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O QUE ENSINAMOS SOBRE AS PRIMEIRAS PLANTAS TERRESTRES: ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO\n\nNivea Dias dos Santos1\nNatália Ferreira da Silva2\nTiago Pinheiro de Oliveira3\n\nRecebido em 31.03.2015, Aceito em 27.04.2015\n\nAbstract\nWhat are we teaching students about the first terrestrial plants: analysis of high school didactic texts. We are surrounded by technologies that facilitate our search for information, although textbooks continue to be unanimously sought by both professors and students within the process of teaching/learning. The National Program of High School Didactic Texts (PNLEM) was created in 2003 to closely and objectively evaluate and distribute textbooks to public school students in Brazil. The distribution of biology books began in 2007. We evaluate here the information concerning bryophytes available in these biology books, with the following expectations: (1) that books published in multivolume series (S) will present more detailed approaches than single volume books (U) and will include evolutionary and ecological considerations; 2) that there have been improvements in text quality after 2007 due to the PNLEM program. We analyzed 16 books (four in each treatment: S vs U, before vs. after PNLEM) in qualitative manners based on our criteria as well as the evaluation parameters of PNLEM described in the literature. Evaluations (on a scale of 1-4) were attributed to the parameters contained on the axes: Theoretical Content and Visual Resources. We used Principal Component Analysis (PCA) to evaluate how the parameters varied among the treatments. Many books focused on names and descriptions, with little attention to ecological/evolutionary considerations, even among more recent books and those edited in multivolume series. Axis 1 of the PCA (51.25%) indicated a gradient related to the year of publication and separated the U and S texts, giving the latter higher ratings. Axis 2 (16.34%) demonstrated the existence of two groups of books, those that invested more in Theoretical Content (e.g., coherence, clarity) and those that invested in Visual Resources (layout, illustrations). Some recurring content problems concerning bryophytes were noted, and a short discussion concerning what bryophytes are, and why it is important to study them, is included. The diagnosis presented here will hopefully serve as a starting point for proposing new didactic materials as instruments for reflecting on modern scientific aspects, for stimulating\n\nKey words: bryophytes, cryptogam, teaching botany Resumo\nAtualmente estamos rodeados por tecnologias que facilitam a busca por informação. Porém, quando se trata do processo de ensino-aprendizagem, o livro didático continua sendo unanimidade entre professores e alunos. O Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) foi criado em 2003, objetivando a avaliação crítica e distribuição de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino do Brasil. Em 2007 iniciou-se a distribuição de livros de Biologia. Neste trabalho, avaliamos o conteúdo de briofitas de livros didáticos de Biologia, com as seguintes expectativas: (1) Livros seriados (S) apresentam uma abordagem mais detalhada em relação aos de volume único (U), incluindo aspectos evolutivos e ecológicos; 2) Ocorrer uma melhoria na qualidade dos livros após 2007, por causa do PNLEM. Analisamos de forma quali-quantitativa 16 livros (quatro em cada tratamento: S x U, antes e depois PNLEM), baseando-se nos critérios e parâmetros avaliativos do PNLEM e descritos na literatura. Nota-se a existência de dois grupos de livros, aqueles que investem em Conteúdo Teórico (e.g. coerência, clareza) e os que investem em Recursos Visuais (ilustração). São apontados alguns problemas recorrentes no conteúdo de briofitas e é apresentada uma breve discussão sobre quem são as briofitas e porque é importante estudá-las. O diagnóstico realizado servirá de base para a proposição de novos materiais didáticos que sirvam de instrumento de reflexão sobre os aspectos da realidade e estimulem a capacidade investigativa e a formação científica dos alunos, tendo em vista os desafios atuais do Ensino Médio no Brasil e a importância da botânica para a compreensão de assuntos relacionados ao meio ambiente.\n\nPalavras-chave: briofitas, criptógamas, ensino de Botânica O que Ensinamos Sobre as Primeiras Plantas Terrestres...\n\n321\nfinalidade de melhorar a eficiência do processo de ensino-aprendizagem (Gérard & Roegiers, 1998). E, como tal, passa a ser um importante mecanismo na homogenização de conceitos, determinação dos conteúdos e direcionamento das estratégias educacionais, delimitando \"o que se ensina e como se ensina\" (Lajolo, 1996).\n\nMedig-Neto & Fracalanza (2003) reconhecem três formas de utilização do LD por parte dos professores da educação básica, que têm, a cada dia, se recusado em adotar fielmente os manuais didáticos disponíveis no mercado: (1) os que fazem um uso simultâneo de diferentes coleções didáticas na elaboração do planejamento anual e na preparação das aulas; (2) os que utilizam o LD como apoio às atividades de ensino-aprendizagem, através da leitura de textos, realização de exercícios e atividades propostas ou como fonte de recursos visuais; (3) aqueles que o adotam como fonte bibliográfica, para complementações de seus próprios conhecimentos ou para realização de pesquisas bibliográficas por parte dos alunos. Contudo, a utilização do LD como facilitadores de ensino dentro da sala de aula deve ser realizado com formas critérios, e nesse sentido, diferentes acadêmicos têm investigado a qualidade das temáticas abordadas nas coleções didáticas, apontando deficiências e soluções para sua melhora (e.g. Fracalanza, 1993; Nunes & Cassavvan, 2011; Lopes & Vasconcelos, 2012; Cardoso-Silva & Vibanco, 2013). No entanto, nem sempre suas vozes são ouvidas pelas autoridades, editoras ou órgãos responsáveis por políticas públicas educacionais (Medig-Neto & Fracalanza, 2003).\n\nO Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) foi instituído em 2003 (Resolução CD FNDE n° 38, de 15/10/2003) e implantado a partir de 2004 pelo Ministério da Educação, objetivando a distribuição de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino do Brasil. Em 2007, iniciou-se a distribuição de livros de Biologia. A escolha do livro a ser adotado em sala de aula é realizada pelos professores a cada três anos, a partir de um catálogo enviado às escolas. Entretanto, o que deveria ser um momento de análise criteriosa das obras nem sempre recebe a devida importância no ambiente escolar. Além disso, o professor da escola básica muitas vezes não dispõe de tempo e base teórica para realizar uma avaliação crítica do material recebido. Neste trabalho, avaliamos criticamente o conteúdo relacionado às plantas criptogâmicas, com ênfase nas briofitas, em 16 livros de Biologia do Ensino Médio, com o objetivo de conhecer o que ensinamos sobre as primeiras plantas terrestres aos alunos de ensino básico. Temos as seguintes expectativas: (1) Livros seriados (S) apresentam uma abordagem mais detalhada em relação aos de volume único (U), incluindo aspectos evolutivos e ecológicos; 2) Ocorrer uma melhoria na qualidade dos livros após 2007, relacionada ao surgimento do PNLEM. Realizamos, ao final da análise, uma breve discussão sobre quem são as briofitas e porque é importante estudá-las.\n\nMaterial e métodos\nAnalisamos de forma quali-quantitativa 16 livros (quatro em cada tratamento: S x U, antes e depois PNLEM - Tab. 1), baseando-se nos critérios e parâmetros avaliativos presentes no Guia de Livros Didáticos PNLD, relacionados aos blocos \"abordagem teórico-metodológica e proposta didática\", \"projeto gráfico-editorial\" e \"conceitos, linguagem e procedimentos\" (Brasil, 2011) e aquelas recomendadas por Vasconcelos & Souto (2003), relacionados aos eixos \"conteúdo teórico\" e \"recursos visuais\". Para a análise quantitativa, notas de 1 a 4 (1 = fraco, 2 = regular, 3 = bom, 4 = excelente) foram atribuídas para parâmetros contidos nos eixos: \"conteúdo teórico\" e \"recursos visuais\". Em \"conteúdo teórico\" foram analisadas a abordagem teórica do livro, sua clareza, concisão e objetividade da linguagem, além da ausência de contradições conceituais, características que aumentam a eficiência do processo de aprendizagem (Vasconcelos & Souto, 2003). Já em \"recursos visuais\" foram julgadas a qualidade e originalidade das figuras e diagramação do livro (Vasconcelos & Souto, 2003). Realizamos uma Análise de Componentes Principais (PCA) no programa Fitopac 2.1 (Shepherd, 2010) para avaliar como os parâmetros variavam entre os tratamentos. Demos ênfase aos assuntos relacionados à \"transição das plantas para o ambiente terrestre\" e \"briofitas\". É importante destacar que não foi incluído um tópico sobre o nível de atualização de texto por termos realizado uma amostragem que agrupa livros de diferentes anos e edições.\nResultados e discussão\nAnálise crítica do conteúdo dos Livros Didáticos\nVerificamos que o comum em qualquer um dos nomes e significados (e.g. criptógamas x fanerógamas, plantas vasculares x avasculares), morfologia (de hepáticas e musgos) e ciclo de vida das briófitas nos livros analisados. Diferentemente do que previmos, é escassa uma abordagem ecológica e evolutiva das plantas terrestres, mesmo em livros recentes e seriados. Uma introdução à classificação/sistemática pode ser encontrada nos livros LD2, LD7, LD8, LD9, LD10, LD14, LD15, LD16 (Tab. 2). Entre os aspectos ecológicos geralmente enfatizados estão os substratos e a ecologia e a importância do gênero Sphagnum, que apesar de ter uma grande diversidade no Brasil (Costa et al. 2011), não apresenta em nosso país elevada abundância como formação de turfeiras, como em países temperados (Raven et al., 2001). Um livro que merece destaque por trazer questões evolutivas e algo sobre ecologia é o LD10, livro que recebeu a maior pontuação na análise quantitativa (Tab. 2). Abaixo, são listados alguns problemas recorrentes no conteúdo relacionado às briofitas nos livros analisados: (1) Em geral não citam os antecensos. O grupo que denominamos briofitas representa, na realidade, a reunião de três distintos filos de plantas, as hepáticas, os musgos e os antecensos. Apesar de esses organismos compartilharem diversas características, eles compõem um grupo parafilético, estando atualmente classificados em três divisões: Marchantiophyta, Bryophyta e Anthocerotophyta (Renzaglia et al., 2009; Crandall-Stotler et al., 2009). Filogenias recentes apontam as hepáticas como grupo mais antigo de briófitas, seguidas de musgos e antecensos, o grupo irmão das plantas vasculares (ver revisão de Ligrone et al., 2012). (2) Enfocam apenas as hepáticas talosas. Em geral citam o corpo achatado e fazem relação entre o termo \"hepática\" e sua associação com o formato do fígado humano. Contudo, raramente citam as hepáticas folhosas, que constituem o grupo mais diverso entre as Marchantiophyta e mais abundante nos trópicos (Gradstein & Costa, 2003). Destaque para LD10, que enfoca a diversidade das hepáticas folhosas nos ecossistemas tropicais. (3) Exemplar apenas o ciclo de vida dos musgos acrocárpicos. Somente parte dos musgos produz o gametângio feminino e, consequentemente, o esporófito, no ápice do gametófico (acrocárpicos). Musgos acrocárpicos crescem eretos, não são ramificados e ocorrem geralmente sobre solo, rocha e, mais raramente, sobre árvores. Entretanto, em florestas tropicais, a maior parte dos musgos cresce sobre troncos e ramos de árvores ou arbustos e são pleurocárpicos, isso é, ramificados e possuem o esporófito lateralmente, crescendo rastejantes ou pendentes (Gradstein et al., 2011). Algumas livrarias tratam de hepáticas, destacando a fase esporofítica somente no gênero Marchantia, que aparece como um grupo exclusivo representando uma exceção dentre as hepáticas (Gradstein & Costa, 2003). (4) Ocorrência das briófitas exclusiva em ambientes úmidos. A ocorrência de briófitas em ecossistemas áridos e semiáridos, incluindo desertos (ver Glime, 2007; Gradstein et al., 2001) não é relatada na maioria dos livros didáticos. (5) Rizóides com função de absorção de água e nutrientes. A maioria dos livros não cita que briófitas são poiquilotérmicas e podem absorver água e nutrientes por todo o gametófito (Proctor & Tuba, 2002). (6) Reprodução vegetativa. Poucos abordam a reprodução vegetativa (assexuada) das briófitas e, quando citam, descrevem apenas os conceitos relacionados às hepáticas talosas. A reprodução vegetativa é comum em briófitas, sendo importante para a expansão e manutenção das populações locais (ver Glime, 2007).\nOs seguintes erros conceituais presentes em alguns livros também merecem atenção: (1) LD9 - que chama ciclo de vida de \"ciclo evolutivo\" (pág. 291). (2) LD1 - afirma que os gametófitos das briófitas \"são de sexos separados\" (pág. 543), o que não é verdadeiro, embora 60% dos musgos sejam dióicos (Wyatt & Anderson, 1984). (3) LD6 e LD11 - definem ambas monoicas e dioicas como homotálicas e heterotálicas, respectivamente. Segundo Luiz-Ponzo et al. (2006). heterotálico significa auto-incompatível, que requer gametas de plantas diferentes para fertilização. Já homotálico significa auto-compatível, gametas de uma mesma planta podem efetuar fertilização.\nSugerimos aos autores de livros e professores a atualização de alguns termos: (1) O ciclo de vida com alternância de gerações, encontrado em todas as plantas terrestres deve ser denominado diplobionte e não, haplobionte ou haplodiplobiontico (Ferri et al., 1981). Estes termos foram comumente encontrados nos livros didáticos analisados. (2) Substituição dos termos cauloide e filóide por caulídio e filídio (Luiz-Ponzo et al., 2006). (3) Suprimir a expressão plantas superiores e inferiores. Briófitas constituem linhagens de plantas baseadas no princípio evolutivo, de morfologia simples, contudo podem ser superiores às outras plantas terrestres em termos de dispersão à longa distância, período de origem, tolerância a ambientes extremos (como geleiras, desertos e vulcões).\nAnálise quantitativa\nNão houve diferença significativa entre o número de páginas com conteúdo de \"introdutório às plantas terrestres\" e \"briófitas\" nos tratamentos do PNLEM (Tab. 1 e Fig. 1). A pontuação geral foi maior em livros seriados. O primeiro eixo da PCA (51,25% da variância dos dados) revelou um gradiente relacionado ao ano de publicação e separação dos livros de volume único e seriados, estes com as maiores notas (Fig. 3). O segundo eixo (16,34%) demonstrou a existência de dois grupos de livros, aqueles que investem em conteúdo teórico (com boas notas em coerência e clareza), por exemplo o LD7 e LD16, e os que investem em recursos visuais (e.g. diagramação e ilustrações), LD5, LD9, LD10 e LD14. Os dois primeiros eixos representaram 67,59% da variação dos dados, estando ainda o modelo da vara quebrada (45,81%), ou seja, o diagrama pode ser utilizado para interpretação dos resultados (Borcard et al., 2011). As variáveis mais correlacionadas com o primeiro eixo foram adequação à série (0,39) e qualidade das ilustrações (0,38) e com o segundo eixo foram a relação da ilustração com o conteúdo contido no texto (0,56) e a clareza do conteúdo (-0,51). Coerência, clareza e objetividade da linguagem são atributos do processo de aprendizagem, especialmente quando o aluno utiliza o livro fora. de sala de aula (Vasconcelos & Souto, 2003). Recursos visuais, como diagramas, desenhos e fotografias, facilitam a atividade docente e a compreensão do conteúdo por parte dos alunos, tendo como função estimular a interação entre os leitores e o texto científico (Vasconcelos & Souto, 2003). Sugestões de temas que podem ser abordados no Ensino Básico Quem são as briófitas? As briófitas (antóceros, hepáticas e musgos) são plantas pequenas talosas ou folhosas que, da mesma forma que as lícicas, sambambaias, gimnospermas e angiospermas, possuem clorofilas A e B, carotenos, xantofilas, amido, gorduras, celulose e hemicelulose em sua constituição, têm um ciclo de vida com alternância de gerações (gametofítico e esporofítico), e apresentam uma camada de células estéreis protegendo o embrião. Diferentemente das angiospermas e gimnospermas, não possuem flores e nem sementes (criptógamas), sendo ainda desprovidas de xilema e floema (avasculares), o que as distingue das licófitas e samambaias. Como características únicas, apresentam ainda a fase gametofítica como dominante no ciclo de vida, sendo constitui...tista que não faz fotossíntese na maturidade (exceto em antóceros) e que, por isso, depende nutricionalmente do esporofito, apresentado ainda (órgão produtor de esporos), denominada cápsula (Costa et al., 2010; Goffinet & Shaw 2009). Ciclo de vida Como nas demais plantas, o ciclo de vida das briófitas é caracterizado pela alternância de duas gerações: gametófito (haplóide) e esporofítico (díploide). Estas gerações apresentam forma, função e número cromossômico distintos, sendo o gametófico livre, fotosintetizante e dominante, o esporofito. O esporófito cresce aderido ao gametófito e retira dele seu alimento, tendo como função produzir e dispersar os esporos. O esporo é a primeira célula da geração gametofítica, que ao germinar produz um protonema, de onde se origina o gametófito. O gametófito das briófitas pode ser taloso (antóceros e hepáticas) ou folhoso (hepáticas e musgos). Os gametófitos folhosos são compostos por filóides (que realizam a fotossíntese e absorção de água) e caulídios (que conferem a sustentação). Os rizóides são os responsáveis pela fixação das plantas talosas ou folhosas ao substrato. Cabe destacar que, apesar de análogos às folhas, caules e raízes das plantas vasculares, aos filóides, caulídios e rizóides das briófitas apresentam órgãos distintos (geração gametofítica folhosa e geração esporofítica vegetativa) e que nas briófitas, não existe um sistema vascular, visto que as células responsáveis pela condução são desprovidas de ligninas em briófitas - ver Glime, 2007. A condução de solutos se dá de célula a célula, por difusão. O gametófito (haplóide) produz os órgãos sexuais masculinos (anterídios) e femininos (arquégonios), que são protegidos por uma camada de células estéreis. O anterídio produz, por mitose, os anterozóides (gametas masculinos haplóides) que são biflagelados; enquanto que o arquégonio produz, também por mitose, a oosfera (gameta feminino haplóide), que fica numa região do arquégonio denominada ventre. Por serem flagelados, os anterozóides precisam nadar para alcançar a oosfera, sendo indispensável a existência de água para que ocorra a fecundação. Quando ocorre a união dos núcleos do anterídio e da oosfera, é formado o zigoto, que é díplóide e representa a primeira célula da geração esporofítica. O zigoto produz um pé, que penetrará no tecido do gametófito, sendo responsável pela absorção dos nutrientes; uma seta, representando pela elevação e sustentação da cápsula, que é o nome dado ao esporângio das briófitas. É na cápsula que são produzidos os esporos através de meiose (com redução do número cromossômico a metade). Sendo assim, os esporos haplóides, quando maduros, são recobertos por esporopolenina, a liberados para o ambiente e dispersos principalmente pelo vento. No ciclo de vida das briófitas, a ocorrência de reprodução assexuada em muitas espécies, através da produção de apóstolos pelos gametófitos, e.g. gemas, propágulos, fragmentação dos filóides (Gradstein & Costa, 2003; Costa et al., 2010). Por que ensinar briófitas? (1) Evolução. Um passo fundamental para o entendimento da transição da vida para o ambiente terrestre e colonização desse ambiente pelos organismos vivos é a compreensão do surgimento e evolução das primeiras lin...has de plantas, derivadas de uma alga verde ancestral. O seu surgimento é estimado para cerca de 593 milhões de anos atrás (Magallon & Hilu, 2009). As três linhagens de briófitas surgem bem antes das angiospermas (175 milhões de anos - Magallon, 2009) ou da espécie humana (o gênero Homo surgiu há 2,8 milhões de anos - Villmore et al., 2015). (2) Diversidade. As briófitas representam o grupo mais diverso de plantas sem flores, apresentando 15.000 espécies no mundo, das quais 1.524 ocorrem no Brasil (Costa & Peralta, 2015; Gradstein et al., 2001), o que corresponde a 10% da biorioflora global e 41% daquela ocorrente na região Neotropical (Gradstein et al., 2001). (3) Ecologia. Essas pequenas plantas vivem sobre os mais variados tipos de substrato, como troncos e ramos de árvores, rochas, barrancos, folhas de arbustos e ervas, etc. Constitu...m um componente característico dos diferentes microrganismos classificados de base até os ramos externos da copa (Pocs, 1982). As briófitas demonstram preferência por locais úmidos por dois motivos principais: ausência de tecido vascular e pelo fato de que o gameta masculino que ocorre a fecundação. Além disso, muitas são poiquilotérmicas, ou seja, não possuem cutícula, apresentando pouco controle sobre a perda d'água, sendo o turgor de suas células dependente da umidade do ambiente (Delgadillo & Cárdenas, 1990; Gradstein et al., 2001). Algumas espécies são tolerantes à dessecação e podem suportar condições ambientais extremas, resistindo a longos períodos de seca e retornando ao metabolismo normal nas condições adequadas (Proctor, 2000; Proctor et al., 2007). (4) Fitogeografia. Briófitas estão amplamente distribuídas no mundo, desde as regiões polares às áreas temperadas e tropicais, desde o deserto a ambientes submersos com água doce, embora não ocorram no ambientes marinho (Delgadillo & Cárdenas, 1990). Apresentam dispersão dos esporos a longas distâncias pelo vento, possuindo padrões fitogeográficos amplos, quando comparadas às angiospermas (van Zanten & Pocs, 1981; Heinrichs et al., 2009). Para que servem as briófitas? Apesar do uso comercial das briófitas não impulsionar a economia mundial (ver Delgadillo & Cárdenas, 1990 e Glime, 2008), elas prestam diferentes serviços ambientais, essenciais para manutenção da estabilidade de muitos ecossistemas. Estão intimamente relacionadas com a dinâmica da maior dos ecossistemas terrestres, sendo importantes na ciclagem de água e nutrientes, como carbono e nitrogênio (Hallingbäck & Hodgetts, 2000; Turetsky, 2003; Glime, 2007). Desempenham um papel ecológico importante nas florestas tropicais úmidas, pois auxiliam no balanço hídrico do ecossistema, contribuindo na qualidade e manutenção da umidade atmosférica. O seu papel na prevenção da perda de água, possui alta importância e é evidenciado pelas sua disponibilidade sobre os organismos, e como plantas pioneiras, atuam na estabilização do substrato, inclusive em ambientes áridos e semiáridos, como a caatinga, onde formam os biocrusts de solo (Glime, 2007; Reis, 2015). Os biological soils crusts são associações de cianobactérias, líquenes e briófitas, típicas de ambientes secos, que contribu...m na manutenção da estrutura e umidade do solo e na ciclagem de nutrientes, como nitrogênio e carbono, e fornecem importantes serviços para o aumento da resiliência de ecossistemas (Eldridge, 2000). Contribuem para o sequestro de carbono, pois armazenam uma grande quantidade desse elemento em diferentes ecossistemas do mundo, como Tundra, Florestas de Coníferas e Florestas Tropicais Montanas (Singh, 2006). Por não apresentarem cutícula em seus filóides, as briófitas estão diretamente expostas às condições ambientais e reagem de maneira previsível e mensurável a mudanças no seu ambiente, sendo por isso, utilizadas como bioindicadoras (Hallingbäck & Hodgetts, 2000; Vanderpoorten & Goffinet, 2009). Briófitas são excelentes indicadores climáticos, pois reagem a fatores como temperatura e umidade, possuem ciclo de vida curto e dispersão por esporos (Frahm & Gradstein, 1991). São utilizadas no biomonitoramento direto e indireto de distúrbios ambientais. O biomonitoramento direto envolve a quantificação dos níveis de poluente, ou de enzimas derivadas da decomposição dessa poluente, nos tecidos da planta. Por exemplo, o monitoramento da poluição e a bioacumulação de substâncias contaminantes (Nimis et al., 2002; Carballeira et al., 2006). Já o indireto, relaciona-se à detecção de alterações em parâmetros da comunidade (e.g. composição de especies, abundância ou diversidade) em resposta a mudanças no ambiente (Vanderpooten & Goffinet, 2009). São exemplos de biomonitoramento indireto, a utilização de briófitas como indicadores de distrbuições florais (Gradstein et al., 2001), na avaliação dos efeitos da fragmentação de habitat (Zartman, 2003), na estimativa dos impactos do aumento da temperatura global (Gina et al., 1998) e na caracterização de tipos vegetacionais (Frahm & Gradstein, 1991; Costa & Lima, 2005; Santos & Costa, 2010; Santos et al., 2014).\n\nConsiderações finais\n\nConstatamos a existência de uma melhora na qualidade do conteúdo de briófitas presente em livros didáticos do Ensino Médio nos últimos anos, contudo boa parte desses livros ainda traz problemas teóricos, conceituais e poucos exemplos de táxons comuns em ambientes tropicais, além de escasso emprego ecológico. É evidente o distanciamento do conhecimento gerado pela academia do conteúdo presente nos livros didáticos. O conhecimento sobre as briófitas do Brasil é bem consolidado, embora haja carência da taxonomistas em diferentes regiões do país. A formação de um cidadão consciente em seu papel social requer que o conhecimento da diversidade, evolução e ecologia das primeiras plantas terrestres seja acessível para a sociedade brasileira. A gênese desse ensino vem sendo desenvolidas há anos, com a produção de manuais didáticos, como o \"Manual para Estudo de Bryophyta\" (Bastos, 1996), o \"Guia de Estudo de Briófitas: briófitas do Ceará\" (Brito & Pôrto, 2000), o \"Manual de Problemas\" (Costa et al., 2010) e o manual disponível na internet \"Briôfitas\" (Bordin, 2009); todos, contudo, voltados para o nível de graduação.\n\nEste trabalho é parte de um projeto guarda-chuva, intitulado, \"Ensino de Botânica: fluências e influências\", cujo foco é a falta de interesse acerca dos conteúdos de botânica por parte de alunos e professores da escola básica. O diagnóstico realizado servirá de base para a proposição de novos materiais didáticos que sirvam de instrumento de reflexão dos aspectos da realidade e estimulem a capacidade investigativa e formação científica dos alunos, tendo em vista os desafios atuais da Educação Básica no Brasil e a importância da Botânica para a compreensão do assuntos relacionados ao meio ambiente e, consequente, formação de uma consciência ambiental.\n\nReferências bibliográficas\n\nBASTOS, G.J.P. & NUNES, J.M.C. 1996. Guia para Identificação de material botânico: I – manual para estudo prático de Bryophyta. Salvador, Gráfica da UNEB.\n\nBORCARD, D.; GILLET, F. & LEGENDRE, P. 2011. Numerical Ecology with R. New York, Springer.\n\nBORDIN, J. 2009. Briôfitas.Disponível em http://www.biodiversidade.pgbt.ibot.sp.gov.br/Web/pdf/Briôfitas_Jucara_Bordin.pdf. Acesso em 25 abr. 2015.\n\nBRASIL. 2011. Secretaria de Educação Básica. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: Biologia. Brasília, Ministério da Educação.\n\nBRITO, A.E.R.M. & PÔRTO, K.C. 2000. Guia de Estudos de Bríofitas: bríofitas do Ceará. Fortaleza, EUFC.