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Texto de pré-visualização
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA Shirley Aparecida Fernandes Lucas Fernandes Nunes Renata Gonçalves dos Reis Kuhn Orientadora Dra Clara Versiani dos Anjos Prado MARIA ORTIZ PROTAGONISMO FEMININO NA RESISTÊNCIA CONTRA A INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL COLONIAL RESUMO Este trabalho inserido na linha de pesquisa História Sociedade e Cultura investiga o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do caso de Maria Ortiz na resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII A escolha do tema decorre da necessidade de enfrentar a invisibilização das mulheres em eventos decisivos e compreender como suas memórias foram produzidas e institucionalizadas no espaço público capixaba O objetivo geral é analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina como objetivos específicos examinamse a circulação de sua memória na historiografia na tradição oral e nos lugares de memória bem como sua relação com debates contemporâneos sobre igualdade de gênero A fundamentação teórica articula Joan Scott 1991 ao propor o gênero como categoria de análise Pinsky e Pedro 2012 ao destacar as mulheres como sujeitos históricos Delgado 2005 ao discutir a noção de sujeito Bauer 2021 quanto à formulação metodológica da pesquisa 2 Zlatic 2020 ao evidenciar as potencialidades da história regional e Karnal e Tatsch 2009 ao problematizar a instabilidade da memória A pesquisa é qualitativa baseada em crônicas coloniais obras historiográficas OLIVEIRA 2008 acervos do IHGES e no Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz articulada ao ODS 5 da ONU 2024 Ao evidenciar a agência de Maria Ortiz o estudo contribui para reinscrever a experiência feminina na narrativa histórica capixaba e nacional PALAVRASCHAVE Maria Ortiz Protagonismo feminino Gênero História regional Memória 3 1 INTRODUÇÃO Este trabalho inserese na linha de pesquisa História Sociedade e Cultura e tem como objeto de análise o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do estudo da atuação de Maria Ortiz personagem vinculada à resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII A escolha do tema justificase pela necessidade de enfrentar a histórica invisibilização das mulheres em narrativas oficiais que ao longo do tempo relegaram a atuação feminina a papéis secundários ou marginais Tratase portanto de recuperar e problematizar uma experiência emblemática ao mesmo tempo local e universal local porque circunscrita à realidade da capitania do Espírito Santo e universal porque conectase ao debate historiográfico mais amplo sobre gênero memória e agência histórica O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina no Brasil colonial Como objetivos específicos buscase examinar os processos de construção e circulação de sua memória na historiografia na tradição oral e nos lugares de memória compreender a importância de sua presença em espaços simbólicos como a escadaria que leva seu nome monumentos e toponímias e estabelecer vínculos entre sua trajetória e o fortalecimento das narrativas femininas no âmbito da história regional evidenciando como experiências locais dialogam com dinâmicas coloniais e globais A fundamentação teórica sustentase em diferentes referenciais Joan Scott 1991 defende o gênero como categoria útil de análise histórica permitindo compreender a desigualdade não como dado natural mas como construção social Carla Pinsky e Joana Pedro 2012 ao propor a inserção das mulheres como sujeitos históricos oferecem instrumentos para questionar a tradição androcêntrica da historiografia 4 Lucília de Almeida Delgado 2005 ao discutir a noção de sujeito reforça a importância de reconhecer a agência individual e coletiva em contextos de restrição social Caroline Silveira Bauer 2021 contribui ao ressaltar a importância da formulação metodológica da definição rigorosa de recortes espaciais temporais e temáticos elementos que estruturam a presente investigação Carlos Eduardo Zlatic 2020 amplia a análise ao evidenciar as potencialidades da história regional concebida não como apêndice da história nacional mas como campo autônomo capaz de articular singularidades locais e processos globais Por sua vez Leandro Karnal e Flávia Galli Tatsch 2009 problematizam a memória e os documentos lembrando que não são registros neutros mas construções instáveis sujeitas a disputas culturais políticas e ideológicas Esses referenciais em diálogo oferecem arcabouço sólido para compreender não apenas o episódio histórico em si mas também as ressignificações da imagem de Maria Ortiz ao longo do tempo A sustentação factual ancorase em fontes coloniais que registram a resistência popular em tradições orais que perpetuaram e reelaboraram a memória da personagem e em narrativas historiográficas locais como a de José Teixeira de Oliveira 2008 que consolidaram sua imagem como heroína capixaba Além disso incluemse acervos institucionais como os do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES e iniciativas culturais como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória que transformaram sua lembrança em patrimônio simbólico e identitário A metodologia adotada é de natureza qualitativa baseada na revisão bibliográfica e na análise crítica de fontes documentais e memoriais A investigação articula o diálogo entre teoria e fontes buscando compreender como diferentes registros contribuíram para a preservação e a ressignificação da memória de Maria Ortiz 5 O estudo também incorpora uma dimensão contemporânea ao relacionarse ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 Igualdade de Gênero ONU 2024 que orienta políticas e reflexões voltadas à eliminação das desigualdades e à ampliação da participação feminina em todos os âmbitos sociais Esse diálogo reforça a atualidade e a relevância do tema ao conectar o passado colonial com debates contemporâneos sobre empoderamento e justiça de gênero O trabalho organizase em três partes i a discussão teórica que apresenta as contribuições da história de gênero da memória e da história regional como referenciais analíticos ii o desenvolvimento que examina o contexto da invasão holandesa e a atuação de Maria Ortiz a partir das fontes documentais memoriais e historiográficas em diálogo com os referenciais teóricos e iii as considerações finais que sintetizam os resultados alcançados avaliam as dificuldades enfrentadas no processo investigativo e destacam as contribuições do estudo para a formação acadêmica e para o fortalecimento das narrativas femininas na história do Brasil 2 DESENVOLVIMENTO Gênero e memória na resistência capixaba o exemplo de Maria Ortiz O protagonismo feminino em contextos de resistência política e social tem sido gradualmente resgatado pela historiografia contemporânea sobretudo a partir das contribuições da crítica feminista e da abordagem da história regional A revisão desses contextos revela que mulheres historicamente invisibilizadas desempenharam papéis decisivos em momentos de crise e de afirmação coletiva Nesse sentido a trajetória de Maria Ortiz personagem ligada à defesa da cidade de VitóriaES durante a invasão holandesa no século XVII constitui um caso paradigmático Sua atuação reinterpretada ao longo do tempo pela tradição oral pela historiografia e pelos lugares de memória permite compreendêla como figura que ultrapassa os limites da narrativa heroica local projetandose como símbolo de resistência e de agência feminina em uma sociedade marcada pelo predomínio das estruturas patriarcais 6 A sustentação teórica deste estudo se ancora em autoras que problematizam a exclusão das mulheres da narrativa histórica Joan Scott 1991 afirma que o gênero deve ser entendido como categoria analítica fundamental uma vez que as desigualdades entre homens e mulheres resultam de construções sociais e culturais e não de determinismos biológicos A partir dessa perspectiva a ausência de figuras femininas nas narrativas tradicionais deve ser lida como produto de práticas de poder que naturalizaram a subordinação Complementarmente Pinsky e Pedro 2012 defendem a inserção das mulheres como sujeitos históricos ressaltando que a historiografia precisa superar a visão androcêntrica que durante séculos restringiu a experiência feminina a papéis marginais Nesse mesmo horizonte Delgado 2005 reforça a importância da noção de sujeito histórico destacando que mesmo em contextos de restrições estruturais indivíduos podem exercer agência e transformar realidades Aplicados ao caso de Maria Ortiz esses referenciais permitem situar sua ação como expressão de resistência em meio às barreiras impostas pela ordem colonial A abordagem da história regional conforme delineada por Carlos Eduardo Zlatic 2020 contribui para compreender como acontecimentos de dimensão colonial se materializam em realidades locais Para o autor a região não deve ser vista como fragmento menor da história nacional mas como espaço dotado de dinâmicas próprias que simultaneamente dialogam com estruturas mais amplas Assim analisar o episódio da invasão holandesa a partir da capitania do Espírito Santo possibilita não apenas valorizar a especificidade da experiência capixaba mas também identificar como nela emergiu uma liderança feminina singular 7 Essa chave de leitura legitima a inclusão de Maria Ortiz no processo de resistência conferindo à sua atuação relevância que ultrapassa os limites locais e a conecta a disputas globais no âmbito da colonização Nesse mesmo sentido Bauer 2021 ao discutir a formulação da pesquisa em História enfatiza a necessidade de escolhas metodológicas conscientes que vão desde a definição de hipóteses até a delimitação do recorte espacial temporal e temático Essa orientação reforça a pertinência de analisar Maria Ortiz a partir da articulação entre gênero memória e história regional Do ponto de vista metodológico a pesquisa apoiase em uma abordagem qualitativa fundamentada na análise crítica de fontes documentais e memoriais Entre os registros examinados estão crônicas coloniais que embora sucintas já destacavam a resistência popular diante da invasão e tradições orais que transmitidas e ressignificadas ao longo do tempo mantiveram viva a lembrança da atuação feminina A essas fontes somamse narrativas historiográficas como a de José Teixeira de Oliveira 2008 que consolidaram a imagem de Maria Ortiz como heroína capixaba bem como os acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES e o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz da Prefeitura de Vitória que institucionalizam sua memória no espaço público Quando lidas à luz da teoria de gênero de Scott 1991 essas fontes deixam de ser apenas registros comemorativos e revelam as disputas em torno da memória feminina interpretadas a partir de Zlatic 2020 evidenciam como o espaço urbano da escadaria se converteu em lugar de memória regional conectandose a uma narrativa mais ampla de resistência colonial Por fim a inserção da agenda contemporânea dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em especial o ODS 5 Igualdade de Gênero ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 2024 reforça a atualidade do debate 8 Esse objetivo propõe a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra mulheres e meninas bem como a ampliação de sua participação plena em todos os âmbitos sociais e políticos Ao relacionar a trajetória histórica de Maria Ortiz com as diretrizes do ODS 5 reconhecese que sua memória não pertence apenas ao passado mas constitui instrumento pedagógico e político para os debates contemporâneos sobre empoderamento feminino A resistência de Maria Ortiz reelaborada pela historiografia e pela tradição oral transformase assim em elo entre o passado colonial e a luta atual por igualdade de gênero evidenciando a relevância de sua história como patrimônio cultural e como referência para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva 21 A história de Maria Ortiz e suas fontes A trajetória de Maria Ortiz só pode ser compreendida mediante a articulação crítica de diferentes conjuntos de fontes que quando analisados em conjunto revelam tanto a complexidade do episódio da resistência capixaba quanto os processos de construção e ressignificação de sua memória ao longo do tempo As crônicas coloniais ainda que breves e muitas vezes lacunares já registram a resistência da população local à invasão holandesa destacando a participação ativa de mulheres e populares Esses relatos mencionam a utilização de estratégias improvisadas de defesa como o lançamento de água fervente e utensílios domésticos sobre os invasores gesto que atribui ao episódio uma dimensão singular ao evidenciar práticas de resistência originadas no cotidiano doméstico Embora não apresentem descrições detalhadas de Maria Ortiz tais registros demonstram que a resistência não se limitou a ações militares convencionais mas incorporou recursos simbólicos e materiais que deram visibilidade à atuação feminina em um cenário historicamente marcado pela primazia do masculino 9 Com o passar do tempo a figura de Maria Ortiz foi ganhando maior centralidade por meio das tradições orais e das narrativas historiográficas regionais que lhe atribuíram um estatuto heroico Um exemplo emblemático é a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 que evoca sua atuação durante a invasão de 1625 descrevendoa como uma mulher armada de coragem e fervor patriótico capaz de mobilizar a população na escadaria da antiga Rua do Pelourinho Essa representação marcada por forte carga simbólica elevou Maria Ortiz à condição de heroína capixaba transformando sua imagem em elemento constitutivo da memória coletiva do Espírito Santo Contudo ao mesmo tempo em que exalta sua bravura essa tradição reforça uma narrativa seletiva que privilegia determinados personagens e obscurece a multiplicidade de mulheres que participaram do evento revelando a natureza política e disputada da memória O processo de institucionalização da memória de Maria Ortiz pode ser observado também nos acervos documentais e em iniciativas culturais O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES preserva registros e documentos que fazem referência à personagem enquanto a Prefeitura de Vitória incorporou sua lembrança ao Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz transformando o espaço físico em lugar de memória Esses dispositivos documentos monumentos toponímias e práticas comemorativas não apenas preservam a lembrança de Maria Ortiz mas a reelaboram constantemente conferindolhe um papel central na construção da identidade regional Quando examinadas sob a ótica dos estudos de gênero essas fontes evidenciam que a participação de Maria Ortiz não pode ser reduzida a um episódio excepcional 10 Pelo contrário sua presença deve ser interpretada como expressão de uma tradição mais ampla de resistência feminina que a historiografia oficial de viés androcêntrico em grande parte negligenciou A análise mostra que mesmo inseridas em uma sociedade colonial profundamente patriarcal as mulheres encontraram caminhos para intervir de maneira decisiva em acontecimentos de grande relevância histórica Dessa forma Maria Ortiz emerge como caso paradigmático sua atuação registrada e reinterpretada em diferentes temporalidades articula gênero memória e identidade regional Mais do que uma heroína local sua trajetória simboliza a capacidade das mulheres de se afirmarem como agentes históricos em cenários de dominação e conflito além de exemplificar como a memória coletiva é construída disputada e institucionalizada ao longo do tempo 22 Leituras obrigatórias e diálogo com o tema As leituras obrigatórias permitiram consolidar a estrutura conceitual e metodológica deste estudo Caroline Silveira Bauer 2021 destaca que toda pesquisa histórica exige uma formulação precisa fundada em delimitações conscientes de tema hipóteses fontes e metodologia Para a autora investigar o passado significa reconhecer que o historiador faz escolhas interpretativas em cada etapa do trabalho desde a definição do recorte temporal até a seleção das categorias analíticas Desse modo não há neutralidade absoluta cada decisão metodológica orienta a forma de compreender e narrar a história Tal perspectiva é fundamental para o estudo de Maria Ortiz cuja análise demanda uma rigorosa demarcação espacial VitóriaES temporal século XVII e 11 temática gênero e memória É a partir desse rigor metodológico que se torna possível examinar como uma mulher em meio a estruturas coloniais patriarcais inscreveu sua presença em um episódio de resistência militar e simbólica Carlos Eduardo Zlatic 2020 ao tratar da História Regional ressalta que esse campo não deve ser compreendido como mera extensão da História Nacional ou como descrição periférica de eventos locais Pelo contrário o autor afirma que a região constitui espaço privilegiado de observação no qual se articulam experiências históricas próprias que ao mesmo tempo dialogam com contextos mais amplos Assim estudar o regional significa iluminar singularidades e captar as conexões entre diferentes escalas do fenômeno histórico Aplicada ao caso de Maria Ortiz essa abordagem permite compreender Vitória não apenas como um cenário subordinado às disputas coloniais globais mas como palco de dinâmicas específicas nas quais emergiu uma liderança feminina singular A História Regional nesse sentido legitima a visibilidade de Maria Ortiz como protagonista em um episódio decisivo cuja relevância extrapola os limites locais Leandro Karnal e Flávia Galli Tatsch 2009 em A memória evanescente aprofundam a reflexão sobre a natureza da memória e dos documentos históricos problematizando a crença em sua neutralidade Para os autores documentos não são simples registros fixos do passado mas construções sociais continuamente reinterpretadas apropriadas e instrumentalizadas conforme demandas culturais políticas e ideológicas Essa concepção é central para a análise da trajetória de Maria Ortiz pois sua imagem foi sendo reelaborada ao longo do tempo de uma figura lembrada em crônicas coloniais a heroína capixaba celebrada em narrativas locais de silenciada em determinados momentos da historiografia oficial a resgatada como símbolo de resistência feminina em monumentos toponímias e tradições populares 12 A instabilidade de sua memória ilustra portanto como o passado não é imutável mas objeto de disputas e ressignificações A Organização das Nações Unidas por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 ODS 5 oferece uma dimensão contemporânea à reflexão histórica Esse objetivo estabelece como meta global a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra mulheres e meninas além da ampliação de sua participação e liderança em todos os âmbitos da vida social política e econômica Ao relacionar a trajetória de Maria Ortiz às diretrizes do ODS 5 evidenciase que a análise histórica não se restringe a um resgate do passado mas assume relevância atual inserindose em debates sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino A resistência de Maria Ortiz reinterpretada à luz dos desafios contemporâneos transformase em instrumento pedagógico e político de valorização da memória das mulheres reafirmando a importância de recuperar experiências femininas ocultadas ou marginalizadas pela tradição historiográfica dominante 23 Fontes e aprofundamento da análise A compreensão da trajetória e da memória de Maria Ortiz requer uma abordagem crítica e plural das fontes na medida em que elas não apenas registram fatos passados mas também produzem significados constroem narrativas e instituem identidades Ao serem analisadas em conjunto essas fontes revelam os diferentes modos pelos quais a figura de Maria Ortiz foi lembrada exaltada ou silenciada permitindo entender como se consolidou enquanto referência simbólica e histórica para a sociedade capixaba O primeiro grupo corresponde às fontes historiográficas e memoriais entre as quais se destaca a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 O autor consolida a imagem de Maria Ortiz como heroína capixaba descrevendoa como mulher 13 armada de coragem e fervor patriótico que liderou a defesa da Vila de Vitória durante a invasão holandesa de 1625 Esse tipo de narrativa embora fundamental para a perpetuação da personagem no imaginário coletivo deve ser lido de modo crítico tratase de uma representação marcada por valores nacionalistas e androcêntricos de sua época que ao mesmo tempo em que conferem visibilidade a uma mulher também simplificam sua complexidade histórica A análise desse tipo de fonte evidencia como a historiografia não é neutra mas orientada por intenções e discursos que moldam a memória social Um segundo conjunto diz respeito às fontes institucionais e culturais que permitem observar a passagem da memória de Maria Ortiz da esfera oral e literária para o campo da patrimonialização oficial Os acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES desempenham papel central nesse processo ao preservar registros e interpretações que reforçam sua relevância para a história local De igual modo iniciativas como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória transformam o espaço urbano em lugar de memória conceito de Pierre Nora que remete a pontos materiais e simbólicos nos quais se cristalizam e se atualizam lembranças coletivas Assim a escadaria que leva seu nome não é apenas um vestígio físico mas também um monumento vivo de identidade regional que reitera a presença feminina na narrativa pública O terceiro grupo é formado pelas fontes coloniais especialmente as crônicas do século XVII que oferecem registros iniciais da resistência capixaba Ainda que breves e fragmentárias essas crônicas mencionam a participação popular na defesa da vila o que abre margem para reconhecer que mulheres como Maria Ortiz estiveram diretamente implicadas no processo de resistência 14 A concisão e a parcialidade desses documentos contudo revelam tanto sua importância como testemunhos próximos ao acontecimento quanto seus limites enquanto registros históricos que exigem a mediação crítica da historiografia e das ciências sociais para a interpretação adequada Ao serem lidas em conjunto essas três tipologias de fontes quando analisadas sob a perspectiva da teoria de gênero SCOTT 1991 e da história regional ZLATIC 2020 permitem compreender Maria Ortiz como caso paradigmático de protagonismo feminino Tratase de uma personagem cuja memória foi historicamente marginalizada mas que ao longo do tempo foi ressignificada e institucionalizada transformando se em ícone identitário e político para a comunidade capixaba Nesse sentido a memória de Maria Ortiz não é apenas lembrança de um passado distante mas também dispositivo de afirmação cultural e instrumento de disputa simbólica no presente Assim o estudo de suas fontes demonstra que a construção da memória histórica é um processo dinâmico atravessado por disputas de poder e por seleções narrativas no qual se inscrevem valores de gênero interesses regionais e projetos de identidade coletiva Maria Ortiz ao transitar das crônicas coloniais para os acervos institucionais e finalmente para os monumentos urbanos e tradições culturais convertese em testemunho vivo da capacidade da memória social de reconhecer reinterpretar e projetar o protagonismo das mulheres na História 15 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da trajetória de Maria Ortiz permitiu reconhecer que o protagonismo feminino esteve presente mesmo em contextos fortemente patriarcais como o Brasil colonial A partir do suporte teórico dos estudos de gênero da história regional e da problematização da memória foi possível compreender que sua atuação transcende a figura de heroína local e se insere em uma narrativa mais ampla de resistência e afirmação das mulheres como agentes históricos No que se refere ao alcance dos objetivos o grupo avalia que estes foram plenamente atendidos Foi possível examinar a atuação de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina investigar a construção e circulação de sua memória na historiografia e na tradição oral e analisar a presença de sua figura nos lugares de memória que a perpetuam no espaço público capixaba O estudo também conseguiu estabelecer conexões entre a experiência histórica de Maria Ortiz e debates contemporâneos sobre igualdade de gênero em diálogo com o ODS 5 da Organização das Nações Unidas o que reforça sua relevância social e política Durante o desenvolvimento da pesquisa enfrentaramse desafios importantes especialmente a escassez de fontes diretas sobre a personagem Essa limitação exigiu esforço metodológico redobrado tanto na busca por fontes complementares como crônicas coloniais e tradições orais quanto na articulação crítica dos referenciais teóricos que sustentaram a análise Essa dificuldade longe de enfraquecer o trabalho contribuiu para reforçar a importância da reflexão metodológica e para exercitar a capacidade do grupo em lidar com lacunas documentais um aspecto central na prática historiográfica Por fim o grupo considera que o trabalho colaborou de maneira significativa para sua formação acadêmica A pesquisa favoreceu o desenvolvimento do 16 pensamento crítico ao estimular a problematização de memórias cristalizadas e a valorização de narrativas historicamente marginalizadas Também possibilitou aprofundar o entendimento da História como campo de disputas simbólicas em que diferentes interpretações e representações concorrem pela legitimação no espaço público Além disso o exercício de articular teoria fontes e metodologia fortaleceu competências essenciais para a prática da pesquisa histórica ampliando a capacidade de análise e de compreensão do papel das mulheres na história do Brasil Concluise portanto que este estudo não apenas cumpriu seus objetivos mas também representou um aprendizado coletivo fundamental reafirmando a importância da pesquisa histórica como instrumento de formação crítica de reconhecimento da diversidade das experiências humanas e de promoção da igualdade de gênero na construção da memória social REFERÊNCIAS BAUER Caroline Silveira Formulação da pesquisa em história In BAUER Caroline Silveira et al Metodologia da pesquisa em História Porto Alegre SAGAH 2021 p 1330 DELGADO Lucília de Almeida Neves O sujeito e a história São Paulo Contexto 2005 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO Disponível em httpwwwihgesorgbr Acesso em 2 set 2025 KARNAL Leandro TATSCH Flávia Galli A memória evanescente In PINSKY Carla Bassanezi LUCA Tânia Regina de orgs O historiador e suas fontes São Paulo Contexto 2009 p 3955 OLIVEIRA José Teixeira de História do Espírito Santo Vitória Flor Cultura 2008 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Objetivo 5 Igualdade de Gênero Disponível em httpsbrasilunorgptbrsdgs5 Acesso em 6 ago 2025 17 PINSKY Carla Bassanezi PEDRO Joana Maria orgs Nova história das mulheres no Brasil São Paulo Contexto 2012 PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA Secretaria de Cultura Roteiro cultural Ladeira Maria Ortiz Vitória PMV sd Disponível em httpsculturavitoriaesgovbr Acesso em 2 set 2025 SCOTT Joan W Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação Realidade Porto Alegre v 16 n 2 p 522 juldez 1991 ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional definições métodos e objetos In ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional convergências entre o local e o global Curitiba Intersaberes 2020 p 1346 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA Shirley Aparecida Fernandes Lucas Fernandes Nunes Renata Gonçalves dos Reis Kuhn Orientadora Mestre Clara VA Prado MARIA ORTIZ PROTAGONISMO FEMININO NA RESISTÊNCIA CONTRA A INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL COLONIAL RESUMO Este trabalho investiga o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do caso de Maria Ortiz na resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII O objetivo é analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina por meio de uma metodologia qualitativa Os resultados indicam que Maria Ortiz se estabelece como uma representação de luta e destaque feminino ressaltando a relevância da análise crítica acerca das lembranças que foram historicamente negligenciadas enriquecendo a compreensão da vivência feminina na narrativa local e nacional fortalecendo discussões acerca da equidade de gênero e da memória coletiva PALAVRASCHAVE Maria Ortiz Protagonismo feminino Diversidade étnica 2 1 INTRODUÇÃO Este estudo está alinhado com a pesquisa sobre Diversidade Étnica e de Gênero um campo que se propõe a explorar as diversas maneiras de criação das identidades sociais históricas e culturais no Brasil ressaltando as desigualdades estruturais que influenciaram a formação da sociedade buscando entender os fatores sociais que levaram à marginalização das mulheres conectando a análise a fundamentações teóricas que possibilitam a compreensão desses fenômenos Ao inserir o estudo na área de Diversidade Étnica e de Gênero procurase entender os fatores sociais que contribuíram para a ocultação da presença feminina articulando a investigação a fundamentos teóricos que possibilitam a interpretação desses fenômenos Joan Scott 1991 argumenta que o gênero deve ser considerado uma categoria para a análise histórica destacando as construções sociais que legitimam desigualdades Pinsky e Pedro 2012 destacam a importância de reconhecer as mulheres como protagonistas da história contestando a abordagem historiográfica convencional Zlatic 2020 também enfatiza a importância da narrativa local na conexão de vivências regionais com processos globais o que enriquece a discussão sobre a memória e o papel das mulheres Este trabalho aborda a participação das mulheres na história brasileira focando especificamente em Maria Ortiz e sua atuação durante a resistência contra a invasão holandesa em Vitória no Espírito Santo no século XVII A seleção dessa personagem permite examinar o papel das mulheres em momentos históricos muitas vezes ignorados ressaltando como elas atuaram de forma proativa em ambientes coloniais De acordo com Joan Scott 1991 o gênero deve ser visto como uma categoria de análise que expõe as construções sociais das desigualdades tornando relevante a pesquisa sobre a marginalização das mulheres em relatos oficiais Dessa maneira a pesquisa conecta a perspectiva histórica das iniciativas de Maria Ortiz com considerações teóricas relacionadas a gênero memória e poder 3 Zlatic 2020 destaca que o estudo regional ajuda a entender de que maneira as vivências locais se conectam com dinâmicas globais enriquecendo a percepção sobre o papel das mulheres Essa perspectiva permite discutir a formação de imagens femininas e analisar os critérios que ao longo da história definiram quais personagens recebem destaque ou são deixadas à sombra A decisão de explorar o papel central de Maria Ortiz se justifica na urgência de combater a invisibilidade histórica das mulheres em relatos oficiais que muitas vezes relegaram suas contribuições a posições menores ou meramente representativas A pesquisa possibilita entender de que maneira vivências locais frequentemente negligenciadas ajudam na formação da identidade cultural e regional A pesquisa ajuda a promover relatos históricos mais abrangentes possibilitando a ligação entre o passado e o presente além de incentivar a reflexão sobre temas como gênero e equidade Ao reconhecer e valorizar experiências anteriormente negligenciadas o estudo enriquece a percepção acerca da contribuição das mulheres ao longo da história estimulando novas perspectivas de pesquisa e promovendo discussões sobre representatividade Este estudo tem como objetivo principal analisar o papel histórico de Maria Ortiz como um símbolo de resistência das mulheres durante a invasão holandesa em Vitória no Espírito Santo no século XVII visando entender de que maneira suas atitudes e escolhas impactaram os eventos na região destacando seu papel central em cenários coloniais caracterizados por disparidades de gênero Os objetivos específicos deste estudo são analisar como se dá a construção e a disseminação da memória de Maria Ortiz na historiografia na tradição oral e em locais de memória como monumentos e nomes de lugares bem como entender a importância de sua figura em contextos simbólicos e culturais da cidade de Vitória e também examinar de que maneira seu percurso enriquece as narrativas femininas no contexto da história local O estudo utilizou uma metodologia qualitativa focando na análise crítica de documentos registros de memórias e obras historiográficas com o objetivo de 4 entender o papel destacado de Maria Ortiz na luta contra a invasão holandesa em VitóriaES Foram analisados documentos institucionais incluindo os arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES a fim de reunir dados que permitam a reconstituição da trajetória histórica da figura em questão A abordagem metodológica envolveu uma pesquisa de literatura sobre teorias relacionadas a gênero memória e história local possibilitando embasar as investigações históricas em bases conceituais robustas Foram levadas em conta tradições orais e locais simbólicos como a Ladeira Maria Ortiz a fim de entender a dimensão cultural da memória da personagem A pesquisa está dividida em seções principais sendo que cada uma delas está interligada para desenvolver uma compreensão completa do assunto onde a seção inicial dedicada à discussão teórica a segunda seção dedicada à análise histórica e por fim as considerações finais que resumem os resultados obtidos analisando a realização das metas estabelecidas no estudo e os desafios enfrentados durante a pesquisa 2 GÊNERO E MEMÓRIA NA RESISTÊNCIA CAPIXABA O EXEMPLO DE MARIA ORTIZ A relevância das mulheres em movimentos de resistência política e social vem sendo cada vez mais reconhecida pela historiografia atual especialmente com a influência da crítica feminista e das perspectivas regionais Ao reexaminar esses contextos é possível notar que mulheres que foram historicamente deixadas à margem desempenharam funções fundamentais em períodos de crise e na busca por reconhecimento coletivo Nesse contexto a trajetória de Maria Ortiz associada à proteção da cidade de VitóriaES durante a invasão dos holandeses no século XVII representa um exemplo notável de liderança feminina no período colonial brasileiro Sua imagem se tornou um ícone de luta tanto em nível local quanto nacional demonstrando de que maneira as histórias elaboradas ao longo do tempo podem dar novos sentidos a atuação das mulheres 5 A participação de Maria Ortiz vai além do simples registro de um evento bélico sendo constantemente reinterpretada pela tradição oral pela pesquisa histórica e pelos espaços de memória Assim Maria Ortiz vai além das fronteiras da narrativa heroica local se destacando como um símbolo de autonomia e liderança em uma sociedade moldada por princípios patriarcais Segundo Joan Scott 1991 as diferenças entre os gêneros não têm origem em aspectos biológicos mas sim em construções sociais e culturais que justificaram dinâmicas de poder desiguais Nesse contexto a falta ou a exclusão das mulheres nas histórias oficiais não pode ser vista como algo natural mas sim como consequência de decisões historiográficas que consolidaram a inferioridade feminina Pinsky e Pedro 2012 argumentam pela inclusão das mulheres como protagonistas na história enfatizando a necessidade de a historiografia ir além da perspectiva androcêntrica que diminuiu suas vivências a funções secundárias Ao examinar a jornada de Maria Ortiz sob esse ângulo percebese que seu testemunho não só recupera um evento da comunidade mas também ajuda a reconstituir a presença feminina como protagonista na história Delgado 2005 enfatiza a importância da ideia de sujeito histórico apontando que mesmo em situações de severa limitação estrutural as pessoas têm a habilidade de atuar ativamente e alterar suas realidades Essa visão possibilita entender a trajetória de Maria Ortiz como uma forma de resistência dinâmica mostrando que mesmo diante das dificuldades criadas pela estrutura colonial e pelo patriarcado as mulheres conseguiram atuar de maneira significativa em eventos de grande repercussão social Zlatic 2020 ressalta que a história de uma região não pode ser vista apenas como uma parte subordinada à história nacional mas sim como um conjunto independente que possui suas próprias dinâmicas as quais interagem com processos mais amplos No contexto de Maria Ortiz essa abordagem destaca que a resistência no Espírito Santo não é um episódio secundário mas sim uma experiência única que deu origem a uma importante liderança feminina 6 O percurso de Maria Ortiz além de seu significado histórico e cultural oferece oportunidades para refletirmos sobre a equidade de gênero em cenários atuais destacando a importância do empoderamento feminino em contextos de resistência estabelecendo uma relação indireta com os objetivos do ODS 5 que visam aumentar a plena participação das mulheres em diversas áreas sociais e políticas O papel de destaque de Maria Ortiz apesar de não ser oficialmente reconhecido na sua época desempenha um papel importante na formação de uma memória coletiva que ressalta a importância das mulheres em momentos cruciais da história local Dessa forma a análise de sua lembrança e de sua narrativa histórica pode fundamentar debates atuais sobre a relevância da visibilidade e do reconhecimento das mulheres em movimentos de resistência e mudança social 21 Maria Ortiz trajetória e registros históricos No começo do século XVII Portugal e Espanha estavam sob o comando de um único rei o que fez com que as colônias portuguesas se tornassem alvos estratégicos para os adversários espanhóis em especial os Holandeses e no ano de 1624 os neerlandeses tomaram Salvador e no ano subsequente uma frota adentrou a Baía de Vitória localizada na Capitania do Espírito Santo A história de Maria Ortiz uma figura central na luta capixaba contra a invasão holandesa em 1625 tornase mais clara quando examinamos uma variedade de fontes Pesquisas acerca de gênero na historiografia como as realizadas por Joan Scott 1991 enfatizam que a omissão das mulheres nas narrativas históricas é fruto de práticas sociais e culturais e não de restrições naturais Maria Ortiz aparece neste contexto como uma figura associada a um ato de bravura mesmo que os relatos da época não façam referência ao seu nome Em 1675 uma mulher cuja identidade não foi mencionada jogou água quente sobre os invasores atrasando a ofensiva holandesa e ajudando na proteção da Vila de Vitória França 2016 A memória desse ato foi preservada de forma indireta e só séculos depois com a obra de José Marcelino Vasconcellos em 1858 o nome Maria Ortiz foi associado à heroína anônima do relato de Britto Freire França 2016 Assim Maria 7 Ortiz tornouse símbolo de coragem feminina na história capixaba embora haja incerteza sobre a exata correspondência entre a mulher do tacho e a personagem nominada Esse processo demonstra que a formação de heróis históricos frequentemente é influenciada pela narrativa dos historiadores assim como pelos interesses culturais e políticos do período França 2016 A divulgação de nomes e relatos em jornais e folhetos no século XIX contribuiu para consolidar sua imagem no imaginário coletivo do Espírito Santo Maria Ortiz simboliza não apenas um marco histórico mas também uma representação da memória do Espírito Santo Ela personifica a coragem e a tenacidade do povo da região em resposta à invasão holandesa de 1625 embora seu nome tenha sido adicionado mais tarde por estudiosos França 2016 Isso possibilita compreender a atuação de Maria Ortiz como um exemplo de agenciamento feminino em um ambiente colonial dominado pelo patriarcado Apesar de estar em uma sociedade colonial repleta de normas e estruturas que restringiam a atuação das mulheres ela conseguiu exercer uma influência significativa na proteção de Vitória A oposição da comunidade à invasão ressalta a ação conjunta das mulheres e dos habitantes da região realizando táticas criativas de defesa como o despejo de água quente e o emprego de objetos do lar evidenciando o envolvimento das mulheres e a inventividade na elaboração de métodos de resistência De acordo com Pinsky e Pedro 2012 e Delgado 2005 a figura de Maria Ortiz não representa um caso único mas sim um elemento de uma longa herança de luta das mulheres enfatizando assim a importância de considerar as mulheres como protagonistas na história demonstrando que mesmo em contextos limitantes os indivíduos podem ter um papel ativo A combinação das fontes primárias com a pesquisa teórica possibilita compreender de que maneira Maria Ortiz se transformou em uma figura emblemática e como sua lembrança foi formalizada através de arquivos documentais IHGES e projetos culturais como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória 8 As pesquisas sobre História Regional como as de Zlatic 2020 e os estudos sobre memória histórica abordados por Karnal e Tatsch 2009 contribuem para entender que a escadaria urbana se transformou em um espaço de recordação consolidando a relação entre narrativas locais e questões mais extensas relacionadas a identidade e gênero destacando assim o papel das mulheres e a relevância da análise crítica de gênero na escrita da história 22 Leituras obrigatórias e diálogo com o tema Qualquer investigação histórica requer decisões interpretativas deliberadas abrangendo desde a seleção de fontes e períodos até a determinação de categorias de análise Bauer 2021 Essa abordagem é especialmente significativa para a pesquisa de Maria Ortiz uma vez que facilita a compreensão de como as escolhas historiográficas influenciam a visibilidade de indivíduos que ao longo da história foram marginalizados como é o caso das mulheres em cenários coloniais Ao examinar a resistência no Espírito Santo tornase claro que a história de Maria Ortiz não aparece de maneira aleatória mas é fruto de processos históricos que escolhem destacam ou omitem certas ações Dessa forma as diretrizes de Bauer enfatizam a importância de analisar de forma crítica as fontes e de interpretar a atuação de Maria Ortiz considerando as relações de gênero assegurando que sua memória seja vista como uma manifestação de autonomia feminina em uma sociedade dominada por padrões patriarcais Zlatic 2020 discute a História Regional destacando que essa área deve ser vista não apenas como um complemento da História Nacional ou como um relato secundário de acontecimentos locais De maneira oposta o autor ressalta que a área representa um local único para analisar vivências históricas específicas que simultaneamente se interligam a contextos mais vastos Ao ser utilizada na análise de Maria Ortiz essa abordagem possibilita compreender Vitória não apenas como um espaço dominado pelas rivalidades coloniais mundiais mas como um cenário de interações sociais e políticas próprias onde surgiram importantes lideranças femininas 9 Ao destacar a particularidade dessas vivências locais a História Regional permite entender de que maneira a memória de Maria Ortiz foi formada mantida e reinterpretada ao longo dos anos evidenciando a relevância de sua presença como uma manifestação da ação feminina em um ambiente colonial dominado por homens A combinação das abordagens de Bauer 2021 e Zlatic 2020 possibilita a criação de um diálogo eficaz entre métodos rigorosos e a percepção do contexto local como fundamental para a investigação histórica Neste contexto a pesquisa de Maria Ortiz revela que a evidência da liderança feminina não se trata de um acontecimento isolado mas sim é fruto da combinação de decisões interpretativas diferentes fontes e a percepção das dinâmicas locais Karnal e Tatsch 2009 propõem uma análise detalhada acerca da essência da memória e dos registros históricos desafiando a noção de que estes possam ser vistos como meras representações imparciais ou objetivas do que ocorreu anteriormente Conforme afirmam os autores cada registro histórico é uma criação da sociedade influenciada por interesses culturais políticos e ideológicos além de ser suscetível a reinterpretações constantes Essa visão é especialmente importante para compreender a jornada de Maria Ortiz já que destaca que as recordações sobre sua contribuição não são estáticas mas sim moldadas ao longo do tempo por diversos agentes e circunstâncias A figura de Maria Ortiz representa essa trajetória a princípio citada de maneira fragmentada em documentos coloniais ela foi gradualmente reconhecida como uma heroína capixaba em relatos históricos monumentos nomes de locais e nas tradições populares Cada reinterpretação de sua trajetória demonstra decisões sobre quais elementos destacar ou omitir mostrando que a presença das mulheres em momentos de resistência é influenciada tanto pelas iniciativas históricas delas mesmas quanto pelas formas de recordar coletivamente A abordagem de Karnal e Tatsch 2009 permite compreender que a instabilidade da memória de Maria Ortiz não é um problema mas um indicador de disputas em torno da história e do poder simbólico de narrativas 10 Essa instabilidade destaca como acontecimentos históricos podem ser reinterpretados para fortalecer identidades regionais enaltecer certas figuras e influenciar a visão sobre a função das mulheres em sociedades patriarcais Dessa forma a lembrança de Maria Ortiz passa a ser um foco de exame crítico evidenciando como a história é constantemente reavaliada e como essas novas leituras influenciam a visão atual sobre o papel das mulheres em situações de resistência A ONU busca erradicar todas as formas de discriminação e violência dirigidas a mulheres e meninas além de incentivar sua participação ativa e liderança em diversas áreas sociais políticas e econômicas A luta de Maria Ortiz analisada à luz das atuais diretrizes do ODS 5 serve como um caso real de como vivências passadas podem ser utilizadas para reforçar histórias que fomentem a equidade de gênero Essa perspectiva ressalta que a interação entre a história e as questões atuais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável potencializa a influência do trabalho acadêmico unindo investigação histórica memória coletiva e políticas relacionadas ao gênero Assim a jornada de Maria Ortiz transformase de um simples relato histórico local em uma fonte de inspiração para pesquisas sobre gênero educação e políticas de fortalecimento das mulheres 23 Fontes e aprofundamento da análise O estudo é baseado em uma metodologia qualitativa que visa compreender fenômenos históricos por meio da análise crítica de documentos relatos e tradições orais sendo então relevante para pesquisas em História não se limitando apenas a relembrar a resistência de Maria Ortiz mas explorar as maneiras como sua memória foi formada repassada e reinterpretada ao longo dos anos Nesse mesmo contexto Bauer 2021 enfatiza que qualquer pesquisa histórica requer decisões metodológicas deliberadas que incluem desde a elaboração de hipóteses até a definição dos limites geográficos temporais e temáticos Com base nessa diretriz esta pesquisa foca principalmente no evento da 11 invasão holandesa em Vitória ocorrida no século XVII conectandoo às reflexões sobre gênero e memória O estudo foca em como a história de Maria Ortiz foi integrada ao patrimônio cultural do Espírito Santo e de que maneira essa narrativa se relaciona a discussões mais abrangentes sobre o papel da mulher na historiografia Dessa forma enquanto se analisa a ausência das mulheres nas histórias oficiais destacase como a memória de Maria Ortiz foi assimilada e convertida em um ícone regional Ao serem analisadas com um olhar crítico os dados coletados evidenciam as diversas maneiras pelas quais Maria Ortiz foi homenageada reconhecida ou ignorada revelando como se formou sua imagem como um ícone simbólico e histórico para a sociedade do Espírito Santo Dentre essas produções salientase a historiografia e as memórias com a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 ocupando uma posição de destaque que caracteriza Maria Ortiz como uma mulher dotada de bravura e um intenso patriotismo que desempenhou um papel crucial na mobilização da população durante a invasão holandesa em 1625 Apesar de ter sido crucial para a afirmação da personagem como uma heroína do Espírito Santo essa história não deve ser interpretada de forma simplista Essa obra é marcada por uma perspectiva nacionalista e androcêntrica típica do início do século XX que ao mesmo tempo destaca uma figura feminina mas simplifica sua riqueza de nuances a um símbolo de heroísmo Ao mesmo tempo em que reforçam sua importância como símbolo de bravura tais relatos também evidenciam os limites da memória coletiva marcada pela seletividade e pela reelaboração constante Interpretar essas tradições permite compreender a força do protagonismo feminino na memória social capixaba e como ele foi mobilizado para sustentar identidades regionais e resistências locais ao longo do tempo Um segundo grupo de fontes diz respeito às dimensões institucionais e culturais que destacam a transformação da memória de Maria Ortiz da oralidade e da literatura para o âmbito da oficialização patrimonial Nesse contexto os arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES desempenham um 12 papel fundamental uma vez que guardam documentos análises e relatos que enfatizam sua importância histórica e solidificam sua posição como um ponto de referência identitária no Espírito Santo Ademais projetos culturais atuais como o Caminho Cultural Ladeira Maria Ortiz organizado pela Prefeitura de Vitória demonstram de que maneira o ambiente urbano pode se transformar em ferramenta educativa de recordação Sob essa ótica a escadaria em que supostamente ocorreu o ato de resistência não é apenas um espaço físico mas sim um genuíno lugar de memória conforme o conceito desenvolvido por Pierre Nora um local tanto material quanto simbólico onde recordações coletivas se solidificam e se renovam Ao se tornar um patrimônio cultural a lembrança de Maria Ortiz adquire relevância pública e institucional ressaltando sua significância não só como uma personagem histórica mas também como um ícone de resistência feminina Esse movimento evidencia de que maneira o governo e as instituições culturais configuram e modernizam a memória coletiva transformandoa em um marco de identidade regional e em um meio de enaltecer o papel das mulheres na história do Espírito Santo O terceiro conjunto consiste em documentos da era colonial do século XVII que apresentam um dos primeiros sinais da resistência no Espírito Santo que apesar de serem curtos e frequentemente incompletos esses registros referemse à mobilização da população para proteger a vila sugerindo que mulheres como Maria Ortiz estiveram envolvidas nesse movimento Entretanto suas limitações como registros históricos caracterizadas pela brevidade falta de abrangência e pela perspectiva predominante da época enfatizam a importância de uma avaliação crítica da historiografia e das ciências sociais para uma compreensão mais profunda de seu significado e para este trabalho serviram apenas como critério de observação para construir uma visão da época A análise conjunta dessas categorias de fontes à luz da teoria de gênero Scott 1991 e da história regional Zlatic 2020 possibilita entender Maria Ortiz 13 como um exemplo emblemático de liderança feminina sendo uma personagem cuja lembrança foi ao longo da história pouco valorizada mas que com o passar do tempo foi reinterpretada e reconhecida oficialmente tornandose um símbolo de identidade e de luta para a população do Espírito Santo A memória de Maria Ortiz não se resume a recordações de um tempo remoto mas funciona como um meio de afirmação cultural e uma ferramenta de contestação simbólica na atualidade Dessa forma a análise dessas fontes revela que a formação da memória histórica é um processo ativo marcado por conflitos de poder e escolhas narrativas onde se manifestam valores de gênero interesses locais e iniciativas de identidade coletiva 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da trajetória de Maria Ortiz revelou que a presença feminina foi significativa mesmo em situações marcadamente patriarcais como ocorreu no Brasil durante o período colonial Baseandose na fundamentação teórica dos estudos de gênero na história local e na reflexão sobre a memória ficou evidente que sua importância vai além de ser vista como uma heroína da região inserindo se em uma narrativa mais abrangente de resistência e reconhecimento das mulheres como protagonistas na história A equipe considera que os objetivos da pesquisa foram completamente alcançados uma vez que foi viável analisar de maneira unificada a participação de Maria Ortiz a formação de sua memória e sua atuação nos espaços públicos do Espírito Santo uma vez que a avaliação cuidadosa das fontes e a integração dos referenciais teóricos permitiram sustentar conclusões sólidas e bem fundamentadas A pesquisa conseguiu traçar ligações entre a vivência histórica de Maria Ortiz e as discussões atuais sobre igualdade de gênero em interação com o ODS 5 da ONU evidenciando assim sua importância social e política O ODS 5 visa erradicar qualquer tipo de discriminação e violência direcionada a mulheres e meninas além de promover sua participação integral em todos os aspectos da vida social política e econômica 14 Dessa forma a resistência de Maria Ortiz reanalisada por estudiosos e por meio de narrativas populares conecta o período colonial às atuais batalhas por equidade de gênero ressaltando o valor de sua trajetória como parte do patrimônio cultural e como um modelo para a edificação de uma sociedade mais ética inclusiva e reconhecedora das contribuições das mulheres Os desafios encontrados principalmente a falta de fontes diretas impulsionaram a inovação nas abordagens metodológicas e a intensificação da pesquisa histórica A pesquisa permitiu um maior entendimento sobre a atuação das mulheres em contextos coloniais destacando a importância histórica de Maria Ortiz Ademais a superação das restrições de fontes diretas incentivou a inovação metodológica e a análise crítica entre os integrantes do grupode forma meticulosa A pesquisa estimulou o pensar sobre recordações que foram historicamente deixadas de lado além de favorecer a compreensão da História como um espaço de conflitos simbólicos e narrativas em confronto A conexão entre teoria fontes e métodos fortaleceu competências fundamentais em pesquisa análise e interpretação histórica O estudo trouxe resultados favoráveis ao possibilitar uma compreensão profunda da trajetória de Maria Ortiz e sua atuação em contextos coloniais dominados pelo patriarcado A investigação contribuiu para a integração entre teoria fontes e métodos enriquecendo a análise crítica do grupo Por último a experiência fortaleceu habilidades acadêmicas fundamentais ampliando a percepção sobre a participação das mulheres na história brasileira O estudo enfrentou restrições em função da falta de fontes diretas e da dificuldade em obter documentos históricos antigos e diante disso recomendamos a continuidade da pesquisa para expandir o entendimento a respeito de Maria Ortiz e sua importância histórica onde possíveis estudos futuros tem o potencial de enriquecer a discussão sobre a participação das mulheres e a memória coletiva no cenário colonial Esta pesquisa é voltada para acadêmicos e estudiosos da História em particular aqueles que têm interesse em história local questões de gênero e 15 memória coletiva É igualmente importante para educadores que desejam aprofundar sua compreensão acerca do papel das mulheres durante períodos coloniais Especialistas e organizações dedicadas à conservação do patrimônio histórico podem tirar proveito das reflexões sobre a disseminação e a formação da memória de Maria Ortiz REFERÊNCIAS BAUER Caroline Silveira Formulação da pesquisa em História In BAUER Caroline Silveira et al Metodologia da pesquisa em História Porto Alegre SAGAH 2021 p 1330 DELGADO Lucília de Almeida Neves O sujeito e a história São Paulo Contexto 2005 FRANÇA Gerson Maria Ortiz A Lenda a Verdade e a Tradição História Capixaba 25 nov 2016 Disponível em httpshistoriacapixabacomblogmateriasmariaortiz alendaaverdadeeatradicao Acesso em 10 de setembro de 2025 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO Disponível em httpwwwihgesorgbr Acesso em 2 set 2025 KARNAL Leandro TATSCH Flávia Galli A memória evanescente In PINSKY Carla Bassanezi LUCA Tânia Regina de orgs O historiador e suas fontes São Paulo Contexto 2009 p 3955 OLIVEIRA José Teixeira de História do Espírito Santo Vitória Flor Cultura 2008 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Objetivo 5 Igualdade de Gênero Disponível em httpsbrasilunorgptbrsdgs5 Acesso em 10 de setembro de 2025 PINSKY Carla Bassanezi PEDRO Joana Maria orgs Nova história das mulheres no Brasil São Paulo Contexto 2012 PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA Secretaria de Cultura Roteiro cultural Ladeira Maria Ortiz Vitória PMV sd Disponível em httpsculturavitoriaesgovbr Acesso em 10 de setembro de 2025 SCOTT Joan W Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação Realidade Porto Alegre v 16 n 2 p 522 juldez 1991 ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional definições métodos e objetos In ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional convergências entre o local e o global Curitiba Intersaberes 2020 p 1346 16
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Texto de pré-visualização
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA Shirley Aparecida Fernandes Lucas Fernandes Nunes Renata Gonçalves dos Reis Kuhn Orientadora Dra Clara Versiani dos Anjos Prado MARIA ORTIZ PROTAGONISMO FEMININO NA RESISTÊNCIA CONTRA A INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL COLONIAL RESUMO Este trabalho inserido na linha de pesquisa História Sociedade e Cultura investiga o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do caso de Maria Ortiz na resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII A escolha do tema decorre da necessidade de enfrentar a invisibilização das mulheres em eventos decisivos e compreender como suas memórias foram produzidas e institucionalizadas no espaço público capixaba O objetivo geral é analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina como objetivos específicos examinamse a circulação de sua memória na historiografia na tradição oral e nos lugares de memória bem como sua relação com debates contemporâneos sobre igualdade de gênero A fundamentação teórica articula Joan Scott 1991 ao propor o gênero como categoria de análise Pinsky e Pedro 2012 ao destacar as mulheres como sujeitos históricos Delgado 2005 ao discutir a noção de sujeito Bauer 2021 quanto à formulação metodológica da pesquisa 2 Zlatic 2020 ao evidenciar as potencialidades da história regional e Karnal e Tatsch 2009 ao problematizar a instabilidade da memória A pesquisa é qualitativa baseada em crônicas coloniais obras historiográficas OLIVEIRA 2008 acervos do IHGES e no Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz articulada ao ODS 5 da ONU 2024 Ao evidenciar a agência de Maria Ortiz o estudo contribui para reinscrever a experiência feminina na narrativa histórica capixaba e nacional PALAVRASCHAVE Maria Ortiz Protagonismo feminino Gênero História regional Memória 3 1 INTRODUÇÃO Este trabalho inserese na linha de pesquisa História Sociedade e Cultura e tem como objeto de análise o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do estudo da atuação de Maria Ortiz personagem vinculada à resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII A escolha do tema justificase pela necessidade de enfrentar a histórica invisibilização das mulheres em narrativas oficiais que ao longo do tempo relegaram a atuação feminina a papéis secundários ou marginais Tratase portanto de recuperar e problematizar uma experiência emblemática ao mesmo tempo local e universal local porque circunscrita à realidade da capitania do Espírito Santo e universal porque conectase ao debate historiográfico mais amplo sobre gênero memória e agência histórica O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina no Brasil colonial Como objetivos específicos buscase examinar os processos de construção e circulação de sua memória na historiografia na tradição oral e nos lugares de memória compreender a importância de sua presença em espaços simbólicos como a escadaria que leva seu nome monumentos e toponímias e estabelecer vínculos entre sua trajetória e o fortalecimento das narrativas femininas no âmbito da história regional evidenciando como experiências locais dialogam com dinâmicas coloniais e globais A fundamentação teórica sustentase em diferentes referenciais Joan Scott 1991 defende o gênero como categoria útil de análise histórica permitindo compreender a desigualdade não como dado natural mas como construção social Carla Pinsky e Joana Pedro 2012 ao propor a inserção das mulheres como sujeitos históricos oferecem instrumentos para questionar a tradição androcêntrica da historiografia 4 Lucília de Almeida Delgado 2005 ao discutir a noção de sujeito reforça a importância de reconhecer a agência individual e coletiva em contextos de restrição social Caroline Silveira Bauer 2021 contribui ao ressaltar a importância da formulação metodológica da definição rigorosa de recortes espaciais temporais e temáticos elementos que estruturam a presente investigação Carlos Eduardo Zlatic 2020 amplia a análise ao evidenciar as potencialidades da história regional concebida não como apêndice da história nacional mas como campo autônomo capaz de articular singularidades locais e processos globais Por sua vez Leandro Karnal e Flávia Galli Tatsch 2009 problematizam a memória e os documentos lembrando que não são registros neutros mas construções instáveis sujeitas a disputas culturais políticas e ideológicas Esses referenciais em diálogo oferecem arcabouço sólido para compreender não apenas o episódio histórico em si mas também as ressignificações da imagem de Maria Ortiz ao longo do tempo A sustentação factual ancorase em fontes coloniais que registram a resistência popular em tradições orais que perpetuaram e reelaboraram a memória da personagem e em narrativas historiográficas locais como a de José Teixeira de Oliveira 2008 que consolidaram sua imagem como heroína capixaba Além disso incluemse acervos institucionais como os do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES e iniciativas culturais como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória que transformaram sua lembrança em patrimônio simbólico e identitário A metodologia adotada é de natureza qualitativa baseada na revisão bibliográfica e na análise crítica de fontes documentais e memoriais A investigação articula o diálogo entre teoria e fontes buscando compreender como diferentes registros contribuíram para a preservação e a ressignificação da memória de Maria Ortiz 5 O estudo também incorpora uma dimensão contemporânea ao relacionarse ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 Igualdade de Gênero ONU 2024 que orienta políticas e reflexões voltadas à eliminação das desigualdades e à ampliação da participação feminina em todos os âmbitos sociais Esse diálogo reforça a atualidade e a relevância do tema ao conectar o passado colonial com debates contemporâneos sobre empoderamento e justiça de gênero O trabalho organizase em três partes i a discussão teórica que apresenta as contribuições da história de gênero da memória e da história regional como referenciais analíticos ii o desenvolvimento que examina o contexto da invasão holandesa e a atuação de Maria Ortiz a partir das fontes documentais memoriais e historiográficas em diálogo com os referenciais teóricos e iii as considerações finais que sintetizam os resultados alcançados avaliam as dificuldades enfrentadas no processo investigativo e destacam as contribuições do estudo para a formação acadêmica e para o fortalecimento das narrativas femininas na história do Brasil 2 DESENVOLVIMENTO Gênero e memória na resistência capixaba o exemplo de Maria Ortiz O protagonismo feminino em contextos de resistência política e social tem sido gradualmente resgatado pela historiografia contemporânea sobretudo a partir das contribuições da crítica feminista e da abordagem da história regional A revisão desses contextos revela que mulheres historicamente invisibilizadas desempenharam papéis decisivos em momentos de crise e de afirmação coletiva Nesse sentido a trajetória de Maria Ortiz personagem ligada à defesa da cidade de VitóriaES durante a invasão holandesa no século XVII constitui um caso paradigmático Sua atuação reinterpretada ao longo do tempo pela tradição oral pela historiografia e pelos lugares de memória permite compreendêla como figura que ultrapassa os limites da narrativa heroica local projetandose como símbolo de resistência e de agência feminina em uma sociedade marcada pelo predomínio das estruturas patriarcais 6 A sustentação teórica deste estudo se ancora em autoras que problematizam a exclusão das mulheres da narrativa histórica Joan Scott 1991 afirma que o gênero deve ser entendido como categoria analítica fundamental uma vez que as desigualdades entre homens e mulheres resultam de construções sociais e culturais e não de determinismos biológicos A partir dessa perspectiva a ausência de figuras femininas nas narrativas tradicionais deve ser lida como produto de práticas de poder que naturalizaram a subordinação Complementarmente Pinsky e Pedro 2012 defendem a inserção das mulheres como sujeitos históricos ressaltando que a historiografia precisa superar a visão androcêntrica que durante séculos restringiu a experiência feminina a papéis marginais Nesse mesmo horizonte Delgado 2005 reforça a importância da noção de sujeito histórico destacando que mesmo em contextos de restrições estruturais indivíduos podem exercer agência e transformar realidades Aplicados ao caso de Maria Ortiz esses referenciais permitem situar sua ação como expressão de resistência em meio às barreiras impostas pela ordem colonial A abordagem da história regional conforme delineada por Carlos Eduardo Zlatic 2020 contribui para compreender como acontecimentos de dimensão colonial se materializam em realidades locais Para o autor a região não deve ser vista como fragmento menor da história nacional mas como espaço dotado de dinâmicas próprias que simultaneamente dialogam com estruturas mais amplas Assim analisar o episódio da invasão holandesa a partir da capitania do Espírito Santo possibilita não apenas valorizar a especificidade da experiência capixaba mas também identificar como nela emergiu uma liderança feminina singular 7 Essa chave de leitura legitima a inclusão de Maria Ortiz no processo de resistência conferindo à sua atuação relevância que ultrapassa os limites locais e a conecta a disputas globais no âmbito da colonização Nesse mesmo sentido Bauer 2021 ao discutir a formulação da pesquisa em História enfatiza a necessidade de escolhas metodológicas conscientes que vão desde a definição de hipóteses até a delimitação do recorte espacial temporal e temático Essa orientação reforça a pertinência de analisar Maria Ortiz a partir da articulação entre gênero memória e história regional Do ponto de vista metodológico a pesquisa apoiase em uma abordagem qualitativa fundamentada na análise crítica de fontes documentais e memoriais Entre os registros examinados estão crônicas coloniais que embora sucintas já destacavam a resistência popular diante da invasão e tradições orais que transmitidas e ressignificadas ao longo do tempo mantiveram viva a lembrança da atuação feminina A essas fontes somamse narrativas historiográficas como a de José Teixeira de Oliveira 2008 que consolidaram a imagem de Maria Ortiz como heroína capixaba bem como os acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES e o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz da Prefeitura de Vitória que institucionalizam sua memória no espaço público Quando lidas à luz da teoria de gênero de Scott 1991 essas fontes deixam de ser apenas registros comemorativos e revelam as disputas em torno da memória feminina interpretadas a partir de Zlatic 2020 evidenciam como o espaço urbano da escadaria se converteu em lugar de memória regional conectandose a uma narrativa mais ampla de resistência colonial Por fim a inserção da agenda contemporânea dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em especial o ODS 5 Igualdade de Gênero ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 2024 reforça a atualidade do debate 8 Esse objetivo propõe a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra mulheres e meninas bem como a ampliação de sua participação plena em todos os âmbitos sociais e políticos Ao relacionar a trajetória histórica de Maria Ortiz com as diretrizes do ODS 5 reconhecese que sua memória não pertence apenas ao passado mas constitui instrumento pedagógico e político para os debates contemporâneos sobre empoderamento feminino A resistência de Maria Ortiz reelaborada pela historiografia e pela tradição oral transformase assim em elo entre o passado colonial e a luta atual por igualdade de gênero evidenciando a relevância de sua história como patrimônio cultural e como referência para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva 21 A história de Maria Ortiz e suas fontes A trajetória de Maria Ortiz só pode ser compreendida mediante a articulação crítica de diferentes conjuntos de fontes que quando analisados em conjunto revelam tanto a complexidade do episódio da resistência capixaba quanto os processos de construção e ressignificação de sua memória ao longo do tempo As crônicas coloniais ainda que breves e muitas vezes lacunares já registram a resistência da população local à invasão holandesa destacando a participação ativa de mulheres e populares Esses relatos mencionam a utilização de estratégias improvisadas de defesa como o lançamento de água fervente e utensílios domésticos sobre os invasores gesto que atribui ao episódio uma dimensão singular ao evidenciar práticas de resistência originadas no cotidiano doméstico Embora não apresentem descrições detalhadas de Maria Ortiz tais registros demonstram que a resistência não se limitou a ações militares convencionais mas incorporou recursos simbólicos e materiais que deram visibilidade à atuação feminina em um cenário historicamente marcado pela primazia do masculino 9 Com o passar do tempo a figura de Maria Ortiz foi ganhando maior centralidade por meio das tradições orais e das narrativas historiográficas regionais que lhe atribuíram um estatuto heroico Um exemplo emblemático é a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 que evoca sua atuação durante a invasão de 1625 descrevendoa como uma mulher armada de coragem e fervor patriótico capaz de mobilizar a população na escadaria da antiga Rua do Pelourinho Essa representação marcada por forte carga simbólica elevou Maria Ortiz à condição de heroína capixaba transformando sua imagem em elemento constitutivo da memória coletiva do Espírito Santo Contudo ao mesmo tempo em que exalta sua bravura essa tradição reforça uma narrativa seletiva que privilegia determinados personagens e obscurece a multiplicidade de mulheres que participaram do evento revelando a natureza política e disputada da memória O processo de institucionalização da memória de Maria Ortiz pode ser observado também nos acervos documentais e em iniciativas culturais O Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES preserva registros e documentos que fazem referência à personagem enquanto a Prefeitura de Vitória incorporou sua lembrança ao Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz transformando o espaço físico em lugar de memória Esses dispositivos documentos monumentos toponímias e práticas comemorativas não apenas preservam a lembrança de Maria Ortiz mas a reelaboram constantemente conferindolhe um papel central na construção da identidade regional Quando examinadas sob a ótica dos estudos de gênero essas fontes evidenciam que a participação de Maria Ortiz não pode ser reduzida a um episódio excepcional 10 Pelo contrário sua presença deve ser interpretada como expressão de uma tradição mais ampla de resistência feminina que a historiografia oficial de viés androcêntrico em grande parte negligenciou A análise mostra que mesmo inseridas em uma sociedade colonial profundamente patriarcal as mulheres encontraram caminhos para intervir de maneira decisiva em acontecimentos de grande relevância histórica Dessa forma Maria Ortiz emerge como caso paradigmático sua atuação registrada e reinterpretada em diferentes temporalidades articula gênero memória e identidade regional Mais do que uma heroína local sua trajetória simboliza a capacidade das mulheres de se afirmarem como agentes históricos em cenários de dominação e conflito além de exemplificar como a memória coletiva é construída disputada e institucionalizada ao longo do tempo 22 Leituras obrigatórias e diálogo com o tema As leituras obrigatórias permitiram consolidar a estrutura conceitual e metodológica deste estudo Caroline Silveira Bauer 2021 destaca que toda pesquisa histórica exige uma formulação precisa fundada em delimitações conscientes de tema hipóteses fontes e metodologia Para a autora investigar o passado significa reconhecer que o historiador faz escolhas interpretativas em cada etapa do trabalho desde a definição do recorte temporal até a seleção das categorias analíticas Desse modo não há neutralidade absoluta cada decisão metodológica orienta a forma de compreender e narrar a história Tal perspectiva é fundamental para o estudo de Maria Ortiz cuja análise demanda uma rigorosa demarcação espacial VitóriaES temporal século XVII e 11 temática gênero e memória É a partir desse rigor metodológico que se torna possível examinar como uma mulher em meio a estruturas coloniais patriarcais inscreveu sua presença em um episódio de resistência militar e simbólica Carlos Eduardo Zlatic 2020 ao tratar da História Regional ressalta que esse campo não deve ser compreendido como mera extensão da História Nacional ou como descrição periférica de eventos locais Pelo contrário o autor afirma que a região constitui espaço privilegiado de observação no qual se articulam experiências históricas próprias que ao mesmo tempo dialogam com contextos mais amplos Assim estudar o regional significa iluminar singularidades e captar as conexões entre diferentes escalas do fenômeno histórico Aplicada ao caso de Maria Ortiz essa abordagem permite compreender Vitória não apenas como um cenário subordinado às disputas coloniais globais mas como palco de dinâmicas específicas nas quais emergiu uma liderança feminina singular A História Regional nesse sentido legitima a visibilidade de Maria Ortiz como protagonista em um episódio decisivo cuja relevância extrapola os limites locais Leandro Karnal e Flávia Galli Tatsch 2009 em A memória evanescente aprofundam a reflexão sobre a natureza da memória e dos documentos históricos problematizando a crença em sua neutralidade Para os autores documentos não são simples registros fixos do passado mas construções sociais continuamente reinterpretadas apropriadas e instrumentalizadas conforme demandas culturais políticas e ideológicas Essa concepção é central para a análise da trajetória de Maria Ortiz pois sua imagem foi sendo reelaborada ao longo do tempo de uma figura lembrada em crônicas coloniais a heroína capixaba celebrada em narrativas locais de silenciada em determinados momentos da historiografia oficial a resgatada como símbolo de resistência feminina em monumentos toponímias e tradições populares 12 A instabilidade de sua memória ilustra portanto como o passado não é imutável mas objeto de disputas e ressignificações A Organização das Nações Unidas por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 ODS 5 oferece uma dimensão contemporânea à reflexão histórica Esse objetivo estabelece como meta global a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra mulheres e meninas além da ampliação de sua participação e liderança em todos os âmbitos da vida social política e econômica Ao relacionar a trajetória de Maria Ortiz às diretrizes do ODS 5 evidenciase que a análise histórica não se restringe a um resgate do passado mas assume relevância atual inserindose em debates sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino A resistência de Maria Ortiz reinterpretada à luz dos desafios contemporâneos transformase em instrumento pedagógico e político de valorização da memória das mulheres reafirmando a importância de recuperar experiências femininas ocultadas ou marginalizadas pela tradição historiográfica dominante 23 Fontes e aprofundamento da análise A compreensão da trajetória e da memória de Maria Ortiz requer uma abordagem crítica e plural das fontes na medida em que elas não apenas registram fatos passados mas também produzem significados constroem narrativas e instituem identidades Ao serem analisadas em conjunto essas fontes revelam os diferentes modos pelos quais a figura de Maria Ortiz foi lembrada exaltada ou silenciada permitindo entender como se consolidou enquanto referência simbólica e histórica para a sociedade capixaba O primeiro grupo corresponde às fontes historiográficas e memoriais entre as quais se destaca a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 O autor consolida a imagem de Maria Ortiz como heroína capixaba descrevendoa como mulher 13 armada de coragem e fervor patriótico que liderou a defesa da Vila de Vitória durante a invasão holandesa de 1625 Esse tipo de narrativa embora fundamental para a perpetuação da personagem no imaginário coletivo deve ser lido de modo crítico tratase de uma representação marcada por valores nacionalistas e androcêntricos de sua época que ao mesmo tempo em que conferem visibilidade a uma mulher também simplificam sua complexidade histórica A análise desse tipo de fonte evidencia como a historiografia não é neutra mas orientada por intenções e discursos que moldam a memória social Um segundo conjunto diz respeito às fontes institucionais e culturais que permitem observar a passagem da memória de Maria Ortiz da esfera oral e literária para o campo da patrimonialização oficial Os acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES desempenham papel central nesse processo ao preservar registros e interpretações que reforçam sua relevância para a história local De igual modo iniciativas como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória transformam o espaço urbano em lugar de memória conceito de Pierre Nora que remete a pontos materiais e simbólicos nos quais se cristalizam e se atualizam lembranças coletivas Assim a escadaria que leva seu nome não é apenas um vestígio físico mas também um monumento vivo de identidade regional que reitera a presença feminina na narrativa pública O terceiro grupo é formado pelas fontes coloniais especialmente as crônicas do século XVII que oferecem registros iniciais da resistência capixaba Ainda que breves e fragmentárias essas crônicas mencionam a participação popular na defesa da vila o que abre margem para reconhecer que mulheres como Maria Ortiz estiveram diretamente implicadas no processo de resistência 14 A concisão e a parcialidade desses documentos contudo revelam tanto sua importância como testemunhos próximos ao acontecimento quanto seus limites enquanto registros históricos que exigem a mediação crítica da historiografia e das ciências sociais para a interpretação adequada Ao serem lidas em conjunto essas três tipologias de fontes quando analisadas sob a perspectiva da teoria de gênero SCOTT 1991 e da história regional ZLATIC 2020 permitem compreender Maria Ortiz como caso paradigmático de protagonismo feminino Tratase de uma personagem cuja memória foi historicamente marginalizada mas que ao longo do tempo foi ressignificada e institucionalizada transformando se em ícone identitário e político para a comunidade capixaba Nesse sentido a memória de Maria Ortiz não é apenas lembrança de um passado distante mas também dispositivo de afirmação cultural e instrumento de disputa simbólica no presente Assim o estudo de suas fontes demonstra que a construção da memória histórica é um processo dinâmico atravessado por disputas de poder e por seleções narrativas no qual se inscrevem valores de gênero interesses regionais e projetos de identidade coletiva Maria Ortiz ao transitar das crônicas coloniais para os acervos institucionais e finalmente para os monumentos urbanos e tradições culturais convertese em testemunho vivo da capacidade da memória social de reconhecer reinterpretar e projetar o protagonismo das mulheres na História 15 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da trajetória de Maria Ortiz permitiu reconhecer que o protagonismo feminino esteve presente mesmo em contextos fortemente patriarcais como o Brasil colonial A partir do suporte teórico dos estudos de gênero da história regional e da problematização da memória foi possível compreender que sua atuação transcende a figura de heroína local e se insere em uma narrativa mais ampla de resistência e afirmação das mulheres como agentes históricos No que se refere ao alcance dos objetivos o grupo avalia que estes foram plenamente atendidos Foi possível examinar a atuação de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina investigar a construção e circulação de sua memória na historiografia e na tradição oral e analisar a presença de sua figura nos lugares de memória que a perpetuam no espaço público capixaba O estudo também conseguiu estabelecer conexões entre a experiência histórica de Maria Ortiz e debates contemporâneos sobre igualdade de gênero em diálogo com o ODS 5 da Organização das Nações Unidas o que reforça sua relevância social e política Durante o desenvolvimento da pesquisa enfrentaramse desafios importantes especialmente a escassez de fontes diretas sobre a personagem Essa limitação exigiu esforço metodológico redobrado tanto na busca por fontes complementares como crônicas coloniais e tradições orais quanto na articulação crítica dos referenciais teóricos que sustentaram a análise Essa dificuldade longe de enfraquecer o trabalho contribuiu para reforçar a importância da reflexão metodológica e para exercitar a capacidade do grupo em lidar com lacunas documentais um aspecto central na prática historiográfica Por fim o grupo considera que o trabalho colaborou de maneira significativa para sua formação acadêmica A pesquisa favoreceu o desenvolvimento do 16 pensamento crítico ao estimular a problematização de memórias cristalizadas e a valorização de narrativas historicamente marginalizadas Também possibilitou aprofundar o entendimento da História como campo de disputas simbólicas em que diferentes interpretações e representações concorrem pela legitimação no espaço público Além disso o exercício de articular teoria fontes e metodologia fortaleceu competências essenciais para a prática da pesquisa histórica ampliando a capacidade de análise e de compreensão do papel das mulheres na história do Brasil Concluise portanto que este estudo não apenas cumpriu seus objetivos mas também representou um aprendizado coletivo fundamental reafirmando a importância da pesquisa histórica como instrumento de formação crítica de reconhecimento da diversidade das experiências humanas e de promoção da igualdade de gênero na construção da memória social REFERÊNCIAS BAUER Caroline Silveira Formulação da pesquisa em história In BAUER Caroline Silveira et al Metodologia da pesquisa em História Porto Alegre SAGAH 2021 p 1330 DELGADO Lucília de Almeida Neves O sujeito e a história São Paulo Contexto 2005 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO Disponível em httpwwwihgesorgbr Acesso em 2 set 2025 KARNAL Leandro TATSCH Flávia Galli A memória evanescente In PINSKY Carla Bassanezi LUCA Tânia Regina de orgs O historiador e suas fontes São Paulo Contexto 2009 p 3955 OLIVEIRA José Teixeira de História do Espírito Santo Vitória Flor Cultura 2008 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Objetivo 5 Igualdade de Gênero Disponível em httpsbrasilunorgptbrsdgs5 Acesso em 6 ago 2025 17 PINSKY Carla Bassanezi PEDRO Joana Maria orgs Nova história das mulheres no Brasil São Paulo Contexto 2012 PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA Secretaria de Cultura Roteiro cultural Ladeira Maria Ortiz Vitória PMV sd Disponível em httpsculturavitoriaesgovbr Acesso em 2 set 2025 SCOTT Joan W Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação Realidade Porto Alegre v 16 n 2 p 522 juldez 1991 ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional definições métodos e objetos In ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional convergências entre o local e o global Curitiba Intersaberes 2020 p 1346 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA Shirley Aparecida Fernandes Lucas Fernandes Nunes Renata Gonçalves dos Reis Kuhn Orientadora Mestre Clara VA Prado MARIA ORTIZ PROTAGONISMO FEMININO NA RESISTÊNCIA CONTRA A INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL COLONIAL RESUMO Este trabalho investiga o protagonismo feminino na história do Brasil a partir do caso de Maria Ortiz na resistência à invasão holandesa em VitóriaES no século XVII O objetivo é analisar a atuação histórica de Maria Ortiz como ícone de resistência feminina por meio de uma metodologia qualitativa Os resultados indicam que Maria Ortiz se estabelece como uma representação de luta e destaque feminino ressaltando a relevância da análise crítica acerca das lembranças que foram historicamente negligenciadas enriquecendo a compreensão da vivência feminina na narrativa local e nacional fortalecendo discussões acerca da equidade de gênero e da memória coletiva PALAVRASCHAVE Maria Ortiz Protagonismo feminino Diversidade étnica 2 1 INTRODUÇÃO Este estudo está alinhado com a pesquisa sobre Diversidade Étnica e de Gênero um campo que se propõe a explorar as diversas maneiras de criação das identidades sociais históricas e culturais no Brasil ressaltando as desigualdades estruturais que influenciaram a formação da sociedade buscando entender os fatores sociais que levaram à marginalização das mulheres conectando a análise a fundamentações teóricas que possibilitam a compreensão desses fenômenos Ao inserir o estudo na área de Diversidade Étnica e de Gênero procurase entender os fatores sociais que contribuíram para a ocultação da presença feminina articulando a investigação a fundamentos teóricos que possibilitam a interpretação desses fenômenos Joan Scott 1991 argumenta que o gênero deve ser considerado uma categoria para a análise histórica destacando as construções sociais que legitimam desigualdades Pinsky e Pedro 2012 destacam a importância de reconhecer as mulheres como protagonistas da história contestando a abordagem historiográfica convencional Zlatic 2020 também enfatiza a importância da narrativa local na conexão de vivências regionais com processos globais o que enriquece a discussão sobre a memória e o papel das mulheres Este trabalho aborda a participação das mulheres na história brasileira focando especificamente em Maria Ortiz e sua atuação durante a resistência contra a invasão holandesa em Vitória no Espírito Santo no século XVII A seleção dessa personagem permite examinar o papel das mulheres em momentos históricos muitas vezes ignorados ressaltando como elas atuaram de forma proativa em ambientes coloniais De acordo com Joan Scott 1991 o gênero deve ser visto como uma categoria de análise que expõe as construções sociais das desigualdades tornando relevante a pesquisa sobre a marginalização das mulheres em relatos oficiais Dessa maneira a pesquisa conecta a perspectiva histórica das iniciativas de Maria Ortiz com considerações teóricas relacionadas a gênero memória e poder 3 Zlatic 2020 destaca que o estudo regional ajuda a entender de que maneira as vivências locais se conectam com dinâmicas globais enriquecendo a percepção sobre o papel das mulheres Essa perspectiva permite discutir a formação de imagens femininas e analisar os critérios que ao longo da história definiram quais personagens recebem destaque ou são deixadas à sombra A decisão de explorar o papel central de Maria Ortiz se justifica na urgência de combater a invisibilidade histórica das mulheres em relatos oficiais que muitas vezes relegaram suas contribuições a posições menores ou meramente representativas A pesquisa possibilita entender de que maneira vivências locais frequentemente negligenciadas ajudam na formação da identidade cultural e regional A pesquisa ajuda a promover relatos históricos mais abrangentes possibilitando a ligação entre o passado e o presente além de incentivar a reflexão sobre temas como gênero e equidade Ao reconhecer e valorizar experiências anteriormente negligenciadas o estudo enriquece a percepção acerca da contribuição das mulheres ao longo da história estimulando novas perspectivas de pesquisa e promovendo discussões sobre representatividade Este estudo tem como objetivo principal analisar o papel histórico de Maria Ortiz como um símbolo de resistência das mulheres durante a invasão holandesa em Vitória no Espírito Santo no século XVII visando entender de que maneira suas atitudes e escolhas impactaram os eventos na região destacando seu papel central em cenários coloniais caracterizados por disparidades de gênero Os objetivos específicos deste estudo são analisar como se dá a construção e a disseminação da memória de Maria Ortiz na historiografia na tradição oral e em locais de memória como monumentos e nomes de lugares bem como entender a importância de sua figura em contextos simbólicos e culturais da cidade de Vitória e também examinar de que maneira seu percurso enriquece as narrativas femininas no contexto da história local O estudo utilizou uma metodologia qualitativa focando na análise crítica de documentos registros de memórias e obras historiográficas com o objetivo de 4 entender o papel destacado de Maria Ortiz na luta contra a invasão holandesa em VitóriaES Foram analisados documentos institucionais incluindo os arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES a fim de reunir dados que permitam a reconstituição da trajetória histórica da figura em questão A abordagem metodológica envolveu uma pesquisa de literatura sobre teorias relacionadas a gênero memória e história local possibilitando embasar as investigações históricas em bases conceituais robustas Foram levadas em conta tradições orais e locais simbólicos como a Ladeira Maria Ortiz a fim de entender a dimensão cultural da memória da personagem A pesquisa está dividida em seções principais sendo que cada uma delas está interligada para desenvolver uma compreensão completa do assunto onde a seção inicial dedicada à discussão teórica a segunda seção dedicada à análise histórica e por fim as considerações finais que resumem os resultados obtidos analisando a realização das metas estabelecidas no estudo e os desafios enfrentados durante a pesquisa 2 GÊNERO E MEMÓRIA NA RESISTÊNCIA CAPIXABA O EXEMPLO DE MARIA ORTIZ A relevância das mulheres em movimentos de resistência política e social vem sendo cada vez mais reconhecida pela historiografia atual especialmente com a influência da crítica feminista e das perspectivas regionais Ao reexaminar esses contextos é possível notar que mulheres que foram historicamente deixadas à margem desempenharam funções fundamentais em períodos de crise e na busca por reconhecimento coletivo Nesse contexto a trajetória de Maria Ortiz associada à proteção da cidade de VitóriaES durante a invasão dos holandeses no século XVII representa um exemplo notável de liderança feminina no período colonial brasileiro Sua imagem se tornou um ícone de luta tanto em nível local quanto nacional demonstrando de que maneira as histórias elaboradas ao longo do tempo podem dar novos sentidos a atuação das mulheres 5 A participação de Maria Ortiz vai além do simples registro de um evento bélico sendo constantemente reinterpretada pela tradição oral pela pesquisa histórica e pelos espaços de memória Assim Maria Ortiz vai além das fronteiras da narrativa heroica local se destacando como um símbolo de autonomia e liderança em uma sociedade moldada por princípios patriarcais Segundo Joan Scott 1991 as diferenças entre os gêneros não têm origem em aspectos biológicos mas sim em construções sociais e culturais que justificaram dinâmicas de poder desiguais Nesse contexto a falta ou a exclusão das mulheres nas histórias oficiais não pode ser vista como algo natural mas sim como consequência de decisões historiográficas que consolidaram a inferioridade feminina Pinsky e Pedro 2012 argumentam pela inclusão das mulheres como protagonistas na história enfatizando a necessidade de a historiografia ir além da perspectiva androcêntrica que diminuiu suas vivências a funções secundárias Ao examinar a jornada de Maria Ortiz sob esse ângulo percebese que seu testemunho não só recupera um evento da comunidade mas também ajuda a reconstituir a presença feminina como protagonista na história Delgado 2005 enfatiza a importância da ideia de sujeito histórico apontando que mesmo em situações de severa limitação estrutural as pessoas têm a habilidade de atuar ativamente e alterar suas realidades Essa visão possibilita entender a trajetória de Maria Ortiz como uma forma de resistência dinâmica mostrando que mesmo diante das dificuldades criadas pela estrutura colonial e pelo patriarcado as mulheres conseguiram atuar de maneira significativa em eventos de grande repercussão social Zlatic 2020 ressalta que a história de uma região não pode ser vista apenas como uma parte subordinada à história nacional mas sim como um conjunto independente que possui suas próprias dinâmicas as quais interagem com processos mais amplos No contexto de Maria Ortiz essa abordagem destaca que a resistência no Espírito Santo não é um episódio secundário mas sim uma experiência única que deu origem a uma importante liderança feminina 6 O percurso de Maria Ortiz além de seu significado histórico e cultural oferece oportunidades para refletirmos sobre a equidade de gênero em cenários atuais destacando a importância do empoderamento feminino em contextos de resistência estabelecendo uma relação indireta com os objetivos do ODS 5 que visam aumentar a plena participação das mulheres em diversas áreas sociais e políticas O papel de destaque de Maria Ortiz apesar de não ser oficialmente reconhecido na sua época desempenha um papel importante na formação de uma memória coletiva que ressalta a importância das mulheres em momentos cruciais da história local Dessa forma a análise de sua lembrança e de sua narrativa histórica pode fundamentar debates atuais sobre a relevância da visibilidade e do reconhecimento das mulheres em movimentos de resistência e mudança social 21 Maria Ortiz trajetória e registros históricos No começo do século XVII Portugal e Espanha estavam sob o comando de um único rei o que fez com que as colônias portuguesas se tornassem alvos estratégicos para os adversários espanhóis em especial os Holandeses e no ano de 1624 os neerlandeses tomaram Salvador e no ano subsequente uma frota adentrou a Baía de Vitória localizada na Capitania do Espírito Santo A história de Maria Ortiz uma figura central na luta capixaba contra a invasão holandesa em 1625 tornase mais clara quando examinamos uma variedade de fontes Pesquisas acerca de gênero na historiografia como as realizadas por Joan Scott 1991 enfatizam que a omissão das mulheres nas narrativas históricas é fruto de práticas sociais e culturais e não de restrições naturais Maria Ortiz aparece neste contexto como uma figura associada a um ato de bravura mesmo que os relatos da época não façam referência ao seu nome Em 1675 uma mulher cuja identidade não foi mencionada jogou água quente sobre os invasores atrasando a ofensiva holandesa e ajudando na proteção da Vila de Vitória França 2016 A memória desse ato foi preservada de forma indireta e só séculos depois com a obra de José Marcelino Vasconcellos em 1858 o nome Maria Ortiz foi associado à heroína anônima do relato de Britto Freire França 2016 Assim Maria 7 Ortiz tornouse símbolo de coragem feminina na história capixaba embora haja incerteza sobre a exata correspondência entre a mulher do tacho e a personagem nominada Esse processo demonstra que a formação de heróis históricos frequentemente é influenciada pela narrativa dos historiadores assim como pelos interesses culturais e políticos do período França 2016 A divulgação de nomes e relatos em jornais e folhetos no século XIX contribuiu para consolidar sua imagem no imaginário coletivo do Espírito Santo Maria Ortiz simboliza não apenas um marco histórico mas também uma representação da memória do Espírito Santo Ela personifica a coragem e a tenacidade do povo da região em resposta à invasão holandesa de 1625 embora seu nome tenha sido adicionado mais tarde por estudiosos França 2016 Isso possibilita compreender a atuação de Maria Ortiz como um exemplo de agenciamento feminino em um ambiente colonial dominado pelo patriarcado Apesar de estar em uma sociedade colonial repleta de normas e estruturas que restringiam a atuação das mulheres ela conseguiu exercer uma influência significativa na proteção de Vitória A oposição da comunidade à invasão ressalta a ação conjunta das mulheres e dos habitantes da região realizando táticas criativas de defesa como o despejo de água quente e o emprego de objetos do lar evidenciando o envolvimento das mulheres e a inventividade na elaboração de métodos de resistência De acordo com Pinsky e Pedro 2012 e Delgado 2005 a figura de Maria Ortiz não representa um caso único mas sim um elemento de uma longa herança de luta das mulheres enfatizando assim a importância de considerar as mulheres como protagonistas na história demonstrando que mesmo em contextos limitantes os indivíduos podem ter um papel ativo A combinação das fontes primárias com a pesquisa teórica possibilita compreender de que maneira Maria Ortiz se transformou em uma figura emblemática e como sua lembrança foi formalizada através de arquivos documentais IHGES e projetos culturais como o Roteiro Cultural Ladeira Maria Ortiz promovido pela Prefeitura de Vitória 8 As pesquisas sobre História Regional como as de Zlatic 2020 e os estudos sobre memória histórica abordados por Karnal e Tatsch 2009 contribuem para entender que a escadaria urbana se transformou em um espaço de recordação consolidando a relação entre narrativas locais e questões mais extensas relacionadas a identidade e gênero destacando assim o papel das mulheres e a relevância da análise crítica de gênero na escrita da história 22 Leituras obrigatórias e diálogo com o tema Qualquer investigação histórica requer decisões interpretativas deliberadas abrangendo desde a seleção de fontes e períodos até a determinação de categorias de análise Bauer 2021 Essa abordagem é especialmente significativa para a pesquisa de Maria Ortiz uma vez que facilita a compreensão de como as escolhas historiográficas influenciam a visibilidade de indivíduos que ao longo da história foram marginalizados como é o caso das mulheres em cenários coloniais Ao examinar a resistência no Espírito Santo tornase claro que a história de Maria Ortiz não aparece de maneira aleatória mas é fruto de processos históricos que escolhem destacam ou omitem certas ações Dessa forma as diretrizes de Bauer enfatizam a importância de analisar de forma crítica as fontes e de interpretar a atuação de Maria Ortiz considerando as relações de gênero assegurando que sua memória seja vista como uma manifestação de autonomia feminina em uma sociedade dominada por padrões patriarcais Zlatic 2020 discute a História Regional destacando que essa área deve ser vista não apenas como um complemento da História Nacional ou como um relato secundário de acontecimentos locais De maneira oposta o autor ressalta que a área representa um local único para analisar vivências históricas específicas que simultaneamente se interligam a contextos mais vastos Ao ser utilizada na análise de Maria Ortiz essa abordagem possibilita compreender Vitória não apenas como um espaço dominado pelas rivalidades coloniais mundiais mas como um cenário de interações sociais e políticas próprias onde surgiram importantes lideranças femininas 9 Ao destacar a particularidade dessas vivências locais a História Regional permite entender de que maneira a memória de Maria Ortiz foi formada mantida e reinterpretada ao longo dos anos evidenciando a relevância de sua presença como uma manifestação da ação feminina em um ambiente colonial dominado por homens A combinação das abordagens de Bauer 2021 e Zlatic 2020 possibilita a criação de um diálogo eficaz entre métodos rigorosos e a percepção do contexto local como fundamental para a investigação histórica Neste contexto a pesquisa de Maria Ortiz revela que a evidência da liderança feminina não se trata de um acontecimento isolado mas sim é fruto da combinação de decisões interpretativas diferentes fontes e a percepção das dinâmicas locais Karnal e Tatsch 2009 propõem uma análise detalhada acerca da essência da memória e dos registros históricos desafiando a noção de que estes possam ser vistos como meras representações imparciais ou objetivas do que ocorreu anteriormente Conforme afirmam os autores cada registro histórico é uma criação da sociedade influenciada por interesses culturais políticos e ideológicos além de ser suscetível a reinterpretações constantes Essa visão é especialmente importante para compreender a jornada de Maria Ortiz já que destaca que as recordações sobre sua contribuição não são estáticas mas sim moldadas ao longo do tempo por diversos agentes e circunstâncias A figura de Maria Ortiz representa essa trajetória a princípio citada de maneira fragmentada em documentos coloniais ela foi gradualmente reconhecida como uma heroína capixaba em relatos históricos monumentos nomes de locais e nas tradições populares Cada reinterpretação de sua trajetória demonstra decisões sobre quais elementos destacar ou omitir mostrando que a presença das mulheres em momentos de resistência é influenciada tanto pelas iniciativas históricas delas mesmas quanto pelas formas de recordar coletivamente A abordagem de Karnal e Tatsch 2009 permite compreender que a instabilidade da memória de Maria Ortiz não é um problema mas um indicador de disputas em torno da história e do poder simbólico de narrativas 10 Essa instabilidade destaca como acontecimentos históricos podem ser reinterpretados para fortalecer identidades regionais enaltecer certas figuras e influenciar a visão sobre a função das mulheres em sociedades patriarcais Dessa forma a lembrança de Maria Ortiz passa a ser um foco de exame crítico evidenciando como a história é constantemente reavaliada e como essas novas leituras influenciam a visão atual sobre o papel das mulheres em situações de resistência A ONU busca erradicar todas as formas de discriminação e violência dirigidas a mulheres e meninas além de incentivar sua participação ativa e liderança em diversas áreas sociais políticas e econômicas A luta de Maria Ortiz analisada à luz das atuais diretrizes do ODS 5 serve como um caso real de como vivências passadas podem ser utilizadas para reforçar histórias que fomentem a equidade de gênero Essa perspectiva ressalta que a interação entre a história e as questões atuais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável potencializa a influência do trabalho acadêmico unindo investigação histórica memória coletiva e políticas relacionadas ao gênero Assim a jornada de Maria Ortiz transformase de um simples relato histórico local em uma fonte de inspiração para pesquisas sobre gênero educação e políticas de fortalecimento das mulheres 23 Fontes e aprofundamento da análise O estudo é baseado em uma metodologia qualitativa que visa compreender fenômenos históricos por meio da análise crítica de documentos relatos e tradições orais sendo então relevante para pesquisas em História não se limitando apenas a relembrar a resistência de Maria Ortiz mas explorar as maneiras como sua memória foi formada repassada e reinterpretada ao longo dos anos Nesse mesmo contexto Bauer 2021 enfatiza que qualquer pesquisa histórica requer decisões metodológicas deliberadas que incluem desde a elaboração de hipóteses até a definição dos limites geográficos temporais e temáticos Com base nessa diretriz esta pesquisa foca principalmente no evento da 11 invasão holandesa em Vitória ocorrida no século XVII conectandoo às reflexões sobre gênero e memória O estudo foca em como a história de Maria Ortiz foi integrada ao patrimônio cultural do Espírito Santo e de que maneira essa narrativa se relaciona a discussões mais abrangentes sobre o papel da mulher na historiografia Dessa forma enquanto se analisa a ausência das mulheres nas histórias oficiais destacase como a memória de Maria Ortiz foi assimilada e convertida em um ícone regional Ao serem analisadas com um olhar crítico os dados coletados evidenciam as diversas maneiras pelas quais Maria Ortiz foi homenageada reconhecida ou ignorada revelando como se formou sua imagem como um ícone simbólico e histórico para a sociedade do Espírito Santo Dentre essas produções salientase a historiografia e as memórias com a obra de José Teixeira de Oliveira 2008 ocupando uma posição de destaque que caracteriza Maria Ortiz como uma mulher dotada de bravura e um intenso patriotismo que desempenhou um papel crucial na mobilização da população durante a invasão holandesa em 1625 Apesar de ter sido crucial para a afirmação da personagem como uma heroína do Espírito Santo essa história não deve ser interpretada de forma simplista Essa obra é marcada por uma perspectiva nacionalista e androcêntrica típica do início do século XX que ao mesmo tempo destaca uma figura feminina mas simplifica sua riqueza de nuances a um símbolo de heroísmo Ao mesmo tempo em que reforçam sua importância como símbolo de bravura tais relatos também evidenciam os limites da memória coletiva marcada pela seletividade e pela reelaboração constante Interpretar essas tradições permite compreender a força do protagonismo feminino na memória social capixaba e como ele foi mobilizado para sustentar identidades regionais e resistências locais ao longo do tempo Um segundo grupo de fontes diz respeito às dimensões institucionais e culturais que destacam a transformação da memória de Maria Ortiz da oralidade e da literatura para o âmbito da oficialização patrimonial Nesse contexto os arquivos do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo IHGES desempenham um 12 papel fundamental uma vez que guardam documentos análises e relatos que enfatizam sua importância histórica e solidificam sua posição como um ponto de referência identitária no Espírito Santo Ademais projetos culturais atuais como o Caminho Cultural Ladeira Maria Ortiz organizado pela Prefeitura de Vitória demonstram de que maneira o ambiente urbano pode se transformar em ferramenta educativa de recordação Sob essa ótica a escadaria em que supostamente ocorreu o ato de resistência não é apenas um espaço físico mas sim um genuíno lugar de memória conforme o conceito desenvolvido por Pierre Nora um local tanto material quanto simbólico onde recordações coletivas se solidificam e se renovam Ao se tornar um patrimônio cultural a lembrança de Maria Ortiz adquire relevância pública e institucional ressaltando sua significância não só como uma personagem histórica mas também como um ícone de resistência feminina Esse movimento evidencia de que maneira o governo e as instituições culturais configuram e modernizam a memória coletiva transformandoa em um marco de identidade regional e em um meio de enaltecer o papel das mulheres na história do Espírito Santo O terceiro conjunto consiste em documentos da era colonial do século XVII que apresentam um dos primeiros sinais da resistência no Espírito Santo que apesar de serem curtos e frequentemente incompletos esses registros referemse à mobilização da população para proteger a vila sugerindo que mulheres como Maria Ortiz estiveram envolvidas nesse movimento Entretanto suas limitações como registros históricos caracterizadas pela brevidade falta de abrangência e pela perspectiva predominante da época enfatizam a importância de uma avaliação crítica da historiografia e das ciências sociais para uma compreensão mais profunda de seu significado e para este trabalho serviram apenas como critério de observação para construir uma visão da época A análise conjunta dessas categorias de fontes à luz da teoria de gênero Scott 1991 e da história regional Zlatic 2020 possibilita entender Maria Ortiz 13 como um exemplo emblemático de liderança feminina sendo uma personagem cuja lembrança foi ao longo da história pouco valorizada mas que com o passar do tempo foi reinterpretada e reconhecida oficialmente tornandose um símbolo de identidade e de luta para a população do Espírito Santo A memória de Maria Ortiz não se resume a recordações de um tempo remoto mas funciona como um meio de afirmação cultural e uma ferramenta de contestação simbólica na atualidade Dessa forma a análise dessas fontes revela que a formação da memória histórica é um processo ativo marcado por conflitos de poder e escolhas narrativas onde se manifestam valores de gênero interesses locais e iniciativas de identidade coletiva 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo da trajetória de Maria Ortiz revelou que a presença feminina foi significativa mesmo em situações marcadamente patriarcais como ocorreu no Brasil durante o período colonial Baseandose na fundamentação teórica dos estudos de gênero na história local e na reflexão sobre a memória ficou evidente que sua importância vai além de ser vista como uma heroína da região inserindo se em uma narrativa mais abrangente de resistência e reconhecimento das mulheres como protagonistas na história A equipe considera que os objetivos da pesquisa foram completamente alcançados uma vez que foi viável analisar de maneira unificada a participação de Maria Ortiz a formação de sua memória e sua atuação nos espaços públicos do Espírito Santo uma vez que a avaliação cuidadosa das fontes e a integração dos referenciais teóricos permitiram sustentar conclusões sólidas e bem fundamentadas A pesquisa conseguiu traçar ligações entre a vivência histórica de Maria Ortiz e as discussões atuais sobre igualdade de gênero em interação com o ODS 5 da ONU evidenciando assim sua importância social e política O ODS 5 visa erradicar qualquer tipo de discriminação e violência direcionada a mulheres e meninas além de promover sua participação integral em todos os aspectos da vida social política e econômica 14 Dessa forma a resistência de Maria Ortiz reanalisada por estudiosos e por meio de narrativas populares conecta o período colonial às atuais batalhas por equidade de gênero ressaltando o valor de sua trajetória como parte do patrimônio cultural e como um modelo para a edificação de uma sociedade mais ética inclusiva e reconhecedora das contribuições das mulheres Os desafios encontrados principalmente a falta de fontes diretas impulsionaram a inovação nas abordagens metodológicas e a intensificação da pesquisa histórica A pesquisa permitiu um maior entendimento sobre a atuação das mulheres em contextos coloniais destacando a importância histórica de Maria Ortiz Ademais a superação das restrições de fontes diretas incentivou a inovação metodológica e a análise crítica entre os integrantes do grupode forma meticulosa A pesquisa estimulou o pensar sobre recordações que foram historicamente deixadas de lado além de favorecer a compreensão da História como um espaço de conflitos simbólicos e narrativas em confronto A conexão entre teoria fontes e métodos fortaleceu competências fundamentais em pesquisa análise e interpretação histórica O estudo trouxe resultados favoráveis ao possibilitar uma compreensão profunda da trajetória de Maria Ortiz e sua atuação em contextos coloniais dominados pelo patriarcado A investigação contribuiu para a integração entre teoria fontes e métodos enriquecendo a análise crítica do grupo Por último a experiência fortaleceu habilidades acadêmicas fundamentais ampliando a percepção sobre a participação das mulheres na história brasileira O estudo enfrentou restrições em função da falta de fontes diretas e da dificuldade em obter documentos históricos antigos e diante disso recomendamos a continuidade da pesquisa para expandir o entendimento a respeito de Maria Ortiz e sua importância histórica onde possíveis estudos futuros tem o potencial de enriquecer a discussão sobre a participação das mulheres e a memória coletiva no cenário colonial Esta pesquisa é voltada para acadêmicos e estudiosos da História em particular aqueles que têm interesse em história local questões de gênero e 15 memória coletiva É igualmente importante para educadores que desejam aprofundar sua compreensão acerca do papel das mulheres durante períodos coloniais Especialistas e organizações dedicadas à conservação do patrimônio histórico podem tirar proveito das reflexões sobre a disseminação e a formação da memória de Maria Ortiz REFERÊNCIAS BAUER Caroline Silveira Formulação da pesquisa em História In BAUER Caroline Silveira et al Metodologia da pesquisa em História Porto Alegre SAGAH 2021 p 1330 DELGADO Lucília de Almeida Neves O sujeito e a história São Paulo Contexto 2005 FRANÇA Gerson Maria Ortiz A Lenda a Verdade e a Tradição História Capixaba 25 nov 2016 Disponível em httpshistoriacapixabacomblogmateriasmariaortiz alendaaverdadeeatradicao Acesso em 10 de setembro de 2025 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO Disponível em httpwwwihgesorgbr Acesso em 2 set 2025 KARNAL Leandro TATSCH Flávia Galli A memória evanescente In PINSKY Carla Bassanezi LUCA Tânia Regina de orgs O historiador e suas fontes São Paulo Contexto 2009 p 3955 OLIVEIRA José Teixeira de História do Espírito Santo Vitória Flor Cultura 2008 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Objetivo 5 Igualdade de Gênero Disponível em httpsbrasilunorgptbrsdgs5 Acesso em 10 de setembro de 2025 PINSKY Carla Bassanezi PEDRO Joana Maria orgs Nova história das mulheres no Brasil São Paulo Contexto 2012 PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA Secretaria de Cultura Roteiro cultural Ladeira Maria Ortiz Vitória PMV sd Disponível em httpsculturavitoriaesgovbr Acesso em 10 de setembro de 2025 SCOTT Joan W Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação Realidade Porto Alegre v 16 n 2 p 522 juldez 1991 ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional definições métodos e objetos In ZLATIC Carlos Eduardo Zimmermann História regional convergências entre o local e o global Curitiba Intersaberes 2020 p 1346 16