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ÉTICA A NICÔMACOS Aristóteles Editorial Universidade de Brasília ÉTICA A NICÔMACOS Aristóteles ÉTICA A NICÓMACOS Aristóteles Tradução do grego Introdução e Notas de Mário da Gama Kun ffi Editora Universidade de Brasília Este livro ou pane dele nio pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaçio eacrira do Editor Impresso no Bruil Editora Universidade de BruOia Campus Universidrio Asa Norre 70910 BruOia Distrito Federal Copyright 198 by Editora Universidade de Brunia Copyright da introdução e das now by Mirio da Gama Kury 1985 Direitos exclusivos para esra edição Editora Universidade de Brasfiia EQUIPE TÉCNICA EJitDm Maria Riza Baptista Dutra Lécio Reiner SuprrvisM G14fico Elmano RodriJues Pinheiro Ilusrraftio tia capa A Acrópole de Atenas ISBN 852000496 Ficha cawosráfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília A717e Aristóteles Ética a Nic6macos Trad de Mário da Gama Kury Brasflia Editora Universidade de Brunia c1985 238 p Coleçio Biblioteca Clúsica UaB 9 Título oriiaal Ethikon Nikomacheioa 17 t série Introdução Notas à Introdução Sumário Livro I 7 13 Capítulo 1 p 1 7 todas as atividades humanas visam a um bem alguns bens são subordinados a outros 2 p 17 a ciência do bem com vistas ao homem é a Política 3 p 18 não se deve esperar de uma ciência precisão maior do que a admitida pelo assunto de que ela trata o estudioso desta ciência deve ter vivido o bastante para haver adquirido experiência 4 p 18 admitese geralmente que para o homem o bem é a felicidade mas há divergências quanto à natureza desta 5 p 19 discussão do ponto de vista corrente segundo o qual o bem consiste no prazer nas honrarias e na riqueza existe um quarto tipo de vida a vida contemplativa 6 p 20 discussão sobre a existência ou não de uma forma do bem doutrina de Platão 7 p 22 o bem deve ser algo final e autosuficiente definição da felicidade considerando a função própria do homem 8 p 25 esta definição é confirmada pelos conceitos vigentes acerca da felicidade 9 p 27 podese aprender a ser feliz Ou se chega à felicidade pelo hábito Ou ela é proporcionada por alguma divindade ou pela sorte 10 p 28 podese chamar algum homem feliz enquanto ele vive 11 p 30 as vicissitudes dos vivos afetam os mortos 12 p 31 a excelência é louvável mas a felicidade está acima de qualquer louvor 13 p 32 divisão das faculdades do homem e conseqüente divisão da excelência em intelectual e moraF Livro II Capítulo 1 p35 a excelência moral como a proficiência nas artes adquire se pela repetição dos atos conformes a ela 2 p 36 estes atos não podem ser dosados exatamente mas devem evitar o excesso e a falta 3 p 3 7 o prazer na prática de atos conformes à excelência moral é um sinal de que a respectiva disposição foi adquirida vãcias considerações demonstram a conexão da excelên cia moral com o prazer e o sofrimento 4 p 39 as ações conducentes à excelência moral não são boas no mesmo sentido das resultantes dela a excelên cia moral deve preencher certos requisitos não necessários no caso das artes 5 p 40 genericamente a excelência moral é uma disposição da alma e não uma emoção nem uma faculdade 6 p 41 especificamente a excelência moral é uma disposição para escolher o meio termo 7 p43 ilustração desta afirmação pela referência às várias formas de excelência moral 8 p45 os extremos se opõem entre si e ao meio termo 9 p46 o meio termo é difícil de atingir e é descoberto pela percepção e não pela razão 4 Aristóteles Livro III Capítulo 1 p 49 o louvor e a censura se relacionam com as ações voluntárias isto é as ações que não são praticadas sob compulsão e que são praticadas com o conhecimento das circunstâncias respectivas 2 p 52 a excelência moral pressupõe que a ação seja praticada mediante escolha o objeto da escolha é o resultado de uma deliberação prévia 3 p 54 a natureza da deliberação e seu objeto a escolha é o desejo deliberado de coisas ao nosso alcance 4 p 56 o objeto do desejo racional é a finalidade isto é o bem propriamente dito ou bem aparente a cada um 5 p 57 somos responsáveis por nossas más ações tanto quanto pelas boas 6 p 60 a coragem se relaciona com os sentimentos de medo e temeridade 7 p 61 a motivação da coragem é o sentimento de honra característica das formas contrárias de deficiência moral covardia e temeridade 8 p 62 cinco espécies de coragem impropriamente tidas como tais 9 p 65 correlação da coragem com o sofrimento e o prazer 10 p 65 a moderação é limitada a certos prazeres tácteis 11 p 67 características da moderação e de suas formas extremas a concupiscência e a insensibilidade 12 p 68 a concupiscência é mais voluntária que a covardia comparação das pessoas concupiscentes com as crianças mimadas Livro IV Capítulo 1 p 71 a liberalidade 2 p 75 a magnificência 3 p 78 a magnanimidade 4 p 82 a forma de excelência moral entre a ambição e o desprendimento 5 p 83 a jovialidade 6 p 84 a afabilidade 7 p 85 a sinceridade 8 p 87 a espirituosidade 9 p 88 a vergonha Livro V Capítulo 1 p 91 o justo legal justiça em sentido amplo e o justo correto e eqüitativo justiça em sentido restrito exame da primeira acepção 2 p 93 exame da segunda acepção divisão entre justiça distributiva e justiça corretiva 3 p 95 justiça distributiva conforme à proporção geométrica 4 p 97 justiça corretiva conforme a progressão aritmética 5 p 99 justiça em troca recriprocidade 6 p 102 justiça política e espécies análogas de justiça 7 p 103 justiça natural e justiça legal 8 p 104 escala dos graus de injustiça 9 p 106 podese tratar alguém voluntariamente de modo injusto A culpa por injustiça na distribuição cabe a quem distribui ou a quem recebe A prática da justiça não é tão fácil quanto parece porque não se trata de uma maneira de agir mas de uma disposição íntima 10 p 109 eqüidade um corretivo da justiça legal 11 p 110 pode uma pessoa ser injusta consigo mesma Livro VI Capítulo 1 p 113 razões para o estudo da excelência intelectual divisão do Ética a N icômacos 5 intelecto em contemplativo e calculativo 2 p 114 o objeto do primeiro é a verdade e do segundo é a verdade correspondente ao desejo certo 3 a 7 p 11 5 formas principais de excelência intelectual a ciência conhecimento denons uativo do necessário e do eterno b arte conhecimento da maneira de fazer as coisas c discernimento conhecimento da maneira de atingir as finalidades da vida humana d inteligência conhecimento dos princípios dos quais provêm a ciência e sabedoria filosófica união da inteligência e da ciência 8 p 119 relações entre o discernimento e a ciência política 9 a 11 p 121 formas secundârias de excelência intelectual relacionadas com a conduta a excelência na deliberação e sua relação com odiscernimento b entendimento a qualidade crítica correspondente ao discerqmento qualidade imperativa c julgamento percepção correta do eqüitativo lugar da intuição na ética 12 p 124 diferença entre o uso do conhecimento filosófico e do discernimento o conhecimento filosófico é a causa formal da felicidade o discernimento é a faculdadt que assegura a adoção dos meios próprios para chegar aos fins desejados pela excelência moral 13 p 126 o discernimento em suas relações com a excehncia natural com a excelência moral e com a reta razão Livro VII Capítulo 1 p 129 seis tipos de caráter método de abordagem opiniões correntes 2 p 130 contradições inerentes a estas opiniões 3 p 132 resposta à pergunta como o conhecimento do homem incontido é prejudicado i p 13 5 resposta à pergunta onde se manifesta a incontinência Distinção en êre o sentido estrito e o sentido amplo de incontinência 5 p 13 7 incontinênci 1 em sentido amplo inclui uma forma irracional e mórbida 6 p 138 a incontincncia em relação à cólera é menos aviltante que a incontinência propriamente dita 7 p 140 lassidão e resistência duas formas de incontinência apatia e impetuosicade 8 p 142 concupiscência pior que incontinência 9 p 143 correlação t ntre continência e obstinação incontinência insensibilidade moderação 10 p 45 o discernimento não é compatível com a incontinência mas o talento é 1 l p 146 três pontos de vista hosti ao prazer e argumentos a favor dos mesmos 12 p 146 o prazer é ou não é um bem 13 p 148 o prazer é ou não é o em supremo 14 p 149 discussão do ponco de vista de que os prazeres err sua maioria são maus e da tendência para identificar os prazeres do corpo cem o prazer em geral Livro VIII Capítulo 1 p 153 a amizade é ao mesmo tempo necessária e nobilitante principais dúvidas a este respeito 2 p 154 três objetos de amor conotações da amizade 3 p 155 três espécies correspondentes de amizade superioridade da amizade motivada pelo bem 4 p 15 7 contraste entre a espécie inferior e a superior de amizade 5 p 158 a disposição para a amizade é distinta da atividade 6 Aristóteles da amizade e do afeto 6 p 159 diferentes relações enue as uês espécies 7 p 161 deve haver uma proporcionalidade nu amizades desiguais 8 p 162 amar é mais condizente com a essência da amizade do que ser amado 9 p 163 paralelismo enue a amizade e a justiça a cidade abrange todas as comunidades menores 10 p 164 classificação das constituições analogias com as relações familiares 11 p 166 formas correspondentes de amizade e de justiça 12 p 167 várias formas de amizade segundo os tipos de relacionamento 13 p 169 princípios a ser observados na amizade enue pessoas iguais 14 p 171 princípios a ser observados na amizade entre pessoas desiguais Livro IX Capítulo 1 p 17 3 princípios a ser observados quando as motivações das duas partes numa relação de amizade são diferentes 2 p 1 75 conflitos de obrigações 3 p 176 rompimento da amizade 4 p 177 a amizade é baseada no amor próprio 5 p 179 relação entre amizade e afeição 6 p 180 relação entre amizade e concórdia 7 p 181 o prazer da beneficência 8 p 183 natureza do verdadeiro amor próprio 9 p 185 por que o homem feliz necessita de amigos 10 p 187 o limite do número de amigos 11 p 189 os amigos são mais necessários nos bons ou nos maus momentos 12 p 190 a essência da amizade é a convivência Livro X Capítulo 1 p 191 dois pontos de vista opostos acerca do prazer 2 p 192 discussão do pontos de vista de que o prazer é o Bem 3 p 193 discussão do ponto de vista de que o prazer é totalmente mau 4 p 195 definição do prazer 5 p 197 os prazeres diferem segundo as atividades que lhes são inerentes critério de avaliação dos prazeres 6 p 200 a felicidade não o enuetenimento é a melhor atividade 7 p 201 A felicidade no sentido mais elevado é a vida contemplativa 8 p 203 novas considerações sobre a vida contemplativa 9 p 206 as leis são necessárias para que o homem atinja a sua finalidade transição para a Política Notas 213 Índice Geral 227 Introdução 1 O autor Aristóteles nasceu em Stágiros posteriormeme Stágira atualmeme Stavra na Calcídice território macedônio em 384 aC e morreu em Cálcis atual Evripo na Eubéia em 322 Seu pai era Nicômacos da confraria dos asclepíadas médico e amigo de Amintas 11 rei da Macedônia É provável que Aristóteles tenha vivido parte de sua infância em Pela sede da corte dos reis macedônios e que tenha herdado de seu pai o interesse pelas ciências naturais constante em sua obra Aos dezoito anos ele ingressou na escola de Platão em Atenas e nela permaneceu até 348347 b época da morte do mestre primeiro como aluno e depois como colaborador de certo modo independente Desgostoso com a escolha de Spêusipos representante de uma tendência do platonismo que lhe repugnava a transformação da filosofia em matemática Aristóteles deixou a Academia Juntamente com Xenôcrates outro filósofo platônico descontente ele aceitou o convite de um colega na Academia Hermias futuro governante de Atarneus e Assos na Mísia Ásia Menor que reuniu em torno de si um pequeno círculo platônico Aristóteles permaneceu em Assas até a morte de Hermias em 345 aC e lá contraiu matrimônio com Pítias sobrinha de Hermias De Assas ele foi para Mitilene na ilha de Lesbos talvez por influência de Teôfrastos seu discípulo colaborador e sucessor natural de Éresos na mesma ilha Em 343342 Filipe então rei da Macedônia convidouo a voltar a Pela para ser professor de seu filho Alexandre durante esse período Aristóteles compôs para Alexandre duas obras que se perderam chamadas Or Colonos e Sobre a Monarquia tudo indica que suas aulas a Alexandre a respeito de política foram a origem de seu interesse pelo assunto Suas relações com Alexandre terminaram quando este foi alçado à regência do império em 340 aos dezenove anos de idade naquela ocasião Aristóteles provavelmente voltou a Stágiros Em 335 pouco depois da morte de Filipe Aristóteles regressou a Atenas os arredores da cidade presumivelmente entre o monte Iicábetos e o rio Ilissos onde havia um pequeno bosque consawado a Apolo Lício e às Musas Aristóteles se instalou em alguns prédios existentes no local e fundou sua escola 8 Aristóteles entre os prédios havia uma colunata coberta periptfs origem do nome da escola Lá ele constituiu uma coleção de manuscritos protótipo de todas as bibliotecas da Antiguidade e também de mapas além de um museu com objetos para ilustrar suas aulas especialmente de zoologia consta que Alexandre teria contribuído com uma elevada soma para a coleção Aristóteles estabeleceu normas para a sua comunidade inclusive refeições em comum e um seminário mensal Uma de suas realizações mais importantes foi a organização de pesquisas em grande escala das quais o levantamento de 158 constituições de cidades estados helênicas foi um exemplo Sob sua orientação Teôfrastos realizou pesquisas botânicas e Aristôxenos pesquisas musicais além disto o primeiro compilou histórias básicas do pensamento helênico anterior englobando a física a psicologia e a cosmologia Eudemos fez o mesmo em relação à matemática à astronomia e à teologia e Mênon em relação à medicina Durante sua segunda estada em Atenas morreu Pítias sua primeira mulher e Aristóteles passou a viver com Herpílis da qual teve um filho chamado Nicôma cos a quem teria dedicado uma de suas Éficas Após a morte de Alexandre em 32 recrudesceram em Atenas os sentimentos antimacedônios e uma acusação de impiedade foi levantada contra Aristóteles este alegando querer evitar que os atenienses pecassem duas vezes contra a filosofia referindose ao processo do qual resultou a morte de Sócrates deixou a escola entregue a Teôfrastos e retirouse para Cálcis onde morreu A principal fonte para a biografia de Aristóteles é o livro V das Vidas dos Fil6sofos de Diôgenes Laêrtios que viveu na metade do século III d C mas usou fontes muito mais antigas hcje perdidas 2 O corpus aristotilico De acordo com o catálogo constante do livro V das Vitls dos Fil6sofos de Diôgenes Laêrtios Aristóteles teria escrito cerca de quatrocentas obras das quais rstam quarenta e sete entre as certamente autênticas as provavelmente autênti cas as de autenticidade duvidosa e as espúrias além de fragmentos das obras perdidas Destas quarenta e sete somente uma pertence à classe das chamadas exotéricas ou seja obras de divulgação para a gente de fora da escola portanto o público tratase da Constituifio dos Atmienses descoberta no fim do século passado as demais se incluem na classe das obras esotéricas ou acroamáticas isto é destinadas ao estudo dentro da escola e subdivididas em notas de aula e em obras realmente científicas O estilo das obras exotéricas é ou era mais cuidado e muitas delas tinham a forma de diálogos à maneira platônica a elas se aplicam os elogios de Cícero e Quintiliano respectivamente nas AcJimictiS 2 38 119 e nas lnstituifõu Chtt6ritiS X 1 83 Enue as obras esotéricas chepdas até nós são geralmente consideradas autênticas as seguintes Primeiros Antliticos S8ftuioS Antlticos T6picos Rtutllfõu Sosticlll Fsict Do Clu D11 Glrtlflio 1 ti Dlttnrposi fio M1teorológicos D11 AlfPIII os opúsculos seguintes entre as chamadas P1qunuu Ohrts solm CilncitiS Nthlrtis Do Smtido 1 tltu CoistiS Smswis D11 Mm4rit 1 u Ética a N icômacos 9 Rnniniscincit Do Sono Dos Sonhos Dt AàivinbtfO pelo Sono Dt Longevidtde e ti Breviddt ti VULa Dt juvmtudt e ti Velhire Dt Vid e Ú Morte e Da Respirafão Histórit dos Ani1n11is os livros VII parte do VIII e IX seriam espúrios Dts Parlls tks Ani1n11is Da March tks Animtis Da Gertfio dos Animtis Metafísica Étict Nicô1n11cos Polítict Ret6rict e Poltict incompleta São tidas como prova velmente autênticas as seguintes Dt InterprettÇio Do Movimento dos Animais Ética a Êudnnos presumivelmente anterior à Ética a Nicômacos São de autenticidade duvidosa as Categorias e a Ética Mtior São consideradas espúrias Do Mundo Do Espírito Dts Cores Das Coisas Ouviús Fisiognômicos Das Plantas Das Coisas Maravilhosas que se Ouvem Problem4s Mecânicos Problemas Das Linhas Indivisíveis Da Situafão tks Ventos Sobre Melissos Xenofanes e G6rgias Das Virtudes e dos Vícios Da Economia e Ret6rica a Aúxatulre Os numerosos fragmentos 680 das obras perdidas constam da coletânea de V Rose Aristottlis qui Ferebantur Librorum Fragmenta Leipzig 1886 que contém ainda duas Vidas do filósofo 3 As obras de Aristóteles Dedicadas à Ética Sem contar o opúsculo Das Virtudes e dos Vícios cuja autenticidade é geralmente contstada chegaram até nós sob o nome d Aristóteles como já vimos acima a Etica a Nicômacos a Etica a Eudemos e a Etica Maior ou Magna Moralia que apesar do títul é a menor das três 32 páÍnas d edição de BeKker em comparação com 91 da Etica a Nicômacos e 62 da Etica a Eudemos inclusive os três livros iguais aos livros V VI e VII da Ética a Nicômacos Os estudiosos da obra de Aristóteles em geral e das obras morai em particular gastaram e continuam a gastar muita erudição e tinta na tentativa de estabelecer uma cronologia definitiva para as três Éticas e de definirlhes a fidelidade à doutrina do estagirita bem como na discussão da autenticidade da Ética a Êudemos e da Ética Maior a Ética a Nicômacos é geralmente considerada autêntica Convém esclarecer preliminarmente que a exemplo da Política as bras aristotélicas relativas à ética se incluem na classe das esotéricasd isto é das bras para uso interno na escola do estagirita Além disto tanto quanto a Polítio ou ainda mais a Ética a Nicômacos e a Ética a Êudemos têm todas as caracterísrios de noras de aula ou apostilas preparadas pelos discípulos com base nas exposições do mestre para uso na escola ou para preservarlhe os ensinamentos Esta particularidade se reflete na própria designação das obras a Ética a NicômacoJ teria so a eição das notas de aula do filho de AristóAteles que tinha este nome e a EtJCa a Eudemos seria a edição das notas de aula de Euciemos também discípulo do estagirita e que segundo Alêxandros de Afrodísias comentador de Arístoteles que viveu no início do século III d C teria editado também as notas de auht que vieram a constituir a atual Metafísica A Ética Maior que quanto à sua doutrina poderia situarse cronologicamente lO Aristóteles entre a Ética a Êudemos geralmente considerada a versão mais antiga e mais próxima do ensinamento de Platão da doutrina moral de Aristóteles e a Ética a Nicômacos tida embora não unanimemente como a versão mais amadurecida e representativa do pensamento aristotélico seria segundo alguns estudiosos uma compilação em escala enor pr um peripatético da geração seuinte baseada principalmente na Etica a Eudemos e subsidiariamente na Etica a Nicômam O fato de a tradu5ão literal do título IFego das duas obras morais principais ser respectivamente Etica de Eudemos e Etica de Nicômacos contraria de certo modo a suposição de que estas obras poderiam ter sido compostas pelo próprio Aristóteles e dedicadas a dois discípulos um dos quais aliás era também filho do filósofo devese acrescentar a propósito que Nicômacos teria morrido em combate ainda muito jovem circunstância que diminui a plausibilidade da hipótese de ele ter sido o editor da versão mais amadurecida e representativa do pensamento do estagirita no campo da ética Outra circunstância digna de menção que tem excitado consideravelmente e posto à prova a engenhosidade de muitos estudiosos do assunto é que alguns manuscritos contêm uma nota no fim livro 111 da Ética a Êudtmos correpon dente ao livro IV da Ética a Nic6trtcos informando que os três livros seguintes da primeira são idênticos aos livro V VI e VII da segunda e por isto os omitem passando ao que chamam de livro VII da Ética a 1fllkmos Embora a maioria do estudiosos dê à Etica a Nicômacos o primado entre as três considerandoa a mais completa e representativa as discussões entre os doutos continuam Ainda recentemente numa tese em cujo preparo foi usado até o computador para fins de estilometria o autor da mesma opina pela maior representatividade da Ética a Êudemos Anthony Kenny Tht Aristotelian Etbics a Study on tbt Rtlationsbip btlwttn tbe Eudtmian and tht Nicomachean Etbics of Aristotk Oxford 1978 Mas estas discussões apesar de seu interesse não alteram substancialmente a validade das razões que levam a maioria dos estudiosos a optar pela outorga à Ética a Nicômacos do título de obra moral por excelência de Aristóteles 4 A Ética a Nicômacos Apesar de os primeiros quatro livros da Ética a Nicômacos apresentarem uma seqüência de ro modo lógica o plano geral da obra é um tanto confuso No livro I Aristóteks tenta determinar quais as coisas que são boas para o homem inclusive qual o bem supremo ou simplesmente o Bem e o livro termina com uma divisão das faculdades humanas em uma faculdade que elabora planos e ouua que trata de sua realização esta conclusão leva naturalmente à divisão da excelência humana em intelectual e moral Ética a N icômacos li Os livros 11 I li e IV tratam das várias formas de excelência moral a partir do capítulo 1 do livo 11 até o capítulo 5 do livro III temos um exame global da excelência moral e o restante do livro III e todo o livro IV contêm a discussão das várias formas de excelência moral Os livros V VI e VIl de acordo com parte da tradição manuscrita são comuns à Ética a Êutkmos e à Ética a Nicômacos esta circunstância pode significar que embora as duas obras representem respectivamente uma série de notas de aula mais antiga e outra mais nova esta parte da doutrina moral de Aristóteles permaneceu inalterada No livro V é examinada a justiça uma das duas formas fundamentais de excelência moral não discutidas nos livros II III e IV No livro VI são examinadas de maneira perfunctória as várias formas de excelência intelectual Os capítulos 1 a 10 do livro VII contêm o exame de duas disposições morais situadas entre a excelência moral e a deficiência moral a continência e a incontinência os capítulos restantes do mesmo livro apresentam um exame do prazer Os livros VIII e IX nos quais é examinada a amizade destoam pelo tratamento exaustivo do assunto do resto da obra este grau de detalhamento parece claramente deslocado no contexto da obra não sendo aparentemente essencial em um tratado geral de ética O livro X sobre a felicidade conclui adequadamente a obra apesar de os capítulos 1 a 5 constituírem uma repetição dos capítulos 11 a 14 do livro VII embora com algumas inovações sob certos aspectos seus parágrafos finais são um roteiro e uma transição para a Política Com efeito para Aristóteles a ética é parte da ciência política e lhe serve de introduçãoi O objetivo da ética seria então determinar qual é o bem supremo para as criaturas humanas a felicidade e qual é a finalidade da vida humana fruir esta felicidade da maneira mais elevada a contemplação este é o conteúdo da Ética a Nicômacos em linhas muito gerais Depois de determinados estes dois pontos haveria que investigar qual a melhor maneira de proporcionar às criaturas humanas este bem supremo e assegurarlhe a fruição Já que o homem como diz Aristóteles é um animal social e a felicidade de cada criatura humana pressupõe por isto a felicidade de sua família de seus amigos e de seus concidadãos a maneira de assegurar a felicidade das criaturas humanas é proporcionar um bom governo à sua cidade no sentido grego de cidadeestado há que determinar então qual é a melhor forma de governo e este é o assunto da Política A Ética a Nic6macos difere profundamente de um livro moderno de filosofia se considerarmos o arranjo geral de seu conteúdo notase repetidas vezes a sua condição de coleção de notas de aula elaborada com mais ou menos cuidado muito diferente portanto de um livro moderno em termos de unidade e coerência O bem supremo ou a felicidade por exemplo é objeto de discussões 12 Aristóteles separadas nos livros I e X o primeiro e o último da obra Há também a anomalia de dois livros inteiros VIII e IX consagrados como já dissemos à amizade enquanto a excelência intelecrual é tratada de maneira a bem dizer descuidada no livro VI um dos mais curtos da obra Estas e outras incongruências somadas a uma redação solta ti pica de notaSde aula levaram alguns autores modernos a expressar uma opinião extremamente desfavorável a Aristóteles Bercrand Russell por exemplo achava a Ética a Nic6macos repulsiva segundo W K C Guthrie no volume VI de sua monumental History of Greek Pbilosopby página 335 Cambridge 1981 Tratase porém de opiniões exacerbadas e isoladas uma leitura atenta da obra levará certamente a uma opinião alwnente favorável ao seu autor na qualidade de criador da ética como ciência e até os nossos dias um de seus representantes mais ilustres e à própria obra o primeiro tratamento sistemático do assunto e até hoje um dos mais atuais Afinal de contas após a leitura da Ética a Nicômacos vemos que as criaturas humanas pouco ou nada mudaram desde a época em que viveu Aristóteles um de seus observadores mais profundos e geniais não é de admirar portanto que esta obra conserve praticamente o mesmo valor após o decurso de mais de dois milênios principalmente se tivermos em mente a descrição que o próprio autor faz de seu método de investigação relativo às ciências práticas em geral e especialmente à ética A opinião dos sábios parece então harmonizarse com os nossos argumentos Mas apesar de tais afirmações serem de certo modo convincentes a verdade em assunÍos de ordem prática é percebida através dos fatos da vida pois eles são a prova decisiva Devemos então examinar o que já dissemos submetendo nossas conclusões à prova dos fatos da vida se elas se harmonizarem com os fatos devemos aceitálas mas se colidirem com eles devemos imaginar que elas são meras teorias 11 79 a 17 e seguintes 5 A tradução Uma das principais dificuldades na tradução da Ética a Nicômacos é encontrar equivalentes satisfatórios para certos termos do original Em alguns casos a palavra tradicionalmente usada em português como equivalente se desgastou com o passar do tempo e seu significado adquiriu tal ambigüidade que seu uso induziria o leitor em equívoco Isto ocorre por exemplo com artté geralmente traduzida por virtude preferimos usar excelência moral em vez de virtude pura e simples e exéelência intelectual em vez de virtude intelectual Acontece o mesmo com kakia traduzir este termo por vício como se faz tradicionalmente seria no mínimo desorientador e por isto demos preferência a deficiência moral Outras palavras cuja tradução perfeita por um equivalente único em português seria difícil senão impossível são sopbrosyne que traduzimos por moderação e não temperança e pbr6nesis que traduzimos por discerni mento em vez de prudência Em expressões como isotes iai homoiotes cuja Ética a Nicômacos 13 tradução por igualdade e semelhança pode parecer pleonástica convém ter em vista que igualdade deve ser entendida no sentido de igualdade política e semelhança é equipolência em termos de excelência moral ou intelectual Quanto a felicidade que usamos por falta de equivalente melhor para traduzir eudaimonia devese considerar que a ralavra grega significa com maior exatidão o gênero de vida mais desejável no sentido de uma escolha racional e satisfatório e não uma simples disposição de espírito ou gozo ou contentamento Quanto ao critério de tradução em geral diante da complexidade do original a tentação de parafasear é ainda maior que na Política Resistimos na medida do possível à tentação dentro do mesmo princípio de fidelidade adotado em nossas traduções anteriores no capítulo 5 da introdução à nossa tradução da Política expusemos com maior amplitude as dificuldades com que se depara o tradutor de Aristóteles que opta pelo respeito ao original embora esta opção torne ainda mais árdua a sua tarefa Em alguns trechos onde a concisão ou a obscuridade ou a corrupção do texto poderia levar a uma tradução ambígua dentro do princípio da fidelidade máxima ao original damos em nota uma versão parafraseada ou uma explicação adicional para evitar eventuais malentendidos Para os nomes próprios em geral adoramos o critério da transliteração do original salvo nos casos de formas absolutamente consagradas em português como Homero em vez de Hômeros no caso de personagens históricos como Alexandre o Grande e Filipe o pai de Alexandre adotamos a forma tradicional mas quando se trata de homônimos sem conotações históricas lsamos a transliteração Alêxandros por exemplo Neste ponto as incoerências são inevitáveis mas a transliteração parece perfeitamente defensável pois é mais compatível cm o princípio da fidelidade ao original O texto adotado para a tradução foi basicamente o da edição de Imtnanuel Bekker das obras completas de Aristótdes para a Real Academia da lrússia Berlin 1831 cuja paginação reproduzimos à margem de nossa tradução por ser usada como referência em quase todas as obras posteriores relativas ao nosso autor As remissões nesta introdução nas noras e no índice geral às linhas das colunas a e b das páginas da edição de Bekker são aperas aproximadas pois é praticamente impossível a correspondência exaa entre as linhas do original e as da tradução conseqüentemente a remissão por exemplo a 11 79 a 17 na introdução nas notas ou no índice corresponde aproximadamente e não precisamente à linha 17 da indicação de referência 1179 a página e colna de edição de Bekker à margem das páginas da tradução Rio março de 1983 Montesquieu Considerações sobre as causas da grandeza e decadência dos romanos For the heirs of Dante A Bilingual edition edited by J H Whitfield Notas à Introdução a Este capítulo e o seguinte reproduzem os capírulos 1 e 2 da introdução i nossa tradução da PolítictJ de Aristóteles publicada recentemente por esta editora b É possível que Aristóteles antes de inaressar na escola de Platlo haja freqüentado a de lsócrates que depois de Homero é o autor mais citado nas obras do estaairita c Para facilitar a composiçlo tipogrifica as palavras areps slo rransliteradas em caracteres latinos dl Vejase a introdução à nossa traduçlo da PotictJ e Henry jackson com base em dados colhidos nas próprias obras de Aristóteles por exemplo no diaarama referido implicitamente na Étic NicScos 1131 b 5 1 132 a 25 e seauintes escreveu um artigo no número 70 do ollmtJI of Pbilolw 1920 reconstruindo a sala de aula onde Aristóteles dava as suas lições com seus móveis e equipamentos didático e até com bustos de filósofos e quadros nela existentes f A referncia à mone prematura de Nicômacos aparece na PrrptJrtJfio Engllic de Eusêbios de Cesaréia 260340 dC cuja fonte é Arístocles filóscifo peripatético do século 11 dC Merece mençlo iaualmente o fato de o pai de Aristóteles também terse chamado Nicômacos o primeiro Nicômacos poderia ter sido pelas mesmas razões o destinadrio da dedicatória do estagirita J O leitor desejoso de aprofundarse nestas filiaramas poderá consultar além da obra acima citada de Kenny a mais antip de Werner Jaeger Ariir411ks rlim 1923 tradução inglesa London 2 edição 1948 h Por exemplo em 1179 a 33 e seguintes ou seja quase no fim do livro X e ponanto da obra Aristóteles se refere ao tratamento que dera em linhas gerais aos vários assuntos que constituem a Ética a Nic8tlwcos i Cincia política no sentido mais amplo incluindo além da ética a sociologia a economia política e a política propriamente dita j Vejase a Étic a Nicômacos 1094 b 11 1181 b 13 e seguintes penúltimo parligrafo da obra onde Aristóteles chama o conjunto éticapolítica cincia polltica no sentido amplo de filosofia das coisas humanas além da Ética Maior 1185 b 2728 A propósito na Ética a ÉuJnnos nlo aparece explicitamente qualquer menção à afirmaçlo de Aristóteles nas outras Éticas de que a ética é parte da ciência política no sentido amplo esta circunstlncia parece favorecer a tese de que a Ética a Nic6macos é a venão mais elaborada e cCimpleu da doutrina moral de Aristóteles e deve ser mesmo uma de suas últimas obras escrita provavelmente nos anos finais de sua derradeira estada em Atenas k 1097 b 1112 vejase também a PoltictJ 12B a 2 2533 1278 b 19 a uaduçlo animal social é mais abranseote e menos equívoca que animal político e corresponde melhor ao espírito do original l Chegouse até a imqinar que estes livros teriam sido originariamenre uma obra separada sobre a amiude incluída desajeitadamente na Érica Nicômcos Georges Rodier em sua introdução ao livro X reproduzida nos Éttuks tk Pbilosopbit Gmqut lembra os tfrulos de duas obras exotéricas perdidas de Aristóteles constantes do catilogo eral dos escritos do esragirita conservado nas ViàtJs àos Fil6sofos de Diôaenes Ldrtios Sohrt a Aiuàt e Tms RtZtias Aiuàt que poderiam ter sido a versão original dos livros VIII e IX m Os próprios comenradores aretJPI da Ética a NicStos na AntigÜidade se sentiram na obrigação de parafraseála para tornála mais clara Andrônicos de Rodes seaunda metade do século l a C publicou uma pariirase desta obra mais lonaa que o original 16 Aristótele 1 Cheaouse atl a imaainar que estes livros teriam sido oriaioariamente uma obra separada sobre a amiude incluída desajeitadamente na Étic Nu6fut01 GeorBeS llodier em sua inuoduçio ao livro X reproduzida nos Éwús tk Pbiúsopbit Gncqat lembra os óculos de duas obras exoricas perdidas de Aristóteles constantes do catáloao 8tfl dos escritos do estBirita conservado nas ViJs Jos Fil6soos de Diôaenes Idrtios Solm Aiutk e Ttsts Rtltirs A111izM que poderiam ter sido a venio oriainal dos livros VIII e IX m Os próprios comentadores sreaos da Éric Nic61 cos na Anrisüidade se sentiram na obripçio de panfrasdla para tomála mais clara Andrônicos de Rodes segunda metade dd slculo I L C publicou urna paráfrase desta obra mais lonp que o original LIVRO I 1094 a 1 Toda arte e roda indagação assim como roda ação e todo prorósito visam a algum bem por isto foi diro acertadamente l que o bem é aquilo a que todas as coisas visam Mas notase uma certa diversidade ec re as finalidades algumas são atividades outras são produtos distintos das atividades de que resultam 4 onde há finalidade distintas das ações os produtos são por natureza melhores que as atividades Mas como há muitas atividades anes e ciências suas finalidades também são moitas a finalidade da medicina é a saúde a da construção naval é a nau a da estratégia é a vitória a da economia é a riqueza Onde porém cais attes se subordinam a uma única aptidão por exemplo da mesma forma que a produção de rédeas e outras artes relativas a acessórios para a montaria se subordinam à estratégia de maneira idêntica umas artes se subordinam sucessivamente a outras as finalidades das artes principais devetn ter precedência sobre todas as finalidades subordinadas com efeito é por causa daquelas que estas são perseguidas Não haverá diferença alguma no caso de as próprias atividades serem as finalidades das ações ou serem algo distinto delas como ocorre com as artes e ciências mencionadas 2 Se há então para as ações que praticamos alguma finalidade que desejamos por si mesma sendo tudo mais desejado por causa dela e se não escolhemos rudo por causa de algo mais se fosse assim o processo prosseguiria até o infinito de tal forma que nosso desejo seria vazio e vão evidentemente tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens Não terá então uma grande influência sobre a vida o conhecimento deste bem Não deveremos como archeiros que visam a um alvo ter meiores probabilidades de atingir assim o que nos é mais conveniente Sendo assim cumprenos tentar determinar mesmo sumariamente o que I este bem e de que ciências ou atividades ele é o objeto Aparentemente ele é o objeto da ciência mais imperativa e predominante sobre tudo Parece que ela é a ciência poücica pois esta determina quais são as demais ciências que 18 Aristóteles devem ser estudadas em uma cidade e quais são os cidadãos que devem I 094 b aprendêlas e até que ponto e vemos que mesmo as atividades tidas na mais alta estima se incluem entre tais ciências como por exemplo a estratégia a economia e a retórica Uma vez que a ciência política usa as ciências restantes e mais ainda legisla sobre o que devemos fazer e sobre aquilo de que devemos absternos a finalidade desta ciência inclui necessariamente a finalidade das outras e então esta finalidade deve ser o bem do homem Ainda que a finalidade seja a mesma para um homem isoladamente e para uma cidade a finalidade da cidade parece de qualquer modo algo maior e mais completo seja para a atingirmos seja para a perseguirmos embora seja desejável atingir a finalidade apenas para um único homem é mais nobilitante e mais divino atingila para uma nação ou para as cidades Sendo este o objetivo de nossa investigação tal investigação é de certo modo o estudo da ciência política 3 Nessa discussão será adequada se tiver a clareza compatível com o assunto pois não se pode aspirar à mesma precisão em todas as discussões da mesma forma que não se pode atingila em todas as profissões As ações boas e justas que a ciência política investiga parecem muito variadas e vagas a ponto de se poder considerar a sua existência apenas convencio nal e não natural Os bens parecem igualmente vagos pois para muitas pessoas eles podem ser até prejudiciais com efeito algumas pessoas no passado foram levadas à perdição por sua riqueza e outras por sua coragem Falando de tais assuntos e partindo de tais premissas devemos contentarnos então com a apresentação da verdade sob forma rudimen tar e sumária quando falamos de coisas que são verdadeiras apenas em linhas gerais partindo de premissas do mesmo gênero não devemos aspirar a conclusões mais precisas Cada tipo de afirmação portanto deve ser aceito dentro dos mesmos pressupostos os homens instruídos se caracterizam por buscar a precisão em cada classe de coisas somente até onde a natureza do assunto permite da mesma forma que é insensato aceitar raciocínios apenas prováveis de um matemático e exigir de um orador demonstrações rigorosas Cada homem julga corretamente os assuntos que conhece e é um bom juiz de tais assuntos Assim o homem instruído a respeito de um 1095 a assunto é um bom juiz em relação ao mesmo e o homem que recebeu uma instrução global é um bom juiz em geral Conseqüentemente um homem ainda jovem não é a pessoa própria para ouvir aulas de ciência política pois ele é inexperiente quanto aos fatos da vida e as discussões referentes à ciência política partem destes fatos e giram em torno deles além disto como os jovens tendem a deixarse levar por suas paixões seus estudos serão vãos e sem proveito já que o fim almejado não é conhecimento mas ação Não fará qualquer diferença o fato de a pessoa ser jovem na idade ou no caráter a deficiência não é uma questão de tempo mas depende da vida 1095 b Ética a Nicômacos 19 que a pessoa leva e da circwutincia de ela deixarse levar pelas paixões perseguindo cada objetivo que se lhe apresenta Para tais pessoas o conhecimento nio é proveitoso tal como acontece com as pessoas incontinentes mas para quem deseja age segundo a razão o conhecimen to de tais assuntos é altamente útil Estas observações a respeito das pessoas que devem estudar tais assuntos do espírito com que nossas conclusões devem ser recebidas e do objetivo da investigação devem ser suficiente à guisa de introdução 4 Retomando nossa investigação e diante do fato de todo conhecimento e todo propósito visarem a algum bem falemos daquil que consideramos a finalidade da ciência política e do mais alto de todos os bens a que pode levar a ação Em palavras o acordo quanto a este ponto é quase geral tanto a maioria dos homens quanto as pessoas mais qualificadas dizem que este bem supremo é a felicidade e consideram que viver bem e ir bem equivale a ser feliz quanto ao que é realmente a felicidade há divergências e a maioria das pessoas não sustenta opinião idêntica à dos sábios A maioria pensa que se trata de algo simples e óbvio como o prazer a riqueza ou as honrarias mas até as pessoas componentes da maioria divergem entre si e muitas vezes a mesma pessoa identifica o bem com coisas diferentes dependendo das circunstâncias com a saúde quando ela está doente e com a riqueza quando empobrece cônscias porém de sua ignorância elas admiram aqueles que propõem alguma coisa grandiosa e acima de sua compreensão Há quem pense 6 que além destes muitos bens há um outro bom por si mesmo e que também é a causa de todos os outros Seria talvez infrutífero de certo modo examinar todas as opiniões sustentadas a este respeito bastará examinar as mais difundidas ou as aparentemente mais razoáveis Mas não deixemos passar despercebida a diferença entre os argumen tos que partem dos primeiros princípios e os que levam a eles Platão com efeito também tinha razão ao levantar esta questão quando perguntava se estamos no caminho que vem dos primeiros princípios ou no que leva a eles Aqui há uma diferença tão nítida quanto a que existe num estádio de corridas entre o percurso que vai do ponto em que ficam os juízes até o lugar de retorno num sentido e o percurso de volta no outro sentido De fato devemos começar com o que é evidente mas as coisas são evidentes em duas acepções algumas o são relativamente a nós outras o são absolutamente É plausível então que devemos começar pelas coisas evidentes para nós Por isto quem quiser ouvir proveitosamente exposi ções acerca do nobilitante e do justo e sobre a ciência política em geral deveráter adquirido bons hábitos em sua formação O princípio é o que é e se isto for suficientemente claro para o ouvinte ele não necessitará também do por que i e quem foi bem educado já conhece ou pode vir a 20 1096 a Aristóteles conhecer facilmente o princípio Os que não o conhecem nem podem vir a conhecêlo devem ouvir as palavras de Hesíodos 1 Melhor e muito é quem conhece tudo só é bom quem ouve dos que sabem quem não sabe por si nem abre o coração l sapincia alheia este é um homem totalmente inútil 5 Mas retomemos nossa discussão a partir do ponto em que iniciamos esta diressão Se formos julgar pela vida dos homens estes em sua maioria e os mais vulgares entre eles parecem não sem aJsum fundamento identificar o bem ou a felicidade com o prazer É por isto que eles apreciam a vida agradável Podemos dizer com efeito que existem três tipos principais de vida o que acabamos de mencionar o tipo de vida poütica e o terceiro é a vida contemplativa 0 A humanidade em massa se assemelha totalmente aos escravos preferindo uma vida comparável à dos animais mas ela vai buscar algumas razões em apoio ao seu ponto de vista no fato de muitos homens alçados a elevadas funções de governo compar tilharem dos gostos de Sardanapalos 11 Um exame dos tipos principais de vida demonstra que as pessoas mais qualificadas e atuantes identificam a felicidade com as honrarias pois podese dizer que estas são o objetivo da vida poütica Mas isto parece muito superficial para ser o que etamos procurando pois se considera que as honrarias dependem mais daqueles que as concedem que daqueles que as recebem ao passo que inruímos que o bem é algo pertencente ao seu possuidor e que não lhe pode ser facilmente tirado Ademais os homens parecem perseguir as honrarias com vistas ao reconhecimento de seus méritos ao menos eles procuram ser honrados por pessoas de discernimento e entre aquelas que os conhecem e com fundamento em sua própria excelência De acordo com eles então de qualquer modo a excelência é obviamente melhor Talvez se possa até supor que ela é mais do que as honrarias o objetivo da vida poütica mas mesmo isto ainda parece incompleto até certo ponto Realmente podese possuir a excelência enquanto se dorme ou sem pôla em prática durante toda a vida e um homem excelente também está sujeito à maior miséria e infortúnio embora um homem que viva nestas condições não possa ser qualificado de feliz a não ser que queiramos sustentar a tese a qualquer preço Mas basta deste assunto pois já tratamos suficientemente dele em nossas exposições mais elementares 11 O terceiro tipo de vida é a vida contemplativa que será examinada mais adiante u A vida dedicada a ganhar dinheiro é vivida sob compulsão e obviamente ela não é o bem que estamos procurandp tratase de uma vid apenas proveitosa e com vistas a algo mais Sob este prisma os objetivos j que acabamos de mencionar podem ser tidos como fins pois eles são apreciados por si mesmos É evidente porém que eles não são bensj Ética a Nicômacos 21 autênticos mas muitos argumentos foram gastos para sustentálos Deixe mos então de lado este assunto 6 Talvez seja melhor examinar o bem universal e discutir exaustivamente o seu significado embora tal investigação se torne penosa pelo fato de as Formas terem sido inttoduzidoS na filosofia por um amigou De qualquer modo talvez pareça melhor e de fato seria até uma obrigação especial mente para um filósofo sacrificar até as relações pessoais mais estreitas em defesa da verdade efetivamente ambas nos são caras mas o dever nos leva a dar a primazia à verdade Os introdutores desta teoria não postulavam Formas de grupos de coisas entre as quais eles reconheciam uma noção de anterioridade e posterioridade razão pela qual des não sustentavam a existência de uma Forma abrangente de todos os números mas o termo bem é usado igualmente nas categorias de substância de qualidade e de relação e o que existe por si ou seja a subsrância é anterior por natureza ao relativo este é como uma derivação e acidente daquela não poderia então haver uma Forma comum a ambos estes bens 16 Ademais já que o termo bem tem tantas acepções quanto scr este é igualmente predicado da categoria de substância como de Dfus e da razão da de qualidade por exemplo das diversas formas de excelência da de quantidade por exemplo do que é moderado da de relação por exemplo do útil da de tempo por exemplo da oportunidade e da de lugar por exemplo da localidade convenienre etc obviamente ele não pode ser algo universal presente em todos m casos e único pois então ele não poderia ter sido predicado de todas as categorias mas somente de uma Além disto já que há uma ciência única das coisas correspondentes a cada Forma teria de haver uma única ciência e todos os bens mas o fato é que há muitas ciências mesmo das coisas compreendidas em uma categoria única por exemplo a da oportunida de pois a oportunidade na guerra é estudada pela estratégia e nli doença pela medicina e a moderação quanto aos alimentos é estudada na nedicina e nos exercícios atléticos pela ciência da educação física Poderseia pergmtar o que se quer dizer precisamente c 1m um homem em si se e este é o caso a noção de homem é a mesma l uma só em um homem em si e em um determinado homem Na erdade 1096 b enquanto eles são homens não diferem em coisa alguma e sendo assim o bem em si e determinados bens não diferirão enquanto eles foram bons Tampouco o bem em si será melhor por ser eterno porquant aquilo que dura mais não é mais branco do que o efêmero Os pitagóricos parecem apresentar uma teoria mais plausível a respei to do bem quando põem a unidade em sua coluna da qual consta o bem 17 e Spêusipos parece têlos seguido Mas deixemos este assunto para outra exposição 11 Podese vislumbrar uma objeção ao que dissemos no fato de a teotia 22 Aristóteles acima citada não se referir a todos os bens e de os bens perseguidos e aceitos por si mesmos serem chamados bens com referência a uma única Forma enquanto os que tendem a produzir ou preservar outros bens de algum modo ou a obstar seus contrários são chamados bens em função dos primeiros e de um modo diferente É óbvio então que se deve falar dos bens de duas maneiras e alguns devem ser bons em si e outros em função destes Separemos portanto as coisas boas em si das coisas úteis e vejamos se as primeiras são chamadas boas com referência a uma única Forma Que espécie de bens chamaríamos de bons em si Seriam aqueles perseguidos mesmo quando isolados de outros como a inteligência o sentido da visão e cerros prazeres e honrarias Mesmo se os perseguísse mos também por causa de algo mais certamente os colocaríamos entre as coisas boas em si Ou nada além da Forma do bem é bom em si Neste caso a Forma seria inútil Mas se as coisas mencionadas são também coisas boas em si a noção do bem apareceria como algo idêntico em todas elas da mesma forma que a noção da brancura é idêntica na neve e numa tinta branca Mas em relação a honrarias inteligência e prazer em sua qualidade de coisas boas as noções são distintas e diferentes O bem portantO não é uma generalidade correspondente a uma Forma única Mas como ntendemos o bem Ele não é certamente semelhante às coisas que somete por acaso têm o mesmo nome São os bens uma coisa só então por serem derivados de um único bem ou por contribuírem todos para um único bem ou eles são uma única coisa apenas por analogia Certamente da mesma forma que a visão é boa no corpo a razão é boa na alma e identicamente em outros casos Mas talvez seja melhor deixar de lado estes tópicos por enquanto pois um exame detalhado dos mesmos seria mais apropriado em outro ramo da filosofia Acontece o mesmo em relação à Forma do bem ainda que haja um bem único que seja um predicado universal dos bens ou capaz de existir separada e independen temente tal bem não poderia obviamente ser praticado ou atingido pelo homem e agora estamos procurando algo atingível Talvez alguém possa 1097 a pensar que vale a pena ter conhecimento deste bem com vistas aos bens atingíveis e praticáveis com efeito usandoo como uma espécie de protótipo conheceremos melhor os bens que são bons para nós e conhecendoos poderemos atingilos Este argumento tem alguma plausi bilidade mas parece colidir com o método científico rodas as ciências com efeito embora visem a algum bem e procurem suprirlhe as deficiências deixam de lado o conhecimento da Forma do bem Mais ainda não é provável que todos os praticantes das diversas artes desconheçam e nem sequer tentem obter uma ajuda tão preciosa Também é difícil perceber como um tecelão ou um carpinteiro seria beneficiado em relação ao seu próprio ofício com o conhecimento deste bem em si ou como uma pessoa que vislumbrasse a própria Forina poderia vir a ser um médico ou general melhor por isto Com efeito não Ética a Nicômacos 23 parece que um médico estude sequer a saúde em si e sim a saúde do homem ou talvez até a saúde de um determinado homem ele está curando indivíduos Mas já falamos bastante sobre estes assuntos 7 Voltemos agora ao bem que estamos procurando e vejamos qual a sua natureza Em uma atividade ou arte ele tem uma apárência e em outros casos outras Ele é diferente em medicina em estratégia e o mesmo acontece nas artes restantes Que é então o bem em cada uma delas Será ele a causa de tudo que se faz Na medicina ele é a saúde na estratégia é a vitória na arquitetura é a casa e assim por diante em qualquer outra esfera de atividade ou seja o fim visado em cada ação e propósito pois é por causa dele que os homens fazem tudo mais Se há portanto um fim visado em tudo que fazemos este fim é o bem atingível pela atividade e se há mais de um estes são os bens atingíveis pela atividade Assim a argumentação chegou ao mesmo ponto por um caminho diferente mas devemos tentar a demonstração de maneira mais clara Já que há evidentemente mais de uma finalidade e escolhemos algumas delas por exemplo a riqueza flautas ou instrumentos musicais em geral por causa de algo mais obviamente nem todas elas são finais mas o bem supremo é evidentemente final Portanto se há somente um bem final este será o que estamos procurando e se há mais de um o mais final dos bens será o que estamos procurando Chamamos aquilo que é mais digno de ser perseguido em si mais final que aquilo que é digno de ser perseguido por causa de outra coisa e aquilo que nunca é desejável por causa de outra coisa chamamos de mais final que as coisas desejáveis tanto em si quanto por causa de outra coisa e portanto chamamos absolutamen te final aquilo que é sempre desejável em si e nunca por causa de algo mais Parece que a felicidade mais que qualquer outro bem é tida como este bem supremo pois a escolhemos sempre por si mesma e nunca por causa de algo mais mas as honrarias o prazer a inteligência e todas as outras formas de excelência embora as escolhamos por si mesmas escolhêlasiamos ainda que nada resultasse delas escolhemolas por causa da felicidade pensando que através delas seremos felizes Ao 1097 b contrário ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de excelência nem de um modo geral por qualquer outra coisa além dela mesma Uma conclusão idêntica parece resultar da noção de que a felicidade é autosuficiente Quando falamos em autosuficiente não queremos aludir àquilo que é suficiente apenas para um homem isolado para alguém que leva uma vida solitária mas também para seus pais filhos esposa e em geral para seus amigos e concidadãos pois o homem é por natureza um animal social 19 Mas devese estabelecer um limite para esta enumeração pois se acrescentarmos à mesma todos os ascendentes e descendentes e os amigos dos amigos estaremos caminhando para o infinito Deixemos 24 1098 a Aristóteles porém o exame desta questão para outra oportUnidade m autosuficiente pode ser definido como aquilo que em si torna a vida desejável por não ser carente de coisa alguma e isto em nossa opinião é a felicidade ademais julgamos a mais desejável de todas as coisas não uma coisa considerada boa em correlação com outras se fosse assim ela se tornaria obviamente mais desejável mediante a adição até do menor dos bens pois esta adição resultaria em um bem total maior e em termos de bens o maior é sempre mais desejável Logo a felicidade é algo final e autosuficiente e é o fim a que visam as ações Mas dizer que a felicidade é o bem supremo parece um truísmo e necessitamos de uma explicação ainda mais clara quanto ao que ela é Talvez possamos chegar a isto se determinarmos primeiro qual é a função própria do homem Com efeito da mesma forma que para um flautista um escultor ou qualquer outro artista e de um modo geral para tudo que tem uma função ou atividade consideramos que o bem e a pedeição residem na função um critério idêntico parece aplicável ao homem se ele tem uma função Teriam então o carpinteiro e o curtidor de couros certas funções e atividades e o homem como tal por ter nascido incapaz não teria uma função que lhe fosse própria Ou deveríamos presumir que da mesma forma que o olho o pé e em geral cada parte do corpo têm uma função o homem tem também uma função independente de todas estas Qual seria ela então Até as plantas participam da vida mas estamos procurando algo peculiar ao homem Excluamos portanto as atividades vitais de nutrição e crescimento Em seguida a estas haveria a atividade vital da sensação mas também desta parecem participar até o cavalo o boi e todos os animais Resta então a atividade vital do elemento racional do homem uma parte deste é dotada de razão no sentido de ser obediente a ela e a outra no sentido de possuir a razão e de pensar Como a expressão atividade vital do elemento racional tem igualmente duas acepções deixemos claro que nos referimos ao exercício ativo do elemento racional pois parece que este é o sentido mais próprio da expressão Então se a função do homem é uma atividade da alma por via da razão e conforme a ela e se dizemos que uma pessoa e uma pessoa boa têm uma função do mesmo gênero por exemplo um citarista e um bom citarista e assim por diante em todos os casos sendo a qualificação a respeito da excelência acrescentada ao nome da função a função de um citarista é tocar a cítara e a de um bom citarista é tocála bem se este é o caso e afirmamos que a função própria do homem é um ceno modo de vida e este é constituído de uma atividade ou de ações da alma que pressupõem o uso da razão e a função própria de um homem bom é o bom e nobilitante exercício desta atividade ou a prática destas ações se qualquer ação é bem executada de acordo com a forma de excelência adequada se este é o caso repetimos o bem para o homem vem a ser o exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a excelência e se há mais de uma Ética a Nicômacos 25 euelncia de conformidade com a melhor e mais completa en rre elas Mas devemos acrescentar que tal exerdcio ativo deve estenderse por toda a vida pois uma andorinha nio faz verão nem o faz um dia quente da mesma forma um dia só ou um curto lapso de tempo não faz um homem bemaventurado e feliz Esta exposição é suficiente como um esboço daquilo que considera mos o bem pois naturalmente devemos primeiro delineálo e depois trataremos de descrevêlo detalhadamente Mas parece que qualquer pessoa pode levar adiante ou completar o que foi inicialmente bem delineado e que o tempo é um bom inventor e colaborador em tal tarefa e o progresso das artes devese a estes fatos pois qualquer pessoa pode acrescentar o que está faltando Devemos também lembrar o que foi dito antes 21 e não insistir em chegar à precisão em tudo indiscriminadamente devemos buscar em cada classe de coisas a precisão compatível com o assunto e até o ponto adequado à investigação Com efeito um carpinteiro e um geômetra estudam o ângulo reto de maneiras dikrenres o primeiro o faz até o ponto em que o ângulo reto é útil ao seu trabalho enquanto o segundo indaga o que é o ângulo e como ele é por ser um contemplador da verdade Cumprenos então agir de maneira idêntica em todas as outras matérias para que nossa tarefa principal não fique subordinada a questões secundárias Não devemos tampouco indagar qual 1098 b é a causa de tudo de maneira idêntica em algumas circunstâncias bnsta que o fato seja bem fundamentado como no caso dos primeiros princípios o fato é o ponto de partida e o primeiro princípio Quanto aos pnmeiros princípios discernimos alguns por indução outros por via da perepção outros pela habitualidade e outros de outras maneiras devemos porém tentar investigálos de acordo com sua natureza e esforçarnos por defmi los corretamente pois eles influem fortemente na seqüência da investiga ção Com efeito admitese que o princípio é mais que a metade do rodo e projeta luz de imediato sobre muitas das questões em exame 8 Devemos conduzir nossa investigação sobre a felicidade levando em conta as conclusões a que chegamos partindo de nossas premisSJs mas devemos igualmente considerar o que se diz em geral sobre ela com uma visão realista todos os dados se concatenam mas com uma visão falsa os fatos logo colidem Os bens são divididos em três classes 22 e alguns deles são descritos como exteriores enquanto outros o são como pertinentes à alma ou ao corpo Chamamos geralmente os bens pertinentes à alma de bens no verdadeiro sentido da palavra e no mais alto grau e atribuímos à própria alma as ações e atividades psíquicas Nossa opinião deve ser correta pelo menos segundo este ponto de vista que é antigo e aceito pelos estudiosos de filosofia Ela também é correta porque identificamos a finalidade com certas ações e atividades pois assim ela se insere entre os bens da alma e não entre os bens exteriores Outra noção que se harmoniza com nossa opinião é a de que o homem feliz vive bem e se 26 Aristóteles conduz bem pois praticamente definimos a felicidade como uma forma de viver bem e conduzirse bem Ademais todas as características procuradas na felicidade se enquadram no que dissemos a seu respeito Algumas pessoas de fato pensam que a felicidade é excelência outras que ela é discernimento 23 outras que é uma espécie de sabedoria outras ainda pensam que ela é tudo isto ou uma destas noções em conjunto com o prazer ou sem que lhe falte o prazer enquanto outras finalmente acrescentam a prosperidade exterior Alguns desces pontos de vista vêm sendo sustentados por muita gente e há muito tempo e outros por umas poucas pessoas eminentes e não é provável que nem aquelas nem estas estejam inteiramente enganadas é mais plausível que elas estejam certas ao menos quanto a alguns dos pontos ou até qUanto à maioria deles Nossa definição é condizente com a opinião dos que identificam a felicidade com a excelência ou com alguma forma de excelência pois a felicidade é a atividade conforme à excelência Realmente náo é pequena a diferença entre a concepção do bem supremo como posse ou exercício de um lado ou como estado de espírito ou atividade do outro pois pode existir o estado de espírito sem que ele produza qualquer resultado bom como no caso de uma pessoa adormecida ou inativa por outra razão mas não pode ocorrer o mesmo com a atividade conforme à excelência de 1099 a qualquer maneira ela se manifestará e bem Da mesma forma que nos jogos Olímpicos os coroados não são os homens mais forces e belos e sim os que competem alguns desces serão os vitoriosos quem age conquista e justamente as coisas boas da vida A vida de atividade conforme à excelência é agradável em si pois o prazer é uma disposição da alma e o agradável para cada pessoa é aquilo que se costuma dizer que ela ama por exemplo um cavalo dá prazer a um apreciador de cavalos um bom espetáculo a um apreciador de teatro do mesmo modo que atos justos são agradáveis a quem ama a justiça e de um modo geral atos caracterizados pela excelência dão prazer a quem ama a excelência Mas no caso da maioria dos homens seus prazeres colidem uns com os outros porque não são agradáveis por sua própria naturezp enquanto os apreciadores do que é belo sentem prazer nas cais naturalmente agradáveis Ora as ações conformes à excelência são desta natureza de tal forma que elas são ao mesmo tempo agradáveis em si e agradáveis aos apreciadores do que é belo A vida destes portanto não tem necessidade de outros prazeres como uma espécie de acessório ornamental mas contém seus prazeres em si mesma então ninguém qualificará de justo um homem que não sinta prazer em agir justamente nem de liberal um homem que não sinta prazer em ações liberais e similarmente no caso de todas as formas de excelência Sendo assim as ações conformes à excelência devem ser necessariamente agradáveis Mas elas são igualmente boas e belas e têm cada um desces atributos no mais alto grau se o homem bom julga bem a respeito de cais atributos e ele Ética a Nicômacos 27 julga como dissemos Então a felicidade é o melhor mais belo e mais agradável dos bens e estes atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delas 24 Mais bela é a justiça e melhor a saúde mais agradável é possuir o que amamos Todqs estes atributos estão presentes nas melhores atividades e identificamos uma destas a melhor de todas como a felicidade Mas evidentemete como já dissemos 2 a felicidade também requer bens exteriores pois é impossível ou na melhor das hipóteses não é fácil praticar belas ações sem os instrumentos próprios Em muitas ações 1099 b usamos amigos e riquezas e poder político como instrumentos e há cerras coisas cuja falta empana a felicidade boa estirpe bons filhos beleza pois o homem de má aparênica ou mal nascido ou só no mundo e sem filhos tem poucas possibilidades de ser feliz e têlasá ainda menores se seus filhos e amigos forem irremediavelmente maus ou se tendo tido bons filhos e amigos estes tiverem morrido Como dissemos então a felicidade parece requerer o complemento desta ventura e é por isto que algumas pessoas identificam a felicidade com a boa sorte embora outras a identifiquem com a excelência 9 É por esta razão que se pergunta se podemos aprender a ser felizes ou se podemos ser felizes graças ao hábito ou a algum tipo de exercício ou então à providência divina ou finalmente graças à sorte Se alguma coisa que os homens têm é um presente dos deuses é razoável supor que a felicidade seja uma graça divina e seguramente o mais divino de todos os bens humanos porquanto ele é o melhor Mas talvez esta pergunta caiba melhor em outra investigação Ainda que não seja uma graça dos deuses mas nos venha como o corolário da excelência e algum processo de aprendizado ou exercício a felicidade parece estar entre as coisas mais divinas pois aquilo que é o prêmio e a finalidade da excelência parece sumamente bom e algo divino e bendito Sob este prisma a felicidade também pode ser muito difundida pois quem quer não seja deficiente quanto à sua potencialidade para a excelência tem aspirações a atingila mediante um cerro tipo de aprendizado e esforço Mas se é melhor ser feliz assim do que por sorte é razoável supor que é assim que se atinge a felicidade pois tudo que ocorre segundo a natureza é naturalmente tão bom quanto pode ser o mesmo acontece com tudo que depende da arte ou de qualquer causa racional especialmente se depende da melhor de todas as causas Entregar à sorte o que há de melhor e mais belQ seria totalmente dissonante A resposta à questão que estamos levantando aparece claramente diante de nossa definição da felicidade pois já dissemos que ela é uma certa atividade da alma conforme à excelência Dos bens restantes alguns 28 Aristóteles devem ser preexistentes como prérequisitos da felicidade e outros são naturalmente coadjuvantes e insuumentais Verseá que esta conclusão é condizente com o que falamos de início 21 pois afirmamos que a finalidade da ciência política é a finalidade suprema e o principal empenho desta ciência é infundir um cerro caráter nos cidadãos por exemplo tornálos bons e capazes de praticar boas ações É natural então que não qualifiquemos os bois e cavalos ou quaisquer outros animais de felizes pois nenhum deles é cap de participar de tal 1100 a atividade Por esta razão as crianças também não podem ser consideradas felizes pois não são capazes daquela atividade devido à sua pouca idade quando se diz que as crianças são felizes tratase de um bom augúrio diante das esperanças que depositamos nelas para o futuro A felicidade como dissemos29 pressupõe não somente excelênca pedeita mas também uma existência completa pois muitas mudanças e vicissitudes de todos os tipos ocorrem no curso da vida e as pessoas mais prósperas podem ser vítimas de grandes infortúnios na velhice como se conta de Príamos2 na poesia heróica Ninguém pode considerar feliz uma pessoa que experi mentou tais vicissitudes e teve um fim tão lastimável 1 O Não se deve então chamar homem algum de feliz enquanto ele estiver vivo Devemos como dissc Sólon ver o fim 10 Ainda que devamos adotar esta doutrina pode um homem ser realmente feliz depois de morro Não é isto um absurdo total especialmente para nós que definimos a felicidade como uma atividade Mas se não chamamos o homem morto de feliz e se Sólon não quis dizer isto e sim que somente quando um homem está morto pode com certeza ser qualificado de feliz por estar afinal a salvo dos males e infortúnios ainda assim esta hipótese dá margem a discussões pois se pensa que tanto o mal quanto o bem existem em relação também aos mortos da mesma forma que existem em relação a quem está vivo mas não tem consciência deles por exemplo honrarias e desonra e a boa ou má sorte dos filhos e dos descendentes em geral Mas aqui também temos um problema pois embora uma pessoa tenha vivido uma vida de bemaventurança até a velhice e tenha tido uma morte condizente com sua vida muitos reveses podem ocorrer com seus descendentes alguns destes podem ser bons e desfrutar uma vida compatível com seus méritos enquanto pode acontecer o contrário com outros Além disto em termos de tempo o distanciamento dos descenden tes em relação aos seus ancestrais obviamente iria crescendo de maneira incomensurável Seria estranho então se os mortos tivessem de ser afetados por estas mudanças de sorte e fossem ora felizes ora desditosos também seria estranho se as vicissitudes dos descendentes não afetasse de algum modo e durante algum tempo a felicidade de seus ancestraisi Mas devemos voltar à nossa primeira dificuldade 11 pois talvez atra de um exame da mesma nosso problema possa ser resolvido Se tiverJD de ver o fim para só então poder congratularnos com um homem por s Ética a Nicômacos bemaventurança mas não por passar afinal a ser bemaventurado e sim por têlo sido antes certamente será paradoxal que no momento exato err que ele se torna feliz o fato não lhe possa ser atribuído porque não nos dispomos a chamar os vivos de felizes em face das mudanças da sorte e porque a felicidade em fOSsa opinião é algo permanente e não facilmente sujeito a mudanças enquanto a roda da fortuna pode muitas vezes dar uma reviravolta completa em relação ao mesmo homem Efetivamente é óbvio que se tivéssemos de acompanharlhe as vicissitudes chamariamos com freqüência o mesmo homem de feliz agora e de desventurado em seguida transformandoo numa espécie de camaleão ou numa casa construída sobre areias movediças Ou não seria de forma alguma correto deixarnos ltvar pelas vicissitudes de um homem O sucesso ou fracasso na vida não depende dos favores da fortuna mas a vida humana como dissemos também deve contar com eles na realidade são nossas atividades conformes à excelência que nos levam à felicidade e as atividades contrárias nos levam 1100 b à situação oposta A dificuldade que acabamos de discutir é uma confirmação adicional de noua definição pois nenhuma das funções do homem é dotadl de tanta permanência quanto as atividades conformes à excelência estas parecem ser até mais duradouras que nosso conhecimento das ciências E entre estas mesmas atividades as mais elevadas são as mais duradouras por ocuparem completa e constantemente a vida dos homens felizes pois esta parece ser a razão de não as esquecermos O homem feliz portanto deverá possuir o atributo em qulstão 11 e será feliz por toda a sua vida pois ele estará sempre ou pel menos freqüentemente engajado na prática ou na contemplação d que é conforme à excelência Da mesma forma ele suportará as vicissitudes com maior galhardia e dignidade sendo como é verdadeiramentf bom e irrepreensivelmente tetragonal 4 Muitos eventos são frutos do acaso e diferem por sua grandeza ou insignificãncia embora a boa sorte ou o infortúnio em pequena escala não mudem evidentemente o curso completo da vida grandes e freqüentes sucessos tornam a vida mais feliz pois eles por sua própria n nureza realçam a beleza da vida e também podem ser usados nobremente e de conformidade com a excelência grandes e freqüentes reveses ao contrá rio aniquilam e frustram a felicidade seja pelos sofrimentos que causam seja por constituírem óbices a muitas atividades Isto não obstaRte mesmo na adversidade a galhardia resplandece quando alguém sofre grandes e freqüentes infortúnios com resignação não por insensibilidade mas por nobreza e grandeza de alma Se como dissemos as acividades e uma pessoa são um fator determinante na vida nenhuma pessoa supinunente feliz poderá jamais tornarse desgraçada ela nunca praticará ações diosas 30 Aristóteles ou ignóbeis pois sustentamos que as pessoas realmente boas e sábias suportarão dignamente todos os tipos de vicissirudes e sempre agirão da maneira mais nobilitante possível diante das circunstâncias da mesma forma que um bom general usa do modo mais eficiente possível os contingentes disponíveis um bom sapateiro faz o sapato mais requintado possível do couro que lhe dão e o mesmo acontece com todos os artesãos Sendo assim o homem feliz nunca poderá tornarse desgraçado embora nunca possa vir a ser feliz o homem que enfrentar os infortúnios de um Príamos Tampouco sua sorte secá inconstante e contrastante pois nem 11 O 1 a ele será deslocado de sua felicidade facilmente ou por infortúnios corriqueiros mas somente por grandes e freqüentes desventuras nem se recuperará de tais infortúnios e se tornará novamente feliz em pouco tempo mas somente se isto acontecer após um longo lapso de tempo durante o qual ele tiver tido oportunidade de obter muitos e belos sucessos Por que não diríamos então que é feliz o homem ativo de conformidade com a excelência perfeita e suficientemente aquinhoado com bens exteriores não por um lapso de tempo qualquer mas por toda a vida Ou deveríamos acrescentar e que é feito para viver assim e morrer de maneira compatível com a vida que levou Com efeito o futuro é obscuro para nós enquanto concebemos a felicidade como uma finalidade e autosuficiente Sendo assim devemos declarar supinamente felizes as pessoas vivas que preencham os requisitos mencionados e sejam feitas para continuar a preenchêlos mas tudo dentro das limitações da condição humana Contentemonos com estas considerações sobre o assunto 11 3 A crença de que a felicidade dos mortos não é afetada de forma alguma pelas vicissitudes de seus descendentes e amigos em geral parece contrariar profundamente o conceito de amizade e as noções geralmente aceitas Como porém os eventos da vida são numerosos e diversificados e variam na intensidade com que nos afetam estabelecer uma distinção detalhada entre eles seria uma tarefa muito longa ou mesmo interminável e talvez seja suficiente um exame perfunctório do assunto Nossos próprios infortúnios com efeito embora em certos casos tenham um peso e uma influência consideráveis em nossas vidas em outros casos se revestem de uma importância relativamente pequena e o mesmo raciocí nio se aplica aos infortúriios de nossos amigos em sua totalidade Faz uma diferença considerável a circunstância de as pessoas afetadas pelos vários tipos de sofrimento estarem vivas ou mortas muito mais do que nas tragédias a circunstância de os crimes e atos abomináveis serem previa mente conhecidos em vez de cometidos no próprio palco Devemos portanto levar em conta esta diferença ou melhor ainda talvez a própria dúvida existente quanto à participação efetiva dos mortos em qualquer dos bens ou males Na verdade as considerações que acabamos de fazer Ética a Nicômacos 31 pareaIT1 mostrar que mesmo na lJjpótese de qualquer bem ou mal os atingir o efeito é apenas fraco e insignificante seja intrinsecamente seja em relação a eles e se não o for sua intensidade e seu gênero não serão bastantes para trazer felicidade aos infelizes nem para tirar os felizes de sua felicidade Parece portanto que os mortos são influenciados de cerro modo pela ventura dos que lhes são caros e também por seus infortúnios mas que a intensidade e o gênero do efeito não chegam a tornar infelizes as pessoas felizes nem a produzir qualquer efeito deste tipo 12 Resolvidas estas questões vejamos agora se a felicidade está entre as coisas que simplesmente louvamos ou entre aquelas às quais atribuímos um grande valor de qualquer modo é claro que ela não deve ser posta entre as potencialidades Parece que uma coisa louvável é sempre louvada por ter uma certa 1101 b qualidade e relacionarse de certo modo com alguma coisa Com efeito louvamos as pessoas justas e corajosas e de um modo geral as pessoas boas e a própria excelência moral por causa das ações destas pessoas e dos respectivos resultados louvamos também os homens fortes os velozes e assim por diante pelo fato de eles possuírem certas qualidades naturais e estarem em certa relação com algo bom e importante Isto se evidencia também pelo fato de os deuses serem louvados parece absurdo que os deuses devam ser avaliados segundo os nossos padrões mas é assim que os avaliamos porquanto o louvor pressupõe uma referência como dissemos a algo mais Mas se louvamos por razões como as que expusemos evidentemente o que se aplica às melhores coisas não é louvor mas algo maior e melhor como é óbvio pois nosso procedimento em relação aos deuses e aos homens mais próximos da divindade é chamálos de felizes e bemaventurados Acontece o mesmo com as coisas boas ninguém louva a felicidade como louva a justiça mas chamamos a primeira uma benção como algo divino e melhor 1102a Parece que Êudoxos também estava certo em seu método ao defender a supremacia do prazer Ele sustentava que o fato de o prazer apesar de ser um bem não ser louvado é uma indicação de que ele é superior às coisas que louvamos como acontece com Deus e o bem pois todas as outras coisas são avaliadas em relação a estes Com efeito o louvor convém à excelência pois é esta que torna o homem capaz de praticar ações nobilitantes ao passo que os panegíricos exaltam tanto as atividades do corpo quanto as da alma Mas talvez um exame meticuloso deste assunto fique melhor nas obras dos autores que se dedicam ao estudo dos panegíricos 16 Para nós é evidente em vista do que dissemos que a felicidade é algo louvável e perfeito Parece que é assim porque ela é um primeiro princípio pois todas as outras coisas que fazemos são feitas por causa dela e sustentamos que o primeiro princípio e causa dos bens é algo louvável e divino 32 1102b Aristóteles 13 Sendo a felicidade então uma certa atividade da alma conforme l excelência pedeita necessário examinar a natureza da excelência Isto provavelmente nos ajudará em nossa investigação a respeito da felicidade Tambm parece que o verdadeiro estadista aquele que estudou especialmente a excelência já que ele quer tornar os cidadãos homens bons e obedientes às leis sirvam de exemplo os legisladores de Creta e Esparta e outros como eles que existiram mas se esta investigação é pertinente à ciência política claro que sua execução deve seguir nosso plano inicial É evidente que a excelência a examinar é a excelência humana pois o bem e a felicidade que estamos procurando são o bem humano e a felicidade humana A excelência humana significa dizemos nós a excelência não do corpo mas da alma e também dizemos que a felicidade é uma atividade da alma Se for assim obviamente o estadista deve ter algum conhecimento das funções da alma da mesma forma que quem quer estudar e curar os olhos deve conhecer também o corpo todo e ainda mais porque a ciência política é mais louvada e melhor que a medicina mesmo entre os médicos os melhores esforçamse mais por conhecer o corpo todo O estadista então deve estudar a alma e deve estudála tendo em vista estes objetivos e apenas o suficiente em face das questões que estamos discutindo uma precisão maior talvez exigisse um esforço maior que o necessário aos nossos propósitos Algumas observações suficientemente adequadas já foram feitas sobre o assunto em nossos escritos para o público36 e devemos recorrer a elas aqui por exemplo que a alma é constituída de uma parte irracional e de outra dotada de razão Se estas duas partes são realmente distintas l maneira das partes do corpo ou de qualquer outro todo divisível ou se embora distintas por definição elas na realidade são inseparáveis como os lados côncavo e convexo da periferia de um círculo não faz diferença alguma no caso presente Uma das subdivisões da parte irracional da alma parece comum a todos os seres vivos e é de natureza vegetativa refirome à parte responsável pela nutrição e pelo crescimento Com efeito é esta a espécie de impulso da alma que devemos atribuir a todos os recém nascidos e até aos embriões e este mesmo impulso deve ser atribuído às criaturas plenamente desenvolvidas isto é mais razoável do que atribuir algum impulso diferente a estas últimas A eficiência deste impulso parece comum a todas as espécies de seres vivos e não somente à espécie humana pois ele parece funcionar principalmente durante o sono enquanto a bondade e a maldade são menos manifestas durante o soao por isto se diz que as pessoas felizes e as desditosas em nada diferem durante a metade de suas vidas isto acontece naturalmente pois o sono é uma inatividade da alma quanto às chamadas coisas boas e más à exceção talvez de alguns movimentos que dentro de certos limites escritos possam atingir a alma neste caso os sonhos dos homens bons são melhores que os ttica a Nicômacos 33 de outras pessoas quaisquer Mas bastam estas considerações quanto ao assunto deixemos de lado a faculdade nutritiva pois por sua própria natureza ela não faz parte da excelência humana Parece haver também uni outro elemento irracional na alma mas este em cerco sentido participa da razão De fato louvamos a razão canto do homem dotado quanto do destituído de continência bem como a parte racional da alma de ambos pois esta os exorta acertadamente e em dtreção aos melhores objetivos achase também neles todavia outro elemento natural além da razão que luta contra esta e lhe resiste De fato da r1esma forma que quando pretendemos mover para a direita membros paralisa dos eles tendem ao contrário a moverse para a esquerda é isto que acontece com a alma os impulsos das pessoas destituídas de continência atuam em direções opostas Mas enquanto no corpo o membro errático é visível no caso da alma não o vemos seja como for não devemos duvidar de que haja na alma um elemento além da razão resistindo e opondose a ela embora o sentido em que ele e ela se distinguem um do outro não faça diferença para nós Mas mesmo este elemento parece participar da razão como dissemos de qualquer forma nas pessoas dotadas de continên ia ele obedece à razão e presumivelmente ele é ainda mais obediente nas pessoas moderadas e valorosas pois nestas ele fala em todos os cascs em uníssono com a razão Conseqüentemente o elemenco irracional parece dúplice O ekmen to vegetativo todavia não participa de forma alguma da razão mas o elemento apetitivo e em geral o elemento concupiscente participam da mesma em certo sentido até o ponto em que a ouvem e lhe obedeclm é neste sentido que falamos na racionalidade de um pai ou de um amigo em contraste com a racionalidade matemática O fato de advertirmos alguém e de reprovarmos e exorcarmos de um modo geral indica que a razão pode de certo modo persuadir o elemento irracional E se car1bém deve ser dito que este elemento participa da razão aquilo que é dotado de razão tanto quanto o cue não é será dúplice e uma de suas subdivisões ll03a participa da razão no sentido próprio e em si enquanto a outra ceríi uma tendência para obedecer no sentido em que se obedece a um pa A excelência também se diferencia em duas espécies de acordo com esta subdivisão pois dizemos que cercas formas de excelênci são incelectuais e outras são morais a sabedoria a inteligência e o discerni mento por exemplo são formas de excelência intelectual e a liberalidade e a moderação por exemplo são formas de excelência moral Realmente falando sobre o caráter de uma pessoa não dizemos que ela é sábia ou inteligente e sim que ela é jovial ou amável ou moderada mas louvamos uma pessoa sábia por sua disposição de espírito e chamamos de formas de excelência as disposições de espírito louváveis CASES THE UNITED STATES 200 0 LIVRO li 1 Como já vimos há duas espécies de excelência a intelectual e a moral Em grande parte a excelência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o seu crescimento à instrução por isto ela requer experiência e tempo quanto à excelência moral ela é o produto do hábito razão pela 9ual seu nome é derivado com uma ligeira variação da palavra hábito B E evidente portanto que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza pois nada que existe por natureza pode ser alterado pela hábito Por exemplo a pedra que por natureza se move para baixo não pode ser habituada a moverse para cima ainda que alguém tente habituála jogandoa dez mil vezes para cima tampouco o fogo pode ser habituado a moverse para baixo nem qualquer outra coisa que por natureza se comporta de certa maneira pode ser habituada a comportarse de maneira diferente Portanto nem por natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós mas a natureza nos dá a capacidade de recebêla e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito Além disto em relação a todas as faculdades que nos vêm por natureza recebemos primeiro a potencialidade e somente mais tarde exibimos a atividade isto é claro no caso dos sentidos pois não foi por ver repetidamente ou repetidamente ouvir que adquirimos estes sentidos ao contrário já os tínhamos antes de começar a usufruílos e não passamos a têlos por usufruílos quanto às várias formas de excelência moral todavia adquirimolas por havêlas efetivamente praticado tal como 1103 b fazemos com as artes As coisas que temos de aprender antes de fazer aprendemolas fazendoas por exemplo os homens se tornam constru tores construindo e se tornam citaristas tocando cítara da mesma forma tornamonos justos praticando atos justos moderados agindo moderada mente e corajosos agindo corajosamente Esta asserção é confirmada pelo que acontece nas cidades pois os legisladores formam os cidadãos 1104 a Aristóteles habituandoos a fazerem o bem esta é a intenção de todos os legisladores os que não a põem corretamente em pritica falham em seu objetivo e é wb este aspecto que a boa constituição difere da má Ademais toda excelência moral é produzida e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios tal como acontece com toda arte pois é tocando a cítara que se formam tanto os bons quanto os maus citaristas e uma afirmação análoga se aplica aos construtores e a todos os profissionais os homens são bons ou maus construtores por construírem bem ou mal Com efeito se não fosse assim não haveria necessidade de professores ois todos os homens teriam nascido bem ou mal dotados para as suas profissões Logo acontece o mesmo com as várias formas de excelência oral na prática de atos em que temos de engajarnos dentro de nossas elações com outras pessoas tornamonos justos ou injustos na prática de r tos em situações perigosas e adquirindo o hábito de sentir receio ou onfiança tornamonos corajosos ou covardes O mesmo se aplica aos desejos e à ira algumas pessoas se tornam moderadas e amáveis enquanto outras se tornam concupiscentes ou irascíveis por se comportarem de maneiras diferentes nas mesmas circunstâncias Em uma palavra nossa disposições morais resultam das atividades correspondentes às mesmas E por isto que devmos desevolve nossas avidades de uma neira pre determinada poiS nossas d1Spos1çoes mora1s correspondem as diferenças entre nossas atividades Não será pequena a diferença então se formar mos os hábitos de uma maneira ou de outra desde nossa infância ao contrário ela será muito grande ou melhor ela será decisiva 2 Sendo assim já que a presente investigação não visa como outras ao conhecimento teórico não estamos investigando apenas para conhecer o que é a excelência moral e sim para nos tornarmos bons pois se não fosse assim nossa investigação viria a ser inútil cumprenos examinar a natureza das ações ou seja como devemos praticálas com efeito as ações deter minam igualmente a natureza das disposições morais que irão criarse como já dissemos Agir de acordo com a reta razão é um princípio geral e deve ser presumido posteriormente 9 discutiremos o assunto isto é o que vem a ser a reta razão e como ela se relaciona com as outras formas de excelência Mas deve haver um consenso prévio quanto a isto para que cada a ceoria da conduta possa ser explicada em linhas gerais e não de maneira precisa de acordo com a regra estabelecida desde o princípio desta investigação 40 ou seja a elaboração das teorias deve apenas corres ponder ao seu conteúdo as matérias relativas à conduta e ao que nos convélll nada têm de fixo como nada têm de fixo as relativas à saúde Ora se isto acontece com a exposição em geral o exame dos casos particulares é ainda mais avesso à exatidão tais casos não se enquadram em qualquer arte ou preceito pois as próprias pessoas engajadas na ação devem considerar em cada caso o que é adequado à ocasião como também acontece na arte da medicina ou na arte da navegação 1104 b Ética a Nicômacos 37 Mas embora o nosso assunto seja de natureza imprecisa faç11mos o possível para facilitarlhe a compreensão Consideremos primeiro então que a excelência moral é constituída por natureza de modo a ser desuuída pela deficiência e pelo excesso tal como vemos acontecer com o vigor e a saúde temos de explicar o invisível recorrendo à evidência do visível os exercícios excessivos ou deficientes destroem igualmente o vigor e de maneira idêntica as bebidas e os alimentos de mais ou de menos destroem a saúde ao passo que seu uso em proporções adequadas produz aumenta e conserva aquele e esta Acontece o mesmo com a moderação a coragem e outras formas de excelência moral O homem que evita e eme tudo e não enfrenta coisa alguma tornase um covarde em contra1te o homem que nada teme e enfrenta tudo tornase temerário da mesma forma o homem que se entrega a todos os prazeres e não se abst1m de qualquer deles tornase concupiscente enquanto o homem que evita todos os prazeres como acontece com os rústicos tornase de certo modo insensível a moderação e a coragem portanto são destruídas pela defi ciência e pelo excesso e preservadas pelo meio termo4 Mas não somente as fontes e causas do aparecimento e crescimento da excelência moral são as mesmas de sua destruição como também o âmbito de sua realização é o mesmo e observação idêntica se aplica às qualidades mais evidentes aos sentidos por exemplo o vigor ele é o resultado da ingestão de muito alimento e da prática de muitos exercícios e o homem forte será o mais capaz de fazer isto acontece o mesmo com as árias formas de excelência moral abstendonos dos prazeres tornam lnos moderados e é quando nos tornamos moderados que somos mais capazes de nos abster deles o mesmo se passa com a coragem pois nos tornamos corajosos habituandonos a desdenhar as coisas temíveis e a enfrentálas e é quando nos tornamos corajosos que somos mais capazes de enfrentálas 3 O prazer ou o sofrimento superveniente às nossas ações é um indíc1o de nossas disposições morais efetivamente as pessoas que se abstêm dos prazeres do corpo e se alegram com a abstenção são moderadas exatamen te por procederem assim enquanto as pessoas que se irritam com isto são concupiscentes42 e as que enfrentam as coisas temíveis e se comprazem com enfrentálas ou pelo menos não sofrem com isto são corajosa ao contrário as pessoas que sofrem quando enfrentam as coisas temíveis são covardes Com efeito a excelência moral se relaciona com o prazer e o sofrimento é por causa do prazer que praticamos más ações e é por c11usa do sofrimento que deixamos de praticar ações nobilitantes Daí a impor tância assinalada por Platão41 de termos sido habituados adequadamente desde a infância a gostar e desgostar das coisas certas esta é a verdadeira educação Mais ainda se as várias formas de excelência moral se relacionam com ações e emoções e toda emoção e toda ação são acompanhadas de prazer 38 ll05 a Aristóteles ou sofrimento pela mesma razão a excelência moral se relacionará com os prazeres e sofrimentos Esta circunstância evidenciada também pelo fato de o castigo ser infligido por meio de sofrimentos pois o castigo é uma espécie de tratamento médico e é da natureza do tratamento médico atuar por meio de contrários Além disto como dissemos há pouco44 toda disposição da alma naturalmente susceptível de piorála ou melhorála relacionase por sua própria natureza com o prazer e o sofrimento e tende a ser influenciada por estes sentimentos mas é por causa do prazer e do sofrimento que os homens se tornam maus perseguindoos e evitandoos perseguindo e evitando os prazeres e os sofrimentos que não devem ou quando não devem ou como não devem ou agindo erradamente de qualquer outra maneira similar passível de classificação lógica É pot isto que alguns pensadores41 definem as várias formas de excelência moral como certos estados de impassibilidade e calma mas a definição não é boa pois eles falam de maneira absoluta e não dizem como se deve e como não se deve quando se deve e quando não se deve e outras qualificações que podem ser acrescentadas Presumimos então que esta espécie de excelência tende a fazer o que é melhor em relação ao prazer e ao sofrimento e a deficiência moral faz o contrário Os fatos seguintes também podem mostrarnos que a excelência moral e a deficiência moral se relacionam com as mesmas coisas Há três objetos de escolha e três de repulsa o nobilitante o vantajoso e o agradável e seus contrários o ignóbil o nocivo e o penoso em relação a todos eles as pessoas boas tendem a acertar e as más tendem a errar especialmente quanto ao prazer pois esta é a tendência geral dos animais e ela também acompanha todos os nossos atos praticados mediante escolha já que mesmo o que é nobilitante nos parece agradável Ademais a tendência para o prazer cresce conosco desde a infância é difícil por isto desvencilharmonos desta compulsão arraigada como ela está em nossa vida Regulamos também nossas ações uns de nós mais outros menos pelo critério do prazer e do sofrimento É por isto que toda a nossa investigação deve ter em vista o prazer e o sofrimento pois para nosso bem ou para nosso mal o fato de nos deleitarmos ou sofrermos tem uma influência nada pequena em nossas ações Além disto é mais difícil lutar contra o prazer do que contra a própria cólera para usar a frase de Herácleitos46 mas tanto a arte quanto a excelência moral estão permanentemente preocupadas com o que é difícil pois até as coisas boas são melhores quando são difíceis Logo também por esta razão toda a preocupação tanto da excelência moral quanto da ciência política é com o prazer e com o sofrimento porquanto o homem que os usa bem é bom e o que os usa mal é mau 1105 b ttica a N icômacos 39 Demos por dito então que a excelência moral está relacionada com 0 prazer e o sofrimento e que ela eada pelas ações nas quais sobressai e que se as ações são praticadas de maneira diferente ela é destruída e tambm que os atos nos quais ela sobressai são aqueles nos quais ela se realizou plenamente 4 Pode haver dúvidas quanto ao que queremos exprimir quando dizemos4 que devemos tornarnos justos praticando atos justos e moderados praticando atos moderados de fato se os homns pratiam atos jwtos e moderados eles já são justos e moderados da mesma forma que se eles fizerem o que mandam as normas da gramática e da música serão gramáticos e músicos Ou será que este princípio não se aplica sequer às artes É possível fazer algo que esteja de acordo com as normas da gramática por acaso ou mediante a orientação de alguém Um homem somente será um gramáti co então quando disser algo pertinente à gramática e à maneira dos gramaiticos ou seja graças aos conhecimentos gramaticais que ele mesmo possuir Acresce que o caso das artes e o das várias formas de excelência moral não são similares de fato os produtos das artes têm seu mérito em si mesmos de tal forma que lhes basta apresentarem uma certa qualidade mas se os atos condizentes com as várias formas de excelência moral têm uma certa qualidade em si isto não quer dizer que eles foram praticados justamente ou moderadamente o agente também deve estar em certas condições quando os pratica em primeiro lugar ele deve agir consciente mente em segundo lugar ele deve agir deliberadamente e ele deve deliberar em função dos próprios atos em terceiro lugar sua ação deve provir de uma disposição moral firme e imutável Para o exercício das artes nenhuma destas condições constitui um prérequisito à exceção da qualificação do conhecimento mas para a posse da excelência moral o conhecimento é de pouco ou nenhum valor enquanto as outras condições longe de valerem pouco têm uma importância decisiva se é verdade que as ações jwtas e moderadas resultam da prática reiterada As ações portanto são chamadas justas e moderadas quando são como as que o homem justo e moderado praticaria mas o agente não é jwro e moderado apenas por praticálas e sim porque também as pratica como as praticariam homens justos e moderados É correto então dizer que é mediante a prática de atos jwtos que o homem se torna justo e é mediante a prática de atos moderados que o homem se torna moderado sem os praticar ninguém teria sequer remotamente a possibilidade de tornarse bom Muitos homens não os praticam mas se refugiam em 40 ll06 a Aristóteles teorias e pensam que estão sendo filósfos e assim se tornarão bons procedendo de certo modo como pacientes qÜe ouvem atentamente seus médicos mas nada fazem do que lhes é prescrito Da mesma forma que a saúde do corpo destes últimos não melhorará com este modo de tratamento a saúde da alma dos primeiros não melhorará com a prática da filosofia 5 Vejamos agora o que é a excelência moral Já que as manifestações da alma são de três espécies emoções faculdades e disposições a excelência moral deve ser uma destas Por emoções quero significar os desejos a cólera o medo a temeridade a inveja a alegria a amizade o ódio a saudade o ciúme a emulação a piedade e de um modo geral os sentimentos acompanhados de prazer ou sofrimento por faculdades quero significar as inclinações em virtude das quais dizemos que somos capazes de sentir as emoções por exemplo a faculdade de ficar encolerizado de sentir pena ou piedade por disposições quero significar os estados de alma em virtude dos quais estamos bem ou mal em relação às emoções por exemplo em relação à cólera estamos mal se a sentimos violentamente ou praticamente não a sentimos e bem se a sentimos moderadamente e de maneira idêntica em relação às outras emoções Ora nem a excelência moral nem a deficiência moral são emoções pois não somos chamados bons ou maus com fundamento em nossas emoções mas somos chamados bons ou maus com fundamento em nossa excelência ou deficiência moral e não somos louvados ou censurados por causa de nossas emoções um homem não é louvado por estar atemorizado ou encolerizado nem é censurado simplesmente por estar encolerizado mas por estar encolerizado de certa maneira somos louvados ou censurados por nossa excelência ou por nossa deficiência moral Além disto sentimos cólera e medo independentemente de nossa escolha mas as várias formas de excelência moral são certos modos de escolha ou envolvem escolha Mais ainda a respeito das emoções dizse que somos movidos mas a respeito da excelência e da deficiência moral não se diz que somos movidos e sim dispostos de certa maneira Por estas mesmas razões as várias formas de excelência moral também não são faculdades pois não somos chamados bons ou maus nem louvados ou censurados pela simples faculdade de sentir as emoções ademais temos as faculdades por natureza mas não é por natureza que somos bons ou maus ji falamos disto anteriormente aliás41 Então se as várias espécies de excelência moral não são emoções nem faculdades só les resta serem disposições Assim definimos o que é a excelência moral quanto ao seu gênero Ética a Nicômacos 41 6 Cumprenos porém não somente definir a excelência moral como urna disposição mas também dizer que espécie de disposição ela é Devemos observar que cada uma das formas de excelência moral além de proporcionar boas condições à coisa a que ela dá excelência faz com que esta mesma coisa atue bem por exemplo a excelência dos olhos faz com que tanto os olhos quanto a sua atividade sejam bons pois é graças à excelência dos olhos que vemos bem De forma idêntica a excelência de um cavalo faz com que ele seja ao mesmo tempo bom em si e bom para correr e para levar seu dono e para sustentar o ataque do inimigo Logo se isto é verdade em todos os casos a excelência moral do homem também será a disposição que faz um homem bom e o leva a desempenhlr bem a sua função Já dissemos como isto acontece49 mas o exame subseqüente da natureza específica da excelência moral tornará esta noção mais nítida De tudo que é contínuo e divisível é possível tirar uma parte maior menor ou igual e isto tanto em termos da coisa em si quanto em relação a nós e o igual é um meio rermo entre o excesso e a falta Por meio termo quero significar aquilo que é eqüidistante em relação a cada um dos extremos e que é único e o mesmo em relação a todos os homens por meio termo em relação a nós quero significar aquilo que não é nem demais nen muito pouco e isto não é único nem o mesmo para rodos Por exemplo se dez é muito e dois é pouco seis é o meio termo considerado em re ação ao objeto pois este meio rermo excede e é excedido por uma qutntidade igual este é o meio termo de acordo com uma proporção aritmério Mas o 1106 b meio termo em relação a nós não deve ser considerado de maneira idêntica se dez minas lO de alimento são demais para uma pessoa 1 ngerir e duas minas são muito pouco não se segue necessariamente que o treinador prescreverá seis minas pois isto também pode ser demais para a pessoa que ingere o alimento ou então pode ser muito pouco muiro pouco para Mílon e demais para um principiante em exercícios adéricos Acontece o mesmo com o tempo de corrida e de luta Sendo asim um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta buscando e preferindo o meio termo o meio termo não em relação ao próprio objeto mas em relação a nós Se é assim então que roda arte perfaz satisfatoriamente a sua função procurando o meio termo e julgando suas obras segundo este padrão por isto se afirma com freqüência que nada se pode acreset nrar ou tirar às boas obras de arte querendo significar que o excesso t a falta destróem a excelência das obras de arte ao passo que o meio termo a preserva e os bons artistas como dizemos esforçamse por isto em seu trabalho e se além disto a excelência da mesma forma que a narureza é mais exigente e melhor que qualquer arte então a excelência deve ter a qualidade de atingir o alvo do meio termo Esrou falando da excelência moral pois é esta que se relaciona com as emoções e ações e ntStas há excesso falta e meio termo Por exemplo podese sentir medo confiança 42 1107 a Aristóteles tlesejos cólera piedade e de um modo geral prazer e sofrimento demais ou muito pouco e em ambos os casos isto não é bom mas experimentar estes sentimentos no momento certo em relação aos objetos certos e às pessoas certas e de maneira certa é o meio termo e o melhor e isto é característico da excelência Há também da mesma forma excesso falta e meio termo em relação às ações Ora a excelência moral se relaciona com as emoções e as ações nas quais o excesso é uma forma de erro tanto quanto a falta enquanto o meio termo é louvado como um acerto ser louvado e estar certo são características da excelência moral A excelência moral portanto é algo como a eqüidistância pois como já vimos seu alvo é o meio termo Ademais é possível errar de várias maneiras com efeito o mal pertence à categoria do limitado segundo a imaginação dos piragóricos 12 e o bem à categoria do limitado ao passo que só é possível acertar de uma maneira também por esta razão é fácil errar e difícil acertar fácil errar o alvo e difícil acertar nele também é por isto que o excesso e a falta são características da deficiência moral e o meio termo é uma característica da excelência moral pois a bondade é uma só mas a maldade é múltipla H A excelência moral então é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções disposição esta consistente num meio termo o meio termo relativo a nós determinado pela razão a razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria Tratase de um estado intermediário porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio termo Logo a respeito do que ela é ou seja a definição que expressa a sua essência a excelência moral é um meio termo mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo Mas nem toda ação ou emoção admite um meio termo pois algumas delas têm nomes nos quais já está implícita a maldade por exemplo o despeito a impudência a inveja e no caso das ações o adultério o roubo o assassinato em todas estas emoções e ações e em outras semelhantes com efeito a maldade não está no excesso ou na falta ela está implícita em seus próprios nomes Nunca será possível portanto estar cerro em relação a elas estarseá sempre errado Tampouco a bondade ou maldade a respeito de tais emoções e ações depende por exemplo de cometer adultério com a mulher certa no momento certo e do modo certo mas simplesmente sentir qualquer destas emoções ou praticar qualquer destas ações é um erro Seria igualmente absurdo então esperar que em ações injustas covardes e libidinosas houvesse um meio termo um excesso e uma falta pois seria preciso admitir a existência de um meio termo de excesso e de falta de um excesso de excesso e de uma falta de falta Mas Jl07b Ética a Nicômacos 43 da mesma forma que não há excesso ou falta de moderação e de coragem porque o meio termo é em certo sentido um extremo também não há meio termo nem excesso ou falta nas ações mencionadas seja qual for a maneira de praticálas elas estarão erradas pois em geral não há meio termo de excesso e falta nem excesso e deficiência de meio termo 7 É necessário porém não somente chegar a esta definição de ordem geral mas também aplicála aos fatos particulares pois entre as definições referentes à conduta as mais gerais têm uma aplicação mais ampla mas as particulares são mais verdadeiras já que a conduta tem a ver com casos particulares e nossas definições devem compatibilizarse com tais casos Estes casos podem ser tirados de nosso diagrama Em relação ao medo e à temeridade o meio termo é a coragem Das pessoas que pecam pelo excesso as excessivamente corajosas não têm uma designação especial muitos destes sentimentos não têm nome enquanto as pessoas excessi vamente temerárias são arrebatadas e as excessivamente medrosas e distantes da temeridade são covardes Quanto às várias espécies de prazer e sofrimento não todas elas e nem tanto em relação ao sofrimento o meio termo é a moderação e o excesso é a concupiscência Raramente aparecem pessoas que pecam pela falta em relação à fruição dos prazeres por isto estas pessoas não receberam uma designação específica mas podemos chamálas de insensíveis Em relação ao dinheiro que se dá e recebe o meio termo é a liberalidade e o excesso e a falta são respectivamente a prodigalidade e a avareza Nestas ações as pessoas se excedem ou são deficientes de maneiras opostas o pródigo se excede em gastos e é deficiente em relação aos ganhos enquanto o avarento se excede em ganhar e é deficiente em relação aos gastos no momento estamos apresentando um simples esboço ou sumário e devemos darnos por satisfeitos com isto posterior mente voltaremos ao assunto com maiores detalhes Em relação ao dinheiro há ainda outras disposições um meio termo que é a magnificência as pessoas magnificentes diferem das liberais as primeiras movimentam grandes somas e as últimas movimentam pequenas somas um excesso que é a ostentação e a vulgaridade e uma falta que é a mesquinhez estas disposições diferem das disposições opostas à liberali dade e a maneira pela qual elas diferem será explicada posteriormente Em relação à honra e desonra o meio termo é a magnanimidade o excesso é chamado de pretensão e a falta é a pusilanimidade e como já dissemos que a liberalidade se relaciona com a magnificência distinguin dose dela por tratar de pequenas somas há uma certa qualidade que tem afinidades com a magnanimidade relacionandose com pequenas honra rias enquanto a magnanimidade se relaciona com grandes honrarias Com efeito é possível desejar honrarias nas devidas proporções e mais do que é proporcional ao méÊito e menos e a pessoa que se excede em seus 44 Aristóteles desejos é chamada ambiciosa a que se omite é desambiciosa enquanto a pessoa numa posição intermediária não tem uma designação específic As respectivas disposições também não têm nome à exceção de que a disposição do ambicioso é chamada ambição Por isto as pessoas que estão 1108 a nas sicuações extremas pretendem ocupar o meio termo e nós mesmos ora chamamos as pessoas que estão na situação intermediária de ambiciosas ora de desambiciosas e ora louvamos uma pessoa por ser ambiciosa e ora por ser desambiciosa A razão pela qual fazemos isto será explicada posteriormente falemos agora de outras formas de excelência e deficiên cia moral de acordo com o método já apresentado Em relação à cólera também há excesso falta e meio termo Embora estas situações não tenham praticamente nomes uma vez que qualificamos a pessoa que está numa situação intermediária de amável chamemos o meio termo de amabilidade quanto às pessoas que estão nas situações extremas chamemos as que se excedem de irascíveis e esta espécie de deficiência moral de irascibilidade e chamemos as que pecam pela falta de apáticas e esta espécie de deficiência moral de apatia Há também outros três meios termos de certo modo semelhantes entre si mas na realidade diferentes uns dos outros todos se relacionam com o trato em palavras e ações mas diferem no sentido de que um deles se relaciona com a verdade na conversação e na conduta e os outros dois com a afabilidade destes últimos uma espécie aparece no convívio social ameno e a outra em todas as circunstâncias da vida Devemos portamo falar também destes para podermos perceber melhor que em todas as coisas a observância do meio termo é louvável e os extremos não são nem louváveis nem corretos mas reprováveis Muitas destas qualidades também não têm nomes mas devemos tentar como nos outros casos dar lhes nomes criados por nós mesmos de maneira a sermos mais claros e podermos ser seguidos com maior facilidade Em relação à verdade o caráter intermediário pode ser chamado de veraz e o meio termo de veracidade o gosto do exagero é jactância e a pessoa caracterizada por esta é jactanciosa na forma reticente a pessoa neste caso é caracterizada pela falsa modéstia Quanto à amabilidade no convívio social as pessoas na siruação intermediária são espiriruosas e sua disposição é a espirituosidade o excesso é a bufonaria e a pessoa caracterizada por ela é um bufão enquanto quem peca pela falta é 1108 b enfadonho e sua disposição é o enfado Quanto aos casos restantes de amabilidade demonstrada na vida em geral a pessoa amável da maneira adequada é amistosa e o meio termo é a disposição amistosa a pessoa que se excede é obsequiosa se não visa a algum objetivo interesseiro e é aduladora se visa à sua própria vantagem quem peca pela falta e é desagradável em qualquer circunstância pode ser chamado de misantropo Há um meio termo também nas emoções e em relação a elas pois a Ética a Nicômacos 45 vergonha não é uma forma de excelência moral mas se costuma lOlvar a pessoa que rem o sentimento da vergonha Com efeito mesmo sob este aspecto se pode dizer que uma pessoa está numa situação intermediária e outra numa situação extrema por exemplo a pessoa acanhada que se envergonha de tudo ao contrário que peca pela falta e não se envergonha de coisa alguma é impudente e quem observa o meio termo é recatado A indignação justa16 é um meio termo entre a inveja e o despetto e estas situações se relacionam com o sofrimento e o prazer sentidos diante da boa sorte do próximo A pessoa caracterizada pela indignação justa sofre em face do sucesso imerecido de alguém a invejosa indo além da primeira sofre com qualquer forma de sucesso e a despeitada indo ainda mais longe em vez de sofrer com a boa sorte dos outros merecida ou não alegrase com a desventura deles merecida ou nãoP Mas teremos melhor oportunidade para discutir estas situações em outro lugare Em relação à justiça já que ela não tem um significado único depois de descrever as outras situações faremos a distinção entre suas duas espélies e diremos qual é o meio termo de cada uma delas9 Trataremos igualmente das várias espécies de excelência intelectual60 8 Há então três espécies de disposições morais duas delas são deficiências morais e implicam em excesso e falta respectivamente e uma é excelncia moral ou seja o meio termo e cada uma delas é de certo modo opota às outras duas pois as situações extremas são contrárias tanto à situação intermediária quanto entre si e a intermediária é contrária às extremS da mesma forma que o médio é maior em relação ao menor e menor em relação ao maior as situações intermediárias são excessivas em relação às deficiências e deficientes em relação aos excessos tanto no caso das emoções quanto no das ações De fato o homem corajoso prece temerário em relação ao covarde e covarde em relação ao temerárin de forma idêntica o homem moderado parece concupiscente em relação ao insensível e insensível em relação ao concupiscente e o homem liberal 1109 a parece pródigo em relação ao avarento e avarento em relação ao próligo Conseqüentemente cada pessoa nas situações extremas empurra a pessoa na situação intermediária contra a outra e o homem corajoso é chamado de temerário pelo covarde e de covarde pelo temerário e da mesma forma nos outros casos Sendo então as disposições morais opostas umas às outras o maior grau de oposição é o existente entre os dois extremos e não entre cada extremo e a situação intermediária pois os extremos estão mais afastados entre si do que cada um deles em relação à situação intermediária da mesma forma que o grande está mais longe do pequeno e o pequeno do grande do que ambos estão do médio Ademais alguns extremos apresentam uma certa semelhança em rellção à situação intermediária 46 Aristóteles como no caso da temeridade em relação à coragem e no da prodisalidade em relação à liberalidade mas é entre si que os extremos apresentam a maior desigualdade tanto é assim que os contrários são definidos como as coisas mais afastadas entre si de tal forma que quanto mais afastadas estão as coisas mais contrárias elas são Em relação ao meio termo em alguns casos é a falta e em outros é o excesso que está mais afastado por exemplo não é a temeridade que é o excesso mas a covardia que é a falta que é mais oposta à coragem e não é a insensibilidade que é uma falta mas a concupiscência que é um excesso que é mais oposta à moderação Isto acontece por duas razões uma delas tem origem na própria coisa pois por estar um extremo mais próximo ao meio termo e ser mais parecido com ele opomos ao intermediário não o extremo mas seu contrário Por exemplo como se considera a temeridade mais parecida com a coragem e a covardia mais diferente opomos esta última à coragem pois as coisas mais afastadas do meio termo são tidas como mais contrárias a ele a outra razão tem origem em nós mesmos pois as coisas para as quais nos inclinamos mais naturalmente parecem mais contrárias ao meio termo Por exemplo tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isto somos levados mais facilmente para a concupiscên cia do que para a moderação Chamamos portanto contrárias ao meio termo as coisas para as quais nos sentimos mais inclinados logo a concupiscência que é um excesso é mais contrária à moderação 9 Já explicamos suficientemente então que a excelência moral é um meio termo e em que sentido ela o é e que ela é um meio termo entre duas formas de deficiência moral uma pressupondo excesso e outra pressupondo falta e que a excelência moral é assim porque sua caracterís tica é visar às situações intermediárias nas emoções e nas ações Por isto ser bom não é um intento fácil pois em tudo não é um intento fácil determinar o meio por exemplo determinar o meio de um círculo não é para qualquer pessoa mas para as que sabem da mesma forma todos podem encolerizarse pois isto é fácil ou dar ou gastar dinheiro mas proceder assim em relação à pessol certa até o ponto certo no momento certo pelo motivo certo e da maneira certa não é para qualquer um nem é fácil portanto agir bem é raro louvável e nobilitante Quem visa ao meio termo deve primeiro evitar o extremo mais contrário a ele de 1109 b conformidade com a advertência de Calipso61 Mantém a nau distante desta espuma e turbilhão De dois extremos com efeito um induz mais em erro e o outro menos logo já que atingir o meio termo é extremamente difícil a melhor entre as alternativas restantes62 como se costuma dizer é escolher o menor dos males e a melhor maneira de atingir este objetivo é a que descrevemos Mas deveos estar atentos aos erros para os quais nós ttica a Nicômacos 47 mesmos nos inclinamos mais facilmente pois algumas pessoas tendem para uns e outras para outros descorilosemos medince a observaçã o prazer ou do sofrimento que experimentamos ISto fe1to devemos dmglr nos resolutamente para o extremo oposto pois chegaremos à situação intermediária afastandonos tanto quanto possível do erro como se faz para acertar a madeira empenada Em tudo devemos precavernos principalmente contra o que é agradável e contra o prazer pois não somos juízes imparciais diante deste Devemos sentirnos em relação ao prazer da mesma forma que os anciãos do povo se sentiram diante de Helena e repetir em todas as circunstâncias as suas palavras63 pois se o afastamos de nós é menos provável que erremos Em resumo é agindo desta maneira que seremos mais capazes de atingir o meio termo Mas sem dúvida isto é difícil especialmente nos casos particulares porquanto não é fácil determinar de que maneira e com quem e por que motivos e por quanto tempo devemos encolerizarnos às vezes nós mesmos louvamos as pessoas que cedem e as chamamos de amáveis mas às vezes louvamos aquelas que se encolerizam e a chamamos de viris Entretanto as pessoas que se desviam um pouco da excelência não são censuradas quer o façam no sentido do mais quer o façam no sentido do menos censuramos apenas as pessoas que se desviam consideravelmente pois estas não passarão despercebidas Mas não é fácil determinar racionalmente até onde e em que medida uma pessoa pode desviarse antes de tornarse censurável de fato nada que é percebido pelos sentidos é fácil de definir tais coisas dependem de circunstâncias específicas e a decisão depende da percepção Isto é bastante para determinar que a situação intermediária deve ser louvada em todas as circunstâncias mas que às vezes devemos inclinarnos no sentido do excesso e às vezes no sentido da falta pois assim atingiremos mais facilmente o meio termo e o que é certo SECURITY COUNCIL BOARD S9549Rev1 1 March 1994 lllO a LIVRO III 1 A excelência moral se relaciona com as emoções e ações e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e censuradas enquanto as involuntárias são perdoadas e às vezes inspiram piedade logo a distinção entre o voluntário e o involuntário64 parece necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral e será útil também aos legisladores com vistas à atribuição de honrarias e à aplicação de punições Consideramse involuntárias as ações praticadas sob compulsão ou por ignorância um ato é forçado quando sua origem é externa ao agente sendo tal a sua natureza que o agente não contribui de forma alguma para o ato mas ao contrário é influenciado por ele por exemplo quando uma pessoa é arrastada il alguma parte pelo vento ou por outra pessoa que a cem em seu poder Mas há algumas dúvidas quanto às ações praticadas em conseqüincia do medo de males maiores ou com vistas a algum objetivo elevado por exemplo se um tirano tendo em seu poder os pais e filhos de uma pessoa desse ordem a esta pessoa para praticar alguma ação ignóbil e se a prática de tal ação fosse a salvação dos reféns que de outro modo seriam monos é discutível se tais ações são involuntárias ou voluntárias Algo do mesmo gênero ocorre também na hipótese do lançamento ao mar da carga de uma nau durante uma tempestade com efeito ninguém lança a carga ao mar voluntariamente mas como condição para assegurar a própria salvação e a de seus companheiros de viagem qualquer pessoa sensata agiria assim Tais ações então são misw mas se assemelham mais às voluntárias pois são objeto de uma escolha no momento de serem praticadas e a finalidade de uma ação varia de acordo com a oportunidade de tal forma que as palavras voluntário e involuntário devem ser usadas com referência ao momento da ação com efeito nos atos em questão a pessoa age 50 1110 b Aristóteles voluntariamente pois a origem do movimento das panes instrumenmu do corpo em tais ações está no agente e quando a origem de uma ação está numa pessoa está no poder desta pessoa praticála ou não estas ações portanto são voluntárias embora talvez sejam involuntárias se considera das de maneira global pois ninguém escolheria qualquer destes atos por si mesmos De faio os homens às vezes são até louvados pela prática de ações desta espécie quando se submetem a algo ignóbil ou penoso em troca de algo importante e nobilitante na situação oposta eles são censurados pois submeterse às maiores indignidades sem nenhum objetivo nobilitante ou por um objetivo corriqueiro é próprio de uma pessoa inferior Em alguns casos esta submissão não é louvada mas apenas perdoada quando alguém pratica um ato ignóbil sob pressões que violentam demais a natureza humana e que ninguém pode suportar Não podemos ser forçados porém a praticar certos atos pois seria preferível enfrentar a morte em meio aos mais terríveis sofrimentos por exemplo as ameaças que forçaram Alcmáion na peça de Eurípides a matar sua mãe parecem ridículas 6 Às 1vezes é difícil decidir o que devemos escolher e a que custo e o que idevemos suportar em troca de certo resultado e ainda é mais difícil firmarnos na escolha pois em muitos dilemas deste gênero o mal esperado é penoso e o que somos forçados a fazer é ignóbil por isto o louvor cabe a quem é compelido e a censura a quem não é Que espécies de atos então devem ser chamados forçados Irrestritamente não seriam aqueles em que a causa da ação éexna ao agente sem que este contribua de forma alguma para a sua prática Porém as ações involuntárias em si mas cuja escolha em certas circunstân cias com a compensação de certos resultados pode ser justificada e cujo princípio motor está no agente são involuntárias em si mas voluntárias nestas circunstâncias e com a compensação de certos resultados Elas se assemelham mais a atos voluntários pois as ações se enquadram na classe dos particulares e os atos paniculares aqui são voluntários Não é fácil estabelecer regras para decidir qual das alternativas deve ser escolhida pois os casos particulares diferem amplamente entre si Se alguém dissesse que os objetivos agradáveis e nobilitantes têm força compulsiva compelindonos de dentro para fora estaria dizendo que todos os atos seriam forçados pois é por causa destes objetivos que todas as pessoas fazem tudo Quem age sob compulsão e involuntariamen te age sofrendo mas quem pratica atos porque estes são agradáveis ou nobilitantes praticaos com prazer é tão absurdo atribuir a culpa às circunstâncias exteriores em vez de atribuíla a nós mesmos por sermos facilmente levados por atrativos desta espécie quanto atribuirnos o mérito por atos nobilitantes mas atribuir a culpa por atos ignóbeis aos 1111 a Ética a Nicômacos 51 objetivos agradãveis Os atos forçados então são aparentemente aqueles cuja origem é externa ao agente e para os quais o agente não contribui de forma alguma Tudo que é feito por ignorância é nãovoluntãrio66 somente aquilo que produz sofrimento e pesar é involuntãrio Com efeito quem fez alguma coisa por ignorância e não sente o menor pesar pelo que fez não agiu voluntariamente pois não sabia o que estava fazendo nem involuntariamente pois não sentiu pesar Então das pessoas que agem por ignorância àquelas que demonstram pesar são consideradas agentes involuntãrios e as que não demonstram pesar podem ser chamadas de agentes nãovoluntãrios por serem indiferentes pois jã que elas se distinguem das outras é melhor que tenham um nome específico Agir por ignorância parece também diferente de agir na ignorância pois se considera que uma pessoa embriagada ou encolerizada age não por ignorância mas por uma das causas mencionadas sem saber o que está fazendo e na ignorância Todas as pessoas perversas com efeito ignoram o que devem fazer e aquilo de que devem absterse e o erro desta espécie torna as pessoas injustas e em geral más Porém o termo involuntário não se aplica na realidade às ações em que o agente ignora seus interesses pois não é a ignorância na escolha de um objetivo que torna uma ação involuntária ela torna os homens perversos nem a ignorância em geral isto é motivo de censura mas a ignorância em particular isto é das circunstâncias da ação e dos objetivos contemplados Efetivamente é destas circunstâncias que dependem a piedade e o perdão pois quem ignora qualquer delas age involuntariamente Talvez também não faça mal determinar o número e a natureza destas circunstâncias Uma pessoa talvez ignore quem ela é o que ela está fazendo e aquilo que é afetado pelo ato ou é alcançado por ela às vezes a pessoa também pode ignorar o instrumento por exemplo o instrumento com o qual o ato é praticado o efeito por exemplo salvando a vida de um homem e a maneira por exemplo moderadamente ou violenta mente Ninguém a não ser que se trate de um louco poderia ignorar estas circunstâncias muito menos é óbvio o agente como uma pessoa ignoraria quem é ela mesma Mas um homem pode ignorar o que está fazendo como por exemplo quando se diz que isto escapou de seus lábios enquanto eles estavam falando ou eles não sabiam que se tratava de um segredo como Ésquilo diz dos mistérios ou deixoua sair quando queria apenas mostrála em funcionamento como fez o homem no caso da catapulta Ou então uma pessoa pode confundir seu filho com um inimigo como Merope 66 ou confundir uma lança de ponta aguçada com 52 Aristóteles uma terminada por uma esfera ou lima pedrapomes com uma pedra pesada ou matar uma pessoa com uma bebem dada com a intenção de salvAla ou querer apenas tocar numa pessoa como na luta livre e ferila A ignorância então pode relacionarse com todas estas circunstâncias e podese supor que a pessoa ignorante de qualquer delas tenha agido involuntariamente especialmente se ela era ignorante quanto aos pontos mais importantes pensase que estes se identificam com as circunstâncias referentes ao próprio ato e seus efeitos Além disto a execução de um ato qualificado de invoiuntário por causa de ignorincia desta espécie deve ser penosa e deve provocar pesar Sendo involuntária uma ação executada sob compulsão ou por ignorincia um ato voluntário é presumivelmente aquele cuja origem está no próprio agente quando este conhece as circunstincias particulares em que está agindo É provável que não seja correto chamar de involuntários os atos praticados por causa da cólera ou do desejo com efeito em primeiro lugar este procedimento nos impediria de dizer que qualquer animal inferior ou qualque criança age voluntariamente Então nenhu ma de nossas ações motivadas pelo desejo ou pela cólera é voluntária Ou ações nobilitantes sio voluntirias e as ignóbeis são involuntárias Isto não é um absurdo sendo a causa uma só Seria certamente estranho qualificar de involuntários atos que visam a coisas que é justo desejar pols devemos encolerizarnos em certas circunstâncias e desejar certas coisas como por exemplo a saúde e o saber Mais ainda pensase que o que é involuntário é penoso mas se pensa que o que corresponde a um desejo é agradável 1111 b Além disto qual é a diferença quanto ao aspecto da involuntariedade entre erros cometidos premeditadamente e os cometidos sob o domínio da cólera Ambos devem ser evitados mas as emoções irracionais não são consideradas menos humanas do que as racionais e portanto as ações motivadas pela cólera ou pelo desejo são do homem Seria estranho então classificálas como involuntárias 2 Tendo definido o voluntário e o involuntário devemos examinar em seguida a escolha 69 esta com efeito parece relacionarse intimamente cóm a excelência moral e proporciona um juízo mais seguro sobre o caráter do que sobre as ações A escolha então parece voluntária mas não é a mesma coisa que o voluntário pois o âmbito deste é mais amplo De fato tanto as crianças quanto os animais inferiores são capazes de ações voluntárias mas não de escolha Também definimos os atos repentinos como voluntários mas não como o resultado de uma escolhL Aqueles que identificam a escolha com o desejo ou a paixão ou a aspiração ou uma espécie de opinião não parecem estar falando acertadamente pois a escolha não é partilhada também pelos seres 1112 a Ética a Nicômacos irracionais mas a paixão e o desejo são Ademais as pessoas inconinentes agem movidas pelo desejo mas não pela escolha as dotadas de continên cia ao contrário agem por escolha mas não por desejo além disto o desejo é contrário à escolha mas o desejo não é contrário ao próprio desejo mais ainda o desejo se relaciona com o agradável e o penoso mas a escolha não se relaciona nem com o penoso nem com o agradável A escolha se identifica ainda menos com a paixão pois os atos motivados pela paixão são provavelmente menos passíveis de esclha que quaisquer outros Ela tampouco se identifica com a aspiração embora pareça ter afinidades com esta com efeito a escolha não pode ter por objetivo impossibilidades e se alguém dissesse que as havia escolhiJo seria considerado insensato mas se pode aspirar até a coisas impossíveis como por exemplo à imortalidade E a aspiração pode relacionarse com coisas que de forma alguma seriam capazes de realizarse apenas pelo próprio esforço de uma pessoa por exemplo a aspiração de um atar ou atleta à vitória em uma competição pessoa alguma escolhe tais coisas mas somente as coisas que ela pensa poder conseguir por seu próprio esforço Ademais a aspiração se relaciona mais com os fins enquanto a escolha se relaciona com os meios por exemplo aspiramos a ser saudáveis mas escolhemos atos que nos tornarão saudáveis e aspiramos a ser felizes e dizemos que somos mas não podemos dizer acertadamente que escolhe mos ser felizes pois em geral a escolha parece relacionarse com 1s coisas ao nosso alcance Também por esta razão a escolha não pode ser opinião pois se pensa que a opinião se relaciona com todas as espécies de coisas e nãl menos com as coisas eternas e impossíveis do que com as coisas ao nosso alcance a opinião se distingue por sua falsidade ou verdade e não por sua maldade ou bondade ao passo que a escolha se distingue mais por estas últimas características É provável portantO que ninguém realmente identifique a escolha com a opinião geral Tampouco ela é idêntica a qualquer esrécie de opinião pois é nossa escolha do bem e do mal que nos faz homens de um certo caráter e não nossa opinião Escolhemos se iremos procurar ou evitar alguma coisa boa ou má porém opinamos quanto ao que é uma coisa ou para quem ela é vantajosa ou como ela é vantajosa para alguém dificilmente se pode dizer que opinamos no sentido de obter ou evitar qualquer coisa e a escolha também é louvada por relacionarse com o objetivo certo ou por ser acertada e a opinião é louvada por ser verdadeira Escolhemos o que é indubitavelmente reconhecido como bom mas opinamos sobre coisas que não sabemos de forma alguma se são boas e não são as mesmas pessoas que consideramos capazes df fazer a 54 1112 b Aristóteles melhor escolha e de ter as melhores opiniões com efeito algumas pessoas são tidas como aptas a opinar muito bem mas por deficiência moral elas podem escolher o que não devem É irrelevante saber se a escolha é precedida ou acompanhada pela opinião pois este não é o ponto sob exame o que indagamos é se a escolha é idêntica a alguma forma de opinião Que é a escolha ou que espécie de manifestação da alma ela é já que não é qualquer das manifestações recémmencionadas Aparentemente ela é voluntária mas nem tudo que é voluntário é objeto de escolha Será ela então aquilo que é precedido pela deliberação Seja como for a escolha requer o uso da razão e do pensamento Seu próprio nome aliás parece sugerir que ela é aquilo que é escolhido de preferência a outras coisas 0 3 Será que deliberamos acerca de tudo e tudo é um possível objeto de deliberação ou a deliberação é impossível acerca de certas coisas É de presumirse que devemos chamar de objetos de deliberação não os assuntos sobre os quais um insensato ou um louco deliberaria mas aqueles sobre os quais deliberaria um homem sensato Ora ninguém delibera sobre coisas eternas por exemplo sobre o universo ou sobre a incomensurabilidade da diagonal e do lado de um quadrado tampouco deliberaríamos sobre corpos em movimento mas que se movimentam sempre de maneira idêntica seja por necessidade ou por natureza ou por qualquer outra causa por exemplo os solstícios e a posição dos astros nem sobre fenômenos que ora ocorrem de uma maneira ora de outra por exemplo secas e chuvas nem sobre eventos fortuitos como a descoberta de um tesouro não deliberamos sequer sobre todos os assuntos que interessam aos homens por exemplo nenhum espartano delibera sobre a melhor constituição para os citas pois coisa nenhuma deste gênero pode ser influenciada por nossos próprios esforços Deliberamos sobre coisll que estão ao nosso alcance e podem ser feitas e são estas as que ainda estão por ser examinadas Com efeito pensase que a natureza a necessidade e o acaso são causas da mesma forma que a razão e tudo que depende do homem Mas cada classe de homens delibera sobre coisas que podem ser feitas graças aos seus próprios esforços No caso das ciências exatas e autônomas não há deliberação por exemplo sobre as letras do alfabeto não temos dúvidas sobre a maneira de escrevêlas mas as coisas influenciáveis por nossas ações porém nem sempre de maneira idêntica são aquelas sobre as quais deliberamos por exemplo questões relativas ao trataníento médico ou ao enriquecimento Deliberamos mais sobre navegação que sobre exercí cios físicos pois estes ainda estão menos organizados como ciência e são menos precisos acontece o mesmo com outras atividades em condições trica a Nicômacos 55 idênticas e mais ainda no caso das anes que no das ciências pois temos mais dúvidas acerca das primeiras A deliberação se relaciona com coisas que em geral acontecem de um modo determinado mas cujo desfecho é obscuro e com coisas nas quais ele é indeterminado Mais ainda recorremos a outros para ajudarnos na deliberação sobre questões importantes desconfiando de nossa capacidade de decidir Deliberamos não sobre fins mas sobre meios pois um médico não delibera para saber se deve curar nem um orador para saber se deve convencer nem um estadista para saber se deve assegurar a concórdia nem qualquer outra pessoa delibera sobre a própria finalidade de sua atividade Definida a finalidade as pessoas procuram saber como e por que meios tal finalidade deve ser alcançada se lhes parece que ela é resultante de vários meios as pessoas procuram saber por que meio podem alcançála mais facilmente e realizála melhor se é possível chegar a ela por um único meio as pessoas procuram saber como ela poderá ser realizada por este meio e por que meios este meioserá alcançado até chegarem à primeira cawa que é a última na ordem de descoberta De fato a pessoa que delibera parece investigar e analisar da maneira descrita como se estivesse analisando uma figura geométrica nem toda investiga ção parece ser uma deliberação por exemplo as investigações matemáticas não o são mas toda deliberação é uma investigação e o último passo na análise parece ser o primeiro passo na execução se 1113 a chegamos a uma impossibilidade abandonamos a busca por exemplo se temos necessidade de dinheiro e não o obtemos mas se uma coisa parece possível tentamos realizála Por coisas possíveis quero significar coisas que podem ser realizadas graças aos nossos próprios esforços e estas incluem em certo sentido coisas que podem ser realizadas graças aos esforços de nossos amigos desde que a origem da ação esteja em nós mesmos A investipção às vezes é sobre os instrumentos e às vezes sobre o seu uso o mesmo acontece em outras esferas às vezes temos de investigar os meios às vezes o modo de usálos ou os modos de realizálos Parece então como dissemos que o homem é a origem de suas ações a deliberação é acerca das coisas a serem feitas pelo próprio agente e as ações são executadas com vistas a coisas diferentes delas Efetivamente a finalidade não pode ser objeto de deliberação mas somente os meios tampouco os fatos particulares podem ser seu objeto por exemplo se isto é pão ou foi cozido ao forno como devia pois estas são matérias de percepção e se não nos detivermos em certo ponto da deliberação71 iremos até o infinito O objeto da dliberação e o objeto da escÓliia são uma só e a mesma coisa com a ressalva de que o objeto da escolha já está determinado uma vez que aquilo que foi decidido em decorrência da deliberação é o objeto da escolha De fato o homem pára de perguntarse como deve agir logo 56 lll3b Aristóteles que fraz de volta a origem da ação a si mesmo e à parte dominante n de si mesmo pois é esta parte dominante que escolhe Isto pode ser ilustrado pelas antigas constituições que Homero mostra em seus poemas pois os reis anunciavam ao povo as medidas por eles escolhidas Então como o objeto da escolha é algo ao nosso alcance que desejamos após deliberar a escolha será um desejo deliberado de coisas ao nosso alcance pois quando após a deliberação chegamos a um juízo de valor passamos a desejar de conformidade com nossa deliberação Demos então por descrita a escolha em suas linhas gerais e por expostos a natureza de seus objetivos e o fato de que ela se relaciona com os meios para chegarmos aos fins 4 Já dissemos acima que as aspirações têm em vista os fins algumas pessoas pensam que aspiramos ao bem real outras que aspiramos ao bem aparente a cada um de nós As pessoas que dizem que o bem real é o objeto das aspirações devem admitir concomitantemente que aquilo a que aspira um homem que não escolhe corretamente não é um objeto de aspiração se o fosse também poderia ser bom mas pode acontecer que seja mau entretanto as que dizem que o bem aparente é objeto de aspiração devem admitir que não há um objeto natural de aspiração mas somente o que parece bom a cada homem Mas coisas diferentes parecem boas a pessoas diferentes e sendo este o caso mesmo coisas contrárias podem parecer boas a pessoas diferentes Se estas inferências não satisfazem devemos então dizer que o objeto de aspiração no sentido absoluto e verdadeiro é o bem real mas para cada pessoa o objeto de aspiração é o bem aparente logo devemos dizer que o homem bom aspira àquilo que é verdadeiramente um objeto de aspiração enquanto qualquer coisa ao acaso pode ser um objeto de aspiração para o homem mau da mesma forma que no caso de nosso corpo um homem sadio acha realmente os alimentos saudáveis melhores para a sua saúde mas outro regime qualquer pode ser saudável para um homem doentio o mesmo raciocínio se aplica às coisas amargas e doces quentes pesadas etc pois o homem bom julga tudo corretamente e em cada classe de coisas estas lhe parecem o que realmente são Com efeito cada tipo de pessoa conforme o seu caráter tem suas próprias idéias a respeito do que é nobilitante e agradável e talvez o homem bom difira dos outros principalmente por ver a verdade em cada classe de coisas sendo ele por assim dizer a norma e medida do nobilitante e agradável Em relação à maioria das coisas o erro é aparentemente devido ao prazer pois este parece um bem embora não o seja Por isso escolhemos o agradável como um bem e evitamos o sofrimento como um mal 1114 a Ética a Nicômacos 57 5 Sendo os fins então aquilo a que nós aspiramos e os meios aquilo sobre que deliberamos e que escolhemos as ações relativas aos meios devem estar de acordo com a escolha e ser voluntárias Ora o exercíCio da excelência moral se relaciona com os meios logo a excelência moral também está ao nosso alcance da mesma forma que a deficiência moral Com efeito onde está ao nosso alcance agir também está ano nosso alcance não agir e onde somos capazes de dizer não também somos capazes de dizer sim conseqüentemente se agir quando atir é nobilitante está ao nosso alcance não agir que será ignóbil tarrbém estará ao nosso alcance e se não agir quando não agir é nobilitante escá ao nosso alcance agir que será ignóbil também estará ao nosso alcance Se está ao nosso alcance então praticar atos nobilitantes ou ignóbeis e se isto era o que significava ser bom ou mau está igualmente ao rosso alcance ser moralmente excelentes ou deficientes Dizer que ninguém é voluntáriamente desgraçado nem é feliz Cntra a vontade parece parcialmente falso e parcialmente verdadeiro pois ninguém é feliz contra a vontade mas a desgraça pode ser volutária Ou então teremos de pôr em dúvida o que acabamos de dizer e negar que o homem é o originador e o gerador de suas ações como se se tratasse de seus filhos Mas se é evidente que o homem é a origem de suas próprias ações e se não somos capazes de relacionar nossa conduta a quaisquer outras origens que não sejam as que estão dentro de nós mesmos encio as ações cujas origens estão em nós devem também depender de nós e ser voluntárias Esta conclusão parece comprovada tanto pelos indivíduos em sua vida privada quanto pelos próprios legisladores pois estes punem os autores de maldades e exigem deles uma reparação a não ser que eles tenham agido sob compulsão ou por ignorância cuja responsabilidade não lhes pode ser atribuída enquanto concedem dinstinções aos autores de atos nobílitan tes como se pretendessem estimular os últimos e reprimir os primtiros Mas ninguém é estimulado a praticar ações que não estejam ao seu alcance nem sejam voluntárias não há presumivelmente vantagem em ser persuadido a não sentir calor ou dor ou fome ou coisas do mtsmo gênero já que nio deixaremos de experimentar tais sensações por ito Realmente punimos uma pessoa até por sua ignorância se el1 for considerada responsavel pela ignorância como quando as penalidades são dobradas no caso da embriaguez efetivamente a origem da ação esrá no próprio homem pois estava ao seu alcance não ficar embriagado e a embriaBuez foi a causa de sua ignorância Punimos igualmente as pessoas que ignoram qualquer dispositivo das leis que devem conhecer e podem conhecer facilmente e da mesma forma no caso de qualquer outra proibição cuja ignorância seja presumivelmente devida à negligência 58 Aristóteles presumimos que estava ao alcance destas pessoas não ser ignorantes pois elas teriam podido tomar precauções Mas talvez se trate de pessoas do tipo das que não cuidam de precaver se mesmo estas todavia são responsáveis em conseqüência da vida descuidada que levam por seu procedimento injusto e por sua concupis cência pois elas praticam más ações ou passam o tempo entregues à embriaguez ou a desregramentos da mesma narureza estas pessoas adquirem um determinado caráter por agirem constantemente de determi nada maneira Isto é mais evidente no caso de pessoas que se exercitam para alguma competição ou tentativa elas praticam durante o tempo todo Portanto somente uma pessoa totalmente insensata poderia deixar de perceber que as disposições de nosso caráter são o reultado de uma determinada maneira de agir Então é irracional supor que um homem que age injustamente não deseja ser injusto ou um homem que age concupiscentemente não deseje ser concupiscente Mas se uma pessoa pratica ações que a tornam injusta sem ser ignorante ela será injwta voluntariamente Disto não resulta porém que se ela quiser deixará de ser injusta e passará a ser justa da mesma forma um homem doente não ficará bom desta maneira embora possa acontecer que sua doença seja voluntária no sentido de ser o resultado de sua vida de dissipação e de sua desobediência aos médicos Neste caso de início teria dependido dele não ficar doente mas não agora que ele desperdiçou sua oportunidade da mesma forma que depois de atirar uma pedra não é possível fazêla voltar atrás não obstante a pessoa que atirou a pedra é responsável por havêla apanhado e lançado pois a origem doato estava nesta pessoa De maneira idêntica as pessoas injustas ou concupiscentes poderiam de início ter evitado estas formas de deficiência moral e ponanto são injustas ou concupiscentes voluntariamente Agora porém que elas são assim já não lhes é possível deixar de sêlo Mas não é apenas a deficiência moral que é voluntária as deficiências físicas também o são para cenas pessoas que censuramos por isto enquanto ninguém censura as pessoas feias por narureza censuramos aquelas que o são por falta de exercícios e de cuidados O mesmo acontece em relação à fraqueza e às deformidades ninguém recriminaria um cego de nascença ou em conseqüência de doença ou acidente e teria até pena dele ao contrário todos censurariam uma pessoa cega por causa de embriaguez ou outra forma de concupiscêncoa Quanto às deficiências físicas então aquelas que poderíamos ter evitado são objeto de recrimina ção e aquelas que não estava ao nosso alcance evitar não o são Sendo assim seguese que estaria ao nosso alcance evitar as formas de deficiência moral que são objeto de censura Ética a Nicômacos 59 1114 b Mas se alguém disser que todas as pessoas aspiram ao bem aparente a cada uma delas porém não são responsáveis pelo fato de ele ser apenas aparente já que os fins aparecem a cada pessoa sob uma forma correspondente ao seu caráter responderemos que se cada pessoa é de algum modo responsável por sua disposição moral ela também é responsável de algum modo por aceitar apenas a aparência do bem se não for assim ninguém será responsável pelo mal que fizer pois todos praticarão más ações por ignorãncia quanto aos fins pensando que por estes chegarão ao melhor O fim a que se visa não é escolhido automaticamente mas cada pessoa deve ter nascido com uma espécie de visão moral graças à qual a pessoa forma um juízo correto e escolhe o que é realmente bom e será naturalmente bem dotado quem for bem dotado sob este aspecto De fato esta visão moral é a dádiva maior e mais nobre da naturea e é algo que não podemos obter ou aprender de outras pessoas mas devemos ter tal como nos foi dado ao nascermos ser bem e superiormente dotado sob este aspecto constituirá a excelência perfeita e verdadeira em termos de dons naturais Se esta teoria corresponde à verdade então como poderia a excelência moral ser mais voluntária que a deficiência moral Em ambos os casos igualmente para a pessoa boa e para a má os fins aparecem e são fixados pela natureza ou seja pelo que for e é relacionando tudo mais com os fins que as pessoas praticam todas e quaisquer ações Se não é por natureza então que os fins não aparecem a cada pessoa tais como são de tal forma que algo também depende da pessoa ou se os fins são naturais mas pelo fato de o homem bom adotar voluntariamente os meios a excelência moral é voluntária a deficiência moral também não será menos voluntária com efeito no homem mau também está presente aquilo que depende dele mesmo em suas ações embora não esteja na escolha de seus fins Se como foi dito a excelência moral é voluntária e de fato nós mesmos somos de ceno modo ao menos em pane a causa de nossas disposições morais e é por termos um certo caráter que determina mos que os fins devem ser de cena espécie a deficiência moral também deve ser voluntária pois as mesmas considerações se lhe aplicam Já examinamos resumidamente as várias formas de excelência moral em geral indicando que elas são meios e são disposições que tendem por sua própria natureza à realização dos atos pelos quais elas são produzidas que elas estão ao nosso alcance e são voluntárias e que atuam de acordo com as injunções da reta razão Mas as ações e disposições não são voluntárias de maneira idêntica pois somos senhores de nossas ações do princípio ao fim se conhecemos os fatos paniculares mas embora tenhamos o controle da fase inicial de nossas disposições a evolução de cada estágio das mesmas não é perceptível tal como acontece nas doenças 60 1115a Aristóteles mas jl que a maneira de r dependia de nós as disposições morais são volundrias Retomando porém a indagação examinemos as várias espécies de excelência moral separadamente e definamos a sua natureza as classes de objetos com as quais elas se relacionam e como elas se relacionam com eles veremos ao mesmo tempo quantas são as formas de excelência moral 6 Falemos primeiro da coragem Já fizemos ver que ela é um meio termo entre o medo e a temeridade as coisas que tememos são obviamente coisas temíveis e falando de um modo geral tratase de males por esta razão o medo é definido como uma expectativa do mal É verdade que tememos todos os males por exemplo a desonra a pobreza a doença a falta de amigos a morte mas não se imagina que a coragen se manifeste em relação a todos eles com efeito devese e é até nobilitante temer alguns deles e é ignóbil não os temer a desonra por exemplo as pessoas que a temem são boas e decentes e as que não a temem são desbriadas embora haja quem diga por analogia que tais pessoas são corajosas pois sua conduta tem alguma similaridade com a coaragem já que o homem corajoso também é ousado Talvez não devamos temer a pobreza e a doença nem de um modo geral os males que não provêm da deficiência moral nem são devidos ao próprio homem e o homem destemido em relaçio a estes males não é realmente corajoso aplicamoslhe entretanto o termo em decorrência também de uma similaridade pois alguns homens covardes diante dos perigos da guerra são liberais e confiantes em face da perda de sew bens Um homem também não é covarde se teme um ultraje aos sew filhos e à sua mulher ou a inveja ou algo da mesma natureza nem é corajoso se se mostra arrogante quando está na iminência de ser açoitado Em relação a que coisas temíveis então o homem demonstra ser corajoso Seria em relação às mais temíveis Com efeito provavelmente ninguém se manterá mais firme que o homem corajoso diante das coisas realmente temíveis Ora a morte é a mais temível de todas as coisas pois ela é o fim de tudo e pensamos que quanao um homem morre nem o bem nem o mal existem mais para ele Mas aparentemente não é em todas as circunstâncias que a morte dá oportunidade à manifestação da coragem por exemplo num naufrágio ou no caso de doenças Em que circunstân cias então Certamente nas mais nobilitantes Tal morte é a que ocorre em combate pois ela sobrevém diante dos maiores e mais nobilitantes perigos e é devidamente honrada nas cidades e pelos monarcas Será chamado corajoso com toda a propriedade então o homem destemido em face de uma morte nobilitante e de todas as circunstâncias em que haja um 1115 b perigo real de morte e as emergências da guerra são desta natureza em seu mais alto grau Mas em naufrágios também e em face das doenças o homem corajoso é destemido porém não da mesma maneira que os tripulantes num naufrágio pois o homem corajoso perde logo todas as 1116 a Ética a Nicômacos 61 esperanças e lhe repugna a idéia de morrer afogado enquanto os tripulantes ainda têm esperanças por causa de sua experiência Da mesma forma demonstramos coragem em situações nas quais há oportunidade de evidenciar bravura ou em que a morte é nobilitante mas na morte em caso de naufrágio ou por doença nenhuma destas oportunidades pode apresentarse 1 O que é tbinível não é a mesma coisa para todas as pessoas mas dizemos que há coisU temíveis além da resistência humana Estas então são temíveis para todas as pessoas mas as coisas temíveis que não estão além da resistência humana diferem em magnitude e grau e o mesmo acontece com as coisas que inspiram confiança Mas o homem corajoso é tão intrépido quanto uma criatura humana pode ser logo embora possa temer as coisas que não estão além da resistência humana ele as enfrentará de conformidade com os ditames da razão por causa da honra pois este é um dos fins da excelência moral É possível entretanto temer mais ou temer menos estas coisas e temer coisas que não são temíveis como se realmente o fossem Das faltas que cometemos uma consiste em temer o que não deveríamos outra consiste em temer como não deveríamos outra em temer quando não deveríamos e assim por diante O mesmo acontece a respeito das coisas que inspiram confiança Então a pessoa que enfrenta e teme as coisas certas e por motivos certos da maneira cerca e na ocasião certa e que é confiante nas condições pertinentes é realmente corajosa pois a pessoa corajosa sente e age de acordo com o mérito das circunstân cias e como manda a razão e a finalidade de cada atividade é a conformida de com a disposição moral correspondente Isto é verdadeiro portanto para a pessoa corajosa e também para as outras Mas a coragem é nobilitante e conseqüentemente sua finalidade também é nobilitante pois cada coisa é definida por sua finalidade Logo é por uma finalidade nobilitante que uma pessoa corajosa resiste e age de conformidade com os ditames da coragem Das pessoas que tendem para o excesso as excessiva mente destemidas não têm um nome especial dissemos anteriormente que muitas disposições morais não têm nomes especiais 79 mas seriam como que loucas ou insensíveis ao sofrimenro as pessoas que nada temessem nem terremotos nem vagalhões como dizem que acontece com os celtas quanto às pessoas excessivamente confiantes em relação ao que é realmente temível elas são temerárias As pessoas temerárias são consideradas também jactanciosas e meras simuladoras de coragem de fato elas apenas desejam parecer aquilo que as pessoas corajosas realmen te são em face das coisas temíveis e assim as imitam nas situações em que podem fazêlo Por isto em sua maior parte elas são uma mistura de temerárias e covardes pois enquanto em tais situações demonstram confiança elas não se mantêm firmes contra o que é realmente temível As pessoas excessivamente temerosas são covardes pois elas temem o que 62 Aristóteles não devem e como não devem e todas as situações similares se lhes aplicam Faltalhes também a confiança mas elas são mais notadas por seu excesso de temor em situações difíceis O homem covarde então é um homem sem esperanças pois teme tudo O homem corajoso ao contrário tem uma disposição oposta pois a confiança é a marca de uma disposição esperançosa O covarde o temerário e o corajoso ponanto relacionamse com os mesmos objetos mas têm disposições diferentes em face deles com efeito os dois primeiros pecam pela falta e pelo excesso respectiva mente enquanto o terceiro ocupa o meio termo que é a posição cena além disto as pessoas temerárias são precipitadas e antes da hora anseiam por perigos mas recuam quando se vêm envolvidas por eles enquanto as pessoas corajosas se sentem excitadas na hora de agir mas antes estio tranqüilas Como dissemos anteriormente a coragem é o meio termo em relação às coisas que inspiram confiança ou temor nas circunstâncias enunciadas10 e o homem corajoso escolhe e enfrenta as coisas porque é nobilitante agir corajosamente ou porque é ignóbil não agir assim Mas morrer para livrar se da pobreza ou do amor ou de qualquer coisa penosa não é próprio de um homem corajoso e sim de um covarde pois é fraqueza fugir do que é aflitivo e um homem desta espécie enfrenta a morte não por ser nobilitante mas para fugir a um mal 8 É esta então a natureza da coragem mas seu nome se aplica ainda a cinco outras espécies da mesma disposição moral Primeiro remos a coragem do cidadãosoldado pois esta é a que mais se assemelha à verdadeira coragem Parece que os cidadãossoldados enfrentam perigos por causa das punições impostas pelas leis por causa das censuras em que incorreriam se agissem de maneira diferente e por causa das honrarias com que são distinguidos por agirem assim É por isto que os homens parecem rer mais coragem entre os povos que estigmatizam os covardes e honrai os corajosos Esta é a espécie de coragem descrita por Homero referindo se por exemplo a Diomedes e Hêctor Primeiro Polidamas me censurará e Hêctor dirá um dia em Tróia vangloriandose perto de mim escava o filho de Tideus 81 Esta espécie de coragem é muito parecida com a que descrevemos anteriormente n porque resulta da excelência moral ela provém com efeito do sentimento de vergonha e da aspiração a um objetivo nobilirante a honra e do desejo de evitar a desonra que é ignóbil Podemos incluir na mesma categoria até os soldados que são compelidos por sew coman dantes mas neste caso seu mérito é menor porquanto eles agem assim não pelo sentimento de vergonha mas por temor e para evitar não o que é 1116 b 1117a Ética a Nicômacos 63 desonroso mas o que é penoso pois seus comandantes os compelem como Hêctor Se eu vir algum soldado abandonar a luta sua carcaça irá cevar as cães sem dúvida Os comandantes que mandam os soldados ocupar certas posições e os espancam se eles recuam agem de maneira idêntica da mesma forma que os que os mantêm nas posições graças a fossos ou algo do mesmo gênero cavado na retaguarda Todos os que estão neste caso usam a compulsão mas um homem deve ser corajoso não sob compulsão e sim porque a coragem é nobilitante A experiência em relação a uma determinada situação de perigo também é considerada uma espécie de coragem daí surgiu a noção de Sócrates segundo a qual a coragem é conhecimento Este tipo de coragem é demonstrado por várias pessoas em várias circunstâncias e os soldados profissionais o exibem nas situações perigosas da guerra com efeito parece haver muitos alarmes infundados na guerra e destes os soldados profissionais têm a mais completa experiência eles parecem portanto corajosos porque os outros não conhecem a realidade das situações Além disto sua experiência os torna mais eficientes no ataque e na defesa já que eles podem usar as melhores armas da maneira mais eficiente possível tanto no ataque quanto na defesa por isto eles lutam como homens armados contra desarmados ou como atletas experientes contra principiantes nas competições atléticas com efeito acontece também que não são os homens mais corajosos que competem melhor e sim os mais fortes e aqueles cujo preparo físico é melhor Os soldados profissionais entretanto tornamse covardes quando o perigo os põe num estado de grande tensão e eles são inferiores em número e equipamentos eles são de fato os primeiros a fugir enquanto os componentes das tropas de cidadãossoldados morrem em seus postos como aconteceu realmente junto ao templo de Hermes Para os últimos com efeito a fuga é degradante e a morte é preferível à salvação em condições humilhantes ao passo que os primeiros desde o princípio enfrentam o perigo na presunção de que são mais fortes e quando tomam conhecimento de fatos adversos fogem temendo a morte mais que a degradação Mas o homem corajoso não é deste tipo O arrebatamento às vezes também é classificado como corasem as pessoas movidas pela cólera como animais selvagens lançandose contra quem os feriu são tidas como corajosas porque os homens corajosos são arrebatados o arrebatamento mais que qualquer outra emoção leva os homens a correr perigos daí as palavras de Homero esforçase em seu arrebatamento e exacerbou a força e o arrebatamenco e a amarga indignação brotou de suas narinas e seu sangue ferveu90 rodas estas expressões indicam exacerbação e um impulso do arrebatamento Os homens corajosos agem por causa da honra mas o rebatamento os ajuda 64 Aristóteles enquanto os animais selvagens agem sob a influência do sofrimento eles atacam por terem sido feridos ou por estarem assustados pois não se aproximam das pessoas quando estão na floresta Eles não são valentes então porque impelidos pelo sofrimento e pelo arrebatamento se precipitam para o perigo sem calcular os riscos os próprios asnos são valentes quando estão famintos pois nem pancadas os afastam de seu alimento a luxúria também leva os adúlteros a praticar muitas ações ousadas Mas estas criaturas que são impelidas para o perigo pelo sofrimento ou pelo arrebatamento não são corajosas A coragem devida ao arrebatamento parece a mais natural e se assemelha realmente à coragem propriamente dita se lhe são acrescentadas a escolha e a motivação As pessoas também sofrem quando encolerizadas e sentem prazer quando se vingam aquelas que combatem levadas por estas razões todavia são combativas91 mas não são corajosas pois não agem motivadas pela honra nem obedecendo aos ditames da razão e sim pela força de um sentimento há nestes casos porém uma certa analogia com a coragem Tampouco as pessoas confiantes são corajosas pois elas são ousadas diante do perigo somente porque foram vitoriosas com freqüência e contra muitos inimigos Mas elas se assemelham acentuadamente às pes soas corajosas porque umas e outras são ousadas as pessoas corajosas entretanto são ousadas pelas razões anteriormente expostas 92 enquanto as confiantes o são porque se julgam as mais fortes e pensam que nada de mal lhes pode acontecer os ébrios tamm se conduzem de maneira idêntica eles se tornam ousados por causa da bebida Mas quando as tentativas das pessoas confiantes não são bem sucedidas elas fogem enquanto é caractedstico das pessoas corajosas como já vimos n enfren tar as coisas que são temíveis para um ser humano e assim parecem a cada pessoa porque agir desta maneira é nobilitante e é ignóbil não agir assim Por isto também se considera mais característico de uma pessoa corajosa ser destemida e permanecer imperturbável nos casos de um alarme súbito do que ser assim nos casos previsíveis porque no primeiro caso a coragem é mais devida a uma disposição moral e menos a precauções Atos previsíveis podem ser escolhidos por cálculo e pela razão mas nas ações súbitas as resoluções são tomadas de acordo com nossa disposição moral As pessoas que ignoram o perigo também parecem corajosas e não estão muito afastadas das ousadas mas lhes são inferiores já que não têm a autoconfiança destas últimas Por isto as pessoas seguras de si se mantêm firmes em suas posições por algum tempo mas as que se equivocam quanto aos fatos fogem se tomam conhecimento ou suspeitam de que estes são diferentes do que elas supunham como ocorreu com os argivos quando eles enfrenwam os espartanos pensando que se tratasse de siciônios 94 Acabamos de descrever as características das pessoas corajo sas e as daquelas que se julgam corajosas 1117 b Ética a Nicômacos 65 9 Embora a coragem se relacione com a odia e o medo esta relaçi1o não é a mesma com ambos e é maior nas situações que inspiram medo efetivamente as pessoas que se mantêm imperturbáveis diante de cais situações e se comportam como devem diante delas demonstram coragem num sentido mais amplo que as pessoas que têm este comportamento em face de situações que inspiram ousadia É por enfrentarem o que é peneS como já dissemos que as pessoas são chamadas corajosas Logo a coragem também é seguida de sofrimento e é justamente louvada por isto pois é mais difícil enfrentar o que é penoso do que absterse de coisas agradáveis Entretanto os fins que a coragem põe diante de si são presumivelmente agradáveis mas os aspectos que a tornam agradável escão ocultos pelas circunstâncias que a cercam como acontece nas competições adéticas comefeito os fins a que visam os pugilistas por exemplo são agradáveis a coroa de louros e as honrarias mas os golpes que eles recebem são dolorosos para pessoas de carne e osso da mesma forma que todos os seus preparativos e como os golpes e cs preparativos são muitos os fins que são alguma coisa de pequenas proporções nada parecem ter de agradáveis em si Assim se o caso d 1 coragem é semelhante a morte ou os ferimentos serão penosos para as pessoas corajosas que os sofrem relutantemente mas os enfrencarã porque é ignóbil não agir desta maneira E quanto mais excelência moral elas têm globalmente e mais felizes elas são mais sofrerão ao enfrentar morte realmente a vida é mais digna de ser vivida por pessoas destl qualidade e elas sabem que estão perdendo os maiores bens e isto penoso Mas elas não são menos corajosas por isto e talvez ainda o sejam mais pois este é o preço que elas pagam por haver optado pelo nobilitantes feitos militares Entretanto não é em relação a todas as forma de excelência moral que o seu exercício é agradável exceto até onde ek atinge a sua finalidade É perfeitamente possível todavia que os melhore soldados sejam não os homens desta espécie e sim os menos corajosos t que nada têm a perder pois os últimos sempre estão prontos a enfrentar C perigo e trocam suas vidas por ganhos insignificantes Estas considerações a propósito da coragem são suficientes diante do qu foi dito não é difícil ter uma idéia de sua natureza ao menos em linha gerais 10 Depois da coragem falemos da moderação pois estas são aparente mente as formas de excelência moral da parte irracional da alma Dissemo 96 que a moderação é o meio termo no tocante aos prazeres ela cem menos a ver com o sofrimento e não se relaciona com ele da mesma maneira a concupiscência também se manifesta nesta esfera Vejamos agora com que espécie de prazeres estas disposições da alma se relacionam Os prazeres do co devem ser distinauidos dos prazeres da alma por exemplo o 66 Aristóteles amor às honrarias e o amor ao conhecimento com efeito o amante das honrarias ou do conhecimento sente prazer nestas coisas que ele ama sem que seu corpo seja afetado de forma alguma pois só a mente é afetada mas as pessoas que se dedicam a estes prazeres não são chamadas modera das nem concupiscentes tampouco recebem estes qualificativos as pessoas que se dedicam a outros prazeres que também não são do corpo porquan to aquelas que se deleitam ouvindo e contando histórias ou que passam os seus dias conversando sobre assuntos triviais são tagarelas mas não são concupiscentes também não o são aquelas que sofrem com a perda de dinheiro ou de amigos A moderação deve relacionarse então com os prazeres do corpo mas não com todos eles pois as pessoas que se comprazem com objetos da visão por exemplo com as cores as formas ou a pinrura também não são chamadas moderadas nem concupiscentes apesar de parecer possível comprazerse com estas coisas convenientemente ou excessivamente ou deficientemente 1118 a O mesmo raciocínio se aplica aos prazeres da audição ninguém chama de concupiscentes as pessoas que se comprazem exageradamente com a música ou com os espetáculos teatrais nem de moderadas as que o fazem como convém Tampouco aplicamos estes qualificativos aos que se comprazem com os odores a não ser acidentalmente 9 não chamamos de concupiscente quem se compraz com o odor de maçãs ou rosas ou incenso e sim quem se compraz com o odor de ungüentos perfumados ou de iguarias requintadas na realidade as pessoas concupiscentes se comprazem com estas coisas porque elas lhe trazem ao pensamento os objetos de seus desejos Podemos até ver certas pessoas quando famintas deleitandose com o odor dos alimentos mas o deleite com esta espécie de coisas é característico das pessoas concupiscentes pois estas coisas são objetos de desejo para elas Não há tampouco em outros animais além do homem qualquer prazer relacionado com estes sentidos a não ser acidentalmente Os cães por exemplo não sentem prazer em cheirar as lebres e sim em comêlas mas seu cheiro lhes revela que elas estão por perto nem o leão sente prazer em ouvir o mugido do boi e sim em devorálo mas ele percebe pelo mugido que o boi está perto e por isto parece que o mugido lhe dá prazer da mesma forma ele não sente prazr porque vê um veado ou uma cabra selvagem 98 e sim pela expectativa de vêlos transformarse num repasto A moderação e a concupiscência contudo relacionamse com a espécie de prazeres que os outros aniniais também sentem e por isto parecem servis e bestiais tais prazeres são os do tato e do paladar Mas do paladar propriamente dito eles parecem depender pouco ou nada pois a função do lll8 b Ética a Nicômacos 67 paladar é distinguir os sabores como fazem os provadores de vinho e as pessoas que temperam as iguarias mas estas quase não sentem prazer em fazer tais distinções pelo menos as concupiscentes não o sentem e sim no gozo efetivo que em todos os casos vem através do tato tanto em relação aos alimentos quanto à bebida e às relações sexuais É por isto que um ceno glutão fazia súplicas para que sua garganta se tornasse mais longa que o pescoço da garça querendo dizer que era no contacto que ele sentia prazer 99 Assim o sentido com o qual a concupiscência se relaciona é o mais difundido e parece que a concupiscência é justamente condenada porque ela existe em nós não enquanto criaturas humanas mas enquanto animais Comprazerse em tais coisas então e louválas acima de todas as outras é bestial pois mesmo entre os prazeres do tato os mais refinados caíram em desuso por exemplo os produzidos nos recintos onde se pratica a ginástica mediante massagens e o aquecimento subseqüente com efeito o contacto cuja apreciação caracteriza as pessoas concupiscentes não afeta o corpo inteiro mas somente algumas de suas partes 11 Algumas formas de concupiscência parecem comuns a todas as pessoas e outras são peculiares a certos indivíduos e são adquiridas por exemplo o desejo de alimentos é natural já que as pessoas que se vêem privadas deles anseiam por alimento ou bebida ou às vezes por ambos acontece o mesmo com o amor como diz Homero 100 principalmente entre pessoas jovens e saudáveis mas nem todas anseiam por esta ou aquela espécie de alimento nem pelas mesmas coisas e daí resulta que tais anseios parecem intrinsecamente nossos Não deixa de haver portanto uina certa naturalidade quanto a isto pois coisas diferentes são agradáveis a diferentes espécies de pessoas e algumas coisas são mais agradáveis a todas as pessoas do que certos objetos ao acaso Nos desejos naturais então poucas pessoas erram e somente em um sentido o do excesso pois comer e beber seja o que for até a saciedade é exceder a quantidade natural já que o apetite natural é a satisfação das necessidades de cada um Por isto estas pessoas são chamadas loucas do ventre no sentido de que elas enchem o ventre além da medida certa As pessoas de natureza especialmente servil são as mais sujeitas a isto Mas muitas pessoas erram e de muitas maneiras a respeito dos prazeres peculiares a cada indivídub Realmente embora se diga que as pessoas são apaixonadas por isto ou aquilo porque elas se comprazem com as coisas erradas ou mais do que a maioria costuma comprazerse ou de maneira errada as pessoas concupis centes se excedem das três maneiras com efeito elas se comprazem com cenas coisas com as quais não deveriam comprazerse pois são coisas abomináveis e com qualquer das coisas das quais é razoável gostar elas se comprazem mais do que o razoável e mais do que a maioria das pessoas 68 Aristóteles É claro então que o excesso em relação aos prazeres é concupiscência e é condenável em relação ao sofrimento não se chama uma pessoa de moderada por enfrentálo nem de concupiscente por não o enfrentar como acontece no cuo da coragem mas as pessou concupiscentes têm este nome porque sofrem mais do que devem quando não conseguem coisas agradáveis neste sentido o prazer causa realmente sofrimento e a pessoa moderada recebe este nome porque não sofre com a falta de coisas agradáveis nem por absterse delas As pessoas concupiscentes portanto anseiam por todu as coisas agradáveis e são levadu por sua concupiscência a escolhêlu à custa seja 1119 a do que for por isto elas sofrem quando não conseguem obtêlas e até quando simplesmente anseiam por elas a concupiscência é acompanhada pelo sofrimento embora seja paradoxal sofrer por causa do prazer Raramente se encontram pessoas que pecam pela deficiência a respeito do desejo de prazeres e se comprazem com eles menos do que deveriam pois uma insensibilidade desta espécie não seria humana Mesmo os outros animais preferem espécies diferentes de alimentos e apreciam umas e não apreciam ouuu se há algum ser que não ache coisa alguma agradável e que não veja diferença alguma entre umas coisas e ouuas tal criarura deve ser completamente diferente de um homem está espécie de criarura não recebeu um nome porque raramente aparece As pessou moderadas ocupam uma posição intermediária em relação a estes objetos de desejo pois nem elas se comprazem com as coisas com que mais se comprazem a5 pessoas concupiscentes até desgostam de tais coisu nem de um modo geral com aquelas com as quais não devem comprazerse nem com coisa alguma deste gênero em excesso nem sofrem ou ficam ansiosas quando tais coisu lhes faltam ou sofrem apenas moderadamente e não mais do que devem nem quando não devem e usim por diante mu as pessou moderadas desejarão moderadamente como devem u coisu que por serem agradáveis contribuem para a saúde e para u boas condições físicas elas desejarão igualmente ouuas coisu agradáveis desde que as mesmu não sejam um obstáculo à consecução dos fins a que visam ou contráriu ao que é nobilitante nem estejam além de seus recursos Realmente u pessou que ignoram esw ressalvu amam tais prazeres mais do que eles merecem mas o homem moderado nio é uma pessoa deste tipo e sim a espécie de pessoa conforme à reta razio 12 A concupiscência parece uma disposição mais voluntária que a covardia a primeira com efeito é motivada pelo prazer e a última pelQ sofrimento e destes dois um é objeto de nossa escolha e o ouuo de nos repulsa além disto o sofrimento uanstorna e aniquila a pessoa que sente enquanto o prazer não ocasiona qualquer coisa deste tipo Loso a concupiscência é mais volunwia e por isto é tamm mais reprodvel também é mais fácil acostumarnos a resistir às tentações do praze 1119 b Ética a Nicômacos 69 porquanto as coisas que causam prazer são muito mais freqüentes na vida e o processo de habiruarnos a ele é livre de perigos enquanto acontece o contrário com as coisas que atemorizam Quanto à covardia em geral da não parece voluntária de maneira idêntica às suas manifestações particulares de fato a covardia em si não causa sofrimento mas ficamos transtornados pelo sofrimento em suas diversas manifestações de tal maneira que chegamos a jogar fora nossas armas e desonrarnos de outros modos por esta razão há até quem pense que os atos desce tipo são praticados sob compulsão No caso das pessoas concupiscentes todavia os atos particulares são voluntários elas os praticam por ansiedade e desejo mas sua natureza em geral é menos voluntária pois ninguém anseia por ser concupiscente O termo concupiscência se aplica igualmente às faltas das crianças1 1 pois seu procedimento apresenta uma cerca semelhança com a disposição da alma que estamos examinando Saber qual das duas acepções é derivada da outra é irrelevante para a nossa investigação mas parece claro que a disposição que se manifesta mais tarde na vida recebe a designação por causa da que aparece primeiro a metáfora não é má pois quem deseja o que é ignóbil e deixa seus apetites crescerem rapidamente deve ser castigado e isca se aplica principalmente às pessoas concupiscentes e 1s crianças pois estas vivem sob a instigação dos apetites e é nelas que o desejo do que é agradável é mais force Se elas não forem preparadas paa ser obedientes e submissas à autoridade de quem as cria irão longe demais pois num ser ainda irracional o desejo do prazer é insaciável e generalizado e a tendência inata é estimulada pela satisfação desses desejos com efeito se eles forem numerosos e violentos aniquilarão a própria capacidade de raciocinar Por isto eles devem ser poucos e moderados e não devem de forma alguma oporse à razão é isto que pretendemos dizer com obedientes e submissos à autoridade e da mesma forma que a criança deve viver de conformidade com as insrruçõts de seu preceptor a parte apeciciva de nossa alma deve viver ce conformidade com a razão Logo na pessoa moderada a parte apetitiva da alma deve harmonizarse com a razão pois o objetivo de ambas é aquilo que é nobilitante e a pessoa moderada deseja as coisas que deve desejar como deve desejar e quando deve desejar é isca que a razão determina Já dissemos o suficiente a respeito da moderação UN Security Council Resolution 940 Cast Resolution 940 PAGE 1 OF 6 United Nations SRES940 1994 Security Council Distr General 31 March 1994 Resolution 940 1994 Adopted by the Security Council at its 3400th meeting on 31 March 1994 The Security Council Recalling its resolutions 841 1993 of 16 June 1993 861 1993 of 27 August 1993 862 1993 of 31 August 1993 867 1993 of 23 September 1993 and 873 1993 of 13 October 1993 Noting that the timely return of the legitimate President of Haiti to his country will enhance the restoration of democracy and stability in Haiti Recalling the role of the SecretaryGeneral in the peaceful settlement of the crisis in Haiti Believing that the restoration of the legitimate Government in Haiti which was peacefully and democratically elected would contribute to promoting peace and security in the region Acting under Chapter VII of the Charter of the United Nations 1 Allows Member States that have agreed to do so to use all necessary means to facilitiate the departure from Haiti of the military leadership currently in control there to ensure the safety of United Nations and associated personnel in Haiti and to contribute to the reinstatement of the legitimate President by 15 October 1994 2 Requests that all Member States cooperate fully with those Member States carrying out the measures authorised in paragraph 1 above 3 Requests the SecretaryGeneral to report to the Security Council two weeks after the deployment of forces authorised in paragraph 1 above on the progress concerning the implementation of this resolution 4 Decides to remain seized of the matter 9408483 E 010494 LIVRO IV 1 Falemos em seguida da liberalidade Aparentemente ela é a observância do meio termo em relação à riqueza pois as pessoas liberais são louvadas não a propósito de assuntos militares nem daqueles a respeito dos quais as pessoas moderadas são louvadas nem de decisões judiciais mas em relação a dar e obter riquezas especialmente a respeito de dálas Por riquezas entendemos todas as coisas cujo valor é mensurável pelo dinheiro Por outro lado a prodigalidade e a avareza são o excesso e a falta em relação ao uso da riqueza sempre atribuímos a avareza às pessoas que se preocupam mais do que devem com a riqueza mas às vezes usamos a palavra prodigalidade em um sentido complexo pois chamamos pródi gas as pessoas incontinentes que gastam dinheiro para satisfazer a sua concupiscência Por isto elas são consideradas as mais desprezíveis já que combinam mais de uma forma de deficiência moral Logo a aplicação da palavra a tais pessoas não é apropriada pois pródiga é a pessoa que tem um único defeito o de esbanjar suas posses pródiga portanto é a pessoa 1120 a que está sendo arruinada por sua própria culpa 102 É este então o sentido que damos à palavra prodigalidade As coisas destinadas ao uso podem ser bem ou mal usadas e a riqueza está entre as coisas úteis Usa melhor uma coisa a pessoa que possui a forma de excelência moral relacionada com tal coisa os bens portanto serão melhor usados pelas pessoas dotadas da forma de excelência moral relacionada com a riqueza e estas são pessoas liberais Ora gastar e dar parecem caracterizar o uso da riqueza enquanto obter e guardar parecem constituir mais uma simples posse então é mais característico das pessoas liberais dar às pessoas cerras do que obter nas fontes certas e não obter nas erradas de fato fazer benefícios é mais característico da excelência moral do que recebêlos e é mais característico fazer o que é nobilitante do ue 72 Aristóteles não fazer o que é ignóbil não é difícil perceber que dar implica em fazer o bem e o que é nobilitante e receber implica em ser beneficiado ou não agir ignobilmenre Ése grato a quem dá e não a quem não recebe e da mesma forma se louva quem dá e não quem não recebe Também é mais fácil não receber do que dar pois os homens relutam mais em desfazerse do que lhes pertence do que em receber o que pertence a outrem As pessoas que dão são também chamadas liberais mas as que não recebem não são louvadas por liberalidade e sim por espírito de justiça enquanto as que recebem são louvadas raramente Além disto as pessoas liberais são talvez as mais louvadas entre todas as dotadas de excelência moral pois elas são úteis e o são porque dão As ações conformes à excelência moral são nobilitantes e são praticadas por causa do que é nobilitante As pessoas liberais portanto à semelhança das outras dotadas de excelência moral darão porque dar é nobilitante e darão acertadamente pois darão os valores certos às pessoas certas e no momento certo com as demais qualificações concomitantes com o ato de dar acertadamente elas agirão assim com prazer ou sem sofrimento porquanto o que é conforme à excelência moral é agradável e isento de sofrimento e de forma alguma é penoso Mas quem dá à pessoa errada e dá não por ser nobilitante mas por outra razão qualquer não será chamado liberal receberá outro nome Tampouco é liberal a pessoa que dá sofrendo pois ela poria a sua riqueza acima de um ato nobilitante e isto não é característico de uma pessoa liberal A pessoa liberal não irá tampouco buscar dinheiro em fonte errada pois este procedimento não é característico de urna pessoa que não estima a riqueza acima de tudo E tal pessoa também não estará sempre pedindo pois não é típico de uma pessoa que faz benefícios aceitálos avidamente 1120 b Ela irá buscar dinheiro nas fontes certas por exemplo em suas próprias posses não como algo nobilitante mas como um dever para ter algo a dar Ela também não será negligente com seus próprios bens pois é com estes que ela deseja ajudar os outros E ela se absterá de dar indiscrimina damente para ter algo a dar às pessoas certas no momento certo e nas circunstâncias em que é nobilitante dar É bem característico da pessoa liberal dar até excessivamente a ponto de conservar muito pouco para si mesma pois é de sua índole não olhar para si mesma A palavra liberalidade é usada tendo em vista o vulto das posses de uma pessoa pois a liberalidade não está no grande número de presentes e sim na disposição da alma de quem dá e isto é proporcional às posses de quem dá Nada impede a pessoa que dá uma pequena coisa de ser a mais liberal se ela tem pouca coisa para dar As pessoas que herdaram uma fortUna são consideradas mais liberais que aquelas que fizeram a sua por si mesmas pois elas nunca conheceram a necessidade e todos somos apegados ao que nós mesmos fazemos como os pais e os poetas Nio é fkil para uma 1121 a Ética a Nicômacos 73 pessoa liberal ser rica pois ela não tem vocação paraganhar e guardar e sim para gastar nem dá valor à riqueza em si mesma e sim como um meic de dar Daí a censura que se faz à sorte aqueles que mais merecem l riqueza são os menos ricos Mas não é sem razão que isto acontece pai uma pessoa não pode ter riquezas nem quaisquer outras coisas se não se esforça por têlas Por outro lado um homem liberal não dá às pessoas erradas nem n 1 momento errado e assim por diante pois ele já não estaria agindo em consonância com a liberalidade e se gastasse com os objetivos errados nada mais teria para gastar com os objetivos certos Efetivamente como ji dissemos é liberal quem gasta de acordo com suas posses e com objetivos certos e quem se excede é pródigo É por isto que não chamamos o tiranos de pródigos pois não lhes seria fácil dar e gastar além do montante de suas posses Sendo a liberalidade então um meio termo entre dar e obter riquezas o homem liberal dará e gastará os recursos certos e com objetivos certos quer se trate de importâncias pequenas quer se trate de grandes e agirá assim com prazer ele também obterá os recursos certos e em fontes certas Com efeito sendo a excelência moral um meio termc 1 tanto em relação a dar quanto a obter o homem liberal fará as duas coisas como deve porquanto obter corretamente é concomitante com dar corre tamente e obter erradamente é incompatível com dar corretamente conseqüentemente as duas práticas compatíveis podem ser encontrada numa mesma pessoa mas as duas incompatíveis obviamente não podem Mas se eventualmente o homem liberal gastasse de maneira contrária ac 1 que é certo e nobilitante ele sofreria porém moderadamente e com c 1 deve pois é característico da excelência moral fazer com que se sintl prazer e se sofra nas ocasiões certas e da maneira certa Outrossim é fácil tratar de questões relativas a dinheiro com um homem liberal pois se pode levar a melhor sobre ele já que ele não dá valor ao dinheiro o sell desgosto se ele não gasta o que acha que deve é maior que o sell sofrimento se gasta o que acha que não deve e ele não concorda com 1 frase de Simonides03 As pessoas pródigas também erram quanto a estes aspectos porquan to elas não se comprazem nem sofrem com as coisas certas ou de maneira certa isto se tornará mais claro à medida que prosseguirmos Já disse mos04 que a prodigalidade e a avareza são respectivamente um excesso uma falta e em relação a duas coisas dar e obter incluímos gastar em dar A prodigalidade é o excesso em relação a dar e a não obter enquanto a avareza é a falta em relação a dar e o excesso em relação a obter mas somente em pequenas coisas Não é freqüente encontrar as duas características da prodigalidade combinadas na mesma pessoa pois não é fácil dar a todos se não se obtém 74 Aristóteles de ninguém as pessoas exaurem rapidamente suas posses se são simples particulares quando se excedem em dar e é a estas que se aplica o nome de pródigas embora uma pessoa desta espécie seja aparentemente muito melhor que uma pessoa avarenta De fato ela se cura facilmente com a idade e com a pobreza e assim pode moverse em direção ao meio termo pois tem as características das pessoas liberais já que tanto dá quanto se abstém de obter embora não faça nem uma coisa nem outra corretamente ou bem Logo se fosse levada a agir da maneira apropriada pelo hábito ou de algum outro modo ela seria uma pessoa liberal pois passaria a dar às pessoas certas e não obteria em fontes erradas É por isto que não se atribui a tais pessoas um mau caráter já que excederse em dar e em não obter não é característico de uma pessoa má ou ignóbil mas somente de uma pessoa irrefletida As pessoas que são pródigas desta maneira são consideradas muito melhores que as avarentas não só pelas razões já mencionadas mas também porque elas beneficiam muita gente enquanto as outras não beneficiam quem quer que seja nem sequer a si mesmas Mas como dissemos pouco antes em sua maioria as pessoas pródigas também obtêm recursos em fontes erradas e sob este aspecto são como as avarentas Elas são levadas a obter porque desejam gastar e não lhes é fácil gastar pois suas posses se exaurem rapidamente e assim elas são forçadas a ir obter recursos em outras fontes Ao mesmo tempo pelo fato de não se preocuparem com a honorabilidade elas se tornam negligentes quanto à maneira de obter recursos e lançam mão deles incessantemente e em qualquer fonte pois estão sempre ansiosas por dar não lhes interessando a maneira de obter nem a fonte onde obtêm o que dão Também por isto 1121 b elas não dão à maneira das pessoas realmente liberais tal procedimento não é próprio de homens livres nem visa a um objetivo elevado nem da maneira certa às vezes elas transformam em ricos homens que deveriam continuar a ser pobres e não dão coisa alguma a pessoas de caráter respeitável e dão mais a aduladores e a quem lhes proporciona outro prazer qualquer Por esta razão muitos homens pródigos são concupiscen tes pois gastam levianamente e esbanjam dinheiro com o objeto de sua concupiscência inclinandose para os prazeres porque na vida que levam não visam ao que é nobilitante As pessoas pródigas então transformamse naquilo que descrevemos se não as orientamos mas se forem tratadas com cuidado chegarão ao meio termo que é a disposição correta A avareza ao contrário é incurável considerase que a idade e as várias formas de decrepitude a ela inerentes tornam o homem avarento e é mais arraigada na natureza humana que a prodigalidade pois os homens em sua maioria são mais ávidos de ganhar dinheiro do que de dálo ela também é mais difundida e se apresenta sob vários aspectos pois parece haver muitas espécies de avareza Ela consiste em duas coisas deficiência em dar e excesso em obter e não aparece Ética a N icômacos 75 completa em todas as pessoas sendo que às vezes as duas situações aparecem separadas algumas pessoas se excedem em obter e outras são avessas a dar As que recebem os nomes de miseráveis mãos fechadas ou sovinas são todas avessas a dar mas não cobiçam as posses alheias nem desejam obtêlas Em algumas delas este procedimento é motivado por uma espécie de honestidade e repulsa ao que é aviltante algumas parecem ou ao menos pretendem ser cuidadosas com seu dinheiro porque não querem ser forçadas algum dia a praticar alguma ação degradante a esta classe pertencem o sovina 10 e tipos semelhantes que tiram o seu nome de uma relutância excessiva em dar seja o que for outras respeitam os bens alheios por temor imaginando que não será fácil se avançarem nos bens alheios evitar que seus próprios bens sejam tomados pelos prejudicados elas optam por não tirar nem dar Outras pessoas se 1122 a excedem no sentido de obter qualquer coisa e de qualquer fonte por exemplo as que fazem negócios sórdidos os proxenetas e demais pessoas deste tipo bem como os usurários que emprestam pequenas importâncias a juros altos Todas as pessoas deste tipo obtêm mais do que merecem e de fontes erradas O que há de comum entre elas é obviamente uma ganância sórdida e todas carregam um nome aviltante por causa do ganho de um pequeno ganho aliás Com efeito aquelas pessoas que ganham muito em fontes erradas e cujos ganhos não são justos por exemplo os tiranos quando saqueiam cidades e roubam templos não são chamados de avarentos mas de maus ímpios e injustos O jogador de dados e o salteador pertencem à classe dos avarentos pois demonstram uma ganância sórdida e é com vistas ao ganho que eles exercem suas atividades e arcam com a desonra decorrente delas um deles enfrenta grandes perigos pelo produto do assalto enquanto o outro ganha a expensas de seus amigos aos quais deveria estar dando Ambos então já que se dispõem a obter em fontes erradas são culpados de ganância sórdida e ponanto todas as formas de ganho deste tipo são características dos avarentos É natural ponanto que se diga que a avareza é o contrário da liberalidade pois não somente ela é um mal maior que a prodigalidade mas as pessoas erram com maior freqüência neste sentido que no sentido da prodigalidade segundo nossa definição06 Já dissemos o suficiente a respeito da liberalidade e das formas de deficiência moral contrárias a ela 2 Parece adequado discutir em seguida a magnificência pois aparente mente ela também é uma forma de excelência moral relacionada com a riqueza À semelhança da liberalidade ela não se aplica a todos os atos relacionados com a riqueza mas somente àqueles que têm a ver com gastos e sob este aspecto ela ultrapassa a liberalidade em amplitude pojs como sugere o próprio nome ela consiste em um dispêndio consentâneo 76 Aristóteles com seus objetivos e em grande escala Entretanto a escala é relativa pois um desembolso que seria grande para equipar uma trirreme não seria grande para preparar um festival oficial A adequação do desembolso por conseguinte é relativa a quem o faz às circunstâncias e ao seu objetivo A pessoa que em relação a coisas pequenas e moderadas gasta aquilo que as circunstâncias justificam não é chamada magnificente por exemplo a pessoa que pode dizer Muitas vezes ajudei os pedintes0 só recebe este nome a pessoa que age assim em relação a grandes coisas Com efeito a pessoa magnificente é liberal mas a pessoa liberal não é necessariamente magnificente A deficiência em relação a esta disposição da alma é chama da mesquinhez o excesso é chamado vulgaridade mau gosto etc sem alusão à importância gasta com objetivos certos e sim ao dispêndio ostentatório nas circunstâncias erradas e de maneira errada falaremos mais tarde destes defeitos101 A pessoa magnificente é como um artista pois ela pode ter uma visão do que é conveniente e gasta grandes somas com bom gosto Como dissemos inicialmente109 uma disposição da alma é determinada por suas atividades e por seus objetivos Os gastos de uma pessoa magnificente são grandes e adequados seus resultados portanto também devem sêlo pois haverá assim um grande dispêndio condizente com seu resultado O resultado portanto deve estar à altura do dispêndio e o dispêndio deve estar à altura do resultado ou deve até excedêlo A pessoa magnificente gastará também tais importâncias tendo em vista a nobreza da ação pois esta característica é comum às várias formas de excelência moral Além disto ela gastará com satisfação e prodigamente pois os cálculos rigorosos 1122 b são próprios dos avarentos Mais ainda ela pensará na melhor maneira de chegar aos resultados mais nobilitantes e mais adequados às circunstâncias e não naquilo que irá gastar ou na maneira de gastar o mínimo possível A pessoa magnificente deverá ser necessariamente liberal pois a pessoa liberal também gasta o que deve e como deve e é no montante do gasto e na maneira de gastar que se manifesta a magnitude implícita no nome magnificente algo como a grandeza já que a liberalidade se relaciona com estas coisas com o mesmo dispêndio a pessoa magnificente chegará a um resultado magnífico pis não se aplica o mesmo padrão de excelência a um resultado e a um bem que se possui em relação às posses a coisa de mais alto preço é a mais estimada o ouro por exemplo mas o resultado mais apreciado é o que é grande e nobilitante porquanto um grande resultado desperta a admiração dos espectadores e a circunstância de inspirar admiração é característica da magnificência finalmente a excelência de um resultado está em sua grandiosidade A magnificência é um atributo de gastos da espécie que chamamos meritórios por exemplo os relacionados com os deuses como oferendas votivas templos e sacrifícios e igualmente com qualquer das manifestações do culto religioso e todos aqueles que são o objetivo preferido da ambição 1123 a Ética a N icômacos 77 associada ao espírito público como quando as pessoas pensam que devem preparar um coro0 ou equipar uma trirreme ou alegrar a cidade com brilhantismo Em todos os casos todavia como já dissemos 111 a proporção dos gastos deve ser julgada com reerência à pessoa que gasta ou seja à sua posição e às suas posses o desembolso deve ser proporcional aos recursos da pessoa e compatível não somente com o resultado esperado mas também com quem dispende Por isto uma pessoa pobre não pode ser magnificente pois lhe faltam os meios para gastar convenientemente grandes somas as que tentam fazer isto são insensatas pois gastam além do que se espera delas e do que é compatível com sua situação ao passo que só o dispêndio certo é conforme à excelência moral Mas grandes gastos convêm às pessoas possuidoras de meios adequados para começar obtidos graças aos seus próprios esforços ou de seus antepassados e de parentes e às pessoas bem nascidas ou de boa reputação ou equivalentes pois estes atributos trazem consigo grandeza e prestígio A pessoa magnifi cente é principalmente desta espécie e a magnificência se evidencia em dispêndios desta espécie como foi dito pouco acima pois estas são as formas mais grandiosas e mais honrosas de dispêndio Entre as ocasiões mais convenientes no âmbito privado para o exercício da magnificência estão aquelas que ocorrem apenas uma vez por exemplo casamentos e outras do mesmo gênero ou quaisquer outras que interessem à cidade inteira ou às pessoas que ocupam posições de destaque nela bem como a acolhida a hóspedes estrangeiros e sua despedida e presentes oferecidos primeiro ou em retribuição a pessoa magnificente não gasta consigo mas com objetivos de interesse público e os presentes têm alguma semelhança com oferendas votivas Uma pessoa magnificente também decorará sua casa de maneira compatível com sua riqueza a própria casa é uma espécie de ornamento de cidade e gastará de preferência em objetos duradouros eles são mais belos em relação a toda espécie de coisas ela gastará o que for conveniente pois as mesmas coisas não são adequadas aos deuses e aos homens nem a um templo e a um túmulo Já que cada dispêndio pode ser grandioso em seu gênero e um dispêndio grandioso com um objetivo grandioso é algo irrestritamente magnífico mas o que é magnífico neste caso é o que é grandioso na circunstância específica e a grandeza do resultado difere da grandeza do dispêndio a melhor bola ou frasco é um presente magnífico para uma criança mas seu preço é baixo é portanto característico da pessoa magnificente qualquer que seja o resultado do que ela está fazendo dipender magnificamente um resultado magnífico dificilmente será ultrapassado e de maneira condizente cm o dispêndio É este então o caráter da pessoa magnificenre A pessoa que tende para o excesso e vulgar excedese como já dissemos 112 por gastar além do que seria razoivel Agindo assim ela gasta demais e demonstra um exibicionismo de mau gosto em ocasiões pouco importantes por exemplo ela oferece em sua confraria um jantar das proporções de um 78 1123 b Aristóteles banquete de casamento e quando assume o encargo de preparar o coro para uma comédia ela apresenta os componentes do coro no palco vestidos com roupa cor de púrpura como se faz em Mégara E tudo isto ela faz não por um motivo nobilitante mas para exibir sua riqueza e por pensar que é admirada em conseqüência de saa maneira de agir ademais onde deve gastar muito ela gasta pouco e onde deve gastar pouco gasta muito A pessoa mesquinha por outro lado tende para a falta em tudo e depois de gastar grandes somas ela comprometerá o resultado final por uma insignificância em qualquer coisa que esteja fazendo ela hesitará e fará cálculos para saber como pode gastar menos e lamentará até o pouco que gastou embora pense que está fazendo tudo em proporções maiores do que devia Estas disposições de alma são portanto formas de deficiência moral mas não são das mais reprováveis porque não ofendem a terceiros nem chegam a ser excessivamente inconvenientes 3 A magnanimidade até por seu nome parece relacionarse com grandes objetivos e a primeira pergunta que devemos tentar responder é quanto à espécie destes objetivos É indiferente examinarmos uma disposição da alma ou a pessoa caracterizada por esta disposição Considerase magnâni ma a pessoa que aspira a grandes coisas e está à altura delas pois quem aspira a grandes coisas sem estar à altura delas é insensato mas nenhuma pessoa dotada de excelência moral é insensata ou tola Então as pessoas magnânimas são aquelas que descrevemos pois quem tem poucos méritos e rem poucas pretensões é moderado e não magnânimo com efeito a magnanimidade pressupõe grandeza da mesma forma que a beleza pressupõe um corpo bem proporcionado e poucas pessoas podem ser graciosas e bem proporcionadas sem ser belas Por outro lado as pessoas que aspiram a grandes coisas e não estão à altura delas são pretensiosas embora nem todas as pessoas que aspiram a mais do que merecem sejam pretensiosas As pessoas que aspiram a meQos do que realmente merecem são pusilânimes quer seus mériros sejam grandes ou moderados quer seus méritos sejam pequenos mas suas aspirações sejam ainda menores e no caso das pessoas cujos méritos são grandes a humildade parecerá ainda mais incabível de fato que fariam elas se os méritos fossem menores As pessoas magnânimas então estão numa situação extrema em relaçãq à grandeza de suas pretensões mas num meio termo em relação à justiça de tais pretensões pois suas pretensões são compatíveis com seus méritos enquanto as outras pessoas pecam por excesso ou por falta Portamo se merecem e aspiram a grandes coisas e acima de tudo às maiores coisas as pessoas magnânimas têm algum objetivo especial O mérito é relativo a bens exteriores e poderíamos dizer que o maior deles é o que reservamos aos deuses e a que as pessoas de posição mais elevada aspiram por ser o prêmio para os feitos mais nobilitantes este bem são as Ética a Nicômacos 79 honrarias pois elas são certamente o maior dos bens exteriores São magnãnimas portanto as pessoas que têm a disposição de alma certa em relação às honrarias e à degradação Mesmo sem considerar este argumen to as pessoas magnânimas parecem ter em visra as honrarias pois aspiram principalmente a elas mas de conformidade com seus méritos As pessoas pusilânimes são deficientes porque pecam por falta seja em comparação com seus próprios méritos seja em comparação com as aspirações das pessoas magnânimas As pessoas pretensiosas pecam pelo excesso em comparação com seus próprios méritos mas não excedem às aspirações das pessoas magnânimas Então as pessoas magnânimas tendo mais méritos devem ser boas no mais alto grau pois as pessoas melhores sempre merecem mais e a melhor de todas merece o máXimo Portanto as pessoas realmente magnânimas devem ser necessariamente boas E a grandeza em relação a cada espécie de excelência moral parece característica das pessoas magnânimas Efetiva mente seria totalmente incqmpatível com um homen magnânimo fugir do perigo desvencilhandose de suas armas ou agir injustamente e com que objetivos praticaria atos degradantes um homem para quem nada é grande Se examinarmos as particularidades desta disposição da alma uma pessoa magnânima que não fosse boa pareceria o maior absurdo Ademais se ela fosse má não mereceria honrarias pois estas são o prêmio da 1124 a excelência moral e é aos bons que o concedemos Então parece que a magnanimidade é uma espécie de coroamento de todas as formas de excelência moral pois ela realça a sua grandeza e não existe sem elas Portanto é difícil ser realmente magnânimo pois a magnanimidade é impossível sem a excelência de caráter É principalmente com honrarias e degradações então que as pessoas magnânimas se preocupam grandes honrarias conferidas por pessoas de mérito darlhesão um prazer moderado pois elas pensarão que estarão recebendo somente o que lhes é devido ou até menos pois não pode haver honrarias condizentes com a excelência moral perfeita mesmo assim elas de qualquer modo as aceitarão já que nada há de melhor para lhes ser concedido mas elas desdenharão completamente honrarias vindas de um pessoa qualquer e por motivos triviais não é isto que elas merecem bem como a degradação pois em seu caso ela não pode ser justa Então como já foi dito as pessoas magnânimas se preocupam principalmente com honra rias mas elas também se conduzirão moderadamente a propósito da riqueza do poder e de todas as venturas e desventuras independentemen te do que lhes aconteça e nem se rejubilarão excessivamente com a boa sorte nem sofrerão demasiadamente com a má sorte mesmo em relação às honrarias aliás elas não se conduzirão como se estas fossem uma grande coisa O poder e a riqueza são desejáveis por causa das honrarias pelo menos as pessoas que os têm os desejam para obter honrarias graças a ambos para as pessoas que atribuem pouca importância até às honrarias 80 1124b Aristóteles as outras coisas também devem significar pouco É por isto que se pensa que as pessoas magnânimas são soberbas Pensase igualmente que os dons da sorte contribuem para a magnani midade Com efeito pensase que as pessoas bem nascidas merecem honrarias da mesma forma que as detentoras de poder e riqueza pois elas estão nunia posição superior e tudo que tem superioridade em alguma coisa boa é distinguido com as maiores honrarias Sendo assim os próprios dons da sorte tornam as pessoas ainda mais magnânimas pois elas recebem honrarias de alguns por terem sido aquinhoadas com tais dons mas na verdade somente as pessoas boas devem ser distinguidas com honrarias embora aquelas que desfrutam de ambas as vantagens sejam consideradas ainda mais dignas de honrarias Mas não se justifica que aquelas que recebem os dons da sorte sem ter excelência moral tenham pretensões a altas honrarias nem ao nome de magnânimas pois as honrarias e a magnanimidade pressupõem uma perfeta excelência moral Mesmo as pessoas que só receberam os dons da sorte se tornam soberbas e insolen tes com efeito sem excelência moral não é fácil ter os dons da sorte condignamente sendo incapazes de têlos assim e julgandose superiores às outras as pessoas nestas condições desprezam as outras e fazem o que lhes apraz Elas imitam as pessoas magnânimas sem ser realmente magnâ nimas e as copiam como podem logo tais pessoas não agem de conformi dade com a excelência moral mas desdenham as outras As pessoas realmente magnânimas desdenham justamente pois elas pensam o que é verdade enquanto a maioria desdenha sem fundamento As pessoas magnânimas não correm para o perigo por motivos corriqueiros nem anseiam pelo perigo pois elas dão valor a poucas coisas contudo elas enfrentarão grandes perigos e quando estiverem em perigo não se preocuparão com a salvação de sua vida sabendo que há circunstâncias em que ela não é digna de ser vivida Elas são pessoas do tipo das que fazem benefícios aias se consrragem por recebêlos pois o primeiro caso é uma característica de superioridade e outro de inferiori dade Elas retribuem os benefícios recebidos em escala ainda maior pois assim o benfeitor inicial além de ser compensado ficará em débito e elas sairão ganhando na troca Elas parecem guardar na memória qualquer serviço prestado mas não os serviços recebidos quem recebe um serviço é inferior a quem o presta e as pessoas magnânimas querem ser superiores e ouvem falar dos primeiros com prazer e dos últimos com desgosto parece que é por isto que Tétis não menciona a Zeus os serviços que lhe prestou 11 e que os espartanos não aludem aos serviços por eles prestados aos atenienses e sim aos recebidos 111 Também é característico das pessoas maanãnimas nada pedir ou quase nada mas ajudar pronta mente e ser altivas diante de pessoas que ocupam posições elevadas e Ética a Nicômacos 81 desfrutam de boa sorte mas corteses em relação às pessoas de posses moderadas é difícil e distinto ser superior às primeiras mas é fácil sêlo em relação às últimas e uma atitude altiva em relação às primeiras não é sinal de falta de princípios diante de pessoas humildes isto é tão baixo quanto uma demonstração de força contra os fracos São também características das pessoas magnânimas não ambicionar coisas geralmente estimadas ou coisas em que outras pessoas são as primeiras ser displicen tes e discretas exceto nos casos em que estão em jogo grandes honrarias ou realizações importantes e ser pessoas de poucos feitos mas grandes e nOáveis Elas também devem ser ostensivas em seu ódio e seu amor dissimular os sentimentos ou seja preocuparse menos com a verdade que com a opiniio pública é sinal de temor devem falar e agir ostensivamente por desdenharem as outras as pessoas magnânimas têm 1125 a de ser francas e devem falar a verdade salvo quando falam ironicamente com as pessoas comuns as pessoas magnânimas devem ser irônicas Elas devem ser incapazes de viver em função de outras pessoas a não ser que se trate de amigos viver assim é próprio de escravos e é pOr isso que todos os aduladores são subservientes e as pessoas de baixa categoria são adulado ras Tampouco elas são propensas à admiração pois nada para elas é grande nem guardam erros na memória pois uma memória implacável não é sinal de magnanimidade especialmente em relação a erros que é pderível esquecer As pessoas magnânimas também não são de muitas palavras elas não falam de si mesmas nem dos outros pois não lhes interessa ser elogiadas nem ouvir censuras a outras pessoas elas também não são propensas a elogiar e pela mesma razão não falam mal dos outros nem mesmo de seus inimigos exceto por desdém Em disputas inevitávis ou triviais elas menos que quaisquer outras lamentarseão ou pedir1o ajuda pois quem age assim demonstra atribuir importância a tais disputas São as pessoas magnânimas que preferem possuir coisas belas e sem grande valor venal em vez de coisas valiosas e úteis pois este procedimen to é mais compatível com uma personalidade independente São mais adequados a uma pessoa magnânima um andar lento una voz grave e uma dicção cuidada pois não se deve esperar que as pessoas que se preocupam com poucas coisas sejam apressadas nem que as que não consideram coisa alguma realmente grande sejam agitadas uma vcz estridente e um andar precipitado denotam pressa e agitação As pessoas magnânimas são assim as que pecam por falta em comparação com elas são pusilânimes e as que pecam por excesso são pretensiosas Estas também não são consideradas más elas não fazem mal mas apenas estio erradas Com efeito as pessoas pusilânimes sendo dignas de boas coisas privamse a si mesmas daquilo que merecem parece haver algo errado em relação a elas porque elas não se julgam dignas de boas coisas e também parece que elas Dio se conhecem a si mesmas se 82 Aristóteles assim não fosse elas desejariam as coisas que merecem pois estas são boas Mas tais pessoas não parecem insensataS e sim retraídas sem motivos para sêlo Esta ponderação todavia na realidade parece tornálas piores pois cada espécie de pessoa aspira ao equivalente aos seus méritos e as pessoas pusilânimes se retraem até diante de ações e propósitos nobilitantes por se julgarem indignas deles privandose até de bens materiais As pessoas pretensiosas ao contrário são insensatas e ignorantes até em relação a si mesmas a ponto de ostentarem os seus defeitos elas assumem responsabi lidades honrosas das quais não são dignas e logo suas deficiências são descobertas elas são exibicionistas em seu modo de vestir e em suas maneiras e outras atitudes do mesmo gênero elas querem que todos vejam a sua prosperidade e falam dela como se merecessem homenagens por isto Mas a pusilanimidade é mais contrária à magnanimidade do que a pretensão pois ela é mais freqüente e pior A magnanimidade então relacionase com as honrarias e em grande escala como já dissemos 116 4 Parece haver também no âmbito da honra como já dissemos em nossas primeiras observações a este respeito uma espécie de excelência moral que se relacionaria com a magnanimidade da mesma forma que a liberalidade se relaciona com a magnificência Efetivamente nenhuma delas tem coisa alguma a ver com a grandeza mas nos predispõem adequadamente a propósito dos objetivos moderados e pequenos assim como em relação a ganhar e a gastar riquezas há meio termo excesso e 1125 b falta também podemos desejar mais honrarias do que é razoável ou menos ou das fontes cenas e da maneira cena Censuramos igualmente as pessoas ambiciosas por aspirarem às honrarias mais do que é razoável e de fontes erradas e as pessoas desambiciosas por não quererem ser honradas sequer por razões nobilitantes às vezes porém louvamos as pessoas ambiciosas por serem enérgicas e por amarem o que é nobilitante e as desambiciosas por serem comedidas e dotadas de autodomínio como dissemos em nossa primeira exposição do assunto 111 É óbvio que da mesma forma que a expressão apaixonado por tal ou qual objeto tem mais de um sentido não aplicamos o termo ambição ou a expressão paixão pelas honrarias sempre à mesma coisa mas quando louvamos tal disposição da alma pensamos mais nas pessoas apaixonadas pelas honra rias que na maior parte das outras e quando a censuramos pensamos nas pessoas mais apaixonadas por elas do que é razoável Não havendo nome para o meio termo os extremos parecem disputar o seu lugar como se ele estivesse vago por inexistência Mas onde há excesso e falta há também meio termo Ora as pessoas tanto desejam as honrarias mais do que devem quanto menos do que devem logo é possível desejálas como se deve de qualquer modo esta é a disposição da alma que louvamos por ser um meio termo no tocante à honra Relativamente à ambição parece que o meio termo é a desambição e relativamente à desambição parece que ele Ética a Nicômacos 83 é a ambição relativamente a ambos em separado parece que em certo sentido ele é o que ambos sio em conjunto Parece que isto se aplica também a outras formas de excelência moral mas no caso presente os extremos são aparentemente contraditórios porque o meio termo não tem um nome específico 5 A amabilidade é a observância do meio termo em relação à cólera como falta um nome específico para o estado intermediário e os extremos praticamente também não têm nome colocamos a amabilidade no meio termo embora ela se incline para a falta que não rem nome O excesso pode ser chamado de uma espécie de irascibilidade pois a emoção neste caso é a cólera enquanto suas causas são muitas e variadas As pessoas que se encolerizam por motivos justos e com as pessoas cerras e além disto como devem quando devem e enquanto devem são dignas de louvor Estas então serão as pessoas amáveis pois a amabilida de é louvável De faro as pessoas amáveis tendem a permanecer imperturbáveis e a não se deixarem dominar pela emoção e a encolerizar se somente da maneira com as coisas e durante o tempo ditados pela razão mas pensase que elas erram no sentido da falta pois as pessoas amáveis não são vingativas e tendem mais a fazer concessões A falta seja ela uma espécie de nãoirascibilidade ou outra coisa é reprovável porquanto as pessoas que não se encolerizam com as coisas que devem encolerizálas são consideradas insensatas tanto quanto as que não se encolerizam da maneira cerra no momento certo ou com as 1126 a pessoas cerras pensase com efeito que tais pessoas não têm sensibilida de nem sofrem diante de uma ofensa e já que não se encolerizam pensa se que elas são incapazes de defenderse considerase servil suportar um insulto a si mesmo e admitir que um amigo seja insultado O excesso pode manifestarse em todas as situações mencionadas pois alguém pode encolerizarse com a pessoa errada por coisas erradas mais do que o razoável mais depressa ou durante muito tempo mas nem rodos estes excessos ocorrem numa mesma pessoa De faro eles não poderiam ocorrer pois o mal destróise a si mesmo e se torna insuportável se for total As pessoas irascíveis se encolerizam rapidamente e com as pessoas erradas e mais do que é razoável mas sua cólera cessa prontamente este é o aspecto mais favorável em relação a elas Isto lhes acontece porque elas não refreiam a sua cólera mas revidam abertamente graças ao seu temperamento e então sua cólera cessa Por causa do excesso as pessoas coléricas são irascíveis e se encolerizam por qualquer coisa e em rodas as ocasiões daí vem o seu nome As pessoas rancorosas são difíceis e implacáveis e sustentam a sua cólera durante muito tempo já que reprimem a sua emoção mas a cólera cessa quando elas revidam pois a vingança as alivia produzindo nelas prazer em vez de sofrimento se não 84 I 126 b Aristóteles revidam elas continuam a carregar o peso do ressentimento pois como sua cólera é oculta ninguém tenta sequer persuadilas a acalmarse e é preciso tempo para uma pessoa digerir a cólera sozinha Estas pessoas são as mais problemáticas para si mesmas e para seus amigos mais próximos Chamamos malhumoradas as pessoas que se irritam com as coisas erradas mais do que é razoável e durante mais tempo e não podem reconciliarse enquanto não conseguem uma reparação ou não se vingam Consideramos o excesso mais conuãrio à amabilidade do que a falta pois não somente ele é mais comum é humano ser vingativo como também é pior conviver com as pessoas malhumoradas O que dissemos na primeira parte de nossa exposição sobre o assunro 119 se torna mais evidente em face do que vamos dizer agora Não é fácil definir de que maneira com quem com que fundamentos e durante quanto tempo alguém deve encolerizarse e em que ponto se deixa de agir corretamente e se começa a estar errado Com efeito as pessoas que se desviam ligeiramente do ponto certo seja para mais ou para menos não são censuradas e às vezes elogiamos as que tendem para a falta e lhes damos o nome de amáveis e às vezes chamamos as pessoas ásperas de viris por serem capazes de comandar Não é fáci determinar com palavras até que ponto e como uma pessoa pode desviarse antes de tornarse censurável pois a decisão depende dos fatos particulares e o julgamento depende da percepção de cada um Mas pelo menos uma coisa já é clara quanto a isto o meio termo é louvável e é graças a ele que nos encolerizamos com as pessoas certas pelas coisas certas da maneira certa etc enquanto os excessos e faltas são censuráveis ligeiramente se ocorrem em pequena esLala mais se ocorrem em escala maior e muito mais se ocorrem numa escala extrema É evidente então que devemos adotar o meio termo Estas considerações sobre as disposições da alma relacionadas com a cólera são suficientes 6 Nas reuniões no convívio social e no relacionamento por meio de palavras ou aros algumas pessoas são consideradas amáveis por exemplo as que para agradar elogiam a todos e nunca fazem objeções pensando que seu dever é não desagradar às pessoas com as quais entram em contacto aquelas que ao contrário fazem objeções a tudo e não têm a mínima preocupação com o desagrado que causam são chamadas intratá veis e altercadoras É óbvio que ambas as disposições descritas são condenáveis e que o meio termo é louvável a tendência a concordar com o que se deve e a discordar do que se deve e como se deve mas esta disposição ainda não recebeu um nome embora ela se assemelhe muito à amizade Com efeito as pessoas que se enquadram no meio termo se assemelham muito àquelas que com o complemento da afeição chama mos de bons amigos Mas tal disposição difere da amizade pela ausência de emoção e afeição na convivncia pois uma pessoa com este caráter Ética a N icômacos 85 comportase em relação a rodo da maneira certa não por um sentimcmo pessoal de amor ou de ódio mas por amabilidade natural Ela terá esce comportamento tanto em relação às pessoas que conhece quanto às que não conhece em relação às pessoas íntimas e às que não o são em cada um destes casos todavia ela se conduzirá da maneira mais conveniente em face das circunstâncias Realmente não é apropriado ter as mesmas atenções em relação a pessoas íntimas e a pessoas estranhas nem são as mesmas as condições que justificam desgostálas Dissemos de um modo geral que as pessoas amáveis convivem com as demais da maneira certl mas é com vistas ao que é honroso e conveniente que elas visam a nio causar desgostos ou a contribuir para o prazer Elas parecem efetivameme preocupadas com os prazeres e desgostos no convívio social e sempre que não lhes for honroso ou for prejudicial contribuir para o prazer elas se recusarão a fazêlo e darão preferência até a causar desgosto de maneira idêntica se sua aquiescência quanto às ações de outras pessoas puder trazer desonra e não pequena ou danos a outras pessoas enquanto sua oposição pode trazer apenas um certo aborrecimento as pessoas amáves não aquiescerão e até desaprovarão tais ações Elas conviverão de maneiras diferentes com pessoas de alta categoria e com pessoas simple5 1127 a com conhecidos mais chegados e mais distantes o mesmo se aplica t propósito de todas as outras diferenças tratando cada classe com a deferência adequada ademais ainda que por causa do próprio praze possam dar preferência a contribuir para ele e a absterse de causar sofrimento elas se deixarão guiar pela consideração das conseqüências st estas forem mais importantes ou seja pela honra e pela conveniência Tendo em vista um grande prazer futuro elas também poderão causa pequenos aborrecimentos imediatos Este é então o meio termo mas não lhe foi dada uma designaçãc própria das pessoas que proporcionam prazer àquelas com as quai convivem as que desejam ser agradáveis sem qualquer objetivo ulterior são amáveis mas as que agem desta forma com a intenção de obter algum vantagem em relação a dinheiro ou a coisas que o dinheiro compra são aduladoras Por outro lado as pessoas que fazem objeções a tudo são como já dissemos 120 intratáveis e altercadoras As situações extremas parecem contraditórias porque o meio termo não tem uma designação própria 7 A observância do meio termo em relação à jactância se relaciona quase com as mesmas coisas e também não tem uma designação própria Não fará mal descrever igualmente estas disposições da alma pois não somente ficaremos conhecendo melhor os fatos relativos ao caráter se as examinar mos mais de perto como ainda nos convenceremos de que as formas de excelência moral são realmente meios termos se virmos que este conceito 86 Aristóteles se aplica a todos os casos Já descrevemos as pessoas cujo objetivo ao conviver com outras na esfera da vida social é causar prazer ou desgosto 121 falaremos agora daquelas que buscam a verdade ou a falsidade tanto em palavras e em atos quanto em suas próprias pretensões Pensase que as pessoas jactanciosas inclinamse a pretender as coisas que trazem glória quando ainda não as têm ou a pretender mais quando já as têm o falso modesto por outro lado tende a negar ou a minimizar o que tem 1127 b enquanto as pessoas que ocupam o meio termo são as que dão às coisas os seus nomes certos sendo sinceras quer em sua conduta quer em suas palavras confirmando que têm o que realmente lhes pertence nem mais nem menos Cada um destes tipos de conduta pode ser adotado com ou sem um objetivo Cada pessoa todavia fala age e vive de acordo com seu caráter se não está agindo com algum objetivo ulterior a falsidade é em si mesma ignóbil e condenável enquanto a verdade é nobilitante e digna de louvor Sendo assim as pessoas sinceras são outro caso de pessoas que estando no meio termo merecem louvor e ambas as espécies de pessoas insinceras são censuráveis particularmente as pessoas jactanciosas Discu tamos cada uma das espécies então mas primeiro falemos das pessoas sinceras Não estamos falando das pessoas que honram seus compromissos nem de assuntos relativos à justiça ou injustiça isto tem a ver com outra espécie de excelência moral e sim das pessoas que em matérias nas quais nada deste gênero está em jogo são sinceras tanto em suas palavras quanto em sua conduta porque este é o seu caráter Um homem desta espécie pode ser considerado um homem de bem pois as pessoas que amam a verdade e são sinceras quando nada está em jogo serão ainda mais sinceras quando algo estiver em jogo elas evitarão a falsidade como algo ignóbil neste último caso pois já a evitam por si mesma e tais pessoas são dignas de louvor As pessoas sinceras divergirão da verdade se for o caso no sentido de atenuála e nunca de exagerála pois tal atitude será mais compatível com a conveniência já que todo exagero é desagradável As pessoas que sem qualquer objetivo ulterior têm pretensões ao que não lhes pertence constituem uma espécie desprezível se não fossem assim elas não ficariam satisfeitas com a falsidade daquelas pessoas que têm tais pretensões com um objetivo ulterior as que as têm por causa da reputação e de honrarias não merecem maior censura apesar de serem jactanciosas mas as que as têm por dinheiro ou coisas que trazem dinheiro mostram um caráter mais repugnante não é a potencialidade que faz o jactancioso e sim o propósito pois uma pessoa é jactanciosa em decorrência desta disposição da alma e por ser como é da mesma forma algumas pessoas são mentirsas porque gostam de mentir e outras porque desejam reputação ou ganhos As pessoas que são jactanciosas com vistas à reputação pretendem ter qualidades do tipo das que provocam elogios ou ttica a N icômacos 87 congratulações mas aquelas cujo objetivo é o ganho pretendem ter qualidades que podem ser iceis aos que convivem com elas e que também podem ser simuladas sem que sua falsidade seja facilmente desmascarada por exemplo dons poféticos e conhecimentos filosóficos ou médicos É por isto que muitagente tem a pretensão de conhecer estas coisas e se vangloria deste conhecimento pois as características menciona das estão presentes em tais pessoas Os falsos modestos que minimizam suas qualidades parecem ter um caráter mais atarente com efeito pensase que eles adotam esta atitude não com o intuito de ganho mas para não darem a impressão de ostentação as qualidades cuja posse eles negam são principalmente qualidades muito apreciadas como acontecia com Sócrates Aqueles que negam a posse de qualidades triviais ou óbvias são chamados de embusteiros e são mais desaprezíveis às vezes esta falsa modéstia se assemelha à jactância como acontece com o modo de vestir dos espartanos122 pois tanto a extrema negligência quanto o cuidado excessivo em relação às roupas são um sinal de jactância Mas as pessoas que usam parcimoniosamente a falsa modéstia e se retraem acerca de qualidades não muito conspícuas parecem atraentes São as pessoas jactanciosas que parecem o contrário das sinceras pois o pior caráter é o das primeiras 8 Mas já que o repouso também faz parte da vida e ele inclui o lazer e o entretenimento aqui parece haver igualmente uma espécie de convivência em que há lugar para o born gosto que neste caso consiste em dizer e também ouvir que se deve e como se deve O tipo de pessoa com a qual se está falando ou que se está ouvindo também faz diferença É evidente que também neste caso há o excesso e a falta em relação a um meio termo As pessoas que tendem para o excesso na ânsia de gracejar são consideradas bufões vulgares esforçandose por provocar o riso a qualquer preço seu interesse maior é provocar uma gargalhada e não dizer o que é conveniente e evitar o desgosto naquelas pessoas que são o 1128 a objeto de seus gracejos Aquelas que ao contrário são incapazes de fazer um gracejo e não suportam aqueles que o fazem são consideradas enfadonhas e grosseiras As pessoas porém que gracejam com bom gosto são chamadas espirituosas ou seja dotadas de presença de espírito que se traduz em repentes pertinentes tais repentes são considerados movimen tos do caráter e da mesma forma que o corpo é apreciado por seus movimentos o caráter também o é O aspecto ridículo das coisas todavia está sempre visível e a maioria das pessoas se compraz mais do que devia com brincadeiras e gracejos de tal forma que os bufões também são chamados de espirituosos porque há quem os ache atraentes o que acaba de ser dito enuetanto evidencia que eles são diferentes e não pouco das pessoas espirituosas A disposição intermediária é caracterizada também pelo senso da conveniência ou tato as pessoas sensíveis neste sentido 88 1128 b Aristóteles dirão e permitirão que se lhes digam coisas convenientes a um homem dotado de excelência moral e polido com efeito há coisas que tais pessoas podem dizer e ouvir a título de gracejo dentro do conceito de conveniên cia e os gracejos de uma pessoa polida diferem dos de uma pessoa vuIsar tanto quanto os gracejos de uma pessoa educada diferem daqueles de uma pessoa sem educação Esta diferença pode ser notada na comparação das comédias antigas com as novas os autores das primeiras divertiam com a obscenidade mas os das últimas preferem as insinuações e as duas coisas diferem e não pouco quanto à conveniência Poderíamos então definir as pessoas que gracejam agradavelmente como as que dizem o que não é inconveniente para uma pessoa polida ou como as que não causam desgosto aos que as ouvem ou até lhes dão prazer Ou a última pane da definição é de qualquer modo vaga já que coisas diferentes são detestáveis ou agradáveis para pessoas diferentes fcipo de gracejo que elas ouvirão será o mesmo pois os gracejos que elas podem tolerar são os mesmos que elas próprias dizem Há então gracejos que elas não dirão pois o gracejo é uma espécie de abuso e os legisladores nos proíbem de abusar de certas coisas talvez algumas formas de gracejo também devam ser proibidas As pessoas cultas e polidas portanto são como as descrevemos já que elas são como que uma lei para si mesmas São estas pessoas que ficam no meio termo quer as chamemos de pessoas de bom gosto ou espirituosas os bufões por outro lado são as pessoas que não podem resistir ao desejo de gracejar e não poupam nem a si mesmas nem as outras pessoas se podem provocar com isto uma gargalhada eles dizem coisas que um homem polido nunca diria algumas das quais este não gostaria sequer de ouvir Quanto às pessoas enfadonhas elas são imprestáveis para o convívio social porquanto não o animam de forma algma e acham que tudo está errado Mas seja como for o lazer e o entretenimento parecem constituir um fator necessário à vida Então os meios termos na conduta que acabamos de descrever são três e todos se relacionam com a convivência em palavras e atos de algum tipo Eles diferem todavia porque um deles se relaciona com a verdade e os outros dois com o que é agradável Um dos que se relacionam com o que é agradável se manifesta através de gracejos e o outro no convívio social em geral 9 O sentimento de vergonha não pode ser descrito propriamente como uma forma de excelência moral pois ele mais parece uma emoção do que uma disposição da alma Seja como for ele é definido como uma espécie de temor da desonra e produz um efeito análogo ao do temor do perigo pois as pessoas que se sentem envergonhadas coram c as que temem a morte empalidecem Em ambos os casos de certo modo elas parecem ter sentido emoções fisiológicas que são consideradas mais características de sentimentos que de disposições da alma Ética a Nicômacos 89 Este sentimento não se coaduna com todas as idades mas somente com a adolescência De fato pensamos que os adolescentes costumam envergonharse porque vivem em função das emoções e portanto cometem muitos erros mas são refreados pela vergonha Louvamos enrão os adolescentes que se mostram envergonhados mas ninguém louvaria uma pessoa idosa por envergonharse pois imaginamos que ela seja incapaz de fazer qualquer coisa de que deva sentir vergonha Realmente o sentimento de desonra não é sequer uma característica das pessoas boas porquanto ele é concomitante com as más ações tais ações não devem ser praticadas e não faz diferença se algumas delas são verdadeiramente desonrosas e ouuas o são apenas segundo a opinião geral pois nenhuma destas duas espécies de ações deve ser praticada de tal forma que nenhuma desonra deve ser sentida o simples fato de alguém ser capaz de praticar uma ação desonrosa é característico de uma pessoa má É absurdo que alguém seja constituído de tal forma que possa sentirse desonrado se pratica uma ação desce tipo e se considere uma boa pessoa por esta razio pois somente se sente vergonha por ações voluntárias e as pessoas boas jamais praticarão más ações voluntariamente Mas se pode dizer que o sentimento de vergonha é uma boa coisa condicionalmente na acepção de que uma pessoa boa se sentiria envergonhada se praticasse cais ações mas a excelência moral não é condicional Se a impudência ou seja o faco de alguém não se envergonhar por praticar ações vergonhosas é um mal nem por isto será bom envergonharse por praticar ações deste tipo A continência também não é uma forma de excelência moral e sim uma forma híbrida de disposição da alma isto porém será explicado depois Agora falemos da justiça Q Which of the following cannot be an observation of a scientific enquiry a When a person enters a room the temperature of the room increases b When the distance between two charged bodies is decreased the force between them increases c The change of water to ice is due to cooling d The number of trees that grew in a forest increases in five years 1129 a LIVRO V 1 Com vistas à justiça e à injustiça devemos indagar quais sio as espécies de ações com as quais elas se relacionam que espécie de meio termo é a justiça e entre que extremos o ato justo é o meio termo Nossa investiga çio seguiri o mesmo curso das discussões anteriores Observamos que segundo dizem todas as pessoas a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo a agir justamente e a desejar o que é justo de maneira idêntica dizse que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto Adotemos também esta definição em princípio Efetivamente não acontece com as ciências e com as aptidões o mesmo que acontece com as disposições da alma Uma única aptidão ou ciência trata de coisas contrárias mas uma disposição da alma que leva a um certo resultado não pode levar também ao resultado contrário a circunstância de termos saúde nio resulta de fazermos o que é contrário à saúde e sim o que é saudável e dizemos que um homem caminha saudavelmente quando ele caminha como caminham os homens saudáveis É por isto que muitas vezes se reconhece uma disposição da alma graças a outra contiaria e muitaS vezes as disposições são identificad por via das pessoas nas quais elas se manifestam com efeito no primeiro caso por exemplo se as boas condições físicas são conhecidas as más condições também seria conhecidas e no segundo caso as boas condições são conhecidas por via das pessoas que estão em boas condições e estas pessoas são conhecidas por via de suas boas condições Se a boa condição consiste numa carnatura firme a má condição consistirá necessariamente numa carnatura flácida e saudável será aquilo que causa a firmeza da carnaturL Disto decorre que na maioria dos casos se um dos contrários é 92 1129 b Aristóteles ambíguo o ouuo será também ambíguo por exemplo se justo é ambíguo injusto e injustiça também serão Ora justiça e injustiça parecem ser termos ambíguos mas como seus diferentes significados se aproximam uns dos ouuos a ambigüidade não é notada enquanto no caso de coisas muito diferentes designadas por uma expressão comum a ambigüidade é comparativamente óbvia por exemplo neste caso a diferença na forma exterior é grande o uso ambígüo da palavra kltis para significar a clavícula de um animal e o objeto com que se fecha uma porta Determinemos então em quantos sentidos se diz que uma pessoa é injusta O termo injusto se aplica tanto às pessoas que infringem a lei quanto às pessoas ambiciosas no sentido de quererem mais do que aquilo a que têm direito e iníquas de tal forma que obviamente as pessoas cumpridoras da lei e as pessoas corretas serão justas O justo então é aquilo que é conforme à lei e correto e o injusto é o ilegal e iníquo Já que as pessoas injustas são ambiciosas elas devem ser injustas a respeito de bens não de todos os bens mas daqueles de que dependem a prosperidade e a adversidade considerados de maneira irrestrita eles são sempre bons mas para uma determinada pessoa nem sempre o são Apesar disto as pessoas rezam para ter estes bens e os buscam embora não devam agir desta maneira elas deveriam rezar para que as coisas irrestritamente boas possam ser boas também para elas e deveriam escolher efetivamente as coisas que são boas para elas As pessoas injustaS todavia não escolhem sempre o maior quinhão das coisas irrestritamente más elas escolhem o menor quinhão de qualquer forma porém considerase que elas são ambiciosas pois o menor de dois males em certo sentido parece um bem e ser ambicioso significa ambicionar em termos de bens Chamemos tais pessoas de iníquas pois este termo é abrangente e inclui ao mesmo tempo querer muito as coisas boas e pouco as más Como as pessoas que infringem as leis parecem injustaS e as cumpridoras da lei parecem justas evidentemente rodos os atos confor mes à lei são justos em certo sentido com efeito os aros estipulados pela arte de legislar são conformes à lei e dizemos que cada um deles é justo Em seus preceitos sobre rodos os assuntos as leis visam ao interesse comum a rodas as pessoas ou às melhores ou às pessoas das classes dominantes ou aJao do mesmo tipo de tal forma que em certo sentido chamamos justos os atos que tendem a produzir e preservar a felicidade e os elementos que a compõem para a comunidade poUtica E a lei determina iaualmente que ajamos como agem os homens corajosos ou seja que nio desertemos de nosso posto nem fujamos nem nos desvencilhemos de nossas armas e como os homens moderados ou seja 1130 a ttica a N icômacos 93 que não cometamos o adultério nem ultrajes e como os homens amáveis ou seja que não agridamos os outros nem falemos mal deles e assim ror diante em relação às outras formas de excelência moral impondo a prática de certos atos e proibindo outros as determinações das leis bem elaboradas são boas e as das leis elaboradas apressadamente não chegam a ser igualmente boas Então a justiça neste sentido é a excelência moral perfeita embora não o seja de modo irrestrito mas em relação ao próximo Ponto a justiça é freqüentemente considerada a mais elevada forma de excelcia moral e nem a estrela vespertina nem a matutina é tão maravilhosa m e também se diz proverbialmente que na justiça se resume toda a excelência 126 Com efeito a justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela 0 a prática efetiva da excelência moral perfeita Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem praticála njo somente em relação a si mesmas como também em relação ao próximo É por isro que se consideram bem ditas as palavras de Bias o exercício do poder revela o homem pois os governantes exercem necessariamente o seu poder em relação aos outros homens e ao mesmo tempo são membros da comunidade Pela mesma razão considerase que a justiça e somente ela entre todas as formas de excelência moral é o bem dos outros 128 de fato ela se relaciona com o próximo pois faz o que é vantajoso para os outros qler se trate de um governante quer se trate de um companheiro da comunidade O pior dos homens é aquele que põe em prática sua deficiência moral tanto em relação a si mesmo quanto em relação aos stus amigos e o melhor dos homens não é aquele que põe em prática sua excelência moral em relação a si mesmo e sim em relação aos outros pois esta é uma tarefa difícil Neste sentido então a justiça não é uma parte da excelência moral mas a excelência moral inteira nem seu contrário a injustiça é uma parte da deficiência moral mas a deficiência moral inteira A diferença entre a excelência moral e a justiça nesse sentido é óbvia diante do que já dissemos elas são a mesma coisa mas sua essência não é a mesma a disposição da alma que é a justiça praticada especificamente em relação ao próximo quando é um certo tipo de disposição irrestrita a excelência moral 2 Mas afinal de comas o objeto de nossa investigação é a justiça que é uma parte da excelência moral pois sustentamos que há uma justiça desta espécie Da mesma forma estamos investigando a injustiça no sentido restrito A existência da injustiça é indicada pelo fato de que enquanto as 94 Aristóteles pessoas que mostram em ação as outras formas de deficiência moral agem realmente de maneira errada mas sem ser ambiciosas por exemplo o homem que em combate se desvencilha de seu escudo por covardia ou que fala asperamente por irascibilidade ou que deixa de ajudar financeira mente um amigo por avareza as pessoas ambiciosas não mostram na maioria das vezes qualquer uma destas formas de deficiência moral e muito menos todas juntas mas certamente mostram alguma espécie de maldade por isto as censuramos e injustiça Há então outra espécie de injustiça que é uma parte da injustiça em geral e uma acepção da palavra injusto que corresponde a uma parte do que é injusto no sentido geral de ilegal Ademais se uma pessoa comece o adultério pensando em obter proveito e ganha dinheiro agindo assim enquanto outra o comete compelida pelo desejo e é punida por isto a última deveria ser 1130 b considerada concupiscente em vez de ambiciosa ao passo qu a primeira é injusta mas não concupiscente é evidente portanto que ela é injusta por querer ganhar com seu ato Além disto os demais atos injustos são imputados a algum tipo específico de deficiência moral por exemplo o adultério é imputado à concupiscência a deserção de um companheiro em combate é imputada à covardia e a violência física é imputada à cólera mas se uma pessoa obtém proveito graças a um ato injusto sua ação não é imputada senão à injustiça É evidente portanto que além da injustiça em sentido amplo há outra espécie de injustiça em sentido escrito que tem o mesmo nome e a mesma natureza da primeira da qual ela é uma parte porque sua definição se enquadra no mesmo gênero ambas as espécies de injustiças se manifestam na convivência entre as pessoas mas uma se relaciona com a honra ou com o dinheiro ou com a segurança ou seja qual for o nome se pudermos empregálo para englobar todas estas coisas e sua motivação é o prazer decorrente do ganho enquanto a outra se relaciona com tudo que está na esfera de ação do homem bom É óbvio então que há mais de uma espécie de justiça e que uma delas é distinta da excelência moral como um todo devemos tentar descobrir a espécie e os atributos da justiça neste sentido estrito Os dois significados que distinguimos no injusto são ilegal e iníquo A ilegal corresponde a acepção de injustiça mencionada pouco antes Mas já que o iníquo e o ilegal não são a mesma coisa sendo diferentes da mesma forma que a parte é diferente do todo tudo que é iníquo é ilegal mas nem cudo que é ilegal é iníquo o injusto e a injustiça no sentido do iníquo não são os mesmos da primeira espécie e sim diferentes dela da mesma forma que a parte é diferente do codo efetivamente a injustiça neste sentido é uma parte da injustiça em sentido amplo e igualmente a justiça que estamos examinando agora é uma parte da justiça em sentido amplo Temos por conseguinte de discutir a justiça e 1131 a Ética a Nicômacos 95 a injustiça em sentido restrito e igualmente o justo e o injusto em sentido restrito Podemos então deixar de lado a justiça correspondente à excelência moral em seu todo e a injustiça correspondente a esta justiça sendo uma delas o exercício da excelência moral como um todo e a outra o exercício da deficiência moral como um todo ambas em relação ao próximo É óbvia a maneira de distinguir o significado do justo e do injusto correspon dentes a elas pois praticamente a maioria dos atos prescritos pela lei é constituída de atos prescritos tendo em vista a excelência moral como um todo de fato a lei nos manda praticar todas as espécies de excelência moral e nos proíbe de praticar qualquer espécie de deficiência moral e as prescrições para uma educação que prepara as pessoas para a vida comunitária são as regras produtivas da excelência moral como um todo Quanto à educação do indivíduo como tal que o torna irrestritamente um homem bom devemos determinar mais tarde 129 se tal tarefa é da alçada da ciência política ou de outra ciência pois talvez não signifique a mesma coisa ser um homem bom e um bom cidadão em todas as cidades Uma das espécies de justiça em sentido estrito e do que é justo na acepção que lhe corresponde é a que se manifesta na distribuição de funções elevadas de governo ou de dinheiro ou das outras coisas que devem ser divididas entre os cidadãos que compartilham dos benefícios outorgados pela constituição da cidade pois em tais coisas uma pessoa pode ter uma participação desigual ou igual à de outra pessoa a outra espécie é a que desempenha uma função corretiva nas relações entre as pessoas Esta última se subdivide em duas algumas relações são voluntá rias e outras são involuntárias são voluntárias a venda a compra o empréstimo a juros o penhor o empréstimo sem juros o depósito e a locação estas relações são chamadas voluntárias porque sua origem é voluntária das involuntárias algumas são subreptfcias como o furto o adultério o envenenamento o lenocínio o desvio de escravos o assassínio traiçoeiro o falso testemunho e outras são violentas como o assalto a prisão o homicídio o roubo a mutilação a injúria e o ultraje 3 Já que tanto o homem injusto quanto o ato injusto são iníquos é óbvio que há também um meio termo entre as duas iniqüidades existentes em cada caso Este meio termo é o igual pois em cada espécie de ação na qual há um mais e um menos há também um igual Se então o injusto é iníquo ou seja desigual o justo é igual como todos acham que ele é mesmo sem uma argumentação mais desenvolvida E já que o igual é o meio termo o justo será um meio termo Ora a igualdade pressupõe no mínimo dois elementos o justo então deve ser um meio termo igual e relativo por exemplo justo para cenas pessoas e na qualidade de meio 96 Aristóteles termo ele deve estar entre determinados extremos respectivamente maior e menor na qualidade de igual ele pressupõe duas participa ções iguais na qualidade de jwto ele o é para cenas pessoas O jwto portanto pressupõe no mínimo quatro elementos pois as pessoas para as quais ele é de fato justo são duas e as coisas nas quais ele se manifesta os objetos distribuídos são também duas E a mesma igualdade existirá entre as pessoas e as coisas envolvidas pois da mesma forma que as últimas as coisas envolvidas são relacionadas entre si as primeiras também o são se as pessoas não forem iguais elas não terão uma participação igual nas coisas mas isto é a origem de querelas e queixas quando pessoas iguais têm e recebem quinhões desiguais ou pessoas desiguais recebem quinhões iguais Além do mais isto se torna evidente porque aquilo que é distribuído às pessoas deve sêlo de acordo com o mérito de cada uma de fato todas as pessoas concordam em que o que é justo em termos de distribuição deve sêlo de acordo com o mérito em ceno sentido embora nem todos indiquem a mesma espécie de mérito os democratas identificam a circunstância de a distribuição dever ser de acordo com a condição de homem livre os adeptos da oligarquia com a riqueza ou nobreza de nascimento e os adeptos da aristocracia com a excelência O justo então é uma das espécies do gênero proporcional a proporcionalidade não é uma propriedade apenas das quantidades númeri cas e sim da quantidade em geral Com efeito a proporção é uma igualdade de razões envolvendo no mínimo quatro elementos é evidente que a proporção descontínua envolve quatro elementos mas acontece o mesmo com a proporção contínua pois ela usa um elemento como se se tratasse de dois e o menciona duas vezes por exemplo a linha A está para a linha B assim como a linha B está para a linha C a linha B foi mencionada então duas vezes de tal forma que se a linha B for considerada duas vezes os elementos proporcionais serão quatro o justo envolve também quatro elementos no mínimo e a razão entre um par de elementos é igual à razão existente entre o outro par pois há uma distinção equivalente entre as pessoas e as coisas Então o elemento A está 1131 b para o elemento B assim como o elemento C está para o elemento D e portanto por alternação A está para C assim como B está para D Logo também a soma do primeiro e do terceiro elementos está para a soma do segundo e do quano assim como o primeiro elemento está para o segundo Esta é a combinação efetuada por meio de uma distribuição dos quinhões e a combinação será justa se as pessoas e os quinhões forem combinados desta maneira O princípio da jwtiça distributiva portanto é a conjunção do primeiro termo de uma proporção com o terceiro e do segundo com o quano e o justo nesta acepção é o meio termo entre dois extremos desproporcionais já que o proporcional é um meio termo e o justo é o proporcional 10 1132 a Ética a Nicômacos 97 Os matemáticos chamam esta espécie de proporção de geométrica pois é na proporção geométrica que a soma do primeiro e do terceiro termos está para a soma do segundo e do quarto assim como um elemento de cada par de elementos está para outro elemento A justiça distributiva não é uma proporção contínua pois seus segundo e terceiro termos alguém que recebe parte de alguma coisa e uma participação na coisa não constituem um mesmo elemento O justo nesta acepção é portanto o proporcional e o injusto é o que viola a proporcionalidade Neste último caso um quinhão se torna muito grande e o outro muito pequeno como realmente acontece na prática pois a pessoa que age injustamente fica com um quinhão muito grande do que é bom e a pessoa que é tratada injustamente fica com um quinhão muito pequeno No caso do mal o inverso é verdadeiro pois o mal menor é considerado um bem quando comparado com o mal maior já que o mal menor deve ser escolhido de preferência ao maior e o que é digno de escolha é um bem e o que é mais digno de escolha é um bem ainda maior 4 A espécie restante de justiça é a corretiva que tanto se manifesta nas relações voluntárias quanto nas involuntárias Esta forma do justo tem um caráter diferente da primeira pois a justiça na distribuição dos bens públicos é sempre conforme à espécie de proporção mencionada lcima também no caso em que se faz a distribuição dos fundos públicos esta distribuição será conforme à mesma razão que se observa entre os fundos trazidos para um negócio pelos vários parceiros a injustiça contrária a esta espécie de justiça é a que viola esta proporcionalidade Mas a justiça nas relações privadas é de fato uma espécie de igualdade e a injustiça nestas relações é uma espécie de desigualdade mas não conforme à espécie de proporção mencionada acima e sim conforme à proporção aritmética Com efeito é irrelevante se uma pessoa boa lesa uma pessoa má ou se uma pessoa má lesa uma pessoa boa ou se é uma pessoa boa ou má que comete adultério a lei contempla somente o aspecto distintivo da justiça e trata as partes como iguais perguntando somente se uma das partes cometeu e a outra sofreu a injustiça e se uma infligiu e a outra sofreu um dano Sendo portanto esta espécie de injustiça uma desigualda de o juiz tenta restabelecer a igualdade pois também no caso em que a pessOi é ferida e a outra fere ou uma pessoa mata e a outra é morta o sofrimento e a ação estão mal distribuídos e o juiz tenta igualizar as coisas por meio da penalidade subtraindo do ofensor o excesso do ganho o termo ganho se aplica geralmente a tais casos ainda que ele não seja um termo apropriado em certos casos por exemplo no caso da pessoa que fere e perda se aplica à vítima de cualquer forma uma vez estimado o dano um resultado é chamado perda e o outro é chamado ganho O igual portanto é o meio termo entre o maior e o menor mas o ganho e a 98 Aristóteles perda são respectivamente maiores e menores de modos contrários maior quinhão de um bem e menor quinhão de um mal são um ganho e o contrário é uma perda o meio termo entre eles como já vimos é o igual que chamamos de justo a justiça corretiva portanto será o meio termo entre perda e ganho É por isto que quando ocorrem disputas as pessoas recorrem a um juiz e ir ao juiz é ir à justiça porque se quer que o juiz seja como se fosse a justiça viva e elas procuram o juiz no pressuposto de que ele é uma pessoa eqüidistante e em algumas cidades os juízes são chamados de mediadores no pressuposto de que se as pessoas obtêm o meio termo elas obtêm o que é justo O justo portanto é eqüidistante já que o juiz o é O juiz então restabelece a igualdade as coisas se passam como se houvee uma linham dividida em dois segmentos desiguais e o juiz subtraísse a parte que faz com que o segmento maior exceda a metade e a acrescentasse ao segmento menor Quando o todo houver sido afinal dividido igualmente então as partes litigantes dirão que têm aquilo que lhes pertence isto é quando elas houverem obtido o que é igual O igual é o meio termo entre a linha maior e a menor de acordo com a proporção aritmética Esta é a origem da palavra díleaion justo ela quer dizer àileba dividida ao meio como se se devesse entender esta última palavra no sentido de àíleaion e um dileastés juiz é aquele que divide ao meio dikbastés Com efeito quando algo é subtraído de um entre dois segmentos iguais e acrescentado ao outro este outro excede o primeiro em duas vezes a parte subtraída já que se o que foi subtraído de um segmento não fosse acrescentado ao outro o último excederia o primeiro somente em uma vez Portanto o último excederá o meio termo somente em uma parte e o meio termo excederá o priméiro do qual a parte foi 1132 b subtraída somente em uma parte Esta demonstração nos leva então a ver aquilo que devemos subtrair da parte que tem mais e aquilo que devemos acrescentar à parte que rem menos devemos acrescentar à última a extensão pela qual o meio termo a excede e subtrair do segmento maior a extensão pela qual ele excede o meio termo Suponhamos que as linhas AA BB e CC sejam iguais entre si subtraiamos da linha AA o segmento AE e à linha CC acrescentemos o segmento com de tal forma que a linha OCC exceda a linha EA por COEF então a linha OCC excederá a linha ss por CO Os termos perda e ganho nestes casos procedem das operações de troca voluntária com efeito para cada pessoa passar a ter mais do que aquilo que lhe pertencia se chama ganhar e passa a ter menos do que seu quinhão original se chama perder por exemplo nas compras e vendas e em todas as outras transações que a lei deixa à discrição das partes intervenientes quando porém as pessoas não saem nem com mais nem com menos do que tinham mas apenas com o que já lhes pertencia elas dizem que têm o que é seu e que nem perderam nem ganharam Ética a Nicômacos 99 O justo portanto é em certo sentido um meio termo entre o ganho e a perda nas ações que não se incluem entre as voluntárias e consiste em ter um quinhão igual antes e depois da ação 5 Algumas pessoas pensam que a reciprocidade é justa de maneira irrestrita como dizem os pitagóricos que definem a justiça irrestrita como reciprocidade Mas a reciprocidade não se identifica nem com a justiça distributiva nem com a corretiva embora as pessoas queiram identificála com a última quando pretendem que o justo para Radamantis tem este significado se alguém sofrer o mesmo que infligiu então teremos a justiça feitam Realmente em muitos casos a reciprocidade e a justiça corretiva divergem por exemplo se uma autoridade fere uma pessoa qualquer 114 tal autoridade não deve ser ferida pela pessoa em retaliação se porém uma pessoa qualquer fere uma autoridade tal pessoa deve ser não somente ferida mas também punida Além disto há uma grande diferença entre um ato voluntário e um involuntário mas nas associações com vistas à permuta de serviços as pessoas se mantêm unidas graças a esta espécie de justiça que é a reciprocidade conforme à proporcionalidade e não na base de uma retribuição exatamente igual é a reciprocidade proporcional que 1133 a mantém a própria cidade unida As pessoas procuram retribuir o mal com o mal se não podem agir desta maneira elas se sentem como se fqssem escravos ou o bem com o bem se não puderem agir desta maneira não haverá permuta quando é a permuta que as mantém unidas É por isto que elas destinam um lugar de destaque ao templo das Graças para fomentar a prática da reciprocidade com efeito esta é uma característica da gratidão e devemos não somente mostrarnos gratos retribuindo a quem nos presta serviços como também devemos em outra oportunida de tomar a iniciativa de prestálos A reciprocidade proporcional se efetua auavés de uma conjunção cruzada Suponhamos por exemplo que A é um construtor B é um sapateiro C é uma casa e D é um par de sapatos O construtor deve obter do sapateiro o produto do uabalho deste e deve por sua vez oferecerlhe em retribuição o produto de seu próprio trabalho Se houver uma igualdade proporcional dos bens e se ocorrer uma ação recíproca verificarseá o resultado que mencionamos Se não ocorrerem estas duas circunstâncias a permuta não será iguàl e o relacionamento não continua rá Com efeito nada impede que o produto de um dos participantes seja melhor que o do ouuo e neste caso os produtos terão de ser igualizados isto é verdadeiro também nas outras artes pois elas teriam deixado de existir se o elemento ativo não produzisse e não recebesse o equivalente em quantidade e qualidade ao que o elemento passivo recebe m De fato não são dois médicos que se associam para a permuta de serviços mas um 100 1133 b Aristóteles médico e um fazendeiro ou de um modo geral pessoas diferentes e desiguais embora neste caso os produtos de suas respectivas atividades devam ser igualizados É por isro que rodos os serviços permutados devem ser comparáveis de algum modo com esta finalidade foi instituído o dinheiro e em cerro sentido ele se tornou um meio termo pois ele mede rodas as coisas e conseqüentemente o excesso e a falta por exemplo o número de pares de sapatos equivalentes a uma casa ou a uma certa quantidade de gêneros alimentícios Deve haver enue o número de pares de sapatos permutados por uma casa e a própria casa a mesma proporção que há entre o valor do trabalho do construtor e o do sapateiro u 6 se não for assim não haverá permuta nem relacionamento e a proporcionalidade não estará assegurada a não ser que os bens sejam iguais de algum macio Todos os bens portanto devem ser mensuráveis por meio de algum padrão como dissemos antes Este padrão é na verdade a demanda fator que mantém a união da comunidade com efeito se as pessoas não necessitassem dos bens umas das outras ou não necessitassem de todos eles igualmente não haveria permuta ou pelo menos não haveria a mesma espécie de permuta mas o dinheiro se tornou por convenção uma espécie de representante da demanda ele rem este nome nômisma porque existe não por natureza mas pela lei nomos e porque está em nosso poder mudálo e tornálo inútil Haverá portanto reciprocidade quando os termos da roporção forem igualizados de tal forma que o valor do trabalho do sapateiro esteja para o valor do uabalho do fazendeiro com quem a permuta é feita assim como o fazendeiro está para o sapateiro Mas não devemos reduzir os produtos à forma de uma proporção depois de os produtores já havotem realizado a permuta se o fizermos ambos os excessos poderão estar presentes em um dos exuemos e simenquanto eles ainda estiverem de posse de sew respectivos bens 137 Desta forma os permutantes são iguais e associados exatamente porque esta igualdade poderá efetuarse em seu caso específico Chamemos de A um fazendeiro de C os gêneros alimentícios por ele produzidos de B um sapateiro e de O o produto deste igualizado com C Se não fosse possível efetuar a reciprocidade desta maneira não haveria associação enue as partes O fato de que quando as pessoas não necessitam umas das outras isto é quando nenhuma delas necessita das outras ou uma não necessita de outra elas não efetuam permutas que só se fazem quando alguma delas necessita do que outra tem por exemplo quando se permite a exportação de trigo em troca de vinho evidencia que a demanda mantém a união da comunidade como um todo Devese portanto estabelecer a igualização da demanda O dinheiro nos serve também como uma garantia de permutas no futuro se não necessitamos de coisa aisuma no presente ele assegura a realização da permuta quando ela for necessária com efeito ele preenche 1134 a Ética a Nicõmacos 101 os requisitos de algo que podemos produzir para pagar por aquilo de que necessitamos de maneira a podermos obter o que nos falta Mas acontece com o dinheiro o mesmo que acontece com os produtos já que ele não tem sempre o mesmo valor de qualquer forma porém ele tende a ser mais estável Por esta razão devese estabelecer um preço para todos os produtos pois desta forma haved sempre permuta e conseqüentemente a comunidade O dinheiro portanto agindo como um padrão torna os bens comensuráveis e os igualiza e não haveria comunidade se não houvesse permutaS nem permutas se não houvesse igualização nem igualização se não houvesse comensurabilidade Na verdade é impossível que coisas tão diferentes entre si se tornem perfeitamente comensuráveis mas com referência à demanda elas podem tornarse suficientemente comensurá veis Tem de haver então um padrão e este deve ser convencionado mediante acordo por isto ele se chama dinheiro 1 é ele que torna todas as coisas comensuráveis já que todas as coisas podem ser medidas pelo dinheiro Seja A uma casa B dez minasm e C um leito O termo A vale a metade de B se a casa vale cinco minas ou seja se ela é igual a cinco minas o leito C vale um décimo de B vêse claramente então quantos leitos equivalem a uma casa ou seja cinco É evidente que as permutas se efetuavam desta maneira antes de existir o dinheiro pois é indiferente penqutarmos uma casa por cinco leitos ou pelo equivalente em dinheiro aos cinco leitos Acabamos de definir o injusto e o justo Feita a sua diferená1ção é claro que a ação justa é um meio termo entre agir injustamente e ser tratato injustamente pois no primeiro caso se tem demais e no outro se tem muito pouco A justiça é a observância do meio termo mas não de maneira idêntica à observância de outras formas de excelência moral e sim porque ela se relaciona com o meio termo enquanto a injustiça se relaciona com os extremos E a justiça é a qualidade que nos permite dizer que uma pessoa está predisposta a fazer por sua própria escolha aquilo que é justo e quando se trata de repartir alguma coisa entre si mesma e outra pessoa ou entre duas outras pessoas está disposta a não dar demais a si mesma e muito pouco à outra pessoa daquilo que é desejável t muito pouco a si mesma e demais à outra pessoa do que é nocivo e sim dar a cada pessoa o que é proporcionalmente igual agindo de maneira idêntica em relação a duas outras pessoas A justiça por outro lado está relacionada identicamente com o injusto que é excesso e falta contrário à proporcio nalidade do útil ou do nocivo Por esta razão a injustiça é excesso e falta no sentido de que ela leva ao excesso c à falta no caso da própria pessoa excesSo do que é útil por natureza e falta do que é nocivo enquanto no caso de outras pessoas embora o resultado global seja semelhante ao do caso da própria pessoa a proporcionalidade pode ser violada em uma direção ou na outra No ato injusto ter muito pouco é ser tratado injustamente e ter demw é agir injustamente 102 1134 b Aristóteles É esta então a nossa explicação da natureza da justiça e da injustiça e igualmente do justo e do injusto em geral 6 Mas já que agir injustamente não resulta necessariamente em ser injusto devemos perguntar quais são os atos injustos que tornam os seus autores injustos em relação a cada tipo de injustiça por exemplo um ladrão um adúltero ou um salteador Ou diríamos ao conuário que a distinção não está na qualidade do ato Com efeito um homem poderia até manter relações sexuais com uma mulher sabendo quem ela é mas a origem do ato poderia ser não sua própria escolha mas a paixão Ele age injustamente então mas não é injusto por exemplo um homem não é um ladrão mas rouba não é um adúltero mas comete o adultério e assim por diante em todos os outros casos140 Já expusemos anteriormente a relação enue a reciprocidade e a justiça141 Não devemos esquecer porém que o assunto de nossa investigação é ao mesmo tempo o justo no sentido irrestrito e o justo em sentido político Este último se apresenta entre as pessoas que vivem juntas com o objetivo de assegurar a autosuficiência do grupo pessoas livres e proporcionalmente ou aritmeticamente iguais Logo entre pessoas que não se enquadram nesta condição não há justiça política e sim a justiça em um sentido especial e por analogia De fato a justiça existe somente entre pessoas cujas relações mútuas são regidas pela lei e a lei existe para pessoas entre as quais pode haver injustiça pois a justiça no sentido legal é a discriminação entre o que é justo e injusto Portanto onde vivem pessoas entre as quais se praticam injustiÇas há também ações injustas embora a ação injusta não resulte necessariamente em injustiça e a ação injusta consiste em atribuirse em demasia coisas boas em si e muito poucas coisas máS em si É por isto qúe não permitimos14 h que um homem governe e sim a lei porque um homem pode governar em seu próprio interesse e tornarse um tirano Mas a função do governante é ser o guardião da justiça e se ele é guardião da justiça também é guardião da igualdade E jáque se pressupõe que nada mais lhe cabe se ele é justo senão exercer a sua própria função pois ele não se atribui em demasia o que é bom em si a não ser que uma atribuição maior seja proporcional aos seus méritos de tal forma que ele trabalha para os outros e é por esta razão que se diz como já declaramos antes10 que os homens qualificam a justiça de o bem dos outros devese darlhe por isto uma recompensa constante de honrarias e privilégios aqueles porém para os quais estas coisas não bastam tornamse tiranos A jusiça do senhor para com o escravo e a do pai para com o filho não são iguais à justiça política embora se lhe assemelhem na realidade não 1135 a Ética a Nicômacos 103 pode haver injustiça no sentido irrestrito em relação a coisas que nos pertencem mas os escravos de um homem e seus filhos até uma certa idade em que se tornam independentes são por assim dizer partes deste homem e ninguém faz mal a si mesmo por esta razão uma pessoa não pode ser injusta em relação a si mesma Logo não há justiça ou injustiça no sentido político em tais relações Com efeito a justiça e a injustiça como já vimos estão consubstanciadas na lei e existem entre pessoas cujas relações são naturalmente regidas pela lei ou seja pessoas que alternadamente participam do governo e são governadas Por isto a justiça pode manifestarse com maior autenticidade nas relações entre marido e mulher do que nas relações entre pai e filho e entre senhor e escravo pois a justiça entre marido e mulher é a justiça dvméstica mesmo esta porém é diferente da justiça política 7 A justiça política é em parte natural e em parte legal são naturais as coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem de as aceitarmos ou não e é legal aquilo que a princípio pode ser determinado indiferentemente de uma maneira ou de outra mas depois de determina do já não é indiferente por exemplo que o resgate de um prisioneiro será uma mina143 ou que deve ser sacrificado um bode e não duas ovelhas além de todos os dispositivos legais promulgados com vistas a casos particulares por exemplo que devem ser feitos sacrifícios em honra de Brasidas e dispositivos legais constantes de decretos Algumas pessoas pensam que toda justiça é desce tipo porque aquilo que existe por natureza é imutável e cem a mesma forma em todos os lugares como o fogo queima aqui e na Pérsia ao passo quetais pessoas vêem mudanças no que é tido como justo Isto porém não é verdadeiro de maneira irrestrita mas apenas em certo sentido com os deuses realmente isto não é verdadeiro de modo algum enquanto conosco embora exista algo verdadeiro até por natureza todos os dispositivos legais são mutáveis Seja como for existem uma justiça natural e uma justiça que não é natural É possível ver claramente quais as coisas entre as que podem ser de outra maneira que são como são por natureza e quais as que não são naturais e sim legais e convencionais embora ambas as formas sejam igualmente mutáveis Em relação a todas as outras coisas se pode fazer a mesma distinção com efeito a mão direita é mais forte por natureza mas é possível que qualquer pessoa se torne ambidestra As coisas que são justas apenas por convenção e conveniência são como se fossem instrumentos para medição de fato as medidas para vinho e trigo não são iguais em toda parte sendo maiores nos mercados atacadistas e menores nos varejistas De maneira idêntica as coisas que são justas não por natureza mas por decisões humanas não são as mesmas em todos os lugares já que as constituições não são também as mesmas embora haja apenas uma que em todos os lugares é a melhor por natureza 104 1135 b Aristóteles Cada uma das regras de justiça e das regras lepis se relaciona cqm as ações da mesma forma que o universal se relaciona com seus casos particulares pois as ações praticadas são muitas enquanto cada regra ou lei é uma já que é universal Há diferença entre uma ação injusta e o que é injusto e entre uma ação justa e o que é justo A natureza ou um dispositivo legal estabelece que uma ação é injusta quando esta ação é praticada há uma conduta injusta até ser praticada ela é somente o injusto O mesmo se aplica à conduta justa embora o termo em geral signifique propriamente ação justa e ato de justiça se aplique à correção de um ato de injustiça Examinaremos mais adianteu as várias regras da justiça e da lei enumeraremos suas várias espécies e as descreveremos além de tratar das coisas com que elas se relacionam 8 Sendo os atos justos e injustos aqueles que descrevemos uma pessoa age injustamente ou justamente sempre que pratica tais atos voluntaria mente quando os pratica involuntariamente ela não age injustamente nem justamente a não ser de maneira acidental O que determina se um ato é ou não é um ato de injustiça ou de justiça é sua voluntariedade ou involunwiedade quando ele é voluntário o agente é censurado e somente neste caso se trata de um ato deinjwtiça deitai forma que haverá aros que são injustos mas não chegam a ser atos de injustiça se a voluntariedade também não estiver presente Considero voluntária como já foi dito antes46 qUÍlquer ação cuja prática depende do agente e que é praticada conscientemente ou seja sem que o agente ignore quem é a pessoa afetada por sua ação qual é o instrumento usado e qual é o fim a ser atingido por exemplo quem ela está golpeando com que objeto e para que fim além disto nenhuma desw ações deve ser praticada acidental mente ou sob compulsão por exemplo se alguém segura a mão de uma pessoa e com ela golpeia ouua pessoa a pessoa cuja mão é segura não age volunt8fiamente pois a prática do ato não dependia dela Um homem que é golpeado pode ser o pai da pessoa que golpeia e esta pode saber que se trata de um homem ou de uma das pessoas presentes mas pode não saber que se trata de seu próprio pai podese fazer uma distinção semelhante a respeito do fim a ser atingido e da ação como um todo Então todo ato praticado na ignorincia ou que embora não sendo praticado na ignorin cia não depende do agente ou é praticado sob compulsão é um ato involuntário há também muitos processos naturais que realizamos ou sofremos conscientemente embora nenhum deles seja voluntário ou involuntário por exemplo envelhecer ou morrer Também no caso de atos injustos e justos a injustiça ou a justiça pode ser somente acidental de fato uma pessoa pode restituir conua a vontade Ética a Nicômacos 105 e por temor alguma coisa de que era depositária e não se poderá dizer que ela fez o que é justo ou agiu justamente a não ser de maneira acidental Da mesma forma podese dizer que a pessoa que sob compulsão e contra a vontade deixa de devolver alguma coisa de que era depositária agiu injustamente e fez o que era injusto apenas acidentalmente Praticamos alguns atos premeditadamente e outros sem premedita ção praticamos premeditadamente os atos que realizamos após delibera ção e sem premeditação aqueles que realizamos sem prévia deliberação Há portanto três espécies de danos nas relações entre as pessoas os causados na ignorância são erros quando a pessoa prejudicada ou o ato ou o instrumento ou o fim a ser atingido não é o que o agente imagina o agente pensava que não estava atingindo pessoal alguma ou que não estava atingindo alguém com um determinado projétil ou que não estava atingindo determinada pessoa ou que não a estava atingindo com determinada intenção mas aconteceu o que ele não esperava por exemplo ele não queria ferir mas somente arranhar ou a pessoH ferida ou o projétil não era quem ou o que ele esperava Então quando o dano ocorre contrariamente à expectativa razoável tratase de um infortúnio Quando ele não ocorre contrariamente à expectativa razoável mas não pressupõe deficiência moral tratase de um erro realmente uma pessoa comete um erro quando a falta se origina na própria pessoa mas é a vítima de um acidente quando a origem está fora dela Quando a pessoa age conscientemente mas não deliberadamente tratase de uma injusdça por exemplo os atos devidos à cólera ou a outras emoções inconcrláveis ou naturais na criatura humaqa realmente quando as pessoas pratiom tais atos lesivos e errados elas ágem injustamente e seus atos são aros de injustiça mas isto não significa necessariamente que os agentes são injustos ou maus pois a ofensa não é devida à deficiência moral Quando porém uma pessoa age deliberadamente ele é injusta e é moralmente deficiente Por isto se considera com razão que os atos devidos à cólera n io são premeditados com intenção criminosa pois quem inicia a ação nio é a pessoa que age sob o efeito da cólera e sim aquela que encoleriza o agente Além disto não se discute se o fato aconteceu ou não e sirr a sua justificação pois a ocorrência do ato não é discutida por exempio nas 1136 a transações comerciais onde uma das partes pode ser moralmente dei icien te a não ser que as partes discutam por esquecimento das circunsdlncias mas concordando sobre o fato elas discutem para saber de que lado está a justiça uma pessoa porém que ofendeu deliberadamente outnt não pode deixar de saber que estava agindo assim de tal forma que uma das partes pensa que está sendo tratada injustamente e a outra discorda 106 1136 b Aristóteles Então se uma pessoa ofende outra deliberadamente ela age injusta mente e estes são os aros de injustiça dos quais resulta que o agence uma pessoa injusca desde que o ato viole a proporcionalidade ou a igualdade Da mesma forma uma pessoa justa quando age justamente e de maneira deliberada mas ela age justamente apenas se age voluntariamente Entre os atos voluntários alguns são perdoáveis outras não Na verdade os atos que as pessoas cometem não somente na ignorância mas também por ignorância são perdoáveis não são perdoáveis todavia aqueles que as pessoas praticam não por ignorância mas devido a uma emoção que não é nem natural nem humana embora elas os pratiquem na ignorância 9 Mas talvez se possa duvidar de que a nossa discussão quanto a sofrer e praticar a injustiça tenha sido suficientemente decisiva neste caso deve se perguntar primeiro se as coisas se passam da maneira expressa por Eurípides quando ele diz estranhamente14 Para ser breve matei minha própria mãe Agistes ambos voluntariamente ou não É realmente possível sofrer a injustiça voluntariamente ou ao contrário sofrese a injustiça sempre contra a vontade da mesma forma que toda ação injusta é voluntária E sempre se sofre a injustiça voluntariamente ou sempre contra a vontade ou ora de um modo ora do outro O mesmo raciocínio se aplica à hipótese de uma pessoa ser tratada justamente toda ação justa é voluntária e portanto é razoável que haja uma contraposição similiar em cada hipótese que tanto sofrer injusta mente quanto ser tratado justamente devem ser igualmente voluntários ou igualmente contra a vontade Mas mesmo no caso de alguém ser tratado justamente pareceria paradoxal se isto fosse sempre voluntário pois algumas pessoas são tratadas justamente contra a sua vontade Também se poderia perguntar se cada pessoa que sofre o que é injusto está sendo tratada injustamente Ou será que sofrer e fazer algo injusto são a mesma coisa Tanto na ação quanto na passividade é possível que a justiça seja feita acidentalmente e acontece o mesmo é claro com a injustiça de fato fazer o que é injusto não é o mesmo que agir injustamente nem sofrer o que é injusto é o mesmo que ser tratado injustamente e identicamente no caso de agir injustamente pois é impossível ser tratado injustamente se a outra parte não age injwramente ou ser tratado justamente a não ser que a outra parte aja justamente Se agir injustamen te é simplesmente prejudicar voluntariamente alguém e voluntariamen te significa conhecendo a pessoa em relação à qual se age o instrumento e a maneira pela qual se está agindo e a pessoa incontinente se prejudica a si mesma não somente ela será tratada voluntariamente de maneira injusta mas também será possível que aJsuém aja injwramente em relaçãÓ a si mesmo saber se uma pessoa pode agir injustamente em relaçio a si 1137 a Ética a N icômacos 107 mesma é uma das quesrões controvertidas em nosso assunto Outrossim uma pessoa por incontinência pode ser ofendida voluntariamente por outra que age voluntariamente de tal forma que haveria possibilidade de uma pessoa ser voluntariamente tratada injustamente Ou então nossa definição está incorreta deveríamos acrescentar a prejudicar alguém conhecendo a pessoa em relação à qual se age o instrumento e a maneira pela qual se age contrariamente ao desejo da pessoa em relação à qual se age Então uma pessoa pode ser prejudicada voluntariamente e sofrer voluntariamente o que é injusto mas ninguém pode sofrer voluntariamen te uma injustiça nem mesmo uma pessoa incontinente Esta última age contrariamente ao seu desejo pois ninguém deseja o que não considera bom mas a pessoa incontinente não pensa que deve fazer o que faz Na verdade uma pessoa que dá o que é seu como Homero diz que Glaucos deu a Diomedes18 objetos de ouro por bronze e cem bois por nove não é tratada injustamente pois embora dar dependa de sua vontade ser tratado injustamente não depende pois tem de haver outra pessoa para tratar a primeira injustamente É claro portanto que não se é tratado injustamente por vontade própria Restam ainda duas das questões que desejaríamos discutir a primeirà é se é a pessoa que atribui a outra mais do que o quinhão que cabia a esta que age injustamente ou a que recebe o quinhão excessivo a segunda é se uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma Se a primeira hipótese é possível e é a pessoa que distribui qüe age injustamente e não a que recebe o quinhão excessivo então se uma pessoa atribui mais a outra do que a si mesma consciente e voluntariamente ela se trata de maneira injusta é isto que as pessoas decentes parecem fazer pois quem é dotado de excelência moral tende a ficar com menos do que o seu quinhão Ou isto não é tão simples como parece Com efeito a pessoa talvez obtenha mais do que o seu cuinhão de outro bem qualquer por exemplo honrarias ou distinções de um modo geral Podemos resolver a questão estabelecendo aqui a diferenciação que propusemos pouco acima a respeito da ação injusta pois neste caso a pessoa nada sofre que contrarie seus próprios desejos e ponanto não é tratada injustamente por obter um quinhão menor no mãximo ela é prejudicada É claro também que a pessoa que distribui age injwtamente mas nem sempre acontece o mesmo com a pessoa que fica com o quinhão excessivo de fato não é a pessoa a quem é feita a injustiça que age injustamente e sim a pessoa a quem se pode atribuir a prática voluntária de um ato injusto ou seja a pessoa na qual está a origem da ação isto é quem distribui e não quem recebe o quinhão Além disto já que a palavra fazer é ambígua e em ceno sentido se pode dizer que coisas sem vida ou a mão 108 1137 b Aristóteles ou um preposto que obedece a ordens matam aJsuém a pessoa que obtém um quinhão excessivo não age injustamente embora ela faça o que é injusto Mais ainda se um juiz julga mal na ignorincia ele não age injustamente a respeito da justiça no sentido lepl e seu julpmento não é injusto neste sentido sendo até justo em certo sentido pois a justiça lepl e a justiça primordial são diferentes mas se ele profere conscientemente um julgamento injusto ele mesmo está visando a um quinhão excessivo de favores ou de vingança Então um juiz que profere um julgamento injusto por estes motivos obtém mais do que aquilo que lhe cabe tanto quanto se participasse do proveito e da injustiçL O fato de aquilo que ele obtém ser diferente daquilo que ele distribui é irrelevante pois ainda que conceda terras com o objetivo de participar do esbulho ele não recebe terras e sim dinheiro As pessoas pensam que depende delas agir lDJUStamente e que portanto é fácil ser justo Mas não é manter relações sexuais com a mulher do próximo ou subornar alguém é fácil e depende de nós mas praticar estes atos em decorrência de uma certa disposição de espírito nem é fácil nem depende de nós Da mesma forma pensase que para conhecer o que é justo e o que é injusto as pessoas não têm de ser sábias porque não é difícil entender dos assuntos de que tratam as leis embora eles não constituam o qu é justo senão acidentalmente mas saber como as ações devem ser praticadas e como as distribuições devein ser efetuadas para serem justas é uma conquista maior do que conhecer o que é bom para a saúde E mesmo no caso da saúde apesar de ser fácil saber que o mel o vinho o heléboro o cautério e a cirurgia são benéficos saber como a quem e quando estes devem ser aplicados com o objetivo de proteger a saúde é uma conquista não menor do que a de ser um médico Ainda por esta razão 149 pensase que agir injustamente é tão característico das pessoas justas quanto das injustas porque as pessoas justas seriam não menos e até mais capazes do que as injustas de praticar cada um dos atos injustos mencionados pouco acima elas poderiam manter relações sexuais com a mulher do próximo ou ferir alguém e as pessoas corajosas poderiam desvencilharse de seus escudos e virarse para fugir em qualquer direção Mas ser um covarde ou agir injustamente não consiste em agir desta maneira a não ser acidentalmente e sim em agir desta maneira em decorrência de uma disposição da alma da mesma forma que exercer a medicina e curar consiste não em usar ou não usar um instrumento cirúrgico ou em usar ou não usar remédios e sim em usar uns e outros da maneira certa Os atos justos ocorrem entre pessoas que participam das coisas boas em si mesmas e podem têlas em excesso ou de menos para alguns seres elas nunca serão excessivas sem dúvida os deuses por exemplo para outros os incuravelmente maus nem mesmo uma participação míruma Ética a Nicômacos 109 pode ser benéfica mas todas as coisas deste gênero são nocivas para outras finalmente tais coisas são benéficas até certo ponto este é o caso das criaturas humanas de um modo geral 10 Nosso assunto seguinte é a eqüidade e o eqüitativo e suas relações com a justiça e o justo respectivamente De fato a justiça e a eqüidade quando examinadas nem parecem ser absolutamente as mesmas nem são especifi mente diferentes Às vezes louvamos aquilo que é eqüitativo e as pessoas eqüitativas aplicase o termo eqüitativo à guisa de louvor mesmo em relação a outras formas de excelência moral em vez de bom querendo dizer com mais eqüitativo que uma coisa é melhor é às vezes quando examinamos logicamente o assunto parece estranho que o eqüitativo apesar de ser diferente do justo seja ainda assim louvável com efeito se os dois são diferentes ou o justo ou o eqüitativo não é bom e se ambos são bons eles são a mesma coisa São estas então pouco mais ou menos as considerações que estão na origem do problema relativo ao eqüitativo Todas elas são em certo sentido corretas e não se contradizem pois o eqüitativo embora seja melhor que uma simples espécie de justiça é em si mesmo justo e não é por ser especificamente diferente da justiça que ele é melhor do que o justo A justiça e a eqüidade são portanto a mesma coisa embora a eqüidade seja melhor O que cria o problema é o fato de o eqüitativo ser justo mas não o justo segundo a lei e sim um corretivo da justiça legal A razão é que toda lei é de ordem geral mas não é possível fazer uma afirmação universal que seja correta em relação a certos casos particulares Nestes casos então em que é necessário estabelecer regras gerais mas não é possível fazêlo completamente a lei leva em consideração a maioria dos casos embora não ignore a possibilidade de falha decorrente desta circunstância E nem por isto a lei é menos correta pois a falha não é da lei nem do legislador e sim da natureza do caso particular pois a natureza da conduta é essencialmente irregular Quando a lei estabelece uma regra geral e aparece em sua aplicação um caso não previsto por esta regra então é correto onde o legislador é omisso e falhou por excesso de simplificação suprir a omissão dizendo o que o próprio legislador diria se estivesse presente e o que teria incluído em sua lei se houvesse previsto o caso em questão or isto o eqüitativo é justo e melhor que uma simples espécie de justiça embora não seja melhor que a justiça irrestrita mas é melhor que o erro oriundo da natureza irrestrita de seus ditames Então o eqüitativo é por sua natureza uma correção da lei onde esta é omissa devido à sUa generalidade De fato a lei não prevê todas as situações porque é impossível estabelecer uma lei a propósito de algumas delas de tal forma que às vezes se torna necessário recorrer a um decreto Com efeito quando uma situação é indefinida a regra também tem de ser indefinida como acontece com a régua de chumbo usada pelos construto 110 1138 a Aristóteles res em Lesbos a régua se adapta à forma da pedra e não é rígida e o decreto se adapta aos fatos de maneira idêntica Agora podemos ver claramente a natureza do eqüitativo e perceber que ele é justo e melhor que uma simples espécie de justiça É igualmente óbvio diante disto o que vem a ser uma pessoa eqüitativa quem escolhe e pratica atos eqüitativos e não se acém intransigentemente aos seus direitos mas se contenta com receber menos do que lhe caberia embora a lei esteja do seu lado é uma pessoa eqüitativa e esta disposição é a eqüidade que é uma espécie de justiça e não uma disposição da alma diferente 11 Com base no que dissemos 110 podese deduzir claramente se uma pessoa é capaz de ser injusta em relação a si mesma ou não Uma classe de aros justos se compõe de aros conformes a qualquer forma de excelência moral considerada pela lei por exemplo a lei não permite expressamente o suicídio e o que ela não permite expressamente ela proíbe Mais ainda quando uma pessoa violando a lei ôfende outra voluntariamente e sem ser em retaliação ela age injustamente e um ofensor voluntário é aquele que conhece tanto a pessoa que ele está ofendendo com sua ação quanto o instrumento que está usando Encrecanco a pessoa que se maca voluntaria mente num acesso de forte emoção agindo desta maneira contraria a reta razão e isto a lei não permite ela age portanto injustamente Mas contra quem Certamente contra a cidade e não somente contra si mesma pois ela mesma sofre voluntariamente mas ninguém sofre uma injustiça voluntariamente É também por esta razão que a cidade aplica uma penalidade em tais casos punindo o suicida com uma perda relativa de direitos civis como se ele estivesse agindo injustamente em relaçào à cidade Além disto não é possível que uma pessoa se trate injustamente na acepção de agir injustamente em que o homem que age injustamente é apenas injusto e não totalmente mau esta acepção é diferente da primeira a pessoa injusta em uma das acepções da palavra é moralmente deficiente de um modo particular exatamente da maneira que o covarde é deficiente e não na acepção de ser totalmente mau de tal forma que seu aro injusto não manifesta deficiência moral generalizada Com efeito isto levaria à possibilidade de a mesma coisa ser subtraída e adicionada à mesma coisa e ao mesmo tempo mas isto é impossível já que o justo e o injusto sempre envolvem mais de uma pessoa Ademais a ação injusta é voluntária e praticada deliberadamente além de pressupor a iniciativa não se pensa que uma pessoa age injustamente se rendo sido ofendida faz a mesma coisa com quem o ofendeu mas se uma pessoa se maltrata ela sofre e se impõe um sofrimento ao mesmo tempo Mais ainda se uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma ela pode sofrer uma injustiça voluntariamente Além disco ninguém age injustamente sem cometer algum aro particular de injustiça mas nenhum homem comete adultério 1138b Ética a Nicômacos lll com sua própria mulher ou arromba sua própria casa ou rouba seus próprios bens De um modo geral a pergunta Pode uma pessoa ser injusta consigo mesma é respondida também com o auxílio de nossa resposta à pergunta Pode uma pessoa serinjusra consigo mesma voluntariamente m É também evidente que tanto sofrer uma inj11stiça quanto praticála são males o primeiro caso é ter menos e o segundo é ter mais do que o meio termo correspondendo ao que é saudável em medicina e ao que proporciona boas condições físicas nos exercícios atléticos Mesmo assim agir injustamente é o mal pior pois este procedimento é reprovável já que pressupõe deficiência moral no agente e deficiência moral extrema e irrestrita ou quase pois é verdade que nem todo ato errado cometido voluntariamente pressupõe deficiência moral enquanto sofrer injustiça não pressupõe necessariamente deficiência moral ser injusto por exemplo na vítima Então sofrer injustiça é em si um mal menor embora acidentalmente ele possa ser maior Mas a ciência não se preocupa de forma alguma com o acidental ela classifica a pleurisia como um mal mais sério que uma luxação apesar de esta poder tornarse acidentalmente mais séria se da queda que a causou resultar a prisão da pessoa que caiu ou até a sua morte nas mãos do inimigo Em sentido metafórico e analógico há uma espécie de justiça no homem não em relação a si mesmo mas entre algumas de suas partes não se trata de justiça plena mas do tipo de justiça que há entre senhor e escravo e entre pai e filhom Com efeito há uma relação deste tipo entre a parte racional e a parte irracional da alma e é com vistas a estaspartes que se pensa que uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma porque tais partes estão sujeitas a ser contrariadas em seus respectivos desejos de tal forma que pode haver uma espécie de justiça entre elas como aquela que existe entre o governante e o governado Eram estas as distinções que tínhamos a fazer a respeito da justiça e das outras formas de excelência moral Q When a light ray is passing through a rectangular glass slab then the ray shifts in the same plane Why a Due to refraction b Due to reflection c Due to total internal reflection d Due to formation of image 1139 a LIVRO VI 1 Já dissemos anteriormente que devemos escolher o meio termo e não o excesso ou a falta e que o meio termo é conforme à reta razão Examinemos agora esta última afirmação Em todas as disposições que mencionamos da mesma forma que nas demais há um certo alvo a visar no qual as pessoas que usam a razão fixam o olhar para intensificar ou relaxar os esforços no sentido de adotar o meio termo e há um cerco padrão determinando o meio termo que dizemos situarse entre o excesso e a falta e ser conforme à reta razão Mas esta afirmação embora verdadeira não é de forma alguma clara De fato não somente neste caso mas em todos os propósitos que assumem o caráter de ciência é verdadeiro dizer que não devemos intensificar nem relaxar nossos esforços demasiadamente ou insuficientemente mas até um ponto inter mediário e de conformidade com a reta razão Mas uma pessoa que H penas conhece esta verdade não é mais sábia por isto por exemplo e la não sabe que remédios deve aplicar ao nosso corpo somente porque lhe disseram que usasse tudo que a ciência médica ou seus conhecedores prescrevem Por isto é necessário a respeito das disposições da alma que não somente esta afirmação tenha sido feita mas também que se determine o que é a reta razão e qual é o padrão que a determina Já dividimos as formas de excelência da alma e dissemos que umas são formas de excelência do caráter e outras do intelecto6 Depois discutimos em detalhe as várias formas de excelência moral quanto às ourras falaremos em seguida começando com algumas observações a propósito da alma Dissemos antes159 que a alma se compõe de duas partes uma dotada de razão e outra irracional agora façamos uma distinção semelhan te em relação à parte dotada de razão Partamos do pressuposto de que há duas faculdades racionais uma que nos permite contemplar as coisas cujos primeiros princípios são invariáveis e outra que nos permite contemplar as coisas passíveis de variação com efeito no pressuposto de que o 114 1139 b Aristóteles conhecimento se baseia numa cena semelhança ou afinidade entre o sujeito e o objeto as partes da alma aptas a conhecer os objetos de espécies diferentes devem ser também especificamente diferentes Uma destas duas faculdades racionais pode ser chamada de científica e a outra de calculativa pois deliberar e calcular são a mesma coisa mas ninguém delibera sobre coisas invariáveis A faculdade calculativa portanto é uma das faculdades da pane da alma dotada de razão Devemos procurar saber então qual é a melhor disposição de cada uma destas faculdades pois esta disposição é a excelência de cada uma delas 2 A excelência de uma faculdade se relaciona com sua função específica e são crês os elementos da alma que governam a ação refletida e a percepção da verdade a sensação o pensamento e o desejo Destes a sensação não origina qualquer ação refletida isto se evidencia pelo fato de os animais irracionais terem sensações mas não agirem refletidamente A busca e a repulsa na esfera do desejo correspondem à afirmação e à negação na esfera do pensamento por isto já que a excelência moral é uma disposição da alma relacionada com a escolha e a escolha é o desejo deliberado seguese que para que a escolha seja boa tanto a razão deve ser verdadeira quanto o desejo deve ser correto e este deve buscar exatamente o que aquela determina Este tipo de pensamento e de percepção da verdade é de natureza prática quanto ao pensamento contemplativo que não é nem prático nem produtivo o bom e o mau funcionamento são respectivamente a percepção da verdade e a impressão da falsidade com efeito esta é função de toda a parte intelectual do homem enquanto o bom funcionamento da inteligência prática é a percepção da verdade conforme ao desejo correto A origem da ação sua causa eficiente e não final é a escolha e a origem da escolha está no desejo e no raciocínio dirigido a algum fim É por isto que a escolha não pode existir sem a razão e o pensamento ou sem uma disposição moral pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de pensamento e caráter O pensamento por si mesmo todavia não move coisa alguma mas somente o pensamento que se dirige a um fim e é prático realmente esta espécie de pensamento dirige também a atividade produtiva á que qualquer pessoa que faz alguma coisa a faz com vistas a uma finalidade o ato de fazer não é urna finllidade em si mas somente uma finalidade em relação a outra coisa qualquer e a finalidade de outra coisa qualquer enquanto uma coisa feita é uma finalidade em si pois uma boa ação é uma finalidade e o desejo tem este objetivo A escolha portanto razão desiderativa ou desejo racionativo e o homem é uma origem da ação deste Ética a Nicômacos 115 tipo nada que é passado é objeto de escolha por exemplo ninguém escolhe ter participado do saque de Tróia efetivamente ninguém delibera sobre o passado mas sobre o futuro e incerto enquanto o que passou não pode deixar de ter acontecido logo Agaton está certo ao dizer De apenas uma coisa o próprio Deus carece dar por inexistente o que aconteceu 160 A função de ambas as faculdades intelectuais da alma é então a percepção da verdade Conseqüentemente suas respectivas formas de excelência moral são as disposições que melhor as capacitam a chegar à verdade 3 Comecemos do princípio e discutamos novamente estas disposições Partamos do pressuposto de que são cinco as disposições em virtude das quais a alma alcança a verdade por meio da afirmação uu da negação a arte 16 a ciência o discernimento 16 a sabedoria filosófica e a inteligência deixemos de lado o julgamento e a opinião porque podem induzirnos em erro A natureza do conhecimento científico se devemo falar com exatidão em vez de seguir simples analogias tornarseá evidente após as considera ções seguintes Todos supomos que aquilo que conhecemos cientifica mente não é sujeito sequer a variações quanto às coisas sujeitas a variações não sabemos quando elas estão além de nossa capacidade de observação se elas realmente existem ou não O objeto do conhecimento científico portanto existe necessariamente Ele é conseqüentemere eterno pois rodas as coisas cuja existência é absolutamente necessária são eternas Ademais considerase que toda ciência pode ser ensinada e tudo que é cientificamente conhecido pode ser aprendido E todo ensinamento parte do que já é conhecido como sustentamos também em nossos Analíticos pois ele avança às vezes por indução e às vezes valendose do silogismo Com efeitc a indução é o ponto de partida que o próprio conhecimento do universal pressupõe enquanto o silogismo avança a partir dos universais Há portanto pontos de partida que são o marco inicial do avanço do silogismo e aos quais não se chega pelo silogismo logo é por indução que os atingimos O conhecimento científico então é a disposição graças à qual podemos fazer demonstrações e tem outras qualificações que especificamos nos Analíticos 1t de fato um homem possui conhecimento científico quando cem uma convicção a que chegou de certa maneira e conhece os pontos de partida já que se os pontos de partida não lhe são melhor conhecidos do que a conclusão ele terá o conhecimento apenas acidentalmente Seja esta então nossa definição do conhecimento científico 116 1140 a Aristóteles 4 Enue as coisas var1aveis estão incluídas as coisas feitas e as ações praticadas pois fazer e agir são coisas diferentes quanto a esta distinção mesmo as nossas obras destinadas ao público 164 são confiáveis assim a disposição racional pertinente à capacidade de agir é diferente da disposição racional pertinente à capacidade de fazer Tampouco uma delas é parte da outra pois nem agir é fazer nem fazer é agir Já que a arquitetura é uma arte e é essencialmente uma disposição racional da capacidade de fazer e não há arte alguma que não seja uma disposição relacionada com fazer nem hA qualquer disposição relacionada com fazer que não seja uma arte a arte é idêntica a uma disposição da capacidade de fazer envolvendo um método verdadeiro de raciocínio Toda arte se relaciona com a criação e dedicarse a uma arte é estudar a maneira de fazer uma coisa que pode existir ou não e cuja origem está em quem faz e não na coisa feita de fato a arte não trata de coisas que existem ou passam a existir necessariamente nem de coisas que existem ou passam a existir de conformidade com a natureza estas coisas têm sua origem em si mesmas JA que há diferença entre fazer e agir a arte deve relacionarse com a criação e não com a aÇão De certo modo aliás o acaso e a arte se relacionam com os mesmos objetos como diz Agaton 16 A arte ama o acaso e o acaso a arte Então a arte como já dissemos é uma disposição relacionada com a criação envolvendo um modo verdadeiro de raciocinar e a falta de arte que é o contrário da arte é também uma disposição relacionada com a criação mas envolvendo um método falso de raciocinar E ambas se relacionam com as coisas variáveis S Com referência ao discernimento chegaremos à sua definição se considerarmos quais são as pessoas dotadas desta forma de excelência Pensase que é característico de uma pessoa de discernimento ser capaz de deliberar bem acerca do que é bom e conveniente para si mesma não em relação a um aspecto particular por exemplo quando se quer saber quais as espécies de coisas que concorrem para a saúde e para o vigor físico e sim acerca das espécies de coisas que nos levam a viver bem de um modo geral A evidência disto é o fato de dizermos que uma pessoa é dotada de discernimento em relação a algum aspecto particular quando ela calcula bem com vistas a algum objetivo bom difeente daqueles que são o objetivo de uma arte qualquer Conseqüentemente no sentido mais geral a pessoa capaz de bem deliberar é dotada de discernimento Mas ninguém delibera acerca das coisas invariáveis nem acerca de ações que não podem ser praticadas Portanto uma vez que o conhecimento científico envolve demonsuação mas não pode haver demonsuação de coisas cujos primeiros princípios são variáveis porque tudo nelas é variável e porque é impossível deliberar ttica a Nicômacos 117 acerca de coisas que são como são por necessidade o discernimemo não pode ser conhecimento científico nem arte ele não pode ser ciência porque aquilo que se refere às ações admite variações nem arte porque agir e fazer são coisas de espécies diferentes A alternativa restante então é que ele é uma qualidade racional que leva à verdade no tocante às ações relacionadas com as coisas boas ou más para os seres humanos De fato enquanto fazer tem uma finalidade diferente do próprio ato de fazer a finalidade na ação não pode ser senão a própria ação pois agir i uma finalidade em si É por esta razão que pensamos que homens como 1140 b Pérides têm discernimento porque podem ver o que é bom para si mesmos e para os homens em geral consideramos que as pessoas capazes de fazer isto são capazes de bem dirigir as suas casas e cidades J esta explicação do nome moderação que significa preservar o discernimen to 66 O que a moderação preserva é a nossa convicção quanto ao nosso bem pois o prazer e o sofrimento na verdade não destroem todas as convicções por exemplo eles não destroem a convicção no sentido de que o triângulo tem ou não cem seus ângulos iguais aos de dois ânJulos retos mas somente convicções acerca de atos a praticar Efetivamente os primeiros princípios das ações que praticamos estão na finalidade a que elas visam mas as pessoas desgastadas pelo prazer ou pelo sofrimento fracassam inteiramente quando se trata de discernir qualquer desces primeiros princípios de discernir que por causa desces ou por estes elas devem escolher e praticar todos os acos que elas escolhem e praticam pois a deficiência moral destrói os primeiros princípios O discernimento deve ser então uma qualidade racional que lva à verdade no tocante às ações relacionadas com os bens humanos Mas além disco embora haja uma excelência em matéria de arce não há cal excelência em mateéia de discernimento na arte é preferível a pesso1 que erra conscientemente mas em matéria de discernimento à semelhança do que acontece com as várias formas de excelência ocorre o contrário É claro então que o discernimento é uma forma de excelência e não uma arte Havendo portanto duas partes da alma dotadas de raz1o o discernimento deve ser uma forma de excelência de uma das duas ou seja da parte que forma opiniões pois a opinião se relaciona com o que é variável da mesma forma que o discernimento O discernimento entretanto não é apenas uma qualidade racional e istoé evidenciado pelo faco de se poder deixar de usar uma faculdade puramente racional mas não o discernimento 6 O conhecimento científico é o julgamento acerca de coisas universais e necessárias e as verdades demonstradas e todo conhecimento científico o conhecimento científico envolve raciocínio são derivados dos primeirs princípios Sendo assim o primeiro princípio do qual deriva o que é cientificamente conhecido não pode ser um objeto do conhecin1enco 118 Aristóteles científico nem da arte nem do discernimento pois aquilo que pode ser cientificamente conhecido pode ser demonstrado e a arte e o discerni mento tratam de coisas variáveis Estes primeiros princípios não são tampouco objetos da sabedoria filosófica pois é urna característica do filósofo chegar a certas coisas através da demonstração Se então as disposições da alma que nos permitem atingir a verdade e que nunca nos enganam a propósito das coisas invariáveis ou mesmo das 1141 a variáveis são o conhecimento científico o discernimento a sabedoria filosófica e a inteligência e se a disposição da alma que nos permite apreender os primeiros princípios não pode ser qualquer das outras três isto é discernimento conhecimento científico e sabedoria filosófica a alternativa restame é que os primeiros princípios são apreendidos pela inteligência 7 A palavra sabedoria é usada nas artes para assinalar os mestres mais perfeitos em suas respectivas artes por exemplo Feidias como escultor em geral e Polícleitos como um escultor de figuras humanas e neste sentido nada mais queremos dizer com sabedoria neste caso do que excelência artística mas pensamos que algumas pessoas são sábias em geral e não emalguma esfera particular nem sábias em algo mais como diz Homero no Margitts 6 Os deuses não fizeram dele um cavador nem mesmo um arador nem sábio em algo mais A sabedoria portanto é a mais perfeita das formas de conhecimento Conseqüentemente o sábio não deve apenas saber o que decorre dos primeiros princípios ele deve também ter uma concepção verdadeira acerca dos próprios primeiros princípios Logo a sabedoria deve ser uma combinação da inteligência com o conhecimento um conhecimento científico consumado das coisas mais sublimes Com efeito seria absurdo pensar que a oencia política ou o discernimento é o melhor conhecimento já que o homem não é o que há de melhor no universo Se o que é saudável ou bom é diferente para os homens e os peixes mas o que é branco ou reto é sempre o mesmo qualquer pessoa diria que o que é sábio é sempre o mesmo mas o que é objeto de discernimento pode diferir Realmente é às pessoas que consideram da melhor maneira as matérias relativas a si mesmas que atribuímos o discernimento e é a elas que confiaremos tais matérias Por isto dizemos que mesmo alguns animais inferiores têm discernimento por exemplo aqueles que têm uma espécie de poder de pressentimento a respeito de sua própria vida É óbvio também que a sabedoria filosófica e a ciência política não podem ser a mesma coisa pois se a disposição da alma Ética a Nicômacos 119 relacionada com o interesse próprio de uma pessoa devesse ser chamada de sabedoria filosófica haveria muitas sabedorias filosóficas não há uma sabedoria filosófica relacionada com o bem de todos os animais do mesmo modo que não há uma arte única da medicina para todos os seres existentes e sim uma sabedoria filosófica relativa ao bem de cada espécie Se argumentarmos que o homem é o melhor dosanimais isto não fará diferença pois há outras coisas mais divinas em sua própria natureza do que o homem os corpos que constituem o universo são o exemplo mais evidente desta afirmação Das considerações precedentes resulta então a evidência de que a sabedoria filosófica é uma combinação do conhecimento científico com a inteligência que permite perceber o que há de mais sublime na natureza Por isto dizemos que Anaxágoras Tales 161 e homens como eles têm sabedoria filosófica mas não discernimento quando vemos que eles ignoravam aquilo que lhes er vantajoso e também dizemos que eles conheciam coisas extraordinárias maravilhosas difíceis e até divinas mas inúteis porque eles não procuravam os bens humanos O discernimento por ouuo lado relacionase com as ações humanas e coisas acerca das quais é possível deliberar de fato dizemos que deliberar bem é acima de tudo a função das pessoas de discernimento mas ninguém delibera a respeito de coisas invariáveis ou de coisas cuja finalidade não 1141 b seja um bem que possamos atingir mediante a ação As pessoas boas de um modo geral são as capazes de visar calculadamente ao que há de melhor para as criaturas humanas nas coisas passíveis de ser atingidas mediante a ação Tampouco o discernimento se relaciona somente com os universais ele deve também levar em conta os particulares pois o discernimento é prático e a prática se relaciona com os particulares É por isto que as pessoas ignorantes são às vezes mais práticas do que as outras que sabem pois se uma pessoa soubesse que os alimentos leves são mais facilmente digeríveis e portanto saudiveis mas não soubesse quais as espécies de alimentos mais leves não seria provavelmente capaz de restaurar a saúde por outro lado é provável que uma pessoa ciente de que a galinha é um alimento leve restaure a saúde O discernimento se relaciona também com a ação de tal modo que as pessoas devem possuir ambas as suas formas ou melhor mais conhecimento dos fatos particulares do que conhecimento dos universais Mas também aqui deve haver alguma faculdade dominante 8 A ciência política e o discernimento correspondem à mesma qualidade da alma sua essência porém não é a mesma No caso da sabedoria relacionada com os assuntos da cidade a forma de discernimento que desempenha o papel dominante é a ciência legislativa enquanto a que se relacion11 com os casos particulares é conhecida pela denominação 120 1142 a Aristóteles genérica de ciência política esta é pertinente l ação e à deliberação pois um decreto é algo a ser cumprido sob a forma de um ato individual É por isto que se diz que somente os mestres nesta arte participam da política pois somente eles agem da mesma forma que um trabalhador manual69 O discernimento também se identifica particularmente com a espécie de conhecimento relacionada com a própria pessoa ou seja com o indivíduo esta espécie é conhecida pela denominação genérica de discer nimento das outras espécies uma é chamada economia doméstica a outra legislação a terceira política e desta última uma parte é chamada deliberativa e a outra judicial Sendo assim saber o que é bom para si mesmo será uma espécie de conhecimento mas esta espécie é bem diferente das outras e se considera que as pessoas que conhecem sew próprios interesses e se dedicam a eles têm discernimento ao passo que os políticos são considerados intrometidos daí as palavras de Eurípides0 Mas como poderia eu considerarme um homem de discernimento eu cuja vida podia ser tranqüila um número entre muitos e tendo a mesma participação Quem quer galgar alturas ter coisas demais As pessoas que pensam desce modo buscam seu próprio bem e pensam que se deve agir assim Desta opinião se originou a crença de que cais homens têm discernimento mas talvez os homens não possam buscar seu próprio bem sem cuidar da economia doméstica e sem uma forma de governo Além disco a maneira de buscarmos nosso próprio bem não é clara e deve ser investigada Uma prova do que foi dito é que enquanto os jovens se tornam geômetras ou matemáticos ou sábios em matérias do mesmo gênero não parece possível que um jovem seja dotado de discernimento A razão disco é que este tipo de sabedoria não se relaciona apenas com os universais mas também com os facos particulares esces se tornam mais conhecidos graças à experiência e os jovens não são experientes pois é o decurso do tempo que dá experiência de faco podese também perguntar por que um menino é capaz de tornarse um matemático mas não pode tornarse um filósofo de um modo geral ou um filósofo da natureza Será que isco acontece porque os objetos da matemática existem por abstração enquanto os primeiros princípios relativos às outras esferas do conheci mento mencionadas vêm com a experiência e porque os jovens não cêm convicções acerca destas últimas mas simplesmente usam sem convicção o vocabulário peculiar às mesmas enquanto a essência dos objetos matemá ticos lhes é suficientemente acessível 1142 b Ética a Nicômacos 121 Além disto o erro na deliberação pode ser em relação ao universaiU ao particular por exemplo podem passarnos despercebidos tanto o fato de que toda água salobra é insalubre quanto o fato de certa água er salobra É evidente que o discernimento não é conhecimento científico P liS como já dissemos 2 ele se relaciona com o fato particular fundamental já que a ação a ser praticada é desta natureza Ele difere então da inteligência pois a inteligência apreende definições para as quais não há uma razão enquanto o discernimento se relaciona com o fato particular fundamental que é objeto não de conhecimento científico mas de percepção e não da percepção de qualidades pertinemes a um determina do sentido mas da percepção pela qual apreendemos por exemplo que a figura fundamental da matemática é o triângulo realmente nesta direção também haverá um limite n Mas isto se aplica mais à percepção que o discernimento embora se trate de outra espécie de percepção e nio daquela que apreende as qualidades pertinentes a cada sentido 9 Devemos também determinar a natureza da excelência na deliberação e procurar saber se ela é uma espécie de conhecimento ou de opinião ou e capacidade de conjecturar ou algo especificamente diferente de tudo isto Conhecimento científico ela não é pois não se investiga acerca de coisas conhecidas enquanto a excelência na deliberação é uma das espécies de deliberação e quem delibera investiga e calcula Tampouco ela é capacidade de conjecturar com efeito esta não pressupõe raciocínio e opera rapidamente ao passo que a deliberação consome muito tempo tanto que se diz que devemos tirar rapidamente as conclusões a partir e nossas deliberações mas devemos deliberar devagar Outrossim a viva i dade de espírito é diferente da excelência na deliberação que é uma forma da capacidade de conjecturar A excelência na deliberação não é tampou o qualquer forma de opinião Mas uma vez que as pessoas que deliberam mal cometem erro enquanto as que deliberam bem deliberam corretl mente a excelêncià na deliberação é obviamente uma espécie de correçã embora não seja correção de conhecimento nem de opinião pois no existe correção de conhecimento já que não existe erro de conheciment e opinião correta é a verdade ao mesmo tempo tudo que é objeto óe opinião já está determinado Além disto a excelência na deliberação envolve raciocínio A alternativa restante então é que a excelência ra deliberação é pensar corretamente De fato o pensamento ainda não é uma afirmação porquanto embora a própria opinião não seja investigação mas já tenha chegado ao nível de afirmação a pessoa que está deliberandc quer delibere bem quer delibere mal está investigando e calculando algo 122 1143 a Aristóteles Mas a excelência na deliberação é uma forma de correção na deliberação e portanto devemos investigar primeiro o que é a deliberação e quais são os objetos de deliberação Mas correção neste contexto é um termo ambíguo e obviamente nem toda espécie de correção na delibera ção é excelência na deliberação com efeito as pessoas incontinentes e más poderão graças aos seus cálculos atingir o objetivo que se propõem e portanto terão deliberado corretamente embora tenham trazido um grande mal para si mesmas Mas chegamos à conclusão de que deliberar bem é bom porque esta espécie de correção na deliberação é a excelência na deliberação ou seja a deliberação que tende a chegar ao que é bom É possível entretanto chegar ao próprio bem com um silogismo falso e fazer o que deve ser feito mas não pelos meios corretos por ser falso o termo médio Portanto esta disposição que leva alguém a chegar à conclusão certa mas não pelos meios cenos ainda não é a exceléncia na deliberação Ademais uma pessoa pode chegar à conclusão correta por meio de longa deliberação enquanto outra pode fazêlo rapidamente Logo no primeiro caso ainda não chegamos à excelência na deliberação que é a correção a respeito daquilo que é conveniente ou seja correção quanto à finalidade à maneira e ao tempo consumido na deliberação Mais ainda é possível ter deliberado bem de um modo geral ou relativamente a uma finalidade particular Excelência na deliberação em geral então é aquilo que leva a resultados corretos com referência à finalidade em geral e excelência na deliberação em particular é aquilo que leva a resultados corretos com referência a uma finalidade particular Portanto se é característico das pessoas de discernimento deliberar bem a excelência na deliberação será a correção na deliberação a respeito do que conduz a uma finalidade cuja concepção verdadeira constitui o discernimento 10 O entendimento também e a excelência no entendimento graças aos quais dizemos que alguém é uma pessoa de entendimento ou de excelente entendimento não são totalmente a mesma coisa que o conhecimento científico ou a opinião neste último caso todas as pessoas seriam dotadas de entendimento nem são qualquer uma das ciências particulares como a medicina a ciência das coisas relacionadas com a saúde ou a geometria a ciência das magnititudes Efetivamente o entendimento não se relaciona com as coisas que existem para sempre e são imutáveis nem com qualquer uma das coisas que passam a existir mas com as coisas sobre as quais podemos ter dúvidas e podemos deliberar Logo o entendimento atua em relação aos mesmos objetos do discernimento mas o entendimento e o discernimento não são a mesma coisa De fato o discernimento emite ditames já que as ações que devemos ou não devemos praticar são a sua finalidade ao passo que o entendimento apenas julga o entendimento é idêntico à excelência no entendimento e as pessoas de entendimento são idênticas às pessoas de excelente entendimento O entendimento não Ética a Nicômacos 123 consiste em ter ou em adquirir discernimento mas da mesma forma que aprender se chama entender quando significa o exercício da faculdade de conhecer o entendimento também é aplicável ao exercício da faculdade de opinar com o intuito de julgar o que outra pessoa diz a propósito de matérias com as quais o discernimento se relaciona e de julgar acertada mente pois bem e acertadamente são a mesma coisa Daí provém o uso do termo entendimento no sentido em que dizemos que uma pessoa tem um bom ou excelente entendimento aplicandose o termo na acepção de aprender de fato usamos freqüentemente aprender no sentido de entender 11 Chamamos de julgamento isto é a faculdade graças à qual dizemos que uma pessoa julga compreensivamente a percepção acertada do que é eqüitativo Uma prova disto é o fato de dizermos que uma pessoa eqüitativa é mais que todas as outras um juiz compreensivo e identifica mos a eqüidade com o julgamento compreensivo acerca de certos fatos E julgamento compreensivo é o julgamento no qual está presente a percepção do que é eqüitativo e de maneira acertada e julgar acertada mente é julgar segundo a verdade Então é razoável dizer que todas as disposições recémexaminadas convergem para o mesmo ponto com efeito quando falamos de julga mento de entendimento de discernimento e de inteligência atribuímos às mesmas pessoas a posse da faculdade de julgar e dizemos que elas chegaram à idade da razão e têm discernimento e entendimento pois todas estas disposições se relacionam com o fundamental e com o particular e ser uma pessoa de entendimento e compreensiva consiste em ser capaz de julgar acertadamente os fatos a propósito dos quais se demonstra discernimento porque os atos eqüitativos são comuns a todas as pessoas boas em sua conduta nas relações com outras pessoas Por outro lado todas as ações que devemos praticar estão incluídas entre os fatos particulares e fundamentais pois não somente as pessoas dotadas de discernimento devem cpnhecer os fatos particulares como o entendimen to e o julgamento também se relacionam com ações a ser praticadas e estas sio fatos fundamentais E a inteligência se relaciona com o fundamental em ambas as direções pois tanto as definições primúias quanto os fatos fundamentais 174 são apreendidos pela inteligência e nio se 1143 b chega a eles pelo raciocínio nas demonstrações a inteligência apreende as definições imutáveis e primárias e nos raciocínios práticos ela apreende os fatos fundamentais e variáveis ou seja a premissa menor já que os fatos fundamentais e variáveis são os pontos iniciais a partir dos quais inferimos as finalidades porquanto chegamos aos universais a partir dos particulares devemos todavia ter a percepção destes e esta percepção é a inteligênciL Por isto a inteligência é ao mesmo tempo princípio e fim já que as demonstrações se fazem a partir destes e acerca destes 124 1144 a Aristóteles É por isto que se pensa que estas disposições são dotes naturais e que uma pessoa é um juiz compreensivo ou tem bom entendimento ou é inteligente por natureza ao passo que ninsuém é filósofo por natureza Esta circunstância se evidencia pelo fato de pensarmos que tais disposições são concomitantes com determinadas idades pois dizemos que ao atingir certa idade uma pessoa deve ter inteligência e ser um juiz compreensivo querendo significar que tais disposições nos chegam naturalmente Devemos portanto estar atentos às asserções não demonstradas e às opiniões de pessoas experientes e idosas ou de pessoas dotadas de discernimento não menos que às demonstrações pois pelo fato de a experiência lhes ter dado como que um ouuo olho elas vêem correta mente Acabamos de discutir o que são o discernimento e a sabedoria filosófica e os assuntos com os quais estas disposições da alma se relacionam edissemos que cada uma destas disposições é a excelência de uma parte diferente da alma 12 Pode haver dúvidas quanto à utilidade destas disposições da alma Com efeito a sabedoria filosófica não se preocupa com qualquer êos meios que contribuem para tornar um homem feliz já que ela não indaga como as coisas passam a existir E embora o discernimento tenha esta preocupação para que necessitamos dele o discernimento é a disposição da alma relacionada com o que é justo nobilitante e bom para as pessoas mas estas são as coisas que o homem bom faz naturalmente e não seremos mais capazes de agir bem somente por conhecêlas já que as várias formas de excelência moral são disposições do caráter de maneira idêntica no caso do conhecimento daquilo que é bom para a saúde e para o vigor físico usando estas palavras para significar não o que produz saúde e vigor mas o que decorre da saúde e do vigor não nos tornamos mais capazes de desfrutar de mais saúde e vigor apenas por conhecer a ciência da medicina ou os exercícios físicos Se por outro lado tivermos de dizer que uma pessoa deve ser dotada de discernimento não com vistas a conhecer as verdades morais mas com vistas a tornarse boa o discernimento não terá qualquer utilidade para as pessoas que já forem boas além disto ele não terá qualquer utilidade para as pessoas carentes de excelência moral pois tanto faz que elas mesmas tenham discernimento quanto que obedeçam a ouuas pessoas que o tenham e nos bastará fazer o que fazemos no caso da saúde neste caso embora desejemos ser saudáveis nem por isto aprendemos a arte da medicina Mais ainda pareceria estranho se o discernimento sendo inferior à sabedoria filosófica devesse apesar disto ter uma autoridade maior que esta efetivamente a arte que produz qualquer coisa governa e comanda a coisa produzida Ética a Nicômacos 125 Discutamos então estas dificuldades que até agora foram aperas enunciadas Dipmos primeiro que a sabedoria filosófica e o discernimento devf m sr dignos de escolha porque são a excelência das duas partes respecti as da alma ainda que nenhuma delas produza qualquer efeito Ademais elas produzem algum efeito não como a arte da medicina produz a saúde mas como as condições saudáveis são a causa da saúde é assim que a sabedoria filosófica produz a felicidade pois sendo uma parte da excelência como um todo por ser possuída ou melhor por ser usada a sabedoria filosófica faz o homem feliz Além disto a função de uma pessoa se realiza somente de acordo com o discernimento e com a excelência moral porquanto a excelência moral nos faz perseguir o objetivo certo e o discernimento nos leva a recorrer aos meios certos A quarta parte da alma a nutritiva s não cem excelência alguma que contribua para a função própria do homem pois nem a ação nem a omissão dependem dela Mas devemos examinar com maior profundidade a objeção no sentido de que o discernimento não torna as pessoas mais capazes de praticar açêes nobilitantes e justas Comecemos com a consideração seguinte Da mesma forma que dizemos que algumas pessoas que praticam atos justos não são necessariamente justas isto é as pessoas que praticam os atos determina dos pelas leis contra a vontade ou por ignorância ou com vistas a algum outro objetivo e não por causa dos próprios atos embora elas façam slm dúvida o que devem e tudo que uma pessoa boa deve parece que para e r boa uma pessoa deve ter uma ceria disposição quando pratica estes vános atos ou seja a pessoa deve praticálos em decorrência de escolha e por causa dos próprios atos Ora a excelência torna a escolha acertada mas praticar as ações que devem ser praticadas naturalmente afim de atingir mos o objetivo escolhido não é uma questão de excelência e sim de ou era faculdade Devemos portanto examinar atentamente estes pontos para esclarecêlos melhor Existe uma qualidade que se chama talento e esta consiste em sermos capazes de praticar as ações que conduzem ao objetivo visado e de atin lo Se o objetivo visado for nobilitante o talento será louvável mas se ior mau o talento será apenas astúcia por isto dizemos que as pessoas de discernimento são talentosas ou mesmo astuciosas O discernimento nã 1 é a faculdade mas não existe sem ela Este olho da alma não adquire sua eficácia sem a excelência moral como já dissemos 176 e é evidente de faw as inferências dedutivas relacionadas com os atos a praticar pressupõem um ponto de partida por exemplo já que a natureza do objetivo ou seja o que é melhor é esta seja ela qual for pois para argumentar 126 1144 b Aristóteles podemos considerála como quisermos e isto é evidente apenas para as pessoas boas pois a deficiência moral nos perverte e faz com que nos enganemos acerca dos pontos de partida da ação É obviamente impossí vel portanto ser dotado de discernimento sem ser bom 13 Devemos então examinar mais uma vez a excelência moral pois o que ocorre com ela tem estreita analogia com o que acontece com o discernimento em sua relação com o talento O discernimento e o ralenco não são a mesma coisa mas são coisas semelhantes e a excelência natural se relaciona de maneira idêntica com a excelência em sentido estrito Realmente todos pensamos que cada tipo de caráter de certo modo condiz naturalmente com quem o possui pois desde o momento exato do nascimento nós seríamos justos ou dotados de autodomínio ou corajosos ou teríamos outras qualidades morais Não obstante esperamos descobrir que o verdadeiro bem é algo diferente e que as várias formas de excelência moral no sentido estrito condizem conosco de outra maneira De faro até as crianças e os animais selvagens possuem as disposições naturais mas sem a razão elas podem evidentemente ser nocivas De qualquer modo parece bastante óbvio que uma pessoa pode ser induzida em erro pelas disposições naturais da mesma forma que um corpo pesado destituído de visão pode chocarse violentamente com obstáculos por lhe faltar a visão acontece o mesmo na esfera moral mas se 11ma pessoa de boa disposição natural dispõe de inteligência passa a ter excelência em termos de conduta e a disposição que antes tinha apenas a aparência de excelência moral passa a ser excelência moral no sentido estrito Portanto da mesma forma que na parte dê nossa alma que forma opiniões há dois tipos de qualidades que são o talento e o discernimento na parte moral também há dois tipos que são a excelência moral natural e a excelência moral em sentido estrito e esta última pressupõe discernimento É por isto que algumas pessoas dizem que todas as formas de excelência moral são formas de discernimento razão pela qual Sócrates sob certos aspectos estava certo e sob outros aspectos estava errado com efeito pensando que todas as formas de excelência moral são formas de discernimento ele estava errado mas dizendo que a excelência moral pressupõe discerni mento ele estava certo Uma prova desta asserção é que ainda hoje todas as pessoas que definem a excelêncoa moral depois de mencionar a disposição moral e seus objetivos acrescentam que se trata de uma disposição consentãnea com a reta razão e a reta razão é a razão consentânea com o discernimento Todas as pessoas então parecem de certo modo adivinhar que a excelência moral é uma disposição desta natureza ou seja a disposição consentânea com o discernimento Mas devemos ir um pouco além pois a excelência moral não é apenas a disposição consentânea com a reta razão ela é a disposição em que está presente a reta razão e o discernimento é a reta razão relativa à conduta 1145 a Ética a Nicômacos 127 Sócrates pensava ponanto que as várias formas de excelência moral são manifestações da razão pois dizia que todas elas eram formas de conhecimento científico enquanto nós pensamos que elas pressupõem a manifestação da razão É claro então diante do que foi dito que sem o discernimento não é possível ser bom no sentido próprio da palavra nem é possível ter discernimento sem a excelência moral Desta maneira podemos também refutar o argumento dialético segundo o qual se poderia sustentar que as várias formas de excelência moral existem separadamente umas das outras poderseia dizer que a mesma pessoa não é dotada da melhor maneira pela natureza para a prática de todas as formas de excelência moral de tal modo que ela já teria adquirido uma enquanto ainda não tinha adquirido outra Esta afirmação é possível a respeito das formas naturais de excelência moral mas não a respeito daquelas em relação às quais uma pessoa é qualificada de boa em sentido irrestrito pois juntamente com uma qualidade o discernimento a pessoa terá todas as formas de excelência moral E é óbvio que ainda que o discernimento não tivesse qualquer valor prático teríamos necessidade dele porque ele é a forma de excelência moral da parte de nosso intelecio à qual ele convém é óbvio também que a escolha não será acertada sem o discernimento da mesma forma que não o será sem a excelência moral pois o discernimento determina o objetivo e a excelência moral nos faz praticar as ações que levam ao objetivo determinado Mas apesar disto o discernimento não tem o primado sobre a sabedoria filosófica isto é sobre a parte mais elevada de nosso intelecto da mesma forma que a arte da medicina não tem o primado sobre a saúde pois a arte da medicina não usa a saúde mas se esforça para que ela exista ela emite ordens então no interesse da saúde mas não dá ordens à saúde Mais ainda sustentar o primado do discernimento equivaleria a dizer que a ciência política comanda até os deuses porque ela emite ordens acerca de todos os assuntos da cidade 171 4 l 41 4 1 l 1 1 l l l 1 l 1 1 1 1 1 l Q 1 In sport the optimum angle of projection is 45 What is meant by the optimum angle of projection Q 2 People on a street felt a little cooler when water was sprinkled on the earthen floor Why Q 3 Why is perspiration necessary for us Q 4 Why does an object partially immersed in water appear at a position different from its actual position 1145 b LIVRO VII 1 Reiniciando o exame de nosso assunto salientemos que há três espécies de disposições morais a ser evitadas a deficiência moral a incontinência e a bestialidade As disposições contrárias a duas destas são óbvias uma se chama excelência moral e a outra se chama continência A disposição mais adequada como o contrário da bestialidade seria uma forma de excelência moral sobrehumana a espécie heróica e divina da excelência moral a que Homero alude quando faz Príamos dizer que Hêctor era extraord ina riamente bom pois não se assemelhava ao filho de um mortal e sim de um deus 179 Portanto se como se costuma dizer os homens se tornam deuses por superabundância de excelência a disposição moral contrária à bestialidade deve ser evidentemente desta espécie pois uma criatura bestial não rem deficiência nem excelência moral da mesma forma que os deuses não as têm a disposição dos deuses é mais alta que a excelência e a de uma criatura bestial é uma espécie diferente da deficiência moral Então já que é raro encontrar uma pessoa divina para usar o epíteto cunhado pelos espartanos que quando admiram extraordinariamente um homem o chamam de homem divino da mesma forma o tipo bestial tamm é raro entre os homens encontramolo principalmente entre os bárbaros mas algumas características bestiais também são provocadas por doenças ou retardamento e às vezes também aplicamos este nome aviltante b pessoas cuja deficiência moral ultrapassa a do homem normal Mas daremos alguma atenção à disposição bestial mais adiante 110 e já discutimos antes a deficiência moral 11 agora discutiremos a incontinência e a lassidão bem como a continência e a resistência Nenhuma das disposições destes dois pares deve ser considerada idêntica à excelência ou 130 1146 a Aristóteles à deficiência moral nem constitui uma espécie diferente destas Como em todos os outros casos devemos pôr diante de nós os fatos aparentes e depois de discutir primeiro as dificuldades prosseguiremos para pôr à prova se possível a veracidade de todas as opiniões correntes acerca destas afecções do espírito ou se isto não for possível do maior número de opiniões e das mais relevantes com efeito se resolvermos as dificuldades e ao mesmo tempo deixarmos intactas as opiniões correntes os pontos de vista verdadeiros terão sido suficientemente comprovados Pensase realmente que tanto a continência quanto a resistência estão incluídas entre as disposições boas e louváveis e que tanto a incontinência quanto a lassidão estão incluídas entre as disposições más e reprováveis pensase também que a mesma pessoa é dotada de continência e se dispõe a aterse ao resultado de seus cálculos ou que a mesma pessoa é incontinente e está pronta a abandonálos Além disto a pessoa inconti nente sabendo que age mal age em decorrência de suas emoções enquanto a pessoa dotada de continência se sabe que seus desejos são maus recusase a seguilos graças à razão Todos dizem que as pessoas moderadas são dotadas de continência e resistentes por outro lado há quem diga que as pessoas dotadas de continência são sempre moderadas mas também há quem diga que nem sempre o são há quem chame as pessoas concupiscentes de incontinentes e as pessoas incontinentes de concupiscentes sem exceção enquanto há quem faça exceções Às vezes se diz que as pessoas dotadas de discernimento não podem ser incontinen tes ao passo que às vezes se diz que algumas pessoas dotadas de discernimento e talentosas são incontinentes Finalmente dizse que as pessoas são incontinentes até em relação à cólera à honra e ao ganho Estas são as opiniões correntes 2 Passando às dúvidas que o assunto suscita podese perguntar como uma pessoa que tem uma concepção correta das coisas pode ser incontinente em suas ações Há quem diga que isto é impossível quando se tem uma concepção correta das coisas pois seria estranho como pensava Sócrates que sendo uma pessoa dotada de conhecimento qualquer outra coisa pudesse sobreporse ao conhecimento e arrastálo como a um escravo 112 Sócrates opunhase totalmente a tal noção sustentando que não existe aquilo que se chama de incontinência pois ninguém dizia ele age contrariamente ao que considera melhor consciente de estar agindo mal a não ser por ignorância Realmente esta noção contradiz manifestamente os fatos como eles nos aparecem e devemos investigar esta afecção do espírito se a pessoa age na ignorância devemos indagar que espécie de ignorância é esta De fato é claro que a pessoa incontinente não considera a sua ação acertada antes de ser afetada por esta deficiência moral Alguns pensadores concordam com as asserções de Sócrates e outros não 1146 b Ética a Nicômacos JSI concordam estes últimos admitem que nada é mais forte que o conheci mento mas não admitem que pessoa alguma possa agir contrariamente ao que lhe parece melhor em termos de conduta e portanto dizem que a pessoa incontinente não está usando o conhecimento e sim a opinião quando é dominada pelos prazeres Mas se é a opinião e não conhecimen to se não é uma covicção forte que resiste e sim uma fraca como nas pessoas hesitantes devemos demonstrar compreensão diante do fracasso da pessoa que desejava manterse firme em suas convicções contra fortes desejos mas não podemos ser compreensivos diante da deficiência moral nem de quaisquer outras disposições condenáveis Então é quando o desejo é obstado pelo discernimento que censuramos uma pessoa por ceder De fato o discernimento é o que há de mais forte Mas isto é absurdo a mesma pessoa demonstrará ao mesmo tempo discernimento e incontinência mas ninguém dirá que uma pessoa dotada de discernimento é capaz de praticar voluntariamente as ações mais vis Além disto já demonstramos antes que o discernimeto se manifesta na ação ele se relaciona com os fatos fundamentais e pressupõe igualmente a posse das outras formas de excelência moral 113 Outrossim se a continência pressupõe que se tenha desejos fortes e maus as pessoas moderadas não terão continência nem as pessoas dotadas de continência serão moderadas pois as pessoas moderadas não terão desejos excessivos nem maus Mas as pessoas dotadas de continência devem necessariamente ter desejos fortes e maus pois se os desejos são bons a disposição que nos impede de seguilos é má de tal forma que nem toda continência é boa se ao contrário os desejos são fracos e não são maus nada há de admirável em resistirlhes e se eles são fracos e maus nada há de notável em resistirlhes também neste caso Ademais se a continência faz as pessoas sustentarem toda e qualquer opinião isto é mau por exemplo se elas sustentam até uma opinião falsa e se a incontinência leva as pessoas a abandonar toda e qualquer opinião em alguns casos haverá uma incontinência boa como por exemplo Neoptôlemos no FiJoltles de Sófocles114 que é louvado por não ter feito o que prometeu a Odisseus que faria Neoptôlemos sofria para mentir Além disto a argumentação sofística apresenta uma dificuldade o empenho dos sofistas em levar seus adversários a assumir posições paradoxais para provocar admiração quando conseguiam prevalecer sobre eles cria dificuldades o espírito fica imobilizado quando não pode sustentarse porque a conclusão não é satisfatória e não pode avançar porque não consegue refutar o argumento Um dos argumentos sofísticos afirma que a loucura associada à incontinência é uma forma de excelência moral eilo por causa da incontinência uma pessoa louca pratica uma ação 132 Aristóteles contrária ao que ela julga acertado mas ela erê11 que as boas ações são más e que não deve praticálas e por isto fará o que é bom e não o que é mau Mais ainda uma pessoa que faz e persegue por convicção e cálculo aquilo que é agradável116 seria considerada melhor que outra que asisse desta maneira em decorrência não de cálculo mas de incontinência pois é fácil curála já que ela pode ser persuadida a mudar de idéia Mas à pessoa incontinente pode aplicarse o provérbio Quando a água nos engasga que outro liquido beberíamos para aliviarnos Se tal pessoa estivesse convencida do acerto daquilo que fez ela teria desistido se houvesse sido persuadida a mudar de idéia mas já que não foi persuadida ela asiu certa de que estava praticando uma ação completamente diferente Finalmente se a incontinência e a continência podem manifestarse em relação a qualquer coisa quem será absolutamente incontinente Ninguém apresenta todas as formas de incontinência mas dizemos que algumas pessoas são irrestritamente incontinentes Estas são em linhas gerais as dificuldades que se nos apresentam algumas delas devem ser afastadas de nosso caminho mas outras devem permanecer na verdade a solução de wna dificuldade é uma descoberta 3 Procuremos saber primeiro se as pessoas incontinentes agem conscien temente ou não depois procuremos saber com que espécies de objetivos as pessoas incontinentes e as dotadas de continência se preocupam ou seja se é com qualquer espécie de prazer ou sofrimento ou somente com determinadas espécies e se as pessoas dotadas de continência e as pessoas resistentes são as mesmas ou diferentes e assim por diante a respeito das questões pertinentes a esta investigação O ponto de partida de nossa investigação é saber se as pessoas dotadas de continência se diferenciam das demais por seus objetivos ou por suas disposições isto é se a pessoa é incontinente simplesmente porque não pode conterse diante de certas situações ou porque tem uma certa disposição ou então por ambos os motivos a segunda questão é se a continência e a incontinência se manifestam a respeito de tudo ou não Quando se diz que uma pessoa é irrestritamente incontinente esta afirmação não significa que ela é assim em relação a tudo mas em relação às coisas a respeito das quais as pessoas podem ser concupiscentes isto também não significa apenas que ela se preocupa com estas coisas neste caso a incontinência seria a mesma coisa que a concupiscência mas que ela se preocupa com tais coisas de um modo peculiar A pessoa concupiscente cede aos seus desejos por escolha considerando acertado peneguir sempre o prazer presente a pessoa incontinente não pensa assim mas penegue o prazer da mesma forma A idéia de que as pessoas incontinentes agem contra a opinião Ética a Nicômacos 133 verdadeira e não contra o conhecimento é irrelevante para a nossa argumentação pois algumas pessoas sustentam suas opiniões sem hesita ção e pensam que elas são conhecimento exato Então se a fraqueza de convicção for o critério para decidirmos se devemos dizer que as pessoas que agem contra a sua concepção do que é correto apenas opinam sem ter o conhecimento do que é correto não haverá realmente qualquer diferença a este respeito entre opinião e conhecimento já que algumas pessoas se mostram tão convencidas a propósito daquilo sobre que opinam quanto outras a propósito daquilo que elas conhecem Herácleitos é uma evidência disto Entretanto já que usamos a palavra conhecer em dois sentidos dizemos que tanto as pessoas que têm conhecimento mas não o usam quanto as que o usam conhecem fará diferença neste caso uma pessoa agir como não devia se ela tiver conhecimento mas não o estiver usando pois na última hipótese sua conduta parecerá estranha mas não parecerá estranha se ela estiver usando o conhecimento Ademais já que há duas espécies de premissas quando se trata da conduta nada impede uma pessoa de agir contra o conhecimento quando ela conhece ambas as premissas mas está exercitando seu conhecimento da premissa universal e não da particular pois a ação se relaciona com fatos particulares Além disso há uma distinção a respeito da premissa 1147 a universal um dos universais é predicado do próprio agente e o outro é predicado da coisa por exemplo a pessoa pode conhecer e estar cônscia do conhecimento de que certo alimento seco é bom para todos os homens e de que ela mesma é um homem ou até de que um alimento dt certa espécie é seco mas ou a pessoa não possui ou não está exercitando o conhecimento da circunstância de aquele alimento que está diante dela ser um alimento daquela espécie Evidentemente haverá uma enorme diferença entre esw maneiras de conhecer de tal forma que conheer de certa maneira quando se age sem continência não pareceria estranho de forma alguma ao passo que conhecer de outra maneira quando se age sem continência seria motivo para admiração Além disso a posse do conhecimento em acepção diferente da recém mencionada pode ocorrer nas pessoas de fato na própria hipótese de termos o conhecimento e não o usarmos vemos uma diferença de estado se admitirmos a possibilidade de termos conhecimento em uma acepção e em outra acepção nio o termos como no caso de uma pessoa adormecida louca ou embriagada E esta é justamente a condição das pessoas sob a influência de emoções pois ímpetos de cólera e desejos sexuais além de outras emoções alteram efetivamente nossas condições fisiológicas e em aluns casos produzem até acessos de loucura É claro então que podemos considerar que as pessoas incontinentes estão numa condição 134 1147 b Aristóteles idêntica à das pessoas adormecidas loucas ou embriagadas O fato de estas pessoas usarem a linguagem oriunda do conhecimento não prova que elas o possuem pois até as pessoas sob a influência das emoções mencionadas repetem proposições científicas e versos de Empédocles 111 e as pessoas que estão apenas começando a aprender uma ciência podem recitar suas frases mas não conhecem o seu significado já que o conhecimento tem de entranharse nestas pessoas e isto requer tempo devemos portanto supor que as pessoas incontinentes usam a linguagem da mesma forma que os atores dizendo as suas falas Além disto podemos também examinar as causas da incontinência como faria um estudioso da natureza No silogismo uma premissa é universal e a outra se relaciona com fatos particulares e a propósito desta última entramos na esfera da percepção quando as duas premissas se combinam numa conclusão única em um dos casos19 a alma deve afirmar a conclusão ao passo que no caso das premissas de ordem prática se deve agir imediatamente por exemplo dadas as premissas tudo que é doce deve ser provado e aquilo é doce esta última é um exemplo particular da classe geral a pessoa capaz de agir e que não é impedida de fazêlo deve provar imediatamente a coisa doce Portanto quando estão presentes em nós de um lado um conceito universal proibindonos de provar e de outro lado outro conceito universal dizendo que tudo que é doce é agradavél além de uma premissa menor dizendo que aquilo é doce e esta premissa menor é ativa190 e quando está presente ao mesmo tempo o desejo então embora o primeiro julgamento universal diga evite aquela coisa somos levadas para aquela coisa pelo desejo que pode mover cada uma das partes de nosso corpo Acontece que quando as pessoas são deficientes em termos de continência elas agem sob a influência de uma razão em certo sentido e de uma opinião não contrárias à reta razão em si mesmas mas apenas acidentalmente o desejo é que é contrário e não a opinião Seguese também que não se pode dizer que falta continência aos animais irrcionais porque eles não podem formar conceitos universais mas apenas imagens mentais e lembranças dos fatos Se perguntarmos tomo a ignorância de uma pessoa incontinente pode desaparecer e como tal pessoa pode recuperar o conhecimento a explicação será a mesma que no caso da embriaguez e do sono e ela não pode ser atribuída à incontinência A este respeito devem ser ouvidos os estudiosos de fisiologia Mas uma vez que a última premissa que origina a ação é uma opinião sobre um objeto perceptível e é esta opinião que uma pessoa incontinen te quando sob o domínio da emoção não possui ou somente possui de um modo que como vimos não chega a ser conhecimento mas somente leva 1148 a ttica a N icômacos 135 a pessoa a repetiIa da mesma forma que um ébrio repete os versos de Empédocles e uma vez que a premissa extrema não é um universal e não é considerada um objeto de conhecimento científico a exemplo do que acontece com uma premissa universal parece que somos levados a aceitar a conclusão que Sócrates procurou firmar191 com efeito o conhecimento presente no momento em que ocorreu a emoção não é aquele que se considera o conhecimento propriamente dito não é tampouco o conheci mento propriamente dito que é arrastado pela emoção e sim o conheci mento resultante da percepção pelos sentidos Já dissemos o bastante para responder à pergunta de quem quer saber se a continência é compatível ou não com o conhecimento e com que tipo de conhecimento ela é ou não compatível 4 O assunto a discutir em seguida é se há pessoas irrestritamente incontinentes ou se todas as pessoas incontinentes o são em relação a apenas certos aspectos particulares É evidente que tanto as pessoas dotadas de continência quanto as pessoas resistentes e tanto as pessoas incontinentes quanto as pessoas assas mostram estas disposições em relação ao prazer e ao sofrimento Algumas das coisas que produzem prazer são necessárias enquanto outras são dignas de escolha em si mesmas porém admitem excessos os prazeres do corpo são necessários entendo por prazeres do corpo os inerentes à nutrição e às relações sexuais ou seja às funções fisiológicas que definimos como a esfera em que se manifestam a concupiscência e a moderação enquanto as outras coisas não são necessárias mas são dignas de escolha em si por exemplo a vitória as honrarias a riqueza e as coisas boas e agradáveis deste gênero Sendo assim as pessoas que se excedem em relação às últimas contrariando a reta razão de que são dotadas não são qualificadas simplesmerte de incontinentes mas de incontinentes com a restrição a respeito de dinheiro proveito honrarias ou cólera de fato estas pessoas não são simplesmente incontinentes pois as consideramos diferentes das incontinentes em sentido irrestrito e somente por analogia vejase o caso de Ântropos 19 que venceu uma competição nas Olimpía das neste caso a definição geral de homem pouco difere da definição aplicável a ele embora de qualquer modo ele fosse diferente O fato de chamarmos uma pessoa de incontinente apenas por analogia se evidencia pela circunstância de a incontinência tanto em sentido irrestrio quanto a respeito de algum prazer particular do corpo ser censurada não somente como um erro mas também como uma espécie de deficiência moral ao passo que não consideramos moralmente deficiente as pessoas incontinen tes a respeito de dinheiro e coisas do mesmo gênero 16 Aristóteles Mas entre as pessoas incontinentes diante dos prazeres do corpo em relação aos quais qualificamos os homens de moderados ou concupiscen tes as que perseguem os extremos das coisas asradáveis e evitam os extremos das coisas que causam sofrimento como a fome a sede o calor o frio e todos os tipos de sofrimento relacionados com o tato e o paladar e agem assim não por escolha mas contrariamente à sua escolha e ao seu julgamento são qualificadas de incontinentes não com a restrição a respeito disto ou daquilo por exemplo a respeito da cólera mas simplesmente incontinentes Esta qualificação é confirmada pelo fato de as pessoas serem chamadas lassas em relação a estes prazeres mas não em relação a quaisquer outros É por isto que agrupamos na mesma classe as pessoas incontinentes e as concupiscentes as dotadas de continência e as moderadas mas não qualquer dos outros tipos porque elas mostram esw disposições de ceno modo em relação aos mesmos prazeres e sofrimentos mas embora se relacionem com as mesmas coisas elas não se relacionam com tais coisas de maneira idêntica pois algumas delas 19J fazem uma escolha enquanto outras 194 não escolhem É por isto que chamaríamos de concupiscentes as pessoas que sem desejos ou apenas com um leve desejo perseguem os extremos do prazer e evitam sofrimentos moderados mas não as pessoas que agem assim por causa de seus desejos intensos com efeito que fariam as primeiras se sentissem um desejo intenso como o dos jovens e sofressem violentamen te com a falta dos prazeres necessários Alguns desejos e prazeres penencem à classe das coisas nobilitantes e boas de um modo geril algumas coisas agradáveis são dignas de escolha por natureza enquanto outras são contrárias a estas e outras sio neutras de conformidade com nossa classificação anterior 191 como por exemplo a riqueza o proveito a vitória e as honrarias Com referência a todos os objetos tanto desta espécie quanto da neutra as pessoas não são censurá veis por se deixarem atrair por eles por desejálos e amálos e sim por os desejarem e amarem de certa maneira ou seja excessivamente é por isto que todas as pessoas que contrariando a razão cedem diante de objetos naturalmente nobilitantes e bons ou os bwcam por exemplo as 1148 b pessoas que se preocupam mais do que devem com honrarias ou com seus filhos e pais não são moralmente deficientes 1116 filhos e pais também são um bem e quem se preocupa com eles merece louvor mas pode haver um ceno excesso mesmo em relação a eles se como Ntobe alguém quiser lutar até contra os deuses ou quiser ser tão devotado ao pai quanto Sátiros cognominado o filial que foi considerado extremamente piegas a este respeito 197 Não há então deficiência moral a respeito destas coisas pelas razões mencionadas ou seja porque cada uma delas é digna de escolha por sua própria natureza os excessos em relação a elas todavia são um mal e devem ser evitados Não há tampouco incontinência em ttica a Nicômacos 137 relação a tais coisas pois a incontinência não somente deve ser evitada mas também é reprovável embora se use a expressão incontinência nestes casos como uma restrição incontinência em seja o que Ír porque a disposição é análoga à incontinência propriamente dita em tais casos usase a expressão da mesma forma que se fala de uma pessoa como um mau médico ou um mau ator tratandose de alguém que não se pode chamar simplesmente de mau Então como neste caso não usamos a expressão em sentido irrestrito porque nenhuma destas condições é maldade mas apenas análoga à maldade é claro que no primeiro caso somente a continência e a incontinência em relação às mesmas coisas em que se manifestam a moderação e a concupiscência devem ser considcra das continência e incontenência propriamente ditas e que estas expres sões se aplicam à cólera por analogia acrescentamos assim uma restrição incontinente em relação à cólera da mesma forma que dizemos incontinente na busca de honrarias ou de proveiw 5 Algumas coisas são agradáveis por narureza e destas umas são irrestritamente agradáveis enquanto outras o são em relação a determina das classes de animais ou de pessoas por outro lado outras não ão naturalmente agradáveis mas algumas destas se tornam agradáveis por causa de aberrações outras por causa de hábitos e outras ainda por callsa de taras Sendo assim é possível descobrir em relação a cada uma das espéties da segunda classificação disposições de caráter similares às identificadls a respeito do primeiro caso refirome às disposições bestiais como no caso da mulher que segundo dizem abria o ventre das mulheres grávid1s e devorava os fetos ou das coisas com que de acordo com certos relaos algumas das tribos selvagens do litoral do mar Negro costumaam deleitarse com alimentos crus ou carne humana ou com a troca de crianças entre as tribos para serem seviciadas em suas festas ou com1 na história que se conta de Fálaris191 Estas disposições são bestiais mas outras se manifestam em conse qüência de doenças ou de loucura em certos casos como no do honem que teria sacrificado e devorado sua própria mãe ou no do escravo que comeu o fígado de seu companheiro e outras ainda são estados mórb1dos resultantes de hábitos por exemplo arrancar os cabelos ou roe as unhas ou até comer carvão e terra Além destes casos há a pederastia Sta disposição às vezes se manifesta naturalmente e às vezes em decorrêcia da habitualidade como acontece com as pessoas que foram vítimas da libidinosidade desde a infância Nos casos em que a causa é natural ninguém chamaria tais pessoa de incontinentes da mesma forma que ninguém aplicaria o epítet às 138 1149 a Aristóteles mulheres dada a passividadede sua participação nas relações sexuais tampouco ele se aplica a pessoas que se encontram num estado mórbido decorrente da habitualidade Estas várias disposições mórbidas não se enquadram no âmbito da deficiência da mesma forma que a bestialidade e não as dominar ou ceder diante delas não constitui incontinência em sentido irrestrito mas somente uma disposição assim chamada por analogia pela mesma razão que as pessoas incontinentes em relação a assomos de cólera devem ser qualificadas de incontinentes somente em relação a esta emoção mas não de incontinentes irrestritamente De faco a alienação a covardia a concupiscência e a irascibilidade quando levadas ao excesso são condições bestiais ou mórbidas as pessoas naturalmente propensas a assustarse com tudo até com o guincho de um rato mostram a covardia de um animal irracional covarde ao passo que o homem que se assustava com uma fuinha assustavase por estar doente entre as pessoas alienadas aquelas que são irracionais por natureza e vivem valendose apenas dos semidos são bestiais como as pertencentes a algumas tribos remotas de bárbaros enquanto as alienadas em conseqüên cia de doença por exemplo de epilepsia ou de demência são mórbidas Nestes casos às vezes é possível ter apenas a disposição sem ceder a ela por exemplo Fálaris99 pode ter dominado desejos de comer a carne de uma criança ou de entregarse a prazeres sexuais contrários à natureza mas também se pode ceder e não ter apenas a disposição Então da mesma forma que a deficiência moral em escala humana é chamada simplesmente deficiência moral enquanto a que está além da condição humana não é chamada simplesmente deficiência moral mas se lhe acrescenta a restrição bestial ou mórbida é igualmente óbvio que algumas formas de incontinência são bestiais e outras são mórbidas enquanto somente aquela que corresponde à concupiscência em escala humana é incontinência irrestritamente É claro portanto que a incontinência e a continência se relacionam somente com os mesmos objetos com que se relacionam a concupiscên cia e a moderação e que aquilo que se relaciona com outros objetos é uma espécie diferente de incontinência que só se chama de inconti nência metaforicamente e não irrestritamente 6 Vejamos agora se a incontinência em relação à cólera é menos desabonadora que a incontinência em relação aos desejos Parece que até certo ponto a cólera ouve a razão mas a ouve incompletamente como fazem certos serviçais que correm antes de ouvir tudo que o patrão lhe diz e então embaralham as ordens que lhes são dadas ou como cães que latem apenas porque alguém bate à porta antes de 1149 b Ética a Nicômacos 139 olhar para verem se se trata de pessoa amiga da casa de maneira idêntica a cólera por causa do calor e da impetuosidade de sua natureza embora ouça não ouve a ordem como foi dada e se precipita para vingarse Quando a razão ou a imaginação nos mostra que fomos insultados ou desconsiderados a cólera se inflama imediatamente depois de raciocionar digamos assim que qualquer coisa desse tipo deve ser revidada O desejo por outro lado se a imaginação ou a percepção apenas lhe diz que um objeto é agradável precipitase para fruílo Mas a cólera em certo sentido obedece à razão enquanto o desejo não obedece Este então é mais desabonador pois as pessoas incontinentes em relação à cólera são de certo modo levadas pela razão enquanto as outras são levadas pelo desejo e não pela razão Além disto perdoamos mais facilmente as pessoas por seguirem seus desejos naturais já que as perdoamos por seguirem tais desejos em comum com todos os homens e desde que tais desejos sejam comuns mas a cólera e a irascibilidade são mais naturais que os desejos excessivos e não necessários Tomemos como exemplo o caso do homem que se defende da acusação de haver espancado seu pai dizendo Mas meu pai espancava meu avô e este espancava o meu bisavô e apontando para seu filho esta criança me espancará quando for um homem isto é congênito em nossa famüia ou o homem que quando estava sendo arrastado por seu filho lhe pediu que parasse em frente à porta de sua casa dizendo que ele mesmo havia arrastado seu pai somente até ali 1 Outrossim as pessoas mais inclinadas a tramar contra outras são mais criminosas Uma pessoa emotiva entretanto não é dada a dissi mulações nem a cólera se dissimula ela é ostensiva mas o desejo é astucioso como dizem de Afrodiiê Filha de Cipros tecelã de astúcias100 E Homero falando do cinto bordado de Afrodite atribui à deusa do amor uma lábia que ilude os espíritos mais sábios Logo se esta espécie de incontinência é mais criminosa e desaborta dora que a relacionada coma coléra ela é ao mesmo tempo incontinên cia no sentido irrestrito e de certo modo deficiência moral Mais ainda ninguém comete um ultraje sofrendo por isto mas quem quer que aja sob o efeito da cólera age sofrendo enquanto o autor de um ultraje procede com prazer Então se os atos diante dos quais é mais justo que a pane ofendida se encolerize são mais criminosos que os outros a 140 1150 a Aristóteles incontinência devida ao desejo é mais criminosa pois a cólera aio tem qualquer conotação de ultraje injustificado É evidente portanto que a incontinência relacionada com o desejo é mais desabonadora que a relacionada com a cólera e que a continência e a incontinência se relacionam com desejos e prazeres do corpo mas deve mos discernir u diferenças entre os próprios desejos e prazeres do corpo Com efeito como jl dissemos de início20 alguns deles são próprios dos seres humanos e naturais tanto em gênero quanto em grau outros são bestiais e outros são devidos à abertações e doenças A moderação e a continência somente se relacionam com os primeiros é por isto que não chamamos os animais irracionais de moderados ou concupiscentes a não ser metaforicamente e somente se alguma raça de animais suplanta outra em lascívia instinto predatório e voracidade eles não têm poder de escolha ou de cálculo mas são aberrações da natureza como os insanos entre os homens A bestialidade por seu turno é um mal menor que a deficiência moral embora seja mais assustador pois não é a melhor pane dos animais que se perverte como nos homens os animais não têm uma pane melhor Seria o mesmo que comparar uma coisa sem vida com um ser vivo a respeito da maldade de fato a maldade daquilo que não tem uma fonte originária de movimento 202 e a inteligência é uma fonte originária de movúnento é sempre menos prejudicial É como comparar a injustiça em abstrato com uma pessoa injusta uma é pior num sentido e a outra é pior em outro pois um homem mau fará dez mil vezes mais mal que um animal irracional 7 Mas em relação aos prazeres e sofrimentos e aos desejos e aversões inerentes ao tato e ao paladar que já foram definidos como a esfera em que a concupiscência e a moderação se manifestam é possível que nos encontremos em tal estado que sejamos derrotados até por tentações às quais mesmo a maioria das pessoas resiste ou que resistamos àquelas pelas quais a maioria das pessoas é derrotada entre estas disposições as que se relacionam com os prazeres são a incontinência e a continência e u que se relacionam com os sofrimentos são a lassidão e a resistência A disposição da grande maioria das pessoas se situa entre as duas ainda que elas tendam mais para as piores disposições Já que alguns prazeres são necessários enquanto outros não o são e que os primeiros são necessários até o ponto em que nem os seus excessos nem as suas deificências o são e já que isto é verdadeiro tanto para os desejos quanto para os sofrimentos são concupiscentes as pessoas que perseguem os extremos das coisas agradáveis ou perseguem os extremos das coisas necessárias e o fazem por sua própria escolha por sua causa e nunca por qualquer resultado distinto delas pois tais pessoas necessaria mente não se arrependerão de seus excessos e são portanto incorrigíveis já que as pessoas que não se arrependem não têm cura As pessoas ttica a Nicõmacos 141 deficientes no desejo de fruição dos prazeres são o contrário das concupis centes e as pessoas moderadas sio o meio termo De maneira idêntica existem pessoas que evitam os sofrimentos físicos não por serem aniquila das por eles mas por escolha Entre as pessoas que não escolhem as ações das quais pode resulw sofrúilento umas são movidas pelo prazer em perspectiva e outras porque querem evitar o sofrimento resultante de certos prazeres as duas classes diferem portanto entre si Por isto qual quer pessoa considera um homem que sem sentir desejos ou sentindo desejos fracos pratica uma ação desabonadora pior que alguém que age assim sob a influncia de desejos intensos e considera um homem que desfere um golpe sem estar sob o efeito da cólera pior que um homem que age assim por esw encolerizado na verdade que fariam pessoas ceste tipo se estivessem sob o efeito de emoções fortes É por isto que as 1150 b pessoas concupiscentes são piores que as incontinentes Das disposições descritas acima evitar deliberadamente o sofrimento é uma espécie de lassidão e buscar deliberadamente o prazer é a concupis cência Enquanto as pessoas incontinentes são o contrário das dotadas de continência as pessoas lassas são o contrário das resistentes a resistência com efeito consiste em nos mantermos firmes enquanto a contincncia consiste em dominarnos e manterse firme e dominarse são coisas diferentes da mesma forma que não ser derrotado é diferente de ser vitorioso é por isto que a continência é mais digna de escolha c ue a resistência Então as pessoas deficientes quanto à resistência às coisas às quais a maioria das pessoas resiste com sucesso são lassas e efemin1das pois ser efeminado é também uma espécie de lassidão tais pessoas deixam seu manto arrastar no chão para evitar a fadiga de levantálo e se comportam como inválidas sem se julgarem infelizes embora as pesoas que elas imitam sejam infelizes Acontece o mesmo a respeito da continência e da incontinênci De fato se uma pessoa é vercida por prazeres ou sofrimentos excessivos nada há de surprfendente nisto na verdade estamos prontos a desculpála se ela resistiu como fez o Filoctetes de Teodetes204 qUando mordido pela serpente ou o Cercíon de Carcinos na Álopr e como as pessoas que tentando conter o riso explodem numa grande gargalhada como ac lnte ceu com Xenofantos201 Mas é surpreendente que uma pessoa seja vencida por sofrimentos e não lhes possa resistir enquanto a maioria das pesoas pode enfrentálos a não ser que a deficiência seja devida a al1uma tendênçia inata ou doença como a lassidão hereditária dos reis da Cít1a ou a que distingue o sexo feminino do masculino1 As pessoas que gostam muito de divertirse são também consideradas concupiscentes mas na realidade são assas pois o divertimenro é 142 115 I a Aristóteles relaxante por ser uma pausa no trabalho e quem gosta demais de divertimentos excedese em relação a eles Uma das espécies de incontinência é a impetuosidade e outra é a indolência Realmente algumas pessoas20 em conseqüência de suas emoções depois de deliberar falham quando se trata de pôr em prática as suas resoluções enquanto outras208 são dominadas por suas emoções porque não se detêm para deliberar algumas pessoas resistem à pressão das emoções agradáveis ou penosas porque pressentindoas e perceben do que elas se aproximam se põem antecipadamente em alerta ou seja alertam o raciocínio da mesma forma que uma pessoa se torna menos sensível às cócegas se lhe fizeram cócegas antes As pessoas argutas e excitáveis são as mais propensas à forma impetuosa da incontinência porque as primeiras graças à presteza de seu raciocínio e as últimas por causa da violência de suas emoções não esperam que a razão aja em decorrência de sua propensão para seguir a imaginação 8 As pessoas concupiscentes como dissemos209 não se arrependem pois se mantêm fiéis à sua escolha mas qualquer pessoa incontinente é sujeita a arrependerse Por isto os fatos não são como os expusemos quando tratamos do problema 210 ao contrário as pessoas concupiscentes são incuráveis e as incontinentes são curáveis Com efeito a deficiência moral é como uma doença do tipo da hidropisia ou da tuberculose pulmonar enquanto a incontinência é como a epilepsia a deficiência moral é um mal crônico e a incontinêhcia é um mal intermitente De um modo geral a incontinência e a deficiência moral são especificamente diferentes a deficiência moral não tem consciência de si mesma ao passo que a incontinência é consciente Entre as próprias pessoas incontinentes aquelas que ficam tempora riamente fora de si são melhores do que as que usam sempre a razão mas não lhe obedecem já que estas são vencidas pela emoção mais fraca e não agem sem prévia deliberação como as outras na verdade as pessoas incontinentes são como as que se embriagam rapidamente e com pouco vinho isto é com menos do que a maioria das pessoas Logo a incontinência evidentemente não é deficiência moral embora talvez o seja com algumas restrições pois a incontinência é contrária à escolha quanto a deficiência moral é conforme à escolha Não obstante ambas se assemelham em relação às ações às quais elas levam como na frase de Demôdocos acerca dos milésios Os milésios não são insensatos mas agem como se fossem insensatos211 De maneira idêntica as pessoas incontinentes não são criminosas maS cometem cdmes Então já que as pessoas incontinentes são propensas mas não por convicção a buscar prazeres excessivos e contrários à reta razão ao passo que as concupiscentes são convictas porque são a espécie de pessoas uja 1151 b Ética a Nicômacos 143 constituição as leva a buscálos são as primeiras que se deixam persuadir a mudar de idéia enquanto com as outras acontece o contrário Com efeito a excelência moral e a deficiência moral respectivamente preservam destroem a razão e em matéria de conduta o objetivo final é o ponto de partida das ações da mesma forma que as hipóteses m em matemática mas nem no caso da ética nem no da matemática a razão nos ensina o ponto de partida é a excelência moral seja ela natural ou produzida pelo hábito que ensina a opinar corretamente acerca dos pontos de partida na esfera moral Então o homem que se enquadra nestas condições é moderado e 0 seu contrário é concupiscente Mas há pessoas de certa espécie que abandonam sua escolha em conseqüência de emoções e contrariamente à reta razão pessoas dominadas pela emoção de tal forma que não são capazes de agir segundo a reta razão mas não dominadas a ponto de ser levadas a crer que devem buscar tais prazeres de qualquer maneira são estas as pessoas incontinen tes elas são melhores que as concupiscentes e não são irrestritamente más pois o que há nelas de melhor ou seja a razão é preservado Em contraposição a elas há outra espécie de pessoas as que mantêm as suas convicções e não são dominadas ao menos pelas emoções Estas conside rações evidenciam que a segunda disposição 211 é boa e que a primeira 114 é má 9 É dotada de continência uma pessoa que permanece firme em relação à razão ou a uma escolha de qualquer espécie ou somente em relação uma escolha acertada E é incontinente uma pessoa que não permanece firme em relação à razão ou a uma escolha de qualquer espécie ou apenas em relação à razão que não mente ou a uma escolha acertada Esta dificuldade já foi levantada antes m Talvez a resposta seja que embora acidentalmen te possa ser em relação a qualquer espécie de razão ou a qualquer escolha essencialmente é em reilção à razão que não mente e à escolha acertada que a primeira das pessoas mencionadas permanece firme e a outra não permanece Se escolhemos ou buscamos uma coisa por causa de outra é a última coisa que buscamos e escolhemos por si mesma e só acidentalmen te buscamos e escolhemos a primeira Mas quando falamos irrestritamente queremos significar a coisa por si mesma Portanto em certo sentido uma das pessoas permanece firme em relação a toda e qualquer opinião e a outra não permanece mas irrestritamente é em relação à opinião verdadeira que uma permanece firme e a outra não permanece Há pessoas propensas a permanecer firmes em relação às suas opiniões e elas se chamam obstinadas por exemplo as que são difíceis de convencer em uma primeira aproximação e não se deixam persuadir facilmente a mudar de idéia estas pessoas têm alguma semelhança com as 144 Aristóteles pessoas dotadas de continência da mesma forma que as pessoas pródigas são de certo modo semelhantes às liberais e as pessoas temerárias são semelhantes às confiantes mas elas diferem sob muitos aspectos Com efeito é às emoções e aos desejos que não se deve ceder já que no momento oportuno a pessoa dotada de continência deve ceder à razão mas é à razão que outras pessoas se recusam a ceder pois elas alimentam desejos e muitas delas são levadas por seus prazeres Tipos de pessoas obstinadas são as dogmáticas as ignorantes e as grosseiras as dogmáticas são influenciadas pelo prazer e pelo sofrimento pois se comprazem com a vitória que obtêm se não se deixam persuadir a mudar de idéia e sofrem se suas decisões se tornam sem efeito como às vezes acontece com os decretos elas portanto se assemelham mais às pessoas incontinentes do que às dotadas de continência Mas certas pessoas não conseguem permanecer firmes em suas opiniões não por causa da incontinência como Neoptôlemos no Filoctetts de Sófocles 216 É verdade que foi por causa do prazer que ele não permaneceu firme mas foi um prazer nobilitante pois dizer a verdade foi nobilitante para ele porquanto ele havia sido persuadido por Odisseus a mentir De fato nem rodas as pessoas que fazem algo por causa do prazer são concupiscentes más ou incontinentes mas somente aqueles que agem por causa de um prazer desabonador Já que há também um tipo de pessoas que se comprazem menos do que deveriam com os prazeres do corpo e não seguem a razão quem estiver numa posição intermediária entre as pessoas deste tipo e as incontinentes será uma pessoa dotada de continência pois as pessoas incontinentes não conseguem permanecer firmes em relação à razão porque se comprazem demais com os prazeres do corpo enquanto as que estão no outro extremo se comprazem muito pouco com eles as pessoas dotadas de continência entretanto permanecem firmes em relação à razão e não mudam no sentido de qualquer das duas disposições mencionadas há pouco Então se a continência é boa ambas as disposições contrárias devem ser más como realmente parecem ser mas pelo fato de o outro 1152 a extremo ser visto em poucas pessoas e raramente considerase que a moderação é contrária somente à concupiscência da mesma forma que a continência é contrária somente à incontinência Já que muitos nomes se aplicam analogicamente é por analogia que falamos da continência das pessoas moderadas pois tanto as pessoas dotadas de continência quanto as moderadas são constituídas de maneira a nada fazerem contrariamente à razão por causa de prazeres do corpo mas as primeiras têm e as últimas não têm maus desejos e as últimas são constituídas de maneira a não sentir prazeres contrários à ruão enquanto as primeiras são constituidas de maneira a sentir prazer mas 11ão a serem levadas por eles Por outro lado as pessoas incontinentes e as concupis centes são também parecidas entre si elas são efetivamente diferentes Ética a Nicômacos 145 mas ambos os tipos buscam os prazeres do corpo embora as últimas tamm pensem que devem agir assim enquanto as primeiras não têm este pensamento 10 Tampouco a mesma pessoa é dotada de discernimento e é incontinen te pois já demonstramos m que uma pessoa é ao mesmo tempo dotada de discernimento e de bom caráter Além disto uma pessoa é dotada de discernimento não apenas por saber como deve agir mas por ser capaz de agir como acha que deve a pessoa incontinente todavia é incapaz de agir como deve ao passo que nada impede uma pessoa talentosa de ser incontinente é por isto que às vezes se pensa realmente que algumas pessoas são dotadas de discernimento mas são incontinentes porque o talento e o discernimento diferem da maneira descrita em nossa primeira discwsão do assunto211 e estão muito próximos um do outro como qualidades intelectuais embora difiram a respeito de seus propósitos de fato a pessoa incontinente não se assemelha à pessoa que conhece uma verdade e a está contemplando e sim à pessoa que está adormecida ou embriagada Ela age conscientemente pois age de certo modo sabendo o que faz e qual o objetivo visado mas não é má já que seu propósito é bom então ela é apenas meio má Tampouco ela é criminosa pois ela não age com intenção criminosa dos dois tipos de pessoas incontinentes umas não permanecem firmes em relação às conclusões de suas deliberações enquanto as pessoas impetuosas não chegam sequer a deliberar Assim as pessoas incontinentes assemelhamse a uma cidade que promulga todos os decretos acenados e tem boas leis mas não as usa como no gracejo de Anaxandrides119 A cidade negligente quanto às leis quer isto Quanto às pessoas más elas são como a cidade que observa suas leis mas cujas leis são más A incontinência e a continência se relacionam com os excessos referentes ao caráter da maioria das pessoas pois as pessoas dotadas de continência permanecem mais firmes e as incontinentes menos firmes em suas resoluções do que a maioria das pessoas Entre as formas de incontinência a das pessoas impetuosas é mais fácil de curar do que a incontinência das pessoas que deliberam mas não permanecem firmes em suas decisões e as pessoas incontinentes por causa de hábitos são mais fáceis de curar do que aquelas cuja incontinência é inata de fato é mais f6cil mudar um hábito do que mudar a natureza de alguém e os próprios hábitos são difíceis de mudar porque são semelhan te à natureza como diz Êuenosllo Digo que o hábito é apenas loop prática amigo que afinal se iguala à natureza 146 1152 b Aristóteles Acabamos de examinar a natureza da continência e da incontinência da resistência e da lassidão e o interrelacionamento destas disposições 11 Ao filósofo político também incumbe considerar a natureza do prazer e do sofrimento pois ele é o arquiteto dos fins com vistas aos quais chamamos certas coisas de más e outras de boas irrestritamente Ademais uma de nossas tarefas necessárias é examinar estas duas emoções pois não somente já estabelecemos que a excelência moral e a deficiência moral se relacionam com o sofrimento e com o prazer m como também a maioria das pessoas dizem que a felicidade pressupõe o prazer é por isto que as pessoas bemaventuradas têm um nome cujo significado é a fruição do prazer m Algumas pessoas pensam que nenhumprazer é bom seja em si seja acidentalmente já que o bem e o prazer não são a mesma coisa outras pessoas pensam que alguns prazeres são bons mas a maioria deles é má Ainda há um terceiro ponto de vista segundo o qual mesmo que todos os prazeres sejam bons o prazer não pode ser o bem supremo 223 As razões apresentadas a favor do ponto de vista segundo o qual o prazer não é um bem de forma alguma são 1 todos os prazeres são processos conscientes em direção a um estado natural e nenhum processo é da mesma espécie que sua finalidade por exemplo nenhum processo de construção é da mesma espécie de uma casa 2 as pessoas moderadas evitam os prazeres 3 as pessoas dotadas de discernimento buscam o que é isento de sofrimento e não o que é agradável 4 os praZeres são um óbice ao pensamento e quanto mais eles o são mais as pessoas os fruem por exemplo o prazer sexual pois ninguém consegue pensar em coisa alguma enquanto está absorvido nele 5 não há uma arte do prazer mas cada bem é o produto de uma arte e 6 as crianças e os animais irracionais buscam o prazeres As razões apresentadas a favor do ponto de vista de que nem todos os prazeres são bons são 1 há prazeres que são realmente desabonadores e merecem censura e 2 há prazeres nocivos pois algumas coisas agradáveis fazem mal à saúde A razão apresentada a favor do ponto de vista de que o prazer não é o bem supremo é que o prazer não é uma finalidade e sim um processo Estes são mais ou menos os pontos de vista correntes 12 Mas as considerações seguintes evindenciarão que estes argumentos não são conclusivos para provar que o prazer não é um bem de forma alguma e que ele não é tampouco o bem supremo Primeiro já que aquilo que é bom pode ser bom em duas acepções uma coisa pode ser irrestritamente boa e ouua pode ser boa para uma determinada pessoa a natureza e as disposições das pessoas e portanto também os respectivs movimentos e processos serão igualmente diferenciáveis Dos processos considerados maus alguns serão maus se considerados irresuitamenre mas 1153 a Ética a Nicômacos 147 não serão tidos como maus para determinadas pessoas e sim dignos de escolha enquanto alguns não serão sempre dignos de escolha sequer para determinadas pessoas mas somente em certo momento e por um curto período de tempo e não irrestritamenre outros não são sequer prazeres mas apenas parecem prazeres por exemplo todos aqueles que acarretam sofrimento e cuja finalidade é curativa como os processos de tratamento aplicáveis às pessoas nfermas Além disto uma espécie de bem é atividade e outra é estado e portanto os processos que restabelecem o nosso estado natural somente por acidente são agradáveis aliás a atividade do desejo é a atividade da parte de nós mesmos que permaneceu em seu estado natural com efeito há alguns prazeres que não envolvem sofrimento ou desejo de espécie alguma por exemplo os prazeres da contemplação sendo fruídos sem que haja ocorridó qualquer deficiência em nosso estado natural O caráter acidental dos outros prazeres é demonstrado pelo fato de não apreciarmos as mesmas coisas agradáveis quando nosso estado natural se encontra em sua plenitude com intensidade comparável à que se observa durante o seu restabelecimento no primeiro caso apreciamos as coisas que são irrestri tamente agradáveis e no outro apreciamos até o oposto neste último caso apreciamos até as coisas ácidas e amargas das quais nenhuma é agradável por natureza ou irrestritamente Portanto os estados que elas produzem não são prazeres naturalmente ou irrestritamente pois da mesma forma que as coisas agradáveis diferem entre si os prazeres decorrentes delas também diferem Mas não resulta disto como pretendem alguns estudiosos que sendo a finalidade melhor que o processo que leva a ela tenha de haver alguma coisa melhor que o prazer pois os prazeres não são processos nem pressupõem processos eles são atividades e fins eles tampouco resultam do processo de aquisição de nossas faculdades e sim de seu exercício e nem todos os prazeres têm uma finalidade diferente de si mesmos mas sómente os prazeres do processo em direção à perfeição de nossa natureza Por isto não é correto dizer que o prazer é um processo consciente seria melhor chamálo de atividade de nosso estado natural e em vez de consciente deveríamos dizer sem óbices Por outro lado alguns estudiosos pensam que o prazer é um processo apenas por acharem que o prazer é bom no sentido próprio de bom de fato eles pensam que atividade é processo mas ela é diferente Afirmar que os prazeres são maus porque cenas coisas agradáveis fazem mal à saúde equivale a dizer que as coisas saudáveis são más porque algumas delas são más quando se quer enriquecer tanto as coisas 148 1153 b Aristóteles agradáveis quanto as saudáveis são más no sentido mencionado mas não são más por aqueles motivos na realidade a própria contemplação 124 às vezes pode ser prejudicial à saude O discernimento como qualquer outra disposição não é obstado pelos prazeres decorrentes dele são os prazeres estranhos a ele que lhe criam obstáculos com efeito os prazeres oriundos da contemplação e do estudo nos farão contemplar e aprender ainda mais O fato de nenhum prazer ser o produto de qualque arte é perfeita mente natural nenhuma arte produz qualquer atividade mas somente a capacidade para uma atividade As artes da perfumaria e da cozinha aliás são geralmente consideradas artes do prazer Os argumentos no sentido de que as pessoas moderadas evitam o prazer e de que as pessoas dotadas de discernimento buscam uma vida livre de sofrimentos e de que as crianças e os animais irracionais buscam o prazer são todos refutados pela mesma resposta á explicamosm o sentido em que os prazeres são irrescritamente bons e o sentido em que alguns não são bons ora tanto os animais irracionais quanto as crianças buscam os prazeres desta última espécie e as pessoas dotadas de discernimento querem evitar as conseqüências da necessidade de tais prazeres isto é daqueles que envolvem desejo e sofrimento ou seja os prazeres do corpo estes são os desta natureza e os excessos em relaçqo a eles excessos que caracterizam as pessoas concupiscentes É por isto que as pessoas moderadas evitam tais prazeres mesmo as pessoas moderadas têm seus prazeres 13 Mas além disto admitese que o sofrimento é um mal e deve ser evitado de fato algumas formas de sofrimento são irrescritamente más e outras formas são más porque constituem de certo modo um empecilho à nossa atividade O contrário daquilo que deve ser evitado por ser algo a ser evitado e mau deve ser bom O prazer então é necessariamente um bem A tentativa de Spêusipos de refutar este argumento dizendo que o prazer é contrário tanto ao sofrimento quanto ao bem da mesma forma que o maior é contrário tanto ao menor quanto ao igual não foi bem sucedida pois Spêusipos não poderia sustentar que o prazer é essencial mente uma espécie de mal Se certos prazeres são maus isto não impede que o bem supremo seja algum prazer da mesma forma que o bem supremo pode ser alguma espécie de conhecimento embora cenas espécies de conhecimento sejiiiD mú Se não houver óbices a qualquer tipo de atividade talvez seja ati necessário se a atividade sem óbices de todas u nossas disposições ou de 1154 a ttica a Nicômacos 149 alguma delas for a felicidade que tal atividade seja o que há de mais desejável e esta atividade o prazer Então o bem supremo seria algum prazer ainda que a maioria dos prazeres seja irrestritamente má É por isto que todas as pessoas pensam que a vida feliz deve ser agradável e introduzem o prazer na urdidura de seu ideal de felicidade e com boas razões pois nenhuma atividade é perfeita quando se lhe antepõem obstáculos e a felicidade é algo perfeito Esta é a razão de as pessoas felizes necessitarem dos bens do corpo e dos bens exteriores ou seja dos bens que a boa sone nos dá para que sua atividade não seja obstada pela falta de tais bens Quem diz que a vítima num aparelho de tortura ou uma pessoa que se debate em meio aos maiores infortúnios é feliz se for boa intencionalmente ou não está falando um disparate Mas já que necessita mos de boa sone para ser felizes algumas pessoas pensam que a boa sorte é a mesma coisa que a felicidade isto não é verdade pois a própria boa sorte quando excessiva é um óbice à nossa atividade e talvez já não feva ser chamada de boa sone porquanto a boa sone só pode ser definidl em relação à felicidade Realmente o fato de todos os seres tanto os animais irracionais quanto as criaturas humanas buscarem o prazer é um indício de qul ele é de algum modo o bem supremo A fama nunca se desfaz inteiramente se muitos u6 Mas como nenhuma natureza ou disposição realmente é ou se pensa que seja a melhor para todoas as pessoas nem todas as pessoas buscam o mesmo prazer Talvez elas na realidade não busquem o prazer que imaginam estar buscando nem aquele que elas dizem que estão buscando e sim o mesmo prazer pois todas as coisas têm por natureza tlgo agradável Os prazeres do corpo todavia apropriaramse do nome porque são os que encontramos com maior freqüência em nosso caminho e porque todas as pessoas os experimentam então as peSSOlS pensam que eles são os únicos prazeres existentes porque são os únicos que elas conhecem Tambm é evidente que se o prazer ou seja a atividade de nossas faculdades não um bem a vida das pessoas felizes não será necesSlria mente agradável Com efeito para que necessitaríamos do prazer 5 ele não fosse bom Ao contrário as pessoas felizes poderiam até viver uma vida de sofrimentos De fato o sofrimento não será bom nem mau se o prazer não o for por que então evitaríamos o sofrimento Logo se a atividade das pessoas boas não for mais agradável que a de quaisquer outras sua vida tampouco será mais agradável 14 Quanto aos prazeres do corpo devemos examinar o ponto de vista dos 150 1154 b Aristóteles estudiosos segundo o qual embora seja verdade que certos prazeres os chamados prazeres nobilitantes são altamente desejáveis os prazeres do corpo e aqueles que são o objetivo das pessoas concupiscentes não o são Se for assim por que os sofrimentos contrários a eles serão maus já que o contrário do mal é o bem Ou eles são bons até certo ponto Será que onde há disposições e processos que não podem ser excessivos não é possível haver também prazeres excessivos equivalentes e onde pode haver disposições e processos excessivos pode haver também prazeres excessivos Mas pode haver excesso em relação aos bens do corpo é a busca deste excesso que torna as pessoas más e não a busca dos prazeres necessários pois todos nós gostamos até certo ponto de deleitarnos com iguarias finas vinho e prazeres do sexo embora nem todos nos deleitemos como devíamos Com o sofrimento acontece o contrário pois não evitamos os seus excessos e sim o evitamos pura a simplesmente com efeito o contrário do excesso de prazer não é o sofrimento exceto para as pessoas que perseguem o excesso de prazer Já que devemos estabelecer não somente a verdade mas também a causa da falsidade este procedimento contribui para estabelecer a convicçijo pois quando damos uma explicação razoável do motivo pelo qual o ponto de vista falso parece verdadeiro tendemos a aumentar a crença no ponto de vista verdadeiro devemos também explicar por que os prazeres do corpo parecem mais desejáveis Primeiro é porque eles afastam o sofrimento o excesso de sofrimento induz as pessoas a procurarem o excesso de prazer e de um modo geral os prazeres do corpo são um remédio para o sofrimento Ora os agentes curativos produzem sensações intensas esta é a razão de os buscarmos porque eles se manifestam em contraste com o sofrimento oposto Na verdade conside rase que os prazeres não são bons por duas razões como já dissemos22 alguns deles são atividades condizentes com uma natureza má de nascença como no caso dos animais irracionais ou pelo hábito isto é o hábito das pessoas más outros são considerados um remédio para uma natureza deficiente e é melhor estar em boas condições de saúde do que estar recuperando estas boas condições mas estes últimos prazeres se manifestam durante o processo de recuperação e portanto são bons apenas acidentalmente Além disto as pessoas que não podem fruir outros prazeres buscam os desta espécie por causa de sua intensidade por exemplo algumas pessoas se esforçam por provocar de algum modo a sede22 se estes prazeres não são nocivos o expediente não é reprovável se eles são nocivos então tais expedientes são um mal Com efeito certas pessoas nada mais têm com que deleitarse e além disto um estado neutro é muito penoso para muitas pessoas por causa da natureza destas Isto A acontece porque a natureza animal está sempre enpjada em fazer esforços de acordo com o testemunho dos estudiosos da fisiologia eles j t j Ética a Nicômacos 151 dizem que ver e ouvir causa sofrimento mas nós nos acostumamos a isto segundo suas afirmações Da mesma forma os jovens devido ao crescimento estão em condições comparáveis às dos ébrios e a juventude é agradável por si mesma as pessoas de natureza excitável necessitam permanentemente de tratamento pois seu corpo está sempre irriquieto em conseqüência de seu temperamento e elas estão sempre sob a influência de um desejo exacerbado entretanto qualquer prazer desde que forte e não somente o prazer contrário ao sofrimento que se sente afasta este sofrimento é por esta razão que tais pessoas se tornam concupiscentes e más Entretanto os prazeres desacompanhados de sofrimento não admitem excesso eles estão entre as coisas agradáveis por natureza e não acidentalmente Digo coisas acidentalmente agradáveis para significar aquelas que atuam como um tratamento médico na realidade seu efeito curativo é produzido pela atuação da parte do corpo que permanece sadia e por isto se pensa que o próprio remédio é agradável digo coisas agradáveis por natureza para significar aquelas que estimulam a ação de uma natureza saudável Não existe coisa alguma que seja permanentemente agradável pois nossa natureza não é simples há em nós também outro elemento que nos torna perecíveis de tal forma que quando um dos elementos está em atividade sua atividade é contrária à natureza do outro e quando os dois elementos estão em eventual equilíbrio sua ação não parece nem penosa nem agradável de fato se a natureza das criaturas humanas fosse simples a mesma ação serlhesia sempre agradável É por isto que Deus sempre frui um prazer único e simples pois não há somente uma atividade de movimento existe também uma atividade de imobilidade e o prazer está principalmente na imobilidade Mas a mudança é doce em tudo segundo o poeta228 em decorrência de alguma perversão nossa porquanto da mesma forma que as pessoas pervertidas são mutáveis a natureza que necessita de mudança é pervertida por não ser simples nem boa Acabamos de discutir a continência e a incontinência e o prazer e o sofrimento e mostramos em relação a ambos os pares o sentido em que uma das duas disposições é boa e a outra é má Restanos falar da amizade THE BOW WOW THAT NEEPS ARDEN KILLER DOGS DO CMOVE AND IMPROVE ART LIVRO VIII 115 5 a 1 Depois do que já dissemos cabenos examinar a natureza da amizade pois ela é uma forma de excelência moral ou é concomitante com a excelência moral além de ser extremamente necessária na vida De fato ninguém deseja viver sem amigos mesmo dispondo de todos os outros bens achamos até que as pessoas ricas e as ocupantes de altos cargos e as detentoras do poder são as que mais necessitam de amigos realmente de que serve a prosperidade sem a oportunidade de fazer benefícios que se manifesta principalmente e em sua mais louvável forma em relaç1o aos amigos Ou então como pode a prosperidade ser protegida e preservada sem amigos Quanto maior ela for mais exposta estará aos risco E as pessoas pensam que na pobreza e em outros infortúnios os amigo são o único refúgio Os amigos também ajudam os jovens a evitar os erros e ajudam as pessoas idosas amparandoas em suas necessidades e suplemen tando sua capacidade de ação reduzida pela senilidade Além disso os amigos estimulam as pessoas na plenitude de suas forças à prática d ações nobilitantes quando dois vão juntos 229 pois com amigos as pessoas são mais capazes de pensar e de agir Ademais os progenitores parecem sentir uma afeição natural por sua prole e a prole pelos progenitores não somente entre as criaturas humanas mas também entre os pássaros e a maioria dos animais ela é sentida mutuamente pelas criaturas da mesma raça e especialmente pelas da raça humana razão pela qual louvamos as criaturas humanas que amam seus semelhantes Mesmo quando viajamos para outras terras podemos observar a exütência generalizada de urna afinidade e afeição naturais entre as pessoas A amizade parece também manter as cidades unidas e parece que os legisladores se preocupam mais com ela do que com a justiça efetivamen te a concórdia parece assemelharse à amizade e eles procuram assegurá la mais que tudo ao mesmo tempo que repelem tanto quanto possível o facciosismo que é a inimizade nas cidades Quando as pessoas são amigas não têm necessidade de justiça enquanto mesmo qtando são justas elas 154 1155 b Aristóteles necessitam da amizade considerase que a mais autêntica forma de justiça é uma disposição amistosa E a amizade não é somente necessária ela também é nobilitante pois louvamos as pessoas amigas de seus amigos e pensamos que uma das coisas mais nobilitantes é ter muitos amigos além disto há quem diga que a bondade e a amizade se encontram nas mesmas pessoas Mas não poucos aspectos da amizade são objeto de debates Alguns estudiosos do assunto definem a amizade como uma espécie de semelhan ça entre as pessoas e dizem que as pessoas semelhantes são amigas daí vêm os provérbios como o semelhante encontra seu semelhante2l 0 gralha para gralha e assim por diante outros dizem que todos são como oleiros diante de oleiros2l Outros tentam achar uma explicação mais profunda e mais física para este sentimento Eurípides por exemplo escrevem A terra seca ama a chuva e o divino céu pleno de chuva ama molhar a terra Herácleitos em contraste diz Os contrários andam juntosA mais bela harmonia é feita de tons diferentes e Tudo nasce do antagonismo m Outros sustentam um ponto de vista oposto a este principalmente Empédocles segundo o qual o semelhante busca o semelhante2l4 Podemos deixar de lado os problemas físicos pois eles não se enquadram na presente investigação examinemos os problemas relativos ao homem pertinentes ao caráter e aos sentimentos por exemplo se a amizade pode manifestarse entre quaisquer pessoas ou se pessoas más não podem ser amigas e se há uma única espécie de amizade ou mais de uma Os estudiosos que pensam que há somente uma forma de amizade porque ela admite uma graduação baseiamse em indícios inadequados pois mesmo as coisas de espécies diferentes admitem graduação Mas esta questão já foi discucida anteriormente2l4 2 A questão das várias espécies de amizade talvez possa ser es clarecida se antes chegarmos a conhecer o objeto do amor Parece que nem rodas as coisas são amadas mas somente aquelas que merecem ser amadas e estas são o que é bom ou agradável ou úcil parece porém que o útil é aquilo de que resulta algum bem ou prazer de tal forma que somente o bom e o agradável merecem ser amados como fins Que será que as pessoas amam aquilo que é realmente bom ou o que é bom para elas Às vezes estas duas coisas são antagônicas e o mesmo acontece em relação ao agradável Pensase que cada pessoa ama aquilo que é bom para ela e enquanto o que é realmente bom merece ser amado irrestritamente o que é bom apenas para uma determinada pessoa merece ser amado apenas por aquela pessoa mas cada pessoa ama nâo aquilo que é realmente bom para ela e sim o que lhe parece bom Esta circunstância porém não Ética a Nicômacos 155 fará diferença teremos simplesmente de dizer que isto é o que parece digno de ser amado Havendo então três motivos pelos quais as pessoas amamma palavra amizade não se aplica ao amor às coisas inanimadas já que neste caso não há reciprocidade de afeição e também não haverá o desejo pelo bem de um objeto por exemplo seria ridículo desejar o bem de uma garrafa de vinho no máximo desejaríamos que ela se conservasse bem para podermos têla conosco mas em relação a um amigo dizemos que devemos desejarlhe o que é bom por sua causa Entretanto àqueles que desejam o bem desta maneira atribuímos apenas boas intenções se o desejo não é correspondido quando há reciprocidade a boa intenção é a amizade Ou devemos acrescentar quando a boa vontade é conhecida por quem é objeto dela Com efeito muitas pessoas têm boa vontade para com outras que elas nunca viram mas que julgam 1156 a ser boas ou prestativas e uma destas pode retribuir este sentimento Estas pessoas parecem ter boa vontade recíproca mas como poderia alguém qualificálas de amigas se elas não conhecem seus sentimentos recíprocos Então para que as pessoas sejam amigas devese constatar que elas têm boa vontade recíproca e se desejam bem reciprocamente por uma das razões mencionadas 3 Estas razões diferem especificamente entre si e conseqüentemente as formas correspondentes de amor e amizade também diferem Há portanto três espécies de amizade em número igual às qualidades que merecem ser amadas já que uma afeição recíproca conhecida por ambas as partes pode basearse em cada uma das três qualidades e quando duas pessoas se amam elas desejam bem uma à outra referindose à qualidade que fundamenta a sua amizade Os amigos cuja afeição é baseada no interesse não amam um ao outro por si mesmos e sim por causa de algum proveito que obtêm um do outro O mesmo raciocínio se aplica àqueles que se amam por causa do prazer não é por seu caráter que gostamos das pessoas espirituosas mas porqu as achamos agradáveis Logo as pessoas que amam as outras por interesse amam por causa do que é bom para si mesmas e aquelas que anam por causa do prazer amam por causa do que lhes é agradável e não porque a outra pessoa é a pessoa que amam mas porque ela é útil ou agradável Sendo assim as amizades deste tipo são apenas acidentais pois não é por ser quem ela é que a pessoa é amada mas por proporcionar à outra gum proveito ou prazer Tais amizades se desfazem facilmente se as pessoas não permanecem como eram inicial mente pois se uma delas já não é agradável ou útil a outra cessa de amála E a utilidade não é uma qualidade permanente mas está sempre mudando Portanto desaparecido o motivo da amizade esta se desfaz uma vez que ela existe somente como um meio para chegar a um fim Este tipo de amizade parece existir principalmente entre pessoas idosas nesta idade as pessoas buscam não o agradável mas o útil e em 156 Aristóteles relação às pessoas que estão em sua plenitude ou aos jovens entre aquelas que buscam o proveito Tais pessoas não convivem muito tempo com as outras pois muitas vezes elas não se acham sequer mutuamente agradá veis e portanto não necessitam da convivência a não ser que ela seja mutuamente proveitosa pois as duas partes são agradáveis uma à outra somente enquanto elas alimentam reciprocamente esperanças de que alguma coisa boa lhes possa acontecer Entre estas amizades se incluem os laços d família e de hospitalidade Por outro lado o motivo da amizade entre os jovens parece ser o prazer pois eles vivem sob a influência das emoções e perseguem acima de tudo o que lhes é agradável e o que está presente mas seus prazeres mudam à medida que a idade aumenta É por isto que eles se tornam amigos e deixam de ser amigos rapidamente sua amizade muda com o objeto que acham agradável e tal prazer se altera rapidamente Os jovens também são amorosos pois a amizade por amor depende principalmente da emoção e aspira ao prazer é por isto que os jovens se apaixonam e cessam de amar rapidamente mudando com freqüência no mesmo dia Mas estas pessoas planejam passar juntas os seus dias e suas vidasm pois é assim que elas fruem a sua amizade A amizade perfeita é a existente entre as pessoas boas e semelhantes em termos de excelência moral neste caso cada uma das pessoas quer bem à outra de maneira idêntica porque a outra pessoa é 1156 b boa e elas são boas em si mesmas Então as pessoas que querem bem aos seus amigos por causa deles são amigas no sentido mais amplo pois querem bem por causa da própria natureza dos amigos e não por acidente logo sua amizade durará enquanto estas pessoas forem boas e ser bom é uma coisa duradoura Cada uma das pessoas oeste caso é boa irrestrita mente e boa em relação ao seu amigo pois as pessoas boas são boas irrestritamente e são reciprocamente úteis E por serem assim estas pessoas são também agradáveis pois as pessoas boas são agradáveis irrestritamente e são reciprocamente agradáveis já que para cada uma delas suas próprias ações e outras semelhantes às suas são um motivo de prazer e as ações das pessoas boas são idênticas ou parecidas Tal amizade é logicamente permanente já que ela combina em si mesma todas as qualidades que os amigos devem ter Toda amizade com efeito é baseada no bem ou no prazer irrestritamente ou em relação à pessoa que a sente e se alicerça em uma certa semelhança e todas as qualidades mencionadas convêm a uma amizade entre pessoas boas em decorrência da natureza dos próprios amigos pois no caso desta espécie de amizade as outras qualidades também236 são semelhantes em ambos os amigos e o que é irrestritamente bom é também irrestritamente agradável e estas qualida des são os principais objetos de afeição O amor e a amizade portanto ocorrem principalmente e em sua melhor forma entre tais pessoas Mas é natural que estas amizades sejam raras pois as pessoas deste tipo são poucas Ademais amizades desta espécie pressupõem tempo e intimidade Ética a Nicômacos 157 como diz a sabedoria popular não podemos conhecer as pessoas enquanto elas não tiverem consumido juntas o sal proverbial21 as pessoas também não poderão manter amizade umas com as outras ou ser realmente amigas enquanto cada uma das partes não houver demonstrado à outra que é digna de amizade e não lhe tiver conquistado a confiança As pessoas que iniciam rapidamente relações de amizade têm o desejo de tornarse amigas mas não serão amigas se ambas não forem dignas de amizade e reconhecerem este fato realmente um desejo de amizade pode manifes tarse instantaneamente mas a amizade não pode 4 Esta espécie de amizade então é perfeita relativamente à duração e a todos os outros aspectos e nela cada parte recebe da outra em todos os sentidos o mesmo que lhe dá ou algo muito parecido e é isto que deve ocorrer entre amigos A amizade por prazer tem alguma semalhança corri esta espécie pois pessoas boas também são reciprocameOte àgradáveis Acontece o mesmo em relação à amizade por interesse pois as pessoas boas também são reciprocamente úteis Nestes casos as amizades são mais duradouras quando os amigos obtêm as mesmas coisas uns dos outros o prazer por exemplo e não somente isto mas também da mesma fonte como acontece entre pessoas espirituosas e não como acontece entre amante e amado Estes com efeito não encontram prazer nas mesmas coisas mas um se deleita por estar vendo o seu amado e o outro por estar recebendo atenções de seu amante e quando acaba o viço da juventue a amizade às vezes também acaba pois uma das pessoas já não sente prazer 115 7 a em olhar para a outra e a outra já não recebe as atenções da primeira por outro lado muitos amantes são constantes se a intimidade os levou a amarem o caráter um do outro sendo ambos parecidos As pessoas porém que permutam não o prazer mas interesses em sua amizade são menos amigas de verdade e menos constantes As que são amigas por interesse separamse quando o proveito está acabando pois elas não eram amigas uma da outra e sim do proveito Então quando a amiú1de é por prazer ou por interesse mesmo duas pessoas más podem ser amigas ou então uma pessoa boa e outra má ou uma pessoa que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra de qualquer espécie mas pelo que são em si mesmas é óbvio que somente pessoas boas podem ser amigas Na verdade pessoas más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum proveito recíproco E somente a amizade entre pessoas boas é imune à calúnia pois nio é fácil dar crédito ao que diz qualquer um acerca de uma pessoa que foi posta à prova durante muito tempo por quem ouve as palavras caluniosas além disto é entre pessoas boas que encontramos a confiança o sentimento de que uma nunca fará mal à outra e tudo mais que se espera numa amizade sincera Nas outras espécies de amizade todavia rada existe que impeça o aparecimento de suspeitas 158 Aristóteles Com efeito as pessoas chamam de amizade até as relações cujo motivo é o interesse nesta acepção podese dizer que as cidades têm relações amistosas pois as alianças entre cidades parecem visar a vanta gens e aquelas em que as pessoas se amam por prazer nesta acepção as crianças também podem chamarse amigas Talvez devamos portanto chamar tais pessoas de amigas e dizer que há várias espécies de amizade primeiro e na acepção própria a existente entre pessoas que são amigas por serem boas e depois por analogia as outras espécies efetivamente é por causa de algo bom algo que tenha afinidade com aquilo que se encontra na verdadeira amizade que as pessoas no primeiro caso são amigas já que para os apreciadores do prazer até o agradável é bom Mas não é freqüente a compatibilização destas duas espécies de amizade nem as mesmas pessoas se tornam amigas por interesse ou com vistas ao prazer pois as coisas que combinam apenas acidentalmente não se coadunam com freqüência Já que a amizade se divide em duas espécies as pessoas más serão amigas por prazer ou por interesse porquanto se assemelham sob este aspecto as pessoas boas porém são amigas porque são como são isto é por causa de sua bondade Elas são portanto amigas irrestritamente ao passo que as outras são amigas acidentalmente e por analogia com as pessoas boas 5 Acontece no caso da amizade o mesmo que ocorre a respeito da excelência moral algumas pessoas são chamadas boas em relação a uma 115 7 b disposição de caráter e outras em relação a urna atividade As pessoas que vivem juntas fruem mutuamente a convivência e se beneficiam reciproca i mente mas quando estão adormecidas ou separadas não exercem as atividades características çia amizade embora sejam capazes de exercêlas a distância não desfaz absolutamente a amiade mas somente a atividade i Mas se a ausência é prolongada parece que ela provoca o esquecimento da amizade é por isto que se diz que muitas amizades são desfeitas pela f ausência 218 As pessoas idosas e acrimoniosas não parecem propensas à i amizade pois pouco há nelas de agradável e ninguém pode passar seus dias com pessoas cuja companhia é constrangedora ou não é agradável já que a natureza parece evitar mais que rudo o penoso e buscar o agradável Quando duas pessoas se apreciam mutuamente mas não vivem juntas parecem apenas bem dispostas urna para com a outra e não realmente amigas Efetivamente nada é mais característico dos amigos que o desejo de viver juntos as pessoas necessitadas desejam que os amigos as ajudem já que estão perto e até as mais prósperas desejam uma companhia na verdade estas são as últimas a optar por uma vida solitária mas as pessoas não podem conviver se não são mutuamente agradáveis e não apreciam as mesmas coisas como parece acontecer com os amigos que são compa nheiros 1158 a Ética a Nicômacos 159 A amizade mais sincera então é a que existe entre as pessoas boas como já dissemos muitas vezes m pois aquilo que é irrestritamente bom e agradável parece ser estimável e desejável e para cada pessoa o bom ou o agradável é aquilo que é bom ou agradável para ela e uma pessoa boa é desejável e estimável para outra pessoa boa por ambas estas razões Parece que o amor é uma emoção e a amizade é uma disposição do caráter de fato podese sentir amor também por coisas inanimadas mas o amor recíproco pressupõe escolha e a escolha cem origem numa disposição do caráter além disto desejamos bem às pessoas que amamos pelo que elas são e não em decorrência de um sentimento mas de uma disposição do caráter Gostando de um amigo as pessoas gostam do que é bom para si mesmas pois a pessoa boa tornandose amiga tornase um bem para seu amigo Cada uma das partes então ama o seu próprio bem e oferece à outra parte uma retribuição equivalente desejandolhe bem e proporcio nandolhe prazer A propósito dizse que a amizade é igualdade e ambas se encontram principalmente nas pessoas boas 6 A amizade aparece com menor freqüência entre as pessoas acrimoniosas e idosas porque elas são mal dispostas e menos propensas à sociabilidade enquanto a boa disposição e a sociabilidade são as principais características e causas da amizade É por isto que em contraste com os jovens que se tornam amigos rapidamente as pessoas idosas não se tornam as pessoas não se tornam amigas daquelas cuja companhia não lhes agrada acontece o mesmo com as pessoas acrimoniosas Mas tais pessoas demonstram boa vontade mutuamente pois se desejam bem e se ajudam em caso de necessidade dificilmente porém se pode chamálas de amigas porquanto elas não passam juntas os seus dias nem sentem prazer na convivência e estas circunstâncias são consideradas as características mais importantes da amizade Não se pode ser amigo de muitas pessoas no sentido de manter uma amizade do tipo pedeito com elas da mesma forma que não se pode amar muitas pessoas ao mesmc tempo o amor parece uma emoção exacerbada e é de sua natureza ser sentido somente em relação a uma pessoa e muitas pessoas não podem agradar facilmente à mesma pessoa ao mesmo tempo ou não podem sequer ser boas aos olhos desta pessoa Para uma amizade pedeita ambas as partes devem adquirir experiência recíproca e tornarse íntimas e isto é muito difícil Mas pelo prazer ou por interesse é possível que muitas pessoa sejam asradáveis a uma pois muitas pessoas são úteis e agradáveis e os benefícios que elas propiciam podem ser fruídos dentro de pouco tempo Destas duas espécies a que se baseia no prazer é mais parecida com a amizade quando ambas as partes obtêm reciprocamente os mesmos benefícios e se comprazem mutuamente ou com as mesmas coisas como nas amizades entre jovens nestas amizades com efeito encontrase mais a generosidade de sentimentos ao passo que a amizade 160 Aristóteles por interesse é para as pessoas merceoirias As pessoas sumamente felizes também não necessitam de amigos úteis mas necessitam de amigos qradiveis elas desejam conviver com aJsuém e embora possam suportar por um curto período de tempo coisas que causam sofrimento nenhuma delas poderia resistirlhes continuamente nem mesmo ao bem elas resistiriam sempre se este as fizesse sofrer é por isto que elas procuram amigos qradãveis Talvez elas devessem procurar amigos que sendo aradiveis também fossem bons pois assim eles teriam todas as caracte rísticas que os amigos devem ter Parece que os ocupantes de posições de mando têm amigos classificá veis em categorias diferentes algumas pessoas lhes são úteis e outras lhes são agradáveis mas raramente a mesma pessoa é ao mesmo tempo útil e agradável com efeito tais autoridades não procuram as pessoas cujo dom de agradar seja acompanhado pela excelência moral nem aquelas cuja utilidade se manifesta com vistas a objetivos nobilitantes quando estão interessadas em prazeres elas procuram as pessoas espirituosas e no outro caso elas escolhem pessoas capazes de cumprir habilmente as ordens recebidas mas o dom de proporcionar prazer e a capacidade de bem cumprir ordens raramente se encontram na mesma pessoa Já dissemos que as pessoas boas são ao mesmo tempo agradáveis e úteis240 mas não se tornam amigas de pessoas superiores a elas quanto à posição a não ser que também lhes sejam superiores em excelência moral se não fosse assim não se estabeleceria a igualdade já que uma pessoa seria duplamente superior à outra Mas não é fácil encontrar autoridades superiores aos amigos em ambos os aspectos Seja como for as amizades recémmencionadas pressupõem igualda de efetivamentP ambas as partes obtêm os mesmos benefícios e cada uma delas deseja da outra o mesmo bem que lhe concede ou permuta uma coisa por outra por exemplo o prazer por um benefício já dissemos241 entretanto que tais amizades são menos sinceras e menos duradouras mas é por sua similitude ou dissimilaridade em relação à mesma coisa que se 1158 b julga se elas são ou não são amizades É por sua semelhança em relação à amizade conforme à excelência moral que elas parecem ser espécies de amizade com efeito uma delas pressupõe prazer e a outra interesse e estas características também convêm à amizade conforme à excelência moral mas é porque a amizade conforme à excelência moral é à prova de calúnias e é duradoura enquanto as outras espécies de amizade mudam rapidamente além de diferirem da primeira em muitos aspectos que elas não parecem constituir espécies verdadeiras de amizade ou seja por causa de sua dissimilaridade com a amizade conforme à excelência moral 1159 a ttica a Nicômacos 161 7 Mas há outra espécie de amizade na qual existe superioridade dt uma das panes por exemplo a amizade entre pai e filho e em geral a amizade entre as pessoas idosas e as pessoas jovens e a amizade entre mando e mulher e em geral entre quem manda e quem obedece Estas espécies de amizade diferem também entre si realmente a amizade entre pai e filho e a amizade entre quem manda e quem obedece não são da mesma espécie tampouco a existente entre pai e filho e a existente entre filho e pai são idênticas nem a existente entre marido e mulher é idêntica à exisrence entre mulher e marido As formas de excelência moral implícitas nestas espécies e suas respectivas funções são diferentes do mesmo modo que são diferentes as razões pelas quais as várias pessoas envolvidas são amigas Nestas diferentes espécies de amizade então os benefícios que cada parre recebe e pode pretender da outra não são os mesmos da outra quando os filhos dão aos pais aquilo que devem dar a quem lhes proporcionou a existência e os pais dão o que devem dar aos seus filhos a amizade entre tais pessoas é duradoura e eqüitativa Em todas as espécies de amizade nas quais está implícita a desigualdade o amor também deve ser proporcional isto é o amor que a parte melhor recebe deve ser maior que o amor que ela dá e portanto ela deve ser mais útil ocorre o mesmo em relação a cada um dos outros casos pois quando o amor é proporcional ao merecimento das partes configurase de certo modo a igualdade2 que é considerad t um componente essencial da amizade Mas a igualdade não aparece sob a mesma forma na esfera de aç o da justiça e na amizade com efeito na esfera da justiça o que é iguel no sentido primordial é aquilo que é proporcional ao merecimento enquanto a igualdade quantitativa é secundária mas na amizade a igualade quantitativa é primordial e a proporcionalidade ao merecimenro é secundária Esta afirmação se torna mais evidente quando há um grmde desequilíbrio entre as partes em relação à excelência moral ou à deficifncia moral ou à riqueza ou a qualquer outra coisa nestas condições elas já não são amigas e nem sequer esperam sêlo Esta circunstância é mais evidente no caso dos deuses pois eles nos superam da maneira mais cacegóric em tudo Mas isto é igualmente claro no caso dos reis em relação a eles também os homens que lhes são mais acentuadamente inferiores não esperam ser seus amigos tampouco os homens sem qualquer nlor esperam ser amigos das pessoas melhores e mais sábias Em cais casos não é possível definir exatamente até que ponto as pessoas podem permanecer amigas pois embora possam faltar muitas coisas a amizade pode continuar mas quando uma das panes se distancia excessivamente da outra cJmo acontece com os deuses já não pode haver amizade Isto nos leva a perguntar se desejamos realmente os maiores bens aos nossos amigos por exemplo que eles sejam deuses pois neste caso já não seríamos seus amigos e portanto não seríamos um bem para eles com efeito os amigos são um bem A resposta seria que se estávamos cercos ao dizer que um 162 1159 b Aristóteles amigo deseja bem ao amigo por causa deste24l seu amigo deveria continuar a ser a mesma criatura que é independentemente do que ela viesse a ser porranto é somente ao amigo enquanto ele for um ser humano que desejaremos os maiores bens Mas talvez não lhe desejemos todos os bens maiores pois cada pessoa deseja o bem principalmente a si mesma 8 A maioria das pessoas por causa de sua ambição parece que prefere ser amada a amar e é por isto que a maioria gosta de ser adulada efetivamente o adulador é um amigo de qualidade inferior ou que tem a pretensão de ser amigo e quer estimar mais do que ser estimado ser estimado é quase a mesma coisa que receber honrarias e é a estas que a maioria das pessoas aspira Mas parece que a maioria das pessoas escolhe as honrarias não por si mesmas e sim acidentalmente Tais pessoas gostam de ser distinguidas pelos detentores do poder embaladas por suas esperanças elas pensam que se necessitarem de alguma coisa a obterão destas autoridades e por isto se regozijam com as honrarias como um prenúncio de favores futuros ao contrário as pessoas que desejam honrarias vindas de homens bons e de homens que sabem têm o objetivo de confirmar sua própria opinião sobre si mesmas elas se regozijam com honrarias portanto porque crêem em sua própria bondade e na capacida de de julgamento de quem lhes faz elogios Por outro lado as pessoas se regozijam pelo fato de ser amadas em decorrência de seus próprios méritos por isto ser amado parece melhor do que receber honrarias e a amizade parece desejável por si mesma Mas a amizade parece consistir mais em amar do que em ser amado e a prova disto é o enlevo que as mães sentem em sua amizade pelos filhos de fato algumas mães confiam seus filhos a amas para ser criados e embora sabendo onde eles estão e amandoos elas não procuram ser amadas em retribuição se não podem amar e ser amadas ao mesmo tempo elas parecem satisfeitas vendo os filhos crescerem em boas condições e os amam mesmo que eles por ignorar quem é a sua mãe nada lhes dêem do que é devido às mães Já que a amizade depende mais de amar do que de ser amado e são as pessoas que amam seus amigos que são louvadas amar parece ser uma característi ca da excelência moral dos amigos de tal forma que somente as pessoas em que tal característica está presente na medida certa são amigas constantes e somente sua amizade é duradoura É desta maneira mais que de qualquer outra que até pessoas desiguais podem ser amigas pois assim elas podem ser igualizadas A amizade com efeito pressupõe igualdade e semelhança244 especialmente a semelhança daquelas pessoas que se assemelham em excelência moral sendo constan tes em si mesmas elas são reciprocamente constantes e nem pedem nem prestam serviços degradantes ao contrário podese dizer que uma afasta a outra do mal pois não errar e não deixar que seus amigos errem é uma 1160 a Ética a Nicômacos 163 característica das pessoas boas Mas as pessoas moralmente deficientes não têm constância na realidade elas não permanecem sequer semelhantes a si mesmas sua amizade é efêmera porque elas se comprazem mutuamen te em sua deficiência moral A amizade entre amigos úteis e agradáveis dura mais ou seja dura enquanto os amigos se proporcionam mutuamen te prazeres ou vantagens A amizade por interesse parece a mais fácil de existir enue pessoas de condições contrárias por exemplo entre uma pessoa pobre e outra rica ou entre uma pessoa ignorante e outra culta pois as pessoas almejam efetivamente aquilo que lhes falta e se dispõem a dar alguma coisa em retribuição Também se pode incluir nesta classe a amizade entre a pessoa que ama e a que é amada e entre uma pessoa bela e uma feia É por isto que os amantes às vezes parecem ridículos quando pedem para ser amados tanto quanto amam se se trata de pessoas igualmente dignas de ser amadas sua pretensão talvez possa justificarse mas se elas nãotêm atrativo algum parecem ridículas Talvez as pessoas de condições contrárias nem sequer se desejem por sua própria natureza mas apenas acidentalmente já que o desejo é pelo meio termo de fato bom é o meio termo ou seja o bom para o seco não é tornarse molhado demais20 e sim ficar no estado intermediário e o mesmo acontece com o quente e com todos os outros estados Mas deixemos estas questões de lado pois elas são de cerro modo estranhas à nossa investigação 9 Como dissemos no início46 a amizade e a justiça parecem re lacionarse com os mesmos objetos e manifestarse entre as mesmas pessoas Realmente parece que em todas as formas de associação encontramos alguma forma peculiar de justiça e também de amizade nota se pelo menos que as pessoas se dirigem como amigas aos seus companheiros de viagem e aos seus camaradas de serviço militar tanto quanto aos seus parceiros em qualquer outra espécie de associação Mas a extensão de sua amizade é limitada ao âmbito de sua associação da mesma forma que a extensão da existência da justiça entre tais pessoas O provérbio os bens dos amigos são comuns é a expressão da verdade pois a amizade depende da participação Os irmãos e os membros de uma confraria têm tudo em comum mas as outras pessoas às quais nos referimos têm somente certas coisas em comum algumas mais outras menos pois nas amizades também há maior ou menor intensidade As reivindicações de justiça em relação à amizade também diferem os deres dos pais para com os filhos e os dos irmãos entre si não são idênticos nem aqueles dos membros de uma confraria e os dos cidadãos em geral e da mesma forma com as demais espécies de amizade Também há uma diferença portanto entre os atos que são injustos em relação a cada uma destas classes de parceiros e a injustiça é mais grave quando é praticada em relação àqueles que são amigos num sentido mais amplo por exemplo é mais grave lesar um companheiro de confraria do que um cidadão qualquer é mais grave não ajudar um irmão que um estranho é 164 1160 b Aristóteles mais grave ferir um pai que qualquer outra pessoa As reivindicações de justiça também parecem aumentar com a intensidade da amizade e isto significa que a amizade e a justiça existem entre as mesmas pessoas e têm uma extensão igual Todas as formas de assoc1açao são como se fossem partes da comunidade política efetivamente os homens empreendem uma viagem juntos com o intuito de obter alguma vantagem e de obter alguma coisa de que necessitam para viver e é com vistas a vantagens para seus membros que a comunidade política parece terse organizado originariamente e ter se perpetuado pois o objetivo dos legisladores é o bem da comunidade e eles qualificam de justo aquilo que é reciprocamente vantajoso As outras formas de associação visam a vantagens parciais os marinheiros visam ao que é vantajoso numa viagem em termos de ganhar dinheiro ou obter algo do mesmo gênero os soldados visam ao que é vantajoso na guerra quer se trate de riquezas resultantes de saques quer de vitórias ou da captura de uma cidade que desejam ocupar e os membros das tribos e dos povoados agem de maneira idêntica algumas associações parecem originarse com o objetivo de proporcionar satisfação aos seus membros por exemplo as associações para fins religiosos e para repastos coletivos que existem respectivamente para a realização de festas dedicadas aos deuses e para a convivência sociaJ24 mas todas elas parecem subordinarse à comunidade política pois aparentemente não visam a vantagens temporárias mas ao que é vantajoso para a vida como um todo oferecendo sacrifícios e promovendo reuniões relacionadas com os mesmos cultuando os deuses e proporcionando entretenimento aos seus componentes A propósito parece que as antigas cerimônias religiosas e reuniões se realizavam depois da colheita como se se tratasse de uma oferenda de primícias pois aquela era a época do ano em que as pessoas podiam dedicarse mais ao lazer Todas as formas de associação portanto parecem constituir partes da comunidade política e as espécies particulares de amizade correspondem às espécies particulares de associações em que elas se originam 10241 Há três formas de governo e um número igual de desvios ou perversões por assim dizer destas formas Elas são a monarquia a aristocracia e em terceiro lugar aque se baseia na qualificação pelos bens possuídos que parece adequado chamar de timocracia embora a maioria das pessoas lhe dê o nome de governo constitucional A melhor delas é a monarquia e a pior é a timocracia O desvio da monarquia é a tirania ambas são formas de governo de um único homem mas há uma enorme diferença entre elas pois o tirano visa à sua própria vantagem enquanto o rei visa à vantagem de seus súditos Um governante não é um rei se não se basta a si mesmo e se não sobrepuja seus súditos em relação a todos os bens e um homem desta espécie não necessita de coisa alguma portanto ttica a N icômacos 165 ele não terá em vista seus próprios interesses e sim os de seus súdttos pois um rei que não for assim será como llm rei escolhido por sorteio249 Quanto à tirania ela é exatamente o contrário disto o tirano cuida apenas de seu próprio bem É claro que a tirania é o pior desvio em relaçiío à monarquia Mas o pior é o contrário do melhor A monarquia degenera em tirania pois esta é a espécie má do governo de um único homen e o mau rei se torna um tirano A aristocracia degenera em oligarquia pela maldade dos governantes que distribuem contrariamente à eqüidade os bens da cidade todas as boas coisas ou a sua maior parte ficam para os próprios governantes e as funções de governo são atribuídas sempre às mesmas pessoas dandose importância preponderante à riqueza desta forma os governantes são poucos e maus em vez de serem os melhores entre todos os homens A timocracia degenera em democracia estas duas formas de governo têm afinidades pois o ideal da timocracia é ser um governo da maioria e todos os cidadãos qualificados pelos bens possuídos são considerados iguais De todos os desvios a democracia é o menos mau pois no seu caso a nova forma de governo é apenas um ligeiro desvio da forma primitiva São estas as mudanças mais freqüentes nas formas de governo porque tais mudanças são as transições menos acentuadas e mais fáceis Alguém pode achar semelhanças e por assim dizer modelos das várias formas de governo na própria estrutura familiar Realmente a associação de um pai com seus filhos apresenta a forma da monarquia porquanto o pai cuida de seus filhos é por isto que Homero chama Zeus de pai li O ideal da monarquia é ser um governo paternal mas entre os persas a autoridade de um pai é tirânica pois eles se servem de seus filhos como de escravos A autoridade de um senhor sobre seus escravos também é tirânica pois neste caso o objetivo da associação é a vantagem do senhor Então esta parece ser uma forma correta de autoridade mas o tipo persa é degenerado pois os modos de exercício da autoridade apropriados a relações diferentes são também diferentes A associação de marido e mulher parece aristocrática pois o marido exerce a autoridade com fundamento em seu mérito e nos assuntos em quecPm homem deve ter autoridade mas os assuntos pertinentes a uma mulher ele entrega t sua mulher Se o marido exerce autoridade em todos os assuntos a relação passa a ser uma oligarquia pois procedendo assim ele não está agindo com fundamento em seu mérito e não está governando por causa d sua superioridade Às vezes porém as mulheres exercem a autoridade 1161 a quando são herdeiras neste caso sua autoridade não é exercida em função de sua excelência moral mas por causa da riqueza ou da ascendência como acontece nas oligarquias A associação de irmãos é como se f asse uma timocracia pois eles são iguais à exceção da diferença de idade entretanto se a diferença de idade é excessiva entre os irmãos a amizade entre eles já não é do tipo fraternal A democracia aparece principalmente 166 Aristóteles nas fanu1ias sem um chefe nestas todos os membros são iguais e naquelas cujo chefe é fraco e onde cada membro age como lhe apraz 11 Em cada uma destas formas de governo parece existir amizade entre governantes e governados na mesma proporção em que existe justiça A amizade entre um rei e seus súditos depende do vulto dos benefícios feitos pois um rei faz bem aos seus súditos se sendo um homem bom ele cuida dos súditos visando ao bem desces como um pastor faz com seu rebanho por isto Homero chamou Agamêmnon pastor de povosmA amizade paterna também é deste gênero embora ela exceda a outra no vulto dos benefícios feitos o pai é responsável pela existência de seus filhos o que se considera o maior de todos os bens e por sua subsistência e educação Estas incumbências também são atribuí das aos ancestraism Além disto um pai tende naturalmente a exercer a autoridade sobre seus filhos os ancestrais sobre seus descendentes e um rei sobre seus súditos Estas espécies de amizade pressupõem superiorida de de uma das partes sobre a outra e é por isto que os ancestrais são distinguidos Portanto a justiça existente entre pessoas relacionadas umas com as outras desta maneira não é a mesma para ambos os lados mas em cada caso ela é proporcional ao mérito isto também é verdadeiro em relação à amizade A amizade entre o marido e a mulher por seu turno é da mesma espécie da que se manifesta na aristocracia ela é conforme à excelência os melhores obtêm um quinhão maior daquilo que é bom e cada um obtém aquilo que merece o mesmo se aplica à justiça nestas relações A amizade entre irmãos é semelhante à existente entre os membros de uma confraria pois eles são iguais e estão na mesma faixa etária e tais pessoas são em sua maior parte semelhantes em seus sentimentos e em seu caráter A amizade consentânea com o governo timocrático também é parecida com esta pois em tal forma de governo o ideal é que os cidadãos sejam iguais e eqüitativos por via de conseqüência o governo é exercido alternadamente e em condições iguais a amizade neste caso também será fundada na igualdade Mas nas formas degeneradas de governo a amizade tanto quanto a justiça praticamente não existe e ela existe ainda menos na pior das formas de governo a tirania onde há um mínimo de amizade ou mesmo nenhuma entre governante e governados Numa forma de governo na qual os que mandam e os que obedecem nada têm em comum não há tampouco amizade já que não há justiça é como na relação entre o arcífice e a ferramenta entre a alma e o corpo entre o senhor e o escravo o segundo elemento em cada par é beneficiado por aquele que o usa mas não há amiade e justiç em relação a coisas inanimadas Tampouco existe amizade em relação a um cavalo ou a um boi ou a um escravo enquanto escravo pois as duas partes nada tm em comum o escravo é uma Ética a Nicômacos 167 ferramenta viva e a ferramenta é um escravo sem vida Não pode portanto haver amizade em relação a um escravo enquanto escravo embora possa haver amizade em relação a um escravo como criarura humana de fato parece haver lugar para alguma justiça nas relações entre uma pessoa livre e qualquer outro ser humano desde que este último possa participar do sistema legal e ser parte em um contrato logo pode haver também amizade em relação a um escravo em sua qualidade de ser humano Conseqüentemente mesmo nas tiranias há uma margem mínima para a 1161 b amizade e a justiça mas nas democracias estas existem com intensidade muito maior pois onde os cidadãos são iguais eles têm muitas coisas em comum 12 Em cada forma de amizade então está impücita uma forma de associação como já dissemosm Podese pôr de lado todavia a amizade entre parentes e entre membros de uma confraria A amizade entre concidadãos membros da mesma tribo companheiros de viagem e outras do mesmo gênero se assemelham mais a meras formas de amizade dentro de associações pois elas parecem basearse em uma espécie de pacto Juntamente com estas últimas formas de amizade podemos classificar a amizade nas relações de hospitalidade A própria amizade entre parentes embora seja à primeira vista de muitas espécies parece ser em todos os casos uma projeção da amizade dos progenitores porquanto os pais amam seus filhos como sendo uma parte de si mesmos e os filhos amam seus pais porque se originaram deles Os pais também conhecem sua prole com certeza maior que a dos filhos quanto aos seus pais e os progenitores sentem que a prole é sua com certeza maior do que a da prole quanto à identidade de seus progenitores com efeito o produto pertence ao produtor por exemplo um dente ou o cabelo é da pessoa à qual ele pertence mas o produtor não pertence ao produto ou pertence em grau menor E a afeição dos pais também excede a de seus filhos em duração já que os pais amam seus filhos desde o momento em que estes nascem mas os filhos começam a amar seus pais somente após um certo lapso de tempo e depois de terem adquirido conhecimento ou no mínimo capacidade de percepção através dos sentidos Estas considerações evidenciam também a razão pela qual o amor das mães por seus filhos é maior que o dos pais Os pais portanto amam seus filhos como a si mesmos pelo fato de terem adquirido uma existência separada da existência dos pais os filhos são uma espécie de nova encarnação dos pais enquanto os filhos amam seus pais por terem nascido deles e os irmãos se amam por terem nascido dos mesmos pais pois sua identidade com os pais os torna idênticos entre si é por isto que se fala em ser do mesmo sangue da mesma cepa etc Os irmãos são portanto de certo modo o mesmo ser embora em indivíduos separados Mas a amizade entre irmãos é grandemente fomentada por sua criação em 168 Aristóteles comum e pela similaridade de idade dois da mesma idade concordam e pessoas criadas juntas tendem a ser companheiras por isto a amizade de irmãos tem afinidades com a de companheiros Os primos e outros parentes são ligados entre si por descenderem de irmãos ou seja por descenderem dos mesmos ancestrais eles se tornam mais ou menos ligados conforme a proximidade ou distância de seus ancestrais comuns A amizade dos filhos para com os pais como a devoção dos homens pelos deuses é a amizade por aquilo que é bom e superior pois os pais proporcionam os maiores benefícios aos filhos sendo os responsáveis por sua existência e por sua subsistência bem como por sua educação desde o nascimento este tipo de amizade também proporciona prazer e benefí cios mais do que a de estranhos já que neste caso as pessoas vivem mais 1162 a em comum A amizade entre irmãos tem as características que se observam também na amizade entre companheiros especialmente quando estes são bons e de um modo geral na amizade entre pessoas semelhantes entre si principalmente porque há maior compatibilidade entre irmãos e porque eles começam a amarse praticamente desde o nascimento e ainda porque há maior afinidade de caráter entre as pessoas nascidas dos mesmos progenitores e criadas juntas e educadas de maneira idêntica além disto elas foram submetidas durante um período mais longo e mais intensamente à prova do tempo Entre outros parentes as relações de amizade variam proporcional mente à proximidade do parentesco 2 A amizade entre marido e mulher parece existir por natureza de fato o homem é naturalmente propenso a acasalarse mais ainda do que a constituir cidades porque o lar preexiste à cidade e é mais necessário que ela e o instinto de procriação é comum ao homem e aos animais irracionais com maior intensidade que os outros No caso dos outros animais a união se estende somente até a procriação mJs os seres humanos vivem juntos não apenas por causa da procriação mas também para prover às várias necessidades da vida desde o início m as funções são divididas e as do homem e da mulher são diferentes desta forma eles se ajudam mutuamente pondo seus dons particulares num fundo comum E por isso que tanto a utilidade quanto o prazer parecem estar presentes nesta espécie de amizade Mas esta amizade pode fundarse também na excelência moral se as duas partes são boas pois cada uma delas tem sua própria forma de excelência moral e isto pode contribuir para a satisfação de ambas Os filhos podem ser um bom vínculo entre marido e mulher tanto é assim que os casais sem filhos se separam com maior facilidade na verdade os filhos são um bem comum a ambas as partes e o que lhes é comum as mantém juntas A questão de saber como o marido e a mulher e de um modo geral os amigos devem tratarse reciprocamente parece ser nada mais nada menos que a de saber como eles devem tratarse para serem reciprocamente Ética a Nicômacos 169 justos de fato os deveres não parecem ser os mesmos nas relações entre amigos entre estranhos entre companheiros e entre condiscípulos 13 Há três espécies de amizade como dissemos de início m e em relação a cada uma delas algumas pessoas são amigas em igualdade de condições e em outras são amigas numa situação de superioridade de uma das partes em relação à outra pois não são apenas as pessoas igualmente boas que podem ser amigas mas uma pessoa melhor pode ser amiga de uma pior da mesma forma nas amizades por prazer ou por interesse os amigos paJem ser iguais ou desiguais nos benefícios que se proporcionam sendo assim as pessoas iguais devem efetuar a necessária igualização dos benefícios numa base de igualdade no amor e em tudo mais enquanto no caso de pessoas desiguais a parte inferior deve oferecer uma retribuição propor 1162 b cional à superioridade da outra pane Queixas e recriminações aparecem somente ou principalmente na amizade por interesse e com boas razões com efeito as pessoas amigas com base na excelência moral mostramse ansiosas por fazer bem umas às outras isto é característico tant da excelência moral quanto da amizade e entre pessoas que se emulam reciprocamente neste procedimento não pode haver queixas ou querelas pessoa alguma é ofendida por outra que a ama e lhe faz bem ao contrário a vingança de uma pessoa de bons sentimentos é fazer bem à outra Uma pessoa que supera outra nos benefícios que lhe proporciona não se queixará de seu amigo já que obtém aquilo que deseja e o que todas as pessoas desejam é o bem As queixas rião aparecem com freqüência nas amizades por prazer pois ambas as partes obtêm simHlta neamente aquilo que desejam se lhes é agradável passar o seu tempo juntas e neste caso uma pessoa que se queixasse de que a outra não lhe proporciona prazer pareceria até ridícula pois ela não é obrigada a passar os seus dias com a outra Mas a amizade por interesse dá sempre margem a queixas efetivanen te como as pessoas neste caso se aproximam visando aos seus próprios interesses elas querem senpre obter vantagens maiores e sempre pen am que estão obtendo menos do que aquilo que lhes é devido elas censuram os seus parceiros alegando que não obtêm tudo que querem e merecem e a pane que neste caso está fazendo bem à outra não é capaz de fazer wnto quanto a parte beneficiada deseja Aparentemente da mesma forma que há duas espécies de justiça uma nãoescrita e outra definida por lei a amizade por interesse pode ter fundamentos morais ou legais Por isto as queixas aparecem princi pai mente quando as pessoas não desfazem a ligação dentro do espírito do mesmo tipo de amizade que prevalecia na época em que elas a iniciaram O tipo legal é o estabelecido mediante condições prédeteralinadas m sua variante puramente comercial se baseia na retribuição imediata enquanto 170 1163 a Aristóteles a variante mais liberal prevê uma tolerância quanto ao prazo para a retribuição mas estipula as obrigações recíprocas de maneira bem definida Nesta variante as obrigações são claras e sem ambigüidades mas a tolerância lhes dá um caráter amistoso e por isto em algumas cidades não são permitidas ações judiciais com fundamento em tais acordos pois se pensa que as pessoas que chegam a um acordo na base da confiança recíproca devem arcar com as conseqüências O tipo moral não estipula condições predeterminadas os presentes são dados ou os serviços são prestados como se fossem a um amigo embora a pessoa que dá espere uma retribuição equivalente ou ainda maior como se não se tratasse de um presente e sim de um empréstimo se no momento em que a ligação for desfeita a pessoa que deu estiver numa situação pior do que quando ela foi iniciada a pessoa que deu se queixará Isto acontece porque todos os homens ou a sua maioria desejam o que é nobilitante mas escolhem o que é vantajoso ao passo que é nobilitante fazer bem sem esperar retribuição mas a vantagem está em receber os benefícios Cumpre portanto se for possível oferecer uma retribuição equivalen te ao que se recebe pois não é desejável a amizade de uma pessoa que não está propensa a retribuir favores num caso como este devemos reconhe cer que estávamos enganados de início e que recebemos um benefício de uma pessoa de quem não deveríamos têlo aceito já que ela não era amiga nem de uma pessoa que o fez apenas por agir assim e devemos encerrar a ligação como se tivéssemos sido beneficiados mediante condições preesta belecidas De fato deveríamos concordar em retribuir de acordo com as condições preestabelecidas se pudéssemos se não pudéssemos a própria pessoa que nos concedeu o benefício não contaria com a retribuição logo se for possível deveremos retribuir Mas desde o início temos de estudar a pessoa pela qual estamos sendo beneficiados e em que condições ela está agindo a fim de vermos se podemos aceitar o benefício mediante tais condições ou se seria preferível recusálo Discutese se devemos medir um benefício por sua utilidade para quem o recebe e fazer a retribuição tendo em vista esta circunstância ou se devemos medilo pela beneficência de quem o faz Com efeito as pessoas que recebem o benefício dizem que receberam de seus benfeito res algo que pouco custou a estes e que elas poderiam ter recebido de outrem minimizando assim o benefício ao contrário a pessoa que faz o benefício diz que este é o máximo que ela podia fazer e que o beneficiário não poderia têlo obtido de outrem e que o benefício foi feito em uma ocasião de perigo ou em ouua emergência semelhante Então se a amizade é daquelas que visam ao interesse seguramente a vantagem para o beneficiário é a medida Com efeito é a pessoa interessada no benefício que o pleiteia e a outra a ajuda na presunção de que irá receber uma 1163 b Ética a Nicômacos 171 retribuição equivalente logo a assistência terá sido exatamente tão grande quanto a vantagem do beneficiário e portanto sua retribuição deverá ser tão grande quanto aquilo que ele recebeu ou ainda maior isto seria mais nobilitante Por outro lado nas amizades alicerçadas na excelência moral não sobrevêm queixas a medida do benefício parece ser a intenção de quem o faz já que o fator predominante na excelência moral e no caráter é a intenção 14 Também ocorrem divergências nas amizades baseadas na superiorida de de uma das partes em relação à outra cada parte espera obter nelas mais que a outra mas quando isto acontece a amizade se desfaz Não somente a pessoa melhor pensa que deve obter mais já que deve ser atribuído mais a uma pessoa boa como a pessoa mais útil espera o mesmo esta útlima diz que uma pessoa inútil não deve obter tanto quanto a útil pois estaríamos diante de um ato de caridade se aquilo que uma pessoa recebe pelos benefícios feitos não corrtsponde ao valor de tais benefícios De fato pensase que deveria acontecer na amizade o mesmo que ocorre numa parcería comercial onde aqueles que entram com mais dinheiro devem sair com mais lucro Mas as pessoas inferiores ou necessitadas têm pretensões opostas a estas elas pensam que compete a um bom amigo ajudar os amigos necessitados de que vale sermos amigos de uma pessoa boa ou poderosa dizem elas se nada obtemos com isto Parece então que cada parte está certa quanto às suas pretensões e que cada uma deve obter mais em função da amizade do que a outra mas não mais da mesma coisa a pessoa superior deve obter mais honrarias e a inferior mais proveito pois as honrarias são o prêmio da excelência moral e da beneficência enquanto o proveito é a recompensa da inferioridade Parece acontecer o mesmo também na vida pública as pessoas que não contribuem com qualquer coisa boa para o bem da comunidade não são distinguidas com honrarias pois o que é da alçada da comunidade é dado às pessoas que a beneficiam e as honrarias são da alçada da comunidade Não é possível obter da comunidade ao mesmo tempo riqueza e honrarias pois ninguém se contenta em obter o menor quinhão de tudo portanto às pessoas que perdem em termos de riqueza são atribuídas honrarias e às que estão ansiosas por ganhar dinheiro é oferecido o dinheiro já que a proporcionalidade em relação ao mérito igualiza as partes e preserva a amizade como clissemos Este princípio deve regular também as relações entre amigos desi guais o amigo beneficiado a respeito de riqueza ou excelência moral deve retribuir com honrarias concedendo todas as que puder Com efeito a amizade exige das pessoas que façam tudo que podem e não apenas o que devem nem sempre isto pode ser feito por exemplo no caso da reverência para com os deuses ou os pais pois ninguém poderia jamais 172 Aristóteles oferecerlhes uma retribuição equivalente ao que obteve mas as pessoas que lhes dispensam toda a reverência ao seu alcance são consideradas boas Por isto parece que nunca deveria ser permitido ao filho destituir o pai de seus bens embora o pai possa deserdar o filho sendo devedor o filho deveria pagar mas nada que um filho possa pagar será suficiente para retribuir o que recebeu do pai de tal forma que ele estará sempre em débito mas os credores podem considerar um débito quitado e portanto o pai também pode fazêlo Ao mesmo tempo se pensa que presumivel mente nenhum pai repudiaria um filho a não ser no caso de extrema deficiência moral do último realmente pondo de lado a afeição dos pais para com os filhos não é condizente com a natureza humana rejeitar a assistência de um filho Mas o filho se for moralmente deficiente omitir seá naturalmente em relação ao dever de prestar assistência ao seu pai ou pelo menos não demonstrará grande empenho em prestála pois as pessoas em sua maioria desejam receber benefícios mas se abstêm de fazêlos por considerarem que fazêlos não lhes traz proveito Mas já dissemos o bastante a propósito destas questões LIVRO IX I Em todas as espécies de amizade entre pessoas diferentes é o princípio da proporcionalidade como dissemosm que igualiza as partes e preserva a amizade na forma política de amizade260 por exemplo o sapateiro obtém pelos sapatos que faz uma retribuição proporcional ao valor de eu trabalho e o mesmo princípio se aplica ao tecelão e a todos os artesão de um modo geral Para este fim foi instituída uma medida universal que é a dinheiro e portanto tudo é referido ao dinheiro e medido em relação a ele Mas na amizade amorosa o amante às vezes se queixa de que seu ar10r excessivo não é retribuído na mesma proporção embora talvez nada laja no amante que inspire amor enquanto muitas vezes a pessoa amada se queixa de que o amor que de início prometia tudo agora não cumpre uma sequer de suas promessas Estes queixumes ocorrem quando o amante ama a pessoa amada visando ao prazer ou por interesse e quando amlos 1164 a não possuem as qualidades que seriam de esperar deles Se o prazer e o interesse são os objetos da amizade ela se desfaz quando os amante já não conseguem obter aquilo que constituía a motivação de seu amor PJis cada um deles não amava e outra pessoa em si mas as qualidades que esta possuía e tais qualidades não eram duradouras É por isto que es cas espécies de amizade são efêmeras Mas a amizade fundada no caráter las pessoas como já dissemos26 é duradoura porque nela as pessoas se am1m pelo que elas são Também surgem divergências quando os amantes obtm algo diferente e não o que desejam porque quando não obtemos o cue desejamos é como se nada obtivéssemos um exemplo disto é a história da pessoa que fez promessas a um citarista dizendo que quanto melhor de tocasse o seu instrumento mais ela lhe pagaria mas na manhã seguinte quando o citarista pediu o cumprimento da promessa a pessoa disse qut já havia pago o prazer que teve com o prazer que proporcionou262 Ora se este fosse o desejo de cada uma das partes estaria tudo bem se uma dellS todavia desejava prazer mas a outra desejava dinheiro e uma obtivess o que desejava porém a outra não as condições do relacionamento entre as 174 Aristóteles partes não teriam sido cumpridas adequadamente com efeito cada uma das partes quer aquilo que espera obter e é por causa disto que a outra parte dá o que rem Mas quem determina o valor do serviço prestado a parte que presta primeiro o serviço ou a que obtém a vantagem Parece que a primeira deixa a decisão à outra Segundo dizem era isto que Prorágoras 263 fazia quando ele ensinava qualquer coisa a alguém mandava a pessoa que aprendeu estipular o valor do conhecimento adquirido e aceitava o pagamenro assim determinado Mas em cais matérias algumas pessoas aprovam o princípio de dar à pessoa o pagamento estipulado As pessoas que recebem o dinheiro antes e não fazem qualquer das coisas que haviam prometido fazer por causa da extravagância de suas promessas naturalmente se tornam alvo de queixas pois deixaram de cumprir um compromisso Os sofistas talvez sejam compelidos a proceder desta maneira porque ninguém lhes daria dinheiro em troca do que eles sabem Estas pessoas então se não fazem o serviço para cuja prestação foram pagas são naturalmente alvo de queixas Mas nos casos em que não existe um acordo prévio quanto ao valor dos serviços a parte que faz alguma coisa por causa da outra não pode ser objeto de queixa como dissemos anteriormente 164 pois esta é a natureza da amizade fundada na excelência moral além disto a reciprocidade deve ser proporcional à intenção do benfeitor com efeito a intenção é a medida de um amigo e da excelência moral Segundo parece devese pagar de maneira idêntica àqueles com os quais estudamos filosofia pois I I 64 b seu merecimento não pode ser medido em dinheiro e eles não podem obter honrarias que compensem seus serviços mas ainda neste caso talvez baste como acontece em relação aos deuses e aos nossos pais darlhes aquilo que está ao nosso alcance Se o oferecimento não é deste tipo mas é feito com vistas a uma retribuição é sem dúvida preferível que a retribuição seja de molde a parecer condigna a ambas as partes se isto não ocorre parece não somente necessário mas também justo que a pessoaaJ quem é prestado o primeiro serviço determine a retribuição com efeirol se a outra pessoa recebe como retribuição o equivalente à vantagem que ol beneficiário obteve ou o preço que ela teria pago pelo prazer ela obrémj da outra parte uma retribuição condigna Vemos que isto acontece igualmente em relação às coisas posras àj venda e em alguns lugares há leis segundo as quais nenhuma ação judicial pode ser intentada com fundamento em contratos voluntários 26 no pressuposto de que devemos levar até o fim uma transação com uma pessoa na qual confiamos de início com a mesma disposição com que iniciamos A lei determina que a pessoa na qual depositamos confiança de Ética a Nicômacos 175 início deve estabelecer as condições e não a pessoa que confiou Com efeito as pessoas que têm as coisas e as que as desejam não dão o mesmo valor à maior parte delas cada pessoa atribui um grande valor às coisas que lhe pertencem e que está oferecendo mas o pagamento é efetuado nas condições estabelecidas por quem as recebe Mas sem dúvida as pessoas que recebem uma coisa devem atribuirlhe não o valor que ela parece ter quando elas já a possuem e sim o valor que lhe atribuíam antes de têla 2 Outras dúvidas podem ser levantadas quando se pergunta se um filho deve ceder em cudo diante de seu pai e obedecerlhe incondicionalmente ou se quando uma pessoa está doente deve confiar incondicionalmente no médico ou se quando uma pessoa tem de participar da eleição de um comandante deve dar preferência não a um amigo mas a alguém que conheça a arte da guerra ou ainda quando se pergunta se devemos prestar um serviço de preferência a uma pessoa amiga e não a uma pessoa boa ou se devemos demonstrar nossa gratidão a um benfeitor em vez de obsequiar um amigo se não podemos fazer ambas as coisas Não é fácil resolver todas estas questões de maneira precisa ou é Com efeito elas comportam muitas variantes de todos os tipos a respeito da magnitude do serviço de seu aspecto nobilitante e de sua necessidade Mas é bastante evidente que não devemos ceder em tudo diante da mesma pessoa e que devemos de um modo geral retribuir benefícios em vez de obsequiar amigos da mesma forma que devemos pagar a um credor o que pedimos emprestado em vez de conceder um empréstimo a um amigo Mas talvez nem mesmo esta regra seja sempre válida por exemplo uma pessoa que tenha sido resgatada das mãos de um bandido deveria por seu turno resgatar o homem que a resgatou seja ele quem for ou pagarlhe se ela já não está presa e ele lhe pede o seu dinheiro de volta ou deveria cal pessoa resgatar seu pai Parece que ela deveria resgatar de preferência seu pai ainda que a outra alternativa fosse resgatarse a si mesma Como já dissemos266 então de um modo geral a dívida deve ser paga mas se um 1165 a presente for mais nobilicante ou mais necessário convirá que o devedor opce pelo presence De faco às vezes não é sequer eqüitativo retribuir com o equivalente aquilo que se recebeu quando uma pessoa presta um serviço a outra que ela sabe que é boa enquanto a outra retribui um serviço prestado pela primeira que ela considera má Neste caso às vezes não devemos sequer conceder um empréstimo em retribuição a outra pessoa que nos emprestou pois esta última emprestou a uma pessoa boa esperando receber de volta o que emprestou enquanto a outra não tem esperança de receber de volta o que emprestar a alguém que se presume ser mau Portanto se as coisas são realmente assim o pedido não é eqüitativo e se não são mas uma pessoa pensa que são não se deve pensar que tal pessoa esteja procedendo de maneira estranhável se recusa o pedido de empréstimo Como já dissemos repetidamence26 as discussões 176 1165 b Aristóteles a respeito de emoções e ações admitem um grau de precisão apenas compatível com os assuntos que se discutem É óbvio então que não devemos uma retribuição idêntica a toda e qualquer pessoa nem devemos dar a preferência a um pai em tudo da mesma forma que não fazemos todos os sacrifícios a Zeusw mas como devemos uma retribuição diferente aos pais irmãos companheiros e benfeitores devemos a cada classe uma retribuição apropriada e conve niente É isto que as pessoas parecem efetivamente fazer para o os casamentos elas convidam seus parentes pois estes são uma pane da família e devem portanto participar dos fatos relacionados com a família para os funerais elas também pensam pelas mesmas razões que os parentes devem encontrarse de preferência a quaisquer outras pessoas Também se deve pensar que quando se trata de prover à subsistência temos de ajudar nossos pais antes de quaisquer outras pessoas já que lhes devemos a nossa subsistência 268 e é mais honroso sob este aspecto ajudar os autores de nossa existência do que a nós mesmos devemos também reverenciar nossos pais como reverenciamos os deuses mas não com todas as espécies de reverência a este respeito não devemos reverenciar de maneira idêntica nosso pai e nossa mãe nem devemos reverenciálos com a reverência devida a um filósofo ou a um comandante e sim com i reverência devida a um pai ou a uma mãe Devemos também reverenciar as pessoas mais idosas de maneira apropriada à sua idade levantandonos para recebêlas e oferecendolhes lugares e assim por diante quanto aos companheiros e irmãos devemos compartilhar com eles o uso da palavra e tudo mais Também quanto aos parentes companheiros de tribo e todas as outras pessoas temos de esforçarnos por darlhes sempre a retribuição devida e comparar as pretensões de cada classe de pessoas tendo em vista a proximidade de parentesco a excelência moral ou a utilidade A campal ração é mais fácil quando as pessoas pertencem à mesma classe e é mais trabalhosa quando elas são diferentes Nem por isto devemos esquivaro a esta obrigação cumprenos decidir da melhor maneira possível a respe to das pretensões 3 Outra pergunta que se pode fazer é se as amizades devem ou não deveml ser desfeitas quando os amigos já não são os mesmos que eram no iníci das relações Talvez possamos dizer que nada há de estranho em romper uma amizade baseada no interesse ou no prazer quando nossos amigos i não possuem os atributos de serem úteis ou agradáveis na realidad éramos amigos destes atributos e quando eles desaparecem é razoável o continuar amando Mas um amigo pode queixarse se quando ele amava por sermos úteis ou agradáveis na realidade ele pretendia amaro por causa de nosso caráter Efetivamente como dissemos de início ocorrem muitas divergências entre amigos quando a natureza de s Ética a Nicômacos 177 amizade não é a que eles pensam Assim quando uma pessoa se engana pensando que está sendo amada por causa de seu caráter enquanto a outra nada faz que a autorize a pensar desta maneira ela deve culparse a si mesma quando porém ela é enganada pelo fingimento da outra é justo que ela se queixe daquela que o enganou ela se queixará com mais razão do que alguém que se queixa de quem falsifica dinheiro porquanto a ofensa se relaciona com algo mais valioso do que o dinheiro Mas se aceitamos uma pessoa como amiga por considerála boa porém ela se comporta mal e percebemos o seu mau comportamento ainda devemos amála Ou isto é impossível já que nem tudo pode ser amado mas somente o que é bom O que é mau não pode nem deve ser amado pois ninguém tem o dever de amar o mal ou de assemelharse ao que é mau já dissemos antes270 que o semelhante se afeiçoa ao semelhante Devemos então romper a amizade prontamente Ou não devemos fazêlo em todos os casos mas somente com os amigos cuja deficiência moral é incuráel Se eles são passíveis de regeneração devemos ajudálos moralmente ainda mais do que os assistiríamos materialmente porquanto agir assim é melltor e mais característico da amizade Mas uma pessoa que rompesse urna amizade deste tipo não estaria aparentemente agindo de maneira estranha pois não era por alguém desta espécie que ela nutria amizade seu amgo mudou portanto e se não pode regenerálo ela o abandona Mas se um dos amigos permanece o mesmo enquanto o outro se toma melhor e o ultrapassa consideravelmente em excelência moral dev o último manter a amizade Certamente isto não é possível Quand a distância é grande a impossibilidade se torna mais patente por exemplo no caso de amizades de infância se um dos amigos permanece uma cria11Ça em termos de inteligência enquanto o outro se torna um homm completamente desenvolvido como poderiam eles continuar amigos se não aprovam as mesmas coisas nem se comprazem ou sofrem com as mesmas coisas Com efeito seus gostos não concordarão sequer a respe to um do outro e sem isto como já vimos eles não podem ser amigos p is não podem viver juntos Mas já discutimos estes assuntos Devemos então conduzirnos em relação a um examigo exacameue como se nunca tivéssemos sido amigos Certamente devemos consenar uma recordação de nossa intimidade passada e da mesma forma q1e pensamos que temos de ser mais atenciosos com os amigos do que ccm estranhos devemos mostrar uma certa tolerância em relação àqueas pessoas que foram nossas amigas por causa da amizade passada quand o rompimento não resultou de uma deficiência moral excessiva 4 As formas que comam nossos sentimentos amistosos em relação ao próximo e as características pelas quais se definem as diferentes espécies de amizade parecem derivar de nossos sentimentos em relação a rqs 178 Aristóteles mesmos De faro definimos um amigo como uma pessoa que deseja e faz o que é bom ou parece que deseja e faz por causa de seu amigo ou como uma pessoa que deseja que seu amigo exista e viva por sua causa é este o sentimento das mães em relação aos seus filhos e dos amigos que se desentendem Outros definem o amigo como uma pessoa que convive com outra e tem os mesmos gostos da outra ou que se entristece e alegra com as tristezas e alegrias de seu amigo este sentimento também se encontra principalmente nas mães É por alguma desta característica que se define a amizade Cada uma destas características encontrase igualmente nos sentimen tOS de uma pessoa boa em relação a si mesma e nos sentimentos de rodas as outras pessoas na medida em que elas se consideram boas a excelência moral e a pessoa boa como já dissemos parecem ser a medida de todas as coisas De faro as opiniões de um homem bom são coerentes e ele deseja as mesmas coisas com toda a sua alma ele deseja portanto para si mesmo o que é bom e o que parece bom e age de conformidade com seu desejo pois é característico do homem bom esforçarse por fazer o bem e fazêlo por sua causa ele age assim em função do elemento intelectual que existe nele e este elemento parece ser o que há de mais distintivo do homem e ele deseja viver e preservarse e especialmente preservar o elemento em virtude do qual ele pensa Na verdade a existência é um bem para o homem dotado de excelência moral e cada homem deseja para si mesmo o que é bom ninguém daria preferência a possuir o mundo todo se tivesse antes de tornarse outra pessoa quanto a isto só Deus já possui o Bem2 4 o homem só deseja possuir o que é bom com a condição de continuar a ser o que é seja ele como for o elemento que pensa existente no homem parece constituir a sua individualidade ou é esta individualida de mais que qualquer outro elemento existente nele E um homem assim deseja até estar a sós consigo pois isto o alegra já que pensar no passado lhe é agradável e suas esperanças quanto ao futuro são boas e portanto alegres Seu espírito está igualmente bem provido de motivos para contemplação e mais que qualquer outra pessoa ele se entristece e alegra consigo mesmo as coisas que lhe causam tristeza ou alegria são sempre as mesmas e não coisas diferentes em ocasiões diferentes podese dizer que ele nada rem a lamentar Portanto já que cada uma destas características convém ao homem bom em relação a si mesmo e seus sentimentos em relação aos amigos são idênticos aos que ele rem em relação a si mesmo na verdade um amigo é um outro eu considerase que a amizade também é um destes senti mentos e que aqueles que têm tais sentimentos são amigos Quanto à questão de saber se um homem pode ou não pode ser amigo de si mesmo deixemola de lado por enquanto parece todavia que j 1166 b Ética a Nicômacos 179 poderá haver esta amizade se se tratar de uma personalidade dupla ou múltipla a julgar pelos elementos da amizade já mencionados e pelo fato de uma amizade exagerada assemelharse à autoestima Mas o sentimento de auto7estima a que aludimos parece encontrarse na maioria das pessoas por mais medíocres que elas sejam Devemos então dizer que na medida em que tais pessoas estão satisfeitas consigo mesmas e pensam que são boas elas compartilham destes sentimentos Certamente nenhum homem totalmente mau ou ímpio tem estes senti mentos ou sequer aparenta que os tem Tais sentimentos dificilmente são compativeis com pessoas moralmente inferiores pois elas discrepam de si mesmas e desejam algumas coisas enquanto realmente querem outras Isto é verdadeiro em relação às pessoas incontinentes pois em vez das coisas que elas mesmas consideram boas tais pessoas escolhem coisas agradáveis mas nocivas outras pessoas fogem por covardia ou indolência à prática dos atos que julgam melhores para si mesmas E as pessoas que praticam muitas ações execráveis e são odiadas por sua deficiência moral fogem da própria vida e se destróem a si mesmas Além disto as pessoas moralmen te deficientes procuram constantemente a companhia de outras pessoas fugindo de si mesmas com efeito quando estão sós elas se lembram dos muitos atos condenáveis que já praticaram e prevêem que voltarão a praticar outros semelhantes mas quando estão com outras pessoas os esquecem E nada tendo que seja digno de estima elas não têm qualquer sentimento de amor em relação a si mesmas Conseqüentemente tais pessoas não se alegram nem se entristecem pois sua alma está sempre dominada pela discórdia e uma de suas partes se atormenta por causa de sua deficiência moral quando tais pessoas se abstêm de certos atos enquanto a outra parte se deleita e uma parte as arrasta numa direção e a outra na direção oposta como se as estivessem esquartejando Se não podem ao mesmo tempo sofrer e sentir prazer de qualquer modo depois de alguns instantes elas sofrem porque antes sentiam prazer porquanto as pessoas más estão sempre sentindo remorsos Então as pessoas más não parecem ter sentimentos amistosos em relação a si mesmas porque nada existe nelas que inspire amor por conseguinte se ter tais sentimentos é o cúmulo da maldade devemos fazer tudo para evitar a maldade e esforçarnos por ser bons somente agindo assim podemos ter sentimentos amistosos para conosco e tornarnos amigos de outras pessoas 5 A boa vontade parece ser um elemento do sentimento amistoso mas não é a amizade de fato podemos ter boa vontade em relação a pessoas que não conhecemos e sem que elas saibam disto mas não pode ocorrer o mesmo com a amizade Mas já falamos sõbre istQ anteriormentem A boa vontade todavia não é sequer um sentimento amistoso Com efeito ela 180 1167 a Aristóteles não envolve intensidade ou desejo ao passo que intensidade e desejo acompanham o sentimento amistoso e o sentimento amistoso pressupõe relações íntimas enquanto a boa vontade pode manifestarse subitamente como acontece em relação a concorrentes numa competição esportiva palisamos a sentir boa vontade em relação a eles e a compartilhar seus desejos mas nada faríamos por eles pois como dissemos antes sentimos Joa vontade repentinamnte e o sentimento amistoso neste caso é somente supedicial A boa vontade parece ser então um início de amizade da mesma forma que o prazer de olhar é o início do amor Efetivamente ninguém ama se não fica enlevado primeiro com a figura da pessoa amada mas quem fica enlevado com a figura de uma pessoa nem por isto a ama só se ama quando se anseia pela pessoa ausente e se deseja intensamente a sua presença da mesma forma as pessoas não podem ser amigas se não passam a sentir uma boa vontade recíproca mas nem por isto as pessoas que sentem boa vontade recíproca são amigas elas somente desejam o bem das pessoas pelas quais sentem boa vontade e nada fariam por elas nem se preocupariam com elas Sendo assim podemos estender o alcance da palavra amizade para dizer que a boa vontade é uma amizade estática embora quando se prolonga e atinge o nível da intimidade ela se torne amizade propriamente dita mas não a amizade baseada no interesse ou no prazer a boa vontade não se manifesta diante destes sentimentos A pessoa que recebeu um benefício demonstra boa vontade em reciprocida de ao benefício recebido mas agindo assim ela apenas faz o que é justo por outro lado a pessoa que deseja que outra prospere porque espera enriquecer graças a esta parece ter boa vontade não em relação a esta mas a si mesma de maneira idêntica uma pessoa não é amiga de outra se a trata afetuosamente por causa de algum proveito que espera tirar da outra De um modo geral a boa vontade se manifesta em decorrência de alguma forma de excelência e merecimento quando uma pessoa parece a outra bela ou corajosa ou algo deste gênero como já mencionamos no caso dos concorrentes em uma competição esportiva 6 A concórdia também parece um sentimento amistoso ela não é entretanto identidade de opinião pois isto poderia ocorrer até com pessoas que não se conhecem tampouco dizemos que há concórdia entre todas as pessoas que têm os mesmos pontos de vista sobre todos e quaisquer assuntos por ezemplo as pessoas que concordam acerca dos corpos celestes a concórdia a esce respeito não é um sentimento amistoso mas dizemos que há concórdia numa cidade quando seus habitantes têm a mesma opinião acerca daquilo que é de seu interesse e escolhem as mesmas ações e fazem o que resolvem em comum Dizemos portanto que há concórdia entre as pessoas em relação a atos a sei Ética a Nicômacos 181 praticados e quando estes atos podem ter conseqüências e quando é possível que neles duas partes ou todas elas obtenham o que desejam por exemplo há concórdia numa cidade quando todos os cidadãos pensam que as funções públicas na mesma devem ser eletivas ou que deverilser feita uma aliança com Espana ou que Pítacos deveria ser ditadorl76 quando Pítacos também desejava ser ditador Mas quando entre duas pessoas cada uma deseja para si mesma aquilo sobre que se questiona como os comandantes rivais nas Fmciar71 o que há é discórdia não há concórdia quando cada uma das partes pensa na mesma coisa seja ela qual for mas somente quando ambas pensam na mesma coisa em relação às mesmas pessoas por exemplo quando o povo e as classes mais elevadas desejam que os melhores homens governem só assim todos obtêm aquilo que desejam Parece então que a concórdia é a amizade política como efetivamente se diz que ela é pois ela se relaciona com assuntos de nosso interesse e influentes em nossas vidas A concórdia neste sentido existe entre pessoas boas pois elas estiiu de acordo entre si sendo por assim dizer concordes os desejos de tais pessoas são constanteS e não estão à mercê de correntes opostas C mO 1167 b num braço estreito de mar e elas desejam o que é justo e proveitoso e estes são igualmente os objetivos de seus esforços conjuntos As pessoas más ao contrário nãopodem estar de acordo exceto num âmbito restrito tampouco elas pode ser amigas já que visam a obter para si mesmas mais do que o seu quinhão de proveito enquanto no trabalho e nos serviços prestados à cidade elas ficam aquém de seu quinhão cada uma dfStas pessoas desejando proveito para si mesma critica o próximo e se interpõe em seu caminho com efeito se as pessoas não estão atentas ao bem comum ele se deteriora rapidamente O resultado é que a discórdia reina sempre entre esta pessoas que procuram compelir as outras a fazer o que é justo mas não se dispõe a fazêlo 7 Pensase que os benfeitores amam as pessoas por eles beneficiadas mais do que as pessoas que os tratam bem e se discute esta circunstância como se ela fosse irracional Muitos pensam que isto acontece porque as pessoas beneficiadas estão numa posição de devedores e os benfeitores estão mma posição de credores conseqüentemente da mesma forma que no caso de empréstimo os devedores prefeririam que seus credores não existissem pensase que os benfeitores desejam que seus devedores estejam bem já que assim receberão o que lhes é devido ao passo que as pessoas beneficiadas não estão ansiosas por pagar Epícarmos2 1 talvez tenha querido dizer que quem dá esta explicação está olhando para o lado pior da vida mas ela é muito conforme à natureza humana pois as pessoas em sua maioria têm a memória curta e estão mais ansiosas Por ser bem tratadas do que por tratar bem as outras Mas a causa deste procedimento parece estar arraigada muito profundamente na natureza das coisas e o caso das 182 Aristóteles pessoas que emprestaram dinheiro não é sequer análogo a este Com efeito estas pessoas não têm sentimentos amistosos para com seus devedores mas somente o desejo de poder estar seguros em relação ao que esperam obter de volta quanto às pessoas que prestaram um serviço a outras elas sentem amor e amizade por aquelas a quem serviram mesmo se estas não lhes são de qualquer serventia e nunca poderão sêlo A mesma coisa acontece com os artífices cada pessoa ama a sua obra mais do que poderia vir a ser amada por ela se ela adquirisse vida isto talvez aconteça principalmente com os poetas pois eles têm um amor excessivo por seus poemas mimandoos como os pais mimam seus filhos É a isto que se assemelha a posição dos benfeitores realmente o que eles tratam bem é o que fizeram e portanto eles amam mais a sua obra do que a obra amaria o seu autor Isto se deve ao fato de a existência ser para todas as pessoas uma coisa digna de ser desejada e amada e de existirmos em virtude de nossa atividade isto é por vivermos e agirmos e de a obra ser em certo sentido o seu produtor em atividade ele ama a sua obra portanto porque ama a existência Este fato está arraigado na natureza das coisas pois a obra de um homem é a realização de uma coisa que só existia 1168 a potencialmente Ao mesmo tempo para o benfeitor há um elemenro nobilitante em sua ação e por isto ele se alegra com a pessoa que é o objeto de sua ação ao passo que para o paciente nada há de nobre no agente mas na melhor das hipóteses algo proveitoso e isto é menos agradável e digno de amor O agradável é a atividade no presente a esperança no futuro e a recordação do passado porém o mais agradável é aquilo que depende da atividade e isto é também maisdigno de amor Para uma pessoa que fez alguma coisa por alguém sua obra permanece o que é nobilitante é duradouro mas para o beneficiário o proveito se dissipa A recordação das coisas nobilitantes é agradável mas não é provável que a recordação das coisas úteis seja agradável ou ela é menos agradável embora pareça que acontece o contrário com a expectativa Ademais amar se assemelha à atividade e ser amado se assemelha à passividade amar e ter as várias formas de sentimentos amistosos são atributos das pessoas mais ativas 9 Além disto todas as pessoas amam mais aquilo que conseguiram com o seu própro esforço por exemplo as pessoas que ganharam o seu dinheiro o amam mais do que as que o herdaram e ser bem tratado não requer esforço ao passo que tratar bem os outros é trabalhoso São estas as razões pelas quais as mães têm mais amor aos filhos que os pais trazê los ao mundo custoulhes sofrimentos maiores e elas sabem com certezà maior que os filhos são seus Esta última observação parece aplicarse também aos benfeitores Ética a Nicômacos 183 8 Também é debatida a questão de saber se uma pessoa deve amarse mais a si mesma ou a outras pessoas As que se amam mais a si mesmas são criticadas e chamadas de ególatru usandose o termo em sentido pejorativo e uma pessoa má parece fazer tudo pensando em si mesma e quanto mais ela é assim pior ela é dizse por exemplo censurando tais pessoas que elas nada fazem por iniciativa própria 279 enquanto uma pessoa boa age pensando no que é honroso e quanto mais ela é assim melhor ela é e age por causa de seus amigos sacrificando até seus próprios interesses Mas os fatos colidem com estes argumentos e isto nada tem de surpreendente Realmente dizse que as pessoas devem amar os seus melhores amigos e nosso melhor amigo é aquele que nos deseja o bem por nossa causa mesmo que ninguém venha a saber disto estes atributos se encontram principalmente na atitude de uma pessoa em relação a si 1168 b mesma e acontece o mesmo com todos os outros atributos pelos quais se define um amigo pois como já dissemos 210 é a partir desta relação que todas as outras características da amizade se estendem ao próximo Todos os provérbios também comprovam isto por exemplo uma só alma281 Os bens dos amigos são comuns Amizade é igualdade O joelho é perto da canela 2u pois todas estas características se encontrarão principalmente na atitude de uma pessoa em relação a sim mesma cada pessoa é a melhor amiga de si mesma e portanto deve amarse mais a si mesma É natural portanto que se indBUe qual destes dois pontos de vista deve ser adotado pois ambos têm alguma plausibilidade Talvez devamos estabelecer uma distinção entre tais argumentos e determinar até que ponto e sob que aspectos cada um deles é correto Se discernirmos o sentido em que cada estudioso do assunto usa a expressão egolatria a verdade pode tornarse manifesta Os que usam o termo no sentido pejorativo arribuem a egolatria às pessoas que reservam para si mesmas a maior parte de suas riquezas honrarias e os prazeres do corpo com efeito são estas as coisrs que as pessoas desejam acima de tudo e se esforçam por obter como se elas fossem as melhores entre todas esta é também a razão pela qual tais coisas se tornam objeto de competição Então as pessoas gananciosas a respeito destas coisas satisfazem os seus apetites e de um modo geral seus sentimentos e o elemento irracional de sua alma os homens em sua maioria são desta natureza por isto o epíteto passou a ser usado pejorativamente recebendo o seu significado do tipo mais comum de egolatria que é o mau é justo portanto que as pessoas que se amam a si mesmas nesse sentido recebam censuras por serem assim E óbvio então que são as pessoas que dão preferência a si mesmas em relação a coisas desta espécie que recebem da maioria o epíteto de ególatras realmente se uma pessoa estivesse sempre ansiosa acima dt tudo por agir de maneira justa e moderada ou de acordo com qualquet 184 Aristóteles outra forma de excelência moral e em geral estivesse sempre esforçando se por assegurar para si mesma a nobreza moral ninguém a chamaria de ególatta ou a recriminaria Mas uma pessoa assim pareceria mais que qualquer outra um ególatra afinal de contas ela reserva para si mesma as coisas mais nobilitantes e melhores e satisfaz a sua parte dominante e lhe obedece em tudo e da mesma forma que uma cidade ou qualquer outro complexo organizado é identificado com mais propriedade pela parte dominante que existe nela o mesmo acontece com o homem portanto o homem que ama a sua pane dominante e a satisfaz é mais que todos um ególatra Além disto dizse que uma pessoa tem ou não tem continência na medida em que sua razão é ou não é a parte dominante no pressuposto de que a razão é o próprio 1169 a homem e os atos que as pessoas praticam de conformidade com a razão são considerados no sentido mais amplo seus próprios atos e seus atos voluntários É óbvio então que a razão é o próprio homem ou que a razão mais que qualquer outra coisa é o próprio homem e também que o homem bom ama acima de tudo esta sua parte Seguese disto que ele é um ególatra no sentido mais autêntico e de um tipo diferente daquele que é objeto de censura e tão diferente desce quanto viver de conformidade com a razão é diferente de viver segundo os ditames das emoções e tanto quanto desejar o que é nobilitante é diferente de desejar o que parece vantajoso Portanto as pessoas que se dedicam com empenho excepcional à prática de ações nobilitances recebem a aprovação e o louvor de todos e se todos se emulassem no sentido do que é nobilitance e se esforçassem ao máximo por praticar as ações mais nobilitantes tudo seria como deve ser para o bem comum e cada pessoa asseguraria para si mesma os bens maiores já que a excelência moral é o maior dos bens As pessoas boas portanto devem ser ególatras elas se beneficiariam c beneficiariam seus companheiros com a prática de aros nobilitantes ma5 as pessoas más não devem pois elas se prejudicariam e prejudicariam próximo seguindo como seguem as emoções más No caso das pessoas más o que elas fazem é o contrário do que deveriam fazer mas as pessoas boas fazem o que devem pois a razão em cada uma das pessoas que possui escolhe o que é melhor para elas e as pessoas boas obedecem às razão Também é verdadeiro no caso das pessoas boas que elas pratieam muitas ações por causa de seus amigos e de sua cidade e se for necessári morrerão por eles e ela pois elas desprezarão as riquezas e as honrarias de um modo geral os bens que são objeto de competição ganhando paraisii mesmas a nobreza já que elas preferem um momento fugaz de prazef intenso a um longo período de satisfação moderada um ano de vi nobilitante a muitos anos de vida rotineira e um ato magnífico nobilitante a muitos atos triviais Ora as pessoas que morrem por ou chegam sem dúvida a este resultado e ponanto escolhem um prêmJ Ética a Nicômacos 185 extraordinário para si mesmas Elas também desprezarão a riqueza se disto resultar que seus amisos ganhem mais pois ao mesmo tempo que o amigo de uma pessoa ganha riqueza ela mesma consegue nobreza ela está portanto reservando para si mesma o maior dos bens O mesmo é verdadeiro também no que diz respeito às honrarias e às funções públicas a pessoa boa sacrificará tudo isto por seus amigos pois este procedimento é nobilitante e louvável para ela Então ela é considerada boa acertadamen te pois escolhe antes de tudo o que é nobilitante A pessoa boa pode até deixar que seus amigos pratiquem boas ações que ela mesma poderia praticar é mais nobilitante ser a causa da prática de uma boa ação por seu amigo do que praticála Conseqüentemente em todas as ações por cuja prática as pessoas são louvadas vemos as pessoas boas reservarem para si mesmas o quinhão maior daquilo que é nobilitante Neste sentido então 1169 b como já dissemos uma pessoa pode ser ególatra mas no sentido em que a maioria das pessoas é ególatra ela não deve 9 Outra questão muito debatida é saber se uma pessoa feliz necessia ou não de amigos Dizse que as pessoas sumamente felizes e autosuficientes não necessitam de amigos pois elas já têm as coisas boas e portanto sendo autosuficientes não necessitam de qualquer outra coisa ao passo que a função de um amigo que é um outro eu é proporcionar as coisas que a própria pessoa não pode obter Daí o verso Se a sorte é favorável por que ter amigos m Mas parece estranho quando se atribuem todas as coisas bots ao homem feliz não lhe atribuir amigos que são considerados o maio r dos bens exteriores Mas se fazer bem aos outros é mais característico de um amigo do que deixar que lhe façam o bem e fazer benefícos é característico das pessoas boas e da excelência moral e se é mais nobilitante fazer bem a amigos do que a estranhos as pessoas boas necessitam de alguém a quem possam fazer bem É por isto q11e se pergunta se necessitamos mais dos amigos na prosperidade ou na adversidade no pressuposto de que não somente uma pessoa na adversi dade necessita de amigos que lhe façam benefícios mas também de que as pessoas que estão prosperando necessitam de alguém a quem possam fazer bem É sem dúvida estranho também fazer do homem sumamentt feliz um solitário pois ninguém desejaria todo o mundo com a condiçlo de estar só já que o homem é um animal social e um animal para o cual a convivência é natural Logo mesmo o homem feliz tem de conviver pois ele deve ter tudo que é naturalmente bom É obviamente melhor passar os dias com amigos e boas pessoas do que com estranhos e companheiros casuais Conseqüentemente o homem feliz necessita de amigos Que pretendem dizer então os defensores do primeiro ponto de vista e em que sentido eles estão certos Será que a maioria das pessoas identifica os amigos com as pessoas úteis O homem sumamente feliz não neces5itaria 186 1170 a Aristóteles realmente de tais pessoas pois ele já tem as coisas boas tampouco ele necessitaria das pessoas das quais nos tornamos amigos porque elas são agradáveis ou necessitaria delas somente em pequena escala pois sua vida sendo agradável não requer prazeres fortuitos e como ele não necessita de amigos desta espécie pensase que ele não necessita de quaisquer amigos Mas isto certamente não é verdade pois já dissemos de início 284 que a felicidade é uma atividade e a atividade obviamente passa a existir em cerco momento não sendo uma coisa presente desde o início como um objeto de nossa propriedade Se a felicidade consiste em viver e em estar em atividade e a atividade das pessoas boas é conforme à excelência moral e agradável em si como dissemos inicialmente m e se o fato de uma coisa ser nossa é um dos atributos que a tornam agradável e se podemos observar o próximo melhor que a nós mesmos e suas ações melhor que as nossas e se as ações das pessoas dotadas de excelência moral que são suas amigas são agradáveis às pessoas boas já que estas têm ambos os atributos naturalmente agradáveis86 se for assim então o homem sumamente feliz necessitará de amigos desta espécie já que seu propósito é contemplar ações meritórias e ações que são suas e as ações das pessoas boas e amigas têm ambas estas qualidades Pensase também que o homem feliz deve ter uma vida agradável Ora se ele fosse um solitário a vida lhe seria difícil pois para uma pessoa só não é fácil estar continuamente em atividade com outras pessoas todavia e em relação a outras isto é mais fácil Com outras pessoas então sua atividade será mais contínua e será mais agradável em si como deve ser para um homem sumamente feliz de fato uma pessoa boa se compraz com ações conformes à excelência moral e se constrange com ações decorrentes da deficiência moral da mesma forma que uma pessoa dotada de sensibilidade musical se compraz com as belas melodias mas sofre com as desagradáveis A companhia das pessoas boas também nos exercita de cerro modo na excelência moral como disse Têognis Se examinarmos mais profundamente a natureza das coisas um amigo dotado de excelência moral parecerá naturalmente desejável por uma pessoa moralmente excelente pois aquilo que é bom por natureza como já dissemos é bom e agradável em si para as pessoas dotadas de excelência moral No caso dos animais a vida é definida pela capacidade de sentir e no caso do homem pela capacidade de sentir e de pensar a capacidade é definida com referência à atividade correspondente e nisro consiste essencialmente a sua realização parece portanto que a vida consiste essencialmente no ato de sentir ou no de pensar E a vida está entre as coisas que são boas e agradáveis em si pois ela é definida e ser definido é da natureza do que é bom e o que é bom por narureza tambémj Ética a Nicômacos 187 é bom para as pessoas dotadas de excelência moral e por isto parece agradável a todos os homens mas isto não se aplica a uma vida pautada pela deficiência moral e corrupta ou a uma vida de sofrimentos pois uma vida deste tipo é tão indefinida quanto seus atributos 189 A natureza do sofrimento se tornará mais clara ao longo de nossa exposiçãol90 Mas se a própria vida é boa e agradlivel e parece ser pelo fato de todas as pessoas a desejarem principalmente as que são boas e sumamente felizes para tais pessoas a vida é extremamente desejável e sua existência é sumamente venturosa e se as pessoas que vêem percebem que vêem e as que ouvem percebem que ouvem e as que andam percebem quf andam e da mesma forma no caso de todas as outras atividades há also que percebe que estamos em atividade de tal maneira que se percebemos percebemos que percebemos e se pensamos percebemos que pensamos e se perceber que 1170 b percebemos ou pensamos é perceber que existimos pois existir foi definido como perceber ou pensar e se perceber que existimos é em si mesmo uma das coisas agradáveis pois a vida é boa por natureza e perceber que o que é bom está presente em nós é agradável e se a vida é desejável especialmente para as pessoas boas porque para elas a existência é boa e agradável pois elas se alegram por terem consciência da presença nelas do que é bom em si mesmo e se as pessoas dotadas de excelência moral se comportam em relação a si mesmas da mesma forma que em relação aos seus amigos pois o amigo é um outro eu se tudo isto é verdade então da mesma forma que sua própria existência é desejável para cada pessoa assim ou aproximadamente assim a existência de um amigo é também desejável Vimos então que a existência da pessoa boa é desejável porque ela percebe sua própria bondade e esta percepção é agradável em si mesma Ela necessita portanto de ter consciência igualmente da existência de seu amigo e isto se concretizará em sua convivência e em sua comunhão nas palavras e no pensamento parece que este é o significado de convivência no caso das criaturas humanas e não como no caso do gado alimentarse no mesmo lugar Então se a existência é desejável em si mesma pelas pessoas sumamente felizes já que existir é bom e agradável por natureza e se acontece a bem dizer o mesmo em relação à existência de um amigo um amigo será uma das coisas desejáveis Ora uma pessoa sumamente feliz deve ter aquilo que deseja ou então ela será deficiente sob este aspecto Portanto o homem que tiver de ser feliz necessitará de amigos dotados de excelência moral 10 Devemos então ter tantos amigos quantos pudermos Ou o que se diz a respeito da hospitalidade aparentemente com propriedade Nem um homem de uiros h6svedes nem sem hóspedes191 deve aplicarse também à amizade de tal forina que não se deve viver sem amigos nem ter um número excessivo deles 188 1171 a Aristóteles Este preceito seria perfeitamente aplicável ao caso dos amigos que escolhemos por sua utilidade pois retribuir serviços prestados por muitas pessoas é uma tarefa laboriosa e a vida não é bastante loJ181 para a realizarmos Portanto amigos que excedam o número suficiente para a nossa própria vida são supérfluos e constituem um óbice a uma vida nobilitante Jogo não temos necessidade deles Também quanto aos amigos que escolhemos com vistas ao prazer bastam uns poucos da mesma forma que bastam poucos temperos na alimentação Mas em relação aos bons amigos devemos têlos tantos quantOI pudermos ou hã um limite ao número de amigos de uma pessoa da mesma forma que U um limite para a população de uma cidade Não se pode fazer uma cidade com dez pessoas e se houver cem mil pessoas niO teremos mais uma simples cidade Mas o número conveniente não é a unidade e sim algo compreendido entre certos limites determinados Em relação aos amigos igualmente hã um número limitado talvez o maior número de pessoas com as quais se possa conviver considerase que convivência é a característica por excelência da amizade como já vimos m mas é óbvio que uma pessoa não pode conviver com muitas outras nem dividirse entre elas Além disto estas pessoas devem ser amigas umas das outras se elas devem passar sew dias juntas e é difícil satisfazer esta condição com um grande número de pessoas Também se pensa que é difícil que uma pessoa possa participar intimamente das alegrias e tristezas de muitas oucras pois provavelmente aconteceri que alguém tenha ao mesmo tempo de alegrar se com um amigo e de chorar com outro Presumese então que é bom não procurar ier tantos amigos quantos pudermos mas tantos quantos bastarem para efeito de convivência pois parece realmente impossível ser um grande amigo de muitas pessoas É por isto que não se pode amar muitas pessoas Ô amor é uma espécie de amizade superlativa e isto só se pode sentir em relação a uma única pessoa logo também uma grande amizade somente pode ser sentida em relação a poucas pessoas Esta asserção parece confirmada oi prãtica pois não encontramos muitas pessoas que sejam amigas à maneira doí companheiros e as amizades famosas desta espécie são sempre entre duas pessoasll3 Considerase que as pessoas que têm muitos amigos e confratemi zam intimamente com todos não são amigas sinceras de qualquer deles salvo no sentido em que os concidadãos são amigos e tais pessoas são também chamadas lisonjeadoras No sentido em que os concidadãos são amigo realmente é possível ser amigo de muitas pessoas sem ser lisonjeador e sim uma pessoa autenticamente boa mas não se pode cultivar com muitas pes uma amizade bAseada na excelência moral e no caráter de nossos amigos devemos darnos por felizes se encontrarmos uns poucos amigos desta es I 11 Serão os amigos mais necessários na prosperidade ou na adversidade Eles são procurados em ambos os casos pois enquanto as pessoas ôi 1171 b Ética a Nicômacos 189 adversidade necessitam de ajuda na prosperidade el11s necessitam de alguém com quem possam conviver e a quem possam beneficiar já que desejam fazer bem aos outros Então a amizade é mais necessária na adversidade e portanto é dos amigos prestimosos que necessitamos neste caso mas a amizade é mais nobilitante na prosperidade e por isto procuramos também neste caso pessoas boas para serem nossas amigas porquanto é mais desejável fazer benefícios a estas e conviver com elas A simples presença de amigos é agradável tanto na prosperidade quanto na adversidade já que as aflições são aliviadas quando amigos compartilham nosso sofrimento Podese portanto perguntar se eles realmente comparti lham o peso das aflições ou se não sendo este o caso o sofrimento é de qualquer forma aliviado pelo prazer de sua companhia e por termos consciência de sua solidariedade Podese deixar de lado a questão de saber se é por estas razões ou por outras quaisquer que nossas aflições são aliviadas seja como for parece acontecer aquilo que descrevemos Mas a presença dos amigos parece conter uma mistura de vários fatores A simples presença de um amigo nos é agradável especialmente se estamos na adversidade e se torna uma salvaguarda contra as aflições pois um amigo tende a confortarnos tanto com sua presença quanto com suas palavras se ele é perspicaz pois ele conhece nosso caráter e as coisas que nos dão prazer ou nos fazem sofrer mas ver um amigo sofrer com nosso infortúnio nos causa sofrimento pois qualquer pessoa evita causar sofrimento aos amigos É por isto que as pessoas de natureza virii se abstêm de afligir seus amigos e a não ser que uma pessoa ceja excepcionalmente insensível ao sofrimento ela não pode tolerar o sofdmento que seu sofrimento causa aos amigos e não admite que ou eras pessoas se lamentem com ela porque ela mesma não é propensa a lamentações as mulheres porém e os homens efeminados apreciam as pessoas solidárias com suas aflições e gostam delas como amigas e companheiras na tristeza Mas obviamente devese imitar em tudo as pessoas melhores Por outro lado a presença de amigos quando estamos prósperos faz com que nosso tempo passe agradavelmente e nos traz pensamentos agradáveis a propósito de seu prazer diante de nossa boa sorte Por isto parece que devemos convidar prontamente nossos amigos para partilha rem de nossa boa sorte é nobilitante querer fazer benefícios mas devemos hesitar em convidálos quando estivermos em situação adversa de fato devemos fazêlos compartilhar o mínimo possível nossos males daí o provérbio Meu próprio infortúnio é bastante Devemos chamar nossos amigos para ajudarnos principalmente quando eles estiverem em condições de prestarnos um grande serviço à custa de um pequeno incômodo para si mesmos 190 Aristóteles Inversamente convém ir espontanea e prontamente em socorro d amigos na adversidade pois é característico de um amigo prestar serviços especialmente àqueles que necessitam deles e não os pediram Atitudes como esta são mais nobilitantes e agradáveis para os dois lados MasJI quando nossos amigos estão prósperos devemos juntarnos prontamente a j eles em suas atividades eles também precisam dos amigos para isto devemos porém demorar a aparecer para nos beneficiarmos de sua 1j generosidade pois não é nobilitante mostrarnos ansiosos por receber benefícios Mas devemos sem dúvida evitar a pecha de grosseiros que mereceríamos se repelíssemos seus gestos generosos pois isto às vezes acontece o1 Enfim a presença dos amigos parece desejável em todas as circunnân aas 12 Podese então concluir que da mesma forma que para os amantes a fll visão da pessoa amada é o que há de mais agradável e eles preferem a satisfação que lhes proporciona o sentido da vista às satisfações através de qualquer dos outros sentidos porque o sentido da vista é a sede e a origem do amor podese então concluir repetimos que para os amigos o que há de mais desejável é a convivência Com efeito a amizade é uma parceria e uma pessoa está em relação a si própria da mesma forma que em relação aó seu amigo em seu próprio caso a consciência de sua existência é um bem e portanto a consciência da existência de seu amigo também o é e a atuação desta conscientização se manifesta quando eles convivem é portanto natural que eles desejem conviver E qualquer que seja a significação da existência para as pessoas e seja qual for o fator que torna a sua vida digna de ser vivida elas desejam compartilhar a existência de seus 1172 a amigos sendo assim alguns amigos bebem juntos outros jogam dados juntos outros se juntam para os exercícios de atletismo ou para a caça ou para o estudo da filosofia passando seus dias juntos na atividade que eles mais apreciam na vida seja ela qual for de fato já que os amigos desejam conviver eles fazem e compartilham as coisas que lhes dão a sensação de convivência Logo a atividade das pesoas más é má por causa de sua instabilidade elas se unem em atividades más e além disto passam a ser más por se tornarem semelhantes umas às outras enquanto a atividade das pessoas boas é boa sendo incrementada por seu companheirismo e pensase que elas também se tornam melhores por causa de suas atividades e por se aperfeiçoarem mutuamente cada uma delas tira da outra o molde das características que ambas aprovam daí o provérbio Nobres ações de pessoas nobres294 O que já dissemos sobre a amizade é suficiente resta nos agora falar sobre o prazer LIVRO X 1 Depois destes assuntos parece que devemos discutir o prazer De faro pensase que ele rem ligações muito íntimas com nossa natureza humana e é por isto que na educação dos jovens utilizamos para guiálos o prazer e o sofrimento pensase tamWm que a fruição das coisas que devemos fruir e o desprezo pelas coisas que devemos desprezar têm a maior importância na formação do caráter conforme à excelência moral estas coisas nos acompanham durante todo o curso de nossa vida e têm um grande peso e força em relação à eacelência moral e à vida feliz já que as pessoas desejam o que é agradável e evitam o que traz sofrimento Parece então que o exame do prazer e do sofrimento não deve ser omitido de forma alguma principalmente porque há muitas controvérsias quanto a ambos Algtins estudiosos m dizem que o prazer é o Bem enquanto outros 296 ao contrário dizem que ele é toralmente mau alguns dizem isto sem dúvida persuadidos de que se trata de um fato e outros pensando que tern um efeito melhor em nossa vida apresentar o prazer como uma coisa má embora ele não seja mau realmente a maioria das pessoas segundo pensam estes últimos inclinase para sew prazeres e é escrava deles razão pela qual as pessoas devem ser conduzidas na direção oposta pois assim chegarão a um meio termo Mas certamente isto não é correto Na verdade os argumentos acerca de assuntos relativos às emoções e ações são menos confiáveis que os fatos e sendo assim quando colidem com os fatos apreendidos pela percepção eles são desprezados e desacreditam também a própria verdade se uma pessoa que parece desprezar o prazer é vista alguma vez bwcandoo pensase que sua inclinação para ele significa que todo prazer é desejável as pessoas em sua maioria não são capazes de 1172 b diferenciar Os argumentos verdadeiros então parecem extremamente úteis não somente com vistas ao conhecimento mas com vistas isualmente à própria vida se eles se harmonizam com os fatos merecem crédito e assim estimulam as pessoas que os entendem a viver de acordo com eles 192 Aristóteles Mas isto é bastante à guisa de introdução passemos em revista agora as opiniões emitidas a respeito do prazer 2 Êudoxos pensava que o pazer é o Bem porque ele via todos os seres racionais ou irracionais à sua procura e porque em todas as coisas aquilo que é desejado é bom e o que é mais desejado é o melhor então o fato de todos os seres se moverem em direção ao mesmo objetivo indicaria que este objetivo seria para todos os sres o bem maior cada ser dizia ele descobre seu próprio bem da mesma forma que descobre seu próprio alimento e aquilo que é bom para todos os seres e para que todos os seres tendem é o Bem A grande aceitação que tiveram seus argumentos se deveu muito mais ao caráter do próprio Êudoxos do que ao mérito dos mesmos ele era tido como um homem extraordinariamente moderado e por isto pensouse que ele não escava dizendo o que dizia como um amigo do prazer e sim porque se tratava realmente de fatos Ele acreditava que o estudo da sensação contrária ao prazer o sofrimento levava à mesma conclusão o sofrimento é em si mesmo um objeto de aversão para todos os seres e portanto seu contrário deve ser um objeto de desejo Ele dissê também que a coisa mais desejável é a que escolhemos não como um meio para chegai a algo mais ou por causa de algo mais e o prazer é reconhecidamente desta natureza nunca perguntamos a qualquer pessoa com que objetivo ela se entrega ao prazer presumindo assim que o prazer é em si mesmo uma coisa desejável Além disco Êudoxos argumentava que o prazer quando acrescentado a qualquer coisa por exemplo às ações justas e moderadas tornaa mais digna de escolha e que o bem somente pode ser incrementado pelo próprio bem Este argumento parece demonstrar que o prazer é um dos bens e rWJ que ele é melhor que qualquer outro bem pois cada bem é mais desejável juntamente com outro bem do que isoladamente De fato é por wDi argumento semelhante que Platão prova que o bem não é o prazer ele argumenta que a vida agradável é mais desejável com a sabedoria do que sem ela e que se a combinação é melhor o prazer não é o Bem porque Bem não pode tornarse mais desejável por lhe adicionarmos qualquer outra coisa É claro portanto que nada mais inclusive o prazer pode ser i emse setor ais dsejável pela dição de qualuer das coisas oase SI mesmas Ex1Strra entao alguma co1sa capaz de stlsfazer a este cr1tét10 da qual possamos ao mesmo tempo participar E algo deste gênero qutl estamos procurando Podemos ponanto supor que os estudiosos que objetam que aquilo que todos os seres visam não é necessariamente bom estão dizendo disparate pois afirmamos que aquilo que todos pensam que é bom realmente bom as pessoas que atacam esta convicção dificilmente te qualquer coisa mais convincente a sustentar em substituição a ela fossem apenas os seres irracionais que desejassem as çoisas em ques 1173 a Ética a Nicômacos 193 haveria algum sentido em suas supos1çoes porém se criaturas inteli gentes também o fazem como pode haver qualquer fundamento nelas Mas talvez os próprios seres inferiores possuam algum dom natural superior à sua própria condição que os leva a visar ao seu próprio bem Tampouco a refutação do argumento acerca do contrário do prazer parece correta Seus autores dizem que se o sofrimento é um mal nã resulta desta asserção que o prazer é um bem com efeito o mal é contrário do bem e ao mesmo tempo ambos são opostos a um estado neutro este argumento é bastante correto mas não se aplica às coisas em questão De fato se tanto o prazer quanto o sofrimento pertencessem classe dos males ambos deveriam ser objeto de aversão ao passo que s1 eles pertencessem à classe dos neutros nenhum dos dois seria objeto de aversão ou ambos o seriam mas na realidade as pessoas evitam claramente um deles como um mal e desejam o outro como um bem eles se opõem um ao outro então como um bem e um mal 3 Também não decorre necessariamente da suposição de que o prazer não é uma qualidade que ele não seja um bem pois as atividades da excelência moral não são tampouco qualidades nem a felicidade é uma qualidade Dizem291 ainda que o Bem é definido enquanto o prazer é indefinido porque admite uma graduação Ora se quem diz isto baseia o seu julgamento no fato de se poder sentir mais ou menos prazer o mesmc argumento se aplica ao sentimento de justiça e às outras formas dE excelência moral a respeito das quais sustentamos claramente que a pessoas que as possuem são mais ou menos dotadas das respectiva formas de excelência moral e agem mais ou menos de acordo com tai formas de excelência moral realmente as pessoas podem ser mais ou menos justas ou corajosas e também é possível agir mais ou menos justamente ou moderadamente Mas se o seu julgamento se baseia nm vários prazeres certamente eles não estão apontando a causa reaF99 se df fato alguns prazeres são simples e outros são compostos Ademais d mesma forma que a saúde adnite uma graduação sem ser indefinida por que o prazer não a admitiria Não existe a mesma proporção de saúde err todas as pessoas nem existe sempre uma só proporção na mesma pessoa mas ela pode diminuir e ainda persistir até certo ponto e pode diferir em grau É possível portanto que ocorra o mesmo no caso do prazer Eles 500 também partem do pressuposto de que o Bem é perfeito enquanto os movimentos e os processos de geração se mostram imperfei tos e tentam apresentar o prazer como sendo um movimento e um processo de geração Mas eles não parecem ter razão sequer quando dizem que o prazer é um movimento Com efeito pensase que a rapidez e a lentidão são propriedades de todas as espécies de movimentos e se um movimento o dos corpos celestes por exemplo não tem rapidez ou 194 Mitótl i lentidão em si mesmo ele as tem em relação a outra coisa qualquer mas nada disto é verdadeiro em relação ao prazer pois enquanto podemos i smtir iuna satisfação rapidamente da mesma forma que podemos encoleri zarnos rapidamente não podemos estar satisfeitos rapidamente nem mesmo em relação a outra pessoa ao passo que podemos andar ou crescer etc rapidamente Então enquanto podemos passar rapidamente ou lentamente a um estado de prazer não podemos atuar rapidamente no estado de prazer ou seja ter prazer rapidamente Mais ainda como podeo prazer ser um processo de geração Não pensamos que qualquer coisa ao acaso possa surgir de qualquer coisa ao acaso e sim que uma coisa está dispersa daquela pela qual ela será gerada se o prazer é a geração de alguma coisa o sofrimento é a destruição desta coisa 1173 b Elesl01 também dizem que o sofrimento é a carêncito daquilo que é conforme à natureza e o prazer é a satisfação desta carência Mas estas experiências são corporais Então se o prazer é a satisfação da carência daquilo que é conforme à natureza o prazer será sentido pela parte onde Ócorre a satisfação ou seja pelo corpo mas não se pensa que este seja o caso e portanto a satisfação da carência não é prazer embora possa haver urna sensação de prazer quando está ocorrendo tal satisfação da mesma forma que pode ocorrer uma sensação de sofrimento durante uma operação cirúrgica102 Esta opinião parece basearse nos sofrimentos e prazeres relacionados com a nutrição ou seja no fato de que quando as pessoas passam por uma carência de alimentos e sofrem antes por isto elas ficam felizes quando a carência é satisfeita Mas isto não ocorre com todos os prazeres o prazer de adquirir conhecimentos e entre os prazeres dos sentidos os do olfato e também muitos prazeres relacionados com a audição e com a visão e recordações e esperanças não envolvem sofrimento Se estes são processos de geração podese perguntar geração de que Não houve neste caso qualquer carência que tivesse de ser satisfeita Em resposta àqueles que invocam os prazeres degradantes podese dizer que estes não são agradáveis se certas coisas são agradáveis a pessoas mal constituídas em termos de excelência moral não devemos supor que tais coisas sejam agradáveis para outras pessoas além destas da mesma forma que não raciocinamos assim acerca de coisas saudáveis ou doces ou amargas para pessoas doentes e que não reconhecemos a brancura de coisas que parecem brancas a pessoas que sofrem de uma doença da vista Ou então se pode responder que os prazeres são desejáveis mas não quando derivados de fontes aviltantes da mesma forma que a riqueza é desejável mas não como recompensa por uma traição e a saúde é desejável mas não à custa de comer não impona o que Ou talvez os prazeres difiram especificamente uns dos outros DS prazeres derivados de j fontes nobilitantes são diferentes dos derivados de fontes aviltantes e não j Ética a N icômacos 195 podemos sentir os prazeres que o homem justo sente sem sermos justos nem os do homem dotado de sensibilidade musical sem termos esta sensibilidade e assim por diante Também o fato de um amigo ser diferente de um adulador parece evidenciar que o prazer não é um bem ou que os prazeres diferem especificamente uns dos outros pois pensamos que o amigo convive conosco visando ao bem e o adulador visando ao prazer e o último é censurado por sua conduta enquanto o primeiro é louvado por conviver conosco com um objetivo diferente E ninguém desejaria conservar durante roda a vida a mentalidade de uma criança por mais que lhe agradem as coisas agradáveis às crianças nem desejaria deleitarse praticando aros aviltantes embora nunca viesse a sofrer em conseqüência 1174 3 disto E há muitas coisas com as quais nos entusiasmamos mesmo que elas não nos tragam prazer por exemplo ver recordar conhecer possuir excelência moral Não faz diferença alguma se estas coisas são sempre acompanhadas de prazer escolhêlasíamos ainda que delas não resultasse prazer Parece claro então que nem o prazer é o Bem nem todos os prazeres são desejáveis e que alguns prazeres são desejáveis por si mesmos sendo diferentes dos outros especificamente ou em suas fomes Bastam estas considerações acerca das opiniões correntes quanto ao prazer e ao sofrimento 4 Se recomeçarmos o nosso exame desde o princípio veremos com maior clareza o que é o prazer e quais são as suas qualidades O ato de ver parece perfeito a qualquer momento pois ele não necessita de qualquer coisa superveniente que torne perfeita a sua forma parece que esta é também a natureza do prazer pois ele é um todo e em tempo algum se pode achar um prazer cuja forma será mais perfeita se ele durar mais Por esta razão o prazer também não é movimento pois cada movimento o de cqnstruir por exemplo consome tempo e é feito com vistas a um objetivo e se torna perfeito quando atinge o seu objetivo Ele é perfeito portamo somente quando podemos percebêlo em toda a sua duração ou em seu estágio final Em seus vários estágios e durante o tempo consumido em sua realização todos os movimentos são imperfeitos e são especificamente diferentes do movimento como um todo e de cada um dos outros movimentos O rejuntamenro dos blocos de pedra é diferente da ação de fazer as caneluras da coluna e ambos estes movimentos são diferentes da construção do templo a finalização da construção do templo o torna perfeito pois nada lhe falta quanto ao objetivo proposto mas o assentamento das fundações ou dos tríglifos é imperfeito pois cada uma destas etapas é a realização de apenas um estágio Então as partes diferem especificamente do todo e não é possível encontrar num determinado momento um movimento perfeito em sua forma mas somente se é que se encontra no tepo total de sua duração 196 1174 b Aristóteles Acontece o mesmo com o ato de caminhar e com todas as outras modalidades de locomoção Com efeito se a locomoção é um movimento de um ponto para outro ela tamWm apresenta diferenças específicas voar caminhar saltar etc E oio somente isto mas no próprio ato de caminhar há tais diferenças pois o ponto de panida e o de chegada em uma competição oio são idênticos a um trecho qualquer do percurso nem IZ os pontos de um trecho sio os mesmos de outro nem é a mesma coisa cruzar esca linha ou aquela de fato uma pessoa cruza não somente uma linha mas uma linha que está num lupr e este é um lugar diferente daquele Já discutimos detalhadamente o movimento em outra obra 101 mas parece que ele oio é perfeito a cada momento os virios movimentos são imperfeitos e especificamente diferentes já que o ponto de partida e o de chegada lhe dão a sua forma Mas a forma do prazer é perfeita a cada momentoÉ claro então que o prazer e o movimento diferem entre si e que o prazer deve ser uma das coisas que são um todo e perfeitas Esta conclusão também pode ser corroborada pelo fato de o movimento ocupar necessariamente um lapso de tempo enquanto um sentimento de prazer não ocupa pois cada momento de prazer é um todo perfeito Estas considerações também evidenciam que tais estudiosos não estão certos quando dizem que o prazer resulta de um movimento ou de um processo de geração De fato não se pode atribuir movimentQ e processo de geração a todas as coisas mas somente àquelas que são divisíveis e não um todo não há processo de geração do ato de ver nem de um ponto nem de uma unidade nem qualquer destas coisas é um movimento ou um processo de geração portanto o prazer também não é o resultado de um movimento ou de um processo de geração pois ele é um todo Já que cada sentido é ativo em relação às suas finalidades e um sentido em boas condições atua perfeitamente em relação à melhor de suas finalidades esta parece a descrição ótima da atividade perfeita presumin dose que é indiferente saber se é o próprio sentido que atua ou se é o órgão em que ele se situa seguese que no caso de cada sentido a melhor atividade é a do órgão em melhores condições relativamente às suas melhores finalidades E esta atividade será a mais perfeita e mais agradável de fato há prazer em relação a qualquer sentido e não menos em relação ao pensamento e à contemplação e a atividade é mais agradável quando é mais perfeita e a atividade dos órgãos em melhores condições em relação à melhor das finalidades é a mais perfeita e o prazer torna a atividade perfeita Mas o prazer não toma a atividade perfeita do mesmo modo que a combinação do objeto e da percepção ambos bons a torna perfeita i assim como a saúde e o médico não são de maneira idêntica a causa de estarmos saudáveis ji J É claro que há um prazer inerente a cada sentido pois dizemos que coisas vistas e ouvidas são agradáveis Também é claro que o prazer ocorre J 1175 a Ética a Nicômacos 197 principalmente quando o sentido está em suas melhores condições e esr á em atividade em relação ao melhor objeto quando o objeto e o sentido que o percebe são excelentes há sempre prazer já que o agenre e o paciente ideais estão presentes O prazer torna a atividade perfeita não como a respectiva disposição moral permanente o faz por já estr presente no agente mas como uma perfeição cumulativa à semelhança do viço da juventude daquelas pessoas que estão na flor da idade Enquanto o objeto em que se pensa ou que se percebe e a faculdade que discerne 01 contempla forem como devem ser haverá prazer na atividade po1s quando o fator passivo e o ativo se mantêm imutáveis e relacionados entre si de maneira idêntica seguese naturalmente um resultado idêntico Como explicar então o fato de ninguém sentir prazer continuamenre Será que nos cansamos já que nenhuma atividade humana admite uma ação contínua O prazer portanto também não é contínuo pois ele acompanha a atividade Algumas coisas nos deleitam quando são nova porém depois pela mesma razão não nos deleitam tanto efetivamente de início o espírito fica num estado de excitação e intensamente ativo em relação a tais coisas como no caso da vista quando olhamos penetrantt mente para alguma coisa mas depois nossa atividade se torna mencs intensa sofrendo uma espécie de relaxamento e conseqüentemente o prazer também se atenua Podese pensar que todas as pessoas desejam o prazer porque anseia1n por viver a vida é uma atividade e todas as pessoas exercem sua atividade em relação às coisas que mais amam e com as faculdades que mas estimam por exemplo as pessoas dotadas de sensibilidade para a músi a exercem sua atividade com o sentido da audição em relação à música e as pessoas estudiosas exercem sua atividade com o espírito em relação a questões teóricas e assim por diante em cada caso Ora o prazer torna s atividades perfeitas e torna portando a vida perfeita e isto é o que todas s pessoas desejam A questão de saber se desejamos a vida por causa do prazer ou o prazer por causa da vida pode ser deixada de lado por enquanto De qualquer modo a vida e o prazer parecem indissoluvelmer te unidos e não admitem separação já que não há prazer sem atividade e o prazer torna a atividade perfeita 5 Também por esta razão os prazeres parecem diferir especificamente uns dos outros De fato pensamos que as coisas especificamente diferentes se tornam perfeitas com a adição de coisas diferentes vemos que esta asserção é verdadeira canto em relação aos objetos naturais quanto às coisas produzidas pela arte como por exemplo animais árvores um quadro uma escultura uma casa um móvel e da mesma forma pensamos 198 1175 b Aristóteles que atividades especificamente diferentes se tornam perfeitas quando combinadas com coisas especificamente diferentes E as atividades intelec tuais diferem das atividades sensoriais e dentro da mesma classe umas também diferem especificamente das outras o mesmo acontece então com os prazeres que as tornam perfeitas Isto também se evidencia diante do fato de cada prazer estar ligado à atividade que ele torna perfeita Efetivamente uma atividade é intensifica da pelo prazer que lhe é inerente já que cada classe de coisas é melhor julgada e feita com maior precisão pelas pessoas que se dedicam às suas atividades com prazer por exemplo são as pessoas que gosram da geometria que se tornam geômetras e entendem melhor as várias proposições da geometria e da mesma forma são as pessoas que gostam da música ou da construção e assim por diante que progridem em suas atividades próprias porque sentem prazer nelas portanto o prazer intensifica as atividades e aquilo que intensifica uma coisa rem afinidades com ela mas coisas que têm afinidades com outras coisas especificamente diferentes também diferem especificamente entre si O fato de algumas atividades serem obstadas por prazeres inerentes a outras tornará esta afirmação ainda mais evidente De fato as pessoas que gostam muito de tocar flauta são incapazes de prestar atenção a um discussão filosófica se entreouvem alguém tocando flauta já que elas gostam mais do som da flauta do que da atividade a que se dedicam no momento então o prazer inerente à atividade de tocar flauta é um óbice à atividade relacionada com a discussão filosófica Isto acontece igualmente em todos os outros casos quando uma pessoa se dedica simultaneamente a duas atividades a atividade mais agradável à pessoa se sobrepõe à outra e quanto mais agradável ela é mais isto acontece de tal forma que a outra atividade cessa inteiramente É por isto que quando gostamos muito de uma coisa não nos dedicamos a qualquer outra e só fazemos uma coisa quando outra não nos agrada mais por exemplo as pessoas que comem doces no teatro os comem principalmente quando o espetáculo é mau E já que nossas atividades se tornam mais aprimoradas duradouras e melhores por causa dos prazeres que lhes são inerentes e são prejudicadas pelos prazeres inerentes a outras atividades evidentemente as duas espécies de prazer estão muito afastadas uma da outra De fato os prazeres estranhos a uma atividade têm quase o mesmo efeito sobre ela que o sofrimento que lhe é inerente porquanto as atividades são obstadas pelos sofrimentos que lhes são inerentes por exemplo se uma pessoa acha desagradável e penoso escrever ou fazer cálculos ela não escreve ou não faz cálculos porque estas atividades lhe causam sofrimenco Então as atividades são afetadas de maneiras opostas pelos prazeres e pelos sofrimentos que lhes são inerentes isto é pelos prazeres e sofrimentos que lhes sobrevêm em decorrência de sua própria natureza E dissemos que os prazeres estranhos Ética a Nicômacos 199 a uma atividade lhe causam o mesmo efeito que os sofrimentos eles são um óbice à atividade embora não o sejam de maneira idêntica E já que as atividades diferem quanto à sua bondade ou maldade e alumas são dignas de escolha outras devem ser evitadas e outras são neutras o mesmo acontece com os prazerers pois para cada atividade há um prazer que lhe é inerente O prazer inerente a uma atividade digna é bord e o inerente a uma atividade indigna é mau da mesma forma que desejar objetos nobilitantes é louvável mas desejar objetos ignóbeis é condenável Mas os prazeres relacionados com as atividades lhes são mais inerentes que os desejos pois os últimos são separados das atividades tanto no tempo quanto por sua natureza enquanto os primeiros lhes são intimamente ligados e tão difíceis de distinguir das mesmas que se chega a perguntar se a atividade não é a mesma coisa que o prazer O prazer todavia não 1176 a parece ser pensamento ou sensação isto seria estranho mas como não os encontramos separados a certas pessoas eles parecem a mesma coisa Então da mesma forma que as atividades são diferentes os prazeres inerentes a elas também o são A visão é superior ao tato em pureza e a audição e o olfato são superiores ao paladar os respectivos prazeres portanto são igualmente superiores e os prazeres intelectuais são superiores aos dos sentidos e dentro de cada uma das duas classes os prazeres diferem uns dos outros Pensase que cada animal tem seu prazer peculiar da mesma forma que tem uma função peculiar ou seja a que corresponde à sua atividade Se pesquisarmos espécie por espécie isto se tornará evidente o cavalo o cão e o homem têm prazeres diferentes como diz Herácleitos os asnos preferem o feno ao ouro 04 pois o alimento é màis agradável que o ouro para os asnos Então os prazeres de criaturas especificamente diferences diferem quanto à sua espécie e seria plausível supor que não há diferenças entre os prazeres de uma única espécie Mas de qualquer modo eles variam em escala não pequena ao menos no caso das criaturas humanas as mesmas coisas deleitam algumas pessoas e causam sofrimento a outras e são penosas e odiosas a outras e são agradáveis e apreciadas por outras Acontece o mesmo no caso das coisas doces as mesmas coisas não parecem doces a uma pessoa com febre e a outra saudável nem quentes a uma pessoa fraca e a outra em boas condições de saúde Ocorre o mesmo em outros casos mas em todos estes casos considerase que as coisas são realmente como parecem a uma pessoa boa Se este raciocínio é correto como aparenta ser e a excelência moral e as pessoas boas enquanto boas são a medida de todas as coisas as coisas que lhes parecem constiruir prazeres são prazeres e as que elas apreciam são agradáveis Se as coisas que elas consideram desagradáveis parecem agradáveis a outras pessoas nada há de surpreendente neste fato pois as pessoas podem corromperse e deteriorarse de muitas maneiras tais coisas não são realmente agradá veis mas agradáveis somente a pessoas nestas condições Não se deve 200 Aristóteles obviamente dizer que as coisas manifestamente aviltantes são prazeres a não ser para um gosto pervertido entre os prazeres considerados dignos que classe de prazeres ou que espécie de prazer devemos dizer que são adequados às criaturas humanas Os prazeres são inerentes às atividades Então se as pessoas perfeitas e sumamente felizes têm uma ou mais atividades podese dizer em sentido lato que os prazeres que tornam perfeitas as atividades são os prazeres adequados às criaturas humanas Os outros são prazeres somente num sentido secundário ou restrito à semelhança das atividades que lhes são inerentes 6 Tendo falado das várias espécies de excelência moral e intelectual da amizade e do prazer restanos discutir sucintamente a natureza da felicida de pois afirmamos que ela é o objetivo final da vida humana Nossa 1176 b discussão será ainda mais concisa se resumirmos primeiro o que já expusemos Dissemos anteriormente o que a felicidade não é uma disposição moral se fosse ela poderia ser possuída por alguém que permanecesse adormecido durante toda a sua vida vegetando em vez de viver ou igualmente por alguém que sofresse os maiores infortúnios se estas inferências são inaceitáveis e se devemos classificar a felicidade como uma atividade como dissemos antes 306 e se algumas atividades são apenas necessárias e desejáveis com vistas a algo mais enquanto outras são desejáveis em si obviamente a felicidade deve ser incluída entre as atividades desejáveis em si e não entre as desejáveis com vistas a algo mais pois não falta coisa alguma à felicidade ela é autosuficiente Ora as atividades desejáveis em si são aquel11s nas quais nada se busca além do exercício da própria atividade e pensamos que as ações conformes à excelência moral são desta natureza pois a prática de atos nobilitantes e bons é uma coisa desejável em si Mas os entretenimentos agradáveis também são desejáveis em si não os buscamos como meios para chegar a outros fins afinal de contaseles são mais prejudiciais que benéficos á que nos levam a descuidar de nosso corpo e de nossos bens Mas a maioria das pessoas consideradas felizes se entrega a tais passatempos e é por esta razão que as pessoas espirituosas são muito estimadas nas cortes dos tiranos elas se tornam companhias agradáveis nos entretenimentos dos tiranos e este é o tipo de gente de que eles necessitam Pensase que os entretenimentos são da mesma natureza da felicidade porque as pessoas que ocupam posições de mando nos regimes despóticos se entregam a eles em suas horas de lazer mas talvez estas pessoas não constituam uma evidência aceitável pois a excelência moral e a inteligência das quais decorrem as boas atividades não depen dem de posições de mando em governos despóticos e se estas pessoas que nunca provaram os prazeres puros e convenientes a homens livres entregamse aos prazeres do corpo tais prazeres não devem por esta razão ser considerados desejáveis com efeito as crianças também pensam que Ética a Nicômacos OI as coisas que elas consideram mais preciosas para si mesmas são as melhores É de esperar que da mesma forma que coisas diferentes parecem mais preciosas para as crianças e para os adultos deva acontecer o mesmo em relação àa pessoas mú e àa boas Portanto como já dissemos repetidamente são preciosas e atgradáveis as coisas que assim parecem àa pessoas boas e para cada pessoa a atividade conforme à sua própria disposição é mais desejável e conseqüentemente é mais desejável para as pessoas boas aquilo que é conforme à excelência moral A felicidade então não está no entretenimento seria realmente estranho se o objetivo final da vida fosse o entretenimento e se devessemos esforçarnos e enfrentar dificuldades durante toda a vida com a finalidade de divertirnos De fato por assim dizer cada coisa que desejamos é objeto de nosso desejo com vistas a algo mais exceto a felicidade o objetivo final da 1177 a vida Logo esforçarnos e trabalhar por causa de entretenimentos parece tolo e eXtremamente pueril Mas divertirnos para trabalhar ainda mais como diz Anácarsis307 parece correto pois o entretenimento é uma espécie de relaxamento e temos necessidade de relaxamento porque uão podemos trabalhar continuamente O relaxamento então não é uma finalidade pois recorremos a ele com vistas à continuidade de nossa atividade Pensase que a vida feliz é conforme à excelência então a ida conforme à excelência requer diligência e não consiste em entretenimen tos E dizemos que as coisas sérias são melhores que as coisas risíveis e que as relacionadas com o entretenimento e que quanto mais nobre é Lma faculdade ou uma pessoa tanto mais sérias pensamos nós são as suas atividades logo a atividade da faculdade ou da pessoa mais nobre é superior em si e portanto mais apta a produzir a felicidade Qualquer pessoa pode igualmente fruir os prazeres do corpo seja ela quem for e um escravo não menos que o melhor dos homens mas ninguém atribui a um escravo um quinhão de felicidade a não ser quf se lhe atribua também um quinhão de vida livre Portanto a felicidade não consiste em passatempos e entretenimentos e sim em atividades conbr mes à excelência como já dissemos antes308 7 Mas se a felicidade consiste na atividade conforme à excelência é razoável que ela seja uma atividade conforme à mais alta de todas as formas de excelência e esta será a excelência da melhor parte de cada um de nós Se esta parte melhor é o intelecto ou qualquer outra parte considerada naturalmente dominante em nós e que nos dirige e cem o conhecimento das coisas nobilicantes e divinas se ela mesma é divina ou somente a parte mais divina existente em nós então sua atividide conforme à espécie de excelência que lhe é pertinente será a felicidde perfeita Já dissemos 309 que esta atividade é contemplativa 202 1177 b Aristóteles J Esta afirmação parece concordar com o qUe já dissemos anteriormen cj te310 e com a verdade Com efeito em primeiro lugar esta atividade é a melhor já que não somente o intelecto é nossa melhor parte mas também os objetos com os quais o intelecto se relaciona são os melhores entre os objetos passíveis de ser conhecidos em segundo lugar esta é a atividade mais contínua já que a contemplação pode ter uma continuidade maior que a de qualquer outra atividade que possamos exercer Ademais supomos que a felicidade deve conter um elemento de prazer e que a atividade conforme à sabedoria filosófica é reconhecidamente a mais agradável das atividades conformes à excelência seja como for considera se que a busca da sabedoria filosófica oferece prazeres de maravilhosa pureza e perenidade e é de esperar que as pessoas que já conhecem a 2 sabedoria filosófica passem o seu tempo mais agradavelmente que aquelas que ainda se esforçam por alcançála E a chamada autosuficiência deve relacionarse acima de tudo com a atividade contempliitiva realmente ao r passo que um filósofo tanto quanto uma pessoa justa ou dotada de qualquer outra espécie de excelência tem necessidade das coisas básicas da vida as pessoas justas enquanto estão suficientemente providas destas coisas necessitam de outras pessoas em relação às quais e com quem elas possam agir justamente e as pessoas moderadas as corajosas e cada uma das demais estão no mesmo caso o filósofo todavia mesmo quando está só pode exercer a atividade da contemplação e tanto melhor quanto mais J sábio ele for ele talvez possa fazêlo melhor se tiver companheiros de i atividade mas ainda assim ele é o mais autosuficiente dos homens E i1i somente esta atividade parece ser estimada por sua própria causa pois nada decorre dela além da própria atividade de contemplar enquanto com as atividades de ordem prática obtemos algumas vantagens maiores ou menores além da própria ação E pensamos que a felicidade depende do lazer pois trabalhamos para ter direito ao lazer como fazemos guerra para SJ poder viver em paz Ora a atividade inerente às formas de excelência de ordem prática se manifesta nos assuntos políticos ou militares mas as ações relacionadas com estes assuntos não parecem compatíveis com o g lazer As ações bélicas não são compatíveis com o lazer de forma alguma iw ninguém prefere estar em guerra ou provoca uma guerra com o objetivo de estar em guerra qualquer pessoa seria considerada extremamente sedenta de sangue se desejasse uansformar seus amigos em inimigos somente para provocar batalhas e carnificina mas a ação do estadista também não é compatível com o lazer e além da própria ação política visa a ações de mando e a honrarias ou de uma maneira ou de outra à felicidade para ele e para seus concidadãos uma felicidade distinta da ação política e perseguida evidentemente por ser distinta dela Então se entre as ações de ordem prática conformes à excelência as ações políticas e militares se distinguem por sua nobreza e grandeza e estas não são compatíveis com o lazer e visam a um objetivo além de não serem 1178 a Ética a Nicômacos 203 desejáveis por si mesmas enquanto a atividade intelectual que é contemplativa parece superior em termos de importância de seu mérito e parece que não visa a qualquer outro objetivo além de si mesma e tem em si mesma o prazer que lhe é inerente e isto engrandece a atividade e a autosuficiência a disponibilidade de lazer e a imunidade à fadiga tanto quanto é possível para uma criatura humana e todos os outros atributos das pessoas sumamente felizes são evidentemente os relacionados com esta atividade então repetimos seguese que ela511 será a felicidade completa para o homem se lhe for agregada toda a duração de uma vida pois nada que seja inerente à felicidade pode ser incompleto Mas uma vida como esta seria demasiadamente elevada para o homem pois não seria como homem que ele viveria assim mas como se algo divino estivesse presente nele e esta atividade é superior às outras formas de excelência na mesma proporção em que este algo divino é superior à nossa narureza heterogênea Então se a intelecto é divino em comparação com as outras partes do homem a vida conforme ao intelecto é divina em comparação com a vida puramente humana Mas não devemos seguir aquelas pessoas que nos instam a sendo humanos pensar em coisas humanas e sendo mortais a pensar no que é mortal ao contrário devemos tanto quanto possível agir como se fôssemos imortais e esforçar nos ao máximo para viver de acordo com o que há de melhor em nós pois embora esta nossa parte melhor seja pequena em tamanho em poder e importância ela ultrapassa rodo o resto E pode realmente parecer que esta parte é a verdadeira natureza de cada criatura humana já que ela é a sua parte dominante e melhor Seria estranho com efeito se o homem devesse dar preferência não a viver a sua própria vida mas a vida de outro ser qualquer E o que dissemos antesm se aplica agora aquilo que é peculiar a cada criatura lhe é naturalmente melhor e mais agradável para o homem a vida conforme ao intelecto é melhor e mais agradável já que o intelecto mais que qualquer outra parte do homem lo homem Esta vida portanto é também a mais feliz 8 Mas a vida conforme a qualquer espécie de excelência moral é feliz somente de um modo secundário pois as atividades conformes a estas espécies são puramente humanas Praticamos os atos justos e valorosos e ouuos atos conformes à excelência moral em nossas relações com o próximo cumprindo nossos respectivos deveres relativos a contratos e obrigações e a todos os tipos de ações bem como de emoções todas elas parecem ser tipicamente humanas algumas delas parecem até uma conseqüência de nossa constituição física e a excelência moral parece estar ligada de muitas maneiras às emoções O discernimento também parece estar estreitamente vinculado à excelência moral e esta ao discernimento já que os primeiros prindpios do discernimento são conformes à 204 Aristóteles 1 excelência moral e os padrões morais corretos são conformes ao discerni mento As várias formas de excelência moral por estarem ligadas às emoções também se relacionam com nossa natureza heterogênea e as formas de excelência moral de nossa natureza heterogênea são humanas conseqüentemente a vida e a felicidade que lhes correspondem também 0 são Mas a felicidade compatível com o intelecto é uma coisa à parte devemos contentarnos com esta simples referência a ela pois descrevêla precisamente seria uma tarefa maior que a imposta por nosso objetivo presente Tal felicidade entretanto parece necessitar de poucos recursos exteriores ou menos do que os necessários no caso da felicidade conforme à excelência moral Admitamos então que ambas as formas de felicidade pressupõem a disponibilidade das coisas essenciais à vida e isto em proporções iguais ainda que a tarefa do estadista tenha mais a ver com as 1178 b necessidades do corpo e outras correlatas do que a tarefa do filósofo de fato haverá pouca diferença entre elas neste ponto mas para os fins de suas atividades específicas haverá uma grande diferença As pessoas generosas necessitarão de dinheiro para as suas liberalidades e as pessoasi justas também necessitarão de dinheiro para retribuir os serviços que lhes forem prestados os desejos são invisíveis e mesmo as pessoas que não são justas pensam que desejam agir justamente os homens corajosos 1 neçessitarão de força para praticar os atos correspondentes à sua forma de excelência moral e os moderados necesitarão de oportunidades para pôr sua moderação à prova com efeito de que maneira além desta estes homens ou os outros revelarão sua excelência moral Discutese também se a intenção ou os atos são mais essenciais à excelência moral que presumivelmente depende de ambos é claro sem dúvida que a perfeição ll da excelência moral pressupõe ambos mas muitas coisas são necessárias para os atos e quanto mais numerosas são as coisas necessárias sua prática mais notáveis e nobilitantes são os atos Mas para a atividade contemplativa as pessoas não necessitarão de recursos externos pelo menos com vistas ao exercício desta atividade podese realmente dizer que de certo modo os recursos exteriores são óbices à contemplação embora seja verdade que sendo criaturas humanas e convivendo com j outras tais pessoas desejam praticar ações conformes à excelência moral e assim necessitarão de recursos exteriores para viverem a sua vida como criaturas humanas i l Mas as considerações seguintes evidenciarão que a felicidade perfeiuj é uma atividade contemplativa Os deuses como os concebemos são sumamente bemaventurados e felizes mas que espécie de atividade devemos atribuirlhes Ações justas Não seria ridículo imaginar que os deuses fazem contratos restituem coisas recebidas em depósito e assimJ por diante Praticariam eles atos semelhantes aos dos homens corajosos1 enfrentando perigos e correndo riscos porque agir assim é nobifitante Ou 1179 a Ética a Nicômacos 205 praticariam eles atos de liberalidade Seria absurdo supor que eles tives sem dinheiro ou algo do mesmo gênero E que significariam atos modera dos no caso deles Não estaríamos diante de um elogio de mau gosto ji que eles não têm maus desejos Se percorrermos todo o rol das formas dt excelência moral as circunstâncias das ações parecerão triviais e sã indignas de deuses Ainda assim todos supomos que eles vivem e portanto que eles estão em atividade Não podemos imaginar que eles durmam como Endímion m Se privarmos um ser humano da ação e mais ainda de produzir alguma coisa que lhe deixaremos senão a contemplação Portan to a atividade dos deuses que supera todas as outras em bemaventurança deve ser contemplativa conseqüentemente entre as atividades humanas a que tiver mais afinidades com a atividade de Deus será a que proporciona a maior felicidade Uma confirmação adicional desta ilação é que outros animais não participam âa felicidade porque são completamente destituí dos desta atividade De fato toda a existência dos deuses é bem aventurada e a atividade dos seres humanos também o é enquanto apresenta alguma semelhança com a atividade divina mas nenhum dos outros animais participa da felicidade porque eles não participam de forma alguma da atividade contemplativa Então a felicidade chega apenas até onde há contemplação e as pessoas mais capazes de exercerem a atividade contemplativa fruem mais intensamente a felicidade não como um acessório da contemplação mas como algo inerente a ela pois a contemplação é preciosa por si mesma A felicidade portanto deve ser alguma forma de contemplação Mas sendo criaturas humanas necessitamos também de bemestar exterior pois nossa natureza não é suficiente por si mesma para o exercício da atividade contemplativa Nosso corpo deve ser também saudável e deve receber boa alimentação e outros cuidados Nem por isto porém devemos pensar que as pessoas necessitam de muitas e grandes coisas para ser felizes simplesmente porque não podem ser sumamente felizes sem bens exteriores com efeito a autosuficiência e a ação não pressupõem excessos e podemos praticar ações nobilitantes sem dominar a terra e o mar porquanto mesmo com recursos moderados é possível agir de conformidade com a excelência isto é bastante evidente pois se pensa que os simples cidadãos praticam atos meritórios não menos que os detentores do poder na verdade os praticam ainda mais basta dispormos de recursos moderados pois a vida das pessoas que agem de conformidade com a excelência será feliz Sôlonm também estava descrevendo fielmente o homem feliz quando o apresentou como moderadamente aquinhoado de bens exteriores mas como alguém que praticava os atos mais nobilitantes e vivia moderadamente na verdade com posses apenas moderadas podemos fazer o que devemos Anaxágo ras116 também parece haver suposto que o homem feliz não tem de ser rico 206 1179 b Aristóteles nem poderoso pois ele disse que o homem feliz pareceria à maioria das pessoas uma criatura surpreendente já que as pessoas em sua maioria julgam as outras pelas exterioridades pois estas são tudo queelas podem perceber A opinião dos sábios parece então harmonizarse com os nossos argumentos Mas apesar de tais afirmações serem de certo modo convincentes a verdade em assuntos de ordem prática é percebida através dos faros da vida pois estes são a prova decisiva Devemos então examinar o que já dissemos submetendo nossas conclusões à prova dos fatos da vida se elas se harmonizarem com os fatos devemos aceitálas mas se colidirem com eles devemos imaginar que elas são meras teorias As pessoas que usam sua própria razão e a cultivam parecem ter o espírito nas melhores condições e ser mais queridas pelos deuses De fato se os deuses se interessam de algum modo pelos assuntos humanos como geralmente se crê é razoável imaginar que aquilo que é melhor e tem maiores afinidades com eles isto é a razão lhes dê prazer e que eles recompensem as pessoas que amam e honram a razão acima de tudo porque tais pessoas cuidam do que é caro aos deuses e agem retamente de maneira nobilitanre Agora é claro que todos estes atributos pertencem às pessoas sábias mais que a quaisquer outras Elas ponanto são as mais caras aos deuses e quem estiver nestas condições será provavelmente mais feliz Sendo assim então o sábio é o homem mais feliz 9 Se estes assuntos e a excelência moral e intelecrual bem como a amizade e o prazer foram suficientemente examinados em suas linhas gerais podemos supor que nossa investigação atingiu o seu objetivo Ou talvez como tivemos pponunidade de dizer nas ciências práticas o objetivo não é chegar a um conhecimento teórico dos vários assuntos e sim pôr em prática as nossas teorias Se for assim saber o que é a excelência moral e a intelectual não é o bastante devemos esforçarnos por possuílas e praticálas ou experimentar qualquer outro meio existente para nos tornarmos bons Se palavras bastassem para tornarnos bons elas teriam com justiça obtido grandes recompensas como diz Têognism e deveríamos ter as palavras sempre à nossa disposição mas sendo as coisas como são apesar de as palavras parecerem ter o poder de encorajar e estimular os jovens de espírito generoso e diante de uma nobreza inata de caráter e de um amor autêntico ao que é nobilitante ser capazes de tornálos susceptíveis i excelência moral elas são impotentes para incitar a maioria das pessoas i prática da excelência moral Com efeito as pessoas em sua maioria oão obedecem naturalmente ao sentimento de honra mas somente ao de temor e não se abstêm da prática de más ações por causa da baixeza desW mas por temer a punição vivendo segundo os ditames das emoções elai buscam seus próprios prazeres e os meios para chegar a eles e evitam os Ética a Nicômacos 207 sofrimentos contrários e não têm sequer uma noção do que é nobilitante e verdadeiramente agradável já que elas nunca experimentaram tais coisas Que palavras regenerariam tais pessoas É difícil senão impossível remover mediante palavras hábitos há longo tempo incorporados ao caráter destas pessoas Talvez devamos considerarnos felizes se conse guirmos darlhes uma aparência de excelência moral quando dispomos de todos os meios para influenciar as pessoas no sentido de tornálas boas Alguns estudiosos pensam que a natureza nos fez bons outros que nos tornamos bons pelo hábito outros pela instrução Os dotes naturais evidentemente não dependem de nós mas em decorrência de alguma causa divina estão presentes nas pessoas verdadeiramente favorecidas pela sorte quanto às palavras e à instrução receamos que elas não sejam eficazes em relação a todas as pessoas mas que a alma de quem aprende deve primeiro ser cultivada por meio de hábitos que induzam quem aprende a gostar e a desgostar acertadamente à semelhança da terra que deve nutrir a semente Realmente as pessoas que vivem ao sabor de suas próprias emoções não ouvem as palavras que podem persuadilas e se as ouvem não as entendem e como podemos persuadir as pessoas em tal estado a mudar de caminho E de um modo geral as emoções parecem ceder não à palavra mas à força O caráter portanto deve de algum modo estar previamente provido de alguma afinidade com a excelência moral amando o que é nobilitante e detestando o que é aviltante Mas é difícil proporcionar desde a adolescência uma preparação certa para a prática da excelência moral se os jovens não são criados sob leis certas de fato viver moderada e resolutamente não é agradável para a maioria das pessoas especialmente quando se trata de jovens Por esta razão sua educação e suas ocupações devem ser reguladas por lei pois elas não serão penosas se se tiverem tornado habituais Mas certamente não é bastante que desde jovens as criaturas humanas recebam a educação e os cuidados certos já que mesmo quando se tornarem adultas elas terão de 1180 a pôr em prática as lições recebidas e de estar habituadas a tais lições necessitaremos também de leis para disciplinar os adultos e falando de um modo geral para cobrir toda a duração da vida pois as pessoas em sua maioria obedecem mais à compulsão do que às palavras e mais às punições do que ao sentimento daquilo que é nobilitante É por isto que há quem pensem que os legisladores devem estimular as pessoas à prática da excelência moral e instálas a perseverar por ser nobilitante proceder assim no pressuposto de que aquelas que progredirem moralmente pela formação de hábitos corretos continuarão fiéis a tais influências devem ser impostas punições e penalidades às pessoas que desobedecem e são de má índole enquanto as incorrigivelmente más devem ser definitivamente banidas Uma pessoa boa dizem tais estudiosos já que ela vive com o seu 208 1180 b Aristóteles espírito concentrado no que é nobilitante submetese às palavras enquan to uma pessoa má ansiosa apenas pelo prazer só é corrigida peÍo sofrimento como uma besta de carga E também por isto que se diz que 05 sofrimentos infligidos devem ser os mais contrários aos prazeres pelos quais estas pessoas anseiam De qualquer modo se como dissemos119 uma pessoa para ser boa deve ser bem exercitada e habituada e deve continuar ao longo de sua vida em ocupações conformes à excelência moral abstendose da prática voluntária ou involuntária de más ações e se este objetivo pode ser atingido se as pessoas vivem de acordo com uma espécie de razão e num sistema correto dotado do poder de compulsão se for assim então a autoridade paterna realmente não tem a força necessária nem o poder de compulsão em geral a autoridade de um único homem tampouco os tem a não ser que ele seja rei ou algo do mesmo gênero mas a lei tem este poder de compulsão e ela é ao mesmo tempo uma norma oriunda de uma espécie de discernimento e de razão E enquanto as pessoas odeiam quem se opõe aos seus impulsos mesmo se a oposição é justa a lei em sua injunção do que é bom não é opressiva Somente em Esparta ou praticamente só o legislador parece ter prestado atenção às questões de educação e preparo físico dos cidadãos na maioria das cidades estas questões foram descuradas e cada pessoa vive como lhe apraz à maneira dos Cíclopes fixando a lei para a mulher e os filhos 120 Mas é melhor que haja um sistema específico e público para tais questões se elas forem descuradas pela comunidade então será acertado que cada pessoa ajude seus filhos e seus amigos a atingir a excelência moral e que elas tenham o poder ou no mínimo a intenção de agir assim Do que foi dito parece resultar que cada pessoa poderá agir melhor neste sentido se ela se capacitar para legislar O ordenamento dos assuntos públicos é obviamente efetuado através das leis e o bom ordenamento é efetuado através das boas leis parece que não fará diferença se elas forem escritas ou nãoescritas nem se elas forem normas regulando a educação de indivíduos ou de grupos da mesma forma que isto não faria diferença no caso da música ou da ginástica e de outras disciplinas similares Com efeito da mesma forma que nas cidades as leis e os costumes predominao tes têm força nos lares a autoridade e os hábitos do pai também têm e I força destes é ainda maior por causa dos laços de sangue e dos benefícios devidos ao pai pois os filhos demonstram inicialmente uma afeição natural em relação a ele e a disposição de obedecerlhe Além disto a educaçiOj individual tem vantagens sobre a coletiva como acontece com o tratamenJ to médico realmente enquanto de um modo geral o repouso e o jejum Ética a Nicômacos 209 são bons para as pessoas febris para determinadas pessoas eles podem do ser bons e presumivelmente um professor de pugilismo não prescreve o mesmo estilo de luta para todos os seus alunos Parece então que os detalhes são tratados com mais atenção se o cuidado é individual poi é mais provável que nesta modalidade cada pessoa receba a atenção que seu caso requer Mas os detalhes podem ser melhor tratados um por um através de um médico ou de um professor de ginástica ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento geral do que é bom para cada pessoa ou para as pessoas de certo tipo dizse e realmente acontece que as ciências tratam do universal apesar disto nada impede que algum detalhe particular possa eventualmente ser bem tratado por uma pessoa sem formaçio científica se ela houver estudado cuidadosamente à luz da experiência o que acontece em cada caso da mesma forma que algumas pessoas parecem ser seus próprios médicos embora não possam ajudar quaisquer outrts pessoas Entretanto talvez se possa concordar com que se uma pessca deseja dominar uma arte ou ciência ela deve ir ao universal e deYe conhecêlo tão bem quanto possível pois como dissemos é do universtl que a ciência trata Certamente uma pessoa que deseja graças aos seus cuidados tornar s outras melhores sejam estas muitas ou poucas deve tentar capacitars para legislar na presunção de que podemos tornarnos melhores graças à leis De fato moldar adequadamente o caráter de alguém seja quem fo que se nos apresente não é tarefa para qualquer pessoa ao acaso se um pessoa pode fazer isto esta é a pessoa que tem o conhecimento adequado da mesma forma que na medicina e em todas as outras profissões cuj exercício pressupõe cuidado e discernimento Não é o caso então de investigar em seguida com quem ou com1 podemos aprender a legislar Será como em todos os outros casos con um estadista Já vimos 121 que a legislação é um ramo da ciência política Ou a ciência política não parece semelhante às outras ciências e artes Na outras vemos as mesmas pessoas oferecendose para ensinar as artes t praticandoas por exemplo os médicos e os pintores mas enquanto m sofistas pretendem ensinar política ela é praticada não por qualquer deles mas pelos políticos que parecem dedicarse a ela movidos mais por uma certa inclinação e pela experiência do que pela inteligência efetivamente nunca vemos os políticos escreverem ou falarem sobre princípios da plítica embora esta pudesse ser uma ocupação talvez mais nobilitante do que compor orações para ser pronunciadas nos tribunais e nas assembléias populares nem prepararem seus filhos ou outros amigos seus para ser estadistas Mas seria de esperar que eles agissem desta maneira se pudessem pois nada seria melhor do que possuir esta capacidade para pôla 21 O Aristóteles a serviço de sua cidade ou de si mesmos se preferissem ou então daqueles que lhes são mais caros Mas a contribuição da experiência não parece pequena pois se assim não fosse eles não poderiam tornarse políticos por mera familiaridade com a política parece portanto que as pessoas que aspiram a conhecer a arte da política necessitam também de experiência Por outro lado vemos que os sofistas que pretendem ensinar política estão muito longe de ensinála realmente Para falar de um modo geral eles não sabem sequer o que é a ciência política nem do que ela trata se assim não fosse eles não a teriam classificado como idêntica à retórica ou até inferior a ela u nem teriam imaginado que legislar é fácil bastando fazer uma coleção de leis consideradas boas Eles dizem que é possível colecionar as melhores leis como se a própria coleção não exigisse inteligência e como se o julgamento acercado não fosse a melhor de todas as coisas a exemplo do que acontece em relação à música Enquanto as pessoas experientes em qualquer profissão julgam acertadamete as obras nela produzidas e sabem por que meios ou como elas são feitas e quais as coisas que se harmonizam entre si as pessoas inexperientes devem darse por felizes se não são incapazes de perceber se a obra foi bem ou mal feita como no caso da pintura Ora as leis são por assim dizer obras de arte políticas como se pode então aprender com os sofistas a ser um legislador ou a julgar quais são os melhores legisladores Os próprios médicos não parecem formarse apenas lendo as obras sobre medicina E até os autores de obras sobre medicina tentam de qualquer modo indicar não somente os tratamentos 1181 b mas também como os casos particulares de certos pacientes podem ser curados edevem ser tratados distinguindo os vários hábitos do corpo mas se este procedimento parece útil para as pessoas experientes para as inexperientes ele não tem valor algum É bem possível portanto que enquanto as coleções de leis e também de constituições podem ser úteis para as pessoas capazes de estudálas e julgar o que há nas mesmas de bom ou mau e quais são os dispositivos adequados às peculiaridades de cada cidade aquelas que examinam tais coleções sem estar intelectualmente preparadas para isto não formarão um juízo acertado a não ser que o façam acidentalmente embora talvez possam tornarse mais entendidas em relação a estas matérias Nossos predecessores se omitiram quanto ao exame do assunto da legislação talvez seja melhor portanto que nós mesmos o estudemos e estudemos de um modo geral a questão das constituições a fim de completarmos da melhor maneira possível nos limites de nossa capacida de nossa filosofia das coisas humanas Primeiro então se algo foi dito com acerto e detalhadamente pelos pensadores anteriores passemos em revista a sua contribuição depois à luz das constituições que colecionamos m examinemos as instituicões que preservam ou desrróem as cidades e as que preservam ou destróem as Ética a Nicômacos 211 várias espécies de constituições e as razões pelas quais umas cidades são bem administradas e outras ao contrário são mal administradas Quando tivermos estudado convenientemente estes assuntos é mais provável que possamos ver de maneira mais ablangente qual das várias espécies de constituições é a melhor e como cada constituição deve ser estruturada e quais as leis e costumes que uma constituição deve incorporar para ser a melhor Comecemos a nossa discussão 124 HOW TO MAKE A CAT DO TRICKS TRAIN YOUR CAT TO FETCH SIT TARRY EVEN STAND SHOWS WITH WOOSH Notas l Uma das acepções de rrll uadicionalmenre traduzida por virtude cremos que excelbcia corresponde melhor ao sentido do oriinal e evita a ambiüidade de virtude na lim correnre 2 Excelocia moral corresponde ao conceito tradicional de virtude de um modo geral vejase a nora anterior 3 Provavelmente por Êudoxos 390340 a C vejase 1101 b 28 1172 b 9 4 Na Érk Mior 1211 b 27 e seguintes Aristóteles menciona a arte de tocar flauta como exemplo de uma atividade cuja finalidade está em si mesma em contraste com a arte de consuuir cuja finalidade a casa construída 5 O termo cidade sempre usado na acepção de cidadeestado a põlir gep 6 Platão e seus discípulos vejase o capítulo 6 7 Ou ponto de partida 8 Os Trblbos t os Dis versos 293 e seguintes 9 1095 a 30 10 Podese atribuir a Pitiaoras culo VI a C a doutrina dos três tipos de vida Segundo seu bióarafo llmblicos Viú tk Pirlgors capítulo 58 Pitoras comparou os três tipos de homem ls us classes de pessoas que se reuniam nos podes jogos sreaos olímpicos istmicos oemeus e píticos os oeaociantes os competidores e os espectadores Esta comparação revela a mettiora subjacente l frase rbeorrrilr6r bior vida contemplativa literalmente a vida do espectador segundo o comeotador inglês Busnet em sua ediçlo da Érk Nim cr Londres 1900 A vida ou atividade contemplativa será estudada deralhadameote em 1177 1 141 1178 a 8 1178 a 22 1179 a 32 livro X capitulo 7 11 Rei lendirio da Assíria Atêoaios BIUI dos sofistM 33 7 e 530 menciona duas versões de seu epitáfio uma Come bebe e divenete pois tudo mais não digno de um esralo de dedos a pane final da ouua Tenho o que comi e as exuavqincias que fiz e o amor que dei e recebi enquanto toda a minha grande riqueza desapareceu 12 Como já dissemos na introdução e na nora l a tradução usual de por virtude muito vqa por nio expressar as ouanças do oriinal preferimos excelência seguida quando o caso de um qualificativo moral intelectual anfstica etc 214 Aristóteles 12a A referncia é às obras para o público ou exotéricas 13 Vejase a nota 10 14 Tratase da Teoria das Formas ou Idéias riJr iJIl de Platio em linhas aerais Forma ou Idéia pode ser entendida em Platio como um protótipo 15 Isto é absolutamente 16 Isto é ao absolutamente bom e ao relativamente bom 16 a Subentendase do que uma coisa branca efmera I Alguns pitagóricos pensavam que havia dez pares de princípios contririos que eles distribuíam em duas colunas limitado ilimitado ímpar par unidade pluraliàade direita esquerda macho fmea imóvel móvel reto curvo luz trevas bem mal quadrado oblongo Vejase a Mrsfísic de Aristóteles 9S6 a 23 e seguintes Susipos citado em seguida era sobrinho de Platão e o sucedeu ria chefia da Academia 18 Vejase a Mrs4ísica 986 a 2226 1028 b2124 1072 b 301073 a 3 109la 29 b 3 1091 b 13 1092 a 17 19 Vejase a Polílic onde Aristóteles chama o homem de animal social a traduçio tradicional é animal político mas o sentido da palavra gtega é melhor erpresso através de animal social1 20 Vejase 1100 a 10 1101 b 9 1170 b 20 1171 a 20 21 Vejase 1094 b 1127 22 Vejase Platão ErftJnos 279 A B Fllebos 48 E Leis 743 E 23 Preferimos traduzir pbr6ntsis por discernimento ouuos preferem prudbcia a rraduçio tradicional ou sabedoria pr6tica W O lloss 24 Local onde havia um dos mais famosos templos e or6culos de Apolo 25 1098 b 2629 26 Vejase a nota anterior 27 1098 a 16 28 1094 a 27 29 1091 a 1820 Ética a Nicômacos 215 29 L Priamos en o rei de Tróia na poca da JUern com os sregos 30 Vejase Heródotos His16ri11 livro I capítulos 30B 31 Vejase o início deste capítulo 32 1099 a 31 b 7 33 Isto a constância na prática de atividades conformes 11 excelncia permanência 34 Expressões tindas do poema de Simonides citado e analisado por Platão no Pro1Jzor11s 339 B tetraaonal parece significar quatro vezes reto reto na acepçio de honesto ou quatro vezes perfeito 3 Aristóteles retoma aqui o rema abordado em 1100 a 1830 36 Ou seja aos estudiosos da retórica entre os quais o próprio Aristóteles em sua obra do mesmo nome 36 a Vejase a nora 12a e ramm a introdução para os rxortriieoi l6goi 3 7 Há um joao de palavras inuaduzível neste uecho lozos ábti tanto pode significar que o pai é ouvido pelo filho ou seja que o filho lhe obedece quanto pode sianificar que uma cerra propriedade matemática racional 38 Em sreao etbilel e llbos respectivamente 39 Vejase o início do livro VI para a reta razão 40 Vejase 1094 b 1127 41 A propósito da doutrina do meio termo llltsolts imporranre na rica e na política de Aristóteles vejase sua Polflic 129 a 3 7 e seWnres 42 Para a definição de concupiscência 11eolsi vejase 110 a 11 e seWntes 43 Ltis 63 A e sepinres e Rrpliblic 401 E 402 A 44 1104 a 27 b 3 4 Provavelmente a alusão a Spêusipos apesar de naS referências que nos restam na filosofia sresa sobre a impassibilidade CPIhi ela aparecer como um ideal moral dos estóicos 46 Hericleitos no fragmento 8 DielsKranz diz É difícil lutar contra o desejo ele consegue tudo que quer ainda que lhe custe a alma 47 Vejase 1103 a 31 b 2 1104 a 27 b 3 48 Vejase 1103 a 18 b 2 49 Vejase 1104 a 1127 50 Medida de peso equivalente a cerca de 600g 1 Atleta famoso no século VI aC 52 Vejase 1096 b 6 3 Verso de autor desconhecido 4 Presumese que aqui Aristóteles devia exibir aos discípulos ma diagrama das várias formas de excelência moral virtudes semelhante ao que aparece na Etic E11tlnttos 1220 b 3 7 e seWntes este tópico tratado com mais detalhes em 111 a 3 1128 b 36 Vejase 1108 b 1126 112 b 1418 6 Ou seja diante do susesso imerecido allllrsis 7 Neste ponto o rexro de Aristóteles obscuro talvez por excesso de concisão pois literalmente ele diz apenas que o despeitado vai tlo lonae que em vez de sofrer chega até a alegrarse W D Ross um 216 Aristóteles dos mais acuados escudiosos da obra de Arinórelet puafnseia o raro dandolhe o enádo que aos parece mais provfvel doado qui e cbepl coadlllio de que e Arisc6cele1 áftle deteavolvido o nciodnio teria percebido que aio bi opoliçio eaae os ezuemos Vejae a DOta de llou l ua uaduçlo ao volume IX du obra complew de Ariscócelet Odord 1925 58 A refetfacia 6wp e pode erlprópriaÉiit Niclrutos 1115 a 61128 b9oulRtt6ric 1383 b 11 1385 a 15 1386 b 9 1388 a 28 59 1129 a 26 b 1 1130 a 15 b 5 1131 b 915 1132 a 2430 1133 b 30 1134 a 1 60 No livro VI 61 Homero OJissti livco XII verso 219 No caco da OJiss que cbeaou ac6 aó1 e1cu piJYraS 1io diw por OdiJeUI craasmiáado ao eu ámoaeiro a ldvercacia de Circe e aio de Calipso ao Rnádo de evitar o remoinho de Carfbdil que sorRria a nau e RUI uipuwues e cliriBila pua u proximidades do monstro Cila que devoraria apeau alpa1 deles 62 Liceralmeace a Raunda maneira de aaave1ur JiwlrrDS pl111 63 Homero lliú 111 156160 Nio h6 nz6e1 pua iadiparaoa com os croiaoos nem com 01 aqueUI de belu pevu R eles sofrem bi uacos anos por uma mulher u1im sua fiura e uemelba incrivelmente l de uma deusa eceraa Mas de qualquer modo por ser como 6 que ela come uma nau e parca Nlo a deizemos mais qui como um flaelo aaora nosso e breve para nossos filhos 64 Voluadrio e iavoluadrio correspoadem quase perfeitamente a hfãísi e ãisünt ao oriaiaal muls vezes por eemplo em 1110 b e eauiaces drísünt cem uma conocaçlo mais force de contra a vontade aio voluadrio como diz o próprio Aristóteles eml110 b 18 65 Comervacne alpaa frqmencos da ia perdida de Eurfpide1 com o nome desce herói o fraenro 69 da colecinea de Nauck TrUori GrMnra Fr ilUitra a alusão de Aristóteles 66 Vejase a nota 64 67 Ésquilo foi acusado diante do Areópqo de baver revelado em 1uu 01 mist6rios de Dem6ter mu foi absolvido 68 Na rraa6dia Cruonln de Eurípides de que nos restam apenas fraamencos 69 Literalmente PfHirrsis sianilica escolha premeditada 6 por isco que Aristóteles diz aRauir que os animais irracionais aio escolhem 70 Vejae a nota anterior 71 lsro 6 1e formos iavestipr os cuos particulares 72 Isto 6 a raio ou o iacelecco 7 3 Subentendase os reis a cerca altura dos debates anunciavam 74 1111 b 26 n 1112 a 1 e seauinces A cicaçio loao abaixo 6an6nima talvez uma alusio a um verso de Sôloa 76 Retomando u consideraçlles entre nretes ao pariarafo anterior a aio ser que eles cenlwa agido por isnodncia cuja responsabilidlde aio lhes pode ser atribuída 77 De acordo com uma lei auibulda a Pfracos tirano de Mitilene vejase o próprio Ari1tóceles na Polfrir 1274 b 19 e na Rn6ric 1402 b 9 78 1107 a 33 b 4 9 1107 b 2 b 29 1108 a RO 111 a 33 e seguintes Ética a Nicômacos 81 1iJJa XXII 100 é Hécror quem fala e o versoanrerior é Se me reriro asora e enuo pelas porras 112 1iaJa VIIJ 148 a continuação é Vencido no combate e retornando às naus llt 111 a 6 e sesuinres 217 R1 1iaJa ll 391 no rexro alUa da 1íaJa os dois versos são diros por Asamêmnon e não por Hêcror l rldação é liseiramenre diferenre 11 o diáloso Uq11ts de Piarão 86 Duranre a baralha de Coronea na Guerra Sasrada uavada aproximadamente em 33 aC 87 Citação livre da 1iaJa XI 11 ou XVI 29 88 Vejase a 1raJa V 470 e XV 232 94 89 Homero OJissii11 XXIV 318 e sesuinres 90 Esra frase não aparece no rexro arual das obras de Homero a primeira ocorrência desra metáfora nas obras da lirerarura grep anriga que chesaram aré nós é em Teõcriros idílio 20 verso I 5 91 Esra repetição como numerosas ourras ao lonso da obra esrá no orisinal 92 111 b 1124 9 Vejase a nora anterior 91 Junto às lonsas muralhas de Corinto na baralha travada em 392 aC vejase Xenofon Htlinicts IV I 10 9 111 b 713 96 1107 b 46 9 Ou seja por associação de idéias Homero lliaJ11 lll 24 i Vejase a Éli11 Ê11Jtmos 1231 a 16 t Aristófanes As ris verso 934 I 00 JliaJt XXIV 130 I OI Em greso concupiscente IIAôlastos sisniiicava originariamente nãocastigado e se aplicava às rianas mimadas 102 Em greso pródiso é ásotos ou seja sem salvação e o desperdício das posses era considerado lomo uma espécie de ruina já que a vida de cada um dependia de suas posses 103 De Simonides de Céos que viveu de 6 a 468 aC só nos restam fragmenros há entre seus versos remanescentes alguns elosiosos à poupança mas nenhum deles corresponde exaramentl alusão de Arisróteles 104 1119 b 27 10 Lireralmenre serrador de sementes de cuminho CKJminoPrislts 106 1119 b 27 e sesuinres 107 Homero OJissiia XVII 420 218 Aristóteles 108 1123 a 1933 109 Existem alusões ao assunto em 1103 b 2123 1104 a 2729 11 O Para os concursos rrigicos cômicos ou diririmbicos 111 1122 a 2426 112 1122 a 3133 113 1123 b 1522 114 No rexro atual da IlfaJa Tris mencionatais serviços 1 503 115 O relato de Xenofon Helirticu VI 5 33 e seJUinres alusivo aos acontecimentos de 369 LC não condiz com esta referência de Aristóteles 116 1107 b 26 1123 a 34b 22 li 7 Aristóteles quer dizer que a honra da mesma forma que a riqueza admire uma forma de excelência moral maior e outra menor vejase 1107 b 25 e seguintes 118 1107 b 33 119 1109 b 1426 120 1125 b 1416 121 V e iase o capítulo anterior 122 Aristóteles considera a rusticidade e simplicidade das roupas dos espiUWios wna aferaçio a aio ser que esreja aludindo aos simpatizantes de Espana em Arenas que copiavam o modo de vestir e de agir dos espartanos 123 Segundo W O Ross devese subentender e ainda menos uma forma de excelência moral em si 124 Em grego a mesma palavra Kleis significa chave e clavícula esta se assemelha a uma grande chave como eram as antigas e mesmo em latim clauicula significava literalmente chavezinha 12 5 Segundo um antigo comenrador de Arisróreles rrarase de uma citação um ranro livre de um verso da tragédia MtLnipe a SJbia de Eurípides da qual nos restam apenas fragmentos este é o de número 486 da coletânea de Nauck cirada na nora 65 segunda edição revista por B Snell 1964 páginas 512513 126 Têognis Elegias verso 147 127 Um dos chamados Sere Sábios da Grécia 128 Vejase Platão República 343 C 129 Nesra mesma obra 1179 b 20 1181 b 12 e especialmente na Política 1276 b 16 1277 b 32 1278 a 40 b 5 1288 a 32 b 2 1333 a 1116 1337 a 1114 130 Ou seja a participação jusra de A fica enrre uma participação muiro grande e uma muito pequena muiro grande e muito pequena aqui significam mais ou menos do que é proporcional às pretensões de A em resumo a panicipação justa corresponde aos mriros relativos das pessoas envolvidas 131 Esra menção a linha é uma evidência a mais no sentido de que as obras esotéricas de Aristóteles são na realidade noras de aula a esra altura da aula Aristóteles deveria estar mostrando aos seus alunos um gráfico mais ou menos do tipo do mencionado na nora seguinte 132 O segumenro CO é igual ao AE A representação grifica da demonstração de Aristóteles seria Ética a Nicômacos 219 A E A B B o c F C 133 Radamlatis era um dos juízes dos monos na mitolosia arep 134 No ezercício legítimo de suas funções 135 Elemento ativo aqui parece sinificar o produtor e elemento passivo o consumidor 136 Nio claro se esra proporcionalidade se refere ia diferença de valor ou talvez do trabalho consumido na produçio enue as unidades produzidu nos diferentes oficios ou se Aristóteles introduz aqui a nova concepçlo de que as diferentes escie1 de produtores tfm valores sociais diferentes e merecem escalu diferentes de retribuiçio 137 Aristóteles parece querer dizer que os preços devem ser nesociados antecipadamente pois no caso contrário uma das panes poded beneficiarse de ambos os excessos em detrimento da outra se o valor daquilo que a primeira adquirir ezceder o meio rermo e o valor daquilo que a outra adquirir ficar aqm dele 138 Vejase 1133 a 30 139 Antip moeda pep 140 Este parfgúo inicial do capítulo 6 nada tem a ver com os parsrafos sesuintes o assunto iniciado aqui prossesue em 113 a 16 capitulo 8 141 1132 b 21 1333 b 28 141 a Subentendase em nossa cidade por ser democdtica 142 1130 a 3 143 Vejase a nota 139 144 Clebre seneral espanano velase Tucídides Hisr6ria àa Gu do P1loporusolivro V capítulo 11 145 Não hi nas obras que nos restam de Aristóteles o exame prometido aqui 146 1109 b 35111124 147 Frasmento 68 da coletânea de Nauck vejase a nota 65 no sesundo verso se pergunta se o ente queria ou nio matar e se a vítima queria ou nio morrer 148 ru J vi 236 149 Ou seja porque asir injustamente depende de nós 150 1129 a 32 b 1 1136 10 1137 a 4 151 Vejase 1136 a 31 b 5 152 Vejase 1134 b 15 17 153 1104 a 1127 1106 a 26 1107 a 27 154 1103 b 31 1107 a 1 1114 b 29 220 Aristóteles 15 Do capitulo 6 do livro 111 att o capitulo 11 do livro V 156 110 a 7 15 7 Do capitulo 6 do livro lll att o capítulo 11 do livro V 158 Isto 1 u formu de exceltncia inteleccual 159 1102 a 2628 160 Apton que aparece em alauns diáloaos de Platio foi um poeca uqico famoso na poca de 56crues Dele só DOI rescam ffllllentos e este o número 5 da coleduea de Naudr 161 No sentido aeral de conhecimenco ttcnico loao após cilncia DO sentido de conhecimento cientffito 162 A pbrfusis aeralmente uaduzida por prudlncia discernimentO parece corresponder melhor ao oriainal alm de ter um sentido mais amplo em pos do que prudlncia 163 AulfricDJ Porrmom 71 a e seWntes 164 71 b 9 e seauintes 16 Vejae a noca 160 e 166 H no teno sreao um joao de pala91U que aio comporca uaduçio literal Aristóteles pretende que a palavra sopbro11fll moderação rem sua oriem na npressio s6zus11 pbsi preservando o discernimento 167 O Mr1i1n era um poema heróicômico famoso na Antiauidade auibuldo a Homero do qual DOI reliam Uaunl ffiIDeDtOI 168 Talea que viveu DO stculo VI c i o mais antiao dos filósofos areaos ADIÚOras pertence l aeraçlo seauinte e i um dos filósofos mais admirados por Aristóteles 169 Em conuute respectivamente com o legislador e por exemplo o arquiteto 170 PnDento da uqtclia perdida filodetn número 787 da coletinea de Naudc 171 O verso completo seaundo outra fonte seria e tendo a mesma participaçio que os dbioa 172 1141 b 1422 173 Subentendase um limite onde a anAlise deve parar 174 Vejase 1142 a 27 1 n As ouuu trfs sio a científica a calculativa e a desiderativa vejase 1139 a 15 b5 176 1143 b 14 177 Nio se sabe com ceneza onde Sócrates teria feiro essa afirmação 178 Isto inclusive acerca du atividades religiosas como aconteeia na cidadeescado gep 179 llíu XXIV 258259 180 1148 b 20 181 Livros 11V 182 Vejase Platio ProtJwtU 352 B 183 Vejase 1140 b 46 1141 b 16 1142 a 24 1144 b 30 1145 a 2 184 Versos 95916 185 Subentendase por ser loucL 186 Ou seja uma pesaoa concupiscente ttica a Nicômacos 221 187 A refcrfacia dne 1er 80 cIQ1m1à1mo de HertcleilOI de um modo pnl e aio 11lpm1 frue ilolldl do filólofo eflsio 188 Pd61ofo do ReaJo V L C que liDdl escrevia em venos e do qull DOI reswo awneiOIOs fnplelllOI 189 Isto i ao cuo do coabecimeaco cieadfico 190 Amao eacido de que derermiu1 191 VejaR 1145 b 2224 192 Aaaopoe que em pqo lipifjca homem fui veacedor em WDI du competições OIS Olimprdu de 456 LC 193 AI modenda eu COIICUpilceum 194 AI domdu de coaàahcia e u iacoaàaea1e1 195 1147 b 231 lqlli porái haaceaada a cJIe doi pnzera miUI em si mesmo coatririos dipos deescolba 196 A frue aio llo moralmea1e deficieata alo ad ao qui foi sqerid1 por W Dlloss piUa dar llpm seacido a ate 1oqo e complictdo pufotae 197 Nfobe beroJu da miiDioiia pep do admero e d1 beleza de 1e111 filhos iultladoae lli superior à d ne11e poaao llpmu divinctde1 despeitada com 1 jactincia de Nlobe DIICUIIIIIhe rodos 01 filbÓI BIUIIft em leUI comeaWiol Élit NiCiatlcos iclentific1 o SúirOIIDelleioaldo por Ariltllelel com um rei do Bólporos Bósforo no sKulo IV 1 C que reria IUibufdo bonnriu dm 80 pli morro 198 Vej11e 11491 14 fAlaril tiriDo de Acrqú 1 1rual Aaripnro na Sicfii1 queimaYIIUU vitimas denao de wn couro de bronze por pruer 199 Vejaae 1 noaarerior 199L Esru cit1ç6el puecem provir de peça d1 Comfdia NOYI de 1ucor aio identificado 200 Veno 1rriburdo 1 sfo O veno de Homero citldo 1 aeauir i d1 IlrJ XIV 217 201 1114 b 31 202 Isto i du caias 1e111 viciL 203 1147 1 32 e seJUinres 204 Teodecre e Carciaol rnaecfi6JIIfos do liculo IV LC eKrnenm centeau de peçu du qulis IÓ oQOI leiWD frqmeatos 205 Sepado DeCI D Ir 11 2 1 miÍIÍCI marcial de XeaofiDlOI lenn Alenadre o Gllllde 1 empuahu u uma 206 Sobre 01 reil da Otia vejamae Her6dot01 Hin6tU I 105 e Hipócnres Dos Arrs Js Árus t Ms Úllm 22 207 As iadolenrea 208 AI impet110111 209 115021 210 1146 1 31 b 2 i iarereuaare 1 retrltiÇio de Aristótelea como testemunho de sua honestidade iarelecrual 211 Dem6docosl6 i coabecido pela à de Arilmrelea 212 Aqui ao sentido de postulados j6 que se rrua de m1rem6ticL 222 213 Isto a cootiobcia 214 hto a iocoorinocia 21 1146 1631 216 Vejase 1146 a 20 217 1144 11b 32 218 1144 23b 4 Aristóteles 219 Contemporâneo de Arinóreles de cuju com nos restam muitos fnpneoros esre o de número 67 da coletânea de M Eclmoods n bas I Allit CJ vol li Ieideo 199 220 Poeta e sofista do skulo V a C do qual nos restam aJaun frqmearos esre o de número 9 na colerinea de Bergk PNIM Lyrici GrMCi vol n 4L ediçlo Ieipzi 1882 221 1104 b 8 110 13 222 Se111ndo Aristóteles rios bemaventurado provm de Wirri11 sentir muito prazer 223 O primeiro destes pontos de vista o de SUiipos sucessor de Platio na Academia o se111ndo o de Piarão no inicio do FIWs o terceiro aparece no fim do mesmo di6loao de Pllllio e defendido rambm por Arisróteles no livro X desta obra 224 Ou seja o bem supremo sesuado Aristóteles 225 1152 b 6 1153 7 226 Heslodos Os TrHibos tos Dis versos 763764 o seJUado verso completo se muiros a comentam ela como um deus 227 1152 b 2633 227 Subentendase para ter o prazer de saciAla 228 Euifpides CMsru verso 234 229 Homero IliJ X 224 230 Homero Odissfi XVII 218 231 Reminiscencia de Hesiodos Os Trblhos tos Dis 25 232 Fragmento 898 ver101 78 da coletânea de Nauck 233 Fnpnearo 8 da coletânea de DiebKIInz b 4w VonNrlliár vol I 6L ediçlo Berlin 1951 234 Vejamse os frqmeotos 90 e 109 da coletioea de Diel1Kranz citada aa nota anterior e Aristóteles Mttffsic 1000 b 5 234 L Nio há nas obras conservadas de Aristóteles qualquer puiiFJD que correspooda preciumente a esra remissão 235 lsro o faro de alao ser bom ou agradbel ou útil vejase o inicio deste capitulo 235 a Esra observaçilo de Aristóteles faz pensar no amor que seja eterno enquanto dure de Vinicius de Moraes 2 36 Isro é absoluta e relativamente boas e qradiveis 237 Vejase 1 Étic t Êutkrus 1238 1 2 por isto a pirJ tlt sl se tomou um pmftrbio 238 O auror desta frase que conesponde 1 loqe dos olboa lone do coraçio deKonhecido 239 1156 b 7 33 1157 I 30 b 4 ttica a Nicômacos 223 240 116b 1311H al3 241 116 a 1624 1157 a 2023 242 A igualdade proporcional de que Aristóteles trata no livro V 243 li b 31 244 Isualdade polític amizade entre iguais entre concidadios por etemplo e semelhança irtltltlul t rl A semelhança introduz o fator mérito no conceito aristotélico de justiça que i tratar desiJUalmenre pessoas de mérito desigual Vejamse I 159 b 3 e Ptlíric 1279 a 9 além de Louis Gernet RtcbmiHs sur lt Dmloppnmt h 11 Pmsir uridiqut fi Mor11ltm Griet Paris 1917 páginas 4 e seguintes 245 Vejase 1155 b 3 246 115 5 I 2228 24 7 Respectivamente o rhísos e o irros Este longo parêntese parece a interpolação de uma versão paralela 248 A primeira parte deste capítulo é um resumo sumaríssimo do livro V da Politic com algumas variações como se fosse o seu embrião 249 Ou seja um rei apenas no nome 250 Logo a monarquia deve ser a melhor forma de governo 251 Por exemplo na llíJ I 503 252 Por nemplo na JiJ 11 243 252 a iubentendase aos ancestrais sobreviventes ao pai no caso da morte desre 253 1159 b 2932 254 Literalmente variam de maneira an61oga 255 Isto é desde a procriação 256 1156 a 7 257 A inclusão deste tipo de relacionamento na classificação de Aristóteles evidencia a amplitude de seu conceito de amizade 258 1162 a 34 b4 1158 b 27 1159a 35 b 3 259 Em nenhuma de suas obras remanescentes Aristóteles trata npressamente da proporcionalidade no caso de amizade entre pessoas dissimilares vejase porém 1132 b 3133 1158 b 27 1159 a 3 h 3 1162 a 34 b 4 1163 b 11 qunto à proporcionalidade nas várias formas de etcelência moral especialmente no sentimento de justiça 260 Isto é nas relações entre os membros das várias classes de que se compõe a cidade 261 1156 b 912 262 Ou seja o prazer da npectativa agradável vejase Plútarcos A Bo Sortt dt AltJrr li I 263 Um dos sofistas mais antigos e famosos que viveu no século V a C e ensinou em Atenas 264 1162 b 613 265 Vejase 1131 a 3 e seguintes 266 1164 b 31 1165 a 2 267 1094 b 1127 1098 a 2629 1103 b 34 1104 a 5 268 O deus maior da mitologia grega 224 Aristóteles 268 L Subearenda1e atf ceru idade 269 1162 b 2325 270 1156 b 1921 1159 b 1 271 1157 b 2224 272 1157 b 1724 1158 b 3335 273 1113 a 2223 veja1e cambim 1099 a 13 274 Eareadae Mmas da mesma forma que Deus aio beneficiado pelo fato de ji possuir o Bem uma pessoa que 1e toraaue ouaa para possuir o Bem nada pnharia pois ji Dio 1eria a mesma pessoa para tirar proveito do Bem esta em pane a iarerpreraçio de VI D Roas para este parfaree que talvez 1ej1 uma iaterpolaçio 275 1155 b 32 1156 5 276 HniJ aa Gricia aatip a fiJIUII do ditador eleito por um período derermiaado e para uma tarefa especifica Pltacos foi eleito ditador de Mitileoe ao iacio do éculo VI L C ele aoveraou durante quarone aaos e eatio eatreiJOU o poder todos os cidadios deCjanm que ele contiauasse mas oeste caso aio havia uaaoimidade e poruoto aio havia concórdia pois o próprio Pracos aio queria continuar a ser o ditador Veja1e a Polflú 1285 a 36 e 1epiores 277 Venos 588 e seauintes da ia de Eurípides os rinis eram EliOdes e Polioeices 278 Um dos comediósnfos mais antip da Grkia ele foi tambim filósofo da escola pitq6rica e viveu no éculo V a C Dele só nos restam frapneotos este o de número 146 da coletinea de Kaibel c u Gr Fr Berlio 1899 279 Ou eja os benfeitores 279 L Isto sem que alaum lhe preste antes um serviço 280 1166 15 281 Subentendase Dois amiso numa só alma 282 Este provbio equivaleria a A caridade começa em casa 283 Eurípides Orrslls 665 284 1098 a 16 b 31 1099 a 7 285 1099 I 1421 286 Ou seja os atributos de 1erem boas e de serem da própria pe 287 Poeta moralista que viveu no éculo VI L C vejase 1172 a 14 288 1099 a 711 1113 a 25H 289 Isto a deficincia monl e o sofrimento 290 1172 19 117522 291 Heslodos Os Tr6Jbos tos Dis veno 715 292 1157 b 19 1158 3 10 293 Na uadiçio arep Aquileus e Piuoclos Orestes e Plades Teeus e Peirlroos por esemplo 294 Veja1e 1170 a 13 295 Os seauidores de Êudoxos filósofo da escola pitaaórica que viveu entre 390 e 340 aC vejase o inicio do capitulo 2 deste livro e os filósofos da escola cirenaica principalmente Arfstipos disdpulo de Sóaates Ética a Nicômacos 225 296 Os filósofos da escola de Spêusipos sucessor de Platão na Academia 297 No F1tlos 60 BE 298 Piarão Ffltbos 24 E 2 A 31 A 299 lsro ê o faro de alguns prazeres serem maus 300 Idem ib 53 c 4 D 301 Idem ib 31 E 32 B 42 C D 302 Vejase Platão Tímios 6 B Rackham em nora à sua edição comenta que não dizemos por exemplo que a incisão i uma dor mas que ela ê sepida de uma dor 303 Fsita livros VI VIII 304 Fraamento 9 da coletinea de DielsKranz 305 109 b 31 1096 a 2 1098 b 31 1099 a 7 3Q6 1098 a 57 306 a 1099 a 13 1113 a 2333 1166 a 12 1170 a 1416 1176 a 1522 30 Príncipe círio que teria viajado pela Grkia no skulo VI aC autor de numerosos aforismos reunidos por Mullach no primeiro volume de seus Fragmmt Pbilosopborvm Gratcorvm páinas 232 e seguintes 308 1098 a 16 1176 a 35 b 9 309 Isto não foi dito especificamente vejase porém 1095 b 14 1096 a 5 1141 a 18 b 3 1143b 33 1144 a 6 1145 a 611 310 I09i a 2 b 21 1099 a 721 1173 b 1519 1174 b 2023 1175 b 36 1176 a 3 311 Ou seja a atividade intelectual 312 Estas alusões são a Eurípides fraamenro 1040 da coletânea de Nauck e Píndaros Ís11icas V verso 16 313 1169 b 33 1176 b 26 314 Figura da mitologia grega que dormia eternamente 31 O famoso estadista e poeta ateniense que viveu na segunda metade do sculo VII e aa primeira metade do século VI aC Vejamse Her6dotos Hisr6rias I 3032 e esta obra 1100 a ll 316 Vejase 1141 b 7 317 Ekgis verso 434 318 Piarão Leis 722 De seguintes 3191179 b 311180 a 320 Homero Otlilsii11 IX 114115 321 1141 b 24 321 aIsócrares Allldosis S 80 322 Este último parágrafo ê uma espécie de roteiro da Política à exceção do livro I que é introdutório 323 Aristóteles compilou as constituições de 1 8 cidades gregas Desta obra gigantesca do fiósofo e de seus disdpulos restanos a Co1111ituiio dos Atenit711es redescoberra num papiro no fim d século passado 324 A nossa discussão é a PoUtit à qual a Ética Nicomqiia serve de introdução DOG HEAT CHOOSE THE RIGHT TRAINING TOY FOR YOUR DOG KEEP YOUR PET ACTIVE AND HEALTHY CHOOSE A TOY BASED ON SIZE TOUGHNESS AND SAFETY Índice Geral A Absmçlo 1142 a 18 Ação 1110b6 1113 b 18 1139a1831 1140a217b46 1141 b 16 1144a3 115la16 1178 b 17 Acuo sorte forruna 1099 b 10 1100 a 9 1100 b 22 1105 a 23 1112 a 27 32 1120 b 17 1140 a 18 1153 b 18 22 Adulador 1108 a 29 1121 b 7 1125 a 2 1127 a 10 1159 a 15 1173 b 22 Afeto úemoso 1105 b 22 1108 a 27 28 1126 b 11 1127 a 12 1155 b 27 1156 6 1157 b 28 1158 b 27 1166 b 32 1167 b 30 1168 19 AFRODITE 1149 b 15 AGAMÊMNON 1161 a 14 AGATON 1139 b 9 1140 a 19 Asradbel 1104 b 32 1105 a 1 1154 b 16 1155 b 21 1156 b 23 1177 a 23 Oposto verdadeiro 1108 13 1128 b 7 ALCMÁION 1110 a 28 Alma 1109 b 29 1098 718 1098 b 4 14 19 11025 17 110223 1103a 3 1104 b 19 117 b 28 119 b 14 1138 b 8 9 32 1139 3 4 1139 617 1140 b 26 1143 b 16 11442 9 30 1144 b 14 15 1145 37 1168 b 7 21 30 1177 4 13 b 38 1178 1 Amabilidade amivel 1103 a 8 b 19 1108 a 6 1109 b 17 1125 b 26 1126 a 2 29 b 1 13 26 34 1127 9 1129 b 22 Amante 1157 1 6 8 1159 b 15 17 1164 a 3 Ambiçio ambicioso 1107 b 24 1108 a 4 1117 b 24 1125 b 125 1159 a 13 Amio 1097 b 10 1112 b 28 1126 b 21 1149 b 29 1173 b 32 Amizade concórdia amizade poUáca 1155 a 3 1156 a 27 b 4 2022 1157 b 3 524 1158 a 23 b i28 1158 b 29 1159 b 23 1159 b 25 116025 31 1160 b 22 1161 b 10 1161 b 1116 1162 10 32 33 1162 34 1163 b 27 32 1163 b 34 1164 b 21 1164 b 22 1165 35 1165 36 b 36 1166 2 b 29 1166 b 30 1167 21 116722 b 16 1167 b 17 1168 27 1169 b 3 1170 b 19 1170 b 20 1171 20 117121 b 28 1171 b 29 1172 14 Amor 1116 13 1158 11 1171 11 b 31 ANÁCAJSIS 1176 b 33 Aúliae 1112 b 23 ANAXÁGOllAS 1141 b 3 1179 a 13 ANAXANDaiDES 1152 a 22 Animaia irncionaia 1116 b 25 32 1139 20 11411 27 1144 b 8 1145 5 1149 b 31 1150 8 1152 b 20 1153 28 31 1154 33 228 Aristóteles Aaeio deaejo 1111 b 110 111 a 15 b 2 1 U6 b 5 7 24 1155 b 29 1156 b 1 1178 a 30 ANTIPANES 1177 b 32 aludo Apetites 1103 b 18 1105 b 21 1111 a 235 b 2 1111 b 1117 1117 a 1 1118 b 816 19 1119 a 4 b 512 1146 a 2 10 U 15 1147 a 15 1148 a 21 22 1149 a 25 b 1 1175 b 28 Elemeuto apetiáYo 1102 b 30 1119 b 14 15 ArpVOI 1117 a 26 AJfrnPOS 1172 a 27 aluaio Ariltoalcia 111 29 1160 2 b 10 2 1161 23 AJUSTÓTELES refetfacW a ouuu obru 1108 b 7 RMriu UB b 11 1385 a 1 1386 b 9 1388 a 28 1130 b 28 Ptlhit 1288 a 2 b 2 1135 a 15 Pelaiul 1139 b 27 Aulhitos 71 a 1 1139 b 32 idem b 9 2 1174 b 3 Púiu VI Vlll Arrependimento 1ll0 b 19 22 1111 a 20 1150 a 21 b 30 1166 a 29 b 24 Arte 1094 1 1097a 17 1098 24 1099 b 23 110 32 b 8 1104 7 1105 9 22 1105 26 b 5 1106 b 8 14 1112 b 7 1133 a 14 1139 b 16 1140 a 7 2 O 1140 b 2 3 22 114la 12 1152 b 19 1153 a 2325 Aapiraçio 1111 b e seguintes Auociaç6es 1132 b 31 1160 a 241161 a 8 1161 b 14 Vejise wnm Sociedade Atenienses 1124 b 17 Atividade atuaÇio 1094 a 4 1098 a 6 7 1098 b 3 1099 a 291100 b 10 13 33 1153a 16 b 10 1154 b 27 1157 b 6 1168 a6 15 1170 a 17 1174 b 16 1175 b 24 1176 b 12 1177 a 10 b 19 1178 10 b 19 Atleta 1111 b 24 1116 b 13 Autoconlciencia 1170 31 1171 b 34 Autoestima 1166 b 2 3 Autauiicihcia 1097 b 7 8 14 1134 a 27 1177 a 27 b 21 1179 a 3 Autoridade paterna 1160 b 26 1180 a 19 b 5 Avareza avarento 1107 b 13 1108 b 22 1119 b 27 28 11211120 b 1317 1122 a 514 1130a 19 B B6rbaros 1145 a 31 1180 a 19 b 5 Bem 1094 a 22 b 7 1095 a 16 27 b 14 25 1096 a 111097 a 1 13 23 1097 a 18 28 b 8 22 27 1098 16 b 13 32 1101 b 30 1102 14 1113 16 1114 32 b 7 1123 b 20 1129 b 2 1130 3 1134 b 5 1140 b 21 1141 b 8 12 1144 b 7 1152 b 12 26 36 1153 b 7 26 1154 a15 115H 19 21 26 1156a14 b 13 1168b 19 1169a21 1172a28b91425 3133 1173a429 1174a 9 Be1ria1 be1tialidade1116 b 25 32 1118 a 25 b 4 1139 a 20 1141 a 27 1144 b 8 11451 17 25 30 1148 b 19 24 1149 1 620 b 29 1150 1 8 1152 b 20 1153 28 31 BIAS 1130 a 1 Boa vonrade 1155 b 33 1166 b 30 1167 a 21 BllASIDAS 1134 b 23 Bravura bravo 1102 b 28 1103 b 17 1104 b 8 1108 b 1925 1115 a 11 1117 b 22 1129 b 19 1137 20 1144 b 5 1167 20 ll77 32 1178 10 32 b 12 Ética a Nicômacos Bufooaria bufio ll08 a 24 2 1128 a 4 31 Cálculo faculdade calculativa 1139 a 12 14 CAIJPSO 1109 a 31 Canibalismo 1148 b 22 c Caráter 109 a 7 11ll b6 1121a 26 b6 1127 a 16 b 23 1139 a 1 1144 b4 ISS b 10 1163 a 23 1164 a 12 ll6 b 619 1172 a 22 b 1 1178 a 16 1179 b 29 1180 b S CARCINOS 110 b 10 Casa lar 1094 a 9 b 23 1097 a 20 1133 a 7 23 b 2327 1134 b 17 1138 b 8 1140 b lO 11 H b 32 1142 a 9 112 b l 1160 b 24 1162 a 18 11 n a 2 1180 b 4 Categoria 1096 a 29 32 Celtas 111 b 28 CERCÍON 110 b 10 Cíclopes 1180 a 28 Cidadão cidadania 1097 b 10 1099 b 31 1102 a 9 1103 b 3 1116 a 17 1130 b 29 1160 a 1 S 116 a 31 1177 b 14 Cidade cidadee5tado 1094 a 27 b 11 1103 b 3 111 a 32 1138 a 11 1141 b 23 1142 11 1162 a 19 1167 a 23 30 1168 b 31 1170 b 30 1179 a 33 ll81 b 23 Comdia ll28 a 22 Companheiros camaradas 1157 b 23 1161 a 25 b 12 35 1162 a 10 1171 a 14 Compulsão compulsório ll09 b 35 1110 b 1 9 1111 a 21 Concupiscência 1107 b 6 ll09 a 4 16 1114 a 28 1117 b 27 1118 a 24 b 1 28 1119 a 21 33 1130 a 30 1147 b i8 1148 b 12 1149 a 5 22 b 30 1150 a 10 11 S 1 b 31 Concupisceme 1103 b 19 1104 a23 b6 1108 b 21 1114 aS 12 20 1117 b 321118 b 7 lll9a 133 b 31 1121 b 8 1130 a 26 114S b 16 1146 b 20 1148 a 6 13 17 1149 b 31 11 SOa 1 b 16 29 11S2 a 14 1153 a 34 1154 a 10 b 15 Confiança llOS b 22 1107 a 33 111S a 7 1117 a 29 Conhecimento cientifico filosófico etc 1094 a 18 26 27 1096 a 30 1097 a 4 1112 b 1 7 11 16 b S 1129 a 13 1139 b 10 1636 lliO b 2 31 34 1141 a 16 19 b 3 9 19 1142 a 24 34 b 9 10 1143 a l 3 11 ll44 b 29 1145 b 23 1146 a 4 b 24 32 ll47 b 1S 17 1153 b 8 1110 b 15 23 Constituições formas de governo 1103 b 6 1113 a 8 1130 b 32 1135 aS 1142 a 10 30 1160 30 31 36 b 20 21 1161 a 10 30 ll63 b 5 ll81 b 720 Contemplação conhecimento contemplativo 1095 b 19 1096 a 4 1103 b 26 1122 b 17 1139 27 1174 b 21 ll77 a 18 28 b 19 1178 b 528 1180 b 21 C01irinência autodomínio 1102 b 14 21 1128 b 34 1145 a 18 b 814 1146 a 1017 b 1018 1147 b 22 1148 a 11 1150 a 9 b 28 11 S 1 a 29b 22 2332 1151 b 33 1152 a 6 1152 a 25 27 1168 b 34 Contratos 1164 b 13 Coragem corajoso ll04 a 18 b 1 1107 a 33 1108 b 32 1109 a 2 9 1115 a 6 1117 b 9 Citas povo 1112 a 28 1150 b 14 230 Aristóteles Corpo corporal 1101 b 33 1104 b 5 1114 a 23 28 1117 b 29 30 33 1118 a 2 1147 b 2527 1148 a 5 1149 b 26 ll50a 24 1151 a 12b35 1152a5 11Ha32b33 11548101526 29 1161 a 35 1168 b 17 1176 b 20 1177 a 7 Covardia covarde 1103 b F 1104 a 21 b 8 1107 b4 1108 b 19 25 110913 10 111512023 b 34 1116 a 14 20 b 16 1119 a 21 28 1130 a 18 31 1138 1 17 1166 b 10 Cretenses 1102 a 1 O D Deficiência moral vício 1104 b 27 1114 a 22 1140 b 19 1145 a 17 Deliberação 1112 a 19 1113 a 12 1139 a 12 b 7 1140 a 26 1141 b 9 1142 a 32 b 33 DELOS 1099 a 25 Democracia democrático 1131 a 27 1160 a 6 b 9 17 20 DEMÔDOCOS 1151 a 8 Demonstração prova científica 1094 b 27 1140 a 33 1141 a 2 1143 b 1 10 13 1147 a 20 Desambiçio desambicioso 1107 b 29 1108 a 1 1125 b 10 22 Desejo 1094 a 21 1095 a 10 1102 b 30 1107 b 29 1113 1 11 1116 a 28 1119 b 7 8 1125 b 7 1138 b 11 1139 18 b 5 1149 b 4 1159 b 20 1166 b 33 1175 b 30 Despeito despeitado 1107 a 10 1108 b 1 5 Despudor despudorado 1104 1 24 l107 a ll b 8 1108 1 35 b 21 1114 1 10 1128 b 31 Destemor destemido 1107 b 1 1115 a 16 19 b 24 1117 a 19 Desventura 1101 a 10 28 1135 b 17 DEUS 1096 a 24 1101 b 30 1145 a 262 1159 a 5 1166 a 222 1178 b 21 Deuses divindade divino 1099 b 11 1101 b 19 23 1122 b 20 1123 alO b 18 1137 a28 11451 23 1154 b 26 1158 b 35 1159 a 7 1160 a24 1162a 5 1164 b 5 1178 b 826 1179 25 30 Dinheiro 1096 a 5 1109 a 27 1119 b 26 1127 b 13 1133 a 2031 b 1128 1137 a 4 1153 a 18 1163 b 8 1164 a 1 28 32 1178 b 15 DIOMEDES 1116 a 22 1136 b 10 Discernimento sabedoria prática 1098 b 24 1103 a 6 1139 a 16 1140 a 24 b 30 35 1141 a 5 b8 1142 a 30 1143 a 15 24 b 18 1145 a 11 b 17 1146 a 4 1152a 6 12 b 15 115h 21 27 1172 b 30 1178 a 16 19 1180 a 22 b 28 Disposição estado de espírito bhis 1098 b 33 1103 a 9 b 2123 1104 a 19 1105 b 5 20 1106a 12 b 33 1114 a 20 30111h 3 b 21 1117 a 20 1123 b 1 1122 b 1 1126 b 521 1128a 17 b 11 1129 a 1418 1139 a 16 22 34 1140 a 422 b 20 28 1143 b 26 1144 b 8 25 1137 a 12 1150 a 15 1152 a 26 b 33 1153 a 11 1154 a 13 1157 b 6 29 32 1174 b 32 1181 b 10 Distribuiçio conforme ou contrAria à justiça 1130 b 31 1131 a 25 b 8 10 30 31 Dívida 1162 b 28 1165 a 3 Doença 1096 a 33 1114 a 26 1115 a 11 17 b 1 1148 b 25 1149 a 9 b 29 1150 b 14 33 E Educação 1104 b 13 1130 b 26 1161 a 17 1172 a 20 1179 a 24 1180 b 8 Efeminados 1145 a 35 1150 b 3 Egolatria 1168 a 28 1169 b 2 ttica a Nicômacos 231 Embriquez 1110 b 26 1113 b 31 32 1114 I 27 1117 I 14 1147 I 14 b 7 12 li l I 4 1152 I 15 1154 b 10 EMPÉIXCLES ll47 I 20 b 12 1155 b 7 Empsrimo 1131 a 3 1164 b 32 1167 b 21 30 ENDÍMION li78 b 20 Eopno li35 b 12 18 Ensino ll03 al5 1139 b 26 1179 b 21 23 Enrendimenro 1103 a li42 b 34 1143 a 18 26 34 b 7 1161 b 26 1181 a 18 Enuetenimenro divenimento 1108 a 13 23 1127 b 34 1128 1 14 20 b 4 8 1150 b 17 1176 b 9 28 1177 I 11 EPÍCARMOS 1167 b 2 Eqüidade 1121 b 24 li37 I 31 1138 I 3 1143 I 20 31 Eqüitativo 1106 a 2734 1108 b 1 30 1129 1 34 1130 b 933 1131 a 1124 11 3 b 6 Escolha propósito opção 1094 a 1 10951 1 14 1097 a 21 110613 b 36 1110 b 31 li11 b 5 1113 a U b 4 1117a li27 b 14 113412 20 1135 b 25 11361 31 1138 121 li39a 3 b 11 1144120 114584 1149b34 1150b30 115la3034 112a17 1163123 1164b 1 1178 I 35 Escravo 1145 b 24 1160 b 28 29 1161 1 35 b 5 1177 1 7 8 Escultor 1097 I 25 1141 I 10 ESPARTA espartano li02 ali li12 129 11171 27 1124 b 16 1127 b 28 11671 31 1180 a 25 Espiriruosidade espirituoso li08 a 24 1127 b 33 1128 a 33 li 56 a 13 li 7 a 6 1158 a 31 ll76 b 14 Esposa 1097 b 10 1li5 I 22 1134 b 16 li58 b 13 17 li60 b 33 1161 I 23 1162 I 1633 ÉSQUILO 1111 a 10 ÊUDOXOS 1101 b 27 1172 b 9 Alusões 1094 a 2 1172 a 27 ÊUENOS 1152 I 31 EURÍPIDES 1110 a 28 li36 ali li42 a 2 1152 b 2 Ciuções ou alusões 1111al2 1129b8 ll54 b 28 1167 I 33 1168 b 7 li69 b 7 li77 b 32 Excelência virtude moral intelectual politica etc 1098 a 17 1099 a 17 1100 a 4 1102 a 5 ll03 alO 14 b25 1104a271105a 13 1105b 191107a27 ll07a281108b lO li09a20b 26 1113 b 5 1115 a 4 1138 b 14 1138 b 18 li45 a ll 17 19 20 33 b 2 li 50 b2911511 28b321152a6 b4 ll64b 1 ll66al7 1172a2122 b 15 1173al4 1177 I 13 18 28 1177 b 68 1178 I 619 1179 b 20 1180 b 25 Experincia 1103 a 16 li15 b 4 1116 b 3 9 1141 b 18 1142 11519 1153 b 1114 1158 a14 1180 b 18 1181 I 2 10 19 20 b 5 F Faculdade aptidio 1101 b 12 1102 a 33 34 b 5 li li03 a 26 li05 b 20 1106 a 12 1127 b 14 1129 I 12 1143 a ÚJ 1144 I 29 1153 b 25 1168 I 7 li70 I 17 FALÁRIS 1148 b 24 1149 I 14 Falsa modstia falso modesto 1108 a 22 1124 b 30 1127 1 22 b 22 30 Fanfarrio 1108 I 21 22 li b 29 li27 I 13 20 b 32 232 Aristóteles Fato 109 b 6 1098 b 1 1168 a 3 1172 a 3 b 6 1179 a 21 Felicidade 109 a 18 1102 a 17 1129 b 18 1144 1 112 b 6 10B b 92 1169 b 31170 b 19 1173 15 1176 31 1179 32 FÍDIAS 1141 a 10 Filosofia filósofos 1096 a 1 b 31 1164 a 3 1177 a 25 1181 b 15 FliÓXENOS 1118 a 32 alusio Fins finalidade objetivo 1094 a 4 22 1097 a 28 1110 a13 1111 b 26 1112 b 12 1 H 1113 b 3 1114 b 4 6 1115 b 20 22 1117 b 1 16 1140 29 1144 32 1152 b 2 1174 b 33 Fortuna posses prosperidade 1098 b 26 1099 b 8 1124 a14 b 19 1153 b 22 24 11551 8 1169 b 14 1171 21 b 28 1179 b 23 Fraqueu fraco 1146 a 15 1150 b 19 1176 a 14 G Ganho 1132 b 18 1163 b 3 Geometria geômeua 1098 a 29 1142 a 12 1143 a 3 1175 a 32 Ginútica exercícios 1096 a 34 1104 a 15 1106 b 4 1112 b 5 1117 b2 1138 a 31 1143 b27 1180 b 3 GLAUCOS 1136 b 10 Gosto falta de 1107 b 19 1122 a 31 Governo constitucional república 1160 a 34 Graças divindades 1133 a 3 Guerra 1096 a 32 1ll5 a 35 1117 b 14 1160 a 17 1177 b 10 H Hibito 1095 b 4 1103 a 17 26 1148 b 1734 1152 a 30 1154 a 33 1179 b 2125 1180 8 b 5 1181 b 22 habitualidade 1098 b 4 1099 b 9 1119 a 27 1151 a 19 1152 a 29 HÊCTOR 1116 a 22 33 1145 a 20 HELENA 1109 b 9 HERÁCLEITOS 1105 a 8 1146 b 30 11 b 4 1176 a 6 HERMES templo de 1116 b 19 j HESÍODOS 1095 b 9 Cicações ou alusões 1132 b 27 11B b 27 1155 a 35 1164 27 Hipótese 111 a 17 1 Homem 1097 b 11 25 1112 b 31 1113 b 16 1141 a 34 1162 a 17 1169 b 18 J HOMERO 1ll3 a 8 1116a21 b27 1118b 11 1136b9 114la 14 ll4h20 1149b171160i l 26 1161 a 14 CitaÇões ou alwlles 1109 a 31 b 9 1116 1 33 b 36 1118 1 22 1122 27 11 b 15 ll55 I 15 34 1180 I 28 Honra IG ulon objetivo da excelencia moral 1115 b 12 1122 b 6 1168 I 33 i Honruiati111 1095 a 23 b 23 27 1096 b231097b2 1107b2227 1ll6128 1123b20ljl 26 1124 b 25 1125 b 7 21 1127 b ti 1130 b2 31 1134b 7 1145 b20 1147b30 1148 26 30 b 14 1159 1822 1163 b 316 1164 b 4 1165 b 24 27 1168 b 1 Ética Nicômacos I Idade 1100 1 7 23 1121 b 13 ldlias ou melhor Formas plat6Dicas 1096 a 13 1097 a 13 Janoriucia 1110 a1 b 181111 a 21 1113 b 24 1114 b 4 1135 a 24 1136 6 7 1144 16 1145 b 27 29 1147 b 6 IJUIdade 1131 a 21 31 1132 b 33 1133 b 4 1134 b 15 1157 b 36 1158 b 1 30 1159 b 1 1162 a 35 b 2 1168 b 8 lmonalidade 1111 b 23 1177 b 33 lmperuoaidade impemoao 1150 b 19 26 lmpudfacia impudente 1104 a 24 1107 a 11 b 8 1108 a 35 b 21 1114 a 10 1128 b 31 IncontianciaiAcoatioeate 1095 a9 1102 b 14 21 2628 1115 b 13 1119b31 1133 b2 1136a 32 b 2 6 1142 b 18 1145 17 1152 36 1166 b 8 1168 b 34 lndilçlo jusra 1108 a 35 b 3 Iaduçlo 1098 b 3 1139 b 2731 Injllltiça injusto 1114 a 5 13 1129 a 3 1130 b 19 1134 a 12 1723 32 1135 a 8 1136 a 9 1136 10 b 13 1136 b 1525 1136 b 26 1137 4 1138 428 b 513 Iaaenibilidade iaaeaafvel 1104 a 24 1107 b 8 1108 b 21 1109 a 4 1119 a 7 Intelecto pncico 1139 a 27 29 36 1143 b 2 1159 b 13 1162 b 6 22 lntelialacia 1096 b 29 1097 b 2 1112 a 33 1139 a 18 33 b 17 1141 a 19 b 3 1176 18 Ia amizade por 1156 a 14 1157 a 2 1159 b 13 1162 b 6 22 Inveja iavejoao 1105 b 22 1107 a 11 1108 b 1 4 1115 a 23 lnI1111Wio 1109 b 351110 b 17 1110 b 181111a 21 1111a 24 b 3 1113 b 15 1131 3 b 26 1132 b 31 1135 I 17 33 b 2 1136 I 5 1621 Ira c61era 1103 b 8 1105 a 8 b 22 1108 a 4 Irascibilidade irudvel 1103 b 19 1108 a 7 8 1111 a 25 b 2 11 13 18 1116 b 23 111 7 a 4 1125 b 2630 1126 a 3 13 16 19 21 22 24 b 10 1130 a 31 1135 b 21 26 29 113 a 9 1145 b 20 1147 a 15 b 34 1148 a 11 b 13 1149 a 3 26 b 20 24 ISÓCPATES 1181 a 14 aludo J Juiz 1132 732 Julamenro 1143 a 19 23 b 9 Justo justiça 1103 b 1 15 1105 a 18 b 10 1108 b 7 1120 a 20 1127 a 34 1129 a 3 IBS b 14 1144a13 b 5 1155 a2228 115Bb29 1159b251160a8 1161a 11b 1021 1162 b21 1168 b 35 1173 18 b 30 1177 29 1178 10 30 Juventude jovem 1095 a 3 6 1118 b 11 1128 b 16 19 1142 a12 15 1154 b 1011 1155 a 12 1158 8 5 20 b 13 1179 b 8 31 34 1180 b 1 L Lassidlolasso 1116a 14 ll45al5b9 1147b21 1148a 12 1150a 141114 1150b217 234 Aristóteles Lazer 1177 b 4 Legislação 1129 b 13 1141 b 2532 lt81 b 13 Legislador 1102 a 10 li 1103 b 3 1113 b 23 34 1128 a 30 1137 b 1823 I 155 a 23 1160 a 13 1180 a 25 33 b 24 29 1181 b I Lei I 094 b 16 1116 a 19 1128 a 32 1129 a 14 b 19 1130 a 24 1132 a 5 b 16 1133 a 30 lt34 a 30 31 b 1 4 1 137 a 11 b 13 1138 a li I 144 a 15 1152 a 21 24 1161 b 7 1164 b I 3 1179 b 32 34 1180 a 3 34 b 25 1181 a 17 21 23 b 7 22 Liberal liberalidade 1099a 19 1103 a 6 1107 b9 18 21 tOS b22 32 lll5 a20 1119b22 l 122 a 17 20 b 18 Louvor 1101 b 19 1109 b 31 1110 a 23 33 1120 a 16 ll27 b 18 1178 b 16 M 1tãe 1148 b 26 1159 a 28 1161 b 27 1165 a 25 1166 a 29 vtagnanimidade 1107 b 22 26 1125 a 34 1125 a 15 33 34 b 3 vtagnificência 1107 b 17 ll22 a 18 1123 a 19 Mal 106 b 29 1126 a 12 Jnrgitrs 1141 a 14 Mar Negro 1148 b 22 Matemática 1102 b 33 1112 b 22 1151 a 17 Matemáticos 1094 b 26 1131 b 13 1142 a 12 17 Medicina 1094 a 8 1096 a 33 1097 a 17 19 102 a 21 1104 a 9 1112 b 4 1138 a 31 b 31 1141 a 32 1143 a 3 b 27 33 1144 a 4 1145 a 8 ll80 b 8 27 Médicos 1097 a 12 1102 a 21 1105 b 15 1112 b 13 1114 a 16 1127 b 20 1133 a 17 1137 a 17 1148 b 8 1164 b 24 1174 b 26 1180 b 14 18 MÉGARA 1123 a 24 Meio termo 1104 a 24 1106 a 26 1108 b 13 ll33 b 32 MÉROPE 1111 a 12 Mesquinhez mesquinho 1107 b 20 1122 a 30 b 8 1123 a 27 Método da ética 1094 b 11 1095 a 11 1095 a 28 b 13 1098 a 20 b 12 1103 b 34 ll04 a 5 1145 b 27 1146 b 68 1165 a 1214 1172 b 36 ll73 a 2 1179 a 331181 b 3 Milésios 1151 a 9 MÍLON 1106 b 3 Misanrropo 1108 a 31 Moderação moderado 1102 b 27 1103 a 6 8 b 1 19 1104 a 19 b 6 1105 a 18 b 10 1107 b 5 1108 b 20 1109 a 3 19 b 17 24 1117 b 23 1119 b 16 1125 b 13 1129 b 21 1140 b 11 1145 b 14 15 1146 a 11 12 1147 b28 1148a614 b 12 1149a22b3031 1150all23 1151 a 19 b 31 34 ll52 a 1 b 15 1153 a 2735 1168 b 26 1177 a 31 1178 a 3 b 15 Monarquia 1160 a 32 b 10 24 27 Moral condição faculdade excelência etc 1139 a 34 1144 b 15 1145 a 16 1152 b 5 ll62 b 23 31 Morte 1115 a 11 b 5 1116 b 20 22 1117 b 7 11 1128 b 13 ttica a N icômacos Mulher 1148 b 32 1160 b 34 1161 a 1 1162 a 23 1171 b 10 Mdsica 1180 b 2 1181 a 19 Músico 1105 a 21 1170 a 10 1175 a 13 1177 b 30 31 N 235 Natureza natural 1094 b 16 1096 a 21 1099 b 21 1103 a 1926 1106 b 15 1112 a 25 32 1114 a 24 26 b 1416 1118 b 18 1133a 30 1134 b 25 1135 a 10 1143 b 9 1148 b 30 31 1152 a 30 b 13 27 36 1153 b 59 1154 b 17 1179 b 23 Necessidade 1112 a 32 1180 1 4 NEOPIÔLEMOS 1146 a 19 1151 b 18 NÍOBE 1148 a 33 Nobreza nobilitante 1104 b 32 1136 b 22 Nutriçio vida nutritiva 1098 a 1 faculdade nutritiva 1102 a 33 b 11 1144 a 10 o Obsequioso 1108 a 28 1126 b 12 1127 a 8 1171 a 17 18 ODISSEUS 1146 a 21 1151 b 20 Olho da alma 1143 b 14 1151 b 20 Oliaarquia 1131 a 28 1160 b 12 35 1161 a 3 Olímpicos joaos 1099 a 3 1147 b 35 Opiniio 1111 b 11301112a13 1139b 17 1140b2627 1142a33b912 1143a2 1144b 15 1145 b 36 1146 b 24 1147 b 9 1179 a 17 Ostentaçio vulgaridade 1107 b 19 1122 a 31 1123 a 19 p Pai 1102 b 32 1103 a 3 1134 b9 1135 a 29 1148b 1 1149b8 13 1158b 12 16 1160a6b24 28 1161 a 15 19 1163 b 19 22 1165 a 126 Pais progenitores 1097 b 19 1110 a 6 1120 b 14 1148 a 31 1158 b 1522 1160 a 1 1161 a 21 b 18 1162 a 4 1163 b 17 1164 b 5 1165 a 1624 Paixão emoçio 1095 a 4 8 1105 b 20 1106 a 12 1108 a 31 1111 b 1 1126 b 23 1128 b 11 15 17 1135 b 21 11361 8 1155 b 10 1156 a 32 1168 b 20 1179 b 13 27 Parentes amizade entre 1161 b 17 Percepção percepdvel senuçio sentido 1098 a 2 b 3 1103 a 29 1109 b 22 23 1113 a 1 1118 b 1 1126 b 4 1139 aiS 1142 a 27 1143 b 5 1147 a 26 b 10 17 1149 alO 1152 b 13 1153a 13 1161 b 26 1110 a 16311111 b 1434 1112 a 36 11n a 21 Perda 1132 a 12 b 12 18 PÉPICLES 1140 b 8 Permuta 1132 b 13 32 1133 a 2 1928 b 1126 Prsia pena 1134 b 26 1160 b 27 31 Piedade 1105 b 23 1109 b 32 1111 a 1 PÍNDAROS 1177 b 33 alusio 236 Aristóteles Pintura pintor 1118 a 4 1175 a 24 1180 a 3 b 34 PÍTACOS 1113 b 31 alusio 1167 a 32 Piugóricoa filóaofos 109 b 1106 b 30 1132 b 22 PlATÃO 109 a 32 1104 b 12 1172 b 28 Alusõea 1097 a 27 1098 b 12 1111 a 24 1130 a 3 1133 14 114 b 23 1164 24 1173 1 29 b 9 12 1180 6 9 Platônic01 filóaofos alusões 109 a 26 1096 a 17 1097 a 14 Pobreza 111 a 10 17 1116 a 13 11 a 11 Poetas 1120 b 14 1168 a 1 POLÍCLEITOS 1141 a 11 Política cincia política 1094 a 27 b 11 1 109 a 2 16 b 18 1097 b 11 1099 b I 29 1102 a 8 12 18 21 23 110h 12 1112 b 14 1129 b 1 1130 b 28 1134 a 26 29 b 1318 1141 a 20 29 b 23 32 1142 I 2 114 10 112 b 1 1160 1 2129 1161 10 b 10 13 1162 a 18 1163 b 34 1167 b 2 1169 b 18 1177 b 12 1 1178 27 1180 b 30 1 3 1181 11 23 Prazer 109 b 17 1096b 1824 1099a 731 1101 b28 1104a23 34 1104 b4110 aS 16 1107 b 4 1108 b 2 1109 b 8 1113 a 34 1117 b 2 28 1118 a17 23 b 27 1119 a 24 1126 b 30 1128 b 8 1146 b 23 1147 b 24 1149 b26 110 a 9 16 llH b 19 3 ll52 a b 1 114 b 31 116 a 12 b 6 117 a 1 b 16 1172 a 1 1927 1172 a 271174 a12 1174 13117629 b 20 11772227 PRÍAMOS 1100 8 1101 8 114 I 21 Primeirosprindpios 109531 1098b2 1139b30 1140b34 11418 17 1142a19 1111 Procüplidadepródigo 1107 b 10 12 1108 b 22 32 1119 b 2711203 b2 1121a8b 10 1122 1 111 b 7 Produzir fazer 1139 a 28 b 1 1140 a 2 422 b 4 1147 a 28 Proporçio aritmtica geomtrica 1106 a 36 1131 a 32 b 1132 1132 a 2 30 1133 a 6 10 b 1 1134 5 27 PROTÁGORAS 1164 a 24 Provrbios 1129 b 29 1146 a 34 1154 b 26 1159 b 31 1168 b 6 Punição castigo pena 1104 b 16 1109 b 35 1126 a 28 l180 a 9 Pusilanimidade pusilãnime l197 b 23 1123 b 10 24 1125 a 17 19 33 R Radamintit 1132 b 25 Razio Jogos retarazlo ortbôrlogos 109 a 10 1096 a 2 b 29 1097 b 2 1098 a 3 5 7 14 1102a 28 b 14 1103a 2 1103 b 32 33 1107 a 1 1112 16 33 1114 b 29 11 n b 12 19 1117 a 8 21 111920 b 1118 112 b 3 1134 35 1138 10 b 9 20 22 25 29 34 1139 41 18 24 32 33 b 4 1140 a 10b 4 31 1141a 8 1141a19 b 3 1142 a 25 26 b 3 12 1143 a 9 25 b2 7 1144 b 9 12 23 27 28 29 30 114 b 14 1147 b 1 17 31 1149 a 26 28 32 b 1 3 1150 5 b 28 1151 1 12 17 21 222934 b 10 26 3 112a 3 13 1168 b 35 1169 a 1 2 5 17 18 1175 b 4 6 1177 a 13 20 b 19 30 1178 a 4 7 22 ll79 a 23 27 1180 a 12 18 21 Reciprocidade 1132 b 21 1133 b 6 Rgua de Lesbos 113 7 b 30 Rei 1113 a 8 1150 b 14 119 a 1 1160 b 311 1161 a 1119 1180 a 20 Relações sexuais 1118 a 31 1147 a 1 b 27 1148 b 29 1149 a 14 112 b 17 1154 a 18 Ética a Nicômacos 237 Resistência 114 a 36 b 8 1 1146 b 12 1147 b 22 110 a 14 33 b 1 Riqueza 1094 a 9 b 19 1095 a 23 25 1096 a 6 1097 a 27 i099 b 1 1119 b 26 1120 a 6 1123 a 7 25 1124 a 14 17 1131 28 1147 b 30 1161 2 Rusticidade rústico 1104 a 24 1108 a 26 1128 a 9 b 2 111 b 13 s Sabedoria saber filosófico 1098 b 24 1103 a 5 1139 b 17 1141 a 2 6 8 1143 b 19 33 1141a 6 1145 a 7 1177 a 24 SARDANAPALOS 1095 b 22 SÁTIROS 1148 a 34 Satisfação saciedade 1118 b 18 1173 b 820 Sensualidade sensual 1145 a 35 1150 b 2 3 Siciôoios povo 1117 a 27 Silogismo 1139 b 2830 1142 b 23 1144 a 31 1146 a 24 b 3 1147 b 19 SIMONJDES 1100 b 21 ciaçio 1121 a 7 Sociedade comunidade política 1129 b 19 1160 a 9 28 vejase também Associações SÓCRATES 1116 b 4 1127 b 5 1144 b 18 28 114 b 23 25 1147 b 15 Sofisw 1164 a 31 1180 b 3 1181 a 12 SÓFOCLES 1146 I 19 20 1151 b 18 1177 b 32 Sofrimento 1119 1 23 29 1152 b 16 1153 a 28 1171 b 8 1173 b 16 Solitário vida solitária 1097 b 9 1099 b 4 1157 b 21 1169 b 16 1170 a 5 SÓLON 1100 a 11 15 1179 a 9 SPÊUSIPOS 1096 b 7 1104 b 24 alusão 1172 a 28 Suicídio 1116 a 12 1138 a 6 10 1166 b 13 Talento 1144 a 23 b 15 152 a 11 TALES 1141 b 4 Tato 1128 a 17 33 Teauo 1175 b 12 T Temeridade remeririo 1104 a22 1107 b3 1108 b 19 1109a9 1115 b291116a 7 111 b 7 Temor 1105 b 22Z 1107 a 33 1110 a 4 1115 a 7 9 1116 a 31 1117 a 29 1121 b 28 1128 11 12 1135 b 5 1179 b 11 TEODECTES 1150 b 9 ciaçio TÊOGNIS 1170 1 12 1176 b 6 Ciaçôea 1129 b 29 1172 a 13 TÉTIS 1124 b 15 Timidez 1108 a 34 Timocracia 1160 a 36 b 17 18 1161 1 3 28 Tirania 1160 b 112 28 1161 a 32 b 9 RESENHA CRÍTICA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES Aluno INTRODUÇÃO Ética a Nicômaco é uma obra fundamental da filosofia ocidental escrita por Aristóteles no século IV aC Composta por dez livros a obra explora a natureza da felicidade eudaimonia a virtude e a vida boa sendo direcionada a seu filho Nicômaco como um guia para alcançar o bem supremo A abordagem de Aristóteles é teleológica focando nos fins ou objetivos das ações humanas Em um contexto de constante mutação de valores e crenças a obra de Aristóteles se destaca como um guia para uma vida plena e significativa Mais do que um tratado sobre moralidade Ética a Nicômaco convida à introspecção e oferece um mapa para navegar pelas complexas nuances da alma humana e das ações virtuosas Aristóteles com uma linguagem clara e concisa nos guia em uma jornada de autoconhecimento e transformação pessoal buscando a eudaimonia como o objetivo final da vida humana Esta felicidade não é fugaz mas um estado duradouro de bemestar alcançado através do desenvolvimento do potencial humano e da busca pelo bem Aristóteles propõe o cultivo das virtudes características nobres da alma que nos permitem agir conforme a razão e o bem Ele distingue entre virtudes éticas relacionadas ao caráter e ao modo de agir e virtudes intelectuais ligadas à capacidade de pensar e compreender o mundo A razão desempenha um papel fundamental na busca pela vida boa permitindo discernir o certo do errado tomar decisões justas e desenvolver nosso potencial intelectual e moral Além disso Aristóteles reconhece a importância da amizade como um dos pilares da felicidade distinguindo entre amizade por utilidade prazer e virtude sendo esta última a mais elevada e duradoura Embora escrita há mais de 2300 anos Ética a Nicômaco permanece relevante para o mundo contemporâneo As reflexões de Aristóteles sobre a natureza humana a ética e a busca pela felicidade oferecem insights valiosos para a vida moral individual e social Aristóteles deseja que o conhecimento ético não permaneça apenas no campo teórico mas que seja praticado e ensinado usando exemplos do cotidiano para aproximar a teoria da prática DESVENDANDO OS LIVROS DA SABEDORIA Livros I e II A Felicidade como EstrelaGuia Nos dois primeiros livros de Ética a Nicômaco Aristóteles fundamenta sua ética no conceito central de eudaimonia que define como a felicidade alcançada através da atividade da alma de acordo com a virtude Ele argumenta que a felicidade não é um estado fugaz mas sim um modo de ser duradouro que resulta da prática constante das virtudes Aristóteles identifica a felicidade como o bem supremo explicando que todas as ações humanas visam algum tipo de bem mas a felicidade é aquela que realiza plenamente a natureza humana No Livro I Aristóteles estabelece a felicidade como a atividade da alma em conformidade com a excelência ou virtude Ele diferencia diferentes tipos de vida a vida de prazer a vida política e a vida contemplativa concluindo que a vida contemplativa é a forma mais elevada pois está mais alinhada com a racionalidade e a virtude No Livro II o filósofo introduz a virtude ética que é adquirida pelo hábito e pela prática constante Ele enfatiza que as virtudes éticas não são inatas mas desenvolvidas através da repetição de ações justas Aristóteles explica que a virtude é uma disposição para agir corretamente encontrandose no meiotermo entre dois extremos viciosos o excesso e a deficiência Essa ideia é conhecida como a doutrina do justo meio ou média dourada que guia os indivíduos na busca pela virtude moral e pela vida ética Livros III a V Virtudes Éticas Caminhando no MeioTermo Nos livros III a V de Ética a Nicômaco Aristóteles explora o universo das virtudes éticas definindo cada uma pelo meiotermo entre vícios e excessos No Livro III ele destaca a importância da volição e da escolha na ética afirmando que as ações morais são aquelas realizadas com conhecimento e escolha deliberada Aristóteles discute a coragem como a virtude que está no meio termo entre a temeridade e a covardia e a temperança que equilibra a indulgência e a insensibilidade No Livro IV o filósofo detalha várias virtudes específicas e seus correspondentes vícios como generosidade magnificência magnanimidade mansidão veracidade urbanidade amizade e vergonha Cada virtude é examinada em relação ao justo meio destacando a importância do equilíbrio e da moderação para uma vida ética No Livro V Aristóteles aborda a justiça como a virtude completa que regula as relações interpessoais Ele distingue entre justiça distributiva que envolve a distribuição equitativa de bens e justiça corretiva que trata da correção de desequilíbrios causados por injustiças A justiça é considerada a mais elevada das virtudes morais por abranger todas as outras em suas práticas refletindo um ideal de equidade e harmonia na sociedade Livros VI e VII Virtudes Intelectuais A Luz da Razão Nos livros VI e VII de Ética a Nicômaco Aristóteles adentra o domínio das virtudes intelectuais onde a razão desempenha um papel central Aqui são exploradas virtudes como a sabedoria prática a inteligência e a ciência todas relacionadas à capacidade de compreender a verdade e agir de acordo com ela No Livro VI Aristóteles discute as virtudes intelectuais como a sabedoria sophia o entendimento nous e a prudência phronesis Ele argumenta que essas virtudes são desenvolvidas através do ensino e são essenciais para a prática das virtudes éticas A sabedoria prática também conhecida como prudência destacase por permitir que o indivíduo aplique corretamente os princípios morais nas situações cotidianas No Livro VII Aristóteles explora a distinção entre continência enkrateia e incontinência akrasia A continência referese à capacidade de agir corretamente mesmo contra desejos contrários demonstrando controle sobre si mesmo Em contraste a incontinência ocorre quando um indivíduo embora conheça o que é correto não consegue agir de acordo com o conhecimento devido à fraqueza de vontade Aristóteles analisa os comportamentos desses indivíduos e as condições que levam à incontinência moral oferecendo insights sobre a complexidade da natureza humana e da tomada de decisões éticas Livro VIII A Amizade Um Pilar da Felicidade No livro VIII Aristóteles nos presenteia com uma análise profunda da amizade considerada por ele como um dos pilares da felicidade Ele distingue três tipos de amizade a amizade por utilidade a amizade por prazer e a amizade virtuosa esta última sendo a mais elevada e duradoura Livros IX e X Felicidade Prazer e Fortuna Desvendando os Enigmas Os livros IX e X encerram a obra com reflexões sobre a felicidade o prazer e o papel da fortuna na vida boa Aristóteles discute as diferentes concepções de felicidade analisa a relação entre prazer e virtude e pondera sobre o papel da sorte em nossas vidas CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS Ética a Nicômaco de Aristóteles é uma obra fundamental que explora profundamente a ética e a moralidade Aristóteles define a felicidade eudaimonia como o bem supremo alcançado pela prática da virtude através da razão Ele desenvolve a doutrina do justo meio argumentando que as virtudes éticas estão no equilíbrio entre extremos viciosos A obra também aborda as virtudes intelectuais e a importância da razão na vida moral Apesar das críticas a influência de Aristóteles na filosofia moral é duradoura oferecendo um arcabouço teórico para a busca de uma vida plena e significativa através da virtude e do conhecimento Pontos Fortes da Obra Clareza Radiante Iluminando Caminhos Complexos A linguagem de Aristóteles em Ética a Nicômaco é como um raio de sol que rasga as nuvens da complexa filosofia moral Sua escrita clara concisa e rica em exemplos práticos torna a obra acessível a um público amplo desde iniciantes até estudiosos experientes Raciocínio Robusto Uma Jornada Lógica e Persuasiva Assim como um arquiteto meticuloso constrói um edifício imponente Aristóteles estrutura seus argumentos com raciocínio lógico impecável Cada passo da sua jornada filosófica é sustentado por uma base sólida de evidências e reflexões cuidadosamente elaboradas Profundidade Imensurável Um Universo de Sabedoria Moral Ética a Nicômaco não se contenta em apenas arranhar a superfície dos conceitos éticos A obra mergulha nas profundezas da alma humana explorando a natureza da virtude o papel da razão a importância da amizade e a busca incessante pela felicidade Abrangência Incrível Um Mapa para a Vida Boa A obra não se limita a um único tema ou perspectiva mas sim oferece um panorama abrangente da vida moral Aristóteles discute diversos aspectos da ética desde as virtudes individuais até as relações interpessoais e o papel do Estado na promoção do bem comum Relevância Atemporal Uma Chama que Resiste ao Tempo Embora escrita há mais de 2300 anos a Ética a Nicômaco permanece notavelmente relevante para o mundo contemporâneo As reflexões de Aristóteles sobre a natureza humana a ética e a busca pela felicidade transcendem o tempo e o espaço oferecendo insights valiosos para os desafios morais da sociedade atual Ética a Nicômaco não é apenas um livro para ser lido e esquecido É um portal que se abre para um universo de sabedoria e reflexão convidandoo a questionar suas crenças repensar seus valores e trilhar um caminho mais virtuoso e significativo em sua vida Através da clareza do raciocínio de Aristóteles da profundeza de suas análises e da relevância atemporal de seus ensinamentos você estará munido de ferramentas valiosas para navegar pelos desafios da vida moral e construir uma vida plena e feliz Pontos a Considerar Visão Teleológica Entre o Fim e os Meios A ética aristotélica com sua ênfase na felicidade como objetivo final da vida humana abre um portal para reflexões profundas sobre o papel da moralidade e a busca pelo bemestar No entanto essa visão teleológica que coloca a felicidade como o fim último pode ser questionada por aqueles que defendem outras correntes do pensamento ético Deontologia e Utilitarismo Caminhos Alternativos Do ponto de vista deontológico o foco reside no cumprimento de deveres e princípios morais independentemente das consequências Já o utilitarismo propõe a avaliação das ações com base na sua capacidade de gerar o máximo de felicidade para o maior número de pessoas Essas perspectivas contrastam com a visão teleológica de Aristóteles que coloca a felicidade individual como o fim último sem necessariamente considerar o impacto das ações em outrem Análise Contextualizada Desvendando as Nuances da História É importante considerar que a Ética a Nicômaco foi escrita em um contexto histórico e social específico no qual as mulheres ocupavam um papel secundário na sociedade As reflexões de Aristóteles sobre a vida boa portanto devem ser analisadas criticamente considerando as limitações do seu tempo e as desigualdades de gênero presentes na época Um Olhar Crítico Desconstruindo Limitações Ao analisar o papel da mulher na obra de Aristóteles é fundamental questionar as visões patriarcais presentes no texto e buscar interpretações que valorizem o papel das mulheres na vida moral e na busca pela felicidade Limitações da Razão Um Dilema Inclusivo Embora Aristóteles reconheça que nem todas as pessoas possuem o mesmo nível de desenvolvimento racional sua ética ainda se baseia fortemente na ideia de que a razão é a principal ferramenta para a tomada de decisões morais Essa visão pode gerar questionamentos sobre a acessibilidade da ética aristotélica a indivíduos com diferentes capacidades cognitivas ou que não se identificam com a racionalidade como base fundamental da moralidade Um convite à Reflexão Construindo Pontes entre Perspectivas A análise crítica dos pontos mencionados acima não visa diminuir o valor da Ética a Nicômaco mas sim convidar o leitor a uma reflexão profunda sobre os desafios e as nuances da obra Ao reconhecer as limitações e contextualizar as ideias de Aristóteles podemos construir pontes entre diferentes perspectivas éticas e buscar uma compreensão mais completa e abrangente da vida moral CONCLUSÃO Ao iniciar a leitura do texto somos levados a refletir sobre cada pensamento externado pelo grande filósofo Logo nos deparamos com uma definição de justiça que a coloca como uma virtude completa Aristóteles insere a virtude no conceito de justiça acompanhandoa com o adjetivo completa Para que a virtude se configure de acordo com Aristóteles é necessário considerála como uma prática reiterada de uma atitude decidida e desejada pela pessoa Por exemplo se Bill Gates doa uma parte significativa de sua imensa fortuna para instituições de caridade que cuidam de pessoas pobres ele realizou uma boa ação Contudo isso não significa que por essa atitude isolada Bill Gates seja considerado uma pessoa virtuosa na caridade É necessário conhecer o motivo de seu ato e verificar se a prática da doação se mantém como um hábito incorporado ao seu modo de vida Só então estariam atendidos os pressupostos para a configuração da caridade Aprender isso pode causar um desconforto inicial como se estivéssemos desclassificando uma ação inegavelmente excepcional e boa como não sendo virtude Porém ao refletir percebemos que não se tira o valor do que é bom nem o louvável da atitude mas se distingue o ato isolado da reiteração planejada e contínua de atos caridosos que caracterizam a virtude No contexto Aristóteles tem a justiça em tão alta conta assim como os cristãos têm o Amor que é sinônimo de Deus Aquele que possui justiça é capaz de exercêla plenamente não apenas para si o que poderia ser confundido com egoísmo mas também para com o próximo Vale ressaltar que para o exercício da justiça é necessário haver uma sociedade ou pelo menos outra pessoa Não faria sentido falar de justiça para um homem solitário que não se relaciona com seus semelhantes A justiça se manifesta nos relacionamentos entre as pessoas e se observa nas atitudes e posturas adotadas envolvendo os aspectos que regem os direitos e deveres de cada um o que pertence a cada um e o bom uso de tudo o que está à disposição dos homens para uma melhor qualidade de vida Existe a justiça que é a observância das leis postas considerando que essas leis quando elaboradas visam ao bom e saudável convívio em sociedade definindo as regras que respeitam o que é inerente a cada cidadão Um homem injusto pode praticar um ato justo Um homem justo também pode por vezes praticar um ato injusto seja por ignorância impulso instinto de sobrevivência ou uma atitude súbita de raiva A prática constante de atos justos leva à construção do conceito de homem justo Este não existe por si só mas é observável e concebível pelas posturas e gestos predeterminados nos relacionamentos com os seus semelhantes de forma habitual Faz parte de sua personalidade de seu modo de ser e de agir diante das circunstâncias que enfrenta Aristóteles procurava classificar e organizar conceitos e tudo o que encontrava na natureza Em relação à virtude distinguia duas espécies a intelectual e a moral A virtude moral conforme a etimologia da palavra referese ao hábito e é o que nos interessa aqui É aprender fazendo adotando critérios de justiça fazse o homem justo agindo de maneira errada surge o malfeitor REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Aristóteles Ética a Nicômacos Trad de Mário da Gama Kury Brasflia Editora Universidade de Brunia c1985 238 p Coleçio Biblioteca Clúsica UaB 9
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ÉTICA A NICÔMACOS Aristóteles Editorial Universidade de Brasília ÉTICA A NICÔMACOS Aristóteles ÉTICA A NICÓMACOS Aristóteles Tradução do grego Introdução e Notas de Mário da Gama Kun ffi Editora Universidade de Brasília Este livro ou pane dele nio pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaçio eacrira do Editor Impresso no Bruil Editora Universidade de BruOia Campus Universidrio Asa Norre 70910 BruOia Distrito Federal Copyright 198 by Editora Universidade de Brunia Copyright da introdução e das now by Mirio da Gama Kury 1985 Direitos exclusivos para esra edição Editora Universidade de Brasfiia EQUIPE TÉCNICA EJitDm Maria Riza Baptista Dutra Lécio Reiner SuprrvisM G14fico Elmano RodriJues Pinheiro Ilusrraftio tia capa A Acrópole de Atenas ISBN 852000496 Ficha cawosráfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília A717e Aristóteles Ética a Nic6macos Trad de Mário da Gama Kury Brasflia Editora Universidade de Brunia c1985 238 p Coleçio Biblioteca Clúsica UaB 9 Título oriiaal Ethikon Nikomacheioa 17 t série Introdução Notas à Introdução Sumário Livro I 7 13 Capítulo 1 p 1 7 todas as atividades humanas visam a um bem alguns bens são subordinados a outros 2 p 17 a ciência do bem com vistas ao homem é a Política 3 p 18 não se deve esperar de uma ciência precisão maior do que a admitida pelo assunto de que ela trata o estudioso desta ciência deve ter vivido o bastante para haver adquirido experiência 4 p 18 admitese geralmente que para o homem o bem é a felicidade mas há divergências quanto à natureza desta 5 p 19 discussão do ponto de vista corrente segundo o qual o bem consiste no prazer nas honrarias e na riqueza existe um quarto tipo de vida a vida contemplativa 6 p 20 discussão sobre a existência ou não de uma forma do bem doutrina de Platão 7 p 22 o bem deve ser algo final e autosuficiente definição da felicidade considerando a função própria do homem 8 p 25 esta definição é confirmada pelos conceitos vigentes acerca da felicidade 9 p 27 podese aprender a ser feliz Ou se chega à felicidade pelo hábito Ou ela é proporcionada por alguma divindade ou pela sorte 10 p 28 podese chamar algum homem feliz enquanto ele vive 11 p 30 as vicissitudes dos vivos afetam os mortos 12 p 31 a excelência é louvável mas a felicidade está acima de qualquer louvor 13 p 32 divisão das faculdades do homem e conseqüente divisão da excelência em intelectual e moraF Livro II Capítulo 1 p35 a excelência moral como a proficiência nas artes adquire se pela repetição dos atos conformes a ela 2 p 36 estes atos não podem ser dosados exatamente mas devem evitar o excesso e a falta 3 p 3 7 o prazer na prática de atos conformes à excelência moral é um sinal de que a respectiva disposição foi adquirida vãcias considerações demonstram a conexão da excelên cia moral com o prazer e o sofrimento 4 p 39 as ações conducentes à excelência moral não são boas no mesmo sentido das resultantes dela a excelên cia moral deve preencher certos requisitos não necessários no caso das artes 5 p 40 genericamente a excelência moral é uma disposição da alma e não uma emoção nem uma faculdade 6 p 41 especificamente a excelência moral é uma disposição para escolher o meio termo 7 p43 ilustração desta afirmação pela referência às várias formas de excelência moral 8 p45 os extremos se opõem entre si e ao meio termo 9 p46 o meio termo é difícil de atingir e é descoberto pela percepção e não pela razão 4 Aristóteles Livro III Capítulo 1 p 49 o louvor e a censura se relacionam com as ações voluntárias isto é as ações que não são praticadas sob compulsão e que são praticadas com o conhecimento das circunstâncias respectivas 2 p 52 a excelência moral pressupõe que a ação seja praticada mediante escolha o objeto da escolha é o resultado de uma deliberação prévia 3 p 54 a natureza da deliberação e seu objeto a escolha é o desejo deliberado de coisas ao nosso alcance 4 p 56 o objeto do desejo racional é a finalidade isto é o bem propriamente dito ou bem aparente a cada um 5 p 57 somos responsáveis por nossas más ações tanto quanto pelas boas 6 p 60 a coragem se relaciona com os sentimentos de medo e temeridade 7 p 61 a motivação da coragem é o sentimento de honra característica das formas contrárias de deficiência moral covardia e temeridade 8 p 62 cinco espécies de coragem impropriamente tidas como tais 9 p 65 correlação da coragem com o sofrimento e o prazer 10 p 65 a moderação é limitada a certos prazeres tácteis 11 p 67 características da moderação e de suas formas extremas a concupiscência e a insensibilidade 12 p 68 a concupiscência é mais voluntária que a covardia comparação das pessoas concupiscentes com as crianças mimadas Livro IV Capítulo 1 p 71 a liberalidade 2 p 75 a magnificência 3 p 78 a magnanimidade 4 p 82 a forma de excelência moral entre a ambição e o desprendimento 5 p 83 a jovialidade 6 p 84 a afabilidade 7 p 85 a sinceridade 8 p 87 a espirituosidade 9 p 88 a vergonha Livro V Capítulo 1 p 91 o justo legal justiça em sentido amplo e o justo correto e eqüitativo justiça em sentido restrito exame da primeira acepção 2 p 93 exame da segunda acepção divisão entre justiça distributiva e justiça corretiva 3 p 95 justiça distributiva conforme à proporção geométrica 4 p 97 justiça corretiva conforme a progressão aritmética 5 p 99 justiça em troca recriprocidade 6 p 102 justiça política e espécies análogas de justiça 7 p 103 justiça natural e justiça legal 8 p 104 escala dos graus de injustiça 9 p 106 podese tratar alguém voluntariamente de modo injusto A culpa por injustiça na distribuição cabe a quem distribui ou a quem recebe A prática da justiça não é tão fácil quanto parece porque não se trata de uma maneira de agir mas de uma disposição íntima 10 p 109 eqüidade um corretivo da justiça legal 11 p 110 pode uma pessoa ser injusta consigo mesma Livro VI Capítulo 1 p 113 razões para o estudo da excelência intelectual divisão do Ética a N icômacos 5 intelecto em contemplativo e calculativo 2 p 114 o objeto do primeiro é a verdade e do segundo é a verdade correspondente ao desejo certo 3 a 7 p 11 5 formas principais de excelência intelectual a ciência conhecimento denons uativo do necessário e do eterno b arte conhecimento da maneira de fazer as coisas c discernimento conhecimento da maneira de atingir as finalidades da vida humana d inteligência conhecimento dos princípios dos quais provêm a ciência e sabedoria filosófica união da inteligência e da ciência 8 p 119 relações entre o discernimento e a ciência política 9 a 11 p 121 formas secundârias de excelência intelectual relacionadas com a conduta a excelência na deliberação e sua relação com odiscernimento b entendimento a qualidade crítica correspondente ao discerqmento qualidade imperativa c julgamento percepção correta do eqüitativo lugar da intuição na ética 12 p 124 diferença entre o uso do conhecimento filosófico e do discernimento o conhecimento filosófico é a causa formal da felicidade o discernimento é a faculdadt que assegura a adoção dos meios próprios para chegar aos fins desejados pela excelência moral 13 p 126 o discernimento em suas relações com a excehncia natural com a excelência moral e com a reta razão Livro VII Capítulo 1 p 129 seis tipos de caráter método de abordagem opiniões correntes 2 p 130 contradições inerentes a estas opiniões 3 p 132 resposta à pergunta como o conhecimento do homem incontido é prejudicado i p 13 5 resposta à pergunta onde se manifesta a incontinência Distinção en êre o sentido estrito e o sentido amplo de incontinência 5 p 13 7 incontinênci 1 em sentido amplo inclui uma forma irracional e mórbida 6 p 138 a incontincncia em relação à cólera é menos aviltante que a incontinência propriamente dita 7 p 140 lassidão e resistência duas formas de incontinência apatia e impetuosicade 8 p 142 concupiscência pior que incontinência 9 p 143 correlação t ntre continência e obstinação incontinência insensibilidade moderação 10 p 45 o discernimento não é compatível com a incontinência mas o talento é 1 l p 146 três pontos de vista hosti ao prazer e argumentos a favor dos mesmos 12 p 146 o prazer é ou não é um bem 13 p 148 o prazer é ou não é o em supremo 14 p 149 discussão do ponco de vista de que os prazeres err sua maioria são maus e da tendência para identificar os prazeres do corpo cem o prazer em geral Livro VIII Capítulo 1 p 153 a amizade é ao mesmo tempo necessária e nobilitante principais dúvidas a este respeito 2 p 154 três objetos de amor conotações da amizade 3 p 155 três espécies correspondentes de amizade superioridade da amizade motivada pelo bem 4 p 15 7 contraste entre a espécie inferior e a superior de amizade 5 p 158 a disposição para a amizade é distinta da atividade 6 Aristóteles da amizade e do afeto 6 p 159 diferentes relações enue as uês espécies 7 p 161 deve haver uma proporcionalidade nu amizades desiguais 8 p 162 amar é mais condizente com a essência da amizade do que ser amado 9 p 163 paralelismo enue a amizade e a justiça a cidade abrange todas as comunidades menores 10 p 164 classificação das constituições analogias com as relações familiares 11 p 166 formas correspondentes de amizade e de justiça 12 p 167 várias formas de amizade segundo os tipos de relacionamento 13 p 169 princípios a ser observados na amizade enue pessoas iguais 14 p 171 princípios a ser observados na amizade entre pessoas desiguais Livro IX Capítulo 1 p 17 3 princípios a ser observados quando as motivações das duas partes numa relação de amizade são diferentes 2 p 1 75 conflitos de obrigações 3 p 176 rompimento da amizade 4 p 177 a amizade é baseada no amor próprio 5 p 179 relação entre amizade e afeição 6 p 180 relação entre amizade e concórdia 7 p 181 o prazer da beneficência 8 p 183 natureza do verdadeiro amor próprio 9 p 185 por que o homem feliz necessita de amigos 10 p 187 o limite do número de amigos 11 p 189 os amigos são mais necessários nos bons ou nos maus momentos 12 p 190 a essência da amizade é a convivência Livro X Capítulo 1 p 191 dois pontos de vista opostos acerca do prazer 2 p 192 discussão do pontos de vista de que o prazer é o Bem 3 p 193 discussão do ponto de vista de que o prazer é totalmente mau 4 p 195 definição do prazer 5 p 197 os prazeres diferem segundo as atividades que lhes são inerentes critério de avaliação dos prazeres 6 p 200 a felicidade não o enuetenimento é a melhor atividade 7 p 201 A felicidade no sentido mais elevado é a vida contemplativa 8 p 203 novas considerações sobre a vida contemplativa 9 p 206 as leis são necessárias para que o homem atinja a sua finalidade transição para a Política Notas 213 Índice Geral 227 Introdução 1 O autor Aristóteles nasceu em Stágiros posteriormeme Stágira atualmeme Stavra na Calcídice território macedônio em 384 aC e morreu em Cálcis atual Evripo na Eubéia em 322 Seu pai era Nicômacos da confraria dos asclepíadas médico e amigo de Amintas 11 rei da Macedônia É provável que Aristóteles tenha vivido parte de sua infância em Pela sede da corte dos reis macedônios e que tenha herdado de seu pai o interesse pelas ciências naturais constante em sua obra Aos dezoito anos ele ingressou na escola de Platão em Atenas e nela permaneceu até 348347 b época da morte do mestre primeiro como aluno e depois como colaborador de certo modo independente Desgostoso com a escolha de Spêusipos representante de uma tendência do platonismo que lhe repugnava a transformação da filosofia em matemática Aristóteles deixou a Academia Juntamente com Xenôcrates outro filósofo platônico descontente ele aceitou o convite de um colega na Academia Hermias futuro governante de Atarneus e Assos na Mísia Ásia Menor que reuniu em torno de si um pequeno círculo platônico Aristóteles permaneceu em Assas até a morte de Hermias em 345 aC e lá contraiu matrimônio com Pítias sobrinha de Hermias De Assas ele foi para Mitilene na ilha de Lesbos talvez por influência de Teôfrastos seu discípulo colaborador e sucessor natural de Éresos na mesma ilha Em 343342 Filipe então rei da Macedônia convidouo a voltar a Pela para ser professor de seu filho Alexandre durante esse período Aristóteles compôs para Alexandre duas obras que se perderam chamadas Or Colonos e Sobre a Monarquia tudo indica que suas aulas a Alexandre a respeito de política foram a origem de seu interesse pelo assunto Suas relações com Alexandre terminaram quando este foi alçado à regência do império em 340 aos dezenove anos de idade naquela ocasião Aristóteles provavelmente voltou a Stágiros Em 335 pouco depois da morte de Filipe Aristóteles regressou a Atenas os arredores da cidade presumivelmente entre o monte Iicábetos e o rio Ilissos onde havia um pequeno bosque consawado a Apolo Lício e às Musas Aristóteles se instalou em alguns prédios existentes no local e fundou sua escola 8 Aristóteles entre os prédios havia uma colunata coberta periptfs origem do nome da escola Lá ele constituiu uma coleção de manuscritos protótipo de todas as bibliotecas da Antiguidade e também de mapas além de um museu com objetos para ilustrar suas aulas especialmente de zoologia consta que Alexandre teria contribuído com uma elevada soma para a coleção Aristóteles estabeleceu normas para a sua comunidade inclusive refeições em comum e um seminário mensal Uma de suas realizações mais importantes foi a organização de pesquisas em grande escala das quais o levantamento de 158 constituições de cidades estados helênicas foi um exemplo Sob sua orientação Teôfrastos realizou pesquisas botânicas e Aristôxenos pesquisas musicais além disto o primeiro compilou histórias básicas do pensamento helênico anterior englobando a física a psicologia e a cosmologia Eudemos fez o mesmo em relação à matemática à astronomia e à teologia e Mênon em relação à medicina Durante sua segunda estada em Atenas morreu Pítias sua primeira mulher e Aristóteles passou a viver com Herpílis da qual teve um filho chamado Nicôma cos a quem teria dedicado uma de suas Éficas Após a morte de Alexandre em 32 recrudesceram em Atenas os sentimentos antimacedônios e uma acusação de impiedade foi levantada contra Aristóteles este alegando querer evitar que os atenienses pecassem duas vezes contra a filosofia referindose ao processo do qual resultou a morte de Sócrates deixou a escola entregue a Teôfrastos e retirouse para Cálcis onde morreu A principal fonte para a biografia de Aristóteles é o livro V das Vidas dos Fil6sofos de Diôgenes Laêrtios que viveu na metade do século III d C mas usou fontes muito mais antigas hcje perdidas 2 O corpus aristotilico De acordo com o catálogo constante do livro V das Vitls dos Fil6sofos de Diôgenes Laêrtios Aristóteles teria escrito cerca de quatrocentas obras das quais rstam quarenta e sete entre as certamente autênticas as provavelmente autênti cas as de autenticidade duvidosa e as espúrias além de fragmentos das obras perdidas Destas quarenta e sete somente uma pertence à classe das chamadas exotéricas ou seja obras de divulgação para a gente de fora da escola portanto o público tratase da Constituifio dos Atmienses descoberta no fim do século passado as demais se incluem na classe das obras esotéricas ou acroamáticas isto é destinadas ao estudo dentro da escola e subdivididas em notas de aula e em obras realmente científicas O estilo das obras exotéricas é ou era mais cuidado e muitas delas tinham a forma de diálogos à maneira platônica a elas se aplicam os elogios de Cícero e Quintiliano respectivamente nas AcJimictiS 2 38 119 e nas lnstituifõu Chtt6ritiS X 1 83 Enue as obras esotéricas chepdas até nós são geralmente consideradas autênticas as seguintes Primeiros Antliticos S8ftuioS Antlticos T6picos Rtutllfõu Sosticlll Fsict Do Clu D11 Glrtlflio 1 ti Dlttnrposi fio M1teorológicos D11 AlfPIII os opúsculos seguintes entre as chamadas P1qunuu Ohrts solm CilncitiS Nthlrtis Do Smtido 1 tltu CoistiS Smswis D11 Mm4rit 1 u Ética a N icômacos 9 Rnniniscincit Do Sono Dos Sonhos Dt AàivinbtfO pelo Sono Dt Longevidtde e ti Breviddt ti VULa Dt juvmtudt e ti Velhire Dt Vid e Ú Morte e Da Respirafão Histórit dos Ani1n11is os livros VII parte do VIII e IX seriam espúrios Dts Parlls tks Ani1n11is Da March tks Animtis Da Gertfio dos Animtis Metafísica Étict Nicô1n11cos Polítict Ret6rict e Poltict incompleta São tidas como prova velmente autênticas as seguintes Dt InterprettÇio Do Movimento dos Animais Ética a Êudnnos presumivelmente anterior à Ética a Nicômacos São de autenticidade duvidosa as Categorias e a Ética Mtior São consideradas espúrias Do Mundo Do Espírito Dts Cores Das Coisas Ouviús Fisiognômicos Das Plantas Das Coisas Maravilhosas que se Ouvem Problem4s Mecânicos Problemas Das Linhas Indivisíveis Da Situafão tks Ventos Sobre Melissos Xenofanes e G6rgias Das Virtudes e dos Vícios Da Economia e Ret6rica a Aúxatulre Os numerosos fragmentos 680 das obras perdidas constam da coletânea de V Rose Aristottlis qui Ferebantur Librorum Fragmenta Leipzig 1886 que contém ainda duas Vidas do filósofo 3 As obras de Aristóteles Dedicadas à Ética Sem contar o opúsculo Das Virtudes e dos Vícios cuja autenticidade é geralmente contstada chegaram até nós sob o nome d Aristóteles como já vimos acima a Etica a Nicômacos a Etica a Eudemos e a Etica Maior ou Magna Moralia que apesar do títul é a menor das três 32 páÍnas d edição de BeKker em comparação com 91 da Etica a Nicômacos e 62 da Etica a Eudemos inclusive os três livros iguais aos livros V VI e VII da Ética a Nicômacos Os estudiosos da obra de Aristóteles em geral e das obras morai em particular gastaram e continuam a gastar muita erudição e tinta na tentativa de estabelecer uma cronologia definitiva para as três Éticas e de definirlhes a fidelidade à doutrina do estagirita bem como na discussão da autenticidade da Ética a Êudemos e da Ética Maior a Ética a Nicômacos é geralmente considerada autêntica Convém esclarecer preliminarmente que a exemplo da Política as bras aristotélicas relativas à ética se incluem na classe das esotéricasd isto é das bras para uso interno na escola do estagirita Além disto tanto quanto a Polítio ou ainda mais a Ética a Nicômacos e a Ética a Êudemos têm todas as caracterísrios de noras de aula ou apostilas preparadas pelos discípulos com base nas exposições do mestre para uso na escola ou para preservarlhe os ensinamentos Esta particularidade se reflete na própria designação das obras a Ética a NicômacoJ teria so a eição das notas de aula do filho de AristóAteles que tinha este nome e a EtJCa a Eudemos seria a edição das notas de aula de Euciemos também discípulo do estagirita e que segundo Alêxandros de Afrodísias comentador de Arístoteles que viveu no início do século III d C teria editado também as notas de auht que vieram a constituir a atual Metafísica A Ética Maior que quanto à sua doutrina poderia situarse cronologicamente lO Aristóteles entre a Ética a Êudemos geralmente considerada a versão mais antiga e mais próxima do ensinamento de Platão da doutrina moral de Aristóteles e a Ética a Nicômacos tida embora não unanimemente como a versão mais amadurecida e representativa do pensamento aristotélico seria segundo alguns estudiosos uma compilação em escala enor pr um peripatético da geração seuinte baseada principalmente na Etica a Eudemos e subsidiariamente na Etica a Nicômam O fato de a tradu5ão literal do título IFego das duas obras morais principais ser respectivamente Etica de Eudemos e Etica de Nicômacos contraria de certo modo a suposição de que estas obras poderiam ter sido compostas pelo próprio Aristóteles e dedicadas a dois discípulos um dos quais aliás era também filho do filósofo devese acrescentar a propósito que Nicômacos teria morrido em combate ainda muito jovem circunstância que diminui a plausibilidade da hipótese de ele ter sido o editor da versão mais amadurecida e representativa do pensamento do estagirita no campo da ética Outra circunstância digna de menção que tem excitado consideravelmente e posto à prova a engenhosidade de muitos estudiosos do assunto é que alguns manuscritos contêm uma nota no fim livro 111 da Ética a Êudtmos correpon dente ao livro IV da Ética a Nic6trtcos informando que os três livros seguintes da primeira são idênticos aos livro V VI e VII da segunda e por isto os omitem passando ao que chamam de livro VII da Ética a 1fllkmos Embora a maioria do estudiosos dê à Etica a Nicômacos o primado entre as três considerandoa a mais completa e representativa as discussões entre os doutos continuam Ainda recentemente numa tese em cujo preparo foi usado até o computador para fins de estilometria o autor da mesma opina pela maior representatividade da Ética a Êudemos Anthony Kenny Tht Aristotelian Etbics a Study on tbt Rtlationsbip btlwttn tbe Eudtmian and tht Nicomachean Etbics of Aristotk Oxford 1978 Mas estas discussões apesar de seu interesse não alteram substancialmente a validade das razões que levam a maioria dos estudiosos a optar pela outorga à Ética a Nicômacos do título de obra moral por excelência de Aristóteles 4 A Ética a Nicômacos Apesar de os primeiros quatro livros da Ética a Nicômacos apresentarem uma seqüência de ro modo lógica o plano geral da obra é um tanto confuso No livro I Aristóteks tenta determinar quais as coisas que são boas para o homem inclusive qual o bem supremo ou simplesmente o Bem e o livro termina com uma divisão das faculdades humanas em uma faculdade que elabora planos e ouua que trata de sua realização esta conclusão leva naturalmente à divisão da excelência humana em intelectual e moral Ética a N icômacos li Os livros 11 I li e IV tratam das várias formas de excelência moral a partir do capítulo 1 do livo 11 até o capítulo 5 do livro III temos um exame global da excelência moral e o restante do livro III e todo o livro IV contêm a discussão das várias formas de excelência moral Os livros V VI e VIl de acordo com parte da tradição manuscrita são comuns à Ética a Êutkmos e à Ética a Nicômacos esta circunstância pode significar que embora as duas obras representem respectivamente uma série de notas de aula mais antiga e outra mais nova esta parte da doutrina moral de Aristóteles permaneceu inalterada No livro V é examinada a justiça uma das duas formas fundamentais de excelência moral não discutidas nos livros II III e IV No livro VI são examinadas de maneira perfunctória as várias formas de excelência intelectual Os capítulos 1 a 10 do livro VII contêm o exame de duas disposições morais situadas entre a excelência moral e a deficiência moral a continência e a incontinência os capítulos restantes do mesmo livro apresentam um exame do prazer Os livros VIII e IX nos quais é examinada a amizade destoam pelo tratamento exaustivo do assunto do resto da obra este grau de detalhamento parece claramente deslocado no contexto da obra não sendo aparentemente essencial em um tratado geral de ética O livro X sobre a felicidade conclui adequadamente a obra apesar de os capítulos 1 a 5 constituírem uma repetição dos capítulos 11 a 14 do livro VII embora com algumas inovações sob certos aspectos seus parágrafos finais são um roteiro e uma transição para a Política Com efeito para Aristóteles a ética é parte da ciência política e lhe serve de introduçãoi O objetivo da ética seria então determinar qual é o bem supremo para as criaturas humanas a felicidade e qual é a finalidade da vida humana fruir esta felicidade da maneira mais elevada a contemplação este é o conteúdo da Ética a Nicômacos em linhas muito gerais Depois de determinados estes dois pontos haveria que investigar qual a melhor maneira de proporcionar às criaturas humanas este bem supremo e assegurarlhe a fruição Já que o homem como diz Aristóteles é um animal social e a felicidade de cada criatura humana pressupõe por isto a felicidade de sua família de seus amigos e de seus concidadãos a maneira de assegurar a felicidade das criaturas humanas é proporcionar um bom governo à sua cidade no sentido grego de cidadeestado há que determinar então qual é a melhor forma de governo e este é o assunto da Política A Ética a Nic6macos difere profundamente de um livro moderno de filosofia se considerarmos o arranjo geral de seu conteúdo notase repetidas vezes a sua condição de coleção de notas de aula elaborada com mais ou menos cuidado muito diferente portanto de um livro moderno em termos de unidade e coerência O bem supremo ou a felicidade por exemplo é objeto de discussões 12 Aristóteles separadas nos livros I e X o primeiro e o último da obra Há também a anomalia de dois livros inteiros VIII e IX consagrados como já dissemos à amizade enquanto a excelência intelecrual é tratada de maneira a bem dizer descuidada no livro VI um dos mais curtos da obra Estas e outras incongruências somadas a uma redação solta ti pica de notaSde aula levaram alguns autores modernos a expressar uma opinião extremamente desfavorável a Aristóteles Bercrand Russell por exemplo achava a Ética a Nic6macos repulsiva segundo W K C Guthrie no volume VI de sua monumental History of Greek Pbilosopby página 335 Cambridge 1981 Tratase porém de opiniões exacerbadas e isoladas uma leitura atenta da obra levará certamente a uma opinião alwnente favorável ao seu autor na qualidade de criador da ética como ciência e até os nossos dias um de seus representantes mais ilustres e à própria obra o primeiro tratamento sistemático do assunto e até hoje um dos mais atuais Afinal de contas após a leitura da Ética a Nicômacos vemos que as criaturas humanas pouco ou nada mudaram desde a época em que viveu Aristóteles um de seus observadores mais profundos e geniais não é de admirar portanto que esta obra conserve praticamente o mesmo valor após o decurso de mais de dois milênios principalmente se tivermos em mente a descrição que o próprio autor faz de seu método de investigação relativo às ciências práticas em geral e especialmente à ética A opinião dos sábios parece então harmonizarse com os nossos argumentos Mas apesar de tais afirmações serem de certo modo convincentes a verdade em assunÍos de ordem prática é percebida através dos fatos da vida pois eles são a prova decisiva Devemos então examinar o que já dissemos submetendo nossas conclusões à prova dos fatos da vida se elas se harmonizarem com os fatos devemos aceitálas mas se colidirem com eles devemos imaginar que elas são meras teorias 11 79 a 17 e seguintes 5 A tradução Uma das principais dificuldades na tradução da Ética a Nicômacos é encontrar equivalentes satisfatórios para certos termos do original Em alguns casos a palavra tradicionalmente usada em português como equivalente se desgastou com o passar do tempo e seu significado adquiriu tal ambigüidade que seu uso induziria o leitor em equívoco Isto ocorre por exemplo com artté geralmente traduzida por virtude preferimos usar excelência moral em vez de virtude pura e simples e exéelência intelectual em vez de virtude intelectual Acontece o mesmo com kakia traduzir este termo por vício como se faz tradicionalmente seria no mínimo desorientador e por isto demos preferência a deficiência moral Outras palavras cuja tradução perfeita por um equivalente único em português seria difícil senão impossível são sopbrosyne que traduzimos por moderação e não temperança e pbr6nesis que traduzimos por discerni mento em vez de prudência Em expressões como isotes iai homoiotes cuja Ética a Nicômacos 13 tradução por igualdade e semelhança pode parecer pleonástica convém ter em vista que igualdade deve ser entendida no sentido de igualdade política e semelhança é equipolência em termos de excelência moral ou intelectual Quanto a felicidade que usamos por falta de equivalente melhor para traduzir eudaimonia devese considerar que a ralavra grega significa com maior exatidão o gênero de vida mais desejável no sentido de uma escolha racional e satisfatório e não uma simples disposição de espírito ou gozo ou contentamento Quanto ao critério de tradução em geral diante da complexidade do original a tentação de parafasear é ainda maior que na Política Resistimos na medida do possível à tentação dentro do mesmo princípio de fidelidade adotado em nossas traduções anteriores no capítulo 5 da introdução à nossa tradução da Política expusemos com maior amplitude as dificuldades com que se depara o tradutor de Aristóteles que opta pelo respeito ao original embora esta opção torne ainda mais árdua a sua tarefa Em alguns trechos onde a concisão ou a obscuridade ou a corrupção do texto poderia levar a uma tradução ambígua dentro do princípio da fidelidade máxima ao original damos em nota uma versão parafraseada ou uma explicação adicional para evitar eventuais malentendidos Para os nomes próprios em geral adoramos o critério da transliteração do original salvo nos casos de formas absolutamente consagradas em português como Homero em vez de Hômeros no caso de personagens históricos como Alexandre o Grande e Filipe o pai de Alexandre adotamos a forma tradicional mas quando se trata de homônimos sem conotações históricas lsamos a transliteração Alêxandros por exemplo Neste ponto as incoerências são inevitáveis mas a transliteração parece perfeitamente defensável pois é mais compatível cm o princípio da fidelidade ao original O texto adotado para a tradução foi basicamente o da edição de Imtnanuel Bekker das obras completas de Aristótdes para a Real Academia da lrússia Berlin 1831 cuja paginação reproduzimos à margem de nossa tradução por ser usada como referência em quase todas as obras posteriores relativas ao nosso autor As remissões nesta introdução nas noras e no índice geral às linhas das colunas a e b das páginas da edição de Bekker são aperas aproximadas pois é praticamente impossível a correspondência exaa entre as linhas do original e as da tradução conseqüentemente a remissão por exemplo a 11 79 a 17 na introdução nas notas ou no índice corresponde aproximadamente e não precisamente à linha 17 da indicação de referência 1179 a página e colna de edição de Bekker à margem das páginas da tradução Rio março de 1983 Montesquieu Considerações sobre as causas da grandeza e decadência dos romanos For the heirs of Dante A Bilingual edition edited by J H Whitfield Notas à Introdução a Este capítulo e o seguinte reproduzem os capírulos 1 e 2 da introdução i nossa tradução da PolítictJ de Aristóteles publicada recentemente por esta editora b É possível que Aristóteles antes de inaressar na escola de Platlo haja freqüentado a de lsócrates que depois de Homero é o autor mais citado nas obras do estaairita c Para facilitar a composiçlo tipogrifica as palavras areps slo rransliteradas em caracteres latinos dl Vejase a introdução à nossa traduçlo da PotictJ e Henry jackson com base em dados colhidos nas próprias obras de Aristóteles por exemplo no diaarama referido implicitamente na Étic NicScos 1131 b 5 1 132 a 25 e seauintes escreveu um artigo no número 70 do ollmtJI of Pbilolw 1920 reconstruindo a sala de aula onde Aristóteles dava as suas lições com seus móveis e equipamentos didático e até com bustos de filósofos e quadros nela existentes f A referncia à mone prematura de Nicômacos aparece na PrrptJrtJfio Engllic de Eusêbios de Cesaréia 260340 dC cuja fonte é Arístocles filóscifo peripatético do século 11 dC Merece mençlo iaualmente o fato de o pai de Aristóteles também terse chamado Nicômacos o primeiro Nicômacos poderia ter sido pelas mesmas razões o destinadrio da dedicatória do estagirita J O leitor desejoso de aprofundarse nestas filiaramas poderá consultar além da obra acima citada de Kenny a mais antip de Werner Jaeger Ariir411ks rlim 1923 tradução inglesa London 2 edição 1948 h Por exemplo em 1179 a 33 e seguintes ou seja quase no fim do livro X e ponanto da obra Aristóteles se refere ao tratamento que dera em linhas gerais aos vários assuntos que constituem a Ética a Nic8tlwcos i Cincia política no sentido mais amplo incluindo além da ética a sociologia a economia política e a política propriamente dita j Vejase a Étic a Nicômacos 1094 b 11 1181 b 13 e seguintes penúltimo parligrafo da obra onde Aristóteles chama o conjunto éticapolítica cincia polltica no sentido amplo de filosofia das coisas humanas além da Ética Maior 1185 b 2728 A propósito na Ética a ÉuJnnos nlo aparece explicitamente qualquer menção à afirmaçlo de Aristóteles nas outras Éticas de que a ética é parte da ciência política no sentido amplo esta circunstlncia parece favorecer a tese de que a Ética a Nic6macos é a venão mais elaborada e cCimpleu da doutrina moral de Aristóteles e deve ser mesmo uma de suas últimas obras escrita provavelmente nos anos finais de sua derradeira estada em Atenas k 1097 b 1112 vejase também a PoltictJ 12B a 2 2533 1278 b 19 a uaduçlo animal social é mais abranseote e menos equívoca que animal político e corresponde melhor ao espírito do original l Chegouse até a imqinar que estes livros teriam sido originariamenre uma obra separada sobre a amiude incluída desajeitadamente na Érica Nicômcos Georges Rodier em sua introdução ao livro X reproduzida nos Éttuks tk Pbilosopbit Gmqut lembra os tfrulos de duas obras exotéricas perdidas de Aristóteles constantes do catilogo eral dos escritos do esragirita conservado nas ViàtJs àos Fil6sofos de Diôaenes Ldrtios Sohrt a Aiuàt e Tms RtZtias Aiuàt que poderiam ter sido a versão original dos livros VIII e IX m Os próprios comenradores aretJPI da Ética a NicStos na AntigÜidade se sentiram na obrigação de parafraseála para tornála mais clara Andrônicos de Rodes seaunda metade do século l a C publicou uma pariirase desta obra mais lonaa que o original 16 Aristótele 1 Cheaouse atl a imaainar que estes livros teriam sido oriaioariamente uma obra separada sobre a amiude incluída desajeitadamente na Étic Nu6fut01 GeorBeS llodier em sua inuoduçio ao livro X reproduzida nos Éwús tk Pbiúsopbit Gncqat lembra os óculos de duas obras exoricas perdidas de Aristóteles constantes do catáloao 8tfl dos escritos do estBirita conservado nas ViJs Jos Fil6soos de Diôaenes Idrtios Solm Aiutk e Ttsts Rtltirs A111izM que poderiam ter sido a venio oriainal dos livros VIII e IX m Os próprios comentadores sreaos da Éric Nic61 cos na Anrisüidade se sentiram na obripçio de panfrasdla para tomála mais clara Andrônicos de Rodes segunda metade dd slculo I L C publicou urna paráfrase desta obra mais lonp que o original LIVRO I 1094 a 1 Toda arte e roda indagação assim como roda ação e todo prorósito visam a algum bem por isto foi diro acertadamente l que o bem é aquilo a que todas as coisas visam Mas notase uma certa diversidade ec re as finalidades algumas são atividades outras são produtos distintos das atividades de que resultam 4 onde há finalidade distintas das ações os produtos são por natureza melhores que as atividades Mas como há muitas atividades anes e ciências suas finalidades também são moitas a finalidade da medicina é a saúde a da construção naval é a nau a da estratégia é a vitória a da economia é a riqueza Onde porém cais attes se subordinam a uma única aptidão por exemplo da mesma forma que a produção de rédeas e outras artes relativas a acessórios para a montaria se subordinam à estratégia de maneira idêntica umas artes se subordinam sucessivamente a outras as finalidades das artes principais devetn ter precedência sobre todas as finalidades subordinadas com efeito é por causa daquelas que estas são perseguidas Não haverá diferença alguma no caso de as próprias atividades serem as finalidades das ações ou serem algo distinto delas como ocorre com as artes e ciências mencionadas 2 Se há então para as ações que praticamos alguma finalidade que desejamos por si mesma sendo tudo mais desejado por causa dela e se não escolhemos rudo por causa de algo mais se fosse assim o processo prosseguiria até o infinito de tal forma que nosso desejo seria vazio e vão evidentemente tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens Não terá então uma grande influência sobre a vida o conhecimento deste bem Não deveremos como archeiros que visam a um alvo ter meiores probabilidades de atingir assim o que nos é mais conveniente Sendo assim cumprenos tentar determinar mesmo sumariamente o que I este bem e de que ciências ou atividades ele é o objeto Aparentemente ele é o objeto da ciência mais imperativa e predominante sobre tudo Parece que ela é a ciência poücica pois esta determina quais são as demais ciências que 18 Aristóteles devem ser estudadas em uma cidade e quais são os cidadãos que devem I 094 b aprendêlas e até que ponto e vemos que mesmo as atividades tidas na mais alta estima se incluem entre tais ciências como por exemplo a estratégia a economia e a retórica Uma vez que a ciência política usa as ciências restantes e mais ainda legisla sobre o que devemos fazer e sobre aquilo de que devemos absternos a finalidade desta ciência inclui necessariamente a finalidade das outras e então esta finalidade deve ser o bem do homem Ainda que a finalidade seja a mesma para um homem isoladamente e para uma cidade a finalidade da cidade parece de qualquer modo algo maior e mais completo seja para a atingirmos seja para a perseguirmos embora seja desejável atingir a finalidade apenas para um único homem é mais nobilitante e mais divino atingila para uma nação ou para as cidades Sendo este o objetivo de nossa investigação tal investigação é de certo modo o estudo da ciência política 3 Nessa discussão será adequada se tiver a clareza compatível com o assunto pois não se pode aspirar à mesma precisão em todas as discussões da mesma forma que não se pode atingila em todas as profissões As ações boas e justas que a ciência política investiga parecem muito variadas e vagas a ponto de se poder considerar a sua existência apenas convencio nal e não natural Os bens parecem igualmente vagos pois para muitas pessoas eles podem ser até prejudiciais com efeito algumas pessoas no passado foram levadas à perdição por sua riqueza e outras por sua coragem Falando de tais assuntos e partindo de tais premissas devemos contentarnos então com a apresentação da verdade sob forma rudimen tar e sumária quando falamos de coisas que são verdadeiras apenas em linhas gerais partindo de premissas do mesmo gênero não devemos aspirar a conclusões mais precisas Cada tipo de afirmação portanto deve ser aceito dentro dos mesmos pressupostos os homens instruídos se caracterizam por buscar a precisão em cada classe de coisas somente até onde a natureza do assunto permite da mesma forma que é insensato aceitar raciocínios apenas prováveis de um matemático e exigir de um orador demonstrações rigorosas Cada homem julga corretamente os assuntos que conhece e é um bom juiz de tais assuntos Assim o homem instruído a respeito de um 1095 a assunto é um bom juiz em relação ao mesmo e o homem que recebeu uma instrução global é um bom juiz em geral Conseqüentemente um homem ainda jovem não é a pessoa própria para ouvir aulas de ciência política pois ele é inexperiente quanto aos fatos da vida e as discussões referentes à ciência política partem destes fatos e giram em torno deles além disto como os jovens tendem a deixarse levar por suas paixões seus estudos serão vãos e sem proveito já que o fim almejado não é conhecimento mas ação Não fará qualquer diferença o fato de a pessoa ser jovem na idade ou no caráter a deficiência não é uma questão de tempo mas depende da vida 1095 b Ética a Nicômacos 19 que a pessoa leva e da circwutincia de ela deixarse levar pelas paixões perseguindo cada objetivo que se lhe apresenta Para tais pessoas o conhecimento nio é proveitoso tal como acontece com as pessoas incontinentes mas para quem deseja age segundo a razão o conhecimen to de tais assuntos é altamente útil Estas observações a respeito das pessoas que devem estudar tais assuntos do espírito com que nossas conclusões devem ser recebidas e do objetivo da investigação devem ser suficiente à guisa de introdução 4 Retomando nossa investigação e diante do fato de todo conhecimento e todo propósito visarem a algum bem falemos daquil que consideramos a finalidade da ciência política e do mais alto de todos os bens a que pode levar a ação Em palavras o acordo quanto a este ponto é quase geral tanto a maioria dos homens quanto as pessoas mais qualificadas dizem que este bem supremo é a felicidade e consideram que viver bem e ir bem equivale a ser feliz quanto ao que é realmente a felicidade há divergências e a maioria das pessoas não sustenta opinião idêntica à dos sábios A maioria pensa que se trata de algo simples e óbvio como o prazer a riqueza ou as honrarias mas até as pessoas componentes da maioria divergem entre si e muitas vezes a mesma pessoa identifica o bem com coisas diferentes dependendo das circunstâncias com a saúde quando ela está doente e com a riqueza quando empobrece cônscias porém de sua ignorância elas admiram aqueles que propõem alguma coisa grandiosa e acima de sua compreensão Há quem pense 6 que além destes muitos bens há um outro bom por si mesmo e que também é a causa de todos os outros Seria talvez infrutífero de certo modo examinar todas as opiniões sustentadas a este respeito bastará examinar as mais difundidas ou as aparentemente mais razoáveis Mas não deixemos passar despercebida a diferença entre os argumen tos que partem dos primeiros princípios e os que levam a eles Platão com efeito também tinha razão ao levantar esta questão quando perguntava se estamos no caminho que vem dos primeiros princípios ou no que leva a eles Aqui há uma diferença tão nítida quanto a que existe num estádio de corridas entre o percurso que vai do ponto em que ficam os juízes até o lugar de retorno num sentido e o percurso de volta no outro sentido De fato devemos começar com o que é evidente mas as coisas são evidentes em duas acepções algumas o são relativamente a nós outras o são absolutamente É plausível então que devemos começar pelas coisas evidentes para nós Por isto quem quiser ouvir proveitosamente exposi ções acerca do nobilitante e do justo e sobre a ciência política em geral deveráter adquirido bons hábitos em sua formação O princípio é o que é e se isto for suficientemente claro para o ouvinte ele não necessitará também do por que i e quem foi bem educado já conhece ou pode vir a 20 1096 a Aristóteles conhecer facilmente o princípio Os que não o conhecem nem podem vir a conhecêlo devem ouvir as palavras de Hesíodos 1 Melhor e muito é quem conhece tudo só é bom quem ouve dos que sabem quem não sabe por si nem abre o coração l sapincia alheia este é um homem totalmente inútil 5 Mas retomemos nossa discussão a partir do ponto em que iniciamos esta diressão Se formos julgar pela vida dos homens estes em sua maioria e os mais vulgares entre eles parecem não sem aJsum fundamento identificar o bem ou a felicidade com o prazer É por isto que eles apreciam a vida agradável Podemos dizer com efeito que existem três tipos principais de vida o que acabamos de mencionar o tipo de vida poütica e o terceiro é a vida contemplativa 0 A humanidade em massa se assemelha totalmente aos escravos preferindo uma vida comparável à dos animais mas ela vai buscar algumas razões em apoio ao seu ponto de vista no fato de muitos homens alçados a elevadas funções de governo compar tilharem dos gostos de Sardanapalos 11 Um exame dos tipos principais de vida demonstra que as pessoas mais qualificadas e atuantes identificam a felicidade com as honrarias pois podese dizer que estas são o objetivo da vida poütica Mas isto parece muito superficial para ser o que etamos procurando pois se considera que as honrarias dependem mais daqueles que as concedem que daqueles que as recebem ao passo que inruímos que o bem é algo pertencente ao seu possuidor e que não lhe pode ser facilmente tirado Ademais os homens parecem perseguir as honrarias com vistas ao reconhecimento de seus méritos ao menos eles procuram ser honrados por pessoas de discernimento e entre aquelas que os conhecem e com fundamento em sua própria excelência De acordo com eles então de qualquer modo a excelência é obviamente melhor Talvez se possa até supor que ela é mais do que as honrarias o objetivo da vida poütica mas mesmo isto ainda parece incompleto até certo ponto Realmente podese possuir a excelência enquanto se dorme ou sem pôla em prática durante toda a vida e um homem excelente também está sujeito à maior miséria e infortúnio embora um homem que viva nestas condições não possa ser qualificado de feliz a não ser que queiramos sustentar a tese a qualquer preço Mas basta deste assunto pois já tratamos suficientemente dele em nossas exposições mais elementares 11 O terceiro tipo de vida é a vida contemplativa que será examinada mais adiante u A vida dedicada a ganhar dinheiro é vivida sob compulsão e obviamente ela não é o bem que estamos procurandp tratase de uma vid apenas proveitosa e com vistas a algo mais Sob este prisma os objetivos j que acabamos de mencionar podem ser tidos como fins pois eles são apreciados por si mesmos É evidente porém que eles não são bensj Ética a Nicômacos 21 autênticos mas muitos argumentos foram gastos para sustentálos Deixe mos então de lado este assunto 6 Talvez seja melhor examinar o bem universal e discutir exaustivamente o seu significado embora tal investigação se torne penosa pelo fato de as Formas terem sido inttoduzidoS na filosofia por um amigou De qualquer modo talvez pareça melhor e de fato seria até uma obrigação especial mente para um filósofo sacrificar até as relações pessoais mais estreitas em defesa da verdade efetivamente ambas nos são caras mas o dever nos leva a dar a primazia à verdade Os introdutores desta teoria não postulavam Formas de grupos de coisas entre as quais eles reconheciam uma noção de anterioridade e posterioridade razão pela qual des não sustentavam a existência de uma Forma abrangente de todos os números mas o termo bem é usado igualmente nas categorias de substância de qualidade e de relação e o que existe por si ou seja a subsrância é anterior por natureza ao relativo este é como uma derivação e acidente daquela não poderia então haver uma Forma comum a ambos estes bens 16 Ademais já que o termo bem tem tantas acepções quanto scr este é igualmente predicado da categoria de substância como de Dfus e da razão da de qualidade por exemplo das diversas formas de excelência da de quantidade por exemplo do que é moderado da de relação por exemplo do útil da de tempo por exemplo da oportunidade e da de lugar por exemplo da localidade convenienre etc obviamente ele não pode ser algo universal presente em todos m casos e único pois então ele não poderia ter sido predicado de todas as categorias mas somente de uma Além disto já que há uma ciência única das coisas correspondentes a cada Forma teria de haver uma única ciência e todos os bens mas o fato é que há muitas ciências mesmo das coisas compreendidas em uma categoria única por exemplo a da oportunida de pois a oportunidade na guerra é estudada pela estratégia e nli doença pela medicina e a moderação quanto aos alimentos é estudada na nedicina e nos exercícios atléticos pela ciência da educação física Poderseia pergmtar o que se quer dizer precisamente c 1m um homem em si se e este é o caso a noção de homem é a mesma l uma só em um homem em si e em um determinado homem Na erdade 1096 b enquanto eles são homens não diferem em coisa alguma e sendo assim o bem em si e determinados bens não diferirão enquanto eles foram bons Tampouco o bem em si será melhor por ser eterno porquant aquilo que dura mais não é mais branco do que o efêmero Os pitagóricos parecem apresentar uma teoria mais plausível a respei to do bem quando põem a unidade em sua coluna da qual consta o bem 17 e Spêusipos parece têlos seguido Mas deixemos este assunto para outra exposição 11 Podese vislumbrar uma objeção ao que dissemos no fato de a teotia 22 Aristóteles acima citada não se referir a todos os bens e de os bens perseguidos e aceitos por si mesmos serem chamados bens com referência a uma única Forma enquanto os que tendem a produzir ou preservar outros bens de algum modo ou a obstar seus contrários são chamados bens em função dos primeiros e de um modo diferente É óbvio então que se deve falar dos bens de duas maneiras e alguns devem ser bons em si e outros em função destes Separemos portanto as coisas boas em si das coisas úteis e vejamos se as primeiras são chamadas boas com referência a uma única Forma Que espécie de bens chamaríamos de bons em si Seriam aqueles perseguidos mesmo quando isolados de outros como a inteligência o sentido da visão e cerros prazeres e honrarias Mesmo se os perseguísse mos também por causa de algo mais certamente os colocaríamos entre as coisas boas em si Ou nada além da Forma do bem é bom em si Neste caso a Forma seria inútil Mas se as coisas mencionadas são também coisas boas em si a noção do bem apareceria como algo idêntico em todas elas da mesma forma que a noção da brancura é idêntica na neve e numa tinta branca Mas em relação a honrarias inteligência e prazer em sua qualidade de coisas boas as noções são distintas e diferentes O bem portantO não é uma generalidade correspondente a uma Forma única Mas como ntendemos o bem Ele não é certamente semelhante às coisas que somete por acaso têm o mesmo nome São os bens uma coisa só então por serem derivados de um único bem ou por contribuírem todos para um único bem ou eles são uma única coisa apenas por analogia Certamente da mesma forma que a visão é boa no corpo a razão é boa na alma e identicamente em outros casos Mas talvez seja melhor deixar de lado estes tópicos por enquanto pois um exame detalhado dos mesmos seria mais apropriado em outro ramo da filosofia Acontece o mesmo em relação à Forma do bem ainda que haja um bem único que seja um predicado universal dos bens ou capaz de existir separada e independen temente tal bem não poderia obviamente ser praticado ou atingido pelo homem e agora estamos procurando algo atingível Talvez alguém possa 1097 a pensar que vale a pena ter conhecimento deste bem com vistas aos bens atingíveis e praticáveis com efeito usandoo como uma espécie de protótipo conheceremos melhor os bens que são bons para nós e conhecendoos poderemos atingilos Este argumento tem alguma plausi bilidade mas parece colidir com o método científico rodas as ciências com efeito embora visem a algum bem e procurem suprirlhe as deficiências deixam de lado o conhecimento da Forma do bem Mais ainda não é provável que todos os praticantes das diversas artes desconheçam e nem sequer tentem obter uma ajuda tão preciosa Também é difícil perceber como um tecelão ou um carpinteiro seria beneficiado em relação ao seu próprio ofício com o conhecimento deste bem em si ou como uma pessoa que vislumbrasse a própria Forina poderia vir a ser um médico ou general melhor por isto Com efeito não Ética a Nicômacos 23 parece que um médico estude sequer a saúde em si e sim a saúde do homem ou talvez até a saúde de um determinado homem ele está curando indivíduos Mas já falamos bastante sobre estes assuntos 7 Voltemos agora ao bem que estamos procurando e vejamos qual a sua natureza Em uma atividade ou arte ele tem uma apárência e em outros casos outras Ele é diferente em medicina em estratégia e o mesmo acontece nas artes restantes Que é então o bem em cada uma delas Será ele a causa de tudo que se faz Na medicina ele é a saúde na estratégia é a vitória na arquitetura é a casa e assim por diante em qualquer outra esfera de atividade ou seja o fim visado em cada ação e propósito pois é por causa dele que os homens fazem tudo mais Se há portanto um fim visado em tudo que fazemos este fim é o bem atingível pela atividade e se há mais de um estes são os bens atingíveis pela atividade Assim a argumentação chegou ao mesmo ponto por um caminho diferente mas devemos tentar a demonstração de maneira mais clara Já que há evidentemente mais de uma finalidade e escolhemos algumas delas por exemplo a riqueza flautas ou instrumentos musicais em geral por causa de algo mais obviamente nem todas elas são finais mas o bem supremo é evidentemente final Portanto se há somente um bem final este será o que estamos procurando e se há mais de um o mais final dos bens será o que estamos procurando Chamamos aquilo que é mais digno de ser perseguido em si mais final que aquilo que é digno de ser perseguido por causa de outra coisa e aquilo que nunca é desejável por causa de outra coisa chamamos de mais final que as coisas desejáveis tanto em si quanto por causa de outra coisa e portanto chamamos absolutamen te final aquilo que é sempre desejável em si e nunca por causa de algo mais Parece que a felicidade mais que qualquer outro bem é tida como este bem supremo pois a escolhemos sempre por si mesma e nunca por causa de algo mais mas as honrarias o prazer a inteligência e todas as outras formas de excelência embora as escolhamos por si mesmas escolhêlasiamos ainda que nada resultasse delas escolhemolas por causa da felicidade pensando que através delas seremos felizes Ao 1097 b contrário ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de excelência nem de um modo geral por qualquer outra coisa além dela mesma Uma conclusão idêntica parece resultar da noção de que a felicidade é autosuficiente Quando falamos em autosuficiente não queremos aludir àquilo que é suficiente apenas para um homem isolado para alguém que leva uma vida solitária mas também para seus pais filhos esposa e em geral para seus amigos e concidadãos pois o homem é por natureza um animal social 19 Mas devese estabelecer um limite para esta enumeração pois se acrescentarmos à mesma todos os ascendentes e descendentes e os amigos dos amigos estaremos caminhando para o infinito Deixemos 24 1098 a Aristóteles porém o exame desta questão para outra oportUnidade m autosuficiente pode ser definido como aquilo que em si torna a vida desejável por não ser carente de coisa alguma e isto em nossa opinião é a felicidade ademais julgamos a mais desejável de todas as coisas não uma coisa considerada boa em correlação com outras se fosse assim ela se tornaria obviamente mais desejável mediante a adição até do menor dos bens pois esta adição resultaria em um bem total maior e em termos de bens o maior é sempre mais desejável Logo a felicidade é algo final e autosuficiente e é o fim a que visam as ações Mas dizer que a felicidade é o bem supremo parece um truísmo e necessitamos de uma explicação ainda mais clara quanto ao que ela é Talvez possamos chegar a isto se determinarmos primeiro qual é a função própria do homem Com efeito da mesma forma que para um flautista um escultor ou qualquer outro artista e de um modo geral para tudo que tem uma função ou atividade consideramos que o bem e a pedeição residem na função um critério idêntico parece aplicável ao homem se ele tem uma função Teriam então o carpinteiro e o curtidor de couros certas funções e atividades e o homem como tal por ter nascido incapaz não teria uma função que lhe fosse própria Ou deveríamos presumir que da mesma forma que o olho o pé e em geral cada parte do corpo têm uma função o homem tem também uma função independente de todas estas Qual seria ela então Até as plantas participam da vida mas estamos procurando algo peculiar ao homem Excluamos portanto as atividades vitais de nutrição e crescimento Em seguida a estas haveria a atividade vital da sensação mas também desta parecem participar até o cavalo o boi e todos os animais Resta então a atividade vital do elemento racional do homem uma parte deste é dotada de razão no sentido de ser obediente a ela e a outra no sentido de possuir a razão e de pensar Como a expressão atividade vital do elemento racional tem igualmente duas acepções deixemos claro que nos referimos ao exercício ativo do elemento racional pois parece que este é o sentido mais próprio da expressão Então se a função do homem é uma atividade da alma por via da razão e conforme a ela e se dizemos que uma pessoa e uma pessoa boa têm uma função do mesmo gênero por exemplo um citarista e um bom citarista e assim por diante em todos os casos sendo a qualificação a respeito da excelência acrescentada ao nome da função a função de um citarista é tocar a cítara e a de um bom citarista é tocála bem se este é o caso e afirmamos que a função própria do homem é um ceno modo de vida e este é constituído de uma atividade ou de ações da alma que pressupõem o uso da razão e a função própria de um homem bom é o bom e nobilitante exercício desta atividade ou a prática destas ações se qualquer ação é bem executada de acordo com a forma de excelência adequada se este é o caso repetimos o bem para o homem vem a ser o exercício ativo das faculdades da alma de conformidade com a excelência e se há mais de uma Ética a Nicômacos 25 euelncia de conformidade com a melhor e mais completa en rre elas Mas devemos acrescentar que tal exerdcio ativo deve estenderse por toda a vida pois uma andorinha nio faz verão nem o faz um dia quente da mesma forma um dia só ou um curto lapso de tempo não faz um homem bemaventurado e feliz Esta exposição é suficiente como um esboço daquilo que considera mos o bem pois naturalmente devemos primeiro delineálo e depois trataremos de descrevêlo detalhadamente Mas parece que qualquer pessoa pode levar adiante ou completar o que foi inicialmente bem delineado e que o tempo é um bom inventor e colaborador em tal tarefa e o progresso das artes devese a estes fatos pois qualquer pessoa pode acrescentar o que está faltando Devemos também lembrar o que foi dito antes 21 e não insistir em chegar à precisão em tudo indiscriminadamente devemos buscar em cada classe de coisas a precisão compatível com o assunto e até o ponto adequado à investigação Com efeito um carpinteiro e um geômetra estudam o ângulo reto de maneiras dikrenres o primeiro o faz até o ponto em que o ângulo reto é útil ao seu trabalho enquanto o segundo indaga o que é o ângulo e como ele é por ser um contemplador da verdade Cumprenos então agir de maneira idêntica em todas as outras matérias para que nossa tarefa principal não fique subordinada a questões secundárias Não devemos tampouco indagar qual 1098 b é a causa de tudo de maneira idêntica em algumas circunstâncias bnsta que o fato seja bem fundamentado como no caso dos primeiros princípios o fato é o ponto de partida e o primeiro princípio Quanto aos pnmeiros princípios discernimos alguns por indução outros por via da perepção outros pela habitualidade e outros de outras maneiras devemos porém tentar investigálos de acordo com sua natureza e esforçarnos por defmi los corretamente pois eles influem fortemente na seqüência da investiga ção Com efeito admitese que o princípio é mais que a metade do rodo e projeta luz de imediato sobre muitas das questões em exame 8 Devemos conduzir nossa investigação sobre a felicidade levando em conta as conclusões a que chegamos partindo de nossas premisSJs mas devemos igualmente considerar o que se diz em geral sobre ela com uma visão realista todos os dados se concatenam mas com uma visão falsa os fatos logo colidem Os bens são divididos em três classes 22 e alguns deles são descritos como exteriores enquanto outros o são como pertinentes à alma ou ao corpo Chamamos geralmente os bens pertinentes à alma de bens no verdadeiro sentido da palavra e no mais alto grau e atribuímos à própria alma as ações e atividades psíquicas Nossa opinião deve ser correta pelo menos segundo este ponto de vista que é antigo e aceito pelos estudiosos de filosofia Ela também é correta porque identificamos a finalidade com certas ações e atividades pois assim ela se insere entre os bens da alma e não entre os bens exteriores Outra noção que se harmoniza com nossa opinião é a de que o homem feliz vive bem e se 26 Aristóteles conduz bem pois praticamente definimos a felicidade como uma forma de viver bem e conduzirse bem Ademais todas as características procuradas na felicidade se enquadram no que dissemos a seu respeito Algumas pessoas de fato pensam que a felicidade é excelência outras que ela é discernimento 23 outras que é uma espécie de sabedoria outras ainda pensam que ela é tudo isto ou uma destas noções em conjunto com o prazer ou sem que lhe falte o prazer enquanto outras finalmente acrescentam a prosperidade exterior Alguns desces pontos de vista vêm sendo sustentados por muita gente e há muito tempo e outros por umas poucas pessoas eminentes e não é provável que nem aquelas nem estas estejam inteiramente enganadas é mais plausível que elas estejam certas ao menos quanto a alguns dos pontos ou até qUanto à maioria deles Nossa definição é condizente com a opinião dos que identificam a felicidade com a excelência ou com alguma forma de excelência pois a felicidade é a atividade conforme à excelência Realmente náo é pequena a diferença entre a concepção do bem supremo como posse ou exercício de um lado ou como estado de espírito ou atividade do outro pois pode existir o estado de espírito sem que ele produza qualquer resultado bom como no caso de uma pessoa adormecida ou inativa por outra razão mas não pode ocorrer o mesmo com a atividade conforme à excelência de 1099 a qualquer maneira ela se manifestará e bem Da mesma forma que nos jogos Olímpicos os coroados não são os homens mais forces e belos e sim os que competem alguns desces serão os vitoriosos quem age conquista e justamente as coisas boas da vida A vida de atividade conforme à excelência é agradável em si pois o prazer é uma disposição da alma e o agradável para cada pessoa é aquilo que se costuma dizer que ela ama por exemplo um cavalo dá prazer a um apreciador de cavalos um bom espetáculo a um apreciador de teatro do mesmo modo que atos justos são agradáveis a quem ama a justiça e de um modo geral atos caracterizados pela excelência dão prazer a quem ama a excelência Mas no caso da maioria dos homens seus prazeres colidem uns com os outros porque não são agradáveis por sua própria naturezp enquanto os apreciadores do que é belo sentem prazer nas cais naturalmente agradáveis Ora as ações conformes à excelência são desta natureza de tal forma que elas são ao mesmo tempo agradáveis em si e agradáveis aos apreciadores do que é belo A vida destes portanto não tem necessidade de outros prazeres como uma espécie de acessório ornamental mas contém seus prazeres em si mesma então ninguém qualificará de justo um homem que não sinta prazer em agir justamente nem de liberal um homem que não sinta prazer em ações liberais e similarmente no caso de todas as formas de excelência Sendo assim as ações conformes à excelência devem ser necessariamente agradáveis Mas elas são igualmente boas e belas e têm cada um desces atributos no mais alto grau se o homem bom julga bem a respeito de cais atributos e ele Ética a Nicômacos 27 julga como dissemos Então a felicidade é o melhor mais belo e mais agradável dos bens e estes atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delas 24 Mais bela é a justiça e melhor a saúde mais agradável é possuir o que amamos Todqs estes atributos estão presentes nas melhores atividades e identificamos uma destas a melhor de todas como a felicidade Mas evidentemete como já dissemos 2 a felicidade também requer bens exteriores pois é impossível ou na melhor das hipóteses não é fácil praticar belas ações sem os instrumentos próprios Em muitas ações 1099 b usamos amigos e riquezas e poder político como instrumentos e há cerras coisas cuja falta empana a felicidade boa estirpe bons filhos beleza pois o homem de má aparênica ou mal nascido ou só no mundo e sem filhos tem poucas possibilidades de ser feliz e têlasá ainda menores se seus filhos e amigos forem irremediavelmente maus ou se tendo tido bons filhos e amigos estes tiverem morrido Como dissemos então a felicidade parece requerer o complemento desta ventura e é por isto que algumas pessoas identificam a felicidade com a boa sorte embora outras a identifiquem com a excelência 9 É por esta razão que se pergunta se podemos aprender a ser felizes ou se podemos ser felizes graças ao hábito ou a algum tipo de exercício ou então à providência divina ou finalmente graças à sorte Se alguma coisa que os homens têm é um presente dos deuses é razoável supor que a felicidade seja uma graça divina e seguramente o mais divino de todos os bens humanos porquanto ele é o melhor Mas talvez esta pergunta caiba melhor em outra investigação Ainda que não seja uma graça dos deuses mas nos venha como o corolário da excelência e algum processo de aprendizado ou exercício a felicidade parece estar entre as coisas mais divinas pois aquilo que é o prêmio e a finalidade da excelência parece sumamente bom e algo divino e bendito Sob este prisma a felicidade também pode ser muito difundida pois quem quer não seja deficiente quanto à sua potencialidade para a excelência tem aspirações a atingila mediante um cerro tipo de aprendizado e esforço Mas se é melhor ser feliz assim do que por sorte é razoável supor que é assim que se atinge a felicidade pois tudo que ocorre segundo a natureza é naturalmente tão bom quanto pode ser o mesmo acontece com tudo que depende da arte ou de qualquer causa racional especialmente se depende da melhor de todas as causas Entregar à sorte o que há de melhor e mais belQ seria totalmente dissonante A resposta à questão que estamos levantando aparece claramente diante de nossa definição da felicidade pois já dissemos que ela é uma certa atividade da alma conforme à excelência Dos bens restantes alguns 28 Aristóteles devem ser preexistentes como prérequisitos da felicidade e outros são naturalmente coadjuvantes e insuumentais Verseá que esta conclusão é condizente com o que falamos de início 21 pois afirmamos que a finalidade da ciência política é a finalidade suprema e o principal empenho desta ciência é infundir um cerro caráter nos cidadãos por exemplo tornálos bons e capazes de praticar boas ações É natural então que não qualifiquemos os bois e cavalos ou quaisquer outros animais de felizes pois nenhum deles é cap de participar de tal 1100 a atividade Por esta razão as crianças também não podem ser consideradas felizes pois não são capazes daquela atividade devido à sua pouca idade quando se diz que as crianças são felizes tratase de um bom augúrio diante das esperanças que depositamos nelas para o futuro A felicidade como dissemos29 pressupõe não somente excelênca pedeita mas também uma existência completa pois muitas mudanças e vicissitudes de todos os tipos ocorrem no curso da vida e as pessoas mais prósperas podem ser vítimas de grandes infortúnios na velhice como se conta de Príamos2 na poesia heróica Ninguém pode considerar feliz uma pessoa que experi mentou tais vicissitudes e teve um fim tão lastimável 1 O Não se deve então chamar homem algum de feliz enquanto ele estiver vivo Devemos como dissc Sólon ver o fim 10 Ainda que devamos adotar esta doutrina pode um homem ser realmente feliz depois de morro Não é isto um absurdo total especialmente para nós que definimos a felicidade como uma atividade Mas se não chamamos o homem morto de feliz e se Sólon não quis dizer isto e sim que somente quando um homem está morto pode com certeza ser qualificado de feliz por estar afinal a salvo dos males e infortúnios ainda assim esta hipótese dá margem a discussões pois se pensa que tanto o mal quanto o bem existem em relação também aos mortos da mesma forma que existem em relação a quem está vivo mas não tem consciência deles por exemplo honrarias e desonra e a boa ou má sorte dos filhos e dos descendentes em geral Mas aqui também temos um problema pois embora uma pessoa tenha vivido uma vida de bemaventurança até a velhice e tenha tido uma morte condizente com sua vida muitos reveses podem ocorrer com seus descendentes alguns destes podem ser bons e desfrutar uma vida compatível com seus méritos enquanto pode acontecer o contrário com outros Além disto em termos de tempo o distanciamento dos descenden tes em relação aos seus ancestrais obviamente iria crescendo de maneira incomensurável Seria estranho então se os mortos tivessem de ser afetados por estas mudanças de sorte e fossem ora felizes ora desditosos também seria estranho se as vicissitudes dos descendentes não afetasse de algum modo e durante algum tempo a felicidade de seus ancestraisi Mas devemos voltar à nossa primeira dificuldade 11 pois talvez atra de um exame da mesma nosso problema possa ser resolvido Se tiverJD de ver o fim para só então poder congratularnos com um homem por s Ética a Nicômacos bemaventurança mas não por passar afinal a ser bemaventurado e sim por têlo sido antes certamente será paradoxal que no momento exato err que ele se torna feliz o fato não lhe possa ser atribuído porque não nos dispomos a chamar os vivos de felizes em face das mudanças da sorte e porque a felicidade em fOSsa opinião é algo permanente e não facilmente sujeito a mudanças enquanto a roda da fortuna pode muitas vezes dar uma reviravolta completa em relação ao mesmo homem Efetivamente é óbvio que se tivéssemos de acompanharlhe as vicissitudes chamariamos com freqüência o mesmo homem de feliz agora e de desventurado em seguida transformandoo numa espécie de camaleão ou numa casa construída sobre areias movediças Ou não seria de forma alguma correto deixarnos ltvar pelas vicissitudes de um homem O sucesso ou fracasso na vida não depende dos favores da fortuna mas a vida humana como dissemos também deve contar com eles na realidade são nossas atividades conformes à excelência que nos levam à felicidade e as atividades contrárias nos levam 1100 b à situação oposta A dificuldade que acabamos de discutir é uma confirmação adicional de noua definição pois nenhuma das funções do homem é dotadl de tanta permanência quanto as atividades conformes à excelência estas parecem ser até mais duradouras que nosso conhecimento das ciências E entre estas mesmas atividades as mais elevadas são as mais duradouras por ocuparem completa e constantemente a vida dos homens felizes pois esta parece ser a razão de não as esquecermos O homem feliz portanto deverá possuir o atributo em qulstão 11 e será feliz por toda a sua vida pois ele estará sempre ou pel menos freqüentemente engajado na prática ou na contemplação d que é conforme à excelência Da mesma forma ele suportará as vicissitudes com maior galhardia e dignidade sendo como é verdadeiramentf bom e irrepreensivelmente tetragonal 4 Muitos eventos são frutos do acaso e diferem por sua grandeza ou insignificãncia embora a boa sorte ou o infortúnio em pequena escala não mudem evidentemente o curso completo da vida grandes e freqüentes sucessos tornam a vida mais feliz pois eles por sua própria n nureza realçam a beleza da vida e também podem ser usados nobremente e de conformidade com a excelência grandes e freqüentes reveses ao contrá rio aniquilam e frustram a felicidade seja pelos sofrimentos que causam seja por constituírem óbices a muitas atividades Isto não obstaRte mesmo na adversidade a galhardia resplandece quando alguém sofre grandes e freqüentes infortúnios com resignação não por insensibilidade mas por nobreza e grandeza de alma Se como dissemos as acividades e uma pessoa são um fator determinante na vida nenhuma pessoa supinunente feliz poderá jamais tornarse desgraçada ela nunca praticará ações diosas 30 Aristóteles ou ignóbeis pois sustentamos que as pessoas realmente boas e sábias suportarão dignamente todos os tipos de vicissirudes e sempre agirão da maneira mais nobilitante possível diante das circunstâncias da mesma forma que um bom general usa do modo mais eficiente possível os contingentes disponíveis um bom sapateiro faz o sapato mais requintado possível do couro que lhe dão e o mesmo acontece com todos os artesãos Sendo assim o homem feliz nunca poderá tornarse desgraçado embora nunca possa vir a ser feliz o homem que enfrentar os infortúnios de um Príamos Tampouco sua sorte secá inconstante e contrastante pois nem 11 O 1 a ele será deslocado de sua felicidade facilmente ou por infortúnios corriqueiros mas somente por grandes e freqüentes desventuras nem se recuperará de tais infortúnios e se tornará novamente feliz em pouco tempo mas somente se isto acontecer após um longo lapso de tempo durante o qual ele tiver tido oportunidade de obter muitos e belos sucessos Por que não diríamos então que é feliz o homem ativo de conformidade com a excelência perfeita e suficientemente aquinhoado com bens exteriores não por um lapso de tempo qualquer mas por toda a vida Ou deveríamos acrescentar e que é feito para viver assim e morrer de maneira compatível com a vida que levou Com efeito o futuro é obscuro para nós enquanto concebemos a felicidade como uma finalidade e autosuficiente Sendo assim devemos declarar supinamente felizes as pessoas vivas que preencham os requisitos mencionados e sejam feitas para continuar a preenchêlos mas tudo dentro das limitações da condição humana Contentemonos com estas considerações sobre o assunto 11 3 A crença de que a felicidade dos mortos não é afetada de forma alguma pelas vicissitudes de seus descendentes e amigos em geral parece contrariar profundamente o conceito de amizade e as noções geralmente aceitas Como porém os eventos da vida são numerosos e diversificados e variam na intensidade com que nos afetam estabelecer uma distinção detalhada entre eles seria uma tarefa muito longa ou mesmo interminável e talvez seja suficiente um exame perfunctório do assunto Nossos próprios infortúnios com efeito embora em certos casos tenham um peso e uma influência consideráveis em nossas vidas em outros casos se revestem de uma importância relativamente pequena e o mesmo raciocí nio se aplica aos infortúriios de nossos amigos em sua totalidade Faz uma diferença considerável a circunstância de as pessoas afetadas pelos vários tipos de sofrimento estarem vivas ou mortas muito mais do que nas tragédias a circunstância de os crimes e atos abomináveis serem previa mente conhecidos em vez de cometidos no próprio palco Devemos portanto levar em conta esta diferença ou melhor ainda talvez a própria dúvida existente quanto à participação efetiva dos mortos em qualquer dos bens ou males Na verdade as considerações que acabamos de fazer Ética a Nicômacos 31 pareaIT1 mostrar que mesmo na lJjpótese de qualquer bem ou mal os atingir o efeito é apenas fraco e insignificante seja intrinsecamente seja em relação a eles e se não o for sua intensidade e seu gênero não serão bastantes para trazer felicidade aos infelizes nem para tirar os felizes de sua felicidade Parece portanto que os mortos são influenciados de cerro modo pela ventura dos que lhes são caros e também por seus infortúnios mas que a intensidade e o gênero do efeito não chegam a tornar infelizes as pessoas felizes nem a produzir qualquer efeito deste tipo 12 Resolvidas estas questões vejamos agora se a felicidade está entre as coisas que simplesmente louvamos ou entre aquelas às quais atribuímos um grande valor de qualquer modo é claro que ela não deve ser posta entre as potencialidades Parece que uma coisa louvável é sempre louvada por ter uma certa 1101 b qualidade e relacionarse de certo modo com alguma coisa Com efeito louvamos as pessoas justas e corajosas e de um modo geral as pessoas boas e a própria excelência moral por causa das ações destas pessoas e dos respectivos resultados louvamos também os homens fortes os velozes e assim por diante pelo fato de eles possuírem certas qualidades naturais e estarem em certa relação com algo bom e importante Isto se evidencia também pelo fato de os deuses serem louvados parece absurdo que os deuses devam ser avaliados segundo os nossos padrões mas é assim que os avaliamos porquanto o louvor pressupõe uma referência como dissemos a algo mais Mas se louvamos por razões como as que expusemos evidentemente o que se aplica às melhores coisas não é louvor mas algo maior e melhor como é óbvio pois nosso procedimento em relação aos deuses e aos homens mais próximos da divindade é chamálos de felizes e bemaventurados Acontece o mesmo com as coisas boas ninguém louva a felicidade como louva a justiça mas chamamos a primeira uma benção como algo divino e melhor 1102a Parece que Êudoxos também estava certo em seu método ao defender a supremacia do prazer Ele sustentava que o fato de o prazer apesar de ser um bem não ser louvado é uma indicação de que ele é superior às coisas que louvamos como acontece com Deus e o bem pois todas as outras coisas são avaliadas em relação a estes Com efeito o louvor convém à excelência pois é esta que torna o homem capaz de praticar ações nobilitantes ao passo que os panegíricos exaltam tanto as atividades do corpo quanto as da alma Mas talvez um exame meticuloso deste assunto fique melhor nas obras dos autores que se dedicam ao estudo dos panegíricos 16 Para nós é evidente em vista do que dissemos que a felicidade é algo louvável e perfeito Parece que é assim porque ela é um primeiro princípio pois todas as outras coisas que fazemos são feitas por causa dela e sustentamos que o primeiro princípio e causa dos bens é algo louvável e divino 32 1102b Aristóteles 13 Sendo a felicidade então uma certa atividade da alma conforme l excelência pedeita necessário examinar a natureza da excelência Isto provavelmente nos ajudará em nossa investigação a respeito da felicidade Tambm parece que o verdadeiro estadista aquele que estudou especialmente a excelência já que ele quer tornar os cidadãos homens bons e obedientes às leis sirvam de exemplo os legisladores de Creta e Esparta e outros como eles que existiram mas se esta investigação é pertinente à ciência política claro que sua execução deve seguir nosso plano inicial É evidente que a excelência a examinar é a excelência humana pois o bem e a felicidade que estamos procurando são o bem humano e a felicidade humana A excelência humana significa dizemos nós a excelência não do corpo mas da alma e também dizemos que a felicidade é uma atividade da alma Se for assim obviamente o estadista deve ter algum conhecimento das funções da alma da mesma forma que quem quer estudar e curar os olhos deve conhecer também o corpo todo e ainda mais porque a ciência política é mais louvada e melhor que a medicina mesmo entre os médicos os melhores esforçamse mais por conhecer o corpo todo O estadista então deve estudar a alma e deve estudála tendo em vista estes objetivos e apenas o suficiente em face das questões que estamos discutindo uma precisão maior talvez exigisse um esforço maior que o necessário aos nossos propósitos Algumas observações suficientemente adequadas já foram feitas sobre o assunto em nossos escritos para o público36 e devemos recorrer a elas aqui por exemplo que a alma é constituída de uma parte irracional e de outra dotada de razão Se estas duas partes são realmente distintas l maneira das partes do corpo ou de qualquer outro todo divisível ou se embora distintas por definição elas na realidade são inseparáveis como os lados côncavo e convexo da periferia de um círculo não faz diferença alguma no caso presente Uma das subdivisões da parte irracional da alma parece comum a todos os seres vivos e é de natureza vegetativa refirome à parte responsável pela nutrição e pelo crescimento Com efeito é esta a espécie de impulso da alma que devemos atribuir a todos os recém nascidos e até aos embriões e este mesmo impulso deve ser atribuído às criaturas plenamente desenvolvidas isto é mais razoável do que atribuir algum impulso diferente a estas últimas A eficiência deste impulso parece comum a todas as espécies de seres vivos e não somente à espécie humana pois ele parece funcionar principalmente durante o sono enquanto a bondade e a maldade são menos manifestas durante o soao por isto se diz que as pessoas felizes e as desditosas em nada diferem durante a metade de suas vidas isto acontece naturalmente pois o sono é uma inatividade da alma quanto às chamadas coisas boas e más à exceção talvez de alguns movimentos que dentro de certos limites escritos possam atingir a alma neste caso os sonhos dos homens bons são melhores que os ttica a Nicômacos 33 de outras pessoas quaisquer Mas bastam estas considerações quanto ao assunto deixemos de lado a faculdade nutritiva pois por sua própria natureza ela não faz parte da excelência humana Parece haver também uni outro elemento irracional na alma mas este em cerco sentido participa da razão De fato louvamos a razão canto do homem dotado quanto do destituído de continência bem como a parte racional da alma de ambos pois esta os exorta acertadamente e em dtreção aos melhores objetivos achase também neles todavia outro elemento natural além da razão que luta contra esta e lhe resiste De fato da r1esma forma que quando pretendemos mover para a direita membros paralisa dos eles tendem ao contrário a moverse para a esquerda é isto que acontece com a alma os impulsos das pessoas destituídas de continência atuam em direções opostas Mas enquanto no corpo o membro errático é visível no caso da alma não o vemos seja como for não devemos duvidar de que haja na alma um elemento além da razão resistindo e opondose a ela embora o sentido em que ele e ela se distinguem um do outro não faça diferença para nós Mas mesmo este elemento parece participar da razão como dissemos de qualquer forma nas pessoas dotadas de continên ia ele obedece à razão e presumivelmente ele é ainda mais obediente nas pessoas moderadas e valorosas pois nestas ele fala em todos os cascs em uníssono com a razão Conseqüentemente o elemenco irracional parece dúplice O ekmen to vegetativo todavia não participa de forma alguma da razão mas o elemento apetitivo e em geral o elemento concupiscente participam da mesma em certo sentido até o ponto em que a ouvem e lhe obedeclm é neste sentido que falamos na racionalidade de um pai ou de um amigo em contraste com a racionalidade matemática O fato de advertirmos alguém e de reprovarmos e exorcarmos de um modo geral indica que a razão pode de certo modo persuadir o elemento irracional E se car1bém deve ser dito que este elemento participa da razão aquilo que é dotado de razão tanto quanto o cue não é será dúplice e uma de suas subdivisões ll03a participa da razão no sentido próprio e em si enquanto a outra ceríi uma tendência para obedecer no sentido em que se obedece a um pa A excelência também se diferencia em duas espécies de acordo com esta subdivisão pois dizemos que cercas formas de excelênci são incelectuais e outras são morais a sabedoria a inteligência e o discerni mento por exemplo são formas de excelência intelectual e a liberalidade e a moderação por exemplo são formas de excelência moral Realmente falando sobre o caráter de uma pessoa não dizemos que ela é sábia ou inteligente e sim que ela é jovial ou amável ou moderada mas louvamos uma pessoa sábia por sua disposição de espírito e chamamos de formas de excelência as disposições de espírito louváveis CASES THE UNITED STATES 200 0 LIVRO li 1 Como já vimos há duas espécies de excelência a intelectual e a moral Em grande parte a excelência intelectual deve tanto o seu nascimento quanto o seu crescimento à instrução por isto ela requer experiência e tempo quanto à excelência moral ela é o produto do hábito razão pela 9ual seu nome é derivado com uma ligeira variação da palavra hábito B E evidente portanto que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza pois nada que existe por natureza pode ser alterado pela hábito Por exemplo a pedra que por natureza se move para baixo não pode ser habituada a moverse para cima ainda que alguém tente habituála jogandoa dez mil vezes para cima tampouco o fogo pode ser habituado a moverse para baixo nem qualquer outra coisa que por natureza se comporta de certa maneira pode ser habituada a comportarse de maneira diferente Portanto nem por natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós mas a natureza nos dá a capacidade de recebêla e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito Além disto em relação a todas as faculdades que nos vêm por natureza recebemos primeiro a potencialidade e somente mais tarde exibimos a atividade isto é claro no caso dos sentidos pois não foi por ver repetidamente ou repetidamente ouvir que adquirimos estes sentidos ao contrário já os tínhamos antes de começar a usufruílos e não passamos a têlos por usufruílos quanto às várias formas de excelência moral todavia adquirimolas por havêlas efetivamente praticado tal como 1103 b fazemos com as artes As coisas que temos de aprender antes de fazer aprendemolas fazendoas por exemplo os homens se tornam constru tores construindo e se tornam citaristas tocando cítara da mesma forma tornamonos justos praticando atos justos moderados agindo moderada mente e corajosos agindo corajosamente Esta asserção é confirmada pelo que acontece nas cidades pois os legisladores formam os cidadãos 1104 a Aristóteles habituandoos a fazerem o bem esta é a intenção de todos os legisladores os que não a põem corretamente em pritica falham em seu objetivo e é wb este aspecto que a boa constituição difere da má Ademais toda excelência moral é produzida e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios tal como acontece com toda arte pois é tocando a cítara que se formam tanto os bons quanto os maus citaristas e uma afirmação análoga se aplica aos construtores e a todos os profissionais os homens são bons ou maus construtores por construírem bem ou mal Com efeito se não fosse assim não haveria necessidade de professores ois todos os homens teriam nascido bem ou mal dotados para as suas profissões Logo acontece o mesmo com as várias formas de excelência oral na prática de atos em que temos de engajarnos dentro de nossas elações com outras pessoas tornamonos justos ou injustos na prática de r tos em situações perigosas e adquirindo o hábito de sentir receio ou onfiança tornamonos corajosos ou covardes O mesmo se aplica aos desejos e à ira algumas pessoas se tornam moderadas e amáveis enquanto outras se tornam concupiscentes ou irascíveis por se comportarem de maneiras diferentes nas mesmas circunstâncias Em uma palavra nossa disposições morais resultam das atividades correspondentes às mesmas E por isto que devmos desevolve nossas avidades de uma neira pre determinada poiS nossas d1Spos1çoes mora1s correspondem as diferenças entre nossas atividades Não será pequena a diferença então se formar mos os hábitos de uma maneira ou de outra desde nossa infância ao contrário ela será muito grande ou melhor ela será decisiva 2 Sendo assim já que a presente investigação não visa como outras ao conhecimento teórico não estamos investigando apenas para conhecer o que é a excelência moral e sim para nos tornarmos bons pois se não fosse assim nossa investigação viria a ser inútil cumprenos examinar a natureza das ações ou seja como devemos praticálas com efeito as ações deter minam igualmente a natureza das disposições morais que irão criarse como já dissemos Agir de acordo com a reta razão é um princípio geral e deve ser presumido posteriormente 9 discutiremos o assunto isto é o que vem a ser a reta razão e como ela se relaciona com as outras formas de excelência Mas deve haver um consenso prévio quanto a isto para que cada a ceoria da conduta possa ser explicada em linhas gerais e não de maneira precisa de acordo com a regra estabelecida desde o princípio desta investigação 40 ou seja a elaboração das teorias deve apenas corres ponder ao seu conteúdo as matérias relativas à conduta e ao que nos convélll nada têm de fixo como nada têm de fixo as relativas à saúde Ora se isto acontece com a exposição em geral o exame dos casos particulares é ainda mais avesso à exatidão tais casos não se enquadram em qualquer arte ou preceito pois as próprias pessoas engajadas na ação devem considerar em cada caso o que é adequado à ocasião como também acontece na arte da medicina ou na arte da navegação 1104 b Ética a Nicômacos 37 Mas embora o nosso assunto seja de natureza imprecisa faç11mos o possível para facilitarlhe a compreensão Consideremos primeiro então que a excelência moral é constituída por natureza de modo a ser desuuída pela deficiência e pelo excesso tal como vemos acontecer com o vigor e a saúde temos de explicar o invisível recorrendo à evidência do visível os exercícios excessivos ou deficientes destroem igualmente o vigor e de maneira idêntica as bebidas e os alimentos de mais ou de menos destroem a saúde ao passo que seu uso em proporções adequadas produz aumenta e conserva aquele e esta Acontece o mesmo com a moderação a coragem e outras formas de excelência moral O homem que evita e eme tudo e não enfrenta coisa alguma tornase um covarde em contra1te o homem que nada teme e enfrenta tudo tornase temerário da mesma forma o homem que se entrega a todos os prazeres e não se abst1m de qualquer deles tornase concupiscente enquanto o homem que evita todos os prazeres como acontece com os rústicos tornase de certo modo insensível a moderação e a coragem portanto são destruídas pela defi ciência e pelo excesso e preservadas pelo meio termo4 Mas não somente as fontes e causas do aparecimento e crescimento da excelência moral são as mesmas de sua destruição como também o âmbito de sua realização é o mesmo e observação idêntica se aplica às qualidades mais evidentes aos sentidos por exemplo o vigor ele é o resultado da ingestão de muito alimento e da prática de muitos exercícios e o homem forte será o mais capaz de fazer isto acontece o mesmo com as árias formas de excelência moral abstendonos dos prazeres tornam lnos moderados e é quando nos tornamos moderados que somos mais capazes de nos abster deles o mesmo se passa com a coragem pois nos tornamos corajosos habituandonos a desdenhar as coisas temíveis e a enfrentálas e é quando nos tornamos corajosos que somos mais capazes de enfrentálas 3 O prazer ou o sofrimento superveniente às nossas ações é um indíc1o de nossas disposições morais efetivamente as pessoas que se abstêm dos prazeres do corpo e se alegram com a abstenção são moderadas exatamen te por procederem assim enquanto as pessoas que se irritam com isto são concupiscentes42 e as que enfrentam as coisas temíveis e se comprazem com enfrentálas ou pelo menos não sofrem com isto são corajosa ao contrário as pessoas que sofrem quando enfrentam as coisas temíveis são covardes Com efeito a excelência moral se relaciona com o prazer e o sofrimento é por causa do prazer que praticamos más ações e é por c11usa do sofrimento que deixamos de praticar ações nobilitantes Daí a impor tância assinalada por Platão41 de termos sido habituados adequadamente desde a infância a gostar e desgostar das coisas certas esta é a verdadeira educação Mais ainda se as várias formas de excelência moral se relacionam com ações e emoções e toda emoção e toda ação são acompanhadas de prazer 38 ll05 a Aristóteles ou sofrimento pela mesma razão a excelência moral se relacionará com os prazeres e sofrimentos Esta circunstância evidenciada também pelo fato de o castigo ser infligido por meio de sofrimentos pois o castigo é uma espécie de tratamento médico e é da natureza do tratamento médico atuar por meio de contrários Além disto como dissemos há pouco44 toda disposição da alma naturalmente susceptível de piorála ou melhorála relacionase por sua própria natureza com o prazer e o sofrimento e tende a ser influenciada por estes sentimentos mas é por causa do prazer e do sofrimento que os homens se tornam maus perseguindoos e evitandoos perseguindo e evitando os prazeres e os sofrimentos que não devem ou quando não devem ou como não devem ou agindo erradamente de qualquer outra maneira similar passível de classificação lógica É pot isto que alguns pensadores41 definem as várias formas de excelência moral como certos estados de impassibilidade e calma mas a definição não é boa pois eles falam de maneira absoluta e não dizem como se deve e como não se deve quando se deve e quando não se deve e outras qualificações que podem ser acrescentadas Presumimos então que esta espécie de excelência tende a fazer o que é melhor em relação ao prazer e ao sofrimento e a deficiência moral faz o contrário Os fatos seguintes também podem mostrarnos que a excelência moral e a deficiência moral se relacionam com as mesmas coisas Há três objetos de escolha e três de repulsa o nobilitante o vantajoso e o agradável e seus contrários o ignóbil o nocivo e o penoso em relação a todos eles as pessoas boas tendem a acertar e as más tendem a errar especialmente quanto ao prazer pois esta é a tendência geral dos animais e ela também acompanha todos os nossos atos praticados mediante escolha já que mesmo o que é nobilitante nos parece agradável Ademais a tendência para o prazer cresce conosco desde a infância é difícil por isto desvencilharmonos desta compulsão arraigada como ela está em nossa vida Regulamos também nossas ações uns de nós mais outros menos pelo critério do prazer e do sofrimento É por isto que toda a nossa investigação deve ter em vista o prazer e o sofrimento pois para nosso bem ou para nosso mal o fato de nos deleitarmos ou sofrermos tem uma influência nada pequena em nossas ações Além disto é mais difícil lutar contra o prazer do que contra a própria cólera para usar a frase de Herácleitos46 mas tanto a arte quanto a excelência moral estão permanentemente preocupadas com o que é difícil pois até as coisas boas são melhores quando são difíceis Logo também por esta razão toda a preocupação tanto da excelência moral quanto da ciência política é com o prazer e com o sofrimento porquanto o homem que os usa bem é bom e o que os usa mal é mau 1105 b ttica a N icômacos 39 Demos por dito então que a excelência moral está relacionada com 0 prazer e o sofrimento e que ela eada pelas ações nas quais sobressai e que se as ações são praticadas de maneira diferente ela é destruída e tambm que os atos nos quais ela sobressai são aqueles nos quais ela se realizou plenamente 4 Pode haver dúvidas quanto ao que queremos exprimir quando dizemos4 que devemos tornarnos justos praticando atos justos e moderados praticando atos moderados de fato se os homns pratiam atos jwtos e moderados eles já são justos e moderados da mesma forma que se eles fizerem o que mandam as normas da gramática e da música serão gramáticos e músicos Ou será que este princípio não se aplica sequer às artes É possível fazer algo que esteja de acordo com as normas da gramática por acaso ou mediante a orientação de alguém Um homem somente será um gramáti co então quando disser algo pertinente à gramática e à maneira dos gramaiticos ou seja graças aos conhecimentos gramaticais que ele mesmo possuir Acresce que o caso das artes e o das várias formas de excelência moral não são similares de fato os produtos das artes têm seu mérito em si mesmos de tal forma que lhes basta apresentarem uma certa qualidade mas se os atos condizentes com as várias formas de excelência moral têm uma certa qualidade em si isto não quer dizer que eles foram praticados justamente ou moderadamente o agente também deve estar em certas condições quando os pratica em primeiro lugar ele deve agir consciente mente em segundo lugar ele deve agir deliberadamente e ele deve deliberar em função dos próprios atos em terceiro lugar sua ação deve provir de uma disposição moral firme e imutável Para o exercício das artes nenhuma destas condições constitui um prérequisito à exceção da qualificação do conhecimento mas para a posse da excelência moral o conhecimento é de pouco ou nenhum valor enquanto as outras condições longe de valerem pouco têm uma importância decisiva se é verdade que as ações jwtas e moderadas resultam da prática reiterada As ações portanto são chamadas justas e moderadas quando são como as que o homem justo e moderado praticaria mas o agente não é jwro e moderado apenas por praticálas e sim porque também as pratica como as praticariam homens justos e moderados É correto então dizer que é mediante a prática de atos jwtos que o homem se torna justo e é mediante a prática de atos moderados que o homem se torna moderado sem os praticar ninguém teria sequer remotamente a possibilidade de tornarse bom Muitos homens não os praticam mas se refugiam em 40 ll06 a Aristóteles teorias e pensam que estão sendo filósfos e assim se tornarão bons procedendo de certo modo como pacientes qÜe ouvem atentamente seus médicos mas nada fazem do que lhes é prescrito Da mesma forma que a saúde do corpo destes últimos não melhorará com este modo de tratamento a saúde da alma dos primeiros não melhorará com a prática da filosofia 5 Vejamos agora o que é a excelência moral Já que as manifestações da alma são de três espécies emoções faculdades e disposições a excelência moral deve ser uma destas Por emoções quero significar os desejos a cólera o medo a temeridade a inveja a alegria a amizade o ódio a saudade o ciúme a emulação a piedade e de um modo geral os sentimentos acompanhados de prazer ou sofrimento por faculdades quero significar as inclinações em virtude das quais dizemos que somos capazes de sentir as emoções por exemplo a faculdade de ficar encolerizado de sentir pena ou piedade por disposições quero significar os estados de alma em virtude dos quais estamos bem ou mal em relação às emoções por exemplo em relação à cólera estamos mal se a sentimos violentamente ou praticamente não a sentimos e bem se a sentimos moderadamente e de maneira idêntica em relação às outras emoções Ora nem a excelência moral nem a deficiência moral são emoções pois não somos chamados bons ou maus com fundamento em nossas emoções mas somos chamados bons ou maus com fundamento em nossa excelência ou deficiência moral e não somos louvados ou censurados por causa de nossas emoções um homem não é louvado por estar atemorizado ou encolerizado nem é censurado simplesmente por estar encolerizado mas por estar encolerizado de certa maneira somos louvados ou censurados por nossa excelência ou por nossa deficiência moral Além disto sentimos cólera e medo independentemente de nossa escolha mas as várias formas de excelência moral são certos modos de escolha ou envolvem escolha Mais ainda a respeito das emoções dizse que somos movidos mas a respeito da excelência e da deficiência moral não se diz que somos movidos e sim dispostos de certa maneira Por estas mesmas razões as várias formas de excelência moral também não são faculdades pois não somos chamados bons ou maus nem louvados ou censurados pela simples faculdade de sentir as emoções ademais temos as faculdades por natureza mas não é por natureza que somos bons ou maus ji falamos disto anteriormente aliás41 Então se as várias espécies de excelência moral não são emoções nem faculdades só les resta serem disposições Assim definimos o que é a excelência moral quanto ao seu gênero Ética a Nicômacos 41 6 Cumprenos porém não somente definir a excelência moral como urna disposição mas também dizer que espécie de disposição ela é Devemos observar que cada uma das formas de excelência moral além de proporcionar boas condições à coisa a que ela dá excelência faz com que esta mesma coisa atue bem por exemplo a excelência dos olhos faz com que tanto os olhos quanto a sua atividade sejam bons pois é graças à excelência dos olhos que vemos bem De forma idêntica a excelência de um cavalo faz com que ele seja ao mesmo tempo bom em si e bom para correr e para levar seu dono e para sustentar o ataque do inimigo Logo se isto é verdade em todos os casos a excelência moral do homem também será a disposição que faz um homem bom e o leva a desempenhlr bem a sua função Já dissemos como isto acontece49 mas o exame subseqüente da natureza específica da excelência moral tornará esta noção mais nítida De tudo que é contínuo e divisível é possível tirar uma parte maior menor ou igual e isto tanto em termos da coisa em si quanto em relação a nós e o igual é um meio rermo entre o excesso e a falta Por meio termo quero significar aquilo que é eqüidistante em relação a cada um dos extremos e que é único e o mesmo em relação a todos os homens por meio termo em relação a nós quero significar aquilo que não é nem demais nen muito pouco e isto não é único nem o mesmo para rodos Por exemplo se dez é muito e dois é pouco seis é o meio termo considerado em re ação ao objeto pois este meio rermo excede e é excedido por uma qutntidade igual este é o meio termo de acordo com uma proporção aritmério Mas o 1106 b meio termo em relação a nós não deve ser considerado de maneira idêntica se dez minas lO de alimento são demais para uma pessoa 1 ngerir e duas minas são muito pouco não se segue necessariamente que o treinador prescreverá seis minas pois isto também pode ser demais para a pessoa que ingere o alimento ou então pode ser muito pouco muiro pouco para Mílon e demais para um principiante em exercícios adéricos Acontece o mesmo com o tempo de corrida e de luta Sendo asim um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta buscando e preferindo o meio termo o meio termo não em relação ao próprio objeto mas em relação a nós Se é assim então que roda arte perfaz satisfatoriamente a sua função procurando o meio termo e julgando suas obras segundo este padrão por isto se afirma com freqüência que nada se pode acreset nrar ou tirar às boas obras de arte querendo significar que o excesso t a falta destróem a excelência das obras de arte ao passo que o meio termo a preserva e os bons artistas como dizemos esforçamse por isto em seu trabalho e se além disto a excelência da mesma forma que a narureza é mais exigente e melhor que qualquer arte então a excelência deve ter a qualidade de atingir o alvo do meio termo Esrou falando da excelência moral pois é esta que se relaciona com as emoções e ações e ntStas há excesso falta e meio termo Por exemplo podese sentir medo confiança 42 1107 a Aristóteles tlesejos cólera piedade e de um modo geral prazer e sofrimento demais ou muito pouco e em ambos os casos isto não é bom mas experimentar estes sentimentos no momento certo em relação aos objetos certos e às pessoas certas e de maneira certa é o meio termo e o melhor e isto é característico da excelência Há também da mesma forma excesso falta e meio termo em relação às ações Ora a excelência moral se relaciona com as emoções e as ações nas quais o excesso é uma forma de erro tanto quanto a falta enquanto o meio termo é louvado como um acerto ser louvado e estar certo são características da excelência moral A excelência moral portanto é algo como a eqüidistância pois como já vimos seu alvo é o meio termo Ademais é possível errar de várias maneiras com efeito o mal pertence à categoria do limitado segundo a imaginação dos piragóricos 12 e o bem à categoria do limitado ao passo que só é possível acertar de uma maneira também por esta razão é fácil errar e difícil acertar fácil errar o alvo e difícil acertar nele também é por isto que o excesso e a falta são características da deficiência moral e o meio termo é uma característica da excelência moral pois a bondade é uma só mas a maldade é múltipla H A excelência moral então é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções disposição esta consistente num meio termo o meio termo relativo a nós determinado pela razão a razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria Tratase de um estado intermediário porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio termo Logo a respeito do que ela é ou seja a definição que expressa a sua essência a excelência moral é um meio termo mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem ela é um extremo Mas nem toda ação ou emoção admite um meio termo pois algumas delas têm nomes nos quais já está implícita a maldade por exemplo o despeito a impudência a inveja e no caso das ações o adultério o roubo o assassinato em todas estas emoções e ações e em outras semelhantes com efeito a maldade não está no excesso ou na falta ela está implícita em seus próprios nomes Nunca será possível portanto estar cerro em relação a elas estarseá sempre errado Tampouco a bondade ou maldade a respeito de tais emoções e ações depende por exemplo de cometer adultério com a mulher certa no momento certo e do modo certo mas simplesmente sentir qualquer destas emoções ou praticar qualquer destas ações é um erro Seria igualmente absurdo então esperar que em ações injustas covardes e libidinosas houvesse um meio termo um excesso e uma falta pois seria preciso admitir a existência de um meio termo de excesso e de falta de um excesso de excesso e de uma falta de falta Mas Jl07b Ética a Nicômacos 43 da mesma forma que não há excesso ou falta de moderação e de coragem porque o meio termo é em certo sentido um extremo também não há meio termo nem excesso ou falta nas ações mencionadas seja qual for a maneira de praticálas elas estarão erradas pois em geral não há meio termo de excesso e falta nem excesso e deficiência de meio termo 7 É necessário porém não somente chegar a esta definição de ordem geral mas também aplicála aos fatos particulares pois entre as definições referentes à conduta as mais gerais têm uma aplicação mais ampla mas as particulares são mais verdadeiras já que a conduta tem a ver com casos particulares e nossas definições devem compatibilizarse com tais casos Estes casos podem ser tirados de nosso diagrama Em relação ao medo e à temeridade o meio termo é a coragem Das pessoas que pecam pelo excesso as excessivamente corajosas não têm uma designação especial muitos destes sentimentos não têm nome enquanto as pessoas excessi vamente temerárias são arrebatadas e as excessivamente medrosas e distantes da temeridade são covardes Quanto às várias espécies de prazer e sofrimento não todas elas e nem tanto em relação ao sofrimento o meio termo é a moderação e o excesso é a concupiscência Raramente aparecem pessoas que pecam pela falta em relação à fruição dos prazeres por isto estas pessoas não receberam uma designação específica mas podemos chamálas de insensíveis Em relação ao dinheiro que se dá e recebe o meio termo é a liberalidade e o excesso e a falta são respectivamente a prodigalidade e a avareza Nestas ações as pessoas se excedem ou são deficientes de maneiras opostas o pródigo se excede em gastos e é deficiente em relação aos ganhos enquanto o avarento se excede em ganhar e é deficiente em relação aos gastos no momento estamos apresentando um simples esboço ou sumário e devemos darnos por satisfeitos com isto posterior mente voltaremos ao assunto com maiores detalhes Em relação ao dinheiro há ainda outras disposições um meio termo que é a magnificência as pessoas magnificentes diferem das liberais as primeiras movimentam grandes somas e as últimas movimentam pequenas somas um excesso que é a ostentação e a vulgaridade e uma falta que é a mesquinhez estas disposições diferem das disposições opostas à liberali dade e a maneira pela qual elas diferem será explicada posteriormente Em relação à honra e desonra o meio termo é a magnanimidade o excesso é chamado de pretensão e a falta é a pusilanimidade e como já dissemos que a liberalidade se relaciona com a magnificência distinguin dose dela por tratar de pequenas somas há uma certa qualidade que tem afinidades com a magnanimidade relacionandose com pequenas honra rias enquanto a magnanimidade se relaciona com grandes honrarias Com efeito é possível desejar honrarias nas devidas proporções e mais do que é proporcional ao méÊito e menos e a pessoa que se excede em seus 44 Aristóteles desejos é chamada ambiciosa a que se omite é desambiciosa enquanto a pessoa numa posição intermediária não tem uma designação específic As respectivas disposições também não têm nome à exceção de que a disposição do ambicioso é chamada ambição Por isto as pessoas que estão 1108 a nas sicuações extremas pretendem ocupar o meio termo e nós mesmos ora chamamos as pessoas que estão na situação intermediária de ambiciosas ora de desambiciosas e ora louvamos uma pessoa por ser ambiciosa e ora por ser desambiciosa A razão pela qual fazemos isto será explicada posteriormente falemos agora de outras formas de excelência e deficiên cia moral de acordo com o método já apresentado Em relação à cólera também há excesso falta e meio termo Embora estas situações não tenham praticamente nomes uma vez que qualificamos a pessoa que está numa situação intermediária de amável chamemos o meio termo de amabilidade quanto às pessoas que estão nas situações extremas chamemos as que se excedem de irascíveis e esta espécie de deficiência moral de irascibilidade e chamemos as que pecam pela falta de apáticas e esta espécie de deficiência moral de apatia Há também outros três meios termos de certo modo semelhantes entre si mas na realidade diferentes uns dos outros todos se relacionam com o trato em palavras e ações mas diferem no sentido de que um deles se relaciona com a verdade na conversação e na conduta e os outros dois com a afabilidade destes últimos uma espécie aparece no convívio social ameno e a outra em todas as circunstâncias da vida Devemos portamo falar também destes para podermos perceber melhor que em todas as coisas a observância do meio termo é louvável e os extremos não são nem louváveis nem corretos mas reprováveis Muitas destas qualidades também não têm nomes mas devemos tentar como nos outros casos dar lhes nomes criados por nós mesmos de maneira a sermos mais claros e podermos ser seguidos com maior facilidade Em relação à verdade o caráter intermediário pode ser chamado de veraz e o meio termo de veracidade o gosto do exagero é jactância e a pessoa caracterizada por esta é jactanciosa na forma reticente a pessoa neste caso é caracterizada pela falsa modéstia Quanto à amabilidade no convívio social as pessoas na siruação intermediária são espiriruosas e sua disposição é a espirituosidade o excesso é a bufonaria e a pessoa caracterizada por ela é um bufão enquanto quem peca pela falta é 1108 b enfadonho e sua disposição é o enfado Quanto aos casos restantes de amabilidade demonstrada na vida em geral a pessoa amável da maneira adequada é amistosa e o meio termo é a disposição amistosa a pessoa que se excede é obsequiosa se não visa a algum objetivo interesseiro e é aduladora se visa à sua própria vantagem quem peca pela falta e é desagradável em qualquer circunstância pode ser chamado de misantropo Há um meio termo também nas emoções e em relação a elas pois a Ética a Nicômacos 45 vergonha não é uma forma de excelência moral mas se costuma lOlvar a pessoa que rem o sentimento da vergonha Com efeito mesmo sob este aspecto se pode dizer que uma pessoa está numa situação intermediária e outra numa situação extrema por exemplo a pessoa acanhada que se envergonha de tudo ao contrário que peca pela falta e não se envergonha de coisa alguma é impudente e quem observa o meio termo é recatado A indignação justa16 é um meio termo entre a inveja e o despetto e estas situações se relacionam com o sofrimento e o prazer sentidos diante da boa sorte do próximo A pessoa caracterizada pela indignação justa sofre em face do sucesso imerecido de alguém a invejosa indo além da primeira sofre com qualquer forma de sucesso e a despeitada indo ainda mais longe em vez de sofrer com a boa sorte dos outros merecida ou não alegrase com a desventura deles merecida ou nãoP Mas teremos melhor oportunidade para discutir estas situações em outro lugare Em relação à justiça já que ela não tem um significado único depois de descrever as outras situações faremos a distinção entre suas duas espélies e diremos qual é o meio termo de cada uma delas9 Trataremos igualmente das várias espécies de excelência intelectual60 8 Há então três espécies de disposições morais duas delas são deficiências morais e implicam em excesso e falta respectivamente e uma é excelncia moral ou seja o meio termo e cada uma delas é de certo modo opota às outras duas pois as situações extremas são contrárias tanto à situação intermediária quanto entre si e a intermediária é contrária às extremS da mesma forma que o médio é maior em relação ao menor e menor em relação ao maior as situações intermediárias são excessivas em relação às deficiências e deficientes em relação aos excessos tanto no caso das emoções quanto no das ações De fato o homem corajoso prece temerário em relação ao covarde e covarde em relação ao temerárin de forma idêntica o homem moderado parece concupiscente em relação ao insensível e insensível em relação ao concupiscente e o homem liberal 1109 a parece pródigo em relação ao avarento e avarento em relação ao próligo Conseqüentemente cada pessoa nas situações extremas empurra a pessoa na situação intermediária contra a outra e o homem corajoso é chamado de temerário pelo covarde e de covarde pelo temerário e da mesma forma nos outros casos Sendo então as disposições morais opostas umas às outras o maior grau de oposição é o existente entre os dois extremos e não entre cada extremo e a situação intermediária pois os extremos estão mais afastados entre si do que cada um deles em relação à situação intermediária da mesma forma que o grande está mais longe do pequeno e o pequeno do grande do que ambos estão do médio Ademais alguns extremos apresentam uma certa semelhança em rellção à situação intermediária 46 Aristóteles como no caso da temeridade em relação à coragem e no da prodisalidade em relação à liberalidade mas é entre si que os extremos apresentam a maior desigualdade tanto é assim que os contrários são definidos como as coisas mais afastadas entre si de tal forma que quanto mais afastadas estão as coisas mais contrárias elas são Em relação ao meio termo em alguns casos é a falta e em outros é o excesso que está mais afastado por exemplo não é a temeridade que é o excesso mas a covardia que é a falta que é mais oposta à coragem e não é a insensibilidade que é uma falta mas a concupiscência que é um excesso que é mais oposta à moderação Isto acontece por duas razões uma delas tem origem na própria coisa pois por estar um extremo mais próximo ao meio termo e ser mais parecido com ele opomos ao intermediário não o extremo mas seu contrário Por exemplo como se considera a temeridade mais parecida com a coragem e a covardia mais diferente opomos esta última à coragem pois as coisas mais afastadas do meio termo são tidas como mais contrárias a ele a outra razão tem origem em nós mesmos pois as coisas para as quais nos inclinamos mais naturalmente parecem mais contrárias ao meio termo Por exemplo tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isto somos levados mais facilmente para a concupiscên cia do que para a moderação Chamamos portanto contrárias ao meio termo as coisas para as quais nos sentimos mais inclinados logo a concupiscência que é um excesso é mais contrária à moderação 9 Já explicamos suficientemente então que a excelência moral é um meio termo e em que sentido ela o é e que ela é um meio termo entre duas formas de deficiência moral uma pressupondo excesso e outra pressupondo falta e que a excelência moral é assim porque sua caracterís tica é visar às situações intermediárias nas emoções e nas ações Por isto ser bom não é um intento fácil pois em tudo não é um intento fácil determinar o meio por exemplo determinar o meio de um círculo não é para qualquer pessoa mas para as que sabem da mesma forma todos podem encolerizarse pois isto é fácil ou dar ou gastar dinheiro mas proceder assim em relação à pessol certa até o ponto certo no momento certo pelo motivo certo e da maneira certa não é para qualquer um nem é fácil portanto agir bem é raro louvável e nobilitante Quem visa ao meio termo deve primeiro evitar o extremo mais contrário a ele de 1109 b conformidade com a advertência de Calipso61 Mantém a nau distante desta espuma e turbilhão De dois extremos com efeito um induz mais em erro e o outro menos logo já que atingir o meio termo é extremamente difícil a melhor entre as alternativas restantes62 como se costuma dizer é escolher o menor dos males e a melhor maneira de atingir este objetivo é a que descrevemos Mas deveos estar atentos aos erros para os quais nós ttica a Nicômacos 47 mesmos nos inclinamos mais facilmente pois algumas pessoas tendem para uns e outras para outros descorilosemos medince a observaçã o prazer ou do sofrimento que experimentamos ISto fe1to devemos dmglr nos resolutamente para o extremo oposto pois chegaremos à situação intermediária afastandonos tanto quanto possível do erro como se faz para acertar a madeira empenada Em tudo devemos precavernos principalmente contra o que é agradável e contra o prazer pois não somos juízes imparciais diante deste Devemos sentirnos em relação ao prazer da mesma forma que os anciãos do povo se sentiram diante de Helena e repetir em todas as circunstâncias as suas palavras63 pois se o afastamos de nós é menos provável que erremos Em resumo é agindo desta maneira que seremos mais capazes de atingir o meio termo Mas sem dúvida isto é difícil especialmente nos casos particulares porquanto não é fácil determinar de que maneira e com quem e por que motivos e por quanto tempo devemos encolerizarnos às vezes nós mesmos louvamos as pessoas que cedem e as chamamos de amáveis mas às vezes louvamos aquelas que se encolerizam e a chamamos de viris Entretanto as pessoas que se desviam um pouco da excelência não são censuradas quer o façam no sentido do mais quer o façam no sentido do menos censuramos apenas as pessoas que se desviam consideravelmente pois estas não passarão despercebidas Mas não é fácil determinar racionalmente até onde e em que medida uma pessoa pode desviarse antes de tornarse censurável de fato nada que é percebido pelos sentidos é fácil de definir tais coisas dependem de circunstâncias específicas e a decisão depende da percepção Isto é bastante para determinar que a situação intermediária deve ser louvada em todas as circunstâncias mas que às vezes devemos inclinarnos no sentido do excesso e às vezes no sentido da falta pois assim atingiremos mais facilmente o meio termo e o que é certo SECURITY COUNCIL BOARD S9549Rev1 1 March 1994 lllO a LIVRO III 1 A excelência moral se relaciona com as emoções e ações e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e censuradas enquanto as involuntárias são perdoadas e às vezes inspiram piedade logo a distinção entre o voluntário e o involuntário64 parece necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral e será útil também aos legisladores com vistas à atribuição de honrarias e à aplicação de punições Consideramse involuntárias as ações praticadas sob compulsão ou por ignorância um ato é forçado quando sua origem é externa ao agente sendo tal a sua natureza que o agente não contribui de forma alguma para o ato mas ao contrário é influenciado por ele por exemplo quando uma pessoa é arrastada il alguma parte pelo vento ou por outra pessoa que a cem em seu poder Mas há algumas dúvidas quanto às ações praticadas em conseqüincia do medo de males maiores ou com vistas a algum objetivo elevado por exemplo se um tirano tendo em seu poder os pais e filhos de uma pessoa desse ordem a esta pessoa para praticar alguma ação ignóbil e se a prática de tal ação fosse a salvação dos reféns que de outro modo seriam monos é discutível se tais ações são involuntárias ou voluntárias Algo do mesmo gênero ocorre também na hipótese do lançamento ao mar da carga de uma nau durante uma tempestade com efeito ninguém lança a carga ao mar voluntariamente mas como condição para assegurar a própria salvação e a de seus companheiros de viagem qualquer pessoa sensata agiria assim Tais ações então são misw mas se assemelham mais às voluntárias pois são objeto de uma escolha no momento de serem praticadas e a finalidade de uma ação varia de acordo com a oportunidade de tal forma que as palavras voluntário e involuntário devem ser usadas com referência ao momento da ação com efeito nos atos em questão a pessoa age 50 1110 b Aristóteles voluntariamente pois a origem do movimento das panes instrumenmu do corpo em tais ações está no agente e quando a origem de uma ação está numa pessoa está no poder desta pessoa praticála ou não estas ações portanto são voluntárias embora talvez sejam involuntárias se considera das de maneira global pois ninguém escolheria qualquer destes atos por si mesmos De faio os homens às vezes são até louvados pela prática de ações desta espécie quando se submetem a algo ignóbil ou penoso em troca de algo importante e nobilitante na situação oposta eles são censurados pois submeterse às maiores indignidades sem nenhum objetivo nobilitante ou por um objetivo corriqueiro é próprio de uma pessoa inferior Em alguns casos esta submissão não é louvada mas apenas perdoada quando alguém pratica um ato ignóbil sob pressões que violentam demais a natureza humana e que ninguém pode suportar Não podemos ser forçados porém a praticar certos atos pois seria preferível enfrentar a morte em meio aos mais terríveis sofrimentos por exemplo as ameaças que forçaram Alcmáion na peça de Eurípides a matar sua mãe parecem ridículas 6 Às 1vezes é difícil decidir o que devemos escolher e a que custo e o que idevemos suportar em troca de certo resultado e ainda é mais difícil firmarnos na escolha pois em muitos dilemas deste gênero o mal esperado é penoso e o que somos forçados a fazer é ignóbil por isto o louvor cabe a quem é compelido e a censura a quem não é Que espécies de atos então devem ser chamados forçados Irrestritamente não seriam aqueles em que a causa da ação éexna ao agente sem que este contribua de forma alguma para a sua prática Porém as ações involuntárias em si mas cuja escolha em certas circunstân cias com a compensação de certos resultados pode ser justificada e cujo princípio motor está no agente são involuntárias em si mas voluntárias nestas circunstâncias e com a compensação de certos resultados Elas se assemelham mais a atos voluntários pois as ações se enquadram na classe dos particulares e os atos paniculares aqui são voluntários Não é fácil estabelecer regras para decidir qual das alternativas deve ser escolhida pois os casos particulares diferem amplamente entre si Se alguém dissesse que os objetivos agradáveis e nobilitantes têm força compulsiva compelindonos de dentro para fora estaria dizendo que todos os atos seriam forçados pois é por causa destes objetivos que todas as pessoas fazem tudo Quem age sob compulsão e involuntariamen te age sofrendo mas quem pratica atos porque estes são agradáveis ou nobilitantes praticaos com prazer é tão absurdo atribuir a culpa às circunstâncias exteriores em vez de atribuíla a nós mesmos por sermos facilmente levados por atrativos desta espécie quanto atribuirnos o mérito por atos nobilitantes mas atribuir a culpa por atos ignóbeis aos 1111 a Ética a Nicômacos 51 objetivos agradãveis Os atos forçados então são aparentemente aqueles cuja origem é externa ao agente e para os quais o agente não contribui de forma alguma Tudo que é feito por ignorância é nãovoluntãrio66 somente aquilo que produz sofrimento e pesar é involuntãrio Com efeito quem fez alguma coisa por ignorância e não sente o menor pesar pelo que fez não agiu voluntariamente pois não sabia o que estava fazendo nem involuntariamente pois não sentiu pesar Então das pessoas que agem por ignorância àquelas que demonstram pesar são consideradas agentes involuntãrios e as que não demonstram pesar podem ser chamadas de agentes nãovoluntãrios por serem indiferentes pois jã que elas se distinguem das outras é melhor que tenham um nome específico Agir por ignorância parece também diferente de agir na ignorância pois se considera que uma pessoa embriagada ou encolerizada age não por ignorância mas por uma das causas mencionadas sem saber o que está fazendo e na ignorância Todas as pessoas perversas com efeito ignoram o que devem fazer e aquilo de que devem absterse e o erro desta espécie torna as pessoas injustas e em geral más Porém o termo involuntário não se aplica na realidade às ações em que o agente ignora seus interesses pois não é a ignorância na escolha de um objetivo que torna uma ação involuntária ela torna os homens perversos nem a ignorância em geral isto é motivo de censura mas a ignorância em particular isto é das circunstâncias da ação e dos objetivos contemplados Efetivamente é destas circunstâncias que dependem a piedade e o perdão pois quem ignora qualquer delas age involuntariamente Talvez também não faça mal determinar o número e a natureza destas circunstâncias Uma pessoa talvez ignore quem ela é o que ela está fazendo e aquilo que é afetado pelo ato ou é alcançado por ela às vezes a pessoa também pode ignorar o instrumento por exemplo o instrumento com o qual o ato é praticado o efeito por exemplo salvando a vida de um homem e a maneira por exemplo moderadamente ou violenta mente Ninguém a não ser que se trate de um louco poderia ignorar estas circunstâncias muito menos é óbvio o agente como uma pessoa ignoraria quem é ela mesma Mas um homem pode ignorar o que está fazendo como por exemplo quando se diz que isto escapou de seus lábios enquanto eles estavam falando ou eles não sabiam que se tratava de um segredo como Ésquilo diz dos mistérios ou deixoua sair quando queria apenas mostrála em funcionamento como fez o homem no caso da catapulta Ou então uma pessoa pode confundir seu filho com um inimigo como Merope 66 ou confundir uma lança de ponta aguçada com 52 Aristóteles uma terminada por uma esfera ou lima pedrapomes com uma pedra pesada ou matar uma pessoa com uma bebem dada com a intenção de salvAla ou querer apenas tocar numa pessoa como na luta livre e ferila A ignorância então pode relacionarse com todas estas circunstâncias e podese supor que a pessoa ignorante de qualquer delas tenha agido involuntariamente especialmente se ela era ignorante quanto aos pontos mais importantes pensase que estes se identificam com as circunstâncias referentes ao próprio ato e seus efeitos Além disto a execução de um ato qualificado de invoiuntário por causa de ignorincia desta espécie deve ser penosa e deve provocar pesar Sendo involuntária uma ação executada sob compulsão ou por ignorincia um ato voluntário é presumivelmente aquele cuja origem está no próprio agente quando este conhece as circunstincias particulares em que está agindo É provável que não seja correto chamar de involuntários os atos praticados por causa da cólera ou do desejo com efeito em primeiro lugar este procedimento nos impediria de dizer que qualquer animal inferior ou qualque criança age voluntariamente Então nenhu ma de nossas ações motivadas pelo desejo ou pela cólera é voluntária Ou ações nobilitantes sio voluntirias e as ignóbeis são involuntárias Isto não é um absurdo sendo a causa uma só Seria certamente estranho qualificar de involuntários atos que visam a coisas que é justo desejar pols devemos encolerizarnos em certas circunstâncias e desejar certas coisas como por exemplo a saúde e o saber Mais ainda pensase que o que é involuntário é penoso mas se pensa que o que corresponde a um desejo é agradável 1111 b Além disto qual é a diferença quanto ao aspecto da involuntariedade entre erros cometidos premeditadamente e os cometidos sob o domínio da cólera Ambos devem ser evitados mas as emoções irracionais não são consideradas menos humanas do que as racionais e portanto as ações motivadas pela cólera ou pelo desejo são do homem Seria estranho então classificálas como involuntárias 2 Tendo definido o voluntário e o involuntário devemos examinar em seguida a escolha 69 esta com efeito parece relacionarse intimamente cóm a excelência moral e proporciona um juízo mais seguro sobre o caráter do que sobre as ações A escolha então parece voluntária mas não é a mesma coisa que o voluntário pois o âmbito deste é mais amplo De fato tanto as crianças quanto os animais inferiores são capazes de ações voluntárias mas não de escolha Também definimos os atos repentinos como voluntários mas não como o resultado de uma escolhL Aqueles que identificam a escolha com o desejo ou a paixão ou a aspiração ou uma espécie de opinião não parecem estar falando acertadamente pois a escolha não é partilhada também pelos seres 1112 a Ética a Nicômacos irracionais mas a paixão e o desejo são Ademais as pessoas inconinentes agem movidas pelo desejo mas não pela escolha as dotadas de continên cia ao contrário agem por escolha mas não por desejo além disto o desejo é contrário à escolha mas o desejo não é contrário ao próprio desejo mais ainda o desejo se relaciona com o agradável e o penoso mas a escolha não se relaciona nem com o penoso nem com o agradável A escolha se identifica ainda menos com a paixão pois os atos motivados pela paixão são provavelmente menos passíveis de esclha que quaisquer outros Ela tampouco se identifica com a aspiração embora pareça ter afinidades com esta com efeito a escolha não pode ter por objetivo impossibilidades e se alguém dissesse que as havia escolhiJo seria considerado insensato mas se pode aspirar até a coisas impossíveis como por exemplo à imortalidade E a aspiração pode relacionarse com coisas que de forma alguma seriam capazes de realizarse apenas pelo próprio esforço de uma pessoa por exemplo a aspiração de um atar ou atleta à vitória em uma competição pessoa alguma escolhe tais coisas mas somente as coisas que ela pensa poder conseguir por seu próprio esforço Ademais a aspiração se relaciona mais com os fins enquanto a escolha se relaciona com os meios por exemplo aspiramos a ser saudáveis mas escolhemos atos que nos tornarão saudáveis e aspiramos a ser felizes e dizemos que somos mas não podemos dizer acertadamente que escolhe mos ser felizes pois em geral a escolha parece relacionarse com 1s coisas ao nosso alcance Também por esta razão a escolha não pode ser opinião pois se pensa que a opinião se relaciona com todas as espécies de coisas e nãl menos com as coisas eternas e impossíveis do que com as coisas ao nosso alcance a opinião se distingue por sua falsidade ou verdade e não por sua maldade ou bondade ao passo que a escolha se distingue mais por estas últimas características É provável portantO que ninguém realmente identifique a escolha com a opinião geral Tampouco ela é idêntica a qualquer esrécie de opinião pois é nossa escolha do bem e do mal que nos faz homens de um certo caráter e não nossa opinião Escolhemos se iremos procurar ou evitar alguma coisa boa ou má porém opinamos quanto ao que é uma coisa ou para quem ela é vantajosa ou como ela é vantajosa para alguém dificilmente se pode dizer que opinamos no sentido de obter ou evitar qualquer coisa e a escolha também é louvada por relacionarse com o objetivo certo ou por ser acertada e a opinião é louvada por ser verdadeira Escolhemos o que é indubitavelmente reconhecido como bom mas opinamos sobre coisas que não sabemos de forma alguma se são boas e não são as mesmas pessoas que consideramos capazes df fazer a 54 1112 b Aristóteles melhor escolha e de ter as melhores opiniões com efeito algumas pessoas são tidas como aptas a opinar muito bem mas por deficiência moral elas podem escolher o que não devem É irrelevante saber se a escolha é precedida ou acompanhada pela opinião pois este não é o ponto sob exame o que indagamos é se a escolha é idêntica a alguma forma de opinião Que é a escolha ou que espécie de manifestação da alma ela é já que não é qualquer das manifestações recémmencionadas Aparentemente ela é voluntária mas nem tudo que é voluntário é objeto de escolha Será ela então aquilo que é precedido pela deliberação Seja como for a escolha requer o uso da razão e do pensamento Seu próprio nome aliás parece sugerir que ela é aquilo que é escolhido de preferência a outras coisas 0 3 Será que deliberamos acerca de tudo e tudo é um possível objeto de deliberação ou a deliberação é impossível acerca de certas coisas É de presumirse que devemos chamar de objetos de deliberação não os assuntos sobre os quais um insensato ou um louco deliberaria mas aqueles sobre os quais deliberaria um homem sensato Ora ninguém delibera sobre coisas eternas por exemplo sobre o universo ou sobre a incomensurabilidade da diagonal e do lado de um quadrado tampouco deliberaríamos sobre corpos em movimento mas que se movimentam sempre de maneira idêntica seja por necessidade ou por natureza ou por qualquer outra causa por exemplo os solstícios e a posição dos astros nem sobre fenômenos que ora ocorrem de uma maneira ora de outra por exemplo secas e chuvas nem sobre eventos fortuitos como a descoberta de um tesouro não deliberamos sequer sobre todos os assuntos que interessam aos homens por exemplo nenhum espartano delibera sobre a melhor constituição para os citas pois coisa nenhuma deste gênero pode ser influenciada por nossos próprios esforços Deliberamos sobre coisll que estão ao nosso alcance e podem ser feitas e são estas as que ainda estão por ser examinadas Com efeito pensase que a natureza a necessidade e o acaso são causas da mesma forma que a razão e tudo que depende do homem Mas cada classe de homens delibera sobre coisas que podem ser feitas graças aos seus próprios esforços No caso das ciências exatas e autônomas não há deliberação por exemplo sobre as letras do alfabeto não temos dúvidas sobre a maneira de escrevêlas mas as coisas influenciáveis por nossas ações porém nem sempre de maneira idêntica são aquelas sobre as quais deliberamos por exemplo questões relativas ao trataníento médico ou ao enriquecimento Deliberamos mais sobre navegação que sobre exercí cios físicos pois estes ainda estão menos organizados como ciência e são menos precisos acontece o mesmo com outras atividades em condições trica a Nicômacos 55 idênticas e mais ainda no caso das anes que no das ciências pois temos mais dúvidas acerca das primeiras A deliberação se relaciona com coisas que em geral acontecem de um modo determinado mas cujo desfecho é obscuro e com coisas nas quais ele é indeterminado Mais ainda recorremos a outros para ajudarnos na deliberação sobre questões importantes desconfiando de nossa capacidade de decidir Deliberamos não sobre fins mas sobre meios pois um médico não delibera para saber se deve curar nem um orador para saber se deve convencer nem um estadista para saber se deve assegurar a concórdia nem qualquer outra pessoa delibera sobre a própria finalidade de sua atividade Definida a finalidade as pessoas procuram saber como e por que meios tal finalidade deve ser alcançada se lhes parece que ela é resultante de vários meios as pessoas procuram saber por que meio podem alcançála mais facilmente e realizála melhor se é possível chegar a ela por um único meio as pessoas procuram saber como ela poderá ser realizada por este meio e por que meios este meioserá alcançado até chegarem à primeira cawa que é a última na ordem de descoberta De fato a pessoa que delibera parece investigar e analisar da maneira descrita como se estivesse analisando uma figura geométrica nem toda investiga ção parece ser uma deliberação por exemplo as investigações matemáticas não o são mas toda deliberação é uma investigação e o último passo na análise parece ser o primeiro passo na execução se 1113 a chegamos a uma impossibilidade abandonamos a busca por exemplo se temos necessidade de dinheiro e não o obtemos mas se uma coisa parece possível tentamos realizála Por coisas possíveis quero significar coisas que podem ser realizadas graças aos nossos próprios esforços e estas incluem em certo sentido coisas que podem ser realizadas graças aos esforços de nossos amigos desde que a origem da ação esteja em nós mesmos A investipção às vezes é sobre os instrumentos e às vezes sobre o seu uso o mesmo acontece em outras esferas às vezes temos de investigar os meios às vezes o modo de usálos ou os modos de realizálos Parece então como dissemos que o homem é a origem de suas ações a deliberação é acerca das coisas a serem feitas pelo próprio agente e as ações são executadas com vistas a coisas diferentes delas Efetivamente a finalidade não pode ser objeto de deliberação mas somente os meios tampouco os fatos particulares podem ser seu objeto por exemplo se isto é pão ou foi cozido ao forno como devia pois estas são matérias de percepção e se não nos detivermos em certo ponto da deliberação71 iremos até o infinito O objeto da dliberação e o objeto da escÓliia são uma só e a mesma coisa com a ressalva de que o objeto da escolha já está determinado uma vez que aquilo que foi decidido em decorrência da deliberação é o objeto da escolha De fato o homem pára de perguntarse como deve agir logo 56 lll3b Aristóteles que fraz de volta a origem da ação a si mesmo e à parte dominante n de si mesmo pois é esta parte dominante que escolhe Isto pode ser ilustrado pelas antigas constituições que Homero mostra em seus poemas pois os reis anunciavam ao povo as medidas por eles escolhidas Então como o objeto da escolha é algo ao nosso alcance que desejamos após deliberar a escolha será um desejo deliberado de coisas ao nosso alcance pois quando após a deliberação chegamos a um juízo de valor passamos a desejar de conformidade com nossa deliberação Demos então por descrita a escolha em suas linhas gerais e por expostos a natureza de seus objetivos e o fato de que ela se relaciona com os meios para chegarmos aos fins 4 Já dissemos acima que as aspirações têm em vista os fins algumas pessoas pensam que aspiramos ao bem real outras que aspiramos ao bem aparente a cada um de nós As pessoas que dizem que o bem real é o objeto das aspirações devem admitir concomitantemente que aquilo a que aspira um homem que não escolhe corretamente não é um objeto de aspiração se o fosse também poderia ser bom mas pode acontecer que seja mau entretanto as que dizem que o bem aparente é objeto de aspiração devem admitir que não há um objeto natural de aspiração mas somente o que parece bom a cada homem Mas coisas diferentes parecem boas a pessoas diferentes e sendo este o caso mesmo coisas contrárias podem parecer boas a pessoas diferentes Se estas inferências não satisfazem devemos então dizer que o objeto de aspiração no sentido absoluto e verdadeiro é o bem real mas para cada pessoa o objeto de aspiração é o bem aparente logo devemos dizer que o homem bom aspira àquilo que é verdadeiramente um objeto de aspiração enquanto qualquer coisa ao acaso pode ser um objeto de aspiração para o homem mau da mesma forma que no caso de nosso corpo um homem sadio acha realmente os alimentos saudáveis melhores para a sua saúde mas outro regime qualquer pode ser saudável para um homem doentio o mesmo raciocínio se aplica às coisas amargas e doces quentes pesadas etc pois o homem bom julga tudo corretamente e em cada classe de coisas estas lhe parecem o que realmente são Com efeito cada tipo de pessoa conforme o seu caráter tem suas próprias idéias a respeito do que é nobilitante e agradável e talvez o homem bom difira dos outros principalmente por ver a verdade em cada classe de coisas sendo ele por assim dizer a norma e medida do nobilitante e agradável Em relação à maioria das coisas o erro é aparentemente devido ao prazer pois este parece um bem embora não o seja Por isso escolhemos o agradável como um bem e evitamos o sofrimento como um mal 1114 a Ética a Nicômacos 57 5 Sendo os fins então aquilo a que nós aspiramos e os meios aquilo sobre que deliberamos e que escolhemos as ações relativas aos meios devem estar de acordo com a escolha e ser voluntárias Ora o exercíCio da excelência moral se relaciona com os meios logo a excelência moral também está ao nosso alcance da mesma forma que a deficiência moral Com efeito onde está ao nosso alcance agir também está ano nosso alcance não agir e onde somos capazes de dizer não também somos capazes de dizer sim conseqüentemente se agir quando atir é nobilitante está ao nosso alcance não agir que será ignóbil tarrbém estará ao nosso alcance e se não agir quando não agir é nobilitante escá ao nosso alcance agir que será ignóbil também estará ao nosso alcance Se está ao nosso alcance então praticar atos nobilitantes ou ignóbeis e se isto era o que significava ser bom ou mau está igualmente ao rosso alcance ser moralmente excelentes ou deficientes Dizer que ninguém é voluntáriamente desgraçado nem é feliz Cntra a vontade parece parcialmente falso e parcialmente verdadeiro pois ninguém é feliz contra a vontade mas a desgraça pode ser volutária Ou então teremos de pôr em dúvida o que acabamos de dizer e negar que o homem é o originador e o gerador de suas ações como se se tratasse de seus filhos Mas se é evidente que o homem é a origem de suas próprias ações e se não somos capazes de relacionar nossa conduta a quaisquer outras origens que não sejam as que estão dentro de nós mesmos encio as ações cujas origens estão em nós devem também depender de nós e ser voluntárias Esta conclusão parece comprovada tanto pelos indivíduos em sua vida privada quanto pelos próprios legisladores pois estes punem os autores de maldades e exigem deles uma reparação a não ser que eles tenham agido sob compulsão ou por ignorância cuja responsabilidade não lhes pode ser atribuída enquanto concedem dinstinções aos autores de atos nobílitan tes como se pretendessem estimular os últimos e reprimir os primtiros Mas ninguém é estimulado a praticar ações que não estejam ao seu alcance nem sejam voluntárias não há presumivelmente vantagem em ser persuadido a não sentir calor ou dor ou fome ou coisas do mtsmo gênero já que nio deixaremos de experimentar tais sensações por ito Realmente punimos uma pessoa até por sua ignorância se el1 for considerada responsavel pela ignorância como quando as penalidades são dobradas no caso da embriaguez efetivamente a origem da ação esrá no próprio homem pois estava ao seu alcance não ficar embriagado e a embriaBuez foi a causa de sua ignorância Punimos igualmente as pessoas que ignoram qualquer dispositivo das leis que devem conhecer e podem conhecer facilmente e da mesma forma no caso de qualquer outra proibição cuja ignorância seja presumivelmente devida à negligência 58 Aristóteles presumimos que estava ao alcance destas pessoas não ser ignorantes pois elas teriam podido tomar precauções Mas talvez se trate de pessoas do tipo das que não cuidam de precaver se mesmo estas todavia são responsáveis em conseqüência da vida descuidada que levam por seu procedimento injusto e por sua concupis cência pois elas praticam más ações ou passam o tempo entregues à embriaguez ou a desregramentos da mesma narureza estas pessoas adquirem um determinado caráter por agirem constantemente de determi nada maneira Isto é mais evidente no caso de pessoas que se exercitam para alguma competição ou tentativa elas praticam durante o tempo todo Portanto somente uma pessoa totalmente insensata poderia deixar de perceber que as disposições de nosso caráter são o reultado de uma determinada maneira de agir Então é irracional supor que um homem que age injustamente não deseja ser injusto ou um homem que age concupiscentemente não deseje ser concupiscente Mas se uma pessoa pratica ações que a tornam injusta sem ser ignorante ela será injwta voluntariamente Disto não resulta porém que se ela quiser deixará de ser injusta e passará a ser justa da mesma forma um homem doente não ficará bom desta maneira embora possa acontecer que sua doença seja voluntária no sentido de ser o resultado de sua vida de dissipação e de sua desobediência aos médicos Neste caso de início teria dependido dele não ficar doente mas não agora que ele desperdiçou sua oportunidade da mesma forma que depois de atirar uma pedra não é possível fazêla voltar atrás não obstante a pessoa que atirou a pedra é responsável por havêla apanhado e lançado pois a origem doato estava nesta pessoa De maneira idêntica as pessoas injustas ou concupiscentes poderiam de início ter evitado estas formas de deficiência moral e ponanto são injustas ou concupiscentes voluntariamente Agora porém que elas são assim já não lhes é possível deixar de sêlo Mas não é apenas a deficiência moral que é voluntária as deficiências físicas também o são para cenas pessoas que censuramos por isto enquanto ninguém censura as pessoas feias por narureza censuramos aquelas que o são por falta de exercícios e de cuidados O mesmo acontece em relação à fraqueza e às deformidades ninguém recriminaria um cego de nascença ou em conseqüência de doença ou acidente e teria até pena dele ao contrário todos censurariam uma pessoa cega por causa de embriaguez ou outra forma de concupiscêncoa Quanto às deficiências físicas então aquelas que poderíamos ter evitado são objeto de recrimina ção e aquelas que não estava ao nosso alcance evitar não o são Sendo assim seguese que estaria ao nosso alcance evitar as formas de deficiência moral que são objeto de censura Ética a Nicômacos 59 1114 b Mas se alguém disser que todas as pessoas aspiram ao bem aparente a cada uma delas porém não são responsáveis pelo fato de ele ser apenas aparente já que os fins aparecem a cada pessoa sob uma forma correspondente ao seu caráter responderemos que se cada pessoa é de algum modo responsável por sua disposição moral ela também é responsável de algum modo por aceitar apenas a aparência do bem se não for assim ninguém será responsável pelo mal que fizer pois todos praticarão más ações por ignorãncia quanto aos fins pensando que por estes chegarão ao melhor O fim a que se visa não é escolhido automaticamente mas cada pessoa deve ter nascido com uma espécie de visão moral graças à qual a pessoa forma um juízo correto e escolhe o que é realmente bom e será naturalmente bem dotado quem for bem dotado sob este aspecto De fato esta visão moral é a dádiva maior e mais nobre da naturea e é algo que não podemos obter ou aprender de outras pessoas mas devemos ter tal como nos foi dado ao nascermos ser bem e superiormente dotado sob este aspecto constituirá a excelência perfeita e verdadeira em termos de dons naturais Se esta teoria corresponde à verdade então como poderia a excelência moral ser mais voluntária que a deficiência moral Em ambos os casos igualmente para a pessoa boa e para a má os fins aparecem e são fixados pela natureza ou seja pelo que for e é relacionando tudo mais com os fins que as pessoas praticam todas e quaisquer ações Se não é por natureza então que os fins não aparecem a cada pessoa tais como são de tal forma que algo também depende da pessoa ou se os fins são naturais mas pelo fato de o homem bom adotar voluntariamente os meios a excelência moral é voluntária a deficiência moral também não será menos voluntária com efeito no homem mau também está presente aquilo que depende dele mesmo em suas ações embora não esteja na escolha de seus fins Se como foi dito a excelência moral é voluntária e de fato nós mesmos somos de ceno modo ao menos em pane a causa de nossas disposições morais e é por termos um certo caráter que determina mos que os fins devem ser de cena espécie a deficiência moral também deve ser voluntária pois as mesmas considerações se lhe aplicam Já examinamos resumidamente as várias formas de excelência moral em geral indicando que elas são meios e são disposições que tendem por sua própria natureza à realização dos atos pelos quais elas são produzidas que elas estão ao nosso alcance e são voluntárias e que atuam de acordo com as injunções da reta razão Mas as ações e disposições não são voluntárias de maneira idêntica pois somos senhores de nossas ações do princípio ao fim se conhecemos os fatos paniculares mas embora tenhamos o controle da fase inicial de nossas disposições a evolução de cada estágio das mesmas não é perceptível tal como acontece nas doenças 60 1115a Aristóteles mas jl que a maneira de r dependia de nós as disposições morais são volundrias Retomando porém a indagação examinemos as várias espécies de excelência moral separadamente e definamos a sua natureza as classes de objetos com as quais elas se relacionam e como elas se relacionam com eles veremos ao mesmo tempo quantas são as formas de excelência moral 6 Falemos primeiro da coragem Já fizemos ver que ela é um meio termo entre o medo e a temeridade as coisas que tememos são obviamente coisas temíveis e falando de um modo geral tratase de males por esta razão o medo é definido como uma expectativa do mal É verdade que tememos todos os males por exemplo a desonra a pobreza a doença a falta de amigos a morte mas não se imagina que a coragen se manifeste em relação a todos eles com efeito devese e é até nobilitante temer alguns deles e é ignóbil não os temer a desonra por exemplo as pessoas que a temem são boas e decentes e as que não a temem são desbriadas embora haja quem diga por analogia que tais pessoas são corajosas pois sua conduta tem alguma similaridade com a coaragem já que o homem corajoso também é ousado Talvez não devamos temer a pobreza e a doença nem de um modo geral os males que não provêm da deficiência moral nem são devidos ao próprio homem e o homem destemido em relaçio a estes males não é realmente corajoso aplicamoslhe entretanto o termo em decorrência também de uma similaridade pois alguns homens covardes diante dos perigos da guerra são liberais e confiantes em face da perda de sew bens Um homem também não é covarde se teme um ultraje aos sew filhos e à sua mulher ou a inveja ou algo da mesma natureza nem é corajoso se se mostra arrogante quando está na iminência de ser açoitado Em relação a que coisas temíveis então o homem demonstra ser corajoso Seria em relação às mais temíveis Com efeito provavelmente ninguém se manterá mais firme que o homem corajoso diante das coisas realmente temíveis Ora a morte é a mais temível de todas as coisas pois ela é o fim de tudo e pensamos que quanao um homem morre nem o bem nem o mal existem mais para ele Mas aparentemente não é em todas as circunstâncias que a morte dá oportunidade à manifestação da coragem por exemplo num naufrágio ou no caso de doenças Em que circunstân cias então Certamente nas mais nobilitantes Tal morte é a que ocorre em combate pois ela sobrevém diante dos maiores e mais nobilitantes perigos e é devidamente honrada nas cidades e pelos monarcas Será chamado corajoso com toda a propriedade então o homem destemido em face de uma morte nobilitante e de todas as circunstâncias em que haja um 1115 b perigo real de morte e as emergências da guerra são desta natureza em seu mais alto grau Mas em naufrágios também e em face das doenças o homem corajoso é destemido porém não da mesma maneira que os tripulantes num naufrágio pois o homem corajoso perde logo todas as 1116 a Ética a Nicômacos 61 esperanças e lhe repugna a idéia de morrer afogado enquanto os tripulantes ainda têm esperanças por causa de sua experiência Da mesma forma demonstramos coragem em situações nas quais há oportunidade de evidenciar bravura ou em que a morte é nobilitante mas na morte em caso de naufrágio ou por doença nenhuma destas oportunidades pode apresentarse 1 O que é tbinível não é a mesma coisa para todas as pessoas mas dizemos que há coisU temíveis além da resistência humana Estas então são temíveis para todas as pessoas mas as coisas temíveis que não estão além da resistência humana diferem em magnitude e grau e o mesmo acontece com as coisas que inspiram confiança Mas o homem corajoso é tão intrépido quanto uma criatura humana pode ser logo embora possa temer as coisas que não estão além da resistência humana ele as enfrentará de conformidade com os ditames da razão por causa da honra pois este é um dos fins da excelência moral É possível entretanto temer mais ou temer menos estas coisas e temer coisas que não são temíveis como se realmente o fossem Das faltas que cometemos uma consiste em temer o que não deveríamos outra consiste em temer como não deveríamos outra em temer quando não deveríamos e assim por diante O mesmo acontece a respeito das coisas que inspiram confiança Então a pessoa que enfrenta e teme as coisas certas e por motivos certos da maneira cerca e na ocasião certa e que é confiante nas condições pertinentes é realmente corajosa pois a pessoa corajosa sente e age de acordo com o mérito das circunstân cias e como manda a razão e a finalidade de cada atividade é a conformida de com a disposição moral correspondente Isto é verdadeiro portanto para a pessoa corajosa e também para as outras Mas a coragem é nobilitante e conseqüentemente sua finalidade também é nobilitante pois cada coisa é definida por sua finalidade Logo é por uma finalidade nobilitante que uma pessoa corajosa resiste e age de conformidade com os ditames da coragem Das pessoas que tendem para o excesso as excessiva mente destemidas não têm um nome especial dissemos anteriormente que muitas disposições morais não têm nomes especiais 79 mas seriam como que loucas ou insensíveis ao sofrimenro as pessoas que nada temessem nem terremotos nem vagalhões como dizem que acontece com os celtas quanto às pessoas excessivamente confiantes em relação ao que é realmente temível elas são temerárias As pessoas temerárias são consideradas também jactanciosas e meras simuladoras de coragem de fato elas apenas desejam parecer aquilo que as pessoas corajosas realmen te são em face das coisas temíveis e assim as imitam nas situações em que podem fazêlo Por isto em sua maior parte elas são uma mistura de temerárias e covardes pois enquanto em tais situações demonstram confiança elas não se mantêm firmes contra o que é realmente temível As pessoas excessivamente temerosas são covardes pois elas temem o que 62 Aristóteles não devem e como não devem e todas as situações similares se lhes aplicam Faltalhes também a confiança mas elas são mais notadas por seu excesso de temor em situações difíceis O homem covarde então é um homem sem esperanças pois teme tudo O homem corajoso ao contrário tem uma disposição oposta pois a confiança é a marca de uma disposição esperançosa O covarde o temerário e o corajoso ponanto relacionamse com os mesmos objetos mas têm disposições diferentes em face deles com efeito os dois primeiros pecam pela falta e pelo excesso respectiva mente enquanto o terceiro ocupa o meio termo que é a posição cena além disto as pessoas temerárias são precipitadas e antes da hora anseiam por perigos mas recuam quando se vêm envolvidas por eles enquanto as pessoas corajosas se sentem excitadas na hora de agir mas antes estio tranqüilas Como dissemos anteriormente a coragem é o meio termo em relação às coisas que inspiram confiança ou temor nas circunstâncias enunciadas10 e o homem corajoso escolhe e enfrenta as coisas porque é nobilitante agir corajosamente ou porque é ignóbil não agir assim Mas morrer para livrar se da pobreza ou do amor ou de qualquer coisa penosa não é próprio de um homem corajoso e sim de um covarde pois é fraqueza fugir do que é aflitivo e um homem desta espécie enfrenta a morte não por ser nobilitante mas para fugir a um mal 8 É esta então a natureza da coragem mas seu nome se aplica ainda a cinco outras espécies da mesma disposição moral Primeiro remos a coragem do cidadãosoldado pois esta é a que mais se assemelha à verdadeira coragem Parece que os cidadãossoldados enfrentam perigos por causa das punições impostas pelas leis por causa das censuras em que incorreriam se agissem de maneira diferente e por causa das honrarias com que são distinguidos por agirem assim É por isto que os homens parecem rer mais coragem entre os povos que estigmatizam os covardes e honrai os corajosos Esta é a espécie de coragem descrita por Homero referindo se por exemplo a Diomedes e Hêctor Primeiro Polidamas me censurará e Hêctor dirá um dia em Tróia vangloriandose perto de mim escava o filho de Tideus 81 Esta espécie de coragem é muito parecida com a que descrevemos anteriormente n porque resulta da excelência moral ela provém com efeito do sentimento de vergonha e da aspiração a um objetivo nobilirante a honra e do desejo de evitar a desonra que é ignóbil Podemos incluir na mesma categoria até os soldados que são compelidos por sew coman dantes mas neste caso seu mérito é menor porquanto eles agem assim não pelo sentimento de vergonha mas por temor e para evitar não o que é 1116 b 1117a Ética a Nicômacos 63 desonroso mas o que é penoso pois seus comandantes os compelem como Hêctor Se eu vir algum soldado abandonar a luta sua carcaça irá cevar as cães sem dúvida Os comandantes que mandam os soldados ocupar certas posições e os espancam se eles recuam agem de maneira idêntica da mesma forma que os que os mantêm nas posições graças a fossos ou algo do mesmo gênero cavado na retaguarda Todos os que estão neste caso usam a compulsão mas um homem deve ser corajoso não sob compulsão e sim porque a coragem é nobilitante A experiência em relação a uma determinada situação de perigo também é considerada uma espécie de coragem daí surgiu a noção de Sócrates segundo a qual a coragem é conhecimento Este tipo de coragem é demonstrado por várias pessoas em várias circunstâncias e os soldados profissionais o exibem nas situações perigosas da guerra com efeito parece haver muitos alarmes infundados na guerra e destes os soldados profissionais têm a mais completa experiência eles parecem portanto corajosos porque os outros não conhecem a realidade das situações Além disto sua experiência os torna mais eficientes no ataque e na defesa já que eles podem usar as melhores armas da maneira mais eficiente possível tanto no ataque quanto na defesa por isto eles lutam como homens armados contra desarmados ou como atletas experientes contra principiantes nas competições atléticas com efeito acontece também que não são os homens mais corajosos que competem melhor e sim os mais fortes e aqueles cujo preparo físico é melhor Os soldados profissionais entretanto tornamse covardes quando o perigo os põe num estado de grande tensão e eles são inferiores em número e equipamentos eles são de fato os primeiros a fugir enquanto os componentes das tropas de cidadãossoldados morrem em seus postos como aconteceu realmente junto ao templo de Hermes Para os últimos com efeito a fuga é degradante e a morte é preferível à salvação em condições humilhantes ao passo que os primeiros desde o princípio enfrentam o perigo na presunção de que são mais fortes e quando tomam conhecimento de fatos adversos fogem temendo a morte mais que a degradação Mas o homem corajoso não é deste tipo O arrebatamento às vezes também é classificado como corasem as pessoas movidas pela cólera como animais selvagens lançandose contra quem os feriu são tidas como corajosas porque os homens corajosos são arrebatados o arrebatamento mais que qualquer outra emoção leva os homens a correr perigos daí as palavras de Homero esforçase em seu arrebatamento e exacerbou a força e o arrebatamenco e a amarga indignação brotou de suas narinas e seu sangue ferveu90 rodas estas expressões indicam exacerbação e um impulso do arrebatamento Os homens corajosos agem por causa da honra mas o rebatamento os ajuda 64 Aristóteles enquanto os animais selvagens agem sob a influência do sofrimento eles atacam por terem sido feridos ou por estarem assustados pois não se aproximam das pessoas quando estão na floresta Eles não são valentes então porque impelidos pelo sofrimento e pelo arrebatamento se precipitam para o perigo sem calcular os riscos os próprios asnos são valentes quando estão famintos pois nem pancadas os afastam de seu alimento a luxúria também leva os adúlteros a praticar muitas ações ousadas Mas estas criaturas que são impelidas para o perigo pelo sofrimento ou pelo arrebatamento não são corajosas A coragem devida ao arrebatamento parece a mais natural e se assemelha realmente à coragem propriamente dita se lhe são acrescentadas a escolha e a motivação As pessoas também sofrem quando encolerizadas e sentem prazer quando se vingam aquelas que combatem levadas por estas razões todavia são combativas91 mas não são corajosas pois não agem motivadas pela honra nem obedecendo aos ditames da razão e sim pela força de um sentimento há nestes casos porém uma certa analogia com a coragem Tampouco as pessoas confiantes são corajosas pois elas são ousadas diante do perigo somente porque foram vitoriosas com freqüência e contra muitos inimigos Mas elas se assemelham acentuadamente às pes soas corajosas porque umas e outras são ousadas as pessoas corajosas entretanto são ousadas pelas razões anteriormente expostas 92 enquanto as confiantes o são porque se julgam as mais fortes e pensam que nada de mal lhes pode acontecer os ébrios tamm se conduzem de maneira idêntica eles se tornam ousados por causa da bebida Mas quando as tentativas das pessoas confiantes não são bem sucedidas elas fogem enquanto é caractedstico das pessoas corajosas como já vimos n enfren tar as coisas que são temíveis para um ser humano e assim parecem a cada pessoa porque agir desta maneira é nobilitante e é ignóbil não agir assim Por isto também se considera mais característico de uma pessoa corajosa ser destemida e permanecer imperturbável nos casos de um alarme súbito do que ser assim nos casos previsíveis porque no primeiro caso a coragem é mais devida a uma disposição moral e menos a precauções Atos previsíveis podem ser escolhidos por cálculo e pela razão mas nas ações súbitas as resoluções são tomadas de acordo com nossa disposição moral As pessoas que ignoram o perigo também parecem corajosas e não estão muito afastadas das ousadas mas lhes são inferiores já que não têm a autoconfiança destas últimas Por isto as pessoas seguras de si se mantêm firmes em suas posições por algum tempo mas as que se equivocam quanto aos fatos fogem se tomam conhecimento ou suspeitam de que estes são diferentes do que elas supunham como ocorreu com os argivos quando eles enfrenwam os espartanos pensando que se tratasse de siciônios 94 Acabamos de descrever as características das pessoas corajo sas e as daquelas que se julgam corajosas 1117 b Ética a Nicômacos 65 9 Embora a coragem se relacione com a odia e o medo esta relaçi1o não é a mesma com ambos e é maior nas situações que inspiram medo efetivamente as pessoas que se mantêm imperturbáveis diante de cais situações e se comportam como devem diante delas demonstram coragem num sentido mais amplo que as pessoas que têm este comportamento em face de situações que inspiram ousadia É por enfrentarem o que é peneS como já dissemos que as pessoas são chamadas corajosas Logo a coragem também é seguida de sofrimento e é justamente louvada por isto pois é mais difícil enfrentar o que é penoso do que absterse de coisas agradáveis Entretanto os fins que a coragem põe diante de si são presumivelmente agradáveis mas os aspectos que a tornam agradável escão ocultos pelas circunstâncias que a cercam como acontece nas competições adéticas comefeito os fins a que visam os pugilistas por exemplo são agradáveis a coroa de louros e as honrarias mas os golpes que eles recebem são dolorosos para pessoas de carne e osso da mesma forma que todos os seus preparativos e como os golpes e cs preparativos são muitos os fins que são alguma coisa de pequenas proporções nada parecem ter de agradáveis em si Assim se o caso d 1 coragem é semelhante a morte ou os ferimentos serão penosos para as pessoas corajosas que os sofrem relutantemente mas os enfrencarã porque é ignóbil não agir desta maneira E quanto mais excelência moral elas têm globalmente e mais felizes elas são mais sofrerão ao enfrentar morte realmente a vida é mais digna de ser vivida por pessoas destl qualidade e elas sabem que estão perdendo os maiores bens e isto penoso Mas elas não são menos corajosas por isto e talvez ainda o sejam mais pois este é o preço que elas pagam por haver optado pelo nobilitantes feitos militares Entretanto não é em relação a todas as forma de excelência moral que o seu exercício é agradável exceto até onde ek atinge a sua finalidade É perfeitamente possível todavia que os melhore soldados sejam não os homens desta espécie e sim os menos corajosos t que nada têm a perder pois os últimos sempre estão prontos a enfrentar C perigo e trocam suas vidas por ganhos insignificantes Estas considerações a propósito da coragem são suficientes diante do qu foi dito não é difícil ter uma idéia de sua natureza ao menos em linha gerais 10 Depois da coragem falemos da moderação pois estas são aparente mente as formas de excelência moral da parte irracional da alma Dissemo 96 que a moderação é o meio termo no tocante aos prazeres ela cem menos a ver com o sofrimento e não se relaciona com ele da mesma maneira a concupiscência também se manifesta nesta esfera Vejamos agora com que espécie de prazeres estas disposições da alma se relacionam Os prazeres do co devem ser distinauidos dos prazeres da alma por exemplo o 66 Aristóteles amor às honrarias e o amor ao conhecimento com efeito o amante das honrarias ou do conhecimento sente prazer nestas coisas que ele ama sem que seu corpo seja afetado de forma alguma pois só a mente é afetada mas as pessoas que se dedicam a estes prazeres não são chamadas modera das nem concupiscentes tampouco recebem estes qualificativos as pessoas que se dedicam a outros prazeres que também não são do corpo porquan to aquelas que se deleitam ouvindo e contando histórias ou que passam os seus dias conversando sobre assuntos triviais são tagarelas mas não são concupiscentes também não o são aquelas que sofrem com a perda de dinheiro ou de amigos A moderação deve relacionarse então com os prazeres do corpo mas não com todos eles pois as pessoas que se comprazem com objetos da visão por exemplo com as cores as formas ou a pinrura também não são chamadas moderadas nem concupiscentes apesar de parecer possível comprazerse com estas coisas convenientemente ou excessivamente ou deficientemente 1118 a O mesmo raciocínio se aplica aos prazeres da audição ninguém chama de concupiscentes as pessoas que se comprazem exageradamente com a música ou com os espetáculos teatrais nem de moderadas as que o fazem como convém Tampouco aplicamos estes qualificativos aos que se comprazem com os odores a não ser acidentalmente 9 não chamamos de concupiscente quem se compraz com o odor de maçãs ou rosas ou incenso e sim quem se compraz com o odor de ungüentos perfumados ou de iguarias requintadas na realidade as pessoas concupiscentes se comprazem com estas coisas porque elas lhe trazem ao pensamento os objetos de seus desejos Podemos até ver certas pessoas quando famintas deleitandose com o odor dos alimentos mas o deleite com esta espécie de coisas é característico das pessoas concupiscentes pois estas coisas são objetos de desejo para elas Não há tampouco em outros animais além do homem qualquer prazer relacionado com estes sentidos a não ser acidentalmente Os cães por exemplo não sentem prazer em cheirar as lebres e sim em comêlas mas seu cheiro lhes revela que elas estão por perto nem o leão sente prazer em ouvir o mugido do boi e sim em devorálo mas ele percebe pelo mugido que o boi está perto e por isto parece que o mugido lhe dá prazer da mesma forma ele não sente prazr porque vê um veado ou uma cabra selvagem 98 e sim pela expectativa de vêlos transformarse num repasto A moderação e a concupiscência contudo relacionamse com a espécie de prazeres que os outros aniniais também sentem e por isto parecem servis e bestiais tais prazeres são os do tato e do paladar Mas do paladar propriamente dito eles parecem depender pouco ou nada pois a função do lll8 b Ética a Nicômacos 67 paladar é distinguir os sabores como fazem os provadores de vinho e as pessoas que temperam as iguarias mas estas quase não sentem prazer em fazer tais distinções pelo menos as concupiscentes não o sentem e sim no gozo efetivo que em todos os casos vem através do tato tanto em relação aos alimentos quanto à bebida e às relações sexuais É por isto que um ceno glutão fazia súplicas para que sua garganta se tornasse mais longa que o pescoço da garça querendo dizer que era no contacto que ele sentia prazer 99 Assim o sentido com o qual a concupiscência se relaciona é o mais difundido e parece que a concupiscência é justamente condenada porque ela existe em nós não enquanto criaturas humanas mas enquanto animais Comprazerse em tais coisas então e louválas acima de todas as outras é bestial pois mesmo entre os prazeres do tato os mais refinados caíram em desuso por exemplo os produzidos nos recintos onde se pratica a ginástica mediante massagens e o aquecimento subseqüente com efeito o contacto cuja apreciação caracteriza as pessoas concupiscentes não afeta o corpo inteiro mas somente algumas de suas partes 11 Algumas formas de concupiscência parecem comuns a todas as pessoas e outras são peculiares a certos indivíduos e são adquiridas por exemplo o desejo de alimentos é natural já que as pessoas que se vêem privadas deles anseiam por alimento ou bebida ou às vezes por ambos acontece o mesmo com o amor como diz Homero 100 principalmente entre pessoas jovens e saudáveis mas nem todas anseiam por esta ou aquela espécie de alimento nem pelas mesmas coisas e daí resulta que tais anseios parecem intrinsecamente nossos Não deixa de haver portanto uina certa naturalidade quanto a isto pois coisas diferentes são agradáveis a diferentes espécies de pessoas e algumas coisas são mais agradáveis a todas as pessoas do que certos objetos ao acaso Nos desejos naturais então poucas pessoas erram e somente em um sentido o do excesso pois comer e beber seja o que for até a saciedade é exceder a quantidade natural já que o apetite natural é a satisfação das necessidades de cada um Por isto estas pessoas são chamadas loucas do ventre no sentido de que elas enchem o ventre além da medida certa As pessoas de natureza especialmente servil são as mais sujeitas a isto Mas muitas pessoas erram e de muitas maneiras a respeito dos prazeres peculiares a cada indivídub Realmente embora se diga que as pessoas são apaixonadas por isto ou aquilo porque elas se comprazem com as coisas erradas ou mais do que a maioria costuma comprazerse ou de maneira errada as pessoas concupis centes se excedem das três maneiras com efeito elas se comprazem com cenas coisas com as quais não deveriam comprazerse pois são coisas abomináveis e com qualquer das coisas das quais é razoável gostar elas se comprazem mais do que o razoável e mais do que a maioria das pessoas 68 Aristóteles É claro então que o excesso em relação aos prazeres é concupiscência e é condenável em relação ao sofrimento não se chama uma pessoa de moderada por enfrentálo nem de concupiscente por não o enfrentar como acontece no cuo da coragem mas as pessou concupiscentes têm este nome porque sofrem mais do que devem quando não conseguem coisas agradáveis neste sentido o prazer causa realmente sofrimento e a pessoa moderada recebe este nome porque não sofre com a falta de coisas agradáveis nem por absterse delas As pessoas concupiscentes portanto anseiam por todu as coisas agradáveis e são levadu por sua concupiscência a escolhêlu à custa seja 1119 a do que for por isto elas sofrem quando não conseguem obtêlas e até quando simplesmente anseiam por elas a concupiscência é acompanhada pelo sofrimento embora seja paradoxal sofrer por causa do prazer Raramente se encontram pessoas que pecam pela deficiência a respeito do desejo de prazeres e se comprazem com eles menos do que deveriam pois uma insensibilidade desta espécie não seria humana Mesmo os outros animais preferem espécies diferentes de alimentos e apreciam umas e não apreciam ouuu se há algum ser que não ache coisa alguma agradável e que não veja diferença alguma entre umas coisas e ouuas tal criarura deve ser completamente diferente de um homem está espécie de criarura não recebeu um nome porque raramente aparece As pessou moderadas ocupam uma posição intermediária em relação a estes objetos de desejo pois nem elas se comprazem com as coisas com que mais se comprazem a5 pessoas concupiscentes até desgostam de tais coisu nem de um modo geral com aquelas com as quais não devem comprazerse nem com coisa alguma deste gênero em excesso nem sofrem ou ficam ansiosas quando tais coisu lhes faltam ou sofrem apenas moderadamente e não mais do que devem nem quando não devem e usim por diante mu as pessou moderadas desejarão moderadamente como devem u coisu que por serem agradáveis contribuem para a saúde e para u boas condições físicas elas desejarão igualmente ouuas coisu agradáveis desde que as mesmu não sejam um obstáculo à consecução dos fins a que visam ou contráriu ao que é nobilitante nem estejam além de seus recursos Realmente u pessou que ignoram esw ressalvu amam tais prazeres mais do que eles merecem mas o homem moderado nio é uma pessoa deste tipo e sim a espécie de pessoa conforme à reta razio 12 A concupiscência parece uma disposição mais voluntária que a covardia a primeira com efeito é motivada pelo prazer e a última pelQ sofrimento e destes dois um é objeto de nossa escolha e o ouuo de nos repulsa além disto o sofrimento uanstorna e aniquila a pessoa que sente enquanto o prazer não ocasiona qualquer coisa deste tipo Loso a concupiscência é mais volunwia e por isto é tamm mais reprodvel também é mais fácil acostumarnos a resistir às tentações do praze 1119 b Ética a Nicômacos 69 porquanto as coisas que causam prazer são muito mais freqüentes na vida e o processo de habiruarnos a ele é livre de perigos enquanto acontece o contrário com as coisas que atemorizam Quanto à covardia em geral da não parece voluntária de maneira idêntica às suas manifestações particulares de fato a covardia em si não causa sofrimento mas ficamos transtornados pelo sofrimento em suas diversas manifestações de tal maneira que chegamos a jogar fora nossas armas e desonrarnos de outros modos por esta razão há até quem pense que os atos desce tipo são praticados sob compulsão No caso das pessoas concupiscentes todavia os atos particulares são voluntários elas os praticam por ansiedade e desejo mas sua natureza em geral é menos voluntária pois ninguém anseia por ser concupiscente O termo concupiscência se aplica igualmente às faltas das crianças1 1 pois seu procedimento apresenta uma cerca semelhança com a disposição da alma que estamos examinando Saber qual das duas acepções é derivada da outra é irrelevante para a nossa investigação mas parece claro que a disposição que se manifesta mais tarde na vida recebe a designação por causa da que aparece primeiro a metáfora não é má pois quem deseja o que é ignóbil e deixa seus apetites crescerem rapidamente deve ser castigado e isca se aplica principalmente às pessoas concupiscentes e 1s crianças pois estas vivem sob a instigação dos apetites e é nelas que o desejo do que é agradável é mais force Se elas não forem preparadas paa ser obedientes e submissas à autoridade de quem as cria irão longe demais pois num ser ainda irracional o desejo do prazer é insaciável e generalizado e a tendência inata é estimulada pela satisfação desses desejos com efeito se eles forem numerosos e violentos aniquilarão a própria capacidade de raciocinar Por isto eles devem ser poucos e moderados e não devem de forma alguma oporse à razão é isto que pretendemos dizer com obedientes e submissos à autoridade e da mesma forma que a criança deve viver de conformidade com as insrruçõts de seu preceptor a parte apeciciva de nossa alma deve viver ce conformidade com a razão Logo na pessoa moderada a parte apetitiva da alma deve harmonizarse com a razão pois o objetivo de ambas é aquilo que é nobilitante e a pessoa moderada deseja as coisas que deve desejar como deve desejar e quando deve desejar é isca que a razão determina Já dissemos o suficiente a respeito da moderação UN Security Council Resolution 940 Cast Resolution 940 PAGE 1 OF 6 United Nations SRES940 1994 Security Council Distr General 31 March 1994 Resolution 940 1994 Adopted by the Security Council at its 3400th meeting on 31 March 1994 The Security Council Recalling its resolutions 841 1993 of 16 June 1993 861 1993 of 27 August 1993 862 1993 of 31 August 1993 867 1993 of 23 September 1993 and 873 1993 of 13 October 1993 Noting that the timely return of the legitimate President of Haiti to his country will enhance the restoration of democracy and stability in Haiti Recalling the role of the SecretaryGeneral in the peaceful settlement of the crisis in Haiti Believing that the restoration of the legitimate Government in Haiti which was peacefully and democratically elected would contribute to promoting peace and security in the region Acting under Chapter VII of the Charter of the United Nations 1 Allows Member States that have agreed to do so to use all necessary means to facilitiate the departure from Haiti of the military leadership currently in control there to ensure the safety of United Nations and associated personnel in Haiti and to contribute to the reinstatement of the legitimate President by 15 October 1994 2 Requests that all Member States cooperate fully with those Member States carrying out the measures authorised in paragraph 1 above 3 Requests the SecretaryGeneral to report to the Security Council two weeks after the deployment of forces authorised in paragraph 1 above on the progress concerning the implementation of this resolution 4 Decides to remain seized of the matter 9408483 E 010494 LIVRO IV 1 Falemos em seguida da liberalidade Aparentemente ela é a observância do meio termo em relação à riqueza pois as pessoas liberais são louvadas não a propósito de assuntos militares nem daqueles a respeito dos quais as pessoas moderadas são louvadas nem de decisões judiciais mas em relação a dar e obter riquezas especialmente a respeito de dálas Por riquezas entendemos todas as coisas cujo valor é mensurável pelo dinheiro Por outro lado a prodigalidade e a avareza são o excesso e a falta em relação ao uso da riqueza sempre atribuímos a avareza às pessoas que se preocupam mais do que devem com a riqueza mas às vezes usamos a palavra prodigalidade em um sentido complexo pois chamamos pródi gas as pessoas incontinentes que gastam dinheiro para satisfazer a sua concupiscência Por isto elas são consideradas as mais desprezíveis já que combinam mais de uma forma de deficiência moral Logo a aplicação da palavra a tais pessoas não é apropriada pois pródiga é a pessoa que tem um único defeito o de esbanjar suas posses pródiga portanto é a pessoa 1120 a que está sendo arruinada por sua própria culpa 102 É este então o sentido que damos à palavra prodigalidade As coisas destinadas ao uso podem ser bem ou mal usadas e a riqueza está entre as coisas úteis Usa melhor uma coisa a pessoa que possui a forma de excelência moral relacionada com tal coisa os bens portanto serão melhor usados pelas pessoas dotadas da forma de excelência moral relacionada com a riqueza e estas são pessoas liberais Ora gastar e dar parecem caracterizar o uso da riqueza enquanto obter e guardar parecem constituir mais uma simples posse então é mais característico das pessoas liberais dar às pessoas cerras do que obter nas fontes certas e não obter nas erradas de fato fazer benefícios é mais característico da excelência moral do que recebêlos e é mais característico fazer o que é nobilitante do ue 72 Aristóteles não fazer o que é ignóbil não é difícil perceber que dar implica em fazer o bem e o que é nobilitante e receber implica em ser beneficiado ou não agir ignobilmenre Ése grato a quem dá e não a quem não recebe e da mesma forma se louva quem dá e não quem não recebe Também é mais fácil não receber do que dar pois os homens relutam mais em desfazerse do que lhes pertence do que em receber o que pertence a outrem As pessoas que dão são também chamadas liberais mas as que não recebem não são louvadas por liberalidade e sim por espírito de justiça enquanto as que recebem são louvadas raramente Além disto as pessoas liberais são talvez as mais louvadas entre todas as dotadas de excelência moral pois elas são úteis e o são porque dão As ações conformes à excelência moral são nobilitantes e são praticadas por causa do que é nobilitante As pessoas liberais portanto à semelhança das outras dotadas de excelência moral darão porque dar é nobilitante e darão acertadamente pois darão os valores certos às pessoas certas e no momento certo com as demais qualificações concomitantes com o ato de dar acertadamente elas agirão assim com prazer ou sem sofrimento porquanto o que é conforme à excelência moral é agradável e isento de sofrimento e de forma alguma é penoso Mas quem dá à pessoa errada e dá não por ser nobilitante mas por outra razão qualquer não será chamado liberal receberá outro nome Tampouco é liberal a pessoa que dá sofrendo pois ela poria a sua riqueza acima de um ato nobilitante e isto não é característico de uma pessoa liberal A pessoa liberal não irá tampouco buscar dinheiro em fonte errada pois este procedimento não é característico de urna pessoa que não estima a riqueza acima de tudo E tal pessoa também não estará sempre pedindo pois não é típico de uma pessoa que faz benefícios aceitálos avidamente 1120 b Ela irá buscar dinheiro nas fontes certas por exemplo em suas próprias posses não como algo nobilitante mas como um dever para ter algo a dar Ela também não será negligente com seus próprios bens pois é com estes que ela deseja ajudar os outros E ela se absterá de dar indiscrimina damente para ter algo a dar às pessoas certas no momento certo e nas circunstâncias em que é nobilitante dar É bem característico da pessoa liberal dar até excessivamente a ponto de conservar muito pouco para si mesma pois é de sua índole não olhar para si mesma A palavra liberalidade é usada tendo em vista o vulto das posses de uma pessoa pois a liberalidade não está no grande número de presentes e sim na disposição da alma de quem dá e isto é proporcional às posses de quem dá Nada impede a pessoa que dá uma pequena coisa de ser a mais liberal se ela tem pouca coisa para dar As pessoas que herdaram uma fortUna são consideradas mais liberais que aquelas que fizeram a sua por si mesmas pois elas nunca conheceram a necessidade e todos somos apegados ao que nós mesmos fazemos como os pais e os poetas Nio é fkil para uma 1121 a Ética a Nicômacos 73 pessoa liberal ser rica pois ela não tem vocação paraganhar e guardar e sim para gastar nem dá valor à riqueza em si mesma e sim como um meic de dar Daí a censura que se faz à sorte aqueles que mais merecem l riqueza são os menos ricos Mas não é sem razão que isto acontece pai uma pessoa não pode ter riquezas nem quaisquer outras coisas se não se esforça por têlas Por outro lado um homem liberal não dá às pessoas erradas nem n 1 momento errado e assim por diante pois ele já não estaria agindo em consonância com a liberalidade e se gastasse com os objetivos errados nada mais teria para gastar com os objetivos certos Efetivamente como ji dissemos é liberal quem gasta de acordo com suas posses e com objetivos certos e quem se excede é pródigo É por isto que não chamamos o tiranos de pródigos pois não lhes seria fácil dar e gastar além do montante de suas posses Sendo a liberalidade então um meio termo entre dar e obter riquezas o homem liberal dará e gastará os recursos certos e com objetivos certos quer se trate de importâncias pequenas quer se trate de grandes e agirá assim com prazer ele também obterá os recursos certos e em fontes certas Com efeito sendo a excelência moral um meio termc 1 tanto em relação a dar quanto a obter o homem liberal fará as duas coisas como deve porquanto obter corretamente é concomitante com dar corre tamente e obter erradamente é incompatível com dar corretamente conseqüentemente as duas práticas compatíveis podem ser encontrada numa mesma pessoa mas as duas incompatíveis obviamente não podem Mas se eventualmente o homem liberal gastasse de maneira contrária ac 1 que é certo e nobilitante ele sofreria porém moderadamente e com c 1 deve pois é característico da excelência moral fazer com que se sintl prazer e se sofra nas ocasiões certas e da maneira certa Outrossim é fácil tratar de questões relativas a dinheiro com um homem liberal pois se pode levar a melhor sobre ele já que ele não dá valor ao dinheiro o sell desgosto se ele não gasta o que acha que deve é maior que o sell sofrimento se gasta o que acha que não deve e ele não concorda com 1 frase de Simonides03 As pessoas pródigas também erram quanto a estes aspectos porquan to elas não se comprazem nem sofrem com as coisas certas ou de maneira certa isto se tornará mais claro à medida que prosseguirmos Já disse mos04 que a prodigalidade e a avareza são respectivamente um excesso uma falta e em relação a duas coisas dar e obter incluímos gastar em dar A prodigalidade é o excesso em relação a dar e a não obter enquanto a avareza é a falta em relação a dar e o excesso em relação a obter mas somente em pequenas coisas Não é freqüente encontrar as duas características da prodigalidade combinadas na mesma pessoa pois não é fácil dar a todos se não se obtém 74 Aristóteles de ninguém as pessoas exaurem rapidamente suas posses se são simples particulares quando se excedem em dar e é a estas que se aplica o nome de pródigas embora uma pessoa desta espécie seja aparentemente muito melhor que uma pessoa avarenta De fato ela se cura facilmente com a idade e com a pobreza e assim pode moverse em direção ao meio termo pois tem as características das pessoas liberais já que tanto dá quanto se abstém de obter embora não faça nem uma coisa nem outra corretamente ou bem Logo se fosse levada a agir da maneira apropriada pelo hábito ou de algum outro modo ela seria uma pessoa liberal pois passaria a dar às pessoas certas e não obteria em fontes erradas É por isto que não se atribui a tais pessoas um mau caráter já que excederse em dar e em não obter não é característico de uma pessoa má ou ignóbil mas somente de uma pessoa irrefletida As pessoas que são pródigas desta maneira são consideradas muito melhores que as avarentas não só pelas razões já mencionadas mas também porque elas beneficiam muita gente enquanto as outras não beneficiam quem quer que seja nem sequer a si mesmas Mas como dissemos pouco antes em sua maioria as pessoas pródigas também obtêm recursos em fontes erradas e sob este aspecto são como as avarentas Elas são levadas a obter porque desejam gastar e não lhes é fácil gastar pois suas posses se exaurem rapidamente e assim elas são forçadas a ir obter recursos em outras fontes Ao mesmo tempo pelo fato de não se preocuparem com a honorabilidade elas se tornam negligentes quanto à maneira de obter recursos e lançam mão deles incessantemente e em qualquer fonte pois estão sempre ansiosas por dar não lhes interessando a maneira de obter nem a fonte onde obtêm o que dão Também por isto 1121 b elas não dão à maneira das pessoas realmente liberais tal procedimento não é próprio de homens livres nem visa a um objetivo elevado nem da maneira certa às vezes elas transformam em ricos homens que deveriam continuar a ser pobres e não dão coisa alguma a pessoas de caráter respeitável e dão mais a aduladores e a quem lhes proporciona outro prazer qualquer Por esta razão muitos homens pródigos são concupiscen tes pois gastam levianamente e esbanjam dinheiro com o objeto de sua concupiscência inclinandose para os prazeres porque na vida que levam não visam ao que é nobilitante As pessoas pródigas então transformamse naquilo que descrevemos se não as orientamos mas se forem tratadas com cuidado chegarão ao meio termo que é a disposição correta A avareza ao contrário é incurável considerase que a idade e as várias formas de decrepitude a ela inerentes tornam o homem avarento e é mais arraigada na natureza humana que a prodigalidade pois os homens em sua maioria são mais ávidos de ganhar dinheiro do que de dálo ela também é mais difundida e se apresenta sob vários aspectos pois parece haver muitas espécies de avareza Ela consiste em duas coisas deficiência em dar e excesso em obter e não aparece Ética a N icômacos 75 completa em todas as pessoas sendo que às vezes as duas situações aparecem separadas algumas pessoas se excedem em obter e outras são avessas a dar As que recebem os nomes de miseráveis mãos fechadas ou sovinas são todas avessas a dar mas não cobiçam as posses alheias nem desejam obtêlas Em algumas delas este procedimento é motivado por uma espécie de honestidade e repulsa ao que é aviltante algumas parecem ou ao menos pretendem ser cuidadosas com seu dinheiro porque não querem ser forçadas algum dia a praticar alguma ação degradante a esta classe pertencem o sovina 10 e tipos semelhantes que tiram o seu nome de uma relutância excessiva em dar seja o que for outras respeitam os bens alheios por temor imaginando que não será fácil se avançarem nos bens alheios evitar que seus próprios bens sejam tomados pelos prejudicados elas optam por não tirar nem dar Outras pessoas se 1122 a excedem no sentido de obter qualquer coisa e de qualquer fonte por exemplo as que fazem negócios sórdidos os proxenetas e demais pessoas deste tipo bem como os usurários que emprestam pequenas importâncias a juros altos Todas as pessoas deste tipo obtêm mais do que merecem e de fontes erradas O que há de comum entre elas é obviamente uma ganância sórdida e todas carregam um nome aviltante por causa do ganho de um pequeno ganho aliás Com efeito aquelas pessoas que ganham muito em fontes erradas e cujos ganhos não são justos por exemplo os tiranos quando saqueiam cidades e roubam templos não são chamados de avarentos mas de maus ímpios e injustos O jogador de dados e o salteador pertencem à classe dos avarentos pois demonstram uma ganância sórdida e é com vistas ao ganho que eles exercem suas atividades e arcam com a desonra decorrente delas um deles enfrenta grandes perigos pelo produto do assalto enquanto o outro ganha a expensas de seus amigos aos quais deveria estar dando Ambos então já que se dispõem a obter em fontes erradas são culpados de ganância sórdida e ponanto todas as formas de ganho deste tipo são características dos avarentos É natural ponanto que se diga que a avareza é o contrário da liberalidade pois não somente ela é um mal maior que a prodigalidade mas as pessoas erram com maior freqüência neste sentido que no sentido da prodigalidade segundo nossa definição06 Já dissemos o suficiente a respeito da liberalidade e das formas de deficiência moral contrárias a ela 2 Parece adequado discutir em seguida a magnificência pois aparente mente ela também é uma forma de excelência moral relacionada com a riqueza À semelhança da liberalidade ela não se aplica a todos os atos relacionados com a riqueza mas somente àqueles que têm a ver com gastos e sob este aspecto ela ultrapassa a liberalidade em amplitude pojs como sugere o próprio nome ela consiste em um dispêndio consentâneo 76 Aristóteles com seus objetivos e em grande escala Entretanto a escala é relativa pois um desembolso que seria grande para equipar uma trirreme não seria grande para preparar um festival oficial A adequação do desembolso por conseguinte é relativa a quem o faz às circunstâncias e ao seu objetivo A pessoa que em relação a coisas pequenas e moderadas gasta aquilo que as circunstâncias justificam não é chamada magnificente por exemplo a pessoa que pode dizer Muitas vezes ajudei os pedintes0 só recebe este nome a pessoa que age assim em relação a grandes coisas Com efeito a pessoa magnificente é liberal mas a pessoa liberal não é necessariamente magnificente A deficiência em relação a esta disposição da alma é chama da mesquinhez o excesso é chamado vulgaridade mau gosto etc sem alusão à importância gasta com objetivos certos e sim ao dispêndio ostentatório nas circunstâncias erradas e de maneira errada falaremos mais tarde destes defeitos101 A pessoa magnificente é como um artista pois ela pode ter uma visão do que é conveniente e gasta grandes somas com bom gosto Como dissemos inicialmente109 uma disposição da alma é determinada por suas atividades e por seus objetivos Os gastos de uma pessoa magnificente são grandes e adequados seus resultados portanto também devem sêlo pois haverá assim um grande dispêndio condizente com seu resultado O resultado portanto deve estar à altura do dispêndio e o dispêndio deve estar à altura do resultado ou deve até excedêlo A pessoa magnificente gastará também tais importâncias tendo em vista a nobreza da ação pois esta característica é comum às várias formas de excelência moral Além disto ela gastará com satisfação e prodigamente pois os cálculos rigorosos 1122 b são próprios dos avarentos Mais ainda ela pensará na melhor maneira de chegar aos resultados mais nobilitantes e mais adequados às circunstâncias e não naquilo que irá gastar ou na maneira de gastar o mínimo possível A pessoa magnificente deverá ser necessariamente liberal pois a pessoa liberal também gasta o que deve e como deve e é no montante do gasto e na maneira de gastar que se manifesta a magnitude implícita no nome magnificente algo como a grandeza já que a liberalidade se relaciona com estas coisas com o mesmo dispêndio a pessoa magnificente chegará a um resultado magnífico pis não se aplica o mesmo padrão de excelência a um resultado e a um bem que se possui em relação às posses a coisa de mais alto preço é a mais estimada o ouro por exemplo mas o resultado mais apreciado é o que é grande e nobilitante porquanto um grande resultado desperta a admiração dos espectadores e a circunstância de inspirar admiração é característica da magnificência finalmente a excelência de um resultado está em sua grandiosidade A magnificência é um atributo de gastos da espécie que chamamos meritórios por exemplo os relacionados com os deuses como oferendas votivas templos e sacrifícios e igualmente com qualquer das manifestações do culto religioso e todos aqueles que são o objetivo preferido da ambição 1123 a Ética a N icômacos 77 associada ao espírito público como quando as pessoas pensam que devem preparar um coro0 ou equipar uma trirreme ou alegrar a cidade com brilhantismo Em todos os casos todavia como já dissemos 111 a proporção dos gastos deve ser julgada com reerência à pessoa que gasta ou seja à sua posição e às suas posses o desembolso deve ser proporcional aos recursos da pessoa e compatível não somente com o resultado esperado mas também com quem dispende Por isto uma pessoa pobre não pode ser magnificente pois lhe faltam os meios para gastar convenientemente grandes somas as que tentam fazer isto são insensatas pois gastam além do que se espera delas e do que é compatível com sua situação ao passo que só o dispêndio certo é conforme à excelência moral Mas grandes gastos convêm às pessoas possuidoras de meios adequados para começar obtidos graças aos seus próprios esforços ou de seus antepassados e de parentes e às pessoas bem nascidas ou de boa reputação ou equivalentes pois estes atributos trazem consigo grandeza e prestígio A pessoa magnifi cente é principalmente desta espécie e a magnificência se evidencia em dispêndios desta espécie como foi dito pouco acima pois estas são as formas mais grandiosas e mais honrosas de dispêndio Entre as ocasiões mais convenientes no âmbito privado para o exercício da magnificência estão aquelas que ocorrem apenas uma vez por exemplo casamentos e outras do mesmo gênero ou quaisquer outras que interessem à cidade inteira ou às pessoas que ocupam posições de destaque nela bem como a acolhida a hóspedes estrangeiros e sua despedida e presentes oferecidos primeiro ou em retribuição a pessoa magnificente não gasta consigo mas com objetivos de interesse público e os presentes têm alguma semelhança com oferendas votivas Uma pessoa magnificente também decorará sua casa de maneira compatível com sua riqueza a própria casa é uma espécie de ornamento de cidade e gastará de preferência em objetos duradouros eles são mais belos em relação a toda espécie de coisas ela gastará o que for conveniente pois as mesmas coisas não são adequadas aos deuses e aos homens nem a um templo e a um túmulo Já que cada dispêndio pode ser grandioso em seu gênero e um dispêndio grandioso com um objetivo grandioso é algo irrestritamente magnífico mas o que é magnífico neste caso é o que é grandioso na circunstância específica e a grandeza do resultado difere da grandeza do dispêndio a melhor bola ou frasco é um presente magnífico para uma criança mas seu preço é baixo é portanto característico da pessoa magnificente qualquer que seja o resultado do que ela está fazendo dipender magnificamente um resultado magnífico dificilmente será ultrapassado e de maneira condizente cm o dispêndio É este então o caráter da pessoa magnificenre A pessoa que tende para o excesso e vulgar excedese como já dissemos 112 por gastar além do que seria razoivel Agindo assim ela gasta demais e demonstra um exibicionismo de mau gosto em ocasiões pouco importantes por exemplo ela oferece em sua confraria um jantar das proporções de um 78 1123 b Aristóteles banquete de casamento e quando assume o encargo de preparar o coro para uma comédia ela apresenta os componentes do coro no palco vestidos com roupa cor de púrpura como se faz em Mégara E tudo isto ela faz não por um motivo nobilitante mas para exibir sua riqueza e por pensar que é admirada em conseqüência de saa maneira de agir ademais onde deve gastar muito ela gasta pouco e onde deve gastar pouco gasta muito A pessoa mesquinha por outro lado tende para a falta em tudo e depois de gastar grandes somas ela comprometerá o resultado final por uma insignificância em qualquer coisa que esteja fazendo ela hesitará e fará cálculos para saber como pode gastar menos e lamentará até o pouco que gastou embora pense que está fazendo tudo em proporções maiores do que devia Estas disposições de alma são portanto formas de deficiência moral mas não são das mais reprováveis porque não ofendem a terceiros nem chegam a ser excessivamente inconvenientes 3 A magnanimidade até por seu nome parece relacionarse com grandes objetivos e a primeira pergunta que devemos tentar responder é quanto à espécie destes objetivos É indiferente examinarmos uma disposição da alma ou a pessoa caracterizada por esta disposição Considerase magnâni ma a pessoa que aspira a grandes coisas e está à altura delas pois quem aspira a grandes coisas sem estar à altura delas é insensato mas nenhuma pessoa dotada de excelência moral é insensata ou tola Então as pessoas magnânimas são aquelas que descrevemos pois quem tem poucos méritos e rem poucas pretensões é moderado e não magnânimo com efeito a magnanimidade pressupõe grandeza da mesma forma que a beleza pressupõe um corpo bem proporcionado e poucas pessoas podem ser graciosas e bem proporcionadas sem ser belas Por outro lado as pessoas que aspiram a grandes coisas e não estão à altura delas são pretensiosas embora nem todas as pessoas que aspiram a mais do que merecem sejam pretensiosas As pessoas que aspiram a meQos do que realmente merecem são pusilânimes quer seus mériros sejam grandes ou moderados quer seus méritos sejam pequenos mas suas aspirações sejam ainda menores e no caso das pessoas cujos méritos são grandes a humildade parecerá ainda mais incabível de fato que fariam elas se os méritos fossem menores As pessoas magnânimas então estão numa situação extrema em relaçãq à grandeza de suas pretensões mas num meio termo em relação à justiça de tais pretensões pois suas pretensões são compatíveis com seus méritos enquanto as outras pessoas pecam por excesso ou por falta Portamo se merecem e aspiram a grandes coisas e acima de tudo às maiores coisas as pessoas magnânimas têm algum objetivo especial O mérito é relativo a bens exteriores e poderíamos dizer que o maior deles é o que reservamos aos deuses e a que as pessoas de posição mais elevada aspiram por ser o prêmio para os feitos mais nobilitantes este bem são as Ética a Nicômacos 79 honrarias pois elas são certamente o maior dos bens exteriores São magnãnimas portanto as pessoas que têm a disposição de alma certa em relação às honrarias e à degradação Mesmo sem considerar este argumen to as pessoas magnânimas parecem ter em visra as honrarias pois aspiram principalmente a elas mas de conformidade com seus méritos As pessoas pusilânimes são deficientes porque pecam por falta seja em comparação com seus próprios méritos seja em comparação com as aspirações das pessoas magnânimas As pessoas pretensiosas pecam pelo excesso em comparação com seus próprios méritos mas não excedem às aspirações das pessoas magnânimas Então as pessoas magnânimas tendo mais méritos devem ser boas no mais alto grau pois as pessoas melhores sempre merecem mais e a melhor de todas merece o máXimo Portanto as pessoas realmente magnânimas devem ser necessariamente boas E a grandeza em relação a cada espécie de excelência moral parece característica das pessoas magnânimas Efetiva mente seria totalmente incqmpatível com um homen magnânimo fugir do perigo desvencilhandose de suas armas ou agir injustamente e com que objetivos praticaria atos degradantes um homem para quem nada é grande Se examinarmos as particularidades desta disposição da alma uma pessoa magnânima que não fosse boa pareceria o maior absurdo Ademais se ela fosse má não mereceria honrarias pois estas são o prêmio da 1124 a excelência moral e é aos bons que o concedemos Então parece que a magnanimidade é uma espécie de coroamento de todas as formas de excelência moral pois ela realça a sua grandeza e não existe sem elas Portanto é difícil ser realmente magnânimo pois a magnanimidade é impossível sem a excelência de caráter É principalmente com honrarias e degradações então que as pessoas magnânimas se preocupam grandes honrarias conferidas por pessoas de mérito darlhesão um prazer moderado pois elas pensarão que estarão recebendo somente o que lhes é devido ou até menos pois não pode haver honrarias condizentes com a excelência moral perfeita mesmo assim elas de qualquer modo as aceitarão já que nada há de melhor para lhes ser concedido mas elas desdenharão completamente honrarias vindas de um pessoa qualquer e por motivos triviais não é isto que elas merecem bem como a degradação pois em seu caso ela não pode ser justa Então como já foi dito as pessoas magnânimas se preocupam principalmente com honra rias mas elas também se conduzirão moderadamente a propósito da riqueza do poder e de todas as venturas e desventuras independentemen te do que lhes aconteça e nem se rejubilarão excessivamente com a boa sorte nem sofrerão demasiadamente com a má sorte mesmo em relação às honrarias aliás elas não se conduzirão como se estas fossem uma grande coisa O poder e a riqueza são desejáveis por causa das honrarias pelo menos as pessoas que os têm os desejam para obter honrarias graças a ambos para as pessoas que atribuem pouca importância até às honrarias 80 1124b Aristóteles as outras coisas também devem significar pouco É por isto que se pensa que as pessoas magnânimas são soberbas Pensase igualmente que os dons da sorte contribuem para a magnani midade Com efeito pensase que as pessoas bem nascidas merecem honrarias da mesma forma que as detentoras de poder e riqueza pois elas estão nunia posição superior e tudo que tem superioridade em alguma coisa boa é distinguido com as maiores honrarias Sendo assim os próprios dons da sorte tornam as pessoas ainda mais magnânimas pois elas recebem honrarias de alguns por terem sido aquinhoadas com tais dons mas na verdade somente as pessoas boas devem ser distinguidas com honrarias embora aquelas que desfrutam de ambas as vantagens sejam consideradas ainda mais dignas de honrarias Mas não se justifica que aquelas que recebem os dons da sorte sem ter excelência moral tenham pretensões a altas honrarias nem ao nome de magnânimas pois as honrarias e a magnanimidade pressupõem uma perfeta excelência moral Mesmo as pessoas que só receberam os dons da sorte se tornam soberbas e insolen tes com efeito sem excelência moral não é fácil ter os dons da sorte condignamente sendo incapazes de têlos assim e julgandose superiores às outras as pessoas nestas condições desprezam as outras e fazem o que lhes apraz Elas imitam as pessoas magnânimas sem ser realmente magnâ nimas e as copiam como podem logo tais pessoas não agem de conformi dade com a excelência moral mas desdenham as outras As pessoas realmente magnânimas desdenham justamente pois elas pensam o que é verdade enquanto a maioria desdenha sem fundamento As pessoas magnânimas não correm para o perigo por motivos corriqueiros nem anseiam pelo perigo pois elas dão valor a poucas coisas contudo elas enfrentarão grandes perigos e quando estiverem em perigo não se preocuparão com a salvação de sua vida sabendo que há circunstâncias em que ela não é digna de ser vivida Elas são pessoas do tipo das que fazem benefícios aias se consrragem por recebêlos pois o primeiro caso é uma característica de superioridade e outro de inferiori dade Elas retribuem os benefícios recebidos em escala ainda maior pois assim o benfeitor inicial além de ser compensado ficará em débito e elas sairão ganhando na troca Elas parecem guardar na memória qualquer serviço prestado mas não os serviços recebidos quem recebe um serviço é inferior a quem o presta e as pessoas magnânimas querem ser superiores e ouvem falar dos primeiros com prazer e dos últimos com desgosto parece que é por isto que Tétis não menciona a Zeus os serviços que lhe prestou 11 e que os espartanos não aludem aos serviços por eles prestados aos atenienses e sim aos recebidos 111 Também é característico das pessoas maanãnimas nada pedir ou quase nada mas ajudar pronta mente e ser altivas diante de pessoas que ocupam posições elevadas e Ética a Nicômacos 81 desfrutam de boa sorte mas corteses em relação às pessoas de posses moderadas é difícil e distinto ser superior às primeiras mas é fácil sêlo em relação às últimas e uma atitude altiva em relação às primeiras não é sinal de falta de princípios diante de pessoas humildes isto é tão baixo quanto uma demonstração de força contra os fracos São também características das pessoas magnânimas não ambicionar coisas geralmente estimadas ou coisas em que outras pessoas são as primeiras ser displicen tes e discretas exceto nos casos em que estão em jogo grandes honrarias ou realizações importantes e ser pessoas de poucos feitos mas grandes e nOáveis Elas também devem ser ostensivas em seu ódio e seu amor dissimular os sentimentos ou seja preocuparse menos com a verdade que com a opiniio pública é sinal de temor devem falar e agir ostensivamente por desdenharem as outras as pessoas magnânimas têm 1125 a de ser francas e devem falar a verdade salvo quando falam ironicamente com as pessoas comuns as pessoas magnânimas devem ser irônicas Elas devem ser incapazes de viver em função de outras pessoas a não ser que se trate de amigos viver assim é próprio de escravos e é pOr isso que todos os aduladores são subservientes e as pessoas de baixa categoria são adulado ras Tampouco elas são propensas à admiração pois nada para elas é grande nem guardam erros na memória pois uma memória implacável não é sinal de magnanimidade especialmente em relação a erros que é pderível esquecer As pessoas magnânimas também não são de muitas palavras elas não falam de si mesmas nem dos outros pois não lhes interessa ser elogiadas nem ouvir censuras a outras pessoas elas também não são propensas a elogiar e pela mesma razão não falam mal dos outros nem mesmo de seus inimigos exceto por desdém Em disputas inevitávis ou triviais elas menos que quaisquer outras lamentarseão ou pedir1o ajuda pois quem age assim demonstra atribuir importância a tais disputas São as pessoas magnânimas que preferem possuir coisas belas e sem grande valor venal em vez de coisas valiosas e úteis pois este procedimen to é mais compatível com uma personalidade independente São mais adequados a uma pessoa magnânima um andar lento una voz grave e uma dicção cuidada pois não se deve esperar que as pessoas que se preocupam com poucas coisas sejam apressadas nem que as que não consideram coisa alguma realmente grande sejam agitadas uma vcz estridente e um andar precipitado denotam pressa e agitação As pessoas magnânimas são assim as que pecam por falta em comparação com elas são pusilânimes e as que pecam por excesso são pretensiosas Estas também não são consideradas más elas não fazem mal mas apenas estio erradas Com efeito as pessoas pusilânimes sendo dignas de boas coisas privamse a si mesmas daquilo que merecem parece haver algo errado em relação a elas porque elas não se julgam dignas de boas coisas e também parece que elas Dio se conhecem a si mesmas se 82 Aristóteles assim não fosse elas desejariam as coisas que merecem pois estas são boas Mas tais pessoas não parecem insensataS e sim retraídas sem motivos para sêlo Esta ponderação todavia na realidade parece tornálas piores pois cada espécie de pessoa aspira ao equivalente aos seus méritos e as pessoas pusilânimes se retraem até diante de ações e propósitos nobilitantes por se julgarem indignas deles privandose até de bens materiais As pessoas pretensiosas ao contrário são insensatas e ignorantes até em relação a si mesmas a ponto de ostentarem os seus defeitos elas assumem responsabi lidades honrosas das quais não são dignas e logo suas deficiências são descobertas elas são exibicionistas em seu modo de vestir e em suas maneiras e outras atitudes do mesmo gênero elas querem que todos vejam a sua prosperidade e falam dela como se merecessem homenagens por isto Mas a pusilanimidade é mais contrária à magnanimidade do que a pretensão pois ela é mais freqüente e pior A magnanimidade então relacionase com as honrarias e em grande escala como já dissemos 116 4 Parece haver também no âmbito da honra como já dissemos em nossas primeiras observações a este respeito uma espécie de excelência moral que se relacionaria com a magnanimidade da mesma forma que a liberalidade se relaciona com a magnificência Efetivamente nenhuma delas tem coisa alguma a ver com a grandeza mas nos predispõem adequadamente a propósito dos objetivos moderados e pequenos assim como em relação a ganhar e a gastar riquezas há meio termo excesso e 1125 b falta também podemos desejar mais honrarias do que é razoável ou menos ou das fontes cenas e da maneira cena Censuramos igualmente as pessoas ambiciosas por aspirarem às honrarias mais do que é razoável e de fontes erradas e as pessoas desambiciosas por não quererem ser honradas sequer por razões nobilitantes às vezes porém louvamos as pessoas ambiciosas por serem enérgicas e por amarem o que é nobilitante e as desambiciosas por serem comedidas e dotadas de autodomínio como dissemos em nossa primeira exposição do assunto 111 É óbvio que da mesma forma que a expressão apaixonado por tal ou qual objeto tem mais de um sentido não aplicamos o termo ambição ou a expressão paixão pelas honrarias sempre à mesma coisa mas quando louvamos tal disposição da alma pensamos mais nas pessoas apaixonadas pelas honra rias que na maior parte das outras e quando a censuramos pensamos nas pessoas mais apaixonadas por elas do que é razoável Não havendo nome para o meio termo os extremos parecem disputar o seu lugar como se ele estivesse vago por inexistência Mas onde há excesso e falta há também meio termo Ora as pessoas tanto desejam as honrarias mais do que devem quanto menos do que devem logo é possível desejálas como se deve de qualquer modo esta é a disposição da alma que louvamos por ser um meio termo no tocante à honra Relativamente à ambição parece que o meio termo é a desambição e relativamente à desambição parece que ele Ética a Nicômacos 83 é a ambição relativamente a ambos em separado parece que em certo sentido ele é o que ambos sio em conjunto Parece que isto se aplica também a outras formas de excelência moral mas no caso presente os extremos são aparentemente contraditórios porque o meio termo não tem um nome específico 5 A amabilidade é a observância do meio termo em relação à cólera como falta um nome específico para o estado intermediário e os extremos praticamente também não têm nome colocamos a amabilidade no meio termo embora ela se incline para a falta que não rem nome O excesso pode ser chamado de uma espécie de irascibilidade pois a emoção neste caso é a cólera enquanto suas causas são muitas e variadas As pessoas que se encolerizam por motivos justos e com as pessoas cerras e além disto como devem quando devem e enquanto devem são dignas de louvor Estas então serão as pessoas amáveis pois a amabilida de é louvável De faro as pessoas amáveis tendem a permanecer imperturbáveis e a não se deixarem dominar pela emoção e a encolerizar se somente da maneira com as coisas e durante o tempo ditados pela razão mas pensase que elas erram no sentido da falta pois as pessoas amáveis não são vingativas e tendem mais a fazer concessões A falta seja ela uma espécie de nãoirascibilidade ou outra coisa é reprovável porquanto as pessoas que não se encolerizam com as coisas que devem encolerizálas são consideradas insensatas tanto quanto as que não se encolerizam da maneira cerra no momento certo ou com as 1126 a pessoas cerras pensase com efeito que tais pessoas não têm sensibilida de nem sofrem diante de uma ofensa e já que não se encolerizam pensa se que elas são incapazes de defenderse considerase servil suportar um insulto a si mesmo e admitir que um amigo seja insultado O excesso pode manifestarse em todas as situações mencionadas pois alguém pode encolerizarse com a pessoa errada por coisas erradas mais do que o razoável mais depressa ou durante muito tempo mas nem rodos estes excessos ocorrem numa mesma pessoa De faro eles não poderiam ocorrer pois o mal destróise a si mesmo e se torna insuportável se for total As pessoas irascíveis se encolerizam rapidamente e com as pessoas erradas e mais do que é razoável mas sua cólera cessa prontamente este é o aspecto mais favorável em relação a elas Isto lhes acontece porque elas não refreiam a sua cólera mas revidam abertamente graças ao seu temperamento e então sua cólera cessa Por causa do excesso as pessoas coléricas são irascíveis e se encolerizam por qualquer coisa e em rodas as ocasiões daí vem o seu nome As pessoas rancorosas são difíceis e implacáveis e sustentam a sua cólera durante muito tempo já que reprimem a sua emoção mas a cólera cessa quando elas revidam pois a vingança as alivia produzindo nelas prazer em vez de sofrimento se não 84 I 126 b Aristóteles revidam elas continuam a carregar o peso do ressentimento pois como sua cólera é oculta ninguém tenta sequer persuadilas a acalmarse e é preciso tempo para uma pessoa digerir a cólera sozinha Estas pessoas são as mais problemáticas para si mesmas e para seus amigos mais próximos Chamamos malhumoradas as pessoas que se irritam com as coisas erradas mais do que é razoável e durante mais tempo e não podem reconciliarse enquanto não conseguem uma reparação ou não se vingam Consideramos o excesso mais conuãrio à amabilidade do que a falta pois não somente ele é mais comum é humano ser vingativo como também é pior conviver com as pessoas malhumoradas O que dissemos na primeira parte de nossa exposição sobre o assunro 119 se torna mais evidente em face do que vamos dizer agora Não é fácil definir de que maneira com quem com que fundamentos e durante quanto tempo alguém deve encolerizarse e em que ponto se deixa de agir corretamente e se começa a estar errado Com efeito as pessoas que se desviam ligeiramente do ponto certo seja para mais ou para menos não são censuradas e às vezes elogiamos as que tendem para a falta e lhes damos o nome de amáveis e às vezes chamamos as pessoas ásperas de viris por serem capazes de comandar Não é fáci determinar com palavras até que ponto e como uma pessoa pode desviarse antes de tornarse censurável pois a decisão depende dos fatos particulares e o julgamento depende da percepção de cada um Mas pelo menos uma coisa já é clara quanto a isto o meio termo é louvável e é graças a ele que nos encolerizamos com as pessoas certas pelas coisas certas da maneira certa etc enquanto os excessos e faltas são censuráveis ligeiramente se ocorrem em pequena esLala mais se ocorrem em escala maior e muito mais se ocorrem numa escala extrema É evidente então que devemos adotar o meio termo Estas considerações sobre as disposições da alma relacionadas com a cólera são suficientes 6 Nas reuniões no convívio social e no relacionamento por meio de palavras ou aros algumas pessoas são consideradas amáveis por exemplo as que para agradar elogiam a todos e nunca fazem objeções pensando que seu dever é não desagradar às pessoas com as quais entram em contacto aquelas que ao contrário fazem objeções a tudo e não têm a mínima preocupação com o desagrado que causam são chamadas intratá veis e altercadoras É óbvio que ambas as disposições descritas são condenáveis e que o meio termo é louvável a tendência a concordar com o que se deve e a discordar do que se deve e como se deve mas esta disposição ainda não recebeu um nome embora ela se assemelhe muito à amizade Com efeito as pessoas que se enquadram no meio termo se assemelham muito àquelas que com o complemento da afeição chama mos de bons amigos Mas tal disposição difere da amizade pela ausência de emoção e afeição na convivncia pois uma pessoa com este caráter Ética a N icômacos 85 comportase em relação a rodo da maneira certa não por um sentimcmo pessoal de amor ou de ódio mas por amabilidade natural Ela terá esce comportamento tanto em relação às pessoas que conhece quanto às que não conhece em relação às pessoas íntimas e às que não o são em cada um destes casos todavia ela se conduzirá da maneira mais conveniente em face das circunstâncias Realmente não é apropriado ter as mesmas atenções em relação a pessoas íntimas e a pessoas estranhas nem são as mesmas as condições que justificam desgostálas Dissemos de um modo geral que as pessoas amáveis convivem com as demais da maneira certl mas é com vistas ao que é honroso e conveniente que elas visam a nio causar desgostos ou a contribuir para o prazer Elas parecem efetivameme preocupadas com os prazeres e desgostos no convívio social e sempre que não lhes for honroso ou for prejudicial contribuir para o prazer elas se recusarão a fazêlo e darão preferência até a causar desgosto de maneira idêntica se sua aquiescência quanto às ações de outras pessoas puder trazer desonra e não pequena ou danos a outras pessoas enquanto sua oposição pode trazer apenas um certo aborrecimento as pessoas amáves não aquiescerão e até desaprovarão tais ações Elas conviverão de maneiras diferentes com pessoas de alta categoria e com pessoas simple5 1127 a com conhecidos mais chegados e mais distantes o mesmo se aplica t propósito de todas as outras diferenças tratando cada classe com a deferência adequada ademais ainda que por causa do próprio praze possam dar preferência a contribuir para ele e a absterse de causar sofrimento elas se deixarão guiar pela consideração das conseqüências st estas forem mais importantes ou seja pela honra e pela conveniência Tendo em vista um grande prazer futuro elas também poderão causa pequenos aborrecimentos imediatos Este é então o meio termo mas não lhe foi dada uma designaçãc própria das pessoas que proporcionam prazer àquelas com as quai convivem as que desejam ser agradáveis sem qualquer objetivo ulterior são amáveis mas as que agem desta forma com a intenção de obter algum vantagem em relação a dinheiro ou a coisas que o dinheiro compra são aduladoras Por outro lado as pessoas que fazem objeções a tudo são como já dissemos 120 intratáveis e altercadoras As situações extremas parecem contraditórias porque o meio termo não tem uma designação própria 7 A observância do meio termo em relação à jactância se relaciona quase com as mesmas coisas e também não tem uma designação própria Não fará mal descrever igualmente estas disposições da alma pois não somente ficaremos conhecendo melhor os fatos relativos ao caráter se as examinar mos mais de perto como ainda nos convenceremos de que as formas de excelência moral são realmente meios termos se virmos que este conceito 86 Aristóteles se aplica a todos os casos Já descrevemos as pessoas cujo objetivo ao conviver com outras na esfera da vida social é causar prazer ou desgosto 121 falaremos agora daquelas que buscam a verdade ou a falsidade tanto em palavras e em atos quanto em suas próprias pretensões Pensase que as pessoas jactanciosas inclinamse a pretender as coisas que trazem glória quando ainda não as têm ou a pretender mais quando já as têm o falso modesto por outro lado tende a negar ou a minimizar o que tem 1127 b enquanto as pessoas que ocupam o meio termo são as que dão às coisas os seus nomes certos sendo sinceras quer em sua conduta quer em suas palavras confirmando que têm o que realmente lhes pertence nem mais nem menos Cada um destes tipos de conduta pode ser adotado com ou sem um objetivo Cada pessoa todavia fala age e vive de acordo com seu caráter se não está agindo com algum objetivo ulterior a falsidade é em si mesma ignóbil e condenável enquanto a verdade é nobilitante e digna de louvor Sendo assim as pessoas sinceras são outro caso de pessoas que estando no meio termo merecem louvor e ambas as espécies de pessoas insinceras são censuráveis particularmente as pessoas jactanciosas Discu tamos cada uma das espécies então mas primeiro falemos das pessoas sinceras Não estamos falando das pessoas que honram seus compromissos nem de assuntos relativos à justiça ou injustiça isto tem a ver com outra espécie de excelência moral e sim das pessoas que em matérias nas quais nada deste gênero está em jogo são sinceras tanto em suas palavras quanto em sua conduta porque este é o seu caráter Um homem desta espécie pode ser considerado um homem de bem pois as pessoas que amam a verdade e são sinceras quando nada está em jogo serão ainda mais sinceras quando algo estiver em jogo elas evitarão a falsidade como algo ignóbil neste último caso pois já a evitam por si mesma e tais pessoas são dignas de louvor As pessoas sinceras divergirão da verdade se for o caso no sentido de atenuála e nunca de exagerála pois tal atitude será mais compatível com a conveniência já que todo exagero é desagradável As pessoas que sem qualquer objetivo ulterior têm pretensões ao que não lhes pertence constituem uma espécie desprezível se não fossem assim elas não ficariam satisfeitas com a falsidade daquelas pessoas que têm tais pretensões com um objetivo ulterior as que as têm por causa da reputação e de honrarias não merecem maior censura apesar de serem jactanciosas mas as que as têm por dinheiro ou coisas que trazem dinheiro mostram um caráter mais repugnante não é a potencialidade que faz o jactancioso e sim o propósito pois uma pessoa é jactanciosa em decorrência desta disposição da alma e por ser como é da mesma forma algumas pessoas são mentirsas porque gostam de mentir e outras porque desejam reputação ou ganhos As pessoas que são jactanciosas com vistas à reputação pretendem ter qualidades do tipo das que provocam elogios ou ttica a N icômacos 87 congratulações mas aquelas cujo objetivo é o ganho pretendem ter qualidades que podem ser iceis aos que convivem com elas e que também podem ser simuladas sem que sua falsidade seja facilmente desmascarada por exemplo dons poféticos e conhecimentos filosóficos ou médicos É por isto que muitagente tem a pretensão de conhecer estas coisas e se vangloria deste conhecimento pois as características menciona das estão presentes em tais pessoas Os falsos modestos que minimizam suas qualidades parecem ter um caráter mais atarente com efeito pensase que eles adotam esta atitude não com o intuito de ganho mas para não darem a impressão de ostentação as qualidades cuja posse eles negam são principalmente qualidades muito apreciadas como acontecia com Sócrates Aqueles que negam a posse de qualidades triviais ou óbvias são chamados de embusteiros e são mais desaprezíveis às vezes esta falsa modéstia se assemelha à jactância como acontece com o modo de vestir dos espartanos122 pois tanto a extrema negligência quanto o cuidado excessivo em relação às roupas são um sinal de jactância Mas as pessoas que usam parcimoniosamente a falsa modéstia e se retraem acerca de qualidades não muito conspícuas parecem atraentes São as pessoas jactanciosas que parecem o contrário das sinceras pois o pior caráter é o das primeiras 8 Mas já que o repouso também faz parte da vida e ele inclui o lazer e o entretenimento aqui parece haver igualmente uma espécie de convivência em que há lugar para o born gosto que neste caso consiste em dizer e também ouvir que se deve e como se deve O tipo de pessoa com a qual se está falando ou que se está ouvindo também faz diferença É evidente que também neste caso há o excesso e a falta em relação a um meio termo As pessoas que tendem para o excesso na ânsia de gracejar são consideradas bufões vulgares esforçandose por provocar o riso a qualquer preço seu interesse maior é provocar uma gargalhada e não dizer o que é conveniente e evitar o desgosto naquelas pessoas que são o 1128 a objeto de seus gracejos Aquelas que ao contrário são incapazes de fazer um gracejo e não suportam aqueles que o fazem são consideradas enfadonhas e grosseiras As pessoas porém que gracejam com bom gosto são chamadas espirituosas ou seja dotadas de presença de espírito que se traduz em repentes pertinentes tais repentes são considerados movimen tos do caráter e da mesma forma que o corpo é apreciado por seus movimentos o caráter também o é O aspecto ridículo das coisas todavia está sempre visível e a maioria das pessoas se compraz mais do que devia com brincadeiras e gracejos de tal forma que os bufões também são chamados de espirituosos porque há quem os ache atraentes o que acaba de ser dito enuetanto evidencia que eles são diferentes e não pouco das pessoas espirituosas A disposição intermediária é caracterizada também pelo senso da conveniência ou tato as pessoas sensíveis neste sentido 88 1128 b Aristóteles dirão e permitirão que se lhes digam coisas convenientes a um homem dotado de excelência moral e polido com efeito há coisas que tais pessoas podem dizer e ouvir a título de gracejo dentro do conceito de conveniên cia e os gracejos de uma pessoa polida diferem dos de uma pessoa vuIsar tanto quanto os gracejos de uma pessoa educada diferem daqueles de uma pessoa sem educação Esta diferença pode ser notada na comparação das comédias antigas com as novas os autores das primeiras divertiam com a obscenidade mas os das últimas preferem as insinuações e as duas coisas diferem e não pouco quanto à conveniência Poderíamos então definir as pessoas que gracejam agradavelmente como as que dizem o que não é inconveniente para uma pessoa polida ou como as que não causam desgosto aos que as ouvem ou até lhes dão prazer Ou a última pane da definição é de qualquer modo vaga já que coisas diferentes são detestáveis ou agradáveis para pessoas diferentes fcipo de gracejo que elas ouvirão será o mesmo pois os gracejos que elas podem tolerar são os mesmos que elas próprias dizem Há então gracejos que elas não dirão pois o gracejo é uma espécie de abuso e os legisladores nos proíbem de abusar de certas coisas talvez algumas formas de gracejo também devam ser proibidas As pessoas cultas e polidas portanto são como as descrevemos já que elas são como que uma lei para si mesmas São estas pessoas que ficam no meio termo quer as chamemos de pessoas de bom gosto ou espirituosas os bufões por outro lado são as pessoas que não podem resistir ao desejo de gracejar e não poupam nem a si mesmas nem as outras pessoas se podem provocar com isto uma gargalhada eles dizem coisas que um homem polido nunca diria algumas das quais este não gostaria sequer de ouvir Quanto às pessoas enfadonhas elas são imprestáveis para o convívio social porquanto não o animam de forma algma e acham que tudo está errado Mas seja como for o lazer e o entretenimento parecem constituir um fator necessário à vida Então os meios termos na conduta que acabamos de descrever são três e todos se relacionam com a convivência em palavras e atos de algum tipo Eles diferem todavia porque um deles se relaciona com a verdade e os outros dois com o que é agradável Um dos que se relacionam com o que é agradável se manifesta através de gracejos e o outro no convívio social em geral 9 O sentimento de vergonha não pode ser descrito propriamente como uma forma de excelência moral pois ele mais parece uma emoção do que uma disposição da alma Seja como for ele é definido como uma espécie de temor da desonra e produz um efeito análogo ao do temor do perigo pois as pessoas que se sentem envergonhadas coram c as que temem a morte empalidecem Em ambos os casos de certo modo elas parecem ter sentido emoções fisiológicas que são consideradas mais características de sentimentos que de disposições da alma Ética a Nicômacos 89 Este sentimento não se coaduna com todas as idades mas somente com a adolescência De fato pensamos que os adolescentes costumam envergonharse porque vivem em função das emoções e portanto cometem muitos erros mas são refreados pela vergonha Louvamos enrão os adolescentes que se mostram envergonhados mas ninguém louvaria uma pessoa idosa por envergonharse pois imaginamos que ela seja incapaz de fazer qualquer coisa de que deva sentir vergonha Realmente o sentimento de desonra não é sequer uma característica das pessoas boas porquanto ele é concomitante com as más ações tais ações não devem ser praticadas e não faz diferença se algumas delas são verdadeiramente desonrosas e ouuas o são apenas segundo a opinião geral pois nenhuma destas duas espécies de ações deve ser praticada de tal forma que nenhuma desonra deve ser sentida o simples fato de alguém ser capaz de praticar uma ação desonrosa é característico de uma pessoa má É absurdo que alguém seja constituído de tal forma que possa sentirse desonrado se pratica uma ação desce tipo e se considere uma boa pessoa por esta razio pois somente se sente vergonha por ações voluntárias e as pessoas boas jamais praticarão más ações voluntariamente Mas se pode dizer que o sentimento de vergonha é uma boa coisa condicionalmente na acepção de que uma pessoa boa se sentiria envergonhada se praticasse cais ações mas a excelência moral não é condicional Se a impudência ou seja o faco de alguém não se envergonhar por praticar ações vergonhosas é um mal nem por isto será bom envergonharse por praticar ações deste tipo A continência também não é uma forma de excelência moral e sim uma forma híbrida de disposição da alma isto porém será explicado depois Agora falemos da justiça Q Which of the following cannot be an observation of a scientific enquiry a When a person enters a room the temperature of the room increases b When the distance between two charged bodies is decreased the force between them increases c The change of water to ice is due to cooling d The number of trees that grew in a forest increases in five years 1129 a LIVRO V 1 Com vistas à justiça e à injustiça devemos indagar quais sio as espécies de ações com as quais elas se relacionam que espécie de meio termo é a justiça e entre que extremos o ato justo é o meio termo Nossa investiga çio seguiri o mesmo curso das discussões anteriores Observamos que segundo dizem todas as pessoas a justiça é a disposição da alma graças à qual elas se dispõem a fazer o que é justo a agir justamente e a desejar o que é justo de maneira idêntica dizse que a injustiça é a disposição da alma graças à qual elas agem injustamente e desejam o que é injusto Adotemos também esta definição em princípio Efetivamente não acontece com as ciências e com as aptidões o mesmo que acontece com as disposições da alma Uma única aptidão ou ciência trata de coisas contrárias mas uma disposição da alma que leva a um certo resultado não pode levar também ao resultado contrário a circunstância de termos saúde nio resulta de fazermos o que é contrário à saúde e sim o que é saudável e dizemos que um homem caminha saudavelmente quando ele caminha como caminham os homens saudáveis É por isto que muitas vezes se reconhece uma disposição da alma graças a outra contiaria e muitaS vezes as disposições são identificad por via das pessoas nas quais elas se manifestam com efeito no primeiro caso por exemplo se as boas condições físicas são conhecidas as más condições também seria conhecidas e no segundo caso as boas condições são conhecidas por via das pessoas que estão em boas condições e estas pessoas são conhecidas por via de suas boas condições Se a boa condição consiste numa carnatura firme a má condição consistirá necessariamente numa carnatura flácida e saudável será aquilo que causa a firmeza da carnaturL Disto decorre que na maioria dos casos se um dos contrários é 92 1129 b Aristóteles ambíguo o ouuo será também ambíguo por exemplo se justo é ambíguo injusto e injustiça também serão Ora justiça e injustiça parecem ser termos ambíguos mas como seus diferentes significados se aproximam uns dos ouuos a ambigüidade não é notada enquanto no caso de coisas muito diferentes designadas por uma expressão comum a ambigüidade é comparativamente óbvia por exemplo neste caso a diferença na forma exterior é grande o uso ambígüo da palavra kltis para significar a clavícula de um animal e o objeto com que se fecha uma porta Determinemos então em quantos sentidos se diz que uma pessoa é injusta O termo injusto se aplica tanto às pessoas que infringem a lei quanto às pessoas ambiciosas no sentido de quererem mais do que aquilo a que têm direito e iníquas de tal forma que obviamente as pessoas cumpridoras da lei e as pessoas corretas serão justas O justo então é aquilo que é conforme à lei e correto e o injusto é o ilegal e iníquo Já que as pessoas injustas são ambiciosas elas devem ser injustas a respeito de bens não de todos os bens mas daqueles de que dependem a prosperidade e a adversidade considerados de maneira irrestrita eles são sempre bons mas para uma determinada pessoa nem sempre o são Apesar disto as pessoas rezam para ter estes bens e os buscam embora não devam agir desta maneira elas deveriam rezar para que as coisas irrestritamente boas possam ser boas também para elas e deveriam escolher efetivamente as coisas que são boas para elas As pessoas injustaS todavia não escolhem sempre o maior quinhão das coisas irrestritamente más elas escolhem o menor quinhão de qualquer forma porém considerase que elas são ambiciosas pois o menor de dois males em certo sentido parece um bem e ser ambicioso significa ambicionar em termos de bens Chamemos tais pessoas de iníquas pois este termo é abrangente e inclui ao mesmo tempo querer muito as coisas boas e pouco as más Como as pessoas que infringem as leis parecem injustaS e as cumpridoras da lei parecem justas evidentemente rodos os atos confor mes à lei são justos em certo sentido com efeito os aros estipulados pela arte de legislar são conformes à lei e dizemos que cada um deles é justo Em seus preceitos sobre rodos os assuntos as leis visam ao interesse comum a rodas as pessoas ou às melhores ou às pessoas das classes dominantes ou aJao do mesmo tipo de tal forma que em certo sentido chamamos justos os atos que tendem a produzir e preservar a felicidade e os elementos que a compõem para a comunidade poUtica E a lei determina iaualmente que ajamos como agem os homens corajosos ou seja que nio desertemos de nosso posto nem fujamos nem nos desvencilhemos de nossas armas e como os homens moderados ou seja 1130 a ttica a N icômacos 93 que não cometamos o adultério nem ultrajes e como os homens amáveis ou seja que não agridamos os outros nem falemos mal deles e assim ror diante em relação às outras formas de excelência moral impondo a prática de certos atos e proibindo outros as determinações das leis bem elaboradas são boas e as das leis elaboradas apressadamente não chegam a ser igualmente boas Então a justiça neste sentido é a excelência moral perfeita embora não o seja de modo irrestrito mas em relação ao próximo Ponto a justiça é freqüentemente considerada a mais elevada forma de excelcia moral e nem a estrela vespertina nem a matutina é tão maravilhosa m e também se diz proverbialmente que na justiça se resume toda a excelência 126 Com efeito a justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela 0 a prática efetiva da excelência moral perfeita Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça podem praticála njo somente em relação a si mesmas como também em relação ao próximo É por isro que se consideram bem ditas as palavras de Bias o exercício do poder revela o homem pois os governantes exercem necessariamente o seu poder em relação aos outros homens e ao mesmo tempo são membros da comunidade Pela mesma razão considerase que a justiça e somente ela entre todas as formas de excelência moral é o bem dos outros 128 de fato ela se relaciona com o próximo pois faz o que é vantajoso para os outros qler se trate de um governante quer se trate de um companheiro da comunidade O pior dos homens é aquele que põe em prática sua deficiência moral tanto em relação a si mesmo quanto em relação aos stus amigos e o melhor dos homens não é aquele que põe em prática sua excelência moral em relação a si mesmo e sim em relação aos outros pois esta é uma tarefa difícil Neste sentido então a justiça não é uma parte da excelência moral mas a excelência moral inteira nem seu contrário a injustiça é uma parte da deficiência moral mas a deficiência moral inteira A diferença entre a excelência moral e a justiça nesse sentido é óbvia diante do que já dissemos elas são a mesma coisa mas sua essência não é a mesma a disposição da alma que é a justiça praticada especificamente em relação ao próximo quando é um certo tipo de disposição irrestrita a excelência moral 2 Mas afinal de comas o objeto de nossa investigação é a justiça que é uma parte da excelência moral pois sustentamos que há uma justiça desta espécie Da mesma forma estamos investigando a injustiça no sentido restrito A existência da injustiça é indicada pelo fato de que enquanto as 94 Aristóteles pessoas que mostram em ação as outras formas de deficiência moral agem realmente de maneira errada mas sem ser ambiciosas por exemplo o homem que em combate se desvencilha de seu escudo por covardia ou que fala asperamente por irascibilidade ou que deixa de ajudar financeira mente um amigo por avareza as pessoas ambiciosas não mostram na maioria das vezes qualquer uma destas formas de deficiência moral e muito menos todas juntas mas certamente mostram alguma espécie de maldade por isto as censuramos e injustiça Há então outra espécie de injustiça que é uma parte da injustiça em geral e uma acepção da palavra injusto que corresponde a uma parte do que é injusto no sentido geral de ilegal Ademais se uma pessoa comece o adultério pensando em obter proveito e ganha dinheiro agindo assim enquanto outra o comete compelida pelo desejo e é punida por isto a última deveria ser 1130 b considerada concupiscente em vez de ambiciosa ao passo qu a primeira é injusta mas não concupiscente é evidente portanto que ela é injusta por querer ganhar com seu ato Além disto os demais atos injustos são imputados a algum tipo específico de deficiência moral por exemplo o adultério é imputado à concupiscência a deserção de um companheiro em combate é imputada à covardia e a violência física é imputada à cólera mas se uma pessoa obtém proveito graças a um ato injusto sua ação não é imputada senão à injustiça É evidente portanto que além da injustiça em sentido amplo há outra espécie de injustiça em sentido escrito que tem o mesmo nome e a mesma natureza da primeira da qual ela é uma parte porque sua definição se enquadra no mesmo gênero ambas as espécies de injustiças se manifestam na convivência entre as pessoas mas uma se relaciona com a honra ou com o dinheiro ou com a segurança ou seja qual for o nome se pudermos empregálo para englobar todas estas coisas e sua motivação é o prazer decorrente do ganho enquanto a outra se relaciona com tudo que está na esfera de ação do homem bom É óbvio então que há mais de uma espécie de justiça e que uma delas é distinta da excelência moral como um todo devemos tentar descobrir a espécie e os atributos da justiça neste sentido estrito Os dois significados que distinguimos no injusto são ilegal e iníquo A ilegal corresponde a acepção de injustiça mencionada pouco antes Mas já que o iníquo e o ilegal não são a mesma coisa sendo diferentes da mesma forma que a parte é diferente do todo tudo que é iníquo é ilegal mas nem cudo que é ilegal é iníquo o injusto e a injustiça no sentido do iníquo não são os mesmos da primeira espécie e sim diferentes dela da mesma forma que a parte é diferente do codo efetivamente a injustiça neste sentido é uma parte da injustiça em sentido amplo e igualmente a justiça que estamos examinando agora é uma parte da justiça em sentido amplo Temos por conseguinte de discutir a justiça e 1131 a Ética a Nicômacos 95 a injustiça em sentido restrito e igualmente o justo e o injusto em sentido restrito Podemos então deixar de lado a justiça correspondente à excelência moral em seu todo e a injustiça correspondente a esta justiça sendo uma delas o exercício da excelência moral como um todo e a outra o exercício da deficiência moral como um todo ambas em relação ao próximo É óbvia a maneira de distinguir o significado do justo e do injusto correspon dentes a elas pois praticamente a maioria dos atos prescritos pela lei é constituída de atos prescritos tendo em vista a excelência moral como um todo de fato a lei nos manda praticar todas as espécies de excelência moral e nos proíbe de praticar qualquer espécie de deficiência moral e as prescrições para uma educação que prepara as pessoas para a vida comunitária são as regras produtivas da excelência moral como um todo Quanto à educação do indivíduo como tal que o torna irrestritamente um homem bom devemos determinar mais tarde 129 se tal tarefa é da alçada da ciência política ou de outra ciência pois talvez não signifique a mesma coisa ser um homem bom e um bom cidadão em todas as cidades Uma das espécies de justiça em sentido estrito e do que é justo na acepção que lhe corresponde é a que se manifesta na distribuição de funções elevadas de governo ou de dinheiro ou das outras coisas que devem ser divididas entre os cidadãos que compartilham dos benefícios outorgados pela constituição da cidade pois em tais coisas uma pessoa pode ter uma participação desigual ou igual à de outra pessoa a outra espécie é a que desempenha uma função corretiva nas relações entre as pessoas Esta última se subdivide em duas algumas relações são voluntá rias e outras são involuntárias são voluntárias a venda a compra o empréstimo a juros o penhor o empréstimo sem juros o depósito e a locação estas relações são chamadas voluntárias porque sua origem é voluntária das involuntárias algumas são subreptfcias como o furto o adultério o envenenamento o lenocínio o desvio de escravos o assassínio traiçoeiro o falso testemunho e outras são violentas como o assalto a prisão o homicídio o roubo a mutilação a injúria e o ultraje 3 Já que tanto o homem injusto quanto o ato injusto são iníquos é óbvio que há também um meio termo entre as duas iniqüidades existentes em cada caso Este meio termo é o igual pois em cada espécie de ação na qual há um mais e um menos há também um igual Se então o injusto é iníquo ou seja desigual o justo é igual como todos acham que ele é mesmo sem uma argumentação mais desenvolvida E já que o igual é o meio termo o justo será um meio termo Ora a igualdade pressupõe no mínimo dois elementos o justo então deve ser um meio termo igual e relativo por exemplo justo para cenas pessoas e na qualidade de meio 96 Aristóteles termo ele deve estar entre determinados extremos respectivamente maior e menor na qualidade de igual ele pressupõe duas participa ções iguais na qualidade de jwto ele o é para cenas pessoas O jwto portanto pressupõe no mínimo quatro elementos pois as pessoas para as quais ele é de fato justo são duas e as coisas nas quais ele se manifesta os objetos distribuídos são também duas E a mesma igualdade existirá entre as pessoas e as coisas envolvidas pois da mesma forma que as últimas as coisas envolvidas são relacionadas entre si as primeiras também o são se as pessoas não forem iguais elas não terão uma participação igual nas coisas mas isto é a origem de querelas e queixas quando pessoas iguais têm e recebem quinhões desiguais ou pessoas desiguais recebem quinhões iguais Além do mais isto se torna evidente porque aquilo que é distribuído às pessoas deve sêlo de acordo com o mérito de cada uma de fato todas as pessoas concordam em que o que é justo em termos de distribuição deve sêlo de acordo com o mérito em ceno sentido embora nem todos indiquem a mesma espécie de mérito os democratas identificam a circunstância de a distribuição dever ser de acordo com a condição de homem livre os adeptos da oligarquia com a riqueza ou nobreza de nascimento e os adeptos da aristocracia com a excelência O justo então é uma das espécies do gênero proporcional a proporcionalidade não é uma propriedade apenas das quantidades númeri cas e sim da quantidade em geral Com efeito a proporção é uma igualdade de razões envolvendo no mínimo quatro elementos é evidente que a proporção descontínua envolve quatro elementos mas acontece o mesmo com a proporção contínua pois ela usa um elemento como se se tratasse de dois e o menciona duas vezes por exemplo a linha A está para a linha B assim como a linha B está para a linha C a linha B foi mencionada então duas vezes de tal forma que se a linha B for considerada duas vezes os elementos proporcionais serão quatro o justo envolve também quatro elementos no mínimo e a razão entre um par de elementos é igual à razão existente entre o outro par pois há uma distinção equivalente entre as pessoas e as coisas Então o elemento A está 1131 b para o elemento B assim como o elemento C está para o elemento D e portanto por alternação A está para C assim como B está para D Logo também a soma do primeiro e do terceiro elementos está para a soma do segundo e do quano assim como o primeiro elemento está para o segundo Esta é a combinação efetuada por meio de uma distribuição dos quinhões e a combinação será justa se as pessoas e os quinhões forem combinados desta maneira O princípio da jwtiça distributiva portanto é a conjunção do primeiro termo de uma proporção com o terceiro e do segundo com o quano e o justo nesta acepção é o meio termo entre dois extremos desproporcionais já que o proporcional é um meio termo e o justo é o proporcional 10 1132 a Ética a Nicômacos 97 Os matemáticos chamam esta espécie de proporção de geométrica pois é na proporção geométrica que a soma do primeiro e do terceiro termos está para a soma do segundo e do quarto assim como um elemento de cada par de elementos está para outro elemento A justiça distributiva não é uma proporção contínua pois seus segundo e terceiro termos alguém que recebe parte de alguma coisa e uma participação na coisa não constituem um mesmo elemento O justo nesta acepção é portanto o proporcional e o injusto é o que viola a proporcionalidade Neste último caso um quinhão se torna muito grande e o outro muito pequeno como realmente acontece na prática pois a pessoa que age injustamente fica com um quinhão muito grande do que é bom e a pessoa que é tratada injustamente fica com um quinhão muito pequeno No caso do mal o inverso é verdadeiro pois o mal menor é considerado um bem quando comparado com o mal maior já que o mal menor deve ser escolhido de preferência ao maior e o que é digno de escolha é um bem e o que é mais digno de escolha é um bem ainda maior 4 A espécie restante de justiça é a corretiva que tanto se manifesta nas relações voluntárias quanto nas involuntárias Esta forma do justo tem um caráter diferente da primeira pois a justiça na distribuição dos bens públicos é sempre conforme à espécie de proporção mencionada lcima também no caso em que se faz a distribuição dos fundos públicos esta distribuição será conforme à mesma razão que se observa entre os fundos trazidos para um negócio pelos vários parceiros a injustiça contrária a esta espécie de justiça é a que viola esta proporcionalidade Mas a justiça nas relações privadas é de fato uma espécie de igualdade e a injustiça nestas relações é uma espécie de desigualdade mas não conforme à espécie de proporção mencionada acima e sim conforme à proporção aritmética Com efeito é irrelevante se uma pessoa boa lesa uma pessoa má ou se uma pessoa má lesa uma pessoa boa ou se é uma pessoa boa ou má que comete adultério a lei contempla somente o aspecto distintivo da justiça e trata as partes como iguais perguntando somente se uma das partes cometeu e a outra sofreu a injustiça e se uma infligiu e a outra sofreu um dano Sendo portanto esta espécie de injustiça uma desigualda de o juiz tenta restabelecer a igualdade pois também no caso em que a pessOi é ferida e a outra fere ou uma pessoa mata e a outra é morta o sofrimento e a ação estão mal distribuídos e o juiz tenta igualizar as coisas por meio da penalidade subtraindo do ofensor o excesso do ganho o termo ganho se aplica geralmente a tais casos ainda que ele não seja um termo apropriado em certos casos por exemplo no caso da pessoa que fere e perda se aplica à vítima de cualquer forma uma vez estimado o dano um resultado é chamado perda e o outro é chamado ganho O igual portanto é o meio termo entre o maior e o menor mas o ganho e a 98 Aristóteles perda são respectivamente maiores e menores de modos contrários maior quinhão de um bem e menor quinhão de um mal são um ganho e o contrário é uma perda o meio termo entre eles como já vimos é o igual que chamamos de justo a justiça corretiva portanto será o meio termo entre perda e ganho É por isto que quando ocorrem disputas as pessoas recorrem a um juiz e ir ao juiz é ir à justiça porque se quer que o juiz seja como se fosse a justiça viva e elas procuram o juiz no pressuposto de que ele é uma pessoa eqüidistante e em algumas cidades os juízes são chamados de mediadores no pressuposto de que se as pessoas obtêm o meio termo elas obtêm o que é justo O justo portanto é eqüidistante já que o juiz o é O juiz então restabelece a igualdade as coisas se passam como se houvee uma linham dividida em dois segmentos desiguais e o juiz subtraísse a parte que faz com que o segmento maior exceda a metade e a acrescentasse ao segmento menor Quando o todo houver sido afinal dividido igualmente então as partes litigantes dirão que têm aquilo que lhes pertence isto é quando elas houverem obtido o que é igual O igual é o meio termo entre a linha maior e a menor de acordo com a proporção aritmética Esta é a origem da palavra díleaion justo ela quer dizer àileba dividida ao meio como se se devesse entender esta última palavra no sentido de àíleaion e um dileastés juiz é aquele que divide ao meio dikbastés Com efeito quando algo é subtraído de um entre dois segmentos iguais e acrescentado ao outro este outro excede o primeiro em duas vezes a parte subtraída já que se o que foi subtraído de um segmento não fosse acrescentado ao outro o último excederia o primeiro somente em uma vez Portanto o último excederá o meio termo somente em uma parte e o meio termo excederá o priméiro do qual a parte foi 1132 b subtraída somente em uma parte Esta demonstração nos leva então a ver aquilo que devemos subtrair da parte que tem mais e aquilo que devemos acrescentar à parte que rem menos devemos acrescentar à última a extensão pela qual o meio termo a excede e subtrair do segmento maior a extensão pela qual ele excede o meio termo Suponhamos que as linhas AA BB e CC sejam iguais entre si subtraiamos da linha AA o segmento AE e à linha CC acrescentemos o segmento com de tal forma que a linha OCC exceda a linha EA por COEF então a linha OCC excederá a linha ss por CO Os termos perda e ganho nestes casos procedem das operações de troca voluntária com efeito para cada pessoa passar a ter mais do que aquilo que lhe pertencia se chama ganhar e passa a ter menos do que seu quinhão original se chama perder por exemplo nas compras e vendas e em todas as outras transações que a lei deixa à discrição das partes intervenientes quando porém as pessoas não saem nem com mais nem com menos do que tinham mas apenas com o que já lhes pertencia elas dizem que têm o que é seu e que nem perderam nem ganharam Ética a Nicômacos 99 O justo portanto é em certo sentido um meio termo entre o ganho e a perda nas ações que não se incluem entre as voluntárias e consiste em ter um quinhão igual antes e depois da ação 5 Algumas pessoas pensam que a reciprocidade é justa de maneira irrestrita como dizem os pitagóricos que definem a justiça irrestrita como reciprocidade Mas a reciprocidade não se identifica nem com a justiça distributiva nem com a corretiva embora as pessoas queiram identificála com a última quando pretendem que o justo para Radamantis tem este significado se alguém sofrer o mesmo que infligiu então teremos a justiça feitam Realmente em muitos casos a reciprocidade e a justiça corretiva divergem por exemplo se uma autoridade fere uma pessoa qualquer 114 tal autoridade não deve ser ferida pela pessoa em retaliação se porém uma pessoa qualquer fere uma autoridade tal pessoa deve ser não somente ferida mas também punida Além disto há uma grande diferença entre um ato voluntário e um involuntário mas nas associações com vistas à permuta de serviços as pessoas se mantêm unidas graças a esta espécie de justiça que é a reciprocidade conforme à proporcionalidade e não na base de uma retribuição exatamente igual é a reciprocidade proporcional que 1133 a mantém a própria cidade unida As pessoas procuram retribuir o mal com o mal se não podem agir desta maneira elas se sentem como se fqssem escravos ou o bem com o bem se não puderem agir desta maneira não haverá permuta quando é a permuta que as mantém unidas É por isto que elas destinam um lugar de destaque ao templo das Graças para fomentar a prática da reciprocidade com efeito esta é uma característica da gratidão e devemos não somente mostrarnos gratos retribuindo a quem nos presta serviços como também devemos em outra oportunida de tomar a iniciativa de prestálos A reciprocidade proporcional se efetua auavés de uma conjunção cruzada Suponhamos por exemplo que A é um construtor B é um sapateiro C é uma casa e D é um par de sapatos O construtor deve obter do sapateiro o produto do uabalho deste e deve por sua vez oferecerlhe em retribuição o produto de seu próprio trabalho Se houver uma igualdade proporcional dos bens e se ocorrer uma ação recíproca verificarseá o resultado que mencionamos Se não ocorrerem estas duas circunstâncias a permuta não será iguàl e o relacionamento não continua rá Com efeito nada impede que o produto de um dos participantes seja melhor que o do ouuo e neste caso os produtos terão de ser igualizados isto é verdadeiro também nas outras artes pois elas teriam deixado de existir se o elemento ativo não produzisse e não recebesse o equivalente em quantidade e qualidade ao que o elemento passivo recebe m De fato não são dois médicos que se associam para a permuta de serviços mas um 100 1133 b Aristóteles médico e um fazendeiro ou de um modo geral pessoas diferentes e desiguais embora neste caso os produtos de suas respectivas atividades devam ser igualizados É por isro que rodos os serviços permutados devem ser comparáveis de algum modo com esta finalidade foi instituído o dinheiro e em cerro sentido ele se tornou um meio termo pois ele mede rodas as coisas e conseqüentemente o excesso e a falta por exemplo o número de pares de sapatos equivalentes a uma casa ou a uma certa quantidade de gêneros alimentícios Deve haver enue o número de pares de sapatos permutados por uma casa e a própria casa a mesma proporção que há entre o valor do trabalho do construtor e o do sapateiro u 6 se não for assim não haverá permuta nem relacionamento e a proporcionalidade não estará assegurada a não ser que os bens sejam iguais de algum macio Todos os bens portanto devem ser mensuráveis por meio de algum padrão como dissemos antes Este padrão é na verdade a demanda fator que mantém a união da comunidade com efeito se as pessoas não necessitassem dos bens umas das outras ou não necessitassem de todos eles igualmente não haveria permuta ou pelo menos não haveria a mesma espécie de permuta mas o dinheiro se tornou por convenção uma espécie de representante da demanda ele rem este nome nômisma porque existe não por natureza mas pela lei nomos e porque está em nosso poder mudálo e tornálo inútil Haverá portanto reciprocidade quando os termos da roporção forem igualizados de tal forma que o valor do trabalho do sapateiro esteja para o valor do uabalho do fazendeiro com quem a permuta é feita assim como o fazendeiro está para o sapateiro Mas não devemos reduzir os produtos à forma de uma proporção depois de os produtores já havotem realizado a permuta se o fizermos ambos os excessos poderão estar presentes em um dos exuemos e simenquanto eles ainda estiverem de posse de sew respectivos bens 137 Desta forma os permutantes são iguais e associados exatamente porque esta igualdade poderá efetuarse em seu caso específico Chamemos de A um fazendeiro de C os gêneros alimentícios por ele produzidos de B um sapateiro e de O o produto deste igualizado com C Se não fosse possível efetuar a reciprocidade desta maneira não haveria associação enue as partes O fato de que quando as pessoas não necessitam umas das outras isto é quando nenhuma delas necessita das outras ou uma não necessita de outra elas não efetuam permutas que só se fazem quando alguma delas necessita do que outra tem por exemplo quando se permite a exportação de trigo em troca de vinho evidencia que a demanda mantém a união da comunidade como um todo Devese portanto estabelecer a igualização da demanda O dinheiro nos serve também como uma garantia de permutas no futuro se não necessitamos de coisa aisuma no presente ele assegura a realização da permuta quando ela for necessária com efeito ele preenche 1134 a Ética a Nicõmacos 101 os requisitos de algo que podemos produzir para pagar por aquilo de que necessitamos de maneira a podermos obter o que nos falta Mas acontece com o dinheiro o mesmo que acontece com os produtos já que ele não tem sempre o mesmo valor de qualquer forma porém ele tende a ser mais estável Por esta razão devese estabelecer um preço para todos os produtos pois desta forma haved sempre permuta e conseqüentemente a comunidade O dinheiro portanto agindo como um padrão torna os bens comensuráveis e os igualiza e não haveria comunidade se não houvesse permutaS nem permutas se não houvesse igualização nem igualização se não houvesse comensurabilidade Na verdade é impossível que coisas tão diferentes entre si se tornem perfeitamente comensuráveis mas com referência à demanda elas podem tornarse suficientemente comensurá veis Tem de haver então um padrão e este deve ser convencionado mediante acordo por isto ele se chama dinheiro 1 é ele que torna todas as coisas comensuráveis já que todas as coisas podem ser medidas pelo dinheiro Seja A uma casa B dez minasm e C um leito O termo A vale a metade de B se a casa vale cinco minas ou seja se ela é igual a cinco minas o leito C vale um décimo de B vêse claramente então quantos leitos equivalem a uma casa ou seja cinco É evidente que as permutas se efetuavam desta maneira antes de existir o dinheiro pois é indiferente penqutarmos uma casa por cinco leitos ou pelo equivalente em dinheiro aos cinco leitos Acabamos de definir o injusto e o justo Feita a sua diferená1ção é claro que a ação justa é um meio termo entre agir injustamente e ser tratato injustamente pois no primeiro caso se tem demais e no outro se tem muito pouco A justiça é a observância do meio termo mas não de maneira idêntica à observância de outras formas de excelência moral e sim porque ela se relaciona com o meio termo enquanto a injustiça se relaciona com os extremos E a justiça é a qualidade que nos permite dizer que uma pessoa está predisposta a fazer por sua própria escolha aquilo que é justo e quando se trata de repartir alguma coisa entre si mesma e outra pessoa ou entre duas outras pessoas está disposta a não dar demais a si mesma e muito pouco à outra pessoa daquilo que é desejável t muito pouco a si mesma e demais à outra pessoa do que é nocivo e sim dar a cada pessoa o que é proporcionalmente igual agindo de maneira idêntica em relação a duas outras pessoas A justiça por outro lado está relacionada identicamente com o injusto que é excesso e falta contrário à proporcio nalidade do útil ou do nocivo Por esta razão a injustiça é excesso e falta no sentido de que ela leva ao excesso c à falta no caso da própria pessoa excesSo do que é útil por natureza e falta do que é nocivo enquanto no caso de outras pessoas embora o resultado global seja semelhante ao do caso da própria pessoa a proporcionalidade pode ser violada em uma direção ou na outra No ato injusto ter muito pouco é ser tratado injustamente e ter demw é agir injustamente 102 1134 b Aristóteles É esta então a nossa explicação da natureza da justiça e da injustiça e igualmente do justo e do injusto em geral 6 Mas já que agir injustamente não resulta necessariamente em ser injusto devemos perguntar quais são os atos injustos que tornam os seus autores injustos em relação a cada tipo de injustiça por exemplo um ladrão um adúltero ou um salteador Ou diríamos ao conuário que a distinção não está na qualidade do ato Com efeito um homem poderia até manter relações sexuais com uma mulher sabendo quem ela é mas a origem do ato poderia ser não sua própria escolha mas a paixão Ele age injustamente então mas não é injusto por exemplo um homem não é um ladrão mas rouba não é um adúltero mas comete o adultério e assim por diante em todos os outros casos140 Já expusemos anteriormente a relação enue a reciprocidade e a justiça141 Não devemos esquecer porém que o assunto de nossa investigação é ao mesmo tempo o justo no sentido irrestrito e o justo em sentido político Este último se apresenta entre as pessoas que vivem juntas com o objetivo de assegurar a autosuficiência do grupo pessoas livres e proporcionalmente ou aritmeticamente iguais Logo entre pessoas que não se enquadram nesta condição não há justiça política e sim a justiça em um sentido especial e por analogia De fato a justiça existe somente entre pessoas cujas relações mútuas são regidas pela lei e a lei existe para pessoas entre as quais pode haver injustiça pois a justiça no sentido legal é a discriminação entre o que é justo e injusto Portanto onde vivem pessoas entre as quais se praticam injustiÇas há também ações injustas embora a ação injusta não resulte necessariamente em injustiça e a ação injusta consiste em atribuirse em demasia coisas boas em si e muito poucas coisas máS em si É por isto qúe não permitimos14 h que um homem governe e sim a lei porque um homem pode governar em seu próprio interesse e tornarse um tirano Mas a função do governante é ser o guardião da justiça e se ele é guardião da justiça também é guardião da igualdade E jáque se pressupõe que nada mais lhe cabe se ele é justo senão exercer a sua própria função pois ele não se atribui em demasia o que é bom em si a não ser que uma atribuição maior seja proporcional aos seus méritos de tal forma que ele trabalha para os outros e é por esta razão que se diz como já declaramos antes10 que os homens qualificam a justiça de o bem dos outros devese darlhe por isto uma recompensa constante de honrarias e privilégios aqueles porém para os quais estas coisas não bastam tornamse tiranos A jusiça do senhor para com o escravo e a do pai para com o filho não são iguais à justiça política embora se lhe assemelhem na realidade não 1135 a Ética a Nicômacos 103 pode haver injustiça no sentido irrestrito em relação a coisas que nos pertencem mas os escravos de um homem e seus filhos até uma certa idade em que se tornam independentes são por assim dizer partes deste homem e ninguém faz mal a si mesmo por esta razão uma pessoa não pode ser injusta em relação a si mesma Logo não há justiça ou injustiça no sentido político em tais relações Com efeito a justiça e a injustiça como já vimos estão consubstanciadas na lei e existem entre pessoas cujas relações são naturalmente regidas pela lei ou seja pessoas que alternadamente participam do governo e são governadas Por isto a justiça pode manifestarse com maior autenticidade nas relações entre marido e mulher do que nas relações entre pai e filho e entre senhor e escravo pois a justiça entre marido e mulher é a justiça dvméstica mesmo esta porém é diferente da justiça política 7 A justiça política é em parte natural e em parte legal são naturais as coisas que em todos os lugares têm a mesma força e não dependem de as aceitarmos ou não e é legal aquilo que a princípio pode ser determinado indiferentemente de uma maneira ou de outra mas depois de determina do já não é indiferente por exemplo que o resgate de um prisioneiro será uma mina143 ou que deve ser sacrificado um bode e não duas ovelhas além de todos os dispositivos legais promulgados com vistas a casos particulares por exemplo que devem ser feitos sacrifícios em honra de Brasidas e dispositivos legais constantes de decretos Algumas pessoas pensam que toda justiça é desce tipo porque aquilo que existe por natureza é imutável e cem a mesma forma em todos os lugares como o fogo queima aqui e na Pérsia ao passo quetais pessoas vêem mudanças no que é tido como justo Isto porém não é verdadeiro de maneira irrestrita mas apenas em certo sentido com os deuses realmente isto não é verdadeiro de modo algum enquanto conosco embora exista algo verdadeiro até por natureza todos os dispositivos legais são mutáveis Seja como for existem uma justiça natural e uma justiça que não é natural É possível ver claramente quais as coisas entre as que podem ser de outra maneira que são como são por natureza e quais as que não são naturais e sim legais e convencionais embora ambas as formas sejam igualmente mutáveis Em relação a todas as outras coisas se pode fazer a mesma distinção com efeito a mão direita é mais forte por natureza mas é possível que qualquer pessoa se torne ambidestra As coisas que são justas apenas por convenção e conveniência são como se fossem instrumentos para medição de fato as medidas para vinho e trigo não são iguais em toda parte sendo maiores nos mercados atacadistas e menores nos varejistas De maneira idêntica as coisas que são justas não por natureza mas por decisões humanas não são as mesmas em todos os lugares já que as constituições não são também as mesmas embora haja apenas uma que em todos os lugares é a melhor por natureza 104 1135 b Aristóteles Cada uma das regras de justiça e das regras lepis se relaciona cqm as ações da mesma forma que o universal se relaciona com seus casos particulares pois as ações praticadas são muitas enquanto cada regra ou lei é uma já que é universal Há diferença entre uma ação injusta e o que é injusto e entre uma ação justa e o que é justo A natureza ou um dispositivo legal estabelece que uma ação é injusta quando esta ação é praticada há uma conduta injusta até ser praticada ela é somente o injusto O mesmo se aplica à conduta justa embora o termo em geral signifique propriamente ação justa e ato de justiça se aplique à correção de um ato de injustiça Examinaremos mais adianteu as várias regras da justiça e da lei enumeraremos suas várias espécies e as descreveremos além de tratar das coisas com que elas se relacionam 8 Sendo os atos justos e injustos aqueles que descrevemos uma pessoa age injustamente ou justamente sempre que pratica tais atos voluntaria mente quando os pratica involuntariamente ela não age injustamente nem justamente a não ser de maneira acidental O que determina se um ato é ou não é um ato de injustiça ou de justiça é sua voluntariedade ou involunwiedade quando ele é voluntário o agente é censurado e somente neste caso se trata de um ato deinjwtiça deitai forma que haverá aros que são injustos mas não chegam a ser atos de injustiça se a voluntariedade também não estiver presente Considero voluntária como já foi dito antes46 qUÍlquer ação cuja prática depende do agente e que é praticada conscientemente ou seja sem que o agente ignore quem é a pessoa afetada por sua ação qual é o instrumento usado e qual é o fim a ser atingido por exemplo quem ela está golpeando com que objeto e para que fim além disto nenhuma desw ações deve ser praticada acidental mente ou sob compulsão por exemplo se alguém segura a mão de uma pessoa e com ela golpeia ouua pessoa a pessoa cuja mão é segura não age volunt8fiamente pois a prática do ato não dependia dela Um homem que é golpeado pode ser o pai da pessoa que golpeia e esta pode saber que se trata de um homem ou de uma das pessoas presentes mas pode não saber que se trata de seu próprio pai podese fazer uma distinção semelhante a respeito do fim a ser atingido e da ação como um todo Então todo ato praticado na ignorincia ou que embora não sendo praticado na ignorin cia não depende do agente ou é praticado sob compulsão é um ato involuntário há também muitos processos naturais que realizamos ou sofremos conscientemente embora nenhum deles seja voluntário ou involuntário por exemplo envelhecer ou morrer Também no caso de atos injustos e justos a injustiça ou a justiça pode ser somente acidental de fato uma pessoa pode restituir conua a vontade Ética a Nicômacos 105 e por temor alguma coisa de que era depositária e não se poderá dizer que ela fez o que é justo ou agiu justamente a não ser de maneira acidental Da mesma forma podese dizer que a pessoa que sob compulsão e contra a vontade deixa de devolver alguma coisa de que era depositária agiu injustamente e fez o que era injusto apenas acidentalmente Praticamos alguns atos premeditadamente e outros sem premedita ção praticamos premeditadamente os atos que realizamos após delibera ção e sem premeditação aqueles que realizamos sem prévia deliberação Há portanto três espécies de danos nas relações entre as pessoas os causados na ignorância são erros quando a pessoa prejudicada ou o ato ou o instrumento ou o fim a ser atingido não é o que o agente imagina o agente pensava que não estava atingindo pessoal alguma ou que não estava atingindo alguém com um determinado projétil ou que não estava atingindo determinada pessoa ou que não a estava atingindo com determinada intenção mas aconteceu o que ele não esperava por exemplo ele não queria ferir mas somente arranhar ou a pessoH ferida ou o projétil não era quem ou o que ele esperava Então quando o dano ocorre contrariamente à expectativa razoável tratase de um infortúnio Quando ele não ocorre contrariamente à expectativa razoável mas não pressupõe deficiência moral tratase de um erro realmente uma pessoa comete um erro quando a falta se origina na própria pessoa mas é a vítima de um acidente quando a origem está fora dela Quando a pessoa age conscientemente mas não deliberadamente tratase de uma injusdça por exemplo os atos devidos à cólera ou a outras emoções inconcrláveis ou naturais na criatura humaqa realmente quando as pessoas pratiom tais atos lesivos e errados elas ágem injustamente e seus atos são aros de injustiça mas isto não significa necessariamente que os agentes são injustos ou maus pois a ofensa não é devida à deficiência moral Quando porém uma pessoa age deliberadamente ele é injusta e é moralmente deficiente Por isto se considera com razão que os atos devidos à cólera n io são premeditados com intenção criminosa pois quem inicia a ação nio é a pessoa que age sob o efeito da cólera e sim aquela que encoleriza o agente Além disto não se discute se o fato aconteceu ou não e sirr a sua justificação pois a ocorrência do ato não é discutida por exempio nas 1136 a transações comerciais onde uma das partes pode ser moralmente dei icien te a não ser que as partes discutam por esquecimento das circunsdlncias mas concordando sobre o fato elas discutem para saber de que lado está a justiça uma pessoa porém que ofendeu deliberadamente outnt não pode deixar de saber que estava agindo assim de tal forma que uma das partes pensa que está sendo tratada injustamente e a outra discorda 106 1136 b Aristóteles Então se uma pessoa ofende outra deliberadamente ela age injusta mente e estes são os aros de injustiça dos quais resulta que o agence uma pessoa injusca desde que o ato viole a proporcionalidade ou a igualdade Da mesma forma uma pessoa justa quando age justamente e de maneira deliberada mas ela age justamente apenas se age voluntariamente Entre os atos voluntários alguns são perdoáveis outras não Na verdade os atos que as pessoas cometem não somente na ignorância mas também por ignorância são perdoáveis não são perdoáveis todavia aqueles que as pessoas praticam não por ignorância mas devido a uma emoção que não é nem natural nem humana embora elas os pratiquem na ignorância 9 Mas talvez se possa duvidar de que a nossa discussão quanto a sofrer e praticar a injustiça tenha sido suficientemente decisiva neste caso deve se perguntar primeiro se as coisas se passam da maneira expressa por Eurípides quando ele diz estranhamente14 Para ser breve matei minha própria mãe Agistes ambos voluntariamente ou não É realmente possível sofrer a injustiça voluntariamente ou ao contrário sofrese a injustiça sempre contra a vontade da mesma forma que toda ação injusta é voluntária E sempre se sofre a injustiça voluntariamente ou sempre contra a vontade ou ora de um modo ora do outro O mesmo raciocínio se aplica à hipótese de uma pessoa ser tratada justamente toda ação justa é voluntária e portanto é razoável que haja uma contraposição similiar em cada hipótese que tanto sofrer injusta mente quanto ser tratado justamente devem ser igualmente voluntários ou igualmente contra a vontade Mas mesmo no caso de alguém ser tratado justamente pareceria paradoxal se isto fosse sempre voluntário pois algumas pessoas são tratadas justamente contra a sua vontade Também se poderia perguntar se cada pessoa que sofre o que é injusto está sendo tratada injustamente Ou será que sofrer e fazer algo injusto são a mesma coisa Tanto na ação quanto na passividade é possível que a justiça seja feita acidentalmente e acontece o mesmo é claro com a injustiça de fato fazer o que é injusto não é o mesmo que agir injustamente nem sofrer o que é injusto é o mesmo que ser tratado injustamente e identicamente no caso de agir injustamente pois é impossível ser tratado injustamente se a outra parte não age injwramente ou ser tratado justamente a não ser que a outra parte aja justamente Se agir injustamen te é simplesmente prejudicar voluntariamente alguém e voluntariamen te significa conhecendo a pessoa em relação à qual se age o instrumento e a maneira pela qual se está agindo e a pessoa incontinente se prejudica a si mesma não somente ela será tratada voluntariamente de maneira injusta mas também será possível que aJsuém aja injwramente em relaçãÓ a si mesmo saber se uma pessoa pode agir injustamente em relaçio a si 1137 a Ética a N icômacos 107 mesma é uma das quesrões controvertidas em nosso assunto Outrossim uma pessoa por incontinência pode ser ofendida voluntariamente por outra que age voluntariamente de tal forma que haveria possibilidade de uma pessoa ser voluntariamente tratada injustamente Ou então nossa definição está incorreta deveríamos acrescentar a prejudicar alguém conhecendo a pessoa em relação à qual se age o instrumento e a maneira pela qual se age contrariamente ao desejo da pessoa em relação à qual se age Então uma pessoa pode ser prejudicada voluntariamente e sofrer voluntariamente o que é injusto mas ninguém pode sofrer voluntariamen te uma injustiça nem mesmo uma pessoa incontinente Esta última age contrariamente ao seu desejo pois ninguém deseja o que não considera bom mas a pessoa incontinente não pensa que deve fazer o que faz Na verdade uma pessoa que dá o que é seu como Homero diz que Glaucos deu a Diomedes18 objetos de ouro por bronze e cem bois por nove não é tratada injustamente pois embora dar dependa de sua vontade ser tratado injustamente não depende pois tem de haver outra pessoa para tratar a primeira injustamente É claro portanto que não se é tratado injustamente por vontade própria Restam ainda duas das questões que desejaríamos discutir a primeirà é se é a pessoa que atribui a outra mais do que o quinhão que cabia a esta que age injustamente ou a que recebe o quinhão excessivo a segunda é se uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma Se a primeira hipótese é possível e é a pessoa que distribui qüe age injustamente e não a que recebe o quinhão excessivo então se uma pessoa atribui mais a outra do que a si mesma consciente e voluntariamente ela se trata de maneira injusta é isto que as pessoas decentes parecem fazer pois quem é dotado de excelência moral tende a ficar com menos do que o seu quinhão Ou isto não é tão simples como parece Com efeito a pessoa talvez obtenha mais do que o seu cuinhão de outro bem qualquer por exemplo honrarias ou distinções de um modo geral Podemos resolver a questão estabelecendo aqui a diferenciação que propusemos pouco acima a respeito da ação injusta pois neste caso a pessoa nada sofre que contrarie seus próprios desejos e ponanto não é tratada injustamente por obter um quinhão menor no mãximo ela é prejudicada É claro também que a pessoa que distribui age injwtamente mas nem sempre acontece o mesmo com a pessoa que fica com o quinhão excessivo de fato não é a pessoa a quem é feita a injustiça que age injustamente e sim a pessoa a quem se pode atribuir a prática voluntária de um ato injusto ou seja a pessoa na qual está a origem da ação isto é quem distribui e não quem recebe o quinhão Além disto já que a palavra fazer é ambígua e em ceno sentido se pode dizer que coisas sem vida ou a mão 108 1137 b Aristóteles ou um preposto que obedece a ordens matam aJsuém a pessoa que obtém um quinhão excessivo não age injustamente embora ela faça o que é injusto Mais ainda se um juiz julga mal na ignorincia ele não age injustamente a respeito da justiça no sentido lepl e seu julpmento não é injusto neste sentido sendo até justo em certo sentido pois a justiça lepl e a justiça primordial são diferentes mas se ele profere conscientemente um julgamento injusto ele mesmo está visando a um quinhão excessivo de favores ou de vingança Então um juiz que profere um julgamento injusto por estes motivos obtém mais do que aquilo que lhe cabe tanto quanto se participasse do proveito e da injustiçL O fato de aquilo que ele obtém ser diferente daquilo que ele distribui é irrelevante pois ainda que conceda terras com o objetivo de participar do esbulho ele não recebe terras e sim dinheiro As pessoas pensam que depende delas agir lDJUStamente e que portanto é fácil ser justo Mas não é manter relações sexuais com a mulher do próximo ou subornar alguém é fácil e depende de nós mas praticar estes atos em decorrência de uma certa disposição de espírito nem é fácil nem depende de nós Da mesma forma pensase que para conhecer o que é justo e o que é injusto as pessoas não têm de ser sábias porque não é difícil entender dos assuntos de que tratam as leis embora eles não constituam o qu é justo senão acidentalmente mas saber como as ações devem ser praticadas e como as distribuições devein ser efetuadas para serem justas é uma conquista maior do que conhecer o que é bom para a saúde E mesmo no caso da saúde apesar de ser fácil saber que o mel o vinho o heléboro o cautério e a cirurgia são benéficos saber como a quem e quando estes devem ser aplicados com o objetivo de proteger a saúde é uma conquista não menor do que a de ser um médico Ainda por esta razão 149 pensase que agir injustamente é tão característico das pessoas justas quanto das injustas porque as pessoas justas seriam não menos e até mais capazes do que as injustas de praticar cada um dos atos injustos mencionados pouco acima elas poderiam manter relações sexuais com a mulher do próximo ou ferir alguém e as pessoas corajosas poderiam desvencilharse de seus escudos e virarse para fugir em qualquer direção Mas ser um covarde ou agir injustamente não consiste em agir desta maneira a não ser acidentalmente e sim em agir desta maneira em decorrência de uma disposição da alma da mesma forma que exercer a medicina e curar consiste não em usar ou não usar um instrumento cirúrgico ou em usar ou não usar remédios e sim em usar uns e outros da maneira certa Os atos justos ocorrem entre pessoas que participam das coisas boas em si mesmas e podem têlas em excesso ou de menos para alguns seres elas nunca serão excessivas sem dúvida os deuses por exemplo para outros os incuravelmente maus nem mesmo uma participação míruma Ética a Nicômacos 109 pode ser benéfica mas todas as coisas deste gênero são nocivas para outras finalmente tais coisas são benéficas até certo ponto este é o caso das criaturas humanas de um modo geral 10 Nosso assunto seguinte é a eqüidade e o eqüitativo e suas relações com a justiça e o justo respectivamente De fato a justiça e a eqüidade quando examinadas nem parecem ser absolutamente as mesmas nem são especifi mente diferentes Às vezes louvamos aquilo que é eqüitativo e as pessoas eqüitativas aplicase o termo eqüitativo à guisa de louvor mesmo em relação a outras formas de excelência moral em vez de bom querendo dizer com mais eqüitativo que uma coisa é melhor é às vezes quando examinamos logicamente o assunto parece estranho que o eqüitativo apesar de ser diferente do justo seja ainda assim louvável com efeito se os dois são diferentes ou o justo ou o eqüitativo não é bom e se ambos são bons eles são a mesma coisa São estas então pouco mais ou menos as considerações que estão na origem do problema relativo ao eqüitativo Todas elas são em certo sentido corretas e não se contradizem pois o eqüitativo embora seja melhor que uma simples espécie de justiça é em si mesmo justo e não é por ser especificamente diferente da justiça que ele é melhor do que o justo A justiça e a eqüidade são portanto a mesma coisa embora a eqüidade seja melhor O que cria o problema é o fato de o eqüitativo ser justo mas não o justo segundo a lei e sim um corretivo da justiça legal A razão é que toda lei é de ordem geral mas não é possível fazer uma afirmação universal que seja correta em relação a certos casos particulares Nestes casos então em que é necessário estabelecer regras gerais mas não é possível fazêlo completamente a lei leva em consideração a maioria dos casos embora não ignore a possibilidade de falha decorrente desta circunstância E nem por isto a lei é menos correta pois a falha não é da lei nem do legislador e sim da natureza do caso particular pois a natureza da conduta é essencialmente irregular Quando a lei estabelece uma regra geral e aparece em sua aplicação um caso não previsto por esta regra então é correto onde o legislador é omisso e falhou por excesso de simplificação suprir a omissão dizendo o que o próprio legislador diria se estivesse presente e o que teria incluído em sua lei se houvesse previsto o caso em questão or isto o eqüitativo é justo e melhor que uma simples espécie de justiça embora não seja melhor que a justiça irrestrita mas é melhor que o erro oriundo da natureza irrestrita de seus ditames Então o eqüitativo é por sua natureza uma correção da lei onde esta é omissa devido à sUa generalidade De fato a lei não prevê todas as situações porque é impossível estabelecer uma lei a propósito de algumas delas de tal forma que às vezes se torna necessário recorrer a um decreto Com efeito quando uma situação é indefinida a regra também tem de ser indefinida como acontece com a régua de chumbo usada pelos construto 110 1138 a Aristóteles res em Lesbos a régua se adapta à forma da pedra e não é rígida e o decreto se adapta aos fatos de maneira idêntica Agora podemos ver claramente a natureza do eqüitativo e perceber que ele é justo e melhor que uma simples espécie de justiça É igualmente óbvio diante disto o que vem a ser uma pessoa eqüitativa quem escolhe e pratica atos eqüitativos e não se acém intransigentemente aos seus direitos mas se contenta com receber menos do que lhe caberia embora a lei esteja do seu lado é uma pessoa eqüitativa e esta disposição é a eqüidade que é uma espécie de justiça e não uma disposição da alma diferente 11 Com base no que dissemos 110 podese deduzir claramente se uma pessoa é capaz de ser injusta em relação a si mesma ou não Uma classe de aros justos se compõe de aros conformes a qualquer forma de excelência moral considerada pela lei por exemplo a lei não permite expressamente o suicídio e o que ela não permite expressamente ela proíbe Mais ainda quando uma pessoa violando a lei ôfende outra voluntariamente e sem ser em retaliação ela age injustamente e um ofensor voluntário é aquele que conhece tanto a pessoa que ele está ofendendo com sua ação quanto o instrumento que está usando Encrecanco a pessoa que se maca voluntaria mente num acesso de forte emoção agindo desta maneira contraria a reta razão e isto a lei não permite ela age portanto injustamente Mas contra quem Certamente contra a cidade e não somente contra si mesma pois ela mesma sofre voluntariamente mas ninguém sofre uma injustiça voluntariamente É também por esta razão que a cidade aplica uma penalidade em tais casos punindo o suicida com uma perda relativa de direitos civis como se ele estivesse agindo injustamente em relaçào à cidade Além disto não é possível que uma pessoa se trate injustamente na acepção de agir injustamente em que o homem que age injustamente é apenas injusto e não totalmente mau esta acepção é diferente da primeira a pessoa injusta em uma das acepções da palavra é moralmente deficiente de um modo particular exatamente da maneira que o covarde é deficiente e não na acepção de ser totalmente mau de tal forma que seu aro injusto não manifesta deficiência moral generalizada Com efeito isto levaria à possibilidade de a mesma coisa ser subtraída e adicionada à mesma coisa e ao mesmo tempo mas isto é impossível já que o justo e o injusto sempre envolvem mais de uma pessoa Ademais a ação injusta é voluntária e praticada deliberadamente além de pressupor a iniciativa não se pensa que uma pessoa age injustamente se rendo sido ofendida faz a mesma coisa com quem o ofendeu mas se uma pessoa se maltrata ela sofre e se impõe um sofrimento ao mesmo tempo Mais ainda se uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma ela pode sofrer uma injustiça voluntariamente Além disco ninguém age injustamente sem cometer algum aro particular de injustiça mas nenhum homem comete adultério 1138b Ética a Nicômacos lll com sua própria mulher ou arromba sua própria casa ou rouba seus próprios bens De um modo geral a pergunta Pode uma pessoa ser injusta consigo mesma é respondida também com o auxílio de nossa resposta à pergunta Pode uma pessoa serinjusra consigo mesma voluntariamente m É também evidente que tanto sofrer uma inj11stiça quanto praticála são males o primeiro caso é ter menos e o segundo é ter mais do que o meio termo correspondendo ao que é saudável em medicina e ao que proporciona boas condições físicas nos exercícios atléticos Mesmo assim agir injustamente é o mal pior pois este procedimento é reprovável já que pressupõe deficiência moral no agente e deficiência moral extrema e irrestrita ou quase pois é verdade que nem todo ato errado cometido voluntariamente pressupõe deficiência moral enquanto sofrer injustiça não pressupõe necessariamente deficiência moral ser injusto por exemplo na vítima Então sofrer injustiça é em si um mal menor embora acidentalmente ele possa ser maior Mas a ciência não se preocupa de forma alguma com o acidental ela classifica a pleurisia como um mal mais sério que uma luxação apesar de esta poder tornarse acidentalmente mais séria se da queda que a causou resultar a prisão da pessoa que caiu ou até a sua morte nas mãos do inimigo Em sentido metafórico e analógico há uma espécie de justiça no homem não em relação a si mesmo mas entre algumas de suas partes não se trata de justiça plena mas do tipo de justiça que há entre senhor e escravo e entre pai e filhom Com efeito há uma relação deste tipo entre a parte racional e a parte irracional da alma e é com vistas a estaspartes que se pensa que uma pessoa pode agir injustamente em relação a si mesma porque tais partes estão sujeitas a ser contrariadas em seus respectivos desejos de tal forma que pode haver uma espécie de justiça entre elas como aquela que existe entre o governante e o governado Eram estas as distinções que tínhamos a fazer a respeito da justiça e das outras formas de excelência moral Q When a light ray is passing through a rectangular glass slab then the ray shifts in the same plane Why a Due to refraction b Due to reflection c Due to total internal reflection d Due to formation of image 1139 a LIVRO VI 1 Já dissemos anteriormente que devemos escolher o meio termo e não o excesso ou a falta e que o meio termo é conforme à reta razão Examinemos agora esta última afirmação Em todas as disposições que mencionamos da mesma forma que nas demais há um certo alvo a visar no qual as pessoas que usam a razão fixam o olhar para intensificar ou relaxar os esforços no sentido de adotar o meio termo e há um cerco padrão determinando o meio termo que dizemos situarse entre o excesso e a falta e ser conforme à reta razão Mas esta afirmação embora verdadeira não é de forma alguma clara De fato não somente neste caso mas em todos os propósitos que assumem o caráter de ciência é verdadeiro dizer que não devemos intensificar nem relaxar nossos esforços demasiadamente ou insuficientemente mas até um ponto inter mediário e de conformidade com a reta razão Mas uma pessoa que H penas conhece esta verdade não é mais sábia por isto por exemplo e la não sabe que remédios deve aplicar ao nosso corpo somente porque lhe disseram que usasse tudo que a ciência médica ou seus conhecedores prescrevem Por isto é necessário a respeito das disposições da alma que não somente esta afirmação tenha sido feita mas também que se determine o que é a reta razão e qual é o padrão que a determina Já dividimos as formas de excelência da alma e dissemos que umas são formas de excelência do caráter e outras do intelecto6 Depois discutimos em detalhe as várias formas de excelência moral quanto às ourras falaremos em seguida começando com algumas observações a propósito da alma Dissemos antes159 que a alma se compõe de duas partes uma dotada de razão e outra irracional agora façamos uma distinção semelhan te em relação à parte dotada de razão Partamos do pressuposto de que há duas faculdades racionais uma que nos permite contemplar as coisas cujos primeiros princípios são invariáveis e outra que nos permite contemplar as coisas passíveis de variação com efeito no pressuposto de que o 114 1139 b Aristóteles conhecimento se baseia numa cena semelhança ou afinidade entre o sujeito e o objeto as partes da alma aptas a conhecer os objetos de espécies diferentes devem ser também especificamente diferentes Uma destas duas faculdades racionais pode ser chamada de científica e a outra de calculativa pois deliberar e calcular são a mesma coisa mas ninguém delibera sobre coisas invariáveis A faculdade calculativa portanto é uma das faculdades da pane da alma dotada de razão Devemos procurar saber então qual é a melhor disposição de cada uma destas faculdades pois esta disposição é a excelência de cada uma delas 2 A excelência de uma faculdade se relaciona com sua função específica e são crês os elementos da alma que governam a ação refletida e a percepção da verdade a sensação o pensamento e o desejo Destes a sensação não origina qualquer ação refletida isto se evidencia pelo fato de os animais irracionais terem sensações mas não agirem refletidamente A busca e a repulsa na esfera do desejo correspondem à afirmação e à negação na esfera do pensamento por isto já que a excelência moral é uma disposição da alma relacionada com a escolha e a escolha é o desejo deliberado seguese que para que a escolha seja boa tanto a razão deve ser verdadeira quanto o desejo deve ser correto e este deve buscar exatamente o que aquela determina Este tipo de pensamento e de percepção da verdade é de natureza prática quanto ao pensamento contemplativo que não é nem prático nem produtivo o bom e o mau funcionamento são respectivamente a percepção da verdade e a impressão da falsidade com efeito esta é função de toda a parte intelectual do homem enquanto o bom funcionamento da inteligência prática é a percepção da verdade conforme ao desejo correto A origem da ação sua causa eficiente e não final é a escolha e a origem da escolha está no desejo e no raciocínio dirigido a algum fim É por isto que a escolha não pode existir sem a razão e o pensamento ou sem uma disposição moral pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de pensamento e caráter O pensamento por si mesmo todavia não move coisa alguma mas somente o pensamento que se dirige a um fim e é prático realmente esta espécie de pensamento dirige também a atividade produtiva á que qualquer pessoa que faz alguma coisa a faz com vistas a uma finalidade o ato de fazer não é urna finllidade em si mas somente uma finalidade em relação a outra coisa qualquer e a finalidade de outra coisa qualquer enquanto uma coisa feita é uma finalidade em si pois uma boa ação é uma finalidade e o desejo tem este objetivo A escolha portanto razão desiderativa ou desejo racionativo e o homem é uma origem da ação deste Ética a Nicômacos 115 tipo nada que é passado é objeto de escolha por exemplo ninguém escolhe ter participado do saque de Tróia efetivamente ninguém delibera sobre o passado mas sobre o futuro e incerto enquanto o que passou não pode deixar de ter acontecido logo Agaton está certo ao dizer De apenas uma coisa o próprio Deus carece dar por inexistente o que aconteceu 160 A função de ambas as faculdades intelectuais da alma é então a percepção da verdade Conseqüentemente suas respectivas formas de excelência moral são as disposições que melhor as capacitam a chegar à verdade 3 Comecemos do princípio e discutamos novamente estas disposições Partamos do pressuposto de que são cinco as disposições em virtude das quais a alma alcança a verdade por meio da afirmação uu da negação a arte 16 a ciência o discernimento 16 a sabedoria filosófica e a inteligência deixemos de lado o julgamento e a opinião porque podem induzirnos em erro A natureza do conhecimento científico se devemo falar com exatidão em vez de seguir simples analogias tornarseá evidente após as considera ções seguintes Todos supomos que aquilo que conhecemos cientifica mente não é sujeito sequer a variações quanto às coisas sujeitas a variações não sabemos quando elas estão além de nossa capacidade de observação se elas realmente existem ou não O objeto do conhecimento científico portanto existe necessariamente Ele é conseqüentemere eterno pois rodas as coisas cuja existência é absolutamente necessária são eternas Ademais considerase que toda ciência pode ser ensinada e tudo que é cientificamente conhecido pode ser aprendido E todo ensinamento parte do que já é conhecido como sustentamos também em nossos Analíticos pois ele avança às vezes por indução e às vezes valendose do silogismo Com efeitc a indução é o ponto de partida que o próprio conhecimento do universal pressupõe enquanto o silogismo avança a partir dos universais Há portanto pontos de partida que são o marco inicial do avanço do silogismo e aos quais não se chega pelo silogismo logo é por indução que os atingimos O conhecimento científico então é a disposição graças à qual podemos fazer demonstrações e tem outras qualificações que especificamos nos Analíticos 1t de fato um homem possui conhecimento científico quando cem uma convicção a que chegou de certa maneira e conhece os pontos de partida já que se os pontos de partida não lhe são melhor conhecidos do que a conclusão ele terá o conhecimento apenas acidentalmente Seja esta então nossa definição do conhecimento científico 116 1140 a Aristóteles 4 Enue as coisas var1aveis estão incluídas as coisas feitas e as ações praticadas pois fazer e agir são coisas diferentes quanto a esta distinção mesmo as nossas obras destinadas ao público 164 são confiáveis assim a disposição racional pertinente à capacidade de agir é diferente da disposição racional pertinente à capacidade de fazer Tampouco uma delas é parte da outra pois nem agir é fazer nem fazer é agir Já que a arquitetura é uma arte e é essencialmente uma disposição racional da capacidade de fazer e não há arte alguma que não seja uma disposição relacionada com fazer nem hA qualquer disposição relacionada com fazer que não seja uma arte a arte é idêntica a uma disposição da capacidade de fazer envolvendo um método verdadeiro de raciocínio Toda arte se relaciona com a criação e dedicarse a uma arte é estudar a maneira de fazer uma coisa que pode existir ou não e cuja origem está em quem faz e não na coisa feita de fato a arte não trata de coisas que existem ou passam a existir necessariamente nem de coisas que existem ou passam a existir de conformidade com a natureza estas coisas têm sua origem em si mesmas JA que há diferença entre fazer e agir a arte deve relacionarse com a criação e não com a aÇão De certo modo aliás o acaso e a arte se relacionam com os mesmos objetos como diz Agaton 16 A arte ama o acaso e o acaso a arte Então a arte como já dissemos é uma disposição relacionada com a criação envolvendo um modo verdadeiro de raciocinar e a falta de arte que é o contrário da arte é também uma disposição relacionada com a criação mas envolvendo um método falso de raciocinar E ambas se relacionam com as coisas variáveis S Com referência ao discernimento chegaremos à sua definição se considerarmos quais são as pessoas dotadas desta forma de excelência Pensase que é característico de uma pessoa de discernimento ser capaz de deliberar bem acerca do que é bom e conveniente para si mesma não em relação a um aspecto particular por exemplo quando se quer saber quais as espécies de coisas que concorrem para a saúde e para o vigor físico e sim acerca das espécies de coisas que nos levam a viver bem de um modo geral A evidência disto é o fato de dizermos que uma pessoa é dotada de discernimento em relação a algum aspecto particular quando ela calcula bem com vistas a algum objetivo bom difeente daqueles que são o objetivo de uma arte qualquer Conseqüentemente no sentido mais geral a pessoa capaz de bem deliberar é dotada de discernimento Mas ninguém delibera acerca das coisas invariáveis nem acerca de ações que não podem ser praticadas Portanto uma vez que o conhecimento científico envolve demonsuação mas não pode haver demonsuação de coisas cujos primeiros princípios são variáveis porque tudo nelas é variável e porque é impossível deliberar ttica a Nicômacos 117 acerca de coisas que são como são por necessidade o discernimemo não pode ser conhecimento científico nem arte ele não pode ser ciência porque aquilo que se refere às ações admite variações nem arte porque agir e fazer são coisas de espécies diferentes A alternativa restante então é que ele é uma qualidade racional que leva à verdade no tocante às ações relacionadas com as coisas boas ou más para os seres humanos De fato enquanto fazer tem uma finalidade diferente do próprio ato de fazer a finalidade na ação não pode ser senão a própria ação pois agir i uma finalidade em si É por esta razão que pensamos que homens como 1140 b Pérides têm discernimento porque podem ver o que é bom para si mesmos e para os homens em geral consideramos que as pessoas capazes de fazer isto são capazes de bem dirigir as suas casas e cidades J esta explicação do nome moderação que significa preservar o discernimen to 66 O que a moderação preserva é a nossa convicção quanto ao nosso bem pois o prazer e o sofrimento na verdade não destroem todas as convicções por exemplo eles não destroem a convicção no sentido de que o triângulo tem ou não cem seus ângulos iguais aos de dois ânJulos retos mas somente convicções acerca de atos a praticar Efetivamente os primeiros princípios das ações que praticamos estão na finalidade a que elas visam mas as pessoas desgastadas pelo prazer ou pelo sofrimento fracassam inteiramente quando se trata de discernir qualquer desces primeiros princípios de discernir que por causa desces ou por estes elas devem escolher e praticar todos os acos que elas escolhem e praticam pois a deficiência moral destrói os primeiros princípios O discernimento deve ser então uma qualidade racional que lva à verdade no tocante às ações relacionadas com os bens humanos Mas além disco embora haja uma excelência em matéria de arce não há cal excelência em mateéia de discernimento na arte é preferível a pesso1 que erra conscientemente mas em matéria de discernimento à semelhança do que acontece com as várias formas de excelência ocorre o contrário É claro então que o discernimento é uma forma de excelência e não uma arte Havendo portanto duas partes da alma dotadas de raz1o o discernimento deve ser uma forma de excelência de uma das duas ou seja da parte que forma opiniões pois a opinião se relaciona com o que é variável da mesma forma que o discernimento O discernimento entretanto não é apenas uma qualidade racional e istoé evidenciado pelo faco de se poder deixar de usar uma faculdade puramente racional mas não o discernimento 6 O conhecimento científico é o julgamento acerca de coisas universais e necessárias e as verdades demonstradas e todo conhecimento científico o conhecimento científico envolve raciocínio são derivados dos primeirs princípios Sendo assim o primeiro princípio do qual deriva o que é cientificamente conhecido não pode ser um objeto do conhecin1enco 118 Aristóteles científico nem da arte nem do discernimento pois aquilo que pode ser cientificamente conhecido pode ser demonstrado e a arte e o discerni mento tratam de coisas variáveis Estes primeiros princípios não são tampouco objetos da sabedoria filosófica pois é urna característica do filósofo chegar a certas coisas através da demonstração Se então as disposições da alma que nos permitem atingir a verdade e que nunca nos enganam a propósito das coisas invariáveis ou mesmo das 1141 a variáveis são o conhecimento científico o discernimento a sabedoria filosófica e a inteligência e se a disposição da alma que nos permite apreender os primeiros princípios não pode ser qualquer das outras três isto é discernimento conhecimento científico e sabedoria filosófica a alternativa restame é que os primeiros princípios são apreendidos pela inteligência 7 A palavra sabedoria é usada nas artes para assinalar os mestres mais perfeitos em suas respectivas artes por exemplo Feidias como escultor em geral e Polícleitos como um escultor de figuras humanas e neste sentido nada mais queremos dizer com sabedoria neste caso do que excelência artística mas pensamos que algumas pessoas são sábias em geral e não emalguma esfera particular nem sábias em algo mais como diz Homero no Margitts 6 Os deuses não fizeram dele um cavador nem mesmo um arador nem sábio em algo mais A sabedoria portanto é a mais perfeita das formas de conhecimento Conseqüentemente o sábio não deve apenas saber o que decorre dos primeiros princípios ele deve também ter uma concepção verdadeira acerca dos próprios primeiros princípios Logo a sabedoria deve ser uma combinação da inteligência com o conhecimento um conhecimento científico consumado das coisas mais sublimes Com efeito seria absurdo pensar que a oencia política ou o discernimento é o melhor conhecimento já que o homem não é o que há de melhor no universo Se o que é saudável ou bom é diferente para os homens e os peixes mas o que é branco ou reto é sempre o mesmo qualquer pessoa diria que o que é sábio é sempre o mesmo mas o que é objeto de discernimento pode diferir Realmente é às pessoas que consideram da melhor maneira as matérias relativas a si mesmas que atribuímos o discernimento e é a elas que confiaremos tais matérias Por isto dizemos que mesmo alguns animais inferiores têm discernimento por exemplo aqueles que têm uma espécie de poder de pressentimento a respeito de sua própria vida É óbvio também que a sabedoria filosófica e a ciência política não podem ser a mesma coisa pois se a disposição da alma Ética a Nicômacos 119 relacionada com o interesse próprio de uma pessoa devesse ser chamada de sabedoria filosófica haveria muitas sabedorias filosóficas não há uma sabedoria filosófica relacionada com o bem de todos os animais do mesmo modo que não há uma arte única da medicina para todos os seres existentes e sim uma sabedoria filosófica relativa ao bem de cada espécie Se argumentarmos que o homem é o melhor dosanimais isto não fará diferença pois há outras coisas mais divinas em sua própria natureza do que o homem os corpos que constituem o universo são o exemplo mais evidente desta afirmação Das considerações precedentes resulta então a evidência de que a sabedoria filosófica é uma combinação do conhecimento científico com a inteligência que permite perceber o que há de mais sublime na natureza Por isto dizemos que Anaxágoras Tales 161 e homens como eles têm sabedoria filosófica mas não discernimento quando vemos que eles ignoravam aquilo que lhes er vantajoso e também dizemos que eles conheciam coisas extraordinárias maravilhosas difíceis e até divinas mas inúteis porque eles não procuravam os bens humanos O discernimento por ouuo lado relacionase com as ações humanas e coisas acerca das quais é possível deliberar de fato dizemos que deliberar bem é acima de tudo a função das pessoas de discernimento mas ninguém delibera a respeito de coisas invariáveis ou de coisas cuja finalidade não 1141 b seja um bem que possamos atingir mediante a ação As pessoas boas de um modo geral são as capazes de visar calculadamente ao que há de melhor para as criaturas humanas nas coisas passíveis de ser atingidas mediante a ação Tampouco o discernimento se relaciona somente com os universais ele deve também levar em conta os particulares pois o discernimento é prático e a prática se relaciona com os particulares É por isto que as pessoas ignorantes são às vezes mais práticas do que as outras que sabem pois se uma pessoa soubesse que os alimentos leves são mais facilmente digeríveis e portanto saudiveis mas não soubesse quais as espécies de alimentos mais leves não seria provavelmente capaz de restaurar a saúde por outro lado é provável que uma pessoa ciente de que a galinha é um alimento leve restaure a saúde O discernimento se relaciona também com a ação de tal modo que as pessoas devem possuir ambas as suas formas ou melhor mais conhecimento dos fatos particulares do que conhecimento dos universais Mas também aqui deve haver alguma faculdade dominante 8 A ciência política e o discernimento correspondem à mesma qualidade da alma sua essência porém não é a mesma No caso da sabedoria relacionada com os assuntos da cidade a forma de discernimento que desempenha o papel dominante é a ciência legislativa enquanto a que se relacion11 com os casos particulares é conhecida pela denominação 120 1142 a Aristóteles genérica de ciência política esta é pertinente l ação e à deliberação pois um decreto é algo a ser cumprido sob a forma de um ato individual É por isto que se diz que somente os mestres nesta arte participam da política pois somente eles agem da mesma forma que um trabalhador manual69 O discernimento também se identifica particularmente com a espécie de conhecimento relacionada com a própria pessoa ou seja com o indivíduo esta espécie é conhecida pela denominação genérica de discer nimento das outras espécies uma é chamada economia doméstica a outra legislação a terceira política e desta última uma parte é chamada deliberativa e a outra judicial Sendo assim saber o que é bom para si mesmo será uma espécie de conhecimento mas esta espécie é bem diferente das outras e se considera que as pessoas que conhecem sew próprios interesses e se dedicam a eles têm discernimento ao passo que os políticos são considerados intrometidos daí as palavras de Eurípides0 Mas como poderia eu considerarme um homem de discernimento eu cuja vida podia ser tranqüila um número entre muitos e tendo a mesma participação Quem quer galgar alturas ter coisas demais As pessoas que pensam desce modo buscam seu próprio bem e pensam que se deve agir assim Desta opinião se originou a crença de que cais homens têm discernimento mas talvez os homens não possam buscar seu próprio bem sem cuidar da economia doméstica e sem uma forma de governo Além disco a maneira de buscarmos nosso próprio bem não é clara e deve ser investigada Uma prova do que foi dito é que enquanto os jovens se tornam geômetras ou matemáticos ou sábios em matérias do mesmo gênero não parece possível que um jovem seja dotado de discernimento A razão disco é que este tipo de sabedoria não se relaciona apenas com os universais mas também com os facos particulares esces se tornam mais conhecidos graças à experiência e os jovens não são experientes pois é o decurso do tempo que dá experiência de faco podese também perguntar por que um menino é capaz de tornarse um matemático mas não pode tornarse um filósofo de um modo geral ou um filósofo da natureza Será que isco acontece porque os objetos da matemática existem por abstração enquanto os primeiros princípios relativos às outras esferas do conheci mento mencionadas vêm com a experiência e porque os jovens não cêm convicções acerca destas últimas mas simplesmente usam sem convicção o vocabulário peculiar às mesmas enquanto a essência dos objetos matemá ticos lhes é suficientemente acessível 1142 b Ética a Nicômacos 121 Além disto o erro na deliberação pode ser em relação ao universaiU ao particular por exemplo podem passarnos despercebidos tanto o fato de que toda água salobra é insalubre quanto o fato de certa água er salobra É evidente que o discernimento não é conhecimento científico P liS como já dissemos 2 ele se relaciona com o fato particular fundamental já que a ação a ser praticada é desta natureza Ele difere então da inteligência pois a inteligência apreende definições para as quais não há uma razão enquanto o discernimento se relaciona com o fato particular fundamental que é objeto não de conhecimento científico mas de percepção e não da percepção de qualidades pertinemes a um determina do sentido mas da percepção pela qual apreendemos por exemplo que a figura fundamental da matemática é o triângulo realmente nesta direção também haverá um limite n Mas isto se aplica mais à percepção que o discernimento embora se trate de outra espécie de percepção e nio daquela que apreende as qualidades pertinentes a cada sentido 9 Devemos também determinar a natureza da excelência na deliberação e procurar saber se ela é uma espécie de conhecimento ou de opinião ou e capacidade de conjecturar ou algo especificamente diferente de tudo isto Conhecimento científico ela não é pois não se investiga acerca de coisas conhecidas enquanto a excelência na deliberação é uma das espécies de deliberação e quem delibera investiga e calcula Tampouco ela é capacidade de conjecturar com efeito esta não pressupõe raciocínio e opera rapidamente ao passo que a deliberação consome muito tempo tanto que se diz que devemos tirar rapidamente as conclusões a partir e nossas deliberações mas devemos deliberar devagar Outrossim a viva i dade de espírito é diferente da excelência na deliberação que é uma forma da capacidade de conjecturar A excelência na deliberação não é tampou o qualquer forma de opinião Mas uma vez que as pessoas que deliberam mal cometem erro enquanto as que deliberam bem deliberam corretl mente a excelêncià na deliberação é obviamente uma espécie de correçã embora não seja correção de conhecimento nem de opinião pois no existe correção de conhecimento já que não existe erro de conheciment e opinião correta é a verdade ao mesmo tempo tudo que é objeto óe opinião já está determinado Além disto a excelência na deliberação envolve raciocínio A alternativa restante então é que a excelência ra deliberação é pensar corretamente De fato o pensamento ainda não é uma afirmação porquanto embora a própria opinião não seja investigação mas já tenha chegado ao nível de afirmação a pessoa que está deliberandc quer delibere bem quer delibere mal está investigando e calculando algo 122 1143 a Aristóteles Mas a excelência na deliberação é uma forma de correção na deliberação e portanto devemos investigar primeiro o que é a deliberação e quais são os objetos de deliberação Mas correção neste contexto é um termo ambíguo e obviamente nem toda espécie de correção na delibera ção é excelência na deliberação com efeito as pessoas incontinentes e más poderão graças aos seus cálculos atingir o objetivo que se propõem e portanto terão deliberado corretamente embora tenham trazido um grande mal para si mesmas Mas chegamos à conclusão de que deliberar bem é bom porque esta espécie de correção na deliberação é a excelência na deliberação ou seja a deliberação que tende a chegar ao que é bom É possível entretanto chegar ao próprio bem com um silogismo falso e fazer o que deve ser feito mas não pelos meios corretos por ser falso o termo médio Portanto esta disposição que leva alguém a chegar à conclusão certa mas não pelos meios cenos ainda não é a exceléncia na deliberação Ademais uma pessoa pode chegar à conclusão correta por meio de longa deliberação enquanto outra pode fazêlo rapidamente Logo no primeiro caso ainda não chegamos à excelência na deliberação que é a correção a respeito daquilo que é conveniente ou seja correção quanto à finalidade à maneira e ao tempo consumido na deliberação Mais ainda é possível ter deliberado bem de um modo geral ou relativamente a uma finalidade particular Excelência na deliberação em geral então é aquilo que leva a resultados corretos com referência à finalidade em geral e excelência na deliberação em particular é aquilo que leva a resultados corretos com referência a uma finalidade particular Portanto se é característico das pessoas de discernimento deliberar bem a excelência na deliberação será a correção na deliberação a respeito do que conduz a uma finalidade cuja concepção verdadeira constitui o discernimento 10 O entendimento também e a excelência no entendimento graças aos quais dizemos que alguém é uma pessoa de entendimento ou de excelente entendimento não são totalmente a mesma coisa que o conhecimento científico ou a opinião neste último caso todas as pessoas seriam dotadas de entendimento nem são qualquer uma das ciências particulares como a medicina a ciência das coisas relacionadas com a saúde ou a geometria a ciência das magnititudes Efetivamente o entendimento não se relaciona com as coisas que existem para sempre e são imutáveis nem com qualquer uma das coisas que passam a existir mas com as coisas sobre as quais podemos ter dúvidas e podemos deliberar Logo o entendimento atua em relação aos mesmos objetos do discernimento mas o entendimento e o discernimento não são a mesma coisa De fato o discernimento emite ditames já que as ações que devemos ou não devemos praticar são a sua finalidade ao passo que o entendimento apenas julga o entendimento é idêntico à excelência no entendimento e as pessoas de entendimento são idênticas às pessoas de excelente entendimento O entendimento não Ética a Nicômacos 123 consiste em ter ou em adquirir discernimento mas da mesma forma que aprender se chama entender quando significa o exercício da faculdade de conhecer o entendimento também é aplicável ao exercício da faculdade de opinar com o intuito de julgar o que outra pessoa diz a propósito de matérias com as quais o discernimento se relaciona e de julgar acertada mente pois bem e acertadamente são a mesma coisa Daí provém o uso do termo entendimento no sentido em que dizemos que uma pessoa tem um bom ou excelente entendimento aplicandose o termo na acepção de aprender de fato usamos freqüentemente aprender no sentido de entender 11 Chamamos de julgamento isto é a faculdade graças à qual dizemos que uma pessoa julga compreensivamente a percepção acertada do que é eqüitativo Uma prova disto é o fato de dizermos que uma pessoa eqüitativa é mais que todas as outras um juiz compreensivo e identifica mos a eqüidade com o julgamento compreensivo acerca de certos fatos E julgamento compreensivo é o julgamento no qual está presente a percepção do que é eqüitativo e de maneira acertada e julgar acertada mente é julgar segundo a verdade Então é razoável dizer que todas as disposições recémexaminadas convergem para o mesmo ponto com efeito quando falamos de julga mento de entendimento de discernimento e de inteligência atribuímos às mesmas pessoas a posse da faculdade de julgar e dizemos que elas chegaram à idade da razão e têm discernimento e entendimento pois todas estas disposições se relacionam com o fundamental e com o particular e ser uma pessoa de entendimento e compreensiva consiste em ser capaz de julgar acertadamente os fatos a propósito dos quais se demonstra discernimento porque os atos eqüitativos são comuns a todas as pessoas boas em sua conduta nas relações com outras pessoas Por outro lado todas as ações que devemos praticar estão incluídas entre os fatos particulares e fundamentais pois não somente as pessoas dotadas de discernimento devem cpnhecer os fatos particulares como o entendimen to e o julgamento também se relacionam com ações a ser praticadas e estas sio fatos fundamentais E a inteligência se relaciona com o fundamental em ambas as direções pois tanto as definições primúias quanto os fatos fundamentais 174 são apreendidos pela inteligência e nio se 1143 b chega a eles pelo raciocínio nas demonstrações a inteligência apreende as definições imutáveis e primárias e nos raciocínios práticos ela apreende os fatos fundamentais e variáveis ou seja a premissa menor já que os fatos fundamentais e variáveis são os pontos iniciais a partir dos quais inferimos as finalidades porquanto chegamos aos universais a partir dos particulares devemos todavia ter a percepção destes e esta percepção é a inteligênciL Por isto a inteligência é ao mesmo tempo princípio e fim já que as demonstrações se fazem a partir destes e acerca destes 124 1144 a Aristóteles É por isto que se pensa que estas disposições são dotes naturais e que uma pessoa é um juiz compreensivo ou tem bom entendimento ou é inteligente por natureza ao passo que ninsuém é filósofo por natureza Esta circunstância se evidencia pelo fato de pensarmos que tais disposições são concomitantes com determinadas idades pois dizemos que ao atingir certa idade uma pessoa deve ter inteligência e ser um juiz compreensivo querendo significar que tais disposições nos chegam naturalmente Devemos portanto estar atentos às asserções não demonstradas e às opiniões de pessoas experientes e idosas ou de pessoas dotadas de discernimento não menos que às demonstrações pois pelo fato de a experiência lhes ter dado como que um ouuo olho elas vêem correta mente Acabamos de discutir o que são o discernimento e a sabedoria filosófica e os assuntos com os quais estas disposições da alma se relacionam edissemos que cada uma destas disposições é a excelência de uma parte diferente da alma 12 Pode haver dúvidas quanto à utilidade destas disposições da alma Com efeito a sabedoria filosófica não se preocupa com qualquer êos meios que contribuem para tornar um homem feliz já que ela não indaga como as coisas passam a existir E embora o discernimento tenha esta preocupação para que necessitamos dele o discernimento é a disposição da alma relacionada com o que é justo nobilitante e bom para as pessoas mas estas são as coisas que o homem bom faz naturalmente e não seremos mais capazes de agir bem somente por conhecêlas já que as várias formas de excelência moral são disposições do caráter de maneira idêntica no caso do conhecimento daquilo que é bom para a saúde e para o vigor físico usando estas palavras para significar não o que produz saúde e vigor mas o que decorre da saúde e do vigor não nos tornamos mais capazes de desfrutar de mais saúde e vigor apenas por conhecer a ciência da medicina ou os exercícios físicos Se por outro lado tivermos de dizer que uma pessoa deve ser dotada de discernimento não com vistas a conhecer as verdades morais mas com vistas a tornarse boa o discernimento não terá qualquer utilidade para as pessoas que já forem boas além disto ele não terá qualquer utilidade para as pessoas carentes de excelência moral pois tanto faz que elas mesmas tenham discernimento quanto que obedeçam a ouuas pessoas que o tenham e nos bastará fazer o que fazemos no caso da saúde neste caso embora desejemos ser saudáveis nem por isto aprendemos a arte da medicina Mais ainda pareceria estranho se o discernimento sendo inferior à sabedoria filosófica devesse apesar disto ter uma autoridade maior que esta efetivamente a arte que produz qualquer coisa governa e comanda a coisa produzida Ética a Nicômacos 125 Discutamos então estas dificuldades que até agora foram aperas enunciadas Dipmos primeiro que a sabedoria filosófica e o discernimento devf m sr dignos de escolha porque são a excelência das duas partes respecti as da alma ainda que nenhuma delas produza qualquer efeito Ademais elas produzem algum efeito não como a arte da medicina produz a saúde mas como as condições saudáveis são a causa da saúde é assim que a sabedoria filosófica produz a felicidade pois sendo uma parte da excelência como um todo por ser possuída ou melhor por ser usada a sabedoria filosófica faz o homem feliz Além disto a função de uma pessoa se realiza somente de acordo com o discernimento e com a excelência moral porquanto a excelência moral nos faz perseguir o objetivo certo e o discernimento nos leva a recorrer aos meios certos A quarta parte da alma a nutritiva s não cem excelência alguma que contribua para a função própria do homem pois nem a ação nem a omissão dependem dela Mas devemos examinar com maior profundidade a objeção no sentido de que o discernimento não torna as pessoas mais capazes de praticar açêes nobilitantes e justas Comecemos com a consideração seguinte Da mesma forma que dizemos que algumas pessoas que praticam atos justos não são necessariamente justas isto é as pessoas que praticam os atos determina dos pelas leis contra a vontade ou por ignorância ou com vistas a algum outro objetivo e não por causa dos próprios atos embora elas façam slm dúvida o que devem e tudo que uma pessoa boa deve parece que para e r boa uma pessoa deve ter uma ceria disposição quando pratica estes vános atos ou seja a pessoa deve praticálos em decorrência de escolha e por causa dos próprios atos Ora a excelência torna a escolha acertada mas praticar as ações que devem ser praticadas naturalmente afim de atingir mos o objetivo escolhido não é uma questão de excelência e sim de ou era faculdade Devemos portanto examinar atentamente estes pontos para esclarecêlos melhor Existe uma qualidade que se chama talento e esta consiste em sermos capazes de praticar as ações que conduzem ao objetivo visado e de atin lo Se o objetivo visado for nobilitante o talento será louvável mas se ior mau o talento será apenas astúcia por isto dizemos que as pessoas de discernimento são talentosas ou mesmo astuciosas O discernimento nã 1 é a faculdade mas não existe sem ela Este olho da alma não adquire sua eficácia sem a excelência moral como já dissemos 176 e é evidente de faw as inferências dedutivas relacionadas com os atos a praticar pressupõem um ponto de partida por exemplo já que a natureza do objetivo ou seja o que é melhor é esta seja ela qual for pois para argumentar 126 1144 b Aristóteles podemos considerála como quisermos e isto é evidente apenas para as pessoas boas pois a deficiência moral nos perverte e faz com que nos enganemos acerca dos pontos de partida da ação É obviamente impossí vel portanto ser dotado de discernimento sem ser bom 13 Devemos então examinar mais uma vez a excelência moral pois o que ocorre com ela tem estreita analogia com o que acontece com o discernimento em sua relação com o talento O discernimento e o ralenco não são a mesma coisa mas são coisas semelhantes e a excelência natural se relaciona de maneira idêntica com a excelência em sentido estrito Realmente todos pensamos que cada tipo de caráter de certo modo condiz naturalmente com quem o possui pois desde o momento exato do nascimento nós seríamos justos ou dotados de autodomínio ou corajosos ou teríamos outras qualidades morais Não obstante esperamos descobrir que o verdadeiro bem é algo diferente e que as várias formas de excelência moral no sentido estrito condizem conosco de outra maneira De faro até as crianças e os animais selvagens possuem as disposições naturais mas sem a razão elas podem evidentemente ser nocivas De qualquer modo parece bastante óbvio que uma pessoa pode ser induzida em erro pelas disposições naturais da mesma forma que um corpo pesado destituído de visão pode chocarse violentamente com obstáculos por lhe faltar a visão acontece o mesmo na esfera moral mas se 11ma pessoa de boa disposição natural dispõe de inteligência passa a ter excelência em termos de conduta e a disposição que antes tinha apenas a aparência de excelência moral passa a ser excelência moral no sentido estrito Portanto da mesma forma que na parte dê nossa alma que forma opiniões há dois tipos de qualidades que são o talento e o discernimento na parte moral também há dois tipos que são a excelência moral natural e a excelência moral em sentido estrito e esta última pressupõe discernimento É por isto que algumas pessoas dizem que todas as formas de excelência moral são formas de discernimento razão pela qual Sócrates sob certos aspectos estava certo e sob outros aspectos estava errado com efeito pensando que todas as formas de excelência moral são formas de discernimento ele estava errado mas dizendo que a excelência moral pressupõe discerni mento ele estava certo Uma prova desta asserção é que ainda hoje todas as pessoas que definem a excelêncoa moral depois de mencionar a disposição moral e seus objetivos acrescentam que se trata de uma disposição consentãnea com a reta razão e a reta razão é a razão consentânea com o discernimento Todas as pessoas então parecem de certo modo adivinhar que a excelência moral é uma disposição desta natureza ou seja a disposição consentânea com o discernimento Mas devemos ir um pouco além pois a excelência moral não é apenas a disposição consentânea com a reta razão ela é a disposição em que está presente a reta razão e o discernimento é a reta razão relativa à conduta 1145 a Ética a Nicômacos 127 Sócrates pensava ponanto que as várias formas de excelência moral são manifestações da razão pois dizia que todas elas eram formas de conhecimento científico enquanto nós pensamos que elas pressupõem a manifestação da razão É claro então diante do que foi dito que sem o discernimento não é possível ser bom no sentido próprio da palavra nem é possível ter discernimento sem a excelência moral Desta maneira podemos também refutar o argumento dialético segundo o qual se poderia sustentar que as várias formas de excelência moral existem separadamente umas das outras poderseia dizer que a mesma pessoa não é dotada da melhor maneira pela natureza para a prática de todas as formas de excelência moral de tal modo que ela já teria adquirido uma enquanto ainda não tinha adquirido outra Esta afirmação é possível a respeito das formas naturais de excelência moral mas não a respeito daquelas em relação às quais uma pessoa é qualificada de boa em sentido irrestrito pois juntamente com uma qualidade o discernimento a pessoa terá todas as formas de excelência moral E é óbvio que ainda que o discernimento não tivesse qualquer valor prático teríamos necessidade dele porque ele é a forma de excelência moral da parte de nosso intelecio à qual ele convém é óbvio também que a escolha não será acertada sem o discernimento da mesma forma que não o será sem a excelência moral pois o discernimento determina o objetivo e a excelência moral nos faz praticar as ações que levam ao objetivo determinado Mas apesar disto o discernimento não tem o primado sobre a sabedoria filosófica isto é sobre a parte mais elevada de nosso intelecto da mesma forma que a arte da medicina não tem o primado sobre a saúde pois a arte da medicina não usa a saúde mas se esforça para que ela exista ela emite ordens então no interesse da saúde mas não dá ordens à saúde Mais ainda sustentar o primado do discernimento equivaleria a dizer que a ciência política comanda até os deuses porque ela emite ordens acerca de todos os assuntos da cidade 171 4 l 41 4 1 l 1 1 l l l 1 l 1 1 1 1 1 l Q 1 In sport the optimum angle of projection is 45 What is meant by the optimum angle of projection Q 2 People on a street felt a little cooler when water was sprinkled on the earthen floor Why Q 3 Why is perspiration necessary for us Q 4 Why does an object partially immersed in water appear at a position different from its actual position 1145 b LIVRO VII 1 Reiniciando o exame de nosso assunto salientemos que há três espécies de disposições morais a ser evitadas a deficiência moral a incontinência e a bestialidade As disposições contrárias a duas destas são óbvias uma se chama excelência moral e a outra se chama continência A disposição mais adequada como o contrário da bestialidade seria uma forma de excelência moral sobrehumana a espécie heróica e divina da excelência moral a que Homero alude quando faz Príamos dizer que Hêctor era extraord ina riamente bom pois não se assemelhava ao filho de um mortal e sim de um deus 179 Portanto se como se costuma dizer os homens se tornam deuses por superabundância de excelência a disposição moral contrária à bestialidade deve ser evidentemente desta espécie pois uma criatura bestial não rem deficiência nem excelência moral da mesma forma que os deuses não as têm a disposição dos deuses é mais alta que a excelência e a de uma criatura bestial é uma espécie diferente da deficiência moral Então já que é raro encontrar uma pessoa divina para usar o epíteto cunhado pelos espartanos que quando admiram extraordinariamente um homem o chamam de homem divino da mesma forma o tipo bestial tamm é raro entre os homens encontramolo principalmente entre os bárbaros mas algumas características bestiais também são provocadas por doenças ou retardamento e às vezes também aplicamos este nome aviltante b pessoas cuja deficiência moral ultrapassa a do homem normal Mas daremos alguma atenção à disposição bestial mais adiante 110 e já discutimos antes a deficiência moral 11 agora discutiremos a incontinência e a lassidão bem como a continência e a resistência Nenhuma das disposições destes dois pares deve ser considerada idêntica à excelência ou 130 1146 a Aristóteles à deficiência moral nem constitui uma espécie diferente destas Como em todos os outros casos devemos pôr diante de nós os fatos aparentes e depois de discutir primeiro as dificuldades prosseguiremos para pôr à prova se possível a veracidade de todas as opiniões correntes acerca destas afecções do espírito ou se isto não for possível do maior número de opiniões e das mais relevantes com efeito se resolvermos as dificuldades e ao mesmo tempo deixarmos intactas as opiniões correntes os pontos de vista verdadeiros terão sido suficientemente comprovados Pensase realmente que tanto a continência quanto a resistência estão incluídas entre as disposições boas e louváveis e que tanto a incontinência quanto a lassidão estão incluídas entre as disposições más e reprováveis pensase também que a mesma pessoa é dotada de continência e se dispõe a aterse ao resultado de seus cálculos ou que a mesma pessoa é incontinente e está pronta a abandonálos Além disto a pessoa inconti nente sabendo que age mal age em decorrência de suas emoções enquanto a pessoa dotada de continência se sabe que seus desejos são maus recusase a seguilos graças à razão Todos dizem que as pessoas moderadas são dotadas de continência e resistentes por outro lado há quem diga que as pessoas dotadas de continência são sempre moderadas mas também há quem diga que nem sempre o são há quem chame as pessoas concupiscentes de incontinentes e as pessoas incontinentes de concupiscentes sem exceção enquanto há quem faça exceções Às vezes se diz que as pessoas dotadas de discernimento não podem ser incontinen tes ao passo que às vezes se diz que algumas pessoas dotadas de discernimento e talentosas são incontinentes Finalmente dizse que as pessoas são incontinentes até em relação à cólera à honra e ao ganho Estas são as opiniões correntes 2 Passando às dúvidas que o assunto suscita podese perguntar como uma pessoa que tem uma concepção correta das coisas pode ser incontinente em suas ações Há quem diga que isto é impossível quando se tem uma concepção correta das coisas pois seria estranho como pensava Sócrates que sendo uma pessoa dotada de conhecimento qualquer outra coisa pudesse sobreporse ao conhecimento e arrastálo como a um escravo 112 Sócrates opunhase totalmente a tal noção sustentando que não existe aquilo que se chama de incontinência pois ninguém dizia ele age contrariamente ao que considera melhor consciente de estar agindo mal a não ser por ignorância Realmente esta noção contradiz manifestamente os fatos como eles nos aparecem e devemos investigar esta afecção do espírito se a pessoa age na ignorância devemos indagar que espécie de ignorância é esta De fato é claro que a pessoa incontinente não considera a sua ação acertada antes de ser afetada por esta deficiência moral Alguns pensadores concordam com as asserções de Sócrates e outros não 1146 b Ética a Nicômacos JSI concordam estes últimos admitem que nada é mais forte que o conheci mento mas não admitem que pessoa alguma possa agir contrariamente ao que lhe parece melhor em termos de conduta e portanto dizem que a pessoa incontinente não está usando o conhecimento e sim a opinião quando é dominada pelos prazeres Mas se é a opinião e não conhecimen to se não é uma covicção forte que resiste e sim uma fraca como nas pessoas hesitantes devemos demonstrar compreensão diante do fracasso da pessoa que desejava manterse firme em suas convicções contra fortes desejos mas não podemos ser compreensivos diante da deficiência moral nem de quaisquer outras disposições condenáveis Então é quando o desejo é obstado pelo discernimento que censuramos uma pessoa por ceder De fato o discernimento é o que há de mais forte Mas isto é absurdo a mesma pessoa demonstrará ao mesmo tempo discernimento e incontinência mas ninguém dirá que uma pessoa dotada de discernimento é capaz de praticar voluntariamente as ações mais vis Além disto já demonstramos antes que o discernimeto se manifesta na ação ele se relaciona com os fatos fundamentais e pressupõe igualmente a posse das outras formas de excelência moral 113 Outrossim se a continência pressupõe que se tenha desejos fortes e maus as pessoas moderadas não terão continência nem as pessoas dotadas de continência serão moderadas pois as pessoas moderadas não terão desejos excessivos nem maus Mas as pessoas dotadas de continência devem necessariamente ter desejos fortes e maus pois se os desejos são bons a disposição que nos impede de seguilos é má de tal forma que nem toda continência é boa se ao contrário os desejos são fracos e não são maus nada há de admirável em resistirlhes e se eles são fracos e maus nada há de notável em resistirlhes também neste caso Ademais se a continência faz as pessoas sustentarem toda e qualquer opinião isto é mau por exemplo se elas sustentam até uma opinião falsa e se a incontinência leva as pessoas a abandonar toda e qualquer opinião em alguns casos haverá uma incontinência boa como por exemplo Neoptôlemos no FiJoltles de Sófocles114 que é louvado por não ter feito o que prometeu a Odisseus que faria Neoptôlemos sofria para mentir Além disto a argumentação sofística apresenta uma dificuldade o empenho dos sofistas em levar seus adversários a assumir posições paradoxais para provocar admiração quando conseguiam prevalecer sobre eles cria dificuldades o espírito fica imobilizado quando não pode sustentarse porque a conclusão não é satisfatória e não pode avançar porque não consegue refutar o argumento Um dos argumentos sofísticos afirma que a loucura associada à incontinência é uma forma de excelência moral eilo por causa da incontinência uma pessoa louca pratica uma ação 132 Aristóteles contrária ao que ela julga acertado mas ela erê11 que as boas ações são más e que não deve praticálas e por isto fará o que é bom e não o que é mau Mais ainda uma pessoa que faz e persegue por convicção e cálculo aquilo que é agradável116 seria considerada melhor que outra que asisse desta maneira em decorrência não de cálculo mas de incontinência pois é fácil curála já que ela pode ser persuadida a mudar de idéia Mas à pessoa incontinente pode aplicarse o provérbio Quando a água nos engasga que outro liquido beberíamos para aliviarnos Se tal pessoa estivesse convencida do acerto daquilo que fez ela teria desistido se houvesse sido persuadida a mudar de idéia mas já que não foi persuadida ela asiu certa de que estava praticando uma ação completamente diferente Finalmente se a incontinência e a continência podem manifestarse em relação a qualquer coisa quem será absolutamente incontinente Ninguém apresenta todas as formas de incontinência mas dizemos que algumas pessoas são irrestritamente incontinentes Estas são em linhas gerais as dificuldades que se nos apresentam algumas delas devem ser afastadas de nosso caminho mas outras devem permanecer na verdade a solução de wna dificuldade é uma descoberta 3 Procuremos saber primeiro se as pessoas incontinentes agem conscien temente ou não depois procuremos saber com que espécies de objetivos as pessoas incontinentes e as dotadas de continência se preocupam ou seja se é com qualquer espécie de prazer ou sofrimento ou somente com determinadas espécies e se as pessoas dotadas de continência e as pessoas resistentes são as mesmas ou diferentes e assim por diante a respeito das questões pertinentes a esta investigação O ponto de partida de nossa investigação é saber se as pessoas dotadas de continência se diferenciam das demais por seus objetivos ou por suas disposições isto é se a pessoa é incontinente simplesmente porque não pode conterse diante de certas situações ou porque tem uma certa disposição ou então por ambos os motivos a segunda questão é se a continência e a incontinência se manifestam a respeito de tudo ou não Quando se diz que uma pessoa é irrestritamente incontinente esta afirmação não significa que ela é assim em relação a tudo mas em relação às coisas a respeito das quais as pessoas podem ser concupiscentes isto também não significa apenas que ela se preocupa com estas coisas neste caso a incontinência seria a mesma coisa que a concupiscência mas que ela se preocupa com tais coisas de um modo peculiar A pessoa concupiscente cede aos seus desejos por escolha considerando acertado peneguir sempre o prazer presente a pessoa incontinente não pensa assim mas penegue o prazer da mesma forma A idéia de que as pessoas incontinentes agem contra a opinião Ética a Nicômacos 133 verdadeira e não contra o conhecimento é irrelevante para a nossa argumentação pois algumas pessoas sustentam suas opiniões sem hesita ção e pensam que elas são conhecimento exato Então se a fraqueza de convicção for o critério para decidirmos se devemos dizer que as pessoas que agem contra a sua concepção do que é correto apenas opinam sem ter o conhecimento do que é correto não haverá realmente qualquer diferença a este respeito entre opinião e conhecimento já que algumas pessoas se mostram tão convencidas a propósito daquilo sobre que opinam quanto outras a propósito daquilo que elas conhecem Herácleitos é uma evidência disto Entretanto já que usamos a palavra conhecer em dois sentidos dizemos que tanto as pessoas que têm conhecimento mas não o usam quanto as que o usam conhecem fará diferença neste caso uma pessoa agir como não devia se ela tiver conhecimento mas não o estiver usando pois na última hipótese sua conduta parecerá estranha mas não parecerá estranha se ela estiver usando o conhecimento Ademais já que há duas espécies de premissas quando se trata da conduta nada impede uma pessoa de agir contra o conhecimento quando ela conhece ambas as premissas mas está exercitando seu conhecimento da premissa universal e não da particular pois a ação se relaciona com fatos particulares Além disso há uma distinção a respeito da premissa 1147 a universal um dos universais é predicado do próprio agente e o outro é predicado da coisa por exemplo a pessoa pode conhecer e estar cônscia do conhecimento de que certo alimento seco é bom para todos os homens e de que ela mesma é um homem ou até de que um alimento dt certa espécie é seco mas ou a pessoa não possui ou não está exercitando o conhecimento da circunstância de aquele alimento que está diante dela ser um alimento daquela espécie Evidentemente haverá uma enorme diferença entre esw maneiras de conhecer de tal forma que conheer de certa maneira quando se age sem continência não pareceria estranho de forma alguma ao passo que conhecer de outra maneira quando se age sem continência seria motivo para admiração Além disso a posse do conhecimento em acepção diferente da recém mencionada pode ocorrer nas pessoas de fato na própria hipótese de termos o conhecimento e não o usarmos vemos uma diferença de estado se admitirmos a possibilidade de termos conhecimento em uma acepção e em outra acepção nio o termos como no caso de uma pessoa adormecida louca ou embriagada E esta é justamente a condição das pessoas sob a influência de emoções pois ímpetos de cólera e desejos sexuais além de outras emoções alteram efetivamente nossas condições fisiológicas e em aluns casos produzem até acessos de loucura É claro então que podemos considerar que as pessoas incontinentes estão numa condição 134 1147 b Aristóteles idêntica à das pessoas adormecidas loucas ou embriagadas O fato de estas pessoas usarem a linguagem oriunda do conhecimento não prova que elas o possuem pois até as pessoas sob a influência das emoções mencionadas repetem proposições científicas e versos de Empédocles 111 e as pessoas que estão apenas começando a aprender uma ciência podem recitar suas frases mas não conhecem o seu significado já que o conhecimento tem de entranharse nestas pessoas e isto requer tempo devemos portanto supor que as pessoas incontinentes usam a linguagem da mesma forma que os atores dizendo as suas falas Além disto podemos também examinar as causas da incontinência como faria um estudioso da natureza No silogismo uma premissa é universal e a outra se relaciona com fatos particulares e a propósito desta última entramos na esfera da percepção quando as duas premissas se combinam numa conclusão única em um dos casos19 a alma deve afirmar a conclusão ao passo que no caso das premissas de ordem prática se deve agir imediatamente por exemplo dadas as premissas tudo que é doce deve ser provado e aquilo é doce esta última é um exemplo particular da classe geral a pessoa capaz de agir e que não é impedida de fazêlo deve provar imediatamente a coisa doce Portanto quando estão presentes em nós de um lado um conceito universal proibindonos de provar e de outro lado outro conceito universal dizendo que tudo que é doce é agradavél além de uma premissa menor dizendo que aquilo é doce e esta premissa menor é ativa190 e quando está presente ao mesmo tempo o desejo então embora o primeiro julgamento universal diga evite aquela coisa somos levadas para aquela coisa pelo desejo que pode mover cada uma das partes de nosso corpo Acontece que quando as pessoas são deficientes em termos de continência elas agem sob a influência de uma razão em certo sentido e de uma opinião não contrárias à reta razão em si mesmas mas apenas acidentalmente o desejo é que é contrário e não a opinião Seguese também que não se pode dizer que falta continência aos animais irrcionais porque eles não podem formar conceitos universais mas apenas imagens mentais e lembranças dos fatos Se perguntarmos tomo a ignorância de uma pessoa incontinente pode desaparecer e como tal pessoa pode recuperar o conhecimento a explicação será a mesma que no caso da embriaguez e do sono e ela não pode ser atribuída à incontinência A este respeito devem ser ouvidos os estudiosos de fisiologia Mas uma vez que a última premissa que origina a ação é uma opinião sobre um objeto perceptível e é esta opinião que uma pessoa incontinen te quando sob o domínio da emoção não possui ou somente possui de um modo que como vimos não chega a ser conhecimento mas somente leva 1148 a ttica a N icômacos 135 a pessoa a repetiIa da mesma forma que um ébrio repete os versos de Empédocles e uma vez que a premissa extrema não é um universal e não é considerada um objeto de conhecimento científico a exemplo do que acontece com uma premissa universal parece que somos levados a aceitar a conclusão que Sócrates procurou firmar191 com efeito o conhecimento presente no momento em que ocorreu a emoção não é aquele que se considera o conhecimento propriamente dito não é tampouco o conheci mento propriamente dito que é arrastado pela emoção e sim o conheci mento resultante da percepção pelos sentidos Já dissemos o bastante para responder à pergunta de quem quer saber se a continência é compatível ou não com o conhecimento e com que tipo de conhecimento ela é ou não compatível 4 O assunto a discutir em seguida é se há pessoas irrestritamente incontinentes ou se todas as pessoas incontinentes o são em relação a apenas certos aspectos particulares É evidente que tanto as pessoas dotadas de continência quanto as pessoas resistentes e tanto as pessoas incontinentes quanto as pessoas assas mostram estas disposições em relação ao prazer e ao sofrimento Algumas das coisas que produzem prazer são necessárias enquanto outras são dignas de escolha em si mesmas porém admitem excessos os prazeres do corpo são necessários entendo por prazeres do corpo os inerentes à nutrição e às relações sexuais ou seja às funções fisiológicas que definimos como a esfera em que se manifestam a concupiscência e a moderação enquanto as outras coisas não são necessárias mas são dignas de escolha em si por exemplo a vitória as honrarias a riqueza e as coisas boas e agradáveis deste gênero Sendo assim as pessoas que se excedem em relação às últimas contrariando a reta razão de que são dotadas não são qualificadas simplesmerte de incontinentes mas de incontinentes com a restrição a respeito de dinheiro proveito honrarias ou cólera de fato estas pessoas não são simplesmente incontinentes pois as consideramos diferentes das incontinentes em sentido irrestrito e somente por analogia vejase o caso de Ântropos 19 que venceu uma competição nas Olimpía das neste caso a definição geral de homem pouco difere da definição aplicável a ele embora de qualquer modo ele fosse diferente O fato de chamarmos uma pessoa de incontinente apenas por analogia se evidencia pela circunstância de a incontinência tanto em sentido irrestrio quanto a respeito de algum prazer particular do corpo ser censurada não somente como um erro mas também como uma espécie de deficiência moral ao passo que não consideramos moralmente deficiente as pessoas incontinen tes a respeito de dinheiro e coisas do mesmo gênero 16 Aristóteles Mas entre as pessoas incontinentes diante dos prazeres do corpo em relação aos quais qualificamos os homens de moderados ou concupiscen tes as que perseguem os extremos das coisas asradáveis e evitam os extremos das coisas que causam sofrimento como a fome a sede o calor o frio e todos os tipos de sofrimento relacionados com o tato e o paladar e agem assim não por escolha mas contrariamente à sua escolha e ao seu julgamento são qualificadas de incontinentes não com a restrição a respeito disto ou daquilo por exemplo a respeito da cólera mas simplesmente incontinentes Esta qualificação é confirmada pelo fato de as pessoas serem chamadas lassas em relação a estes prazeres mas não em relação a quaisquer outros É por isto que agrupamos na mesma classe as pessoas incontinentes e as concupiscentes as dotadas de continência e as moderadas mas não qualquer dos outros tipos porque elas mostram esw disposições de ceno modo em relação aos mesmos prazeres e sofrimentos mas embora se relacionem com as mesmas coisas elas não se relacionam com tais coisas de maneira idêntica pois algumas delas 19J fazem uma escolha enquanto outras 194 não escolhem É por isto que chamaríamos de concupiscentes as pessoas que sem desejos ou apenas com um leve desejo perseguem os extremos do prazer e evitam sofrimentos moderados mas não as pessoas que agem assim por causa de seus desejos intensos com efeito que fariam as primeiras se sentissem um desejo intenso como o dos jovens e sofressem violentamen te com a falta dos prazeres necessários Alguns desejos e prazeres penencem à classe das coisas nobilitantes e boas de um modo geril algumas coisas agradáveis são dignas de escolha por natureza enquanto outras são contrárias a estas e outras sio neutras de conformidade com nossa classificação anterior 191 como por exemplo a riqueza o proveito a vitória e as honrarias Com referência a todos os objetos tanto desta espécie quanto da neutra as pessoas não são censurá veis por se deixarem atrair por eles por desejálos e amálos e sim por os desejarem e amarem de certa maneira ou seja excessivamente é por isto que todas as pessoas que contrariando a razão cedem diante de objetos naturalmente nobilitantes e bons ou os bwcam por exemplo as 1148 b pessoas que se preocupam mais do que devem com honrarias ou com seus filhos e pais não são moralmente deficientes 1116 filhos e pais também são um bem e quem se preocupa com eles merece louvor mas pode haver um ceno excesso mesmo em relação a eles se como Ntobe alguém quiser lutar até contra os deuses ou quiser ser tão devotado ao pai quanto Sátiros cognominado o filial que foi considerado extremamente piegas a este respeito 197 Não há então deficiência moral a respeito destas coisas pelas razões mencionadas ou seja porque cada uma delas é digna de escolha por sua própria natureza os excessos em relação a elas todavia são um mal e devem ser evitados Não há tampouco incontinência em ttica a Nicômacos 137 relação a tais coisas pois a incontinência não somente deve ser evitada mas também é reprovável embora se use a expressão incontinência nestes casos como uma restrição incontinência em seja o que Ír porque a disposição é análoga à incontinência propriamente dita em tais casos usase a expressão da mesma forma que se fala de uma pessoa como um mau médico ou um mau ator tratandose de alguém que não se pode chamar simplesmente de mau Então como neste caso não usamos a expressão em sentido irrestrito porque nenhuma destas condições é maldade mas apenas análoga à maldade é claro que no primeiro caso somente a continência e a incontinência em relação às mesmas coisas em que se manifestam a moderação e a concupiscência devem ser considcra das continência e incontenência propriamente ditas e que estas expres sões se aplicam à cólera por analogia acrescentamos assim uma restrição incontinente em relação à cólera da mesma forma que dizemos incontinente na busca de honrarias ou de proveiw 5 Algumas coisas são agradáveis por narureza e destas umas são irrestritamente agradáveis enquanto outras o são em relação a determina das classes de animais ou de pessoas por outro lado outras não ão naturalmente agradáveis mas algumas destas se tornam agradáveis por causa de aberrações outras por causa de hábitos e outras ainda por callsa de taras Sendo assim é possível descobrir em relação a cada uma das espéties da segunda classificação disposições de caráter similares às identificadls a respeito do primeiro caso refirome às disposições bestiais como no caso da mulher que segundo dizem abria o ventre das mulheres grávid1s e devorava os fetos ou das coisas com que de acordo com certos relaos algumas das tribos selvagens do litoral do mar Negro costumaam deleitarse com alimentos crus ou carne humana ou com a troca de crianças entre as tribos para serem seviciadas em suas festas ou com1 na história que se conta de Fálaris191 Estas disposições são bestiais mas outras se manifestam em conse qüência de doenças ou de loucura em certos casos como no do honem que teria sacrificado e devorado sua própria mãe ou no do escravo que comeu o fígado de seu companheiro e outras ainda são estados mórb1dos resultantes de hábitos por exemplo arrancar os cabelos ou roe as unhas ou até comer carvão e terra Além destes casos há a pederastia Sta disposição às vezes se manifesta naturalmente e às vezes em decorrêcia da habitualidade como acontece com as pessoas que foram vítimas da libidinosidade desde a infância Nos casos em que a causa é natural ninguém chamaria tais pessoa de incontinentes da mesma forma que ninguém aplicaria o epítet às 138 1149 a Aristóteles mulheres dada a passividadede sua participação nas relações sexuais tampouco ele se aplica a pessoas que se encontram num estado mórbido decorrente da habitualidade Estas várias disposições mórbidas não se enquadram no âmbito da deficiência da mesma forma que a bestialidade e não as dominar ou ceder diante delas não constitui incontinência em sentido irrestrito mas somente uma disposição assim chamada por analogia pela mesma razão que as pessoas incontinentes em relação a assomos de cólera devem ser qualificadas de incontinentes somente em relação a esta emoção mas não de incontinentes irrestritamente De faco a alienação a covardia a concupiscência e a irascibilidade quando levadas ao excesso são condições bestiais ou mórbidas as pessoas naturalmente propensas a assustarse com tudo até com o guincho de um rato mostram a covardia de um animal irracional covarde ao passo que o homem que se assustava com uma fuinha assustavase por estar doente entre as pessoas alienadas aquelas que são irracionais por natureza e vivem valendose apenas dos semidos são bestiais como as pertencentes a algumas tribos remotas de bárbaros enquanto as alienadas em conseqüên cia de doença por exemplo de epilepsia ou de demência são mórbidas Nestes casos às vezes é possível ter apenas a disposição sem ceder a ela por exemplo Fálaris99 pode ter dominado desejos de comer a carne de uma criança ou de entregarse a prazeres sexuais contrários à natureza mas também se pode ceder e não ter apenas a disposição Então da mesma forma que a deficiência moral em escala humana é chamada simplesmente deficiência moral enquanto a que está além da condição humana não é chamada simplesmente deficiência moral mas se lhe acrescenta a restrição bestial ou mórbida é igualmente óbvio que algumas formas de incontinência são bestiais e outras são mórbidas enquanto somente aquela que corresponde à concupiscência em escala humana é incontinência irrestritamente É claro portanto que a incontinência e a continência se relacionam somente com os mesmos objetos com que se relacionam a concupiscên cia e a moderação e que aquilo que se relaciona com outros objetos é uma espécie diferente de incontinência que só se chama de inconti nência metaforicamente e não irrestritamente 6 Vejamos agora se a incontinência em relação à cólera é menos desabonadora que a incontinência em relação aos desejos Parece que até certo ponto a cólera ouve a razão mas a ouve incompletamente como fazem certos serviçais que correm antes de ouvir tudo que o patrão lhe diz e então embaralham as ordens que lhes são dadas ou como cães que latem apenas porque alguém bate à porta antes de 1149 b Ética a Nicômacos 139 olhar para verem se se trata de pessoa amiga da casa de maneira idêntica a cólera por causa do calor e da impetuosidade de sua natureza embora ouça não ouve a ordem como foi dada e se precipita para vingarse Quando a razão ou a imaginação nos mostra que fomos insultados ou desconsiderados a cólera se inflama imediatamente depois de raciocionar digamos assim que qualquer coisa desse tipo deve ser revidada O desejo por outro lado se a imaginação ou a percepção apenas lhe diz que um objeto é agradável precipitase para fruílo Mas a cólera em certo sentido obedece à razão enquanto o desejo não obedece Este então é mais desabonador pois as pessoas incontinentes em relação à cólera são de certo modo levadas pela razão enquanto as outras são levadas pelo desejo e não pela razão Além disto perdoamos mais facilmente as pessoas por seguirem seus desejos naturais já que as perdoamos por seguirem tais desejos em comum com todos os homens e desde que tais desejos sejam comuns mas a cólera e a irascibilidade são mais naturais que os desejos excessivos e não necessários Tomemos como exemplo o caso do homem que se defende da acusação de haver espancado seu pai dizendo Mas meu pai espancava meu avô e este espancava o meu bisavô e apontando para seu filho esta criança me espancará quando for um homem isto é congênito em nossa famüia ou o homem que quando estava sendo arrastado por seu filho lhe pediu que parasse em frente à porta de sua casa dizendo que ele mesmo havia arrastado seu pai somente até ali 1 Outrossim as pessoas mais inclinadas a tramar contra outras são mais criminosas Uma pessoa emotiva entretanto não é dada a dissi mulações nem a cólera se dissimula ela é ostensiva mas o desejo é astucioso como dizem de Afrodiiê Filha de Cipros tecelã de astúcias100 E Homero falando do cinto bordado de Afrodite atribui à deusa do amor uma lábia que ilude os espíritos mais sábios Logo se esta espécie de incontinência é mais criminosa e desaborta dora que a relacionada coma coléra ela é ao mesmo tempo incontinên cia no sentido irrestrito e de certo modo deficiência moral Mais ainda ninguém comete um ultraje sofrendo por isto mas quem quer que aja sob o efeito da cólera age sofrendo enquanto o autor de um ultraje procede com prazer Então se os atos diante dos quais é mais justo que a pane ofendida se encolerize são mais criminosos que os outros a 140 1150 a Aristóteles incontinência devida ao desejo é mais criminosa pois a cólera aio tem qualquer conotação de ultraje injustificado É evidente portanto que a incontinência relacionada com o desejo é mais desabonadora que a relacionada com a cólera e que a continência e a incontinência se relacionam com desejos e prazeres do corpo mas deve mos discernir u diferenças entre os próprios desejos e prazeres do corpo Com efeito como jl dissemos de início20 alguns deles são próprios dos seres humanos e naturais tanto em gênero quanto em grau outros são bestiais e outros são devidos à abertações e doenças A moderação e a continência somente se relacionam com os primeiros é por isto que não chamamos os animais irracionais de moderados ou concupiscentes a não ser metaforicamente e somente se alguma raça de animais suplanta outra em lascívia instinto predatório e voracidade eles não têm poder de escolha ou de cálculo mas são aberrações da natureza como os insanos entre os homens A bestialidade por seu turno é um mal menor que a deficiência moral embora seja mais assustador pois não é a melhor pane dos animais que se perverte como nos homens os animais não têm uma pane melhor Seria o mesmo que comparar uma coisa sem vida com um ser vivo a respeito da maldade de fato a maldade daquilo que não tem uma fonte originária de movimento 202 e a inteligência é uma fonte originária de movúnento é sempre menos prejudicial É como comparar a injustiça em abstrato com uma pessoa injusta uma é pior num sentido e a outra é pior em outro pois um homem mau fará dez mil vezes mais mal que um animal irracional 7 Mas em relação aos prazeres e sofrimentos e aos desejos e aversões inerentes ao tato e ao paladar que já foram definidos como a esfera em que a concupiscência e a moderação se manifestam é possível que nos encontremos em tal estado que sejamos derrotados até por tentações às quais mesmo a maioria das pessoas resiste ou que resistamos àquelas pelas quais a maioria das pessoas é derrotada entre estas disposições as que se relacionam com os prazeres são a incontinência e a continência e u que se relacionam com os sofrimentos são a lassidão e a resistência A disposição da grande maioria das pessoas se situa entre as duas ainda que elas tendam mais para as piores disposições Já que alguns prazeres são necessários enquanto outros não o são e que os primeiros são necessários até o ponto em que nem os seus excessos nem as suas deificências o são e já que isto é verdadeiro tanto para os desejos quanto para os sofrimentos são concupiscentes as pessoas que perseguem os extremos das coisas agradáveis ou perseguem os extremos das coisas necessárias e o fazem por sua própria escolha por sua causa e nunca por qualquer resultado distinto delas pois tais pessoas necessaria mente não se arrependerão de seus excessos e são portanto incorrigíveis já que as pessoas que não se arrependem não têm cura As pessoas ttica a Nicõmacos 141 deficientes no desejo de fruição dos prazeres são o contrário das concupis centes e as pessoas moderadas sio o meio termo De maneira idêntica existem pessoas que evitam os sofrimentos físicos não por serem aniquila das por eles mas por escolha Entre as pessoas que não escolhem as ações das quais pode resulw sofrúilento umas são movidas pelo prazer em perspectiva e outras porque querem evitar o sofrimento resultante de certos prazeres as duas classes diferem portanto entre si Por isto qual quer pessoa considera um homem que sem sentir desejos ou sentindo desejos fracos pratica uma ação desabonadora pior que alguém que age assim sob a influncia de desejos intensos e considera um homem que desfere um golpe sem estar sob o efeito da cólera pior que um homem que age assim por esw encolerizado na verdade que fariam pessoas ceste tipo se estivessem sob o efeito de emoções fortes É por isto que as 1150 b pessoas concupiscentes são piores que as incontinentes Das disposições descritas acima evitar deliberadamente o sofrimento é uma espécie de lassidão e buscar deliberadamente o prazer é a concupis cência Enquanto as pessoas incontinentes são o contrário das dotadas de continência as pessoas lassas são o contrário das resistentes a resistência com efeito consiste em nos mantermos firmes enquanto a contincncia consiste em dominarnos e manterse firme e dominarse são coisas diferentes da mesma forma que não ser derrotado é diferente de ser vitorioso é por isto que a continência é mais digna de escolha c ue a resistência Então as pessoas deficientes quanto à resistência às coisas às quais a maioria das pessoas resiste com sucesso são lassas e efemin1das pois ser efeminado é também uma espécie de lassidão tais pessoas deixam seu manto arrastar no chão para evitar a fadiga de levantálo e se comportam como inválidas sem se julgarem infelizes embora as pesoas que elas imitam sejam infelizes Acontece o mesmo a respeito da continência e da incontinênci De fato se uma pessoa é vercida por prazeres ou sofrimentos excessivos nada há de surprfendente nisto na verdade estamos prontos a desculpála se ela resistiu como fez o Filoctetes de Teodetes204 qUando mordido pela serpente ou o Cercíon de Carcinos na Álopr e como as pessoas que tentando conter o riso explodem numa grande gargalhada como ac lnte ceu com Xenofantos201 Mas é surpreendente que uma pessoa seja vencida por sofrimentos e não lhes possa resistir enquanto a maioria das pesoas pode enfrentálos a não ser que a deficiência seja devida a al1uma tendênçia inata ou doença como a lassidão hereditária dos reis da Cít1a ou a que distingue o sexo feminino do masculino1 As pessoas que gostam muito de divertirse são também consideradas concupiscentes mas na realidade são assas pois o divertimenro é 142 115 I a Aristóteles relaxante por ser uma pausa no trabalho e quem gosta demais de divertimentos excedese em relação a eles Uma das espécies de incontinência é a impetuosidade e outra é a indolência Realmente algumas pessoas20 em conseqüência de suas emoções depois de deliberar falham quando se trata de pôr em prática as suas resoluções enquanto outras208 são dominadas por suas emoções porque não se detêm para deliberar algumas pessoas resistem à pressão das emoções agradáveis ou penosas porque pressentindoas e perceben do que elas se aproximam se põem antecipadamente em alerta ou seja alertam o raciocínio da mesma forma que uma pessoa se torna menos sensível às cócegas se lhe fizeram cócegas antes As pessoas argutas e excitáveis são as mais propensas à forma impetuosa da incontinência porque as primeiras graças à presteza de seu raciocínio e as últimas por causa da violência de suas emoções não esperam que a razão aja em decorrência de sua propensão para seguir a imaginação 8 As pessoas concupiscentes como dissemos209 não se arrependem pois se mantêm fiéis à sua escolha mas qualquer pessoa incontinente é sujeita a arrependerse Por isto os fatos não são como os expusemos quando tratamos do problema 210 ao contrário as pessoas concupiscentes são incuráveis e as incontinentes são curáveis Com efeito a deficiência moral é como uma doença do tipo da hidropisia ou da tuberculose pulmonar enquanto a incontinência é como a epilepsia a deficiência moral é um mal crônico e a incontinêhcia é um mal intermitente De um modo geral a incontinência e a deficiência moral são especificamente diferentes a deficiência moral não tem consciência de si mesma ao passo que a incontinência é consciente Entre as próprias pessoas incontinentes aquelas que ficam tempora riamente fora de si são melhores do que as que usam sempre a razão mas não lhe obedecem já que estas são vencidas pela emoção mais fraca e não agem sem prévia deliberação como as outras na verdade as pessoas incontinentes são como as que se embriagam rapidamente e com pouco vinho isto é com menos do que a maioria das pessoas Logo a incontinência evidentemente não é deficiência moral embora talvez o seja com algumas restrições pois a incontinência é contrária à escolha quanto a deficiência moral é conforme à escolha Não obstante ambas se assemelham em relação às ações às quais elas levam como na frase de Demôdocos acerca dos milésios Os milésios não são insensatos mas agem como se fossem insensatos211 De maneira idêntica as pessoas incontinentes não são criminosas maS cometem cdmes Então já que as pessoas incontinentes são propensas mas não por convicção a buscar prazeres excessivos e contrários à reta razão ao passo que as concupiscentes são convictas porque são a espécie de pessoas uja 1151 b Ética a Nicômacos 143 constituição as leva a buscálos são as primeiras que se deixam persuadir a mudar de idéia enquanto com as outras acontece o contrário Com efeito a excelência moral e a deficiência moral respectivamente preservam destroem a razão e em matéria de conduta o objetivo final é o ponto de partida das ações da mesma forma que as hipóteses m em matemática mas nem no caso da ética nem no da matemática a razão nos ensina o ponto de partida é a excelência moral seja ela natural ou produzida pelo hábito que ensina a opinar corretamente acerca dos pontos de partida na esfera moral Então o homem que se enquadra nestas condições é moderado e 0 seu contrário é concupiscente Mas há pessoas de certa espécie que abandonam sua escolha em conseqüência de emoções e contrariamente à reta razão pessoas dominadas pela emoção de tal forma que não são capazes de agir segundo a reta razão mas não dominadas a ponto de ser levadas a crer que devem buscar tais prazeres de qualquer maneira são estas as pessoas incontinen tes elas são melhores que as concupiscentes e não são irrestritamente más pois o que há nelas de melhor ou seja a razão é preservado Em contraposição a elas há outra espécie de pessoas as que mantêm as suas convicções e não são dominadas ao menos pelas emoções Estas conside rações evidenciam que a segunda disposição 211 é boa e que a primeira 114 é má 9 É dotada de continência uma pessoa que permanece firme em relação à razão ou a uma escolha de qualquer espécie ou somente em relação uma escolha acertada E é incontinente uma pessoa que não permanece firme em relação à razão ou a uma escolha de qualquer espécie ou apenas em relação à razão que não mente ou a uma escolha acertada Esta dificuldade já foi levantada antes m Talvez a resposta seja que embora acidentalmen te possa ser em relação a qualquer espécie de razão ou a qualquer escolha essencialmente é em reilção à razão que não mente e à escolha acertada que a primeira das pessoas mencionadas permanece firme e a outra não permanece Se escolhemos ou buscamos uma coisa por causa de outra é a última coisa que buscamos e escolhemos por si mesma e só acidentalmen te buscamos e escolhemos a primeira Mas quando falamos irrestritamente queremos significar a coisa por si mesma Portanto em certo sentido uma das pessoas permanece firme em relação a toda e qualquer opinião e a outra não permanece mas irrestritamente é em relação à opinião verdadeira que uma permanece firme e a outra não permanece Há pessoas propensas a permanecer firmes em relação às suas opiniões e elas se chamam obstinadas por exemplo as que são difíceis de convencer em uma primeira aproximação e não se deixam persuadir facilmente a mudar de idéia estas pessoas têm alguma semelhança com as 144 Aristóteles pessoas dotadas de continência da mesma forma que as pessoas pródigas são de certo modo semelhantes às liberais e as pessoas temerárias são semelhantes às confiantes mas elas diferem sob muitos aspectos Com efeito é às emoções e aos desejos que não se deve ceder já que no momento oportuno a pessoa dotada de continência deve ceder à razão mas é à razão que outras pessoas se recusam a ceder pois elas alimentam desejos e muitas delas são levadas por seus prazeres Tipos de pessoas obstinadas são as dogmáticas as ignorantes e as grosseiras as dogmáticas são influenciadas pelo prazer e pelo sofrimento pois se comprazem com a vitória que obtêm se não se deixam persuadir a mudar de idéia e sofrem se suas decisões se tornam sem efeito como às vezes acontece com os decretos elas portanto se assemelham mais às pessoas incontinentes do que às dotadas de continência Mas certas pessoas não conseguem permanecer firmes em suas opiniões não por causa da incontinência como Neoptôlemos no Filoctetts de Sófocles 216 É verdade que foi por causa do prazer que ele não permaneceu firme mas foi um prazer nobilitante pois dizer a verdade foi nobilitante para ele porquanto ele havia sido persuadido por Odisseus a mentir De fato nem rodas as pessoas que fazem algo por causa do prazer são concupiscentes más ou incontinentes mas somente aqueles que agem por causa de um prazer desabonador Já que há também um tipo de pessoas que se comprazem menos do que deveriam com os prazeres do corpo e não seguem a razão quem estiver numa posição intermediária entre as pessoas deste tipo e as incontinentes será uma pessoa dotada de continência pois as pessoas incontinentes não conseguem permanecer firmes em relação à razão porque se comprazem demais com os prazeres do corpo enquanto as que estão no outro extremo se comprazem muito pouco com eles as pessoas dotadas de continência entretanto permanecem firmes em relação à razão e não mudam no sentido de qualquer das duas disposições mencionadas há pouco Então se a continência é boa ambas as disposições contrárias devem ser más como realmente parecem ser mas pelo fato de o outro 1152 a extremo ser visto em poucas pessoas e raramente considerase que a moderação é contrária somente à concupiscência da mesma forma que a continência é contrária somente à incontinência Já que muitos nomes se aplicam analogicamente é por analogia que falamos da continência das pessoas moderadas pois tanto as pessoas dotadas de continência quanto as moderadas são constituídas de maneira a nada fazerem contrariamente à razão por causa de prazeres do corpo mas as primeiras têm e as últimas não têm maus desejos e as últimas são constituídas de maneira a não sentir prazeres contrários à ruão enquanto as primeiras são constituidas de maneira a sentir prazer mas 11ão a serem levadas por eles Por outro lado as pessoas incontinentes e as concupis centes são também parecidas entre si elas são efetivamente diferentes Ética a Nicômacos 145 mas ambos os tipos buscam os prazeres do corpo embora as últimas tamm pensem que devem agir assim enquanto as primeiras não têm este pensamento 10 Tampouco a mesma pessoa é dotada de discernimento e é incontinen te pois já demonstramos m que uma pessoa é ao mesmo tempo dotada de discernimento e de bom caráter Além disto uma pessoa é dotada de discernimento não apenas por saber como deve agir mas por ser capaz de agir como acha que deve a pessoa incontinente todavia é incapaz de agir como deve ao passo que nada impede uma pessoa talentosa de ser incontinente é por isto que às vezes se pensa realmente que algumas pessoas são dotadas de discernimento mas são incontinentes porque o talento e o discernimento diferem da maneira descrita em nossa primeira discwsão do assunto211 e estão muito próximos um do outro como qualidades intelectuais embora difiram a respeito de seus propósitos de fato a pessoa incontinente não se assemelha à pessoa que conhece uma verdade e a está contemplando e sim à pessoa que está adormecida ou embriagada Ela age conscientemente pois age de certo modo sabendo o que faz e qual o objetivo visado mas não é má já que seu propósito é bom então ela é apenas meio má Tampouco ela é criminosa pois ela não age com intenção criminosa dos dois tipos de pessoas incontinentes umas não permanecem firmes em relação às conclusões de suas deliberações enquanto as pessoas impetuosas não chegam sequer a deliberar Assim as pessoas incontinentes assemelhamse a uma cidade que promulga todos os decretos acenados e tem boas leis mas não as usa como no gracejo de Anaxandrides119 A cidade negligente quanto às leis quer isto Quanto às pessoas más elas são como a cidade que observa suas leis mas cujas leis são más A incontinência e a continência se relacionam com os excessos referentes ao caráter da maioria das pessoas pois as pessoas dotadas de continência permanecem mais firmes e as incontinentes menos firmes em suas resoluções do que a maioria das pessoas Entre as formas de incontinência a das pessoas impetuosas é mais fácil de curar do que a incontinência das pessoas que deliberam mas não permanecem firmes em suas decisões e as pessoas incontinentes por causa de hábitos são mais fáceis de curar do que aquelas cuja incontinência é inata de fato é mais f6cil mudar um hábito do que mudar a natureza de alguém e os próprios hábitos são difíceis de mudar porque são semelhan te à natureza como diz Êuenosllo Digo que o hábito é apenas loop prática amigo que afinal se iguala à natureza 146 1152 b Aristóteles Acabamos de examinar a natureza da continência e da incontinência da resistência e da lassidão e o interrelacionamento destas disposições 11 Ao filósofo político também incumbe considerar a natureza do prazer e do sofrimento pois ele é o arquiteto dos fins com vistas aos quais chamamos certas coisas de más e outras de boas irrestritamente Ademais uma de nossas tarefas necessárias é examinar estas duas emoções pois não somente já estabelecemos que a excelência moral e a deficiência moral se relacionam com o sofrimento e com o prazer m como também a maioria das pessoas dizem que a felicidade pressupõe o prazer é por isto que as pessoas bemaventuradas têm um nome cujo significado é a fruição do prazer m Algumas pessoas pensam que nenhumprazer é bom seja em si seja acidentalmente já que o bem e o prazer não são a mesma coisa outras pessoas pensam que alguns prazeres são bons mas a maioria deles é má Ainda há um terceiro ponto de vista segundo o qual mesmo que todos os prazeres sejam bons o prazer não pode ser o bem supremo 223 As razões apresentadas a favor do ponto de vista segundo o qual o prazer não é um bem de forma alguma são 1 todos os prazeres são processos conscientes em direção a um estado natural e nenhum processo é da mesma espécie que sua finalidade por exemplo nenhum processo de construção é da mesma espécie de uma casa 2 as pessoas moderadas evitam os prazeres 3 as pessoas dotadas de discernimento buscam o que é isento de sofrimento e não o que é agradável 4 os praZeres são um óbice ao pensamento e quanto mais eles o são mais as pessoas os fruem por exemplo o prazer sexual pois ninguém consegue pensar em coisa alguma enquanto está absorvido nele 5 não há uma arte do prazer mas cada bem é o produto de uma arte e 6 as crianças e os animais irracionais buscam o prazeres As razões apresentadas a favor do ponto de vista de que nem todos os prazeres são bons são 1 há prazeres que são realmente desabonadores e merecem censura e 2 há prazeres nocivos pois algumas coisas agradáveis fazem mal à saúde A razão apresentada a favor do ponto de vista de que o prazer não é o bem supremo é que o prazer não é uma finalidade e sim um processo Estes são mais ou menos os pontos de vista correntes 12 Mas as considerações seguintes evindenciarão que estes argumentos não são conclusivos para provar que o prazer não é um bem de forma alguma e que ele não é tampouco o bem supremo Primeiro já que aquilo que é bom pode ser bom em duas acepções uma coisa pode ser irrestritamente boa e ouua pode ser boa para uma determinada pessoa a natureza e as disposições das pessoas e portanto também os respectivs movimentos e processos serão igualmente diferenciáveis Dos processos considerados maus alguns serão maus se considerados irresuitamenre mas 1153 a Ética a Nicômacos 147 não serão tidos como maus para determinadas pessoas e sim dignos de escolha enquanto alguns não serão sempre dignos de escolha sequer para determinadas pessoas mas somente em certo momento e por um curto período de tempo e não irrestritamenre outros não são sequer prazeres mas apenas parecem prazeres por exemplo todos aqueles que acarretam sofrimento e cuja finalidade é curativa como os processos de tratamento aplicáveis às pessoas nfermas Além disto uma espécie de bem é atividade e outra é estado e portanto os processos que restabelecem o nosso estado natural somente por acidente são agradáveis aliás a atividade do desejo é a atividade da parte de nós mesmos que permaneceu em seu estado natural com efeito há alguns prazeres que não envolvem sofrimento ou desejo de espécie alguma por exemplo os prazeres da contemplação sendo fruídos sem que haja ocorridó qualquer deficiência em nosso estado natural O caráter acidental dos outros prazeres é demonstrado pelo fato de não apreciarmos as mesmas coisas agradáveis quando nosso estado natural se encontra em sua plenitude com intensidade comparável à que se observa durante o seu restabelecimento no primeiro caso apreciamos as coisas que são irrestri tamente agradáveis e no outro apreciamos até o oposto neste último caso apreciamos até as coisas ácidas e amargas das quais nenhuma é agradável por natureza ou irrestritamente Portanto os estados que elas produzem não são prazeres naturalmente ou irrestritamente pois da mesma forma que as coisas agradáveis diferem entre si os prazeres decorrentes delas também diferem Mas não resulta disto como pretendem alguns estudiosos que sendo a finalidade melhor que o processo que leva a ela tenha de haver alguma coisa melhor que o prazer pois os prazeres não são processos nem pressupõem processos eles são atividades e fins eles tampouco resultam do processo de aquisição de nossas faculdades e sim de seu exercício e nem todos os prazeres têm uma finalidade diferente de si mesmos mas sómente os prazeres do processo em direção à perfeição de nossa natureza Por isto não é correto dizer que o prazer é um processo consciente seria melhor chamálo de atividade de nosso estado natural e em vez de consciente deveríamos dizer sem óbices Por outro lado alguns estudiosos pensam que o prazer é um processo apenas por acharem que o prazer é bom no sentido próprio de bom de fato eles pensam que atividade é processo mas ela é diferente Afirmar que os prazeres são maus porque cenas coisas agradáveis fazem mal à saúde equivale a dizer que as coisas saudáveis são más porque algumas delas são más quando se quer enriquecer tanto as coisas 148 1153 b Aristóteles agradáveis quanto as saudáveis são más no sentido mencionado mas não são más por aqueles motivos na realidade a própria contemplação 124 às vezes pode ser prejudicial à saude O discernimento como qualquer outra disposição não é obstado pelos prazeres decorrentes dele são os prazeres estranhos a ele que lhe criam obstáculos com efeito os prazeres oriundos da contemplação e do estudo nos farão contemplar e aprender ainda mais O fato de nenhum prazer ser o produto de qualque arte é perfeita mente natural nenhuma arte produz qualquer atividade mas somente a capacidade para uma atividade As artes da perfumaria e da cozinha aliás são geralmente consideradas artes do prazer Os argumentos no sentido de que as pessoas moderadas evitam o prazer e de que as pessoas dotadas de discernimento buscam uma vida livre de sofrimentos e de que as crianças e os animais irracionais buscam o prazer são todos refutados pela mesma resposta á explicamosm o sentido em que os prazeres são irrescritamente bons e o sentido em que alguns não são bons ora tanto os animais irracionais quanto as crianças buscam os prazeres desta última espécie e as pessoas dotadas de discernimento querem evitar as conseqüências da necessidade de tais prazeres isto é daqueles que envolvem desejo e sofrimento ou seja os prazeres do corpo estes são os desta natureza e os excessos em relaçqo a eles excessos que caracterizam as pessoas concupiscentes É por isto que as pessoas moderadas evitam tais prazeres mesmo as pessoas moderadas têm seus prazeres 13 Mas além disto admitese que o sofrimento é um mal e deve ser evitado de fato algumas formas de sofrimento são irrescritamente más e outras formas são más porque constituem de certo modo um empecilho à nossa atividade O contrário daquilo que deve ser evitado por ser algo a ser evitado e mau deve ser bom O prazer então é necessariamente um bem A tentativa de Spêusipos de refutar este argumento dizendo que o prazer é contrário tanto ao sofrimento quanto ao bem da mesma forma que o maior é contrário tanto ao menor quanto ao igual não foi bem sucedida pois Spêusipos não poderia sustentar que o prazer é essencial mente uma espécie de mal Se certos prazeres são maus isto não impede que o bem supremo seja algum prazer da mesma forma que o bem supremo pode ser alguma espécie de conhecimento embora cenas espécies de conhecimento sejiiiD mú Se não houver óbices a qualquer tipo de atividade talvez seja ati necessário se a atividade sem óbices de todas u nossas disposições ou de 1154 a ttica a Nicômacos 149 alguma delas for a felicidade que tal atividade seja o que há de mais desejável e esta atividade o prazer Então o bem supremo seria algum prazer ainda que a maioria dos prazeres seja irrestritamente má É por isto que todas as pessoas pensam que a vida feliz deve ser agradável e introduzem o prazer na urdidura de seu ideal de felicidade e com boas razões pois nenhuma atividade é perfeita quando se lhe antepõem obstáculos e a felicidade é algo perfeito Esta é a razão de as pessoas felizes necessitarem dos bens do corpo e dos bens exteriores ou seja dos bens que a boa sone nos dá para que sua atividade não seja obstada pela falta de tais bens Quem diz que a vítima num aparelho de tortura ou uma pessoa que se debate em meio aos maiores infortúnios é feliz se for boa intencionalmente ou não está falando um disparate Mas já que necessita mos de boa sone para ser felizes algumas pessoas pensam que a boa sorte é a mesma coisa que a felicidade isto não é verdade pois a própria boa sorte quando excessiva é um óbice à nossa atividade e talvez já não feva ser chamada de boa sone porquanto a boa sone só pode ser definidl em relação à felicidade Realmente o fato de todos os seres tanto os animais irracionais quanto as criaturas humanas buscarem o prazer é um indício de qul ele é de algum modo o bem supremo A fama nunca se desfaz inteiramente se muitos u6 Mas como nenhuma natureza ou disposição realmente é ou se pensa que seja a melhor para todoas as pessoas nem todas as pessoas buscam o mesmo prazer Talvez elas na realidade não busquem o prazer que imaginam estar buscando nem aquele que elas dizem que estão buscando e sim o mesmo prazer pois todas as coisas têm por natureza tlgo agradável Os prazeres do corpo todavia apropriaramse do nome porque são os que encontramos com maior freqüência em nosso caminho e porque todas as pessoas os experimentam então as peSSOlS pensam que eles são os únicos prazeres existentes porque são os únicos que elas conhecem Tambm é evidente que se o prazer ou seja a atividade de nossas faculdades não um bem a vida das pessoas felizes não será necesSlria mente agradável Com efeito para que necessitaríamos do prazer 5 ele não fosse bom Ao contrário as pessoas felizes poderiam até viver uma vida de sofrimentos De fato o sofrimento não será bom nem mau se o prazer não o for por que então evitaríamos o sofrimento Logo se a atividade das pessoas boas não for mais agradável que a de quaisquer outras sua vida tampouco será mais agradável 14 Quanto aos prazeres do corpo devemos examinar o ponto de vista dos 150 1154 b Aristóteles estudiosos segundo o qual embora seja verdade que certos prazeres os chamados prazeres nobilitantes são altamente desejáveis os prazeres do corpo e aqueles que são o objetivo das pessoas concupiscentes não o são Se for assim por que os sofrimentos contrários a eles serão maus já que o contrário do mal é o bem Ou eles são bons até certo ponto Será que onde há disposições e processos que não podem ser excessivos não é possível haver também prazeres excessivos equivalentes e onde pode haver disposições e processos excessivos pode haver também prazeres excessivos Mas pode haver excesso em relação aos bens do corpo é a busca deste excesso que torna as pessoas más e não a busca dos prazeres necessários pois todos nós gostamos até certo ponto de deleitarnos com iguarias finas vinho e prazeres do sexo embora nem todos nos deleitemos como devíamos Com o sofrimento acontece o contrário pois não evitamos os seus excessos e sim o evitamos pura a simplesmente com efeito o contrário do excesso de prazer não é o sofrimento exceto para as pessoas que perseguem o excesso de prazer Já que devemos estabelecer não somente a verdade mas também a causa da falsidade este procedimento contribui para estabelecer a convicçijo pois quando damos uma explicação razoável do motivo pelo qual o ponto de vista falso parece verdadeiro tendemos a aumentar a crença no ponto de vista verdadeiro devemos também explicar por que os prazeres do corpo parecem mais desejáveis Primeiro é porque eles afastam o sofrimento o excesso de sofrimento induz as pessoas a procurarem o excesso de prazer e de um modo geral os prazeres do corpo são um remédio para o sofrimento Ora os agentes curativos produzem sensações intensas esta é a razão de os buscarmos porque eles se manifestam em contraste com o sofrimento oposto Na verdade conside rase que os prazeres não são bons por duas razões como já dissemos22 alguns deles são atividades condizentes com uma natureza má de nascença como no caso dos animais irracionais ou pelo hábito isto é o hábito das pessoas más outros são considerados um remédio para uma natureza deficiente e é melhor estar em boas condições de saúde do que estar recuperando estas boas condições mas estes últimos prazeres se manifestam durante o processo de recuperação e portanto são bons apenas acidentalmente Além disto as pessoas que não podem fruir outros prazeres buscam os desta espécie por causa de sua intensidade por exemplo algumas pessoas se esforçam por provocar de algum modo a sede22 se estes prazeres não são nocivos o expediente não é reprovável se eles são nocivos então tais expedientes são um mal Com efeito certas pessoas nada mais têm com que deleitarse e além disto um estado neutro é muito penoso para muitas pessoas por causa da natureza destas Isto A acontece porque a natureza animal está sempre enpjada em fazer esforços de acordo com o testemunho dos estudiosos da fisiologia eles j t j Ética a Nicômacos 151 dizem que ver e ouvir causa sofrimento mas nós nos acostumamos a isto segundo suas afirmações Da mesma forma os jovens devido ao crescimento estão em condições comparáveis às dos ébrios e a juventude é agradável por si mesma as pessoas de natureza excitável necessitam permanentemente de tratamento pois seu corpo está sempre irriquieto em conseqüência de seu temperamento e elas estão sempre sob a influência de um desejo exacerbado entretanto qualquer prazer desde que forte e não somente o prazer contrário ao sofrimento que se sente afasta este sofrimento é por esta razão que tais pessoas se tornam concupiscentes e más Entretanto os prazeres desacompanhados de sofrimento não admitem excesso eles estão entre as coisas agradáveis por natureza e não acidentalmente Digo coisas acidentalmente agradáveis para significar aquelas que atuam como um tratamento médico na realidade seu efeito curativo é produzido pela atuação da parte do corpo que permanece sadia e por isto se pensa que o próprio remédio é agradável digo coisas agradáveis por natureza para significar aquelas que estimulam a ação de uma natureza saudável Não existe coisa alguma que seja permanentemente agradável pois nossa natureza não é simples há em nós também outro elemento que nos torna perecíveis de tal forma que quando um dos elementos está em atividade sua atividade é contrária à natureza do outro e quando os dois elementos estão em eventual equilíbrio sua ação não parece nem penosa nem agradável de fato se a natureza das criaturas humanas fosse simples a mesma ação serlhesia sempre agradável É por isto que Deus sempre frui um prazer único e simples pois não há somente uma atividade de movimento existe também uma atividade de imobilidade e o prazer está principalmente na imobilidade Mas a mudança é doce em tudo segundo o poeta228 em decorrência de alguma perversão nossa porquanto da mesma forma que as pessoas pervertidas são mutáveis a natureza que necessita de mudança é pervertida por não ser simples nem boa Acabamos de discutir a continência e a incontinência e o prazer e o sofrimento e mostramos em relação a ambos os pares o sentido em que uma das duas disposições é boa e a outra é má Restanos falar da amizade THE BOW WOW THAT NEEPS ARDEN KILLER DOGS DO CMOVE AND IMPROVE ART LIVRO VIII 115 5 a 1 Depois do que já dissemos cabenos examinar a natureza da amizade pois ela é uma forma de excelência moral ou é concomitante com a excelência moral além de ser extremamente necessária na vida De fato ninguém deseja viver sem amigos mesmo dispondo de todos os outros bens achamos até que as pessoas ricas e as ocupantes de altos cargos e as detentoras do poder são as que mais necessitam de amigos realmente de que serve a prosperidade sem a oportunidade de fazer benefícios que se manifesta principalmente e em sua mais louvável forma em relaç1o aos amigos Ou então como pode a prosperidade ser protegida e preservada sem amigos Quanto maior ela for mais exposta estará aos risco E as pessoas pensam que na pobreza e em outros infortúnios os amigo são o único refúgio Os amigos também ajudam os jovens a evitar os erros e ajudam as pessoas idosas amparandoas em suas necessidades e suplemen tando sua capacidade de ação reduzida pela senilidade Além disso os amigos estimulam as pessoas na plenitude de suas forças à prática d ações nobilitantes quando dois vão juntos 229 pois com amigos as pessoas são mais capazes de pensar e de agir Ademais os progenitores parecem sentir uma afeição natural por sua prole e a prole pelos progenitores não somente entre as criaturas humanas mas também entre os pássaros e a maioria dos animais ela é sentida mutuamente pelas criaturas da mesma raça e especialmente pelas da raça humana razão pela qual louvamos as criaturas humanas que amam seus semelhantes Mesmo quando viajamos para outras terras podemos observar a exütência generalizada de urna afinidade e afeição naturais entre as pessoas A amizade parece também manter as cidades unidas e parece que os legisladores se preocupam mais com ela do que com a justiça efetivamen te a concórdia parece assemelharse à amizade e eles procuram assegurá la mais que tudo ao mesmo tempo que repelem tanto quanto possível o facciosismo que é a inimizade nas cidades Quando as pessoas são amigas não têm necessidade de justiça enquanto mesmo qtando são justas elas 154 1155 b Aristóteles necessitam da amizade considerase que a mais autêntica forma de justiça é uma disposição amistosa E a amizade não é somente necessária ela também é nobilitante pois louvamos as pessoas amigas de seus amigos e pensamos que uma das coisas mais nobilitantes é ter muitos amigos além disto há quem diga que a bondade e a amizade se encontram nas mesmas pessoas Mas não poucos aspectos da amizade são objeto de debates Alguns estudiosos do assunto definem a amizade como uma espécie de semelhan ça entre as pessoas e dizem que as pessoas semelhantes são amigas daí vêm os provérbios como o semelhante encontra seu semelhante2l 0 gralha para gralha e assim por diante outros dizem que todos são como oleiros diante de oleiros2l Outros tentam achar uma explicação mais profunda e mais física para este sentimento Eurípides por exemplo escrevem A terra seca ama a chuva e o divino céu pleno de chuva ama molhar a terra Herácleitos em contraste diz Os contrários andam juntosA mais bela harmonia é feita de tons diferentes e Tudo nasce do antagonismo m Outros sustentam um ponto de vista oposto a este principalmente Empédocles segundo o qual o semelhante busca o semelhante2l4 Podemos deixar de lado os problemas físicos pois eles não se enquadram na presente investigação examinemos os problemas relativos ao homem pertinentes ao caráter e aos sentimentos por exemplo se a amizade pode manifestarse entre quaisquer pessoas ou se pessoas más não podem ser amigas e se há uma única espécie de amizade ou mais de uma Os estudiosos que pensam que há somente uma forma de amizade porque ela admite uma graduação baseiamse em indícios inadequados pois mesmo as coisas de espécies diferentes admitem graduação Mas esta questão já foi discucida anteriormente2l4 2 A questão das várias espécies de amizade talvez possa ser es clarecida se antes chegarmos a conhecer o objeto do amor Parece que nem rodas as coisas são amadas mas somente aquelas que merecem ser amadas e estas são o que é bom ou agradável ou úcil parece porém que o útil é aquilo de que resulta algum bem ou prazer de tal forma que somente o bom e o agradável merecem ser amados como fins Que será que as pessoas amam aquilo que é realmente bom ou o que é bom para elas Às vezes estas duas coisas são antagônicas e o mesmo acontece em relação ao agradável Pensase que cada pessoa ama aquilo que é bom para ela e enquanto o que é realmente bom merece ser amado irrestritamente o que é bom apenas para uma determinada pessoa merece ser amado apenas por aquela pessoa mas cada pessoa ama nâo aquilo que é realmente bom para ela e sim o que lhe parece bom Esta circunstância porém não Ética a Nicômacos 155 fará diferença teremos simplesmente de dizer que isto é o que parece digno de ser amado Havendo então três motivos pelos quais as pessoas amamma palavra amizade não se aplica ao amor às coisas inanimadas já que neste caso não há reciprocidade de afeição e também não haverá o desejo pelo bem de um objeto por exemplo seria ridículo desejar o bem de uma garrafa de vinho no máximo desejaríamos que ela se conservasse bem para podermos têla conosco mas em relação a um amigo dizemos que devemos desejarlhe o que é bom por sua causa Entretanto àqueles que desejam o bem desta maneira atribuímos apenas boas intenções se o desejo não é correspondido quando há reciprocidade a boa intenção é a amizade Ou devemos acrescentar quando a boa vontade é conhecida por quem é objeto dela Com efeito muitas pessoas têm boa vontade para com outras que elas nunca viram mas que julgam 1156 a ser boas ou prestativas e uma destas pode retribuir este sentimento Estas pessoas parecem ter boa vontade recíproca mas como poderia alguém qualificálas de amigas se elas não conhecem seus sentimentos recíprocos Então para que as pessoas sejam amigas devese constatar que elas têm boa vontade recíproca e se desejam bem reciprocamente por uma das razões mencionadas 3 Estas razões diferem especificamente entre si e conseqüentemente as formas correspondentes de amor e amizade também diferem Há portanto três espécies de amizade em número igual às qualidades que merecem ser amadas já que uma afeição recíproca conhecida por ambas as partes pode basearse em cada uma das três qualidades e quando duas pessoas se amam elas desejam bem uma à outra referindose à qualidade que fundamenta a sua amizade Os amigos cuja afeição é baseada no interesse não amam um ao outro por si mesmos e sim por causa de algum proveito que obtêm um do outro O mesmo raciocínio se aplica àqueles que se amam por causa do prazer não é por seu caráter que gostamos das pessoas espirituosas mas porqu as achamos agradáveis Logo as pessoas que amam as outras por interesse amam por causa do que é bom para si mesmas e aquelas que anam por causa do prazer amam por causa do que lhes é agradável e não porque a outra pessoa é a pessoa que amam mas porque ela é útil ou agradável Sendo assim as amizades deste tipo são apenas acidentais pois não é por ser quem ela é que a pessoa é amada mas por proporcionar à outra gum proveito ou prazer Tais amizades se desfazem facilmente se as pessoas não permanecem como eram inicial mente pois se uma delas já não é agradável ou útil a outra cessa de amála E a utilidade não é uma qualidade permanente mas está sempre mudando Portanto desaparecido o motivo da amizade esta se desfaz uma vez que ela existe somente como um meio para chegar a um fim Este tipo de amizade parece existir principalmente entre pessoas idosas nesta idade as pessoas buscam não o agradável mas o útil e em 156 Aristóteles relação às pessoas que estão em sua plenitude ou aos jovens entre aquelas que buscam o proveito Tais pessoas não convivem muito tempo com as outras pois muitas vezes elas não se acham sequer mutuamente agradá veis e portanto não necessitam da convivência a não ser que ela seja mutuamente proveitosa pois as duas partes são agradáveis uma à outra somente enquanto elas alimentam reciprocamente esperanças de que alguma coisa boa lhes possa acontecer Entre estas amizades se incluem os laços d família e de hospitalidade Por outro lado o motivo da amizade entre os jovens parece ser o prazer pois eles vivem sob a influência das emoções e perseguem acima de tudo o que lhes é agradável e o que está presente mas seus prazeres mudam à medida que a idade aumenta É por isto que eles se tornam amigos e deixam de ser amigos rapidamente sua amizade muda com o objeto que acham agradável e tal prazer se altera rapidamente Os jovens também são amorosos pois a amizade por amor depende principalmente da emoção e aspira ao prazer é por isto que os jovens se apaixonam e cessam de amar rapidamente mudando com freqüência no mesmo dia Mas estas pessoas planejam passar juntas os seus dias e suas vidasm pois é assim que elas fruem a sua amizade A amizade perfeita é a existente entre as pessoas boas e semelhantes em termos de excelência moral neste caso cada uma das pessoas quer bem à outra de maneira idêntica porque a outra pessoa é 1156 b boa e elas são boas em si mesmas Então as pessoas que querem bem aos seus amigos por causa deles são amigas no sentido mais amplo pois querem bem por causa da própria natureza dos amigos e não por acidente logo sua amizade durará enquanto estas pessoas forem boas e ser bom é uma coisa duradoura Cada uma das pessoas oeste caso é boa irrestrita mente e boa em relação ao seu amigo pois as pessoas boas são boas irrestritamente e são reciprocamente úteis E por serem assim estas pessoas são também agradáveis pois as pessoas boas são agradáveis irrestritamente e são reciprocamente agradáveis já que para cada uma delas suas próprias ações e outras semelhantes às suas são um motivo de prazer e as ações das pessoas boas são idênticas ou parecidas Tal amizade é logicamente permanente já que ela combina em si mesma todas as qualidades que os amigos devem ter Toda amizade com efeito é baseada no bem ou no prazer irrestritamente ou em relação à pessoa que a sente e se alicerça em uma certa semelhança e todas as qualidades mencionadas convêm a uma amizade entre pessoas boas em decorrência da natureza dos próprios amigos pois no caso desta espécie de amizade as outras qualidades também236 são semelhantes em ambos os amigos e o que é irrestritamente bom é também irrestritamente agradável e estas qualida des são os principais objetos de afeição O amor e a amizade portanto ocorrem principalmente e em sua melhor forma entre tais pessoas Mas é natural que estas amizades sejam raras pois as pessoas deste tipo são poucas Ademais amizades desta espécie pressupõem tempo e intimidade Ética a Nicômacos 157 como diz a sabedoria popular não podemos conhecer as pessoas enquanto elas não tiverem consumido juntas o sal proverbial21 as pessoas também não poderão manter amizade umas com as outras ou ser realmente amigas enquanto cada uma das partes não houver demonstrado à outra que é digna de amizade e não lhe tiver conquistado a confiança As pessoas que iniciam rapidamente relações de amizade têm o desejo de tornarse amigas mas não serão amigas se ambas não forem dignas de amizade e reconhecerem este fato realmente um desejo de amizade pode manifes tarse instantaneamente mas a amizade não pode 4 Esta espécie de amizade então é perfeita relativamente à duração e a todos os outros aspectos e nela cada parte recebe da outra em todos os sentidos o mesmo que lhe dá ou algo muito parecido e é isto que deve ocorrer entre amigos A amizade por prazer tem alguma semalhança corri esta espécie pois pessoas boas também são reciprocameOte àgradáveis Acontece o mesmo em relação à amizade por interesse pois as pessoas boas também são reciprocamente úteis Nestes casos as amizades são mais duradouras quando os amigos obtêm as mesmas coisas uns dos outros o prazer por exemplo e não somente isto mas também da mesma fonte como acontece entre pessoas espirituosas e não como acontece entre amante e amado Estes com efeito não encontram prazer nas mesmas coisas mas um se deleita por estar vendo o seu amado e o outro por estar recebendo atenções de seu amante e quando acaba o viço da juventue a amizade às vezes também acaba pois uma das pessoas já não sente prazer 115 7 a em olhar para a outra e a outra já não recebe as atenções da primeira por outro lado muitos amantes são constantes se a intimidade os levou a amarem o caráter um do outro sendo ambos parecidos As pessoas porém que permutam não o prazer mas interesses em sua amizade são menos amigas de verdade e menos constantes As que são amigas por interesse separamse quando o proveito está acabando pois elas não eram amigas uma da outra e sim do proveito Então quando a amiú1de é por prazer ou por interesse mesmo duas pessoas más podem ser amigas ou então uma pessoa boa e outra má ou uma pessoa que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra de qualquer espécie mas pelo que são em si mesmas é óbvio que somente pessoas boas podem ser amigas Na verdade pessoas más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum proveito recíproco E somente a amizade entre pessoas boas é imune à calúnia pois nio é fácil dar crédito ao que diz qualquer um acerca de uma pessoa que foi posta à prova durante muito tempo por quem ouve as palavras caluniosas além disto é entre pessoas boas que encontramos a confiança o sentimento de que uma nunca fará mal à outra e tudo mais que se espera numa amizade sincera Nas outras espécies de amizade todavia rada existe que impeça o aparecimento de suspeitas 158 Aristóteles Com efeito as pessoas chamam de amizade até as relações cujo motivo é o interesse nesta acepção podese dizer que as cidades têm relações amistosas pois as alianças entre cidades parecem visar a vanta gens e aquelas em que as pessoas se amam por prazer nesta acepção as crianças também podem chamarse amigas Talvez devamos portanto chamar tais pessoas de amigas e dizer que há várias espécies de amizade primeiro e na acepção própria a existente entre pessoas que são amigas por serem boas e depois por analogia as outras espécies efetivamente é por causa de algo bom algo que tenha afinidade com aquilo que se encontra na verdadeira amizade que as pessoas no primeiro caso são amigas já que para os apreciadores do prazer até o agradável é bom Mas não é freqüente a compatibilização destas duas espécies de amizade nem as mesmas pessoas se tornam amigas por interesse ou com vistas ao prazer pois as coisas que combinam apenas acidentalmente não se coadunam com freqüência Já que a amizade se divide em duas espécies as pessoas más serão amigas por prazer ou por interesse porquanto se assemelham sob este aspecto as pessoas boas porém são amigas porque são como são isto é por causa de sua bondade Elas são portanto amigas irrestritamente ao passo que as outras são amigas acidentalmente e por analogia com as pessoas boas 5 Acontece no caso da amizade o mesmo que ocorre a respeito da excelência moral algumas pessoas são chamadas boas em relação a uma 115 7 b disposição de caráter e outras em relação a urna atividade As pessoas que vivem juntas fruem mutuamente a convivência e se beneficiam reciproca i mente mas quando estão adormecidas ou separadas não exercem as atividades características çia amizade embora sejam capazes de exercêlas a distância não desfaz absolutamente a amiade mas somente a atividade i Mas se a ausência é prolongada parece que ela provoca o esquecimento da amizade é por isto que se diz que muitas amizades são desfeitas pela f ausência 218 As pessoas idosas e acrimoniosas não parecem propensas à i amizade pois pouco há nelas de agradável e ninguém pode passar seus dias com pessoas cuja companhia é constrangedora ou não é agradável já que a natureza parece evitar mais que rudo o penoso e buscar o agradável Quando duas pessoas se apreciam mutuamente mas não vivem juntas parecem apenas bem dispostas urna para com a outra e não realmente amigas Efetivamente nada é mais característico dos amigos que o desejo de viver juntos as pessoas necessitadas desejam que os amigos as ajudem já que estão perto e até as mais prósperas desejam uma companhia na verdade estas são as últimas a optar por uma vida solitária mas as pessoas não podem conviver se não são mutuamente agradáveis e não apreciam as mesmas coisas como parece acontecer com os amigos que são compa nheiros 1158 a Ética a Nicômacos 159 A amizade mais sincera então é a que existe entre as pessoas boas como já dissemos muitas vezes m pois aquilo que é irrestritamente bom e agradável parece ser estimável e desejável e para cada pessoa o bom ou o agradável é aquilo que é bom ou agradável para ela e uma pessoa boa é desejável e estimável para outra pessoa boa por ambas estas razões Parece que o amor é uma emoção e a amizade é uma disposição do caráter de fato podese sentir amor também por coisas inanimadas mas o amor recíproco pressupõe escolha e a escolha cem origem numa disposição do caráter além disto desejamos bem às pessoas que amamos pelo que elas são e não em decorrência de um sentimento mas de uma disposição do caráter Gostando de um amigo as pessoas gostam do que é bom para si mesmas pois a pessoa boa tornandose amiga tornase um bem para seu amigo Cada uma das partes então ama o seu próprio bem e oferece à outra parte uma retribuição equivalente desejandolhe bem e proporcio nandolhe prazer A propósito dizse que a amizade é igualdade e ambas se encontram principalmente nas pessoas boas 6 A amizade aparece com menor freqüência entre as pessoas acrimoniosas e idosas porque elas são mal dispostas e menos propensas à sociabilidade enquanto a boa disposição e a sociabilidade são as principais características e causas da amizade É por isto que em contraste com os jovens que se tornam amigos rapidamente as pessoas idosas não se tornam as pessoas não se tornam amigas daquelas cuja companhia não lhes agrada acontece o mesmo com as pessoas acrimoniosas Mas tais pessoas demonstram boa vontade mutuamente pois se desejam bem e se ajudam em caso de necessidade dificilmente porém se pode chamálas de amigas porquanto elas não passam juntas os seus dias nem sentem prazer na convivência e estas circunstâncias são consideradas as características mais importantes da amizade Não se pode ser amigo de muitas pessoas no sentido de manter uma amizade do tipo pedeito com elas da mesma forma que não se pode amar muitas pessoas ao mesmc tempo o amor parece uma emoção exacerbada e é de sua natureza ser sentido somente em relação a uma pessoa e muitas pessoas não podem agradar facilmente à mesma pessoa ao mesmo tempo ou não podem sequer ser boas aos olhos desta pessoa Para uma amizade pedeita ambas as partes devem adquirir experiência recíproca e tornarse íntimas e isto é muito difícil Mas pelo prazer ou por interesse é possível que muitas pessoa sejam asradáveis a uma pois muitas pessoas são úteis e agradáveis e os benefícios que elas propiciam podem ser fruídos dentro de pouco tempo Destas duas espécies a que se baseia no prazer é mais parecida com a amizade quando ambas as partes obtêm reciprocamente os mesmos benefícios e se comprazem mutuamente ou com as mesmas coisas como nas amizades entre jovens nestas amizades com efeito encontrase mais a generosidade de sentimentos ao passo que a amizade 160 Aristóteles por interesse é para as pessoas merceoirias As pessoas sumamente felizes também não necessitam de amigos úteis mas necessitam de amigos qradiveis elas desejam conviver com aJsuém e embora possam suportar por um curto período de tempo coisas que causam sofrimento nenhuma delas poderia resistirlhes continuamente nem mesmo ao bem elas resistiriam sempre se este as fizesse sofrer é por isto que elas procuram amigos qradãveis Talvez elas devessem procurar amigos que sendo aradiveis também fossem bons pois assim eles teriam todas as caracte rísticas que os amigos devem ter Parece que os ocupantes de posições de mando têm amigos classificá veis em categorias diferentes algumas pessoas lhes são úteis e outras lhes são agradáveis mas raramente a mesma pessoa é ao mesmo tempo útil e agradável com efeito tais autoridades não procuram as pessoas cujo dom de agradar seja acompanhado pela excelência moral nem aquelas cuja utilidade se manifesta com vistas a objetivos nobilitantes quando estão interessadas em prazeres elas procuram as pessoas espirituosas e no outro caso elas escolhem pessoas capazes de cumprir habilmente as ordens recebidas mas o dom de proporcionar prazer e a capacidade de bem cumprir ordens raramente se encontram na mesma pessoa Já dissemos que as pessoas boas são ao mesmo tempo agradáveis e úteis240 mas não se tornam amigas de pessoas superiores a elas quanto à posição a não ser que também lhes sejam superiores em excelência moral se não fosse assim não se estabeleceria a igualdade já que uma pessoa seria duplamente superior à outra Mas não é fácil encontrar autoridades superiores aos amigos em ambos os aspectos Seja como for as amizades recémmencionadas pressupõem igualda de efetivamentP ambas as partes obtêm os mesmos benefícios e cada uma delas deseja da outra o mesmo bem que lhe concede ou permuta uma coisa por outra por exemplo o prazer por um benefício já dissemos241 entretanto que tais amizades são menos sinceras e menos duradouras mas é por sua similitude ou dissimilaridade em relação à mesma coisa que se 1158 b julga se elas são ou não são amizades É por sua semelhança em relação à amizade conforme à excelência moral que elas parecem ser espécies de amizade com efeito uma delas pressupõe prazer e a outra interesse e estas características também convêm à amizade conforme à excelência moral mas é porque a amizade conforme à excelência moral é à prova de calúnias e é duradoura enquanto as outras espécies de amizade mudam rapidamente além de diferirem da primeira em muitos aspectos que elas não parecem constituir espécies verdadeiras de amizade ou seja por causa de sua dissimilaridade com a amizade conforme à excelência moral 1159 a ttica a Nicômacos 161 7 Mas há outra espécie de amizade na qual existe superioridade dt uma das panes por exemplo a amizade entre pai e filho e em geral a amizade entre as pessoas idosas e as pessoas jovens e a amizade entre mando e mulher e em geral entre quem manda e quem obedece Estas espécies de amizade diferem também entre si realmente a amizade entre pai e filho e a amizade entre quem manda e quem obedece não são da mesma espécie tampouco a existente entre pai e filho e a existente entre filho e pai são idênticas nem a existente entre marido e mulher é idêntica à exisrence entre mulher e marido As formas de excelência moral implícitas nestas espécies e suas respectivas funções são diferentes do mesmo modo que são diferentes as razões pelas quais as várias pessoas envolvidas são amigas Nestas diferentes espécies de amizade então os benefícios que cada parre recebe e pode pretender da outra não são os mesmos da outra quando os filhos dão aos pais aquilo que devem dar a quem lhes proporcionou a existência e os pais dão o que devem dar aos seus filhos a amizade entre tais pessoas é duradoura e eqüitativa Em todas as espécies de amizade nas quais está implícita a desigualdade o amor também deve ser proporcional isto é o amor que a parte melhor recebe deve ser maior que o amor que ela dá e portanto ela deve ser mais útil ocorre o mesmo em relação a cada um dos outros casos pois quando o amor é proporcional ao merecimento das partes configurase de certo modo a igualdade2 que é considerad t um componente essencial da amizade Mas a igualdade não aparece sob a mesma forma na esfera de aç o da justiça e na amizade com efeito na esfera da justiça o que é iguel no sentido primordial é aquilo que é proporcional ao merecimento enquanto a igualdade quantitativa é secundária mas na amizade a igualade quantitativa é primordial e a proporcionalidade ao merecimenro é secundária Esta afirmação se torna mais evidente quando há um grmde desequilíbrio entre as partes em relação à excelência moral ou à deficifncia moral ou à riqueza ou a qualquer outra coisa nestas condições elas já não são amigas e nem sequer esperam sêlo Esta circunstância é mais evidente no caso dos deuses pois eles nos superam da maneira mais cacegóric em tudo Mas isto é igualmente claro no caso dos reis em relação a eles também os homens que lhes são mais acentuadamente inferiores não esperam ser seus amigos tampouco os homens sem qualquer nlor esperam ser amigos das pessoas melhores e mais sábias Em cais casos não é possível definir exatamente até que ponto as pessoas podem permanecer amigas pois embora possam faltar muitas coisas a amizade pode continuar mas quando uma das panes se distancia excessivamente da outra cJmo acontece com os deuses já não pode haver amizade Isto nos leva a perguntar se desejamos realmente os maiores bens aos nossos amigos por exemplo que eles sejam deuses pois neste caso já não seríamos seus amigos e portanto não seríamos um bem para eles com efeito os amigos são um bem A resposta seria que se estávamos cercos ao dizer que um 162 1159 b Aristóteles amigo deseja bem ao amigo por causa deste24l seu amigo deveria continuar a ser a mesma criatura que é independentemente do que ela viesse a ser porranto é somente ao amigo enquanto ele for um ser humano que desejaremos os maiores bens Mas talvez não lhe desejemos todos os bens maiores pois cada pessoa deseja o bem principalmente a si mesma 8 A maioria das pessoas por causa de sua ambição parece que prefere ser amada a amar e é por isto que a maioria gosta de ser adulada efetivamente o adulador é um amigo de qualidade inferior ou que tem a pretensão de ser amigo e quer estimar mais do que ser estimado ser estimado é quase a mesma coisa que receber honrarias e é a estas que a maioria das pessoas aspira Mas parece que a maioria das pessoas escolhe as honrarias não por si mesmas e sim acidentalmente Tais pessoas gostam de ser distinguidas pelos detentores do poder embaladas por suas esperanças elas pensam que se necessitarem de alguma coisa a obterão destas autoridades e por isto se regozijam com as honrarias como um prenúncio de favores futuros ao contrário as pessoas que desejam honrarias vindas de homens bons e de homens que sabem têm o objetivo de confirmar sua própria opinião sobre si mesmas elas se regozijam com honrarias portanto porque crêem em sua própria bondade e na capacida de de julgamento de quem lhes faz elogios Por outro lado as pessoas se regozijam pelo fato de ser amadas em decorrência de seus próprios méritos por isto ser amado parece melhor do que receber honrarias e a amizade parece desejável por si mesma Mas a amizade parece consistir mais em amar do que em ser amado e a prova disto é o enlevo que as mães sentem em sua amizade pelos filhos de fato algumas mães confiam seus filhos a amas para ser criados e embora sabendo onde eles estão e amandoos elas não procuram ser amadas em retribuição se não podem amar e ser amadas ao mesmo tempo elas parecem satisfeitas vendo os filhos crescerem em boas condições e os amam mesmo que eles por ignorar quem é a sua mãe nada lhes dêem do que é devido às mães Já que a amizade depende mais de amar do que de ser amado e são as pessoas que amam seus amigos que são louvadas amar parece ser uma característi ca da excelência moral dos amigos de tal forma que somente as pessoas em que tal característica está presente na medida certa são amigas constantes e somente sua amizade é duradoura É desta maneira mais que de qualquer outra que até pessoas desiguais podem ser amigas pois assim elas podem ser igualizadas A amizade com efeito pressupõe igualdade e semelhança244 especialmente a semelhança daquelas pessoas que se assemelham em excelência moral sendo constan tes em si mesmas elas são reciprocamente constantes e nem pedem nem prestam serviços degradantes ao contrário podese dizer que uma afasta a outra do mal pois não errar e não deixar que seus amigos errem é uma 1160 a Ética a Nicômacos 163 característica das pessoas boas Mas as pessoas moralmente deficientes não têm constância na realidade elas não permanecem sequer semelhantes a si mesmas sua amizade é efêmera porque elas se comprazem mutuamen te em sua deficiência moral A amizade entre amigos úteis e agradáveis dura mais ou seja dura enquanto os amigos se proporcionam mutuamen te prazeres ou vantagens A amizade por interesse parece a mais fácil de existir enue pessoas de condições contrárias por exemplo entre uma pessoa pobre e outra rica ou entre uma pessoa ignorante e outra culta pois as pessoas almejam efetivamente aquilo que lhes falta e se dispõem a dar alguma coisa em retribuição Também se pode incluir nesta classe a amizade entre a pessoa que ama e a que é amada e entre uma pessoa bela e uma feia É por isto que os amantes às vezes parecem ridículos quando pedem para ser amados tanto quanto amam se se trata de pessoas igualmente dignas de ser amadas sua pretensão talvez possa justificarse mas se elas nãotêm atrativo algum parecem ridículas Talvez as pessoas de condições contrárias nem sequer se desejem por sua própria natureza mas apenas acidentalmente já que o desejo é pelo meio termo de fato bom é o meio termo ou seja o bom para o seco não é tornarse molhado demais20 e sim ficar no estado intermediário e o mesmo acontece com o quente e com todos os outros estados Mas deixemos estas questões de lado pois elas são de cerro modo estranhas à nossa investigação 9 Como dissemos no início46 a amizade e a justiça parecem re lacionarse com os mesmos objetos e manifestarse entre as mesmas pessoas Realmente parece que em todas as formas de associação encontramos alguma forma peculiar de justiça e também de amizade nota se pelo menos que as pessoas se dirigem como amigas aos seus companheiros de viagem e aos seus camaradas de serviço militar tanto quanto aos seus parceiros em qualquer outra espécie de associação Mas a extensão de sua amizade é limitada ao âmbito de sua associação da mesma forma que a extensão da existência da justiça entre tais pessoas O provérbio os bens dos amigos são comuns é a expressão da verdade pois a amizade depende da participação Os irmãos e os membros de uma confraria têm tudo em comum mas as outras pessoas às quais nos referimos têm somente certas coisas em comum algumas mais outras menos pois nas amizades também há maior ou menor intensidade As reivindicações de justiça em relação à amizade também diferem os deres dos pais para com os filhos e os dos irmãos entre si não são idênticos nem aqueles dos membros de uma confraria e os dos cidadãos em geral e da mesma forma com as demais espécies de amizade Também há uma diferença portanto entre os atos que são injustos em relação a cada uma destas classes de parceiros e a injustiça é mais grave quando é praticada em relação àqueles que são amigos num sentido mais amplo por exemplo é mais grave lesar um companheiro de confraria do que um cidadão qualquer é mais grave não ajudar um irmão que um estranho é 164 1160 b Aristóteles mais grave ferir um pai que qualquer outra pessoa As reivindicações de justiça também parecem aumentar com a intensidade da amizade e isto significa que a amizade e a justiça existem entre as mesmas pessoas e têm uma extensão igual Todas as formas de assoc1açao são como se fossem partes da comunidade política efetivamente os homens empreendem uma viagem juntos com o intuito de obter alguma vantagem e de obter alguma coisa de que necessitam para viver e é com vistas a vantagens para seus membros que a comunidade política parece terse organizado originariamente e ter se perpetuado pois o objetivo dos legisladores é o bem da comunidade e eles qualificam de justo aquilo que é reciprocamente vantajoso As outras formas de associação visam a vantagens parciais os marinheiros visam ao que é vantajoso numa viagem em termos de ganhar dinheiro ou obter algo do mesmo gênero os soldados visam ao que é vantajoso na guerra quer se trate de riquezas resultantes de saques quer de vitórias ou da captura de uma cidade que desejam ocupar e os membros das tribos e dos povoados agem de maneira idêntica algumas associações parecem originarse com o objetivo de proporcionar satisfação aos seus membros por exemplo as associações para fins religiosos e para repastos coletivos que existem respectivamente para a realização de festas dedicadas aos deuses e para a convivência sociaJ24 mas todas elas parecem subordinarse à comunidade política pois aparentemente não visam a vantagens temporárias mas ao que é vantajoso para a vida como um todo oferecendo sacrifícios e promovendo reuniões relacionadas com os mesmos cultuando os deuses e proporcionando entretenimento aos seus componentes A propósito parece que as antigas cerimônias religiosas e reuniões se realizavam depois da colheita como se se tratasse de uma oferenda de primícias pois aquela era a época do ano em que as pessoas podiam dedicarse mais ao lazer Todas as formas de associação portanto parecem constituir partes da comunidade política e as espécies particulares de amizade correspondem às espécies particulares de associações em que elas se originam 10241 Há três formas de governo e um número igual de desvios ou perversões por assim dizer destas formas Elas são a monarquia a aristocracia e em terceiro lugar aque se baseia na qualificação pelos bens possuídos que parece adequado chamar de timocracia embora a maioria das pessoas lhe dê o nome de governo constitucional A melhor delas é a monarquia e a pior é a timocracia O desvio da monarquia é a tirania ambas são formas de governo de um único homem mas há uma enorme diferença entre elas pois o tirano visa à sua própria vantagem enquanto o rei visa à vantagem de seus súditos Um governante não é um rei se não se basta a si mesmo e se não sobrepuja seus súditos em relação a todos os bens e um homem desta espécie não necessita de coisa alguma portanto ttica a N icômacos 165 ele não terá em vista seus próprios interesses e sim os de seus súdttos pois um rei que não for assim será como llm rei escolhido por sorteio249 Quanto à tirania ela é exatamente o contrário disto o tirano cuida apenas de seu próprio bem É claro que a tirania é o pior desvio em relaçiío à monarquia Mas o pior é o contrário do melhor A monarquia degenera em tirania pois esta é a espécie má do governo de um único homen e o mau rei se torna um tirano A aristocracia degenera em oligarquia pela maldade dos governantes que distribuem contrariamente à eqüidade os bens da cidade todas as boas coisas ou a sua maior parte ficam para os próprios governantes e as funções de governo são atribuídas sempre às mesmas pessoas dandose importância preponderante à riqueza desta forma os governantes são poucos e maus em vez de serem os melhores entre todos os homens A timocracia degenera em democracia estas duas formas de governo têm afinidades pois o ideal da timocracia é ser um governo da maioria e todos os cidadãos qualificados pelos bens possuídos são considerados iguais De todos os desvios a democracia é o menos mau pois no seu caso a nova forma de governo é apenas um ligeiro desvio da forma primitiva São estas as mudanças mais freqüentes nas formas de governo porque tais mudanças são as transições menos acentuadas e mais fáceis Alguém pode achar semelhanças e por assim dizer modelos das várias formas de governo na própria estrutura familiar Realmente a associação de um pai com seus filhos apresenta a forma da monarquia porquanto o pai cuida de seus filhos é por isto que Homero chama Zeus de pai li O ideal da monarquia é ser um governo paternal mas entre os persas a autoridade de um pai é tirânica pois eles se servem de seus filhos como de escravos A autoridade de um senhor sobre seus escravos também é tirânica pois neste caso o objetivo da associação é a vantagem do senhor Então esta parece ser uma forma correta de autoridade mas o tipo persa é degenerado pois os modos de exercício da autoridade apropriados a relações diferentes são também diferentes A associação de marido e mulher parece aristocrática pois o marido exerce a autoridade com fundamento em seu mérito e nos assuntos em quecPm homem deve ter autoridade mas os assuntos pertinentes a uma mulher ele entrega t sua mulher Se o marido exerce autoridade em todos os assuntos a relação passa a ser uma oligarquia pois procedendo assim ele não está agindo com fundamento em seu mérito e não está governando por causa d sua superioridade Às vezes porém as mulheres exercem a autoridade 1161 a quando são herdeiras neste caso sua autoridade não é exercida em função de sua excelência moral mas por causa da riqueza ou da ascendência como acontece nas oligarquias A associação de irmãos é como se f asse uma timocracia pois eles são iguais à exceção da diferença de idade entretanto se a diferença de idade é excessiva entre os irmãos a amizade entre eles já não é do tipo fraternal A democracia aparece principalmente 166 Aristóteles nas fanu1ias sem um chefe nestas todos os membros são iguais e naquelas cujo chefe é fraco e onde cada membro age como lhe apraz 11 Em cada uma destas formas de governo parece existir amizade entre governantes e governados na mesma proporção em que existe justiça A amizade entre um rei e seus súditos depende do vulto dos benefícios feitos pois um rei faz bem aos seus súditos se sendo um homem bom ele cuida dos súditos visando ao bem desces como um pastor faz com seu rebanho por isto Homero chamou Agamêmnon pastor de povosmA amizade paterna também é deste gênero embora ela exceda a outra no vulto dos benefícios feitos o pai é responsável pela existência de seus filhos o que se considera o maior de todos os bens e por sua subsistência e educação Estas incumbências também são atribuí das aos ancestraism Além disto um pai tende naturalmente a exercer a autoridade sobre seus filhos os ancestrais sobre seus descendentes e um rei sobre seus súditos Estas espécies de amizade pressupõem superiorida de de uma das partes sobre a outra e é por isto que os ancestrais são distinguidos Portanto a justiça existente entre pessoas relacionadas umas com as outras desta maneira não é a mesma para ambos os lados mas em cada caso ela é proporcional ao mérito isto também é verdadeiro em relação à amizade A amizade entre o marido e a mulher por seu turno é da mesma espécie da que se manifesta na aristocracia ela é conforme à excelência os melhores obtêm um quinhão maior daquilo que é bom e cada um obtém aquilo que merece o mesmo se aplica à justiça nestas relações A amizade entre irmãos é semelhante à existente entre os membros de uma confraria pois eles são iguais e estão na mesma faixa etária e tais pessoas são em sua maior parte semelhantes em seus sentimentos e em seu caráter A amizade consentânea com o governo timocrático também é parecida com esta pois em tal forma de governo o ideal é que os cidadãos sejam iguais e eqüitativos por via de conseqüência o governo é exercido alternadamente e em condições iguais a amizade neste caso também será fundada na igualdade Mas nas formas degeneradas de governo a amizade tanto quanto a justiça praticamente não existe e ela existe ainda menos na pior das formas de governo a tirania onde há um mínimo de amizade ou mesmo nenhuma entre governante e governados Numa forma de governo na qual os que mandam e os que obedecem nada têm em comum não há tampouco amizade já que não há justiça é como na relação entre o arcífice e a ferramenta entre a alma e o corpo entre o senhor e o escravo o segundo elemento em cada par é beneficiado por aquele que o usa mas não há amiade e justiç em relação a coisas inanimadas Tampouco existe amizade em relação a um cavalo ou a um boi ou a um escravo enquanto escravo pois as duas partes nada tm em comum o escravo é uma Ética a Nicômacos 167 ferramenta viva e a ferramenta é um escravo sem vida Não pode portanto haver amizade em relação a um escravo enquanto escravo embora possa haver amizade em relação a um escravo como criarura humana de fato parece haver lugar para alguma justiça nas relações entre uma pessoa livre e qualquer outro ser humano desde que este último possa participar do sistema legal e ser parte em um contrato logo pode haver também amizade em relação a um escravo em sua qualidade de ser humano Conseqüentemente mesmo nas tiranias há uma margem mínima para a 1161 b amizade e a justiça mas nas democracias estas existem com intensidade muito maior pois onde os cidadãos são iguais eles têm muitas coisas em comum 12 Em cada forma de amizade então está impücita uma forma de associação como já dissemosm Podese pôr de lado todavia a amizade entre parentes e entre membros de uma confraria A amizade entre concidadãos membros da mesma tribo companheiros de viagem e outras do mesmo gênero se assemelham mais a meras formas de amizade dentro de associações pois elas parecem basearse em uma espécie de pacto Juntamente com estas últimas formas de amizade podemos classificar a amizade nas relações de hospitalidade A própria amizade entre parentes embora seja à primeira vista de muitas espécies parece ser em todos os casos uma projeção da amizade dos progenitores porquanto os pais amam seus filhos como sendo uma parte de si mesmos e os filhos amam seus pais porque se originaram deles Os pais também conhecem sua prole com certeza maior que a dos filhos quanto aos seus pais e os progenitores sentem que a prole é sua com certeza maior do que a da prole quanto à identidade de seus progenitores com efeito o produto pertence ao produtor por exemplo um dente ou o cabelo é da pessoa à qual ele pertence mas o produtor não pertence ao produto ou pertence em grau menor E a afeição dos pais também excede a de seus filhos em duração já que os pais amam seus filhos desde o momento em que estes nascem mas os filhos começam a amar seus pais somente após um certo lapso de tempo e depois de terem adquirido conhecimento ou no mínimo capacidade de percepção através dos sentidos Estas considerações evidenciam também a razão pela qual o amor das mães por seus filhos é maior que o dos pais Os pais portanto amam seus filhos como a si mesmos pelo fato de terem adquirido uma existência separada da existência dos pais os filhos são uma espécie de nova encarnação dos pais enquanto os filhos amam seus pais por terem nascido deles e os irmãos se amam por terem nascido dos mesmos pais pois sua identidade com os pais os torna idênticos entre si é por isto que se fala em ser do mesmo sangue da mesma cepa etc Os irmãos são portanto de certo modo o mesmo ser embora em indivíduos separados Mas a amizade entre irmãos é grandemente fomentada por sua criação em 168 Aristóteles comum e pela similaridade de idade dois da mesma idade concordam e pessoas criadas juntas tendem a ser companheiras por isto a amizade de irmãos tem afinidades com a de companheiros Os primos e outros parentes são ligados entre si por descenderem de irmãos ou seja por descenderem dos mesmos ancestrais eles se tornam mais ou menos ligados conforme a proximidade ou distância de seus ancestrais comuns A amizade dos filhos para com os pais como a devoção dos homens pelos deuses é a amizade por aquilo que é bom e superior pois os pais proporcionam os maiores benefícios aos filhos sendo os responsáveis por sua existência e por sua subsistência bem como por sua educação desde o nascimento este tipo de amizade também proporciona prazer e benefí cios mais do que a de estranhos já que neste caso as pessoas vivem mais 1162 a em comum A amizade entre irmãos tem as características que se observam também na amizade entre companheiros especialmente quando estes são bons e de um modo geral na amizade entre pessoas semelhantes entre si principalmente porque há maior compatibilidade entre irmãos e porque eles começam a amarse praticamente desde o nascimento e ainda porque há maior afinidade de caráter entre as pessoas nascidas dos mesmos progenitores e criadas juntas e educadas de maneira idêntica além disto elas foram submetidas durante um período mais longo e mais intensamente à prova do tempo Entre outros parentes as relações de amizade variam proporcional mente à proximidade do parentesco 2 A amizade entre marido e mulher parece existir por natureza de fato o homem é naturalmente propenso a acasalarse mais ainda do que a constituir cidades porque o lar preexiste à cidade e é mais necessário que ela e o instinto de procriação é comum ao homem e aos animais irracionais com maior intensidade que os outros No caso dos outros animais a união se estende somente até a procriação mJs os seres humanos vivem juntos não apenas por causa da procriação mas também para prover às várias necessidades da vida desde o início m as funções são divididas e as do homem e da mulher são diferentes desta forma eles se ajudam mutuamente pondo seus dons particulares num fundo comum E por isso que tanto a utilidade quanto o prazer parecem estar presentes nesta espécie de amizade Mas esta amizade pode fundarse também na excelência moral se as duas partes são boas pois cada uma delas tem sua própria forma de excelência moral e isto pode contribuir para a satisfação de ambas Os filhos podem ser um bom vínculo entre marido e mulher tanto é assim que os casais sem filhos se separam com maior facilidade na verdade os filhos são um bem comum a ambas as partes e o que lhes é comum as mantém juntas A questão de saber como o marido e a mulher e de um modo geral os amigos devem tratarse reciprocamente parece ser nada mais nada menos que a de saber como eles devem tratarse para serem reciprocamente Ética a Nicômacos 169 justos de fato os deveres não parecem ser os mesmos nas relações entre amigos entre estranhos entre companheiros e entre condiscípulos 13 Há três espécies de amizade como dissemos de início m e em relação a cada uma delas algumas pessoas são amigas em igualdade de condições e em outras são amigas numa situação de superioridade de uma das partes em relação à outra pois não são apenas as pessoas igualmente boas que podem ser amigas mas uma pessoa melhor pode ser amiga de uma pior da mesma forma nas amizades por prazer ou por interesse os amigos paJem ser iguais ou desiguais nos benefícios que se proporcionam sendo assim as pessoas iguais devem efetuar a necessária igualização dos benefícios numa base de igualdade no amor e em tudo mais enquanto no caso de pessoas desiguais a parte inferior deve oferecer uma retribuição propor 1162 b cional à superioridade da outra pane Queixas e recriminações aparecem somente ou principalmente na amizade por interesse e com boas razões com efeito as pessoas amigas com base na excelência moral mostramse ansiosas por fazer bem umas às outras isto é característico tant da excelência moral quanto da amizade e entre pessoas que se emulam reciprocamente neste procedimento não pode haver queixas ou querelas pessoa alguma é ofendida por outra que a ama e lhe faz bem ao contrário a vingança de uma pessoa de bons sentimentos é fazer bem à outra Uma pessoa que supera outra nos benefícios que lhe proporciona não se queixará de seu amigo já que obtém aquilo que deseja e o que todas as pessoas desejam é o bem As queixas rião aparecem com freqüência nas amizades por prazer pois ambas as partes obtêm simHlta neamente aquilo que desejam se lhes é agradável passar o seu tempo juntas e neste caso uma pessoa que se queixasse de que a outra não lhe proporciona prazer pareceria até ridícula pois ela não é obrigada a passar os seus dias com a outra Mas a amizade por interesse dá sempre margem a queixas efetivanen te como as pessoas neste caso se aproximam visando aos seus próprios interesses elas querem senpre obter vantagens maiores e sempre pen am que estão obtendo menos do que aquilo que lhes é devido elas censuram os seus parceiros alegando que não obtêm tudo que querem e merecem e a pane que neste caso está fazendo bem à outra não é capaz de fazer wnto quanto a parte beneficiada deseja Aparentemente da mesma forma que há duas espécies de justiça uma nãoescrita e outra definida por lei a amizade por interesse pode ter fundamentos morais ou legais Por isto as queixas aparecem princi pai mente quando as pessoas não desfazem a ligação dentro do espírito do mesmo tipo de amizade que prevalecia na época em que elas a iniciaram O tipo legal é o estabelecido mediante condições prédeteralinadas m sua variante puramente comercial se baseia na retribuição imediata enquanto 170 1163 a Aristóteles a variante mais liberal prevê uma tolerância quanto ao prazo para a retribuição mas estipula as obrigações recíprocas de maneira bem definida Nesta variante as obrigações são claras e sem ambigüidades mas a tolerância lhes dá um caráter amistoso e por isto em algumas cidades não são permitidas ações judiciais com fundamento em tais acordos pois se pensa que as pessoas que chegam a um acordo na base da confiança recíproca devem arcar com as conseqüências O tipo moral não estipula condições predeterminadas os presentes são dados ou os serviços são prestados como se fossem a um amigo embora a pessoa que dá espere uma retribuição equivalente ou ainda maior como se não se tratasse de um presente e sim de um empréstimo se no momento em que a ligação for desfeita a pessoa que deu estiver numa situação pior do que quando ela foi iniciada a pessoa que deu se queixará Isto acontece porque todos os homens ou a sua maioria desejam o que é nobilitante mas escolhem o que é vantajoso ao passo que é nobilitante fazer bem sem esperar retribuição mas a vantagem está em receber os benefícios Cumpre portanto se for possível oferecer uma retribuição equivalen te ao que se recebe pois não é desejável a amizade de uma pessoa que não está propensa a retribuir favores num caso como este devemos reconhe cer que estávamos enganados de início e que recebemos um benefício de uma pessoa de quem não deveríamos têlo aceito já que ela não era amiga nem de uma pessoa que o fez apenas por agir assim e devemos encerrar a ligação como se tivéssemos sido beneficiados mediante condições preesta belecidas De fato deveríamos concordar em retribuir de acordo com as condições preestabelecidas se pudéssemos se não pudéssemos a própria pessoa que nos concedeu o benefício não contaria com a retribuição logo se for possível deveremos retribuir Mas desde o início temos de estudar a pessoa pela qual estamos sendo beneficiados e em que condições ela está agindo a fim de vermos se podemos aceitar o benefício mediante tais condições ou se seria preferível recusálo Discutese se devemos medir um benefício por sua utilidade para quem o recebe e fazer a retribuição tendo em vista esta circunstância ou se devemos medilo pela beneficência de quem o faz Com efeito as pessoas que recebem o benefício dizem que receberam de seus benfeito res algo que pouco custou a estes e que elas poderiam ter recebido de outrem minimizando assim o benefício ao contrário a pessoa que faz o benefício diz que este é o máximo que ela podia fazer e que o beneficiário não poderia têlo obtido de outrem e que o benefício foi feito em uma ocasião de perigo ou em ouua emergência semelhante Então se a amizade é daquelas que visam ao interesse seguramente a vantagem para o beneficiário é a medida Com efeito é a pessoa interessada no benefício que o pleiteia e a outra a ajuda na presunção de que irá receber uma 1163 b Ética a Nicômacos 171 retribuição equivalente logo a assistência terá sido exatamente tão grande quanto a vantagem do beneficiário e portanto sua retribuição deverá ser tão grande quanto aquilo que ele recebeu ou ainda maior isto seria mais nobilitante Por outro lado nas amizades alicerçadas na excelência moral não sobrevêm queixas a medida do benefício parece ser a intenção de quem o faz já que o fator predominante na excelência moral e no caráter é a intenção 14 Também ocorrem divergências nas amizades baseadas na superiorida de de uma das partes em relação à outra cada parte espera obter nelas mais que a outra mas quando isto acontece a amizade se desfaz Não somente a pessoa melhor pensa que deve obter mais já que deve ser atribuído mais a uma pessoa boa como a pessoa mais útil espera o mesmo esta útlima diz que uma pessoa inútil não deve obter tanto quanto a útil pois estaríamos diante de um ato de caridade se aquilo que uma pessoa recebe pelos benefícios feitos não corrtsponde ao valor de tais benefícios De fato pensase que deveria acontecer na amizade o mesmo que ocorre numa parcería comercial onde aqueles que entram com mais dinheiro devem sair com mais lucro Mas as pessoas inferiores ou necessitadas têm pretensões opostas a estas elas pensam que compete a um bom amigo ajudar os amigos necessitados de que vale sermos amigos de uma pessoa boa ou poderosa dizem elas se nada obtemos com isto Parece então que cada parte está certa quanto às suas pretensões e que cada uma deve obter mais em função da amizade do que a outra mas não mais da mesma coisa a pessoa superior deve obter mais honrarias e a inferior mais proveito pois as honrarias são o prêmio da excelência moral e da beneficência enquanto o proveito é a recompensa da inferioridade Parece acontecer o mesmo também na vida pública as pessoas que não contribuem com qualquer coisa boa para o bem da comunidade não são distinguidas com honrarias pois o que é da alçada da comunidade é dado às pessoas que a beneficiam e as honrarias são da alçada da comunidade Não é possível obter da comunidade ao mesmo tempo riqueza e honrarias pois ninguém se contenta em obter o menor quinhão de tudo portanto às pessoas que perdem em termos de riqueza são atribuídas honrarias e às que estão ansiosas por ganhar dinheiro é oferecido o dinheiro já que a proporcionalidade em relação ao mérito igualiza as partes e preserva a amizade como clissemos Este princípio deve regular também as relações entre amigos desi guais o amigo beneficiado a respeito de riqueza ou excelência moral deve retribuir com honrarias concedendo todas as que puder Com efeito a amizade exige das pessoas que façam tudo que podem e não apenas o que devem nem sempre isto pode ser feito por exemplo no caso da reverência para com os deuses ou os pais pois ninguém poderia jamais 172 Aristóteles oferecerlhes uma retribuição equivalente ao que obteve mas as pessoas que lhes dispensam toda a reverência ao seu alcance são consideradas boas Por isto parece que nunca deveria ser permitido ao filho destituir o pai de seus bens embora o pai possa deserdar o filho sendo devedor o filho deveria pagar mas nada que um filho possa pagar será suficiente para retribuir o que recebeu do pai de tal forma que ele estará sempre em débito mas os credores podem considerar um débito quitado e portanto o pai também pode fazêlo Ao mesmo tempo se pensa que presumivel mente nenhum pai repudiaria um filho a não ser no caso de extrema deficiência moral do último realmente pondo de lado a afeição dos pais para com os filhos não é condizente com a natureza humana rejeitar a assistência de um filho Mas o filho se for moralmente deficiente omitir seá naturalmente em relação ao dever de prestar assistência ao seu pai ou pelo menos não demonstrará grande empenho em prestála pois as pessoas em sua maioria desejam receber benefícios mas se abstêm de fazêlos por considerarem que fazêlos não lhes traz proveito Mas já dissemos o bastante a propósito destas questões LIVRO IX I Em todas as espécies de amizade entre pessoas diferentes é o princípio da proporcionalidade como dissemosm que igualiza as partes e preserva a amizade na forma política de amizade260 por exemplo o sapateiro obtém pelos sapatos que faz uma retribuição proporcional ao valor de eu trabalho e o mesmo princípio se aplica ao tecelão e a todos os artesão de um modo geral Para este fim foi instituída uma medida universal que é a dinheiro e portanto tudo é referido ao dinheiro e medido em relação a ele Mas na amizade amorosa o amante às vezes se queixa de que seu ar10r excessivo não é retribuído na mesma proporção embora talvez nada laja no amante que inspire amor enquanto muitas vezes a pessoa amada se queixa de que o amor que de início prometia tudo agora não cumpre uma sequer de suas promessas Estes queixumes ocorrem quando o amante ama a pessoa amada visando ao prazer ou por interesse e quando amlos 1164 a não possuem as qualidades que seriam de esperar deles Se o prazer e o interesse são os objetos da amizade ela se desfaz quando os amante já não conseguem obter aquilo que constituía a motivação de seu amor PJis cada um deles não amava e outra pessoa em si mas as qualidades que esta possuía e tais qualidades não eram duradouras É por isto que es cas espécies de amizade são efêmeras Mas a amizade fundada no caráter las pessoas como já dissemos26 é duradoura porque nela as pessoas se am1m pelo que elas são Também surgem divergências quando os amantes obtm algo diferente e não o que desejam porque quando não obtemos o cue desejamos é como se nada obtivéssemos um exemplo disto é a história da pessoa que fez promessas a um citarista dizendo que quanto melhor de tocasse o seu instrumento mais ela lhe pagaria mas na manhã seguinte quando o citarista pediu o cumprimento da promessa a pessoa disse qut já havia pago o prazer que teve com o prazer que proporcionou262 Ora se este fosse o desejo de cada uma das partes estaria tudo bem se uma dellS todavia desejava prazer mas a outra desejava dinheiro e uma obtivess o que desejava porém a outra não as condições do relacionamento entre as 174 Aristóteles partes não teriam sido cumpridas adequadamente com efeito cada uma das partes quer aquilo que espera obter e é por causa disto que a outra parte dá o que rem Mas quem determina o valor do serviço prestado a parte que presta primeiro o serviço ou a que obtém a vantagem Parece que a primeira deixa a decisão à outra Segundo dizem era isto que Prorágoras 263 fazia quando ele ensinava qualquer coisa a alguém mandava a pessoa que aprendeu estipular o valor do conhecimento adquirido e aceitava o pagamenro assim determinado Mas em cais matérias algumas pessoas aprovam o princípio de dar à pessoa o pagamento estipulado As pessoas que recebem o dinheiro antes e não fazem qualquer das coisas que haviam prometido fazer por causa da extravagância de suas promessas naturalmente se tornam alvo de queixas pois deixaram de cumprir um compromisso Os sofistas talvez sejam compelidos a proceder desta maneira porque ninguém lhes daria dinheiro em troca do que eles sabem Estas pessoas então se não fazem o serviço para cuja prestação foram pagas são naturalmente alvo de queixas Mas nos casos em que não existe um acordo prévio quanto ao valor dos serviços a parte que faz alguma coisa por causa da outra não pode ser objeto de queixa como dissemos anteriormente 164 pois esta é a natureza da amizade fundada na excelência moral além disto a reciprocidade deve ser proporcional à intenção do benfeitor com efeito a intenção é a medida de um amigo e da excelência moral Segundo parece devese pagar de maneira idêntica àqueles com os quais estudamos filosofia pois I I 64 b seu merecimento não pode ser medido em dinheiro e eles não podem obter honrarias que compensem seus serviços mas ainda neste caso talvez baste como acontece em relação aos deuses e aos nossos pais darlhes aquilo que está ao nosso alcance Se o oferecimento não é deste tipo mas é feito com vistas a uma retribuição é sem dúvida preferível que a retribuição seja de molde a parecer condigna a ambas as partes se isto não ocorre parece não somente necessário mas também justo que a pessoaaJ quem é prestado o primeiro serviço determine a retribuição com efeirol se a outra pessoa recebe como retribuição o equivalente à vantagem que ol beneficiário obteve ou o preço que ela teria pago pelo prazer ela obrémj da outra parte uma retribuição condigna Vemos que isto acontece igualmente em relação às coisas posras àj venda e em alguns lugares há leis segundo as quais nenhuma ação judicial pode ser intentada com fundamento em contratos voluntários 26 no pressuposto de que devemos levar até o fim uma transação com uma pessoa na qual confiamos de início com a mesma disposição com que iniciamos A lei determina que a pessoa na qual depositamos confiança de Ética a Nicômacos 175 início deve estabelecer as condições e não a pessoa que confiou Com efeito as pessoas que têm as coisas e as que as desejam não dão o mesmo valor à maior parte delas cada pessoa atribui um grande valor às coisas que lhe pertencem e que está oferecendo mas o pagamento é efetuado nas condições estabelecidas por quem as recebe Mas sem dúvida as pessoas que recebem uma coisa devem atribuirlhe não o valor que ela parece ter quando elas já a possuem e sim o valor que lhe atribuíam antes de têla 2 Outras dúvidas podem ser levantadas quando se pergunta se um filho deve ceder em cudo diante de seu pai e obedecerlhe incondicionalmente ou se quando uma pessoa está doente deve confiar incondicionalmente no médico ou se quando uma pessoa tem de participar da eleição de um comandante deve dar preferência não a um amigo mas a alguém que conheça a arte da guerra ou ainda quando se pergunta se devemos prestar um serviço de preferência a uma pessoa amiga e não a uma pessoa boa ou se devemos demonstrar nossa gratidão a um benfeitor em vez de obsequiar um amigo se não podemos fazer ambas as coisas Não é fácil resolver todas estas questões de maneira precisa ou é Com efeito elas comportam muitas variantes de todos os tipos a respeito da magnitude do serviço de seu aspecto nobilitante e de sua necessidade Mas é bastante evidente que não devemos ceder em tudo diante da mesma pessoa e que devemos de um modo geral retribuir benefícios em vez de obsequiar amigos da mesma forma que devemos pagar a um credor o que pedimos emprestado em vez de conceder um empréstimo a um amigo Mas talvez nem mesmo esta regra seja sempre válida por exemplo uma pessoa que tenha sido resgatada das mãos de um bandido deveria por seu turno resgatar o homem que a resgatou seja ele quem for ou pagarlhe se ela já não está presa e ele lhe pede o seu dinheiro de volta ou deveria cal pessoa resgatar seu pai Parece que ela deveria resgatar de preferência seu pai ainda que a outra alternativa fosse resgatarse a si mesma Como já dissemos266 então de um modo geral a dívida deve ser paga mas se um 1165 a presente for mais nobilicante ou mais necessário convirá que o devedor opce pelo presence De faco às vezes não é sequer eqüitativo retribuir com o equivalente aquilo que se recebeu quando uma pessoa presta um serviço a outra que ela sabe que é boa enquanto a outra retribui um serviço prestado pela primeira que ela considera má Neste caso às vezes não devemos sequer conceder um empréstimo em retribuição a outra pessoa que nos emprestou pois esta última emprestou a uma pessoa boa esperando receber de volta o que emprestou enquanto a outra não tem esperança de receber de volta o que emprestar a alguém que se presume ser mau Portanto se as coisas são realmente assim o pedido não é eqüitativo e se não são mas uma pessoa pensa que são não se deve pensar que tal pessoa esteja procedendo de maneira estranhável se recusa o pedido de empréstimo Como já dissemos repetidamence26 as discussões 176 1165 b Aristóteles a respeito de emoções e ações admitem um grau de precisão apenas compatível com os assuntos que se discutem É óbvio então que não devemos uma retribuição idêntica a toda e qualquer pessoa nem devemos dar a preferência a um pai em tudo da mesma forma que não fazemos todos os sacrifícios a Zeusw mas como devemos uma retribuição diferente aos pais irmãos companheiros e benfeitores devemos a cada classe uma retribuição apropriada e conve niente É isto que as pessoas parecem efetivamente fazer para o os casamentos elas convidam seus parentes pois estes são uma pane da família e devem portanto participar dos fatos relacionados com a família para os funerais elas também pensam pelas mesmas razões que os parentes devem encontrarse de preferência a quaisquer outras pessoas Também se deve pensar que quando se trata de prover à subsistência temos de ajudar nossos pais antes de quaisquer outras pessoas já que lhes devemos a nossa subsistência 268 e é mais honroso sob este aspecto ajudar os autores de nossa existência do que a nós mesmos devemos também reverenciar nossos pais como reverenciamos os deuses mas não com todas as espécies de reverência a este respeito não devemos reverenciar de maneira idêntica nosso pai e nossa mãe nem devemos reverenciálos com a reverência devida a um filósofo ou a um comandante e sim com i reverência devida a um pai ou a uma mãe Devemos também reverenciar as pessoas mais idosas de maneira apropriada à sua idade levantandonos para recebêlas e oferecendolhes lugares e assim por diante quanto aos companheiros e irmãos devemos compartilhar com eles o uso da palavra e tudo mais Também quanto aos parentes companheiros de tribo e todas as outras pessoas temos de esforçarnos por darlhes sempre a retribuição devida e comparar as pretensões de cada classe de pessoas tendo em vista a proximidade de parentesco a excelência moral ou a utilidade A campal ração é mais fácil quando as pessoas pertencem à mesma classe e é mais trabalhosa quando elas são diferentes Nem por isto devemos esquivaro a esta obrigação cumprenos decidir da melhor maneira possível a respe to das pretensões 3 Outra pergunta que se pode fazer é se as amizades devem ou não deveml ser desfeitas quando os amigos já não são os mesmos que eram no iníci das relações Talvez possamos dizer que nada há de estranho em romper uma amizade baseada no interesse ou no prazer quando nossos amigos i não possuem os atributos de serem úteis ou agradáveis na realidad éramos amigos destes atributos e quando eles desaparecem é razoável o continuar amando Mas um amigo pode queixarse se quando ele amava por sermos úteis ou agradáveis na realidade ele pretendia amaro por causa de nosso caráter Efetivamente como dissemos de início ocorrem muitas divergências entre amigos quando a natureza de s Ética a Nicômacos 177 amizade não é a que eles pensam Assim quando uma pessoa se engana pensando que está sendo amada por causa de seu caráter enquanto a outra nada faz que a autorize a pensar desta maneira ela deve culparse a si mesma quando porém ela é enganada pelo fingimento da outra é justo que ela se queixe daquela que o enganou ela se queixará com mais razão do que alguém que se queixa de quem falsifica dinheiro porquanto a ofensa se relaciona com algo mais valioso do que o dinheiro Mas se aceitamos uma pessoa como amiga por considerála boa porém ela se comporta mal e percebemos o seu mau comportamento ainda devemos amála Ou isto é impossível já que nem tudo pode ser amado mas somente o que é bom O que é mau não pode nem deve ser amado pois ninguém tem o dever de amar o mal ou de assemelharse ao que é mau já dissemos antes270 que o semelhante se afeiçoa ao semelhante Devemos então romper a amizade prontamente Ou não devemos fazêlo em todos os casos mas somente com os amigos cuja deficiência moral é incuráel Se eles são passíveis de regeneração devemos ajudálos moralmente ainda mais do que os assistiríamos materialmente porquanto agir assim é melltor e mais característico da amizade Mas uma pessoa que rompesse urna amizade deste tipo não estaria aparentemente agindo de maneira estranha pois não era por alguém desta espécie que ela nutria amizade seu amgo mudou portanto e se não pode regenerálo ela o abandona Mas se um dos amigos permanece o mesmo enquanto o outro se toma melhor e o ultrapassa consideravelmente em excelência moral dev o último manter a amizade Certamente isto não é possível Quand a distância é grande a impossibilidade se torna mais patente por exemplo no caso de amizades de infância se um dos amigos permanece uma cria11Ça em termos de inteligência enquanto o outro se torna um homm completamente desenvolvido como poderiam eles continuar amigos se não aprovam as mesmas coisas nem se comprazem ou sofrem com as mesmas coisas Com efeito seus gostos não concordarão sequer a respe to um do outro e sem isto como já vimos eles não podem ser amigos p is não podem viver juntos Mas já discutimos estes assuntos Devemos então conduzirnos em relação a um examigo exacameue como se nunca tivéssemos sido amigos Certamente devemos consenar uma recordação de nossa intimidade passada e da mesma forma q1e pensamos que temos de ser mais atenciosos com os amigos do que ccm estranhos devemos mostrar uma certa tolerância em relação àqueas pessoas que foram nossas amigas por causa da amizade passada quand o rompimento não resultou de uma deficiência moral excessiva 4 As formas que comam nossos sentimentos amistosos em relação ao próximo e as características pelas quais se definem as diferentes espécies de amizade parecem derivar de nossos sentimentos em relação a rqs 178 Aristóteles mesmos De faro definimos um amigo como uma pessoa que deseja e faz o que é bom ou parece que deseja e faz por causa de seu amigo ou como uma pessoa que deseja que seu amigo exista e viva por sua causa é este o sentimento das mães em relação aos seus filhos e dos amigos que se desentendem Outros definem o amigo como uma pessoa que convive com outra e tem os mesmos gostos da outra ou que se entristece e alegra com as tristezas e alegrias de seu amigo este sentimento também se encontra principalmente nas mães É por alguma desta característica que se define a amizade Cada uma destas características encontrase igualmente nos sentimen tOS de uma pessoa boa em relação a si mesma e nos sentimentos de rodas as outras pessoas na medida em que elas se consideram boas a excelência moral e a pessoa boa como já dissemos parecem ser a medida de todas as coisas De faro as opiniões de um homem bom são coerentes e ele deseja as mesmas coisas com toda a sua alma ele deseja portanto para si mesmo o que é bom e o que parece bom e age de conformidade com seu desejo pois é característico do homem bom esforçarse por fazer o bem e fazêlo por sua causa ele age assim em função do elemento intelectual que existe nele e este elemento parece ser o que há de mais distintivo do homem e ele deseja viver e preservarse e especialmente preservar o elemento em virtude do qual ele pensa Na verdade a existência é um bem para o homem dotado de excelência moral e cada homem deseja para si mesmo o que é bom ninguém daria preferência a possuir o mundo todo se tivesse antes de tornarse outra pessoa quanto a isto só Deus já possui o Bem2 4 o homem só deseja possuir o que é bom com a condição de continuar a ser o que é seja ele como for o elemento que pensa existente no homem parece constituir a sua individualidade ou é esta individualida de mais que qualquer outro elemento existente nele E um homem assim deseja até estar a sós consigo pois isto o alegra já que pensar no passado lhe é agradável e suas esperanças quanto ao futuro são boas e portanto alegres Seu espírito está igualmente bem provido de motivos para contemplação e mais que qualquer outra pessoa ele se entristece e alegra consigo mesmo as coisas que lhe causam tristeza ou alegria são sempre as mesmas e não coisas diferentes em ocasiões diferentes podese dizer que ele nada rem a lamentar Portanto já que cada uma destas características convém ao homem bom em relação a si mesmo e seus sentimentos em relação aos amigos são idênticos aos que ele rem em relação a si mesmo na verdade um amigo é um outro eu considerase que a amizade também é um destes senti mentos e que aqueles que têm tais sentimentos são amigos Quanto à questão de saber se um homem pode ou não pode ser amigo de si mesmo deixemola de lado por enquanto parece todavia que j 1166 b Ética a Nicômacos 179 poderá haver esta amizade se se tratar de uma personalidade dupla ou múltipla a julgar pelos elementos da amizade já mencionados e pelo fato de uma amizade exagerada assemelharse à autoestima Mas o sentimento de auto7estima a que aludimos parece encontrarse na maioria das pessoas por mais medíocres que elas sejam Devemos então dizer que na medida em que tais pessoas estão satisfeitas consigo mesmas e pensam que são boas elas compartilham destes sentimentos Certamente nenhum homem totalmente mau ou ímpio tem estes senti mentos ou sequer aparenta que os tem Tais sentimentos dificilmente são compativeis com pessoas moralmente inferiores pois elas discrepam de si mesmas e desejam algumas coisas enquanto realmente querem outras Isto é verdadeiro em relação às pessoas incontinentes pois em vez das coisas que elas mesmas consideram boas tais pessoas escolhem coisas agradáveis mas nocivas outras pessoas fogem por covardia ou indolência à prática dos atos que julgam melhores para si mesmas E as pessoas que praticam muitas ações execráveis e são odiadas por sua deficiência moral fogem da própria vida e se destróem a si mesmas Além disto as pessoas moralmen te deficientes procuram constantemente a companhia de outras pessoas fugindo de si mesmas com efeito quando estão sós elas se lembram dos muitos atos condenáveis que já praticaram e prevêem que voltarão a praticar outros semelhantes mas quando estão com outras pessoas os esquecem E nada tendo que seja digno de estima elas não têm qualquer sentimento de amor em relação a si mesmas Conseqüentemente tais pessoas não se alegram nem se entristecem pois sua alma está sempre dominada pela discórdia e uma de suas partes se atormenta por causa de sua deficiência moral quando tais pessoas se abstêm de certos atos enquanto a outra parte se deleita e uma parte as arrasta numa direção e a outra na direção oposta como se as estivessem esquartejando Se não podem ao mesmo tempo sofrer e sentir prazer de qualquer modo depois de alguns instantes elas sofrem porque antes sentiam prazer porquanto as pessoas más estão sempre sentindo remorsos Então as pessoas más não parecem ter sentimentos amistosos em relação a si mesmas porque nada existe nelas que inspire amor por conseguinte se ter tais sentimentos é o cúmulo da maldade devemos fazer tudo para evitar a maldade e esforçarnos por ser bons somente agindo assim podemos ter sentimentos amistosos para conosco e tornarnos amigos de outras pessoas 5 A boa vontade parece ser um elemento do sentimento amistoso mas não é a amizade de fato podemos ter boa vontade em relação a pessoas que não conhecemos e sem que elas saibam disto mas não pode ocorrer o mesmo com a amizade Mas já falamos sõbre istQ anteriormentem A boa vontade todavia não é sequer um sentimento amistoso Com efeito ela 180 1167 a Aristóteles não envolve intensidade ou desejo ao passo que intensidade e desejo acompanham o sentimento amistoso e o sentimento amistoso pressupõe relações íntimas enquanto a boa vontade pode manifestarse subitamente como acontece em relação a concorrentes numa competição esportiva palisamos a sentir boa vontade em relação a eles e a compartilhar seus desejos mas nada faríamos por eles pois como dissemos antes sentimos Joa vontade repentinamnte e o sentimento amistoso neste caso é somente supedicial A boa vontade parece ser então um início de amizade da mesma forma que o prazer de olhar é o início do amor Efetivamente ninguém ama se não fica enlevado primeiro com a figura da pessoa amada mas quem fica enlevado com a figura de uma pessoa nem por isto a ama só se ama quando se anseia pela pessoa ausente e se deseja intensamente a sua presença da mesma forma as pessoas não podem ser amigas se não passam a sentir uma boa vontade recíproca mas nem por isto as pessoas que sentem boa vontade recíproca são amigas elas somente desejam o bem das pessoas pelas quais sentem boa vontade e nada fariam por elas nem se preocupariam com elas Sendo assim podemos estender o alcance da palavra amizade para dizer que a boa vontade é uma amizade estática embora quando se prolonga e atinge o nível da intimidade ela se torne amizade propriamente dita mas não a amizade baseada no interesse ou no prazer a boa vontade não se manifesta diante destes sentimentos A pessoa que recebeu um benefício demonstra boa vontade em reciprocida de ao benefício recebido mas agindo assim ela apenas faz o que é justo por outro lado a pessoa que deseja que outra prospere porque espera enriquecer graças a esta parece ter boa vontade não em relação a esta mas a si mesma de maneira idêntica uma pessoa não é amiga de outra se a trata afetuosamente por causa de algum proveito que espera tirar da outra De um modo geral a boa vontade se manifesta em decorrência de alguma forma de excelência e merecimento quando uma pessoa parece a outra bela ou corajosa ou algo deste gênero como já mencionamos no caso dos concorrentes em uma competição esportiva 6 A concórdia também parece um sentimento amistoso ela não é entretanto identidade de opinião pois isto poderia ocorrer até com pessoas que não se conhecem tampouco dizemos que há concórdia entre todas as pessoas que têm os mesmos pontos de vista sobre todos e quaisquer assuntos por ezemplo as pessoas que concordam acerca dos corpos celestes a concórdia a esce respeito não é um sentimento amistoso mas dizemos que há concórdia numa cidade quando seus habitantes têm a mesma opinião acerca daquilo que é de seu interesse e escolhem as mesmas ações e fazem o que resolvem em comum Dizemos portanto que há concórdia entre as pessoas em relação a atos a sei Ética a Nicômacos 181 praticados e quando estes atos podem ter conseqüências e quando é possível que neles duas partes ou todas elas obtenham o que desejam por exemplo há concórdia numa cidade quando todos os cidadãos pensam que as funções públicas na mesma devem ser eletivas ou que deverilser feita uma aliança com Espana ou que Pítacos deveria ser ditadorl76 quando Pítacos também desejava ser ditador Mas quando entre duas pessoas cada uma deseja para si mesma aquilo sobre que se questiona como os comandantes rivais nas Fmciar71 o que há é discórdia não há concórdia quando cada uma das partes pensa na mesma coisa seja ela qual for mas somente quando ambas pensam na mesma coisa em relação às mesmas pessoas por exemplo quando o povo e as classes mais elevadas desejam que os melhores homens governem só assim todos obtêm aquilo que desejam Parece então que a concórdia é a amizade política como efetivamente se diz que ela é pois ela se relaciona com assuntos de nosso interesse e influentes em nossas vidas A concórdia neste sentido existe entre pessoas boas pois elas estiiu de acordo entre si sendo por assim dizer concordes os desejos de tais pessoas são constanteS e não estão à mercê de correntes opostas C mO 1167 b num braço estreito de mar e elas desejam o que é justo e proveitoso e estes são igualmente os objetivos de seus esforços conjuntos As pessoas más ao contrário nãopodem estar de acordo exceto num âmbito restrito tampouco elas pode ser amigas já que visam a obter para si mesmas mais do que o seu quinhão de proveito enquanto no trabalho e nos serviços prestados à cidade elas ficam aquém de seu quinhão cada uma dfStas pessoas desejando proveito para si mesma critica o próximo e se interpõe em seu caminho com efeito se as pessoas não estão atentas ao bem comum ele se deteriora rapidamente O resultado é que a discórdia reina sempre entre esta pessoas que procuram compelir as outras a fazer o que é justo mas não se dispõe a fazêlo 7 Pensase que os benfeitores amam as pessoas por eles beneficiadas mais do que as pessoas que os tratam bem e se discute esta circunstância como se ela fosse irracional Muitos pensam que isto acontece porque as pessoas beneficiadas estão numa posição de devedores e os benfeitores estão mma posição de credores conseqüentemente da mesma forma que no caso de empréstimo os devedores prefeririam que seus credores não existissem pensase que os benfeitores desejam que seus devedores estejam bem já que assim receberão o que lhes é devido ao passo que as pessoas beneficiadas não estão ansiosas por pagar Epícarmos2 1 talvez tenha querido dizer que quem dá esta explicação está olhando para o lado pior da vida mas ela é muito conforme à natureza humana pois as pessoas em sua maioria têm a memória curta e estão mais ansiosas Por ser bem tratadas do que por tratar bem as outras Mas a causa deste procedimento parece estar arraigada muito profundamente na natureza das coisas e o caso das 182 Aristóteles pessoas que emprestaram dinheiro não é sequer análogo a este Com efeito estas pessoas não têm sentimentos amistosos para com seus devedores mas somente o desejo de poder estar seguros em relação ao que esperam obter de volta quanto às pessoas que prestaram um serviço a outras elas sentem amor e amizade por aquelas a quem serviram mesmo se estas não lhes são de qualquer serventia e nunca poderão sêlo A mesma coisa acontece com os artífices cada pessoa ama a sua obra mais do que poderia vir a ser amada por ela se ela adquirisse vida isto talvez aconteça principalmente com os poetas pois eles têm um amor excessivo por seus poemas mimandoos como os pais mimam seus filhos É a isto que se assemelha a posição dos benfeitores realmente o que eles tratam bem é o que fizeram e portanto eles amam mais a sua obra do que a obra amaria o seu autor Isto se deve ao fato de a existência ser para todas as pessoas uma coisa digna de ser desejada e amada e de existirmos em virtude de nossa atividade isto é por vivermos e agirmos e de a obra ser em certo sentido o seu produtor em atividade ele ama a sua obra portanto porque ama a existência Este fato está arraigado na natureza das coisas pois a obra de um homem é a realização de uma coisa que só existia 1168 a potencialmente Ao mesmo tempo para o benfeitor há um elemenro nobilitante em sua ação e por isto ele se alegra com a pessoa que é o objeto de sua ação ao passo que para o paciente nada há de nobre no agente mas na melhor das hipóteses algo proveitoso e isto é menos agradável e digno de amor O agradável é a atividade no presente a esperança no futuro e a recordação do passado porém o mais agradável é aquilo que depende da atividade e isto é também maisdigno de amor Para uma pessoa que fez alguma coisa por alguém sua obra permanece o que é nobilitante é duradouro mas para o beneficiário o proveito se dissipa A recordação das coisas nobilitantes é agradável mas não é provável que a recordação das coisas úteis seja agradável ou ela é menos agradável embora pareça que acontece o contrário com a expectativa Ademais amar se assemelha à atividade e ser amado se assemelha à passividade amar e ter as várias formas de sentimentos amistosos são atributos das pessoas mais ativas 9 Além disto todas as pessoas amam mais aquilo que conseguiram com o seu própro esforço por exemplo as pessoas que ganharam o seu dinheiro o amam mais do que as que o herdaram e ser bem tratado não requer esforço ao passo que tratar bem os outros é trabalhoso São estas as razões pelas quais as mães têm mais amor aos filhos que os pais trazê los ao mundo custoulhes sofrimentos maiores e elas sabem com certezà maior que os filhos são seus Esta última observação parece aplicarse também aos benfeitores Ética a Nicômacos 183 8 Também é debatida a questão de saber se uma pessoa deve amarse mais a si mesma ou a outras pessoas As que se amam mais a si mesmas são criticadas e chamadas de ególatru usandose o termo em sentido pejorativo e uma pessoa má parece fazer tudo pensando em si mesma e quanto mais ela é assim pior ela é dizse por exemplo censurando tais pessoas que elas nada fazem por iniciativa própria 279 enquanto uma pessoa boa age pensando no que é honroso e quanto mais ela é assim melhor ela é e age por causa de seus amigos sacrificando até seus próprios interesses Mas os fatos colidem com estes argumentos e isto nada tem de surpreendente Realmente dizse que as pessoas devem amar os seus melhores amigos e nosso melhor amigo é aquele que nos deseja o bem por nossa causa mesmo que ninguém venha a saber disto estes atributos se encontram principalmente na atitude de uma pessoa em relação a si 1168 b mesma e acontece o mesmo com todos os outros atributos pelos quais se define um amigo pois como já dissemos 210 é a partir desta relação que todas as outras características da amizade se estendem ao próximo Todos os provérbios também comprovam isto por exemplo uma só alma281 Os bens dos amigos são comuns Amizade é igualdade O joelho é perto da canela 2u pois todas estas características se encontrarão principalmente na atitude de uma pessoa em relação a sim mesma cada pessoa é a melhor amiga de si mesma e portanto deve amarse mais a si mesma É natural portanto que se indBUe qual destes dois pontos de vista deve ser adotado pois ambos têm alguma plausibilidade Talvez devamos estabelecer uma distinção entre tais argumentos e determinar até que ponto e sob que aspectos cada um deles é correto Se discernirmos o sentido em que cada estudioso do assunto usa a expressão egolatria a verdade pode tornarse manifesta Os que usam o termo no sentido pejorativo arribuem a egolatria às pessoas que reservam para si mesmas a maior parte de suas riquezas honrarias e os prazeres do corpo com efeito são estas as coisrs que as pessoas desejam acima de tudo e se esforçam por obter como se elas fossem as melhores entre todas esta é também a razão pela qual tais coisas se tornam objeto de competição Então as pessoas gananciosas a respeito destas coisas satisfazem os seus apetites e de um modo geral seus sentimentos e o elemento irracional de sua alma os homens em sua maioria são desta natureza por isto o epíteto passou a ser usado pejorativamente recebendo o seu significado do tipo mais comum de egolatria que é o mau é justo portanto que as pessoas que se amam a si mesmas nesse sentido recebam censuras por serem assim E óbvio então que são as pessoas que dão preferência a si mesmas em relação a coisas desta espécie que recebem da maioria o epíteto de ególatras realmente se uma pessoa estivesse sempre ansiosa acima dt tudo por agir de maneira justa e moderada ou de acordo com qualquet 184 Aristóteles outra forma de excelência moral e em geral estivesse sempre esforçando se por assegurar para si mesma a nobreza moral ninguém a chamaria de ególatta ou a recriminaria Mas uma pessoa assim pareceria mais que qualquer outra um ególatra afinal de contas ela reserva para si mesma as coisas mais nobilitantes e melhores e satisfaz a sua parte dominante e lhe obedece em tudo e da mesma forma que uma cidade ou qualquer outro complexo organizado é identificado com mais propriedade pela parte dominante que existe nela o mesmo acontece com o homem portanto o homem que ama a sua pane dominante e a satisfaz é mais que todos um ególatra Além disto dizse que uma pessoa tem ou não tem continência na medida em que sua razão é ou não é a parte dominante no pressuposto de que a razão é o próprio 1169 a homem e os atos que as pessoas praticam de conformidade com a razão são considerados no sentido mais amplo seus próprios atos e seus atos voluntários É óbvio então que a razão é o próprio homem ou que a razão mais que qualquer outra coisa é o próprio homem e também que o homem bom ama acima de tudo esta sua parte Seguese disto que ele é um ególatra no sentido mais autêntico e de um tipo diferente daquele que é objeto de censura e tão diferente desce quanto viver de conformidade com a razão é diferente de viver segundo os ditames das emoções e tanto quanto desejar o que é nobilitante é diferente de desejar o que parece vantajoso Portanto as pessoas que se dedicam com empenho excepcional à prática de ações nobilitances recebem a aprovação e o louvor de todos e se todos se emulassem no sentido do que é nobilitance e se esforçassem ao máximo por praticar as ações mais nobilitantes tudo seria como deve ser para o bem comum e cada pessoa asseguraria para si mesma os bens maiores já que a excelência moral é o maior dos bens As pessoas boas portanto devem ser ególatras elas se beneficiariam c beneficiariam seus companheiros com a prática de aros nobilitantes ma5 as pessoas más não devem pois elas se prejudicariam e prejudicariam próximo seguindo como seguem as emoções más No caso das pessoas más o que elas fazem é o contrário do que deveriam fazer mas as pessoas boas fazem o que devem pois a razão em cada uma das pessoas que possui escolhe o que é melhor para elas e as pessoas boas obedecem às razão Também é verdadeiro no caso das pessoas boas que elas pratieam muitas ações por causa de seus amigos e de sua cidade e se for necessári morrerão por eles e ela pois elas desprezarão as riquezas e as honrarias de um modo geral os bens que são objeto de competição ganhando paraisii mesmas a nobreza já que elas preferem um momento fugaz de prazef intenso a um longo período de satisfação moderada um ano de vi nobilitante a muitos anos de vida rotineira e um ato magnífico nobilitante a muitos atos triviais Ora as pessoas que morrem por ou chegam sem dúvida a este resultado e ponanto escolhem um prêmJ Ética a Nicômacos 185 extraordinário para si mesmas Elas também desprezarão a riqueza se disto resultar que seus amisos ganhem mais pois ao mesmo tempo que o amigo de uma pessoa ganha riqueza ela mesma consegue nobreza ela está portanto reservando para si mesma o maior dos bens O mesmo é verdadeiro também no que diz respeito às honrarias e às funções públicas a pessoa boa sacrificará tudo isto por seus amigos pois este procedimento é nobilitante e louvável para ela Então ela é considerada boa acertadamen te pois escolhe antes de tudo o que é nobilitante A pessoa boa pode até deixar que seus amigos pratiquem boas ações que ela mesma poderia praticar é mais nobilitante ser a causa da prática de uma boa ação por seu amigo do que praticála Conseqüentemente em todas as ações por cuja prática as pessoas são louvadas vemos as pessoas boas reservarem para si mesmas o quinhão maior daquilo que é nobilitante Neste sentido então 1169 b como já dissemos uma pessoa pode ser ególatra mas no sentido em que a maioria das pessoas é ególatra ela não deve 9 Outra questão muito debatida é saber se uma pessoa feliz necessia ou não de amigos Dizse que as pessoas sumamente felizes e autosuficientes não necessitam de amigos pois elas já têm as coisas boas e portanto sendo autosuficientes não necessitam de qualquer outra coisa ao passo que a função de um amigo que é um outro eu é proporcionar as coisas que a própria pessoa não pode obter Daí o verso Se a sorte é favorável por que ter amigos m Mas parece estranho quando se atribuem todas as coisas bots ao homem feliz não lhe atribuir amigos que são considerados o maio r dos bens exteriores Mas se fazer bem aos outros é mais característico de um amigo do que deixar que lhe façam o bem e fazer benefícos é característico das pessoas boas e da excelência moral e se é mais nobilitante fazer bem a amigos do que a estranhos as pessoas boas necessitam de alguém a quem possam fazer bem É por isto q11e se pergunta se necessitamos mais dos amigos na prosperidade ou na adversidade no pressuposto de que não somente uma pessoa na adversi dade necessita de amigos que lhe façam benefícios mas também de que as pessoas que estão prosperando necessitam de alguém a quem possam fazer bem É sem dúvida estranho também fazer do homem sumamentt feliz um solitário pois ninguém desejaria todo o mundo com a condiçlo de estar só já que o homem é um animal social e um animal para o cual a convivência é natural Logo mesmo o homem feliz tem de conviver pois ele deve ter tudo que é naturalmente bom É obviamente melhor passar os dias com amigos e boas pessoas do que com estranhos e companheiros casuais Conseqüentemente o homem feliz necessita de amigos Que pretendem dizer então os defensores do primeiro ponto de vista e em que sentido eles estão certos Será que a maioria das pessoas identifica os amigos com as pessoas úteis O homem sumamente feliz não neces5itaria 186 1170 a Aristóteles realmente de tais pessoas pois ele já tem as coisas boas tampouco ele necessitaria das pessoas das quais nos tornamos amigos porque elas são agradáveis ou necessitaria delas somente em pequena escala pois sua vida sendo agradável não requer prazeres fortuitos e como ele não necessita de amigos desta espécie pensase que ele não necessita de quaisquer amigos Mas isto certamente não é verdade pois já dissemos de início 284 que a felicidade é uma atividade e a atividade obviamente passa a existir em cerco momento não sendo uma coisa presente desde o início como um objeto de nossa propriedade Se a felicidade consiste em viver e em estar em atividade e a atividade das pessoas boas é conforme à excelência moral e agradável em si como dissemos inicialmente m e se o fato de uma coisa ser nossa é um dos atributos que a tornam agradável e se podemos observar o próximo melhor que a nós mesmos e suas ações melhor que as nossas e se as ações das pessoas dotadas de excelência moral que são suas amigas são agradáveis às pessoas boas já que estas têm ambos os atributos naturalmente agradáveis86 se for assim então o homem sumamente feliz necessitará de amigos desta espécie já que seu propósito é contemplar ações meritórias e ações que são suas e as ações das pessoas boas e amigas têm ambas estas qualidades Pensase também que o homem feliz deve ter uma vida agradável Ora se ele fosse um solitário a vida lhe seria difícil pois para uma pessoa só não é fácil estar continuamente em atividade com outras pessoas todavia e em relação a outras isto é mais fácil Com outras pessoas então sua atividade será mais contínua e será mais agradável em si como deve ser para um homem sumamente feliz de fato uma pessoa boa se compraz com ações conformes à excelência moral e se constrange com ações decorrentes da deficiência moral da mesma forma que uma pessoa dotada de sensibilidade musical se compraz com as belas melodias mas sofre com as desagradáveis A companhia das pessoas boas também nos exercita de cerro modo na excelência moral como disse Têognis Se examinarmos mais profundamente a natureza das coisas um amigo dotado de excelência moral parecerá naturalmente desejável por uma pessoa moralmente excelente pois aquilo que é bom por natureza como já dissemos é bom e agradável em si para as pessoas dotadas de excelência moral No caso dos animais a vida é definida pela capacidade de sentir e no caso do homem pela capacidade de sentir e de pensar a capacidade é definida com referência à atividade correspondente e nisro consiste essencialmente a sua realização parece portanto que a vida consiste essencialmente no ato de sentir ou no de pensar E a vida está entre as coisas que são boas e agradáveis em si pois ela é definida e ser definido é da natureza do que é bom e o que é bom por narureza tambémj Ética a Nicômacos 187 é bom para as pessoas dotadas de excelência moral e por isto parece agradável a todos os homens mas isto não se aplica a uma vida pautada pela deficiência moral e corrupta ou a uma vida de sofrimentos pois uma vida deste tipo é tão indefinida quanto seus atributos 189 A natureza do sofrimento se tornará mais clara ao longo de nossa exposiçãol90 Mas se a própria vida é boa e agradlivel e parece ser pelo fato de todas as pessoas a desejarem principalmente as que são boas e sumamente felizes para tais pessoas a vida é extremamente desejável e sua existência é sumamente venturosa e se as pessoas que vêem percebem que vêem e as que ouvem percebem que ouvem e as que andam percebem quf andam e da mesma forma no caso de todas as outras atividades há also que percebe que estamos em atividade de tal maneira que se percebemos percebemos que percebemos e se pensamos percebemos que pensamos e se perceber que 1170 b percebemos ou pensamos é perceber que existimos pois existir foi definido como perceber ou pensar e se perceber que existimos é em si mesmo uma das coisas agradáveis pois a vida é boa por natureza e perceber que o que é bom está presente em nós é agradável e se a vida é desejável especialmente para as pessoas boas porque para elas a existência é boa e agradável pois elas se alegram por terem consciência da presença nelas do que é bom em si mesmo e se as pessoas dotadas de excelência moral se comportam em relação a si mesmas da mesma forma que em relação aos seus amigos pois o amigo é um outro eu se tudo isto é verdade então da mesma forma que sua própria existência é desejável para cada pessoa assim ou aproximadamente assim a existência de um amigo é também desejável Vimos então que a existência da pessoa boa é desejável porque ela percebe sua própria bondade e esta percepção é agradável em si mesma Ela necessita portanto de ter consciência igualmente da existência de seu amigo e isto se concretizará em sua convivência e em sua comunhão nas palavras e no pensamento parece que este é o significado de convivência no caso das criaturas humanas e não como no caso do gado alimentarse no mesmo lugar Então se a existência é desejável em si mesma pelas pessoas sumamente felizes já que existir é bom e agradável por natureza e se acontece a bem dizer o mesmo em relação à existência de um amigo um amigo será uma das coisas desejáveis Ora uma pessoa sumamente feliz deve ter aquilo que deseja ou então ela será deficiente sob este aspecto Portanto o homem que tiver de ser feliz necessitará de amigos dotados de excelência moral 10 Devemos então ter tantos amigos quantos pudermos Ou o que se diz a respeito da hospitalidade aparentemente com propriedade Nem um homem de uiros h6svedes nem sem hóspedes191 deve aplicarse também à amizade de tal forina que não se deve viver sem amigos nem ter um número excessivo deles 188 1171 a Aristóteles Este preceito seria perfeitamente aplicável ao caso dos amigos que escolhemos por sua utilidade pois retribuir serviços prestados por muitas pessoas é uma tarefa laboriosa e a vida não é bastante loJ181 para a realizarmos Portanto amigos que excedam o número suficiente para a nossa própria vida são supérfluos e constituem um óbice a uma vida nobilitante Jogo não temos necessidade deles Também quanto aos amigos que escolhemos com vistas ao prazer bastam uns poucos da mesma forma que bastam poucos temperos na alimentação Mas em relação aos bons amigos devemos têlos tantos quantOI pudermos ou hã um limite ao número de amigos de uma pessoa da mesma forma que U um limite para a população de uma cidade Não se pode fazer uma cidade com dez pessoas e se houver cem mil pessoas niO teremos mais uma simples cidade Mas o número conveniente não é a unidade e sim algo compreendido entre certos limites determinados Em relação aos amigos igualmente hã um número limitado talvez o maior número de pessoas com as quais se possa conviver considerase que convivência é a característica por excelência da amizade como já vimos m mas é óbvio que uma pessoa não pode conviver com muitas outras nem dividirse entre elas Além disto estas pessoas devem ser amigas umas das outras se elas devem passar sew dias juntas e é difícil satisfazer esta condição com um grande número de pessoas Também se pensa que é difícil que uma pessoa possa participar intimamente das alegrias e tristezas de muitas oucras pois provavelmente aconteceri que alguém tenha ao mesmo tempo de alegrar se com um amigo e de chorar com outro Presumese então que é bom não procurar ier tantos amigos quantos pudermos mas tantos quantos bastarem para efeito de convivência pois parece realmente impossível ser um grande amigo de muitas pessoas É por isto que não se pode amar muitas pessoas Ô amor é uma espécie de amizade superlativa e isto só se pode sentir em relação a uma única pessoa logo também uma grande amizade somente pode ser sentida em relação a poucas pessoas Esta asserção parece confirmada oi prãtica pois não encontramos muitas pessoas que sejam amigas à maneira doí companheiros e as amizades famosas desta espécie são sempre entre duas pessoasll3 Considerase que as pessoas que têm muitos amigos e confratemi zam intimamente com todos não são amigas sinceras de qualquer deles salvo no sentido em que os concidadãos são amigos e tais pessoas são também chamadas lisonjeadoras No sentido em que os concidadãos são amigo realmente é possível ser amigo de muitas pessoas sem ser lisonjeador e sim uma pessoa autenticamente boa mas não se pode cultivar com muitas pes uma amizade bAseada na excelência moral e no caráter de nossos amigos devemos darnos por felizes se encontrarmos uns poucos amigos desta es I 11 Serão os amigos mais necessários na prosperidade ou na adversidade Eles são procurados em ambos os casos pois enquanto as pessoas ôi 1171 b Ética a Nicômacos 189 adversidade necessitam de ajuda na prosperidade el11s necessitam de alguém com quem possam conviver e a quem possam beneficiar já que desejam fazer bem aos outros Então a amizade é mais necessária na adversidade e portanto é dos amigos prestimosos que necessitamos neste caso mas a amizade é mais nobilitante na prosperidade e por isto procuramos também neste caso pessoas boas para serem nossas amigas porquanto é mais desejável fazer benefícios a estas e conviver com elas A simples presença de amigos é agradável tanto na prosperidade quanto na adversidade já que as aflições são aliviadas quando amigos compartilham nosso sofrimento Podese portanto perguntar se eles realmente comparti lham o peso das aflições ou se não sendo este o caso o sofrimento é de qualquer forma aliviado pelo prazer de sua companhia e por termos consciência de sua solidariedade Podese deixar de lado a questão de saber se é por estas razões ou por outras quaisquer que nossas aflições são aliviadas seja como for parece acontecer aquilo que descrevemos Mas a presença dos amigos parece conter uma mistura de vários fatores A simples presença de um amigo nos é agradável especialmente se estamos na adversidade e se torna uma salvaguarda contra as aflições pois um amigo tende a confortarnos tanto com sua presença quanto com suas palavras se ele é perspicaz pois ele conhece nosso caráter e as coisas que nos dão prazer ou nos fazem sofrer mas ver um amigo sofrer com nosso infortúnio nos causa sofrimento pois qualquer pessoa evita causar sofrimento aos amigos É por isto que as pessoas de natureza virii se abstêm de afligir seus amigos e a não ser que uma pessoa ceja excepcionalmente insensível ao sofrimento ela não pode tolerar o sofdmento que seu sofrimento causa aos amigos e não admite que ou eras pessoas se lamentem com ela porque ela mesma não é propensa a lamentações as mulheres porém e os homens efeminados apreciam as pessoas solidárias com suas aflições e gostam delas como amigas e companheiras na tristeza Mas obviamente devese imitar em tudo as pessoas melhores Por outro lado a presença de amigos quando estamos prósperos faz com que nosso tempo passe agradavelmente e nos traz pensamentos agradáveis a propósito de seu prazer diante de nossa boa sorte Por isto parece que devemos convidar prontamente nossos amigos para partilha rem de nossa boa sorte é nobilitante querer fazer benefícios mas devemos hesitar em convidálos quando estivermos em situação adversa de fato devemos fazêlos compartilhar o mínimo possível nossos males daí o provérbio Meu próprio infortúnio é bastante Devemos chamar nossos amigos para ajudarnos principalmente quando eles estiverem em condições de prestarnos um grande serviço à custa de um pequeno incômodo para si mesmos 190 Aristóteles Inversamente convém ir espontanea e prontamente em socorro d amigos na adversidade pois é característico de um amigo prestar serviços especialmente àqueles que necessitam deles e não os pediram Atitudes como esta são mais nobilitantes e agradáveis para os dois lados MasJI quando nossos amigos estão prósperos devemos juntarnos prontamente a j eles em suas atividades eles também precisam dos amigos para isto devemos porém demorar a aparecer para nos beneficiarmos de sua 1j generosidade pois não é nobilitante mostrarnos ansiosos por receber benefícios Mas devemos sem dúvida evitar a pecha de grosseiros que mereceríamos se repelíssemos seus gestos generosos pois isto às vezes acontece o1 Enfim a presença dos amigos parece desejável em todas as circunnân aas 12 Podese então concluir que da mesma forma que para os amantes a fll visão da pessoa amada é o que há de mais agradável e eles preferem a satisfação que lhes proporciona o sentido da vista às satisfações através de qualquer dos outros sentidos porque o sentido da vista é a sede e a origem do amor podese então concluir repetimos que para os amigos o que há de mais desejável é a convivência Com efeito a amizade é uma parceria e uma pessoa está em relação a si própria da mesma forma que em relação aó seu amigo em seu próprio caso a consciência de sua existência é um bem e portanto a consciência da existência de seu amigo também o é e a atuação desta conscientização se manifesta quando eles convivem é portanto natural que eles desejem conviver E qualquer que seja a significação da existência para as pessoas e seja qual for o fator que torna a sua vida digna de ser vivida elas desejam compartilhar a existência de seus 1172 a amigos sendo assim alguns amigos bebem juntos outros jogam dados juntos outros se juntam para os exercícios de atletismo ou para a caça ou para o estudo da filosofia passando seus dias juntos na atividade que eles mais apreciam na vida seja ela qual for de fato já que os amigos desejam conviver eles fazem e compartilham as coisas que lhes dão a sensação de convivência Logo a atividade das pesoas más é má por causa de sua instabilidade elas se unem em atividades más e além disto passam a ser más por se tornarem semelhantes umas às outras enquanto a atividade das pessoas boas é boa sendo incrementada por seu companheirismo e pensase que elas também se tornam melhores por causa de suas atividades e por se aperfeiçoarem mutuamente cada uma delas tira da outra o molde das características que ambas aprovam daí o provérbio Nobres ações de pessoas nobres294 O que já dissemos sobre a amizade é suficiente resta nos agora falar sobre o prazer LIVRO X 1 Depois destes assuntos parece que devemos discutir o prazer De faro pensase que ele rem ligações muito íntimas com nossa natureza humana e é por isto que na educação dos jovens utilizamos para guiálos o prazer e o sofrimento pensase tamWm que a fruição das coisas que devemos fruir e o desprezo pelas coisas que devemos desprezar têm a maior importância na formação do caráter conforme à excelência moral estas coisas nos acompanham durante todo o curso de nossa vida e têm um grande peso e força em relação à eacelência moral e à vida feliz já que as pessoas desejam o que é agradável e evitam o que traz sofrimento Parece então que o exame do prazer e do sofrimento não deve ser omitido de forma alguma principalmente porque há muitas controvérsias quanto a ambos Algtins estudiosos m dizem que o prazer é o Bem enquanto outros 296 ao contrário dizem que ele é toralmente mau alguns dizem isto sem dúvida persuadidos de que se trata de um fato e outros pensando que tern um efeito melhor em nossa vida apresentar o prazer como uma coisa má embora ele não seja mau realmente a maioria das pessoas segundo pensam estes últimos inclinase para sew prazeres e é escrava deles razão pela qual as pessoas devem ser conduzidas na direção oposta pois assim chegarão a um meio termo Mas certamente isto não é correto Na verdade os argumentos acerca de assuntos relativos às emoções e ações são menos confiáveis que os fatos e sendo assim quando colidem com os fatos apreendidos pela percepção eles são desprezados e desacreditam também a própria verdade se uma pessoa que parece desprezar o prazer é vista alguma vez bwcandoo pensase que sua inclinação para ele significa que todo prazer é desejável as pessoas em sua maioria não são capazes de 1172 b diferenciar Os argumentos verdadeiros então parecem extremamente úteis não somente com vistas ao conhecimento mas com vistas isualmente à própria vida se eles se harmonizam com os fatos merecem crédito e assim estimulam as pessoas que os entendem a viver de acordo com eles 192 Aristóteles Mas isto é bastante à guisa de introdução passemos em revista agora as opiniões emitidas a respeito do prazer 2 Êudoxos pensava que o pazer é o Bem porque ele via todos os seres racionais ou irracionais à sua procura e porque em todas as coisas aquilo que é desejado é bom e o que é mais desejado é o melhor então o fato de todos os seres se moverem em direção ao mesmo objetivo indicaria que este objetivo seria para todos os sres o bem maior cada ser dizia ele descobre seu próprio bem da mesma forma que descobre seu próprio alimento e aquilo que é bom para todos os seres e para que todos os seres tendem é o Bem A grande aceitação que tiveram seus argumentos se deveu muito mais ao caráter do próprio Êudoxos do que ao mérito dos mesmos ele era tido como um homem extraordinariamente moderado e por isto pensouse que ele não escava dizendo o que dizia como um amigo do prazer e sim porque se tratava realmente de fatos Ele acreditava que o estudo da sensação contrária ao prazer o sofrimento levava à mesma conclusão o sofrimento é em si mesmo um objeto de aversão para todos os seres e portanto seu contrário deve ser um objeto de desejo Ele dissê também que a coisa mais desejável é a que escolhemos não como um meio para chegai a algo mais ou por causa de algo mais e o prazer é reconhecidamente desta natureza nunca perguntamos a qualquer pessoa com que objetivo ela se entrega ao prazer presumindo assim que o prazer é em si mesmo uma coisa desejável Além disco Êudoxos argumentava que o prazer quando acrescentado a qualquer coisa por exemplo às ações justas e moderadas tornaa mais digna de escolha e que o bem somente pode ser incrementado pelo próprio bem Este argumento parece demonstrar que o prazer é um dos bens e rWJ que ele é melhor que qualquer outro bem pois cada bem é mais desejável juntamente com outro bem do que isoladamente De fato é por wDi argumento semelhante que Platão prova que o bem não é o prazer ele argumenta que a vida agradável é mais desejável com a sabedoria do que sem ela e que se a combinação é melhor o prazer não é o Bem porque Bem não pode tornarse mais desejável por lhe adicionarmos qualquer outra coisa É claro portanto que nada mais inclusive o prazer pode ser i emse setor ais dsejável pela dição de qualuer das coisas oase SI mesmas Ex1Strra entao alguma co1sa capaz de stlsfazer a este cr1tét10 da qual possamos ao mesmo tempo participar E algo deste gênero qutl estamos procurando Podemos ponanto supor que os estudiosos que objetam que aquilo que todos os seres visam não é necessariamente bom estão dizendo disparate pois afirmamos que aquilo que todos pensam que é bom realmente bom as pessoas que atacam esta convicção dificilmente te qualquer coisa mais convincente a sustentar em substituição a ela fossem apenas os seres irracionais que desejassem as çoisas em ques 1173 a Ética a Nicômacos 193 haveria algum sentido em suas supos1çoes porém se criaturas inteli gentes também o fazem como pode haver qualquer fundamento nelas Mas talvez os próprios seres inferiores possuam algum dom natural superior à sua própria condição que os leva a visar ao seu próprio bem Tampouco a refutação do argumento acerca do contrário do prazer parece correta Seus autores dizem que se o sofrimento é um mal nã resulta desta asserção que o prazer é um bem com efeito o mal é contrário do bem e ao mesmo tempo ambos são opostos a um estado neutro este argumento é bastante correto mas não se aplica às coisas em questão De fato se tanto o prazer quanto o sofrimento pertencessem classe dos males ambos deveriam ser objeto de aversão ao passo que s1 eles pertencessem à classe dos neutros nenhum dos dois seria objeto de aversão ou ambos o seriam mas na realidade as pessoas evitam claramente um deles como um mal e desejam o outro como um bem eles se opõem um ao outro então como um bem e um mal 3 Também não decorre necessariamente da suposição de que o prazer não é uma qualidade que ele não seja um bem pois as atividades da excelência moral não são tampouco qualidades nem a felicidade é uma qualidade Dizem291 ainda que o Bem é definido enquanto o prazer é indefinido porque admite uma graduação Ora se quem diz isto baseia o seu julgamento no fato de se poder sentir mais ou menos prazer o mesmc argumento se aplica ao sentimento de justiça e às outras formas dE excelência moral a respeito das quais sustentamos claramente que a pessoas que as possuem são mais ou menos dotadas das respectiva formas de excelência moral e agem mais ou menos de acordo com tai formas de excelência moral realmente as pessoas podem ser mais ou menos justas ou corajosas e também é possível agir mais ou menos justamente ou moderadamente Mas se o seu julgamento se baseia nm vários prazeres certamente eles não estão apontando a causa reaF99 se df fato alguns prazeres são simples e outros são compostos Ademais d mesma forma que a saúde adnite uma graduação sem ser indefinida por que o prazer não a admitiria Não existe a mesma proporção de saúde err todas as pessoas nem existe sempre uma só proporção na mesma pessoa mas ela pode diminuir e ainda persistir até certo ponto e pode diferir em grau É possível portanto que ocorra o mesmo no caso do prazer Eles 500 também partem do pressuposto de que o Bem é perfeito enquanto os movimentos e os processos de geração se mostram imperfei tos e tentam apresentar o prazer como sendo um movimento e um processo de geração Mas eles não parecem ter razão sequer quando dizem que o prazer é um movimento Com efeito pensase que a rapidez e a lentidão são propriedades de todas as espécies de movimentos e se um movimento o dos corpos celestes por exemplo não tem rapidez ou 194 Mitótl i lentidão em si mesmo ele as tem em relação a outra coisa qualquer mas nada disto é verdadeiro em relação ao prazer pois enquanto podemos i smtir iuna satisfação rapidamente da mesma forma que podemos encoleri zarnos rapidamente não podemos estar satisfeitos rapidamente nem mesmo em relação a outra pessoa ao passo que podemos andar ou crescer etc rapidamente Então enquanto podemos passar rapidamente ou lentamente a um estado de prazer não podemos atuar rapidamente no estado de prazer ou seja ter prazer rapidamente Mais ainda como podeo prazer ser um processo de geração Não pensamos que qualquer coisa ao acaso possa surgir de qualquer coisa ao acaso e sim que uma coisa está dispersa daquela pela qual ela será gerada se o prazer é a geração de alguma coisa o sofrimento é a destruição desta coisa 1173 b Elesl01 também dizem que o sofrimento é a carêncito daquilo que é conforme à natureza e o prazer é a satisfação desta carência Mas estas experiências são corporais Então se o prazer é a satisfação da carência daquilo que é conforme à natureza o prazer será sentido pela parte onde Ócorre a satisfação ou seja pelo corpo mas não se pensa que este seja o caso e portanto a satisfação da carência não é prazer embora possa haver urna sensação de prazer quando está ocorrendo tal satisfação da mesma forma que pode ocorrer uma sensação de sofrimento durante uma operação cirúrgica102 Esta opinião parece basearse nos sofrimentos e prazeres relacionados com a nutrição ou seja no fato de que quando as pessoas passam por uma carência de alimentos e sofrem antes por isto elas ficam felizes quando a carência é satisfeita Mas isto não ocorre com todos os prazeres o prazer de adquirir conhecimentos e entre os prazeres dos sentidos os do olfato e também muitos prazeres relacionados com a audição e com a visão e recordações e esperanças não envolvem sofrimento Se estes são processos de geração podese perguntar geração de que Não houve neste caso qualquer carência que tivesse de ser satisfeita Em resposta àqueles que invocam os prazeres degradantes podese dizer que estes não são agradáveis se certas coisas são agradáveis a pessoas mal constituídas em termos de excelência moral não devemos supor que tais coisas sejam agradáveis para outras pessoas além destas da mesma forma que não raciocinamos assim acerca de coisas saudáveis ou doces ou amargas para pessoas doentes e que não reconhecemos a brancura de coisas que parecem brancas a pessoas que sofrem de uma doença da vista Ou então se pode responder que os prazeres são desejáveis mas não quando derivados de fontes aviltantes da mesma forma que a riqueza é desejável mas não como recompensa por uma traição e a saúde é desejável mas não à custa de comer não impona o que Ou talvez os prazeres difiram especificamente uns dos outros DS prazeres derivados de j fontes nobilitantes são diferentes dos derivados de fontes aviltantes e não j Ética a N icômacos 195 podemos sentir os prazeres que o homem justo sente sem sermos justos nem os do homem dotado de sensibilidade musical sem termos esta sensibilidade e assim por diante Também o fato de um amigo ser diferente de um adulador parece evidenciar que o prazer não é um bem ou que os prazeres diferem especificamente uns dos outros pois pensamos que o amigo convive conosco visando ao bem e o adulador visando ao prazer e o último é censurado por sua conduta enquanto o primeiro é louvado por conviver conosco com um objetivo diferente E ninguém desejaria conservar durante roda a vida a mentalidade de uma criança por mais que lhe agradem as coisas agradáveis às crianças nem desejaria deleitarse praticando aros aviltantes embora nunca viesse a sofrer em conseqüência 1174 3 disto E há muitas coisas com as quais nos entusiasmamos mesmo que elas não nos tragam prazer por exemplo ver recordar conhecer possuir excelência moral Não faz diferença alguma se estas coisas são sempre acompanhadas de prazer escolhêlasíamos ainda que delas não resultasse prazer Parece claro então que nem o prazer é o Bem nem todos os prazeres são desejáveis e que alguns prazeres são desejáveis por si mesmos sendo diferentes dos outros especificamente ou em suas fomes Bastam estas considerações acerca das opiniões correntes quanto ao prazer e ao sofrimento 4 Se recomeçarmos o nosso exame desde o princípio veremos com maior clareza o que é o prazer e quais são as suas qualidades O ato de ver parece perfeito a qualquer momento pois ele não necessita de qualquer coisa superveniente que torne perfeita a sua forma parece que esta é também a natureza do prazer pois ele é um todo e em tempo algum se pode achar um prazer cuja forma será mais perfeita se ele durar mais Por esta razão o prazer também não é movimento pois cada movimento o de cqnstruir por exemplo consome tempo e é feito com vistas a um objetivo e se torna perfeito quando atinge o seu objetivo Ele é perfeito portamo somente quando podemos percebêlo em toda a sua duração ou em seu estágio final Em seus vários estágios e durante o tempo consumido em sua realização todos os movimentos são imperfeitos e são especificamente diferentes do movimento como um todo e de cada um dos outros movimentos O rejuntamenro dos blocos de pedra é diferente da ação de fazer as caneluras da coluna e ambos estes movimentos são diferentes da construção do templo a finalização da construção do templo o torna perfeito pois nada lhe falta quanto ao objetivo proposto mas o assentamento das fundações ou dos tríglifos é imperfeito pois cada uma destas etapas é a realização de apenas um estágio Então as partes diferem especificamente do todo e não é possível encontrar num determinado momento um movimento perfeito em sua forma mas somente se é que se encontra no tepo total de sua duração 196 1174 b Aristóteles Acontece o mesmo com o ato de caminhar e com todas as outras modalidades de locomoção Com efeito se a locomoção é um movimento de um ponto para outro ela tamWm apresenta diferenças específicas voar caminhar saltar etc E oio somente isto mas no próprio ato de caminhar há tais diferenças pois o ponto de panida e o de chegada em uma competição oio são idênticos a um trecho qualquer do percurso nem IZ os pontos de um trecho sio os mesmos de outro nem é a mesma coisa cruzar esca linha ou aquela de fato uma pessoa cruza não somente uma linha mas uma linha que está num lupr e este é um lugar diferente daquele Já discutimos detalhadamente o movimento em outra obra 101 mas parece que ele oio é perfeito a cada momento os virios movimentos são imperfeitos e especificamente diferentes já que o ponto de partida e o de chegada lhe dão a sua forma Mas a forma do prazer é perfeita a cada momentoÉ claro então que o prazer e o movimento diferem entre si e que o prazer deve ser uma das coisas que são um todo e perfeitas Esta conclusão também pode ser corroborada pelo fato de o movimento ocupar necessariamente um lapso de tempo enquanto um sentimento de prazer não ocupa pois cada momento de prazer é um todo perfeito Estas considerações também evidenciam que tais estudiosos não estão certos quando dizem que o prazer resulta de um movimento ou de um processo de geração De fato não se pode atribuir movimentQ e processo de geração a todas as coisas mas somente àquelas que são divisíveis e não um todo não há processo de geração do ato de ver nem de um ponto nem de uma unidade nem qualquer destas coisas é um movimento ou um processo de geração portanto o prazer também não é o resultado de um movimento ou de um processo de geração pois ele é um todo Já que cada sentido é ativo em relação às suas finalidades e um sentido em boas condições atua perfeitamente em relação à melhor de suas finalidades esta parece a descrição ótima da atividade perfeita presumin dose que é indiferente saber se é o próprio sentido que atua ou se é o órgão em que ele se situa seguese que no caso de cada sentido a melhor atividade é a do órgão em melhores condições relativamente às suas melhores finalidades E esta atividade será a mais perfeita e mais agradável de fato há prazer em relação a qualquer sentido e não menos em relação ao pensamento e à contemplação e a atividade é mais agradável quando é mais perfeita e a atividade dos órgãos em melhores condições em relação à melhor das finalidades é a mais perfeita e o prazer torna a atividade perfeita Mas o prazer não toma a atividade perfeita do mesmo modo que a combinação do objeto e da percepção ambos bons a torna perfeita i assim como a saúde e o médico não são de maneira idêntica a causa de estarmos saudáveis ji J É claro que há um prazer inerente a cada sentido pois dizemos que coisas vistas e ouvidas são agradáveis Também é claro que o prazer ocorre J 1175 a Ética a Nicômacos 197 principalmente quando o sentido está em suas melhores condições e esr á em atividade em relação ao melhor objeto quando o objeto e o sentido que o percebe são excelentes há sempre prazer já que o agenre e o paciente ideais estão presentes O prazer torna a atividade perfeita não como a respectiva disposição moral permanente o faz por já estr presente no agente mas como uma perfeição cumulativa à semelhança do viço da juventude daquelas pessoas que estão na flor da idade Enquanto o objeto em que se pensa ou que se percebe e a faculdade que discerne 01 contempla forem como devem ser haverá prazer na atividade po1s quando o fator passivo e o ativo se mantêm imutáveis e relacionados entre si de maneira idêntica seguese naturalmente um resultado idêntico Como explicar então o fato de ninguém sentir prazer continuamenre Será que nos cansamos já que nenhuma atividade humana admite uma ação contínua O prazer portanto também não é contínuo pois ele acompanha a atividade Algumas coisas nos deleitam quando são nova porém depois pela mesma razão não nos deleitam tanto efetivamente de início o espírito fica num estado de excitação e intensamente ativo em relação a tais coisas como no caso da vista quando olhamos penetrantt mente para alguma coisa mas depois nossa atividade se torna mencs intensa sofrendo uma espécie de relaxamento e conseqüentemente o prazer também se atenua Podese pensar que todas as pessoas desejam o prazer porque anseia1n por viver a vida é uma atividade e todas as pessoas exercem sua atividade em relação às coisas que mais amam e com as faculdades que mas estimam por exemplo as pessoas dotadas de sensibilidade para a músi a exercem sua atividade com o sentido da audição em relação à música e as pessoas estudiosas exercem sua atividade com o espírito em relação a questões teóricas e assim por diante em cada caso Ora o prazer torna s atividades perfeitas e torna portando a vida perfeita e isto é o que todas s pessoas desejam A questão de saber se desejamos a vida por causa do prazer ou o prazer por causa da vida pode ser deixada de lado por enquanto De qualquer modo a vida e o prazer parecem indissoluvelmer te unidos e não admitem separação já que não há prazer sem atividade e o prazer torna a atividade perfeita 5 Também por esta razão os prazeres parecem diferir especificamente uns dos outros De fato pensamos que as coisas especificamente diferentes se tornam perfeitas com a adição de coisas diferentes vemos que esta asserção é verdadeira canto em relação aos objetos naturais quanto às coisas produzidas pela arte como por exemplo animais árvores um quadro uma escultura uma casa um móvel e da mesma forma pensamos 198 1175 b Aristóteles que atividades especificamente diferentes se tornam perfeitas quando combinadas com coisas especificamente diferentes E as atividades intelec tuais diferem das atividades sensoriais e dentro da mesma classe umas também diferem especificamente das outras o mesmo acontece então com os prazeres que as tornam perfeitas Isto também se evidencia diante do fato de cada prazer estar ligado à atividade que ele torna perfeita Efetivamente uma atividade é intensifica da pelo prazer que lhe é inerente já que cada classe de coisas é melhor julgada e feita com maior precisão pelas pessoas que se dedicam às suas atividades com prazer por exemplo são as pessoas que gosram da geometria que se tornam geômetras e entendem melhor as várias proposições da geometria e da mesma forma são as pessoas que gostam da música ou da construção e assim por diante que progridem em suas atividades próprias porque sentem prazer nelas portanto o prazer intensifica as atividades e aquilo que intensifica uma coisa rem afinidades com ela mas coisas que têm afinidades com outras coisas especificamente diferentes também diferem especificamente entre si O fato de algumas atividades serem obstadas por prazeres inerentes a outras tornará esta afirmação ainda mais evidente De fato as pessoas que gostam muito de tocar flauta são incapazes de prestar atenção a um discussão filosófica se entreouvem alguém tocando flauta já que elas gostam mais do som da flauta do que da atividade a que se dedicam no momento então o prazer inerente à atividade de tocar flauta é um óbice à atividade relacionada com a discussão filosófica Isto acontece igualmente em todos os outros casos quando uma pessoa se dedica simultaneamente a duas atividades a atividade mais agradável à pessoa se sobrepõe à outra e quanto mais agradável ela é mais isto acontece de tal forma que a outra atividade cessa inteiramente É por isto que quando gostamos muito de uma coisa não nos dedicamos a qualquer outra e só fazemos uma coisa quando outra não nos agrada mais por exemplo as pessoas que comem doces no teatro os comem principalmente quando o espetáculo é mau E já que nossas atividades se tornam mais aprimoradas duradouras e melhores por causa dos prazeres que lhes são inerentes e são prejudicadas pelos prazeres inerentes a outras atividades evidentemente as duas espécies de prazer estão muito afastadas uma da outra De fato os prazeres estranhos a uma atividade têm quase o mesmo efeito sobre ela que o sofrimento que lhe é inerente porquanto as atividades são obstadas pelos sofrimentos que lhes são inerentes por exemplo se uma pessoa acha desagradável e penoso escrever ou fazer cálculos ela não escreve ou não faz cálculos porque estas atividades lhe causam sofrimenco Então as atividades são afetadas de maneiras opostas pelos prazeres e pelos sofrimentos que lhes são inerentes isto é pelos prazeres e sofrimentos que lhes sobrevêm em decorrência de sua própria natureza E dissemos que os prazeres estranhos Ética a Nicômacos 199 a uma atividade lhe causam o mesmo efeito que os sofrimentos eles são um óbice à atividade embora não o sejam de maneira idêntica E já que as atividades diferem quanto à sua bondade ou maldade e alumas são dignas de escolha outras devem ser evitadas e outras são neutras o mesmo acontece com os prazerers pois para cada atividade há um prazer que lhe é inerente O prazer inerente a uma atividade digna é bord e o inerente a uma atividade indigna é mau da mesma forma que desejar objetos nobilitantes é louvável mas desejar objetos ignóbeis é condenável Mas os prazeres relacionados com as atividades lhes são mais inerentes que os desejos pois os últimos são separados das atividades tanto no tempo quanto por sua natureza enquanto os primeiros lhes são intimamente ligados e tão difíceis de distinguir das mesmas que se chega a perguntar se a atividade não é a mesma coisa que o prazer O prazer todavia não 1176 a parece ser pensamento ou sensação isto seria estranho mas como não os encontramos separados a certas pessoas eles parecem a mesma coisa Então da mesma forma que as atividades são diferentes os prazeres inerentes a elas também o são A visão é superior ao tato em pureza e a audição e o olfato são superiores ao paladar os respectivos prazeres portanto são igualmente superiores e os prazeres intelectuais são superiores aos dos sentidos e dentro de cada uma das duas classes os prazeres diferem uns dos outros Pensase que cada animal tem seu prazer peculiar da mesma forma que tem uma função peculiar ou seja a que corresponde à sua atividade Se pesquisarmos espécie por espécie isto se tornará evidente o cavalo o cão e o homem têm prazeres diferentes como diz Herácleitos os asnos preferem o feno ao ouro 04 pois o alimento é màis agradável que o ouro para os asnos Então os prazeres de criaturas especificamente diferences diferem quanto à sua espécie e seria plausível supor que não há diferenças entre os prazeres de uma única espécie Mas de qualquer modo eles variam em escala não pequena ao menos no caso das criaturas humanas as mesmas coisas deleitam algumas pessoas e causam sofrimento a outras e são penosas e odiosas a outras e são agradáveis e apreciadas por outras Acontece o mesmo no caso das coisas doces as mesmas coisas não parecem doces a uma pessoa com febre e a outra saudável nem quentes a uma pessoa fraca e a outra em boas condições de saúde Ocorre o mesmo em outros casos mas em todos estes casos considerase que as coisas são realmente como parecem a uma pessoa boa Se este raciocínio é correto como aparenta ser e a excelência moral e as pessoas boas enquanto boas são a medida de todas as coisas as coisas que lhes parecem constiruir prazeres são prazeres e as que elas apreciam são agradáveis Se as coisas que elas consideram desagradáveis parecem agradáveis a outras pessoas nada há de surpreendente neste fato pois as pessoas podem corromperse e deteriorarse de muitas maneiras tais coisas não são realmente agradá veis mas agradáveis somente a pessoas nestas condições Não se deve 200 Aristóteles obviamente dizer que as coisas manifestamente aviltantes são prazeres a não ser para um gosto pervertido entre os prazeres considerados dignos que classe de prazeres ou que espécie de prazer devemos dizer que são adequados às criaturas humanas Os prazeres são inerentes às atividades Então se as pessoas perfeitas e sumamente felizes têm uma ou mais atividades podese dizer em sentido lato que os prazeres que tornam perfeitas as atividades são os prazeres adequados às criaturas humanas Os outros são prazeres somente num sentido secundário ou restrito à semelhança das atividades que lhes são inerentes 6 Tendo falado das várias espécies de excelência moral e intelectual da amizade e do prazer restanos discutir sucintamente a natureza da felicida de pois afirmamos que ela é o objetivo final da vida humana Nossa 1176 b discussão será ainda mais concisa se resumirmos primeiro o que já expusemos Dissemos anteriormente o que a felicidade não é uma disposição moral se fosse ela poderia ser possuída por alguém que permanecesse adormecido durante toda a sua vida vegetando em vez de viver ou igualmente por alguém que sofresse os maiores infortúnios se estas inferências são inaceitáveis e se devemos classificar a felicidade como uma atividade como dissemos antes 306 e se algumas atividades são apenas necessárias e desejáveis com vistas a algo mais enquanto outras são desejáveis em si obviamente a felicidade deve ser incluída entre as atividades desejáveis em si e não entre as desejáveis com vistas a algo mais pois não falta coisa alguma à felicidade ela é autosuficiente Ora as atividades desejáveis em si são aquel11s nas quais nada se busca além do exercício da própria atividade e pensamos que as ações conformes à excelência moral são desta natureza pois a prática de atos nobilitantes e bons é uma coisa desejável em si Mas os entretenimentos agradáveis também são desejáveis em si não os buscamos como meios para chegar a outros fins afinal de contaseles são mais prejudiciais que benéficos á que nos levam a descuidar de nosso corpo e de nossos bens Mas a maioria das pessoas consideradas felizes se entrega a tais passatempos e é por esta razão que as pessoas espirituosas são muito estimadas nas cortes dos tiranos elas se tornam companhias agradáveis nos entretenimentos dos tiranos e este é o tipo de gente de que eles necessitam Pensase que os entretenimentos são da mesma natureza da felicidade porque as pessoas que ocupam posições de mando nos regimes despóticos se entregam a eles em suas horas de lazer mas talvez estas pessoas não constituam uma evidência aceitável pois a excelência moral e a inteligência das quais decorrem as boas atividades não depen dem de posições de mando em governos despóticos e se estas pessoas que nunca provaram os prazeres puros e convenientes a homens livres entregamse aos prazeres do corpo tais prazeres não devem por esta razão ser considerados desejáveis com efeito as crianças também pensam que Ética a Nicômacos OI as coisas que elas consideram mais preciosas para si mesmas são as melhores É de esperar que da mesma forma que coisas diferentes parecem mais preciosas para as crianças e para os adultos deva acontecer o mesmo em relação àa pessoas mú e àa boas Portanto como já dissemos repetidamente são preciosas e atgradáveis as coisas que assim parecem àa pessoas boas e para cada pessoa a atividade conforme à sua própria disposição é mais desejável e conseqüentemente é mais desejável para as pessoas boas aquilo que é conforme à excelência moral A felicidade então não está no entretenimento seria realmente estranho se o objetivo final da vida fosse o entretenimento e se devessemos esforçarnos e enfrentar dificuldades durante toda a vida com a finalidade de divertirnos De fato por assim dizer cada coisa que desejamos é objeto de nosso desejo com vistas a algo mais exceto a felicidade o objetivo final da 1177 a vida Logo esforçarnos e trabalhar por causa de entretenimentos parece tolo e eXtremamente pueril Mas divertirnos para trabalhar ainda mais como diz Anácarsis307 parece correto pois o entretenimento é uma espécie de relaxamento e temos necessidade de relaxamento porque uão podemos trabalhar continuamente O relaxamento então não é uma finalidade pois recorremos a ele com vistas à continuidade de nossa atividade Pensase que a vida feliz é conforme à excelência então a ida conforme à excelência requer diligência e não consiste em entretenimen tos E dizemos que as coisas sérias são melhores que as coisas risíveis e que as relacionadas com o entretenimento e que quanto mais nobre é Lma faculdade ou uma pessoa tanto mais sérias pensamos nós são as suas atividades logo a atividade da faculdade ou da pessoa mais nobre é superior em si e portanto mais apta a produzir a felicidade Qualquer pessoa pode igualmente fruir os prazeres do corpo seja ela quem for e um escravo não menos que o melhor dos homens mas ninguém atribui a um escravo um quinhão de felicidade a não ser quf se lhe atribua também um quinhão de vida livre Portanto a felicidade não consiste em passatempos e entretenimentos e sim em atividades conbr mes à excelência como já dissemos antes308 7 Mas se a felicidade consiste na atividade conforme à excelência é razoável que ela seja uma atividade conforme à mais alta de todas as formas de excelência e esta será a excelência da melhor parte de cada um de nós Se esta parte melhor é o intelecto ou qualquer outra parte considerada naturalmente dominante em nós e que nos dirige e cem o conhecimento das coisas nobilicantes e divinas se ela mesma é divina ou somente a parte mais divina existente em nós então sua atividide conforme à espécie de excelência que lhe é pertinente será a felicidde perfeita Já dissemos 309 que esta atividade é contemplativa 202 1177 b Aristóteles J Esta afirmação parece concordar com o qUe já dissemos anteriormen cj te310 e com a verdade Com efeito em primeiro lugar esta atividade é a melhor já que não somente o intelecto é nossa melhor parte mas também os objetos com os quais o intelecto se relaciona são os melhores entre os objetos passíveis de ser conhecidos em segundo lugar esta é a atividade mais contínua já que a contemplação pode ter uma continuidade maior que a de qualquer outra atividade que possamos exercer Ademais supomos que a felicidade deve conter um elemento de prazer e que a atividade conforme à sabedoria filosófica é reconhecidamente a mais agradável das atividades conformes à excelência seja como for considera se que a busca da sabedoria filosófica oferece prazeres de maravilhosa pureza e perenidade e é de esperar que as pessoas que já conhecem a 2 sabedoria filosófica passem o seu tempo mais agradavelmente que aquelas que ainda se esforçam por alcançála E a chamada autosuficiência deve relacionarse acima de tudo com a atividade contempliitiva realmente ao r passo que um filósofo tanto quanto uma pessoa justa ou dotada de qualquer outra espécie de excelência tem necessidade das coisas básicas da vida as pessoas justas enquanto estão suficientemente providas destas coisas necessitam de outras pessoas em relação às quais e com quem elas possam agir justamente e as pessoas moderadas as corajosas e cada uma das demais estão no mesmo caso o filósofo todavia mesmo quando está só pode exercer a atividade da contemplação e tanto melhor quanto mais J sábio ele for ele talvez possa fazêlo melhor se tiver companheiros de i atividade mas ainda assim ele é o mais autosuficiente dos homens E i1i somente esta atividade parece ser estimada por sua própria causa pois nada decorre dela além da própria atividade de contemplar enquanto com as atividades de ordem prática obtemos algumas vantagens maiores ou menores além da própria ação E pensamos que a felicidade depende do lazer pois trabalhamos para ter direito ao lazer como fazemos guerra para SJ poder viver em paz Ora a atividade inerente às formas de excelência de ordem prática se manifesta nos assuntos políticos ou militares mas as ações relacionadas com estes assuntos não parecem compatíveis com o g lazer As ações bélicas não são compatíveis com o lazer de forma alguma iw ninguém prefere estar em guerra ou provoca uma guerra com o objetivo de estar em guerra qualquer pessoa seria considerada extremamente sedenta de sangue se desejasse uansformar seus amigos em inimigos somente para provocar batalhas e carnificina mas a ação do estadista também não é compatível com o lazer e além da própria ação política visa a ações de mando e a honrarias ou de uma maneira ou de outra à felicidade para ele e para seus concidadãos uma felicidade distinta da ação política e perseguida evidentemente por ser distinta dela Então se entre as ações de ordem prática conformes à excelência as ações políticas e militares se distinguem por sua nobreza e grandeza e estas não são compatíveis com o lazer e visam a um objetivo além de não serem 1178 a Ética a Nicômacos 203 desejáveis por si mesmas enquanto a atividade intelectual que é contemplativa parece superior em termos de importância de seu mérito e parece que não visa a qualquer outro objetivo além de si mesma e tem em si mesma o prazer que lhe é inerente e isto engrandece a atividade e a autosuficiência a disponibilidade de lazer e a imunidade à fadiga tanto quanto é possível para uma criatura humana e todos os outros atributos das pessoas sumamente felizes são evidentemente os relacionados com esta atividade então repetimos seguese que ela511 será a felicidade completa para o homem se lhe for agregada toda a duração de uma vida pois nada que seja inerente à felicidade pode ser incompleto Mas uma vida como esta seria demasiadamente elevada para o homem pois não seria como homem que ele viveria assim mas como se algo divino estivesse presente nele e esta atividade é superior às outras formas de excelência na mesma proporção em que este algo divino é superior à nossa narureza heterogênea Então se a intelecto é divino em comparação com as outras partes do homem a vida conforme ao intelecto é divina em comparação com a vida puramente humana Mas não devemos seguir aquelas pessoas que nos instam a sendo humanos pensar em coisas humanas e sendo mortais a pensar no que é mortal ao contrário devemos tanto quanto possível agir como se fôssemos imortais e esforçar nos ao máximo para viver de acordo com o que há de melhor em nós pois embora esta nossa parte melhor seja pequena em tamanho em poder e importância ela ultrapassa rodo o resto E pode realmente parecer que esta parte é a verdadeira natureza de cada criatura humana já que ela é a sua parte dominante e melhor Seria estranho com efeito se o homem devesse dar preferência não a viver a sua própria vida mas a vida de outro ser qualquer E o que dissemos antesm se aplica agora aquilo que é peculiar a cada criatura lhe é naturalmente melhor e mais agradável para o homem a vida conforme ao intelecto é melhor e mais agradável já que o intelecto mais que qualquer outra parte do homem lo homem Esta vida portanto é também a mais feliz 8 Mas a vida conforme a qualquer espécie de excelência moral é feliz somente de um modo secundário pois as atividades conformes a estas espécies são puramente humanas Praticamos os atos justos e valorosos e ouuos atos conformes à excelência moral em nossas relações com o próximo cumprindo nossos respectivos deveres relativos a contratos e obrigações e a todos os tipos de ações bem como de emoções todas elas parecem ser tipicamente humanas algumas delas parecem até uma conseqüência de nossa constituição física e a excelência moral parece estar ligada de muitas maneiras às emoções O discernimento também parece estar estreitamente vinculado à excelência moral e esta ao discernimento já que os primeiros prindpios do discernimento são conformes à 204 Aristóteles 1 excelência moral e os padrões morais corretos são conformes ao discerni mento As várias formas de excelência moral por estarem ligadas às emoções também se relacionam com nossa natureza heterogênea e as formas de excelência moral de nossa natureza heterogênea são humanas conseqüentemente a vida e a felicidade que lhes correspondem também 0 são Mas a felicidade compatível com o intelecto é uma coisa à parte devemos contentarnos com esta simples referência a ela pois descrevêla precisamente seria uma tarefa maior que a imposta por nosso objetivo presente Tal felicidade entretanto parece necessitar de poucos recursos exteriores ou menos do que os necessários no caso da felicidade conforme à excelência moral Admitamos então que ambas as formas de felicidade pressupõem a disponibilidade das coisas essenciais à vida e isto em proporções iguais ainda que a tarefa do estadista tenha mais a ver com as 1178 b necessidades do corpo e outras correlatas do que a tarefa do filósofo de fato haverá pouca diferença entre elas neste ponto mas para os fins de suas atividades específicas haverá uma grande diferença As pessoas generosas necessitarão de dinheiro para as suas liberalidades e as pessoasi justas também necessitarão de dinheiro para retribuir os serviços que lhes forem prestados os desejos são invisíveis e mesmo as pessoas que não são justas pensam que desejam agir justamente os homens corajosos 1 neçessitarão de força para praticar os atos correspondentes à sua forma de excelência moral e os moderados necesitarão de oportunidades para pôr sua moderação à prova com efeito de que maneira além desta estes homens ou os outros revelarão sua excelência moral Discutese também se a intenção ou os atos são mais essenciais à excelência moral que presumivelmente depende de ambos é claro sem dúvida que a perfeição ll da excelência moral pressupõe ambos mas muitas coisas são necessárias para os atos e quanto mais numerosas são as coisas necessárias sua prática mais notáveis e nobilitantes são os atos Mas para a atividade contemplativa as pessoas não necessitarão de recursos externos pelo menos com vistas ao exercício desta atividade podese realmente dizer que de certo modo os recursos exteriores são óbices à contemplação embora seja verdade que sendo criaturas humanas e convivendo com j outras tais pessoas desejam praticar ações conformes à excelência moral e assim necessitarão de recursos exteriores para viverem a sua vida como criaturas humanas i l Mas as considerações seguintes evidenciarão que a felicidade perfeiuj é uma atividade contemplativa Os deuses como os concebemos são sumamente bemaventurados e felizes mas que espécie de atividade devemos atribuirlhes Ações justas Não seria ridículo imaginar que os deuses fazem contratos restituem coisas recebidas em depósito e assimJ por diante Praticariam eles atos semelhantes aos dos homens corajosos1 enfrentando perigos e correndo riscos porque agir assim é nobifitante Ou 1179 a Ética a Nicômacos 205 praticariam eles atos de liberalidade Seria absurdo supor que eles tives sem dinheiro ou algo do mesmo gênero E que significariam atos modera dos no caso deles Não estaríamos diante de um elogio de mau gosto ji que eles não têm maus desejos Se percorrermos todo o rol das formas dt excelência moral as circunstâncias das ações parecerão triviais e sã indignas de deuses Ainda assim todos supomos que eles vivem e portanto que eles estão em atividade Não podemos imaginar que eles durmam como Endímion m Se privarmos um ser humano da ação e mais ainda de produzir alguma coisa que lhe deixaremos senão a contemplação Portan to a atividade dos deuses que supera todas as outras em bemaventurança deve ser contemplativa conseqüentemente entre as atividades humanas a que tiver mais afinidades com a atividade de Deus será a que proporciona a maior felicidade Uma confirmação adicional desta ilação é que outros animais não participam âa felicidade porque são completamente destituí dos desta atividade De fato toda a existência dos deuses é bem aventurada e a atividade dos seres humanos também o é enquanto apresenta alguma semelhança com a atividade divina mas nenhum dos outros animais participa da felicidade porque eles não participam de forma alguma da atividade contemplativa Então a felicidade chega apenas até onde há contemplação e as pessoas mais capazes de exercerem a atividade contemplativa fruem mais intensamente a felicidade não como um acessório da contemplação mas como algo inerente a ela pois a contemplação é preciosa por si mesma A felicidade portanto deve ser alguma forma de contemplação Mas sendo criaturas humanas necessitamos também de bemestar exterior pois nossa natureza não é suficiente por si mesma para o exercício da atividade contemplativa Nosso corpo deve ser também saudável e deve receber boa alimentação e outros cuidados Nem por isto porém devemos pensar que as pessoas necessitam de muitas e grandes coisas para ser felizes simplesmente porque não podem ser sumamente felizes sem bens exteriores com efeito a autosuficiência e a ação não pressupõem excessos e podemos praticar ações nobilitantes sem dominar a terra e o mar porquanto mesmo com recursos moderados é possível agir de conformidade com a excelência isto é bastante evidente pois se pensa que os simples cidadãos praticam atos meritórios não menos que os detentores do poder na verdade os praticam ainda mais basta dispormos de recursos moderados pois a vida das pessoas que agem de conformidade com a excelência será feliz Sôlonm também estava descrevendo fielmente o homem feliz quando o apresentou como moderadamente aquinhoado de bens exteriores mas como alguém que praticava os atos mais nobilitantes e vivia moderadamente na verdade com posses apenas moderadas podemos fazer o que devemos Anaxágo ras116 também parece haver suposto que o homem feliz não tem de ser rico 206 1179 b Aristóteles nem poderoso pois ele disse que o homem feliz pareceria à maioria das pessoas uma criatura surpreendente já que as pessoas em sua maioria julgam as outras pelas exterioridades pois estas são tudo queelas podem perceber A opinião dos sábios parece então harmonizarse com os nossos argumentos Mas apesar de tais afirmações serem de certo modo convincentes a verdade em assuntos de ordem prática é percebida através dos faros da vida pois estes são a prova decisiva Devemos então examinar o que já dissemos submetendo nossas conclusões à prova dos fatos da vida se elas se harmonizarem com os fatos devemos aceitálas mas se colidirem com eles devemos imaginar que elas são meras teorias As pessoas que usam sua própria razão e a cultivam parecem ter o espírito nas melhores condições e ser mais queridas pelos deuses De fato se os deuses se interessam de algum modo pelos assuntos humanos como geralmente se crê é razoável imaginar que aquilo que é melhor e tem maiores afinidades com eles isto é a razão lhes dê prazer e que eles recompensem as pessoas que amam e honram a razão acima de tudo porque tais pessoas cuidam do que é caro aos deuses e agem retamente de maneira nobilitanre Agora é claro que todos estes atributos pertencem às pessoas sábias mais que a quaisquer outras Elas ponanto são as mais caras aos deuses e quem estiver nestas condições será provavelmente mais feliz Sendo assim então o sábio é o homem mais feliz 9 Se estes assuntos e a excelência moral e intelecrual bem como a amizade e o prazer foram suficientemente examinados em suas linhas gerais podemos supor que nossa investigação atingiu o seu objetivo Ou talvez como tivemos pponunidade de dizer nas ciências práticas o objetivo não é chegar a um conhecimento teórico dos vários assuntos e sim pôr em prática as nossas teorias Se for assim saber o que é a excelência moral e a intelectual não é o bastante devemos esforçarnos por possuílas e praticálas ou experimentar qualquer outro meio existente para nos tornarmos bons Se palavras bastassem para tornarnos bons elas teriam com justiça obtido grandes recompensas como diz Têognism e deveríamos ter as palavras sempre à nossa disposição mas sendo as coisas como são apesar de as palavras parecerem ter o poder de encorajar e estimular os jovens de espírito generoso e diante de uma nobreza inata de caráter e de um amor autêntico ao que é nobilitante ser capazes de tornálos susceptíveis i excelência moral elas são impotentes para incitar a maioria das pessoas i prática da excelência moral Com efeito as pessoas em sua maioria oão obedecem naturalmente ao sentimento de honra mas somente ao de temor e não se abstêm da prática de más ações por causa da baixeza desW mas por temer a punição vivendo segundo os ditames das emoções elai buscam seus próprios prazeres e os meios para chegar a eles e evitam os Ética a Nicômacos 207 sofrimentos contrários e não têm sequer uma noção do que é nobilitante e verdadeiramente agradável já que elas nunca experimentaram tais coisas Que palavras regenerariam tais pessoas É difícil senão impossível remover mediante palavras hábitos há longo tempo incorporados ao caráter destas pessoas Talvez devamos considerarnos felizes se conse guirmos darlhes uma aparência de excelência moral quando dispomos de todos os meios para influenciar as pessoas no sentido de tornálas boas Alguns estudiosos pensam que a natureza nos fez bons outros que nos tornamos bons pelo hábito outros pela instrução Os dotes naturais evidentemente não dependem de nós mas em decorrência de alguma causa divina estão presentes nas pessoas verdadeiramente favorecidas pela sorte quanto às palavras e à instrução receamos que elas não sejam eficazes em relação a todas as pessoas mas que a alma de quem aprende deve primeiro ser cultivada por meio de hábitos que induzam quem aprende a gostar e a desgostar acertadamente à semelhança da terra que deve nutrir a semente Realmente as pessoas que vivem ao sabor de suas próprias emoções não ouvem as palavras que podem persuadilas e se as ouvem não as entendem e como podemos persuadir as pessoas em tal estado a mudar de caminho E de um modo geral as emoções parecem ceder não à palavra mas à força O caráter portanto deve de algum modo estar previamente provido de alguma afinidade com a excelência moral amando o que é nobilitante e detestando o que é aviltante Mas é difícil proporcionar desde a adolescência uma preparação certa para a prática da excelência moral se os jovens não são criados sob leis certas de fato viver moderada e resolutamente não é agradável para a maioria das pessoas especialmente quando se trata de jovens Por esta razão sua educação e suas ocupações devem ser reguladas por lei pois elas não serão penosas se se tiverem tornado habituais Mas certamente não é bastante que desde jovens as criaturas humanas recebam a educação e os cuidados certos já que mesmo quando se tornarem adultas elas terão de 1180 a pôr em prática as lições recebidas e de estar habituadas a tais lições necessitaremos também de leis para disciplinar os adultos e falando de um modo geral para cobrir toda a duração da vida pois as pessoas em sua maioria obedecem mais à compulsão do que às palavras e mais às punições do que ao sentimento daquilo que é nobilitante É por isto que há quem pensem que os legisladores devem estimular as pessoas à prática da excelência moral e instálas a perseverar por ser nobilitante proceder assim no pressuposto de que aquelas que progredirem moralmente pela formação de hábitos corretos continuarão fiéis a tais influências devem ser impostas punições e penalidades às pessoas que desobedecem e são de má índole enquanto as incorrigivelmente más devem ser definitivamente banidas Uma pessoa boa dizem tais estudiosos já que ela vive com o seu 208 1180 b Aristóteles espírito concentrado no que é nobilitante submetese às palavras enquan to uma pessoa má ansiosa apenas pelo prazer só é corrigida peÍo sofrimento como uma besta de carga E também por isto que se diz que 05 sofrimentos infligidos devem ser os mais contrários aos prazeres pelos quais estas pessoas anseiam De qualquer modo se como dissemos119 uma pessoa para ser boa deve ser bem exercitada e habituada e deve continuar ao longo de sua vida em ocupações conformes à excelência moral abstendose da prática voluntária ou involuntária de más ações e se este objetivo pode ser atingido se as pessoas vivem de acordo com uma espécie de razão e num sistema correto dotado do poder de compulsão se for assim então a autoridade paterna realmente não tem a força necessária nem o poder de compulsão em geral a autoridade de um único homem tampouco os tem a não ser que ele seja rei ou algo do mesmo gênero mas a lei tem este poder de compulsão e ela é ao mesmo tempo uma norma oriunda de uma espécie de discernimento e de razão E enquanto as pessoas odeiam quem se opõe aos seus impulsos mesmo se a oposição é justa a lei em sua injunção do que é bom não é opressiva Somente em Esparta ou praticamente só o legislador parece ter prestado atenção às questões de educação e preparo físico dos cidadãos na maioria das cidades estas questões foram descuradas e cada pessoa vive como lhe apraz à maneira dos Cíclopes fixando a lei para a mulher e os filhos 120 Mas é melhor que haja um sistema específico e público para tais questões se elas forem descuradas pela comunidade então será acertado que cada pessoa ajude seus filhos e seus amigos a atingir a excelência moral e que elas tenham o poder ou no mínimo a intenção de agir assim Do que foi dito parece resultar que cada pessoa poderá agir melhor neste sentido se ela se capacitar para legislar O ordenamento dos assuntos públicos é obviamente efetuado através das leis e o bom ordenamento é efetuado através das boas leis parece que não fará diferença se elas forem escritas ou nãoescritas nem se elas forem normas regulando a educação de indivíduos ou de grupos da mesma forma que isto não faria diferença no caso da música ou da ginástica e de outras disciplinas similares Com efeito da mesma forma que nas cidades as leis e os costumes predominao tes têm força nos lares a autoridade e os hábitos do pai também têm e I força destes é ainda maior por causa dos laços de sangue e dos benefícios devidos ao pai pois os filhos demonstram inicialmente uma afeição natural em relação a ele e a disposição de obedecerlhe Além disto a educaçiOj individual tem vantagens sobre a coletiva como acontece com o tratamenJ to médico realmente enquanto de um modo geral o repouso e o jejum Ética a Nicômacos 209 são bons para as pessoas febris para determinadas pessoas eles podem do ser bons e presumivelmente um professor de pugilismo não prescreve o mesmo estilo de luta para todos os seus alunos Parece então que os detalhes são tratados com mais atenção se o cuidado é individual poi é mais provável que nesta modalidade cada pessoa receba a atenção que seu caso requer Mas os detalhes podem ser melhor tratados um por um através de um médico ou de um professor de ginástica ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento geral do que é bom para cada pessoa ou para as pessoas de certo tipo dizse e realmente acontece que as ciências tratam do universal apesar disto nada impede que algum detalhe particular possa eventualmente ser bem tratado por uma pessoa sem formaçio científica se ela houver estudado cuidadosamente à luz da experiência o que acontece em cada caso da mesma forma que algumas pessoas parecem ser seus próprios médicos embora não possam ajudar quaisquer outrts pessoas Entretanto talvez se possa concordar com que se uma pessca deseja dominar uma arte ou ciência ela deve ir ao universal e deYe conhecêlo tão bem quanto possível pois como dissemos é do universtl que a ciência trata Certamente uma pessoa que deseja graças aos seus cuidados tornar s outras melhores sejam estas muitas ou poucas deve tentar capacitars para legislar na presunção de que podemos tornarnos melhores graças à leis De fato moldar adequadamente o caráter de alguém seja quem fo que se nos apresente não é tarefa para qualquer pessoa ao acaso se um pessoa pode fazer isto esta é a pessoa que tem o conhecimento adequado da mesma forma que na medicina e em todas as outras profissões cuj exercício pressupõe cuidado e discernimento Não é o caso então de investigar em seguida com quem ou com1 podemos aprender a legislar Será como em todos os outros casos con um estadista Já vimos 121 que a legislação é um ramo da ciência política Ou a ciência política não parece semelhante às outras ciências e artes Na outras vemos as mesmas pessoas oferecendose para ensinar as artes t praticandoas por exemplo os médicos e os pintores mas enquanto m sofistas pretendem ensinar política ela é praticada não por qualquer deles mas pelos políticos que parecem dedicarse a ela movidos mais por uma certa inclinação e pela experiência do que pela inteligência efetivamente nunca vemos os políticos escreverem ou falarem sobre princípios da plítica embora esta pudesse ser uma ocupação talvez mais nobilitante do que compor orações para ser pronunciadas nos tribunais e nas assembléias populares nem prepararem seus filhos ou outros amigos seus para ser estadistas Mas seria de esperar que eles agissem desta maneira se pudessem pois nada seria melhor do que possuir esta capacidade para pôla 21 O Aristóteles a serviço de sua cidade ou de si mesmos se preferissem ou então daqueles que lhes são mais caros Mas a contribuição da experiência não parece pequena pois se assim não fosse eles não poderiam tornarse políticos por mera familiaridade com a política parece portanto que as pessoas que aspiram a conhecer a arte da política necessitam também de experiência Por outro lado vemos que os sofistas que pretendem ensinar política estão muito longe de ensinála realmente Para falar de um modo geral eles não sabem sequer o que é a ciência política nem do que ela trata se assim não fosse eles não a teriam classificado como idêntica à retórica ou até inferior a ela u nem teriam imaginado que legislar é fácil bastando fazer uma coleção de leis consideradas boas Eles dizem que é possível colecionar as melhores leis como se a própria coleção não exigisse inteligência e como se o julgamento acercado não fosse a melhor de todas as coisas a exemplo do que acontece em relação à música Enquanto as pessoas experientes em qualquer profissão julgam acertadamete as obras nela produzidas e sabem por que meios ou como elas são feitas e quais as coisas que se harmonizam entre si as pessoas inexperientes devem darse por felizes se não são incapazes de perceber se a obra foi bem ou mal feita como no caso da pintura Ora as leis são por assim dizer obras de arte políticas como se pode então aprender com os sofistas a ser um legislador ou a julgar quais são os melhores legisladores Os próprios médicos não parecem formarse apenas lendo as obras sobre medicina E até os autores de obras sobre medicina tentam de qualquer modo indicar não somente os tratamentos 1181 b mas também como os casos particulares de certos pacientes podem ser curados edevem ser tratados distinguindo os vários hábitos do corpo mas se este procedimento parece útil para as pessoas experientes para as inexperientes ele não tem valor algum É bem possível portanto que enquanto as coleções de leis e também de constituições podem ser úteis para as pessoas capazes de estudálas e julgar o que há nas mesmas de bom ou mau e quais são os dispositivos adequados às peculiaridades de cada cidade aquelas que examinam tais coleções sem estar intelectualmente preparadas para isto não formarão um juízo acertado a não ser que o façam acidentalmente embora talvez possam tornarse mais entendidas em relação a estas matérias Nossos predecessores se omitiram quanto ao exame do assunto da legislação talvez seja melhor portanto que nós mesmos o estudemos e estudemos de um modo geral a questão das constituições a fim de completarmos da melhor maneira possível nos limites de nossa capacida de nossa filosofia das coisas humanas Primeiro então se algo foi dito com acerto e detalhadamente pelos pensadores anteriores passemos em revista a sua contribuição depois à luz das constituições que colecionamos m examinemos as instituicões que preservam ou desrróem as cidades e as que preservam ou destróem as Ética a Nicômacos 211 várias espécies de constituições e as razões pelas quais umas cidades são bem administradas e outras ao contrário são mal administradas Quando tivermos estudado convenientemente estes assuntos é mais provável que possamos ver de maneira mais ablangente qual das várias espécies de constituições é a melhor e como cada constituição deve ser estruturada e quais as leis e costumes que uma constituição deve incorporar para ser a melhor Comecemos a nossa discussão 124 HOW TO MAKE A CAT DO TRICKS TRAIN YOUR CAT TO FETCH SIT TARRY EVEN STAND SHOWS WITH WOOSH Notas l Uma das acepções de rrll uadicionalmenre traduzida por virtude cremos que excelbcia corresponde melhor ao sentido do oriinal e evita a ambiüidade de virtude na lim correnre 2 Excelocia moral corresponde ao conceito tradicional de virtude de um modo geral vejase a nora anterior 3 Provavelmente por Êudoxos 390340 a C vejase 1101 b 28 1172 b 9 4 Na Érk Mior 1211 b 27 e seguintes Aristóteles menciona a arte de tocar flauta como exemplo de uma atividade cuja finalidade está em si mesma em contraste com a arte de consuuir cuja finalidade a casa construída 5 O termo cidade sempre usado na acepção de cidadeestado a põlir gep 6 Platão e seus discípulos vejase o capítulo 6 7 Ou ponto de partida 8 Os Trblbos t os Dis versos 293 e seguintes 9 1095 a 30 10 Podese atribuir a Pitiaoras culo VI a C a doutrina dos três tipos de vida Segundo seu bióarafo llmblicos Viú tk Pirlgors capítulo 58 Pitoras comparou os três tipos de homem ls us classes de pessoas que se reuniam nos podes jogos sreaos olímpicos istmicos oemeus e píticos os oeaociantes os competidores e os espectadores Esta comparação revela a mettiora subjacente l frase rbeorrrilr6r bior vida contemplativa literalmente a vida do espectador segundo o comeotador inglês Busnet em sua ediçlo da Érk Nim cr Londres 1900 A vida ou atividade contemplativa será estudada deralhadameote em 1177 1 141 1178 a 8 1178 a 22 1179 a 32 livro X capitulo 7 11 Rei lendirio da Assíria Atêoaios BIUI dos sofistM 33 7 e 530 menciona duas versões de seu epitáfio uma Come bebe e divenete pois tudo mais não digno de um esralo de dedos a pane final da ouua Tenho o que comi e as exuavqincias que fiz e o amor que dei e recebi enquanto toda a minha grande riqueza desapareceu 12 Como já dissemos na introdução e na nora l a tradução usual de por virtude muito vqa por nio expressar as ouanças do oriinal preferimos excelência seguida quando o caso de um qualificativo moral intelectual anfstica etc 214 Aristóteles 12a A referncia é às obras para o público ou exotéricas 13 Vejase a nota 10 14 Tratase da Teoria das Formas ou Idéias riJr iJIl de Platio em linhas aerais Forma ou Idéia pode ser entendida em Platio como um protótipo 15 Isto é absolutamente 16 Isto é ao absolutamente bom e ao relativamente bom 16 a Subentendase do que uma coisa branca efmera I Alguns pitagóricos pensavam que havia dez pares de princípios contririos que eles distribuíam em duas colunas limitado ilimitado ímpar par unidade pluraliàade direita esquerda macho fmea imóvel móvel reto curvo luz trevas bem mal quadrado oblongo Vejase a Mrsfísic de Aristóteles 9S6 a 23 e seguintes Susipos citado em seguida era sobrinho de Platão e o sucedeu ria chefia da Academia 18 Vejase a Mrs4ísica 986 a 2226 1028 b2124 1072 b 301073 a 3 109la 29 b 3 1091 b 13 1092 a 17 19 Vejase a Polílic onde Aristóteles chama o homem de animal social a traduçio tradicional é animal político mas o sentido da palavra gtega é melhor erpresso através de animal social1 20 Vejase 1100 a 10 1101 b 9 1170 b 20 1171 a 20 21 Vejase 1094 b 1127 22 Vejase Platão ErftJnos 279 A B Fllebos 48 E Leis 743 E 23 Preferimos traduzir pbr6ntsis por discernimento ouuos preferem prudbcia a rraduçio tradicional ou sabedoria pr6tica W O lloss 24 Local onde havia um dos mais famosos templos e or6culos de Apolo 25 1098 b 2629 26 Vejase a nota anterior 27 1098 a 16 28 1094 a 27 29 1091 a 1820 Ética a Nicômacos 215 29 L Priamos en o rei de Tróia na poca da JUern com os sregos 30 Vejase Heródotos His16ri11 livro I capítulos 30B 31 Vejase o início deste capítulo 32 1099 a 31 b 7 33 Isto a constância na prática de atividades conformes 11 excelncia permanência 34 Expressões tindas do poema de Simonides citado e analisado por Platão no Pro1Jzor11s 339 B tetraaonal parece significar quatro vezes reto reto na acepçio de honesto ou quatro vezes perfeito 3 Aristóteles retoma aqui o rema abordado em 1100 a 1830 36 Ou seja aos estudiosos da retórica entre os quais o próprio Aristóteles em sua obra do mesmo nome 36 a Vejase a nora 12a e ramm a introdução para os rxortriieoi l6goi 3 7 Há um joao de palavras inuaduzível neste uecho lozos ábti tanto pode significar que o pai é ouvido pelo filho ou seja que o filho lhe obedece quanto pode sianificar que uma cerra propriedade matemática racional 38 Em sreao etbilel e llbos respectivamente 39 Vejase o início do livro VI para a reta razão 40 Vejase 1094 b 1127 41 A propósito da doutrina do meio termo llltsolts imporranre na rica e na política de Aristóteles vejase sua Polflic 129 a 3 7 e seWnres 42 Para a definição de concupiscência 11eolsi vejase 110 a 11 e seWntes 43 Ltis 63 A e sepinres e Rrpliblic 401 E 402 A 44 1104 a 27 b 3 4 Provavelmente a alusão a Spêusipos apesar de naS referências que nos restam na filosofia sresa sobre a impassibilidade CPIhi ela aparecer como um ideal moral dos estóicos 46 Hericleitos no fragmento 8 DielsKranz diz É difícil lutar contra o desejo ele consegue tudo que quer ainda que lhe custe a alma 47 Vejase 1103 a 31 b 2 1104 a 27 b 3 48 Vejase 1103 a 18 b 2 49 Vejase 1104 a 1127 50 Medida de peso equivalente a cerca de 600g 1 Atleta famoso no século VI aC 52 Vejase 1096 b 6 3 Verso de autor desconhecido 4 Presumese que aqui Aristóteles devia exibir aos discípulos ma diagrama das várias formas de excelência moral virtudes semelhante ao que aparece na Etic E11tlnttos 1220 b 3 7 e seWntes este tópico tratado com mais detalhes em 111 a 3 1128 b 36 Vejase 1108 b 1126 112 b 1418 6 Ou seja diante do susesso imerecido allllrsis 7 Neste ponto o rexro de Aristóteles obscuro talvez por excesso de concisão pois literalmente ele diz apenas que o despeitado vai tlo lonae que em vez de sofrer chega até a alegrarse W D Ross um 216 Aristóteles dos mais acuados escudiosos da obra de Arinórelet puafnseia o raro dandolhe o enádo que aos parece mais provfvel doado qui e cbepl coadlllio de que e Arisc6cele1 áftle deteavolvido o nciodnio teria percebido que aio bi opoliçio eaae os ezuemos Vejae a DOta de llou l ua uaduçlo ao volume IX du obra complew de Ariscócelet Odord 1925 58 A refetfacia 6wp e pode erlprópriaÉiit Niclrutos 1115 a 61128 b9oulRtt6ric 1383 b 11 1385 a 15 1386 b 9 1388 a 28 59 1129 a 26 b 1 1130 a 15 b 5 1131 b 915 1132 a 2430 1133 b 30 1134 a 1 60 No livro VI 61 Homero OJissti livco XII verso 219 No caco da OJiss que cbeaou ac6 aó1 e1cu piJYraS 1io diw por OdiJeUI craasmiáado ao eu ámoaeiro a ldvercacia de Circe e aio de Calipso ao Rnádo de evitar o remoinho de Carfbdil que sorRria a nau e RUI uipuwues e cliriBila pua u proximidades do monstro Cila que devoraria apeau alpa1 deles 62 Liceralmeace a Raunda maneira de aaave1ur JiwlrrDS pl111 63 Homero lliú 111 156160 Nio h6 nz6e1 pua iadiparaoa com os croiaoos nem com 01 aqueUI de belu pevu R eles sofrem bi uacos anos por uma mulher u1im sua fiura e uemelba incrivelmente l de uma deusa eceraa Mas de qualquer modo por ser como 6 que ela come uma nau e parca Nlo a deizemos mais qui como um flaelo aaora nosso e breve para nossos filhos 64 Voluadrio e iavoluadrio correspoadem quase perfeitamente a hfãísi e ãisünt ao oriaiaal muls vezes por eemplo em 1110 b e eauiaces drísünt cem uma conocaçlo mais force de contra a vontade aio voluadrio como diz o próprio Aristóteles eml110 b 18 65 Comervacne alpaa frqmencos da ia perdida de Eurfpide1 com o nome desce herói o fraenro 69 da colecinea de Nauck TrUori GrMnra Fr ilUitra a alusão de Aristóteles 66 Vejase a nota 64 67 Ésquilo foi acusado diante do Areópqo de baver revelado em 1uu 01 mist6rios de Dem6ter mu foi absolvido 68 Na rraa6dia Cruonln de Eurípides de que nos restam apenas fraamencos 69 Literalmente PfHirrsis sianilica escolha premeditada 6 por isco que Aristóteles diz aRauir que os animais irracionais aio escolhem 70 Vejae a nota anterior 71 lsro 6 1e formos iavestipr os cuos particulares 72 Isto 6 a raio ou o iacelecco 7 3 Subentendase os reis a cerca altura dos debates anunciavam 74 1111 b 26 n 1112 a 1 e seauinces A cicaçio loao abaixo 6an6nima talvez uma alusio a um verso de Sôloa 76 Retomando u consideraçlles entre nretes ao pariarafo anterior a aio ser que eles cenlwa agido por isnodncia cuja responsabilidlde aio lhes pode ser atribuída 77 De acordo com uma lei auibulda a Pfracos tirano de Mitilene vejase o próprio Ari1tóceles na Polfrir 1274 b 19 e na Rn6ric 1402 b 9 78 1107 a 33 b 4 9 1107 b 2 b 29 1108 a RO 111 a 33 e seguintes Ética a Nicômacos 81 1iJJa XXII 100 é Hécror quem fala e o versoanrerior é Se me reriro asora e enuo pelas porras 112 1iaJa VIIJ 148 a continuação é Vencido no combate e retornando às naus llt 111 a 6 e sesuinres 217 R1 1iaJa ll 391 no rexro alUa da 1íaJa os dois versos são diros por Asamêmnon e não por Hêcror l rldação é liseiramenre diferenre 11 o diáloso Uq11ts de Piarão 86 Duranre a baralha de Coronea na Guerra Sasrada uavada aproximadamente em 33 aC 87 Citação livre da 1iaJa XI 11 ou XVI 29 88 Vejase a 1raJa V 470 e XV 232 94 89 Homero OJissii11 XXIV 318 e sesuinres 90 Esra frase não aparece no rexro arual das obras de Homero a primeira ocorrência desra metáfora nas obras da lirerarura grep anriga que chesaram aré nós é em Teõcriros idílio 20 verso I 5 91 Esra repetição como numerosas ourras ao lonso da obra esrá no orisinal 92 111 b 1124 9 Vejase a nora anterior 91 Junto às lonsas muralhas de Corinto na baralha travada em 392 aC vejase Xenofon Htlinicts IV I 10 9 111 b 713 96 1107 b 46 9 Ou seja por associação de idéias Homero lliaJ11 lll 24 i Vejase a Éli11 Ê11Jtmos 1231 a 16 t Aristófanes As ris verso 934 I 00 JliaJt XXIV 130 I OI Em greso concupiscente IIAôlastos sisniiicava originariamente nãocastigado e se aplicava às rianas mimadas 102 Em greso pródiso é ásotos ou seja sem salvação e o desperdício das posses era considerado lomo uma espécie de ruina já que a vida de cada um dependia de suas posses 103 De Simonides de Céos que viveu de 6 a 468 aC só nos restam fragmenros há entre seus versos remanescentes alguns elosiosos à poupança mas nenhum deles corresponde exaramentl alusão de Arisróteles 104 1119 b 27 10 Lireralmenre serrador de sementes de cuminho CKJminoPrislts 106 1119 b 27 e sesuinres 107 Homero OJissiia XVII 420 218 Aristóteles 108 1123 a 1933 109 Existem alusões ao assunto em 1103 b 2123 1104 a 2729 11 O Para os concursos rrigicos cômicos ou diririmbicos 111 1122 a 2426 112 1122 a 3133 113 1123 b 1522 114 No rexro atual da IlfaJa Tris mencionatais serviços 1 503 115 O relato de Xenofon Helirticu VI 5 33 e seJUinres alusivo aos acontecimentos de 369 LC não condiz com esta referência de Aristóteles 116 1107 b 26 1123 a 34b 22 li 7 Aristóteles quer dizer que a honra da mesma forma que a riqueza admire uma forma de excelência moral maior e outra menor vejase 1107 b 25 e seguintes 118 1107 b 33 119 1109 b 1426 120 1125 b 1416 121 V e iase o capítulo anterior 122 Aristóteles considera a rusticidade e simplicidade das roupas dos espiUWios wna aferaçio a aio ser que esreja aludindo aos simpatizantes de Espana em Arenas que copiavam o modo de vestir e de agir dos espartanos 123 Segundo W O Ross devese subentender e ainda menos uma forma de excelência moral em si 124 Em grego a mesma palavra Kleis significa chave e clavícula esta se assemelha a uma grande chave como eram as antigas e mesmo em latim clauicula significava literalmente chavezinha 12 5 Segundo um antigo comenrador de Arisróreles rrarase de uma citação um ranro livre de um verso da tragédia MtLnipe a SJbia de Eurípides da qual nos restam apenas fragmentos este é o de número 486 da coletânea de Nauck cirada na nora 65 segunda edição revista por B Snell 1964 páginas 512513 126 Têognis Elegias verso 147 127 Um dos chamados Sere Sábios da Grécia 128 Vejase Platão República 343 C 129 Nesra mesma obra 1179 b 20 1181 b 12 e especialmente na Política 1276 b 16 1277 b 32 1278 a 40 b 5 1288 a 32 b 2 1333 a 1116 1337 a 1114 130 Ou seja a participação jusra de A fica enrre uma participação muiro grande e uma muito pequena muiro grande e muito pequena aqui significam mais ou menos do que é proporcional às pretensões de A em resumo a panicipação justa corresponde aos mriros relativos das pessoas envolvidas 131 Esra menção a linha é uma evidência a mais no sentido de que as obras esotéricas de Aristóteles são na realidade noras de aula a esra altura da aula Aristóteles deveria estar mostrando aos seus alunos um gráfico mais ou menos do tipo do mencionado na nora seguinte 132 O segumenro CO é igual ao AE A representação grifica da demonstração de Aristóteles seria Ética a Nicômacos 219 A E A B B o c F C 133 Radamlatis era um dos juízes dos monos na mitolosia arep 134 No ezercício legítimo de suas funções 135 Elemento ativo aqui parece sinificar o produtor e elemento passivo o consumidor 136 Nio claro se esra proporcionalidade se refere ia diferença de valor ou talvez do trabalho consumido na produçio enue as unidades produzidu nos diferentes oficios ou se Aristóteles introduz aqui a nova concepçlo de que as diferentes escie1 de produtores tfm valores sociais diferentes e merecem escalu diferentes de retribuiçio 137 Aristóteles parece querer dizer que os preços devem ser nesociados antecipadamente pois no caso contrário uma das panes poded beneficiarse de ambos os excessos em detrimento da outra se o valor daquilo que a primeira adquirir ezceder o meio rermo e o valor daquilo que a outra adquirir ficar aqm dele 138 Vejase 1133 a 30 139 Antip moeda pep 140 Este parfgúo inicial do capítulo 6 nada tem a ver com os parsrafos sesuintes o assunto iniciado aqui prossesue em 113 a 16 capitulo 8 141 1132 b 21 1333 b 28 141 a Subentendase em nossa cidade por ser democdtica 142 1130 a 3 143 Vejase a nota 139 144 Clebre seneral espanano velase Tucídides Hisr6ria àa Gu do P1loporusolivro V capítulo 11 145 Não hi nas obras que nos restam de Aristóteles o exame prometido aqui 146 1109 b 35111124 147 Frasmento 68 da coletânea de Nauck vejase a nota 65 no sesundo verso se pergunta se o ente queria ou nio matar e se a vítima queria ou nio morrer 148 ru J vi 236 149 Ou seja porque asir injustamente depende de nós 150 1129 a 32 b 1 1136 10 1137 a 4 151 Vejase 1136 a 31 b 5 152 Vejase 1134 b 15 17 153 1104 a 1127 1106 a 26 1107 a 27 154 1103 b 31 1107 a 1 1114 b 29 220 Aristóteles 15 Do capitulo 6 do livro 111 att o capitulo 11 do livro V 156 110 a 7 15 7 Do capitulo 6 do livro lll att o capítulo 11 do livro V 158 Isto 1 u formu de exceltncia inteleccual 159 1102 a 2628 160 Apton que aparece em alauns diáloaos de Platio foi um poeca uqico famoso na poca de 56crues Dele só DOI rescam ffllllentos e este o número 5 da coleduea de Naudr 161 No sentido aeral de conhecimenco ttcnico loao após cilncia DO sentido de conhecimento cientffito 162 A pbrfusis aeralmente uaduzida por prudlncia discernimentO parece corresponder melhor ao oriainal alm de ter um sentido mais amplo em pos do que prudlncia 163 AulfricDJ Porrmom 71 a e seWntes 164 71 b 9 e seauintes 16 Vejae a noca 160 e 166 H no teno sreao um joao de pala91U que aio comporca uaduçio literal Aristóteles pretende que a palavra sopbro11fll moderação rem sua oriem na npressio s6zus11 pbsi preservando o discernimento 167 O Mr1i1n era um poema heróicômico famoso na Antiauidade auibuldo a Homero do qual DOI reliam Uaunl ffiIDeDtOI 168 Talea que viveu DO stculo VI c i o mais antiao dos filósofos areaos ADIÚOras pertence l aeraçlo seauinte e i um dos filósofos mais admirados por Aristóteles 169 Em conuute respectivamente com o legislador e por exemplo o arquiteto 170 PnDento da uqtclia perdida filodetn número 787 da coletinea de Naudc 171 O verso completo seaundo outra fonte seria e tendo a mesma participaçio que os dbioa 172 1141 b 1422 173 Subentendase um limite onde a anAlise deve parar 174 Vejase 1142 a 27 1 n As ouuu trfs sio a científica a calculativa e a desiderativa vejase 1139 a 15 b5 176 1143 b 14 177 Nio se sabe com ceneza onde Sócrates teria feiro essa afirmação 178 Isto inclusive acerca du atividades religiosas como aconteeia na cidadeescado gep 179 llíu XXIV 258259 180 1148 b 20 181 Livros 11V 182 Vejase Platio ProtJwtU 352 B 183 Vejase 1140 b 46 1141 b 16 1142 a 24 1144 b 30 1145 a 2 184 Versos 95916 185 Subentendase por ser loucL 186 Ou seja uma pesaoa concupiscente ttica a Nicômacos 221 187 A refcrfacia dne 1er 80 cIQ1m1à1mo de HertcleilOI de um modo pnl e aio 11lpm1 frue ilolldl do filólofo eflsio 188 Pd61ofo do ReaJo V L C que liDdl escrevia em venos e do qull DOI reswo awneiOIOs fnplelllOI 189 Isto i ao cuo do coabecimeaco cieadfico 190 Amao eacido de que derermiu1 191 VejaR 1145 b 2224 192 Aaaopoe que em pqo lipifjca homem fui veacedor em WDI du competições OIS Olimprdu de 456 LC 193 AI modenda eu COIICUpilceum 194 AI domdu de coaàahcia e u iacoaàaea1e1 195 1147 b 231 lqlli porái haaceaada a cJIe doi pnzera miUI em si mesmo coatririos dipos deescolba 196 A frue aio llo moralmea1e deficieata alo ad ao qui foi sqerid1 por W Dlloss piUa dar llpm seacido a ate 1oqo e complictdo pufotae 197 Nfobe beroJu da miiDioiia pep do admero e d1 beleza de 1e111 filhos iultladoae lli superior à d ne11e poaao llpmu divinctde1 despeitada com 1 jactincia de Nlobe DIICUIIIIIhe rodos 01 filbÓI BIUIIft em leUI comeaWiol Élit NiCiatlcos iclentific1 o SúirOIIDelleioaldo por Ariltllelel com um rei do Bólporos Bósforo no sKulo IV 1 C que reria IUibufdo bonnriu dm 80 pli morro 198 Vej11e 11491 14 fAlaril tiriDo de Acrqú 1 1rual Aaripnro na Sicfii1 queimaYIIUU vitimas denao de wn couro de bronze por pruer 199 Vejaae 1 noaarerior 199L Esru cit1ç6el puecem provir de peça d1 Comfdia NOYI de 1ucor aio identificado 200 Veno 1rriburdo 1 sfo O veno de Homero citldo 1 aeauir i d1 IlrJ XIV 217 201 1114 b 31 202 Isto i du caias 1e111 viciL 203 1147 1 32 e seJUinres 204 Teodecre e Carciaol rnaecfi6JIIfos do liculo IV LC eKrnenm centeau de peçu du qulis IÓ oQOI leiWD frqmeatos 205 Sepado DeCI D Ir 11 2 1 miÍIÍCI marcial de XeaofiDlOI lenn Alenadre o Gllllde 1 empuahu u uma 206 Sobre 01 reil da Otia vejamae Her6dot01 Hin6tU I 105 e Hipócnres Dos Arrs Js Árus t Ms Úllm 22 207 As iadolenrea 208 AI impet110111 209 115021 210 1146 1 31 b 2 i iarereuaare 1 retrltiÇio de Aristótelea como testemunho de sua honestidade iarelecrual 211 Dem6docosl6 i coabecido pela à de Arilmrelea 212 Aqui ao sentido de postulados j6 que se rrua de m1rem6ticL 222 213 Isto a cootiobcia 214 hto a iocoorinocia 21 1146 1631 216 Vejase 1146 a 20 217 1144 11b 32 218 1144 23b 4 Aristóteles 219 Contemporâneo de Arinóreles de cuju com nos restam muitos fnpneoros esre o de número 67 da coletânea de M Eclmoods n bas I Allit CJ vol li Ieideo 199 220 Poeta e sofista do skulo V a C do qual nos restam aJaun frqmearos esre o de número 9 na colerinea de Bergk PNIM Lyrici GrMCi vol n 4L ediçlo Ieipzi 1882 221 1104 b 8 110 13 222 Se111ndo Aristóteles rios bemaventurado provm de Wirri11 sentir muito prazer 223 O primeiro destes pontos de vista o de SUiipos sucessor de Platio na Academia o se111ndo o de Piarão no inicio do FIWs o terceiro aparece no fim do mesmo di6loao de Pllllio e defendido rambm por Arisróteles no livro X desta obra 224 Ou seja o bem supremo sesuado Aristóteles 225 1152 b 6 1153 7 226 Heslodos Os TrHibos tos Dis versos 763764 o seJUado verso completo se muiros a comentam ela como um deus 227 1152 b 2633 227 Subentendase para ter o prazer de saciAla 228 Euifpides CMsru verso 234 229 Homero IliJ X 224 230 Homero Odissfi XVII 218 231 Reminiscencia de Hesiodos Os Trblhos tos Dis 25 232 Fragmento 898 ver101 78 da coletânea de Nauck 233 Fnpnearo 8 da coletânea de DiebKIInz b 4w VonNrlliár vol I 6L ediçlo Berlin 1951 234 Vejamse os frqmeotos 90 e 109 da coletioea de Diel1Kranz citada aa nota anterior e Aristóteles Mttffsic 1000 b 5 234 L Nio há nas obras conservadas de Aristóteles qualquer puiiFJD que correspooda preciumente a esra remissão 235 lsro o faro de alao ser bom ou agradbel ou útil vejase o inicio deste capitulo 235 a Esra observaçilo de Aristóteles faz pensar no amor que seja eterno enquanto dure de Vinicius de Moraes 2 36 Isro é absoluta e relativamente boas e qradiveis 237 Vejase 1 Étic t Êutkrus 1238 1 2 por isto a pirJ tlt sl se tomou um pmftrbio 238 O auror desta frase que conesponde 1 loqe dos olboa lone do coraçio deKonhecido 239 1156 b 7 33 1157 I 30 b 4 ttica a Nicômacos 223 240 116b 1311H al3 241 116 a 1624 1157 a 2023 242 A igualdade proporcional de que Aristóteles trata no livro V 243 li b 31 244 Isualdade polític amizade entre iguais entre concidadios por etemplo e semelhança irtltltlul t rl A semelhança introduz o fator mérito no conceito aristotélico de justiça que i tratar desiJUalmenre pessoas de mérito desigual Vejamse I 159 b 3 e Ptlíric 1279 a 9 além de Louis Gernet RtcbmiHs sur lt Dmloppnmt h 11 Pmsir uridiqut fi Mor11ltm Griet Paris 1917 páginas 4 e seguintes 245 Vejase 1155 b 3 246 115 5 I 2228 24 7 Respectivamente o rhísos e o irros Este longo parêntese parece a interpolação de uma versão paralela 248 A primeira parte deste capítulo é um resumo sumaríssimo do livro V da Politic com algumas variações como se fosse o seu embrião 249 Ou seja um rei apenas no nome 250 Logo a monarquia deve ser a melhor forma de governo 251 Por exemplo na llíJ I 503 252 Por nemplo na JiJ 11 243 252 a iubentendase aos ancestrais sobreviventes ao pai no caso da morte desre 253 1159 b 2932 254 Literalmente variam de maneira an61oga 255 Isto é desde a procriação 256 1156 a 7 257 A inclusão deste tipo de relacionamento na classificação de Aristóteles evidencia a amplitude de seu conceito de amizade 258 1162 a 34 b4 1158 b 27 1159a 35 b 3 259 Em nenhuma de suas obras remanescentes Aristóteles trata npressamente da proporcionalidade no caso de amizade entre pessoas dissimilares vejase porém 1132 b 3133 1158 b 27 1159 a 3 h 3 1162 a 34 b 4 1163 b 11 qunto à proporcionalidade nas várias formas de etcelência moral especialmente no sentimento de justiça 260 Isto é nas relações entre os membros das várias classes de que se compõe a cidade 261 1156 b 912 262 Ou seja o prazer da npectativa agradável vejase Plútarcos A Bo Sortt dt AltJrr li I 263 Um dos sofistas mais antigos e famosos que viveu no século V a C e ensinou em Atenas 264 1162 b 613 265 Vejase 1131 a 3 e seguintes 266 1164 b 31 1165 a 2 267 1094 b 1127 1098 a 2629 1103 b 34 1104 a 5 268 O deus maior da mitologia grega 224 Aristóteles 268 L Subearenda1e atf ceru idade 269 1162 b 2325 270 1156 b 1921 1159 b 1 271 1157 b 2224 272 1157 b 1724 1158 b 3335 273 1113 a 2223 veja1e cambim 1099 a 13 274 Eareadae Mmas da mesma forma que Deus aio beneficiado pelo fato de ji possuir o Bem uma pessoa que 1e toraaue ouaa para possuir o Bem nada pnharia pois ji Dio 1eria a mesma pessoa para tirar proveito do Bem esta em pane a iarerpreraçio de VI D Roas para este parfaree que talvez 1ej1 uma iaterpolaçio 275 1155 b 32 1156 5 276 HniJ aa Gricia aatip a fiJIUII do ditador eleito por um período derermiaado e para uma tarefa especifica Pltacos foi eleito ditador de Mitileoe ao iacio do éculo VI L C ele aoveraou durante quarone aaos e eatio eatreiJOU o poder todos os cidadios deCjanm que ele contiauasse mas oeste caso aio havia uaaoimidade e poruoto aio havia concórdia pois o próprio Pracos aio queria continuar a ser o ditador Veja1e a Polflú 1285 a 36 e 1epiores 277 Venos 588 e seauintes da ia de Eurípides os rinis eram EliOdes e Polioeices 278 Um dos comediósnfos mais antip da Grkia ele foi tambim filósofo da escola pitq6rica e viveu no éculo V a C Dele só nos restam frapneotos este o de número 146 da coletinea de Kaibel c u Gr Fr Berlio 1899 279 Ou eja os benfeitores 279 L Isto sem que alaum lhe preste antes um serviço 280 1166 15 281 Subentendase Dois amiso numa só alma 282 Este provbio equivaleria a A caridade começa em casa 283 Eurípides Orrslls 665 284 1098 a 16 b 31 1099 a 7 285 1099 I 1421 286 Ou seja os atributos de 1erem boas e de serem da própria pe 287 Poeta moralista que viveu no éculo VI L C vejase 1172 a 14 288 1099 a 711 1113 a 25H 289 Isto a deficincia monl e o sofrimento 290 1172 19 117522 291 Heslodos Os Tr6Jbos tos Dis veno 715 292 1157 b 19 1158 3 10 293 Na uadiçio arep Aquileus e Piuoclos Orestes e Plades Teeus e Peirlroos por esemplo 294 Veja1e 1170 a 13 295 Os seauidores de Êudoxos filósofo da escola pitaaórica que viveu entre 390 e 340 aC vejase o inicio do capitulo 2 deste livro e os filósofos da escola cirenaica principalmente Arfstipos disdpulo de Sóaates Ética a Nicômacos 225 296 Os filósofos da escola de Spêusipos sucessor de Platão na Academia 297 No F1tlos 60 BE 298 Piarão Ffltbos 24 E 2 A 31 A 299 lsro ê o faro de alguns prazeres serem maus 300 Idem ib 53 c 4 D 301 Idem ib 31 E 32 B 42 C D 302 Vejase Platão Tímios 6 B Rackham em nora à sua edição comenta que não dizemos por exemplo que a incisão i uma dor mas que ela ê sepida de uma dor 303 Fsita livros VI VIII 304 Fraamento 9 da coletinea de DielsKranz 305 109 b 31 1096 a 2 1098 b 31 1099 a 7 3Q6 1098 a 57 306 a 1099 a 13 1113 a 2333 1166 a 12 1170 a 1416 1176 a 1522 30 Príncipe círio que teria viajado pela Grkia no skulo VI aC autor de numerosos aforismos reunidos por Mullach no primeiro volume de seus Fragmmt Pbilosopborvm Gratcorvm páinas 232 e seguintes 308 1098 a 16 1176 a 35 b 9 309 Isto não foi dito especificamente vejase porém 1095 b 14 1096 a 5 1141 a 18 b 3 1143b 33 1144 a 6 1145 a 611 310 I09i a 2 b 21 1099 a 721 1173 b 1519 1174 b 2023 1175 b 36 1176 a 3 311 Ou seja a atividade intelectual 312 Estas alusões são a Eurípides fraamenro 1040 da coletânea de Nauck e Píndaros Ís11icas V verso 16 313 1169 b 33 1176 b 26 314 Figura da mitologia grega que dormia eternamente 31 O famoso estadista e poeta ateniense que viveu na segunda metade do sculo VII e aa primeira metade do século VI aC Vejamse Her6dotos Hisr6rias I 3032 e esta obra 1100 a ll 316 Vejase 1141 b 7 317 Ekgis verso 434 318 Piarão Leis 722 De seguintes 3191179 b 311180 a 320 Homero Otlilsii11 IX 114115 321 1141 b 24 321 aIsócrares Allldosis S 80 322 Este último parágrafo ê uma espécie de roteiro da Política à exceção do livro I que é introdutório 323 Aristóteles compilou as constituições de 1 8 cidades gregas Desta obra gigantesca do fiósofo e de seus disdpulos restanos a Co1111ituiio dos Atenit711es redescoberra num papiro no fim d século passado 324 A nossa discussão é a PoUtit à qual a Ética Nicomqiia serve de introdução DOG HEAT CHOOSE THE RIGHT TRAINING TOY FOR YOUR DOG KEEP YOUR PET ACTIVE AND HEALTHY CHOOSE A TOY BASED ON SIZE TOUGHNESS AND SAFETY Índice Geral A Absmçlo 1142 a 18 Ação 1110b6 1113 b 18 1139a1831 1140a217b46 1141 b 16 1144a3 115la16 1178 b 17 Acuo sorte forruna 1099 b 10 1100 a 9 1100 b 22 1105 a 23 1112 a 27 32 1120 b 17 1140 a 18 1153 b 18 22 Adulador 1108 a 29 1121 b 7 1125 a 2 1127 a 10 1159 a 15 1173 b 22 Afeto úemoso 1105 b 22 1108 a 27 28 1126 b 11 1127 a 12 1155 b 27 1156 6 1157 b 28 1158 b 27 1166 b 32 1167 b 30 1168 19 AFRODITE 1149 b 15 AGAMÊMNON 1161 a 14 AGATON 1139 b 9 1140 a 19 Asradbel 1104 b 32 1105 a 1 1154 b 16 1155 b 21 1156 b 23 1177 a 23 Oposto verdadeiro 1108 13 1128 b 7 ALCMÁION 1110 a 28 Alma 1109 b 29 1098 718 1098 b 4 14 19 11025 17 110223 1103a 3 1104 b 19 117 b 28 119 b 14 1138 b 8 9 32 1139 3 4 1139 617 1140 b 26 1143 b 16 11442 9 30 1144 b 14 15 1145 37 1168 b 7 21 30 1177 4 13 b 38 1178 1 Amabilidade amivel 1103 a 8 b 19 1108 a 6 1109 b 17 1125 b 26 1126 a 2 29 b 1 13 26 34 1127 9 1129 b 22 Amante 1157 1 6 8 1159 b 15 17 1164 a 3 Ambiçio ambicioso 1107 b 24 1108 a 4 1117 b 24 1125 b 125 1159 a 13 Amio 1097 b 10 1112 b 28 1126 b 21 1149 b 29 1173 b 32 Amizade concórdia amizade poUáca 1155 a 3 1156 a 27 b 4 2022 1157 b 3 524 1158 a 23 b i28 1158 b 29 1159 b 23 1159 b 25 116025 31 1160 b 22 1161 b 10 1161 b 1116 1162 10 32 33 1162 34 1163 b 27 32 1163 b 34 1164 b 21 1164 b 22 1165 35 1165 36 b 36 1166 2 b 29 1166 b 30 1167 21 116722 b 16 1167 b 17 1168 27 1169 b 3 1170 b 19 1170 b 20 1171 20 117121 b 28 1171 b 29 1172 14 Amor 1116 13 1158 11 1171 11 b 31 ANÁCAJSIS 1176 b 33 Aúliae 1112 b 23 ANAXÁGOllAS 1141 b 3 1179 a 13 ANAXANDaiDES 1152 a 22 Animaia irncionaia 1116 b 25 32 1139 20 11411 27 1144 b 8 1145 5 1149 b 31 1150 8 1152 b 20 1153 28 31 1154 33 228 Aristóteles Aaeio deaejo 1111 b 110 111 a 15 b 2 1 U6 b 5 7 24 1155 b 29 1156 b 1 1178 a 30 ANTIPANES 1177 b 32 aludo Apetites 1103 b 18 1105 b 21 1111 a 235 b 2 1111 b 1117 1117 a 1 1118 b 816 19 1119 a 4 b 512 1146 a 2 10 U 15 1147 a 15 1148 a 21 22 1149 a 25 b 1 1175 b 28 Elemeuto apetiáYo 1102 b 30 1119 b 14 15 ArpVOI 1117 a 26 AJfrnPOS 1172 a 27 aluaio Ariltoalcia 111 29 1160 2 b 10 2 1161 23 AJUSTÓTELES refetfacW a ouuu obru 1108 b 7 RMriu UB b 11 1385 a 1 1386 b 9 1388 a 28 1130 b 28 Ptlhit 1288 a 2 b 2 1135 a 15 Pelaiul 1139 b 27 Aulhitos 71 a 1 1139 b 32 idem b 9 2 1174 b 3 Púiu VI Vlll Arrependimento 1ll0 b 19 22 1111 a 20 1150 a 21 b 30 1166 a 29 b 24 Arte 1094 1 1097a 17 1098 24 1099 b 23 110 32 b 8 1104 7 1105 9 22 1105 26 b 5 1106 b 8 14 1112 b 7 1133 a 14 1139 b 16 1140 a 7 2 O 1140 b 2 3 22 114la 12 1152 b 19 1153 a 2325 Aapiraçio 1111 b e seguintes Auociaç6es 1132 b 31 1160 a 241161 a 8 1161 b 14 Vejise wnm Sociedade Atenienses 1124 b 17 Atividade atuaÇio 1094 a 4 1098 a 6 7 1098 b 3 1099 a 291100 b 10 13 33 1153a 16 b 10 1154 b 27 1157 b 6 1168 a6 15 1170 a 17 1174 b 16 1175 b 24 1176 b 12 1177 a 10 b 19 1178 10 b 19 Atleta 1111 b 24 1116 b 13 Autoconlciencia 1170 31 1171 b 34 Autoestima 1166 b 2 3 Autauiicihcia 1097 b 7 8 14 1134 a 27 1177 a 27 b 21 1179 a 3 Autoridade paterna 1160 b 26 1180 a 19 b 5 Avareza avarento 1107 b 13 1108 b 22 1119 b 27 28 11211120 b 1317 1122 a 514 1130a 19 B B6rbaros 1145 a 31 1180 a 19 b 5 Bem 1094 a 22 b 7 1095 a 16 27 b 14 25 1096 a 111097 a 1 13 23 1097 a 18 28 b 8 22 27 1098 16 b 13 32 1101 b 30 1102 14 1113 16 1114 32 b 7 1123 b 20 1129 b 2 1130 3 1134 b 5 1140 b 21 1141 b 8 12 1144 b 7 1152 b 12 26 36 1153 b 7 26 1154 a15 115H 19 21 26 1156a14 b 13 1168b 19 1169a21 1172a28b91425 3133 1173a429 1174a 9 Be1ria1 be1tialidade1116 b 25 32 1118 a 25 b 4 1139 a 20 1141 a 27 1144 b 8 11451 17 25 30 1148 b 19 24 1149 1 620 b 29 1150 1 8 1152 b 20 1153 28 31 BIAS 1130 a 1 Boa vonrade 1155 b 33 1166 b 30 1167 a 21 BllASIDAS 1134 b 23 Bravura bravo 1102 b 28 1103 b 17 1104 b 8 1108 b 1925 1115 a 11 1117 b 22 1129 b 19 1137 20 1144 b 5 1167 20 ll77 32 1178 10 32 b 12 Ética a Nicômacos Bufooaria bufio ll08 a 24 2 1128 a 4 31 Cálculo faculdade calculativa 1139 a 12 14 CAIJPSO 1109 a 31 Canibalismo 1148 b 22 c Caráter 109 a 7 11ll b6 1121a 26 b6 1127 a 16 b 23 1139 a 1 1144 b4 ISS b 10 1163 a 23 1164 a 12 ll6 b 619 1172 a 22 b 1 1178 a 16 1179 b 29 1180 b S CARCINOS 110 b 10 Casa lar 1094 a 9 b 23 1097 a 20 1133 a 7 23 b 2327 1134 b 17 1138 b 8 1140 b lO 11 H b 32 1142 a 9 112 b l 1160 b 24 1162 a 18 11 n a 2 1180 b 4 Categoria 1096 a 29 32 Celtas 111 b 28 CERCÍON 110 b 10 Cíclopes 1180 a 28 Cidadão cidadania 1097 b 10 1099 b 31 1102 a 9 1103 b 3 1116 a 17 1130 b 29 1160 a 1 S 116 a 31 1177 b 14 Cidade cidadee5tado 1094 a 27 b 11 1103 b 3 111 a 32 1138 a 11 1141 b 23 1142 11 1162 a 19 1167 a 23 30 1168 b 31 1170 b 30 1179 a 33 ll81 b 23 Comdia ll28 a 22 Companheiros camaradas 1157 b 23 1161 a 25 b 12 35 1162 a 10 1171 a 14 Compulsão compulsório ll09 b 35 1110 b 1 9 1111 a 21 Concupiscência 1107 b 6 ll09 a 4 16 1114 a 28 1117 b 27 1118 a 24 b 1 28 1119 a 21 33 1130 a 30 1147 b i8 1148 b 12 1149 a 5 22 b 30 1150 a 10 11 S 1 b 31 Concupisceme 1103 b 19 1104 a23 b6 1108 b 21 1114 aS 12 20 1117 b 321118 b 7 lll9a 133 b 31 1121 b 8 1130 a 26 114S b 16 1146 b 20 1148 a 6 13 17 1149 b 31 11 SOa 1 b 16 29 11S2 a 14 1153 a 34 1154 a 10 b 15 Confiança llOS b 22 1107 a 33 111S a 7 1117 a 29 Conhecimento cientifico filosófico etc 1094 a 18 26 27 1096 a 30 1097 a 4 1112 b 1 7 11 16 b S 1129 a 13 1139 b 10 1636 lliO b 2 31 34 1141 a 16 19 b 3 9 19 1142 a 24 34 b 9 10 1143 a l 3 11 ll44 b 29 1145 b 23 1146 a 4 b 24 32 ll47 b 1S 17 1153 b 8 1110 b 15 23 Constituições formas de governo 1103 b 6 1113 a 8 1130 b 32 1135 aS 1142 a 10 30 1160 30 31 36 b 20 21 1161 a 10 30 ll63 b 5 ll81 b 720 Contemplação conhecimento contemplativo 1095 b 19 1096 a 4 1103 b 26 1122 b 17 1139 27 1174 b 21 ll77 a 18 28 b 19 1178 b 528 1180 b 21 C01irinência autodomínio 1102 b 14 21 1128 b 34 1145 a 18 b 814 1146 a 1017 b 1018 1147 b 22 1148 a 11 1150 a 9 b 28 11 S 1 a 29b 22 2332 1151 b 33 1152 a 6 1152 a 25 27 1168 b 34 Contratos 1164 b 13 Coragem corajoso ll04 a 18 b 1 1107 a 33 1108 b 32 1109 a 2 9 1115 a 6 1117 b 9 Citas povo 1112 a 28 1150 b 14 230 Aristóteles Corpo corporal 1101 b 33 1104 b 5 1114 a 23 28 1117 b 29 30 33 1118 a 2 1147 b 2527 1148 a 5 1149 b 26 ll50a 24 1151 a 12b35 1152a5 11Ha32b33 11548101526 29 1161 a 35 1168 b 17 1176 b 20 1177 a 7 Covardia covarde 1103 b F 1104 a 21 b 8 1107 b4 1108 b 19 25 110913 10 111512023 b 34 1116 a 14 20 b 16 1119 a 21 28 1130 a 18 31 1138 1 17 1166 b 10 Cretenses 1102 a 1 O D Deficiência moral vício 1104 b 27 1114 a 22 1140 b 19 1145 a 17 Deliberação 1112 a 19 1113 a 12 1139 a 12 b 7 1140 a 26 1141 b 9 1142 a 32 b 33 DELOS 1099 a 25 Democracia democrático 1131 a 27 1160 a 6 b 9 17 20 DEMÔDOCOS 1151 a 8 Demonstração prova científica 1094 b 27 1140 a 33 1141 a 2 1143 b 1 10 13 1147 a 20 Desambiçio desambicioso 1107 b 29 1108 a 1 1125 b 10 22 Desejo 1094 a 21 1095 a 10 1102 b 30 1107 b 29 1113 1 11 1116 a 28 1119 b 7 8 1125 b 7 1138 b 11 1139 18 b 5 1149 b 4 1159 b 20 1166 b 33 1175 b 30 Despeito despeitado 1107 a 10 1108 b 1 5 Despudor despudorado 1104 1 24 l107 a ll b 8 1108 1 35 b 21 1114 1 10 1128 b 31 Destemor destemido 1107 b 1 1115 a 16 19 b 24 1117 a 19 Desventura 1101 a 10 28 1135 b 17 DEUS 1096 a 24 1101 b 30 1145 a 262 1159 a 5 1166 a 222 1178 b 21 Deuses divindade divino 1099 b 11 1101 b 19 23 1122 b 20 1123 alO b 18 1137 a28 11451 23 1154 b 26 1158 b 35 1159 a 7 1160 a24 1162a 5 1164 b 5 1178 b 826 1179 25 30 Dinheiro 1096 a 5 1109 a 27 1119 b 26 1127 b 13 1133 a 2031 b 1128 1137 a 4 1153 a 18 1163 b 8 1164 a 1 28 32 1178 b 15 DIOMEDES 1116 a 22 1136 b 10 Discernimento sabedoria prática 1098 b 24 1103 a 6 1139 a 16 1140 a 24 b 30 35 1141 a 5 b8 1142 a 30 1143 a 15 24 b 18 1145 a 11 b 17 1146 a 4 1152a 6 12 b 15 115h 21 27 1172 b 30 1178 a 16 19 1180 a 22 b 28 Disposição estado de espírito bhis 1098 b 33 1103 a 9 b 2123 1104 a 19 1105 b 5 20 1106a 12 b 33 1114 a 20 30111h 3 b 21 1117 a 20 1123 b 1 1122 b 1 1126 b 521 1128a 17 b 11 1129 a 1418 1139 a 16 22 34 1140 a 422 b 20 28 1143 b 26 1144 b 8 25 1137 a 12 1150 a 15 1152 a 26 b 33 1153 a 11 1154 a 13 1157 b 6 29 32 1174 b 32 1181 b 10 Distribuiçio conforme ou contrAria à justiça 1130 b 31 1131 a 25 b 8 10 30 31 Dívida 1162 b 28 1165 a 3 Doença 1096 a 33 1114 a 26 1115 a 11 17 b 1 1148 b 25 1149 a 9 b 29 1150 b 14 33 E Educação 1104 b 13 1130 b 26 1161 a 17 1172 a 20 1179 a 24 1180 b 8 Efeminados 1145 a 35 1150 b 3 Egolatria 1168 a 28 1169 b 2 ttica a Nicômacos 231 Embriquez 1110 b 26 1113 b 31 32 1114 I 27 1117 I 14 1147 I 14 b 7 12 li l I 4 1152 I 15 1154 b 10 EMPÉIXCLES ll47 I 20 b 12 1155 b 7 Empsrimo 1131 a 3 1164 b 32 1167 b 21 30 ENDÍMION li78 b 20 Eopno li35 b 12 18 Ensino ll03 al5 1139 b 26 1179 b 21 23 Enrendimenro 1103 a li42 b 34 1143 a 18 26 34 b 7 1161 b 26 1181 a 18 Enuetenimenro divenimento 1108 a 13 23 1127 b 34 1128 1 14 20 b 4 8 1150 b 17 1176 b 9 28 1177 I 11 EPÍCARMOS 1167 b 2 Eqüidade 1121 b 24 li37 I 31 1138 I 3 1143 I 20 31 Eqüitativo 1106 a 2734 1108 b 1 30 1129 1 34 1130 b 933 1131 a 1124 11 3 b 6 Escolha propósito opção 1094 a 1 10951 1 14 1097 a 21 110613 b 36 1110 b 31 li11 b 5 1113 a U b 4 1117a li27 b 14 113412 20 1135 b 25 11361 31 1138 121 li39a 3 b 11 1144120 114584 1149b34 1150b30 115la3034 112a17 1163123 1164b 1 1178 I 35 Escravo 1145 b 24 1160 b 28 29 1161 1 35 b 5 1177 1 7 8 Escultor 1097 I 25 1141 I 10 ESPARTA espartano li02 ali li12 129 11171 27 1124 b 16 1127 b 28 11671 31 1180 a 25 Espiriruosidade espirituoso li08 a 24 1127 b 33 1128 a 33 li 56 a 13 li 7 a 6 1158 a 31 ll76 b 14 Esposa 1097 b 10 1li5 I 22 1134 b 16 li58 b 13 17 li60 b 33 1161 I 23 1162 I 1633 ÉSQUILO 1111 a 10 ÊUDOXOS 1101 b 27 1172 b 9 Alusões 1094 a 2 1172 a 27 ÊUENOS 1152 I 31 EURÍPIDES 1110 a 28 li36 ali li42 a 2 1152 b 2 Ciuções ou alusões 1111al2 1129b8 ll54 b 28 1167 I 33 1168 b 7 li69 b 7 li77 b 32 Excelência virtude moral intelectual politica etc 1098 a 17 1099 a 17 1100 a 4 1102 a 5 ll03 alO 14 b25 1104a271105a 13 1105b 191107a27 ll07a281108b lO li09a20b 26 1113 b 5 1115 a 4 1138 b 14 1138 b 18 li45 a ll 17 19 20 33 b 2 li 50 b2911511 28b321152a6 b4 ll64b 1 ll66al7 1172a2122 b 15 1173al4 1177 I 13 18 28 1177 b 68 1178 I 619 1179 b 20 1180 b 25 Experincia 1103 a 16 li15 b 4 1116 b 3 9 1141 b 18 1142 11519 1153 b 1114 1158 a14 1180 b 18 1181 I 2 10 19 20 b 5 F Faculdade aptidio 1101 b 12 1102 a 33 34 b 5 li li03 a 26 li05 b 20 1106 a 12 1127 b 14 1129 I 12 1143 a ÚJ 1144 I 29 1153 b 25 1168 I 7 li70 I 17 FALÁRIS 1148 b 24 1149 I 14 Falsa modstia falso modesto 1108 a 22 1124 b 30 1127 1 22 b 22 30 Fanfarrio 1108 I 21 22 li b 29 li27 I 13 20 b 32 232 Aristóteles Fato 109 b 6 1098 b 1 1168 a 3 1172 a 3 b 6 1179 a 21 Felicidade 109 a 18 1102 a 17 1129 b 18 1144 1 112 b 6 10B b 92 1169 b 31170 b 19 1173 15 1176 31 1179 32 FÍDIAS 1141 a 10 Filosofia filósofos 1096 a 1 b 31 1164 a 3 1177 a 25 1181 b 15 FliÓXENOS 1118 a 32 alusio Fins finalidade objetivo 1094 a 4 22 1097 a 28 1110 a13 1111 b 26 1112 b 12 1 H 1113 b 3 1114 b 4 6 1115 b 20 22 1117 b 1 16 1140 29 1144 32 1152 b 2 1174 b 33 Fortuna posses prosperidade 1098 b 26 1099 b 8 1124 a14 b 19 1153 b 22 24 11551 8 1169 b 14 1171 21 b 28 1179 b 23 Fraqueu fraco 1146 a 15 1150 b 19 1176 a 14 G Ganho 1132 b 18 1163 b 3 Geometria geômeua 1098 a 29 1142 a 12 1143 a 3 1175 a 32 Ginútica exercícios 1096 a 34 1104 a 15 1106 b 4 1112 b 5 1117 b2 1138 a 31 1143 b27 1180 b 3 GLAUCOS 1136 b 10 Gosto falta de 1107 b 19 1122 a 31 Governo constitucional república 1160 a 34 Graças divindades 1133 a 3 Guerra 1096 a 32 1ll5 a 35 1117 b 14 1160 a 17 1177 b 10 H Hibito 1095 b 4 1103 a 17 26 1148 b 1734 1152 a 30 1154 a 33 1179 b 2125 1180 8 b 5 1181 b 22 habitualidade 1098 b 4 1099 b 9 1119 a 27 1151 a 19 1152 a 29 HÊCTOR 1116 a 22 33 1145 a 20 HELENA 1109 b 9 HERÁCLEITOS 1105 a 8 1146 b 30 11 b 4 1176 a 6 HERMES templo de 1116 b 19 j HESÍODOS 1095 b 9 Cicações ou alusões 1132 b 27 11B b 27 1155 a 35 1164 27 Hipótese 111 a 17 1 Homem 1097 b 11 25 1112 b 31 1113 b 16 1141 a 34 1162 a 17 1169 b 18 J HOMERO 1ll3 a 8 1116a21 b27 1118b 11 1136b9 114la 14 ll4h20 1149b171160i l 26 1161 a 14 CitaÇões ou alwlles 1109 a 31 b 9 1116 1 33 b 36 1118 1 22 1122 27 11 b 15 ll55 I 15 34 1180 I 28 Honra IG ulon objetivo da excelencia moral 1115 b 12 1122 b 6 1168 I 33 i Honruiati111 1095 a 23 b 23 27 1096 b231097b2 1107b2227 1ll6128 1123b20ljl 26 1124 b 25 1125 b 7 21 1127 b ti 1130 b2 31 1134b 7 1145 b20 1147b30 1148 26 30 b 14 1159 1822 1163 b 316 1164 b 4 1165 b 24 27 1168 b 1 Ética Nicômacos I Idade 1100 1 7 23 1121 b 13 ldlias ou melhor Formas plat6Dicas 1096 a 13 1097 a 13 Janoriucia 1110 a1 b 181111 a 21 1113 b 24 1114 b 4 1135 a 24 1136 6 7 1144 16 1145 b 27 29 1147 b 6 IJUIdade 1131 a 21 31 1132 b 33 1133 b 4 1134 b 15 1157 b 36 1158 b 1 30 1159 b 1 1162 a 35 b 2 1168 b 8 lmonalidade 1111 b 23 1177 b 33 lmperuoaidade impemoao 1150 b 19 26 lmpudfacia impudente 1104 a 24 1107 a 11 b 8 1108 a 35 b 21 1114 a 10 1128 b 31 IncontianciaiAcoatioeate 1095 a9 1102 b 14 21 2628 1115 b 13 1119b31 1133 b2 1136a 32 b 2 6 1142 b 18 1145 17 1152 36 1166 b 8 1168 b 34 lndilçlo jusra 1108 a 35 b 3 Iaduçlo 1098 b 3 1139 b 2731 Injllltiça injusto 1114 a 5 13 1129 a 3 1130 b 19 1134 a 12 1723 32 1135 a 8 1136 a 9 1136 10 b 13 1136 b 1525 1136 b 26 1137 4 1138 428 b 513 Iaaenibilidade iaaeaafvel 1104 a 24 1107 b 8 1108 b 21 1109 a 4 1119 a 7 Intelecto pncico 1139 a 27 29 36 1143 b 2 1159 b 13 1162 b 6 22 lntelialacia 1096 b 29 1097 b 2 1112 a 33 1139 a 18 33 b 17 1141 a 19 b 3 1176 18 Ia amizade por 1156 a 14 1157 a 2 1159 b 13 1162 b 6 22 Inveja iavejoao 1105 b 22 1107 a 11 1108 b 1 4 1115 a 23 lnI1111Wio 1109 b 351110 b 17 1110 b 181111a 21 1111a 24 b 3 1113 b 15 1131 3 b 26 1132 b 31 1135 I 17 33 b 2 1136 I 5 1621 Ira c61era 1103 b 8 1105 a 8 b 22 1108 a 4 Irascibilidade irudvel 1103 b 19 1108 a 7 8 1111 a 25 b 2 11 13 18 1116 b 23 111 7 a 4 1125 b 2630 1126 a 3 13 16 19 21 22 24 b 10 1130 a 31 1135 b 21 26 29 113 a 9 1145 b 20 1147 a 15 b 34 1148 a 11 b 13 1149 a 3 26 b 20 24 ISÓCPATES 1181 a 14 aludo J Juiz 1132 732 Julamenro 1143 a 19 23 b 9 Justo justiça 1103 b 1 15 1105 a 18 b 10 1108 b 7 1120 a 20 1127 a 34 1129 a 3 IBS b 14 1144a13 b 5 1155 a2228 115Bb29 1159b251160a8 1161a 11b 1021 1162 b21 1168 b 35 1173 18 b 30 1177 29 1178 10 30 Juventude jovem 1095 a 3 6 1118 b 11 1128 b 16 19 1142 a12 15 1154 b 1011 1155 a 12 1158 8 5 20 b 13 1179 b 8 31 34 1180 b 1 L Lassidlolasso 1116a 14 ll45al5b9 1147b21 1148a 12 1150a 141114 1150b217 234 Aristóteles Lazer 1177 b 4 Legislação 1129 b 13 1141 b 2532 lt81 b 13 Legislador 1102 a 10 li 1103 b 3 1113 b 23 34 1128 a 30 1137 b 1823 I 155 a 23 1160 a 13 1180 a 25 33 b 24 29 1181 b I Lei I 094 b 16 1116 a 19 1128 a 32 1129 a 14 b 19 1130 a 24 1132 a 5 b 16 1133 a 30 lt34 a 30 31 b 1 4 1 137 a 11 b 13 1138 a li I 144 a 15 1152 a 21 24 1161 b 7 1164 b I 3 1179 b 32 34 1180 a 3 34 b 25 1181 a 17 21 23 b 7 22 Liberal liberalidade 1099a 19 1103 a 6 1107 b9 18 21 tOS b22 32 lll5 a20 1119b22 l 122 a 17 20 b 18 Louvor 1101 b 19 1109 b 31 1110 a 23 33 1120 a 16 ll27 b 18 1178 b 16 M 1tãe 1148 b 26 1159 a 28 1161 b 27 1165 a 25 1166 a 29 vtagnanimidade 1107 b 22 26 1125 a 34 1125 a 15 33 34 b 3 vtagnificência 1107 b 17 ll22 a 18 1123 a 19 Mal 106 b 29 1126 a 12 Jnrgitrs 1141 a 14 Mar Negro 1148 b 22 Matemática 1102 b 33 1112 b 22 1151 a 17 Matemáticos 1094 b 26 1131 b 13 1142 a 12 17 Medicina 1094 a 8 1096 a 33 1097 a 17 19 102 a 21 1104 a 9 1112 b 4 1138 a 31 b 31 1141 a 32 1143 a 3 b 27 33 1144 a 4 1145 a 8 ll80 b 8 27 Médicos 1097 a 12 1102 a 21 1105 b 15 1112 b 13 1114 a 16 1127 b 20 1133 a 17 1137 a 17 1148 b 8 1164 b 24 1174 b 26 1180 b 14 18 MÉGARA 1123 a 24 Meio termo 1104 a 24 1106 a 26 1108 b 13 ll33 b 32 MÉROPE 1111 a 12 Mesquinhez mesquinho 1107 b 20 1122 a 30 b 8 1123 a 27 Método da ética 1094 b 11 1095 a 11 1095 a 28 b 13 1098 a 20 b 12 1103 b 34 ll04 a 5 1145 b 27 1146 b 68 1165 a 1214 1172 b 36 ll73 a 2 1179 a 331181 b 3 Milésios 1151 a 9 MÍLON 1106 b 3 Misanrropo 1108 a 31 Moderação moderado 1102 b 27 1103 a 6 8 b 1 19 1104 a 19 b 6 1105 a 18 b 10 1107 b 5 1108 b 20 1109 a 3 19 b 17 24 1117 b 23 1119 b 16 1125 b 13 1129 b 21 1140 b 11 1145 b 14 15 1146 a 11 12 1147 b28 1148a614 b 12 1149a22b3031 1150all23 1151 a 19 b 31 34 ll52 a 1 b 15 1153 a 2735 1168 b 26 1177 a 31 1178 a 3 b 15 Monarquia 1160 a 32 b 10 24 27 Moral condição faculdade excelência etc 1139 a 34 1144 b 15 1145 a 16 1152 b 5 ll62 b 23 31 Morte 1115 a 11 b 5 1116 b 20 22 1117 b 7 11 1128 b 13 ttica a N icômacos Mulher 1148 b 32 1160 b 34 1161 a 1 1162 a 23 1171 b 10 Mdsica 1180 b 2 1181 a 19 Músico 1105 a 21 1170 a 10 1175 a 13 1177 b 30 31 N 235 Natureza natural 1094 b 16 1096 a 21 1099 b 21 1103 a 1926 1106 b 15 1112 a 25 32 1114 a 24 26 b 1416 1118 b 18 1133a 30 1134 b 25 1135 a 10 1143 b 9 1148 b 30 31 1152 a 30 b 13 27 36 1153 b 59 1154 b 17 1179 b 23 Necessidade 1112 a 32 1180 1 4 NEOPIÔLEMOS 1146 a 19 1151 b 18 NÍOBE 1148 a 33 Nobreza nobilitante 1104 b 32 1136 b 22 Nutriçio vida nutritiva 1098 a 1 faculdade nutritiva 1102 a 33 b 11 1144 a 10 o Obsequioso 1108 a 28 1126 b 12 1127 a 8 1171 a 17 18 ODISSEUS 1146 a 21 1151 b 20 Olho da alma 1143 b 14 1151 b 20 Oliaarquia 1131 a 28 1160 b 12 35 1161 a 3 Olímpicos joaos 1099 a 3 1147 b 35 Opiniio 1111 b 11301112a13 1139b 17 1140b2627 1142a33b912 1143a2 1144b 15 1145 b 36 1146 b 24 1147 b 9 1179 a 17 Ostentaçio vulgaridade 1107 b 19 1122 a 31 1123 a 19 p Pai 1102 b 32 1103 a 3 1134 b9 1135 a 29 1148b 1 1149b8 13 1158b 12 16 1160a6b24 28 1161 a 15 19 1163 b 19 22 1165 a 126 Pais progenitores 1097 b 19 1110 a 6 1120 b 14 1148 a 31 1158 b 1522 1160 a 1 1161 a 21 b 18 1162 a 4 1163 b 17 1164 b 5 1165 a 1624 Paixão emoçio 1095 a 4 8 1105 b 20 1106 a 12 1108 a 31 1111 b 1 1126 b 23 1128 b 11 15 17 1135 b 21 11361 8 1155 b 10 1156 a 32 1168 b 20 1179 b 13 27 Parentes amizade entre 1161 b 17 Percepção percepdvel senuçio sentido 1098 a 2 b 3 1103 a 29 1109 b 22 23 1113 a 1 1118 b 1 1126 b 4 1139 aiS 1142 a 27 1143 b 5 1147 a 26 b 10 17 1149 alO 1152 b 13 1153a 13 1161 b 26 1110 a 16311111 b 1434 1112 a 36 11n a 21 Perda 1132 a 12 b 12 18 PÉPICLES 1140 b 8 Permuta 1132 b 13 32 1133 a 2 1928 b 1126 Prsia pena 1134 b 26 1160 b 27 31 Piedade 1105 b 23 1109 b 32 1111 a 1 PÍNDAROS 1177 b 33 alusio 236 Aristóteles Pintura pintor 1118 a 4 1175 a 24 1180 a 3 b 34 PÍTACOS 1113 b 31 alusio 1167 a 32 Piugóricoa filóaofos 109 b 1106 b 30 1132 b 22 PlATÃO 109 a 32 1104 b 12 1172 b 28 Alusõea 1097 a 27 1098 b 12 1111 a 24 1130 a 3 1133 14 114 b 23 1164 24 1173 1 29 b 9 12 1180 6 9 Platônic01 filóaofos alusões 109 a 26 1096 a 17 1097 a 14 Pobreza 111 a 10 17 1116 a 13 11 a 11 Poetas 1120 b 14 1168 a 1 POLÍCLEITOS 1141 a 11 Política cincia política 1094 a 27 b 11 1 109 a 2 16 b 18 1097 b 11 1099 b I 29 1102 a 8 12 18 21 23 110h 12 1112 b 14 1129 b 1 1130 b 28 1134 a 26 29 b 1318 1141 a 20 29 b 23 32 1142 I 2 114 10 112 b 1 1160 1 2129 1161 10 b 10 13 1162 a 18 1163 b 34 1167 b 2 1169 b 18 1177 b 12 1 1178 27 1180 b 30 1 3 1181 11 23 Prazer 109 b 17 1096b 1824 1099a 731 1101 b28 1104a23 34 1104 b4110 aS 16 1107 b 4 1108 b 2 1109 b 8 1113 a 34 1117 b 2 28 1118 a17 23 b 27 1119 a 24 1126 b 30 1128 b 8 1146 b 23 1147 b 24 1149 b26 110 a 9 16 llH b 19 3 ll52 a b 1 114 b 31 116 a 12 b 6 117 a 1 b 16 1172 a 1 1927 1172 a 271174 a12 1174 13117629 b 20 11772227 PRÍAMOS 1100 8 1101 8 114 I 21 Primeirosprindpios 109531 1098b2 1139b30 1140b34 11418 17 1142a19 1111 Procüplidadepródigo 1107 b 10 12 1108 b 22 32 1119 b 2711203 b2 1121a8b 10 1122 1 111 b 7 Produzir fazer 1139 a 28 b 1 1140 a 2 422 b 4 1147 a 28 Proporçio aritmtica geomtrica 1106 a 36 1131 a 32 b 1132 1132 a 2 30 1133 a 6 10 b 1 1134 5 27 PROTÁGORAS 1164 a 24 Provrbios 1129 b 29 1146 a 34 1154 b 26 1159 b 31 1168 b 6 Punição castigo pena 1104 b 16 1109 b 35 1126 a 28 l180 a 9 Pusilanimidade pusilãnime l197 b 23 1123 b 10 24 1125 a 17 19 33 R Radamintit 1132 b 25 Razio Jogos retarazlo ortbôrlogos 109 a 10 1096 a 2 b 29 1097 b 2 1098 a 3 5 7 14 1102a 28 b 14 1103a 2 1103 b 32 33 1107 a 1 1112 16 33 1114 b 29 11 n b 12 19 1117 a 8 21 111920 b 1118 112 b 3 1134 35 1138 10 b 9 20 22 25 29 34 1139 41 18 24 32 33 b 4 1140 a 10b 4 31 1141a 8 1141a19 b 3 1142 a 25 26 b 3 12 1143 a 9 25 b2 7 1144 b 9 12 23 27 28 29 30 114 b 14 1147 b 1 17 31 1149 a 26 28 32 b 1 3 1150 5 b 28 1151 1 12 17 21 222934 b 10 26 3 112a 3 13 1168 b 35 1169 a 1 2 5 17 18 1175 b 4 6 1177 a 13 20 b 19 30 1178 a 4 7 22 ll79 a 23 27 1180 a 12 18 21 Reciprocidade 1132 b 21 1133 b 6 Rgua de Lesbos 113 7 b 30 Rei 1113 a 8 1150 b 14 119 a 1 1160 b 311 1161 a 1119 1180 a 20 Relações sexuais 1118 a 31 1147 a 1 b 27 1148 b 29 1149 a 14 112 b 17 1154 a 18 Ética a Nicômacos 237 Resistência 114 a 36 b 8 1 1146 b 12 1147 b 22 110 a 14 33 b 1 Riqueza 1094 a 9 b 19 1095 a 23 25 1096 a 6 1097 a 27 i099 b 1 1119 b 26 1120 a 6 1123 a 7 25 1124 a 14 17 1131 28 1147 b 30 1161 2 Rusticidade rústico 1104 a 24 1108 a 26 1128 a 9 b 2 111 b 13 s Sabedoria saber filosófico 1098 b 24 1103 a 5 1139 b 17 1141 a 2 6 8 1143 b 19 33 1141a 6 1145 a 7 1177 a 24 SARDANAPALOS 1095 b 22 SÁTIROS 1148 a 34 Satisfação saciedade 1118 b 18 1173 b 820 Sensualidade sensual 1145 a 35 1150 b 2 3 Siciôoios povo 1117 a 27 Silogismo 1139 b 2830 1142 b 23 1144 a 31 1146 a 24 b 3 1147 b 19 SIMONJDES 1100 b 21 ciaçio 1121 a 7 Sociedade comunidade política 1129 b 19 1160 a 9 28 vejase também Associações SÓCRATES 1116 b 4 1127 b 5 1144 b 18 28 114 b 23 25 1147 b 15 Sofisw 1164 a 31 1180 b 3 1181 a 12 SÓFOCLES 1146 I 19 20 1151 b 18 1177 b 32 Sofrimento 1119 1 23 29 1152 b 16 1153 a 28 1171 b 8 1173 b 16 Solitário vida solitária 1097 b 9 1099 b 4 1157 b 21 1169 b 16 1170 a 5 SÓLON 1100 a 11 15 1179 a 9 SPÊUSIPOS 1096 b 7 1104 b 24 alusão 1172 a 28 Suicídio 1116 a 12 1138 a 6 10 1166 b 13 Talento 1144 a 23 b 15 152 a 11 TALES 1141 b 4 Tato 1128 a 17 33 Teauo 1175 b 12 T Temeridade remeririo 1104 a22 1107 b3 1108 b 19 1109a9 1115 b291116a 7 111 b 7 Temor 1105 b 22Z 1107 a 33 1110 a 4 1115 a 7 9 1116 a 31 1117 a 29 1121 b 28 1128 11 12 1135 b 5 1179 b 11 TEODECTES 1150 b 9 ciaçio TÊOGNIS 1170 1 12 1176 b 6 Ciaçôea 1129 b 29 1172 a 13 TÉTIS 1124 b 15 Timidez 1108 a 34 Timocracia 1160 a 36 b 17 18 1161 1 3 28 Tirania 1160 b 112 28 1161 a 32 b 9 RESENHA CRÍTICA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES Aluno INTRODUÇÃO Ética a Nicômaco é uma obra fundamental da filosofia ocidental escrita por Aristóteles no século IV aC Composta por dez livros a obra explora a natureza da felicidade eudaimonia a virtude e a vida boa sendo direcionada a seu filho Nicômaco como um guia para alcançar o bem supremo A abordagem de Aristóteles é teleológica focando nos fins ou objetivos das ações humanas Em um contexto de constante mutação de valores e crenças a obra de Aristóteles se destaca como um guia para uma vida plena e significativa Mais do que um tratado sobre moralidade Ética a Nicômaco convida à introspecção e oferece um mapa para navegar pelas complexas nuances da alma humana e das ações virtuosas Aristóteles com uma linguagem clara e concisa nos guia em uma jornada de autoconhecimento e transformação pessoal buscando a eudaimonia como o objetivo final da vida humana Esta felicidade não é fugaz mas um estado duradouro de bemestar alcançado através do desenvolvimento do potencial humano e da busca pelo bem Aristóteles propõe o cultivo das virtudes características nobres da alma que nos permitem agir conforme a razão e o bem Ele distingue entre virtudes éticas relacionadas ao caráter e ao modo de agir e virtudes intelectuais ligadas à capacidade de pensar e compreender o mundo A razão desempenha um papel fundamental na busca pela vida boa permitindo discernir o certo do errado tomar decisões justas e desenvolver nosso potencial intelectual e moral Além disso Aristóteles reconhece a importância da amizade como um dos pilares da felicidade distinguindo entre amizade por utilidade prazer e virtude sendo esta última a mais elevada e duradoura Embora escrita há mais de 2300 anos Ética a Nicômaco permanece relevante para o mundo contemporâneo As reflexões de Aristóteles sobre a natureza humana a ética e a busca pela felicidade oferecem insights valiosos para a vida moral individual e social Aristóteles deseja que o conhecimento ético não permaneça apenas no campo teórico mas que seja praticado e ensinado usando exemplos do cotidiano para aproximar a teoria da prática DESVENDANDO OS LIVROS DA SABEDORIA Livros I e II A Felicidade como EstrelaGuia Nos dois primeiros livros de Ética a Nicômaco Aristóteles fundamenta sua ética no conceito central de eudaimonia que define como a felicidade alcançada através da atividade da alma de acordo com a virtude Ele argumenta que a felicidade não é um estado fugaz mas sim um modo de ser duradouro que resulta da prática constante das virtudes Aristóteles identifica a felicidade como o bem supremo explicando que todas as ações humanas visam algum tipo de bem mas a felicidade é aquela que realiza plenamente a natureza humana No Livro I Aristóteles estabelece a felicidade como a atividade da alma em conformidade com a excelência ou virtude Ele diferencia diferentes tipos de vida a vida de prazer a vida política e a vida contemplativa concluindo que a vida contemplativa é a forma mais elevada pois está mais alinhada com a racionalidade e a virtude No Livro II o filósofo introduz a virtude ética que é adquirida pelo hábito e pela prática constante Ele enfatiza que as virtudes éticas não são inatas mas desenvolvidas através da repetição de ações justas Aristóteles explica que a virtude é uma disposição para agir corretamente encontrandose no meiotermo entre dois extremos viciosos o excesso e a deficiência Essa ideia é conhecida como a doutrina do justo meio ou média dourada que guia os indivíduos na busca pela virtude moral e pela vida ética Livros III a V Virtudes Éticas Caminhando no MeioTermo Nos livros III a V de Ética a Nicômaco Aristóteles explora o universo das virtudes éticas definindo cada uma pelo meiotermo entre vícios e excessos No Livro III ele destaca a importância da volição e da escolha na ética afirmando que as ações morais são aquelas realizadas com conhecimento e escolha deliberada Aristóteles discute a coragem como a virtude que está no meio termo entre a temeridade e a covardia e a temperança que equilibra a indulgência e a insensibilidade No Livro IV o filósofo detalha várias virtudes específicas e seus correspondentes vícios como generosidade magnificência magnanimidade mansidão veracidade urbanidade amizade e vergonha Cada virtude é examinada em relação ao justo meio destacando a importância do equilíbrio e da moderação para uma vida ética No Livro V Aristóteles aborda a justiça como a virtude completa que regula as relações interpessoais Ele distingue entre justiça distributiva que envolve a distribuição equitativa de bens e justiça corretiva que trata da correção de desequilíbrios causados por injustiças A justiça é considerada a mais elevada das virtudes morais por abranger todas as outras em suas práticas refletindo um ideal de equidade e harmonia na sociedade Livros VI e VII Virtudes Intelectuais A Luz da Razão Nos livros VI e VII de Ética a Nicômaco Aristóteles adentra o domínio das virtudes intelectuais onde a razão desempenha um papel central Aqui são exploradas virtudes como a sabedoria prática a inteligência e a ciência todas relacionadas à capacidade de compreender a verdade e agir de acordo com ela No Livro VI Aristóteles discute as virtudes intelectuais como a sabedoria sophia o entendimento nous e a prudência phronesis Ele argumenta que essas virtudes são desenvolvidas através do ensino e são essenciais para a prática das virtudes éticas A sabedoria prática também conhecida como prudência destacase por permitir que o indivíduo aplique corretamente os princípios morais nas situações cotidianas No Livro VII Aristóteles explora a distinção entre continência enkrateia e incontinência akrasia A continência referese à capacidade de agir corretamente mesmo contra desejos contrários demonstrando controle sobre si mesmo Em contraste a incontinência ocorre quando um indivíduo embora conheça o que é correto não consegue agir de acordo com o conhecimento devido à fraqueza de vontade Aristóteles analisa os comportamentos desses indivíduos e as condições que levam à incontinência moral oferecendo insights sobre a complexidade da natureza humana e da tomada de decisões éticas Livro VIII A Amizade Um Pilar da Felicidade No livro VIII Aristóteles nos presenteia com uma análise profunda da amizade considerada por ele como um dos pilares da felicidade Ele distingue três tipos de amizade a amizade por utilidade a amizade por prazer e a amizade virtuosa esta última sendo a mais elevada e duradoura Livros IX e X Felicidade Prazer e Fortuna Desvendando os Enigmas Os livros IX e X encerram a obra com reflexões sobre a felicidade o prazer e o papel da fortuna na vida boa Aristóteles discute as diferentes concepções de felicidade analisa a relação entre prazer e virtude e pondera sobre o papel da sorte em nossas vidas CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS Ética a Nicômaco de Aristóteles é uma obra fundamental que explora profundamente a ética e a moralidade Aristóteles define a felicidade eudaimonia como o bem supremo alcançado pela prática da virtude através da razão Ele desenvolve a doutrina do justo meio argumentando que as virtudes éticas estão no equilíbrio entre extremos viciosos A obra também aborda as virtudes intelectuais e a importância da razão na vida moral Apesar das críticas a influência de Aristóteles na filosofia moral é duradoura oferecendo um arcabouço teórico para a busca de uma vida plena e significativa através da virtude e do conhecimento Pontos Fortes da Obra Clareza Radiante Iluminando Caminhos Complexos A linguagem de Aristóteles em Ética a Nicômaco é como um raio de sol que rasga as nuvens da complexa filosofia moral Sua escrita clara concisa e rica em exemplos práticos torna a obra acessível a um público amplo desde iniciantes até estudiosos experientes Raciocínio Robusto Uma Jornada Lógica e Persuasiva Assim como um arquiteto meticuloso constrói um edifício imponente Aristóteles estrutura seus argumentos com raciocínio lógico impecável Cada passo da sua jornada filosófica é sustentado por uma base sólida de evidências e reflexões cuidadosamente elaboradas Profundidade Imensurável Um Universo de Sabedoria Moral Ética a Nicômaco não se contenta em apenas arranhar a superfície dos conceitos éticos A obra mergulha nas profundezas da alma humana explorando a natureza da virtude o papel da razão a importância da amizade e a busca incessante pela felicidade Abrangência Incrível Um Mapa para a Vida Boa A obra não se limita a um único tema ou perspectiva mas sim oferece um panorama abrangente da vida moral Aristóteles discute diversos aspectos da ética desde as virtudes individuais até as relações interpessoais e o papel do Estado na promoção do bem comum Relevância Atemporal Uma Chama que Resiste ao Tempo Embora escrita há mais de 2300 anos a Ética a Nicômaco permanece notavelmente relevante para o mundo contemporâneo As reflexões de Aristóteles sobre a natureza humana a ética e a busca pela felicidade transcendem o tempo e o espaço oferecendo insights valiosos para os desafios morais da sociedade atual Ética a Nicômaco não é apenas um livro para ser lido e esquecido É um portal que se abre para um universo de sabedoria e reflexão convidandoo a questionar suas crenças repensar seus valores e trilhar um caminho mais virtuoso e significativo em sua vida Através da clareza do raciocínio de Aristóteles da profundeza de suas análises e da relevância atemporal de seus ensinamentos você estará munido de ferramentas valiosas para navegar pelos desafios da vida moral e construir uma vida plena e feliz Pontos a Considerar Visão Teleológica Entre o Fim e os Meios A ética aristotélica com sua ênfase na felicidade como objetivo final da vida humana abre um portal para reflexões profundas sobre o papel da moralidade e a busca pelo bemestar No entanto essa visão teleológica que coloca a felicidade como o fim último pode ser questionada por aqueles que defendem outras correntes do pensamento ético Deontologia e Utilitarismo Caminhos Alternativos Do ponto de vista deontológico o foco reside no cumprimento de deveres e princípios morais independentemente das consequências Já o utilitarismo propõe a avaliação das ações com base na sua capacidade de gerar o máximo de felicidade para o maior número de pessoas Essas perspectivas contrastam com a visão teleológica de Aristóteles que coloca a felicidade individual como o fim último sem necessariamente considerar o impacto das ações em outrem Análise Contextualizada Desvendando as Nuances da História É importante considerar que a Ética a Nicômaco foi escrita em um contexto histórico e social específico no qual as mulheres ocupavam um papel secundário na sociedade As reflexões de Aristóteles sobre a vida boa portanto devem ser analisadas criticamente considerando as limitações do seu tempo e as desigualdades de gênero presentes na época Um Olhar Crítico Desconstruindo Limitações Ao analisar o papel da mulher na obra de Aristóteles é fundamental questionar as visões patriarcais presentes no texto e buscar interpretações que valorizem o papel das mulheres na vida moral e na busca pela felicidade Limitações da Razão Um Dilema Inclusivo Embora Aristóteles reconheça que nem todas as pessoas possuem o mesmo nível de desenvolvimento racional sua ética ainda se baseia fortemente na ideia de que a razão é a principal ferramenta para a tomada de decisões morais Essa visão pode gerar questionamentos sobre a acessibilidade da ética aristotélica a indivíduos com diferentes capacidades cognitivas ou que não se identificam com a racionalidade como base fundamental da moralidade Um convite à Reflexão Construindo Pontes entre Perspectivas A análise crítica dos pontos mencionados acima não visa diminuir o valor da Ética a Nicômaco mas sim convidar o leitor a uma reflexão profunda sobre os desafios e as nuances da obra Ao reconhecer as limitações e contextualizar as ideias de Aristóteles podemos construir pontes entre diferentes perspectivas éticas e buscar uma compreensão mais completa e abrangente da vida moral CONCLUSÃO Ao iniciar a leitura do texto somos levados a refletir sobre cada pensamento externado pelo grande filósofo Logo nos deparamos com uma definição de justiça que a coloca como uma virtude completa Aristóteles insere a virtude no conceito de justiça acompanhandoa com o adjetivo completa Para que a virtude se configure de acordo com Aristóteles é necessário considerála como uma prática reiterada de uma atitude decidida e desejada pela pessoa Por exemplo se Bill Gates doa uma parte significativa de sua imensa fortuna para instituições de caridade que cuidam de pessoas pobres ele realizou uma boa ação Contudo isso não significa que por essa atitude isolada Bill Gates seja considerado uma pessoa virtuosa na caridade É necessário conhecer o motivo de seu ato e verificar se a prática da doação se mantém como um hábito incorporado ao seu modo de vida Só então estariam atendidos os pressupostos para a configuração da caridade Aprender isso pode causar um desconforto inicial como se estivéssemos desclassificando uma ação inegavelmente excepcional e boa como não sendo virtude Porém ao refletir percebemos que não se tira o valor do que é bom nem o louvável da atitude mas se distingue o ato isolado da reiteração planejada e contínua de atos caridosos que caracterizam a virtude No contexto Aristóteles tem a justiça em tão alta conta assim como os cristãos têm o Amor que é sinônimo de Deus Aquele que possui justiça é capaz de exercêla plenamente não apenas para si o que poderia ser confundido com egoísmo mas também para com o próximo Vale ressaltar que para o exercício da justiça é necessário haver uma sociedade ou pelo menos outra pessoa Não faria sentido falar de justiça para um homem solitário que não se relaciona com seus semelhantes A justiça se manifesta nos relacionamentos entre as pessoas e se observa nas atitudes e posturas adotadas envolvendo os aspectos que regem os direitos e deveres de cada um o que pertence a cada um e o bom uso de tudo o que está à disposição dos homens para uma melhor qualidade de vida Existe a justiça que é a observância das leis postas considerando que essas leis quando elaboradas visam ao bom e saudável convívio em sociedade definindo as regras que respeitam o que é inerente a cada cidadão Um homem injusto pode praticar um ato justo Um homem justo também pode por vezes praticar um ato injusto seja por ignorância impulso instinto de sobrevivência ou uma atitude súbita de raiva A prática constante de atos justos leva à construção do conceito de homem justo Este não existe por si só mas é observável e concebível pelas posturas e gestos predeterminados nos relacionamentos com os seus semelhantes de forma habitual Faz parte de sua personalidade de seu modo de ser e de agir diante das circunstâncias que enfrenta Aristóteles procurava classificar e organizar conceitos e tudo o que encontrava na natureza Em relação à virtude distinguia duas espécies a intelectual e a moral A virtude moral conforme a etimologia da palavra referese ao hábito e é o que nos interessa aqui É aprender fazendo adotando critérios de justiça fazse o homem justo agindo de maneira errada surge o malfeitor REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Aristóteles Ética a Nicômacos Trad de Mário da Gama Kury Brasflia Editora Universidade de Brunia c1985 238 p Coleçio Biblioteca Clúsica UaB 9