dos processos pode provocar uma condição de equilíbrio dinâmico desde que a relação energia processos incidentes e matéria substrato da vertente esteja balanceada independentemente das condições topográficas Além do fator declive como elemento de indução morfogenética incluise ainda o comprimento e a forma geométrica da vertente Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas Bertoni et al 1972 mostram que quadruplicando o comprimento da vertente quase são triplicadas as perdas de terra por erosão diminuindo em mais da metade as perdas de água redução do escoamento por aumento da superfície de infiltração Bloom 1970 utilizandose dos modelos geométricos de vertente de Troeh 1965 divide os quatro principais tipos de encostas em dois grupos Fig44 a coletoras de água com contornos côncavos quadrantes I e II e b distribuidoras de água com contornos convexos quadrantes II e IV O eixo vertical do diagrama separa as encostas com perfis convexos que facilitam o desenvolvimento do rastejamento quadrantes II e III das encostas com perfis côncavos que favorecem a lavagem pela água das chuvas quadrantes I e IV Na base da representação Fig 44 o blocodiagrama mostra como as encostas podem ser subdivididas com relação aos seus elementos componentes b natureza da rocha as rochas coerentes exigem primeiramente uma intervenção da componente perpendicular antes da ação da componente paralela ou seja antes que os detritos sejam carregados é necessário que sejam formados Portanto a natureza da rocha além de responder pelo comportamento da formação superficial intervém no perfil da vertente no seu declive médio e na velocidade de seu recuo ou evolução Penteado 1974 p 23 mostra que o comportamento de uma estrutura em relação à erosão depende da natureza das rochas propriedades físicas e químicas sob ação de diferentes meios morfoclimáticos Dentre as propriedades básicas de uma rocha a autora destaca o grau de coesão grau de permeabilidade e grau de plasticidade que influem no modo de escoamento superficial Além dessas existem outras propriedades que influem na desagregação mecânica como o grau de macividade e tamanho dos grãos Outras ainda facilitam a decomposição química como grau de solubilidade e grau de heterogeneidade As rochas cristalinas especialmente os granitos são coerentes impermeáveis não plásticas mas possuem planos de descontinuidade e são heterogêneas Os arenitos apresentam além de planos de diaclasamento planos de estratificação sendo relativamente homogêneos Os calcários são coerentes pouco plásticos e homogêneos distinguindose pela permeabilidade dada ao fissuramento e solubilidade As argilas e xistos possuem fraca resistência à erosão por escoamento superficial e têm grande plasticidade A formação superficial denominação que envolve o material decomposto ou pedogenizado que recobre a rocha engloba a noção de solo e subsolo cuja característica textural definida pelos minerais resultantes responde pela especificidade de determinados processos morfogenéticos A presença da argila por exemplo favorece a solifluxão o creeping ou reptação e ainda o deslizamento de massas Como enfatizou Tricart 1957 a argila soliflui a areia não soliflui Além desses aspectos a participação de determinados elementos texturais na formação superficial afeta o grau de resistência mecânica dos agregados tanto na ação morfogenética da gota de chuva efeito splash quanto na intensidade erosiva comandada pelo fluxo por terra escoamento difuso laminar ou concentrado Pesquisas realizadas por Bertoni et al 1972 demonstram a relação entre perdas de terra e água e a média pluviométrica anual Tab 41 segundo diferentes tipos de solos Tab 41 Perdas de terra e água em diferentes tipos de solos A Terra Roxa registrou menor perda de terra enquanto por unidade de volume de enxurrada escoada foi o solo argiloso Isto significa que o solo argiloso proporciona maior escoamento o que é justificado pela impermeabilização determinada pela expansão mineral em condição de hidratação respondendo pelo aumento da resistência mecânica dos agregados do solo o que atenua os processos erosivos Queiróz Neto 1976 demonstra que os solos B texturais Bt descontínuos como os Podzólicos apresentam comportamento ligado aos processos de erosão em lençol além de movimentos coletivos enquanto os B latossólicos Bw homogêneos e profundos são mais susceptíveis ao escoamento concentrado responsável pelo desenvolvimento de ravinas e boçorocamentos A litologia também intervém na forma do perfil da vertente como no domínio dos quartzitos da região intertropical onde normalmente são responsáveis por declives acentuados dado o grau de macividade elevado originando cornijas estruturais free faces que muitas vezes protegem as rochas tenras subjacentes c Clima o clima se caracteriza como elemento morfogenético da maior importância intervindo direta ou indiretamente na vertente Nas regiões desérticas ou glaciais ele age diretamente e onde a cobertura vegetal e o solo se fazem presentes atua indiretamente na vertente promovendo o desenvolvimento tanto da componente perpendicular como da paralela Nos climas tropicais úmidos sob floresta densa a componente perpendicular é intensa produzindo forte e rápida alteração das rochas por meio do processo de pedogenização o que explica o crescente espessamento dos solos Ao contrário nas zonas semiáridas a baixa precipitação restringe o desenvolvimento de solos e as eventuais torrrencialidades pluviométricas respondem pelo transporte de detritos resultantes da morfogênese mecânica a exposição da rocha se torna uma constante permitindo a ação direta dos elementos do clima Assim o clima se constitui no grande responsável pela dinâmica processual desde a elaboração pedogenética componente perpendicular comandada principalmente pelos intemperismos químicos até a ação erosiva componente paralela representada pelos agentes da meteorização movimentos do regolito e demais processos morfogenéticos como os pluvioerosivos nas regiões intertropicais A importância do fator morfoclimático é portanto traduzida pela existência de verdadeiras famílias de formas nas zonas tropicais úmidas há o domínio das florestas com predominância da convexidade geral do perfil com declives médios elevados o modelado é comandado pela alteração química com processos mecânicos subordinados reptação escorregamento nas zonas tropicais secas como no domínio dos cerrados as formas são menos convexas e tendem a um perfil geral retilíneo registrandose topos interfluviais pediplanados ainda preservados a desagregação mecânica é fraca e a alteração química é atenuada pela estação seca prolongada Fatores climáticos pretéritos paleoclimas também devem ser considerados na elaboração das vertentes podendo ser identificados tanto pelas formas específicas como por meio dos depósitos correlativos Exemplos como níveis de pediplanação ou presença de paleopavimentos detríticos normalmente sotopostos por colúvios pedogenizados são freqüentes nas regiões intertropicais Para se entender a relação pedogênesemorfogênese em uma vertente é necessário considerar os componentes do processo geomorfológico Nesse sentido Carson Kirkby 1972 apresentam tais relações numa perspectiva antagônica denominada de força e resistência Considerando que as forças requerem energia e que toda energia em um sistema geomórfico deriva da gravidade e do clima as vertentes sintetizam os principais fenômenos evidenciados em tais circunstâncias o efeito da gravidade no deslocamento da partícula ou da massa força paralela à superfície do terreno e em função das particularidades intrínsecas ao próprio material força perpendicular à superfície Quanto aos fenômenos relacionados ao clima os autores evidenciam os efeitos da temperatura e da água disponíveis considerando os demais processos controlados pelos parâmetros meteorológicos como expansão e contração termal e a influência indireta dos efeitos biológicos Destacam as forças de tensão da água e pressão fluxo da água na superfície overland flow e subsuperfície throughflow impactos pela gota de chuva splash além da expansão de forças descontração Com relação à resistência Carson Kirkby 1972 evidenciam a participação da transmissibilidade capacidade de infiltração umidade do solo e cobertura vegetal como forças de mitigação de impactos morfogenéticos ao mesmo tempo em que consideram o significado da força de atrito shear strenght destacando a importância do ângulo da vertente no plano de fricção o coeficiente do plano de fricção a tensão normal efetiva força interpartícula por unidade de área em relação à superfície cortada2 e a coesão da rocha e dos sedimentos Com relação às mudanças de resistência da rocha em função do intemperismo os autores destacam o modo de desintegração da rocha e a dimensão da partícula dada pelo intemperismo em diferentes rochas Ainda com relação à resistência mecânica do material Rice 1983 observa que uma vertente encontrase sujeita a muitos esforços que surgem de diferentes maneiras e que sua resposta ante os mesmos determina o modelo do movimento e da forma da própria vertente De forma geral o comportamento do material é expresso em função do esforço aplicado e da deformação produzida3 A deformação pode ser produzida de diferentes maneiras segundo a natureza do material No caso dos sólidos a deformação se dá pelo desprendimento elástico Estes distintos comportamentos ante ao esforço são os que constituem as bases que nos permitem distinguir entre fluídos e sólidos Um fluído é uma substância que não pode suportar forças de cizalhamento e a deformação é diretamente proporcional ao esforço aplicado Um sólido é uma substância que possui resistência para suportar um pequeno esforço aplicado e elasticidade para recuperar sua forma original ao cessar o esforço deformante O autor apresenta um gráfico Fig 46 onde se distinguem três tipos de sólidos um sólido rígido onde os esforços pequenos produzem uma deformação incipiente até alcançar um valor crítico conhecido como limite de elasticidade depois do qual se produz uma brusca ruptura um sólido elástico onde pelo contrário existe uma considerável deformação antes que se alcance o ponto de fratura e um sólido plástico em que a deformação encontrase além do limite de elasticidade não produzindo um fraturamento rápido senão um aumento da deformação proporcional ao incremento de esforço A duração do esforço pode ter importantes conseqüências podendo originar deformações elásticas quando aplicada em um curto período de tempo ou provocar uma reptação ou creep se relacionada a um período mais longo A análise desse comportamento constitui o campo da mecânica dos solos que tem utilizado uma série de técnicas para medir a resistência do solo ao cisalhamento como os instrumentos de compressão triaxial Após considerações sobre a interação entre força e resistência Carson Kirkby 1972 apresentam os principais tipos de processos geomórficos em uma vertente movimento de massas fluxo por terra e fluxo de subsuperfície 411Movimentos de Massa Carson Kirkby 1972 classificam os processos relacionados ao movimento de massas Fig 47 quanto à velocidade do movimento de rápido a lento e condições de umidade do material de seco a úmido O resultado é sintetizado por três tipos de movimentos de massa o escorregamento o fluxo e a expansão térmica ou por alívio de carga As formas de escorregamentos Fig 47 representadas principalmente pelos deslizamentos de rochas e de solos encontramse caracterizadas por movimentos rápidos associados a ambientes secos as formas de fluxo identificadas pelo fluxo de terra fluxo de lama e fluxo fluvial também se referem a movimentos rápidos contudo associados a ambiente úmido por último as formas de expansão individualizadas pelo creep de solo sazonal referese a movimento lento em condição ambiental indistinta Em condição transicional destacamse o talus creep relacionado a um clima seco e a solifluxão correspondente a um clima mais úmido Com relação aos movimentos de massa ou do regolito Christofoletti 1980 apresenta considerações sobre os diferentes processos geomórficos Na oportunidade chamase atenção para o esquema simplificado Fig 48 por Sharpe 1938 apud Bloom 1970 a Rastejamento creep ou reptação corresponde ao deslocamento das partículas de forma lenta e imperceptível dos vários horizontes do solo Estudos demonstram que esse movimento é maior na superfície diminuindo gradualmente com a profundidade chegando a ser nulo O creep é um fenômeno que pode ocorrer naturalmente em condições de biostasia e sua freqüência se relaciona ao declive e à característica do material Assim quanto maior o declive e maior a plasticidade do material presença de argila maior a propensão ao deslocamento podendo assumir formas de movimentos mais rápidos A velocidade do rastejamento é de poucos centímetros por ano sendo perceptível em postes muros e árvores Não apresenta superfície de ruptura bem definida plano de movimentação os limites entre o material em movimento e o terreno estável são transicionais Como indutores do creep podese considerar o pisoteio do gado o crescimento de raízes e a escavação de buracos por animais Dentre os principais fatores associados à gênese do creep ou rastejamento destacamse a expansão e retração produzida pelo gelo nas regiões periglaciais embora possam ser também evidenciadas em ambientes úmidos como nas regiões intertropicais As evidências de ocorrência deste tipo de movimento são as trincas verificadas em toda extensão do terreno natural que evoluem vagarosamente bem como as árvores que apresentam inclinações variadas Esta movimentação pode comprometer desde pequenas obras casas sistema de drenagens até grandes pontes viadutos IPT 1991 b Solifluxão corresponde aos movimentos coletivos do regolito quando este se encontra saturado de água podendose deslocar alguns centímetros ou poucos decímetros por hora ou por dia Christofoletti 1980 p28 Geralmente acontece após o rompimento do limiar de fricção determinado pela presença de água entre o material intemperizado e a rocha subjacente O rompimento do limite de fluidez muitas vezes é favorecido pela presença de argila no contato com a camada rochosa do embasamento evidenciado com freqüência maior nas regiões periglaciais pela gelifluxão fusão do gelo na primavera Para Bloom 1970 a solifluxão não é um processo restrito ao solo congelado É uma forma de movimento do regolito comum a qualquer zona onde a água não pode escapar de uma camada saturada de regolito Uma camada de argila no solo ou uma camada rochosa do embasamento impermeável poderá provocar solifluxão de modo tão eficiente quanto o substrato congelado Retomamse as observações de Tricart 1957 quanto ao fato de que uma argila soliflue uma areia não soliflue c Fluxos de terra ou de lama são movimentos do regolito muito similares à solifluxão diferindo destas por serem rápidos e atingirem maiores dimensões Geralmente registrase o rompimento das tênues ligações entre as partículas argilosas e a água momento em que a massa liqüefazse espontaneamente Embora comuns nas regiões periglaciais algumas vezes afetados por abalos sísmicos esses fenômenos segundo Carson Kirkby 1972 ocorrem com certa freqüência nas regiões intertropicais em morfologia movimentada como registrado na Serra do Mar associados ao período chuvoso Fluxos de terra e de lama contém água suficiente para se moverem em fluxo turbulento e sabese que são capazes de erodir canais à medida que fluem Se mais água é envolvida o movimento é considerado como de transporte por fluxo de água em lugar de movimento do regolito Bloom 1970 d Avalancha é o fluxo coletivo do regolito mais rápido que se conhece movimentando enormes volumes de materiais Tratase de processos envolvendo gelo e neve além de fragmentos rochosos que começam com uma queda livre de massa Bloom 1970 e Deslizamentos e desmoronamentos correspondem ao deslocamento de massa do regolito sobre o embasamento saturado de água A função de nível de deslizamento pode ser dada por uma rocha sã ou por um horizonte do regolito possuidor de maior quantidade de elementos finos de siltes ou argilas favorecendo atingir de modo mais rápido o limite de plasticidade e o de fluidez Christofoletti 1980 p29 Setembrino Petri prefaciando o trabalho de Bloom 1970 exemplifica o fenômeno de desmoronamento através dos episódios registrados na Serra do Mar região de Santos como os de 1928 e 1956 e o episódio registrado em Caraguatatuba em 1967 Para Bloom 1970 a superfície de ruptura de um bloco desmoronado possui forma de colher estando o bloco desmoronado freqüentemente adernado para trás em função da rotação que sofre à medida que a parte inferior movese para baixo ou para fora Tais processos também são denominados de escorregamentos A geometria destes movimentos pode ser circular planar ou em cunha em função da existência ou não de estruturas ou planos de fraqueza dos materiais movimentados que condicionem a formação de superfícies de ruptura IPT 1991 p19 O tipo de escorregamento comum em encostas ocupadas é o induzido ou seja potencializado pela ação antrópica muitas vezes mobilizando materiais produzidos pela própria ocupação depósitos tecnogênicos representados por aterro entulho lixo dentre outros Os desmoronamentos poderão ser causados por rios ou ondas cortando a base de uma encosta São comumente também resultados de projetos de engenharia falhos cortando aterros Bloom 1970 A representação que se segue Fig49 procura esquematizar o fenômeno A água se caracteriza principalmente nas regiões intertropicais como principal agente detonador dos movimentos gravitacionais de massa Assim por exemplo sua ação pode se dar através da elevação do grau de saturação nos solos diminuindo a resistência destes especialmente as parcelas de resistência relacionadas às tensões capilares e às ligações por cimentos solúveis ou sensíveis à saturação O aumento do peso específico do solo devido à retenção de parte da água infiltrada é outro condicionante de instabilização que incide nos taludes IPT 1991 p25 412 Efeito splash rainsplash transport De acordo com Guerra 1999 a ação do splash também conhecido por erosão por salpicamento Guerra Guerra 1997 em português é o estágio mais inicial do processo erosivo pois prepara as partículas que compõem o solo para serem transportadas pelo escoamento superficial Trabalhos experimentais têm demonstrado o significado da ação morfogenética do pingo da chuva responsável pela desagregação do material sobretudo quando a superfície da vertente encontrase desprotegida Carson Kirkby 1972 citam deslocamento de partículas desde curtas distâncias da ordem de alguns milímetros até maiores distâncias podendo atingir o raio de 10 centímetros em relação ao ponto de impacto Da mesma forma o splash move diretamente detritos em torno de 10 mm de diâmetro e indiretamente pode deslocar fragmentos de maiores dimensões Guerra 1999 chama atenção ainda para a formação de crostas superficiais que provocam a selagem dos solos o papel do splash varia não só com a resistência do solo ao impacto das gotas de água mas também com a própria energia cinética das gotas de chuva Dependendo da energia impactada sobre o solo vai ocorrer com maior ou com menor facilidade a ruptura dos agregados formando as crostas que provocam a selagem dos solos A compactação resultante do impacto de gotas de chuva cria uma crosta superficial de 01 a 30 mm de espessura Farres 1978 que pode implicar redução da capacidade de infiltração superior a 50 dependendo das características do solo Morin et al 1981 413 Erosão associada ao fluxo superficial Para se ter uma idéia das diferentes formas de escoamento da água em uma vertente apresentase esquema utilizado por Carson Kirkby 1972 denominado de balanço hidrológico próximo à superfície Fig 410 Como se vê a água precipitada sobre uma vertente apresenta vários caminhos Parte é evapotranspirada e outra é armazenada ou ainda interceptada pelo dossel momento em que se registra o fluxo pelo tronco A partir de então se tem o processo de infiltração na zona de maior permeabilidade podendo chegar a maiores profundidades com armazenamento da umidade no solo e fluxo de subsuperfície throughflow O excedente ou o que não foi infiltrado fica armazenado em depressões superficiais onde parte é evaporada e outra escoada na superfície overland flow podendo integrar o fluxo fluvial Observase que a interceptação constituise em importante componente na ciclagem da água de uma vertente devendo a exemplo de outros fatores ser levada em consideração quanto às decisões sobre o manejo das áreas ocupadas por florestas A morfodinâmica pluvial mantém uma estreita relação com a disposição do substrato representada pelo declive e forma da vertente e pela interfácie vegetaçãopedogênese Há nessa condição estreita relação entre o índice de erosão físicoquímica e o estado hidrológico do solo comumente registrase ausência ou insignificância de perdas quando o solo se apresenta em condição de desidratação por mais de três dias capacidade de campo e ao mesmo tempo uma progressão geométrica das perdas em caso de precipitações contínuas quando o solo encontrase com sua capacidade de campo máxima Os efeitos erosivos não deixam de apresentar contudo uma grande relação de dependência com a intensidade e duração das chuvas A queda e o escoamento da água precipitada exercem importante papel quanto aos detritos de vertente Diferentes combinações entre força e resistência produzem um número significativo de processos que dão origem à erosão do solo entre os quais se incluem o movimento de partículas desagregadas pelo impacto da gota de chuva efeito splash ou raindrop impact e o fluxo por terra ou escoamento superficial caracterizado pela ação difusa laminar podendo passar a ação concentrada O fluxo por terra ou processo de escoamento superficial acontece sempre que parte ou até mesmo o total da água precipitada deixa de infiltrar As principais razões do escoamento superficial são a baixa densidade ou ausência da cobertura vegetal a declividade quando permite o desenvolvimento da componente paralela o comportamento do material de superfície a capacidade de campo 4 a intensidade e duração das chuvas dentre outras variáveis Com base em Robertson Rouse 1941 o fluxo de água ocorre em um dos dois tipos tranqüilo ou torrencial O ponto de mudança de tais características depende da relação entre a força inercial e gravitacional o que pode ser expresso através da representação que se segue Fig 411 Dependendo dos fatores intrínsecos como declividade e geometria da vertente uso e ocupação do solo e dos fatores extrínsecos como intensidade e duração das chuvas temse as diferentes formas de escoamento convencionalmente denominadas de difusa laminar e concentrada a O fluxo difuso quase sempre encontrase associado à rugosidade do terreno que gera resistência de atrito ao escoamento superficial pela presença da cobertura vegetal Para Selby 1994 os valores registrados de velocidade do escoamento superficial variam de 00015 a 03 m s 1 o que é suficiente para transportar silte e areia fina Esse mecanismo depende entre outros fatores da geração de fluxos de chuva e sua escala temporal de atuação depende da duração e da intensidade dos eventos chuvosos Oliveira 1999 b O fluxo laminar é a forma mais lenta e insidiosa de erosão pois ao contrário da erosão em sulcos ou da erosão que origina boçorocas esse tipo não é perceptível a curto e médio prazo e ocasiona prejuízos incalculáveis ao agricultor c O fluxo concentrado resulta da convergência do escoamento superficial em função de microdepressões no terreno ou ainda da própria geometria da vertente como aquelas correspondentes a radiais côncavas e contornos côncavos na classificação de Troeh 1965 Em tais circunstâncias temse via de regra o processo de corrosão ou alargamento do canal que resulta do efeito do impacto de partículas sobre o material estático do fundo e das bordas do canal Esse tipo de escoamento pode levar à formação de sulcos ou ravinas onde a velocidade de escoamento é da ordem de 03 m s 1 Oliveira 1999 enumera outras formas de escoamento superficial que originam processos erosivos a por queda dágua correspondente à água de escoamento superficial que desemboca no interior de incisões erosivas tipo cascata onde a evorsão promove a escavação de depressão na seção imediata ou no nível de base local formas conhecidas por marmitas ou caldeirões também observadas ao longo de corredeiras fluviais b solapamento da base de taludes correspondente a filetes subverticais de escoamento superficial Oliveira et al 1995 c liquefação de materiais de solo quando os materiais inconsolidados se comportam como fluido estando presentes dois mecanismos que se integram a fluidização e a liquefação 4131 Principais feições morfológicas associadas ao fluxo por terra a Fluxo difuso O fluxo difuso relacionase ao escoamento em superfícies rugosas onde obstáculos como a presença de cobertura morta ou serapilheira vegetação de subbosque ou gramíneas dificultam o fluxo por terra mesmo que se registre um certo superavit da água escoada em relação à água infiltrada Geralmente não deixa marcas ou feições significativas no modelado Esse fato leva a deduzir que embora momentaneamente haja um excedente de água escoada decorrente do limite de infiltração os efeitos dos dissipadores naturais induzem uma percolação retardada principalmente quando as condições topográficas como bacias de decantação favorecem o represamento da água proveniente do fluxo difuso b Fluxo laminar O fluxo laminar é responsável por uma erosão oculta podendo ocorrer de forma relativamente continuada sem contudo deixar marcas empiricamente observáveis na vertente Casseti 1983 trabalhando com parcelas experimentais no Planalto de Goiânia obteve resultados significativos de perdas de solo em áreas de cultivo Tab 42 relacionadas ao fluxo laminar Tab 42 Perda de solo na bacia do ribeirão João Leite GoiâniaGO Constatase estreita relação entre as perdas de solo e a modalidade de uso ou presença de cobertura vegetal bastando observar que enquanto em parcelas representadas por mata tropical a perda anual foi de 21 gramas de sedimentos por hectare 10000 m 2 por ano nas parcelas de cultivo foi de 4165 quilos para a mesma unidade de áreaano As observações realizadas durante uma série meteorológica demonstram com relação às diferentes parcelas uma maior saída de material no primeiro semestre da série agostojaneiro justificada pelo comportamento físico do solo maior intensidade das chuvas e efeitos do manejo preparação da terra para o plantio na parcela referente ao cultivo enquanto a pluviometria correspondeu a 5938 da precipitação total na série a perda de solo foi de 7330 e a perda de água por escoamento foi de 6394 em relação ao total pluviométrico anual Assim ao mesmo tempo em que o manejo do solo contribui para maior arraste de material determinado pela desagregação mecânica como no processo de aração também favorece o aumento da infiltração por romper eventuais formações de crostas e selagem do solo normalmente associadas a processos antecedentes Outro aspecto importante obtido nas experimentações foi a forte correlação existente entre a perda de solo e o total pluviométrico Fig 412 registrandose crescimento exponencial da perda de material em áreas de cultivo Quanto à disposição da vertente Casseti 1983 observa que apesar de geralmente se atribuir grande importância ao declive a forma geométrica da vertente apresenta relevância no resultado de perdas de terra apesar de uma relação de relevo5 significativamente elevada em determinadas parcelas O modelo de vertente representado por comprimento e largura côncavos apresentou menor erodibilidade considerando ser esta forma caracterizada por uma tendência decrescente do perfil de equilíbrio redução da declividade em direção a jusante no seu estágio evolutivo Com relação à perda de água ou ao volume de água escoada por parcela Tab 42 registrase também estreita correspondência com a modalidade de uso ou cobertura vegetal nas respectivas áreas Além do volume de água escoada foi avaliada a quantidade de macronutrientes transportada através do fluxo por terra associada a processo de solubilização Constatouse que o teor de macronutrientes solubilizados encontrase numa relação inversa às perdas registradas visto que nas matas é que se encontra a maior perda de macronutrientes representados pelo cálcio magnésio potássio e fósforo Casseti 1983 estima que o provável aumento do percentual de bases trocáveis e a mineralização da serapilheira se constituam nos principais elementos responsáveis pelo acréscimo dos macronutrientes nas perdas de água em mata condicionando apesar do fraco escoamento verificado uma saída considerável por solubilização Com base em levantamentos realizados o IPT 1989 constatou que a perda de solos por erosão laminar acelerada desencadeada pela ocupação humana depende de fatores naturais que podem ser agrupados em três conjuntos a ligados à natureza do solo envolvendo principalmente as suas características físicas e morfológicas tais como textura estrutura permeabilidade dentre outras b ligadas à morfologia do terreno envolvendo a conformação da encosta no que se refere principalmente à declividade e comprimento da encosta e c ligados ao clima envolvendo essencialmente a quantidade de água que atinge a superfície do terreno causando remoção do solo através de chuvas A EUPS Equação Universal de Perda de Solos de Wischmeier Smith 1978 tem sido uma das mais importantes referências para o cálculo de perda de solo associado à erosão laminar A equação é expressa pela seguinte relação ARKLSCP onde A perda de solo thaano R erosividade poder erosivo das chuvas Mjmmhahano K erodibilidade do solo suscetibilidade dos solos à erosão th Mjmm LS fator topográfico declividade e comprimento da vertente adimensional C fator usocobertura vegetal e manejo adimensional P fator práticas conservacionistas adimensional Para Salomão et al 1990 a perda de solos por erosão laminar acelerada desencadeada pela ocupação humana erosão antrópica depende de fatores naturais que podem ser agrupados em três conjuntos ligados à natureza do solo envolvendo principalmente as suas características físicas e morfológicas tais como textura estrutura permeabilidade etc a erodibilidade K ligados à morfologia do terreno envolvendo a conformação da encosta no que se refere principalmente à declividade e comprimento da encosta o fator topográfico LS ligados ao clima envolvendo essencialmente a quantidade de água que atinge a superfície do terreno causando remoção do solo através de chuvas a erosividade R Primeiramente serão explicitados os fatores que compõem esses três conjuntos naturais Em seguida os fatores C usocobertura vegetal e manejo e P práticas conservacionistas que constituem os fatores antrópicos Erosividade R O fator erosividade R é um índice numérico que expressa a capacidade da chuva em causar erosão em uma área sem proteção Bertoni Lombardi Neto 1990 É a influência da chuva sobre as perdas de solo desde que todas as outras variáveis permaneçam constantes ou seja a erosividade é a capacidade potencial da chuva em causar erosão ao solo Stein et al1987 Os valores de erosividade foram obtidos pela fórmula sugerida por Lombardi Neto 1977 cujos índices foram propostos pelo próprio autor com base nos dados disponíveis sobre precipitações pluviométricas e adaptados para a região de Goiás Nascimento 1998 EI 89823 p2 P0759 onde EI índice médio de erosividade por um período anual p precipitação média mensal P precipitação média anual Bertoni Lombardi Neto 1990 demonstraram que os valores obtidos em EI traduzem com razoável precisão os valores de EI 30 utilizandose apenas totais de precipitação em milímetros Erodibilidade K A erodibilidade referese às propriedades inerentes ao solo textura estrutura porosidade e profundidade e reflete a sua suscetibilidade à erosão Uma descrição diagramática do processo erosivo está ilustrada na representação adiante Fig 413 Bertoni Lombardi Neto 1990 destacam dentre as propriedades do solo que influenciam na erosão aquelas que controlam a velocidade de infiltração da água a permeabilidade e a capacidade de absorção e aquelas ligadas à coesão que resistem à dispersão ao salpicamento à abrasão e às forças de transporte da chuva e enxurrada Fator Topográfico LS O relevo é um dos fatores mais importantes no condicionamento da erosão pois o modelado terrestre é constituído em sua maior parte por vertentes O cálculo do fator topográfico é um dos mais complexos na equação de perda de solos Várias metodologias foram elaboradas por diversos autores na tentativa de uma melhor representação dessa variável Continuase ainda procurando a melhor forma de se efetuar esse cálculo Uma limitação a todas as tentativas é o fato de se considerar a uniformidade da paisagem não se levando em consideração o perfil da vertente seja côncavo convexo ou retilíneo o que pode subestimar ou superestimar as perdas de solos O comprimento da vertente é entendido como a distância entre dois pontos extremos um mais elevado outro mais baixo de igual declividade visto que havendo mudança no ângulo do declive há mudança de processos erosivos que afetam a perda de solo Utilizandose o conceito tradicional de vertente em geomorfologia consideramse aqui os segmentos de vertentes e não a vertente toda do interflúvio ao vale A interação dessas duas variáveis declividade e extensão das vertentes no condicionamento de perdas de solo levaram Bertoni Lombardi Neto 1990 a considerarem mediante formulação específica maior influência da declividade S em relação ao comprimento da vertente L Na equação LS 000984L 063 S 118 L é o comprimento da vertente em metros e S a declividade em porcentagem Fator UsoManejo e Práticas Conservacionistas CP O fator Uso e Manejo do solo C é definido como a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno cultivado em dadas condições tipo de cobertura vegetal seqüência de culturas e práticas de manejo e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente descoberto e cultivado Wischmeier Smith 1965 Bueno 1994 esclarece que o uso e o manejo são considerados individualmente quando se buscam formas mais adequadas de produção agrícola em harmonia com o meio físico entretanto ao enfocar perdas de solo por erosão essas variáveis estão intrinsecamente relacionadas não se podendo analisálas separadamente O uso de uma gleba de terreno pode ser estabelecido sob diferentes manejos tanto quanto um mesmo manejo pode ser aplicado a vários usos Cada combinação refletirá uma determinada perda de solos O fator P da equação é definido por Bertoni Lombardi Neto 1990 como sendo a relação entre a intensidade esperada de perdas em culturas adotando determinada prática conservacionista e as perdas que acontecem quando a cultura está plantada no sentido do declive morro abaixo ou seja desprovida de qualquer preocupação conservacionista Os autores relacionam como práticas conservacionistas mais comuns o plantio em contorno o plantio em faixas de contorno o terraceamento e a alternância de capinas A cada tipo de prática atribuem um valor numérico Oliveira 1999 destaca como principais exemplos de feições erosivas relacionadas ao fluxo por terra os pedestais demoiselles os sulcos e ravinas e por fim as boçorocas as quais passam a ser analisadas a seguir Os pedestais demoiselles indicam a ocorrência de salpicamento splash intercalado com remoção das partículas pelo escoamento superficial Em geral essas feições são formas residuais esculpidas abaixo de um objeto cuja densidade não permitiu a sua remoção grânulos e seixos de minerais variados São muito comuns no interior de incisões erosivas ou em vertentes desprovidas de vegetação e fornecem de imediato um parâmetro para estimar a taxa de ablação pluvial da superfície nas quais são esculpidas Oliveira 1999 c fluxo concentrado Os sulcos e ravinas referemse a feições relacionadas ao fluxo concentrado Encontramse relacionados ao fluxo por terra que se concentra em função das condições topográficas caminhos preferenciais entendidos como rotas de organização do escoamento superficial O fenômeno encontrase associado às características dos componentes intrínsecos como declividade e resistência mecânica dos agregados que compõem o material intemperizado favorecendo o grau de incisão vertical da erosão comandada pela ação remontante Diante disso além da gênese de sulcos ou ravinamentos observamse outras formas associadas ao processo como as alcovas de regressão feições erosivas na forma de filetes subverticais dutos de convergência dentre outras Oliveira 1999 ressalta a existência de dutos de convergência e caneluras comuns em incisões de pequeno porte e entre sulcos ou ravinas descontínuas marmitas ou panelas plungingpool associadas a processos evorsivos por quedas dágua na base de taludes ou degraus no interior de boçorocas bem como quedas de areia vinculadas à liquefação espontânea de materiais inconsolidados e nãocoesivos e quedas de torrões correspondentes a movimentos de massa associados ao solapamento da base de taludes As boçorocas designação mais apropriada considerando a derivação do tupiguarani ibçoroc terra rasgada rasgão no solo desenvolvemse por processos análogos aos dos vales aprofundamse por erosão vertical alongamse por erosão regressiva e alargamse por degradação das encostas Leuzinger 1948 As erosões por boçorocas constituem o estágio mais avançado da erosão sendo caracterizadas pelo avanço em profundidade das ravinas até atingirem o lençol freático ou o nível dágua do terreno A intersecção da superfície do terreno com o nível dágua propicia a erosão interna ou piping que além de promover a remoção de material do fundo e das paredes da boçoroca pode avançar para o interior do terreno carreando material em profundidade e formando vazios no interior do solo Estes vazios têm a forma de tubos piping ou entubamento que ao atingirem proporções significativas dão origem a colapsos ou desabamentos que alargam ou criam novos ramos na boçoroca IPT 1991 Estudos realizados por Casseti 198788 nos desbarrancados de PalmeloGO considerou a participação das seguintes variáveis no processo erosivo Fig414 a precipitação intensidade e freqüência b topomorfologia gradiente comprimento de rampa e forma geométrica e c formação superficial estrutura e textura Como variáveis extrínsecas foram consideradas as derivações antropogênicas Para o IPT 1989 três características mostraramse fundamentais para o desenvolvimento da erosão por ravinas e boçorocas a textura evidenciandose forte susceptibilidade exclusivamente em solos com textura arenosa e média a estrutura registrandose maior incidência de ravinas e boçorocas em solos de estrutura prismática e a profundidade do solo pois não se constata ocorrência de boçoroca de grande porte em solos rasos Quanto ao relevo registrase como fator de vulnerabilidade as rupturas de declives geralmente situadas em cabeceiras de drenagens Quanto ao substrato rochoso observase maior vulnerabilidade nos solos relacionados a formações areníticas ou rochas cristalinas quartzosas bem como sedimentos de origem alúvio coluvionar de meia encosta A ação antrópica tem uma participação muito grande na elaboração de ravinas e boçorocas tanto relacionada ao processo de ocupação quanto a obras de engenharia sem adoção de medidas mitigadoras O IPT agrupa as boçorocas em dois grandes tipos quanto à gênese a causadas por alterações hidrológicas das bacias de contribuição das drenagens associadas a desmatamentos e b originadas por concentração das águas superficiais O primeiro grupo encontrase relacionado a desequilíbrio hidrológico gerando alterações no regime de vazões e criando condições para o surgimento do piping com conseqüente erosão remontante fenômeno conhecido como retomada de erosão de cabeceiras O segundo grupo encontrase vinculado ao lançamento concentrado de águas pluviais e servidas em drenagens como nas seções periurbanas ao longo de estradas áreas de manejo agrícola inadequado trilhas de gado entre outras A intensificação do fluxo por terra escoamento é proporcional ao declive ao comprimento de rampa e ao grau de convexidade da vertente demonstrando tendência à susceptibilidade erosiva sobretudo quando outras variáveis são ativadas como a suscetibilidade erosiva da formação superficial e intervenções antropogênicas Enquanto o gradiente e o comprimento da vertente implicam aumento da energia cinética do escoamento pluvial a disposição geométrica responde por processos mais complexos No esquema proposto por Ruhe 1975 por exemplo a forma convexa proporcionaria o predomínio do fluxo laminar com velocidade crescente em função do gradiente ao contrário da forma côncava que tenderia à redução dessa velocidade As formações superficiais juntamente com as derivações antropogênicas abertura de estrada morro abaixo por exemplo respondem por compactação e impermeabilização da superfície implicam redução da infiltração resistência à penetração do sistema radicular e conseqüente aumento do escoamento intensificando o potencial erosivo Quanto maior a vulnerabilidade do material como os arenosos maior a propensão à erosão a exemplo das formações superficiais associadas à intemperização dos arenitos mesozóicos de fácie eólica A complexidade dos processos erosivos responsáveis pela gênese de boçorocas tem sido mencionada em diversos trabalhos destacando Guidicini Nieble 1976 Bigarella Mazuchowski 1985 Cavaguti 1994 dentre outros Selby 1994 observa que as boçorocas se formam quando pelo menos três fatores se fazem presentes aumento local da declividade concentração de fluxos de água e remoção de cobertura vegetal Oliveira 1999 apresenta modelo evolutivo de boçorocas modificado de Oliveira Meis 1985 e Oliveira 1989 São três os principais modelos apresentados boçoroca conectada à rede hidrográfica boçoroca desconectada da rede hidrográfica e integração entre os dois tipos Fig 415 O autor relata que as taxas de erosão foram mais importantes no sistema conectado 250429 m 3 ano 1 do que no desconectado 4815 m 3 ano 1 e se relacionam com chuvas concentradas durante os meses que caracterizam o verão úmido da área de estudo período no qual a sinergia entre mecanismos individuais pode atingir mais eficiência na remoção do material Durante o período de monitoramento 12 anos as incisões desconectadas expandiramse para montante e construíram um cone de dejeção a jusante já a incisão conectada à rede de drenagem expandiuse para montante linearmente ao longo de 8315 m Oliveira 1999 O autor apresenta esquema das principais rotas de fluxo no momento da integração entre boçoroca conectada e desconectada Fig 416 Em síntese à extensão regressiva da incisão conectada estaria associada a dissecação linear da incisão desconectada Oliveira 1999 Cadastramento de erosão realizado na área urbana e periurbana de GoiâniaGO por Nascimento 1994 evidencia os principais fatores responsáveis por boçorocamentos entre os quais destacase o crescimento desordenado da cidade sobretudo nos dez últimos anos com lançamento de esgoto e águas servidas através de galerias pluviais à meiaencosta e o subdimensionamento dessas obras Erosão associada ao escoamento de subsuperfície O escoamento de subsuperfície pode carrear quantidade variável de grãos de solo partículas de argila e outros colóides além de material em solução iônica Algumas mudanças de estado se dão durante o transporte tornandose impraticável a distinção rígida entre dissolução e transporte em suspensão Dentre os fatores que geram fluxo de subsuperfície podem se considerar as descontinuidades de horizontes pedogênicos e os contatos litoestratigráficos diferenciados por fatores texturais No primeiro caso destacamse os solos com horizonte B textural Bt como os Podzólicos Brunizéns dentre outros que em função da elevada concentração da argila no horizonte iluvial proporciona fluxo de subsuperfície paralelo à camada menos permeável Nos contatos litoestratigráficos como das estruturas sedimentares portadoras de texturas diferenciadas a exemplo dos patamares da serra da Portaria ParaúnaGO entre camadas arenosas e silto argilosas o confinamento da água percolada implica gênese de fontes de camada e aluição de material associado ao piping O fenômeno pode se dar também nos casos de litologia subjacente impermeável como dos basaltos portadores de maior macividade responsáveis pelo armazenamento da água percolada implicando fluxo de subsuperfície Nos exemplos apresentados registramse forças de ação de natureza física e química no material intemperizado As forças físicas se manifestam através da viscosidade ao longo das margens do fluxo cuja magnitude encontrase relacionada à porosidade da seção Forças eletroquímicas assumem maior importância sob pequenas partículas partículas coloidais e partículas moleculares Dentre os processos que aparecem em tais circunstâncias evidenciase o piping comumente relacionado às diferenças texturais de seqüências litoestratigráficas ou de horizontes pedológicos estruturais que respondem por escoamento de subsuperfície podendo ser acompanhado pela solução química de certos componentes minerais O processo evolutivo de formas associadas ao piping responde pela origem de sistema de cavernas ou dutos Na área de saída do fluxo confinado podese ter a presença de alvéolos nas paredes também denominados de alcovas de regressão por encontraremse associadas à erosão remontante A ação coloidal se constitui na principal forma de erosão associada à água de subsuperfície Para Hurst 1975 os sistemas coloidais importantes para o intemperismo são notadamente as suspensões nas quais a fase dispersa é matéria orgânica ou mineral e o meio dispersante é água ou solução aquosa As partículas do tamanho de colóide podem naturalmente resultar de precipitação dissolução degeneração bacteriológica ou trituração física pulverização Como exemplo de mobilidade dos elementos coloidais temse os silicatos que se quebram em solução variada e reações de troca iônica os íons que estão dissolvidos ou fixos aos colóides dispersos podem ser transportados pela água subterrânea para longe do seu ponto de origem Produtos de decomposição menos solúveis ou adsorvidos6 por géis7 tendem a permanecer onde se originaram concentrandose como produtos residuais do intemperismo 42 Relação VertenteSistema Hidrográfico O conceito de vertente lato sensu trata das relações entre os processos inerentes à vertente stricto sensu e suas relações com o sistema hidrográfico correspondente ao nível de base local Assim ao mesmo tempo em que qualquer alteração no nível de base produz modificações nos processos erosivos sobre a vertente stricto sensu também estes podem gerar conseqüências no nível de base ou até mesmo no sistema hidrográfico No primeiro caso os ajustamentos tectônicos e as alterações climáticas geram alterações processuais a exemplo do provável soerguimento ocorrido entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno responsável pelo alçamento de terraços fluviais que por sua vez ativaram os processos erosivos locais As oscilações climáticas pleistocênicas ora responderam pelo entulhamento de talvegues em função do recuo paralelo de vertentes em condições de semiaridez ora intensificaram a retirada do material depositado dada a reorganização do sistema hidrográfico com o retorno do clima úmido O entulhamento mencionado produzia alterações morfogenéticas aceleração denudacional alterando as relações processuais na vertente stricto sensu redução denudacional No segundo caso há de se considerar as derivações antropogênicas nas vertentes que após desmatamento sofre aceleração das atividades erosivas com perdas de solo levando ao assoreamento de canais elevação do nível de base Essa relação pode ser evidenciada no sistema de referência de Penck 1924 quando afirma que a vertente evolui em função da disposição do talvegue correspondente ao nível de base para o comportamento dos processos morfogenéticos Também pode ser considerada na teoria biorresistásica de Erhart 1956 tanto na condição de biostasia quanto na de resistasia Na condição de biostasia a cobertura vegetal é responsável pelo domínio da componente perpendicular responsável pela pedogenização Essa por sua vez permite o armazenamento de grande potencial hídrico que por efluência abastecerá o curso dágua que deverá ser perene Na condição de resistasia associada à ocupação humana da vertente os processos se alteram O aumento da erosão laminar e da concentração promove o assoreamento do sistema de drenagem podendo colocar em risco a vida útil de barragens e açudes e provocar problemas em todo o sistema fluvial Além disso a deficiência hídrica do solo apresenta reflexos na perenidade dos cursos dágua Os agentes do intemperismo representados principalmente pelo escoamento superficial erosão laminar e concentrada além de responder por assoreamento do sistema de drenagem promovem deficiência hídrica no solo com reflexos na intermitência ou efemeridade dos canais fluviais Em condições de agravamento de impactos gerando desequilíbrio biostásico tem se registrado a implementação de medidas lineares ou pontuais quando o problema é de natureza areolar ou zonal Como exemplo o assoreamento nas áreas urbanas tem sido combatido com a dragagem de canais uma interferência exclusiva no sistema linear no próprio leito do rio quando as causas correspondem a uma dimensão areolar a vertente como um todo Uma das mais sérias conseqüências provocadas pelo assoreamento dos cursos dágua e de reservatórios é a disritmia quanto à recorrência de enchentes e a perda de capacidade de armazenamento dágua gerando problemas de abastecimento e de produção de energia Levantamento sedimentométrico realizado por Casseti 1989 no baixo ribeirão João Leite município de GoiâniaGO demonstra as conseqüências ambientais decorrentes do processo de ocupação e transformação das vertentes marginais A perda de solo estimada através da concentração de sedimentos em suspensão identifica estreita correlação com o total pluviométrico embora com certo retardo Fig 417 A título de exemplo o máximo de concentração constatado na série 198788 de 3092 mgl janeiro de 1988 não foi determinado pela intensidade ou duração pluviométrica imediata pluviofase que correspondeu a menos de 40 mmdia mas pelo comportamento anterior que evidenciava estado de saturação hídrica da superfície capacidade de campo Os dados obtidos na série hidrológica de um ano de observação permitiram inferir a existência de um transporte médio de sedimento em suspensão da ordem de 11171 tdia registrandose máxima de 77110 tdia associada à ocorrência de enchente abril de 1988 Considerando um transporte anual de 4077415 t de sedimentos em suspensão estimouse para a bacia uma perda de solo aproximada de 0529 toneladashectareano thaa o que pode ser atribuído ao processo de ocupação Tais valores encontramse muito além dos obtidos através de levantamentos em parcelas experimentais Casseti 1983 associadas à mata perda de 021 thaa ou pastagens 0130 thaa porém bem aquém das áreas de cultivo como do arroz 41650 thaa 43 Exemplo de alterações processuais por intervenção antrópica na vertente Dentre os principais problemas relacionados ao processo de ocupação de vertentes destacamse as atividades erosivas geralmente determinadas pelas seguintes causas IPT 1991 Remoção da vegetação Concentração de águas pluviais Exposição de terras susceptíveis à erosão Execução inadequada de aterros O efeito splash se constitui na etapa inicial da erosão seguido pelo escoamento da água sobre a vertente responsável pela retirada e transporte do material desagregado Tais efeitos resultam via de regra da remoção da cobertura vegetal quando da ocupação da vertente agravandose com a remoção de parte dos depósitos de cobertura capa protetora natural contra a erosão A concentração da água pluvial proporciona o aumento da energia cinética que em contato com a superfície exposta desencadeia o processo de erosão Também os diferentes tipos de material que compõem o depósito de cobertura reagem aos efeitos erosivos em função do comportamento destes com destaque para a origem e a textura A exposição do terreno decorrente do decapeamento da vertente por atividades mecânicas movimento de terra é um fator indutor de processos erosivos pela ação da água Se não forem tomadas medidas mitigadoras imediatas há o risco de comprometer irremediavelmente toda a área Outro aspecto causador das atividades erosivas é a construção inadequada de aterro como o simples lançamento de material sobre a superfície natural sem a devida compactação tornando a área suscetível à erosão e comprometendo rapidamente a obra As causas relatadas implicam intensificação dos processos erosivos considerando a tendência de agravamento determinado pelas derivações antropogênicas O rastejo ou creeping pode ser incrementado com a execução de cortes na extremidade média inferior da vertente interferindo na precária estabilidade de uma vertente de inclinação moderada a forte Dentre as principais causas associadas à intervenção humana na indução de escorregamentos destacamse IPT 1991 Lançamento e concentração de águas pluviais Lançamento de águas servidas Vazamentos na rede de abastecimento de água Fossa sanitária Declividade e altura excessivas de cortes Execução inadequada de aterros Deposição de lixo Remoção indiscriminada da cobertura vegetal O IPT 1991 propõe como principais medidas para o gerenciamento de encostas ocupadas a análise ou o diagnóstico de risco e o quadro legal correspondente à legislação concernente ao uso do solo a Análise de risco Entendese por risco a possibilidade de perigo perda ou dano do ponto de vista social e econômico a que a população esteja submetida caso ocorram escorregamentos e processos correlatos IPT 1991 p73 Para prever ou atenuar a possibilidade de riscos tornamse necessárias observações e registros de indicadores de instabilidade tanto naturais quanto produzidos pelas derivações antropogênicas prognosticados sob a ótica das possíveis conseqüências erosivas Propõe metodologia que pode ser assim caracterizada Tab43 Tab 43 Metodologia de ação para diagnóstico de risco b Quadro Legal A caracterização do meio físico deve ser complementada com informações referentes ao quadro legal isto é devese verificar as relações legais à ocupação do solo que existem em nível federal e estadual e se houver em nível municipal Importa ressaltar que a competência dos Municípios nesta matéria é ampla IPT 1991 p74 Apresentamse algumas observações quanto à legislação existente importantes no planejamento da ocupação de áreas de risco A Constituição Federal de 1988 com o objetivo de promover melhor ordenamento do uso e ocupação do solo urbano estabelece em seu Artigo 182 a exigência de Planos Diretores para cidades com mais de 20 mil habitantes A Constituição do Estado de Goiás promulgada em 1989 ratifica em seu Art 85 a exigência de Planos Diretores para localidades com mais de 20 mil habitantes observando a necessidade de serem consideradas as condições de riscos geológicos bem como a localização das jazidas supridoras de materiais de construção e a distribuição volume e qualidade de águas superficiais e subterrâneas na área urbana e sua respectiva área de influência parágrafo 3 º do Art 85 A Constituição do Município de Goiânia além de fazer referência às condições de riscos geológicos e qualidade das águas superficiais e subterrâneas quando da elaboração do Plano Diretor parágrafo 5 º do Art 157 expressa proibições quanto à ocupação ou uso de áreas que implique impacto ambiental negativo como as planícies de inundação ou fundos de vale incluindo as nascentes e as vertentes com declive superior a 40 Art 202 No Art 203 proíbe o desmatamento de toda e qualquer área sem prévia autorização bem como qualquer forma de uso do solo em compartimentos topográficos de risco definidos no Plano Diretor como fundos de vale planícies de inundação ou declives superiores a quarenta por cento O IPT 1991 apresenta capítulo específico voltado ao planejamento da ocupação de encostas partindo do necessário reconhecimento dos graus de risco ou vulnerabilidade do meio físico Esse diagnóstico utiliza elementos como cartas de declividade do terreno comportamento do material formações superficiais e características litológicoestruturais intensidades pluviométricas dentre outros A produção de cartas temáticas culmina na elaboração de Carta Geotécnica responsável pela espacialização de áreas permissíveis ou restritivas ao uso e ocupação dos compartimentos A cartasíntese que tem por princípio subsidiar a gestão do território permite a identificação de áreas produtivas e críticas bem como das áreas institucionais que levam em consideração as restrições legais O manual do IPT 1991 chama atenção para as principais leis aplicáveis aos municípios onde se deve considerar parcelamento urbano apenas em regiões que integrem efetivamente o perímetro urbano do município setorização da cidade em zonas de uso industrial comercial residência etc exame pela Prefeitura do projeto de ocupação assegurando a conexão adequada ao sistema viário circundante enquadramento às posturas municipais referentes a loteamentos arruamentos córregos drenagens etc Em nível estadual e federal as principais leis estão relacionadas a faixas não edificáveis ao longo de ferrovias rodovias dutos linhas de transmissão córregos etc preservação ambiental de áreas específicas constantes do Código Florestal dentre outras características a serem adotadas nos loteamentos Lei 676679 e leis estaduais correspondentes São feitas considerações quanto à definição do traçado mais favorável do arruamento tendo por princípio acompanhar as condições naturais do terreno evitandose ao máximo os movimentos de terra interferências do traçado do sistema viário sobre os lotes e drenagem além de estabeleceremse critérios para a concepção de loteamentos definição de formas e áreas de lotes mais favoráveis definição de quadras mais favoráveis drenagens e esgotamento sanitários em grupos de lotes concepção das habitações tipologia básica de projetos de habitações específicas para encostas e projetos de reurbanização 431 Problemas relacionados aos fundos de vale Considerando os compartimentos morfológicos em Goiânia GO com exceção dos Planaltos Residuais e alguns pontos isolados do município a declividade não é tão significativa a ponto de merecer maior preocupação no que se refere aos movimentos de massas Por outro lado a ocupação dos fundos de vales e planícies de inundação tem se constituído em motivo de maior atenção dado o volume de impactos assistidos No exemplo referente ao quadro legal observouse que a legislação municipal restringe o uso e ocupação de fundos de vale e planícies de inundação contudo a apropriação clandestina de tais compartimentos de risco tem contribuído para o desencadeamento de uma série de problemas de natureza sócioambientais Cunha 2000 ao diagnosticar os impactos socioambientais decorrentes da ocupação da Vila Roriz localizada na coalescência das planícies de inundação do rio Meia Ponte e do ribeirão Anicuns em GoiâniaGO evidenciou os reflexos hidrodinâmicos dos depósitos tecnogênicos construídos pelo poder público Fig 319 No perfil apresentado pelo autor constatase a existência de um conjunto clástico com mais de 4 m de espessura assentado sobre depósitos aluvionares holocênicos O aterro é composto por entulhos domésticos material arenoargiloso cascalhos e restos de material de construção Inuma sedimentos siltoarenosos mal estratificados com artefatos tecnogênicos material de construção Logo abaixo temse argila avemelhada mal estratificada contendo grãos e fragmentos de laterita e quartzo e um horizonte de laterita concrecionada associado a ações tecnogênicas induzidas ou seja decorrentes das derivações antropogênicas Por fim aparecem as paleoaluviões sobre o substrato cristalino Cálculos baseados em estimativas comparativas apresentadas por Cunha 2000 na planície de inundação do ribeirão Anicuns entre a Vila Roriz e o Setor Gentil Meireles levam a admitir que foram produzidos 2906000 m 3 de sedimentos pela ação indireta do homem associada ao uso e ocupação da bacia e 2480000 m 3 de material pela ação direta como os aterros e botaforas construídos Considerandose os depósitos indiretos e os diretos temse uma coluna tecnogênica com espessura média em torno de 7 m O cotejamento desses dados com aqueles obtidos por Casseti 1983 em área de cultura mostra que na área em estudo a produção de sedimentos resultantes da ação indireta do homem é 3362 maior Cunha 2000 Quando o autor leva em consideração todos os depósitos tecnogênicos diretos e indiretos este percentual é exponencializado para 6872 mostrando a grande diferença existente entre a produção de sedimentos nas duas situações Isto quer dizer que a ação ou efetuação humana sobre a natureza difere da efetuação ou autoorganização natural São vetores distintos não colineares A efetuação humana é considerada pois como uma força metamorfoseadora que a face da Terra jamais experimentou Cunha 2000 Com o objetivo de se promover atualização cadastral das erosões levantadas por Nascimento 1994 no município de Goiânia Nascimento Sales 2003 apresentaram importantes subsídios ao processo de ordenamento urbano Com base na metodologia desenvolvida por Salomão Rocha 1989 diagnosticaram as erosões considerando os componentes geoambientais identificaram os principais fatores responsáveis pelos impactos erosivos e fizeram observações quanto ao grau de risco e propostas de medidas mitigadoras Com relação aos componentes da paisagem observase que 571 das erosões ocorrem sobre terrenos resultantes da intemperização de xistos e quartzitos do Grupo Araxá e os 429 restantes em estruturas granulíticas do Complexo Goiano Quanto aos solos registrase que 811 das ocorrências de erosão encontramse associadas àqueles portadores de horizonte B latossólico Bw sendo 382 em Latossolo Vermelho Escuro distrófico LEd 286 em Latossolo Roxo distrófico LRd e 143 em Latossolo VermelhoAmarelo distrófico LVd Apenas 78 das erosões encontramse associadas a solos portadores de horizonte B incipiente B como os Cambissolos ou Solos Litólicos Rd Esse fato demonstra que a gênese dos processos erosivos não apresenta uma relação direta com o grau de vulnerabilidade da natureza visto que os solos além de portadores de alto desenvolvimento físico normalmente encontramse representados por textura argilosa ou muito argilosa o que normalmente determina maior resistência dos agregados O volume de material erodido e transportado segundo as bacias hidrográficas encontra se relacionado a seguir Tab44 Tabela 44 Volume de terra transportada segundo bacias hidrográficas urbanas Dentre os fatores responsáveis pela gênese dos impactos erosivos destacamse Tab45 os problemas relacionados às galerias pluviais motivados pelo subdimensionamento de tubulações lançamento de água pluvial em cabeceira de drenagem ou lançamento de água pluvial a meia encosta Além de não se ter o cuidado adequado quanto ao lançamento da água coletada ausência de dissipadores de energia por exemplo não se levam em consideração as intensidades pluviométricas do período de chuvas quando da construção de receptores ou condutores da água Tabela 45 Origem das erosões Os impactos erosivos associados ao escoamento concentrado encontramse vinculados à construção de ruas sem pavimentação ou de coletores de água pluvial geralmente despejadas morro abaixo acompanhando a declividade da vertente Dentre os principais danos infraestruturais levantados destacamse os riscos em residências e vias públicas em decorrência dos processos erosivos Após diagnosticarem Nascimento Sales op cit as medidas de combate adotadas pela Prefeitura Municipal apresentam sugestões para ações preventivas e corretivas chamando atenção para o necessário ordenamento territorial que leve à preservação de fundos de vale e a relocação de habitantes de áreas inadequadas A principal forma de combate às erosões adotadas pela Prefeitura Municipal de Goiânia encontrase relacionada a aterramento de ravinas e boçorocas sem maiores preocupações com a compactação desse material com o assoreamento provocado por um provável deslocamento do material e com o seu barramento a jusante O procedimento leva em consideração a necessidade de descarte da grande quantidade de entulho gerado pela construção civil juntamente com lixo doméstico e restos de podas de árvores Como medidas preventivas ou corretivas os autores apresentam sugestões de acordo com as especificidades do problema Tab46 Tabela 46 Medidas de combate sugeridas Para a maior parte das erosões foi sugerida a construção de galerias pluviais Isso se justifica por detectar que a maior causa das erosões é a própria galeria pluvial 571 dos casos Elas são construídas em regiões instáveis como cabeceiras de drenagem ou margens de cursos dágua e essa instabilidade natural em ambientes fluviais provoca seu desmantelamento O lançamento das águas pluviais e servidas a meia encosta também é um fator gerador de erosões Outra causa de erosão é o escoamento concentrado gerado pela ausência da galeria pluvial 365 dos casos A água pluvial escoa acompanhando a declividade do terreno e nesse trajeto abre sulcos que rapidamente se transformam em ravinas que podem passar a boçorocas A construção de galerias pluviais nessas áreas é prioritária para disciplinar o caminho das águas Nascimento Sales 2003 O solapamento associado à erosão remontante observado com freqüência na base das galerias pluviais leva à destruição de obras e queda de tubulões no fundo da erosão A pavimentação asfáltica é outra forma de prevenir as erosões nas áreas urbanas e de melhorar a qualidade de vida das populações mas deve ser antecedida por redes de água e de esgoto e meiofio e não simplesmente colocada a massa asfáltica sem essa infraestrutura A pavimentação sem a infraestrutura apropriada como sarjetas e galerias pluviais promove a concentração das águas nas laterais das ruas e avenidas acelerando o processo erosivo O reflorestamento é indicado na maioria das áreas marginais aos cursos dágua como forma de recuperação da mata ciliar e contenção do processo erosivo A vegetação promove maior infiltração das águas da chuva e protege a camada superficial do solo da erosão associada ao escoamento concentrado Também em áreas de solo degradado pela retirada de material para pavimentação ou para outro tipo de material de construção áreas de empréstimo deve ser feita a recomposição morfopedológica e revegetação como forma de prevenção da instalação dos processos erosivos Outras medidas como suavização dos taludes construção de meiofio ou guias e sarjetas têm por objetivo captar a água de escoamento superficial De acordo com o manual de Ocupação de Encostas IPT 1991 em vias não pavimentadas recomendase proteger a faixa ao longo das sarjetas com solo argiloso e brita solo melhorado com cimento ou grama visando evitar o surgimento de erosões Para os casos de declives abruptos sugerese a construção de escadas dágua ou dissipadores de energia como forma de se minimizar a velocidade do escoamento e movimento de terra Nas áreas rurais ou periurbanas a construção de curvas de nível é imprescindível como forma de se evitar o fluxo da água superficial para o interior da erosão A canalização de nascentes de cursos dágua é uma medida necessária principalmente em casos de piping quando a água verte do talude e promove a formação de verdadeiras tubulações que insidiosamente provocam abatimentos no terreno De acordo com Salomão Rocha 1989 tratar as águas superficiais provenientes do lençol freático ou do lençol suspenso é um dos maiores desafios existentes na execução de obras em boçorocas estando pouco desenvolvidas por não haver técnicas totalmente eficazes A ação das águas subterrâneas é apontada como uma das causas do desenvolvimento lateral das boçorocas Quando a boçoroca atinge o lençol freático os mecanismos de erosão são intensificados em função do surgimento de um gradiente piezométrico que ao emergir no pé do talude apresenta suficiente força para deslocar partículas sólidas podendo estabelecer o processo de erosão tubular regressiva entubamento ou piping Ocorre também a liquefação do material arenoso pela lenta percolação de água junto à parede da boçoroca ocorrendo uma diminuição da coesão do solo e conseqüente solapamento do talude O tratamento convencional é feito com a aplicação de drenos enterrados visando à drenagem das águas subsuperficiais de maneira a impedir o arraste do solo pelo piping Nascimento Sales 2003 Ao mesmo tempo em que o homem ultrapassa limitações de uso ou ocupação de áreas naturalmente restritivas como relevo íngreme ou faixas de inundação a apropriação desordenada de áreas mesmo daquelas consideradas de baixa vulnerabilidade natural pode gerar impactos de elevado custo socioeconômico ambiental a exemplo de Goiânia onde mais de 80 das erosões ocorrem em Latossolos considerados de baixa suscetibilidade erosiva A melhor alternativa em tais circunstâncias seria a de se promover a preservação de áreas portadoras de vulnerabilidade erosiva com a relocação das já ocupadas e ao mesmo tempo adotar práticas restritivas a eventuais impactos erosivos em áreas de baixa vulnerabilidade como o adequado dimensionamento de galerias pluviais nas áreas urbanas e destinação adequada das águas superficiais dentre outras Notas de Rodapé 1 O conceito de Landschaftshülle resulta da composição da die Landschaft die Hülle ou seja da paisagem o invólucro ou a epiderme 2 Corresponde ao cizalhamento ou deslocamento do material em relação ao suporte após ultrapassar o limite de resistência determinado pelo atrito 3 O esforço é uma magnitude vetorial determinada pela força por unidade de área A deformação é o término técnico que denota a alteração de um material e se expressa com a mudança das dimensões originais de um corpo Rice 1983 4 Com base nos trabalhos de Horton 1945 e Dunne 1980 duas são as principais origens para a formação do escoamento o fluxo superficial hortoniano e o fluxo subsuperficial de saturação Coelho Netto 1998 O segundo caso encontrase condicionado ao grau de armazenamento de água capacidade de campo na subsuperfície 5 Por relação de relevo entendese a relação existente entre a diferença de altura de uma vertente início dos processos em relação ao nível de base local e o comprimento considerando sua extensão horizontal 6 Adsorção referese à fixação de moléculas de uma substância o adsorvato na superfície de outra substância o adsorvente 7 Gel Sistema coloidal constituído por uma fase dispersora líquida e uma fase dispersora sólida e que apresenta propriedades macroscópicas elasticidade manutenção de forma etc parecidas às dos sólidos Referências Bibliográficas Abreu AA Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1982 AbSáber AA Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário Geomorfologia S Paulo IgeogUSP 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Wishcmeier WH Smith DD Predicting rainfallerosion losses a guide to conservation planning US Department of Agriculture Washington USDA 1978 48p Handbook 537 Cartografia geomorfológica 5 Cartografia Geomorfológica 51 Parte de legenda dados estruturais proposta por Tricart 1965 52 Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas Dar ênfase aos níveis de abordagem da representação geomorfológica morfométrico morfográfico morfogenético e morfocronológico Considerar a representação geomorfológica segundo escalas taxonômicas chamando atenção para aspectos ligados à geomorfologia funcional 5 Cartografia Geomorfológica A Cartografia Geomorfológica se constitui em importante instrumento na espacialização dos fatos geomorfológicos permitindo representar a gênese das formas do relevo e suas relações com a estrutura e processos bem como com a própria dinâmica dos processos considerando suas particularidades Para Tricart 1965 o mapa geomorfológico refere se à base da pesquisa e não à concretização gráfica da pesquisa realizada o que demonstra seu significado para melhor compreensão das relações espaciais sintetizadas através dos compartimentos permitindo abordagens de interesse geográfico como a vulnerabilidade e a potencialidade dos recursos do relevo Ao se elaborar uma carta geomorfológica devemse fornecer elementos de descrição do relevo identificar a natureza geomorfológica de todos os elementos do terreno e datar as formas Ross 1996 Muitas são as propostas existentes para a representação do relevo A maior unanimidade entre elas referese à questão do conteúdo geral dos mapas independentemente da maneira de representação gráfica que geralmente provoca divergência entre as diversas tendências Portanto o que parece mais problemático é a questão relativa à padronização ou uniformização da representação cartográfica pois ao contrário de outros tipos de mapas temáticos não se conseguiu chegar a um modelo de representação que satisfaça os diferentes interesses dos estudos geomorfológicos Ross 1990 Abreu 1982 procura destacar o problema da classificação dos fatos geomorfológicos na medida que isto é um dado fundamental para o processo de análise Para tal o autor considera procedente deslocar o eixo de abordagem do problema da escala para o problema da essência dos fenômenos que interessa ao estudo do georrelevo Destaca a forma como síntese metodológica procurando obter dela as informações necessárias para a compreensão da essência de sua dinâmica e das propriedades adquiridas Defende assim uma geomorfologia mais funcionalista na medida que oferece subsídios de interesse geográfico Ressalta contudo que o problema da escala apresenta significância principalmente na definição do encaminhamento metodológico na escolha dos instrumentos de investigação e no nível de resolução gráfica do tratamento cartográfico A forma passa a se caracterizar então como expressão da dinâmica ou do movimento dos materiais responsáveis pela morfogênese na crosta terrestre Com base nessa premissa Abreu 1982 recorre aos trabalhos soviéticos desenvolvidos principalmente após a Segunda Guerra Mundial voltados à análise de grandes e médios espaços utilizando fundamentalmente o método cartográfico Para o autor a denominada análise morfoestrutural que deveria ser chamada simplesmente de geomorfológica tem suas raízes firmemente plantadas na obra de Penck 1924 e teve como pioneiro Gerasimov que propôs em 1946 os conceitos de geotextura1 morfoestrutura e morfoescultura Gerasimov Mescherikov 1968 os quais se equivalem aos conceitos de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura empregados por Mescerjakov 1968 O conceito de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura fundamentamse na premissa penckiana do jogo de forças internas e externas que através de um conjunto de processos responde pela gênese do modelado do relevo terrestre A identificação e a classificação das formas do relevo necessariamente implicam considerar a gênese a idade ou ainda os processos morfogenéticos atuantes Ross 1990 A questão da escala de tratamento ou de representação se constitui na premissa básica para o grau de detalhamento ou de generalização da informação Demek 1976 apud Avansi 1982 propõe o seguinte encadeamento de operações para o mapeamento de morfoestruturas a análise das cartas geológicas e tectônicas de áreas em estudo em escalas pequenas e grandes com a transferência dos principais falhamentos para uma determinada base b análise de cartas topográficas em iguais escalas com o objetivo de se elaborar uma carta das rupturas tectônicas e das formas de relevo lineares e uma carta dos elementos do relevo segundo seus atributos morfográficos e morfométricos c elaboração de perfis geológicogeomorfológicos com a intenção de se definirem níveis regionais e elaboração de uma estratigrafia das formas d interpretação de fotografias aéreas procurando especificar a gênese dos elementos do relevo e levantamento de campo para teste e correção das interpretações valorizandose itinerários previamente definidos e utilizandose eventualmente de sobrevôos no caso de áreas de difícil acesso Nesta fase podese incluir coleta de materiais para posterior análise laboratorial f integração da informação obtida em campo A carta das formas de relevo resultante considerando seus aspectos morfográficos e morfométricos é revista assumindo um caráter genético dada a existência de elementos importantes para explicar a origem das formas e esculturação do modelado Tricart 1965 ao tratar da concepção e princípios de realização da Carta Geomorfológica ressalta as diferentes categorias de fenômenos representados segundo a escala adotada Como exemplo as cartas em pequena escala como 11000000 1500000 se orientam essencialmente para os fenômenos morfoestruturais mostrando as anticlinais resultantes de dobramentos seus monts ou combes ou ainda os horsts e os grabens de um processo de falhamento feições correspondentes à quarta 10 2 km 2 ou quinta 10 km 2 ordem de grandeza na concepção de ACailleux e J Tricart 1956 Já as cartas em grande escala como 15000 110000 125000 são capazes de registrar fenômenos ou formas com algumas dezenas de metros de comprimento correspondentes à sexta 10 2 km 2 grandeza na concepção taxonômica proposta pelos autores mencionados Nesta última com os símbolos convencionais é possível representar lóbulos de solifluxão campos de lapies boçorocas dentre outras formas específicas Portanto a escala da representação é que permitirá definir o grau de complexidade do fenômeno observado Com base nas recomendações da SubComissão de Cartas Geomorfológicas da UGI União Geográfica Internacional a carta geomorfológica de detalhe em escala grande deve comportar quatro tipos de dados morfométricos morfográficos morfogenéticos e cronológicos Tricart 1965 a Morfométricos correspondem às informações métricas importantes apoiadas em cartas topográficas ou outras formas de levantamento Geralmente as informações métricas são intrínsecas aos sinais ou símbolos para a representação das formas do relevo a exemplo de extensão de terraços ou escarpas erosivas declividade de vertentes dentre outras Para se evitar a sobrecarga de informações na carta geomorfológica dificultando sua leitura os dados morfométricos como a declividade das vertentes a hierarquização da rede hidrográfica dentre outros podem ser apresentados à parte em uma representação cartográfica específica b Morfográficos correspondem a formas de relevo resultantes do processo evolutivo sendo sintetizadas como formas de agradação e de degradação Como formas de degradação destacamse as formas de erosão diferencial as escarpas de falha ou erosivas ravinas e boçorocas Como formas de agradação destacamse depósitos aluviais em planícies de inundação concentração de colúvios pedogenizados ou pedimentos detríticos inumados Os aspectos morfográficos encontramse estreitamente ligados aos morfogenéticos ou seja as formas geralmente expressam as respectivas gêneses Quanto às formas de relevo o Projeto Radambrasil utiliza formas estruturais formas erosivas e formas de acumulação tendo sido a segunda desmembrada em formas de dissecação e formas de dissolução na Folha SD 23 Brasília Klimaszewski 1963 apud Fairbridge 1968 sugere maiores especificidades para representações morfográficas em escala grande como formas tectônicas e estruturais formas influenciadas pela litologia e estrutura formas de agradação e degradação dentre outras c Morfogenéticos referemse aos processos responsáveis pela elaboração das formas representadas Assim na representação cartográfica do relevo as diversas formas devem figurar de tal maneira que sua origem ou sua gênese sejam diretamente inteligíveis Como exemplo as superfícies erosivas associadas a processo de aplainamento devem conter referências ao processo de pediplanação identificando a gênese ligada ao recuo paralelo de vertentes em condição climática seca podendo incorporar referenciais de natureza cronológica associados ao período de formação adicionando termos como de cimeira mais antigo ou intermontanas mais recente d Cronológicos correspondem ao período de formação ou elaboração de formas ou feições A representação cronológica pode ser expressa através de cores que mesmo que adotadas com outro sentido podem oferecer subsídios dessa natureza Exemplo são os mapas geomorfológicos ao milionésimo do Projeto Radambrasil onde a cor representa os relevos conservados e as tonalidades os relevos dissecados Partindo desse princípio as formas estruturais e as formas erosivas associadas a relevos conservados encontramse relacionadas a processos morfogenéticos ou morfoclimáticos bem mais antigo em relação aos modelados póspliocênicos referentes aos relevos dissecados As tonalidades adotadas para deposições de materiais como os terraços e planícies que podem ocorrer tanto nos relevos conservados como nos dissecados mantêm relações genéticoprocessuais pleistoholocênicas Muitas vezes as informações morfocronológicas são incorporadas na própria legenda a exemplo das superfícies de aplainamento terciárias planície de várzeas holocênicas pedimentos pleistocênicos coluvionados dentre outros Nas representações geológicas as cores convencionadas expressam relações cronológicas das estruturas litoestratigráficas dispostas inclusive de forma cronológica na legenda Quanto aos princípios da representação da carta geomorfológica Tricart 1965 considera como primeiro passo a necessidade de uma base cartográfica A adição de curvas de nível nos mapas geomorfológicos extraídas das cartas topográficas pode se constituir em alternativa para suprir a ausência de informações morfométricas desde que não sobrecarreguem os limites da lisibilidade A base topográfica pode proporciona ainda a adição de outras informações morfométricas como a adoção de duas ou três classes de declividade na representação Outro aspecto para o qual o autor chama atenção referese à importância dos dados estruturais na representação geomorfológica o que não representa uma opinião unânime entre os especialistas Os ingleses por exemplo limitam a geomorfologia a uma cronologia da dissecação sem se ocuparem da estrutura dos processos Os poloneses negligenciam praticamente a geomorfologia estrutural em suas cartas figurando sobretudo a cronologia denudativa e os processos associados às formas São portanto dois pontos de vistas incompatíveis que negligenciam as relações dialéticas entre a estrutura e o jogo das forças externas Tricart 1965 No método CGA2 Tricart são figurados sistematicamente os dados estruturais influenciando a geomorfologia a litologia aparece em tons pastéis sob a forma de um fundo de carta As rochas coerentes são representadas por pontos As rochas móveis por trama A disposição das camadas figura através de símbolos como fron t de crista monoclinal superfície estrutural dentre outras formas Apresentase a título de exemplo parte de legenda de cartas geomorfológicas detalhadas referente ao sistema CGATricart Fig 51 constante de anexo em sua obra Tricart 1965 Devese chamar a atenção para o fato de que a metodologia em questão adequase mais às representações de grande escala maiores que 150000 51 Parte de legenda dados estruturais proposta por Tricart 1965 Demek 1967 propõe a utilização de três unidades taxonômicas básicas nas cartas geomorfológicas representadas pelas superfícies geneticamente homogêneas formas do relevo e tipos de relevo3 Portanto nas superfícies geneticamente homogêneas como no domínio dos chapadões tropicais interiores com Cerrados e Floresta de Galeria AbSáber 1965 temse a presença de formas de relevo representadas por processo de pediplanação plainos e cimeira e plainos intermontanos pedimentos escalonados onde se constatam tipos de relevo caracterizados por vertentes com discreta convexização cabeceira de drenagem em dales veredas vales simétricos dentre outras formas Para o autor a menor unidade taxonômica é a superfície geneticamente homogênea que resulta de um determinado processo ou de um complexo de processos geomorfológicos Essa unidade taxonômica é condicionada por processos de três origens os endógenos os exógenos e os antrópicos apud Ross 1990 A preocupação quanto às relações taxonômicas das unidades feições ou formas a serem representadas levaram Ross 1992 a apresentar os pressupostos metodológicos discutidos no capítulo 1 Fig 112 tendo como referência Demek 1967 e Mescherikov 1968 1 º táxon unidades morfoestruturais que correspondem às grandes macroestruturas como os escudos antigos as faixas de dobramentos proterozóicos as bacias paleomesozóicas e os dobramentos modernos Essa unidade pode conter uma ou mais unidades morfoesculturais associadas a diversidades litológicoestruturais guardando evidências das intervenções climáticas na elaboração das grandes formas 2 º táxon unidades morfoesculturais que correspondem aos compartimentos gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico com intervenção dos processos tectogenéticos As unidades morfoesculturais são caracterizadas pelos planaltos planícies e depressões que estão inseridas numa unidade morfoestrutural Como exemplo na unidade morfoestrutural representada pelos dobramentos antigos como da região central do Brasil inserese o Planalto Central Goiano a Depressão do Tocantins e a Planície do Araguaia As unidades morfoesculturais em geral não têm relação genética com as características climáticas atuais 3 º táxon unidades morfológicas correspondentes ao agrupamento de formas relativas aos modelados que são distinguidas pelas diferenças da rugosidade topográfica ou do índice de dissecação do relevo bem como pelo formato dos topos vertentes e vales de cada padrão Como exemplo na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 o Planalto Central Goiano unidade morfoescultural denominado de unidade geomorfológica na referida folha se caracteriza pela presença de quatro unidades morfológicas denominadas de subunidades na referida folha Planalto do Distrito Federal Planalto do Alto TocantinsParanaíba Planalto Rebaixado de Goiânia e Depressões Intermontanas Uma unidade morfoescultural pode conter várias unidades de padrão de formas semelhantes 4 º táxon corresponde à unidade de padrão de formas semelhantes Estas formas podem ser a de agradação acumulação como as planícies fluviais ou marinhas terraços b de degradação como colinas morros e cristas Na metodologia adotada pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 no segundo conjunto de símbolos denominado de Formas de Relevo estas encontramse subdivididas em três partes Formas Estruturais Formas Erosivas e Formas de Acumulação As formas estruturais são representadas pela letra S seguida por outras letras e respectivas traduções O mesmo procedimento é adotado para as formas erosivas e para as formas de acumulação Nos Tipos de Dissecação encontramse três letras básicas a c e t ou seja formas aguçadas formas convexas e formas tabulares Os Índices de Dissecação encontramse sintetizados adiante Tab 51 onde são combinadas cinco classes medidas na imagem de radar correspondentes à dimensão interfluvial e à intensidade de aprofundamento dos talvegues avaliada qualitativamente também representada por cinco classes 5 º táxon corresponde aos tipos de vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo Cada tipologia de forma de uma vertente é geneticamente distinta cada um dos setores dessa vertente pode apresentar características geométricas genéticas e dinâmicas também distintas Ross 1992 observa que as representações desse táxon são possíveis em escalas maiores como 125000 Dentre as principais características geométricas das formas das vertentes destacamse vertente escarpada convexa côncava retilínea dentre outras 6 º táxon referese às formas menores resultantes da ação dos processos erosivos atuais ou dos depósitos atuais Exemplo as formas associadas às intervenções antropogênicas como as boçorocas ravinas cortes de taludes escavações depósitos tecnogênicos como assoreamentos aterros botaforas ou as consideradas naturais como cicatrizes de escorregamentos bancos de deposição fluvial dentre outros Existem grandes problemas a serem superados para se chegar a uma carta geomorfológica de padrão internacional Uma das questões básicas referese às recomendações da SubComissão de Cartas Geomorfológicas da UGI quanto à incorporação dos quatro componentes de análise morfométricos morfográficos mofogenéticos e cronológicos na representação geomorfológica de detalhe ou semidetalhe Ao mesmo tempo em que tais componentes geralmente deixam de ser observados nos mapeamentos em escala grande são adicionalmente registrados nos mapeamentos em escala pequena a exemplo da escola russa adotada por Basenina et al 1976 ao enfocarem a questão morfoestrutural o que pode prejudicar o limite de legibilidade da representação 52 Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas Procurando evidenciar os níveis de informação usualmente contidos nas diferentes escalas de representação cartográfica do relevo foram selecionados três exemplos para análise O primeiro referese a uma representação em pequena escala 11000000 aprimorada ao longo do tempo pelo Projeto Radambrasil os outros dois últimos referemse a representações em escalas média a grande escalas 150000 produzidas por Tricart 1978 e 140000 elaboradas por Nascimento et al 1991 procurando evidenciar as diferenças de níveis de informações geomorfológicas considerando as respectivas aplicações Representação geomorfológica em escala pequena Como exemplo de representação geomorfológica em escala pequena utilizase de parte da Folha SE22 Goiânia produzida por Mamede et al 1983 ao milionésimo A área eleita corresponde à seção sudoeste do Estado de Goiás região de Mineiros localizada entre os paralelos 16 º 00 a 18 º 00S e 52 º 00 a 53 º 00W Fig 52 Considerando a escala da representação o mapeamento geomorfológico considerou os quatro primeiros táxons adotados pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 conforme esquema apresentado Esq 51 Esquema 51 Estrutura da Geomorfologia adotada pelo Radambrasil IBGE1995 Os Domínios Morfoestruturais também denominados de Unidades Morfoestruturais na classificação de Ross 1992 correspondem aos três grandes conjuntos estruturais do globo Os Domínios Morfoestruturais apresentam características geológicas prevalecentes tais como direções estruturais que se refletem no direcionamento geral do relevo ou no controle da drenagem principal IBGE 1995 Na área eleita os dois domínios morfoestruturais apresentam certa relação com as unidades geomorfológicas os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná são associados aos sedimentos paleomesozóicos da referida bacia representados pela cor verde relevos conservados e respectivas tonalidades relevo dissecado Já a Depressão do Araguaia associada às estruturas cristalinas do Complexo Goiano encontrase representada na tonalidade rosa correspondendo a relevo dissecado As Regiões geomorfológicas referemse ao segundo táxon da metodologia adotada pelo Radambrasil IBGE 1995 na elaboração da Folha SD23 Brasília correspondentes às Unidades Morfoesculturais discutidas por Ross 1992 Tratase de grupamentos de unidades geomorfológicas que apresentam semelhanças resultantes da convergência de fatores de sua evolução Barbosa et al 1984 Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas mas estão ligadas essencialmente a fatores climáticos atuais ou passados IBGE 1995 Portanto não são as condições estruturais ou litológicas que lhes dão as características comuns e aspectos semelhantes O clima é um fator interveniente ou integrante desse conceito Na área eleita Fig 52 as referidas unidades embora não tratadas numa relação taxonômica e nem mesmo mencionada a condição de região geomorfológica podem ser entendidas como os denominados Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná Planalto Central Goiano e pela Depressão do Araguaia O terceiro táxon referese às Unidades Geomorfológicas ou Sistemas de Relevo denominadas simplesmente de Unidades Morfológicas por Ross 1992 Correspondem a formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado a similitude resulta de uma determinada geomorfogênese inserida em um processo sincrônico mais amplo Cada Unidade Geomorfológica mostra tipos de modelado processos originários e formações superficiais diferenciadas de outras Barbosa et al 1984 O comportamento da drenagem seus padrões e anomalias são tomados como referencial na medida que revelam as relações entre os ambientes climáticos atuais ou passados e as condicionantes litológicas ou tectônicas IBGE 1995 Na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 tratam os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Central Goiano como unidades geomorfológicas encontrandose a primeira constituída das subunidades Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e Planalto MaracajuCampo Grande O Planalto dos Guimarães Alcantilados que aparece ao norte foi tratado separadamente preservando suas características regionais A área correspondente ao Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e ao Planalto dos Guimarães recebeu duas cores verdes correspondentes aos relevos conservados como as formas estruturais identificadas pelas superfícies estruturais tabulares St e os patamares estruturais Spt e as formas erosivas individualizadas por superfícies pediplanadas Ep e superfícies erosivas tabulares Et As tonalidades foram atribuídas às áreas dissecadas sendo as mais fortes referentes às áreas mais elevadas topograficamente reverso dissecado da cuesta do Caiapó e as mais fracas aos níveis topográficos rebaixados depressões anaclinais das cuestas desdobradas correspondentes às serras do Caiapó e Negra Enquanto as superfícies pediplanadas localizadas no início do reverso da cuesta do Caiapó testemunham marcas do aplainamento de cimeira regional nivelado aos 1000 metros Já as formas erosivas estão presentes nos topos residuais da depressão anaclinal da cuesta do Caiapó correspondentes aos alcantis Observase que a serra do Caiapó se constitui no divisor entre a bacia hidrográfica do Paraná representada localmente pelos rios Claro e Verde Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e a bacia do Araguaia caracterizada pelo rio do Peixe Planalto dos Guimarães Alcantilados O limite entre o teto orográfico regional reverso da cuesta do Caiapó e os patamares rebaixados depressões anaclinais das cuestas do Caiapó e Serra Negra é marcada por fronts de cuestas desdobradas O patamar rebaixado correspondente à depressão anaclinal da cuesta do Caiapó 500 a 700m é caracterizado por formas dissecadas convexas com presença de superfícies erosivas tabulares associadas aos residuais de arenito do Grupo Arquidauana correspondentes a formas bizarras ou relevo de alcantis na definição de Almeida 1959 O patamar rebaixado da depressão anaclinal da Serra Negra 400 a 500m posicionado topograficamente abaixo do anterior encontrase representado cartograficamente pela mesma tonalidade estando individualizado pelo domínio de formas tabulares O sucessivo escalonamento topográfico determinado por efeitos tectônicos responsáveis pelo desdobramento de cuestas culmina com a coalescência entre o último patamar e a Depressão do Araguaia OsTipos de Modelados correspondentes ao quarto táxon na classificação utilizada pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 estão contidos os grupamentos de formas de relevo que apresentam similitudes de definição geométrica em função de uma gênese comum e da generalização dos processos morfogenéticos atuantes resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais Os grupamentos referemse aos modelados nas diferentes formas estruturais erosivas de dissecação e de acumulação Nas formas ligadas à dissecação evidenciamse os modelados tabulares convexos e aguçados com respectivos índices que identificam a dimensão interfluvial e o aprofundamento da drenagem No recorte utilizado Fig52 a dissecação é representada por formas tabulares t no reverso da cuesta do Caiapó formas convexas c no nível rebaixado da depressão anaclinal depressão da serra do Caiapó e formas tabulares t no nível rebaixado desdobrado depressão da Serra Negra São observados remanescentes de aplainamento superfície pediplanada Ep e superfície estrutural tabular St no divisor entre as bacias do Paraná e Araguaia bem como superfícies erosivas tabulares Et no Planalto dos Guimarães ou depressão anaclinal da cuesta do Caiapó Quanto ao grau de dissecação do relevo temse a presença de manchas de formas muito dissecadas Tab 51 como nas nascentes do rio Matrinxã a24 formas aguçadas com dimensão interfluvial 250m e 750m e aprofundamento forte da drenagem bem como de baixo grau de dissecação a exemplo do reverso da cuesta do Caiapó t51 formas tabulares com dimensão interfluvial 3750 m e 12750m e aprofundamento da drenagem muito fraco Tab51 Ordem de grandeza das formas de dissecação Com relação aos componentes da representação geomorfológica recomendados pela União Geográfica Internacional entendese que o exemplo escolhido possui uma boa correspondência apesar das naturais limitações da escala 11000000 Alguns parâmetros encontramse contidos de forma direta ou indireta na representação como a morfométrico que pode ser inferido pela tonalidade como no caso do Planalto Setentrional da Bacia do Paraná onde a mais forte corresponde às superfícies mais elevadas relevo conservado como o reverso da cuesta e o mais claro às mais baixas como o relevo dissecado correspondente ao nível rebaixado e desdobrado dando assim a sensação hipsométrica à representação Também algumas simbologias lineares expressam unidades métricas como front de cuesta que no exemplo Fig 52 encontrase como portadora de desnível acima dos 150 metros b morfográfico marcado por manchas de modelados de relevo específicos como os tabulares os convexos ou os aguçados nas formas de dissecação c morfogenético que embora implícito na morfologia representada pode ser inferido através de formas específicas como as planícies fluviais superfícies pediplanadas ou mesmo as diferentes formas de dissecação vinculadas aos processos lineares e areolares d cronológico que também pode ser inferido através de formas específicas como a presença de terraços fluviais sempre ligados a processos climáticos ou paleoclimáticos sobretudo pleistocênicos ou planícies fluviais associadas às superfícies alveolares holocênicas Representações geomofológicas em escalas média a grande Os dois exemplos de mapeamentos geomorfológicos selecionados correspondentes às escalas de 150000 e 140000 têm por objetivo evidenciar a diferenciação de parâmetros empregados considerando as respectivas especificidades a Geomorfologia de Huaraz Peru Como exemplo de mapeamento geomorfológico de escala média a grande 150000 utilizouse da carta de Huaraz no Peru Fig 53 elaborada por Tricart 1978 com o objetivo de mostrar a vulnerabilidade do relevo em função de manifestações magmáticas e frente à ocupação urbana Podem ser constatados os quatros componentes de análise geomorfológica da representação cartográfica o que é natural por se tratar de uma escala de semidetalhe Fig 53 Geomorfologia de Huaraz J Tricart 1978 1 As informações morfométricas foram representadas através de curvas de nível que variam entre 3100 a 3400 metros demonstrando que a cidade de Huaraz encontrase numa posição de vale onde são individualizados fluxos torrenciais de lavas vulcânicas 2 Morfograficamente a área encontrase individualizada por formas fluviais formas glaciais formas associadas a ações hídricas e movimentos de massa Por corresponder a uma área andina em posição altimétrica elevada os efeitos dos glaciais se fazem presentes O elevado gradiente ligado à tectônica moderna além de favorecer a erosão acelerada comandada pelos fatores hídricos como escoamentos concentrados e as formas resultantes ravinamentos badlands contribuem para os movimentos de massa do tipo solifluxão e fluxos de lava 3 Os elementos morfogenéticos encontramse representados através das formas de escoamento fluxo concentrado difuso ou manifestação dos diferentes processos como os glaciais morainas ligados aos fatores climáticos 4 O componente cronológico pode ser inferido através das formas representadas com alguma informação complementar quanto ao período de ocorrência como rebordos de terraços antigos e atuais que permitem correlações temporais A representação procura incorporar ainda informações de interesse direto assumindo a carta geomorfológica importância como subsídio aos eventuais riscos associados ao uso e ocupação do relevo No presente caso Tricart 1978 fundamentado no conceito de ecodinâmica incorpora informações baseadas nas limitações físicas imprescindíveis ao ordenamento territorial Com base na espacialização dos fenômenos observase que o vale de Huaraz no Peru encontrase caracterizado como zona de desequilíbrio latente e grave susceptível aos riscos de remobilização de lavas torrenciais As faixas imediatas são apresentadas como portadoras de desequilíbrios permanentes correlacionadas aos processos responsáveis pela gênese de ravinas e badlands A zona estável corresponde ao topo interfluvial a oeste do vale prevalecem morainas e arcos morâinicos b Geomorfologia do município de GoiâniaGO Também com a perspectiva de subsidiar os estudos de risco urbano Nascimento Casseti 1991 produziram carta geomorfológica do município de GoiâniaGO Fig54 na escala 140000 chegando ao nível de detalhamento correspondente ao quinto táxon na classificação de Ross 1992 UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS 1 PLANALTO DISSECADO DE GOIÂNIA Superfície de Formas Aguçadas Superfície de Formas Convexas 2 CHAPADAS DE GOIÂNIA Superfície Aplainada Superfície Rompada 3 PLANALTO EMBUTIDO DE GOIÂNIA Superfície de Formas Convexas Superfície de Formas Tabulares 4 TERRAÇOS E PLANÍCIES DA BACIA DO RIO MEIA PONTE Terraços Fluviais Planícies Fluviais 5 FUNDOS DE VALES SIMBOLOGIA 1 FORMAS DE VERTENTES Vertentes Retilíneas Vertentes Convexas Vertentes Côncavas 2 FORMAS DE AGRADAÇÃO E DEGRADAÇÃO Escoamento Laminar Escoamento Difuso Escoamento Concentrado Ravinas Boçorocas Pedimentos Coluvionados Dales Cabeceira de Drenagem Fig 54 Geomorfologia do município de Goiânia Nascimento Cassetil 1991 A representação geomorfológica do município de Goiânia elaborada com base em levantamento aerofotogramétrico na escala de 140000 partiu do terceiro táxon de Ross 1992 correspondente às unidades geomorfológicas que foram definidas em função da similitude de formas de relevo e suas relações estruturais incorporando a posição altimétrica Numa relação azonal foram mapeados os terraços e as planícies da bacia do rio Meia Ponte bem como os fundos de vale que os abrigam O padrão de formas semelhantes correspondentes ao quarto táxon de Ross 1992 foi apresentado com base no grau de dissecação do relevo comandado pela drenagem dimensão interfluvial e grau de aprofundamento dos talvegues O quinto táxon foi individualizado pelos segmentos de formas das vertentes como a sua geometria além das formas associadas a agradação e degradação do modelado com destaque para as influenciadas pela litologia e estrutura que foram representadas através de simbologias pontuais e lineares As unidades geomorfológicas foram representadas por cores na representação original enquanto as informações relacionadas aos padrões de formas semelhantes foram classificadas segundo processos de agradação e de degradação Foram incorporados dados morfométricos referentes à declividade das vertentes e adoção de simbologia correspondente As unidades geomorfológicas foram individualizadas por três compartimentos Há apenas uma exceção representada por terraços e planícies bem como pelos fundos de vales que ocorrem indistintamente nos diferentes compartimentos azonais Planalto Dissecado de Goiânia 920 a 950 metros de altitude constituído pelo domínio formas aguçadas com declives superiores a 30 correspondentes a cristas monoclinais quartzíticas e formas convexas com declives inferiores a 20 representando o teto orográfico do município associadas aos granulitos félsicos Chapadões de Goiânia 860 a 900 metros constituído por superfícies aplainadas sustentadas por quartzitos e superfícies rampeadas pedimentos detríticos que coalescem com os níveis de aplainamento Planalto Embutido de Goiânia 750 a 800 metros de altitude constituído pelo domínio de formas convexas com declividade de até 20 e de formas tabulares correspondentes a remanescentes do pediplano embutido abrigando dales Terraços e Planícies da Bacia do rio Meia Ponte 700 a 720 metros de altitude individualizados em terraços fluviais suspensos associados às influências paleoclimáticas pleistocênicas e planícies fluviais de inundação correspondentes aos depósitos holocênicos atuais e subatuais Fundos de Vales correspondentes a uma faixa irregular paralela ao sistema fluvial com declividade que pode chegar a 40 Sua individualização deuse em função de mudanças nas relações processuais sobretudo entre os fluxos difusos e laminares em relação aos lineares A definição das unidades e respectivas características morfológicas permitiram a identificação de riscos que foram agrupados em três grandes compartimentos Casseti Nascimento 1991 a áreas de forte risco definidas em função da morfologia e da vulnerabilidade à erosãoassoreamento frente às intervenções antropogênicas planície de inundação atual terraços fluviais fundos de vales domínio de formas aguçadas e convexas no Planalto Dissecado de Goiânia e dales ou veredas b áreas de risco moderado como no domínio das vertentes medianamente convexas do Planalto Embutido de Goiânia e c áreas de baixo risco localizadas nas seções intermediárias às anteriormente mencionadas como no domínio de formas tabulares e suavemente convexas do Planalto Embutido de Goiânia superfícies aplainadas ou rampeadas dos Chapadões de Goiânia Na representação proposta registramse preocupações quanto aos fatores morfográficos e morfogenéticos com algumas referências de natureza cronológica considerando principalmente formas associadas a processos morfogenéticos pleistocênicos como os terraços suspensos ou níveis de pedimentação O parâmetro morfométrico foi expresso pelas classes de declividades incorporadas às formas de dissecação 1 predomínio de declive de 0 a 5 2 de 5 a 10 3 de 10 a 20 4 de 20 a 40 e 5 superior a 40 Muito ainda precisa ser feito para se chegar a uma linguagem comum quanto a forma e conteúdo da representação geomorfológica Existem certos avanços no que se refere à seleção de indicadores temporais e espaciais na cartografação do relevo sem contudo haver um maior equilíbrio entre os fatores que integram uma representação funcional parâmetros morfométricos morfográficos morfogenéticos e morfocronológicos o que necessariamente passa pela questão da escala Se a representação dos fatos geomorfológicos ainda gera polêmica maiores são os desencontros no que se refere aos componentes da representação cartográfica e aos componentes do relevo de interesse geográfico Necessário se faz rever a discussão fomentada por Hamelin 1964 quanto à subordinação da Geomorfologia Funcional à Geografia Global Abreu 1982 p 54 lembra a importância das influências diretas da esculturação e o desenvolvimento subseqüente dos processos morfogenéticos que se projetam claramente sobre as formas de uso do solo e se refletem na intensidade da produção e em seus custos sociais o que foi registrado por Kügler 1976 Digase de passagem que não é apenas no nível da cartografação dos fatos geomorfológicos que o homem se encontra ausente Klimaszewski 1963 considera o avanço na cartografia geomorfológica maior no campo conceitual que no metodológico Basenina Trescov 1972 insistem na necessidade de uma crítica permanente objetivando a melhoria do método e refinamento dos conceitos mobilizados Abreu 1982 chama a atenção para a ausência de informações ou fatos que interessam ao povoamento regional nas cartas apresentadas por Basenina Trescov 1972 considerando a necessidade de incorporação da noção extremamente humanista de georrelevo proposta por Kügler 1976 estimando que a geomorfologia ganhará no âmbito da geografia uma postura coerente com sua teoria e com os objetivos daquela Evidentemente isto dependerá de um esforço pessoal dos geógrafos interessados em compreender a ordenação da Terra pelo Homem através de mecanismos de análise que incorporam também as relações deste com seu ambiente valorizando uma ótica que tradicionalmente tem pertencido à geografia e que hoje tem conquistado adeptos também em cientistas oriundos de outras disciplinas Notas de Rodapé 1 Geotextura corresponde às grandes feições da crosta associadas às manifestações de processos a elas associados 2 Centre de Géographie Appliquée 3Para Demek 1967 Superfícies geneticamente homogêneas são áreas de geometria relativamente planas sem apresentar quebras de relevo Resultam de curtos estágios na evolução do relevo decorrentes de um ou mais processos agindo em uma certa direção variam entre algumas dezenas de metrosalguns quilômetros quadrados Formas de relevo são constituídas pela junção de superfícies geneticamente homogêneas resultantes de um mesmo processo mas correspondendo a estágios mais longos no desenvolvimento do relevo alcançam algumas centenas m 2 km 2 Tipos de relevo correspondem a complexo de formas em uma área limitada de forma relativamente distinta com a mesma altitude mesma gênese dependendo da morfoestrutura originada dos mesmos processos morfogenéticos numa mesma história evolutiva Referências Bibliográficas Abreu AA Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1982 AbSáber AN Da participação das depressões periféricas e superfícies aplainadas na compartimentação do planalto brasileiro Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1965 Almeida FFM de Traços gerais da geomorfologia do CentroOeste brasileiro In Almeida FFM de Lima MA de Planalto Centroocidental e pantanal mato grossense guia de excursão n 1 realizada por ocasião do 18O Congresso Internacional de Geografia Rio de Janeiro CNG 1959 170p p765 Barbosa GV Silva TCda Natali Filho T DelArco DM Costa RCR da Evolução da metodologia para mapeamento geomorfológico do Projeto Radambrasil Boletim Técnico Série Geomorfologia Salvador n 1 p 187 out 1984 Basenina NV Trescov AA Geomorphologische Kartierung des Gebirgsreliefs im Masstab 1200000 auf Grund einer Morphostrukturanalyses Zeithscrift für Geomorphologie Band 16 Heft 2 p 125138 1972 Basenina NV Aristarchova LB Lukasov AA Methopden zur Analyse der Morphostrukturen auf Grund vorliegender Karten und Luftbildaufnahmen In Handbuch der Geomorphologischen Detailkartierung Dirigido por J Demek pl 131 151 Ferndinand Hirt Wien 1976 Cailleux A Tricart J Le problème de la classification des faits géomorphologiques Annales de Geographie N 3490 LXV année p 162185 1956 Casseti V Nascimento MALS A importância da geomorfologia nos estudos de risco urbano o caso de Goiânia Anais do IV Simpósio de Geografia Física Aplicada Porto Alegre p 37481 1991 Demek J Generalization of geomorphologicalmaps In Progress Made in Geomorphological Mapping Brno 3566 1967 Demek J Editor Handbuch der geomorphologischen Detailkartierung Ferdinand Hirt Wien 1976 Fairbridge RW The encyclopedia of geomorfphology New YorkReinhold Book 1968 v2 Gerasimov IP Mescherikov JA Morphostructure In The encyclopedia of geomorphology Ed RW Fairbridge 731732 New YorkReinhold Book Co 1968 IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Manual Técnico de Geomorfologia Coord Bernardo de Almeida Nunes et al Série Manuais Técnicos em Geociências Número 5 R de Janeiro 1995 Klimazewski M Editor Problems of geomorphological mapping Data of the International Conference of the Subcommission on Geomorphological Mapping Institute of Geography of the Polish Academy of Sciences Warsovia 1963 Kügler H Zur Aufgaben der geomorphologischen Forschung und Kartierung in der DDR Petermanns Geographische Mitteilungen V 120 n 2 p 154160 1976 Mamede L Ross JLS Santos LM dos Nascimento MALS do Geomorfologia Folha SE22 Goiânia Projeto Radambrasil MME R de Janeiro 1983 Mescerjakov JP Les concepts de morphostructure et de morphosculture um nouvel instrument de lanalyse geomorphologique Annales de Geographie 77 n 423 p 538 552 Paris 1968 Nascimento MALS do Casseti V Carta geomorfológica do município de Goiânia In Carta de Risco do Município de Goiânia IPLANIBGEUFG Goiânia 1991 Penck W Die morphologische analyse Ein kapitel der physikalis chen geologie StuttgartJEngelhorns Nachf 1924 Ross J Geomorfologia ambiente e planejamento S PauloContexto 1990 85p Ross J SRegistro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo Rev Geografia São Paulo IGUSP 1992 Tominaga LK Análise morfodinâmica das vertentes da Serra do Juqueriquerê em São SebastiãoSP Dissertação de Mestrado FFLCHUSP S Paulo 2000 Tricart J Principes et méthodes de l geomorphologie ParisMasson Ed 1965 201p Tricart J Géomorphologie appplicable ParisMasson 1978 204 p Geomorfologia e paisagem 6 Geomorfologia e o estudo da paisagem 61 Subsídios geomorfológicos ao estudo da paisagem 611 Exemplo de compartimentação do relevo no processo de estruturação da paisagem Resgatar o conceito de paisagem em geografia física e seu significado metodológico ao estudo integrado 6 Geomorfologia e o estudo da paisagem O conceito científico de paisagem abrange uma realidade que reflete as profundas relações freqüentemente não visíveis entre seus elementos Tricart 1978 diferindo da noção de paisagem no senso comum que permanece puramente descritiva e vaga referindose a conteúdo emotivo estético intrinsecamente subjetivo ao próprio fato O conceito proposto por Deffontaine 1973 reforça essa abrangência ultrapassando o suposto limite da aparência assim definindo a paisagem é uma porção do espaço perceptível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e de ações das quais num dado momento só percebemos o resultado global Para este autor o estudo da paisagem fisionômica e qualitativa é o ponto de partida para a análise dos fatos numa perspectiva sistêmica assimilandoa a uma unidade territorial Troll 1950 sintetiza a paisagem como uma combinação dinâmica dos elementos físicos e humanos conferindo ao território uma fisionomia própria com habitual repetição de determinados traços Enquanto na língua inglesa o termo paisagem Landscape não tem significado científico particular em alemão ao contrário Landschaft é um termo erudito utilizado principalmente pelos geógrafos Tricart 1978 O conceito de paisagem Landschaft surge na segunda metade do Século XIX com os geógrafos físicos alemães na mesma época em que WM Davis publicava os principais elementos de sua teoria A partir do século XX o termo passa a ser utilizado de forma corriqueira entre os geógrafos alemães para designar aspectos concretos da realidade geográfica Dentre os precursores dos estudos integrados da paisagem destacamse Passarge 1912 1922 que utilizou pela primeira vez o conceito de fisiologia da paisagem Tüxen 1931 1932 que se apropriou de uma abordagem geossistêmica no estudo de paisagem até então não incorporada a essa noção Büdell 1948 1963 que através das relações climatogenéticas consolidou os estudos de geoecologia e ordenação ambiental do espaço Kalesnik 1958 que propôs metodologia para o estudo integrado da Landschaft esfera integridade da Landschaft esfera processos circulares da matéria transformações rítmicas zonalidade e continuidade da evolução além de outros A discussão entre paisagem e ecologia estimulada por Tricart 1979 resgata o trabalho de Deffontaine 1973 que se manifesta numa abordagem sistêmica Para o autor paisagem e ecossistema tratam de naturezas diferentes1 paisagem é originalmente um ser lógico espacial concreto apenas tardiamente ela adquiriu a dimensão lógica de um sistema Ao contrário o ecossistema é desde seu nascimento um componente lógico caracterizado por uma estrutura de sistema que por não ter dimensão e não ser espacializado não é concretamente materializável A ecologia da paisagem surge com Neef 1967 na Sociedade Geográfica da República Democrática Alemã dando ênfase aos estudos biogeográficos O estudo prossegue segundo uma pesquisa de caráter ecológico que é ao mesmo tempo um estudo de dinâmica das paisagens no sentido em que visa determinar o funcionamento do ecossistema como fazem tradicionalmente os ecologistas mas localizando cuidadosamente sobre o transeto portanto sobre o espaço todos os fluxos encontrados e a localização dos estoques de elementos estudados Tricart 1979 Nessa linhagem destacase o trabalho de G Bertrand 1975 apoiado na teoria biorresistásica de H Erhart 1956 Bertrand 1968 p 249 entende que o conceito de paisagem ficou quase estranho à geografia física moderna e não tem suscitado nenhum estudo adequado Aliase às relações entre o potencial ecológico exploração biológica e a ação humana na caracterização da paisagem global Como referenciais básicos destacamse os trabalhos de Erhart 1956 representados pela teoria biorresistásica e suas derivações a exemplo do balanço denudacional de Jahn 1954 ampliado por Tricart 1957 incorporando o conceito de balanço morfogenético que culmina no estabelecimento dos diferentes meios considerando a dinâmica da paisagem como sistema de classificação Tricart 1977 O estudo da paisagem numa abordagem biofísica foi desenvolvido por Huggett 1995 retomando alguns conceitos desenvolvidos por Mattson 1938 expresso através de interessante esquema referente à interpenetração das esferas terrestres Fig 6 1 utilizandose de uma perspectiva sistêmica O autor preocupa se com a sistematização das relações processuais que culminam no conceito de geoecologia Desde os tempos em que os geógrafos conseguiram explicar a gênese da paisagem fizeram dela um domínio especializado Juillard 1965 Contudo os avanços epistemológicos fundamentados numa perspectiva crítica valorizaram o conceito de espaço em detrimento ao de paisagem partindo do princípio de que paisagem é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza Santos 1996 p 83 ao evidenciar a abrangência do significado de espaço como objeto de estudo da geografia em detrimento da noção de paisagem enfatiza que a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão sendo portanto um sistema material e nessa condição relativamente imutável o espaço é um sistema de valores que se transforma permanentemente o espaço são essas formas mais a vida que as anima Avaliase que os avanços metodológicos proporcionados pelo conceito de paisagem registrados ao longo do tempo possibilitaram a análise integrada dos componentes biofísicos e socioeconômicos denominada de estruturação da paisagem importante instrumental no processo da compartimentação O resgate conceitual inserido na noção de estruturação da paisagem surgido nos últimos anos parte do interesse direto da Geografia Física na busca de alternativas metodológicas Dentre os estudos referentes à estruturação da paisagem no Brasil destacamse os de Mattos 1959 para a região da Baixa Mogiana de Monteiro 1962 para o Baixo São Francisco de Abreu 1973 para o Médio Vale do JaguariMirim dentre outros que procuram oferecer subsídios à compartimentação baseados nas teses oferecidas pela geomorfologia ou pela climatologia Os avanços embora incipientes dos estudos de paisagem enfrentam a pecha mecanicista atribuída pelos epistemologistas críticos Bertrand 1968 p 250 ao refutar as críticas procura encerrar a discussão conceituando paisagem como determinada porção do espaço o resultado da combinação dinâmica portanto instável de elementos físicos bióticos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da mesma um conjunto único e indissociável em perpétua evolução A preocupação com as variáveis que integram a natureza bem como com os resultados da apropriação desta pelo homem tem cada vez mais merecido atenção dos estudiosos partindo do princípio de que o ambiente deve ser entendido na sua integridade A visão holística da natureza tem sido uma preocupação histórica sobretudo entre os biogeógrafos Importante iniciativa como a registrada no Simpósio de Landschaftssynthese organizado por H Richter G Schönfelder em 1985 na Universität HalleWittenberg República Democrática Alemã merece destaque por contribuir para a retomada do conceito de paisagem A Landscape Synthesis tem proporcionado novas discussões voltadas principalmente às questões de natureza ambiental Trabalhos como o de Lopez Lopez 1986 sugerem o estudo da functionalmorphological2 como fator de compartimentação da paisagem geográfica Após apresentarem de forma rápida a histórica separação entre processo e forma enquanto critério de demarcação da paisagem consideram a variável relevo como importante subsídio para o estudo da paisagem Para a individualização da paisagem ressaltam aspectos da estrutura e composição energia matéria vida espaço e tempo e do funcionamento leis físicoquímicas atividades das plantas no meio abiótico atividades instintivas dos animais e formas de apropriação pelo homem Destacam ainda as características intrínsecas dos elementos da paisagem como componentes da análise natureza da rocha clima poder orogênico vida das plantas dos animais e dos homens evidenciando os efeitos antropogênicos nas transformações da natureza na perspectiva de tempo histórico Também Tricart 1979 trata o relevo como um elemento importante da paisagem Observa que na América do Sul normalmente os tipos de meio natural encontramse associados à noção de relevo e vegetação e em torno desses dois elementos nodais uma série de implicações são dirigidas ao clima aos solos e à inserção do homem no meio ambiente O conceito de paisagem como fator de integração de parâmetros físicos bióticos e socioeconômicos tem sido utilizado em estudos de impactos ambientais em diferentes empreendimentos com importantes resultados o que leva necessariamente ao reconhecimento da vulnerabilidade e potencialidade da natureza segundo os diferentes táxons Buscase portanto a compreensão integrada dos componentes da análise O conceito de vulnerabilidade voltase aos fatores de natureza física e biótica considerando a suscetibilidade dos referidos parâmetros em função do uso e ocupação enquanto o de potencialidade na perspectiva de Becker Egler 1997 referese às condições de desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões potencial natural potencial humano potencial produtivo e potencial institucional Com base no tratamento dado por diversos autores para o problema a partir da integração das informações produzidas procurase apresentar uma síntese da estruturação da paisagem utilizandose do conceito de Dollfus 1972 sintetizando o número de arranjo entre as variáveis naturais físicas e bióticas e as alterações humanas Com o objetivo de se promover a integração prevista subsidiada pelos compartimentos geomorfológicos buscase a compreensão da paisagem em sua integridade Como forma de se ressaltar o significado do relevo na abordagem do estudo da paisagem serão analisadas as variáveis que refletem diretamente nas relações socioeconômicas considerando a vulnerabilidade dos componentes temáticos físico e biótico para em seguida integrálos na perspectiva de Schmithüsen 1970 segundo a qual se quisermos compreender a ação do homem não devemos separar a sociedade do meio ambiente que o rodeia 61 Subsídios geomorfológicos ao estudo da paisagem Por resultar da combinação de diferentes componentes da natureza o relevo é um importante recurso para a delimitação das paisagens ao mesmo tempo em que quase sempre condiciona a forma de uso e ocupação do solo Não se desconsidera aqui a apropriação tecnológica como componente de superação de eventuais obstáculos Considerando pelo menos três situações particulares o significado do relevo na delimitação da paisagem pode ser justificado da seguinte forma Relações de forças contrárias O relevo decorrente do jogo de forças internas e externas leva à interpenetração de formas Assim sendo considerando as escalas temporais e espaciais ora o relevo pode expressar mais as influências estruturais ora os efeitos morfoclimáticos ou ainda ambos simultaneamente A Chapada dos Veadeiros em Goiás se constitui num bom exemplo dessas combinações enquanto os topos pediplanados tanto da cimeira regional 1300 m quanto intermontano 1000 a 1100 m representam efeitos associados a processos morfogenéticos secos registrados provavelmente no Terciário3 a extensa zona dissecada por processos morfogenéticos úmidos correspondentes a períodos intermediários reflete os efeitos da resistência litológica e das implicações estruturais aliadas à tectônica proterozóica Ao mesmo tempo em que se registram extensões consideráveis de superfícies erosivas conservadas pediplanos que cortam resistências litológicas variadas em posições topográficas distintas temse também sinclinais alçadas cornijas estruturais além de uma rede hidrográfica vinculada a processo de fraturamento com direção geral NE e NW Há portanto importante combinação de formas aliadas a fatores diferenciados que ainda preservam a história geológica e climática sobretudo póscretácica ou mais especificamente pósoligocênica O relevo acaba se constituindo no resultado dessas forças contrárias razão pela qual se reveste de importância enquanto subsídio para a demarcação de diferenças morfológicas com diferenças pedológicas e conseqüentemente relativas ao uso e ocupação do solo numa perspectiva possibilista Relações morfopedológicas Muitos trabalhos têm demonstrado estreita relação entre a disposição do relevo e os solos resultantes o que tem cada vez mais consolidado a morfopedologia enquanto disciplina a exemplo do trabalho desenvolvido por Gerrard 1992 Enquanto nas áreas planas predominam os latossolos portadores de alto desenvolvimento físico nas áreas movimentadas prevalecem solos caracterizados por horizonte B incipiente ou simplesmente Solos Litólicos Neossolos O caráter edáfico sobretudo nos solos autóctones pode estar relacionado à estrutura subjacente a exemplo dos Latossolos VermelhoEscuros ou Roxos geralmente associados a rochas básicas ou ultrabásicas enquanto os Latossolos VermelhoAmarelos quase sempre se associam às rochas ácidas menor teor de ferro Essa relação chega a exercer uma certa correspondência quanto à troca de bases solos eutróficos com troca de bases superior a 50 considerados de fertilidade natural e solos distróficos com troca de bases inferior a 50 Da morfologia representada por superfícies aplainadas ou mesmo tabulares para o domínio de formas aguçadas registrase a seguinte situação quanto ao desenvolvimento físico dos solos Latossolos Bw Podzólicos ou Brunizéns Bt Cambissolos B incipiente e Solos Litólicos Essa relação encontrase via de regra determinada pelo balanço entre morfogênese e pedogênese pois enquanto em áreas tabulares prevalece a componente perpendicular infiltração nas fortemente dissecadas predomina a paralela escoamento numa estreita relação de tendência crescente com a declividade Tais parâmetros oferecem sustentação ao processo de apropriação do relevo insistindo na perspectiva possibilista Relações antropomorfológicas O processo de apropriação do relevo seja como suporte ou como recurso vinculase ao comportamento da morfologia e às condições pedológicas Exemplo disso são as superfícies pediplanadas superfícies erosivas tabulares e superfícies estruturais tabulares do sudoeste goiano onde se registram manchas expressivas de Latossolos Roxos ou Latossolos VermelhoEscuros associadas ao desenvolvimento de cultivos A tendência de uma apropriação induzida de espaços portadores de potencialidades naturais4 ocorre principalmente em áreas de expansão de fronteira como na região de Alta Floresta norte do Estado do Mato Grosso onde se constata significativa ocupação principalmente voltada à pecuária O compartimento ou unidade geomorfológica regional achase individualizado pela Depressão Interplanáltica da Amazônia Meridional Melo Franco 1980 caracterizado por processo de pediplanação intermontana representado pelos Podzólicos VermelhoAmarelos distróficos com domínio de pastagens Já nas áreas fortemente dissecadas como aquelas associadas às bordas do graben do Cachimbo caracterizadas por extensa zona de cisalhamento ortoarenitos do Grupo Beneficente a ocupação é restrita prevalecendo o domínio da Floresta Ombrófila Tal relação não se dá de forma determinística partindo do princípio de que a disponibilidade tecnológica aliada à força do capital seja capaz de superar eventuais obstáculos morfológicos Como exemplo podese ressaltar a ocupação de antigos mangues em litorais mais adensados populacionalmente ou mesmo de antigas planícies aluviais como a Vila Roriz em Goiânia Cunha 2000 hoje topograficamente alçada por depósitos tecnogênicos responsáveis pelo alto custo socioambiental Não serão consideradas aqui relações entre famílias de formas e implicações estruturais embora reconhecendo a existência de reflexos tectônicos e paleoclimáticos na morfologia atual Com o intuito de reforçar o argumento do significado do relevo na delimitação da paisagem apresentase a título de exemplo de relação abiótica correspondência entre a disposição morfológica e as características pedogênicas independentemente do comportamento estrutural Fig 62 Enquanto nas superfícies pediplanadas ou superfícies erosivas tabulares associadas aos processos relacionados ao Terciário Médio prevalecem os Latossolos húmicos Fig 62 nas rupturas de declive periféricas ao pediplano ou recobrindo as colinas convexas registrase a presença dos Lixossolos concrecionários com laterita os quais dão sustentação ou preservam as formas que foram elaboradas em condições morfogenéticas secas Nos compartimentos embutidos relacionados a processo de pediplanação intermontana do Terciário Superior reaparecem os latossolos húmicos enquanto nas áreas mais dissecadas como na porção inicial do perfil predominam os litossolos Assim podese estabelecer uma estreita correspondência entre a disposição do relevo e o desenvolvimento físico dos solos relacionados ao jogo das componentes perpendicular e paralela Enquanto nas formas tabulares predomina a componente perpendicular que representa infiltração aumento de intemperização e espessamento dos horizontes pedogênicos balanço morfogenético negativo nas formas aguçadas em seções de forte dissecação temse o desenvolvimento da componente paralela com balanço morfogenético positivo respondendo pelo adelgaçamento do horizonte pedogênico Gerrard 1992 mostra através de modelo hipotético de nove unidades de uma vertente adaptado de Dalrymple et al 1968 as relações morfopedológicas Fig 63 O exemplo contribui para a justificativa do significado do relevo como subsídio à demarcação das unidades territoriais que caracterizam as paisagens diferenciadas ressaltando a necessidade de se levar em consideração os parâmetros lembrados por Lopes Lopez 1986 estrutura e composição energia matéria vida espaço e tempo e funcionamento leis físicoquímicas atividade das plantas dos animais e principalmente a ação do homem Apresentase a seguir exemplo de compartimentação realizada em dois níveis taxonômicos com vistas à integração dos componentes da paisagem em estudo de impacto ambiental em área de aproveitamento hidrelétrico tendo o relevo como subsídio demarcatório da superposição de componentes abióticos e bióticos possibilitando o uso diferencial dos recursos Retomase aqui o conceito de georrelevo proposto por Kügler 1976 tomandoo como referencial tanto das relações geoecológicas quanto sociorreprodutoras 611 Exemplo de compartimentação do relevo no processo de estruturação da paisagem Apresentase a seguir exemplo prático de trabalho em que foram utilizados os compartimentos geomorfológicos para a estruturação da paisagem na bacia do rio Carinhanha divisa MGBA Com relação à caracterização da bacia hidrográfica do rio Carinhanha divisa entre os Estados de Minas Gerais e Bahia entendida como área de influência indireta para três aproveitamentos hidrelétricos foram considerados dois grandes compartimentos correspondentes ao quarto táxon Chapadas do Carinhanha extensões elevadas representadas por topos pediplanados superfícies pediplanadas e superfícies erosivas tabulares contínuos 800 a 810 m e por estruturas ou formas residuais Vão do Carinhanha área rebaixada dissecada em amplos topos interfluviais ainda preservando marcas da pediplanação intermontana 650 a 700 m e com grande quantidade de veredas Tab 64 O compartimento Chapadas do Carinhanha é constituído pelas feições geomorfológicas correspondentes a topos de cimeira e escarpas estruturais enquanto o Vão do Carinhanha apresenta três feições características rampas pedimentadas topos interfluviais e fundo de vale As feições do compartimento geomorfológico das Chapadas do Carinhanha foram assim caracterizadas Topos de Cimeira representados por superfície pediplanada com coberturas detritolateríticas terciárias e superfícies erosivas tabulares sobre seqüências areníticas concordantes da Formação Urucuia Prevalecem Latossolos VermelhoAmarelos distróficos e concreções ferralíticas Os parâmetros climáticos foram generalizados para a região dada a inexistência de estações meteorológicas nos compartimentos distintos Contudo as condições fitofisionômicas evidenciam diferenças paramétricas em função das particularidades hidropedológicas A fauna embora não se restrinja exclusivamente a um determinado compartimento tem freqüência de espécies diferenciadas nos diferentes habitats Mocó Kerodon rupestris guará Chysocyon brachyurus veadocatingueiro Ozotoceres bezoartis dentre outras n os topos pediplanados e espécies da f amília Ardeidae garçabranca e caititu Tayassu tajacu no Vão do Carinhanha Tab 61 A flora no pediplano de cimeira é representada por espécies do Cerrado típico com pelo menos dois estratos Na mesma unidade territorial o uso de solo encontrase associado à pecuária e a cultivos cíclicos como na Chapada dos Gaúchos Fig 64 As escarpas estruturais mantidas por arenitos da Formação Urucuia apresentamse dotadas de cornijas estruturais com ou sem coroamento concrecionário além de estruturas ruiniformes Os solos achamse individualizados pelos Solos Litólicos e Cambissolos álicos ambos distróficos Quanto à cobertura vegetal registrase a presença do Cerrado ralo que embora pouco ocupado prevalecem as pastagens No segundo compartimento denominado Vão do Carinhanha as feições foram assim caracterizadas com vistas à estruturação da paisagem Morfologia associada aos pedimentos detríticos identificada por vertentes suavemente côncavas debris slope correspondentes à faixa de interseção entre as escarpas estruturais e os topos interfluviais do vão As vertentes encontramse caracterizadas por colúvios pedogenizados com fragmentos de rochas desagregadas inumando paleopavimentos detríticos associados a recuo paralelo das vertentes por ocasião dos climas secos pleistocênicos Os pedimentos recobrem arenitos da Formação Urucuia Quanto aos solos predominam as Areias Quartzosas distróficas e álicas com ocorrências secundárias dos Cambissolos álicos Tratase de áreas apropriadas à pecuária extensiva representadas por pastagens naturais Os topos interfluviais são caracterizados por remanescentes de superfícies de aplainamento intermontano e vertentes dissecadas suavemente convexas ligadas aos processos denudacionais pleistoholocênicos comandadados pela drenagem Mais uma vez prevalece as Areias Quartzosas álicas e distróficas com presença de concreções ferralíticas provenientes da desagregação de couraças que preservam o testemunho de cimeira A flora é representada por cerrado típico com domínio de pastagens naturais ocupadas pela pecuária extensiva Nos fundos de vales as seqüências siltoargilosas da Formação Urucuia resultam de processo de acumulação alúviocoluvial tanto ao longo das superfícies alveolares das planícies fluviais quanto na sucessão de veredas Predominam solos hidromórficos do tipo Glei Húmico e pouco Húmico e localmente solos turfosos Organossolos A presença de água condiciona a individualização das feições morfológicas em termos de uso e ocupação refletindo nas particularidades bióticas A freqüência de espécies faunísticas foi considerada anteriormente O uso é caracterizado pela pecuária extensiva e cultivos de subsistência principalmente nas veredas Tabela 61 Estruturação da paisagem Bacia do rio CarinhanhaMGBA Numa escala maior correspondente ao quinto táxon geomorfológico a área diretamente afetada pelo empreendimento é individualizada pelas feições que integram os fundos de vales Tab 62 avaliadas em função dos padrões de formas dominantes tipos de vertentes rampas pedimentadas veredas conectadas e desconectadas da planície de inundação As rampas pedimentadas são formadas por colúvios provenientes do retrabalhamento de escarpas hoje pedogenizados sotopondo paleopavimentos detríticos associados à última fase climática seca do Pleistoceno Würm Representam as baixas vertentes onde as Areias Quartzosas álicas e distróficas e os Cambissolos distróficos favorecem a pecuária extensiva Fig 65 As veredas desconectadas das planícies aluviais atuais comportamse como depressões relativas em posição mais elevada em relação às veredas conectadas que vinculamse diretamente ao nível de base local Essa pequena diferença parece estar relacionada a um possível ajustamento tectônico que teria acontecido entre a última fase climática úmida do Pleistoceno RissWürm e a atual Holoceno As veredas denominadas de desconectadas encontramse instaladas em sedimentos siltoargilosos da Formação Urucuia internamente inumadas por depósitos alúviocoluviais pedologicamente caracterizadas pelo Glei Húmico ou pouco Húmico com ocorrência mais restrita de solos Turfosos Organossolos A vegetação encontrase ligada ao ambiente hidromórfico marcada por buritizais a ocupação é marcada pela pecuária extensiva e cultivos de subsistência Tab 62 As veredas conectadas às planícies de inundação atuais consideradas holocênicas apresentam praticamente as mesmas características em relação às veredas desconectadas Com base em tais considerações é nítida a correlação entre os componentes do meio físico tendo como base os compartimentos definidos a partir de uma base geomorfológica Tabela 62 Estruturação da paisagem no fundo de vale do rio Carinhanha MGBA É natural que a abordagem apresentada restrinjase às correlações entre os parâmetros biofísicos e o uso e ocupação do solo tendo como referência os compartimentos do relevo Nesse primeiro nível da estruturação da paisagem obtémse a sistematização ou estruturação dos componentes da análise a partir do qual deverão ser apresentadas considerações relacionadas à dinâmica dos processos que permitem a classificação dos diferentes meios Tais subsídios oferecem suporte ou indícios para a busca de explicações às formas de apropriação da natureza das relações de produção e das forças produtivas da inserção do lugar no contexto das redes globais dentre outras temáticas de interesse geográfico Portanto a presente essa abordagem permite não só a compreensão da essência dos fenômenos como também do significado do lugar oferecendo subsídios à proposta de alternativas de desenvolvimento fundamentadas em práticas sustentáveis Notas de Rodapé Ecossistema termo proposto por Tansley 1934 é um conjunto constituído por um grupo de seres vivos de diversas espécies e por seu meio natural conjunto que é estruturado pelas interações que esses seres vivos exercem uns sobre os outros e que existem entre eles e seu meio Para Tricart 1979 enquanto os geógrafos se preocupam com o ambiente ecológico os ecologistas estudavam sobretudo as estruturas das biocenoses e a fisiologia da adaptação dos seres vivos a seu ambiente Nós definimos a paisagem individual como uma entidade morfológicafuncional com uma célula somente ou com muitas células feitas de elementos fatores e fenômenos Ela é formada basicamente por um determinado poder um espaço definido e um certo tempo de vida Lopez Lopez 1986 p 108 Referemse respectivamente às superfícies PósGondwânica e SulAmericana propostas por King 1956 para o Brasil Oriental e adaptadas para o CentroOeste por Braun 1971 Por espaços portadores de potencialidades naturais entendese aqueles de baixa restrição morfológica topografia apropriada principalmente ao emprego de mecanização ou caracterizado por fertilidade natural empiricamente indicado pela tipologia da cobertura vegetal Referências bibliográficas Abreu AA Estruturação de paisagens geográficas no Médio Vale do JaguariMirim Geomorfologia S Paulo IGEOGUSP 36123 37166 38180 39124 1973 Becker B Egler CAG Detalhamento da metodologia para execução do zoneamento ecológicoeconômico pelos estados da Amazônia Legal MMARHSAEPR Brasília 1997 Bertrand G Paysage et geographie physique globale esquisse méthodologique RevGéograph Pyrénées et du SudOuest 393249272 Toulouse 1968 Bertrand G Ecologie dum espace géographique Lês géosystèmes du Valle de Prioro Espagne du Nord Ouest LEspace Géogr N 2 p 113128 1972 Braun OPG Contribuição à geomorfologia do Brasil central RevBrasGeografia R de Janeiro 33 4334 outdez 1971 Büdell J Das system der klimatischen morphologie Deutscher geographentag Munique 27465100 1948 Klimagenetische geomorphologie Geographische Rundschau Braunschweig 157269285 1963 Casseti V Estrutura e gênese da compartimentação da paisagem de Serra NegraMG Coleção Teses Universitárias 11 Editora UFG Goiânia 1981 Cunha BCC da Impactos socioambientais decorrentes da ocupação da planície de inundação do ribeirão Anicuns o caso da Vila Roriz Dissertação de Mestrado IESAUFG Goiânia 2000 Dalrymple JB Blong RJ Conacher AJ A hypothetical nine unit landsurface model Zeitschrift für Geomorphologie 12 6076 1968 Deffontaine JP Analyse du paysage et etude régionale des systèmes de production agricole Economie Rurale n 98 p 313 1973 Dollfus O O espaço geográfico São Paulo Difusão Européia do Livro 1972 Erhart H La theorie biorexistasique et les problèmes biogéographiques et paleobiologiques SocBiogeogr França CNRS 2884353 1956 Gerrard J Soil geomorphology na integration of pedology and geomorphology LondonChapman Hall 1992 269 p Huggett RJ Geoecology London Routledge 1995 320 p Janh A Denudational balance of slope Geogr Polonica 1968 Juillard E A região tentativa de definição B Geográfico R de Janeiro 24185224236 janfev 1965 Kalesnick SV La géographie physique comme science et les lois geoegraphiques génerales de la terre Na Géographie Paris 67363385403 septoct 1958 King LC A geomorfologia do Brasil oriental RevBrasGeogr R de Janeiro 18 23121 abrjun 1956 Kügler H Zur Aufgabe der geomorphologischer Forschung und Kartierung in der DDR Petermanns Geogr Mitt CXX pp 154160 Lopez S Lopes ML The functionalmorphological entity of the geographical landscape In Landscape Synthesis Part I Geoecological Foundations International Symposiums d Arbeitagr Landschaftssynthese Demokrat Rep Dessau Hans Richter and Günther Schönfelder 1985 p 105114 Mattos DL Região da baixa Mogiana Contribuição do estudo de geografia agrária do ponto de vista do uso da terra Tese de doutorado FFCEA da USP S Paulo 1959 Melo DP de Franco M do SM Geomorfologia Folha SC21 Juruena Projeto Radambrasil Rio de Janeiro 1980 Monteiro CA de F Aspectos geográficos do baixo São Francisco AGB S Paulo Bol Avulso n 5 1962 Neef E Entwicklung und Stand der landschaftsökogischen Forschung in der DDR Probleme der landschaftsökologichen Erkundung Geogr Ges DDR Leipzig p 2234 1967 Neef E Geographie und Umweltwisssenschaft Petermanns Geographiche Mitteilungen p 8188 116 Jahrgang 2 Quartals heft Leipzig 1972 Passarge S Physiologische morphologie Hamburgo Friederichsen 1912 Die landschaftsguertel der Erde Breslau Ferdinand Hirt 1922 Richter H Schönfelder G Landscape syntesis foundations classification and management MartinLuther UniversitatHalleWittenberg Wissenschaftliche Beiträge Halle 1986 Ross JLS O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo Revista do Departamento de Geografia FFLCHUSPn 6 São Paulo 1992 Santos M A natureza do espaço Técnica e tempo Razão e emoção São PauloHucitec 1996 308p Schmithüsen J Die aufgabenkreise der geographischen Wissenschaft Geographiche Rundschau 2211431 443 1970 Socava VB Geographie und Okologie Petermanns Geographische Mitteilungen p 8998 116 jahrgang 2 Quartalsheft Leipizig 1972 Tricart J Mise au point Lévolution des versants Linformation geographique 1957 Tricart J Ecodinâmica Supen R de Janeiro Fund IBGE 1977 Tricart J Paysage et ecologie Paris Rev Geomorph Dynam XXVIII 18195 1979 Troll C Die geographische landschaft und ihre erforchung Studium generale III p 163181 1950 Geoecology of the moutainous regions of the tropical americas Proceeding of the Unesco Mexico Simposium 1963 Tüxen R Die plflanzensoziologie in ihren Beziehungen zu den Nachbarwissenschaften Der Biologe 8180187 1931 1932 A pesquisa em geomorfologia 7 A Pesquisa em geomorfologia 71 A teoria 711 A teoria geomorfológica 72 O método 721 Os níveis da abordagem geomorfológica 73 A práxis Mostrar a relação triológica da pesquisa a teoria o método e a práxis no estudo do relevo Retomase aqui a questão teórica da geomorfologia a importância do método e a definição do problema como objeto da pesquisa 7 A Pesquisa em geomorfologia1 Ao se tratar a questão da pesquisa geomorfológica pretendese acima de tudo fomentar uma maior discussão sobre tais procedimentos A experiência acadêmica tem permitido a verificação da inconsistência quanto aos procedimentos da pesquisa tanto na geografia quanto na geomorfologia É comum o pesquisador iniciante propor sua investigação a partir da escolha da área de estudo sem ter muitas vezes sequer idéia do problema Também é comum desconhecer o edifício teórico ou estágio do desenvolvimento epistemológico que trata o objeto em questão o que afeta diretamente a capacidade metodológica para o desenvolvimento da investigação sem falar do necessário discernimento entre método e metodologia que têm sido tratados como vocábulos comuns A pretensão é a de se chamar atenção para uma lógica no procedimento da pesquisa como forma de sustentação científica pois sem a existência de um problema e sem o domínio teórico de determinado assunto tornase impossível a apresentação de hipótese Conseqüentemente sem hipótese não se definem ações metodológicas apropriadas Enfim sem resultado consubstanciado num aporte epistemológico não se concebe a produção sistemática de conhecimento que tem por objetivo não apenas oferecer subsídios à solução de problemas papel social da ciência mas também o de contribuir para o próprio desenvolvimento da ciência A apresentação dos mais variados temas geográficos nas atividades relacionadas ao desenvolvimento da pesquisa tem levado a algumas reflexões que parecem necessárias para a estruturação do conteúdo o que tem engendrado discussões nem sempre compatíveis com os princípios da lógica2 Por essa razão é que se procura utilizar os componentes básicos da pesquisa para tratar do encadeamento entendido como apropriado ao desenvolvimento do conteúdo geomorfológico Ao apresentar o que se denomina de princípios básicos da pesquisa evidenciase que toda proposta de estudo tem por objetivo responder alguma questão suscitada a partir de um determinado problema Assim o problema se constitui o ponto de interesse inicial para o desenvolvimento de todo e qualquer projeto de pesquisa A partir do momento em que o problema começa a ser formulado definese seu objeto de estudo que passa a ser pensado numa perspectiva teórica procurando responder cientificamente uma determinada hipótese que por sua vez encontrase fundamentada no conhecimento teórico ou conhecimento científico A formulação de uma hipótese se dá a partir de conhecimento prévio acumulado durante a vida acadêmica ou até mesmo fundamentada num argumento empírico senso comum que vai exigir a implementação de determinados passos para sua comprovação ou refutação chegandose no final a determinado resultado Lembrase aqui da proposta popperiana3 considerada importante à evolução do conhecimento pautada no falseamento de hipóteses À medida que é falseada ou refutada uma hipótese temse a incorporação de novos conhecimentos enquanto que sua corroboração implica consolidação mesmo que temporariamente de certas verdades científicas Partese do princípio de que o mundo não deve ser considerado um complexo de coisas acabadas a ciência moderna tem revelado um universo em estado de gestação permanente Reeves 1986 O que se entende como processo da pesquisa fundamentase nos princípios básicos registrados acima aqui destacados pela teoria pelo método e pela práxis os quais constituem a estrutura da presente abordagem Para se elaborar uma hipótese tornase necessária a fundamentação teórica do problema formulado ou mais especificamente do conhecimento prévio sobre o objeto da pesquisa Sem o desenvolvimento de uma teoria que explique o objeto tornase frágil qualquer enunciado ou hipótese que deverá se constituir em elementoguia ao desenvolvimento da pesquisa Para Bunge 1973 as hipóteses científicas estão incorporadas nas teorias e as teorias estão relacionadas entre si constituindo a totalidade da cultura intelectual Com a formulação da hipótese uma nova etapa aparece no desenvolvimento da pesquisa que se refere ao modo como tais enunciados serão comprovados ou refutados o que leva ao segundo princípio relativo ao método Portanto o método tem por objetivo demonstrar a forma como as etapas de falseamento das hipóteses serão desenvolvidas sem perder de vista a fundamentação teórica do problema apresentado Superadas as etapas do desenvolvimento teórico e metodológico da pesquisa iniciase a aplicação desses princípios em função de um objeto de estudo aqui incorporado à noção de práxis que envolve uma ação prática em determinado lugar situação espaçotemporal ou campo experimental para o falseamento de uma hipótese O objetivo é de se chamar atenção para a importância da prática como forma de sistematização do conhecimento resgatando o caminho revolucionário apresentado por Mao Tsetung Oliveira 1985 a prática condiciona o pensamento que elabora o conhecimento o conhecimento informa o pensamento e dirige a prática Portanto o conhecimento é um processo de assimilação do movimento da matéria e não de transposição levando à conclusão de que a prática humana sensível é a base do processo cognitivo Esse fato refuta a concepção da existência de conhecimento fundamentada em uma base idealista Antes de se falar da trilogia teoria método e práxis é importante evidenciar a epistemologia como estudo crítico e reflexivo dos princípios ou pressupostos da estrutura da ciência Não se trata de enaltecer suposta superioridade da epistemologia em relação às ciências cognitivas mas sim de demonstrar sua importância como parte da filosofia científica no sentido de promover um estudo crítico e reflexivo dos métodos e técnicas de aquisição do conhecimento Morin 1986 admite uma interdependência entre Filosofia e Ciência observando a necessidade de assumir completamente os dois pontos de vista antagônicos isto é de considerar ao mesmo tempo as ciências cognitivas como objeto da epistemologia e a epistemologia como objeto de ciência cognitiva O autor após definir a filosofia e a ciência em função de dois pólos opostos do pensamento a reflexão e a especulação para a filosofia a observação e a experiência para a ciência afirma que seria uma loucura crer que não há reflexão nem especulação na atividade científica ou que a filosofia desdenha por princípio a observação e a experimentação Com relação à filosofia e à ciência Bunge 1973 considera a epistemologia como forma de superação das preposições utilizadas partindo do princípio de que etimologicamente é entendida como teoria da ciência razão pela qual tem a vantagem de não reduzir o âmbito da disciplina em questão a um capítulo da teoria do conhecimento permitindo abarcar todos os aspectos que podem estar presentes no exame da ciência o lógico o gnosiológico e eventualmente o ontológico Rorty 19954 apresenta considerações sobre epistemologia e hermenêutica contestando o conceito psicofísico de Descartes que tem a epistemologia como responsável pela parte séria e cognitiva da cultura fundamentada na racionalidade e a hermenêutica encarregada de tudo o mais ou ainda a hermenêutica como estudo do discurso anormal em oposição à ciência normal de Kuhn5 Fundamentandose numa perspectiva epistemológica os pressupostos da estrutura da ciência passam necessariamente pelas etapas da teoria do método e da práxis que serão abordadas a partir de então 71 A teoria A teoria corresponde à sistematização de princípios resultantes do acúmulo de conhecimento produzido ao longo do desenvolvimento histórico Referese ao processo cognitivo advindo da própria prática que dada a sistemática comprovação do fato ou fenômeno que integram a realidade objetiva se legitima pela cientificidade Portanto a teoria referese a uma verdade científica mesmo que transitória cujo conjunto de conhecimentos pode representar o núcleo epistemológico de determinada ciência ou disciplina científica 711 A teoria geomorfológica Para se compreender a teoria geomorfológica numa perspectiva integrativa entre natureza e sociedade portanto numa perspectiva geográfica necessário se faz apresentar breves pressupostos históricos que nortearam a análise em questão Primeiramente tornase necessário conhecer as controvérsias epistemológicas que marcaram o estágio de sistematização dos conhecimentos geomorfológicos ressaltando os trabalhos de Günther 1934 Leuzinger 1948 e Abreu 1982 e 1983 Os diferentes sistemas de referência aqui utilizados foram tratados por Carson Kirkby 1972 Tais controvérsias a princípio consideradas pessoais entre Davis e Penck aos poucos refletiram diferenças de correntes fundamentadas em paradigmas específicos representando duas grandes linhagens epistemológicas denominadas de escola americana e escola alemã por Leuzinger 1948 ou escola anglo americana e escola germânica por Abreu 1982 O último justifica essa denominação considerando a importante participação da produção de línguas inglesa e francesa na linhagem de raiz norteamericana pelo menos até a II Guerra Mundial ressaltando também a incorporação da produção em russo e polonês na linhagem alemã A evolução dessas duas linhas conceituais é bastante diferenciada e apresenta inclusive interferências mútuas enquanto a primeira de raízes norteamericanas sofreu muito claramente nos últimos anos os impactos das revoluções científicas com tentativas de ruptura e definição de novos paradigmas a segunda de raízes germânicas parece evoluir de maneira mais contínua o que se reflete em um enriquecimento progressivo do paradigma que ganha complexidade metodológica e operacional conservando sempre um núcleo comum desde sua origem Abreu 1982 Através de sua principal obra Penck 1924 se manifesta contra o paradigma davisiano Davis 1899 que entendia a evolução do relevo a partir de estágios demarcados aparentemente estáveis vistos por Carson Kirkby 1972 como importante sistema de referência Leuzinger 1948 ao comentar as principais diferenças de natureza teóricometodológicas da investigação geomorfológica ressalta que Davis caracterizouse por construir um sistema geomorfológico simples e de fácil apreensão mas de base pouco sólida Censura o uso excessivo do método dedutivo de pesquisa definição das formas que se devem derivar das forças que atuam na superfície da terra correlacionandoas com as existentes o método de exposição fica restrito às teorias davisianas e particularmente à concepção de ciclo geomorfológico Com relação ao ciclo evolutivo do relevo além das críticas de Hettner 1927 Leuzinger 1948 refuta os rápidos movimentos ascensionais e posterior repouso tectônico até o final do ciclo6 Dentre as críticas produzidas por Penck 1924 ao modelo davisiano destacase a relação entre levantamento e degradação Penck insurge contra a hipótese do repouso tectônico durante a degradação Ao considerar a evolução do relevo Davis praticamente elimina a ação das forças endógenas movimentos tectônicos admitindo sistematicamente um levantamento relativamente rápido não dando tempo para que se realize apreciável erosão Leuzinger 1948 Com relação ao ciclo geomórfico do relevo Davis entende que a incisão dos talvegues acontece de uma forma rápida na juventude interrompendo tal atividade ao atingir o perfil de equilíbrio considerado estágio de maturidade quando a degradação entra em cena promovendo o rebaixamento das vertentes de cima para baixo down wearing Na velhice as encostas evoluem de forma suave evidenciando o franco domínio da degradação já que a erosão linear praticamente terá cessado Leuzinger lembra que o perfil longitudinal não evolui sempre uniformemente dependendo de fatores como a relevo primitivo a erosão remontante reage de acordo com a inclinação do relevo imposta pela tectônica b diferença de nível entre o nível de base e a cumiada c descarga do rio associada ao clima e d resistência das rochas ao longo do leito do rio Por fim Leuzinger 1948 apresenta considerações sobre o conceito de peneplano para diferentes autores refutando o tratamento apresentado por Davis Em oposição à noção de peneplano Penck 1924 apresenta a teoria dos plainos de erosão normal diferenciada da de Davis levantamento suficientemente lento para que a degradação ocorra de forma concomitante Um plaino com tal origem foi denominado por Penck de torso primário cujo comportamento morfológico da vertente encontrase associado à intensidade ou à velocidade dos movimentos crustais Ao refutar as idéias de ações geomórficas distintas tectônica e degradação os conceitos de perfil de equilíbrio ciclicidade antropomórfica do relevo e estágio de peneplanação a escola germânica assume relevância sobretudo após a publicação póstuma de Morphological Analysis of Land Forms de Walther Penck na língua inglesa 1953 Embora registrandose uma verdadeira ruptura epistemológica na escola angloamericana a partir da II Guerra Mundial quando as concepções davisianas passam a ser questionadas pelos próprios seguidores ainda constatamse diferenças conceituais entre ambas conforme observou Abreu 1982 em citação anterior Como argumento de endosso à afirmação de Abreu 1982 ressaltase a incorporação do relevo nos estudos de perspectiva geoecológica como o conceito de paisagem abordado por Passarge 1912 1922 com vistas ao processo de ordenação ambiental do espaço com nítida tendência holística no tratamento dos componentes físicos da paisagem oferecendo uma perspectiva geográfica Na mesma linha de Passarge destacamse os trabalhos de Troll 1939 1959 ou de Büdell 1948 1957 que propõem uma geomorfologia climatogenética integrando os componentes epirogenéticos climáticos petrográficos e fitogeográficos Destaque deve ser dado ainda à participação da Polônia Tchecoslováquia e URSS na escola germânica sobretudo a partir da II Guerra Mundial por meio da cartografia geomorfológica Desse momento em diante despertase o interesse pelos estudos taxonômicos em geomorfologia e pela representação do relevo Como precursores de uma cartografia geomorfológica sistemática destacamse Klimaszevski 1963 Demek 1976 e Basenina e Trescov 1972 72 O método O conceito de método aqui utilizado não significa propriamente metodologia As metodologias são guias a priori que programam as investigações ao passo que o método é um auxiliar da estratégia Morin 1986 Portanto a estratégia se caracteriza como segmento programado metodológico comportando necessariamente descoberta e inovação O objetivo do método para Morin 1986 é ajudar a pensar por si mesmo para responder ao desafio da complexidade dos problemas Leuzinger 1948 ao insistir na necessidade de um método quantitativo para a geomorfologia como forma de superação dos problemas atuais parece desconsiderar a questão semântica ao tratar do conceito de método embora fazendo importante observação Acreditamos que reside na sua natureza qualitativa a deficiência dos métodos atuais de pesquisa geomorfológica As teorias baseadas em hipóteses incertas ficam sujeitas a críticas e valem tão pouco quanto essas hipóteses E o que é mais grave essas teorias não resolvem o problema sendo várias as hipóteses possíveis de predominância de ações serão várias também as teorias e tão boas umas como as outras Com base em tais pressupostos Leuzinger 1948 defende a importância do processo experimental na geomorfologia utilizandose como referência os avanços assistidos na Física dos Solos A expectativa aqui é de se utilizar o método como procedimento auxiliar da estratégia consagrandolhe atenção privilegiada por resistir à prova da verificação refutação fornecendo assim dados relativamente seguros para o conhecimento do conhecimento Morin 1986 Para Bunge 1973 a investigação é uma empresa multilateral que requer o mais intenso exercício de cada uma das faculdades psíquicas e que exige um concurso de circunstâncias sociais favoráveis por este motivo todo testemunho pessoal pertencente a qualquer período por parcial que seja pode deixar alguma luz sobre algum aspecto da investigação Devese esclarecer que o método científico incorpora tanto os passos que subsidiam as atividades da investigação como o instrumental responsável pela materialização das idéias formuladas denominadas de técnicas 721 Os níveis da abordagem geomorfológica Tornase relativamente fácil compreender a diferença entre método e metodologia utilizandose o argumento geomorfológico Como exemplo os níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 se caracterizam como estratégia auxiliar para o desenvolvimento da pesquisa geomorfológica portanto referemse propriamente ao método ao passo que as formas e instrumentais utilizados para o estudo de cada um dos referidos níveis correspondem à metodologia Conforme se relatou em capítulos anteriores os níveis metodológicos em geomorfologia apresentados por AbSáber 1969 fundamentamse na concepção desenvolvida pela escola germânica Lembra Abreu 1982 que a proposta de AbSáber constitui um verdadeiro avanço proporcionando uma ótica muito mais próxima da postulada por Kügler 1976 quando formaliza suas idéias sobre o georrelevo enquadrandoo no âmbito de interesse da geografia Parecenos aliás que não é por acaso que AbSáber retoma o conceito de fisiologia da paisagem já explorado no início do século por Siegfried Passarge no contexto de sua morfologia fisiológica indo de encontro à postura que nos estudos de geografia física global acabou produzindo no âmbito da Europa Oriental os estudos de Sotchava Como se sabe AbSaber 1969 apresenta proposta que visa a abordar o relevo em três instantes interpenetráveis apresentadas no capítulo introdutório a A compartimentação topográfica adota passos que envolvem indicadores espaciais e indicadores temporais o que se constituirá em referência para a análise dos níveis subseqüentes Apresentamse a seguir algumas metodologias adotadas pelo nível de abordagem em questão As relações taxonômicas do relevo como sistematizadas pelo IBGE 1995 e adaptadas por Ross 1992 e a classificação dos fatos geomorfológicos como a proposta por Birot 1955 Cailleux Tricart 1956 e Tricart 1965 se constituem em alguns dos parâmetros significativos para a discussão do problema Os estudos de Birot 1955 associados à classificação antropomórfica davisiana clássica são superados por Cailleux Tricart 1956 que estabelecem critérios a serem seguidos na classificação dos fatos geomorfológicos princípios dinâmicos e princípios dimensionais das formas de relevo Tais critérios são ampliados por Tricart 19657 Também os conceitos desenvolvidos por Gerasimov Mescherikov 1968 e Mescerjakov 1968 têm se constituído em importante subsídio à classificação dos fatos geomorfológicos Os conceitos de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura de Mescerjakov 1968 ou geotextura morfoestrutura e morfoescultura de Gerasimov e Mescherikov 1968 repousam sobre a premissa de Penck 1924 de interação contraditória entre forças internas e externas Abreu 1982 evidenciando uma ordenação têmporoespacial O esquema de Mescerjakov permite uma comparação direta com a proposta de Tricart 1965 embora o primeiro considere uma maior flexibilidade taxonômica ou seja menos rigoroso quanto às dimensões dos fatos A classificação de Mescerjakov 1968 embora com imperfeições8 é entendida por Abreu 1982 como mais avançada tendo sido muito empregada na então URSS o que pode ser exemplificado através dos trabalhos de Basenina Trescov 1972 e Basenina Anutarshova Lukasov 1976 Em linhas gerais Abreu 1982 apresenta o roteiro metodológico resumido seguido pelos autores ver capítulo sobre Cartografia Geomorfológica A classificação mencionada tem se constituído em referencia para o desenvolvimento de estudos no Brasil conforme pode ser constatado através dos autores mencionados fundamentados nas relações taxonômicas bem como nos índices morfométricos para a caracterização do relevo quanto à vulnerabilidade tendo por princípio os conceitos de meios apresentados por Tricart 1957 meios estáveis instáveis e intergrade As relações taxonômicas em geomorfologia deixam de ser apresentadas aqui por terem sido contempladas em dois momentos anteriores capítulos referentes à Compartimentação Topográfica e à Cartografia Geomorfológica A sintetização de parâmetros relacionados à dimensão interfluvial aprofundamento da drenagem e declividade do terreno deriva da metodologia criada pelo Radambrasil IBGE 1995 bem como de trabalhos clássicos da cartografia geomorfológica tendo por objetivo estabelecer o grau de vulnerabilidade do relevo Portanto utilizandose de valoração das variáveis dimensão interfluvial entalhamento do talvegue e declive da vertente são estabelecidas médias aritméticas ou ponderadas visando à caracterização do grau de vulnerabilidade do relevo a vulnerabilidade à erosão aumenta progressivamente considerando a ordem crescente dos valores atribuídos b Com relação à metodologia em estrutura superficial destacase o trabalho de Ruhe 1975 Ao oferecer subsídios ao estudo da paisagem e depósitos superficiais recupera a importância da base quantitativa para todas as observações e medidas tanto na visão horizontal na superfície como na vertical em perfil ou corte do terreno também chamada de seção transversal Na oportunidade sugere perfurações para retirada de amostras como sondagens e tradagens do depósito de cobertura apresentando diferentes formas operacionais Em seguida para tratar da análise da estrutura superficial fundamentada em medidas e descrições responsáveis pela definição da seção vertical em um dado ponto inclui os aspectos cor textura estrutura consistência reação química do material e observações específicas verificadas A cor deve ser descrita de acordo com o padrão de referência Tabela de Cores de Munsell a textura que corresponde à dimensão das partículas de uma determinada amostra tem por objetivo definir a classe textural areia silte argila a estrutura do material que compreende o conjunto de partículas de minerais dentro dos agregados laminar prismática blocular e esferoidal a consistência corresponde ao grau e o tipo de coesão ou resistência do material ao corte podendo ser viscoso ou maleável plástico friável ou firme maciço ou duro a reação é a resposta do material a testes químicos como o pH presença de carbonatos O autor recomenda o tratamento gráficoestatístico no processo de sistematização das informações culminando com a caracterização cronológica dos depósitos correlativos perspectiva histórica A importância dessas informações transcende a interpretação cronológica podendo assumir destaque como componente da vulnerabilidade do relevo considerando o grau de friabilidade do material submetido aos processos morfogenéticos ou morfodinâmicos Abreu 1982 apresenta em seu trabalho de LivreDocência ficha de observação de campo modelo anexo produzida no Laboratório de Geomorfologia da USP com o intuito de auxiliar nos levantamentos da estrutura superficial Além das informações relativas ao comportamento dos depósitos correlativos são considerados aspectos de natureza estrutural e relativos aos processos morfodinâmicos vigentes procurando diagnosticar as formas de apropriação e uso do solo bem como o comportamento da cobertura vegetal c O estudo da fisiologia da paisagem se caracteriza como de maior aplicabilidade e interesse geográfico na medida que busca compreender as relações funcionais dos processos morfodinâmicos onde a apropriação do relevo como suporte ou recurso antropogênico responde por impactos diretos e indiretos muitas vezes representando derivações com reflexos ambientais sociais ou mesmo econômicos Muitas são as perspectivas de estudo oferecidas no nível da fisiologia da paisagem Dos procedimentos metodológicos e técnicas utilizadas no controle de parâmetros de interesse da fisiologia da paisagem destacam se os processos experimentais A necessidade de se entender a experimentação em geomorfologia como importante elemento metodológico levou Cazalis 1961 a fazer considerações sobre os caminhos da experimentação e da observação em geomorfologia O autor trata da relação entre ciências exatas e ciências conjeturais evidenciando a necessidade das duas para o esperado avanço epistemológico Com relação ao significado da energia cinética da chuva enquanto processo erosivo destacamse os trabalhos de Elison nos anos de 1944 e 1947 bem como estudos posteriores de Palmer 1963 e De Ploey 1967 o último utilizandose de diagrama de erosão para estabelecer correlações entre o potencial de erodibilidade pluvial nos trópicos e nas médias latitudes A EUPS Equação Universal de Perda de Solos de Wischmeier Smith 1978 tem sido uma das mais importantes referências para o cálculo de perda de solo associado à erosão laminar Dentre alguns dos trabalhos relacionados a perdas de terra por erosão destacase a presença tanto dos geomorfólogos como de agrônomos interessados nas questões de conservação do solo a exemplo de Marques 1966 e Bertoni et al 1972 ambos do Instituto Agronômico de Campinas que vêm desde 1943 medindo as perdas por erosão no Estado de São Paulo Queiróz Neto 1977 avalia o grau de erosão acelerada no Estado de São Paulo demonstrando seus efeitos através da somatória de problemas associados ao processo de ocupação Uma infinidade de trabalhos experimentais já foi produzida dentre os quais destacam se os de Moeyersons 1976 que recorre a modelo de equação para demonstrar o significado da intensidade da chuva no transporte de materiais de Stocking 1978 que se utiliza de equação de regressão para avaliar o efeito da intensidade das chuvas no processo erosivo de De Ploey Savat 1976 que utilizam simuladores de chuvas para correlacionar as perdas de solo em função do escoamento com resultados que divergem das experiências de Horton 1941 bem como do modelo proposto por Kirkby Chorley 1967 De Ploey Savat 1968 e 1970 também apresentam contribuição ao estudo do efeito splash gota de chuva no primeiro artigo referente ao fator de erosão utilizandose de simulador de chuvas com a formulação da equação do balanço das massas e no segundo evidenciando a dimensão de deslocamento das partículas em função da dimensão e da velocidade do pingo da chuva Ruellan 1952 em seu trabalho clássico sobre erosão relata o papel das enxurradas no modelado brasileiro Destacamse ainda os trabalhos de Giese 1966 sobre a vulnerabilidade quanto ao uso dos solos com vistas ao planejamento e Margolis 1978 sobre os efeitos de práticas conservacionistas sobre as perdas por erosão Enquanto Rougerie 1954 apresenta método de estudo experimental dos fenômenos erosivos no meio natural HidalgoGranados 1978 ocupase com a instrumentação para estações de controle em pequenas bacias hidrográficas relacionada aos efeitos erosivos rede pluviométrica rede liminmétrica medição de erosão e outras formas de controle associadas ao balanço hídrico Schick 1968 observa o significado da calha Gerlach no controle do fluxo por terra Cruz 1982 utiliza se de calhas Gerlach em experimentos na Serra do Mar Estudos experimentais relacionados a movimento de massas podem ser encontrados em Lewis 1976 e Guidicini Iwasa 1976 ambos no domínio tropical além de De Ploey Moeyerson 1976 para os fenômenos de creeping nas latitudes temperadas Estudos genéricos relacionados aos componentes processuais nas vertentes podem ser vistos através de Ruhe 1975 Leopold et al 1964 Carson Kirkby 1972 dentre outros A abordagem hidrológica de vertentes é considerada por Anderson Burt 1978 Betson Ardis 1978 Chorley 1978 além de outros Atualmente temse observado uma tendência muito forte de estudos relacionados aos processos de erosão acelerada como referentes ao boçorocamento bem como aos fenômenos tecnogenéticos todos associados a fortes impactos socioambientais Como se vê muitos são os trabalhos relacionados aos aspectos intrínsecos ou extrínsecos das vertentes na perspectiva da fisiologia da paisagem Tornase praticamente impossível citar aqui todos os trabalhos que merecem destaque no referido nível de abordagem sendo mais válida a sugestão de permanente consulta a periódicos científicos nacionais e estrangeiros como a Revista Brasileira de Geomorfologia Catena Earth Surfrace Processes and Landforms Geoderma Geomorphology Journal of Soil Science Palaeogeography PalaeoclimatologyPalaeoecology Quaternary Research Soil Science e Zeitschrift für Geomorphologie 73 A práxis A práxis no presente contexto referese à ação à atividade prática sensível base do processo cognitivo dirigida pelo pensamento Portanto assume relevância ao se utilizar a teoria para buscar respostas para a hipótese formulada A instauração da práxis como elemento mediador da pesquisa se caracteriza como atividade transformadora que nega a clássica dicotomia entre teoria e prática A materialização do desenvolvimento teórico se dá através do método e de seus instrumentais Não deixa contudo de corresponder ao conceito de práxis atribuído por Marx segundo o qual é a atividade livre universal criativa e autocriativa por meio da qual o homem cria faz produz e transforma conforma seu mundo humano e histórico e a si mesmo atividade específica ao homem que o torna basicamente diferente de todos os outros seres Petrovic 1983 Nesse momento é imprescindível aproveitar os fundamentos teóricos e metodológicos da abordagem proposta considerando as premissas e critérios adotados na análise geomorfológica Nesse sentido é importante evidenciar a ótica adotada por Kügler 1976 tomando como princípio o conceito de georrelevo em que se considera o papel do relevo em face à ação humana tanto no que se refere às potencialidades e limitações como concernente ao modo concreto de uso com vistas voltadas para a efetividade e os custos sociais de produção Abreu 1982 Ao avançar no problema da classificação do relevo Abreu 1982 observa que não se pode deixar de lado os aspectos relacionados às formas e ao movimento da matéria resgatando os quatro caracteres básicos registrados por Ignotov 1968 como princípio de classificação a forma que pressupõe a existência de um veículo material na base do qual observase uma intenção específica que funciona como força motriz de sua gênese tendo ainda uma condição básica de existência definida segundo formas de movimentos específicos Com base no esquema geral de classificação do relevo como o apresentado por Mescerjakov ordenação estrutural unidade climática e mecanismos genéticos apoiado na postura penckiana compreendese as relações processuais em sua essência considerando o mérito de poderem ser incorporadas a estudos integrados da paisagem O método adotado pelo autor não se limita à questão da escala deslocando a análise do domínio morfoestrutural para o morfoescultural O produto final desta cartografia é que definirá em função da escala de abordagem uma ordenação que se prenda mais ao nível estrutural ou escultural da explicação geomorfológica Abreu 1982 Se de um lado a classificação dos fatos atémse aos interesses geomorfológicos por outro deixa a desejar quanto às relações sociais no que tange à apropriação do relevo partindo do princípio de que a morfodinâmica em muitos casos encontrase associada às ações produzidas pelo próprio homem Contudo na medida que se incorpora a esse sistema conceitual de classificação a noção humanista de georrelevo proposta por Kügler 1976 a geomorfologia ganhará no âmbito da geografia uma postura coerente com sua teoria e com os objetivos daquela Abreu 1982 Isso dependerá de um esforço pessoal dos geógrafos interessados em compreender a ordenação territorial valorizando uma ótica que tradicionalmente tem pertencido à geografia Daí o significado de se compreender o grau de vulnerabilidade do relevo e como se dá sua apropriação Ao mesmo tempo é necessário constatar que eventuais limitações de uso implicam concepções diferenciadas de acordo com o poder aquisitivo do apropriador Como se sabe a tecnologia pode superar limites de uso impostos pela vulnerabilidade do relevo o que caracteriza processo de artificialização do espaço Rosset 1989 ao mesmo tempo em que a ausência da técnica e a conseqüente necessidade de ocupação de áreas de risco transformam o relevo em componente do azar uma vez que o apropriador fica suscetível às anomalias da natureza Devese contudo ressaltar que a o emprego de técnicas para superar as restrições morfológicas leva a exceder a capacidade de suporte de inpu t de energia a gastos sociais desnecessários ou até mesmo à inviabilidade financeira b a artificialização do relevo pelo domínio tecnológico agrava o estado de externalização da natureza legitimando a tendência teleológica de dominação o que representa ampliação da crise existencial e do próprio antagonismo de classes sociais Embora o objetivo do estudo geomorfológico seja o de buscar a essência do relevo produzido pela contradição entre os processos internos e externos o que permite a compreensão dos graus de vulnerabilidade e potencialidade atual é importante perceber as transformações produzidas pelo homem sobre a morfoescultura em seus diferentes aspectos gerando aceleração dos processos morfodinâmicos da paisagem Cabe assim a incorporação do conceito de capacidade de suporte do georrelevo como forma de subsidiar a apropriação antropogênica se constituindo em referencial quanto à intensidade e freqüência de modos de uso e ocupação bem como da efetividade dos custos sociais de produção Com relação ao encadeamento das operações utilizandose da seqüência metodológica de Boesch 1970 e de Libault 1971 Abreu 1982 apresenta as etapas de investigação adotadas em seu trabalho ressaltando a importância da teoria de apoio à hipótese como forma de se prover o grau de coerência do resultado a que se quer chegar Abreu 1982 conserva a terminologia dos quatro níveis operacionais propostos por Boesch 1970 obtenção dos dados registro e armazenamento processamento e resultado final que corresponderiam respectivamente aos níveis compilatório correlatório semântico e normativo de Libault 1971 Lembrase aqui a pauta da investigação científica proposta por Bunge 1973 como grandes linhas para o desenvolvimento da pesquisa contemplando os níveis operacionais apresentados acima 1 Existência do problema caracterizado pelo reconhecimento dos eixos descobrimento e formulação do mesmo 2 Construção de um modelo teórico que consiste na seleção dos fatores pertinentes investigação das hipóteses centrais e das superposições auxiliares bem como traduções matemáticas quando possíveis ou necessárias 3 Dedução de conseqüências particulares individualizada pela busca de suportes racionais e busca de suportes empíricos 4 Prova das hipóteses representada pelo desenho da prova execução da prova elaboração dos dados e inferência das conclusões 5 Introdução das conclusões na teoria comparação das conclusões com as predições reajuste do modelo e sugestão acerca do trabalho ulterior Finalizando evidenciase a importância da práxis como forma de se produzir conhecimento retomando a postura apresentada por Mao Tsetung Oliveira 1985 onde a prática condiciona o pensamento e elabora o conhecimento É através do acúmulo do conhecimento sistematizado ao longo do tempo que se promove o necessário avanço epistemológico O novo conhecimento responderá pela implementação de uma nova prática uma nova teoria fundamentada em novos paradigmas como a tendência ecológica profunda comentada por Capra 1996 que trata da lógica interpenetração natureza e sociedade reconhecendo o valor intrínseco de todos os seres vivos Esperamse novas concepções longe da patologia idealista ou mecanicista ou ainda da tendência teleológica de um mundo comandado pelo imperativo da competitividade que impõe uma racionalidade que perdeu o sentido 1 Divulgado originalmente nos Anais do VI Encontro Regional de Geografia Espaço em Revista Ano 2 n 2 p 822 Catalão 1999 Foram feitas modificações e correções O resgate de conteúdo do primeiro capítulo no presente tópico é proposital tendo por objetivo reforçar os princípios do processo da pesquisa 2 Conforme AV Pinto 1985 p63 a ciência sendo a forma superior do processo do conhecimento não pode ser devidamente entendida fora da teoria geral desse mesmo processo Por isso todas as proposições que se emitem a seu propósito estão vinculadas a uma concepção filosófica 3 Popper K A lógica da pesquisa científica S PauloCultrixEdusp 1972 4 Para Rorty 1995 a hermenêutica encara as relações entre discursos variados como as relações entre partes integrantes de uma conversação possível uma conversação que não pressupõe nenhuma matriz disciplinar que una os interlocutores mas onde a esperança de concordância nunca é perdida enquanto dure a conversação A epistemologia vê a esperança de concordância como um sinal da existência de um terreno comum que talvez desconhecido para os interlocutores os une numa racionalidade comum 5 Para Kuhn ciência normal é a prática de resolve problemas em contrapartida ao fundo de um consenso sobre o que conta como uma boa explicação dos fenômenos e sobre o que seria necessário para que o problema fosse resolvido 6 O termo ciclo é contestado pelos autores pela idéia de linearidade proporcionada no sentido de retorno ao mesmo ponto desconsiderando os fenômenos ou processos que são acíclicos 7 Tricart 1965 demonstra que a essência do objeto de estudo da disciplina se altera com a escala levando à necessidade de se adaptar o método à escala de abordagem 8 Uma das imperfeições da proposta de Mesceriakov 1968 é a de desconsiderar a variável temporal Referências Bibliográficas Abreu A A de Quantificação e sensoriamento remoto na investigação geográfica Bol Paulista de Geografia S Paulo n 51 p 8993 1976 p 91 Abreu AA de Análise Geomorfológica Reflexão e Aplicação Tese de Livre DocênciaFFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 n 12 p 5 23 jandez 1983 Abreu AA de Ação antrópica e propriedades morfodinâmicas do relevo Na área metropolitana de São Paulo Orientação S Paulo IGUSP n 7 p 3538 1986 AbSáber AA Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário Geomorfologia S Paulo IgeogUSP 18 1969 Baccaro CAD Estudos dos processos geomorfológicos de escoamento pluvial em área dae Cerrado UberlândiaMG FFLCH Universidade de São Paulo S Paulo 2000 Basenina NV e Trescov AA Geomorphologische kartierung des Gebirgsreliefs im Mastab 1200000 auf Grund einer Morphostrukturanalyse Zeitscrift für 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Pesquisa de Conservação do Solo Passo Fundo p 27180 Embrapa 1978 Boesch H Ein Schema geographischer Arbeitsmethoden Geogr Helvetica Jahrgang 25 n 3 p 105108 1970 Branco JM de F Dialética ciência e natureza LisboaCaminho 1989 Büdel J Das System der klimatischen Geomorphologie Wiss Verhandlungen deutcher Geographentag Amt für Landeskunde München 1948 Die Doppelten Einebnungsf lächen in den feuchten Troppen Zeitschrift für Geomorphologie Band 1 Heft 2 Berlin 1957 Bunge M La ciencia su metodo y su filosofia Buenos Aires Ed Siglo Veinte 1973 p 82 Carson MA e Kirkby MJ Hillslope form and process Cambridge University Press London 1972 Capra F A teia da vida SãoPauloCultrix Ltda 1996 256p Casseti V Estudo dos efeitos morfodinâmicos pluviais no Planalto de Goiânia Tese de Doutorado USP S Paulo 1983 Cazalis P Geomorphologie et processus expérimental Cah Géogr 50 93350 Oct 1960 mai 1961 Chorley RJ The hillslope hydrological cycle In Hillslope Hydrology N York John Willey Sons 1978 Cogo NP Uma contribuição à metodologia de estudo das perdas por erosão em condições de chuva natural Anais do II Enc Nac Pesq ConsSolo Passo Fundo p 7597 Embrapa 1978 Crepani E et al Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicados ao Zoneamento EcológicoEconômico INPE S José dos Campos 1998 Cruz O Estudo dos processos geomorfológicos do escoamento pluvial na área de Caraguatatuba S Paulo Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Davis WM Le péneplaine Annales de Géographie V VIII p 289303 e 385404 1899 Dedecek RA Capacidade erosiva das chuvas de BrasíliaDF Anais EncNacPesqConsSolo Passo Fundo p 157166 1978 Demek J Edit Handbuch der geomorphologischen Detailkartierung Ferdinand Hirt Wien 1976 De Ploey J Étude de lerosion pluviale de sols sablonneux du Congo Occidental au moyen dum traceur radioactif II In Rap Rechearche Rép Dém Congo Trico 14 1967 De Ploey J Savat J Contribuition a létude de lérosion par le splash Z Geomorph NF Berlin 12 2174 93 1968 De Ploey J Savat J Utilisation dum traceur radioactif pour létude de lérosion pluviale es sols sablonneuw du Congo Occidental Peaceful Uses Of Atomic Energy in Africa Internation Atomic Energy Agency Vienna p 195200 1970 De Ploey J Moeyersoon J Runnoff creep of coarses debris experimental data and some field observations Catena Giesen v 227589 1976 Ellison WD Studies of raindrop erosion Agr Engr 25131181 1944 Engels F A dialética da natureza R Janeiro Paz e Terra 1979 Trad JBS Hldane Erhart H La genèse des sols en tant que phenomène geologique Esquisse dune théorie geologique et geochimique biostasie et rhexistasie Masson et Cie Editeurs Paris 1958 Gerasimov IP e Mescherikov JA Morphostructure In The encyclopedia of geomorphology Ed RW Fairbridge p 731732 Reinhold Book Co New York 1968 Giese LD Soil survey and land use planning with the tropical soils of Hawaii Anais Congr PanAmer Cons Solo S Paulo Secr Est S Paulo p 27788 1966 Guidicini G Iwasa OW Ensaio de correlação entre pluviosidade e escorregamentos em meio tropical úmido 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Textos Teoria e Método n 11 AGB S Paulo ago 1985 Palmer LC The influence of a thin water layer on water drop impact forces Intern AssocSci Hydrol 65141 48 1963 Passarge S Physiologische Morphologie Friedericksen Hamburg 1912 Die Landschaft tsguertel der Erde Hirt Breslau 1922 Penck W Die Morphologische Analyse Ein Kapitel der physikalis chen Geologie J Engelhorns Nachf Stuttgart 1924 Morphological analysis of landforms a contribution to physical geology Trad Hella Czech e Katherine CBoswell Macmillan and Co Ltd London 1953 Petrovic G in Dicionário do pensamento marxista Rio de JaneiroJorge Zahar Ed 1983 Popper K A lógica da pesquisa científica S Paulo CultrixEdusp 1972 Queiróz Neto JP de Les problèmes de lérosion accelerée dans lEtat de São Paulo Brésil In Alexandr J Geomorphologie Dinamic in Tropical Regions Press Univ du Zaire 1977 Reeves H Um pouco mais de azul S Paulo Martins Fontes 1986 282p Rorty Richard A filosofia e o espelho da natureza R de Janeiro Relume Dumará 1995 Trad 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retilíneas côncavas Grau de convexização Grau de desenvolvimento das várzeas Altomédiobaixoinexistente Descrição do leito inundável Largura material em transporte textura paleopavimentos Terraços fluviais Caracterização do terraço erosivodeposicional estratificação dos depósitos Dinâmica das Vertentes Tipo de erosão predominante linear laminar Grau de desenvolvimento das formas erosivas altomédiobaixo Grau de equilíbrio das vertentes alto médio baixo 4 USO DO SOLO E REFLEXOS NAS FORMAS E NA ESTRUTURA SUPERFICIAL Culturas permanente temporária Pastagens natural cultivada Técnicas de cultivo e manejo Extração mineral localização morfológica Conseqüências na dinâmica da paisagem em relação aos processos erosivos formas préexistentes gênese de novas formas Outros fatores que contribuem para acelerar ou retardar as formas erosivas 5 COBERTURA VEGETAL NATURAL Tipo florestalcerrado campo mata galeria Descrição Grau de alteração alto médio baixo Motivo 6 PERFIS ESQUEMAS DE CAMPO E OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES
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GEOMORFOLOGIA CASSETI Valter Geomorfologia Sl 2005 Fonte httpsdocsufprbrsantosGeomorfologiaGeologia GeomorfologiaValterCassetipdf Acesso 15022023 Apresentação No domínio da matéria nada é criado do nada e na vida não existe a geração espontânea também no domínio da mente não há idéia cuja existência não se deva a idéias antecedentes numa relação semelhante a pai e filho Assim nossos processos mentais ao serem conduzidos em sua maior parte ao exterior da consciência será difícil descobrir a linhagem das idéias GK Gilbert 1895 in The Origin of Hypotheses O relevo terrestre assume expressão como recurso ou suporte da vida palco do desenvolver da história no dizer de Emmanuel De Martonne 1964 Caracterizase como potencial natural que ao ser apropriado pelo homem adquire significado ideológico tanto pelo caráter geopolítico como pela condição externalizada na abordagem positivista Sun Tzu há mais de 2500 anos quando escreveu A Arte da Guerra destinou capítulo específico sobre terreno atribuindo ao relevo importância estratégica fundamental a formação natural da região é o melhor aliado do soldado se você conhece o inimigo e a si mesmo sua vitória não será posta em dúvida se você conhece o céu e a terra pode tornála completa Também Jean Tricart em Levolution des Versants 1957 ressalta o significado das pesquisas sobre os aplainamentos durante as duas grandes guerras mundiais dada a importância do relevo enquanto estratégia bélica No caso específico os aplainamentos assumiam importância para a construção de campos de pouso O conceito medieval de relevo contempla a noção de acidente no sentido de revanche da natureza considerando as conseqüências de uma apropriação destituída e medidas mitigadoras quanto a eventuais impactos enquanto a noção de altimetria referese ao critério de demarcação das fronteiras territoriais Moreira1994 Fazse aqui a necessária ressalva de que mesmo a superfície relativamente plana excluída da noção de relevo na concepção popular é uma forma que representa determinado compartimento O relevo no contexto ideológico da natureza pode constituir argumento ou substrato do evento do azar ao separar seus processos intrínsecos em relação às atividades humanas justificando a ocorrência dos desastres como ato de Deus Da mesma forma quando os acidentes naturais numa lógica malthusiana são vistos como argumento de triagem ou controle populacional positivo desconsiderase a apropriação diferencial a exemplo da ocupação de áreas de risco diretamente relacionada às condições socioeconômicas A preocupação com as relações processuais responsáveis pela evolução do relevo cada vez mais ganha destaque ao se constituir em importante subsídio ao ordenamento territorial comprovado através de estudos relativos aos riscos urbanos ou de natureza geoambiental Neste sentido destacamse os trabalhos relacionados às formações superficiais1 que inserem a geomorfologia num contexto multidisciplinar aumentando sua crescente tendência para se colocar mais próxima às ciências ambientais das quais eventualmente se afastou Barbosa 1983 Para se entender o relevo na atualidade é imprescindível compreender o seu processo evolutivo em seus diferentes momentos epistemológicos que contribuíram para a sistematização do conhecimento geomorfológico Na presente abordagem o relevo é entendido como resultado das forças antagônicas sintetizadas pelas atividades tectônicas e estruturais e mecanismos morfoclimáticos ao longo do tempo geológico observando que cada momento do relevo constitui um fim em si Cholley 1950 Com este trabalho pretendese oferecer alguns subsídios introdutórios de geomorfologia procurando destacar as relações processuais como fatores intrínsecos à elaboração do relevo Na introdução considerase a natureza da geomorfologia e sua relação com a geografia onde academicamente se alojou ao longo do tempo Apresentase uma síntese evolutiva com respectivos sistemas de referência Os três capítulos seguintes constituem o núcleo estrutural da geomorfologia levando em conta os níveis de abordagem propostos por AbSáber 1969 a compartimentação topográfica a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem Os demais capítulos Cartografia geomorfológica Subsídios da geomorfologia ao estudo integrado da paisagem e A pesquisa geomorfológica têm por objetivo evidenciar alguns recursos ou aplicações voltadas ao ordenamento espacial como estudo da paisagem Assim apresentamse considerações sobre a cartografia geomorfológica os subsídios da geomorfologia para o estudo integrado da paisagem e a pesquisa geomorfológica numa perspectiva que tenha por princípio a teoria o método e a práxis Os três primeiros capítulos resgatam parcialmente conteúdos dos livros do autor Elementos de Geomorfologia e Ambiente e Apropriação do Relevo o que implicou revisão supressão e incorporação de conhecimentos OBJETIVO DO LIVRO 1 oferecer um ordenamento metodológico ao estudo geomorfológico considerando os níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 Notas de Rodapé 1 Segundo Dewolf 1965 formações superficiais são formações continentais friáveis ou secundariamente consolidadas provenientes da desagregação mecânica e da alteração química das rochas que tenham ou não sofrido remanejamento e transporte e qualquer que seja a sua gênese e sua evolução Introdução à Geomorfologia 1 Introdução ao estudo da geomorfologia 11 A natureza da geomorfologia 12 A geomorfologia no contexto da Geografia 13 Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos 14 Sistemas de referência em geomorfologia 141 O sistema de William M Davis 142 O sistema de Walther Penck 143 O sistema de Lester C King 144 O sistema de John T Hack 15 Algumas evidências quanto à velocidade da denudação 16 Os níveis metodológicos em geomorfologia 1 Introdução ao estudo da geomorfologia O que é e para que serve a Geomorfologia Mostrar a importância do estudo do relevo para os diferentes campos do conhecimento planejamento urbano e regional análise ambiental evidenciando a estreita relação com a Geografia As grandes correntes geomorfológicas e a situação atual Evidenciar as duas grandes linhagens epistemológicas escola angloamericana e germânica com respectivas filiações apresentando um panorama da situação atual tendência holística fundamentada na perspectiva germânica Os níveis metodológicos em geomorfologia Mostrar a importância dos três níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 para o estudo da geomorfologia Resgatar a importância das unidades taxonômicas para o estudo do relevo apresentar alguns conceitos básicos como processos morfoclimáticos morfogenéticos e morfodinâmicos considerando as relações têmporoespaciais 11 A natureza da geomorfologia A geomorfologia é um conhecimento específico sistematizado que tem por objetivo analisar as formas do relevo buscando compreender os processos pretéritos e atuais Como componente disciplinar da temática geográfica a geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo como recurso ou suporte considerando a conversão das propriedades geoecológicas em sócioreprodutoras Kügler 1976 caracteriza as funções sócioreprodutoras em suporte e recurso do homem Seu objeto de estudo é a superfície da crosta terrestre apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas sistematizadas pelas atividades tectogenéticas endógenas e mecanismos morfoclimáticos exógenos responsáveis pelas formas resultantes Partindo do princípio de que tanto os fatores endógenos como os exógenos são forças vivas cujas evidências demonstram grandes transformações ao longo do tempo geológico necessário se faz entender que o relevo terrestre não foi sempre o mesmo e que continuará evoluindo Portanto a análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente o conhecimento da evolução que o relevo apresenta o que é possível se obter através do estudo das formas e das sucessivas deposições de materiais preservadas resultantes dos diferentes processos morfogenéticos a que foi submetido O relevo assume importância fundamental no processo de ocupação do espaço fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso cujas formas ou modalidades de apropriação respondem pelo comportamento da paisagem e suas conseqüências Ao se apresentar um estudo integral do relevo devese levar em consideração os três níveis de abordagem sistematizados por AbSaber 1969 e que individualizam o campo de estudo da geomorfologia a compartimentação morfológica o levantamento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem A compartimentação morfológica inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo que apresentam uma importância direta no processo de ocupação Nesse aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de risco que uma área possui oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de ocupação e uso A estrutura superficial ou depósitos correlativos2 se constitui importante elemento na definição do grau de fragilidade do terreno sendo responsável pelo entendimento histórico da sua evolução como se pode comprovar através dos paleopavimentos Sabendo das características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em diferentes condições climáticas tornase possível compreender a dinâmica evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em relação aos níveis de base atuais vinculados ou não a ajustamentos tectônicos A fisiologia da paisagem terceiro nível de abordagem tem por objetivo compreender a ação dos processos morfodinâmicos atuais inserindose na análise o homem como sujeito modificador A presença humana normalmente tem respondido pela aceleração dos processos morfogenéticos como as formações denominadas de tectogênicas abreviando a atividade evolutiva do modelado Mesmo a ação indireta do homem ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal altera de forma substancial as relações entre as forças de ação processos morfogenéticos ou morfodinâmicos e de reação da formação superficial gerando desequilíbrios morfológicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa boçorocamento assoreamento dentre outros chegando a resultados catastróficos a exemplo dos deslizamentos em áreas topograficamente movimentadas No estudo desses níveis do primeiro em relação ao terceiro os processos evoluem de uma escala de tempo geológica para uma escala de tempo histórica ou humana incorporando gradativamente novas variáveis analíticas como relacionadas a derivações antropogênicas e exigindo maior controle de campo o que implica emprego de técnicas como o uso de miras graduadas para controle de processos erosivos podendo chegar a níveis elevados de sofisticação análises específicas O estudo das formas do relevo deriva substancialmente das concepções geológicas do século XVIII que representaram a tendência naturalista voltada aos interesses do sistema de produção tendo o utilitarismo como princípio Em torno de 1850 a geologia havia chegado a grandes interpretações de conjunto da crosta terrestre contando com um corpo teórico ordenado A partir de então se registraram as primeiras contribuições dos geólogos nos estudos do relevo dentre os quais se destacam os trabalhos de A Surell expondo esquema clássico da erosão torrencial de Jean L Agassiz estabelecendo as bases da morfologia glacial de W Jukes apresentando os primeiros conceitos sobre o traçado dos rios de Andrew Ramsay e Grove K Gilbert evidenciando a capacidade de aplainamento pelas águas correntes de John W Powell e Clarence E Dutton calculando os ritmos de arraste e deposição dos sedimentos dentre outros Mendonza et al 1982 No final do mesmo século William M Davis dando prosseguimento aos estudos de G K Gilbert e JW Powell apresenta proposta de uma geomorfologia fundamentada na tendência escolástica da época representada pelo evolucionismo Como se sabe a influência do darwinismo como forma de substituição do modelo mecanicista influenciou significativamente o conhecimento científico geral A escola geomorfológica alemã por outro lado encabeçada por Albrecht Penck e Walther Penck defensora de uma concepção integradora dos elementos que compõem a superfície terrestre se contrapôs às idéias de W Davis fundamentada na noção de ciclo tida como finalista Evidenciase portanto o nascimento de duas escolas geomorfológicas distintas que serão consideradas a seguir e cuja sistematização fundamentouse em estudos desenvolvidos por Leuzinger 1948 e Abreu 1982 e 1983 12 A Geomorfologia no contexto da Geografia A teoria geomorfológica edificouse com nítida vinculação aos campos de interesse da geografia e da geologia Assume importância ao ser abordada no contexto geográfico considerando sua contribuição no processo de ordenamento territorial Em importante revisão bibliográfica Abreu 1982 mostra que o problema da pertinência da geomorfologia em relação à geografia foi tratado em diversas oportunidades como por Hartshorne 1939 Russel 1949 Bryan 1950Taylor 1951 Leighly 1955 dentre outros Wooldridge e Morgan 1946 consideram a pertinência da climatologia e da geomorfologia e de suas aplicações no campo da geografia Nos anos 60e 70 a geomorfologia passa a ser incorporada ao contexto da crítica teóricoconceitual da geografia destacandose aqui os trabalhos de Hamelin 1964 Schmithüsen 1970 Neef 1972 e Kügler 1976 além de outros Para Hamelin 1964 a geomorfologia se erige como uma disciplina por meio de sua própria teoria não interessando em toda sua completude à geografia Ao admitir a possibilidade de avançar em duas dimensões geomorfologia funcional e geomorfologia completa ou integral o autor compreende a geomorfologia como processo de um lado no contexto da geociências devendo ser explorada numa escala temporal de maior magnitude escala geológica e de outro concentrando suas atenções nos fenômenos de duração temporal mais curta valorizando os aspectos das derivações antropogênicas escala humana ou histórica Conclui por uma postura consensual entre autores de língua inglesa e francesa na qual a geomorfologia se erige como uma disciplina através de seu próprio campo e teoria não interessando em toda sua extensão à Geografia Abreu 1982 Schmithüsen 1970 ao procurar articular o campo e o conteúdo da geografia com o intuito de superar o antagonismo geografia física geografia humana propõe uma síntese em que a teoria e o método ocupem um lugar central No Sistema da Ciência Geográfica proposto pelo autor a divisão geografia física geografia humana não encontra lugar assinalando que esta dicotomia mais prejudica do que beneficia o verdadeiro campo da geografia A aproximação ao invés da subordinação da geomorfologia funcional a uma geografia global no conceito de Hamelin 1964 resulta da própria tendência naturalista da escola germânica a partir da década de trinta quando busca uma visão holística Atribuise a Tricart Cailleux 1965 o tratamento do relevo como unidade dialética por entenderem sua evolução como o resultado da ação e reação de forças antagônicas fundamentadas no sistema de referência idealizado por Penck 1924 Neef 1972 numa abordagem mais geográfica dos componentes da paisagem natural procura desenvolver uma postura voltada aos interesses da sociedade As conclusões que Neef alcança são fundamentais deixando cristalino que se a geografia quiser atingir uma posição de mérito na resolução dos problemas mundiais ela deverá aprofundarse em uma concepção que a transforme em uma ciência ambiental Abreu 1982 Nessa trajetória AbSáber 1969 sistematiza os níveis de abordagem metodológica em geomorfologia oferecendo um quadro de referência que valoriza a perspectiva geográfica ao retomar o conceito de fisiologia da paisagem usado por Siegfried Passarge 1912 Para Abreu 1982 AbSáber 1969 assume uma postura naturalista dos estudos de geografia física global Kügler 1976 ao desenvolver pesquisa e mapeamento geomorfológico na República Democrática Alemã conceitua de forma integrada o relevo e o território que se cunham em uma interface extremamente dinâmica produzindo uma paisagem fortemente marcada pela sociedade e por sua estrutura econômica Apóiase indiscutivelmente na clássica visão alemã das diferentes esferas que se interseccionam e definem uma epiderme de pouca espessura consubstanciandose formalmente através da paisagem Abreu 1982 de onde emerge o conceito de Landschaftschülle O conceito de georrelevo concebido por Kügler corresponde a uma superfície limite produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos resgatando o conceito tradicional da geomorfologia alemã A dinâmica e as propriedades adquiridas são fundamentais para se compreender a forma com que se dá a evolução das propriedades geoecológicas do georrelevo em propriedades sócioreprodutoras O uso das propriedades geoecológicas como suporte ou recurso reflete a intensidade e modos de uso face aos custos sociais de reprodução Kügler 1976 utilizase dos eixos tradicionais de evolução da geomorfologia alemã apoiado em Passarge 1912 e Penck 1924 Ao emergir de um contexto geográfico a geomorfologia supera a perspectiva dicotômica interna como a estrutural e climática lembradas por Abreu 1982 culminando com a concepção de georrelevo numa perspectiva paisagística A década de 70 pode ser tomada como o marco inicial de uma discussão mais abrangente das questões ambientais quando aparece a designação geomorfologia ambiental Simpósio de Bringhauton 1970 tendo por objetivo incluir o social ao contexto das ampliações geomorfológicas Os resultados mais significativos considerados por Achkar Dominguez 1994 aparecem no final da década de 80 nova conceitualização da relação sociedadenatureza opondose à visão dualista uma interpretação monista no nível aplicado da geomofologia se apresenta o desafio de gerar respostas às questões de natureza ambiental quanto ao método a geomorfologia busca uma proposta concreta vinculada à elaboração de cartas de diagnóstico ambiental como insumo do ordenamento espacial a revalorização dos antecedentes da geomorfologia alemã no princípio do século XX estabelece uma estreita relação da geomorfologia com a geografia dada a conceitualização monista da natureza Não é por acaso que tais conteúdos comecem com o advento da ecologia a discutir as relações sociedadenatureza enquanto categorias filosóficas Embora devam se admitir importantes avanços com relação à perspectiva de uma maior integração entre geomorfologia e geografia os princípios metafísicos ainda se fazem presentes chegando ao exagero de se separar o geomorfólogo do geógrafo atribuindose muitas vezes ao último a responsabilidade pela decisão da escolha das variáveis de interesse considerando sua visão particular Casseti 1996 Ao se considerar a tendência ambiental numa perspectiva holística3 a geomorfologia peca por desconsiderar os processos na sua integridade ou seja a evolução do relevo como fruto das relações contrárias forças internas e externas ao mesmo tempo se constituindo substrato apropriado pelo homem enquanto componente de relações sociais de produção com interesses distintos com reflexos nas propriedades geoecolócias do relevo A visão holística embora se caracterize como avanço em relação à postura fragmentáriamecanicista carece de mudança paradigmática mais profunda numa perspectiva ecológica4 Tal fato leva conseqüentemente a uma valorização das geociências em detrimento das relações sociais considerando a proximidade ambiental Partindo do princípio de que a base de sustentação teórica para a necessária abordagem ambiental fundamentase na dialética da natureza fica claro que a geomorfologia ao mesmo tempo em que deve se preocupar com a própria fundamentação teórica a geomorfologia em si na visão da geomorfologia integral de Hamelin 1964 carece de uma rediscussão epistemológica em busca de uma geografia total Apropriandose da concepção de dialética da natureza recuperada por Branco 1989 tornase necessário pensar dialeticamente para apreender as novas paisagens da fisis5 objetos disciplinares unidos por um traço comum a dialeticidade Essa compreensão só se torna possível ao resgatar o conceito de natureza Como se sabe a externalização da natureza6 configura o núcleo do programa da modernidade gestado no iluminismo Temse portanto o homem como senhor e possuidor da natureza legitimando a apropriação privada dos meios de produção base de sustentação do sistema capitalista Com base no princípio da externalização promovemse as diferentes formas de alienação o desencantamento do mundo o que permite a apropriação espontaneísta e dilapidante da natureza além do evidente antagonismo de classes sociais Significa portanto que para compreender a natureza em sua integridade numa perspectiva dialética tornase imprescindível compreender além das relações processuais contribuição da geomorfologia em si as relações de produção e suas forças produtivas sem desconsiderar as implicações da superestrutura ideológica responsável pela preservação das diferentes formas de alienação o necessário traço comum para a união dos objetos disciplinares culminando com a apropriação espontaneista do utilitarismo Compreender a dialeticidade da natureza significa compreender a unidade entre o processo histórico natural e a história do homem o que permite concluir que o processo do pensamento é ele próprio elemento da natureza o movimento do pensamento não está isolado do movimento da matéria o que se contrapõe ao dualismo psico físico descarteano substância pensante e substância meramente extensa que fundamentou o princípio de que a natureza interna está dominada em prol da dominação da natureza externa Casseti 1996 Concluise que preocuparse com a perspectiva ambiental em geomorfologia significa preocuparse com a compreensão dialética da natureza numa visão de Engels o que demonstra ser responsabilidade de todos em busca da unidade que tem sido entendida de forma parcial 13 Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos As diferenças históricoculturais européias levaram à individualização de quadros nacionais contrastantes no contexto político continental contribuindo para que se desenvolvessem correntes filosóficas e relações escolásticas distintas levando ao discernimento de duas linhagens epistemológicas em geomorfologia Uma hoje identificada como de natureza angloamericana onde se evidenciou a aproximação da Inglaterra e França com os Estados Unidos e outra de raízes propriamente germânicas que posteriormente incorporou a produção publicada pelos russos e poloneses A linhagem epistemológica angloamericana fundamentase praticamente até a Segunda Guerra Mundial nos paradigmas propostos por Davis 1899 através de sua teoria denominada de Geographical Cycle Para ele o relevo se definia em função da estrutura geológica dos processos operantes e do tempo Apesar de Gilbert 1877 já ter tentado explicar o relevo como resultante da erosão portanto numa perspectiva climática Davis considerava a morfologia em função da estrutura geológica o que mereceu críticas insistentes do meio intelectual germânico contemporâneo por volta de 19089 A geomorfologia davisiana praticamente não tinha qualquer articulação com uma visão processual mais ampla como a incorporação de componentes da climatologia ou da biogeografia amplamente integradas na geomorfologia alemã No final da década de 30 do Século XX os norteamericanos se interessaram pelas críticas de W Penck à teoria davisiana A interpretação de Penck 1924 ao ciclo geográfico divulgada durante o Simpósio de Chicago 1939 foi incorporada pelos seguidores de Davis criando novos paradigmas Durante a Segunda Guerra Mundial a influência do pensamento científico alemão se amplia nos Estados Unidos proporcionando o desenvolvimento de técnicas implementadas com posturas filosóficas bem definidas Um dos autores da corrente angloamericana que utilizou os princípios adotados por Penck foi Lester C King 1953 cujas pesquisas sobre aplainamento caracterizavam o centro das atenções geomorfológicas na época Na oportunidade Kirk Bryan Jean Dresch e André Cholley até então vinculados à linhagem angloamericana começam a distanciarse da concepção davisiana de relevo Cholley 1950 partindo da análise corológica introduz conceitos como dialética das forças em sistema aberto Devese acrescentar que a escola francesa que exerceu posteriormente grande influência no desenvolvimento da geografia e geomorfologia brasileiras se caracterizava pela reprodução do conhecimento científico anglo americano Isso pode ser exemplificado através das influências de Davis nos trabalhos elaborados sob a perspectiva estrutural com Emmanuel de Martonne e André de Lapparent fundamentados na tradição morfoestrutural de Emmanuel de Marguerie 1888 apud Mendonza et al 1982 Progressivamente os autores americanos assumem uma atitude mais crítica contribuindo sobremaneira para a elaboração de outros paradigmas como o do espaço enquanto Davis valorizava o tempo Assim enquanto a escola germânica valorizava as relações processuais e reflexos no modelado da paisagem a angloamericana tendo Davis como principal representante tinha o fator temporal como determinante da evolução do modelado evidenciado pela antropomorfismo do relevo A concepção evolutiva de Davis tinha por objetivo contribuir de maneira despretensiosa para o entendimento evolutivo do modelado embora sem desconhecer a complexidade dos processos Contrariando a postura tida como subjetiva de Davis os autores americanos convertidos propunham fatos objetivos estudados sob a ótica da quantificação valorizando as relações processuais A partir da década de 40 até a de 60 a quantificação a teoria dos sistemas e fluxos e o uso da cibernética geografia quantitativa assumem a vanguarda nos estudos geomorfológicos Valorizamse a análise espacial e o estudo das bacias de drenagem Strahler 1954 Gregory Walling 1973 ao mesmo tempo em que novas posturas começam a surgir como a teoria do equilíbrio dinâmico de Hack 1960 Horton 1932 1945 que já havia estabelecido leis básicas no estudo de bacias de drenagem utilizando propriedades matemáticas assume relevância nos estudos hidrológicos Ainda na linha de adaptação e reforma do paradigma davisiano destacamse H Baulig 1952 e P Birot 1955 O primeiro admitindo a freqüência dos movimentos crustais e as variações relativas ao nível dos mares e o segundo concluindo que a evolução geral do relevo encontrase relacionada a uma modalidade de ciclo morfológico que está em função do clima e da vegetação A inclusão da ação humana como instrumento de modificação das formas do relevo trouxe a vantagem de melhor entendêlas dentro de sistemas geomórficos atuais ampliados pelos processos denominados de morfodinâmicos Cruz 1982 Entre 1960 e início da década de 70 a aplicação dos postulados anteriormente obtidos incorpora a teoria probabilística Esses trabalhos acabaram caindo em formulações estéreis sobretudo pela rejeição ao paradigma davisiano sem serem substituídos por outros universalmente aceitos Se por um lado valorizam o espaço e supostas relações processuais por outro desconsideram as relações temporais julgadas como comprometidas com o paradigma davisiano Abreu 1983 Morley Zunpfer 1976 e Thornes Brunsden 1977 procuram rever as propostas precedentes Não introduzem novos paradigmas mas apresentam posição crítica liberta de preconceitos valorizando as observações de campo Levam em conta a ação processual segundo referencial têmporoespacial Schumm Lichty 1965 A linhagem epistemológica alemã tem Ferdinand von Richthofen 1883 como referência inicial mantendo a pretensão humboldtiana de globalidade harmonia natural Enquanto Davis tinha em sua retaguarda nomes de geólogos von Richthofen tinha como predecessores autores naturalistas que por sua vez tinham Goethe como ponto de referência permanente que empregou pela primeira vez a expressão morfologia como sinônimo de geomorfologia Fica patente a preocupação da escola germânica em tratar o relevo numa perspectiva geográfica o que pode ser atribuído à própria origem de sua linhagem epistemológica relacionada aos naturalistas a exemplo de Alexander von Humboldt 17691859 Enquanto Davis apresentava uma proposição teorizantededutivista von Richthofen se individualizava pela perspectiva empíriconaturalista utilizandose de guia de observações de campo Albrecht Penck 1894 também teve um papel fundamental na orientação da geografia alemã Apesar de compartilhar de algumas noções básicas da teoria davisiana como a de aplainamento A Penck deu ênfase à herança naturalista de Goethe e Humboldt valorizando a observação e a análise dos fenômenos A Penck 1894 sistematiza teorias e formas do relevo tratamento genético das formas tornandose um dos clássicos da Geografia exercendo grande influência no desenvolvimento da geomorfologia alemã nas primeiras décadas do século XX Dentro desse contexto três autores se destacam A Hettner 1927 grande crítico da teoria davisana S Passarge 1912 1913 com a proposição de novos conceitos como fisiologia da paisagem fundamentado na idéia de organismo e S Günther 1934 que desenvolveu uma abordagem processual e crítica ao sistema de referência davisiano Walther Penck 1924 aparece como principal opositor da postura dedutivistahistoricista de Davis valorizando o estudo dos processos Em Morphological Analysis of Landform publicação póstuma utilizase da geomorfologia para subsidiar a geologia e contribuir para a elucidação dos movimentos crustais Contribui assim para o avanço da geomorfologia formalizando conceitos como o de depósitos correlativos Apesar de criticado com a publicação de 1953 versão inglesa levou alguns autores norteamericanos a se interessarem pelos estudos de vertentes e processos Desde Sigfried Passarge 1912 Otto Schüter 1918 e Karl Sapper 1914 os trabalhos de Geografia física coincidem com o estudo científico de diversas configurações resultantes do intercâmbio funcional entre litosfera hidrosfera e atmosfera que se dá na superfície terrestre cuja unidade espacial representa o conceito de paisagem A linha de estudos da geomorfologia climática e climatogenética emerge das pesquisas de J Büdell 1948 que levaram a uma ordenação dos conjuntos morfológicos e origem climática em zonas e andares produzidos pela interação das variáveis epirogenéticas climáticas petrográficas e fitogeográficas Abreu 1983 O temário paisagem evolui com Troll 1932 que reconhece a necessidade tanto teórica quanto prática de uma convergência entre geografia física e ecologia Após a Segunda Guerra a cartografia geomorfológica emerge como instrumento fundamental para a análise do relevo graças às contribuições desenvolvidas na Polônia Tchecoeslováquia e URSS Klimaszewski 1983 Demek 1976 Basenina Trescov 1972 O avanço do mapeamento geomorfológico e seu crescente emprego no planejamento regional mantêm o caráter geográfico da ciência geomorfológica Assim a geomorfologia alemã na Segunda Guerra Mundial se beneficia com o desenvolvimento da cartografia geomorfológica enquanto a geomorfologia angloamericana permanece estagnada As críticas consubstanciadas ao modelo davisiano acabam respondendo por uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva angloamericana aproximandose cada vez mais das bases que subsidiam a linhagem germânica Fig 1 1 Outras considerações contrastantes podem ser notadas entre as escolas anglosaxônica e germânica que justificam as divergências teóricometodológicas a começar por Davis que se utilizou do referencial teorizante apoiado em posturas geológicas A escola germânica por sua vez fundamentase na concepção naturalista de Humboldt Devese acrescentar que a preocupação com o espaço encontrase vinculada a uma Geografia políticoestatística onde a unidade regional é priorizada Enquanto Davis é o principal ponto de referência da geomorfologia angloamericana W Penck se caracteriza como um dos grandes entre muitos Portanto a postura teorizante de Davis e o próprio processo dedutivo contribuem para a evolução do referencial cíclico do relevo em sistemas de tendência axiomática onde a ação processual quantificada romperia com a abordagem historicista A geomorfologia alemã fundamentada na observação caracterizavase como guia de campo Assim se as reformulações conceituais na escola anglo americana evidenciavam ruptura epistemológica a geomorfologia alemã se caracterizava pelo progressivo refinamento de conceitos O estruturalismo e a teoria dos sistemas processaram repercussões distintas no nível epistemológico em ambas as escolas Na Alemanha evidenciouse maior integração das ciências naturais favorecendo as análises geoecológico processuais valorizando a cartografia geomorfológica e a ordenação ambiental ótica marxista identificada nas propostas dos países socialistas ao mesmo tempo demonstrando o caráter geográfico através da sua vinculação com a questões sociais Na escola angloamericana a já considerada ruptura com a abordagem historicista favorece o desenvolvimento de teorias e métodos de análises quantitativas isolando a geomorfologia da geografia e orientandoa para perspectivas geológicas e hidrológicas A tentativa de se harmonizarem as transformações observadas leva ao surgimento de teorias alternativas proporcionando a valorização dos processos geomorfológicos segundo o sistema referencial têmporoespacial Apesar da convergência internacional do conhecimento geomorfológico as duas tendências consideradas apresentamse razoavelmente diferenciadas mesmo com a incorporação gradativa da postura alemã à americana evidenciada gradativamente a partir do Simpósio de Chicago 1939 No Brasil a mais importante contribuição à teoria geomorfológica parte de AbSáber 1969 que salvo melhor juízo parece dar a tônica nos postulados de raízes germânicas Abreu 1983 Recentemente autores soviéticos e franceses Bertrand 1968 Tricart 1977 Sochava 1972 têm procurado desenvolver estudos integrados da paisagem sob a ótica dos geossistemas o que valoriza a perspectiva geomorfológica alemã Assim com o progressivo amadurecimento do estudo da paisagem e dos estudos geoecológicos originados e desenvolvidos a partir da sistematização da geomorfologia alemã tem sido possível articular a natureza à sociedade Retomando Schmithüsen 1970 se queremos compreender a ação do homem não devemos separar a sociedade do meio ambiente que a rodeia Casseti 1991 apropriase do conceito de natureza externalizada como argumento de apropriação espontaneísta do relevo A partir dos subsídios oferecidos pela geomorfologia funcional propõe alternativa para o desenvolvimento de uma geomorfologia integral no conceito de Hamelin 1964 14 Sistemas de referência em geomorfologia Viuse que a sistematização da ciência geomorfológica nasce com W M Davis 1899 nos Estados Unidos representante da tendência angloamericana constituindo a primeira interpretação dinâmica da evolução geral do relevo ciclo de erosão geográfico As idéias de Davis foram contestadas sobretudo por W Penck 1924 representante da escola germânica que culminou na ruptura epistemológica da primeira a partir do Simpósio de Chicago 1939 A escola angloamericana pósdavisiana foi marcada por uma tendência fundamentada na Teoria Geral de Sistemas e no processo de quantificação destacandose os trabalhos de LC King 1955 e J Hack 1960 Com o intuito de resgatar a construção do processo histórico do pensamento geomorfológico apresentamse as principais teorias ou sistemas que contribuíam para a compreensão do processo evolutivo do relevo 141 O Sistema de William M Davis O sistema de WM Davis 1889 fundamentado no conceito de nível de base7 de Powell 1875 sugere que o processo de denudação iniciase a partir de uma rápida emersão da massa continental Diante do elevado gradiente produzido pelo soerguimento em relação ao nível de base geral o sistema fluvial produz forte entalhamento dos talvegues originando verdadeiros canyons que caracterizam o estado antropomórfico denominado de juventude A idéia mais importante é a de que os rios não podem erodir abaixo do seu nível de base Davis portanto se viu obrigado a completar o conceito de nível de base com outro fundamental o de equilíbrio para o que se utilizou da idéia de balanço entre a erosão e a deposição O trabalho comandado pela incisão vertical do sistema fluvial desaparece com o estabelecimento do perfil de equilíbrio8 Fig 12 quando a denudação inicia o rebaixamento dos interflúvios marcando o fim da juventude e o começo da maturidade Alguns escritos em alemão de Davis abordam os possíveis efeitos de levantamento e erosão consecutivos O processo denudacional que individualiza a maturidade para Davis caracterizase pelo rebaixamento do relevo de cima para baixo wearingdown desgastar para baixo o que torna necessário admitir a continuidade da estabilidade tectônica bem como dos processos de erosão Fig 13 A evolução considerada tende a atingir total horizontalização topográfica estágio denominado de senilidade quando a morfologia seria representada por extensos peneplanos às vezes interrompidos por formas residuais determinadas por resistência litológica denominadas monadnocks Nesse instante haveria pratica mente um único nível altimétrico entre interflúvios e os antigos fundos de vales níveis de base os quais estariam representados por cursos meandrantes para Davis a meandração significava a senilidade do sistema fluvial com calhas aluviais inumadas pela redução da capacidade de transporte fluvial Fig 14 Para Davis 1899 o relevo ao atingir o estágio de senilidade seria submetido a novo soerguimento rápido que implicaria nova fase denominada rejuvenescimento dando seqüência ao ciclo evolutivo da morfologia Conforme Carson Kirkby 1972 existem duas suposiçõeschave no sistema descritivo a primeira é a de que a emersão e a denudação não podem ocorrer concomitantemente ou seja a denudação pode somente adquirir alguma importância quando a massa de terra estiver tectonicamente estável A segunda é a suposição de que os rios sofrem duas fases de atividades rápida incisão inicial e depois virtual repouso uma vez atingido o estágio de equilíbrio A condição de virtual repouso significa a continuidade evolutiva sem assumir o esforço indutivo evidenciado na situação anterior Considerações ao sistema ou modelo proposto por Davis têm sido apontadas em ambas as suposições partindo do princípio de que o processo de soerguimento não pode estar dissociado dos efeitos denudacionais ou seja ao mesmo tempo em que o relevo encontrase em ascensão por esforço tectônico os processos morfogenéticos estarão atuando Considerando os resultados de evidências empíricas de que efeitos orogênicos modernos se aproximam de 75 metros a cada 1000 anos dados apresentados por Tsuboi 1933 para o Japão valor comparável com as medidas atuais de ajustamento isostásico em áreas recobertas por geleiras pleistocênicas tornase inadmissível a idéia da referida dissociação Também seria improcedente a idéia de uma estabilidade tectônica da juventude até a senilidade uma vez que com base em níveis modernos de erosão a denudação de aproximadamente 1500 metros de material requereria provavelmente entre 3 a 110 milhões de anos Schumm 1963 Para Davis seriam necessários de 20 a 200 milhões de anos para o aplainamento das cadeias de montanhas como as falhas de Utah tempo mais que suficiente para manifestações de natureza tectodinâmica A impossibilidade de se admitir estabilidade tectônica absoluta por um período geológico tão prolongado inviabiliza inclusive a idéia de se atingir o referido virtual repouso o que faz supor o estabelecimento do perfil de equilíbrio imaginário Tornase difícil admitir a possibilidade de um período de estabilidade tão prolongado para permitir o desenvolvimento do peneplano de Davis caracterizando uma certa comodidade esquemática Davis desconsiderou ainda a possibilidade de mudanças climáticas acidentais no modelo o que resultaria em deformação no sistema imaginado Também o conceito de estágio esboçado por Davis com base nas idéias de Gilbert 1877 tem sido contestado por geólogos americanos como Leopoldo Meddock 1953 que acreditam na existência de estágio relativamente precoce no processo de incisão sugerindo a mudança na atividade fluvial de rápida incisão inicial para o processo de formação de planície aluvial O caráter cíclico utilizado por Davis como modelo evolutivo constitui no conceito científico geral estágio embrionário de qualquer natureza do conhecimento WM Davis por ser geólogo fundamentou sua análise evolutiva no comportamento estrutural ao longo do tempo sendo portanto o componente responsável pela definição dos diferentes estágios As variáveis estruturais e temporais individualizam o seu sistema ficando as considerações processuais num segundo plano ou seja a estrutura geológica quando resistente se constitui no único controle da forma o processo erosivo possui relevância quando a litologia favorece e o tempo assume importância no jogo entre as respectivas componentes Apesar das críticas relativas ao modelo específico sugerido por Davis muitos geomorfólogos o aceitam enquanto noção de um sistema evolucionário Conforme King 1953 algumas autoridades têm rejeitado todo o conceito cíclico enquanto outras têm aceitado a idéia usual da existência de um ciclo evolutivo da morfologia processada pelos efeitos erosionais Em síntese a formulação evolucionista utilizada por Davis é contestada pelo excessivo idealismo discutível generalização do ciclo e limitação temporal da geodinâmica responsável pelo estágio final do equilíbrio hidrológico Tais elementos constituíram os pressupostos básicos de sua teoria a qual implica concepção orgânica do relevo fases antropomórficas e ao mesmo tempo uma simplificação do sistema de referência hipóteses fundamentais simples na observação de Leuzinger 1948 A prática dedutivista observação descrição e generalização e a práxis desligada do resto da Geografia são os principais pontos de contestação pela corrente naturalista da escola germânica que tem como principais representantes Albrecht e Walther Penck Para Leuzinger 1948 na verdade o método aconselhado por Davis não é dedutivo Ele próprio o denominou de método explicativo ou genético e o qualificou como uma combinação dos métodos dedutivo e indutivo O autor explica que o método indutivo aplicado à geomorfologia consiste em observar e descrever primeiramente com detalhes e sem idéias preconcebidas os fatos geomorfológicos tais como eles se apresentam e estabelecer somente após uma hipótese explicativa dos mesmos No método dedutivo ao contrário estabelecemse em primeiro lugar as formas que se devem derivar das forças que agem na superfície da terra e verificase depois se estas formas coincidem com as existentes Davis reunia e analisava o material disponível induzia a generalizações e hipóteses explicativas deduzia as conseqüências que derivam de cada hipótese confrontava essas conseqüências com os fatos tirando as primeiras conclusões revelava e aperfeiçoava as explicações concebidas e tirava uma conclusão final sobre as hipóteses que resistissem às refutações recebendo o nome de teoria Leuzinger 1948 conclui que na verdade esse método é indutivo e as deduções que contém destinamse somente à confirmação das teorias obtidas por indução Carson Kirkby 1972 valorizam a pertinência do modelo davisiano enquanto sistema de referência Christofoletti 1999 p 24 destaca o modelo de WM Davis expresso na linguagem verbalizada em palavras e representadas em blocos diagramas possuindo todo o contexto de um raciocínio lógico 142 O Sistema de Walther Penck Conforme foi dito W Penck foi um dos principais críticos do sistema de Davis sobretudo ao afirmar que a emersão e a denudação aconteciam ao mesmo tempo Fig 15 atribuindo desse modo a devida importância aos efeitos processuais As críticas de Penck fundamentamse no método empregado por Davis e na ausência de conexão com a ciência geográfica uma das principais preocupações da escola germânica Para Davis a denudação BC só teria início após o término do soerguimento AB enquanto que para Penck a denudação BC é concomitante ao soerguimento AB com intensidade diferenciada pela ação da tectônica Fig 15 Penck 1924 procura demonstrar a relação entre entalhamento do talvegue e efeitos denudacionais em função do comportamento da crosta que poderia se manifestar de forma intermitente e com intensidade variável contestando o modelo apresentado por Davis rápido soerguimento da crosta com posterior estabilidade tectônica até que se atingisse a suposta senilidade quando nova instabilidade proporcionaria a continuidade cíclica da evolução morfológica Para Penck o valor da incisão estava na dependência do grau de soerguimento da crosta o que proporcionaria evidências morfológicas ou grupos de declividades vinculados à intensidade da erosão dos rios submetidos aos efeitos tectodinâmicos Fig 16 conforme exemplos constatados na Floresta Negra Alemanha No primeiro instante T1 da Fig 16 a incisão é relativamente incipiente compatível com a intensidade do soerguimento nas demais situações T2 T3 e T4 é progressivamente maior refletindo o grau de soerguimento Penck 1924 propunha que em caso de forte soerguimento da crosta terseia uma correspondente incisão do talvegue que por sua vez implicaria aceleração dos efeitos denudacionais em razão do aumento do gradiente da vertente Admitindose que o efeito denudacional não acompanhasse de imediato a intensidade do entalhamento do talvegue terseia o desenvolvimento de vertentes convexas Fig 171 Concluise que Penck levou em consideração a noção de nível de base local e a correspondência entre soerguimento incisão e denudação valorizando a relação processual própria da concepção germânica Uma segunda situação apresentada por Penck 1924 é a de que existindo um soerguimento moderado da crosta com proporcional incisão do talvegue poderia ocorrer uma compensação equilibrada pelos efeitos denudacionais proporcionando o desenvolvimento de vertentes retilíneas ou manutenção do ângulo de declividade o que foi denominado por ele de superfície primária Fig172 Por último concluise que quando a ascensão da crosta é pequena ocorre um fraco entalhamento do talvegue sendo a denudação superior o que propicia o desenvolvimento de vertentes côncavas Fig 173 Em suma enquanto a forma convexa implica período de crescente intensidade de erosão Fig 171 a forma côncava é prova de enfraquecimento erosivo ou de intensidade de erosão decrescente Penck reconhece a existência de limites para o processo de aceleração ou redução da denudacão da vertente Particularmente na primeira situação esses limites seriam atribuídos à instabilidade tectônica da crosta Para Carson Kirkby 1972 fica a impressão de que Penck considerou os perfis de declividade como resultantes da movimentação da crosta o que tem muito a ver com os escritos de Davis Para os autores não se opor às idéias de Penck é admitir que o sistema de levantamentodenudação proposto por Davis seja provavelmente o mais apropriado na maioria dos casos se a denudação atual se dá via modelo de peneplanização é um assunto bem mais duvidoso Enquanto Davis afirmava que o relevo evoluía de cima para baixo wearingdown Fig18b Penck acreditava no recuo paralelo das vertentes wearingback ou desgaste lateral da vertente Fig 18a constituindose no modelo aceito para o entendimento da evolução morfológica Em síntese a maneira dinâmica da proposta penckiana foi um dos principais argumentos responsáveis pela ruptura epistemológica registrada na linhagem angloamericana à época da Segunda Guerra Mundial até então fielmente adepta das idéias consagradas de Davis 143 O Sistema de Lester C King A idéia de períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta separados por longos períodos de estabilidade tectônica é o ponto principal do sistema apresentado por King 1955 e Pugh 1955 fundamentado em estudo de caso na África do Sul Essa teoria procura restabelecer o conceito de estabilidade tectônica considerado por Davis mas admite o ajustamento por compensação isostática e considera o recuo paralelo das vertentes wearingback como forma de evolução morfológica de acordo com proposta de Penck 1924 Os autores argumentam que o recuo acontece a partir de determinado nível de base iniciado pelo nível de base geral correspondente ao oceano O material resultante da erosão decorrente do recuo promove o entalhamento das áreas depressionárias originando os denominados pedimentos A evolução do recuo por um período de tempo de relativa estabilidade tectônica permitiria o desenvolvimento de extensos pediplanos razão pela qual a referida teoria ficou conhecida como pediplanação Portanto enquanto Davis chamava as grandes extensões horizontalizadas na senilidade de peneplanos King 1955 as considerava como pediplanos com formas residuais denominadas inselbergs O emprego de uma das terminologias peneplano ou pediplano caracteriza a filiação epistemológica angloamericana ou germânica considerando as diferenciações genéticas down wearing ou back wearing Pugh 1955 admite que a diferença no processo de erosão fornece resultados importantes há uma reação isostática quase imediata ao abaixamento vertical da paisagem por erosão lateral Assim a compensação isostática ocorre somente quando um começo de denudação tenha acontecido sendo conseqüentemente um evento intermitente Uma vez acontecido o reajustamento isostático uma nova escarpa e um nível de embutimento nova superfície pediplanada são formados justificando a evolução genética para a sucessão de níveis de aplainamento em um mesmo ciclo morfoclimático Devese considerar que apesar da teoria da pediplanação ter sido originalmente relacionada a um clima úmido como as demais apresentadas partindo do princípio que foram produzidas nas regiões temperadas supõese que a horizontalização topográfica esteja vinculada a um clima seco assim como o desenvolvimento vertical do relevo encontrase relacionado a um clima úmido levando em conta a incisão vertical da drenagem Assim a desagregação mecânica seria a grande responsável pelo recuo paralelo das vertentes e seus detritos a partir da base em evolução se estenderiam em direção aos níveis de base produzindo entulhamento e conseqüente elevação do nível de base local Esse entulhamento se daria por atividades ou processos torrenciais originando as formas conhecidas como bajadas e proporcionando o mascaramento de toda irregularidade topográfica caracterizando a morfologia dos pediplanos Fig 19 144 O Sistema de John T Hack O autor que mais tem trabalhado no enfoque acíclico do conceito de equilíbrio dinâmico é Hack 1960 Esse conceito fundamentase na teoria geral dos sistemas vinculado à linhagem angloamericana pósdavisiana O princípio básico da teoria é o de que o relevo é um sistema aberto mantendo constante troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres estando vinculado à resistência litológica Enquanto a proposta de Penck considera o modelado como resultado da competição entre o levantamento e a erosão Hack o considera como produto de uma competição entre a resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de denudação Gilbert 1877 foi o primeiro a tentar explicar a evolução do relevo com base no equilíbrio dinâmico embora Hack 1957 1960 1965 tenha ampliado consideravelmente as idéias iniciais John T Hack utilizoua com o intuito de interpretar a topografia do vale do Shenandoah na região dos Apalaches levando em consideração as características das redes de drenagem e das vertentes Essa teoria supõe que em um sistema erosivo todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados de modo que eles se modificam na mesma proporção As formas e os processos encontramse em estado de estabilidade e podem ser considerados como independentes do tempo Ela requer um comportamento balanceado entre forças opostas de maneira que as influências sejam proporcionalmente iguais e que os efeitos contrários se cancelem a fim de produzir o estado de estabilidade no qual a energia está continuamente entrando e saindo do sistema Christofoletti 1980 p 168 Toda alternância de energia seja interna ou externa promove alteração no sistema manifestada através da matéria razão pela qual os elementos da morfologia tendem a se ajustar em função das modificações impostas seja pelas forças tectodinâmicas seja pelas alterações processuais subaéreas mecanismos morfoclimáticos Diante disso a morfologia não tenderia necessariamente para o aplainamento visto que o equilíbrio pode ocorrer sob os mais variados panoramas topográficos Fig110 Portanto para Hack as formas de relevo e os depósitos superficiais possuem uma íntima relação com a estrutura geológica litologia e mecanismos de intemperização embora deixando transparecer maior valorização da primeira O autor verificou que a declividade dos canais fluviais diminui com o comprimento do rio e varia em função do material que está sendo escavado Por exemplo na bacia de Shenandoah ele observou 1965 que os canais nos arenitos endurecidos possuíam um gradiente aproximadamente dez vezes maior que o dos canais esculpidos nos folhelhos Assim o equilíbrio é alcançado quando os diferentes compartimentos de uma paisagem apresentam a mesma intensidade média de erosão Enquanto Davis interpreta a uniformidade das cristas da Cordilheira dos Apalaches como resultado de rejuvenescimento de antigo peneplano Hack a vê como manifestação de uma resistência estrutural igual às forças de erosão Tab 11 Na teoria do equilíbrio dinâmico as formas não são estáticas Qualquer alteração no fluxo de energia incidente tende a responder por manifestações no comportamento da matéria evidenciando alterações morfológicas Como exemplo as mudanças climáticas ou eventos tectônicos produzem alterações no fluxo da matéria até a obtenção de novo reajustamento dos componentes do sistema Algo intrínseco ao argumento de Hack é que o modelado do relevo se adapta rapidamente às variações dos fatores de controle ambiental Desse modo quando o sistema readquire o equilíbrio dinâmico desaparecem gradativamente as marcas relacionadas às fases anteriores que estavam presentes na paisagem O referido equilíbrio poderá ser mantido ainda em condições de instabilidade tectodinâmica desde que os efeitos denudacionais acompanhem o mesmo ritmo o que já havia sido admitido anteriormente por Penck 1929 A noção de equilíbrio apesar de empregada por Davis para caracterizar uma condição de estabilidade erosiva como no caso do sistema hidrográfico noção de perfil de equilíbrio é considerada por Hack numa perspectiva sistêmica como o resultado do comportamento balanceado entre os processos morfogenéticos e a resistência das rochas e também leva em consideração as influências diastróficas atuantes na região Christofoletti 1973 Ainda devese considerar que os sistemas abertos podem levar à equifinalização ou seja que condições iniciais diferentes podem conduzir a resultados finais semelhantes Por exemplo os calcários resistentes aos processos físicos podem adquirir em determinado momento semelhanças morfológicas a rochas resistentes aos processos químicos Diante do exposto constatase uma certa relação de dependência entre a proposta de Hack e as teorias discutidas anteriormente Além de incorporar o conceito davisiano de equilíbrio em novo estilo Hack utilizase de relações dinâmicas apresentadas por Gilbert 1877 e posteriormente Penck 1924 O mérito atribuído a Hack é o de estruturar um encadeamento lógico na concepção sistêmica do modelado em detrimento de uma visão fragmentada do relevo A tabela 11 mostra em termos comparativos os principais pontos constantes nos modelos apresentados Davis Penck King e Hack 15 Algumas Evidências quanto à Velocidade da Denudação A relação soerguimentodenudação tem sido até hoje um assunto de muitas controvérsias Cálculos apresentados por Dole Stable 1909 indicam valores médios de denudação da ordem de 0027 a 0057 metros por mil anos entendidos como baixos por serem estimados com base exclusivamente em materiais em suspensão transportados por rios ou cargas sedimentológicas abandonadas pela redução da competência de transporte Langbein Schumm 1958 sugerem níveis de denudação ligeiramente mais altos em torno de 003 a 01 metro por mil anos Os níveis mais altos de produção de sedimentos foram registrados pela Federal InterAgency River Basin Comission 1953 em um pequeno reservatório em Iowa correspondente a uma denudação de 126 metros1000 anos Tab 12 Médias experimentais realizadas em áreas montanhosas demonstram níveis da ordem de 06 a 09 m1000 anos estimadas por Wegmann 1955 nos Alpes do norte e Khosle 1953 em parte do Himalaia Estimativas de taxas de denudação a partir de estudos experimentais em bacias hidrográficas Dole Stabler 1909 Langbein Schumm 1953 1958 Faxman High 1955 e Fed InterAgency River Basin Comission 1953 apud Carson Kirkby 1972 demonstram variações da ordem de 003 a 126 metros1000 metros Tab 12 Estudos realizados em áreas tectonicamente ativas Gilluly 1949 Stone 1961 Tsuboi 1933 Less 1955 Gutenberg 1941 Cailleux 1952 apud Schumm 1963 estimam soerguimentos da ordem de 01 a 750 metros1000 anos Tab 13 demonstrando que os soerguimentos orogênicos são significativamente maiores que as taxas de denudação Com base nessas premissas parece bastante improvável que massas de terras poderiam ser produzidas ou emersas independente do tempo como estimadas por Penck 1924 e Hack 1960 Para Carson Kirkby 1972 esta diferença entre níveis modernos de orogenia e denudação levam a admitir a validade do sistema de Davis considerando rápido soerguimento de cadeias de montanhas com pequenas modificações por erosão até que a orogenia cesse Em síntese tornase muito difícil comprovar a referida relação visto que ao mesmo tempo em que os valores apresentados por Schumm 1963 concernentes às estimativas de níveis de levantamentos encontramse associados aos níveis modernos de orogenia para o entendimento do passado geológico também os níveis modernos de denudação encontramse alterados pelas derivações antropogênicas em franca expansão As forças internas não só se referem ao processo de soerguimento e denudação como interferem diretamente na disposição estrutural das rochas com repercussão em seu comportamento químico ou em sua propriedade física Portanto as forças endógenas implicam comportamento estrutural das rochas as quais se manifestam de modo diferente frente aos processos erosivos Tabela 11 Sistemas de Referência em Geomorfologia CARACTERÍSTICAS WM Davis 1899 W Penck 1924 LCKingJPugh 1955 JT Hack 1960 CARACTERÍSTICA GERAL DO SISTEMA Rápido soergui mento com posterior esta bilidade tectôni ca e eustática Ascensão de massa com intensidade e duração diferentes Longos períodos de estabilidade tectônica separados por períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta Toda alternância de energia interna ou externa gera alteração no sistema através da matéria RELAÇÃO SOERGUIMENTODENUDAÇÃO Início da denu dação coman dada pela in cisão fluvial após estabilida de ascensional Intensidade de denudação associada ao comportamento da crosta Denudação concomitante ao soerguimento Reação do sistema com alteração do fornecimento de energia oscilações climáticas ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIA Evolução mor fológica de cima para baixo wearing down Evolução por recuo paralelo das vertentes wearing back Evolução morfológica por recuo paralelo wearing back Todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados Modificamse na mesma proporção CARACTERÍSTICAS MORFO LÓGICAS Fases antropo mórficas juven tude matu ridade e senilidade peneplano Processos de declividade laterais das vertentes convexas retilíneas e côn cavas relação incisãodenudação por ação crustal Nível de pedimentação coalescência de pedimentos pediplano As formas não são estáticas e imutáveis Íntima relação com a estrutura geológi ca ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIA Peneplanização formas residuais Superfície primária lenta ascensão compensada pela Pediplanação formas residuais Não evolui necessariamente para aplai namento monadnocks denudação Não haveria produção de elevação geral da superfície inselbergs equifinalização O equilíbrio pode ocorrer sob os mais variados panoramas topográficos NOÇÃO DE NÍVEL DE BASE Processo evolutivo comandado pelo nível de base geral Vertente evolui em função do nível de base local Pressupõe a generalização de níveis de base qualquer ponto de um rio é considerado NB para os demais à montante Ajustamento seqüencial VARIÁVEIS QUE COMPÕEM Os SISTEMA Temporalestru tural com subordinação da processual Processo tectônica e tempo Processoforma considerando o fator temporal admitindo implicações isostásicas Relação formasprocessos independentes do tempo processo morfogenético resistência das rochas influências diastróficas Tab 12 Estimativas de Níveis de Denudação em Bacias de Drenagem Bacia de Drenagem em 1000 km2 Níveis de Denudação metros1000 anos Fonte 37228 39 008 0003 00003 003006 003010 006022 255 126 Dole Stabler 1909 Langbein Schumm 1953 Langbein Schumm 1958 Flaxman High 1955 Fed InterAgency River Basin Com 1953 Cfr Carson Kirkby 1972 Tab 13 Estimativas de níveis de levantamento em condições a Orogênica b Isostática e c Epirogênica Localização Levantamento metros1000 anos Fonte Califórnia Sul da Califórnia a Japão Golfo Pérsico 48126 39 60 08750 30 Gilluly 1949 Stone 1961 Tsuboi 1933 Less 1955 Ontário do Sul b Fenoescandinávia c 40 108 0136 Gutenberg 1941 Gutenberg 1941 Cailleux 1952 Com base nas premissas de Shumm 1963 apud Carson Kirkby 1972 Devese observar que a estrutura geológica apresentará comportamento diferente segundo condições climáticas permitindo maior ou menor intensidade denudacional O quartzito por exemplo apresenta maior resistência ao intemperismo químico clima úmido se comparado à sua reação frente à ação morfogenética mecânica clima seco num comportamento oposto ao dos arenitos e calcários É dessa relação rochaclima sem desconsiderar os ajustamentos tectogênicos que se produzirá maior ou menor concentração de material em áreas deposicionais o que responderá numa escala do tempo geológico em maior ou menor reação das forças internas como os ajustamentos isostáticos Assim sendo é necessário entender o relevo como algo dinâmico em constante evolução muito embora certas relações ou resultados não possam ser observados na escala de tempo histórica O fato de se ter atribuído maior importância a um dos elementos estruturais ou climáticos em detrimento do outro deu motivo ao emprego de adjetivos como geomorfologia estrutural ou geomorfologia climática fruto de tendências associadas a linhagens epistemológicas Conforme observou Cholley 1950 não há duas geomorfologias mas apenas uma e sua gênese está ligada à ação de fatores erosivos associados ao clima que constitui um complexo de agentes denominado pelo autor de sistema de erosão que cada clima coloca em evidência Para Cholley 1950 o reflexo da estrutura ou do clima no comportamento morfológico caracteriza estágios que confirmam os conceitos davisianos a erosão normal ao colocar em evidência a estrutura corresponderia a uma fase de maturidade enquanto o esmorecimento da erosão demonstra a última etapa da evolução morfológica caracterizando uma fase senil É natural que determinadas formas específicas demonstrem as conseqüências ou reflexos da estrutura ainda que em outras formas essa estrutura se encontre mascarada pelos processos erosivos Esse fato pode ser diferenciado pela própria escala da observação nas imagens de satélite ou radar em escala média de 1100000 a 1250000 a estrutura se mostra como elemento individualizador da morfologia Uma análise mais detalhada em maior escala maior que 150000 de determinados elementos do relevo como uma vertente revela que a estrutura normalmente se encontra mascarada pelos depósitos de cobertura comandados pelos processos morfogenéticos pretéritos ou atuais Para Cholley 1950 a estrutura é algumas vezes insuficiente mesmo no domínio da erosão normal para explicar todas as formas Por outro lado devese considerar que dificilmente seria possível entender a relação da contextura e composição química da rocha na individualização estrutural se não se levasse em conta a ação dos mecanismos externos A compreensão do significado do clima na elaboração de toda e qualquer morfologia explica o êxito da expressão morfologia climática que de alguma forma marca a reação à atitude dos geógrafos que fizeram da estrutura o princípio de toda morfologia Cholley 1950 O comportamento morfológico numa escala de tempo geológico se manifesta por meio da ação dos mecanismos externos e da reação da estrutura admitindo a participação das forças internas tectodinâmicas A partir do capítulo seguinte serão analisados os efeitos do jogo de forças contrárias para a necessária compreensão do processo evolutivo do relevo Apresentamse a seguir os níveis de abordagem geomorfológica sistematizados por AbSáber 1969 que representam a estrutura metodológica do presente trabalho 16 Os níveis metodológicos em Geomorfologia O estudo da geomorfologia tem sido tratado ao longo do tempo em dois grandes níveis um relacionado à construção do edifício teórico o que promove a base epistemológica para o desenvolvimento da pesquisa e outro correspondente às expectativas associadas às aplicações dos conhecimentos Exemplos que contribuíram para a consolidação de tais fatos podem ser evidenciados através da produção do conhecimento no final do século XIX entre as duas grandes linhagens epistemológicas tendo por objetivo definir um escopo teórico para a geomorfologia os estudos relacionados à paisagem na primeira metade do século XX os estudos voltados aos aplainamentos durante as duas guerras mundiais e ainda o estudo de vertentes assumindo característica ambiental surgido principalmente a partir da década de 70 do século passado Os manuais de geomorfologia via de regra expressam a influência natural dos estágios epistemológicos da geomorfologia podendose evidenciar o forte reflexo da escola estruturalista francesa no Brasil ainda preservando forte tendência anglo americana na fase acadêmicoinstitucional inicial e mais recentemente o reflexo da linhagem epistemológica germânica nos estudos integrados da paisagem Importante para a sistematização desses conhecimentos e para o desenvolvimento da pesquisa geomorfológica no Brasil foi a importante contribuição do professor AbSaber 1969 concebendo a análise do relevo em três dimensões que se integram ou se interagem a compartimentação topográfica a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem Fig 111 a Compartimentação Topográfica Por compartimentação topográfica entendese a separação de determinados domínios morfológicos que se individualizam por apresentarem características específicas como determinados tipos de formas ou domínios altimétricos As formas resultantes do processo evolutivo do relevo podem testemunhar episódios associados a determinados domínios morfoclimáticos refletindo o jogo de forças entre os agentes internos comandados pela estrutura e tectônica e os externos associados aos efeitos climáticos em tempo suficiente para deixar impresso no modelado paleoformas relacionadas a processos morfogenéticos correspondentes A compartimentação reflete a interpenetração de forças contrárias como os processos relacionados ou resultantes da morfogênese associada a climas seco e úmido além dos reflexos proporcionados pela estrutura Durante a atuação de uma fase climática seca a morfogênese mecânica promove por recuo paralelo das vertentes o desenvolvimento de superfícies horizontais caracterizando um estágio avançado de evolução São os chamados níveis de pediplanação Já numa fase de clima úmido com a predominância da morfogênese química há um entalhamento generalizado da rede de drenagem As forças de soerguimento acontecem em ambas as fases climáticas seca e úmida Na fase seca são responsáveis pelos degraus existentes entre um nível de superfície horizontal Na fase úmida essas forças contribuem para o entalhamento da drenagem promovendo a dissecação do relevo É comum que as superfícies horizontais originadas em clima seco sejam dissecadas pela drenagem nas fases úmidas Portanto o clima úmido através da incisão de talvegues tende a destruir as formas horizontalizadas elaboradas em condições climáticas secas e o clima seco tende a destruir as formas verticalizadas elaboradas em clima úmido A sucessão desse jogo de forças contrárias9 levando em consideração o tempo de duração dos respectivos domínios morfoclimáticos é responsável pela composição de formas que expressam situações diferenciadas as quais permitem a compreensão da dinâmica morfogenética e sua história registradas no relevo As formas de relevo resultam da ação dos processos morfogenéticos ao longo do tempo muitas vezes refletindo a resistência da estrutura aos efeitos do jogo de forças Por exemplo uma superfície aplainada em níveis altimétricos mais elevado corresponde via de regra à uma forma mais antiga relacionada a clima seco partindo do princípio de que o relevo foi sendo soerguido ao longo do tempo Podemse constatar também graus de dissecações diferenciados no relevo considerando a relação entre a resistência litológica e as formas dominantes em condições climáticas úmidas o forte gradiente de vertentes em estruturas mais resistentes implica maior intensidade de dissecação ao contrário nas superfícies erosivas mesmo aquelas portadoras de litologias friáveis a dissecação se apresenta incipiente O conceito de compartimentação topográfica na realidade apresenta uma dimensão muito maior que a própria denominação uma vez que transcende a idéia de topografia no que tange aos aspectos morfológicos e morfométricos do relevo resultantes das propriedades adquiridas durante sua gênese Para a sua compreensão tornase imprescindível entender o processo evolutivo considerando a ação diferencial dos processos morfogenéticos as mudanças climáticas no tempo geológico os componentes de natureza estrutural valorizando os mecanismos tectogenéticos e propriedade das rochas sem desconsiderar os efeitos da interface em cada estágio de evolução Portanto tornase indispensável resgatar os conceitos de Penck que envolvem os processos exogenéticos e endogenéticos como fatores morfológicos Valorizase portanto o clima como elemento responsável pela morfogênese diferencial em função do balanço das forças em ação10 b Estrutura Superficial O nível de abordagem correspondente à estrutura superficial referese ao estudo dos depósitos correlativos ao longo das vertentes ou em diferentes compartimentos Esses depósitos são suscetíveis de transformação ao longo do tempo geológico ensejadas por erosão e perturbações tectônicas locais O longo período de tempo necessário para sua formação envolve mudanças climáticas responsáveis por materiais diferentes em sua constituição A denominação depósitos correlativos foi inicialmente apresentada por Penck 1924 quando foram associados às oscilações climáticas acontecidas no passado sendo as mais expressivas aquelas vinculadas às oscilações do pleistoceno a partir de 2 milhões de anos relativamente melhor preservadas em função do tempo frente ao intemperismo Como exemplo as fases glácioeustáticas pleistocênicas caracterizadas pela expansão das calotas polares e redução do nível marinho evidenciavam desenvolvimento de clima semiárido nas regiões intertropicais os processos morfogenéticos respondiam por desagregação mecânica das rochas promovendo recuo paralelo das vertentes e respectivos depósitos correlativos como os pedimentos detríticos As fases interglaciais ao contrário caracterizadas pela redução das calotas polares e aumento do nível marinho respondiam por um clima úmido nas regiões intertropicais favorecendo a organização da drenagem e intemperização química das rochas com coluvionamento de soleiras e depósitos aluviais em superfícies alveolares Pela estrutura superficial podese compreender os processos morfogenéticos pretéritos e oferecer subsídios através das propriedades físicoquímicas dos depósitos de cobertura para o entendimento da vulnerabilidade do terreno A referida abordagem deve estar associada aos demais parâmetros do relevo como o gradiente da vertente bem como aos processos morfodinâmicos atuais Bigarella Mousinho 1965 conceituam depósitos correlativos como seqüências sedimentares resultantes dos processos de agradação ocorrendo simultaneamente como fenômenos de degradação na área fonte Referem se portanto ao material residual depositado em seções de recepção resultante dos mecanismos morfogenéticos pretéritos e atuais motivados por diferenciações climáticas ajustamentos tectônicos ou implicações de natureza antrópica como os depósitos tecnogênicos Com relação ao conceito de depósitos tecnogênicos Oliveira 1990 destaca tal relação com a ação humana originados pela técnica referindose a um novo período geológico denominado de Quinário ou Tecnógeno período em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biológica na modelagem da biosfera desencadeando processos tecnogênicos cuja intensidade supera em muito os processos naturais c Fisiologia da Paisagem A fisiologia da paisagem diz respeito ao momento atual e até subatual do quadro evolutivo do relevo considerando os processos morfodinâmicos como o significado das ocorrências pluviométricas nas áreas intertropicais ou processos específicos nos diferentes domínios morfoclimáticos do globo bem como as transformações produzidas na paisagem pela intervenção antrópica A apropriação do relevo como suporte ou recurso origina transformações que começam com a subtração da cobertura vegetal expondo o solo aos impactos pluvioerosivos A partir de então ocorrem alterações nas relações processuais como as mudanças no jogo das componentes de perpendicular correspondente à infiltração à paralela relacionada ao escoamento superficial ou fluxo por terra No estudo da fisiologia da paisagem denominação utilizada por S Passarge no início do século XX procurase avaliar os processos morfodinâmicos atuais considerando o relevo numa possível perspectiva de Kügler 1976 ou seja considerando suas propriedades geoecológicas e sócioreprodutoras O processo de apropriação do relevo pelo homem seja como suporte ou recurso responde pelo desencadeamento de reações que resultam no comportamento do modelado considerando os efeitos morfodinâmicos convertidos em impactos O conceito de fisiologia da paisagem pode ser sintetizado a partir da abordagem da teoria biorresistásica de Erhart 1958 bem como pela noção de ecodinâmica apresentada por Tricart 1978 que culmina com a caracterização do grau de estabilidade dos diferentes meios Devem ser consideradas no estudo da fisiologia da paisagem as transformações produzidas pelo homem desde a revolução neolítica até os dias atuais indutores das alterações associadas à intensidade e à freqüência dos processos que culminam em impactos no meio físico Para Abreu 1986 enquanto as propriedades geoecológicas se originam de processos biológicos e morfodinâmicos presididos pelas leis biológicas físicas e geoquímicas que cunham as formas e lhes conferem conteúdo plástico as propriedades sócioreprodutoras são definidas pelo interesse imediato dos homens pelo relevo como recurso face ao seu conteúdo solos depósitos minerais etc ou como suporte de edificações de um espaço construído Os níveis de abordagem nos estudos geomorfológicos vistos de uma forma integrada permitem a compreensão do relevo na sua total dimensão Para se evidenciar a importância da análise integrada dos referidos níveis nos estudos do relevo recorrese aos parâmetros imprescindíveis à elaboração de uma carta geomorfológica considerando critério adotado por Tricart 1967 São quatro os parâmetros que integram uma representação do relevo em grande escala morfométricos morfográficos morfogenéticos e cronológicos veja capítulo 5 As informações morfométricas e morfográficas são valorizadas na compartimentação do relevo As morfométricas referemse às dimensões métricas do relevo enquanto as morfográficas às próprias formas existentes transcritas segundo representações apropriadas As informações de natureza cronológica são obtidas por meio de formas específicas terraços níveis de pedimentação dentre outras e principalmente pelo estudo da estrutura superficial Os elementos morfogenéticos referemse tanto aos reflexos dos processos morfodinâmicos atuais enfocados pela fisiologia da paisagem como pretéritos responsáveis pela elaboração do modelado e respectivos depósitos correlativos Outro aspecto digno de nota referese ao grau de envolvimento do pesquisador com as atividades desenvolvidas nos diferentes níveis da análise geomorfológica Nos levantamentos concernentes à compartimentação topográfica o trabalho se caracteriza mais por atividades desenvolvidas no gabinete utilizandose de cartas de base fotografias aéreas ou imagens ficando as atividades de campo restritas a observações e comprovações No estudo da estrutura superficial os levantamentos de campo são imprescindíveis considerando a descrição e análise de perfis disponíveis ou abertura de trincheiras além de coleta de material para análise laboratorial análise granulométricotextural palinológica geocronológica dentre outras Por último no estudo da fisiologia da paisagem o controle de campo se intensifica considerando a necessidade do acompanhamento sistemático dos processos os quais normalmente exigem o emprego de equipamentos específicos e até mesmo recursos técnicos sofisticados como miras graduadas calhas coletoras simuladores de chuva ou traçadores radioativos como os introduzidos por De Ploey 1967 em pesquisas geomorfológicas experimentais Antes de tratar especificamente de cada um dos níveis de abordagem do relevo serão apresentados alguns conceitos importantes relacionados aos aspectos taxonômicos como aqueles relativos aos processos e dimensões espaciais dos fenômenos Primeiramente apresentamse algumas diferenças de determinados termos específicos da geomorfologia como processos morfoclimáticos morfogenéticos e morfodinâmicos Por processos morfoclimáticos entendese aqueles de significativa abrangência espacial com tempo geológico de duração suficiente para elaborar determinados tipos de modelados específicos Exemplo desse processo são os extensos pediplanos de cimeira que ainda podem ser verificados em praticamente todo continente brasileiro relacionados a condições climáticas secas elaborados num tempo geológico provavelmente no Terciário Médio ou posterior com duração suficiente para proporcionar correspondência entre forma e clima ou melhor forma e processo Considerando o ajustamento da paisagem ao domínio climático ao longo das faixas latitudinais Tricart Cailleux 1965 representaram as grandes zonas morfoclimáticas do globo partindo do conceito de que tais compartimentos devem ser entendidos numa determinada dimensão espacial zonal e de domínios regionais com duração temporal dos processos suficiente para imprimir marcas ou formas compatíveis na paisagem Por processo morfogenético entendese a relação entre a modalidade de intemperismo e formas correspondentes que podem variar tanto no tempo de elaboração como na extensão territorial provocando maior ou menor associação na relação processoforma Como exemplo podem se mencionar os processos morfogenéticos responsáveis pelos extensos aplainamentos associados aos climas secos do Terciário Médio ainda bem preservados no CentroOeste brasileiro ou ainda o reafeiçoamento de formas e respectivos depósitos correlativos associados às oscilações climáticas pleistocênicas As fases glácioeustáticas pleistocênicas com duração média de 50000 a 100000 anos foram responsáveis pela elaboração de rampas pedimentadas nas regiões intertropicais bem como formas associadas à expansão dos glaciais nas regiões temperadas Portanto tais processos não tiveram tempo suficiente de duração para imprimir significativamente suas marcas no relevo em nível de domínio e nem mesmo tiveram uma abrangência espacial tão expressiva como os pediplanos por ocasião das condições climáticas semiáridas do Terciário O conceito de processo morfodinâmico tem sido entendido como aquele associado ao intemperismo atual ou seja relacionado à escala de tempo histórica incorporandose às diferentes formas de intervenções destacandose as antropogênicas Portanto são processos mais restritos tanto no tempo quanto no espaço sujeitos a oscilações ou ritmos dos principais agentes naturais como as chuvas considerando as modificações impostas pelo ser humano no processo de apropriação do relevo Encontrase correlacionado ao terceiro nível de abordagem tratado pela fisiologia da paisagem Assim esses termos podem ser empregados considerando os limites impostos à compreensão da especificidade do fenômeno observado Quanto mais distante o evento geomorfológico tempo geológico em relação à impossibilidade de observálo nas suas especificidades diárias tempo humano menor a capacidade de compreendêlo quanto à sua dinâmica Outro assunto importante para melhor compreensão da compartimentação do relevo diz respeito às unidades taxonômicas têmporoespaciais que têm por princípio a dimensão das formas na perspectiva tridimensional tamanho gênese e idade Ross 1992 utilizandose das unidades taxonômicas apresentadas por Demek 1967 propõe seis níveis para a representação geomorfológica Fig 112 1 º táxon que corresponde a uma maior extensão superficial é representado pelas Unidades Morfoestruturais denominado de Domínios Morfoestruturais no manual do IBGE 1995 cuja escala permite a plena identificação dos efeitos da estrutura no relevo como mostram as imagens de radar ou as de satélite em escala média em torno de 1250000 Exemplo pode ser dado para o Estado de Goiás pelos escudos antigos associados aos dobramentos arqueanos e proterozóicos que se distinguem dos depósitos paleomesozóicos da bacia sedimentar do Paraná Este táxon organiza a causa de fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia com os elementos geotectônicos os grandes arranjos estruturais e eventualmente a predominância de uma litologia conspícua IBGE 1995 p 11 2 º táxon referese às Unidades Morfoesculturais denominado de Regiões Geomorfológicas pelo IBGE 1995 contidas em cada Unidade Morfoestrutural Referese a compartimentos que foram gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas mas estão ligadas essencialmente a fatores climáticos atuais ou passados Incluemse neste taxon os planaltos e as serras as depressões periféricas como a da Bacia do Paraná Tominaga 2000 As unidades morfoesculturais em geral não têm relação genética com as características climáticas atuais Ross 1992 3 º táxon representa as Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes correspondente às Unidades Geomorfológicas na metodologia adotada pelo IBGE 1995 que por sua vez encontramse contidas nas Unidades Morfoesculturais Tratase de compartimentos diferenciados em uma mesma unidade relacionados a processos morfoclimáticos específicos com importante participação dos eventos tectônicos ou diferenciações litoestratigráficas sem desconsiderar influências do clima do presente O Manual Técnico de Geomorfologia IBGE 1995 defineo como arranjo de formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado A identificação dessas unidades na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 fundamentouse na visão de conjunto fornecida pela imagem de radar na similitude de formas de relevo no posicionamento altimétrico relativo e na existência de traços genéticos comuns que constituíram a gama de elementos que permitiu a identificação de quatro unidades geomofológicas o Planalto Central Goiano os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná o Planalto dos Guimarães Alcantilados e a Depressão do Araguaia O Planalto Central Goiano integra quatro subunidades morfologicamente distintas Planalto do Distrito Federal Planalto do Alto TocantinsParanaíba Planalto Rebaixado de Goiânia e as Depressões Intermontanas A unidade geomorfológica Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná abrange o Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e o Planalto de MaracajuCampo Grande 4 º táxon referese às formas de relevo individualizadas na unidade de padrão de formas semelhantes correspondente aos Modelados11 na metodologia adotada pelo IBGE 1995 Estas formas quanto à gênese podem ser agradação como as planícies fluviais ou marinhas terraços fluviais ou marinhos ou de denudação como colinas morros e cristas Para o IBGE 1995 p 12 na composição do mapa geomorfológico são delimitados quatro tipos de modelados os de acumulação os de aplanamento sempre que possível identificados pela definição de sua gênese e funcionalidade os de dissecação e os de dissolução Uma unidade de padrão de formas semelhantes é composta por numerosas formas de relevo com morfologia e morfometria semelhantes entre si A identificação morfológica nas manchas ou polígono de modelado correspondente a grupamento de formas do relevo é expressa através de letras Projeto Radambrasil S para formas estruturais E para formas erosivas e A para formas de acumulação As formas de dissecação são identificadas pelas letras a formas aguçadas c formas convexas e t formas tabulares A caracterização morfométrica é estabelecida pela dimensão interfluvial e o aprofundamento da drenagem Ross 1992 sugere a seguinte relação de grandeza das formas de dissecação Tab 14 Tabela 14 Índice de dissecação considerando a relação aprofundamento da drenagem e dimensão interfluvial Dimensão interfluvial em metros Grau de aprofundamento da drenagem Muito grande 1 1500 Grande 2 1500 a 700 Média 3 700 a 300 Pequena 4 300 a 100 Muito pequena 5 100 Muito fraco 1 10 m 11 12 13 14 15 Fraco 2 10 a 20 m 21 22 23 24 25 Médio 3 20 a 40 m 31 32 33 34 35 Forte 4 40 a 80 m 41 42 43 44 45 Muito forte 5 80 m 51 52 53 54 55 Fonte Ross 1992 5 º táxon referese às partes das vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo As vertentes de cada tipologia de forma são geneticamente distintas e cada um dos setores dessas vertentes pode apresentar características geométricas genéticas e dinâmicas diferentes Tominaga 2000 p 17 A representação zonal desse táxon só é possível em escalas grandes 125000 15000 Nas escalas médias 150000 1100000 podem ser individualizadas através de símbolos lineares ou pontuais No Manual Técnico de Geomorfologia do IBGE 1995 o 5º táxon ou ordem de grandeza abrange fatos cuja dimensão espacial implica representação por símbolos lineares ou pontuais 6 º táxon corresponde às pequenas formas de relevo que se desenvolvem por interferência antrópica direta ou indireta ao longo das vertentes São formas geradas pelos processos erosivos e acumulativos atuais Ross 1992 como ravinas voçorocas corridas de lama assoreamentos dentre outros Tais representações só se tornam possíveis em escala grande 15000 11000 O estudo geomorfológico permite o detalhamento de formas além do 6º táxon como o estudo da micromorfologia de materiais na estrutura superficial ou ainda considerações sobre evolução ou formas do relevo à luz da teoria dos fractais Com relação à abordagem fractal Christofoletti 1999 p 67 a evidencia como uma nova linguagem usada para descrever modelar e analisar as formas complexas encontradas na natureza tendo como noção básica a repetividade do padrão geométrico nas diversas escalas de grandeza espacial No estudo das unidades morfoestruturais destacase à expressividade manifesta pela estrutura rochas e tectônica mesmo sabendo que a dissecação enquanto processo foi a responsável pela exumação e exposição das formas associadas à estrutura Como a estrutura é destacada atribuise o fato geomorfológico à tipologia estrutural a exemplo do evidenciado através dos mosaicos de radar ou imagens de satélite em escalas média a pequena 1250000 1500000 Ao contrário quando se trabalha em maior escala como 15000 ou 125000 a estrutura é mascarada pelos depósitos de cobertura evidenciando maior participação dos processos morfogenéticos na compreensão das formas Constatase hoje nos estudos geomorfológicos importante tendência em não se valorizar um componente em detrimento do outro clima x estrutura o que demonstra amadurecimento epistemológico no sentido de se procurar entender o relevo em sua integridade Notas de Rodapé 2 Por depósito correlativo ou estrutura superficial entendese determinado tipo de material associado a processos morfogenéticos determinados por condições climáticas específicas 3 Conforme Rorty 1995 as teorias holísticas parecem dar licença a todos para construírem seu próprio pequeno todo seu próprio pequeno paradigma sua própria pequena prática seu próprio pequeno jogo de linguagem e depois se arrastam para dentro do mesmo 4 Capra 1996 esclarece de forma original a diferença entre os termos holístico e ecológico utilizandose do exemplo da concepção de se ver a bicicleta a visão holística significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender em conformidade com isso as interdependências das suas partes Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso mas acrescentalhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social de onde vêm as matériasprimas que entram nela como foi fabricada como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada e assim por diante 5 Morin 1977 resgata o conceito da physis dos présocráticos no sentido de entender que o universo físico deve ser concebido como o próprio lugar da criação e da organização Nesse sentido parte da idéia de que somos seres físicos o que transforma a physis em princípio significante 6 A externalização da natureza utilizada como certa freqüência significa a externalização do homem em relação à natureza entendida como argumento de promoção à legitimação da apropriação privada dos meios de produção 7 Por nível de base entendese todo e qualquer ponto mais baixo em relação a uma área localizada a montante que se caracteriza como referência aos processos erosivos O nível de base de um curso dágua corresponde ao rio localizado a jusante o qual terá como nível de base outro curso localizado mais abaixo níveis de base locais e regionais O nível de base geral de todos os rios é o nível do mar 8 Perfil de equilíbrio é uma referência teórica que se tem descrita por um curso dágua curva hiperbólica Para se obter o suposto perfil de equilíbrio haveria necessidade de longo tempo de estabilidade tectônica e climática 9 O jogo de forças contrárias ao longo do tempo permite relacionálo a um procedimento dialético considerando suas respectivas leis a passagem da quantidade em qualidade o que pode ser atribuído à persistência de determinada ação morfogenética clima seco ou úmido na elaboração de formas aplainamentos ou incisão vertical pela drenagem e a interpenetração dos contrários correspondente à associação de formas pretéritas e atuais como a existência de testemunhos de aplainamentos em pleno domínio climático úmido 10 Para Penck 1953 os três elementos são 1 processos exógenos 2 processos endógenos e 3 o produto de ambos como podem ser chamadas as feições morfológicas 11 Os Modelados referemse a formas de relevo que apresentam similitude de definição geométrica em função de uma gênese comum e da generalização dos processos morfogenéticos atuantes resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais IBGE 1995 Referências Bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 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compartimentação topográfica Conceito definir o conceito de compartimentação topográfica observando a importância de se considerar as implicações estruturais e paleoclimáticas nos grandes compartimentos Importância da compartimentação falar da importância da compartimentação para o uso e ocupação das áreas considerando a movimentação do relevo evidenciar suas vulnerabilidades e potencialidades Metodologia descrever as principais formas de se fazer uma compartimentação do relevo considerando as diferentes unidades taxonômicas metodologia adotada pelo Radam depois Radambrasil publicada pelo IBGE 1995 consiste na definição das regiões geomorfológicas unidades geomorfológicas e padrão de formas semelhantes vinculadas à dimensão interfluvial e aprofundamento da drenagem As grandes unidades estruturais e principais eventos morfoclimáticos Falar das grandes unidades estruturais do globo escudos antigos estruturas sedimentares e dobramentos modernos mostrando o significado da estrutura na diferenciação dos compartimentos Utilizar imagens na escala média 1250000 para mostrar as diferenças Evidenciar a ação da pediplanação na horizontalização de superfícies e da importância da tectônica no entalhamento da drenagem e elaboração de paisagens diferenciadas Os principais tipos de relevo e suas relações estruturais Apresentar os modelos clássicos de evolução do relevo considerando o jogo das forças antagônicas responsáveis pelo seu processo evolutivo 2 Compartimentação Topográfica A compartimentação topográfica corresponde à individualização de um conjunto de formas com características semelhantes o que leva a se admitir que tenham sido elaboradas em determinadas condições morfogenéticas ou morfoclimáticas que apresentem relações litoestratigráficas ou que tenham sido submetidas a eventos tectodinâmicos A interpenetração das diferentes forças ao longo do tempo leva à caracterização das formas de relevo da situação topográfica ou altimétrica e da existência de traços genéticos comuns como fatores de individualização do conjunto Assim a evolução do modelado terrestre cujas particularidades proporcionam a especificidade de compartimentos resulta do seguinte jogo de forças contrárias Agentes internos comandados pela estrutura considerando o comportamento litoestratigráfico e implicações de natureza tectônica e Agentes externos relacionados aos mecanismos morfogenéticos em que os componentes do clima assumem relevância A expressividade dessas forças no modelado depende tanto da intensidade quanto da duração dos fenômenos Para a elaboração de superfícies aplainadas por exemplo tornase necessário um trabalho prolongado de erosão associado ao intemperismo físico em condições tectônicas e climáticas relativamente estáveis Dessa forma a elaboração dos pediplanos vinculase a uma determinada condição climática ao longo de um tempo geológico e a uma certa estabilidade tectônica Esse comportamento justifica a gênese dos extensos pediplanos de cimeira ainda presentes no modelado brasileiro como a unidade denominada Chapadas do Distrito Federal em processo de dissecação A dissecação atual ou subatual encontrase associada ao entalhamento da drenagem que contou com o soerguimento do relevo ou seja com os mecanismos epirogenéticos positivos responsáveis pela reativação da erosão remontante e conseqüente incisão dos talvegues Assim sendo a compartimentação topográfica evidencia o resultado das relações processuais e respectivas implicações tectônicoestruturais registradas ao longo do tempo considerando o jogo das componentes responsáveis pela elaboração e reelaboração do modelado em que as alternâncias climáticas e as variações estruturais tendem a originar formas diferenciadas Dessa maneira os efeitos paleoclimáticos e eventos tectônicos em determinadas condições estruturais se constituem em pilares de sustentação para a compreensão do modelado atual cuja semelhança ou similitude de formas permite a identificação de um compartimento independente da escala de estudo Um dos referenciais para o estudo dos compartimentos referese às unidades taxonômicas espaciais e temporais ou seja à dimensão espacial da área de estudo e fatores genéticos registrados ao longo do tempo para que sejam definidas as variáveis imprescindíveis à compreensão das formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelados Nesse caso é considerada não apenas a dimensão espacial mas também o número de variáveis necessárias para explicar o modelado Como exemplo no segundo nível taxonômico adotado por Ross 1992 visto no capítulo anterior as unidades morfoesculturais geralmente são identificadas na escala ao milionésimo já no quinto táxon o estudo das vertentes só se torna possível numa escala bem maior preferencialmente entre 15000 até 120000 Enquanto na primeira situação a estrutura geológica e efeitos tectônicos assumem relevância para explicar os traços gerais do modelado no estudo das vertentes os processos morfogenéticos pretéritos e atuais sobretudo os morfodinâmicos considerando as derivações antropogênicas assumem destaque Assim podese constatar a importância da compartimentação do relevo não só para o entendimento da paleogeografia mas também como forma de oferecer subsídios ao uso e ocupação do modelado na escala do tempo histórico É evidente que dispõese de recursos de apropriação para os diferentes compartimentos do relevo independente das supostas restrições ao uso ou ocupação contudo independentemente das potencialidades e possibilidades tecnológicas devese atentar para o significado do custo social de tais investimentos A apropriação racional do relevo enquanto suporte ou recurso além de reduzir os possíveis impactos ambientais possibilita a destinação de investimentos para setores sociais emergentes com vistas à perspectiva de uma economia solidária Dentre os subsídios que a compartimentação do relevo oferecem destacamse a vulnerabilidade e a potencialidade Por vulnerabilidade na perspectiva geomorfológica entendese a suscetibilidade erosiva do relevo tanto em condições naturais quanto prognosticáveis em função de determinados usos ou ocupações tendo o compartimento topográfico como suporte ou recurso A potencialidade conforme o próprio nome indica referese a determinadas individualidades que podem ser racionalmente apropriadas para fins específicos como a destinação de áreas portadoras de depósitos de cobertura com fertilidade natural às atividades agrícolas ou ainda morfologias especiais como as cársticas e falhadas voltadas a explorações turísticas Aliandose os estudos sobre os diferentes graus de vulnerabilidade do relevo a suas potencialidades tornase possível produzir mapas com indicações para usos sustentáveis ou destinados à proteção ambiental A metodologia utilizada para a compartimentação do relevo depende da dimensão ou escala do estudo a qual deverá ajustarse a determinado nível taxonômico A metodologia para o Zoneamento EcológicoEconômico da Amazônia Legal proposta por Becker Egler 1997 sugere por exemplo como subsídio à gestão do território o estudo da vulnerabilidade da paisagem natural e da potencialidade social considerando uma base cartográfica na escala 1250000 portanto de nível regional A caracterização da vulnerabilidade natural fundamentase nos conceitos ecodinâmicos de Tricart 1975 tendo o relevo como componente básico A classificação da paisagem considera três situações quanto ao grau de estabilidade meios estáveis meios instáveis e intergrades A classificação do meio encontrase diretamente associada à relação pedogênese morfogênese A potencialidade social além de levar em conta as condições para o desenvolvimento humano fatores dinâmicos restritivos e intermediários considerando a potencialidade humana produtiva e institucional incorpora parâmetros do potencial natural como recursos minerais aptidão agrícola dos solos e a cobertura vegetal O relevo em tal situação na escala prevista 1250000 seria analisado com base nos três primeiros táxons propostos por Ross 1992 O Projeto Radambrasil aperfeiçoou ao longo dos anos importante contribuição metodológica para a caracterização dos padrões de formas quarto táxon Fundamentado na dissecação do relevo o mapeamento leva em consideração as dimensões interfluviais e o grau de aprofundamento da drenagem o que permite inferir sobre as relações morfogênesepedogênese mencionadas enquanto no domínio de formas tabulares prevalece a pedogênese considerando a superioridade da infiltração sobre o escoamento no domínio de formas aguçadas ao contrário predomina o escoamento O grau de convexização reflete no jogo das componentes tratadas pedogênesemorfogênese o que pode ser justificado pela intensidade da incisão da drenagem cuja densidade reflete na dimensão interfluvial A compartimentação do relevo em escala grande 15000 até 120000 referente ao quinto táxon individualiza os domínios de determinadas formas do relevo tendo a vertente como elemento de representação Nesse caso além da dissecação relacionada à própria densidade da drenagem devese observar o significado geométrico e morfométrico das vertentes o comportamento da estrutura superficial e os elementos atinentes à fisiologia da paisagem Dentre estes destacamse o diagnóstico do uso e ocupação e os impactos relacionados aos processos morfodinâmicos com o intuito de proporcionar melhor caracterização da vulnerabilidade do relevo à erosão O mesmo tratamento ou a mesma intensidade de estudo deve ser destinada ao diagnóstico da potencialidade do relevo na escala em questão A interposição desses parâmetros proporcionará a elaboração de uma carta de síntese subsidiando a gestão do território Embora considerese para os objetivos mencionados a compartimentação do relevo como suporte não se deixa de utilizar os demais níveis de abordagem geomorfológica como a estruturação superficial e a fisiologia da paisagem comprovando a necessária visão integrada dos diferentes componentes nos estudos geomorfológicos A compartimentação topográfica ou do relevo depende dos objetivos e do nível de abordagem proposto para o estudo Abreu 1982 reportase a quatro obras julgadas fundamentais para a classificação dos fatos geomorfológicos Birot 1955 Cailleux Tricart 1956 Tricart 1965 e AbSáber 1969 A proposição de Cailleux Tricart 1956 foi retomada por Tricart 1965 com ampliação de 7 para 8 ordens de grandeza sendo que a valorização excessiva da escala obscureceu algumas considerações sobre a essência do objeto da classificação Tricart 1965 acaba levando o leitor a julgar que a essência do objeto de estudo da disciplina se altera com a escala daí ser necessário adaptar o método à escala de abordagem Isto fica particularmente nítido quando ele trata do mapeamento geomorfológico questão para a qual a classificação dos fatos é fundamental Abreu 1982 p 64 A contribuição dada por AbSáber 1969 foi a de proporcionar o ordenamento escalar dos fatos estudados em três níveis de abordagem revelando uma flexibilidade que permite ajustamento mais satisfatório em relação à essência dos fatos tanto do ponto de vista espacial quanto temporal A compartimentação topográfica como primeiro nível de abordagem da proposta sistematizada por AbSáber 1969 assim como de outros autores1 fundamentase nas relações taxonômicas O Projeto Radambrasil empregou uma metodologia de compartimentação do relevo tendo como base a ordenação dos fatos geomorfológicos fundamentandose no princípio de grupamentos sucessivos de subconjuntos constituídos de tipos de modelados Para Mamede et al 1983 no mapeamento da Folha SE22 Goiânia as Unidades Geomorfológicas correspondem à compartimentação do relevo identificada por um conjunto de matizes de mesma cor A função da compartimentação é subdividir o relevo em unidades que permitam tratamento individual Essas unidades são analisadas por ordem de grandeza e representadas por meio de um conjunto de formas de relevo que apresentam similitude e posição altimétrica individualizada Essas características significam que os processos morfogenéticos que atuaram numa unidade são diferentes dos que agiram nas outras Alguns destes processos foram predominantes em decorrência de condições litológicas estruturais ou climáticas O conjunto dos indicadores mencionados revela ainda a energia da erosão a que foi submetida à unidade seja no passado seja no presente Mamede et al 1983 A denominação das unidades geomorfológicas obedece via de regra à toponímia regional sendo geralmente precedida de termos geomorfológicos amplos como planície planalto e depressão As Unidades Geomorfológicas podem ser divididas em subunidades que identificam particularidades regionais pelo posicionamento altimétrico e por fatores genéticos Como exemplo a Unidade Geomorfológica Planalto Central Goiano Folha SE22 apresenta as seguintes subunidades Planalto do Distrito Federal caracterizada por superfícies erosivas pediplanadas 1200 metros Planalto do Alto TocantinsParanaíba 900 a 1000m descontínuo em área e envolvendo feições geomorfológicas bastante diversificadas Planalto Rebaixado de Goiânia 350 a 850m caracterizado em relação aos relevos vizinhos por diferenciação nas suas posições altimétricas relativas e na variação litológica e Depressões Intermontanas correspondente à superfície rebaixada e suavemente dissecada com altitudes médias que chegam a 700 metros As Unidades Geomorfológicas no exemplo utilizado enquanto compartimentos podem ser tomadas como elementos de referência da evolução do relevo 21 Componentes da compartimentação O relevo resulta da ação processual ao longo do tempo que pode ser reconstituída através das evidências intimamente ligadas a paleoformas como os depósitos correlativos ou formas específicas vinculadas aos mecanismos morfogenéticos A evolução do relevo analisada ao longo do tempo geológico incorpora o antagonismo determinado pelas forças endógenas comandadas pelas atividades tectônicas e exógenas relativas aos processos morfoclimáticos Fig 21 Entretanto a partir do momento em que se analisa o relevo atual os fatores internos ficam num segundo plano visto que seus reflexos são sentidos numa escala de tempo geológico com exceção das manifestações catastróficas como os vulcanismos ou abalos sísmicos evidenciados nas zonas de dobramentos modernos O resultado desse antagonismo de forças ao longo do tempo conhecido como geomorfogênese favorece o desenvolvimento de formas semelhantes em seus tipos de modelados A similitude dessas formas encontrase subordinada à intensidade e freqüência das ações processuais frente às reações tectônicoestruturais capazes de imprimir suas marcas que podem ser relativamente apagadas ou preservadas em função dos domínios subseqüentes A morfologia vista na atualidade resulta assim da interpenetração de formas em contínuo processo de transformação Essa mesma similitude de formas é que caracteriza os compartimentos morfológicos os quais contêm toda uma história evolutiva que pode ser parcialmente contada a partir de certas evidências como por exemplo os depósitos correlativos O relevo é caracterizado de modo geral por superfícies erosivas pediplanadas formas de dissecação como as tabulares convexas e aguçadas podendo apresentar variações ou combinações numa área restrita ou constituir um único domínio morfológico de grande extensão A heterogeneidade de formas de relevo se explica pela diferenciação estrutural e pela influência dos domínios morfoclimáticos A elaboração de vales abertos nas latitudes temperadas por exemplo achase intimamente ligada à ação dos glaciais alpinos no Pleistoceno o domínio de maresdemorros da região sudeste brasileira possui estreita relação com a reativação tectônica terciária e conseqüente retomada dos processos erosivos comandados principalmente pela incisão da drenagem e as grandes extensões aplainadas ainda evidenciadas na região central do Brasil estão estreitamente associadas aos mecanismos morfoclimáticos secos Enfim a morfologia atual preserva muitas vezes indicadores como as formas de relevo ou os depósitos correlativos que permitem a reconstituição de sua história mostrando que sua gênese é decorrente da alternância das forças antagônicas ao longo do tempo geológico Além disso as alterações no relevo observadas na escala do tempo histórico resultam também da ação direta ou indireta do homem não sendo considerada a participação dos processos internos Para melhor contextualização dos eventos geológicos ou geomorfológicos a serem tratados apresentase a escala do tempo com algumas informações suplementares Tab 21 Tabela 21 Escala do tempo geológico 211 As Formas Residuais e o Processo Evolutivo As extensas superfícies horizontais ou aplainadas de maior dimensão na região central do Brasil geneticamente não estão associadas ao clima úmido atual Suas formações superficiais caracterizadas por seqüências concrecionais denominadas de bancadas ferruginosas ou detríticas encontramse vinculadas a efeitos paleoclimáticos2 Tanto a fisionomia do relevo quanto os depósitos correlativos se justificam por processos morfoclimáticos pretéritos cujo material desagregado que capeia tais aplainamentos resulta de um clima agressivo ou mais especificamente de um clima seco árido ou semiárido Para explicar tais superfícies erosivas necessário se faz recorrer ao sistema de referência preconizado por King Pugh 1956 denominado pediplanação que significa o aplainamento do relevo por recuo paralelo das vertentes Para compreender tais processos devese considerar um clima seco onde o efeito da variação da temperatura alta temperatura durante o dia e baixa à noite é responsável pela desagregação mecânica das rochas termoclastia cujo alvo principal são as saliências topográficas das vertentes que vão gradativamente encolhendo ou recuando por desagregação à medida que os detritos de encostas caem pelo efeito gravitacional Assim a evolução do relevo acontece no sentido horizontal Persistindo clima árido ou semiárido existe uma tendência à destruição total das formas passadas proporcionando o nivelamento da superfície em relação ao ponto de referência para o recuo paralelo nível de base local ou regional originandose assim o pediplano A superfície de cimeira pode ser caracterizada por bancadas ferruginosas interpretadas como antigos horizontes B estruturais3 exumados e retrabalhados responsáveis pela resistência dessas superfícies aos efeitos erosivos A atividade erosiva na base da couraça ferralítica implica aluição ou desagregação do material sobrejacente cujos fragmentos provenientes de montante ficam depositados na falda ou sopé da vertente inumando a angularidade estrutural knick point A deposição vai se estendendo com o recuo da vertente podendo ser reafeiçoada pelo transporte associado às chuvas torrenciais próprias das condições semiáridas Fig 22 As superfícies de erosão podem ocorrer sob forma de patamares pequenos degraus intercalados a sucessivos níveis de aplainamento cuja gênese encontrase associada a ajustamentos isostáticos que são compensações de massas rochosas geradas por diferenças de densidades entre as crostas externa e interna A crosta interna conhecida como sima é constituída de silicatos de magnésio e a externa de densidade inferior formada por silicatos de alumina é denominada de sial O sial flutua sobre o sima com base na diferença de densidade porque toda reação manifestada na superfície resulta de acomodação ocorrida em profundidade Fig 22 Assim a parte elevada submetida à erosão sofre alívio de carga e tende a se elevar ainda mais O material retirado dessas partes mais altas vai ser depositado em lugares mais baixos que conseqüentemente sofrerão subsidência ou rebaixamento ao longo do tempo Essa dinâmica expressa pela continuidade desse processo referese à própria acomodação isostática Quando ocorre em um mesmo ciclo erosivo como um ciclo em clima seco originamse degraus topográficos caracterizados por sucessivos pediplanos ou novas superfícies erosivas embutidas nos testemunhos de montante resultando em novas seqüências de depósitos correlativos níveis de erosão correspondentes a materiais desagregados constituintes dos denominados pedimentos detríticos Geralmente são verificados restos de bancadas nos níveis de embutimento4 provenientes do retrabalhamento de concrecionamentos de montante ou materiais resultantes da própria rocha subjacente uma vez que o recuo paralelo estará ocorrendo entre a superfície erosiva e a estrutura geológica localizada imediatamente abaixo A origem das bancadas ferruginosas parece estar associada a efeitos paleoclimáticos ou seja à existência de um clima do tipo tropical com estação seca definida anterior ao processo de aplainamento que teria proporcionado a concentração do ferro na subsuperfície posteriormente exumada e desagregada pelas atividades mecânicas associadas ao clima seco Na condição de clima tropical e ambiente ácido a chuva estimula a solubilização do ferro associado a certos tipos de rocha como a olivina e tantas outras O ferro solubilizado é transportado para as camadas iluviais do solo que possuem baixo grau de permeabilidade como o denominado horizonte B textural onde seria confinado precipitado e concentrado sendo posteriormente endurecido ou concrecionado pela própria deficiência hídrica relacionada ao período seco ou à fase climática transicional Fig 23 O ferro comumente está presente em solução sólida de minerais primários ocupando lugares equivalentes O potencial necessário para converter ferro para o estado férrico se dá em soluções aquosas naturais sobretudo em ambiente ácido5 Em tais condições o ferro dissolvido oxida para um óxido férrico hidratado que é insolúvel e precipitase podendo produzir através do intemperismo processo de laterização A precipitação ocorre preferencialmente no horizonte B por dificultar a migração descendente do ferro uma vez que os espaços intersticiais porosidade do horizonte são reduzidos Tanto o ferro quanto a alumina6 são prejudiciais ao plantio ainda mais quando se encontram em estado de óxidos ou de hidróxidos O estado férrico implica impermeabilização do solo impedindo o desenvolvimento radicular e a infiltração da água a intensa aluminização atua como fator fitotóxico elemento tóxico para as plantas restringindo seu desenvolvimento Além do ferro e da alumina temse também a sílica A sílica é solúvel em meio básico7 concentrandose em meio ácido portanto está menos presente nas latitudes intertropicais em que prevalece ambiente ácido As superfícies erosivas de cimeira são também caracterizadas por outros materiais independentes dos efeitos paleoclimáticos como os representados pelas bancadas ferruginosas Como exemplo os metassedimentos do Grupo Bambuí respondem por seqüências arenosas desagregação dos quartzitos aparecendo muitas vezes superpondo materiais concrecionários canga laterítica ou bancadas concrecionárias autóctones No domínio do Grupo Araxá os micaxistos sobretudo em áreas tectonicamente perturbadas aparecem filonados por quartzo veios de quartzo e a desagregação mecânica do material em ambiente agressivo dá origem a uma superfície detrítica Os fragmentos de quartzo resultantes de maior estabilidade química agregados ou levemente agregados pavimentam a superfície erosiva sob a forma de cascalheiras Esses materiais também podem aparecer superpondo concreções ferralíticas ou mais comumente a própria rocha alterada in situ Constituem inclusive o pavimento de superfícies intermontanas ou níveis de erosão Como tais pediplanos resultam de climas agressivos áridos ou semiáridos provavelmente estejam associados ao período Terciário Médio ou ao Pliopleistoceno Sua formação pode ser constatada a partir das últimas seqüências deposicionais das bacias sedimentares brasileiras correspondentes ao Cretácio e Terciário Grupo Bauru Formação Urucuia Formação Cachoeirinha dentre outras denominações geológicas regionais ou a partir de atividades intrusivas ocorridas na mesma época como as referentes ao Grupo Iporá do Cretáceo Superior Na realidade não é uma superfície composta de níveis relativos a apenas um ciclo erosivo muitos foram os ciclos morfoclimáticos ou morfogenéticos determinados por climas diferentes no decorrer do tempo geológico alguns dos quais destruídos por atividades erosivas posteriores ou mesmo inumados por depósitos que hoje caracterizam estruturas ou formações geológicas materiais litificados ou transformados em rocha Um segundo nível de aplainamento regional de natureza intermontana encontrase embutido entre áreas mais elevadas Na unidade geomorfológica Planalto Rebaixado de Goiânia Folha SE22 Goiânia do Projeto Radambrasil 1983 o pediplano intermontano se localiza entre 620 a 780 metros portanto com uma diferença de 300 a 400 metros em relação aos testemunhos do pediplanos de cimeira considerados mais antigos e é correlacionado à fase semiárida que teve início provavelmente no Plioceno e terminou no começo do Pleistoceno Tab 22 A diferença altimétrica entre ambos demonstra que o pediplano intermontano não estaria geneticamente relacionado apenas a fenômenos de compensação isostática visto que a intensidade de soerguimento para gerar a referida amplitude necessariamente foi muito maior Atribuise a causa desse desnível bem como a posterior formação da superfície intermontana a um fenômeno epirogênico positivo com conseqüente alteração climática de um clima seco para um clima úmido em que a organização da drenagem juntamente com o soerguimento do terreno teria respondido pela elaboração de um novo nível de base bem mais baixo em relação ao anterior comandado pela incisão vertical da drenagem Para se entender esse processo é necessário considerar como se dá o entalhamento do talvegue pela drenagem a partir do soerguimento da crosta o que foi tratado anteriormente quando se fez referência ao sistema de W Penck A epirogênese referese ao movimento ascensional epirogênese positiva ou descensional epirogênese negativa do continente em relação ao nível do mar Tratase de um fenômeno regional ou continental determinado por acomodações internas como articulações convergentes de placas responsáveis pela orogenia terciária como a andina de maior proporção porém em menor velocidade que as compensações isostáticas Portanto para se explicar a diferença topográfica do aplainamento de cimeira em relação ao aplainamento intermontano há de se considerar as atividades epirogenéticas positivas e a incisão da drenagem8 como fatores determinantes da discrepância altimétrica originada a partir do nível de base geral confluência dos rios com o mar Esse desnível resulta em reativação da erosão remontante ou regressiva ou seja na intensificação da incisão fluvial ou aprofundamento do talvegue efeito de epigenia Esse fenômeno se inicia na foz e segue em direção à cabeceira proporcionando o aumento da extensão do rio o que justifica a denominação de erosão regressiva ou seja para trás Fig2 4 Toda irregularidade ou diferença topográfica associada à alteração no nível de base geral ou mesmo local será atacada pela erosão regressiva cuja tendência corresponderia a um perfil de equilíbrio aparente Nessa circunstância o rio deixaria de erodir atingindo um perfil longitudinal idealizado como suavemente concavizado transportando apenas os materiais provenientes das vertentes na abordagem davisiana Em caso contrário ou seja ocorrendo uma epirogênese negativa terseia um afogamento do nível de base geral pelo mar gerando acumulação de material Assim a epirogênese positiva determina retomada de erosão e a negativa colmatação ou sedimentação Tab 22 A construção de reservatórios hidrelétricos exemplifica o fenômeno de colmatação Tabela 22 Eventos cenozóicos e feições associadas ou assoreamento pela elevação do nível de base local determinado pelo barramento do rio No caso de afogamento de vale por eustatismo positivo ou epirogênese negativa o fenômeno de assoreamento sedimentação se constitui numa das principais causas da intensificação de enchentes O desmatamento reduz a infiltração da água da chuva ao mesmo tempo em que favorece a erosão dos solos fluxo por terra com inumação dos talvegues O assoreamento da calha fluvial ou elevação do talvegue em função do assoreamento diminui a capacidade de vazão de um rio Com o acréscimo das intensidades pluviométricas chuvas torrenciais o aumento do escoamento pluvial ou do fluxo por terra leva ao transbordamento do canal fluvial dando origem às enchentes Devese acrescentar ainda que a erosão ou a acumulação determinada por alteração no nível de base geral pode também se dar pelo fenômeno de eustatismo que ao contrário da epirogênese resulta da elevação eustatismo positivo ou abaixamento eustatismo negativo do nível da água oceânica em relação ao continente o que pode estar associado tanto a mudanças climáticas como aos fenômenos tectônicos Geralmente esse processo acontece nas fases glaciais e interglaciais Com a redução da temperatura nas fases glaciais pleistocênicas há uma ampliação das calotas polares a partir da acumulação da neve precipitada A precipitação sob forma de neve é em grande parte proveniente da evaporação das superfícies oceânicas resultando em redução do nível marinho eustatismo negativo Com o acréscimo da temperatura na fase interglacial a fusão do gelo com retorno da água ao mar gera transgressão marinha eustatismo positivo com eventual afogamento de rios fenômenos de rias ou inundação de áreas anteriormente emersas Para se entender a diferença altimétrica entre duas superfícies de aplainamento é necessário estimar a mudança do ciclo morfoclimático passagem do clima seco para o úmido associada a efeito epirogenético positivo que teria ocorrido provavelmente no Terciário Superior pósOligoceno A existência da superfície de aplainamento intermontana significa retorno ao clima seco razão pela qual o recuo paralelo das vertentes se fazia a partir dos novos níveis de base geral regionais e locais A pediplanação ocorreu nas mesmas condições daquelas descritas por King Pugh 1956 apesar de o período de agressividade climática ter sido provavelmente menor o que pode ser estimado em função da menor extensão das formas e suas conformações As superfícies erosivas de cimeira são essencialmente tabulares ou horizontais apesar da natural e incipiente inclinação em direção ao nível de base dada a prolongada condição climática agressiva ou seca Já as superfícies intermontanas além de menor extensão apresentam formas normalmente descaracterizadas pelo processo de dissecação frente à ausência de componentes restritivos como os concrecionamentos registrados nos testemunhos de cimeira Enquanto as superfícies erosivas de cimeira sobretudo nas Chapadas do Distrito Federal encontramse via de regra capeadas por bancadas ferruginosas paleohorizontes B estruturais ou similares os níveis de embutimento e as superfícies erosivas intermontanas apresentamse parcialmente pavimentados por material detrítico Esses paleopavimentos são quase sempre constituídos pelo quartzo remanescente de antigos fragmentos rochosos resultantes da desagregação em clima seco os demais materiais como os da família dos feldspatos são geralmente decompostos pelo intemperismo químico relacionado ao clima úmido subseqüente ressaltando a estabilidade química do quartzo e alguns restos de concreções lateríticas pedaços de bancadas ferruginosas ou cangas provenientes da superfície de cimeira transportadas por processos morfogênicos associados ao recuo de vertentes ou a atividades de erosão remontante Os detritos resultantes da desagregação mecânica quando transportados pelos fortes aguaceiros chuvas torrenciais o que é comum nos ambientes semiáridos preenchem as irregularidades topográficas originando pedimentos Esses pedimentos apresentam uma distribuição granulométrica hierarquizada em relação à região de origem os fragmentos maiores ficam próximos aos pés das vertentes que estão sendo trabalhadas os fragmentos menores são transportados a maiores distâncias podendo coalescer com os próprios níveis de base locais antigos talvegues que serviram de referenciais ao recuo das vertentes originando as denominadas bajadas atualmente correspondentes a depressões relativas do tipo dales ou veredas Fig 24 A compartimentação topográfica pode encontrarse associada aos domínios fitogeográficos que por sua vez mantêm boa relação com as formações superficiais tipos de material decomposto ou edafizado que recobre a rocha As superfícies de cimeira encontramse em geral revestidas por espécies xeromórficas do tipo cerrado com desenvolvimento associado ao grau de concrecionamento e troca de bases solos distróficos9 Na superfície intermontana se desenvolve o cerrado espécies de domínio arbustivo algumas vezes variando para campos sujos espécies herbáceas em maior densidade quanto ao número de espécies quando comparadas às da superfície de cimeira Já nos espaços intermediários entre os níveis de cimeira e os intermontanos ou mesmo abaixo destes devido a processos pedogênicos subatuais e atuais aparecem formações vegetais mais densas que nas faixas de transição são substituídas por espécies de domínio xeromórfico Em tais circunstâncias a vegetação apresenta dificuldade de desenvolvimento tanto radicular considerando a presença de concreções detritolateríticas quanto pelas restrições impostas pelo efeito tóxico determinado pelo alumínio Isso de certa forma explica a presença de estratos herbáceos pontilhados de espécies arbustivas À medida que desaparecem tais restrições a vegetação ganha corpo podendo aparecer espécies arbóreas ou faixas de transição para a superfície de cimeira Tais fatores não apresentam limitações quanto ao desenvolvimento agrícola considerando os avanços científicotecnológicos que superam tanto as restrições físicas quanto as restrições químicas dos solos Pesquisas levam a entender que o cerrado teria surgido em algum momento do Terciário Médio ou Superior associado a um clima seco o que justifica sua caracterização enquanto vegetação xeromórfica A adaptação a condições climáticas mais úmidas evidencia considerável amplitude ecológica visto que ocorrem inclusive em regiões úmidas como os refúgios encontrados na região equatorial Nas áreas relativas a vertentes reafeiçoadas por processos paleoclimáticos atuais ou subatuais principalmente as localizadas entre superfícies ou níveis de aplainamentos distintos as formações florestais se fazem presentes O grau de decomposição clima úmido a que a rocha foi submetida muitas vezes deixa de se constituir em restrições físicas ou químicas apresentando maior capacidade de retenção de água Tratase de áreas cujos testemunhos de erosão passados foram destruídos pelas atividades morfogenéticas penecontemporâneas a serem consideradas posteriormente Apresentamse a seguir considerações quanto ao processo evolutivo do relevo tendo os aplainamentos de cimeira como referência inicial para a compreensão dos compartimentos e modelos atuais 212 As grandes unidades do relevo e suas relações taxonômicas Os grandes compartimentos do relevo serão abordados com base nas três primeiras unidades taxonômicos tratadas por Ross 1992 unidades morfoestruturais unidades morfoesculturais e unidades morfológicas ou padrões de formas semelhantes Os demais níveis taxonômicos serão considerados nos estudos relacionados à estrutura superficial e à fisiologia da paisagem em razão das especificidades das escalas uma vez que as práticas geomorfológicas de compartimentação do relevo têm assumido maior relevância nas abordagens regionais A unidade morfoestrutural presente em qualquer escala de abordagem é observada quanto às suas variações em nível territorial As diferenças morfoestruturais expressas pela estrutura geológica associada a eventos tectônicos encontramse sintetizadas em três grandes unidades escudos antigos bacias sedimentares e dobramentos modernos Os escudos antigos representados pelos escudos das Guianas BrasilCentral e Atlântico são formados por rochas ígneas ou magmáticas e pelas rochas metassedimentares Achamse vinculados aos eventos tectônicos antigos Arqueano e Proterozóico No Brasil Fig 25 são identificados seis grandes eventos tectônicos ou geodinâmicos termotectônicos ou tectomagmáticos associados aos terrenos antigos Schobbenhaus Campos 1984 Alguns de importância continental outros apenas de participação local Jequié 26002700 Ma10 na borda oriental da Chapada Diamantina Transamazônico 2000 Ma correspondente aos escudos setentrional e meridional da Amazônia Parguazense 15001600 Ma na Amazônia ocidental Zona de reativação Espinhaço 10001300 Ma também conhecida como Brasiliana antiga na seção oriental de Goiás e norte de Minas Rondoniense 10001300 Ma em Rondônia e noroeste matogrossense e Brasiliano moderno 450700 Ma correspondente à faixa que atinge parte significativa de Goiás e Tocantins abrangendo a borda oriental da região sudeste Os eventos tectônicos subseqüentes implicam retrabalhamentos das rochas préexistentes levando ao seu rejuvenescimento isotópico A complexidade litológica e os efeitos tectônicos oferecem aos escudos uma configuração especial muitas vezes mascarada pelos eventos morfoclimáticos As bacias sedimentares ou coberturas fanerozóicas abrangem o restante do país bacias sedimentares Amazônica do Meio Norte ou Parnaíba e do Paraná recobrindo estruturas antigas em que condições topográficas favoreceram deposições sedimentares a partir do Paleozóico ora sob condição marinha ora continental em diversos ambientes e condições climáticas definindo o emprego do conceito de grupos formações e fácies geológicas Há ainda o caso das coberturas terciárias que ultrapassam o Mesozóico algumas vezes soerguidas em função das manifestações tectônicas neogênicas denominadas Tectônica Moderna Para Almeida 1967 a reativação Wealdeniana correspondente à tectônica moderna processou reações de modo geocrático na velha ortoplataforma além de outros fenômenos como manifestações magmáticas intrusões básicas ultrabásicas e reativação de falhas Os dobramentos modernos ocorridos no Terciário resultam do choque de placas com soerguimento dos sedimentos que vinham se acumulando desde o Ordoviciano em ambiente marinho Na América do Sul destacamse os dobramentos Andinos A colisão de placas gerou uma série de manifestações tectônicas na crosta como os dobramentos novos falhamentos e reativação de antigas falhas Concomitantemente movimentos epirogenéticos provocaram soerguimentos na parte oriental do Brasil estimulando nova fase de entalhamento da rede de drenagem responsável pela dissecação da paisagem Na faixa préandina falhamentos de grande dimensão originaram o Pantanal Matogrossense Para se ter idéia das grandes diferenças estruturais no relevo considerando as unidades taxonômicas tomase o exemplo SulAmericano em sua integridade o que permitiria obter uma visão dos principais traços que individualizam os respectivos modelados os terrenos antigos muitas vezes expondo formas associadas aos diferentes eventos tectônicos como as formas circulares dos complexos de NiquelândiaSerra da Mesa em Goiás Fig 26 soerguidas por evento vulcanogênico em seqüências do Grupo Araxá as formas tabulares do Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná como o Planalto de Rio Verde que acompanha o mergulho das camadas sedimentares em direção ao eixo da bacia do rio Paranaíba ou a estrutura altamente movimentada da cadeia andina onde prevalecem os efeitos da tectônica É possível mesmo nas grandes unidades morfoestruturais estabelecer compartimentos de menores dimensões considerando o conjunto de formas associadas a variações litoestratigráficas implicações tectônicas comandadas principalmente pelos domínios morfoclimáticos Apresentamse a seguir considerações a respeito dessas unidades As unidades morfoesculturais referemse aos grandes traços determinados pela tectônica e eventos morfoclimáticos existentes nas unidades morfoestruturais que podem grosso modo ser identificadas pelas condições topomorfológicas individualizadas por três grandes compartimentos planaltos planícies e depressões Por planalto entendese extensão territorial elevada de diferentes condições geológicas submetidas a processo de dissecação se caracterizando como fornecedor de sedimentos A depressão refere se a compartimento embutido em planaltos posicionada em situação topográfica inferior também submetida a processo de dissecação se caracterizando como fornecedora de sedimentos No mapa geomorfológico relativo à Folha Goiás SD22 Radambrasil 1981 o Planalto Central Goiano incorpora os Planaltos do Alto Tocantins Paranaíba e Planalto do Distrito Federal representado por estruturas metassedimentares magmáticas e vulcanosedimentares Encontramse entrecortados pela Depressão do Tocantins que para oeste coalesce com a Depressão do Araguaia A planície referese a compartimento receptor de sedimentos provenientes de montante encontrandose embutida tanto nos planaltos como nas depressões A Planície do Bananal localizada no médio Rio Araguaia encontrase embutida na Depressão do Araguaia As diferenças utilizadas para a compartimentação das unidades morfológicas do Planalto Central Goiano denominadas de subunidades pelos autores Mamede et al 1981 fundamentamse na similitude de formas associadas aos fatores tectoestruturais e mecanismos morfogenéticos Assim o Planalto do Distrito Federal se caracteriza por extensas chapadas superfícies pediplanadas contínuas com altitude média entre 1000 1200 metros sustentadas por concreções ferralíticas filitos e quartzitos do Grupo Paranoá o Planalto do Alto TocantinsParanaíba se individualiza por formas mais dissecadas fragmentadas com altitude média entre 700 950 metros associadas principalmente às estruturas metassedimentares do Grupo Araxá ou granulíticas do Complexo Goiano Em cada um dos compartimentos são identificados reflexos estruturais superfície estrutural tabular paleoerosivos como as superfícies pediplanadas e as diferentes formas de dissecação aguçadas convexas e tabulares A identificação desses padrões de formas semelhantes encontrase associada ao terceiro táxon a ser apresentado a seguir O terceiro táxon denominado de unidades morfológicas ou padrões de formas semelhantes se refere às manchas de menor extensão territorial que expressam determinadas formas que guardam entre si elevado grau de semelhança quanto ao tamanho de cada forma e ao aspecto fisionômico Ross 1992 Exemplos são as subunidades comentadas anteriormente inseridas no Planalto Central Goiano Planalto do Distrito Federal e Planalto do Alto TocantinsParanaíba A partir desse táxon foi apresentado refinamento morfológico ainda possível na escala 1250000 que permitiu além de caracterizar a forma estrutural erosiva ou de dissecação o estabelecimento de parâmetros morfométricos considerando a dimensão interfluvial e o grau de entalhamento da drenagem Mamede et al 1981 Com base em tais parâmetros tornase possível via de regra inferir sobre a vulnerabilidade erosiva da área quanto maior o grau de dissecação do relevo maior o domínio da morfogênese em relação à pedogênese e viceversa Portanto enquanto no domínio de formas aguçadas prevalece a erosão nas tabulares predomina a infiltração Nesse caso observase uma relação direta entre o grau de dissecação do relevo e a densidade de drenagem o que se reflete no grau de declividade e no jogo das componentes morfogênesepedogênese A compartimentação do relevo deve levar em consideração tanto o papel da estrutura geológica quanto os processos morfogenéticos Enquanto as diferenças litológicas e tectônicas expressam a configuração geral do modelado o clima através dos respectivos processos responde pela dissecação do relevo expondo a estrutura através da erosão diferencial ao mesmo tempo em que a intensidade da dissecação pode estar associada à ação tectônica ou à resistência litológica Assim a relação entre estrutura e clima deve ser vista numa perspectiva integrada da mesma maneira que os componentes que participam de cada um desses parâmetros Por exemplo as diferenças litológicas respondem ora pela gênese de cristas estruturais litologia resistente ora pelo entalhamento da drenagem litologia friável A intensidade tectônica por sua vez reflete se juntamente com a existência de falhas ou fraturas no maior ou menor grau de entalhamento da drenagem o clima responsável pela elaboração do modelado também se comporta de forma diferente ou seja no domínio árido ou semiárido a morfogênese mecânica é responsável pela desagregação das rochas e pelo recuo paralelo de vertentes com possibilidade de desenvolvimento de extensos pediplanos dependendo do tempo de duração do processo No domínio úmido com a organização ou reorganização da drenagem temse o entalhamento dos rios e a evolução do relevo comandada pelo intemperismo químico Enquanto no domínio seco a tendência evolutiva do relevo é a de originar formas horizontalizadas ou tabulares como as superfícies aplainadas no clima úmido a incisão da drenagem e conseqüente evolução das vertentes levam à produção de formas verticalizadas Fica portanto configurada a interpenetração de processos contrários no relevo onde a tendência de um determinado domínio morfoclimático em impor suas marcas à custa da degradação de formas elaboradas no passado acaba culminando com evidências morfológicas e cronodeposicionais relacionadas tanto aos processos atuais subatuais como paleoclimáticos 213 Os principais tipos de relevo e suas relações com o clima e estrutura A gênese e a evolução do relevo são ensejadas pelo jogo de forças antagônicas ou seja o clima e a estrutura geológica A elaboração dos tipos de relevos discutidos a seguir é pautada por essa abordagem mostrando por meio de seqüências evolutivas representadas por figuras a ação tanto da estrutura quanto do clima Tal abordagem tenta enfatizar essa conciliação utilizandose dos modelos clássicos em geomorfologia Os modelos discutidos encontramse caracterizados pelos segundo e terceiro táxons procurandose evidenciar a participação estrutural através das diferenças litológicas e esforços tectônicos sob ação de processos morfoclimáticos distintos 22 Modelos clássicos de gênese e evolução do relevo A classificação por domínios morfoestruturais bacias sedimentares escudos antigos e dobramentos recentes sem desconsiderar as complexidades existentes constituise num esquema útil enquanto recurso metodológico Com base nos referidos domínios serão consideradas as diferentes unidades morfológicas destacando os tipos específicos de relevo procurando evidenciar a interação entre forças endógenas e exógenas na elaboração do modelado Os escudos antigos conceito que incorpora a noção de ortoplataforma e paraplataforma11 correspondem ao craton continental Foram em diferentes momentos submetidos a fenômenos tectônicos tectônica antiga com reativação da tectônica moderna que responderam por elevada complexidade estrutural dobras falhas submetidos a diferentes sistemas erosivos responsáveis pelo arrasamento de superfícies e elaboração de formas verticalizadas em função de reativações tectônicas As atividades epirogenéticas póscretáceas estão constantemente presentes na composição das variáveis antecedentes responsáveis pela exumação de seqüências estruturais sobrejacentes como sucessão de cristas em estruturas dobradas ou soerguimento de testemunhos de aplainamento elaborados em condições paleoclimáticas Como resultado algumas faixas intracratônicas se formaram e foram entulhadas por sedimentos durante o Paleomesozóico sob certa estabilidade tectônica O espessamento associado à subsidência e à litificação progressiva dos sedimentos permitiram o desenvolvimento das bacias sedimentares A partir do Triássico manifestações tectônicas associadas à deriva continental geraram efeitos estruturais que se prolongaram até o início do Terciário associados à orogenia andina Ou seja a convergência de placas com a conseqüente orogenia moderna ocorrida no Terciário resultou de manifestações tectônicas iniciadas no Cretáceo As diferentes unidades estruturais e o tempo transcorrido responsáveis pela elaboração morfológica através dos diferentes mecanismos associados aos elementos do clima repercutiram na intensidade da evolução refletindo no comportamento topográfico Portanto os dobramentos recentes referemse aos níveis altimétricos mais elevados enquanto os escudos antigos apesar de rejuvenescidos por ocasião do soerguimento andino apresentamse desgastados e em posição altimétrica inferior em relação aos modernos Almeida et al 1976 apresentam as grandes unidades geotectônicas da América do Sul Fig 27 com destaque para as plataformas SulAmericana e da Patagônia a cadeia Andina a depressão Préandina o escudo Brasileiro remobilizado no Terciário escudo das Guianas escudo Central do Brasil e escudo Atlântico além das bacias fanerozóicas Essas unidades estruturais apresentam correspondência na disposição geral da morfologia Ab Saber 1975 reconhece na arquitetura dos continentes quatro grandes tipos de massas rochosas 1 Os terrenos de consolidação muito antiga chamados de escudos que podem se apresentar sob aspectos variados Aqui se incluem tanto as noções de ortoplataforma como a de paraplataforma representadas por maciços montanhas em blocos espinhaços montanhosos e estruturas complexas 2 As bacias sedimentares pouco deformadas denominadas intracratônicas por estarem embutidas nos escudos caracterizadas por planaltos sedimentares ou basálticos tabuliformes ou ligeiramente cuestiformes como as bacias sedimentares paleomesozóicas do continente brasileiro 3 Áreas sedimentares muito deformadas por dobramentos conhecidas como zonas de convergência de placas transformadas em cadeias de cordilheiras ou arcos insulares como os dobramentos modernos andinos 4 Áreas de sedimentação moderna ou em processo de sedimentação caracterizando as terras baixas em geral como as planícies de extensão continental tabuleiros e baixos platôs e depressões interiores Os escudos ou cratons correspondem às mais velhas plataformas dos continentes ortoplataformas responsáveis pelo fornecimento de sedimentos que entulharam as faixas intracratônicas gerando compensações isostáticas que permitiram a continuidade da inumação das bacias estimulada pela subsidência e processo de exumação das estruturas cratônicas periféricas por arqueamento Fig 28 As grandes cordilheiras correspondentes aos dobramentos terciários tectônica moderna são entendidas como resultantes da deriva e choque de placas responsáveis pelo soerguimento de depósitos marinhos iniciados no Eopaleozóico seqüência de 5000 a 10000 metros de sedimentos Com o subduccionamento da placa marinha aconteceram dobramentos e soerguimentos do material depositado associados a fenômenos paralelos Fig 29 As condições genéticas e a ação dos efeitos denudacionais ao longo do tempo levaram as unidades estruturais a apresentarem características morfológicas que preservaram suas particularidades Entretanto não se pode deixar de se considerar a possibilidade de mascaramento destas unidades estruturais pela ação dos mecanismos comandados ou ligados ao clima 2211 Características Morfológicoestruturais nas Bacias Sedimentares As bacias sedimentares se formam nas faixas intracratônicas e o processo de entulhamento é favorecido pela subsidência que gera compensação isostática Diante disso assumem espessuras pronunciadas responsáveis pela subsidência central permitindo a continuidade da sedimentação As bacias sedimentares brasileiras por exemplo apresentam espessuras que chegam a 6000 metros Petri Fulfaro 1983 como na baixa bacia Amazônica Fig 210 De modo geral as seqüências sedimentares das bacias se dispõem em forma de sinéclises ou seja a espessura das camadas cresce da borda para o centro com mergulhos que acompanham o substrato cristalino parcialmente atribuído ao próprio processo de subsidência ligeiramente inclinados na periferia das bacias com tendência de horizontalização na seção central Via de regra a sedimentação se inicia em discordância angular contato da sedimentação inicial com a superfície intracratônica dobrada fraturada ou falhada ou discordância erosiva e continua com tendência de manutenção de concordância entre as seqüências litoestratigráficas ou discordância erosiva entre as mesmas Fig 211 O bloco diagrama da bacia do Alto Paraná esquematizado por AbSáber 1954 mostra a disposição das camadas em relação à base cristalina assim como a influência do mergulho na elaboração das cuesta s periféricas resultantes do processo de circundesnudação póscretácea O comportamento das camadas mergulho e as características litológicas dos estratos oferecem uma diferenciação morfológicoestrutural responsáveis pela origem e pela evolução do relevo tabuliforme e do relevo de cuestas analisados a seguir a Relevo Tabuliforme O relevo tabuliforme caracterizado por uma seqüência de camadas sedimentares horizontais ou subhorizontais associadas ou não a derrames basálticos intercalados embora elaborado pelos mecanismos morfoclimáticos reflete diretamente a participação da estrutura Tratase de formas estruturais caracterizadas por seqüências sedimentares horizontalizadas cuja disposição tabular pode diferir daquelas resultantes de processo de pediplanação em estruturas nãohorizontais Ressaltase que a pediplanação também se dá em estruturas horizontais com estreita correspondência entre a superfície de erosão e o comportamento dos estratos Os relevos tabulares tendem a ocorrer com maior freqüência no interior das bacias sedimentares dada a disposição horizontalizada dos estratos As formas mais comuns nas estruturas concordantes se caracterizam por chapadões chapadas e mesas em ordem de grandeza Tais formas são geralmente mantidas à superfície por camadas basálticas ou por sedimentos litificados de maior resistência Quando submetidas a processo de pediplanação podem estar associadas a concreções ferruginosas com vegetação xeromórfica provavelmente ligada às condições ambientais áridas ou semiáridas que deram origem à superfície erosiva O início da evolução dos relevos tabuliformes sobretudo no caso brasileiro encontrase relacionado a uma fase climática úmida responsável pela organização do sistema hidrográfico sobre um pediplano em ascensão por esforços epirogenéticos Assim admitese esquematicamente a seguinte evolução na elaboração do relevo tabuliforme 1 Organização do sistema hidrográfico em fase climática úmida associada a efeitos epirogenéticos Considerando que as seqüências litoestratigráficas superiores das bacias sedimentares brasileiras datam do Cretáceo entendese que a organização da drenagem e a evolução vertical do modelado dadas pela incisão linear da drenagem tenham acontecido a partir daquele período Fig 213 Além disso a orientação do sistema fluvial pode estar associada à imposição do mergulho das camadas ou à orientação topográfica ligada ao processo de pediplanação inclinação em direção ao nível de base local ou regional 2 Devido aos esforços epirogenéticos considerados há uma tendência de aprofundamento dos talvegues e de elaboração de seus vales Nessa circunstância as alternâncias litológicas podem originar patamares estruturais ou formas específicas relacionadas à imposição estrutural Fig 214 Dada a disposição horizontal das camadas os vales comumente apresentam formas simétricas A manutenção da resistência litológica entretanto é relativa transitória ou seja o recuo da camada resistente pode se dar pelo solapamento do material subjacente mais tenro provocando aluição da camada superior Fig 215 A retirada do material friável pode também exumar uma superfície estrutural individualizada pela resistência litológica 3 A tendência de alternância climática como a passagem do clima úmido para o seco evidenciada na evolução morfológica póscretácea brasileira provavelmente no PlioPleistoceno teria sido responsável pela evolução horizontal do modelado dada a aceleração do recuo paralelo das vertentes por desagregação mecânica A abertura dos vales tendo como nível de base os talvegues abandonados teria proporcionado entulhamento do próprio nível de base com tendência de elaboração de pediplano intermontano Fig 216 Enquanto o clima úmido por meio do entalhamento dos talvegues teria respondido pela evolução vertical da morfologia o clima seco tenderia a destruir as formas criadas pelo clima úmido proporcionando a evolução horizontal da morfologia caracterizando deste modo mais uma das relações antagônicas da natureza Observase que enquanto no clima úmido as camadas resistentes ficam pronunciadas no clima seco a desagregação mecânica tende a reduzir as diferenças litoestratigráficas 4 Uma nova fase climática úmida ensejaria uma nova organização da drenagem e conseqüentemente um reentalhamento dos talvegues proporcionando o alçamento de antigos depósitos como os pedimentos detríticos que inumaram áreas depressionárias Temse assim o prosseguimento do trabalho evolutivo por erosão remontante e denudação dos topos interfluviais com exumação parcial de camadas subjacentes resistentes originando as superfícies estruturais ou simplesmente a esculturação dos sedimentos que compõem a camada sobrejacente caracterizando as superfícies esculturais O trabalho comandado pelo sistema hidrográfico enseja a evolução do relevo via erosão regressiva promovendo ramificações de cursos de primeira ordem podendo então aparecer formas residuais como os morrostestemunhos mantidos ou não por coroas litoestruturais como o somital associado a materiais resistentes As diferenças litológicas poderiam ainda proporcionar saliências morfológicas parcialmente mascaradas na fase anterior de clima seco denominadas cornijas Com a abertura dos vales haveria uma tendência a se formarem vales simétricos denominados vales em manjedouras Fig 217 A presença de pedimentos detríticos em processo de retrabalhamento morfológico pela incisão da drenagem é testemunha do clima seco correspondente à fase anterior Um exemplo de morfologia estrutural tabular ocorre principalmente no sudoeste do Estado de Goiás na borda setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná No município de Paraúna chapadas e estruturas ruiniformes em estratos horizontais ou subhorizontais embora posicionadas em situação periférica à bacia não chegam a caracterizar relevos cuestiformes a serem tratados adiante e sim um exemplo típico de relevo tabular Nessa área seqüências sedimentares carboníferas da Formação Aquidauna sotopõem estruturas cristalinas précambrianas gnaisses do Complexo Goiano e micaxistos do Grupo Araxá recobertas ou não por depósitos do jurássicocretácico do Grupo São Bento ou cretácico do Grupo Bauru sobretudo a oeste do município Enquanto nas proximidades da sede do município a presença de mesas e formas residuais lembram modelados de cuestas onde o sistema hidrográfico exumou a estrutura cristalina área de contato estrutural em direção oeste o domínio sedimentar responde pela gênese de extensas chapadas com baixo grau de entalhamento dos talvegues Fig 218 O topo da seqüência sedimentar encontrase seccionado por extenso pediplano que coincide com o topo dos interflúvios da estrutura cristalina em torno de 900 metros com caimento suave em direção sudoeste Com base nas evidências cronoestratigráficas depósitos correlativos admitese que a organização da drenagem seja póscretácica provavelmente miocênica associada a efeito epirogenético positivo que promoveu denudação regional Na borda das chapadas registrase a presença de estruturas ruiniformes favorecidas pela estrutura dos sedimentos carboníferos Formação Aquidauana As juntas ortogonais nos arenitos da Formação Aquidauana favorecem o desenvolvimento de decomposição esferoidal com arredondamento gradativo dos blocos rochosos De modo geral as chapadas são caracterizadas por topos horizontais resultantes ou não de aplainamentos erosivos coincidentes com a disposição estrutural muitas vezes sustentados por bancadas ferruginosas que oferecem resistência ao recuo das vertentes Fig219 As escarpas verticais tendem à concavização na base onde são depositados os detritos mais grosseiros associados ao recuo paralelo Há também estreita relação entre a cobertura vegetal e os elementos morfológicos descritos vegetação herbáceoarbustiva no pediplano de cimeira presença de vegetação pioneira nas escarpas verticais e espécies arbóreoarbustivas na seção do talus ou debris slope base da escarpa normalmente preenchida por colúvios pedogenizados A serra da Portaria no município de ParaúnaGO representada por seqüência silticoarenítica em estrutura concordante horizontal exemplifica a gênese de patamares ou escadarias resultantes de erosão diferencial No clima úmido atual os arenitos portadores de cimento silicoso apresentam maior resistência do que os folhelhos sílticos o que tem como conseqüência a elaboração dos patamares escalonados Os degraus são mantidos pelos arenitos cuja evolução regressiva se dá em maior intensidade nas seqüências representadas pelos folhelhos sílticos subjacentes sobretudo por erosão remontante comandada pelo fluxo por terra escoamento superficial ou pela presença de fontes de camadas entre as seqüências sedimentares enquanto os arenitos permitem maior percolação da água os siltitos por apresentarem baixa permeabilidade retêm a água armazenada que passa a fluir no contato litológico observado com freqüência nas escarpas erosivas ou nas estruturais efeito piping Exemplo de influência litológica no comportamento do relevo pode ser observado na depressão intermontana da Serra da Portaria onde a presença de dique de diabásio JurássicoCretáceo de considerável extensão sentido EW penetrado em arenitos da Formação Aquidauana apresenta saliência topográfica associada à erosão diferencial caracterizando a popularmente conhecida muralha Fig 220 A denudação responsável pela gênese da depressão intermontana da Serra da Portaria respondeu pela exumação do dique que pela resistência apresentada em relação aos arenitos circunjacentes culminou na elaboração de saliência topográfica A grande quantidade de diáclases ortogonais dos diabásios favoreceu a decomposição esferoidal parcial apesar de evidente justaposição dos blocos rochosos b Relevos do tipo Cuestas Os relevos do tipo cuesta s também encontramse associados a estruturas sedimentares com ou sem intercalações de estratos basálticos a exemplo dos modelos clássicos na Depressão Periférica Paulista Diferenciamse dos relevos tabuliformes por corresponderem a seções caracterizadas por camadas litoestratigráficas inclinadas razão pela qual comumente aparecem nas bordas das bacias sedimentares mergulhando em direção ao seu centro Fig212 A disposição dos estratos inclinados define os relevos de cuestas também conhecidos como relevos monoclinais ou homoclinais inclinados em um só sentido Embora se denomine cuesta s para relevos dissimétricos com mergulho de camada de até 30 O Cailleux Tricart 1972 atribuem maior freqüência em declives entre 1 O e 2 O podendo chegar a 7 O a 8 O no máximo Por se tratar de processo de denudação marginal responsável pela gênese de relevo dissimétrico a cuesta também se caracteriza como tal pela morfologia específica de áreas de contato estruturais cristalino e sedimentar O processo evolutivo de um relevo de cuesta pode ser assim apresentado 1 As cuesta s se formam em áreas de estruturas concordantes inclinadas nas periferias das bacias sedimentares onde o contato litológico facilita a ação da erosão remontante Fig 221 O processo ou seqüência evolutiva proposta se inicia a partir de uma superfície pediplanada um pediplano de cimeira como na maior parte dos exemplos clássicos brasileiros quando a drenagem foi organizada a partir de uma fase climática úmida Efeitos epirogenéticos positivos contribuíram para o entalhamento dos talvegues O curso principal que acompanha o mergulho da camada é denominado cataclinal ou conseqüente enquanto seus tributários perpendiculares ao mergulho são denominados ortoclinais ou subseqüentes os quais muitas vezes se encontram orientados por fraturamento 2 Persistindo a condição climática úmida e o levantamento epirogenético da crosta há a continuidade do entalhamento dos talvegues fenômeno conhecido como epigenia antecedência ou superimposição12 originando verdadeiras gargantas Isto sugere a evolução do próprio sistema hidrográfico onde aparecem cursos anaclinais ou obseqüentes contrários ao mergulho das camadas ou cataclinais secundários favoráveis ao mergulho tributários dos cursos ortoclinais ou subseqüentes Fig 222 Generalizase o processo de entalhamento da drenagem ou evolução verticalizada da morfologia Desse modo a erosão passa a ser induzida pela diferença de resistência das camadas litoestratigráficas erosão diferencial caracterizando relevo dissimétrico verticalizada da morfologia espelhar Observase que enquanto na zona de contato estrutural os cursos ortoclinais estão relacionados ao intenso aprofundamento dos talvegues elevada dissecação aqueles mais afastados do contato tiveram menor entalhamento por terem encontrado camada litológica resistente como o basalto a exemplo do comportamento evidenciado na bacia sedimentar do Paraná Essa diferenciação no grau de entalhamento é que permitirá o desenvolvimento da depressão ortoclinal Com a evolução do sistema hidrográfico identificase a partir de então o desenvolvimento de padrão de drenagem do tipo treliça característico das estruturas monoclinais num sistema hidrográfico representado por confluências ortogonais ou subortogonais 3 Admitindo a possibilidade de alternância climática de clima úmido para seco temse a interrupção do entalhamento dos talvegues e o predomínio da desagregação mecânica O recuo paralelo das vertentes associado à desagregação e tendo como referência os níveis de base locais correspondentes a antigos leitos fluviais proporcionaria o alargamento dos vales evolução horizontal da morfologia O material produzido por desagregação tenderia a ocupar as áreas depressionárias promovendo a elevação do nível de base por pedimentação Dependendo do tempo de duração do processo poderia se desenvolver uma superfície pediplanada intermontana Fig 223 4 Com o retorno das condições climáticas úmidas haveria uma nova reorganização da drenagem e uma nova reativação dos processos erosivos Com o aprofundamento da drenagem os paleopavimentos como os pedimentos que ocupavam os vales por ocasião do clima seco Fig 224 ficariam suspensos em relação à posição do talvegue atual As discrepâncias topográficas resultantes sobretudo na depressão ortoclinal em desenvolvimento desencadeariam erosão remontante mais intensa dos cursos anaclinais e cataclinais secundários tributários dos ortoclinais que comporiam o mencionado compartimento Os cursos anaclinais ou obseqüentes responsáveis pela continuidade da evolução da escarpa erosiva poderiam favorecer o desenvolvimento de formas residuais denominadas morrostestemunhos Neste estágio é comum o desenvolvimento de cursos fluviais que nascem no reverso da cuesta e se dirigem para o centro da bacia denominados cataclinais de reverso por acompanharem o mergulho das camadas A dissimetria do relevo é marcada por uma topografia conseqüente de um lado e perpendicular de outro correspondente ao front da cuesta Nesse estágio evolutivo podem se definir os elementos que compõem o relevo de cuesta a Front Corresponde à escarpa erosiva ou costão que se encontra entre a depressão ortoclinal e a parte superior da cuesta referente ao reverso O front normalmente é caracterizado pela cornija constituída de material ou camada resistente que atenua a evolução erosiva do front e pelo talus constituído por depósito de detritos localizados na base do front Fig 225 O talus ou falda da cuesta apresenta forma concavizada ao contrário da cornija que se individualiza pela verticalidade free face b Reverso Corresponde ao compartimento de cimeira da cuesta que tem início na parte terminal superior do front e progride em direção ao centro da bacia sedimentar Quando caracterizado pelas camadas litoestratigráficas denominase reverso estrutural quando representado por sedimentos resultantes da intemperização da rocha subjacente denominase reverso escultural Quando pediplanado pode ser denominado de superfície de erosão c Depressão ortoclinal Referese à área embutida ou deprimida a partir do front da cuesta resultante de processo de denudação comandado pela drenagem ortoclinal cursos subseqüentes No caso de cuestas relacionadas a contato estrutural cristalinosedimentar geralmente as depressões encontramse abertas em direção às rochas mais antigas suporte das seqüências sedimentares e deprimidas em direção ao front Portanto geralmente a depressão apresenta um comportamento dissimétrico com bordas internas íngremes considerando o front como um dos lados e externas relativamente suavizadas considerando o comportamento da estrutura cristalina que foi exumada pelo processo denudacional Ainda devese considerar a possibilidade de percées que são boqueirões escavados no front da cuesta por superimposição de cursos cataclinais ante os esforços epirogenéticos A extensão das percées depende do mergulho da camada ou mais especificamente da extensão do próprio reverso Fig 226 Assim quanto menor o mergulho da camada maior a extensão do reverso e maior a amplitude das percées Os cursos anaclinais ou obseqüentes respondem pela evolução ou recuo do front das cuestas por meio da erosão remontante A velocidade da evolução do front depende do gradiente do mergulho das camadas Isto se justifica em função da quantidade de material necessário a ser retirado abaixo da camada sobrejacente cornija para que esta seja aluída por falta de sustentação basal Portanto o limite de sustentação da cornija é mantido até que o centro de gravidade seja rompido Fig 227 da cornija em função do centro de gravidade G A evolução do front depende também da espessura da cornija quanto mais espessa a camada de material resistente menor será o recuo mencionado anteriormente A maior resistência à aluição leva a uma ação mais prolongada da erosão remontante dos cursos anaclinais visto que maior será o volume de sedimento a ser retirado para romper o limite de sustentação em relação ao centro de gravidade Ainda quanto mais espessa a cornija maior será a sua tendência de se tornar convexa considerando o tempo de exposição da rocha ao intemperismo químico Ao contrário as cornijas delgadas por evoluírem de forma mais rápida considerando a escala de tempo geológico geralmente permanecem angulosas visto que o tempo de exposição ao intemperismo é menor reduzindo a possibilidade de se tornarem convexas Partindo do princípio de que quanto mais fraco o mergulho das camadas litoestratigráficas maior a propensão ao recuo do front concluise que em tais condições maior será a possibilidade de elaboração de formas residuais ou morrostestemunhos resultantes da própria erosão remontante comandada pelos cursos anaclinais Fig 228 A Processo de festonamento do f ront por erosão regressiva dos cursos anaclinais B Recuo do Front evidenciado pela formação de morrotestemunho De acordo com os esquemas apresentados a erosão remontante dos cursos anaclinais provoca retirada gradativa do material subjacente o que pode ser exemplificado por sedimentos friáveis implicando aluição da camada resistente cornija com conseqüente festonamento do front Fig 228 A A evolução remontante é tal que pode inclusive com o surgimento de novos tributários dos próprios cursos anaclinais processar fenômeno similar ao de captura por erosão remontante respondendo pelo cutoff ou seja corte de parte do front com tendência de formação de estrutura residual Assim temse a separação ou desligamento de parte do front por erosão remontante continuando este a ser recuado À medida que a separação do residual de front em relação ao front atual vai sendo consolidada temse a gênese do morro testemunho Fig 228 B protegido ou não por coroamento de material resistente denominado de somital A denominação de morrotestemunho identifica portanto a condição que assume ao testemunhar antiga posição do front Assim sendo quanto mais fraco o mergulho das camadas litoestratigráficas de uma cuesta maior a tendência de recuo do front e conseqüentemente maior a possibilidade de formação de morrostestemunhos o que justifica o maior desenvolvimento destes nas estruturas concordantes horizontais Em Goiás o relevo cuestiforme ocorre na periferia da bacia sedimentar do alto Paraná na Serra do Caiapó destacada em trabalho geomorfológico desenvolvido por AbSáber Costa Jr 1959 Localizase a sudoeste do estado nas imediações de Caiapônia Apresenta extenso front de direção aproximada NE relativamente festonado elaborado basicamente em sedimentos arenosos permocarboníferos do Grupo Aquidauna o mesmo material que representa a depressão ortoclinal O reverso encontrase parcialmente capeado por sedimentos permianos da Formação Irati e sobretudo pela seqüência pelítica terciária da Formação Cachoeirinha O mergulho das camadas varia entre 3 º a 5 º SE ou seja em direção ao eixo da bacia regionalmente comandado pelo Rio Paranaíba Fig 229 Admitese que a evolução morfológica da cuesta do Caiapó esteja vinculada a processo de falhamento responsável também pela gênese da denominada Serra Negra no alto Araguaia e pelo embutimento da calha do próprio Rio Araguaia em fossa tectônica reflexo da orogenia Andina Partindo desse princípio entendese que a elaboração da cuesta do Caiapó teve início em algum momento do Terciário provavelmente no Terciário Superior haja vista a existência de depósitos considerados terciários na porção superior do reverso Por meio de imagens inferese a possibilidade de o Rio Claro em determinados trechos estar vinculado a provável linha de falha o que teria permitido o deslocamento de blocos originando escarpa de falha e preservando a disposição geral do mergulho das camadas Após a organização da drenagem iniciase o recuo paralelo da escarpa por erosão remontante dos cursos anaclinais tributários do Rio Claro promovendo a evolução e conseqüente elaboração de escarpa herdada de falha denominada front Acreditase que o fenômeno tectônico responsável pelo falhamento tenha originado a formação de importante divisor de água regional os cursos que nascem no front da cuesta integram a bacia do Araguaia bacia Amazônica enquanto os que nascem no reverso se dirigem para o Rio Paranaíba bacia Platina O rejeito determinado pela tectônica propiciou o aumento de gradiente e a intensificação do processo de erosão remontante no front da cuesta Fig 230 Isso contribuiu para a retirada de prováveis seqüências delgadas de sedimentos permianos ou mesmo terciários exumando as seqüências carboníferas No reverso a manutenção da declividade do mergulho ou menor efeito da atividade tectônica permitiu o desenvolvimento de cursos cataclinais com baixo gradiente e fraco entalhamento de talvegues proporcionando com freqüência o desenvolvimento de depósitos aluviais holocênicos veredas sobre as coberturas terciárias Esse fato indica redução da capacidade de transporte pela disposição do gradiente e pela própria vazão reduzida A linha de cuesta divide dois compartimentos distintos a depressão ortoclinal abaixo entre 700 e 800 metros de altitude e o reverso da cuesta a aproximadamente 1000 metros de altura A depressão ortoclinal esculpida em sedimentos arenosos da Formação Aquidauana contribui para o desenvolvimento de formas residuais aguçadas do tipo torres ou alcantis Planalto dos Alcantilados de Almeida 1959 Apresenta drenagem dendrítica com fortes angularidades produzidas pelos reflexos da tectônica quebrante O reverso da cuesta Fig 229 recoberto por seqüências deposicionais terciárias apresentase dissecado em formas tabulares amplas com drenagem de padrão treliça tendendo a pinado com direção cataclinal Esses cursos além de proporcionarem a gênese de depósitos holocênicos em superfícies alveolares permitem a exumação da seqüência subjacente referentes a sedimentos permianos Os dois compartimentos refletem formas de apropriação diferenciada do solo enquanto na depressão ortoclinal de formas convexas e estruturas ruiniformes predomina a pecuária extensiva no reverso evidenciamse cultivos comerciais onde a disposição tabular do relevo favorece o processo de mecanização 2212 Características morfoestruturais em Áreas de Deformação Tectônica A partir de agora serão feitas algumas considerações a respeito da evolução morfológica em estruturas deformadas pela tectônica utilizandose dos modelos clássicos em geomorfologia Na oportunidade serão destacados os modelos do tipo Hobback dômico esculpido em dobras e de estruturas falhadas a Relevo do Tipo Hogback Os hogbacks são formas similares às cuestas porém elaborados em estruturas monoclinais com mergulhos superiores a 30 O Considerando o declive necessário à sua caracterização tornase possível entendêlos como vinculados a fenômenos tectônicos uma vez que dificilmente se constatam mergulhos em tais proporções associados unicamente aos processos de deposição Por admitir semelhança evolutiva com o relevo de cuestas será apresentado exemplo goiano que caracteriza a referida morfologia a Serra Dourada localizada na cidade de Goiás A Serra Dourada de direção predominantemente ENE 6080 º NE com front voltado para norte constitui importante divisor entre as bacias Platina e Amazônica Os cursos originados no reverso integram a bacia do Paranaíba e os rios que nascem no front do hogback integram a bacia do Araguaia Sua imponência e extensão devemse aos quartzitos muscovíticos que a sustentam a uma altitude de 1000 metros O front é marcado pela presença quase contínua de cornija estrutural chegando a atingir até 20 metros de exposição em extrema verticalidade freeface a partir da qual colúvios pedogenizados recobrem níveis de pedimentação O talus apresentase preenchido por colúvios provenientes de montante que atenuam a declividade em aproximadamente 30 º O relativo festonamento do front é determinado pelo efeito de erosão remontante de cursos anaclinais como os córregos Pedra de Amolar do Aguapé e Santo Antônio tributários do Rio Vermelho O reverso é marcado por seqüência de cloritaquartzoxistos filitos quartzosos e sericíticos com presença de bancadas escalonadas determinadas por resistência estrutural e realçadas pela incisão dos cursos cataclinais Apresenta elevado mergulho das camadas em torno de 30 a 40 O SSE ou SW refletindo na própria limitação evolutiva do front Os cursos cataclinais de reverso como os córregos Cafundó Conceição e Fundo formam verdadeiras cluses13 coincidentes com falhamentos conseqüentes fato que faz evidenciar a presença de terraços estruturais ao longo dos vales Fig 231 O reverso é marcado por terreno ondulado interrompido por cristas quartzíticas ou ocorrências de cordierita horblenda gnaisses como na Serra São João ou granadamuscovitaxistos na Serra Mangabal A depressão ortoclinal ou setor intermontano 450 650 metros corresponde ao anfiteatro granitognáissico do Complexo Goiano pontilhado de paleo inselbergs Localmente o knick14 é caracterizado pelo contato estrutural Complexo GoianoGrupo Araxá recoberto por espesso nível de pedimentos quartzosos que se adelgaçam à medida que se afastam do front A gênese do hogback em questão é entendida da seguinte forma 1 Estruturalmente resulta de provável braquianticlinal ou seja uma grande anticlinal que teria sido esvaziada restando apenas o flanco meridional responsável pela morfologia resultante Fig 232d Portanto a gênese estrutural estaria relacionada à tectônica justificando as razões do elevado mergulho c Provável ocorrência de falhamentos em direção à bacia do Araguaia como teria acontecido com relação à cuesta de Caiapó vinculada à orogenia Andina Terciário d Elaboração parcial do hogback da Serra Dourada após arrasamento do flanco setentrional da braquianticlinal 2 Após dobramento précambriano que resultou na elaboração da braquianticlinal Fig 232a sucessivos efeitos morfoclimáticos o processo de pediplanação terciária teria respondido pelo seccionamento da parte superior da anticlinal atingindo a faixa dos quartzitos micáceos até então recobertos pelas seqüências de topo cloritaquartzo xistos e quartzoclorita xistos evidenciadas na periferia do reverso Fig 232b A organização da drenagem em fase climática úmida obedeceu à imposição morfoestrutural associada ao mergulho divergente Este fato conferiu à rede de drenagem um padrão radial centrífugo Além disso a epirogênese promoveu entalhamento generalizado dos talvegues 3 Efeitos da tectônica quebrante associados aos reflexos da orogenia Andina foram sentidos no interior do continente brasileiro e foram responsáveis pela elaboração da calha do Araguaia e de uma rede pronunciada de falhamentos que parecem ter atingido a seção setentrional da referida braquianticlinal Fig 232c A drenagem é definitivamente partida permanecendo a área setentrional tectonicamente mais afetada o que permitiu a aceleração dos efeitos erosivos O forte gradiente intensificou a erosão remontante enquanto a parte meridional oposta apresentou comportamento mais estável apesar de os falhamentos transversais terem favorecido o entalhamento dos cursos cataclinais originando as denominadas cluses corte transversal ao eixo da anticlinal ou às direções de camada produzidas por cursos dágua 4 Finalmente temse o arrasamento total da parte setentrional da braquianticlinal com exumação da estrutura subjacente representada pelo Complexo Granulítico granitognaisses e continuidade evolutiva do flanco meridional hoje caracterizado pelo reverso do hogback em questão Fig 232d Provavelmente no Pliopleistoceno nova fase de clima agressivo seco foi responsável pela elaboração de pediplanos intermontanos bem preservados nos topos interfluviais no sudeste do reverso na região de Itaberaí GO A resistência oferecida pelos quartzitos micáceos que compõem a cornija estrutural free face o forte mergulho das camadas 30 a 40 O e o caráter intermitente de grande parte dos cursos anaclinais atenuam os efeitos de uma evolução regressiva do front No reverso a topografia orientada pela estrutura e o uso e ocupação do solo Cambissolos distróficos com horizonte B incipiente contribuem para algumas evidências de erosão acelerada sobretudo comandada pelo escoamento concentrado b Relevo do Tipo Dômico O relevo do tipo dômico corresponde a uma estrutura circular resultante de atividade intrusiva plutonismo ou fenômenos magmáticos que provocou arqueamento da paleomorfologia com conseqüente elaboração de abóbada topográfica Os melhores exemplos são observados em seqüências sedimentares que passaram a ter as seqüências litoestratigráficas em conformação com a disposição do corpo intrusivo A elevada temperatura do material intrusivo gera metamorfismo de contato alterando o comportamento físico ou as propriedades geomorfológicas das rochas A dimensão de um domo varia segundo a proporção do corpo intrusivo que pode estar ou não concordante com as rochas encaixantes ou segundo planos de estratificação ou de xistosidade O sill o lacólito o lopólito e o facólito são exemplos de corpos intrusivos concordantes com as rochas encaixantes enquanto o dique o neck a apófise e o batólito são discordantes Esses corpos intrusivos são de origem tectônica com material proveniente do sima ou parte superior do manto embora os domos salinos sejam entendidos como resultantes de processos atectônicos baixa densidade do cloreto de sódio que tende a ocupar um nível superior em relação às rochas sobrejacentes O efeito intrusivo pode ocasionar anomalia geotérmica explicando em determinadas situações a gênese de águas termais Após efeitos erosivos associados a processos epirogênicos positivos a estrutura dômica tende a proporcionar o desenvolvimento de uma morfologia circular ou elíptica dada a resistência não só do corpo intrusivo como também das rochas encaixantes que foram submetidas a metamorfismo de contato Em função dos processos erosivos o core intrusivo pode ser exumado a exemplo dos dunitos e serpentinitos de Serra Negra no município de Patrocínio Minas Gerais Casseti 1977 ou permanecer encoberto como no caso da Serra de Caldas Novas GO embora este seja também interpretado como antigo aparelho vulcânico preenchido por sedimento Terciário considerando a disposição morfológica e inferências magnetométricas ou ainda interceção de dobras A evolução de uma estrutura dômica pode ser esquematizada da seguinte forma a Com a atividade intrusiva em uma determinada seqüência sedimentar de forma concordante temse o arqueamento estrutural e a conformação dos estratos em função do corpo intrusivo além de possível metamorfismo de contato Fig233 As camadas mais próximas ao core intrusivo tendem a apresentar um mergulho superior em relação às seqüências periféricas com possibilidade de alternância de camadas de resistência variada b Após efeito intrusivo segundo exemplos brasileiros o domo é submetido a efeitos morfoclimáticos agressivos clima seco responsáveis pelo recuo paralelo de vertentes com tendência de pediplanação da área podendo haver seccionamento das rochas arqueadas e exumação do core intrusivo Fig 234 Com o retorno do clima úmido a drenagem é organizada obedecendo a um padrão radial centrífugo em sincronia com os efeitos epirogênicos positivos que ativam o entalhamento dos talvegues c À medida que a área vai sendo soerguida por efeito epirogenético positivo os cursos cataclinais vão cortando por epigenia ou superimposição camadas de diferentes resistências quando começam a aparecer então tributários ortoclinais que se instalam nas camadas circulares de menor resistência levando à configuração de um padrão de drenagem ânuloradial A partir de então os cursos ortoclinais aprofundam os talvegues nas camadas circulares menos resistentes ou friáveis proporcionando o destaque de saliências topográficas das seqüências resistentes e originando vales assimétricos As seqüências resistentes assumem características de pequenos hogbacks também denominados cristas monoclinais Fig 235 e 236 Os cursos cataclinais superimpostos ao serem submetidos ao soerguimento crustal entalham fortemente os talvegues e na elaboração dos vales homoclinais pelos tributários ortoclinais os cortes efetuados pelos primeiros se destacam sob forma de gaps ou gargantas epigênicas As gargantas epigênicas são denominadas de water gap quando atravessadas por cursos dágua e wind gaps quando a drenagem responsável pela sua gênese tenha desaparecido Assim a gênese de vales ortoclinais dissimétricos elaborados pelos cursos homônimos em camadas friáveis coloca em destaque as cristas monoclinais atravessadas por gaps epigênicas ou superimpostas pelos cursos cataclinais Fig 236 A dissimetria dos vales ortoclinais é estabelecida pela relação entre a perpendicularidade das camadas do front de uma crista monoclinal em relação ao reverso da crista anterior que concorda com a disposição do mergulho Numa fase mais adiantada a presença de cursos anaclinais tributários dos ortoclinais promove o recuo do front das cristas monoclinais por erosão remontante sobretudo pelo forte gradiente Observase mais uma vez que quanto maior o gradiente de mergulho da camada menor a tendência de evolução do front Fig 226 O resultado desse estágio evolutivo permitirá a caracterização de uma morfologia representada pela sucessão de cristas e vales circulares ou elípticos associados ao comportamento do corpo intrusivo Como exemplo de relevo dômico temse o domo de Serra Negra no município de Patrocínio em Minas Gerais que abrange uma área de aproximadamente 500 km 2 O corpo intrusivo representado pelo dunito processou o soerguimento dos sedimentos do Grupo Paranoá carregando xenólitos provenientes do manto bem como outras rochas do embasamento Tratase de materiais intrusivos com idade de 82 milhões de anos Cretáceo Superior O caráter intrusivo determinou o arqueamento e lineamento estrutural concêntrico da seqüência estratigráfica e um mergulho das camadas de maneira centrífuga a partir do core Junto à massa dunítica exposta no setor norte o mergulho de acamamento é da ordem de 65 º enquanto no sul é de 50 º Cerca de 50 falhas normais foram registradas as quais na maioria após pediplanação terciária foram ocupadas pela rede de drenagem radial cursos cataclinais o que favoreceu o entalhamento pronunciado dos talvegues Na seqüência litoestratigráfica os quartzitos e folhelhos do Grupo Paranoá metamorfizados pela ação tectônica e depois seccionados pela pediplanação que exumou parcialmente o corpo intrusivo foram cortados indistintamente pela drenagem cataclinal superimposição favorecida pela rede de falhas radiais e efeitos epirogênicos positivos subseqüentes Com a organização dos cursos ortoclinais tributários dos cataclinais nas seqüências anelares representadas pelos folhelhos sílticos ou argilosos iniciouse um processo de elaboração dos vales homoclinais dissimétricos com a conseqüente exposição dos quartzitos ou ortoquartzitos constituindo sucessão de cristas monoclinais concêntricas O entalhamento processado pelos cursos cataclinais nas faixas quartzíticas com elaboração de vales ortoclinais resultou na exposição de gaps epigênicas O restante das formações cobertura detritolaterítica que compõe o topo horizontalizado pediplanado do complexo dômico denominado Chapadão do Ferro encontrase em processo de erosão remontante dos cursos cataclinais onde é exumado o material pertencente ao corpo intrusivo dunitos e serpentinitos No topo a 1200 metros desenvolvese extenso lago atribuído à dissolução do carbonatito que participa do referido corpo Fig 237 A parte periférica do domo além de submetida a processo de pediplanação intermontana nos folhelhos do Subgrupo Paraopeba encontrase parcialmente coluvionada por material proveniente da intemperização do dunito que proporciona fertilidade natural com conseqüente aproveitamento do solo por atividades agrícolas c Relevos Esculpidos em Dobras Dobra é uma curvatura ou flexão produzida em seqüências litoestratigráficas associadas a efeitos tectônicos Para isso é necessário que o material submetido aos efeitos de compressão apresente condições de deformação plástica muitas vezes obtida graças ao tempo de duração das forças aplicadas As rochas apresentam um limite de resistência à compressão o que explica as razões de umas se dobrarem por apresentar maior capacidade de deformação elástica e outras pelo estágio de pressão ultrapassam o limite de resistência Quando a pressão incidente ultrapassa o limite de resistência temse a ruptura que pode se comportar como uma fratura ou como uma falha Esse fato explica porque o quartzito ao ser submetido à compressão se fratura com facilidade sendo entendido como incompetente quanto à deformação enquanto outras como as próprias formações de argilas são maleáveis à pressão mantendo sua forma dobrada sem se fraturar sendo denominadas de rochas competentes As dobras estruturais são compostas de determinados elementos como a sinclinais que correspondem às partes côncavas das dobras b anticlinais que representam os setores convexos c flancos que correspondem aos lados que ligam a anticlinal à sinclinal d eixo ou charneira que se refere à linha ao redor da qual se dá o dobramento e plano axial correspondente à superfície que divide a dobra em duas partes similares Fig 238 indicando seu grau de simetria Existem diferentes tipos de dobras relacionadas ao próprio jogo das forças de compressão anticlinal sinclinal monoclinal que podem ser agrupadas em simétricas quando existe simetria entre os flancos e dissimétricas quando não existe simetria Consideramse dois tipos básicos de relevo elaborado em estrutura dobrada o jurássico e o apalachiano a serem descritos a seguir Dada a duração de tempo necessária para a individualização desses tipos de relevos encontramse na presente abordagem vinculados aos efeitos tectônicos précambrianos sobretudo proterozóicos ou ainda a material sedimentar dobrado em épocas que remontam ao Paleozóico d Relevo do Tipo Jurássico O relevo jurássico nomenclatura proveniente do Jura região dobrada da França é o resultado da evolução morfológica de uma estrutura dobrada onde a intercalação de camadas de diferentes resistências e as atividades morfogenéticas em diferentes condições climáticas respondem pela inversão do relevo ou seja as anticlinais são arrasadas por corresponderem a material friável enquanto as sinclinais ficam alçadas por serem individualizados por rochas duras O processo evolutivo de um relevo do tipo jurássico pode ser assim suposto a Após dobramento em estrutura sedimentar gerando arqueamento de camadas de resistências diferenciadas as anticlinais que constituem as saliências topográficas podem ser submetidas a recuo paralelo por desagregação mecânica sob a ação do clima seco tendo as sinclinais como níveis de base Os mecanismos morfogenéticos mecânicos ao longo do tempo geológico originam pediplanação com destruição das anticlinais enquanto parte do material resultante da desagregação inuma as sinclinais Fig 239 Assim as camadas dobradas de diferentes graus de resistência são seccionadas e parcialmente mascaradas por coberturas detríticolateríticas Com o retorno do clima úmido imaginase a organização de um sistema hidrográfico representado inicialmente por cursos ortoclinais ocupando indistintamente eixos de sinclinais pedimentadas ou anticlinais seccionadas Efeitos epirogenéticos positivos contribuiriam para o entalhamento dos talvegues e a conseqüente erosão diferencial b Após entalhamento significativo dos talvegues a área pode novamente ser submetida à morfogênese mecânica clima agressivo causando desde simples reafeiçoamento das vertentes por recuo paralelo com abertura lateral de vales até o desenvolvimento de pediplanos intermontanos dependendo apenas da duração do período seco Fig 240 No esquema representado Fig 239 os cursos ortoclinais localizados no eixo das sinclinais entalham menos que os localizados na charneira arrasada da anticlinal determinada pela diferenciação litológica ou seja enquanto os primeiros são interrompidos por camada resistente o outro se organiza e se desenvolve em camada friável visto que o mont capa resistente do anticlinal teria sido arrasado anteriormente por processo de pediplanação c Após a possibilidade de abertura dos vales com o retorno ao clima úmido verificase tendência de reorganização da drenagem onde novos tributários dos paleocursos ortoclinais aparecem Fig 241 Temse assim a inversão do relevo com sinclinais alçadas mantidas por resistência litológica se comportando como cornijas estruturais e anticlinais entalhadas por corresponderem a seqüências de materiais friáveis Como exemplo de relevo do tipo jurássico em Goiás podese considerar a inversão morfoestrutural a leste da cidade de Niquelândia O relevo é marcado por sinclinais suspensas revestidas por camadas do Grupo Paranoá Proterozóico Superior enquanto a anticlinal arrasada é representada por seqüência do Grupo Araí Proterozóico Médio A anticlinal arrasada é individualizada por metassiltitos com restos de flancos resistentes denominados gret escarpa de camada dura de flanco da anticlinal voltada para o interior da combe representados pelos quartzitos Formação Traíras do Grupo Araí As sinclinais suspensas encontramse mantidas pelos quartzitos continuação do mont inumadas por restos de sedimentos siltoarenosos do Grupo Paranoá Fig 242 Admitese que o dobramento em questão esteja provavelmente relacionado ao ciclo Brasiliano Proterozóico Superior envolvendo as seqüências metassedimentares dos Grupos Araí Formação Trairas e Paranoá Após processo de pediplanação que teria ocasionado o seccionamento de ambas as formações organizouse a drenagem com conseqüente soerguimento epirogenético onde os cursos entalharam seus talvegues em grau diferenciado pela alternância litológica Devese considerar ainda que a provável existência de falha perpendicular ao eixo do anticlinal teria ocasionado um desvio angular do Rio Bagaginha no início da superimposição rompendo o flanco da anticlinal quartzítica e originando uma cluse passagem de um rio através de um mont O Rio Bagaginha após organizarse ao longo do eixo da sinclinal meridional sentido EW muda abruptamente de direção SN devido ao falhamento transversal razão do rompimento do quartzito dando origem à referida cluse Quando penetra na anticlinal arrasada recebe o ribeirão Conceição passando novamente a assumir a direção EW até desaguar no Rio do Peixe Fig 243 Após o entalhamento da drenagem associado a esforços epirogenéticos positivos com grau diferenciado de erosão dada a variação litoestratigráfica a área foi submetida à morfogênese mecânica clima seco levando à abertura de vales Com o retorno do clima úmido a drenagem foi reorganizada dando prosseguimento à individualização da inversão do relevo Fig 243 A anticlinal esvaziada representada pelas cotas dos 500 metros corresponde ao Vão do Ribeiro caracterizado pelos metassiltitos da Formação Traíras deprimido entre restos de flancos da anticlinal cret caracterizados pelas serras dos Bois 700 metros e dos Rogados 800 metros ou Larga cristas quartzíticas evidenciandose na última a presença de cluse escavada por superimposição do rio Bagaginha Nas sinclinais suspensas 600 metros são encontrados restos das seqüências sedimentares siltitos e arenitos do Grupo Paranoá e Relevo do Tipo Apalacheano Enquanto o relevo do tipo jurássico é entendido como o resultado de inversão do relevo a partir de uma sucessão regular de dobras o apalacheano se caracteriza pelo paralelismo de cristais e vales originados a partir de total aplainamento de estrutura dobrada Para compreender a evolução do relevo apalacheano devem ser consideradas as seguintes premissas a O material dobrado e aplainado deve ser heterogêneo para expor seqüências paralelas representadas por camadas duras e tenras ou friáveis b Organização de drenagem associada a efeito epirogenético positivo responsável pela retomada erosiva No presente caso podem existir também sinclinais suspensas ao lado de anticlinais arrasadas normalmente isoladas ou integrando um conjunto caracterizado por sucessão de cristas As cristas são constituídas por rochas resistentes enquanto os vales identificados por rochas tenras A morfologia resultante a exemplo das sinclinais alçadas da Chapada dos Veadeiros não se enquadra no conceito genético de relevo do tipo jurássico Para se compreender o processo evolutivo do relevo apalacheano que praticamente obedece aos mecanismos descritos no relevo jurássico admitese que a Após processo de pediplanação que gerou extensa superfície de erosão houve um período de umedecimento climático no qual organizouse o sistema hidrográfico comandado por curso cataclinal que se superimpôs e entalhou progressivamente seus talvegues cortando camadas de diferentes resistências Fig 244 b À medida que o curso cataclinal definiu o seu leito rompendo camadas de resistências diferentes começaram a aparecer tributários ortoclinais orientados pelas camadas de menor resistência paralelos à direção das dobras Formouse portanto uma drenagem do tipo retangular com confluências ortogonais e possibilidade de ocorrência de baionetas15 Uma fase agressiva intermediária deve ter ocorrido para favorecer o alargamento de vales com elaboração de níveis de embutimento pediplanados A continuidade da evolução da morfologia comandada pelo sistema hidrográfico proporciona a caracterização tipológica do relevo apalacheano o que define com precisão a sucessão de cristas e vales paralelos com as respectivas denominações Fig 245 Cristas monoclinais anticlinais ou sinclinais são mantidas por camadas resistentes e vales anaclinais cataclinais e sinclinais por camadas tenras com possibilidade de inversão de relevo Como exemplo de relevo do tipo apalacheano podese considerar a sucessão de cristas e vales paralelos evidenciados no município de Alvorada Estado do Tocantins à margem esquerda do rio Tocantins nas proximidades da confluência com o Rio Paranã A imagem de radar permite a nítida observação do aspecto morfológico considerado cuja seção periclinal16 da dobra fechamento da dobra é denominada regionalmente de Serra Grande O relevo em foco encontrase esculpido em estrutura dobrada no Proterozóico representada pelo Grupo Araxá Localmente apresentase individualizado por seqüências estratigráficas diferenciadas metassedimentos caracterizadas pelos quartzitos cristas e micaxistos vales Os testemunhos da pediplanação que seccionou restos de cristas aos 900 metros de altura se constituem no estágio referencial para o entendimento do processo evolutivo desse relevo Assim tornase possível entender esse processo com a organização de um sistema hidrográfico ortoclinal em superfície aplainada onde efeitos epirogênicos positivos ao mesmo tempo em que proporcionavam entalhamento dos talvegues permitiam a acomodação dos referidos cursos nas seqüências menos resistentes no caso específico representadas pelos micaxistos Apesar da ausência de subsídio para maior esclarecimento admitese que os vales tenham sido relativamente alargados pela morfogênese mecânica sob condição de clima seco Uma nova fase de clima úmido teria restabelecido a drenagem e permitido o desenvolvimento de tributários anaclinais e cataclinais tendo os primeiros contribuído para o recuo paralelo de cristas monoclinais Fig 246 A presença de algumas falhas transversais favoreceu o desenvolvimento de cursos que foram superimpostos como o córrego Porteira formando gaps localizadas mais ao norte não evidenciadas no esquema sem qualquer característica genética comandante da referida evolução o que levou à justificativa considerada quanto à ausência de um curso cataclinal responsável pelo processo inicial Cursos ortoclinais como os córregos das Pedras e Água Bonita originaram vales ortoclinais nos micaxistos do Grupo Araxá ou vale anticlinal como no caso do rio das Alminhas O entalhamento dos talvegues associado aos fenômenos denudacionais subseqüentes permitiram o destaque das cristas monoclinais ou isoclinais quartzíticas truncadas durante o processo de pediplanação f Relevo Elaborado em Estrutura Falhada Quando as forças de compressão associadas às atividades tectônicas rompem o limite de resistência de determinada rocha sobretudo aquelas incompetentes que não resistem a esforços de dobramento temse a origem de rupturas como as caracterizadas pelas fraturas ou falhamentos A origem da falha está no deslocamento relativo dos blocos contíguos ao longo de uma fratura favorecido por efeitos de tensão O plano sobre o qual se dá o deslocamento é denominado plano de falha cuja fratura pode ser preenchida por material fragmentado resultante do trituramento da própria rocha com o atrito conhecido por brecha de falha ou milonito A parte exposta resultante do deslocamento é denominada espelho tectônico que submetido à erosão convertese em escarpa de falha O deslocamento dos blocos muitas vezes identificados por camadas guias como as seqüências litoestratigráficas que se deslocaram em função do falhamento é conhecido como rejeito Fig 247 Na análise evolutiva de um relevo falhado devem ser levados em consideração os diferentes tipos de falhas como as normais as transcorrentes ou de deslocamento horizontal sistemas de falhas que explicam a gênese de fossas tectônicas dentre outros Além do tipo de falha devese considerar as respectivas intensidades e grau de complexidade relacionados com os demais componentes estruturais o que acarretará diferenciação evolutiva e caracterização da morfologia resultante Os relevos originados por falhamento dependem do arranjo e extensão dos deslocamentos que afetam preferencialmente regiões cristalinas dada a rigidez das rochas e a sucessão de forças de compressão a que foram submetidas No domínio cristalino as falhas encontramse quase sempre relacionadas aos respectivos ciclos tectogenéticos ou foram remobilizadas por ocasião da orogenia andina como acontece ao longo da costa oriental brasileira A colisão de placas no Terciário repercutiu inclusive nas bacias sedimentares como no deslocamento de blocos na borda ocidental da bacia do alto Paraná exemplificado pelo front da Serra do Caiapó e até mesmo em seqüências mais modernas como em bancadas ferruginosas do Terciário Médio na região de Brasília No caso de falhamento normal podese estimar evolução morfológica a partir da organização do sistema hidrográfico que se estiver estruturalmente conforme poderá intensificar a erosão remontante na escarpa de falha em função do forte gradiente produzido O entalhamento pronunciado de talvegues em gradientes relacionados a espelhos de falhas normais tenderá a elaborar numa primeira fase facetas trapezoidais A abertura progressiva dos vales decorrentes do processo de denudação proporcionará a transformação das facetas trapezoidais em triangulares Fig 248 Uma falha elaborada em seqüências litoestratigráficas de resistências diferentes pode evoluir para a inversão topográfica do relevo Admitindose que a escarpa de falha encontrase protegida por camada resistente sobrejacente a seqüências tenras e seja submetida à ação remontante de cursos conformes ou cataclinais estimase a seguinte possibilidade evolutiva a Os cursos conseqüentes em decorrência do forte gradiente produzido pela falha tendem a entalhar a escarpa atacando inicialmente o material friável subjacente à cornija Com a redução gradativa da seqüência friável podese ultrapassar o limite de sustentação proporcionado pelo centro de gravidade da rocha resultando na aluição da camada resistente sobrejacente Fig 249a Assim progressivamente a escarpa vai sendo erodida transformandose em escarpa herdada de falha Fig 249b enquanto o bloco deprimido permanece inalterado e protegido pela seqüência resistente que corresponde à camada sobrejacente da própria escarpa A erosão mais ativa nos terrenos tenros que compõem a escarpa pode evoluir até fazer com que o bloco originalmente elevado fique rebaixado em relação ao terreno resistente correspondente ao bloco oposto outrora deprimido A partir de então temse o desenvolvimento de escarpa de linha de falha com inversão do relevo e conseqüentemente do sistema hidrográfico Fig 249c O processo pode ser reiniciado em situação oposta até que a erosão diferencial ressalte novamente o plano de falha original promovendo o rejuvenescimento da escarpa Além dos efeitos morfoestruturais da tectônica quebrante no relevo observamse também implicações no comportamento hidrográfico Às vezes as discrepâncias topográficas processadas por deslocamento de blocos foram mascaradas pelos efeitos morfoclimáticos subseqüentes podendo ser inferidas através de anomalias no próprio traçado dos cursos dágua Um dos efeitos principais da tectônica quebrante na disposição dos rios é evidenciado pelas angularidades como as retangulares ou dendríticoretangulares particularizando determinado padrão de drenagem A angularidade conforme o próprio nome indica referese a mudanças bruscas às vezes ortogonais na disposição de um curso dágua evidenciandose a gênese de baionetas acepção dada à sucessão de angularidades como mostra o esquema referente ao baixo Ribeirão Anicuns em GoiâniaGO Fig 250 Como exemplo goiano de relevo elaborado em estrutura falhada temse a Serra Geral do Paranã utilizandose a seção esquemática localizada nas proximidades de São Gabriel de Goiás município de PlanaltinaGO A serra Geral do Paranã corresponde à escarpa herdada de falha inversa cuja capa é formada por quartzitos do Grupo Paranoá anteriormente caracterizado como formação basal do Grupo Bambuí que cavalgam os arcóseos da Formação Três Marias formação ou seqüência de topo do referido grupo Enquanto o pediplano de cimeira sustentado pelos quartzitos capa encontrase marcado pelas cotas de 1200 metros a zona deprimida lapa caracterizada pela Formação Três Marias correspondente ao pediplano intermontano do Vão do Paranã é individualizado pelas cotas médias dos 600 metros Além do deslocamento estrutural produzido por falhamento a erosão diferencial comandada pelo sistema hidrográfico submetido aos efeitos epirogenéticos processou diferença topográfica da ordem de 600 metros Fig 251 Admitese que a escarpa resultante tenha sofrido recuo significativo quando da ação prolongada da morfogênese mecânica responsável pela elaboração do pediplano intermontano Com a organização da drenagem decorrente de uma nova fase de clima úmido os cursos anaclinais como os córregos Itiquira Palmeira e dos Porcos contribuíram para a continuidade da evolução da escarpa o que pode ser comprovado pela existência de uma série de recuos no front associados à erosão remontante proporcionando festonamento relativo Apesar do elevado gradiente o forte mergulho das estruturas metassedimentares atenua o ataque erosivo processado pelos cursos anaclinais Os boqueirões resultantes da erosão remontante na escarpa encontramse ocupados por vegetação herbáceoarbustiva identificando o caráter de estabilidade relativa do relevo Abaixo da cornija estrutural freeface iniciase a zona de deposição de detritos debris slope que transgride em direção ao pediplano intermontano A disposição concavizada do tálus é explicada pela existência de pedimentos detríticos que recobrem o knick resultante do recuo paralelo do front por morfogênese mecânica posteriormente inumado por colúvios pedogenizados clima úmido Assim temse o mascaramento completo da linha de falha O topo pediplanado aos 1200 metros com relevo suavemente dissecado em formas tabulares apresenta caimento suave em direção W pouco trabalhado pelos cursos cataclinais de reverso Ao norte de São Gabriel a presença de riftvalley sistema de falhas de gravidade em quartzitos Fig 251 gera escarpas caracterizadas por facetas triangulares elaboradas pelos tributários do córrego Piedade O córrego Piedade encaixado em falha paralela ao topo da escarpa elaborou um vale amplo e profundo conhecido regionalmente como Vão do Piedade 2213 Características morfológicas em estruturas cársticas e cristalinas Serão feitas algumas considerações a respeito das principais características morfológicas em estruturas cristalinas e cársticas ou calcáreas procurando ressaltar o caráter evolutivo com base no jogo de forças contrárias e reações específicas a Relevo em Estrutura Cristalina A estrutura cristalina incorpora a noção de plataforma conceituada anteriormente classificada em paraplataforma e ortoplataforma A primeira constituise de embasamento menos consolidado que a última As paraplataformas recobremse de sedimentos típicos de plataforma de espessuras geralmente maiores que as verificadas sobre as ortoplataformas além de freqüentemente menos maturos e extensos As paraplataformas resultam de aulacógenos que são grandes fossas tectônicas como os rift valleys africanos preenchidos de sedimentos que foram comprimidos por reativação das ortoplataformas As evidências morfológicas associadas às estruturas cristalinas não se restringem àquelas vinculadas ao processo genético das rochas ígneas mas também às metassedimentares submetidas aos efeitos tectônicos sobretudo proterozóicos aos quais devese incorporar manifestações de natureza ácida e ultrabásica As rochas cristalinas apresentam características próprias decorrentes de condições específicas quanto a estrutura e textura Apesar de possuírem baixo grau de permeabilidade apresentam rede pronunciada de fraturas e diáclases e considerável heterogeneidade de minerais contribuindo para o processo de intemperização química A impermeabilidade e os efeitos tectônicos contribuem para a caracterização de uma drenagem do tipo dendrítica A rede de diáclases muitas vezes ortogonal acelera a decomposição esferoidal em ambientes úmidos dando origem aos matacões e às morfologias convexas O mecanismo essencial de alteração das rochas nas regiões intertropicais úmidas é a hidrólise enquanto os elementos mais suscetíveis à climatização são os silicatos que correspondem a mais de 70 dos minerais presentes na superfície terrestre Maiores considerações sobre o processo de hidrólise serão feitas no capítulo seguinte A água pura ioniza apenas ligeiramente mas reage com os silicatos facilmente intemperizáveis A reação implica destruição praticamente completa da rede silicatada original com remoção do íon magnésio ou potássio no caso do ortoclásio A seqüência de Goldich 1938 apresentada no próximo capítulo mostra a resistência dos minerais à hidrólise considerando as rochas aluminossilicáticas O autor estabelece a seguinte ordem quanto ao grau de estabilidade dos minerais frente à hidrólise plagioclásio cálcico plagioclásio sódico feldspato potássico muscovita e quartzo A seqüência explica as razões de se considerar o quartzo como importante testemunho nos depósitos correlativos com participação na maioria dos paleopavimentos ao contrário dos ferromagnesianos e dos plagioclásios que apresentam alta suscetibilidade à intemperização química Trabalhos como de Strakhov 1967 apud Choley Schumm 1985 demonstram os efeitos do clima na intemperização das rochas Fig 32 Como exemplo a elevada precipitação na zona intertropical se reflete na profundidade do material meteorizado Constatase ainda a importância da hidrólise na espessura do material sialitizado ver capítulo seguinte De maneira geral deduzse que a intensidade e a freqüência dos sistemas morfoclimáticos determinam as particularidades no grau de convexização das formas comandadas principalmente pela densidade hidrográfica Assim enquanto no domínio de climas quentes e úmidos os granitos originam formas de maresdemorros com dissecação de moderada a forte nos quentes e subúmidos mantémse as paleoformas nos topos interfluviais como os remanescentes de aplainamento relacionados à agressividade pretérita de clima seco A forte incisão da drenagem no domínio dos maresdemorros responsável pelas formas convexas pode ser atribuída ao ajustamento tectônico Terciário aliado à orogenia Andina A preservação parcial de pediplanos nas faixas intertropicais subúmidas é justificada pelo menor grau de dissecação em relação à evidenciada no clima úmido Fig 252 AbSáber 1966 observa que o domínio dos maresdemorros corresponde à área de mais profunda decomposição das rochas e de máxima presença de mamelonização topográfica em caráter regional de todo o país A alteração das rochas cristalinas e cristalofilianas atinge aí o seu maior desenvolvimento tanto em profundidade quanto em extensão chegando a ser universal para enormes setores das regiões serranas acidentadas dos planaltos cristalinos do Brasil de Sudeste Outras vezes constatase a presença de formas convexocôncavas como no domínio cristalino das regiões temperadas determinadas pela redução da capacidade de transporte do sistema fluvial que contribui para o acúmulo gradativo de material na base da vertente Além das implicações climáticas na diferenciação morfológica a serem consideradas oportunamente há de se considerar o significado de certas rochas como os embrechitos de elevada resistência proporcionando o desenvolvimento de pãesdeaçúcar correspondentes a maciços inselbergs caracterizados por vertentes íngremes muitas vezes superiores a 40 O que além de dificultarem o desenvolvimento da pedogênese são altamente suscetíveis à esfoliação É comum observar principalmente nas rochas cristalinas do sudeste brasileiro elevado grau de dissecação determinado pela tectônica quebrante associada a efeitos epirogenéticos positivos vinculados à orogenia andina Parece existir amplo consenso quanto ao entendimento de que as rochas cristalofilianas ou metamórficas integram as estruturas cristalinas Assim comparativamente observase em condições de clima úmido que os xistos ou micaxistos são menos resistentes que os quartzitos os quais proporcionam o desenvolvimento de relevos monoclinais como os hogbacks individualizando as cornijas estruturais Os gnaisses dificilmente originam relevos monoclinais visto que os planos de xistosidade são menos expressivos proporciondolhes um comportamento morfológico mais próximo aos granitos Como exemplo goiano de evolução morfoestrutural cristalina consideramse as províncias serranas de Niquelândia Canabrava e Serra da Mesa A Serra da Mesa constituída por granito do mesmo nome é marcada por eixo de braquianticlinal em rocha ígnea intrusiva A reativação tectônica do Proterozóico originou disposição monoclinal das rochas encaixadas representadas por intercalações de xistos e quartzitos do Grupo Araxá A topografia imposta pelo arqueamento produzido pelo corpo intrusivo após processo de pediplanação responsável pelo truncamento das rochas foi intensamente dissecada pelo sistema de drenagem cataclinal ajustandose à rede de falhamento radial associada às manifestações tectônicas Os cursos cataclinais cortaram as seqüências araxaídes de diferentes resistências xistos e quartzitos enquanto os cursos ortoclinais organizados posteriormente entalharam seus talvegues nas seqüências xistosas ressaltando a imponência das cristas monoclinais quartzíticas Fig 253 O mosaico de radar da Serra da Mesa mostra forte imposição estrutural no traçado do Rio Maranhão que depois de submetido a forte angularidade determinada pela resistência do granito Serra da Mesa passa a ocupar seqüências xistosas do Grupo Araxá ladeadas por cristas quartzíticas razão pela qual se aloja em linha de falha inversa isolando o braquianticlinal da Serra da Mantiqueira Dada a complexidade morfológica relacionada às estruturas cristalinas recomendase a leitura dos estudos desenvolvidos por AbSáber 1966 e Bigarella et al 1994 dentre outros b Relevo Cárstico As rochas carbonatadas quando submetidas a intemperismo químico proporcionam o desenvolvimento de formas específicas resultantes do processo de dissolução ou carbonatação Rochas carbonatadas como o calcário que têm a calcita como principal elemento são altamente solubilizadas na presença do ácido carbônico formado a partir da combinação do dióxido de carbono presente na atmosfera com a água A carbonatação é a reação dos minerais carbonatados com o ácido carbônico Sob condições naturais a dissolução do carbonato de cálcio carbonato mais abundante na natureza é um pouco mais complexa uma vez que os ácidos envolvidos são normalmente mais fracos Por exemplo quando o calcário se dissolve com o ácido carbônico o processo pode ser sintetizado da seguinte forma Notase que dois íons HCO são provenientes de fontes diferentes um é liberado pela ionização do H 2 CO 3 e o outro formado pela reação do H do ácido com CaCO 3 Essa reação demonstra o que acontece com o calcário exposto ao ar atmosférico formando cavernas ou quando o mármore é dissolvido por soluções que contêm minérios nas paredes de uma fissura O processo inverso representa a precipitação do carbonato de cálcio no mar bem como cimentação de material em rochas sedimentárias ou quando gotas evaporam na extremidade de uma estalactite Krauskopf 1972 Observase que a solubilidade do CaCO 3 diminui com o aumento da temperatura A decomposição da matéria orgânica na presença do ar ou de água fornece CO 2 em grande quantidade propiciando a maior solubilidade do CaCO 3 existente nas proximidades Devese acrescentar que a água fria dissolve mais gás carbônico que a quente assim como a água sob pressão A maioria dos calcários apresenta certas impurezas insolúveis como argila e areia que se acumulam para formar depósitos residuais Os minerais portadores de ferro são comumente oxidados originando os solos residuais que se destacam na paisagem cárstica Portanto a partir do processo de dissolução ou carbonização referido que também pode ocorrer em função de chuvas ácidas ácido nítrico ou H 2 S temse a elaboração de formas bizarras com a conseqüente precipitação da calcita a exemplo dos depósitos de travertino As formas cársticas17 podem ser caracterizadas como endocársticas referentes àquelas de evolução subterrânea espeleogênese e exocársticas correspondentes às formas superficiais desenvolvidas na zona de absorção das águas onde são muito características Para acontecer a carbonatação é imprescindível a existência de umidade o que justifica a presença de residuais calcários preservados ou pouco alterados quando submetidos a clima seco No caso de excesso de água grande parte das formas originadas no clima seco podem ser intemperizadas deixando vestígios nas seqüências estratigráficas dos depósitos correlativos ou nas cavidades existentes nas paredes das grutas associadas a processo de evorsão O processo de dissolução se dá principalmente através de linhas de fraqueza da rocha visto que os calcários de forma geral apresentam baixa permeabilidade A partir de juntas ou diáclases o ácido carbônico processa a carbonatação passando a elaborar formas específicas No ciclo cárstico a evolução superficial e a subterrânea não se desenvolvem paralelamente embora no início possam seguir etapas similares Formas endocársticas Para Bögli 1964 a espeleogênese inicial ocorre sempre abaixo do nível hidrostático onde se dá a mistura das águas descendentes provenientes da zona vadoza18 com as águas freáticas A diferença de conteúdo de CO 2 e HCO 3 provoca deslocamento do equilíbrio químico aumentando o poder de corrosão da solução Dentre as principais formas endocársticas destacamse as cavernas Bigarella et al 1994 apresentam tópico específico sobre origem e classificação dos espeleotemas destacando as formas de cimeira ou zenitais que crescem verticalmente no sentido da gravidade como as estalactites e cortinas as formas parietais correspondentes a deposições nas paredes das cavernas e as formas pavimentárias como as estalagmites colunas represas de travertino dentre outras A caverna uma das principais formas endocársticas pode ser definida como um leito natural subterrâneo com presença ou ausência de água ocupando um espaço vazio Para Bigarella et al 1994 seu desenvolvimento tornase mais evidente ao longo de linhas de maior fraqueza sendo as diáclases e os planos de estratificação determinantes da sua geometria e orientação Para Lladó 1970 a caverna19 é referida como gruta quando possui uma ornamentação estalactítica proeminente embora essa designação não tenha um significado preciso Algumas galerias podem estar associadas a tributários de drenagem criptorréica que foram desativados ficando suspensos em relação ao nível de base atual que ainda pode estar ocupado pelo rio principal Com a abertura de grutas pelo trabalho da água subterrânea há o desenvolvimento de estalactites a partir de fissuras existentes no teto das cavernas cuja dissolução acarreta a precipitação da calcita gotejamento originando no assoalho as estalagmites A união das estalactites e estalagmites origina colunas que justapostas proporcionam o desenvolvimento de cortinas correspondentes a um fino rastro de calcita As cortinas podem evoluir para lâmina de calcita ondulada branca e translúcida ou tingida pelo sesquióxido de ferro Fig 254 Para Bloon 1970 pelo menos parte da deposição das estalactites é causada quando a água subterrânea movendose sob pressão através da rocha acima da caverna encontra o ar livre e perde algum CO 2 dada a queda de pressão Com a perda do dióxido de carbono em solução parte do bicarbonato de cálcio dissolvido reverte para o carbonato de cálcio menos solúvel usualmente na extremidade de uma saliência sobre a qual a água pinga e flui Alguns tributários subterrâneos podem confluir no interior das cavernas sob forma de fontes de ressurgência contribuindo para a evolução da morfologia cárstica Numa caverna admitese a possibilidade de existirem diferentes níveis de base justificando a denominação de andares Tais níveis em determinadas regiões são muito variáveis Para Derruau 1970 em massas calcárias não deve haver um nível de base único ou uniforme pela interdependência do próprio sistema de circulação subterrânea No Vale do Colorado EUA admitese que o nível cárstico encontravase a centenas de metros abaixo do nível do mar caracterizando uma situação de desembocadura fóssil resultante de paleoclima ou que os referidos níveis não apresentavam qualquer relação com o nível de base geral Formas cársticas fósseis são também encontradas em Vercors de origem préglaciária caracterizadas por dolinas recobertas de morainas20 em processo de reelaboração Como exemplo de abatimento topográfico causado por dissolução considerase a Ponte de Pedra no município de ParaúnaGO que evidencia ser resultante do desabamento de teto superior de paleocaverna Formas Exocársticas Correspondem às formas superficiais do carste desenvolvidas na zona de absorção das águas ou zona subaérea onde são muito características Bigarella et al 1994 Bögli 1980 classifica as formas exocársticas em dois tipos fechadas e abertas As primeiras também denominadas de formas cársticas erosivas superficiais são representadas pelas lapiás dolinas uvalas poljé e canhões ou canyons21 As formas abertas de absorção são definidas por sumidouros ponors abismos e demais formas residuais como muralhas e paredões cones cársticos ou cockpits dentre outras No domínio cárstico é comum a presença de canyons com paredes verticais dispostas segundo a alternância de bancos calcáreos como o canyon de Colorado Os rios alógenos podem a partir de determinado ponto desaparecer abismos caracterizando assim uma drenagem criptorréica ou subterrânea Os abismos são muito generalizados nas regiões cársticas originados a partir de fissuras ou fraturas que se expandem por dissolução e que podem progredir por desmoronamento Assim temse a formação de verdadeiras cavernas que vão sendo ampliadas de acordo com o entalhamento do talvegue e conseqüente dissolução processada pela água subterrânea Canyons só se formam quando o calcário é bastante resistente e as paredes evoluem por solapamento basal Nas planícies cársticas conhecidas como poljé a impermeabilização dos calcários pode contribuir para a concentração de água que promove sua dissolução com conseqüente formação de depressões circulares ou mesmo sinuosas denominadas dolinas A gênese das dolinas assim como a riqueza de detalhes cársticos se relaciona ao grau de pureza da rocha Como exemplo podese considerar o Poço Verde no município de Coromandel Minas Gerais um lago permanente em formação cretácica desconhecendose o seu ponto de ressurgência Também podem se observar formas clássicas de dolinas na região de Padre Bernardo Goiás em calcários do Subgrupo Paraopeba além das registradas no Muquém município de NiquelândiaGO As dimensões das dolinas são muito variáveis de algumas dezenas de metros até alguns quilômetros de diâmetro A coalescência destas associada a processo de dissolução dá origem às uvalas Fig 255 Cursos dágua que se desenvolvem na poljé podem desaparecer em ponors sumidouros e reaparecerem quilômetros adiante sob a forma de fontes de ressurgência ou fontes do tipo vauclusiana s Sobre a superfície das rochas calcárias aparecem sulcamentos processados por dissolução da água superficial escoada enriquecida por ácido úmido presente no solo denominados lapiaz O desenvolvimento de lapiaz pode ser favorecido por linhas de fissuras ou diáclases existentes ou ainda orientados segundo planos de estratificação Ainda como forma cárstica podese considerar a estrutura circular do Muquém no município de Niquelândia formada por paleorrecifes que preservam a estratificação cruzada produzida por ação marinha bem como estruturas de estromatólitos22 do tipo C ollenias e Conophytons Tais ocorrências vinculamse às seqüências do Subgrupo Paraopeba levando a entender pelo caráter circular diâmetro em torno de 10 km estreita relação com antigo atol Para maiores considerações sobre formas desenvolvidas em estruturas cársticas sugerese a consulta das obras citadas no texto Notas de Rodapé 1 A proposta apresentada por Gerasimov 1946 utiliza os conceitos de geotextura morfoestrutura e morfoescultura que se constituem na base para o tratamento taxonômico desenvolvido por Ross 1992 2 Para Novaes Pinto 1988 aos conceitos de pedimentos e pediplanos devem ser incluídos os termos etchiplano e etchiplanação que é o processo de aplainamento típico de regiões tropicais semiúmidas que provoca o rebaixamento topográfico pela retirada parcial ou total do regolito dando origem a uma superfície designada etchiplano 3 Referese a horizontes portadores de alta concentração de ferro por precipitação em condição biostásica exumados pelos mecanismos morfogenéticos característicos das fases transicionais 4 Por níveis de embutimento entendese a retomada de escavação acentuada após um soerguimento marcante ou sensível abaixamento do nível marinho Os rios se encaixam de jusante para montante onde a erosão é desencadeada através da erosão regressiva 5 O óxido férrico precipitase a pH3 sendo completamente estável na maioria dos ambientes de intemperismo sob condições oxidantes 6 O composto Al 2 O 3 reage prontamente com os ácidos e bases e tem alta solubilidade em pHs menores do que 4 ou maiores do que 10 ou seja a alumina é solúvel nos extremos 7 A sílica como ácido monossilícico se ioniza apreciavelmente apenas acima do pH9 8 Clima úmido regionalmente ocorrido no Terciário Superior ou seja entre o pediplano de cimeira provavelmente elaborado no Terciário Médio e o pediplano intermontano cuja origem estaria relacionada ao Pliopleistoceno 9 Para Rizzini 1963 a gênese do cerrado é justificada pelo escleromorfismo oligotrófico pobre em nutrientes nos solos 10 Ma milhões de anos 11 Conforme Leinz Leonardos 1971 Plataforma referese a área rígida da crosta continental em que os movimentos tectônicos são geralmente de modesta grandeza e caráter epirogênico em contraste com as áreas de grande mobilidade denominadas geossinclinais As plataformas dividemse em Ortoplataforma que apresenta alto grau de consolidação de seu embasamento recobremse de espessuras modestas de sedimentos litologicamente muito evoluídos e que podem estenderse a vastas áreas e Paraplataforma que apresenta espessuras de sedimentos geralmente maiores podendo ter caráter imaturo com possibilidade de deformações intensas 12 Rios que se organizam independentemente da estrutura anterior e cortam camadas de diferentes resistências 13Cluse referese a vale transversal ao eixo de um anticlinal ou às direções de camadas elaborado por um rio muitas vezes associado a linha de falha ou de fraturamento 14Knick corresponde ao ângulo formado na base de uma vertente inselbergue em relação à topografia pedimento produzido pela morfogênese mecânica recuo paralelo de vertente 15 A denominação de baioneta em tal circunstância corresponde à sucessão de angularidades que se assemelham à baioneta calada colocada na boca do fuzil 16 O setor periclinal da dobra é conhecido na literatura como dobra em chevron 17 O termo karst é de origem servocroata significando campo de pedras calcárias 18 Zona vadosa corresponde àquela localizada acima do nível hidrostático O nível hidrostático é um nível variável que acompanha aproximadamente a topografia sendo constituído pela água infiltrada no solo sorvida pelos poros 19 De acordo com a União Internacional de Espeleologia para serem consideradas cavernas devem apresentar comprimento superior a 10 metros 20 Morainas ou morenas são depósitos em forma de lombadas ou irregular transportados e sedimentados pelo gelo associados a geleiras do tipo alpino ou continental 21 As lapiás são superfícies intensamente sulcadas devido à ação corrosiva das águas dolinas são depressões em forma de funil relacionadas a processo de dissolução ou resultantes de desmoronamento de teto de cavernas uvalas correspondem à coalescência de dolinas poljés é uma planície cárstica ou uma depressão muito grande resultante da dissolução extensiva canyons ou canhões correspondem a vales de flancos retos e íngremes podendo estar associados a antigos rios subterrâneos que tiveram a abóbada das galerias desmoronadas 22 Pertencentes ou relativos a certo peixe do gênero estromáteo Referências bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 n 12 p 5 23 jandez 1983 Abreu AA Significado e Propriedades do Relevo na Organização do Espaço In Anais do Simpósio de Geografia Física Aplicada 1 B Geogr Teorética Rio Claro v 15 n 2930 154162 1985 AbSáber AN A geomorfologia do Estado de São Paulo In Aspectos Geográficos da Terra Bandeirante Rio de Janeiro Fundação IBGE 197 1954 AbSáber AN O domínio dos maresdemorros no Brasil Geomorfologia 2 IGEOGUSP S Paulo 1966 AbSáber A N Uma revisão do quaternário paulista do 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Urucuia Cretáceo Patamares sustentados por horizontes silicificados Folha Ponte Alta do NorteSC23YA Radambrasil 1976 0 5 km MR 2 Serra do Caiapó ou das Divisões Relevo cuestiforme observandose depressão ortoclinal 500700 metros em seqüência arenosiltosa carbonífera e reverso pediplanado 9001000 metros em sedimentos terciários da Formação Cachoeirinha MR 3 Serra Dourada Hogback sustentado por quartzitos em torno de 1000 metros sotopostos por sedimentos metapsamopelíticos Grupos Araxá Depressão ortoclinal bacia do Rio Araguaia elaborada em granitognaisses em torno de 500 metros do Complexo Goiano MR 4 Serra de Caldas Provável aparelho vulcânico edificado em metassiltitos e metarenitos do Proterozóico Pediplano de cimeira testificado por cobertura detritolaterítica em torno de 1000 metros e zona periférica nivelada aos 700750 metros em seqüência de xistos do Grupo Araxá Folha Morrinhoss SE22XD Radambrasil 1976 0 5 km MR 5 Serra Grande Relevo apalachiano representado por seqüência de cristas quartzíticas até 1000 metros de altura intercaladas por depressões em xistos do Proterozóico 400500 metros Observase com nitidez o fechamento das dobras Folha Alvorada SD22XB Radambrasil 1976 0 5 km MR 6 Falha de São Luiz Falha normal no complexo gnáissicomignático que transcende a seqüência areno siltosa da Formação Aquidauana Pediplano intermontano seção meridional nivelado aos 650 metros com destaque de cristas longitudinais em torno de 820 metros Folha S Luiz Montes Belos SE22XA Radambrasil 1976 0 5 km MR 7 Serra da Mesa Intrusão granítica em seqüência metapsamopelítica do subgrupo Paraopeba Observamse cristas quartzíticas concêntricas em torno de 1000 metros e angularidades estruturais no Rio Tocantins depressão cotada aos 500 metros A nordeste constatase estrutura circular da Serra Branca relativa à intrusão de greisen e granito Folha Porangatu SD22XD Radambrasil 1976 0 5 km Folha Jataí SE22VD Radambrasil 1976 0 5 km Folha S Luiz Montes Belos SE22XA Radambrasil 1976 0 5 km Estrutura Superficial 3 Estrutura Superficial 31 A importância das mudanças climáticas na gênese das formações superficiais 311Formas de intemperismo e suas relações como o clima 32As variações climáticas 321As oscilações climáticas do pleistoceno 322Exemplos de depósitos correlativos 33Depósitos tecnogênicos O estudo da estrutura superficial Conceito apresentar o conceito de estrutura superficial resgatando a noção de depósitos correlativos de Penck Importância da estruturação superficial importância considerando as mudanças climáticas e derivações processadas através dos depósitos correlativos significado destes para a montagem do quadro evolutivo do relevo Importância da estrutura superficial no uso e ocupação de áreas Metodologia considerar a sistematização apresentada por Ruhe 1976 bem como os trabalhos desenvolvidos principalmente por Bigarella e Mousinho A importância das oscilações climáticas pleistocênicas no reafeiçoamento do relevo Apresentar modelo teórico dos mecanismos responsáveis pelas alterações climáticas no pleistoceno reflexos na distribuição da cobertura vegetal e processos morfogenéticos Evidenciar os tipos de depósitos relacionados às diferentes fases glácioeustáticas As principais características da estrutura superficial Apresentar exemplos em diferentes compartimentos mostrando o significado dos depósitos correlativos para a compreensão evolutiva da paisagem 3Estrutura superficial O segundo nível de abordagem sistematizado por AbSáber 1969 referese à estrutura superficial São detritos superficiais ligados a determinadas formas de transportes em condições morfogenéticas específicas É também denominada de depósito de cobertura elaborado por agentes morfogenéticos sob uma determinada condição climática presente nos diferentes compartimentos topográficos O termo estrutura superficial referese à forma de jazimento dos depósitos correlativos em superfície diferindo do conceito de estrutura geológica cujos depósitos originários foram litificados ao longo do tempo perturbados ou não por atividades tectônicas A expressão de depósitos ou formações correlativas é devida a Penck 1924 que a utilizou no sentido de conjunto dos depósitos e entulhamentos resultantes do trabalho da erosão sobre um relevo e que testemunham por suas características a energia desse relevo além dos sistemas de erosão que comandam a evolução Archambault et al 1967 O termo formação superficial muitas vezes utilizado como sinônimo de estrutura superficial é conceituado por Dewolf 1965 como sendo formações continentais friáveis ou secundariamente consolidadas provenientes da desagregação mecânica e da alteração química das rochas que tenham ou não sofrido remanejamento e transporte qualquer que seja a sua gênese e sua evolução Para a autora substrato é a rocha subjacente friável ou coerente que suporta as formações superficiais quer ela derive diretamente deste substrato ou resulte de remanejamento Portanto o conceito de formação superficial assume maior abrangência por incorporar materiais resultantes da alteração in situ o que difere da perspectiva oferecida pela noção de estrutura superficial que tem por princípio oferecer subsídios à reconstrução evolutiva do modelado Outro aspecto digno de nota é que enquanto o estudo das formações superficiais tem sido tratado com objetivos distintos pelas diferentes especialidades principalmente geologia geomorfologia e pedologia o que dificulta a adoção de um conceito comum o estudo da estrutura superficial parece ser exclusivo do geomorfólogo AbSáber 1969 p4 ressalta que custou muito para se compreender que as bases rochosas da paisagem respondem apenas por uma certa ossatura topográfica e que na realidade são os processos morfoclimáticos sucessivos que realmente modelam e criam feições próprias no relevo Partindo do princípio de que a estrutura superficial referese a toda forma de depósito relacionada a uma determinada condição climática entendese que desde as menores extensões como os depósitos de vertentes ou detritos de encostas a exemplo dos pedimentos detríticos associados a relevos residuais até maiores como as superfícies de aplainamento de extensão regional se caracterizam como tal O estudo da estrutura superficial além de oferecer subsídios à compreensão evolutiva do relevo proporciona elementos para a gestão do território Como subsídio à evolução do relevo utilizase da teoria do atualismo ou uniformitarismo atribuída a Hutton 17881 que parte do princípio de que o presente é a chave do passado Isso significa que as relações processuais e depósitos correlativos evidenciados nas diferentes zonas climáticas do globo constituem a chave para o entendimento dos paleodepósitos ou paleopavimentos detríticos encontrados sob a forma de estrutura superficial Considerando as características dos diferentes depósitos com as respectivas relações processuais podese inferir as condições ambientais como subsídio para uma cronologia relativa Quando tais depósitos podem apresentar elementos datáveis como carbono ou outros indicadores passam de portadores de informações cronológicas relativas para absolutas Enquanto subsídio à gestão do território a estrutura superficial contribui por meio de processos como os deslizamentos de massas e atividades erosivas em função de sua suscetibilidade com o estudo da vulnerabilidade do relevo Permite assim o prognóstico de impactos considerando a relação existente entre a rocha e o material sobrejacente Constituise também em componente para o estudo da potencialidade natural de determinada área a exemplo de uma rocha básica que quando alterada in situ com certeza influenciará no depósito correlativo através de determinadas características que se assemelhem ou que resultem de suas condições físicoquímicas O estudo da estrutura superficial só pode ser feito mediante observação de campo utilizandose de cortes de estrada abrindo trincheiras ou efetuando tradagens embora esse último procedimento implique deformação da amostra A análise dos depósitos correlativos feita com a maior fidelidade possível proporciona uma boa visão de sua extensão da intensidade dos seus processos da energia do relevo auxiliando a interpretação sobre a evolução morfológica É importante ressaltar que a estrutura superficial deve ser levantada nos diferentes compartimentos que integram o estudo para que a reconstrução paleogeográfica seja a mais fiel possível Para Ruhe 1975 a análise da estrutura superficial deve fundamentarse em medidas e descrições da seção transversal de uma vertente incluindo a identificação de elementos como cor textura estrutura consistência reação química do material e outras observações consideradas relevantes A cor deve ser descrita de acordo com o padrão de referência Munsell Soil Color a textura que corresponde à dimensão das partículas em uma determinada amostra deve fundamentarse em análises granulométricotexturais a estrutura do material que compreende o conjunto de partículas de minerais dentro dos agregados deve ser correlacionada com os modelos préconcebidos laminar prismática em blocos e esferoidal a consistência correspondente ao grau e o tipo de coesão ou resistência do material ao corte deve ser submetida a testes de laboratório material plástico friável ou firme maciço ou duro a reação que corresponde à resposta do material por sua vez deve ser submetida a testes químicos para identificação da presença de carbonatos A sistematização de tais informações é feita por meio de tratamento gráficoestatístico com vistas à caracterização cronológica dos depósitos perspectiva históricogeológica nos diferentes compartimentos Com base em tais orientações Abreu 1982 apresenta em seu trabalho de livredocência um modelo de ficha de observação de campo anexo ao capítulo final Ainda com relação ao estudo da estrutura superficial Archambolt et al 1967 apresentam considerações sobre elementos essenciais a serem observados durante os levantamentos informações sobre a estratigrafia paleogeologia paleossolos a natureza petrográfica os caracteres granulométricos e por fim a forma dos detritos A estratigrafia é tida como essencial por fornecer inferências cronológicas permitindo reconhecer nos entulhamentos as condições morfogenéticas e através das discordâncias as fases de instabilidade ou alternâncias climáticas As formações descritas podem ainda ser datadas com precisão utilizando técnicas geocronológicas Sobre a paleogeologia os autores observam a presença de fósseis como indicadores do meio em que se deu a acumulação do material marinho lacustre continental proporcionando subsídios sobre o clima contemporâneo Os paleossolos são testemunhos diretos da ação de um sistema de erosão sobre as rochas Podem estar associados à desagregação mecânica ou à decomposição química possibilitando inferências quanto aos processos que concorreram para a elaboração do relevo a presença de depósito de bauxita por exemplo indica gênese ligada a um clima tropical úmido considerando o ambiente em biostasia na concepção de Erhart 1958 A natureza petrográfica ajuda a compreender as condições climáticas responsáveis pela elaboração dos depósitos Como exemplo o sedimento resultante da erosão de um maciço granítico será rico em feldspato se a decomposição química tiver sido fraca ao contrário a ausência de feldspatos convertidos em material argiloso indica um clima quente e úmido Os caracteres granulométricos permitem inferências sobre a energia do relevo e o meio climático contemporâneo Assim quanto mais vigoroso for o relevo maior é o volume e maior a dimensão do calibre dos detritos que se acumulam em sua base embora isso não seja uma regra absoluta A desagregação mecânica associada ao clima semiárido ou árido fornece detritos grosseiros enquanto a decomposição química relacionada a um clima úmido origina detritos finos embora um rápido decréscimo do calibre do material para jusante evoque um clima de aridez marcante A forma dos detritos expressa o grau de transporte do material a diminuição da angularidade do material significa maior distância de transporte que normalmente é feito por água escoamento superficial na época2 A proposta para os levantamentos dos depósitos correlativos adotada por Archamboult et al 1967 fundamenta se nos princípios metodológicos dos estudos estratigráficos Os depósitos de cobertura relacionados aos aplainamentos mais antigos como do Terciário Médio constituem interesse de estudo da estrutura superficial Contudo maior atenção encontrase voltada para as seqüências cronológicodeposicionais pleistocênicas seguida dos reflexos das pequenas variações climáticas registradas no Holoceno Barbosa 1983 ao fazer considerações sobre as aplicações das formações superficiais à geomorfologia ressalta a necessidade de destacar os seguintes problemas origem do material processos de preparação granulometria espessura e morfoscopia Nas relações cronológicas de tempo geológico relativamente curto temse lançado mão não com freqüência de datações utilizandose isótopo de C 14 que tem apresentado bons resultados para testemunhos de no máximo 004005 ma AP mil anos antes do presente Outras técnicas como a Termoluminescência TL também têm sido empregadas embora com maiores restrições sobretudo com relação à qualidade dos testemunhos para correlações A TL utilizada em datações quaternárias consiste na intensidade de emissão de luz medida entre a concentração de elétrons caçados trapped em relação à dose de radiação natural Alguns efeitos amostrais têm reduzido o grau de confiança dos resultados obtidos Aitken 1985 As tentativas de emprego da Eletron Spin Resonance ESR espectroscopia poderão oferecer bons resultados às datações de depósitos de cobertura considerando as vantagens em relação à TL A ESR ou Ressonância Paramagnética Eletrônica RPE é um método físico de detecção da ressonância absorvida a partir da emissão de microondas responsáveis pelo desemparelhamento spin do elétron Ao contrário da TL a ESR não destrói a amostra analisada razão pela qual a acumulação de defeitos não contamina a informação A ESR ou RPE foi utilizada pela primeira vez como técnica de datação em 1975 por Ikeya Osaka University Toyonka em espeleotemas da Akiyoshi Cave no Japão Ikeya 1993 Grun 1989 mostra que essa técnica tem sido empregada nos últimos anos em datações de diferentes materiais e em vários campos das ciências da Terra como em geomorfologia e arqueologia Acreditase que obtendo uma boa correlação morfopedológica podese explicar melhor as diferenças existentes quanto à distribuição de espécies vegetais nativas ou condições edafológicas que representam possibilidades de uso ou ocupação Ampliandose o número de informações cronológicodeposicionais vinculadas a correlações morfopedológicas onde a micromorfologia tem tido importante contribuição poderá ser oferecida uma interpretação mais consistente da evolução do relevo contribuindo ou valorizando ainda mais a análise geomorfológica 31 A importância das mudanças climáticas na gênese das estruturas superficiais As condições climáticas como temperatura umidade e pressão respondem pela intemperização das rochas culminando com a formação dos depósitos correlativos Constatase portanto estreita relação entre clima intemperismo e depósitos correlativos na caracterização da estrutura superficial Para ilustrar essas relações apresentamse algumas considerações sobre as formas de intemperismo e a suscetibilidade das rochas O objetivo é proporcionar um encadeamento seqüencial na análise chamando atenção para a necessidade de consultas suplementares a trabalhos específicos sobre o assunto 311 Formas de intemperismo3 e relações climáticas Os trabalhos que tratam da intemperização das rochas relatam a existência de três tipos de intemperismo químico mecânico ou físico e o biológico O intemperismo químico também conhecido como decomposição representa a quebra da estrutura química dos minerais originais que compõem as rochas O intemperismo físico ou mecânico responsável pela desintegração da rocha envolve processos que conduzem à desagregação sem que haja necessariamente alteração química maior dos minerais constituintes O intemperismo biológico por sua vez referese a ações comandadas por espécies animais e vegetais que se manifestam de forma mecânica e química sobre a rocha tendo participação expressiva no processo de pedogenização a Intemperismo químico Para Bigarella et al 1994 a decomposição de uma rocha efetuase através de um processo muito lento complexo e variado Depende de muitos fatores tais como composição mineralógica e química da rocha forma e estrutura de jazimento bem como condições climáticas regionais predominantes A temperatura influi diretamente sobre o intemperismo químico Demattê 1974 inclui tamanho das partículas da rocha permeabilidade do manto rochoso posição do nível hidrostático relevo temperatura composição e quantidade de água subterrânea oxigênio e outros gases no sistema macroflora e microflora e faunas presentes superfície exposta da rocha e sua modificação pelo intemperismo mecânico solubilidade relativa das rochas originais e dos materiais intemperizados Com relação à composição mineral Goldich 1938 relata a resistência das rochas aluminossilicatadas à hidrólise indo da olivina através do piroxênio anfibólio biotita feldspato alcalino ao quartzo Fig 31 Para Melfi Pedro 1978 no decorrer da alteração há sempre interação entre os diferentes constituintes o quartzo por exemplo provoca um aumento da concentração de SiOZ e pode fazer regredir a hidrólise dos aluminossilicatos alcalinos modificando dessa forma a alteração Bigarella et al 1994 demonstram que os minerais menos resistentes à ação da água com COZ dissolvido são os piroxênios e os anfibólios Seguemse os plagioclásios depois o ortoclásio e finalmente as micas destas a moscovita é a que mais resiste O quartzo não é inteiramente insolúvel Entre os minerais acessórios a apatita e a pirita são facilmente atacadas enquanto a magnetita é relativamente resistente Os mais resistentes são o zircão o coríndon e a cromita entre outros Além das características dos minerais no processo de alteração considerase também a estrutura como as rochas ígneas que sofrem uma ação muito lenta de intemperização principalmente quando localizadas nas regiões temperadas ou mais frias Nas regiões tropicais úmidas a velocidade de alteração é bem maior o que pode ser expresso através da representação de Strakhov 1967 Sem considerar a relação estrutural constata se o significado da distribuição da precipitação com a espessura do material intemperizado demonstrando o efeito da hidrólise no processo de sialitização Fig 32 Quanto à estrutura de jazimento constatase que as rochas ricas em planos de clivagem como os xistos do Grupo Araxá predominantes no CentroOeste bem como as rochas fendilhadas ou com densa rede de diaclasamento tendem a acelerar as reações químicas do intemperismo Para Demattê 1974 as rochas são intemperizadas quimicamente por uma grande diversidade de reações que podem ser classificadas por alguns modelos Os silicatos se decompõem principalmente por hidrólise mas alterações por troca de íons incluindo cátion não H também são importantes Carbonatação hidratação quelação diálise solução simples e reconstituição química são outros mecanismos ativos e importantes do intemperismo químico os quais atacam as diversas rochas e minerais da litosfera Para o autor essas reações são basicamente simples visto que os processos não desenvolvem nada mais complexo do que ionização adição de água e gás carbônico hidrólise e oxidação Dentre os tipos mais comuns de intemperismo químico serão tratados a dissolução a hidratação a hidrólise a carbonatação e a oxidação Apresentamse a seguir algumas características de cada uma dessas modalidades Dissolução referese à alteração química da água em função da concentração de íon H expressa como pH Através da representação de Mason 1966 observase que enquanto a sílica SiO2 é altamente solúvel num meio básico portanto pouco solúvel no meio ácido a alumina Al203 é solúvel nos extremos tanto no meio ácido quanto no básico apresentando baixa solubilidade em condição neutra Fig 33 A dissolução se caracteriza pelo primeiro estágio do processo de intemperismo químico visto que determinados minerais ou rochas são mais facilmente dissolvidos pela água do que outros Como exemplo nos depósitos salinos halita e camadas de gipso a alteração é relativamente intensa enquanto nas rochas carbonatadas como o calcário e o dolomito a ionização é mais lenta ao contrário na sílica como o quartzo formase uma espécie de química neutra sem qualquer ionização apreciável na escala de pH das soluções naturais No caso das rochas carbonatadas constatase que a água contendo CO2 ácido carbônico agindo sobre o calcário transforma o CaCO3 da calcita em bicarbonato solúvel que é lixiviado4 A reação pode ser assim expressa Hidratação referese à adição de água em um mineral e sua adsorção5 dentro de retículo cristalino Tratase portanto da adição de água em minerais para formar hidratos Certos minerais são passíveis de receber moléculas de água em sua estrutura transformandose física e quimicamente como a mudança da anidrita em gipso ou da transformação da hematita em limonita Hurst 1975 observa que a reação e o tempo dos processos nestas circunstâncias dependem da concentração de reagentes e dos seus produtos e das mobilidades dos vários constituintes Por exemplo a reação em um sistema aberto pode ser inteiramente diferente da produzida em um sistema fechado como na alteração do KFeldspato feldspato potássico cujo principal produto pode tanto ser a caulinita como a ilita dependendo do sistema Hidrólise consiste na reação química entre o mineral e a água ou seja entre íons H hidrogênio ou íon hidrônico H 3 O e OH íons hidroxilas A reação de hidrólise pode ser demonstrada através da decomposição dos silicatos feldspatos micas hornblenda augita dentre outros pela água dissolvida Como exemplo Brinkmann 1964 demonstra a seguinte reação de um feldspato alcalino ortoclásio em caulinita Considerando a alteração de aluminossilicatos Pedro 1964 e 1966 observa que podem ser assinaladas duas situações quanto ao resultado da hidrólise 1 hidrólise total os três elementos que constituem um mineral primário como um plagioclásio Si Al Na ou K são completamente liberados e aparecem no meio de alteração sob a forma de hidróxidos Como exemplo SiOH4 e Na OH solúveis são eliminados completamente enquanto AlOH3 que é insolúvel acumulase in situ e se individualiza sob a forma de hidróxido de alumínio do tipo gibbsita 2 hidrólise parcial uma parte da sílica liberada do mineral primário reage com o alumínio para formar sais básicos insolúveis hidroxissilicatos aluminosos argila Tratase portanto do processo de sialitização onde a dessilicificação do meio é incompleta e a eliminação dos cátions básicos pode ser mais ou menos elevada Para Demattê 1974 os principais fatores que influem na hidrólise são a natureza da água se a água saturada com sais não for removida e substituída por outra com concentração de sais menor a hidrólise tende a paralisar reduzindo o desenvolvimento do solo b efeito do pH sobre as solubilidades do Al2O3 e SiO2 hidratado em um pH8 a solubilidade do Al2O3 é reduzida a praticamente zero mas do SiO2 é reduzida apenas para ¼ daquela que era a pH10 conforme podese inferir através da Figura 33 c ação das plantas as plantas vivas fornecem íons H para a argila coloidal em contato com suas raízes e tendem a criar condições de argila ácida que por sua vez intemperiza as rochas e minerais presentes Cabonatação o gás carbônico dissolvido na água dá origem a uma solução ácida denominada hipoteticamente de ácido carbônico H2CO3 que em reação com os minerais carbonatados dá origem ao processo denominado carbonatação Utilizase como exemplo a formação do bicarbonato de cálcio que é bastante solúvel em água a partir da calcita Para Bigarella et al 1994 nas regiões tropicais a carbonatação é intensa e estimulada pela contribuição de CO2 proveniente da vegetação exuberante O transporte posterior do material carbonatado parece ser menor do que aquele verificado para regiões de climas mais frios No primeiro caso há rápida redeposição no próprio relevo cárstico Observam os autores que as pequenas quantidades de argilas e óxidos de ferro existentes no calcário normalmente preenchem as depressões topográficas como as dolinas além de ocorrerem na superfície do relevo cárstico sob a forma de terra rossa Com base em pesquisas realizadas por Bigarella 1948 constatase a formação de depósitos secundários de calcita a partir da solução dos carbonatos de magnésio e de cálcio pelas águas carregadas de CO2 Oxidação e Redução é uma das principais reações que ocorre durante o intemperismo químico quando o oxigênio dissolvido na água combina com um elemento A oxidação se processa principalmente nos primeiros metros da superfície sendo efetiva principalmente na faixa acima da zona de saturação permanente Substâncias tanto orgânicas quanto inorgânicas são comumente oxidadas pelo intemperismo do ambiente A oxidação estritamente inorgânica se processa mais pela ação da água Átomos de ferro e manganês em silicatos são encontrados mais em estado de redução Liberados durante o intemperismo eles podem ser oxidados e se agrupam com átomos de oxigênio para formarem óxidos anidros relativamente estáveis ou então podem se combinar com hidroxilas e formar compostos um pouco menos estáveis A oxidação dos sulfetos largamente disseminados nas rochas é essencialmente importante porque forma ácido sulfúrico que contribui para maior alteração das rochas Hurst 1975 Como exemplo o ferro metálico quando exposto ao ar úmido enferruja devido à formação de um mineral mole de coloração amarela ou castanha denominado de limonita Fe2O3 nH2 O A oxidação da pirita FeS2 se dá da seguinte forma A reação contrária em que o oxigênio é liberado de seus compostos é denominada de redução Reações de redução são comuns e importantes nas zonas de intemperismo sendo a mais expressiva a fotossíntese pela qual as plantas subdividem o CO 2 atmosférico e utilizam o carbono O oxigênio não é necessariamente envolvido na reação como demonstra Hurst 1975 quando o Fe combina com S para formar FeS ou FeS 2 o ferro é oxidado Quando H 2 S reage com O 2 para formar H 2 O e S o enxôfre é oxidado e concomitantemente o oxigênio é reduzido de valência 0 à valência 2 Solução referese ao sistema onde uma fase é finalmente dispersa ou solvida na outra Bloom 1972 considera dispensável citar a solução como processo peculiar de intemperismo pois soluções na água são sempre uma parte do intemperismo Quase todas as substâncias encontradas na atmosfera e litosfera são solúveis de alguma forma na água a água subterrânea geralmente contém em adição álcalis terras alcalinas cloretos sulfatos e constituintes de origem biosférica O mecanismo de solução pode ser visto como uma progressão de trocas de íons ou radicais entre as soluções aquosas e os minerais As formações coloidais se comportam de muitas formas como as soluções Os sistemas coloidais importantes para o intemperismo são notadamente as suspensões nas quais a fase dispersa é matéria orgânica ou mineral e o meio dispersante é água ou solução aquosa Hurst 1975 exemplifica o procedimento através da descensão da água subterrânea através do saprolito6 quando alguns cátions presos à superfície das partículas coloidais tendem a se tornar íons livres À medida que esta retirada de eletrólitos continua as partículas floculadas podem deflocularse e descer em suspensão através dos poros do saprolito No horizonte inferior onde a concentração de eletrólitos é mais alta os colóides dispersos se reprecipitam Num perfil podzólico tal fenômeno acontece próximo à base do horizonteB e pode produzir uma camada distinta de canga geralmente ferruginosa b Intemperismo físico ou mecânico O intemperismo físico ou mecânico embora associado a processos que independem da presença da água pode contribuir para o desenvolvimento do intemperismo químico Dentre as principais formas de intemperismo físico destacamse Abrasão referese à pulverização ou redução do tamanho de rochas e minerais a partir do impacto e atrito de partículas em movimento Como exemplo no transporte pelo vento minerais cliváveis como os feldspatos e micas ficam sujeitos à rápida pulverização e podem ser facilmente separados dos minerais mais resistentes e residuais como o quartzo O movimento pode ser lento como o dos matacões envolvidos em gelo glacial ou rápido como no caso das areias eólicas Para Hurst 1975 no transporte pela água os minerais cliváveis são capazes de resistir ao intemperismo Grãos cada vez maiores transportados pela água mostram uma crescente angularidade indicando que a redução de tamanho é conseguida mais por impacto que por abrasão Descompressão corresponde à desagregação por alívio de carga Como exemplo rochas que foram sujeitas a forças compressivas como aquelas submetidas a empilhamento de sedimentos derrames de lava ou gelo glacial tendem a quebrar por efeito tensional ao longo de uma série de fraturas à medida que o peso das rochas ou material sobrejacente é retirado A descompressão chega a quebrar rochas maciças em folhas de 06 a 60 m de espessura formando canais para a entrada de agentes do intemperismo provenientes da superfície Expansão e contração térmica à medida que a temperatura da rocha muda seu volume também tende a mudar Mockman Lessler 1950 apud Hurst 1975 efetuaram medidas de coeficiente de expansão térmica de muitas rochas e minerais constatando que enquanto os coeficientes parecem pequenos os esforços gerados podem ser grandes termoclastia Experimentos desenvolvidos por Blackwelder 1933 e Griggs 1936 colocam em dúvida o efeito da insolação no processo de desintegração das rochas acreditando que o fraturamento ocorre em função das tensões térmicas associadas a processos tectônicos ou não tectônicos Penteado 1974 considera a expansão e contração térmica como processo pouco eficaz na desagregação mecânica por afetar apenas a película superficial da rocha Congelamentodegelo são fenômenos comumente registrados nas altas latitudes ou altitudes onde a água gela e descongela freqüentemente causando desintegração das rochas até mesmo em larga escala crioclastia ou geliturbação Como se sabe o volume da água aumenta 905 quando transformada em gelo levando ao desenvolvimento de forças de expansão em fissuras ou interstícios de rochas ou minerais em tal situação É considerado o processo mais eficaz no fraturamento das rochas O afastamento das paredes rochosas com produção de lascas cunha de congelamento se dá pelo processo chamado gelivação gelo e degelo Penteado 1974 Cristalização de sais Bloom 1972 relata experimentos que comprovam a desintegração das rochas por processo de cristalização de sais Um dos sais considerado atuante é o sulfato de cálcio hidratado gipso Embora se caracterize como um processo mecânico é entendido como precursor do intemperismo químico ao predispor a rocha à ação desse último Outros processos físicos foram descritos por vários autores como perfuração coloidal colapso mecânico gravitação intemperismo por camada de água umedecimentodissecamento e entumescimento por umidade todos de menor importância em relação aos descritos anteriormente embora possam apresentar relevância em situações particulares c Intemperismo Biológico Os organismos vivos contribuem direta e principalmente indiretamente para o processo de intemperização Dentre os diferentes processos evidenciados destacamse os efeitos físicos e químicos associados aos animais e plantas Efeitos físicos e químicos induzidos por animais e plantas referemse à considerável redução em tamanho de minerais e rochas pela abundância da flora e fauna nos solos de áreas úmidas Dentre os principais causadores desse processo destacamse o atrito produzido cumulativamente pela penetração de organismos como a passagem de partículas de solo através do trato de vermes e outros organismos associado ao acunhamento de raízes ou pela compactação e abrasão de grandes animais que se movem na superfície 32 As variações climáticas e relações morfogenéticas O clima sempre variou ao longo do tempo geológico o que pode ser comprovado através de registros fósseis e palinológicos nas formações geológicas como a partir do Proterozóico cujas evidências ficaram registradas nas seqüências litoestratigráficas Exemplos clássicos são os Mesossaurus brasiliensis nas seqüências carbonatadas da Formação Irati Permiano caracterizando ambiente lacustre ou os sedimentos eólicos da Formação Botucatu JuraCretáceo associados a um ambiente desértico Dignas de nota pela própria proximidade temporal em que pese a escala de tempo geológica são as oscilações climáticas no Pleistoceno onde pelo menos quatro grandes fases glaciais e outras quatro interglaciais responderam pelo reafeiçoamento de vertentes deixando evidências nos depósitos correlativos da região intertropical SalgadoLabouriau et al 1997 em estudo referente às mudanças climáticas em vereda no município de Cromínia GO constataram através de correlações palinológicas uma fase mais úmida em torno de 28000 AP antes do presente um evento seco entre 13000 e 10000 AP e uma nova fase de acréscimo da umidade entre 65005000 AP coincidindo com o aumento das precipitações constatadas em outras áreas do Brasil Central como na Lagoa dos Olhos De Oliveira 1992 e Lagoa Santa Parizzi 1994 Partículas de carvão mostram através de testes de C 14 que a queima vegetal já acontecia entre 32400 até 3500 anos AP Salgado Labouriau FerrazVicentini 1994 Bigarella et al 1994 apresentam evidências de alterações climáticas no Século XIX citadas por Bouchardet 1938 para a Europa Ocidental onde foram constatadas oscilações em períodos médios de 30 a 35 anos divididos em duas metades uma fria e úmida e outra quente e seca três fases frias 1806 a 1820 1836 a 1850 1871 a 1885 com invernos excepcionalmente rigorosos que se intercalaram a três séries de anos quentes 1821 a 1835 1851 a 1870 1885 a 1900 Ocorreram três épocas de chuvas abundantes 1806 a 1825 1841 a 1855 1871 a 1885 alternadas com outras de secas 1826 a 1840 1856 a 1870 1886 a 1900 Com relação às mudanças climáticas atuais atribuídas a derivações antropogênicas utilizase dos exemplos apresentados por Bach 1986 que demonstra o acréscimo de gases do efeito estufa na atmosfera e suas conseqüências o acréscimo anual de gás carbônico CO 2 na atmosfera medido no Mauna Loa Hawai é da ordem de 04 o metano CH 4 medido a partir de 1978 em diversas regiões do globo inclusive no pólo sul registra aumento que chega a 100 ppbv partes por bilhão de volume em apenas 4 anos acréscimo de óxidos nitrosos N 2 O no Oregon e Tasmânia fortalece o argumento de que os gases do efeito estufa têm promovido um aumento médio da temperatura global da ordem de 06 º C com tendência a atingir 15 º C até 2020 321 As oscilações climáticas no Pleistoceno Atendose um pouco mais às oscilações climáticas pleistocênicas eleitas em função das melhores evidências para as correlações com as estruturas superficiais apresentamse algumas considerações quanto à possível gênese das alternâncias registradas bem como reflexos destas nos mecanismos morfogenéticos Atualmente a região intertropical brasileira encontrase sob o domínio de clima úmido evidenciandose no período chuvoso a existência de uma faixa de convergência formada entre a umidade proveniente da Amazônia instabilidades de noroeste resultante dos alísios de sudeste e as ingressões dos fluxos extratropicais Essa situação denominada de Zona de Convergência do Atlântico Sul ZCAS conta com a depressão térmica do Chaco que atrai massas úmidas provenientes do norte gerando extensa faixa que varre o continente brasileiro principalmente as regiões Sudeste CentroOeste e Nordeste No inverno o deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul em direção ao continente brasileiro determina a estabilização de massas impedindo os avanços do fluxo extratropical gerando estiagem prolongada de 4 a 6 meses Segundo Nobre et al 1998 o sistema de circulação de larga escala na baixa troposfera que atua na América do Sul durante o inverno compreende a Zona de Convergência Intertropical ITCZ sobre os oceanos Atlântico e Pacífico associada às atividades convectivas no noroeste da América do Sul Colômbia Venezuela e América Central os sistemas transientes frontais FSs associados às frentes frias na América do Sul temperada e subtropical e o Sistema de Alta Pressão Subtropical do Oceano Atlântico SASH também chamado Anticiclone do Atlântico Sul Fig 34 Durante o inverno ocorre o deslocamento para oeste do Anticiclone do Atlântico Sul SASH em direção ao continente e o movimento para o norte da Zona de Convergência Intertropical ITCZ produzindo subsidência de larga escala típica sobre o Brasil Central e a Amazônia Com isso temse o deslocamento da umidade e nuvens para áreas remotas ao norte e noroeste da Amazônia Esses fenômenos são responsáveis pela escassez de chuvas sobre o continente e pela definição da estação seca no Brasil Central Vianello Alves 1991 O deslocamento do SASH em direção ao continente favorece a entrada de massas de ar provenientes do oceano pela porção nordeste do Brasil Para Damuth Fairbridge 1970 a dinâmica atmosférica atual é bastante parecida à constatada nas fases interglaciais do Pleistoceno responsáveis pelas condições climáticas úmidas Fig 35 Contudo nas fases glaciais relacionadas a condições climáticas semiáridas nas faixas intertropicais registravase deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul para menores latitudes dominando a referida extensão continental Nessas condições além da restrição na dinâmica dos fluxos intertropicais gerando situação de estabilidade proporcionava franco domínio territorial dos fluxos extratropicais Ao mesmo tempo com o resfriamento decorrente dos avanços dos fluxos polares constatavase maior avanço das correntes marítimas frias como as de Falkland corrente das Malvinas em relação à corrente do Brasil bem como maior domínio da corrente fria de Humboldt ou do Peru na costa do Pacífico A primeira situação mostrada no mapa referese à condição de circulação interglacial como a evidenciada na atualidade com o centro anticiclonal do Atlântico Sul posicionado abaixo do Trópico de Capricórnio As correntes quentes do Brasil e do Golfo apresentam grande atuação no continente ficando a fria de Falkland ou Malvinas restrita à seção meridional As massas de ar quente e úmida tropicais marítimas do Atlântico Sul e do Atlântico Norte são responsáveis em parte pelo clima úmido dominante clima subúmido nas latitudes intertropicais A segunda situação Fig 35 esquematiza a fase glacial ou glácioeustática quando se dá o deslocamento dos centros anticiclonais tropicais para faixa equatorial gerando cinturão de subsidência nas menores latitudes Assim a coalescência dos centros anticiclonais Anticiclone do Atlântico Sul com o Anticiclone do Pacífico Sul impede a ascensão de eventual umidade restringindo a possibilidade de chuvas caracterizando uma condição de semiaridez em toda a faixa intertropical O sertão nordestino hoje semiárido nas fases glaciais estava individualizado pelo árido portanto mais seco em relação ao atual Com o deslocamento do centro anticiclonal do Hemisfério Sul para menores latitudes as massas de ar frias dominavam grande parte do continente principalmente a seção meridional Assim as correntes marítimas frias como a de Falkland e a de Humboldt Peru passavam a ocupar maior domínio latitudinal restringindo a ação das correntes quentes como a do Brasil e a do Golfo O domínio da corrente fria respondia pelo resfriamento do ar proveniente do oceano gerando estabilização atmosférica Nessa circunstância a estabilidade atmosférica decorrente do deslocamento do centro anticiclonal do Atlântico Sul e o resfriamento produzido pelo domínio do fluxo extratropical originavam um clima semiárido fresco em toda região intertropical do Brasil agravando a situação de deficiência hídrica no conhecido Polígono das Secas AbSáber 1977 produziu quadro dos domínios naturais de paisagens da América do Sul correspondente ao período de 13000 a 18000 AP referente à última fase glacial pleistocênica W ürm para os europeus ou W insconsin para os americanos com base em remanescentes da estrutura superficial Na representação Fig36 constatase uma clara tendência de as espécies xeromórficas se expandirem em relação às hidrófilas ao mesmo tempo em que a vegetação relacionada a condições climáticas mesotérmicas se desloca para menores latitudes caso da Araucária que deixa o core do Planalto Meridional em direção às altas altitudes das serras do Mar e Mantiqueira onde as condições termais eram inferiores em relação à situação atual Na faixa intertropical a deficiência hídrica glácioeustática promovia a retração da formação florestal e a expansão da vegetação xeromórfica com o domínio do Cerrado sobre as áreas hoje ocupadas pela Florestas Ombrófilas ao mesmo tempo permitindo o avanço da Caatinga sobre o Cerrado Nessa situação a bacia Amazônica estaria basicamente representada pelo Cerrado nas áreas interfluviais com alguns encraves de Formações Florestais refúgios em áreas mais úmidas depressões relativas O Cerrado ocupava o Planalto Central enquanto a Caatinga estendiase através dos grandes compartimentos topográficos depressionários como as Depressões do São Francisco Tocantins e Araguaia atingindo o Pantanal Matogrossense onde ainda são encontradas espécies dessa natureza no mosaico representado pela complexidade vegetal Tais áreas se individualizavam como eixos de expansão da semiaridez por apresentarem maior deficiência higrométrica Na parte meridional do continente a redução térmica determinada pelo avanço das massas de ar extratropicais e as correntes marítimas frias contribuíram para o avanço da Araucária a partir do Planalto Meridional até o Espinhaço o mesmo ocorrendo nos Andes meridionais No Chaco prevalecia vegetação estépica deserto frio enquanto na seção meridional dos Andes os glaciais alpinos se faziam presentes justificando a gênese dos fijords na região da Terra do Fogo vales produzidos pela corrida do gelo em condição de eustatismo negativo hoje afogados pela transgressão pós Würmiana Com o retorno às condições úmidas pós Würmiana ou holocênica processo contrário foi observado evidenciandose domínio da Formação FlorestalFloresta Ombrófila sobre o Cerrado caso da Amazônia e do Cerrado sobre a Caatinga Planalto Central e Oriental brasileiros embora sejam encontrados encraves de Cerrado em plena Amazônia refúgios Araucária na Serra do Mar e Mantiqueira Caatinga no médio São Francisco médio Araguaia e Pantanal Matogrossense além de outras espécies relacionadas a ambientes semiáridos das fases glaciais Assim registrase uma estreita relação entre os diferentes domínios fitogeográficos com as alternâncias climáticas constatadas no Pleistoceno Num corte temporal poderseia admitir ser o Cerrado uma vegetação arcaica o que justifica a denominação de vegetação clímax anterior ao aparecimento da Formação Florestal7 atual visto que as espécies xeromórficas podem ser correlacionadas às superfícies erosivas ou pediplanos terciárioquaternários Registrase assim estreita relação entre os diferentes domínios fitogeográficos com as alternâncias climáticas constatadas no Pleistoceno 3211 As fases climáticas pleistocênicas e processos morfogenéticos Durante o Pleistoceno foram registradas pelo menos quatro fases glácioeustáticas8 intercaladas a outras tantas interglaciais conforme esquema Fig 37 Bigarella et al 1975 apresentam argumentos baseados em possíveis influências astronômicas para explicar as mudanças paleoclimáticas pleistocênicas concluindo que essas variações são devidas a perturbações gravitacionais inerentes ao próprio sistema planetário Entre os elementos a considerar estão excentricidade da órbita longitude do periélio e obliqüidade da eclíptica Bigarella et al 1994 consideram que as mudanças periódicas e drásticas das condições climáticas durante o Quaternário influíram na distribuição das massas de ar e no sistema dos ventos O regime da temperatura global foi por conseguinte amplamente afetado pela transferência de calor através das correntes marinhas e aéreas Relatam que quando a geleira avançava os cinturões de chuvas nas regiões temperadas deslocavamse sobre as regiões semiáridas e estas por conseguinte sobre as regiões equatoriais quentes e úmidas O fator térmico das águas marinhas reflete as alterações climáticas refletindo no comportamento do nível marinho a queda da temperatura está associada ao abaixamento do nível do mar e viceversa As quedas térmicas registradas nas fases glácioeustáticas passadas repercutiram principalmente no Hemisfério Norte devido à maior proporcionalidade de terras emersas Os efeitos das glaciações atingiram a América do Norte região dos Grandes Lagos e grande parte do continente europeu Na Europa foram observadas deposições ou formas elaboradas pelo deslocamento de geleiras como as morainas que originaram patamares ao longo de vertentes levando ao entendimento da existência de quatro fases glaciais denominadas da mais antiga para a mais recente de Günz Mindell Riss e Würm intercaladas por fases interglaciais Se na fase glacial se dava um decréscimo da temperatura das águas marinhas tendo como referência os mares tropicais na interglacial a temperatura se eleva acarretando o aumento do nível marinho eustatismo positivo pela fusão dos glaciais Considerando as diferenças climáticas entre as fases glaciais e interglaciais pleistocênicas constatase que enquanto nas primeiras prevalecia a morfogênese mecânica nas latitudes intertropicais relacionadas ao clima semiárido nas segundas registravase a morfogênese química associadas ao clima úmido situação próxima ao Holoceno Assim sob diferentes condições climáticas temse diferentes tipos de intemperismos com depósitos correlativos diferenciados Como grande parte da umidade responsável pela precipitação é proveniente dos oceanos aproximadamente 45 resultam de evaporação dos mares a quantidade evaporada nas fases glaciais não retornava aos mares já que as precipitações nas latitudes altas e médias em forma de neve eram acumuladas contribuindo para a expansão da calota polar dos hemisférios inlands e para a origem de banquisas gelos flutuantes em altas latitudes A ausência do retorno cíclico da água é responsável pelo decréscimo do nível marinho eustatismo negativo ou regressão marinha razão por que os processos morfogenéticos agressivos trabalharam em função de um novo nível de base geral Na fase interglacial os inlands entravam em processo de fusão dada a elevação da temperatura com o conseqüente retorno das águas aos oceanos elevando o nível marinho eustatismo positivo ou transgressão marinha e afogando áreas retrabalhadas nas fases glácioeustáticas anteriores Devese considerar que as glaciações pleistocênicas ocasionaram atividades isostáticas quando a concen tração de gelo se dava no centro da calota como na região da Escandinávia a subsidência processada refletia na crosta interna provocando deslocamento de massa com elevação das áreas periféricas Na fase interglacial como a holocênica atual o alívio de carga no centro da calota em decorrência da fusão do gelo inlands produziu soerguimento da crosta interna com conseqüente abaixamento da periferia por compensação A superfície periférica dos inlands além de abaixar por compensação isostática como no pós würmiano sofreu afogamento acarretado pela fusão do gelo conhecida por transgressão flandriana Esse fato pode ser exemplificado na Holanda Países Baixos onde a cada século se verifica um abaixamento da crosta de 30 cm enquanto em Estocolmo ocorreu um levantamento de 19 cm em 50 anos Evidências atuais de transgressão marinha podem ser percebidas na costa oriental brasileira a exemplo das rias dos rios Doce e Paraguaçu afogamento da foz por provável fenômeno epirogenético ou eustático ou o próprio preenchimento da baía da Guanabara No extremo sul da América do Sul durante a fase glacial ocorreu o desenvolvimento de glaciais alpinos gelos nas partes elevadas os quais desciam as encostas criando vales em U decorrentes da erosão por friccionamento ou atrito Nesse período a extensão de áreas emersas era maior uma vez que prevalecia o eustatismo negativo Na fase interglacial o derretimento do gelo eleva o nível marinho provocando o afogamento dos vales fijords criando em conseqüência uma sucessão de pequenas ilhas como na Terra do Fogo sul da América do Sul Além das alternâncias nos domínios fitogeográficos decorrentes das mudanças nos sistemas de circulação aérea e marítima as oscilações climáticas pleistocênicas foram responsáveis pelas variações morfogenéticas associadas aos contrastes nas formas de intemperismo físico ou mecânico e químico com reflexos direto na tipologia dos depósitos correlativos Desse modo nas fases glaciais registrouse morfogênese mecânica devido à condição semiárida nas latitudes intertropicais com pronunciada ou discreta pedimentação enquanto na interglacial registrouse intemperismo químico com entalhamento da drenagem e processo de coluvio namento Os detritos resultantes da desagregação mecânica apresentam uma disposição hierarquizada a partir da fonte de origem próximos ao sopé da vertente são grosseiros reduzindo gradativamente à medida que dele se afastam Essa disposição caracteriza o pedimento A torrencialidade pluviométrica associada às condições climáticas semiáridas tem importante participação no transporte e hierarquização dos detritos Na fase interglacial ou pluvial a drenagem é reorganizada e o intemperismo químico é responsável pela decomposição das rochas procurando inumar os detritos produzidos em condições anteriores através do processo denominado de coluvionamento podendo preservar ou destruir as paleoformas ou paleodepósitos ainda existentes O contraste morfogenético gera diferenças de composição dos depósitos correlativos caracterizados como indicadores para a restituição paleoclimática da área Como exemplo apresentase perfil de vertente comum nas latitudes intertropicais onde são observadas as diferentes seqüências cronodeposicionais Fig 38 Os pedimentos detríticos ou cascalheiras encontramse recobrindo material alterado in situ e sotopostos por colúvio pedogenizado Os detritos ou paleopavimentos encontramse associados à morfogênese mecânica correspondente a uma fase glácioeustática pleistocênica enquanto o colúvio superficial vinculase à morfogênese química ou fase interglacial como o holoceno atual Esse material convertido em solo depois de ter sido colonizado por microorganismos recebe o nome de colúvio pedogenizado Na planície aluvial compartimento topográfico de embutimento elaborado pelo sistema fluvial associado à meandração as seqüências deposicionais são resultantes do trabalho do próprio rio Tratase de cascalheiras inumadas ou suspensas evidenciando alternâncias climáticas distintas São materiais diferentes dos pedimen tos principalmente quanto à forma naquelas são angulosos e apresentam baixo grau de transporte enquanto nestes são arredondados ou ovalados mostrando nítido processo de transporte fluvial por rolamento ou saltitação responsáveis pelo desarestamento Para se entender os depósitos de terraços ou baixos terraços devese considerar um clima semiárido responsável pelo abandono ou redeposição de seixos rolados elaborados pelo transporte fluvial no clima úmido antecedente posicionados ao longo de talvegue remanescente Numa fase seguinte determinada pelo retorno ao clima úmido evidenciase o reentalhamento da drenagem no antigo leito abandonado ou próximo deste os seixos rolados abandonados na fase agressiva anterior depois de exumados pela incisão da drenagem se posicionam acima do talvegue atual muitas vezes sotopostos ou recobertos por sedimentos resultantes do transbordamento do rio como os depósitos aluviais ou provenientes de montantes depósitos coluviais Para que tal incisão epigenia aconteça é necessário gradiente suficiente para ativação da erosão remontante ou então efeito de natureza tectônica epirogênese positiva como Moraes Rego 1933 admite ter acontecido entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno a Relações processuais e depósitos correlativos Além de alterações fitogeográficas mudanças no sistema de circulação atmosférica e marítima as oscilações climáticas pleistocênicas foram responsáveis por outros processos morfogenéticos respondendo por depósitos correlativos distintos comumente encontrados em cortes de talude ou desbarrancados associados a atividades erosivas oferecendo importante subsídio à compreensão dos fenômenos ligados à evolução das vertentes Embora se registre com freqüência perfis de intemperismo relacionados exclusivamente às condições climáticas atuais com variações determinadas pela declividade Figs39 e 310 muitos são os depósitos correlativos que preservam paleopavimentos associados à condições climáticas agressivas Fig311 Fig 39 Perfil típico do manto de intemperismo Sobre a rocha não alterada seguese em transição o elúvio e sobre este o colúvio Nas regiões de condições climáticas úmidas o conjunto é recoberto por vegetação densa do tipo florestal Bigarella 1994 Fig 310 Em muitos lugares das regiões montanhosas úmidas o colúvio jaz diretamente sobre a rocha fresca Neste caso o elúvio foi removido durante uma crise climática anterior O contato abrupto entre a rocha sã e o colúvio desempenha um papel importante na instabilidade das vertentes Bigarella 1994 Por elúvio entendese o material alterado por intemperização química que permanece in situ formando normalmente contato gradacional com a rocha subjacente Muitas vezes o elúvio se constitui num manto bastante decomposto quimicamente podendo encontrarse preservada a estrutura original da rocha Colúvio referese ao material detrítico proveniente de locais topograficamente mais elevados depositado em situação morfológica apropriada como seções embaciadas associado a processo de transporte Tais depósitos podem corresponder ao resultado da movimentação do elúvio Tratase portanto de material que foi produzido a montante transportado por processos comandados pela ação da gravidade Geneticamente colúvio é definido como sendo material transportado em conjunto pelo escoamento superficial ou pela ação da gravidade ao longo da vertente até o seu sopé onde normalmente assume maiores proporções quando não é trabalhado ou retirado por outros processos como o fluvial No sentido descritivo corresponderia aos materiais que descem a encosta Os colúvios são pouco estratificados ou não apresentam estratificação sendo facilmente diferenciados dos solos originais alterados in situ algumas vezes facilmente identificados pela existência de paleopavimentos que os separam dos materiais subjacentes O emprego do termo paleopavimento tem por objetivo diferenciar o material elaborado e depositado em condições pretéritas em relação aos depósitos ou alterações relacionadas ao intemperismo atual Bigarella AbSáber 1964 conceituam paleopavimento como um horizonte guia de extensão apreciável em todo Brasil separando os eventos prépavimentação daqueles póspavimentação além de documentar a última fase seca que teve lugar de forma ampla em quase todo o país Bigarella et al 1994 alegam estar o paleopavimento soterrado por material originado num clima úmido posterior subatual e atual sobre o qual desenvolveramse as pujantes florestas tropicais e subtropicais do Brasil leste e meridional No exemplo acima Fig 311 a rocha alterada in situ é recoberta por cascalho ou colúvio representando um nível de erosão antigo que por sua vez é inumado por material proveniente de montante com superposição de nova linha de pedras em bolsons laterais A colonização por microorganismos do depósito de cobertura recebe o nome de colúvio pedogenizado dando sustentação ao desenvolvimento de vegetação A planície aluvial elaborada por ação fluvial processo de meandração em condição interglacial com possibilidade de alargamento do leito por recuo paralelo de vertentes em condição glácioeustática pode encontrarse preenchida por depósitos aluviais atuais inumando cascalheiras associadas à morfogênese mecânica Tratase de materiais diferentes dos pedimentos ou paleopavimentos localizados nas vertentes por terem normalmente sido trabalhados pelo próprio sistema fluvial Enquanto os paleopavimentos de vertente apresentam características angulosas por terem sido elaborados em condição climática seca resultante da desagregação mecânica e geralmente pouco transportados os inumados pelos sedimentos aluviais holocênicos normalmente encontramse arredondados ou subarredondados em conseq ü ência do transporte fluvial rolamento ou saltação Ambas as formas significam que os detritos foram depositados em condições climáticas agressivas e com o retorno ao clima úmido foram inumados fossilizados constituindo testemunhos das alternâncias climáticas na área Bigarella Andrade 1965 ao tratarem das condições climáticas que deram origem aos paleopavimentos pleistocênicos consideram não terem sido tão severas ou tão extensas como aquelas que originaram os pediplanos ou pedimentos Atentam para a possibilidade de ter existido mais de uma fase de formação de paleopavimentos salientando ser o aspecto atual evidência do resultado de retrabalhamentos sucessivos dos seixos em várias fases secas Bigarella et al 1994 apresentam esquema sobre a origem dos paleopavimentos múltiplos Fig312 observando que após a formação do segundo nível seguese nova deposição de colúvio o que é indicado pelo limite abrupto entre os colúvios inferior e superior Quando o colúvio é pobre em material detrítico mais grosseiro como o quartzo a separação tornase pouco clara dada a ausência de um bom indicador Na representação correspondente à origem dos paleopavimentos Fig 312 constatase a seguinte evolução descrita pelos autores A vertente coberta de vegetação florestal condição climática úmida onde o manto de intemperismo abrange o elúvio 2 B transição climática para o seco ou semiárido com rarefação ou eliminação da cobertura florestal expondo o solo à erosão principalmente pelo escoamento superficial laminar retirando o material fino C com eliminação do material fino em condição seca ou semiárida destacase a presença de um depósito residual grosseiro geralmente rudáceo D o processo de escoamento superficial continua removendo os finos e aumentando a espessura dos grosseiros podendo subseqüentemente ocorrer mudança climática para o úmido com retorno ao intemperismo químico das rochas e desenvolvimento de novo manto de alteração E a linha de pedra 3 foi recoberta por um novo colúvio resultante de movimento de massa procedente de montante área topograficamente mais elevada 4 F transição climática para o seco com repetição do processo de remoção dos finos e concentração de cascalho residual AbSáber 1968 na tentativa de classificação das feições geomórficas e depósitos quaternários no Estado de São Paulo denomina os paleopavimentos mais recentes de stonelines como depósitos inumados por colúvios holocênicos entendidos como depósitos de cobertura o mesmo evidenciado nas planícies alveolares de formações recentes planícies aluviais Os baixos terraços o reafeiçoamento de vertentes os diferentes níveis de pedimentação e os grandes alvéolos pedimentados são classificados como pleistocênicos Bigarella Andrade 1965 admitem uma idade maior para os paleopavimentos sendo os mais antigos correspondentes à primeira fase glácioeustática pleistocênica referentes a depósitos associados às fases secas com sucessivo retrabalhamento do material não distinguível estratigraficamente Bigarella et al 1994 apresentam farto material sobre depósitos correlativos com importante contribuição ao entendimento genético e características texturais Para uma melhor compreensão do estudo da estrutura superficial serão apresentados alguns conceitos consagrados na literatura geomorfológica Depósitos de cobertura são formações detríticas de origem coluvial ou elúviocoluvial presentes nas regiões tropicais úmidas que acompanham todas as irregularidades principais da topografia das vertentes e dos interflúvios mais baixos ou rebaixados atingindo todos os níveis e patamares de relevo mais recentes do território incluindose até mesmo o dorso dos baixos terraços fluviais que ladeiam descontinuamente as atuais planícies de inundação AbSáber 1968 Observa o autor que os depósitos de cobertura mais recentes são tipicamente formações designadas de edafopedogênicas nos códigos estratigráficos Planície de inundação meândricas referese a depósitos aluviais holocênicos ou subatuais relacionados tanto à elaboração das superfícies alveolares a partir de processo de meandração como a transbordamento fluvial em relação ao leito maior por ocasião dos fenômenos de enchentes Para AbSáber 1968 existem diferenças ponderáveis entre a sedimentação flúvioaluvial da base das planícies de inundação quando cotejados com os sedimentos aluviais finos da área superior de aluviação em processo denominados de back swamps A caixa correspondente à planície de inundação também conhecida como planície de conformação alveolar resulta tanto do trabalho evorsivo identificado nas margens côncavas dos meandros como por alagamento local dos vales associado ao recuo paralelo de vertentes por ocasião das fases glácioeustáticas Em tais circunstâncias podem existir baixos terraços veja adiante embutidos descontinuamente em flancos dos alvéolos tornandose possível a identificação cronodeposicional S tone lines ou paleopavimentos referemse à forma de ocorrência de depósitos subsuperficiais rudáceos transportados em condições torrenciais dos climas secos como aqueles relacionados à última fase glacial pleistocênica podendo estar associados a sucessivos retrabalhamentos do material Bigarella Andrade 1965 AbSáber 1968 descreve as stonelines como depósitos de vertentes associados à morfogênese mecânica constituindo sempre o saldo detrítico mais grosso e pesado que estava em trânsito para os talvegues e que foram interrompidos em sua marcha vertente abaixo pelo retorno das condições climáticas morfogenéticas ou pedológicas relacionadas a uma morfogênese química e biogênica Nesse sentido aquilo que estava se deslocando lentamente por gravidade e ação das enxurradas devia ser um tipo de chão pedregoso intertropical ou subtropical reportandonos apenas ao que conhecemos do caso brasileiro Considera como principais fontes de fornecimento das stonelines os fragmentos de cabeças de diques de quartzo fragmentos de quartzo intercalados em xistos como evidenciados no Grupo Araxá em Goiás seixos provenientes do retrabalhamento de cascalheiras de terraços fluviais seixos de velhas gerações intraformacionais fragmentos de calhaus de crostas ou horizontes de limonita fragmentos de geodos ou pseudoseixos de pequenos geodos de sílica ágata ou calcedônia além de fragmentos de antigas cornijas ou outros tipos de afloramentos rochosos Baixos terraços referemse a depósitos normalmente associados a fundos de vale de origem climática inteiramente relacionados às condições hidrodinâmicas e morfogenéticas suficientes para criar calhaus e fragmentos trabalháveis pelos rios a curto e médio espaço de transporte Variando de subarredondados a subangulosos os seixos de tais depósitos estão relacionados quase sempre a um transporte relativamente curto predominando distâncias que vão de 15 a 50 km AbSáber 1968 Pedimentos detríticos referemse a detritos resultantes do processo de pedimentação ou seja recuo paralelo de vertentes em condição climática agressiva clima seco cuja duração e extensão são responsáveis pelo desenvolvimento de níveis erosivos concordantes ou não aos depósitos subjacentes Referemse portanto a eventuais depósitos associados ao recuo paralelo das vertentes determinado pela morfogênese mecânica A desagregação mecânica ao longo do tempo geológico responde pela formação de uma superfície erosiva que se estiver discordante do material subjacente com presença de detrito e recoberta por seqüência coluvial subseqüente pode ser visualizada e individualizada nas suas sucessividades Guerra 1993 atribui a gênese dos pedimentos a paleocanais que fazem lençol à semelhança de um grande leque logo na saída da montanha Todavia esta zona de lençol de detritos será aplainada e constituirá o chamado glacis dérosion Esse material será assim transportado mais para baixo dando origem a uma planície de aluviões chamada de bajada ou de glacis de sédimentation Nessas planícies de bajadas podem se encontrar depressões onde se acumulam água de caráter permanente ou temporário denominadas de playas Superfícies de aplainamento ou de erosão corresponde a uma topografia mais ou menos plana resultando de um trabalho prolongado da erosão em condições tectônicas e climáticas estáveis Archambault et al 1967 Os avanços com relação aos estudos de aplainamento demonstram possibilidade de reajustamento isostático em uma mesma fase de elaboração climática proporcionando a diferenciação de níveis dependendo da ação tectônica veja sistema de referência de King no capítulo 1 Encontramse associadas a processo de pediplanação em fase climática seca Os autores concluem que uma superfície de aplainamento constitui uma etapa importante na história do relevo Ela marca o fim de uma longa evolução e pode constituir o ponto de partida de uma nova etapa do aparecimento de formas após o desencadeamento de uma nova onda de erosão Além do comportamento topográfico outros argumentos contribuem para a caracterização de uma superfície de aplainamento como independência da topografia em relação à estrutura seja ela friável ou resistente testemunhos de uma cobertura discordante sobre a rocha subjacente e testemunhos de uma evolução exposta sob forma de paleossolos Como exemplo apresentamse perfis esquemáticos da evolução das formações superficiais no município de Atibaia Fig 313 produzidos por Carvalho Rota 1974 Os autores alertam para o fato de que o esboço esquemático mostra apenas uma seqüência de eventos sem nenhuma conotação de idade Numa fase inicial a elaboração da superfície pedimentar nível 1 fase I ocorrendo a seguir a deposição de material detrítico de cobertura nível 2 fase II que poderia ou não ser depósito correlativo da superfície inicial Tratase de esquema típico proposto por Ruhe 1960 a partir do qual teriam se desenvolvido as superfícies do município A fase seguinte encontrase caracterizada pelo retrabalhamento das superfícies anteriores e remoção progressiva do material detrítico nas partes mais íngremes do relevo Fase III A fase IV corresponde ao final do entalhe com elaboração do nível 1 que poderia ser resultante de exumação O nível 2 na seção mais suave teria sido preservado pelo menos em parte provavelmente em função de sua maior espessura e posição topográfica Na fase final atual teriam ocorrido depósitos por processos de transporte por coluvionamento de vertentes com conseqüente elaboração do nível 5 b Evolução das vertentes no Pleistoceno Para se ter uma idéia do processo evolutivo relacionado às oscilações climáticas registradas no Pleistoceno apresentase a seguir esquema Fig 314 idealizado por Bigarella Becker 1975 para a Formação Itaipava vale do ItajaíMirim SC I Na fase climática úmida temse o espessamento dos depósitos de cobertura e aluviamento do fundo do vale Prevalecem formas convexas recobertas pela vegetação II Na transição do clima úmido para semiárido verificase o desaparecimento da cobertura vegetal com a retirada do material decomposto das partes mais elevadas pelas atividades torrenciais com conseqüente coluvionamento do fundo do vale material elaborado na fase climática úmida anterior O colúvio em questão sotopõe os depósitos de cobertura da fase anterior III Na semiaridez a desagregação mecânica provoca o recuo paralelo da vertente estrutural e a pedimentação da superfície inumando os colúvios antecedentes Aqui os pedimentos detríticos recobrem os colúvios da fase antecedente IV Em nova fase úmida a incisão da drenagem promove a retirada dos depósitos correlativos em função da reelaboração do vale parcialmente testificado na vertente As novas condições climáticas proporcionam desenvolvimento da pedogênese com a reinstalação da cobertura vegetal Durante o Pleistoceno as oscilações climáticas determinaram as diferenças dos depósitos correlativos onde se alternam materiais decompostos e materiais detríticos como as cascalheiras que caracterizam os pedimentos stonelines ou ainda baixos terraços bem como suas derivações considerados paleopavimentos Esses depósitos geralmente se encontram coluvionados ou aluvionados por materiais relacionados ao clima úmido podendo encontrarse em processo de reentalhamento da drenagem responsável por suas exumações ou a processos associados a atividades antropogênicas ação do homem como o desmatamento que pode ocasionar escoamento laminar ou concentrado com consequente mobilização de cascalhos que se encontravam fossilizados No Holoceno com o retorno ao clima úmido assim como nas condições interglaciais o predomínio do intemperismo químico responderá pela atividade de decomposição das rochas ou formação de depósitos que poderão chegar a futuras formas residuais Desse modo temse o entalhamento da drenagem com respectivo coluvionamento resultante do processo de decomposição nas fases úmidas e o predomínio da morfogênese mecânica com a elaboração de cascalheiras nas fases semiáridas ou secas O grau de aridez assim como sua duração são responsáveis pela intensidade da morfogênese mecânica que pode variar de simples reafeiçoa mento de vertentes com pedimentação até extensos pediplanos como os relacionados às superfícies erosivas de cimeira do ciclo Sul Americano de King 1956 Para ilustrar esse mecanismo foram utilizados esquemas apresentados por Bigarella et al 1965 dando ênfase à evolução dos vales fluviais considerando a sucessão das fases climáticas pleistocênicas Fig 315 a Formação de extenso aplainamento intermontano por processo de pediplanação sob condição climática semiárida bc Reafeiçoamento da superfície aplainada por ligeiro abaixamento do nível de base da erosão local decorrente de curtas flutuações climáticas passagem do clima seco ao úmido d Dissecação generalizada da paleotopografia em condições climáticas úmidas e Alargamento aluvionamento e coluvionamento dos vales acelerados por flutuações climáticas na direção do clima seco dentro do clima úmido f Desagregação lateral e formação de superfície pedimentar dentro do clima semiárido g Reafeiçoamento da superfície do pedimento por ligeiro rebaixamento do nível de base local do escoamento decorrente de pequenas flutuações climáticas para o clima úmido dentro do clima semiárido h Dissecação generalizada da topografia em função do domínio úmido i Alargamento e entulhamento dos vales dentro da época úmida devido essencialmente a flutuações episódicas para condições mais secas O clima árido ou semiárido contribui para a evolução horizontal da paisagem por meio do recuo paralelo das vertentes alargando vales como as calhas aluviais atuais ou processando a destruição de formas elaboradas nos climas úmidos chegando à condição de aplainamento extensivo quando prevalece o clima seco por um longo tempo geológico O clima úmido é responsável pela evolução vertical do relevo promovendo o entalhamento da drenagem que apresentará variação em relação à intensidade dos esforços tectônicos compensações isostáticas fenômenos epirogênicos ou orogênicos ou da própria erosão remontante em função do gradiente do canal As alternâncias climáticas mecanismos morfogenéticos e depósitos correlativos regionais associados ao Terciário e Quaternário foram apresentados anteriormente Tab 22 observando que enquanto a morfogênese mecânica normalmente implicava discreta pedimentação a morfogênese química respondia por processo de incisão da drenagem e coluvionamento de soleiras locais No Terciário a maior duração da morfogênese mecânica proporcionou o desenvolvimento de superfícies erosivas processo de pediplanação Levandose em consideração a intensidade e freqüência de uma ação morfogenética definida admitese uma tendência gradativa ao estabelecimento de um equilíbrio denominado morfoclimático Esse equilíbrio referese à elaboração de formas comandadas por processos morfogenéticos específicos Pela observação de um conjunto de formas com respectivos depósitos correlativos associados a determinado clima temse o equilíbrio morfoclimático atingido Para que esse equilíbrio ocorra há necessidade de um tempo de ação prolongada sob determinado processo morfogenético que apresentará variação em função da freqüência dos componentes climáticos Assim quanto maior a intensidade de determinada forma de intemperismo ligada aos demais componentes processuais maior a evolução ou ajustamento das formas a tais efeitos Como exemplo num clima úmido a densidade de drenagem reflete no grau de dissecação das vertentes tendendo a elaboração de formas convexas Já num clima subúmido considerando a mesma situação tectônica o ajustamento das formas dependerá de um tempo maior Alterando as condições climáticas num tempo relativamente mais curto que aquele gasto para se obter o equilíbrio morfoclimático ocorrerão transformações começando com as fitogeográficas Assim no domínio do clima úmido a vegetação identificada basicamente por Formações Florestais gradativamente vai sendo substituída por espécies xeromórficas como a do tipo Cerrado à medida que o clima vai se tornando mais seco O ajustamento da fisionomia vegetal à condição climática é justificado pelo conceito de clímax Sob clima úmido a evolução morfológica tende ao processo de convexização das vertentes enquanto o intemperismo químico resultante bem como a colonização de micro organismos responderão pela prévia elaboração pedogênica com conseqüente revestimento florestal que em condições estáveis caracteriza o equilíbrio geoecológico 322 Exemplos de depósitos correlativos Alguns exemplos de depósitos correlativos no Estado de Goiás serão apresentados Foram escolhidos em função das características específicas sendo um referente ao processo de pediplanação exemplo c e os demais exemplos a e b concernentes a processos de vertente paleopavimentos associados aos sistemas fluviais relacionados às últimas fases glácioeustáticas a Perfil de estrutura superficial na GO020 GoiâniaBela VistaGO O primeiro exemplo de depósito correlativo referese às formas mais comuns de depósitos quaternários evidenciados na região Os depósitos colúvioaluviais regionais caracterizamse por apresentarem de baixo para cima uma base conglomerática uma zona intermediária concrecionária e uma zona superior laterizada ou seja uma cobertura coluvial pedogenizada Latossolo Geralmente encontramse localizadas em áreas de declives suaves próximas ao topo dos interflúvios e constituem as acumulações popularmente conhecidas como cascalheiras Ianhez et al 1983 consideram o exemplo apresentado como uma das melhores exposições destes depósitos ao longo da rodovia GO020 trecho GoiâniaBela Vista de Goiás Localizada à margem direita do rio Caldas com mais de 200 m de extensão temse a presença de formação superficial recobrindo discordantemente micaxistos do Grupo Araxá em processo de intemperização A base da formação é um conglomerado lenticular com espessura máxima da ordem de 2 m constituído por seixos blocos e matacões de arredondados a angulosos de vários tipos de rocha dispersos em matriz argiloarenosa localmente com cimento ferruginoso A fração rudácea é composta principalmente por fragmentos de quartzo quartzito puro quartzito ferruginoso e rocha cataclástica além de algumas concreções limoníticas as quais são mais freqüentes em direção ao topo A zona intermediária também com espessura variável até 05 m é representada por uma concentração de concreções limoníticas do tipo pisolito de dimensões centimétricas Estas concreções tornamse escassas no sentido do topo onde domina fração argiloarenosa constituindo um solo de coloração castanhoavermelhada ferruginoso Este solo corresponde à zona superior do depósito e tem nos cortes uma espessura variável de 1 a 5 m aproximadamente O perfil esquemático local Fig 316 apresenta duas seqüências de paleopavimentos distintos uma primeira assentada diretamente sobre a rocha alterada in situ micaxisto representada por seixos blocos e matacões de arredondados a angulosos envolvidos por matriz argiloarenosa com nítida relação fluvial e uma segunda denominada de fração rudácea composta de fragmentos ou nódulos de quartzo e quartzito puro ou ferruginizado com presença de concreções limoníticas As concreções limoníticas recobrem parcialmente uma seqüência argilítica que se encontra assentada sobre os seixos conglomerado lenticular Por último prevalecem os colúvios pedogenizados Os conglomerados subovalados e subarredondados caracterizamse principalmente por ortoquartzitos com espessura inicial de aproximadamente 1 m chegando a poucas dezenas de centímetros em direção ao topo do perfil com diâmetro variando de 2 a 10 cm O pavimento detrítico que recobre parcialmente tanto a seqüência dos seixos como o depósito argilítico caracterizase por nódulos de quartzo e quartzito angulosos ou subangulosos ferruginizados com espessura que chega a 050 m e diâmetro dos agregados entre 05 a 20 cm O material coluvial que por longa extensão representa os Latossolos VermelhoAmarelo distróficos localmente apresenta textura argiloarenosa laterizada com espessura inicial de aproximadamente 4 m estreitandose gradativamente à medida que a camada conglomerática se dirige ao topo do perfil O micaxisto alterado in situ apresenta evidências de dobras com planos de xistosidade em torno de 45 º NW e veios de quartzo leitoso concordantes ou subconcordantes aos referidos planos No ponto observado o micaxisto chega a aparecer na superfície em decorrência de processo erosivo superficial com ocorrência de solo autóctone Para se entender a gênese desse depósito correlativo tornase necessário estimar pelo menos quatro momentos climáticos diferenciados I passagem de um clima úmido interglacial MindelRiss para o seco glacial Riss quando os seixos transportados e trabalhados pelo sistema fluvial na fase úmida ficaram abandonados no leito remanescente A presença de matriz argiloarenosa envolvendo o conglomerado encontrase relacionada ao material intemperizado por ocasião do clima úmido antecedente transportado na fase transicional pelas típicas torrencialidades pluviométricas Observase que não são registradas localmente evidências de depósitos relacionados à fase glacial Riss o que pode ser atribuído tanto a uma eventual incipiência morfogenética como à ação erosiva subseqüente responsável pela retirada local de algum testemunho II retorno à fase climática úmida RissWürm com ambiente flúviolacustre o que explica a presença de depósito argilitico recobrindo os seixos dispostos na fase anterior A seqüência pelítica além de caracterizar fornecimento contínuo de sedimento durante a fase de deposição mostra ainda certa aquiescência das águas que pode ser interpretada como fase transicional para um clima mais seco ou tendendo a seco Atualmente esse depósito encontrase parcialmente mosqueado com precipitação de óxidos e hidróxidos de ferro sobretudo ao longo das gretas de contração O depósito encontrase associado ao possível estágio final do clima úmido onde a aquiescência das águas determinada pela redução gradativa do nível lacustre permitia o acamamento de material pelítico transição do clima úmido RissWürm para o seco Würm III fase climática seca Würm onde a desagregação mecânica já se fazia presente com deposição da fração rudácea correspondente a fragmentos de quartzo e concreções limoníticas O material associado ao recuo paralelo de vertentes é proveniente da desagregação de micaxisto localizado a montante importante fonte de quartzo filonamentos ou veios existentes na rocha e mesmo quartzito afloramento evidenciado mais acima em torno de 2700 m do ponto analisado intercalado aos xistos A presença de concreções limoníticas encontrase associada a bancadas ferruginosas testemunhos de pediplanação existentes a montante da área de contribuição desagregadas pela ação do intemperismo Ainda hoje é possível constatar a existência de concreções ferralíticas no topo interfluvial localizado na margem direita do rio Caldas na própria GO 020 a aproximadamente 3 km do depósito em análise Esse material pode ser evidenciado ainda na extensa vertente rampeada que tem como nível de base o rio Caldas em torno de 1400 m acima do perfil em questão atualmente também inumado por colúvio pedogenizado Moraes Rego 1933 constata que ao longo dos cursos dágua mais importantes observamse depósitos elevados sobre o nível atual das águas mesmo nas maiores enchentes São terraços fluviais Esses depósitos consistem em areias e argilas e por vezes cascalho grosso A consistência é pequena As cores quase sempre pálidas parda amarela ou vermelho esbatido Moraes Rego 193741 IV retorno ao clima úmido Holoceno constatandose a existência de nódulos principalmente de quartzo presentes em colúvio de clima transicional Würm Holoceno demonstrando efeito de torrencialidades características da fase de consolidação climática para em seguida em direção ao topo apresentar domínio de material essencialmente intemperizado argiloarenoso caracterizando processo de intemperização química Essas massas coluviais foram denominadas de rampas de colúvio por Bigarella Mousinho 1965 A posição do depósito em relação ao talvegue atual em torno de 500 m de distância e acima de 3 m de altura é justificada pelo possível ajustamento tectônico que Moraes Rego 193741 admite ter acontecido entre o Würm e o Holoceno o que além de ter acentuado a elevação do depósito em relação ao nível de base atual teria respondido por uma reorganização de drenagem em posição diferente da situação anterior Além do soerguimento da margem direita do rio Caldas em relação à margem esquerda criando dissimetria de vale o ajustamento tectônico provocou aceleração da incisão da drenagem em busca do próprio perfil de equilíbrio e conseqüente deslocamento do curso atual b Perfil de estrutura superficial na GO222 NerópolisAnápolis GoialândiaGO O segundo exemplo de depósito correlativo referese ao corte de estrada na GO222 NerópolisAnápolis nas proximidades de Goialândia margem direita do ribeirão João Leite Tratase de um perfil típico de estrutura superficial considerando que na região os depósitos colúvioaluviais apresentam algumas características peculiares por incluírem estratos de sedimentos arenosos siltosos e argilosos com intercalações conglomeráticas Nesta região conforme descreveram Cunha Potiguar 1981 tais depósitos apresentam distribuição descontínua confinada a depressões intermontanas e exibem variações faciológicas nos sentidos horizontal e vertical Assim é que recobrindo discordantemente diferentes litologias do Complexo Goiano encontramse depósitos ora conglomeráticos ora sedimentares arenosos ou siltosos ou ainda argilosos Os conglomerados e os demais sedimentos apresentam espessuras variáveis e mostram contatos bruscos ou gradacionais entre si Nos afloramentos mais espessos como os verificados nos cortes da rodovia em questão Fig317 próximo a Goialândia entre Nerópolis e Anápolis os depósitos atingem em torno de 10 m de espessura Tratase de conglomerados dos tipos petromíticos e ortoquartzíticos conforme a classificação de Suguio 1980 Os conglomerados petromíticos são compostos por seixos blocos e matacões até 30 cm foram observados angulosos e subarredondados constituídos principalmente por quartzo e subordinadamente por quartzito gnaisses metabasito dispersos em matriz microconglomerática argilosa Os ortoquartzíticos contêm essencialmente fragmentos de quartzo envoltos por matriz argiloarenosa Os sedimentos arenosos siltosos e argilosos apresentam colorações avermelhadas e amareladas às vezes mosqueadas devido a concentrações de óxidos e hidróxidos de ferro Muitas vezes estas concentrações formam lâminas onduladas sugerindo dobramentos não tectônicos Mostramse maciços ou estratificados sendo que os pelíticos muitas vezes apresentam laminação planoparalela Em vários afloramentos com sedimentos argilosos maciços verificouse a existência de grãos e grânulos de quartzo dispersos e fraturas conchoidais Além dos afloramentos em cortes da rodovia GO222 esses depósitos foram vistos também ao longo das estradas AnápolisOuro VerdePetrolina de Goiás InhumasNova Veneza e Nova VenezaGoiânia entre outras Ianhez et al 1983 O esquema representado Fig317 oferece uma idéia da disposição relatada oferecendo subsídios para a compreensão da evolução do depósito Os gnaisses alterados in situ encontramse diretamente recobertos por conglomerados petromíticos e ortoquartzíticos subarredondados e subangulosos com espessura em torno dos 050 m associados a processo de transporte fluvial Tais seqüências encontramse inumadas por sedimentos arenosos portadoras de grãos esferoidais avermelhados que chegam a quase 2 m de espessura embora dispostos de forma irregular De forma gradacional registrase a presença dos depósitos siltosos de cor amarelada com mosqueamentos associados à concentração de óxidos e hidróxidos de ferro com bandeamento característico de dobramentos atectônicos Os depósitos siltosos apresentam gradação faciológica horizontal em seção descontínua Recobrindo as seqüências siltosas ou arenosas geralmente subjacentes também de forma gradacional verificamse sedimentos argilosos de cor amarelada e avermelhada com as seguintes características a uma deposição de aproximadamente 280 m de argilito com estrutura poliédrica com presença de gretas de dessecação e b depósito argiloso plaqueado de estrutura laminar evidenciando deposição planoparalela com espessura aproximada de 140 m e coloração amarelada processo de mosqueamento Recobrindo os argilitos temse a presença de um pacote de aproximadamente 080 m de sedimentos siltoargilosos laterizados de cor avermelhada sotopostos por seixos subangulosos de quartzo e ortoquartzitos angulosos com diâmetro entre 3 a 10 cm de eixo Inumando os seixos constatase a presença de concreções limoníticas caracterizadas por nódulos de quartzo subanguloso a subarredondado com diâmetro da ordem de 05 a 20 cm Por fim registrase a presença de colúvio ferruginizado com espessura aproximada de 050 m de textura argilosa O material coluvial apresenta seixos fragmentos e grânulos polilitológicos fracamente empacotados por material argiloso Com base nas seqüências observadas inferese a seguinte evolução para a área I transição do clima úmido interglacial MindelRiss para o clima seco Riss em que os seixos conglomeráticos desarestados durante o clima úmido antecedente por transporte fluvial ficaram depositados ao longo do paleocurso A presença de seixos arredondados e subangulosos evidencia processo de rolamento e saltitação durante a fase climática úmida cuja constituição litológica pode ser justificada pelos materiais existentes na região gnaisses e metabasitos relacionados ao Complexo Goiano A presença de matriz argilo arenosa na interseção conglomerática encontrase associada ao processo de dessoloagem evidenciado na fase transicional pelas torrencialidades pluviométricas II fase climática úmida interglacial RissWürm caracterizada por ambiente flúviolacustre responsável pelas deposições subseqüentes arenosa siltosa e argilosa Entre as fases I e II transição de clima úmido para o seco e para clima úmido não foram registrados depósitos vinculados ao clima seco Riss A seqüência textural dos depósitos pode ser explicada por ambiente lacustre marginal ou seja conectado a processo de transbordamento do sistema fluvial caracterizando ritmito referente ao conjunto de siltitos argilitos e arenitos intercalados admitindose a seguinte explicação para as diferenças deposicionais a fase de maior torrencialidade fluvial intensificação da energia das correntes deposicionais o que justificaria inicialmente a deposição dos materiais arenosos mais pesados em relação aos sedimentos pelíticos b fase de aquiescência transicional ou seja com águas mais calmas em relação à fase anterior o que permitiria a deposição das seqüências siltosas e por fim c fase de aquiescência caminhando para um clima mais seco o que teria permitido deposição da seqüência pelítica onde a disposição planoparalela se faz presente Recobrindo os depósitos argilosos novas seqüências argilosiltosas evidenciam maior turbulência das águas relacionadas às oscilações climáticoprocessuais naturais do sistema transicional III nova transição do clima úmido interglacial RissWürm para o clima seco Würm onde os seixos ou conglomerados subangulosos de quartzo e ortoquartzitos trabalhados pelo sistema fluvial clima úmido antecedente RissWürm ou retrabalhamento de antigas cascalheiras foram abandonados por incompetência de transporte redução da vazão fluvial IV condição climática seca Würm quando a desagregação mecânica e o transporte torrencial contribuíram para a deposição de detritos petromíticos mais angulosos sotopondo os seixos subangulosos subjacentes e compondo o pacote conglomerático A dimensão e angularidade das concreções justificam uma gênese associada ao intemperismo mecânico com baixo deslocamento do material em relação à área fonte A presença da limonita tanto no material depositado como no colúvio subseqüente encontrase associada às rochas gnaissicas ou granulíticas que integram o Complexo Granulítico AnápolisItauçu V clima úmido subatual e atual responsável pelo processo de coluvionamento de material argiloso O grau de ferruginização encontrase determinado pela elevada concentração da limonita resultante da intemperização das rochas sobretudo granulíticas que compõem o quadro geológico regional As alternâncias climáticas pleistoholocênicas resgatadas através dos depósitos correlativos testemunham que a referida vertente passou por várias formas ou ambientes até adquirir a conformação atual a qual com certeza sofrerá novas alterações em função de modificações climáticas A disposição convexa atual encontra se vinculada à forte incisão da drenagem provavelmente estimulada por reajustamento tectônico com anfractuosidade mascarada pelo material proveniente de montante colúvio pedogenizado As derivações antropogênicas atuais desmatamento e implantação de pastagem contribuem para a aceleração dos processos erosivos podendo inclusive antecipar ações morfogenéticas específicas de ambientes transicionais clima úmido para seco visto que a cobertura vegetal foi retirada e o solo exposto a eventuais torrencialidades pluviométricas Os depósitos considerados encontramse localizados na subunidade geomorfológica denominada de Planalto Rebaixado de Goiânia Mamede et al 1983 e contribuem para a reconstituição histórica do processo evolutivo do modelado c Perfil de superfície de erosão na GO184 JataíSerranópolis GO As coberturas detritolateríticas que coroam os topos relacionados principalmente aos pediplanos de cimeira regionais em Goiás recobrindo indiscriminadamente diversas unidades litoestratigráficas são entendidas como relacionadas ao Terciário Médio associadas a aplainamentos processo de pediplanação eou fases erosivo deposicionais como as denominadas formações geológicas terciárias Sabese que para compreendêlas quanto à gênese tornamse necessários conhecimentos específicos como em paleoclimatologia paleogeografia paleopedologia dentre outros no âmbito geomorfológico Exemplo de tais ocorrências pode ser constatado na região de Anápolis ou Leopoldo de Bulhões correspondentes a superfícies erosivas seccionadas aos 1000 a 1100 m Na região sudoeste tais níveis encontramse topograficamente aos 900 a 1000 m de altura correspondentes à periferia da Bacia Sedimentar do Alto Paraná como a região do Parque das Emas reverso da cuesta do Caiapó caindo gradativamente em direção ao centro da bacia acompanhando a grosso modo o mergulho das camadas Para Ianhez et al 1983 as formações superficiais terciárias configuram dois tipos principais de acumulação um geralmente caracterizado por depósito eluvial e o outro por depósito colúvioaluvial O primeiro referese a concreções ferruginosas espessas resistentes que ocorrem como blocos matacões e lajedos constituindo crostas que podem estar ou não inumadas por solos o segundo compreende fragmentos rochosos e concreções ferruginosas de dimensões variadas que podem estar dispersos em matriz arenoargilosa às vezes com cimento limonítico ou silicoso e recobertos por manto coluvial ou ainda dispostos caoticamente na superfície Os concrecionamentos registrados nos topos pediplanados de Anápolis referemse ao primeiro tipo As crostas ferruginosas encontramse constituídas por concreções limoníticas concrecionárias onde se distingue material arenoargiloso associado à rocha original alterada As concreções na maioria arredondadas têm dimensões centímetricas e decimétricas e quase sempre constituem agregados do tipo canga Apresentam espessura média da ordem de 2 a 5 m e se formam por processo de laterização Para Penteado 1976 tais depósitos representam paleohorizonte B concrecionado desenvolvidos em condições tropicais A autora denominouos de bancadas ferruginosas concrecionadas autóctones pedogenéticas por acreditar estarem correlacionadas a horizonte B exumado ressecado pelo clima seco e posteriormente coluvionadas O exemplo esquematizado Fig318 referese às coberturas colúvioaluviais encontrada na estrada GO 184 JataíSerranópolis próximo a Serranópolis a 860 m de altura Tratase de nível conglomerático ondulado correspondente a laterita concrecionada material ferruginoso agregado por cimento limoníticogeotítico com espessura que chega a 25 m assentado sobre arenitos da Formação Botucatu alterado in situ O conglomerado encontrase sotoposto por fragmentos limoníticos grãos grânulos e fragmentos de laterita e quartzo agregados por massa arenoargilosa também dispostos de forma irregular com espessamento variável em torno de 1 m Por fim recobrindo estes paleopavimentos registrase a presença de cobertura detritolaterítica que no ponto observado apresenta mais de 6 m de espessura aumentando progressivamente em direção ao centro da deposição A cobertura detritolaterítica referese a sedimentos argilosos na porção superior e arenoargilosos na inferior com tonalidade avermelhada e presença de grânulos limoníticos A seção superior do depósito encontrase parcialmente proeminente dada a presença de matéria orgânica caracterizando o horizonte A do Latossolo VermelhoAmarelo A grande espessura e extensão das coberturas detritolateríticas foram mapeadas na região como Formação Cachoeirinha de idade Terciária Esse exemplo de estrutura superficial corresponde a uma forma de deposição mais antiga que as evidenciadas anteriormente admitindose uma gênese associada à condição climática que marca a transição de clima úmido para seco com posterior deposição relacionada a ambiente flúviolacustre culminando com processo de pediplanação no Terciário Médio ou Superior Entendese a seguinte evolução para a área Fig 318 I transição de clima úmido para seco provavelmente no Terciário Inferior com deposição dos níveis conglomeráticos sobre os arenitos da Formação Botucatu marcados por superfície de erosão diferencial II clima seco Terciário Médio responsável pela gênese dos fragmentos limoníticos angulosos que inuma os conglomerados subarredondados e subangulosos III clima úmido subseqüente com transição gradual o que poderia justificar a diferença textural da cobertura detritolaterítica associada a ambiente flúviolacustre IV clima seco OligocenoMioceno responsável pelo processo de aplainamento com truncamento altimétrico local de aproximadamente 860 m As alterações climáticas subseqüentes pleistocênicas não chegaram a deixar marcas ou evidências significativas visto que após processo de pediplanação a área teria sido epirogeneticamente soerguida respondendo por uma condição dispersora A preservação do testemunho de aplainamento encontrase associada à resistência das concreções ferralíticas aos intemperismos subseqüentes O perfil descrito encontrase localizado na subunidade geomorfológica denominada de Planalto Setentrional da Bacia do Paraná Mamede et al 1983 que embora dissecada pelos tributários da bacia do rio Verde mantém topos interfluviais preservados com remanescentes de superfícies pediplanadas Superfícies erosivas de cimeira como a exemplificada oferecem subsídios para se montar a história geomorfológica regional que remonta pelo menos ao Terciário Médio Depósitos correlativos pleistocênicos provavelmente encontrados em condições altimétricas inferiores como em seções de embutimento complementariam o panorama evolutivo regional 33 Depósitos Tecnogênicos Depósitos tecnogênicos são aqueles correlativos aos processos antropogênicos atuais ou subatuais ou seja produzidos pela ação do homem quando da apropriação do relevo Por estarem associados às transformações na escala do tempo histórico principalmente em função do crescimento demográfico e da expansão de fronteiras territoriais os depósitos tecnogênicos referemse ao período que já se cogita denominar de Quinário Para Oliveira 1995 o período Tecnógeno ou Quinário referese às novas coberturas pedológicas e às novas fácies geológicas que se encontram em processo de formação fortemente influenciadas pela ação humana Para o autor a expressão antropógeno vem sendo usada por alguns estudiosos sobretudo soviéticos a exemplo de Gerasimov Velitchko 1984 como uma nova fase posterior ao Quaternário para indicar o período geológico mais recente marcado pela evolução e intervenção do homem Advogam o significado do termo Tecnogênico como mais apropriado por representar as derivações produzidas pelo ser humano sobretudo com o advento de tecnologias capazes de impor transformações ou modificações de maiores proporções Quinário ou Tecnógeno seria então o período em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biofísica na modelagem da Biosfera desencadeando processos tecnogênicos cujas intensidades superam em muito os processos naturais Oliveira 1990 Com base em Fanning Fanning 1989 depósitos tecnogênicos referemse a solos altamente influenciados pelo homem Apresentam uma classificação que utiliza quatro categoriais principais para a diferenciação dos depósitos tecnogênicos urbanos 1 materiais úrbicos do inglês urbic que se referem a detritos urbanos materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno freqüentemente em fragmentos como tijolo vidro concreto asfalto prego plástico metais diversos dentre outros 2 materiais garbicos do inglês garbage que são materiais detríticos como lixo orgânico de origem humana e que apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos são suficientemente ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbicas 3 materiais espólicos do inglês spoil que correspondem a materiais terrosos escavados e redepositados por operações de terraplenagem em minas a céu aberto rodovias ou outras obras civis Incluemse os depósitos de assoreamento induzidos pela erosão acelerada e 4 materiais dragados provenientes de dragagem de cursos dágua e comumente depositados em diques topograficamente alçados em relação à planície aluvial De modo geral podese classificar os depósitos tecnogênicos em construídos e induzidos construídos diretos ou imediatos são aqueles que resultam diretamente da ação antropogênica ou seja representam os bota foras as barragens diversas os cortes e aterros os depósitos de resíduos sólidos dentre outros os induzidos indiretos ou mediatos somente são atribuídos à efetuação humana resultando de atividades ligadas ao uso do solo atividades agrossilvopastoris atividades industriais com alterações na cobertura vegetal estimulando os processos erosivos cujo resultado final é a produção de sedimentos Um exemplo seria o assoreamento em seções de baixo gradiente resultante da elevada carga de material em suspensão transportada pelo fluxo pluvial para o sistema fluvial A título de exemplo apresentase corte transversal do córrego Botafogo em Goiânia Fig 319 elaborado por Cunha 2000 onde se pode constatar a presença de depósitos tecnogênicos tanto construído como induzido inumando aluviões holocênicas Com base em levantamentos realizados pelo autor Cunha 2000 na bacia do ribeirão Anicuns imediações da Vila Roriz foram depositados 29 milhões de m3 de sedimentos induzidos e 248 milhões de m3 de sedimentos construídos o que demonstra a potencialidade morfogenética do ser humano em poucas décadas equivalente a alguns milhares de anos de processos naturais em condições de oscilações climáticas como constatadas no Pleistoceno Por meio dos exemplos apresentados podese ter uma idéia do significado da estrutura superficial para a compreensão do processo evolutivo do relevo Dos níveis de aplainamento passando pelos depósitos correlativos pleistocênicos até as formações atuais como as planícies aluviais holocênicas ou depósitos tecnogênicos podese compreender o processo evolutivo do modelado Incorporase à análise tanto os mecanismos morfogenéticos naturais relacionados à escala geológica como os morfodinâmicos associados às derivações antropogênicas na escala histórica Notas de Rodapé 1 McIntyre 1970 ao evidenciar o significado da doutrina do uniformitarismo para a Geologia reconhece em Sir Archibald Geikie a paternidade desse aforismo memorável o presente é a chave do passado sem contudo deixar a importância de Hutton como sintetizador científico 2A caracterização quanto a forma dimensão angularidade e outros parâmetros métricos dos sedimentos é feita através da análise morfoscópica 3 O termo intemperismo é aplicado indistintamente tanto às alterações físicas quanto às químicas a que estão sujeitas as rochas 4 O processo de dissolução em rochas carbonatadas é também denominada de carbonatação 5 Adsorção concentração na superfície de um líquido ou de um sólido de moléculas de gás líquido ou substâncias dissolvidas as quais são mantidas em seus lugares pelas forças Van der Waals Levorsen Nos solos a adsorção de soluções nas superfícies e interfaces de grãos de argila permite a troca iônica princípio da adubação química Leinz Leonardos 1970 6 Saprolitização referese à intemperização das rochas in situ onde a maioria dos minerais primários e produtos secundários do intemperismo formados a partir deles permanecem juntos essencialmente no mesmo lugar de origem Hurst 1975 7 Essa discussão é polêmica Basta considerar a posição de Erhart 1958 que infere a partir da existência de depósitos organógenos associados a condições biostásicas a existência de formações florestais desde o Pré Cambriano 8 O conceito glácioeustático referese às implicações das glaciações no nível do mar ou seja com o resfriamento global a umidade proveniente dos oceanos precipitada sob forma sólida nas altas latitudes implicou redução do nível marinho eustatismo negativo Na fase interglacial com o aquecimento generalizado registravase a fusão dos inlandsis com elevação do nível marinho eustatismo positivo Referências bibliográficas Abreu AA de Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de Livre Docência FFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de Significado e propriedades do relevo na organização do espaço Anais I Simpósio de Geografia Física Aplicada B Geogr Teorética Rio Claro 15 2930154162 1985 AbSáber A N Uma revisão do quaternário paulista do presente para o passado R Janeiro Rev Brasil de Geografia 31 4151 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noção de georelevo Kügler 1976 considerandoo como conjugação das propriedades geoecológicas e sócio reprodutoras Metodologia apresentar metodologias de estudo ressaltando o significado do controle de campo em tais análises além do instrumental necessário acompanhamento das intensidades de chuva comportamento dos fatores intrínsecos das vertentes formas de apropriação e derivações produzidas pelo homem bem como avaliação de processos resultantes A vertente como categoria do relevo Apresentar os componentes da vertente a partir dos conceitos estabelecidos pela Comissão da UGI O trabalho do Tricart 1957 é importante para evidenciar o processo evolutivo umbral de parada e de destacamento dentre outros Evidenciar o significado dos processos pluvioerosivos na evolução das vertentes intertropicais A apropriação do relevo e os principais impactos ambientais Mostrar a apropriação espontaneista das vertentes e os principais impactos decorrentes das mudanças no jogo das componentes perpendicular e paralela Processos de erosão acelerada e assoreamento 4 A Fisiologia da Paisagem A fisiologia da paisagem corresponde ao terceiro nível de abordagem do relevo na sistematização da pesquisa geomorfológica adotado por AbSáber 1969 Tem por objetivo entender os processos morfoclimáticos e pedogênicos atuais Referese portanto ao estudo da situação do relevo atual fruto das relações morfodinâmicas resultantes da consonância entre os fatores intrínsecos ou seja inerentes ao próprio relevo e os fatores extrínsecos dando ênfase ao uso e ocupação do modelado enquanto interface das forças antagônicas Partindo do princípio de que praticamente toda superfície tenha sido apropriada de alguma forma pelo homem o referido nível necessariamente incorpora as transformações produzidas e conseqüentes intervenções nos mecanismos morfodinâmicos como a alteração na intensidade do fluxo por terra refletindo diretamente no comportamento do relevo Embora a fisiologia da paisagem centre atenção no momento histórico atual não deixa de levar em consideração os resultados dos mecanismos associados ao tempo geológico responsável pela evolução do relevo expresso na compartimentação topográfica e nos depósitos correlativos à estrutura superficial Assim o desenvolvimento do terceiro nível de abordagem do relevo pressupõe conhecimento dos dois níveis antecedentes O estudo do estágio atual dos processos erosivos deve levar em consideração a evolução histórico geomorfológica do relevo Para entender o significado das abordagens precedentes é necessário admitir que a conformação atual do relevo ou da vertente enquanto categoria deste resulta das relações processuais ao longo do tempo considerando uma determinada situação topomorfológica e suas características estruturais Insere na abordagem da fisiologia da paisagem informações sobre os depósitos correlativos os quais encontramse associados aos mecanismos morfogenéticos pretéritos e atuais Estes além de oferecerem subsídios cronológicos à reconstituição da evolução do relevo se constituem em importantes elementos das formações superficiais e das relações morfopedogênicas vigentes É natural que a apropriação do relevo pelo homem como recurso ou suporte implique transformações substanciais tanto na anulação dos processos morfodinâmicos a exemplo da impermeabilização de superfícies como na aceleração destes considerando o próprio desmatamento produzindo modificações em curto espaço de tempo O estudo da fisiologia da paisagem revestese de grande importância na análise do relevo por incorporar conhecimentos envolvendo fatos de interesses diversos e atuais Por inserir o homem na análise dos processos assume relevância enquanto temática de interesse geográfico A apropriação do relevo pelo homem como recurso ou suporte é responsável por alterações substanciais do seu estado natural como a implementação de cultivos que ocasionam desmatamento modificando radicalmente as relações processuais do predomínio da infiltração para o domínio do fluxo por terra o desenvolvimento da morfogênese em detrimento da pedogênese as atividades erosivas em relação ao comportamento biostásico relativo ao estágio precedente as perdas de recursos para adoção de medidas corretivas em detrimento de investimentos que poderiam ser destinados a benefícios sociais No capítulo inicial mencionouse que à medida que se caminha pelos níveis de abordagem de estudo do relevo propostos por AbSáber 1969 intensificase necessariamente o controle de campo obrigando ao tratamento do problema numa escala cada vez maior É natural que ao se compartimentar a morfologia de uma determinada área a correlação de níveis altimétricos numa escala regional se constitui num dos parâmetros metodológicos o que pode ser feito através de cartasbase tornandose dispensável um controle de campo tão sistemático como o exigido nos níveis subseqüentes No segundo nível de abordagem o da estrutura superficial maior controle de campo é necessário para as observações dos depósitos correlativos perfis para o tratamento de amostras e correlações A área de levantamento ou observação tornase mais restrita correspondendo a pontos ou trechos no interior de cada compartimento considerando a expressividade das seqüências disponíveis Já no estudo da fisiologia da paisagem é imprescindível um rígido controle de campo como o emprego de miras graduadas para o controle de erosão associadas a observações pluvioerosivas que podem ser relacionadas com a duração de intensidade das chuvas É preciso ainda um bom conhecimento dos fatores intrínsecos como a disposição forma e constituição conteúdo da vertente e dos fatores extrínsecos como a forma de uso e ocupação do relevo dentre outros aspectos considerados importantes Assim essa análise exige uma restrição maior quanto à dimensão espacial havendo necessidade de se selecionar alvos no interior de cada compartimento em função do controle previsto Dependendo da análise pretendida o experimento pode necessitar até mesmo de observações horárias ou diárias dos processos morfodinâmicos vigentes Por processo morfodinâmico entendese as transformações evidenciadas no relevo considerando a intensidade e freqüência dos mecanismos morfogenéticos no momento atual ou subatual associadas ou não às derivações antropogênicas Enquanto a abordagem morfoclimática leva à compreensão das relações processuais numa escala de tempo geológico a morfodinâmica reporta às relações processuais numa perspectiva histórica em que o homem se constitui no principal agente das alterações As derivações antropogênicas provocam alterações rápidas com respostas muitas vezes diversas em relação àquelas evidenciadas em condições naturais como numa situação de biostasia Salientase que processos morfodinâmicos não deixam de ser também morfogenéticos visto que englobam transformações associadas ao processo de dissecação na elaboração do modelado embora tratados como excepcionalidade em função da intervenção antropogênica Para se compreender melhor as relações morfodinâmicas utilizase do conceito bioresistásico proposto por Erhart 1956 que consiste em estágios morfopedogênicos diferenciados associados a condições climáticas distintas Assim na biostasia a vertente encontrase revestida de cobertura vegetal propriedade geoecológica em meio ácido como nas regiões intertropicais onde a infiltração promove alteração dos silicatos de alumina feldspatos originando a caolinita que juntamente com o quartzo existente na maioria das rochas integra a estrutura física dos solos Os hidróxidos de ferro e alumina solubilizados nesse ambiente ficam retidos e são incorporados ao solo fase residual enquanto os elementos alcalinos ou alcalinoterrosos potássio sódio cálcio e magnésio bem como o silício são transportados pela água escoada fase migradora originando os depósitos de rochas organógenas Fig 41 Na biostasia a atividade geomorfogenética é fraca ou nula existindo um equilíbrio climáxico entre potencial ecológico e exploração biológica O domínio da pedogênese sobre a morfogênese gera um balanço morfogenético negativo A resistasia é identificada pela retirada dos elementos que na biostasia integravam a fase residual elementos minerais hidróxidos de ferro e alumina o que determina a turbidez das águas de superfície cursos dágua que têm como principal indicador o ferro Essa fase passa a ser individualizada a partir do momento em que a cobertura vegetal desaparece o que pode resultar de alterações climáticas na escala de tempo geológico ou por derivações processadas pelo homem na escala de tempo histórica Assim na resistasia a morfogênese domina a dinâmica da paisagem com repercussão no potencial geoecológico desequilíbrio climáxico Como resultado temse um balanço morfogenético positivo com a retirada do material intemperizado reduzindo gradativamente a camada pedogenizada com conseqüente assoreamento de vales Ainda registrase a substituição dos depósitos organógenos da fase biostásica ou fitostásica na concepção de Tricart 1977 por depósitos argilolateríticos Fig 42 O conceito biorresistásico fundamentado na relação morfogênesepedogênese apresenta estreita relação com o balanço de denudação proposto por Jahn 1968 onde os processos em uma vertente se reduzem a dois componentes o primeiro denominado perpendicular caracterizado pela infiltração responsável pela intemperização que permite o desenvolvimento da pedogenização proporcionando a formação de material para eventual transporte e o segundo denominado paralelo paralelo à vertente ou à superfície referese ao processo denudacional morfogênese responsável pela retirada transporte e acumulação do material pré elaborado Dylik 1968 considera Jahn 1968 o primeiro a utilizar o conceito de processo morfodinâmico para tornar decisiva a noção de vertente Tricart 1957 substitui o conceito de balanço denudacional por balanço morfogenético considerado de maior abrangência terminológica visto que incorpora abrasão e acumulação O autor referese à relação entre as componentes perpendicular e paralela enquanto a perpendicular demonstra a ação da infiltração o que pode ser favorecido pela cobertura vegetal a paralela se caracteriza pelos efeitos erosivos o que leva a admitir a retirada da cobertura vegetal favorecendo a ação direta dos elementos do clima Destacase a contribuição de Kügler 1976 apud Abreu 1982 no estudo da fisiologia da paisagem ao tratar o relevo numa perspectiva ambiental Nessa ótica emerge o conceito de georrelevo como superfície de limite externo da geoderme produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos da Landschaftschülle1 e constituída pela superfície limite em si que caracteriza uma descontinuidade neste contexto e seu conteúdo plástico em postura que soma à concentração tradicional da geomorfologia alemã uma perspectiva de análise dialética da natureza desenvolvida em mais alto grau A metodologia de estudo da fisiologia da paisagem pressupõe uma preocupação com uma série de componentes como a intensidade e freqüência das chuvas em uma vertente além das abordagens relacionadas aos níveis considerados anteriormente compartimentação topográfica e estrutura superficial No estudo da fisiologia da paisagem necessário se faz dar ênfase aos componentes que integram a morfodinâmica do relevo como os processos morfogenéticos comandados pelos elementos do clima considerando o significado da interface representada pela cobertura vegetal a forma de uso e ocupação da vertente dentre outros parâmetros O estudo da fisiologia da paisagem pressupõe um bom entendimento da compartimentação topográfica e da estrutura superficial Mas para se entender melhor os processos é fundamental enfocar ainda os principais elementos do clima suas intensidades e freqüências a situação da cobertura vegetal e a modalidade de uso do solo Portanto além dos requisitos atinentes aos aspectos morfométricos e morfográficos do relevo considerados na compartimentação topográfica ou ainda os fatores cronodeposicionais evidenciados pela estrutura superficial tornase prioridade enfocar os principais elementos do clima considerando intensidade e freqüência bem como a situação da cobertura vegetal ou modalidade de uso do solo para se entender os processos na sua integridade Como exemplo destacamse os efeitos pluvioerosivos nas regiões intertropicais a densidade da cobertura vegetal em função dos domínios fitogeográficos ou ainda as diferentes modalidades de uso e ocupação das vertentes com implicações nas relações processuais os efeitos pluvioerosivos nas regiões intertropicais têm como característica principal a ação das duas estações seca e chuvosa sobre pediplanos recobertos por latossolos o que aliado ao desmatamento para a agropecuária gera profundas erosões Para se exercer um controle sobre essas componentes é necessário proceder a seleção dos indicadores temporais e espaciais como a extensão a ser considerada uma bacia hidrográfica por exemplo o tempo de análise como uma série meteorológica dentre outros aspectos relevantes Assim serão definidas as formas de controle dos parâmetros eleitos como instrumental ou equipamento necessário para a análise quantificação de processos oferecendo maior consistência ao conhecimento produzido Apresentamse a seguir considerações sobre o estudo da fisiologia da paisagem tomando como referência o conceito de vertente em geomorfologia 41 A vertente como categoria para o estudo da fisiologia da paisagem O conceito de vertente foi consagrado por Dylik 1968 sendo genericamente entendida como toda superfície terrestre inclinada muito extensa ou distintamente limitada subordinada às leis gerais da gravidade A vertente se caracteriza como a mais básica de todas as formas de relevo razão pela qual assume importância fundamental para os geógrafos físicos Essa importância pode ser justificada sob dois ângulos de abordagem um por permitir o entendimento do processo evolutivo do relevo em diferentes circunstâncias o que leva à possibilidade de reconstituição do modelado como um todo conceito de geomorfologia integral de Hamelim 1964 e outro por sintetizar as diferentes formas do relevo tratadas pela geomorfologia encontrandose diretamente alterada pelo homem e suas atividades conceito de geomorfologia funcional do referido autor Uma vertente contém subsídios importantes para a compreensão dos mecanismos morfogenéticos responsáveis pela elaboração do relevo na escala de tempo geológico propriedades geoecológicas permitindo entender as mudanças processuais recentes processos morfodinâmicos na escala de tempo histórico se individualizando como palco de transformações sóciorreprodutoras O conceito de vertente é essencialmente dinâmico uma vez que permite delimitar um espaço de relações processuais de natureza geomorfológica incorporando os mais diferentes tipos de variáveis Cruz 1982 observa que o estudo geomorfológico da evolução atual das vertentes é extremamente importante quanto ao entendimento espaço temporal dos mecanismos morfodinâmicos atuais e passados Os estudos morfodinâmicos mais atuais levam ao cerne do estudo geomorfológico por excelência ajudando o entendimento das paisagens geográficas Ressalta ainda que são eles que mostram os mecanismos dessa evolução e levam ao melhor entendimento dos estudos morfogenéticos de épocas passadas O estudo da vertente enquanto categoria do relevo assume importância acadêmicoinstitucional a partir da década de 50 do século passado com o trabalho de Tricart 1957 quando afirma ser a vertente o elemento dominante do relevo na maior parte das regiões apresentandose portanto como forma de relevo mais importante para o homem Tanto a agricultura quanto os demais trabalhos de construções estão interessados na evolução das vertentes que acabam comandando por exemplo a perenidade direta e indireta dos cursos dágua pela ação geomorfológica Dylik 1968 observa que as vertentes ocupam um dos mais importantes lugares da geomorfologia atual Destaca nesse sentido dois importantes eventos a respeito Primeiro o simpósio sobre a contribuição de W Penck 1924 organizado pela Associação dos Geógrafos Americanos 1940 e depois a criação da Comissão para o Estudo das Vertentes da União Geográfica Internacional no transcorrer do Congresso Internacional de Geografia realizado em Washington 1952 Ele considera a vertente como um dos problemaschave da moderna geomorfologia compreendendo todos os aspectos da Geografia Física e incluindo um certo número de questões relativas à Geografia Humana Fundamentandose nas idéias de Gilbert 1877 a vertente num sentido geral lato sensu seria um todo dinamicamente ligado aos processos fluviais num sentido restrito stricto sensu seria caracterizada por processos denudacionais intrínsecos à própria vertente A vertente lato sensu incorpora o curso dágua nível de base responsável pelo grau de participação dos elementos areolares da vertente stricto sensu Assim regula a intensidade dos fenômenos areolares tendo como referência o nível de base local caracterizado pelo talvegue Já a vertente stricto sensu encontrase limitada pelas relações morfodinâmicas areolares definida pela extensão delimitada pelo umbral de destacamento onde as atividades processuais têm início até o umbral de parada onde as atividades processuais denudacionais são substituídas pelas fluviais De acordo com o modelo de Penck 1924 o ajustamento tectônico de um curso dágua condiciona o arranjo dos processos areolares e conseqüente evolução da vertente Da mesma forma qualquer alteração climática influi no limiar ou no umbral de processos de uma vertente stricto sensu e por conseguinte na evolução do modelado como um todo vertente lato sensu A noção de umbral aparece nos trabalhos de AN Strahler 1952 sendo definido por Tricart 1957 como o limite referente ao início e fim dos processos específicos de uma vertente stricto sensu em substituição a outros incorporados no conceito de vertente lato sensu como o fluxo fluvial Para o autor em condições dadas de litologia de clima e de vegetação cada processo de abrasão e transporte pode afetar as vertentes que possuem um declive mínimo É o declive mínimo que constitui o umbral de funcionamento dos processos em questão Tricart 1957 considera ainda que os processos simples e elementares dos detritos de gravidade colocam em destaque a existência de dois umbrais um umbral de destacamento de colocação em movimento e um umbral de parada de estabilização Dylik 1968 ao tratar dos elementos da definição de uma vertente observa que são os processos morfogenéticos que determinam a natureza da vertente e que estes diferem dos demais A vertente no sentido morfogenético corresponde à parte das formas do terreno que são modeladas pelos processos de denudação stricto sensu ou seja pelos movimentos de massa e pelo escoamento tanto no presente como no passado Dylik 1968 Como exemplo nas regiões intertropicais os processos morfogenéticos evidenciados em uma vertente stricto sensu encontramse caracterizados principalmente pelas diferentes formas de fluxo de superfície e subsuperfície bem como pelos movimentos de massa diferindo portanto dos processos fluviais que integram o conceito de vertente lato sensu O limite superior de uma vertente é mais difícil de se traçar ou de ser definido em relação ao inferior não correspondendo sempre à linha de divisão de águas Nem mesmo os métodos morfográficos são suficientes para definir o limite restando a possibilidade de fundamentarse nos critérios dinâmicos O limite superior de uma vertente indica o entendimento de uma superfície mais alongada e mais alta de onde provém o material sólido transportado para a base da erosão Dylik 1968 O limite em questão se orienta genericamente de forma paralela ao talvegue embora existam freqüentes desvios da linha reta A base da erosão é estritamente ligada à noção de vertente Corresponde à faixa onde os processos de vertente stricto sensu se extinguem dando lugar a outros agentes ou formas de transporte como as águas correntes os glaciais ou mesmo níveis de base correspondentes à abrasão marinha ou lacustre Partindo do princípio de que os processos de vertente se diferenciam em função do clima ou de efeitos de natureza tectônica temse que o limite do umbral de funcionamento de uma vertente acaba sofrendo alterações sobretudo na escala de tempo geológico suscetível a eventuais mudanças Para Tricart 1957 o limite superior das vertentes na região temperada por ocasião das fases glaciais pleistocênicas acontecia em declive próximo a 2 º comandado pelo processo de solifluxão associado à fusão de geleiras Com o recuo dos glaciais no Holoceno os processos de vertente atuais passam a ser observados em condições de declividade mais elevada Assim a vertente deve ser analisada numa perspectiva de quatro dimensões onde o fator temporal assume relevância para a compreensão do processo evolutivo As relações processuais em uma vertente dependem de fatores como declive litologia e condições climáticas O movimento de massa por exemplo tem possibilidade de ocorrer em declive moderado desde que a presença de água e de argila seja suficiente para reduzir o atrito do material intemperizado em relação à estrutura subjacente Assim tanto o umbral de destacamento quanto o de parada para uma vertente stricto sensu variam em função das condições climáticas do material proveniente ou não da rocha subjacente e da própria declividade A noção de freqüência processual permite colocar em destaque o jogo dos fatores que comandam o afeiçoamento das vertentes intensidade da dissecação estrutura e clima Tricart 1957 A intensidade de dissecação normalmente encontrase associada à evolução dos talvegues que se constituem em nível de base do afeiçoamento das vertentes o que pode estar relacionado tanto a mudanças climáticas como às oscilações glácioeustáticas pleistocênicas como os efeitos de natureza tectônica Assim um ajustamento tectônico como o epirogenético positivo gera ajustamento do talvegue com aumento da declividade da vertente determinando o aumento da intensidade dos processos erosivos Os fatores morfoclimáticos intervêm através das modalidades de meteorização e pedogênese e da natureza dos processos de afeiçoamento das vertentes Já as influências litológicas intervêm de várias maneiras na forma do perfil da vertente na sua declividade média na velocidade do recuo dentre outras Clark Small 1982 apresentam esquema procurando mostrar as relações processuais em uma vertente considerando sua forma Fig 43 Os processos em uma vertente se individualizam pelos fatores exógenos e endógenos Os exógenos são comandados pelo clima os endógenos pela estrutura geológica e tectônica Como agentes de intemperização destacamse a temperatura e a precipitação que em função do comportamento da interface como a vegetação proporcionam maior escoamento fluxo de subsuperfície movimento de massa e fluxo por terra ou infiltração com conseqüentes efeitos no comportamento da vertente A ação processual também depende dos fatores endógenos que reagem em função da composição química do grau de permeabilidade e conseqüente intemperização com produção do regolito Tricart 1957 demonstra que o balanço morfogenético de uma vertente é comandado principalmente pelo valor do declive pela natureza da rocha e pelo clima a valor do declive de forma geral quanto maior o declive da vertente maior a intensificação da componente paralela reduzindo a ação da componente perpendicular Assim com o escoamento mais intenso temse o acréscimo do transporte de detritos adelgaçando o solo ou o material intemperizado Da mesma forma que a tectônica ou a resistência litológica podem provocar aumento do declive a estreita correspondência com a intensidade dos processos pode provocar uma condição de equilíbrio dinâmico desde que a relação energia processos incidentes e matéria substrato da vertente esteja balanceada independentemente das condições topográficas Além do fator declive como elemento de indução morfogenética incluise ainda o comprimento e a forma geométrica da vertente Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas Bertoni et al 1972 mostram que quadruplicando o comprimento da vertente quase são triplicadas as perdas de terra por erosão diminuindo em mais da metade as perdas de água redução do escoamento por aumento da superfície de infiltração Bloom 1970 utilizandose dos modelos geométricos de vertente de Troeh 1965 divide os quatro principais tipos de encostas em dois grupos Fig44 a coletoras de água com contornos côncavos quadrantes I e II e b distribuidoras de água com contornos convexos quadrantes II e IV O eixo vertical do diagrama separa as encostas com perfis convexos que facilitam o desenvolvimento do rastejamento quadrantes II e III das encostas com perfis côncavos que favorecem a lavagem pela água das chuvas quadrantes I e IV Na base da representação Fig 44 o blocodiagrama mostra como as encostas podem ser subdivididas com relação aos seus elementos componentes b natureza da rocha as rochas coerentes exigem primeiramente uma intervenção da componente perpendicular antes da ação da componente paralela ou seja antes que os detritos sejam carregados é necessário que sejam formados Portanto a natureza da rocha além de responder pelo comportamento da formação superficial intervém no perfil da vertente no seu declive médio e na velocidade de seu recuo ou evolução Penteado 1974 p 23 mostra que o comportamento de uma estrutura em relação à erosão depende da natureza das rochas propriedades físicas e químicas sob ação de diferentes meios morfoclimáticos Dentre as propriedades básicas de uma rocha a autora destaca o grau de coesão grau de permeabilidade e grau de plasticidade que influem no modo de escoamento superficial Além dessas existem outras propriedades que influem na desagregação mecânica como o grau de macividade e tamanho dos grãos Outras ainda facilitam a decomposição química como grau de solubilidade e grau de heterogeneidade As rochas cristalinas especialmente os granitos são coerentes impermeáveis não plásticas mas possuem planos de descontinuidade e são heterogêneas Os arenitos apresentam além de planos de diaclasamento planos de estratificação sendo relativamente homogêneos Os calcários são coerentes pouco plásticos e homogêneos distinguindose pela permeabilidade dada ao fissuramento e solubilidade As argilas e xistos possuem fraca resistência à erosão por escoamento superficial e têm grande plasticidade A formação superficial denominação que envolve o material decomposto ou pedogenizado que recobre a rocha engloba a noção de solo e subsolo cuja característica textural definida pelos minerais resultantes responde pela especificidade de determinados processos morfogenéticos A presença da argila por exemplo favorece a solifluxão o creeping ou reptação e ainda o deslizamento de massas Como enfatizou Tricart 1957 a argila soliflui a areia não soliflui Além desses aspectos a participação de determinados elementos texturais na formação superficial afeta o grau de resistência mecânica dos agregados tanto na ação morfogenética da gota de chuva efeito splash quanto na intensidade erosiva comandada pelo fluxo por terra escoamento difuso laminar ou concentrado Pesquisas realizadas por Bertoni et al 1972 demonstram a relação entre perdas de terra e água e a média pluviométrica anual Tab 41 segundo diferentes tipos de solos Tab 41 Perdas de terra e água em diferentes tipos de solos A Terra Roxa registrou menor perda de terra enquanto por unidade de volume de enxurrada escoada foi o solo argiloso Isto significa que o solo argiloso proporciona maior escoamento o que é justificado pela impermeabilização determinada pela expansão mineral em condição de hidratação respondendo pelo aumento da resistência mecânica dos agregados do solo o que atenua os processos erosivos Queiróz Neto 1976 demonstra que os solos B texturais Bt descontínuos como os Podzólicos apresentam comportamento ligado aos processos de erosão em lençol além de movimentos coletivos enquanto os B latossólicos Bw homogêneos e profundos são mais susceptíveis ao escoamento concentrado responsável pelo desenvolvimento de ravinas e boçorocamentos A litologia também intervém na forma do perfil da vertente como no domínio dos quartzitos da região intertropical onde normalmente são responsáveis por declives acentuados dado o grau de macividade elevado originando cornijas estruturais free faces que muitas vezes protegem as rochas tenras subjacentes c Clima o clima se caracteriza como elemento morfogenético da maior importância intervindo direta ou indiretamente na vertente Nas regiões desérticas ou glaciais ele age diretamente e onde a cobertura vegetal e o solo se fazem presentes atua indiretamente na vertente promovendo o desenvolvimento tanto da componente perpendicular como da paralela Nos climas tropicais úmidos sob floresta densa a componente perpendicular é intensa produzindo forte e rápida alteração das rochas por meio do processo de pedogenização o que explica o crescente espessamento dos solos Ao contrário nas zonas semiáridas a baixa precipitação restringe o desenvolvimento de solos e as eventuais torrrencialidades pluviométricas respondem pelo transporte de detritos resultantes da morfogênese mecânica a exposição da rocha se torna uma constante permitindo a ação direta dos elementos do clima Assim o clima se constitui no grande responsável pela dinâmica processual desde a elaboração pedogenética componente perpendicular comandada principalmente pelos intemperismos químicos até a ação erosiva componente paralela representada pelos agentes da meteorização movimentos do regolito e demais processos morfogenéticos como os pluvioerosivos nas regiões intertropicais A importância do fator morfoclimático é portanto traduzida pela existência de verdadeiras famílias de formas nas zonas tropicais úmidas há o domínio das florestas com predominância da convexidade geral do perfil com declives médios elevados o modelado é comandado pela alteração química com processos mecânicos subordinados reptação escorregamento nas zonas tropicais secas como no domínio dos cerrados as formas são menos convexas e tendem a um perfil geral retilíneo registrandose topos interfluviais pediplanados ainda preservados a desagregação mecânica é fraca e a alteração química é atenuada pela estação seca prolongada Fatores climáticos pretéritos paleoclimas também devem ser considerados na elaboração das vertentes podendo ser identificados tanto pelas formas específicas como por meio dos depósitos correlativos Exemplos como níveis de pediplanação ou presença de paleopavimentos detríticos normalmente sotopostos por colúvios pedogenizados são freqüentes nas regiões intertropicais Para se entender a relação pedogênesemorfogênese em uma vertente é necessário considerar os componentes do processo geomorfológico Nesse sentido Carson Kirkby 1972 apresentam tais relações numa perspectiva antagônica denominada de força e resistência Considerando que as forças requerem energia e que toda energia em um sistema geomórfico deriva da gravidade e do clima as vertentes sintetizam os principais fenômenos evidenciados em tais circunstâncias o efeito da gravidade no deslocamento da partícula ou da massa força paralela à superfície do terreno e em função das particularidades intrínsecas ao próprio material força perpendicular à superfície Quanto aos fenômenos relacionados ao clima os autores evidenciam os efeitos da temperatura e da água disponíveis considerando os demais processos controlados pelos parâmetros meteorológicos como expansão e contração termal e a influência indireta dos efeitos biológicos Destacam as forças de tensão da água e pressão fluxo da água na superfície overland flow e subsuperfície throughflow impactos pela gota de chuva splash além da expansão de forças descontração Com relação à resistência Carson Kirkby 1972 evidenciam a participação da transmissibilidade capacidade de infiltração umidade do solo e cobertura vegetal como forças de mitigação de impactos morfogenéticos ao mesmo tempo em que consideram o significado da força de atrito shear strenght destacando a importância do ângulo da vertente no plano de fricção o coeficiente do plano de fricção a tensão normal efetiva força interpartícula por unidade de área em relação à superfície cortada2 e a coesão da rocha e dos sedimentos Com relação às mudanças de resistência da rocha em função do intemperismo os autores destacam o modo de desintegração da rocha e a dimensão da partícula dada pelo intemperismo em diferentes rochas Ainda com relação à resistência mecânica do material Rice 1983 observa que uma vertente encontrase sujeita a muitos esforços que surgem de diferentes maneiras e que sua resposta ante os mesmos determina o modelo do movimento e da forma da própria vertente De forma geral o comportamento do material é expresso em função do esforço aplicado e da deformação produzida3 A deformação pode ser produzida de diferentes maneiras segundo a natureza do material No caso dos sólidos a deformação se dá pelo desprendimento elástico Estes distintos comportamentos ante ao esforço são os que constituem as bases que nos permitem distinguir entre fluídos e sólidos Um fluído é uma substância que não pode suportar forças de cizalhamento e a deformação é diretamente proporcional ao esforço aplicado Um sólido é uma substância que possui resistência para suportar um pequeno esforço aplicado e elasticidade para recuperar sua forma original ao cessar o esforço deformante O autor apresenta um gráfico Fig 46 onde se distinguem três tipos de sólidos um sólido rígido onde os esforços pequenos produzem uma deformação incipiente até alcançar um valor crítico conhecido como limite de elasticidade depois do qual se produz uma brusca ruptura um sólido elástico onde pelo contrário existe uma considerável deformação antes que se alcance o ponto de fratura e um sólido plástico em que a deformação encontrase além do limite de elasticidade não produzindo um fraturamento rápido senão um aumento da deformação proporcional ao incremento de esforço A duração do esforço pode ter importantes conseqüências podendo originar deformações elásticas quando aplicada em um curto período de tempo ou provocar uma reptação ou creep se relacionada a um período mais longo A análise desse comportamento constitui o campo da mecânica dos solos que tem utilizado uma série de técnicas para medir a resistência do solo ao cisalhamento como os instrumentos de compressão triaxial Após considerações sobre a interação entre força e resistência Carson Kirkby 1972 apresentam os principais tipos de processos geomórficos em uma vertente movimento de massas fluxo por terra e fluxo de subsuperfície 411Movimentos de Massa Carson Kirkby 1972 classificam os processos relacionados ao movimento de massas Fig 47 quanto à velocidade do movimento de rápido a lento e condições de umidade do material de seco a úmido O resultado é sintetizado por três tipos de movimentos de massa o escorregamento o fluxo e a expansão térmica ou por alívio de carga As formas de escorregamentos Fig 47 representadas principalmente pelos deslizamentos de rochas e de solos encontramse caracterizadas por movimentos rápidos associados a ambientes secos as formas de fluxo identificadas pelo fluxo de terra fluxo de lama e fluxo fluvial também se referem a movimentos rápidos contudo associados a ambiente úmido por último as formas de expansão individualizadas pelo creep de solo sazonal referese a movimento lento em condição ambiental indistinta Em condição transicional destacamse o talus creep relacionado a um clima seco e a solifluxão correspondente a um clima mais úmido Com relação aos movimentos de massa ou do regolito Christofoletti 1980 apresenta considerações sobre os diferentes processos geomórficos Na oportunidade chamase atenção para o esquema simplificado Fig 48 por Sharpe 1938 apud Bloom 1970 a Rastejamento creep ou reptação corresponde ao deslocamento das partículas de forma lenta e imperceptível dos vários horizontes do solo Estudos demonstram que esse movimento é maior na superfície diminuindo gradualmente com a profundidade chegando a ser nulo O creep é um fenômeno que pode ocorrer naturalmente em condições de biostasia e sua freqüência se relaciona ao declive e à característica do material Assim quanto maior o declive e maior a plasticidade do material presença de argila maior a propensão ao deslocamento podendo assumir formas de movimentos mais rápidos A velocidade do rastejamento é de poucos centímetros por ano sendo perceptível em postes muros e árvores Não apresenta superfície de ruptura bem definida plano de movimentação os limites entre o material em movimento e o terreno estável são transicionais Como indutores do creep podese considerar o pisoteio do gado o crescimento de raízes e a escavação de buracos por animais Dentre os principais fatores associados à gênese do creep ou rastejamento destacamse a expansão e retração produzida pelo gelo nas regiões periglaciais embora possam ser também evidenciadas em ambientes úmidos como nas regiões intertropicais As evidências de ocorrência deste tipo de movimento são as trincas verificadas em toda extensão do terreno natural que evoluem vagarosamente bem como as árvores que apresentam inclinações variadas Esta movimentação pode comprometer desde pequenas obras casas sistema de drenagens até grandes pontes viadutos IPT 1991 b Solifluxão corresponde aos movimentos coletivos do regolito quando este se encontra saturado de água podendose deslocar alguns centímetros ou poucos decímetros por hora ou por dia Christofoletti 1980 p28 Geralmente acontece após o rompimento do limiar de fricção determinado pela presença de água entre o material intemperizado e a rocha subjacente O rompimento do limite de fluidez muitas vezes é favorecido pela presença de argila no contato com a camada rochosa do embasamento evidenciado com freqüência maior nas regiões periglaciais pela gelifluxão fusão do gelo na primavera Para Bloom 1970 a solifluxão não é um processo restrito ao solo congelado É uma forma de movimento do regolito comum a qualquer zona onde a água não pode escapar de uma camada saturada de regolito Uma camada de argila no solo ou uma camada rochosa do embasamento impermeável poderá provocar solifluxão de modo tão eficiente quanto o substrato congelado Retomamse as observações de Tricart 1957 quanto ao fato de que uma argila soliflue uma areia não soliflue c Fluxos de terra ou de lama são movimentos do regolito muito similares à solifluxão diferindo destas por serem rápidos e atingirem maiores dimensões Geralmente registrase o rompimento das tênues ligações entre as partículas argilosas e a água momento em que a massa liqüefazse espontaneamente Embora comuns nas regiões periglaciais algumas vezes afetados por abalos sísmicos esses fenômenos segundo Carson Kirkby 1972 ocorrem com certa freqüência nas regiões intertropicais em morfologia movimentada como registrado na Serra do Mar associados ao período chuvoso Fluxos de terra e de lama contém água suficiente para se moverem em fluxo turbulento e sabese que são capazes de erodir canais à medida que fluem Se mais água é envolvida o movimento é considerado como de transporte por fluxo de água em lugar de movimento do regolito Bloom 1970 d Avalancha é o fluxo coletivo do regolito mais rápido que se conhece movimentando enormes volumes de materiais Tratase de processos envolvendo gelo e neve além de fragmentos rochosos que começam com uma queda livre de massa Bloom 1970 e Deslizamentos e desmoronamentos correspondem ao deslocamento de massa do regolito sobre o embasamento saturado de água A função de nível de deslizamento pode ser dada por uma rocha sã ou por um horizonte do regolito possuidor de maior quantidade de elementos finos de siltes ou argilas favorecendo atingir de modo mais rápido o limite de plasticidade e o de fluidez Christofoletti 1980 p29 Setembrino Petri prefaciando o trabalho de Bloom 1970 exemplifica o fenômeno de desmoronamento através dos episódios registrados na Serra do Mar região de Santos como os de 1928 e 1956 e o episódio registrado em Caraguatatuba em 1967 Para Bloom 1970 a superfície de ruptura de um bloco desmoronado possui forma de colher estando o bloco desmoronado freqüentemente adernado para trás em função da rotação que sofre à medida que a parte inferior movese para baixo ou para fora Tais processos também são denominados de escorregamentos A geometria destes movimentos pode ser circular planar ou em cunha em função da existência ou não de estruturas ou planos de fraqueza dos materiais movimentados que condicionem a formação de superfícies de ruptura IPT 1991 p19 O tipo de escorregamento comum em encostas ocupadas é o induzido ou seja potencializado pela ação antrópica muitas vezes mobilizando materiais produzidos pela própria ocupação depósitos tecnogênicos representados por aterro entulho lixo dentre outros Os desmoronamentos poderão ser causados por rios ou ondas cortando a base de uma encosta São comumente também resultados de projetos de engenharia falhos cortando aterros Bloom 1970 A representação que se segue Fig49 procura esquematizar o fenômeno A água se caracteriza principalmente nas regiões intertropicais como principal agente detonador dos movimentos gravitacionais de massa Assim por exemplo sua ação pode se dar através da elevação do grau de saturação nos solos diminuindo a resistência destes especialmente as parcelas de resistência relacionadas às tensões capilares e às ligações por cimentos solúveis ou sensíveis à saturação O aumento do peso específico do solo devido à retenção de parte da água infiltrada é outro condicionante de instabilização que incide nos taludes IPT 1991 p25 412 Efeito splash rainsplash transport De acordo com Guerra 1999 a ação do splash também conhecido por erosão por salpicamento Guerra Guerra 1997 em português é o estágio mais inicial do processo erosivo pois prepara as partículas que compõem o solo para serem transportadas pelo escoamento superficial Trabalhos experimentais têm demonstrado o significado da ação morfogenética do pingo da chuva responsável pela desagregação do material sobretudo quando a superfície da vertente encontrase desprotegida Carson Kirkby 1972 citam deslocamento de partículas desde curtas distâncias da ordem de alguns milímetros até maiores distâncias podendo atingir o raio de 10 centímetros em relação ao ponto de impacto Da mesma forma o splash move diretamente detritos em torno de 10 mm de diâmetro e indiretamente pode deslocar fragmentos de maiores dimensões Guerra 1999 chama atenção ainda para a formação de crostas superficiais que provocam a selagem dos solos o papel do splash varia não só com a resistência do solo ao impacto das gotas de água mas também com a própria energia cinética das gotas de chuva Dependendo da energia impactada sobre o solo vai ocorrer com maior ou com menor facilidade a ruptura dos agregados formando as crostas que provocam a selagem dos solos A compactação resultante do impacto de gotas de chuva cria uma crosta superficial de 01 a 30 mm de espessura Farres 1978 que pode implicar redução da capacidade de infiltração superior a 50 dependendo das características do solo Morin et al 1981 413 Erosão associada ao fluxo superficial Para se ter uma idéia das diferentes formas de escoamento da água em uma vertente apresentase esquema utilizado por Carson Kirkby 1972 denominado de balanço hidrológico próximo à superfície Fig 410 Como se vê a água precipitada sobre uma vertente apresenta vários caminhos Parte é evapotranspirada e outra é armazenada ou ainda interceptada pelo dossel momento em que se registra o fluxo pelo tronco A partir de então se tem o processo de infiltração na zona de maior permeabilidade podendo chegar a maiores profundidades com armazenamento da umidade no solo e fluxo de subsuperfície throughflow O excedente ou o que não foi infiltrado fica armazenado em depressões superficiais onde parte é evaporada e outra escoada na superfície overland flow podendo integrar o fluxo fluvial Observase que a interceptação constituise em importante componente na ciclagem da água de uma vertente devendo a exemplo de outros fatores ser levada em consideração quanto às decisões sobre o manejo das áreas ocupadas por florestas A morfodinâmica pluvial mantém uma estreita relação com a disposição do substrato representada pelo declive e forma da vertente e pela interfácie vegetaçãopedogênese Há nessa condição estreita relação entre o índice de erosão físicoquímica e o estado hidrológico do solo comumente registrase ausência ou insignificância de perdas quando o solo se apresenta em condição de desidratação por mais de três dias capacidade de campo e ao mesmo tempo uma progressão geométrica das perdas em caso de precipitações contínuas quando o solo encontrase com sua capacidade de campo máxima Os efeitos erosivos não deixam de apresentar contudo uma grande relação de dependência com a intensidade e duração das chuvas A queda e o escoamento da água precipitada exercem importante papel quanto aos detritos de vertente Diferentes combinações entre força e resistência produzem um número significativo de processos que dão origem à erosão do solo entre os quais se incluem o movimento de partículas desagregadas pelo impacto da gota de chuva efeito splash ou raindrop impact e o fluxo por terra ou escoamento superficial caracterizado pela ação difusa laminar podendo passar a ação concentrada O fluxo por terra ou processo de escoamento superficial acontece sempre que parte ou até mesmo o total da água precipitada deixa de infiltrar As principais razões do escoamento superficial são a baixa densidade ou ausência da cobertura vegetal a declividade quando permite o desenvolvimento da componente paralela o comportamento do material de superfície a capacidade de campo 4 a intensidade e duração das chuvas dentre outras variáveis Com base em Robertson Rouse 1941 o fluxo de água ocorre em um dos dois tipos tranqüilo ou torrencial O ponto de mudança de tais características depende da relação entre a força inercial e gravitacional o que pode ser expresso através da representação que se segue Fig 411 Dependendo dos fatores intrínsecos como declividade e geometria da vertente uso e ocupação do solo e dos fatores extrínsecos como intensidade e duração das chuvas temse as diferentes formas de escoamento convencionalmente denominadas de difusa laminar e concentrada a O fluxo difuso quase sempre encontrase associado à rugosidade do terreno que gera resistência de atrito ao escoamento superficial pela presença da cobertura vegetal Para Selby 1994 os valores registrados de velocidade do escoamento superficial variam de 00015 a 03 m s 1 o que é suficiente para transportar silte e areia fina Esse mecanismo depende entre outros fatores da geração de fluxos de chuva e sua escala temporal de atuação depende da duração e da intensidade dos eventos chuvosos Oliveira 1999 b O fluxo laminar é a forma mais lenta e insidiosa de erosão pois ao contrário da erosão em sulcos ou da erosão que origina boçorocas esse tipo não é perceptível a curto e médio prazo e ocasiona prejuízos incalculáveis ao agricultor c O fluxo concentrado resulta da convergência do escoamento superficial em função de microdepressões no terreno ou ainda da própria geometria da vertente como aquelas correspondentes a radiais côncavas e contornos côncavos na classificação de Troeh 1965 Em tais circunstâncias temse via de regra o processo de corrosão ou alargamento do canal que resulta do efeito do impacto de partículas sobre o material estático do fundo e das bordas do canal Esse tipo de escoamento pode levar à formação de sulcos ou ravinas onde a velocidade de escoamento é da ordem de 03 m s 1 Oliveira 1999 enumera outras formas de escoamento superficial que originam processos erosivos a por queda dágua correspondente à água de escoamento superficial que desemboca no interior de incisões erosivas tipo cascata onde a evorsão promove a escavação de depressão na seção imediata ou no nível de base local formas conhecidas por marmitas ou caldeirões também observadas ao longo de corredeiras fluviais b solapamento da base de taludes correspondente a filetes subverticais de escoamento superficial Oliveira et al 1995 c liquefação de materiais de solo quando os materiais inconsolidados se comportam como fluido estando presentes dois mecanismos que se integram a fluidização e a liquefação 4131 Principais feições morfológicas associadas ao fluxo por terra a Fluxo difuso O fluxo difuso relacionase ao escoamento em superfícies rugosas onde obstáculos como a presença de cobertura morta ou serapilheira vegetação de subbosque ou gramíneas dificultam o fluxo por terra mesmo que se registre um certo superavit da água escoada em relação à água infiltrada Geralmente não deixa marcas ou feições significativas no modelado Esse fato leva a deduzir que embora momentaneamente haja um excedente de água escoada decorrente do limite de infiltração os efeitos dos dissipadores naturais induzem uma percolação retardada principalmente quando as condições topográficas como bacias de decantação favorecem o represamento da água proveniente do fluxo difuso b Fluxo laminar O fluxo laminar é responsável por uma erosão oculta podendo ocorrer de forma relativamente continuada sem contudo deixar marcas empiricamente observáveis na vertente Casseti 1983 trabalhando com parcelas experimentais no Planalto de Goiânia obteve resultados significativos de perdas de solo em áreas de cultivo Tab 42 relacionadas ao fluxo laminar Tab 42 Perda de solo na bacia do ribeirão João Leite GoiâniaGO Constatase estreita relação entre as perdas de solo e a modalidade de uso ou presença de cobertura vegetal bastando observar que enquanto em parcelas representadas por mata tropical a perda anual foi de 21 gramas de sedimentos por hectare 10000 m 2 por ano nas parcelas de cultivo foi de 4165 quilos para a mesma unidade de áreaano As observações realizadas durante uma série meteorológica demonstram com relação às diferentes parcelas uma maior saída de material no primeiro semestre da série agostojaneiro justificada pelo comportamento físico do solo maior intensidade das chuvas e efeitos do manejo preparação da terra para o plantio na parcela referente ao cultivo enquanto a pluviometria correspondeu a 5938 da precipitação total na série a perda de solo foi de 7330 e a perda de água por escoamento foi de 6394 em relação ao total pluviométrico anual Assim ao mesmo tempo em que o manejo do solo contribui para maior arraste de material determinado pela desagregação mecânica como no processo de aração também favorece o aumento da infiltração por romper eventuais formações de crostas e selagem do solo normalmente associadas a processos antecedentes Outro aspecto importante obtido nas experimentações foi a forte correlação existente entre a perda de solo e o total pluviométrico Fig 412 registrandose crescimento exponencial da perda de material em áreas de cultivo Quanto à disposição da vertente Casseti 1983 observa que apesar de geralmente se atribuir grande importância ao declive a forma geométrica da vertente apresenta relevância no resultado de perdas de terra apesar de uma relação de relevo5 significativamente elevada em determinadas parcelas O modelo de vertente representado por comprimento e largura côncavos apresentou menor erodibilidade considerando ser esta forma caracterizada por uma tendência decrescente do perfil de equilíbrio redução da declividade em direção a jusante no seu estágio evolutivo Com relação à perda de água ou ao volume de água escoada por parcela Tab 42 registrase também estreita correspondência com a modalidade de uso ou cobertura vegetal nas respectivas áreas Além do volume de água escoada foi avaliada a quantidade de macronutrientes transportada através do fluxo por terra associada a processo de solubilização Constatouse que o teor de macronutrientes solubilizados encontrase numa relação inversa às perdas registradas visto que nas matas é que se encontra a maior perda de macronutrientes representados pelo cálcio magnésio potássio e fósforo Casseti 1983 estima que o provável aumento do percentual de bases trocáveis e a mineralização da serapilheira se constituam nos principais elementos responsáveis pelo acréscimo dos macronutrientes nas perdas de água em mata condicionando apesar do fraco escoamento verificado uma saída considerável por solubilização Com base em levantamentos realizados o IPT 1989 constatou que a perda de solos por erosão laminar acelerada desencadeada pela ocupação humana depende de fatores naturais que podem ser agrupados em três conjuntos a ligados à natureza do solo envolvendo principalmente as suas características físicas e morfológicas tais como textura estrutura permeabilidade dentre outras b ligadas à morfologia do terreno envolvendo a conformação da encosta no que se refere principalmente à declividade e comprimento da encosta e c ligados ao clima envolvendo essencialmente a quantidade de água que atinge a superfície do terreno causando remoção do solo através de chuvas A EUPS Equação Universal de Perda de Solos de Wischmeier Smith 1978 tem sido uma das mais importantes referências para o cálculo de perda de solo associado à erosão laminar A equação é expressa pela seguinte relação ARKLSCP onde A perda de solo thaano R erosividade poder erosivo das chuvas Mjmmhahano K erodibilidade do solo suscetibilidade dos solos à erosão th Mjmm LS fator topográfico declividade e comprimento da vertente adimensional C fator usocobertura vegetal e manejo adimensional P fator práticas conservacionistas adimensional Para Salomão et al 1990 a perda de solos por erosão laminar acelerada desencadeada pela ocupação humana erosão antrópica depende de fatores naturais que podem ser agrupados em três conjuntos ligados à natureza do solo envolvendo principalmente as suas características físicas e morfológicas tais como textura estrutura permeabilidade etc a erodibilidade K ligados à morfologia do terreno envolvendo a conformação da encosta no que se refere principalmente à declividade e comprimento da encosta o fator topográfico LS ligados ao clima envolvendo essencialmente a quantidade de água que atinge a superfície do terreno causando remoção do solo através de chuvas a erosividade R Primeiramente serão explicitados os fatores que compõem esses três conjuntos naturais Em seguida os fatores C usocobertura vegetal e manejo e P práticas conservacionistas que constituem os fatores antrópicos Erosividade R O fator erosividade R é um índice numérico que expressa a capacidade da chuva em causar erosão em uma área sem proteção Bertoni Lombardi Neto 1990 É a influência da chuva sobre as perdas de solo desde que todas as outras variáveis permaneçam constantes ou seja a erosividade é a capacidade potencial da chuva em causar erosão ao solo Stein et al1987 Os valores de erosividade foram obtidos pela fórmula sugerida por Lombardi Neto 1977 cujos índices foram propostos pelo próprio autor com base nos dados disponíveis sobre precipitações pluviométricas e adaptados para a região de Goiás Nascimento 1998 EI 89823 p2 P0759 onde EI índice médio de erosividade por um período anual p precipitação média mensal P precipitação média anual Bertoni Lombardi Neto 1990 demonstraram que os valores obtidos em EI traduzem com razoável precisão os valores de EI 30 utilizandose apenas totais de precipitação em milímetros Erodibilidade K A erodibilidade referese às propriedades inerentes ao solo textura estrutura porosidade e profundidade e reflete a sua suscetibilidade à erosão Uma descrição diagramática do processo erosivo está ilustrada na representação adiante Fig 413 Bertoni Lombardi Neto 1990 destacam dentre as propriedades do solo que influenciam na erosão aquelas que controlam a velocidade de infiltração da água a permeabilidade e a capacidade de absorção e aquelas ligadas à coesão que resistem à dispersão ao salpicamento à abrasão e às forças de transporte da chuva e enxurrada Fator Topográfico LS O relevo é um dos fatores mais importantes no condicionamento da erosão pois o modelado terrestre é constituído em sua maior parte por vertentes O cálculo do fator topográfico é um dos mais complexos na equação de perda de solos Várias metodologias foram elaboradas por diversos autores na tentativa de uma melhor representação dessa variável Continuase ainda procurando a melhor forma de se efetuar esse cálculo Uma limitação a todas as tentativas é o fato de se considerar a uniformidade da paisagem não se levando em consideração o perfil da vertente seja côncavo convexo ou retilíneo o que pode subestimar ou superestimar as perdas de solos O comprimento da vertente é entendido como a distância entre dois pontos extremos um mais elevado outro mais baixo de igual declividade visto que havendo mudança no ângulo do declive há mudança de processos erosivos que afetam a perda de solo Utilizandose o conceito tradicional de vertente em geomorfologia consideramse aqui os segmentos de vertentes e não a vertente toda do interflúvio ao vale A interação dessas duas variáveis declividade e extensão das vertentes no condicionamento de perdas de solo levaram Bertoni Lombardi Neto 1990 a considerarem mediante formulação específica maior influência da declividade S em relação ao comprimento da vertente L Na equação LS 000984L 063 S 118 L é o comprimento da vertente em metros e S a declividade em porcentagem Fator UsoManejo e Práticas Conservacionistas CP O fator Uso e Manejo do solo C é definido como a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno cultivado em dadas condições tipo de cobertura vegetal seqüência de culturas e práticas de manejo e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente descoberto e cultivado Wischmeier Smith 1965 Bueno 1994 esclarece que o uso e o manejo são considerados individualmente quando se buscam formas mais adequadas de produção agrícola em harmonia com o meio físico entretanto ao enfocar perdas de solo por erosão essas variáveis estão intrinsecamente relacionadas não se podendo analisálas separadamente O uso de uma gleba de terreno pode ser estabelecido sob diferentes manejos tanto quanto um mesmo manejo pode ser aplicado a vários usos Cada combinação refletirá uma determinada perda de solos O fator P da equação é definido por Bertoni Lombardi Neto 1990 como sendo a relação entre a intensidade esperada de perdas em culturas adotando determinada prática conservacionista e as perdas que acontecem quando a cultura está plantada no sentido do declive morro abaixo ou seja desprovida de qualquer preocupação conservacionista Os autores relacionam como práticas conservacionistas mais comuns o plantio em contorno o plantio em faixas de contorno o terraceamento e a alternância de capinas A cada tipo de prática atribuem um valor numérico Oliveira 1999 destaca como principais exemplos de feições erosivas relacionadas ao fluxo por terra os pedestais demoiselles os sulcos e ravinas e por fim as boçorocas as quais passam a ser analisadas a seguir Os pedestais demoiselles indicam a ocorrência de salpicamento splash intercalado com remoção das partículas pelo escoamento superficial Em geral essas feições são formas residuais esculpidas abaixo de um objeto cuja densidade não permitiu a sua remoção grânulos e seixos de minerais variados São muito comuns no interior de incisões erosivas ou em vertentes desprovidas de vegetação e fornecem de imediato um parâmetro para estimar a taxa de ablação pluvial da superfície nas quais são esculpidas Oliveira 1999 c fluxo concentrado Os sulcos e ravinas referemse a feições relacionadas ao fluxo concentrado Encontramse relacionados ao fluxo por terra que se concentra em função das condições topográficas caminhos preferenciais entendidos como rotas de organização do escoamento superficial O fenômeno encontrase associado às características dos componentes intrínsecos como declividade e resistência mecânica dos agregados que compõem o material intemperizado favorecendo o grau de incisão vertical da erosão comandada pela ação remontante Diante disso além da gênese de sulcos ou ravinamentos observamse outras formas associadas ao processo como as alcovas de regressão feições erosivas na forma de filetes subverticais dutos de convergência dentre outras Oliveira 1999 ressalta a existência de dutos de convergência e caneluras comuns em incisões de pequeno porte e entre sulcos ou ravinas descontínuas marmitas ou panelas plungingpool associadas a processos evorsivos por quedas dágua na base de taludes ou degraus no interior de boçorocas bem como quedas de areia vinculadas à liquefação espontânea de materiais inconsolidados e nãocoesivos e quedas de torrões correspondentes a movimentos de massa associados ao solapamento da base de taludes As boçorocas designação mais apropriada considerando a derivação do tupiguarani ibçoroc terra rasgada rasgão no solo desenvolvemse por processos análogos aos dos vales aprofundamse por erosão vertical alongamse por erosão regressiva e alargamse por degradação das encostas Leuzinger 1948 As erosões por boçorocas constituem o estágio mais avançado da erosão sendo caracterizadas pelo avanço em profundidade das ravinas até atingirem o lençol freático ou o nível dágua do terreno A intersecção da superfície do terreno com o nível dágua propicia a erosão interna ou piping que além de promover a remoção de material do fundo e das paredes da boçoroca pode avançar para o interior do terreno carreando material em profundidade e formando vazios no interior do solo Estes vazios têm a forma de tubos piping ou entubamento que ao atingirem proporções significativas dão origem a colapsos ou desabamentos que alargam ou criam novos ramos na boçoroca IPT 1991 Estudos realizados por Casseti 198788 nos desbarrancados de PalmeloGO considerou a participação das seguintes variáveis no processo erosivo Fig414 a precipitação intensidade e freqüência b topomorfologia gradiente comprimento de rampa e forma geométrica e c formação superficial estrutura e textura Como variáveis extrínsecas foram consideradas as derivações antropogênicas Para o IPT 1989 três características mostraramse fundamentais para o desenvolvimento da erosão por ravinas e boçorocas a textura evidenciandose forte susceptibilidade exclusivamente em solos com textura arenosa e média a estrutura registrandose maior incidência de ravinas e boçorocas em solos de estrutura prismática e a profundidade do solo pois não se constata ocorrência de boçoroca de grande porte em solos rasos Quanto ao relevo registrase como fator de vulnerabilidade as rupturas de declives geralmente situadas em cabeceiras de drenagens Quanto ao substrato rochoso observase maior vulnerabilidade nos solos relacionados a formações areníticas ou rochas cristalinas quartzosas bem como sedimentos de origem alúvio coluvionar de meia encosta A ação antrópica tem uma participação muito grande na elaboração de ravinas e boçorocas tanto relacionada ao processo de ocupação quanto a obras de engenharia sem adoção de medidas mitigadoras O IPT agrupa as boçorocas em dois grandes tipos quanto à gênese a causadas por alterações hidrológicas das bacias de contribuição das drenagens associadas a desmatamentos e b originadas por concentração das águas superficiais O primeiro grupo encontrase relacionado a desequilíbrio hidrológico gerando alterações no regime de vazões e criando condições para o surgimento do piping com conseqüente erosão remontante fenômeno conhecido como retomada de erosão de cabeceiras O segundo grupo encontrase vinculado ao lançamento concentrado de águas pluviais e servidas em drenagens como nas seções periurbanas ao longo de estradas áreas de manejo agrícola inadequado trilhas de gado entre outras A intensificação do fluxo por terra escoamento é proporcional ao declive ao comprimento de rampa e ao grau de convexidade da vertente demonstrando tendência à susceptibilidade erosiva sobretudo quando outras variáveis são ativadas como a suscetibilidade erosiva da formação superficial e intervenções antropogênicas Enquanto o gradiente e o comprimento da vertente implicam aumento da energia cinética do escoamento pluvial a disposição geométrica responde por processos mais complexos No esquema proposto por Ruhe 1975 por exemplo a forma convexa proporcionaria o predomínio do fluxo laminar com velocidade crescente em função do gradiente ao contrário da forma côncava que tenderia à redução dessa velocidade As formações superficiais juntamente com as derivações antropogênicas abertura de estrada morro abaixo por exemplo respondem por compactação e impermeabilização da superfície implicam redução da infiltração resistência à penetração do sistema radicular e conseqüente aumento do escoamento intensificando o potencial erosivo Quanto maior a vulnerabilidade do material como os arenosos maior a propensão à erosão a exemplo das formações superficiais associadas à intemperização dos arenitos mesozóicos de fácie eólica A complexidade dos processos erosivos responsáveis pela gênese de boçorocas tem sido mencionada em diversos trabalhos destacando Guidicini Nieble 1976 Bigarella Mazuchowski 1985 Cavaguti 1994 dentre outros Selby 1994 observa que as boçorocas se formam quando pelo menos três fatores se fazem presentes aumento local da declividade concentração de fluxos de água e remoção de cobertura vegetal Oliveira 1999 apresenta modelo evolutivo de boçorocas modificado de Oliveira Meis 1985 e Oliveira 1989 São três os principais modelos apresentados boçoroca conectada à rede hidrográfica boçoroca desconectada da rede hidrográfica e integração entre os dois tipos Fig 415 O autor relata que as taxas de erosão foram mais importantes no sistema conectado 250429 m 3 ano 1 do que no desconectado 4815 m 3 ano 1 e se relacionam com chuvas concentradas durante os meses que caracterizam o verão úmido da área de estudo período no qual a sinergia entre mecanismos individuais pode atingir mais eficiência na remoção do material Durante o período de monitoramento 12 anos as incisões desconectadas expandiramse para montante e construíram um cone de dejeção a jusante já a incisão conectada à rede de drenagem expandiuse para montante linearmente ao longo de 8315 m Oliveira 1999 O autor apresenta esquema das principais rotas de fluxo no momento da integração entre boçoroca conectada e desconectada Fig 416 Em síntese à extensão regressiva da incisão conectada estaria associada a dissecação linear da incisão desconectada Oliveira 1999 Cadastramento de erosão realizado na área urbana e periurbana de GoiâniaGO por Nascimento 1994 evidencia os principais fatores responsáveis por boçorocamentos entre os quais destacase o crescimento desordenado da cidade sobretudo nos dez últimos anos com lançamento de esgoto e águas servidas através de galerias pluviais à meiaencosta e o subdimensionamento dessas obras Erosão associada ao escoamento de subsuperfície O escoamento de subsuperfície pode carrear quantidade variável de grãos de solo partículas de argila e outros colóides além de material em solução iônica Algumas mudanças de estado se dão durante o transporte tornandose impraticável a distinção rígida entre dissolução e transporte em suspensão Dentre os fatores que geram fluxo de subsuperfície podem se considerar as descontinuidades de horizontes pedogênicos e os contatos litoestratigráficos diferenciados por fatores texturais No primeiro caso destacamse os solos com horizonte B textural Bt como os Podzólicos Brunizéns dentre outros que em função da elevada concentração da argila no horizonte iluvial proporciona fluxo de subsuperfície paralelo à camada menos permeável Nos contatos litoestratigráficos como das estruturas sedimentares portadoras de texturas diferenciadas a exemplo dos patamares da serra da Portaria ParaúnaGO entre camadas arenosas e silto argilosas o confinamento da água percolada implica gênese de fontes de camada e aluição de material associado ao piping O fenômeno pode se dar também nos casos de litologia subjacente impermeável como dos basaltos portadores de maior macividade responsáveis pelo armazenamento da água percolada implicando fluxo de subsuperfície Nos exemplos apresentados registramse forças de ação de natureza física e química no material intemperizado As forças físicas se manifestam através da viscosidade ao longo das margens do fluxo cuja magnitude encontrase relacionada à porosidade da seção Forças eletroquímicas assumem maior importância sob pequenas partículas partículas coloidais e partículas moleculares Dentre os processos que aparecem em tais circunstâncias evidenciase o piping comumente relacionado às diferenças texturais de seqüências litoestratigráficas ou de horizontes pedológicos estruturais que respondem por escoamento de subsuperfície podendo ser acompanhado pela solução química de certos componentes minerais O processo evolutivo de formas associadas ao piping responde pela origem de sistema de cavernas ou dutos Na área de saída do fluxo confinado podese ter a presença de alvéolos nas paredes também denominados de alcovas de regressão por encontraremse associadas à erosão remontante A ação coloidal se constitui na principal forma de erosão associada à água de subsuperfície Para Hurst 1975 os sistemas coloidais importantes para o intemperismo são notadamente as suspensões nas quais a fase dispersa é matéria orgânica ou mineral e o meio dispersante é água ou solução aquosa As partículas do tamanho de colóide podem naturalmente resultar de precipitação dissolução degeneração bacteriológica ou trituração física pulverização Como exemplo de mobilidade dos elementos coloidais temse os silicatos que se quebram em solução variada e reações de troca iônica os íons que estão dissolvidos ou fixos aos colóides dispersos podem ser transportados pela água subterrânea para longe do seu ponto de origem Produtos de decomposição menos solúveis ou adsorvidos6 por géis7 tendem a permanecer onde se originaram concentrandose como produtos residuais do intemperismo 42 Relação VertenteSistema Hidrográfico O conceito de vertente lato sensu trata das relações entre os processos inerentes à vertente stricto sensu e suas relações com o sistema hidrográfico correspondente ao nível de base local Assim ao mesmo tempo em que qualquer alteração no nível de base produz modificações nos processos erosivos sobre a vertente stricto sensu também estes podem gerar conseqüências no nível de base ou até mesmo no sistema hidrográfico No primeiro caso os ajustamentos tectônicos e as alterações climáticas geram alterações processuais a exemplo do provável soerguimento ocorrido entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno responsável pelo alçamento de terraços fluviais que por sua vez ativaram os processos erosivos locais As oscilações climáticas pleistocênicas ora responderam pelo entulhamento de talvegues em função do recuo paralelo de vertentes em condições de semiaridez ora intensificaram a retirada do material depositado dada a reorganização do sistema hidrográfico com o retorno do clima úmido O entulhamento mencionado produzia alterações morfogenéticas aceleração denudacional alterando as relações processuais na vertente stricto sensu redução denudacional No segundo caso há de se considerar as derivações antropogênicas nas vertentes que após desmatamento sofre aceleração das atividades erosivas com perdas de solo levando ao assoreamento de canais elevação do nível de base Essa relação pode ser evidenciada no sistema de referência de Penck 1924 quando afirma que a vertente evolui em função da disposição do talvegue correspondente ao nível de base para o comportamento dos processos morfogenéticos Também pode ser considerada na teoria biorresistásica de Erhart 1956 tanto na condição de biostasia quanto na de resistasia Na condição de biostasia a cobertura vegetal é responsável pelo domínio da componente perpendicular responsável pela pedogenização Essa por sua vez permite o armazenamento de grande potencial hídrico que por efluência abastecerá o curso dágua que deverá ser perene Na condição de resistasia associada à ocupação humana da vertente os processos se alteram O aumento da erosão laminar e da concentração promove o assoreamento do sistema de drenagem podendo colocar em risco a vida útil de barragens e açudes e provocar problemas em todo o sistema fluvial Além disso a deficiência hídrica do solo apresenta reflexos na perenidade dos cursos dágua Os agentes do intemperismo representados principalmente pelo escoamento superficial erosão laminar e concentrada além de responder por assoreamento do sistema de drenagem promovem deficiência hídrica no solo com reflexos na intermitência ou efemeridade dos canais fluviais Em condições de agravamento de impactos gerando desequilíbrio biostásico tem se registrado a implementação de medidas lineares ou pontuais quando o problema é de natureza areolar ou zonal Como exemplo o assoreamento nas áreas urbanas tem sido combatido com a dragagem de canais uma interferência exclusiva no sistema linear no próprio leito do rio quando as causas correspondem a uma dimensão areolar a vertente como um todo Uma das mais sérias conseqüências provocadas pelo assoreamento dos cursos dágua e de reservatórios é a disritmia quanto à recorrência de enchentes e a perda de capacidade de armazenamento dágua gerando problemas de abastecimento e de produção de energia Levantamento sedimentométrico realizado por Casseti 1989 no baixo ribeirão João Leite município de GoiâniaGO demonstra as conseqüências ambientais decorrentes do processo de ocupação e transformação das vertentes marginais A perda de solo estimada através da concentração de sedimentos em suspensão identifica estreita correlação com o total pluviométrico embora com certo retardo Fig 417 A título de exemplo o máximo de concentração constatado na série 198788 de 3092 mgl janeiro de 1988 não foi determinado pela intensidade ou duração pluviométrica imediata pluviofase que correspondeu a menos de 40 mmdia mas pelo comportamento anterior que evidenciava estado de saturação hídrica da superfície capacidade de campo Os dados obtidos na série hidrológica de um ano de observação permitiram inferir a existência de um transporte médio de sedimento em suspensão da ordem de 11171 tdia registrandose máxima de 77110 tdia associada à ocorrência de enchente abril de 1988 Considerando um transporte anual de 4077415 t de sedimentos em suspensão estimouse para a bacia uma perda de solo aproximada de 0529 toneladashectareano thaa o que pode ser atribuído ao processo de ocupação Tais valores encontramse muito além dos obtidos através de levantamentos em parcelas experimentais Casseti 1983 associadas à mata perda de 021 thaa ou pastagens 0130 thaa porém bem aquém das áreas de cultivo como do arroz 41650 thaa 43 Exemplo de alterações processuais por intervenção antrópica na vertente Dentre os principais problemas relacionados ao processo de ocupação de vertentes destacamse as atividades erosivas geralmente determinadas pelas seguintes causas IPT 1991 Remoção da vegetação Concentração de águas pluviais Exposição de terras susceptíveis à erosão Execução inadequada de aterros O efeito splash se constitui na etapa inicial da erosão seguido pelo escoamento da água sobre a vertente responsável pela retirada e transporte do material desagregado Tais efeitos resultam via de regra da remoção da cobertura vegetal quando da ocupação da vertente agravandose com a remoção de parte dos depósitos de cobertura capa protetora natural contra a erosão A concentração da água pluvial proporciona o aumento da energia cinética que em contato com a superfície exposta desencadeia o processo de erosão Também os diferentes tipos de material que compõem o depósito de cobertura reagem aos efeitos erosivos em função do comportamento destes com destaque para a origem e a textura A exposição do terreno decorrente do decapeamento da vertente por atividades mecânicas movimento de terra é um fator indutor de processos erosivos pela ação da água Se não forem tomadas medidas mitigadoras imediatas há o risco de comprometer irremediavelmente toda a área Outro aspecto causador das atividades erosivas é a construção inadequada de aterro como o simples lançamento de material sobre a superfície natural sem a devida compactação tornando a área suscetível à erosão e comprometendo rapidamente a obra As causas relatadas implicam intensificação dos processos erosivos considerando a tendência de agravamento determinado pelas derivações antropogênicas O rastejo ou creeping pode ser incrementado com a execução de cortes na extremidade média inferior da vertente interferindo na precária estabilidade de uma vertente de inclinação moderada a forte Dentre as principais causas associadas à intervenção humana na indução de escorregamentos destacamse IPT 1991 Lançamento e concentração de águas pluviais Lançamento de águas servidas Vazamentos na rede de abastecimento de água Fossa sanitária Declividade e altura excessivas de cortes Execução inadequada de aterros Deposição de lixo Remoção indiscriminada da cobertura vegetal O IPT 1991 propõe como principais medidas para o gerenciamento de encostas ocupadas a análise ou o diagnóstico de risco e o quadro legal correspondente à legislação concernente ao uso do solo a Análise de risco Entendese por risco a possibilidade de perigo perda ou dano do ponto de vista social e econômico a que a população esteja submetida caso ocorram escorregamentos e processos correlatos IPT 1991 p73 Para prever ou atenuar a possibilidade de riscos tornamse necessárias observações e registros de indicadores de instabilidade tanto naturais quanto produzidos pelas derivações antropogênicas prognosticados sob a ótica das possíveis conseqüências erosivas Propõe metodologia que pode ser assim caracterizada Tab43 Tab 43 Metodologia de ação para diagnóstico de risco b Quadro Legal A caracterização do meio físico deve ser complementada com informações referentes ao quadro legal isto é devese verificar as relações legais à ocupação do solo que existem em nível federal e estadual e se houver em nível municipal Importa ressaltar que a competência dos Municípios nesta matéria é ampla IPT 1991 p74 Apresentamse algumas observações quanto à legislação existente importantes no planejamento da ocupação de áreas de risco A Constituição Federal de 1988 com o objetivo de promover melhor ordenamento do uso e ocupação do solo urbano estabelece em seu Artigo 182 a exigência de Planos Diretores para cidades com mais de 20 mil habitantes A Constituição do Estado de Goiás promulgada em 1989 ratifica em seu Art 85 a exigência de Planos Diretores para localidades com mais de 20 mil habitantes observando a necessidade de serem consideradas as condições de riscos geológicos bem como a localização das jazidas supridoras de materiais de construção e a distribuição volume e qualidade de águas superficiais e subterrâneas na área urbana e sua respectiva área de influência parágrafo 3 º do Art 85 A Constituição do Município de Goiânia além de fazer referência às condições de riscos geológicos e qualidade das águas superficiais e subterrâneas quando da elaboração do Plano Diretor parágrafo 5 º do Art 157 expressa proibições quanto à ocupação ou uso de áreas que implique impacto ambiental negativo como as planícies de inundação ou fundos de vale incluindo as nascentes e as vertentes com declive superior a 40 Art 202 No Art 203 proíbe o desmatamento de toda e qualquer área sem prévia autorização bem como qualquer forma de uso do solo em compartimentos topográficos de risco definidos no Plano Diretor como fundos de vale planícies de inundação ou declives superiores a quarenta por cento O IPT 1991 apresenta capítulo específico voltado ao planejamento da ocupação de encostas partindo do necessário reconhecimento dos graus de risco ou vulnerabilidade do meio físico Esse diagnóstico utiliza elementos como cartas de declividade do terreno comportamento do material formações superficiais e características litológicoestruturais intensidades pluviométricas dentre outros A produção de cartas temáticas culmina na elaboração de Carta Geotécnica responsável pela espacialização de áreas permissíveis ou restritivas ao uso e ocupação dos compartimentos A cartasíntese que tem por princípio subsidiar a gestão do território permite a identificação de áreas produtivas e críticas bem como das áreas institucionais que levam em consideração as restrições legais O manual do IPT 1991 chama atenção para as principais leis aplicáveis aos municípios onde se deve considerar parcelamento urbano apenas em regiões que integrem efetivamente o perímetro urbano do município setorização da cidade em zonas de uso industrial comercial residência etc exame pela Prefeitura do projeto de ocupação assegurando a conexão adequada ao sistema viário circundante enquadramento às posturas municipais referentes a loteamentos arruamentos córregos drenagens etc Em nível estadual e federal as principais leis estão relacionadas a faixas não edificáveis ao longo de ferrovias rodovias dutos linhas de transmissão córregos etc preservação ambiental de áreas específicas constantes do Código Florestal dentre outras características a serem adotadas nos loteamentos Lei 676679 e leis estaduais correspondentes São feitas considerações quanto à definição do traçado mais favorável do arruamento tendo por princípio acompanhar as condições naturais do terreno evitandose ao máximo os movimentos de terra interferências do traçado do sistema viário sobre os lotes e drenagem além de estabeleceremse critérios para a concepção de loteamentos definição de formas e áreas de lotes mais favoráveis definição de quadras mais favoráveis drenagens e esgotamento sanitários em grupos de lotes concepção das habitações tipologia básica de projetos de habitações específicas para encostas e projetos de reurbanização 431 Problemas relacionados aos fundos de vale Considerando os compartimentos morfológicos em Goiânia GO com exceção dos Planaltos Residuais e alguns pontos isolados do município a declividade não é tão significativa a ponto de merecer maior preocupação no que se refere aos movimentos de massas Por outro lado a ocupação dos fundos de vales e planícies de inundação tem se constituído em motivo de maior atenção dado o volume de impactos assistidos No exemplo referente ao quadro legal observouse que a legislação municipal restringe o uso e ocupação de fundos de vale e planícies de inundação contudo a apropriação clandestina de tais compartimentos de risco tem contribuído para o desencadeamento de uma série de problemas de natureza sócioambientais Cunha 2000 ao diagnosticar os impactos socioambientais decorrentes da ocupação da Vila Roriz localizada na coalescência das planícies de inundação do rio Meia Ponte e do ribeirão Anicuns em GoiâniaGO evidenciou os reflexos hidrodinâmicos dos depósitos tecnogênicos construídos pelo poder público Fig 319 No perfil apresentado pelo autor constatase a existência de um conjunto clástico com mais de 4 m de espessura assentado sobre depósitos aluvionares holocênicos O aterro é composto por entulhos domésticos material arenoargiloso cascalhos e restos de material de construção Inuma sedimentos siltoarenosos mal estratificados com artefatos tecnogênicos material de construção Logo abaixo temse argila avemelhada mal estratificada contendo grãos e fragmentos de laterita e quartzo e um horizonte de laterita concrecionada associado a ações tecnogênicas induzidas ou seja decorrentes das derivações antropogênicas Por fim aparecem as paleoaluviões sobre o substrato cristalino Cálculos baseados em estimativas comparativas apresentadas por Cunha 2000 na planície de inundação do ribeirão Anicuns entre a Vila Roriz e o Setor Gentil Meireles levam a admitir que foram produzidos 2906000 m 3 de sedimentos pela ação indireta do homem associada ao uso e ocupação da bacia e 2480000 m 3 de material pela ação direta como os aterros e botaforas construídos Considerandose os depósitos indiretos e os diretos temse uma coluna tecnogênica com espessura média em torno de 7 m O cotejamento desses dados com aqueles obtidos por Casseti 1983 em área de cultura mostra que na área em estudo a produção de sedimentos resultantes da ação indireta do homem é 3362 maior Cunha 2000 Quando o autor leva em consideração todos os depósitos tecnogênicos diretos e indiretos este percentual é exponencializado para 6872 mostrando a grande diferença existente entre a produção de sedimentos nas duas situações Isto quer dizer que a ação ou efetuação humana sobre a natureza difere da efetuação ou autoorganização natural São vetores distintos não colineares A efetuação humana é considerada pois como uma força metamorfoseadora que a face da Terra jamais experimentou Cunha 2000 Com o objetivo de se promover atualização cadastral das erosões levantadas por Nascimento 1994 no município de Goiânia Nascimento Sales 2003 apresentaram importantes subsídios ao processo de ordenamento urbano Com base na metodologia desenvolvida por Salomão Rocha 1989 diagnosticaram as erosões considerando os componentes geoambientais identificaram os principais fatores responsáveis pelos impactos erosivos e fizeram observações quanto ao grau de risco e propostas de medidas mitigadoras Com relação aos componentes da paisagem observase que 571 das erosões ocorrem sobre terrenos resultantes da intemperização de xistos e quartzitos do Grupo Araxá e os 429 restantes em estruturas granulíticas do Complexo Goiano Quanto aos solos registrase que 811 das ocorrências de erosão encontramse associadas àqueles portadores de horizonte B latossólico Bw sendo 382 em Latossolo Vermelho Escuro distrófico LEd 286 em Latossolo Roxo distrófico LRd e 143 em Latossolo VermelhoAmarelo distrófico LVd Apenas 78 das erosões encontramse associadas a solos portadores de horizonte B incipiente B como os Cambissolos ou Solos Litólicos Rd Esse fato demonstra que a gênese dos processos erosivos não apresenta uma relação direta com o grau de vulnerabilidade da natureza visto que os solos além de portadores de alto desenvolvimento físico normalmente encontramse representados por textura argilosa ou muito argilosa o que normalmente determina maior resistência dos agregados O volume de material erodido e transportado segundo as bacias hidrográficas encontra se relacionado a seguir Tab44 Tabela 44 Volume de terra transportada segundo bacias hidrográficas urbanas Dentre os fatores responsáveis pela gênese dos impactos erosivos destacamse Tab45 os problemas relacionados às galerias pluviais motivados pelo subdimensionamento de tubulações lançamento de água pluvial em cabeceira de drenagem ou lançamento de água pluvial a meia encosta Além de não se ter o cuidado adequado quanto ao lançamento da água coletada ausência de dissipadores de energia por exemplo não se levam em consideração as intensidades pluviométricas do período de chuvas quando da construção de receptores ou condutores da água Tabela 45 Origem das erosões Os impactos erosivos associados ao escoamento concentrado encontramse vinculados à construção de ruas sem pavimentação ou de coletores de água pluvial geralmente despejadas morro abaixo acompanhando a declividade da vertente Dentre os principais danos infraestruturais levantados destacamse os riscos em residências e vias públicas em decorrência dos processos erosivos Após diagnosticarem Nascimento Sales op cit as medidas de combate adotadas pela Prefeitura Municipal apresentam sugestões para ações preventivas e corretivas chamando atenção para o necessário ordenamento territorial que leve à preservação de fundos de vale e a relocação de habitantes de áreas inadequadas A principal forma de combate às erosões adotadas pela Prefeitura Municipal de Goiânia encontrase relacionada a aterramento de ravinas e boçorocas sem maiores preocupações com a compactação desse material com o assoreamento provocado por um provável deslocamento do material e com o seu barramento a jusante O procedimento leva em consideração a necessidade de descarte da grande quantidade de entulho gerado pela construção civil juntamente com lixo doméstico e restos de podas de árvores Como medidas preventivas ou corretivas os autores apresentam sugestões de acordo com as especificidades do problema Tab46 Tabela 46 Medidas de combate sugeridas Para a maior parte das erosões foi sugerida a construção de galerias pluviais Isso se justifica por detectar que a maior causa das erosões é a própria galeria pluvial 571 dos casos Elas são construídas em regiões instáveis como cabeceiras de drenagem ou margens de cursos dágua e essa instabilidade natural em ambientes fluviais provoca seu desmantelamento O lançamento das águas pluviais e servidas a meia encosta também é um fator gerador de erosões Outra causa de erosão é o escoamento concentrado gerado pela ausência da galeria pluvial 365 dos casos A água pluvial escoa acompanhando a declividade do terreno e nesse trajeto abre sulcos que rapidamente se transformam em ravinas que podem passar a boçorocas A construção de galerias pluviais nessas áreas é prioritária para disciplinar o caminho das águas Nascimento Sales 2003 O solapamento associado à erosão remontante observado com freqüência na base das galerias pluviais leva à destruição de obras e queda de tubulões no fundo da erosão A pavimentação asfáltica é outra forma de prevenir as erosões nas áreas urbanas e de melhorar a qualidade de vida das populações mas deve ser antecedida por redes de água e de esgoto e meiofio e não simplesmente colocada a massa asfáltica sem essa infraestrutura A pavimentação sem a infraestrutura apropriada como sarjetas e galerias pluviais promove a concentração das águas nas laterais das ruas e avenidas acelerando o processo erosivo O reflorestamento é indicado na maioria das áreas marginais aos cursos dágua como forma de recuperação da mata ciliar e contenção do processo erosivo A vegetação promove maior infiltração das águas da chuva e protege a camada superficial do solo da erosão associada ao escoamento concentrado Também em áreas de solo degradado pela retirada de material para pavimentação ou para outro tipo de material de construção áreas de empréstimo deve ser feita a recomposição morfopedológica e revegetação como forma de prevenção da instalação dos processos erosivos Outras medidas como suavização dos taludes construção de meiofio ou guias e sarjetas têm por objetivo captar a água de escoamento superficial De acordo com o manual de Ocupação de Encostas IPT 1991 em vias não pavimentadas recomendase proteger a faixa ao longo das sarjetas com solo argiloso e brita solo melhorado com cimento ou grama visando evitar o surgimento de erosões Para os casos de declives abruptos sugerese a construção de escadas dágua ou dissipadores de energia como forma de se minimizar a velocidade do escoamento e movimento de terra Nas áreas rurais ou periurbanas a construção de curvas de nível é imprescindível como forma de se evitar o fluxo da água superficial para o interior da erosão A canalização de nascentes de cursos dágua é uma medida necessária principalmente em casos de piping quando a água verte do talude e promove a formação de verdadeiras tubulações que insidiosamente provocam abatimentos no terreno De acordo com Salomão Rocha 1989 tratar as águas superficiais provenientes do lençol freático ou do lençol suspenso é um dos maiores desafios existentes na execução de obras em boçorocas estando pouco desenvolvidas por não haver técnicas totalmente eficazes A ação das águas subterrâneas é apontada como uma das causas do desenvolvimento lateral das boçorocas Quando a boçoroca atinge o lençol freático os mecanismos de erosão são intensificados em função do surgimento de um gradiente piezométrico que ao emergir no pé do talude apresenta suficiente força para deslocar partículas sólidas podendo estabelecer o processo de erosão tubular regressiva entubamento ou piping Ocorre também a liquefação do material arenoso pela lenta percolação de água junto à parede da boçoroca ocorrendo uma diminuição da coesão do solo e conseqüente solapamento do talude O tratamento convencional é feito com a aplicação de drenos enterrados visando à drenagem das águas subsuperficiais de maneira a impedir o arraste do solo pelo piping Nascimento Sales 2003 Ao mesmo tempo em que o homem ultrapassa limitações de uso ou ocupação de áreas naturalmente restritivas como relevo íngreme ou faixas de inundação a apropriação desordenada de áreas mesmo daquelas consideradas de baixa vulnerabilidade natural pode gerar impactos de elevado custo socioeconômico ambiental a exemplo de Goiânia onde mais de 80 das erosões ocorrem em Latossolos considerados de baixa suscetibilidade erosiva A melhor alternativa em tais circunstâncias seria a de se promover a preservação de áreas portadoras de vulnerabilidade erosiva com a relocação das já ocupadas e ao mesmo tempo adotar práticas restritivas a eventuais impactos erosivos em áreas de baixa vulnerabilidade como o adequado dimensionamento de galerias pluviais nas áreas urbanas e destinação adequada das águas superficiais dentre outras Notas de Rodapé 1 O conceito de Landschaftshülle resulta da composição da die Landschaft die Hülle ou seja da paisagem o invólucro ou a epiderme 2 Corresponde ao cizalhamento ou deslocamento do material em relação ao suporte após ultrapassar o limite de resistência determinado pelo atrito 3 O esforço é uma magnitude vetorial determinada pela força por unidade de área A deformação é o término técnico que denota a alteração de um material e se expressa com a mudança das dimensões originais de um corpo Rice 1983 4 Com base nos trabalhos de Horton 1945 e Dunne 1980 duas são as principais origens para a formação do escoamento o fluxo superficial hortoniano e o fluxo subsuperficial de saturação Coelho Netto 1998 O segundo caso encontrase condicionado ao grau de armazenamento de água capacidade de campo na subsuperfície 5 Por relação de relevo entendese a relação existente entre a diferença de altura de uma vertente início dos processos em relação ao nível de base local e o comprimento considerando sua extensão horizontal 6 Adsorção referese à fixação de moléculas de uma substância o adsorvato na superfície de outra substância o adsorvente 7 Gel Sistema coloidal constituído por uma fase dispersora líquida e uma fase dispersora sólida e que apresenta propriedades macroscópicas elasticidade manutenção de forma etc parecidas às dos sólidos Referências Bibliográficas Abreu AA Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1982 AbSáber AA Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário Geomorfologia S Paulo IgeogUSP 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Wishcmeier WH Smith DD Predicting rainfallerosion losses a guide to conservation planning US Department of Agriculture Washington USDA 1978 48p Handbook 537 Cartografia geomorfológica 5 Cartografia Geomorfológica 51 Parte de legenda dados estruturais proposta por Tricart 1965 52 Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas Dar ênfase aos níveis de abordagem da representação geomorfológica morfométrico morfográfico morfogenético e morfocronológico Considerar a representação geomorfológica segundo escalas taxonômicas chamando atenção para aspectos ligados à geomorfologia funcional 5 Cartografia Geomorfológica A Cartografia Geomorfológica se constitui em importante instrumento na espacialização dos fatos geomorfológicos permitindo representar a gênese das formas do relevo e suas relações com a estrutura e processos bem como com a própria dinâmica dos processos considerando suas particularidades Para Tricart 1965 o mapa geomorfológico refere se à base da pesquisa e não à concretização gráfica da pesquisa realizada o que demonstra seu significado para melhor compreensão das relações espaciais sintetizadas através dos compartimentos permitindo abordagens de interesse geográfico como a vulnerabilidade e a potencialidade dos recursos do relevo Ao se elaborar uma carta geomorfológica devemse fornecer elementos de descrição do relevo identificar a natureza geomorfológica de todos os elementos do terreno e datar as formas Ross 1996 Muitas são as propostas existentes para a representação do relevo A maior unanimidade entre elas referese à questão do conteúdo geral dos mapas independentemente da maneira de representação gráfica que geralmente provoca divergência entre as diversas tendências Portanto o que parece mais problemático é a questão relativa à padronização ou uniformização da representação cartográfica pois ao contrário de outros tipos de mapas temáticos não se conseguiu chegar a um modelo de representação que satisfaça os diferentes interesses dos estudos geomorfológicos Ross 1990 Abreu 1982 procura destacar o problema da classificação dos fatos geomorfológicos na medida que isto é um dado fundamental para o processo de análise Para tal o autor considera procedente deslocar o eixo de abordagem do problema da escala para o problema da essência dos fenômenos que interessa ao estudo do georrelevo Destaca a forma como síntese metodológica procurando obter dela as informações necessárias para a compreensão da essência de sua dinâmica e das propriedades adquiridas Defende assim uma geomorfologia mais funcionalista na medida que oferece subsídios de interesse geográfico Ressalta contudo que o problema da escala apresenta significância principalmente na definição do encaminhamento metodológico na escolha dos instrumentos de investigação e no nível de resolução gráfica do tratamento cartográfico A forma passa a se caracterizar então como expressão da dinâmica ou do movimento dos materiais responsáveis pela morfogênese na crosta terrestre Com base nessa premissa Abreu 1982 recorre aos trabalhos soviéticos desenvolvidos principalmente após a Segunda Guerra Mundial voltados à análise de grandes e médios espaços utilizando fundamentalmente o método cartográfico Para o autor a denominada análise morfoestrutural que deveria ser chamada simplesmente de geomorfológica tem suas raízes firmemente plantadas na obra de Penck 1924 e teve como pioneiro Gerasimov que propôs em 1946 os conceitos de geotextura1 morfoestrutura e morfoescultura Gerasimov Mescherikov 1968 os quais se equivalem aos conceitos de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura empregados por Mescerjakov 1968 O conceito de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura fundamentamse na premissa penckiana do jogo de forças internas e externas que através de um conjunto de processos responde pela gênese do modelado do relevo terrestre A identificação e a classificação das formas do relevo necessariamente implicam considerar a gênese a idade ou ainda os processos morfogenéticos atuantes Ross 1990 A questão da escala de tratamento ou de representação se constitui na premissa básica para o grau de detalhamento ou de generalização da informação Demek 1976 apud Avansi 1982 propõe o seguinte encadeamento de operações para o mapeamento de morfoestruturas a análise das cartas geológicas e tectônicas de áreas em estudo em escalas pequenas e grandes com a transferência dos principais falhamentos para uma determinada base b análise de cartas topográficas em iguais escalas com o objetivo de se elaborar uma carta das rupturas tectônicas e das formas de relevo lineares e uma carta dos elementos do relevo segundo seus atributos morfográficos e morfométricos c elaboração de perfis geológicogeomorfológicos com a intenção de se definirem níveis regionais e elaboração de uma estratigrafia das formas d interpretação de fotografias aéreas procurando especificar a gênese dos elementos do relevo e levantamento de campo para teste e correção das interpretações valorizandose itinerários previamente definidos e utilizandose eventualmente de sobrevôos no caso de áreas de difícil acesso Nesta fase podese incluir coleta de materiais para posterior análise laboratorial f integração da informação obtida em campo A carta das formas de relevo resultante considerando seus aspectos morfográficos e morfométricos é revista assumindo um caráter genético dada a existência de elementos importantes para explicar a origem das formas e esculturação do modelado Tricart 1965 ao tratar da concepção e princípios de realização da Carta Geomorfológica ressalta as diferentes categorias de fenômenos representados segundo a escala adotada Como exemplo as cartas em pequena escala como 11000000 1500000 se orientam essencialmente para os fenômenos morfoestruturais mostrando as anticlinais resultantes de dobramentos seus monts ou combes ou ainda os horsts e os grabens de um processo de falhamento feições correspondentes à quarta 10 2 km 2 ou quinta 10 km 2 ordem de grandeza na concepção de ACailleux e J Tricart 1956 Já as cartas em grande escala como 15000 110000 125000 são capazes de registrar fenômenos ou formas com algumas dezenas de metros de comprimento correspondentes à sexta 10 2 km 2 grandeza na concepção taxonômica proposta pelos autores mencionados Nesta última com os símbolos convencionais é possível representar lóbulos de solifluxão campos de lapies boçorocas dentre outras formas específicas Portanto a escala da representação é que permitirá definir o grau de complexidade do fenômeno observado Com base nas recomendações da SubComissão de Cartas Geomorfológicas da UGI União Geográfica Internacional a carta geomorfológica de detalhe em escala grande deve comportar quatro tipos de dados morfométricos morfográficos morfogenéticos e cronológicos Tricart 1965 a Morfométricos correspondem às informações métricas importantes apoiadas em cartas topográficas ou outras formas de levantamento Geralmente as informações métricas são intrínsecas aos sinais ou símbolos para a representação das formas do relevo a exemplo de extensão de terraços ou escarpas erosivas declividade de vertentes dentre outras Para se evitar a sobrecarga de informações na carta geomorfológica dificultando sua leitura os dados morfométricos como a declividade das vertentes a hierarquização da rede hidrográfica dentre outros podem ser apresentados à parte em uma representação cartográfica específica b Morfográficos correspondem a formas de relevo resultantes do processo evolutivo sendo sintetizadas como formas de agradação e de degradação Como formas de degradação destacamse as formas de erosão diferencial as escarpas de falha ou erosivas ravinas e boçorocas Como formas de agradação destacamse depósitos aluviais em planícies de inundação concentração de colúvios pedogenizados ou pedimentos detríticos inumados Os aspectos morfográficos encontramse estreitamente ligados aos morfogenéticos ou seja as formas geralmente expressam as respectivas gêneses Quanto às formas de relevo o Projeto Radambrasil utiliza formas estruturais formas erosivas e formas de acumulação tendo sido a segunda desmembrada em formas de dissecação e formas de dissolução na Folha SD 23 Brasília Klimaszewski 1963 apud Fairbridge 1968 sugere maiores especificidades para representações morfográficas em escala grande como formas tectônicas e estruturais formas influenciadas pela litologia e estrutura formas de agradação e degradação dentre outras c Morfogenéticos referemse aos processos responsáveis pela elaboração das formas representadas Assim na representação cartográfica do relevo as diversas formas devem figurar de tal maneira que sua origem ou sua gênese sejam diretamente inteligíveis Como exemplo as superfícies erosivas associadas a processo de aplainamento devem conter referências ao processo de pediplanação identificando a gênese ligada ao recuo paralelo de vertentes em condição climática seca podendo incorporar referenciais de natureza cronológica associados ao período de formação adicionando termos como de cimeira mais antigo ou intermontanas mais recente d Cronológicos correspondem ao período de formação ou elaboração de formas ou feições A representação cronológica pode ser expressa através de cores que mesmo que adotadas com outro sentido podem oferecer subsídios dessa natureza Exemplo são os mapas geomorfológicos ao milionésimo do Projeto Radambrasil onde a cor representa os relevos conservados e as tonalidades os relevos dissecados Partindo desse princípio as formas estruturais e as formas erosivas associadas a relevos conservados encontramse relacionadas a processos morfogenéticos ou morfoclimáticos bem mais antigo em relação aos modelados póspliocênicos referentes aos relevos dissecados As tonalidades adotadas para deposições de materiais como os terraços e planícies que podem ocorrer tanto nos relevos conservados como nos dissecados mantêm relações genéticoprocessuais pleistoholocênicas Muitas vezes as informações morfocronológicas são incorporadas na própria legenda a exemplo das superfícies de aplainamento terciárias planície de várzeas holocênicas pedimentos pleistocênicos coluvionados dentre outros Nas representações geológicas as cores convencionadas expressam relações cronológicas das estruturas litoestratigráficas dispostas inclusive de forma cronológica na legenda Quanto aos princípios da representação da carta geomorfológica Tricart 1965 considera como primeiro passo a necessidade de uma base cartográfica A adição de curvas de nível nos mapas geomorfológicos extraídas das cartas topográficas pode se constituir em alternativa para suprir a ausência de informações morfométricas desde que não sobrecarreguem os limites da lisibilidade A base topográfica pode proporciona ainda a adição de outras informações morfométricas como a adoção de duas ou três classes de declividade na representação Outro aspecto para o qual o autor chama atenção referese à importância dos dados estruturais na representação geomorfológica o que não representa uma opinião unânime entre os especialistas Os ingleses por exemplo limitam a geomorfologia a uma cronologia da dissecação sem se ocuparem da estrutura dos processos Os poloneses negligenciam praticamente a geomorfologia estrutural em suas cartas figurando sobretudo a cronologia denudativa e os processos associados às formas São portanto dois pontos de vistas incompatíveis que negligenciam as relações dialéticas entre a estrutura e o jogo das forças externas Tricart 1965 No método CGA2 Tricart são figurados sistematicamente os dados estruturais influenciando a geomorfologia a litologia aparece em tons pastéis sob a forma de um fundo de carta As rochas coerentes são representadas por pontos As rochas móveis por trama A disposição das camadas figura através de símbolos como fron t de crista monoclinal superfície estrutural dentre outras formas Apresentase a título de exemplo parte de legenda de cartas geomorfológicas detalhadas referente ao sistema CGATricart Fig 51 constante de anexo em sua obra Tricart 1965 Devese chamar a atenção para o fato de que a metodologia em questão adequase mais às representações de grande escala maiores que 150000 51 Parte de legenda dados estruturais proposta por Tricart 1965 Demek 1967 propõe a utilização de três unidades taxonômicas básicas nas cartas geomorfológicas representadas pelas superfícies geneticamente homogêneas formas do relevo e tipos de relevo3 Portanto nas superfícies geneticamente homogêneas como no domínio dos chapadões tropicais interiores com Cerrados e Floresta de Galeria AbSáber 1965 temse a presença de formas de relevo representadas por processo de pediplanação plainos e cimeira e plainos intermontanos pedimentos escalonados onde se constatam tipos de relevo caracterizados por vertentes com discreta convexização cabeceira de drenagem em dales veredas vales simétricos dentre outras formas Para o autor a menor unidade taxonômica é a superfície geneticamente homogênea que resulta de um determinado processo ou de um complexo de processos geomorfológicos Essa unidade taxonômica é condicionada por processos de três origens os endógenos os exógenos e os antrópicos apud Ross 1990 A preocupação quanto às relações taxonômicas das unidades feições ou formas a serem representadas levaram Ross 1992 a apresentar os pressupostos metodológicos discutidos no capítulo 1 Fig 112 tendo como referência Demek 1967 e Mescherikov 1968 1 º táxon unidades morfoestruturais que correspondem às grandes macroestruturas como os escudos antigos as faixas de dobramentos proterozóicos as bacias paleomesozóicas e os dobramentos modernos Essa unidade pode conter uma ou mais unidades morfoesculturais associadas a diversidades litológicoestruturais guardando evidências das intervenções climáticas na elaboração das grandes formas 2 º táxon unidades morfoesculturais que correspondem aos compartimentos gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico com intervenção dos processos tectogenéticos As unidades morfoesculturais são caracterizadas pelos planaltos planícies e depressões que estão inseridas numa unidade morfoestrutural Como exemplo na unidade morfoestrutural representada pelos dobramentos antigos como da região central do Brasil inserese o Planalto Central Goiano a Depressão do Tocantins e a Planície do Araguaia As unidades morfoesculturais em geral não têm relação genética com as características climáticas atuais 3 º táxon unidades morfológicas correspondentes ao agrupamento de formas relativas aos modelados que são distinguidas pelas diferenças da rugosidade topográfica ou do índice de dissecação do relevo bem como pelo formato dos topos vertentes e vales de cada padrão Como exemplo na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 o Planalto Central Goiano unidade morfoescultural denominado de unidade geomorfológica na referida folha se caracteriza pela presença de quatro unidades morfológicas denominadas de subunidades na referida folha Planalto do Distrito Federal Planalto do Alto TocantinsParanaíba Planalto Rebaixado de Goiânia e Depressões Intermontanas Uma unidade morfoescultural pode conter várias unidades de padrão de formas semelhantes 4 º táxon corresponde à unidade de padrão de formas semelhantes Estas formas podem ser a de agradação acumulação como as planícies fluviais ou marinhas terraços b de degradação como colinas morros e cristas Na metodologia adotada pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 no segundo conjunto de símbolos denominado de Formas de Relevo estas encontramse subdivididas em três partes Formas Estruturais Formas Erosivas e Formas de Acumulação As formas estruturais são representadas pela letra S seguida por outras letras e respectivas traduções O mesmo procedimento é adotado para as formas erosivas e para as formas de acumulação Nos Tipos de Dissecação encontramse três letras básicas a c e t ou seja formas aguçadas formas convexas e formas tabulares Os Índices de Dissecação encontramse sintetizados adiante Tab 51 onde são combinadas cinco classes medidas na imagem de radar correspondentes à dimensão interfluvial e à intensidade de aprofundamento dos talvegues avaliada qualitativamente também representada por cinco classes 5 º táxon corresponde aos tipos de vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo Cada tipologia de forma de uma vertente é geneticamente distinta cada um dos setores dessa vertente pode apresentar características geométricas genéticas e dinâmicas também distintas Ross 1992 observa que as representações desse táxon são possíveis em escalas maiores como 125000 Dentre as principais características geométricas das formas das vertentes destacamse vertente escarpada convexa côncava retilínea dentre outras 6 º táxon referese às formas menores resultantes da ação dos processos erosivos atuais ou dos depósitos atuais Exemplo as formas associadas às intervenções antropogênicas como as boçorocas ravinas cortes de taludes escavações depósitos tecnogênicos como assoreamentos aterros botaforas ou as consideradas naturais como cicatrizes de escorregamentos bancos de deposição fluvial dentre outros Existem grandes problemas a serem superados para se chegar a uma carta geomorfológica de padrão internacional Uma das questões básicas referese às recomendações da SubComissão de Cartas Geomorfológicas da UGI quanto à incorporação dos quatro componentes de análise morfométricos morfográficos mofogenéticos e cronológicos na representação geomorfológica de detalhe ou semidetalhe Ao mesmo tempo em que tais componentes geralmente deixam de ser observados nos mapeamentos em escala grande são adicionalmente registrados nos mapeamentos em escala pequena a exemplo da escola russa adotada por Basenina et al 1976 ao enfocarem a questão morfoestrutural o que pode prejudicar o limite de legibilidade da representação 52 Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas Procurando evidenciar os níveis de informação usualmente contidos nas diferentes escalas de representação cartográfica do relevo foram selecionados três exemplos para análise O primeiro referese a uma representação em pequena escala 11000000 aprimorada ao longo do tempo pelo Projeto Radambrasil os outros dois últimos referemse a representações em escalas média a grande escalas 150000 produzidas por Tricart 1978 e 140000 elaboradas por Nascimento et al 1991 procurando evidenciar as diferenças de níveis de informações geomorfológicas considerando as respectivas aplicações Representação geomorfológica em escala pequena Como exemplo de representação geomorfológica em escala pequena utilizase de parte da Folha SE22 Goiânia produzida por Mamede et al 1983 ao milionésimo A área eleita corresponde à seção sudoeste do Estado de Goiás região de Mineiros localizada entre os paralelos 16 º 00 a 18 º 00S e 52 º 00 a 53 º 00W Fig 52 Considerando a escala da representação o mapeamento geomorfológico considerou os quatro primeiros táxons adotados pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 conforme esquema apresentado Esq 51 Esquema 51 Estrutura da Geomorfologia adotada pelo Radambrasil IBGE1995 Os Domínios Morfoestruturais também denominados de Unidades Morfoestruturais na classificação de Ross 1992 correspondem aos três grandes conjuntos estruturais do globo Os Domínios Morfoestruturais apresentam características geológicas prevalecentes tais como direções estruturais que se refletem no direcionamento geral do relevo ou no controle da drenagem principal IBGE 1995 Na área eleita os dois domínios morfoestruturais apresentam certa relação com as unidades geomorfológicas os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná são associados aos sedimentos paleomesozóicos da referida bacia representados pela cor verde relevos conservados e respectivas tonalidades relevo dissecado Já a Depressão do Araguaia associada às estruturas cristalinas do Complexo Goiano encontrase representada na tonalidade rosa correspondendo a relevo dissecado As Regiões geomorfológicas referemse ao segundo táxon da metodologia adotada pelo Radambrasil IBGE 1995 na elaboração da Folha SD23 Brasília correspondentes às Unidades Morfoesculturais discutidas por Ross 1992 Tratase de grupamentos de unidades geomorfológicas que apresentam semelhanças resultantes da convergência de fatores de sua evolução Barbosa et al 1984 Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas mas estão ligadas essencialmente a fatores climáticos atuais ou passados IBGE 1995 Portanto não são as condições estruturais ou litológicas que lhes dão as características comuns e aspectos semelhantes O clima é um fator interveniente ou integrante desse conceito Na área eleita Fig 52 as referidas unidades embora não tratadas numa relação taxonômica e nem mesmo mencionada a condição de região geomorfológica podem ser entendidas como os denominados Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná Planalto Central Goiano e pela Depressão do Araguaia O terceiro táxon referese às Unidades Geomorfológicas ou Sistemas de Relevo denominadas simplesmente de Unidades Morfológicas por Ross 1992 Correspondem a formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado a similitude resulta de uma determinada geomorfogênese inserida em um processo sincrônico mais amplo Cada Unidade Geomorfológica mostra tipos de modelado processos originários e formações superficiais diferenciadas de outras Barbosa et al 1984 O comportamento da drenagem seus padrões e anomalias são tomados como referencial na medida que revelam as relações entre os ambientes climáticos atuais ou passados e as condicionantes litológicas ou tectônicas IBGE 1995 Na Folha SE22 Goiânia Mamede et al 1983 tratam os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Central Goiano como unidades geomorfológicas encontrandose a primeira constituída das subunidades Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e Planalto MaracajuCampo Grande O Planalto dos Guimarães Alcantilados que aparece ao norte foi tratado separadamente preservando suas características regionais A área correspondente ao Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e ao Planalto dos Guimarães recebeu duas cores verdes correspondentes aos relevos conservados como as formas estruturais identificadas pelas superfícies estruturais tabulares St e os patamares estruturais Spt e as formas erosivas individualizadas por superfícies pediplanadas Ep e superfícies erosivas tabulares Et As tonalidades foram atribuídas às áreas dissecadas sendo as mais fortes referentes às áreas mais elevadas topograficamente reverso dissecado da cuesta do Caiapó e as mais fracas aos níveis topográficos rebaixados depressões anaclinais das cuestas desdobradas correspondentes às serras do Caiapó e Negra Enquanto as superfícies pediplanadas localizadas no início do reverso da cuesta do Caiapó testemunham marcas do aplainamento de cimeira regional nivelado aos 1000 metros Já as formas erosivas estão presentes nos topos residuais da depressão anaclinal da cuesta do Caiapó correspondentes aos alcantis Observase que a serra do Caiapó se constitui no divisor entre a bacia hidrográfica do Paraná representada localmente pelos rios Claro e Verde Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e a bacia do Araguaia caracterizada pelo rio do Peixe Planalto dos Guimarães Alcantilados O limite entre o teto orográfico regional reverso da cuesta do Caiapó e os patamares rebaixados depressões anaclinais das cuestas do Caiapó e Serra Negra é marcada por fronts de cuestas desdobradas O patamar rebaixado correspondente à depressão anaclinal da cuesta do Caiapó 500 a 700m é caracterizado por formas dissecadas convexas com presença de superfícies erosivas tabulares associadas aos residuais de arenito do Grupo Arquidauana correspondentes a formas bizarras ou relevo de alcantis na definição de Almeida 1959 O patamar rebaixado da depressão anaclinal da Serra Negra 400 a 500m posicionado topograficamente abaixo do anterior encontrase representado cartograficamente pela mesma tonalidade estando individualizado pelo domínio de formas tabulares O sucessivo escalonamento topográfico determinado por efeitos tectônicos responsáveis pelo desdobramento de cuestas culmina com a coalescência entre o último patamar e a Depressão do Araguaia OsTipos de Modelados correspondentes ao quarto táxon na classificação utilizada pelo Projeto Radambrasil IBGE 1995 estão contidos os grupamentos de formas de relevo que apresentam similitudes de definição geométrica em função de uma gênese comum e da generalização dos processos morfogenéticos atuantes resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais Os grupamentos referemse aos modelados nas diferentes formas estruturais erosivas de dissecação e de acumulação Nas formas ligadas à dissecação evidenciamse os modelados tabulares convexos e aguçados com respectivos índices que identificam a dimensão interfluvial e o aprofundamento da drenagem No recorte utilizado Fig52 a dissecação é representada por formas tabulares t no reverso da cuesta do Caiapó formas convexas c no nível rebaixado da depressão anaclinal depressão da serra do Caiapó e formas tabulares t no nível rebaixado desdobrado depressão da Serra Negra São observados remanescentes de aplainamento superfície pediplanada Ep e superfície estrutural tabular St no divisor entre as bacias do Paraná e Araguaia bem como superfícies erosivas tabulares Et no Planalto dos Guimarães ou depressão anaclinal da cuesta do Caiapó Quanto ao grau de dissecação do relevo temse a presença de manchas de formas muito dissecadas Tab 51 como nas nascentes do rio Matrinxã a24 formas aguçadas com dimensão interfluvial 250m e 750m e aprofundamento forte da drenagem bem como de baixo grau de dissecação a exemplo do reverso da cuesta do Caiapó t51 formas tabulares com dimensão interfluvial 3750 m e 12750m e aprofundamento da drenagem muito fraco Tab51 Ordem de grandeza das formas de dissecação Com relação aos componentes da representação geomorfológica recomendados pela União Geográfica Internacional entendese que o exemplo escolhido possui uma boa correspondência apesar das naturais limitações da escala 11000000 Alguns parâmetros encontramse contidos de forma direta ou indireta na representação como a morfométrico que pode ser inferido pela tonalidade como no caso do Planalto Setentrional da Bacia do Paraná onde a mais forte corresponde às superfícies mais elevadas relevo conservado como o reverso da cuesta e o mais claro às mais baixas como o relevo dissecado correspondente ao nível rebaixado e desdobrado dando assim a sensação hipsométrica à representação Também algumas simbologias lineares expressam unidades métricas como front de cuesta que no exemplo Fig 52 encontrase como portadora de desnível acima dos 150 metros b morfográfico marcado por manchas de modelados de relevo específicos como os tabulares os convexos ou os aguçados nas formas de dissecação c morfogenético que embora implícito na morfologia representada pode ser inferido através de formas específicas como as planícies fluviais superfícies pediplanadas ou mesmo as diferentes formas de dissecação vinculadas aos processos lineares e areolares d cronológico que também pode ser inferido através de formas específicas como a presença de terraços fluviais sempre ligados a processos climáticos ou paleoclimáticos sobretudo pleistocênicos ou planícies fluviais associadas às superfícies alveolares holocênicas Representações geomofológicas em escalas média a grande Os dois exemplos de mapeamentos geomorfológicos selecionados correspondentes às escalas de 150000 e 140000 têm por objetivo evidenciar a diferenciação de parâmetros empregados considerando as respectivas especificidades a Geomorfologia de Huaraz Peru Como exemplo de mapeamento geomorfológico de escala média a grande 150000 utilizouse da carta de Huaraz no Peru Fig 53 elaborada por Tricart 1978 com o objetivo de mostrar a vulnerabilidade do relevo em função de manifestações magmáticas e frente à ocupação urbana Podem ser constatados os quatros componentes de análise geomorfológica da representação cartográfica o que é natural por se tratar de uma escala de semidetalhe Fig 53 Geomorfologia de Huaraz J Tricart 1978 1 As informações morfométricas foram representadas através de curvas de nível que variam entre 3100 a 3400 metros demonstrando que a cidade de Huaraz encontrase numa posição de vale onde são individualizados fluxos torrenciais de lavas vulcânicas 2 Morfograficamente a área encontrase individualizada por formas fluviais formas glaciais formas associadas a ações hídricas e movimentos de massa Por corresponder a uma área andina em posição altimétrica elevada os efeitos dos glaciais se fazem presentes O elevado gradiente ligado à tectônica moderna além de favorecer a erosão acelerada comandada pelos fatores hídricos como escoamentos concentrados e as formas resultantes ravinamentos badlands contribuem para os movimentos de massa do tipo solifluxão e fluxos de lava 3 Os elementos morfogenéticos encontramse representados através das formas de escoamento fluxo concentrado difuso ou manifestação dos diferentes processos como os glaciais morainas ligados aos fatores climáticos 4 O componente cronológico pode ser inferido através das formas representadas com alguma informação complementar quanto ao período de ocorrência como rebordos de terraços antigos e atuais que permitem correlações temporais A representação procura incorporar ainda informações de interesse direto assumindo a carta geomorfológica importância como subsídio aos eventuais riscos associados ao uso e ocupação do relevo No presente caso Tricart 1978 fundamentado no conceito de ecodinâmica incorpora informações baseadas nas limitações físicas imprescindíveis ao ordenamento territorial Com base na espacialização dos fenômenos observase que o vale de Huaraz no Peru encontrase caracterizado como zona de desequilíbrio latente e grave susceptível aos riscos de remobilização de lavas torrenciais As faixas imediatas são apresentadas como portadoras de desequilíbrios permanentes correlacionadas aos processos responsáveis pela gênese de ravinas e badlands A zona estável corresponde ao topo interfluvial a oeste do vale prevalecem morainas e arcos morâinicos b Geomorfologia do município de GoiâniaGO Também com a perspectiva de subsidiar os estudos de risco urbano Nascimento Casseti 1991 produziram carta geomorfológica do município de GoiâniaGO Fig54 na escala 140000 chegando ao nível de detalhamento correspondente ao quinto táxon na classificação de Ross 1992 UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS 1 PLANALTO DISSECADO DE GOIÂNIA Superfície de Formas Aguçadas Superfície de Formas Convexas 2 CHAPADAS DE GOIÂNIA Superfície Aplainada Superfície Rompada 3 PLANALTO EMBUTIDO DE GOIÂNIA Superfície de Formas Convexas Superfície de Formas Tabulares 4 TERRAÇOS E PLANÍCIES DA BACIA DO RIO MEIA PONTE Terraços Fluviais Planícies Fluviais 5 FUNDOS DE VALES SIMBOLOGIA 1 FORMAS DE VERTENTES Vertentes Retilíneas Vertentes Convexas Vertentes Côncavas 2 FORMAS DE AGRADAÇÃO E DEGRADAÇÃO Escoamento Laminar Escoamento Difuso Escoamento Concentrado Ravinas Boçorocas Pedimentos Coluvionados Dales Cabeceira de Drenagem Fig 54 Geomorfologia do município de Goiânia Nascimento Cassetil 1991 A representação geomorfológica do município de Goiânia elaborada com base em levantamento aerofotogramétrico na escala de 140000 partiu do terceiro táxon de Ross 1992 correspondente às unidades geomorfológicas que foram definidas em função da similitude de formas de relevo e suas relações estruturais incorporando a posição altimétrica Numa relação azonal foram mapeados os terraços e as planícies da bacia do rio Meia Ponte bem como os fundos de vale que os abrigam O padrão de formas semelhantes correspondentes ao quarto táxon de Ross 1992 foi apresentado com base no grau de dissecação do relevo comandado pela drenagem dimensão interfluvial e grau de aprofundamento dos talvegues O quinto táxon foi individualizado pelos segmentos de formas das vertentes como a sua geometria além das formas associadas a agradação e degradação do modelado com destaque para as influenciadas pela litologia e estrutura que foram representadas através de simbologias pontuais e lineares As unidades geomorfológicas foram representadas por cores na representação original enquanto as informações relacionadas aos padrões de formas semelhantes foram classificadas segundo processos de agradação e de degradação Foram incorporados dados morfométricos referentes à declividade das vertentes e adoção de simbologia correspondente As unidades geomorfológicas foram individualizadas por três compartimentos Há apenas uma exceção representada por terraços e planícies bem como pelos fundos de vales que ocorrem indistintamente nos diferentes compartimentos azonais Planalto Dissecado de Goiânia 920 a 950 metros de altitude constituído pelo domínio formas aguçadas com declives superiores a 30 correspondentes a cristas monoclinais quartzíticas e formas convexas com declives inferiores a 20 representando o teto orográfico do município associadas aos granulitos félsicos Chapadões de Goiânia 860 a 900 metros constituído por superfícies aplainadas sustentadas por quartzitos e superfícies rampeadas pedimentos detríticos que coalescem com os níveis de aplainamento Planalto Embutido de Goiânia 750 a 800 metros de altitude constituído pelo domínio de formas convexas com declividade de até 20 e de formas tabulares correspondentes a remanescentes do pediplano embutido abrigando dales Terraços e Planícies da Bacia do rio Meia Ponte 700 a 720 metros de altitude individualizados em terraços fluviais suspensos associados às influências paleoclimáticas pleistocênicas e planícies fluviais de inundação correspondentes aos depósitos holocênicos atuais e subatuais Fundos de Vales correspondentes a uma faixa irregular paralela ao sistema fluvial com declividade que pode chegar a 40 Sua individualização deuse em função de mudanças nas relações processuais sobretudo entre os fluxos difusos e laminares em relação aos lineares A definição das unidades e respectivas características morfológicas permitiram a identificação de riscos que foram agrupados em três grandes compartimentos Casseti Nascimento 1991 a áreas de forte risco definidas em função da morfologia e da vulnerabilidade à erosãoassoreamento frente às intervenções antropogênicas planície de inundação atual terraços fluviais fundos de vales domínio de formas aguçadas e convexas no Planalto Dissecado de Goiânia e dales ou veredas b áreas de risco moderado como no domínio das vertentes medianamente convexas do Planalto Embutido de Goiânia e c áreas de baixo risco localizadas nas seções intermediárias às anteriormente mencionadas como no domínio de formas tabulares e suavemente convexas do Planalto Embutido de Goiânia superfícies aplainadas ou rampeadas dos Chapadões de Goiânia Na representação proposta registramse preocupações quanto aos fatores morfográficos e morfogenéticos com algumas referências de natureza cronológica considerando principalmente formas associadas a processos morfogenéticos pleistocênicos como os terraços suspensos ou níveis de pedimentação O parâmetro morfométrico foi expresso pelas classes de declividades incorporadas às formas de dissecação 1 predomínio de declive de 0 a 5 2 de 5 a 10 3 de 10 a 20 4 de 20 a 40 e 5 superior a 40 Muito ainda precisa ser feito para se chegar a uma linguagem comum quanto a forma e conteúdo da representação geomorfológica Existem certos avanços no que se refere à seleção de indicadores temporais e espaciais na cartografação do relevo sem contudo haver um maior equilíbrio entre os fatores que integram uma representação funcional parâmetros morfométricos morfográficos morfogenéticos e morfocronológicos o que necessariamente passa pela questão da escala Se a representação dos fatos geomorfológicos ainda gera polêmica maiores são os desencontros no que se refere aos componentes da representação cartográfica e aos componentes do relevo de interesse geográfico Necessário se faz rever a discussão fomentada por Hamelin 1964 quanto à subordinação da Geomorfologia Funcional à Geografia Global Abreu 1982 p 54 lembra a importância das influências diretas da esculturação e o desenvolvimento subseqüente dos processos morfogenéticos que se projetam claramente sobre as formas de uso do solo e se refletem na intensidade da produção e em seus custos sociais o que foi registrado por Kügler 1976 Digase de passagem que não é apenas no nível da cartografação dos fatos geomorfológicos que o homem se encontra ausente Klimaszewski 1963 considera o avanço na cartografia geomorfológica maior no campo conceitual que no metodológico Basenina Trescov 1972 insistem na necessidade de uma crítica permanente objetivando a melhoria do método e refinamento dos conceitos mobilizados Abreu 1982 chama a atenção para a ausência de informações ou fatos que interessam ao povoamento regional nas cartas apresentadas por Basenina Trescov 1972 considerando a necessidade de incorporação da noção extremamente humanista de georrelevo proposta por Kügler 1976 estimando que a geomorfologia ganhará no âmbito da geografia uma postura coerente com sua teoria e com os objetivos daquela Evidentemente isto dependerá de um esforço pessoal dos geógrafos interessados em compreender a ordenação da Terra pelo Homem através de mecanismos de análise que incorporam também as relações deste com seu ambiente valorizando uma ótica que tradicionalmente tem pertencido à geografia e que hoje tem conquistado adeptos também em cientistas oriundos de outras disciplinas Notas de Rodapé 1 Geotextura corresponde às grandes feições da crosta associadas às manifestações de processos a elas associados 2 Centre de Géographie Appliquée 3Para Demek 1967 Superfícies geneticamente homogêneas são áreas de geometria relativamente planas sem apresentar quebras de relevo Resultam de curtos estágios na evolução do relevo decorrentes de um ou mais processos agindo em uma certa direção variam entre algumas dezenas de metrosalguns quilômetros quadrados Formas de relevo são constituídas pela junção de superfícies geneticamente homogêneas resultantes de um mesmo processo mas correspondendo a estágios mais longos no desenvolvimento do relevo alcançam algumas centenas m 2 km 2 Tipos de relevo correspondem a complexo de formas em uma área limitada de forma relativamente distinta com a mesma altitude mesma gênese dependendo da morfoestrutura originada dos mesmos processos morfogenéticos numa mesma história evolutiva Referências Bibliográficas Abreu AA Análise geomorfológica reflexão e aplicação Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1982 AbSáber AN Da participação das depressões periféricas e superfícies aplainadas na compartimentação do planalto brasileiro Tese de LivreDocência FFLCHUSP S Paulo 1965 Almeida FFM de Traços gerais da geomorfologia do CentroOeste brasileiro In Almeida FFM de Lima MA de Planalto Centroocidental e pantanal mato grossense guia de excursão n 1 realizada por ocasião do 18O Congresso Internacional de Geografia Rio de Janeiro CNG 1959 170p p765 Barbosa GV Silva TCda Natali Filho T DelArco DM Costa RCR da Evolução da metodologia para mapeamento geomorfológico do Projeto Radambrasil Boletim Técnico Série Geomorfologia Salvador n 1 p 187 out 1984 Basenina NV Trescov AA Geomorphologische Kartierung des Gebirgsreliefs im Masstab 1200000 auf Grund einer Morphostrukturanalyses Zeithscrift für Geomorphologie Band 16 Heft 2 p 125138 1972 Basenina NV Aristarchova LB Lukasov AA Methopden zur Analyse der Morphostrukturen auf Grund vorliegender Karten und Luftbildaufnahmen In Handbuch der Geomorphologischen Detailkartierung Dirigido por J Demek pl 131 151 Ferndinand Hirt Wien 1976 Cailleux A Tricart J Le problème de la classification des faits géomorphologiques Annales de Geographie N 3490 LXV année p 162185 1956 Casseti V Nascimento MALS A importância da geomorfologia nos estudos de risco urbano o caso de Goiânia Anais do IV Simpósio de Geografia Física Aplicada Porto Alegre p 37481 1991 Demek J Generalization of geomorphologicalmaps In Progress Made in Geomorphological Mapping Brno 3566 1967 Demek J Editor Handbuch der geomorphologischen Detailkartierung Ferdinand Hirt Wien 1976 Fairbridge RW The encyclopedia of geomorfphology New YorkReinhold Book 1968 v2 Gerasimov IP Mescherikov JA Morphostructure In The encyclopedia of geomorphology Ed RW Fairbridge 731732 New YorkReinhold Book Co 1968 IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Manual Técnico de Geomorfologia Coord Bernardo de Almeida Nunes et al Série Manuais Técnicos em Geociências Número 5 R de Janeiro 1995 Klimazewski M Editor Problems of geomorphological mapping Data of the International Conference of the Subcommission on Geomorphological Mapping Institute of Geography of the Polish Academy of Sciences Warsovia 1963 Kügler H Zur Aufgaben der geomorphologischen Forschung und Kartierung in der DDR Petermanns Geographische Mitteilungen V 120 n 2 p 154160 1976 Mamede L Ross JLS Santos LM dos Nascimento MALS do Geomorfologia Folha SE22 Goiânia Projeto Radambrasil MME R de Janeiro 1983 Mescerjakov JP Les concepts de morphostructure et de morphosculture um nouvel instrument de lanalyse geomorphologique Annales de Geographie 77 n 423 p 538 552 Paris 1968 Nascimento MALS do Casseti V Carta geomorfológica do município de Goiânia In Carta de Risco do Município de Goiânia IPLANIBGEUFG Goiânia 1991 Penck W Die morphologische analyse Ein kapitel der physikalis chen geologie StuttgartJEngelhorns Nachf 1924 Ross J Geomorfologia ambiente e planejamento S PauloContexto 1990 85p Ross J SRegistro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo Rev Geografia São Paulo IGUSP 1992 Tominaga LK Análise morfodinâmica das vertentes da Serra do Juqueriquerê em São SebastiãoSP Dissertação de Mestrado FFLCHUSP S Paulo 2000 Tricart J Principes et méthodes de l geomorphologie ParisMasson Ed 1965 201p Tricart J Géomorphologie appplicable ParisMasson 1978 204 p Geomorfologia e paisagem 6 Geomorfologia e o estudo da paisagem 61 Subsídios geomorfológicos ao estudo da paisagem 611 Exemplo de compartimentação do relevo no processo de estruturação da paisagem Resgatar o conceito de paisagem em geografia física e seu significado metodológico ao estudo integrado 6 Geomorfologia e o estudo da paisagem O conceito científico de paisagem abrange uma realidade que reflete as profundas relações freqüentemente não visíveis entre seus elementos Tricart 1978 diferindo da noção de paisagem no senso comum que permanece puramente descritiva e vaga referindose a conteúdo emotivo estético intrinsecamente subjetivo ao próprio fato O conceito proposto por Deffontaine 1973 reforça essa abrangência ultrapassando o suposto limite da aparência assim definindo a paisagem é uma porção do espaço perceptível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e de ações das quais num dado momento só percebemos o resultado global Para este autor o estudo da paisagem fisionômica e qualitativa é o ponto de partida para a análise dos fatos numa perspectiva sistêmica assimilandoa a uma unidade territorial Troll 1950 sintetiza a paisagem como uma combinação dinâmica dos elementos físicos e humanos conferindo ao território uma fisionomia própria com habitual repetição de determinados traços Enquanto na língua inglesa o termo paisagem Landscape não tem significado científico particular em alemão ao contrário Landschaft é um termo erudito utilizado principalmente pelos geógrafos Tricart 1978 O conceito de paisagem Landschaft surge na segunda metade do Século XIX com os geógrafos físicos alemães na mesma época em que WM Davis publicava os principais elementos de sua teoria A partir do século XX o termo passa a ser utilizado de forma corriqueira entre os geógrafos alemães para designar aspectos concretos da realidade geográfica Dentre os precursores dos estudos integrados da paisagem destacamse Passarge 1912 1922 que utilizou pela primeira vez o conceito de fisiologia da paisagem Tüxen 1931 1932 que se apropriou de uma abordagem geossistêmica no estudo de paisagem até então não incorporada a essa noção Büdell 1948 1963 que através das relações climatogenéticas consolidou os estudos de geoecologia e ordenação ambiental do espaço Kalesnik 1958 que propôs metodologia para o estudo integrado da Landschaft esfera integridade da Landschaft esfera processos circulares da matéria transformações rítmicas zonalidade e continuidade da evolução além de outros A discussão entre paisagem e ecologia estimulada por Tricart 1979 resgata o trabalho de Deffontaine 1973 que se manifesta numa abordagem sistêmica Para o autor paisagem e ecossistema tratam de naturezas diferentes1 paisagem é originalmente um ser lógico espacial concreto apenas tardiamente ela adquiriu a dimensão lógica de um sistema Ao contrário o ecossistema é desde seu nascimento um componente lógico caracterizado por uma estrutura de sistema que por não ter dimensão e não ser espacializado não é concretamente materializável A ecologia da paisagem surge com Neef 1967 na Sociedade Geográfica da República Democrática Alemã dando ênfase aos estudos biogeográficos O estudo prossegue segundo uma pesquisa de caráter ecológico que é ao mesmo tempo um estudo de dinâmica das paisagens no sentido em que visa determinar o funcionamento do ecossistema como fazem tradicionalmente os ecologistas mas localizando cuidadosamente sobre o transeto portanto sobre o espaço todos os fluxos encontrados e a localização dos estoques de elementos estudados Tricart 1979 Nessa linhagem destacase o trabalho de G Bertrand 1975 apoiado na teoria biorresistásica de H Erhart 1956 Bertrand 1968 p 249 entende que o conceito de paisagem ficou quase estranho à geografia física moderna e não tem suscitado nenhum estudo adequado Aliase às relações entre o potencial ecológico exploração biológica e a ação humana na caracterização da paisagem global Como referenciais básicos destacamse os trabalhos de Erhart 1956 representados pela teoria biorresistásica e suas derivações a exemplo do balanço denudacional de Jahn 1954 ampliado por Tricart 1957 incorporando o conceito de balanço morfogenético que culmina no estabelecimento dos diferentes meios considerando a dinâmica da paisagem como sistema de classificação Tricart 1977 O estudo da paisagem numa abordagem biofísica foi desenvolvido por Huggett 1995 retomando alguns conceitos desenvolvidos por Mattson 1938 expresso através de interessante esquema referente à interpenetração das esferas terrestres Fig 6 1 utilizandose de uma perspectiva sistêmica O autor preocupa se com a sistematização das relações processuais que culminam no conceito de geoecologia Desde os tempos em que os geógrafos conseguiram explicar a gênese da paisagem fizeram dela um domínio especializado Juillard 1965 Contudo os avanços epistemológicos fundamentados numa perspectiva crítica valorizaram o conceito de espaço em detrimento ao de paisagem partindo do princípio de que paisagem é o conjunto de formas que num dado momento exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza Santos 1996 p 83 ao evidenciar a abrangência do significado de espaço como objeto de estudo da geografia em detrimento da noção de paisagem enfatiza que a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão sendo portanto um sistema material e nessa condição relativamente imutável o espaço é um sistema de valores que se transforma permanentemente o espaço são essas formas mais a vida que as anima Avaliase que os avanços metodológicos proporcionados pelo conceito de paisagem registrados ao longo do tempo possibilitaram a análise integrada dos componentes biofísicos e socioeconômicos denominada de estruturação da paisagem importante instrumental no processo da compartimentação O resgate conceitual inserido na noção de estruturação da paisagem surgido nos últimos anos parte do interesse direto da Geografia Física na busca de alternativas metodológicas Dentre os estudos referentes à estruturação da paisagem no Brasil destacamse os de Mattos 1959 para a região da Baixa Mogiana de Monteiro 1962 para o Baixo São Francisco de Abreu 1973 para o Médio Vale do JaguariMirim dentre outros que procuram oferecer subsídios à compartimentação baseados nas teses oferecidas pela geomorfologia ou pela climatologia Os avanços embora incipientes dos estudos de paisagem enfrentam a pecha mecanicista atribuída pelos epistemologistas críticos Bertrand 1968 p 250 ao refutar as críticas procura encerrar a discussão conceituando paisagem como determinada porção do espaço o resultado da combinação dinâmica portanto instável de elementos físicos bióticos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da mesma um conjunto único e indissociável em perpétua evolução A preocupação com as variáveis que integram a natureza bem como com os resultados da apropriação desta pelo homem tem cada vez mais merecido atenção dos estudiosos partindo do princípio de que o ambiente deve ser entendido na sua integridade A visão holística da natureza tem sido uma preocupação histórica sobretudo entre os biogeógrafos Importante iniciativa como a registrada no Simpósio de Landschaftssynthese organizado por H Richter G Schönfelder em 1985 na Universität HalleWittenberg República Democrática Alemã merece destaque por contribuir para a retomada do conceito de paisagem A Landscape Synthesis tem proporcionado novas discussões voltadas principalmente às questões de natureza ambiental Trabalhos como o de Lopez Lopez 1986 sugerem o estudo da functionalmorphological2 como fator de compartimentação da paisagem geográfica Após apresentarem de forma rápida a histórica separação entre processo e forma enquanto critério de demarcação da paisagem consideram a variável relevo como importante subsídio para o estudo da paisagem Para a individualização da paisagem ressaltam aspectos da estrutura e composição energia matéria vida espaço e tempo e do funcionamento leis físicoquímicas atividades das plantas no meio abiótico atividades instintivas dos animais e formas de apropriação pelo homem Destacam ainda as características intrínsecas dos elementos da paisagem como componentes da análise natureza da rocha clima poder orogênico vida das plantas dos animais e dos homens evidenciando os efeitos antropogênicos nas transformações da natureza na perspectiva de tempo histórico Também Tricart 1979 trata o relevo como um elemento importante da paisagem Observa que na América do Sul normalmente os tipos de meio natural encontramse associados à noção de relevo e vegetação e em torno desses dois elementos nodais uma série de implicações são dirigidas ao clima aos solos e à inserção do homem no meio ambiente O conceito de paisagem como fator de integração de parâmetros físicos bióticos e socioeconômicos tem sido utilizado em estudos de impactos ambientais em diferentes empreendimentos com importantes resultados o que leva necessariamente ao reconhecimento da vulnerabilidade e potencialidade da natureza segundo os diferentes táxons Buscase portanto a compreensão integrada dos componentes da análise O conceito de vulnerabilidade voltase aos fatores de natureza física e biótica considerando a suscetibilidade dos referidos parâmetros em função do uso e ocupação enquanto o de potencialidade na perspectiva de Becker Egler 1997 referese às condições de desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões potencial natural potencial humano potencial produtivo e potencial institucional Com base no tratamento dado por diversos autores para o problema a partir da integração das informações produzidas procurase apresentar uma síntese da estruturação da paisagem utilizandose do conceito de Dollfus 1972 sintetizando o número de arranjo entre as variáveis naturais físicas e bióticas e as alterações humanas Com o objetivo de se promover a integração prevista subsidiada pelos compartimentos geomorfológicos buscase a compreensão da paisagem em sua integridade Como forma de se ressaltar o significado do relevo na abordagem do estudo da paisagem serão analisadas as variáveis que refletem diretamente nas relações socioeconômicas considerando a vulnerabilidade dos componentes temáticos físico e biótico para em seguida integrálos na perspectiva de Schmithüsen 1970 segundo a qual se quisermos compreender a ação do homem não devemos separar a sociedade do meio ambiente que o rodeia 61 Subsídios geomorfológicos ao estudo da paisagem Por resultar da combinação de diferentes componentes da natureza o relevo é um importante recurso para a delimitação das paisagens ao mesmo tempo em que quase sempre condiciona a forma de uso e ocupação do solo Não se desconsidera aqui a apropriação tecnológica como componente de superação de eventuais obstáculos Considerando pelo menos três situações particulares o significado do relevo na delimitação da paisagem pode ser justificado da seguinte forma Relações de forças contrárias O relevo decorrente do jogo de forças internas e externas leva à interpenetração de formas Assim sendo considerando as escalas temporais e espaciais ora o relevo pode expressar mais as influências estruturais ora os efeitos morfoclimáticos ou ainda ambos simultaneamente A Chapada dos Veadeiros em Goiás se constitui num bom exemplo dessas combinações enquanto os topos pediplanados tanto da cimeira regional 1300 m quanto intermontano 1000 a 1100 m representam efeitos associados a processos morfogenéticos secos registrados provavelmente no Terciário3 a extensa zona dissecada por processos morfogenéticos úmidos correspondentes a períodos intermediários reflete os efeitos da resistência litológica e das implicações estruturais aliadas à tectônica proterozóica Ao mesmo tempo em que se registram extensões consideráveis de superfícies erosivas conservadas pediplanos que cortam resistências litológicas variadas em posições topográficas distintas temse também sinclinais alçadas cornijas estruturais além de uma rede hidrográfica vinculada a processo de fraturamento com direção geral NE e NW Há portanto importante combinação de formas aliadas a fatores diferenciados que ainda preservam a história geológica e climática sobretudo póscretácica ou mais especificamente pósoligocênica O relevo acaba se constituindo no resultado dessas forças contrárias razão pela qual se reveste de importância enquanto subsídio para a demarcação de diferenças morfológicas com diferenças pedológicas e conseqüentemente relativas ao uso e ocupação do solo numa perspectiva possibilista Relações morfopedológicas Muitos trabalhos têm demonstrado estreita relação entre a disposição do relevo e os solos resultantes o que tem cada vez mais consolidado a morfopedologia enquanto disciplina a exemplo do trabalho desenvolvido por Gerrard 1992 Enquanto nas áreas planas predominam os latossolos portadores de alto desenvolvimento físico nas áreas movimentadas prevalecem solos caracterizados por horizonte B incipiente ou simplesmente Solos Litólicos Neossolos O caráter edáfico sobretudo nos solos autóctones pode estar relacionado à estrutura subjacente a exemplo dos Latossolos VermelhoEscuros ou Roxos geralmente associados a rochas básicas ou ultrabásicas enquanto os Latossolos VermelhoAmarelos quase sempre se associam às rochas ácidas menor teor de ferro Essa relação chega a exercer uma certa correspondência quanto à troca de bases solos eutróficos com troca de bases superior a 50 considerados de fertilidade natural e solos distróficos com troca de bases inferior a 50 Da morfologia representada por superfícies aplainadas ou mesmo tabulares para o domínio de formas aguçadas registrase a seguinte situação quanto ao desenvolvimento físico dos solos Latossolos Bw Podzólicos ou Brunizéns Bt Cambissolos B incipiente e Solos Litólicos Essa relação encontrase via de regra determinada pelo balanço entre morfogênese e pedogênese pois enquanto em áreas tabulares prevalece a componente perpendicular infiltração nas fortemente dissecadas predomina a paralela escoamento numa estreita relação de tendência crescente com a declividade Tais parâmetros oferecem sustentação ao processo de apropriação do relevo insistindo na perspectiva possibilista Relações antropomorfológicas O processo de apropriação do relevo seja como suporte ou como recurso vinculase ao comportamento da morfologia e às condições pedológicas Exemplo disso são as superfícies pediplanadas superfícies erosivas tabulares e superfícies estruturais tabulares do sudoeste goiano onde se registram manchas expressivas de Latossolos Roxos ou Latossolos VermelhoEscuros associadas ao desenvolvimento de cultivos A tendência de uma apropriação induzida de espaços portadores de potencialidades naturais4 ocorre principalmente em áreas de expansão de fronteira como na região de Alta Floresta norte do Estado do Mato Grosso onde se constata significativa ocupação principalmente voltada à pecuária O compartimento ou unidade geomorfológica regional achase individualizado pela Depressão Interplanáltica da Amazônia Meridional Melo Franco 1980 caracterizado por processo de pediplanação intermontana representado pelos Podzólicos VermelhoAmarelos distróficos com domínio de pastagens Já nas áreas fortemente dissecadas como aquelas associadas às bordas do graben do Cachimbo caracterizadas por extensa zona de cisalhamento ortoarenitos do Grupo Beneficente a ocupação é restrita prevalecendo o domínio da Floresta Ombrófila Tal relação não se dá de forma determinística partindo do princípio de que a disponibilidade tecnológica aliada à força do capital seja capaz de superar eventuais obstáculos morfológicos Como exemplo podese ressaltar a ocupação de antigos mangues em litorais mais adensados populacionalmente ou mesmo de antigas planícies aluviais como a Vila Roriz em Goiânia Cunha 2000 hoje topograficamente alçada por depósitos tecnogênicos responsáveis pelo alto custo socioambiental Não serão consideradas aqui relações entre famílias de formas e implicações estruturais embora reconhecendo a existência de reflexos tectônicos e paleoclimáticos na morfologia atual Com o intuito de reforçar o argumento do significado do relevo na delimitação da paisagem apresentase a título de exemplo de relação abiótica correspondência entre a disposição morfológica e as características pedogênicas independentemente do comportamento estrutural Fig 62 Enquanto nas superfícies pediplanadas ou superfícies erosivas tabulares associadas aos processos relacionados ao Terciário Médio prevalecem os Latossolos húmicos Fig 62 nas rupturas de declive periféricas ao pediplano ou recobrindo as colinas convexas registrase a presença dos Lixossolos concrecionários com laterita os quais dão sustentação ou preservam as formas que foram elaboradas em condições morfogenéticas secas Nos compartimentos embutidos relacionados a processo de pediplanação intermontana do Terciário Superior reaparecem os latossolos húmicos enquanto nas áreas mais dissecadas como na porção inicial do perfil predominam os litossolos Assim podese estabelecer uma estreita correspondência entre a disposição do relevo e o desenvolvimento físico dos solos relacionados ao jogo das componentes perpendicular e paralela Enquanto nas formas tabulares predomina a componente perpendicular que representa infiltração aumento de intemperização e espessamento dos horizontes pedogênicos balanço morfogenético negativo nas formas aguçadas em seções de forte dissecação temse o desenvolvimento da componente paralela com balanço morfogenético positivo respondendo pelo adelgaçamento do horizonte pedogênico Gerrard 1992 mostra através de modelo hipotético de nove unidades de uma vertente adaptado de Dalrymple et al 1968 as relações morfopedológicas Fig 63 O exemplo contribui para a justificativa do significado do relevo como subsídio à demarcação das unidades territoriais que caracterizam as paisagens diferenciadas ressaltando a necessidade de se levar em consideração os parâmetros lembrados por Lopes Lopez 1986 estrutura e composição energia matéria vida espaço e tempo e funcionamento leis físicoquímicas atividade das plantas dos animais e principalmente a ação do homem Apresentase a seguir exemplo de compartimentação realizada em dois níveis taxonômicos com vistas à integração dos componentes da paisagem em estudo de impacto ambiental em área de aproveitamento hidrelétrico tendo o relevo como subsídio demarcatório da superposição de componentes abióticos e bióticos possibilitando o uso diferencial dos recursos Retomase aqui o conceito de georrelevo proposto por Kügler 1976 tomandoo como referencial tanto das relações geoecológicas quanto sociorreprodutoras 611 Exemplo de compartimentação do relevo no processo de estruturação da paisagem Apresentase a seguir exemplo prático de trabalho em que foram utilizados os compartimentos geomorfológicos para a estruturação da paisagem na bacia do rio Carinhanha divisa MGBA Com relação à caracterização da bacia hidrográfica do rio Carinhanha divisa entre os Estados de Minas Gerais e Bahia entendida como área de influência indireta para três aproveitamentos hidrelétricos foram considerados dois grandes compartimentos correspondentes ao quarto táxon Chapadas do Carinhanha extensões elevadas representadas por topos pediplanados superfícies pediplanadas e superfícies erosivas tabulares contínuos 800 a 810 m e por estruturas ou formas residuais Vão do Carinhanha área rebaixada dissecada em amplos topos interfluviais ainda preservando marcas da pediplanação intermontana 650 a 700 m e com grande quantidade de veredas Tab 64 O compartimento Chapadas do Carinhanha é constituído pelas feições geomorfológicas correspondentes a topos de cimeira e escarpas estruturais enquanto o Vão do Carinhanha apresenta três feições características rampas pedimentadas topos interfluviais e fundo de vale As feições do compartimento geomorfológico das Chapadas do Carinhanha foram assim caracterizadas Topos de Cimeira representados por superfície pediplanada com coberturas detritolateríticas terciárias e superfícies erosivas tabulares sobre seqüências areníticas concordantes da Formação Urucuia Prevalecem Latossolos VermelhoAmarelos distróficos e concreções ferralíticas Os parâmetros climáticos foram generalizados para a região dada a inexistência de estações meteorológicas nos compartimentos distintos Contudo as condições fitofisionômicas evidenciam diferenças paramétricas em função das particularidades hidropedológicas A fauna embora não se restrinja exclusivamente a um determinado compartimento tem freqüência de espécies diferenciadas nos diferentes habitats Mocó Kerodon rupestris guará Chysocyon brachyurus veadocatingueiro Ozotoceres bezoartis dentre outras n os topos pediplanados e espécies da f amília Ardeidae garçabranca e caititu Tayassu tajacu no Vão do Carinhanha Tab 61 A flora no pediplano de cimeira é representada por espécies do Cerrado típico com pelo menos dois estratos Na mesma unidade territorial o uso de solo encontrase associado à pecuária e a cultivos cíclicos como na Chapada dos Gaúchos Fig 64 As escarpas estruturais mantidas por arenitos da Formação Urucuia apresentamse dotadas de cornijas estruturais com ou sem coroamento concrecionário além de estruturas ruiniformes Os solos achamse individualizados pelos Solos Litólicos e Cambissolos álicos ambos distróficos Quanto à cobertura vegetal registrase a presença do Cerrado ralo que embora pouco ocupado prevalecem as pastagens No segundo compartimento denominado Vão do Carinhanha as feições foram assim caracterizadas com vistas à estruturação da paisagem Morfologia associada aos pedimentos detríticos identificada por vertentes suavemente côncavas debris slope correspondentes à faixa de interseção entre as escarpas estruturais e os topos interfluviais do vão As vertentes encontramse caracterizadas por colúvios pedogenizados com fragmentos de rochas desagregadas inumando paleopavimentos detríticos associados a recuo paralelo das vertentes por ocasião dos climas secos pleistocênicos Os pedimentos recobrem arenitos da Formação Urucuia Quanto aos solos predominam as Areias Quartzosas distróficas e álicas com ocorrências secundárias dos Cambissolos álicos Tratase de áreas apropriadas à pecuária extensiva representadas por pastagens naturais Os topos interfluviais são caracterizados por remanescentes de superfícies de aplainamento intermontano e vertentes dissecadas suavemente convexas ligadas aos processos denudacionais pleistoholocênicos comandadados pela drenagem Mais uma vez prevalece as Areias Quartzosas álicas e distróficas com presença de concreções ferralíticas provenientes da desagregação de couraças que preservam o testemunho de cimeira A flora é representada por cerrado típico com domínio de pastagens naturais ocupadas pela pecuária extensiva Nos fundos de vales as seqüências siltoargilosas da Formação Urucuia resultam de processo de acumulação alúviocoluvial tanto ao longo das superfícies alveolares das planícies fluviais quanto na sucessão de veredas Predominam solos hidromórficos do tipo Glei Húmico e pouco Húmico e localmente solos turfosos Organossolos A presença de água condiciona a individualização das feições morfológicas em termos de uso e ocupação refletindo nas particularidades bióticas A freqüência de espécies faunísticas foi considerada anteriormente O uso é caracterizado pela pecuária extensiva e cultivos de subsistência principalmente nas veredas Tabela 61 Estruturação da paisagem Bacia do rio CarinhanhaMGBA Numa escala maior correspondente ao quinto táxon geomorfológico a área diretamente afetada pelo empreendimento é individualizada pelas feições que integram os fundos de vales Tab 62 avaliadas em função dos padrões de formas dominantes tipos de vertentes rampas pedimentadas veredas conectadas e desconectadas da planície de inundação As rampas pedimentadas são formadas por colúvios provenientes do retrabalhamento de escarpas hoje pedogenizados sotopondo paleopavimentos detríticos associados à última fase climática seca do Pleistoceno Würm Representam as baixas vertentes onde as Areias Quartzosas álicas e distróficas e os Cambissolos distróficos favorecem a pecuária extensiva Fig 65 As veredas desconectadas das planícies aluviais atuais comportamse como depressões relativas em posição mais elevada em relação às veredas conectadas que vinculamse diretamente ao nível de base local Essa pequena diferença parece estar relacionada a um possível ajustamento tectônico que teria acontecido entre a última fase climática úmida do Pleistoceno RissWürm e a atual Holoceno As veredas denominadas de desconectadas encontramse instaladas em sedimentos siltoargilosos da Formação Urucuia internamente inumadas por depósitos alúviocoluviais pedologicamente caracterizadas pelo Glei Húmico ou pouco Húmico com ocorrência mais restrita de solos Turfosos Organossolos A vegetação encontrase ligada ao ambiente hidromórfico marcada por buritizais a ocupação é marcada pela pecuária extensiva e cultivos de subsistência Tab 62 As veredas conectadas às planícies de inundação atuais consideradas holocênicas apresentam praticamente as mesmas características em relação às veredas desconectadas Com base em tais considerações é nítida a correlação entre os componentes do meio físico tendo como base os compartimentos definidos a partir de uma base geomorfológica Tabela 62 Estruturação da paisagem no fundo de vale do rio Carinhanha MGBA É natural que a abordagem apresentada restrinjase às correlações entre os parâmetros biofísicos e o uso e ocupação do solo tendo como referência os compartimentos do relevo Nesse primeiro nível da estruturação da paisagem obtémse a sistematização ou estruturação dos componentes da análise a partir do qual deverão ser apresentadas considerações relacionadas à dinâmica dos processos que permitem a classificação dos diferentes meios Tais subsídios oferecem suporte ou indícios para a busca de explicações às formas de apropriação da natureza das relações de produção e das forças produtivas da inserção do lugar no contexto das redes globais dentre outras temáticas de interesse geográfico Portanto a presente essa abordagem permite não só a compreensão da essência dos fenômenos como também do significado do lugar oferecendo subsídios à proposta de alternativas de desenvolvimento fundamentadas em práticas sustentáveis Notas de Rodapé Ecossistema termo proposto por Tansley 1934 é um conjunto constituído por um grupo de seres vivos de diversas espécies e por seu meio natural conjunto que é estruturado pelas interações que esses seres vivos exercem uns sobre os outros e que existem entre eles e seu meio Para Tricart 1979 enquanto os geógrafos se preocupam com o ambiente ecológico os ecologistas estudavam sobretudo as estruturas das biocenoses e a fisiologia da adaptação dos seres vivos a seu ambiente Nós definimos a paisagem individual como uma entidade morfológicafuncional com uma célula somente ou com muitas células feitas de elementos fatores e fenômenos Ela é formada basicamente por um determinado poder um espaço definido e um certo tempo de vida Lopez Lopez 1986 p 108 Referemse respectivamente às superfícies PósGondwânica e SulAmericana propostas por King 1956 para o Brasil Oriental e adaptadas para o CentroOeste por Braun 1971 Por espaços portadores de potencialidades naturais entendese aqueles de baixa restrição morfológica topografia apropriada principalmente ao emprego de mecanização ou caracterizado por fertilidade natural empiricamente indicado pela tipologia da cobertura vegetal Referências bibliográficas Abreu AA Estruturação de paisagens geográficas no Médio Vale do JaguariMirim Geomorfologia S Paulo IGEOGUSP 36123 37166 38180 39124 1973 Becker B Egler CAG Detalhamento da metodologia para execução do zoneamento ecológicoeconômico pelos estados da Amazônia Legal MMARHSAEPR Brasília 1997 Bertrand G Paysage et geographie physique globale esquisse méthodologique RevGéograph Pyrénées et du SudOuest 393249272 Toulouse 1968 Bertrand G Ecologie dum espace géographique Lês géosystèmes du Valle de Prioro Espagne du Nord Ouest LEspace Géogr N 2 p 113128 1972 Braun OPG Contribuição à geomorfologia do Brasil central RevBrasGeografia R de Janeiro 33 4334 outdez 1971 Büdell J Das system der klimatischen morphologie Deutscher geographentag Munique 27465100 1948 Klimagenetische geomorphologie Geographische Rundschau Braunschweig 157269285 1963 Casseti V Estrutura e gênese da compartimentação da paisagem de Serra NegraMG Coleção Teses Universitárias 11 Editora UFG Goiânia 1981 Cunha BCC da Impactos socioambientais decorrentes da ocupação da planície de inundação do ribeirão Anicuns o caso da Vila Roriz Dissertação de Mestrado IESAUFG Goiânia 2000 Dalrymple JB Blong RJ Conacher AJ A hypothetical nine unit landsurface model Zeitschrift für Geomorphologie 12 6076 1968 Deffontaine JP Analyse du paysage et etude régionale des systèmes de production agricole Economie Rurale n 98 p 313 1973 Dollfus O O espaço geográfico São Paulo Difusão Européia do Livro 1972 Erhart H La theorie biorexistasique et les problèmes biogéographiques et paleobiologiques SocBiogeogr França CNRS 2884353 1956 Gerrard J Soil geomorphology na integration of pedology and geomorphology LondonChapman Hall 1992 269 p Huggett RJ Geoecology London Routledge 1995 320 p Janh A Denudational balance of slope Geogr Polonica 1968 Juillard E A região tentativa de definição B Geográfico R de Janeiro 24185224236 janfev 1965 Kalesnick SV La géographie physique comme science et les lois geoegraphiques génerales de la terre Na Géographie Paris 67363385403 septoct 1958 King LC A geomorfologia do Brasil oriental RevBrasGeogr R de Janeiro 18 23121 abrjun 1956 Kügler H Zur Aufgabe der geomorphologischer Forschung und Kartierung in der DDR Petermanns Geogr Mitt CXX pp 154160 Lopez S Lopes ML The functionalmorphological entity of the geographical landscape In Landscape Synthesis Part I Geoecological Foundations International Symposiums d Arbeitagr Landschaftssynthese Demokrat Rep Dessau Hans Richter and Günther Schönfelder 1985 p 105114 Mattos DL Região da baixa Mogiana Contribuição do estudo de geografia agrária do ponto de vista do uso da terra Tese de doutorado FFCEA da USP S Paulo 1959 Melo DP de Franco M do SM Geomorfologia Folha SC21 Juruena Projeto Radambrasil Rio de Janeiro 1980 Monteiro CA de F Aspectos geográficos do baixo São Francisco AGB S Paulo Bol Avulso n 5 1962 Neef E Entwicklung und Stand der landschaftsökogischen Forschung in der DDR Probleme der landschaftsökologichen Erkundung Geogr Ges DDR Leipzig p 2234 1967 Neef E Geographie und Umweltwisssenschaft Petermanns Geographiche Mitteilungen p 8188 116 Jahrgang 2 Quartals heft Leipzig 1972 Passarge S Physiologische morphologie Hamburgo Friederichsen 1912 Die landschaftsguertel der Erde Breslau Ferdinand Hirt 1922 Richter H Schönfelder G Landscape syntesis foundations classification and management MartinLuther UniversitatHalleWittenberg Wissenschaftliche Beiträge Halle 1986 Ross JLS O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo Revista do Departamento de Geografia FFLCHUSPn 6 São Paulo 1992 Santos M A natureza do espaço Técnica e tempo Razão e emoção São PauloHucitec 1996 308p Schmithüsen J Die aufgabenkreise der geographischen Wissenschaft Geographiche Rundschau 2211431 443 1970 Socava VB Geographie und Okologie Petermanns Geographische Mitteilungen p 8998 116 jahrgang 2 Quartalsheft Leipizig 1972 Tricart J Mise au point Lévolution des versants Linformation geographique 1957 Tricart J Ecodinâmica Supen R de Janeiro Fund IBGE 1977 Tricart J Paysage et ecologie Paris Rev Geomorph Dynam XXVIII 18195 1979 Troll C Die geographische landschaft und ihre erforchung Studium generale III p 163181 1950 Geoecology of the moutainous regions of the tropical americas Proceeding of the Unesco Mexico Simposium 1963 Tüxen R Die plflanzensoziologie in ihren Beziehungen zu den Nachbarwissenschaften Der Biologe 8180187 1931 1932 A pesquisa em geomorfologia 7 A Pesquisa em geomorfologia 71 A teoria 711 A teoria geomorfológica 72 O método 721 Os níveis da abordagem geomorfológica 73 A práxis Mostrar a relação triológica da pesquisa a teoria o método e a práxis no estudo do relevo Retomase aqui a questão teórica da geomorfologia a importância do método e a definição do problema como objeto da pesquisa 7 A Pesquisa em geomorfologia1 Ao se tratar a questão da pesquisa geomorfológica pretendese acima de tudo fomentar uma maior discussão sobre tais procedimentos A experiência acadêmica tem permitido a verificação da inconsistência quanto aos procedimentos da pesquisa tanto na geografia quanto na geomorfologia É comum o pesquisador iniciante propor sua investigação a partir da escolha da área de estudo sem ter muitas vezes sequer idéia do problema Também é comum desconhecer o edifício teórico ou estágio do desenvolvimento epistemológico que trata o objeto em questão o que afeta diretamente a capacidade metodológica para o desenvolvimento da investigação sem falar do necessário discernimento entre método e metodologia que têm sido tratados como vocábulos comuns A pretensão é a de se chamar atenção para uma lógica no procedimento da pesquisa como forma de sustentação científica pois sem a existência de um problema e sem o domínio teórico de determinado assunto tornase impossível a apresentação de hipótese Conseqüentemente sem hipótese não se definem ações metodológicas apropriadas Enfim sem resultado consubstanciado num aporte epistemológico não se concebe a produção sistemática de conhecimento que tem por objetivo não apenas oferecer subsídios à solução de problemas papel social da ciência mas também o de contribuir para o próprio desenvolvimento da ciência A apresentação dos mais variados temas geográficos nas atividades relacionadas ao desenvolvimento da pesquisa tem levado a algumas reflexões que parecem necessárias para a estruturação do conteúdo o que tem engendrado discussões nem sempre compatíveis com os princípios da lógica2 Por essa razão é que se procura utilizar os componentes básicos da pesquisa para tratar do encadeamento entendido como apropriado ao desenvolvimento do conteúdo geomorfológico Ao apresentar o que se denomina de princípios básicos da pesquisa evidenciase que toda proposta de estudo tem por objetivo responder alguma questão suscitada a partir de um determinado problema Assim o problema se constitui o ponto de interesse inicial para o desenvolvimento de todo e qualquer projeto de pesquisa A partir do momento em que o problema começa a ser formulado definese seu objeto de estudo que passa a ser pensado numa perspectiva teórica procurando responder cientificamente uma determinada hipótese que por sua vez encontrase fundamentada no conhecimento teórico ou conhecimento científico A formulação de uma hipótese se dá a partir de conhecimento prévio acumulado durante a vida acadêmica ou até mesmo fundamentada num argumento empírico senso comum que vai exigir a implementação de determinados passos para sua comprovação ou refutação chegandose no final a determinado resultado Lembrase aqui da proposta popperiana3 considerada importante à evolução do conhecimento pautada no falseamento de hipóteses À medida que é falseada ou refutada uma hipótese temse a incorporação de novos conhecimentos enquanto que sua corroboração implica consolidação mesmo que temporariamente de certas verdades científicas Partese do princípio de que o mundo não deve ser considerado um complexo de coisas acabadas a ciência moderna tem revelado um universo em estado de gestação permanente Reeves 1986 O que se entende como processo da pesquisa fundamentase nos princípios básicos registrados acima aqui destacados pela teoria pelo método e pela práxis os quais constituem a estrutura da presente abordagem Para se elaborar uma hipótese tornase necessária a fundamentação teórica do problema formulado ou mais especificamente do conhecimento prévio sobre o objeto da pesquisa Sem o desenvolvimento de uma teoria que explique o objeto tornase frágil qualquer enunciado ou hipótese que deverá se constituir em elementoguia ao desenvolvimento da pesquisa Para Bunge 1973 as hipóteses científicas estão incorporadas nas teorias e as teorias estão relacionadas entre si constituindo a totalidade da cultura intelectual Com a formulação da hipótese uma nova etapa aparece no desenvolvimento da pesquisa que se refere ao modo como tais enunciados serão comprovados ou refutados o que leva ao segundo princípio relativo ao método Portanto o método tem por objetivo demonstrar a forma como as etapas de falseamento das hipóteses serão desenvolvidas sem perder de vista a fundamentação teórica do problema apresentado Superadas as etapas do desenvolvimento teórico e metodológico da pesquisa iniciase a aplicação desses princípios em função de um objeto de estudo aqui incorporado à noção de práxis que envolve uma ação prática em determinado lugar situação espaçotemporal ou campo experimental para o falseamento de uma hipótese O objetivo é de se chamar atenção para a importância da prática como forma de sistematização do conhecimento resgatando o caminho revolucionário apresentado por Mao Tsetung Oliveira 1985 a prática condiciona o pensamento que elabora o conhecimento o conhecimento informa o pensamento e dirige a prática Portanto o conhecimento é um processo de assimilação do movimento da matéria e não de transposição levando à conclusão de que a prática humana sensível é a base do processo cognitivo Esse fato refuta a concepção da existência de conhecimento fundamentada em uma base idealista Antes de se falar da trilogia teoria método e práxis é importante evidenciar a epistemologia como estudo crítico e reflexivo dos princípios ou pressupostos da estrutura da ciência Não se trata de enaltecer suposta superioridade da epistemologia em relação às ciências cognitivas mas sim de demonstrar sua importância como parte da filosofia científica no sentido de promover um estudo crítico e reflexivo dos métodos e técnicas de aquisição do conhecimento Morin 1986 admite uma interdependência entre Filosofia e Ciência observando a necessidade de assumir completamente os dois pontos de vista antagônicos isto é de considerar ao mesmo tempo as ciências cognitivas como objeto da epistemologia e a epistemologia como objeto de ciência cognitiva O autor após definir a filosofia e a ciência em função de dois pólos opostos do pensamento a reflexão e a especulação para a filosofia a observação e a experiência para a ciência afirma que seria uma loucura crer que não há reflexão nem especulação na atividade científica ou que a filosofia desdenha por princípio a observação e a experimentação Com relação à filosofia e à ciência Bunge 1973 considera a epistemologia como forma de superação das preposições utilizadas partindo do princípio de que etimologicamente é entendida como teoria da ciência razão pela qual tem a vantagem de não reduzir o âmbito da disciplina em questão a um capítulo da teoria do conhecimento permitindo abarcar todos os aspectos que podem estar presentes no exame da ciência o lógico o gnosiológico e eventualmente o ontológico Rorty 19954 apresenta considerações sobre epistemologia e hermenêutica contestando o conceito psicofísico de Descartes que tem a epistemologia como responsável pela parte séria e cognitiva da cultura fundamentada na racionalidade e a hermenêutica encarregada de tudo o mais ou ainda a hermenêutica como estudo do discurso anormal em oposição à ciência normal de Kuhn5 Fundamentandose numa perspectiva epistemológica os pressupostos da estrutura da ciência passam necessariamente pelas etapas da teoria do método e da práxis que serão abordadas a partir de então 71 A teoria A teoria corresponde à sistematização de princípios resultantes do acúmulo de conhecimento produzido ao longo do desenvolvimento histórico Referese ao processo cognitivo advindo da própria prática que dada a sistemática comprovação do fato ou fenômeno que integram a realidade objetiva se legitima pela cientificidade Portanto a teoria referese a uma verdade científica mesmo que transitória cujo conjunto de conhecimentos pode representar o núcleo epistemológico de determinada ciência ou disciplina científica 711 A teoria geomorfológica Para se compreender a teoria geomorfológica numa perspectiva integrativa entre natureza e sociedade portanto numa perspectiva geográfica necessário se faz apresentar breves pressupostos históricos que nortearam a análise em questão Primeiramente tornase necessário conhecer as controvérsias epistemológicas que marcaram o estágio de sistematização dos conhecimentos geomorfológicos ressaltando os trabalhos de Günther 1934 Leuzinger 1948 e Abreu 1982 e 1983 Os diferentes sistemas de referência aqui utilizados foram tratados por Carson Kirkby 1972 Tais controvérsias a princípio consideradas pessoais entre Davis e Penck aos poucos refletiram diferenças de correntes fundamentadas em paradigmas específicos representando duas grandes linhagens epistemológicas denominadas de escola americana e escola alemã por Leuzinger 1948 ou escola anglo americana e escola germânica por Abreu 1982 O último justifica essa denominação considerando a importante participação da produção de línguas inglesa e francesa na linhagem de raiz norteamericana pelo menos até a II Guerra Mundial ressaltando também a incorporação da produção em russo e polonês na linhagem alemã A evolução dessas duas linhas conceituais é bastante diferenciada e apresenta inclusive interferências mútuas enquanto a primeira de raízes norteamericanas sofreu muito claramente nos últimos anos os impactos das revoluções científicas com tentativas de ruptura e definição de novos paradigmas a segunda de raízes germânicas parece evoluir de maneira mais contínua o que se reflete em um enriquecimento progressivo do paradigma que ganha complexidade metodológica e operacional conservando sempre um núcleo comum desde sua origem Abreu 1982 Através de sua principal obra Penck 1924 se manifesta contra o paradigma davisiano Davis 1899 que entendia a evolução do relevo a partir de estágios demarcados aparentemente estáveis vistos por Carson Kirkby 1972 como importante sistema de referência Leuzinger 1948 ao comentar as principais diferenças de natureza teóricometodológicas da investigação geomorfológica ressalta que Davis caracterizouse por construir um sistema geomorfológico simples e de fácil apreensão mas de base pouco sólida Censura o uso excessivo do método dedutivo de pesquisa definição das formas que se devem derivar das forças que atuam na superfície da terra correlacionandoas com as existentes o método de exposição fica restrito às teorias davisianas e particularmente à concepção de ciclo geomorfológico Com relação ao ciclo evolutivo do relevo além das críticas de Hettner 1927 Leuzinger 1948 refuta os rápidos movimentos ascensionais e posterior repouso tectônico até o final do ciclo6 Dentre as críticas produzidas por Penck 1924 ao modelo davisiano destacase a relação entre levantamento e degradação Penck insurge contra a hipótese do repouso tectônico durante a degradação Ao considerar a evolução do relevo Davis praticamente elimina a ação das forças endógenas movimentos tectônicos admitindo sistematicamente um levantamento relativamente rápido não dando tempo para que se realize apreciável erosão Leuzinger 1948 Com relação ao ciclo geomórfico do relevo Davis entende que a incisão dos talvegues acontece de uma forma rápida na juventude interrompendo tal atividade ao atingir o perfil de equilíbrio considerado estágio de maturidade quando a degradação entra em cena promovendo o rebaixamento das vertentes de cima para baixo down wearing Na velhice as encostas evoluem de forma suave evidenciando o franco domínio da degradação já que a erosão linear praticamente terá cessado Leuzinger lembra que o perfil longitudinal não evolui sempre uniformemente dependendo de fatores como a relevo primitivo a erosão remontante reage de acordo com a inclinação do relevo imposta pela tectônica b diferença de nível entre o nível de base e a cumiada c descarga do rio associada ao clima e d resistência das rochas ao longo do leito do rio Por fim Leuzinger 1948 apresenta considerações sobre o conceito de peneplano para diferentes autores refutando o tratamento apresentado por Davis Em oposição à noção de peneplano Penck 1924 apresenta a teoria dos plainos de erosão normal diferenciada da de Davis levantamento suficientemente lento para que a degradação ocorra de forma concomitante Um plaino com tal origem foi denominado por Penck de torso primário cujo comportamento morfológico da vertente encontrase associado à intensidade ou à velocidade dos movimentos crustais Ao refutar as idéias de ações geomórficas distintas tectônica e degradação os conceitos de perfil de equilíbrio ciclicidade antropomórfica do relevo e estágio de peneplanação a escola germânica assume relevância sobretudo após a publicação póstuma de Morphological Analysis of Land Forms de Walther Penck na língua inglesa 1953 Embora registrandose uma verdadeira ruptura epistemológica na escola angloamericana a partir da II Guerra Mundial quando as concepções davisianas passam a ser questionadas pelos próprios seguidores ainda constatamse diferenças conceituais entre ambas conforme observou Abreu 1982 em citação anterior Como argumento de endosso à afirmação de Abreu 1982 ressaltase a incorporação do relevo nos estudos de perspectiva geoecológica como o conceito de paisagem abordado por Passarge 1912 1922 com vistas ao processo de ordenação ambiental do espaço com nítida tendência holística no tratamento dos componentes físicos da paisagem oferecendo uma perspectiva geográfica Na mesma linha de Passarge destacamse os trabalhos de Troll 1939 1959 ou de Büdell 1948 1957 que propõem uma geomorfologia climatogenética integrando os componentes epirogenéticos climáticos petrográficos e fitogeográficos Destaque deve ser dado ainda à participação da Polônia Tchecoslováquia e URSS na escola germânica sobretudo a partir da II Guerra Mundial por meio da cartografia geomorfológica Desse momento em diante despertase o interesse pelos estudos taxonômicos em geomorfologia e pela representação do relevo Como precursores de uma cartografia geomorfológica sistemática destacamse Klimaszevski 1963 Demek 1976 e Basenina e Trescov 1972 72 O método O conceito de método aqui utilizado não significa propriamente metodologia As metodologias são guias a priori que programam as investigações ao passo que o método é um auxiliar da estratégia Morin 1986 Portanto a estratégia se caracteriza como segmento programado metodológico comportando necessariamente descoberta e inovação O objetivo do método para Morin 1986 é ajudar a pensar por si mesmo para responder ao desafio da complexidade dos problemas Leuzinger 1948 ao insistir na necessidade de um método quantitativo para a geomorfologia como forma de superação dos problemas atuais parece desconsiderar a questão semântica ao tratar do conceito de método embora fazendo importante observação Acreditamos que reside na sua natureza qualitativa a deficiência dos métodos atuais de pesquisa geomorfológica As teorias baseadas em hipóteses incertas ficam sujeitas a críticas e valem tão pouco quanto essas hipóteses E o que é mais grave essas teorias não resolvem o problema sendo várias as hipóteses possíveis de predominância de ações serão várias também as teorias e tão boas umas como as outras Com base em tais pressupostos Leuzinger 1948 defende a importância do processo experimental na geomorfologia utilizandose como referência os avanços assistidos na Física dos Solos A expectativa aqui é de se utilizar o método como procedimento auxiliar da estratégia consagrandolhe atenção privilegiada por resistir à prova da verificação refutação fornecendo assim dados relativamente seguros para o conhecimento do conhecimento Morin 1986 Para Bunge 1973 a investigação é uma empresa multilateral que requer o mais intenso exercício de cada uma das faculdades psíquicas e que exige um concurso de circunstâncias sociais favoráveis por este motivo todo testemunho pessoal pertencente a qualquer período por parcial que seja pode deixar alguma luz sobre algum aspecto da investigação Devese esclarecer que o método científico incorpora tanto os passos que subsidiam as atividades da investigação como o instrumental responsável pela materialização das idéias formuladas denominadas de técnicas 721 Os níveis da abordagem geomorfológica Tornase relativamente fácil compreender a diferença entre método e metodologia utilizandose o argumento geomorfológico Como exemplo os níveis de abordagem sistematizados por AbSáber 1969 se caracterizam como estratégia auxiliar para o desenvolvimento da pesquisa geomorfológica portanto referemse propriamente ao método ao passo que as formas e instrumentais utilizados para o estudo de cada um dos referidos níveis correspondem à metodologia Conforme se relatou em capítulos anteriores os níveis metodológicos em geomorfologia apresentados por AbSáber 1969 fundamentamse na concepção desenvolvida pela escola germânica Lembra Abreu 1982 que a proposta de AbSáber constitui um verdadeiro avanço proporcionando uma ótica muito mais próxima da postulada por Kügler 1976 quando formaliza suas idéias sobre o georrelevo enquadrandoo no âmbito de interesse da geografia Parecenos aliás que não é por acaso que AbSáber retoma o conceito de fisiologia da paisagem já explorado no início do século por Siegfried Passarge no contexto de sua morfologia fisiológica indo de encontro à postura que nos estudos de geografia física global acabou produzindo no âmbito da Europa Oriental os estudos de Sotchava Como se sabe AbSaber 1969 apresenta proposta que visa a abordar o relevo em três instantes interpenetráveis apresentadas no capítulo introdutório a A compartimentação topográfica adota passos que envolvem indicadores espaciais e indicadores temporais o que se constituirá em referência para a análise dos níveis subseqüentes Apresentamse a seguir algumas metodologias adotadas pelo nível de abordagem em questão As relações taxonômicas do relevo como sistematizadas pelo IBGE 1995 e adaptadas por Ross 1992 e a classificação dos fatos geomorfológicos como a proposta por Birot 1955 Cailleux Tricart 1956 e Tricart 1965 se constituem em alguns dos parâmetros significativos para a discussão do problema Os estudos de Birot 1955 associados à classificação antropomórfica davisiana clássica são superados por Cailleux Tricart 1956 que estabelecem critérios a serem seguidos na classificação dos fatos geomorfológicos princípios dinâmicos e princípios dimensionais das formas de relevo Tais critérios são ampliados por Tricart 19657 Também os conceitos desenvolvidos por Gerasimov Mescherikov 1968 e Mescerjakov 1968 têm se constituído em importante subsídio à classificação dos fatos geomorfológicos Os conceitos de morfotectura morfoestrutura e morfoescultura de Mescerjakov 1968 ou geotextura morfoestrutura e morfoescultura de Gerasimov e Mescherikov 1968 repousam sobre a premissa de Penck 1924 de interação contraditória entre forças internas e externas Abreu 1982 evidenciando uma ordenação têmporoespacial O esquema de Mescerjakov permite uma comparação direta com a proposta de Tricart 1965 embora o primeiro considere uma maior flexibilidade taxonômica ou seja menos rigoroso quanto às dimensões dos fatos A classificação de Mescerjakov 1968 embora com imperfeições8 é entendida por Abreu 1982 como mais avançada tendo sido muito empregada na então URSS o que pode ser exemplificado através dos trabalhos de Basenina Trescov 1972 e Basenina Anutarshova Lukasov 1976 Em linhas gerais Abreu 1982 apresenta o roteiro metodológico resumido seguido pelos autores ver capítulo sobre Cartografia Geomorfológica A classificação mencionada tem se constituído em referencia para o desenvolvimento de estudos no Brasil conforme pode ser constatado através dos autores mencionados fundamentados nas relações taxonômicas bem como nos índices morfométricos para a caracterização do relevo quanto à vulnerabilidade tendo por princípio os conceitos de meios apresentados por Tricart 1957 meios estáveis instáveis e intergrade As relações taxonômicas em geomorfologia deixam de ser apresentadas aqui por terem sido contempladas em dois momentos anteriores capítulos referentes à Compartimentação Topográfica e à Cartografia Geomorfológica A sintetização de parâmetros relacionados à dimensão interfluvial aprofundamento da drenagem e declividade do terreno deriva da metodologia criada pelo Radambrasil IBGE 1995 bem como de trabalhos clássicos da cartografia geomorfológica tendo por objetivo estabelecer o grau de vulnerabilidade do relevo Portanto utilizandose de valoração das variáveis dimensão interfluvial entalhamento do talvegue e declive da vertente são estabelecidas médias aritméticas ou ponderadas visando à caracterização do grau de vulnerabilidade do relevo a vulnerabilidade à erosão aumenta progressivamente considerando a ordem crescente dos valores atribuídos b Com relação à metodologia em estrutura superficial destacase o trabalho de Ruhe 1975 Ao oferecer subsídios ao estudo da paisagem e depósitos superficiais recupera a importância da base quantitativa para todas as observações e medidas tanto na visão horizontal na superfície como na vertical em perfil ou corte do terreno também chamada de seção transversal Na oportunidade sugere perfurações para retirada de amostras como sondagens e tradagens do depósito de cobertura apresentando diferentes formas operacionais Em seguida para tratar da análise da estrutura superficial fundamentada em medidas e descrições responsáveis pela definição da seção vertical em um dado ponto inclui os aspectos cor textura estrutura consistência reação química do material e observações específicas verificadas A cor deve ser descrita de acordo com o padrão de referência Tabela de Cores de Munsell a textura que corresponde à dimensão das partículas de uma determinada amostra tem por objetivo definir a classe textural areia silte argila a estrutura do material que compreende o conjunto de partículas de minerais dentro dos agregados laminar prismática blocular e esferoidal a consistência corresponde ao grau e o tipo de coesão ou resistência do material ao corte podendo ser viscoso ou maleável plástico friável ou firme maciço ou duro a reação é a resposta do material a testes químicos como o pH presença de carbonatos O autor recomenda o tratamento gráficoestatístico no processo de sistematização das informações culminando com a caracterização cronológica dos depósitos correlativos perspectiva histórica A importância dessas informações transcende a interpretação cronológica podendo assumir destaque como componente da vulnerabilidade do relevo considerando o grau de friabilidade do material submetido aos processos morfogenéticos ou morfodinâmicos Abreu 1982 apresenta em seu trabalho de LivreDocência ficha de observação de campo modelo anexo produzida no Laboratório de Geomorfologia da USP com o intuito de auxiliar nos levantamentos da estrutura superficial Além das informações relativas ao comportamento dos depósitos correlativos são considerados aspectos de natureza estrutural e relativos aos processos morfodinâmicos vigentes procurando diagnosticar as formas de apropriação e uso do solo bem como o comportamento da cobertura vegetal c O estudo da fisiologia da paisagem se caracteriza como de maior aplicabilidade e interesse geográfico na medida que busca compreender as relações funcionais dos processos morfodinâmicos onde a apropriação do relevo como suporte ou recurso antropogênico responde por impactos diretos e indiretos muitas vezes representando derivações com reflexos ambientais sociais ou mesmo econômicos Muitas são as perspectivas de estudo oferecidas no nível da fisiologia da paisagem Dos procedimentos metodológicos e técnicas utilizadas no controle de parâmetros de interesse da fisiologia da paisagem destacam se os processos experimentais A necessidade de se entender a experimentação em geomorfologia como importante elemento metodológico levou Cazalis 1961 a fazer considerações sobre os caminhos da experimentação e da observação em geomorfologia O autor trata da relação entre ciências exatas e ciências conjeturais evidenciando a necessidade das duas para o esperado avanço epistemológico Com relação ao significado da energia cinética da chuva enquanto processo erosivo destacamse os trabalhos de Elison nos anos de 1944 e 1947 bem como estudos posteriores de Palmer 1963 e De Ploey 1967 o último utilizandose de diagrama de erosão para estabelecer correlações entre o potencial de erodibilidade pluvial nos trópicos e nas médias latitudes A EUPS Equação Universal de Perda de Solos de Wischmeier Smith 1978 tem sido uma das mais importantes referências para o cálculo de perda de solo associado à erosão laminar Dentre alguns dos trabalhos relacionados a perdas de terra por erosão destacase a presença tanto dos geomorfólogos como de agrônomos interessados nas questões de conservação do solo a exemplo de Marques 1966 e Bertoni et al 1972 ambos do Instituto Agronômico de Campinas que vêm desde 1943 medindo as perdas por erosão no Estado de São Paulo Queiróz Neto 1977 avalia o grau de erosão acelerada no Estado de São Paulo demonstrando seus efeitos através da somatória de problemas associados ao processo de ocupação Uma infinidade de trabalhos experimentais já foi produzida dentre os quais destacam se os de Moeyersons 1976 que recorre a modelo de equação para demonstrar o significado da intensidade da chuva no transporte de materiais de Stocking 1978 que se utiliza de equação de regressão para avaliar o efeito da intensidade das chuvas no processo erosivo de De Ploey Savat 1976 que utilizam simuladores de chuvas para correlacionar as perdas de solo em função do escoamento com resultados que divergem das experiências de Horton 1941 bem como do modelo proposto por Kirkby Chorley 1967 De Ploey Savat 1968 e 1970 também apresentam contribuição ao estudo do efeito splash gota de chuva no primeiro artigo referente ao fator de erosão utilizandose de simulador de chuvas com a formulação da equação do balanço das massas e no segundo evidenciando a dimensão de deslocamento das partículas em função da dimensão e da velocidade do pingo da chuva Ruellan 1952 em seu trabalho clássico sobre erosão relata o papel das enxurradas no modelado brasileiro Destacamse ainda os trabalhos de Giese 1966 sobre a vulnerabilidade quanto ao uso dos solos com vistas ao planejamento e Margolis 1978 sobre os efeitos de práticas conservacionistas sobre as perdas por erosão Enquanto Rougerie 1954 apresenta método de estudo experimental dos fenômenos erosivos no meio natural HidalgoGranados 1978 ocupase com a instrumentação para estações de controle em pequenas bacias hidrográficas relacionada aos efeitos erosivos rede pluviométrica rede liminmétrica medição de erosão e outras formas de controle associadas ao balanço hídrico Schick 1968 observa o significado da calha Gerlach no controle do fluxo por terra Cruz 1982 utiliza se de calhas Gerlach em experimentos na Serra do Mar Estudos experimentais relacionados a movimento de massas podem ser encontrados em Lewis 1976 e Guidicini Iwasa 1976 ambos no domínio tropical além de De Ploey Moeyerson 1976 para os fenômenos de creeping nas latitudes temperadas Estudos genéricos relacionados aos componentes processuais nas vertentes podem ser vistos através de Ruhe 1975 Leopold et al 1964 Carson Kirkby 1972 dentre outros A abordagem hidrológica de vertentes é considerada por Anderson Burt 1978 Betson Ardis 1978 Chorley 1978 além de outros Atualmente temse observado uma tendência muito forte de estudos relacionados aos processos de erosão acelerada como referentes ao boçorocamento bem como aos fenômenos tecnogenéticos todos associados a fortes impactos socioambientais Como se vê muitos são os trabalhos relacionados aos aspectos intrínsecos ou extrínsecos das vertentes na perspectiva da fisiologia da paisagem Tornase praticamente impossível citar aqui todos os trabalhos que merecem destaque no referido nível de abordagem sendo mais válida a sugestão de permanente consulta a periódicos científicos nacionais e estrangeiros como a Revista Brasileira de Geomorfologia Catena Earth Surfrace Processes and Landforms Geoderma Geomorphology Journal of Soil Science Palaeogeography PalaeoclimatologyPalaeoecology Quaternary Research Soil Science e Zeitschrift für Geomorphologie 73 A práxis A práxis no presente contexto referese à ação à atividade prática sensível base do processo cognitivo dirigida pelo pensamento Portanto assume relevância ao se utilizar a teoria para buscar respostas para a hipótese formulada A instauração da práxis como elemento mediador da pesquisa se caracteriza como atividade transformadora que nega a clássica dicotomia entre teoria e prática A materialização do desenvolvimento teórico se dá através do método e de seus instrumentais Não deixa contudo de corresponder ao conceito de práxis atribuído por Marx segundo o qual é a atividade livre universal criativa e autocriativa por meio da qual o homem cria faz produz e transforma conforma seu mundo humano e histórico e a si mesmo atividade específica ao homem que o torna basicamente diferente de todos os outros seres Petrovic 1983 Nesse momento é imprescindível aproveitar os fundamentos teóricos e metodológicos da abordagem proposta considerando as premissas e critérios adotados na análise geomorfológica Nesse sentido é importante evidenciar a ótica adotada por Kügler 1976 tomando como princípio o conceito de georrelevo em que se considera o papel do relevo em face à ação humana tanto no que se refere às potencialidades e limitações como concernente ao modo concreto de uso com vistas voltadas para a efetividade e os custos sociais de produção Abreu 1982 Ao avançar no problema da classificação do relevo Abreu 1982 observa que não se pode deixar de lado os aspectos relacionados às formas e ao movimento da matéria resgatando os quatro caracteres básicos registrados por Ignotov 1968 como princípio de classificação a forma que pressupõe a existência de um veículo material na base do qual observase uma intenção específica que funciona como força motriz de sua gênese tendo ainda uma condição básica de existência definida segundo formas de movimentos específicos Com base no esquema geral de classificação do relevo como o apresentado por Mescerjakov ordenação estrutural unidade climática e mecanismos genéticos apoiado na postura penckiana compreendese as relações processuais em sua essência considerando o mérito de poderem ser incorporadas a estudos integrados da paisagem O método adotado pelo autor não se limita à questão da escala deslocando a análise do domínio morfoestrutural para o morfoescultural O produto final desta cartografia é que definirá em função da escala de abordagem uma ordenação que se prenda mais ao nível estrutural ou escultural da explicação geomorfológica Abreu 1982 Se de um lado a classificação dos fatos atémse aos interesses geomorfológicos por outro deixa a desejar quanto às relações sociais no que tange à apropriação do relevo partindo do princípio de que a morfodinâmica em muitos casos encontrase associada às ações produzidas pelo próprio homem Contudo na medida que se incorpora a esse sistema conceitual de classificação a noção humanista de georrelevo proposta por Kügler 1976 a geomorfologia ganhará no âmbito da geografia uma postura coerente com sua teoria e com os objetivos daquela Abreu 1982 Isso dependerá de um esforço pessoal dos geógrafos interessados em compreender a ordenação territorial valorizando uma ótica que tradicionalmente tem pertencido à geografia Daí o significado de se compreender o grau de vulnerabilidade do relevo e como se dá sua apropriação Ao mesmo tempo é necessário constatar que eventuais limitações de uso implicam concepções diferenciadas de acordo com o poder aquisitivo do apropriador Como se sabe a tecnologia pode superar limites de uso impostos pela vulnerabilidade do relevo o que caracteriza processo de artificialização do espaço Rosset 1989 ao mesmo tempo em que a ausência da técnica e a conseqüente necessidade de ocupação de áreas de risco transformam o relevo em componente do azar uma vez que o apropriador fica suscetível às anomalias da natureza Devese contudo ressaltar que a o emprego de técnicas para superar as restrições morfológicas leva a exceder a capacidade de suporte de inpu t de energia a gastos sociais desnecessários ou até mesmo à inviabilidade financeira b a artificialização do relevo pelo domínio tecnológico agrava o estado de externalização da natureza legitimando a tendência teleológica de dominação o que representa ampliação da crise existencial e do próprio antagonismo de classes sociais Embora o objetivo do estudo geomorfológico seja o de buscar a essência do relevo produzido pela contradição entre os processos internos e externos o que permite a compreensão dos graus de vulnerabilidade e potencialidade atual é importante perceber as transformações produzidas pelo homem sobre a morfoescultura em seus diferentes aspectos gerando aceleração dos processos morfodinâmicos da paisagem Cabe assim a incorporação do conceito de capacidade de suporte do georrelevo como forma de subsidiar a apropriação antropogênica se constituindo em referencial quanto à intensidade e freqüência de modos de uso e ocupação bem como da efetividade dos custos sociais de produção Com relação ao encadeamento das operações utilizandose da seqüência metodológica de Boesch 1970 e de Libault 1971 Abreu 1982 apresenta as etapas de investigação adotadas em seu trabalho ressaltando a importância da teoria de apoio à hipótese como forma de se prover o grau de coerência do resultado a que se quer chegar Abreu 1982 conserva a terminologia dos quatro níveis operacionais propostos por Boesch 1970 obtenção dos dados registro e armazenamento processamento e resultado final que corresponderiam respectivamente aos níveis compilatório correlatório semântico e normativo de Libault 1971 Lembrase aqui a pauta da investigação científica proposta por Bunge 1973 como grandes linhas para o desenvolvimento da pesquisa contemplando os níveis operacionais apresentados acima 1 Existência do problema caracterizado pelo reconhecimento dos eixos descobrimento e formulação do mesmo 2 Construção de um modelo teórico que consiste na seleção dos fatores pertinentes investigação das hipóteses centrais e das superposições auxiliares bem como traduções matemáticas quando possíveis ou necessárias 3 Dedução de conseqüências particulares individualizada pela busca de suportes racionais e busca de suportes empíricos 4 Prova das hipóteses representada pelo desenho da prova execução da prova elaboração dos dados e inferência das conclusões 5 Introdução das conclusões na teoria comparação das conclusões com as predições reajuste do modelo e sugestão acerca do trabalho ulterior Finalizando evidenciase a importância da práxis como forma de se produzir conhecimento retomando a postura apresentada por Mao Tsetung Oliveira 1985 onde a prática condiciona o pensamento e elabora o conhecimento É através do acúmulo do conhecimento sistematizado ao longo do tempo que se promove o necessário avanço epistemológico O novo conhecimento responderá pela implementação de uma nova prática uma nova teoria fundamentada em novos paradigmas como a tendência ecológica profunda comentada por Capra 1996 que trata da lógica interpenetração natureza e sociedade reconhecendo o valor intrínseco de todos os seres vivos Esperamse novas concepções longe da patologia idealista ou mecanicista ou ainda da tendência teleológica de um mundo comandado pelo imperativo da competitividade que impõe uma racionalidade que perdeu o sentido 1 Divulgado originalmente nos Anais do VI Encontro Regional de Geografia Espaço em Revista Ano 2 n 2 p 822 Catalão 1999 Foram feitas modificações e correções O resgate de conteúdo do primeiro capítulo no presente tópico é proposital tendo por objetivo reforçar os princípios do processo da pesquisa 2 Conforme AV Pinto 1985 p63 a ciência sendo a forma superior do processo do conhecimento não pode ser devidamente entendida fora da teoria geral desse mesmo processo Por isso todas as proposições que se emitem a seu propósito estão vinculadas a uma concepção filosófica 3 Popper K A lógica da pesquisa científica S PauloCultrixEdusp 1972 4 Para Rorty 1995 a hermenêutica encara as relações entre discursos variados como as relações entre partes integrantes de uma conversação possível uma conversação que não pressupõe nenhuma matriz disciplinar que una os interlocutores mas onde a esperança de concordância nunca é perdida enquanto dure a conversação A epistemologia vê a esperança de concordância como um sinal da existência de um terreno comum que talvez desconhecido para os interlocutores os une numa racionalidade comum 5 Para Kuhn ciência normal é a prática de resolve problemas em contrapartida ao fundo de um consenso sobre o que conta como uma boa explicação dos fenômenos e sobre o que seria necessário para que o problema fosse resolvido 6 O termo ciclo é contestado pelos autores pela idéia de linearidade proporcionada no sentido de retorno ao mesmo ponto desconsiderando os fenômenos ou processos que são acíclicos 7 Tricart 1965 demonstra que a essência do objeto de estudo da disciplina se altera com a escala levando à necessidade de se adaptar o método à escala de abordagem 8 Uma das imperfeições da proposta de Mesceriakov 1968 é a de desconsiderar a variável temporal Referências Bibliográficas Abreu A A de Quantificação e sensoriamento remoto na investigação geográfica Bol Paulista de Geografia S Paulo n 51 p 8993 1976 p 91 Abreu AA de Análise Geomorfológica Reflexão e Aplicação Tese de Livre DocênciaFFLCHUSP S Paulo 1982 Abreu AA de A Teoria Geomorfológica e sua Edificação Análise crítica Rev IG São Paulo v 4 n 12 p 5 23 jandez 1983 Abreu AA de Ação antrópica e propriedades morfodinâmicas do relevo Na área metropolitana de São Paulo Orientação S Paulo IGUSP n 7 p 3538 1986 AbSáber AA Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário Geomorfologia S Paulo IgeogUSP 18 1969 Baccaro CAD Estudos dos processos geomorfológicos de escoamento pluvial em área dae Cerrado UberlândiaMG FFLCH Universidade de São Paulo S Paulo 2000 Basenina NV e Trescov AA Geomorphologische kartierung des Gebirgsreliefs im Mastab 1200000 auf Grund einer Morphostrukturanalyse Zeitscrift für 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radioactif pour létude de lérosion pluviale es sols sablonneuw du Congo Occidental Peaceful Uses Of Atomic Energy in Africa Internation Atomic Energy Agency Vienna p 195200 1970 De Ploey J Moeyersoon J Runnoff creep of coarses debris experimental data and some field observations Catena Giesen v 227589 1976 Ellison WD Studies of raindrop erosion Agr Engr 25131181 1944 Engels F A dialética da natureza R Janeiro Paz e Terra 1979 Trad JBS Hldane Erhart H La genèse des sols en tant que phenomène geologique Esquisse dune théorie geologique et geochimique biostasie et rhexistasie Masson et Cie Editeurs Paris 1958 Gerasimov IP e Mescherikov JA Morphostructure In The encyclopedia of geomorphology Ed RW Fairbridge p 731732 Reinhold Book Co New York 1968 Giese LD Soil survey and land use planning with the tropical soils of Hawaii Anais Congr PanAmer Cons Solo S Paulo Secr Est S Paulo p 27788 1966 Guidicini G Iwasa OW Ensaio de correlação entre pluviosidade e escorregamentos em meio tropical úmido 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Textos Teoria e Método n 11 AGB S Paulo ago 1985 Palmer LC The influence of a thin water layer on water drop impact forces Intern AssocSci Hydrol 65141 48 1963 Passarge S Physiologische Morphologie Friedericksen Hamburg 1912 Die Landschaft tsguertel der Erde Hirt Breslau 1922 Penck W Die Morphologische Analyse Ein Kapitel der physikalis chen Geologie J Engelhorns Nachf Stuttgart 1924 Morphological analysis of landforms a contribution to physical geology Trad Hella Czech e Katherine CBoswell Macmillan and Co Ltd London 1953 Petrovic G in Dicionário do pensamento marxista Rio de JaneiroJorge Zahar Ed 1983 Popper K A lógica da pesquisa científica S Paulo CultrixEdusp 1972 Queiróz Neto JP de Les problèmes de lérosion accelerée dans lEtat de São Paulo Brésil In Alexandr J Geomorphologie Dinamic in Tropical Regions Press Univ du Zaire 1977 Reeves H Um pouco mais de azul S Paulo Martins Fontes 1986 282p Rorty Richard A filosofia e o espelho da natureza R de Janeiro Relume Dumará 1995 Trad Antônio Trânsito Ross J SRegistro cartográfico dos fatos geomorfológicos e a questão da taxonomia do relevo Ver Geografia São Paulo IGUSP 1992 Rosset C A antinatureza elementos para uma filosofia trágica Rio de JaneiroEspaço e Tempo 1989 324p Rougerie G Méthode détude expérimentale des phénomènes dérosion em milieu natural R Géom Dyn France p 22027 1954 Ruellan F Le rôle des nappes deau pluviel ruisselante dans le modelé du Brésil Paris Ephe 1952 46 p Ruhe RV Background and preparation In Geomorphology geomorphic process and surficial geology USA Houghton Mifflin 1975 Schik PA Gerlach troughsoverland flow trapas Study of slope and fluvial processes Congrès NewDehli p 170172 1968 Stocking MA The measurement use and relevance of rainfall energy in investigations into erosion Z Geomorph NF Berlin 29141150 1978 Tricart J Questce la géomorphologie R GénSci T 57 p 18993 1950 Tricart J Mise em point lévolution des versants Linformation geographique 2110815 1957 Tricart J Géomorphologie applicable Paris Masson 1978 Le modelé des regions chaudes forets et savanes SEDES Paris 1965 Troll K Luftbildplan und ökologische Bodenforschung Zeitschrift der Geographentag zu Danzing p 263270 Breslau 1932 Die tropischen Gebirge Bonner Geographische Abhandlungen Ferdinand Duemmlers Verlag Bonn 1959 Wischmeier WH Punch cards record runoff and soil Agr Engr 36 66646 1955 Anexo 2 Modelo de ficha para observações de campo 1 IDENTIFICAÇÃO DO PONTO Número de Ponto Altitude Diahorário da observação Localização Foto 2 ESTRUTURA SUPERFICIAL DA PAISAGEM Substrato rochoso Tipo de rocha Direçãomergulho Grau de alteração Material de Cobertura Espessura Cor Textura e composição predominante Origem Rocha alterada in situ Pedogenizada ou não Paleossolo Linhas de pedrapaleopavimento Características espessura tipo de material grau de arredondamento dimensão Amostras 3 FORMAS DE RELEVO E PROCESSOS ATUANTES Grau de dissecação pela drenagem Altomédiobaixoinexistente Forma das vertentes convexas retilíneas côncavas Grau de convexização Grau de desenvolvimento das várzeas Altomédiobaixoinexistente Descrição do leito inundável Largura material em transporte textura paleopavimentos Terraços fluviais Caracterização do terraço erosivodeposicional estratificação dos depósitos Dinâmica das Vertentes Tipo de erosão predominante linear laminar Grau de desenvolvimento das formas erosivas altomédiobaixo Grau de equilíbrio das vertentes alto médio baixo 4 USO DO SOLO E REFLEXOS NAS FORMAS E NA ESTRUTURA SUPERFICIAL Culturas permanente temporária Pastagens natural cultivada Técnicas de cultivo e manejo Extração mineral localização morfológica Conseqüências na dinâmica da paisagem em relação aos processos erosivos formas préexistentes gênese de novas formas Outros fatores que contribuem para acelerar ou retardar as formas erosivas 5 COBERTURA VEGETAL NATURAL Tipo florestalcerrado campo mata galeria Descrição Grau de alteração alto médio baixo Motivo 6 PERFIS ESQUEMAS DE CAMPO E OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES