·
Cursos Gerais ·
Psicologia Social
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
14
Teorias Psicológicas sobre a Experiência Religiosa: O Pensamento de William James
Psicologia Social
UMG
26
Cronograma e Avaliação da Disciplina de Psicologia - Módulo I
Psicologia Social
UMG
1
Guia de Citações e Referências Bibliográficas - Normas e Exemplos
Psicologia Social
UMG
25
Analise do Livro Tchau de Lygia Bojunga - Ciume e Adolescencia
Psicologia Social
UMG
28
Autobiografia Escrita na Orientacao Vocacional - Estudo e Aplicacao
Psicologia Social
UMG
28
Psicologia do Desenvolvimento-Linguagem Mudanca e Estabilidade
Psicologia Social
UMG
4
Analise Psicologica da Experiencia Religiosa - Resumo e Quadro Comparativo das Teorias
Psicologia Social
UMG
5
Sintese do Filme Bicho de Sete Cabeças Analise Psicologica e Direitos Humanos
Psicologia Social
UMG
1
Resenha Critica Rapido e Devagar - Daniel Kahneman - Marinha
Psicologia Social
UMG
5
Brené Brown - O Poder da Coragem - Análise do Documentário Netflix
Psicologia Social
UMG
Preview text
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA SEDIS Psicologia da Educação Profª Cynara Teixeira Ribeiro ATIVIDADE DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO A partir da leitura do material didático 02 A inteligência formem grupos de 5 pessoas e reflitam sobre o depoimento abaixo respondendo à questão proposta à luz das visões psicológicas acerca da inteligência UM REPETENTE FALA SOBRE O CURRÍCULO Não eu não gosto da escola Esta é a segunda vez que eu repito a 4ª série estou muito maior que os outros alunos Entretanto os meus colegas gostam de mim Não falo muito em aula fora da sala sei ensinar um mundo de coisas Eles estão sempre me rodeando e isto compensa tudo que acontece na sala Eu não sei porque a professora não gosta de mim Na verdade ela nunca me deu atenção parece que nunca acredita que a gente sabe alguma coisa a não ser que a gente possa dizer o nome do livro onde aprendeu Na escola a gente tem de aprender tudo o que está no livro e eu não consigo guardar Ano passado fiquei na escola depois da aula todos os dias durante duas semanas tentando aprender o nome dos estados brasileiros Claro que eu não conhecia todos conhecia alguns como Espírito Santo São Paulo e Paraná para onde meu tio foi com a família para plantar café Mas é preciso saber todos e por região e isso eu nunca sei Também não ligo muito pois os meninos que aprendem os nomes dos estados têm que aprender as capitais depois Acho que nunca consegui decorar nomes de todos os ossos do corpo humano Este ano comecei a aprender um pouco sobre tratores porque meu tio tem três para aluguel e disse que vai me deixar dirigir quando eu fizer 16 anos Já sei bastante sobre cavalo vapor e marchas de diferentes marcas de trator a Diesel É gozado como os tratores de motores a Diesel funcionam Comecei a falar sobre eles com a professora de ciência na quartafeira passada quando a bomba que a gente usava para obter o vácuo esquentou Mas a professora disse que não via relação entre motor Diesel e a nossa experiência sobre pressão do ar Fiquei inquieto Mas os colegas parecem gostar Levei quatro deles a garagem do meu tio e vimos o mecânico desmontar um motor Diesel Rapaz e como ele entende disso Eu também não sou forte em geografia Durante toda esta semana estudamos o que o Brasil importa e exporta mas eu não sei bulhufas Talvez porque faltei aula pois meu tio me levou em uma viagem de mais ou menos 400 quilômetros de distância Fomos de caminhão e trouxemos duas toneladas de adubo de São José dos Campos meu tio tinha me dito onde estávamos indo e eu tinha que indicar as estradas e a distância em quilômetros Ele só dirigia o caminhão e virava à direita à esquerda quando eu mandava Como foi bom Paramos sete vezes e dirigimos mais de oitocentos quilômetros ida e volta Estou tentando calcular o óleo e o desgaste em quilômetros Eu costumo fazer as contas e escrever as cartas para todos os fazendeiros sobre os porcos e bois abatidos Houve apenas três erros em dezessete cartazes erros em dezessete cartas e diz minha tia só problemas de vírgulas Se eu pudesse escrever as redações bem assim Outro dia o assunto era o que uma rosa leva da primavera e não deu Também não dou para matemática Parece que não consigo me encontrar nos problemas Um deles era assim se um poste telefônico com 11351m de comprimento cair atravessado em uma estrada de modo que 2271m sobrem de um lado e 318m do outro qual a largura da estrada Acho uma bobagem calcular largura de estrada Nem tentei responder pois o problema também não dizia se o poste tinha caído reto ou torto Também não sou bom em educação artística Todos nós fizemos um marcador de livros e uma cruz todinha de palitos de fósforo Os meus foram péssimos Também não me interessei Lá em casa não temos livros e me doeu muito usar o palito de fósforo novinho quando a minha mãe diz sempre para economizar fósforo pois custa dinheiro Bem eu queria fazer um barquinho de madeira com o assento de tábua Mas a professora não deixou porque todos os alunos tinham que fazer a cruz de palitos de fósforo Moral e Cívica é fogo Andei ficando depois da aula tentando aprender os direitos e deveres do cidadão A professora disse que só poderíamos ser bons cidadãos sabendo disso E eu quero ser bom cidadão mas detestava ficar depois da aula porque um bando de meninos estava limpando um terreno para fazer um campo de futebol para as crianças da nossa comunidade Eu até fiz as traves do gol usando uns canos velhos Conseguimos dinheiro vendendo verduras da nossa horta para comprar a bola e um jogo de camisas O pai disse que eu posso sair da escola quando fizer 15 anos Estou doido para fazer isso porque há um mundo de coisas que quero aprender e já estou ficando velho Autor desconhecido QUESTÕES 1 Em duplas ou trios escolham uma das três concepções de inteligência apresentadas no Módulo 02 do Material Didático da disciplina visão clássica visão de Gardner e visão de Goleman e justifiquem com base na concepção escolhida se o menino retratado no texto pode ser considerado inteligente A resposta deve ter no máximo 10 linhas Valor da Atividade 30 pontos Data máxima para entrega 07042023 Psicologia da Educação Vera Lúcia do Amaral Interdisciplinar Psicologia da Educação EDUC 101 Psicologia da educação Prof Dr Marcio Sarrocco tarefa nº1 1 1 Cite e descreva resumidamente as três principais abordagens da psicologia da Educação R Muitas abordagens da psicologia foram úteis para a educação pois muitas delas estudavam formas como o ser humano se desenvolvia e aprendia Natal RN 2014 Interdisciplinar Psicologia da Educação Vera Lúcia do Amaral 2ª Edição Catalogação da publicação na fonte Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Marcos Aurélio Felipe COORDENAÇÃO DE REVISÃO Maria da Penha Casado Alves COORDENAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO Ivana Lima GESTÃO DO PROCESSO DE REVISÃO Rosilene Alves de Paiva GESTÃO DO PROCESSO DE DESIGN GRÁFICO Dickson de Oliveira Tavares PROJETO GRÁFICO Ivana Lima REVISÃO DE MATERIAIS Ailson Alexandre Câmara de Medeiros Andreia Maria Braz da Silva Camila Maria Gomes Cristiane Severo da Silva Cristinara Ferreira dos Santos Edneide da Silva Marques Emanuelle Pereira de Lima Diniz Eugenio Tavares Borges Fabiola Barreto Gonçalves Julianny de Lima Dantas Simião Margareth Pereira Dias Orlando Brandão Meza Ucella Priscilla Xavier de Macedo Rosilene Alves de Paiva Verônica Pinheiro da Silva FICHA TÉCNICA EDITORAÇÃO DE MATERIAIS Alessandro de Oliveira Paula Amanda de Lima Cabral Amanda Duarte Anderson Gomes do Nascimento Carolina Aires Mayer Carolina Costa de Oliveira Dickson de Oliveira Tavares Heloisa Fernandes Ferreira Nunes José Agripino de Oliveira Neto Leticia Torres Luciana Melo de Lacerda Mauricio da Silva Oliveira Junior Revisão de estrutura e linguagem Eugenio Tavares Borges Jânio Gustavo Barbosa Thalyta Mabel Nobre Barbosa Revisão de língua portuguesa Janaina Tomaz Capistrano Sandra Cristinne Xavier da Câmara Revisão de normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Diagramação Bruno de Souza Melo Dimetrius de Carvalho Ferreira Ivana Lima Johann Jean Evangelista de Melo Criação e edição de imagens Adauto Harley Carolina Costa de Oliveira Módulo matemático André Quintiliano Bezerra da Silva Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira Thaisa Maria Simplício Lemos Revisão tipográfi ca Leticia Torres Nouraide Queiroz IMAGENS UTILIZADAS Banco de Imagens Sedis UFRN Fotografi as Adauto Harley Free Images wwwfreeimagescom Flickrcom wwwfl ickrcom PixaBay wwwpixabaycom Governo Federal Presidenta da República Dilma Vana Rousseff VicePresidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Henrique Paim Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN Reitora Ângela Maria Paiva Cruz ViceReitora Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Secretaria de Educação a Distância SEDIS Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Morais Todos as imagens utilizadas nesta publicação tiveram suas informações cromáticas originais alteradas a fi m de adaptaremse aos parâmetros do projeto gráfi co Copyright 2005 Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte EDUFRN Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educação MEC Sumário Apresentação Institucional 5 Aula 1 A psicologia e sua importância para a educação 7 Aula 2 A inteligência 25 Aula 3 A vida afetiva emoções e sentimentos 43 Aula 4 Crescimento e desenvolvimento 57 Aula 5 A psicologia da adolescência 71 Aula 6 A formação da identidade alteridade e estigma 87 Aula 7 Como se aprende o papel do cérebro 101 Aula 8 Como se aprende a visão dos teóricos da educação 119 Aula 9 Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto 137 Aula 10 A dinâmica dos grupos e o processo grupal 155 Aula 11 A família 173 Aula 12 A escola como espaço de socialização 187 Aula 13 Sexualidade 201 Aula 14 A questão das drogas 217 Aula 15 Os meios de comunicação em massa 235 Along with all personal newspapers magazines and books Hi Prism also prints the daily newspaper schedule national and international news and popular books and specialized magazines according to customers preferences 5 Apresentação Institucional A Secretaria de Educação a Distância SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN desde 2005 vem atuando como fomentadora no âmbito local das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação a Distância SEED o Ministério da Educação MEC e a Universidade Aberta do Brasil UABCAPES Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição a primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico sendo implementados cursos de licenciatura e pósgraduação lato e stricto sensu a segunda voltase para a Formação de Gestores Públicos através da oferta de bacharelados e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD a SEDIS tem disponibilizado um conjunto de meios didáticos e pedagógicos dentre os quais se destacam os materiais impressos que são elaborados por disciplinas utilizando linguagem e projeto gráfi co para atender às necessidades de um aluno que aprende a distância O conteúdo é elaborado por profi ssionais qualifi cados e que têm experiência relevante na área com o apoio de uma equipe multidisciplinar O material impresso é a referência primária para o aluno sendo indicadas outras mídias como videoaulas livros textos fi lmes videoconferências materiais digitais e interativos e webconferências que possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem Assim a UFRN através da SEDIS se integra ao grupo de instituições que assumiram o desafi o de contribuir com a formação desse capital humano e incorporou a EaD como moda lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pósgraduação no Brasil No Rio Grande do Norte a UFRN está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões ofertando cursos de graduação aperfeiçoamento especialização e mestrado interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e transformar o conhecimento em uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local Nesse sentido este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE TE O COMPROMISSO DA SEDISUFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil Secretaria de Educação a Distância SEDISUFRN Get together with family and friends to enjoy our wide selection of original and converged crafts prepared food and locally made beer wine and spirits 1 Aula A Psicologia e sua importância para a Educação Experience the comfortable interior design and relaxing atmosphere with soft lighting by Korean designers and skilled artisans From the meeting room to the open kitchen every inch of the space is designed to promote involvement and inspiration for everyone anywhere and everywhere 1 2 3 4 Aula 1 Psicologia da Educação 9 Apresentação A partir desta aula iniciaremos nosso percurso pelo mundo da subjetividade Nesta disciplina iremos discutir temas da Psicologia que tenham interesse para o educador e para a Educação Vamos conhecer o que é o homem como ele se constitui como ele aprende e se relaciona com os outros Para tando selecionamos temas interessantes como a inteligência as emoções o crescimento e o desenvolvimento do ser humano e em especial a aprendizagem para a qual dedicamos um conjunto de aulas Outro bloco de temas diz respeito à chamada Psicologia Social os grupos sociais os processos de socialização na família e na escola a questão das drogas e a sexualidade Todos esses temas vão nos ajudar a compreender melhor nossos alunos e como podemos interagir com eles Nesta aula discutiremos um tema que por mais que possa parecer óbvio quase nunca paramos para questionálo quem é o homem O que caracteriza o humano Objetivos Conceituar Psicologia dentro das diversas perspectivas Entender de que maneira a Psicologia está presente nas mais diversas áreas do conhecimento Perceber como a subjetividade permeia nossas interpreta ções do mundo e de nós mesmos Reconhecer a importância da Psicologia na formação do professor Aula 1 Psicologia da Educação 10 Afinal para quê estudar Psicologia E sta é uma pergunta que você deve estar se fazendo agora Qual a finalidade de se estudar esse tema em um curso de licenciatura que deveria estar abordando temas mais específicos Será necessário estudar assuntos sobre os quais se pode ler em qualquer revista não especializada Em primeiro lugar atente para o fato de que você está sendo formado para ser um professor Que vai lidar com gente e gente é uma coisa reconhecidamente complicada Um bom professor é aquele que tem um conhecimento profundo do conteúdo que deve ministrar mas também sabe lidar com sua turma de modo a envolvêla no processo de aprendizagem E com certeza os conhecimentos específicos de sua área apesar de extremamente importantes para sua formação não lhe ensinam a lidar com gente Em segundo lugar será que o que se lê em revistas não especializadas são de fato Psicologia As matérias veiculadas pelo Fantástico e por outros programas da TV do mesmo tipo são suficientemente sérias eou científicas ou ficam apenas no nível do senso comum Os livros de autoajuda ajudam a alguém mais além dos seus próprios autores O que é então Psicologia No nosso cotidiano estamos acostumados a usar o termo Psicologia em vários sentidos fulano de tal consegue as coisas porque tem muita psicologia vou conversar com fulaninha porque ela tem muita psicologia e me entende eu lido com meu filho com muita psicologia Esses são exemplos de frases que usamos ou já ouvimos em algum momento Atividade 1 Aula 1 Psicologia da Educação 11 A Psicologia enquanto área do conhecimento científico somente se constituiu muito recentemente há pouco mais de 100 anos Para isso foi necessário delimitar o seu objeto de estudo estabelecer métodos e técnicas específicas divulgados numa linguagem científica e assim superar o conhecimento espontâneo do senso comum Poderíamos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o Homem Mas esse também é o objeto de estudo de outras Ciências como a Antropologia a Sociologia e todas as demais Ciências Humanas Se perguntarmos a um psicólogo qual o objeto específico da Psicologia ele pode nos dar pelo menos dois tipos de respostas 1 A Psicologia estuda o comportamento humano uma vez que é através do comportamento que expressamos nossas manifestações interiores Quando estamos felizes expressamos essa felicidade através de comportamentos expressões faciais gesticulações Quando estamos preocupados ou raivosos também é através do nosso comportamento que manifestamos esses sentimentos 2 A Psicologia preocupase com as manifestações de nosso inconsciente com aqueles comportamentos lembranças pensamentos que temos e não sabemos explicar por que nem sabemos exatamente de onde vêm E para você o que é Psicologia Anote o que você compreende por Psicologia Aula 1 Psicologia da Educação 12 Respostas tão divergentes como essas vão nos mostrar que a Psicologia é ainda uma Ciência em construção ao ponto de alguns autores preferirem falar em Psicologias no plural Nesta disciplina iremos conceber a Psicologia como o estudo da subjetividade humana sendo esse o seu objeto de estudo principal É o estudo do Homem em todas as suas expressões sejam as visíveis como o comportamento sejam as invisíveis como nossos pensamentos sejam as nossas sigularidades a maneira particular como cada pessoa se apresenta ao mundo sejam as genéticas que trazemos como carga biológica Todos esses aspectos conferem ao homem uma maneira particular de ser de sentir de se expressar de se posicionar diante dos fatos da vida Inconsciente O conceito de insconsciente na Psicologia foi trazido por Sigmund Freud pronunciase Fróide e inaugura uma vertente da Psicologia chamada Psicanálise Para Freud o adjetivo inconsciente é o conjunto dos conteúdos não presentes na consciência aos quais somente se tem acesso de forma indireta como através dos sonhos Esses conteúdos seriam o resultado de experiências infantis que foram reprimidas por serem extremamente dolorosas para o indivíduo Figura 1 Sigmund Freud A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural é uma síntese que nos identifica de um lado por ser única e nos iguala de um outro na medida em que os elementos que a constituiem são experienciados no campo comum da objetividade social BOCK 1999 p 23 Atividade 2 Atividade 3 Aula 1 Psicologia da Educação 13 Então apesar de pertencermos a um gênero o humano E de termos uma estrutura biológica que nos faz igual a tantos outros do nosso gênero somos essencialmente diferentes Quantas vezes nos perguntamos por que dois filhos dos mesmos pais criados da mesma maneira podem ser tão diferentes O que nos faz diferentes O que nos faz únicos O que nos faz tão singulares Nossa subjetividade é que constitui o nosso modo de ser nossa maneira particular de sentir de pensar de fazer Nossa subjetividade é o que nos faz únicos Como você se descreveria Como é o seu jeito a sua maneira de ser Observe um grupo de pessoas seus colegas seus irmãos seus alunos Tente descrever o jeito deles observando as particularidades de cada um O que os distingue dos outros quanto a suas atitudes maneiras de ser Atividade 4 Aula 1 Psicologia da Educação 14 O que você acabou de descrever em relação você e às pessoas do grupo que observou foi justamente a subjetividade sua e dos outros Por mais que tenhamos alguma característica que se pareça com a de uma outra pessoa sempre seremos no conjunto uma pessoa diferente e singular E mesmo quando observamos características de um grupo quando vemos que temos características semelhantes ao nosso grupo mesmo assim podemos observar particularidades que são somente nossas São essas características que nos confere identidade Por exemplo podemos dizer que o povo nordestino de uma maneira geral tem uma forte religiosidade No entanto esse traço cultural vai se apresentar de uma forma particular em cada um de nós Parece então que os aspectos da cultura são importantes na formação da subjetividade particular como veremos a seguir Veja a representação artística da diversidade do povo brasileiro no quadro de Tarsila do Amaral Agora vamos observar um grupo mais amplo o povo nordestino Você acha que nós nordestinos temos alguma característica quanto ao modo de ser que nos distingue de outros brasileiros Figura 2 Operários Aula 1 Psicologia da Educação 15 A Psicologia estuda o Homem em relação a seus aspectos peculiares e por isso tem que se debruçar sobre o estudo da sua mente mas não pode deixar de lado o aspecto biológico e social a maneira como ele se insere na sociedade e por que se insere dessa forma Como você pode ver a Psicologia é um ramo das Ciências Humanas abrangente e amplo Se somos tão diferentes mesmo estando entre iguais o que gerou essas diferenças Como se constitui a subjetividade S e entendemos que a subjetividade engloba todas as peculiaridades imanentes à condição de ser sujeito ela envolve as capacidades sensoriais afetivas imaginativas e racionais de uma determinada pessoa o que chamamos de seu mundo interno E como é que se forma esse meu mundo interno Será que já nascemos com ele Muitas vezes identificamos em nós mesmos traços comportamentos maneiras de ser iguais a de nossos pais Costumamos dizer tal pai tal filho indicando que haveria uma transmissão genética dessas características Mas quando nos identificamos com maneiras de pensar o mundo de pessoas da nossa comunidade quando organizamos nosso mundo interior a partir de valores morais e éticos e passamos a pautar o nosso comportamento por esses valores tratase de aspectos que não podem ser explicados pela genética É na relação com o mundo que o sujeito se constitui como tal que se desenvolvem as possibilidades humanas É inserido nesse mundo externo que o homem vai organizar o seu universo de valores e significados que por sua vez vão moldar suas capacidades imaginativas racionais e afetivas Assim toda pessoa é uma complexa unidade natural e cultural Atividade 5 Aula 1 Psicologia da Educação 16 A subjetividade então também não pode ser um conceito explicável apenas a partir da Psicologia Ela está inserida em um corpo com funções biológicas e psicológicas mas é um corpo de um sujeito que interage com o seu ambiente familiar e social que transforma esse ambiente e é transformado por meio dessa interação Se a subjetividade é o resultado da interação entre o indivíduo e o seu meio podemos entender que ela começa a se moldar a partir dos processos de socialização primários da criança na família na escola na comunidade e segue pela vida em um processo dinâmico Vamos retomar as características que observamos no povo nordestino Que aspectos do mundo externo nordestino podem ter influenciado na formação dessas características Atividade 6 Aula 1 Psicologia da Educação 17 Quem é o homem e o que caracteriza o humano Há um filme muito interessante chamado O Homem Bicentenário 1999 baseado em um livro de Isaac Asimov 1976 Nele um robô por um defeito de fabricação é capaz de ter sentimentos e emoções além de paulatinamente ir tomando consciência de sua condição nãohumana Ao longo de 200 anos utilizando a tecnologia das diferentes épocas ele vai conseguindo modificar sua aparência física para tornar se mais e mais parecido com um homem Após ter sua aparência suas atividades sua vida social e familiar em tudo igual as das outras pessoas ele passa a lutar para ser reconhecido oficialmente como humano O Conselho que governa o mundo nessa época nega sistematicamente tal reivindicação Como você justificaria a posição do Conselho Por que não considerálo humano Aula 1 Psicologia da Educação 18 Um dos equÍvocos frequentemente observado é tratar o homem como independente de sua condição histórica e social Idéias como as de Rousseau filósofo suíço que viveu no século XVIII de que o homem teria uma essência originalmente boa ou de que as suas interações sociais seriam fruto de um instinto gregário o que justificaria sua vida em sociedade são ainda observadas em algumas postulações Na Medicina por exemplo apesar da máxima de que não existem doenças mas doentes o paciente ainda é visto como igual a todos os portadores da mesma enfermidade Ao ir a um médico alguma vez lhe foi perguntado sobre sua história Será que a forma como se vive a vida não teria influência na aquisição de uma doença Pelo que já vimos sobre a constituição da subjetividade dos sujeitos o homem não pode ser concebido como um ser natural mas sim como o produto de sua história da sua cultura E é por isso que por exemplo o seu modo de vida interfere na manifestação de suas doenças Afirmar que o homem é um ser sóciohistórico não significa recusar a sua condição biológica O homem pertence a uma espécie animal e todos nós recebemos de nossos ancestrais uma herança de genes que determina nosso corpo e as características de nossa espécie Duas evidências científicas relativamente recentes no entanto nos mostram a importância do meio na constituição desse indivíduo por um lado os estudos da Genética nos ensinam que os genes se manifestam de diferentes maneiras dependendo das condições ambientais Por outro lado a recente Neurociência aponta a plasticidade cerebral mostrando que os neurônios se organizam e desenvolvem suas conexões dependendo de estímulos e vivências ambientais Assim é a condição biológica do homem que possibilita que ele ao apropriarse de elementos fornecidos pela sua cultura adquira aptidões que satisfaçam as suas necessidades físicas e sociais Alguns autores afirmam que o homem aprende a ser homem Isso significa que ao nascer a criança ainda deve desenvolver sua humanidade o que somente pode se dar em contato com outras pessoas com seu meio com sua cultura Compreender o homem dessa forma é admitilo como um sujeito multideterminado Um exemplo disso pode ser observado no filme O Enigma de Kaspar Hauser 1974 no qual um homem que é mantido encarcerado até os 18 anos apresenta imensas dificuldades de adaptação social Aula 1 Psicologia da Educação 19 E o que caracteriza exatamente o humano Bock 1999 p 175 destaca três características como essencialmente humanas 1 O trabalho e o uso de instrumentos Podemos dizer que outros animais executam tarefas às vezes até bastante complexas como as colméias das abelhas e as teias das aranhas mas a execução dessas tarefas não envolve o planejamento e a noção de finalidade da mesma O trabalho para o homem depende de sua vontade de seu pensamento da consciência da tarefa que executa Mesmo quando faz algum trabalho forçado escravo o homem tem a consciência de que seu trabalho é assim Alguns animais são capazes de manipular instrumentos e podem ser treinados para utilizálos no entanto são também utilizações mecânicas sem conhecimento do conceito do objeto que manipulam 2 A criação e a utilização da linguagem Os psicólogos são unânimes em reconhecer a importância da linguagem como elemento fundamental na tomada de consciência dos homens Evolutivamente no entanto a linguagem teve vários antecedentes até estar plenamente desenvolvida Foram cerca de 5 milhões de anos para que os nossos antepassados aprendessem a transformar um objeto em instrumento de trabalho conferirlhe um objetivo determinado a registrálo simbolicamente no Sistema Nervoso Central tomar consciência e a darlhe um nome surgimento da linguagem Para Bock a descoberta de que a vocalização poderia ser utilizada na comunicação equivale nos tempos atuais à descoberta dos chips eletrônicos 1999 p 175 Por outro lado vários estudos com chipanzés discutem a ocorrência de rudimentos de um comportamento intelectual semelhante ao do homem Koehler um dos principais teóricos da Psicologia responsável pela fundação de um dos seus ramos a Psicologia da Gestalt em seus clássicos estudos conclui que a ausência da fala e a pobreza de imagens dos chipanzés são fatores decisivos na sua incapacidade de desenvolvimento cultural Para Vygotsky 1999 a estreita relação entre pensamento e fala seria característica dos humanos e estaria ausente nos antropóides 3 A compreensão do mundo onde se vive Quando observamos determinada cena ao nosso redor somos capazes de refletir sobre o que está ocorrendo analisar o fato tomar decisões com relação a ele Isso significa que compreendemos o que ocorre na nossa realidade mas mais do que isso fazemos relações juntamos fatos projetamos as consequências futuras Além disso somente o homem é capaz de se questionar sobre si mesmo de se perguntar quem eu sou e de onde vim ou seja ter consciência de si mesmo E é justamente essa consciência de si e do mundo em que vive juntamente com suas emoções e sentimentos que constituem sua subjetividade Aula 1 Psicologia da Educação 20 Para o pedagogo brasileiro Paulo Freire 1981 somente o homem é capaz de transcender E sua transcendência não é um dado apenas de sua qualidade espiritual mas o resultado exclusivo da transitividade de sua consciência que permite distinguir um eu de um nãoeu O homem diferentemente dos outros animais não apenas vive mas existe porque não apenas está no mundo mas está com ele Por que Psicologia na Educação Q uando pensamos em educação nos vêm à mente coisas como as atividades que desenvolvemos na escola a aquisição de conhecimento o adestramento de habilidades No entanto estamos aqui pensando em um conceito mais amplo da palavra Educação como um processo de desenvolvimento do homem Em primeiro lugar é preciso destacar a palavra processo dessa definição a qual significa estar em movimento inacabado Em segundo lugar se pensarmos nos aspectos que envolvem o desenvolvimento do homem vamos entender que Educação envolve um acúmulo histórico de valores e cultura de uma sociedade A Educação então é uma prática social Mas sobretudo é importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem e sua subjetividade é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor compreender o processo educativo Assim uma conceituação que responde à questão inicial é dada por Coll 2004 p vii a psicologia da educação é uma disciplinaponte entre a Educação e a Psicologia cujo objeto de estudo são os processos de mudança que ocorrem nas pessoas em consequencia de sua participação em uma ampla gama de situações ou atividades educacionais Para esse autor a Psicologia da Educação se ocupa fundamentalmente de mudanças vinculadas aos processos de aprendizagem de desenvolvimento e desocialização 2004 p vii Esse é o percuso que iniciamos nesta aula Resumo 1 2 3 Aula 1 Psicologia da Educação 21 Autoavaliação Duas conhecidas frases refletem bem o que acabamos de discutir Uma é o provérbio popular pau que nasce torto não tem jeito morre torto a outra é de J J Rousseau o homem nasce bom e a sociedade o corrompe Discuta essas frases comparandoas A partir do que foi estudado responda à questão o que é o homem Qual a importância do estudo da subjetividade em cursos de Licenciaturas Referências AMARAL Tarsila do Operários 1933 1 quadro óleo sobre tela 150 x 205cm Coleção do Governo do Estado de São Paulo Disponível em httpwwwtarsiladoamaralcombrindex framehtm Acesso em 30 jul 2007 BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L vT Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia São Paulo Saraiva 1999 COLL C MARCHESI A PALACIOS J Desenvolvimento psicológico e educação Porto Alegre Artemd 2004 FREIRE P Educação como prática da liberdade Rio de Janeiro Paz e Terra 1981 VYGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1999 Nesta primeira aula iniciamos a discussão sobre o homem destacando como aspecto principal a ser abordado o estudo da subjetividade Discutimos também o que caracteriza o homem em contraposição com outros animais Por fim apresentamos um conceito de psicologia da educação e sua importância nos cursos de formação de professores Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 22 Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 23 Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 24 A inteligência é a capacidade que uma criatura tem de aprender perceber resolver problemas inventar imaginar e se adaptar ao meio em que vive Ela corresponde ao funcionamento de seu cérebro e é muito importante para o seu desenvolvimento como ser humano Podemos dizer que a inteligência é o que permite que você viva sobreviva e lute numa sociedade 1 2 3 Aula 2 Psicologia da Educação 27 Apresentação N esta aula vamos discutir um assunto que muitas vezes interfere na maneira como valorizamos nossos alunos a inteligência Como surge a inteligência Por que alguns são mais inteligentes do que outros Inteligência é o mesmo que esperteza São algumas das interrogações que vamos abordar ao longo da aula Objetivos Conhecer os conceitos de inteligência observando sua importância para o professor Distinguir as várias formas de manifestação da inteligência Diferenciar inteligência de outros conceitos correlatos como criatividade Atividade 1 2 1 Aula 2 Psicologia da Educação 28 As concepções clássicas D efinir inteligência nunca foi uma tarefa fácil apesar de intuitivamente podermos identificar comportamentos isolados ou mesmo classificar uma pessoa como muito ou pouco inteligente Seguramente você já ouviu alguém dizer que o seu cachorro é muito inteligente ou que fulano é muito inteligente porque tira notas boas nas provas Então o que será mesmo inteligência É dessa questão que vamos tratar a partir de agora Comecemos então com uma atividade simples Anote a seguir sua concepção de inteligência Agora liste 5 comportamentos ou situações que você considera como manifestação de inteligência elevada em uma pessoa Aula 2 Psicologia da Educação 29 A concepção mais clássica de inteligência é a de William Stern psicólogo alemão que viveu entre o final do século XVIII e o início do século XIV que dizia ser a capacidade pessoal para resolver problemas novos fazendo uso adequado do pensamento Para outros autores seria a utilização de todos os equipamentos mentais que dessem conta da adequação às tarefas da vida Mesmo com essas definições vagas havia e há o entendimento de que a inteligência é uma capacidade mental que pode ser medida e quantificada por meio dos famosos testes de QI No início do século XX dois psicólogos e pedagogos Binet e Simon receberam a solicitação do governo francês de elaborarem um método capaz de identificar as crianças com deficiência intelectual ou seja que tinham dificuldade para aprender e apresentavam baixo rendimento escolar Eles estruturaram uma escala métrica para a inteligência Partiam da concepção de que seria possível prever o desempenho escolar de uma criança independentemente de sua condição social ou econômica e com isso criaram o primeiro teste de QI conceituando inteligência como um conjunto de processos de pensamento que constituem a adaptação mental isto é os processos cognitivos racionais como promotores da adaptação QI Quociente de inteligência abreviado para QI de uso geral é um termo proposto por William Stern que significa o resultado da divisão da idade mental pela idade cronológica multiplicado por 100 A idade mental é obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas de um sujeito em comparação ao seu grupo etário Assim uma criança com idade cronológica de 10 anos e nível mental de 8 anos teria QI 80 porque 810 x 100 80 Figura 1 Alfred Binet 18571911 Os trabalhos de Binet e Simon logo foram bastante questionados principalmente porque os testes pareciam não dar conta de avaliar a capacidade do indivíduo adulto e também porque partiam do estudo de crianças com deficiências Na realidade os autores elaboraram uma escala métrica da inteligência para detectar na escola os retardados perfectíveis ou seja aqueles que seriam suscetíveis de frequentar as classes chamadas de aperfeiçoamento Contrariamente aos retardados de asilo os incapazes de qualquer tipo de aprendizado os retardados perfectíveis poderiam adquirir elementos da instrução primária aprender certas normas sociais e assim serem mais tarde socialmente utilizáveis no mercado de trabalho no exercício de profissões manuais Atividade 2 Aula 2 Psicologia da Educação 30 Dentre os comportamentos eou situações que você relacionou na atividade 1 separeos em dois blocos colocando na coluna A aqueles que você imagina enquadraremse na definição de Stern e na coluna B os que se enquadram na definição de Binet e Simon Coluna A Coluna B Liste agora os comportamentos eou situações que não se enquadraram em nenhuma das colunas Se algo ficou fora das duas primeiras colunas é porque provavelmente as definições que nos serviram de parâmetro não contemplam todas as possibilidades Ou será que não listamos comportamentos e situações que refletiam a manifestação da inteligência A seguir vamos ver as concepções mais contemporâneas de inteligência Aula 2 Psicologia da Educação 31 Concepções de inteligência N os últimos 50 anos o termo inteligência vem assumindo concepções distintas e variadas Ao lado de termos como testes de inteligência inteligência brilhante pouco inteligente temos ouvido e visto aparecer inteligência artificial sistemas inteligentes inteligência emocional Na verdade mesmo os psicólogos estão cada vez mais reticentes quanto à possibilidade de mensuração da inteligência questionando os famosos testes de QI A própria concepção de inteligência como uma competência individual como a capacidade de raciocinar de compreender desprezandose aspectos outros da subjetividade dos indivíduos parece hoje questionável Cada vez mais ganha força uma concepção de que a inteligência tem aspectos múltiplos e variados na sua avaliação e sobretudo questionase a relação entre inteligência e bom desempenho escolar São mais do que conhecidos os sofríveis resultados obtidos na escola por algumas pessoas que vieram a se revelar verdadeiros gênios da Ciência O exemplo mais divulgado é o de Einstein que assim se referia ao seu processo de aprendizagem As palavras ou a língua escrita ou falada não creio que desempenhem nenhum papel no mecanismo de meu pensamento Os entes físicos que parecem servir de elementos ao pensamento são certos signos e certas imagens mais ou menos claras que podem ser voluntariamente reproduzidas e combinadas HADAMARD 1945 p 131 Veja as palavras de outro gênio este da Psicologia Carl Jung sobre sua experiência na escola O colégio me aborrecia Tomava muito tempo que eu teria preferido consagrar aos desenhos de batalhas ou a brincar com fogo O ensino religioso era terrivelmente enfadonho e as aulas de matemática me angustiavam A álgebra parecia tão óbvia para o professor enquanto que para mim os próprios números nada significavam não eram flores nem animais nem fósseis nada que se pudesse representar mas apenas quantidades que se produziam contando Para minha surpresa os outros alunos compreendiam tudo isso com facilidade Ninguém podia me dizer o que os números significavam e eu mesmo não era capaz de formular a pergunta Com grande espanto descobri que ninguém entendia a minha dificuldade O fato de nunca ter conseguido encontrar um ponto de contato com as matemáticas embora não duvidasse que era possível calcular validamente permaneceu um enigma por toda a minha vida O mais incompreensível era a minha dívida moral quanto à matemática As aulas de matemática tornaram se o meu horror e o meu tormento mas como tinha facilidade nas outras matérias que me pareciam fáceis e graças a uma boa memória visual conseguia desembaraçarme também no tocante à matemática meu boletim geralmente era bom mas a angústia de poder fracassar e a insignificância da minha existência diante da grandeza do mundo provocavam em mim não apenas malestar mas também uma espécie de desalento mudo que acabou por me indispor profundamente com a escola PORTAL 200 Aula 2 Psicologia da Educação 32 Tais depoimentos além de nos mostrar a falha na concepção clássica de inteligência nos alerta que como professores devemos estar atentos à maneira como as pessoas aprendem conforme veremos na aula nove Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto Nesse sentido parece necessário um reexame da concepção clássica de inteligência a partir de uma perspectiva que considere as diversas faces da competência e valorize as diferentes formas de associação de idéias e de construção do conhecimento Vamos ver então se nessas diferentes concepções será possível enquadrar aquelas definições que você listou e que não puderam ser incluídas nas concepções clássicas As inteligências múltiplas N os anos 80 surge o primeiro trabalho de Howard Gardner propondo uma teoria de inteligências múltiplas Gardner discorda que a inteligência possa existir como uma capacidade inata geral e única capaz de permitir ao sujeito uma performance maior ou menor em qualquer área de atuação Ao definir inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais ele defende que o indivíduo vai desenvolver determinadas habilidades mais que outras em função das necessidades de resolver problemas próprios da cultura em que vive Sugere ainda que alguns talentos somente são desenvolvidos porque são valorizados culturalmente Gardner identificou sete tipos de inteligências linguística lógicomatemática espacial corporalcinética musical interpessoal e intrapessoal das quais trataremos a seguir Figura 2 Howard Gardner 1943 1 A dimensão linguística Expressase de modo característico no orador no escritor em todos os que lidam criativamente com as palavras com a língua corrente com a linguagem de uma maneira geral Existem estudos interessantes referentes à lateralização das funções Aula 2 Psicologia da Educação 33 cerebrais propondo sua localização em regiões específicas a competência linguística estaria no lado esquerdo no caso ocidental de um indivíduo destro e as linguagens ideográficas das culturas orientais estariam localizadas nos dois hemisférios 2 A dimensão lógicomatemática É normalmente associada à competência em desenvolver raciocínios dedutivos em construir ou acompanhar cadeias causais em vislumbrar soluções para problemas em lidar com números ou outros objetos matemáticos envolvendo cálculos transformações etc Em seu estereótipo mais frequente o pensamento científico encontrase fortemente associado à dimensão lógicomatemática da inteligência 3 A dimensão espacial Está diretamente associada às atividades do arquiteto ou do navegador por exemplo revelandose uma competência especial na percepção e na administração do espaço na elaboração ou na utilização de mapas de plantas de representações planas de um modo geral Existem estudos que sugerem fortemente que tal competência desenvolvese primordialmente no lado direito do cérebro no caso ocidental de um indivíduo destro 4 A dimensão corporalcinética Manifestase tipicamente no atleta no artista que seguramente não elaboram cadeias de raciocínios para realizar seus movimentos e na maior parte das vezes não conseguem explicálos verbalmente Os exercícios os treinamentos conseguem ser desenvolvidos com notável competência apesar dos limites alcançados diferirem significativamente em diferentes indivíduos 5 A dimensão musical Gardner analisou o papel desempenhado pela música em sociedades primitivas em diferentes culturas em diferentes épocas bem como no desenvolvimento infantil e convenceuse de que a habilidade musical representa uma competência em estado puro no sentido de que não estaria necessariamente associada a nenhuma das outras dimensões citadas 6 A dimensão interpessoal Revelase através de uma competência especial o bom relacionamento com os outros percebendo seus humores suas motivações captando suas intenções mesmo as menos evidentes descentrandose enfim ao conseguir analisar questões coletivas sob diferentes pontos de vista Em sua forma mais elaborada é característica nos líderes nos políticos nos professores nos terapeutas e é fundamental nos pais 7 A dimensão intrapessoal Consiste basicamente em estar bem consigo mesmo administrando os próprios humores sentimentos emoções projetos A criança autista é um exemplo prototípico de um indivíduo com a inteligência intrapessoal prejudicada uma vez que ela não consegue muitas vezes sequer referirse a si mesma muito embora seja capaz de exibir habilidades em outras áreas como a musical ou a espacial Alguns Autista O termo autista provém de autismo que designa um tipo de psicose infantil no qual a criança apresenta entre outros sintomas extrema dificuldade de comunicação afetiva fazendo com que ela viva em seu mundo interior em situação de isolamento com relação ao ambiente social Aula 2 Psicologia da Educação 34 pensadores por exemplo Ortega y Gasset filósofo espanhol que viveu entre 1883 e 1955 consideram absolutamente fundamental a capacidade de estar bem consigo mesmo de apresentar um desenvolvimento físico e emocional equilibrado com as glândulas secretando os humores fundamentais de modo harmonioso Essas diversas dimensões da inteligência vão compor um espectro no qual todos os elementos interagem equilibrandose e reequilibrandose em razão de deficiências em uma ou outra área De certa maneira podemos dizer que todos somos deficientes em alguma dessas dimensões mas que no global todos somos sempre competentes A pressuposição é a de que toda criança teria possibilidades de um desenvolvimento global de suas competências podendo mostrarse especialmente inteligente em uma ou mais das dimensões e deficiente em outras Figura 3 Atividade 3 Voltemos àquelas situaçõescomportamentos que foram listadas na atividade 2 e que não foi possível enquadrar nas concepções clássicas Seria possível identificálas agora dentro das dimensões propostas por Gardner Faça a relação entre elas e as dimensões descritas anteriormente Aula 2 Psicologia da Educação 35 É importante ressaltar que Gardner não está preocupado particularmente com o processo dessas inteligências e sim com a maneira com que os sujeitos as utilizam em suas relações com o mundo como as empregam para resolver os problemas e elaborar os produtos Talvez o mais importante da contribuição desse autor seja entender que em cada pessoa coexistem os sete tipos de inteligência Os sujeitos nascem com todas essas capacidades enquanto potencialidades é na interação com o meio ambiente nas experiências de vida na educação recebida que vão desenvolver algumas mais que outras sem que haja uma hierarquia de importância entre elas Assim os indivíduos tidos como normais possuem os estágios mais básicos de todas as inteligências em um processo de desenvolvimento que se iniciaria ao nascer e se completaria no início da idade adulta A partir daí eles teriam adquirido os estágios mais sofisticados A sequência de estágios começa com a habilidade chamada padrão cru quando os bebês começam a perceber o mundo ao seu redor e a processar as informações possuindo já um potencial para o pensamento simbólico No segundo estágio das simbolizações básicas que ocorre aproximadamente aos 2 anos de idade a criança demonstra sua habilidade em cada um dos tipos de inteligência através da compreensão e uso dos símbolos linguísticos espaciais musicais etc No terceiro estágio já tendo adquirido as habilidades básicas a criança aprimorará os sistemas simbólicos que sejam mais valorizados pelo seu grupo cultural Por fim na adolescência e início da vida adulta o indivíduo adota um campo mais específico e focalizado via ocupações vocacionais O papel da teoria de Gardner na Educação tem sido amplamente discutido sobretudo no sentido de que aponta para a necessidade de se levar em conta essa nova concepção de inteligência no planejamento escolar Armstrong 1994 reconhece a dificuldade de se incluir cada tipo de inteligência em um plano de currículo escolar Propõe então que o professor ao planejar suas atividades faça a si próprio alguns questionamentos que o ajudarão a atentar Atividade 4 Aula 2 Psicologia da Educação 36 para as várias formas de inteligências envolvidas na atividade Nesse sentido para cada tipo de inteligência perguntarseia algo como n linguística Como eu posso usar a palavra falada ou escrita n lógicomatemática Como eu posso usar números cálculos classificações lógica ou pensamento crítico n espacial Como eu utilizo ajuda visual cor arte metáforas ou organizadores visuais n musical Como eu posso usar música e sons ambientais ou destacar pontos chaves em forma de ritmo ou melodia n corporalcinética Como eu posso envolver o corpo como um todo ou alguma experiência com as mãos n interpessoal Como eu posso engajar os estudantes em uma aprendizagem colaborativa compartilhada ou em simulações de grande grupo n intrapessoal Como eu posso evocar sentimentos e lembranças pessoais Gardner faz também propostas de aplicação de sua teoria no espaço escolar as avaliações de desempenho deveriam ser pensadas levando em consideração as diversas habilidades humanas os currículos deveriam ser específicos individualizados centrados em cada criança o ambiente educacional deveria ser mais amplo e variado de modo a depender menos exclusivamente de habilidades da linguagem e da lógica Imagine que você tenha que elaborar uma aula para uma turma de Ensino Médio de uma disciplina a sua escolha Dentro dessa disciplina escolha o tema da aula e em seguida tente descrever como você ministraria essa aula levando em conta pelo menos 3 das dimensões inteligências propostas por Gardner Aula 2 Psicologia da Educação 37 A inteligência emocional Um outro conceito que vem ganhando espaço nos estudos sobre inteligência é o proposto por Daniel Goleman psicólogo americano nascido em 1946 o conceito de inteligência emocional Para ele a inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e com as das pessoas ao seu redor Isso implica autoconsciência motivação persistência empatia entendimento e características sociais como persuasão cooperação negociações e liderança Essa é uma maneira alternativa de ser esperto não em termos de QI mas em termos de qualidades humanas do coração ABRAE httpwwwabraecombr A idéia básica na proposição de Goleman é que não seria possível pensar a inteligência somente por meio de seu componente racional mas que seria de fundamental importância considerar também as questões emocionais envolvidas na tomada de decisões Assim nas decisões seria importante não somente ser racional mas também pensar com o coração e levar em conta aspectos da intuição Alcançar esse tipo de inteligência exigiria treinamento persistência e esforço uma vez que ela não é herdada não é genética Tal treinamento envolveria cinco habilidades 1 autoconsciência reconhecer os próprios estados de ânimo os recursos e as intuições 2 autoregulação saber manejar os próprios estados de ânimo e impulsos 3 motivação reconhecer as tendências emocionais que guiam ou facilitam o cumprimento das metas estabelecidas 4 empatia ter consciência dos sentimentos necessidades e preocupações dos outros 5 destrezas sociais saber induzir as respostas desejadas pelo outro Figura 4 Daniel Goleman 1946 Aula 2 Psicologia da Educação 38 Apesar de trazer a novidade da valorização de aspectos emocionais na concepção de inteligência a teoria de Goleman tem sofrido várias críticas sobretudo pela falta de pesquisas que comprovem a sua eficácia Alguns dizem que ele estaria apenas dando um novo nome a estudos já descritos outros nem isso uma vez que o termo inteligência emocional se originaria de uma concepção de Thorndike psicólogo americano que viveu entre 1874 e 1949 em 1920 quando usou o termo inteligência social para descrever a habilidade de se relacionar com as outras pessoas Na próxima aula discutiremos mais detalhadamente os conceitos de emoção Inteligência ou criatividade Q uando elaboramos uma avaliação para os nossos alunos geralmente temos em mente uma chave de respostas com respostas esperadas eou desejadas Com isso muitas vezes nos surpreendemos com respostas que estão longe do previsto e que no entanto estão corretas São alunos mais inteligentes ou são alunos criativos Ou ambos A internet está cheia de historinhas que podemos usar para entender o que é o pensamento criativo Vamos ver algumas delas Certo dia quando voltava do trabalho depois de um dia daqueles notei que havia pessoas assaltando minha casa Imediatamente liguei para a polícia e me disseram que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar naquele momento e que iriam enviar assim que fosse possível Desliguei o celular e um minuto depois liguei de novo Olá disse eu liguei há pouco porque havia pessoas roubando minha casa Não é preciso chegar tão depressa porque eu matei todos eles Em alguns minutos chegavam à minha porta meia dúzia de carros da polícia helicóptero e uma ambulância Eles pegaram os ladrões em flagrante Um dos policiais disse Pensei que tivesse dito que tinha matado todos Eu respondi Pensei que tivessem dito que não havia ninguém disponível Extraído de httpwwwbs2combractionboletimCeagViewid150 Um fazendeiro resolve colher algumas frutas em sua propriedade pega um balde vazio e segue rumo às árvores frutíferas No caminho ao passar por uma lagoa ouve vozes femininas que provavelmente invadiram suas terras Ao se aproximar lentamente observa várias garotas nuas se banhando na lagoa quando elas percebem a sua presença nadam até a parte mais profunda da lagoa e gritam Aula 2 Psicologia da Educação 39 Nós não vamos sair daqui enquanto você não deixar de nos espiar e for embora O fazendeiro responde Eu não vim aqui para espiar vocês eu só vim alimentar os jacarés Extraído de httpwwwthyamadcomtecnologiacategoryhumor Antigamente na Inglaterra quando dever dinheiro era um crime passível de prisão um mercador teve a infelicidade de pegar dinheiro emprestado com um agiota e não ter como saldar a dívida na data marcada O agiota que era velho e feio estava apaixonado pela filha do mercador uma bela adolescente E propôs ao mercador um negócio disse que cancelaria a sua dívida se em troca pudesse casarse com a moça Tanto o mercador quanto a filha ficaram horrorizados com essa proposta Então o esperto agiota propôs que deixassem a sorte decidir a questão Disselhes que colocaria duas pedrinhas uma preta e outra branca em uma bolsa vazia e a jovem teria de pegar uma das pedrinhas Se pegasse a preta tornarseia sua esposa e a dívida do pai seria cancelada se pegasse a branca permaneceria com o pai e a dívida também seria cancelada Mas se a jovem se recusasse a tirar uma das pedrinhas o pai seria posto na cadeia e ela morreria de fome Relutante o mercador concordou e o agiota curvouse para pegar as duas pedrinhas na rua A moça entretanto percebeu que ele escolhera duas pedrinhas pretas enfiandoas disfarçadamente na bolsa Depois virouse para a moça e pediu a ela que pegasse a pedrinha que decidiria o seu destino e o de seu pai A moça enfiou a mão na bolsa retirou uma pedra e sem mostrar a pedra a ninguém fingiu uma tonteira e deixou a pedrinha cair na rua em meio de todas as outras Oh como sou desastrada disse então Mas não tem importância Se o senhor olhar na bolsa poderá saber qual foi a pedrinha que peguei pela cor da que ficou aí Certo Extraído de httpclubedopairicocombrsolucaologicahtml Como você vê cada uma das soluções propostas foi fruto de um tipo de pensamento que passou ao largo do pensamento lógico convencional Os autores costumam chamar a esse tipo de pensamento de pensamento lateral ou pensamento divergente No pensamento divergente ou lateral o indivíduo parte de idéias simples para chegar a idéias mais complexas fazendo uso da criatividade Essas pessoas têm alguns traços de personalidade que as caracterizam são pessoas curiosas independentes em suas atitudes que toleram bem as situações inusitadas e pouco ordenadas que têm tendência a trabalhar com idéias não diretamente relacionadas com o problema apresentado Resumo 1 2 3 Aula 2 Psicologia da Educação 40 A grande discussão é se essas capacidades representam uma característica própria ou se seriam manifestações da inteligência É fácil imaginar que se usamos os conceitos mais clássicos de inteligência essas histórias representariam pessoas criativas mas não necessariamente inteligentes No entanto se pensamos a inteligência como multifacetada sendo não somente referendada pelo raciocínio lógico podemos aceitar a criatividade como o pleno uso da capacidade das nossas inteligências Nesta aula discutimos a evolução do conceito de inteligência dos clássicos aos mais atuais Vimos o que significa QI e quais as críticas a esse conceito Discutimos as inteligências múltiplas de Gardner e a inteligência emocional de Goleman Vimos por fim a importância desses conceitos mais amplos e da criatividade Autoavaliação Faça uma síntese das inteligências múltiplas relacionandoas com o conceito de criatividade dentro da proposição de pensamento divergente Faça um exercício de elaboração de um plano de aula que dê conta das diversas facetas da inteligência Cite outros exemplos de pensamentos divergentes que caracterizariam a criatividade Aula 2 Psicologia da Educação 41 Referências ARMSTRONG T Multiple intelligences seven ways to approach curriculum Educational Leadship v 52 n 3 nov 1994 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E EMOCIONAL ABRAE Inteligência emocional entrevista com Daniel Goleman Disponível em httpwwwabraecombr Acesso em 03 jul 2007 GARDNER H As inteligências múltiplas a teoria na prática Porto Alegre Artemd 1999 GOLEMAN D Inteligencia emocional Rio de Janeiro Objetiva 1996 HADAMARD Jacques Psychology of invention in the mathematical fiel New York Dover publications 1945 JUNG Carl Gustav Memórias sonhos e reflexões Rio de Janeiro Nova Fronteira 1975 PORTAL PEDAGÓGICO DE SANTA CATARINA Diaadia educação Depoimento de Carl Jung Florianópolis 200 Disponível em httpwwwdiaadiaeducacaoscgovbrportal educadoresepidepoimentosphp Acesso em 10 jun 2007 Anotações Aula 2 Psicologia da Educação 42 3 Aula A vida afetiva emoções e sentimentos A inteligência Aula 2 1 2 3 Aula 3 Psicologia da Educação 45 Apresentação C omo vimos na aula anterior as concepções mais atuais de inteligência recomendam que se leve em conta as emoções ao avaliar essa função classicamente compreendida como sendo unicamente racional Nesta aula vamos aprofundar a investigação sobre o que são as emoções e como elas se diferenciam de outro conceito bastante próximo os sentimentos Objetivos Entender a vida afetiva como uma parte importante para conhecer o homem e sua subjetividade Distinguir as várias formas de manifestação da vida psíquica Conhecer as relações entre vida afetiva e organismo Atividade 1 Aula 3 Psicologia da Educação 46 O que são os afetos O estudo da vida afetiva vem tomando cada dia mais vulto na área da Educação Não só pelas novas concepções de inteligência mas também quando se observa que esse é um aspecto da mente humana definidor de vários comportamentos e atitudes São nossos afetos por exemplo que vão em muito determinar uma maior ou menor motivação para estudar esse ou aquele tema Em primeiro lugar vamos ver o que é isso que chamamos vida afetiva ou afetividade E vamos começar pedindo que nos diga a sua opinião sobre o tema Para você neste instante como se manifestaria a afetividade É muito provável que você tenha descrito como manifestações afetivas coisas como comportamento amoroso atitudes delicadas bom humor Ou seja quando pensamos na palavra afetividade o que nos ocorre são atitudes e comportamentos que chamaremos de positivos Nunca podemos imaginar como afetividade sentimentos como ódio raiva medo No entanto a Psicologia nos informa que nossa vida afetiva ou nossa afetividade é o conjunto de todos os nossos sentimentos emoções humores paixões sejam eles positivos ou negativos Ao estudar as funções da mente a Psicologia tradicionalmente as separa em funções cognitivas funções afetivas e funções volitivas As funções cognitivas são aquelas que nos possibilitam conhecer o mundo tanto o mundo externo quanto o próprio mundo do sujeito ou mundo interior Como exemplo dessas funções temos a memória o pensamento o raciocínio as percepções Atividade 2 Aula 3 Psicologia da Educação 47 As funções afetivas são aquelas que expressam a suscetibilidade experimentada pelo ser humano perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio Veja que nos afetos há um caráter subjetivo definido quando dizemos ser uma suscetibilidade o que o ser humano experimenta Assim na maioria das vezes só podemos saber da existência de um afeto se a pessoa nos contar porque é ela quem está experimentando Finalmente as funções volitivas são aquelas que dizem respeito aos comportamentos exteriorizáveis objetivos que resultam em movimentos corporais gestos mímica expressões faciais Claro que essa partição da mente é um recurso meramente didático cada um dos componentes das funções interage e se liga uns com os outros Assim por exemplo se me ocorre uma lembrança triste função cognitiva passa a surgir dentro de mim um sentimento de tristeza função afetiva que pode vir a se traduzir por expressões faciais como o choro função volitiva Nunca é demais lembrar que corpo e mente são partes indivisíveis Nesta aula voltaremos a nos dedicar somente às funções afetivas Durante toda nossa vida os fatos ou acontecimentos vividos por nós serão nossas experiências de vida e passarão a fazer parte de nossa consciência Mas quando vivemos algum fato de nossa vida ele raramente ocorre desprovido de uma condição muito especial que dá um certo colorido um certo tempero a esse fato Eles são acompanhados de uma susceptibilidade que muitas vezes é sentida no próprio organismo Nesta atividade descrevemos algumas situações que você provavelmente viveu se não as viveu imagine como teria sido Para cada uma anote como você experimentou experimentaria essa susceptibilidade da qual falamos anteriormente ou seja o que se passou passaria dentro de você como você se sentiu se sentiria a O Brasil vence a copa do mundo de futebol em 2002 O capitão da equipe Cafu ergue a taça e a beija sob chuva de papel prateado b Depois de muito esforço de muito estudo de noites mal dormidas enfim você vai saber o resultado do vestibular ao qual se submeteu Seu nome não aparece na lista Você foi reprovado c Você tem um filho de 10 anos Ele integra a equipe de basquete da escola e hoje é o dia da partida final do campeonato Você vai assistir a essa partida o time do seu filho é campeão e ele é carregado pela equipe por ter sido o cestinha do jogo Aula 3 Psicologia da Educação 48 Provavelmente todos esses fatos foram vividos acompanhados de uma qualidade especial não foram momentos que simplesmente aconteceram mas de alguma forma lhe marcaram Mesmo que muitos anos tenham se passado desde que ocorreram além da lembrança dos fatos em si você deve recordar também o que sentiu quando os viveu Essa qualidade especial que acompanha fatos de nossas vidas são os nossos afetos a afetividade Se as funções cognitivas nos permitem conhecer o mundo os afetos dão uma qualidade a esse conhecimento Essa qualidade especial pode se apresentar sob a forma de emoções e sentimentos como veremos a seguir Por outro lado embora diferentes pessoas possam viver os mesmos fatos e acontecimentos elas os sentirão de maneira diferente e pessoal Perder um mesmo objeto sofrer a perda de um mesmo familiar passar por um mesmo assalto ouvir uma mesma música comer uma mesma comida poderão causar diferentes sentimentos em diferentes pessoas Daí a importância do estudo dos afetos para compreender a subjetividade do outro Toda a nossa subjetividade está em consonância com a nossa vida afetiva d Você vem sentindo umas coisas estranhas no estômago dores sensação de empachamento e desconforto Um amigo seu tinha sintomas parecidos e foi diagnosticada uma doença maligna O médico lhe pediu muitos exames e hoje você vai mostrarlhe os resultados Atividade 3 1 2 3 4 5 6 7 8 1 5 2 6 3 7 4 8 Aula 3 Psicologia da Educação 49 Emoções e sentimentos Vamos começar essa discussão com uma atividade simples Observe a figura a seguir Tente descrever que tipo de afeto cada uma das faces expressa Aula 3 Psicologia da Educação 50 Algumas vezes diante de determinados fatos nossa susceptibilidade explode Temos uma reação afetiva intensa súbita e relativamente breve Nesse momento nosso organismo reage com um desequilíbrio de sua homeostase e temos diversas reações como aumento dos batimentos cardíacos rubor das faces aceleração do pulso Assim são as emoções Como define Nobre de Melo 1979 emoções são complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas e insólitas rupturas do equilíbrio afetivo com repercussões leves ou intensas mas sempre de curta duração sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional dos diversos órgãos e aparelhos NOBRE DE MELO 1979 p 503504 A canção de Pixinguinha e João de Barros Carinhoso um clássico da música popular brasileira diz Meu coração Não sei por quê Bate feliz quando te vê Veja como esse verso traduz exatamente a emoção É o fato de ver oa outroa que desperta na pessoa a emoção da alegria e a reação orgânica do aumento dos batimentos cardíacos E perceba também como na nossa cultura ligamos as emoções ao coração Outras reações orgânicas que podem acompanhar as emoções são riso choro lágrimas tremor expressões faciais As reações emocionais geralmente fogem ao nosso controle Muitas vezes podemos segurar um pouco mas alguma alteração orgânica vai ocorrer conosco internamente Quando seguramos o choro sentimos a garganta apertada por exemplo O importante é entender que as emoções são descargas de tensão do organismo que precisam ser liberadas uma vez que significam a necessidade de adaptação do retorno ao equilíbrio e a homeostase Infelizmente nossa cultura estimula a repressão delas É mais do que comum aprendermos por exemplo que homem que é homem não chora Os estudiosos dessa área concordam que existe um conjunto de emoções que são primárias ou seja são observáveis praticamente desde o nascimento e que parecem estar ligadas às necessidades instintivas de sobrevivência São elas o medo a cólera e a alegria Por outro lado algumas outras emoções são aprendidas ao longo da vida o amor a tristeza a paixão o desprezo a vergonha a surpresa A expressão das emoções também é aprendida ou seja respondemos às emoções da maneira que nossa cultura nos ensinou dependendo do tipo de situação em que nos encontramos da idade ou do sexo Como vimos anteriormente de um homem é esperado que não chore mas de uma mulher ao contrário o esperado é que ela se desmanche em lágrimas Um exemplo interessante dessa permissão cultural da expressão emocional podemos ver nas atitudes diante da perda de uma pessoa querida Enquanto as culturas anglosaxônicas manifestam a tristeza de forma contida os latinos são mais expressivos e abertos para essa manifestação Homeostase homeo igual stasis ficar parado é a propriedade de um sistema aberto presente em seres vivos especialmente de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados Atividade 4 Aula 3 Psicologia da Educação 51 As emoções assim são afetos fortes passageiros mas não são imutáveis Fatos que nos emocionam hoje podem não nos emocionar amanhã De todas as maneiras não devíamos ter que esconder nossas emoções uma vez que elas são uma espécie de linguagem através da qual expressamos nossas percepções internas Os sentimentos diferem das emoções por serem menos intensos mais duradouros e não serem acompanhados de manifestações orgânicas intensas Mas os mesmos nomes que usamos para designar as emoções podemos usar também para os sentimentos Por exemplo o amor pode começar como uma forte emoção e ao longo do tempo ir se transformando em sentimento mais estável e duradouro Um exemplo interessante de sentimento é a amizade uma vez que é um estado que vai se construindo ao longo do tempo numa intensidade que não é refletida fortemente no organismo Vamos retomar agora aquelas reações de susceptibilidade que você anotou na atividade 2 frente às situações que colocamos Tente identificar qual delas seria emoção e qual seria sentimento Aula 3 Psicologia da Educação 52 A importância do estudo das emoções A lém de serem uma função homeostática como já descrevemos as emoções também são importantes como adaptação a nossa vida social Dessa forma elas ajudam a avaliar as situações servem de critério de valoração positiva ou negativa para as situações de nossa vida preparam nossas ações e nos motivam Observar a maneira como uma pessoa reage afetivamente é fundamental para compreendêla e saber como lidar com ela uma vez que isso faz parte da sua subjetividade As atitudes e condutas não podem ser entendidas se não levarmos em conta os afetos que as acompanham Algumas vezes não entendemos por que nossos alunos reagem de forma agressiva a observações inocentes que fazemos a eles Assim procurarmos entender por que aquelas palavras foram desencadeadoras de tal emoção podemos definir melhor a nossa futura maneira de agir com as pessoas Curiosidades Circula na internet um texto com definições interessantes O autor é desconhecido mas vale a pena observar a criatividade com que elas foram elaboradas Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado Emoção é um tango que ainda não foi feito Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros Vergonha é um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora Lágrima é um sumo que sai dos olhos quando se espreme o coração Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato Extraído de httpwwwucrhfundaplegislacaospgovbrSnitzLegislacaotopicaspTOPICID22whichpage102ARCHIVE Atividade 5 Aula 3 Psicologia da Educação 53 Os afetos sejam emoções ou sentimentos também têm uma função importante na motivação da conduta e para a aprendizagem Todos nós temos experiência de nos dedicarmos com mais empenho aos assuntos de que gostamos e que nos são agradáveis Outras vezes pelos mais variados motivos tomamos tamanha aversão a certas matérias as quais se tornam impossíveis de aprender São situações em que observamos como o afeto pode interferir na nossa capacidade racional de agir Pense em quantas vezes você se planejou para atuar de uma maneira diante de uma determinada situação e chegado o momento você apresenta um comportamento completamente diferente Descreva uma dessas situações Uma das grandes discussões teóricas atuais é a relação entre razão e emoção cognição e afetos Um dos primeiros estudiosos a se preocupar com esse tema foi o biólogo suíço Jean Piaget 18961980 Para ele a afetividade e a cognição são aspectos inseparáveis Apesar de serem de naturezas diferentes toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo representado pelas estruturas mentais e um aspecto afetivo representado por uma energia que é a afetividade De acordo com Piaget não existem estados afetivos sem elementos cognitivos assim como não existem comportamentos puramente cognitivos E ele constrói uma metáfora interessante quando diz que a afetividade é a gasolina que impulsiona o motor da cognição um não funciona sem o outro Isso confirma que sem afetos não há motivação não há interesse e portanto não há aprendizagem O médico e psicólogo francês Henri Wallon 18791962 foi outro teórico que se dedicou ao estudo da dimensão afetiva dos sujeitos Ele criticava as teorias clássicas que concebiam as emoções como reações incoerentes com efeito perturbador no raciocínio ou aquelas que as entendiam como tendo uma ação ativadora e energética Wallon busca compreendêlas como um fenômeno psíquico e social atribuindolhes um papel central na evolução da consciência Aula 3 Psicologia da Educação 54 Figura 1 Henry Wallon 18791962 Como Piaget Wallon defende que a inteligência e a afetividade estão integradas A evolução da afetividade depende do que se realiza no plano da inteligência da mesma maneira que a evolução da inteligência depende do que acontece com a construção dos afetos Mas admite que no processo de desenvolvimento humano existem fases com predomínio do afetivo e fases com predomínio do racional Nos primeiros meses de vida a criança tem apenas necessidades orgânicas mas por volta do sexto mês começa a se configurar a sensibilidade social Nesse período há um pleno predomínio dos afetos À medida que vai entrando no processo de diferenciação entre si e os outros a criança começa a fazer subordinar suas emoções aos aspectos cognitivos de sua mente isso significa dizer que com o desenvolvimento há um refluxo da afetividade para dar lugar às atividades cognitivas Na ótica da Psicanálise o ser humano nasce como um sujeito psíquico pronto mas irá constituílo a partir de si mesmo das relações familiares e sociais Os pais que investem seu afeto na criança servem de ligação entre seu psiquismo e o meio social que o rodeia proporcionando a ela autoestima e desenvolvendo seu prazer de ouvir e pensar O ego se estrutura então pelo discurso social pela fala dos pais sobre a criança e pelos seus próprios desejos Assim prazer amor e reconhecimento pessoal e profissional são indispensáveis para a construção da identidade para investir em si mesmo e no outro No campo das Neurociências o neurocientista português António Damásio vem desenvolvendo pesquisas procurando entender essa relação entre razão e emoção No seu livro O Erro de Descartes emoção razão e cérebro humano ele estuda o caso de um paciente que devido a um séria lesão no cérebro passa a apresentar modificações no seu comportamento afetivo apesar de manter íntegras as funções motoras e de uma maneira geral as cognitivas O que observa é que essas modificações afetivas vão interferir enormemente na forma como o paciente usa seu raciocínio para as tomadas de decisão É aí que Damásio constata o erro de Descartes que propunha a idéia do penso logo existo sugerindo substituila por existo e sinto logo penso Para ele as emoções bem direcionadas e bem situadas parecem constituir um sistema de apoio sem o qual o edifício da razão não pode operar a contento Psicanálise A Psicanálise é uma ciência criada por Freud que propõe o inconsciente como aspecto determinante de funcionamento da mente humana Ego O Ego é uma das três instâncias que compõem a personalidade na proposição de Freud As outras são o Id e o Superego Descartes René Descartes 15691650 filósofo francês fundador da filosofia moderna e tido como o pai da Matemática é o criador do Método Cartesiano Sua importância na Psicologia vem do fato de dividir a realidade em res cogitans consciência mente e res extensa matéria Resumo 1 2 3 Aula 3 Psicologia da Educação 55 Todos esses trabalhos idéias e teorias nos remetem ao que estudamos na aula 2 que trata da inteligência ressaltando as propostas de Gardner sobre as inteligências múltiplas e de Goleman sobre a inteligência emocional Sugerimos que você retome a referida aula e a releia para estabelecer ligações entre esses dois temas Nesta aula discutimos aspectos da vida afetiva dos seres humanos ressaltando o estudo das emoções e dos sentimentos Vimos as principais conceituações a compreensão desses conceitos por parte de alguns teóricos e a importância desse estudo para a formação de professores Autoavaliação Faça uma síntese dos aspectos que você considera fundamentais relacionando esta aula com a aula 2 Faça a distinção conceitual entre emoções e sentimentos Construa seus argumentos sobre a relação entre emoção e razão Referências BRENELLI R P Piaget e a Afetividade Rio de Janeiro Vozes 2000 DAMÁSIO António R O erro de Descartes emoção razão e cérebro humano São Paulo Companhia das Letras 1996 O mistério da consciência São Paulo Companhia das Letras 2000 GALVÃO Izabel Henri Wallon uma concepção dialética do desenvolvimento infantil Petrópolis RJ Vozes 1995 NOBRE DE MELO A L Psiquiatria Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1979 v 1 Anotações Aula 3 Psicologia da Educação 56 4 Aula Crescimento e desenvolvimento A Psicologia da adolescência Aula 5 1 2 3 Aula 4 Psicologia da Educação 59 Apresentação N a nossa prática docente iremos lidar com sujeitos já crescidos e desenvolvidos no entanto precisamos compreender os fatores que influenciaram o seu crescimento e o seu desenvolvimento para que eles se tornassem o que são hoje Por isso apesar da Educação Infantil não ser o nosso foco principal é importante compreender que os fenômenos ocorridos na infância são muitas vezes definidores do tipo de adulto que resultará desse processo Nesta aula vamos discutir tais aspectos o que de certa maneira nos leva também a olhar para o nosso próprio passado Objetivos Conhecer o processo de crescimento e desenvolvimento humano diferenciando esses dois conceitos Identificar as etapas do desenvolvimento infantil Identificar os fatores que influenciam no desenvolvimento infantil 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos Aula 4 Psicologia da Educação 60 Introdução T odos sabemos que nascemos incompletos O homem é um dos animais que nasce e se mantém por alguns anos quase totalmente dependente dos cuidados dos outros Não sabemos nos locomover nossa comunicação é ainda muito precária e todas as nossas necessidades são supridas de modo instintivo Somos então ao nascer seres quase puramente biológicos Por outro lado nascemos já inseridos em uma classe social fazendo parte de um grupo social em uma comunidade linguística e isso seguramente será determinante no processo do nosso crescimento e do nosso desenvolvimento Assim desde o nosso nascimento estamos determinados pelas circunstâncias culturais e sociais Vamos esclarecer a partir de agora esses conceitos básicos de crescimento e desenvolvimento Crescimento e desenvolvimento D urante muito tempo os termos crescimento e desenvolvimento foram considerados como conceitos separados o primeiro contemplava os aspectos físicos e o segundo os aspectos mentais Era mais uma demonstração da dicotomia mente e corpo herdada das ideias de Descartes como vimos na aula anterior Atualmente tendese a considerar ambos os aspectos como fazendo parte do desenvolvimento que abrangeria o crescimento orgânico e o desenvolvimento mental Figura 1 Curva de crescimento Aula 4 Psicologia da Educação 61 Considerase crescimento orgânico um processo dinâmico que se expressa de uma forma mais visível pelo aumento do tamanho corporal Todo ser humano nasce com um potencial genético de crescimento que poderá ou não ser alcançado dependendo das condições de vida a que esteja exposto desde a concepção até a idade adulta Portanto o processo de crescimento está influenciado por fatores intrínsecos genéticos e extrínsecos ambientais dentre os quais se destacam a alimentação a saúde a higiene a habitação e os cuidados gerais com a criança que atuam acelerando ou retardando esse processo Vemos pois que apesar de expressar componentes biológicos a forma como esse crescimento vai ocorrer depende em muito de fatores ambientais A fome e as consequências no desenvolvimento A distribuição regional da desnutrição na infância praticamente se superpõe à distribuição descrita para a pobreza reproduzindo ainda com maior intensidade as desvantagens das regiões Norte e Nordeste e de um modo geral das populações rurais do país Crianças com baixa estatura se mostram duas a três vezes mais frequentes no Norte 162 e Nordeste 179 do que nas regiões do CentroSul 56 sendo que internamente às regiões tanto no Nordeste como no CentroSul o problema se apresenta duas vezes mais frequente no meio rural do que no meio urbano O risco de desnutrição chega a ser quase seis vezes maior no Nordeste rural onde uma em cada três crianças apresenta baixa estatura do que no CentroSul urbano onde apenas uma em cada vinte crianças encontrase na mesma situação A carência de ferro pode causar atraso no crescimento reduzir a resistência às doenças e prejudicar a longo prazo o desenvolvimento mental motor e das funções reprodutivas ao mesmo tempo provoca aproximadamente 20 por cento das mortes relacionadas com a gravidez A carência de iodo pode causar danos cerebrais irreparáveis retardamento mental distúrbios nas funções reprodutivas diminuição da expectativa de vida infantil e bócio e numa mulher gestante poderá determinar diferentes graus de retardamento mental da criança que vai nascer Extraído de SPYRIDES Maria Helena Constantino et al Efeito das práticas alimentares sobre o crescimento infantil Rev Bras Saude Mater Infant v 5 n 2 p145153 jun 2005 Atividade 1 Atividade 2 Aula 4 Psicologia da Educação 62 Apresente aqui a sua opinião sobre algumas das causas da baixa estatura do nosso povo nordestino Se o desenvolvimento mental está intrinsecamente vinculado ao crescimento orgânico que consequências mentais você imagina que podem decorrer da baixa estatura do povo nordestino Aula 4 Psicologia da Educação 63 Desenvolvimento A Psicologia do Desenvolvimento cuida do estudo das mudanças de comportamento relacionadas à idade durante a vida de uma pessoa Esse campo do conhecimento propõe questões como as crianças são qualitativamente diferentes dos adultos ou apenas têm menos experiência As crianças nascem com comportamentos inatos ou os moldam de acordo com o que experienciam O que direciona o desenvolvimento do ser humano Basicamente dois modelos advindos das ciências naturais dominam a cena nessa discussão o modelo mecanicistaambientalista e o modelo organicistaindividualista O modelo mecanicistaambientalista representa a criança e todos os seus fenômenos como uma lousa em branco uma massa a ser moldada O desenvolvimento infantil seria o resultado de uma programação de uma manipulação por forças externas do ambiente que o condicionaria Assim o ambiente ao moldar mecanicamente o cérebro pelo condicionamento determinaria a maneira como se organizariam as suas funções psíquicas Tais concepções refletemse nas práticas sociais voltadas para o desenvolvimento e a educação da criança Sem se darem conta muitos professores pautados na visão mecanicista consideram que o seu papel é programarcondicionar o comportamento e a aprendizagem dos seus alunos O profissional tornase então revestido de uma autoridade absoluta procurando criar hábitos e atitudes através de treinamento de funções e de métodos explícita ou implicitamente coercitivos como castigos e ameaças Já o modelo organicista não considera a criança como máquina mas sim como um ser vivo um organismo biológico no qual a herança genética e a maturação do organismo comandam o processo de desenvolvimento O pedagogo alemão com forte traços religiosos Friedrich Fröbel 17821852 criador da ideia do jardim de infância é um exemplo desse pensamento Ele propunha que as crianças fossem educadas respeitandose as suas naturezas de modo a desenvolver suas potencialidades de acordo com sua condição a de ser filho de Deus Para ele como Deus está presente na natureza ela é sempre boa por ser obra divina Ainda se observam muitos estudiosos que mantêm a crença de que o desenvolvimento depende das potencialidades individuais inatas e que a inteligência e os talentos são dons do próprio cérebro determinados biologicamente e estimulados pelo ambiente Na educação a consequência do modelo organicista é a subordinação da aprendizagem ao ritmo individual e natural da criança Quando o aluno apresenta alguma dificuldade no seu desenvolvimento e aprendizagem isso é atribuído à imaturidade neurológica ou emocional Aula 4 Psicologia da Educação 64 Em contraposição aos modelos mecanicista e organicista o modelo históricocultural proposto por Vygotksy fundamentase na compreensão de uma relação dialética entre o biológico e o social A criança não é representada pela máquina nem pelo organismo vivo mas por um ser que se constitui nas relações sociais Ele parte do pressuposto de que o homem não é um ser passivo ele age sobre o mundo através das relações sociais e é nessas relações que devem ser buscadas as origens das formas superiores dos comportamentos Desde o seu nascimento a criança está em interação com os adultos que por sua vez buscam incorporálas a suas culturas Em nossa cultura por exemplo desde muito cedo orientamos nossas crianças para atitudes como tomar a benção aos pais respeitar os mais velhos comportarse adequadamente nas cerimônias religiosas O filme Trocando as bolas com Eddie Murphy no papel principal pode ser um bom e divertido exemplo da discussão entre o inato e o adquirido Neste filme dois irmãos donos de uma grande empresa fazem uma aposta curiosa um dos irmãos que defende a importância do ambiente sustenta que poderá transformar um mendigo em um alto executivo se lhe der as condições O outro que acredita que as competências são inatas aposta no contrário Eddie Murphy é o mendigo que se transforma e desbanca da presidência da empresa um sobrinho dos irmãos apostadores Relação dialética Por relação dialética queremos nos referir a um tipo de relação em que o biológico e o social se conflitam para surgir uma nova forma de visão que não é puramente biológica nem puramente social Em um primeiro momento as crianças manifestam reações puramente naturais A curiosidade exploratória faz com que por exemplo mexam nos aparelhos eletrodomésticos introduzam objetos nas tomadas toquem na comida com as próprias mãos As reações dos adultos diante dessas atitudes assim indicando os tipos de comportamentos esperados fazem com que processos psicológicos mais complexos vão se formando e à proporção que as crianças crescem esses processos passam a ser internalizados Assim através dessa interiorização fruto das relações com a cultura e com a história a natureza social das pessoas tornamse também suas naturezas psicológicas Atividade 3 Atividade 4 Aula 4 Psicologia da Educação 65 Partindo desse olhar para nosso próprio passado vamos tentar agora relembrar algumas atitudes que incorporamos a nossa natureza e que nos foram ditadas pelos nossos pais ou outros adultos com quem convivemos na infância Se você já tem filho ou se convive com parentes pequenos crianças liste a seguir qual quais das atitudes descritas anteriormente procurou transmitir para eles Aula 4 Psicologia da Educação 66 Outro teórico fundamental nos estudos do desenvolvimento infantil foi Jean Piaget que já conhecemos da aula 3 A vida afetiva emoções e sentimentos por seus estudos sobre razão e emoção O grande trabalho de Piaget foi estabelecer as etapas do desenvolvimento a partir do surgimento de novas qualidades do pensamento o qual por sua vez interfere no desenvolvimento como um todo Ele definiu quatro períodos básicos sensóriomotor préoperacional operações concretas e operações formais dos quais falaremos a seguir n Período sensóriomotor do nascimento até os 2 anos de idade Este período iniciase com uma vida mental reduzida aos reflexos e aos instintos os quais também vão se aperfeiçoando com o passar do tempo A partir daí a criança vai adquirindo cada vez mais autonomia motora e sensitiva por volta dos cinco meses já consegue coordenar os movimentos das mãos e pegar objetos Nesta fase o crescimento orgânico acelerado é o suporte para o surgimento das novas habilidades já que é o crescimento ósseo e muscular que dá sustentação aos novos comportamentos Ao final dos dois anos a criança evolui de uma completa passividade para uma atitude ativa e participativa em relação ao ambiente já se locomove reconhece as pessoas demonstra e reconhece os afetos e em alguns casos já consegue esboçar as primeiras palavras n Período préoperatório dos 2 aos 7 anos Este período é marcado pelo aparecimento da linguagem o que acelera a comunicação e faz surgir o pensamento No início a criança ainda é completamente anímica ou seja transforma a realidade em função de suas fantasias e desejos Este é o período em que os pais observam seus filhos inventando diálogos com seus brinquedos transformando na sua imaginação uma velha caixa em um fabuloso brinquedo criando amigos imaginários O final dessa fase é a famosa fase dos porquês quando o pensamento começa a se adaptar ao real e a criança precisa de explicações às vezes até com questões que não sabemos responder n Período das operações concretas dos 7 aos 11 anos Nesta fase surge a capacidade de executar operações ou seja a criança é capaz de realizar uma operação física com um objetivo e revertêla ao seu início Assim por exemplo se em meio a um jogo descobre que ocorreu um erro é capaz de desmanchálo e refazer a partir de onde errou Vale lembrar que essas operações ainda só são possíveis quando relacionadas a objetos concretos e reais ainda não há a capacidade de abstração Por exemplo se lhes é pedida uma definição de um conceito abstrato como Deus elas tendem a responder com a imagem a figura de um santo Nesta fase são capazes ainda de trabalhar com ideias a partir de dois pontos de vista diferentes de estabelecer relações de causa e efeito e de adquir o conceito de número n Período das operações formais dos 11 anos em diante Nesta fase ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento abstrato e desenvolvese a capacidade de generalização própria do pensamento adulto Já são capazes de lidar com conceitos como justiça e liberdade de criar teorias a respeito do mundo e têm a tendência a ler a realidade de acordo com seus próprios sistemas de interpretação Na Figura 2 apresentamos como se configura o pensamento do adolescente assunto que aprofundaremos na aula seguinte Atividade 5 Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget Sensóriomotor do nascimento aos 2 anos 1 Préoperatório 2 7 anos Operações concretas 7 11 anos Operações formais 11 anos em diante 2 3 4 Aula 4 Psicologia da Educação 67 Figura 2 As fases do desenvolvimento segundo Piaget Vamos voltar a observar as crianças com quem convivemos filhos ou parentes e tentar descrever que comportamentos poderiam ser incluídos nas fases descritas por Piaget Aula 4 Psicologia da Educação 68 Fatores que influenciam o desenvolvimento Depois de vermos os diversos métodos de estudo do desenvolvimento humano vamos agora analisar de um modo geral os fatores que o influenciam Recordemos sempre que esses fatores não atuam isoladamente mas em interação permanente 1 Hereditariedade Já vimos como este fator é importante para o crescimento biológico mas é preciso entender os aspectos genéticos como bagagem potencial herdado pelo indivíduo que pode vir a desenvolverse ou não dependendo dos demais fatores Sabemos que a inteligência por exemplo é uma capacidade que pode ser transmitida geneticamente no entanto essa capacidade é potencial ela pode desenvolverse além ou aquém desse potencial dependendo das condições do meio 2 Crescimento orgânico A partir do momento em que seu organismo se desenvolve o indivíduo começa a adquirir mais domínio sobre seu meio ambiente mais autonomia e maiores possibilidades de descobertas Além disso os fatores que interferem no pleno desenvolvimento do organismo podem acarretar dificuldades no desenvolvimento mental como vimos anteriormente 3 Amadurecimento neurofisiológico Nascemos com cerca de 100 bilhões de neurônios que se intercomunicam em redes no entanto a estabilidade das redes neuronais e o aumento de suas complexidades vão estabelecendose ao longo do desenvolvimento a partir das experiências trazidas pelas interações sociais Veremos melhor esses aspectos na aula 7 Como se aprende o papel do cérebro quando discutiremos as implicações neurológicas da aprendizagem 4 O meio As influências e os estímulos ambientais alteram significativamente os padrões de comportamento Crianças estimuladas mais intensamente em determinados comportamentos os desenvolvem mais intensamente A estimulação precoce por exemplo é um tipo de terapia utilizada em crianças que ao nascerem tenham tido problemas como infecções congênitas prematuridade ou transtornos na hora do parto como a paralisia cerebral Esses recémnascidos em função do risco precisam ser estimulados mais intensa e precocemente a fim de prevenir ou atenuar possíveis atrasos no seu desenvolvimento Resumo 1 2 3 4 5 Aula 4 Psicologia da Educação 69 Autoavaliação O que é o desenvolvimento humano Descreva dois motivos pelos quais você considera importante estudar o desenvolvimento Faça uma síntese dos três métodos de estudo do desenvolvimento apresentados nesta aula Releia a aula 1 A Psicologia e sua importância para a Educação o homem e sua subjetividade na qual discutimos o conceito de subjetividade e faça uma relação desse conceito com um dos métodos de estudo do desenvolvimento Faça um resumo dos períodos do desenvolvimento propostos por Piaget Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo da Psicologia São Paulo Saraiva 1999 PIAGET J Seis estudos de Psicologia Rio de Janeiro Forense 1985 SPYRIDES Maria Helena Constantino et al Efeito das práticas alimentares sobre o crescimento infantil Rev Bras Saúde Mater Infant v 5 n 2 p 145153 jun 2005 VYGOTKSY L A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 Nesta aula vimos alguns aspectos do desenvolvimento humano centrando a discussão nas teorias que alicerçam tais estudos Vimos também os fatores que interferem no desenvolvimento da criança Anotações Aula 4 Psicologia da Educação 70 1 2 3 Aula 5 Psicologia da Educação 73 Apresentação D ando continuidade à discussão sobre o desenvolvimento humano nesta aula vamos observar o indivíduo no estágio em que geralmente o encontramos no Ensino Médio a adolescência Vamos fazer um breve passeio pela história para ver como surge esse conceito e vamos conhecer suas características físicas e comportamentais Objetivos Conhecer o conceito de adolescência diferenciandoo de puberdade Conhecer as características psicológicas da adolescência Discutir a adolescência enquanto fenômeno universal Atividade 1 1 2 Aula 5 Psicologia da Educação 74 Adolescência como surge N a aula 4 Crescimento e desenvolvimento vimos que Piaget propõe como a última das fases do desenvolvimento o período das operações formais que se inicia por volta dos 12 anos de idade Nesta fase o pensamento atingiu a maturidade do seu desenvolvimento o indivíduo tornase capaz de operar a partir de conceitos abstratos sendo assim capaz de abstrair e generalizar idéias Concomitantemente a esse desenvolvimento no plano mental há também um crescimento orgânico acentuado com modificações fisiológicas sobretudo dos órgãos da reprodução e dos caracteres sexuais secundários Pela idade pelas características físicas e mentais fica claro para nós que estamos nos referindo a uma fase do desenvolvimento que costumamos chamar adolescência Mas será que a adolescência é somente isso Para você o que é o adolescente Cite a seguir 5 características que você considera típicas do adolescente Você considera que essas características são comuns a todos os adolescentes Justifique Aula 5 Psicologia da Educação 75 Discutindo um pouco da História N o início dos anos 60 do século XX Phillippe Ariès historiador francês lança na França o livro A história social da infância e da família um marco no estudo do conceito de infância e adolescência Para ele até o final do século XVIII não havia uma concepção de infância como uma etapa distinta na evolução das pessoas uma criança era apenas um adulto em miniatura Assim elas participavam normalmente de todas as atividades familiares fosse o nascimento de uma criança a morte de um parente fossem as atividades cotidianas A partir do início do século XIV com todas as mudanças sociais trazidas pela Revolução Industrial começa também a ocorrer uma mudança nessa concepção A instituição de leis que reguladoras do trabalho e a responsabilização dos pais pela escolarização dos filhos foram fatores importantes para a constituição de uma nova mentalidade sobre a família As crianças passaram a ser excluídas do mundo do trabalho e das responsabilidades e com isso foram se separando do mundo dos adultos surgindo o conceito de infância como um período do desenvolvimento com características próprias A distinção entre crianças e adultos faz surgir a percepção de que há um período intermediário com características também particulares a adolescência Segundo Ariès por volta de 1890 há um enorme interesse por essa fase da vida que se torna tema literário e tema de preocupação dos educadores e políticos De acordo com o autor a adolescência passa a ser caracterizada como um emaranhado de fatores de ordem individual por estar associada à maturidade biológica e de ordem histórica e social por estar relacionada às condições específicas da cultura na qual o adolescente está inserido Assim para Ariès os conceitos de infância e de adolescência são invenções da sociedade industrial Mas a partir daí entendidos como fases da vida esses temas passam a ser objeto de estudos dos especialistas provocando o aparecimento de políticas sociais e educacionais e a consolidação da psicologia do desenvolvimento como área de conhecimento Os conceitos de adolescência e puberdade S egundo a Organização Mundial de Saúde OMS a adolescência é um período da vida no qual acontecem diversas mudanças físicas psicológicas e comportamentais que começa aos 10 e vai até os 19 anos No Brasil para o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA ela começa aos 12 e vai até os 18 anos provavelmente para coincidir com a maioridade penal brasileira Mas que mudanças físicas psicológicas e comportamentais seriam essas Aula 5 Psicologia da Educação 76 A primeira mudança observada geralmente diz respeito às mudanças físicas É o período de um acelerado crescimento da estatura O corpo do adolescente muda tão rápido e tão radicalmente que não dá tempo para que ele se acostume com as modificações O mais comum é encontrarmos adolescentes com posturas desengonçadas movimentos pouco harmoniosos dos braços e pernas resultando num caminhar fora do ritmo Figura 1 Gráfico mostra o crescimento que ocorre na adolescência Ao lado desse crescimento uma série de outras modificações orgânicas começa a acontecer com características que variam entre meninas e meninos Começam a aparecer os chamados caracteres sexuais secundários nas meninas o surgimento das mamas nos meninos o aumento dos testículos em ambos o desenvolvimento dos pelos pubianos A partir dessas modificações orgânicas começa uma fase chamada puberdade A puberdade então não é o mesmo do que adolescência mas ocorre dentro da adolescência e marca organicamente o início da preparação do sujeito para a procriação A idade do início da puberdade também varia em função do sexo nos meninos ocorre em torno dos 12 aos 14 anos nas meninas entre os 10 e os 13 anos Assim a puberdade é marcada pelas características físicas descritas a seguir 1 Nos meninos modificação no timbre da voz aumento da largura dos ombros aparecimento de pelos no rosto axilas e região pubiana crescimento do pênis e testículos e o surgimento da primeira ejaculação 2 Nas meninas desenvolvimento das glândulas mamárias aumento dos quadris aparecimento de pelos na região pubiana e o surgimento da primeira menstruação chamada menarca Essas características apesar de serem universais e de acontecerem em todos os seres humanos podem sofrer variações sendo aceleradas retardadas e até interrompidas Aula 5 Psicologia da Educação 77 dependendo de fatores ambientais estresse má nutrição atividade física intensa Por exemplo a desnutrição pode retardar a menarca em meninas e a prática de atividade física intensa como o trabalho infantil pode acelerar esse processo São conhecidos os estudos que mostram o surgimento da menarca aos 9 anos de idade em meninas habitantes de regiões de clima quente e por outro lado aos 15 anos em meninas que habitam regiões de clima frio Todas essas mudanças na anatomia e na fisiologia são geralmente acompanhadas de mudanças comportamentais A puberdade como marca orgânica é identificada pelo mundo dos adultos como o momento em que o adolescente precisa começar a assumir outro papel social o que implica novas responsabilidades e posturas frente à vida Como essas mudanças ocorrem de uma forma muito rápida o adolescente pode se sentir bastante confuso cheio de dúvidas e ansiedades com relação ao que a sociedade espera dele Essa pode ser então uma fase marcada por perdas ele perde seu corpo infantil e tem que passar a conviver com um corpo novo que ele ainda não sabe manejar muito bem perde dos pais a proteção e o amparo dispensados na infância perde a identidade e o papel dentro da família na qual mantinha uma relação de dependência natural Essas perdas dependendo do suporte dado pela estrutura social e familiar podem ser vivenciadas como uma grande crise que os autores costumam chamar de crise da adolescência As características psicológicas da adolescência M auricio Knobel é um dos estudiosos dessa questão Ele definiu uma síndrome normal da adolescência como uma representação esquemática do fenômeno A definição de uma normal anormalidade para ele não significa que está identificando algo patológico mas serve somente para facilitar a compreensão desse período da vida Vamos analisar agora as suas características psicológicas Síndrome Síndrome é um termo usado na Medicina para definir um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença O contraditório na definição de Knobel é ele usar o termo para caracterizar algo normal e não patológico Aula 5 Psicologia da Educação 78 1 Busca de si mesmo e da identidade Todas as modificações corporais e as expectativas da sociedade com relação ao jovem levamno a perceber que está vivenciando uma situação nova a qual muitas vezes é vivida com ansiedade pelo desconhecimento de que rumo tomar A experiência de ter um corpo em mutação leva a conflitos com a autoimagem fazendo com que ora sinta orgulho ora sinta vergonha do próprio corpo Apesar de todas essas modificações o adolescente precisa dar uma continuidade a sua personalidade ou seja precisa saber quem ele é em que está se transformando para assim reconstruir sua identidade Os jovens passam horas e horas em frente ao espelho e comparamse uns aos outros buscando um padrão de normalidade e aceitação Tais situações requerem momentos de isolamento e a assunção de identidades transitórias ocasionais ou circunstanciais no sentido de entender a sua intimidade e assim desenhar a sua própria identidade Sobre a complexidade desse processo de identificação estudaremos mais detidamente na próxima aula 2 Tendência grupal A busca da identidade no adolescente faz com que ele recorra como comportamento defensivo à busca pela uniformidade que pode lhe fornecer segurança e autoestima A partir daí surge o espírito de grupo No grupo há um processo massivo de identificação coletiva Basta olhar para um grupo de adolescentes as vestimentas são semelhantes o modo de falar às vezes criando um idioma próprio os lugares freqüentados os interesses tudo é absolutamente semelhante Neste momento o jovem se identifica muito mais com seu grupo do que com os familiares No grupo ele sentese reforçado e apoiado em suas ansiedades Daí porque a vivência grupal é de fundamental importância O grupo se constitui na transição necessária entre o mundo familiar e o mundo adulto Figura 2 A tendência grupal é próprio da adolescência 3 Necessidade de intelectualizar e fantasiar A realidade impõe ao adolescente a necessidade de renunciar ao corpo infantil e à proteção familiar Isso pode ser vivido como uma experiência de enorme desamparo e impotência que o obriga a recorrer ao pensamento para compensar essas perdas O adolescente então tende a fugir para seu mundo interior como uma forma de buscar um reajuste emocional e nessa tentativa de encontro consigo mesmo começa a demonstrar preocupações de ordem ética moral social Neste momento pode desenvolver grandes teorias sobre o mundo nas quais vai misturar justificativas concretas com idéias fantasiosas infantis Aula 5 Psicologia da Educação 79 4 Crises religiosas A conduta do jovem pode ir do total ateísmo até comportamentos religiosos tão engajados que podem cursar do misticismo até o fanatismo Entre essas condutas há uma grande variedade de posições religiosas e mudanças muito freqüentes tudo isso concordando com as mudanças e flutuações do seu próprio mundo interno A questão da religiosidade emerge como decorrência dos questionamentos do adolescente sobre sua identidade em uma tentativa de responder questões como quem sou o que estou fazendo aqui qual o meu papel na vida 5 Deslocamento temporal A vivência temporal dos adolescentes pode ser observada em situações que provavelmente já presenciamos há um trabalho escolar para ser feito e ele se envolve em outro tipo de atividade a mãe insiste com a urgência do tempo e ele responde que dá tempo o trabalho é pra amanhã Outra situação seria uma festa marcada para um mês depois para a qual ele insiste em providenciar uma roupa porque está em cima da hora As urgências do adolescente são tão grandes quanto o deixar para depois Predomina uma visão sincrética do mundo ou seja uma visão indiferenciada dos aspectos que constituem a realidade que se quer compreender a percepção do todo sem porém se compreender os seus aspectos constitutivos O adolescente não possui ainda as características adultas de delimitar e discriminar o que só vai adquirindo lentamente ao longo do seu desenvolvimento À medida que vai elaborando suas perdas começa a surgir o conceito de tempo que implica as noções de passado presente e futuro 6 Evolução sexual do autoerotismo à heterossexualidade Observase no adolescente uma oscilação entre a atividade do tipo masturbatória e o começo dos exercícios genitais que se inicia se forma basicamente exploratória até evoluir para a verdadeira genitalidade procriativa Ao aceitar a sua genitalidade o adolescente começa a busca por um par É a fase das grandes e definitivas paixões que representa todos os aspectos dos vínculos intensos e frágeis das relações interpessoais do adolescente A curiosidade sexual pode se manifestar pelo interesse por revistas pornográficas e mesmo por experiências de ordem homossexual O exibicionismo e o voyerismo se manifestam nas vestimentas nas maquiagens das meninas nas atitudes durante jogos e festas Começam os contatos superficiais depois profundos e mais íntimos que preenchem a sua vida sexual 7 Atitude social reivindicatória Tais atitudes muitas vezes se configuram em respostas às restrições impostas pela sociedade Elas são a consolidação do que vem ocorrendo no pensamento As intelectualizações e fantasias conscientes que se reforçam nos grupos fazem com que essas atitudes se transformem em pensamento ativo em uma verdadeira ação social política cultural Muitas vezes as perdas são vividas como não sendo deles mas da sociedade dos seus pais de sua família O resultado é que descarregam toda sua revolta nessas figuras e podem vir a desenvolver atitudes destrutivas quando as perdas não são bem elaboradas Essa particular característica do adolescente é aproveitada em muitos casos por certas seitas e grupos políticos ou religiosos para arregimentar seguidores Exibicionismo e Voyerismo Exibicionismo e voyerismo são manifestações da sexualidade caracterizadas por obtenção de prazer sexual pela exibição dos órgãos sexuais ou pela observação de outras pessoas respectivamente São consideradas patológicas quando essas são as únicas maneiras de se obter prazer sexual Aula 5 Psicologia da Educação 80 8 Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta A conduta do adolescente está dominada pela ação sendo esta a sua forma mais típica de expressão Mas o adolescente não pode manter uma linha de conduta rígida permanente mesmo que tente Ele tem uma personalidade no dizer de Spiegel esponjosa ou seja permeável absorvente que recebe e também projeta tudo enormemente Isso faz com que não possa ter uma conduta linear o que só é observado em situações patológicas como no autismo e nas neuroses Na verdade é o mundo adulto que não suporta as contradições dos adolescentes não aceita suas identidades transitórias e exige deles uma atitude adulta para a qual ainda não estão capacitados 9 Separação progressiva dos pais Esta é uma das perdas fundamentais que o adolescente necessita assumir internamente e que pode gerar uma ansiedade muito intensa Muitas vezes os pais não aceitam e negam o crescimento dos filhos dificultando mais ainda a resolução dessa ansiedade Daí a importância da internalização por parte dos adolescentes de boas imagens parentais com papéis bem definidos sem ambigüidades ou encobrimentos Algumas vezes os pais transmitem uma imagem de personalidades pouco consistentes forçando o adolescente a buscar identificação com outras imagens adultas como ídolos do esporte ou do cinema ou mesmo com figuras negativas que prejudicam mais ainda sua formação Um exemplo disso é a organização criminosa do tráfico de drogas que alicia jovens e até crianças para o mundo da criminalidade 10 Constantes flutuações do humor Além das modificações hormonais que já influenciariam as modificações do humor o sentimento básico de ansiedade e depressão acompanha a adolescência sobretudo devido às perdas que sofre A maneira como o adolescente as elaborar determinará a maior ou menor intensidade dessas flutuações A realidade nem sempre satisfaz suas aspirações resultando em sentimentos de frustração e solidão Mas da mesma maneira que se sente isolado do mundo um gesto simples pode fazer com que se sinta a mais feliz das criaturas Figura 3 As flutuações de humor são outra característica desta fase Atividade 2 1 2 Aula 5 Psicologia da Educação 81 A adolescência é um acontecimento universal N a atividade 1 perguntamos se você considerava as características que citou como comuns a todos os adolescentes O que estávamos querendo saber era a sua opinião sobre a universalidade do acontecer adolescente Agora que você leu sobre a caracterização da adolescência feita por Mauricio Knobel sua opinião continua a mesma Reflita um pouco sobre os adolescentes que você conhece observe os por alguns dias converse com alguns deles Em seguida tente listar quais das características descritas por Knobel você conseguiu observar nesses adolescentes Se você puder observe e converse com adolescentes de diferentes classes sociais Anote a seguir que características você pôde observar diferenciando pelas classes sociais Aula 5 Psicologia da Educação 82 No início desta aula quando discutimos o conceito de puberdade dissemos que esse era um fenômeno universal apesar de ter sofrido variações Ou seja as modificações na estrutura corporal a explosão hormonal o surgimento dos caracteres sexuais secundários podem variar conforme a idade em que surgem mas vão acontecer em todos os seres humanos marcando organicamente a transição entre a infância e a vida adulta No entanto quando se discute o conceito de adolescência sobretudo se a entendemos como uma época caracterizada pelos aspectos descritos anteriormente as divergências entre os autores aparecem De uma maneira geral a Psicologia tem em suas teorias naturalizado o fenômeno psíquico ou seja apresentanos como se fizesse parte da natureza humana como se fosse algo de que somos dotados desde o nascimento Observe como Knobel descreve a adolescência sem nenhuma preocupação em contextualizála no seu tempo histórico na sua cultura nas relações com a sociedade Seria possível imaginar um adolescente que desde a sua infância já assume responsabilidades designadas para adultos por exemplo aqueles que ajudam seus pais no roçado passar por toda essa crise à qual nos referimos Ana Bock 1999 realizou um estudo interessante com psicólogos da cidade de São Paulo observando o significado que eles dão ao fenômeno psicológico de uma maneira geral Para ela a visão desses psicólogos sobre o homem é a seguinte O homem colocado na visão liberal é pensado de forma descontextualizada cabendo a ele a responsabilidade por seu crescimento Um homem que é dotado de capacidades e possibilidades que lhe são inerentes naturais Um homem dotado de uma natureza humana que lhe garante se desenvolvida adequadamente ricas e variadas possibilidades A sociedade é apenas o lócus de desenvolvimento do homem É vista como algo que contribui ou impede o desenvolvimento dos aspectos naturais do homem Cabe a cada um o esforço necessário para que a sociedade seja um espaço de incentivo ao seu desenvolvimento As condições estão dadas cabe a cada um aproveitálas BOCK 1999 p 27 Com relação à adolescência Bock 2004 fez um outro estudo observando textos publicados sobre esse tema os quais visavam orientar pais e professores na difícil tarefa de educar os jovens O objetivo era analisar o conceito de adolescência subjacente a essas publicações Ela conclui que a adolescência tal como apresentado nesses textos não tem gênese social ou seja nenhuma de suas características é constituída nas relações sociais e culturais Assim ao se pensar a problemática da adolescência não se toma qualquer questão social como referência A falta de políticas para a juventude em nossa sociedade a desqualificação e inadequação das atividades escolares para a cultura jovem o sentimento de apropriação que os pais têm em nossa sociedade com relação aos filhos as contradições vividas a distância entre o mundo adulto e o mundo jovem a impossibilidade de autonomia financeira dos jovens que ou não trabalham ou sustentam a família nenhuma destas questões é tomada como elemento importante para compreender a forma como se apresenta a adolescência em nossa sociedade As relações familiares são as únicas que aparecem nos textos e são fator de influência sobre a adolescência mas não a constituem BOCK 2004 p38 Atividade 3 Aula 5 Psicologia da Educação 83 Temos defendido nesta disciplina a visão do homem enquanto um ser sóciohistórico ou seja como aquele que pela sua atuação no mundo o transforma e é por ele transformado Nessa perspectiva a adolescência é vista como uma construção social que tem repercussões na subjetividade do sujeito e não como um período natural do desenvolvimento A compreensão é que a adolescência é uma criação do homem Os fatos sociais vão surgindo nas relações sociais e com isso vão apresentando repercussões psicológicas Assim começase a dar significados sociais a esses fatos A adolescência é um desses fatos sociais que ganharam significado social Para compreendêla é preciso então que retomemos seu processo social para depois compreendêla na forma como acontece para os jovens Concluímos com um trecho do trabalho de Bock 2004 Não há nada de patológico não há nada de natural A adolescência é social e histórica Pode existir hoje e não existir mais amanhã em uma nova formação social pode existir aqui e não existir ali pode existir mais evidenciada em um determinado grupo social em uma mesma sociedade aquele grupo que fica mais afastado do trabalho e não tão clara em outros grupos os que se engajam no trabalho desde cedo e adquirem autonomia financeira mais cedo Não há uma adolescência como possibilidade de ser há uma adolescência como significado social mas suas possibilidades de expressão são muitas BOCK 2004 p42 Baseandose na sua resposta à atividade 1 que tipo de comparação você pode fazer entre o que você entendia por adolescência e o que você passou a entender acerca desse período da vida destacando os diversos aspectos envolvidos no crescimento do ser humano como o meio ambiente a família e as questões biológicas do indivíduo Resumo Aula 5 Psicologia da Educação 84 Autoavaliação Retome a atividade 2 e à luz das concepções apresentadas por Ana Bock faça uma análise das observações dessa autora sobre a universalidade do conceito de adolescência Referências ARIÈS P História social da infância e da família Rio de Janeiro Guanabara 1986 BOCK A M B Aventuras do Barão de Munchhausen na psicologia São Paulo Cortez EDUC 1999 BOCK Ana Mercês Bahia A perspectiva sóciohistórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano a adolescência em questão Cad CEDES v 24 n 62 p 2643 abr 2004 Disponível em httpwwwscielobrpdfccedesv24n6220090pdf Acesso em 20 jul 2007 KNOBEL M El sindrome de la adolescencia normal In ABERASTURY A KNOBEL M La adolescencia normal Buenos Aires Paidos 1977 Nesta aula discutimos os conceitos de puberdade e adolescência aprendendo a diferenciálos Vimos também as características psicológicas da adolescência na visão de um dos seus teóricos Finalizamos com a discussão sobre a existência da adolescência como um fenômeno universal Aula 5 Psicologia da Educação 85 Anotações Aula 5 Psicologia da Educação 86 Anotações 6 Aula A formação da identidade alteridade e estigma 1 2 3 Aula 6 Psicologia da Educação 89 Apresentação N esta aula vamos discutir como temos consciência de que nós somos nós mesmos ou seja como construímos a nossa própria identidade Vamos analisar quais os fatores importantes nessa construção e como em determinadas fases da vida percebemos que mudamos apesar de continuarmos os mesmos Objetivos Discutir o conceito de identidade e como ela é construída Observar as crises de identidade e as fases da vida Conhecer o conceito de alteridade e sua importância na constituição do sujeito e da sociedade Atividade 1 Aula 6 Psicologia da Educação 90 Como reconhecemos as pessoas Vamos começar analisando as imagens a seguir Mesmo sem conhecer as pessoas retratadas você seria capaz de dizer que tipo de pessoas elas são Considere aspectos como que idade têm a que classe social pertencem em que trabalham Atividade 2 1 2 Aula 6 Psicologia da Educação 91 Mesmo sem nunca termos conhecido as pessoas dessas fotos já fomos capazes de fazer uma série de inferências sobre elas nos comportando como se já soubéssemos quem são É assim que agimos na maioria das vezes com as pessoas que encontramos pela primeira vez Mesmo antes de entabularmos algum tipo de conversa observamos uma série de informações que nos identifica a pessoa Imagine que você vai começar a falar de política e observa que seu interlocutor traz uma estrela vermelha no peito Só por esse detalhe você já tem uma ideia da opção política da pessoa e pode fazer você mudar o rumo da conversa Esses detalhes nos fazem conhecer o outro Mas será que o conhecemos de fato Será que sabemos quem ele é Escolha alguns de seus amigos e faça a eles uma pergunta incrivelmente simples quem é você Anote a seguir as respostas Agora faça a você mesmo esta pergunta quem sou eu Aula 6 Psicologia da Educação 92 Provavelmente apesar de simples essas perguntas não foram respondidas com muita facilidade pois saber quem somos é um desafio uma vez que apesar de sermos os mesmos somos também diferentes porque mudamos com o tempo A Psicologia construiu o conceito de identidade justamente para compreender como se dá esse processo no qual o sujeito se identifica como único e assim se apresenta às outras pessoas apesar de saber que ao longo da vida foi se modificando mudando opiniões refazendo conceitos modificando posturas frente ao mundo A construção da identidade O conceito de identidade agrupa uma série de noções como a de permanência de manutenção de referências que não mudam com o tempo por exemplo seu nome suas relações de parentesco sua nacionalidade Apesar de saber que mudei com o passar do tempo sei que sou o mesmo que era ontem ou seja tenho dentro de mim um autoreconhecimento a partir de aspectos fundamentais de minha história de vida Assim quando penso em quem eu sou esse meu eu tem uma constância ao longo do tempo Tem também uma unidade ou seja sei que sou uma única pessoa e que mesmo mudando não me transformei em outra A identidade então é essa consciência do reconhecimento individual que permite a distinção do eu Mas essa distinção do eu permite também que possamos distinguir o outro No momento em que delimito a minha identidade estou também admitindo que existem as identidades das outras pessoas É pois em relação a esse outro que nos constituímos e nos tornamos únicos A identidade é definida pela relação do indivíduo na relação com outros indivíduos isto é cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta em seu convívio Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem eu sou pois não teria elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacarse dos outros eus BOCK 1999 p 204 Esse processo de diferenciação do meu eu com os outros eus se inicia na relação mãefilho Num primeiro momento a criança não consegue fazer essa diferenciação mas com o tempo começa a compreender que não é uma extensão de sua mãe A partir daí os valores vão sendo construídos conforme a relação mãefilho daí a importância dessa fase da vida na constituição do sujeito A partir da mãe a criança no seu processo de desenvolvimento e diferenciação busca outras pessoas com quem possa se identificar pessoas que lhes são significativas e que sirvam de modelo para a construção de sua identidade individual auxiliando na definição de quem ela deseja ser no futuro A presença de figuras que lhe possibilitem identificações positivas e fortes é pois fundamental até a adolescência e continua a ser importante pelo resto das nossas vidas Atividade 3 Aula 6 Psicologia da Educação 93 O que somos na vida adulta é a fusão de uma série de identificações a mãe ou o pai aquele professor ou professora que nos marcou um amigo ou amiga especial um personagem de algum livro que tenhamos lido um líder político ou religioso Por que mesmo adultos muitas vezes dizemos quando eu crescer quero ser como fulano Porque de alguma forma aquele fulano nos parece uma boa imagem para identificação e como continuo adquirindo experiências ao longo de minha vida posso ir modificando o meu modelo incorporando elementos à minha identidade A identidade pois não é algo fixo e imutável mas está em permanente transformação Por isso mudamos porém continuamos os mesmos Vamos fazer um exercício de retorno ao passado Ainda que você não duvide de que sempre foi o mesmo procure lembrarse de todas as mudanças que ocorreram em você até agora Liste as mais importantes Um dos primeiros teóricos da Psicologia a estudar os processos de formação da identidade foi Erik Erikson 1972 Para ele identidade é uma concepção de si mesmo composta de valores crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido A sua formação receberia influência de fatores a intrapessoais representados pelas capacidades inata e adquirida do indivíduo b interpessoais representados pelas identificações c culturais representados pelos valores sociais a que uma pessoa está exposta tanto no âmbito global quanto comunitários Aula 6 Psicologia da Educação 94 As crises de identidade A identidade como estamos vendo não é algo fixo mas está em permanente construção e transição Nesse processo permanente de mudança vamos incorporando os aspectos de nossas vivências para formar o que somos em um dado momento Isso constitui nossa história Ocorre que em alguns momentos esse processo de mudança não é vivenciado com tranquilidade Algumas vezes ele pode ser angustiante doloroso e confuso São as chamadas crises de identidade momentos importantes do desenvolvimento quando a pessoa pode redefinir seu modo de ser e de estar no mundo A crise de identidade mais evidente é aquela vivida na adolescência Como vimos em aula anterior essa é uma fase da vida de profundas mudanças fisiológicas e psicológicas A puberdade marca uma enorme explosão hormonal acompanhada de uma fase de crescimento orgânico acelerado Paralelamente há o aspecto cultural de introdução do jovem nas responsabilidades da vida adulta Como todas essas mudanças se dão de uma maneira muito rápida o adolescente pode se sentir confuso e ansioso vivenciando essa fase como um momento doloroso Mas existem outros momentos que se caracterizam também por mudanças de postura frente à vida os quais podem ser vividos como crise O momento em que se conclui um curso superior por exemplo marca para o sujeito a necessidade de assumir uma profissão e cuidar de si próprio do ponto de vista financeiro É também o momento de assumir a constituição de uma nova família com a escolha doa parceiroa e o planejamento de filhos Todas essas mudanças podem ser vividas com ansiedade e assim caracterizar uma crise Outro momento muitas vezes vivido com dificuldades ocorre por volta dos 40 anos de idade desencadeado não por mudanças fisiológicas ou cognitivas mas por um novo conjunto de mudanças que vão depender se a pessoa casouse e teve ou não filhos se a carreira estagnou ou decolou se ainda vive com os pais ou se sente algum declínio físico Para muitos adultos o acúmulo dessas e de outras mudanças leva a um novo período de dúvidas a percepção do envelhecimento da proximidade da fase adulta dos filhos quando for o caso e a competição com pessoas mais jovens no mercado do trabalho o que pode deflagrar a chamada crise da meiaidade É importante ressaltar que em Psicologia o conceito de crise não é necessariamente negativo ao contrário é um momento de inflexão o qual oportuniza rever e reavaliar a trajetória de vida Dessa forma crise é a oportunidade de se refazer caminhos que pode e deve ser aproveitada nesse sentido Portanto as crises de identidade devem constituir momentos especiais a serem aproveitados para reavaliar e corrigir os rumos que se tem dado à vida Aula 6 Psicologia da Educação 95 Identidade e alteridade Retomemos a questão da importância do outro na formação da identidade individual para discutirmos um outro conceito a alteridade Laing 1986 p78 ratifica essa posição quando diz não podemos fazer o relato fiel de uma pessoa sem falar do seu relacionamento com os outros Então a forma como vemos e nos relacionamos com o outro é também importante O conceito de alteridade foi formulado por Emanuel Lévinas 19061995 Para ele a alteridade baseiase na constante constatação das diferenças que estabeleço entre eu e o outro e consiste em conferir ao outro uma existência como sujeito de modo que ele não se constitua num objeto para mim A partir do momento em que atribuo esse significado ao outro que lhe confiro alteridade será possível conviver com o diferente reconhecendo que ele tem direitos iguais aos meus através da constatação e do respeito às diferenças individuais culturais sociais resultando em uma convivência harmônica e na cooperação para o bemestar comum Uma pessoa que constitua a sua identidade desrespeitando o direito do outro sendo intolerante e incapaz de manter uma convivência passando por cima da máxima tratar o outro como gostaria de ser tratado cria um confronto com a alteridade gerando preconceitos discriminação segregacionismo e estigmas Figura 1 Superar o preconceito é restaurar a alteridade Assim alteridade é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade dos seus direitos e sobretudo da sua diferença Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais mais conflitos ocorrem Infelizmente ainda é relativamente comum na relação professoraluno a postura colonizadora que parte do princípio de que o professor tem o conhecimento e o aluno nada sabe Essa é a grande crítica do pedagogo brasileiro Paulo Freire quando repudia a chamada educação bancária e a postura antidialógica de muitos dos educadores brasileiros que desprezam todo o saber prévio dosalunos e ensinam depositando informações Atividade 4 Aula 6 Psicologia da Educação 96 A questão do estigma E m parágrafos anteriores falamos sobre como a falta de alteridade nas relações geram preconceito e estigma O que é estigma Esta é uma palavra de origem grega que significava os sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava Para Goffman 1982 p 11 os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo criminoso ou traidor uma pessoa marcada ritualmente poluída que devia ser evitada especialmente em lugares públicos Na Era Cristã o estigma se expressa através de sinais corporais os quais indicam que o indivíduo tem a graça divina ou simplesmente identificava um distúrbio físico Na atualidade o termo revestese de um atributo depreciativo imputado ao outro por aqueles que se consideram normais Em casos como raça religião ideologia classe social o estigma expressase por uma postura não apenas de animosidade mas sobretudo por uma postura ideológica valorativa de quem se considera superior ou normal O outro é categorizado como não natural como fora do comum Goffman 1982 mostranos como a sociedade estabelece meios que categorizam as pessoas de acordo com atributos que ela reconhece como válidos para que sejamos identificados como normais Se temos alguma característica considerada incomum ou antinatural então imputamnos um estigma Esta pode ser uma provocação mas responda com toda a sinceridade você contrataria como empregado um expresidiário ou um egresso de um hospital psiquiátrico Aula 6 Psicologia da Educação 97 Muito provavelmente você respondeu não Porque ser expresidiário ou egresso interno de uma instituição psiquiátrica confere ao sujeito um atributo negativo para a maioria das pessoas A consequência é que esses sujeitos têm como destino a exclusão e a falta de oportunidades Estão marcados estigmatizados O mesmo poderia acontecer com negros homossexuais prostitutas portadores do vírus HIV O estigma revela toda a dificuldade que temos em lidar com o diferente e essa dificuldade vai se perpetuando ao longo das gerações por intermédio da educação familiar escola meios de comunicação Vale salientar que a pressão cultural e social pode ser tão forte constante e marcante para os sujeitos estigmatizados que o atributo negativo pode vir a ser internalizado ao ponto de constituirse em aspecto importante de sua autoimagem e de sua autoestima Bock 1999 chama atenção para situações semelhantes ao processo de estigmatização que podem acontecer ao longo da vida como por exemplo professores que repetem para o aluno que ele não vai aprender que é cabeçadura que é burro Tais comentários muitas vezes feitos sem que se note o que se está dizendo podem ser internalizados como uma experiência marcante para o aluno que passará a ver a si próprio como possuidor daqueles atributos Sempre que a possibilidade do estigma se faz presente isto é quando o indivíduo se encontra numa situação na qual sua aceitação social não é plena estamos diante de uma situação de perda da alteridade Mas isso pode ser ainda mais paradoxal porque ao mesmo tempo em que a sociedade estigmatiza cobra do sujeito estigmatizado que se comporte de modo a não demonstrar que a estigmatização lhe é uma carga Como ressalta Goffman ele é aconselhado a corresponder naturalmente aceitando com naturalidade a si mesmo e aos outros uma aceitação de si mesmo que nós fomos os primeiros a lhe dar Assim permitese que uma aceitaçãofantasma forneça a base para uma normalidadefantasma 1982 p133 Um dos filmes mais comoventes na abordagem da estigmatização de portadores de HIV é Filadelfia dirigido por Milos Forman em 1999 Nesse filme um advogado de sucesso interpretado por Tom Hanks é demitido de seu trabalho quando se suspeita de que ele está contaminado pelo vírus A sua luta por encontrar um advogado que o ajude a processar a empresa mostra claramente a questão Resumo 1 2 3 Aula 6 Psicologia da Educação 98 Um exemplo disso é quando sem nos darmos conta da estigmatização dizemos frases como ele é um negro que conhece o seu lugar ou ele é gay mas é gente boa Por fim é importante lembrar que o preconceito e a estigmatização se inserem no contexto históricosocial Por mais que individualmente nos recusemos a ver o outro como um ser diferente despossuído de dignidade isso não faz com que o estigma desapareça Assim enquanto professores devemos estar atentos à formação das novas gerações Autoavaliação Defina identidade e cite os fatores que interferem em sua construção Defina alteridade e a diferencie de identidade À luz da discussão sobre estigma faça uma análise pessoal da importância desse conceito Nesta aula discutimos o conceito de identidade e como ela se constrói ao longo da vida Observamos que essa construção nem sempre se dá com tranquilidade e que algumas vezes pode ser vivida como uma crise Vimos como a alteridade é importante no relacionamento interpessoal e na organização da sociedade Por último vimos o conceito de estigma como uma perda da alteridade e as consequências da estigmatização Aula 6 Psicologia da Educação 99 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Saraiva 1999 ERIKSON E H Identidade juventude e crise Rio de Janeiro Zahar 1972 GUATTARI Félix ROLNIK Suely Micropolítica cartografias do desejo Petrópolis Vozes 1986 GOFFMAN E Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada Rio de Janeiro Zahar 1982 LAING Ronald D O eu e os outros o relacionamento interpessoal Petrópolis Vozes 1986 Anotações Aula 6 Psicologia da Educação 100 7 Aula Como se aprende o papel do cérebro 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 103 Apresentação N esta aula vamos começar a discutir um tema fundamental para os futuros professores como o indivíduo aprende É a partir do entendimento desse fenômeno que poderemos planejar nossas estratégias de ensino as atividades para os nossos alunos e fazermos uma apreciação de suas novas aprendizagens Na primeira parte dessa discussão vamos começar por compreender qual o papel e a importância do nosso cérebro na aquisição do conhecimento Objetivos Compreender como se organiza biologicamente nosso equipamento cerebral para as funções da aprendizagem Entender o papel da memória dos afetos e da motivação no processo de aprendizagem Relacionar o papel das estruturas nervosas com a aprendizagem Atividade 1 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 104 Introdução C ompreender o homem é também compreender o que ele sabe Bem mais do que isso tratase de compreender o que significa esse saber como se deu a sua apropriação e quais os seus efeitos nas ações do sujeito O modo como o sujeito se apropria de um saber significa dizer como ele aprende Aprender é uma ação que desenvolvemos desde o início de nossa vida Ainda muito cedo aprendemos a andar a falar aprendemos a nos relacionar com a família com amigos com pessoas estranhas aprendemos a respeitar pessoas e instituições aprendemos a nos comportar de acordo com as circunstâncias E aprendemos de maneira formal na escola Outros comportamentos e atitudes entretanto não precisamos aprender É como se já nascêssemos sabendo Por exemplo não precisamos aprender a comer ou ninguém nunca nos ensinou que nosso corpo precisa de descanso Há ainda um conjunto de conhecimentos dos quais não temos muita idéia de como quando ou onde aprendemos Por exemplo quando olhamos para o céu e vemos nuvens escuras e pesadas logo inferimos que irá chover Quando aprendemos isso Forme três grupos contendo a Coisas que aprendi e sei com quem b Coisas que sei mas ninguém me ensinou c Coisas que aprendi mas não sei com quem No seu entender para qual dos três grupos se aplica o conceito de aprendizagem Por quê Costumase separar os conhecimentos em conhecimentos científicos e conhecimentos da tradição Relacione esses conceitos com dois dos grupos de coisas que você aprendeu listados anteriormente E o terceiro grupo como você chamaria Aula 7 Psicologia da Educação 106 Quantas vezes já ouvimos dizer que depois de velho não se aprende mais nada Essa afirmação é fruto da idéia de que nosso cérebro nasce pronto e com o passar do tempo só temos a perder Ora se perdemos neurônios à proporção que envelhecemos como podemos aprender Nada mais equivocado As atuais pesquisas na área das Neurociências mostram que novos neurônios estão nascendo a cada dia em nossos cérebros E o que é mais interessante esses novos neurônios nascem justamente em áreas responsáveis pela aprendizagem o que significa dizer que temos condições neurológicas de estarmos sempre aprendendo Mas como isso ocorre Que áreas são essas O que o cérebro tem a ver com o que aprendo Vamos discutir isso de uma maneira mais detalhada A neurobiologia da aprendizagem D e uma maneira geral a anatomia dos cérebros humanos é extremamente semelhante nascemos praticamente com a quantidade de neurônios já completa Até pouco tempo atrás além de se ter conhecimento desse fato também imaginavase que as perdas e degenerações de neurônio que viessem a ocorrer ao longo da vida eram irremediáveis Estudos recentes no entanto indicam que algo mais ocorre na intimidade de nosso sistema nervoso células que até então eram vistas como tendo apenas função de nutrição e sustentação para os neurônios os gliócitos hoje se tornam o foco das atenções pela Instinto um dos mecanismos mentais que não precisamos aprender Instinto é uma palavra usada para descrever disposições inatas em relação a ações particulares Instintos geralmente são padrões herdados de respostas ou reações a certos tipos de situações ou características de determinadas espécies Em humanos eles são mais facilmente observados em respostas a emoções Instintos geralmente servem para pôr em funcionamento mecanismos que evocam um organismo para agir As ações particulares executadas podem ser influenciadas pelo aprendizado ambientes e princípios naturais Geralmente instinto não é usado para descrever uma condição existente ou status quo Extraído de Wikipedia httpptwikipediaorgwikiInstinto Gliócitos Gliócitos ou células da glia compõem juntamente com os neurônios as células do Sistema Nervoso Aula 7 Psicologia da Educação 107 possibilidade de serem na verdade células que se transforma em neurônios em casos de urgência e necessidade sobretudo nas áreas cerebrais relacionadas com a memória NEURÔNIO é a célula do Sistema Nervoso responsável pela condução do impulso nervoso Há cerca de 100 bilhões de neurônios no sistema nervoso humano A membrana exterior de um neurônio toma a forma de vários ramos extensos chamados dendritos que recebem sinais elétricos de outros neurônios e de uma estrutura chamada de um axônio que envia sinais elétricos a outros neurônios O espaço entre o dendrito de um neurônio e o axônio de outro é o que se chama uma sinapse os sinais são transportados através das sinapses por uma variedade de substâncias químicas chamadas neurotransmissores O córtex cerebral é um tecido fino composto essencialmente por uma rede de neurônios densamente interligados de forma que nenhum neurônio está mais do que algumas sinapses de distância de qualquer outro neurônio Outra descoberta interessante é que além da possibilidade de transformação dos gliócitos ocorre o nascimento de novos neurônios em cérebros adultos O que chama a atenção nesse caso é que tais nascimentos se dão exclusivamente pelo menos que se sabe hoje no bulbo olfatório que recebe sinais do nariz e em uma região do cérebro chamada hipocampo Figura 2 justamente uma região de extrema importância para a formação de novas memórias Como os neurocientistas relacionam a memória com a aprendizagem como veremos a seguir essa descoberta talvez venha explicar a inesgotável capacidade humana de aprender coisas novas Figura 1 Representação de um neurônio com os componentes de sua estrutura Aula 7 Psicologia da Educação 108 Figura 2 Representação do cérebro com indicação do bulbo olfatório e hipocampo Como se sabe os experimentos em ratos são muito importantes para se entender o funcionamento de determinadas estruturas os quais não são possíveis de realizar em humanos Uma experiência interessante foi a colocação de ratos adultos em gaiolas cheias de brinquedinhos que deveriam ser explorados diferentemente das gaiolas tradicionais nas quais só existem serragem comida e água o que possibilitou um aumento no número de novos neurônios gerados no hipocampo Entretanto quando esses ratos eram submetidos a situações de estresse que atrapalham a aprendizagem o surgimento de novos neurônios diminuiu Antes mesmo do nascimento ainda na fase de embrião os neurônios desenvolvem longos filamentos prolongamentos que partem de seu corpo central chamados axônios É através deles que um neurônio estabelece ligação com outros neurônios formado sinapses que vão se constituir nos circuitos neurais Essas conexões originais vão permitir a regulação de funções autonômicas que são aquelas que ocorrem sem nosso controle voluntário como a respiração os batimentos cardíacos a mobilidade intestinal No entanto durante toda a vida os circuitos neurais vão continuar a se desenvolver Os neurônios estão sempre testando novas conexões as que funcionam permanecem as que não funcionam se desfazem E o que faz uma conexão ser mantida O seu uso Se usamos repetidamente uma conexão ela tende a se tornar permanente Ao nascer o cérebro humano tem somente uma pequena proporção dos trilhões de sinapses que provavelmente terá SINAPSE As sinapses ocorrem no contato das terminações nervosas axônios com os dendritos O contato físico não existe realmente pois mesmo estando próximas há um espaço entre ambas estruturas fenda sináptica Dos axônios são liberadas substâncias neurotransmissores que atravessam a fenda e estimulam receptores nos dendritos e assim transmitem o impulso nervoso de um neurônio para o outro Aula 7 Psicologia da Educação 109 Por que ao nascer temos tão poucas conexões Qual a relação desse aumento de conexões que adquirimos ao longo da vida com a aprendizagem Algumas evidências estabelecidas são particularmente surpreendentes a os neurônios começam a se degenerar a partir da infância b uma vez que muitos neurônios morrem existe em relação ao cérebro infantil menor quantidade deles no cérebro adulto o qual é por outro lado muito mais maduro e de maior tamanho c o número total de conexões no cérebro infantil é maior que no cérebro adulto Dessa forma em relação ao cérebro infantil o cérebro adulto é maior em tamanho mas é menor em número de neurônios e em conexões sinápticas Como explicar então que seja mais maduro As sinapses são estabelecidas basicamente de duas maneiras as quais descreveremos a seguir A primeira é por superprodução e perda seletiva ocorrendo durante os períodos mais precoces do desenvolvimento O Sistema Nervoso estabelece um número muito grande de conexões e através de experiências de vida seleciona aquelas que se mostraram mais apropriadas removendo as demais O que permanece é a forma final que constitui o sensório e a base dos processos cognitivos Os neurocientistas comparam esse processo ao dos artistas escultores os quais a partir de um bloco de mármore fazem surgir o objeto artístico pela eliminação de porções desnecessárias do mármore A segunda maneira de formação de sinapses é através da adição de novas sinapses Ao contrário do processo anterior que se produz nos primeiros meses de vida esse método opera durante a vida inteira dos homens é especialmente importante na vida adulta Esse processo é completamente dirigido pela experiência e está na base de praticamente todas as formas de memória Várias pesquisas evidenciam que as atividades associadas com experiências de aprendizagem levam as células nervosas a criarem novas conexões Portanto a qualidade de informações às quais o indivíduo é exposto e a quantidade de informações que adquire vai se refletir durante toda sua vida na estrutura do cérebro O aumento do cérebro devese então por um lado ao desenvolvimento de células de sustentação sem função transmissora os já citados gliócitos e por outro lado ao contínuo crescimento dos axônios para estabelecer conexões com outros neurônios Conforme mencionamos é a experiência que terá papel fundamental no estabelecimento dessas conexões Mas como isso ocorre Já foi visto que a maior parte das conexões estabelecidas no desenvolvimento do cérebro não é permanente são as chamadas conexões lábeis as quais somente vão se tornar estáveis como resultado do uso freqüente Dessa forma conexões que são usadas freqüentemente contribuem para estabeleceremse como caminhos úteis enquanto as que resultam em vias não úteis se degeneram ou regridem Enquanto as conexões originais aquelas que asseguram as funções vitais são condicionadas geneticamente essas conexões posteriores constituemse em um fenômeno epigenético e são muitas vezes verdadeiras obras do acaso Acontece que embora um neurônio tenha como alvo outro determinado neurônio aleatoriamente pode estabelecer Atividade 2 1 2 Aula 7 Psicologia da Educação 110 conexão com um outro distinto cujos dendritos estejam próximos Se essa conexão casual demonstrarse útil e voltar a ser utilizada ela tornase estável Portanto mesmo que o cérebro infantil tenha muitas sinapses não necessariamente elas são utilizadas ou indicam conhecimento mas somente um vasto potencial Numa criança que nasça com uma lesão cerebral decorrente por exemplo de um parto difícil como você imagina que se desenvolverá sua aprendizagem Se as conexões que permanecem são as que são mais utilizadas que relação você pode fazer desse fato com o processo de aprendizagem Entendendo então como o cérebro se organiza vamos agora à análise de como é compreendida a aprendizagem Aula 7 Psicologia da Educação 111 A importância da memória P ara os neurocientistas o conceito de aprendizagem está fortemente vinculado ao de memória Entendendo aprendizagem como o processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória através do qual nos tornamos capazes de orientar o comportamento e o pensamento LENT 2001 p594 esse autor deixa claro que a memória é o processo de arquivamento seletivo dessas informações de modo que ela pode ser considerada como o conjunto de processos neurológicos e psicológicos que possibilitam a aprendizagem Se com a aprendizagem se adquire conhecimento sobre o mundo KANDELL 2000 p1227 a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado armazenado e posteriormente evocado Portanto a aprendizagem teria estreita ligação com a memória De que capacidades necessito para adquirir esse conhecimento sobre o mundo segundo Kandell Conhecer o mundo implica a necessidade de desenvolver habilidades motoras que permitam o domínio físico do ambiente e desenvolver linguagens que possibilitem a comunicação e transmissão da cultura Teríamos assim basicamente dois tipos de aprendizagem a aprendizagem de habilidades motoras b aprendizagem de linguagens Tais desdobramentos da aprendizagem encontram correspondência direta com os tipos da chamada memória de longa duração ou seja aquela que já se encontra codificada e armazenada e pode ser evocada através de um esforço consciente memória explícita ou declarativa ou de forma involuntária memória implícita ou nãodeclarativa A memória explícita ou declarativa pode ser episódica diz respeito ao conhecimento de pessoas lugares fatos e semântica trata do significado dos fatos envolve conceitos atemporais Figura 3 Esquema dos tipos de memória Aula 7 Psicologia da Educação 112 Figura 4 Imagem do cérebro dentro do crânio De uma maneira geral podese dizer que no conhecimento explícito fruto da memória explícita seja semântico seja episódico ocorrem quatro propriedades 1 não há um armazenamento único 2 alguns itens têm múltipla representação no cérebro cada uma das quais correspondendo a diferentes significados e podendo ser acessadas independentemente 3 é o resultado de no mínimo quatro processos codificação consolidação armazenamento e recuperação 4 a recuperação é mais efetiva quando ocorre no mesmo contexto no qual a informação foi adquirida e na presença dos mesmos indicativos que estavam disponíveis naquele momento É importante salientar que se trata de um processo construtivo no sentido de que o indivíduo interpreta o ambiente externo a partir de sua própria história Uma Uma informação complexa como a de uma paisagem por exemplo nos chega através de input visual olfativo auditivo somático afetivo Essas informações são sintetizadas de modo a formarem uma imagem única em áreas do cérebro chamadas córtex de associação Daí elas são transferidas para outra região o hipocampo que facilita a armazenagem modulando outras conexões que facilitem a fixação desta fazendo conexão com outras informações Em seguida a informação é devolvida ao córtex de associação no qual ocorre o armazenamento definitivo Diferentes representações de um objeto são armazenadas separadamente no córtex de associação Cada vez que um conhecimento é requerido a evocação é construída por distintos pedaços de informação cada um dos quais armazenados em áreas específicas da memória Input Input é o termo que denota uma entrada ou mudanças que são introduzidas em um sistema e que ativam modificam um processo Aula 7 Psicologia da Educação 113 vez armazenadas as lembranças não são uma cópia exata da informação original As experiências anteriores são usadas no presente como pistas para o cérebro reconstituir um evento atual e darlhe sentido Alguns estudos mostram que quando se pede a sujeitos que evoquem uma história recentemente lida a história evocada é mais curta e mais coerente que a original Os sujeitos não se dão conta de que a haviam editado e têm mais certeza da veracidade da história editada do que da original Isso faz pensar que a memória não é uma repetição factual mas uma construção em que as informações são agrupadas de acordo com critérios exclusivamente pessoais Por sua vez a memória implícita é um tipo de memória que se constrói lentamente pela repetição sendo expressa em atos e não em palavras como por exemplo as habilidades motoras a aprendizagem de procedimentos e atitudes Aqui também se observa uma grande variedade de localização cerebral a depender das diferentes habilidades aprendidas Uma das formas mais conhecidas e divulgadas da aprendizagem que utiliza a memória implícita é aquela fornecida pelas experiências de condicionamento clássico ou operante descritas pelo behaviorismo a chamada aprendizagem associativa Por muito tempo acreditouse que um tipo de aprendizagem poderia ser induzido quando se expunha o organismo a dois estímulos contíguos de modo que o indivíduo pudesse fazer a associação de que sua intervenção no meio havia produzido a resposta que satisfazia a sua necessidade O exemplo mais clássico da aprendizagem associativa é aquele em que um rato colocado em uma caixa de experimentos descobre que se tocar em uma determinada barra recebe alimento passando então a tocála sempre que sente fome vamos explorar melhor esse tema na aula seguinte quando discutiremos o Behaviorismo Na verdade esse tipo de aprendizagem está submetido a importantes fatores biológicos O animal aprende a associar estímulos que sejam relevantes para sua sobrevivência O cérebro está capacitado a perceber alguns estímulos e não outros ou seja é capaz de discriminar algumas relações dentro do ambiente Por isso nem todos os reforços são igualmente efetivos para todos os estímulos ou respostas Por outro lado a aprendizagem associativa pode envolver também memória explícita de modo que a resposta aprendida pode estar mediada pelo menos em parte por processos conscientes O sujeito não aprende simplesmente a aplicar dar uma resposta fixa a um estímulo mas adquire informações que o cérebro usa para configurar uma resposta apropriada a uma nova situação Atividade 3 1 2 Aula 7 Psicologia da Educação 114 Escolha um evento uma festa um show um filme ao qual você tenha ido com outrosas colegas Peça a cada um deles para descrever o que lembram do referido evento Que resultado você encontrou E o que você conclui disso em função do que foi visto até agora sobre a organização da memória Aula 7 Psicologia da Educação 115 Afetos e motivação C oncentrarse ou seja focalizar a atenção em algo é no nível biológico o esforço despendido na busca de uma conexão neural dentre os múltiplos circuitos de um que faça sentido Por outro lado esse esforço de concentração em alguns momentos mostrase difícil enquanto em outros é praticamente automático O que dirige nossa atenção Que fatores influenciam nessa concentração O que seria assim tão motivador Um desses fatores é a resposta afetiva que o estímulo nos desperta Na região central do cérebro em cada um dos hemisférios há um conjunto de estruturas anatômicas que está em ligação com as demais o Sistema Límbico responsável pelos estados emocionais Apesar de existirem emoções primárias geneticamente determinadas algumas se desenvolvem como um componente consciente fruto da experiência os sentimentos Estudos mostram que existem estreitas conexões entre o Sistema Límbico Figura 4 e estruturas corticais localizadas na região préfrontal as quais são responsáveis pela referência cognitiva dos sentimentos É o córtex préfrontal que organiza e escolhe dentre vários impulsos que lhe chegam a maneira como vamos reagir afetivamente e o faz de acordo com experiências prévias que ficaram marcadas como experiências agradáveis ou desagradáveis Assim a nossa maior ou menor capacidade de nos concentrarmos vai depender tanto das experiências anteriores que tivemos ao entrar em contato com o objeto de nossa concentração quanto das emoções e sentimentos que esse objeto nos desperta Talvez isso explique por que nos dedicamos com tanta facilidade a atividades das quais gostamos e tenhamos tanta dificuldade em prendermos nossa atenção por exemplo em um tema que nos pareça tedioso e irritante A atenção pode ser também estimulada por outro fator a motivação mais um conceito amplamente difundido nos estudos sobre aprendizagem Utilizado na maior parte das vezes em um sentido amplo referindose a uma variedade de fatores neuronais e fisiológicos que iniciam sustentam e dirigem um comportamento o conceito de motivação vincula se tradicionalmente a aspectos não cognitivos do comportamento refletindo não o que o indivíduo sabe mas o que necessitaria organicamente Até bem recentemente esses estudos estavam restritos às instâncias fisiológicas da motivação chamadas condições mobilizadoras que se caracterizam por expressar tensão ou desconforto quando surgem necessidades fisiológicas Assim quando surgissem necessidades orgânicas como a fome por exemplo ela se expressaria por sensações de desconforto as quais motivaria o indivíduo na busca do alimento Uma vez satisfeitas as necessidades as condições mobilizadoras seriam superadas Reconhecese hoje que tais condições mobilizadoras são apenas uma parte dos estados motivacionais que dirigem o comportamento mesmo a função homeostática da motivação não necessariamente advém de necessidades orgânicas Hábitos aprendidos e Resumo Aula 7 Psicologia da Educação 116 Nesta aula estudamos o papel do cérebro para a compreensão de como os indivíduos aprendem Vimos em primeiro lugar como se organiza o nosso cérebro observando as estruturas fundamentais no estudo da aprendizagem com destaque para o hipocampo e seu papel no armazenamento da memória o lobo frontal e o córtex de associação Vimos por fim a importância dos afetos na capacidade de prender a atenção e a motivação fatores importantes no aprendizado sentimentos subjetivos de prazer podem modular a direção dos nossos atos Nesse sentido Kandell 2000 p1007 apresenta um exemplo freqüentemente as pessoas mesmo com fome preferem não comer a ingerir um alimento que aprenderam a evitar Por outro lado as aspirações pessoais ou sociais adquiridas pela experiência constituem talvez uma complexa interrelação entre forças fisiológicas e sociais entre processos mentais conscientes e inconscientes Infelizmente os estudos sobre esses aspectos são ainda muito incipientes o que faz com que sua aplicação mais significativa às investigações sobre aprendizagem ainda não possa ter resultados observáveis De tudo que foi discutido nesta aula podemos concluir que as Neurociências vieram trazer comprovações para alguns aspectos já entendidos e observados como importantes na aprendizagem tais como 1 a experiência do sujeito o contato com o meio social em que vive tem mostrado que é fundamental para o estabelecimento de conexões sinápticas estáveis Na verdade a experiência modifica mesmo a estrutura da organização cerebral evidenciando a sua plasticidade A importância desta aspecto foi apontada por Vygotsky 2 a transformação de conexões lábeis em conexões estáveis entre os neurônios vai depender em grande parte de que elas encontrem sentido ou seja mostremse significativas e úteis Tal busca de relações de sentido e significação já vinha sendo apontada por Ausubel 3 uma vez estabelecida a conexão com seu uso freqüente ela tornase estável acomoda se equilibrase O conceito de acomodação e equilibração já estava colocado por Piaget 4 as motivações e os afetos como mecanismos básicos do ser humano são modificados pela aprendizagem e são também impulsionadores desta como já mostrava Kurt Lewin Na próxima aula vamos conhecer melhor as teorias desses autores 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 117 Autoavaliação Faça uma síntese sobre a importância da memória para o aprendizado Por que aprendemos mais facilmente aquilo que nos interessa Comente a frase o estudo repetido leva à aprendizagem Referências BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Editora Saraiva 1999 HOUZEL S H O cérebro nosso de cada dia Rio de Janeiro Vieira e Lent 2002 KANDELL E Principles of neural science New York McGrawHillAppleton Lange 2000 LENT Roberto Cem bilhões de neurônios conceitos fundamentais de Neurociência São Paulo Atheneu 2001 Anotações Aula 7 Psicologia da Educação 118 8 Aula Como se aprende a visão dos teóricos da Educação License Tax Notice This notice is to inform you that your automobile license tax identified below is due before the 30th of the following month and subject to a penalty if not received on or before that date Vehicle Description Vehicle Identification Number License Tax Number Federal Tax ID Number Elizabeth City Fire Department Date 120391 Horsepower L 8 75 Make 8 0 1 BMW Model 3 Series Color White License Number 03 4 1 8 I L State of Texas Tax is due within 30 days after purchase or acquisition to avoid penalties The fee for this vehicle will be prorated if paid within the month in which the vehicle was purchased or acquired If you have any questions please contact your local County Tax AssessorCollector office listed on the back 1 2 3 Aula 8 Psicologia da Educação 121 Apresentação N esta aula continuaremos a discutir os mecanismos e estratégias que auxiliam na aprendizagem do indivíduo Veremos então os conceitos trazidos por alguns dos grandes teóricos da Educação suas concepções de aprendizagem e mecanismos que interferem nesse processo Objetivos Conhecer os conceitos de aprendizagem de alguns teóricos da Educação Comparar as diversas visões observando diferenças e semelhanças Relacionar a visão desses teóricos com as teorias sobre aprendizagem advindas da Neurobiologia Atividade 1 Aula 8 Psicologia da Educação 122 As concepções básicas C omo vimos na aula 7 Como se aprende o papel do cérebro os avanços da Ciência permitiram o estudo do cérebro e a formulação de teorias biológicas sobre aprendizagem No entanto muito antes disso psicólogos dedicaramse a compreender o processo pelo qual os homens aprendem desenvolvendo para tanto teorias Basicamente são três as concepções que estão subjacentes às teorias de aprendizagem 1 Comportamentalismo ou Behaviorismo focaliza a atenção nos comportamentos observáveis e mensuráveis valorizando as respostas aos estímulos A idéia básica é que se um determinado comportamento tem uma boa consequência ele tende a se repetir Ao contrário se a resposta for desagradável a tendência é o comportamento diminui de frequência 2 Cognitivismo interessase pelos processos interiores que ocorrem entre o estímulo e a resposta ou seja os processos mentais como as percepções a compreensão as tomadas de decisão a atribuição de significado Admite que a cognição se dá por construção sendo por isso tais teorias também conhecidas como Construtivismo 3 Humanismo da importância à autorealização do sujeito aprendiz isto é à sua satisfação pessoal Valoriza fundamentalmente os sentimentos e os pensamentos do aluno Antes de aprofundarmos o estudo de cada uma dessas teorias vamos fazer um exercício de identificar como estas se apresentam em situações de sala de aula João terminou sua aula de Geografia e na lanchonete se encontra com Dulce e Raimundo outros dois professores da escola Está super contente porque considera que hoje deu uma aula fantástica Pessoal vocês não sabem como hoje foi incrível Não tinha jeito de fazer meus alunos se interessarem pela discussão do clima Eu ia lá falava direitinho sobre clima tropical clima equatorial clima temperado e nada deles entrarem no clima Hoje resolvi fazer o contrário Comecei comentando com eles a notícia do Jornal Nacional de que estava nevando no sul do país E aqui é esse Aula 8 Psicologia da Educação 123 inferno Podia esfriar aqui um pouquinho não era professor disse um deles Era a dica que eu queria Engatei pois é o que será que eles têm que a gente não tem né Pois não é que fomos discutindo e ao final tínhamos visto todos os fatores que interferem no clima Foi muito legal E aí pergunta Dulce você acha que eles aprenderam Que nada vão sair dizendo que você não dá aula que fica comentando os programas de televisão Pois comigo é diferente Bolei um joguinho com eles Cada vez que um deles lê o texto com a pronúncia do inglês perfeitinha ganha o direito de usar meu computador no recreio Precisa ver como agora todo mundo quer ler E estão lendo direitinho os danados Parece que treinam em casa Vixe Dulce assim também Você está comprando a turma disse Raimundo Pois nas minhas aulas eu procuro ver o que toca eles No início do semestre quando levo o programa da disciplina sempre deixo um espaço para eles sugerirem algum tema dentro do assunto E saem coisas interessantes sabiam Outro dia na turma de História do Brasil um deles disse professor com essas histórias aí de corrupção nas eleições por que a gente não coloca aí uma discussão sobre como é que isso surgiu Pois a discussão evoluiu ao ponto da turma ao final propor uma reforma política Acho que vou até encaminhar para discussão na Câmara Federal porque ficou legal viu Com qual teoria cada um desses professores se identifica Aula 8 Psicologia da Educação 124 O Behaviorismo O Behaviorismo na sua vertente mais clássica propôs definir a Psicologia como um ramo objetivo e experimental das ciências naturais a qual tinha como objetivo a possibilidade de prever e controlar os comportamentos A idéia era de que se eu obtenho sempre uma determinada resposta a um determinado estímulo eu já posso prever qual será a resposta e assim controlála Os conceitos básicos de estímulo e resposta se constituiriam pois em eventos observáveis e por isso relevantes Os eventos internos como os estados da consciência seriam irrelevantes porque não produziriam efeitos sociais observáveis e não seriam passíveis de predição e controle John Watson 18781958 é reconhecido como o fundador do Behaviorismo ou Comportamentalismo e para ele o objetivo maior era chegar a leis que relacionassem determinados estímulos a determinadas consequências comportamentais É nesse sentido que o Behaviorismo entende a aprendizagem como uma mudança no comportamento que resulta da prática do fazer do experimentar A experiência de Pavlov com cães tornouse clássica ele apresentava a um cachorro um pedaço de carne que pelo olfato e visão provocava a salivação Após isso ele passou a tocar uma campainha e em seguida apresentar a carne Depois de várias repetições o cachorro passava a salivar somente por ouvir a campainha sem a necessidade de se apresentar a carne Assim um estímulo que nada tem a ver com alimentação passou a desencadear reações fisiológicas típicas da digestão Tratase do conceito do reflexo condicionado ou condicionamento clássico que vai influenciar bastante a compreensão da aprendizagem Para Watson toda aprendizagem é um condicionamento desse tipo Figura 1 Esquema mostrando a experiência de refl exo condicionado de Pavlov Aula 8 Psicologia da Educação 125 Um dos grandes expoentes dessa corrente do pensamento é Skinner 19041990 Ele faz a distinção entre a aprendizagem por condicionamento clássico da que ocorre por condicionamento operante descrita por ele A aprendizagem por condicionamento operante apóiase em respostas do tipo instrumental ou seja respostas emitidas a partir de um reforço específico que aumenta a probabilidade de sua emissão O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação É o caso do rato faminto que numa experiência percebe que o acionamento de uma alavanca levará ao recebimento de comida Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome Figura 2 Burrhus Frederic Skinner Skinner pregou a eficiência do reforço positivo na educação sendo em princípio contrário a punições e esquemas repressivos sugerindo que o uso das recompensas e reforços positivos da conduta correta era mais atrativo do ponto de vista social e também era pedagogicamente eficaz É também Skinner quem lança as bases do ensino programado cujo suporte se faz basicamente por quatro postulados a um comportamento novo é mais facilmente adquirido se o sujeito emite respostas a ele e não simplesmente se se expõe a estímulos b um comportamento novo é mais facilmente adquirido se reforços apropriados são promovidos c no ensino a matéria deve ser apresentada fragmentadas de acordo com dificuldades progressivas d o ensino deve contemplar as diferenças individuais Outra distinção feita pelo Behaviorismo é entre aprendizagem e desempenho A aprendizagem referese ao desempenho mas não se confunde com ele O organismo pode adquirir capacidade para executar certos atos pela aprendizagem mas o ato pode não ocorrer É a chamada aprendizagem latente de Tolman 1948 a qual ocorre quando o cérebro organiza se em mapas cognitivos Desse modo conteúdos aprendidos produzidos pela prática seriam aqueles que propiciassem mudanças permanentes no organismo o desempenho seria a tradução da aprendizagem em comportamentos Assim aprendizagem seria orgânica neural e o desempenho seria o evento exteriorizável das modificações orgânicas Essa distinção que considera a aprendizagem como não tendo uma face exteriorizável já aponta uma modificação nas idéias iniciais do Behaviorismo e se constitui na corrente Mapas cognitivos Mapas cognitivos originalmente foram definidos como representações mentais de indícios visuais táteis auditivos que configuram o ambiente e permitem a localização do sujeito no espaço Atualmente tendese a utilizar um conceito mais amplo que envolva os conceitos e relações entre conceitos utilizados pelos sujeitos para compreender o seu ambiente e darlhe sentido Aula 8 Psicologia da Educação 126 chamada Behaviorismo Cognitivista Como o nome indica essas idéias estabelecem uma transição para o Cognitivismo De acordo com elas aprender não é incorporar novas formas de respostas ao meio mas apreender sinais captar direções montar mapas cognitivos ou seguir modelos que serviriam de guias para a apreensão de um novo comportamento A teoria da aprendizagem social de Albert Bandura enfatiza a importância da modelagem dos comportamentos atitudes e respostas emocionais dos outros na aquisição de novos conhecimentos Além disso ressalta que os eventos ambientais recursos ambiente físico pessoais crenças expectativas e comportamentais escolhas atos individuais interagem no processo de aprendizagem em uma condição que ele denominou de determinismo recíproco BANDURA 1977 p 247 Desse modo ele propõe uma modificação cognitiva do comportamento com a incorporação de elementos da subjetividade dos sujeitos como aspecto importante O Cognitivismo P reocupado em entender o processo de conhecimento do mundo pelo homem o Cognitivismo ao contrário do Behaviorismo envolvese com a análise dos processos mentais superiores com o ato do conhecer com a cognição Preocupase em analisar como o ser humano conhece o mundo Preocupase assim com os fenômenos da consciência O termo parece vir da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget 1999 que é mais uma teoria do desenvolvimento mental do que uma teoria de aprendizagem O Cognitivismo também é conhecido como Construtivismo porque o verdadeiro conhecimento aquele que é utilizável é fruto de uma elaboração construção pessoal resultado de um processo interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si atribuindolhes um significado organizandoas e relacionandoas com outras anteriores Esse processo é inalienável e intransferível ninguém pode realizálo por outra pessoa Por outro lado o termo cognitivismo pode ser utilizado como uma conceituação mais ampla se ocupa da atribuição de significados da compreensão transformação armazenamento e uso da informação envolvida na cognição MOREIRA 1999 p 15 Nesse sentido uma das principais tarefas dessa abordagem do cognitivismo é a construção de modelos matemáticos e axiomáticos em diferentes campos da investigação como a inteligência artificial a formação de conceitos a memória semântica a resolução de problemas Essa nova ciência cognitiva vem se constituir na resposta a uma demanda pelo estudo interdisciplinar da mente humana abrangendo áreas como as Neurociências a Informática a Psicologia Vamos discutir melhor essa abordagem a partir de dois dos seus maiores expoentes Jean Piaget e Lev Vygotsky Aula 8 Psicologia da Educação 127 Piaget Um conceito fundamental para Piaget é o de estruturas cognitivas que seriam padrões mentais subjacentes a atos da inteligência Piaget pensa a mente como um conjunto de estruturas que se aplica à realidade sendo o sujeito um agente dessa construção Essas estruturas não são como formações biogeneticamente determinadas mas progressivamente produzidas pela interação constante com o ambiente As modificações dessas estruturas cognitivas se dão através de processos de adaptação os quais são resultados de um movimento contínuo de assimilação e acomodação em busca do equilíbrio Esses conceitos são fundamentais para explicar a sua concepção de aprendizagem como veremos a seguir 1 Assimilação É o processo de integração de novos conhecimentos em estruturas já existentes Nesse processo o que ocorre é uma ação do sujeito sobre os objetos que o rodeiam incorporando assim a realidade aos esquemas de ação do indivíduo e transfor mando o meio para satisfazer suas necessidades Mas tratase de um esquema concre to ainda bruto sem modificação dos processos mentais 2 Acomodação É o mecanismo de reformulação das estruturas em relação aos novos conte údos incorporados é o processo de busca e ajustamento a condições novas e mutáveis no ambiente de tal forma que os padrões comportamentais preexistentes são modificados Na medida em que a acomodação implica a reestruturação dos esquemas anteriores entende se que tenha ocorrido a produção ou construção da aprendizagem 3 Equilibração É a adaptação decorrente do equilíbrio entre assimilação e acomodação Figura 3 Esquema da concepção de aprendizagem de Piaget Assim para Piaget a aprendizagem somente ocorre quando o esquema de assimilação sofre acomodação O mais importante fator de aprendizagem se dá quando o equilíbrio prévio é Aula 8 Psicologia da Educação 128 rompido por experiências nãoassimiláveis e a mente busca novas acomodações e consequentes novos equilíbrios É a chamada equilibração majorante Assim ensinar significa promover desequilíbrios e envolve a relação entre os esquemas de assimilação do professor com os conteúdos que deseja ensinar e os esquemas de assimilação dos alunos que por sua vez devem influenciar os esquemas do professor O ensino tornase eficiente quando a argumentação do professor se aproxima dos esquemas de assimilação dos alunos Vygotsky Para Vygotsky 18961934 os mecanismos de desenvolvimento cognitivo têm origem e natureza sociais e não são frutos exclusivos do desenvolvimento mental O desenvolvimento das funções mentais superiores somente ocorrem nas interações sociais as quais são o produto das relações sociais mediadas por instrumentos e signos dos quais o mais importante é a linguagem Uma vez que o desenvolvimento das funções mentais exige a internalização de signos a aprendizagem passa a ser a condição para que isso ocorra Um dos conceitos mais importantes de Vygotsky é o de zona de desenvolvimento proximal É a interação social que vai propiciar a aprendizagem que deve ocorrer dentro dos limites dessa zona O ensino portanto deve se caracterizar por uma interação social na qual o professor é aquele que já internalizou significados socialmente aceitos e partilhados o aluno por sua vez deve sempre verificar se os significados que internalizou são também compartilhados socialmente dentro da área do conhecimento O ensino se consuma quando professor e aluno compartilham significados As idéias de Vygotsky foram incorporadas por outros estudiosos dentre eles Novak para quem o evento educativo é uma ação para trocar sentimentos e significados que sejam aceitos e partilhados socialmente entre professor e alunos No entanto o aluno pode aprender significativamente conceitos errados que não são partilhados socialmente Com o professor mas sim com seu grupo social de origem Vygotsky não concebe os processos cognitivos isolados da totalidade dinâmica da consciência Para ele o pensamento humano só pode ser compreendido quando se entende a sua base afetivovolitiva Uma das principais limitações da Psicologia tradicional é a separação entre processos cognitivos de um lado e afetivovolitivos de outro como se o pensamento fosse um fluxo autônomo de pensamentos que pensam por si próprios dissociados da plenitude da vida das necessidades e interesses pessoais das inclinações e dos impulsos daquele que pensa VYGOTSKY 1998 p 6 A idéia básica do Construtivismo portanto é a de que o indivíduo conhece na medida em que constrói sua estrutura cognitiva e interpreta os eventos e objetos do mundo respondendo não apenas mecanicamente a eles As estruturas prévias as interrelações com o mundo circundante os construtos já incorporados pela cultura do sujeito são então fundamentais nessa construção individual As ações não seriam fruto de modificações Zona de Desenvolvimento Proximal Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível cognitivo real do indivíduo medido por sua capacidade de resolver problemas independentemente e o seu nível de desenvolvimento potencial medido por meio da solução de problemas sob orientação ou em colaboração com companheiros capazes Aula 8 Psicologia da Educação 129 orgânicas permanentes mas gerariam na mente do sujeito estruturas dinâmicas que se constroem e reconstroem tornando o sujeito aprendiz um elemento ativo e criativo do seu próprio saber e não um mero receptor de conhecimentos Figura 4 Vygostky e esquema de sua teoria de aprendizagem Como diz Teixeira a aprendizagem construtivista é a que mais se parece com uma aventura intelectual Mas necessita pelo menos a princípio da presença de um guia que não seja impaciente e que permita que o pensamento de quem aprende siga o curso imprescindível para converter os conhecimentos em algo próprio precisa de um guia que respeite os processos que não se empenhe em substituir a pessoa que está aprendendo antecipandolhe resultados e respostas já conhecidos por ela como esses amigos bemintencionados que sempre insistem em contar o final do filme Uma das falsas ilusões do ensino é que os estudantes podem passar de um estado de ignorância para um estado de conhecimento sobre um tema concreto no curto intervalo de tempo de uma sessão de aula Esta crença que simplifica a existência de processos inerentes a toda aprendizagem é uma fonte de mal estar e frustração tanto para o professor quanto para alunos e alunas fundamentalmente porque não coincide com a realidade A negação da realidade leva facilmente ao fracasso e provoca um sentimento pessimista de impossibilidade Extraído de TEIXEIRA Gilberto Por que o construtivismo Disponível em httpwwwserprofessoruniversitarioprobrurphpmodulo98texto469 Acesso em 26 jul 2007 Aula 8 Psicologia da Educação 130 O Humanismo A perspectiva da junção de todos os elementos da consciência no ato de aprender vai estar presente nas correntes teóricas chamadas Humanismo Surgido a partir dos trabalhos de Abraham Maslow 19081970 o Humanismo caracterizase basicamente por centrar se no conceito de pessoa não no de comportamento Enfatiza ainda a condição de liberdade contra o determinismo e objetiva a compreensão e o bemestar humanos Para o Humanismo há uma tendência natural do ser humano para aprender aumentar seus conhecimentos contudo a aprendizagem somente se torna significativa quando contribui para a autorealização do sujeito Por compreender o sujeito aprendiz como uma totalidade entende o ato de aprender como envolvendo não somente a cognição mas também os aspectos afetivos e as ações já que influem nas ações e escolhas do indivíduo Essas teorias estão preocupadas com o conhecimento pessoal propiciado pela aprendizagem entendendo que as condições nas quais ela ocorre devam ser o mínimo ameaçadoras e o máximo acolhedoras possível A independência do aprendiz o estímulo a sua criatividade e autoconfiança são condições básicas para que a aprendizagem ocorra O confronto do sujeito com o meio será significativo para a aprendizagem apenas quando ele for colocado em situações que envolvam vivências de cunho existencial significativas Figura 5 Carl Rogers O maior expoente dessa visão é Carl Rogers 19021987 que propõe um aprendizado centrado no aluno Para ele uma aprendizagem adequada é aquela que leva o aluno a aprender a aprender ou seja para além da importância dos conteúdos o mais significativo para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem O professor precisa tornarse um facilitador da aprendizagem para tanto é essencial que tenha segurança e acredite na pessoa do aluno na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio Rogers propõe algumas qualidades que o professor precisa ter para ser um facilitador a primeira é a autenticidade do facilitador que significa a capacidade de ser autêntico e real na relação com o aluno a segunda é aceitar a pessoa do aluno seus sentimentos Atividade 2 1 2 Aula 8 Psicologia da Educação 131 suas opiniões sem julgamentos prévios a terceira é a capacidade da empatia ou seja compreender o aluno a partir do seu quadro de referências Quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as reações do estudante tem uma consciência sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao estudante ROGERS 1986 p 131 O Humanismo está portanto mais preocupado com as relações entre os sujeitos no momento da aprendizagem Centra seu foco na pessoa que aprende entendendo pessoa como um ser total que pensa sente e age e valorizando fortemente a liberdade e autodeterminação natural desse ser Agora que vimos como se colocam as diversas teorias da aprendizagem vamos fazer um exercício de observação com qual delas nos identificamos e por quê Se você tem ou teve alguma experiência como professora descreva a seguir sua prática as teorias com que ela se identifica e por quê Resumo Behaviorismo Cognitivismo Humanismo Aula 8 Psicologia da Educação 132 Autoavaliação Destaque das três abordagens teóricas discutidas os seus principais conceitos Na aula de hoje conhecemos as mais importantes correntes teóricas sobre a aprendizagem o Behaviorismo o Cognitivismo e o Humanismo Cada uma delas propõe uma maneira de conseguir a aprendizagem a partir do entendimento do Homem O Behaviorismo prioriza a observação dos comportamentos externos o Cognitivismo considera o sujeito consciente e suas relações sociais e o Humanismo considera o indivíduo e suas particularidades Aula 8 Psicologia da Educação 133 Referências BANDURA A Social learning theory New Jersey PretinceHall 1977 MOREIRA M A Teorias de aprendizagem São Paulo Editora Pedagógica Universitária 1999 PIAGET J A linguagem e o pensamento da criança São Paulo Martins Fontes 1999 ROGERS Carl Liberdade de aprender em nossa década 2 ed Porto Alegre Artes Médicas 1986 VYGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1999 VYGOTSKY L S A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1998 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 134 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 135 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 136 9 Aula Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto Your Prompt Payment Will Help Avoid Penalties Pay by LICENSE TAX DUE DATE Shown on front or within 30 days after purchase State of Texas 1992 Automobile License Tax Payment ABOVE THIS LINE 1 2 3 Aula 9 Psicologia da Educação 139 Apresentação D iscutimos até agora as diversas teorias que tratam da aprendizagem de forma geral No entanto em nossa prática docente observamos que alguns alunos têm uma melhor aprendizagem quando o conteúdo é apresentado de determinada maneira ou quando organizam seu estudo dentro de alguns parâmetros por exemplo Isso acontece porque cada um tem o seu estilo de aprender e de desenvolver suas próprias estratégias São esses pontos que discutiremos nesta aula Objetivos Reconhecer os diferentes estilos de aprendizagem e suas características Reconhecer as estratégias de aprendizagem construídas pelos sujeitos aprendizes Identificar a importância dos estilos e estratégias de aprendizagem para a organização da discussão dos conteúdos a serem aprendidos Atividade 1 Aula 9 Psicologia da Educação 140 Introdução J á há um grande entendimento de que cada pessoa aprende de uma maneira diferente Uns preferem estudar enquanto ouvem música outros preferem o silêncio uns precisam de muita luz outros preferem um ambiente com mais penumbra uns ainda organizam e limpam todo o seu espaço de estudo enquanto outros podem estudar em meio a pilhas de livros e papéis Os estudos têm mostrado que as pessoas desenvolvem estratégias que lhes permitam a melhor maneira de adquirir conhecimento as quais podem se constituir em estilos de aprendizagem E você como se organiza para estudar Descreva a seguir os procedimentos que adota nos momentos dedicados ao estudo Aula 9 Psicologia da Educação 141 Estilos de aprendizagem P odemos observar que em grupos de estudo compostos por mais de duas pessoas que partem do mesmo nível de conhecimento em determinada matéria encontramos grandes diferenças nos conhecimentos de cada membro apesar de todos terem recebido as mesmas explicações e feito as mesmas atividades Cada uma das pessoas aprenderá de maneira diferente terá dúvidas diferentes e avançará mais em uma área do que em outras O que determina essas variações Vários são os fatores que podem influenciar na aprendizagem a motivação os conhecimentos prévios a idade Mas por que nos deparamos com turmas que têm a mesma motivação a mesma idade a mesma bagagem cultural e no entanto aprendem de maneira distinta de modo que enquanto uns preferem redigir os textos outros se sentem melhor corrigindo a parte gramatical e revendo o que foi escrito Essas diferenças se devem a maneiras distintas de aprender O conceito de estilo de aprendizagem está diretamente relacionado por um lado com a concepção de aprendizagem como um processo ativo e por outro lado com as novas concepções de inteligência já discutidas na aula 2 A inteligência Ele tem sido utilizado sobretudo pelos teóricos que desenham modelos de aprendizagem baseados no processamento da informação e tem se mostrado útil na organização de estratégias de ensino por parte dos professores Assim as diversas teorias que discutem os estilos de aprendizagem podem ser observadas em três momentos do processamento da informação recepção seleção e organização e utilização os quais serão discutidos a seguir A recepção da informação E stamos recebendo a cada momento através dos nossos órgãos dos sentidos uma grande quantidade de informações Nosso cérebro seleciona uma parte e ignora o resto Naturalmente tendemos a selecionar aquelas informações que nos interessam mas dependendo da forma como elas nos são apresentadas as selecionamos com maior ou menor facilidade Atividade 2 1 2 Aula 9 Psicologia da Educação 142 Quando você é apresentado a alguém o que lhe é mais fácil recordar o nome o rosto ou o jeito da pessoa Vamos fazer um pequeno exercício de memória procure lembrar da maneira mais detalhada possível alguma conversa recente que você teve com alguém Recorde os nomes os rostos o ambiente a maneira das pessoas falarem o tom das vozes os gestos como você se sentiu O que foi mais fácil de lembrar O que lhe veio primeiro à mente Aula 9 Psicologia da Educação 143 Os autores descrevem três grandes sistemas de representação mental da informação o sistema de representação visual o sistema de representação auditivo e o sistema de representação cinético Utilizamos o sistema de representação visual quando recordamos imagens abstratas e concretas Por exemplo quando nos recordamos de uma festa a que fomos lembramos das pessoas que estavam e lembramos também de como percebemos o estado de espírito delas Já o sistema auditivo nos possibilita trazer à nossa memória sons músicas vozes Quando recordamos informações associadas a nossas sensações e movimentos relacionados a nosso corpo estamos utilizando nosso sistema cinético como por exemplo quando lembramos do nosso sentimento ao ouvirmos determinada canção Utilizamos esse sistema também quando necessitamos recordar movimentos ou quando realizamos esses movimentos automaticamente como quando andamos de bicicleta ou digitamos algo no computador Figura 1 A utilização de recursos de ensino usando o sistemas visual e auditivo A maioria de nós utiliza os sistemas de representação de maneira desigual potencializando uns e subutilizando outros E por que isso acontece Primeiro porque os sistemas de representação se desenvolvem de acordo com sua frequência de uso segundo porque eles têm características próprias Sistema de representação visual Este sistema nos possibilita apreender a mensagem através de imagens o que facilita a absorção de um grande volume de informação com rapidez Visualizar ajuda a estabelecer relações mais facilmente entre diferentes ideias e conceitos Este sistema é acionado quando por exemplo assistimos a uma aula na qual o professor faz apresentação de mapas figuras esquemas Sistema de representação auditivo Este sistema permite a apreensão de informações através de sons como quando ouvimos explicações ou mesmo quando fornecemos informações a outras pessoas Ouvir o som da própria voz pode ser um mecanismo eficaz para internalizar a informação Este sistema não Aula 9 Psicologia da Educação 144 A partir do maior desenvolvimento de um desses sistemas vamos desenvolver características no nosso estilo de aprendizagem que estará em consonância com esse desenvolvimento Assim se desenvolvemos mais o sistema de representação visual vamos aprender melhor quando visualizamos a explanação uma vez que será complicado apenas ouvir Se por outro lado o nosso sistema de representação auditivo é o mais desenvolvido vamos aprender mais facilmente o que ouvimos e mesmo quando estudamos sozinhos costumamos ler em voz alta para fixarmos a matéria na memória auditiva Mas se temos o sistema de representação cinética mais desenvolvido precisaremos experimentar fazer tocar para aprendermos com mais eficácia A tabela a seguir nos mostra esses estilos de aprendizagem de maneira mais detalhada é muito eficaz para lidar com conceitos mas é fundamental na aprendizagem de idiomas e de músicas por exemplo Sistema de representação cinético Este sistema atua quando associamos a informação a movimentos do nosso corpo ou à percepção do que nos ocorre internamente É o mecanismo que atua naturalmente quando aprendemos um esporte por exemplo ou quando automatizamos um comportamento de modo a poder executálo sem que pensemos como o estamos fazendo Mesmo sendo um sistema de aprendizagem mais lenta esta é muito mais duradoura e profunda do que a proveniente dos demais sistemas Podemos esquecer facilmente uma lista de palavras que visualizamos ou ouvimos mas nunca esquecemos por exemplo como andar de bicicleta Figura 2 O uso de computadores no ensino pode mobilizar os três sistemas de representação Aula 9 Psicologia da Educação 145 Tabela 1 Estilos de aprendizagem baseados nos sistemas de representação Visual Auditivo Cinético Conduta Organizado ordenado e tranquilo Preocupado com seu aspecto Voz aguda e queixo empinado As emoções se vêem na cara Distraise mesmo sozinho Move os lábios ao ler Tem facilidade com as palavras Sem preocupações com o aspecto físico Monopoliza a conversa Gosta de música Expressa verbalmente suas emoções Responde às manifestações físicas de carinho Gosta de tocar em tudo Movese e gesticula muito Fala alto Expressa suas emoções com movimentos Aprendizagem Aprende o que vê Necessita de visão detalhada e de saber para onde vai Aprende o que ouve geralmente repetindo para si mesmo todo o processo Perdese ao esquecer de um passo Não tem uma visão global Aprende com o que toca e com o que faz Necessita estar pessoalmente envolvido em alguma atividade Leitura Gosta das descrições As vezes fica com o olhar perdido imaginando um cenário Gosta dos diálogos e das obras de teatro Evita as descrições longas Move os lábios e não se fixa nas ilustrações Gosta das histórias de ação Movimentase ao ler Não é um grande leitor Ortografia Não comete erros Vê as palavras antes de escrevêlas Comete erros Fala as palavras e as escreve de acordo com o som Comete erros Escreve as palavras e testa se estão adequadas Memória Recorda o que vê por exemplo os rostos mas não os nomes Recorda o que ouve por exemplo os nomes mas não os rostos Recorda o que fez ou a impressão geral que isso lhe causou mas não os detalhes Imaginação Pensa em imagens Visualiza de maneira detalhada Pensa em sons Não recorda os detalhes As imagens são poucas e pouco detalhadas sempre em movimento Armazenamento da informação Rapidamente e em qualquer ordem De maneira sequenciada e por blocos Perdese se indagado por aspectos isolados ou fora da ordem das perguntas Mediante a memória muscular Comunicação Impacientase quando tem que escutar durante muito tempo Gosta de escutar mas tem que falar sempre Faz longas e repetidas descrições Gesticula ao falar Não escuta bem a fala do outro Extraída de httpwwwgaleoncomaprenderaaprendervakvakcomporthtm Atividade 3 1 2 Aula 9 Psicologia da Educação 146 A partir das informações contidas na Tabela 1 identifique em você o seu estilo de aprendizagem predominante visual auditivo ou cinético Por quê Converse com seu grupo e veja se é possível identificar os estilos de aprendizagem dos componentes Em seguida tente elaborar planos de aulas de uma disciplina a sua escolha que atendam à especificidade de cada um dos estilos estudados Aula 9 Psicologia da Educação 147 Seleção organização e utilização da informação O modo como as pessoas selecionam as informações as organizam e as utilizam transformandoas em conhecimento também varia de acordo com algumas características pessoais criando tipologias que podem ser muito úteis para a maneira como o professor planeja suas atividades de ensino A seguir apresentamos dois modelos Modelo de Kolb Este modelo classifica os estudantes a partir de dois parâmetros a a aquisição da informação que pode se dar na forma de uma experiência concreta ou de uma conceitualização abstrata e b a internalização da informação que pode se dar como uma experimentação ativa ou observação reflexiva Disso resultariam os tipos de aprendizes que seguem a Tipo 1 Concreto reflexivo Uma pergunta característica deste tipo é Por que Eles respondem bem a explanações sobre temas relacionados a suas experiências seus interesses sua carreira O professor deve ter função de motivador estimulando os alunos a buscarem respostas para suas indagações b Tipo 2 Abstrato e reflexivo Uma pergunta característica deste tipo é O que Eles respondem bem a apresentações organizadas e lógicas e se beneficiam delas quando têm tempo para reflexões O professor deve ter o papel do expert aquele que provê o aluno de informações atualizadas que lhe permitam as reflexões c Tipo 3 Abstrato e ativo Uma pergunta característica deste tipo é Como Eles precisam ter oportunidades de trabalhar ativamente em tarefas bem definidas e aprendem por ensaio e erro em condições que lhes permitam errar mas com suporte O professor deve atuar como um treinador guiando e dando feedbacks d Tipo 4 Concreto e ativo Uma pergunta característica deste tipo é E se Eles gostam de aplicar o conhecimento em novas situações que lhes permitam a resolução de problemas reais O professor deve atuar deixando livre o caminho para maximizar as oportunidades dos alunos permitindo que descubram coisas por eles mesmos Feedback Apesar de ser um termo do idioma inglês feedback é uma palavra que já aparece nos dicionários da língua portuguesa Um dos seus sentidos é o que está sendo usado aqui o de realimentação Aula 9 Psicologia da Educação 148 Figura 3 Alguns alunos aprendem melhor quando trabalham com modelos como esses da Química Modelo de FelderSilverman Este modelo classifica os estudantes como a sensoriais concretos práticos orientados para fatos e procedimentos e intuitivos conceituais inovadores orientados para teorias e significados b visuais preferem representações visuais diagramas fotos gráficos e verbais preferem explanações escritas ou faladas c indutivos preferem as apresentações que partem do específico para o geral e dedutivos preferem apresentações que partem do geral para o específico d ativos aprendem experimentando ou trabalhando com os outros e reflexivos aprendem pensando trabalham sozinhos e sequenciais lineares ordenados aprendem por etapas e holísticos pensamentos sistêmicos globais aprendem por círculos Aula 9 Psicologia da Educação 149 Importância dos estilos de aprendizagem C onhecer os estilos de aprendizagem dos alunos pode ser de grande auxílio ao professor na hora de planejar suas disciplinas pois ao considerar que as pessoas aprendem de maneiras diferentes a sua preocupação em conhecer os diversos estilos significa não estabelecer uma aula padrão com atividades iguais para todos Estratégias de aprendizagem Estratégias de aprendizagem podem ser definidas como sequências de procedimentos ou atividades que se escolhem com o propósito de facilitar a aquisição o armazenamento eou a utilização da informação Podem ser consideradas como qualquer procedimento adotado para a realização de uma determinada tarefa são conscientes e intencionais Essas estratégias podem ainda ser cognitivas ou metacognitivas As primeiras referem se a comportamentos e pensamentos que influenciam o processo de aprendizagem de maneira que a informação possa ser armazenada com mais eficiência Elas auxiliam a retenção e a utilização de novos conhecimentos sua associação com conhecimentos prévios o desenvolvimento e a reconstrução desses novos conhecimentos bem como sua transferência para outros usos situações e contextos Um exemplo seriam as estratégias mnemônicas aquelas que otimizam a retenção do conhecimento cujo princípio consiste basicamente em estabelecer associações criativas entre as informações a serem memorizadas Por exemplo quando associamos nomes que temos dificuldade de recordar com nomes semelhantes do nosso cotidiano As estratégias metacognitivas são procedimentos que o indivíduo adota para planejar monitorar e regular o seu próprio pensamento A metacognição é em termos simples a consciência dos processos mentais que empregamos em um processo de aprendizagem a capacidade de identificar as estratégias que utilizamos para promover uma aprendizagem mais duradoura e que leve a resultados mais eficazes A consciência dessas estratégias e seu uso são essenciais para a utilização eficaz das estratégias cognitivas como também para orientar e avaliar nosso progresso em relação aos objetivos traçados Quando nos deparamos com jogos como xadrez War ou outros jogos de estratégia e desafio nos sentimos em um primeiro momento sem saber o que fazer Mas em seguida começamos a experimentar estratégias que já utilizamos antes e passamos a proválas para ver a sua adequação e eficácia nessa nova situação Selecionamos então aquelas que funcionam e passamos a utilizálas para vencer o desafio Esse processo de pensar sobre como pensar é um processo metacognitivo Atividade 4 Aula 9 Psicologia da Educação 150 Os autores identificam cinco tipos de estratégias de aprendizagem 1 estratégias de ensaio quando repetimos o que queremos aprender verbalmente ou através da escrita 2 estratégias de elaboração quando criamos relações entre o que já sabemos sobre o assunto e as novas informações criando analogias fazendo resumos elaborando perguntas 3 estratégias de organização quando colocamos ordem na estrutura do material a ser estudado fazendo diagramas mapas estabelecendo tópicos prioritários 4 estratégias de monitoramento da compreensão quando tomamos consciência do grau de compreensão do material percebendo o que foi compreendido e o que não foi estabelecendo novas estratégias e questionamentos 5 estratégias afetivas quando mantemos a motivação controlamos a ansiedade e a frustração mantemos também a atenção e o desempenho adequadamente Retome os seus procedimentos descritos na atividade 1 e compareos com esses cinco tipos de estratégias descritos pelos autores Como você as identifica Importância das estratégias de aprendizagem Em educação a distância como sabemos um dos pontos mais importantes para o êxito no desempenho e no aprendizado é a capacidade do aluno de organizarse para o estudo A otimização do tempo disponível a organização do espaço a estruturação do conteúdo a ser estudado são aspectos fundamentais para um bom resultado Tais aspectos sendo fundamentais em cursos a distância não são menos importantes em cursos presenciais Fornecer instrumentos que ajudem nossos alunos a estabelecer suas estratégias respeitando o estilo de aprendizagem de cada um deve ser papel de um bom professor Resumo 1 2 3 4 Aula 9 Psicologia da Educação 151 Autoavaliação Quais os sistemas de representação mental da informação Compare os sistemas de representação com os estilos de aprendizagem Qual a diferença entre estilo e estratégia de aprendizagem Qual a importância de conhecer o estilo de aprendizagem dos nossos alunos Referências BORDENAVE J E Estratégias de ensinoaprendizagem Rio de Janeiro Editora Vozes1993 JOLY MC R A SANTOS A A A SISTO F F Orgs O aluno universitário e suas questões São Paulo Editora Casa do Psicólogo 2005 POZO J I MONEREO C CASTELLÓ M O uso estratégico do conhecimento In Desenvolvimento psicológico e educação 2 psicologia da educação escolar Porto Alegre Artmed 2004 p 145 Nesta aula vimos as características de aprendizagem individuais do sujeito adulto e como para ter mais êxito no aprendizado ele pode se organizar Entendemos assim que uma boa prática do professor é conceber seus alunos como seres individuais com características próprias não sendo portanto conveniente organizar planos de aula que não levem em conta essas características Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 152 Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 153 Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 154 10 Aula A dinâmica dos grupos e o processo grupal Receipt License No 0341811 County JOHNSON Vehicle Ident No WBAAA8102N0278474 License Tax 19700 Interest 000 Penalty 000 Totals 19700 Date 12391 Name Address Elizabeth City Fire Department 604 Medical Arts Dr Elizabethton TN 37643 Receipt No 0111000705 Johnson County Tax AssessorCollector Received License Tax Department of Motor Vehicles Tw Dallas Texas I certify that the described motor vehicle has been registered in my name and the license tax paid ABOVE THIS LINE State of Texas 1992 License Tax Receipt 1 2 3 4 5 Aula 10 Psicologia da Educação 157 Apresentação A té agora discutimos a forma como a Psicologia estuda e descreve o indivíduo Mesmo quando apresentamos e defendemos uma abordagem que trata desse indivíduo como um ser sóciohistórico é sempre do indivíduo que estamos falando A partir desta aula vamos começar a discutir um conjunto de temas que analisa o comportamento das pessoas na sua vida em grupos Iniciaremos então conceituando os grupos sociais como eles se constituem e qual a sua dinâmica Objetivos Conhecer os conceitos de instituição de organização e de grupo Distinguir os tipos de grupos Distinguir os fenômenos que ocorrem na dinâmica de um grupo Conhecer os grupos operativos Conhecer algumas técnicas de trabalho em grupo para uso em sala de aula Aula 10 Psicologia da Educação 158 Os estudos iniciais P assamos a maior parte das nossas vidas convivendo em grupos Seja a nossa família seja o grupo de amigos seja a turma do trabalho estamos sempre compartilhando nosso cotidiano com outras pessoas Já em 1919 um estudioso chamado Trotter 19191953 definia o instinto gregário como um dos quatro instintos básicos do homem sendo os outros o instinto de autopreservação o instinto de nutrição e o instinto sexual O instinto gregário seria aquele que nos faria procurar sempre viver em grupos como uma forma conforme explicação darwiniana de tornarmonos mais resistentes à seleção natural Para a Psicologia o estudo dos grupos é um dos seus temas fundamentais ao ponto de existir um ramo chamado Psicologia Social A preocupação da Psicologia com o estudo dos grupos começa com os estudos da chamada Psicologia das Massas que tentava compreender fenômenos coletivos Na verdade o início dessas preocupações ocorreu quando os psicólogos ao se debruçarem sobre a Revolução Francesa se perguntavam como era possível uma multidão de pessoas ser levada por um líder a comportamentos que muitas vezes colocavam em risco as suas próprias vidas E assim buscavam saber que fenômeno era aquele capaz de possibilitar a um enorme grupo agir com tamanha coesão Figura 1 A tomada da Bastilha marco da Revolução Francesa A referência clássica para essa discussão é o francês Gustave Le Bon 18411931 que publicou em 1895 um livro chamado Psicologia das Massas o qual é reeditado até os dias atuais Para Le Bom havia uma ruptura profunda entre o fenômeno individual e o fenômeno coletivo ao ponto de se poder falar de uma psicologia das multidões e de uma psicologia do indivíduo A multidão é apresentada como uma espécie de ser unitário provido de características psicológicas próprias de modo que os indivíduos que a compõem perdem suas características pessoais sua autonomia e passam a agir como uma espécie de psiquismo coletivo muitas vezes com comportamentos que o sujeito quando fora da multidão jamais teria Há pois a perda da individualidade e a formação de um novo todo que não é a soma das partes Para Le Bom isso se daria por três fatores o sentimento de poder o contágio mental e a sugestibilidade Aula 10 Psicologia da Educação 159 Figura 2 As manifestações nazistas objeto de estudo da Psicologia das Massas Freud também preocupouse em estudar a questão dos grupos a partir das idéias de Le Bon Em seu livro A Psicologia das Massas e a análise do Eu 1973 ele propõe que as massas também não podem ser pensadas como tendo uma forma única Existiriam então as multidões efêmeras e as mais duradouras as homogêneas formadas por indivíduos semelhantes e as não homogêneas as primitivas e aquelas que possuem um alto grau de organização que ele chama massas artificiais Hoje conhecemos esses grupamentos organizados e estruturados como instituições como veremos a seguir Para Freud não haveria uma mente grupal ou um psiquismo coletivo como propunha Le Bon Todos os comportamentos individuais dentro de uma multidão poderiam ser compreendidos a partir do psiquismo dos indivíduos na medida em que os processos mentais se articulam desde cedo com a dimensão social da existência As vinculações se dariam em dois eixos um vertical no qual os indivíduos se ligariam aos líderes que encarnariam a figura primordial do chefe da tribo e um eixo horizontal no qual haveria uma ligação dos membros uns com os outros de modo que os indivíduos imersos em uma multidão se sentiriam mais desenvoltos para assumir riscos Exemplos de atuações de massas podem ser observados historicamente como o Nazifascismo mas também na vida cotidiana como as torcidas organizadas em estádios de futebol ou mesmo protestos radicais como as manifestações de quebraquebra em transportes coletivos Atividade 1 Aula 10 Psicologia da Educação 160 As instituições as organizações e os grupos R etomemos agora a questão inicial nossa vida cotidiana é marcada pela vida em grupo Para que possamos viver em grupo são necessárias certas regras combinações e acertos Tomemos como exemplo a rotina do nosso trabalho Saímos de casa em uma determinada hora e vamos a um ponto de ônibus Sabemos que este passará em uma certa hora que nos permitirá estar no trabalho na hora precisa Para que isso aconteça ou seja para Procure recordar se você já participou de manifestações de massa Se você não vivenciou manifestações desse tipo seguramente já assistiu a algumma nos jornais de TV ou em filmes Descreva essa situação a seguir relatando quais foram os seus sentimentos nesse momento Aula 10 Psicologia da Educação 161 que nós tenhamos a tranquilidade de esperar o ônibus sabendo que ele virá foram necessários alguns acertos e combinações que no caso ocorreram sem que nós precisássemos intervir Chegando ao trabalho esperamos encontrar a porta aberta e o espaço organizado para que iniciemos nossas tarefas Sabemos também que vamos encontrar os nossos colegas Todos esses eventos acontecem a partir desses acertos implícitos dessa regularidade dessas normas os quais nos permitem conviver em grupo A isso chamamos institucionalização ou seja o estabelecimento de regularidades comportamentais que possibilitam o viver coletivo A institucionalização começa como um processo em que as pessoas vão aos poucos descobrindo qual a melhor forma a mais rápida a mais econômica de desempenhar suas tarefas Quando essa forma se repete muitas vezes tornase um hábito Com o passar do tempo com a transferência desse hábito para as gerações seguintes começa a haver uma tradição que não exige mais questionamentos e então impõese por ser uma herança dos antepassados Depois de muitas gerações passamos a não nos dar conta do por que continuamos a fazer daquela forma perdemos a referência de que a herdamos de nossos antepassados Nesse momento dizemos que a regra social foi institucionalizada A instituição é pois um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade que serve como guia básico de comportamento e padrão ético para as pessoas em geral é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais BOCK 1999 p 217 Esse conjunto de regras e valores concretizase na sociedade em uma instância chamada organização A organização pode ser complexa como as empresas ou mais simples como um pequeno estabelecimento uma entidade não governamental De todas as maneiras é onde vão se manter e reproduzir as instituições sociais ou seja é na organização que vamos dar vida ao conjunto de regras que estabelecemos para a convivência em grupo Assim tanto as instituições quanto as organizações somente existem em função de um conjunto de pessoas que reproduzem e às vezes reformulam as regras e os valores o grupo Os autores definem grupo como sendo uma unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si e compartilham normas e objetivos Figura 3 Os grupos de idosos Atividade 2 Aula 10 Psicologia da Educação 162 Tipos de grupos O s grupos podem ser classificados como primários ou secundários Os grupos primários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades básicas da pessoa e a formação de sua identidade Caracterizamse por fortes vínculos afetivos interpessoais e uma hierarquização de poder Um exemplo pode ser o grupo familiar Os grupos secundários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades sistêmicas ou de interesses de grandes grupos e classes Sua identidade é construída pelo papel social que o indivíduo desempenha e o poder está centrado na capacidade e na ocupação social dos seus membros Um exemplo de grupo funcional pode ser o grêmio estudantil ou os conselhos de classe de uma escola Assim um conceitosíntese de grupo pode ser o proposto por MartínBaró uma estrutura de vínculos e relações entre pessoas que canaliza em cada circunstância suas necessidades individuais eou interesses coletivos citado por MARTINS 2003 p 204 Vamos tentar fazer a diferenciação entre institucionalização e organização Tome como referência alguma organização que você conheça Cite essa organização e liste alguns procedimentos institucionalizados que nela ocorrem Aula 10 Psicologia da Educação 163 A dinâmica dos grupos U m grupo é um todo dinâmico Apesar de ser um conjunto de pessoas não é simplesmente a soma dos participantes o que significa que qualquer mudança que ocorra em um dos participantes vai interferir no estado do grupo como um todo E por estarmos sempre mudando é que o grupo é dinâmico Quando um grupo se estabelece uma série de fenômenos passa a atuar sobre as pessoas individualmente e consequentemente sobre o grupo É o chamado processo grupal Vamos destacar alguns desses fenômenos 1 Coesão significa o resultado da aderência do indivíduo ao grupo a fidelidade aos seus objetivos e a unidade nas suas ações Todo grupo só consegue sobreviver se mantiver uma atração entre seus membros assim fazse necessário uma certa pressão entre os membros para que nele permaneçam Um grupo de acordo com suas características pode apresentar uma maior ou menor coesão Uma maior coesão geralmente é obtida quando o grupo observa que as finalidades estão sendo cumpridas e os resultados estão sendo obtidos Quanto maior a coesão maior a satisfação dos membros e maior a produtividade Isso pode ser claramente observado em um time de futebol Quanto mais ele se reveste do sentimento de equipe melhores são os resultados obtidos E vice versa quanto melhores os resultados mas aumenta a coesão do time 2 Padrões grupais são as expectativas de comportamentos partilhados por parte dos membros do grupo Esses padrões ou normas de comportamento são estabelecidos com a especificação de atitudes ou comportamentos desejáveis por parte dos membros A partir disso estabelecese uma fiscalização por parte do grupo quanto ao cumprimento dessas normas aplicandose sanções aos que não as cumprem Esses padrões muitas vezes não são explicitados mas esperase que o indivíduo ao ingressar no grupo os perceba Por exemplo não é necessário ressaltar para um membro de um grupo de jovens católico que ele deve comparecer à missa pois isso está implícito 3 Motivações individuais e objetivos do grupo são os elementos que estão relacionados com a escolha que cada indivíduo faz quando decide participar de um grupo e são importantes para garantir a adesão Uma pessoa geralmente escolhe participar de um grupo a partir de suas motivações pessoais sejam motivações referentes aos objetivos do grupo sejam atrações exercidas por membros daquele grupo É importante observar as respostas que o grupo dá a essas manifestações individuais as quais até podem ser admitidas desde que não interfiram nos objetivos centrais do grupo que sempre prevalecerão Quanto mais o grupo zela pela sua coesão menos manifestações individuais serão toleradas Uma manifestação individual que atente contra os objetivos do grupo serão punidas com a exclusão daquele membro Atividade 3 Aula 10 Psicologia da Educação 164 4 Liderança A habilidade do líder para motivar e influenciar o grupo produz efeitos na atmosfera deste O grupo pode desenvolverse em um clima democrático autoritário ou relaxado dependendo da vocação do grupo e de lideranças que viabilizem essa vocação Assim por exemplo um grupo cujos membros acreditam que a melhor forma de organizar as relações é a autoritária vai necessitar de um líder autoritário que por sua vez reforçará a atmosfera autoritária dentro do grupo Um dos grandes estudiosos da questão da liderança foi Kurt Lewin 18901974 Para ele os grupos democráticos tinham mais eficiência a longo prazo enquanto os autoritários tinham uma eficiência imediata Como as decisões são centralizadas na figura do líder os membros somente funcionam a partir de sua demanda e são geralmente cumpridores de tarefas Já os grupos democráticos exigem maior participação de seus membros que dividem as responsabilidades com a liderança Isso torna a realização dos objetivos mais demorada entretanto mais duradoura Figura 4 Os grupos de trabalho funcionam com dinâmicas própria Provavelmente você faça parte de algum grupo Se não converse com alguém que esteja vinculado a algum Analise sua própria participação ou a de outra pessoa e anote a seguir a avaliação que você fez do grupo com relação aos quatro itens descritos anteriormente Aula 10 Psicologia da Educação 165 Os grupos operativos e a teoria do vínculo de PichonRivière O psiquiatra suíçoargentino Pichon Rivière 19071977 foi também um estudioso dos grupos Ele desenvolveu uma nova abordagem que resultou nos chamados grupos operativos Para ele o grupo é um conjunto restrito de pessoas que ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna propõe se explícita ou implicitamente a uma tarefa que constitui sua finalidade No entanto não basta que haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa é preciso que essas pessoas façam parte de uma estrutura dinâmica chamada vínculo Por exemplo as pessoas que estão em uma sala de espera de um cinema estão reunidas no mesmo espaço durante o mesmo tempo com o mesmo objetivo mas não se constituem em um grupo Há a necessidade de se vincularem e interagirem na busca de um objetivo comum por isso os princípios organizadores do grupo são o vínculo e a tarefa A teoria do vínculo portanto parte do pressuposto de que o homem se revela e se estrutura por meio da ação ou seja do desempenho de papéis e do estabelecimento de vínculos Figura 5 Pichon Rivière Para Pichon Rivière vínculo é a maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento PICHÓNRIVIÉRE 1998 p 3 É assim uma estrutura dinâmica movida por motivações psicológicas que rege todas as relações humanas Identificamos se o vínculo foi estabelecido quando n Somos internalizados pelo outro e a internalizamos também n Ocorre uma mútua representação interna n A indiferença e o esquecimento deixam de existir na relação passamos a pensar a falar a nos referir a lembrar a nos identificar a refletir a nos interessar a nos complementar a nos irritar a competir a discordar a invejar a admirar a sonhar com o outro ou com o grupo Aula 10 Psicologia da Educação 166 Tarefa outro princípio organizador de grupo é um conceito que diz respeito ao modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir de suas próprias necessidades Necessidades que para PichonRivière constituemse em um pólo norteador de conduta o processo de compartilhar necessidades em torno de objetivos comuns constitui a tarefa grupal Nesse processo emergem obstáculos de diversas naturezas diferenças e necessidades pessoais e transferenciais diferenças de conceitos e marcos referenciais e do conhecimento formal propriamente dito Num primeiro momento do funcionamento do grupo há um bloqueio da atividade grupal em função das fantasias básicas universais do grupo as quais induzem à utilização de posturas defensivas que dificultam as mudanças de opinião Nos momentos iniciais quando o grupo parte para a execução da tarefa é necessário que as ansiedades sejam explicitadas e resolvidas para a partir daí ocorrer a identificação e o estabelecimento do vínculo configurandose a relação grupal Para Pichon Rivière um grupo opera melhor quando há em seu conjunto de pessoas pertinência afiliação centramento na tarefa empatia comunicação cooperação e aprendizagem A pertinência pode ser vista como a qualidade da intervenção de cada um no grupo a afiliação é a intensidade do envolvimento do indivíduo no grupo o centramento na tarefa é o eixo principal da cooperação referese ao grau de interação com que um participante mantém o vínculo com o trabalho a ser efetuado e avalia a dispersão e a realização de esforço útil do indivíduo a empatia é o modo como o grupo pode ganhar força para operar cada vez mais significativamente a comunicação é essencial para que haja entrosamento a cooperação é o modo pelo qual o trabalho ganha qualidade e operatividade a aprendizagem é o resultado do trabalho e deve ser essencialmente colaborativa A teoria do vínculo aplicada ao contexto do ensino propõe a quebra da polaridade professor aluno Ela introduz um terceiro elemento que deve ser considerado O sujeito e o outro em interação se dão conta de que há um mundo inteiro em cada um em interação contínua que atinge também o nível inconsciente produzindo imagens ilusórias e ansiedades que necessitam de testes de realidade para a sua elaboração As dúvidas são compartilhadas e uma representação comum é construída criando condições para a solução surgir Por exemplo quando conheço alguém me vem à lembrança outras pessoas que conheci nas mesmas circunstâncias Assim no encontro entre duas pessoas sempre há um terceiro que é esse outro que conheci o qual mesmo não estando presente fisicamente está na lembrança E essa lembrança pode ser perturbadora o suficiente para gerar na pessoa fantasias e ansiedades com relação a quem ela está encontrando agora Posso imaginar que aquele tipo de olhar que vejo em quem encontro agora me recordando o olhar daquele outro é um olhar de hostilidade e com isso fico ansioso Mas imediatamente depois me dou conta de que essa pessoa de agora não é a mesma que conheci ou seja executo testes de realidade não tendo por que ter ansiedade Se compartilho esses meus sentimentos com o outro e ele por sua vez compartilha comigo as suas ansiedades criamos uma representação comum que estimula o vínculo Na aprendizagem centrada no estudante os conceitos de papel e vínculo se entrecruzam e por isso é importante abordar tanto a estrutura do vínculo como os diversos papéis os quais Aula 10 Psicologia da Educação 167 professor e aprendizes se atribuem O papel é decisivo na situação do vínculo é transitório e possui uma função determinada que pode aparecer de forma específica e particular em uma determinada situação e em cada pessoa Observandose como opera um grupo ao resolver uma determinada tarefa de aprendizagem é possível compreender que se trata de um grupo operativo centrado na tarefa de dominar o problema e dar a ele uma solução Técnicas de trabalho em grupo C ompreender o funcionamento de um grupo também pode ser importante para a realização de dinâmicas em sala de aula Certas técnicas também chamadas de dinâmicas de grupo são muitas vezes utilizadas para possibilitar a organização e a criatividade na produção do conhecimento Elas podem gerar um processo de aprendizagem mais coletivo e mais rico Inúmeras são essas técnicas e vários são os manuais são alguns deles Facilitando o trabalho com grupos de Eliane Poranga Costa Editora Wak 2003 Intervenções grupais na Educação organizado por Stela Regina de Souza Fava Editora Ágora 2005 Exercícios práticos de dinâmica de grupo de Silvio José Fritzen Editora Vozes 2001 que as descrevem no entanto sempre que o professor optar por uma deve considerar alguns elementos os quais descreveremos a seguir 1 Objetivos o professor deve ter clareza sobre o que quer com a técnica e deve pensála respeitando esses objetivos 2 Ambiente o espaço onde se desenvolverá a técnica deve ser adequado e pensado de modo a não inibir os participantes Algumas técnicas podem ser percebidas como constrangedoras por isso devem ser pensadas para serem executadas em ambientes fechados por exemplo 3 Duração as técnicas devem ser pensadas com tempo determinado para seu início e fim 4 Número de participantes estar atento a quantas pessoas participarão é fundamental para pensar a técnica mais adequada e para providenciar os materiais necessários 5 Materiais os recursos necessários ao desenvolvimento da técnica podem ser os mais variados desde o papel lápis tinta som até equipamentos mais complexos como projetores multimídia filmadoras iluminação etc 6 Perguntas e conclusões o momento da síntese do que foi produzido permite resgatar a experiência e os sentimentos de cada um bem como chegar a conclusões sobre o tema discutido Aula 10 Psicologia da Educação 168 As técnicas de grupo podem servir para desinibir e diminuir a tensão da turma para apresentação dos participantes para integração do grupo para capacitação e comunicação A quantidade de técnicas já descritas é muito grande e vários são os manuais que as descrevem A seguir vamos apresentar exemplos de algumas técnicas 1 Técnica do método científi co a Apresentação do tema em uma palavra b Divisão do quadro em partes iguais com perguntas do tipo n O que queremos saber n O que pensamos n O que concluímos c Apresentação e fixação no quadro de giz das questões chaves já preparadas anteriormente sobre o que queremos saber d Oralmente os participantes vão respondendo à segunda questão o que pensamos e o professor as anota sinteticamente no quadro e Fazse a leitura de textos para comparar com as respostas dadas f Oralmente os participantes vão respondendo à terceira questão o que concluímos e o professor anota as conclusões no quadro de forma sintética g Cada participante deverá registrar as conclusões finais e guardálas consigo para posteriores consultas 2 Painel de Três a Dividir o grupo em três subgrupos apresentador opositor e assembléia b O grupo apresentador expõe o tema sem ser interrompido c O grupo opositor anota aquilo com que não concorda e aquilo com que concorda e após o apresentador expõe suas anotações d A assembléia que tudo ouviu e anotou apresenta seu depoimento e O professor conclui Os textos finais devem então ser afixados no quadro Atividade 4 Aula 10 Psicologia da Educação 169 3 Brainstorm ou tempestade cerebral a Propõese um tema para discussão b Solicitase aos participantes que exponham todas as idéias mesmo as aparentemente mais descabidas e absurdas sobre o tema As idéias devem ser expostas rapidamente sem nenhuma censura c O professor vai registrando no quadro todas as idéias que foram apresentadas sem nenhum juízo crítico e estimula sugestões de outras novas ou associados com alguma já apresentada até que a turma sinta que não há mais nada a ser falado d O professor convida a turma para fazer a seleção a eliminação ou o aperfeiçoamento das idéias até que se chegue a um conjunto de idéias adequado ao tema proposto Essas são como dissemos apenas alguns exemplos de técnicas de grupo Você pode e deve criar a sua de acordo com as necessidades de sua aula Vamos experimentar Vamos imaginar que você está com dificuldades de fazer sua turma avançar de um conceito do senso comum para o conceito científico Somente sua explicação em sala de aula não está sendo suficiente Nesse caso que tipo de técnica de grupo você poderia propor à turma Expliquea a seguir Resumo 1 2 3 4 5 Aula 10 Psicologia da Educação 170 Autoavaliação Analise uma escola como uma organização e destaque o que você pode observar de comportamentos institucionalizados que nela ocorrem Identifique e descreva grupos que podem ocorrer em uma escola Descreva os fenômenos que ocorrem na dinâmica de um grupo O que é a teoria do vínculo O que caracteriza o grupo operativo Nesta aula discutimos como surge a preocupação da Psicologia com o estudo de manifestações coletivas resultando no que se conhece hoje como Psicologia Social Vimos os conceitos de instituição de organização e de grupo e analisamos a dinâmica envolvida nesse último Destacamos a teoria do vínculo e os grupos operativos e por fim apresentamos algumas técnicas das chamadas dinâmicas de grupo Aula 10 Psicologia da Educação 171 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Saraiva 1999 FREUD S Psicologia de lãs masas y analisis del yo Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo III Obras completas LANE S T O processo grupal In LANE S T CODO W Orgs Psicologia social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1984 p 1898 LEWIN K Problemas de dinâmica de grupo São Paulo Cultrix 1978 MARTINS Sueli Terezinha Ferreira Processo grupal e a questão do poder em MartínBaró Psicol Soc Porto Alegre v15 n1 janjun 2003 Disponível em httpwwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS010271822003000100011lngptnrmisotlngpt Acesso em 02 ago 2007 PICHÓNRIVIÉRE Enrique Teoria do vínculo São Paulo Martins Fontes 1998 Anotações Aula 10 Psicologia da Educação 172 1 2 3 4 Aula 11 Psicologia da Educação 175 Apresentação N esta aula vamos discutir um tipo de grupo social que é reconhecido como o guardião dos processos de desenvolvimento psíquico a família Observaremos a sua importância na formação do indivíduo e como se constitui em primeiro espaço de socialização deste Objetivos Conhecer como se forma historicamente o conceito de família Reconhecer as funções do grupo familiar Identificar a dinâmica interna das famílias Discutir as situações de violência que podem ocorrer no âmbito familiar Atividade 1 Aula 11 Psicologia da Educação 176 O que é a família N a disciplina Educação e Realidade você já discutiu sobre a família na aula 13 O aluno Viu que o grupo familiar se caracteriza por compartilhar espaço de moradia pela divisão de tarefas pelas trocas afetivas por compartilhar os hábitos os bens culturais e as tradições mas exatamente qual seria o papel da família na estruturação psíquica das pessoas Quando nos debruçamos sobre essa questão observamos que a estrutura do grupo familiar tem mudado muito com o tempo Assim de que família estamos falando Temos ouvido falar nos últimos tempos que a família está se desintegrando que é preciso resgatar os valores familiares que sem a família a sociedade se desorganiza E nesse sentido a pergunta nos volta qual família O que é nos dias de hoje a família Vamos começar refletindo sobre a seguinte questão para você o que é uma família Muito provavelmente você respondeu que é um grupo social composto de pai mãe e filhos Entretanto também poderá ter observado que hoje temos casais separados que tornam a se casar e têm filhos desses novos casamentos configurando com isso uma nova organização familiar Você também deve conhecer situações de casais do mesmo sexo que adotaram crianças o que é uma outra forma de família Por outro lado poderíamos ainda pensar em como era a estrutura familiar em épocas mais remotas Será que outras formas de organização diferentes da convencional e almejada tríade paimãefilhos estão se configurando somente agora e será que isso levará necessariamente à desintegração da sociedade Atividade 2 Aula 11 Psicologia da Educação 177 Vamos pensar um pouco sobre essa questão de famílias alternativas ou seja fora dos padrões estabelecidos pela sociedade A esse respeito apresente e justifique a sua opinião sobre a adoção de crianças por um casal homossexual Friedrich Engels 18201895 no seu livro A origem da família da propriedade privada e do estado descreve as pesquisas do antropólogo americano L H Morgan que demonstram a existência desde os primórdios da humanidade de variadas formas de organização familiar 1 A família consanguínea na qual era possível o casamento entre irmãos e irmãs carnais e entre pais e filhos 2 A família punaluana na qual havia os casamentos grupais ou seja grupos de homens têm mulheres em comum os quais podem ser irmãos ou irmãs 3 A família sindiásmica em que havia o casamento entre casais mas sem a obrigação de conviverem num mesmo espaço e com vínculos flexíveis de modo que poderia ser desfeito de acordo com o desejo de qualquer uma das partes 4 A família patriarcal caracterizada pelo casamento de um só homem com diversas mulheres 5 A família monogâmica caracterizada pelo casamento entre duas pessoas mas com a obrigação de coabitação exclusiva Aula 11 Psicologia da Educação 178 Para Engels o surgimento do patriarcalismo e da monogamia é fundamentalmente consequência do surgimento da propriedade privada Com o surgimento do costume do cercamento e da delimitação das terras adotadas pelos homens vitoriosos em combates e guerras os homens passaram a exigir fidelidade sexual das mulheres porque não aceitavam ter de legar os seus bens obtidos com sangue e pela exploração do próximo a um descendente que não fosse seu filho legítimo do seu próprio sangue A idéia de propriedade introduz pois essa nova forma de organização familiar Figura 1 A família imperial brasileira um exemplo de patriarcalismo Vemos assim que a família tal qual a concebemos hoje não é uma organização natural nem uma determinação divina Ela é o resultado de condições históricas e de mudanças sociais pois por estar inserida na base material da sociedade a forma como a família irá se organizar deve dar conta de sua função social Isso significa dizer que na medida em que muda a sociedade muda também a função da família ou seja a organização familiar transformase como resultado das mudanças sociais e não o contrário Família célula mater da sociedade A função social atribuída à família fundase principalmente na transmissão de valores que constituem a cultura e das idéias dominantes e na educação das novas gerações segundo os padrões dominantes o que revela o seu caráter conservador e de manutenção do status quo À família é dada também a responsabilidade pela manutenção física e psíquica das crianças sendo por isso entendida como o primeiro espaço de socialização do indivíduo É nela que ocorrem os primeiros aprendizados da língua dos hábitos e costumes das primeiras noções de direitos e deveres de certo e errado do pode e não pode Dessa forma ela interfere de modo fundamental na organização da visão de mundo dos indivíduos Visão de Mundo Visão de mundo é a perspectiva que cada um de nós tem com relação ao mundo em que vivemos como entendemos os problemas como poderíamos resolvêlos qual o nosso papel nesse mundo Aula 11 Psicologia da Educação 179 A importância da família é reconhecida pelo psicanalista Jacques Lacan 19011981 que ressalta o seu papel primordial na transmissão da cultura das tradições espirituais na repressão dos instintos na conservação do patrimônio na aquisição da língua Por isso para ele ela coordena todos os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico Figura 2 O cuidado familiar com a criança favorece seu desenvolvimento psíquico Bock 1999 destaca três aspectos que demonstram a importância da família no desenvolvimento da criança 1 a primeira educação processase de modo natural e espontâneo Normalmente os pais não se dão conta de que já estão transmitindo valores para seus filhos quando por exemplo escolhem seu nome ou a cor da decoração do quarto Por que corderosa para meninas e azul para meninos Essas escolhas já revelam dados culturais que são transmitidos sutil e naturalmente Por outro lado os pais são personagens importantes para a identificação da criança Eles são os modelos nos quais os filhos vão pautar sua conduta desde os comportamentos mais simples como se portar na mesa até as condutas éticas e a postura frente a conflitos Assim a primeira educação é informal mas de fundamental importância para a formação da pessoa 2 a repressão do desejo ou interdição social termo psicanalítico que significa as proibições dos desejos eróticos ou agressivos como por exemplo o tabu do incesto em nossa cultura o filho não pode ter relações sexuais com a mãe nem a filha com o pai embora como defende a Psicanálise sejam os pais os primeiros objetos de desejo inconsciente Na vida familiar a criança irá incorporar essa e outras proibições dessa área de sua sexualidade Se tocar nos órgãos sexuais por exemplo poderá ouvir um enérgico não pegue aí que é feio 3 a aquisição da linguagem condição básica para a entrada no mundo apropriandose dele Como já vimos em outras aulas a linguagem é quem realiza a dimensão social e hu mana da pessoa permitindo a comunicação com o mundo e a compreensão da realidade É na família que esse processo se inicia continuando em outros espaços de socialização da criança Aula 11 Psicologia da Educação 180 Figura 3 A relação mãefilho é fundamental no desenvolvimento infantil A dinâmica familiar D e uma maneira geral os estudos sobre a família baseiamse em um tipo específico a família burguesa de classe média Mas é preciso reconhecer que há vários tipos de famílias que os papéis maternos e paternos são multidimensionais e complexos e que pais e mães desempenham papéis diferentes em contextos culturais diferentes Para compreender como a família funciona é preciso sobretudo estudar as interações e relações desenvolvidas entre os diferentes subsistemas familiares os contextos histórico cultural social e econômico nos quais as famílias estão inseridas Para a Psicologia a família é como um sistema ou agrupamento sempre em transformação recebendo e emitindo mensagens para o mundo externo e adaptandose às mais diversas vicissitudes E cada família desenvolve uma forma particular de ser cada uma tem sua forma particular de se comunicar sua própria estratégia para resolver dificuldades uma determinada maneira de responder às necessidades afetivas de seus membros e uma forma de lidar com perdas mudanças e conflitos Entendida assim como um sistema social composto por um grupo de indivíduos cada um dos seus membros vai ter um papel que lhe é atribuído implicitamente ou seja cada membro ocupa determinada posição tem determinado status O comportamento do pai da mãe dos filhos e dos irmãos será orientado por esses papéis que refletem as expectativas de comportamento de obrigações e de direitos Assim por exemplo esperase que os adultos promovam o suporte à família seja emocional seja financeiro que se preocupem com a manutenção da harmonia familiar que se encarreguem dos assuntos domésticos Os irmãos por sua vez assumem o papel de receptores e ajudam a manter e promover as normas familiares Vale salientar que esses papéis são flexíveis de modo que em alguns momentos podem ocorrer trocas quando um não assume o papel que lhe é atribuído Atividade 3 Aula 11 Psicologia da Educação 181 A violência familiar A té agora falamos da família enquanto lugar que pelos laços afetivos promovia a proteção e o cuidado dos seus membros Entretanto em muitos casos essa não é a realidade Existem situações em que por motivos mais diversos a harmonia familiar é quebrada gerando desestruturações que podem chegar a situações de violência um tipo de violência muitas vezes silenciosa e mascarada que acontece dentro dos lares A violência doméstica atinge mais frequentemente crianças e adolescentes mas também mulheres e idosos dentro de um espaço familiar Infelizmente esse é um fenômeno universal que atinge ricos e pobres em todos os países No Brasil o Ministério da Saúde publicou em 2002 um estudo intitulado Violência intrafamiliar Orientações para a prática em serviço disponível na Biblioteca Virtual de Saúde no qual discute o tema com clareza definindo basicamente quatro tipos de violência 1 a violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano por meio de força física de algum tipo de arma ou instrumento que possa levar a lesões internas externas ou ambas 2 a violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa Mais uma vez vamos voltar o olhar para a nossa própria realidade Observe a sua família a de origem ou a que você constituiu com o casamento Descreva agora os papéis atribuídos a cada um dos membros Resumo Aula 11 Psicologia da Educação 182 Figura 4 Maria da Penha vítima de violência familiar cujo nome foi dado a lei de proteção à mulher Este último é um tipo de violência para o qual nós enquanto professores precisamos estar muito atentos Em primeiro lugar porque infelizmente ainda é acobertado pelo sentimento de vergonha por parte dos membros da família Em segundo lugar por ocorrer justamente em um espaço onde se espera cuidados ocasiona profundas marcas emocionais nas vítimas sendo quase sempre necessário tratamento psicológico Felizmente a legislação brasileira tem avançado bastante O Estatuto da Criança e do Adolescente a Lei Maria da Penha que protege a mulher da violência têm propiciado a punição desses crimes Mas ainda há muito o que avançar no que diz respeito às mudanças culturais sobretudo nas regiões mais interioranas do nosso país Nesta aula discutimos a origem do conceito de família bem como a sua relação com o surgimento da propriedade privada e a necessidade de definição na transmissão dos bens Vimos como na nossa sociedade a família tem a função de transmissora da cultura e dos valores sendo portanto fundamental no desenvolvimento psíquico dos indivíduos Avaliamos as dinâmicas que se estabelecem no interior das famílias mostrando que não há um modelo único Por último destacamos a complexa questão da violência familiar e suas consequências em relação àqueles que a sofrem 3 a negligência é a omissão de responsabilidade de um ou mais membros da família em relação a outro sobretudo àqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou condição física permanente ou temporária 4 a violência sexual é toda ação na qual uma pessoa em situação de poder obriga uma outra à realização de práticas sexuais utilizando força física influência psicológica ou uso de armas ou de drogas 1 2 3 4 Aula 11 Psicologia da Educação 183 Autoavaliação Descreva as formas de organização familiar ao longo da história Aponte as principais funções da família Descreva a típica dinâmica familiar Descreva as principais formas da violência intrafamiliar Referências BOCK A M FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologia São Paulo Saraiva 1999 BRASIL Ministério da Saúde Violência intrafamiliar orientações para a prática em serviço Brasília Editora MS 2002 Caderno de Atenção Básica n 8 Série A Normas e Manuais Técnicos n 131 Disponível em httpbvmssaudegovbrbvspublicacoescd0519 pdf Acesso em 6 ago 2007 ENGELS F A origem da família da propriedade privada e do estado São Paulo Bertrand Brasil 1995 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 184 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 185 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 186 Aula 12 A escola como espaço de socialização A família Aula 11 1 2 3 4 Aula 12 Psicologia da Educação 189 Apresentação E m disciplinas anteriores você já discutiu o tema escola Por exemplo em Educação e Realidade foram analisados os desafios da escola nos dias de hoje e nessa discussão você visitou uma escola de seu município e em Fundamentos da Educação acompanhou um extenso estudo sobre a educação brasileira no que diz respeito ao espaço institucional da escola A perspectiva de estudo desta aula aqui é discutir a escola enquanto espaço de socialização dos indivíduos contribuindo assim para o seu desenvolvimento psíquico e enquanto instituição na qual vão estar presentes as características de grupos sociais Objetivos Conhecer o conceito de socialização e como ela ocorre Reconhecer a escola como importante espaço de socialização Discutir as funções da escola Conhecer como ocorrem as relações de poder dentro da escola Atividade 1 Aula 12 Psicologia da Educação 190 O processo de socialização secundária E m aulas anteriores vimos que quando a criança nasce já pertence a um grupo social familiar que lhe provê suporte e lhe transmite valores hábitos e comportamentos da sua cultura A família é pois o primeiro espaço de socialização do indivíduo A escola por sua vez exerce um papel fundamental na consolidação desse processo Vamos entender um pouco mais o que é socialização Vamos mais uma vez começar nossa aula com uma pergunta cuja resposta é fácil e óbvia para que serve a escola Reflita um pouco sobre isso e liste a seguir alguns dos papéis da escola que lhe pareçam mais importantes Chamase socialização o processo interativo fundamental para o desenvolvi mento através do qual o indivíduo assimila a cultura do seu grupo social ao mesmo tempo em que perpetua esse grupo De acordo com Colls 2004 a socialização ocorre através de três processos 1 os processos mentais de socialização correspondem ao conhecimento dos valores normas costumes instituições aquisição da linguagem e dos conhecimentos transmitidos pela escola Aula 12 Psicologia da Educação 191 2 os processos afetivos de socialização manifestamse por meio da empatia do apego e da amizade 3 os processos condutuais de socialização envolvem a aquisição de condutas consideradas socialmente aceitáveis evitandose as não aceitas Um dos objetivos principais dos processos de socialização é fazer com que a criança aprenda o que é correto e o que não é correto dentro de seu meio social ou seja que adquira um conjunto de valores morais que regem a sociedade da qual faz parte A interiorização desses valores permite desenvolver na criança mecanismos reguladores de sua conduta Quando os pais dizem aos seus filhos por exemplo que não devem bater em crianças menores que não podem tomar o brinquedo dos coleguinhas ou que devem respeitar os mais velhos estão transmitindo normas que com o tempo ficam interiorizadas de modo que a criança passa a regular sua própria conduta A forma como a criança lida com essas normas e regras vai variar de acordo com o seu desenvolvimento e com isso não se pode esperar que uma criança muito pequena já consiga interiorizálas Para Piaget 1977 o indivíduo desenvolve suas próprias crenças através da interação com o meio a partir da formação de um juízo moral que passa por uma fase que ele chama de heteronomia quando não concebe as regras como um contrato firmado entre as pessoas até uma fase de autonomia quando já compreende as regras como esse contrato Essas fases seguiriam as mesmas etapas do seu desenvolvimento cognitivo demonstrando que o desenvolvimento das atitudes morais pressupõe uma reorganização sequencial relacionada com a idade da criança E é somente a partir dos 7 anos de idade portanto na idade escolar que a criança começa a evoluir para uma autonomia moral Na escola em contato com outras de mesma faixa etárias a criança descobre que é necessária a reciprocidade para agir conforme as regras na medida em que essas regras somente são efetivas se as pessoas concordarem com elas A escola é pois o espaço no qual as crianças produzem seus conhecimentos sociais começam a compreender as características dos outros e de si mesmas estabelecem diferentes graus de relacionamentos necessitam absorver novas regras de funcionamento diferentes do seu espaço familiar Empatia Empatia é uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa e não à própria situação ou seja quando o sujeito responde afetivamente colocandose na situação vivida pelo outro A empatia predispõe as pessoas a tomarem atitudes altruístas Figura 1 A escola um importante espaço de socialização Aula 12 Psicologia da Educação 192 Nesse sentido a escola é concebida como o lugar onde ocorre o processo de socialização secundária conforme os três aspectos descritos por Colls mental com a aquisição de conhecimentos afetivo com o estabelecimento de relações de apego e amizade condutural desenvolvendo novas condutas Ao chegar à escola a criança traz consigo os aspectos vivenciais familiares mas o ambiente escolar será peça fundamental no seu desenvolvimento As funções da escola Já vimos então que a escola contribui decisivamente para o processo de socialização das crianças Outras funções porém podem ser listadas como as provavelmente enumeradas por você na atividade 1 Vejamos algumas delas Se analisarmos as propostas pedagógicas de todas as escolas é muito provável que encontremos como sua principal missão a transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade a fim de levar as pessoas a assumirem posições de destaque na sociedade Assim o lugar que o indivíduo ocupará na sociedade vai depender do seu grau de cultura atestado por diplomas e certificados conferidos pela escola Se por um lado isso é verdade por outro podemos questionar o fato de que o grau de cultura adquirido pelo indivíduo depende significativamente do lugar social que sua família ocupa Nesse sentido um jovem que provenha das camadas populares terá muito mais dificuldade em ocupar uma posição de destaque na sociedade por mais que se esforce para obter títulos e diplomas Por outro lado um jovem de família rica mesmo que não queira estudar não sofrerá mudanças quanto ao seu padrão social Outra função bastante destacada da escola é a de preparar o indivíduo para a vida de formar o cidadão de construir a cidadania E ela apareceria como o espaço privilegiado para isso uma vez que trabalha com o saber mas também com valores crenças e atitudes Ocorre porém que a escola na qualidade de instituição social defrontase com um dilema de um lado por ser parte de uma sociedade tem a tarefa de formar indivíduos que zelem pela preservação dessa sociedade e de outro deve também cuidar do desenvolvimento da sociedade necessitando portanto formar cidadãos capazes de inovar de inventar de transformar Nessa ambiguidade a escola pode se desenvolver como uma instituição conservadora mas que também abre espaço para o surgimento de instituições criativas e transformadoras Uma outra função da escola é capacitar o profissional para através do trabalho sustentar a si mesmo e contribuir com o desenvolvimento da sociedade A crítica feita a essa função em particular diz respeito ao caráter de instituição fechada que a escola vem assumindo quando as teorias pedagógicas a concebem como isolada do cotidiano da sociedade Esse isolamento pode ser notado pela observação dos seguintes aspectos ensino de conteúdos que nada têm a ver com a realidade dos alunos adoção de uniformes Atividade 2 Aula 12 Psicologia da Educação 193 que pretensamente iguala a todos tipo de avaliação de aprendizagem que valoriza apenas o trabalho desenvolvido dentro da escola e não leva em conta o aprendizado cotidiano Um dos críticos mais contundentes da escola foi o pensador vienense Ivan Illich 1926 2002 com o seu livro Sociedade sem escolas lançado no início dos anos 70 do século passado Illich propõe desinstalar a escola porque Ela escolariza para confundir processo com substância Alcançando isso uma nova lógica entra em jogo quanto mais longa a escolaridade melhores resultados ou então a graduação leva ao sucesso O aluno é desse modo escolarizado a confundir ensino com aprendizagem obtenção de grau com educação diploma com competência fluência no falar com capacidade de dizer algo novo Sua imaginação é escolarizada a aceitar serviço em vez de valor ILLICH 1973 p 21 grifos do autor Para Illich a escola tem a finalidade de reproduzir a mão de obra submissa e a ideologia dominante Essa ideia é ratificada por outros estudiosos do papel da escola como Bourdieu e Passeron 1975 que propõem uma estreita relação entre reprodução cultural e reprodução social e o sociólogo francês Durkheim 18581917 que afirma longe de a educação ter por objeto único e principal o indivíduo e seus interesses ela é antes de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência DURKHEIM 1973 p 52 Vamos retomar a atividade 1 na qual você listou o que julgava serem as funções da escola À luz do que discutimos até então reveja sua lista e faça uma apreciação crítica sumarizada Atividade 3 Aula 12 Psicologia da Educação 194 As relações de poder na escola Como vimos a escola é uma instituição social na qual convivem grupos sociais que podemos caracterizar como grupos secundários Baseado em sua própria experiência nos pontos discutidos na aula 10 e nas observações que você fez na disciplina Educação e Realidade descreva a seguir a sua percepção das dinâmicas estabelecidas na escola Para além da dinâmica estabelecida entre e dentro dos grupos sociais que existem na instituição escolar vamos agora discutir como se estabelecem as relações de poder dentro da escola Porque se a escola é um espaço reprodutor das redes de relações existentes na sociedade é interessante conhecer como essas relações se estabelecem e qual o contexto que lhes permite acontecerem O filósofo francês Michel Foucault 1977 estudioso das relações de poder nas instituições descreveu os conceitos de sociedades disciplinares e sociedade de controle Para ele as relações que se estabelecem em instituições como a família a escola os quartéis e as prisões são marcadas pela disciplina com o objetivo de produzir corpos dóceis eficazes e submissos política e economicamente Aula 12 Psicologia da Educação 195 Figura 2 Michel Foucault 19261984 Para caracterizar suas ideias Foucault tomou como exemplo o Panóptico um edifício em forma de anel no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro O anel dividiase em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior Em cada uma dessas pequenas celas havia segundo o objetivo da instituição uma criança aprendendo a escrever um operário a trabalhar um prisioneiro a ser corrigido um louco tentando corrigir a sua loucura etc Na torre havia um vigilante Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela não havia nenhum ponto de sombra e por conseguinte tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas de postigos semicerrados de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vêlo O panoptismo corresponde à observação total é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo Ele é vigiado durante todo o tempo sem que veja o seu observador nem que saiba em que momento está a ser vigiado Figura 3 Panóptico Para Foucault o Panóptico poderia servir de modelo uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana com sua essência centrada na situação de inspeção ou na construção de uma espécie de inspetor central onipotente onipresente e principalmente onividente Não há mais necessidade de punir porque o ato de vigiar já é suficiente para manter a ordem Aula 12 Psicologia da Educação 196 Do século XVIII até a Segunda Guerra Mundial prevalecia o modelo de sociedades disciplinares cujo objetivo eram as relações de disciplina observadas no panoptismo A partir daí começa a surgir outro modelo com novos mecanismos de vigilância em que a disciplina passa a ser interiorizada sem a necessidade de aparatos explícitos de vigilância é o modelo de sociedades de controle Agora há um processo de vigilância constante intensificada pela disseminação de dispositivos tecnológicos de vigilância presentes até mesmo ao ar livre Todos podem e querem espiar todos E o exemplo mais atual desse modelo é o programa de televisão Big Brother que surgiu em 1999 na Holanda e teve o seu formato disseminado em vários países inclusive e infelizmente também no nosso Figura 4 Câmaras de vigilância substituem hoje o Panóptico Para Foucault a escola é o espaço no qual o poder disciplinar produz o saber Na escola ser observado olhado contado detalhadamente passa a ser um meio de controle de dominação um método para documentar individualidades Ao dividir os alunos e os saberes em séries a escola reforça as diferenças recompensando os que se submetem ao sistema escolar e punindo com reprovação os que não se submetem O modelo pedagógico permite vigilância constante tornando a escola um espaço de controle constante de sua população através da burocracia acadêmica do orientador educacional do professor e dos alunos Observemos a disposição de uma sala de aula um estrado mais elevado onde se situa o professor cadeiras linearmente dispostas colocadas abaixo para os alunos Fica evidente a relação saberpoder Figura 5 A organização da sala de aula evidência do poder Resumo Aula 12 Psicologia da Educação 197 O professor por sua vez subordinase às autoridades superiores e essa submissão levao a desenvolver uma dominação compensadora junto aos alunos Ele assume como papel a imposição da ordem e da obediência Outro momento em que esse poder professoral se manifesta é por meio do sistema de avaliação com provas e exames o que lhe retira o caráter de instrumento passando a ser um fim em si mesma Todos esses aspectos das relações de poder apontadas por Foucault devem ser um ponto de partida para uma reflexão das nossas práticas enquanto professores ou futuros professores porque não se pode negar que a escola é ou deveria ser um importante espaço de troca de aprendizado de obtenção de informação O necessário é que a escola seja transformada e definir essa transformação é o grande desafio que enfrentamos Por outro lado a escola é apenas uma entre tantas outras instituições na nossa sociedade não podendo ser a única responsabilizada pela reprodução dos valores dominantes As transformações sociais ocorrem de maneira mais ampla e abrangem outras instituições como a família como já vimos e os meios de comunicação como veremos em uma aula próxima Nesta aula começamos analisando o conceito de socialização para situarmos a escola como o espaço no qual se dá a socialização secundária Em seguida discutimos e elaboramos algumas críticas às funções da escola Por fim estudamos as relações de poder dentro da escola a partir dos conceitos foucaultianos de sociedade disciplinar e sociedade de controle 5 4 1 2 3 Aula 12 Psicologia da Educação 198 Autoavaliação O que é socialização e como ela ocorre Quais os processos envolvidos na socialização segundo Coll Descreva criticamente as funções da escola O que é o Panóptico e qual relação pode ser feita entre este e a relação de poder na escola Descreva dois aspectos da escola que representem a estrutura de poder Referências BOURDIEU P PASSERON JC A reprodução elementos para uma teoria do sistema de ensino Rio de Janeiro Francisco Alves 1975 COLLS C PALACIOS J MARCHESI A Desenvolvimento psicológico e educação Porto Alegre Artmed 2004 Psicologia evolutiva v 1 DURKHEIM E Educación y sociología Buenos Aires Editorial Shapire 1973 FOUCAULT M Vigiar e punir Petrópolis Vozes 1977 ILLICH I Sociedade sem escolas Petrópolis Vozes 1973 PIAGET J O julgamento moral da criança São Paulo Mestre Jou 1977 Anotações Aula 12 Psicologia da Educação 199 Anotações Aula 12 Psicologia da Educação 200 Sexualidade Aula 13 Sexualidade Aula 13 1 2 3 Aula 13 Psicologia da Educação 203 Apresentação A partir desta aula iremos discutir alguns temas que se não são específicos da Psicologia podem ser também estudados sob o ponto de vista de sua abordagem São temas que estarão presentes em nossas salas de aula ainda que não seja de uma forma clara e explícita Iniciaremos com esta aula sobre sexualidade e seguiremos nas aulas 14 e 15 com uma discussão sobre a questão das drogas e sobre a influência dos meios de comunicação no comportamento respectivamente Objetivos Distinguir os conceitos de sexo e sexualidade Analisar como ocorre o desenvolvimento da sexualidade humana Discutir a moral sexual da sociedade contemporânea Atividade 1 Aula 13 Psicologia da Educação 204 A Psicologia estuda a sexualidade Antes de analisarmos o papel da Psicologia no estudo da sexualidade seria interessante observarmos a diferença entre esse conceito e o de sexo Qual seria então essa diferença Faça a distinção entre os conceitos de sexo e sexualidade elaborando uma lista de comportamentos que caracterizam um e outro No nosso idioma a palavra sexo tem muitos significados Sexo pode ser uma palavra que designa o gênero masculino ou feminino servindo para uma distinção biológica entre homens e mulheres a partir da qual se definem papéis e atribuições sociais que variam conforme a cultura Mas também pode referirse a qualquer atividade que resulte em sensação de prazer no corpo ou mais especificamente nos órgãos genitais do homem ou da mulher Pode significar ainda o ato sexual em si fazer sexo significando manter relações sexuais No ser humano no entanto o ato sexual não é como em outros animais um ato puramente biológico Ele envolve sentimentos experiências anteriores história familiar orientação sexual características físicas e até espiritualidade todos esses aspectos influenciam a percepção sexual das pessoas e sua maneira de envolvimento com o ato sexual Aula 13 Psicologia da Educação 205 Em 2002 um grupo de consultores técnicos da Organização Mundial de Saúde com a intenção de contribuir para a discussão a respeito da saúde sexual definiu sexualidade da seguinte maneira Sexualidade é um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrange o sexo as identidades e os papéis de gênero orientação sexual erotismo prazer intimidade e reprodução A sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos nas fantasias nos desejos na opinião nas atitudes nos valores nos comportamentos nas práticas nos papéis e nos relacionamentos Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões nem todas são sempre experimentadas ou expressadas A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos psicológicos sociais econômicos políticos cultural éticos legais históricos religiosos e espirituais WORLD HEALTH ORGANIZATION 2007 tradução minha Assim como vemos o conceito de sexualidade é muito mais amplo e por suas características restringese ao ser humano É esse conceito amplo que lhe permite ser tema de interesse multidisciplinar em que a Biologia e a Medicina dão conta dos aspectos anatômicos e fisiológicos a História e a Sociologia discutem os comportamentos sexuais e suas origens a Antropologia observa a sua evolução cultural a Psicologia por sua vez tem se interessado em analisar os sentimentos envolvidos e como ela se desenvolve no indivíduo O conceito de sexualidade também nos remete à compreensão de que o sexo não pode ser encarado como um ato de puro instinto pois como já vimos o instinto é um comportamento inato que serve a uma necessidade O sexo poderia ser encarado dessa forma na medida em que serve à reprodução da espécie como acontece entre animais No entanto como também já discutimos o homem distinguese dos animais pela consciência de existir e por suas características de ser histórico Portanto nele os aspectos instintivos são mitigados e transformados Na questão sexual a escolha do parceiro é feita muito mais pelo prazer que o objeto da escolha nos proporciona do que pela pressão da necessidade instintiva de reprodução No homem o prazer refina o instinto de reprodução passando a ser mais determinante e fundamental na sexualidade Aula 13 Psicologia da Educação 206 O desenvolvimento da sexualidade J á vimos na aula sobre adolescência que é nessa fase do desenvolvimento que o organismo do ser humano começa a se preparar para a reprodução sendo as mudanças biológicas acompanhadas de modificações também no psiquismo Mas seria somente nessa fase que se manifestaria a sexualidade Freud foi um pioneiro no estudo da sexualidade humana Em 1905 ele publicou um livro chamado Três ensaios sobre a teoria da sexualidade que causou grande impacto na sociedade da época Nele defende a manifestação da sexualidade em fases muito mais precoces do desenvolvimento está presente na criança desde o seu nascimento É interessante observar a idéia que se tinha sobre o assunto no início do século XX e a concepção defendida por Freud porque ainda hoje esse tipo de afirmação pode causar inquietação em algumas pessoas Em primeiro lugar a concepção vigente era de que a sexualidade tinha como objetivo a reprodução logo ela somente poderia se manifestar a partir da puberdade momento em que o indivíduo começa a se preparar biologicamente para tal tarefa A idéia era de que o sexo antes dessa fase estava inativo e que sua ativação se daria com o surgimento dos hormônios sexuais responsáveis por ativar a puberdade Sendo assim como imaginar que um bebê recémnascido pudesse ter vida sexual Freud observou que logo ao nascer a criança apresenta o reflexo da sucção fundamental para sua alimentação e conseqüente sobrevivência Para ele esse reflexo é acompanhado do prazer do contato da sua mucosa bucal com o seio materno e isso era óbvio porque se fosse uma experiência desagradável o reflexo não se fixaria Diz ele Vendo uma criança que tenha saciado seu apetite e que se retira do peito da mãe com as bochechas ruborizadas e um sorriso de bemaventurança para cair em seguida em um sono profundo temos que reconhecer neste quadro o modelo e a expressão da satisfação sexual que o sujeito conhecerá mais tarde FREUD 1973 p 1200 Aula 13 Psicologia da Educação 207 Figura 1 O reflexo da sucção acompanhase de prazer Com o tempo a criança passa a perceber que o contato da boca com o seu próprio dedo também lhe dá prazer Nesse caso tratase não mais de uma necessidade biológica mas somente de prazer Esse tipo de prazer pelo prazer Freud chamou erotismo e o considerou como o primeiro indicativo de sexualidade a aparecer em uma pessoa Figura 2 O chupar o dedo é a primeira forma de erotismo É possível perceber então que o conceito de sexualidade de Freud era muito mais amplo do que o vigente na época Ele a definia muito mais pelo prazer do que pela necessidade de reprodução conforme o que vimos anteriormente Nessa perspectiva é compreensível que tinha descrito a sexualidade do recémnascido Porém não podemos confundir essa compreensão da sexualidade com genitalidade que é a busca do contato genital que vai se desenvolver na vida adulta Outro conceito que Freud desenvolve com relação à sexualidade é o de libido palavra que deriva do latim e significa desejo anseio Referese segundo a Psicanálise à energia que move os impulsos da vida dentre os quais o mais importante é o impulso sexual A libido pode ser aumentada diminuída e tem como característica importante a mobilidade localizandose em várias partes do corpo alternadamente Aula 13 Psicologia da Educação 208 Como vimos em um primeiro momento do desenvolvimento da sexualidade a libido vai estar localizada na mucosa da boca constituindo a fase oral definida por Freud como o primeiro estágio À proporção que a criança amadurece a libido vai se deslocando para outras partes do corpo criando novas zonas erógenas O segundo estágio por exemplo iniciase por volta dos dois anos de idade quando a criança começa a ter o controle dos esfíncteres Essa possibilidade de controle sobre o próprio corpo dá à criança o sentimento de poder produzir coisas suas simbolizado pela liberação ou contenção das fezes Nesse caso estamos nos referindo à fase anal A terceira fase é a fálica que ocorre por volta dos quatro anos e caracterizase pela localização da libido nos órgãos genitais Nesta há a descoberta da genitália e a preocupação com a diferença entre os sexos É importante salientar que essa fase apesar de expressar uma preocupação da criança com os órgãos genitais ainda não representa a sexualidade adulta É ainda uma fase exploratória e de curiosidade A criança toca seu próprio sexo procura conhecer como é o sexo do coleguinha preocupase em saber como é o corpo de um adulto Após fase que Freud chama de latência que vai dos 6 aos 11 anos caracterizada por uma relativa inatividade do impulso sexual iniciase na adolescência a fase genital Concomitante com a maturação biológica ocorre a partir daí a retomada do impulso sexual que com a busca do objeto de amor fora do grupo familiar o indivíduo assume as características da sexualidade adulta Essa descrição do desenvolvimento psicossexual demonstra dois aspectos importantes a a sexualidade aparece muito cedo no ser humano e b o impulso sexual amadurece paralelamente ao crescimento e ao desenvolvimento do indivíduo A moral sexual S e a sexualidade é um aspecto inerente ao ser humano por que é tão complicado conversar sobre sexo Por mais que se pressuponha que essas discussões devam começar no âmbito familiar na família esse é um assunto sobre o qual não se conversa E na escola que deveria ser o espaço para uma discussão mais qualificada o debate sobre sexo estaria acontecendo Recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental estabeleceram a Orientação Sexual como um dos temas transversais mesmo assim as escolas parecem relutar em incluíla como uma das suas preocupações pedagógicas Os professores ainda acham o assunto incômodo ou se sentem sem preparo para abordálo Então por que será tão difícil discutir esse assunto Esfíncteres Esfíncter é um termo usado pela Medicina para designar uma estrutura muscular presente em órgãos do nosso corpo que controla a abertura de um determinado orifício Estão sob controle voluntário basicamente o esfíncter da uretra e o esfíncter anal Atividade 2 Aula 13 Psicologia da Educação 209 Essas dificuldades não se restringem somente às conversas e orientações mas também à própria maneira como a nossa sociedade encara a sexualidade como estabelece normas e proibições como impõe restrições a uma expressão sexual mais livre Por que será que isso acontece Vamos analisar essa questão por dois ângulos pela História e pela Psicanálise Se nos reportamos à época da Antigüidade Clássica vamos observar na Grécia ou em Roma a percepção do sexo como algo positivo e às vezes mesmo revestido de um cunho religioso O culto a Dionísio ou a Baco por exemplo eram verdadeiros rituais de amor Os gregos e romanos educavam seus filhos com o conhecimento das funções sexuais as práticas homossexuais eram comuns sobretudo nas classes mais abastadas e se revestiam de caráter educativo Com o surgimento da família patriarcal acontece uma série de dualidades no campo da sexualidade as quais estão descritas a seguir Descreva a seguir as dificuldades eou facilidade encontradas por você ao discutir esse tema com pessoas de uma faixa etária menor que a sua sejam seus filhos irmãos ou alunos Se não teve essas experiências imagine e descreva quais seriam as dificuldades e facilidades na abordagem desse tema Aula 13 Psicologia da Educação 210 1 No plano social a aparição de uma esfera privada restrita ao âmbito da mulher que tinha ao seu encargo a reprodução e a educação e uma esfera pública a cargo dos homens A norma é permissividade para os homens e repressão para as mulheres das quais vai se exigir fidelidade ao marido ou virgindade 2 Surgimento da dupla imagem da mulher dependendo das necessidades e exigências sociais a mulher boa a dona de casa a mãe a virgem e a mulher má a pública dedicada ao prazer 3 A sexualidade adquire um duplo significado é reprodutiva lícita socialmente aceita e vinculada ao casamento e à família ou é a sexualidade geradora de prazer que é uma prática válida apenas para os homens Na Idade Média a Igreja consolida seu poder com tal intensidade que a teologia se equipara à lei civil Nessa época aparecem os famosos cinturões de castidade e a Igreja declara que o instinto sexual é algo demoníaco gerando várias situações de julgamento pela Santa Inquisição Figura 3 Cinto da castidade Durante os séculos XVIII e XIX determinadas condutas sexuais como por exemplo a masturbação eram consideradas inapropriadas e causadoras de enfermidades como a epilepsia Por volta de 1880 o psiquiatra alemão KraftEbing 18401902 publica o primeiro livro sobre sexualidade Psychopatias Sexualis no qual rotula como patológicos os comportamentos sexuais que não tivessem finalidade reprodutiva considerandoos como anormalidades sexuais Nessa época o pensamento religioso dava grande importância à família e entendia o sexo como uma infeliz necessidade e não como algo que proporcionasse prazer Então a partir do pensamento médico e da religião surgem mitos como o de que Aula 13 Psicologia da Educação 211 o excesso de relações sexuais tornava o homem idiotizado ou as mulheres que sentissem prazer morreriam muito jovens Dessa forma não é de se estranhar que as idéias de Freud causassem tanto impacto na sociedade da época com seu conceito de sexualidade infantil e de libido Para a Psicanálise a energia sexual é a energia que utilizamos para todas as nossas atividades trabalho diversão relacionamento com as pessoas produção de conhecimento enfim é a energia responsável pelo que conhecemos como civilização No entanto para que a civilização se concretize é necessário que a energia sexual seja deslocada para outros fins que não o estritamente sexual Isso é feito através da criação de normas e proibições como o casamento monogâmico a restrição na escolha dos parceiros as restrições sexuais às crianças Para Freud o homem para garantir o processo de civilização abriu mão do prazer pela segurança Esse mecanismo de desvio da energia sexual para fins não sexuais e socialmente aceitáveis é chamado de sublimação A sublimação pois é um mecanismo útil na medida em que nos permite conviver em sociedade mas por outro lado ao reprimir a libido torna a questão da sexualidade uma questão difícil de se lidar livremente Essas idéias originais de Freud foram ratificadas por estudiosos contemporâneos como Herbert Marcuse filósofo alemão que viveu entre 1898 e 1979 Marcuse escreveu um livro chamado Eros e a Civilização no qual fundamentado nas idéias de Freud diz que a repressão da sexualidade na sociedade capitalista é utilizada para a produção de riquezas de acordo com os interesses do grupo dominante Assim a repressão sexual e a repressão social são dois lados de uma mesma moeda e portanto a luta pelas liberdades sociais deve envolver a luta pelas liberdades sexuais Não por acaso Marcuse foi um dos inspiradores do movimento estudantil de protesto que eclodiu na França no ano de 1968 A importância do tema sexualidade na Educação Q uando assistimos às novelas e a outros programas de televisão exibindo cenas que mostram uma possível excessiva permissividade sexual podemos imaginar que as idéias de Freud e Marcuse estão superadas Mas haverá mesmo maior liberdade sexual nos dias de hoje Para o filósofo francês Michel Foucault 1984 o que ocorre hoje é muito mais um discurso sobre a sexualidade do que uma nova moral sexual é um discurso permitido uma outra forma de poder O que se tem é uma fala sobre a sexualidade mas ela continua tão reprimida quanto antes tão conservadora quanto no século XIX E a prova disso são reportagens também mostradas pela televisão como as cenas de agressão a mulheres O ficar dos jovens antes de revolução sexual é Aula 13 Psicologia da Educação 212 a reprodução dos mesmos valores antigos da desvalorização do papel da mulher da imaturidade e do descompromisso Como lembra Bock 1999 a possibilidade de uma sexualidade que corresponda aos nossos desejos dependerá de uma luta que o jovem deve enfrentar por uma nova moral sexual que supere o poder castrador e passe para uma fase de encontro entre o prazer e a responsabilidade BOCK 1999 p 239 Para nós educadores restanos a tarefa de enfrentar junto com os jovens o desafio de estimular a discussão superando o discurso permitido e trazendo para análise as causas determinantes do modelo de sexualidade que temos Na atualidade dois temas ligados à questão sexual surgem como fundamentais o aparecimento da AIDS e a gravidez precoce Ambas as situações são indicativos daquela permissividade oficial que se por um lado admite a liberdade sexual por outro não fornece as informações básicas necessárias nem estimula o diálogo franco e aberto com os jovens É preciso trazer à discussão o papel da sexualidade do significado das regras sociais com relação a ela somente assim poderemos avançar para uma nova ordem sexual que entenda a sexualidade como parte da personalidade dos sujeitos e como fundamental para o bemestar individual e interpessoal A Organização Mundial da Saúde OMS através de seus peritos divulgou o que considera como direitos sexuais Assim são direitos de todas as pessoas livres de coerção discriminação e violência n ter o mais alto nível de saúde sexual incluindo o acesso aos serviços de saúde reprodutiva e sexual n buscar receber e compartilhar informações relacionadas à sexualidade n receber educação sexual n respeitar a integridade do corpo n escolher os parceiros n decidir ser ou não sexualmente ativo n ter relações sexuais consensuais n contrair união consensual n decidir se quer e quando quer ter filhos n lutar por uma vida sexual satisfatória segura e prazerosa Resumo 1 2 3 4 5 Aula 13 Psicologia da Educação 213 Autoavaliação Diferencie os conceitos de sexo e sexualidade Descreva sumariamente as fases do desenvolvimento da sexualidade segundo Freud O que é libido Por que se diz que a teoria da sexualidade de Freud causou impacto na sociedade Qual o papel da sublimação no processo civilizatório segundo Freud Nesta aula discutimos os conceitos de sexualidade e como ela se desenvolve no ser humano sob uma perspectiva psicanalítica Analisamos as dificuldades na discussão deste tema observando a sua evolução histórica e a interpretação de Freud Por fim enfatizamos o papel dos educadores na discussão desse tema Aula 13 Psicologia da Educação 214 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia São Paulo Saraiva 1999 FOUCAULT M História da sexualidade Rio de Janeiro Graal 1984 FREUD S Tres ensayos para uma teoria sexual Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo II Obras completas El mal estar de la cultura Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo III Obras completas MARCUSE H Eros e a civilização Rio de Janeiro LTC 1999 WORLD HEALTH ORGANIZATION Sexual health Switzerland WHO 2007 Disponível em httpwwwwhointreproductivehealthgendersexualhealthhtml2 Acesso em 9 ago 2007 Fontes e créditos de imagens n Direitos Sexuais Disponível em httpwwwwhointreproductivehealthgender sexualhealthhtml2 Anotações Aula 13 Psicologia da Educação 215 Anotações Aula 13 Psicologia da Educação 216 A questão das drogas Aula 14 Fyllscenarios överförda 1 2 3 4 Aula 14 Psicologia da Educação 219 Apresentação O uso de drogas é outro tema multidisciplinar para o qual a Psicologia pode contribuir com uma leitura particular do problema Nesta aula vamos entender alguns dos conceitos associados a esse tema e conhecer como as drogas chamadas psicoativas atuam nos indivíduos Vamos também analisar alguns fatores de risco para a juventude e quais os modelos de prevenção que podem ser utilizados Objetivos Conhecer os principais conceitos relacionados ao uso de drogas Conhecer a classificação dos tipos de drogas de acordo com sua atuação no cérebro Compreender como ocorre o envolvimento dos jovens com as drogas Conhecer os fatores de risco e prevenção no uso de drogas pelos jovens Aula 14 Psicologia da Educação 220 Alguns conceitos iniciais A utilização de substâncias psicoativas é um fenômeno antigo na história da humanidade O uso em rituais culturais e religiosos sempre foi tolerado Nas últimas décadas entretanto em razão do aumento significativo do uso de drogas lícitas e ilícitas fora desses rituais transformouse em um verdadeiro problema de saúde pública criando a necessidade de estudos epidemiológicos que subsidiassem o estabelecimento de políticas de prevenção Em 2004 o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID fez um extenso levantamento entre estudantes de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio das 27 capitais brasileiras e observou que de um total de mais de 48000 estudantes cerca de 23 dos meninos e 21 das meninas já haviam utilizado algum tipo de droga excetuandose álcool e tabaco em algum momento de suas vidas sendo que destes 127 estavam na faixa etária de 10 a 12 anos de idade Esses são de fato números preocupantes Figura 1 O álcool é a droga de maior uso entre adolescentes Mas o que são drogas psicotrópicas De onde vem esse termo Sabemos que a palavra droga significa medicamento ou seja substância que quando utilizada provoca modificações no comportamento ou na fisiologia do corpo Psicotrópico Aula 14 Psicologia da Educação 221 é uma palavra composta psico trópico em que trópico está relacionado a tropismo cujo significado é ter atração por Assim drogas psicotrópicas são aquelas que têm atração pelo psiquismo ou seja são aquelas que atuam no cérebro modificando o psiquismo Podemos encontrar também o termo substância psicoativa como sinônimo de psicotrópica Dependendo do tipo a droga pode atuar aumentando ou diminuindo a atividade do cérebro ou mesmo provocando mudanças qualitativas ao fazer o cérebro funcionar de maneira diferente do normal Portanto as drogas psicotrópicas podem ser classificadas em a depressoras da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicolépticas tais como o álcool os hipnóticos que provocam o sono os ansiolíticos que diminuem a ansiedade os narcóticos que bloqueiam a dor como a morfina os inalantes ou solventes como as colas e as tintas b estimulantes da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicoanalépticas tais como a cocaína e as drogas anorexígenas aquelas usadas para diminuir o apetite c perturbadoras da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicodislépticas ou alucinógenas tais como a maconha o ecstasy e o LSD Figura 2 O ecstasy é uma substância sintética que perturba a atividade cerebral No citado estudo feito pelo CEBRID em 2004 as substâncias mais utilizadas pelos estudantes foram pela ordem os solventes 155 a maconha 59 e os ansiolíticos 41 No entanto quando se inclui o álcool vamos observar taxas de 65 um indicativo de que essa é a droga mais preocupante sobretudo porque apesar de provocar evidentes modificações no comportamento ela é uma substância lícita ou seja tem o seu consumo admitido e até estimulado pela sociedade Apesar de sua ampla aceitação o álcool pode provocar o alcoolismo principal causa de internação em hospitais psiquiátricos no Brasil Atividade 1 Aula 14 Psicologia da Educação 222 À medida que a pessoa vai consumindo drogas o seu organismo começa a sofrer modificações que podem fazer com que ela tenha necessidade de voltar a consumi las Antigamente o termo para isso era vício sendo tachado de viciado aquele que não conseguia deixar de utilizar uma determinada droga Aquele que usava mas conseguia deixar tinha apenas um hábito Hábito e vício eram dois termos usados para designar o grau de envolvimento do indivíduo com a droga Atualmente entendese que em qualquer uma das duas circunstâncias o indivíduo tem um transtorno de dependência A dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga mesmo tendo com esse uso problemas fisiológicos comportamentais ou cognitivos significativos A dependência pode ser psicológica quando a interrupção da droga resulta em problemas fisiológicos como malestar e ansiedade ou cognitivos como dificuldades de concentração e física quando a interrupção da droga resulta em síndrome de abstinência A síndrome de abstinência é um conjunto de sintomas físicos e comportamentais que aparece quando o uso da droga é interrompido Esses sintomas podem ser mais ou menos graves dependendo do tipo de substância que esteja sendo utilizada A síndrome de abstinência resultante da cessação do uso de hipnóticos por exemplo pode ser tão grave ao ponto de levar o indivíduo ao coma e até à morte Todos nós conhecemos alguém que tem problemas com o álcool Algumas dessas pessoas nós consideramos alcoólatras outras consideramos apenas que têm problemas com a bebida Como você caracterizaria um alcoólatra Atividade 2 Aula 14 Psicologia da Educação 223 Algumas substâncias podem levar a situações em que o indivíduo precise aumentar a quantidade ingerida para obter o mesmo efeito Por exemplo se se conseguia uma situação de euforia com um comprimido de ecstasy depois de algum tempo serão necessários dois comprimidos para que a euforia aconteça Nesses casos dizse que foi desenvolvido um quadro de tolerância Depois de conhecer esses conceitos tente agora identificar na caracterização que você fez na atividade 1 se se trata de situação de dependência psicológica ou física de tolerância ou de síndrome de abstinência O adolescente e o uso de drogas N a aula 5 A psicologia da adolescência discutimos a adolescência e vimos como se trata de uma fase muito especial na vida dos indivíduos sobretudo por ser uma fase de fragilidades emocionais de busca de identificações de experimentação da vida adulta e da tentativa de firmar a própria identidade Por tudo isso é um momento de grande vulnerabilidade o que expõe o adolescente a maiores riscos ao entrar em contato com as drogas Aula 14 Psicologia da Educação 224 Estudos psicológicos tentam entender o porquê da busca do adolescente pelas drogas Para Grynberg e Kalina 2002 o uso destas pode significar uma forma de confronto com o meio social em que vivem pois os jovens acreditam estar dando provas de sua autonomia e autosuficiência sendo capazes de alcançar seus objetivos que muitas vezes não estão muito claros Para Caldeira 1999 as causas podem estar no desafio da transgressão às normas adultas na curiosidade pelo novo e pelo proibido na pressão do grupo para assumir determinados comportamentos Como vimos na discussão sobre adolescência o grupo é um espaço de identificação e busca de segurança sendo assim é comum que seja o espaço no qual ocorrem as primeiras experimentações Scivoletto 2004 afirma que o adolescente busca no grupo encontrar sua própria identidade e olhar o outro facilita o processo O uso das drogas aparece como experimentação de novas atividades e situações a onipotência oferece a sensação de que nada de errado acontecerá expondoo a grandes perigos Por outro lado a dimensão que hoje atinge o consumo de drogas não só nos grandes centros urbanos mas também nas cidades de pequeno e médio porte faz com que as famílias se sintam inseguras e impotentes diante da possibilidade de seus jovens vivenciarem tal situação Sabemos que o comportamento individual e a formação do juízo moral são moldados por meio dos valores sociais transmitidos principalmente pela família e pela escola Assim o papel dessas duas instâncias socializadoras é fundamental na prevenção e na atuação concreta sobretudo em situações de risco Com relação à família os estudos indicam que a ocorrência de conflitos e de relacionamentos insatisfatórios entre os membros seria um fator de risco enquanto o sentimento de apoio agiria como fator de proteção Num estudo realizado por Silva et al 2006 no qual foram investigados os temores e a reação dos pais diante do uso de drogas observouse que a maioria deles conversa com os filhos sobre o assunto mas as conversas têm caráter meramente informativo ou restringemse ao compartilhamento dos temores pelas conseqüências do uso de drogas Outro dado interessante do estudo é a reação dos pais diante do uso de drogas lícitas ou ilícitas Quando sabiam que seus filhos usavam drogas lícitas como o álcool ou o tabaco a reação dos pais era de indiferença enquanto ao saber do uso de drogas ilícitas como a maconha era a cocaína a reação era de descrença na informação ou de brigas acompanhada de sentimento de tristeza impotência e medo A análise dos sentimentos dos pais possibilita uma reflexão do paradoxo sobre drogas existente na nossa sociedade em relação às drogas Por um lado através dos meios de comunicação e em reuniões sociais o uso de bebidas alcoólicas é apresentado como símbolo de sucesso prazer ou como uma ferramenta útil no enfrentamento de problemas ou para redução da ansiedade De outro lado há uma condenação ou demonização do uso das drogas ilícitas às quais só são atribuídos efeitos prejudiciais como se fosse a legalidade que determinasse a periculosidade do uso SILVA et al 2006 p 8 Aula 14 Psicologia da Educação 225 Figura 3 A indiferença familiar diante do uso de drogas lícitas pode prejudicar o jovem De um modo geral podese dizer que o que leva os jovens a usarem drogas é um conjunto de fatores denominados fatores de risco A combinação destes ou a junção de alguns torna uma pessoa mais ou menos propensa a esse uso Quem se encontra em situação de risco São considerados fatores de risco para o uso de drogas algumas características ou atributos de um indivíduo grupo ou ambiente de convívio social que contribuem em maior ou menor grau para aumentar a probabilidade desse uso Conceição e Sudbrack 2004 fizeram uma síntese sobre tais fatores a partir do que denominaram áreas da vida ou como afirmam as autoras domínios da vida que seriam o domínio individual o domínio de pares o domínio familiar o domínio comunitário e o domínio escolar Elas identificam que não há um único fator de risco determinante para o uso de drogas e que cada um desses domínios comporta fatores de risco e de proteção Vejamos quais são eles De todas as maneiras identificar o que leva um adolescente ao uso das drogas não é uma tarefa simples Muitas vezes vemos casos de famílias claramente desajustadas que não apresentam nenhum registro de consumo de drogas entre os filhos e de outras nas quais isso acontece aparentemente sem nenhuma justificativa familiar É preciso levar em conta não só a família mas também o próprio indivíduo e o meio social em que ele se encontra A enorme quantidade de variáveis implicadas nesse consumo permite um número infindável de configurações possíveis para o uso de substâncias psicoativas Aula 14 Psicologia da Educação 226 1 Domínio individual diz respeito às predisposições genéticas e psicológicas à presença ou não de transtornos ou perturbações mentais Nesse domínio teríamos Fatores de risco Fatores de proteção Baixa autoestima Apresentação de habilidades sociais Falta de autocontrole e assertividade Flexibilidade facilidade de cooperar responsabilidade e comunicabilidade Comportamento antisocial precoce Habilidade em resolver problemas e tomar decisões autonomia Doenças preexistentes ex transtorno de deficit de atenção e hiperatividade Presença de um projeto de vida Vulnerabilidade psicossocial Relação de confiança com os pais professores e colegas 2 Domínio dos pares diz respeito aos amigos e pessoas de convívio mais próximo Aqui temos Fatores de risco Fatores de proteção Pares que usam drogas ou aprovam eou valorizam seu uso Pares que não usam drogas e não aprovam ou não valorizam seu uso Dificuldade de participação em grupos que desenvolvem atividades recreativas esportivas e laborais tidas como saudáveis Participação junto com seu grupo em atividades recreativas esportivas ou laborais saudáveis Dificuldade de pertencimento a um grupo de iguais na escola ou na comunidade Pertencimento a grupos de iguais na escola ou na comunidade Dificuldade em aceitar autoridade que não compartilhe de determinações de seu grupo Aceitação de autoridade vinda de fora do grupo de pares na escola na comunidade na família Não participação em grupos de objetivos altruísticos Participação em grupos de objetivos sociais e comunitários Aula 14 Psicologia da Educação 227 3 Domínio familiar referese à forma como a família está estruturada ao seu funcionamento e à definição de suas regras e papéis Fatores de risco Fatores de proteção Uso de álcool e drogas pelos pais Valorização do padrão de vida saudável Isolamento social entre membros da família Existência de vinculação familiar Laços afetivos frágeis entre os membros da família Existência de fortes vínculos afetivos entre os membros da família Relações conflituosas excessivamente autoritárias ou permissivas entre os membros da família Predomínio do estilo compreensivo de vida sem autoritarismo ou permissividade Falta de diálogo e de comunicação entre pais e filhos Diálogo constante e comunicação eficiente entre pais e filhos Ausência e descontinuidade de critérios na aplicação das regras familiares Presença e constância de critérios na aplicação das regras disciplinares Falta de interesse dos pais pelas conquistas dos filhos não participação nos seus sucessos ou fracassos Demonstração de interesse pela vida dos filhos e participação nos seus sucessos ou fracassos Incongruência ou incoerência dos pais quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos Coerência e congruência quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos Expectativas negativas em relação aos filhos Expectativas positivas em relação aos filhos Pais que não fornecem um bom modelo não sabendo transmitir as normas e os valores morais e sociais aceitáveis Presença de pais como modelo positivo quanto às questões sóciomorais Tolerância com relação ao uso de drogas pelos jovens Postura repressora e reflexiva quanto ao uso de drogas pelos jovens Ausência da função paterna Presença da função paterna 4 Domínio comunitário diz respeito à facilidade ou não de acesso às drogas à falta de fiscalização das leis Os fatores de risco e proteção são Fatores de risco Fatores de proteção Falta de oportunidade socioeconômica para a construção de um projeto de vida Existência de oportunidades de estudo trabalho e de inserção social que possibilitem ao jovem concretizar seu projeto de vida Fácil acesso às drogas lícitas e ilícitas Controle efetivo do comércio de drogas legais e ilegais Permissividade em relação a algumas drogas Repressão e reflexão quanto ao uso de drogas legais e ilegais Inexistência de incentivo para que o jovem se envolva em serviços comunitários Incentivo ao envolvimento dos jovens em serviços comunitários Negligência no cumprimento de normas e leis que regulam o uso de drogas pelos jovens Realização de campanhas e ações que ajudem o cumprimento das normas e leis que regulam o uso de drogas pelos jovens Aula 14 Psicologia da Educação 228 5 Domínio da escola neste domínio temos o entrecruzamento de fatores de risco e proteção de todos os outros domínios Fatores de risco Fatores de proteção Indefinição ou falta de comunicação e negociação de normas regras e limites Definição comunicação e negociação de normas regras e limites Incoerência e incongruência entre os agentes educativos na prática de normas Coerência e congruência entre agentes educativos na aplicação de normas e regras escolares Relação desrespeitosa e falta de responsabilidade e compromisso entre os agentes educativos Relação de respeito mútuo compromisso e cooperação entre os agentes educativos Ausência da relação entre família e escola Relações amistosas de cooperação entre família e escola Falta de estímulo às práticas escolares Estímulo à prática das atividades escolares Ausência de expectativas positivas em relação ao desempenho dos alunos Verbalização das expectativas positivas com relação ao desempenho dos alunos Ausência de atividades criativas e estimulantes que ajudem na criação de vínculos entre o aluno e a escola Promoção de práticas criativas e estimulantes Relações preconceituosas em relação aos alunos com a utilização de rótulos como forma de punição e exclusão Relações abertas honestas sem atitudes negativas punitivas ou preconceituosas Ausência de afetividade e confiança na relação professoraluno e no ambiente escolar Fortes vínculos afetivos e de confiança entre alunos e professores e dentro do ambiente escolar Relações professoraluno baseadas no autoritarismo ou no excesso de permissividade Relações professoraluno baseadas no respeito mútuo Falta de estímulo às práticas educativas de cooperação e solidariedade Estímulo e exercício dos princípios da cooperação e da solidariedade Falta de controle quanto à presença de drogas na escola Controle da presença de drogas Como podemos ver o problema não é simples nem pode ser encarado com valorações moralistas Qualquer atuação que vise enfrentar o problema das drogas precisa estar atenta para evitar posturas que induzam à estigmatização e à marginalização Vale destacar aqui as recomendações em caso do uso de drogas pelo adolescente de Conceição e Sudbrack 2004 p 5 que se aplicam sobretudo aos educadores 1 Não confrontar diretamente 2 Não acusar ou procurar culpados 3 Mostrarse ao lado do adolescente sem compactuar com o uso na busca de uma resolução para o problema Atividade 3 Aula 14 Psicologia da Educação 229 4 Ajudar o adolescente a perceber o benefício que ele terá com a abstinência ou com o tratamento Se ele acha que precisa parar por imposição social ou para agradar este ou aquele a tentativa pode falhar 5 Não usar da culpa como arma para convencimento isso pode até funcionar durante um período mas não se sustenta Aliás fuja do mecanismo da culpa no qual se estabelece uma troca de acusações para se determinar o mais culpado e o mais atingido o problema continua sem solução 6 Jamais esquecer que se trata de uma dificuldade e não um defeito Lembrar que para lidar com dificuldades como essa existem equipes de educadores psicólogos enfermeiros assistentes sociais médicos psiquiatras terapeutas ocupacionais etc Não tente resolver tudo sozinho Procure ajuda todo cidadão tem direito de ser assistido em caso de doenças biológicas psíquicas etc CONCEIÇÃO SUDBRACK 2004 p 5 Agora que vimos os aspectos envolvidos na busca da droga por parte dos adolescentes vamos fazer um exercício reflexivo acerca dos pontos que elencaríamos para compor uma proposta de programa de prevenção às drogas em uma escola Descrevaos a seguir Resumo 1 2 3 4 5 Aula 14 Psicologia da Educação 230 Nesta aula conhecemos os principais conceitos utilizados sobretudo pela Medicina quanto ao uso de drogas Conhecemos também uma maneira de classificar as drogas psicoativas quanto à forma como elas atuam no sistema nervoso central Analisamos os fatores psicológicos que fazem os adolescentes se envolverem com o consumo de drogas e conhecemos os fatores de risco e de proteção que envolvem esse uso Autoavaliação Que são substâncias psicotrópicas Como se classificam essas substâncias Qual a diferença entre dependência física e dependência psicológica Que fatores levam o adolescente ao uso das drogas Destaque a importância dos domínios da vida enquanto fatores de risco para o consumo de drogas Aula 14 Psicologia da Educação 231 Referências CALDEIRA Zelia Freire Drogas indivíduo e família um estudo de relações singulares 1999 Dissertação Mestrado Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Rio de Janeiro 1999 CONCEIÇÃO M I G SUDBRACK M F O Fatores de risco e de proteção no envolvimento de adolescentes com drogas In SUDBRACK M F O Debate adolescentes e drogas no contexto da escola Programa Salto para o Futuro programa 3 Disponível em http wwwtvebrasilcombrSALTOboletins2004dadtetxt3htm Acesso em 09 ago 2007 GALDURÓZ José Carlos F et al V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras São Paulo CEBRID 2004 Disponível em httpwwwunifesp brdpsicobiocebridlevantamentobrasil2indexhtm Acesso em 13 ago 2007 GRYNBERG Halina KALINA Eduardo Aos pais de adolescentes viver sem drogas Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1999 SCIVOLETTO S ANDRADE E R A cocaína e o adolescente In LEITE M C ANDRADE A G Orgs Cocaína e crack dos fundamentos ao tratamento Porto Alegre Artes Médicas 1999 cap 8 p137153 SILVA Eroy Aparecida da et al Drogas en la adolescencia temores y reacciones de los padres Psicol teor prat São Paulo v 8 n1 p4154 2006 Disponível em httppepsicbvspsi orgbrscielophpscriptsciarttextpidS151636872006000100004lngesnrmiso Acesso em 09 ago 2007 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 232 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 233 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 234 15 Aula Os meios de comunicação de massa undgendta tyktnehas 1 2 3 4 Aula 15 Psicologia da Educação 237 Apresentação O s meios de comunicação de massa estão cada vez mais presentes na nossa vida cotidiana Com a melhoria das condições de vida dos brasileiros a televisão por exemplo está praticamente em todas as casas e muitas vezes ligada a maior parte do dia Nesse contexto algumas questões como de que forma esses meios interferem em nossos comportamentos e por que nos deixamos influenciar por eles serão que discutidas nesta aula Objetivos Conhecer a evolução dos meios de comunicação e sua influência na cultura Discutir a interferência dos meios de comunicação na subjetividade dos sujeitos Discutir o papel da propaganda e seus mecanismos de manipulação Discutir a relação entre Educação e meios de comuni cação de massa Aula 15 Psicologia da Educação 238 Da tradição oral ao ciberespaço N o final dos anos 60 do século XX o filósofo canadense Marshall McLuhan 1911 1980 lançou um livro chamado A galáxia de Gutemberg do qual uma ideia ficou famosa até hoje a ideia de que o mundo estava se transformando em uma aldeia global Para McLuhan 1977 o progresso tecnológico estava reduzindo o planeta a uma situação semelhante ao que ocorre em uma aldeia onde qualquer pessoa pode se comunicar com outra diretamente e as mensagens são passadas quase instantaneamente O modelo de progresso tecnológico era a televisão que naquela época começava a se interligar por satélite e fazer transmissões simultâneas para todo o mundo As ideias de McLuhan ajudaram a trazer para a ordem do dia a discussão sobre os meios de comunicação e sua interferência na vida das pessoas Para ele a análise da evolução midiática mostra como ela foi determinante na transformação das culturas Nesse sentido afirma que é possível distinguir três culturas nessa evolução 1 a cultura oral própria das sociedades não alfabetizadas utiliza a palavra falada como o principal meio de comunicação Nesta cultura o homem estaria mais próximo das coisas e pela riqueza das modulações da palavra oral conseguiria transmitir e receber as sutis variações dos estados afetivos dos envolvidos na comunicação A experiência seria rica e variada suscitando a criatividade de quem fala e de quem ouve deixando o ouvinte livre para imaginar ao seu modo a realidade e os acontecimentos A cultura oral por implicar um falante e um ouvinte também estimula a proximidade entre as pessoas favorecendo o estabelecimento de fortes vínculos grupais Essa cultura ainda persiste entre nós na figura dos contadores de histórias Aqueles dentre nós que não são tão jovens devem recordar as histórias contadas pelas nossas avós nos fazendo viajar na imaginação Aula 15 Psicologia da Educação 239 2 a cultura tipográfica caracteriza as sociedades alfabetizadas privilegia a palavra escrita e consequentemente a leitura valorizando mais a visão do que a fala A palavra escrita comunica em um sentido único diminuindo a capacidade expressiva e comunicativa da experiência subjetiva do mundo determinando uma consciência linear e um modo de vida repetitivo e uniformizante entre indivíduos singulares Por outro lado ela propicia a ordenação lógica do discurso permitindo a construção de saberes racionais e pela sua capacidade de reprodução favorece a permanência no tempo e no espaço possibilitando a construção de coletividades nacionais e do registro de memórias A palavra escrita criou condições de democratização da instrução e vulgarização do saber 3 a cultura eletrônica decorrente do surgimento dos meios eletrônicos de comunicação definese pela comunicação rápida e instantânea Pelo caráter massivo de sua difusão ela permite compartilhar experiências entre pessoas muito distantes promovendo um novo tipo de aproximação social em larga escala Os meios eletrônicos por atuarem no campo auditivo e visual atingem de forma múltipla a sensibilidade permitindo uma apreensão pluridimensional e polimórfica da mensagem Assim a cultura eletrônica de certa forma resgata a riqueza expressiva da comunicação oral com a vantagem de manter o registro típico da comunicação tipográfica Vale lembrar que quando McLuhan difundiu essas suas ideias a Internet ainda estava longe de ser desenvolvida O modelo de comunicação eletrônica que ele utiliza é a televisão como dissemos anteriormente Nesse sentido podemos dizer que ele foi um visionário Outro autor que também estuda a interferência dos meios nos comportamentos humanos é Manuel Castells 1999 Em sua obra A Era da Informação Economia Sociedade e Cultura identifica o surgimento de uma nova estrutura social a sociedade em rede como fato sobretudo da revolução da informática De certa forma essa nova sociedade já havia sido antecipada por McLuhan quando distinguiu a cultura eletrônica No entanto a análise de Castells observa dois outros fenômenos que surgem concomitantemente à sociedade em rede e que vão atuar em conjunto fortalecendo as características da nova estrutura social a economia globalizada e a cultura da virtualidade do real Essa nova cultura foi chamada por Pierre Levy 1999 de cibercultura definindoa como o conjunto de atitudes valores práticas e modos de pensamento que se desenvolve com o novo meio de comunicação surgido a partir da interconexão mundial dos computadores É a internet ou ciberespaço que favorece o surgimento da cibercultura Assim as novas tecnologias de informação e comunicação fizeram surgir uma nova forma de difusão da informação novas formas de relações sociais e práticas comunicacionais entre as pessoas uma nova ética e até mesmo uma nova forma de arte No entanto essas novas subjetividades ainda convivem com as anteriores Sabemos que a exclusão digital é uma realidade presente em países como o nosso sobretudo em regiões menos desenvolvidas economicamente Nessas regiões ainda estamos na cultura eletrônica da televisão do rádio e em menor escala da imprensa É portanto mais especificamente nesses meios de comunicação de massa que vamos focalizar a nossa discussão Aula 15 Psicologia da Educação 240 Os meios de comunicação e a subjetividade O s meios de comunicação de massa também chamados mídia em referência ao termo inglês mass media ou meios de massa têm ganhado nos últimos tempos uma importância enorme ao ponto de ser chamado de quarto poder E são chamados assim pela sua grande influência na formação da opinião das pessoas na aquisição de atitudes e comportamentos sobretudo devido à penetração particularmente da televisão em todas as regiões do nosso país Exemplos disso não faltam as novelas moldam a maneira das pessoas se vestirem programas como o Big Brother são temas de conversas e discussões sobre o comportamento de seus participantes as notícias divulgadas nos telejornais passam a ter força de verdade absoluta Podemos considerar que adquirimos a cultura de nosso grupo social também por esses meios Eles são veículos de informação e de valores que nos constituem como sujeitos em nossa sociedade Assim podemos dizer que a mídia tem grande importância na construção da subjetividade das pessoas e por isso uma importante discussão que se coloca hoje em dia é a questão da ética nos meios de comunicação Um filme bastante interessante que discute o papel da imprensa na perspectiva de um quarto poder é Wag the dog cuja tradução brasileira é Mera Coincidência Tratase da manipulação da informação para desviar a atenção do público de um grande escândalo envolvendo o presidente norteamericano Atividade 1 Aula 15 Psicologia da Educação 241 Você considera que essa influência da mídia tem efeito positivo ou negativo na formação da consciência das pessoas Por quê Sabemos que a mídia à semelhança de outras instituições sociais tem a ambivalência de ter que preservar os valores sociais e ao mesmo tempo ser inovadora porque a novidade é o elemento fundamental para um aumento de público Mas ela tem um aspecto particular no nosso país a maioria dos veículos de comunicação é formada por empresa privada e como tal defende os interesses econômicos dos grupos que controlam o capital Portanto essas empresas não são transparentes nem inocentes e o compromisso com a verdade apesar de fazer parte do slogan de algumas delas não pode ser considerado de uma forma absoluta Isso fica mais evidente nos períodos de campanha eleitoral quando os jornais eou as emissoras de televisão que pertencem a um determinado grupo político destacam as mazelas dos candidatos adversários e amenizam as dos seus próprios candidatos Aula 15 Psicologia da Educação 242 em off Termo que faz parte do jargão jornalístico significa informações não gravadas ou seja sua fonte não pode ser divulgada Quando se questiona a mídia sobre a ética na maneira de abordar determinadas questões uma argumentação frequente é que a de imprensa precisa ser livre para torna os cidadãos bem informados Sem dúvida Nosso país viveu anos sob uma ditadura militar convivendo com a censura à imprensa na forma de censura prévia de proibição de citação de determinados nomes de pessoas ou de assuntos Foram anos negros que provocaram uma triste lembrança No entanto após todo esse tempo de imprensa livre volta à tona a discussão da ética na mídia A imprensa hoje mais do que em qualquer época está sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off Informações que visam apenas denegrir a imagem de outros políticos são publicadas baseadas em declarações cuja veracidade não é verificada pelosjornalistas É o jornalismo baseado no denuncismo que só se explica pela guerra em busca da audiência por quantas primeiras capas as revistas conseguirem publicar Sobram acusações mas faltam investigações e análises isentas das denúncias Compreender os fatores que determinam a existência de uma mídia não isenta atrelada aos interesses dos seus proprietários é fundamental para que se faça uma leitura crítica do conteúdo divulgado e que seja possível ter informação que nos constitua como verdadeiros cidadãos Por outro lado sabemos que uma mentira repetida por muito tempo não se torna verdade Atribuise a Abraham Lincoln a frase É possível enganar todas as pessoas por algum tempo ou enganar algumas pessoas por todo o tempo mas não é possível enganar a todas as pessoas por todo o tempo De uma maneira geral as pessoas sabem que quando se trata de tema polêmico elas não devem acreditar integralmente na notícia veiculada pelos meios de comunicação O trabalho de Lins e Silva apud BOCK 1999 sobre a audiência do Jornal Nacional da Rede Globo entre trabalhadores paulistas reforça essa afirmação Na época em que a pesquisa foi feita anos 1980 havia o mito de que a grande audiência desse telejornal dava às noticias que ele veiculava a força da verdade ao ponto de nenhuma outra emissora contestar as informações O estudo no entanto mostrou que os trabalhadores o assistirem o noticiário sobre greves faziam uma releitura da informação e a reconstruíam de acordo com a visão sindical da cultura operária Eles tinham fontes alternativas de informação para avaliarem o material veiculado pela televisão que era a imprensa sindical e sobretudo as suas próprias vivências Atividade 2 Aula 15 Psicologia da Educação 243 Observe o noticiário dos principais canais de televisão Assista ao que é transmitido por um deles e anote as principais notícias Assista aos demais e compare as notícias quanto ao seu tipo de abordagem Anote a seguir as suas observações e consequentes conclusões a Observações b Conclusões Atividade 3 Aula 15 Psicologia da Educação 244 A propaganda e o controle da subjetividade N o campo da comunicação a publicidade vem cada vez mais desempenhando papel fundamental Para vender um produto ela se utiliza de um mecanismo psicológico chamado persuasão que é o mecanismo de convencimento utilizado por uma pessoa sobre outra de modo a induzila a tomar determinadas atitudes Inúmeros exemplos poderiam ser citados Observe um comercial de alguma marca de margarina a representação é de um mundo perfeito com uma família harmoniosa filhos encantadores e a mulher no seu papel de dona de casa feliz De uma maneira sutil somos convencidos de que aquele produto nos propiciará aquele ambiente Neste instante temos a nossa subjetividade capturada pela propaganda de uma maneira tal que se torna difícil impormos alguma resistência fomos persuadidos Vamos prestar atenção aos intervalos comerciais Observe as propagandas veiculadas Se possível observeas em diferentes momentos do dia Escolha uma delas analise que tipo de persuasão está implícito na mensagem e anote suas observações a seguir Aula 15 Psicologia da Educação 245 Muitas vezes a persuasão ocorre com base em informações concretas e objetivas ou seja o convencimento tenta atingir a nossa esfera cognitiva nos abordando com argumentos racionais É o caso por exemplo de uma peça publicitária que descreve as características de um produto Posso decidir pela compra de uma geladeira porque a propaganda diz que ela consome menos energia ou posso escolher estudar em determinada escola porque a publicidade indica que nela estão os professores mais qualificados Outras vezes no entanto a propaganda nos atinge pelo lado das emoções associando estas ao conteúdo das mensagens Nesse caso a persuasão atinge mais profundamente o campo da nossa subjetividade Figura 1 A lógica nem sempre motiva a compra de um produto Você já deve ter observado exemplos de propagandas do tipo uma marca de carro cuja sua imagem é associada à de um jovem aventureiro criando a ideia de que quem compra aquele carro viverá as mesmas aventuras um determinado xampu associado a lindas mulheres um banco que substitui o seu nome pelo do cliente tentando criar a imagem de um banco pessoal A mensagem é subliminar e funciona porque por um lado é repetida várias vezes e por outro atinge o nosso subconsciente Funciona mais ou menos assim no nosso cotidiano temos que enfrentar a rotina da nossa vida que nos exige atitudes comportamentos nos faz seguir regras e normas tornandoa a maior parte do tempo uma vida sem graça Essa rotina é suportada porque temos no nosso psiquismo mecanismos de defesa contra frustrações e que nos preparam para suportar as restrições sociais criando em nós um padrão de comportamento conformista A propaganda nos desperta desse conformismo acenando com objetos de desejo imaginários que estavam recolhidos no nosso subconsciente e os associa aos produtos anunciados Assim criamos em nós inconscientemente a ideia de que se comprarmos o produto nossos desejos se realizarão e sairemos da mesmice cotidiana Voltamos a afirmar que todo esse processo não ocorre de forma consciente ou seja não nos damos conta de que estamos comprando o produto por esses motivos pois mesmo se formos questionados em relação à compra daremos todos os argumentos racionais possíveis Atividade 4 Aula 15 Psicologia da Educação 246 Retome a atividade 3 O que você observou teria relação com o conceito de persuasão que mobiliza nossas fantasias inconscientes Comente a respeito disso propaganda ideológica Chauí 1984 p923 salienta que a ideologia é o processo pelo qual as ideias da classe dominante se tornam ideias de todas as classes sociais se tornam ideias dominantes Como vimos a propaganda nos atinge por meio nossas funções cognitivas como também por nossas funções afetivas usando argumentos racionais ou emocionais respectivamente No entanto existe um tipo particular de propaganda que nos envolve pelo aspecto cognitivo mas tem o objetivo de mudar nossas crenças e valores é a propaganda ideológica Ela tem a função de mudar as ideias e convicções dos indivíduos e com isso orientar seu comportamento social Quando uma pessoa é impedida de se orientar segundo suas crenças ou faz resistência a essa mudança e tenta evitar as situações de controle ou muda seu modo de pensar A propaganda ideológica aposta nessa segunda possibilidade e para isso muitas vezes manipula a informação ou não a divulga de maneira clara e objetiva passando no entanto a impressão de que está sendo o mais imparcial possível Há um exemplo histórico desse tipo de propaganda aquela criada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial que difundia a supremacia da raça ariana e a caracterização do povo judeu como raça inferior Assim a propaganda ideológica não vende um produto mas uma ideia As mensagens apresentam uma versão da realidade que visa manter a sociedade na situação em que se encontra ou têm o objetivo de transformar aspectos da estrutura social econômica política ou cultural para atender aos interesses de classe As informações são fragmentadas e descontextualizadas de modo a criar condições para que o entendimento ocorra dentro da perspectiva do produtor da propaganda Mecanismos ideológicos são criados diariamente para impedir que tenhamos um olhar crítico sobre a realidade e que busquemos informações diferentes das veiculadas nos meios de comunicação de massa Atividade 5 Aula 15 Psicologia da Educação 247 Observe a imagem a seguir Tratase da foto de um outdoor na cidade de São Paulo em outubro de 2006 Anote o que você observa como tentativa de vender uma ideia Faça outras observações que considera pertinentes ao tema aqui discutido Resumo Aula 15 Psicologia da Educação 248 Os meios de comunicação e a escola a importância da leitura crítica P ara o pedagogo brasileiro Paulo Freire 2005 a Educação ocorre quando permite ao sujeito transitar de uma consciência ingênua para uma consciência crítica O professor tem papel fundamental nesse processo quando através do diálogo ajuda a desvelar as verdadeiras causas da opressão Como vimos os meios de comunicação de massa podem atuar como veículos de propaganda ideológica portanto o professor tem um papel a desempenhar ajudando os alunos a desenvolverem uma leitura crítica Um dos estudiosos dos meios de comunicação e sua relação com a escola Juan Manoel Moran 1994 relata como é complexo analisar os meios de comunicação uma vez que para a maioria das pessoas eles representam a modernidade a novidade o fascínio o lazer ou seja apresentam uma dimensão positiva e representam um modo de vida desejável Em consequência disso propor uma leitura crítica pode gerar resistência Para ele então é preciso problematizar o que não é visto como problema e desideologizar o que só é visto como ideologia MORAN 1994 p 16 É preciso assim educar para a comunicação porque essa formação ajuda a compreender as novas codificações as sutilezas da imagem da música da articulação entre o verbal o visual o escrito permite entender as articulações comerciais empresariais financeiras e políticas do complexo de comunicação MORAN 1994 p 16 Nesta última aula da nossa disciplina discutimos o papel da mídia na formação das culturas Vimos como as informações podem ser manipuladas para atender os interesses patronais Analisamos o papel da propaganda na manipulação de nossas subjetividades e por último buscamos entender a importância do papel do educador enquanto facilitador de uma leitura crítica dos meios de comunicação 1 2 3 4 5 Aula 15 Psicologia da Educação 249 Autoavaliação Resuma os períodos de evolução da cultura quanto aos meios de comunicação segundo McLuhan Em que pontos Castells avança em relação às ideias de McLuhan O que é persuasão e de que forma ela pode ocorrer Do ponto de vista psicológico como atua a propaganda nas nossas mentes O que é propaganda ideológica Referências BOCK A M FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias São Paulo Saraiva 1999 CASTELLS M O poder da identidade In CASTELLS M A era da informação economia sociedade e cultura São Paulo Paz e Terra 1999 v 2 CHAUÍ Marilena de Souza O que é ideologia São Paulo Abril CulturalBrasiliense 1984 FREIRE P Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2005 LEVY P Cibercultura São Paulo Editora 34 1999 McLUHAN Herbert Marshall A Galáxia de Gutemberg 2 edSão Paulo Companhia Editora Nacional 1977 MORAN J M Educação comunicação e meios de comunicação São Paulo FDE 1994 p 1317 Série Ideias 9 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 250 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 251 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 252 Psicologia da Educação 253 Anotações Psicologia da Educação 254 Anotações 1234 Ãtspan x0 y0 tspantexttext idtext7 fillrgb0 0 0 fontfamilyPrivate fontsize27 fontweight700 stylewebkittaphighlightcolor rgba0 0 0 0tspan x0 y32hej hejtspantext Esta edição foi produzida em setembro de 2014 no Rio Grande do Norte pela Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte SEDISUFRN sobre papel offset 90 gm2 SEDIS Secretaria de Educação a Distância UFRN Campus Universitário Praça Cívica NatalRN CEP 59078970 sedissedisufrnbr wwwsedisufrnbr SEDIS SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB Ministério da Educação GOVERNO FEDERAL BRASIL PAÍS RICO É PAÍS SEM POBREZA Baseandose na visão de Gardner sobre as múltiplas inteligências considerase que o menino apresentado no estudo de caso é inteligente pois a sua capacidade de ensinar e compartilhar conhecimentos sobre tratores e mecânica relacionase à inteligência interpessoal e intrapessoal Além disso o seu desenvolvimento em atividades que envolvam a prática como o auxílio na fazenda demonstra a ação da inteligência naturalista pois mesmo ele possuindo dificuldades acadêmicas tradicionais suas habilidades em outras áreas destacam uma diversidade de inteligências além dos padrões convencionais de sucesso escolar e não acadêmicos ao qual reflete a compreensão mais ampla de inteligência proposta por Gardner
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
14
Teorias Psicológicas sobre a Experiência Religiosa: O Pensamento de William James
Psicologia Social
UMG
26
Cronograma e Avaliação da Disciplina de Psicologia - Módulo I
Psicologia Social
UMG
1
Guia de Citações e Referências Bibliográficas - Normas e Exemplos
Psicologia Social
UMG
25
Analise do Livro Tchau de Lygia Bojunga - Ciume e Adolescencia
Psicologia Social
UMG
28
Autobiografia Escrita na Orientacao Vocacional - Estudo e Aplicacao
Psicologia Social
UMG
28
Psicologia do Desenvolvimento-Linguagem Mudanca e Estabilidade
Psicologia Social
UMG
4
Analise Psicologica da Experiencia Religiosa - Resumo e Quadro Comparativo das Teorias
Psicologia Social
UMG
5
Sintese do Filme Bicho de Sete Cabeças Analise Psicologica e Direitos Humanos
Psicologia Social
UMG
1
Resenha Critica Rapido e Devagar - Daniel Kahneman - Marinha
Psicologia Social
UMG
5
Brené Brown - O Poder da Coragem - Análise do Documentário Netflix
Psicologia Social
UMG
Preview text
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA SEDIS Psicologia da Educação Profª Cynara Teixeira Ribeiro ATIVIDADE DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO A partir da leitura do material didático 02 A inteligência formem grupos de 5 pessoas e reflitam sobre o depoimento abaixo respondendo à questão proposta à luz das visões psicológicas acerca da inteligência UM REPETENTE FALA SOBRE O CURRÍCULO Não eu não gosto da escola Esta é a segunda vez que eu repito a 4ª série estou muito maior que os outros alunos Entretanto os meus colegas gostam de mim Não falo muito em aula fora da sala sei ensinar um mundo de coisas Eles estão sempre me rodeando e isto compensa tudo que acontece na sala Eu não sei porque a professora não gosta de mim Na verdade ela nunca me deu atenção parece que nunca acredita que a gente sabe alguma coisa a não ser que a gente possa dizer o nome do livro onde aprendeu Na escola a gente tem de aprender tudo o que está no livro e eu não consigo guardar Ano passado fiquei na escola depois da aula todos os dias durante duas semanas tentando aprender o nome dos estados brasileiros Claro que eu não conhecia todos conhecia alguns como Espírito Santo São Paulo e Paraná para onde meu tio foi com a família para plantar café Mas é preciso saber todos e por região e isso eu nunca sei Também não ligo muito pois os meninos que aprendem os nomes dos estados têm que aprender as capitais depois Acho que nunca consegui decorar nomes de todos os ossos do corpo humano Este ano comecei a aprender um pouco sobre tratores porque meu tio tem três para aluguel e disse que vai me deixar dirigir quando eu fizer 16 anos Já sei bastante sobre cavalo vapor e marchas de diferentes marcas de trator a Diesel É gozado como os tratores de motores a Diesel funcionam Comecei a falar sobre eles com a professora de ciência na quartafeira passada quando a bomba que a gente usava para obter o vácuo esquentou Mas a professora disse que não via relação entre motor Diesel e a nossa experiência sobre pressão do ar Fiquei inquieto Mas os colegas parecem gostar Levei quatro deles a garagem do meu tio e vimos o mecânico desmontar um motor Diesel Rapaz e como ele entende disso Eu também não sou forte em geografia Durante toda esta semana estudamos o que o Brasil importa e exporta mas eu não sei bulhufas Talvez porque faltei aula pois meu tio me levou em uma viagem de mais ou menos 400 quilômetros de distância Fomos de caminhão e trouxemos duas toneladas de adubo de São José dos Campos meu tio tinha me dito onde estávamos indo e eu tinha que indicar as estradas e a distância em quilômetros Ele só dirigia o caminhão e virava à direita à esquerda quando eu mandava Como foi bom Paramos sete vezes e dirigimos mais de oitocentos quilômetros ida e volta Estou tentando calcular o óleo e o desgaste em quilômetros Eu costumo fazer as contas e escrever as cartas para todos os fazendeiros sobre os porcos e bois abatidos Houve apenas três erros em dezessete cartazes erros em dezessete cartas e diz minha tia só problemas de vírgulas Se eu pudesse escrever as redações bem assim Outro dia o assunto era o que uma rosa leva da primavera e não deu Também não dou para matemática Parece que não consigo me encontrar nos problemas Um deles era assim se um poste telefônico com 11351m de comprimento cair atravessado em uma estrada de modo que 2271m sobrem de um lado e 318m do outro qual a largura da estrada Acho uma bobagem calcular largura de estrada Nem tentei responder pois o problema também não dizia se o poste tinha caído reto ou torto Também não sou bom em educação artística Todos nós fizemos um marcador de livros e uma cruz todinha de palitos de fósforo Os meus foram péssimos Também não me interessei Lá em casa não temos livros e me doeu muito usar o palito de fósforo novinho quando a minha mãe diz sempre para economizar fósforo pois custa dinheiro Bem eu queria fazer um barquinho de madeira com o assento de tábua Mas a professora não deixou porque todos os alunos tinham que fazer a cruz de palitos de fósforo Moral e Cívica é fogo Andei ficando depois da aula tentando aprender os direitos e deveres do cidadão A professora disse que só poderíamos ser bons cidadãos sabendo disso E eu quero ser bom cidadão mas detestava ficar depois da aula porque um bando de meninos estava limpando um terreno para fazer um campo de futebol para as crianças da nossa comunidade Eu até fiz as traves do gol usando uns canos velhos Conseguimos dinheiro vendendo verduras da nossa horta para comprar a bola e um jogo de camisas O pai disse que eu posso sair da escola quando fizer 15 anos Estou doido para fazer isso porque há um mundo de coisas que quero aprender e já estou ficando velho Autor desconhecido QUESTÕES 1 Em duplas ou trios escolham uma das três concepções de inteligência apresentadas no Módulo 02 do Material Didático da disciplina visão clássica visão de Gardner e visão de Goleman e justifiquem com base na concepção escolhida se o menino retratado no texto pode ser considerado inteligente A resposta deve ter no máximo 10 linhas Valor da Atividade 30 pontos Data máxima para entrega 07042023 Psicologia da Educação Vera Lúcia do Amaral Interdisciplinar Psicologia da Educação EDUC 101 Psicologia da educação Prof Dr Marcio Sarrocco tarefa nº1 1 1 Cite e descreva resumidamente as três principais abordagens da psicologia da Educação R Muitas abordagens da psicologia foram úteis para a educação pois muitas delas estudavam formas como o ser humano se desenvolvia e aprendia Natal RN 2014 Interdisciplinar Psicologia da Educação Vera Lúcia do Amaral 2ª Edição Catalogação da publicação na fonte Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Marcos Aurélio Felipe COORDENAÇÃO DE REVISÃO Maria da Penha Casado Alves COORDENAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO Ivana Lima GESTÃO DO PROCESSO DE REVISÃO Rosilene Alves de Paiva GESTÃO DO PROCESSO DE DESIGN GRÁFICO Dickson de Oliveira Tavares PROJETO GRÁFICO Ivana Lima REVISÃO DE MATERIAIS Ailson Alexandre Câmara de Medeiros Andreia Maria Braz da Silva Camila Maria Gomes Cristiane Severo da Silva Cristinara Ferreira dos Santos Edneide da Silva Marques Emanuelle Pereira de Lima Diniz Eugenio Tavares Borges Fabiola Barreto Gonçalves Julianny de Lima Dantas Simião Margareth Pereira Dias Orlando Brandão Meza Ucella Priscilla Xavier de Macedo Rosilene Alves de Paiva Verônica Pinheiro da Silva FICHA TÉCNICA EDITORAÇÃO DE MATERIAIS Alessandro de Oliveira Paula Amanda de Lima Cabral Amanda Duarte Anderson Gomes do Nascimento Carolina Aires Mayer Carolina Costa de Oliveira Dickson de Oliveira Tavares Heloisa Fernandes Ferreira Nunes José Agripino de Oliveira Neto Leticia Torres Luciana Melo de Lacerda Mauricio da Silva Oliveira Junior Revisão de estrutura e linguagem Eugenio Tavares Borges Jânio Gustavo Barbosa Thalyta Mabel Nobre Barbosa Revisão de língua portuguesa Janaina Tomaz Capistrano Sandra Cristinne Xavier da Câmara Revisão de normas da ABNT Verônica Pinheiro da Silva Diagramação Bruno de Souza Melo Dimetrius de Carvalho Ferreira Ivana Lima Johann Jean Evangelista de Melo Criação e edição de imagens Adauto Harley Carolina Costa de Oliveira Módulo matemático André Quintiliano Bezerra da Silva Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira Thaisa Maria Simplício Lemos Revisão tipográfi ca Leticia Torres Nouraide Queiroz IMAGENS UTILIZADAS Banco de Imagens Sedis UFRN Fotografi as Adauto Harley Free Images wwwfreeimagescom Flickrcom wwwfl ickrcom PixaBay wwwpixabaycom Governo Federal Presidenta da República Dilma Vana Rousseff VicePresidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Henrique Paim Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN Reitora Ângela Maria Paiva Cruz ViceReitora Maria de Fátima Freire Melo Ximenes Secretaria de Educação a Distância SEDIS Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Morais Todos as imagens utilizadas nesta publicação tiveram suas informações cromáticas originais alteradas a fi m de adaptaremse aos parâmetros do projeto gráfi co Copyright 2005 Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte EDUFRN Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educação MEC Sumário Apresentação Institucional 5 Aula 1 A psicologia e sua importância para a educação 7 Aula 2 A inteligência 25 Aula 3 A vida afetiva emoções e sentimentos 43 Aula 4 Crescimento e desenvolvimento 57 Aula 5 A psicologia da adolescência 71 Aula 6 A formação da identidade alteridade e estigma 87 Aula 7 Como se aprende o papel do cérebro 101 Aula 8 Como se aprende a visão dos teóricos da educação 119 Aula 9 Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto 137 Aula 10 A dinâmica dos grupos e o processo grupal 155 Aula 11 A família 173 Aula 12 A escola como espaço de socialização 187 Aula 13 Sexualidade 201 Aula 14 A questão das drogas 217 Aula 15 Os meios de comunicação em massa 235 Along with all personal newspapers magazines and books Hi Prism also prints the daily newspaper schedule national and international news and popular books and specialized magazines according to customers preferences 5 Apresentação Institucional A Secretaria de Educação a Distância SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN desde 2005 vem atuando como fomentadora no âmbito local das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação a Distância SEED o Ministério da Educação MEC e a Universidade Aberta do Brasil UABCAPES Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição a primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico sendo implementados cursos de licenciatura e pósgraduação lato e stricto sensu a segunda voltase para a Formação de Gestores Públicos através da oferta de bacharelados e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD a SEDIS tem disponibilizado um conjunto de meios didáticos e pedagógicos dentre os quais se destacam os materiais impressos que são elaborados por disciplinas utilizando linguagem e projeto gráfi co para atender às necessidades de um aluno que aprende a distância O conteúdo é elaborado por profi ssionais qualifi cados e que têm experiência relevante na área com o apoio de uma equipe multidisciplinar O material impresso é a referência primária para o aluno sendo indicadas outras mídias como videoaulas livros textos fi lmes videoconferências materiais digitais e interativos e webconferências que possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem Assim a UFRN através da SEDIS se integra ao grupo de instituições que assumiram o desafi o de contribuir com a formação desse capital humano e incorporou a EaD como moda lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pósgraduação no Brasil No Rio Grande do Norte a UFRN está presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões ofertando cursos de graduação aperfeiçoamento especialização e mestrado interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e transformar o conhecimento em uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local Nesse sentido este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE TE O COMPROMISSO DA SEDISUFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil Secretaria de Educação a Distância SEDISUFRN Get together with family and friends to enjoy our wide selection of original and converged crafts prepared food and locally made beer wine and spirits 1 Aula A Psicologia e sua importância para a Educação Experience the comfortable interior design and relaxing atmosphere with soft lighting by Korean designers and skilled artisans From the meeting room to the open kitchen every inch of the space is designed to promote involvement and inspiration for everyone anywhere and everywhere 1 2 3 4 Aula 1 Psicologia da Educação 9 Apresentação A partir desta aula iniciaremos nosso percurso pelo mundo da subjetividade Nesta disciplina iremos discutir temas da Psicologia que tenham interesse para o educador e para a Educação Vamos conhecer o que é o homem como ele se constitui como ele aprende e se relaciona com os outros Para tando selecionamos temas interessantes como a inteligência as emoções o crescimento e o desenvolvimento do ser humano e em especial a aprendizagem para a qual dedicamos um conjunto de aulas Outro bloco de temas diz respeito à chamada Psicologia Social os grupos sociais os processos de socialização na família e na escola a questão das drogas e a sexualidade Todos esses temas vão nos ajudar a compreender melhor nossos alunos e como podemos interagir com eles Nesta aula discutiremos um tema que por mais que possa parecer óbvio quase nunca paramos para questionálo quem é o homem O que caracteriza o humano Objetivos Conceituar Psicologia dentro das diversas perspectivas Entender de que maneira a Psicologia está presente nas mais diversas áreas do conhecimento Perceber como a subjetividade permeia nossas interpreta ções do mundo e de nós mesmos Reconhecer a importância da Psicologia na formação do professor Aula 1 Psicologia da Educação 10 Afinal para quê estudar Psicologia E sta é uma pergunta que você deve estar se fazendo agora Qual a finalidade de se estudar esse tema em um curso de licenciatura que deveria estar abordando temas mais específicos Será necessário estudar assuntos sobre os quais se pode ler em qualquer revista não especializada Em primeiro lugar atente para o fato de que você está sendo formado para ser um professor Que vai lidar com gente e gente é uma coisa reconhecidamente complicada Um bom professor é aquele que tem um conhecimento profundo do conteúdo que deve ministrar mas também sabe lidar com sua turma de modo a envolvêla no processo de aprendizagem E com certeza os conhecimentos específicos de sua área apesar de extremamente importantes para sua formação não lhe ensinam a lidar com gente Em segundo lugar será que o que se lê em revistas não especializadas são de fato Psicologia As matérias veiculadas pelo Fantástico e por outros programas da TV do mesmo tipo são suficientemente sérias eou científicas ou ficam apenas no nível do senso comum Os livros de autoajuda ajudam a alguém mais além dos seus próprios autores O que é então Psicologia No nosso cotidiano estamos acostumados a usar o termo Psicologia em vários sentidos fulano de tal consegue as coisas porque tem muita psicologia vou conversar com fulaninha porque ela tem muita psicologia e me entende eu lido com meu filho com muita psicologia Esses são exemplos de frases que usamos ou já ouvimos em algum momento Atividade 1 Aula 1 Psicologia da Educação 11 A Psicologia enquanto área do conhecimento científico somente se constituiu muito recentemente há pouco mais de 100 anos Para isso foi necessário delimitar o seu objeto de estudo estabelecer métodos e técnicas específicas divulgados numa linguagem científica e assim superar o conhecimento espontâneo do senso comum Poderíamos dizer que o objeto de estudo da Psicologia é o Homem Mas esse também é o objeto de estudo de outras Ciências como a Antropologia a Sociologia e todas as demais Ciências Humanas Se perguntarmos a um psicólogo qual o objeto específico da Psicologia ele pode nos dar pelo menos dois tipos de respostas 1 A Psicologia estuda o comportamento humano uma vez que é através do comportamento que expressamos nossas manifestações interiores Quando estamos felizes expressamos essa felicidade através de comportamentos expressões faciais gesticulações Quando estamos preocupados ou raivosos também é através do nosso comportamento que manifestamos esses sentimentos 2 A Psicologia preocupase com as manifestações de nosso inconsciente com aqueles comportamentos lembranças pensamentos que temos e não sabemos explicar por que nem sabemos exatamente de onde vêm E para você o que é Psicologia Anote o que você compreende por Psicologia Aula 1 Psicologia da Educação 12 Respostas tão divergentes como essas vão nos mostrar que a Psicologia é ainda uma Ciência em construção ao ponto de alguns autores preferirem falar em Psicologias no plural Nesta disciplina iremos conceber a Psicologia como o estudo da subjetividade humana sendo esse o seu objeto de estudo principal É o estudo do Homem em todas as suas expressões sejam as visíveis como o comportamento sejam as invisíveis como nossos pensamentos sejam as nossas sigularidades a maneira particular como cada pessoa se apresenta ao mundo sejam as genéticas que trazemos como carga biológica Todos esses aspectos conferem ao homem uma maneira particular de ser de sentir de se expressar de se posicionar diante dos fatos da vida Inconsciente O conceito de insconsciente na Psicologia foi trazido por Sigmund Freud pronunciase Fróide e inaugura uma vertente da Psicologia chamada Psicanálise Para Freud o adjetivo inconsciente é o conjunto dos conteúdos não presentes na consciência aos quais somente se tem acesso de forma indireta como através dos sonhos Esses conteúdos seriam o resultado de experiências infantis que foram reprimidas por serem extremamente dolorosas para o indivíduo Figura 1 Sigmund Freud A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural é uma síntese que nos identifica de um lado por ser única e nos iguala de um outro na medida em que os elementos que a constituiem são experienciados no campo comum da objetividade social BOCK 1999 p 23 Atividade 2 Atividade 3 Aula 1 Psicologia da Educação 13 Então apesar de pertencermos a um gênero o humano E de termos uma estrutura biológica que nos faz igual a tantos outros do nosso gênero somos essencialmente diferentes Quantas vezes nos perguntamos por que dois filhos dos mesmos pais criados da mesma maneira podem ser tão diferentes O que nos faz diferentes O que nos faz únicos O que nos faz tão singulares Nossa subjetividade é que constitui o nosso modo de ser nossa maneira particular de sentir de pensar de fazer Nossa subjetividade é o que nos faz únicos Como você se descreveria Como é o seu jeito a sua maneira de ser Observe um grupo de pessoas seus colegas seus irmãos seus alunos Tente descrever o jeito deles observando as particularidades de cada um O que os distingue dos outros quanto a suas atitudes maneiras de ser Atividade 4 Aula 1 Psicologia da Educação 14 O que você acabou de descrever em relação você e às pessoas do grupo que observou foi justamente a subjetividade sua e dos outros Por mais que tenhamos alguma característica que se pareça com a de uma outra pessoa sempre seremos no conjunto uma pessoa diferente e singular E mesmo quando observamos características de um grupo quando vemos que temos características semelhantes ao nosso grupo mesmo assim podemos observar particularidades que são somente nossas São essas características que nos confere identidade Por exemplo podemos dizer que o povo nordestino de uma maneira geral tem uma forte religiosidade No entanto esse traço cultural vai se apresentar de uma forma particular em cada um de nós Parece então que os aspectos da cultura são importantes na formação da subjetividade particular como veremos a seguir Veja a representação artística da diversidade do povo brasileiro no quadro de Tarsila do Amaral Agora vamos observar um grupo mais amplo o povo nordestino Você acha que nós nordestinos temos alguma característica quanto ao modo de ser que nos distingue de outros brasileiros Figura 2 Operários Aula 1 Psicologia da Educação 15 A Psicologia estuda o Homem em relação a seus aspectos peculiares e por isso tem que se debruçar sobre o estudo da sua mente mas não pode deixar de lado o aspecto biológico e social a maneira como ele se insere na sociedade e por que se insere dessa forma Como você pode ver a Psicologia é um ramo das Ciências Humanas abrangente e amplo Se somos tão diferentes mesmo estando entre iguais o que gerou essas diferenças Como se constitui a subjetividade S e entendemos que a subjetividade engloba todas as peculiaridades imanentes à condição de ser sujeito ela envolve as capacidades sensoriais afetivas imaginativas e racionais de uma determinada pessoa o que chamamos de seu mundo interno E como é que se forma esse meu mundo interno Será que já nascemos com ele Muitas vezes identificamos em nós mesmos traços comportamentos maneiras de ser iguais a de nossos pais Costumamos dizer tal pai tal filho indicando que haveria uma transmissão genética dessas características Mas quando nos identificamos com maneiras de pensar o mundo de pessoas da nossa comunidade quando organizamos nosso mundo interior a partir de valores morais e éticos e passamos a pautar o nosso comportamento por esses valores tratase de aspectos que não podem ser explicados pela genética É na relação com o mundo que o sujeito se constitui como tal que se desenvolvem as possibilidades humanas É inserido nesse mundo externo que o homem vai organizar o seu universo de valores e significados que por sua vez vão moldar suas capacidades imaginativas racionais e afetivas Assim toda pessoa é uma complexa unidade natural e cultural Atividade 5 Aula 1 Psicologia da Educação 16 A subjetividade então também não pode ser um conceito explicável apenas a partir da Psicologia Ela está inserida em um corpo com funções biológicas e psicológicas mas é um corpo de um sujeito que interage com o seu ambiente familiar e social que transforma esse ambiente e é transformado por meio dessa interação Se a subjetividade é o resultado da interação entre o indivíduo e o seu meio podemos entender que ela começa a se moldar a partir dos processos de socialização primários da criança na família na escola na comunidade e segue pela vida em um processo dinâmico Vamos retomar as características que observamos no povo nordestino Que aspectos do mundo externo nordestino podem ter influenciado na formação dessas características Atividade 6 Aula 1 Psicologia da Educação 17 Quem é o homem e o que caracteriza o humano Há um filme muito interessante chamado O Homem Bicentenário 1999 baseado em um livro de Isaac Asimov 1976 Nele um robô por um defeito de fabricação é capaz de ter sentimentos e emoções além de paulatinamente ir tomando consciência de sua condição nãohumana Ao longo de 200 anos utilizando a tecnologia das diferentes épocas ele vai conseguindo modificar sua aparência física para tornar se mais e mais parecido com um homem Após ter sua aparência suas atividades sua vida social e familiar em tudo igual as das outras pessoas ele passa a lutar para ser reconhecido oficialmente como humano O Conselho que governa o mundo nessa época nega sistematicamente tal reivindicação Como você justificaria a posição do Conselho Por que não considerálo humano Aula 1 Psicologia da Educação 18 Um dos equÍvocos frequentemente observado é tratar o homem como independente de sua condição histórica e social Idéias como as de Rousseau filósofo suíço que viveu no século XVIII de que o homem teria uma essência originalmente boa ou de que as suas interações sociais seriam fruto de um instinto gregário o que justificaria sua vida em sociedade são ainda observadas em algumas postulações Na Medicina por exemplo apesar da máxima de que não existem doenças mas doentes o paciente ainda é visto como igual a todos os portadores da mesma enfermidade Ao ir a um médico alguma vez lhe foi perguntado sobre sua história Será que a forma como se vive a vida não teria influência na aquisição de uma doença Pelo que já vimos sobre a constituição da subjetividade dos sujeitos o homem não pode ser concebido como um ser natural mas sim como o produto de sua história da sua cultura E é por isso que por exemplo o seu modo de vida interfere na manifestação de suas doenças Afirmar que o homem é um ser sóciohistórico não significa recusar a sua condição biológica O homem pertence a uma espécie animal e todos nós recebemos de nossos ancestrais uma herança de genes que determina nosso corpo e as características de nossa espécie Duas evidências científicas relativamente recentes no entanto nos mostram a importância do meio na constituição desse indivíduo por um lado os estudos da Genética nos ensinam que os genes se manifestam de diferentes maneiras dependendo das condições ambientais Por outro lado a recente Neurociência aponta a plasticidade cerebral mostrando que os neurônios se organizam e desenvolvem suas conexões dependendo de estímulos e vivências ambientais Assim é a condição biológica do homem que possibilita que ele ao apropriarse de elementos fornecidos pela sua cultura adquira aptidões que satisfaçam as suas necessidades físicas e sociais Alguns autores afirmam que o homem aprende a ser homem Isso significa que ao nascer a criança ainda deve desenvolver sua humanidade o que somente pode se dar em contato com outras pessoas com seu meio com sua cultura Compreender o homem dessa forma é admitilo como um sujeito multideterminado Um exemplo disso pode ser observado no filme O Enigma de Kaspar Hauser 1974 no qual um homem que é mantido encarcerado até os 18 anos apresenta imensas dificuldades de adaptação social Aula 1 Psicologia da Educação 19 E o que caracteriza exatamente o humano Bock 1999 p 175 destaca três características como essencialmente humanas 1 O trabalho e o uso de instrumentos Podemos dizer que outros animais executam tarefas às vezes até bastante complexas como as colméias das abelhas e as teias das aranhas mas a execução dessas tarefas não envolve o planejamento e a noção de finalidade da mesma O trabalho para o homem depende de sua vontade de seu pensamento da consciência da tarefa que executa Mesmo quando faz algum trabalho forçado escravo o homem tem a consciência de que seu trabalho é assim Alguns animais são capazes de manipular instrumentos e podem ser treinados para utilizálos no entanto são também utilizações mecânicas sem conhecimento do conceito do objeto que manipulam 2 A criação e a utilização da linguagem Os psicólogos são unânimes em reconhecer a importância da linguagem como elemento fundamental na tomada de consciência dos homens Evolutivamente no entanto a linguagem teve vários antecedentes até estar plenamente desenvolvida Foram cerca de 5 milhões de anos para que os nossos antepassados aprendessem a transformar um objeto em instrumento de trabalho conferirlhe um objetivo determinado a registrálo simbolicamente no Sistema Nervoso Central tomar consciência e a darlhe um nome surgimento da linguagem Para Bock a descoberta de que a vocalização poderia ser utilizada na comunicação equivale nos tempos atuais à descoberta dos chips eletrônicos 1999 p 175 Por outro lado vários estudos com chipanzés discutem a ocorrência de rudimentos de um comportamento intelectual semelhante ao do homem Koehler um dos principais teóricos da Psicologia responsável pela fundação de um dos seus ramos a Psicologia da Gestalt em seus clássicos estudos conclui que a ausência da fala e a pobreza de imagens dos chipanzés são fatores decisivos na sua incapacidade de desenvolvimento cultural Para Vygotsky 1999 a estreita relação entre pensamento e fala seria característica dos humanos e estaria ausente nos antropóides 3 A compreensão do mundo onde se vive Quando observamos determinada cena ao nosso redor somos capazes de refletir sobre o que está ocorrendo analisar o fato tomar decisões com relação a ele Isso significa que compreendemos o que ocorre na nossa realidade mas mais do que isso fazemos relações juntamos fatos projetamos as consequências futuras Além disso somente o homem é capaz de se questionar sobre si mesmo de se perguntar quem eu sou e de onde vim ou seja ter consciência de si mesmo E é justamente essa consciência de si e do mundo em que vive juntamente com suas emoções e sentimentos que constituem sua subjetividade Aula 1 Psicologia da Educação 20 Para o pedagogo brasileiro Paulo Freire 1981 somente o homem é capaz de transcender E sua transcendência não é um dado apenas de sua qualidade espiritual mas o resultado exclusivo da transitividade de sua consciência que permite distinguir um eu de um nãoeu O homem diferentemente dos outros animais não apenas vive mas existe porque não apenas está no mundo mas está com ele Por que Psicologia na Educação Q uando pensamos em educação nos vêm à mente coisas como as atividades que desenvolvemos na escola a aquisição de conhecimento o adestramento de habilidades No entanto estamos aqui pensando em um conceito mais amplo da palavra Educação como um processo de desenvolvimento do homem Em primeiro lugar é preciso destacar a palavra processo dessa definição a qual significa estar em movimento inacabado Em segundo lugar se pensarmos nos aspectos que envolvem o desenvolvimento do homem vamos entender que Educação envolve um acúmulo histórico de valores e cultura de uma sociedade A Educação então é uma prática social Mas sobretudo é importante ressaltar que a Educação ocorre entre pessoas e se a Psicologia se preocupa justamente em estudar o Homem e sua subjetividade é necessário que se lance mão desses conhecimentos para melhor compreender o processo educativo Assim uma conceituação que responde à questão inicial é dada por Coll 2004 p vii a psicologia da educação é uma disciplinaponte entre a Educação e a Psicologia cujo objeto de estudo são os processos de mudança que ocorrem nas pessoas em consequencia de sua participação em uma ampla gama de situações ou atividades educacionais Para esse autor a Psicologia da Educação se ocupa fundamentalmente de mudanças vinculadas aos processos de aprendizagem de desenvolvimento e desocialização 2004 p vii Esse é o percuso que iniciamos nesta aula Resumo 1 2 3 Aula 1 Psicologia da Educação 21 Autoavaliação Duas conhecidas frases refletem bem o que acabamos de discutir Uma é o provérbio popular pau que nasce torto não tem jeito morre torto a outra é de J J Rousseau o homem nasce bom e a sociedade o corrompe Discuta essas frases comparandoas A partir do que foi estudado responda à questão o que é o homem Qual a importância do estudo da subjetividade em cursos de Licenciaturas Referências AMARAL Tarsila do Operários 1933 1 quadro óleo sobre tela 150 x 205cm Coleção do Governo do Estado de São Paulo Disponível em httpwwwtarsiladoamaralcombrindex framehtm Acesso em 30 jul 2007 BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L vT Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia São Paulo Saraiva 1999 COLL C MARCHESI A PALACIOS J Desenvolvimento psicológico e educação Porto Alegre Artemd 2004 FREIRE P Educação como prática da liberdade Rio de Janeiro Paz e Terra 1981 VYGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1999 Nesta primeira aula iniciamos a discussão sobre o homem destacando como aspecto principal a ser abordado o estudo da subjetividade Discutimos também o que caracteriza o homem em contraposição com outros animais Por fim apresentamos um conceito de psicologia da educação e sua importância nos cursos de formação de professores Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 22 Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 23 Anotações Aula 1 Psicologia da Educação 24 A inteligência é a capacidade que uma criatura tem de aprender perceber resolver problemas inventar imaginar e se adaptar ao meio em que vive Ela corresponde ao funcionamento de seu cérebro e é muito importante para o seu desenvolvimento como ser humano Podemos dizer que a inteligência é o que permite que você viva sobreviva e lute numa sociedade 1 2 3 Aula 2 Psicologia da Educação 27 Apresentação N esta aula vamos discutir um assunto que muitas vezes interfere na maneira como valorizamos nossos alunos a inteligência Como surge a inteligência Por que alguns são mais inteligentes do que outros Inteligência é o mesmo que esperteza São algumas das interrogações que vamos abordar ao longo da aula Objetivos Conhecer os conceitos de inteligência observando sua importância para o professor Distinguir as várias formas de manifestação da inteligência Diferenciar inteligência de outros conceitos correlatos como criatividade Atividade 1 2 1 Aula 2 Psicologia da Educação 28 As concepções clássicas D efinir inteligência nunca foi uma tarefa fácil apesar de intuitivamente podermos identificar comportamentos isolados ou mesmo classificar uma pessoa como muito ou pouco inteligente Seguramente você já ouviu alguém dizer que o seu cachorro é muito inteligente ou que fulano é muito inteligente porque tira notas boas nas provas Então o que será mesmo inteligência É dessa questão que vamos tratar a partir de agora Comecemos então com uma atividade simples Anote a seguir sua concepção de inteligência Agora liste 5 comportamentos ou situações que você considera como manifestação de inteligência elevada em uma pessoa Aula 2 Psicologia da Educação 29 A concepção mais clássica de inteligência é a de William Stern psicólogo alemão que viveu entre o final do século XVIII e o início do século XIV que dizia ser a capacidade pessoal para resolver problemas novos fazendo uso adequado do pensamento Para outros autores seria a utilização de todos os equipamentos mentais que dessem conta da adequação às tarefas da vida Mesmo com essas definições vagas havia e há o entendimento de que a inteligência é uma capacidade mental que pode ser medida e quantificada por meio dos famosos testes de QI No início do século XX dois psicólogos e pedagogos Binet e Simon receberam a solicitação do governo francês de elaborarem um método capaz de identificar as crianças com deficiência intelectual ou seja que tinham dificuldade para aprender e apresentavam baixo rendimento escolar Eles estruturaram uma escala métrica para a inteligência Partiam da concepção de que seria possível prever o desempenho escolar de uma criança independentemente de sua condição social ou econômica e com isso criaram o primeiro teste de QI conceituando inteligência como um conjunto de processos de pensamento que constituem a adaptação mental isto é os processos cognitivos racionais como promotores da adaptação QI Quociente de inteligência abreviado para QI de uso geral é um termo proposto por William Stern que significa o resultado da divisão da idade mental pela idade cronológica multiplicado por 100 A idade mental é obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas de um sujeito em comparação ao seu grupo etário Assim uma criança com idade cronológica de 10 anos e nível mental de 8 anos teria QI 80 porque 810 x 100 80 Figura 1 Alfred Binet 18571911 Os trabalhos de Binet e Simon logo foram bastante questionados principalmente porque os testes pareciam não dar conta de avaliar a capacidade do indivíduo adulto e também porque partiam do estudo de crianças com deficiências Na realidade os autores elaboraram uma escala métrica da inteligência para detectar na escola os retardados perfectíveis ou seja aqueles que seriam suscetíveis de frequentar as classes chamadas de aperfeiçoamento Contrariamente aos retardados de asilo os incapazes de qualquer tipo de aprendizado os retardados perfectíveis poderiam adquirir elementos da instrução primária aprender certas normas sociais e assim serem mais tarde socialmente utilizáveis no mercado de trabalho no exercício de profissões manuais Atividade 2 Aula 2 Psicologia da Educação 30 Dentre os comportamentos eou situações que você relacionou na atividade 1 separeos em dois blocos colocando na coluna A aqueles que você imagina enquadraremse na definição de Stern e na coluna B os que se enquadram na definição de Binet e Simon Coluna A Coluna B Liste agora os comportamentos eou situações que não se enquadraram em nenhuma das colunas Se algo ficou fora das duas primeiras colunas é porque provavelmente as definições que nos serviram de parâmetro não contemplam todas as possibilidades Ou será que não listamos comportamentos e situações que refletiam a manifestação da inteligência A seguir vamos ver as concepções mais contemporâneas de inteligência Aula 2 Psicologia da Educação 31 Concepções de inteligência N os últimos 50 anos o termo inteligência vem assumindo concepções distintas e variadas Ao lado de termos como testes de inteligência inteligência brilhante pouco inteligente temos ouvido e visto aparecer inteligência artificial sistemas inteligentes inteligência emocional Na verdade mesmo os psicólogos estão cada vez mais reticentes quanto à possibilidade de mensuração da inteligência questionando os famosos testes de QI A própria concepção de inteligência como uma competência individual como a capacidade de raciocinar de compreender desprezandose aspectos outros da subjetividade dos indivíduos parece hoje questionável Cada vez mais ganha força uma concepção de que a inteligência tem aspectos múltiplos e variados na sua avaliação e sobretudo questionase a relação entre inteligência e bom desempenho escolar São mais do que conhecidos os sofríveis resultados obtidos na escola por algumas pessoas que vieram a se revelar verdadeiros gênios da Ciência O exemplo mais divulgado é o de Einstein que assim se referia ao seu processo de aprendizagem As palavras ou a língua escrita ou falada não creio que desempenhem nenhum papel no mecanismo de meu pensamento Os entes físicos que parecem servir de elementos ao pensamento são certos signos e certas imagens mais ou menos claras que podem ser voluntariamente reproduzidas e combinadas HADAMARD 1945 p 131 Veja as palavras de outro gênio este da Psicologia Carl Jung sobre sua experiência na escola O colégio me aborrecia Tomava muito tempo que eu teria preferido consagrar aos desenhos de batalhas ou a brincar com fogo O ensino religioso era terrivelmente enfadonho e as aulas de matemática me angustiavam A álgebra parecia tão óbvia para o professor enquanto que para mim os próprios números nada significavam não eram flores nem animais nem fósseis nada que se pudesse representar mas apenas quantidades que se produziam contando Para minha surpresa os outros alunos compreendiam tudo isso com facilidade Ninguém podia me dizer o que os números significavam e eu mesmo não era capaz de formular a pergunta Com grande espanto descobri que ninguém entendia a minha dificuldade O fato de nunca ter conseguido encontrar um ponto de contato com as matemáticas embora não duvidasse que era possível calcular validamente permaneceu um enigma por toda a minha vida O mais incompreensível era a minha dívida moral quanto à matemática As aulas de matemática tornaram se o meu horror e o meu tormento mas como tinha facilidade nas outras matérias que me pareciam fáceis e graças a uma boa memória visual conseguia desembaraçarme também no tocante à matemática meu boletim geralmente era bom mas a angústia de poder fracassar e a insignificância da minha existência diante da grandeza do mundo provocavam em mim não apenas malestar mas também uma espécie de desalento mudo que acabou por me indispor profundamente com a escola PORTAL 200 Aula 2 Psicologia da Educação 32 Tais depoimentos além de nos mostrar a falha na concepção clássica de inteligência nos alerta que como professores devemos estar atentos à maneira como as pessoas aprendem conforme veremos na aula nove Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto Nesse sentido parece necessário um reexame da concepção clássica de inteligência a partir de uma perspectiva que considere as diversas faces da competência e valorize as diferentes formas de associação de idéias e de construção do conhecimento Vamos ver então se nessas diferentes concepções será possível enquadrar aquelas definições que você listou e que não puderam ser incluídas nas concepções clássicas As inteligências múltiplas N os anos 80 surge o primeiro trabalho de Howard Gardner propondo uma teoria de inteligências múltiplas Gardner discorda que a inteligência possa existir como uma capacidade inata geral e única capaz de permitir ao sujeito uma performance maior ou menor em qualquer área de atuação Ao definir inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais ele defende que o indivíduo vai desenvolver determinadas habilidades mais que outras em função das necessidades de resolver problemas próprios da cultura em que vive Sugere ainda que alguns talentos somente são desenvolvidos porque são valorizados culturalmente Gardner identificou sete tipos de inteligências linguística lógicomatemática espacial corporalcinética musical interpessoal e intrapessoal das quais trataremos a seguir Figura 2 Howard Gardner 1943 1 A dimensão linguística Expressase de modo característico no orador no escritor em todos os que lidam criativamente com as palavras com a língua corrente com a linguagem de uma maneira geral Existem estudos interessantes referentes à lateralização das funções Aula 2 Psicologia da Educação 33 cerebrais propondo sua localização em regiões específicas a competência linguística estaria no lado esquerdo no caso ocidental de um indivíduo destro e as linguagens ideográficas das culturas orientais estariam localizadas nos dois hemisférios 2 A dimensão lógicomatemática É normalmente associada à competência em desenvolver raciocínios dedutivos em construir ou acompanhar cadeias causais em vislumbrar soluções para problemas em lidar com números ou outros objetos matemáticos envolvendo cálculos transformações etc Em seu estereótipo mais frequente o pensamento científico encontrase fortemente associado à dimensão lógicomatemática da inteligência 3 A dimensão espacial Está diretamente associada às atividades do arquiteto ou do navegador por exemplo revelandose uma competência especial na percepção e na administração do espaço na elaboração ou na utilização de mapas de plantas de representações planas de um modo geral Existem estudos que sugerem fortemente que tal competência desenvolvese primordialmente no lado direito do cérebro no caso ocidental de um indivíduo destro 4 A dimensão corporalcinética Manifestase tipicamente no atleta no artista que seguramente não elaboram cadeias de raciocínios para realizar seus movimentos e na maior parte das vezes não conseguem explicálos verbalmente Os exercícios os treinamentos conseguem ser desenvolvidos com notável competência apesar dos limites alcançados diferirem significativamente em diferentes indivíduos 5 A dimensão musical Gardner analisou o papel desempenhado pela música em sociedades primitivas em diferentes culturas em diferentes épocas bem como no desenvolvimento infantil e convenceuse de que a habilidade musical representa uma competência em estado puro no sentido de que não estaria necessariamente associada a nenhuma das outras dimensões citadas 6 A dimensão interpessoal Revelase através de uma competência especial o bom relacionamento com os outros percebendo seus humores suas motivações captando suas intenções mesmo as menos evidentes descentrandose enfim ao conseguir analisar questões coletivas sob diferentes pontos de vista Em sua forma mais elaborada é característica nos líderes nos políticos nos professores nos terapeutas e é fundamental nos pais 7 A dimensão intrapessoal Consiste basicamente em estar bem consigo mesmo administrando os próprios humores sentimentos emoções projetos A criança autista é um exemplo prototípico de um indivíduo com a inteligência intrapessoal prejudicada uma vez que ela não consegue muitas vezes sequer referirse a si mesma muito embora seja capaz de exibir habilidades em outras áreas como a musical ou a espacial Alguns Autista O termo autista provém de autismo que designa um tipo de psicose infantil no qual a criança apresenta entre outros sintomas extrema dificuldade de comunicação afetiva fazendo com que ela viva em seu mundo interior em situação de isolamento com relação ao ambiente social Aula 2 Psicologia da Educação 34 pensadores por exemplo Ortega y Gasset filósofo espanhol que viveu entre 1883 e 1955 consideram absolutamente fundamental a capacidade de estar bem consigo mesmo de apresentar um desenvolvimento físico e emocional equilibrado com as glândulas secretando os humores fundamentais de modo harmonioso Essas diversas dimensões da inteligência vão compor um espectro no qual todos os elementos interagem equilibrandose e reequilibrandose em razão de deficiências em uma ou outra área De certa maneira podemos dizer que todos somos deficientes em alguma dessas dimensões mas que no global todos somos sempre competentes A pressuposição é a de que toda criança teria possibilidades de um desenvolvimento global de suas competências podendo mostrarse especialmente inteligente em uma ou mais das dimensões e deficiente em outras Figura 3 Atividade 3 Voltemos àquelas situaçõescomportamentos que foram listadas na atividade 2 e que não foi possível enquadrar nas concepções clássicas Seria possível identificálas agora dentro das dimensões propostas por Gardner Faça a relação entre elas e as dimensões descritas anteriormente Aula 2 Psicologia da Educação 35 É importante ressaltar que Gardner não está preocupado particularmente com o processo dessas inteligências e sim com a maneira com que os sujeitos as utilizam em suas relações com o mundo como as empregam para resolver os problemas e elaborar os produtos Talvez o mais importante da contribuição desse autor seja entender que em cada pessoa coexistem os sete tipos de inteligência Os sujeitos nascem com todas essas capacidades enquanto potencialidades é na interação com o meio ambiente nas experiências de vida na educação recebida que vão desenvolver algumas mais que outras sem que haja uma hierarquia de importância entre elas Assim os indivíduos tidos como normais possuem os estágios mais básicos de todas as inteligências em um processo de desenvolvimento que se iniciaria ao nascer e se completaria no início da idade adulta A partir daí eles teriam adquirido os estágios mais sofisticados A sequência de estágios começa com a habilidade chamada padrão cru quando os bebês começam a perceber o mundo ao seu redor e a processar as informações possuindo já um potencial para o pensamento simbólico No segundo estágio das simbolizações básicas que ocorre aproximadamente aos 2 anos de idade a criança demonstra sua habilidade em cada um dos tipos de inteligência através da compreensão e uso dos símbolos linguísticos espaciais musicais etc No terceiro estágio já tendo adquirido as habilidades básicas a criança aprimorará os sistemas simbólicos que sejam mais valorizados pelo seu grupo cultural Por fim na adolescência e início da vida adulta o indivíduo adota um campo mais específico e focalizado via ocupações vocacionais O papel da teoria de Gardner na Educação tem sido amplamente discutido sobretudo no sentido de que aponta para a necessidade de se levar em conta essa nova concepção de inteligência no planejamento escolar Armstrong 1994 reconhece a dificuldade de se incluir cada tipo de inteligência em um plano de currículo escolar Propõe então que o professor ao planejar suas atividades faça a si próprio alguns questionamentos que o ajudarão a atentar Atividade 4 Aula 2 Psicologia da Educação 36 para as várias formas de inteligências envolvidas na atividade Nesse sentido para cada tipo de inteligência perguntarseia algo como n linguística Como eu posso usar a palavra falada ou escrita n lógicomatemática Como eu posso usar números cálculos classificações lógica ou pensamento crítico n espacial Como eu utilizo ajuda visual cor arte metáforas ou organizadores visuais n musical Como eu posso usar música e sons ambientais ou destacar pontos chaves em forma de ritmo ou melodia n corporalcinética Como eu posso envolver o corpo como um todo ou alguma experiência com as mãos n interpessoal Como eu posso engajar os estudantes em uma aprendizagem colaborativa compartilhada ou em simulações de grande grupo n intrapessoal Como eu posso evocar sentimentos e lembranças pessoais Gardner faz também propostas de aplicação de sua teoria no espaço escolar as avaliações de desempenho deveriam ser pensadas levando em consideração as diversas habilidades humanas os currículos deveriam ser específicos individualizados centrados em cada criança o ambiente educacional deveria ser mais amplo e variado de modo a depender menos exclusivamente de habilidades da linguagem e da lógica Imagine que você tenha que elaborar uma aula para uma turma de Ensino Médio de uma disciplina a sua escolha Dentro dessa disciplina escolha o tema da aula e em seguida tente descrever como você ministraria essa aula levando em conta pelo menos 3 das dimensões inteligências propostas por Gardner Aula 2 Psicologia da Educação 37 A inteligência emocional Um outro conceito que vem ganhando espaço nos estudos sobre inteligência é o proposto por Daniel Goleman psicólogo americano nascido em 1946 o conceito de inteligência emocional Para ele a inteligência emocional caracteriza a maneira como as pessoas lidam com suas emoções e com as das pessoas ao seu redor Isso implica autoconsciência motivação persistência empatia entendimento e características sociais como persuasão cooperação negociações e liderança Essa é uma maneira alternativa de ser esperto não em termos de QI mas em termos de qualidades humanas do coração ABRAE httpwwwabraecombr A idéia básica na proposição de Goleman é que não seria possível pensar a inteligência somente por meio de seu componente racional mas que seria de fundamental importância considerar também as questões emocionais envolvidas na tomada de decisões Assim nas decisões seria importante não somente ser racional mas também pensar com o coração e levar em conta aspectos da intuição Alcançar esse tipo de inteligência exigiria treinamento persistência e esforço uma vez que ela não é herdada não é genética Tal treinamento envolveria cinco habilidades 1 autoconsciência reconhecer os próprios estados de ânimo os recursos e as intuições 2 autoregulação saber manejar os próprios estados de ânimo e impulsos 3 motivação reconhecer as tendências emocionais que guiam ou facilitam o cumprimento das metas estabelecidas 4 empatia ter consciência dos sentimentos necessidades e preocupações dos outros 5 destrezas sociais saber induzir as respostas desejadas pelo outro Figura 4 Daniel Goleman 1946 Aula 2 Psicologia da Educação 38 Apesar de trazer a novidade da valorização de aspectos emocionais na concepção de inteligência a teoria de Goleman tem sofrido várias críticas sobretudo pela falta de pesquisas que comprovem a sua eficácia Alguns dizem que ele estaria apenas dando um novo nome a estudos já descritos outros nem isso uma vez que o termo inteligência emocional se originaria de uma concepção de Thorndike psicólogo americano que viveu entre 1874 e 1949 em 1920 quando usou o termo inteligência social para descrever a habilidade de se relacionar com as outras pessoas Na próxima aula discutiremos mais detalhadamente os conceitos de emoção Inteligência ou criatividade Q uando elaboramos uma avaliação para os nossos alunos geralmente temos em mente uma chave de respostas com respostas esperadas eou desejadas Com isso muitas vezes nos surpreendemos com respostas que estão longe do previsto e que no entanto estão corretas São alunos mais inteligentes ou são alunos criativos Ou ambos A internet está cheia de historinhas que podemos usar para entender o que é o pensamento criativo Vamos ver algumas delas Certo dia quando voltava do trabalho depois de um dia daqueles notei que havia pessoas assaltando minha casa Imediatamente liguei para a polícia e me disseram que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar naquele momento e que iriam enviar assim que fosse possível Desliguei o celular e um minuto depois liguei de novo Olá disse eu liguei há pouco porque havia pessoas roubando minha casa Não é preciso chegar tão depressa porque eu matei todos eles Em alguns minutos chegavam à minha porta meia dúzia de carros da polícia helicóptero e uma ambulância Eles pegaram os ladrões em flagrante Um dos policiais disse Pensei que tivesse dito que tinha matado todos Eu respondi Pensei que tivessem dito que não havia ninguém disponível Extraído de httpwwwbs2combractionboletimCeagViewid150 Um fazendeiro resolve colher algumas frutas em sua propriedade pega um balde vazio e segue rumo às árvores frutíferas No caminho ao passar por uma lagoa ouve vozes femininas que provavelmente invadiram suas terras Ao se aproximar lentamente observa várias garotas nuas se banhando na lagoa quando elas percebem a sua presença nadam até a parte mais profunda da lagoa e gritam Aula 2 Psicologia da Educação 39 Nós não vamos sair daqui enquanto você não deixar de nos espiar e for embora O fazendeiro responde Eu não vim aqui para espiar vocês eu só vim alimentar os jacarés Extraído de httpwwwthyamadcomtecnologiacategoryhumor Antigamente na Inglaterra quando dever dinheiro era um crime passível de prisão um mercador teve a infelicidade de pegar dinheiro emprestado com um agiota e não ter como saldar a dívida na data marcada O agiota que era velho e feio estava apaixonado pela filha do mercador uma bela adolescente E propôs ao mercador um negócio disse que cancelaria a sua dívida se em troca pudesse casarse com a moça Tanto o mercador quanto a filha ficaram horrorizados com essa proposta Então o esperto agiota propôs que deixassem a sorte decidir a questão Disselhes que colocaria duas pedrinhas uma preta e outra branca em uma bolsa vazia e a jovem teria de pegar uma das pedrinhas Se pegasse a preta tornarseia sua esposa e a dívida do pai seria cancelada se pegasse a branca permaneceria com o pai e a dívida também seria cancelada Mas se a jovem se recusasse a tirar uma das pedrinhas o pai seria posto na cadeia e ela morreria de fome Relutante o mercador concordou e o agiota curvouse para pegar as duas pedrinhas na rua A moça entretanto percebeu que ele escolhera duas pedrinhas pretas enfiandoas disfarçadamente na bolsa Depois virouse para a moça e pediu a ela que pegasse a pedrinha que decidiria o seu destino e o de seu pai A moça enfiou a mão na bolsa retirou uma pedra e sem mostrar a pedra a ninguém fingiu uma tonteira e deixou a pedrinha cair na rua em meio de todas as outras Oh como sou desastrada disse então Mas não tem importância Se o senhor olhar na bolsa poderá saber qual foi a pedrinha que peguei pela cor da que ficou aí Certo Extraído de httpclubedopairicocombrsolucaologicahtml Como você vê cada uma das soluções propostas foi fruto de um tipo de pensamento que passou ao largo do pensamento lógico convencional Os autores costumam chamar a esse tipo de pensamento de pensamento lateral ou pensamento divergente No pensamento divergente ou lateral o indivíduo parte de idéias simples para chegar a idéias mais complexas fazendo uso da criatividade Essas pessoas têm alguns traços de personalidade que as caracterizam são pessoas curiosas independentes em suas atitudes que toleram bem as situações inusitadas e pouco ordenadas que têm tendência a trabalhar com idéias não diretamente relacionadas com o problema apresentado Resumo 1 2 3 Aula 2 Psicologia da Educação 40 A grande discussão é se essas capacidades representam uma característica própria ou se seriam manifestações da inteligência É fácil imaginar que se usamos os conceitos mais clássicos de inteligência essas histórias representariam pessoas criativas mas não necessariamente inteligentes No entanto se pensamos a inteligência como multifacetada sendo não somente referendada pelo raciocínio lógico podemos aceitar a criatividade como o pleno uso da capacidade das nossas inteligências Nesta aula discutimos a evolução do conceito de inteligência dos clássicos aos mais atuais Vimos o que significa QI e quais as críticas a esse conceito Discutimos as inteligências múltiplas de Gardner e a inteligência emocional de Goleman Vimos por fim a importância desses conceitos mais amplos e da criatividade Autoavaliação Faça uma síntese das inteligências múltiplas relacionandoas com o conceito de criatividade dentro da proposição de pensamento divergente Faça um exercício de elaboração de um plano de aula que dê conta das diversas facetas da inteligência Cite outros exemplos de pensamentos divergentes que caracterizariam a criatividade Aula 2 Psicologia da Educação 41 Referências ARMSTRONG T Multiple intelligences seven ways to approach curriculum Educational Leadship v 52 n 3 nov 1994 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E EMOCIONAL ABRAE Inteligência emocional entrevista com Daniel Goleman Disponível em httpwwwabraecombr Acesso em 03 jul 2007 GARDNER H As inteligências múltiplas a teoria na prática Porto Alegre Artemd 1999 GOLEMAN D Inteligencia emocional Rio de Janeiro Objetiva 1996 HADAMARD Jacques Psychology of invention in the mathematical fiel New York Dover publications 1945 JUNG Carl Gustav Memórias sonhos e reflexões Rio de Janeiro Nova Fronteira 1975 PORTAL PEDAGÓGICO DE SANTA CATARINA Diaadia educação Depoimento de Carl Jung Florianópolis 200 Disponível em httpwwwdiaadiaeducacaoscgovbrportal educadoresepidepoimentosphp Acesso em 10 jun 2007 Anotações Aula 2 Psicologia da Educação 42 3 Aula A vida afetiva emoções e sentimentos A inteligência Aula 2 1 2 3 Aula 3 Psicologia da Educação 45 Apresentação C omo vimos na aula anterior as concepções mais atuais de inteligência recomendam que se leve em conta as emoções ao avaliar essa função classicamente compreendida como sendo unicamente racional Nesta aula vamos aprofundar a investigação sobre o que são as emoções e como elas se diferenciam de outro conceito bastante próximo os sentimentos Objetivos Entender a vida afetiva como uma parte importante para conhecer o homem e sua subjetividade Distinguir as várias formas de manifestação da vida psíquica Conhecer as relações entre vida afetiva e organismo Atividade 1 Aula 3 Psicologia da Educação 46 O que são os afetos O estudo da vida afetiva vem tomando cada dia mais vulto na área da Educação Não só pelas novas concepções de inteligência mas também quando se observa que esse é um aspecto da mente humana definidor de vários comportamentos e atitudes São nossos afetos por exemplo que vão em muito determinar uma maior ou menor motivação para estudar esse ou aquele tema Em primeiro lugar vamos ver o que é isso que chamamos vida afetiva ou afetividade E vamos começar pedindo que nos diga a sua opinião sobre o tema Para você neste instante como se manifestaria a afetividade É muito provável que você tenha descrito como manifestações afetivas coisas como comportamento amoroso atitudes delicadas bom humor Ou seja quando pensamos na palavra afetividade o que nos ocorre são atitudes e comportamentos que chamaremos de positivos Nunca podemos imaginar como afetividade sentimentos como ódio raiva medo No entanto a Psicologia nos informa que nossa vida afetiva ou nossa afetividade é o conjunto de todos os nossos sentimentos emoções humores paixões sejam eles positivos ou negativos Ao estudar as funções da mente a Psicologia tradicionalmente as separa em funções cognitivas funções afetivas e funções volitivas As funções cognitivas são aquelas que nos possibilitam conhecer o mundo tanto o mundo externo quanto o próprio mundo do sujeito ou mundo interior Como exemplo dessas funções temos a memória o pensamento o raciocínio as percepções Atividade 2 Aula 3 Psicologia da Educação 47 As funções afetivas são aquelas que expressam a suscetibilidade experimentada pelo ser humano perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio Veja que nos afetos há um caráter subjetivo definido quando dizemos ser uma suscetibilidade o que o ser humano experimenta Assim na maioria das vezes só podemos saber da existência de um afeto se a pessoa nos contar porque é ela quem está experimentando Finalmente as funções volitivas são aquelas que dizem respeito aos comportamentos exteriorizáveis objetivos que resultam em movimentos corporais gestos mímica expressões faciais Claro que essa partição da mente é um recurso meramente didático cada um dos componentes das funções interage e se liga uns com os outros Assim por exemplo se me ocorre uma lembrança triste função cognitiva passa a surgir dentro de mim um sentimento de tristeza função afetiva que pode vir a se traduzir por expressões faciais como o choro função volitiva Nunca é demais lembrar que corpo e mente são partes indivisíveis Nesta aula voltaremos a nos dedicar somente às funções afetivas Durante toda nossa vida os fatos ou acontecimentos vividos por nós serão nossas experiências de vida e passarão a fazer parte de nossa consciência Mas quando vivemos algum fato de nossa vida ele raramente ocorre desprovido de uma condição muito especial que dá um certo colorido um certo tempero a esse fato Eles são acompanhados de uma susceptibilidade que muitas vezes é sentida no próprio organismo Nesta atividade descrevemos algumas situações que você provavelmente viveu se não as viveu imagine como teria sido Para cada uma anote como você experimentou experimentaria essa susceptibilidade da qual falamos anteriormente ou seja o que se passou passaria dentro de você como você se sentiu se sentiria a O Brasil vence a copa do mundo de futebol em 2002 O capitão da equipe Cafu ergue a taça e a beija sob chuva de papel prateado b Depois de muito esforço de muito estudo de noites mal dormidas enfim você vai saber o resultado do vestibular ao qual se submeteu Seu nome não aparece na lista Você foi reprovado c Você tem um filho de 10 anos Ele integra a equipe de basquete da escola e hoje é o dia da partida final do campeonato Você vai assistir a essa partida o time do seu filho é campeão e ele é carregado pela equipe por ter sido o cestinha do jogo Aula 3 Psicologia da Educação 48 Provavelmente todos esses fatos foram vividos acompanhados de uma qualidade especial não foram momentos que simplesmente aconteceram mas de alguma forma lhe marcaram Mesmo que muitos anos tenham se passado desde que ocorreram além da lembrança dos fatos em si você deve recordar também o que sentiu quando os viveu Essa qualidade especial que acompanha fatos de nossas vidas são os nossos afetos a afetividade Se as funções cognitivas nos permitem conhecer o mundo os afetos dão uma qualidade a esse conhecimento Essa qualidade especial pode se apresentar sob a forma de emoções e sentimentos como veremos a seguir Por outro lado embora diferentes pessoas possam viver os mesmos fatos e acontecimentos elas os sentirão de maneira diferente e pessoal Perder um mesmo objeto sofrer a perda de um mesmo familiar passar por um mesmo assalto ouvir uma mesma música comer uma mesma comida poderão causar diferentes sentimentos em diferentes pessoas Daí a importância do estudo dos afetos para compreender a subjetividade do outro Toda a nossa subjetividade está em consonância com a nossa vida afetiva d Você vem sentindo umas coisas estranhas no estômago dores sensação de empachamento e desconforto Um amigo seu tinha sintomas parecidos e foi diagnosticada uma doença maligna O médico lhe pediu muitos exames e hoje você vai mostrarlhe os resultados Atividade 3 1 2 3 4 5 6 7 8 1 5 2 6 3 7 4 8 Aula 3 Psicologia da Educação 49 Emoções e sentimentos Vamos começar essa discussão com uma atividade simples Observe a figura a seguir Tente descrever que tipo de afeto cada uma das faces expressa Aula 3 Psicologia da Educação 50 Algumas vezes diante de determinados fatos nossa susceptibilidade explode Temos uma reação afetiva intensa súbita e relativamente breve Nesse momento nosso organismo reage com um desequilíbrio de sua homeostase e temos diversas reações como aumento dos batimentos cardíacos rubor das faces aceleração do pulso Assim são as emoções Como define Nobre de Melo 1979 emoções são complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas e insólitas rupturas do equilíbrio afetivo com repercussões leves ou intensas mas sempre de curta duração sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional dos diversos órgãos e aparelhos NOBRE DE MELO 1979 p 503504 A canção de Pixinguinha e João de Barros Carinhoso um clássico da música popular brasileira diz Meu coração Não sei por quê Bate feliz quando te vê Veja como esse verso traduz exatamente a emoção É o fato de ver oa outroa que desperta na pessoa a emoção da alegria e a reação orgânica do aumento dos batimentos cardíacos E perceba também como na nossa cultura ligamos as emoções ao coração Outras reações orgânicas que podem acompanhar as emoções são riso choro lágrimas tremor expressões faciais As reações emocionais geralmente fogem ao nosso controle Muitas vezes podemos segurar um pouco mas alguma alteração orgânica vai ocorrer conosco internamente Quando seguramos o choro sentimos a garganta apertada por exemplo O importante é entender que as emoções são descargas de tensão do organismo que precisam ser liberadas uma vez que significam a necessidade de adaptação do retorno ao equilíbrio e a homeostase Infelizmente nossa cultura estimula a repressão delas É mais do que comum aprendermos por exemplo que homem que é homem não chora Os estudiosos dessa área concordam que existe um conjunto de emoções que são primárias ou seja são observáveis praticamente desde o nascimento e que parecem estar ligadas às necessidades instintivas de sobrevivência São elas o medo a cólera e a alegria Por outro lado algumas outras emoções são aprendidas ao longo da vida o amor a tristeza a paixão o desprezo a vergonha a surpresa A expressão das emoções também é aprendida ou seja respondemos às emoções da maneira que nossa cultura nos ensinou dependendo do tipo de situação em que nos encontramos da idade ou do sexo Como vimos anteriormente de um homem é esperado que não chore mas de uma mulher ao contrário o esperado é que ela se desmanche em lágrimas Um exemplo interessante dessa permissão cultural da expressão emocional podemos ver nas atitudes diante da perda de uma pessoa querida Enquanto as culturas anglosaxônicas manifestam a tristeza de forma contida os latinos são mais expressivos e abertos para essa manifestação Homeostase homeo igual stasis ficar parado é a propriedade de um sistema aberto presente em seres vivos especialmente de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados Atividade 4 Aula 3 Psicologia da Educação 51 As emoções assim são afetos fortes passageiros mas não são imutáveis Fatos que nos emocionam hoje podem não nos emocionar amanhã De todas as maneiras não devíamos ter que esconder nossas emoções uma vez que elas são uma espécie de linguagem através da qual expressamos nossas percepções internas Os sentimentos diferem das emoções por serem menos intensos mais duradouros e não serem acompanhados de manifestações orgânicas intensas Mas os mesmos nomes que usamos para designar as emoções podemos usar também para os sentimentos Por exemplo o amor pode começar como uma forte emoção e ao longo do tempo ir se transformando em sentimento mais estável e duradouro Um exemplo interessante de sentimento é a amizade uma vez que é um estado que vai se construindo ao longo do tempo numa intensidade que não é refletida fortemente no organismo Vamos retomar agora aquelas reações de susceptibilidade que você anotou na atividade 2 frente às situações que colocamos Tente identificar qual delas seria emoção e qual seria sentimento Aula 3 Psicologia da Educação 52 A importância do estudo das emoções A lém de serem uma função homeostática como já descrevemos as emoções também são importantes como adaptação a nossa vida social Dessa forma elas ajudam a avaliar as situações servem de critério de valoração positiva ou negativa para as situações de nossa vida preparam nossas ações e nos motivam Observar a maneira como uma pessoa reage afetivamente é fundamental para compreendêla e saber como lidar com ela uma vez que isso faz parte da sua subjetividade As atitudes e condutas não podem ser entendidas se não levarmos em conta os afetos que as acompanham Algumas vezes não entendemos por que nossos alunos reagem de forma agressiva a observações inocentes que fazemos a eles Assim procurarmos entender por que aquelas palavras foram desencadeadoras de tal emoção podemos definir melhor a nossa futura maneira de agir com as pessoas Curiosidades Circula na internet um texto com definições interessantes O autor é desconhecido mas vale a pena observar a criatividade com que elas foram elaboradas Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado Emoção é um tango que ainda não foi feito Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros Vergonha é um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora Lágrima é um sumo que sai dos olhos quando se espreme o coração Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato Extraído de httpwwwucrhfundaplegislacaospgovbrSnitzLegislacaotopicaspTOPICID22whichpage102ARCHIVE Atividade 5 Aula 3 Psicologia da Educação 53 Os afetos sejam emoções ou sentimentos também têm uma função importante na motivação da conduta e para a aprendizagem Todos nós temos experiência de nos dedicarmos com mais empenho aos assuntos de que gostamos e que nos são agradáveis Outras vezes pelos mais variados motivos tomamos tamanha aversão a certas matérias as quais se tornam impossíveis de aprender São situações em que observamos como o afeto pode interferir na nossa capacidade racional de agir Pense em quantas vezes você se planejou para atuar de uma maneira diante de uma determinada situação e chegado o momento você apresenta um comportamento completamente diferente Descreva uma dessas situações Uma das grandes discussões teóricas atuais é a relação entre razão e emoção cognição e afetos Um dos primeiros estudiosos a se preocupar com esse tema foi o biólogo suíço Jean Piaget 18961980 Para ele a afetividade e a cognição são aspectos inseparáveis Apesar de serem de naturezas diferentes toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo representado pelas estruturas mentais e um aspecto afetivo representado por uma energia que é a afetividade De acordo com Piaget não existem estados afetivos sem elementos cognitivos assim como não existem comportamentos puramente cognitivos E ele constrói uma metáfora interessante quando diz que a afetividade é a gasolina que impulsiona o motor da cognição um não funciona sem o outro Isso confirma que sem afetos não há motivação não há interesse e portanto não há aprendizagem O médico e psicólogo francês Henri Wallon 18791962 foi outro teórico que se dedicou ao estudo da dimensão afetiva dos sujeitos Ele criticava as teorias clássicas que concebiam as emoções como reações incoerentes com efeito perturbador no raciocínio ou aquelas que as entendiam como tendo uma ação ativadora e energética Wallon busca compreendêlas como um fenômeno psíquico e social atribuindolhes um papel central na evolução da consciência Aula 3 Psicologia da Educação 54 Figura 1 Henry Wallon 18791962 Como Piaget Wallon defende que a inteligência e a afetividade estão integradas A evolução da afetividade depende do que se realiza no plano da inteligência da mesma maneira que a evolução da inteligência depende do que acontece com a construção dos afetos Mas admite que no processo de desenvolvimento humano existem fases com predomínio do afetivo e fases com predomínio do racional Nos primeiros meses de vida a criança tem apenas necessidades orgânicas mas por volta do sexto mês começa a se configurar a sensibilidade social Nesse período há um pleno predomínio dos afetos À medida que vai entrando no processo de diferenciação entre si e os outros a criança começa a fazer subordinar suas emoções aos aspectos cognitivos de sua mente isso significa dizer que com o desenvolvimento há um refluxo da afetividade para dar lugar às atividades cognitivas Na ótica da Psicanálise o ser humano nasce como um sujeito psíquico pronto mas irá constituílo a partir de si mesmo das relações familiares e sociais Os pais que investem seu afeto na criança servem de ligação entre seu psiquismo e o meio social que o rodeia proporcionando a ela autoestima e desenvolvendo seu prazer de ouvir e pensar O ego se estrutura então pelo discurso social pela fala dos pais sobre a criança e pelos seus próprios desejos Assim prazer amor e reconhecimento pessoal e profissional são indispensáveis para a construção da identidade para investir em si mesmo e no outro No campo das Neurociências o neurocientista português António Damásio vem desenvolvendo pesquisas procurando entender essa relação entre razão e emoção No seu livro O Erro de Descartes emoção razão e cérebro humano ele estuda o caso de um paciente que devido a um séria lesão no cérebro passa a apresentar modificações no seu comportamento afetivo apesar de manter íntegras as funções motoras e de uma maneira geral as cognitivas O que observa é que essas modificações afetivas vão interferir enormemente na forma como o paciente usa seu raciocínio para as tomadas de decisão É aí que Damásio constata o erro de Descartes que propunha a idéia do penso logo existo sugerindo substituila por existo e sinto logo penso Para ele as emoções bem direcionadas e bem situadas parecem constituir um sistema de apoio sem o qual o edifício da razão não pode operar a contento Psicanálise A Psicanálise é uma ciência criada por Freud que propõe o inconsciente como aspecto determinante de funcionamento da mente humana Ego O Ego é uma das três instâncias que compõem a personalidade na proposição de Freud As outras são o Id e o Superego Descartes René Descartes 15691650 filósofo francês fundador da filosofia moderna e tido como o pai da Matemática é o criador do Método Cartesiano Sua importância na Psicologia vem do fato de dividir a realidade em res cogitans consciência mente e res extensa matéria Resumo 1 2 3 Aula 3 Psicologia da Educação 55 Todos esses trabalhos idéias e teorias nos remetem ao que estudamos na aula 2 que trata da inteligência ressaltando as propostas de Gardner sobre as inteligências múltiplas e de Goleman sobre a inteligência emocional Sugerimos que você retome a referida aula e a releia para estabelecer ligações entre esses dois temas Nesta aula discutimos aspectos da vida afetiva dos seres humanos ressaltando o estudo das emoções e dos sentimentos Vimos as principais conceituações a compreensão desses conceitos por parte de alguns teóricos e a importância desse estudo para a formação de professores Autoavaliação Faça uma síntese dos aspectos que você considera fundamentais relacionando esta aula com a aula 2 Faça a distinção conceitual entre emoções e sentimentos Construa seus argumentos sobre a relação entre emoção e razão Referências BRENELLI R P Piaget e a Afetividade Rio de Janeiro Vozes 2000 DAMÁSIO António R O erro de Descartes emoção razão e cérebro humano São Paulo Companhia das Letras 1996 O mistério da consciência São Paulo Companhia das Letras 2000 GALVÃO Izabel Henri Wallon uma concepção dialética do desenvolvimento infantil Petrópolis RJ Vozes 1995 NOBRE DE MELO A L Psiquiatria Rio de Janeiro Civilização Brasileira 1979 v 1 Anotações Aula 3 Psicologia da Educação 56 4 Aula Crescimento e desenvolvimento A Psicologia da adolescência Aula 5 1 2 3 Aula 4 Psicologia da Educação 59 Apresentação N a nossa prática docente iremos lidar com sujeitos já crescidos e desenvolvidos no entanto precisamos compreender os fatores que influenciaram o seu crescimento e o seu desenvolvimento para que eles se tornassem o que são hoje Por isso apesar da Educação Infantil não ser o nosso foco principal é importante compreender que os fenômenos ocorridos na infância são muitas vezes definidores do tipo de adulto que resultará desse processo Nesta aula vamos discutir tais aspectos o que de certa maneira nos leva também a olhar para o nosso próprio passado Objetivos Conhecer o processo de crescimento e desenvolvimento humano diferenciando esses dois conceitos Identificar as etapas do desenvolvimento infantil Identificar os fatores que influenciam no desenvolvimento infantil 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos Aula 4 Psicologia da Educação 60 Introdução T odos sabemos que nascemos incompletos O homem é um dos animais que nasce e se mantém por alguns anos quase totalmente dependente dos cuidados dos outros Não sabemos nos locomover nossa comunicação é ainda muito precária e todas as nossas necessidades são supridas de modo instintivo Somos então ao nascer seres quase puramente biológicos Por outro lado nascemos já inseridos em uma classe social fazendo parte de um grupo social em uma comunidade linguística e isso seguramente será determinante no processo do nosso crescimento e do nosso desenvolvimento Assim desde o nosso nascimento estamos determinados pelas circunstâncias culturais e sociais Vamos esclarecer a partir de agora esses conceitos básicos de crescimento e desenvolvimento Crescimento e desenvolvimento D urante muito tempo os termos crescimento e desenvolvimento foram considerados como conceitos separados o primeiro contemplava os aspectos físicos e o segundo os aspectos mentais Era mais uma demonstração da dicotomia mente e corpo herdada das ideias de Descartes como vimos na aula anterior Atualmente tendese a considerar ambos os aspectos como fazendo parte do desenvolvimento que abrangeria o crescimento orgânico e o desenvolvimento mental Figura 1 Curva de crescimento Aula 4 Psicologia da Educação 61 Considerase crescimento orgânico um processo dinâmico que se expressa de uma forma mais visível pelo aumento do tamanho corporal Todo ser humano nasce com um potencial genético de crescimento que poderá ou não ser alcançado dependendo das condições de vida a que esteja exposto desde a concepção até a idade adulta Portanto o processo de crescimento está influenciado por fatores intrínsecos genéticos e extrínsecos ambientais dentre os quais se destacam a alimentação a saúde a higiene a habitação e os cuidados gerais com a criança que atuam acelerando ou retardando esse processo Vemos pois que apesar de expressar componentes biológicos a forma como esse crescimento vai ocorrer depende em muito de fatores ambientais A fome e as consequências no desenvolvimento A distribuição regional da desnutrição na infância praticamente se superpõe à distribuição descrita para a pobreza reproduzindo ainda com maior intensidade as desvantagens das regiões Norte e Nordeste e de um modo geral das populações rurais do país Crianças com baixa estatura se mostram duas a três vezes mais frequentes no Norte 162 e Nordeste 179 do que nas regiões do CentroSul 56 sendo que internamente às regiões tanto no Nordeste como no CentroSul o problema se apresenta duas vezes mais frequente no meio rural do que no meio urbano O risco de desnutrição chega a ser quase seis vezes maior no Nordeste rural onde uma em cada três crianças apresenta baixa estatura do que no CentroSul urbano onde apenas uma em cada vinte crianças encontrase na mesma situação A carência de ferro pode causar atraso no crescimento reduzir a resistência às doenças e prejudicar a longo prazo o desenvolvimento mental motor e das funções reprodutivas ao mesmo tempo provoca aproximadamente 20 por cento das mortes relacionadas com a gravidez A carência de iodo pode causar danos cerebrais irreparáveis retardamento mental distúrbios nas funções reprodutivas diminuição da expectativa de vida infantil e bócio e numa mulher gestante poderá determinar diferentes graus de retardamento mental da criança que vai nascer Extraído de SPYRIDES Maria Helena Constantino et al Efeito das práticas alimentares sobre o crescimento infantil Rev Bras Saude Mater Infant v 5 n 2 p145153 jun 2005 Atividade 1 Atividade 2 Aula 4 Psicologia da Educação 62 Apresente aqui a sua opinião sobre algumas das causas da baixa estatura do nosso povo nordestino Se o desenvolvimento mental está intrinsecamente vinculado ao crescimento orgânico que consequências mentais você imagina que podem decorrer da baixa estatura do povo nordestino Aula 4 Psicologia da Educação 63 Desenvolvimento A Psicologia do Desenvolvimento cuida do estudo das mudanças de comportamento relacionadas à idade durante a vida de uma pessoa Esse campo do conhecimento propõe questões como as crianças são qualitativamente diferentes dos adultos ou apenas têm menos experiência As crianças nascem com comportamentos inatos ou os moldam de acordo com o que experienciam O que direciona o desenvolvimento do ser humano Basicamente dois modelos advindos das ciências naturais dominam a cena nessa discussão o modelo mecanicistaambientalista e o modelo organicistaindividualista O modelo mecanicistaambientalista representa a criança e todos os seus fenômenos como uma lousa em branco uma massa a ser moldada O desenvolvimento infantil seria o resultado de uma programação de uma manipulação por forças externas do ambiente que o condicionaria Assim o ambiente ao moldar mecanicamente o cérebro pelo condicionamento determinaria a maneira como se organizariam as suas funções psíquicas Tais concepções refletemse nas práticas sociais voltadas para o desenvolvimento e a educação da criança Sem se darem conta muitos professores pautados na visão mecanicista consideram que o seu papel é programarcondicionar o comportamento e a aprendizagem dos seus alunos O profissional tornase então revestido de uma autoridade absoluta procurando criar hábitos e atitudes através de treinamento de funções e de métodos explícita ou implicitamente coercitivos como castigos e ameaças Já o modelo organicista não considera a criança como máquina mas sim como um ser vivo um organismo biológico no qual a herança genética e a maturação do organismo comandam o processo de desenvolvimento O pedagogo alemão com forte traços religiosos Friedrich Fröbel 17821852 criador da ideia do jardim de infância é um exemplo desse pensamento Ele propunha que as crianças fossem educadas respeitandose as suas naturezas de modo a desenvolver suas potencialidades de acordo com sua condição a de ser filho de Deus Para ele como Deus está presente na natureza ela é sempre boa por ser obra divina Ainda se observam muitos estudiosos que mantêm a crença de que o desenvolvimento depende das potencialidades individuais inatas e que a inteligência e os talentos são dons do próprio cérebro determinados biologicamente e estimulados pelo ambiente Na educação a consequência do modelo organicista é a subordinação da aprendizagem ao ritmo individual e natural da criança Quando o aluno apresenta alguma dificuldade no seu desenvolvimento e aprendizagem isso é atribuído à imaturidade neurológica ou emocional Aula 4 Psicologia da Educação 64 Em contraposição aos modelos mecanicista e organicista o modelo históricocultural proposto por Vygotksy fundamentase na compreensão de uma relação dialética entre o biológico e o social A criança não é representada pela máquina nem pelo organismo vivo mas por um ser que se constitui nas relações sociais Ele parte do pressuposto de que o homem não é um ser passivo ele age sobre o mundo através das relações sociais e é nessas relações que devem ser buscadas as origens das formas superiores dos comportamentos Desde o seu nascimento a criança está em interação com os adultos que por sua vez buscam incorporálas a suas culturas Em nossa cultura por exemplo desde muito cedo orientamos nossas crianças para atitudes como tomar a benção aos pais respeitar os mais velhos comportarse adequadamente nas cerimônias religiosas O filme Trocando as bolas com Eddie Murphy no papel principal pode ser um bom e divertido exemplo da discussão entre o inato e o adquirido Neste filme dois irmãos donos de uma grande empresa fazem uma aposta curiosa um dos irmãos que defende a importância do ambiente sustenta que poderá transformar um mendigo em um alto executivo se lhe der as condições O outro que acredita que as competências são inatas aposta no contrário Eddie Murphy é o mendigo que se transforma e desbanca da presidência da empresa um sobrinho dos irmãos apostadores Relação dialética Por relação dialética queremos nos referir a um tipo de relação em que o biológico e o social se conflitam para surgir uma nova forma de visão que não é puramente biológica nem puramente social Em um primeiro momento as crianças manifestam reações puramente naturais A curiosidade exploratória faz com que por exemplo mexam nos aparelhos eletrodomésticos introduzam objetos nas tomadas toquem na comida com as próprias mãos As reações dos adultos diante dessas atitudes assim indicando os tipos de comportamentos esperados fazem com que processos psicológicos mais complexos vão se formando e à proporção que as crianças crescem esses processos passam a ser internalizados Assim através dessa interiorização fruto das relações com a cultura e com a história a natureza social das pessoas tornamse também suas naturezas psicológicas Atividade 3 Atividade 4 Aula 4 Psicologia da Educação 65 Partindo desse olhar para nosso próprio passado vamos tentar agora relembrar algumas atitudes que incorporamos a nossa natureza e que nos foram ditadas pelos nossos pais ou outros adultos com quem convivemos na infância Se você já tem filho ou se convive com parentes pequenos crianças liste a seguir qual quais das atitudes descritas anteriormente procurou transmitir para eles Aula 4 Psicologia da Educação 66 Outro teórico fundamental nos estudos do desenvolvimento infantil foi Jean Piaget que já conhecemos da aula 3 A vida afetiva emoções e sentimentos por seus estudos sobre razão e emoção O grande trabalho de Piaget foi estabelecer as etapas do desenvolvimento a partir do surgimento de novas qualidades do pensamento o qual por sua vez interfere no desenvolvimento como um todo Ele definiu quatro períodos básicos sensóriomotor préoperacional operações concretas e operações formais dos quais falaremos a seguir n Período sensóriomotor do nascimento até os 2 anos de idade Este período iniciase com uma vida mental reduzida aos reflexos e aos instintos os quais também vão se aperfeiçoando com o passar do tempo A partir daí a criança vai adquirindo cada vez mais autonomia motora e sensitiva por volta dos cinco meses já consegue coordenar os movimentos das mãos e pegar objetos Nesta fase o crescimento orgânico acelerado é o suporte para o surgimento das novas habilidades já que é o crescimento ósseo e muscular que dá sustentação aos novos comportamentos Ao final dos dois anos a criança evolui de uma completa passividade para uma atitude ativa e participativa em relação ao ambiente já se locomove reconhece as pessoas demonstra e reconhece os afetos e em alguns casos já consegue esboçar as primeiras palavras n Período préoperatório dos 2 aos 7 anos Este período é marcado pelo aparecimento da linguagem o que acelera a comunicação e faz surgir o pensamento No início a criança ainda é completamente anímica ou seja transforma a realidade em função de suas fantasias e desejos Este é o período em que os pais observam seus filhos inventando diálogos com seus brinquedos transformando na sua imaginação uma velha caixa em um fabuloso brinquedo criando amigos imaginários O final dessa fase é a famosa fase dos porquês quando o pensamento começa a se adaptar ao real e a criança precisa de explicações às vezes até com questões que não sabemos responder n Período das operações concretas dos 7 aos 11 anos Nesta fase surge a capacidade de executar operações ou seja a criança é capaz de realizar uma operação física com um objetivo e revertêla ao seu início Assim por exemplo se em meio a um jogo descobre que ocorreu um erro é capaz de desmanchálo e refazer a partir de onde errou Vale lembrar que essas operações ainda só são possíveis quando relacionadas a objetos concretos e reais ainda não há a capacidade de abstração Por exemplo se lhes é pedida uma definição de um conceito abstrato como Deus elas tendem a responder com a imagem a figura de um santo Nesta fase são capazes ainda de trabalhar com ideias a partir de dois pontos de vista diferentes de estabelecer relações de causa e efeito e de adquir o conceito de número n Período das operações formais dos 11 anos em diante Nesta fase ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento abstrato e desenvolvese a capacidade de generalização própria do pensamento adulto Já são capazes de lidar com conceitos como justiça e liberdade de criar teorias a respeito do mundo e têm a tendência a ler a realidade de acordo com seus próprios sistemas de interpretação Na Figura 2 apresentamos como se configura o pensamento do adolescente assunto que aprofundaremos na aula seguinte Atividade 5 Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget Sensóriomotor do nascimento aos 2 anos 1 Préoperatório 2 7 anos Operações concretas 7 11 anos Operações formais 11 anos em diante 2 3 4 Aula 4 Psicologia da Educação 67 Figura 2 As fases do desenvolvimento segundo Piaget Vamos voltar a observar as crianças com quem convivemos filhos ou parentes e tentar descrever que comportamentos poderiam ser incluídos nas fases descritas por Piaget Aula 4 Psicologia da Educação 68 Fatores que influenciam o desenvolvimento Depois de vermos os diversos métodos de estudo do desenvolvimento humano vamos agora analisar de um modo geral os fatores que o influenciam Recordemos sempre que esses fatores não atuam isoladamente mas em interação permanente 1 Hereditariedade Já vimos como este fator é importante para o crescimento biológico mas é preciso entender os aspectos genéticos como bagagem potencial herdado pelo indivíduo que pode vir a desenvolverse ou não dependendo dos demais fatores Sabemos que a inteligência por exemplo é uma capacidade que pode ser transmitida geneticamente no entanto essa capacidade é potencial ela pode desenvolverse além ou aquém desse potencial dependendo das condições do meio 2 Crescimento orgânico A partir do momento em que seu organismo se desenvolve o indivíduo começa a adquirir mais domínio sobre seu meio ambiente mais autonomia e maiores possibilidades de descobertas Além disso os fatores que interferem no pleno desenvolvimento do organismo podem acarretar dificuldades no desenvolvimento mental como vimos anteriormente 3 Amadurecimento neurofisiológico Nascemos com cerca de 100 bilhões de neurônios que se intercomunicam em redes no entanto a estabilidade das redes neuronais e o aumento de suas complexidades vão estabelecendose ao longo do desenvolvimento a partir das experiências trazidas pelas interações sociais Veremos melhor esses aspectos na aula 7 Como se aprende o papel do cérebro quando discutiremos as implicações neurológicas da aprendizagem 4 O meio As influências e os estímulos ambientais alteram significativamente os padrões de comportamento Crianças estimuladas mais intensamente em determinados comportamentos os desenvolvem mais intensamente A estimulação precoce por exemplo é um tipo de terapia utilizada em crianças que ao nascerem tenham tido problemas como infecções congênitas prematuridade ou transtornos na hora do parto como a paralisia cerebral Esses recémnascidos em função do risco precisam ser estimulados mais intensa e precocemente a fim de prevenir ou atenuar possíveis atrasos no seu desenvolvimento Resumo 1 2 3 4 5 Aula 4 Psicologia da Educação 69 Autoavaliação O que é o desenvolvimento humano Descreva dois motivos pelos quais você considera importante estudar o desenvolvimento Faça uma síntese dos três métodos de estudo do desenvolvimento apresentados nesta aula Releia a aula 1 A Psicologia e sua importância para a Educação o homem e sua subjetividade na qual discutimos o conceito de subjetividade e faça uma relação desse conceito com um dos métodos de estudo do desenvolvimento Faça um resumo dos períodos do desenvolvimento propostos por Piaget Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo da Psicologia São Paulo Saraiva 1999 PIAGET J Seis estudos de Psicologia Rio de Janeiro Forense 1985 SPYRIDES Maria Helena Constantino et al Efeito das práticas alimentares sobre o crescimento infantil Rev Bras Saúde Mater Infant v 5 n 2 p 145153 jun 2005 VYGOTKSY L A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 Nesta aula vimos alguns aspectos do desenvolvimento humano centrando a discussão nas teorias que alicerçam tais estudos Vimos também os fatores que interferem no desenvolvimento da criança Anotações Aula 4 Psicologia da Educação 70 1 2 3 Aula 5 Psicologia da Educação 73 Apresentação D ando continuidade à discussão sobre o desenvolvimento humano nesta aula vamos observar o indivíduo no estágio em que geralmente o encontramos no Ensino Médio a adolescência Vamos fazer um breve passeio pela história para ver como surge esse conceito e vamos conhecer suas características físicas e comportamentais Objetivos Conhecer o conceito de adolescência diferenciandoo de puberdade Conhecer as características psicológicas da adolescência Discutir a adolescência enquanto fenômeno universal Atividade 1 1 2 Aula 5 Psicologia da Educação 74 Adolescência como surge N a aula 4 Crescimento e desenvolvimento vimos que Piaget propõe como a última das fases do desenvolvimento o período das operações formais que se inicia por volta dos 12 anos de idade Nesta fase o pensamento atingiu a maturidade do seu desenvolvimento o indivíduo tornase capaz de operar a partir de conceitos abstratos sendo assim capaz de abstrair e generalizar idéias Concomitantemente a esse desenvolvimento no plano mental há também um crescimento orgânico acentuado com modificações fisiológicas sobretudo dos órgãos da reprodução e dos caracteres sexuais secundários Pela idade pelas características físicas e mentais fica claro para nós que estamos nos referindo a uma fase do desenvolvimento que costumamos chamar adolescência Mas será que a adolescência é somente isso Para você o que é o adolescente Cite a seguir 5 características que você considera típicas do adolescente Você considera que essas características são comuns a todos os adolescentes Justifique Aula 5 Psicologia da Educação 75 Discutindo um pouco da História N o início dos anos 60 do século XX Phillippe Ariès historiador francês lança na França o livro A história social da infância e da família um marco no estudo do conceito de infância e adolescência Para ele até o final do século XVIII não havia uma concepção de infância como uma etapa distinta na evolução das pessoas uma criança era apenas um adulto em miniatura Assim elas participavam normalmente de todas as atividades familiares fosse o nascimento de uma criança a morte de um parente fossem as atividades cotidianas A partir do início do século XIV com todas as mudanças sociais trazidas pela Revolução Industrial começa também a ocorrer uma mudança nessa concepção A instituição de leis que reguladoras do trabalho e a responsabilização dos pais pela escolarização dos filhos foram fatores importantes para a constituição de uma nova mentalidade sobre a família As crianças passaram a ser excluídas do mundo do trabalho e das responsabilidades e com isso foram se separando do mundo dos adultos surgindo o conceito de infância como um período do desenvolvimento com características próprias A distinção entre crianças e adultos faz surgir a percepção de que há um período intermediário com características também particulares a adolescência Segundo Ariès por volta de 1890 há um enorme interesse por essa fase da vida que se torna tema literário e tema de preocupação dos educadores e políticos De acordo com o autor a adolescência passa a ser caracterizada como um emaranhado de fatores de ordem individual por estar associada à maturidade biológica e de ordem histórica e social por estar relacionada às condições específicas da cultura na qual o adolescente está inserido Assim para Ariès os conceitos de infância e de adolescência são invenções da sociedade industrial Mas a partir daí entendidos como fases da vida esses temas passam a ser objeto de estudos dos especialistas provocando o aparecimento de políticas sociais e educacionais e a consolidação da psicologia do desenvolvimento como área de conhecimento Os conceitos de adolescência e puberdade S egundo a Organização Mundial de Saúde OMS a adolescência é um período da vida no qual acontecem diversas mudanças físicas psicológicas e comportamentais que começa aos 10 e vai até os 19 anos No Brasil para o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA ela começa aos 12 e vai até os 18 anos provavelmente para coincidir com a maioridade penal brasileira Mas que mudanças físicas psicológicas e comportamentais seriam essas Aula 5 Psicologia da Educação 76 A primeira mudança observada geralmente diz respeito às mudanças físicas É o período de um acelerado crescimento da estatura O corpo do adolescente muda tão rápido e tão radicalmente que não dá tempo para que ele se acostume com as modificações O mais comum é encontrarmos adolescentes com posturas desengonçadas movimentos pouco harmoniosos dos braços e pernas resultando num caminhar fora do ritmo Figura 1 Gráfico mostra o crescimento que ocorre na adolescência Ao lado desse crescimento uma série de outras modificações orgânicas começa a acontecer com características que variam entre meninas e meninos Começam a aparecer os chamados caracteres sexuais secundários nas meninas o surgimento das mamas nos meninos o aumento dos testículos em ambos o desenvolvimento dos pelos pubianos A partir dessas modificações orgânicas começa uma fase chamada puberdade A puberdade então não é o mesmo do que adolescência mas ocorre dentro da adolescência e marca organicamente o início da preparação do sujeito para a procriação A idade do início da puberdade também varia em função do sexo nos meninos ocorre em torno dos 12 aos 14 anos nas meninas entre os 10 e os 13 anos Assim a puberdade é marcada pelas características físicas descritas a seguir 1 Nos meninos modificação no timbre da voz aumento da largura dos ombros aparecimento de pelos no rosto axilas e região pubiana crescimento do pênis e testículos e o surgimento da primeira ejaculação 2 Nas meninas desenvolvimento das glândulas mamárias aumento dos quadris aparecimento de pelos na região pubiana e o surgimento da primeira menstruação chamada menarca Essas características apesar de serem universais e de acontecerem em todos os seres humanos podem sofrer variações sendo aceleradas retardadas e até interrompidas Aula 5 Psicologia da Educação 77 dependendo de fatores ambientais estresse má nutrição atividade física intensa Por exemplo a desnutrição pode retardar a menarca em meninas e a prática de atividade física intensa como o trabalho infantil pode acelerar esse processo São conhecidos os estudos que mostram o surgimento da menarca aos 9 anos de idade em meninas habitantes de regiões de clima quente e por outro lado aos 15 anos em meninas que habitam regiões de clima frio Todas essas mudanças na anatomia e na fisiologia são geralmente acompanhadas de mudanças comportamentais A puberdade como marca orgânica é identificada pelo mundo dos adultos como o momento em que o adolescente precisa começar a assumir outro papel social o que implica novas responsabilidades e posturas frente à vida Como essas mudanças ocorrem de uma forma muito rápida o adolescente pode se sentir bastante confuso cheio de dúvidas e ansiedades com relação ao que a sociedade espera dele Essa pode ser então uma fase marcada por perdas ele perde seu corpo infantil e tem que passar a conviver com um corpo novo que ele ainda não sabe manejar muito bem perde dos pais a proteção e o amparo dispensados na infância perde a identidade e o papel dentro da família na qual mantinha uma relação de dependência natural Essas perdas dependendo do suporte dado pela estrutura social e familiar podem ser vivenciadas como uma grande crise que os autores costumam chamar de crise da adolescência As características psicológicas da adolescência M auricio Knobel é um dos estudiosos dessa questão Ele definiu uma síndrome normal da adolescência como uma representação esquemática do fenômeno A definição de uma normal anormalidade para ele não significa que está identificando algo patológico mas serve somente para facilitar a compreensão desse período da vida Vamos analisar agora as suas características psicológicas Síndrome Síndrome é um termo usado na Medicina para definir um conjunto de sintomas que caracterizam uma doença O contraditório na definição de Knobel é ele usar o termo para caracterizar algo normal e não patológico Aula 5 Psicologia da Educação 78 1 Busca de si mesmo e da identidade Todas as modificações corporais e as expectativas da sociedade com relação ao jovem levamno a perceber que está vivenciando uma situação nova a qual muitas vezes é vivida com ansiedade pelo desconhecimento de que rumo tomar A experiência de ter um corpo em mutação leva a conflitos com a autoimagem fazendo com que ora sinta orgulho ora sinta vergonha do próprio corpo Apesar de todas essas modificações o adolescente precisa dar uma continuidade a sua personalidade ou seja precisa saber quem ele é em que está se transformando para assim reconstruir sua identidade Os jovens passam horas e horas em frente ao espelho e comparamse uns aos outros buscando um padrão de normalidade e aceitação Tais situações requerem momentos de isolamento e a assunção de identidades transitórias ocasionais ou circunstanciais no sentido de entender a sua intimidade e assim desenhar a sua própria identidade Sobre a complexidade desse processo de identificação estudaremos mais detidamente na próxima aula 2 Tendência grupal A busca da identidade no adolescente faz com que ele recorra como comportamento defensivo à busca pela uniformidade que pode lhe fornecer segurança e autoestima A partir daí surge o espírito de grupo No grupo há um processo massivo de identificação coletiva Basta olhar para um grupo de adolescentes as vestimentas são semelhantes o modo de falar às vezes criando um idioma próprio os lugares freqüentados os interesses tudo é absolutamente semelhante Neste momento o jovem se identifica muito mais com seu grupo do que com os familiares No grupo ele sentese reforçado e apoiado em suas ansiedades Daí porque a vivência grupal é de fundamental importância O grupo se constitui na transição necessária entre o mundo familiar e o mundo adulto Figura 2 A tendência grupal é próprio da adolescência 3 Necessidade de intelectualizar e fantasiar A realidade impõe ao adolescente a necessidade de renunciar ao corpo infantil e à proteção familiar Isso pode ser vivido como uma experiência de enorme desamparo e impotência que o obriga a recorrer ao pensamento para compensar essas perdas O adolescente então tende a fugir para seu mundo interior como uma forma de buscar um reajuste emocional e nessa tentativa de encontro consigo mesmo começa a demonstrar preocupações de ordem ética moral social Neste momento pode desenvolver grandes teorias sobre o mundo nas quais vai misturar justificativas concretas com idéias fantasiosas infantis Aula 5 Psicologia da Educação 79 4 Crises religiosas A conduta do jovem pode ir do total ateísmo até comportamentos religiosos tão engajados que podem cursar do misticismo até o fanatismo Entre essas condutas há uma grande variedade de posições religiosas e mudanças muito freqüentes tudo isso concordando com as mudanças e flutuações do seu próprio mundo interno A questão da religiosidade emerge como decorrência dos questionamentos do adolescente sobre sua identidade em uma tentativa de responder questões como quem sou o que estou fazendo aqui qual o meu papel na vida 5 Deslocamento temporal A vivência temporal dos adolescentes pode ser observada em situações que provavelmente já presenciamos há um trabalho escolar para ser feito e ele se envolve em outro tipo de atividade a mãe insiste com a urgência do tempo e ele responde que dá tempo o trabalho é pra amanhã Outra situação seria uma festa marcada para um mês depois para a qual ele insiste em providenciar uma roupa porque está em cima da hora As urgências do adolescente são tão grandes quanto o deixar para depois Predomina uma visão sincrética do mundo ou seja uma visão indiferenciada dos aspectos que constituem a realidade que se quer compreender a percepção do todo sem porém se compreender os seus aspectos constitutivos O adolescente não possui ainda as características adultas de delimitar e discriminar o que só vai adquirindo lentamente ao longo do seu desenvolvimento À medida que vai elaborando suas perdas começa a surgir o conceito de tempo que implica as noções de passado presente e futuro 6 Evolução sexual do autoerotismo à heterossexualidade Observase no adolescente uma oscilação entre a atividade do tipo masturbatória e o começo dos exercícios genitais que se inicia se forma basicamente exploratória até evoluir para a verdadeira genitalidade procriativa Ao aceitar a sua genitalidade o adolescente começa a busca por um par É a fase das grandes e definitivas paixões que representa todos os aspectos dos vínculos intensos e frágeis das relações interpessoais do adolescente A curiosidade sexual pode se manifestar pelo interesse por revistas pornográficas e mesmo por experiências de ordem homossexual O exibicionismo e o voyerismo se manifestam nas vestimentas nas maquiagens das meninas nas atitudes durante jogos e festas Começam os contatos superficiais depois profundos e mais íntimos que preenchem a sua vida sexual 7 Atitude social reivindicatória Tais atitudes muitas vezes se configuram em respostas às restrições impostas pela sociedade Elas são a consolidação do que vem ocorrendo no pensamento As intelectualizações e fantasias conscientes que se reforçam nos grupos fazem com que essas atitudes se transformem em pensamento ativo em uma verdadeira ação social política cultural Muitas vezes as perdas são vividas como não sendo deles mas da sociedade dos seus pais de sua família O resultado é que descarregam toda sua revolta nessas figuras e podem vir a desenvolver atitudes destrutivas quando as perdas não são bem elaboradas Essa particular característica do adolescente é aproveitada em muitos casos por certas seitas e grupos políticos ou religiosos para arregimentar seguidores Exibicionismo e Voyerismo Exibicionismo e voyerismo são manifestações da sexualidade caracterizadas por obtenção de prazer sexual pela exibição dos órgãos sexuais ou pela observação de outras pessoas respectivamente São consideradas patológicas quando essas são as únicas maneiras de se obter prazer sexual Aula 5 Psicologia da Educação 80 8 Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta A conduta do adolescente está dominada pela ação sendo esta a sua forma mais típica de expressão Mas o adolescente não pode manter uma linha de conduta rígida permanente mesmo que tente Ele tem uma personalidade no dizer de Spiegel esponjosa ou seja permeável absorvente que recebe e também projeta tudo enormemente Isso faz com que não possa ter uma conduta linear o que só é observado em situações patológicas como no autismo e nas neuroses Na verdade é o mundo adulto que não suporta as contradições dos adolescentes não aceita suas identidades transitórias e exige deles uma atitude adulta para a qual ainda não estão capacitados 9 Separação progressiva dos pais Esta é uma das perdas fundamentais que o adolescente necessita assumir internamente e que pode gerar uma ansiedade muito intensa Muitas vezes os pais não aceitam e negam o crescimento dos filhos dificultando mais ainda a resolução dessa ansiedade Daí a importância da internalização por parte dos adolescentes de boas imagens parentais com papéis bem definidos sem ambigüidades ou encobrimentos Algumas vezes os pais transmitem uma imagem de personalidades pouco consistentes forçando o adolescente a buscar identificação com outras imagens adultas como ídolos do esporte ou do cinema ou mesmo com figuras negativas que prejudicam mais ainda sua formação Um exemplo disso é a organização criminosa do tráfico de drogas que alicia jovens e até crianças para o mundo da criminalidade 10 Constantes flutuações do humor Além das modificações hormonais que já influenciariam as modificações do humor o sentimento básico de ansiedade e depressão acompanha a adolescência sobretudo devido às perdas que sofre A maneira como o adolescente as elaborar determinará a maior ou menor intensidade dessas flutuações A realidade nem sempre satisfaz suas aspirações resultando em sentimentos de frustração e solidão Mas da mesma maneira que se sente isolado do mundo um gesto simples pode fazer com que se sinta a mais feliz das criaturas Figura 3 As flutuações de humor são outra característica desta fase Atividade 2 1 2 Aula 5 Psicologia da Educação 81 A adolescência é um acontecimento universal N a atividade 1 perguntamos se você considerava as características que citou como comuns a todos os adolescentes O que estávamos querendo saber era a sua opinião sobre a universalidade do acontecer adolescente Agora que você leu sobre a caracterização da adolescência feita por Mauricio Knobel sua opinião continua a mesma Reflita um pouco sobre os adolescentes que você conhece observe os por alguns dias converse com alguns deles Em seguida tente listar quais das características descritas por Knobel você conseguiu observar nesses adolescentes Se você puder observe e converse com adolescentes de diferentes classes sociais Anote a seguir que características você pôde observar diferenciando pelas classes sociais Aula 5 Psicologia da Educação 82 No início desta aula quando discutimos o conceito de puberdade dissemos que esse era um fenômeno universal apesar de ter sofrido variações Ou seja as modificações na estrutura corporal a explosão hormonal o surgimento dos caracteres sexuais secundários podem variar conforme a idade em que surgem mas vão acontecer em todos os seres humanos marcando organicamente a transição entre a infância e a vida adulta No entanto quando se discute o conceito de adolescência sobretudo se a entendemos como uma época caracterizada pelos aspectos descritos anteriormente as divergências entre os autores aparecem De uma maneira geral a Psicologia tem em suas teorias naturalizado o fenômeno psíquico ou seja apresentanos como se fizesse parte da natureza humana como se fosse algo de que somos dotados desde o nascimento Observe como Knobel descreve a adolescência sem nenhuma preocupação em contextualizála no seu tempo histórico na sua cultura nas relações com a sociedade Seria possível imaginar um adolescente que desde a sua infância já assume responsabilidades designadas para adultos por exemplo aqueles que ajudam seus pais no roçado passar por toda essa crise à qual nos referimos Ana Bock 1999 realizou um estudo interessante com psicólogos da cidade de São Paulo observando o significado que eles dão ao fenômeno psicológico de uma maneira geral Para ela a visão desses psicólogos sobre o homem é a seguinte O homem colocado na visão liberal é pensado de forma descontextualizada cabendo a ele a responsabilidade por seu crescimento Um homem que é dotado de capacidades e possibilidades que lhe são inerentes naturais Um homem dotado de uma natureza humana que lhe garante se desenvolvida adequadamente ricas e variadas possibilidades A sociedade é apenas o lócus de desenvolvimento do homem É vista como algo que contribui ou impede o desenvolvimento dos aspectos naturais do homem Cabe a cada um o esforço necessário para que a sociedade seja um espaço de incentivo ao seu desenvolvimento As condições estão dadas cabe a cada um aproveitálas BOCK 1999 p 27 Com relação à adolescência Bock 2004 fez um outro estudo observando textos publicados sobre esse tema os quais visavam orientar pais e professores na difícil tarefa de educar os jovens O objetivo era analisar o conceito de adolescência subjacente a essas publicações Ela conclui que a adolescência tal como apresentado nesses textos não tem gênese social ou seja nenhuma de suas características é constituída nas relações sociais e culturais Assim ao se pensar a problemática da adolescência não se toma qualquer questão social como referência A falta de políticas para a juventude em nossa sociedade a desqualificação e inadequação das atividades escolares para a cultura jovem o sentimento de apropriação que os pais têm em nossa sociedade com relação aos filhos as contradições vividas a distância entre o mundo adulto e o mundo jovem a impossibilidade de autonomia financeira dos jovens que ou não trabalham ou sustentam a família nenhuma destas questões é tomada como elemento importante para compreender a forma como se apresenta a adolescência em nossa sociedade As relações familiares são as únicas que aparecem nos textos e são fator de influência sobre a adolescência mas não a constituem BOCK 2004 p38 Atividade 3 Aula 5 Psicologia da Educação 83 Temos defendido nesta disciplina a visão do homem enquanto um ser sóciohistórico ou seja como aquele que pela sua atuação no mundo o transforma e é por ele transformado Nessa perspectiva a adolescência é vista como uma construção social que tem repercussões na subjetividade do sujeito e não como um período natural do desenvolvimento A compreensão é que a adolescência é uma criação do homem Os fatos sociais vão surgindo nas relações sociais e com isso vão apresentando repercussões psicológicas Assim começase a dar significados sociais a esses fatos A adolescência é um desses fatos sociais que ganharam significado social Para compreendêla é preciso então que retomemos seu processo social para depois compreendêla na forma como acontece para os jovens Concluímos com um trecho do trabalho de Bock 2004 Não há nada de patológico não há nada de natural A adolescência é social e histórica Pode existir hoje e não existir mais amanhã em uma nova formação social pode existir aqui e não existir ali pode existir mais evidenciada em um determinado grupo social em uma mesma sociedade aquele grupo que fica mais afastado do trabalho e não tão clara em outros grupos os que se engajam no trabalho desde cedo e adquirem autonomia financeira mais cedo Não há uma adolescência como possibilidade de ser há uma adolescência como significado social mas suas possibilidades de expressão são muitas BOCK 2004 p42 Baseandose na sua resposta à atividade 1 que tipo de comparação você pode fazer entre o que você entendia por adolescência e o que você passou a entender acerca desse período da vida destacando os diversos aspectos envolvidos no crescimento do ser humano como o meio ambiente a família e as questões biológicas do indivíduo Resumo Aula 5 Psicologia da Educação 84 Autoavaliação Retome a atividade 2 e à luz das concepções apresentadas por Ana Bock faça uma análise das observações dessa autora sobre a universalidade do conceito de adolescência Referências ARIÈS P História social da infância e da família Rio de Janeiro Guanabara 1986 BOCK A M B Aventuras do Barão de Munchhausen na psicologia São Paulo Cortez EDUC 1999 BOCK Ana Mercês Bahia A perspectiva sóciohistórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano a adolescência em questão Cad CEDES v 24 n 62 p 2643 abr 2004 Disponível em httpwwwscielobrpdfccedesv24n6220090pdf Acesso em 20 jul 2007 KNOBEL M El sindrome de la adolescencia normal In ABERASTURY A KNOBEL M La adolescencia normal Buenos Aires Paidos 1977 Nesta aula discutimos os conceitos de puberdade e adolescência aprendendo a diferenciálos Vimos também as características psicológicas da adolescência na visão de um dos seus teóricos Finalizamos com a discussão sobre a existência da adolescência como um fenômeno universal Aula 5 Psicologia da Educação 85 Anotações Aula 5 Psicologia da Educação 86 Anotações 6 Aula A formação da identidade alteridade e estigma 1 2 3 Aula 6 Psicologia da Educação 89 Apresentação N esta aula vamos discutir como temos consciência de que nós somos nós mesmos ou seja como construímos a nossa própria identidade Vamos analisar quais os fatores importantes nessa construção e como em determinadas fases da vida percebemos que mudamos apesar de continuarmos os mesmos Objetivos Discutir o conceito de identidade e como ela é construída Observar as crises de identidade e as fases da vida Conhecer o conceito de alteridade e sua importância na constituição do sujeito e da sociedade Atividade 1 Aula 6 Psicologia da Educação 90 Como reconhecemos as pessoas Vamos começar analisando as imagens a seguir Mesmo sem conhecer as pessoas retratadas você seria capaz de dizer que tipo de pessoas elas são Considere aspectos como que idade têm a que classe social pertencem em que trabalham Atividade 2 1 2 Aula 6 Psicologia da Educação 91 Mesmo sem nunca termos conhecido as pessoas dessas fotos já fomos capazes de fazer uma série de inferências sobre elas nos comportando como se já soubéssemos quem são É assim que agimos na maioria das vezes com as pessoas que encontramos pela primeira vez Mesmo antes de entabularmos algum tipo de conversa observamos uma série de informações que nos identifica a pessoa Imagine que você vai começar a falar de política e observa que seu interlocutor traz uma estrela vermelha no peito Só por esse detalhe você já tem uma ideia da opção política da pessoa e pode fazer você mudar o rumo da conversa Esses detalhes nos fazem conhecer o outro Mas será que o conhecemos de fato Será que sabemos quem ele é Escolha alguns de seus amigos e faça a eles uma pergunta incrivelmente simples quem é você Anote a seguir as respostas Agora faça a você mesmo esta pergunta quem sou eu Aula 6 Psicologia da Educação 92 Provavelmente apesar de simples essas perguntas não foram respondidas com muita facilidade pois saber quem somos é um desafio uma vez que apesar de sermos os mesmos somos também diferentes porque mudamos com o tempo A Psicologia construiu o conceito de identidade justamente para compreender como se dá esse processo no qual o sujeito se identifica como único e assim se apresenta às outras pessoas apesar de saber que ao longo da vida foi se modificando mudando opiniões refazendo conceitos modificando posturas frente ao mundo A construção da identidade O conceito de identidade agrupa uma série de noções como a de permanência de manutenção de referências que não mudam com o tempo por exemplo seu nome suas relações de parentesco sua nacionalidade Apesar de saber que mudei com o passar do tempo sei que sou o mesmo que era ontem ou seja tenho dentro de mim um autoreconhecimento a partir de aspectos fundamentais de minha história de vida Assim quando penso em quem eu sou esse meu eu tem uma constância ao longo do tempo Tem também uma unidade ou seja sei que sou uma única pessoa e que mesmo mudando não me transformei em outra A identidade então é essa consciência do reconhecimento individual que permite a distinção do eu Mas essa distinção do eu permite também que possamos distinguir o outro No momento em que delimito a minha identidade estou também admitindo que existem as identidades das outras pessoas É pois em relação a esse outro que nos constituímos e nos tornamos únicos A identidade é definida pela relação do indivíduo na relação com outros indivíduos isto é cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta em seu convívio Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem eu sou pois não teria elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacarse dos outros eus BOCK 1999 p 204 Esse processo de diferenciação do meu eu com os outros eus se inicia na relação mãefilho Num primeiro momento a criança não consegue fazer essa diferenciação mas com o tempo começa a compreender que não é uma extensão de sua mãe A partir daí os valores vão sendo construídos conforme a relação mãefilho daí a importância dessa fase da vida na constituição do sujeito A partir da mãe a criança no seu processo de desenvolvimento e diferenciação busca outras pessoas com quem possa se identificar pessoas que lhes são significativas e que sirvam de modelo para a construção de sua identidade individual auxiliando na definição de quem ela deseja ser no futuro A presença de figuras que lhe possibilitem identificações positivas e fortes é pois fundamental até a adolescência e continua a ser importante pelo resto das nossas vidas Atividade 3 Aula 6 Psicologia da Educação 93 O que somos na vida adulta é a fusão de uma série de identificações a mãe ou o pai aquele professor ou professora que nos marcou um amigo ou amiga especial um personagem de algum livro que tenhamos lido um líder político ou religioso Por que mesmo adultos muitas vezes dizemos quando eu crescer quero ser como fulano Porque de alguma forma aquele fulano nos parece uma boa imagem para identificação e como continuo adquirindo experiências ao longo de minha vida posso ir modificando o meu modelo incorporando elementos à minha identidade A identidade pois não é algo fixo e imutável mas está em permanente transformação Por isso mudamos porém continuamos os mesmos Vamos fazer um exercício de retorno ao passado Ainda que você não duvide de que sempre foi o mesmo procure lembrarse de todas as mudanças que ocorreram em você até agora Liste as mais importantes Um dos primeiros teóricos da Psicologia a estudar os processos de formação da identidade foi Erik Erikson 1972 Para ele identidade é uma concepção de si mesmo composta de valores crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido A sua formação receberia influência de fatores a intrapessoais representados pelas capacidades inata e adquirida do indivíduo b interpessoais representados pelas identificações c culturais representados pelos valores sociais a que uma pessoa está exposta tanto no âmbito global quanto comunitários Aula 6 Psicologia da Educação 94 As crises de identidade A identidade como estamos vendo não é algo fixo mas está em permanente construção e transição Nesse processo permanente de mudança vamos incorporando os aspectos de nossas vivências para formar o que somos em um dado momento Isso constitui nossa história Ocorre que em alguns momentos esse processo de mudança não é vivenciado com tranquilidade Algumas vezes ele pode ser angustiante doloroso e confuso São as chamadas crises de identidade momentos importantes do desenvolvimento quando a pessoa pode redefinir seu modo de ser e de estar no mundo A crise de identidade mais evidente é aquela vivida na adolescência Como vimos em aula anterior essa é uma fase da vida de profundas mudanças fisiológicas e psicológicas A puberdade marca uma enorme explosão hormonal acompanhada de uma fase de crescimento orgânico acelerado Paralelamente há o aspecto cultural de introdução do jovem nas responsabilidades da vida adulta Como todas essas mudanças se dão de uma maneira muito rápida o adolescente pode se sentir confuso e ansioso vivenciando essa fase como um momento doloroso Mas existem outros momentos que se caracterizam também por mudanças de postura frente à vida os quais podem ser vividos como crise O momento em que se conclui um curso superior por exemplo marca para o sujeito a necessidade de assumir uma profissão e cuidar de si próprio do ponto de vista financeiro É também o momento de assumir a constituição de uma nova família com a escolha doa parceiroa e o planejamento de filhos Todas essas mudanças podem ser vividas com ansiedade e assim caracterizar uma crise Outro momento muitas vezes vivido com dificuldades ocorre por volta dos 40 anos de idade desencadeado não por mudanças fisiológicas ou cognitivas mas por um novo conjunto de mudanças que vão depender se a pessoa casouse e teve ou não filhos se a carreira estagnou ou decolou se ainda vive com os pais ou se sente algum declínio físico Para muitos adultos o acúmulo dessas e de outras mudanças leva a um novo período de dúvidas a percepção do envelhecimento da proximidade da fase adulta dos filhos quando for o caso e a competição com pessoas mais jovens no mercado do trabalho o que pode deflagrar a chamada crise da meiaidade É importante ressaltar que em Psicologia o conceito de crise não é necessariamente negativo ao contrário é um momento de inflexão o qual oportuniza rever e reavaliar a trajetória de vida Dessa forma crise é a oportunidade de se refazer caminhos que pode e deve ser aproveitada nesse sentido Portanto as crises de identidade devem constituir momentos especiais a serem aproveitados para reavaliar e corrigir os rumos que se tem dado à vida Aula 6 Psicologia da Educação 95 Identidade e alteridade Retomemos a questão da importância do outro na formação da identidade individual para discutirmos um outro conceito a alteridade Laing 1986 p78 ratifica essa posição quando diz não podemos fazer o relato fiel de uma pessoa sem falar do seu relacionamento com os outros Então a forma como vemos e nos relacionamos com o outro é também importante O conceito de alteridade foi formulado por Emanuel Lévinas 19061995 Para ele a alteridade baseiase na constante constatação das diferenças que estabeleço entre eu e o outro e consiste em conferir ao outro uma existência como sujeito de modo que ele não se constitua num objeto para mim A partir do momento em que atribuo esse significado ao outro que lhe confiro alteridade será possível conviver com o diferente reconhecendo que ele tem direitos iguais aos meus através da constatação e do respeito às diferenças individuais culturais sociais resultando em uma convivência harmônica e na cooperação para o bemestar comum Uma pessoa que constitua a sua identidade desrespeitando o direito do outro sendo intolerante e incapaz de manter uma convivência passando por cima da máxima tratar o outro como gostaria de ser tratado cria um confronto com a alteridade gerando preconceitos discriminação segregacionismo e estigmas Figura 1 Superar o preconceito é restaurar a alteridade Assim alteridade é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade dos seus direitos e sobretudo da sua diferença Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais mais conflitos ocorrem Infelizmente ainda é relativamente comum na relação professoraluno a postura colonizadora que parte do princípio de que o professor tem o conhecimento e o aluno nada sabe Essa é a grande crítica do pedagogo brasileiro Paulo Freire quando repudia a chamada educação bancária e a postura antidialógica de muitos dos educadores brasileiros que desprezam todo o saber prévio dosalunos e ensinam depositando informações Atividade 4 Aula 6 Psicologia da Educação 96 A questão do estigma E m parágrafos anteriores falamos sobre como a falta de alteridade nas relações geram preconceito e estigma O que é estigma Esta é uma palavra de origem grega que significava os sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava Para Goffman 1982 p 11 os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo criminoso ou traidor uma pessoa marcada ritualmente poluída que devia ser evitada especialmente em lugares públicos Na Era Cristã o estigma se expressa através de sinais corporais os quais indicam que o indivíduo tem a graça divina ou simplesmente identificava um distúrbio físico Na atualidade o termo revestese de um atributo depreciativo imputado ao outro por aqueles que se consideram normais Em casos como raça religião ideologia classe social o estigma expressase por uma postura não apenas de animosidade mas sobretudo por uma postura ideológica valorativa de quem se considera superior ou normal O outro é categorizado como não natural como fora do comum Goffman 1982 mostranos como a sociedade estabelece meios que categorizam as pessoas de acordo com atributos que ela reconhece como válidos para que sejamos identificados como normais Se temos alguma característica considerada incomum ou antinatural então imputamnos um estigma Esta pode ser uma provocação mas responda com toda a sinceridade você contrataria como empregado um expresidiário ou um egresso de um hospital psiquiátrico Aula 6 Psicologia da Educação 97 Muito provavelmente você respondeu não Porque ser expresidiário ou egresso interno de uma instituição psiquiátrica confere ao sujeito um atributo negativo para a maioria das pessoas A consequência é que esses sujeitos têm como destino a exclusão e a falta de oportunidades Estão marcados estigmatizados O mesmo poderia acontecer com negros homossexuais prostitutas portadores do vírus HIV O estigma revela toda a dificuldade que temos em lidar com o diferente e essa dificuldade vai se perpetuando ao longo das gerações por intermédio da educação familiar escola meios de comunicação Vale salientar que a pressão cultural e social pode ser tão forte constante e marcante para os sujeitos estigmatizados que o atributo negativo pode vir a ser internalizado ao ponto de constituirse em aspecto importante de sua autoimagem e de sua autoestima Bock 1999 chama atenção para situações semelhantes ao processo de estigmatização que podem acontecer ao longo da vida como por exemplo professores que repetem para o aluno que ele não vai aprender que é cabeçadura que é burro Tais comentários muitas vezes feitos sem que se note o que se está dizendo podem ser internalizados como uma experiência marcante para o aluno que passará a ver a si próprio como possuidor daqueles atributos Sempre que a possibilidade do estigma se faz presente isto é quando o indivíduo se encontra numa situação na qual sua aceitação social não é plena estamos diante de uma situação de perda da alteridade Mas isso pode ser ainda mais paradoxal porque ao mesmo tempo em que a sociedade estigmatiza cobra do sujeito estigmatizado que se comporte de modo a não demonstrar que a estigmatização lhe é uma carga Como ressalta Goffman ele é aconselhado a corresponder naturalmente aceitando com naturalidade a si mesmo e aos outros uma aceitação de si mesmo que nós fomos os primeiros a lhe dar Assim permitese que uma aceitaçãofantasma forneça a base para uma normalidadefantasma 1982 p133 Um dos filmes mais comoventes na abordagem da estigmatização de portadores de HIV é Filadelfia dirigido por Milos Forman em 1999 Nesse filme um advogado de sucesso interpretado por Tom Hanks é demitido de seu trabalho quando se suspeita de que ele está contaminado pelo vírus A sua luta por encontrar um advogado que o ajude a processar a empresa mostra claramente a questão Resumo 1 2 3 Aula 6 Psicologia da Educação 98 Um exemplo disso é quando sem nos darmos conta da estigmatização dizemos frases como ele é um negro que conhece o seu lugar ou ele é gay mas é gente boa Por fim é importante lembrar que o preconceito e a estigmatização se inserem no contexto históricosocial Por mais que individualmente nos recusemos a ver o outro como um ser diferente despossuído de dignidade isso não faz com que o estigma desapareça Assim enquanto professores devemos estar atentos à formação das novas gerações Autoavaliação Defina identidade e cite os fatores que interferem em sua construção Defina alteridade e a diferencie de identidade À luz da discussão sobre estigma faça uma análise pessoal da importância desse conceito Nesta aula discutimos o conceito de identidade e como ela se constrói ao longo da vida Observamos que essa construção nem sempre se dá com tranquilidade e que algumas vezes pode ser vivida como uma crise Vimos como a alteridade é importante no relacionamento interpessoal e na organização da sociedade Por último vimos o conceito de estigma como uma perda da alteridade e as consequências da estigmatização Aula 6 Psicologia da Educação 99 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Saraiva 1999 ERIKSON E H Identidade juventude e crise Rio de Janeiro Zahar 1972 GUATTARI Félix ROLNIK Suely Micropolítica cartografias do desejo Petrópolis Vozes 1986 GOFFMAN E Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada Rio de Janeiro Zahar 1982 LAING Ronald D O eu e os outros o relacionamento interpessoal Petrópolis Vozes 1986 Anotações Aula 6 Psicologia da Educação 100 7 Aula Como se aprende o papel do cérebro 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 103 Apresentação N esta aula vamos começar a discutir um tema fundamental para os futuros professores como o indivíduo aprende É a partir do entendimento desse fenômeno que poderemos planejar nossas estratégias de ensino as atividades para os nossos alunos e fazermos uma apreciação de suas novas aprendizagens Na primeira parte dessa discussão vamos começar por compreender qual o papel e a importância do nosso cérebro na aquisição do conhecimento Objetivos Compreender como se organiza biologicamente nosso equipamento cerebral para as funções da aprendizagem Entender o papel da memória dos afetos e da motivação no processo de aprendizagem Relacionar o papel das estruturas nervosas com a aprendizagem Atividade 1 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 104 Introdução C ompreender o homem é também compreender o que ele sabe Bem mais do que isso tratase de compreender o que significa esse saber como se deu a sua apropriação e quais os seus efeitos nas ações do sujeito O modo como o sujeito se apropria de um saber significa dizer como ele aprende Aprender é uma ação que desenvolvemos desde o início de nossa vida Ainda muito cedo aprendemos a andar a falar aprendemos a nos relacionar com a família com amigos com pessoas estranhas aprendemos a respeitar pessoas e instituições aprendemos a nos comportar de acordo com as circunstâncias E aprendemos de maneira formal na escola Outros comportamentos e atitudes entretanto não precisamos aprender É como se já nascêssemos sabendo Por exemplo não precisamos aprender a comer ou ninguém nunca nos ensinou que nosso corpo precisa de descanso Há ainda um conjunto de conhecimentos dos quais não temos muita idéia de como quando ou onde aprendemos Por exemplo quando olhamos para o céu e vemos nuvens escuras e pesadas logo inferimos que irá chover Quando aprendemos isso Forme três grupos contendo a Coisas que aprendi e sei com quem b Coisas que sei mas ninguém me ensinou c Coisas que aprendi mas não sei com quem No seu entender para qual dos três grupos se aplica o conceito de aprendizagem Por quê Costumase separar os conhecimentos em conhecimentos científicos e conhecimentos da tradição Relacione esses conceitos com dois dos grupos de coisas que você aprendeu listados anteriormente E o terceiro grupo como você chamaria Aula 7 Psicologia da Educação 106 Quantas vezes já ouvimos dizer que depois de velho não se aprende mais nada Essa afirmação é fruto da idéia de que nosso cérebro nasce pronto e com o passar do tempo só temos a perder Ora se perdemos neurônios à proporção que envelhecemos como podemos aprender Nada mais equivocado As atuais pesquisas na área das Neurociências mostram que novos neurônios estão nascendo a cada dia em nossos cérebros E o que é mais interessante esses novos neurônios nascem justamente em áreas responsáveis pela aprendizagem o que significa dizer que temos condições neurológicas de estarmos sempre aprendendo Mas como isso ocorre Que áreas são essas O que o cérebro tem a ver com o que aprendo Vamos discutir isso de uma maneira mais detalhada A neurobiologia da aprendizagem D e uma maneira geral a anatomia dos cérebros humanos é extremamente semelhante nascemos praticamente com a quantidade de neurônios já completa Até pouco tempo atrás além de se ter conhecimento desse fato também imaginavase que as perdas e degenerações de neurônio que viessem a ocorrer ao longo da vida eram irremediáveis Estudos recentes no entanto indicam que algo mais ocorre na intimidade de nosso sistema nervoso células que até então eram vistas como tendo apenas função de nutrição e sustentação para os neurônios os gliócitos hoje se tornam o foco das atenções pela Instinto um dos mecanismos mentais que não precisamos aprender Instinto é uma palavra usada para descrever disposições inatas em relação a ações particulares Instintos geralmente são padrões herdados de respostas ou reações a certos tipos de situações ou características de determinadas espécies Em humanos eles são mais facilmente observados em respostas a emoções Instintos geralmente servem para pôr em funcionamento mecanismos que evocam um organismo para agir As ações particulares executadas podem ser influenciadas pelo aprendizado ambientes e princípios naturais Geralmente instinto não é usado para descrever uma condição existente ou status quo Extraído de Wikipedia httpptwikipediaorgwikiInstinto Gliócitos Gliócitos ou células da glia compõem juntamente com os neurônios as células do Sistema Nervoso Aula 7 Psicologia da Educação 107 possibilidade de serem na verdade células que se transforma em neurônios em casos de urgência e necessidade sobretudo nas áreas cerebrais relacionadas com a memória NEURÔNIO é a célula do Sistema Nervoso responsável pela condução do impulso nervoso Há cerca de 100 bilhões de neurônios no sistema nervoso humano A membrana exterior de um neurônio toma a forma de vários ramos extensos chamados dendritos que recebem sinais elétricos de outros neurônios e de uma estrutura chamada de um axônio que envia sinais elétricos a outros neurônios O espaço entre o dendrito de um neurônio e o axônio de outro é o que se chama uma sinapse os sinais são transportados através das sinapses por uma variedade de substâncias químicas chamadas neurotransmissores O córtex cerebral é um tecido fino composto essencialmente por uma rede de neurônios densamente interligados de forma que nenhum neurônio está mais do que algumas sinapses de distância de qualquer outro neurônio Outra descoberta interessante é que além da possibilidade de transformação dos gliócitos ocorre o nascimento de novos neurônios em cérebros adultos O que chama a atenção nesse caso é que tais nascimentos se dão exclusivamente pelo menos que se sabe hoje no bulbo olfatório que recebe sinais do nariz e em uma região do cérebro chamada hipocampo Figura 2 justamente uma região de extrema importância para a formação de novas memórias Como os neurocientistas relacionam a memória com a aprendizagem como veremos a seguir essa descoberta talvez venha explicar a inesgotável capacidade humana de aprender coisas novas Figura 1 Representação de um neurônio com os componentes de sua estrutura Aula 7 Psicologia da Educação 108 Figura 2 Representação do cérebro com indicação do bulbo olfatório e hipocampo Como se sabe os experimentos em ratos são muito importantes para se entender o funcionamento de determinadas estruturas os quais não são possíveis de realizar em humanos Uma experiência interessante foi a colocação de ratos adultos em gaiolas cheias de brinquedinhos que deveriam ser explorados diferentemente das gaiolas tradicionais nas quais só existem serragem comida e água o que possibilitou um aumento no número de novos neurônios gerados no hipocampo Entretanto quando esses ratos eram submetidos a situações de estresse que atrapalham a aprendizagem o surgimento de novos neurônios diminuiu Antes mesmo do nascimento ainda na fase de embrião os neurônios desenvolvem longos filamentos prolongamentos que partem de seu corpo central chamados axônios É através deles que um neurônio estabelece ligação com outros neurônios formado sinapses que vão se constituir nos circuitos neurais Essas conexões originais vão permitir a regulação de funções autonômicas que são aquelas que ocorrem sem nosso controle voluntário como a respiração os batimentos cardíacos a mobilidade intestinal No entanto durante toda a vida os circuitos neurais vão continuar a se desenvolver Os neurônios estão sempre testando novas conexões as que funcionam permanecem as que não funcionam se desfazem E o que faz uma conexão ser mantida O seu uso Se usamos repetidamente uma conexão ela tende a se tornar permanente Ao nascer o cérebro humano tem somente uma pequena proporção dos trilhões de sinapses que provavelmente terá SINAPSE As sinapses ocorrem no contato das terminações nervosas axônios com os dendritos O contato físico não existe realmente pois mesmo estando próximas há um espaço entre ambas estruturas fenda sináptica Dos axônios são liberadas substâncias neurotransmissores que atravessam a fenda e estimulam receptores nos dendritos e assim transmitem o impulso nervoso de um neurônio para o outro Aula 7 Psicologia da Educação 109 Por que ao nascer temos tão poucas conexões Qual a relação desse aumento de conexões que adquirimos ao longo da vida com a aprendizagem Algumas evidências estabelecidas são particularmente surpreendentes a os neurônios começam a se degenerar a partir da infância b uma vez que muitos neurônios morrem existe em relação ao cérebro infantil menor quantidade deles no cérebro adulto o qual é por outro lado muito mais maduro e de maior tamanho c o número total de conexões no cérebro infantil é maior que no cérebro adulto Dessa forma em relação ao cérebro infantil o cérebro adulto é maior em tamanho mas é menor em número de neurônios e em conexões sinápticas Como explicar então que seja mais maduro As sinapses são estabelecidas basicamente de duas maneiras as quais descreveremos a seguir A primeira é por superprodução e perda seletiva ocorrendo durante os períodos mais precoces do desenvolvimento O Sistema Nervoso estabelece um número muito grande de conexões e através de experiências de vida seleciona aquelas que se mostraram mais apropriadas removendo as demais O que permanece é a forma final que constitui o sensório e a base dos processos cognitivos Os neurocientistas comparam esse processo ao dos artistas escultores os quais a partir de um bloco de mármore fazem surgir o objeto artístico pela eliminação de porções desnecessárias do mármore A segunda maneira de formação de sinapses é através da adição de novas sinapses Ao contrário do processo anterior que se produz nos primeiros meses de vida esse método opera durante a vida inteira dos homens é especialmente importante na vida adulta Esse processo é completamente dirigido pela experiência e está na base de praticamente todas as formas de memória Várias pesquisas evidenciam que as atividades associadas com experiências de aprendizagem levam as células nervosas a criarem novas conexões Portanto a qualidade de informações às quais o indivíduo é exposto e a quantidade de informações que adquire vai se refletir durante toda sua vida na estrutura do cérebro O aumento do cérebro devese então por um lado ao desenvolvimento de células de sustentação sem função transmissora os já citados gliócitos e por outro lado ao contínuo crescimento dos axônios para estabelecer conexões com outros neurônios Conforme mencionamos é a experiência que terá papel fundamental no estabelecimento dessas conexões Mas como isso ocorre Já foi visto que a maior parte das conexões estabelecidas no desenvolvimento do cérebro não é permanente são as chamadas conexões lábeis as quais somente vão se tornar estáveis como resultado do uso freqüente Dessa forma conexões que são usadas freqüentemente contribuem para estabeleceremse como caminhos úteis enquanto as que resultam em vias não úteis se degeneram ou regridem Enquanto as conexões originais aquelas que asseguram as funções vitais são condicionadas geneticamente essas conexões posteriores constituemse em um fenômeno epigenético e são muitas vezes verdadeiras obras do acaso Acontece que embora um neurônio tenha como alvo outro determinado neurônio aleatoriamente pode estabelecer Atividade 2 1 2 Aula 7 Psicologia da Educação 110 conexão com um outro distinto cujos dendritos estejam próximos Se essa conexão casual demonstrarse útil e voltar a ser utilizada ela tornase estável Portanto mesmo que o cérebro infantil tenha muitas sinapses não necessariamente elas são utilizadas ou indicam conhecimento mas somente um vasto potencial Numa criança que nasça com uma lesão cerebral decorrente por exemplo de um parto difícil como você imagina que se desenvolverá sua aprendizagem Se as conexões que permanecem são as que são mais utilizadas que relação você pode fazer desse fato com o processo de aprendizagem Entendendo então como o cérebro se organiza vamos agora à análise de como é compreendida a aprendizagem Aula 7 Psicologia da Educação 111 A importância da memória P ara os neurocientistas o conceito de aprendizagem está fortemente vinculado ao de memória Entendendo aprendizagem como o processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória através do qual nos tornamos capazes de orientar o comportamento e o pensamento LENT 2001 p594 esse autor deixa claro que a memória é o processo de arquivamento seletivo dessas informações de modo que ela pode ser considerada como o conjunto de processos neurológicos e psicológicos que possibilitam a aprendizagem Se com a aprendizagem se adquire conhecimento sobre o mundo KANDELL 2000 p1227 a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado armazenado e posteriormente evocado Portanto a aprendizagem teria estreita ligação com a memória De que capacidades necessito para adquirir esse conhecimento sobre o mundo segundo Kandell Conhecer o mundo implica a necessidade de desenvolver habilidades motoras que permitam o domínio físico do ambiente e desenvolver linguagens que possibilitem a comunicação e transmissão da cultura Teríamos assim basicamente dois tipos de aprendizagem a aprendizagem de habilidades motoras b aprendizagem de linguagens Tais desdobramentos da aprendizagem encontram correspondência direta com os tipos da chamada memória de longa duração ou seja aquela que já se encontra codificada e armazenada e pode ser evocada através de um esforço consciente memória explícita ou declarativa ou de forma involuntária memória implícita ou nãodeclarativa A memória explícita ou declarativa pode ser episódica diz respeito ao conhecimento de pessoas lugares fatos e semântica trata do significado dos fatos envolve conceitos atemporais Figura 3 Esquema dos tipos de memória Aula 7 Psicologia da Educação 112 Figura 4 Imagem do cérebro dentro do crânio De uma maneira geral podese dizer que no conhecimento explícito fruto da memória explícita seja semântico seja episódico ocorrem quatro propriedades 1 não há um armazenamento único 2 alguns itens têm múltipla representação no cérebro cada uma das quais correspondendo a diferentes significados e podendo ser acessadas independentemente 3 é o resultado de no mínimo quatro processos codificação consolidação armazenamento e recuperação 4 a recuperação é mais efetiva quando ocorre no mesmo contexto no qual a informação foi adquirida e na presença dos mesmos indicativos que estavam disponíveis naquele momento É importante salientar que se trata de um processo construtivo no sentido de que o indivíduo interpreta o ambiente externo a partir de sua própria história Uma Uma informação complexa como a de uma paisagem por exemplo nos chega através de input visual olfativo auditivo somático afetivo Essas informações são sintetizadas de modo a formarem uma imagem única em áreas do cérebro chamadas córtex de associação Daí elas são transferidas para outra região o hipocampo que facilita a armazenagem modulando outras conexões que facilitem a fixação desta fazendo conexão com outras informações Em seguida a informação é devolvida ao córtex de associação no qual ocorre o armazenamento definitivo Diferentes representações de um objeto são armazenadas separadamente no córtex de associação Cada vez que um conhecimento é requerido a evocação é construída por distintos pedaços de informação cada um dos quais armazenados em áreas específicas da memória Input Input é o termo que denota uma entrada ou mudanças que são introduzidas em um sistema e que ativam modificam um processo Aula 7 Psicologia da Educação 113 vez armazenadas as lembranças não são uma cópia exata da informação original As experiências anteriores são usadas no presente como pistas para o cérebro reconstituir um evento atual e darlhe sentido Alguns estudos mostram que quando se pede a sujeitos que evoquem uma história recentemente lida a história evocada é mais curta e mais coerente que a original Os sujeitos não se dão conta de que a haviam editado e têm mais certeza da veracidade da história editada do que da original Isso faz pensar que a memória não é uma repetição factual mas uma construção em que as informações são agrupadas de acordo com critérios exclusivamente pessoais Por sua vez a memória implícita é um tipo de memória que se constrói lentamente pela repetição sendo expressa em atos e não em palavras como por exemplo as habilidades motoras a aprendizagem de procedimentos e atitudes Aqui também se observa uma grande variedade de localização cerebral a depender das diferentes habilidades aprendidas Uma das formas mais conhecidas e divulgadas da aprendizagem que utiliza a memória implícita é aquela fornecida pelas experiências de condicionamento clássico ou operante descritas pelo behaviorismo a chamada aprendizagem associativa Por muito tempo acreditouse que um tipo de aprendizagem poderia ser induzido quando se expunha o organismo a dois estímulos contíguos de modo que o indivíduo pudesse fazer a associação de que sua intervenção no meio havia produzido a resposta que satisfazia a sua necessidade O exemplo mais clássico da aprendizagem associativa é aquele em que um rato colocado em uma caixa de experimentos descobre que se tocar em uma determinada barra recebe alimento passando então a tocála sempre que sente fome vamos explorar melhor esse tema na aula seguinte quando discutiremos o Behaviorismo Na verdade esse tipo de aprendizagem está submetido a importantes fatores biológicos O animal aprende a associar estímulos que sejam relevantes para sua sobrevivência O cérebro está capacitado a perceber alguns estímulos e não outros ou seja é capaz de discriminar algumas relações dentro do ambiente Por isso nem todos os reforços são igualmente efetivos para todos os estímulos ou respostas Por outro lado a aprendizagem associativa pode envolver também memória explícita de modo que a resposta aprendida pode estar mediada pelo menos em parte por processos conscientes O sujeito não aprende simplesmente a aplicar dar uma resposta fixa a um estímulo mas adquire informações que o cérebro usa para configurar uma resposta apropriada a uma nova situação Atividade 3 1 2 Aula 7 Psicologia da Educação 114 Escolha um evento uma festa um show um filme ao qual você tenha ido com outrosas colegas Peça a cada um deles para descrever o que lembram do referido evento Que resultado você encontrou E o que você conclui disso em função do que foi visto até agora sobre a organização da memória Aula 7 Psicologia da Educação 115 Afetos e motivação C oncentrarse ou seja focalizar a atenção em algo é no nível biológico o esforço despendido na busca de uma conexão neural dentre os múltiplos circuitos de um que faça sentido Por outro lado esse esforço de concentração em alguns momentos mostrase difícil enquanto em outros é praticamente automático O que dirige nossa atenção Que fatores influenciam nessa concentração O que seria assim tão motivador Um desses fatores é a resposta afetiva que o estímulo nos desperta Na região central do cérebro em cada um dos hemisférios há um conjunto de estruturas anatômicas que está em ligação com as demais o Sistema Límbico responsável pelos estados emocionais Apesar de existirem emoções primárias geneticamente determinadas algumas se desenvolvem como um componente consciente fruto da experiência os sentimentos Estudos mostram que existem estreitas conexões entre o Sistema Límbico Figura 4 e estruturas corticais localizadas na região préfrontal as quais são responsáveis pela referência cognitiva dos sentimentos É o córtex préfrontal que organiza e escolhe dentre vários impulsos que lhe chegam a maneira como vamos reagir afetivamente e o faz de acordo com experiências prévias que ficaram marcadas como experiências agradáveis ou desagradáveis Assim a nossa maior ou menor capacidade de nos concentrarmos vai depender tanto das experiências anteriores que tivemos ao entrar em contato com o objeto de nossa concentração quanto das emoções e sentimentos que esse objeto nos desperta Talvez isso explique por que nos dedicamos com tanta facilidade a atividades das quais gostamos e tenhamos tanta dificuldade em prendermos nossa atenção por exemplo em um tema que nos pareça tedioso e irritante A atenção pode ser também estimulada por outro fator a motivação mais um conceito amplamente difundido nos estudos sobre aprendizagem Utilizado na maior parte das vezes em um sentido amplo referindose a uma variedade de fatores neuronais e fisiológicos que iniciam sustentam e dirigem um comportamento o conceito de motivação vincula se tradicionalmente a aspectos não cognitivos do comportamento refletindo não o que o indivíduo sabe mas o que necessitaria organicamente Até bem recentemente esses estudos estavam restritos às instâncias fisiológicas da motivação chamadas condições mobilizadoras que se caracterizam por expressar tensão ou desconforto quando surgem necessidades fisiológicas Assim quando surgissem necessidades orgânicas como a fome por exemplo ela se expressaria por sensações de desconforto as quais motivaria o indivíduo na busca do alimento Uma vez satisfeitas as necessidades as condições mobilizadoras seriam superadas Reconhecese hoje que tais condições mobilizadoras são apenas uma parte dos estados motivacionais que dirigem o comportamento mesmo a função homeostática da motivação não necessariamente advém de necessidades orgânicas Hábitos aprendidos e Resumo Aula 7 Psicologia da Educação 116 Nesta aula estudamos o papel do cérebro para a compreensão de como os indivíduos aprendem Vimos em primeiro lugar como se organiza o nosso cérebro observando as estruturas fundamentais no estudo da aprendizagem com destaque para o hipocampo e seu papel no armazenamento da memória o lobo frontal e o córtex de associação Vimos por fim a importância dos afetos na capacidade de prender a atenção e a motivação fatores importantes no aprendizado sentimentos subjetivos de prazer podem modular a direção dos nossos atos Nesse sentido Kandell 2000 p1007 apresenta um exemplo freqüentemente as pessoas mesmo com fome preferem não comer a ingerir um alimento que aprenderam a evitar Por outro lado as aspirações pessoais ou sociais adquiridas pela experiência constituem talvez uma complexa interrelação entre forças fisiológicas e sociais entre processos mentais conscientes e inconscientes Infelizmente os estudos sobre esses aspectos são ainda muito incipientes o que faz com que sua aplicação mais significativa às investigações sobre aprendizagem ainda não possa ter resultados observáveis De tudo que foi discutido nesta aula podemos concluir que as Neurociências vieram trazer comprovações para alguns aspectos já entendidos e observados como importantes na aprendizagem tais como 1 a experiência do sujeito o contato com o meio social em que vive tem mostrado que é fundamental para o estabelecimento de conexões sinápticas estáveis Na verdade a experiência modifica mesmo a estrutura da organização cerebral evidenciando a sua plasticidade A importância desta aspecto foi apontada por Vygotsky 2 a transformação de conexões lábeis em conexões estáveis entre os neurônios vai depender em grande parte de que elas encontrem sentido ou seja mostremse significativas e úteis Tal busca de relações de sentido e significação já vinha sendo apontada por Ausubel 3 uma vez estabelecida a conexão com seu uso freqüente ela tornase estável acomoda se equilibrase O conceito de acomodação e equilibração já estava colocado por Piaget 4 as motivações e os afetos como mecanismos básicos do ser humano são modificados pela aprendizagem e são também impulsionadores desta como já mostrava Kurt Lewin Na próxima aula vamos conhecer melhor as teorias desses autores 1 2 3 Aula 7 Psicologia da Educação 117 Autoavaliação Faça uma síntese sobre a importância da memória para o aprendizado Por que aprendemos mais facilmente aquilo que nos interessa Comente a frase o estudo repetido leva à aprendizagem Referências BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Editora Saraiva 1999 HOUZEL S H O cérebro nosso de cada dia Rio de Janeiro Vieira e Lent 2002 KANDELL E Principles of neural science New York McGrawHillAppleton Lange 2000 LENT Roberto Cem bilhões de neurônios conceitos fundamentais de Neurociência São Paulo Atheneu 2001 Anotações Aula 7 Psicologia da Educação 118 8 Aula Como se aprende a visão dos teóricos da Educação License Tax Notice This notice is to inform you that your automobile license tax identified below is due before the 30th of the following month and subject to a penalty if not received on or before that date Vehicle Description Vehicle Identification Number License Tax Number Federal Tax ID Number Elizabeth City Fire Department Date 120391 Horsepower L 8 75 Make 8 0 1 BMW Model 3 Series Color White License Number 03 4 1 8 I L State of Texas Tax is due within 30 days after purchase or acquisition to avoid penalties The fee for this vehicle will be prorated if paid within the month in which the vehicle was purchased or acquired If you have any questions please contact your local County Tax AssessorCollector office listed on the back 1 2 3 Aula 8 Psicologia da Educação 121 Apresentação N esta aula continuaremos a discutir os mecanismos e estratégias que auxiliam na aprendizagem do indivíduo Veremos então os conceitos trazidos por alguns dos grandes teóricos da Educação suas concepções de aprendizagem e mecanismos que interferem nesse processo Objetivos Conhecer os conceitos de aprendizagem de alguns teóricos da Educação Comparar as diversas visões observando diferenças e semelhanças Relacionar a visão desses teóricos com as teorias sobre aprendizagem advindas da Neurobiologia Atividade 1 Aula 8 Psicologia da Educação 122 As concepções básicas C omo vimos na aula 7 Como se aprende o papel do cérebro os avanços da Ciência permitiram o estudo do cérebro e a formulação de teorias biológicas sobre aprendizagem No entanto muito antes disso psicólogos dedicaramse a compreender o processo pelo qual os homens aprendem desenvolvendo para tanto teorias Basicamente são três as concepções que estão subjacentes às teorias de aprendizagem 1 Comportamentalismo ou Behaviorismo focaliza a atenção nos comportamentos observáveis e mensuráveis valorizando as respostas aos estímulos A idéia básica é que se um determinado comportamento tem uma boa consequência ele tende a se repetir Ao contrário se a resposta for desagradável a tendência é o comportamento diminui de frequência 2 Cognitivismo interessase pelos processos interiores que ocorrem entre o estímulo e a resposta ou seja os processos mentais como as percepções a compreensão as tomadas de decisão a atribuição de significado Admite que a cognição se dá por construção sendo por isso tais teorias também conhecidas como Construtivismo 3 Humanismo da importância à autorealização do sujeito aprendiz isto é à sua satisfação pessoal Valoriza fundamentalmente os sentimentos e os pensamentos do aluno Antes de aprofundarmos o estudo de cada uma dessas teorias vamos fazer um exercício de identificar como estas se apresentam em situações de sala de aula João terminou sua aula de Geografia e na lanchonete se encontra com Dulce e Raimundo outros dois professores da escola Está super contente porque considera que hoje deu uma aula fantástica Pessoal vocês não sabem como hoje foi incrível Não tinha jeito de fazer meus alunos se interessarem pela discussão do clima Eu ia lá falava direitinho sobre clima tropical clima equatorial clima temperado e nada deles entrarem no clima Hoje resolvi fazer o contrário Comecei comentando com eles a notícia do Jornal Nacional de que estava nevando no sul do país E aqui é esse Aula 8 Psicologia da Educação 123 inferno Podia esfriar aqui um pouquinho não era professor disse um deles Era a dica que eu queria Engatei pois é o que será que eles têm que a gente não tem né Pois não é que fomos discutindo e ao final tínhamos visto todos os fatores que interferem no clima Foi muito legal E aí pergunta Dulce você acha que eles aprenderam Que nada vão sair dizendo que você não dá aula que fica comentando os programas de televisão Pois comigo é diferente Bolei um joguinho com eles Cada vez que um deles lê o texto com a pronúncia do inglês perfeitinha ganha o direito de usar meu computador no recreio Precisa ver como agora todo mundo quer ler E estão lendo direitinho os danados Parece que treinam em casa Vixe Dulce assim também Você está comprando a turma disse Raimundo Pois nas minhas aulas eu procuro ver o que toca eles No início do semestre quando levo o programa da disciplina sempre deixo um espaço para eles sugerirem algum tema dentro do assunto E saem coisas interessantes sabiam Outro dia na turma de História do Brasil um deles disse professor com essas histórias aí de corrupção nas eleições por que a gente não coloca aí uma discussão sobre como é que isso surgiu Pois a discussão evoluiu ao ponto da turma ao final propor uma reforma política Acho que vou até encaminhar para discussão na Câmara Federal porque ficou legal viu Com qual teoria cada um desses professores se identifica Aula 8 Psicologia da Educação 124 O Behaviorismo O Behaviorismo na sua vertente mais clássica propôs definir a Psicologia como um ramo objetivo e experimental das ciências naturais a qual tinha como objetivo a possibilidade de prever e controlar os comportamentos A idéia era de que se eu obtenho sempre uma determinada resposta a um determinado estímulo eu já posso prever qual será a resposta e assim controlála Os conceitos básicos de estímulo e resposta se constituiriam pois em eventos observáveis e por isso relevantes Os eventos internos como os estados da consciência seriam irrelevantes porque não produziriam efeitos sociais observáveis e não seriam passíveis de predição e controle John Watson 18781958 é reconhecido como o fundador do Behaviorismo ou Comportamentalismo e para ele o objetivo maior era chegar a leis que relacionassem determinados estímulos a determinadas consequências comportamentais É nesse sentido que o Behaviorismo entende a aprendizagem como uma mudança no comportamento que resulta da prática do fazer do experimentar A experiência de Pavlov com cães tornouse clássica ele apresentava a um cachorro um pedaço de carne que pelo olfato e visão provocava a salivação Após isso ele passou a tocar uma campainha e em seguida apresentar a carne Depois de várias repetições o cachorro passava a salivar somente por ouvir a campainha sem a necessidade de se apresentar a carne Assim um estímulo que nada tem a ver com alimentação passou a desencadear reações fisiológicas típicas da digestão Tratase do conceito do reflexo condicionado ou condicionamento clássico que vai influenciar bastante a compreensão da aprendizagem Para Watson toda aprendizagem é um condicionamento desse tipo Figura 1 Esquema mostrando a experiência de refl exo condicionado de Pavlov Aula 8 Psicologia da Educação 125 Um dos grandes expoentes dessa corrente do pensamento é Skinner 19041990 Ele faz a distinção entre a aprendizagem por condicionamento clássico da que ocorre por condicionamento operante descrita por ele A aprendizagem por condicionamento operante apóiase em respostas do tipo instrumental ou seja respostas emitidas a partir de um reforço específico que aumenta a probabilidade de sua emissão O condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade à ação É o caso do rato faminto que numa experiência percebe que o acionamento de uma alavanca levará ao recebimento de comida Ele tenderá a repetir o movimento cada vez que quiser saciar sua fome Figura 2 Burrhus Frederic Skinner Skinner pregou a eficiência do reforço positivo na educação sendo em princípio contrário a punições e esquemas repressivos sugerindo que o uso das recompensas e reforços positivos da conduta correta era mais atrativo do ponto de vista social e também era pedagogicamente eficaz É também Skinner quem lança as bases do ensino programado cujo suporte se faz basicamente por quatro postulados a um comportamento novo é mais facilmente adquirido se o sujeito emite respostas a ele e não simplesmente se se expõe a estímulos b um comportamento novo é mais facilmente adquirido se reforços apropriados são promovidos c no ensino a matéria deve ser apresentada fragmentadas de acordo com dificuldades progressivas d o ensino deve contemplar as diferenças individuais Outra distinção feita pelo Behaviorismo é entre aprendizagem e desempenho A aprendizagem referese ao desempenho mas não se confunde com ele O organismo pode adquirir capacidade para executar certos atos pela aprendizagem mas o ato pode não ocorrer É a chamada aprendizagem latente de Tolman 1948 a qual ocorre quando o cérebro organiza se em mapas cognitivos Desse modo conteúdos aprendidos produzidos pela prática seriam aqueles que propiciassem mudanças permanentes no organismo o desempenho seria a tradução da aprendizagem em comportamentos Assim aprendizagem seria orgânica neural e o desempenho seria o evento exteriorizável das modificações orgânicas Essa distinção que considera a aprendizagem como não tendo uma face exteriorizável já aponta uma modificação nas idéias iniciais do Behaviorismo e se constitui na corrente Mapas cognitivos Mapas cognitivos originalmente foram definidos como representações mentais de indícios visuais táteis auditivos que configuram o ambiente e permitem a localização do sujeito no espaço Atualmente tendese a utilizar um conceito mais amplo que envolva os conceitos e relações entre conceitos utilizados pelos sujeitos para compreender o seu ambiente e darlhe sentido Aula 8 Psicologia da Educação 126 chamada Behaviorismo Cognitivista Como o nome indica essas idéias estabelecem uma transição para o Cognitivismo De acordo com elas aprender não é incorporar novas formas de respostas ao meio mas apreender sinais captar direções montar mapas cognitivos ou seguir modelos que serviriam de guias para a apreensão de um novo comportamento A teoria da aprendizagem social de Albert Bandura enfatiza a importância da modelagem dos comportamentos atitudes e respostas emocionais dos outros na aquisição de novos conhecimentos Além disso ressalta que os eventos ambientais recursos ambiente físico pessoais crenças expectativas e comportamentais escolhas atos individuais interagem no processo de aprendizagem em uma condição que ele denominou de determinismo recíproco BANDURA 1977 p 247 Desse modo ele propõe uma modificação cognitiva do comportamento com a incorporação de elementos da subjetividade dos sujeitos como aspecto importante O Cognitivismo P reocupado em entender o processo de conhecimento do mundo pelo homem o Cognitivismo ao contrário do Behaviorismo envolvese com a análise dos processos mentais superiores com o ato do conhecer com a cognição Preocupase em analisar como o ser humano conhece o mundo Preocupase assim com os fenômenos da consciência O termo parece vir da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget 1999 que é mais uma teoria do desenvolvimento mental do que uma teoria de aprendizagem O Cognitivismo também é conhecido como Construtivismo porque o verdadeiro conhecimento aquele que é utilizável é fruto de uma elaboração construção pessoal resultado de um processo interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si atribuindolhes um significado organizandoas e relacionandoas com outras anteriores Esse processo é inalienável e intransferível ninguém pode realizálo por outra pessoa Por outro lado o termo cognitivismo pode ser utilizado como uma conceituação mais ampla se ocupa da atribuição de significados da compreensão transformação armazenamento e uso da informação envolvida na cognição MOREIRA 1999 p 15 Nesse sentido uma das principais tarefas dessa abordagem do cognitivismo é a construção de modelos matemáticos e axiomáticos em diferentes campos da investigação como a inteligência artificial a formação de conceitos a memória semântica a resolução de problemas Essa nova ciência cognitiva vem se constituir na resposta a uma demanda pelo estudo interdisciplinar da mente humana abrangendo áreas como as Neurociências a Informática a Psicologia Vamos discutir melhor essa abordagem a partir de dois dos seus maiores expoentes Jean Piaget e Lev Vygotsky Aula 8 Psicologia da Educação 127 Piaget Um conceito fundamental para Piaget é o de estruturas cognitivas que seriam padrões mentais subjacentes a atos da inteligência Piaget pensa a mente como um conjunto de estruturas que se aplica à realidade sendo o sujeito um agente dessa construção Essas estruturas não são como formações biogeneticamente determinadas mas progressivamente produzidas pela interação constante com o ambiente As modificações dessas estruturas cognitivas se dão através de processos de adaptação os quais são resultados de um movimento contínuo de assimilação e acomodação em busca do equilíbrio Esses conceitos são fundamentais para explicar a sua concepção de aprendizagem como veremos a seguir 1 Assimilação É o processo de integração de novos conhecimentos em estruturas já existentes Nesse processo o que ocorre é uma ação do sujeito sobre os objetos que o rodeiam incorporando assim a realidade aos esquemas de ação do indivíduo e transfor mando o meio para satisfazer suas necessidades Mas tratase de um esquema concre to ainda bruto sem modificação dos processos mentais 2 Acomodação É o mecanismo de reformulação das estruturas em relação aos novos conte údos incorporados é o processo de busca e ajustamento a condições novas e mutáveis no ambiente de tal forma que os padrões comportamentais preexistentes são modificados Na medida em que a acomodação implica a reestruturação dos esquemas anteriores entende se que tenha ocorrido a produção ou construção da aprendizagem 3 Equilibração É a adaptação decorrente do equilíbrio entre assimilação e acomodação Figura 3 Esquema da concepção de aprendizagem de Piaget Assim para Piaget a aprendizagem somente ocorre quando o esquema de assimilação sofre acomodação O mais importante fator de aprendizagem se dá quando o equilíbrio prévio é Aula 8 Psicologia da Educação 128 rompido por experiências nãoassimiláveis e a mente busca novas acomodações e consequentes novos equilíbrios É a chamada equilibração majorante Assim ensinar significa promover desequilíbrios e envolve a relação entre os esquemas de assimilação do professor com os conteúdos que deseja ensinar e os esquemas de assimilação dos alunos que por sua vez devem influenciar os esquemas do professor O ensino tornase eficiente quando a argumentação do professor se aproxima dos esquemas de assimilação dos alunos Vygotsky Para Vygotsky 18961934 os mecanismos de desenvolvimento cognitivo têm origem e natureza sociais e não são frutos exclusivos do desenvolvimento mental O desenvolvimento das funções mentais superiores somente ocorrem nas interações sociais as quais são o produto das relações sociais mediadas por instrumentos e signos dos quais o mais importante é a linguagem Uma vez que o desenvolvimento das funções mentais exige a internalização de signos a aprendizagem passa a ser a condição para que isso ocorra Um dos conceitos mais importantes de Vygotsky é o de zona de desenvolvimento proximal É a interação social que vai propiciar a aprendizagem que deve ocorrer dentro dos limites dessa zona O ensino portanto deve se caracterizar por uma interação social na qual o professor é aquele que já internalizou significados socialmente aceitos e partilhados o aluno por sua vez deve sempre verificar se os significados que internalizou são também compartilhados socialmente dentro da área do conhecimento O ensino se consuma quando professor e aluno compartilham significados As idéias de Vygotsky foram incorporadas por outros estudiosos dentre eles Novak para quem o evento educativo é uma ação para trocar sentimentos e significados que sejam aceitos e partilhados socialmente entre professor e alunos No entanto o aluno pode aprender significativamente conceitos errados que não são partilhados socialmente Com o professor mas sim com seu grupo social de origem Vygotsky não concebe os processos cognitivos isolados da totalidade dinâmica da consciência Para ele o pensamento humano só pode ser compreendido quando se entende a sua base afetivovolitiva Uma das principais limitações da Psicologia tradicional é a separação entre processos cognitivos de um lado e afetivovolitivos de outro como se o pensamento fosse um fluxo autônomo de pensamentos que pensam por si próprios dissociados da plenitude da vida das necessidades e interesses pessoais das inclinações e dos impulsos daquele que pensa VYGOTSKY 1998 p 6 A idéia básica do Construtivismo portanto é a de que o indivíduo conhece na medida em que constrói sua estrutura cognitiva e interpreta os eventos e objetos do mundo respondendo não apenas mecanicamente a eles As estruturas prévias as interrelações com o mundo circundante os construtos já incorporados pela cultura do sujeito são então fundamentais nessa construção individual As ações não seriam fruto de modificações Zona de Desenvolvimento Proximal Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível cognitivo real do indivíduo medido por sua capacidade de resolver problemas independentemente e o seu nível de desenvolvimento potencial medido por meio da solução de problemas sob orientação ou em colaboração com companheiros capazes Aula 8 Psicologia da Educação 129 orgânicas permanentes mas gerariam na mente do sujeito estruturas dinâmicas que se constroem e reconstroem tornando o sujeito aprendiz um elemento ativo e criativo do seu próprio saber e não um mero receptor de conhecimentos Figura 4 Vygostky e esquema de sua teoria de aprendizagem Como diz Teixeira a aprendizagem construtivista é a que mais se parece com uma aventura intelectual Mas necessita pelo menos a princípio da presença de um guia que não seja impaciente e que permita que o pensamento de quem aprende siga o curso imprescindível para converter os conhecimentos em algo próprio precisa de um guia que respeite os processos que não se empenhe em substituir a pessoa que está aprendendo antecipandolhe resultados e respostas já conhecidos por ela como esses amigos bemintencionados que sempre insistem em contar o final do filme Uma das falsas ilusões do ensino é que os estudantes podem passar de um estado de ignorância para um estado de conhecimento sobre um tema concreto no curto intervalo de tempo de uma sessão de aula Esta crença que simplifica a existência de processos inerentes a toda aprendizagem é uma fonte de mal estar e frustração tanto para o professor quanto para alunos e alunas fundamentalmente porque não coincide com a realidade A negação da realidade leva facilmente ao fracasso e provoca um sentimento pessimista de impossibilidade Extraído de TEIXEIRA Gilberto Por que o construtivismo Disponível em httpwwwserprofessoruniversitarioprobrurphpmodulo98texto469 Acesso em 26 jul 2007 Aula 8 Psicologia da Educação 130 O Humanismo A perspectiva da junção de todos os elementos da consciência no ato de aprender vai estar presente nas correntes teóricas chamadas Humanismo Surgido a partir dos trabalhos de Abraham Maslow 19081970 o Humanismo caracterizase basicamente por centrar se no conceito de pessoa não no de comportamento Enfatiza ainda a condição de liberdade contra o determinismo e objetiva a compreensão e o bemestar humanos Para o Humanismo há uma tendência natural do ser humano para aprender aumentar seus conhecimentos contudo a aprendizagem somente se torna significativa quando contribui para a autorealização do sujeito Por compreender o sujeito aprendiz como uma totalidade entende o ato de aprender como envolvendo não somente a cognição mas também os aspectos afetivos e as ações já que influem nas ações e escolhas do indivíduo Essas teorias estão preocupadas com o conhecimento pessoal propiciado pela aprendizagem entendendo que as condições nas quais ela ocorre devam ser o mínimo ameaçadoras e o máximo acolhedoras possível A independência do aprendiz o estímulo a sua criatividade e autoconfiança são condições básicas para que a aprendizagem ocorra O confronto do sujeito com o meio será significativo para a aprendizagem apenas quando ele for colocado em situações que envolvam vivências de cunho existencial significativas Figura 5 Carl Rogers O maior expoente dessa visão é Carl Rogers 19021987 que propõe um aprendizado centrado no aluno Para ele uma aprendizagem adequada é aquela que leva o aluno a aprender a aprender ou seja para além da importância dos conteúdos o mais significativo para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem O professor precisa tornarse um facilitador da aprendizagem para tanto é essencial que tenha segurança e acredite na pessoa do aluno na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio Rogers propõe algumas qualidades que o professor precisa ter para ser um facilitador a primeira é a autenticidade do facilitador que significa a capacidade de ser autêntico e real na relação com o aluno a segunda é aceitar a pessoa do aluno seus sentimentos Atividade 2 1 2 Aula 8 Psicologia da Educação 131 suas opiniões sem julgamentos prévios a terceira é a capacidade da empatia ou seja compreender o aluno a partir do seu quadro de referências Quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as reações do estudante tem uma consciência sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao estudante ROGERS 1986 p 131 O Humanismo está portanto mais preocupado com as relações entre os sujeitos no momento da aprendizagem Centra seu foco na pessoa que aprende entendendo pessoa como um ser total que pensa sente e age e valorizando fortemente a liberdade e autodeterminação natural desse ser Agora que vimos como se colocam as diversas teorias da aprendizagem vamos fazer um exercício de observação com qual delas nos identificamos e por quê Se você tem ou teve alguma experiência como professora descreva a seguir sua prática as teorias com que ela se identifica e por quê Resumo Behaviorismo Cognitivismo Humanismo Aula 8 Psicologia da Educação 132 Autoavaliação Destaque das três abordagens teóricas discutidas os seus principais conceitos Na aula de hoje conhecemos as mais importantes correntes teóricas sobre a aprendizagem o Behaviorismo o Cognitivismo e o Humanismo Cada uma delas propõe uma maneira de conseguir a aprendizagem a partir do entendimento do Homem O Behaviorismo prioriza a observação dos comportamentos externos o Cognitivismo considera o sujeito consciente e suas relações sociais e o Humanismo considera o indivíduo e suas particularidades Aula 8 Psicologia da Educação 133 Referências BANDURA A Social learning theory New Jersey PretinceHall 1977 MOREIRA M A Teorias de aprendizagem São Paulo Editora Pedagógica Universitária 1999 PIAGET J A linguagem e o pensamento da criança São Paulo Martins Fontes 1999 ROGERS Carl Liberdade de aprender em nossa década 2 ed Porto Alegre Artes Médicas 1986 VYGOTSKY L S Pensamento e linguagem São Paulo Martins Fontes 1999 VYGOTSKY L S A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1998 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 134 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 135 Anotações Aula 8 Psicologia da Educação 136 9 Aula Estratégias e estilos de aprendizagem a aprendizagem no adulto Your Prompt Payment Will Help Avoid Penalties Pay by LICENSE TAX DUE DATE Shown on front or within 30 days after purchase State of Texas 1992 Automobile License Tax Payment ABOVE THIS LINE 1 2 3 Aula 9 Psicologia da Educação 139 Apresentação D iscutimos até agora as diversas teorias que tratam da aprendizagem de forma geral No entanto em nossa prática docente observamos que alguns alunos têm uma melhor aprendizagem quando o conteúdo é apresentado de determinada maneira ou quando organizam seu estudo dentro de alguns parâmetros por exemplo Isso acontece porque cada um tem o seu estilo de aprender e de desenvolver suas próprias estratégias São esses pontos que discutiremos nesta aula Objetivos Reconhecer os diferentes estilos de aprendizagem e suas características Reconhecer as estratégias de aprendizagem construídas pelos sujeitos aprendizes Identificar a importância dos estilos e estratégias de aprendizagem para a organização da discussão dos conteúdos a serem aprendidos Atividade 1 Aula 9 Psicologia da Educação 140 Introdução J á há um grande entendimento de que cada pessoa aprende de uma maneira diferente Uns preferem estudar enquanto ouvem música outros preferem o silêncio uns precisam de muita luz outros preferem um ambiente com mais penumbra uns ainda organizam e limpam todo o seu espaço de estudo enquanto outros podem estudar em meio a pilhas de livros e papéis Os estudos têm mostrado que as pessoas desenvolvem estratégias que lhes permitam a melhor maneira de adquirir conhecimento as quais podem se constituir em estilos de aprendizagem E você como se organiza para estudar Descreva a seguir os procedimentos que adota nos momentos dedicados ao estudo Aula 9 Psicologia da Educação 141 Estilos de aprendizagem P odemos observar que em grupos de estudo compostos por mais de duas pessoas que partem do mesmo nível de conhecimento em determinada matéria encontramos grandes diferenças nos conhecimentos de cada membro apesar de todos terem recebido as mesmas explicações e feito as mesmas atividades Cada uma das pessoas aprenderá de maneira diferente terá dúvidas diferentes e avançará mais em uma área do que em outras O que determina essas variações Vários são os fatores que podem influenciar na aprendizagem a motivação os conhecimentos prévios a idade Mas por que nos deparamos com turmas que têm a mesma motivação a mesma idade a mesma bagagem cultural e no entanto aprendem de maneira distinta de modo que enquanto uns preferem redigir os textos outros se sentem melhor corrigindo a parte gramatical e revendo o que foi escrito Essas diferenças se devem a maneiras distintas de aprender O conceito de estilo de aprendizagem está diretamente relacionado por um lado com a concepção de aprendizagem como um processo ativo e por outro lado com as novas concepções de inteligência já discutidas na aula 2 A inteligência Ele tem sido utilizado sobretudo pelos teóricos que desenham modelos de aprendizagem baseados no processamento da informação e tem se mostrado útil na organização de estratégias de ensino por parte dos professores Assim as diversas teorias que discutem os estilos de aprendizagem podem ser observadas em três momentos do processamento da informação recepção seleção e organização e utilização os quais serão discutidos a seguir A recepção da informação E stamos recebendo a cada momento através dos nossos órgãos dos sentidos uma grande quantidade de informações Nosso cérebro seleciona uma parte e ignora o resto Naturalmente tendemos a selecionar aquelas informações que nos interessam mas dependendo da forma como elas nos são apresentadas as selecionamos com maior ou menor facilidade Atividade 2 1 2 Aula 9 Psicologia da Educação 142 Quando você é apresentado a alguém o que lhe é mais fácil recordar o nome o rosto ou o jeito da pessoa Vamos fazer um pequeno exercício de memória procure lembrar da maneira mais detalhada possível alguma conversa recente que você teve com alguém Recorde os nomes os rostos o ambiente a maneira das pessoas falarem o tom das vozes os gestos como você se sentiu O que foi mais fácil de lembrar O que lhe veio primeiro à mente Aula 9 Psicologia da Educação 143 Os autores descrevem três grandes sistemas de representação mental da informação o sistema de representação visual o sistema de representação auditivo e o sistema de representação cinético Utilizamos o sistema de representação visual quando recordamos imagens abstratas e concretas Por exemplo quando nos recordamos de uma festa a que fomos lembramos das pessoas que estavam e lembramos também de como percebemos o estado de espírito delas Já o sistema auditivo nos possibilita trazer à nossa memória sons músicas vozes Quando recordamos informações associadas a nossas sensações e movimentos relacionados a nosso corpo estamos utilizando nosso sistema cinético como por exemplo quando lembramos do nosso sentimento ao ouvirmos determinada canção Utilizamos esse sistema também quando necessitamos recordar movimentos ou quando realizamos esses movimentos automaticamente como quando andamos de bicicleta ou digitamos algo no computador Figura 1 A utilização de recursos de ensino usando o sistemas visual e auditivo A maioria de nós utiliza os sistemas de representação de maneira desigual potencializando uns e subutilizando outros E por que isso acontece Primeiro porque os sistemas de representação se desenvolvem de acordo com sua frequência de uso segundo porque eles têm características próprias Sistema de representação visual Este sistema nos possibilita apreender a mensagem através de imagens o que facilita a absorção de um grande volume de informação com rapidez Visualizar ajuda a estabelecer relações mais facilmente entre diferentes ideias e conceitos Este sistema é acionado quando por exemplo assistimos a uma aula na qual o professor faz apresentação de mapas figuras esquemas Sistema de representação auditivo Este sistema permite a apreensão de informações através de sons como quando ouvimos explicações ou mesmo quando fornecemos informações a outras pessoas Ouvir o som da própria voz pode ser um mecanismo eficaz para internalizar a informação Este sistema não Aula 9 Psicologia da Educação 144 A partir do maior desenvolvimento de um desses sistemas vamos desenvolver características no nosso estilo de aprendizagem que estará em consonância com esse desenvolvimento Assim se desenvolvemos mais o sistema de representação visual vamos aprender melhor quando visualizamos a explanação uma vez que será complicado apenas ouvir Se por outro lado o nosso sistema de representação auditivo é o mais desenvolvido vamos aprender mais facilmente o que ouvimos e mesmo quando estudamos sozinhos costumamos ler em voz alta para fixarmos a matéria na memória auditiva Mas se temos o sistema de representação cinética mais desenvolvido precisaremos experimentar fazer tocar para aprendermos com mais eficácia A tabela a seguir nos mostra esses estilos de aprendizagem de maneira mais detalhada é muito eficaz para lidar com conceitos mas é fundamental na aprendizagem de idiomas e de músicas por exemplo Sistema de representação cinético Este sistema atua quando associamos a informação a movimentos do nosso corpo ou à percepção do que nos ocorre internamente É o mecanismo que atua naturalmente quando aprendemos um esporte por exemplo ou quando automatizamos um comportamento de modo a poder executálo sem que pensemos como o estamos fazendo Mesmo sendo um sistema de aprendizagem mais lenta esta é muito mais duradoura e profunda do que a proveniente dos demais sistemas Podemos esquecer facilmente uma lista de palavras que visualizamos ou ouvimos mas nunca esquecemos por exemplo como andar de bicicleta Figura 2 O uso de computadores no ensino pode mobilizar os três sistemas de representação Aula 9 Psicologia da Educação 145 Tabela 1 Estilos de aprendizagem baseados nos sistemas de representação Visual Auditivo Cinético Conduta Organizado ordenado e tranquilo Preocupado com seu aspecto Voz aguda e queixo empinado As emoções se vêem na cara Distraise mesmo sozinho Move os lábios ao ler Tem facilidade com as palavras Sem preocupações com o aspecto físico Monopoliza a conversa Gosta de música Expressa verbalmente suas emoções Responde às manifestações físicas de carinho Gosta de tocar em tudo Movese e gesticula muito Fala alto Expressa suas emoções com movimentos Aprendizagem Aprende o que vê Necessita de visão detalhada e de saber para onde vai Aprende o que ouve geralmente repetindo para si mesmo todo o processo Perdese ao esquecer de um passo Não tem uma visão global Aprende com o que toca e com o que faz Necessita estar pessoalmente envolvido em alguma atividade Leitura Gosta das descrições As vezes fica com o olhar perdido imaginando um cenário Gosta dos diálogos e das obras de teatro Evita as descrições longas Move os lábios e não se fixa nas ilustrações Gosta das histórias de ação Movimentase ao ler Não é um grande leitor Ortografia Não comete erros Vê as palavras antes de escrevêlas Comete erros Fala as palavras e as escreve de acordo com o som Comete erros Escreve as palavras e testa se estão adequadas Memória Recorda o que vê por exemplo os rostos mas não os nomes Recorda o que ouve por exemplo os nomes mas não os rostos Recorda o que fez ou a impressão geral que isso lhe causou mas não os detalhes Imaginação Pensa em imagens Visualiza de maneira detalhada Pensa em sons Não recorda os detalhes As imagens são poucas e pouco detalhadas sempre em movimento Armazenamento da informação Rapidamente e em qualquer ordem De maneira sequenciada e por blocos Perdese se indagado por aspectos isolados ou fora da ordem das perguntas Mediante a memória muscular Comunicação Impacientase quando tem que escutar durante muito tempo Gosta de escutar mas tem que falar sempre Faz longas e repetidas descrições Gesticula ao falar Não escuta bem a fala do outro Extraída de httpwwwgaleoncomaprenderaaprendervakvakcomporthtm Atividade 3 1 2 Aula 9 Psicologia da Educação 146 A partir das informações contidas na Tabela 1 identifique em você o seu estilo de aprendizagem predominante visual auditivo ou cinético Por quê Converse com seu grupo e veja se é possível identificar os estilos de aprendizagem dos componentes Em seguida tente elaborar planos de aulas de uma disciplina a sua escolha que atendam à especificidade de cada um dos estilos estudados Aula 9 Psicologia da Educação 147 Seleção organização e utilização da informação O modo como as pessoas selecionam as informações as organizam e as utilizam transformandoas em conhecimento também varia de acordo com algumas características pessoais criando tipologias que podem ser muito úteis para a maneira como o professor planeja suas atividades de ensino A seguir apresentamos dois modelos Modelo de Kolb Este modelo classifica os estudantes a partir de dois parâmetros a a aquisição da informação que pode se dar na forma de uma experiência concreta ou de uma conceitualização abstrata e b a internalização da informação que pode se dar como uma experimentação ativa ou observação reflexiva Disso resultariam os tipos de aprendizes que seguem a Tipo 1 Concreto reflexivo Uma pergunta característica deste tipo é Por que Eles respondem bem a explanações sobre temas relacionados a suas experiências seus interesses sua carreira O professor deve ter função de motivador estimulando os alunos a buscarem respostas para suas indagações b Tipo 2 Abstrato e reflexivo Uma pergunta característica deste tipo é O que Eles respondem bem a apresentações organizadas e lógicas e se beneficiam delas quando têm tempo para reflexões O professor deve ter o papel do expert aquele que provê o aluno de informações atualizadas que lhe permitam as reflexões c Tipo 3 Abstrato e ativo Uma pergunta característica deste tipo é Como Eles precisam ter oportunidades de trabalhar ativamente em tarefas bem definidas e aprendem por ensaio e erro em condições que lhes permitam errar mas com suporte O professor deve atuar como um treinador guiando e dando feedbacks d Tipo 4 Concreto e ativo Uma pergunta característica deste tipo é E se Eles gostam de aplicar o conhecimento em novas situações que lhes permitam a resolução de problemas reais O professor deve atuar deixando livre o caminho para maximizar as oportunidades dos alunos permitindo que descubram coisas por eles mesmos Feedback Apesar de ser um termo do idioma inglês feedback é uma palavra que já aparece nos dicionários da língua portuguesa Um dos seus sentidos é o que está sendo usado aqui o de realimentação Aula 9 Psicologia da Educação 148 Figura 3 Alguns alunos aprendem melhor quando trabalham com modelos como esses da Química Modelo de FelderSilverman Este modelo classifica os estudantes como a sensoriais concretos práticos orientados para fatos e procedimentos e intuitivos conceituais inovadores orientados para teorias e significados b visuais preferem representações visuais diagramas fotos gráficos e verbais preferem explanações escritas ou faladas c indutivos preferem as apresentações que partem do específico para o geral e dedutivos preferem apresentações que partem do geral para o específico d ativos aprendem experimentando ou trabalhando com os outros e reflexivos aprendem pensando trabalham sozinhos e sequenciais lineares ordenados aprendem por etapas e holísticos pensamentos sistêmicos globais aprendem por círculos Aula 9 Psicologia da Educação 149 Importância dos estilos de aprendizagem C onhecer os estilos de aprendizagem dos alunos pode ser de grande auxílio ao professor na hora de planejar suas disciplinas pois ao considerar que as pessoas aprendem de maneiras diferentes a sua preocupação em conhecer os diversos estilos significa não estabelecer uma aula padrão com atividades iguais para todos Estratégias de aprendizagem Estratégias de aprendizagem podem ser definidas como sequências de procedimentos ou atividades que se escolhem com o propósito de facilitar a aquisição o armazenamento eou a utilização da informação Podem ser consideradas como qualquer procedimento adotado para a realização de uma determinada tarefa são conscientes e intencionais Essas estratégias podem ainda ser cognitivas ou metacognitivas As primeiras referem se a comportamentos e pensamentos que influenciam o processo de aprendizagem de maneira que a informação possa ser armazenada com mais eficiência Elas auxiliam a retenção e a utilização de novos conhecimentos sua associação com conhecimentos prévios o desenvolvimento e a reconstrução desses novos conhecimentos bem como sua transferência para outros usos situações e contextos Um exemplo seriam as estratégias mnemônicas aquelas que otimizam a retenção do conhecimento cujo princípio consiste basicamente em estabelecer associações criativas entre as informações a serem memorizadas Por exemplo quando associamos nomes que temos dificuldade de recordar com nomes semelhantes do nosso cotidiano As estratégias metacognitivas são procedimentos que o indivíduo adota para planejar monitorar e regular o seu próprio pensamento A metacognição é em termos simples a consciência dos processos mentais que empregamos em um processo de aprendizagem a capacidade de identificar as estratégias que utilizamos para promover uma aprendizagem mais duradoura e que leve a resultados mais eficazes A consciência dessas estratégias e seu uso são essenciais para a utilização eficaz das estratégias cognitivas como também para orientar e avaliar nosso progresso em relação aos objetivos traçados Quando nos deparamos com jogos como xadrez War ou outros jogos de estratégia e desafio nos sentimos em um primeiro momento sem saber o que fazer Mas em seguida começamos a experimentar estratégias que já utilizamos antes e passamos a proválas para ver a sua adequação e eficácia nessa nova situação Selecionamos então aquelas que funcionam e passamos a utilizálas para vencer o desafio Esse processo de pensar sobre como pensar é um processo metacognitivo Atividade 4 Aula 9 Psicologia da Educação 150 Os autores identificam cinco tipos de estratégias de aprendizagem 1 estratégias de ensaio quando repetimos o que queremos aprender verbalmente ou através da escrita 2 estratégias de elaboração quando criamos relações entre o que já sabemos sobre o assunto e as novas informações criando analogias fazendo resumos elaborando perguntas 3 estratégias de organização quando colocamos ordem na estrutura do material a ser estudado fazendo diagramas mapas estabelecendo tópicos prioritários 4 estratégias de monitoramento da compreensão quando tomamos consciência do grau de compreensão do material percebendo o que foi compreendido e o que não foi estabelecendo novas estratégias e questionamentos 5 estratégias afetivas quando mantemos a motivação controlamos a ansiedade e a frustração mantemos também a atenção e o desempenho adequadamente Retome os seus procedimentos descritos na atividade 1 e compareos com esses cinco tipos de estratégias descritos pelos autores Como você as identifica Importância das estratégias de aprendizagem Em educação a distância como sabemos um dos pontos mais importantes para o êxito no desempenho e no aprendizado é a capacidade do aluno de organizarse para o estudo A otimização do tempo disponível a organização do espaço a estruturação do conteúdo a ser estudado são aspectos fundamentais para um bom resultado Tais aspectos sendo fundamentais em cursos a distância não são menos importantes em cursos presenciais Fornecer instrumentos que ajudem nossos alunos a estabelecer suas estratégias respeitando o estilo de aprendizagem de cada um deve ser papel de um bom professor Resumo 1 2 3 4 Aula 9 Psicologia da Educação 151 Autoavaliação Quais os sistemas de representação mental da informação Compare os sistemas de representação com os estilos de aprendizagem Qual a diferença entre estilo e estratégia de aprendizagem Qual a importância de conhecer o estilo de aprendizagem dos nossos alunos Referências BORDENAVE J E Estratégias de ensinoaprendizagem Rio de Janeiro Editora Vozes1993 JOLY MC R A SANTOS A A A SISTO F F Orgs O aluno universitário e suas questões São Paulo Editora Casa do Psicólogo 2005 POZO J I MONEREO C CASTELLÓ M O uso estratégico do conhecimento In Desenvolvimento psicológico e educação 2 psicologia da educação escolar Porto Alegre Artmed 2004 p 145 Nesta aula vimos as características de aprendizagem individuais do sujeito adulto e como para ter mais êxito no aprendizado ele pode se organizar Entendemos assim que uma boa prática do professor é conceber seus alunos como seres individuais com características próprias não sendo portanto conveniente organizar planos de aula que não levem em conta essas características Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 152 Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 153 Anotações Aula 9 Psicologia da Educação 154 10 Aula A dinâmica dos grupos e o processo grupal Receipt License No 0341811 County JOHNSON Vehicle Ident No WBAAA8102N0278474 License Tax 19700 Interest 000 Penalty 000 Totals 19700 Date 12391 Name Address Elizabeth City Fire Department 604 Medical Arts Dr Elizabethton TN 37643 Receipt No 0111000705 Johnson County Tax AssessorCollector Received License Tax Department of Motor Vehicles Tw Dallas Texas I certify that the described motor vehicle has been registered in my name and the license tax paid ABOVE THIS LINE State of Texas 1992 License Tax Receipt 1 2 3 4 5 Aula 10 Psicologia da Educação 157 Apresentação A té agora discutimos a forma como a Psicologia estuda e descreve o indivíduo Mesmo quando apresentamos e defendemos uma abordagem que trata desse indivíduo como um ser sóciohistórico é sempre do indivíduo que estamos falando A partir desta aula vamos começar a discutir um conjunto de temas que analisa o comportamento das pessoas na sua vida em grupos Iniciaremos então conceituando os grupos sociais como eles se constituem e qual a sua dinâmica Objetivos Conhecer os conceitos de instituição de organização e de grupo Distinguir os tipos de grupos Distinguir os fenômenos que ocorrem na dinâmica de um grupo Conhecer os grupos operativos Conhecer algumas técnicas de trabalho em grupo para uso em sala de aula Aula 10 Psicologia da Educação 158 Os estudos iniciais P assamos a maior parte das nossas vidas convivendo em grupos Seja a nossa família seja o grupo de amigos seja a turma do trabalho estamos sempre compartilhando nosso cotidiano com outras pessoas Já em 1919 um estudioso chamado Trotter 19191953 definia o instinto gregário como um dos quatro instintos básicos do homem sendo os outros o instinto de autopreservação o instinto de nutrição e o instinto sexual O instinto gregário seria aquele que nos faria procurar sempre viver em grupos como uma forma conforme explicação darwiniana de tornarmonos mais resistentes à seleção natural Para a Psicologia o estudo dos grupos é um dos seus temas fundamentais ao ponto de existir um ramo chamado Psicologia Social A preocupação da Psicologia com o estudo dos grupos começa com os estudos da chamada Psicologia das Massas que tentava compreender fenômenos coletivos Na verdade o início dessas preocupações ocorreu quando os psicólogos ao se debruçarem sobre a Revolução Francesa se perguntavam como era possível uma multidão de pessoas ser levada por um líder a comportamentos que muitas vezes colocavam em risco as suas próprias vidas E assim buscavam saber que fenômeno era aquele capaz de possibilitar a um enorme grupo agir com tamanha coesão Figura 1 A tomada da Bastilha marco da Revolução Francesa A referência clássica para essa discussão é o francês Gustave Le Bon 18411931 que publicou em 1895 um livro chamado Psicologia das Massas o qual é reeditado até os dias atuais Para Le Bom havia uma ruptura profunda entre o fenômeno individual e o fenômeno coletivo ao ponto de se poder falar de uma psicologia das multidões e de uma psicologia do indivíduo A multidão é apresentada como uma espécie de ser unitário provido de características psicológicas próprias de modo que os indivíduos que a compõem perdem suas características pessoais sua autonomia e passam a agir como uma espécie de psiquismo coletivo muitas vezes com comportamentos que o sujeito quando fora da multidão jamais teria Há pois a perda da individualidade e a formação de um novo todo que não é a soma das partes Para Le Bom isso se daria por três fatores o sentimento de poder o contágio mental e a sugestibilidade Aula 10 Psicologia da Educação 159 Figura 2 As manifestações nazistas objeto de estudo da Psicologia das Massas Freud também preocupouse em estudar a questão dos grupos a partir das idéias de Le Bon Em seu livro A Psicologia das Massas e a análise do Eu 1973 ele propõe que as massas também não podem ser pensadas como tendo uma forma única Existiriam então as multidões efêmeras e as mais duradouras as homogêneas formadas por indivíduos semelhantes e as não homogêneas as primitivas e aquelas que possuem um alto grau de organização que ele chama massas artificiais Hoje conhecemos esses grupamentos organizados e estruturados como instituições como veremos a seguir Para Freud não haveria uma mente grupal ou um psiquismo coletivo como propunha Le Bon Todos os comportamentos individuais dentro de uma multidão poderiam ser compreendidos a partir do psiquismo dos indivíduos na medida em que os processos mentais se articulam desde cedo com a dimensão social da existência As vinculações se dariam em dois eixos um vertical no qual os indivíduos se ligariam aos líderes que encarnariam a figura primordial do chefe da tribo e um eixo horizontal no qual haveria uma ligação dos membros uns com os outros de modo que os indivíduos imersos em uma multidão se sentiriam mais desenvoltos para assumir riscos Exemplos de atuações de massas podem ser observados historicamente como o Nazifascismo mas também na vida cotidiana como as torcidas organizadas em estádios de futebol ou mesmo protestos radicais como as manifestações de quebraquebra em transportes coletivos Atividade 1 Aula 10 Psicologia da Educação 160 As instituições as organizações e os grupos R etomemos agora a questão inicial nossa vida cotidiana é marcada pela vida em grupo Para que possamos viver em grupo são necessárias certas regras combinações e acertos Tomemos como exemplo a rotina do nosso trabalho Saímos de casa em uma determinada hora e vamos a um ponto de ônibus Sabemos que este passará em uma certa hora que nos permitirá estar no trabalho na hora precisa Para que isso aconteça ou seja para Procure recordar se você já participou de manifestações de massa Se você não vivenciou manifestações desse tipo seguramente já assistiu a algumma nos jornais de TV ou em filmes Descreva essa situação a seguir relatando quais foram os seus sentimentos nesse momento Aula 10 Psicologia da Educação 161 que nós tenhamos a tranquilidade de esperar o ônibus sabendo que ele virá foram necessários alguns acertos e combinações que no caso ocorreram sem que nós precisássemos intervir Chegando ao trabalho esperamos encontrar a porta aberta e o espaço organizado para que iniciemos nossas tarefas Sabemos também que vamos encontrar os nossos colegas Todos esses eventos acontecem a partir desses acertos implícitos dessa regularidade dessas normas os quais nos permitem conviver em grupo A isso chamamos institucionalização ou seja o estabelecimento de regularidades comportamentais que possibilitam o viver coletivo A institucionalização começa como um processo em que as pessoas vão aos poucos descobrindo qual a melhor forma a mais rápida a mais econômica de desempenhar suas tarefas Quando essa forma se repete muitas vezes tornase um hábito Com o passar do tempo com a transferência desse hábito para as gerações seguintes começa a haver uma tradição que não exige mais questionamentos e então impõese por ser uma herança dos antepassados Depois de muitas gerações passamos a não nos dar conta do por que continuamos a fazer daquela forma perdemos a referência de que a herdamos de nossos antepassados Nesse momento dizemos que a regra social foi institucionalizada A instituição é pois um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade que serve como guia básico de comportamento e padrão ético para as pessoas em geral é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais BOCK 1999 p 217 Esse conjunto de regras e valores concretizase na sociedade em uma instância chamada organização A organização pode ser complexa como as empresas ou mais simples como um pequeno estabelecimento uma entidade não governamental De todas as maneiras é onde vão se manter e reproduzir as instituições sociais ou seja é na organização que vamos dar vida ao conjunto de regras que estabelecemos para a convivência em grupo Assim tanto as instituições quanto as organizações somente existem em função de um conjunto de pessoas que reproduzem e às vezes reformulam as regras e os valores o grupo Os autores definem grupo como sendo uma unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si e compartilham normas e objetivos Figura 3 Os grupos de idosos Atividade 2 Aula 10 Psicologia da Educação 162 Tipos de grupos O s grupos podem ser classificados como primários ou secundários Os grupos primários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades básicas da pessoa e a formação de sua identidade Caracterizamse por fortes vínculos afetivos interpessoais e uma hierarquização de poder Um exemplo pode ser o grupo familiar Os grupos secundários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades sistêmicas ou de interesses de grandes grupos e classes Sua identidade é construída pelo papel social que o indivíduo desempenha e o poder está centrado na capacidade e na ocupação social dos seus membros Um exemplo de grupo funcional pode ser o grêmio estudantil ou os conselhos de classe de uma escola Assim um conceitosíntese de grupo pode ser o proposto por MartínBaró uma estrutura de vínculos e relações entre pessoas que canaliza em cada circunstância suas necessidades individuais eou interesses coletivos citado por MARTINS 2003 p 204 Vamos tentar fazer a diferenciação entre institucionalização e organização Tome como referência alguma organização que você conheça Cite essa organização e liste alguns procedimentos institucionalizados que nela ocorrem Aula 10 Psicologia da Educação 163 A dinâmica dos grupos U m grupo é um todo dinâmico Apesar de ser um conjunto de pessoas não é simplesmente a soma dos participantes o que significa que qualquer mudança que ocorra em um dos participantes vai interferir no estado do grupo como um todo E por estarmos sempre mudando é que o grupo é dinâmico Quando um grupo se estabelece uma série de fenômenos passa a atuar sobre as pessoas individualmente e consequentemente sobre o grupo É o chamado processo grupal Vamos destacar alguns desses fenômenos 1 Coesão significa o resultado da aderência do indivíduo ao grupo a fidelidade aos seus objetivos e a unidade nas suas ações Todo grupo só consegue sobreviver se mantiver uma atração entre seus membros assim fazse necessário uma certa pressão entre os membros para que nele permaneçam Um grupo de acordo com suas características pode apresentar uma maior ou menor coesão Uma maior coesão geralmente é obtida quando o grupo observa que as finalidades estão sendo cumpridas e os resultados estão sendo obtidos Quanto maior a coesão maior a satisfação dos membros e maior a produtividade Isso pode ser claramente observado em um time de futebol Quanto mais ele se reveste do sentimento de equipe melhores são os resultados obtidos E vice versa quanto melhores os resultados mas aumenta a coesão do time 2 Padrões grupais são as expectativas de comportamentos partilhados por parte dos membros do grupo Esses padrões ou normas de comportamento são estabelecidos com a especificação de atitudes ou comportamentos desejáveis por parte dos membros A partir disso estabelecese uma fiscalização por parte do grupo quanto ao cumprimento dessas normas aplicandose sanções aos que não as cumprem Esses padrões muitas vezes não são explicitados mas esperase que o indivíduo ao ingressar no grupo os perceba Por exemplo não é necessário ressaltar para um membro de um grupo de jovens católico que ele deve comparecer à missa pois isso está implícito 3 Motivações individuais e objetivos do grupo são os elementos que estão relacionados com a escolha que cada indivíduo faz quando decide participar de um grupo e são importantes para garantir a adesão Uma pessoa geralmente escolhe participar de um grupo a partir de suas motivações pessoais sejam motivações referentes aos objetivos do grupo sejam atrações exercidas por membros daquele grupo É importante observar as respostas que o grupo dá a essas manifestações individuais as quais até podem ser admitidas desde que não interfiram nos objetivos centrais do grupo que sempre prevalecerão Quanto mais o grupo zela pela sua coesão menos manifestações individuais serão toleradas Uma manifestação individual que atente contra os objetivos do grupo serão punidas com a exclusão daquele membro Atividade 3 Aula 10 Psicologia da Educação 164 4 Liderança A habilidade do líder para motivar e influenciar o grupo produz efeitos na atmosfera deste O grupo pode desenvolverse em um clima democrático autoritário ou relaxado dependendo da vocação do grupo e de lideranças que viabilizem essa vocação Assim por exemplo um grupo cujos membros acreditam que a melhor forma de organizar as relações é a autoritária vai necessitar de um líder autoritário que por sua vez reforçará a atmosfera autoritária dentro do grupo Um dos grandes estudiosos da questão da liderança foi Kurt Lewin 18901974 Para ele os grupos democráticos tinham mais eficiência a longo prazo enquanto os autoritários tinham uma eficiência imediata Como as decisões são centralizadas na figura do líder os membros somente funcionam a partir de sua demanda e são geralmente cumpridores de tarefas Já os grupos democráticos exigem maior participação de seus membros que dividem as responsabilidades com a liderança Isso torna a realização dos objetivos mais demorada entretanto mais duradoura Figura 4 Os grupos de trabalho funcionam com dinâmicas própria Provavelmente você faça parte de algum grupo Se não converse com alguém que esteja vinculado a algum Analise sua própria participação ou a de outra pessoa e anote a seguir a avaliação que você fez do grupo com relação aos quatro itens descritos anteriormente Aula 10 Psicologia da Educação 165 Os grupos operativos e a teoria do vínculo de PichonRivière O psiquiatra suíçoargentino Pichon Rivière 19071977 foi também um estudioso dos grupos Ele desenvolveu uma nova abordagem que resultou nos chamados grupos operativos Para ele o grupo é um conjunto restrito de pessoas que ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna propõe se explícita ou implicitamente a uma tarefa que constitui sua finalidade No entanto não basta que haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa é preciso que essas pessoas façam parte de uma estrutura dinâmica chamada vínculo Por exemplo as pessoas que estão em uma sala de espera de um cinema estão reunidas no mesmo espaço durante o mesmo tempo com o mesmo objetivo mas não se constituem em um grupo Há a necessidade de se vincularem e interagirem na busca de um objetivo comum por isso os princípios organizadores do grupo são o vínculo e a tarefa A teoria do vínculo portanto parte do pressuposto de que o homem se revela e se estrutura por meio da ação ou seja do desempenho de papéis e do estabelecimento de vínculos Figura 5 Pichon Rivière Para Pichon Rivière vínculo é a maneira particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento PICHÓNRIVIÉRE 1998 p 3 É assim uma estrutura dinâmica movida por motivações psicológicas que rege todas as relações humanas Identificamos se o vínculo foi estabelecido quando n Somos internalizados pelo outro e a internalizamos também n Ocorre uma mútua representação interna n A indiferença e o esquecimento deixam de existir na relação passamos a pensar a falar a nos referir a lembrar a nos identificar a refletir a nos interessar a nos complementar a nos irritar a competir a discordar a invejar a admirar a sonhar com o outro ou com o grupo Aula 10 Psicologia da Educação 166 Tarefa outro princípio organizador de grupo é um conceito que diz respeito ao modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir de suas próprias necessidades Necessidades que para PichonRivière constituemse em um pólo norteador de conduta o processo de compartilhar necessidades em torno de objetivos comuns constitui a tarefa grupal Nesse processo emergem obstáculos de diversas naturezas diferenças e necessidades pessoais e transferenciais diferenças de conceitos e marcos referenciais e do conhecimento formal propriamente dito Num primeiro momento do funcionamento do grupo há um bloqueio da atividade grupal em função das fantasias básicas universais do grupo as quais induzem à utilização de posturas defensivas que dificultam as mudanças de opinião Nos momentos iniciais quando o grupo parte para a execução da tarefa é necessário que as ansiedades sejam explicitadas e resolvidas para a partir daí ocorrer a identificação e o estabelecimento do vínculo configurandose a relação grupal Para Pichon Rivière um grupo opera melhor quando há em seu conjunto de pessoas pertinência afiliação centramento na tarefa empatia comunicação cooperação e aprendizagem A pertinência pode ser vista como a qualidade da intervenção de cada um no grupo a afiliação é a intensidade do envolvimento do indivíduo no grupo o centramento na tarefa é o eixo principal da cooperação referese ao grau de interação com que um participante mantém o vínculo com o trabalho a ser efetuado e avalia a dispersão e a realização de esforço útil do indivíduo a empatia é o modo como o grupo pode ganhar força para operar cada vez mais significativamente a comunicação é essencial para que haja entrosamento a cooperação é o modo pelo qual o trabalho ganha qualidade e operatividade a aprendizagem é o resultado do trabalho e deve ser essencialmente colaborativa A teoria do vínculo aplicada ao contexto do ensino propõe a quebra da polaridade professor aluno Ela introduz um terceiro elemento que deve ser considerado O sujeito e o outro em interação se dão conta de que há um mundo inteiro em cada um em interação contínua que atinge também o nível inconsciente produzindo imagens ilusórias e ansiedades que necessitam de testes de realidade para a sua elaboração As dúvidas são compartilhadas e uma representação comum é construída criando condições para a solução surgir Por exemplo quando conheço alguém me vem à lembrança outras pessoas que conheci nas mesmas circunstâncias Assim no encontro entre duas pessoas sempre há um terceiro que é esse outro que conheci o qual mesmo não estando presente fisicamente está na lembrança E essa lembrança pode ser perturbadora o suficiente para gerar na pessoa fantasias e ansiedades com relação a quem ela está encontrando agora Posso imaginar que aquele tipo de olhar que vejo em quem encontro agora me recordando o olhar daquele outro é um olhar de hostilidade e com isso fico ansioso Mas imediatamente depois me dou conta de que essa pessoa de agora não é a mesma que conheci ou seja executo testes de realidade não tendo por que ter ansiedade Se compartilho esses meus sentimentos com o outro e ele por sua vez compartilha comigo as suas ansiedades criamos uma representação comum que estimula o vínculo Na aprendizagem centrada no estudante os conceitos de papel e vínculo se entrecruzam e por isso é importante abordar tanto a estrutura do vínculo como os diversos papéis os quais Aula 10 Psicologia da Educação 167 professor e aprendizes se atribuem O papel é decisivo na situação do vínculo é transitório e possui uma função determinada que pode aparecer de forma específica e particular em uma determinada situação e em cada pessoa Observandose como opera um grupo ao resolver uma determinada tarefa de aprendizagem é possível compreender que se trata de um grupo operativo centrado na tarefa de dominar o problema e dar a ele uma solução Técnicas de trabalho em grupo C ompreender o funcionamento de um grupo também pode ser importante para a realização de dinâmicas em sala de aula Certas técnicas também chamadas de dinâmicas de grupo são muitas vezes utilizadas para possibilitar a organização e a criatividade na produção do conhecimento Elas podem gerar um processo de aprendizagem mais coletivo e mais rico Inúmeras são essas técnicas e vários são os manuais são alguns deles Facilitando o trabalho com grupos de Eliane Poranga Costa Editora Wak 2003 Intervenções grupais na Educação organizado por Stela Regina de Souza Fava Editora Ágora 2005 Exercícios práticos de dinâmica de grupo de Silvio José Fritzen Editora Vozes 2001 que as descrevem no entanto sempre que o professor optar por uma deve considerar alguns elementos os quais descreveremos a seguir 1 Objetivos o professor deve ter clareza sobre o que quer com a técnica e deve pensála respeitando esses objetivos 2 Ambiente o espaço onde se desenvolverá a técnica deve ser adequado e pensado de modo a não inibir os participantes Algumas técnicas podem ser percebidas como constrangedoras por isso devem ser pensadas para serem executadas em ambientes fechados por exemplo 3 Duração as técnicas devem ser pensadas com tempo determinado para seu início e fim 4 Número de participantes estar atento a quantas pessoas participarão é fundamental para pensar a técnica mais adequada e para providenciar os materiais necessários 5 Materiais os recursos necessários ao desenvolvimento da técnica podem ser os mais variados desde o papel lápis tinta som até equipamentos mais complexos como projetores multimídia filmadoras iluminação etc 6 Perguntas e conclusões o momento da síntese do que foi produzido permite resgatar a experiência e os sentimentos de cada um bem como chegar a conclusões sobre o tema discutido Aula 10 Psicologia da Educação 168 As técnicas de grupo podem servir para desinibir e diminuir a tensão da turma para apresentação dos participantes para integração do grupo para capacitação e comunicação A quantidade de técnicas já descritas é muito grande e vários são os manuais que as descrevem A seguir vamos apresentar exemplos de algumas técnicas 1 Técnica do método científi co a Apresentação do tema em uma palavra b Divisão do quadro em partes iguais com perguntas do tipo n O que queremos saber n O que pensamos n O que concluímos c Apresentação e fixação no quadro de giz das questões chaves já preparadas anteriormente sobre o que queremos saber d Oralmente os participantes vão respondendo à segunda questão o que pensamos e o professor as anota sinteticamente no quadro e Fazse a leitura de textos para comparar com as respostas dadas f Oralmente os participantes vão respondendo à terceira questão o que concluímos e o professor anota as conclusões no quadro de forma sintética g Cada participante deverá registrar as conclusões finais e guardálas consigo para posteriores consultas 2 Painel de Três a Dividir o grupo em três subgrupos apresentador opositor e assembléia b O grupo apresentador expõe o tema sem ser interrompido c O grupo opositor anota aquilo com que não concorda e aquilo com que concorda e após o apresentador expõe suas anotações d A assembléia que tudo ouviu e anotou apresenta seu depoimento e O professor conclui Os textos finais devem então ser afixados no quadro Atividade 4 Aula 10 Psicologia da Educação 169 3 Brainstorm ou tempestade cerebral a Propõese um tema para discussão b Solicitase aos participantes que exponham todas as idéias mesmo as aparentemente mais descabidas e absurdas sobre o tema As idéias devem ser expostas rapidamente sem nenhuma censura c O professor vai registrando no quadro todas as idéias que foram apresentadas sem nenhum juízo crítico e estimula sugestões de outras novas ou associados com alguma já apresentada até que a turma sinta que não há mais nada a ser falado d O professor convida a turma para fazer a seleção a eliminação ou o aperfeiçoamento das idéias até que se chegue a um conjunto de idéias adequado ao tema proposto Essas são como dissemos apenas alguns exemplos de técnicas de grupo Você pode e deve criar a sua de acordo com as necessidades de sua aula Vamos experimentar Vamos imaginar que você está com dificuldades de fazer sua turma avançar de um conceito do senso comum para o conceito científico Somente sua explicação em sala de aula não está sendo suficiente Nesse caso que tipo de técnica de grupo você poderia propor à turma Expliquea a seguir Resumo 1 2 3 4 5 Aula 10 Psicologia da Educação 170 Autoavaliação Analise uma escola como uma organização e destaque o que você pode observar de comportamentos institucionalizados que nela ocorrem Identifique e descreva grupos que podem ocorrer em uma escola Descreva os fenômenos que ocorrem na dinâmica de um grupo O que é a teoria do vínculo O que caracteriza o grupo operativo Nesta aula discutimos como surge a preocupação da Psicologia com o estudo de manifestações coletivas resultando no que se conhece hoje como Psicologia Social Vimos os conceitos de instituição de organização e de grupo e analisamos a dinâmica envolvida nesse último Destacamos a teoria do vínculo e os grupos operativos e por fim apresentamos algumas técnicas das chamadas dinâmicas de grupo Aula 10 Psicologia da Educação 171 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia São Paulo Saraiva 1999 FREUD S Psicologia de lãs masas y analisis del yo Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo III Obras completas LANE S T O processo grupal In LANE S T CODO W Orgs Psicologia social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1984 p 1898 LEWIN K Problemas de dinâmica de grupo São Paulo Cultrix 1978 MARTINS Sueli Terezinha Ferreira Processo grupal e a questão do poder em MartínBaró Psicol Soc Porto Alegre v15 n1 janjun 2003 Disponível em httpwwwscielobrscielo phpscriptsciarttextpidS010271822003000100011lngptnrmisotlngpt Acesso em 02 ago 2007 PICHÓNRIVIÉRE Enrique Teoria do vínculo São Paulo Martins Fontes 1998 Anotações Aula 10 Psicologia da Educação 172 1 2 3 4 Aula 11 Psicologia da Educação 175 Apresentação N esta aula vamos discutir um tipo de grupo social que é reconhecido como o guardião dos processos de desenvolvimento psíquico a família Observaremos a sua importância na formação do indivíduo e como se constitui em primeiro espaço de socialização deste Objetivos Conhecer como se forma historicamente o conceito de família Reconhecer as funções do grupo familiar Identificar a dinâmica interna das famílias Discutir as situações de violência que podem ocorrer no âmbito familiar Atividade 1 Aula 11 Psicologia da Educação 176 O que é a família N a disciplina Educação e Realidade você já discutiu sobre a família na aula 13 O aluno Viu que o grupo familiar se caracteriza por compartilhar espaço de moradia pela divisão de tarefas pelas trocas afetivas por compartilhar os hábitos os bens culturais e as tradições mas exatamente qual seria o papel da família na estruturação psíquica das pessoas Quando nos debruçamos sobre essa questão observamos que a estrutura do grupo familiar tem mudado muito com o tempo Assim de que família estamos falando Temos ouvido falar nos últimos tempos que a família está se desintegrando que é preciso resgatar os valores familiares que sem a família a sociedade se desorganiza E nesse sentido a pergunta nos volta qual família O que é nos dias de hoje a família Vamos começar refletindo sobre a seguinte questão para você o que é uma família Muito provavelmente você respondeu que é um grupo social composto de pai mãe e filhos Entretanto também poderá ter observado que hoje temos casais separados que tornam a se casar e têm filhos desses novos casamentos configurando com isso uma nova organização familiar Você também deve conhecer situações de casais do mesmo sexo que adotaram crianças o que é uma outra forma de família Por outro lado poderíamos ainda pensar em como era a estrutura familiar em épocas mais remotas Será que outras formas de organização diferentes da convencional e almejada tríade paimãefilhos estão se configurando somente agora e será que isso levará necessariamente à desintegração da sociedade Atividade 2 Aula 11 Psicologia da Educação 177 Vamos pensar um pouco sobre essa questão de famílias alternativas ou seja fora dos padrões estabelecidos pela sociedade A esse respeito apresente e justifique a sua opinião sobre a adoção de crianças por um casal homossexual Friedrich Engels 18201895 no seu livro A origem da família da propriedade privada e do estado descreve as pesquisas do antropólogo americano L H Morgan que demonstram a existência desde os primórdios da humanidade de variadas formas de organização familiar 1 A família consanguínea na qual era possível o casamento entre irmãos e irmãs carnais e entre pais e filhos 2 A família punaluana na qual havia os casamentos grupais ou seja grupos de homens têm mulheres em comum os quais podem ser irmãos ou irmãs 3 A família sindiásmica em que havia o casamento entre casais mas sem a obrigação de conviverem num mesmo espaço e com vínculos flexíveis de modo que poderia ser desfeito de acordo com o desejo de qualquer uma das partes 4 A família patriarcal caracterizada pelo casamento de um só homem com diversas mulheres 5 A família monogâmica caracterizada pelo casamento entre duas pessoas mas com a obrigação de coabitação exclusiva Aula 11 Psicologia da Educação 178 Para Engels o surgimento do patriarcalismo e da monogamia é fundamentalmente consequência do surgimento da propriedade privada Com o surgimento do costume do cercamento e da delimitação das terras adotadas pelos homens vitoriosos em combates e guerras os homens passaram a exigir fidelidade sexual das mulheres porque não aceitavam ter de legar os seus bens obtidos com sangue e pela exploração do próximo a um descendente que não fosse seu filho legítimo do seu próprio sangue A idéia de propriedade introduz pois essa nova forma de organização familiar Figura 1 A família imperial brasileira um exemplo de patriarcalismo Vemos assim que a família tal qual a concebemos hoje não é uma organização natural nem uma determinação divina Ela é o resultado de condições históricas e de mudanças sociais pois por estar inserida na base material da sociedade a forma como a família irá se organizar deve dar conta de sua função social Isso significa dizer que na medida em que muda a sociedade muda também a função da família ou seja a organização familiar transformase como resultado das mudanças sociais e não o contrário Família célula mater da sociedade A função social atribuída à família fundase principalmente na transmissão de valores que constituem a cultura e das idéias dominantes e na educação das novas gerações segundo os padrões dominantes o que revela o seu caráter conservador e de manutenção do status quo À família é dada também a responsabilidade pela manutenção física e psíquica das crianças sendo por isso entendida como o primeiro espaço de socialização do indivíduo É nela que ocorrem os primeiros aprendizados da língua dos hábitos e costumes das primeiras noções de direitos e deveres de certo e errado do pode e não pode Dessa forma ela interfere de modo fundamental na organização da visão de mundo dos indivíduos Visão de Mundo Visão de mundo é a perspectiva que cada um de nós tem com relação ao mundo em que vivemos como entendemos os problemas como poderíamos resolvêlos qual o nosso papel nesse mundo Aula 11 Psicologia da Educação 179 A importância da família é reconhecida pelo psicanalista Jacques Lacan 19011981 que ressalta o seu papel primordial na transmissão da cultura das tradições espirituais na repressão dos instintos na conservação do patrimônio na aquisição da língua Por isso para ele ela coordena todos os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico Figura 2 O cuidado familiar com a criança favorece seu desenvolvimento psíquico Bock 1999 destaca três aspectos que demonstram a importância da família no desenvolvimento da criança 1 a primeira educação processase de modo natural e espontâneo Normalmente os pais não se dão conta de que já estão transmitindo valores para seus filhos quando por exemplo escolhem seu nome ou a cor da decoração do quarto Por que corderosa para meninas e azul para meninos Essas escolhas já revelam dados culturais que são transmitidos sutil e naturalmente Por outro lado os pais são personagens importantes para a identificação da criança Eles são os modelos nos quais os filhos vão pautar sua conduta desde os comportamentos mais simples como se portar na mesa até as condutas éticas e a postura frente a conflitos Assim a primeira educação é informal mas de fundamental importância para a formação da pessoa 2 a repressão do desejo ou interdição social termo psicanalítico que significa as proibições dos desejos eróticos ou agressivos como por exemplo o tabu do incesto em nossa cultura o filho não pode ter relações sexuais com a mãe nem a filha com o pai embora como defende a Psicanálise sejam os pais os primeiros objetos de desejo inconsciente Na vida familiar a criança irá incorporar essa e outras proibições dessa área de sua sexualidade Se tocar nos órgãos sexuais por exemplo poderá ouvir um enérgico não pegue aí que é feio 3 a aquisição da linguagem condição básica para a entrada no mundo apropriandose dele Como já vimos em outras aulas a linguagem é quem realiza a dimensão social e hu mana da pessoa permitindo a comunicação com o mundo e a compreensão da realidade É na família que esse processo se inicia continuando em outros espaços de socialização da criança Aula 11 Psicologia da Educação 180 Figura 3 A relação mãefilho é fundamental no desenvolvimento infantil A dinâmica familiar D e uma maneira geral os estudos sobre a família baseiamse em um tipo específico a família burguesa de classe média Mas é preciso reconhecer que há vários tipos de famílias que os papéis maternos e paternos são multidimensionais e complexos e que pais e mães desempenham papéis diferentes em contextos culturais diferentes Para compreender como a família funciona é preciso sobretudo estudar as interações e relações desenvolvidas entre os diferentes subsistemas familiares os contextos histórico cultural social e econômico nos quais as famílias estão inseridas Para a Psicologia a família é como um sistema ou agrupamento sempre em transformação recebendo e emitindo mensagens para o mundo externo e adaptandose às mais diversas vicissitudes E cada família desenvolve uma forma particular de ser cada uma tem sua forma particular de se comunicar sua própria estratégia para resolver dificuldades uma determinada maneira de responder às necessidades afetivas de seus membros e uma forma de lidar com perdas mudanças e conflitos Entendida assim como um sistema social composto por um grupo de indivíduos cada um dos seus membros vai ter um papel que lhe é atribuído implicitamente ou seja cada membro ocupa determinada posição tem determinado status O comportamento do pai da mãe dos filhos e dos irmãos será orientado por esses papéis que refletem as expectativas de comportamento de obrigações e de direitos Assim por exemplo esperase que os adultos promovam o suporte à família seja emocional seja financeiro que se preocupem com a manutenção da harmonia familiar que se encarreguem dos assuntos domésticos Os irmãos por sua vez assumem o papel de receptores e ajudam a manter e promover as normas familiares Vale salientar que esses papéis são flexíveis de modo que em alguns momentos podem ocorrer trocas quando um não assume o papel que lhe é atribuído Atividade 3 Aula 11 Psicologia da Educação 181 A violência familiar A té agora falamos da família enquanto lugar que pelos laços afetivos promovia a proteção e o cuidado dos seus membros Entretanto em muitos casos essa não é a realidade Existem situações em que por motivos mais diversos a harmonia familiar é quebrada gerando desestruturações que podem chegar a situações de violência um tipo de violência muitas vezes silenciosa e mascarada que acontece dentro dos lares A violência doméstica atinge mais frequentemente crianças e adolescentes mas também mulheres e idosos dentro de um espaço familiar Infelizmente esse é um fenômeno universal que atinge ricos e pobres em todos os países No Brasil o Ministério da Saúde publicou em 2002 um estudo intitulado Violência intrafamiliar Orientações para a prática em serviço disponível na Biblioteca Virtual de Saúde no qual discute o tema com clareza definindo basicamente quatro tipos de violência 1 a violência física ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano por meio de força física de algum tipo de arma ou instrumento que possa levar a lesões internas externas ou ambas 2 a violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa Mais uma vez vamos voltar o olhar para a nossa própria realidade Observe a sua família a de origem ou a que você constituiu com o casamento Descreva agora os papéis atribuídos a cada um dos membros Resumo Aula 11 Psicologia da Educação 182 Figura 4 Maria da Penha vítima de violência familiar cujo nome foi dado a lei de proteção à mulher Este último é um tipo de violência para o qual nós enquanto professores precisamos estar muito atentos Em primeiro lugar porque infelizmente ainda é acobertado pelo sentimento de vergonha por parte dos membros da família Em segundo lugar por ocorrer justamente em um espaço onde se espera cuidados ocasiona profundas marcas emocionais nas vítimas sendo quase sempre necessário tratamento psicológico Felizmente a legislação brasileira tem avançado bastante O Estatuto da Criança e do Adolescente a Lei Maria da Penha que protege a mulher da violência têm propiciado a punição desses crimes Mas ainda há muito o que avançar no que diz respeito às mudanças culturais sobretudo nas regiões mais interioranas do nosso país Nesta aula discutimos a origem do conceito de família bem como a sua relação com o surgimento da propriedade privada e a necessidade de definição na transmissão dos bens Vimos como na nossa sociedade a família tem a função de transmissora da cultura e dos valores sendo portanto fundamental no desenvolvimento psíquico dos indivíduos Avaliamos as dinâmicas que se estabelecem no interior das famílias mostrando que não há um modelo único Por último destacamos a complexa questão da violência familiar e suas consequências em relação àqueles que a sofrem 3 a negligência é a omissão de responsabilidade de um ou mais membros da família em relação a outro sobretudo àqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou condição física permanente ou temporária 4 a violência sexual é toda ação na qual uma pessoa em situação de poder obriga uma outra à realização de práticas sexuais utilizando força física influência psicológica ou uso de armas ou de drogas 1 2 3 4 Aula 11 Psicologia da Educação 183 Autoavaliação Descreva as formas de organização familiar ao longo da história Aponte as principais funções da família Descreva a típica dinâmica familiar Descreva as principais formas da violência intrafamiliar Referências BOCK A M FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologia São Paulo Saraiva 1999 BRASIL Ministério da Saúde Violência intrafamiliar orientações para a prática em serviço Brasília Editora MS 2002 Caderno de Atenção Básica n 8 Série A Normas e Manuais Técnicos n 131 Disponível em httpbvmssaudegovbrbvspublicacoescd0519 pdf Acesso em 6 ago 2007 ENGELS F A origem da família da propriedade privada e do estado São Paulo Bertrand Brasil 1995 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 184 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 185 Anotações Aula 11 Psicologia da Educação 186 Aula 12 A escola como espaço de socialização A família Aula 11 1 2 3 4 Aula 12 Psicologia da Educação 189 Apresentação E m disciplinas anteriores você já discutiu o tema escola Por exemplo em Educação e Realidade foram analisados os desafios da escola nos dias de hoje e nessa discussão você visitou uma escola de seu município e em Fundamentos da Educação acompanhou um extenso estudo sobre a educação brasileira no que diz respeito ao espaço institucional da escola A perspectiva de estudo desta aula aqui é discutir a escola enquanto espaço de socialização dos indivíduos contribuindo assim para o seu desenvolvimento psíquico e enquanto instituição na qual vão estar presentes as características de grupos sociais Objetivos Conhecer o conceito de socialização e como ela ocorre Reconhecer a escola como importante espaço de socialização Discutir as funções da escola Conhecer como ocorrem as relações de poder dentro da escola Atividade 1 Aula 12 Psicologia da Educação 190 O processo de socialização secundária E m aulas anteriores vimos que quando a criança nasce já pertence a um grupo social familiar que lhe provê suporte e lhe transmite valores hábitos e comportamentos da sua cultura A família é pois o primeiro espaço de socialização do indivíduo A escola por sua vez exerce um papel fundamental na consolidação desse processo Vamos entender um pouco mais o que é socialização Vamos mais uma vez começar nossa aula com uma pergunta cuja resposta é fácil e óbvia para que serve a escola Reflita um pouco sobre isso e liste a seguir alguns dos papéis da escola que lhe pareçam mais importantes Chamase socialização o processo interativo fundamental para o desenvolvi mento através do qual o indivíduo assimila a cultura do seu grupo social ao mesmo tempo em que perpetua esse grupo De acordo com Colls 2004 a socialização ocorre através de três processos 1 os processos mentais de socialização correspondem ao conhecimento dos valores normas costumes instituições aquisição da linguagem e dos conhecimentos transmitidos pela escola Aula 12 Psicologia da Educação 191 2 os processos afetivos de socialização manifestamse por meio da empatia do apego e da amizade 3 os processos condutuais de socialização envolvem a aquisição de condutas consideradas socialmente aceitáveis evitandose as não aceitas Um dos objetivos principais dos processos de socialização é fazer com que a criança aprenda o que é correto e o que não é correto dentro de seu meio social ou seja que adquira um conjunto de valores morais que regem a sociedade da qual faz parte A interiorização desses valores permite desenvolver na criança mecanismos reguladores de sua conduta Quando os pais dizem aos seus filhos por exemplo que não devem bater em crianças menores que não podem tomar o brinquedo dos coleguinhas ou que devem respeitar os mais velhos estão transmitindo normas que com o tempo ficam interiorizadas de modo que a criança passa a regular sua própria conduta A forma como a criança lida com essas normas e regras vai variar de acordo com o seu desenvolvimento e com isso não se pode esperar que uma criança muito pequena já consiga interiorizálas Para Piaget 1977 o indivíduo desenvolve suas próprias crenças através da interação com o meio a partir da formação de um juízo moral que passa por uma fase que ele chama de heteronomia quando não concebe as regras como um contrato firmado entre as pessoas até uma fase de autonomia quando já compreende as regras como esse contrato Essas fases seguiriam as mesmas etapas do seu desenvolvimento cognitivo demonstrando que o desenvolvimento das atitudes morais pressupõe uma reorganização sequencial relacionada com a idade da criança E é somente a partir dos 7 anos de idade portanto na idade escolar que a criança começa a evoluir para uma autonomia moral Na escola em contato com outras de mesma faixa etárias a criança descobre que é necessária a reciprocidade para agir conforme as regras na medida em que essas regras somente são efetivas se as pessoas concordarem com elas A escola é pois o espaço no qual as crianças produzem seus conhecimentos sociais começam a compreender as características dos outros e de si mesmas estabelecem diferentes graus de relacionamentos necessitam absorver novas regras de funcionamento diferentes do seu espaço familiar Empatia Empatia é uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa e não à própria situação ou seja quando o sujeito responde afetivamente colocandose na situação vivida pelo outro A empatia predispõe as pessoas a tomarem atitudes altruístas Figura 1 A escola um importante espaço de socialização Aula 12 Psicologia da Educação 192 Nesse sentido a escola é concebida como o lugar onde ocorre o processo de socialização secundária conforme os três aspectos descritos por Colls mental com a aquisição de conhecimentos afetivo com o estabelecimento de relações de apego e amizade condutural desenvolvendo novas condutas Ao chegar à escola a criança traz consigo os aspectos vivenciais familiares mas o ambiente escolar será peça fundamental no seu desenvolvimento As funções da escola Já vimos então que a escola contribui decisivamente para o processo de socialização das crianças Outras funções porém podem ser listadas como as provavelmente enumeradas por você na atividade 1 Vejamos algumas delas Se analisarmos as propostas pedagógicas de todas as escolas é muito provável que encontremos como sua principal missão a transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade a fim de levar as pessoas a assumirem posições de destaque na sociedade Assim o lugar que o indivíduo ocupará na sociedade vai depender do seu grau de cultura atestado por diplomas e certificados conferidos pela escola Se por um lado isso é verdade por outro podemos questionar o fato de que o grau de cultura adquirido pelo indivíduo depende significativamente do lugar social que sua família ocupa Nesse sentido um jovem que provenha das camadas populares terá muito mais dificuldade em ocupar uma posição de destaque na sociedade por mais que se esforce para obter títulos e diplomas Por outro lado um jovem de família rica mesmo que não queira estudar não sofrerá mudanças quanto ao seu padrão social Outra função bastante destacada da escola é a de preparar o indivíduo para a vida de formar o cidadão de construir a cidadania E ela apareceria como o espaço privilegiado para isso uma vez que trabalha com o saber mas também com valores crenças e atitudes Ocorre porém que a escola na qualidade de instituição social defrontase com um dilema de um lado por ser parte de uma sociedade tem a tarefa de formar indivíduos que zelem pela preservação dessa sociedade e de outro deve também cuidar do desenvolvimento da sociedade necessitando portanto formar cidadãos capazes de inovar de inventar de transformar Nessa ambiguidade a escola pode se desenvolver como uma instituição conservadora mas que também abre espaço para o surgimento de instituições criativas e transformadoras Uma outra função da escola é capacitar o profissional para através do trabalho sustentar a si mesmo e contribuir com o desenvolvimento da sociedade A crítica feita a essa função em particular diz respeito ao caráter de instituição fechada que a escola vem assumindo quando as teorias pedagógicas a concebem como isolada do cotidiano da sociedade Esse isolamento pode ser notado pela observação dos seguintes aspectos ensino de conteúdos que nada têm a ver com a realidade dos alunos adoção de uniformes Atividade 2 Aula 12 Psicologia da Educação 193 que pretensamente iguala a todos tipo de avaliação de aprendizagem que valoriza apenas o trabalho desenvolvido dentro da escola e não leva em conta o aprendizado cotidiano Um dos críticos mais contundentes da escola foi o pensador vienense Ivan Illich 1926 2002 com o seu livro Sociedade sem escolas lançado no início dos anos 70 do século passado Illich propõe desinstalar a escola porque Ela escolariza para confundir processo com substância Alcançando isso uma nova lógica entra em jogo quanto mais longa a escolaridade melhores resultados ou então a graduação leva ao sucesso O aluno é desse modo escolarizado a confundir ensino com aprendizagem obtenção de grau com educação diploma com competência fluência no falar com capacidade de dizer algo novo Sua imaginação é escolarizada a aceitar serviço em vez de valor ILLICH 1973 p 21 grifos do autor Para Illich a escola tem a finalidade de reproduzir a mão de obra submissa e a ideologia dominante Essa ideia é ratificada por outros estudiosos do papel da escola como Bourdieu e Passeron 1975 que propõem uma estreita relação entre reprodução cultural e reprodução social e o sociólogo francês Durkheim 18581917 que afirma longe de a educação ter por objeto único e principal o indivíduo e seus interesses ela é antes de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência DURKHEIM 1973 p 52 Vamos retomar a atividade 1 na qual você listou o que julgava serem as funções da escola À luz do que discutimos até então reveja sua lista e faça uma apreciação crítica sumarizada Atividade 3 Aula 12 Psicologia da Educação 194 As relações de poder na escola Como vimos a escola é uma instituição social na qual convivem grupos sociais que podemos caracterizar como grupos secundários Baseado em sua própria experiência nos pontos discutidos na aula 10 e nas observações que você fez na disciplina Educação e Realidade descreva a seguir a sua percepção das dinâmicas estabelecidas na escola Para além da dinâmica estabelecida entre e dentro dos grupos sociais que existem na instituição escolar vamos agora discutir como se estabelecem as relações de poder dentro da escola Porque se a escola é um espaço reprodutor das redes de relações existentes na sociedade é interessante conhecer como essas relações se estabelecem e qual o contexto que lhes permite acontecerem O filósofo francês Michel Foucault 1977 estudioso das relações de poder nas instituições descreveu os conceitos de sociedades disciplinares e sociedade de controle Para ele as relações que se estabelecem em instituições como a família a escola os quartéis e as prisões são marcadas pela disciplina com o objetivo de produzir corpos dóceis eficazes e submissos política e economicamente Aula 12 Psicologia da Educação 195 Figura 2 Michel Foucault 19261984 Para caracterizar suas ideias Foucault tomou como exemplo o Panóptico um edifício em forma de anel no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro O anel dividiase em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior Em cada uma dessas pequenas celas havia segundo o objetivo da instituição uma criança aprendendo a escrever um operário a trabalhar um prisioneiro a ser corrigido um louco tentando corrigir a sua loucura etc Na torre havia um vigilante Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela não havia nenhum ponto de sombra e por conseguinte tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas de postigos semicerrados de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vêlo O panoptismo corresponde à observação total é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo Ele é vigiado durante todo o tempo sem que veja o seu observador nem que saiba em que momento está a ser vigiado Figura 3 Panóptico Para Foucault o Panóptico poderia servir de modelo uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana com sua essência centrada na situação de inspeção ou na construção de uma espécie de inspetor central onipotente onipresente e principalmente onividente Não há mais necessidade de punir porque o ato de vigiar já é suficiente para manter a ordem Aula 12 Psicologia da Educação 196 Do século XVIII até a Segunda Guerra Mundial prevalecia o modelo de sociedades disciplinares cujo objetivo eram as relações de disciplina observadas no panoptismo A partir daí começa a surgir outro modelo com novos mecanismos de vigilância em que a disciplina passa a ser interiorizada sem a necessidade de aparatos explícitos de vigilância é o modelo de sociedades de controle Agora há um processo de vigilância constante intensificada pela disseminação de dispositivos tecnológicos de vigilância presentes até mesmo ao ar livre Todos podem e querem espiar todos E o exemplo mais atual desse modelo é o programa de televisão Big Brother que surgiu em 1999 na Holanda e teve o seu formato disseminado em vários países inclusive e infelizmente também no nosso Figura 4 Câmaras de vigilância substituem hoje o Panóptico Para Foucault a escola é o espaço no qual o poder disciplinar produz o saber Na escola ser observado olhado contado detalhadamente passa a ser um meio de controle de dominação um método para documentar individualidades Ao dividir os alunos e os saberes em séries a escola reforça as diferenças recompensando os que se submetem ao sistema escolar e punindo com reprovação os que não se submetem O modelo pedagógico permite vigilância constante tornando a escola um espaço de controle constante de sua população através da burocracia acadêmica do orientador educacional do professor e dos alunos Observemos a disposição de uma sala de aula um estrado mais elevado onde se situa o professor cadeiras linearmente dispostas colocadas abaixo para os alunos Fica evidente a relação saberpoder Figura 5 A organização da sala de aula evidência do poder Resumo Aula 12 Psicologia da Educação 197 O professor por sua vez subordinase às autoridades superiores e essa submissão levao a desenvolver uma dominação compensadora junto aos alunos Ele assume como papel a imposição da ordem e da obediência Outro momento em que esse poder professoral se manifesta é por meio do sistema de avaliação com provas e exames o que lhe retira o caráter de instrumento passando a ser um fim em si mesma Todos esses aspectos das relações de poder apontadas por Foucault devem ser um ponto de partida para uma reflexão das nossas práticas enquanto professores ou futuros professores porque não se pode negar que a escola é ou deveria ser um importante espaço de troca de aprendizado de obtenção de informação O necessário é que a escola seja transformada e definir essa transformação é o grande desafio que enfrentamos Por outro lado a escola é apenas uma entre tantas outras instituições na nossa sociedade não podendo ser a única responsabilizada pela reprodução dos valores dominantes As transformações sociais ocorrem de maneira mais ampla e abrangem outras instituições como a família como já vimos e os meios de comunicação como veremos em uma aula próxima Nesta aula começamos analisando o conceito de socialização para situarmos a escola como o espaço no qual se dá a socialização secundária Em seguida discutimos e elaboramos algumas críticas às funções da escola Por fim estudamos as relações de poder dentro da escola a partir dos conceitos foucaultianos de sociedade disciplinar e sociedade de controle 5 4 1 2 3 Aula 12 Psicologia da Educação 198 Autoavaliação O que é socialização e como ela ocorre Quais os processos envolvidos na socialização segundo Coll Descreva criticamente as funções da escola O que é o Panóptico e qual relação pode ser feita entre este e a relação de poder na escola Descreva dois aspectos da escola que representem a estrutura de poder Referências BOURDIEU P PASSERON JC A reprodução elementos para uma teoria do sistema de ensino Rio de Janeiro Francisco Alves 1975 COLLS C PALACIOS J MARCHESI A Desenvolvimento psicológico e educação Porto Alegre Artmed 2004 Psicologia evolutiva v 1 DURKHEIM E Educación y sociología Buenos Aires Editorial Shapire 1973 FOUCAULT M Vigiar e punir Petrópolis Vozes 1977 ILLICH I Sociedade sem escolas Petrópolis Vozes 1973 PIAGET J O julgamento moral da criança São Paulo Mestre Jou 1977 Anotações Aula 12 Psicologia da Educação 199 Anotações Aula 12 Psicologia da Educação 200 Sexualidade Aula 13 Sexualidade Aula 13 1 2 3 Aula 13 Psicologia da Educação 203 Apresentação A partir desta aula iremos discutir alguns temas que se não são específicos da Psicologia podem ser também estudados sob o ponto de vista de sua abordagem São temas que estarão presentes em nossas salas de aula ainda que não seja de uma forma clara e explícita Iniciaremos com esta aula sobre sexualidade e seguiremos nas aulas 14 e 15 com uma discussão sobre a questão das drogas e sobre a influência dos meios de comunicação no comportamento respectivamente Objetivos Distinguir os conceitos de sexo e sexualidade Analisar como ocorre o desenvolvimento da sexualidade humana Discutir a moral sexual da sociedade contemporânea Atividade 1 Aula 13 Psicologia da Educação 204 A Psicologia estuda a sexualidade Antes de analisarmos o papel da Psicologia no estudo da sexualidade seria interessante observarmos a diferença entre esse conceito e o de sexo Qual seria então essa diferença Faça a distinção entre os conceitos de sexo e sexualidade elaborando uma lista de comportamentos que caracterizam um e outro No nosso idioma a palavra sexo tem muitos significados Sexo pode ser uma palavra que designa o gênero masculino ou feminino servindo para uma distinção biológica entre homens e mulheres a partir da qual se definem papéis e atribuições sociais que variam conforme a cultura Mas também pode referirse a qualquer atividade que resulte em sensação de prazer no corpo ou mais especificamente nos órgãos genitais do homem ou da mulher Pode significar ainda o ato sexual em si fazer sexo significando manter relações sexuais No ser humano no entanto o ato sexual não é como em outros animais um ato puramente biológico Ele envolve sentimentos experiências anteriores história familiar orientação sexual características físicas e até espiritualidade todos esses aspectos influenciam a percepção sexual das pessoas e sua maneira de envolvimento com o ato sexual Aula 13 Psicologia da Educação 205 Em 2002 um grupo de consultores técnicos da Organização Mundial de Saúde com a intenção de contribuir para a discussão a respeito da saúde sexual definiu sexualidade da seguinte maneira Sexualidade é um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrange o sexo as identidades e os papéis de gênero orientação sexual erotismo prazer intimidade e reprodução A sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos nas fantasias nos desejos na opinião nas atitudes nos valores nos comportamentos nas práticas nos papéis e nos relacionamentos Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões nem todas são sempre experimentadas ou expressadas A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos psicológicos sociais econômicos políticos cultural éticos legais históricos religiosos e espirituais WORLD HEALTH ORGANIZATION 2007 tradução minha Assim como vemos o conceito de sexualidade é muito mais amplo e por suas características restringese ao ser humano É esse conceito amplo que lhe permite ser tema de interesse multidisciplinar em que a Biologia e a Medicina dão conta dos aspectos anatômicos e fisiológicos a História e a Sociologia discutem os comportamentos sexuais e suas origens a Antropologia observa a sua evolução cultural a Psicologia por sua vez tem se interessado em analisar os sentimentos envolvidos e como ela se desenvolve no indivíduo O conceito de sexualidade também nos remete à compreensão de que o sexo não pode ser encarado como um ato de puro instinto pois como já vimos o instinto é um comportamento inato que serve a uma necessidade O sexo poderia ser encarado dessa forma na medida em que serve à reprodução da espécie como acontece entre animais No entanto como também já discutimos o homem distinguese dos animais pela consciência de existir e por suas características de ser histórico Portanto nele os aspectos instintivos são mitigados e transformados Na questão sexual a escolha do parceiro é feita muito mais pelo prazer que o objeto da escolha nos proporciona do que pela pressão da necessidade instintiva de reprodução No homem o prazer refina o instinto de reprodução passando a ser mais determinante e fundamental na sexualidade Aula 13 Psicologia da Educação 206 O desenvolvimento da sexualidade J á vimos na aula sobre adolescência que é nessa fase do desenvolvimento que o organismo do ser humano começa a se preparar para a reprodução sendo as mudanças biológicas acompanhadas de modificações também no psiquismo Mas seria somente nessa fase que se manifestaria a sexualidade Freud foi um pioneiro no estudo da sexualidade humana Em 1905 ele publicou um livro chamado Três ensaios sobre a teoria da sexualidade que causou grande impacto na sociedade da época Nele defende a manifestação da sexualidade em fases muito mais precoces do desenvolvimento está presente na criança desde o seu nascimento É interessante observar a idéia que se tinha sobre o assunto no início do século XX e a concepção defendida por Freud porque ainda hoje esse tipo de afirmação pode causar inquietação em algumas pessoas Em primeiro lugar a concepção vigente era de que a sexualidade tinha como objetivo a reprodução logo ela somente poderia se manifestar a partir da puberdade momento em que o indivíduo começa a se preparar biologicamente para tal tarefa A idéia era de que o sexo antes dessa fase estava inativo e que sua ativação se daria com o surgimento dos hormônios sexuais responsáveis por ativar a puberdade Sendo assim como imaginar que um bebê recémnascido pudesse ter vida sexual Freud observou que logo ao nascer a criança apresenta o reflexo da sucção fundamental para sua alimentação e conseqüente sobrevivência Para ele esse reflexo é acompanhado do prazer do contato da sua mucosa bucal com o seio materno e isso era óbvio porque se fosse uma experiência desagradável o reflexo não se fixaria Diz ele Vendo uma criança que tenha saciado seu apetite e que se retira do peito da mãe com as bochechas ruborizadas e um sorriso de bemaventurança para cair em seguida em um sono profundo temos que reconhecer neste quadro o modelo e a expressão da satisfação sexual que o sujeito conhecerá mais tarde FREUD 1973 p 1200 Aula 13 Psicologia da Educação 207 Figura 1 O reflexo da sucção acompanhase de prazer Com o tempo a criança passa a perceber que o contato da boca com o seu próprio dedo também lhe dá prazer Nesse caso tratase não mais de uma necessidade biológica mas somente de prazer Esse tipo de prazer pelo prazer Freud chamou erotismo e o considerou como o primeiro indicativo de sexualidade a aparecer em uma pessoa Figura 2 O chupar o dedo é a primeira forma de erotismo É possível perceber então que o conceito de sexualidade de Freud era muito mais amplo do que o vigente na época Ele a definia muito mais pelo prazer do que pela necessidade de reprodução conforme o que vimos anteriormente Nessa perspectiva é compreensível que tinha descrito a sexualidade do recémnascido Porém não podemos confundir essa compreensão da sexualidade com genitalidade que é a busca do contato genital que vai se desenvolver na vida adulta Outro conceito que Freud desenvolve com relação à sexualidade é o de libido palavra que deriva do latim e significa desejo anseio Referese segundo a Psicanálise à energia que move os impulsos da vida dentre os quais o mais importante é o impulso sexual A libido pode ser aumentada diminuída e tem como característica importante a mobilidade localizandose em várias partes do corpo alternadamente Aula 13 Psicologia da Educação 208 Como vimos em um primeiro momento do desenvolvimento da sexualidade a libido vai estar localizada na mucosa da boca constituindo a fase oral definida por Freud como o primeiro estágio À proporção que a criança amadurece a libido vai se deslocando para outras partes do corpo criando novas zonas erógenas O segundo estágio por exemplo iniciase por volta dos dois anos de idade quando a criança começa a ter o controle dos esfíncteres Essa possibilidade de controle sobre o próprio corpo dá à criança o sentimento de poder produzir coisas suas simbolizado pela liberação ou contenção das fezes Nesse caso estamos nos referindo à fase anal A terceira fase é a fálica que ocorre por volta dos quatro anos e caracterizase pela localização da libido nos órgãos genitais Nesta há a descoberta da genitália e a preocupação com a diferença entre os sexos É importante salientar que essa fase apesar de expressar uma preocupação da criança com os órgãos genitais ainda não representa a sexualidade adulta É ainda uma fase exploratória e de curiosidade A criança toca seu próprio sexo procura conhecer como é o sexo do coleguinha preocupase em saber como é o corpo de um adulto Após fase que Freud chama de latência que vai dos 6 aos 11 anos caracterizada por uma relativa inatividade do impulso sexual iniciase na adolescência a fase genital Concomitante com a maturação biológica ocorre a partir daí a retomada do impulso sexual que com a busca do objeto de amor fora do grupo familiar o indivíduo assume as características da sexualidade adulta Essa descrição do desenvolvimento psicossexual demonstra dois aspectos importantes a a sexualidade aparece muito cedo no ser humano e b o impulso sexual amadurece paralelamente ao crescimento e ao desenvolvimento do indivíduo A moral sexual S e a sexualidade é um aspecto inerente ao ser humano por que é tão complicado conversar sobre sexo Por mais que se pressuponha que essas discussões devam começar no âmbito familiar na família esse é um assunto sobre o qual não se conversa E na escola que deveria ser o espaço para uma discussão mais qualificada o debate sobre sexo estaria acontecendo Recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental estabeleceram a Orientação Sexual como um dos temas transversais mesmo assim as escolas parecem relutar em incluíla como uma das suas preocupações pedagógicas Os professores ainda acham o assunto incômodo ou se sentem sem preparo para abordálo Então por que será tão difícil discutir esse assunto Esfíncteres Esfíncter é um termo usado pela Medicina para designar uma estrutura muscular presente em órgãos do nosso corpo que controla a abertura de um determinado orifício Estão sob controle voluntário basicamente o esfíncter da uretra e o esfíncter anal Atividade 2 Aula 13 Psicologia da Educação 209 Essas dificuldades não se restringem somente às conversas e orientações mas também à própria maneira como a nossa sociedade encara a sexualidade como estabelece normas e proibições como impõe restrições a uma expressão sexual mais livre Por que será que isso acontece Vamos analisar essa questão por dois ângulos pela História e pela Psicanálise Se nos reportamos à época da Antigüidade Clássica vamos observar na Grécia ou em Roma a percepção do sexo como algo positivo e às vezes mesmo revestido de um cunho religioso O culto a Dionísio ou a Baco por exemplo eram verdadeiros rituais de amor Os gregos e romanos educavam seus filhos com o conhecimento das funções sexuais as práticas homossexuais eram comuns sobretudo nas classes mais abastadas e se revestiam de caráter educativo Com o surgimento da família patriarcal acontece uma série de dualidades no campo da sexualidade as quais estão descritas a seguir Descreva a seguir as dificuldades eou facilidade encontradas por você ao discutir esse tema com pessoas de uma faixa etária menor que a sua sejam seus filhos irmãos ou alunos Se não teve essas experiências imagine e descreva quais seriam as dificuldades e facilidades na abordagem desse tema Aula 13 Psicologia da Educação 210 1 No plano social a aparição de uma esfera privada restrita ao âmbito da mulher que tinha ao seu encargo a reprodução e a educação e uma esfera pública a cargo dos homens A norma é permissividade para os homens e repressão para as mulheres das quais vai se exigir fidelidade ao marido ou virgindade 2 Surgimento da dupla imagem da mulher dependendo das necessidades e exigências sociais a mulher boa a dona de casa a mãe a virgem e a mulher má a pública dedicada ao prazer 3 A sexualidade adquire um duplo significado é reprodutiva lícita socialmente aceita e vinculada ao casamento e à família ou é a sexualidade geradora de prazer que é uma prática válida apenas para os homens Na Idade Média a Igreja consolida seu poder com tal intensidade que a teologia se equipara à lei civil Nessa época aparecem os famosos cinturões de castidade e a Igreja declara que o instinto sexual é algo demoníaco gerando várias situações de julgamento pela Santa Inquisição Figura 3 Cinto da castidade Durante os séculos XVIII e XIX determinadas condutas sexuais como por exemplo a masturbação eram consideradas inapropriadas e causadoras de enfermidades como a epilepsia Por volta de 1880 o psiquiatra alemão KraftEbing 18401902 publica o primeiro livro sobre sexualidade Psychopatias Sexualis no qual rotula como patológicos os comportamentos sexuais que não tivessem finalidade reprodutiva considerandoos como anormalidades sexuais Nessa época o pensamento religioso dava grande importância à família e entendia o sexo como uma infeliz necessidade e não como algo que proporcionasse prazer Então a partir do pensamento médico e da religião surgem mitos como o de que Aula 13 Psicologia da Educação 211 o excesso de relações sexuais tornava o homem idiotizado ou as mulheres que sentissem prazer morreriam muito jovens Dessa forma não é de se estranhar que as idéias de Freud causassem tanto impacto na sociedade da época com seu conceito de sexualidade infantil e de libido Para a Psicanálise a energia sexual é a energia que utilizamos para todas as nossas atividades trabalho diversão relacionamento com as pessoas produção de conhecimento enfim é a energia responsável pelo que conhecemos como civilização No entanto para que a civilização se concretize é necessário que a energia sexual seja deslocada para outros fins que não o estritamente sexual Isso é feito através da criação de normas e proibições como o casamento monogâmico a restrição na escolha dos parceiros as restrições sexuais às crianças Para Freud o homem para garantir o processo de civilização abriu mão do prazer pela segurança Esse mecanismo de desvio da energia sexual para fins não sexuais e socialmente aceitáveis é chamado de sublimação A sublimação pois é um mecanismo útil na medida em que nos permite conviver em sociedade mas por outro lado ao reprimir a libido torna a questão da sexualidade uma questão difícil de se lidar livremente Essas idéias originais de Freud foram ratificadas por estudiosos contemporâneos como Herbert Marcuse filósofo alemão que viveu entre 1898 e 1979 Marcuse escreveu um livro chamado Eros e a Civilização no qual fundamentado nas idéias de Freud diz que a repressão da sexualidade na sociedade capitalista é utilizada para a produção de riquezas de acordo com os interesses do grupo dominante Assim a repressão sexual e a repressão social são dois lados de uma mesma moeda e portanto a luta pelas liberdades sociais deve envolver a luta pelas liberdades sexuais Não por acaso Marcuse foi um dos inspiradores do movimento estudantil de protesto que eclodiu na França no ano de 1968 A importância do tema sexualidade na Educação Q uando assistimos às novelas e a outros programas de televisão exibindo cenas que mostram uma possível excessiva permissividade sexual podemos imaginar que as idéias de Freud e Marcuse estão superadas Mas haverá mesmo maior liberdade sexual nos dias de hoje Para o filósofo francês Michel Foucault 1984 o que ocorre hoje é muito mais um discurso sobre a sexualidade do que uma nova moral sexual é um discurso permitido uma outra forma de poder O que se tem é uma fala sobre a sexualidade mas ela continua tão reprimida quanto antes tão conservadora quanto no século XIX E a prova disso são reportagens também mostradas pela televisão como as cenas de agressão a mulheres O ficar dos jovens antes de revolução sexual é Aula 13 Psicologia da Educação 212 a reprodução dos mesmos valores antigos da desvalorização do papel da mulher da imaturidade e do descompromisso Como lembra Bock 1999 a possibilidade de uma sexualidade que corresponda aos nossos desejos dependerá de uma luta que o jovem deve enfrentar por uma nova moral sexual que supere o poder castrador e passe para uma fase de encontro entre o prazer e a responsabilidade BOCK 1999 p 239 Para nós educadores restanos a tarefa de enfrentar junto com os jovens o desafio de estimular a discussão superando o discurso permitido e trazendo para análise as causas determinantes do modelo de sexualidade que temos Na atualidade dois temas ligados à questão sexual surgem como fundamentais o aparecimento da AIDS e a gravidez precoce Ambas as situações são indicativos daquela permissividade oficial que se por um lado admite a liberdade sexual por outro não fornece as informações básicas necessárias nem estimula o diálogo franco e aberto com os jovens É preciso trazer à discussão o papel da sexualidade do significado das regras sociais com relação a ela somente assim poderemos avançar para uma nova ordem sexual que entenda a sexualidade como parte da personalidade dos sujeitos e como fundamental para o bemestar individual e interpessoal A Organização Mundial da Saúde OMS através de seus peritos divulgou o que considera como direitos sexuais Assim são direitos de todas as pessoas livres de coerção discriminação e violência n ter o mais alto nível de saúde sexual incluindo o acesso aos serviços de saúde reprodutiva e sexual n buscar receber e compartilhar informações relacionadas à sexualidade n receber educação sexual n respeitar a integridade do corpo n escolher os parceiros n decidir ser ou não sexualmente ativo n ter relações sexuais consensuais n contrair união consensual n decidir se quer e quando quer ter filhos n lutar por uma vida sexual satisfatória segura e prazerosa Resumo 1 2 3 4 5 Aula 13 Psicologia da Educação 213 Autoavaliação Diferencie os conceitos de sexo e sexualidade Descreva sumariamente as fases do desenvolvimento da sexualidade segundo Freud O que é libido Por que se diz que a teoria da sexualidade de Freud causou impacto na sociedade Qual o papel da sublimação no processo civilizatório segundo Freud Nesta aula discutimos os conceitos de sexualidade e como ela se desenvolve no ser humano sob uma perspectiva psicanalítica Analisamos as dificuldades na discussão deste tema observando a sua evolução histórica e a interpretação de Freud Por fim enfatizamos o papel dos educadores na discussão desse tema Aula 13 Psicologia da Educação 214 Referências BOCK A M B Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia São Paulo Saraiva 1999 FOUCAULT M História da sexualidade Rio de Janeiro Graal 1984 FREUD S Tres ensayos para uma teoria sexual Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo II Obras completas El mal estar de la cultura Madrid Editorial Biblioteca Nueva 1973 Tomo III Obras completas MARCUSE H Eros e a civilização Rio de Janeiro LTC 1999 WORLD HEALTH ORGANIZATION Sexual health Switzerland WHO 2007 Disponível em httpwwwwhointreproductivehealthgendersexualhealthhtml2 Acesso em 9 ago 2007 Fontes e créditos de imagens n Direitos Sexuais Disponível em httpwwwwhointreproductivehealthgender sexualhealthhtml2 Anotações Aula 13 Psicologia da Educação 215 Anotações Aula 13 Psicologia da Educação 216 A questão das drogas Aula 14 Fyllscenarios överförda 1 2 3 4 Aula 14 Psicologia da Educação 219 Apresentação O uso de drogas é outro tema multidisciplinar para o qual a Psicologia pode contribuir com uma leitura particular do problema Nesta aula vamos entender alguns dos conceitos associados a esse tema e conhecer como as drogas chamadas psicoativas atuam nos indivíduos Vamos também analisar alguns fatores de risco para a juventude e quais os modelos de prevenção que podem ser utilizados Objetivos Conhecer os principais conceitos relacionados ao uso de drogas Conhecer a classificação dos tipos de drogas de acordo com sua atuação no cérebro Compreender como ocorre o envolvimento dos jovens com as drogas Conhecer os fatores de risco e prevenção no uso de drogas pelos jovens Aula 14 Psicologia da Educação 220 Alguns conceitos iniciais A utilização de substâncias psicoativas é um fenômeno antigo na história da humanidade O uso em rituais culturais e religiosos sempre foi tolerado Nas últimas décadas entretanto em razão do aumento significativo do uso de drogas lícitas e ilícitas fora desses rituais transformouse em um verdadeiro problema de saúde pública criando a necessidade de estudos epidemiológicos que subsidiassem o estabelecimento de políticas de prevenção Em 2004 o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID fez um extenso levantamento entre estudantes de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio das 27 capitais brasileiras e observou que de um total de mais de 48000 estudantes cerca de 23 dos meninos e 21 das meninas já haviam utilizado algum tipo de droga excetuandose álcool e tabaco em algum momento de suas vidas sendo que destes 127 estavam na faixa etária de 10 a 12 anos de idade Esses são de fato números preocupantes Figura 1 O álcool é a droga de maior uso entre adolescentes Mas o que são drogas psicotrópicas De onde vem esse termo Sabemos que a palavra droga significa medicamento ou seja substância que quando utilizada provoca modificações no comportamento ou na fisiologia do corpo Psicotrópico Aula 14 Psicologia da Educação 221 é uma palavra composta psico trópico em que trópico está relacionado a tropismo cujo significado é ter atração por Assim drogas psicotrópicas são aquelas que têm atração pelo psiquismo ou seja são aquelas que atuam no cérebro modificando o psiquismo Podemos encontrar também o termo substância psicoativa como sinônimo de psicotrópica Dependendo do tipo a droga pode atuar aumentando ou diminuindo a atividade do cérebro ou mesmo provocando mudanças qualitativas ao fazer o cérebro funcionar de maneira diferente do normal Portanto as drogas psicotrópicas podem ser classificadas em a depressoras da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicolépticas tais como o álcool os hipnóticos que provocam o sono os ansiolíticos que diminuem a ansiedade os narcóticos que bloqueiam a dor como a morfina os inalantes ou solventes como as colas e as tintas b estimulantes da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicoanalépticas tais como a cocaína e as drogas anorexígenas aquelas usadas para diminuir o apetite c perturbadoras da atividade do sistema nervoso central também chamadas psicodislépticas ou alucinógenas tais como a maconha o ecstasy e o LSD Figura 2 O ecstasy é uma substância sintética que perturba a atividade cerebral No citado estudo feito pelo CEBRID em 2004 as substâncias mais utilizadas pelos estudantes foram pela ordem os solventes 155 a maconha 59 e os ansiolíticos 41 No entanto quando se inclui o álcool vamos observar taxas de 65 um indicativo de que essa é a droga mais preocupante sobretudo porque apesar de provocar evidentes modificações no comportamento ela é uma substância lícita ou seja tem o seu consumo admitido e até estimulado pela sociedade Apesar de sua ampla aceitação o álcool pode provocar o alcoolismo principal causa de internação em hospitais psiquiátricos no Brasil Atividade 1 Aula 14 Psicologia da Educação 222 À medida que a pessoa vai consumindo drogas o seu organismo começa a sofrer modificações que podem fazer com que ela tenha necessidade de voltar a consumi las Antigamente o termo para isso era vício sendo tachado de viciado aquele que não conseguia deixar de utilizar uma determinada droga Aquele que usava mas conseguia deixar tinha apenas um hábito Hábito e vício eram dois termos usados para designar o grau de envolvimento do indivíduo com a droga Atualmente entendese que em qualquer uma das duas circunstâncias o indivíduo tem um transtorno de dependência A dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga mesmo tendo com esse uso problemas fisiológicos comportamentais ou cognitivos significativos A dependência pode ser psicológica quando a interrupção da droga resulta em problemas fisiológicos como malestar e ansiedade ou cognitivos como dificuldades de concentração e física quando a interrupção da droga resulta em síndrome de abstinência A síndrome de abstinência é um conjunto de sintomas físicos e comportamentais que aparece quando o uso da droga é interrompido Esses sintomas podem ser mais ou menos graves dependendo do tipo de substância que esteja sendo utilizada A síndrome de abstinência resultante da cessação do uso de hipnóticos por exemplo pode ser tão grave ao ponto de levar o indivíduo ao coma e até à morte Todos nós conhecemos alguém que tem problemas com o álcool Algumas dessas pessoas nós consideramos alcoólatras outras consideramos apenas que têm problemas com a bebida Como você caracterizaria um alcoólatra Atividade 2 Aula 14 Psicologia da Educação 223 Algumas substâncias podem levar a situações em que o indivíduo precise aumentar a quantidade ingerida para obter o mesmo efeito Por exemplo se se conseguia uma situação de euforia com um comprimido de ecstasy depois de algum tempo serão necessários dois comprimidos para que a euforia aconteça Nesses casos dizse que foi desenvolvido um quadro de tolerância Depois de conhecer esses conceitos tente agora identificar na caracterização que você fez na atividade 1 se se trata de situação de dependência psicológica ou física de tolerância ou de síndrome de abstinência O adolescente e o uso de drogas N a aula 5 A psicologia da adolescência discutimos a adolescência e vimos como se trata de uma fase muito especial na vida dos indivíduos sobretudo por ser uma fase de fragilidades emocionais de busca de identificações de experimentação da vida adulta e da tentativa de firmar a própria identidade Por tudo isso é um momento de grande vulnerabilidade o que expõe o adolescente a maiores riscos ao entrar em contato com as drogas Aula 14 Psicologia da Educação 224 Estudos psicológicos tentam entender o porquê da busca do adolescente pelas drogas Para Grynberg e Kalina 2002 o uso destas pode significar uma forma de confronto com o meio social em que vivem pois os jovens acreditam estar dando provas de sua autonomia e autosuficiência sendo capazes de alcançar seus objetivos que muitas vezes não estão muito claros Para Caldeira 1999 as causas podem estar no desafio da transgressão às normas adultas na curiosidade pelo novo e pelo proibido na pressão do grupo para assumir determinados comportamentos Como vimos na discussão sobre adolescência o grupo é um espaço de identificação e busca de segurança sendo assim é comum que seja o espaço no qual ocorrem as primeiras experimentações Scivoletto 2004 afirma que o adolescente busca no grupo encontrar sua própria identidade e olhar o outro facilita o processo O uso das drogas aparece como experimentação de novas atividades e situações a onipotência oferece a sensação de que nada de errado acontecerá expondoo a grandes perigos Por outro lado a dimensão que hoje atinge o consumo de drogas não só nos grandes centros urbanos mas também nas cidades de pequeno e médio porte faz com que as famílias se sintam inseguras e impotentes diante da possibilidade de seus jovens vivenciarem tal situação Sabemos que o comportamento individual e a formação do juízo moral são moldados por meio dos valores sociais transmitidos principalmente pela família e pela escola Assim o papel dessas duas instâncias socializadoras é fundamental na prevenção e na atuação concreta sobretudo em situações de risco Com relação à família os estudos indicam que a ocorrência de conflitos e de relacionamentos insatisfatórios entre os membros seria um fator de risco enquanto o sentimento de apoio agiria como fator de proteção Num estudo realizado por Silva et al 2006 no qual foram investigados os temores e a reação dos pais diante do uso de drogas observouse que a maioria deles conversa com os filhos sobre o assunto mas as conversas têm caráter meramente informativo ou restringemse ao compartilhamento dos temores pelas conseqüências do uso de drogas Outro dado interessante do estudo é a reação dos pais diante do uso de drogas lícitas ou ilícitas Quando sabiam que seus filhos usavam drogas lícitas como o álcool ou o tabaco a reação dos pais era de indiferença enquanto ao saber do uso de drogas ilícitas como a maconha era a cocaína a reação era de descrença na informação ou de brigas acompanhada de sentimento de tristeza impotência e medo A análise dos sentimentos dos pais possibilita uma reflexão do paradoxo sobre drogas existente na nossa sociedade em relação às drogas Por um lado através dos meios de comunicação e em reuniões sociais o uso de bebidas alcoólicas é apresentado como símbolo de sucesso prazer ou como uma ferramenta útil no enfrentamento de problemas ou para redução da ansiedade De outro lado há uma condenação ou demonização do uso das drogas ilícitas às quais só são atribuídos efeitos prejudiciais como se fosse a legalidade que determinasse a periculosidade do uso SILVA et al 2006 p 8 Aula 14 Psicologia da Educação 225 Figura 3 A indiferença familiar diante do uso de drogas lícitas pode prejudicar o jovem De um modo geral podese dizer que o que leva os jovens a usarem drogas é um conjunto de fatores denominados fatores de risco A combinação destes ou a junção de alguns torna uma pessoa mais ou menos propensa a esse uso Quem se encontra em situação de risco São considerados fatores de risco para o uso de drogas algumas características ou atributos de um indivíduo grupo ou ambiente de convívio social que contribuem em maior ou menor grau para aumentar a probabilidade desse uso Conceição e Sudbrack 2004 fizeram uma síntese sobre tais fatores a partir do que denominaram áreas da vida ou como afirmam as autoras domínios da vida que seriam o domínio individual o domínio de pares o domínio familiar o domínio comunitário e o domínio escolar Elas identificam que não há um único fator de risco determinante para o uso de drogas e que cada um desses domínios comporta fatores de risco e de proteção Vejamos quais são eles De todas as maneiras identificar o que leva um adolescente ao uso das drogas não é uma tarefa simples Muitas vezes vemos casos de famílias claramente desajustadas que não apresentam nenhum registro de consumo de drogas entre os filhos e de outras nas quais isso acontece aparentemente sem nenhuma justificativa familiar É preciso levar em conta não só a família mas também o próprio indivíduo e o meio social em que ele se encontra A enorme quantidade de variáveis implicadas nesse consumo permite um número infindável de configurações possíveis para o uso de substâncias psicoativas Aula 14 Psicologia da Educação 226 1 Domínio individual diz respeito às predisposições genéticas e psicológicas à presença ou não de transtornos ou perturbações mentais Nesse domínio teríamos Fatores de risco Fatores de proteção Baixa autoestima Apresentação de habilidades sociais Falta de autocontrole e assertividade Flexibilidade facilidade de cooperar responsabilidade e comunicabilidade Comportamento antisocial precoce Habilidade em resolver problemas e tomar decisões autonomia Doenças preexistentes ex transtorno de deficit de atenção e hiperatividade Presença de um projeto de vida Vulnerabilidade psicossocial Relação de confiança com os pais professores e colegas 2 Domínio dos pares diz respeito aos amigos e pessoas de convívio mais próximo Aqui temos Fatores de risco Fatores de proteção Pares que usam drogas ou aprovam eou valorizam seu uso Pares que não usam drogas e não aprovam ou não valorizam seu uso Dificuldade de participação em grupos que desenvolvem atividades recreativas esportivas e laborais tidas como saudáveis Participação junto com seu grupo em atividades recreativas esportivas ou laborais saudáveis Dificuldade de pertencimento a um grupo de iguais na escola ou na comunidade Pertencimento a grupos de iguais na escola ou na comunidade Dificuldade em aceitar autoridade que não compartilhe de determinações de seu grupo Aceitação de autoridade vinda de fora do grupo de pares na escola na comunidade na família Não participação em grupos de objetivos altruísticos Participação em grupos de objetivos sociais e comunitários Aula 14 Psicologia da Educação 227 3 Domínio familiar referese à forma como a família está estruturada ao seu funcionamento e à definição de suas regras e papéis Fatores de risco Fatores de proteção Uso de álcool e drogas pelos pais Valorização do padrão de vida saudável Isolamento social entre membros da família Existência de vinculação familiar Laços afetivos frágeis entre os membros da família Existência de fortes vínculos afetivos entre os membros da família Relações conflituosas excessivamente autoritárias ou permissivas entre os membros da família Predomínio do estilo compreensivo de vida sem autoritarismo ou permissividade Falta de diálogo e de comunicação entre pais e filhos Diálogo constante e comunicação eficiente entre pais e filhos Ausência e descontinuidade de critérios na aplicação das regras familiares Presença e constância de critérios na aplicação das regras disciplinares Falta de interesse dos pais pelas conquistas dos filhos não participação nos seus sucessos ou fracassos Demonstração de interesse pela vida dos filhos e participação nos seus sucessos ou fracassos Incongruência ou incoerência dos pais quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos Coerência e congruência quanto ao padrão educacional a ser adotado para os filhos Expectativas negativas em relação aos filhos Expectativas positivas em relação aos filhos Pais que não fornecem um bom modelo não sabendo transmitir as normas e os valores morais e sociais aceitáveis Presença de pais como modelo positivo quanto às questões sóciomorais Tolerância com relação ao uso de drogas pelos jovens Postura repressora e reflexiva quanto ao uso de drogas pelos jovens Ausência da função paterna Presença da função paterna 4 Domínio comunitário diz respeito à facilidade ou não de acesso às drogas à falta de fiscalização das leis Os fatores de risco e proteção são Fatores de risco Fatores de proteção Falta de oportunidade socioeconômica para a construção de um projeto de vida Existência de oportunidades de estudo trabalho e de inserção social que possibilitem ao jovem concretizar seu projeto de vida Fácil acesso às drogas lícitas e ilícitas Controle efetivo do comércio de drogas legais e ilegais Permissividade em relação a algumas drogas Repressão e reflexão quanto ao uso de drogas legais e ilegais Inexistência de incentivo para que o jovem se envolva em serviços comunitários Incentivo ao envolvimento dos jovens em serviços comunitários Negligência no cumprimento de normas e leis que regulam o uso de drogas pelos jovens Realização de campanhas e ações que ajudem o cumprimento das normas e leis que regulam o uso de drogas pelos jovens Aula 14 Psicologia da Educação 228 5 Domínio da escola neste domínio temos o entrecruzamento de fatores de risco e proteção de todos os outros domínios Fatores de risco Fatores de proteção Indefinição ou falta de comunicação e negociação de normas regras e limites Definição comunicação e negociação de normas regras e limites Incoerência e incongruência entre os agentes educativos na prática de normas Coerência e congruência entre agentes educativos na aplicação de normas e regras escolares Relação desrespeitosa e falta de responsabilidade e compromisso entre os agentes educativos Relação de respeito mútuo compromisso e cooperação entre os agentes educativos Ausência da relação entre família e escola Relações amistosas de cooperação entre família e escola Falta de estímulo às práticas escolares Estímulo à prática das atividades escolares Ausência de expectativas positivas em relação ao desempenho dos alunos Verbalização das expectativas positivas com relação ao desempenho dos alunos Ausência de atividades criativas e estimulantes que ajudem na criação de vínculos entre o aluno e a escola Promoção de práticas criativas e estimulantes Relações preconceituosas em relação aos alunos com a utilização de rótulos como forma de punição e exclusão Relações abertas honestas sem atitudes negativas punitivas ou preconceituosas Ausência de afetividade e confiança na relação professoraluno e no ambiente escolar Fortes vínculos afetivos e de confiança entre alunos e professores e dentro do ambiente escolar Relações professoraluno baseadas no autoritarismo ou no excesso de permissividade Relações professoraluno baseadas no respeito mútuo Falta de estímulo às práticas educativas de cooperação e solidariedade Estímulo e exercício dos princípios da cooperação e da solidariedade Falta de controle quanto à presença de drogas na escola Controle da presença de drogas Como podemos ver o problema não é simples nem pode ser encarado com valorações moralistas Qualquer atuação que vise enfrentar o problema das drogas precisa estar atenta para evitar posturas que induzam à estigmatização e à marginalização Vale destacar aqui as recomendações em caso do uso de drogas pelo adolescente de Conceição e Sudbrack 2004 p 5 que se aplicam sobretudo aos educadores 1 Não confrontar diretamente 2 Não acusar ou procurar culpados 3 Mostrarse ao lado do adolescente sem compactuar com o uso na busca de uma resolução para o problema Atividade 3 Aula 14 Psicologia da Educação 229 4 Ajudar o adolescente a perceber o benefício que ele terá com a abstinência ou com o tratamento Se ele acha que precisa parar por imposição social ou para agradar este ou aquele a tentativa pode falhar 5 Não usar da culpa como arma para convencimento isso pode até funcionar durante um período mas não se sustenta Aliás fuja do mecanismo da culpa no qual se estabelece uma troca de acusações para se determinar o mais culpado e o mais atingido o problema continua sem solução 6 Jamais esquecer que se trata de uma dificuldade e não um defeito Lembrar que para lidar com dificuldades como essa existem equipes de educadores psicólogos enfermeiros assistentes sociais médicos psiquiatras terapeutas ocupacionais etc Não tente resolver tudo sozinho Procure ajuda todo cidadão tem direito de ser assistido em caso de doenças biológicas psíquicas etc CONCEIÇÃO SUDBRACK 2004 p 5 Agora que vimos os aspectos envolvidos na busca da droga por parte dos adolescentes vamos fazer um exercício reflexivo acerca dos pontos que elencaríamos para compor uma proposta de programa de prevenção às drogas em uma escola Descrevaos a seguir Resumo 1 2 3 4 5 Aula 14 Psicologia da Educação 230 Nesta aula conhecemos os principais conceitos utilizados sobretudo pela Medicina quanto ao uso de drogas Conhecemos também uma maneira de classificar as drogas psicoativas quanto à forma como elas atuam no sistema nervoso central Analisamos os fatores psicológicos que fazem os adolescentes se envolverem com o consumo de drogas e conhecemos os fatores de risco e de proteção que envolvem esse uso Autoavaliação Que são substâncias psicotrópicas Como se classificam essas substâncias Qual a diferença entre dependência física e dependência psicológica Que fatores levam o adolescente ao uso das drogas Destaque a importância dos domínios da vida enquanto fatores de risco para o consumo de drogas Aula 14 Psicologia da Educação 231 Referências CALDEIRA Zelia Freire Drogas indivíduo e família um estudo de relações singulares 1999 Dissertação Mestrado Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Rio de Janeiro 1999 CONCEIÇÃO M I G SUDBRACK M F O Fatores de risco e de proteção no envolvimento de adolescentes com drogas In SUDBRACK M F O Debate adolescentes e drogas no contexto da escola Programa Salto para o Futuro programa 3 Disponível em http wwwtvebrasilcombrSALTOboletins2004dadtetxt3htm Acesso em 09 ago 2007 GALDURÓZ José Carlos F et al V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras São Paulo CEBRID 2004 Disponível em httpwwwunifesp brdpsicobiocebridlevantamentobrasil2indexhtm Acesso em 13 ago 2007 GRYNBERG Halina KALINA Eduardo Aos pais de adolescentes viver sem drogas Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1999 SCIVOLETTO S ANDRADE E R A cocaína e o adolescente In LEITE M C ANDRADE A G Orgs Cocaína e crack dos fundamentos ao tratamento Porto Alegre Artes Médicas 1999 cap 8 p137153 SILVA Eroy Aparecida da et al Drogas en la adolescencia temores y reacciones de los padres Psicol teor prat São Paulo v 8 n1 p4154 2006 Disponível em httppepsicbvspsi orgbrscielophpscriptsciarttextpidS151636872006000100004lngesnrmiso Acesso em 09 ago 2007 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 232 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 233 Anotações Aula 14 Psicologia da Educação 234 15 Aula Os meios de comunicação de massa undgendta tyktnehas 1 2 3 4 Aula 15 Psicologia da Educação 237 Apresentação O s meios de comunicação de massa estão cada vez mais presentes na nossa vida cotidiana Com a melhoria das condições de vida dos brasileiros a televisão por exemplo está praticamente em todas as casas e muitas vezes ligada a maior parte do dia Nesse contexto algumas questões como de que forma esses meios interferem em nossos comportamentos e por que nos deixamos influenciar por eles serão que discutidas nesta aula Objetivos Conhecer a evolução dos meios de comunicação e sua influência na cultura Discutir a interferência dos meios de comunicação na subjetividade dos sujeitos Discutir o papel da propaganda e seus mecanismos de manipulação Discutir a relação entre Educação e meios de comuni cação de massa Aula 15 Psicologia da Educação 238 Da tradição oral ao ciberespaço N o final dos anos 60 do século XX o filósofo canadense Marshall McLuhan 1911 1980 lançou um livro chamado A galáxia de Gutemberg do qual uma ideia ficou famosa até hoje a ideia de que o mundo estava se transformando em uma aldeia global Para McLuhan 1977 o progresso tecnológico estava reduzindo o planeta a uma situação semelhante ao que ocorre em uma aldeia onde qualquer pessoa pode se comunicar com outra diretamente e as mensagens são passadas quase instantaneamente O modelo de progresso tecnológico era a televisão que naquela época começava a se interligar por satélite e fazer transmissões simultâneas para todo o mundo As ideias de McLuhan ajudaram a trazer para a ordem do dia a discussão sobre os meios de comunicação e sua interferência na vida das pessoas Para ele a análise da evolução midiática mostra como ela foi determinante na transformação das culturas Nesse sentido afirma que é possível distinguir três culturas nessa evolução 1 a cultura oral própria das sociedades não alfabetizadas utiliza a palavra falada como o principal meio de comunicação Nesta cultura o homem estaria mais próximo das coisas e pela riqueza das modulações da palavra oral conseguiria transmitir e receber as sutis variações dos estados afetivos dos envolvidos na comunicação A experiência seria rica e variada suscitando a criatividade de quem fala e de quem ouve deixando o ouvinte livre para imaginar ao seu modo a realidade e os acontecimentos A cultura oral por implicar um falante e um ouvinte também estimula a proximidade entre as pessoas favorecendo o estabelecimento de fortes vínculos grupais Essa cultura ainda persiste entre nós na figura dos contadores de histórias Aqueles dentre nós que não são tão jovens devem recordar as histórias contadas pelas nossas avós nos fazendo viajar na imaginação Aula 15 Psicologia da Educação 239 2 a cultura tipográfica caracteriza as sociedades alfabetizadas privilegia a palavra escrita e consequentemente a leitura valorizando mais a visão do que a fala A palavra escrita comunica em um sentido único diminuindo a capacidade expressiva e comunicativa da experiência subjetiva do mundo determinando uma consciência linear e um modo de vida repetitivo e uniformizante entre indivíduos singulares Por outro lado ela propicia a ordenação lógica do discurso permitindo a construção de saberes racionais e pela sua capacidade de reprodução favorece a permanência no tempo e no espaço possibilitando a construção de coletividades nacionais e do registro de memórias A palavra escrita criou condições de democratização da instrução e vulgarização do saber 3 a cultura eletrônica decorrente do surgimento dos meios eletrônicos de comunicação definese pela comunicação rápida e instantânea Pelo caráter massivo de sua difusão ela permite compartilhar experiências entre pessoas muito distantes promovendo um novo tipo de aproximação social em larga escala Os meios eletrônicos por atuarem no campo auditivo e visual atingem de forma múltipla a sensibilidade permitindo uma apreensão pluridimensional e polimórfica da mensagem Assim a cultura eletrônica de certa forma resgata a riqueza expressiva da comunicação oral com a vantagem de manter o registro típico da comunicação tipográfica Vale lembrar que quando McLuhan difundiu essas suas ideias a Internet ainda estava longe de ser desenvolvida O modelo de comunicação eletrônica que ele utiliza é a televisão como dissemos anteriormente Nesse sentido podemos dizer que ele foi um visionário Outro autor que também estuda a interferência dos meios nos comportamentos humanos é Manuel Castells 1999 Em sua obra A Era da Informação Economia Sociedade e Cultura identifica o surgimento de uma nova estrutura social a sociedade em rede como fato sobretudo da revolução da informática De certa forma essa nova sociedade já havia sido antecipada por McLuhan quando distinguiu a cultura eletrônica No entanto a análise de Castells observa dois outros fenômenos que surgem concomitantemente à sociedade em rede e que vão atuar em conjunto fortalecendo as características da nova estrutura social a economia globalizada e a cultura da virtualidade do real Essa nova cultura foi chamada por Pierre Levy 1999 de cibercultura definindoa como o conjunto de atitudes valores práticas e modos de pensamento que se desenvolve com o novo meio de comunicação surgido a partir da interconexão mundial dos computadores É a internet ou ciberespaço que favorece o surgimento da cibercultura Assim as novas tecnologias de informação e comunicação fizeram surgir uma nova forma de difusão da informação novas formas de relações sociais e práticas comunicacionais entre as pessoas uma nova ética e até mesmo uma nova forma de arte No entanto essas novas subjetividades ainda convivem com as anteriores Sabemos que a exclusão digital é uma realidade presente em países como o nosso sobretudo em regiões menos desenvolvidas economicamente Nessas regiões ainda estamos na cultura eletrônica da televisão do rádio e em menor escala da imprensa É portanto mais especificamente nesses meios de comunicação de massa que vamos focalizar a nossa discussão Aula 15 Psicologia da Educação 240 Os meios de comunicação e a subjetividade O s meios de comunicação de massa também chamados mídia em referência ao termo inglês mass media ou meios de massa têm ganhado nos últimos tempos uma importância enorme ao ponto de ser chamado de quarto poder E são chamados assim pela sua grande influência na formação da opinião das pessoas na aquisição de atitudes e comportamentos sobretudo devido à penetração particularmente da televisão em todas as regiões do nosso país Exemplos disso não faltam as novelas moldam a maneira das pessoas se vestirem programas como o Big Brother são temas de conversas e discussões sobre o comportamento de seus participantes as notícias divulgadas nos telejornais passam a ter força de verdade absoluta Podemos considerar que adquirimos a cultura de nosso grupo social também por esses meios Eles são veículos de informação e de valores que nos constituem como sujeitos em nossa sociedade Assim podemos dizer que a mídia tem grande importância na construção da subjetividade das pessoas e por isso uma importante discussão que se coloca hoje em dia é a questão da ética nos meios de comunicação Um filme bastante interessante que discute o papel da imprensa na perspectiva de um quarto poder é Wag the dog cuja tradução brasileira é Mera Coincidência Tratase da manipulação da informação para desviar a atenção do público de um grande escândalo envolvendo o presidente norteamericano Atividade 1 Aula 15 Psicologia da Educação 241 Você considera que essa influência da mídia tem efeito positivo ou negativo na formação da consciência das pessoas Por quê Sabemos que a mídia à semelhança de outras instituições sociais tem a ambivalência de ter que preservar os valores sociais e ao mesmo tempo ser inovadora porque a novidade é o elemento fundamental para um aumento de público Mas ela tem um aspecto particular no nosso país a maioria dos veículos de comunicação é formada por empresa privada e como tal defende os interesses econômicos dos grupos que controlam o capital Portanto essas empresas não são transparentes nem inocentes e o compromisso com a verdade apesar de fazer parte do slogan de algumas delas não pode ser considerado de uma forma absoluta Isso fica mais evidente nos períodos de campanha eleitoral quando os jornais eou as emissoras de televisão que pertencem a um determinado grupo político destacam as mazelas dos candidatos adversários e amenizam as dos seus próprios candidatos Aula 15 Psicologia da Educação 242 em off Termo que faz parte do jargão jornalístico significa informações não gravadas ou seja sua fonte não pode ser divulgada Quando se questiona a mídia sobre a ética na maneira de abordar determinadas questões uma argumentação frequente é que a de imprensa precisa ser livre para torna os cidadãos bem informados Sem dúvida Nosso país viveu anos sob uma ditadura militar convivendo com a censura à imprensa na forma de censura prévia de proibição de citação de determinados nomes de pessoas ou de assuntos Foram anos negros que provocaram uma triste lembrança No entanto após todo esse tempo de imprensa livre volta à tona a discussão da ética na mídia A imprensa hoje mais do que em qualquer época está sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off Informações que visam apenas denegrir a imagem de outros políticos são publicadas baseadas em declarações cuja veracidade não é verificada pelosjornalistas É o jornalismo baseado no denuncismo que só se explica pela guerra em busca da audiência por quantas primeiras capas as revistas conseguirem publicar Sobram acusações mas faltam investigações e análises isentas das denúncias Compreender os fatores que determinam a existência de uma mídia não isenta atrelada aos interesses dos seus proprietários é fundamental para que se faça uma leitura crítica do conteúdo divulgado e que seja possível ter informação que nos constitua como verdadeiros cidadãos Por outro lado sabemos que uma mentira repetida por muito tempo não se torna verdade Atribuise a Abraham Lincoln a frase É possível enganar todas as pessoas por algum tempo ou enganar algumas pessoas por todo o tempo mas não é possível enganar a todas as pessoas por todo o tempo De uma maneira geral as pessoas sabem que quando se trata de tema polêmico elas não devem acreditar integralmente na notícia veiculada pelos meios de comunicação O trabalho de Lins e Silva apud BOCK 1999 sobre a audiência do Jornal Nacional da Rede Globo entre trabalhadores paulistas reforça essa afirmação Na época em que a pesquisa foi feita anos 1980 havia o mito de que a grande audiência desse telejornal dava às noticias que ele veiculava a força da verdade ao ponto de nenhuma outra emissora contestar as informações O estudo no entanto mostrou que os trabalhadores o assistirem o noticiário sobre greves faziam uma releitura da informação e a reconstruíam de acordo com a visão sindical da cultura operária Eles tinham fontes alternativas de informação para avaliarem o material veiculado pela televisão que era a imprensa sindical e sobretudo as suas próprias vivências Atividade 2 Aula 15 Psicologia da Educação 243 Observe o noticiário dos principais canais de televisão Assista ao que é transmitido por um deles e anote as principais notícias Assista aos demais e compare as notícias quanto ao seu tipo de abordagem Anote a seguir as suas observações e consequentes conclusões a Observações b Conclusões Atividade 3 Aula 15 Psicologia da Educação 244 A propaganda e o controle da subjetividade N o campo da comunicação a publicidade vem cada vez mais desempenhando papel fundamental Para vender um produto ela se utiliza de um mecanismo psicológico chamado persuasão que é o mecanismo de convencimento utilizado por uma pessoa sobre outra de modo a induzila a tomar determinadas atitudes Inúmeros exemplos poderiam ser citados Observe um comercial de alguma marca de margarina a representação é de um mundo perfeito com uma família harmoniosa filhos encantadores e a mulher no seu papel de dona de casa feliz De uma maneira sutil somos convencidos de que aquele produto nos propiciará aquele ambiente Neste instante temos a nossa subjetividade capturada pela propaganda de uma maneira tal que se torna difícil impormos alguma resistência fomos persuadidos Vamos prestar atenção aos intervalos comerciais Observe as propagandas veiculadas Se possível observeas em diferentes momentos do dia Escolha uma delas analise que tipo de persuasão está implícito na mensagem e anote suas observações a seguir Aula 15 Psicologia da Educação 245 Muitas vezes a persuasão ocorre com base em informações concretas e objetivas ou seja o convencimento tenta atingir a nossa esfera cognitiva nos abordando com argumentos racionais É o caso por exemplo de uma peça publicitária que descreve as características de um produto Posso decidir pela compra de uma geladeira porque a propaganda diz que ela consome menos energia ou posso escolher estudar em determinada escola porque a publicidade indica que nela estão os professores mais qualificados Outras vezes no entanto a propaganda nos atinge pelo lado das emoções associando estas ao conteúdo das mensagens Nesse caso a persuasão atinge mais profundamente o campo da nossa subjetividade Figura 1 A lógica nem sempre motiva a compra de um produto Você já deve ter observado exemplos de propagandas do tipo uma marca de carro cuja sua imagem é associada à de um jovem aventureiro criando a ideia de que quem compra aquele carro viverá as mesmas aventuras um determinado xampu associado a lindas mulheres um banco que substitui o seu nome pelo do cliente tentando criar a imagem de um banco pessoal A mensagem é subliminar e funciona porque por um lado é repetida várias vezes e por outro atinge o nosso subconsciente Funciona mais ou menos assim no nosso cotidiano temos que enfrentar a rotina da nossa vida que nos exige atitudes comportamentos nos faz seguir regras e normas tornandoa a maior parte do tempo uma vida sem graça Essa rotina é suportada porque temos no nosso psiquismo mecanismos de defesa contra frustrações e que nos preparam para suportar as restrições sociais criando em nós um padrão de comportamento conformista A propaganda nos desperta desse conformismo acenando com objetos de desejo imaginários que estavam recolhidos no nosso subconsciente e os associa aos produtos anunciados Assim criamos em nós inconscientemente a ideia de que se comprarmos o produto nossos desejos se realizarão e sairemos da mesmice cotidiana Voltamos a afirmar que todo esse processo não ocorre de forma consciente ou seja não nos damos conta de que estamos comprando o produto por esses motivos pois mesmo se formos questionados em relação à compra daremos todos os argumentos racionais possíveis Atividade 4 Aula 15 Psicologia da Educação 246 Retome a atividade 3 O que você observou teria relação com o conceito de persuasão que mobiliza nossas fantasias inconscientes Comente a respeito disso propaganda ideológica Chauí 1984 p923 salienta que a ideologia é o processo pelo qual as ideias da classe dominante se tornam ideias de todas as classes sociais se tornam ideias dominantes Como vimos a propaganda nos atinge por meio nossas funções cognitivas como também por nossas funções afetivas usando argumentos racionais ou emocionais respectivamente No entanto existe um tipo particular de propaganda que nos envolve pelo aspecto cognitivo mas tem o objetivo de mudar nossas crenças e valores é a propaganda ideológica Ela tem a função de mudar as ideias e convicções dos indivíduos e com isso orientar seu comportamento social Quando uma pessoa é impedida de se orientar segundo suas crenças ou faz resistência a essa mudança e tenta evitar as situações de controle ou muda seu modo de pensar A propaganda ideológica aposta nessa segunda possibilidade e para isso muitas vezes manipula a informação ou não a divulga de maneira clara e objetiva passando no entanto a impressão de que está sendo o mais imparcial possível Há um exemplo histórico desse tipo de propaganda aquela criada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial que difundia a supremacia da raça ariana e a caracterização do povo judeu como raça inferior Assim a propaganda ideológica não vende um produto mas uma ideia As mensagens apresentam uma versão da realidade que visa manter a sociedade na situação em que se encontra ou têm o objetivo de transformar aspectos da estrutura social econômica política ou cultural para atender aos interesses de classe As informações são fragmentadas e descontextualizadas de modo a criar condições para que o entendimento ocorra dentro da perspectiva do produtor da propaganda Mecanismos ideológicos são criados diariamente para impedir que tenhamos um olhar crítico sobre a realidade e que busquemos informações diferentes das veiculadas nos meios de comunicação de massa Atividade 5 Aula 15 Psicologia da Educação 247 Observe a imagem a seguir Tratase da foto de um outdoor na cidade de São Paulo em outubro de 2006 Anote o que você observa como tentativa de vender uma ideia Faça outras observações que considera pertinentes ao tema aqui discutido Resumo Aula 15 Psicologia da Educação 248 Os meios de comunicação e a escola a importância da leitura crítica P ara o pedagogo brasileiro Paulo Freire 2005 a Educação ocorre quando permite ao sujeito transitar de uma consciência ingênua para uma consciência crítica O professor tem papel fundamental nesse processo quando através do diálogo ajuda a desvelar as verdadeiras causas da opressão Como vimos os meios de comunicação de massa podem atuar como veículos de propaganda ideológica portanto o professor tem um papel a desempenhar ajudando os alunos a desenvolverem uma leitura crítica Um dos estudiosos dos meios de comunicação e sua relação com a escola Juan Manoel Moran 1994 relata como é complexo analisar os meios de comunicação uma vez que para a maioria das pessoas eles representam a modernidade a novidade o fascínio o lazer ou seja apresentam uma dimensão positiva e representam um modo de vida desejável Em consequência disso propor uma leitura crítica pode gerar resistência Para ele então é preciso problematizar o que não é visto como problema e desideologizar o que só é visto como ideologia MORAN 1994 p 16 É preciso assim educar para a comunicação porque essa formação ajuda a compreender as novas codificações as sutilezas da imagem da música da articulação entre o verbal o visual o escrito permite entender as articulações comerciais empresariais financeiras e políticas do complexo de comunicação MORAN 1994 p 16 Nesta última aula da nossa disciplina discutimos o papel da mídia na formação das culturas Vimos como as informações podem ser manipuladas para atender os interesses patronais Analisamos o papel da propaganda na manipulação de nossas subjetividades e por último buscamos entender a importância do papel do educador enquanto facilitador de uma leitura crítica dos meios de comunicação 1 2 3 4 5 Aula 15 Psicologia da Educação 249 Autoavaliação Resuma os períodos de evolução da cultura quanto aos meios de comunicação segundo McLuhan Em que pontos Castells avança em relação às ideias de McLuhan O que é persuasão e de que forma ela pode ocorrer Do ponto de vista psicológico como atua a propaganda nas nossas mentes O que é propaganda ideológica Referências BOCK A M FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias São Paulo Saraiva 1999 CASTELLS M O poder da identidade In CASTELLS M A era da informação economia sociedade e cultura São Paulo Paz e Terra 1999 v 2 CHAUÍ Marilena de Souza O que é ideologia São Paulo Abril CulturalBrasiliense 1984 FREIRE P Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2005 LEVY P Cibercultura São Paulo Editora 34 1999 McLUHAN Herbert Marshall A Galáxia de Gutemberg 2 edSão Paulo Companhia Editora Nacional 1977 MORAN J M Educação comunicação e meios de comunicação São Paulo FDE 1994 p 1317 Série Ideias 9 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 250 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 251 Anotações Aula 15 Psicologia da Educação 252 Psicologia da Educação 253 Anotações Psicologia da Educação 254 Anotações 1234 Ãtspan x0 y0 tspantexttext idtext7 fillrgb0 0 0 fontfamilyPrivate fontsize27 fontweight700 stylewebkittaphighlightcolor rgba0 0 0 0tspan x0 y32hej hejtspantext Esta edição foi produzida em setembro de 2014 no Rio Grande do Norte pela Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte SEDISUFRN sobre papel offset 90 gm2 SEDIS Secretaria de Educação a Distância UFRN Campus Universitário Praça Cívica NatalRN CEP 59078970 sedissedisufrnbr wwwsedisufrnbr SEDIS SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB Ministério da Educação GOVERNO FEDERAL BRASIL PAÍS RICO É PAÍS SEM POBREZA Baseandose na visão de Gardner sobre as múltiplas inteligências considerase que o menino apresentado no estudo de caso é inteligente pois a sua capacidade de ensinar e compartilhar conhecimentos sobre tratores e mecânica relacionase à inteligência interpessoal e intrapessoal Além disso o seu desenvolvimento em atividades que envolvam a prática como o auxílio na fazenda demonstra a ação da inteligência naturalista pois mesmo ele possuindo dificuldades acadêmicas tradicionais suas habilidades em outras áreas destacam uma diversidade de inteligências além dos padrões convencionais de sucesso escolar e não acadêmicos ao qual reflete a compreensão mais ampla de inteligência proposta por Gardner