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Psicanálise

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1 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 2 Publicações préPsicanalíticas e esboços inéditos VOLUME I 18861899 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 3 Dr Sigmund Freud PREFÁCIO GERAL DO EDITOR INGLÊS 1 O OBJETIVO DA STANDARD EDITION O material contido nesta edição está indicado por seu título Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud contudo seria conveniente que eu começasse por indicar mais explicitamente seu conteúdo Meu objetivo foi incluir nesta edição a totalidade dos escritos psicológicos publicados de Freud isto é tanto os psicanalíticos como os prépsicanalíticos Não se incluem aqui os numerosos trabalhos de Freud sobre as ciências físicas publicados durante os primeiros quinze anos mais ou menos de sua atividade produtiva Fui bastante liberal quanto ao critério de seleção adotado pois encontrei lugar para dois ou três trabalhos elaborados por Freud imediatamente após seu regresso de Paris em 1886 Estes que abordam principalmente a histeria foram escritos sob a influência de Charcot quase sem nenhuma referência aos processos mentais mas constituem uma verdadeira ponte entre os trabalhos neurológicos e psicológicos de Freud A Standard Edition não inclui a correspondência de Freud Esta tem enorme extensão e apenas algumas seleções relativamente pequenas foram publicadas até o momento Com exceção das Cartas Abertas e de algumas outras publicadas com o consentimento de Freud durante sua vida minha exceção principal a essa regra geral está representada pela correspondência que Freud manteve com Wilhelm Fliess no correr da parte inicial de sua carreira Essa correspondência é de tão vital importância para a compreensão dos pontos de vista de Freud e não só dos seus pontos de vista iniciais que grande parte dela não poderia ser rejeitada Por conseguinte o primeiro volume da edição contém o Projeto de 1895 e a série de Rascunhos remedidos por Freud a Fliess entre 1892 e 1897 bem como as partes das cartas que possuem interesse científico explícito A Standard Edition também não contém quaisquer relatos ou sumários publicados nas revistas da época das muitas conferências e artigos de Freud apresentados nos primeiros tempos de sua carreira em reuniões de diversas sociedades médicas de Viena Aqui as únicas exceções são os raros casos em que o relato foi feito ou revisado pelo próprio Freud Por outro lado a Standard Edition encerra todo o conteúdo das Gesammelte Werke a única edição alemã quase completa além de uma série de trabalhos que ou vieram a lume após a conclusão das Gesammelte Werke ou foram por motivos vários omitidos por seus organizadores Também pareceu imprescindível incluir no Volume II a participação de Josef Breuer nos Studien über Hysterie que foi deixada de fora em ambas as edições alemãs coligidas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 4 2 O PLANO DA EDIÇÃO Para um editor que se defrontou com um total de uns dois milhões de palavras o primeiro problema foi decidir qual a melhor maneira de apresentálas aos leitores Deveria o material ser ordenado segundo um critério classificatório ou um critério cronológico A primeira edição alemã coligida os Gesammelte Schriften publicados durante a vida de Freud empreendeu uma divisão de acordo com o assunto para as Gesammelte Werke mais recentes pretendeuse uma disposição estritamente cronológica Nenhum dos dois critérios foi satisfatório Os escritos de Freud não se encaixam comodamente em categorias e a cronologia estrita significaria interromper cerradas seqüências de idéias Aqui portanto foi adotada uma conciliação O arranjo é no geral cronológico todavia não segui a regra em alguns casos aqueles em que por exemplo Freud escreveu um adendo muitos anos depois do trabalho original como acontece com o Estudo Autobiográfico no Volume XX ou em que ele mesmo agrupou um conjunto de artigos de diferentes datas tal como os artigos sobre técnica no Volume XII Em geral porém cada volume contém todos os trabalhos pertencentes a um determinado período de anos O conteúdo de cada volume exceto naturalmente quando se trata de um único trabalho extenso é agrupado em três classes coloquei em primeiro lugar o trabalho principal ou trabalhos principais pertencente ao período que dá o título ao volume seguemse os escritos mais importantes de menor extensão e por fim são incluídos os trabalhos realmente breves e geralmente de importância relativamente menor Na medida do possível a cronologia é determinada pela data da redação real da obra em questão Muitas vezes porém a única data certa é a da publicação Por conseguinte cada item é encimado pela data de publicação entre parênteses seguida da data de composição entre colchetes nos casos em que esta pode com bastante segurança ser considerada diferente da anterior Assim é quase certo que os dois últimos artigos metapsicológicos no Volume XIV embora publicados em 1917 tenham sido escritos na mesma época que seus três predecessores em 1915 Esses dois últimos por conseguinte são incluídos no mesmo volume que os demais sendo encimados pelas datas 1917 1915 Cabe ainda dizer que cada volume contém sua bibliografia e índice próprios embora estejam planejados para o Volume XXIV uma bibliografia e um índice completos para todo o conjunto da obra 3 AS FONTES ALEMÃS As traduções da edição inglesa baseiamse em geral nas últimas edições alemãs publicadas ainda em vida de Freud No entanto uma das minhas principais dificuldades foi a natureza insatisfatória dos textos alemães As publicações originais editadas sob a supervisão direta de Freud via de regra são fidedignas entretanto à medida que o tempo transcorria e a responsabilidade passava a outras mãos os erros começavam a se infiltrar Isso aconteceu até mesmo na primeira edição coligida publicada em Viena entre as duas grandes guerras e destruída pelos nazistas em 1938 A segunda edição coligida impressa na Inglaterra em meio às maiores dificuldades durante a Segunda Guerra Mundial é em grande parte uma fotocópia da que a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 5 precedeu mas naturalmente mostra sinais das circunstâncias em que foi produzida No entanto continua sendo a única edição alemã existente dos trabalhos de Freud com alguma pretensão de ser completa De 1908 em diante Freud preservou seus manuscritos mas no caso dos trabalhos publicados durante sua vida não os consultei exceto em alguns casos de dúvida Quanto aos textos publicados postumamente a situação é diferente em alguns casos especialmente no do Projeto como se pode constatar a partir da Introdução do Editor Inglês a esse trabalho a tradução foi feita diretamente de uma cópia fotostática do manuscrito Um grave defeito nas edições alemãs é a ausência de qualquer tentativa de levar em conta as numerosas modificações de texto feitas por Freud nas edições sucessivas de alguns dos seus livros Isso se aplica especialmente à Interpretação dos Sonhos e aos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade pois ambos foram em grau muito acentuado remodelados em suas edições posteriores Para um estudioso sério do desenvolvimento das idéias de Freud é do maior interesse ter bem exposta a estratificação de seus pontos de vista Assim sendo aqui me empenhei em assinalar pela primeira vez as datas em que foram realizadas as diferentes modificações e em expor em notas de rodapé as versões anteriores 4 OS COMENTÁRIOS A partir do que acabou de ser dito depreendese que no conjunto concebi esta edição tendo em mente o estudioso sério Inevitavelmente o resultado foi um grande número de comentários com o qual muitos leitores ficarão irritados Nesse ponto sou levado a citar o Dr Johnson Para um expositor é impossível não escrever muito pouco para alguns e demais para outros Somente por sua própria experiência é que ele pode julgar aquilo que é necessário e por mais que faça deliberações acabará por explicar muitas passagens que o erudito achará impossível que se compreendam mal e por omitir muitas outras explicações para as quais o inculto desejaria sua ajuda Estas são censuras meramente relativas que devem ser toleradas com tranqüilidade Os comentários da Standard Edition são de diferentes tipos Em primeiro lugar há as notas puramente textuais às quais me referi há pouco Seguemse as elucidações das numerosíssimas alusões históricas e a lugares bem como das citações literárias de Freud Freud constituiu um vívido exemplo de homem igualmente à vontade nas duas culturas como têm sido denominadas Não era apenas um hábil neuroanatomista e fisiologista era também largamente versado nos clássicos gregos e latinos bem como na literatura de seu idioma e nas literaturas da Inglaterra da França da Itália e da Espanha A maioria de suas alusões deve ter sido imediatamente compreensível para seus contemporâneos em Viena mas elas estão muito além do alcance de um leitor atual de língua inglesa Contudo muitas vezes especialmente em A Interpretação dos Sonhos essas alusões desempenham um papel real no desenvolvimento de sua argumentação sua explicação não pôde ser posta de lado conquanto tivesse exigido pesquisa considerável e às vezes infrutífera Um outro tipo de anotações é constituído pelas remissões Estas devem ser de especial valor para o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 6 estudioso Freud freqüentemente abordou o mesmo assunto várias vezes e talvez de diferentes maneiras em datas separadas por longos intervalos As remissões entre essas ocasiões alcançando toda a extensão da edição devem ajudar a superar a objeção ao tratamento cronológico geral do material Por fim e mais raramente há notas explicativas de comentários feitos por Freud Estas todavia são em geral apenas exemplos ampliados das remissões as discussões mais elaboradas do sentido em Freud ficam habitualmente reservadas a uma outra categoria de comentário É que além dessas explicações feitas correntemente em notas de rodapé cada trabalho é sem exceção acompanhado de uma nota introdutória Esta varia em extensão de acordo com a importância do trabalho Em todos os casos essa nota inicia com uma bibliografia do texto alemão e de todas as suas traduções para o inglês Não é feita qualquer menção a traduções para outros idiomas também não se procurou fornecer uma lista completa das reedições subseqüentes à morte de Freud em 1939 Seguese um relato daquilo que se conhece a respeito da data e das circunstâncias da redação e publicação do trabalho Vem a seguir alguma indicação do conteúdo temático do trabalho e do lugar que ele ocupa na corrente principal do pensamento de Freud Naturalmente é aqui que as diferenças serão encontradas No caso de um trabalho breve de pequeno interesse haverá apenas uma ou duas frases No caso de um trabalho maior pode haver um ensaio introdutório de muitas páginas Todos esses vários tipos de intervenção editorial foram norteados por um único princípio Meu objetivo foi espero que corretamente deixar que Freud fosse seu próprio expositor Onde há pontos obscuros busquei explicações nos escritos do próprio Freud onde parece haver contradições contenteime em colocar o fato diante do leitor e possibilitar que este formasse sua própria opinião Dei de mim o melhor que pude a fim de evitar ser didático e evitei qualquer pretensão de autoridade excathedra Mas se refreei minhas opiniões próprias especialmente em questão de teoria constatarseá que deixei igualmente de mencionar todos os comentários abordagens e críticas oriundos de qualquer outra fonte Assim quase sem exceção esta edição não contém absolutamente referências a outros autores por mais eminentes que sejam exceto naturalmente aqueles que são citados pelo próprio Freud A enorme proliferação da bibliografia psicanalítica depois de sua morte de qualquer modo teria imposto essa decisão Assim o estudioso poderá abordar os escritos de Freud sem a influência de opiniões alheias É no tocante aos comentários que me sinto sobremaneira consciente das deficiências desta edição muitas delas irremediáveis Os numerosos erros tipográficos e pequenos lapsos podem ser corrigidos segundo espero no Volume XXIV mas as falhas que me preocupam não podem ser reparadas com tanta facilidade Na maioria elas surgem da imaturidade do material Exemplo disso é algo que já mencionei a ausência de qualquer edição alemã realmente fidedigna Na realidade porém quando se iniciava o trabalho desta edição há mais de quinze anos toda a área estava inexplorada e sem demarcação Nem sequer tinha sido iniciada a publicação da biografia de Freud de autoria de Ernest Jones a maioria das pessoas desconhecia a correspondência com Fliess e a própria existência do Projeto É verdade que recebi assistência de muitas pessoas de todas as partes especialmente de Ernest Jones que me punha a par das suas descobertas à medida que as fazia Não obstante a Standard Edition constitui um trabalho pioneiro com todos os inevitáveis erros e O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 7 tropeços que isso implica Eu próprio fuime tornando mais bem informado quanto às idéias de Freud à medida que o tempo passava e é provável que os volumes de publicação mais recente dêem prova disso Mencionemse em particular duas deficiências A primeira delas é que naturalmente foi impossível concretizar a situação ideal de manter toda a edição composta tipograficamente mas aberta a correções até estar concluído o último volume Foi necessário tomar toda uma série de decisões fundamentais antes de publicar o primeiro volume Essas decisões incluíram tanto as questões de formato quanto a escolha de termos técnicos e uma vez tomadas tais decisões em geral foi necessário respeitálas em toda a edição Naturalmente mais tarde lamentouse o fato de algumas delas terem sido tomadas Uma outra fonte de deficiências que o crítico benévolo poderá ter em mente é que a Standard Edition foi sob muitos aspectos um trabalho de amadores Foi um trabalho feito por algumas pessoas que habitualmente se dedicam a outras ocupações um trabalho feito sem apoio de qualquer organização acadêmica disposta a fornecer pessoal ou instalações 5 AS TRADUÇÕES Ao se pensar numa tradução revista de Freud o objetivo primeiro só poderia ser o de transmitir seu pensamento com a máxima fidelidade possível No entanto um outro problema talvez mais difícil não podia ser evitado o problema do estilo Certamente não é possível deixar de levar em conta os méritos literários de Freud Thomas Mann por exemplo referiuse às qualidades genuinamente artísticas de Totem e Tabu em sua estrutura e em sua forma literária uma obraprima relacionada e vinculada com todos os grandes exemplos de obras ensaísticas alemãs Dificilmente se poderia esperar que esses méritos sobrevivessem à tradução mas era preciso empreender algum esforço nesse sentido Quando a Standard Edition foi inicialmente planejada considerouse que seria vantajoso uma única pessoa incumbirse de moldar todo o texto com efeito uma única pessoa executou a maior parte do trabalho de tradução e mesmo quando uma versão anterior foi utilizada como base podese constatar que se impôs a execução de grandes alterações Infelizmente isso provocou a rejeição no interesse da desejada uniformidade de muitas traduções feitas anteriormente e que em si mesmas eram excelentes O modelo imaginário que sempre tive diante de mim foram os escritos de algum homem de ciência inglês de grande cultura nascido em meados do século dezenove E em caráter explicativo e não patriótico eu gostaria de enfatizar a palavra inglês Se me volto agora para a questão primeira da tradução correta da intenção de Freud devo entrar em conflito com o que acabei de dizer Pois em todas as passagens em que Freud se torna difícil ou obscuro é necessário aproximarse mais de uma tradução literal sacrificando a elegância estilística Também por idêntico motivo é necessário absorver por inteiro na tradução uma série de termos técnicos expressões estereotipadas e neologismos que com a maior boa vontade deste mundo não podem ser considerados ingleses Há também a dificuldade especial que emerge por exemplo em A Interpretação dos Sonhos A Psicopatologia da Vida Cotidiana e no livro sobre os chistes do aparecimento de material que envolveaspectos verbais intraduzíveis Aqui não dispusemos da alternativa fácil de eliminar ou substituir por O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 8 algum material equivalente em língua inglesa Tivemos que nos socorrer de colchetes e notas de rodapé pois nos prende o compromisso da regra fundamental Freud Freud e nada mais do que Freud No que diz respeito ao vocabulário técnico adotei em geral os termos sugeridos em A New GermanEnglish PsychoAnalytical Vocabulary de Alix Strachey 1943 que por sua vez baseouse nas sugestões de um Glossary Committee instituído por Ernest Jones vinte anos antes Somente em alguns casos divergi dessas autoridades Determinadas palavras que levantam controvérsias são discutidas em uma nota à parte mais adiante em 1 Na medida do possível procurei aterme à regra geral de traduzir invariavelmente um termo técnico alemão pelo mesmo termo inglês Assim Unlust é sempre traduzido por unpleasure desprazer e Schmerz é sempre traduzido por pain dor Contudo devese observar que essa regra é passível de conduzir a equívocos Por exemplo o fato de psychisch ser habitualmente traduzido por psychical psíquico e seelisch por mental mental pode levar à idéia de que essas palavras possuam significados diferentes quando penso que são sinônimas A regra da tradução uniforme porém foi levada mais adiante e estendida a expressões e a rigor passagens inteiras Quando como tantas vezes acontece Freud apresenta a mesma argumentação ou conta o mesmo episódio em mais de uma ocasião às vezes com grandes intervalos de tempo procurei acompanhálo e usar quando ele as usa palavras idênticas quando ele as modifica procurei fazer o mesmo Alguns pontos não destituídos de interesse são assim preservados na tradução Tenho a obrigação de dizer explicitamente aqui que todos os acréscimos ao texto por menores que sejam e todas as notas de rodapé adicionais estão indicados por colchetes 6 AGRADECIMENTOS Antes de mais nada é necessário expressar reconhecimento ao apoio extremamente generoso prestado ao empreendimento nos seus primórdios pelos membros da Associação Americana de Psicanálise à qual me orgulho de pertencer atualmente como membro honorário por iniciativa em especial do Dr John Murray de Boston com apoio do Dr W C Menninger àquela época presidente da Associação Todas as tentativas feitas anteriormente para levantar o capital necessário tinham falhado e todo o projeto teria sido abandonado não fosse a magnífica atitude da América ao subscrever adiantado mais ou menos quinhentas coleções da edição proposta A soma foi subscrita como um ato de pura e até imoderada confiança numa época em que não havia provas concretas de uma coisa chamada Standard Edition e os resignados subscritores foram obrigados a esperar quatro ou cinco anos para que os primeiros volumes lhes fossem remetidos Dessa época em diante o apoio americano foi constante e chegou até mim oriundo de muitas fontes Ao longo dos anos mantive constantes contatos com o Dr K R Eissler que colocou à minha disposição todos os recursos dos Arquivos Sigmund Freud além de me proporcionar o mais amistoso incentivo pessoal Ainda por intermédio dele tive acesso ao valioso material guardado na biblioteca do O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 9 Instituto de Psiquiatria do Estado de Nova Iorque Naturalmente estive em débito constante para com o Dr Alexander Grinstein e seu Index of Psychoanalytic Writings Ainda no âmbito da ajuda que obtive da América devo mencionar dois homens de regiões separadas por uma grande distância cada um deles por longo tempo deu seu apoio ao sonho de ter um Freud completo em inglês mas nenhum dos dois viveu o bastante para ver esse sonho realizado Otto Fenichel e Ernst Kris Aproximandome mais de casa meu principal apoio veio naturalmente do Instituto de Psicanálise e em particular do seu Comitê de Publicações que sob a direção de diferentes nomes me apoiou resolutamente desde o primeiro momento a despeito inclusive do que muitas vezes devem terse afigurado exigências financeiras exorbitantes Parece uma impropriedade mencionar nomes individualmente mas devo recordar mais uma vez minha volumosa e instrutiva correspondência com Ernest Jones Tenho especiais motivos para ser grato à Dra Sylvia Payne que durante longo tempo ocupou a presidência do Comitê de Publicações Passando à germinação real da Standard Edition é desnecessário dizer que meus primeiros agradecimentos cabem à colaboradora e aos auxiliares cujos nomes são vistos na página de rosto de cada volume Srta Anna Freud minha esposa e o Dr Alan Tyson A Srta Freud sobretudo revelouse incansável ao dedicar suas preciosas horas de lazer à leitura de toda a tradução e ao contribuir com inestimáveis críticas O nome da Srta Angela Richards atualmente Sra Angela Harris também aparece na página de rosto do presente volume Nesses últimos anos ela foi de fato minha auxiliar principal e se incumbiu de grande parte do aspecto editorial de meu trabalho Também devo gratidão à Srta Ralph Partridge que preparou a maior partedos índices de cada volume e às Sras Ambrose Price e D H OBrien que em trabalho conjunto datilografaram todo o material da edição As dificuldades nos preparativos iniciais desta edição foram exacerbadas pelas complicações decorrentes do fato de Freud haver lidado de modo totalmente nãopragmático com os direitos autorais de suas traduções Esses problemas especialmente os referentes aos direitos autorais americanos só foram solucionados mediante a decisiva intervenção do Sr Ernst Freud por um período de vários meses O lado inglês dessa questão foi manipulado por The Hogarth Press e em especial pelo Sr Leonard Woolf O Sr Woolf que vem publicando as traduções inglesas de Freud há uns quarenta anos participou ativamente da evolução desta edição Sinto que minha gratidão especial e até um tanto mesclada de culpa se deve aos editores e impressores por sua tolerância em atenderem às minhas exigências Cabeme acrescentar que embora tenha recebido conselho de muitas pessoas que me auxiliaram e tenhame beneficiado muito desses conselhos em todos os pontos da tradução ou dos comentários a decisão final em última análise só poderia ser minha portanto é apenas sobre mim que repousa toda a responsabilidade pelos erros que o tempo certamente há de revelar em abundância Por fim eu tomaria a liberdade de expressar um reconhecimento mais pessoal minha dívida de gratidão para com a companheira que há tantos anos tem participado do meu trabalho como tradutor Já faz hoje quase meio século desde que juntos passamos dois anos em Viena em análise com Freud e desde que decorridas apenas algumas semanas de análise ele de repente nos instruiu a fazer uma tradução de um O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 10 trabalho que escrevera havia pouco tempo Ein Kind wird geschlagen tradução que agora faz parte aqui do Volume XVII No presente empreendimento ela me prestou ajuda constante por sua imparcialidade tanto na aprovação como na crítica e ela pôde ajudarme a atravessar alguns períodos de dificuldade física quando parecia absurdo imaginar que um dia a Standard Edition pudesse ser concluída JAMES STRACHEY MARLOW 1966 RELATÓRIO SOBRE MEUS ESTUDOS EM PARIS E BERLIM 1956 1886 NOTA DO EDITOR INGLÊS BERICHT ÜBER MEINE MIT UNIVERSITÄTSJUBILÄUMS REISESTIPENDIUM UNTERNOMMENE STUDIENREISE NACH PARIS UND BERLIN a EDIÇÃO ALEMÃ 1886 Data de redação 1960 Em Sigmund Freuds akademische Laufbahn im Lichte der Dokumente de J e R Gicklhorn 82 Viena b TRADUÇÃO INGLESAReport on my Studies in Paris and Berlin 1956 Int J PsychoAnal 37 1 27 Trad de James Strachey O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 11 A presente tradução inglesa é uma reimpressão ligeiramente corrigida da publicada em 1956 O relatório com que apropriadamente tem início a Standard Edition das Obras Psicológicas de Freud é um relato contemporâneo que seu protagonista faz de um evento histórico o desvio dos interesses científicos de Freud da neurologia para a psicologia As circunstâncias em que em 1885 Freud obteve da Universidade de Viena uma bolsa de estudos para viajar estão detalhadamente relatadas por Ernest Jones 1953 824 A subvenção no valor de 600 florins que naquele tempo equivaliam a pouco menos de 50 ou US 250 e destinada a cobrir um período de seis meses foi concedida pelo Colégio de Professores da Faculdade de Medicina e esperavase que Freud lhes fizesse um relatório formal quando de seu regresso a Viena Ele passou cerca de dez dias escrevendo esse relatório quase que imediatamente após seu retorno havendoo concluído em 22 de abril de 1886 Jones ibid 252 Por iniciativa de Siegfried Bernfeld esse relatório foi descoberto nos Arquivos da Universidade pelo Professor Josef Gicklhorn o que possibilitou sua publicação primeiramente em inglês setenta anos depois de ter sido escrito por gentileza do Dr K R Eissler Secretário dos Arquivos Sigmund Freud em Nova Iorque O original que se encontra nos Arquivos da Universidade de Viena consiste em doze folhas manuscritas das quais a primeira contém apenas o título É de conhecimento geral a importância que o próprio Freud sempre atribuiu aos seus estudos com Charcot Esse relatório mostra com a maior clareza que suas experiências no Salpêtrière constituíram um momento de decisão Quando chegou a Paris seu tema de eleição era a anatomia do sistema nervoso ao partir sua mente estava povoada com os problemas da histeria e do hipnotismo Dera as costas à neurologia e se voltava para a psicopatologia Seria até mesmo possível assinalar uma data precisa para a mudança princípio de dezembro de 1885 quando terminou seu trabalho no laboratório de patologia do Salpêtrière contudo a incômoda organização daquele laboratório que o próprio Freud apresenta como explicação naturalmente não foi outra coisa senão uma causa precipitante da momentosa mudança de direção nos interesses de Freud Outros fatores mais profundos estiveram em ação e entre eles sem dúvida a grande influência pessoal que Charcot naturalmente exercia sobre ele Freud expressou de forma mais plena sua consciência dessa influência no obituário que escreveu por ocasião da morte de seu professor alguns anos mais tarde 1893f Com efeito muito do que ele diz de Charcot neste relatório encontrou lugar em seu estudo posterior Um relato mais pessoal da estada de Freud em Paris encontrase na série de vívidas cartas que escreveu à sua futura mulher muitas das quais estão incluídas no volume de sua correspondência organizado por Ernst Freud 1906a RELATÓRIO SOBRE MEUS ESTUDOS EM PARIS E BERLIM EFETUADOS COM O AUXÍLIO DE UMA BOLSA O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 12 DE ESTUDOS CONCEDIDA PELO FUNDO DOJUBILEU UNIVERSITÁRIO OUTUBRO DE 1885 FIM DE MARÇO DE 1886 por DR SIGMUND FREUD Docente de Neuropatologia da Universidade de Viena Ao Emérito Colégio de Professores da Faculdade de Medicina de Viena Quando me candidatei ao prêmio da Bolsa de Estudos do Fundo do Jubileu Universitário referente ao ano de 18856 expressei minha intenção de me dirigir ao Hospice de la Salpêtrière em Paris e de ali continuar meus estudos de neuropatologia Diversos fatores contribuíram para essa escolha Em primeiro lugar havia a certeza de encontrar reunido no Salpêtrière um grande acervo de material clínico que em Viena só se pode encontrar disperso por diferentes departamentos não sendo portanto de fácil acesso Além disso havia o grande renome de JM Charcot que há dezessete anos vem trabalhando e lecionando em seu hospital Por fim fui levado a refletir que nada de essencialmente novo poderia esperar aprender numa universidade alemã depois de haver usufruído do ensino direto e indireto em Viena dos professores T Meynert e H Nothnagel A escola francesa de neuropatologia por outro lado pareciame prometer algo diferente e característico de sua maneira de trabalhar além de haver ingressado em novas áreas da neuropatologia que não tinham sido abordadas de forma parecida pelos cientistas da Alemanha e da Áustria Em decorrência da escassez de qualquer contato pessoal estimulante entre médicos franceses e alemães as descobertas da escola francesa algumas sobre hipnotismo deveras surpreendentes e outras sobre histeria de importância prática foram recebidas em nossos países mais com dúvidas do que com reconhecimento e crédito e os pesquisadores franceses sobretudo Charcot viramse submetidos à acusação de terem uma reduzida capacidade crítica ou pelo menos de se inclinarem a estudar material raro e estranho e de dramatizarem seu trabalho com esse material Por conseguinte quando o emérito Colégio de Professores me distinguiu com o prêmio da bolsa de estudos com alegria agarrei a oportunidade que assim me era oferecida de formar um julgamento sobre esses fatos baseado na minha própria experiência e sentime feliz ao mesmo tempo por estar em situação de pôr em prática a sugestão que me dera meu respeitado mestre Professor von Brücke Quando me encontrava em visita a Hamburgo durante as férias fui recebido com muita amabilidade pelo Dr Eisenlohr renomado representante da neuropatologia naquela cidade Ele me possibilitou examinar um considerável número de pacientes nervosos no Hospital Geral e no Hospital Heine e também me deu acesso ao Hospital Mental de KleinFriedrichsberg Mas os estudos de que me ocupo neste Relatório começaram com minha chegada a Paris na primeira quinzena de outubro no início do ano acadêmico O Salpêtrière que foi o primeiro local que visitei é um amplo conjunto de edifícios que por seus prédios de dois andares dispostos em quadriláteros assim como por seus pátios e jardins lembra muito o Hospital Geral de Viena Com o passar do tempo o Salpêtrière serviu a finalidades muito diferentes e seu O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 13 nome assim como a nossa Gewehrfabrik provém da primeira dessas finalidades Os edifícios foram afinal convertidos em lar de mulheres idosas Hospice pour la vieilesse femmes 1813 e proporcionam asilo a cinco mil pessoas A natureza das circunstâncias fez com que as doenças nervosas crônicas viessem a figurar nesse material clínico com especial freqüência e os antigos médicins des hôpitaux da instituição Briquetpor exemplo tinham começado a fazer um estudo científico dos pacientes Mas o trabalho não pôde prosseguir de modo sistemático por causa do costume existente entre os médicins des hôpitaux franceses de mudarem freqüentemente de hospital e ao mesmo tempo trocarem o ramo especial da medicina que estão estudando até que sua carreira os conduza ao grande hospital clínico do HôtelDieu Mas JM Charcot quando era interne no Salpêtrière em 1856 percebeu ser necessário fazer das doenças nervosas crônicas o tema de um estudo constante e exclusivo resolveu retornar ao Salpêtrière como médicin des hôpitaux e depois jamais abandonar esse hospital Charcot modestamente declara que seu único mérito consiste em ter executado esse plano A natureza favorável do material à sua disposição levouo a estudar as doenças nervosas crônicas e sua base anatomopatológica durante uns doze anos deu aulas de clínica como professor voluntário sem ter qualquer cargo oficial até que finalmente em 1881 foi instituída no Salpêtrière uma cátedra de Neuropatologia confiada a ele Essa nomeação produziu modificações de grande alcance nas condições em que trabalhavam Charcot e seus discípulos que nesse meio tempo tinhamse tornado numerosos Ao material permanente presente no Salpêtrière acrescentouse um complemento essencial quando foi fundada uma seção clínica na qual eram internados para tratamento pacientes tanto masculinos como femininos selecionados a partir das consultas semanais realizadas num departamento de pacientes de ambulatório consultation externe Havia ainda à disposição do professor de neuropatologia um laboratório destinado a estudos de anatomia e fisiologia um museu de patologia um estúdio de fotografia e preparação de moldes de gesso um gabinete de oftalmologia e um instituto de eletricidade e hidropatia Estavam localizados em diferentes partes do grande hospital e possibilitavam ao diretor assegurarse da permanente cooperação de alguns de seus discípulos que eram encarregados desses departamentos O homem que chefia toda essa organização e seus serviços auxiliares tem atualmente a idade de sessenta anos Possui a vivacidade a jovialidade e a perfeição formal no falar que costumamos atribuir ao caráter da nacionalidade francesa ao mesmo tempo mostra a paciência e o amor pelo trabalho que geralmente atribuímos aos de nossa nação A atração exercida por semelhante personalidade logo me levou a limitar minhas visitas a um único hospital e a buscar os ensinamentos de um único homem Abandonei minhas eventuais tentativas de assistir a outras conferências depois de haverme convencido de que tudo o que elas tinham a me oferecer eram na sua maior parte peças de retórica bem construídas As únicas exceções eram as autópsias e conferências forenses do Professor Brouardel no Necrotério que eu raramente perdia No Salpêtrière meu trabalho assumiu uma forma diferente daquela que eu de início tinha estabelecido para mim mesmo Eu havia chegado com a intenção de fazer de uma única pergunta objeto de uma cuidadosa investigação e como em Viena o assunto eleito por mim eram os problemas anatômicos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 14 tinha escolhido o estudo das atrofias e degenerações secundárias que se seguem às afecções do cérebro nas crianças Um material patológico extremamente valioso estava à minha disposição achei todavia que as condições para me utilizar dele eram muitíssimo desfavoráveis O laboratório de modo algum oferecia condições para receber um pesquisador de fora e esse espaço e esses recursos tal como existiam haviamse tornado inacessíveis devido à falta de qualquer espécie de organização Assim sendo vime obrigado a desistir do trabalho com a anatomia e a me contentar com uma descoberta referente às relações dos núcleos da coluna posterior da medulla oblongata Depois porém tive oportunidade de retomar pesquisas semelhantes com o Dr von Darkschewitsch de Moscou e nossa colaboração possibilitou uma artigo publicado nos Neurologisches Centralblatt 1886 5 212 que teve por título Über die Beziehung des Strickkörpers zum Hinterstrang und Hinterstragskern nebst Bemerkungen über zwei Felder der Oblongata Contrastando com a inadequação do laboratório a clínica do Salpêtrière proporcionava tal abundância de material novo e interessante que eram necessários todos os meus esforços para me beneficiar do ensino que essa oportunidade favorável me oferecia O horário da semana era dividido como se segue Na segundafeira Charcot dava sua aula teórica que encantava os ouvintes pela perfeição de sua forma ao mesmo tempo que o tema da aula era conhecido a partir do trabalho da semana anterior O que essas aulas ofereciam não era tanto um ensino elementar de neuropatologia sob a forma de informações mas antes as mais recentes pesquisas do Professor e elas produziam efeito principalmente em virtude de suas constantes referências aos pacientes que estavam sendo examinados Na terçafeira Charcot realizava a consultation externe na qual seus assistentes lhe apresentavam para exame os casos típicos ou difíceis selecionados dentre o grande número dos que compareciam ao departamento de ambulatório Às vezes era desanimador quando o grande homem deixava algum desses casos para usar sua própria expressão afundar no caos de uma nosografia ainda desconhecida outros contudo lhe davam a oportunidade de usálos como ponto de partida para os mais instrutivos comentários sobre uma ampla variedade de questões de neuropatologia As quartasfeiras eram em parte dedicadas aos exames oftalmológicos que o Dr Parinaud efetuava na presença de Charcot Nos demais dias da semana Charcot percorria as enfermarias ou continuava as pesquisas que estivesse empreendendo na ocasião examinando para esse fim pacientes em seu consultório Tive assim oportunidade de ver um grande número de pacientes de examinálos e de ouvir a opinião de Charcot a respeito deles O que me parece ter tido maior valor do que essa efetiva aquisição de experiência foi no entanto o estímulo que recebi durante os cincos meses que passei em Paris do meu constante contato científico e pessoal com o Professor Charcot No que diz respeito ao contato científico certamente não me foi dada preferência em relação a qualquer outro estrangeiro Pois a clínica era acessível a qualquer médico que se apresentasse e o trabalho do Professor era executado abertamente cercado de todos os jovens que atuavam como seus assistentes assim como dos médicos estrangeiros Parecia que ele por assim dizer trabalhava conosco pensava em voz alta e esperava que os discípulos lhe apresentassem objeções Todo aquele que assim desejasse podia entrar na discussão e nenhum comentário passava despercebido ao grande homem A informalidade que prevalecia no O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 15 relacionamento e a maneira como cada um era tratado com cortesia e em condições de igualdade o que constituía surpresa para os visitantes estrangeiros facilitavam a situação de modo que até os mais tímidos tinham a mais viva participação nos exames de Charcot Podiase verificar a maneira como ele inicialmente ficava indeciso em face de alguma nova manifestação difícil de interpretar podiase seguir os caminhos pelos quais se esforçava por chegar a uma compreensão podiase estudar o modo como avaliava as dificuldades e as vencia e podiase observar com surpresa que ele nunca se cansava de observar o mesmo fenômeno até que seus esforços repetidos e sem prevenções lhe permitissem chegar a uma visão correta de seu significado Quando além de tudo isso acode à lembrança a total sinceridade manifestada pelo Professor durante essas sessões compreendese por que o autor deste relatório assim como aconteceria com qualquer outro estrangeiro em situação semelhante deixou o Salpêtrière com irrestrita admiração por Charcot Charcot costumava dizer que falando de modo geral o trabalho da anatomia estava encerrado e que a teoria das doenças orgânicas do sistema nervoso podia ser dada como completa o que precisava ser abordado a seguir eram as neuroses Sem dúvida essa afirmação pode ser considerada como nada além da expressão do rumo tomado por suas próprias atividades Por muitos anos então seu trabalho centralizouse quase por completo nas neuroses principalmente na histeria que desde o início das atividades do departamento de ambulatório e da clínica ele teve oportunidade de estudar tanto nos homens como nas mulheres Tentarei resumir em poucas palavras o que Charcot realizou no estudo clínico da histeria Até o presente dificilmente se pode considerar a palavra histeria como um termo com significado bem definido O estado mórbido a que se aplica tal nome caracterizase cientificamente apenas por sinais negativos tem sido estudado escassa e relutantemente e carrega a ira de alguns preconceitos muito difundidos Entre estes estão a suposição de que a doença histérica depende de irritação genital o ponto de vista de que nenhuma sintomatologia definida pode ser atribuída à histeria simplesmente porque nela pode ocorrer qualquer combinação de sintomas e finalmente a exagerada importância dada à simulação no quadro clínico da histeria Durante as últimas décadas é quase certo que uma mulher histérica seria tratada como simuladora do mesmo modo que em séculos anteriores certamente seria julgada e condenada como feiticeira ou possuída pelo demônio Sob outro aspecto é possível que até se tenha dado um passo atrás no conhecimento da histeria A Idade Média estava familiarizada de modo preciso com os estigmas da histeria seus sinais somáticos e os interpretava e utilizava à sua própria maneira No departamento de ambulatório em Berlim contudo verifiquei que esses sinais somáticos da histeria eram praticamente desconhecidos e que em geral quando se fazia um diagnóstico de histeria parecia estar eliminada qualquer motivação para se obter mais algum informe a respeito do paciente Em seu estudo da histeria Charcot partiu dos casos mais completamente desenvolvidos que ele considerava como tipos perfeitos da doença Começou por reduzir a conexão entre a neurose e o sistema genital a suas proporções corretas demonstrando a insuspeitada freqüência dos casos de histeria masculina e especialmente de histeria traumática Nesses casos típicos ele encontrou a seguir numerosos sinais somáticos tais como a natureza do ataque a anestesia os distúrbios da visão os pontos histerógenos etc que lhe O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 16 possibilitaram estabelecer com segurança o diagnóstico da histeria com base em indicações positivas Estudando cientificamente o hipnotismo área da neuropatologia que teve que ser arrancada de um lado do ceticismo e de outro do embuste Charcot chegou a uma espécie de teoria da sintomatologia histérica Teve a coragem de reconhecer esses sintomas como sendo na sua maior parte reais sem negligenciar as precauções exigidas pela insinceridade do paciente A experiência que aumentou rapidamente com o excelente material logo lhe possibilitou levar em conta também as variantes do quadro típico À época em que fui obrigado a deixar a clínica ele estava passando do estudo das paralisias e artralgias histéricas para o das atrofias histéricas de cuja existência só conseguiu convencerse durante os últimos dias de minha visita A enorme importância prática da histeria masculina que geralmente não é reconhecida e em particular a histeria que se segue a um trauma foi ilustrada por ele como o caso de um paciente que durante cerca de três meses constituiu o ponto central dos estudos de Charcot Assim por meio de seu trabalho a histeria foi retirada do caos das neuroses diferençada de outros estados de aparência semelhante e a ela se atribuiu uma sintomatologia que embora extremamente multiforme tornava impossível duvidar de que imperassem nela uma lei e uma ordem Tive uma animada troca de opiniões com o Professor Charcot tanto oralmente como por escrito sobre os pontos de vista oriundos de suas investigações Isso me levou a preparar um artigo que está por ser publicado nos Archives de Neurologie e que tem como título Vergleichung der hysterischen mit der organischen Symptomatologie Neste ponto devo observar que a disposição de considerar as neuroses provenientes de trauma railway spine como histeria encontrou decidida oposição por parte de autoridades alemãs especialmente do Dr Thomsen e do Dr Oppenheim médicos assistentes do Charité de Berlim Conheci pessoalmente a ambos mais tarde em Berlim e esperava ter a oportunidade de verificar se sua oposição era justificada Infelizmente porém os pacientes em questão já não se encontravam mais no Charité Fiquei todavia com a impressão de que a questão não está madura para uma decisão mas que Charcot acertadamente começara por abordar os casos típicos e mais simples ao passo que seus adversários alemães partiram do estudo de exemplos indeterminados e mais complexos Em Paris contestouse a afirmação de que formas tão graves de histeria como aquelas em que Charcot baseou seu trabalho não ocorriam na Alemanha chamouse atenção para os relatos históricos de epidemias semelhantes e insistiuse na identidade da histeria em qualquer época e lugar Também não perdi a ocasião de adquirir um conhecimento pessoal dos fenômenos do hipnotismo que são tão surpreendentes e aos quais se dá tão pouco crédito e em especial do grand hypnotisme grande hipnotismo descrito por Charcot Com surpresa verifiquei que nessa área determinadas coisas aconteciam abertamente diante dos nossos olhos e que era quase impossível duvidar delas assim mesmo eram tão estranhas que não se podia acreditar nelas a menos que delas se tivesse uma experiência pessoal Contudo não vi nenhum sinal de que Charcot mostrasse qualquer preferência especial por material raro e estranho ou de que tentasse explorálo para fins místicos Pelo contrário considerava o hipnotismo uma área O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 17 de fenômenos que ele submetia à descrição científica tal como fizera muitos anos antes com a esclerose múltipla ou com a atrofia muscular progressiva Não me parecia em absoluto que ele fosse um desses homens que se mostram mais encantados com aquilo que é raro do que com aquilo que é comum e a tendência geral de sua mente levame a supor que ele não consegue descansar enquanto não descreve e classifica corretamente algum fenômeno que o interesse mas dorme tranqüilamente sem ter chegado à explicação fisiológica do fenômeno em questão Neste Relatório dediquei espaço considerável aos comentários sobre a histeria e o hipnotismo porque tive de abordar aquilo que era totalmente novo e que foi objeto dos estudos específicos de Charcot Embora me tenha referido menos às doenças orgânicas do sistema nervoso não gostaria que se supusesse que vi pouco ou nada a respeito delas Mencionarei apenas alguns dos casos particularmente interessantes em meio à riqueza do notável material apresentado Entre estes estavam por exemplo as formas de atrofia muscular hereditária recentemente descritas pelo Dr Marie embora estas não mais sejam incluídas entre as doenças do sistema nervoso ainda estão sob os cuidados dos neuropatologistas Devo mencionar também os casos da doença de Ménière de esclerose múltipla de tabes com todas as suas complicações particularmente acompanhada pela doença das articulações descrita por Charcot da epilepsia parcial e de outras formas de doença que compõem o acervo de material das clínicas e dos ambulatórios de doenças nervosas Entre as doenças funcionais exceto a histeria a coréia e as diversas formas de tiques por exemplo a doença de Gilles de la Tourette estavam recebendo atenção especial durante a época em que freqüentei aquele serviço Quando tomei conhecimento de que Charcot tencionava publicar uma nova coletânea de suas conferências oferecime para fazer uma tradução alemã graças a essa tarefa entrei em contato pessoal mais próximo com o Professor Charcot e também pude prolongar minha estada em Paris além do período coberto por minha bolsa de estudos Essa tradução está por ser publicada em Viena em maio do corrente ano pela editora de Toeplitz e Deuticke Por fim devo mencionar que o Professor Ranvier do Collège de France revelouse extremamente gentil ao mostrarme suas excelentes preparações de células nervosas e neuróglia Minha estada em Berlim que se estendeu de 1º de março até o fim do mesmo mês deuse durante o período de férias Ainda assim tive muitas oportunidades de examinar crianças que sofriam de doenças nervosas nas clínicas de pacientes externos dos professores Mendel e Eulenburg e do Dr A Baginsky tendo sido muito bem recebido em todos os lugares As repetidas visitas ao Professor Munk e ao laboratório de agricultura do Professor Zuntz onde me encontrei com o Dr Loeb de Estrasburgo possibilitaramme formar opinião própria acerca da controvérsia entre Goltz e Munk quanto à questão da localização do sentido da visão no córtex cerebral O Dr B Baginsky do laboratório de Munk teve a gentileza de demonstrar para mim suas preparações do trajeto do nervo acústico e de solicitar minha opinião a respeito delas Considero meu dever apresentar meus mais calorosos agradecimentos ao Colégio de Professores da Faculdade de Medicina de Viena por me haver escolhido para o prêmio da bolsa de estudos Com isso o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 18 Colégio no qual estão incluídos todos os meus respeitados mestres concedeume a possibilidade de adquirir conhecimentos valiosos dos quais espero fazer uso como Docente de doenças nervosas assim como na minha atividade médica VIENA Páscoa de 1886 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 19 PREFÁCIO À TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS SOBRE AS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO DE CHARCOT 1886 NOTA DO EDITOR INGLÊS PREFÁCIO À TRADUÇÃO DE LEÇONS SUR LES MALADIES DU SYSTÈME NERVEUX TOME TROISIÈME DE CHARCOT a EDIÇÃO ALEMÃ 1886 Em JM Charcot Neue Vorlesungen über die Krankheiten des Nervensystems insbesondere über Hysterie Novas Conferências sobre as Doenças do Sistema Nervoso Particularmente sobre a Histeria iiiiv Leipzig e Viena Toeplitz e Deuticke O prefácio não foi reimpresso em alemão A presente tradução a primeira para o inglês do prefácio é de autoria de James Strachey A tradução de Freud de duas das conferências XXIII e XXIV foi publicada antecipadamente no Wien med Wochenschr 36 20 71115 e 21 7569 15 e 22 de maio de 1886 tendo como título Über einen Fall von hysterischer Coxalgie aus traumatischer Ursache bei einem Manne Sobre um caso de coxalgia num homem em decorrência de um acidente Freud 1886e A publicação do livro não pode ter sido anterior a julho de 1886 data do prefácio de Freud em todo caso porém ela se deu antes da publicação do original francês Paris 1887 como Freud menciona em seu prefácio O modo como Charcot confiou a Freud a incumbência de fazer a tradução desse livro para o alemão foi relatado por Freud com mais detalhes em seu Estudo Autobiográfico 1925d Edição Standard Brasileira Vol XX 1 IMAGO Editora 1976 e também numa carta que nessa época Freud escreveu a sua futura esposa 12 de dezembro de 1885 editada em Freud 1960a Carta 88 As poucas notas de rodapé escritas por Freud simplesmente registram como ele mesmo indica no prefácio a evolução subseqüente de um ou dois casos clínicos relatados no texto e numa delas uma recente mudança de opinião de Charcot quanto a um detalhe do diagnóstico Três dessas conferências XI XII e XIII tratam da afasia Em um breve comentário Freud mostra que já estava especialmente interessado no assunto sobre o qual cinco anos depois escreveria sua monografia Nesta fez uma breve descrição dos pontos de vista de Charcot 1891b 1002 e referiuse ao presente trabalho Contanos Jones 1953 230 que Charcot recompensou Freud pela tradução dandolhe de presente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 20 uma coleção completa de suas obras encadernada em couro com esta dedicatória A Monsieur le Docteur Freud excellents souvenirs de la Salpêtrière Charcot PREFÁCIO À TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS SOBRE AS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO DE CHARCOT Um empreendimento como este que objetiva apresentar os ensinamentos de um mestre de clínica médica a círculos médicos mais amplos por certo dispensa justificativas Proponhome portanto dizer apenas algumas palavras a respeito da origem desta tradução e sobre a matéria das conferências que ela contém No inverno de 1885 quando cheguei ao Salpêtrière para uma permanência de quase meio ano constatei que o Professor Charcot então pelos seus sessenta anos trabalhando com o vigor da mocidade se havia afastado do estudo das doenças nervosas que se baseiam em alterações orgânicas e estavase dedicando exclusivamente à pesquisa das neuroses e em especial da histeria Essa mudança relacionavase com as modificações descritas na primeira conferência deste livro que se efetuaram nas condições do trabalho e do ensino de Charcot em 1882 Após superar minha perplexidade inicial diante das descobertas da novas pesquisas de Charcot e depois que aprendi a avaliar sua grande importância pedi ao Professor Charcot permissão para fazer uma tradução para o alemão das conferências que continham essas novas teorias E aqui devo agradecerlhe não apenas pela presteza com que me concedeu sua permissão como também por sua ajuda ulterior que tornou possível que a edição alemã na realidade seja publicada vários meses antes da edição francesa Seguindo instruções do autor acrescentei algumas notas na maioria acréscimos às histórias dos pacientes de que trata o texto O cerne deste livro está nas magistrais e fundamentais conferências sobre histeria que junto com seu autor podemos esperar venham a descerrar uma nova era na conceituação dessa neurose pouco conhecida e a rigor denegrida Por esse motivo com o consentimento do Professor Charcot modifiquei o título do livro que em francês é Leçons sur les maladies du système nerveux Tome troisième e coloquei em destaque a histeria dentre os temas nele abordados Todo aquele a quem estas conferências motivarem a um aprofundamento nas pesquisas sobre histeria feitas pela escola francesa poderá remeterse aos Études cliniques sur la grande hystérie de P Richer de que saiu uma segunda edição em 1885 e que em mais de uma aspecto constitui uma obra extraordinária VIENA 18 de julho de 1886 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 21 OBSERVAÇÃO DE UM CASO GRAVE DE HEMIANESTESIA EM UM HOMEM HISTÉRICO 1886 INTRODUÇÃO BEOBACHTUNG EINER HOCHGRADIGEN HEMIANASTHESIE BEI EINEM HYSTERISCHEN MANNE a EDIÇÕES ALEMÃS 1886 Wien med Wschr 36 49 163338 4 de dezembro Parece que este artigo foi reeditado A presente tradução de James Strachey é a primeira que se fez para o idioma inglês Aparentemente havia a intenção de que este artigo viesse a ser o primeiro de uma série de vez que o encima o título Beitrage zur Kasuistik der Hysterie I Contribuições ao Estudo Clínico da Histeria I Mas a série não teve continuação Em 15 de outubro de 1886 uns seis meses depois de seu retorno de Paris Freud leu perante a Gesellschaft der Aerzte Sociedade de Medicina de Viena um artigo intitulado Über mannliche Hysterie Sobre a Histeria Masculina O texto desse artigo não sobreviveu ainda que sobre ele surgissem resenhas nos periódicos médicos de Viena como por exemplo no Wien med Wochenschr 63 43 14446 23 de outubro Também é encontrado num breve resumo de Ernest Jones 1953 252 O próprio Freud dá um relato desse evento em seu Estudo Autobiográfico 1925d Edição Standard Brasileira Vol XX em 1 IMAGO Editora 1976 O artigo foi mal recebido e Meynert desafiou Freud a apresentar perante a sociedade um caso de histeria masculina Freud teve alguma dificuldade em encontrar um caso pois os médicos mais antigos dos departamentos do Hospital Geral recusaramse a lhe facultar o uso do material de que dispunham Por fim com a ajuda de um jovem laringologista encontrou noutro lugar um paciente adequado e o apresentou perante a Gesellschaft der Aerzte em 26 de novembro de 1886 O caso foi demonstrado por O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 22 Freud e por seu amigo Dr Konigstein cirurgião oftalmologista que tinha feito um exame dos sintomas oculares do paciente O artigo desse especialista foi publicado no Wochenschrift uma semana depois do de Freud na edição de 11 de dezembro 16746 Freud contanos que o presente artigo encontrou uma recepção melhor do que o artigo anterior todavia não chegou a suscitar interesse A maior parte do artigo conforme se verá trata dos fenômenos físicos da histeria nos moldes característicos da atitude de Charcot em relação a essa doença Há somente alguns indícios muito leves que revelam interesse por fatores psicológicos Senhores A 15 de outubro quando tive a honra de pedirlhes a atenção para um breve informe sobre o recente trabalho de Charcot na área da histeria masculina fui desafiado pelo meu respeitado mestre Hofrat Professor Meynert a apresentar perante a sociedade alguns casos em que pudessem ser observadas de forma claramente visível as indicações somáticas da histeria os estigmas histéricos pelos quais Charcot caracteriza essa neurose Hoje enfrento esse desafio de maneira insuficiente é verdade mas na medida do que me permite o material clínico de que disponho apresentando perante os senhores um homem histérico que mostra o sintoma da hemianestesia num grau que se poderia descrever com o mais elevado Antes de começar minha demonstração quero apenas observar que estou longe de pensar que o que lhes estou mostrando é um caso raro ou peculiar Pelo contrário consideroo um caso muito comum de ocorrência freqüente embora muito amiúde possa passar despercebido Por esse paciente devo agradecer à gentileza do Dr von Beregszászy que o enviou a mim para confirmação do diagnóstico que ele havia feito O paciente August P gravador de 29 anos é a pessoa que está diante dos senhores um homem inteligente que de pronto se ofereceu para ser examinado por mim na esperança de uma rápida recuperação Permitamme que comece por um relato de sua história familiar e de sua história pessoal O pai do paciente aos 48 de idade morreu da doença de Bright trabalhava numa adega bebia muito e tinha temperamento violento Sua mãe morreu aos 46 anos de tuberculose Soubese que ela sofria muito de dores de cabeça quando jovem o paciente nada tem a dizer sobre ataques convulsivos ou algo semelhante O casal teve seis filhos dos quais o primeiro levou uma vida irregular e faleceu de uma afecção sifilítica cerebral O segundo filho tem interesse especial para nós ele desempenha um papel na etiologia da doença de seu irmão e parece que ele próprio era histérico Contou ao nosso paciente haver sofrido de ataques convulsivos e por uma estranha coincidência nesse mesmo dia encontrei um colega de Berlim que tratara desse irmão em Berlim durante uma enfermidade e havia diagnosticado que ele sofria de histeria diagnóstico este que também foi confirmado num hospital daquela cidade O terceiro filho desapareceu desde que desertou do exército o quarto e o quinto morreram em tenra idade e o último é o nosso paciente Nosso paciente teve um desenvolvimento normal na infância nunca sofreu convulsões infantis e O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 23 teve as doenças comuns de crianças Aos oito anos teve a infelicidade de ser atropelado na rua sofreu ruptura do tímpano direito com permanente déficit da audição do ouvido direito e foi acometido de uma doença que durou diversos meses durante a qual sofria freqüentes desmaios cuja natureza atualmente já não é possível descobrir Esses desmaios continuaram por uns dois anos Desse acidente adveio um certo embotamento intelectual que o paciente afirma ter sido notado em seu rendimento escolar e uma tendência a sensações vertiginosas sempre que por alguma razão se sentia indisposto Mais tarde completou o curso primário após a morte dos pais passou a aprendiz de gravador um dado que fala muito a favor de seu caráter é o fato de ter permanecido como artífice e empregado do mesmo mestre de ofício durante dez anos Considerase pessoa cujos pensamentos estavam total e unicamente voltados para a perfeição de seu habilidoso ofício e que com esse fim em vista leu muito e exercitouse no desenho não se permitindo relacionamentos sociais nem divertimentos Viase obrigado a refletir muito acerca de si mesmo e de suas ambições e por fazêlo com tanta freqüência caía num estado de excitada fuga de idéias no qual ficava alarmado a respeito de sua saúde mental seu sono muitas vezes era agitado e sua digestão faziase lenta por causa de seu modo de vida sedentário Sofreu de palpitações durante os últimos nove anos mas afora isto era sadio e jamais precisou interromper seu trabalho Sua doença atual começou há uns três anos Nessa época teve um desentendimento com o irmão que levava uma vida desregrada porque este se recusou a lhe pagar uma soma em dinheiro que o paciente lhe emprestara O irmão ameaçou apunhalálo e avançou contra ele com uma faca Isto causou ao paciente um medo indescritível sentiu um zumbido na cabeça como se ela fosse estourar correu para casa sem poder contar como foi que chegou lá e caiu no chão inconsciente em frente à porta de casa Depois ouviu dizer que durante duas horas tinha tido violentos espasmos durante os quais falara da cena com seu irmão Quando voltou a si sentiase muito fraco durante as seis semanas seguintes sofreu de violentas dores no lado esquerdo da cabeça e pressão intracraniana Parecialhe alterada a sensibilidade na metade esquerda do corpo e seus olhos se cansavam facilmente no trabalho que ele retomou em seguida Com algumas oscilações seu estado ficou sendo este durante três anos até que há sete semanas uma nova agitação causou uma mudança para pior O paciente foi acusado de roubo por uma mulher teve palpitações violentas e por uns quinze dias esteve tão deprimido que pensou em suicídio ao mesmo tempo um tremor muito intenso tomou conta de seus membros esquerdos A metade esquerda de seu corpo ficou como se tivesse sido afetada por um pequeno acidente cerebral seus olhos se enfraqueceram muito e freqüentemente faziamno ver tudo cinza seu sono era interrompido por aparições terrificantes e sonhos nos quais pensava estar caindo de uma grande altura começaram a surgir dores no lado esquerdo da garganta na virilha esquerda na região sacra e em outras áreas seu estômago com freqüência estava como se tivesse estourado e ele se viu obrigado a parar de trabalhar Outra piora em todos esses sintomas data da última semana Além disso o paciente está sujeito a dores violentas no joelho esquerdo e na planta do pé esquerdo quando caminha durante algum tempo tem uma sensação peculiar na garganta como se a língua estivesse presa ouve freqüentes zumbidos nos ouvidos e outras coisas dessa natureza Sua memória está prejudicada quanto aos acontecimentos ocorridos durante sua doença quanto aos eventos anteriores à doença porém não apresenta problemas Os ataques sob forma O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 24 de convulsões repetiramse de seis a nove vezes durante os três anos contudo a maior parte deles foi muito benigna somente um ataque à noite no último mês de agosto acompanhouse de agitação com bastante gravidade Agora examinemos o paciente um homem bastante pálido de compleição média O exame de seus órgãos internos nada revela de patológico exceto bulhas cardíacas abafadas Quando comprimo o ponto de saída dos nervos supraorbital infraorbital ou do mento do lado esquerdo o paciente volta a cabeça com uma expressão de dor intensa Podemos portanto supor que há uma alteração nevrálgica no trigêmeo esquerdo Também a abóbada craniana é muito sensível à percussão na sua metade esquerda A pele da metade esquerda da cabeça comportase no entanto de modo muito diferente do que esperávamos está completamente insensível a estímulos de qualquer espécie Posso aplicarlhe alfinetadas beliscála torcer o lobo da orelha entre meus dedos sem que o paciente chegue sequer a perceber o contato Aqui pois existe um grau muito elevado de anestesia esta contudo atinge não só a pele como também as membranas mucosas conforme lhes mostrarei no caso dos lábios e da língua do paciente Se introduzo um rolinho de papel em seu canal auditivo externo esquerdo e depois em sua narina esquerda não se produz nenhuma reação Repito agora a experiência no lado direito e mostro que aqui a sensibilidade do paciente é normal Em consonância com a anestesia os reflexos sensoriais também estão abolidos ou diminuídos Assim posso introduzir meu dedo e tocar todos os tecidos faríngeos do lado esquerdo sem que resultem ânsias de vômito os reflexos faríngeos do lado direito contudo também se encontram diminuídos apenas quando toco a epiglote no lado direito é que se dá uma reação O toque da conjuntiva palpebral e ocular mal produz o fechamento das pálpebras por outro lado o reflexo corneano está presente embora muito reduzido Aliás os reflexos conjuntival e corneano do lado direito também estão diminuídos embora em grau menor e esse comportamento dos reflexos é suficiente para me possibilitar a conclusão de que os distúrbios da visão não se limitam necessariamente a um olho o esquerdo E realmente quando pela primeira vez examinei o paciente ele mostrava em ambos os olhos a peculiar poliopia monocular dos pacientes histéricos e distúrbios da sensibilidade às cores Com o olho direito reconhecia todas as cores exceto o roxo que dizia ser cinzento com o olho esquerdo reconhecia apenas o vermelhoclaro e o amareloclaro ao passo que considerava todas as outras cores como cinzento quando eram claras e como preto quando escuras O Dr Konigstein teve a gentileza de submeter o paciente a um minucioso exame oftalmológico e posteriormente relatará suas conclusões Ver em 1 Passando aos outros órgãos dos sentidos o olfato e o paladar estão inteiramente anulados no lado esquerdo Somente a audição foi poupada da hemianestesia cerebral Convém lembrar que a acuidade do ouvido direito ficou seriamente prejudicada desde que o paciente sofreu um acidente aos oito anos de idade seu ouvido esquerdo é o melhor a redução da audição nele presente é segundo uma gentil comunicação do Professor Gruber suficientemente explicada por uma visível e substancial afecção da membrana timpânica Se procedermos agora a um exame do tronco e dos membros verificaremos também uma anestesia absoluta sobretudo no braço esquerdo Como vêem consigo espetar a ponta de uma agulha numa dobra da pele sem que o paciente reaja As estruturas profundas músculos ligamentos e articulações também devem O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 25 estar insensíveis em grau igualmente elevado pois posso mover a articulação do punho e estirar os ligamentos sem provocar qualquer sensação no paciente É consoante com essa anestesia das estruturas profundas o fato de que o paciente quando seus olhos são vendados também não tem noção da posição do seu braço esquerdo no espaço nem de qualquer movimento que executo com ele Passo uma venda em seus olhos e depois lhe pergunto o que fiz com sua mão esquerda Ele não consegue dizer Peçolhe que com a mão direita segure o polegar o cotovelo ou o ombro esquerdos Ele tateia às cegas confunde sua própria mão com a minha que lhe estendo e então admite que não sabe a quem pertence a mão que segurou Deve ser particularmente interessante descobrir se o paciente é capaz de encontrar as partes da metade esquerda de sua face Seria de supor que isso não lhe oferecesse quaisquer dificuldades pois afinal a metade esquerda do rosto está digamos firmemente cimentada à metade direita intacta Mas a experiência mostra o contrário O paciente erra o alvo no olho esquerdo no lobo da orelha esquerda e assim por diante na verdade parece sairse pior ao tatear com a mão direita as partes anestesiadas do rosto do que se estivesse tocando uma parte do corpo de alguma outra pessoa A causa disso não é uma perturbação na mão direita que ele está usando para apalpar pois os senhores podem ver com que certeza e rapidez ele encontra os pontos em que lhe digo para tocar a metade direita do rosto A mesma anestesia está presente no tronco e na perna esquerda Observamos aí que a perda das sensações tem seu limite na linha média ou se estende um pouco além desta Para mim parece haver um interesse especial na análise dos distúrbios do movimento que o paciente mostra em seus membros anestesiados Acredito que esses distúrbios do movimento devam ser atribuídos inteira e unicamente à anestesia Certamente não existe paralisia do braço esquerdo por exemplo Um braço paralisado ou cai flacidamente ou se mantém rígido devido às contraturas em posições forçadas Aqui a coisa se passa de modo diverso Se eu vendar os olhos do paciente seu braço esquerdo permanecerá na posição que tinha assumido anteriormente Os distúrbios da mobilidade são mutáveis e dependem de diversas condições Em primeiro lugar aqueles dentre os senhores que tiverem notado como o paciente se despiu com ambas as mãos e como fechou sua narina esquerda com os dedos da mão esquerda não terão tido a impressão de qualquer distúrbio grave do movimento A um exame mais acurado verificarseá que o braço esquerdo em especial os dedos são movimentados mais lentamente e com menos habilidade como se estivessem entorpecidos e com um leve tremor Todos os movimentos até os mais complicados são todavia executados e isso acontece sempre que a atenção do paciente é desviada dos órgãos do movimento e dirigida unicamente para o objetivo do movimento As coisas se passam diversamente quando lhe peço que efetue movimentos isolados com o braço esquerdo sem qualquer objetivo mais remoto como por exemplo dobrar o braço na articulação do cotovelo enquanto segue o movimento com os olhos Nesse caso seu braço esquerdo parece muito mais inibido do que antes o movimento é feito com muita lentidão incompletamente em estágios diferentes como se houvesse uma grande resistência a ser vencida e é acompanhado de um nítido tremor Os movimentos dos dedos são extraordinariamente débeis nessas circunstâncias Uma terceira espécie da perturbação do movimento a mais grave surge finalmente quando o paciente é solicitado a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 26 efetuar movimentos isolados com os olhos fechados Por certo algo se passa no membro que está absolutamente anestesiado pois como vêem a inervação motora é independente de qualquer informação sensitiva do tipo que normalmente procede de um membro que vai ser movimentado esse movimento no entanto é mínimo de modo algum dirigido a um determinado segmento e não determinável quanto à sua direção por parte do paciente Não suponham porém que esse último tipo de perturbação do movimento seja uma conseqüência necessária da anestesia é precisamente com relação a esse aspecto que se encontram marcantes diferenças individuais Observamos no Salpêtrière pacientes com anestesias que de olhos fechados conservam um controle muito mais acentuado de membros que tivessem sido eliminados da consciência A mesma influência da atenção desviada e do olhar aplicase à perna esquerda Hoje durante pelo menos uma hora o paciente caminhou a meu lado pelas ruas a passos rápidos sem olhar para seus pés enquanto andava E tudo o que pude notar foi que pisava com o pé esquerdo girandoo um pouco para fora e que muitas vezes arrastavao pelo chão Mas quando lhe ordeno que ande ele tem que acompanhar com os olhos cada movimento da perna anestesiada e o movimento fazse lento e hesitante cansandoo com muita facilidade Por fim com os olhos fechados ele caminha completamente inseguro e se desloca mantendo ambos os pés em contato com o chão como faria qualquer um de nós se caminhasse no escuro em local desconhecido Ele também tem grande dificuldade em permanecer de pé apenas sobre a perna esquerda quando fecha os olhos nessa posição cai imediatamente ao chão Prosseguirei com a descrição do comportamento de seus reflexos Estes são em geral mais vivos do que o normal e além disso mostram pequena coerência entre si Os reflexos do tríceps e do extensor são efetivamente mais vivos na extremidade direita não anestesiada O reflexo patelar parece mais vivo na esquerda o reflexo do tendão de Aquiles é igual em ambos os ladosTambém é possível obter uma discreta reação patelar mais nitidamente observável à direita Os reflexos do cremaster estão ausentes por outro lado os reflexos abdominais são rápidos sendo que o esquerdo está intensamente aumentado de modo que o mais leve toque numa área da pele do abdômen provoca uma contração máxima do músculo retoabdominal esquerdo Em conjugação com uma hemianestesia histérica nosso paciente mostra tanto espontaneamente como sob pressão áreas dolorosas nesse lado do corpo que é em outros aspectos o lado insensível o que se conhece como zonas histerógenas embora nesse caso sua conexão com a provocação dos ataques não seja acentuada Assim o nervo trigêmeo cujos ramos terminais como lhes mostrei anteriormente são sensíveis à pressão é a sede de uma zona histerógena desse tipo também o são uma estreita área na fossa cervical média esquerda uma faixa mais larga na parede esquerda do tórax onde a pele também é sempre sensível a parte lombar da coluna e a parte mediana do osso sacro a pele é sensível também sobre a porção anterior dessas Finalmente o cordão espermático esquerdo está muito sensível à dor e essa zona se prolonga no trajeto do cordão espermático pela cavidade abdominal até a área que nas mulheres freqüentemente é sede da ovaralgia Devo acrescentar dois comentários referentes aos desvios que nosso caso apresenta em relação ao O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 27 quadro típico da hemianestesia histérica O primeiro diz respeito ao fato de que o lado direito do corpo do paciente também não está livre da anestesia ainda que não seja em grau intenso e pareça afetar apenas a pele Há portanto uma zona de diminuição da sensitividade à dor e à temperatura sobre a saliência do ombro direito uma outra estendese em forma de faixa ao redor da extremidade distal do antebraço a perna direita apresenta hipoestesia no lado externo da coxa e na panturrilha Um segundo comentário referese ao fato de que a hemianestesia de nosso paciente mostra muito nitidamente a característica da instabilidade Assim num teste para sensitividade elétrica contrariando minha expectativa tornei sensível uma área de pele no cotovelo esquerdo e testes repetidos mostraram que a extensão das zonas dolorosas do tronco e as perturbações do sentido da visão oscilavam de intensidade É nessa instabilidade do distúrbio da sensitividade que baseio minha esperança de ser capaz de restaurar a sensitividade normal do paciente dentro de pouco tempo DUAS BREVES RESENHAS RESENHA DE DIE AKUTE NEURASTHENIE DE AVERBECK A insuficiência da chamada formação médica adquirida em nossos hospitais diante das necessidades dos médicos clínicos revelase com maior nitidez talvez a partir do exemplo da neurastenia Esse estado patológico do sistema nervoso seguramente pode ser classificado como a mais comum de todas as doenças em nossa sociedade complica e agrava muitíssimo outros quadros clínicos em pacientes das melhores classes sendo ainda praticamente desconhecido dos médicos de boa formação científica ou tido por eles como apenas um nome moderno com conteúdo arbitrariamente constituído A neurastenia não é um quadro clínico no sentido dos manuais que se baseiam com demasiada exclusividade na anatomia patológica de preferência deve ser descrita como um modo de reação do sistema nervoso Mereceria a máxima atenção da parte dos médicos que trabalham cientificamente atenção não menor do que a já demonstrada pelos médicos que trabalham como terapeutas pelos diretores de sanatórios etc Devese portanto recomendar a círculos mais amplos esse breve trabalho em virtude de suas descrições oportunas intencionalmente veementes e de suas proposições e observações referentes às condições sociais Estas como suspeita seu O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 28 autor nem sempre encontrarão a concordância de seus colegas embora o trabalho venha a despertar o interesse deles em todas as áreas Sua observação sobre o serviço militar obrigatório como cura para os males da vida civilizada e sua proposição de que se deve possibilitar uma recuperação periódica para os trabalhadores da classe média em épocas de boa saúde por intermédio da assistência do Estado estas estão abertas a múltiplas objeções Contudo devese admitir que o livreto trata imaginativamente de importantes questões relativas à assistência médica DR SIGM FREUD RESENHA DE DIE BEHADLUNG GEWISSER FORMEN VON NEURASTHENIE UND HYSTERIE DE WEIR MITCHELL O método terapêutico proposto por Weir Mitchell originalíssimo especialista em doenças nervosas de Filadélfia foi recomendado na Alemanha pela primeira vez por Burkart e teve pleno reconhecimento durante o ano passado numa conferência proferida por Leyden Esse método combinando repouso no leito isolamento alimentação abundante massagem e eletricidade de forma estritamente controlada supera os estados de exaustão nervosa graves e de longa duração É também Leyden o responsável pela consecução da tradução desse pequeno livro Ele contém os mais valiosos conselhos para a seleção de casos adequados ao tratamento em questão e algumas observações interessantes sobre a atuação das diferentes forças terapêuticas que compõem o tratamento de Wier Mitchell Sem dúvida trará a todos os médicos uma ampliação de seus conhecimentos A ordenação especificamente inglesa das frases e pensamentos talvez tenha sido preservada com demasiada exatidão na tradução Os termos histeria e histérico são empregados quase sempre no sentido vulgar e não no sentido científico dessa palavra tão deturpada DR SIGM FREUD O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 29 HISTERIA 1888 NOTA DO EDITOR INGLÊS HYSTERIE a EDIÇÕES ALEMÃS 1888 Em Handwörterbuch der gesamten Medizin org de A Villaret Stuttgart 1 88692 1953 Psyche 7 9 486500 A presente tradução de James Strachey parece ser a primeira para o inglês Em duas das cartas que escreveu a Fliess publicadas nos Anfänge 1950a datadas de 28 de maio Carta 4 e 29 de agosto Carta 5 de 1888 e implicitamente numa terceira de 24 de novembro de 1887 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 30 Carta 1 Freud fala de suas contribuições à enciclopédia de Villaret obra publicada em dois volumes 1888 e 1891 De vez que os verbetes na Villaret não levam assinatura não é possível ter completa certeza da autoria deles O próprio Freud especifica apenas um deles nessas cartas o que trata de anatomia cerebral e queixase de que sofreu muitos cortes contudo em seu Estudo Autobiográfico 1925d menciona também um verbete sobre a afasia Edição Standard Brasileira Vol XX 1 IMAGO Editora 1976 Os organizadores dos Anfänge sugerem ainda que os verbetes sobre as lesões cerebrais infantis e sobre as paralisias poderiam ser atribuídos a ele e com maior convicção incluem como sendo provavelmente de Freud o que se refere à histeria que é apresentado a seguir A reimpressão em 1953 desse verbete em Psyche periódico de Stuttgart vem precedida de um breve artigo escrito pelo Professor Paul Vogel que faz um resumo admirável e convincente dos argumentos que fazem crer seja o verbete realmente da autoria de Freud Ninguém pode ter dúvidas quanto à sua autoria lendoo em conexão com os escritos contemporâneos de Freud À parte toda uma série de reproduções de pontos de vista expostos por Freud em outros trabalhos que levam sua assinatura existe um determinado aspecto que parece conclusivo Tratase de uma passagem quase na parte final em que o método catártico de tratamento é descrito explicitamente e atribuído a Breuer Nessa data 1888 o método de Breuer não tinha sido publicado nem por ele próprio nem por outra pessoa Sua primeira publicação deuse na Comunicação Preliminar de Breuer e Freud mais de quatro anos depois 1893a Freud segundo ele próprio nos relata 1925d Edição Standard Brasileira Vol XX 1 IMAGO Editora 1976 há muito gozava da confiança de Breuer e tinha tomado conhecimento de seu método ainda antes de ir a Paris em 1885 Assim a autoria de Freud pode ser dada como estabelecida O verbete em seu conjunto mostra Freud ainda seguindo fielmente as doutrinas de Charcot na sua descrição da histeria embora sem levar em conta a referência a Breuer haja duas ou três passagens especialmente no final do verbete em que existem claros sinais de uma atitude mais independente HISTERIA HISTERIA útero hystérie em francês hysterics sicem inglês isteria f isterismo m em italiano I HISTÓRIA O nome histeria tem origem nos primórdios da medicina e resulta do preconceito superado somente nos dias atuais que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino Na Idade Média as neuroses desempenharam um papel significativo na história da civilização surgiam sob a forma de epidemias em conseqüência de contágio psíquico e estavam na origem do que era fatual na história da possessão e da feitiçaria Alguns documentos daquela época provam que sua sintomatologia não sofreu modificação até os dias atuais Uma abordagem adequada e uma melhor compreensão da doença tiveram início apenas com os trabalhos de Charcot e da escola do Salpêtrière inspirada por ele Até essa época a histeria tinha sido a bête noire da medicina Os pobres histéricos que em O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 31 séculos anteriores tinham sido lançados à fogueira ou exorcizados em épocas recentes e esclarecidas estavam sujeitos à maldição do ridículo seu estado era tido como indigno de observação clínica como se fosse simulação e exagero A histeria é uma neurose no mais estrito sentido da palavra quer dizer não só não foram achadas nessa doença alterações perceptíveis do sistema nervoso como também não se espera que qualquer aperfeiçoamento das técnicas de anatomia venha a revelar alguma dessas alterações A histeria baseiase total e inteiramente em modificações fisiológicas do sistema nervoso sua essência deve ser expressa numa fórmula que leve em consideração as condições de excitabilidade nas diferentes partes do sistema nervoso Uma fórmula fisiopatológica desse tipo no entanto ainda não foi descoberta por enquanto devemonos contentar em definir a neurose de um modo puramente nosográfico pela totalidade dos sintomas que ela apresenta da mesma forma como a doença de Graves se caracteriza por um grupo de sintomas exoftalmia bócio tremor aceleração do pulso e alteração psíquica sem qualquer consideração relativa a alguma conexão mais íntima entre esses fenômenos II DEFINIÇÃO As autoridades alemãs assim como as inglesas ainda hoje têm o hábito de distribuir caprichosamente as descrições histeriae histérico e de agrupar indiscriminadamente a histeria com os estados nervosos em geral a neurastenia muitos dos estados psicóticos e muitas neuroses que ainda não foram retiradas do caos das doenças nervosas Charcot pelo contrário sustenta com firmeza a opinião de que a histeria é um quadro clínico nitidamente circunscrito e bem definido que pode ser reconhecido com bastante clareza nos casos extremos daquilo que se conhece como grande hystérie grande histeria ou histeroepilepsia A histeria cobre também as formas mais brandas e rudimentares que ocorrem numa série que abrange toda uma gradação desde o tipo da grande hystérie até o tipo normal A histeria é fundamentalmente diferente da neurastenia e na verdade estritamente falando é o contrário desta III SINTOMATOLOGIA A sintomatologia da grande histeria extremamente rica mas nem por isso anárquica compõese de uma série de sintomas que incluem os seguintes 1 Ataques convulsivos Estes são precedidos de uma aura peculiar pressão no epigástrio constrição na garganta latejamento nas têmporas zumbido nos ouvidos ou partes desse complexo de sensações Essas sensaçõesaura como são chamadas também surgem nos pacientes histéricos como sintomas isolados ou representam em si mesmas um ataque É especialmente conhecido o globus hystericus uma sensação atribuível aos espasmos da faringe como se uma bola estivesse subindo do epigástrio para a garganta Um ataque propriamente dito quando completo apresenta três fases A primeira epileptóide assemelhase a um ataque epiléptico unilateral A segunda fase a dos grands mouvements apresenta movimentos de salamaleque atitudes em arco arc de cercle contorções e outros A força desenvolvida nesses ataques é com freqüência muito grande Para diferençar esses movimentos de um ataque epiléptico devese observar que os movimentos histéricos sempre são executados com certa correção e de modo coordenado o que contrasta nitidamente com a cega brutalidade dos espasmos epilépticos Além disso O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 32 mesmo nas convulsões histéricas mais violentas geralmente se evitam os ferimentos comparativamente graves A terceira fase a fase alucinatória do ataque histérico a das attitudes passionelles distinguese pelas atitudes e posturas que sugerem cenas de movimento passional que o paciente alucina e freqüentemente acompanha com as palavras correspondentes Durante todo o ataque a consciência pode conservarse ou se perder mais freqüentemente ocorre a última dessas possibilidades Os ataques do tipo descrito seguemse freqüentemente uns aos outros em série de modo que o ataque inteiro pode durar diversas horas ou dias É insignificante a elevação de temperatura durante os mesmos em contraste com o que acontece na epilepsia Cada fase do ataque ou cada parte separada de uma fase pode estar isolada e pode representar o ataque em casos rudimentares Naturalmente os ataques abreviados desse tipo são encontrados com freqüência incomparavelmente maior do que os ataques completos Possuem especial interesse ataques histéricos que em lugar das três fases exibem um coma que surge de maneira apoplectiforme os chamados ataques de sommeil ataques de sono Esse coma pode assemelharse ao sono natural ou acompanharse de tamanha diminuição da respiração e da circulação a ponto de ser confundido com a morte Existem casos autênticos de estados dessa espécie que duram semanas e meses nesse sono prolongado a nutrição corporal diminui gradualmente mas não há risco de vida Em cerca de um terço dos casos de histeria o sintoma dos ataques o mais característico está ausente 2 Zonas histerógenas Em íntima conexão com os ataques encontramos as chamadas zonas histerógenas áreas supersensíveis do corpo nas quais um leve estímulo desencadeia um ataque cuja aura muitas vezes começa por uma sensação proveniente dessa área Tais áreas podem situarse na pele nas partes profundas nos ossos nas membranas mucosas até mesmo nos órgãos dos sentidos São encontradas com maior freqüência no tronco do que nos membros e têm preferência por determinados locais por exemplo nas mulheres e mesmo nos homens numa área da parede abdominal correspondente aos ovários na região coronária do crânio e na região inframamária e nos homens nos testículos e no cordão espermático A pressão nessas áreas desencadeia com freqüência não uma convulsão mas sim sensaçõesaura A partir de muitas das zonas histerógenas também é possível exercer uma influência inibidora sobre os ataques convulsivos uma vigorosa pressão sobre a área ovariana por exemplo desperta muitas pacientes no meio de um ataque histérico ou de um sono histérico No caso dessas pacientes podese fazer a prevenção de um ataque ameaçador fazendoas usar um cinto semelhante auma funda para hérnia cuja almofada comprima a área ovariana As zonas histerógenas às vezes são numerosas às vezes poucas e podem ser unilaterais ou bilaterais 3 Distúrbios da sensibilidade Estes são os sinais mais freqüentes da neurose e os mais importantes do ponto de vista diagnóstico Persistem mesmo durante os períodos de remissão e são os mais importantes porque os distúrbios da sensibilidade desempenham um papel relativamente pequeno nas doenças cerebrais orgânicas Consistem em anestesia ou hiperestesia e apresentam quanto à extensão e ao grau de intensidade uma variabilidade não observada em nenhuma outra doença A anestesia pode afetar a pele as membranas mucosas os ossos os músculos e nervos os órgãos dos sentidos e os intestinos contudo o mais comum é a anestesia da pele No caso da anestesia histérica da pele todas as diferentes espécies de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 33 sensações da pele podem ser dissociadas e comportarse de forma muito independente umas das outras A anestesia pode ser total ou atingir apenas a sensação de dor analgesia que é a mais comum ou apenas as sensações de temperatura pressão ou eletricidade ou a sensibilidade muscular Só uma possibilidade não se concretiza na histeria uma diminuição do sentido do tato enquanto as outras propriedades são mantidas Por outro lado pode ocorrer que as sensações puramente táteis dêem origem a uma sensação de dor alfalgesia Muitas vezes a anestesia histérica atinge um grau tão elevado que a mais potente faradização dos troncos nervosos não produz qualquer reação sensorial Quanto à extensão a anestesia pode ser total em casos raros pode afetar toda a superfície da pele e a maioria dos órgãos dos sentidos Com maior freqüência no entanto tratase de uma hemianestesia como a que é produzida por uma lesão da cápsula interna distinguese porém da hemianestesia devida a doença orgânica pelo fato de que geralmente ultrapassa a linha média em algum ponto por exemplo inclui a língua a laringe ou os genitais como um todo e os olhos não são afetados sob a forma de hemianopsia e sim de ambliopia ou amaurose em um olho Ademais a hemianestesia histérica apresenta maior variabilidade na forma como se distribui pode acontecer que um dos órgãos dos sentidos ou um órgão localizado no lado anestesiado escape inteiramente à anestesia e qualquer área sensível no quadro da hemianestesia pode ser substituída pela área simétrica do outro lado transfert espontâneo ver em 1 Por fim a anestesia histérica pode surgir em focos disseminados unilaterais ou bilaterais ou simplesmente em determinadas áreas de forma monoplégica nos membros ou em áreas situadas sobre órgãos internos atingidos por alguma doença faringe estômago etc Em todas essas relações ela pode ser substituída pela hiperestesia No caso da anestesia histérica os reflexos sensoriais ficam geralmente diminuídos como por exemplo o reflexo conjuntival o do espirro e o faringiano os reflexos vitais da córnea e da glote são porém mantidos Os reflexos vasomotores e a dilatação pupilar mediante estimulação da pele não são interrompidos sequer no caso do mais elevado grau de anestesia A anestesia histérica é sempre um sintoma a ser pesquisado pelo médico de vez que na maior parte dos casos mesmo quando tem ampla extensão e grande gravidade geralmente escapa totalmente à percepção do paciente Em contraste com a anestesia orgânica devese enfatizar que os distúrbios histéricos da sensibilidade a rigor não prejudicam os pacientes em nenhuma atividade motora As áreas da pele que estão histericamente anestesiadas caracterizamse com freqüência por anemia local e não sangram quando picadas isso é apenas uma complicação não constituindo porém condição necessária da anestesia É possível separar artificialmente os dois fenômenos um do outro Freqüentemente existe uma relação recíproca entre a anestesia e as zonas histerógenas como se toda a sensibilidade de uma parte relativamente grande do corpo estivesse comprimida numa única zona Os distúrbios da sensibilidade são os sintomas nos quais é possível basear um diagnóstico de histeria mesmo nas suas formas mais rudimentares Na Idade Média a descoberta de áreas anestésicas e nãohemorrágicas sigmata Diaboli era considerada prova de feitiçaria 4 Distúrbios da atividade sensorial Estes podem afetar todos os órgãos dos sentidos e podem aparecer simultaneamente com ou independentemente de modificações na sensibilidade da pele O distúrbio O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 34 histérico da visão consiste em amaurose ou ambliopia unilaterais ou ambliopia bilateral mas nunca em hemianopsia Seus sintomas são fundo de olho normal ao exame ausência do reflexo conjuntival reflexo corneano diminuído estreitamento concêntrico do campo visual redução da percepção luminosa e acromatopsia No caso do último sintoma citado a sensibilidade ao roxo é a primeira a ser perdida e a sensibilidade ao vermelho ou ao azul é a que persiste por mais tempo Os fenômenos não se coadunam com nenhuma teoria do daltonismo as diferentes sensibilidades às cores comportamse independentemente umas das outras São freqüentes os distúrbios da acomodação assim como as falsas conclusões deles resultantes Os objetos que se aproximam do olho e que dele se afastam são vistos em tamanhos diferentes e duplicados ou multiplicados diplopia monocular com macropsia ou micropsia A surdez histérica raramente é bilateral é com muita freqüência mais ou menos completa combinada com anestesia do pavilhão da orelha do canal auditivo e atémesmo da membrana do tímpano Quando existe distúrbio histérico do paladar e também do olfato via de regra é possível encontrar anestesia das regiões da pele e da membrana mucosa pertencentes aos órgãos desses sentidos São freqüentes em pacientes histéricos a parestesia e a hiperestesia dos órgãos inferiores dos sentidos às vezes há uma extraordinária exacerbação da atividade sensória especialmente do olfato e da audição 5 Paralisias As paralisias histéricas são mais raras do que a anestesia e quase sempre acompanhadas de anestesia da parte do corpo paralisada ao passo que nas doenças orgânicas os distúrbios da motilidade predominam e surgem independentemente da anestesia As paralisias histéricas não levam em conta a estrutura anatômica do sistema nervoso a qual conforme se sabe evidenciase da maneira mais inequívoca na distribuição das paralisias orgânicas Acima de tudo não existem paralisias histéricas que se possam equiparar às paralisias periféricas do facial do radial ou do denteado isto é que abranjam grupos de músculos ou de músculos e pele agrupados segundo a inervação anatômica comum As paralisias histéricas só são comparáveis às paralisias corticais porém se distinguem destas por múltiplos aspectos Assim existe a hemiplegia histérica na qual entretanto são atingidos somente o braço e a perna do mesmo lado não existe paralisia facial histérica Quando muito além da paralisia dos membros pode haver uma contratura dos músculos faciais e da língua situada às vezes no lado da paralisia e às vezes no lado oposto e manifestada entre outras coisas por um excessivo desvio da língua Uma outra característica que distingue a hemiplegia histérica é o fato de que a perna paralisada não se movimenta na articulação da coxa em circundução mas é arrastada como um apêndice morto A hemiplegia histérica sempre está ligada a uma hemianestesia que em geral é de intensidade comparativamente grave Além disso na histeria encontramos paralisia de um braço ou de uma perna independentemente ou de ambas as pernas paraplegia Nesse último caso a paralisia do intestino e da bexiga pode acompanhar a anestesia das pernas e por conseguinte o quadro clínico pode vir a se assemelhar de perto a uma paraplegia medular E mais a paralisia em vez de se estender a um membro em todas as suas partes pode afetar segmentos do mesmo mão ombro cotovelo etc Com relação a isso não há preferência para a parte distal ao passo que é característico de uma paralisia orgânica ser esta sempre mais marcada na porção distal de um membro do que nas partes proximais No caso de paralisia parcial de um membro a anestesia geralmente obedece aos mesmos limites que a paralisia e é circunscrita por linhas que O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 35 fazem ângulos retos com o eixo longitudinal do membro Na paralisia histérica das pernas o triângulo de pele situado entre os músculos glúteos correspondente ao nervo sacro não é afetado pela anestesia Em todas essas paralisias estão ausentes os fenômenos da degeneração descendente por mais que durem as paralisias muitas vezes há uma intensa flacidez muscular e o comportamento dos reflexos é inconstante por outro lado os membros paralisados podem atrofiarse e realmente sucumbem a uma atrofia que se desenvolve muito rapidamente logo atinge uma parada e não se faz acompanhar por nenhuma alteração na excitabilidade elétrica Às paralisias dos membros devese acrescentar a afasia histérica ou mais corretamente a mudez que consiste numa incapacidade de produzir qualquer som articulado ou mesmo de executar movimentos da fala sem voz É sempre acompanhada de afonia que também pode ocorrer isoladamente nesses casos a capacidade de escrever é conservada e até mesmo aumentada As demais paralisias motoras encontradas na histeria não podem ser relacionadas a partes do corpo mas apenas a funções como por exemplo astasia e abasia incapacidade de andar e de manterse de pé isto ocorre enquanto as pernas mantêm sua sensibilidade sua força total e a capacidade de executar qualquer tipo de movimento quando em posição horizontal uma separação das funções dos mesmos músculos não encontrada nas lesões orgânicas Todas as paralisias histéricas distinguemse pelo fato de que podem ser da maior gravidade mas ao mesmo tempo limitamse nitidamente a uma determinada parte do corpo ao passo que as paralisias orgânicas via de regra estendemse por uma área maior à medida que sua gravidade aumenta 6 Contraturas Nas formas mais graves de histeria há uma tendência geral no sentido de o aparelho reagir a pequenos estímulos através de contratura diathèse de contracture Para isso pode ser suficiente a simples aplicação de uma faixa de Esmarch As contraturas dessa espécie também ocorrem com freqüência em casos graves e nos músculos mais variados Nos membros elas se caracterizam por sua excessiva intensidade e podem ocorrer em qualquer posição o que não se explica pela estimulação de determinados troncos nervosos Apresentam uma persistência incomum não relaxam com o sono como ocorre com as contraturas orgânicas e não se consegue modificar sua intensidade mediante excitação temperatura etc Somente cedem com a narcose mais profunda e recobram sua intensidade total quando o paciente acorda As contraturas musculares são muito freqüentes nos outros órgãos nos órgãos dos sentidos nos intestinos e num grande número de casos também constituem o mecanismo pelo qual a função fica suspensa nas paralisias A tendência aos espasmos clônicos também aumenta muito na histeria 7 Características gerais A sintomatologia da histeria tem uma série de características gerais conhecêlas é importante tanto para o diagnóstico como para a compreensão da histeria As manifestações histéricas têm preferentemente a característica de serem exageradas uma dor histérica é descrita pelos pacientes como extremamente dolorosa uma anestesia e uma paralisia podem com facilidade tornarse absolutas uma contratura histérica causa a maior retração de que um músculo é capaz Ao mesmo tempo qualquer sintoma particular pode ocorrer por assim dizer isoladamente a anestesia e a paralisia não se acompanham dos fenômenos gerais que no caso das lesões orgânicas evidenciam a afecção cerebral e que no geral devido a sua importância obscurecem os sintomas localizados Muito próximo de uma área de pele absolutamente insensível poderá haver uma outra área de sensibilidade absolutamente normal O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 36 Concomitantemente com um braço completamente paralisado poderá haver do mesmo lado uma perna perfeitamente intacta É especialmente característico da histeria que seja um distúrbio ao mesmo tempo desenvolvido no mais alto grau e limitado da maneira mais nítida Ademais os sintomas histéricos mudam de uma forma que de saída exclui qualquer suspeita de lesão orgânica Essa mutabilidade dos sintomas realizase ou espontaneamente por exemplo depois de ataques convulsivos que muitas vezes alteram a distribuição da paralisia e da anestesia ou as interrompem ou por influência artificial dos chamados métodos estesiogênicos tais como a eletricidade a aplicação de metais o emprego de irritantes cutâneos ímãs etc Esse último método de influência parece extremamente notável tendo em vista o fato de que um sistema nervoso histérico oferece em regra geral uma grande resistência à influência química por meio da medicação interna e reage de forma decididamente refratária aos narcóticos como a morfina e o hidrato de cloral Entre os meios capazes de remover os sintomas histéricos cabe mencionar com especial ênfase a influência da excitação e da sugestão hipnótica esta última porque atinge diretamente o mecanismo dos distúrbios histéricos e não se pode suspeitar que produza nenhum outro efeito além dos efeitos psíquicos Quando os sintomas histéricos mudam algumas circunstâncias marcantes entram em jogo Pelo uso de métodos estesiogênicos é possível transferir uma anestesia uma paralisia uma contratura um tremor etc para a área simétrica da outra metade do corpo transfert enquanto a área originalmente afetada se normaliza Desse modo a histeria fornece provas da relação simétrica havendo ademais indícios de que tal relação desempenha um papel também nos estados fisiológicos tal como em geral as neuroses não criam nada de novo mas simplesmente desenvolvem e exageram as relações fisiológicas Uma outra característica muito importante dos distúrbios histéricos é que estes de modo algum representam uma cópia das condições anatômicas do sistema nervoso Podese dizer que a histeria é tão ignorante da ciência da estrutura do sistema nervoso como nós o somos antes de têla aprendido Os sintomas de afecções orgânicas como se sabe refletem a anatomia do órgão central e são as fontes mais fidedignas de nosso conhecimento a respeito dele Por essa razão temos de descartar a idéia de que na origem da histeria esteja situada alguma possível doença orgânica e não devemos apelar para as influências vasomotoras espasmos vasculares como causa dos distúrbios histéricos Um espasmo vascular é em essência uma modificação orgânica cujo efeito é determinado pelas condições anatômicas difere da embolia por exemplo somente pelo fato de que não produz nenhuma alteração permanente Juntamente com os sintomas físicos da histeria podese observar toda uma série de distúrbios psíquicos nos quais futuramente serão sem dúvida encontradas as modificações características da histeria mas cuja análise até o momento mal começou Esses distúrbios psíquicos são alterações no curso e na associação de idéias inibições na atividade da vontade exagero e repressão dos sentimentos etc que podem ser resumidos como alterações na distribuição normal no sistema nervoso das quantidades estáveis de excitação Uma psicose no sentido psiquiátrico do termo não faz parte da histeria ainda que possa desenvolverse sobre a base do estado histérico nesse caso devendo ser considerada uma complicação Aquilo que popularmente se descreve como temperamento histérico instabilidade da vontade alterações do humor aumento da excitabilidade com diminuição de todos os sentimentos altruísticos pode estar presente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 37 na histeria mas não é absolutamente necessário para seu diagnóstico Existem casos graves de histerianos quais está inteiramente ausente uma alteração psíquica desse tipo muitos dos pacientes que pertencem a essa classe encontramse entre as pessoas mais amáveis e inteligentes de vontade muito forte que percebem nitidamente sua doença como algo alheio à sua natureza Os sintomas psíquicos têm sua significação dentro do quadro total da histeria mas não são mais constantes do que os diferentes sintomas físicos os estigmas Por outro lado as modificações psíquicas que devem ser assinaladas como o fundamento do estado histérico ocorrem inteiramente na esfera da atividade cerebral inconsciente automática Talvez ainda se possa acentuar que na histeria como em todas as neuroses aumenta a influência dos processos psíquicos sobre os processos físicos do organismo e que os pacientes histéricos funcionam com um excesso de excitação no sistema nervoso excesso que se manifesta ora como inibidor ora como irritante deslocandose com grande mobilidade dentro do sistema nervoso 1 A histeria deve ser considerada como um estado uma diátese nervosa que eclode de tempos em tempos A etiologia do status hystericus deve ser buscada inteiramente na hereditariedade os histéricos sempre têm uma disposição hereditária para perturbações da atividade nervosa entre seus parentes são encontrados epilépticos doentes mentais tabéticos etc A transmissão hereditária direta da histeria também é constatada e é a origem por exemplo do surgimento da histeria em meninos originária da mãe Comparados com o fator da hereditariedade todos os outros fatores situamse em lugar secundário e assumem o papel de causas incidentais cuja importância quase sempre é superestimada na prática As causas acidentais de histeria no entanto são importantes na medida em que desencadeiam o início de ataques histéricos de histerias agudas Como fatores capazes de propiciar o desenvolvimento de uma disposição histérica podem ser mencionados a criação cheia de mimos histeria em filhos únicos o despertar prematuro da atividade mental nas crianças excitamentos freqüentes e violentos Todas essas influências possuem igual tendência a produzir neuroses de outros tipos por exemplo neurastenia de forma que nisto fica flagrantemente demonstrada a influência decisiva da disposição hereditária Como fatores que fazem irromper a doença histérica aguda podem se citados trauma intoxicação chumbo álcool luto emoção comsumptiva tudo enfim capaz de exercer um efeito de natureza prejudicial Em outras ocasiões os estados histéricos muitas vezes são gerados por causas banais ou obscuras No que diz respeito ao que freqüentemente se considera como a influência preponderante das anormalidades na esfera sexual sobre o desenvolvimento da histeria devese dizer que no mais das vezes sua importância é superestimada Em primeiro lugar a histeria é encontrada em meninas e meninos sexualmente imaturos do mesmo modo como a neurose também ocorre com todas as suas características no sexo masculino embora muito mais raramente 120 Ademais a histeria tem sido constatada em mulheres que apresentam ausência total da genitália e todo médico deve ter verificado numerosos casos de histeria em mulheres cujos genitais não mostravam absolutamente nenhuma alteração anatômica do mesmo modo em contrapartida a maioria das mulheres com doenças dos órgãos sexuais não sofre de histeria Entretanto temse de admitir que as condições funcionalmente relacionadas à vida sexual desempenham importante papel na etiologia da histeria assim como na de todas as neuroses e isto se dá em virtude da elevada significação psíquica dessa função especialmente no sexo feminino O O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 38 trauma é uma causa incidental freqüente da doença histérica em dois sentidos primeiro porque a disposição histérica anteriormente não detectada pode manifestarse por ocasião de um trauma físico intenso que se acompanha de medo e perda momentânea da consciência em segundo lugar porque a parte do corpo afetada pelo trauma se torna sede de uma histeria local Assim por exemplo em pessoas histéricas a uma leve contusão da mão pode seguirse o desenvolvimento de uma contratura da mão ou em circunstâncias análogas podese desenvolver uma coxalgia dolorosa e assim por diante Para os cirurgiões é da maior importância ter um conhecimento mais íntimo dessas afecções rebeldes em casos dessa espécie uma intervenção cirúrgica não pode senão prejudicar O diagnóstico diferencial desses estados nem sempre é fácil especialmente quando eles envolvem articulações Os estados mórbidos causados por trauma geral grave acidentes ferroviários etc conhecidos como railway spine e railway brain são considerados histeria por Charcot com o que concordam os autores americanos com inquestionável autoridade nesse assunto Esses estados freqüentemente possuem a mais sombria e grave aparência apresentamse combinados com depressão e humor melancólico e mostram seja de que maneira for em numerosos casos uma combinação de sintomas histéricos com sintomas neurastênicos e orgânicos Charcot provou que também a encefalopatia conseqüente ao saturnismo está relacionada com a histeria e ademais que a anestesia comum nos alcoólatras não é uma doença à parte mas sim um sintoma de histeria Contudo opõese à idéia de estabelecer diferentes subespécies de histeria traumática alcoólica saturnina etc ele insiste em que a histeria é sempre a mesma e que simplesmente é provocada por uma série de diferentes causas incidentais Também na sífilis de instalação recente temse observado o surgimento de sintomas histéricos IV EVOLUÇÃO DA HISTERIA A histeria mais do que uma doença circunscrita representa uma anomalia constitucional Em geral seus primeiros sinais provavelmente aparecem na adolescência Na verdade as doenças histéricas mesmo as de gravidade considerável não são raridade em crianças entre seis e dez anos Em meninos e meninas de intensa disposicão histérica o período anterior e posterior à puberdade enseja um primeiro surto da neurose Na histeria infantil são encontrados os mesmos sintomas das neuroses dos adultos No entanto os estigmas quase sempre são mais raros em primeiro plano estão as alterações psíquicas os espasmos os ataques e as contraturas As crianças histéricas são com bastante freqüência precoces e altamente dotadas em numerosos casos a histeria é por certo simplesmente sintoma de profunda degeneração do sistema nervoso que se manifesta em perversão moral permanente Conforme se sabe a juventude dos quinze anos em diante é o período no qual a neurose histérica na maioria das vezes se mostra ativa em pessoas do sexo feminino Isto pode acontecer devido a uma sucessão ininterrupta de distúrbios relativamente leves histeria crônica ou devido a diversos surtos graves histeria aguda separados por intervalos livres que duram anos Em geral os primeiros anos de um casamento feliz interrompem a doença quando as relações conjugais se tornam mais frias e os nascimentos sucessivos acarretam um esvaziamento reaparece a neurose Nas mulheres com mais de quarenta anos a doença geralmente não apresenta fenômenos novos mas os antigos sintomas podem persistir e até mesmo numa idade avançada a doença pode intensificarse diante de provocações fortes Os homens em idade juvenil parecem particularmente suscetíveis O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 39 à histeria devida a trauma e intoxicação A histeria masculina tem a aparência de uma doença grave os sintomas que produz são quase sempre pertinazes a doença em homens de vez que tem a importância maior de provocar uma interrupção do trabalho tem também maior importância prática Também existe algo de característico a respeito do rumo que tomam os diferentes sintomas histéricos como as contraturas as paralisias etc Em alguns casos os sintomas isolados desaparecem espontaneamente com grande rapidez e dão lugar a outros igualmente transitórios em outros casos todos os fenômenos são dominados por grande fixidez As contraturas e paralisias muitas vezes podem durar anos e depois desaparecer inesperada e subitamente De modo geral não há limite para a curabilidade dos distúrbios histéricos é característico de uma função acometida de distúrbio depois de estar interrompida durante anos ser de repente restaurada em sua totalidade Por outro lado a evolução dos distúrbios histéricos muitas vezes exige uma espécie de incubação ou melhor um período de latência durante o qual a causa desencadeante continua atuando no inconsciente Assim é raro que uma paralisia histérica apareça imediatamente depois de um trauma as pessoas envolvidas num acidente de trem por exemplo são totalmente capazes de movimentarse após o trauma e vão para casa aparentemente incólumes somente alguns dias ou semanas depois é que se produzem os fenômenos que levam à conjectura de uma concussão da medula Assim também a recuperação que se opera bruscamente requer em geral um período de diversos dias para se desenvolver Em todo caso podese afirmar que a histeria nunca constitui grave risco de vida mesmo nas suas manifestações mais ameaçadoras Além disso nos próprios casos mais prolongados de histeria preservamse uma completa clareza intelectual e uma capacidade até para realizações nãocorriqueiras A histeria pode estar combinada com muitas outras doenças nervosas neuróticas e orgânicas e tais casos oferecem grandes dificuldades à análise A mais comum é a combinação da histeria com a neurastenia isto ocorre ou quando se tornam neurastênicas as pessoas cuja disposição histérica estáquase esgotada ou quando impressões agravantes desencadeiam ambas as neuroses simultaneamente Infelizmente a maioria dos médicos ainda não aprendeu a fazer a distinção entre essas duas neuroses Essa combinação é encontrada com muita freqüência em homens histéricos O sistema nervoso masculino tem uma disposição tão preponderante para a neurastenia como o feminino para a histeria Além disso também é superestimada a freqüência da histeria feminina a maioria das mulheres que os médicos supõem sejam histéricas são estritamente falando apenas neurastênicas Ademais a histeria local pode acompanhar doenças locais de órgãos isolados uma articulação que está realmente micótica pode se tornar sede de artralgia histérica um estômago com afecção catarral pode originar vômitos histéricos globus hystericus e anestesia ou hiperestesia da mucosa do epigástrio Nesses casos a doença orgânica tornase causa eventual da neurose As doenças febris geralmente interrompem o desenvolvimento da neurose histérica uma hemianestesia histérica regride na presença de febre V TRATAMENTO DA NEUROSE Esse assunto dificilmente pode ser abordado em poucas palavras Nenhuma outra doença dispõe o médico a fazer tantos milagres ou mostrarse tão impotente Do ponto de vista do tratamento devem ser destacadas três tarefas o tratamento da disposição histérica dos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 40 ataques histéricos histeria aguda e dos sintomas histéricos isolados histeria local O tratamento da disposição histérica proporciona ao médico uma certa liberdade de escolha dos métodos A disposição não pode ser eliminada mas podemse instituir medidas profiláticas tomandose cuidado para que os exercícios físicos e a higiene não sejam postos de lado em benefício exclusivo do trabalho intelectual podese aconselhar a não sobrecarregar de esforços o sistema nervoso podese tratar a anemia ou a clorose que parecem emprestar um apoio especial à tendência à neurose por fim podese não levar em conta a importância dos sintomas histéricos benignos Devese ter a cautela de não revelar com demasiada clareza o interesse na qualidade de médico por sintomas histéricos de pouca gravidade a fim de não incentiválos O trabalho intelectual sério ainda que árduo raramente causa histeria embora por outro lado esse reparo crítico possa ser endereçado à educação das melhores classes da sociedade que se empenha pelo cultivo exagerado do sentimento e da sensibilidade Nesse sentido os métodos das gerações anteriores de médicos que tratavam as manifestações histéricas nos jovens como mácriação e fraqueza da vontade e os ameaçavam com castigos não eram métodos ruins ainda que dificilmente estivessem baseados em concepções corretas No tratamento da neurose em crianças a proibição autoritária pode conseguir mais resultados do que qualquer outro método Na verdade esse tipo de tratamento não tem êxito algum quando aplicado à histeria de adultos ou a casos graves No tratamento de histerias agudas nas quais a neurose constantemente produz fenômenos novos o trabalho do médico é penoso é fácil cometer erros e os êxitos são raros A primeira condição para uma intervenção bemsucedida consiste quase sempre em remover o paciente de suas condições habituais e isolálo do círculo em que ocorreu o ataque Essas medidas não são por si mesmas benéficas mas possibilitam uma estrita observação médica e permitem ao médico dedicar ao paciente uma atenção cuidadosa sem a qual jamais terá êxito no tratamento da histeria Via de regra um homem histérico ou uma mulher histérica não constitui um único membro neurótico do círculo familiar O alarma ou o excesso de preocupação dos pais ou dos parentes só fazem aumentar a excitação ou a tendência do paciente quando nele existe uma modificação psíquica a exibir sintomas mais intensos Se por exemplo ocorre um ataque em determinada hora diversas vezes e sucessivamente esse ataque será aguardado pela mãe do paciente com regularidade na mesma hora ansiosamente perguntará ao filho se ele não está se sentindo mal com isso assegurando a repetição do evento temido São muito raros os casos em que se consegue induzir os parentes a enfrentarem os ataques histéricos de uma criança com calma e aparente indiferença em geral o convívio com a família deve ser substituído por um período de internação em casa de saúde e a isto os parentes geralmente oferecem maior resistência do que os próprios pacientes No sanatório as percepções deformadas do paciente diante da segurança amável e animadora do médico e sua convicção que logo se transferem para o paciente revelam que a neurose não é perigosa e pode ser curada rapidamente a evitação de toda excitação emocional que possa contribuir para um ataque histérico a aplicação de todo tipo de tratamentos revigorantes massagem faradização geral hidroterapia sob todas essas influências constatase que as mais graves histerias agudas que causaram ao paciente um total colapso físico e moral dão lugar à saúde no decorrer de alguns meses Nestes últimos anos a chamada cura de repouso de Weir Mitchell também conhecida como tratamento de Playfair conquistou elevada e merecida reputação como método para tratamento da histeria em instituições Ela consiste numa O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 41 combinação de isolamento em absoluta tranqüilidade com aplicação sistemática de massagens e faradização geral a assistência de uma enfermeira experiente é tão essencial como a influência constante do médico Esse tratamento tem extraordinário valor na histeria como a feliz combinação de traitement moral e de melhora no estado geral da nutrição do paciente Não deve ser considerado contudo como algo sistematicamente completo em si mesmo o isolamento em especial e a influência do médico permanecem sendo os agentes principais e juntamente com a massagem e a eletricidade os outros métodos terapêuticos não devem ser negligenciados O melhor esquema consiste em após quatro a oito semanas de repouso no leito aplicar hidroterapia e ginástica assim como encorajar ampla movimentação No caso de outras neuroses como por exemplo a neurastenia o êxito do tratamento é muito menos seguro baseiase apenas no valor da alimentação abundante na medida em que isto é possível a um aparelho digestivo neurastênico e no valor do repouso na histeria o sucesso muitas vezes é extraordinário e permanente O tratamento dos sintomas histéricos isolados não oferece nenhuma perspectiva de êxito enquanto persiste a histeria aguda os sintomas eliminados reaparecem ou são substituídos por outros novos No final ambos médico e paciente se fatigam A situação é diferente contudo quando os sintomas histéricos representam um resíduo da histeria aguda que findou seu curso ou quando aparecem numa histeria crônica devido a alguma causa excitante especial como localizações da neurose Em princípio nesses casos desaconselhase a medicação interna como também devem ser evitadas as drogas narcóticas Prescrever uma droga narcótica em caso de histeria aguda não passa de grave erro técnico No caso de histeria local e resistente nem sempre é possível evitar os medicamentos internos mas não se pode confiar em seu efeito Este às vezes surge com rapidez mágica às vezes não surge de modo algum e parece depender da autosugestão do paciente ou da sua crença na sua eficácia Ademais podemos escolher entre iniciar o tratamento direto e o tratamento indireto da doença histérica Este último consiste em negligenciar o problema local e visar a uma influência geral sobre o sistema nervoso no decorrer da qual utilizamos vida ao ar livre hidroterapia eletricidade de preferência mediante o tratamento com altatensão e procuramos melhorar o sangue por meio de arsenicais e medicação ferrosa Temos ainda no uso do tratamento indireto que considerar a remoção de fontes de estímulos caso exista alguma de natureza física Assim por exemplo os espasmos gástricos histéricos podem ter sua origem num catarro gástrico benigno ao passo que uma área eritematosa na laringe ou uma tumefação nos cornetos podem originar uma persistente tussis hysterica É realmente duvidoso que as alterações nos genitais realmente constituam com tanta freqüência fontes de estímulo para os sintomas histéricos Tais casos devem ser examinados com maior senso crítico O tratamento direto consiste na remoção das fontes psíquicas que estimulam os sintomas histéricos e isto se torna compreensível se buscarmos as causas da histeria na vida ideativa inconsciente Consiste em dar ao paciente sob hipnose uma sugestão que contém a eliminação do distúrbio em causa Assim por exemplo curamos uma tussis nervosa hysterica fazendo pressão sobre a laringe do paciente hipnotizado e assegurandolhe que foi removido o estímulo que o faz tossir ou curamos uma paralisia histérica do braço compelindo o paciente sob hipnose a mover o membro paralisado parte por parte O efeito até se torna maior se adotarmos um método posto em prática pela primeira vez por Joseph Breuer em Viena e fizermos o paciente sob hipnose O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 42 remontar à préhistória psíquica da doença compelindoo a reconhecer a ocasião psíquica em que se originou o referido distúrbio Esse método de tratamento é novo mas produz curas bemsucedidas que por outros meios não são alcançadas É o método mais apropriado para a histeria justamente porque imita o mecanismo da origem e da cessação desses distúrbios histéricos Isso porque muitos sintomas histéricos que resistiram a todos os tratamentos desaparecem espontaneamente sob a influência de um motivo psíquico suficiente por exemplo uma paralisia da mão direita desaparecerá se numa discussão o paciente sentir ímpetos de dar um murro no ouvido do adversário ou sob a influência de alguma excitação moral de um susto ou de uma expectativa por exemplo em um local de peregrinação ou por fim quando há uma drástica alteração das excitações no sistema nervoso após um ataque convulsivo O tratamento psíquico direto dos sintomas histéricos ainda será considerado o melhor no dia em que o entendimento da sugestão tiver penetrado mais profundamente nos círculos médicos Bernheim Nancy Atualmente não se pode decidir com certeza até que ponto a influência psíquica desempenha um papel em alguns outros tratamentos aparentemente físicos Assim por exemplo as contraturas podem ser curadas quando se consegue efetuar um transfert por meio de um ímã Repetindose os transferts a contratura tornase mais débil e afinal desaparece VI RESUMO Para sintetizar podemos dizer que a histeria é uma anomalia do sistema nervoso que se fundamenta na distribuição diferente das excitações provavelmente acompanhada de excesso de estímulos no órgão da mente Sua sintomatologia mostra que esse excesso é distribuído por meio de idéias conscientes ou inconscientes Tudo o que modifica a distribuição das excitações no sistema nervoso pode curar os distúrbios histéricos esses efeitos são em parte de natureza física e em parte de natureza diretamente psíquica APÊNDICE HISTEROEPILEPSIA HISTEROEPILEPSIA em francês hystéroépilepsie em inglês hysteroepilepsy em italiano isteroepilessia Na histeroepilepsia observamse ataques de convulsões generalizadas como na epilepsia Como precursores surgem sensação de sufocação dificuldade de deglutir dor de cabeça e dor no estômago vertigem e algumas sensações peculiares de estiramento nos membros Os pacientes caem emitindo forte grito e são acometidos de convulsões sua boca espuma e suas feições ficam deformadas As convulsões no início são de natureza tônica mas depois são clônicas No entanto em geral o ataque não se instala subitamente como sucede na epilepsia Por um curto espaço de tempo os pacientes procuram lutar contra as convulsões precaverse de lesões graves por ocasião de quedas e evitar situações perigosas Um epiléptico pode até cair dentro do fogo mas isto não acontece com os histéricos Enquanto aquele se mostra pálido no começo do ataque e depois se torna cianótico a face de um histérico mantém aproximadamente a sua cor normal Na histeria são raras as lesões da língua decorrentes de mordedura Nos ataques histeroepilépticos ocorre muitas vezes um opistótono completo isto geralmente não ocorre na epilepsia Durante os ataques a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 43 consciência não desaparece completamente a não ser nos casos mais graves Depois do ataque o histérico em geral se recupera imediatamente não subsistem a tendência ao sono e a fraqueza que são observadas nos epilépticos Por outro lado não são raras depois as visões de ratos camundongos e cobras bem como as alucinações auditivas Além desses ataques nesses pacientes são encontrados todos os sintomas da histeria ARTIGOS SOBRE HIPNOTISMO E SUGESTÃO 18881892 INTRODUÇÃO DO EDITOR INGLÊS Após retornar de Paris a Viena em 1886 Freud dedicou por alguns anos grande parte de sua atenção ao estudo do hipnotismo e da sugestão Naturalmente embora o assunto apareça em muitos pontos por exemplo nos Estudos sobre a Histeria e no necrológio de Charcot os trabalhos escritos nesse período e diretamente referentes aos dois temas pareciam ou não existir ou estar fora de alcance exceto o prefácio à tradução de De la suggestion 18889 de Bernheim e o artigo sobre Um Caso de Cura pelo Hipnotismo 18923 Como se verifica podemos agora entre esses dois inserir três outros trabalhos bastante extensos Em primeiro lugar conseguimos devolver à luz a resenha do livro de Forel sobre hipnotismo 1889a a qual parece nunca foi reeditada Os outros dois à sua maneira são trabalhos recémchegados ambos só vieram à luz em 1963 Destes o primeiro é realmente um velho conhecido o artigo que tem por título Tratamento Psíquico ou Mental 1890a que se encontra na Edição Standard Brasileira Vol VII 1 IMAGO Editora 1972 Esse artigo não foi incluído nas Gesammelte Schriften mas foi editado no quinto volume das Gesammelte Werke sendo atribuída a ele a data de 1905 juntamente com outros trabalhos como os Três Ensaios e o relato do caso clínico de Dora Foi ali classificado como uma contribuição a Die Gesundheit um manual coletivo de medicina em dois volumes de caráter semipopular O artigo versa sobre hipnotismo e não encerra alusão sequer às descobertas de Freud exceto uma possível e única referência imprecisa ao tratamento catártico Sempre pareceu misterioso que Freud retrocedesse quinze anos no tempo subitamente em 1905 Recentemente a explicação desse fato foi dada pelo Prof Saul Rosenzweig da Washington University de St Louis Suas investigações mostraram que a data de 1905 até há pouco tempo sistematicamente atribuída a esse trabalho realmente era a data da terceira edição de Die Gesundheit fato O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 44 que os editores daquele manual deixaram de indicar Sua primeira edição fora publicada em 1890 e já continha o artigo de Freud tal como o temos agora A segunda edição surgiu em 1900 Tratamento Psíquico ou Mental portanto simplesmente se situa junto dos demais trabalhos de Freud publicados naquele período de direito deveria ter sido incluído neste volume depois da resenha de Forel A outra novidade pelo que sabemos é uma revelação completa Tratase de um artigo sobre hipnose com o qual Freud contribuiu para um manual médico Therapeutisches Lexikon editado por A Bum e publicado pela primeira vez em 1891 Saiu uma segunda edição em 1893 e uma terceira em 1900 Nenhum vestígio da existência desse artigo seria encontrado em parte alguma até ele ser descoberto pelo Dr Paul F Cranefield editor do Bulletin of the New ork Academy of Medicine A experiência clínica de Freud com o hipnotismo pode ser rastreada de modo um tanto detalhado Em seu Estudo Autobiográfico 1925d ele relata que quando ainda era estudante compareceu a uma exibição pública feita por Hansen o magnetizador e se convenceu da autenticidade dos fenômenos da hipnose Edição Standard Brasileira Vol XX 1 IMAGO Editora 1976 Além disso mal tinha seus vinte anos Freud ficou sabendo que seu futuro colaborador Breuer um homem quase quinze anos mais velho às vezes empregava o hipnotismo com fins terapêuticos A essa época entretanto muitas sumidades médicas de Viena ainda manifestavam opiniões alarmistas ou céticas sobre o assunto Ver por exemplo os comentários de Meynert antigo mestre de Freud citados na resenha de Forel cf em 1 Somente quando aos trinta anos de idade chegou à clínica de Charcot em Paris foi que Freud verificou que a sugestão hipnótica era reconhecida e vinha sendo usada correntemente A profunda impressão que isso lhe causou está evidenciada no Relatório que escreveu quando de seu regresso de Paris em 1886 1956a 1 assim como em muitas outras passagens subseqüentes Depois de se estabelecer como neurologista em Viena tentou valerse de diferentes métodos como eletroterapia hidroterapia e curas de repouso para o tratamento das neuroses entretanto por fim retornou ao hipnotismo Durante essas últimas semanas escrevia ele a Fliess em 28 de dezembro de 1887 utilizeime da hipnose e tive uma série de pequenos porém notáveis êxitos Na mesma carta relatava que já assumira o compromisso de traduzir o livro de Bernheim sobre sugestão Mas essa extrema rapidez não era resultado de entusiasmo pois numa carta a Fliess em 29 de agosto do ano seguinte que provavelmente acompanhava uma cópia do seu prefácio este com a data agosto de 1888 ao livro de Bernheim ele escrevia que só aceitara a tradução em meio a muita hesitação e por motivos meramente práticos Freud 1950a Carta 5 A sugestão hipnótica sem dúvida era sua preocupação imediata porém mais uma vez no Estudo Autobiográfico ibid Vol XX 1 ele menciona que desde o princípio usei a hipnose de uma outra maneira diferente da sugestão hipnótica Naturalmente com isso estavase referindo ao método de Breuer de usar o hipnotismo para determinar a origem dos sintomas Existem algumas dúvidas quanto à data exata em que começou a aplicar esse novo método contudo por certo usouo no caso de Frau Emmy von N que começou a tratar em maio de 1889 ou possivelmente um ano antes Ver em 1 e 2 Daí em diante aderiu cada vez mais ao método catártico de Breuer Nesse ínterim continuava o interesse de Freud pela sugestão hipnótica A tradução da obra de Bernheim parece ter sido concluída no início de 1889 Nessa época Freud já estava em contato com August O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 45 Forel conhecido psiquiatra suíço cujo livro sobre hipnotismo ele resenhou em dois fascículos em julho e novembro de 1889 em 1 e foi com a apresentação de Forel que entre a publicação dos dois fascículos fez uma visita de algumas semanas a Bernheim e Liébeault em Nancy O motivo para fazer tal visita conforme nos conta ibid Vol XX 1 foi a idéia de aperfeiçoar sua técnica de hipnose Pois o fato é que Freud não se considerava um grande adepto da arte de hipnotizar ou então era mais sincero do que muitas pessoas para reconhecer as limitações do método Já em 1891quando publicou a contribuição ao dicionário médico de Bum a qual será encontrada adiante ele estava provadamente consciente dessas dificuldades e ademais começava a se irritar com elas em 1 Sua irritação foi expressa novamente logo depois numa nota de rodapé à tradução que fez 18924 das Leçons du Mardi em 1 de Charcot e ainda com maior franqueza numa passagem do caso clínico de Miss Lucy R nos Estudos sobre a Histeria 1895d Edição Standard Brasileira Vol II 12 IMAGO Editora 1974 Muitos anos mais tarde resumiria sua posição nas Cinco Lições 1910a ibid Vol XI 1 IMAGO Editora 1970 Mas logo a hipnose passou a me desagradar Quando verifiquei que apesar de todos os meus esforços não conseguia produzir o estado hipnótico senão numa parte dos meus pacientes decidi abandonar a hipnose Mas o momento adequado ainda não tinha chegado Continuou a utilizar a hipnose não só como parte do método catártico mas também para a sugestão direta em fins de 1892 publicou um relato minucioso de um caso desse tipo especialmente bemsucedido Ver em 1 Além disso no mesmo ano fez a tradução de um segundo livro de Bernheim 1892a embora dessa vez sem a introdução No entanto levou pouco tempo para que concebesse um sistema pelo qual pudesse produzir os efeitos da sugestão sem a necessidade de colocar o paciente em estado de hipnose O primeiro passo foi substituir o sono hipnótico por aquilo que denominou estado de concentração Estudos sobre a Histeria ibid Vol II 12 IMAGO Editora 1974 A seguir desenvolveu a técnica da pressão ibid 12 3 4 e 5 simplesmente exercendo pressão com suas mãos sobre a fronte do paciente conseguia obter a informação desejada Não está esclarecido se teria empregado esse método pela primeira vez no caso de Miss Lucy R ou no caso de Fräulein Elisabeth von R sendo que ambos os tratamentos começaram no final do ano de 1892 Naturalmente esse método era utilizado apenas no tratamento catártico e não no tratamento sugestivo Não é possível saber com precisão a época em que Freud abandonou esses diferentes métodos Numa conferência proferida no final de 1904 1905a ele declarava ibid Vol VII 1 IMAGO Editora 1972 Ora há uns oito anos não tenho usado a hipnose com fins terapêuticosexceto para algumas experiências especiais portanto desde mais ou menos 1896 Talvez seja esse o período que marca o fim da técnica da pressão pois na descrição de seu método no começo de A Interpretação dos Sonhos 1900a 1899 ibid Vol IV 1 IMAGO Editora 1972 não faz qualquer menção a semelhante contato com o paciente embora nessa passagem ainda recomendasse ao paciente manter os olhos fechados Porém numa contribuição ao livro de Löewenfeld sobre as obsessões na qual descrevia sua técnica 1940a escreveu explicitamente Ele Freud nem mesmo lhes solicita que fechem os olhos e evita tocar neles assim como evita qualquer outro procedimento que possa lembrar a hipnose ibid Vol VII 1 IMAGO Editora 1972 Na verdade no fim ainda restava um vestígio de hipnotismo o ritual que diz respeito à posição em que é O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 46 efetuado o tratamento a qual é remanescente do método hipnótico a partir do qual se desenvolveu a psicanálise e que Freud pensava merecesse ser mantida por muita razões Sobre o Início do Tratamento 1913c ibid Vol XII 12 IMAGO Editora 1976 O período durante o qual Freud fez algum uso efetivo da hipnose situase portanto no máximo entre 1886 e 1896 Naturalmente o interesse de Freud pela teoria do hipnotismo e da sugestão durou mais tempo Aqui havia a controvérsia com respeito a correntes que podem ser esquematicamente descritas como Charcot versus Bernheim entre a opinião do Salpêtrière segundo a qual a sugestão não passa de uma forma leve de hipnose e a opinião da escola de Nancy de que a hipnose era simplesmente produção da sugestão É possível detectar sinais de vacilação na atitude de Freud relativa a esse debate Na carta a Fliess de 29 de agosto de 1888 que já citamos e que ele remeteu imediatamente depois de redigir seu prefácio ao livro de Bernheim Freud escrevia Não compartilho dos pontos de vista de Bernheim que me parecem unilaterais e em meu prefácio procurei defender a opinião de Charcot A orientação segundo a qual Freud assim procedeu pode ser depreendida do próprio prefácio em 1 Naturalmente isto se deu antes de sua visita a Nancy que provavelmente o influenciou muito de vez que não muito tempo depois em seu obituário de Charcot 1893f manifestava críticas à abordagem exclusivamente nosográfica da escola de Salpêtrière diante dos fenômenos hipnóticos A limitação do estudo da hipnose aos pacientes histéricos a diferenciação entre grande e pequeno hipnotismo a hipótese dos três estágios da grande hipnose e a caracterização desses estágios por fenômenos somáticos tudo isso fez declinar o conceito dos contemporâneos de Charcot quando Bernheim discípulo de Liébeault passou a elaborar a teoria do hipnotismo a partir de um fundamento psicológico mais abrangente e a fazer da sugestão o ponto central da hipnose Ibid Vol III 1 IMAGO Editora 1977 No entanto em diversas passagens Freud insistiu na imprecisão do termo sugestão e no fato de que o próprio Bernheim não conseguia explicar o mecanismo do processo por exemplo já na resenha de Forel 1889a em 1 e também no caso clínico do Pequeno Hans 1909b Edição Standard Brasileira Vol X 1 IMAGO Editora 1977 e nas Conferências Introdutórias 191617 ibid Vol XVI 1 IMAGO Editora 1976 Retornou ao tema uma vez mais na Psicologia de Grupo 1921c ibid Vol XVIII 1 IMAGO Editora 1976 trabalho esse em que há uma série de discussões tanto sobre sugestão como sobre hipnose E aí numa nota de rodapé ibid 1 ele se afastava claramente da sua tendência anterior a apoiar os pontos de vista de Bernheim Pareceme que convém acentuar o fato de que as discussões contidas nesta seção nos induziram a abandonar a concepção de Bernheim sobre a hipnose e a voltar à concepção naïf ingênua anterior Consoante Bernheim todos os fenômenos hipnóticos podem ser atribuídos ao fator da sugestão que por si mesmo não é passível de qualquer outra explicação Chegamos à conclusão de que a sugestão constitui manifestação parcial do estado de hipnose e que a hipnose se fundamenta solidamente numa predisposição que sobreviveu no inconsciente desde o início da história da família humana O tranqüilo equilíbrio dos pontos de vista de Freud a respeito dessa controvérsia foi expresso numa frase de uma carta sua a A A Roback muitos anos depois a 20 de fevereiro de 1930 Na questão da hipnose realmente tomei partido contra Charcot ainda que não estivesse inteiramente a favor de Bernheim Freud 1960a 391 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 47 A despeito de haver abandonado cedo a hipnose como método terapêutico durante toda a sua vida Freud nunca hesitou em expressarlhe seu sentimento de gratidão Nós psicanalistas declarou ele nas Conferências Introdutórias 191617 Edição Standard Brasileira Vol XVI 1 IMAGO Editora 1976 podemos afirmar que somos seus legítimos herdeiros e não esquecemos quanto estímulo e esclarecimento teórico devemos à hipnose E disso deu uma explicação mais específica num de seus artigos sobre técnica 1914g Ainda devemos ser gratos à velha técnica da hipnose por nos ter mostrado os processos psíquicos simples da análise numa forma isolada ou esquemática Só isto pôde nos dar a coragem de construir no tratamento analítico situações mais complexas e de mantêlas claras diante de nós Ibid Vol XII 1 PREFÁCIO À TRADUÇÃO DE DE LA SUGGESTION DE BERNHEIM 18889 NOTA DO EDITOR INGLÊS PREFÁCIO À TRADUÇÃO DE DE LA SUGGESTIONDE BERNHEIM a EDIÇÃO ALEMÃ 1888 Em H Bernheim Die Suggestion und ihre Heilwirkung A Sugestão e Seus Efeitos Terapêuticos iiixii Leipzig e Viena Deuticke 1896 2ª ed b TRADUÇÕES INGLESAS 1946 Int J PsychoAnal 27 12 5964 Sob o título Hypnotism and Suggestion Trad de James Strachey 1950 CP 5 1124 Revisão da anterior A presente edição inglesa é uma versão consideravelmente corrigida da que foi publicada em O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 48 1950 O título francês completo do livro de Bernheim era De la suggestion et de ses applications à la thérapeutique Paris 1886 2ª ed 1887 Um trecho da tradução de Freud surgiu antecipadamente no Wiener med Wochenschrift 38 26 898900 de 30 de junho de 1888 sob o título Hypnose durch Suggestion Hipnose pela sugestão e o prefácio completo de Freud com exceção dos seus dois primeiros parágrafos foi publicado no Wiener med Blätter 11 38 118993 e 39 12268 a 20 e a 27 de setembro de 1888 tendo como título Hypnotismus und Suggestion Embora a página de rosto do livro consigne a data 1888 sua publicação realmente não foi completada senão em 1889 como mostra um Pósescrito do Tradutor que aparece na última página Em decorrência de circunstâncias pessoais que atingiram o tradutor a publicação da segunda parte o livro tem duas partes foi adiada alguns meses além da data prometida Mesmo agora provavelmente eu não teria conseguido terminála não tivesse o meu prezado amigo Dr Otto von Springer tido a grande gentileza de se encarregar da tradução de todos os casos clínicos da segunda parte pelo que lhe expresso os meus melhores agradecimentos Viena janeiro de 1889 Nada se sabe a respeito do que foram essas circunstâncias pessoais se foram por exemplo as mesmas que as razões acidentais e pessoais que nessa mesma época impediram Freud de completar seu artigo em francês sobre as paralisias orgânicas e histéricas 1893c cf em 1 Freud acrescentou somente umas poucas e breves notas do tradutor ao texto desse volume notasque na sua maioria eram referências às edições alemãs de obras mencionadas por Bernheim A única que requer atenção é citada em 12 Em seu Estudo Autobiográfico Freud mostra alguma confusão quanto à data de publicação do presente trabalho Depois de descrever sua visita a Bernheim em Nancy no verão de 1889 conclui assim Mantive com ele muita conversas estimulantes e encarregueime de traduzir para o alemão seus dois trabalhos sobre a sugestão e seus efeitos terapêuticos Edição Standard Brasileira Vol XX 1 IMAGO Editora 1976 Na verdade conforme vimos esse livro já estava publicado antes de se realizar a visita O segundo livro de Bernheim a ser traduzido por Freud Hypnotisme suggestion psychothérapie études nouvelles não foi publicado em francês senão dois anos mais tarde Paris 1891 A tradução de Freud veio à luz no ano seguinte tendo como título Neue Studien über Hypnotismus Suggestion und Psychotherapie Leipzig e Viena Deuticke Esse livro não continha nem introdução nem notas do tradutor Em 1896 foi publicada uma segunda edição do primeiro dos dois volumes Mas essa nova edição como veremos passara por uma revisão completa sob a supervisão do Dr Max Kahane que foi um dos primeiros adeptos de Freud e que também se encarregou do segundo volume da tradução das Leçons du Mardi de Charcot ver em 1 Nessa segunda edição a presente introdução não foi como se tem afirmado abreviada mas sim inteiramente abolida e substituída pelo breve prefácio que reproduzimos num Apêndice em 1 PREFÁCIO À TRADUÇÃO DE DE LA SUGGESTION DE BERNHEIM Este livro já recebeu calorosa recomendação do Prof Forel de Zurique e esperase que nele os seus leitores venham a descobrir todas as qualidades que levaram o tradutor a apresentálo em língua alemã O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 49 Verificarão que o trabalho desenvolvido pelo Dr Benheim de Nancy proporciona uma admirável introdução ao estudo do hipnotismo assunto que os médicos não podem mais negligenciar que sob muitos aspectos é estimulante e sob alguns outros aspecto é realmente esclarecedor e está destinado a destruir a crença de que o problema da hipnose segundo afirma o Prof Meynert ainda esteja envolvido por um halo de absurdo A realização de Bernheim e de seus colegas em Nancy que trabalham segundo as mesmas diretrizes consiste precisamente em despojar as manifestações do hipnotismo do seu mistério correlacionandoas com fenômenos conhecidos da vida psicológica normal e do sono Pareceme que o valor principal deste livro está na prova que ele fornece das relações que vinculam os fenômenos hipnóticos aos processos correntes da vida de vigília e do sono e no fato de trazer à luz as leis psicológicas que se aplicam a ambos os tipos de eventos Com isso o problema da hipnose é inteiramente transposto para a esfera da psicologia e a sugestão é erigida como núcleo do hipnotismo e chave para sua compreensão Além disso nos últimos capítulos assinalase a importância da sugestão em outras áreas além da hipnose Na segunda parte do livro encontramse provas convincentes de que o uso da sugestão hipnótica proporciona ao médico um poderoso método terapêutico que realmente parece ser o mais adequado para combater determinados distúrbios nervosos e o mais apropriado ao mecanismo dos mesmos Isto confere ao livro uma importância prática incomum E sua insistência no fato de que tanto a hipnose como a sugestão hipnótica podem ser aplicadas não só aos pacientes histéricos e neuropáticos graves mas também à maior parte das pessoas sadias destinase a ampliar para além do estreito círculo dos neuropatologistas o interesse dos médicos por esse método terapêutico O tema do hipnotismo tem tido uma recepção muitíssimo desfavorável entre os expoentes da ciência médica alemã excluídas algumas poucas exceções como KrafftEbing Forel etc Ainda assim a despeito disso é válido expressar o desejo de que os médicos alemães venham a dirigir sua atenção para esse problema e para esse método terapêutico pois continua sendo verdade que em matéria científica é sempre a experiência e nunca a autoridade sem a experiência que dá o veredicto final seja a favor seja contra Na verdade as objeções que até o momento temos ouvido na Alemanha contra o estudo e o uso da hipnose merecem atenção apenas por causa dos nomes dos seus autores e o Prof Forel teve pouca dificuldade em refutar num breve ensaio 1889 toda uma infinidade de objeções dessa natureza Há cerca de dez anos a opinião corrente na Alemanha ainda era a de pôr em dúvida a realidade dos fenômenos hipnóticos e procurar explicar os relatos referentes a eles como devidos a uma combinação de credulidade por parte dos observadores e simulação por parte das pessoas submetidas às experiências Atualmente essa posição já não é mais defensável graças aos trabalhos de Heidenhain e Charcot para mencionar apenas os maiores nomes dentre aqueles que deram seu irrestrito apoio à realidade do hipnotismo Até os mais ferrenhos adversários do hipnotismo se tornaram conscientes disso e por conseguinte suas obras embora ainda deixem transparecer uma nítida tendência a negar a realidade da hipnose geralmente também incluem tentativas de explicála e com isso realmente reconhecem a existência desses fenômenos Uma outra corrente de argumentos hostis à hipnose rejeitaa como sendo perigosa para a saúde mental da pessoa e dálhe o rótulo de psicose produzida experimentalmente A prova de que a hipnose leva O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 50 a resultados prejudiciais em uns poucos casos nem por isso seria um argumento decisivo contra sua utilidade geral da mesma forma que por exemplo a ocorrência de casos isolados de morte por narcose pelo clorofórmio não proscreve o uso do clorofórmio com o objetivo de obter anestesia cirúrgica No entanto constitui fato digno de nota que a analogia não consiga estenderse além desse ponto O maior número de acidentes na narcose pelo clorofórmio ocorre com os cirurgiões que executam o maior número de cirurgias Contudo a maior parte dos relatos sobre os efeitos nocivos da hipnose provém de observadores que trabalham muito pouco com hipnose ao passo que todos os pesquisadores que tiveram grande experiência com a hipnose são unânimes na crença de que o método é inócuo Portanto a fim de evitar qualquer efeito prejudicial no uso da hipnose tudo o que é necessário é que o procedimento seja efetuado com cuidado de modo suficientemente seguro e em casos corretamente selecionados Devese acrescentar que pouco se ganha ao se chamarem as sugestões de idéias obsessivas e a hipnose de psicose experimental Parece provável que as idéias obsessivas serão mais bem esclarecidas se comparadas com as sugestões em vez de se proceder ao contrário E todo aquele que se atemoriza com o termo injurioso psicose bem pode se perguntar se nosso sono natural também merece ser descrito como tal se é que na realidade existe mesmo algo a lucrar com a transposição de termos técnicos para situações alheias às suas áreas específicas Não desse lado não há que temer nenhum perigo para a causa do hipnotismo E tão logo um grande número de médicos esteja em condições de relatar observações do tipo das que se podem encontrar na segunda parte do livro de Bernheim ficará estabelecido que a hipnose é um estado inofensivo e que induzila é um método digno de um médico Este livro também discute uma outra questão que na época atual divide em dois campos opostos os adeptos do hipnotismo Uma corrente cujas opiniões Bernheim exprime nestas páginas sustenta que todos os fenômenos do hipnotismo têm a mesma origem isto é surgem de uma sugestão de uma idéia consciente que foi introduzida mediante uma influência externa no cérebro da pessoa hipnotizada e por esta foi aceita como se tivesse surgido espontaneamente Sob esse ponto de vista todas as manifestações hipnóticas seriam fenômenos psíquicos efeitos de sugestões A outra corrente pelo contrário sustenta a opinião de que o mecanismo de pelo menos algumas das manifestações do hipnotismo se baseia em modificações fisiológicas ou seja em deslocamentos da excitabilidade no sistema nervoso que ocorrem sem a participação das partes do mesmo que operam com a consciência os adeptos dessa corrente falam portanto dos fenômenos físicos ou fisiológicos da hipnose O ponto principal dessa controvérsia é o grand hypnostisme grande hipnotismo os fenômenos descritos por Charcot no caso de pacientes histéricos hipnotizados Diferindo das pessoas normais hipnotizadas esses pacientes histéricos segundo se acredita apresentam três estágios de hipnose cada um deles distinguindose por sinais físicos especiais de natureza muito marcada tais como uma extraordinária hiperexcitabilidade neuromuscular contraturas sonambúlicas etc Facilmente se compreenderá que em relação a essa área de fatos as diferenças de opinião há pouco delineadas devem ter uma repercussão muito importante Se têm razão os adeptos da teoria da sugestão todas as observações feitas no Salpêtrière ficam invalidadas tornamse erros de observação A hipnose de pacientes histéricos não teria nenhuma característica própria mas todo médico teria a possibilidade de produzir nos pacientes que hipnotizasse O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 51 qualquer sintomatologia que desejasse Com o estudo do grande hipnotismo não aprenderíamos que modificações sucessivas se efetuam na excitabilidade do sistema nervoso decorrentes de determinadas formas de intervenção iríamos apenas aprender quais as intenções que Charcot sugeriu de uma forma da qual nem ele tinha consciência às pessoas submetidas a essas experiências coisa inteiramente irrelevante para nossa compreensão da hipnose e da histeria É fácil verificar as demais implicações desse ponto de vista e como seria conveniente a explicação que ela pode prometer da sintomatologia da histeria em geral Se a sugestão feita pelo médico falsificou os fenômenos da hipnose histérica é bem possível que também tenha interferido na observação do resto da sintomatologia histérica pode ter estabelecido leis que governem os ataques histéricos as paralisias as contraturas etc esses sintomas teriam na sugestão o seu único vínculo com a neurose e como conseqüência perderiam sua validade tão logo um outro médico num outro lugar procedesse a um exame dos pacientes histéricos Essa inferência impõese com muita lógica e de fato já foi feita Hückel 1888 exprime sua convicção de que o primeiro transfert a transferência de sensibilidade de uma parte do corpo para a parte correspondente do outro lado feito por uma histérica foi sugerido a ela em alguma circunstância específica de sua história e que daí em diante os médicos continuaram constantemente a produzir pela sugestão de forma renovada esse sintoma pretensamente fisiológico Estou convencido de que esse ponto de vista será o mais bem aceito por parte daqueles que se sentem inclinados e atualmente ainda são a maioria na Alemanha a não atentar para o fato de que os fenômenos histéricos são regidos por leis Aqui devemos assinalar um excelente exemplo de como o descaso pelo fator psíquico da sugestão desorientou um grande observador e o levou à criação artificial e falsa de um tipo clínico em decorrência da natureza cheia de caprichos e maleabilidade de uma neurose Não obstante não há dificuldade em provar parte por parte a objetividade da sintomatologia da histeria As críticas de Bernheim podem ser plenamente justificadas em relação a investigações como as que foram efetuadas por Binet e Féré de qualquer modo essas críticas revelarseão importantes porque em toda investigação futura da histeria e do hipnotismoa necessidade de excluir o elemento sugestão será lembrada de modo mais consciente Os principais pontos da sintomatologia da histeria contudo estão livres da suspeita de se terem originado na sugestão de um médico Os relatos provenientes de épocas passadas e de países distantes que foram reunidos por Charcot e seus discípulos não dão margem à dúvida de que as peculiaridades dos ataques histéricos das zonas histerógenas da anestesia das paralisias e contraturas se têm manifestado em todos os tempos e lugares tal como foram vistas no Salpêtrière quando Charcot efetuava sua memorável investigação dessa grande neurose O transfert em particular que parece prestarse especialmente bem para provar que os sintomas histéricos se originam da sugestão indubitavelmente é um processo autêntico Vem sendo observado em casos de histeria nãoinfluenciados freqüentemente se encontram pacientes nos quais aquilo que sob outros aspectos é uma hemianestesia típica se interrompe justamente num órgão ou numa extremidade e nos quais essa parte específica do corpo conserva sua sensibilidade no lado insensível ao passo que a parte correspondente do outro lado se tornou anestesiada Ademais o transfert é um fenômeno fisiologicamente compreensível Como ficou demonstrado por O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 52 investigações feitas na Alemanha e na França tratase meramente do exagero de uma relação normalmente presente em partes simétricas do corpo tanto é assim que pode ser produzido numa forma rudimentar em pessoas sadias Muitos outros sintomas histéricos da sensibilidade também têm sua origem em relações fisiológicas normais como foi brilhantemente demonstrado pelas investigações de Urbantschitsch Esta não é a ocasião apropriada para efetuar uma justificação detalhada da sintomatologia da histeria mas podemos aceitar a afirmação de que na sua essência essa sintomatologia é de natureza real objetiva não é forjada pela sugestão da parte do observador Isto não significa negar que seja psíquico o mecanismo das manifestações histéricas mas não se trata do mecanismo de sugestão por parte do médico Uma vez demonstrada a existência de fenômenos fisiológicos objetivos na histeria já não há mais nenhuma razão para abandonar a possibilidade de que o grande hipnotismo histérico chegue a apresentar fenômenos que não se derivam da sugestão da parte do pesquisador Se tais fenômenos de fato ocorrem isto é uma hipótese que deve ser deixada para uma investigação à parte que tenha esse fim em vista Assim cabe à escola do Salpêtrière provar que os três estágios da hipnose histérica podem ser inequivocamente demonstrados mesmo numa pessoa que vem para a experiência sem qualquer influência prévia e mesmo quando o pesquisador mantém a conduta mais escrupulosa e sem dúvida tal prova não há de demorar Pois já a descrição do grande hipnotismo apresenta sintomas que vão muito nitidamente contra a possibilidade de serem considerados psíquicos Refirome ao aumento da excitabilidade neuromuscular durante o estágio letárgico Todo aquele que tenha visto como durante a letargia uma leve pressão sobre um músculo mesmo que seja um músculo facial ou um dos três músculos externos do pavilhão da orelha que jamais são contraídos durante a vida consegue desencadear uma contração tônica em todo o feixe muscular em questão ou como a pressão exercida sobre um nervo superficial consegue revelar sua distribuição terminal qualquer pessoa que tenha visto coisas assim inevitavelmente há de supor que o efeito deve ser atribuído a causas fisiológicas ou a um treino deliberado e sem hesitações haverá de excluir a sugestão nãointencional como causa possível Isso porque a sugestão não pode produzir algo que não esteja contido na consciência ou seja nela introduzido Nossa consciência no entanto apenas toma conhecimento do resultado final de um movimento nada sabe da ação e da distribuição anatômica dos músculos isoladamente e nada sabe da distribuição anatômica dos nervos em relação aos músculos Num trabalho que será publicado em breve mostrarei detalhadamente que as características das paralisias histéricas se prendem a esse fato e que é por essa razão que a histeria não apresenta paralisias de músculos em separado paralisias periféricas nem paralisias faciais de natureza central O Dr Bernheim não deveria ter deixado de produzir fenômenos de hiperexcitabilidade neuromuscular por meio da sugestão tal omissão constitui uma grave lacuna em sua argumentação contra os três estágios Assim os fenômenos fisiológicos efetivamente ocorrem pelo menos no grande hipnotismo histérico Mas no pequeno hipnotismo normal que conforme insiste apropriadamente Bernheim tem maior importância para a nossa compreensão do problema toda manifestação assim se afirma surge por meio da sugestão por meios psíquicos Até mesmo o sono hipnótico ao que parece resulta da sugestão o sono sobrevém por causa da sugestionabilidade humana normal e por isso Bernheim sugere uma expectativa de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 53 sono Porém outras ocasiões há em que o mecanismo do sono hipnótico parece ser outro Todo aquele que tenha hipnotizado com freqüência terá por vezes encontrado pessoas que só com muita dificuldade podem ser colocadas em estado de sono mediante conversa ao passo que pelo contrário o mesmo resultado pode ser facilmente obtido fazendose com que a pessoa se fixe durante algum tempo De fato quem não teve a oportunidade de ver entrar em sono hipnótico um paciente que não se teve qualquer intenção de hipnotizar e que por certo não tinha nenhuma noção prévia da hipnose Uma paciente toma seu lugar para que lhe façam um exame de olhos ou de garganta não há nenhuma expectativa de sono seja da parte do médico seja da paciente porém mal o feixe de luz incide em seus olhos ela já passa a dormir e talvez pela primeira vez em sua vida está hipnotizada Nesse caso certamente poderia ser excluída qualquer ligação psíquica consciente Nosso sono natural que Bernheim com tanta propriedade compara com a hipnose comportase de forma semelhante De modo geral provocamos o sono por sugestão por um estado de preparação mental e pela expectativa do sono algumas vezes porém ele se instala sem qualquer ingerência de nossa parte como resultado da condição fisiológica da fadiga De igual modo quando as crianças são ninadas para dormir ou quando os animais são hipnotizados ao serem mantidos numa posição fixa dificilmente se pode dizer que a causa seja psíquica Assim chegamos à posição adotada por Preyer e Binswanger na Realencyclopädie de Eulenburg no hipnotismo existem fenômenos tanto psíquicos como fisiológicos e a hipnose pode ser realizada de uma forma ou de outra Realmente na descrição do próprio Bernheim para suas hipnoses há inequivocamente um fator objetivo independente da sugestão É com lógica que Jendrassik 1886 insiste em que se não fosse assim a hipnose assumiria uma aparência diferente de acordo com a individualidade de cada experimentador seria impossível compreender por que o aumento da sugestionabilidade haveria de seguir uma seqüência uniforme por que o sistema muscular invariavelmente seria influenciado somente em direção à catalepsia e assim por diante Contudo devemos concordar com Bernheim em que a divisão dos fenômenos hipnóticos em fenômenos fisiológicos e fenômenos psíquicos deixa muito a desejar precisase urgentemente de um elo que vincule as duas espécies de fenômenos A hipnose seja ela produzida de uma forma ou de outra é sempre a mesma e mostra os mesmos aspectos A sintomatologia da histeria sob muitos aspectos sugere um mecanismo psíquico embora este não precise ser necessariamente o mecanismo da sugestão E por fim a sugestão possui uma vantagem sobre os fenômenos fisiológicos de vez que seu modo de atuação é incontestável e relativamente claro ao passo que não temos maior conhecimento das influências mútuas da excitabilidade nervosa da qual derivam os fenômenos fisiológicos Nos comentários que se seguem espero poder dar algumas indicações do elo de ligação entre os fenômenos psíquicos e fisiológicos da hipnose que estamos pesquisando Em minha opinião o uso cambiante e ambíguo da palavra sugestão confere a essas antíteses uma exatidão enganadora que de fato não existe Vale a pena refletir sobre o que é que legitimamente podemos chamar de sugestão Sem dúvida alguma espécie de influência psíquica está implícita nesse termo e eu gostaria de apresentar o ponto de vista de que o elemento que distingue uma sugestão de outros tipos de influência psíquica como dar uma ordem ou fornecer uma informação ou orientação é que no caso O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 54 da sugestão é despertada no cérebro de outra pessoa uma idéia que não é examinada quanto à sua origem mas que é aceita como originada espontaneamente no cérebro dessa pessoa Exemplo clássico de uma sugestão desse tipo ocorre quando o médico diz a uma pessoa hipnotizada Seu braço deve permanecer na posição em que o coloquei e com isto se instala o fenômeno da catalepsia ou então quando o médico levanta o braço do paciente vezes seguidas repetidamente depois de o braço ter caído e com isso faz o paciente supor que o médico deseja que o braço seja mantido elevado Mas em outras ocasiões falamos de sugestão quando o mecanismo do processo evidentemente é um mecanismo diferente Por exemplo em muitas dentre as pessoas hipnotizadas a catelepsia se instala sem que se opere qualquer interferência o braço que foi levantado permanece levantado espontaneamente ou então a pessoa mantém inalterada a postura em que iniciou o sono a menos que haja alguma interferência Bernheim chama de sugestão também a esse resultado dizendo que a própria postura sugere a sua manutenção Nesse caso contudo o papel desempenhado pela situação fisiológica da pessoa que rejeita qualquer impulso no sentido de modificar sua postura é maior do que nos primeiros casos A diferença entre uma sugestão diretamente psíquica e uma sugestão indireta fisiológica talvez possa ser vista com maior clareza mediante o seguinte exemplo Se eu disser a uma pessoa Seu braço direito está paralisado você não pode movêlo estarei fazendo uma sugestão diretamente psíquica Em vez disso Charcot dá uma leve pancada no braço da pessoa ou lhe diz Olhe para essa cara horrível Dê um murro nela a pessoa dá o murro e em ambos os casos seu braço cai paralisado Nesses dois últimos casos um estímulo externo produziu inicialmente uma sensação de dolorosa exaustão no braço e com isso em troca espontânea e independemente de qualquer intervenção por parte do médico a paralisia foi sugerida se é que aqui ainda se pode aplicar tal expressão Em outras palavras tratase nesses casos não tanto de sugestões como de estimulação às autosugestões E estas como qualquer pessoa pode verificar encerram um fator objetivo independente da vontade do médico e revelam uma conexão entre diferentes estados de inervação ou excitação no sistema nervoso São as autosugestões dessa natureza que levam à produção de paralisias histéricas espontâneas e é uma tendência para tais autosugestões mais do que a sugestionabilidade em relação ao médico que caracteriza a histeria E aquela não parece de modo algum ter semelhanças com esta Não necessito insistir no fato de que também Bernheim trabalha em grande medida com sugestões indiretas dessa ordem isto é com estimulações à autosugestão Seu método de produzir o sono conforme descrito nas primeiras páginas deste livro é essencialmente um método misto a sugestão abre vigorosamente as portas que de fato se estão abrindo lentamente por autosugestão As sugestões indiretas nas quais uma série de elos intermediários originários da própria atividade da pessoa são inseridos entre o estímulo externo e o resultado são não obstante processos psíquicos contudo não estão mais expostas à plena luz da consciência que incide sobre as sugestões diretas Pois estamos muito mais habituados a voltar nossa atenção para as percepções externas do que para os processos internos As sugestões indiretas ou as autosugestões por conseguinte podem ser igualmente descritas como fenômenos fisiológicos ou psíquicos e o termo sugestão tem o mesmo significado que o recíproco despertar de estados psíquicos segundo as leis da associação O fechamento dos olhos leva ao sono porque está ligado O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 55 ao conceito de sono na medida em que é um de seus acompanhamentos mais regulares um componente das manifestações do sono sugere as demais manifestações que completam o fenômeno como um todo Essa vinculação faz parte da natureza do sistema nervoso e não advém de alguma ação arbitrária do médico não pode ocorrer a não ser que esteja baseada em modificações na excitabilidade das regiões cerebrais relevantes na inervação dos centros vasomotores etc e apresente igualmente um aspecto psicológico e um aspecto fisiológico Tal como acontece em qualquer interligação de estados do sistema nervoso esta permite a passagem de excitação numa direção diferente A idéia de sono pode produzir sensações de fadiga nos olhos e nos músculos e o correspondente estado nos centros nervosos vasomotores ou por outro lado o estado do aparelho muscular ou um impacto sobre os nervos vasomotores podem despertar a pessoa que dorme e assim por diante Tudo o que se pode dizer é que seria tão unilateral considerar somente o aspecto psicológico do processo quanto atribuir toda a responsabilidade dos fenômenos da hipnose à inervação vascular De que modo isso afeta a antítese entre os fenômenos psíquicos e fisiológicos da hipnose Havia nela um significado enquanto por sugestão entendiase uma influência psíquica diretamente exercida pelo médico que impunha à pessoa hipnotizada qualquer sintomatologia que desejasse Mas tal significado desaparece tão logo se percebe que mesmo a sugestão só desencadeia determinados grupos de manifestações fundamentadas nas peculiaridades funcionais do sistema nervoso hipnotizado e que na hipnose também se fazem presentes outras características do sistema nervoso além da sugestionabilidade Poderseia ademais questionar se todos os fenômenos da hipnose têm de passar em algum lugar pela esfera psíquica em outras palavras pois a questão não pode ter outro sentido se as mudanças de excitabilidade que ocorrem na hipnose invariavelmente afetam apenas a região do córtex cerebral Formulando a questão sob essa outra forma parece que encontramos sua resposta Não se justifica estabelecer um contraste como o que aqui se estabeleceu entre o córtex cerebral e o resto do sistema nervoso é improvável que uma modificação funcional tão profunda no córtex do cérebro possa ocorrer sem ser acompanhada por mudanças importantes na excitabilidade das demais partes do cérebro Não temos critério algum que nos possibilite estabelecer uma distinção exata entre um processo psíquico e um processo fisiológico entre um ato que ocorre no córtex cerebral e um ato que ocorre na substância subcortical isso porque a consciência o que quer que isto seja não está ligada a toda atividade do córtex cerebral e não está sempre ligada em igual grau a qualquer de suas atividades em particular não é algo que esteja em conexão com alguma região do sistema nervoso Portanto pareceme que não pode ser aceita nessa formulação genérica a questão de saber se a hipnose exibe fenômenospsíquicos ou fisiológicos e pareceme que a decisão no caso de cada fenômeno em particular deve ser tomada com base numa investigação especial Nesse sentido sintome justificado ao dizer que enquanto de um lado o trabalho de Bernheim vai além da área da hipnose de outro lado ele deixa de levar em conta uma parte do seu tema Todavia é de esperar que também os leitores alemães de Bernheim venham agora a ter a oportunidade de reconhecer quão esclarecedora e importante é a sua contribuição pelo fato de descrever o hipnotismo a partir do ponto de vista da sugestão VIENA agosto de 1888 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 56 APÊNDICE PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO ALEMÃ 1896 A primeira edição alemã deste livro tinha um prefácio do tradutor que hoje se tornou desnecessário reimprimir A situação da ciência que vigorava na época em que surgiu a tradução de Suggestion de Bernheim sofreu modificações fundamentais na atualidade Silenciou a dúvida a respeito da realidade dos fenômenos hipnóticos cessou o anátema que então inexoravelmente recaía sobre todo neuropatologista que considerasse essa área de fenômenos importante e merecedora de uma investigação séria Não foi pequeno o mérito deste livro em si mesmo ao defender de modo extraordinariamente convincente e vigoroso a causa do hipnotismo científico Quando se tornou clara a necessidade de uma segunda vez tornar acessível aos leitores de língua alemã essa obra fundamental do médico de Nancy o organizador e o editor em concordância com o autor decidiram eliminar do livro capítulos que continham apenas casos clínicos e relatos de tratamentos Eles não puderam deixar de reconhecer que não era precisamente nesses capítulos que estava a força da obra de Bernheim Herr Dr Kahane teve então a gentileza de se encarregar em lugar deste que subscreve o presente prefácio da tarefa de revisar a nova edição em francês No que se refere ao conteúdo do prefácio à primeira edição o tradutor gostaria apenas de repetir um comentário ao qual se mantém tão fiel hoje como naquela época O que ele acha que falta nas proposições de Bernheim é a opinião segundo a qual a sugestão ou melhor a efetivação de uma sugestão é um fenômeno psíquico patológico que requer condições especiais prévias para que possa realizarse Não é necessário pôr em xeque essa opinião confrontandoa com a freqüência e com facilidade do fenômeno da sugestão nem com o importante papel que ela desempenha na vida quotidiana No livro de Bernheim a constatação dessas últimas circunstâncias enquanto fatos ocupa tanto espaço que ele descura de examinar o problema psicológico de quando e por que os métodos normais de influência psíquica entre os seres humanos podem ser substituídos pela sugestão E enquanto explica mediante a sugestão todos os fenômenos do hipnotismo a própria sugestão permanece inteiramente inexplicada e é obscurecida por uma demonstração de que não necessita de explicação Sem dúvida essa lacuna foi observada por todos os pesquisadores que seguiram Forel na busca de uma teoria psicológica da sugestão DR SIGM FREUD VIENA junho de 1896 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 57 RESENHA DE HIPNOTISMO DE AUGUST FOREL 1889 RESENHA DE DER HIPNOTISMUS DE AUGUST FOREL a EDIÇÃO ALEMÃ 1889 Wiener med Wochensch 39 28 10971100 e 47 18926 13 de julho e 23 de novembro Parece que o original alemão jamais foi reeditado esta tradução de James Strachey é a primeira versão para a língua inglesa O título completo do livro de Forel era Der Hypnotismus seine Bedeutung und seine Handhabung O Hipnotismo Sua Significação e Seu Manejo Seu autor 18481931 nessa época era professor de psiquiatria em Zurique e gozava de enorme reputação Seus escritos posteriores sobre temas sociológicos e sobre a história natural das formigas foram muito lidos Embora no final viesse a criticar acerbamente a psicanálise foi ele quem apresentou Freud a Bernheim Freud visitou Nancy durante o verão de 1889 entre a publicação das duas partes desta resenha Cf a Introdução do Editor Inglês em 1 RESENHA DE HIPNOTISMO DE AUGUST FOREL I Esta obra do conceituado psiquiatra de Zurique com apenas 88 páginas é a ampliação de um artigo sobre a importância forense do hipnotismo publicado em 1889 na Zeidchrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft Revista de Penalogia Geral 9 131 Sem dúvida ocupará um lugar de destaque por muitos anos na bibliografia alemã sobre hipnotismo Conciso com a forma quase de um catecismo expresso em linguagem muito clara e decidida cobre toda a área de fenômenos e problemas compreendidos no título teoria do hipnotismo de maneira feliz estabelece uma distinção entre fatos e teorias nunca lhe falta a abordagem séria que se exige de um médico empenhado em investigação minuciosa e no seu todo evita o tom pomposo que é tão despropositado numa discussão científica Somente num ponto a exposição de Forel tornase entusiástica o bastante para declarar que a descoberta da importância psicológica da sugestão levada a efeito por Braid e Liébeault é segundo minha opinião tão magnífica que pode ser comparada com as maiores descobertas ou melhor revelações do espírito humano Todo aquele que achar esse comentário uma flagrante supervalorização da hipnose deve adiar seu julgamento definitivo até que os próximos anos tenham deixado claro quantas revoluções teóricas e práticas que a hipnose promete desencadear podem O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 58 realmente resultar dela Ao mencionar os obscuros problemas limítrofes ao hipnotismo transmissão de pensamento etc com que se ocupa atualmente o espiritualismo Forel mostra uma reserva realmente científica É impossível compreender por que um autorizado cientista desta cidade diante de um auditório científico qualificou o autor desta obra como Forel o sulista confrontandoo com um adversário da hipnose supostamente mais nortista como modelo de uma forma mais comedida de pensar Ainda que fosse menos deselegante procurar abordar as opiniões sobre assuntos científicos emitidas por cientistas ainda vivos tomando como base a nacionalidade ou o país de origem desses cientistas e mesmo que o Prof Forel não tivesse tido a sorte de nascer e ser educado na latitude de quarenta e seis graus Norte não haveriajustificativa para concluir do presente trabalho que seu autor tem o costume de deixar que suas emoções lhe tirem a lógica Pelo contrário este breve estudo é o trabalho de um médico sério que veio a conhecer o valor e a importância da hipnose a partir de sua rica experiência própria e tem o direito de exclamar aos zombadores e incrédulos Provem antes de julgar E temos de concordar com ele quando diz A fim de formar um julgamento acerca do hipnotismo é preciso que se tenha praticado o hipnotismo por experiência própria Realmente há numerosos adversários da hipnose que formaram seu julgamento de um modo mais apressado Não puseram à prova o novo método terapêutico e não o empregaram imparcial e cuidadosamente como se procederia por exemplo com uma droga recentemente recomendada rejeitaram a hipnose a priori e agora a ausência de conhecimentos dos valiosos efeitos terapêuticos desse método não os autoriza seja qual for o seu fundamento a manifestar tão cáusticas e injustificadas expressões de antipatia à hipnose Exageram enormemente os perigos da hipnose passam a destratála sistematicamente e diante da abundância de relatos de cura pela hipnose que já não podem ser relegadas ao descaso reagem com esses pronunciamentos oraculares As curas nada provam elas mesmas exigem prova Tendo em conta a violência de sua oposição não é de admirar que acusem os médicos que consideram seu dever usar a hipnose para beneficiar seus pacientes de terem motivos insinceros e formas de pensar nãocientíficas acusações que devem ser excluídas de uma discussão científica sejam elas apresentadas publicamente sejam veiculadas de modo mais ou menos disfarçado Quando entre esses adversários encontramse homens como Hofrat Meynert homens que por seus escritos adquiriram grande autoridade e quando essa autoridade sem nem sequer ser posta em dúvida se estende pelo consenso tanto dos médicos como do público leigo a todos os seus pronunciamentos então sem dúvida é inevitável que daí resulte algum dano para a causa do hipnotismo Para a maioria das pessoas é difícil supor que um cientista que teve grande experiência em certas áreas da neuropatologia e deu provas de grande agudeza de espírito não possa qualificarse para ser citado como autoridade em outros problemas e o respeito à grandeza particularmente à grandeza intelectual certamente está entre as melhores características da natureza humana Mas é necessário ter o devido respeito pelos fatos Não há por que recear dizer isso francamente quando se trata de colocar de lado a dependência que se tinha em relação a uma autoridade em favor da opinião própria formada a partir do estudo dos fatos Todo aquele que tal como o autor desta resenha alcançou um julgamento independente nos assuntos referentes à hipnose haverá de se consolar com a reflexão de que qualquer ofensa à reputação da O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 59 hipnose feita dessa maneira só pode ser uma ofensa limitada tanto no tempo como no espaço O movimento que procura introduzir o tratamento sugestivo no estoque terapêutico da medicina já triunfou em outros países e no final alcançará seu objetivo também na Alemanha e em Viena Todo médico que se disponha a examinar os fatos com isenção será levado a tomar uma atitude menos desfavorável quando verificar que as supostas vítimas da terapia hipnótica sofrem menos depois do tratamento e podem executar suas funções melhor do que o faziam antes e é este o caso dos meus próprios pacientes como posso afirmar Algumas experiências mostrarão a eles que toda uma série de censuras à hipnose aplicase não à hipnose em particular mas sim à nossa terapia em geral e pode na verdade ser mais justificadamente dirigida contra determinados métodos que todos nós usamos na prática do que contra a hipnose Como médicos descobrirão que é impossível não utilizar a hipnose e deixar que seus pacientes sofram quando podem aliviálos mediante o uso inócuo da influência psíquica Serão obrigados a dizer a si mesmos que a hipnose não perde nada de sua inocuidade nem de seu valor curativo quando a denominam loucura artificial ou histeria artificial do mesmo modo que a carne não perde nem um pouco seu gosto nem seu valor nutritivo só porque a ira dos vegetarianos a denuncia como carniça Esqueçamos por um momento que conhecemos por nossa experiência os efeitos da hipnose perguntemonos que efeitos prejudiciais esperaríamos a priori resultassem dela O tratamento hipnótico em primeiro lugar consiste em induzir um estado hipnótico e em segundo em veicular uma sugestão à pessoa hipnotizada Qual desses dois atos se supõe seja prejudicial Promover a hipnose Mas a hipnose quando tem seu mais pleno êxito nada mais é do que o sono comum coisa tão conhecida de todos nós embora sob muitos aspectos sem dúvida ainda não a compreendamos e por outro lado quando menos completamente desenvolvida a hipnose corresponde às diferentes fases do processo do adormecer É verdade que no sono perdemos nosso equilíbrio psíquico e a atividade de nosso cérebro durante o sono é uma atividade desordenada que em muitos aspectos lembra a loucura esta analogia contudo também não impede que despertemos do sono com renovada força mental Se fôssemos seguir as opiniões de Meynert acercados efeitos prejudiciais da redução da atividade cortical e da origem que ele atribui à euforia hipnótica nós médicos realmente teríamos toda a razão para manter as pessoas insones Até agora porém as pessoas ainda preferem dormir e não temos por que recear que os perigos da terapia hipnótica se situem no ato de hipnotizar Comunicar uma sugestão seria o fator prejudicial Isto é impossível pois é ato notório que os ataques da oposição de modo algum são dirigidos contra a sugestão Como se sabe o uso da sugestão tem sido uma coisa familiar aos médicos desde épocas imemoriais Todos nós estamos dando sugestões constantemente dizem eles e realmente um médico mesmo que não pratique a hipnose nunca se sente mais satisfeito do que depois de haver recalcado um sintoma da atenção de um paciente mediante o poder de sua personalidade e influência de suas palavras e de sua autoridade Por que não deveria então o médico procurar exercer sistematicamente a influência que sempre lhe parece tão desejável quando nela tropeça inadvertidamente Entretanto talvez seja a sugestão de qualquer modo o elemento passível de objeções a repressão de uma personalidade livre pelo médico que ao mesmo tempo conserva um poder de direção sobre o cérebro adormecido em sono artificial É deveras interessante ver os mais ardorosos deterministas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 60 defendendo de repente o periclitante livrearbítrio pessoal e constatar que os psiquiatras que estão habituados a sufocar a atividade mental de livre aspiração de seus pacientes com grandes doses de brometos morfina e hidrato de cloral passem a acusar a influência da sugestão como coisa degradante tanto para o paciente como para o médico Será então realmente possível esquecer que a repressão da independência de um paciente pela sugestão da hipnose é sempre apenas uma repressão parcial que ela visa aos sintomas de uma doença que como foi mostrado uma centena de vezes toda a educação social dos seres humanos se baseia numa repressão de idéias e motivações impróprias e na sua substituição por outras melhores e que diariamente a vida produz em todas as pessoas efeitos psíquicos que ainda que as atinjam no seu estado de vigília nelas produzem modificações muito mais intensas do que aquelas produzidas pela sugestão do médico que tenta eliminar uma idéia penosa ou angustiante usando a eficácia de uma contraidéia Não Não há nada de perigoso na terapia pela hipnose apenas o seu mau uso é que pode ser perigoso e todo aquele que na qualidade de médico não confiar no escrúpulo ou retidão de sua intenção de evitar esse mau uso agirá acertadamente mantendose à distância desse método terapêutico novo No que concerne à avaliação pessoal dos médicos que têm a coragem de utilizar a hipnose como medida terapêutica antes que a onda da moda a torne obrigatória o autor desta resenha é de opinião de que é conveniente ter certa tolerância para com a freqüente intolerância dos grandes homens Por isso não lhe parece aconselhável ou matéria digna de algum interesse para um círculo mais amplo investigar aqui as razões que levaram o Hofrat Maynert a apresentálo o resenhista bem como a parte da história de sua vida aos leitores de seu artigo sobre as neuroses traumáticas O autor desta resenha julga mais importante falar a favor da hipnose para aqueles que se habituaram a deixar que seu julgamento sobre matérias científicas seja determinado por uma grande autoridade e que talvez a isto tenham sido levados por uma correta percepção da inadequação do seu próprio discernimento Propõese fazêlo confrontando com a resistente autoridade de Meynert outros cientistas que se mostraram mais receptivos à hipnose Lembra que entre nós foi o Prof H Obersteiner quem primeiro deu impulso ao estudo científico da hipnose e que um psiquiatra e neurologista tão conceituado como o Prof KrafftEbing recente aquisição de nossa Universidade pronunciouse irrestritamente a favor da hipnose e a utiliza em sua prática médica com os melhores resultados Verseá que esses nomes satisfarão também àqueles que são desprovidos de opinião que sua confiança exige das autoridades científicas o preenchimento de determinadas condições tais como nacionalidade raça e latitude geográfica e cuja confiança acaba nos postos de fronteira de sua terra natal Todos os outros que são receptivos à autoridade científica mesmo que proveniente de fora de sua terra natal incluirão também o Prof Forel entre os homens cuja defesa da hipnose pode tranqüilizálos quanto à suposta ilegitimidade e desmerecimento desse método de tratamento O autor desta resenha em particular quando se defrontou com os ataques de Meynert sentiu que apoiando a hipnose estava em boa companhia O Prof Forel é uma prova de que um homem pode ser um notável anatomista do cérebro e não obstante enxergar na hipnose algo mais do que um absurdo Também não pode serlhe negada a qualificação de um médico de rigorosa formação em fisiologia que o Hofrat Meynert muito amavelmente atribuiu ao passado O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 61 deste que escreve esta resenha e assim como o autor desta resenha retornou da iniqüidade de Paris em estado corrompido uma visita a Bernheim em Nancy constituiu para o Prof Forel o ponto de partida da nova atividade a que devemos este excelente trabalho II Nas partes iniciais deste livro Forel procura na medida do possível estabelecer uma distinção entre fatos teorias conceitos e terminologia O fato principal do hipnotismo consiste na possibilidade de colocar uma pessoa num estado especial da mente ou mais precisamente do cérebro que se assemelha ao sono Esse estado é conhecido como hipnose Um segundo conjunto de atos consiste na maneira como esse estado é produzido e encerrado Isto parece ser possível de três modos 1 pela influência psíquica que uma pessoa exerce sobre outra sugestão 2 pela influência fisiológica de determinados métodos fixação por ímãs pela mão do hipnotizador etc e 3 pela autoinfluência autosugestão No entanto apenas o primeiro desses métodos está estabelecido a produção por idéias sugestão Em nenhuma das outras formas de produzir a hipnose parece possível excluir a ação da sugestão de uma ou de outra forma Um terceiro grupo de fatos diz respeito à conduta da pessoa hipnotizada Quando a pessoa está sob hipnose é possível exercer pela sugestão os mais amplos efeitos sobre quase todas as funções do sistema nervoso e entre elas sobre aquelas atividades cuja dependência com relação aos processos que ocorrem no cérebro é geralmente estimada como bastante reduzida O fato de a influência do cérebro sobre as funções orgânicas poder tornarse mais intensa sob hipnose do que no estado de vigília certamente se harmoniza pouco com as teorias dos fenômenos hipnóticos que procuram considerálos como depressores da atividade cortical uma espécie de imbecilidade experimental Existem contudo muitas outras coisas além dos fenômenos hipnóticos que não se harmonizam com essa teoria a qual procura compreender quase todos os fenômenos da atividade cerebral por meio do contraste entre cortical e subcortical e parece chegar ao ponto de localizar o princípio do mal nas partes subcorticais do cérebro Outros fatos inquestionáveis são a dependência da atividade mental da pessoa hipnotizada em relação à do hipnotizador e a produção daquilo que se conhece como efeitos póshipnóticos na pessoa hipnotizada isto é a determinação de atos psíquicos que só são executados muito tempo depois de cessada a hipnose Por outro lado há toda uma série de afirmativas que relatam as mais interessantes atividades executadas pelo sistema nervoso clarividência sugestão mental etc mas que atualmente não podem ser arroladas como fatos e embora um exame científico dessas afirmações não deva ser recusado devese ter em mente que um esclarecimento satisfatório das mesmas envolve as maiores dificuldades Para explicar os fenômenos da hipnose foram propostas três teorias fundamentalmente diferentes A mais antiga destas que ainda denominamos teoria de Mesmer supõe que no ato de hipnotizar um material imponderável um fluido passa do hipnotizador para o organismo hipnotizado Mesmer chamava esse agente de magnetismo Sua teoria tornouse tão estranha à nossa forma de pensamento científico contemporâneo que pode ser considerada eliminada Uma segunda teoria somática explica os fenômenos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 62 hipnóticos com base nos reflexos medulares considera a hipnose um estado fisiológico modificado do sistema nervoso causado por estímulos externos impacto da mão fixidez da atividade sensorial adução de ímãs aplicação de metais etc Afirma que os estímulos desse tipo só têm efeito hipnogênico quando há uma disposição peculiar do sistema nervoso e portanto só os neuropatas especialmente os histéricos são hipnotizáveis Despreza a influência das idéias na hipnose e descreve uma série típica de modificações puramente somáticas que podem ser observadas durante o estudo hipnótico Como se sabe é a grande autoridade de Charcot que apóia essa concepção exclusivamente somática da hipnose Forel no entanto posicionase inteiramente segundo uma terceira teoria a teoria da sugestão criada por Liébeault e seus discípulos Bernheim Beaunis Liégeois Segundo essa teoria todos os fenômenos da hipnose constituem efeitos psíquicos efeitos de idéias que intencionalmente ou não são provocadas na pessoa hipnotizada O estado de hipnose como tal é produzido não por estímulos externos mas por uma sugestão não é exclusivo dos neuropatas e pode ser conseguido sem muita dificuldade na grande maioria das pessoas sadias Em resumo o conceito de hipnotismo tão mal definido até agora deve equivaler ao conceito de sugestão Deve ficar reservado à decisão de uma crítica mais aprofundada saber se o conceito de sugestão realmente é menos mal definido que o conceito de hipnotismo Aqui é necessário apenas assinalar que um médico que deseja estudar a hipnose e a respeito dela formar uma opinião indubitavelmente deverá adotar em princípio a teoria da sugestão Pois será capaz de se convencer da correção dos postulados da escola de Nancy a qualquer tempo com seus próprios pacientes ao passo que provavelmente terá poucas condições de confirmar por sua própria observação os fenômenos descritos por Charcot como grande hipnotismo os quais parecem ocorrer somente em alguns portadores de grande hystérie A segunda parte do livro trata da sugestão com admirável concisão e uma capacidade de descrição magistral e penetrante cobre toda a área dos fenômenos psíquicos que foram observados em pessoas sob hipnose A chave para a compreensão da hipnose é dada pela teoria do sono normal ou melhor do adormecer normal de Liébeault segundo a qual a hipnose se distingue somente pela inserção do relacionamento entre a pessoa hipnotizada e a pessoa que a faz adormecer Dessa teoria inferese que toda pessoa é hipnotizável e que para não se promover a hipnose é necessária a presença de obstáculos especiais Examinase a natureza desses obstáculos um desejo demasiadamente intenso de ser hipnotizado tanto quanto uma grande resistência intencional e assim por diante discutemse os graus de hipnose e se estuda a relação entre o sono sugerido e os outros fenômenos da hipnose quase sempre em completo acordo com Bernheim cuja obra categorizada sobre a sugestão parece ter encontrado amplo círculo de leitores em sua tradução alemã Os parágrafos sobre os efeitos da sugestão sob hipnose são igualmente apresentados sob a forma de excertos de Bernheim mas são invariavelmente ilustrados com exemplos provenientes da experiência do próprio autor Forel apresentaos com esta frase Por meio da sugestão sob hipnose é possível produzir influenciar impedir inibir modificar paralisar ou estimular todos os fenômenos subjetivos conhecidos da mente humana e uma grande parte das funções objetivamente conhecidas do sistema nervoso isto é influenciar as funções sensitivas e motoras do corpo determinados reflexos e processos vasomotores a ponto mesmo de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 63 causar bolhas e na esfera psíquica influenciar sentimentos instintos memória atividade volitiva e assim por diante Todo aquele que já tenha acumulado algumas experiências pessoais com o hipnotismo há de se lembrar da impressão que lhe causou o fato de pela primeira vez poder exercer sobre a vida psíquica de uma outra pessoa aquilo que até então tinha sido uma influência inimaginável e de poder efetuar com uma mente humana uma experiência que de tal forma normalmente só é possível executar no corpo de um animal É verdade que essa influência apenas raramente se efetua sem resistência da parte da pessoa hipnotizada Esta não é um simples autômato muitas vezes empreende uma luta contra a sugestão e por sua própria atividade cria autosugestões termo que aliás apenas parece enriquecer o conceito de sugestão mas que estritamente falando é uma abrogação do mesmo São da maior importância as discussões que se seguem referentes aos fenômenos póshipnóticos sugestões destinadas a produzir seu efeito após um tempolimite fixado e a sugestão em estado de vigília grupo de fenômenos cujo estudo já trouxe as mais valiosas conclusões acerca dos processos psíquicos normais dos seres humanos embora sua interpretação ainda esteja sujeita a alguma controvérsia Se o trabalho de Liébeault e seus discípulos não tivesse produzido nada além do conhecimento desses fenômenos notáveis embora ao mesmo tempo sejam fenômenos do diaadia e do enriquecimento da psicologia por um novo método experimental esse trabalho mesmo excetuando qualquer alcance prático já teria assegurado um lugar de destaque entre as descobertas científicas deste século O pequeno livro de Forel contém toda uma série de comentários e conselhos oportunos sobre a aplicação prática do hipnotismo os quais impõem a mais integral admiração do autor Só um médico que associa o mais completo domínio do seu difícil tema a uma firme convicção da importância deste pode escrever dessa maneira A técnica do hipnotismo não é tão fácil como se poderia supor pela conhecida crítica feita no primeiro debate de Berlim Hipnotizar não é uma especialidade médica já que qualquer pastor de ovelhas adolescente a pratica É necessário estar imbuído de entusiasmo paciência grande certeza e uma boa dose de estratagemas e inspiração Aquele que tenta hipnotizar segundo um padrão predeterminado que teme a desconfiança ou o escárnio da pessoa a ser hipnotizada ou que já começa com um estado de ânimo vacilante conseguirá pouca coisa A pessoa a ser hipnotizada não deve ser nervosamente deixada em apuros as pessoas muito nervosas são as menos indicadas para realizar esse tipo de tratamento Um procedimento competente e firme elimina todas as supostas más conseqüências do hipnotismo Conforme apropriadamente se expressou o Dr Bérillon On ne simprovise pas plus médecin hypnotiseur quon ne simprovise oculiste Pois bem o que pode conseguir a hipnose Forel dá uma lista de doenças que parecem ceder muito bem com a sugestão sem pretender que essa lista seja completa Devese acrescentar que a posição que ocupam as indicações no caso do tratamento hipnótico difere um tanto do que se passa em outros casos como por exemplo no uso da digitalina Praticamente depende mais das características da pessoa do que da natureza de sua doença Há determinadas pessoas nas quais dificilmente um sintoma deixa de ceder à sugestão por mais firme que seja sua base orgânica por exemplo a vertigem na doença de Ménière ou a tosse na tuberculose em outras pessoas é impossível exercer qualquer influência sequer sobre distúrbios de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 64 indubitável origem psíquica E não depende menos da habilidade do hipnotizador e das condições nas quais ele é capaz de tratar seus pacientes Eu mesmo tenho tido não poucos resultados felizes com o tratamento hipnótico mas não me arrisco a empreender certas curas de um tipo que testemunhei junto a Liébeault e Bernheim em Nancy Também sei que boa parte do sucesso é devida à atmosfera sugestiva que circunda a clínica daqueles dois médicos ao milieu e ao estado de ânimo dos pacientes coisas de que nem sempre consigo encontrar sucedâneos em meus clientes experimentais Será possível modificar permanentemente uma função nervosa por meio da sugestão Ou será justificada a acusação de que a sugestão só produz êxitos sintomáticos por um curto espaço de tempo O próprio Bernheim deu a essa acusação uma resposta irrefutável nos últimos parágrafos de seu livro Assinala que a sugestão atua da mesma forma que qualquer outro agente terapêutico que temos à nossa disposição isto é uma sugestão escolhe dentre um complexo de fenômenos patológicos um ou outro sintoma importante cuja remoção exercerá a influência mais favorável na evolução de todo o processo Podese acrescentar que a sugestão além disso satisfaz todos os requisitos de um tratamento causal em numerosos casos É o que sucede por exemplo nos distúrbios histéricos que são resultado direto de uma idéia patogênica ou sedimento de uma experiência desagregadora Quando essa idéia é eliminada ou essa lembrança é enfraquecida que é o que a sugestão realiza também o distúrbio geralmente é superado É verdade que isso não significa que a histeria esteja curada em condições parecidas ela provocará sintomas parecidos Mas será que a histeria é curada pelahidroterapia pela superalimentação ou pela valeriana Acaso se espera que um médico possa curar uma diátese nervosa quando persistem as circunstâncias que a sustentam Segundo Forel podese conseguir êxito permanente por meio da sugestão nas seguintes condições 1 Quando a mudança efetuada tem dentro de si mesma a força para se manter entre os elementos da dinâmica do sistema nervoso Por exemplo suponhamos que uma criança por meio da sugestão interrompeu a enurese noturna Então o hábito normal pode conseguir estabelecerse tão firmemente como o hábito anterior indesejável Ou 2 quando essa força para a mudança é suprida por um medicamento Suponhamos por exemplo que alguém sofra de insônia fadiga e enxaqueca Então a sugestão lhe assegura o sono e assim melhora seu estado geral e o retorno da enxaqueca é evitado permanentemente Mas o que é realmente a sugestão que é a base de todo o hipnotismo no qual todos esses resultados são possíveis Ao levantarmos essa questão apontamos um dos pontos fracos da teoria de Nancy Sem querer lembramonos da questão do ponto de apoio de São Cristóvão quando verificamos que o trabalho exaustivo de Bernheim que culmina com a afirmação Tout est dans la suggestion nem de longe procura abordar a natureza da sugestão isto é a definição do conceito Quando tive o privilégio de receber ensinamentos pessoais do professor Bernheim sobre os problemas do hipnotismo pareceume verificar que ele denominava sugestão a toda influência psíquica eficaz exercida por uma pessoa sobre outra e que considerava como sugerir todo esforço no sentido de exercer uma influência psíquica em alguma outra pessoa Forel procura estabelecer uma distinção mais clara Uma seção sobre Sugestão e Consciência rica em idéias intenta compreender a atuação da sugestão com base em determinadas hipóteses fundamentais relativas aos eventos psíquicos normais Ainda que não sejamos solicitados a dar uma declaração de que O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 65 estamos completamente satisfeitos com esse debate devemos ao autor nossos agradecimentos por apontar a direção em que se pode procurar uma solução para o problema e por numerosas sugestões e contribuições nesse sentido Não pode haver dúvidas de que comentários como os que fez Forel nessa seção de seu livro têm maior conexão com o problema da hipnose do que o contraste entre cortical esubcortical e as especulações sobre dilatação e constrição dos vasos sangüíneos do cérebro O livro termina com uma seção sobre a importância forense da sugestão Conforme sabemos até o momento os crimes sugeridos são simplesmente uma possibilidade para a qual os juristas estão se preparando e que os romancistas podem prever como não tão improváveis que não possam acontecer algum dia De fato em laboratório não é difícil induzir um bom sonâmbulo a cometer um crime imaginário Mas depois das perspicazes críticas de Delboeuf aos experimentos de Liégeois deve permanecer em aberto a questão de até que ponto a consciência de se tratar apenas de uma experiência facilita à pessoa a execução do crime DR SIGM FREUD HIPNOSE 1891 a EDIÇÃO ALEMÃ 1891 Em Therapeutisches Lexikon de Anton Bum 724732 Viena Urban Schwarzenberg 1893 2ª ed 896904 1900 3ª ed 1 111019 A segunda e a terceira edições não sofreram modificações exceto quanto a algumas correções mínimas principalmente tipográficas A tradução de James Strachey é a primeira para o inglês Essa contribuição assinada para um dicionário médico tinha passado inteiramente despercebida até ser descoberta em 1963 pelo Dr Paul F Cranefield PhD editor do Bulletin of the New York Academy of Medicine A ele cabem nossos agradecimentos por chamarnos a atenção para esse trabalho e por nos ter fornecido cópias fotostáticas Parece que nada se sabe acerca da feitura desse trabalho Seria um equívoco pensar que é muito fácil praticar a hipnose com fins terapêuticos Pelo contrário a técnica de hipnotizar é um método médico tão difícil como qualquer outro Um médico que deseja hipnotizar deve têlo aprendido com um mestre nessa arte e mesmo depois disso deverá ter tido bastante O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 66 experiência própria a fim de obter êxitos em mais do que alguns poucos casos Depois como hipnotizador experiente haverá de abordar o assunto com toda a seriedade e firmeza que nascem da consciência de estar empreendendo algo útil e a rigor em algumas circunstâncias necessário A rememoração de tantas outras curas realizadas pela hipnose conferirá à sua conduta para com seus pacientes uma certeza que não deixará de despertar também nestes a expectativa de mais um êxito terapêutico Todo aquele que se põe a hipnotizar com ceticismo que talvez se afigure cômico a si mesmo nessa situação e que revele por sua expressão sua voz e seus modos não esperar nada da experiência não terá motivos para se surpreender com seus fracassos deveria preferentemente deixar esse método de tratamento para outros médicos capazes de praticálo sem se sentirem feridos em sua dignidade médica de vez que se convenceram pela experiência e pela leitura da realidade e da importância da influência hipnótica Devemos ter como regra não procurar impor ao paciente o tratamento pela hipnose Entre o público achase difundido o preconceito realmente reforçado por alguns médicos conceituados conquanto inexperientes nesse assunto de que a hipnose é um procedimento perigoso Se tentássemos impor a hipnose a alguém que acreditasse nessa afirmação provavelmente viríamos a ser interrompidos não mais do que uns poucos minutos depois por acontecimentos desagradáveis que surgiriam da ansiedade do paciente e de seu sentimento angustiante de estar sendo dominado os quais porém com bastante certeza seriam considerados como resultado da hipnose Portanto sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da hipnose devemos renunciar ao método e esperar até que o paciente sob a influência de outras informações aceite a idéia de ser hipnotizado Por outro lado não é absolutamente desfavorável se um paciente declara que não teme a hipnose mas que não acredita nela ou não acredita que ela lhe possa ser útil Num caso desses dizemoslhe Não exigimos sua crença mas de início apenas sua atenção e sua cooperação E em regra nesse estado de espírito indiferente do paciente encontramos excelente apoio Por outro lado devese dizer que há pessoas que são impedidas de serem hipnotizadas justamente por sua vontade e insistência em serem hipnotizadas Isto está em completa discordância com a opinião popular segundo a qual a fé é um fator da hipnose mas realmente são estes os fatos Em geral podemos partir da presunção de que qualquer pessoa é hipnotizável porém todo médico encontrará determinado número de pessoas que dentro das condições de suas experiências não conseguirá hipnotizar e muitas vezes será incapaz de dizer de onde se originou seu fracasso Por vezes um método consegue obter algo que parecia impossível com um outro método e o mesmo se aplica aos diferentes médicos Nunca podemos dizer antecipadamente se será possível hipnotizar um paciente ou não empreender a tentativa é a única maneira de que dispomos para descobrir isso Até os dias atuais não se conseguiu relacionar a acessibilidade à hipnose com qualquer outro atributo de uma pessoa O que se sabe de verdadeiro é que os portadores de doença mental e os degenerados na sua maior parte não são hipnotizáveis e os neurastênicos somente o são com grande dificuldade Não é verdade que os pacientes histéricos não se adaptem à hipnose Pelo contrário são precisamente estes os pacientes nos quais a hipnose se efetua como reação a medidas puramente fisiológicas e com toda a aparência de um estado físico especial É importante formar um julgamento provisório da individualidade psíquica do paciente que desejamos hipnotizar mas nesse ponto específico não se podem estabelecer leis gerais Entretanto é evidente que não O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 67 há vantagem em começar um tratamento médico pela hipnose é melhor antes de tudo conquistar a confiança do paciente e deixar que sua desconfiança e seu senso crítico se neutralizem No entanto todo aquele que goza de uma grande reputação como médico ou como hipnotizador pode agir sem essa preparação Contra que doenças podemos usar a hipnose Nesse sentido as indicações são mais difíceis do que no caso de outros métodos de tratamento pois a reação individual à terapia hipnótica desempenha um papel quase tão grande como a própria natureza da doença a ser combatida Em geral evitaremos aplicar o tratamento hipnótico em sintomas que tenham origem orgânica empregaremos esse método apenas em casos de doenças nervosas puramente funcionais em doenças de origem psíquica bem como em casos de dependência de tóxicos e outras dependências Ainda assim convencernosemos de que numerosos sintomas de doenças orgânicas são acessíveis à hipnose e de que a modificação orgânica pode existir sem distúrbio funcional dela decorrente Devido à antipatia ao tratamento hipnótico verificada no momento raramente podemos empregar a hipnose exceto quando todos os outros tipos de tratamento foram tentados sem êxito Isto tem sua vantagem pois assim ficamos conhecendo a verdadeira área de ação da hipnose Naturalmente também podemos hipnotizar com vistas ao diagnóstico diferencial por exemplo quando estamos em dúvida se determinados sintomas se relacionam com a histeria ou com uma doença nervosa orgânica Contudo essa prova só tem algum valor em casos nos quais o resultado é favorável Quando tivermos conseguido uma certa familiaridade com o paciente e tivermos estabelecido o diagnóstico surge a questão de saber se iremos experimentar a hipnose num têteàtête ou se introduziremos uma terceira pessoa de confiança Essa medida seria desejável para proteger o paciente de um mau uso da hipnose bem como proteger o médico de alguma acusação de abuso do método E ambas as coisas sabidamente já ocorreram Mas nem sempre se pode empregar essa medida A presença de uma amiga ou do marido da paciente e assim por diante muitas vezes perturba enormemente a paciente e por certo diminui a influência do médico Ademais o assunto central das sugestões a serem feitas na hipnose nem sempre é apropriado para se tornar do conhecimento de pessoas muito próximas da paciente A introdução de um segundo médico não teria essa desvantagem mas aumenta em tal grau a dificuldade de executar o tratamento que o torna impossível na maioria dos casos Visto que compete ao médico acima de tudo prestar auxílio por meio da hipnose na maior parte dos casos ele terá de abrir mão da introdução de uma terceira pessoa e enfrentar o risco já mencionado junto com os demais riscos inerentes ao exercício da profissão médica A paciente porém deverá precaverse não se deixando hipnotizar por um médico que não pareça merecer a mais completa confiança Por outro lado é da maior utilidade para a paciente a ser hipnotizada que ela veja outras pessoas em estado de hipnose que saiba por imitação como irá se conduzir e saiba por outras pessoas qual a natureza das sensações que ocorrem durante o estado hipnótico Em Nancy na clínica de Bernheim e no ambulatório de Liébeault onde todo médico pode obter esclarecimentos a respeito dos resultados de que é capaz a influência hipnótica nunca se efetua a hipnose num têteàtête Todo paciente que pela primeira vez toma contato com a hipnose observa durante algum tempo como adormecem os pacientes há mais tempo em tratamento como obedecem durante a hipnose e como depois de acordarem admitem que seus sintomas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 68 desapareceram Isso o conduz a um estado de preparação psíquica que tão logo chegue sua vez o faz entrar em profunda hipnose Contra esse procedimento existe a objeção de as doenças e males de cada indivíduo serem discutidos diante de grande número de pessoas o que não é adequado a pacientes de classe social mais elevada Não obstante um médico que deseje tratar pela hipnose não deve renunciar a esse poderoso fator auxiliar e deve na medida do possível dispor as coisas de tal modo que a pessoa a ser hipnotizada esteja presente antes a uma ou mais experiências hipnóticas Se não podemos contar com a possibilidade de o paciente hipnotizarse por imitação logo que lhe damos o sinal podemos escolher entre diferentes métodos de induzirlhe a hipnose tendo todos eles em comum o fato de que por determinadas sensações físicas lembrem o adormecer A melhor maneira de proceder é a que se segue Colocamos o paciente numa cadeira confortável pedimos que se mantenha cuidadosamente atento e que não fale mais pois falar lhe impediria o adormecer Removeselhe qualquer roupa apertada e pedese a quaisquer outras pessoas presentes que se mantenham numa parte da sala onde não possam ser vistas pelo paciente Escurecese a sala mantémse o silêncio Após esses preparativos sentamonos em frente ao paciente e pedimoslhe que fixe os olhos em dois dedos da mão direita do médico e ao mesmo tempo observe atentamente as sensações que passará a sentir Depois de curto espaço de tempo um minuto talvez começamos a persuadir o paciente a sentir as sensações do adormecer Por exemplo Estou reparando que as coisas estão indo rápido no seu caso seu rosto assumiu um aspecto fixo sua respiração ficou mais profunda você ficou muito tranqüilo suas pálpebras estão pesadas seus olhos estão piscando você não pode mais ver com muita clareza logo terá de engolir depois vai fechar os olhos e você está dormindo Com essas palavras e outras semelhantes já estamos propriamente no processo de sugerir que é como podemos chamar a esses comentários persuasivos durante a hipnose Mas estamos apenas sugerindo sensações e processos da motricidade tal como ocorrem espontaneamente na instalação do sono hipnótico Podemos convencernos disto se tivermos diante de nós uma pessoa que possa ser submetida à hipnose somente por meio da fixação do olhar método de Braid pessoa em que por conseguinte a fadiga dos olhos causa o estado de sono devido ao esforço da atenção e porque esta se desvia das outras impressões Primeiramente a fisionomia do paciente assume um aspecto rígido sua respiração se aprofunda seus olhos se umedecem e piscam freqüentemente ocorrem um ou mais movimentos de deglutição e por fim os globos oculares se voltam para dentro e para cimaas pálpebras caem e a hipnose está presente É grande o número de pessoas nas quais o fenômeno se passa dessa maneira se observarmos que temos diante de nós uma pessoa nessas condições será bom mantermos silêncio e só ocasionalmente dar ajuda mediante uma sugestão Procedendo de modo diferente só estaríamos perturbando o paciente que se está hipnotizando e se a sucessão de sugestões não corresponder à seqüência real de suas sensações provocaremos uma contradição Contudo geralmente é aconselhável não esperar pelo desenvolvimento espontâneo da hipnose convém estimulála por sugestões Estas no entanto devem ser dadas de modo resoluto numa seqüência rápida Não se deve deixar por assim dizer que o paciente caia em si ele não deve ter tempo para testar se é correto aquilo que lhe foi dito Para que seus olhos se fechem não precisamos de mais do que dois a quatro minutos aproximadamente se não se fecharem espontaneamente nós os fechamos exercendo uma pressão sobre eles sem demonstrar surpresa ou aborrecimento por não ter O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 69 ocorrido seu fechamento espontâneo Se os olhos permanecerem cerrados é provável que tenhamos conseguido um determinado grau de influência hipnótica Este é o momento decisivo para tudo o que virá a seguir Pois acontece uma de duas possibilidades A primeira alternativa é o paciente mantendo fixo o olhar e ouvindo as sugestões realmente ter sido posto em estado hipnótico nesse caso ele permanece quieto depois de cerrar os olhos Podemos então fazer a prova da catalepsia darlhe as sugestões requeridas para sua doença e então despertálo Depois de acordar o paciente ou estará amnésico esteve sonambúlico durante a hipnose ou conservará completamente a sua memória e relatará as sensações que teve durante a hipnose Não é raro aparecer no seu semblante um sorriso depois de termos fechado seus olhos O médico não deve perturbarse com isso via de regra significa apenas que a pessoa sob hipnose ainda é capaz de ajuizar acerca de seu próprio estado e o acha estranho ou cômico A segunda alternativa porém é a de não se ter estabelecido a influência ou de ter havido apenas um grau muito leve da mesma enquanto o médico se conduziu como se tivesse diante de si uma hipnose completa Imaginemos o estado mental do paciente nessa situação Ele prometeu no início dos preparativos manterse calmo não falar mais e não dar nenhuma indicação de confirmação ou negação agora ele verifica que com base em sua concordância com isto estálhe sendo dito que está hipnotizado ele se irrita com o fato sentese mal por não lhe ser permitido expressar sua irritação sem dúvida também está receoso de que o médico de imediato comece a fazer sugestões na crença de que ele paciente está hipnotizado antes de estar E nisso a experiência mostra que se não está realmente hipnotizado não mantém o acordo que fizemos com ele O paciente abre os olhos e diz geralmente ressentido Não estou dormindo coisa nenhuma Um principiante diante disso pensaria que a hipnose é um fracasso mas alguém com experiência não haverá de perder sua compostura Responderá sem a menor irritação ao mesmo tempo que novamente fecha os olhos do paciente Mantenhase tranqüilo Você prometeu não falar Naturalmente sei que você não está dormindo e nem isso é necessário Qual teria sido o sentido de eu simplesmente fazer você adormecer Você não compreenderia quando eu lhe falasse Você não está dormindo mas está hipnotizado está sob minha influência o que eu lhe digo agora causará uma impressão especial em você e lhe será útil Depois dessa explicação geralmente o paciente se mantém calmo e lhe fazemos as sugestões por ora abstemosnos de procurar os sinais físicos da hipnose contudo depois que essa dita hipnose tiver sido repetida diversas vezes verificaremos que aparecem alguns dos fenômenos somáticos que caracterizam a hipnose Em muitos casos desse tipo no final ainda continua duvidoso se o estado que provocamos merece o nome de hipnose No entanto estaríamos cometendo um erro se procurássemos restringir a veiculação de sugestões aos casos em que o paciente se torna sonambúlico ou entra em um grau profundo de hipnose Em casos assim que na realidade só têm a aparência de hipnose podemos conseguir os mais surpreendentes resultados terapêuticos que por outro lado não são obtidos com a sugestão de vigília Portanto também nesse caso o que temos diante de nós é ainda assim certamente hipnose cujo único objetivo afinal é o efeito que nela se produz pela sugestão Entretanto se depois de tentativas repetidas de três a seis não houver qualquer indício de êxito nem qualquer sinal somático de hipnose desistiremos da experiência O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 70 Bernheim e outros distinguiram diversos graus de hipnose mas sua enumeração tem pouco valor na prática O que tem importância decisiva é apenas se o paciente ficou sonambúlico ou não isto é se o estado de consciência produzido na hipnose difere nitidamente do estado habitual de modo significante para que a lembrança daquilo que ocorreu durante a hipnose esteja ausente depois de ele acordar Nesses casos o médico pode negar a realidade das dores que estão presentes ou de qualquer outro sintoma com a maior decisão o que geralmente ele é incapaz de fazer se sabe que alguns minutos mais tarde o paciente lhe dirá Quando o senhor disse que eu não tinha mais dores eu as tinha do mesmo jeito e as tenho ainda agora Os esforços do hipnotizador orientamse no sentido de ele se poupar de contradições dessa ordem que só fazem abalar sua autoridade Portanto seria da maior importância para o tratamento se possuíssemos um método que possibilitasse colocar qualquer pessoa em estado de sonambulismo Infelizmente não há tal método A principal deficiência do tratamento pela hipnose é que ele não pode ser dosado O grau alcançável de hipnose não depende do método do médico mas da reação casual do paciente É também muito difícil aprofundar a hipnose em que um paciente entra embora isso habitualmente aconteça quando as sessões se repetem com freqüência Quando não ficamos satisfeitos com a hipnose obtida procuramos lançar mão de outros métodos quando o tratamento prossegue Estes muitas vezes atuam mais energicamente ou continuam atuando depois de se haver enfraquecido a influência do método inicialmente adotado Aqui estão alguns desses métodos aplicar pequenos golpes no rosto e no corpo do paciente com ambas as mãos continuamente durante cinco a dez minutos isto tem um efeito surpreendentemente relaxante e tranqüilizador usar a sugestão acompanhada da passagem da corrente galvânica fraca que produz uma perceptível sensação de sabor o anódio colocado numa faixa larga sobre a testa e o catódio numa faixa ao redor do pulso aqui a impressão de estar atado e a sensação galvânica contribuem em muito para a hipnose Podemos improvisar métodos parecidos a nosso critério basta que mantenhamos o objetivo de desenvolver por uma associação de pensamento o estado do adormecer e de fixar a atenção por meio de uma sensação persistente O verdadeiro valor terapêutico da hipnose está nas sugestões feitas durante a mesma Essas sugestões consistem numa enérgica negação dos males de que o paciente se queixou ou num asseguramento de que ele pode fazer algo ou numa ordem para que o execute Um resultado muito mais marcante do que o produzido por simples asseguramento ou negação será obtido se vincularmos a esperada cura a uma ação ou intervenção nossa durante a hipnose Por exemplo Você não tem mais dores neste lugar eu aperto aqui e a dor desaparece Aplicar pequenas pancadas e pressão na parte afetada do corpo durante a hipnose em geral proporciona excelente apoio à sugestão falada E não devemos deixar de esclarecer o paciente sob hipnose acerca da natureza de sua afecção mostrarlhe as razões do término do seu problema e assim por diante pois o que temos diante de nós via deregra não é um autômato psíquico mas um ser dotado do poder de crítica e da capacidade de julgamento sobre o qual simplesmente estamos em condição de exercer maior impressão agora do que quando ele se encontra em estado de vigília Quando a hipnose é incompleta devemos evitar permitir que o paciente fale Uma expressão motora dessa espécie faz dissipar a sensação de entorpecimento que corrobora sua hipnose e o faz acordar Podese sem receio permitir às pessoas sonambúlicas que falem O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 71 andem e ajam e obtemos uma influência psíquica de máximo alcance sobre elas perguntandolhes quando estão sob hipnose a respeito dos seus sintomas e da origem deles Mediante a sugestão fazemos surgir ou um efeito imediato especialmente ao tratar paralisias contraturas etc ou um efeito póshipnótico ou seja um efeito cujo aparecimento estipulamos para um determinado tempo após o despertar No caso de sintomas muito rebeldes é muito vantajoso intercalar um período de espera como este digamos até mesmo uma noite inteira entre a sugestão e a sua execução A observação dos pacientes mostra que em regra geral as impressões psíquicas necessitam de certo tempo de um período de incubação a fim de efetuarem uma modificação física Cf Neurose traumática Cada uma das sugestões deve ser feita com a maior decisão pois qualquer indício de dúvida é percebido pelo paciente que o explora desfavoravelmente não deve ser permitida uma contradição sequer e se formos capazes insistiremos em nosso poder de produzir catalepsia contraturas anestesia e assim por diante A duração de uma hipnose deve ser planejada de acordo com a necessidade prática a manutenção da hipnose por tempo relativamente longo até algumas horas certamente não é desfavorável para o êxito O despertar é executado mediante algum comentário mais ou menos assim Isto é suficiente por ora Não devemos deixar de assegurar ao paciente na primeira sessão de hipnose que ele vai acordar sem dor de cabeça sentindose satisfeito bemdisposto Apesar disso podese observar que após uma ligeira hipnose muitas pessoas despertam com sensação de pressão na cabeça e fadiga no caso de a duração da hipnose ter sido demasiado curta É como se não tivessem terminado seu sono A profundidade de uma hipnose não está invariavelmente em proporção direta com seu sucesso Podemos produzir as maiores modificações nashipnoses mais leves e ao contrário podemos fracassar num caso que atinja o estado de sonambulismo Quando o resultado desejado não é conseguido após algumas hipnoses aparece uma outra dificuldade vinculada a esse método de tratamento Enquanto paciente algum se arrisca a mostrarse impaciente caso ainda não tenha sido curado depois da vigésima sessão de aplicação de eletricidade ou depois de igual número de garrafas de água mineral no tratamento hipnótico tanto o médico como o paciente se cansam muito mais depressa em conseqüência do contraste entre o matiz deliberadamente otimista das sugestões e a melancólica verdade dos efeitos Também aqui os pacientes inteligentes podem tornar mais fácil o trabalho do médico na medida em que percebem que ao fazer as sugestões o médico está por assim dizer desempenhando um papel e que quanto mais energicamente ele atacar a doença dos pacientes mais benefícios segundo se espera estes obterão Em todo tratamento hipnótico prolongado devese evitar cuidadosamente um procedimento monótono O médico deve estar constantemente à procura de um novo ponto de partida para suas sugestões de uma renovada prova de seu poder de uma nova modificação no seu método de hipnotizar Pois também para ele que tem quem sabe dúvidas íntimas a respeito do êxito este representa um grande e até exaustivo esforço Não há dúvida de que a área coberta pelo tratamento hipnótico é muito mais extensa do que a de outros métodos de tratamento de doenças nervosas E não há nenhuma justificativa para a acusação de que a hipnose só é capaz de influenciar sintomas e apenas por breve período de tempo Se o tratamento hipnótico é dirigido somente contra os sintomas e não contra os processos patológicos está seguindo justamente o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 72 mesmo caminho que todos os demais métodos de tratamento são obrigados a trilhar Quando a hipnose tem êxito a estabilidade da cura depende dos mesmos fatores que a estabilidade de todas as curas conseguidas por outro métodos Caso a hipnose se tenha defrontado com fenômenos residuais de um processo já concluído a cura será permanente se as causas que produziram os sintomas ainda estiverem em atividade e com sua força não diminuída é provável que haja uma recaída O emprego da hipnose nunca exclui o emprego de qualquer outro tratamento dietético mecânico ou de algum outro tipo Em numerosos casos ou seja naqueles em que os sintomas são de origem psíquica a hipnose preenche todos os requisitos que se podem exigir de um tratamento causal nessas circunstâncias fazer perguntas einfundir calma ao paciente em hipnose profunda geralmente proporciona o mais brilhante êxito Tudo que se tem dito e escrito a respeito dos grandes perigos da hipnose pertence ao reino da fantasia Se colocarmos de lado o mau uso da hipnose com fins ilegítimos possibilidade esta que existe em todos os outros métodos terapêuticos eficazes o problema principal que teremos de considerar é a tendência de as pessoas com neurose grave depois de se repetir a hipnose entrarem em hipnose espontaneamente Cabe à capacidade do médico proibir essa hipnose espontânea que parece ocorrer somente em pessoas muito impressionáveis As pessoas cuja impressionabilidade vai ao ponto de poderem ser hipnotizadas contra sua vontade também podem ser protegidas de modo bastante completo pela sugestão de que apenas seu médico será capaz de hipnotizálas FREUD UM CASO DE CURA PELO HIPNOTISMO 189293 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 73 EIN FALL VON HYPNOTISCHER HEILUNG NEBST BEMERKUNGEN ÜBER DIE ENTSTEHUNG HYSTERISCHER SYMPTOME DURCH DEN GEGENWILLEN a EDIÇÕES ALEMÃS 189293 Zeitschr Hypnot 1 3 1027 4 1239 dezembro de 1892 e janeiro de 1893 1925 G S 1 25872 1952 G W 1 317 b TRADUÇÃO INGLESA A Case of Successful Treatment by Hypnotism 1950 C P 5 3346 Trad de James Strachey A presente tradução inglesa constitui uma versão ligeiramente corrigida da que foi publicada em 1950 Este artigo veio à luz quase exatamente na mesma época da Comunicação Preliminar de Breuer e Freud 1893a Algumas das idéias nele encontradas por exemplo a da contra vontade aparecem na obra posterior de Freud constituindo o artigo como que uma ligação entre seus escritos sobre hipnotismo e aqueles que abordam a histeria pela qual ele passava a se interessar A opinião de que um momento de disposição para a histeria neste caso a fadiga física proporciona a ocasião para a contra vontade afirmarse sugere a influência de Breuer e do estado hipnóide Ver em 1 UM CASO DE CURA PELO HIPNOTISMO COM ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A ORIGEM DOS SINTOMAS HISTÉRICOS ATRAVÉS DA CONTRAVONTADE Nas páginas que se seguem proponhome trazer a público um caso isolado de cura pela sugestão hipnótica pois devido a uma série de circunstâncias concomitantes esse caso foi mais convincente e mais claro do que a maioria dos nossos tratamentos nos quais houve êxito Já havia vários anos que eu conhecia a senhora a quem pude desse modo proporcionar atendimento numa fase importante de sua existência e ela permaneceu sob minha observação posteriormente por vários anos O distúrbio do qual foi aliviada pela sugestão hipnótica tinha surgido pela primeira vez algum tempo antes E havia em vão lutado contra ele e devido a tal problema tinha sido forçada a uma limitação da qual depois com minha ajuda se viu livre Um ano mais tarde o mesmo distúrbio apareceu mais uma vez e novamente foi superado da mesma forma O êxito terapêutico foi valioso para a paciente e persistiu enquanto ela desejou levar a cabo a função afetada pelo distúrbio Por fim nesse caso foi possível individualizar o mecanismo psíquico básico do distúrbio e correlacionálo com atos semelhantes na área da neuropatologia O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 74 Posso agora deixar de falar por enigmas Tratavase de uma mãe que era incapaz de amamentar seu bebê recémnascido até haver a intervenção da sugestão hipnótica Suas experiências com um filho anterior e com um outro subseqüente serviram de controle do êxito terapêutico tal como raramente se consegue lograr A pessoa de que trata esse caso clínico é uma jovem senhora entre vinte e trinta anos de idade a quem eu conhecia desde os seus anos de infância Sua capacidade tranqüilo bom senso e espontaneidade tornavam impossível que alguém inclusive seu médico de família a considerasse neurótica Tendo em conta as circunstâncias que passo a relatar devo classificála segundo a apropriada expressão de Charcot como uma histérique doccasion Essa categoria como sabemos não exclui uma admirável combinação de qualidades e de uma saúde nervosa isenta de comprometimentos em outros aspectos Quanto a sua família conheço sua mãe que de modo algum é uma pessoa neurótica e uma irmã mais nova igualmente sadia Um irmão sofreu de uma neurastenia típica do início da idade adulta o que arruinou sua carreira Estou familiarizado com a etiologia e a evolução dessa forma de doença que encontro repetidamente todos os anos no meu exercício da medicina Tendo começado a vida com uma boa constituição o paciente se defronta na puberdade com as dificuldades sexuais próprias da idade seguemse anos de sobrecarga de trabalho como estudante ele se prepara para exames e sofre um ataque de gonorréia seguido de um súbito início de dispepsia acompanhada de uma constipação rebelde e inexplicável Depois de alguns meses a constipação é substituída por sensação de pressão intracraniana depressão e incapacidade para o trabalho Daí em diante o paciente tornase cada vez mais ensimesmado e seu caráter vai ficando sempre mais fechado até ele se tornar um tormento para a família Não tenho certeza se não é possível adquirir essa forma de neurastenia com todos os seus elementos portanto sobretudo porque não conheço os demais parentes da minha paciente deixo em aberto a questão de podermos supor que nessa família estaria presente uma disposição hereditária para a neurose Ao chegar a época do nascimento do primeiro filho de seu casamento que era um casamento feliz a paciente pretendia amamentar o bebê O parto não foi mais difícil do que o habitual numa primípara já não tão jovem foi concluído por fórceps Entretanto embora sua constituição física parecesse favorável ela não conseguia amamentar satisfatoriamente a criança Havia pouca produção de leite surgiam dores quando o bebê era posto a mamar a mãe perdeu o apetite e se mostrava alarmantemente sem vontade de se alimentar tendo noites agitadas e insones Por fim após uns quinze dias a fim de evitar algum risco maior para a mãe e a criança diante do fracasso abandonouse a tentativa e a criança passou a ser alimentada por uma amadeleite Com isso todos os problemas da mãe desapareceram Devo acrescentar que não tenho condições de fazer um relato nem como médico nem como testemunha ocular dessa primeira tentativa de amamentação Três anos mais tarde nasceu o segundo bebê nessa ocasião circunstâncias externas somaramse ao fato de ser desejável evitar a amadeleite Mas os esforços da própria mãe para amamentar a criança pareciam ainda menos bemsucedidos e pareciam provocar sintomas ainda mais desagradáveis do que da primeira vez A paciente vomitava todo o alimento ingerido ficava inquieta quando ele era trazido até sua O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 75 cama e era completamente incapaz de dormir Ficou tão deprimida com sua incapacidade que seus dois médicos de família médicos amplamente conceituados em Viena como o Dr Breuere o Dr Lott não queriam nem ouvir em prosseguir com alguma outra tentativa mais prolongada nessa ocasião Recomendaram apenas que se fizesse mais um esforço com o auxílio da sugestão hipnótica e no entardecer do quarto dia fizeram com que eu fosse apresentado profissionalmente de vez que pessoalmente eu já era conhecido da paciente Encontreia deitada no leito as faces ruborizadas irritada com sua incapacidade de amamentar o bebê incapacidade que aumentava a cada tentativa mas contra a qual ela lutava com todas as suas forças A fim de evitar os vômitos não tinha ingerido nenhum alimento durante todo aquele dia Seu epigástrio estava distendido e apresentavase sensível à pressão a palpação revelou motilidade anormal do estômago de tempos em tempos havia eructação inodora e a paciente se queixou de ter tido mau gosto constante na boca A área de ressonância gástrica estava consideravelmente aumentada Longe de ser bem recebido como um salvador em hora de necessidade vime sendo recebido de má vontade e não pude contar com muita confiança por parte da paciente Logo tratei de induzir a hipnose por meio de fixação do olhar ao mesmo tempo que fazia constantes sugestões referentes aos sintomas do sono Três minutos depois a paciente estava deitada com a fisionomia tranqüila de alguém que dorme profundamente Não me recordo de ter feito quaisquer testes de catalepsia e outros sintomas de flexibilidade Utilizei a sugestão para contestar todos os temores dela e os sentimentos em que esses temores se baseavam Não tenha receio Você vai poder cuidar muito bem do seu bebê ele vai crescer forte O seu estômago está perfeitamente calmo o seu apetite está excelente você já está na expectativa da próxima refeição etc A paciente continuou dormindo o que permiti por alguns minutos e depois que a despertei ela revelou amnésia para o que ocorrera Antes de sair de casa vime na necessidade de contestar um comentário preocupado do marido da paciente achava ele que os nervos de uma mulher poderiam ser totalmente arruinados pela hipnose No começo da noite seguinte foime dito algo que me pareceu uma garantia de êxito mas que muito estranhamente não tinha causado nenhuma impressão na paciente nem nas pessoas da família Na noite anterior ela havia feito uma refeição sem qualquer conseqüência prejudicial dormindo placidamente e na manhã seguinte por sua própria iniciativa tinhase alimentado e amamentado a criança impecavelmente No entanto não suportou a refeição bastante farta do almoço Nem bem a comida lhe foi trazida e logo sua indisposição voltou os vômitos começaram antes mesmo de ela tocar no alimento Foi impossível colocar o bebê ao seio e todos os sinais objetivos eram os mesmos de quando eu chegara na noitinha anterior Não consegui nenhum resultado com minha argumentação de que a batalha já estava quase ganha de que agora ela estaria convencida de que o problema podia desaparecer e que de fato havia desaparecido durante meio dia Produzi então a segunda hipnose que a levou ao estado de sonambulismo tão rapidamente como da primeira vez e agi com maior energia e confiança Disse à paciente que cinco minutos depois de minha saída ela iria zangarse com sua família e dizer com aspereza o que tinha acontecido com o jantar dela será que pretendiam deixála passar fome como poderia ela amamentar a criança se ela mesma não tinha nada para O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 76 comer e assim por diante Na terceira tarde quando retornei a paciente recusouse a prosseguir qualquer tratamento Já não havia mais nenhum problema disse ela tinha um excelente apetite e muito leite para o bebê não havia a menor dificuldade quando este era posto a mamar etc Seu marido achou muito estranho que depois de minha saída na véspera ela tivesse reclamado violentamente exigindo comida e tivesse censurado a mãe de um modo que não lhe era habitual Todavia acrescentou ele tudo tinha estado muito bem desde então Não havia nada mais a ser feito por mim A mãe amamentou a criança por oito meses e com satisfação tive repetidas oportunidades de me inteirar de que ambos passavam bem No entanto eu achava difícil compreender ao mesmo tempo que isto me aborrecia o fato de jamais ter sido feita qualquer referência ao meu notável trabalho Um ano mais tarde chegou a minha vez quando o terceiro filho fez as mesmas exigências à mãe e esta foi incapaz de corresponder a elas tal como nas ocasiões anteriores Encontrei a paciente no mesmo estado do ano anterior sentindose efetivamente exasperada consigo mesma pois sua vontade nada conseguia fazer contra sua aversão aos alimentos e contra seus outros sintomas e a primeira hipnose da tarde teve como único resultado fazêla sentirse mais desesperada Mais uma vez após a segunda hipnose os sintomas foram eliminados tão completamente que não se fez necessária uma terceira hipnose Também essa criança que agora tem dezoito meses de idade foi amamentada sem qualquer problema e a mãe tem gozado de boa saúde Em face desse êxito a paciente e seu marido perderam o constrangimento e confessaram o motivo que havia determinado sua conduta em relação a mim Eu me sentia envergonhada disseme a mulher porque uma coisa como a hipnose podia obter resultado ao passo que eu com toda a minha força de vontade não conseguia nada Não obstante não penso que ela ou o marido tenham superado a ojeriza à hipnose Passarei agora a considerar qual pode ter sido o mecanismo psíquico do distúrbio de minha paciente que foi desse modo removido pela sugestão Não tenho informações diretas sobre o assunto como as tenho referentes a alguns outros casos que discutirei noutra ocasião por isso sou forçado a recorrer à alternativa de deduzir qual teria sido esse mecanismo Existem determinadas idéias que têm um afeto de expectativa que lhes está vinculado São de dois tipos idéias de eu fazer isto ou aquilo o que denominamos intenções e idéias de isto ou aquilo me acontecer são as expectativas propriamente ditas O afeto vinculado a tais idéias depende de dois fatores primeiro o grau de importância que o resultado tem para mim segundo o grau de incerteza inerente à expectativa desse resultado A incerteza subjetiva a contraexpectativa é em si representada por um conjunto de idéias ao qual darei o nome de idéias antitéticas aflitivas No caso de uma intenção essas idéias antitéticas se passam assim Não vou conseguir executar minha intenção porque isto ou aquilo é demasiado difícil para mim e eu sou incapaz de fazêlo sei também que algumas outras pessoas igualmente fracassaram em situação semelhante O outro caso o de uma expectativa não precisa de comentário a contraexpectativa consiste em enumerar todas as coisas que talvez possam me acontecer diferentes da que eu O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 77 desejo Ainda seguindo essa linha de raciocínio iríamos chegar até as fobias que desempenham tão grande papel na sintomatologia das neuroses Retornemos todavia à primeira categoria às intenções Como é que uma pessoa com vida ideativa sadia lida com as idéias antitéticas que se opõem a uma intenção Com a poderosa autoconfiança da saúde a pessoa as reprime e inibe na medida do possível e as exclui de suas associações de pensamentos Isto muitas vezes sucede em tal medida que a existência de uma idéia antitética contra uma intenção geralmente nem sequer se manifesta tornandose uma probabilidade somente quando passamos a examinar as neuroses De outro lado quando há uma neurose presente e não me estou referindo explicitamente apenas à histeria mas ao status nervosus em geral temos de supor a presença primária de uma tendência à depressão e à diminuição da autoconfiança tal como as encontramos muito desenvolvidas e individualizadas na melancolia Nas neuroses pois uma grande atenção é dedicada pelo paciente às idéias antitéticas que se opõem às intenções talvez porque o tema de tais idéias se coadune com o estado de ânimo da neurose ou talvez porque as idéias antitéticas que de outro modo estariam ausentes vicejem no terreno da neurose Quando essa intensificação das idéias antitéticas se relaciona com expectativas se o caso é de um simples status nervosus o feito se manifesta num quadro mental difusamente pessimista se o caso é de neurastenia as idéias associandose às mais fortuitas sensações ocasionam as numerosas fobias encontradas nos neurastênicos Quando a intensificação se relaciona com intenções ela origina as perturbações que se agrupam sob a classificação de folie de doute que tem como ponto principal a descrença na capacidade pessoal Justamente nesse ponto as duas principais neuroses neurastenia e histeria comportamse de modo diferente característico de cada uma delas Na neurastenia a idéia antitética patologicamente intensificada combinase com a idéia volitiva num único ato da consciência ela exerce uma subtração na idéia volitiva e causa a fraqueza da vontade que é tão marcante nos neurastênicos e de que eles mesmos estão conscientes Na histeria o processo difere desse que acabamos de descrever em dois aspectos ou possivelmente apenas em um aspecto Em primeiro lugar em consonância com a tendência à dissociação da consciência na histeria a idéia antitética aflitiva que parece estar inibida é afastada da associação com a intenção e continua a existir como idéia desconectada muitas vezes inconscientemente para o próprio paciente Em segundo lugar é extremamente característico da histeria que quando chega o momento de se pôr em execução a intenção a idéia antitética inibida consegue atualizarse através da inervação do corpo com a mesma facilidade com que o faz em circunstâncias normais uma idéia volitiva A idéia antitética se estabelece por assim dizer como uma contravontade ao passo que o paciente surpreso apercebese de que tem uma vontade que é resoluta porém impotente Talvez conforme já disse esses dois fatores no fundo sejam um só pode ser que a idéia antitética apenas seja capaz de se impor porque não a inibe a sua combinação com a intenção da forma como a intenção é inibida por ela 1 Se no caso de que nos ocupamos a mãe que se viu impedida por dificuldades neuróticas de amamentar seu filho fosse neurastênica sua conduta teria sido diferente Ela teria sentido um temor consciente da tarefa que lhe competia teria estado muito preocupada com os vários acidentes e perigos possíveis e depois de muito contemporizar com ansiedades e dúvidas teria afinal conseguido amamentar O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 78 sem qualquer dificuldade ou então se a idéia antitética se tivesse tornado dominante a paciente teria abandonado seu encargo por sentirse receosa do mesmo Mas a histérica se conduz de modo muito diverso Pode não estar consciente do seu receio estar bastante decidida a levar a cabo sua intenção e passar a executála sem hesitação Aí porém comportase como se fosse sua vontade não amamentar a criança em absoluto Ademais essa vontade desperta nela todos os sintomas subjetivos que uma simuladora apresentaria como desculpa para não amamentar seu filho perda do apetite aversão à comida dores quando a criança é posta a mamar E como a contravontade exerce sobre o corpo um controle maior do que a simulação consciente também produz no aparelho digestivo uma série de sinais objetivos que a simulação seria incapaz de engendrar Aqui em contraste com a fraqueza da vontade mostrada na neurastenia temos uma perversão da vontade e em contraste com a resignada irresolução mostrada no primeiro caso aqui encontramos surpresa e exasperação ante uma dissensão que é incompreensível para a paciente Portanto considerome justificado ao classificar minha paciente como uma hystérique doccasion de vez que ela em conseqüência de uma causa fortuita era capaz de produzir um complexo de sintomas com um mecanismo tão agudamente característico da histeria Podese presumir que nesse caso a causa fortuita era o estado de excitação da paciente antes do primeiro parto ou sua exaustão após o mesmo Um primeiro parto afinal é o maior choque a que está sujeito o organismo feminino e em conseqüência dele uma mulher geralmente produz alguns sintomas neuróticos que podem estar latentes em sua disposição Parece provável que o caso dessa paciente seja um caso típico e ele esclarece toda uma série de outros casos nos quais a amamentação no seio ou alguma função semelhante é impedida por influências neuróticas Contudo visto que no caso por mim relatado só entendi o mecanismo psíquico por inferências apressome a acrescentar a afirmação de que muitas vezes consegui estabelecer diretamente a ação de um mecanismo psíquico semelhante em sintomas histéricos investigando o paciente sob hipnose Aqui desejo mencionar apenas um dentre os exemplos mais expressivos Há alguns anos tratei uma paciente histérica que demonstrava grande força de vontade nos aspectos de sua conduta não afetados pela doença contudo nos que estavam assim afetados ela mostrava bem claramente o peso da carga que lhe impunham os numerosos e opressivos impedimentos e incapacidades histéricos Umas das características mais evidentes era um ruído peculiar que como um tique intrometiase em sua conversa Posso descrevêlo melhor dizendo que se tratava de um singular estalo da língua com súbita interrupção do fechamento convulsivo dos lábios Depois de observálo por algumas semanas pergunteilhe quando e como aquilo tinha surgido pela primeira vez Não sei quando foi respondeu ah faz muito tempo Isso me levou a considerar que se tratava de um tique verdadeiro até que um dia me ocorreu fazerlhe a mesma pergunta estando a paciente em profunda hipnose Essa paciente sob hipnose conseguia chegar sem haver qualquer necessidade de sugerirlhe a idéia ao acervo completo de suas recordações ou como eu preferiria expressarme a toda a extensão de sua consciência que se encontrava limitada durante sua vida desperta Ela respondeu prontamente Foi quando minha filha mais nova esteve muito doente ela havia passado o dia inteiro tendo convulsões mas por fim no final da tarde adormeceu Eu estava sentada à beira da cama dela e pensei comigo mesma Agora você tem de ficar absolutamente quieta para não acordála Foi então que o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 79 estalo ocorreu pela primeira vez Depois desapareceu Mas um dia passados alguns anos quando eu estava passando de carruagem por uma floresta perto de sobreveio uma violenta tempestade e um tronco de árvore junto ao caminho bem à nossa frente foi atingido por um raio de forma que o cocheiro teve de sofrear os cavalos bruscamente e eu pensei comigo Agora haja o que houver você não deve gritar senão os cavalos disparam E naquele momento o estalo veio novamente e persistiu desde essa ocasião Pude verificar que o ruído que ela fazia não era um tique verdadeiro pois a partir do momento em que assim se desvendou sua origem ele desapareceu e nunca mais retornou durante todos os anos em que permaneci em contacto com a paciente Esta porém foi a primeira ocasião em que consegui observar a origem dos sintomas histéricos mediante a atuação de uma idéia antitética aflitiva isto é mediante a contravontade A mãe exausta com suas angústias e dúvidas acerca de suas tarefas de cuidar da criança enferma tomou a decisão de não deixar que sequer um som saíssede seus lábios com receio de perturbar o sono da filhinha o qual tinha custado tanto a vir Mas no seu estado de exaustão mostrouse mais forte a concomitante idéia antitética de que ela não obstante pudesse fazer um ruído e essa idéia teve acesso à inervação da língua que sua decisão de manterse em silêncio talvez pudesse terse esquecido de inibir irrompeu no fechamento dos lábios e produziu um ruído que daí em diante permaneceu fixado por muitos anos especialmente depois que se repetiu a mesma sucessão de fatos Existe uma objeção que temos de enfrentar antes de podermos compreender inteiramente esse processo Podese perguntar como sucede a idéia antitética adquirir supremacia em conseqüência da exaustão geral que é o que constitui a disposição para o processo Eu responderia apresentando a teoria de que a exaustão é apenas parcial O que está exausto são os elementos do sistema nervoso que formam o fundamento material das idéias associadas com a consciência primária as idéias que estão excluídas dessa cadeia associativa isto é da cadeia de associações do ego normal as idéias inibidas e suprimidas não estão exaustas e por conseguinte predominam no momento da disposição para a histeria Todo aquele que esteja bem familiarizado com a histeria há de observar que o mecanismo psíquico que acabei de descrever oferece uma explicação não apenas das ocorrências histéricas isoladas mas também das partes principais da sintomatologia da histeria e ainda de uma de suas características mais salientes Se atentarmos cuidadosamente para o fato de que são as idéias antitéticas aflitivas inibida e rechaçadas pela consciência normal que se impõem num primeiro plano no momento da disposição para a histeria e têm acesso à inervação somática então teremos a solução para compreender também a peculiaridade dos delírios dos ataques histéricos Não é mera coincidência que o delírio histérico das monjas durante as epidemias da Idade Média tenha assumido a forma de blasfêmias violentas e linguagem erótica desenfreada ou como observou Charcot no primeiro volume de suas Leçons du Mardi que sejam justamente os meninos de boa educação e bemcomportados os que sofrem de ataques histéricos nos quais dão livre vazão a todo tipo de insubordinação a todo tipo de mácriação e má conduta São os grupos de idéias recalcadas laboriosamente recalcadas que entram em ação nesses casos pela operação de uma espécie de contravontade quando a pessoa cai vítima de exaustão histérica Talvez na realidade a conexão possa ser mais íntima pois o estado histérico é possivelmente produzido pela repressão laboriosa mas no presente trabalho não estou levando O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 80 em consideração os aspectos psicológicos de tal estado Aqui me interessa simplesmente explicar por que supondo que haja um estado de disposição para a histeria os sintomas assumem a forma particular sob a qual os vemos Essa emergência de uma contravontade é predominantemente responsável pela característica demoníaca tão freqüentemente mostrada pela histeria isto é a característica de os pacientes serem incapazes de fazer alguma coisa precisamente quando e onde mais ardentemente desejam fazêla de fazerem justamente o oposto daquilo que lhes foi solicitado e de serem obrigados a cobrir de maustratos e suspeitas tudo o que mais valorizam A perversidade de caráter que os histéricos mostram sua ânsia de fazerem a coisa errada de parecerem doentes quando mais necessitam estar bem as compulsões dessa ordem como as conhece todo aquele que já teve contacto com esses pacientes muitas vezes podem comprometer os caracteres mais irrepreensíveis quando durante algum período esses pacientes se tornam vítimas desamparadas de suas idéias antitéticas Parece destituído de significação querer saber o que acontece às intenções inibidas em relação à vida ideativa normal Poderíamos ser tentados a responder que elas simplesmente não existem O estudo da histeria mostra que não obstante elas realmente existem ou seja que é mantida a modificação física a elas correspondente e que elas são armazenadas e levam a vida insuspeitada numa espécie de reino das sombras até emergirem como maus espíritos e assumirem o controle do corpo que geralmente está sob as ordens da predominante consciência do ego Já disse que esse mecanismo é extremamente característico da histeria mas devo acrescentar que não ocorre somente na histeria Encontrase presente de modo bastante notável no tic convulsif uma neurose que em matéria de sintomas tem tanta semelhança com a histeria que todo o seu quadro pode ocorrer como manifestação parcial da histeria Tanto é assim que Charcot se não compreendi mal seus ensinamentos sobre esse assunto após manter separados a histeria e o tic convulsif por algum tempo conseguiu constatar apenas um aspecto diferencial entre os dois o tique histérico desaparece mais cedo ou mais tarde enquanto o tique verdadeiro persiste O quadro de tic convulsif grave como sabemos é constituído de movimentos involuntários freqüentemente ou sempre conforme opinião de Charcot e Guinon sob a forma de caretas ou gestos que numa época tiveram um significado de coprolalia de ecolalia e de idéias obsessivas pertencentes ao âmbito da folie de doute Contudo é surpreendente verificar que Guinon que nunca teve qualquer idéia de penetrar no mecanismo psíquico desses sintomas nos conta que alguns dos seus pacientes vieram a ter os espasmos e caretas porque uma idéia antitética tinha entrado em ação Esses pacientes relataram que em alguma ocasião tinham visto um tique parecido ou tinham visto um comediante fazer intencionalmente uma careta semelhante e tinham tido o receio de que pudessem ser obrigados a imitar esses movimentos grotescos Daí em diante realmente tinham começado a imitálos Sem dúvida apenas uma pequena proporção dos movimentos involuntários que ocorrem nos tiques tem essa origem Por outro lado seria tentador atribuir a esse mecanismo a origem da coprolalia um termo usado para descrever a exclamação involuntária ou melhor a exclamação a contragosto dos piores palavrões que ocorre nos tiques Assim a coprolalia teria origem na percepção do paciente de que ele não consegue impedirse de produzir determinado O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 81 som geralmente um hmhm Ele então recearia perder o controle também de outros sons especialmente o controle de palavras que um homem de boa educação evita usar e esse receio faria com que se efetuasse o que temia Guinon não apresenta nenhuma anamnese que confirme essa hipótese eu próprio nunca tive a oportunidade de interrogar um paciente que sofresse de coprolalia Por outro lado na obra desse mesmo autor encontrei um relato sobre um outro caso de tique em que a palavra pronunciada involuntariamente não pertencia e isso é muito excepcional ao vocabulário coprolálico Tratavase de um homem adulto que era atormentado pela necessidade de exclamar Maria Quando esse paciente estava na idade escolar tinha tido uma ligação sentimental com uma menina chamada Maria ficara totalmente absorto por ela e esse acontecimento podese supor o predispôs a uma neurose Naquela época ele começou a exclamar o nome de seu ídolo no meio da aula e o nome continuou com ele por boa parte de sua vida depois de ter esquecido seu caso amoroso Penso que a explicação deve ser esta num momento de especial excitação o seu esforço mais resoluto de manter em segredo o nome inverteuse na contravontade e depois disso o tique persistiu como sucedeu no cado de meu segundo paciente Caso minha explicação desse exemplo esteja correta seria interessante atribuir ao mesmo mecanismo a coprolalia propriamente dita visto que as palavras obscenas constituem segredos que todos nós conhecemos mas cujo conhecimento sempre procuramos ocultar 1 PREFÁCIO E NOTAS DE RODAPÉ À TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS DAS TERÇASFEIRAS DE CHARCOT 189294 NOTA DO EDITOR INGLÊS PREFÁCIO E NOTAS DE RODAPÉ À TRADUÇÃO DAS LEÇONS DU MARDI DE LA SALPÊTRIÈRE 18878 DE CHARCOT a EDIÇÃO ALEMÃ 18924 Em JM Charcot Poliklinische Vorträge Conferências de Ambulatório 1 Ano Acadêmico de 18871888 iiivi Leipzig e Viena Deuticke Parece que esse prefácio e essas notas de rodapé nunca foram reeditados a tradução de James Strachey é a primeira para o inglês O livro em francês foi publicado em Paris em 1888 A data de publicação da tradução de Freud levanta algumas dúvidas referentes à cronologia Seu prefácio é datado de Junho de 1892 e a página de rosto de alguns exemplares encadernados do livro O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 82 também leva a data 1892 mas outros exemplares levam na página de rosto a data 1894 De fato o livro foi publicado em fascículos no decorrer desses anos A uma carta que enviou a Fliess datada de 28 de junho de 1892 Freud juntou um fascículo provavelmente o primeiro com o seguinte comentário O fascículo de Charcot que lhe estou enviando hoje é todo ele um sucesso mas estou aborrecido em virtude de diversos acentos errados e erros de ortografia não corrigidos nas poucas palavras em francês Desleixo O método de edição em fascículos induz Freud a algumas incoerências nas suas notas de rodapé Por exemplo nelas existem duas referências ao artigo de Freud sobre a diferença entre paralisias orgânicas e histéricas 1893c incluído no presente volume em 1 uma antes ver em 1 e outra depois em 1 da publicação do artigo a qual de fato se deu no final de junho de 1893 De modo semelhante existem duas referências provavelmente antes ver em 1 e a outra depois em 1 da publicação da Comunicação Preliminar 1893a que ocorreu no início de janeiro de 1893 A primeira dessas duas indicações da teoria da catarse talvez seja na realidade a sua primeira publicação infelizmente porém não dispomos de material para estabelecer com exatidão a data do fascículo em questão O número de notas de rodapé que Freud acrescentou à sua tradução é muito grande e muitas delas são evidentes críticas às opiniões de Charcot Em A Psicopatologia da Vida Cotidiana 1901b Freud menciona a matéria um pouco em tom de desculpa Acrescentei notas ao texto que traduzi sem pedir a permissão do autor e alguns anos depois tive motivos para suspeitar de que o autor havia ficado insatisfeito com minha ação arbitrária Edição Standard Brasileira Vol VI 1 IMAGO Editora 1976 As notas de rodapé focalizam principalmente tópicos puramente neurológicos e aqui incluímos somente aquelas que denotam algum interesse psicológico Observese por fim que Charcot morreu no verão de 1893 antes que a publicação estivesse concluída As conferências de Charcot que aqui se encontram traduzidas para o alemão com a gentil permissão do autor têm em francês o título de Leçons du Mardi de la Salpêtrière Esse título derivase do dia da semana em que o professor titular pessoalmente diante do seu auditório examina pacientes do departamento de ambulatório O primeiro volume dessas Leçons surgiu em 1888 de modo muito modesto como Notas de MM Blin Charcot Júnior e Colin No corrente ano 1892 foi revisado pelo autor e essa revisão é a base de nossa edição alemã A edição francesa foi apresentada por um prefácio escrito pelo Dr Babinski no qual esse discípulo preferido de Charcot insiste com justificado orgulho em como emanou do Mestre uma abundância quase inexaurível de estímulos e ensinamentos ainda muitos anos depois e insiste em quão imperfeitamente o estudo de seus escritos publicados substitui o efeito que tinha o seu ensino oral Ele acredita pois que se justifica o plano de difundir junto ao público essas conferências improvisadas e assim ampliar incomensuravelmente o círculo de seus discípulos e ouvintes E penso que todo aquele que teve o privilégio de ao menos por um curto período de tempo ver o grande pesquisador trabalhando e assimilar seus O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 83 ensinamentos haverá de concordar inteiramente com o Dr Babinski Essa conferências realmente encerram tanto material novo que ninguém nem mesmo os especialistas no assunto as lerá sem um considerável acréscimo em seus conhecimentos E esse material novo se reveste de uma forma tão estimulante e esplêndida que o livro está destinado como talvez nenhuma outra obra desde as Leçons de Trousseau a servir como manual para os estudantes e para todos os médicos que desejem manter seu interesse pela neuropatologia O encanto peculiar dessas conferências reside no fato de que na sua maior parte elas foram inteiramente improvisadas O professor não conhece o paciente que lhe é apresentado ou o conhece apenas superficialmente É obrigado a conduzirse diante de seu auditório tal como habitualmente o faz somente em sua clínica particular exceto quanto ao detalhe de que pensa em voz alta e permite que os ouvintes participem do rumo de suas conjecturas e investigações Interroga o paciente examina um sintoma e depois outro e dessa forma estabelece o diagnóstico do caso delimitandoo ou confirmandoo com outros exames Observamos que ele comparou o caso que tem diante de si com um acervo de quadros clínicos derivados de sua experiência e arquivados na sua memória e identificou os sinais visíveis do presente caso com um desses quadros De fato também é assim que todos nós à beira do leito de um enfermo chegamos a um diagnóstico embora o ensino oficial da clínica muitas vezes dê ao estudante uma idéia diferente A isto se seguem os comentários acerca do diagnóstico diferencial e o conferencista se empenha em tornar claros os fundamentos em que se baseou sua identificação fundamentos que conforme sabemos muitos médicos com habilidade para fazer diagnósticos não sabem explicitar embora seu juízo seja determinado por eles A discussão restante referese às peculiaridades clínicas do caso O quadro clínico a entité morbide permanece a base de todo o estudo mas o quadro clínico é formado por uma série de fenômenos uma série que freqüentemente se ramifica em numerosas direções A identificação clínica do caso consiste em definir a sua localização dentro da série de fenômenos No centro da série está o type a forma extrema do quadro clínico consciente e intencionalmente esquematizada ou então podem ser estabelecidos diversos desses tipos que estão conectados por formas de transição Certamente é verdade que o type a descrição completa e característica do quadro clínico pode ser encontrado mas os casos que de fato são observados geralmente divergem do tipo determinados detalhes do quadro estão apagados esses casos podem ser agrupados em uma ou mais séries que se afastam do quadro e por fim terminam em formas rudimentares praticamente indeterminadas formes frustes nas quais somente um especialista consegue reconhecer derivados do tipo Enquanto a descrição dos quadros clínicos é o tema central da nosografia a tarefa da clínica médica é averiguar até o fim a forma individual que cada caso assume e a combinação de seus sintomas Aqui enfatizei os conceitos de entité morbide de séries de type e de formes frustes porque é no emprego desses conceitos que repousa a principal característica do método francês de trabalhar em clínica médica Essa forma de abordagem é de fato estranha ao método alemão Para este o quadro clínico e o tipo não desempenham qualquer papel de relevo e é explicada pela evolução dos clínicos alemães uma tendência a fazer umainterpretação fisiológica do estado clínico e da interrelação dos sintomas A observação clínica dos franceses indubitavelmente ganha em autosuficiência no sentido de que relega a plano O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 84 secundário os critérios relativos à fisiologia A exclusão destes no entanto pode ser a principal explicação para a impressão enigmática que os métodos clínicos franceses causam ao nãoiniciado Aliás nisso não há nenhum descaso pela fisiologia mas uma deliberada exclusão que é considerada vantajosa Ouvi Charcot dizer Je fais la morphologie pathologique je fais même un peu lanatomie pathologique mais je ne fais pas la physiologie pathologique jattend que quelquun autre la fasse A apreciação que fazemos dessas conferências ficaria lamentavelmente incompleta se a interrompêssemos neste ponto O interesse por uma conferência só era propriamente despertado quando o diagnóstico tinha sido feito e o caso examinado de acordo com suas peculiaridades Depois Charcot se valia da vantagem que lhe oferecia a liberdade desse método de ensino para fazer daquilo que tínhamos visto o ponto de partida para comentários sobre casos semelhantes de que se lembrava e para iniciar as mais esclarecedoras discussões sobre tópicos essencialmente clínicos de sua etiologia hereditariedade e correlação com outras doenças Era nessas ocasiões que fascinados tanto pelo talento artístico do narrador como pela inteligência penetrante do observador ouvíamos atentamente as pequenas histórias que mostravam como uma experiência clínica tinha levado a uma nova descoberta era então que em companhia de nosso mestre éramos conduzidos da consideração de um quadro clínico relativo a uma doença nervosa para o debate de algum problema fundamental da doença em geral era também nessas ocasiões que todos víamos a um só tempo o mestre e o médico dando lugar ao sábio cuja mente aberta absorveu o grande e variado panorama das realizações do mundo e que nos proporciona um vislumbre de como as doenças nervosas não devem ser consideradas uma extravagância da patologia mas sim um componente necessário de todo o conjunto Essas conferências apresentam um quadro tão preciso da maneira de falar e de pensar de Charcot que para todo aquele que um dia foi seu ouvinte tornaseviva a lembrança da voz e dos gestos do mestre e retornam as horas preciosas em que o encanto de uma grande personalidade atraía irresistivelmente os seus ouvintes para os temas e os problemas da neuropatologia Devo acrescentar algumas palavras para justificar as notas que impressas em tipos menores interrompeu a seqüência da exposição de Charcot em intervalos muito irregulares Essas notas são de minha autoria e em parte constituem explicações do texto e referências adicionais à bibliografia mas em parte são objeções e anotações críticas tais como as que podem ocorrer a quem está ouvindo uma conferência Espero que estes comentários não venham a ser entendidos como seu eu estivesse tentando de algum modo colocar minhas opiniões acima das de meu respeitado mestre a quem muito devo pessoalmente como seu discípulo Simplesmente estou pretendendo exercer o direito de criticar do qual se serve por exemplo todo autor de resenha de revista técnica independentemente dos seus próprios méritos Na neuropatologia existem tantas coisas ainda não explicadas e ainda passíveis de debate e a compreensão das mesmas pode beneficiarse tanto com esse debate que me aventurei a pôr em discussão alguns desses pontos mencionados de passagem nas conferências É por demais evidente que o faço segundo meu próprio ponto de vista na medida em que este diverge das teorias do Salpêtrière No entanto com estes comentários não se pretende dar ensejo a que os leitores de Charcot lhes dispensem mais atenção do que eles mereceriam por sua própria natureza Ao traduzir essas conferências meu esforço se fez no sentido não propriamente de imitar o estilo O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 85 incomparavelmente claro e ao mesmo tempo elevado de Charcot o que seria inatingível para mim mas de obscurecer o menos possível sua linguagem caracteristicamente informal DR SIGM FREUD VIENA junho de 1892 EXTRATOS DAS NOTAS DE RODAPÉ DE FREUD À SUA TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS DAS TERÇASFEIRAS DE CHARCOT Pág 107 Charcot tinha feito uma descrição dos ataques histéricos Sirvome da oportunidade que me oferece o texto para apresentar ao leitor uma opinião independente sobre os ataques histéricos O tipo de Charcot com suas modificações e com a possibilidade de cada fase tornarse independente e representar o ataque inteiro etc sem dúvida é suficientemente extenso para abranger todas as formas de ataque observadas Por essa mesma razão alguns poderão argumentar que ele não representa uma verdadeira entidade Procurei abordar o problema dos ataques histéricos segundo um outro critério diferente do descritivo examinando pacientes histéricos em estado hipnótico cheguei a novos achados alguns dos quais mencionarei aqui O ponto central de um ataque histérico qualquer que seja a forma em que este apareça é uma lembrança a revivescência alucinatória de uma cena que é significativa para o desencadeamento da doença É esse evento que se manifesta de forma perceptível na fase das attitudes passionelles mas também está presente quando o ataque parece consistir somente em fenômenos motores O conteúdo da lembrança geralmente é ou um trauma psíquico que por sua intensidade é capaz de provocar a irrupção da histeria no paciente ou é um evento que devido à sua ocorrência em um momento particular tornouse um trauma Nos casos conhecidos como histeria traumática esse mecanismo é evidente até à observação mais superficial mas também pode ser demonstrado na histeria em que não existe um único trauma de maior significação Em tais casos constatamos traumas menores repetidos ou quando predomina o fator da disposição lembranças em si mesmas indiferentes mas que assumem a intensidade de traumas Um trauma teria de ser definido como um acréscimo da excitação no sistema nervoso que este é incapaz de fazer dissiparse adequadamente pela reação motora Um ataque histérico talvez deva ser considerado como uma tentativa de completar a reação ao trauma Neste ponto posso remeter a um trabalho sobre esse assunto iniciado em colaboração com o Dr Josef Breuer Pág 137 Charcot descrevera casos em que meninos de esmerada educação tinham ataques histéricos acompanhados por explosões de linguagem obscena Seria casual que os ataques em jovens de cuja boa educação e boas maneiras Charcot fala O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 86 elogiosamente assumam a forma de delírio furioso e linguagem desaforada Penso que isso em nada difere do fato conhecido de que os delírios histéricos das monjas se manifestam sob a forma de blasfêmias e imagens eróticas Nisso podemos suspeitar da existência de uma conexão que nos permite uma profunda compreensão interna do mecanismo dos estados histéricos Nos delírios histéricos emerge um material sob a forma de idéias e impulsos à ação que a pessoa em seu estado sadio rechaçou e inibiu muitas vezes inibiu mediante um grande esforço psíquico Algo parecido aplicase a muitos sonhos que desfiam associações adicionais que foram rejeitadas ou interrompidas durante o dia Foi nesse fato que baseei a teoria da contravontade histérica que abrange um bom número de sintomas histéricos Pág 142 Charcot discutia um caso em que apareciam simultaneamente sintomas de tique e obsessões Posso lembrar aqui um caso interessante que observei recentemente esse caso mostrava uma variante nova da relação entre o tique e a obsessão Um homem de 23 anos consultoume em virtude de sofrer de obsessões de uma espécie típica Dos 8 aos 15 anos ele tinha sofrido de um tique violentoque daí em diante desapareceu As obsessões surgiram aos 12 anos e se tornaram muito mais graves recentemente Pág 210 Freud escreve uma longa nota de rodapé em que trata de uma minuciosa discussão exposta por Charcot que sustentava que em determinados casos podia ocorrer completa hemianestesia devido a um tipo especial de lesão orgânica central nesses casos exatamente semelhante à hemianetesia histérica Em especial Charcot negava que em tais casos estivesse presente a hemianopsia Quando certa vez me dispus a fazerlhe perguntas sobre esse ponto e argumentar que isso contrariava a teoria da hemianopsia ele saiuse com este excelente comentário La théorie cest bon mais ça nempêche pa dexister Se ao menos se soubesse o que é que existe Pág 224 Charcot tinha afirmado que a hereditariedade era a causa verdadeira dos ataques histéricos de um paciente de sua vertigem e de sua agorafobia Eu me animo a apontar uma contradição nesse ponto Com maior freqüência a causa da agorafobia assim como de outras fobias está não na hereditariedade mas nas anormalidades da vida sexual É até possível especificar a forma de mau uso da função sexual em questão Esses distúrbios podem ser adquiridos em qualquer grau de intensidade naturalmente havendo a mesma etiologia ocorrem com maior intensidade em pessoas com disposição hereditária Pág 237 Charcot discutia um caso de doença de Graves Alguns leitores assim como eu por certo farão objeções à teoria etiológica de Charcot que não faz distinção entre a disposição para as neuroses e a disposição para as doenças nervosas orgânicas que não leva em conta o papel desempenhado pelas doenças nervosas adquiridas que é impossível superestimar e que considera uma tendência à artrite em pessoas da família como uma disposição neuropática hereditária O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 87 Sua valorização excessiva da influência do fator hereditário também explica o fato de que ao abordar a doença de Graves Charcot não menciona o órgão em cujas alterações segundo indicações de peso nos aconselham devemos procurar a verdadeira causa da afecção Refirome naturalmente à glândula tireóide e em conexão com essa discussão sobre o fato de a disposição hereditária e o trauma psíquico desempenharem papel importante no desenvolvimento da doença posso mencionar o excelente artigo de Moebius sobre a doença de Graves na Deutsche Zeitschrift für Nervenheilkunde 1 1891 Pág 268 Charcot mostrava a diferença entre afasia orgânica e histérica Quando deixei o Salpêtrière em 1886 Charcot incumbiuse de efetuar um estudo comparativo das paralisias orgânicas e histéricas com base nas observações feitas pelo Salpêtrière Executei o trabalho mas não o publiquei Seu resultado é uma ampliação da tese aqui exposta por Charcot as paralisias histéricas se caracterizam por dois fatores e em particular além disso por uma convergência dos mesmos Em primeiro lugar elas são capazes de possuir a maior intensidade e em segundo lugar de apresentar a mais nítida delimitação e se diferenciam especialmente das paralisias orgânicas quando combinam intensidade e delimitação Uma monoplegia do braço que seja de causa orgânica pode limitarse exclusivamente ao braço mas nesse caso quase nunca é absoluta Tão logo sua intensidade cresce também a paralisia se torna mais extensa de fato observamos regularmente que então ela se acompanha também de um discreto grau de paresia na face e na perna Quando se limita apenas ao braço e ao mesmo tempo é absoluta a paralisia só pode ser histérica 1 Pág 286 Charcot estivera dando conselhos técnicos sobre o uso da sugestão Os ingleses que certamente são pessoas práticas têm na sua linguagem um conselho Não faça profecias a menos que você tenha certeza Gostaria de me juntar a essa maneira de pensar e os aconselharia a que agissem da mesma forma Na verdade se em caso de indubitável paralisia de origem psíquica você diz ao paciente com plena confiança Levantese e ande e se ele realmente o faz você de fato pode atribuir a si mesmo e ao seu diagnóstico o milagre que realizou Mas eu os aconselho a não irem demasiado longe nessas coisas e antes de tudo a considerarem o modo como no possível caso de um fracasso vocês poderão garantirse uma saída honrosa Com estas sábias palavras Charcot revela um dos maiores inconvenientes com que tem de contar o uso prático da sugestão em estado desperto e sob hipnose superficial A longo prazo nem o médico nem o paciente podem tolerar a contradição criada entre a decidida negação da doença contida na sugestão e a necessária constatação da doença fora da sugestão Pág 314 Charcot expusera o caso clínico de um paciente histérico cuja doença aparentemente resultara de intoxicação por mercúrio Os leitores dessas conferências provavelmente estão cientes de que P Janet Breuer e eu assim O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 88 como outros autores em data muito recente procuramos delinear uma teoria psicológica dos fenômenos histéricos com base nos trabalhos escritos de Charcot sobre a explicação das paralisias histerotraumáticas Por mais sólida e promissora que essa teoria possa nos parecer a prudência recomenda admitir que até o momento não se deu nenhum passo no sentido de mostrar que a histeria por intoxicação ou que a analogia entre hemiplegia histérica e orgânica ou que a origem das contraturas histéricas possam estar subordinadas à idéia básica dessa linha de abordagem Espero que essa tarefa não se mostre insolúvel ou pelo menos que esses fatos não venham a se revelar inconciliáveis com a teoria psicológica Pág 368 Charcot assinalava o diagnóstico diferencial entre monoplegias orgânicas e histéricas Num breve trabalho Quelques considérations pour une étude comparative des paralysies motrices organiques et hystériques Archives de Neurologie Nº 77 1893 procurei ampliar essa observação de Charcot e debati sua relação com a teoria das neuroses Pág 371 Charcot descrevia os diferentes ataques apresentados por uma jovem histérica Por certo não estaremos compreendendo mal Charcot se a partir dos seus comentários sobre hystéroépilepsie à crises mixtes e àcrises séparées concluirmos que o termo histeroepilepsia é certamente objetável e que o seu uso deve ser totalmente abolido Alguns dos pacientes indicados sob essa designação simplesmente padecem de histeria outros sofrem de histeria e epilepsia duas doenças que têm pouca relação essencial entre si e que só por acaso são encontradas num mesmo indivíduo Uma afirmação como esta pode não ser desnecessária visto que muitos médicos não obstante parecem ser da opinião de que a histeroeplepsia é um agravamento da histeria ou uma transição da histeria para a epilepsia Sem dúvida ao se criar o termo histeroepilepsia houve a intenção de veicular esses significado Mas Charcot há muito tempo abandonou tal ponto de vista e não há por que ficarmos desatualizados em relação a ele nesse ponto Pág 399 Charcot expressara sua opinião sobre o excesso de trabalho como causa de neurastenia cerebral Todas essas discussões etiológicas referentes à neurastenia são incompletas na medida em que não são consideradas as influências nocivas sexuaisas quais em minha experiência constituem o fator mais importante o único fator etiológico indispensável Pág 404 A propósito de uma discussão sobre os determinantes hereditários das neuroses A teoria da famille névropathique certamente necessita de uma revisão urgente Pág 417 Tópico semelhante ao anterior Dificilmente poderia resistir a uma crítica séria a concepção da famille névropathique que aliás engloba quase tudo que conhecemos sob a forma de doenças nervosas orgânicas e funcionais O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 89 sistêmicas e acidentais ESBOÇOS PARA A COMUNICAÇÃO PRELIMINAR DE 1893 194041 1892 Os três apontamentos condensados que vêm a seguir estavam incluídos entre os escritos póstumos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 90 de Freud no volume XVII das Gesammelte Werke Dados bibliográficos mais detalhados encontramse anexados a cada um dos esboços adiante Os editores da edição alemã nos informam que todos os três escritos tinham estado em poder de Breuer mas foram por este devolvidos a Freud em 1909 ano seguinte ao da publicação da segunda edição dos Estudos sobre a Histeria Freud acusou o recebimento deles numa carta que leva a data de 8 de outubro de 1909 Agradeçolhe muito por me dar a oportunidade de reaver os velhos esboços e rascunhos que me parecem muito interessantes Quanto às notas a respeito dos ataques histéricos Esboço C adiante deve ser como você diz mas não guardei o manuscrito depois de publicado Conquanto o segundo desses esboços não traga data não cabem dúvidas de que todos os três foram escritos no final de 1892 em preparação para a Comunicação Preliminar Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos 1893a Edição Standard Brasileira Vol II 1 IMAGO Editora 1974 Esse trabalho produzido em colaboração com Josef Breuer foi publicado nos dias 1 e 15 de janeiro de 1893 Grande parte desses esboços encontrase numa forma altamente condensada mas é possível descobrir quase que um por um todos os elementos que depois se encontram enunciados de modo mais claro na Comunicação Preliminar Há contudo uma exceção especial O princípio da constância está enunciado com muita clareza e possivelmente pela primeira vez na Seção 5 do Esboço C em 1 mas por algum motivo ignorado está inteiramente omitido na Comunicação Preliminar Um apanhado completo da história do princípio da constância pode ser encontrado no Apêndice do Editor Inglês a propósito das Hipóteses Fundamentais de Freud na Edição Standard Brasileira Vol III ver em 1 IMAGO Editora 1977 A CARTA A JOSEF BREUER 29692 Prezado amigo A satisfação com que despreocupadamente lhe entreguei essas minhas poucas páginas deu lugar ao desassossego que tão facilmente acompanha os esforços de pensar Atormentame este problema como oferecer um quadro bidimensional de algo tão sólido como a nossa teoria da histeria Sem dúvida a questão principal é saber se devemos descrevêla do ponto de vista histórico e começar com todos os casos clínicos ou dois dentre os melhores ou se de outro lado devemos começar por afirmar dogmaticamente as teorias que formulamos à guisa de explicação Penso que é preferível a segunda sugestão o material ficaria assim disposto 1 Nossas teorias a O teorema referente à constância da soma da excitação b A teoria da memória c O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 91 O teorema que estabelece que os conteúdos dos diferentes estados de consciência não estão relacionados entre si 2 A origem dos sintomas histéricos crônicos sonhos autohipnose afetos e resultados dos traumas absolutos Os três primeiros desses fatores relacionamse com a disposição o último relacionase com a etiologia Parece que os sintomas crônicos correspondiam a um mecanismo normal são deslocamentos tema subsidiário em parte ao longo de uma via normal modificação interna de somas de excitação que não foram dissipadas Motivo do deslocamento tentativa de reação Motivo da persistência teorema c acima referente ao isolamento associativo Comparação com a hipnose 1 Tema subsidiário A respeito da natureza do deslocamento localização dos sintomas histéricos crônicos 3 O ataque histérico Também uma tentativa de reação por meio da recordação etc 4 A origem dos estigmas histéricos Altamente obscura escassos indícios 5 A fórmula patológica da histeria Histeria disposicional e acidental A série proposta por mim A magnitude da soma da excitação o conceito de trauma o segundo estado da consciência B III No que escrevemos acima tivemos de salientar como fato observado que as recordações subjacentes aos fenômenos histéricos estão ausentes da memória acessível do paciente ao passo que sob hipnose elas podem ser despertadas com a clareza de alucinações Também salientamos que numerosas recordações dessa ordem relacionamse a fatos ocorridos em estados peculiares como cataplexia devida ao susto estados oniróides autohipnose e assim por diante cujo conteúdo não está em conexão associativa com a consciência normal Assim com relação a isso ainda nos era impossível discutir o que é que determina a ocorrência dos fenômenos histéricos sem primeiro considerar uma hipótese especial que procura caracterizar a disposição histérica Na histeria de acordo com essa hipótese o conteúdo da consciência com facilidade se torna temporariamente dissociado e determinados complexos de idéias que não estão em conexão associativa com facilidade se desgarram A disposição histérica portanto deve ser pesquisada quando estados dessa espécie aparecem espontaneamente devido a causas internas ou se produzem facilmente devido a influências externas e podemos supor uma série de casos em que esses dois fatores desempenham um papel de importância variável Descrevemos esses estados como hipnóides e enfatizamos que uma característica essencial deles é o fato de seu conteúdo em grau maior ou menor estar desconectado do conteúdo restante da consciência e assim se encontrar privado da possibilidade de ser liberado pelas associações do mesmo modo que no sonhar e no estado de vigília um modelo de dois estados que diferem entre si não estamos inclinados a fazer associações de um estado para o outro mas apenas associações dentro de cada um deles em particular Em pessoas com disposição histérica qualquer afeto pode dar origem a uma divisão desse tipo e uma impressão recebida durante a vigência do afeto se tornaria assim um trauma mesmo que não fosse suficiente em si O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 92 para agir como um trauma Ademais a impressão mesma poderia produzir o afeto Na sua forma completamente desenvolvida esses estados hipnóidesentre os quais pode haver conexões associativas formam a condition seconde tão conhecida nos casos clínicos Mas os rudimentos de tal disposição segundo parece são identificáveis em qualquer pessoa e podem ser desenvolvidos por traumas apropriados mesmo em pessoas sem essa disposição A vida sexual é especialmente apropriada para proporcionar o conteúdo de tais traumas devido ao contraste muito grande que representa para o restante da personalidade e por ser impossível reagir a suas idéias Devese compreender que nossa terapia consiste em remover os resultados das idéias que não sofreram abreação seja revivendo o trauma num estado de sonambulismo e então abreagindo e corrigindoo seja trazendoo para o plano da consciência normal sob hipnose relativamente superficial C SOBRE A TEORIA DOS ATAQUES HISTÉRICOS Até onde sabemos não há por enquanto nenhuma teoria dos ataques histéricos mas apenas uma descrição dos mesmos feita por Charcot que se relaciona ao raro e prolongado grande attaque hystérique grande ataque histérico Segundo Charcot um ataque típico dessa espécie compõese de quatro fases 1 fase epileptóide 2 fase dos grandes movimentos 3 fase das attitudes passionnelles 4 fase do delírio terminal Todas as variadas formas de ataques histéricos que o médico tem oportunidade de observar com mais freqüência do que o típico grande ataque surgem conforme nos diz Charcot na medida em que essas distintas fases se tornam independentes ou se prolongam ou se modificam ou são omitidas Essa descrição não projeta absolutamente nenhuma luz sobre alguma conexão que possa haver entre as diferentes fases sobre a importância dos ataques no quadro geral da histeria ou sobre a maneira como os ataques são modificados em cada paciente individualmente Talvez não estejamos equivocados ao supor que a maioria dos médicos tende a considerar o ataque histérico como uma descarga periódica dos centros motores e psíquicos do córtex cerebral Formamos nossa opinião sobre os ataques histéricos tratando pacientes histéricos por meio da sugestão hipnótica e desse modo investigando seus processos psíquicos durante o ataque A exposição que fazemos a seguir é o que pensamos a respeito do ataque histérico e devemos preliminarmente assinalar que para a explicação dos fenômenos histéricos é indispensável supor a presença de uma dissociação uma divisão no conteúdo da consciência 1 O elemento constante e essencial de um ataque histérico recorrente é o retorno de um estado psíquico que o paciente já experimentou anteriormente em outras palavras o retorno de uma lembrança Afirmamos pois que a parte essencial de um ataque histérico está situada na fase que Charcot denominou de attitudes passionnelles Em muitos casos é bastante evidente que essa fase encerra uma lembrança oriunda da vida do paciente e freqüentemente na verdade essa lembrança é sempre a mesma Mas em outros casos essa fase parece estar ausente e o ataque aparentemente consiste apenas em fenômenos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 93 motores contrações epileptóides ou um estado de imobilidade cataléptica ou um estado semelhante ao sono contudo mesmo nesses casos o exame sob hipnose evidencia nitidamente um processo mnêmico psíquico tal como em geral se manifesta francamente na phase passionnelle Os fenômenos motores de um ataque nunca são desprovidos de relação com seu conteúdo psíquico ou exprimem no seu aspecto geral a emoção concomitante ou correspondem exatamente às ações envolvidas no processo alucinatório 2 A lembrança que forma o conteúdo de um ataque histérico não é uma lembrança qualquer é o retorno do evento que causou a irrupção da histeria o trauma psíquico Essa relação também se manifesta nos casos clássicos de histeria traumática segundo demonstrado por Charcot em pacientes do sexo masculino nesses casos um indivíduo previamente nãohistérico passava a sofrer de uma neurose após um único episódio de medo intenso como um acidente ferroviário uma queda etc Nesses casos o conteúdo do ataque consiste na reprodução alucinatória do evento que pôs em perigo a vida da pessoa reprodução essa que talvez se acompanhe das seqüências de pensamentos e impressões da sensibilidade que passaram por sua mente na ocasião Mas a conduta desses pacientes não difere da conduta de pacientes comuns do sexo feminino é um modelo exato desta Se examinarmos o conteúdo dos ataques de uma dessas pacientes na forma como foi indicado depararemos com eventos que por sua natureza são igualmente apropriados para atuar como traumas por exemplo sustos ofensas humilhantes frustrações Nesses casos porém o grande trauma isolado está substituído geralmente por uma série de traumas menores que se interrelacionam por sua semelhança ou pelo fato de fazerem parte de uma história penosa Esses pacientes por conseguinte muitas vezes têm ataques de tipos diferentes cada um desses com um conteúdo mnêmico particular Esse fato torna necessário ampliar consideravelmente o conceito de histeria traumática Num terceiro grupo de casos constatamos que o conteúdo dos ataques consiste em lembranças que não consideraríamos capazes por si mesmas de constituir traumas Evidentemente devem isto ao fato de se terem associado numa coincidência fortuita com um momento em que a disposição histérica da pessoa se encontrava patologicamente intensificada e com isso foram elevadas à condição de traumas 3 A lembrança que forma o conteúdo de um ataque histérico é uma lembrança inconsciente ou mais corretamente faz parte do segundo estado da consciência que está presente organizado em grau maior ou menor em toda histeria Por conseguinte essa lembrança ou está inteiramente ausente da recordação do paciente quando este se encontra em seu estado normal ou está presente apenas em forma rudimentar condensada Se conseguirmos trazer essa lembrança inteiramente à consciência normal ela deixa de ter a capacidade de produzir ataques Durante um ataque real o paciente se encontra parcial ou totalmente no segundo estado de consciência Nesse último caso o ataque inteiro é coberto pela amnésia durante sua vida normal no primeiro caso o paciente apercebese da modificação em seu estado e da sua conduta motora mas os eventos psíquicos que ocorrem durante o ataque lhe permanecem ocultos No entanto podem ser despertados a qualquer momento pela hipnose 4 A questão da origem do conteúdo mnêmico dos ataques histéricos coincide com a outra questão o que decide se uma experiência uma idéiaintenção etc haverá de se localizar na segunda O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 94 consciência e não na consciência normal Descobrimos com certeza dois desses determinantes nas pessoas histéricas Se uma pessoa histérica intencionalmente procura esquecer uma experiência ou decididamente rechaça inibe e suprime uma intenção ou idéia esses atos psíquicos em conseqüência entram no segundo estado da consciência daí produzem seus efeitos permanentes e a lembrança deles retorna sob a forma de ataque histérico Cf histeria em monjas em mulheres castas em adolescentes de boa educação em pessoas com aspirações artísticas ou teatrais etc As impressões recebidas durante estados psíquicos nãohabituais como os estados afetivos estados de êxtase ou autohipnose também entram no segundo estado da consciência Podese acrescentar que esses dois fatores muitas vezes se combinam por meio de vínculos internos e que provavelmente há outros determinantes além destes 5 O sistema nervoso procura manter constante nas suas relações funcionais algo que podemos descrever como a soma da excitação Ele executa essa precondição da saúde eliminando associativamente todo acúmulo significativo de excitação ou então descarregandoo mediante uma reação motora apropriada Se partirmos desse enunciado o qual aliás tem implicações de amplo alcance verificaremos que as experiências psíquicas que formam o conteúdo dos ataques histéricos têm uma característica que lhes é comum Todas são impressões que não conseguiram encontrar uma descarga adequada seja porque o paciente se recusa a enfrentálas por temor de conflitos mentais angustiantes seja porque tal como ocorre no caso de impressões sexuais o paciente se sente proibido de agir por timidez ou condição social ou finalmente porque recebeu essas impressões num estado em que seu sistema nervoso estava impossibilitado de executar a tarefa de eliminálas Chegamos assim também a uma definição de trauma psíquico que pode ser empregada na teoria da histeria transformase em trauma psíquico toda impressão que o sistema nervoso tem dificuldade em abolir por meio do pensamento associativo ou da reação motora O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 95 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA UM ESTUDO COMPARATIVO DAS PARALISIAS MOTORAS ORGÂNICAS E HISTÉRICAS 1893 18881893 NOTA DO EDITOR INGLES QUELQUES CONSIDÉRATIONS POUR UNE ÉTUDE COMPARATIVE DES PARALYSIES MOTRICES ORGANIQUES ET HYSTÉRIQUES a EDIÇÕES FRANCESAS 1893 Arch Neurol 26 77 2943 Julho 1906 S K N S 1 3044ª 1911 2ª ed 1920 3ª ed 1922 4ª ed 1925 G S 1 27389 1952 GW 1 3955 bTRADUÇÃO INGLESASome Points in a Comparative Study of Organic and Hysterical Paralyses 1924 C P 1 4258 Tad de M Meyer Incluído Nº XXVIII no sumário dos primeiros trabalhos de Freud organizado por ele próprio 1897b O original foi escrito em francês A presente tradução inglesa é uma nova tradução com título modificado feita por James Strachey Esse artigo tem toda uma longa história atrás de si narrada em detalhes por Ernest Jones 1953 2557 Aparentemente o tema da presente investigação foi sugerido por Charcot a Freud em fevereiro de 1886 pouco antes de este partir de Paris No seu Relatório sobre Meus Estudos em Paris e Berlim 1956a escrito em abril de 1886 imediatamente após o regresso a Viena Freud escreve que suas conversas com Charcot levaramme a preparar um artigo que está por ser publicado nos Archives de Neurologie e que tem como título Vergleichung der hysterischen mit der organischen Symptomatologie Comparação entre a Sintomatologia Histérica e a Orgânica Ver em 1 Assim parece que o artigo já estava escrito naquela O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 96 época porém mais de dois anos após em carta a Fliess de 28 de maio de 1888 ele escreve O primeiro rascunho das paralisias histéricas está agora concluído não sei quando concluirei o segundo Freud 1950a Carta 4 Três meses depois escreve novamente em 29 de agosto Agora estou justamente terminando as paralisias histéricas e orgânicas o que me deixa mesmo muito satisfeito ibid Carta 5 Ademais em seu prefácio que também leva a data agosto de 1888 à tradução do livro sobre a sugestão de Bernheim Freud 18889 ele se refere ao presente assunto e fala de um trabalho que está por ser publicado em breve em 1 Seguemse então cinco anos de completo silêncio rompido mais uma vez por uma carta a Fliess em 30 de maio de 1893 ibid Carta 12 O livro que hoje estou lhe remetendo não é muito interessante O outro trabalho sobre paralisias histéricas menor e mais interessante vai surgir no começo de junho A 10 de julho ibid Carta 13 As paralisias histéricas deveriam ter sido publicadas há muito tempo provavelmente aparecerão no número de agosto É um artigo muito curto Talvez você possa estar lembrado de que eu já me ocupava dessa questão quando você era meu aluno e que naquela época proferi uma de minhas conferências na Universidade sobre esse assunto Isto se teria passado no outono de 1887 quando Fliess assistiu a algumas das conferências de Freud em Viena E por fim numa outra carta não publicada a Fliess de 24 de julho de 1893 Enfim foram publicadas as paralisias histéricas Não existe nada que mostre qual a natureza dos motivos fortuitos e pessoais a que Freud se refere aqui em 1 para explicar o atraso de cinco anos na publicação do rascunho original aparentemente concluído Cf também em 1 Não sabemos dizer se também este foi escrito em francês porém apesar do título em alemão que lhe foi dado em seu Relatório de Paris em 1 atrás parece provável que tenha sido escrito em francês pois conforme vimos à época de seus entendimentos iniciais parece que Charcot prometeu publicar o resultado da pesquisa de Freud nos Archives de Neurologie e o fez sete anos depois somente cerca de duas semanas antes de sua morte inesperada No entanto talvez haja uma explicação para o atraso que está relacionado com a posição que esse artigo ocupa no divisor de águas entre os escritos neurológicos e psicológicos de Freud As três primeiras partes do trabalho são inteiramente sobre neurologia e sem dúvida foram escritas em 1888 se não em 1886 Mas a quarta parte deve datar de 1893 quando menos porque cita a Comunicação Preliminar de Breuer e Freud que surgira no início desse ano A totalidade dessa última parte na verdade baseiase inteiramente nas novas idéias com que Breuer e Freud tinham começado a operar recalcamento abreação princípio de constância todas elas aí implícitas quando não nomeadas explicitamente O contacto direto de Freud com essas idéias tinha começado por volta de 1887 e nos anos seguintes ele se deixou absorver cada vez mais por elas Parece não ser impossível que ao concluir o primeiro esboço desse artigo ele houvesse começado a ter alguma vaga idéia de uma explicação dos atos contidos nele explicação esta que envolvia novas idéias e por esse motivo ele pode ter suspendido a publicação até penetrar mais profundamente na questão Por fim podese comentar um ponto menos importante mas que tem interesse por ser um sinal das coisas que estavam por vir no fim do artigo há um parágrafo que talvez seja a primeira incursão breve e pública de Freud na antropologia social O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 97 Na época em que em 1885 e 1886 fui aluno de M Charcot ele teve a grande amabilidade de me confiar a tarefa de efetuar um estudo comparativo das paralisias motoras orgânicas e histéricas baseado nas observações do Salpêtrière na esperança de que tal estudo pudesse revelar algumas características gerais da neurose e proporcionar melhor visão da sua natureza Por motivos fortuitos e pessoais durante muito tempo me vi impedido de realizar a incumbência que ele me dera e mesmo agora estou apresentando somente alguns dos resultados de minhas pesquisas deixando de lado os detalhes necessários a uma completa formulação de minhas opiniões I Devo começar apresentando algumas observações acerca das paralisias motoras orgânicas observações que aliás são de aceitação geral A neurologia clínica reconhece dois tipos de paralisia motora paralisia periféricomedular ou bulbar e paralisia cerebral Essa distinção condiz inteiramente com os achados da anatomia do sistema nervoso que mostra que o trajeto das fibras condutoras da motricidade se divide em apenas dois segmentos o primeiro segmento estendese da periferia até as células do corno anterior da medula espinhal onde começa o segundo segmento que vai até o córtex cerebral A histologia moderna do sistema nervoso fundamentada no trabalho de Golgi Ramón y Cajal Kölliker etc exprime esses fatos com a afirmação de que o trajeto das fibras da condução da motricidade é constituído por dois neurônios unidades neurais célulofibrilares que se acham em conexão e se relacionam entre si no nível das células conhecidas como células motoras do corno anterior A diferença essencial entre essas espécies de paralisia em termos clínicos é a seguinte a paralisia periféricomedular é uma paralisia détaillée a paralisia cerebral é uma paralisia en masse O tipo da primeira é a paralisia facial na paralisia de Bell a paralisia da poliomielite infantil aguda etc Nessas doenças cada músculo poderseia dizer cada fibra muscular pode estar paralisado individualmente isoladamente O que acontece depende da localização e da extensão da lesão nervosa não há regra fixa segundo a qual um elemento periférico possa escapar da paralisia enquanto outro é afetado por ela permanentemente A paralisia cerebral pelo contrário é sempre um distúrbio que acomete uma parte extensa da periferia um membro um segmento de uma extremidade ou um aparelho motor complexo Nunca afeta um único músculo por exemplo o bíceps no braço ou o tribial isoladamente e se existem evidentes exceções a essa regra por exemplo a ptose cortical podemos constatar claramente que o que está em questão são músculos que executam por si mesmos uma função da qual constituem o único instrumento Nas paralisias cerebrais dos membros podese observar que os segmentos distais sempre estão mais comprometidos do que os proximais por exemplo a mão está mais paralisada do que o ombro Pelo que sei não existe por exemplo uma paralisia cerebral do ombro isoladamente com a mão conservando sua motilidade ao passo que o contrário constitui regra nas paralisias que não são completas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 98 No estudo crítico da afasia publicado em 1891 procurei mostrar que a causa dessa importante diferença entre as paralisias periféricomedulares e cerebrais deve ser investigada na estrutura do sistema nervoso Cada elemento da periferia corresponde a um elemento da massa cinzenta da medula que conforme disse Charcot é sua terminação nervosa a periferia por assim dizer é projetada sobre a massa cinzenta da medula ponto por ponto elemento por elemento Propus dar à paralisia periféricomedular détaillée o nome de paralisia em projeção Mas o mesmo não se aplica às relações entre os elementos da medula e os do córtex O número de fibras condutoras já não seria suficiente para dar uma segunda projeção da periferia sobre o córtex Devemos supor que as fibras que se estendem da medula até o córtex não representam mais cada uma em separado um elemento único da periferia e sim um grupo de elementos periféricos e que até mesmo por outro lado um elemento da periferia pode corresponder a diversas fibras condutoras medulocorticais O fato é que há uma modificação no ordenamento das fibras no ponto de conexão entre os dois segmentos do sistema motor Sustento pois que a reprodução da periferia no córtex não é mais uma reprodução fiel ponto por ponto que não é mais uma projeção verdadeira É uma relação por meio do que se pode chamar de fibras representativas e para a paralisia cerebral proponho o nome de paralisia em representação Naturalmente quando a paralisia em projeção é total e muito extensa também ela é uma paralisia en masse e sua característica principal é eliminada Por outro lado a paralisia cortical que se distingue dentre as paralisias cerebrais por sua maior tendência à dissociação sempre apresenta ainda assim o caráter de uma paralisia em representação As outras diferenças entre paralisias em projeção e paralisias em representação são bem conhecidas Posso citar como exemplos de tais diferenças a nutrição normal e a integridade das reações à eletricidade nas partes afetadas que estão associadas à última Embora sejam muito importantes sob o aspecto clínico esses sinais não possuem a importância teórica que se costuma atribuir à primeira característica diferencial que mencionamos paralisia détaillée e paralisia en masse Com muita freqüência temse atribuído à histeria a capacidade de simular as mais diferentes doenças nervosas orgânicas Surge a questão de saber se mais precisamente ela simula as características dos dois tipos de paralisias orgânicas se existem paralisias histéricas em projeção e paralisias histéricas em representação tal como as que encontramos na sintomatologia orgânica Nesse ponto emerge um aspecto importante A histeria nunca simula paralisias periféricomedulares ou paralisias em projeção as paralisias histéricas somente compartilham as características das paralisias orgânicas em representação Este é um dado muito interessante pois a paralisia de Bell a paralisia radial etc estão entre os distúrbios mais comuns do sistema nervoso Convém assinalar aqui com a finalidade de evitar qualquer confusão que estou tratando somente das paralisias histéricas flácidas e não das contraturas histéricas Parece impossível aplicar as mesmas regras às paralisias histéricas e às contraturas histéricas Podese afirmar que é típico das paralisias histéricas flácidas não afetarem músculos isolados exceto onde o músculo em questão é o único instrumento de uma função O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 99 serem sempre paralisias en masse e nesse aspecto corresponderem às paralisias em representação ou paralisias cerebrais orgânicas Além disso no que tange à nutrição das partes paralisadas e às suas reações à eletricidade as paralisias histéricas apresentam as mesmas características que as paralisias cerebrais orgânicas Se a paralisia histérica está assim correlacionada com a paralisia cerebral e em especial com a paralisia cortical que apresenta maior tendência à dissociação por outro lado delas se distingue por importantes características Em primeiro lugar não obedece à regra que se aplica regularmente às paralisias cerebrais orgânicas segundo a qual o segmento distal sempre está mais afetado do que o segmento proximal Na histeria o ombro ou a coxa podem estar mais paralisados do que a mão ou o pé Podem surgir movimentos dos dedos enquanto o segmento proximal ainda está absolutamente inerte Não existe a menor dificuldade em produzir artificialmente uma paralisia isolada da coxa da perna etc e clinicamente podemse encontrar com muita freqüência essas paralisias isoladas contrariando as regras da paralisia cerebral orgânica Quanto a esse importante aspecto a paralisia histérica é por assim dizer intermediária entre a paralisia em projeção e a paralisia orgânica em representação Se não possui todas as características de dissociação e delimitação próprias da primeira está longe de verse submetida às leis estritas que regem a segunda a paralisia cerebral Tendo em conta tais restrições podese afirmar que a paralisia histérica também é paralisia em representação mas com um tipo especial de representação cujas características permanecem como um assunto a ser desvendado II Como um passo nessa direção proponho estudar as demais características que fazem a distinção entre a paralisia histérica e a paralisia cortical o tipo mais acabado de paralisia cerebral orgânica Já mencionamos a primeira dessas características o fato de que a paralisia histérica pode estar mais dissociada mais sistematizada do que a paralisia cerebral Na histeria os sintomas da paralisia orgânica aparecem como que fracionados Dos sintomas da hemiplegia orgânica comum paralisia dos membros superiores e inferiores e da parte inferior da face a histeria reproduz somente a paralisia dos membros e até mesmo dissocia com muita freqüência e com a maior facilidade as paralisias do braço e da perna sob a forma de monoplegias Da síndrome da afasia orgânica ela copia a afasia motora isoladamente e algo não existente na afasia orgânica ela pode criar a afasia total motora e sensitiva para um determinado idioma sem causar a menor interferência na capacidade de compreender e de articular um outro idioma Observei isto em alguns casos não publicados Esse mesmo poder de dissociação manifestase nas paralisias isoladas de um segmento de um membro ao passo que outras partes do mesmo membro permanecem totalmente indenes ou então na total abolição de uma função por exemplo na abasia e na astasia enquanto outra função executada pelo mesmos órgãos permanece intacta Essa dissociação é sem dúvida surpreendente quando a função que não foi prejudicada é a função mais complexa Na sintomatologia orgânica se existe um debilitamento desigual de diversas funções é sempre a função mais complexa a que foi adquirida mais recentemente a que fica mais afetada em conseqüência da paralisia Além do mais a paralisia histérica exibe uma outra característica que por assim dizer é o sinal O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 100 identificador da neurose e que surge como acréscimo ao primeiro A histeria conforme ouvi M Charcot dizer é realmente uma doença com excessivas manifestações tende a produzir seus sintomas com a máxima intensidade possível Essa característica evidenciase não só nas suas paralisias mas também nas suas contraturas e anestesias Sabemos em que grau de distorção podem efetuarse as contraturas histéricas grau praticamente não igualado na sintomatologia orgânica Também sabemos com que freqüência ocorrem na histeria as anestesias profundas absolutas das quais as lesões orgânicas só conseguem reproduzir um pálido esboço O mesmo se dá com as paralisias Freqüentemente são absolutas no grau mais extremo O afásico não articula uma só palavra ao passo que o afásico orgânico quase sempre conserva algumas palavras sim ou não uma exclamação etc o braço paralisado fica completamente inerte e assim por diante Essa característica é por demais conhecida para que se insista nela Contrastando com isso sabemos que na paralisia orgânica a paresia é sempre mais comum do que a paralisia absoluta A paralisia histérica se caracteriza pois pela delimitação precisa e pela intensidade excessiva possui essas duas qualidades ao mesmo tempo e é nisso que manifesta o maior contraste em relação à paralisia cerebral orgânica na qual regularmente se constata que essas duas características não se associam entre si Existem monoplegias na sintomatologia orgânica mas quase sempre são monoplegias a priori e sem delimitação precisa Se o braço está paralisado em conseqüência de uma lesão cortical orgânica há quase sempre um comprometimento concomitante menor na face e na perna e se essa complicação não é visível num dado momento certamente terá existido no início da doença A verdade é que uma monoplegia cortical é sempre uma hemiplegia da qual um ou outro componente está mais ou menos apagado porém mesmo assim ainda é reconhecível Prosseguindo um pouco mais suponhamos que a paralisia não tenha atingido nenhuma outra parte a não ser o braço e que se trate apenas de uma monoplegia cortical nesse caso se verificará que a paralisia tem uma intensidade moderada Tão logo essa monoplegia aumenta de intensidade e se torna uma paralisia absoluta ela perde seu caráter de monoplegia simples e é acompanhada por distúrbios motores da perna ou da face Não consegue ao mesmo tempo tornarse absoluta e conservar sua delimitação Isso pelo contrário é o que consegue realizar com facilidade uma paralisia histérica como nos demonstra todos os dias a experiência clínica Por exemplo afeta um braço exclusivamente sem que possamos encontrar um vestígio seu na perna ou na face Ademais no nível do braço essa paralisia histérica é tão grave quanto pode ser uma paralisia e nisso vemos uma nítida diferença em relação a uma paralisia orgânica uma diferença que nos oferece redobrados motivos para reflexão Naturalmente há casos de paralisias histéricas em que a intensidade não é excessiva e em que a dissociação não é de modo algum notável Tais casos podem ser reconhecidos por outras características são contudo casos que não apresentam a marca típica da neurose e que visto não nos ensinarem nada acerca de sua natureza não se revestem de nenhum interesse do nosso atual ponto de vista Acrescentarei alguns comentários que são de importância secundária e que até mesmo se situam um tanto fora dos limites de nosso tema Em primeiro lugar quero assinalar que as paralisias histéricas muito mais freqüentemente do que as paralisias orgânicas se acompanham de distúrbios de sensibilidade Tais distúrbios geralmente são mais O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 101 profundos e mais freqüentes nas neuroses do que na sintomatologia orgânica Nada é mais comum do que a anestesia ou a analgesia histéricas Por outro lado recordese com que tenacidade persiste a sensibilidade onde há uma lesão neural Quando um nervo periférico é lesado a anestesia é menor em extensão e intensidade do que seria de esperar Se uma lesão inflamatória atinge os nervos espinhais ou os centros medulares sempre verificamos que a motilidade é a primeira coisa a ser enfraquecida de vez que aqui e ali sempre subsistem elementos neurais que não foram totalmente destruídos Onde há uma lesão cerebral já conhecemos bem a freqüência e a duração da hemiplegia motora ao mesmo tempo que a hemianestesia concomitante é indistinta e transitória e não está presente em todos os casos São apenas algumas localizações muito especiais da lesão que conseguem produzir uma perturbação intensa e persistente da sensibilidade confluência de trajetos sensitivos e assim mesmo esse caso é passível de dúvidas Esse comportamento da sensibilidade que é diferente nas lesões orgânicas e na histeria dificilmente pode ser explicado na atualidade Parece que aqui temos um problema cuja solução talvez possa projetar alguma luz sobre a natureza íntima dos fenômenos Outro ponto que julgo deva ser mencionado é que na histeria como de resto nas paralisias periféricomedulares em projeção não se encontram certas formas de paralisia cerebral É o que se passa de modo especial com a paralisia da metade inferior da face que é a manifestação mais freqüente de uma doença orgânica do cérebro e se me permitem passar por um momento às paralisias sensoriais com a hemianopsia lateral homônima Estou consciente de que é quase arriscarse a um desafio afirmar que esse ou aquele sintoma não é encontrado na histeria quando as pesquisas de M Charcot e seus discípulos encontram nela poderseia dizer a cada dia sintomas novos dos quais antes não se suspeitara Mas devo considerar as coisas tal como são no momento A ocorrência de paralisia facial histérica é firmemente rejeitada por M Charcot e mesmo que acreditemos que isso possa ocorrer tratase de um fenômeno muito raro Na histeria a hemianopsia ainda não foi observada e penso que jamais o será Como é portanto que as paralisias histéricas conquanto estreitamente assemelhadas às paralisias corticais divergem destas pelas características diferenciais que tentei destacar E qual é a característica genética do tipo especial de representação com o qual devem estar associadas A resposta a essa questão incluiria uma parte extensa e importante da teoria da neurose III Não existe a mais leve dúvida quanto às condições que regem a sintomatologia da paralisia cerebral Tais condições são constituídas pelos fatos da anatomia a estruturação do sistema nervoso e a distribuição de seus vasos e a relação entre essas duas séries de fatos e as circunstâncias da lesão Assinalamos que o número menor de fibras que vêm da medula até o córtex em comparação com o menor número de fibras que vêm da periferia até a medula é a base da diferença entre a paralisia em projeção e a paralisia em representação Da mesma forma cada detalhe clínico da paralisia em representação pode ser explicado por algum detalhe da estrutura cerebral e inversamente a partir das características clínicas das paralisias podemos deduzir a estrutura do cérebro Penso que existe um completo paralelismo entre essas duas séries O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 102 Assim se não há grande facilidade para a dissociação na paralisia cerebral comum isto se dá porque as fibras motoras percorrem tão unidas um longo trecho do seu trajeto intracerebral que não podem ser lesadas individualmente Se a paralisia cortical mostra maior tendência a ser monoplégica isso ocorre porque o diâmetro dos feixes condutores braquial crural etc aumenta no sentido do córtex Se a paralisia da mão é a mais completa de todas as paralisias corticais isso se deve segundo pensamos ao fato de que a relação cruzada entre o hemisfério cerebral e a periferia é mais atingida por uma paralisia do que o segmento proximal supomos que as fibras representativas do segmento distal sejam muito mais numerosas do que as do segmento proximal de modo que a influência cortical se torna mais importante para a parte distal do que para a proximal Quando as lesões muito extensas do córtex não conseguem produzir monoplegias puras inferimos que os centros motores no córtex estão nitidamente separados uns dos outros por território neutro ou inferimos que existem fatores operando à distância Fernwirkungen que pareceriam anular o efeito de uma separação precisa entre os centros De igual maneira se na afasia orgânica sempre há uma mistura de distúrbios de diferentes funções isso pode ser explicado pelo fato de que os ramos da mesma artéria irrigam todos os centros da fala ou se for aceita a opinião expressada no meu estudo crítico da afasia Freud 1891b pelo fato de que não estamos tratando de centros separados mas de uma área contínua de associação Seja como for sempre se pode encontrar uma explicação baseada na anatomia As notáveis associações com tanta freqüência observadas clinicamente nas paralisias corticais afasia motora e hemiplegia à direita alexia e hemianopsia à direita são explicadas pela proximidade dos centros lesadosA hemianopsia como tal sintoma muito curioso e estranho para uma mente nãocientífica só é explicável pelo cruzamento das fibras do nervo óptico no quiasma é a expressão clínica desse cruzamento assim como todo detalhe das paralisias cerebrais é a expressão clínica de um fato da anatomia De vez que só pode haver uma única anatomia cerebral verdadeira de vez que ela se expressa nas características clínicas das paralisias cerebrais evidentemente é impossível que essa anatomia constitua explicação dos aspectos diferenciais das paralisias histéricas Por essa razão não devemos com base na sintomatologia dessas paralisias histéricas tirar conclusões sobre a anatomia cerebral A fim de explicar esse difícil problema por certo devemos considerar a natureza da lesão em estudo Nas paralisias orgânicas a natureza da lesão desempenha um papel secundário ao contrário são a extensão e a localização da lesão que em determinadas condições estruturais do sistema nervoso produzem as características da paralisia orgânica que indicamos Qual poderia ser a natureza da lesão na paralisia histérica que define a situação sem respeitar a localização ou a extensão da lesão ou da anatomia do sistema nervoso Em diversas ocasiões ouvimos M Charcot dizer que se trata de uma lesão cortical mas uma lesão puramente dinâmica ou funcional Esta é uma tese cujo aspecto negativo podemos entender facilmente equivale a afirmar que nenhuma modificação tecidual detectável será encontrada post mortem Mas no seu aspecto positivo sua interpretação está longe de ser inequívoca Afinal o que é uma lesão dinâmica Tenho bastante certeza de que muitos daqueles que leram as obras de M Charcot acreditam que uma lesão dinâmica O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 103 é realmente uma lesão contudo uma lesão da qual após a morte não se encontra nenhum vestígio tal como um edema uma anemia ou uma hiperemia ativa Contudo esses sinais embora não necessariamente possam persistir após a morte são lesões orgânicas verdadeiras mesmo que sejam mínimas e transitórias As paralisias partilhariam das características das paralisias orgânicas Nem o edema nem a anemia não menos do que a hemorragia ou o amolecimento poderiam produzir a dissociação e a intensidade das paralisias histéricas A única diferença estaria em que a paralisia devida a edema por constrição vascular etc seria menos duradoura do que a paralisia devida à destruição do tecido nervoso Elas têm em comum todas as outras condições e a anatomia do sistema nervoso determinará as propriedades da paralisia tanto no caso de uma anemia transitória como no caso de uma anemia que é permanente e final Estes comentários não me parecem totalmente prescindíveis Se alguém ler que deve haver uma lesão histérica nesse ou naquele centro o mesmo centro no qual uma lesão orgânica produziria uma correspondente síndrome orgânica e recordar que se está acostumado a localizar uma lesão dinâmica histérica da mesma forma que uma lesão orgânica será levado a crer que por trás da expressão lesão dinâmica está oculta a idéia de uma lesão como edema ou anemia que são de fato afecções orgânicas transitórias Eu pelo contrário afirmo que a lesão nas paralisias histéricas deve ser completamente independente da anatomia do sistema nervoso pois nas suas paralisias e em outras manifestações a histeria se comporta como se a anatomia não existisse ou como se não tivesse conhecimento desta E de fato um bom número de características das paralisias histéricas justifica essa afirmação A histeria ignora a distribuição dos nervos e é por isso que não simula paralisias periféricomedulares ou paralisias em projeção Ela não conhece o quiasma óptico e por conseguinte não produz hemianopsia Ela toma os órgãos pelo sentido comum popular dos nomes que eles têm a perna é a perna até sua inserção no quadril o braço é o membro superior tal como aparece visível sob a roupa Não há motivo para acrescentar à paralisia do braço a paralisia da face Um histérico que não consegue falar não tem motivo para esquecer que compreende a fala de vez que a afasia motora e a surdez para a palavra não estão correlacionadas entre si na concepção popular e assim por diante Só posso concordar inteiramente com as opiniões expressas por M Janet em números recentes dos Archives de Neurologie elas são confirmadas tanto pelas paralisias histéricas como pela anestesia e pelos sintomas psíquicos IV Por fim procurarei indicar como poderia ser essa lesão causadora das paralisias histéricas Não digo que mostrarei que tipo de lesão é pretendo simplesmente indicar uma linha de pensamento a qual poderia levar a uma concepção que não contraria as propriedades da paralisia histérica na medida em que esta difere da paralisia cerebral orgânica Tomarei a expressão lesão funcional ou dinâmica no seu sentido próprio isto é modificação na função ou na dinâmica modificação de uma propriedade funcional Exemplos de modificação dessa espécie seria numa diminuição na excitabilidade ou numa qualidade fisiológica que normalmente permanece constante ou varia dentro de limites fixos Mas objetase a modificação funcional não é uma coisa diferente da modificação orgânica é O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 104 simplesmente o outro lado desta Suponhamos que o tecido nervoso esteja num estado de anemia transitória nesse caso essa circunstância diminui sua excitabilidade É impossível com esse expediente deixar de levar em conta as lesões orgânicas Tentarei mostrar que pode haver modificação funcional sem lesão orgânica concomitante ou ao menos sem lesão nitidamente perceptível até a mais minuciosa análise Em outras palavras darei um exemplo adequado de modificação de uma função primitiva e com essa finalidade somente peço permissão para passar à área da psicologia que dificilmente se pode evitar em se tratando de histeria Estou de acordo com M Janet quando diz que na paralisia histérica assim como na anestesia etc o que está em questão é a concepção corrente popular dos órgãos e do corpo em geral Essa concepção não se fundamenta num conhecimento profundo de neuroanatomia mas nas nossas percepções tácteis e principalmente visuais Se é isso o que determina as características da paralisia histérica esta naturalmente deve mostrarse ignorante e independente de qualquer noção da anatomia do sistema nervoso Portanto na paralisia histérica a lesão será uma modificação da concepção da idéia de braço por exemplo Mas que espécie de modificação será essa capaz de produzir a paralisia Considerada do ponto de vista psicológico a paralisia do braço consiste no fato de que a concepção do braço não consegue entrar em associação com as outras idéias constituintes do ego das quais o corpo da pessoa é parte importante A lesão portanto seria a abolição da acessibilidade associativa da concepção do braço O braço comportase como se não existisse para as operações das associações Não há dúvida de que se as condições materiais correspondentes à concepção do braço estão profundamente modificadas a concepção também será prejudicada Mas tenho de demonstrar que esta consegue estar inacessível sem estar destruída e sem estar lesado o seu substrato material o tecido nervoso da região correspondente do córtex Começarei mostrando alguns exemplos extraídos da vida social Uma história cômica narra que um homem de grande lealdade não queria lavar a mão porque seu soberano a tinha tocado A relação dessa mão com a imagem do rei parecia tão importante para a vida do homem que ele se recusava a deixar que a mão entrasse em qualquer outra relação Estamos obedecendo ao mesmo impulso quando quebramos a taça em que bebemos à saúde de um par recémcasado Na Antiguidade as tribos selvagens que queimavam o cavalo do seu chefe morto suas armas e até mesmo suas esposas juntamente com seu corpo morto estavam obedecendo à concepção segundo a qual ninguém jamais deveria tocálos A força de todas essas ações é evidente A quantidade de afeto que devotamos à primeira associação de um objeto oferece resistência a que ela entre numa nova associação com outro objeto e por conseguinte torna a idéia do primeiro objeto inacessível à associação Não se trata de uma simples comparação é quase a mesma coisa quando passamos à esfera da psicologia das concepções Se numa associação a concepção do braço está envolvida com uma grande quantidade de afeto essa concepção será inacessível ao livre jogo das outras associações O braço estará paralisado em proporção com a persistência dessa quantidade de afeto ou com a diminuição através de meios psíquicos apropriados Esta é a solução do problema que levantamos pois em todos os casos de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 105 paralisia histérica verificamos que o órgão paralisado ou a função abolida estão envolvidos numa associação subconsciente que é revestida de uma grande carga de afeto e pode ser demonstrado que o braço tem seus movimentos liberados tão logo essa quantidade de afeto seja eliminada Por conseguinte a concepção do braço existe no substrato material mas não está acessível às associações e impulsos conscientes porque a totalidade de sua afinidade associativa está por assim dizer impregnada de uma associação subconsciente com a lembrança do evento o trauma que produziu a paralisia M Charcot foi o primeiro a nos ensinar que para explicar a neurose histérica devemos concentrarnos na psicologia Breuer e eu seguimos seu exemplo numa comunicação preliminar 1893a Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos Nesse artigo mostramos que os sintomas permanentes da histeria que são descritos como nãotraumáticos são explicados com exceção dos estigmas pelo mesmo mecanismo que Charcot identificou nas paralisias traumáticas Mas também mostramos o motivo que explica a persistência desses sintomas e mostramos por que eles podem ser curados por um método especial de psicoterapia hipnótica Todo evento toda impressão psíquica é revestida de uma determinada carga de afeto Affektbetrag da qual o ego se desfaz seja por meio de uma reação motora seja pela atividade psíquica associativa Se a pessoa é incapaz de eliminar esse afeto excedente ou se mostra relutante em fazêlo a lembrança da impressão passa a ter a importância de um trauma e se torna causa de sintomas histéricos permanentes A impossibilidade de eliminação tornase evidente quando a impressão permanece no subconsciente Denominamos a essa teoria Das Abreagieren der Reizzuwächse Para resumir penso que está em completo acordo com nossa opinião geral acerca da histeria já que conseguimos moldála segundo o ensinamento de M Charcot supor que a lesão nas paralisias histéricas não consiste senão na incapacidade do órgão ou função em exame de ter acesso às associações do ego consciente que essa modificação puramente funcional mesmo não estando afetada a concepção é causada pela fixação dessa concepção numa associação subconsciente com a lembrança do trauma e que essa concepção não fica liberada e acessível enquanto a carga de afeto do trauma psíquico não é eliminada por uma reação motora adequada ou pela atividade psíquica consciente Mas mesmo que não ocorra esse mecanismo se uma idéia autosugestiva direta sempre é necessária para haver uma paralisia histérica como se depreende dos casos clínicos de traumas de M Charcot conseguimos demonstrar qual teria de ser a natureza da lesão ou melhor da modificação na paralisia histérica a fim de explicar as diferenças entre esta e a paralisia cerebral orgânica O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 106 EXTRATOS DOS DOCUMENTOS DIRIGIDOS A FLIESS 1950 18921899 NOTA DO EDITOR INGLÊS O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 107 a EDIÇÃO ALEMÃ 1950 Em Aus den Anfängen der Psychoanalyse editado por Marie Bonaparte Anna Freud e Ernst Kris Londres Imago Publishing Co b TRADUÇÃO INGLESA 1954 Em The Origins of PsychoAnalysis editado como acima Londres Imago Publishing Co Nova Iorque Basic Books Trad de Eric Mosbacher e James Strachey A presente tradução inglesa baseada na de 1954 foi inteiramente revista A história do relacionamento de Freud com Wilhelm Fliess 18581928 está narrada com detalhes no Capítulo XIII do primeiro volume da biografia de Freud por Ernest Jones 1953 e na introdução que Ernst Kris escreveu para os livros da bibliografia acima Aqui basta explicar que Fliess dois anos mais novo do que Freud era médico especialista em nariz e garganta e residia em Berlim com ele Freud manteve uma correspondência volumosa e íntima entre 1887 e 1902 Fliess era um homem de grande capacidade com interesses muito amplos em biologia geral mas nessa área adotou teorias que atualmente são consideradas excêntricas e praticamente indefensáveis Contudo era mais acessível às idéias de Freud do que qualquer outro contemporâneo Por conseguinte Freud lhe comunicava seus pensamentos com a máxima liberdade e o fazia não apenas em suas cartas como também numa série de documentos Rascunhos como os chamamos aqui que representavam relatos organizados de suas idéias em evolução e que em alguns casos são os primeiros esboços de obras posteriormente publicadas O mais importante deles é o extenso documento com umas quarenta mil palavras a que demos o título de Projeto para uma Psicologia Científica Mas toda a série de documentos escritos durante os anos de formação das teorias psicanalíticas de Freud que culminam com A Interpretação dos Sonhos merece o mais atento estudo Esses documentos e mesmo o fato da sua existência eram totalmente desconhecidos até a época da Segunda Guerra Mundial A melodramática história de sua descoberta e seu salvamento também foi narrada por Ernest Jones no mesmo capítulo de sua biografia Nossa dívida principal em todo esse assunto é para com a Princesa Marie Bonaparte Princesa George da Grécia que não só adquiriu os documentos imediatamente como teve a extraordinária coragem de resistir aos intentos do autor deles e seu mestre de destruílos Até agora foi publicada somente uma seleção desses documentos editada nos livros citados no cabeçalho desta nota Para a Edição Standard fizemos uma outra seleção a partir daquela seleção Escolhemos a o Projeto para uma Psicologia Científica b todos os Rascunhos menos um deles e c as partes das cartas que parecem ter uma conexão significativa com a história da psicanálise e a evolução dos pontos de vista de Freud O leitor deverá ter em mente que o material desses rascunhos e cartas não foi O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 108 projetado por seu autor para ser considerado uma expressão acabada de suas opiniões e que muitas vezes o material será articulado numa forma altamente condensada Portanto não há por que surpreenderse com a presença ocasional de incoerências e obscuridades A presente tradução inglesa baseiase na versão alemã publicada nos Anfänge Contudo foi comparada com o manuscrito original e nas passagens em que foram constatadas divergências significativas estas foram corrigidas sempre com uma nota explicativa Para simplificar as referências mantevese a designação com letras e números dos rascunhos e cartas adotada nos Anfänge e nas Origins Seguimos o critério dos organizadores dos Anfänge por motivos que explicamos em 1 ao destacar o Projeto do restante da correspondência e editálo no fim do volume RASCUNHO A PROBLEMAS 1 Será a angústia das neuroses de angústia derivada da inibição da função sexual ou da angústia ligada à etiologia dessas neuroses 2 Até que ponto uma pessoa sadia reage aos traumas sexuais posteriores de modo diferente de alguém predisposto pela masturbação Apenas quantitativamente Ou qualitativamente 3 Será o coitus reservatus simples condom um fator nocivo 4 Existirá uma neurastenia inata com fraqueza sexual inata ou será ela sempre adquirida na juventude Por meio das babás da masturbação praticada por outra pessoa 5 Será a hereditariedade algo mais que um multiplicador 6 O que é que participa da etiologia da depressão periódica 7 Será a anestesia sexual nas mulheres outra coisa que não um resultado da impotência Poderá ela por si mesma provocar neuroses TESES 1 Não existe nenhuma neurastenia ou neurose análoga sem distúrbio da função sexual 2 Este tem um efeito causal imediato ou então atua como uma disposição para outros fatores mas sempre de tal modo que sem ele os demais fatores não podem causar neurastenia 3 A neurastenia nos homens dada sua etiologia é acompanhada de relativa impotência 4 A neurastenia nas mulheres é uma conseqüência direta da neurastenia nos homens por meio da redução da potência deles 5 A depressão periódica é uma forma de neurose de angústia que fora desta manifestase em fobias e ataques de angústia 6 A neurose de angústia é em parte uma conseqüência da inibição da função sexual 7 O excesso simples e a sobrecarga de trabalho não são fatores etiológicos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 109 8 A histeria nas neuroses neurastênicas indica a repressão dos afetos concomitantes GRUPOS PARA OBSERVAÇÃO 1 Homens e mulheres que permaneceram sadios 2 Mulheres estéreis em que há ausência de traumas pela prevenção da gravidez no casamento 3 Mulheres infectadas por gonorréia 4 Homens de vida promíscua que têm gonorréia e que por esse motivo estão protegidos em todos os sentidos tendo conhecimento de sua hipospermia 5 Membros que permaneceram sadios em famílias gravemente afetadas 6 Observações de países em que são endêmicas certas anormalidades sexuais específicas FATORES ETIOLÓGICOS 1 Esgotamento devido a formas de satisfação anormais 2 Inibição da função sexual 3 Afetos concomitantes a essas práticas 4 Traumas sexuais anteriores ao início da idade da compreensão RASCUNHO B A ETIOLOGIA DAS NEUROSES Estou escrevendo tudo uma segunda vez para você meu caro amigo e em prol de nossos trabalhos em comum Naturalmente você manterá este rascunho longe de sua jovem esposa I Podese tomar como fato reconhecido que a neurastenia é uma conseqüência freqüente da vida sexual anormal Contudo a afirmação que quero fazer e comprovar por minhas observações é que a neurastenia é sempre apenas uma neurose sexual Adotei uma opinião semelhante juntamente com Breuer com relação à histeria A histeria traumática era bem conhecida o que afirmamos além disso foi que toda histeria que não é hereditária é traumática Do mesmo modo afirmo agora que toda neurastenia é sexual Por ora deixaremos de lado a questão de saber se a disposição hereditária e secundariamente as influências tóxicas conseguem produzir a neurastenia verdadeira ou se aquilo que parece ser neurastenia hereditária também remonta a um esgotamento sexual precoce Se existe algo que se possa chamar neurastenia hereditária cabe indagar se o status nervosus dos casos hereditários não deveria ser diferençado da neurastenia que relações ela tem afinal com os sintomas correspondentes na infância e assim por diante Portanto em primeiro lugar minha argumentação se restringirá à neurastenia adquirida Por conseguinte o que afirmo pode ser formulado da seguinte maneira Na etiologia de uma afecção nervosa devemos distinguir 1 a precondição necessária sem a qual o estado não pode surgir em absoluto e 2 os fatores desencadeantes A relação entre esses dois elementos pode ser assim retratada quando a precondição necessária atua de modo suficiente a afecção se instala como conseqüência inevitável quando não atua de modo suficiente o resultado de sua atuação é em primeiro lugar uma disposição para a afecção que deixa de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 110 ser latente tão logo sobrevém uma quantidade suficiente de um dos fatores secundários Assim o que falta para o efeito integral na etiologia primária pode ser substituído pela etiologia de segunda ordem esta contudo é dispensável ao passo que a de primeira ordem é imprescindível Se essa fórmula etiológica for aplicada a nosso caso atual chegaremos à seguinte conclusão apenas o esgotamento sexual pode por si só provocar neurastenia Quando não consegue esse resultado por si mesmo tem um efeito tal sobre a disposição do sistema nervoso que a doença física os afetos depressivos e o excesso de trabalho influências tóxicas não mais podem ser tolerados sem levar à neurastenia Sem o esgotamento sexual porém todos esses fatores são incapazes de gerar neurastenia Acarretam fadiga normal tristeza normal e fraqueza física normal mas continuam apenas a evidenciar quanto dessas influências prejudiciais uma pessoa normal consegue tolerar Examinarei separadamente a neurastenia nos homens e nas mulheres A neurastenia masculina é adquirida na puberdade e se manifesta quando o paciente atinge a casa dos vinte anos Sua origem é a masturbação cuja freqüência tem completa correlação com a freqüência da neurastenia masculina Podemos observar no círculo de nossas relações ao menos nas populações urbanas que os indivíduos que foram seduzidos por mulheres em idade precoce escapam à neurastenia Quando esse fator nocivo atua por um período prolongado e com intensidade ele transforma a pessoa em questão num neurastênico sexual cuja potência fica igualmente prejudicada a intensidade da causa tem correlação com a persistência desse estado por toda a vida Uma prova adicional da conexão causal está no fato de que um neurastênico sexual sempre é ao mesmo tempo um neurastênico geral Se o fator nocivo não foi suficientemente intenso ele terá de acordo com a fórmula dada acima um efeito sobre a disposição do paciente desse modo se posteriormente intervierem fatores precipitantes ele provocará neurastenia que esses fatores isoladamente não teriam produzido Trabalho intelectual neurastenia cerebral atividade sexual normal neurastenia medular etc Nos casos intermediários encontramos a neurastenia da juventude que tipicamente começa e segue sua evolução acompanhada de dispepsia etc e que cessa com o casamento O segundo fator nocivo que afeta homens em idade mais avançada exerce seu impacto sobre um sistema nervoso que ou está intacto ou foi predisposto à neurastenia pela masturbação A questão é saber se esse fator pode acarretar resultados prejudiciais mesmo no primeiro caso é provável que sim Seu efeito é patente no segundo caso em que ele revive a neurastenia da juventude e cria novos sintomas Esse segundo fator nocivo é o onanismus conjugalis o coito incompleto com a finalidade de evitar a gravidez Quanto aos homens todos os métodos utilizados para conseguir isso parecem equivalerse atuam com intensidade variável conforme a disposição prévia da pessoa mas de fato não diferem qualitativamente Mesmo o coito normal não é tolerado pelos que têm uma disposição intensa ou pelos neurastênicos crônicos e além disso a intolerância ao condom ao coito extravaginal e ao coitus interruptus cobra seu tributo Um homem sadio tolerará todos esses métodos por longo tempo mas não indefinidamente Depois de certo tempo comportase como o indivíduo portador de uma predisposição Sua única vantagem em relação ao masturbador é o privilégio de uma latência mais prolongada ou o fato de que em cada ocasião ele necessita de uma causa O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 111 precipitante Nisso o coitus interruptus prova ser o principal fator nocivo e produz seu efeito característico mesmo em indivíduos nãopredispostos Neurastenia feminina Normalmente as meninas são sadias e nãoneurastênicas e isto é também para as jovens mulheres casadas apesar de todos os traumas sexuais desse período da vida Em casos relativamente raros a neurastenia em sua forma pura surge em mulheres casadas e em mulheres nãocasadas de mais idade devese então pensar que surgiu espontaneamente e do mesmo modo que nos homens Com muito maior freqüência a neurastenia numa mulher casada decorre da neurastenia existente no homem ou é produzida simultaneamente Nesse caso quase sempre há uma mistura de histeria e temos então a neurose mista comum da mulheres A neurose mista das mulheres decorre da neurastenia existente nos homens em todos os casos não raros em que o homem sendo neurastênico sexual sofre de limitações na sua potência A mistura com a histeria resulta diretamente do refreamento da excitação do ato Quanto mais reduzida a potência do homem mais predominante é a histeria da mulher assim um homem sexualmente neurastênico torna sua mulher não tanto neurastênica mas histérica Essa neurose surge juntamente com a neurastenia dos homens durante o segundo impacto dos fatores nocivos sexuais que é de significação maior para a mulher supondose que seja sadia Assim encontramos muito mais homens neuróticos durante a primeira década da puberdade e muito mais mulheres neuróticas durante a segunda No caso das mulheres isso resulta dos fatores nocivos devidos à evitação da gravidez Não é fácil classificálos e de modo geral nenhum deles deve ser considerado inteiramente inócuo para as mulheres de modo que mesmo nos casos mais favoráveis condom as mulheres sendo parceiros sexuais mais escrupulosos dificilmente escaparão de neurastenia discreta Evidentemente muita coisa dependerá das duas predisposições se 1 a mulher era neurastênica antes do casamento ou se 2 tornouse histériconeurastênica durante o período de relações sexuais livres sem preservativos II Neurose de angústia Todos os casos de neurastenia caracterizamse indubitavelmente por uma certa diminuição da autoconfiança uma expectativa pessimista e uma inclinação para idéias antitéticas aflitivas Contudo a questão é saber se o surgimento proeminente desse fator angústia sem estarem os outros sintomas especialmente desenvolvidos não deveria ser destacado como uma neurose de angústia independente particularmente tendo em conta que esta pode ser encontrada não menos freqüentemente na histeria do que na neurastenia A neurose de angústia surge sob duas formas como um estado crônico e como um ataque de angústia As duas formas podem combinarse facilmente e um ataque de angústia nunca ocorre sem sintomas crônicos Os ataques de angústia são mais comuns nas formas ligadas à histeria são portanto mais freqüentes em mulheres Os sintomas crônicos são mais comuns em homens neurastênicos Os sintomas crônicos são 1 angústia relacionada com o corpo hipocondria 2 angústia em relação ao funcionamento do corpo agorafobia claustrofobia vertigem em lugares altos 3 angústia relacionada com as decisões e a memória isto é as fantasias de alguém a respeito de seu próprio funcionamento psíquico folie de doute O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 112 ruminações obsessivas etc Até este momento não tive nenhuma razão para não tratar desses sintomas como sendo equivalentes De resto a questão é a seguinte 1 em que medida esse estado emerge nos casos hereditários sem qualquer fator nocivo sexual 2 se ele é desencadeado no casos hereditários por algum fator nocivo sexual 3 se ele se acrescenta sob a forma de intensificação à neurastenia comum Não há dúvida de que é adquirido e especialmente por homens e mulheres casados durante o segundo período de fatores nocivos sexuais através do coitus interruptus Não penso que para isso seja necessária uma predisposição devida a uma neurastenia anterior mas quando falta a predisposição a latência é maior A fórmula causal é a mesma da neurastenia em 1 Os casos mais raros de neurose de angústia fora do casamento são encontrados especialmente nos homens No final revelamse como casos de congressus interruptus em que o homem se envolve psiquicamente de forma intensa com mulheres cujo bemestar constitui para ele tema de preocupação Esse procedimento em tais condições é um fator nocivo de maior importância para o homem do que o coitus interruptus no casamento de vez que este é e freqüentemente corrigido por assim dizer pelo coito normal fora do casamento Devo examinar a depressão periódica um ataque de angústia com duração de semanas ou meses como uma terceira forma de neurose de angústia Essa forma de depressão em contraste com a melancolia propriamente dita quase sempre tem uma conexão aparentemente racional com um trauma psíquico Este no entanto é apenas a causa precipitante Ademais essa depressão periódica não é acompanhada por anestesia sexual psíquica que é característica da melancolia em 1 Tive a possibilidade de estabelecer como causa de numerosos casos dessa espécie o coitus interruptus seu início era tardio durante o casamento depois do nascimento do último filho Num caso de uma torturante neurastenia que começou na puberdade pude comprovar a existência de uma violência sexual no oitavo ano de vida Um outro caso que durava desde a infância veio a revelarse como reação histérica a uma violência sexual sob a forma de masturbação Assim não posso dizer se nesses casos estamos diante de formas verdadeiramente hereditárias sem uma causa sexual e por outro lado não sei dizer se o coitus interruptus por si mesmo pode ser incriminado nesses casos nem se a disposição hereditária é sempre prescindível Omitirei as neuroses ocupacionais pois como lhe disse nelas foram demonstradas modificações nos componentes musculares CONCLUSÕES Depreendese do que eu disse que as neuroses são inteiramente evitáveis como também inteiramente incuráveis A tarefa do médico deslocase totalmente para a profilaxia A primeira parte dessa tarefa a prevenção do fator nocivo sexual do primeiro período coincide com profilaxia contra a sífilis e a gonorréia pois estes são os fatores nocivos que ameaçam todo aquele que abandona a masturbação A única alternativa seriam as relações sexuais livres entre rapazes e moças respeitáveis isto contudo só poderia ser adotado se houvesse métodos inócuos de evitar a gravidez Não O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 113 sendo assim as alternativas são masturbação neurastenia masculina e histeroneurastenia na mulher ou então sífilis no homem sífilis na geração seguinte gonorréia no homem gonorréia e esterilidade na mulher O mesmo problema um meio inócuo de controlar a concepção é trazido pelo trauma sexual do segundo período pois o condom não proporciona uma solução segura nem aceitável para quem já é neurastênico Na ausência de tal solução a sociedade parece condenada a cair vítima de neuroses incuráveis que reduzem a um mínimo o gozo da vida destroem a relação conjugal e trazem a ruína hereditária a toda a geração seguinte As camadas inferiores da sociedade nada sabem do malthusianismo mas estão em plena procura e do jeito que as coisas vão atingirão o mesmo ponto e serão vitimadas pela mesma fatalidade Assim o médico se defronta com um problema cuja solução merece todo o seu empenho CARTA 14 As coisas se complicam cada vez mais à medida que chega a confirmação Ontem por exemplo vi quatro casos novos cuja etiologia como evidenciado pelos dados cronológicos só poderia ser o coitus interruptus Talvez eu possa mantêlo interessado fazendo um breve relato desses casos Eles estão longe de ser uniformes 1 Mulher 41 anos filhos com 16 14 11 e 7 anos Problemas nervosos nos últimos 12 anos passou bem nos períodos de gravidez recaída posteriormente não piorou com a última gravidez Ataques de vertigem com sensação de fraqueza agorafobia expectativa ansiosa nenhum indício de neurastenia histeria pouca Etiologia confirmada neurose de angústia simples 2 Mulher 24 anos filhos de 4 e 2 anos Desde a primavera de 93 ataques de dor nas costas até o esterno à noite com insônia quanto ao mais nada de especial durante o dia bem Marido caixeiroviajante esteve em casa por algum tempo na primavera e agora No verão enquanto o marido estava fora sentiase muito bem Coitus interruptus e muito receio de ter filhos Histeria portanto 3 Homem 42 anos filhos de 17 16 e 13 anos Esteve bem até há seis anos Aí com a morte do pai súbito ataque de angústia com palpitações temores hipocondríacos de câncer da língua vários meses depois um segundo ataque com cianose pulso intermitente medo de morrer etc a partir de então fraqueza vertigem agorafobia alguma dispepsia Este é um caso de neurose de angústia pura acompanhado de sintomas cardíacos subseqüentes a uma emoção contudo o coitus interruptus foi aparentemente tolerado com facilidade durante dez anos 1 4 Homem 34 anos Perda do apetite nos últimos três anos dispepsia há um ano com perda de 20 quilos constipação Quando esses sintomas cessaram passou a sentir violenta pressão intracraniana nas ocasiões em que soprava o siroco ataques de fraqueza com sensações correlatas e espasmos clônicos histeriformes Nesse caso portanto predomina a histeria Tem um filho de cinco anos de idade Desde então O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 114 coitus interruptus devido a uma doença da mulher Mais ou menos na mesma época em que se recuperou da dispepsia foram reiniciadas as relações sexuais normais Em vista dessas reações aos mesmos fatores nocivos é preciso coragem para insistir na natureza específica dos seus efeitos tal como a concebo E no entanto deve ser assim há determinados pontos que ligam todos esses quatro casos neurose de angústia simples histeria simples neurastenia com histeria Em 1 uma mulher muito inteligente não havia receio de ter filhos ela tem uma neurose de angústia simples Em 2 uma mulher jovem agradável e obtusa a angústia era muito intensa depois de breve período teve histeria pela primeira vez O caso 3 com neurose de angústia e sintomas cardíacos era um homem muito potente e fumante inveterado O caso 4 pelo contrário era sem se ter masturbado apenas moderadamente potente frígido RASCUNHO D SOBRE A ETIOLOGIA E A TEORIA DAS PRINCIPAIS NEUROSES I CLASSIFICAÇÃO Introdução Histórico Diferenciação gradual das neuroses O curso de evolução dos meus próprios pontos de vista A Morfologia das Neuroses 1 Neurastenia e as pseudoneurastenias 2 Neurose de angústia 3 Neurose obsessiva 4Histeria 5 Melancolia Mania 6 As neuroses mistas 7 Ramificações das neuroses e transições para o normal B Etiologia das Neuroses provisoriamente restrita às neuroses adquiridas 1 Etiologia da neurastenia Tipo de neurastenia congênita 2 Etiologia da neurose de angústia 3 da neurose obsessiva e da histeria 4 da melancolia 5 da neuroses mistas 6 A fórmula etiológica básica em 1 atrás A tese da especificidade da etiologia a análise do conjunto das neuroses 7 Os fatores sexuais em sua significação etiológica 8 Exame dos pacientes O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 115 9 Objeções e Provas 10 Conduta das pessoas assexuais C Etiologia e Hereditariedade Os tipos hereditários Relação da etiologia com a degeneração com as psicoses e com a predisposição II TEORIA D Pontos de Contacto com a Teoria da Constância Aumento interno e externo do estímulo excitação constante e passageira Soma uma característica da excitação interna Reação específica Formulação e exposição da teoria da constância Interposição do ego com acumulação da excitação E O Processo Sexual à Luz da Teoria da Constância A via seguida pela excitação no processo sexual masculino e feminino A via seguida pela excitação na presença de fatores sexuais nocivos etiologicamente operantes Teoria de uma substância sexual O diagrama esquemático sexual F Mecanismo das Neuroses As neuroses como perturbações do equilíbrio devidas ao aumento da dificuldade de descarga Tentativas de ajustamento limitadas em sua eficácia Mecanismo das diferentes neuroses em relação à sua etiologia sexual Afetos e neuroses G Paralelo entre as neuroses da sexualidade e a fome H Resumo da teoria da constância e da teoria da sexualidade e das neuroses Lugar das neuroses na patologia fatores a que elas estão sujeitas leis que regem sua combinação Inadequação psíquica desenvolvimento degeneração etc CARTA 18 Existe ainda uma centena de lacunas grandes e pequenas em minhas idéias a respeito das neuroses Mas estoume aproximando de um ponto de vista abrangente e de alguns critérios gerais de abordagem Conheço três mecanismos transformações do afeto histeria de conversão deslocamento do afeto obsessões e 3 troca de afeto neurose de angústia e melancolia Em todos os casos é a excitação sexual que parece sofrer essas alterações mas o estímulo para elas não é em todos os casos algo sexual Ou seja em todos os casos em que as neuroses são adquiridas elas o são devido a perturbações na vida sexual mas existem pessoas nas quais o comportamento de seus afetos sexuais é perturbado hereditariamente e elas desenvolvem as formas correspondentes de neuroses hereditárias Os aspectos mais gerais a partir dos quais posso classificar as neuroses são os seguintes 1 Degeneração 2 Senilidade E o que significa isto O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 116 3 Conflito 4 Conflagração Degeneração significa o comportamento inatamente anormal dos afetos sexuais desse modo os processos da conversão do deslocamento e da transformação em angústia ocorrem na proporção em que os afetos sexuais desempenham um papel no decurso da vida Senilidade é evidente Por assim dizer é uma degeneração normalmente adquirida na velhice Conflito coincide com minha concepção de defesa rechaço compreende os casos de neurose adquirida em pessoas que não são hereditariamente anormais O que é rechaçado é sempre a sexualidade Conflagração é uma concepção nova Significa o que se pode chamar de degeneração aguda por exemplo nas intoxicações graves nas febres no estágio inicial da paralisia geral ou seja catástrofes em que há perturbações dos afetos sexuais sem causas desencadeantes sexuais Talvez as neuroses traumáticas pudessem ser abordadas sob esse enfoque Naturalmente o ponto central e principal de todo esse assunto continua sendo o fato de que em conseqüência de determinados fatores nocivos sexuais até mesmo as pessoas sadias podem adquirir as diferentes formas de neurose O acesso a uma visão mais ampla é proporcionado pelo fato de que nos casos em que uma neurose se desenvolve sem um fator nocivo podese demonstrar a presença desde o início de uma perturbação similar dos afetos sexuais Afeto sexual naturalmente é tomado no seu sentido mais amplo como uma excitação de quantidade definida Posso apresentarlhe o meu mais recente exemplo para apoiar essa tese Um homem de 42 anos forte e elegante de repente desenvolveu uma dispepsia neurastênica aos 30 anos perdendo uns 25 quilos de peso e a partir daí viveu uma vida limitada e neurastênica Na época em que isso aconteceu aliás ele tinha combinado seu casamento e estava emocionalmente abalado pela doença da noiva Salvo esse aspecto porém não havia fatores sexuais nocivos Ele se masturbou mais ou menos por um ano dos 16 anos aos 17 anos dos 17 em diante passou a ter relações sexuais normais muito raramente coitus interruptus nenhum excesso nenhuma abstinência Ele próprio atribui a causa à sobrecarga a que submeteu sua constituição até a idade de 30 anos trabalhava bebia e fumava muito levava uma vida irregular Mas esse homem vigoroso sujeito apenas a fatores nocivos corriqueiros nunca nunca entre os 17 e os 30 anos foi propriamente potente jamais conseguiu praticar mais de um coito em cada ocasião sempre ejaculava rapidamente nunca fez pleno uso de seu sucesso inicial junto às mulheres nunca conseguiu penetrar com facilidade a vagina Qual era a origem de sua limitação Não sei dizer O interessante todavia é que isso estava presente justamente nele Aliás tratei de duas de suas irmãs portadoras de neuroses uma delas está entre as minhas mais bemsucedidas curas de dispepsia neurastênica RASCUNHO E COMO SE ORIGINA A ANGÚSTIA Com mão certeira você tocou na questão que penso ser o ponto fraco Tudo o que sei a respeito é o seguinte O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 117 Logo ficou claro para mim que a angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a sexualidade e me chamou especialmente a atenção a certeza com que o coitus interruptus praticado numa mulher conduz à neurose de angústia Comecei então a seguir diversas pistas falsas Achei que a angústia de que sofrem os pacientes devia ser considerada um prolongamento da angústia experimentada durante o ato sexual ou seja que era na realidade um sintoma histérico Na verdade são por demais evidentes as conexões entre a neurose de angústia e a histeria Duas coisas poderiam originar o sentimento de angústia no coitus interruptus na mulher o receio de ficar grávida e no homem a preocupação de seu artifício preventivo poder falhar A partir de uma série de casos convencime de que a neurose de angústia também surgia em situações em que para as duas pessoas envolvidas a eventualidade de virem a ter um filho basicamente não representava uma questão de maior importância Assim a angústia da neurose de angústia não era continuada relembrada histérica Um segundo ponto extremamente importante ficou definido para mim a partir da seguinte observação A neurose de angústia afeta tanto as mulheres que são frígidas no coito como as que têm sensibilidade Esse aspecto é interessante e só pode significar que a origem da angústia não deve ser buscada na esfera psíquica Por conseguinte deve estar radicada na esfera física é um fator físico da vida sexual que produz a angústia Mas que fator Tendo em mira esse ponto reuni os casos em que encontrei a angústia originandose de uma causa sexual Em princípio eles me pareceram muito heterogêneos 1 Angústia das pessoas virgens observações e informações sexuais prenúncios da vida sexual confirmada por numerosos exemplos em ambos os sexos predominantemente no sexo feminino Não raro existe um indício de uma ligação intermediária uma sensação semelhante à ereção que aparece nos genitais 2 Angústia das pessoas voluntariamente abstinentes das beatas um tipo de neuropata de homens e mulheres que se caracterizam pelo rigor excessivo e por uma paixão pela limpeza que consideram horrível tudo o que é sexual As mesmas pessoas tendem a transformar sua ansiedade em fobias atos obsessivos folie de doute 3 Angústia da pessoas obrigatoriamente abstinentes mulheres que são esquecidas por seus maridos ou não são satisfeitas devido à falta de potência Essa forma de neurose de angústia certamente pode ser adquirida e devido a circunstâncias concomitantes combinase muitas vezes com a neurastenia 4 Angústia das mulheres que vivem a prática do coitus interrruptus ou o que é parecido das mulheres cujos maridos sofrem de ejaculação precoce portanto pessoas em que a estimulação física não é satisfeita 5 Angústia dos homens que praticam o coitus interruptus e mesmo dos homens que se excitam de diferentes maneiras e não empregam sua ereção para o coito 6 Angústia dos homens que vão além do seu desejo ou da sua força pessoas de mais idade cuja potência está diminuindo mas que ainda assim se impõem a prática do coito 7 Angústia das pessoas que se abstêm ocasionalmente homens jovens que se casaram com O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 118 mulheres de mais idade por quem na verdade sentem repulsa ou neurastênicos que foram desviados da masturbação pelo trabalho intelectual sem compensála através do coito ou homens cuja potência começa a enfraquecer e que no casamento abstêmse das relações sexuais por causa de sensações post coitum cf em 1 Nos demais casos não ficou evidenciada a ligação entre a angústia e a vida sexual Poderia ser estabelecida teoricamente Como juntar todos esses casos separados O que há de comum neles com maior freqüência é a abstinência Depois de constatar o fato de que mesmo as mulheres frígidas estão sujeitas à angústia após o coitus interruptus somos levados a dizer que se trata de uma questão de acumulação física de excitação isto é uma acumulação de tensão sexual física A acumulação ocorre como conseqüência de ter sido evitada a descarga Assim a neurose de angústia é uma neurose de represamento como a histeria daí a sua semelhança E visto que absolutamente nenhuma angústia está contida no que é acumulado a situação se define dizendose que a angústia surge por transformação a partir da tensão sexual acumulada Aqui se pode intercalar algum conhecimento que nesse meio tempo se obteve acerca do mecanismo da melancolia Com freqüência muito especial verificase que os melancólicos são anestéticos Não têm necessidade de relação sexual e não têm a sensação correlata Mas têm um grande anseio pelo amor em sua forma psíquica uma tensão erótica psíquica poderseia dizer Nos casos em que esta se acumula e permanece insatisfeita desenvolvese a melancolia Aqui pois poderíamos ter a contrapartida da neurose de angústia Onde se acumula tensão sexual física neurose de angústia Onde se acumula tensão sexual psíquica melancolia Mas por que ocorre essa transformação em angústia quando há uma acumulação Nesse ponto devemos examinar o mecanismo normal para lidar com a tensão acumulada O que nos interessa aqui é o segundo caso o caso da excitação endógena As coisas são mais simples no caso da excitação exógena A fonte da excitação situase externamente e envia para dentro da psique um acréscimo de excitação que é manejado de acordo com sua quantidade Para esse propósito basta qualquer reação que reduza em igual quantidade a excitação psíquica Cf em 1 Mas as coisas se passam de modo diverso no caso da tensão endógena cuja fonte se situa dentro do corpo do indivíduo fome sede pulsão sexual Nesse caso só têm utilidade as reações específicas reações que evitem novo surgimento de excitação nos órgãos terminais em questão sejam essas reações exeqüíveis com maior ou menor gasto de energia Aqui podemos supor que a tensão endógena cresce contínua ou descontinuamente mas de qualquer modo só é percebida quando atinge um determinado limiar É somente acima desse limiar que a tensão passa a ter significação psíquica que entra em contacto com determinados grupos de idéias que com isso passam a buscar soluções Assim a tensão sexual física acima de certo nível desperta a libido psíquica que então induz ao coito etc Quando a reação específica deixa de se realizar a tensão físicopsíquica o afeto sexual aumenta desmedidamente Tornase uma perturbação mas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 119 ainda não há base para sua transformação Contudo na neurose de angústia essa transformação de fato ocorre o que sugere a idéia de que nessa neurose as coisas se desvirtuam da seguinte maneira a tensão física aumenta atinge o nível do limiar em que consegue despertar afeto psíquico mas por algum motivo a conexão psíquica que lhe é oferecida permanece insuficiente um afeto sexual não pode ser formado porque falta algo nos fatores psíquicos Por conseguinte a tensão física não sendo psiquicamente ligada é transformada em angústia Se aceitarmos a teoria até esse ponto teremos de insistir em que deve haver na neurose de angústia um déficit constatável de afeto sexual na libido psíquica E isso se confirma pela observação Quando essa correlação é posta diante de alguma paciente ela sempre se indigna e declara que pelo contrário agora já não tem nenhum desejo etc Os pacientes do sexo masculino muitas vezes confirmam como fato observado que após passarem a sofrer de angústia não sentiram nenhum desejo sexual Vejamos agora se esse mecanismo concorda com os diferentes casos enumerados acima 1 Angústia das pessoas virgens Nesse caso o conjunto de idéias que deve captar a tensão física ainda não está presente ou está presente apenas de maneira insuficiente e além disso existe uma recusa psíquica que é um resultado secundário da educação Esse exemplo se enquadra muito bem 2 Angústia das pessoas excessivamente pudicas Nesse caso o que existe é a defesa uma completa rejeição psíquica que impossibilita qualquer transformação da tensão sexual É também nesses casos que encontramos numerosas obsessões Outro exemplo muito adequado 3 Angústia nos casos de abstinência forçosa É essencialmente a mesma pois a maioria das mulheres desse tipo cria uma rejeição psíquica destinada a evitar a tentação Nesse caso a rejeição é uma contingência em 2 tratase de algo fundamental 4 Angústia das mulheres decorrente de coitus interruptus Nesse caso o mecanismo é mais simples Tratase de excitação endógena que não se origina espontaneamente mas é induzida embora não em quantidade suficiente para que seja capaz de despertar afeto psíquico Efetuase artificialmente um alheamento entre o ato físicosexual e sua transformação psíquica Quando depois disso a tensão endógena aumenta ainda mais por sua própria conta ela não consegue ser transformada e gera angústia Nesse caso a libido pode estar presente mas não ao mesmo tempo que a angústia Desse modo aqui a rejeição psíquica é seguida de alheamento psíquico a tensão de origem endógena é acompanhada por uma tensão induzida 5 Angústia dos homens em decorrência do coitus interruptus ou do coitus reservatus O caso do coitus reservatus é mais claro o coitus interruptus pode ser considerado em parte subordinado a ele Também nesse caso tratase de um afastamento psíquico pois a atenção é voltada para um outro objetivo e mantida afastada da transformação da tensão física Contudo provavelmente há que aprimorar a explicação para o coitus interruptus 6 Angústia que acompanha a diminuição da potência ou a libido insuficiente De vez que nesses casos não ocorre a transformação da tensão física em angústia por causa da senilidade a explicação estaria no fato de que é insuficiente o desejo psíquico que pode ser concentrado para o ato em questão O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 120 7Angústia dos homens em conseqüência de aversão ou dos neurastênicos abstinentes O primeiro caso não requer uma explicação nova o outro dos neurastênios abstinentes talvez seja uma forma atenuada de neurose de angústia pois em geral isso só acontece propriamente em homens potentes Pode ser que o sistema nervoso neurastênico não consiga tolerar uma acumulação de tensão física pois a masturbação implica o habituarse a uma freqüente e completa ausência de tensão No seu todo a concordância não é tão precária assim Nos casos em que há um considerável desenvolvimento da tensão sexual física mas esta não pode ser convertida em afeto pela transformação psíquica por causa do desenvolvimento insuficiente da sexualidade psíquica ou por causa da tentativa de suprimila defesa ou por causa do declínio da mesma ou por causa do alheamento habitual entre sexualidade física e psíquica a tensão sexual se transforma em angústia Assim nisso desempenham um papel a acumulação de tensão física e a evitação da descarga no sentido psíquico Mas por que a transformação se faz precisamente em angústia Angústia é a sensação de acumulação de um outro estímulo endógeno o estímulo de respirar um estímulo que é incapaz de ser psiquicamente elaborado à parte o próprio respirar portanto a angústia poderia ser empregada para a tensão física acumulada em geral Além disso se examinarmos mais detidamente os sintomas da neurose de angústia encontraremos nela os componentes separados de um grande ataque de angústia ou seja dispnéia isolada palpitações isoladas sensação de angústia isolada ou uma combinação desses elementos Vistas mais de perto estas são as vias de inervação que a tensão psicossexual comumente percorre mesmo quando está por ser transformada psiquicamente A dispnéia e as palpitações fazem parte do coito e conquanto sejam habitualmente utilizadas somente como vias auxiliares de descarga aqui por assim dizer servem como as únicas saídas para a excitação Na neurose de angústia existe uma espécie de conversão tal como ocorre na histeria mais um exemplo de sua semelhança em 1 contudo na histeria é a excitação psíquica que toma um caminho errado exclusivamente em direção à área somática ao passo que aqui é uma tensão físicaque não consegue penetrar no âmbito psíquico e portanto permanece no trajeto físico As duas se combinam com extrema freqüência Foi esse o ponto a que consegui chegar por ora As lacunas precisam muito ser preenchidas Penso que tudo isso está incompleto faltame algo mas creio que os fundamentos estão corretos Naturalmente tudo isso ainda não está maduro para ser publicado Sugestões ampliações e certamente refutações e explicações serão recebidas com a máxima gratidão RASCUNHO F COLEÇÃO III 18 de agosto de 1894Nº 1 Neurose de angústiadisp hered Herr K 27 anos Pai em tratamento por melancolia senil irmã O bom caso de neurose de angústia complicada cuidadosamente analisado todos os membros da família K são neuróticos e de constituição geniosa Primo O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 121 do Dr K em Bordéus Boa saúde até há pouco tempo tem dormindo mal nos últimos nove meses em fevereiro e março acordava muitas vezes com pesadelos e palpitações excitabilidade geral aumentando gradualmente remissão dos sintomas devido a manobras militares que lhe fizeram muito bem Há três semanas no início da noite súbito ataque de angústia sem razão aparente com sensação de congestão desde o peito até a cabeça Interpretou que isso significava que necessariamente algo de terrível estava por acontecer sem opressão concomitante apenas discretas palpitações Posteriormente ataques semelhantes também durante o dia na hora da refeição do meiodiaHá duas semanas consultou um médico melhorou com o brometo o estado ainda continua mas dorme bem Também durante as duas últimas semanas breves ataques de profunda depressão assemelhandose a completa apatia durante apenas alguns minutos Melhorou somente aqui em Reichenau Além disso acessos de pressão na parte posterior da cabeça Ele próprio tomou a iniciativa de dar informações sobre sua vida sexual Há um ano apaixonouse por uma moça com quem flertava grande choque ao saber que ela estava noiva de outro Não está mais apaixonado atualmente Atribui pouca importância ao fato Prosseguiu masturbavase entre os 13 e os 16 ou 17 anos seduzido no colégio moderadamente disse ele Moderado nas relações sexuais nos últimos 2 anos e meio tem feito uso do condom por medo de infecção depois de tais relações muitas vezes se sente fraco Descreveu esse tipo de relações como forçadas Verifica que sua libido diminuiu muito durante o último ano Ficava excitadíssimo sexualmente em seu relacionamento com a moça sem tocála etc Seu primeiro ataque à noite fevereiro ocorreu dois dias após uma relação sexual seu primeiro ataque de angústia se deu após relação sexual na mesma noite a partir de então três semanas abstinente um homem tranqüilo de maneiras afáveis e afora isso sadio 18 de agosto de 1894Discussão do Nº 1 Ao procurarmos interpretar o caso de K uma coisa nos chama especialmente a atenção O homem tem uma disposição hereditária seu pai sofre de melancolia talvez melancolia de angústia a irmã tem uma típica neurose de angústia conheço intimamente essa neurose mas não fosse por isso eu decerto a descreveria como adquirida Isso dá motivo para pensar em sua hereditariedade Na família K provavelmente existe apenas uma disposição uma tendência a adoecer cada vez com maior gravidade em resposta à etiologia típica e não uma degeneração Podemos pois supor que no caso de Herr K a discreta neurose de angústia se desenvolveu a partir de uma etiologia discreta Onde buscála sem preconceito Em primeiro lugar pareceme tratarse de um estado de enfraquecimento da sexualidade A libido desse homem vinha diminuindo há algum tempo os preparativos para usar um condom são o bastante para que ele sinta que todo o ato é algo que lhe é forçado e o prazer derivado do ato algo a que foi induzido Sem dúvida esse é o nó de toda essa questão Após o coito muitas vezes se sente enfraquecido como diz ele percebe isso e então dois dias depois de um coito ou conforme o caso na mesma noite tem seus primeiros ataques de angústia A confluência do declínio da libido e da neurose de angústia se ajusta sem dificuldade à minha teoria Há uma debilidade no domínio psíquico da excitação sexual somática Essa fraqueza tem estado presente há algum tempo e possibilita o aparecimento da angústia quando há um aumento casual da excitação O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 122 somática Como foi adquirido esse enfraquecimento psíquico Não se poderia esperar maiores conseqüências de sua masturbação na juventude ela certamente não teria dado esses resultados especialmente porque não parece ter ultrapassado as medidas habituais Seu relacionamento com a moça que muito o excitava sensualmente parece muito mais apto a ter como efeito uma perturbação nesse sentido de fato o caso se assemelha às conhecidas condições das neuroses dos homens durante os noivados prolongados Acima de tudo porém não se pode duvidar de que o temor de infecção e a decisão de usar um condom constituíram o motivo daquilo que descrevi como o fator do alheamento entre o somático e o psíquico em 1 O efeito seria o mesmo do caso do coitus interruptus nos homens Em resumo Herr K desenvolveu uma fraqueza sexual psíquica porque por si mesmo arruinou o coito e estando intactas sua saúde física e a produção de estímulos sexuais a situação deu origem à produção de angústia Podemos dizer que sua decisão de tomar precauções em vez de procurar satisfação adequada num relacionamento seguro mostra que sua sexualidade já de início não tinha muito vigor O homem tinha uma disposição hereditária a etiologia que pode ser encontrada nesse caso embora seja qualitativamente importante seria tolerada sem maiores prejuízos por um homem sadio isto é um homem vigoroso Um aspecto interessante desse caso é o aparecimento de um estado de espírito tipicamente melancólico em ataques de curta duração Isso deve ter importância teórica para a neurose de angústia devida ao alheamento por ora posso apenas fazer o registro disso 20 de agosto de 1894 Nº 2Herr von F Budapeste 44 anos Homem fisicamente sadio ele se queixa de que está perdendo sua vivacidade e o prazer de viver de uma forma que não é natural num homem da sua idade Esse estado em que tudo lhe parece indiferente em que considera seu trabalho uma carga pesada e se sente malhumorado e debilitado é acompanhado de intensa pressão no alto e também na parte posterior da cabeça Ademais esse estado se caracteriza por má digestão isto é aversão à comida flatulência e prisão de ventre Também parece dormir mal No entanto o estado é evidentemente intermitente Dura a cada vez uns 4 ou 5 dias e se dissipa lentamente Pela flatulência ele percebe que a fraqueza nervosa está chegando Há intervalos de 12 a 14 dias e ele chega a passar bem durante várias semanas Têm ocorrido até mesmo períodos melhores com duração de meses Ele insiste em que as coisas têm estado assim nos últimos 25 anos Como acontece tantas vezes temse de começar a compor o quadro clínico pois ele fica repetindo monotonamente suas queixas e declara não ter prestado atenção a outros eventos Assim os contornos indeterminados dos ataques bem como sua completa irregularidade no tempo fazem parte do quadro Naturalmente ele atribui a culpa do seu estado à digestão Organicamente sadio sem preocupações ou perturbações emocionais de gravidade Quanto à sexualidade masturbação entre os 12 e os 16 anos depois relações muito regulares com mulheres não se sentia muito atraído casado nos últimos 14 anos teve somente 2 filhos o último há 10 anos nesse intervalo e desde então somente uso de condom e nenhuma outra técnica Nos últimos anos nítida diminuição da O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 123 potência Coito a cada 12 ou 14 dias mais ou menos muitas vezes há também longos intervalos Admite que após coito com o uso do condom sentese enfraquecido e infeliz mas não logo depois só dois dias mais tarde ou como diz tem notado que dois dias depois tem problemas digestivos Por que usa condom Não se deve ter filhos demais Ele tem 2 Discussão Um caso benigno mas muito característico de depressão periódica melancolia Sintomas apatia inibição pressão intracraniana dispepsia insônia o quadro está completo Há uma inequívoca semelhança com a neurastenia e a etiologia é a mesma Tenho alguns casos bastante parecidos são masturbadores Herr A e têm também um traço hereditário Os von F são reconhecidamente psicopatas Assim tratase de um caso de melancolia neurastênica deve haver aí um ponto de contato com a teoria da neurastenia É bem possível que o ponto de partida de uma melancolia de menor importância como a que vimos possa ser sempre o ato do coito um exagero do ditado da filosofia omne animal post coitum triste Os intervalos de tempo provariam se este é ou não o caso O homem sente melhoras a cada série de tratamentos a cada ausência de casa isto é em cada período em que se vê livre do coito Naturalmente como afirma ele é fiel à esposa O uso do condom é uma prova de pouca potência sendo algo parecido com a masturbação é uma causa contínua de sua melancolia CARTA 21 Só reuni uns poucos casos esta segundafeira Nº 3 Dr Z médico 34 anos Por muitos anos tem sofrido de sensibilidade orgânica nos olhos fosfenos clarões ofuscação escotomas etc Isso tem aumentado consideravelmente a ponto de impedilo de trabalhar nos últimos quatro meses desde a época de seu casamento Antecedentes masturbação desde os 14 anos de idade aparentemente continuada até esses últimos anos Casamento não consumado potência muito reduzida aliás tomadas providências para o divórcio Caso típico evidente de hipocondria num determinado órgão em um masturbador em períodos de excitação sexual É interessante que a formação médica atinja uma profundidade tão rasa Nº 4 Her D sobrinho de Frau A que morreu histérica Família altamente neurótica Idade 28 anos Há algumas semanas tem sofrido de lassidão pressão intracraniana pernas bambas potência reduzida ejaculação precoce e dos pródromos da perversão as jovens muito novas o excitam em grau maior do que as O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 124 de mais idade Alega que desde o início sua potência foi instável admite a masturbação mas não muito prolongada atualmente anda numa fase de abstinência Antes disto estados de angústia no início da noite Será que ele fez uma confissão completa RASCUNHO G MELANCOLIA I Os fatos que temos diante de nós parecem ser assim A Existem notáveis correlações entre a melancolia e a anestesia sexual Isso foi estabelecido 1 pela verificação de que em muitos melancólicos houve uma longa história prévia de anestesia 2 pela descoberta de que tudo o que provoca anestesia favorece o desenvolvimento da melancolia 3 pela existência de um tipo de mulheres psiquicamente muito exigentes nas quais o desejo intenso facilmente se transforma em melancolia e que são frígidas BA melancolia se desenvolve como intensificação da neurastenia através da masturbação CA melancolia surge numa combinação típica com a angústia intensa DA forma típica e extrema da melancolia parece ser a forma hereditária periódica ou cíclica II A fim de obtermos algum proveito desse material precisamos estabelecer alguns pontos de partida fixos Estes parecem ser proporcionados pelas seguintes considerações aO afeto correspondente à melancolia é o luto ou seja o desejo de recuperar algo que foi perdido Assim na melancolia deve tratarse de uma perda uma perda na vida pulsional bA neurose nutricional paralela à melancolia é a anorexia A famosa anorexia nervosa das moças jovens segundo me parece depois de cuidadosa observação é uma melancolia em que a sexualidade não se desenvolveu A paciente afirma que não se alimenta simplesmente porque não tem nenhum apetite não há qualquer outro motivo Perda do apetite em termos sexuais perda da libido Portanto não seria muito errado partir da idéia de que a melancolia consiste em luto por perda da libido Restaria saber se essa fórmula explica a ocorrência e as características dos pacientes melancólicos Discutirei isso com base no diagrama esquemático da sexualidade III Com base no diagrama esquemático da sexualidade Fig 1 de que me tenho utilizado freqüentemente passarei agora a examinar as condições sob as quais o grupo sexual psíquico ps S sofre O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 125 uma perda na quantidade de 1 QUADRO ESQUEMÁTICO DA SEXUALIDADE sua excitação Aqui são possíveis dois casos 1 quando a produção de s S excitação sexual somática diminuiu ou cessa e 2 quando a tensão sexual é desviada por ps S grupo sexual psíquico O primeiro caso em que cessa a produção de s S excitação sexual somática é provavelmente o que caracteriza a melancolia grave comum propriamente dita que reaparece periodicamente ou a melancolia cíclica na qual se alternam períodos de aumento e cessação da produção Ademais podemos supor que a masturbação excessiva que segundo nossa teoria conduz a uma excessiva descarga de E o órgão efetor e com isso a um baixo nível de estímulo em E a masturbação excessiva passa a afetar a produção de s S excitação sexual somática e a causar uma redução duradoura de s S levando conseqüentemente a um enfraquecimento do p S grupo sexual psíquico Essa é a melancolia neurastênica O segundo caso no qual a tensão sexual é desviada do p S grupo sexual psíquico embora a produção de s S excitação sexual somática não esteja diminuída pressupõe que a s S excitação sexual somática é utilizada em outra parte na fronteira entre o somático e o psíquico Este contudo é o fator determinante da angústia e por conseguinte isso coincide com o caso da melancolia de angústia uma forma mista que reúne neurose de angústia e melancolia Assim sendo nesta discussão estão explicadas as três formas de melancolia que realmente devem ser diferenciadas IV Como é que a anestesia desempenha esse papel na melancolia De acordo com o diagrama esquemático Fig 1 existem os tipos de anestesia que se seguem O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 126 A anestesia realmente sempre consiste na omissão de V a sensação voluptuosa que deve ser dirigida para o ps S grupo sexual psíquico após a ação reflexa que descarrega o órgão efetor A sensação voluptuosa é medida pela quantidade da descarga aO E órgão efetor não está completamente provido de carga daí a descarga no coito ser pequena e a V sensação voluptuosa muito reduzida o caso da frigidez bO trajeto desde a sensação até a ação reflexa está prejudicado de modo que a ação não é suficientemente forte Nesse caso também é reduzida a descarga de V é o caso da anestesia masturbatória da anestesia do coitus interruptus etc cTudo o mais está em ordem só que a V não é admitida no ps G grupo sexual psíquico por estar vinculada numa outra direção com a repulsadefesa esta é a anestesia histérica inteiramente análoga à anorexia nervosa repulsa Em que grau pois a anestesia favorece a melancolia No caso a de frigidez a anestesia não é a causa da melancolia mas um sinal de predisposição para a melancolia Isso se coaduna com o Fato A 1 mencionado no começo deste artigo em 1 Em outros casos a anestesia é a causa da melancolia pois o ps G grupo sexual psíquico é intensificado pela introdução de V e enfraquecido por sua ausência Fundamentado em teorias gerais da vinculação da excitação na memória O Fato A 2 é assim levado em conta em 1 Disto se conclui que é possível a pessoa sofrer de anestesia sem ser melancólica pois a melancolia está relacionada com a falta de s S excitação sexual somática ao passo que a anestesia se relaciona com a ausência de V No entanto a anestesia é um sinal ou um pródromo da melancolia pois o p S grupo sexual psíquico fica tão enfraquecido pela ausência de V como pela ausência de s S excitação sexual somática V Tornase necessário verificar por que a anestesia é tão predominantemente característica das mulheres Isso tem origem no papel passivo desempenhado por elas Um homem com anestesia logo deixa de empreender qualquer relação sexual a mulher não tem escolha As mulheres tornamse frígidas mais facilmente porque 1toda a sua educação se faz no sentido de não despertarem s Sexcitação sexual somática e sim de transformarem em estímulos psíquicos todas as excitações que de outro modo teriam esse efeito isto é de dirigirem a linha pontilhada no diagrama esquemático Fig 1 do objeto sexual inteiramente para o ps G grupo sexual psíquico Isso é necessário porque se houvesse uma vigorosa s S excitação sexual somática o ps G grupo sexual psíquico logo adquiriria tal intensidade intermitentemente que como ocorre no caso dos homens traria o objeto sexual para uma situação favorável por meio de uma reação específica em 1 Mas das mulheres exigese que renunciem ao arco da reação específica em lugar O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 127 Fig 2 disso delas se exigem ações específicas que atraiam o homem para a ação específica A tensão sexual é mantida em nível reduzido seu acesso ao ps G grupo sexual psíquico na medida do possível é vedado e a força indispensável do ps G é suprida de uma outra maneira Quando o ps G entra num estado de desejo intenso então em vista do reduzido nível de tensão no E órgão efetor esse estado é facilmente transformado em melancolia O ps G por si mesmo comporta pouca resistência Aqui temos o tipo juvenil e imaturo de libido e as mulheres exigentes e frígidas mencionadas acima Fato A 3 em 1 são simplesmente uma continuação desse tipo 2As mulheres tornamse frígidas mais facilmente do que os homens porque muitas vezes chegam ao ato sexual casam sem amor ou seja com menos s S excitação sexual somática e tensão em E Nesse caso são frígidas e continuam a sêlo O reduzido nível de tensão em E parece encerrar a principal predisposição à melancolia Em pessoas desse tipo toda neurose assume facilmente um cunho melancólico Assim enquanto os indivíduos potentes adquirem facilmente neuroses de angústia os impotentes tendem à melancolia VI E agora como se explicam os efeitos da melancolia A melhor descrição dos mesmos inibição psíquica com empobrecimento pulsional e o respectivo sofrimento Podemos imaginar que quando o ps G grupo sexual psíquico se defronta com uma grande perda da quantidade de sua excitação pode acontecer uma retração para dentro por assim dizer na esfera psíquica que produz um efeito de sucção sobre as quantidades de excitação contíguas Os neurônios associados são obrigados a desfazerse de sua excitação o que produz sofrimento Fig 2 Desfazer associações é sempre doloroso Com isso instalase um empobrecimento da excitação no seu depósito livre uma hemorragia interna por assim dizer que se manifesta nas outras pulsões e funções Essa retração para dentro atua de forma inibidora como uma ferida num modo análogo ao da dor cf a teoria da dor física Uma contrapartida disso seria apresentada pela mania na qual o excedente de excitação se comunica a todos os neurônios associados Fig 3 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 128 Fig 3 Aqui pois há uma semelhança com a neurastenia Nesta acontece um empobrecimento muito semelhante porque é como se digamos a excitação escapasse através de um buraco Mas nesse caso o que escapa pelo buraco é s S excitação sexual somática na melancolia o buraco é na esfera psíquica Contudo o empobrecimento neurastênico pode estenderse à esfera psíquica E realmente as manifestações são tão parecidas que alguns casos só podem ser diferençados com dificuldade RASCUNHO H PARANÓIA Na psiquiatria as idéias delirantes situamse ao lado das idéias obsessivas como distúrbios puramente intelectuais e a paranóia situase ao lado da loucura obsessiva como um psicose intelectual Se as obsessões já foram atribuídas a uma perturbação afetiva e se encontrou prova de que elas devem sua força a um conflito então a mesma opinião deve ser válida para osdelírios e também estes devem ser conseqüência de distúrbios afetivos e sua força deve estar radicada num processo psicológico Os psiquiatras aceitam o contrário desse fato ao passo que os leigos tendem a atribuir a loucura delirante a eventos mentais desagregadores Um homem que não perde a razão diante de determinadas coisas não tem nenhuma razão para perder Ora sucede que a paranóia na sua forma clássica é um modo patológico de defesa tal como a histeria a neurose obsessiva e a confusão alucinatória As pessoas tornamse paranóicas diante de coisas que não conseguem tolerar desde que para isso tenham a predisposição psíquica característica Em que consiste essa predisposição Nenhuma tendência para aquilo que representa a caracterização psíquica da paranóia e esta nós a estudaremos mediante um exemplo Uma mulher solteira já não muito nova cerca de trinta anos morava numa casa com o irmão e a irmã mais velha Pertencia à classe trabalhadora superior seu irmão trabalhou até tornarse um pequeno industrial Nesse meio tempo alugaram um quarto a um colega de trabalho um homem muito viajado um tanto enigmático muito talentoso e inteligente Ele morou na companhia deles durante um ano e mantinha com essa família um relacionamento muito amável e comunicativo A seguir foise embora mas voltou seis meses mais tarde Dessa vez ficou morando na casa por um tempo relativamente breve e então desapareceu O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 129 definitivamente As irmãs muitas vezes costumavam lamentar sua ausência e não podiam senão falar bem dele Não obstante a irmã mais nova contou à mais velha um episódio em que ele fizera uma tentativa de deixála em dificuldade Ela estava fazendo a arrumação dos quartos enquanto ele ainda estava na cama Ele a chamou para junto da cama e quando inadvertidamente ela obedeceu ele colocou o pênis na mão dela A cena não teve seqüência e bem pouco tempo depois o estranho foi embora No decorrer dos anos seguintes a irmã que tinha tido essa experiência adoeceu Passou a se queixar e por fim desenvolveu delírios inequívocos de estar sendo observada e perseguida no seguinte sentido achava que suas vizinhas tinham pena dela por ter sido abandonada pelo pretenso namorado e por ainda estar esperando que o homem voltasse estavam sempre a lhe dizer insinuações dessa natureza diziamlhe todo tipo de coisas a respeito do homem e assim por diante Tudo isso dizia ela era naturalmente inverídico A partir daí a paciente cai nesse estado somente por algumas semanas de cada vez Sua compreensão interna insight retorna temporariamente e ela explica que tudo isso foi conseqüência de se haver excitado mesmo assim nos intervalos padece de uma neurose que pode ser facilmente interpretada como neurose sexual E logo cai em novo surto de paranóia A irmã mais velha ficava surpresa ao verificar que tão logo a conversa se encaminhava para a cena da sedução a paciente costumava evitála Breuer ouvir falar no caso a paciente foime encaminhada e procurei curar sua tendência à paranóia tentando fazêla reviver a lembrança da cena Não obtive resultado Conversei com ela duas vezes e insisti para que me contasse tudo o que se relacionava com o inquilino em hipnose de concentração Em resposta a minhas perguntas para saber se não teria mesmo acontecido algo de embaraçoso deparei com a mais resoluta negativa nunca mais vi a paciente Ela ainda me enviou um recado para dizer que aquilo a havia aborrecido demais Defesa Isso era óbvio Ela queria não se lembrar do incidente e por conseguinte recalcavao intencionalmente Não podia haver qualquer dúvida a respeito da defesa mas essa defesa poderia igualmente ter levado a um sintoma histérico ou a uma idéia obsessiva Qual seria a peculiaridade da defesa paranóica Ela estavase poupando de algo algo fora recalcado Podemos entrever o que era Provavelmente na realidade ela ficava excitada com o que viu e com a lembrança do fato Logo estavase poupando da censura de ser uma mulher depravada Daí em diante passou a ouvir essa mesma censura agora proveniente de fora Assim o tema permanecia inalterado o que mudava era a localização da coisa Antes tratarase de uma autocensura interna agora era uma recriminação vinda de fora O julgamento a respeito dela fora transposto para fora as pessoas estavam dizendo aquilo que de outro modo ela diria a si mesma Havia uma vantagem nisso Ela teria sido obrigada a aceitar o julgamento proveniente de dentro já o que vinha do exterior podia rejeitar Dessa forma o julgamento a censura era mantida afastada de seu ego Portanto o propósito da paranóia é rechaçar uma idéia que é incompatível com o ego projetando seu conteúdo no mundo externo Neste ponto surgem duas questões 1 Como se efetua uma transposição dessa espécie 2 Isso se aplica também a outros casos de paranóia O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 130 1 A transposição se efetua de maneira muito simples Tratase do abuso de um mecanismo psíquico muito comumente utilizado na vida normal a transposição ou projeção Sempre que ocorre uma modificação interna temos a opção de supor a existência de uma causa interna ou de uma causa externa Quando algo nos impede a derivação interna naturalmente recorremos à externa E depois estamos acostumados a verificar que nossos estados internos se revelam por uma expressão da emoção às outras pessoas Isso responde pelos delírios normais de estar sendo observado e pela projeção normal Pois são normais na medida em que nesse processo permanecemos conscientes de nossa própria mudança interna Se a esquecermos e se nos ativermos tãosomente a uma das premissas do silogismo àquela que conduz para o exterior teremos aí a paranóia com sua supervalorização daquilo que as pessoas sabem a nosso respeito e daquilo que as pessoas nos fizeram O que é que as pessoas sabem a nosso respeito de que nada sabemos e que não podemos admitir Tratase pois de um abuso do mecanismo da projeção para fins de defesa Realmente algo muito parecido se passa com as idéias obsessivas O mecanismo de substituição também é um mecanismo normal Quando uma solteirona idosa se dedica a cuidar de um cão ou um solteirão idoso coleciona caixas de rapé aquela está encontrando um sucedâneo para sua necessidade de companhia no casamento e este para sua necessidade de uma infinidade de conquistas Todo colecionador é substituto de um Don Juan Tenorio como igualmente o são o montanhista o desportista todas essas pessoas Essas coisas são equivalentes eróticos As mulheres também as conhecem O tratamento ginecológico enquadrase nessa categoria Há duas espécies de pacientes femininas umas são tão leais a seus médicos como a seus maridos e outras mudam de médico com a mesma freqüência com que mudam de amante Esse mecanismo de substituição normalmente atuante é usado em excesso nas idéias obsessivas e também aí a finalidade é a defesa 2 Pois bem será que esse ponto de vista se aplica também aos outros casos de paranóia A todos eles é o que penso No entanto passo a mostrar alguns exemplos O paranóico litigante não consegue tolerar a idéia de que agiu errado ou de que deve repartir sua propriedade Portanto pensa que o julgamento não foi legalmente válido que ele não está errado etc Esse caso é por demais claro mas também não de todo evidente talvez se possa mostrálo em termos mais simples A grande nation não consegue enfrentar a idéia de ter sido derrotada na guerra Logo não foi derrotada a vitória não conta Constituiu um exemplo de paranóia de massa e cria o delírio de traição O alcoólatra jamais admitirá perante si mesmo que se tornou impotente por causa da bebida Por mais que consiga tolerar o álcool não consegue suportar esse conhecimento Assim é sua mulher a culpada delírios de ciúme e assim por diante O hipocondríaco vai se debater durante muito tempo até encontrar a chave de suas sensações de estar gravemente enfermo Não admitirá perante si mesmo que seus sintomas têm origem na sua vida sexual mas causalhe a maior satisfação pensar que seu mal como diz Moebius não é endógeno mas exógeno Logo ele está sendo envenenado O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 131 O funcionário que foi preterido na promoção convencese de que deve haver conspiração contra ele e de que devem estar a espionálo em sua sala Não fosse isso teria de admitir seu fracasso Nem sempre necessariamente são delírios de perseguição que se desenvolvem desse modo Talvez a megalomania até comporte mais capacidade de manter afastada do ego a idéia penosa Tomese por exemplo uma cozinheira que perdeu seus atrativos e que precisa acostumarse com a idéia de que está definitivamente excluída da felicidade no amor É este o momento certo de aparecer o cavalheiro da casa em frente que evidentemente deseja casarse com ela que lhe está dando a entender isso de um modo extraordinariamente tímido mas mesmo assim inconfundível Em todos os casos a idéia delirante é sustentada com a mesma energia com que uma outra idéia intoleravelmente penosa é rechaçada do ego Assim essas pessoas amam seus delírios como amam a si mesmas É esse o segredo Pois bem como é que se compara essa forma de defesa com as formas de defesa que já conhecemos 1 histeria 2 idéia obsessiva 3 confusão alucinatória 4 paranóia Temos de levar em conta afeto conteúdo da idéia e alucinações Cf resumo na Fig 4 1 Histeria A idéia incompatível não tem acesso à associação com o ego O conteúdo é retido num compartimento separado está ausente da consciência seu afeto é eliminado por conversão na esfera somática A psiconeurose é a única conseqüência 2 Idéia obsessiva Também aqui a idéia incompatível não tem acesso à associação O afeto é conservado o conteúdo é representado por um substituto 3 Confusão alucinatória A totalidade da idéia incompatível afeto e conteúdo é mantida afastada do ego e isto só se torna possível à custa de um desligamento parcial do mundo externo Resta o recurso às alucinações que comprazem ao ego e apóiam a defesa 4 Paranóia O conteúdo e o afeto da idéia incompatível são mantidos em direto contraste com 3 mas são projetados no mundo externo As alucinações que surgem em algumas formas da doença são hostis ao ego mas apóiam a defesa Nas psicoses histéricas pelo contrário são justamente as idéias rechaçadas que assumem o domínio O tipo dessas psicoses é o ataque e o état secondaire As alucinações são hostis ao ego A idéia delirante é ou uma cópia da idéia rechaçada ou o oposto desta megalomania A paranóia e a confusão alucinatória são as duas psicoses de desafio ou oposição A autoreferência da paranóia é análoga às alucinações dos estados confusionais pois estas procuram afirmar exatamente o contrário do fato que foi rechaçado Assim a referência a si mesmo sempre tenta provar a correção da projeção RESUMO O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 132 Fig 4 CARTA 22 Não tenho nada para lhe contar Quando muito uma pequena analogia com a psicose onírica de D que estudamos juntos Rudi Kaufmann sobrinho muito inteligente de Breuer e também estudante de medicina é uma pessoa que custa a levantar da cama Manda que a empregada o chame porém sempre reluta muito em obedecer a ela Certa manhã ela o despertou uma segunda vez e como ele não respondesse chamouo pelo nome Herr Rudi Com isso o dorminhoco teve uma alucinação com um quadro de avisos junto a um leito de hospital cf o Rudolfinerhaus no qual havia o nome Rudolf Kaufmann e disse a si mesmo Bom de qualquer modo o R K está no hospital portanto não preciso ir até lá e continuou a dormir 1 RASCUNHO I ENXAQUECA ASPECTOS ESTABELECIDOS 1 Uma questão de soma Há um intervalo de horas ou dias entre a instigação dos sintomas Temse uma espécie de sensação de que um obstáculo está sendo superado e de que um processo segue então adiante 2 Uma questão de soma Mesmo sem uma instigação temse a impressão de que deve haver um estímulo que se acumula o qual está presente em quantidade mínima no início do intervalo e em quantidade máxima no fim do mesmo 3 Uma questão de soma na qual a suscetibilidade aos fatores etiológicos está na altura do nível do estímulo já presente 4 Uma questão com etiologia complexa Talvez nos moldes de uma etiologia em cadeia na qual uma causa próxima pode ser induzida por uma série de fatores direta e indiretamente ou nos moldes de uma etiologia em soma na qual juntamente com uma causa específica as causas acumuladas podem agir como substitutos quantitativos 1 5 Uma questão semelhante ao modelo da enxaqueca menstrual e pertencente ao grupo sexual Provas a Raríssima em homens sadios b Restrita ao período sexual da vida infância e velhice praticamente excluídas c Se é produzida por soma também o estímulo sexual é algo que se produz por soma O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 133 d A analogia da periodicidade e Freqüência em pessoas com perturbação da descarga sexual neurastenia coitus interruptus 6 Certeza de que a enxaqueca pode ser produzida por estímulos químicos emanações tóxicas humanas siroco fadiga odores Ora o estímulo sexual também é um estímulo químico 7 Cessação da enxaqueca durante a gravidez quando a produção talvez esteja voltada para outra parte Isto parece mostrar que a enxaqueca é um efeito tóxico produzido pela substância estimulante sexual quando esta não consegue encontrar descarga suficiente E talvez se deve acrescentar a isto o fato de que está presente uma determinada via cuja localização precisa ser determinada que se acha num estado de suscetibilidade especial A questão implícita nisto é a questão a respeito da localização da enxaqueca 8 Com relação a essa via temos indicações de que as doenças orgânicas do crânio tumores e supurações sem ligações tóxicas intermediárias produzem enxaqueca ou algo parecido além do que a enxaqueca é unilateral correlacionase com o nariz e se liga a fenômenos isolados de paralisiasO primeiro desses sinais não é muito claro A unilateralidade a localização acima do olho e a complicação pelas paralisias localizadas são mais importantes 9 A dor da enxaqueca só pode sugerir o envolvimento das meninges pois as afecções da massa cerebral certamente são indolores 10 Se nesse sentido a enxaqueca se assemelha à nevralgia isso se coaduna com a soma a sensibilidade e suas oscilações a produção de nevralgia mediante estímulos tóxicos A nevralgia tóxica será assim o seu protótipo fisiológico O couro cabeludo é a sede de sua dor e o trigêmeo é sua via Como entretanto a alteração nevrálgica só pode ser de natureza central devemos supor que logicamente o centro da enxaqueca é um núcleo do trigêmeo cujas fibras inervam a duramáter De vez que na enxaqueca a dor tem uma localização parecida com a da nevralgia supraorbital esse núcleo dural deve situarse nas proximidades do núcleo da primeira ramificação Como os diferentes ramos e núcleos do trigêmeo se influenciam uns aos outros todas as outras afecções do trigêmeo podem contribuir para a etiologia da enxaqueca como fatores convergentes não como fatores banais A sintomatologia e a posição biológica da enxaqueca A dor de uma nevralgia geralmente encontra sua descarga através de tensão tônica ou mesmo de espasmo clônico Portanto não é impossível que a enxaqueca possa incluir uma inervação espástica dos músculos dos vasos sangüíneos na esfera reflexa da região dural Podemos atribuir a essa intervenção a perturbação geral e a rigor a perturbação local da função que não difere sintomatologicamente de um distúrbio parecido causado por constrição vascular Cf a semelhança entre a enxaqueca e os ataques de trombose Parte da inibição é devida à própria dor Presumivelmente é a área vascular do plexo coróide a primeira a ser atingida pelo espasmo da descarga A relação com o olho e com o nariz é explicada pela sua inervação comum pelo primeiro ramo do trigêmeo 1 RASCUNHO J O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 134 FRAU P J 27 ANOS I Estava casada havia três meses Seu marido caixeiroviajante precisara deixála por algumas semanas depois do casamento e já estava ausente há semanas Ela sentia muita falta dele e ansiava por sua volta Tinha sido cantora ou pelo menos se formara como cantora Para passar o tempo estava um dia sentada ao piano cantando quando subitamente sentiuse mal um malestar no abdome e no estômago com a cabeça rodando sensações de opressão e angústia e parestesia cardíaca pensou que estava enlouquecendo Instantes após lembrouse de que naquela manhã havia comido ovos e cogumelos e concluiu terse envenenado No entanto esse estado logo se dissipou No dia seguinte a empregada contoulhe que uma mulher que morara na mesma casa tinha enlouquecido Desse momento em diante nunca mais ficou livre da obsessão acompanhada de angústia de que também ela estaria por enlouquecer Essa é a essência do caso De início supus que sua condição tivesse sido um ataque de angústia uma liberação de sensação sexual que se transformou em angústia Um ataque desse tipo segundo pensei poderia ocorrer sem qualquer processo psíquico concomitante Ainda assim eu não queria rejeitar a possibilidade mais favorável de que se pudesse descobrir tal processo pelo contrário eu o tomaria como o ponto de partida de meu trabalho O que eu esperava encontrar era o seguinte Ela alimentava um desejo intenso pelo marido isto é o desejo de ter relações sexuais com ele com isso veiolhe uma idéia que excitou o afeto sexual e depois a defesa contra a idéia a seguir ela foi assaltada pelo medo e fez uma falsa conexão ou substituição Comecei perguntandolhe acerca das circunstâncias acessórias do ocorrido algo devia têla feito recordarse do marido Ela estivera cantando a ária de Carmen Près des remparts de Séville Pedilhe que a repetisse para mim ela nem conseguia lembrarse exatamente das palavras Em que ponto a Srª acha que lhe veio o ataque Ela não sabia Quando apliquei pressão em sua fronte ela disse que tinha sido depois de haver terminado a ária Isso parecia bem possível tinha sido uma seqüência de pensamentos que emergira a partir da letra da ária Afirmei então que antes do ataque tinha havido nela pensamentos dos quais não conseguia lembrarse De fato não se lembrava de nada mas a pressão em sua fronte fez surgir as palavras marido e desejar Diante de minha insistência esta última palavra foi mais especificada como sendo desejo de carícias sexuais Penso que é isso mesmo Afinal seu ataque não passou de um estado de extravasamento amoroso Perguntolhe se conhece a canção do pajem Voi che sapete che cosa è amorDonne vedete sio lho nel cor Por certo houve algo além disso uma sensação na parte inferior do corpo um desejo convulsivo de urinar Ela então confirmou isso A insinceridade das mulheres começa quando elas omitem os sintomas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 135 sexuais característicos ao descreverem o que sentem De modo que tinha sido realmente um orgasmo Bem a senhora percebe de qualquer modo que um estado de desejo como esse numa mulher jovem que se viu abandonada pelo marido não é nada de que se deva sentir vergonha Pelo contrário pensou ela algo a ser aprovado Muito bem mas nesse caso não consigo ver o motivo do medo Certamente a senhora não receou marido nem desejo de modo que devem estar faltando outros pensamentos que são mais próprios para suscitar medo Mas ela apenas acrescentou que sempre temera as dores que lhe causava a relação sexual mas que seu desejo tinha sido muito mais forte do que o medo das dores Nesse ponto interrompemos II Havia fortes razões para suspeitar de que na Cena I estando a paciente ao piano juntamente com os pensamentos desejantes em relação ao marido dos quais antes se lembrava ela havia entrado numa outra seqüência profunda de pensamentos da qual não tinha recordação e foram estes os pensamentos que levaram à Cena II Mas eu ainda não conhecia seu ponto de partida Hoje a paciente veio chorando e desesperada evidentemente sem qualquer esperança de o tratamento ter êxito De modo que suas resistências já estavam aguçadas e o progresso se tornou bem mais difícil O que eu desejava saber a essa altura era que pensamentos capazes de assustála ainda se encontravam presentes Ela mencionou todo tipo de coisas que não poderiam ser pertinentes ao caso o fato de que por longo tempo não tinha sido deflorada o que lhe foi confirmado pelo Prof Chrobak de que atribuía seu estado nervoso a isso e por esse motivo desejava que o defloramento pudesse ser feito Naturalmente esse pensamento provinha de uma época posterior até a Cena I ela tivera boa saúde Por fim obtive a informação de que ela já havia experimentado um ataque semelhante mas muito mais fraco e mais transitório com as mesmas sensações A partir disso verifiquei ter sido a partir do quadro mnêmico do orgasmo que entrou em jogo a via de acesso que abriu caminho para as camadas mais profundas Investigamos a outra cena Naquela época há quatro anos passados ela tivera um compromisso em Ratisbona Pela manhã havia cantado num recital e tinhase saído bem De tarde em casa teve uma visão como se houvesse algo uma briga entre ela e o tenor da companhia e um outro homem e depois disso teve o ataque com o medo de estar enlouquecendo Aqui estava pois a Cena II a que se fizera uma alusão por associação na Cena I No entanto era evidente que também aqui havia lacunas na memória Outras idéias deveriam ter estado presentes para explicar o desencadeamento da sensação sexual e do pavor Indaguei sobre esses elos intermediários e em lugar destes foramme contados os motivos da paciente Ela se havia desgostado de tudo o que se referia à vida de artista Por quê A rispidez do diretor e o relacionamento dos atores entre si Perguntei por detalhes a esse respeito Tinha havido uma velha atriz cômica com quem os atores jovens costumavam gracejar perguntandolhe se podiam passar a noite com ela E o que mais a respeito do tenor Também este a tinha importunado no recital tinha colocado a mão no seio dela Na sua roupa ou diretamente na pele Primeiro ela disse que fora na pele mas depois voltou atrás disse que fora tocada na roupa Bem e o que mais Todas as características dos relacionamentos daquelas pessoas todos os abraços e beijos entre os atores tinhamna deixado amedrontada Sim Mais uma vez fala na rispidez do diretor embora O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 136 só tivesse ficado lá alguns dias A investida do tenor aconteceu no mesmo dia do seu ataque Não ela não sabia se fora antes ou depois Minhas perguntas feitas com auxílio da pressão mostraram que a tentativa de sedução ocorrera no quarto dia de sua estada e o ataque no sexto Interrompido pelo sumiço da paciente NOTA Durante toda a parte final do ano de 1895 Freud esteve muito ocupado com o problema teórico fundamental da relação entre neurologia e psicologia Suas reflexões finalmente levaram ao trabalho inconcluso a que demos o título de Projeto para uma Psicologia Científica Este foi escrito em setembro e outubro de 1895 e deveria ser publicado cronologicamente nesse ponto dos documentos dirigidos a Fliess No entanto ele sobressai tanto dentre esses outros documentos e constitui uma entidade tão extraordinária e autônoma que pareceu aconselhável editálo de forma destacada no final deste volume Uma das cartas a de nº 39 escrita em 1º de janeiro de 1896 está tão estreitamente relacionada com o Projeto sem o qual aliás seria ininteligível que também foi tirada do seu lugar original na correspondência e editada como um apêndice ao Projeto Que Freud durante todo esse tempo tivesse estado interessado também em temas clínicos fica visivelmente demonstrado pelo fato de que no mesmo dia em que remeteu essa carta 1º de janeiro de 1896 também remeteu a Fliess o Rascunho K que se segue aqui e que é sob muitos aspectos um esboço preliminar completo de seu segundo artigo sobre as neuropsicoses de defesa 1896b concluído logo após RASCUNHO K AS NEUROSES DE DEFESA Um Conto de Fadas Natalino Há quatro tipos e muitas formas dessas neuroses Posso apenas traçar uma comparação entre histeria neurose obsessiva e uma forma de paranóia Elas têm várias coisas em comum São aberrações patológicas de estados afetivos psíquicos normais de conflito histeria de autocensura neurose obsessiva de mortificação paranóia de luto amência alucinatória aguda Diferem desses afetos pelo fato de não conduzirem à resolução de coisa alguma e sim a um permanente prejuízo para o ego Ocorrem sujeitas às mesmas causas precipitantes dos seus protótipos afetivos contanto que a causa preencha duas precondições a mais que seja de natureza sexual e que ocorra durante o período anterior à maturidade sexual as precondições de sexualidade e infantilismo Quanto às precondições que se aplicam à pessoa em questão não tenho novos conhecimentos Genericamente diria que a hereditariedade é uma precondição a mais no sentido de que ela facilita e aumenta o afeto patológico isto é a precondição que predominantemente torna possíveis as gradações entre o normal e o caso extremo Não creio que a hereditariedade determine a escolha de uma neurose defensiva especial Existe uma tendência normal à defesa uma aversão contra dirigir a energia psíquica de tal maneira que daí resulte algum desprazer Essa tendência que está ligada às condições mais fundamentais do funcionamento psíquico a lei da constância não pode ser empregada contra as percepções pois estas são O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 137 capazes de se impor à atenção como é evidenciado pela consciência dessas percepções tal tendência atua somente contra as lembranças e os pensamentos É inócua quando se trata de idéias às quais em alguma época esteve ligado algum desprazer mas que na época atual não tem possibilidade de originar desprazer a não ser o desprazer recordado também em tais casos essa tendência pode ser implantada pelo interesse psíquico A tendência à defesa porém tornase prejudicial quando é dirigida contra idéias também capazes de sob a forma de lembranças liberar um novo desprazer como é o caso das idéias sexuais É nisso realmente que se concretiza a possibilidade de uma lembrança ter posteriormente uma capacidade de liberação maior do que a produzida pela experiência correspondente Somente uma coisa é necessária para isto que a puberdade se interponha entre a experiência e sua repetição na lembrança evento que tanto aumenta o efeito da revivescência O funcionamento psíquico parece despreparado para essa exceção por esse motivo para que a pessoa esteja livre da neurose a precondição necessária é que antes da puberdade não tenha ocorrido nenhuma estimulação sexual de maior significação embora seja verdade que o efeito de tal experiência deve ser incrementado pela predisposição hereditária antes de poder atingir um nível capaz de causar doença Aqui surge um problema correlato como ocorre que sob condições análogas em vez da neurose emerjam a perversão ou simplesmente a imoralidade Por certo mergulharemos profundamente em enigmas psicológicos se investigarmos a origem do desprazer que parece ser liberado pela estimulação sexual prematura e sem o qual enfim não é possível explicar um recacalmento A resposta mais plausível apontará o fato de que a vergonha e a moralidade são as forças recalcadoras e que a vizinhança em que estão naturalmente situados os órgãos sexuais deve inevitavelmente despertar repugnância junto com as experiências sexuais Onde não existe vergonha como numa pessoa do sexo masculino ou onde não entra a moralidade como nas classes inferiores da sociedade ou onde a repugnância é embrutecida pelas condições de vida com nas zonas rurais também não resultam nem neurose nem recalcamento em decorrência da estimulação sexual na infância Contudo temo que essa explicação não resista a um teste mais aprofundado Não penso que a produção de desprazer durante as experiências sexuais seja conseqüência da mistura ao acaso de determinados fatores desprazerosos A experiência diária nos mostra que quando a libido alcança um nível suficiente a repulsa não é sentida e a moralidade é suplantada penso que o aparecimento da vergonha se relaciona por meio de ligações mais profundas com a experiência sexual Em minha opinião a produção de desprazer na vida sexual deve ter uma fonte independente uma vez que esteja presente essa fonte ela pode despertar sensações de repulsa reforçar a moralidade e assim por adiante Persisto no modelo da neurose de angústia em adultos na qual uma quantidade proveniente da vida sexual causa de modo parecido um distúrbio na esfera psíquica embora habitualmente pudesse ter um outro uso no processo sexual De vez que não existe nenhuma teoria correta do processo sexual permanece sem resposta a questão da origem do desprazer que atua no recalcamento Ver em 1 O rumo tomado pela doença nas neuroses de recalcamento é em geral sempre o mesmo 1 a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 138 experiência sexual ou a série de experiências que é traumática e prematura e deve ser recalcada 2 Seu recalcamento em alguma ocasião posterior que desperta a lembrança correspondente ao mesmo tempo a formação de um sintoma primário 3 Um estágio de defesa bemsucedida que é equivalente à saúde exceto quanto à existência do sintoma primário 4 O estágio em que as idéias recalcadas retornam e em que durante a luta entre elas e o ego formamse novos sintomas que são os da doença propriamente dita isto é uma fase de ajustamento de ser subjugado ou de recuperação com uma malformação As principais diferenças entre as diversas neuroses são demonstradas na forma como retornam as idéias recalcadas outras diferenças são evidenciadas na maneira como os sintomas se formam e no rumo tomado pela doença Mas o caráter específico de uma determinada neurose está no modo como se realiza o recalque O curso dos acontecimentos na neurose obsessiva é o mais claro para mim pois foi o que cheguei a conhecer melhor NEUROSE OBSESSIVA Aqui a experiência primária foi acompanhada de prazer Quer tenha sido uma experiência ativa nos meninos quer tenha sido uma experiência passiva nas meninas ela se realizou sem dor ou qualquer mescla de nojo e isso no casos das meninas implica em geral uma idade relativamente maior cerca de 8 anos Quando essa experiência é relembrada posteriormente ela dá origem ao surgimento de desprazer e em especial emerge primeiro uma autocensura que é consciente Na verdade aparentemente é como se todo o complexo psíquico lembrança e autocensura fosse de início consciente Depois sem que nada de novo sobrevenha ambas são recalcadas e na consciência se forma em lugar delas um sintoma antitético uma nuança de escrupulosidade O recalcamento pode processarse devido ao fato de que a lembrança do prazer como tal produz desprazer quando recordada anos depois isso deveria ser explicável por uma teoria da sexualidade Mas as coisas também podem acontecer de modo diferente Em todos os meus casos de neurose obsessiva em idade muito precoce anos antes da experiência de prazer tinha havido uma experiência puramente passiva e isso dificilmente se daria por acaso Assim podemos supor que é a convergência posteriormente dessa experiência passiva com a experiência de prazer que adiciona o desprazer à lembrança prazerosa e possibilita o recalcamento De modo que uma precondição clínica necessária da neurose obsessiva consistiria em que a experiência passiva deveria ocorrer tão precocemente que não fosse capaz de impedir a ocorrência espontânea da experiência de prazer A fórmula portanto seria esta Desprazer Prazer Recalcamento O fator determinante seriam as relações cronológicas das duas experiências entre si e com a época da maturidade sexual No estágio do retorno do recalcado ocorre que a autocensura retorna sem modificação mas raramente de modo a atrair a atenção para si durante certo tempo portanto emerge simplesmente como um sentimento de culpa sem qualquer conteúdo Em geral vem a se ligar a um conteúdo que é distorcido de duas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 139 maneiras no tempo e no conteúdo distorcido quanto ao tempo na medida em que se refere a uma ação contemporânea ou futura e distorcido quanto ao conteúdo na medida em que significa não o evento real mas um sucedâneo escolhido a partir da categoria daquilo que é análogo uma substituição Por conseguinte uma idéia obsessiva é produto de um compromisso correto quanto ao afeto e à categoria mas falso devido ao deslocamento cronológico e à substituição por analogia O afeto da autocensura pode ser transformado por diferentes processos psíquicos em outros afetos os quais depois entram na consciência mais claramente do que o afeto como tal por exemplo pode ser transformado em angústia medo das conseqüências da ação a que se refere a autocensura hipocondria medo dos efeitos corporais delírios de perseguição medo dos seus efeitos sociais vergonha medo de que outras pessoas saibam e assim por diante O ego consciente considera a obsessão como algo que lhe é estranho não acredita nela ao que parece valendose da idéia antitética da escrupulosidade formada muito tempo antes Mas nesse estágio muitas vezes pode acontecer uma subjugação do ego pela obsessão por exemplo quando o ego é atingido por uma melancolia transitória Exceto quanto a isso a fase de doença é marcada pela luta defensiva do ego contra a obsessão e isso por si só pode produzir novos sintomas os da defesa secundária A idéia obsessiva tal como qualquer outra idéia é atacada pela lógica embora sua força compulsiva seja inabalável Os sintomas secundários são uma intensificação da escrupulosidade e uma compulsão a perscrutar minuciosamente as coisas e acumulálas Outros sintomas secundários surgem quando a compulsão é transferida para impulsos motores contra a obsessão por exemplo compulsão a ensimesmarse compulsão para a bebida dipsomania rituais protetores folie de doute Com isto chegamos à formação de três espécies de sintomas a o sintoma primário da defesa escrupulosidade b os sintomas de compromisso da doença idéias obsessivas ou afetos obsessivos c os sintomas secundários da defesa ensimesmamento obsessivo acumulação obsessiva de objetos dipsomania rituais obsessivos Os casos em que o conteúdo da memória não se tornou admissível à consciência através da substituição mas em que o afeto da autocensura se tornou admissível mediante transformação dão a impressão de ter ocorrido um deslocamento numa cadeia de inferências acusome por causa de um acontecimento receio que outras pessoas saibam dele portanto sinto vergonha diante de outras pessoas Tão logo é recalcado o primeiro elo da seqüência a obsessão passa para o segundo ou terceiro elo e leva a duas formas de delírios de observação que no entanto fazem realmente parte da neurose obsessiva A luta defensiva termina em mania de generalizada dúvida ou no desenvolvimento de uma vida de excêntrico com um semnúmero de sintomas defensivos secundários isto é se é que chega mesmo a haver um término Ainda permanece em aberto a questão de saber se as idéias recalcadas retornam espontaneamente sem a ajuda de qualquer força psíquica contemporânea ou se necessitam desse tipo de ajuda a cada novo movimento de retorno Minhas experiências indicam esta última alternativa Parece que os estados de libido insatisfeita contemporânea são o elemento que empresta aforça do seu desprazer para reavivar a autocensura O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 140 recalcada Uma vez que tenha ocorrido esse reavivamento e que os sintomas tenham surgido mediante o impacto do recalcado sobre o ego aí sem dúvida o material ideativo recalcado continua a atuar espontaneamente contudo dentro das oscilações de potencial quantitativo sempre permanece dependente da quantidade de tensão libidinal presente no momento A tensão sexual que por ter sido satisfeita não tem oportunidade de se transformar em desprazer permanece inócua Os neuróticos obsessivos são pessoas sujeitas ao perigo de que toda a tensão sexual cotidianamente gerada neles acabe por se transformar em autocensura ou melhor nos sintomas provenientes da autocensura embora nessa ocasião não reconheçam novamente a autocensura primária A neurose obsessiva pode ser curada se desfizermos todas as substituições e transformações afetivas ocorridas de tal modo que a autocensura primária e a experiência a ela pertinente possam ser desnudadas e colocadas diante do ego consciente para serem julgadas de novo Ao fazermos isso temos de trabalhar um número incrível de idéias intermediárias ou de compromisso que se tornam temporariamente idéias obsessivas Adquirimos uma convicção muito clara de que para o ego é impossível dirigir para o material recalcado a parte da energia psíquica a que o pensamento consciente está vinculado As idéias recalcadas ao que devemos crer estão presentes nas seqüências mais racionais de idéias e nelas penetram sem inibição e também a lembrança delas é despertada pelas mais insignificantes alusões A suspeita de que a moralidade é apresentada como força recalcadora somente na qualidade de pretexto é confirmada pela experiência segundo a qual a resistência durante o trabalho terapêutico se vale de todos os motivos de defesa possíveis PARANÓIA Os determinantes clínicos e as relações cronológicas do prazer e do desprazer na experiência primária ainda me são desconhecidos O que pude distinguir foram a existência do recalcamento o sintoma primário e o estágio de doença tal como determinado pelo retorno das idéias recalcadas A experiência primária parece ser de natureza semelhante à da neurose obsessiva O recalque ocorre depois que a respectiva lembrança causou desprazer não se sabe como Contudo nenhuma autocensura se forma nem é posteriormente recalcada e o desprazer gerado é atribuído a pessoas que de algum modo se relacionam com o paciente segundo a fórmula psíquica da projeção O sintoma primário formado é a desconfiança suscetibilidade a outras pessoas Nesta o que se passa é que a pessoa se recusa a crer na autocensura Podemos suspeitar da existência de diferentes formas conforme o caso quando apenas o afeto é reprimido por projeção ou quando juntamente com o afeto também o conteúdo da experiência é recalcado Logo mais uma vez o que retorna pode ser simplesmente o afeto aflitivo ou também a lembrança No segundo caso que é o que conheço melhor o conteúdo da experiência retorna sob a forma de um pensamento que ocorre ao paciente como alucinação visual ou sensorial O afeto reprimido parece retornar invariavelmente nas alucinações auditivas As partes das lembranças que retornam sofrem uma distorção ao serem substituídas por imagens O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 141 análogas extraídas do momento presente isto é são simplesmente distorcidas por uma substituição cronológica e não pela formação de um substituto As vozes igualmente lembram a autocensura como sintoma de compromisso e o fazem em primeiro lugar distorcidas em seu enunciado a ponto de se tornarem indefinidas e de se transformarem em ameaças e em segundo lugar relacionadas não com a experiência primária mas justamente com a desconfiança isto é com o sintoma primário Como a crença foi separada da autocensura primária ela assume o comando irrestrito dos sintomas de compromisso O ego não os considera como estranhos a si mesmo mas é impelido por eles a fazer tentativas de explicálos tentativas que podem ser descritas como delírios assimilatórios Nesse ponto com o retorno do recalcado sob forma distorcida a defesa fracassa de vez e os delírios assimilatórios não podem ser interpretados como sintomas de defesa secundária mas como o início de uma modificação do ego expressão do fato de ter sido ele subjugado O processo atinge seu ponto conclusivo ou na melancolia sentimento de aniquilação do ego que de um modo secundário liga às distorções a crença que foi desvinculada da autocensura primária ou o que é mais freqüente e mais grave nos delírios protetores megalomania até o ego ser completamente remodelado O elemento determinante da paranóia é o mecanismo da projeção que envolve a recusa da crença na autocensura Daí decorrem os aspectos característicos comuns da neurose a importância das vozes como meio pelo qual as outras pessoas nos afetam e também dos gestos que nos revelam a vida mental das outras pessoas e a importância do tom dos comentários e das alusões das vozes pois que uma referência direta que ligue o conteúdo dos comentários à lembrança recalcada é inadmissível para a consciência Na paranóia o recalque se dá após um processo de pensamento consciente e complexo a recusa da crença Talvez isso seja um indício de que ele se instala pela primeira vez em idade relativamente mais avançada do que na neurose obsessiva e na histeria As precondições do recalcamento são sem dúvida as mesmas Ainda não se sabe se o mecanismo da projeção é inteiramente uma questão de predisposição individual ou se é selecionado por fatores especiais transitórios e fortuitos Quatro espécies de sintomas a sintomas primários de defesa b sintomas de compromisso do retorno c sintomas secundários de defesa d sintomas da subjugação do ego HISTERIA A histeria pressupõe necessariamente uma experiência primária de desprazer isto é de natureza passiva A passividade sexual natural das mulheres explica o fato de elas serem mais propensas à histeria Nos casos em que encontrei histeria em homens pude comprovar em suas anamneses a presença de acentuada passividade sexual Uma outra condição da histeria é que a experiência primária de desprazer não ocorra numa idade muito precoce na qual a produção de desprazer seja ainda muito reduzida e na qualnaturalmente os eventos causadores de prazer ainda possam ter um prosseguimento independente De outro modo o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 142 resultado será apenas a formação de obsessões Por essa razão muitas vezes encontramos nos homens uma combinação das duas neuroses ou a substituição de uma histeria inicial por uma neurose obsessiva subseqüente A histeria começa com a subjugação do ego que é o ponto a que leva a paranóia A produção de tensão na experiência primária de desprazer é tão grande que o ego não resiste a ela e não forma nenhum sintoma psíquico mas é obrigado a permitir uma manifestação de descarga geralmente uma expressão exagerada de excitação Esse primeiro estágio da histeria pode ser qualificado como histeria do susto seu sintoma primário é a manifestação de susto acompanhada por uma lacuna psíquica Ainda não se sabe até que idade pode ocorrer essa primeira subjugação histérica do ego O recalcamento e a formação de sintomas defensivos só ocorrem posteriormente em conexão com a lembrança e daí em diante defesa e subjugação isto é a formação dos sintomas e a irrupção dos ataques podem estar combinadas em qualquer grau na histeria O recalcamento não se dá pela construção de uma idéia antitética excessivamente forte em 1 mas sim pela intensificação de uma idéia limítrofe que depois representa a lembrança no fluxo do pensamento Pode ser chamada de idéia limítrofe porque de um lado pertence ao ego e de outro forma uma parte nãodistorcida da lembrança traumática Assim também aqui se trata do resultado de um compromisso este contudo não se manifesta numa substituição com base em alguma categoria de tema mas num deslocamento da atenção ao longo de uma série de idéias ligadas pela simultaneidade temporal Quando o evento traumático encontra uma saída para si mesmo através de uma manifestação motora é esta que se torna a idéia limítrofe e o primeiro símbolo do material recalcado Assim não há necessidade de supor que alguma idéia esteja sendo suprimida em cada repetição do ataque primário tratase primordialmente de uma lacuna na psique CARTA 46 Como fruto de trabalhosas reflexões enviolhe a seguinte solução da etiologia das psiconeuroses que ainda aguarda confirmação de análises individuais Podemse distinguir quatro períodos de vida Fig 5 Fig 5 A e B desde cerca de 8 a 10 e 13 a 17 anos são os períodos de transição durante os quais ocorre o recalcamento na maior parte dos casos O despertar numa época posterior de uma lembrança sexual de época precedente produz um excesso de sexualidade na psique o qual atua como uma inibição do pensamento e confere à lembrança e às O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 143 conseqüências desta um caráter obsessivo impossibilidade de ser inibido O período Ia possui a característica de ser intraduzível de modo que o despertar de uma cena sexual Ia conduz não a conseqüências psíquicas mas à conversão O excesso de sexualidade impede a tradução O excesso de sexualidade isoladamente não é suficiente para causar recalcamento fazse necessária a cooperação da defesa entretanto sem um excesso de sexualidade a defesa não produz uma neurose As diferentes neuroses têm seus requisitos cronológicos particulares para suas cenas sexuais Fig 6 Fig 6 Isto é para a histeria as cenas ocorrem no primeiro período da infância até os 4 anos no qual os resíduos mnêmicos não são traduzidos em imagens verbais É indiferente se essas cenas de Ia são despertadas durante o período posterior à segunda dentição 8 aos 10 anos ou na fase da puberdade O resultado é sempre a histeria e sob a forma de conversão pois a atuação conjunta da defesa e do excesso de sexualidade impede a tradução Para as neuroses obsessivas as cenas pertencem à Época Ib Elas dispõem de tradução em palavras e ao serem despertadas em II ou em III formamse os sintomas obsessivos psíquicos Quanto à paranóia as cenas respectivas situamse no período posterior à segunda dentição na Época II e são despertadas em III maturidade Nesse caso a defesa manifestase através da desconfiança Assim os períodos em que se dá o recalque não têm nenhuma importância para a escolha da neurose sendo decisivos os períodos em que ocorre o evento A natureza da cena tem importância na medida em que ela seja capaz de dar origem à defesa Cf em 1 O que acontece quando as cenas se estendem por vários períodos Nesse caso a época mais precoce é decisiva ou aparecem formas combinadas o que deveria ser possível demonstrar Tal combinação é na sua maior parte impossível entre a paranóia e a neurose obsessiva porque o recalcamento da cena Ib efetuado durante II torna impossível novas cenas sexuais Cf Rascunho N 1 A histeria é a única neurose em que os sintomas talvez possam existir mesmo sem defesa pois mesmo assim a característica da conversão permaneceria Histeria somática pura Verificase que a paranóia quase não depende dos fatores infantis É a neurose de defesa par O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 144 excellence independente até mesmo da moralidade e da repulsa à sexualidade que é o que em A e B proporciona o motivo para a defesa na neurose obsessiva e na histeria e por conseguinte tem incidência mais provável nas classes inferiores É uma doença da idade adulta Quando não há cenas em Ia Ib ou II a defesa não pode ter nenhuma conseqüência patológica recalcamento normal O excesso de sexualidade preenche as precondições para que haja ataques de angústia durante a idade adulta Os traços de memória são insuficientes para absorver a quantidade sexual liberada que deveria transformarse em libido psíquica A importância dos intervalos entre as experiências sexuais é evidente Uma continuação das cenas através de uma faixa limítrofe entre as épocas talvez consiga evitar a possibilidade de recalcamento pois nesse caso não surge nenhum excesso de sexualidade entre a cena e a primeira lembrança significativa da mesma A respeito da consciência isto é do estar consciente ou melhor do tornarse consciente devemos supor três coisas 1 que no que tange às lembranças ela consiste na maior parte na consciência verbal relativa a essas lembranças isto é no acesso às representações verbais associadas 2 que a consciência não está exclusiva e inseparavelmente ligada nem ao chamado inconsciente nem ao chamado reino consciente de modo que parece necessário rejeitar esses termos 3 que a consciência é influenciada por um compromisso entre as diferentes forças psíquicas que entram em conflito quando ocorrem os recalcamentos É necessário examinar minuciosamente essas forças e tirar conclusões acerca dos seus efeitos Estes são 1 a força quantitativa inerente de uma representação e 2 uma atenção livremente móvel que é atraída segundo certas regras e repelida de acordo com a regra da defesa Quase todos os sintomas são estruturas de compromisso Devese fazer uma distinção entre processos psíquicos nãoinibidos e inibidos pelo pensamento É no conflito entre esses dois processos que os sintomas surgem como soluções de compromisso para as quais está aberto o acesso à consciência Nas neuroses cada um desses processos é em si mesmo racional o nãoinibido é monoideístico unilateral o compromisso resultante é irracional análogo a um erro de pensamento Em todos os casos devem ser preenchidas as condições quantitativas pois de outro modo a defesa pelo processo inibido pelo pensamento impedirá a formação do sintoma Quando a força dos processos nãoinibidos aumenta surge uma espécie de distúrbio psíquico uma outra espécie surge quando decresce a força da inibição pelo pensamento Melancolia exaustão os sonhos como um protótipo O aumento dos processos nãoinibidos a ponto de eles manterem a posse exclusiva do acesso à consciência verbal produz a psicose Não há como separar os dois processos são somente os critérios relativos ao desprazer que impedem as diversas transições associativas possíveis entre eles CARTA 50 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 145 Preciso contarlhe um sonho interessante que tive na noite após os funerais Eu me encontrava num local público e li um aviso que havia lá Pedeseque você feche os olhos Imediatamente reconheci o local como sendo o salão de barbearia a que vou diariamente No dia do sepultamento tive de me demorar ali esperando minha vez e por isso cheguei à casa funerária um tanto atrasado Na ocasião meus familiares estavam aborrecidos comigo porque eu providenciara para que o funeral fosse modesto e simples com o que depois concordaram achando isso bastante acertado Também interpretaram um pouco mal o meu atraso A frase no quadro de avisos tem um duplo sentido e em ambos os sentidos significa devese cumprir a obrigação para com os mortos Uma desculpa como se eu não a tivesse cumprido e como se minha conduta precisasse ser tolerada e a obrigação assumida literalmente Assim o sonho é uma saída para a tendência à autocensura que costuma estar presente entre os sobreviventes CARTA 52 Como você sabe estou trabalhando com a hipótese de que nosso mecanismo psíquico tenhase formado por um processo de estratificação o material presente em forma de traços da memória estaria sujeito de tempos em tempos a um rearranjo segundo novas circunstâncias a uma retranscrição Assim o que há de essencialmente novo a respeito de minha teoria é a tese de que a memória não se faz presente de uma só vez mas se desdobra em vários tempos que ela é registrada em diferentes espécies de indicações Postulei a existência de um tipo parecido de rearranjo Afasia há algum tempo para as vias que vão da periferia do corpo para o córtex Não sei dizer quantos desses registros há três pelo menos provavelmente mais Isto está mostrado na figura esquemática que se segue Fig 7 que supõe que os diferentes registros também estejam separados não necessariamente segundo o aspecto topográfico de acordo com os neurônios que são seus veículos Essa suposição talvez não seja necessária mas é a mais simples e é provisoriamente admissível Fig 7 W Wahrnehmungen percepções são os neurônios em que se originam as percepções às quais a consciência se liga mas que nelas mesmas não conservam nenhum traço do que aconteceu Pois a consciência e a memória são mutuamente exclusivas Wz Wahrnehmungszeichen indicação da percepção é o primeiro registro das percepções é O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 146 praticamente incapaz de assomar à consciência e se dispõe conforme as associações por simultaneidade Ub Unbewusstsein inconsciência é o segundo registro disposto de acordo com outras relações talvez causais Os traços Ub talvez correspondam a lembranças conceituais igualmente sem acesso à consciência Vb Vorbewusstsein préconsciência é a terceira transcrição ligada às representações verbais e correspondendo ao nosso ego reconhecido como tal As catexias provenientes de Vb tornamse conscientes de acordo com determinadas regras essa consciência secundária do pensamento é posterior no tempo e provavelmente se liga à ativação alucinatória das representações verbais de modo que os neurônios da consciência seriam também neurônios da percepção e em si mesmos destituídos de memória Se eu conseguisse dar uma descrição completa das características psicológicas da percepção e dos três registros teria descrito uma nova psicologia Disponho de algum material para isso mas não é esta a minha intenção por ora Gostaria de acentuar o fato de que os sucessivos registros representam a realização psíquica de épocas sucessivas da vida Na fronteira entre essas épocas deve ocorrer uma tradução do material psíquico Explico as peculiaridades das psiconeuroses com a suposição de que essa tradução não se fez no caso de uma determinada parte do material o que provoca determinadas conseqüências Pois sustento firmemente a crença numa tendência ao ajustamento quantitativo Cada transcrição subseqüente inibe a anterior e lhe retira o processo de excitação Quando falta uma transcrição subseqüente a excitação é manejada segundo as leis psicológicas vigentes no período anterior e consoante as vias abertas nessa época Assim persiste um anacronismo numa determinada região ainda vigoram os fueros estamos em presença de sobrevivências Uma falha na tradução isto é o que se conhece clinicamente como recalcamento Seu motivo é sempre a produção de desprazer que seria gerada por uma tradução é como se esse desprazer provocasse um distúrbio do pensamento que não permitisse o trabalho de tradução Dentro de uma mesma fase psíquica e entre os registros da mesma espécie formase uma defesa normal devida à produção do desprazer Já a defesa patológica somente ocorre contra um traço de memória de uma fase anterior que ainda não foi traduzido Certamente não é por causa da magnitude da produção de desprazer que a defesa consegue efetuar o recalcamento Muitas vezes lutamos em vão precisamente contra lembranças que envolvem o máximo de desprazer Foi por isso que chegamos à seguinte formulação Se um evento A quando era atual despertou uma determinada quantidade de desprazer então o seu registro mnêmico A I ou A II possui um meio de inibir a produção de desprazer quando a lembrança é redespertada Quanto mais freqüentemente a lembrança retorna mais inibida se torna finalmente a produção de desprazer Contudo existe um caso em que a inibição é insuficiente Se A quando era atual produziu determinado desprazer e se quando redespertado produz um novo desprazer então este não pode ser inibido Nesse aspecto a lembrança se comporta como se se tratasse de um evento atual Esse caso só pode ocorrer com os eventos sexuais porque as magnitudes das excitações causadas por eles aumentam por si mesmas com o tempo com o desenvolvimento sexual Assim um evento sexual de uma dada fase atua sobre a fase seguinte como se fosse um evento O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 147 atual e por conseguinte não é passível de inibição O que determina a defesa patológica recalcamento portanto é a natureza sexual do evento e a sua ocorrência numa fase anterior Nem todas as experiências sexuais produzem desprazer a maioria delas produz prazer Assim a maioria delas está ligada a um prazer não passível de inibição O prazer não passível de inibição dessa espécie constitui uma compulsão Chegamos pois à seguinte formulação Quando uma experiência sexual é recordada numa fase diferente a liberação de prazer é acompanhada por uma compulsão e a liberação de desprazer é acompanhada pelo recalcamento Em ambos os casos a tradução para as indicações de uma nova fase parece ser inibida Ora a experiência clínica nos evidencia três grupos de psiconeuroses sexuais histeria neurose obsessiva e paranóia e nos ensina que as lembranças recalcadas referemse àquilo que era atual no caso da histeria entre as idades de 1 12 e 4 anos no caso da neurose obsessiva entre os 4 e os 8 anos e no caso da paranóia entre os 8 e os 14 anos Mas antes dos 4 anos de idade ainda não existe recalque de modo que os períodos psíquicos do desenvolvimento e as fases sexuais não coincidem Fig 8 Fig 8 O pequeno diagrama seguinte encaixase aqui Fig 9 em 1 Fig 9 Pois uma outra conseqüência das experiências sexuais prematuras é a perversão cuja causa parece consistir em que a defesa ou não ocorreu antes de estar completo o aparelho psíquico ou não ocorreu nunca Basta da superestrutura Agora passemos a uma tentativa de situar isso em seus fundamentos orgânicos O que falta explicar é por que as experiências sexuais que na época em que eram atuais geraram prazer passam quando são lembradas numa fase diferente a gerar desprazer em algumas pessoas e em outras a persistir como compulsão No primeiro caso é evidente que elas devem estar liberando numa época posterior um desprazer que não foi liberado de início Também precisamos delinear a derivação das diferentes épocas psicológicas e sexuais Você me explicou estas últimas como sendo múltiplos especiais do ciclo feminino de 28 dias A fim de explicar por que o resultado da experiência sexual prematura ver acima às vezes é a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 148 perversão e às vezes a neurose valhome da bissexualidade de todos os seres humanos Num ser puramente masculino haveria um excesso de liberação masculina também nas duas barreiras sexuais isto é seria gerado prazer e em conseqüência perversão nos seres exclusivamente femininos haveria nessas ocasiões um excesso de substâncias causadoras de desprazer Nas primeiras fases as liberações seriam paralelas isto é produziriam um excesso normal de prazer Isso explicaria a preferência das pessoas verdadeiramente femininas pelas neuroses de defesa Desse modo a natureza intelectual dos seres humanos masculinos estaria confirmada com base na teoria que você propôs Por fim não posso eliminar uma suspeita de que a indiferença entre neurastenia e neurose de angústia que detectei clinicamente esteja correlacionada com a existência das duas substâncias de 23 dias e 28 dias Além dessas duas sugiro aqui poderia haver diversas substâncias de cada tipo Cada vez mais me parece que o ponto essencial da histeria é que ela resulta de perversão por parte do sedutor e mais e mais me parece que a hereditariedade é a sedução pelo pai Assim surge uma alternância entre as gerações 1ª geração Perversão 2ª geração Histeria e conseqüente esterilidade Por vezes há uma metamorfose dentro de um mesmo indivíduo pervertido durante a idade do vigor e depois passado um período de angústia histérico Por conseguinte histeria não é sexualidade repudiada mas antes perversão repudiada Ademais por trás disso está a idéia das zonas erógenas abandonadas Isto é parece que durante a infância seria possível obter a liberação sexual a partir de muitas das diferentes partes do corpo as quais em época posterior só são capazes de liberar a substância dos 28 dias e não outras Nessa diferenciação e limitação estaria pois o progresso na cultura e na moral assim como no desenvolvimento individual O ataque histérico não é uma descarga mas uma ação e conserva a característica original de toda ação ser um meio de reprodução do prazer Isso pelo menos é o que o ataque é em sua origem além disso apresenta todos os tipos de outras razões ao préconsciente Assim os pacientes aos quais foi feito algo de sexual no sono têm ataques de sono Irão dormir novamente a fim de experimentar a mesma coisa e muitas vezes provocam dessa maneira um desmaio histérico Os ataques de vertigem e acessos de choro tudo isso tem como alvo uma outra pessoa mas na sua maior parte uma outra pessoa préhistórica inesquecível que nunca é igualada por nenhuma outra posterior Até o sintoma crônico de o indivíduo ser um dorminhoco preguiçoso é explicado da mesma forma Um dos meus pacientes ainda choraminga durante o sono como costumava fazer para ser levado para a cama por sua mãe que morreu quando ele tinha 22 meses de idade Parece que os ataques nunca ocorrem como uma expressão intensificada de emoção CARTA 55 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 149 Estoulhe remetendo duas idéias recentíssimas que me ocorreram hoje e me parecem viáveis Baseiamse naturalmente em descobertas analíticas 1 O que determina uma psicose ou seja amência ou psicose confusional uma psicose de subjugação como a denominei anteriormente em lugar de uma neurose parece ser o fato de o abuso sexual ocorrer antes do fim do primeiro estágio intelectual isto é antes de o aparelho psíquico ter sido completado na sua primeira forma antes dos 15 a 18 meses É possível que tal abuso remonte a uma época tão remota que essas experiências permaneçam ocultas atrás de experiências mais recentes e que a elas se possa voltar de tempos em tempos Penso que a epilepsia remonta ao mesmo período Tenho de abordar de maneira diferente o tic convulsif que eu costumava atribuir ao mesmo estágio Eis como cheguei a essa outra visão Um de meus pacientes histéricos levou sua irmã mais velha a uma psicose histérica que terminou num estado de completa confusão Agora averigüei qual foi o sedutor dele um homem de grande capacidade intelectual que no entanto tinha tido ataques da mais grave dipsomania a partir dos seus cinqüenta anos Esses ataques começavam regularmente com diarréia ou com catarro e rouquidão o sistema sexual oral isto é com a reprodução de suas experiências passivas Ora até ele próprio sentirse doente esse homem tinha sido pervertido e conseqüentemente sadio A dipsomania surgiu através da intensificação ou melhor através da substituição do impulso sexual correlato por esse impulso para a bebida Provavelmente o mesmo se aplica à mania de jogatina do velho F Ocorreram entre esse sedutor e meu paciente sendo que a irmã deste que tinha menos de um ano de idade presenciou algumas delas Meu paciente mais tarde veio a ter relações com ela que se tornou psicótica na puberdade Disso se pode depreender como uma neurose se agrava e passa a uma psicose na geração seguinte o que as pessoas chamam de degeneração simplesmente porque uma pessoa de idade mais tenra é colhida nas malhas de uma situação dessas Aliás aqui está a hereditariedade desse caso Fig 10 Fig 10 Espero poder contarlhe muito mais coisas importantes a respeito desse caso que projeta uma luz sobre três formas de doença 2 As perversões normalmente levam à zoofilia e têm uma característica animal São explicadas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 150 não pelo funcionamento das zonas erógenas que foram posteriormente abandonadas mas sim pela atuação de sensações erógenas que depois perdem essa intensidade Com relação a isto convém recordar que o principal órgão dos sentidos nos animais para fins sexuais bem como para outros fins é o sentido do olfato que perdeu essa posição nos seres humanos Na medida em que é dominante o olfato ou o paladar o cabelo as fezes e toda a superfície do corpo e também o sangue têm um efeito sexualmente excitante Sem dúvida está em conexão com isso o aumento do sentido do olfato na histeria O fato de que os grupos de sensações têm muito a ver com a estratificação psicológica parece ser dedutível a partir da distribuição deles nos sonhos e sem dúvida têm uma conexão direta com o mecanismo da anestesia histérica CARTA 56 Aliás que diria você se eu lhe contasse que toda aquela minha história da histeria história original e novinha em folha já era conhecida e tinha sido publicada repetidamente uma centena de vezes há alguns séculos Você se lembra de que eu sempre disse que a teoria medieval da possessão pelo demônio sustentada pelos tribunais eclesiásticos era idêntica à nossa teoria de um corpo estranho e de uma divisão splitting da consciência Mas por que é que o diabo que se apossava das pobres bruxas invariavelmente as desonrava e de forma revoltante Por que as confissões delas sob tortura tanto se assemelham às comunicações feitas por meus pacientes em tratamento psíquico Dentro em breve precisarei pesquisar a bibliografia do assunto Aliás as crueldades possibilitam o entendimento de alguns sintomas da histeria que até agora têm permanecido obscuros Os alfinetes que aparecem das formas mais surpreendentes as agulhas que fazem com que as pobres criaturas tenham seus seios operados e que são invisíveis aos raios X embora possam ser encontradas na história de sua sedução Mais uma vez os inquisidores espetam agulhas para descobrir os estigmas do demônio e numa situação parecida as vítimas inventam a mesma cruel e velha história ajudadas talvez pelos disfarces do sedutor Assim não só as vítimas mas também os seus algozes relembram nisso os primórdios de sua adolescência CARTA 57 Ganha força a idéia de trazer à cena as bruxas e penso que ela vai direto ao alvo Começam a avolumarse os detalhes O seu vôo está explicado o cabo de vassoura em que montam é provavelmente o grande Senhor Pênis Suas reuniões secretas com danças e outros divertimentos podem ser vistas todos os dias nas ruas onde há crianças brincando Outro dia li que o ouro que o diabo dá a suas vítimas habitualmente se transforma em fezes e no dia seguinte Herr E que me descreve os delírios de dinheiro de sua antiga babá de repente por meio de um circunlóquio via CagliostroalquimistaDukatenscheisser diz que o dinheiro de Louise era sempre cocô Assim nas histórias de feiticeiras o dinheiro simplesmente está sendo novamente reduzido à substância da qual surgiu Se ao menos eu soubesse por que o sêmen do diabo O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 151 nas confissões das feiticeiras é sempre descrito como frio Solicitei um exemplar do Malleus Maleficarum e agora que fiz o arremate final no meu Kinderlähmungen estudáloei com afinco A história do diabo o vocabulário dos palavrões populares as cantigas e hábitos de tenra infância tudo isso atualmente está adquirindo significação para mim Você poderia sem maior problema recomendarme alguma boa leitura com base em sua prodigiosa memória Com relação às danças nas confissões das bruxas lembrese das epidemias de dança na Idade Média A Louise de E era uma bruxa dançante desse tipo muito coerentemente foi no balé que ele se lembrou dela pela primeira vez daí sua angústia nos teatros Paralelamente ao vôo e à flutuação no ar devemos situar as proezas acrobáticas dos meninos nos ataques histéricos etc Em minha mente estáse formando a idéia de que nas perversões das quais a histeria é o negativo podemos ter diante de nós um remanescente de um culto sexual primevo que no Oriente semítico Moloch Astarte em certa época foi e talvez ainda seja uma religião As ações pervertidas além disso são sempre as mesmas têm um significado e são executadas segundo um padrão que há de ser possível compreender Portanto venho sonhando com uma religião demoníaca primeva cujos ritos são executados secretamente e compreendo o tratamento severo prescrito pelos juízes das bruxas Os elos de ligação são abundantes Uma outra contribuição para essa corrente de idéias deriva da reflexão de que há uma classe de pessoas que ainda nestes dias em que vivemos contam histórias semelhantes às das bruxas e às de meus pacientes não encontram quem lhes dê crédito mas mesmo assim sua crença nelas não pode ser abalada Como você deve ter adivinhado refirome aos paranóicos cujas queixas de que as pessoas põem fezes em sua comida maltratamnos à noite da maneira mais abjeta sexualmente etc são mero conteúdo da memória Como você sabe tenho feito uma diferenciação entre delírios da memória e delírios interpretativos pág 1 Estes últimos estão relacionados com a indefinição característica que cerca as pessoas que praticam as maldades pessoas que naturalmente estão ocultas pela defesa Um detalhe a mais Nos pacientes histéricos reconheço o pai por trás de seus elevados padrões referentes ao amor de sua humildade para com o amante ou da sua incapacidade de casar porque seus ideais não são satisfeitos Naturalmente o fundamento disso é a altura a partir da qual um pai olha com superioridade para o filho Comparese a isso a combinação existente nos paranóicos de megalomania com histórias fictícias de filiação ilegítima Este é o outro lado da medalha Ao mesmo tempo estou tendo menos certeza da idéia que estive acalentando até há pouco tempo de que a escolha da neurose é determinada pelo período em que esta se origina antes ela parece estar fixada na mais remota infância Parece contudo que a decisão continua a oscilar entre o período em que ela se origina e o que prefiro atualmente o período em que ocorre o recalcamento Cf em 1 CARTA 59 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 152 O aspecto que me escapou na solução da histeria está na descoberta de uma nova fonte a partir da qual surge um novo elemento da produção inconsciente O que tenho em mente são as fantasias histéricas que habitualmente segundo me parece remontam a coisas ouvidas pelas crianças em tenra idade e compreendidas somente mais tarde A idade em que elas captam informações dessa ordem é realmente surpreendente dois seis ou sete meses em diante CARTA 60 A noite passada tive um sonho referente a você Tratavase de uma mensagem telegráfica sobre o seu paradeiro Via Veneza Casa SECERNO Villa A maneira como escrevi isso mostra o que foi que pareceu obscuro e o que pareceu múltiplo Secerno era o que estava mais claro Meu sentimento em relação a isso era de aborrecimento por você não ter ido ao lugar que eu lhe recomendara à Casa Kirsch Os motivos do sonho A causa desencadeante acontecimentos do dia anterior H esteve aqui e falou a respeito de Nuremberg dizendo que conhecia muito bem essa cidade e costumava hospedarse no Preller Não consegui recordálo imediatamente mas depois perguntei Fora da cidade então Essa conversa despertoume a pena que tenho sentido ultimamente por não saber onde você tem estado e não ter notícias suas Eu queria ter você como meu interlocutor e contarlhe algo daquilo que andei experimentando e descobrindo em meu trabalho Mas não tive coragem de enviar minhas anotações para destino ignorado pois teria desejado pedirlhe que as guardasse para mim como material de valor De modo que se tratava da realização do desejo de que você telegrafasse dandome seu endereço Existe todo tipo de coisas por trás do enunciado do telegrama a lembrança do prazer etimológico que você me proporciona minha menção a fora da cidade feita a H mas também coisas sérias que logo acudiram à minha mente Como se você sempre tivesse de ter algo de especial é o que diz meu aborrecimento E depois o fato de você não gostar nem um pouco da Idade Média E mais ainda minha contínua reação a seu sonho de defesa que tentou colocar um avô no lugar costumeiro do pai Com referência a isso minha constante irritação por não saber como lhe posso dar uma pista para descobrir quem era a pessoa que chamava I F de Katzel gatinho quando ela era criança tal como agora ela trata você Visto que eu próprio ainda estou em dúvida a respeito das coisas referentes ao pai minha sensibilidade se torna compreensível Assim o sonho enfeixa todo o aborrecimento inconscientemente presente em mim em relação a você Além disso o enunciado significa também Via ruas de Pompéia que estou estudando Villa a Villa Romana de Böcklin E depois nossas conversas sobre viagem Secerno me soa parecido com Salerno O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 153 napolitanosiciliano E por trás disso sua promessa de um encontro em solo italiano A interpretação completa só me ocorreu depois que um feliz acaso ocorrido esta manhã trouxe uma nova confirmação da etiologia referente ao pai Ontem comecei o tratamento de um caso novo uma jovem senhora que por falta de tempo eu teria preferido não começar a tratar Ela teve um irmão que morreu louco e o sintoma principal dela insônia apareceu pela primeira vez depois que ela ouviu afastarse da porta da frente da casa a carruagem que o levaria para o hospício Desde então ela tem sofrido de angústia ao andar de carruagem e vinha tendo a convicção de que haveria um acidente com a carruagem Anos depois os cavalos dispararam durante um passeio de carruagem e ela aproveitou a oportunidade para saltar fora do veículo e quebrar a perna Hoje ela veio e relatou ter pensado um bocado no tratamento e ter descoberto um obstáculo E o que foi Eu posso me imaginar tão má quanto for necessário mas preciso poupar as outras pessoas O senhor deve me permitir que eu não cite nomes Sem dúvida os nomes não são importantes A senhora quer se referir aos seus relacionamentos com pessoas Estes certamente não podem ser silenciados O que eu quero dizer é que de qualquer modo antes eu teria sido mais fácil de tratar do que hoje Antigamente eu não tinha suspeitas mas agora o sentido criminoso de certas coisas se tornou claro para mim e eu não consigo decidirme a falar sobre elas Pelo contrário eu penso que uma mulher adulta se torna mais tolerante a respeito dos assuntos sexuais Sim nisso o senhor tem razão Quando digo a mim mesma que as pessoas que fazem tais coisas são indubitavelmente de espírito elevado sou forçada a refletir que se trata de uma doença uma espécie de loucura e preciso desculpálas Está bem vamos falar francamente Em minhas análises as pessoas culpadas são parentes próximos um pai ou um irmão Não há irmão nesse caso Seu pai então E aí descobriuse que o pai supostamente uma pessoa de mente elevada e respeitável em outros aspectos levavaa regularmente para a cama quando ela estava entre 8 e 12 anos e abusava dela sexualmente sem penetração molhavaa visitas noturnas Já naquela época sentiase angustiada Uma irmã seis anos mais velha contoulhe alguns anos mais tarde que tinha tido as mesmas experiências com o pai de ambas Uma prima contoulhe que quando tinha quinze anos tivera de rechaçar os abraços do avô Naturalmente quando eu lhe disse que coisas parecidas e piores deveriam ter acontecido em sua mais remota infância ela não achou que isso fosse inacreditável Em outras palavras tratase de um caso bastante comum de histeria com os sintomas de sempre Q E D CARTA 61 Como você pode deduzir pelo anexo Rascunho L meus progressos estãose consolidando Em primeiro lugar formei uma idéia coerente a respeito da estrutura da histeria Tudo remonta à reprodução das cenas a algumas das quais se pode chegar diretamente enquanto a outras só por meio de fantasias erigidas à frente delas As fantasias derivam de coisas que foram ouvidas mas só compreendidas posteriormente e todo o seu material naturalmente é verídico São estruturas protetoras sublimações dos fatos embelezamentos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 154 deles e ao mesmo tempo servem como autoabsolvição Talvez sua origem desencadeante se deva às fantasias de masturbação Um segundo elemento de compreensão interna insight do assunto me diz que as estruturas psíquicas que na histeria são afetadas pelo recalcamento não são na realidade lembranças de vez que ninguém se entrega à atividade mnêmica sem um motivo mas sim impulsos decorrentes das cenas primevas ver em 1 1 Percebo agora que todas as três neuroses histeria neurose obsessiva e paranóia mostram os mesmos elementos ao mesmo tempo que mostram a mesma etiologia ou seja fragmentos mnêmicos impulsos derivados da lembrança e ficções protetoras e percebo que a irrupção na consciência a formação de compromissos isto é sintomas ocorre nessas neuroses em pontos diferentes Na histeria são as lembranças na neurose obsessiva os impulsos pervertidos na paranóia as ficções protetoras fantasias que penetram na vida normal distorcidos pela formação de compromissos Vejo aqui um grande progresso na compreensão insight Espero que isso lhe cause o mesmo impacto RASCUNHO L NOTAS I A ARQUITETURA DA HISTERIA O objetivo parece ser o de chegar retroativamente às cenas primevas Em alguns casos isso é conseguido diretamente mas em outros somente por um caminho indireto através das fantasias Pois as fantasias são fachadas psíquicas construídas com a finalidade de obstruir o caminho para essas lembranças As fantasias servem ao mesmo tempo à tendência de aprimorar as lembranças de sublimálas São feitas de coisas que são ouvidas e posteriormente utilizadas assim combinam coisas que foram experimentadas e coisas que foram ouvidas acontecimentos passados da história dos pais e dos ancestrais e coisas que a própria pessoa viu Relacionamse com coisas ouvidas assim como os sonhos se relacionam com coisas vistas Nos sonhos realmente não ouvimos nada nós vemos O PAPEL DESEMPENHADO PELAS EMPREGADAS Uma imensa carga de culpa com autocensuras por furto aborto etc tornase possível para uma mulher através da identificação com essas pessoas de baixo padrão moral que tão freqüentemente são lembradas por ela como mulheres sem valor sexualmente ligadas com o pai ou o irmão dela E como resultado da sublimação dessas empregadas nas fantasias fazemse as mais inverossímeis acusações contra outras pessoas nessas fantasias O temor da prostituição isto é de se tornar prostituta medo de andar sozinha na rua o medo de que haja um homem escondido debaixo da cama etc também apontam na direção das empregadas Há uma trágica justiça no fato de que a ação do chefe da família ao descer ao nível de uma empregada é expiada pela auto degradação de sua filha COGUMELOS No verão passado houve uma moça que tinha medo de colher uma flor ou mesmo de arrancar um cogumelo porque isso era contra o mandamento de Deus que não queria que as sementes vivas fossem O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 155 destruídas Isso provinha de uma lembrança dos provérbios religiosos que sua mãe citava dirigidos contra as precauções durante o coito porque estas significavam que se destruíam sementes vivas As esponjas esponjas de Paris eram explicitamente mencionadas entre tais precauções O principal conteúdo da neurose dessa moça era a identificação com a mãe DORES Estas não são a sensação real de uma fixação mas uma repetição intencional da mesma A criança chocase contra uma quina um móvel etc e assim realiza um contacto ad genitalia a fim de repetir uma cena na qual aquilo que agora é o ponto doloroso e foi então pressionado contra a quina levou à fixação Cf em 1 MULTIPLICIDADE DE PERSONALIDADES PSÍQUICAS A existência da identificação talvez nos permita tomar literalmente essa expressão EMBRULHAR Continuação da história do cogumelo A moça insistia em que todos os objetos que lhe eram entregues fossem embrulhados Condom EDIÇÕES MÚLTIPLAS DAS FANTASIAS ESTARÃO TAMBÉM RETROSPECTIVAMENTE VINCULADAS À EXPERIÊNCIA ORIGINAL Nos casos em que um paciente deseja estar doente e se apega à sua doença isso acontece geralmente porque a doença é considerada uma arma protetora contra sua própria libido ou seja porque ele desconfia de si mesmo Nessa fase o sintoma mnêmico tornase um sintoma defensivo combinamse as duas correntes atuantes Nos estágios precedentes o sintoma era uma conseqüência da libido um sintoma provocativo pode ser que entre os estágios as fantasias sirvam de defesa É possível seguir o caminho a época e o material da construção das fantasias Vêse então que ela em muito se assemelha à construção dos sonhos Mas não há regressão na forma de representação conferida às fantasias somente progressão Observese a relação entre sonhos fantasias e reprodução OUTRO SONHO DE REALIZAÇÃO DE DESEJO O senhor vai dizer segundo suponho que este é um sonho de realização de desejo disse E em 1 Sonhei que assim que chegava em casa com uma mulher eu era preso por um policial que me mandou entrar numa carruagem Pedilhe tempo a fim de colocar meus assuntos em ordem e assim por diante Mais alguns detalhes Isso foi de manhã depois de eu ter passado a noite com essa mulher Você ficou com medo Não Sabe de que era acusado Sim De ter matado uma criança Isso tem alguma conexão com a realidade Uma vez fui responsável pelo aborto de uma criança em decorrência de um caso amoroso Não gosto de pensar nisso Bem não tinha acontecido nada nessa manhã antes do sonho Sim acordei e tive relações sexuais Mas você tomou precauções Sim Eu tirei fora O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 156 Então você estava com medo de ter gerado um filho e o sonho lhe mostra a realização de seu desejo de que não acontecesse nada e de você ter arrancado o filho pela raiz Você utilizou como material para o seu sonho o sentimento de angústia que surge após uma relação desse tipo 1 RASCUNHO M NOTAS II A ARQUITETURA DA HISTERIA Provavelmente é assim algumas das cenas são diretamente acessíveis mas outras o são apenas por intermédio das fantasias erigidas em frente a elas As cenas são dispostas em ordem crescente de resistência as que foram recalcadas com menos energia vêm à luz primeiro porém só incompletamente devido a sua associação com as que foram duramente recalcadas O caminho seguido pelo trabalho analítico desce primeiro em círculos até as cenas ou suas cercanias depois desce de um sintoma até uma profundidade um pouco maior e depois novamente a partir de um sintoma desce ainda mais Como a maioria das cenas converge para uns poucos sintomas nosso caminho traça círculos repetidos através dos pensamentos que estão por trás dos mesmos sintomas Ver Fig 11 Fig 11 RECALCAMENTO Podese suspeitar que o elemento essencialmente recalcado é sempre o que é feminino Isso é confirmado pelo fato de que as mulheres assim como os homens admitem com maior facilidade as experiências com mulheres do que com homens O que os homens recalcam essencialmente é o elemento da pederastia FANTASIAS As fantasias originamse de uma combinação inconsciente e conforme determinadas tendências de coisas experimentadas e ouvidas Essas tendências têm o sentido de tornar inacessível a lembrança da qual emergiram ou poderiam emergir os sintomas As fantasias são construídas por um processo de amálgama e distorção análogo à decomposição de um corpo químico que está combinado com outro Pois o primeiro tipo de distorção consiste numa falsificação da memória por um processo de fragmentação no qual especialmente as relações cronológicas são postas de lado As correções cronológicas parecem depender justamente da atividade do sistema da consciência Um fragmento da cena visual juntase depois a um fragmento da O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 157 experiência auditiva e é transformado numa fantasia enquanto o fragmento restante é ligado a alguma outra coisa Desse modo tornase impossível determinar a conexão original Em conseqüência da construção de fantasias como esta em períodos de excitação os sintomas mnêmicos cessam Em vez destes achamse presentes ficções inconscientes não sujeitas à defesa Quando a intensidade dessa fantasia aumenta até um ponto em que forçosamente irromperia na consciência ela é recalcada e criase um sintoma mediante uma força que impele para trás indo desde a fantasia até as lembranças que a constituíram Todos os sintomas de angústia fobias derivam assim de fantasias Não obstante isso simplifica os sintomas Talvez haja um terceiro movimento para a frente e um terceiro método de construir sintomas derivado da construção dos impulsos TIPOS DE DESLOCAMENTO DE COMPROMISSO Deslocamento por associações histeria Deslocamento por semelhança conceitual neurose obsessiva característica do lugar em que ocorre a defesa e talvez também do tempo Deslocamento causal paranóia CURSO TÍPICO DOS ACONTECIMENTOS Bons motivos para suspeitar de que o despertar do recalcado não se dá ao acaso mas segue as leis do desenvolvimento Ademais que o recalcado atua para trás a partir do que é recente e afeta primeiro os últimos eventos DIFERENÇA ENTRE AS FANTASIAS NA HISTERIA E NA PARANÓIA As últimas são sistematizadas todas em harmonia umas com as outras as primeiras são independentes entre si e contraditórias isto é insuladas e por assim dizer geradas automaticamente por um processo químico Isto e mais a eliminação da característica do tempo é sem dúvida essencial para a a diferenciação entre a atividade do préconsciente e do inconsciente Ver em 1 RECALCAMENTO NO INCONSCIENTE Não basta levar em conta o recalcamento entre o préconsciente e o inconsciente devemos também atentar para o recalcamento normal dentro do sistema do próprio inconsciente Muito importante mas ainda muito obscuro Existe uma esperança muito grande de conseguirmos determinar o número e a espécie de fantasias assim como conseguimos fazer com as cenas O romance de ilegitimidade cf paranóia em 1 é regularmente encontrado e serve como meio para ilegitimar os parentes em questão A agorafobia parece depender de um romance de prostituição que por sua vez também remonta a esse romance familiar Assim uma mulher que não sai sozinha está afirmando a infidelidade de sua mãe CARTA 64 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 158 Aqui estão alguns fragmentos lançados à praia na última maré Venho tomando nota deles somente para você e espero que os guarde para mim Nada acrescendo à guisa de desculpas ou explicações sei que são apenas premonições mas sempre surgiu algo de todas as coisas desse tipo e só tive que voltar atrás no que tentei elaborar em torno do sistema Pcs Cf em 1 Um outro pressentimento também me diz como eu já sabia embora eu de fato não saiba absolutamente nada que muito em breve descobrirei a origem da moralidade Não faz muito tempo sonhei que tinha sentimentos supercarinhosos para com Mathilde só que ela se chamava Hella e depois vi novamente Hella diante de mim escrito em letras destacadas Solução Hella é o nome de uma sobrinha americana cujo retrato nos foi enviado Mathilde pôde ser chamada Hella porque ultimamente tem chorado muito as derrotas dos gregos Ela tem grande entusiasmo pela mitologia da antiga Hélade e naturalmente considera heróis todos os helenos O sonho é claro mostra a realização do meu desejo de encontrar um pai que seja o causador da neurose e desse modo pôr fim às dúvidas que ainda persistem em mim sobre esse assunto Numa outra ocasião sonhei que subia uma escadaria vestido com muito pouca roupa Eu me movimentava como o sonho enfatizou com grande agilidade meu coração confiança renovada De repente porém percebi que uma mulher vinha atrás de mim e então aconteceu aquela experiência tão comum nos sonhos de ficar pregado no mesmo lugar de estar paralisado A sensação concomitante não foi de angústia mas de excitação erótica Assim você vê como a sensação de paralisia característica do sono foi usada para a realização de um desejo exibicionista Pouco antes naquela noite eu realmente tinha subido a escadaria do nosso apartamento no andar térreo sem colarinho pelo menos e tinha pensado que um de nossos vizinhos poderia estar na escada RASCUNHO N NOTAS III IMPULSOS Os impulsos hostis contra os pais desejo de que eles morram também são um elemento integrante das neuroses Vêm à luz conscientemente como idéias obsessivas Na paranóia o que há de pior nos delírios de perseguição desconfiança patológica dos governantes e monarcas corresponde a esses impulsos Estes são recalcados nas ocasiões em que é atuante a compaixão pelos pais nas épocas de doença ou morte deles Nessas ocasiões constitui manifestação de luto uma pessoa acusarse da morte deles o que se conhece como melancolia ou punirse numa forma histérica por intermédio da idéia de retribuição com os mesmos estados de doença que eles tiveram A identificação que aí ocorre como podemos verificar nada mais é do que um modo de pensar e não nos exime da necessidade de procurar o motivo Parece que esse desejo de morte no filho está voltado contra o pai e na filha contra a mãe Uma empregada faz uma transferência disso desejando que a patroa morra e desse modo o patrão possa casarse O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 159 com ela Cf o sonho de Lisl a respeito de Martha e de mim RELAÇÃO ENTRE IMPULSOS E FANTASIAS Parece que as lembranças se bifurcam parte delas é posta de lado e substituída por fantasias outra parte mais acessível parece conduzir diretamente aos impulsos Será possível que posteriormente os impulsos também decorram das fantasias De modo semelhante a neurose obsessiva e a paranóia derivariam ex aequo nos mesmos termos da histeria o que explicaria a incompatibilidade entre elas TRANSPOSIÇÃO DA CRENÇA A crença e a dúvida é um fenômeno que pertence inteiramente ao sistema do ego o Cs e não tem contrapartida no Inc Nas neuroses a crença é deslocada é recusada ao material recalcado quando ele pressiona no sentido da reprodução e como punição poderseia dizer é transposta para o material que executa a defesa Titânia que se recusa a amar Oberon seu marido legítimo é obrigada em vez disso a entregar seu amor a Bottom o asno da fantasia POESIA E FINE FRENZY O mecanismo da poesia criação literária é o mesmo das fantasias histéricas Para compor seu Werther Goethe combinou algo que havia experimentado seu amor por Lotte Kästner e algo que tinha ouvido o destino do jovem Jerusalém que se suicidou Provavelmente Goethe estava brincando com a idéia de se matar encontrou nisso um ponto de contato e identificouse com Jerusalém de quem tomou emprestado o motivo para sua própria história de amor Por meio dessa fantasia protegeuse das conseqüências de sua experiência De modo que Shakespeare tinha razão ao justapor a poesia e a loucura fine frenzy MOTIVOS PARA A CONSTRUÇÃO DOS SINTOMAS Recordar nunca é um motivo mas apenas uma maneira um método O primeiro motivo para a construção de sintomas é cronologicamente a libido Portanto os sintomas como os sonhos são a realização de um desejo Em estágios subseqüentes a defesa contra a libido conquista seu espaço também no Inc A realização de desejos deve preencher os requisitos dessa defesa inconsciente Isso acontece quando o sintoma é capaz de atuar como um autoimpedimento seja por meio de punição por um impulso mau ou a partir da desconfiança Os motivos da libido e da realização de desejo como punição agem nesse caso por soma Aqui é inequívoca a tendência geral no sentido da abreação e da irrupção do recalcado e a isso se somam os dois outros motivos O que parece é que em fases posteriores por um lado algumas estruturas psíquicas complexas impulsos fantasias motivos são deslocadas das lembranças e por outro lado a defesa surgindo do Pcs o ego pareceria abrir caminho para dentro do inconsciente de modo que a defesa também se torna O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 160 multilocular A construção de sintomas por identificação está ligada às fantasias isto é a seu recalcamento no Inc numa forma análoga à da modificação do ego na paranóia em 1 Como a irrupção da angústia está ligada a essas fantasias recalcadas devemos concluir que a transformação da libido em angústia não ocorre por intermédio da defesa atuante entre o ego e o Inc mas sim no Inc como tal Concluise pois que existe também uma libido Inc Parece que o recalcamento dos impulsos produz não angústia mas talvez depressão melancolia Desse modo as melancolias estão relacionadas com a neurose obsessiva DEFINIÇÃO DE SANTIDADE A santidade é algo que se baseia no fato de que os seres humanos em benefício da comunidade maior sacrificaram uma parte de sua liberdade sexual e de sua liberdade de se entregarem às perversões O horror ao incesto como coisa ímpia baseiase no fato de que em conseqüência da comunidade da vida sexual mesmo na infância os membros de uma família se mantêm permanentemente unidos e se tornam incapazes de contatos com estranhos Assim o incesto é antisocial a civilização consiste nessa renúncia progressiva É o contrário do superhomem 1 CARTA 66 Ainda não sei o que andou acontecendo comigo Algo proveniente das mais recônditas profundezas de minha neurose insurgiuse contra qualquer avanço em minha compreensão das neuroses e você de algum modo esteve envolvido nisso Isso porque minha paralisia redacional me parece destinada a impedir nossas comunicações Não estou nada seguro disso são apenas sentimentos de uma natureza muito obscura Não lhe aconteceu algo parecido Nos últimos dias pareceume que se vislumbra uma saída dessa obscuridade Constato que nesse ínterim realizei todo tipo de progressos em meu trabalho e a cada momento me ocorre mais uma idéia Para isso concorrem sem dúvida o tempo quente e o excesso de trabalho Pois bem vejo que a defesa contra as lembranças não impede que estas dêem origem a estruturas psíquicas superiores que persistem por algum tempo e depois são elas mesmas submetidas à defesa Esta porém é de um tipo específico mais elevado precisamente como nos sonhos que contêm in nuce numa casca de noz a psicologia das neuroses muito genericamente O que temos diante de nós são falsificações da memória e fantasias estas referentes ao passado ou ao futuro Conheço mais ou menos as leis segundo as quais se agrupam essas estruturas e os motivos pelos quais são mais fortes do que as lembranças verdadeiras assim aprendi coisas novas que ajudam a caracterizar os processos do Inc Ao lado destes surgem impulsos pervertidos e quando à medida que se torna necessário posteriormente essas fantasias e impulsos são recalcados aparecem as determinações superiores dos sintomas já provenientes das lembranças e novos motivos para manter a doença Estou estudando alguns casos típicos de agrupamento dessas fantasias e alguns fatores típicos do surgimento do recalque contra os mesmos Esse conhecimento ainda não está completo O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 161 Minha técnica está começando a preferir um determinado método como sendo o método natural Pareceme que a coisa mais indubitável é a explicação dos sonhos mas ela está cercada de uma quantidade enorme de enigmas obstinados As questões organológicas esperam de você uma solução nestas não fiz nenhum progresso Existe um sonho interessante em que o indivíduo vagueia entre pessoas estranhas total ou parcialmente despido e com sentimentos de vergonha e angústia Muito estranhamente as pessoas nunca reparam nisso o que devemos atribuir à realização de desejos Esse material onírico que tem sua origem no exibicionismo da infância foi erroneamente compreendido e didaticamente transformado num conhecido conto de fadas As roupas imaginárias do rei Talismã Habitualmente o ego interpreta outros sonhos da mesma maneira equivocada CARTA 67 As coisas estão fermentando dentro de mim mas não concluí nada Estou mais do que satisfeito com a psicologia estou atormentado por graves dúvidas sobre minha teoria das neuroses Minha mente anda muito preguiçosa aqui neste lugar não consegui acalmar a agitação que há em minha cabeça e meus sentimentos isso só pode acontecer na Itália Depois de ter estado muito satisfeito aqui estou agora passando por um período de mau humor O principal paciente que me preocupa sou eu mesmo Minha leve histeria muito agravada porém pelo trabalho foi resolvida em mais uma parte mas o resto ainda está na imobilidade É principalmente disso que depende o meu humor A análise é mais difícil do que qualquer outra coisa É ela também que paralisa minha energia psíquica para descrever e comunicar o que consegui até agora Mas penso que deve ser feita e que é uma etapa intermediária necessária em meu trabalho CARTA 69 Confiarlheei de imediato o grande segredo que lentamente comecei a compreender nos últimos meses Não acredito mais em minha neurotica teoria das neuroses Provavelmente isso não é compreensível sem uma explicação afinal você mesmo considerou crível o que lhe pude dizer De modo que começarei historicamente a partir da questão da origem de meus motivos de descrença Os contínuos desapontamentos em minhas tentativas de fazer minha análise chegar a uma conclusão real a debandada das pessoas que durante algum tempo eu parecia estar compreendendo com muita segurança a ausência dos êxitos completos com que eu havia contado a possibilidade de explicar os êxitos parciais de outras maneiras segundo critérios comuns este foi o primeiro grupo de motivos Depois veio a surpresa diante do fato de que em todos os casos o pai não excluindo o meu 1 tinha de ser apontado como pervertido a constatação da inesperada freqüência da histeria na qual o mesmo fator determinante é invariavelmente estabelecido embora afinal O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 162 uma dimensão tão difundida da perversão em relação às crianças não seja muito provável A perversão teria de ser incomensuravelmente mais freqüente do que a histeria de vez que a doença só aparece quando há uma acumulação de eventos e quando sobrevém um fator que enfraquece a defesa Depois em terceiro lugar a descoberta comprovada de que no inconsciente não há indicações da realidade de modo que não se consegue distinguir entre a verdade e a ficção que é catexizada com o afeto Assim permanecia aberta a possibilidade de que a fantasia sexual tivesse invariavelmente os pais como tema Em quarto lugar a reflexão de que na psicose mais profunda a lembrança inconsciente não vem à tona não sendo pois revelado o segredo das experiências da infância nem mesmo no delírio mais confuso Se dessa forma verificamos que o inconsciente nunca supera a resistência do consciente então também abandonamos nossa expectativa de que o inverso aconteça no tratamento a ponto de o inconsciente ser totalmente domado pelo consciente Em tal medida fui influenciado por isso que estava disposto a abandonar duas coisas a resolução completa de uma neurose e o conhecimento seguro de sua etiologia na infância Não tenho agora nenhuma idéia do ponto a que cheguei não obtive uma compreensão teórica do recalcamento e de sua interrelação de forças Parece que novamente se tornou discutível se são somente as experiências posteriores que estimulam as fantasias que então retornam à infância e com isso o fator de uma predisposição hereditária recupera uma esfera de influência da qual eu me incumbira de excluílo com a intenção de elucidar amplamente a neurose Se eu tivesse deprimido confuso ou exausto as dúvidas desse tipo deveriam por certo ser interpretadas como sinais de fraqueza De vez que estou num estado oposto devo reconhecêlas como o resultado de um trabalho intelectual honesto e esforçado e devo ter orgulho depois de ter ido tão a fundo de ainda ser capaz de tal crítica Será que essa dúvida simplesmente representa um episódio prenunciador de um novo conhecimento Também é digno de nota não ter havido nenhum sentimento de vergonha para o que afinal poderia haver uma justificativa Certamente não vou contar isso em Dan nem publicálo em Ascalon na terra dos filisteus Mas perante você e perante mim mesmo tenho mais um sentimento de vitória do que de derrota e afinal isso não está certo CARTA 70 3 de outubro Muito pouca coisa ainda está acontecendo comigo externamente contudo internamente ocorre algo interessantíssimo Isso porque nos últimos quatro dias minha autoanálise que considero indispensável para esclarecer todo o problema tem prosseguido nos sonhos e me presenteou com as mais valiosas inferências e indicações Em alguns pontos tenho a sensação de haver chegado ao término e até agora também sempre tenho sabido onde é que o sonho da próxima noite vai retomar as coisas Descrever esse fato por escrito é mais difícil do que qualquer outra coisa e também a descrição seria imprecisa demais Só posso dizer resumidamente que der Alte meu pai não teve papel ativo no meu caso a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 163 partir de mim mesmo que o originador primordial de meus problemas foi uma mulher feia e velha mas esperta que me contou uma porção de coisas a respeito de Deus todopoderoso e do inferno e que me deu uma opinião elevada acerca das minhas próprias capacidades que mais tarde entre dois e dois anos e meio de idade minha libido foi despertada para a matrem isto é por ocasião de uma viagem com ela de Leipzig a Viena durante a qual devemos ter passado a noite juntos e devo ter tido oportunidade de vêla nudam você tirou a conclusão disto há muito tempo no tocante a seu próprio filho num comentário que me revelou que saudei o nascimento de meu irmão que era um ano mais novo do que eu e morreu depois de alguns meses com desejos hostis e verdadeiro ciúme infantil e que sua morte deixou em mim a semente das autocensuras Faz também muito tempo que conheço meu companheiro de travessuras entre um e dois anos de idade Era meu sobrinho um ano mais velho do que eu atualmente vive em Manchester e nos visitou em Viena quando eu tinha quatorze anos Parece que algumas vezes eu e ele nos conduzimos de maneira cruel com minha sobrinha que era um ano mais nova Esse sobrinho e esse irmão mais novo determinaram o que há de neurótico mas também o que há de intenso em todas as minhas amizades Você mesmo viu minha angústia diante das viagens em plena atividade Ainda não descobri nada a respeito das cenas que subjazem a toda essa história Se elas vierem à luz e eu conseguir resolver minha própria histeria serei grato à memória da velha senhora que me proporcionou em idade tão precoce os meios de viver e de prosseguir vivendo Como você vê minha antiga afeição por ela está reaparecendo Não posso darlhe sequer uma idéia da beleza intelectual do trabalho 4 de outubro O sonho de hoje apresentou o que se segue sob os mais estranhos disfarces Ela era minha professora em assuntos de sexo e me repreendia por eu ser desajeitado e não ser capaz de fazer nada É sempre assim que ocorre a impotência do neurótico é assim que o medo de ser incapaz na escola adquire seu substrato sexual Ao mesmo tempo eu via o crânio de um pequeno animal e no sonho pensei Porco Na análise porém associei isso com o seu desejo há dois anos de que eu pudesse encontrar no Lido um crânio para me esclarecer como fez Goethe certa vez Mas não o encontrei De modo que fui um boboca Todo o sonho estava repleto das mais mortificantes alusões a minha atual impotência como terapeuta Talvez seja disso que deriva a tendência a acreditar que a histeria é curável Além disso ela me banhava numa água avermelhada na qual ela mesma se havia banhado antes A interpretação não é difícil não encontro nada parecido com isso nas seqüências de minhas lembranças de modo que considero uma verdadeira descoberta do passado distante E ela me fazia furtar zehners moedas de dez kreuzers e dálos a ela Há uma longa seqüência desde esses primeiros zehners de prata até a pilha de notas de dez florins que vi no sonho como o dinheiro de Martha para as despesas da casa O sonho pode ser resumido como mau tratamento Assim como a velha senhora recebia dinheiro de mim pelo mau tratamento que me dispensava também eu atualmente ganho dinheiro pelo mau tratamento que dou a meus pacientes Um papel especial foi desempenhado por Frau Qu cujo comentário você me relatou eu devia não cobrar nada dela já que é a esposa de um colega Naturalmente ele fez questão de que eu cobrasse De tudo isso um crítico severo poderia dizer que foi retrospectivamente fantasiado e não determinado progressivamente Os experimenta crucis experimentos cruciais teriam de contradizêlo A O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 164 água avermelhada já seria parece um desses experimentos Onde é que todos os pacientes arranjam terríveis detalhes pervertidos que muitas vezes são tão afastados de sua experiência quanto de seu conhecimento CARTA 71 Minha autoanálise é realmente a coisa mais essencial que me ocupa atualmente e promete adquirir o maior valor para mim se chegar a seu término A meio caminho ela subitamente cessou por três dias e tive a sensação de estar amarrado por dentro coisa de que tanto se queixam os pacientes e fiquei realmente inconsolável É estranho que minha clínica ainda me permita uma grande quantidade de tempo livre Tudo isso é muito valioso para meus propósitos de vez que consegui encontrar alguns pontos de referência reais para a história Perguntei a minha mãe se ela ainda se recordava da babá Naturalmente disse ela uma pessoa de idade muito esperta Estava sempre levando você à igreja depois quando voltava você costumava pregar sermões e falarnos a respeito de Deus todopoderoso Durante meu resguardo quando Anna nasceu ela é dois anos e meio mais nova do que eu descobriuse que ela era ladra e todas as moedas novas e reluzentes de kreuzers e zehners e todos os brinquedos que tinham sido dados a você foram encontrados entre os pertences dela Seu irmão Philipp ver diante foi buscar um policial e ela pegou dez meses de cadeia Ora veja só como isso confirma as conclusões de minha interpretação dos sonhos Encontrei uma explicação simples para o meu possível engano Escrevi a você contando que ela me induzia a furtar zehners e dálos a ela O sonho realmente quis dizer que ela mesma os roubava Pois o quadro onírico era uma lembrança de eu estar tomando o dinheiro da mãe de um médico isto é indevidamente A interpretação correta é Eu ela e a mãe de um médico equivale a minha mãe Tão longe eu estava de saber que ela era uma ladra que fiz interpretação errada Também andei indagando a respeito do médico que tínhamos em Freiberg porque um sonho mostrou uma grande dose de ressentimento contra ele Na análise da figura existente no sonho detrás da qual ele estava oculto pensei também no professor von K que foi meu professor de história na escola Ele não parecia encaixarse absolutamente no caso de vez que minhas relações com ele eram indiferentes ou melhor agradáveis Minha mãe então me contou que o médico de minha infância tinha um olho só e dentre todos os meus professores de escola também o Professor K era o único que tinha esse mesmo defeito O valor comprobatório dessas coincidências poderia ser invalidado pela objeção de que em alguma ocasião posterior da minha infância eu teria ouvido dizer que a babá era ladra e depois o teria esquecido aparentemente até que afinal isso emergiu no sonho Eu mesmo penso que é assim Mas tenho outra prova inatacável e divertida Eu disse a mim mesmo que se a velha senhora desapareceu tão de repente deveria ser possível averiguar a impressão que esse fato causou em mim Onde pois está essa impressão Ocorreume então uma cena que nos últimos 29 anos emergiu algumas vezes em minha memória consciente sem que eu a compreendesse Não havia jeito de encontrar minha mãe eu berrava a plenos pulmões Meu irmão Philipp vinte anos mais velho do que eu mantinha aberto diante de mim um guardalouça Kasten e O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 165 ao verificar que mamãe não estava dentro dele comecei a chorar ainda mais até que esguia e linda ela entrou pela porta Que pode significar isso Por que estaria meu irmão abrindo o guardalouça se sabia que mamãe não estava lá dentro e que aquilo não poderia me tranqüilizar E então subitamente compreendi Eu pedira a ele que o fizesse Ao sentir falta de mamãe temi que ela tivesse desaparecido de mim tal como acontecera pouco tempo antes com a velha babá Ora devo ter ouvido dizer que a velha tinha sido trancafiada e por conseguinte devo ter pensado que minha mãe também o fora ou melhor que tivesse sido encaixotada eingekastelt pois meu irmão Philipp atualmente com 63 anos ainda hoje gosta de falar por meio de trocadilhos O fato de eu ter recorrido a ele em particular prova que eu sabia muito bem da sua participação no desaparecimento da babá 1 Depois disso consegui aclarar muitas coisas mais entretanto não cheguei ainda a nenhum ponto conclusivo Comunicar o que está inacabado é tão vago e trabalhoso que espero que você me perdoe por isso e se contente com o conhecimento dos aspectos que estão estabelecidos com certeza Se a análise contiver aquilo que espero dela eu o escreverei ordenadamente e o apresentarei a você depois Até agora não encontrei nada completamente novo só complicações à quais de resto estou acostumado Não é nada fácil Ser completamente honesto consigo mesmo é uma boa norma Um único pensamento de valor genérico revelouse a mim Verifiquei também no meu caso a paixão pela mãe e o ciúme do pai e agora considero isso como um evento universal do início da infância mesmo que não tão precoce como nas crianças que se tornaram histéricas Algo parecido com o que acontece com o romance da filiação na paranóia heróis fundadores de religiões Sendo assim podemos entender a força avassaladora de Oedipus Rex apesar de todas as objeções levantadas pela razão contra a sua pressuposição do destino e podemos entender por que os dramas do destino posteriores estavam fadados a fracassar lamentavelmente Nossos sentimentos opõemse a qualquer compulsão arbitrária e individual do destino tal como é pressuposto em Die Ahnfrau de Grillparzer etc Mas a lenda grega capta uma compulsão que toda pessoa reconhece porque sente sua presença dentro de si mesma Cada pessoa da platéia foi um dia em germe ou na fantasia exatamente um Édipo como esse e cada qual recua horrorizada diante da realização de sonho aqui transposta para a realidade com toda a carga de recalcamento que separa seu estado infantil do seu estado atual Passoume pela cabeça uma rápida idéia no sentido de saber se a mesma coisa não estaria também no fundo do Hamlet Não estou pensando na intenção consciente de Shakespeare mas acredito antes que algum evento real tenha instigado o poeta à sua representação no sentido de que o inconsciente de Shakespeare compreendeu o inconsciente de seu herói Como é que o histérico Hamlet consegue justificar suas palavras Assim a consciência nos torna a todos covardes Como é que ele consegue explicar sua hesitação em vingar o pai assassinado através do seu tio ele o homem que sem nenhum escrúpulo envia à morte seus cortesãos e efetivamente se precipita ao matar Laertes De que outro modo poderia ele justificarse melhor do que mediante o tormento de que padece com a obscura lembrança de que ele próprio planejou perpetrar a mesma ação contra seu pai por causa da paixão pela mãe a se tratar cada homem segundo seu merecimento quem escapará do açoite Sua consciência moral é seu sentimento inconsciente de culpa E não será seu afastamento sexual em 1 na conversa com Ofélia tipicamente histérico e sua O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 166 rejeição do instinto que visa a procriar filhos e por fim que dizer de ele ter transferido a ação de seu pai para o de Ofélia E não faz ele descer sobre si no final de modo tão evidente como os meus pacientes histéricos o castigo sofrendo o mesmo destino do pai ao ser envenenado pelo mesmo rival 1 CARTA 72 Uma idéia a respeito da resistência possibilitoume situar corretamente todos aqueles casos meus que tinham enveredado por graves dificuldades e reencaminhálos satisfatoriamente A resistência que finalmente causa uma parada no trabalho não é senão seu caráter passado da criança degenerado que em conseqüência das experiências que se acham conscientemente presentes nos casos ditos degenerados se desenvolveu ou poderia terse desenvolvido mas que é encoberto pelo recalque Esse caráter eu o desencavo com meu trabalho e ele se debate e quem no início do tratamento era um sujeito excelente e franco tornase grosseiro mentiroso ou obstinado e se finge de doente até que lhe digo isso e desse modo tornase possível superar esse caráter Assim a resistência tornouse para mim uma coisa real e tangível desejaria também que em lugar do conceito de recalcamento eu já estivesse de posse daquilo que jaz oculto por trás dele Essa característica infantil desenvolvese durante o período de anseio intenso depois que a criança é afastada das experiências sexuais Ansiar ardentemente é o principal traço de caráter da histeria assim como a anestesia atual ainda que apenas potencial é o seu principal sintoma Durante esse mesmo período de anseio as fantasias são construídas e invariavelmente a masturbação é praticada dando lugar ao recalque posteriormente Quando ela não cede não há histeria a descarga da excitação sexual retira a possibilidade de haver histeria na maioria dos casos Para mim ficou claro que diversos movimentos obsessivos têm o significado de um substituto dos movimentos de masturbação abandonados CARTA 73 Minha análise prossegue e continua sendo o meu interesse principal Tudo é ainda obscuro até mesmo os problemas mas há um sentimento reconfortante de que é necessário tãosomente dar uma busca no depósito para encontrar mais cedo ou mais tarde aquilo de que se precisa O mais desagradável de tudo são os estados de humor que com freqüência ocultam totalmente a realidade Para alguém como eu também a excitação sexual já não tem serventia Mas ainda estou absolutamente satisfeito com ela Quanto aos resultados precisamente agora existe mais uma vez uma calmaria Você acha que a fala das crianças durante o sono também pode ser encarada como sonho Se é assim posso presenteálo com os mais recentes sonhos de realização de desejos Aninha um ano e meio de idade Um dia em Aussee ela teve de ficar sem comer porque passou mal de manhã o que foi atribuído ao fato de ter comido morangos Durante a noite seguinte ela recitou um cardápio inteiro no sono Molangos molangos silvestres omelete pudim Talvez eu já lhe tenha contado isso O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 167 CARTA 75 Era o dia 12 de novembro de 1897 O sol estava no quadrante leste Mercúrio e Vênus estavam em conjunção Não os anúncios de nascimento já não se fazem mais assim Foi a 12 de novembro um dia dominado por uma enxaqueca no lado esquerdo um dia em que à tarde Martin sentouse para escrever um novo poema e ao entardecer Oli perdeu seu segundo dente um dia em que após as terríveis dores de parto das últimas semanas dei à luz um novo conhecimento Não de todo novo para dizer a verdade esse conhecimento tinhase mostrado repetidas vezes e se havia retraído novamente 1 mas dessa vez permaneceu firme e fitou a luz do dia Coisa engraçada costumo ter um pressentimento dessas coisas um bom tempo antes Por exemplo certa vez lhe escrevi no verão Carta 64 em 1 atrás que eu estava por encontrar a fonte do recalcamento sexual normal moralidade vergonha etc e depois por longo tempo não consegui encontrála Antes das férias Carta 67 em 1 conteilhe que o paciente mais importante para mim era eu mesmo e então subitamente depois que voltei das férias minha autoanálise da qual até então não havia nenhum sinal 1 pôsse em andamento Há algumas semanas Carta 72 em 1 veiome o desejo de que o recalque pudesse ser substituído pela coisa essencial que jazia por trás dele e é disso que me ocupo agora Muitas vezes suspeitei de que alguma coisa orgânica desempenhava um papel no recalcamento certa vez antes disso disselhe que se tratava do abandono de zonas sexuais precedentes em 1 e 2 e acrescentei que me agradara encontrar uma idéia parecida em Moll Privatim confidencialmente a ninguém concedo prioridade na idéia no meu caso eu ligava essa idéia de recalque à modificação do papel desempenhado pelas sensações do olfato a adoção da postura ereta o nariz levantado do chão ao mesmo tempo que uma série de sensações que antes despertavam interesse e eram relacionadas à terra tornaramse repulsivas por um processo que ainda me é desconhecido Ele levanta o nariz considerase especialmente nobre Ora as zonas que não produzem mais uma liberação da sexualidade nos seres humanos normais e maduros certamente são as regiões da boca do ânus e da garganta Isto pode ser compreendido de duas maneiras primeiro a aparência e a idéia dessas zonas não mais produzem um efeito excitante e segundo as sensações internas originárias dessas zonas não proporcionam qualquer contribuição à libido de modo como fazem os órgãos sexuais propriamente ditos Nos animais essas zonas sexuais continuam em vigor sob ambos aspectos quando isso persiste também nos seres humanos o resultado é a perversão Devemos supor que na infância a liberação da sexualidade ainda não é tão localizada como o é posteriormente de modo que as zonas e talvez também toda a superfície do corpo que depois são abandonadas também provocam algo análogo à liberação posterior da sexualidade A extinção dessas zonas sexuais iniciais teria uma contrapartida na atrofia de determinados órgãos internos no decurso da evolução Uma liberação da sexualidade como você sabe tenho em mente uma espécie de secreção que é propriamente sentida como o estado interno da libido ocorre então não apenas 1 mediante estímulo periférico sobre os órgãos sexuais ou 2 mediante as excitações internas que surgem desses órgãos mas também 3 a partir de idéias isto é a partir de traços de memória portanto também por via de uma ação postergada Você já está familiarizado com essa linha de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 168 pensamento Se os genitais de uma criança foram excitados por alguém a lembrança disso anos depois produzirá por efeito retardado uma liberação de sexualidade muito mais intensa do que na época da excitação porque o aparelho efetor e a quantidade de secreção terão aumentado nesse meio tempo Assim uma ação nãoneurótica postergada pode ocorrer normalmente e esta gera a compulsão Nossas outras lembranças atuam habitualmente apenas porque atuaram como experiências A ação retardada dessa espécie ocorre também em conexão com as lembranças de excitações das zonas sexuais abandonadas O resultado porém é uma liberação não de libido mas de desprazer uma situação interna análoga à repugnância no caso de um objeto Dito em termos grosseiros a lembrança atual cheira mal assim como um objeto real cheira mal e assim como afastamos nosso órgão sensorial cabeça e nariz com repugnância também nossa préconsciência e nosso sentido consciente se afastam da lembrança Isto é o recalcamento O que então nos proporciona o recalcamento normal Algo que livre pode levar à angústia e psiquicamente ligado pode produzir rejeição ou seja a base afetiva para um semnúmero de processos intelectuais de desenvolvimento tais como a moralidade a vergonha etc Assim tudo isso surge à custa da sexualidade potencial extinta Disso podemos inferir que com as ondas sucessivas do desenvolvimento de uma criança esta é sobrecarregada de respeito vergonha essas coisas e vemos como a nãoocorrência dessa extinção das zonas sexuais pode produzir a insanidade moral como uma inibição do desenvolvimento Essas ondas sucessivas do desenvolvimento provavelmente possuem um ordenamento cronológico diferente nos sexos masculino e feminino A repugnância surge mais cedo nas meninas do que nos meninos Contudo a principal diferença entre os sexos emerge na época da puberdade quando as meninas são acometidas por uma repugnância sexual nãoneurótica e os meninos pela libido Pois nesse período extinguese nas adolescentes total ou parcialmente mais uma zona sexual que persiste nos adolescentes masculinos Estoume referindo à zona genital masculina a região do clitóris na qual durante a infância tanto nas meninas como nos meninos mostrase concentrada a sensibilidade sexual Daí a torrente de vergonha que avassala a adolescente nesse período até ser despertada a nova zona a zona vaginal seja espontaneamente seja por ação reflexa Daí também resultam talvez a anestesia nas mulheres o papel desempenhado pela masturbação nas crianças predispostas à histeria e a interrupção no caso de resultar a histeria E agora vejamos as neuroses As experiências ocorridas na infância quando afetam apenas os genitais nunca produzem neurose nos homens ou nas mulheres másculas mas somente masturbação compulsiva e libido Entretanto de vez que de modo geral as experiências da infância também afetam as duas outras zonas sexuais fica aberta também para os homens a possibilidade de que o despertar da libido através de uma ação retardada enseje o surgimento do recalque e da neurose Quando a lembrança reaviva uma experiência correlacionada com os genitais o que ela produz por ação retardada é a libido Quando reaviva uma experiência correlacionada com o ânus a boca etc produz repugnância interna retardada e o resultado final por conseguinte é que uma carga de libido não consegue como em geral acontece passar à ação ou à tradução em termos psíquicos em 1 mas é obrigada a deslocarse numa direção regressiva como acontece nos sonhos Ao que parece a libido e a repugnância estariam associativamente vinculadas À O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 169 libido devemos o fato de que a lembrança não consegue produzir um desprazer generalizado etc mas encontra um uso psíquico e à repugnância devemos o fato de que esse uso só produz sintomas não produz idéias orientadas para um objetivo Assim sendo não deve ser difícil apreender o lado psicológico dessa questão o fator orgânico existe nela quer o abandono das zonas sexuais se efetue segundo o tipo masculino ou feminino de desenvolvimento quer esse abandono absolutamente não ocorra É provável portanto que a escolha da neurose a decisão quanto à emergência da histeria da neurose obsessiva ou da paranóia dependa da natureza da onda de desenvolvimento ou seja de sua localização cronológica que possibilita a ocorrência do recalcamento isto é que transforma uma fonte de prazer interno em uma fonte de repugnância interna Foi esse o ponto a que cheguei com todas as obscuridades aí envolvidas Decidi pois daqui por diante considerar como fatores separados o que causa a libido e o que causa a angústia E também abandonei a idéia de explicar a libido como o fator masculino e o recalcamento como o fator feminino Cf em 1 De qualquer modo estas são decisões importantes A obscuridade está principalmente na natureza da modificação pela qual a sensação interna de necessidade se transforma em sensação de repugnância Não há por que eu chamar sua atenção para outros pontos obscuros O valor principal da síntese está no fato de ela unir em um só o processo neurótico e o processo normal Existe agora portanto uma necessidade premente de elucidar prontamente a angústia neurastênica comum Minha autoanálise ainda está interrompida e compreendi qual a razão Só consigo analisarme com o auxílio do conhecimento adquirido objetivamente como um observador externo A verdadeira autoanálise é impossível não fosse assim não haveria nenhuma doença neurótica Visto que ainda encontro alguns enigmas em meus pacientes eles estão fadados a retardar também a mim em minha autoanálise CARTA 79 Comecei a compreender que a masturbação é o grande hábito o vício primário e que é somente como sucedâneo e substituto dela que outros vícios álcool morfina tabaco etc adquirem existência O papel desempenhado por esse vício na histeria é imenso e talvez aí se encontre no todo ou em parte o meu grande obstáculo que ainda resiste Naturalmente nisto surge a dúvida de saber se um vício dessa espécie é curável ou se a análise e a terapia nesse ponto sofreriam uma parada e deveriam contentarse em transformar um caso de histeria em um caso de neurastenia No que concerne à neurose obsessiva está confirmado o fato de que a localização em que o recalcado irrompe é a representação da palavra e não o conceito vinculado à mesma Mais precisamente a memória verbal Por isso é que as coisas mais díspares são prontamente unidas numa idéia obsessiva sob uma única palavra possuidora de mais de um significado A tendência à irrupção utilizase de uma palavra que tenha essa espécie de ambigüidade com seus diversos significados como se se estivessem matando O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 170 diversas moscas com um só golpe Veja por exemplo o caso que passo a expor Uma moça que estava freqüentando uma escola de corte e costura e estava perto da conclusão do seu curso era atormentada por essa idéia obsessiva Não você não deve ir embora você ainda não terminou você deve fazer machen mais precisa aprender muito mais Por trás disso estava uma lembrança de cenas de infância em que ela era colocada no urinol mas queria ir embora e era submetida à mesma compulsão Você não pode ir embora ainda não terminou precisa fazer machen mais A palavra machen que significa fazer possibilitou juntara situação posterior e a situação infantil As idéias obsessivas muitas vezes revestemse de uma extraordinária imprecisão verbal a fim de permitir esse emprego múltiplo Se examinarmos de modo mais atento consciente esse exemplo encontraremos paralelamente a frase você precisa aprender mais que depois tornouse a idéia obsessiva fixa e surgiu através de uma interpretação equivocada desse tipo por parte do consciente Isso não é inteiramente arbitrário A própria palavra machen passou por uma transformação análoga em seu significado Uma antiga fantasia minha que eu gostaria de recomendar à sua sagacidade lingüística ocupase da derivação de nossos verbos de termos originalmente coproeróticos como este Mal posso enumerar para você todas as coisas que eu um Midas moderno transformo em excremento Isso se ajusta perfeitamente à teoria do mau cheiro interno em 1 Dinheiro acima de tudo Penso que a associação se faz através da palavra sujo como sinônimo de avarento Do mesmo modo tudo o que se relaciona com nascimento aborto e menstruação remonta a privada através da palavra Abort privada latrina Abortus aborto Isso está muito desconjuntado mas é inteiramente análogo ao processo pelo qual as palavras assumem um significado transferido tão logo aparecem novos conceitos que exigem designação Você viu alguma vez um jornal estrangeiro que tenha passado pela censura russa na fronteira Palavras orações e frases inteiras são obliteradas de modo que o que resta se torna ininteligível Uma censura russa desse tipo se efetua nas psicoses e produz os delírios aparentemente sem sentido CARTA 84 Não foi uma façanha nada insignificante de sua parte ver o livro dos sonhos concluído diante de você Ele sofreu uma interrupção novamente e nesse meio tempo o problema foi aprofundado e ampliado Pareceme que a teoria da realização de desejos trouxe apenas a solução psicológica e não a biológica ou melhor a metafísica Aliás vou perguntarlhe com seriedade se posso usar o nome de metapsicologia para minha psicologia que vai além da consciência Biologicamente pareceme que a vida onírica deriva inteiramente dos resíduos do período préhistórico da vida entre um e três anos de idade o mesmo período que é a fonte do inconsciente e que sozinho contém a etiologia de todas as psiconeuroses o período caracterizado por uma amnésia análoga à amnésia histérica Pareceme coerente a seguinte fórmula O que é visto no período préhistórico produz sonhos o que é ouvido nesse mesmo período produz fantasias o que é experimentado sexualmente ainda no mesmo período produz as psiconeuroses A repetição daquilo que foi O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 171 experimentado nesse período é em si mesma a realização de um desejo um desejo recente só conduz a um sonho quando consegue estar em conexão com material proveniente desse período préhistórico quando o desejo recente é um derivado préhistórico Ainda resta examinar até que ponto serei capaz de aterme a essa teoria extremada e até que ponto poderei expôla no livro dos sonhos CARTA 97 Comecei um caso novo de modo que o estou abordando sem qualquer conclusão antecipada De início como é natural tudo se ajusta maravilhosamente Tratase de um homem jovem de vinte e cinco anos que mal consegue caminhar por causa da rigidez das pernas espasmos tremores etc Uma salvaguarda contra qualquer diagnóstico incorreto é proporcionada pela angústia concomitante que o faz manterse agarrado às saias da mãe como o bebê que se esconde atrás desse homem A morte de seu irmão e a morte do pai portador de uma psicose precipitaram o início de seu estado que esteve presente desde a idade de quatorze anos Sentese envergonhado diante de qualquer pessoa que o veja caminhando dessa maneira e considera isso natural Seu modelo é um tio tabético como qual já se identificava quando tinha treze anos por causa da etiologia aceita levar uma vida dissoluta Aliás ele tem compleição de um verdadeiro urso Por favor observe que a vergonha está simplesmente apensa aos sintomas e deve relacionarse com outros fatores desencadeantes Espontaneamente ele disse que o tio não se sentia nem um pouco envergonhado de seu modo de andar A relação entre a vergonha e seu modo de caminhar foi uma relação racional há muitos anos quando ele teve gonorréia o que naturalmente era perceptível em seu andar e também até mesmo alguns anos antes quando as ereções constantes sem objetivo interferiam no seu andar Além disso a causa de sua vergonha era mais profunda Contoume ele que no ano passado quando estavam morando junto ao rio Wien no campo que de repente começou a subir ele foi tomado de terrível medo de que a água pudesse chegar até dentro do seu quarto ou seja de que seu quarto fosse inundado durante a noite Observe por favor a ambigüidade da expressão eu sabia que ele sofrera de enurese quando criança Cinco minutos depois contoume espontaneamente que na época em que freqüentava o curso primário ele ainda urinava na cama regularmente que sua mãe o ameaçava de contar isso aos professores e aos outros meninos Ele sentira uma angústia enorme De modo que é aí que se situa sua vergonha Toda a história de sua adolescência por um lado tem seu clímax nos sintomas da perna e por outro libera o afeto pertencente a essa fase ambos afeto esintomas vinculamse somente pela sua percepção interna No espaço entre os dois inserese toda a história perdida de sua infância Ora uma criança que urinou regularmente na cama até os sete anos de idade sem ser epiléptica ou algo parecido deve ter tido experiências sexuais no início da infância Espontâneas ou por sedução Esta é a situação que deve encerrar também os fatores causais mais precisos relativos a suas pernas CARTA 101 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 172 Em primeiro lugar uma pequena parte de minha autoanálise progrediu e confirmou que as fantasias são produtos de períodos posteriores e são projetadas para o passado desde o que era então o presente até épocas mais remotas da infância o modo como isso ocorre também emergiu mais uma vez um vínculo verbal À pergunta O que aconteceu nos primórdios da infância a resposta é nada Mas o embrião de um impulso sexual estava lá Seria fácil e maravilhoso contarlhe como é a coisa mas seria necessária uma meia dúzia de páginas para eu escrever tudo isso por extenso e por isso vou guardálo para nosso encontro na Páscoa com algumas outras informações a respeito de meus primeiros anos de vida Além disso encontrei um outro elemento psíquico que considero ter significado geral e ser uma fase preliminar dos sintomas anterior mesmo à fantasia 4 de janeiro Ontem fiquei cansado e hoje não consigo continuar escrevendo de acordo com o que pretendia porque a coisa está crescendo Há qualquer coisa aí Está começando a despontar Nos próximos dias por certo haverá algum acréscimo Então quando a coisa ficar aclarada eu lhe escreverei Apenas lhe revelarei que o padrão onírico é passível da mais genérica aplicação e que também compreendo por que a despeito de todos os meus esforços ainda não concluí o livro dos sonhos Se eu esperar um pouco mais conseguirei descrever o processo mental que ocorre nos sonhos de tal maneira que ele também inclua o processo que ocorre na formação dos sintomas histéricos Portanto esperemos CARTA 102 Algumas outras coisas de menor importância vieram à luz por exemplo que as dores de cabeça histéricas baseiamse numa analogia na fantasia que iguala a parte superior com a extremidade inferior do corpo cabelo em ambos os lugares bochechas Backen e nádegas Hinterbacken literalmente bochechas de trás lábios Lippen e labia Schamlippen literalmente lábios da vergonha boca vagina de forma que um ataque de enxaqueca pode ser utilizado para representar um defloramento forçado embora ao mesmo tempo toda a indisposição também represente uma situação de realização de desejo A ação determinante da sexualidade tornase sempre mais clara Em uma paciente em que determinei exatamente a fantasia havia constantes estados de desespero com uma convicção melancólica de que ela não valia nada era incapaz de fazer qualquer coisa etc Sempre pensei que no início de sua infância ela houvesse testemunhado um estado análogo uma melancolia verdadeira em sua mãe Isso concordava com a teoria anterior mas dois anos não trouxeram nenhuma confirmação E agora se verificou que quando ela era uma adolescente de quatorze anos descobriu que tinha atresia hymenalis hímen imperfurado e ficou desesperada imaginando que não serviria para esposa melancolia isto é temor da impotência Outros estados em que não consegue decidirse quanto à escolha de um chapéu ou um vestido originamse de sua luta na época em que teve de escolher um marido Com uma outra paciente convencime de que realmente existe algo a que se pode chamar O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 173 melancolia histérica e quais são suas manifestações Também verifiquei como a mesma lembrança aparece nas mais diferentes versões e ainda obtive um primeiro vislumbre da melancolia que ocorre por soma Essa paciente além disso é totalmente anestésica como deveriamesmo ser de conformidade com uma idéia que data do período inicial do meu trabalho referente às neuroses em 1 Sobre uma terceira mulher obtive essa informação interessantíssima Um homem importante e rico um diretor de banco com cerca de sessenta anos de idade veio verme e me entreteve descrevendo as características de uma jovem com quem tem uma liaison Arrisquei um palpite de que ela seria provavelmente muito frígida Pelo contrário ela tem quatro a seis orgasmos durante um só coito Maslogo na primeira abordagem ela é tomada de tremores e imediatamente depois cai num estado de sono patológico enquanto se encontra nesse estado fala como se estivesse em hipnose executa sugestões póshipnóticas e tem completa amnésia quanto a todo esse estado Ele está para se casar com ela e ela certamente será frígida com o marido Esse cavalheiro idoso pela possibilidade de ser identificado como o pai imensamente poderoso da infância dela surte evidentemente o efeito de poder liberar a libido dela ligada às fantasias Instrutivo CARTA 105 Minha última generalização mostrouse válida e parece que tende a crescer até uma dimensão imprevisível Não só os sonhos são realizações de desejos os ataques histéricos também o são Isso se aplica aos sintomas histéricos mas provavelmente também a todos os eventos neuróticos pois constateio há muito tempo na insanidade delirante aguda Realidade realização de desejos É desse par de opostos que brota nossa vida mental Penso que agora sei o que é que determina a diferença entre os sonhos e os sintomas que emergem na vida desperta Para um sonho é suficiente que ele seja a realização de desejo de um pensamento recalcado pois os sonhos são mantidos longe da realidade Mas um sintoma que está inserido no meio da vida precisa constituir algo mais além disso precisa ser também a realização de desejo do pensamento recalcador O sintoma surge ali onde o pensamento recalcado e o pensamento recalcador conseguem juntarse na realização do desejo Um sintoma é a realização de desejo do pensamento recalcadorquando por exemplo o sintoma constitui uma punição uma autopunição a substituição final da autogratificação da masturbação Essa chave abre muitas portas Você sabe por exemplo porque XY padece de vômitos histéricos Porque na fantasia ela está grávida porque ela é tão insaciável que não consegue tolerar o fato de não ter um bebê também de seu último amante em sua fantasia Mas ela também tem de vomitar porque nesse caso passará a fome e ficará magra perderá sua beleza e não mais será atraente para ninguém Assim o sentido do sintoma é um par contraditório de realizações de desejos 1 Você sabe por que nosso amigo E que você conhece enrubesce e começa a suar assim que vê alguém de uma determinada categoria de conhecidos especialmente no teatro Ele sente vergonha Sem dúvida Mas de quê De uma fantasia na qual ele figura como o deflorador de toda pessoa que encontra Ele transpira porque deflora trabalho muito pesado o dele Um eco desse significado encontra expressão nele tal como o ressentimento de alguém que é derrotado a cada vez que ele se sente envergonhado diante de uma O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 174 mulher Ora essa estúpida pensa que tenho vergonha dela Se eu a tivesse numa cama ela iria ver como não me sinto nada constrangido com ela E a ocasião em que canalizou seus desejos para essa fantasia deixou sua marca no complexo psíquico que produz o sintoma Foi a aula de latim O auditório do teatro lembralhe a sala de aula ele sempre procura ocupar o mesmo assento de costume na fila da frente O entracte é o recreio dos tempos de escola e o suar significa o operam dare trabalhar daqueles tempos Ele teve uma discussão com o professor a respeito dessa expressão Ademais não consegue esquecer o fato de que depois na universidade foi reprovado em botânica e prossegue nisso agora como deflorador É verdade que ele deve à sua infância a capacidade de lavarse em suor à época em que tendo ele três anos seu irmão despejoulhe em cima água do banho e jogou espuma de sabão em seu rosto quando ele estava no banho um trauma embora não trauma sexual E por que é que em Interlaken quando tinha quatorze anos ele se masturbou numa atitude tão especial no WC Foi só para conseguir dar uma espiada no Jungfrau literalmente a virgem e a partir de então nunca mais viu uma outra pelo menos ad genitaliaEvitou isso intencionalmente é claro de outro modo por que só teria casos amorosos com atrizes CARTA 125 Há não muito tempo tive o que pode ter sido um primeiro vislumbre de alguma coisa nova Tenho diante de mim o problema da escolha da neurose Quando é que uma pessoa se torna histérica em vez de paranóica Uma primeira tentativa rudimentar feita na época em que eu tentava à força tomar de assalto a cidadela deume a impressão de que essa escolha dependia da idade em que ocorreram os traumas sexuais da idade que a pessoa tinha na época da experiência Cf em 1 Abandonei há muito tempo esse ponto de vista e fiquei sem meio de solucionar a questão até há poucos dias quando comecei a compreender um elo da teoria da sexualidade A camada sexual mais inferior é o autoerotismo que age sem qualquer objetivo psicossexual e exige somente sensações locais de satisfação Depois dele vem o aloerotismo homo e heteroerotismo mas ele certamente também continua a existir como uma corrente separada A histeria e sua variante a neurose obsessiva é aloerótica sua via principal é a identificação restabelece todas as figuras amadas da infância que foram abandonadas cf minha exposição sobre os sonhos de exibicionismo e dissolve o próprio ego em figuras externas Assim cheguei a considerar a paranóia como uma irrupção da corrente autoerótica como um retorno à posição então prevalente A perversão correspondente a ela seria o que se conhece como loucura idiopática As relações especiais do autoerotismo com o ego original projetariam viva luz sobre a natureza dessa neurose Nesse ponto o fio se interrompe O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 175 PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTÍFICA 1950 1895 INTRODUÇÃO DO EDITOR INGLÊS ENTWURF EINER PSYCHOLOGIE a EDIÇÃO ALEMÃ 1950 Em Aus den Anfängen der Psychoanalyse Dos Primórdios da Psicanálise organizada por Marie Bonaparte Anna Freud e Ernst Kris 371466 Londres Imago Publishing Co a TRADUÇÃO INGLESAProject for a Scientific Psychology 1954 Em The Origins of PsychoAnalysis pelos mesmos organizadores 347445 Londres Imago Publishing Co Nova Iorque Basic Books Tradução de James Strachey A presente tradução inglesa também de James Strachey foi completamente revisada e editada segundo o manuscrito original O título alemão Esboço de uma Psicologia foi escolhido pelos compiladores dos Anfänge o título inglês é escolha do tradutor O original não tem título 1 Resumo Histórico Em carta escrita a Wilhelm Fliess com data de 27 de abril de 1895 Freud 1950a Carta O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 176 23 Freud se queixa de estar demasiadamente absorvido pela sua Psicologia para Neurologistas Sintome literalmente devorado por ela a ponto de ficar exausto e me ver obrigado a interromper Nunca passei por uma preocupação tão grande assim E dará algum resultado Espero que sim mas é um trabalho difícil e lento Um mês depois em outra carta datada de 25 de maio de 1895 Carta 24 essa psicologia fica mais explicada Ela temme acenado à distância desde tempos imemoriais mas agora que deparei com as neuroses tornouse muito mais próxima Vivo atormentado por duas intenções descobrir que forma tomará a teoria do funcionamento psíquico se nela for introduzido um método de abordagem quantitativo uma espécie de economia de força nervosa e em segundo lugar extrair da psicopatologia tudo o que puder ser útil à psicologia normal É de fato impossível conceber uma noção geral satisfatória dos distúrbios neuropsicóticos a menos que se possa relacionálos a hipóteses claras sobre os processos psíquicos normais Venho dedicando todos os meus minutos livres dessas últimas semanas a esse trabalho passo as noites das onze até as duas horas da madrugada a imaginar comparar e fazer conjecturas desse gênero e só desisto quando chego a uma conclusão absurda ou fico tão irremediavelmente exausto que perco todo o interesse pela minha atividade médica cotidiana Mas você ainda terá que esperar muito tempo por qualquer resultado Ele não demorou muito porém a se mostrar mais otimista em 12 de junho Carta 25 já comunicava que a construção psicológica parece em vias de obter êxito o que me daria enorme prazer É claro que por enquanto nada posso afirmar com certeza Fazer uma comunicação disso agora equivaleria a levar a um baile um feto feminino de seis meses E em 6 de agosto Carta 26 ele anuncia que após longas reflexões creio ter chegado à compreensão da defesa patológica e ao mesmo tempo de muitos processos psicológicos importantes Mas logo surgem novos obstáculos Em 16 de agosto Carta 27 escreve Tive uma estranha experiência com a minha fyw Pouco depois de comunicar a você a sensacional novidade conclamando suas felicitações pela escalada de um pico secundário eis que esbarrei em novas dificuldades e constatei que não me restava fôlego suficiente para a nova tarefa Por isso decidime prontamente pus de lado todo o alfabeto e me convenci de que não tenho mais o menor interesse pelo assunto E depois na mesma carta A Psicologia representa positivamente uma cruz para mim Seja como for jogar boliche e colher cogumelos são atividades muito mais saudáveis Afinal eu queria apenas explicar a defesa mas quando dei por mim estava tentando explicar algo que pertence ao próprio núcleo da natureza Tive de elaborar os problemas da qualidade do sono da memória em suma a psicologia inteira Agora não quero mais ouvir falar nisso Pouco depois em 4 de setembro segundo conta Ernest Jones 1953418 Freud foi visitar Fliess em Berlim As conversas com o amigo evidentemente ajudaramno a aclarar as idéias pois a redação do Projeto foi iniciada logo em seguida Literalmente em seguida pois segundo escreve Freud em 23 de setembro Carta 28 enquanto ainda estava no trem comecei um breve resumo da minha fyw para submeter à sua apreciação Resumo que efetivamente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 177 constitui as primeiras folhas escritas a lápis do Projeto tal como o possuímos hoje Passa então a descrever a marcha do trabalho iniciado durante a viagem Já tenho um volume considerável de meros rabiscos é lógico nos quais deposito grande esperança Meu cérebro descansado agora encara como brincadeira as dificuldades acumuladas É na data de 8 de outubro que Freud envia a Fliess em dois cadernos o que já tinha completado Carta 29 Elas foram inteiramente rascunhadas depois de minha volta e lhe dirão pouca coisa a título de novidade Conservei comigo um terceiro caderno que trata da psicopatologia do recalcamento porque ele só leva o assunto até certo ponto A partir daí vime forçado a reiniciar todo o trabalho em esboços e tenho estado ora orgulhoso e contente com ele ora envergonhado e deprimido até agora depois de um excesso de tormentos mentais digo a mim mesmo apaticamente que o material ainda não se coaduna e talvez nunca venha a se coadunar O que não consigo enquadrar não é o mecanismo para isso não me faltaria paciência mas sim a explicação do recalcamento embora digase de passagem tenha efetuado grandes progressos no que tange a seu conhecimento clínico Uma semana depois no dia 15 de outubro Carta 30 o assunto é mais uma vez posto de lado por falta de solução mas em 20 de outubro Carta 32 Freud já se manifesta muito mais otimista Durante uma noite em que estive muito ocupado de repente as barreiras caíram por terra os véus se desfizeram e me foi possível enxergar desde os detalhes das neuroses até os determinantes da consciência Tudo pareceu encaixarse e as engrenagens se ajustavam dando a impressão de que o conjunto era realmente uma máquina que logo começaria a andar sozinha Os três sistemas de neurônios as condições livre e ligada da quantidade os processos primário e secundário as tendências principal e de compromisso do sistema nervoso as duas regras biológicas da atenção e da defesa as indicações de qualidade realidade e pensamento o estado dos grupos psicossexuais a determinação sexual do recalcamento e por fim os determinantes da consciência como função perceptiva tudo isso se coadunava e ainda se coaduna É claro que mal posso conter minha alegria Mas o acesso de entusiasmo teve curta duração No dia 8 de novembro Carta 35 ele comunicou ter jogado todos os manuscritos da psicologia dentro de uma gaveta onde ficarão dormindo até 1896 Sentirase esgotado pelo trabalho irritado confuso e incapaz de dominar o assunto e por isso preferia deixálo de lado e se ocupar de outras questões E em 29 de novembro Carta 36 escreveu Já não posso compreender o estado de ânimo em que concebi a Psicologia nem consigo entender como fui capaz de importunar você com isso Mesmo assim decorrido apenas um mêsremeteu a Fliess a longa carta de 1º de janeiro de 1896 Carta 39 que consiste em linhas gerais na elaborada revisão de algumas das posições fundamentais adotadas no Projeto Esse texto será reproduzido em apêndice no próprio Projeto E desde então o Projeto desaparece de vista até ressurgir cerca de cinqüenta anos mais tarde no meio das cartas esquecidas que Freud escreveu a Fliess Só que as idéias nele contidas persistiram e por fim floresceram nas teorias da psicanálise 2 O Texto e Sua Tradução O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 178 Tal como indica a bibliografia atrás em 1 a primeira versão publicada do texto alemão da obra incluída em Aus den Anfängen der Psychoanalyse foi lançada em Londres em 1950 e a tradução inglesa apareceu quatro anos mais tarde Houve certas dúvidas quanto à precisão da versão alemã publicada tornandose evidente que antes de se proceder a uma tradução revisada seria imprescindível fixar um texto alemão definitivo Isso só foi possível graças à gentileza de Ernst Freud que se encarregou de tirar fotocópias do manuscrito colocandoas à inteira disposição do editor O exame do manuscrito logo confirmou a existência de inúmeras divergências em relação à versão publicada O tradutor se viu assim na situação diversa da que tinha enfrentado para verter a maior parte das obras de Freud onde o leitor que alimenta dúvidas ou desconfianças a respeito da fidelidade da tradução pode quase sempre recorrer a um texto alemão confiável Aqui infelizmente não existe tal texto publicado só sendo possível obtêlo mediante um facsímile do manuscrito original De modo que o tradutor arca inevitavelmente com uma responsabilidade especial e absoluta pois o leitor fica inteiramente à mercê dele e o tratamento do texto tem que se adaptar a essa situação Seu critério deve obedecer a duas considerações conseguir apresentar algo que seja inteligível fluente e com um estilo inglês aceitável além de reproduzir a intenção do autor da maneira mais exata possível Esses dois objetivos muitas vezes entram em conflito mas no caso de uma obra tão difícil e importante como esta e nas circunstâncias que acabamos de mencionar a tradução precisa optar mais do que nunca pela fidelidade A letra de Freud nesse caso específico não é muito difícil de ser decifrada por quem já esteja familiarizado com os caracteres góticos e não existem realmente muitos pontos discutíveis no texto propriamente dito Podese aliás afirmar que Freud tal como Ben Jonson disse de Shakespeare nunca riscou uma linha e as páginas de seus manuscritos se sucedem completamente livres de alterações no Projeto em cerca de quarenta mil palavras do mais conciso raciocínio existem ao todo apenas vinte e poucas correções De modo que não é em relação às questões textuais que surgem os problemas e as dúvidas embora como se verá haja uma série de omissões e equívocos acidentais no texto publicado e sim em relação à interpretação de expressões usadas por Freud e à melhor forma de apresentálas ao leitor Comecemos pelos aspectos mais simples Freud não foi um escritor meticuloso ocorre assim um determinado número de deslizes óbvios corrigidos sem comentário em nossa versão exceto quando o erro é discutível ou de especial importância A pontuação não é sistemática às vezes faltam vírgulas ou não se fecham alguns parênteses e seja como for em geral não coincide com as normas inglesas Isso também se aplica à mudança de parágrafos que além do mais nem sempre é fácil de determinar Em nossa versão portanto não julgamos necessário respeitar rigorosamente o original em nenhum desses aspectos Em compensação mantivemonos invariavelmente fiéis ao método extremamente pessoal e muito pouco inglês com que Freud O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 179 sublinha toda palavra oração ou frase a que atribui suma importância Para outro de seus expedientes para imprimir ênfase o de escrever uma palavra ou oração em caracteres latinos em vez de caracteres góticos julgamos desnecessário acrescentar uma nota de rodapé Na maioria desses casos por sinal nosso modo de proceder coincide com o observado nos Anfänge Mas o maior problema causado pelo manuscrito de Freud é o uso de abreviaturas São dos mais variados gêneros Atingem o máximo nas primeiras quatro páginas e meia o trecho escrito a lápis no trem Não que esteja redigido com menos nitidez do que o resto pelo contrário Mas não só as palavras isoladas se acham abreviadas como acontece com freqüência em todo o manuscrito como também as próprias frases estão escritas em estilo telegráfico faltam artigos definidos e indefinidos e há orações que omitem o verbo principal Eis por exemplo a tradução literal da primeira frase da obra Intenção de fornecer psic naturalcientífica ie representar processos psic como quant determinar estados de partículas matérias especificáveis para assim tornar compreensível e livre de contradições Onde o sentido não admite dúvidas a solução óbvia é preencher as lacunas indicando entre colchetes unicamente as conclusões menos certas quanto ao sentido Depois dessas primeiras quatro páginas e meia operase uma mudança radical a partir daí as abreviaturas ficam quase que inteiramente restritas a palavras isoladas Aqui porém cumpre observar novas distinções a Em primeiro lugar há naturalmente abreviaturas de uso universal por exemplo usw para und so weiter etc e u para und e b Existem também outras usadas sistematicamente por Freud em seu manuscrito tais como ao abreviar sufixos em ung e em ungen para g e gen Besetzg para Besetzung catexia c Depois vêm as abreviaturas de termos especiais usados com muita freqüência na obra ou em determinados trechos dela Uma bem típica é Cschr que substitui Contactschranke barreira de contacto Essa palavra quando aparece pela primeira vez está escrita por extenso mas depois só surge em forma abreviada O mesmo acontece com termos freqüentes como Qualz que substitui Qualitätszeichen indicação de qualidade Em todos esses tipos de abreviatura não há evidentemente vantagem em aborrecer o leitor reproduzindoas na tradução jamais ocorre a menor dúvida quanto ao que Freud quer dizer com elas d Agora chegamos àquilo que se assemelha mais a símbolos do que a abreviaturas os sinais alfabéticos de que Freud tanto gostava por exemplo N para Neuron neurônio W para Wahrnehmung percepção V para Vorstellung idéia A estes podese ainda acrescentar Er a abreviatura que ele tanto usou para Erinnerung memória Todas estas são usadas por Freud com grande freqüência embora de vez em quando e incoerentemente escreva as palavras por extenso Já que aqui mais uma vez não existem dúvidas quanto ao sentido adotamos uniformemente a forma não abreviada e Ainda resta porém uma quinta categoria à qual isso não se aplica As letras gregas f y e w phi psi e ômega são usadas por Freud neste trabalho como sinais estenográficos para noções bastante complexas devidamente explicadas quando introduzidas por conseguinte ficaram inalteradas em nossa tradução O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 180 Eis uma teoria plausível a respeito de w e de sua relação com W Freud começara com dois sistemas de neurônios que por motivos relativamente óbvios chamou de f e y Depois descobriu que precisava de um símbolo para um terceiro sistema de neurônios relacionado com as percepções Ora por um lado o mais apropriado seria outra letra grega como as duas anteriores tirada talvez do fim do alfabeto Por outro lado seria aconselhável que fizesse certa alusão à percepção Como vimos a maiúscula W substitui percepção Wahrnehmung e a letra grega ômega se parece muito com o w minúsculo Por isso ele escolheu o w para o sistema perceptual O chiste ou pelo menos metade dele desaparece em inglês mas mesmo assim julgamos mais aconselhável manter o w do que adotar o pcpt que é o nome dado ao sistema em todos os volumes subseqüentes da Standard Edition A distinção entre W e é praticamente inconfundível no manuscrito de Freud contudo o defeito mais grave dos Anfänge talvez seja o de não observála com a devida freqüência às vezes com resultados desastrosos para o sentido O último de todos esses sinais alfabéticos é o Q e seu misterioso companheiro Qh Ambos indubitavelmente simbolizam quantidade Mas qual a razão dessa diferença E acima de tudo por que o eta grego com o espírito brando Não resta dúvida de que a diferença existe embora Freud não a indique nem a explique em parte alguma A certa altura em 1 começou a escrever Qh e depois riscou h e em outro trecho em 1 fala de uma quantidade composta de Q e Qh Mas na verdade apenas uma página antes em 1 ele parece finalmente explicar a diferença Q ao que tudo indica é a quantidade externa e Qh a quantidade psíquica embora a redação não deixe de ter sua dose de ambigüidade Cumpre acrescentar que o próprio Freud às vezes se mostra incoerente no uso desses sinais e freqüentemente escreve a palavra Quantität por extenso ou ligeiramente abreviada É óbvio que o leitor terá que encontrar sua própria solução para o enigma nós nos limitamos a respeitar escrupulosamente o manuscrito escrevendo Q Qh ou quantidade De modo geral realmente como já ressaltamos mantevese a máxima fidelidade possível ao original onde divergimos em aspectos importantes e sempre que surgiram dúvidas sérias o fato ficou registrado entre colchetes ou em nota de rodapé É nesse sentido que divergimos fundamentalmente dos organizadores dos Anfänge que fazem todas as suas modificações sem o menor tipo de advertência Em vista disso julgamos necessário sempre que nossa versão diverge substancialmente do texto dos Anfänge apresentar o original alemão em nota de rodapé As imprecisões de menor gravidade como por exemplo os freqüentes equívocos entre Q e Qh ficaram sem comentário mas ainda assim a necessidade de corrigir os inúmeros erros cometidos na versão publicada em alemão nos acarretou um excesso de notas de rodapé Sem dúvida muitos leitores ficarão irritados com isso mas desse modo os que possuem edição alemã poderão comparála de perto com o manuscrito original Assim as circunstâncias O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 181 excepcionais talvez justifiquem nosso aparente pedantismo 3 A Importância do Trabalho Terá valido a pena tomar medidas tão complicadas com o texto do Projeto O próprio Freud com toda a probabilidade diria não Depois de redigilo em duas ou três semanas deixouo inacabado não lhe poupando críticas na época em que o escrevia Mais tarde parece têlo esquecido ou pelo menos nunca mais fez referência a ele E quando na velhice veio a reencontrálo procurou destruílo de todos os modos Como pode então ter algum valor Há motivos para pensar que o autor passou a ter uma visão deturpada do trabalho e seu valor pode ser definido de duas maneiras bem diversas Quem examinar os índices biográficos dos volumes posteriores da Standard Edition terá a surpresa de encontrar em cada um deles referências não raro profusas às cartas a Fliess e ao Projeto E como corolário verificará nas notas de rodapé das páginas que se seguem muitas referências aos volumes posteriores da Standard Edition Essa circunstância é expressão da admirável verdade de que o Projeto apesar de ser manifestamente um documento neurológico contém em si o núcleo de grande parte das teorias psicológicas que Freud desenvolveria mais tarde Nesse sentido sua descoberta não tem apenas interesse histórico na verdade esclarece pela primeira vez algumas hipóteses fundamentais mais obscuras de Freud O auxílio que o Projeto dá à compreensão do sétimo capítulo teórico de A Interpretação dos Sonhos está comentado com certa minúcia na Introdução do Editor Inglês àquela obra Edição Standard Brasileira Vol IV 1 IMAGO Editora 1972 Mas na realidade o Projeto ou melhor seu espírito invisível paira sobre toda a série de obras técnicas de Freud até o fim O fato de haver muitos elos de ligação evidentes entre o Projeto e os conceitos posteriores de Freud não deve porém levarnos a esquecer as diferenças básicas entre eles Em primeiro lugar logo se evidenciará que de fato há pouquíssimas coisas nestas páginas que antecipam os procedimentos técnicos da psicanálise A livre associação de idéias a interpretação do material inconsciente e a transferência são apenas insinuadas Só nos trechos sobre os sonhos é que há alguma antecipação dos desenvolvimentos clínicos posteriores O material clínico está de fato em grande parte restrito à parte II que trata da psicopatologia As partes I e III se compõem em geral de princípios teóricos e a priori Nesse sentido manifestase um novo contraste Enquanto a sexualidade tem grande proeminência na parte clínica praticamente independente parte II nas partes teóricas partes I e III ela já desempenha um papel secundário Na verdade na época em que Freud redigia o Projeto suas pesquisas clínicas das neuroses se concentravam principalmente na sexualidade Convém lembrar que no mesmo dia 1º de janeiro de 1896 em que ele enviou a Fliess a extensa carta revisando certos princípios teóricos do Projeto em 1 adiante também lhe remeteu o Conto de Fadas Natalino em 1 que constitui um estudo preliminar para seu artigo sobre as neuropsicoses de defesa 1896b e que enfocam os efeitos das experiências sexuais Essa incômoda separação entre a importância clínica O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 182 e teórica da sexualidade só viria a ser solucionada um ou dois anos depois pela autoanálise de Freud que o levou ao reconhecimento da sexualidade infantil e à importância fundamental dos ímpetos pulsionais inconscientes Isso trás à baila outra grande diferença entre as teorias de Freud no Projeto e suas teorias posteriores Aqui a ênfase está colocada exclusivamente no impacto do meio sobre o organismo e na reação do organismo ao meio É verdade que além dos estímulos externos existem excitações endógenas mas a natureza dessas excitações não é objeto de muitas considerações As pulsões são apenas entidades indefinidas que mal recebem um nome O interesse pelas excitações endógenas se restringe em geral às operações defensivas e seus mecanismos O mais curioso é que o que posteriormente constituiria o quase onipotente princípio do prazer seja aqui encarado unicamente como mecanismo de inibição Efetivamente mesmo em A Interpretação dos Sonhos publicada quatro anos depois ele ainda é sempre chamado de princípio do desprazer As forças internas dificilmente representam mais do que reações secundárias às externas O id de fato ainda estava por ser descoberto Levando isso em conta podemos talvez chegar a um ponto de vista mais geral sobre a evolução das teorias de Freud O que temos no Projeto é uma descrição préid defensiva da mente Com o reconhecimento da sexualidade infantil e a análise das pulsões sexuais o interesse de Freud se desviou da defesa e durante cerca de vinte anos concentrouse extensamente no estudo do id Só quando esse estudo lhe pareceu mais ou menos esgotado foi que ele voltou na última fase de sua obra a considerar a defesa Já se assinalou muitas vezes que é no Projeto que se encontra uma antecipação do ego estrutural que surge em O Ego e o Id Mas é natural que seja assim Era fatal que houvesse semelhanças entre um quadro préid e um quadro pósid dos processos psicológicos A reflexão sobre essas características do Projeto tende a sugerir outra possível fonte de interesse na obra uma fonte distante da psicanálise e que não pode ser adequadamente abordada aqui O método tentado por Freud há setenta anos para descrever os fenômenos mentais em termos fisiológicos pode muito bem parecer assemelharse com certos métodos modernos de tratar o mesmo problema Hoje em dia sugerese que o sistema nervoso humano pode ser considerado em seu modo de funcionamento como parecido ou até mesmo idêntico a um computador eletrônico ambos trabalham para receber armazenar processar e fornecer informações Já se assinalou com bastante plausibilidade que nas complexidades dos eventos neuronais aqui descritos por Freud e nos princípios que os governampodemos perceber mais do que uma ou duas alusões às hipóteses da teoria da informação e da cibernética em sua aplicação ao sistema nervoso Para citar alguns exemplos dessa semelhança de abordagem podese em primeiro lugar notar a insistência de Freud na necessidade primordial de prover a máquina de uma memória por outro lado há o seu sistema de barreiras de contacto que permite à máquina fazer uma escolha adequada com base na lembrança de acontecimentos anteriores entre as O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 183 linhas alternativas de reação ao estímulo externo e mais uma vez há na descrição feita por Freud do mecanismo de percepção a introdução da noção fundamental de realimentação feedback como modo de corrigir erros no próprio relacionamento da máquina com o meio Essas e outras semelhanças caso confirmadas constituíram sem dúvida novas provas da originalidade e fertilidade das idéias de Freud e talvez uma sedutora possibilidade de ver nele um precursor do behaviorismo de nossos dias Ao mesmo tempo existe o risco de que o entusiasmo possa causar uma distorção do uso dos termos por Freud e atribuir às suas observações às vezes obscuras interpretações modernas que elas não confirmam E afinal não se deve esquecer de que o próprio Freud terminou por abandonar toda a estrutura neurológica Não é difícil adivinhar o motivo Pois ele descobriu que sua maquinaria neurônica não dispunha de meios para explicar o que em O Ego e o Id 1923b Edição Standard Brasileira Vol XIX 1 ele descreveu como sendo em última análise nosso único facho de luz nas trevas da psicologia profunda isto é a faculdade de estar consciente ou não Em sua última obra o póstumo Esboço de Psicanálise 1940a 1938 Edição Standard Brasileira Vol XXIII 1 IMAGO Editora 1975 ele declara que o ponto de partida para investigar a estrutura do aparelho psíquico é proporcionado por um fato sem paralelo que desafia toda explicação ou descrição o fato da consciência e acrescenta numa nota de rodapé Uma linha radical de pensamento exemplificada pela doutrina americana do behaviorismo acredita ser possível construir uma psicologia que considera esse fato fundamental Seria certamente despropositado tentar atribuir uma consideração semelhante ao próprio Freud O Projeto deve continuar sendo o que é uma obra inacabada renegada por seu criador O editor teve o privilégio de comentar certas partes da tradução com o professor Merton M Gill da State University of New York e de adotar uma série de suas preciosas sugestões Não se deve porém supor que ele seja de nenhum modo responsável pelo texto ou comentários finais CHAVE DAS ABREVIATURAS USADAS NO PROJETO Q Quantidade em geral ou da ordem de magnitude no mundo externo Ver em 1 Qh Quantidade da ordem de magnitude intercelular Ver em 1 f sistema de neurônios permeáveis y sistema de neurônios impermeáveis w sistema de neurônios perceptuais W percepção Wahrnehmung V idéia Vorstellung M imagem motora O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 184 PARTE I ESQUEMA GERAL Introdução A intenção é prover uma psicologia que seja ciência natural isto é representar os processos psíquicos como estados quantitativamente determinados de partículas materiais especificáveis tornando assim O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 185 esses processos claros e livres de contradição Duas são as idéias principais envolvidas 1 A que distingue a atividade do repouso deve ser considerada como Q sujeita às leis gerais do movimento 2 Os neurônios devem se encarados como as partículas materiais N e Q Hoje em dia as experiências desse tipo são freqüentes 1 A PRIMEIRO TEOREMA PRINCIPAL A CONCEPÇÃO QUANTITATIVA Deriva diretamente das observações clínicas patológicas especialmente no que diz respeito a idéias excessivamente intensas na histeria e nas obsessões nas quais como veremos a característica quantitativa emerge com mais clareza do que seria normal Processos como estímulos substituição conversão e descarga que tiveram de ser ali descritos em conexão com esses distúrbios sugeriram diretamente a concepção da excitação neuronal como uma quantidade em estado de fluxo Parecia lícito tentar generalizar o que ali se comprovou Partindo dessa consideração pôdese estabelecer um princípio básico da atividade neuronal em relação a Q que prometia ser extremamente elucidativo visto que parecia abranger toda a função Esse é o princípio de inércia neuronal os neurônios tendem a se livrar de Q A estrutura e o desenvolvimento bem como as funções dos neurônios devem ser compreendidos com base nisso Em primeiro lugar o princípio da inércia explica a dicotomia estrutural dos neurônios em motores e sensoriais como um dispositivo destinado a neutralizar a recepção de Q através de sua descarga O movimento reflexo tornase compreensível agora como uma forma estabelecida de efetuar essa descarga a origem da ação fornece o motivo para o movimento reflexo Se retrocedermos ainda mais poderemos em primeira instância vincular o sistema nervoso como herdeiro da irritabilidade geral do protoplasma com a superfície externa irritável de um organismo que é interrompida por extensões consideráveis de superfície nãoirritável Um sistema nervoso primário se vale dessa Q assim adquirida para descarregála nos mecanismos musculares através das vias correspondentes e desse modo se mantém livre do estímulo Essa descarga representa a função primária do sistema nervoso Aqui existe espaço para o desenvolvimento de uma função secundária Pois entre as vias de descarga são preferidas e conservadas aquelas que envolvem a cessação do estímulo fuga do estímulo Em geral aqui se verifica uma proporção entre a Q de excitação e o esforço requerido para a fuga do estímulo de modo que o princípio da inércia não seja abalado por isso Desde o início porém o princípio da inércia é rompido por outra circunstância À proporção que aumenta a complexidade interior do organismo o sistema nervoso recebe estímulos do próprio elemento somático os estímulos endógenos que também têm que ser descarregados Esses estímulos se originam nas células do corpo e criam as grandes necessidades como respiração sexualidade Deles ao contrário do que faz com os estímulos externos o organismo não pode esquivarse não pode empregar a Q deles para a fuga do estímulo Eles cessam apenas mediante certas condições que devem ser realizadas no mundo externo Cf por exemplo a necessidade de nutrição Para efetuar essa ação que merece ser qualificada de específica requerse um esforço que seja independente da Q endógena e em geral maior já que o indivíduo se acha sujeito a condições que podem ser descritas como as exigências da vida Em conseqüência o sistema nervoso O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 186 é obrigado a abandonar sua tendência original à inércia isto é a reduzir o nível da Q a zero Precisa tolerar a manutenção de um acúmulo de Q suficiente para satisfazer as exigências de uma ação específica Mesmo assim a maneira como realiza isso demonstra que a mesma tendência persiste modificada pelo empenho de ao menos manter a Q no mais baixo nível possível e de se resguardar contra qualquer aumento da mesma ou seja mantêla constante Todas as funções do sistema nervoso podem ser compreendidas sob o aspecto das funções primária ou secundária impostas pelas exigências da vida 2 B SEGUNDO TEOREMA PRINCIPAL A TEORIA DO NEURÔNIO A idéia de combinar esse teoria da Q com o conhecimento dos neurônios estabelecido pela histologia contemporânea constitui o segundo pilar desta tese A essência dessas novas descobertas é que o sistema nervoso se compõe de neurônios distintos e construídos de forma similar que estão em contacto recíproco por meio de uma substância estranha que terminam uns sobre os outros como fazem sobre porções de tecido estranho e nos quais se acham estabelecidas determinadas vias de condução no sentido de que eles os neurônios recebem excitações através dos processos celulares dendritos e deles se descarregam através de um cilindro axial axônio Além disso possuem inúmeras ramificações de vários calibres Se combinarmos essa descrição dos neurônios com a concepção da teoria da Q chegaremos à noção de um neurônio catexizado cheio de determinada Q ao passo que em outras circunstâncias ele pode estar vazio O princípio da inércia em 1 encontra expressão na hipótese de uma corrente que parte das vias de condução ou processos celulares dendritos em direção ao cilindro axial Cada neurônio isolado é assim um modelo de todo o sistema nervoso com sua dicotomia de estrutura sendo o cilindro axial o órgão de descarga A função secundária do sistema nervoso porém que requer a acumulação da Q em 1 tornase possível ao se admitir que existam resistências opostas à descarga e a estrutura dos neurônios torna provável a localização de todas as resistências nos contactos entre os neurônios que desse modo funcionariam como barreiras A hipótese de barreiras de contacto é frutífera em vários sentidos 1 3 AS BARREIRAS DO CONTACTO A primeira justificativa para essa hipótese resulta da consideração de que a via de condução passa a essa altura através do protoplasma indiferenciado e não como se dá afora isso dentro do neurônio através do protoplasma diferenciado que provavelmente se adapta melhor à condução Isso faz sugerir que a capacidade de condução esteja ligada à diferenciação de modo que se pode esperar que o próprio processo de condução criará uma diferenciação no protoplasma e com isso uma melhor capacidade condutora para a condução subseqüente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 187 Além disso a teoria das barreiras de contacto pode resultar nas seguintes vantagens Uma das principais características do tecido nervoso é a memória isto é em termos muito gerais a capacidade de ser permanentemente alterado por simples ocorrências característica que contrasta tão flagrantemente com o modo de ação de uma matéria que permita a passagem de um movimento ondulatório para logo voltar a seu estado primitivo Uma teoria psicológica digna de consideração precisa fornecer uma explicação para a memória Ora qualquer explicação dessa espécie se depara com a dificuldade de admitir por um lado que depois de cessar a excitação os neurônios fiquem permanentemente modificados em relação a seu estado anterior ao passo que por outro lado não se pode negar que as novas excitações em geral encontrem as mesmas condições de recepção que encontraram as excitações precedentes Desse modo parece que os neurônios teriam que ser ao mesmo tempo indiferenciadamente influenciados e inalterados Não se pode imaginar de improviso um aparelho capaz de funcionamento tão complicado a solução portanto consiste em atribuir a uma classe de neurônios a característica de ser permanentemente influenciada pela excitação ao passo que a imutabilidade a característica de estar livre para excitações inéditas corresponderia a outra classe Daí surgir a atual distinção entre células perceptuais e células mnêmicas distinção porém que não se aplica a nenhum outro contexto e nada pode recorrer a seu favor A teoria das barreiras de contacto se adota essa solução pode ser expressa nos termos que se seguem Há duas classes de neurônios 1 os que deixam passar a Q como se não tivessem barreiras de contacto e que da mesma forma depois de cada passagem de excitação permanecem no mesmo estado anterior e 2 aqueles cujas barreiras de contacto se fazem sentir de modo que só permitem a passagem da Q com dificuldade ou parcialmente Os dessa última classe podem depois de cada excitação ficar num estado diferente do anterior fornecendo assim uma possibilidade de representar a memória Assim existem neurônios permeáveis que não oferecem resistência e nada retêm destinados à percepção e impermeáveis dotados de resistência e retentivos de Q que são portadores da memória e com isso provavelmente também dos processos psíquicos em geral Daqui por diante chamarei ao primeiro sistema de neurônios de e ao segundo de Seria conveniente agora esclarecer quais as suposições acerca dos neurônios que são imprescindíveis para abranger as características mais gerais da memória O argumento é o seguinte Esses neurônios ficam permanentemente alterados pela passagem de uma excitação Se introduzirmos a teoria das barreiras de contacto as barreiras de contacto deles ficam em estado permanentemente alterado E como o conhecimento psicológico demonstra a existência de algo assim como um reaprender baseado na memória essa alteração deve consistir em tornar as barreiras de contacto mais capazes de condução menos impermeáveis e assim mais semelhantes às do sistema Descreveremos esse estado das barreiras de contacto como grau de facilitação Bahnung Podese então dizer a memória está representada pelas facilitações existentes entre os neurônios Suponhamos que todas as barreiras de contacto estejam igualmente facilitadas ou o que vem a dar no mesmo ofereçam resistência idêntica nesse caso evidentemente as características da memória não emergiriam Pois em relação à passagem da excitação a memória é evidentemente uma das forças O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 188 determinantes e orientadoras de sua direção e se a facilitação fosse idêntica em todos os sentidos não seria possível explicar por que motivo uma via teria preferência sobre outra Por isso podese dizer de maneira ainda mais correta que a memória está representada pelas diferenças nas facilitações entre os neurônios De que depende então a facilitação nos neurônios Segundo o conhecimento psicológico a memória de uma experiência isto é sua força eficaz contínua depende de um fator que se pode chamar de magnitude da impressão e da freqüência com que a mesma impressão se repete Traduzido em teoria a facilitação depende da Q que passa pelo neurônio no processo excitativo e do número de vezes em que esse processo se repete Daí se vê portanto que Q é o fator operativo e que a quantidade mais a facilitação que resultam de Q são ao mesmo tempo algo capaz de substituir Q Somos aqui quase involuntariamente obrigados a recordar que a tendência do sistema nervoso mantida durante cada modificação é a de evitar que ele fique carregado de Q ou a de reduzir a carga ao mínimo possível Sob a pressão das exigências da vida o sistema nervoso se viu forçado a guardar uma reserva de Q em 1 Para esse fim teve de aumentar o número de seus neurônios que precisaram ser impermeáveis Agora evita pelo menos em parte ficar cheio de Q catexia recorrendo a facilitações Verificase pois que as facilitações servem à função primária do sistema nervoso A necessidade de encontrar um lugar para a memória requer algo um pouco à parte da teoria das barreiras de contacto É preciso que a cada neurônio correspondam em geral diversas vias de conexão com outros neurônios isto é de várias barreiras de contacto Disso depende com efeito a possibilidade da escolha determinada pela facilitação em 1 Isto posto tornase bastante evidente que o estado de facilitação de cada barreira de contacto deve ser independente do de todas as demais barreiras do mesmo neurônio do contrário não haveria de novo nenhuma preferência ou seja nenhuma motivação Daí podese tirar uma conclusão negativa a respeito da natureza do estado facilitado Se imaginarmos um neurônio cheio de Q isto é catexizado só poderemos supor que essa Q sic esteja distribuída uniformemente por todas as regiões do neurônio e portanto também por todas as suas barreiras de contacto Por outro lado não há dificuldade em imaginar que no caso de Q em estado fluente seja tomada apenas uma via particular através do neurônio de modo que somente uma de suas barreiras de contacto fique sujeita à ação da Q fluente e depois conserve a facilitação que esta lhe proporciona Por conseguinte a facilitação não pode basearse numa catexia que permaneça retida pois isso não produziria as diferenças de facilitação nas barreiras de contacto de um mesmo neurônio Resta observar em que consiste além disso a facilitação Uma primeira idéia poderia ser na absorção da Q pelas barreiras de contacto Será talvez esclarecido mais tarde Cf em 1 A Q que deixou para trás a facilitação é sem dúvida descarregada precisamente em conseqüência da facilitação que com efeito aumenta a permeabilidade Além disso não é imprescindível o caso em que a facilitação que persiste depois de uma passagem de Q seja maior como deveria ser durante a passagem Ver em 1 É possível que apenas subsista uma fração dela como facilitação permanente Da mesma forma por enquanto ainda é impossível determinar se uma única passagem de Q3 é equivalente a três passagens de uma Q Tudo isso terá que ser levado em consideração à luz das aplicações posteriores da teoria aos fatos psíquicos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 189 4 O PONTO DE VISTA BIOLÓGICO A hipótese de haver dois sistemas de neurônios e o primeiro formado por elementos permeáveis e o segundo por impermeáveis parece fornecer a explicação para uma das peculiaridades do sistema nervoso a de reter e ainda assim permanecer capaz de receber em 1 Toda aquisição psíquica neste caso consistiria na organização do sistema por suspensões parcial e localmente determinadas da resistência nas barreiras de contacto que diferencia de Com o progresso dessa organização a capacidade do sistema nervoso para novas recepções chegaria literalmente a uma barreira Contudo quem se dedica à construção de hipóteses científicas só pode começar a levar suas teorias a sério se elas se adaptam em mais de uma direção ao nosso conhecimento e se a arbitrariedade de uma constrictio ad hoc pode ser mitigada em relação a elas Contra nossa hipótese das barreiras de contacto poderseia objetar que ela pressupõe duas classes de neurônios uma diferença fundamental em suas condições de funcionamento embora por ora não exista outra base de diferenciação Seja como for do ponto de vista morfológico isto é histopatológico nada se conhece que corrobore a distinção Onde situar então essa divisão em duas classes Se possível no desenvolvimento biológico do sistema nervoso que como tudo mais no entender dos cientistas naturais é algo que se formou gradativamente Gostaríamos de saber se as duas classes de neurônios podem ter tido significação biológica diferente e nesse caso graças a que mecanismo teriam desenvolvido características tão diversas como a permeabilidade e a impermeabilidade O mais satisfatório naturalmente seria que o próprio mecanismo que estamos procurando surgisse da função biológica primitiva desempenhada pelas duas classes nesse caso teríamos uma só resposta para as duas perguntas Lembremos portanto que desde o início o sistema nervoso teve duas funções a recepção do estímulo vindo de fora e a descarga de excitações de origem endógena em 1 A rigor foi desta última obrigação que devido às exigências da vida fez surgir a necessidade de um desenvolvimento biológico posterior em 1 Poderseia supor então que nossos sistemas de e tenham realmente sido os que assumiriam cada qual uma dessas obrigações primárias O sistema seria o grupo de neurônios atingido pelos estímulos externos enquanto o sistema conteria os neurônios que recebem as excitações endógenas Em tal caso não teríamos inventado as duas classes e e sim descoberto o que já existia Ainda falta identificálas com algo que já conhecemos De fato a anatomia nos ensina que existe um sistema de neurônios a massa cinzenta da medula espinhal que é o único a estar em contacto com o mundo externo e um sistema superposto a massa cinzenta do cérebro que não tem ligações periféricas mas ao qual estão relacionados o desenvolvimento do sistema nervoso e as funções psíquicas O cérebro primitivo se enquadra bastante bem na nossa caracterização do sistema caso possamos admitir que o cérebro tem vias de conexão diretas e independentes de com o interior do corpo Ora os anatomistas desconhecem a origem e o significado biológico original do cérebro primitivo segundo a nossa teoria tratarseia em termos simples de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 190 um gânglio simpático Eis aqui a primeira possibilidade de verificar nossa teoria com o material fatual Provisoriamente consideraremos o sistema como identificado com a massa cinzenta do cérebro Agora se compreende facilmente partindo de nossos comentários biológicos iniciais em 1 que é justamente que deve estar sujeito a um desenvolvimento posterior pela multiplicação de seus neurônios e pela acumulação de Q E agora se compreende como é conveniente que se constitua de neurônios impermeáveis pois do contrário ele não poderia atender os requisitos da ação específica em 1 Mas como foi que adquiriu a característica de impermeabilidade Afinal de contas também tem barreiras de contacto se elas não desempenham função alguma por que as de haveriam de desempenhálas Atribuir que exista uma diferença fundamental entre a valência das barreiras de contacto de e as de teria mais uma vez um lamentável toque de arbitrariedade cf pág 1 embora fosse possível seguir uma linha de pensamento darwiniano e apelar para o fato de que os neurônios impermeáveis são imprescindíveis e por conseguinte têm que subsistir Há outra solução que parece mais frutífera e mais modesta Convém recordar que as barreiras de contacto dos neurônios no fim também ficam sujeitas à facilitação e que é Q que as facilita em 1 Quanto maior for Q na passagem das excitações tanto maior será a facilitação isso implica porém que tanto maior será a aproximação das características nos neurônios em 1 Atribuamos pois as diferenças não aos neurônios mas às quantidades com que eles têm de lidar Devese então supor que pelos neurônios passam quantidades contra as quais a resistência das barreiras de contacto é praticamente nula ao passo que aos neurônios só chegam quantidades da mesma ordem de magnitude que essa resistência Nesse caso um neurônio se tornaria impermeável e um neurônio permeável se pudéssemos trocar sua localização e suas conexões eles porém conservam as suas características pois o neurônio está ligado apenas à periferia e o apenas à parte inferior do corpo A diferença na essência de ambos é substituída por uma diferença na ambiência a que estão destinados Agora entretanto teremos que examinar o nosso pressuposto de que as quantidades de estímulo que chegam aos neurônios procedendo da periferia externa são de ordem superior às que chegam da periferia interna do corpo Existem de fato muitos argumentos a favor desse pressuposto Em primeiro lugar não resta dúvida de que o mundo externo constitui a fonte de todas as grandes quantidades de energia pois segundo as descobertas da física ele consiste em poderosas massas que estão em movimento violento e que esse movimento é transmitido pelas ditas massas O sistema orientado para esse mundo externo terá a missão de descarregar com a maior rapidez possível as Qs que penetram nos neurônios mas de qualquer maneira ficará exposto aos efeitos das Qs maiores Para melhor conhecimento nosso o sistema está fora de contacto com o mundo externo recebe apenas Q por um lado dos próprios neurônios e por outro dos elementos celulares no interior do corpo tratandose agora de determinar a probabilidade de que essas quantidades de estímulo sejam de ordem de magnitude comparativamente baixaÀ primeira vista talvez pareça perturbador que devamos atribuir aos neurônios duas fontes de estímulo tão diversas como e as células do interior do corpo mas é justamente aqui que recebemos o apoio decisivo da recente histologia do sistema nervoso Isso mostra que a terminação O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 191 de um neurônio e a conexão entre os neurônios são constituídas da mesma forma e que os neurônios terminam uns nos outros do mesmo modo que os elementos somáticos cf em 1 provavelmente o caráter funcional de ambos os processos também é do mesmo tipo É provável que as extremidades nervosas e no caso da condução intercelular sejam manejadas quantidades semelhantes Também se pode esperar que os estímulos endógenos pertençam a essa mesma ordem de magnitude intercelular A propósito eis aqui a segunda oportunidade para verificar nossa teoria pág 1 5 O PROBLEMA DA QUANTIDADE Nada sei a respeito da magnitude absoluta dos estímulos intercelulares mas me aventurarei a admitir que eles sejam de uma ordem de magnitude relativamente pequena e idêntica à das resistências das barreiras de contacto Se for assim isso é facilmente compreensível Esse pressuposto resguardaria a identidade essencial entre os neurônios e e explicaria biológica e mecanicamente sua diferença no que tange à permeabilidade Aqui há falta de prova mais interessante são certas perspectivas e concepções que surgem desse pressuposto Em primeiro lugar se tivermos formado uma impressão correta da magnitude das Qs no mundo externo perguntarnosemos se afinal de contas a tendência original do sistema nervoso de manter a Q no nível zero em 1 e 2 se satisfaz com a descarga rápida se ela já não atua durante a recepção dos estímulos Verificamos com efeito que os neurônios não terminam livremente na periferia isto é sem proteções mas em estruturas celulares que recebem o estímulo exógeno em seu lugar Esses aparelhos nervosos terminais usando o termo no sentido mais amplo bem poderiam ter a finalidade de não permitir que as Qs exógenas incidissem com o máximo de intensidade sobre mas sim a de atenuálas Exerceriam então a função de telas de Q que só deixariam passar frações de Qs exógenas Isso confirmaria o fato de que o outro tipo de terminações nervosas as livres sem órgãos terminais seja muito mais comum na periferia interna do corpo Ali as telas de Q não parecem ser necessárias provavelmente porque as Qs que têm de ser recebidas ali não precisam ser reduzidas antes ao nível intercelular por já se encontrarem nele desde o início Uma vez que é possível calcular as Qs recebidas pelas terminações dos neurônios isso talvez nos forneça um meio de formar alguma idéia das magnitudes que passam entre os neurônios que como sabemos são do mesmo tipo de resistência que as barreiras de contacto em 1 Aqui além disso vislumbrase uma tendência que bem poderia reger a construção do sistema nervoso a partir de diversos sistemas uma tendência cada vez maior a manter a Q afastada dos neurônios Desse modo a estrutura do sistema nervoso serviria à finalidade de afastar a Q dos neurônios e sua função seria a de descarregála 6 A DOR O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 192 Todos os dispositivos de natureza biológica têm limite de eficiência e falham quando um limite é ultrapassado Essa falha se manifesta em fenômenos quase patológicos que poderiam ser descritos como protótipos normais do patológico Já vimos que o sistema nervoso está constituído de tal maneira que as grandes Qs externas ficam afastadas de e mais ainda de pelas telas de terminação nervosa e pela conexão meramente indireta entre e o mundo externo Existe algum fenômeno que possa ser interpretado como o equivalente da falha desses dispositivos A meu ver existe a dor Tudo o que sabemos a respeito da dor se enquadra nisso O sistema nervoso tem a mais decidida propensão a fugir da dor Vemos nisso uma manifestação da tendência primária contra o aumento da tensão Q e inferimos que a dor consiste na irrupção de grandes Qs em As duas tendências ficam nesse caso reduzidas a uma só A dor aciona tanto o sistema como o não há nenhum obstáculo à sua condução e ela é o mais imperativo de todos os processos Os neurônios parecem pois permeáveis a ela portanto a dor consiste na ação de Qs de ordem comparativamente elevada As causas precipitadoras da dor são por um lado o aumento de quantidade toda excitação sensorial mesmo a dos órgãos superiores dos sentidos tende a se transformar em dor à medida que o estímulo aumenta Isso deve ser interpretado sem hesitação como uma falha do dispositivo Por outro lado a dor se manifesta quando a quantidade externa é pequena e nesses casos aparece sempre vinculada a uma interrupção da continuidade isto é uma Q externa que atua diretamente sobre as terminações dos neurônios e não através dos aparelhos de terminações nervosas produz a dor A dor fica assim caracterizada como uma irrupção de Qs excessivamente de magnitude ainda maior que a dos estímulos É fácil compreender o fato de que a dor passa por todas as vias de descarga Com base em nossa teoria de que Q produz facilitação em 1 a dor sem dúvida deixa facilitações permanentes atrás de si em como se tivesse sido atingida por um raio facilitações estas que possivelmente derrubam por completo a resistência das barreiras de contacto e ali estabelecem uma via de comunicação como as que existem em 7 O PROBLEMA DA QUALIDADE Até aqui nada se disse sobre o fato de que toda teoria psicológica independentemente do que se realiza do ponto de vista da ciência natural precisa satisfazer mais um requisito fundamental Ela tem de nos explicar tudo o que já conhecemos da maneira mais enigmática através de nossa consciência e uma vez que essa consciência nada sabe do que até agora vimos pressupondo quantidades e neurônios também terá de nos explicar essa falta de conhecimento Imediatamente passamos a compreender um postulado que nos tem orientado até aqui Estivemos tratando os processos psíquicos como algo que pode prescindir dessa percepção da consciência como algo que existe independentemente dela Estamos preparados para constatar que alguns de nossos pressupostos não são confirmados pela consciência Se não nos deixarmos confundir por causa disso verificaremos a partir do postulado de que a consciência não nos fornece conhecimentos completos nem fidedignos sobre os processos neuronais que estes devem ser considerados em sua totalidade antes de mais nada como inconscientes e que O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 193 devem ser inferidos como os demais fenômenos naturais Nesse caso porém é preciso encontrar um lugar para conteúdo da consciência em nossos processos quantitativos A consciência nos dá o que se convencionou chamar de qualidades sensações que são diferentes numa ampla gama de variedades e cuja diferença se discerne conforme suas relações com o mundo externo Nessa diferença existem séries semelhanças etc mas na realidade ela não contém nada de quantitativo Podese perguntar como se originam as qualidades e onde Tratase de perguntas que exigem um exame extremamente atento e que aqui só pode ser abordado superficialmente Onde se originam as qualidades Não no mundo externo Pois lá segundo o parecer da nossa ciência natural à qual também devemos submeter a psicologia aqui no Projeto só existem massas em movimento e nada mais Quem sabe não se originam no sistema Isso estaria de acordo com o fato de as qualidades estarem vinculadas à percepção mas entra em contradição com tudo o que com justa razão fala em favor da localização da consciência nos níveis mais altos do sistema nervoso Quem sabe então no sistema Contra essa hipótese porém há uma forte objeção Os sistemas e atuam conjuntamente na percepção mas existe um processo psíquico que é sem dúvida efetuado exclusivamente em a reprodução ou recordação e este é falando em termos gerais desprovido de qualidade De norma normalmente a recordação não produz nada que possua o caráter peculiar da qualidade perceptual Assim reunimos ânimo suficiente para presumir que haja um terceiro sistema de neurônios talvez pudéssemos chamálo que é excitado junto com a percepção mas não com a reprodução e cujos estados de excitação produzem as diversas qualidades ou seja são sensações conscientes Se nos ativermos com firmeza ao fato de que nossa consciência fornece apenas qualidades ao passo que a ciência reconhece apenas quantidades emerge como que por regra de três uma caracterização dos neurônios Porque enquanto a ciência se impôs a tarefa de reduzir todas as quantidades de nossas sensações a quantidades externas é esperado para a estrutura do sistema nervoso que ela se constitua de instrumentos destinados a converter a quantidade externa em qualidade e aqui triunfaria mais uma vez a tendência original a afastar a quantidade em 1 Os dispositivos das terminações nervosas constituiriam uma tela destinada a permitir que apenas algumas frações de quantidade externa agissem sobre ao passo que ao mesmo tempo efetuaria a descarga bruta da quantidade O sistema já estava protegido contra as qualidades de ordem maior e só diria respeito às magnitudes intercelulares Indo ainda mais longe podese presumir que o sistema seja movido por quantidades ainda mais reduzidas Ao que parece a característica da qualidade ou seja sensação consciente só se manifesta quando as quantidades são tão excluídas quanto possível Não se pode eliminálas por completo pois os neurônios também devem ser concebidos como catexizados com Q e se esforçando para conseguir a descarga 1 A esta altura porém deparamonos com uma dificuldade aparentemente intrasponível Já vimos em 12 que a permeabilidade depende do efeito da Q e que os neurônios já são impermeáveis Com uma Q ainda mais reduzida os neurônios teriam que ser ainda mais impermeáveis Mas essa é uma característica que não podemos atribuir aos veículos da consciência A mutabilidade de seu conteúdo a transitoriedade da consciência a fácil combinação de qualidades simultaneamente percebidas tudo isso só é O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 194 compatível com uma completa permeabilidade dos neurônios junto com uma total restitutio in integrum restauração do estado anterior deles Os neurônios se comportam como órgãos de percepção e neles não encontramos nenhum lugar para a memória em 1 A permeabilidade arremata a facilitação que não provém da quantidade De onde mais pode ela provir Só vejo uma saída para essa dificuldade uma revisão de nossa hipótese fundamental sobre a passagem de Q Até o momento só a considerei como uma transferência de Q de um neurônio para outro Mas ela deve ter mais outra caraterística de natureza temporal pois a mecânica dos físicos também atribuiu essa característica temporal aos outros movimentos de massas no mundo externo Para abreviar designarei essa característica como o período Assim presumirei que toda a resistência das barreiras de contacto se aplica somente à transferência de Q mas que o período do movimento neuronal é transmitido a todas as direções sem inibição como se fosse um processo de indução Aqui muito resta a ser feito no sentido do esclarecimento físico pois as leis gerais do movimento também devem ser aplicadas aqui sem contradições A hipótese porém vai mais longe e presume que os neurônios sejam incapazes de receber Q mas que em compensação se apropriem do período de excitação e que nesse estado de serem afetados por um período enquanto são enchidas de um mínimo de Q constitui a base fundamental da consciência É claro que os neurônios também possuem o seu período mas ele é desprovido de qualidade ou mais corretamente monótono Os desvios desse período psíquico que lhes é específico chegam à consciência como qualidades De onde emanam essas diferenças de período Tudo indica os órgãos dos sentidos cujas qualidades parecem estar representadas precisamente por períodos diferentes do movimento neuronal Os órgãos dos sentidos não só funcionam como telas de Q a exemplo de todos os dispositivos de terminações nervosas mas também como peneiras pois só deixam passar estímulos provenientes de certos processos de um período particular É provável que eles então transfiram essa diferença a por comunicar ao movimento neuronal períodos que diferem de algum modo análogo energia específica e são essas modificações que passam através de via até e aí onde estão quase desprovidos de quantidades geram sensações conscientes de qualidades Essa transmissão da qualidade não é duradoura não deixa rastro e não pode ser reproduzida 1 8 A CONSCIÊNCIA Só mediante essas hipóteses tão complicadas e pouco óbvias é que pude até agora introduzir os fenômenos da consciência na estrutura da psicologia quantitativa Naturalmente não se pode tentar explicar como é que os processos excitatórios dos neurônios levam à consciência É apenas uma questão de estabelecer uma coincidência entre as características da consciência que conhecemos e os processos nos neurônios que variam paralelamente a elas E isso é bem possível um tanto detalhadamente Uma observação quanto à relação dessa teoria da consciência com as demais Segundo uma avançada teoria mecanicista a consciência é um mero apêndice aos processos fisiológicopsíquicos e sua O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 195 omissão não acarretaria alteração na passagem psíquica dos acontecimentos De acordo com outra teoria a consciência é o lado subjetivo de todos os eventos psíquicos e é assim inseparável do processo mental fisiológico A teoria aqui elaborada situase entre essas duas A consciência é aqui o lado subjetivo de uma parte dos processos físicos do sistema nervoso isto é dos processos e a omissão da consciência não deixa os eventos psíquicos inalterados mas acarreta a falta da contribuição de Se representarmos a consciência por neurônios várias conseqüências surgirão Esses neurônios precisam ter uma descarga por mínima que seja e deve uma maneira de encher os neurônios com Q na pequena cota requerida A descarga como todas as outras se efetua na direção da motilidade e aqui convém notar que a transformação em movimento acarreta a perda de qualquer característica qualitativa de qualquer peculiaridade do período O preenchimento dos neurônios com Q pode sem dúvida provir somente de uma vez que não queremos admitir nenhum vínculo direto entre esse terceiro sistema e Não é possível sugerir qual terá sido o valor biológico dos neurônios Até agora porém limitamonos a descrever o conteúdo da consciência de maneira incompleta Além da série de qualidades sensoriais ela exibe outra muito diferente daquela a série de sensações de prazer e desprazer que agora clama por uma interpretação Já que temos um certo conhecimento de uma tendência da vida psíquica a evitar o desprazer ficamos tentados a identificála com a tendência primária à inércia Nesse caso o desprazer teria que ser encarado como coincidente com um aumento do nível de Q ou com um aumento da pressão quantitativa equivaleria à sensação quando há um aumento da Q em O prazer corresponderia à sensação de descarga Uma vez que se supõe que acima deve ser preenchido a partir de decorre daí a hipótese de que quando o nível em aumenta a catexia em se eleva e quando por outro lado esse nível diminui a catexia cai O prazer e o desprazer seriam as sensações correspondentes à própria catexia de ao seu próprio nível e aqui e funcionariam por assim dizer como vasos comunicantes Desse modo também chegariam à consciência os processos quantitativos em mais uma vez como qualidades A capacidade de perceber as qualidades sensoriais que se acham localizadas por assim dizer na zona de indiferença entre o prazer o desprazer desaparece ante a presença da sensação de prazer e desprazer Isso se traduziria os neurônios mostram uma aptidão ótima para receber o período do movimento neuronal para uma determinada força de catexia quando a catexia é mais intensa eles produzem desprazer quando mais fraca prazer até que devido à falta de catexia sua capacidade receptiva se extingue A forma de movimento correspondente teria que ser construída com base em dados como esses 9 O FUNCIONAMENTO DO APARELHO Agora já é possível elaborar o seguinte quadro de funcionamento do aparelho constituído por As cargas de excitação do exterior penetram até as extremidades do sistema Primeiro esbarram nos dispositivos de terminações nervosas que as fragmentam em frações cuja ordem de magnitude é provavelmente superior à dos estímulos intercelulares quem sabe não pertenceriam afinal de contas à mesma ordem Aqui nos deparamos com um primeiro limiar abaixo de determinada quantidade não se pode O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 196 constituir nenhuma fração eficaz de modo que a capacidade efetiva dos estímulos fica até certo ponto limitada às quantidades médias Além disso a natureza dos invólucros das extremidades nervosas atua como uma peneira de maneira que nem todo tipo de estímulo pode operar nos diversos pontos terminais Os estímulos que realmente chegam aos neurônios possuem uma quantidade e uma característica qualitativa no mundo externo formam uma série da mesma qualidade e de uma quantidade que vai desde o limiar até o limite da dor Enquanto no mundo externo os processos exibem uma sucessão contínua em duas direções segundo a quantidade e o período qualidade os estímulos correspondentes aos processos ficam no que diz respeito à quantidade em primeiro lugar reduzidos e em segundo limitados em virtude de uma excisão e no que diz respeito à qualidade ficam descontínuos de modo que certos períodos nem sequer atuam como estímulos Fig 12 Fig 12 A característica qualitativa dos estímulos se propaga então sem empecilhos por por meio de para onde produz sensação é representada porum período particular do movimento neuronal que certamente não é o mesmo do estímulo mas tem uma determinada relação com ele segundo uma fórmula de redução que desconhecemos Esse período não persiste por muito tempo e desaparece em direção ao lado motor e como pode passar sem dificuldade tampouco deixa qualquer lembrança em seu rastro A quantidade do estímulo excita a tendência do sistema nervoso à descarga transformandose numa excitação motora proporcional O aparelho da motilidade está diretamente ligado a As quantidades assim traduzidas produzem um efeito que lhes é quantitativamente muito superior penetrando nos músculos glândulas etc atuando ali ou seja por uma liberação da quantidade ao passo que entre os neurônios só ocorre uma transferência Além disso nos neurônios terminam os neurônios Para estes últimos é transferida uma parte da Q mas apenas uma parte uma fração talvez correspondente à magnitude de um estímulo intercelular A essa altura podese perguntar se a Q transferida para não aumenta em proporção à Q que passa para de modo tal que um estímulo maior produza um efeito psíquico mais forte Aqui parece manifestarse um dispositivo especial que mais uma vez mantém a Q afastada de Pois a via sensorial de condução em possui uma estrutura peculiar Ela se ramifica continuamente e apresenta vias de espessura variável que vão desembocar em numerosos pontos terminais provavelmente com o significado seguinte um estímulo mais forte segue uma via diferente de um mais fraco Cf Fig 13 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 197 Fig 13 Por exemplo 1 Q percorre unicamente a via I e no ponto terminal transmitirá uma fração a 2 Q não transmitirá uma fração dupla em a mas poderá passar também pela via II que é mais estreita e abrirá outro ponto terminal para em b 3 Q abrirá a via mais estreita III e a transmitirá também por É assim que a via única de fica aliviada de sua carga a maior quantidade em será expressa pelo fato de ele catexizar vários neurônios em em vez de um só As diferentes catexias dos neurônios podem nesse caso ser mais ou menos iguais Se a Q em produzir uma catexia em 3 Q se expressará por uma catexia em 1 2 3 Logo uma quantidade em se expressa por um enredo em Por meio disso a Q fica afastada de ao menos dentro de certos limites Isso lembra muito as condições impostas pela lei de Fechner que poderiam ser localizadas Desse modo y é catexizado a partir de f em Qs que são normalmente pequenas A quantidade da excitação de f se expressa em y por enredamento sua qualidade se expressa topograficamente uma vez que segundo suas relações anatômicas os diferentes órgãos sensoriais só se comunicam através de f com determinados neurônios y Mas y também recebe catexia do interior do corpo e é provável que os neurônios y devam ser divididos em dois grupos os neurônios de pallium que são catexizados a partir de f e os neurônios nucleares catexizados a partir das vias endógenas de condução 10 As Vias de Condução de y O núcleo de está em conexão com as vias pelas quais ascendem as quantidades endógenas de excitação Sem excluir a possibilidade de que essas vias estejam em conexão com devemos continuar sustentando nosso pressuposto inicial de que há uma via direta que parte do interior do corpo até chegar aos neurônios em 12 Se é assim porém está exposto sem proteção às Qs provenientes dessa direção e nesse fato se assenta a mola mestra do mecanismo psíquico O que sabemos a respeito dos estímulos endógenos se pode expressar no pressuposto de que eles são de natureza intercelular que se produzem de forma contínua e que só periodicamente se transformam em estímulos psíquicos A idéia de sua acumulação é inevitável e o caráter intermitente de seu efeito psíquico exige a idéia de que em sua via de condução até y eles enfrentam resistências só superadas quando há um aumento da quantidade As vias de condução portanto são compostas de segmentos múltiplos tendo uma série de barreiras de contacto intercaladas até chegar ao núcleo de y Acima de determinada Q porém elas as excitações endógenas atuam continuamente como um estímulo e cada aumento de Q é O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 198 percebido como um aumento do estímulo y Isso implica então a existência de um estado em que a via de condução torna a recuperar sua resistência Um processo desse tipo se denomina soma As vias de condução y se enchem por soma até ficarem permeáveis É evidente que o que permite a soma é a pequenez de cada estímulo Comprovouse também que a soma ocorre nas vias de condução f por exemplo no caso de condução da dor ali só se aplica para pequenas quantidades O papel menor desempenhado pela soma no lado fala a favor da impressão de que ali estamos lidando de fato com Qs relativamente grandes As muito pequenas parecem ser afastadas pelo funcionamento dos aparelhos de terminações nervosas como um limiar em 1 ao passo que esses aparelhos estão ausentes no lado y e ali só atuam Qs pequenas É muito digno de nota o fato de que a condução dos neurônios y consiga manter uma posição entre as características da permeabilidade e da impermeabilidade de vez que recuperam sua resistência quase por completoapesar da passagem de Q Isso contradiz totalmente a propriedade que atribuímos aos neurônios y de ficarem permanentemente facilitados pela passagem de uma corrente de Q em 12 Como explicar essa contradição Admitindo que a restauração da resistência depois da passagem de uma corrente é uma característica geral das barreiras de contacto Se assim for não haverá muita dificuldade em conciliar isso com o fato de que os neurônios y são influenciados pela passagem da quantidade no sentido da facilitação Precisamos apenas supor que a facilitação restante após a passagem da Q consiste não na supressão de toda e qualquer resistência mas em sua redução a um mínimo remanescente necessário Durante a passagem da Q a resistência fica suspensa depois ela se restabelece mas em vários níveis em proporção à Q que passou por ela de maneira que na vez seguinte uma Q menor já conseguirá passar e assim por diante Quando se estabelece a facilitação mais completa ainda resta uma certa resistência que é igual para todas as barreiras de contacto e que também requer o aumento das Qs até um determinado limiar antes de permitir sua passagem Essa resistência seria uma constante Por conseguinte o fato de que as Qs endógenas atuam por soma apenas significa que essas Qs são constituídas de parcelas de excitação mínimas menores que a constante A via endógena de condução está portanto e apesar disso completamente facilitada Disso se conclui porém que as barreiras de contacto y são em geral mais altas do que as vias endógenas de condução de modo que nos neurônios nucleares possa produzirse uma nova acumulação de Q Cf em 12 No momento em que a via de condução é reajustada nenhum limite adicional é fixado para essa soma Aqui y está à mercê de Q e é assim que surge no interior do sistema o impulso que sustenta toda a atividade psíquica Cf em 12 Conhecemos essa força como vontade o derivado das pulsões Cf em 1 adiante 11 A EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 199 O enchimento dos neurônios nucleares em y terá como resultado uma propensão à descarga uma urgência que é liberada pela via motora A experiência demonstra que aqui a primeira via a ser seguida é a que conduz a alteração interna expressão das emoções gritos inervação vascular Mas como já explicamos no início em 1 nenhuma descarga pode produzir resultado aliviante visto que o estímulo endógeno continua a ser recebido e se restabelece a tensão em y Nesse caso o estímulo só é passível de ser abolido por meio de uma intervenção que suspenda provisoriamente a descarga de Q no interior do corpo e uma intervenção dessa ordem requer a alteração no mundo externo fornecimento de víveres aproximação do objeto sexual que como ação específica só pode ser promovida de determinadas maneiras O organismo humano é a princípio incapaz de promover essa ação específica Ela se efetua por ajuda alheia quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via de alteração interna Essa via de descarga adquire assim a importantíssima função secundária da comunicação e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais Ver em 1 Quando a pessoa que ajuda executa o trabalho da ação específica no mundo externo para o desamparado este último fica em posição por meio de dispositivos reflexos de executar imediatamente no interior de seu corpo a atividade necessária para remover o estímulo endógeno A totalidade do evento constitui então a experiência de satisfação que tem as conseqüências mais radicais no desenvolvimento das funções do indivíduo Isso porque três coisas ocorrem no sistema 1 efetuase uma descarga permanente e assim eliminase a urgência que causou desprazer em 2 produzse no pallium a catexização de um ou de vários neurônio que corresponde à percepção do objeto e 3 em outros pontos do pallium chegam as informações sobre a descarga do movimento reflexo liberado que se segue à ação específica Estabelecese então uma facilitação entre as catexias e os neurônios nucleares A informação sobre a descarga reflexa surge porque cada movimento através de seus resultados subsidiários tornase uma oportunidade de novas excitações sensoriais provenientes da pele e dos músculos que produzem em y uma imagem motora cinestésica A facilitação no entanto se forma de uma maneira que nos permite uma compreensão mais ampla do desenvolvimento de y Até agora aprendemos a saber que os neurônios y são influenciados por e pelas vias de condução endógena mas os diversos neurônios y ficaram isolados uns dos outros por barreiras de contacto com fortes resistências Ora existe uma lei básica de associação por simultaneidade que atua no caso da atividade y pura de lembrança reprodutiva e que constitui o fundamento de todos os vínculos entre os neurônios y Nós verificamos que a consciência isto é a catexia quantitativa de um neurônio passa para outra caso e tenham estado em algum momento catexizadas simultaneamente a partir da f ou de alguma outra parte Desse modo uma O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 200 barreira de contacto ficou facilitada pela catexia simultânea Daí se conclui nos termos da nossa teoria que uma Q passa mais facilmente de um neurônio para um neurônio catexizado do que para um não catexizado Assim a catexia do segundo neurônio atua da mesma maneira que um aumento de catexia no primeiro Nesse caso mais uma vez a catexia se revela no que diz respeito à passagem de Q como equivalente da facilitação Cf em 12 Aqui portanto travamos conhecimento com um segundo fator importante para a determinação do curso que segue uma Q Uma Q no neurônio a não só tomará a direção da barreira mais facilitada como também a direção que esteja catexizada a partir do lado oposto Os dois fatores podem reforçarse mutuamente ou em certos casos antagonizarse Assim como resultado da experiência da satisfação há uma facilitação entre duas imagens mnêmicas e os neurônios nucleares que ficam catexizados em estado de urgência Junto com a descarga de satisfação não resta dúvida de que a Q se esvai também das imagens mnêmicas Ora com o reaparecimento do estado de urgência ou de desejo a catexia também passa para as duas lembranças reativandoas É provável que a imagem mnêmica do objeto será a primeira a ser afetada pela ativação do desejo Não tenho dúvida de que na primeira instância essa ativação do desejo produz algo idêntico a uma percepção a saber uma alucinação Quando uma ação reflexa é introduzida em seguida a esta a conseqüência inevitável é o desapontamento Ver em 1 12 A EXPERIÊNCIA DA DOR Normalmente y está exposto a Q a partir das vias endógenas de condução e anormalmente embora ainda não patologicamente nos casos em que Qs excessivamente grandes rompem os dispositivos de tela em f isto é nos casos de dor Ver em 1 A dor produz em 1 grande aumento de nível que é sentido como desprazer por Ver em 1 2 uma propensão à descarga que pode ser modificada em determinados sentidos e 3 uma facilitação entre esta última a propensão à descarga e uma imagem mnêmica do objeto que provoca a dor Além disso não há dúvida de que a dor possui uma qualidade especial que se faz sentir junto com o desprazer Quando a imagem mnêmica do objeto hostil é renovadamente catexizada por qualquer razão por nova percepção digamos surge um estado que não é o da dor mas que apesar disso tem certa semelhança com ela Esse estado inclui o desprazer e a tendência à descarga que corresponde à experiência da dor Como o desprazer significa aumento de nível devese perguntar qual a origem dessa Q Na experiência da dor propriamente dita era a Q externa irruptora que elevava o nível de y Na reprodução da experiência no afeto a única Q adicional é a que catexiza a lembrança sendo evidente que esta é da mesma natureza de qualquer outra percepção e não pode ter como resultado o aumento geral de Q O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 201 Só nos resta pois pressupor que devido à catexia das lembranças o desprazer é liberado do interior do corpo e de novo transmitido O mecanismo dessa liberação só pode ser retratado da seguinte maneira Assim como existem neurônios motores que quando cheios até certo ponto conduzem Q aos músculos descarregandoa devem também existir neurônios secretores que quando excitados provocam no interior do corpo o surgimento de algo que atua como estímulo sobre as vias endógenas de condução de y neurônios que dessa forma influenciam a produção de Q endógena e conseqüentemente não descarregam Q mas fornecemnas por vias indiretas A esses neurônios secretores chamaremos de neurônioschave É evidente que eles só são excitados a partir de certo nível em y Como resultado da experiência da dor a imagem mnêmica do objeto hostil adquiriu uma facilitação excelente para esses neurônioschave em virtude da qual a facilitação se libera então desprazer no afeto Essa hipótese intrigante mas indispensável é confirmada pelo que ocorre no caso da liberação sexual Ao mesmo tempo somos forçados a suspeitar de que os estímulos endógenos em ambos os casos consistem em produtos químicos cujo número pode ser considerável Como a liberação do desprazer pode ser extremamente grande quando existe uma catexia bastante insignificante da lembrança hostil podese concluir que a dor deixa atrás de si facilitações especialmente abundantes Nessa conexão é de se presumir que a facilitação dependa inteiramente da Q alcançada de modo que o efeito facilitador de 3 Q pode ser muito maior que o de 3 x Q 13 AFETOS E ESTADOS DE DESEJO Os resíduos dos dois tipos de experiências de dor e de satisfação que acabamos de examinar são os afetos e os estados de desejo Estes têm em comum o fato de que ambos envolvem um aumento da tensão Q em y produzido no caso de um afeto pela liberação súbita e no de um desejo por soma Ambos os estados são da maior importância para a passagem da quantidade em y pois deixam atrás dele motivações para isso que se constituem no tipo compulsivo O estado do desejo resulta numa atração positiva para o objeto desejado ou mais precisamente por sua imagem mnêmica a experiência da dor leva à repulsa à aversão por manter catexizada a imagem mnêmica da dor leva à repulsa à aversão por manter catexizada a imagem mnêmica hostil Eis aqui a atração de desejo primária e a defesa repúdio primária A atração de desejo pode ser facilmente explicada pelo pressuposto de que a catexia da imagem mnêmica agradável num estado de desejo supera amplamente em Q a catexia que ocorre quando há uma simples percepção de modo que a facilitação particularmente boa passa do núcleo y para o neurônio correspondente do pallium É mais difícil explicar a defesa primária ou recalcamento o fato de a imagem mnêmica hostil ser regularmente abandonada o mais depressa possível por sua catexia Apesar disso a explicação deve estar no O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 202 fato de que as experiências primárias da dor foram eliminadas pela defesa reflexa A aparição de outro objeto em lugar do hostil foi o sinal para o fato de que a experiência da dor estava terminando e o sistema y pensando biologicamente procura reproduzir o estado de y que assinalou a cessação da dor Com a expressão pensando biologicamente acabamos de introduzir uma nova base de explicação que deve ter validade independente ainda que não exclua mas pelo contrário exija o recurso a princípios mecânicos fatores quantitativos No caso diante de nós poderia perfeitamente ser o aumento de Q invariavelmente produzido com a catexia de uma lembrança hostil que força o acréscimo da atividade de descarga e com isso também a drenagem da lembrança 14 INTRODUÇÃO DO EGO Com efeito porém com a hipótese da atração de desejo e da propensão ao recalcamento já abordamos um estado de y que ainda não foi discutido Pois esses dois processos indicam que em y se formou uma organização cuja presença interfere nas passagens de quantidade que na primeira vez ocorreram de determinada maneira isto é acompanhadas de satisfação ou dor Essa organização se chama ego Pode ser facilmente descrito se considerarmos que a recepção sistematicamente repetida de Q endógena em certos neurônios do núcleo e o conseqüente efeito facilitador produzem um grupo de neurônios que é constantemente catexizado em 1 e 23 e que desse modo corresponde ao veículo da reserva requerido pela função secundária em 1 O ego deve portanto ser definido como a totalidade das catexias y existentes em determinado momento nas quais cumpre diferenciar um componente permanente e outro mutável em 1 adiante É fácil ver que as facilitações entre os neurônios y fazem parte dos domínios do ego já que representam possibilidades se o ego for alterado de determinar a sua extensão nos momentos seguintes Embora esse ego deva esforçarse por se livrar de suas catexias pelo método da satisfação isso não pode acontecer de nenhuma outra maneira senão por ele influenciar a repetição das experiências de dor e dos afetos e pelo método seguinte que é geralmente descrito como inibição Uma Q que irrompe em um neurônio a partir de um ponto qualquer continuará em direção à barreira de contacto que estiver mais facilitada estabelecendo uma corrente nessa direção Explicando com mais precisão a corrente de Q se dividirá na direção das diversas barreiras de contacto na proporção inversa de suas resistências e em tal caso quando uma fração se choca contra uma barreira de contacto cuja resistência é inferior a ela barreira de contacto não passará praticamente nada por esse ponto Essa relação pode facilmente conduzirse para cada Q no neurônio pois poderão surgir frações que sejam superiores também ao limiar de outras barreiras de contacto Assim o curso adotado dependerá das Q e da relação das facilitações Já conhecemos porém o terceiro fator poderoso Ver em 12 Quando um neurônio adjacente é simultaneamente catexizado isso atua como uma facilitação temporária da barreira de contacto existente entre os dois modificando o curso da corrente que de outro modo teria tomado a direção de uma barreira de contacto facilitada Assim pois uma catexia colateral atua como uma inibição do curso da Q O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 203 Imaginemos o ego como uma rede de neurônios catexizados e bem facilitados entre si da seguinte maneira ver Fig 14 Fig 14 Suponhamos que uma Q penetrasse no neurônio a vindo do exterior então se não fosse influenciada ela passaria para o neurônio b mas ela é tão influenciada pela catexia colateral que libera apenas uma fração para b e talvez nem sequer chegue de todo a b Logo se o ego existe ele deve inibir os processos psíquicos primários Uma inibição desse tipo representa porém uma vantagem decisiva para y Suponhamos que a seja uma imagem mnêmica hostil e b um neurôniochave para o desprazer Ver em 1 Então se é despertado o desprazer primariamente será liberado o que talvez fosse inútil e que o é de qualquer modo quando ele é liberado em sua totalidade Com a ação inibitória de a liberação de desprazer ficará muito reduzida e o sistema nervoso será poupado sem qualquer outro dano do desenvolvimento e da descarga de Q Agora se torna fácil imaginar como o ego com o auxílio de um mecanismo que atrai sua atenção para a nova catexia iminente da imagem mnêmica hostil pode conseguir inibir a passagem da quantidade de uma imagem mnêmica para a liberação do desprazer por meio de uma copiosa catexia colateral que pode ser reforçada de acordo com as necessidades E realmente se admitirmos que a liberação inicial de desprazer é captada da Q pelo próprio ego teremos nessa mesma liberação a fonte do dispêndio que a catexia colateral inibidora exige do ego Nesse caso quanto mais intenso for o desprazer mais forte será a defesa primária 15 OS PROCESSOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO EM Y A conclusão do que até aqui se desenvolveu é que o ego em y que consideramos no que tange às suas tendências como a totalidade do sistema nervoso pode quando os processos não são influenciados em y cair num estado de inermidade e sofrer dano em duas situações Quer dizer isto pode ocorrer em primeiro lugar quando ele encontrandose em estado de desejo catexiza de novo a lembrança de um objeto e então põe em ação o processo de descarga nesse caso deixa de ocorrer a satisfação porque o objeto não é real mas está presente apenas como idéia imaginária Para começar é incapaz de estabelecer essa distinção já que só pode funcionar como base da seqüência de estados análogos entre neurônios Assim necessita de um critério proveniente de outra parte para distinguir entre percepção e idéia Por outro lado y precisa de uma indicação que atraia sua atenção para a recatexização de uma imagem mnêmica hostil e que lhe permita evitar por meio de catexias colaterais a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 204 conseqüente liberação de desprazer Se y conseguir efetuar essa inibição a tempo a liberação de desprazer e ao mesmo tempo as defesas serão mínimas caso contrário ocorrerá um desprazer imenso e uma defesa primária excessiva Ambas a catexia de desejo e a liberação de desprazer quando a lembrança em questão é de novo catexizada podem ser biologicamente nocivas É o que acontece na catexia de desejo sempre que ela ultrapassa determinada quantidade e desse modo age como um estímulo à descarga e é o que acontece também na liberação de desprazer pelo menos quando a catexia da imagem mnêmica hostil emana por associação do próprio y e não do mundo externo Aqui mais uma vez tratase portanto de encontrar uma indicação para distinguir entre percepção e lembrança idéia Provavelmente são neurônios w que fornecem essa indicação a indicação da realidade No caso de cada percepção externa produzse em w Ver em 1 uma excitação qualitativa que na primeira situação porém não tem nenhuma importância para y Devese acrescentar que a excitação de w conduz a uma descarga de w e que desta como de qualquer descarga em 1 chega a informação a y Desse modo a informação da descarga proveniente de w constitui a indicação da qualidade ou da realidade para y Quando o objeto desejado é abundantemente catexizado a ponto de ser ativado de maneira alucinatória também se produz a mesma indicação de descarga ou de realidade que no caso da percepção externa Nessa situação o critério falha Mas quando a catexia do desejo ocorre sujeita a uma inibição como pode acontecer quando existe um ego catexizado pode ser imaginada uma instância quantitativa em que a catexia de desejo não sendo suficientemente intensa não produza nenhuma indicação de qualidade ao passo que a percepção externa seria capaz de produzila Nessa instância portanto o critério manteria seu valor Porque a diferença consiste em que a indicação de qualidade quando proveniente do exterior aparece sempre seja qual for a intensidade da catexia ao passo que quando proveniente de y ela só se manifesta em presença de intensidades elevadas É por conseguinte a inibição pelo ego que possibilita um critério de diferenciação entre a percepção e a lembrança A experiência biológica ensinará então a não iniciar a descarga antes da chegada da indicação da realidade e tendo essa finalidade em vista a não levar a catexia das lembranças desejadas além de certa quantidade Por outro lado a excitação dos neurônios w também pode servir para proteger o sistema y no segundo dos casos mencionados isto é atraindo a atenção de y para o fato da presença ou ausência de uma percepção Com essa finalidade devese presumir que os neurônios w estão originalmente vinculados de forma anatômica com as vias de condução procedentes dos diversos órgãos sensoriais e que os neurônios w reorientam sua descarga para os aparelhos motores pertencentes a esses mesmos órgãos sensoriais Em tal caso a informação desta última descarga a informação da atenção reflexa atuará para y como um sinal biológico de que ele deve enviar O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 205 uma quantidade de catexias nessas mesmas direções Resumindo pois quando há inibição por um ego catexizado as indicações de descarga w tornamse em termos muito gerais indicações da realidade que y aprende biologicamente a aproveitar Quando o ego no momento em que surge essa indicação da realidade se encontra em estado de tensão e desejo ela permite que se siga uma descarga no sentido da ação específica Ver em 1 Quando a indicação da realidade coincide com um aumento do desprazer y produzirá então por meio de uma catexia colateral de considerável grandeza uma defesa de magnitude normal situada no lugar indicado Se não ocorrer nenhuma dessas duas circunstâncias a catexia poderá prosseguir sem nenhum impedimento de acordo com as condições em que se encontrem as facilitações A catexia de desejo levada ao ponto de alucinação e a completa produção do desprazer que envolve o dispêndio total da defesa são por nós designadas como processos psíquicos primários em contrapartida os processos que só se tornam possíveis mediante uma boa catexia do ego e que representam versões atenuadas dos referidos processos primários são descritos como processos psíquicos secundários Verseá que a precondição necessária destes últimos é a utilização correta das indicações da realidade que só se torna possível quando existe inibição por parte do ego 16 COGNIÇÃO E PENSAMENTO REPRODUTIVO Formulamos a hipótese de que durante o processo de desejar a inibição por parte do ego produz uma catexia moderada do objeto desejado que permite reconhecêlo como nãoreal e agora podemos prosseguir com a análise desse processo Várias possibilidades podem ocorrer No primeiro caso simultaneamente à catexia de desejo da imagem mnêmica achase presente a percepção dela Se assim é as duas catexias coincidem o que não pode ser biologicamente aproveitado mas além disso a indicação da realidade provém de após o que como mostra a experiência a descarga é eficaz Ver em 1 Esse é um caso fácil de abordar No segundo caso a catexia de desejo está presente e ao lado dela uma percepção que não corresponde a ela inteiramente mas apenas em parte É chegado o momento de lembrar que as catexias perceptivas nunca são catexias de neurônios isolados mas sempre de complexos Até agora desconsideramos essa característica chegou o momento de levála em conta Suponhamos que em termos bastante gerais a catexia de desejo se relaciona com o neurônio a o neurônio b e a catexia perceptiva com os neurônios a c Visto que este será o caso mais comum mais comum que o da identidade ele merece uma consideração mais precisa Também aqui a experiência biológica ensina Ver em 1 que não é seguro iniciar a descarga se as indicações da realidade não confirmarem a totalidade do complexo mas só uma parte dele Agora porém encontrase um modo de aperfeiçoar a semelhança convertendoa em identidade Comparando o complexo perceptual com outros complexos congêneres podese decompôlo em dois componentes o peimri que geralmente se mantém constante é o neurônio a e o segundo habitualmente variável é o neurônio b A O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 206 linguagem aplicará mais tarde o termo juízo a essa análise e descobrirá a semelhança que de fato existe por um lado entre o núcleo do ego e o componente perceptual constante e por outro entre as catexias cambiantes no pallium em 1 e 2 e a componente inconstante esta a linguagem chamará o neurônio a de a coisa e o neurônio b de sua atividade ou atributo em suma de seu predicado Cf em 12 3 e 4 Assim julgar é um processo que só se torna possível graças à inibição pelo ego e que é evocado pela dessemelhança entre a catexia de desejo de uma lembrança e a catexia perceptual que lhe seja semelhante Daí se deduz que a coincidência entre essas duas catexias se converte num sinal biológico para pôr fim à atividade do pensamento e permitir que se inicie a descarga Quando as duas catexias não coincidem surge o ímpeto para a atividade do pensamento que voltará a ser interrompida pela coincidência entre ambas O processo pode ser mais bem analisado Se o neurônio a coincide nas duas catexias mas o neurônio c é percebido em lugar do neurônio b a atividade do ego segue as conexões desse neurônio c e mediante uma corrente de Q ao longo dessas conexões faz surgir novas catexias até que se encontre acesso para o neurônio b desaparecido Via de regra aparece a imagem de um movimento uma imagem motora que é intercalada entre os neurônios c e b e quando essa imagem é ativada de novo pela realização efetiva de um movimento ficam estabelecidas a percepção do neurônio b e ao mesmo tempo a identidade visada Suponhamos por exemplo que uma imagem mnêmica desejada pela criança seja a do seio materno com o mamilo vistos de frente e que a primeira percepção obtida seja uma visão lateral do mesmo objeto sem o mamilo Na memória da criança há uma experiência casualmente adquirida no ato de mamar segundo a qual a imagem frontal se converte em lateral mediante determinado movimento da cabeça A imagem lateral agora percebida conduz à imagem do movimento da cabeça um teste experimental mostra que o equivalente desse movimento deve ser executado para se obter a percepção da imagem frontal Por enquanto ainda não há muito julgamento nisso mas tratase de um exemplo da possibilidade de chegar pela reprodução das catexias a uma ação que já é uma das ramificações acidentais da ação específica Não resta dúvida de que o elemento subjacente a essa migração ao longo dos neurônios facilitados é a Q proveniente do ego catexizado e de que essa migração não é regida pela facilitação e sim por um objetivo Que objetivo é esse e como pode ser alcançado O objetivo é voltar ao neurônio b desaparecido e liberar a sensação de identidade isto é o momento em que só é catexizado o neurônio b e em que a catexia migratória desemboca no neurônio b Cf em 1 e 2 Ele é alcançado mediante um deslocamento experimental de Q ao longo de cada via possível e é claro que para tal propósito é necessário um dispêndio ora maior ora menor de catexia colateral conforme se possa aproveitar as facilitações presentes ou se uma precisa trabalhar contra elas A luta entre as facilitações estabelecidas e as catexias mutáveis caracteriza o processo secundário do pensamento reprodutivo em contraste com a seqüência primária de associações O que dirige o curso dessa migração O fato de que a idéia desejante da memória isto é do O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 207 neurônio b se mantém catexizada durante o tempo em que a cadeia associativa é percorrida a partir do neurônio c Como já sabemos em 1 graças a essa catexização do neurônio b todas as suas conexões possíveis ficam por sua vez mais facilitadas e acessíveis No curso dessa migração pode acontecer que a Q esbarre numa lembrança relacionada com uma experiência de dor provocando assim uma liberação de desprazer Visto ser esse um sinal seguro de que o neurônio b não pode ser atingido por essa via a corrente se desvia imediatamente da catexia em questão Apesar disso as vias do desprazer conservam o seu grande valor como orientadoras da corrente de reprodução 17 MEMÓRIA E JUÍZO O pensamento reprodutivo tem pois um objetivo prático e um fim biologicamente estabelecido a saber conduzir de volta para a catexia do neurônio desaparecido uma Q que está migrando da percepção supérflua indesejada Com isso obtémse a identidade e o direito à descarga se em adição a indicação da realidade provier do neurônio b Mas o processo também pode tornarse independente deste último objetivo e lutar unicamente pela identidade Se é assim temos diante de nós um ato puro de pensamento embora este possa em qualquer caso mais tarde ser colocado em prática Aqui ademais o ego catexizado se comporta de maneira exatamente igual Chegamos agora a uma terceira possibilidade que pode surgir no estado de desejo é quando há uma catexia de desejo e emerge uma percepção que não coincide de modo algum com a imagem mnêmica desejada mnem Surge então um interesse de conhecer essa imagem perceptiva de maneira que talvez se consiga encontrar afinal uma via entre ela e a mnem É de se supor que com essa finalidade em vista a imagem perceptiva seja novamente hipercatexizada a partir do ego como aconteceu no caso anterior com apenas uma parte componente dela o neurônio c Se a imagem perceptiva não for absolutamente nova ela agora recordará e reviverá uma imagem perceptiva mnêmica com a qual coincida pelo menos em parte O processo de pensamento prévio é agora repetido em conexão com essa imagem mnêmica embora até certo ponto sem o objetivo que foi anteriormente proporcionando pela idéia de desejo catexizada Cf em 1 Na medida em que coincidem as catexias não dão oportunidade à atividade de pensamento Por outro lado as partes discrepantes despertam interesse e podem dar lugar à atividade do pensamento de duas maneiras Ou a corrente se dirigirá para as lembranças despertadas e porá em ação uma atividade mnêmica sem objetivo que assim será dirigida pelas diferenças e não pelas semelhanças ou a corrente permanecerá nos componentes da percepção recémsurgidos e em tal caso exibe uma atividade judicativa igualmente sem objetivo 1 Suponhamos que o objeto que compõe a percepção se pareça com o sujeito um outro ser humano Nesse caso o interesse teórico que lhe é dedicado também se explica pelo fato de que um objeto semelhante foi ao mesmo tempo o primeiro objeto hostil além de sua única força auxiliar Por esse motivo é em relação a seus semelhantes que o ser humano aprende a conhecer Os complexos perceptivos emanados O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 208 desse ser semelhante serão então em parte novos e incomparáveis como por exemplo seus traços na esfera visual mas outras percepções visuais as do movimento das mãos por exemplo coincidirão no sujeito com a lembrança de impressões visuais muito semelhantes emanadas de seu próprio corpo lembranças que estão associadas a lembranças de movimentos experimentados por ele mesmo Outras percepções do objeto se por exemplo ele der um grito também despertarão a lembrança do próprio grito do sujeito e ao mesmo tempo de suas próprias experiências de dor Desse modo o complexo do ser humano semelhante se divide em dois componentes dos quais um produz uma impressão por sua estrutura constante e permanece unido como uma coisa enquanto o outro pode ser compreendido por meio da atividade de memória isto é pode ser rastreado até as informações sobre o próprio corpo do sujeito Essa dissecação de um complexo perceptivo é descrita como o conhecimento dele envolve um juízo e chega a seu término uma vez atingido este último objetivo Como se verá o juízo não é uma função primária mas pressupõe a catexia das porções da percepção díspares não comparáveis a partir do ego no primeiro caso o juízo não tem nenhuma finalidade prática e ao que parece durante o processo judicativo a catexia das porções díspares é descarregada pois isso explicaria por que as atividades os predicados em 1 são separados do complexo do sujeito por uma via relativamente frouxa 1 A partir daqui seria possível penetrar a fundo na análise do ato judicativo mas isso nos desviaria de nosso tema Contentemonos pois em deixar bem estabelecido que é o interesse primitivo em estabelecer a situação de satisfação que leva num caso à consideração reprodutiva e no outro ao juízo como um método para ir da situação perceptiva dada na realidade à situação que é desejada Para tanto o requisito indispensável continua sendo o de que os processos não sigam seu curso sem serem inibidos e sim em conjunto com um ego ativo Com isso ficaria demonstrado o sentido eminentemente prático de toda atividade de pensamento 18 PENSAMENTO E REALIDADE Assim o objetivo e o fim de todos os processos de pensamento é o estabelecimento de um estado de identidade a transmissão de uma catexia Q sic emanada do exterior a um neurônio catexizado a partir do ego O pensamento cognitivo ou judicativo procura uma identidade com uma catexia corporal ao passo que o pensamento reprodutivo procura uma identidade com uma catexia psíquica do próprio sujeito com uma experiência do próprio sujeito O pensamento judicativo opera antes do reprodutivo fornecendolhe facilitações já prontas para a migração associativa posterior Quando uma vez concluído o ato de pensamento a indicação da realidade chega à percepção obtémse então um juízo de realidade uma crença atingindose com isso o objetivo de toda essa atividade No que se refere ao juízo cumpre ainda observar que sua base é evidentemente a presença de experiências corporais sensações e imagens motoras de si próprio Enquanto faltarem esses elementos a porção variável Cf em 1 do complexo perceptivo permanece não O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 209 compreendida isto é poderá ser reproduzida mas não apontará direção para novas vias de pensamento Assim por exemplo e isso se tornará importante mais adiante na Parte II nenhuma experiência sexual produz qualquer efeito enquanto o sujeito ignora toda e qualquer sensação sexual quer dizer em geral antes do início da puberdade O juízo primário parece pressupor um grau de influência menor por parte do ego catexizado do que os atos reprodutivos de pensamento Neste no juízo primário tratase de persistir numa associação que se deve a uma coincidência parcial entre as catexias de desejo e perceptiva uma associação à qual não se aplica modificação alguma E efetivamente também existem caso sem que o processo associativo do juízo é levado a cabo com um montante integral de quantidade A percepção corresponderia a um objetonúcleo uma imagem motora Enquanto alguém está percebendo a percepção ele copia o próprio movimento isto é inervase tão intensamente a própria imagem motora despertada para coincidir com a percepção que o movimento vem a ser efetuado Daí se pode falar em percepções que têm valor imitativo Ou então a percepção desperta a imagem mnêmica de uma sensação de dor do próprio sujeito de modo que sente o desprazer correspondente e se repete o movimento defensivo adequado Eis aí o valor de simpatia de uma percepção Não resta dúvida de que esses dois casos nos apresentam o processo primário atuando no juízo e podemos presumir que todo juízo secundário tenha surgido pela atenuação desses processos puramente associativos Assim o juízo que mais tarde se converterá num meio de cognição de um objeto que talvez tenha importância prática é originalmente um processo de associação entre catexias que chegam ao exterior e catexias oriundas do próprio corpo uma identificação de informações ou catexias procedentes de f e de dentro Talvez não esteja errado supor que ele o juízo representa ao mesmo tempo um método pelo qual as Qs procedentes de f podem ser transmitidas e descarregadas O que chamamos coisas são resíduos que fogem de serem julgados O exemplo do julgamento nos fornece pela primeira vez indício da diferença em suas características quantitativas que é preciso descobrir entre o pensamento e o processo primário É lícito supor que durante o pensar saia de y uma tênue corrente de inervação motora mas naturalmente só se durante esse processo tiver sido inervado um neurônio motor ou um neurôniochave Ver em 1 Apesar disso seria errôneo considerar essa descarga como o próprio processo de pensamento do qual ela não passa de um efeito acessório e inintencional O processo de pensamento consiste na catexia dos neurônios y acompanhada por uma mudança promovida pela catexia colateral do ego naquilo que é imposto pelas facilitações Do ponto de vista mecânico é compreensível que nesse caso apenas uma parte da Q possa acompanhar as facilitações e que a magnitude dessa parte seja constantemente regulada pelas catexias Mas é também evidente que ao mesmo tempo economizase com isso Q suficiente para fazer com que a reprodução como um todo seja proveitosa Do contrário toda a Q necessária para a descarga final O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 210 seria gasta durante a sua passagem pelos pontos de saída motora Assim o processo secundário é uma repetição da passagem original da quantidade em num nível mais baixo e com quantidades menores Aqui se poderia objetar Com Qs ainda menores do que as que normalmente correm pelos neurônios Como é possível franquear a Qs tão pequenas as vias que afinal só são transitáveis por Qs maiores do que as que W recebe habitualmente A única resposta cabível é que isso deve ser uma conseqüência mecânica das catexias colaterais Devemos concluir que as condições são tais que quando há uma catexia colateral pequenas Qs fluem por facilitações que comumente só seriam percorríveis por Qs grandes A catexia colateral liga por assim dizer uma cota de Q que corre pelo neurônio Existe uma outra condição que o pensamento necessita satisfazer Não deve realizar modificação essencial nas facilitações criadas pelos processos primários caso contrário efetivamente falsearia os traços da realidade Quanto a essa condição basta observar que a facilitação provavelmente é o resultado de uma única passagem de grande quantidade e que a catexia por mais poderosa no momento não deixa no entanto atrás de si qualquer efeito permanente comparável As pequenas Qs que passam durante o pensamento não podem em geral prevalecer contra as facilitações Não resta dúvida porém de que o processo de pensamento deixa efetivamente atrás de si traços duradouros uma vez que um segundo pensamento um repensar exige tão menor dispêndio de energia que o primeiro Portanto a fim de que a realidade não seja falseada fazse necessária a existência de traços especiais signos dos processos de pensamento que constituam uma memória de pensamento que ainda não é possível delinear Mais adiante veremos de que maneira os traços dos processos de pensamento se diferenciam dos da realidade 19 PROCESSOS PRIMÁRIOS O SONO E OS SONHOS Surge agora o problema quanto a quais são os meios quantitativos que mantêm o processo primário y No caso de uma experiência de dor tratase evidentemente da Q que irrompe do exterior no caso de um afeto é a Q endógena liberada por facilitação No caso do processo secundário do pensamento reprodutivo é óbvio que uma Q maior ou menor pode ser transferida do ego para o neurônio c em 1 e esta Q pode ser descrita como interesse do pensamento sendo proporcional ao interesse afetivo onde este houver surgido A questão é apenas saber se existem processos y de índole primária para os quais seja suficiente a Q fornecida por f ou se a catexia f de uma percepção é automaticamente suplementada por uma contribuição y atenção sendo somente esta que possibilita um processo y Ver em 1 adiante Essa questão terá que permanecer em aberto embora talvez se possa determinar se ela é especialmente aplicável a alguns fatos psicológicos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 211 Um fato importante é que os processos de y tais como os que foram biologicamente suprimidos no curso do desenvolvimento de y se apresentam diariamente a nós durante o sono Um segundo fato de igual importância é que os mecanismos patológicos revelados nas psiconeuroses pela análise mais cuidadosa guardam uma grande semelhança com os processos oníricos Dessa comparação que desenvolveremos mais adiante em 1 tiramse as mais importantes conclusões 1 Antes porém é preciso introduzir o fato do sono em nossa teoria A precondição essencial do sono é facilmente reconhecida na criança As crianças dormem enquanto não são atormentadas por nenhuma necessidade física ou estímulo externo pela fome ou pela sensação de frio causada pela urina Elas adormecem depois de serem satisfeitas no seio Os adultos também adormecem com facilidade post coenam et coitum depois da refeição e da cópula Por conseguinte a precondição do sono é uma queda da carga endógena no núcleo de y que torna supérflua a função secundária No sono o indivíduo se encontra no estado ideal de inércia livre de sua reserva de Q Ver em 1 Nos adultos essa reserva se encontra acumulada no ego em 1 podemos supor que é a descarga do ego que determina e caracteriza o sono E aqui como se percebe de imediato temos a precondição dos processos psíquicos primários Não é certo que nos adultos o ego fique completamente livre de sua carga durante o sono De qualquer forma ele retira um enorme número de catexias que no entanto ao despertar são restabelecidas imediatamente e sem esforço Isso não contradiz nenhuma de nossas pressuposições mas chama atenção para o fato de que devemos presumir que entre os neurônios adequadamente ligados existem correntes que afetam o nível total da catexia tal como ocorre nos vasos comunicantes embora o nível atingido em cada neurônio em particular precise apenas ser proporcional e não necessariamente uniforme Cf em 1 As peculiaridades do sono revelam uma série de coisas de que talvez não fosse possível suspeitar O sono se caracteriza por uma paralisia motora paralisia da vontade A vontade é a descarga da Q total de y em 1 No sono o tônus espinhal fica parcialmente relaxado é provável que a descarga motora de f se manifeste no tônus outras inervações persistem durante o sono junto com as fontes de sua excitação É sumamente interessante que o estado do sono comece e seja provocado pela oclusão dos órgãos sensoriais que podem ser obstruídos Durante o sono não se produzem percepções e nada perturba mais o sono do que a aparição de impressões sensoriais do que a catexização de y a partir de f Isso parece indicar que durante a vigília uma catexia constante embora deslocável atenção dirigese aos neurônios do pallium que recebem percepções de f em 1 sendo pois bem possível que os processos primários de y sejam levados a cabo com o auxílio dessa O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 212 contribuição de y Cf em 1 Resta saber se os próprios neurônios do pallium ou os neurônios nucleares adjacentes já se encontram précatexizados Quando retira essas catexias do pallium as percepções incidem sobre os neurônios nãocatexizados sendo pequenas e talvez até incapazes de dar uma indicação de qualidade a partir de W em 1 Como já presumimos ao se esvaziarem os neurônios cessa também a inervação de uma descarga que aumenta a atenção A explicação do enigma do hipnotismo também teria que ser abordada a partir desse ponto A aparente inexcitabilidade dos órgãos sensoriais durante a hipnose deve basearse nessa retirada da catexia da atenção Assim por meio de um mecanismo automático que é correlato do mecanismo de atenção exclui as impressões de enquanto está catexizado O mais estranho porém é que durante o sono ocorrem processos os sonhos que têm muitas características que não são compreendidas 20 A ANÁLISE DOS SONHOS Os sonhos apresentam todos os graus de transição até a vigília e a uma mistura com os processos normais no entanto é fácil discernir o que constitui a natureza onírica propriamente dita 1 Os sonhos são desprovidos de descarga motora e em geral de elementos motores Nos sonhos ficamos paralisados Ver em 1 A explicação mais fácil dessa característica é a falta de précatexia espinhal graças à cessação da descarga de Quando os neurônios não estão catexizados em 1 a excitação motora não pode transpor as barreiras Em outros estados oníricos o movimento não é excluído Esta não é a característica mais essencial dos sonhos 2 Nos sonhos as conexões são parcialmente absurdas parcialmente imbecis ou até mesmo sem sentido ou estranhamente loucas Esta última característica se explica pelo fato de que nos sonhos predomina a compulsão a associar que sem dúvida também domina primordialmente a vida psíquica em geral Ao que parece duas catexias coexistentes precisam pôrse em mútua conexão Colhi alguns exemplos cômicos do predomínio dessa compulsão na vida de vigília Por exemplo alguns homens das províncias que se encontravam no Parlamento francês durante um atentado a bomba chegaram à conclusão de que cada vez que um deputado proferia um bom discurso era aplaudido a tiros As outras duas características que na realidade são idênticas demonstram que uma parte das experiências psíquicas do sonhador fica esquecida Com efeito todas as experiências biológicas que comumente inibem o processo primário são esquecidas o que se deve à falta de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 213 catexia do ego A insensatez e a ilogicidade dos sonhos devem provavelmente ser atribuídas a essa mesma característica Ao que parece as catexias que não foram retiradas estabilizamse em parte em direção às facilitações mais próximas e em parte em direção às catexias vizinhas Se a descarga do ego fosse completa o sono teria que ser forçosamente livre dos sonhos 3 As idéias oníricas são de caráter alucinatório despertam a consciência e recebem crédito Essa é a característica mais importante do sono Manifestase de pronto quando há momentos alternantes de sono e vigília A pessoa fecha os olhos e alucina torna a abrilos e pensa com palavras Existem várias explicações para o caráter alucinatório das catexias oníricas Em primeiro lugar podese supor que a corrente de f para a mobilidade durante a vida desperta impediria uma catexia retroativa dos neurônios a partir de 1 e que quando essa corrente cessa f é retroativamente catexizado satisfazendose assim a precondição necessária para a produção de qualidade O único argumento contrário é o de que os neurônios f pelo fato de não estarem catexizados deveriam estar protegidos contra a catexia proveniente de y tal como ocorre com a motilidade É típico do sono que inverta toda a situação nesse caso que suspenda a descarga motora vinda de y e que torne possível a descarga retroativa até f Seria tentador atribuir aqui o papel determinante à grande corrente de descarga que na vida desperta vai de até a motilidade Em segundo lugar poderíamos invocar a natureza do processo primário e ressaltar que a lembrança primária de uma percepção é sempre uma alucinação e que somente a inibição por parte do ego nos ensinou a jamais catexizar uma imagem perceptiva de maneira tal que possa transferir Q retroativamente até f Ver em 1 e 1 Para tornar essa hipótese mais aceitável poderseia acrescentar nesta conexão que em todo caso a condução de f é mais fácil que a de y de modo que uma catexia y de um neurônio mesmo quando ultrapassa em muito a catexia perceptiva do mesmo neurônio ainda assim não precisa ser retroativamente conduzida Essa explicação é também apoiada pela circunstância de que nos sonhos a vivacidade de alucinação é diretamente proporcional à importância isto é à catexia quantitativa da idéia em questão Isso indica que é Q que determina a alucinação Quando uma percepção chega de na vida desperta a catexia de interesse a torna sem dúvida mais nítida mas não vívida não altera sua característica quantitativa 4 O objetivo e o sentido dos sonhos dos normais pelo menos podem ser estabelecidos com certeza Eles os sonhos são realizações de desejos isto é processos primários que acompanham as experiências de satisfação em 1e só não são reconhecidos como tal porque a liberação de prazer a reprodução de traços das descargas de prazer em 1 neles é escassa pois em geral eles seguem seu curso sem afeto sem liberação motora É muito fácil porém demonstrar que esta é sua verdadeira natureza É justamente por essa razão que me sinto inclinado a deduzir que a catexia de desejo primária também foi de caráter alucinatório em 1 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 214 5 É digno de nota como a lembrança dos sonhos é fraca e o pouco dano que eles causam comparados com outros processos primários Mas isso se explica facilmente pelo fato de que os sonhos na maior parte seguem as velhas facilitações e por isso não provocam nenhuma mudança nelas de que as experiências de se mantêm afastadas deles e de que os sonhos devido à paralisia da motilidade não deixam atrás de si nenhum vestígio de descarga 6 Além disso é interessante que nos sonhos a consciência fornece a qualidade com a mesma facilidade que na vida desperta Isso demonstra que a consciência não está presa ao ego podendo agregarse a qualquer processo y Isso nos adverte também contra uma possível identificação dos processos primários com os processos inconscientes Eis aqui dois conselhos para futuro Se quando a lembrança de um sonho é preservada indagarmos sobre o seu conteúdo verificaremos que o significado dos sonhos como realizações de desejo se acha encoberto por uma série de processos todos os quais são reencontrados nas neuroses de cuja natureza patológica são característicos Cf em 1 21 A CONSCIÊNCIA DO SONHO A consciência das idéias oníricas é acima de tudo descontínua O que se torna consciente não é uma sucessão integral de associações mas apenas alguns de seus pontos de parada isolados Entre os quais existem vínculos intermediários inconscientes que podemos facilmente descobrir quando estamos acordados Se investigarmos a causa dessas lacunas eis o que descobriremos Suponhamos que A Fig 15 seja uma idéia onírica que se tornou consciente e que conduz a B Em vez de B porém aparece C na consciência simplesmente porque ele se encontra no caminho entre B e uma catexia D simultaneamente presente Desse modo um desvio é produzido por uma catexia simultânea de outra espécie que a propósito também não é consciente Por esse motivo então C tomou o lugar de B muito embora B se enquadre na conexão de pensamento na realização do desejo Fig 15 Por exemplo num de meus próprios sonhos R dá uma injeção de propileno em A Depois com toda a nitidez vejo diante de mim trimetilamina alucinada como uma fórmula Explicação o pensamento simultaneamente presente D é a natureza sexual da doença de A Entre esse pensamento e o propileno A existe uma associação com uma conversa a respeito da química sexual B que tive com W Fliess durante a qual ele me chamou especialmente a atenção para a trimetilamina Isso agora se torna consciente C devido O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 215 à pressão de ambos os lados É muito estranho que não se tornem conscientes também o vínculo intermediário química sexual B e a idéia diversiva a natureza sexual da doença coisa que precisa ser explicada Poderseia supor que as catexias de B ou de D não são por si sós suficientemente intensas para fazer o percurso até uma alucinação regressiva ao passo que C catexizada de ambos os lados poderia obter esse resultado No exemplo escolhido porém D a natureza sexual da doença era certamente tão intenso quanto A a injeção de propileno e o derivado dessas duas a fórmula química C era extremamente vívido O enigma dos vínculos intermediários inconscientes se aplica também ao pensamento desperto no qual eventos semelhantes são uma ocorrência cotidiana Mas o que persiste como característica dos sonhos é a facilidade com que a Q de desloca neles e com isso a substituição de B por um C que lhe é quantitativamente superior Algo parecido ocorre geralmente com a realização dos desejos no sonho O que acontece por exemplo não é que o desejo se torne consciente e sua realização seja então alucinada mas apenas está ultima o vínculo intermediário fica por inferir Não resta a menor dúvida de que ele foi percorrido sem que tivesse oportunidade de se desenvolver qualitativamente É evidente porém que a catexia da idéia de desejo nunca poderá ser mais forte que o motivo que impele para ela Desse modo a passagem psíquica da excitação no sonho se efetua de acordo com Q mas não é Q que decide o que se tornará consciente Dos processos oníricos talvez possamos inferir também que a consciência se manifesta durante a passagem de uma Q quer dizer que não é despertada por uma catexia constante Devese ainda suspeitar de que uma corrente intensa de Q não é favorável à geração da consciência uma vez que ela a consciência se vincula ao resultado do movimento a uma persistência relativamente tranqüila por assim dizer da catexia Por causa dessas precondições mutuamente contraditórias tornase difícil discernir o que realmente determina a consciência Além disso devemos levar em consideração as circunstâncias em que a consciência se manifesta no processo secundário A peculiaridade da consciência onírica que acabamos de indicar talvez se explique pelo fato de que o fluxo retroativo de uma corrente de Q até é incompatível com uma corrente enérgica até as vias de associação Os processos da consciência de parecem estar subordinados a outras condições 25 set 95 APÊNDICE A O USO DO CONCEITO DE REGRESSÃO DE FREUD O conceito de regressão prenunciado nas duas últimas seções da Parte I do Projeto iria desempenhar um papel cada vez mais importante nas teorias de Freud Numa nota de rodapé acrescentada em 1914 ao Capítulo VII B de A Interpretação dos Sonhos Edição Standard Brasileira Vol V 1 IMAGO Editora 1972 o próprio Freud atribuiu a descoberta do conceito de regressão a Albertus Magnus filósofo escolástico do século XIII e ao Leviathan de Hobbes 1651 Mas parece têlo deduzido ainda mais diretamente da contribuição teórica de Breuer aos Estudos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 216 sobre a Histeria ibid Vol III 1 IMAGO Editora 1974 publicado apenas alguns meses antes de ele mesmo ter escrito a presente obra Breuer ali descreveu o movimento retrogressivo da excitação proveniente de uma idéia ou imagem mnêmica desde a percepção ou alucinação quase exatamente da mesma maneira aqui descrita por Freud Ambos usaram a mesma palavra rückläufig aqui traduzida como retrogressiva A palavra alemã Regression apareceu pela primeira vez ao que nos conste num contexto semelhante cerca de dezoito meses mais tarde num rascunho enviado a Fliess no dia 2 de maio de 1897 Rascunho L 1 Mas sua primeira publicação foi em A Interpretação dos Sonhos 1900a no trecho subseqüentemente vinculado à nota de rodapé citada no início deste Apêndice Com o correr do tempo o termo passou a ser usado nos sentidos mais variados a certa altura classificado por Freud como topográfico temporal e formal A regressão topográfica é a que Breuer introduziu foi empregada no Projeto e forma o tema principal do Capítulo VII B de A Interpretação dos Sonhos 1900a Deve seu nome ao quadro diagramático da mente que aparece naquele Capítulo Edição Standard Brasileira Vol V 1 IMAGO Editora 1972 que registra a trajetória dos processos psíquicos entre a extremidade perceptiva e a extremidade motora do aparelho psíquico Na regressão topográfica a excitação é concebida como um retrocesso que se move no sentido da extremidade perceptiva Desse modo o termo constitui essencialmente a descrição de um fenômeno psicológico A regressão temporal tem relações mais estreitas com o material clínico Surge pela primeira vez mas sem qualquer referência explícita à regressão no caso clínico de Dora escrito em 1901 embora só publicado quatro anos depois 1905e Ali ela aparece relacionada com um exame das perversões Edição Standard Brasileira Vol VII 12 IMAGO Editora 1972 O que se sugere é que quando algum incidente fortuito na vida posterior inibe o desenvolvimento normal da sexualidade a conseqüência pode ser o ressurgimento da sexualidade infantil indiferenciada Freud apresentou então pela primeira vez uma de suas analogias favoritas Uma corrente de água que encontra obstáculos no leito do rio fica represada e reverte para velhos canais que antes pareciam fadados a secar A mesma hipótese ilustrada pela mesma analogia aparece mais de uma vez nos Três Ensaios ibid Vol VII 1 mas novamente sem mencionar na primeira edição dessa obra o termo regressão embora ele ocorra em vários trechos acrescentados às edições posteriores por exemplo ibid 1 acrescentado em 1915 Essa espécie de regressão já fora identificada nos Três Ensaios como desempenhando um papel não só nas perversões como também nas neuroses ibid 1 até na escolha normal de objeto na puberdade ibid 1 A princípio não se percebeu nitidamente que existiam de fato dois tipos de mecanismos diferentes nessa regressão temporal Tanto se poderia tratar simplesmente de um retorno a um objeto libidinal anterior como de um retorno da própria libido a modos de funcionamento anteriores Esses dois tipos já se encontram de fato implícitos no exame das perversões nos Três Ensaios onde fica patente que pode haver um retorno tanto a um objetivo sexual anterior como a um objeto sexual anterior Essa distinção fica bem clara na Conferência XXII das Conferências Introdutórias 191617 Edição Standard Brasileira Vol XVI 1 Assim como o primeiro desses tipos de regressão temporal é particularmente característico da histeria o O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 217 segundo está especialmente associado à neurose obsessiva Já se haviam fornecido exemplos dessa relação no caso clínico do Homem dos Ratos 1909d ibic X 11 Mas só se chegou à plena compreensão de sua importância com o advento da hipótese dos pontos de fixação e das organizações prégenitais no desenvolvimento da libido Aí foi possível compreender o efeito da frustração como causa da regressão da libido para algum ponto de fixação anterior Isso se tornou especialmente claro em dois artigos Tipos de Desencadeamento da Neurose 1912c ibid Vol XII ver em 1 e A Predisposição à Neurose Obsessiva 1913i ibid Vol XII ver em 12 Mas já se suspeitava de que um processo semelhante também deveria estar em ação nos distúrbios mais graves na esquizofrenia e na paranóia hipótese cuja prova seria encontrada no estudo da autobiografia de Schreber 1911c ibid ver em 1 Se aceitarmos a última definição de Freud para a defesa em Inibição Sintoma e Angústia 1926d ibid XX 12 como uma designação geral para todas as técnicas a que o ego recorre nos conflitos que podem levar a uma neurose talvez possamos considerar todos esses exemplos de regressão temporal como mecanismos de defesa Isso porém dificilmente pode ser dito salvo em sentido muito indireto sobre outra manifestação clínica da regressão a transferência que foi examinada por Freud em seu artigo técnico A Dinâmica da Transferência 1912b ibid XII ver em 12 Essa forma especial de regressão temporal foi alvo de alguns outros comentários interessantes em A História do Movimento Psicanalítico 1914d Edição Standard Brasileira Vol XIV 12 IMAGO Editora 1974 A terceira espécie de regressão de Freud a regressão formal descrita por ele como ocorrendo onde os métodos primitivos de expressão e representação tomam o lugar dos métodos habituais A Interpretação dos Sonhos Edição Standard Brasileira Vol V 1 IMAGO Editora 1972 foi por ele examinada sobretudo nas Conferências X XI e XII das Conferências Introdutórias em relação com os sonhos o simbolismo e a lingüística As próprias classificações de Freud dessas várias espécies de regressão não foram uniformes Na primeira delas nas Cinco Lições 1910a Edição Standard Brasileira Vol XI 1 IMAGO Editora 1970 ele descreveu a regressão temporal e a formal No parágrafo incluído em 1914 em A Interpretação dos Sonhos ibid Vol V 1 ele acrescentou a regressão topográfica Em seu artigo metapsicológico sobre os sonhos 1917d escrito em 1915 falou ibid Vol XIV 12 de dois tipos de regressão temporal um afetando o desenvolvimento do ego e outro o da libido e em ibid em 1 referiuse a uma regressãotopográfica diferenciandoa da já mencionada regressão temporal ou evolutiva Por fim na Conferência XIII das Conferências Introdutórias 19161917 Edição Standard Brasileira Vol XV em 1 diferenciou uma regressão formal de uma material Ao considerar essas pequenas variações de terminologia convém lembrar o comentário final de Freud no parágrafo acrescentado em 1914 à Interpretação dos Sonhos Edição Standard Brasileira Vol V em 1 IMAGO Editora 1972 que já citamos mais de uma vez Todas essas três espécies de regressão porém são no fundo uma só e ocorrem em geral simultaneamente pois a que é mais antiga no tempo é a mais primitiva na forma e na topografia psíquica situase mais próxima da extremidade perceptual O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 218 PARTE II PSICOPATOLOGIA A primeira parte desse projeto continha mais ou menos a priori tudo o que se poderia deduzir das hipóteses básicas modelado e corrigido segundo várias experiências concretas Esta segunda parte procura inferir na análise dos processos patológicos alguns determinantes adicionais do sistema fundamentado nas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 219 hipóteses básicas uma terceira parte tentará estruturar a partir das duas anteriores as características do transcurso normal dos eventos psíquicos A Psicopatologia da Histeria 1 A COMPULSÃO HISTÉRICA Começarei pelo estudo dos fenômenos que ocorrem na histeria sem que lhe sejam forçosamente peculiares O que antes de mais nada chama a atenção de qualquer observador da histeria é o fato de que os pacientes histéricos estão sujeitos a uma compulsão exercida por idéias excessivamente intensas Assim por exemplo uma idéia pode surgir na consciência com freqüência particular sem que a passagem dos eventos a justifique ou a ativação dessa idéia será acompanhada de conseqüências psíquicas que são inteligíveis A emergência da idéia excessivamente intensa acarreta conseqüências que por um lado não podem ser suprimidas e por outro não podem ser compreendidas descarga de afeto inervações motoras impedimentos A pessoa não fica de modo algum alheia ao caráter surpreendente da situação As idéias excessivamente intensas também ocorrem normalmente Elas conferem individualidade ao ego Não nos surpreendem quando conhecemos seu desenvolvimento genético educação experiências e seus motivos Estamos acostumados a considerar essas idéias excessivamente intensas como produto de motivos imperiosos e justificáveis As idéias histéricas excessivamente intensas ao contrário surpreendem por sua extravagância são idéias que não teriam conseqüências em outras pessoas e cuja importância não conseguimos entender Parecemnos intrusas usurpadoras e conseqüentemente ridículas A compulsão histérica é portanto 1 ininteligível 2 incapaz de resolverse pela atividade do pensamento 3 incongruente em sua estrutura Existe uma compulsão neurótica simples que pode ser contrastada com a de tipo histérica Assim por exemplo um homem pode ter corrido o risco de cair de uma carruagem e desde então serlhe impossível viajar dessa maneira Essa compulsão é 1 inteligível pois se conhece sua origem e 3 congruente pois a associação com o perigo justifica a relação entre o viajar de carruagem e o medo No entanto não é também passível de ser solucionada pela atividade do pensamento Esta última característica não pode ser considerada como inteiramente patológica também as nossas idéias normais excessivamente intensas são muitas vezes impossíveis de solucionar Negarseia à compulsão histérica qualquer caráter patológico se a experiência nãos nos demonstrasse que nas pessoas saudáveis tal compulsão só persiste por um breve espaço de tempo depois de sua ocorrência desintegrandose gradativamente A persistência da compulsão é pois patológica e indica uma neurose simples Nossa análise mostra agora que a compulsão histérica se resolve imediatamente é explicada tornada inteligível Essas características são assimem essência uma Aprendemos na análise também como opera o processo do aparecimento da absurdidade e da incongruidade O resultado da análise expressa em termos gerais apresentase como se segue Antes da análise A é uma idéia excessivamente intensa que irrompe na consciência com O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 220 demasiada freqüência provocando a cada vez o pranto A pessoa não sabe por que chora diante de A acha absurdo mas não consegue evitar Depois da análise descobriuse que existe uma idéia B que com toda a razão é motivo de pranto e que com toda a razão se repete freqüentemente enquanto a pessoa não pratica contra ela uma determinada ação psíquica bastante complicada O efeito de B não é absurdo é inteligível para a pessoa e pode até ser combatido por ela B mantém uma relação particular com A Pois houve uma ocorrência que consistiu de B A A foi uma circunstância incidental B foi apropriado para produzir um efeito duradouro A reprodução desse evento na memória tomou agora uma forma de tipo tal que é como se A tomasse o lugar de B B tornouse um substituto um símbolo de B Daí a incongruidade A é acompanhado de conseqüências que não parecem adequadas que não se enquadram nele A formação de símbolos também ocorre normalmente Um soldado é capaz de se sacrificar por um farrapo multicor preso a um mastro por que isso se transformou para ele no símbolo de sua pátria e ninguém considera isso neurótico Mas o símbolo histérico portase de outra maneira O cavaleiro que se bate pela luva de sua dama sabe em primeiro lugar que a luva deve toda a sua importância à dama e em segundo lugar sua veneração pela luva não o impede de modo algum de pensar na dama e de servila de outras formas O histérico que chora por causa de A não percebe que isso se deve à associação AB sendo que B não desempenha o menor papel em sua vida psíquica Neste caso a coisa foi completamente substituída pelo símbolo Essa confirmação está certa no sentido mais estrito Nós podemos convencernos de que sempre que é evocada do exterior ou por associação alguma coisa que de fato deveria catexizar B em seu lugar aparece A na consciência A rigor podese deduzir a natureza de B a partir das causas provocadoras que de maneira marcante suscitam o aparecimento de A Em suma A é compulsiva e B está recalcada ao menos da consciência A análise levou a esta surpreendente conclusão para cada compulsão existe um recalque correspondente e para cada intrusão excessiva na consciência existe uma amnésia correspondente A expressão excessivamente intensa aponta para características quantitativas É plausível supor que o recalcamento tenha o sentido quantitativo de ser despojado de Q e que a soma dos dois da compulsão e do recalcamento seja igual ao normal Sendo assim só a distribuição se modificou Algo foi acrescentado a A que foi subtraído de B O processo patológico é um processo de deslocamento tal como vimos a conhecer nos sonhos ou seja um processo primário 2 A GÊNESE DA COMPULSÃO HISTÉRICA Surgem agora várias perguntas importantes Em que condições ocorrem semelhante formação simbólica patológica e por outro lado semelhante recalcamento Qual a força ativa que intervém Em que estado se encontram os neurônios da idéia excessivamente intensa e os da O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 221 idéia recalcada Nada se poderia depreender disso e nada mais se poderia construir se a experiência clínica não nos ensinasse dois fatos Primeiro que o recalcamento é invariavelmente aplicado a idéias que despertam no ego um afeto penoso de desprazer e segundo a idéias provenientes da vida sexual Já se pode suspeitar que é esse afeto desprazeroso que aciona o recalcamento De fato já presumimos a existência de uma defesa primária que consiste na inversão da corrente de pensamento assim que ele se depara com um neurônio cuja catexização libera desprazer Cf em 1 e 23 A justificação dessa hipótese surgiu de duas experiências 1 que a catexia desse neurônio certamente não era a que estava sendo procurada quando o processo de pensamento visava originalmente estabelecer uma situação de satisfação de y 2 que quando uma experiência de dor é terminada por um reflexo a percepção hostil é substituída por outra em 1 Podemos porém convencernos de modo mais direto quanto ao papel desempenhado pelo afeto defensivo Se investigarmos o estado da idéia recalcada B comprovaremos que é fácil encontrála e levála à consciência Isso constitui uma surpresa pois seria perfeitamente possível supor que B estivesse realmente esquecida que não houvesse restado em y nenhum traço mnêmico de B Mas não B é uma imagem mnêmica como outra qualquer não se extingue Mas se como de costume B for um complexo de catexias surgirá então uma resistência extraordinariamente forte e difícil de vencer contra a atividade de pensamento com B Podemos imediatamente reconhecer nessa resistência a B a medida de compulsão exercida por A e concluir que a força que recalcou B no passado pode ser aqui vista em ação mais uma vez Ao mesmo tempo aprendemos algo mais Até agora sabiase apenas que B não podia se tornar consciente ignoravase tudo a respeito da relação de B com a catexia de pensamento Agora aprendemos que a resistência é dirigida contra qualquer pensamento que tenha qualquer relação com B mesmo que esta B já se tenha tornado parcialmente consciente Assim em vez de excluída da consciência podese dizer excluída do processo de pensamento Existe portanto um processo defensivo oriundo do ego catexizado que resulta no recalcamento histérico e concomitantemente na compulsão histérica Nesse sentido o processo parece diferenciarse dos processos y primários 3 A DEFESA PATOLÓGICA Não obstante ainda estamos longe de uma solução Como se sabe o resultado do recalcamento histérico se distingue profundamente do da defesa normal que se conhece com exatidão É um dado de observação geral que evitamos pensar em coisas que despertam unicamente desprazer e o fazemos desviando o pensamento para outras coisas Se conseguirmos porém consoantemente fazer com que a idéia B incompatível surja raramente em nossa consciência por têla mantido tão isolada quanto possível ainda assim O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 222 jamais conseguiremos esquecer B a ponto de nenhuma percepção nova reavivar sua lembrança Ora tampouco na histeria é possível evitar semelhante reativação a única diferença consiste no fato de que então em vez de B A sempre se torna consciente isto é catexizada É portanto a formação simbólica desse tipo estável que constitui a função que ultrapassa a defesa normal A explicação mais óbvia para essa função aumentada seria a de atribuíla à maior intensidade do afeto defensivo A experiência demonstra porém que as lembranças mais penosas que deveriam necessariamente despertar o maior desprazer a lembrança do remorso pelas más ações não podem ser recalcadas e substituídas por símbolos A existência de uma segunda precondição da defesa patológica Cf em 1 a sexualidade também sugere que a explicação deve ser buscada em outra parte É impossível supor que os afetos sexuais penosos superem tanto em intensidade a todos os demais afetos desprazerosos Deve haver alguma outra característica das idéias sexuais capaz de explicar como é que só elas ficam sujeitas ao recalcamento Cumpre acrescentar aqui ainda outra observação É evidente que o recalcamento histérico ocorre mediante o auxílio da formação de símbolos do deslocamento para outros neurônios Poderseia supor então que o enigma reside apenas no mecanismo desse deslocamento e que não há nada a explicar sobre o próprio recalcamento No entanto quando chegarmos à análise da neurose obsessiva por exemplo veremos que nela existe um recalcamento sem formação de símbolos e de fato que o recalque e a substituição estão separados cronologicamente Por conseguinte o processo de recalcamento continua sendo o cerne do enigma 4 A PROTON PSEUDOS PRIMEIRA MENTIRA HISTÉRICA Vimos que a compulsão histérica se origina de um tipo peculiar de movimento da Q formação simbólica que é provavelmente um processo primário uma vez que pode ser facilmente demonstrado nos sonhos e vimos que a força ativadora desse processo é a defesa por parte do ego a qual no entanto desempenha aqui mais do que a sua função normal em 1 Precisamos de uma explicação para o fato de que um processodoego possa acarretar conseqüências que estamos acostumados a encontrar somente nos processos primários Devemos esperar aqui a intervenção de determinantes psíquicos muito especiais Sabemos da observação clínica que tudo isso ocorre apenas na esfera sexual de modo que talvez tenhamos que explicar o determinante psíquico especial a partir das características naturais da sexualidade Ora acontece que existe na esfera sexual uma constelação psíquica toda especial que bem poderia ser útil paras nossos fins Vou ilustrála já o conhecemos empiricamente com um exemplo Emma achase dominada atualmente pela compulsão de não poder entrar nas lojas sozinha Como motivo para isso apresentou uma lembrança da época em que tinha doze anos pouco depois da puberdade Ela entrou numa loja para comprar algo viu dois vendedores de um dos quais ainda se lembra rindo juntos e saiu correndo tomada de uma espécie de afeto de susto Em relação a isso terminou recordando que os dois estavam rindo das roupas dela e que um deles a havia agradado sexualmente Tanto a relação desses fragmentos entre si como o efeito da experiência são ininteligíveis Se ela O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 223 se sentiu mal porque suas roupas eram alvo de riso isso terá sido remediado há muito tempo desde que passou a se vestir como uma moça crescida Além disso entrar sozinha ou acompanhada numa loja nada tem a ver com as roupas que ela usa Que ela não precisa simplesmente de proteção é algo que fica comprovado pelo fato de que como acontece nos casos de agorafobia até a companhia de uma criança pequena é suficiente para darlhe segurança Existe ainda o fato totalmente incongruente de um dos vendedores têla agradado para isso também não faria diferença estar acompanhada ou não Por conseguinte as lembranças despertadas não explicam nem a compulsão nem a determinação do sintoma As novas investigações revelaram uma segunda lembrança que ela nega ter tido em mente na ocasião da Cena I Também não há nada que a comprove Aos oito anos de idade ela esteve numa confeitaria em duas ocasiões para comprar doces e na primeira o proprietário agarroulhe as partes genitais por cima da roupa Apesar da primeira experiência ela voltou lá uma segunda vez depois parou de ir Agora recriminase por ter ido a segunda vez como se com isso tivesse querido provocar a investida De fato seu estado de consciência pesada e opressiva remonta a essa experiência Agora compreendemos a Cena I vendedores combinandoa com a Cena II proprietário da confeitaria Basta estabelecer um vínculo associativo entre ambas Ela própria indicou que ele é fornecido pelo riso o riso dos vendedores a fez lembrarse do sorriso com que o proprietário da confeitaria acompanhou sua investidaA marcha dos acontecimentos pode ser reconstituída Na loja os dois vendedores estavam rindo esse riso evocou inconscientemente a lembrança do proprietário De fato a segunda situação tinha ainda outra semelhança com a primeira ela mais uma vez estava sozinha na loja Juntamente com o dono da confeitaria lembrouse de que ele a agarrara por cima da roupa de que desde então ela alcançara a puberdade A lembrança despertou o que ela certamente não era capaz na ocasião uma liberação sexual que se transformou em angústia Devido a essa angústia ela temeu que os vendedores da loja pudessem repetir o atentado e saiu correndo Não resta dúvida de que estão aqui misturadas duas espécies de processos e de que a lembrança da Cena II proprietário da confeitaria ocorreu num estado muito diferente do da primeira O que se passou pode ser representado da seguinte maneira Fig 16 Fig 16 No desenho as idéias em escuro correspondem às percepções que foram lembradas O fato de que liberação sexual também penetrou na consciência ficacomprovado pela idéia de outro modo incompreensível da atração que ela sentiu pelo vendedor que ria O resultado não permanecer sozinha na loja devido ao risco de atentado é construído de maneira perfeitamente racional levando em conta todos os elementos do O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 224 processo associativo No entanto nada do processo representado embaixo penetrou na consciência a não ser o elemento roupas e o pensamento conscientemente operante estabeleceu duas conexões falsas no material à sua disposição vendedores riso roupas sensação sexual primeiro que riam dela por causa da roupa e segundo que ela havia ficado sexualmente excitada por um dos vendedores Todo o complexo círculos não escurecidos estava representado na consciência de roupas evidentemente a mais inocente Aqui houve um recalcamento acompanhado pela formação de símbolos O fato de o efeito o sintoma ser então construído de modo perfeitamente racional ver acima sem que o símbolo desempenhasse qualquer papel nele é na realidade uma peculiaridade desse caso Poderseia dizer que é muito comum uma associação passar por uma série de vínculos intermediários inconscientes antes de chegar a um que seja consciente como acontece aqui Nesse caso o elemento que penetra na consciência é provavelmente o que desperta interesse especial No nosso exemplo porém o que chama atenção é justamente que o elemento que penetra na consciência não é o que desperta interesse o atentado mas outro na qualidade de símbolo as roupas Se nos perguntarmos qual seria a causa desse processo patológico interpolado só poderemos indicar uma a liberação sexual da qual também há provas na consciência Isso está vinculado à lembrança do atentado mas é altamente digno de nota o fato de ela a liberação sexual não se vinculou ao atentado quando esse foi cometido Temos aqui um caso em que uma lembrança desperta um afeto que não pôde suscitar quando ocorreu como experiência porque nesse entretempo as mudanças trazidas pela puberdade tornaram possível uma compreensão diferente do que era lembrado Ora esse caso é típico do recalcamento na histeria Constatamos invariavelmente que se recalcam lembranças que só se tornaram traumáticas por ação retardada A causa desse estado de coisas é o retardamento da puberdade em comparação com o resto do desenvolvimento do indivíduo 5 DETERMINANTES DA PRWTON YEVDOV UST ERCIN Embora em geral não se dê na vida psíquica a situação de uma lembrança despertar um afeto que não existiu por ocasião da experiência tal é no entanto uma ocorrência muito comum no caso das idéias sexuais precisamente porque o retardamento da puberdade constitui uma característica geral da organização Cada indivíduo adolescente porta traços de memória que só podem ser compreendidos com a manifestação de suas próprias sensações sexuais todo adolescente portanto traz dentro de si o germe da histeria É evidente que terá de haver também outros fatores concomitantes já que essa tendência universal fica limitada ao pequeno número de pessoas que realmente se tornam histéricas Ora a análise indica que o que há de perturbador num trauma sexual é sem dúvida a liberação do afeto e a experiência nos ensina que os histéricos são pessoas das quais se sabe que em parte tornaramse prematuramente excitáveis em sua sexualidade devido à estimulação mecânica e emocional masturbação e das quais em parte podemos supor que uma liberação sexual prematura está presente na sua disposição inata Mas o início prematuro da liberação sexual ou a insatisfação prematura da liberação sexual evidentemente se equivalem de modo que O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 225 essa condição fica reduzida a um fator quantitativo Em que consiste porém o significado dessa prematuridade da liberação sexual Aqui todo o peso recai sobre a prematuridade pois não se pode afirmar que a liberação sexual em geral origine o recalcamento isso converteria o recalque mais uma vez num processo de freqüência normal 6 PERTURBAÇÃO DO PENSAMENTO PELO AFETO Não podemos refutar o fato de que a perturbação do processo psíquico normal teria dois determinantes 1 que a liberação sexual estaria ligada a uma lembrança e não a uma experiência 2 que a liberação sexual ocorreria prematuramente Essas duas ocorrências produziriam uma perturbação que ultrapassa o normal mas que também está potencialmente presente no normal A experiência cotidiana ensina que a geração de afeto inibe de várias maneiras o curso normal do pensamento Em primeiro lugar isso se dá no sentido de serem esquecidas muitas vias de pensamento que seriam normalmente levadas em conta isto é à semelhança do que ocorre nos sonhos Ver em 1 Assim por exemplo ocorreume durante a agitação causada por uma grande angústia esquecer de fazer uso do telefone que acabara de ser instalado em minha casa A via recémestabelecida sucumbia ao estado afetivo a facilitação ou seja o que estava estabelecido desde longa data levou a melhor Esse esquecimento envolve o desaparecimento da capacidade de seleção da eficiência e da lógica no decurso do pensamento tal como acontece nos sonhos Em segundo lugar o afeto inibe o pensamento no sentido de que sem que haja nenhum esquecimento adotamse vias que são geralmente evitadas sobretudo vias que conduzem à descarga tais como ações efetuadas sob a influência do afeto Em suma pois o processo afetivo se aproxima do processo primário não inibido Disso se devem extrair várias inferências Primeiro que na liberação afetiva se intensifica a própria idéia liberadora segundo que a função principal do ego catexizado consiste em evitar novos processos afetivos e em reduzir as antigas facilitações afetivas Essa posição só pode ser descrita da seguinte maneira Originalmente uma catexia perceptual em sua qualidade de herdeira de uma experiência dolorosa gerou desprazer ela a catexia foi intensificada pela Q liberada prosseguindo então até a descarga por vias de passagem que já se encontravam parcialmente préfacilitadas Uma vez formado o ego catexizado a atenção para as novas catexias perceptuais desenvolveuse da forma que conhecemos em 1 e 2 e ela a atenção seguiu com as catexias colaterais o curso da quantidade proveniente da percepção Desse modo a liberação de desprazer ficou quantitativamente restrita e seu início serviu precisamente de sinal para o ego pôr em ação a defesa normal em 1 assim se evitou o desenvolvimento muito fácil de novas experiências de dor com todas as suas facilitações Todavia quanto mais intensa é a liberação de desprazer tanto mais penosa é a tarefa para o ego que com suas catexias colaterais afinal só consegue contrabalançar as Qs até determinado limite estando portanto fadado a permitir a ocorrência de uma passagem primária de quantidade Além disso quanto maior é a quantidade que se esforça por passar tanto mais difícil é para o ego a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 226 atividade de pensamento que segundo tudo indica consiste no deslocamento experimental de pequenas Qs em 1 e 2 A reflexão é uma atividade do ego que exige tempo e que se torna impossível quando existem grandes Qs no nível do afeto Eis por que há uma precipitação quando existe afeto assim como uma seleção de vias semelhantes à que se adota no processo primário Por conseguinte cabe ao ego não permitir nenhuma liberação de afeto pois este ao mesmo tempo permite um processo primário Seu melhor instrumento para esse fim é o mecanismo da atenção Se uma catexia liberadora de desprazer conseguisse escapar à atenção o ego chegaria tarde demais para neutralizála Ora isso é justamente o que acontece no caso da proton pseudos primeira mentira histérica A atenção está normalmente concentrada nas percepções onde geralmente se originam as liberações de desprazer Aqui porém o que aparece não é uma percepção mas uma lembrança que inesperadamente libera desprazer e o ego só descobre isso tarde demais Ele permitiu que houvesse um processo primário porque não esperava que tal acontecesse Existem também outras ocasiões em que as lembranças liberam desprazer o que é sem dúvida perfeitamente normal no caso das lembranças mais recentes Quando o trauma a experiência da dor ocorre os primeiros traumas escapam totalmente o ego num momento em que já existe um ego produzse de início uma liberação de desprazer mas o ego também atua simultaneamente criando catexias colaterais Quando a catexia se repete e o desprazer também se repete mas as facilitaçõesdoego igualmente já se acham presentes a experiência demonstra que a liberação de desprazer diminui de intensidade na segunda vez até que depois de várias repetições ela se reduz à intensidade de um sinal aceitável para ao ego Cf em 1 atrás Assim pois o essencial é que por ocasião da primeira liberação de desprazer não ocorra como experiência afetiva primária póstuma essa condição é precisamente o que ocorre quando a lembrança é a primeira a motivar a liberação de desprazer como no caso da proton pseudos histérica Com isso parece confirmada a importância de um dos determinantes que apresentamos em 1 e que foi fornecido pela experiência clínica o retardamento da puberdade possibilita os processos primários póstumos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 227 PARTE III TENTATIVA DE REPRESENTAR OS PROCESSOS NORMAIS 5 out 95 1 Deve ser possível explicar em termos mecânicos em 1 o que denominei processos secundários através do efeito produzido por uma massa de neurônios o ego constantemente catexizados sobre outros com catexias variáveis Começarei por uma tentativa de representação psicológica dos processos dessa espécie Se de um lado tenho o ego e de outro as percepções isto é catexias em provenientes de do mundo externo então terei de encontrar um mecanismo que induza o ego a seguir as percepções e a influir sobre elas Encontroo esse mecanismo no fato de que segundo meus pressupostos toda percepção invariavelmente excita dando assim origem a indicações de qualidade Ou para ser mais exato excita a consciência a consciência de uma qualidade em e a descarga da excitação de fornecerá como toda descarga informações a o que constitui de fato a indicação de qualidade Por conseguinte proponho a sugestão de que seriam essas indicações de qualidade as que interessam a na percepção Cf em 1 Tal seria o mecanismo da atenção psíquica Acho difícil dar uma explicação mecânica automática para a sua origem Por esse motivo creioque ela é biologicamente determinada isto é que se conservou no curso da evolução psíquica pois qualquer outro comportamento de y ficou excluído por ser gerador de desprazer O efeito da atenção psíquica é a catexia dos mesmos neurônios que são os portadores da catexia perceptual Esse estado tem um protótipo na experiência de satisfação em 1 que é tão importante para todo o curso de desenvolvimento e em suas repetições estados de anseio que evoluem para estados de desejo e estados de expectativa Já demonstrei Parte I Seções 168 que esses estados contêm a justificativa biológica de todo o pensamento A situação psíquica neles é a seguinte O anseio implica um estado de tensão no ego e em conseqüência disso a representação do objeto amado a idéia de desejo é catexizada A experiência biológica nos ensina que essa idéia não deve ser tão intensamente catexizada a ponto de se confundir com uma percepção e que sua descarga deve ser adiada até que da idéia partam indicações de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 228 qualidade que comprovem que a idéia agora é real que é uma catexia perceptiva Quando surge uma percepção idêntica ou semelhante à idéia ela encontra seus neurônios précatexizados pelo desejo quer dizer todos ou parte deles já catexizados na medida em que ambas coincidam A diferença entre a idéia e a percepção recémchegada dá origem então ao processo de pensamento que chegará a seu fim quando se tiver encontrado uma via pela qual as catexias perceptuais supérfluas isto é indesejadas se houverem convertido em catexias ideativas Com isso se terá obtido a identidade Cf em 1 A atenção consiste pois em estabelecer o estado psíquico de expectativa inclusive para aquelas percepções que não coincidem em parte com as catexias de desejo Acontece simplesmente que se tornou importante mandar catexias ao encontro de todas as percepções uma vez entre elas podem estar as desejadas A atenção é biologicamente justificada basta apenas orientar o ego quanto a qual catexia expectante ele deve estabelecer e é para esse fim que servem as indicações de qualidade Talvez seja possível examinar com maior exatidão o processo de adoção de uma atitude psíquica Suponhamos que de início o ego não esteja previamente preparado e surja uma catexia perceptual seguida por sua indicação de qualidade A íntima facilitação entre os dois elementos de informação intensificará a catexia perceptual e produzirá então a catexia dos neurônios perceptuais com atenção A próxima percepção do mesmo objeto conduzirá de acordo com a segunda lei de associação a uma catexia mais plena da mesma percepção e apenas esta será a percepção que é psiquicamente utilizável Já esta primeira parte da descrição fornece uma tese de suma importância A catexia perceptual quando ocorre pela primeira vez tem pouca intensidade com escassa Q na segunda vez quando existe uma précatexia y ela é quantitativamente maior Ora em princípio o juízo sobre as características quantitativas do objeto não é modificado pela atenção Conseqüentemente a Q externa dos objetos não pode ser expressa em y pela Q psíquica A Q psíquica significa algo bem diferente que não está representando na realidade e efetivamente a Q externa está expressa em por algo diferente pela complexidade das catexias em 1 Mas é por esse meio que a Q externa se mantém afastada de y A próxima descrição é ainda mais satisfatória Como resultado da experiência biológica a atenção y está constantemente voltada para as indicações de qualidade Essas ocorrem pois em neurônios précatexizados e com quantidade suficientemente grande As informações da qualidade assim intensificadas intensificam por sua vez graças à sua facilitação as catexias perceptivas e o ego aprende a fazer com que suas catexias de atenção sigam o curso desse movimento associativo ao passarem da indicação de qualidade para a percepção Com isso ele o ego é levado a catexizar precisamente as percepções corretas ou a seu meio Com efeito se admitirmos que é a mesma Q procedente do ego que percorre a facilitação entre a indicação de qualidade e a percepção teremos realmente encontrado uma explicação mecânica automática para a catexia da atenção em 1 Desse modo a atenção abandona as indicações de qualidade para dirigirse aos neurônios perceptivos agora hipercatexizados em 1 Suponhamos que por um motivo qualquer o mecanismo da atenção falhe nesse caso não se produzirá a catexia y dos neurônios perceptivos ea Q que os atingiu se transmitirá de maneira puramente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 229 associativa na direção das melhores facilitações na medida em que o permitam as relações entre as resistências e a quantidade da catexia perceptiva Cf em 1 Provavelmente essa passagem de quantidade não tardaria a chegar a seu fim já que Q se divide e logo se reduz em algum neurônio mais próximo a um nível demasiadamente baixo para seguir adiante A passagem da quantidade perceptiva em certas circunstâncias subseqüentemente pode excitar a atenção ou de novo não pode Nesse caso ele termina não absorvido na catexia de algum neurônio vizinho de cujo destino nada sabemos Tal é a passagem da percepção sem atenção como deve acontecer inúmeras vezes por dia Como demonstrará a análise do processo da atenção a passagem não pode ir muito longe de onde se deduz que a quantidade perceptiva é pequena Em compensação se um neurônio perceptivo recebeu sua catexia da atenção pode acontecer uma série de coisas entre as quais se devem ressaltar duas situações a do pensamento comum e a do pensamento meramente observador Este último caso parece o mais simples corresponde mais ou menos ao estado do investigador que fez uma percepção e pergunta a si mesmo o que significa isso aonde leva Então procede da seguinte forma Para maior simplicidade porém agora terei que substituir a catexia da percepção complexa pela de um único neurônio O neurônio perceptivo está hipercatexizado a quantidade composta de Q e Q flui na direção das melhores facilitações e de acordo com a resistência e a quantidade transporá algumas barreiras e catexizará novos neurônios associados outras barreiras serão superadas porque a fração de quantidade que incide sobre eles é inferior ao limiar Seguramente agora serão catexizados neurônios mais numerosos e mais remotos do que no caso de um mero processo associativo destituído de atenção Também aqui a corrente acabará desembocando em determinadas catexiastermi nais ou numa só O resultado da atenção será que em vez de percepção aparecerão uma ou várias catexias mnêmicas ligadas por associação ao neurônio inicial Para maior simplicidade suponhamos que se trate de uma única imagem mnêmica Se esta pudesse ser novamente catexizada com atenção a partir de y o jogo se repetiria a Q tornaria a fluir mais uma vez e catexizaria despertaria uma nova imagem mnêmica recorrendo para isso à via de melhor facilitação Ora o propósito do pensamento observador é evidentemente o de se familiarizar ao máximo com as vias que partem da percepção pois desse modo ele poderá realmente esgotar o conhecimento do objeto perceptivo Notese que a forma de pensamento aqui descrita leva à cognição Por esse motivo precisase mais uma vez não só de uma catexia y para as imagens mnêmicas já alcançadas como também de um mecanismo que leve essa catexia aos lugares certos De que outra maneira os neurônios y do ego poderiam saber para onde a catexia deve ser dirigida Um mecanismo de atenção como o que acabamos de descrever mais acima porém torna a pressupor indicações de qualidade Será que elas surgem durante a passagem associativa de quantidade Segundo os nossos pressupostos normalmente não como regra Mas podem ser obtidas por meio de um novo dispositivo que passaremos a descrever Em geral as indicações de qualidade emanam apenas da percepção portanto tratase de obter uma percepção da passagem de Q Se à passagem de Q estivesse vinculada uma descarga além da mera circulação ela a descarga forneceria como qualquer movimento uma informação sobre o movimento em 1 Afinal de contas as próprias indicações de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 230 qualidades são apenas informações da descarga em 1 talvez mais adiante possamos saber de que tipo Agora pode acontecer que durante a passagem de Q também fique catexizado um neurônio motor que então descarregará Q fornecendo uma indicação de qualidade O problema porém é receber descargas desse gênero de todas as catexias Nem todas são motoras de modo que deverão para esse fim ser colocadas numa facilitação segura com os neurônios motores Essa finalidade é preenchida pelas associações da fala que consistem na vinculação de neurônios y com neurônios utilizados nasrepresentações sonoras que por sua vez se encontram intimamente associadas com as imagens verbais motoras Essas associações têm sobre as demais a vantagem de possuir outras duas características são limitadas escassas em número e exclusivas Em todo caso a excitação passa da imagemsonora para a imagemverbal e desta para a descarga Por conseguinte quando as imagens mnêmicas são de tal natureza que uma corrente parcial pode partir delas para imagenssonoras e para as imagensverbais a catexia das imagens mnêmicas é acompanhada por informações de descarga o que constitui uma indicação de qualidade e também conseqüentemente indicação de que a lembrança é consciente Ora quando o ego précatexiza essas imagensverbais como antes précatexizou as imagens da descarga de Ver em 1 com isso terá criado para si mesmo o mecanismo que lhe permite dirigir a catexia de y para as lembranças que emergem durante a passagem da Q Eis aqui o pensamento consciente observador 1 Além de possibilitar o conhecimento as associações da fala efetuam ainda outra coisa de suma importância As facilitações entre os neurônios y constituem como sabemos a memória ou seja a representação de todas as influências que y vivenciou a partir do mundo externo Agora observamos que o próprio ego também catexiza os neurônios y e aciona passagems de quantidade que certamente devem deixar traços na forma de facilitações Mas y não dispõe de nenhum meio para discernir entre esses resultados dos processos de pensamento e os resultados dos processos perceptivos Talvez seja possível conhecer e reproduzir os processos perceptivos pela sua associação com as descargas de mas das facilitações estabelecidas pelo pensamento resta apenas o seu efeito e não uma lembrança Uma mesma facilitação de pensamento pode ter sido gerada por um único processo intenso ou por dez processos de menor força As indicações de descarga verbal são porém as que vêm agora compensar essa lacuna pois equiparam os processos de pensamento com os processos perceptivos conferindolhe realidade e possibilitando a sua lembrança Cf em 1 mas também em 1 adiante Também merece ser considerado o desenvolvimento biológico dessa espécie de associação extremamente importante A inervação da fala é a princípio uma via de descarga para y que atua como válvula de segurança servindo para regular as oscilações de Q é uma parte da via que conduz à mudança interna que representa a única descarga enquanto não se redescobre a ação específica Para tudo isso cf em 12 Essa via adquire uma função secundária ao atrair a atenção da pessoa que auxilia geralmente o próprio objeto de desejo para o estado de anseio e aflição da criança e desde então passa a servir ao propósito da comunicação ficando assim incluída na ação específica No início da função judicativa quando as percepções despertam interesse devido a sua possível conexão com o objeto desejado e seus complexos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 231 como já foi demonstrado em 1 e 2 são decompostos num componente não assimilável a coisa e num componente conhecido do ego através de sua própria experiência atributos atividade o que chamamos de compreensão dois vínculos emergem nesse ponto em relação com o enunciado da fala Em primeiro lugar existem objetos percepções que nos fazem gritar porque provocam dor é imensamente importante que essa associação de um som que também desperta imagens motoras da própria pessoa com uma imagem perceptiva que em si já é complexa ressalta o caráter hostil daquele objeto e serve para dirigir a atenção para a imagem perceptiva Numa situação em que a dor impede o recebimento de boas indicações da qualidade do objeto a informação sobre o grito do próprio sujeito serve para caracterizar as lembranças que provocam desprazer e para convertêlas em objetos da atenção está criadaa primeira categoria de lembranças conscientes Pouco falta agora para inventar a fala Existem outros objetos que emitem constantemente certos sons isto é em cujo complexo perceptivo o som desempenha um papel Em virtude da tendência à imitação que surge durante o processo judicativo ver 1 é possível encontrar informações de movimento que correspondam a essa imagem sonora Também essa espécie de lembranças pode agora tornarse consciente Só falta associar os sons intencionais com as percepções feito isso as lembranças de quando se observam indicações de descarga sonora tornamse conscientes se como as percepções e podem ser catexizadas a partir de y Assim verificamos ser característico do processo de pensamento cognitivo que durante sua ocorrência a atenção seja desde o início dirigida para as indicações de descarga de pensamento para as indicações da fala Efetivamente como se sabe o chamado pensamento consciente se efetua com o acompanhamento de um leve dispêndio motor O processo de seguir a passagem de Q através de uma associação pode pois ser continuado indefinidamente em geral até chegar a elementos associativos terminais completamente conhecidos A determinação dessa via e de seus pontos terminais abarca então a cognição do que talvez seja uma nova percepção Gostaríamos porém de ter alguma informação quantitativa sobre esse processo de pensamento cognitivo Aqui efetivamente a percepção está hipercatexizada em comparação com o processo associativo simples O próprio processo consiste num deslocamento de Q regulado pela associação com as indicações de qualidade em cada ponto de parada a catexia y se renova e finalmente há uma descarga a partir dos neurônios motores da via da fala Agora caber perguntar se esse processo significa uma perda considerável de Q para o ego ou se o dispêndio de pensamento é relativamente pequeno A resposta a essa pergunta nos é sugerida pelo fato de que a corrente de inervações da fala durante o pensamento é evidentemente mínima Nós não falamos realmente nem tampouco nos movemos realmente quando imaginamos uma imagem motora em movimento Mas a diferença entre a idéia e o movimento é apenas quantitativa como nos ensinaram as experiências de leitura do pensamento Quando pensamos com intensidade não há dúvida de que chegamos a falar em voz alta Mas como é possível promover descargas tão pequenas se afinal de contas as Qs pequenas não conseguem fluir e as grandes se estabilizam en masse através dos neurônios motores 1 O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 232 É provável que as quantidades afetadas pelo deslocamento no processo de pensamento também não sejam grandes Em primeiro lugar o gasto de grandes Qs significa uma perda para o ego que deve ser limitada na medida do possível pois as Qs estão destinadas à exigente ação específica Cf 1 e 2 Em segundo lugar uma Q grande percorreria simultaneamente várias vias associativas e não deixaria tempo para a catexização do pensamento além de causar grande dispêndio Não resta dúvida pois de que a corrente de Q durante o processo de pensamento deve ser pequena Apesar disso segundo nossa hipótese a percepção e a memória durante o processo de pensamento devem estar mais intensamente hipercatexizadas do que durante a percepção simples Ademais existem naturalmente diferentes graus de intensidade da atenção que só podemos interpretar como diferentes aumentos das Qs catexizantes Nesse caso o processo da vigilância observadora das associações seria precisamente tanto mais difícil quanto mais intensa fosse a atenção o que seria tão impraticável que nem sequer podemos admitilo Temos aqui dois requisitos aparentemente contraditórios catexia forte e deslocamento fraco Se quisermos conciliálos chegaremos à hipótese do que é por assim dizer um estado ligado do neurônio que embora na presença de uma catexia elevada permite apenas uma corrente pequena Essa hipótese se torna mais plausível ao considerarmos que a corrente de um neurônio é obviamente influenciada pelas catexias que o rodeiam Ora o próprio ego é uma massa de neurônios dessa espécie que se agarram a suas catexias isto é que estão em estado ligado e isso com toda a certeza só pode suceder como resultado de seus efeitos mútuos Podemos portanto imaginar que um neurônio perceptivo catexizado com atenção seja por assim dizer absorvido temporariamente pelo ego e fique então sujeito à mesma ligação de sua Q tal como todos os neurônios do ego Se for mais intensamente catexizado a quantidade de corrente pode em conseqüência ser diminuída e não necessariamente aumentada Talvez possamos supor que graças a essa ligação precisamente a Q externa permaneça livre para fluir enquanto a catexia da atenção permanece ligada relação essa que não precisa naturalmente ser invariável Assim os processos de pensamento seriam mecanicamente caracterizados por esse estado de ligação que combina uma catexia elevada com uma corrente pequena É possível conceber outros processos em que a corrente seja proporcional à catexia os processos com descarga desinibida Espero que a hipótese de um estado ligado dessa espécie demonstre ser mecanicamente sustentável Gostaria de ilustrar um pouco as conseqüências psicológicas dessa hipótese A princípio a hipótese parece exposta a uma contradição interna Se o estado de ligação consiste em que na presença de uma catexia dessa espécie só restem pequenas Qs para efetuar os deslocamentos como pode ele esse estado de ligação atrair novos neurônios isto é fazer com que grandes Qs cheguem até eles E reduzindo as mesmas dificuldades a termos mais simples como pode um ego assim constituído ser capaz de se desenvolver de todo Assim vemonos inesperadamente diante do mais obscuro problema a origem do ego ou seja de um complexo de neurônios que se mantêm presos a suas catexias um complexo por conseguinte que permanece por breves períodos em nível constante Ver em 1 O exame genético será muito elucidativo O ego consiste originariamente de neurônios nucleares que recebem Q endógena pelas vias de condução em O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 233 1 e a descarregam ao longo do curso da alteração interna em 1 A experiência da satisfação produz uma associação entre esse núcleo e uma imagem perceptiva a imagem de desejo e a informação de um movimento informação da porção reflexa da ação específica em 1 A educação e o desenvolvimento desse ego primitivo se efetuam num estado repetitivo de desejo ou seja em estados de expectativa em 1 Ele o ego primeiro aprende que não deve catexizar as imagens motoras de modo que resulte a descarga enquanto não se cumprirem determinadas condições advindas da percepção Aprende ademais que não deve catexizar a idéia desejante acima de certa medida caso contrário estaria enganando a si mesmo de maneira alucinatória em 1 Se porém respeita essas duas restrições e orienta sua atenção para as novas percepções apresenta uma perspectiva de obter a satisfação que procura É evidente portanto que as barreiras que impedem o ego decatexizar a imagem desejante e a imagem motora acima de certa medida são a causa de uma acumulação de Q no ego e o impelem talvez a transferir a sua Q dentro de certos limites para os neurônios que se encontram a seu alcance Os neurônios nucleares hipercatexizados incidem em última instância sobre as vias de condução provenientes do interior do corpo que se tornaram permeáveis em virtude de sua contínua relação com Q em 1 e sendo uma continuação dessas vias de condução os neurônios nucleares também devem ficar repletos de Q A Q que neles exista escoará por uma distância proporcional às resistências que se oponham a seu curso até que as resistências seguintes sejam maiores do que a fração de Q disponível para a corrente A partir daí a totalidade da massa catexizada está em equilíbrio mantida de um lado pelas duas barreiras contra a motilidade e o desejo de outro pelas resistências dos neurônios mais distantes e na direção interna pela pressão constante das vias de condução No interior dessa estrutura do ego a catexia não será de modo algum igual em todos os pontos precisa apenas ser proporcionalmente igual isto é em relação às facilitações Cf em 1 Quando o nível de catexia aumenta no núcleo do ego a amplitude deste último pode expandir seu âmbito quando o nível diminui o ego se constrange concentricamente Em um nível determinado e em determinada amplitude do ego não há nada a impedir a possibilidade de deslocamento da catexia dentro da área catexizada Resta apenas averiguar a origem das duas barreiras que garantem o nível constante do ego e sobretudo a da barreira contra as imagens motoras que impede a descarga Aqui nos deparamos com um ponto decisivo para a nossa concepção de toda a organização A única coisa que se pode dizer é que quando ainda não existia essa barreira e quando junto com desejo ocorria também a descarga motora o prazer esperado nunca aparecia e a liberação contínua de estímulos endógenos terminava por causar desprazer Só essa ameaça de desprazer que ficou vinculada à descarga prematura pode representar a barreira em questão No curso posterior do desenvolvimento a facilitação assumiu uma parte dessa tarefa Mas ainda persiste o fato de que a Q no ego não catexiza as imagens motoras imediatamente porque a conseqüência seria uma liberação de desprazer Tudo o que chamo de aquisição biológica do sistema nervoso é na minha opinião representado por uma ameaça de desprazer dessa espécie cujo efeito consiste no fato de não serem catexizados os neurônios O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 234 que levam à liberação do desprazer Isso constitui a defesa primária em 1 conseqüência compreensível da tendência básica do sistema nervoso em 1 O desprazer permanece como o único meio de educação Confesso porém que não sei explicar como a defesa primária a nãocatexização devido a uma ameaça de desprazer pode ser representada mecanicamente Daqui por diante me arriscarei a deixar sem resposta a questão de descobrir uma mecânica para tais regras biológicas ficarei contente se conseguir permanecer fiel a uma descrição claramente comprovável do curso do desenvolvimento Uma segunda regra biológica abstraída do processo de expectativa Ver em 1 deve indubitavelmente ser a de que a atenção precisa ser dirigida para indicações de qualidade porque estas pertencem a percepções que podem levar à satisfação e de que a pessoa então se deixe guiar pela indicação de qualidade até a percepção recémsurgida Em suma o mecanismo da atenção deve sua origem com certeza a uma regra biológica dessa natureza ele esse mecanismo regulará o deslocamento das catexias do ego Agora se poderia objetar que tal mecanismo atuando com o auxílio das indicações de qualidade é rudimentar O ego poderia ter aprendido biologicamente a catexizar por si só a esfera perceptiva nos estados de expectativa em vez de apenas esperar que as indicações de qualidade o induzam a essa catexização Há porém dois pontos a ressaltar em justificativa do mecanismo da atenção 1 O setor das indicações de descarga proveniente de é evidentemente menor e compreende menos neurônios do que o setor das percepções quer dizer de todo o pallium de que se relacione com os órgãos sensoriais Cf em 1 o ego portanto poupa um gasto extraordinariamente grande ao manter catexizadas as indicações de descarga em lugar das percepções E 2 as indicações de descarga ou as indicações da realidade destinadas a servir precisamente à distinção entre as catexias de percepções reais e as catexias de desejo Vemos pois que sempre consiste na catexização que o ego faz dos neurônios em que já apareceu uma catexia Para o ego portanto a regra biológica da atenção é a seguinte Quando aparece uma indicação da realidade aí então a catexia perceptiva que existe simultaneamente deve ser hipercatexizada Essa é a segunda regra biológica A primeira foi a da defesa primária 2 Do ponto a que chegamos até aqui podemos também deduzir algumas sugestões gerais para a explicação mecânica dos processos psíquicos como por exemplo a primeira que mencionamos no sentido de que a quantidade externa não pode ser representada por Q isto é pela quantidade psíquica em 1 Pela descrição do ego e de suas oscilações em 1 concluise que tampouco o nível de sua catexia tem relação com o mundo externo ou seja que sua redução ou elevação gerais não modificam normalmente a imagem do mundo Uma vez que essa imagem do mundo externo se baseia em facilitações isso significa que as oscilações gerais do nível não alteram essas facilitações Já mencionamos também um segundo princípio a saber o de que as quantidades pequenas podem ser deslocadas com mais facilidade quando o nível de catexia está alto do que quando está baixo Ver em 1 Eis aí alguns pontos que devem ser levados em consideração ao se buscarem as características do movimento neuronal que ainda nos é amplamente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 235 desconhecido 1 Voltemos agora à descrição do processo de pensamento observador ou cognitivo em 1 que é distinto do processo de expectativa pelo fato de que a princípio as percepções não incidem sobre as catexias de desejo Nesse caso são as primeiras indicações da realidade que dirigem a atenção do ego para a região perceptiva que terá de ser catexizada A passagem da associação de Q que as percepções trazem consigo ocorre por neurônios précatexizados e a Q que está em deslocamento pode tornar de novo a fluir a cada vez Durante essa passagem da associação geramse as indicações de qualidade da fala em conseqüência das quais a passagem da associação se torna consciente e passível de ser reproduzida Aqui se poderia questionar mais uma vez a utilidade das indicações de qualidade argumentando que a única coisa que elas fazem é induzir o ego a enviar uma catexia para o ponto em que ela surge na passagem da associação Elas as indicações de qualidade não fornecem porém essa Q catexizante no máximo apenas contribuem para tanto Mas sendoassim o próprio ego pode sem essa ajuda fazer com que a sua catexia percorra a passagem da Q Não resta dúvida de que assim é mas nem por isso a consideração das indicações de qualidade se torna redundante Pois cabe frisar que a regra biológica da atenção enunciada acima é abstraída da percepção Ver em 1 e que a princípio só se aplica às indicações de qualidade Também as indicações de descarga por meio da fala são de certo modo indicações da realidade mas da realidade do pensamento e não da realidade externa e de modo algum se pôde impor para essas indicações da realidade do pensamento uma regra biológica como a que estamos considerando já que sua violação não acarretaria nenhuma ameaça constante de desprazer O desprazer produzido ao se negligenciar a cognição não é tão flagrante como o que advém de ignorar o mundo externo embora no fundo eles sejam o mesmo Assim existe realmente também um processo de pensamento observador em que as indicações de qualidade nunca são evocadas ou o são apenas esporadicamente e que se torna possível pelo fato de que o ego segue a passagem da associação automaticamente com suas catexias Esse processo de pensamento é aliás sem dúvida o mais freqüente sem ser anormal é o nosso pensamento do tipo comum inconsciente com intrusões ocasionais na consciência o que é conhecido pelo nome de pensamento consciente com vínculos intermediários inconscientes que podem porém ser conscientizados Cf em 1 Apesar disso o valor das indicações de qualidade para o pensamento é indiscutível Em primeiro lugar efetivamente as indicações de qualidade despertadas intensificam as catexias na passagem da associação e asseguram a atenção automática que embora não saibamos como está evidentemente vinculada à emergência das catexias Ademais o que parece ser mais importante a atenção dirigida para as indicações de qualidade assegura a imparcialidade da passagem da associação Pois é muito difícil para o ego colocarse na situação de mera investigação O ego quase sempre tem catexias intencionais ou de desejo cuja presença durante a investigação como veremos em 1 influencia a passagem da associação produzindo assim um falso conhecimento das percepções Ora não existe melhor proteção contra essa falsificação do pensamento do que a de uma Q normalmente deslocável que seja dirigida para o pelo ego O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 236 até uma região incapaz de manifestar um desvio semelhante na passagem da associação Só existe um expediente dessa espécie se a saber a atenção se dirige para as indicações de qualidade que não se equivalem a idéias intencionais cuja catexia pelo contrário acentua ainda mais a passagem da associação ao fazer novas contribuições para a quantidade da catexia Portanto o pensamento que é acompanhado pela catexia das indicações de realidade do pensamento ou das indicações da fala representa a forma mais elevada e segura do processo de pensamento cognitivo Em vista da indubitável utilidade do aparecimento de indicações de pensamento podemos presumir a existência de dispositivos destinados a assegurála Com efeito as indicações de pensamento não são geradas espontaneamente sem a participação de como indicações da realidade Aqui a observação demonstra que esses dispositivos não se aplicam a todos os processos de pensamento da mesma forma que ao pensamento investigativo A condição necessária para despertar de todo as indicações de pensamento é naturalmente que elas sejam catexizadas pela atenção essas indicações surgem nesse caso em virtude da lei segundo a qual a condução é favorecida entre dois neurônios ligados e simultaneamente catexizados em 1 No entanto a atração produzida pela précatexia das indicaçõesde pensamento só tem até certo ponto força suficiente para lutar contra outras influências Assim por exemplo cada outra catexia perto da passagem da associação catexias intencionais catexias afetivas competirão com ela tornando inconsciente a passagem da associação Um efeito semelhante como confirma a experiência será produzido quando as Qs em trânsito são de magnitude considerável pois elas aumentam a corrente acelerando com isso toda a passagem de associação A afirmação comum de que a coisa se passou tão depressa que nem deu tempo de perceber é indubitavelmente certa E é universalmente sabido que os afetos podem interferir no surgimento das indicações de pensamento Com isso chegamos a uma nova tese sobre a representação mecânica dos processos psíquicos a saber de que a passagem da associação que não é alterada pelo nível da catexia pode ser influenciada pela própria magnitude da Q fluente De modo geral uma Q grande segue na rede de facilitações vias diferentes das tomadas por uma Q pequena Acho que não será difícil ilustrar essa circunstância Para cada barreira há um valorlimiar abaixo do qual nenhuma Q será levada em conta muito menos portanto uma fração dela Uma Q tão mínima assim ainda se dividirá em 1 por outras duas vias para cuja facilitação Q seja suficiente Se a Q aumentar nesse momento a primeira via será levada em conta facilitando a passagem das frações correspondentes e então talvez as catexias do lado oposto ao que é agora uma barreira transponível também consigam se fazer sentir Ainda existe outro fator capaz de adquirir importância Talvez possamos presumir que nem todas as vias de um neurônio são igualmente receptivas a Q e podemos descrever essa diferença como a largura da via A largura da via é em si mesma independente da resistência que pode efetivamente ser alterada pelas Qs em curso enquanto a largura da via permanece constante Se supusermos que ao aumentar a Q abrese uma via capaz de fazer valer sua largura perceberemos a possibilidade de que a passagem de Q seja fundamentalmente alterada por um aumento da Q em fluxo A experiência cotidiana parece corroborar expressamente essa conclusão O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 237 Assim o aparecimento das indicações de pensamento parece estar subordinado à passagem de pequenas Qs Com isso não pretendo afirmar que qualquer outro tipo de passagem de Q deva ficar inconsciente pois oaparecimento das indicações da fala não é o único método para despertar a consciência Como podemos então dar uma idéia clara do tipo de pensamento que se torna intermitentemente consciente com súbitas intrusões na consciência em 1 Afinal de contas nosso pensamento erradio nãointencional comum embora acompanhado de précatexia e de atenção automática não dá maior importância às indicações de pensamento Não ficou biologicamente demonstrado que elas sejam imprescindíveis para o processo Apesar disso costumam manifestarse 1 quando a passagem regular de quantidade chega a um término ou depara com um obstáculo e 2 quando a passagem suscita uma idéia que em virtude de outros motivos evoca indicações de qualidade isto é a consciência A essa altura já se pode interromper a nossa exposição 3 Existem evidentemente outras formas do processo de pensamento que não visam ao fim desinteressado da cognição mas a outro de utilidade prática O estado de expectativa que foi o ponto de partida de todo o pensamento Ver em 1 é um exemplo desse segundo tipo de pensamento Nele se retém firmemente uma catexia de desejo enquanto uma segunda catexia perceptual se manifesta e é acompanhada pela atenção Nesse caso porém a intenção não consiste em descobrir aonde conduzirá em geral essa catexia perceptual e sim em averiguar por que vias ela conduzirá à ativação da catexia de desejo que ficou nesse meio tempo firmemente retida Esse tipo de pensamento biologicamente o primeiro pode ser facilmente representado segundo nossas premissas Digamos que V seja a representação de desejo que se mantém especialmente catexizada e W a percepção que terá de ser seguida O resultado então da catexia W com atenção consistirá antes de mais nada em que a Q quantidade pertencente ao sistema de neurônios em 1 flua na direção do neurônio a o mais facilitado a partir dali ela prosseguirá mais uma vez em direção à melhor facilitação e assim por diante Essa tendência porém será interrompida pela presença de catexias colaterais Supondo que se de a partirem três vias para b c e d na ordem respectiva de qualidade de facilitação e se d estiver situado na proximidade da catexia de desejo V o resultado bem pode ser que a Q apesar das facilitações não flua para c e b mas sim para d e dele para V revelandose assim que a via procurada é Wa dV Vemos aqui em ação o princípio que já reconhecemos há muito tempo em 1 de que a catexia pode desviar a facilitação e assim agir contra ela e que conseqüentemente uma catexia colateral modifica a passagem da Q Já que as catexias são modificáveis fica a critério do ego alterar a passagem da associação a partir de W na direção de qualquer catexia intencional Por catexia intencional devese entender aqui não uma catexia uniforme como a que afeta todo um setor no caso da atenção mas uma catexia que se destaque que sobressaia ao nível do ego Provavelmente devamos supor que nesse tipo de pensamento com catexias intencionais a Q também flui simultaneamente a partir de V de modo que a passagem da associação a partir de W pode ser influenciada não só por V O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 238 como também por seus outros pontos de parada Nessa situação porém a via que parte de V é conhecida e fixa mas a via que parte de W a precisa ser descoberta Já que na realidade nosso ego sempre alimenta catexias intencionais amiúde muitas delas ao mesmo tempo podemos agora compreender a dificuldade do pensamento puramente cognitivo e também a possibilidade no caso do pensamento prático de serem alcançadas as mais variadas vias em momentos diversos mediante circunstâncias diferentes por várias pessoas No caso do pensamento prático também chegamos a uma apreciação das dificuldades do pensamento que sem dúvida já conhecemos por experiência própria Voltemos ao nosso exemplo anterior no qual a corrente de Q fluiria segundo as facilitações até b e c enquanto d estaria marcado por uma ligação estreita com a catexia intencional ou com uma idéia derivada dela É possível então que a influência da facilitação a favor de bc seja tão grande que supere amplamente a atração por dV Apesar disso a fim de que a passagem da associação se dirigisse até V seria necessário que a catexia de V e de suas idéias derivadas fosse também ainda mais intensificada talvez para que a atenção voltada para W a percepção se modificasse no sentido de alcançar um maior ou menor grau de ligação e um nível de corrente mais favorável à via d V Um dispêndio dessa natureza requerido para superar as facilitações boas com o objetivo de atrair a Q para vias menos facilitadas porém mais próximas da catexia intencional corresponde à dificuldade do pensamento O papel desempenhado pelas indicações de qualidade do pensamento prático pouco difere do desempenhado por elas no pensamento cognitivo As indicações de qualidade asseguram e fixam a passagem da associação mas não são absolutamente indispensáveis para ela Se substituirmos os neurônios e as idéias respectivamente por complexos de neurônios e de idéias estaremos diante de uma complicação do pensamento prático que não será possível descrever e perceberemos que a essa altura seria desejável poder esclarecer as coisas prontamente Cf em 1 adiante Durante essa passagem de associação porém as indicações de qualidade na maioria não são completamente despertadas e é precisamente a geração delas que serve para retardar e complicar a passagem da associação Depois que a passagem de determinada percepção para certas catexias intencionais específicas é repetidamente seguida e se encontra estereotipada por facilitações mnêmicas em geral não há mais motivo para que sejam despertadas as indicações de qualidade O objetivo do pensamento prático é a identidade Cfem 1 o desembocar da catexia Q deslocada na catexia de desejo que nesse meio tempo ficou firmemente retida Devemos encarar de um ângulo puramente biológico o fato de que com isso cessa toda a necessidade de pensar e se possibilita em vez dela a inversão total das imagens motoras que foram tocadas durante a passagem da quantidade imagens que em tais circunstâncias representam um elemento auxiliar justificável da ação específica em 1 Uma vez que durante a passagem da associação a catexia dessas imagens motoras só se deu por ligação e uma vez que o processo de pensamento partiu de uma imagem perceptual unicamente seguida na qualidade de imagem mnêmica todo o processo de pensamento pode tornarse independente tanto do processo de expectativa como da realidade progredindo até a identidade sem sofrer a menor modificação Assim ele o processo de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 239 pensamento parte de uma simples idéia e mesmo depois de completado não leva à ação mas terá produzido um conhecimento prático que poderá ser utilizado numa oportunidade real posterior Com efeito é conveniente preparar o processo de pensamento prático antecipadamente para enfrentar as condições da realidade e não ter que improvisálo quando ele se faz necessário Agora é chegado o momento de fazer uma ressalva a uma hipótese anteriormente formulada em 1 a de que a lembrança dos processos de pensamento só é possível graças às indicações de qualidade já que de outro modo não se poderiam diferenciar seus vestígios dos que são deixados pelas facilitações perceptivas Ainda continua válida a afirmação de que uma lembrança real não é propriamente modificável por nenhuma quantidade de pensamento a ela dedicada Por outro lado é inegável que pensar sobre um tema deixa traços extraordinariamente importantes para qualquer repensar posterior a respeito dele cf em 1 a 1 e é muito duvidoso que esse resultado provenha exclusivamente de um pensamento acompanhado por indicações de qualidade e consciência Devem existir portanto facilitações de pensamento mas sem que se obliterem as vias de associação originais Mas como só pode haver facilitações de uma espécie poderseia pensar que essas duas conclusões são incompatíveis No entanto deve ser possível encontrar um modo de conciliálas e explicálas no fato de que todas as facilitações de pensamento apenas se originaram depois de alcançado um alto nível de catexia e que provavelmente também só entram em ação na presença de um nível alto ao passo que as facilitações associativas originadas durante as passagens de quantidade totais ou primárias tornam a aparecer quando se estabelecerem condições para uma passagem livre dequantidade Por conseguinte não se pode negar algum possível efeito das facilitações de pensamento sobre as facilitações associativas Assim chegamos à seguinte caracterização suplementar do movimento neuronal desconhecido A memória consiste em facilitações Ver em 1 As facilitações não são modificadas por um aumento do nível da catexia mas existem facilitações que só vigoram em determinado nível A direção tomada pela passagem de quantidade não é alterada a princípio pela mudança de nível embora sem dúvida o seja pela quantidade da corrente em 1 e pelas catexias colaterais em 1 Quando o nível é alto as Qs pequenas são as que se deslocam com mais facilidade em 1 Ao lado do pensamento cognitivo e do pensamento prático devemos distinguir o pensamento reprodutivo pensamento rememorativo que em parte coincide com o prático sem abrangêlo por completo Esse rememorar é a condição prévia de qualquer exame efetuado pelo pensamento crítico ele acompanha um dado processo de pensamento em sentido reversivo retrocedendo possivelmente até uma percepção mais uma vez em contraste com o pensamento prático sem objetivo determinado e ao assim proceder recorre em grande escala às indicações de qualidade Nesse curso recessivo o processo depara com vínculos intermediários até então inconscientes que não deixaram atrás de si nenhuma indicação de qualidade mas cujas indicações de qualidade aparecem posteriormente Isso implica que a própria passagem do pensamento sem nenhuma indicação de qualidade deixa vestígios De fato alguns casos dão a impressão de que certos trechos da via só podem ser conjeturados porque seus pontos inicial e terminal são dados por indicações de qualidade O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 240 De qualquer forma a reprodutibilidade dos processos de pensamento ultrapassa amplamente as indicações de qualidade eles podem tornarse conscientes a posteriori embora o resultado de uma passagem de pensamento talvez deixe rastros com maior freqüência do que as suas etapas intermediárias 1 Durante uma passagem de pensamento seja ele cognitivo crítico ou prático podem ocorrer acontecimentos de toda sorte que merecem umadescrição O pensamento pode levar ao desprazer ou à contradição Examinemos o caso em que o pensamento prático acompanhado de catexias intencionais leva à liberação de desprazer Cf atrás ver em 1 A experiência mais corriqueira mostra que esse acontecimento resulta num obstáculo ao processo de pensamento Como é possível então que sequer ocorra Quando uma lembrança ao ser catexizada causa desprazer isso em geral se deve ao fato de que no momento em que ocorreu a percepção correspondente esta causou desprazer isto é fez parte de uma experiência de dor em 1 A experiência demonstra também que as percepções dessa espécie atraem um alto grau de atenção mas que não suscitam tanto suas próprias indicações de qualidade quanto as da reação que as percepções desencadeiam estão associadas com suas próprias manifestações de afeto e de defesa em 1 Se seguirmos as vicissitudes dessas percepções depois de elas se terem transformado em imagens mnêmicas constataremos que suas primeiras repetições continuam a despertar afeto e também desprazer até que com o correr do tempo percam essa capacidade Simultaneamente elas passam por outra mudança A princípio conservam o caráter das qualidades sensoriais quando não são mais capazes de afeto perdem também essas qualidades sensoriais e se assemelham progressivamente a outras imagens mnêmicas Quando uma passagem de pensamento esbarra nesse tipo de imagem mnêmica ainda indomada geramse as indicações de qualidade correspondentes muitas vezes de caráter sensorial com uma sensação de desprazer e uma tendência à descarga cuja combinação caracteriza determinado afeto interrompendose assim a passagem do pensamento Que acontece então com as lembranças capazes de afeto até serem dominadas Não se pode supor que o tempo a repetição enfraqueçam sua capacidade de afeto já que normalmente esse fator a repetição até contribui para intensificar a associação É evidente que algo deve acontecer no curso do tempo durante as repetições que provoque essa subjugação das lembranças e esse algo só pode consistir em que alguma relação como ego ou com as catexias do ego adquire poder sobre as lembranças Se isso é mais demorado nesses casos do que de hábito podese encontrar uma região especial na origem dessas lembranças capazes de gerar afeto Sendo traços de experiências de dor elas foram catexizadas de acordo com nossa hipótese sobre a dor em 1 com uma Q excessivamente intensa para a liberação de desprazer e afeto Por conseguinte deverão receber do ego uma ligação especialmente considerável e reiterada para contrabalançar essa facilitação para o desprazer O fato de que a lembrança exibe característica alucinatória durante tanto tempo também requer explicação que é importante para nosso conceito da alucinação Aqui é plausível supor que essa capacidade para a alucinação além da capacidade para o afeto sejam indicações de que a catexia do ego ainda não exerceu nenhuma influência sobre a lembrança e de que nesta predominam as linhas primárias de descarga e o processo total ou primário O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 241 Somos obrigados a ver no estado de alucinação um refluxo de Q para e também para em 1 assim um neurônio ligado não admite semelhante refluxo Podese ainda perguntar se não será a quantidade excessivamente grande da catexia da lembrança que possibilita esse refluxo Aqui porém convém lembrar que essa Q considerável só está presente na primeira vez na própria experiência da dor Ao se produzirem as repetições estamos lidando apenas com uma catexia de força comum que apesar disso provoca alucinação e desprazer só podemos supor que graças a uma facilitação extraordinariamente intensa Daí se conclui que uma quantidade de magnitude comum é sem dúvida suficiente para produzir o refluxo e excitar a descarga com o que adquire maior importância o efeito inibidor da ligação promovida pelo ego Ao final portanto tornase possível catexizar a lembrança da dor de tal maneira que ela não possa exibir nenhum refluxo e só possa liberar um desprazer mínimo Estará então domada e por uma facilitação de pensamento suficientemente forte para exercer um efeito permanente e voltar a produzir uma ação inibidora a cada repetição posterior dessa lembrança A via que conduz à liberação de desprazer aumentará gradativamente suaresistência graças à falta de uso pois as facilitações estão sujeitas a uma decadência gradativa esquecimento Somente depois disso é que a lembrança será tão domada como outra qualquer Parece no entanto que esse processo de sujeição da lembrança deixa um efeito permanente na passagem do pensamento Já que antes ela a passagem de pensamento era perturbada a cada vez que se ativava a memória e se suscitava o desprazer há uma tendência ainda hoje a inibir o curso do pensamento assim que a lembrança subjugada gere seu rastro de desprazer Essa tendência é muito conveniente para o pensamento prático pois um vínculo intermediário que leve ao desprazer não pode de modo algum acharse na via procurada até a identidade com a catexia de desejo em 1 Assim surge uma defesa de pensamento primária que no pensamento prático interpreta a liberação de desprazer como um sinal em 1 para abandonar uma determinada via isto é para dirigir a catexia da atenção para outro lugar Aqui mais uma vez é o desprazer que dirige a corrente de WW tal como ocorre na primeira regra biológica em 1 Devese perguntar por que essa defesa de pensamento não se dirigiu contra a lembrança quando ainda era capaz de gerar afeto Cabe presumir porém que àquela altura uma objeção foi levantada pela segunda regra biológica que postula a necessidade de atenção sempre que há uma indicação da realidade Cf em 1 e a memória domada ainda era capaz de impor indicações de qualidade reais Como vemos as duas regras se harmonizam para atender a uma finalidade prática É interessante notar como o pensamento prático se deixa guiar pela regra biológica da defesa No pensamento teórico cognitivo e verificador essa regra já não é observada Isso é compreensível pois no pensamentointencional tratase de encontrar alguma via ou outra e por conseguinte as que estão ligadas ao desprazer podem ser excluídas ao passo que no pensamento teórico cada via deve ser reconhecida 4 Surge aqui nova pergunta de como pode ocorrer um erro no curso do pensamento Qual é o erro Teremos agora que examinar ainda mais minuciosamente o processo de pensamento O pensamento prático origem de todos os processos de pensamento continua sendo também o objetivo final deles Todas O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 242 as demais formas derivaram dele É evidentemente vantajoso que a distribuição do pensamento que se efetua no pensamento prático possa ocorrer de antemão sem que seja preciso esperar pelo estado de expectativa em 1 porque 1 isso poupa tempo que poderá ser aproveitado para a elaboração da ação específica em 1 e 2 o estado de expectativa está longe de ser particularmente favorável à passagem do pensamento O valor da presteza no curto intervalo que separa a percepção da ação se evidencia ao considerarmos a rapidez da mudança das percepções Se o processo de pensamento persistir por tempo demasiadamente longo seu produto se tornará inútil nesse ínterim É por essa razão que pensamos com antecipação O início dos processos de pensamento derivados do pensamento prático é a formação de juízos O ego que chegou devido a algo que descobre em sua própria organização graças à mencionada em 1 e 2 coincidência parcial entre as catexias perceptuais e as informações provenientes do próprio corpo Em conseqüência os complexos perceptuais se dividem em uma parte constante e incompreendida a coisa e outra variável compreensível os atributos ou movimentos da coisa Como o complexocoisa continua reaparecendo em combinação com uma série de complexosatributo e estes por sua vez em combinação com uma série de complexoscoisa surge a possibilidade de se elaborarem vias de pensamento que liguem esses dois tipos de complexos ao estado de desejo da coisa e de fazêlo de uma maneira que seja por assim dizer genericamente válida e independente da percepção que é real num dado momento A atividade de pensamento realizada com juízos e não com complexos perceptuaisdesordenados significa portanto uma economia considerável Devemos deixar de lado a questão de saber se a unidade psicológica assim obtida também é representada na passagem do pensamento por uma unidade neuronal e por uma unidade que não seja a de representação da palavra O erro já pode ser introduzido durante a criação de um juízo pois o complexocoisa e o complexomovimento nunca são totalmente idênticos e entre seus elementos divergentes pode haver alguns cuja desconsideração prejudique o resultado na realidade Esse defeito do pensamento tem origem no empenho que efetivamente estamos imitando aqui em substituir o complexo por um único neurônio empenho este que é exigido justamente pela imensa complexidade do material Cf em 1 Esses são os erros de juízo ou falhas nas premissas Outra fonte de erro pode consistir no fato de as percepções da realidade não serem completamente percebidas por se encontrarem fora do campo dos sentidos Esses são os erros por ignorância que nenhum ser humano é capaz de evitar Quando esse determinante não se aplica a précatexia psíquica pode estar defeituosa pelo fato de o ego terse desviado das percepções daí resultando percepções imprecisas e passagens de pensamento incompletas Esses são os erros devidos à insuficiência de atenção Se agora tomarmos como material dos processos de pensamento complexos já julgados e ordenados em vez de complexos não sofisticados surgirá a oportunidade de abreviar o próprio processo de pensamento prático Com efeito se se demonstrou que o caminho que liga a percepção à identidade com a catexia de desejo passa por uma imagem motora M será biologicamente garantido que uma vez alcançada a identidade essa M ficará completamente inervada A simultaneidade da percepção com M cria uma intensa facilitação entre ambas e uma imagem perceptual imediatamente subseqüente evocará M sem necessidade de O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 243 nenhuma passagem associativa Ao fazer essa afirmação estamos pressupondo naturalmente que seja possível estabelecer a qualquer momento um vínculo entre duas catexias O que foi originariamente uma conexão de pensamento arduamente estabelecida se transforma depois graças a uma catexia simultânea total em poderosa facilitação A única pergunta que se pode formular a esse respeito é se sempre é efetuada pela via descoberta originariamente ou se pode seguiruma outra de conexão mais direta Esta última alternativa parece mais provável e mais conveniente pois evita a necessidade de fixar vias de pensamento que na verdade devem ficar livres para outras conexões dos mais diversos tipos Quando a via de pensamento originária não é percorrida tampouco se deve esperar alguma facilitação nela e o resultado será mais bem fixado por meio de uma conexão mais direta A propósito permanece em aberto a questão de qual seria o ponto de origem dessa nova via O problema ficaria simplificado se as duas catexias a da percepção e a de M tivessem associação comum com uma terceira O trecho da passagem do pensamento que vai da percepção até a identidade através de uma M também pode ser ressaltado e levará a um resultado semelhante se mais tarde a atenção fixar a M e a colocar em associação com a percepção que também terá sido fixada mais uma vez Essa facilitação do pensamento também se restabelecerá quando houver uma ocorrência real Nessa espécie de atividade de pensamento a possibilidade de erros não é óbvia à primeira vista Mas não resta dúvida de que se pode enveredar por uma via de pensamento inadequada e enfatizar um movimento antieconômico uma vez que afinal de contas no pensamento prático a escolha depende exclusivamente de experiências reproduzíveis Com o crescente número de lembranças surgem constantemente novas vias de deslocamento Por esse motivo considerase vantajoso seguir as diferente percepções até o fim para descobrir entre todas as vias as mais favoráveis e isso é tarefa do pensamento cognitivo que indubitavelmente aparece como uma preparação para o pensamento prático embora na realidade só se tenha desenvolvido tardiamente deste último Os resultados dessa tarefa são portanto úteis para mais de uma espécie de catexia de desejo Os erros do pensamento cognitivo são autoevidentes Constituemse da parcialidade quando não se evitam as catexias intencionais e da incompletude quando não se percorrem todas as vias possíveis Está claro queconstitui uma enorme vantagem aqui que as indicações de qualidade sejam evocadas simultaneamente Quando esses processos de pensamento as indicações de qualidade são selecionados e introduzidos no estado de expectativa a passagem da associação do primeiro ao último vínculo pode darse pelas indicações de qualidade em vez de atravessar toda a série de pensamentos e nem sequer se torna necessário que a série de qualidades coincida completamente com a série de pensamentos O desprazer não desempenha nenhum papel no pensamento teórico e é também possível com respeito às lembranças subjugadas Ainda temos de considerar outro tipo de pensamento o crítico ou examinador Essa forma de pensamento é motivada quando apesar de ter obedecido a todas as regras o processo de expectativa seguido pela ação específica não causa satisfação e sim desprazer O pensamento crítico procedendo vagarosamente sem nenhum objetivo prático e recorrendo a todas as indicações de qualidade procura repetir toda a O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 244 passagem de Q a fim de detectar alguma falha no pensamento ou algum defeito psicológico O pensamento crítico é um pensamento cognitivo que atua sobre um objeto particular a saber uma série de pensamentos Já vimos em que podem consistir estes últimos defeitos psicológicos mas em que consistem as falhas lógicas Em poucas palavras na nãoobservância das regras biológicas que regem a passagem de pensamento Essas regras determinam para onde deve dirigirse a cada vez a catexia da atenção e quando o processo de pensamento deve parar Elas são protegidas pelas ameaças de desprazer derivam da experiência e podem ser diretamente transpostas para as regras da lógica o que terá de ser minuciosamente comprovado Por conseguinte o desprazer intelectual da contradição diante do qual se detém a passagem do pensamento verificador não é outra coisa senão o desprazer acumulado para proteger as regras biológicas agora ativado por um processo de pensamento incorreto A existência dessas regras biológicas pode ser comprovada precisamente pela sensação de desprazer diante dos erros lógicos Só podemos retratar a ação de novo como a catexia plena das imagens motoras que foram destacadas durante o processo de pensamento em 1 em adição talvez das que fizeram parte do componente volitivo da ação específica caso tenha havido um estado de expectativa Aqui se renuncia ao estado de ligação e as catexias de atenção são retiradas O que sem dúvida acontece em relação ao primeiro a renúncia ao estado de ligação é que o nível do ego cai irresistivelmente ante a primeira passagem da Q proveniente dos neurônios motores Não se pode naturalmente esperar que o ego seja completamente descarregado em conseqüência de atos isolados pois isso só poderá acontecer nos atos de satisfação do tipo mais amplo É instrutivo observar que a ação não ocorre por uma inversão da via percorrida pelas imagens motoras e sim ao longo de vias motoras especiais e por esse motivo o efeito do movimento não é necessariamente o desejado caso houvesse uma inversão da mesma via Por isso é que no decurso da ação uma nova comparação deve ser feita entre a informação que chega sobre os movimentos e os movimentos précatexizados e é preciso que haja uma excitação das inervações corretivas até se alcançar a identidade Aqui nos encontramos diante da mesma situação que já ocorreu no caso das percepções embora com menor multiplicidade maior rapidez e uma descarga contínua e plena que não existia no caso das percepções Mas a analogia entre o pensamento prático e a ação eficiente é digna de nota Isso nos demostra que as imagens motoras são sensoriais No entanto o fato peculiar de serem adotadas novas vias no caso da ação em lugar de haver uma inversão muito mais simples parece mostrar que a direção tomada pela condução dos elementos neuronais está firmemente fixada e talvez a rigor que o movimento neuronal pode ter características diferentes nos dois casos As imagens motoras são percepções e como tal decerto possuem qualidade e despertam a consciência Não se pode também discutir que por vezes elas atraem considerável atenção para si mesmas Suas qualidades porém não são muito marcantes nem provavelmente tão multiformes quanto as do mundo externo não estão associadas com representações de palavra pelo contrário elas próprias servem em parte às finalidades dessa associação No entanto não procedem de órgãos sensoriais altamente organizados sua O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 245 qualidade é sem dúvida monótona em 12 APÊNDICE B TRECHO DA CARTA 39 ESCRITA POR FREUD A FLIESS EM 1º DE JANEIRO DE 1896 Seus comentários sobre a enxaqueca me deram uma idéia cuja conseqüência seria a revisão completa de todas as minhas teorias sobre fyw o que de momento não posso arriscarme a fazer Mas vou ver se consigo esboçála Meu ponto de partida são os dois tipos de terminações nervosas As livres em 1 só recebem quantidade que conduzem por soma em 1 até y mas não têm poder de evocar sensações isto é de afetar w Nesse sentido o movimento neuronal conserva suas características qualitativas em 1 genuínas e monótonas Essas são as vias de toda a quantidade que preenche y e também é claro as vias da energia sexual As vias de condução nervosa que começam nos órgãos terminais não conduzem quantidade mas sim a característica qualitativa que lhes é peculiar nada acrescentam à soma de quantidade nos neurônios y colocandoos apenas em estado e de excitação Os neurônios w são os neurônios y que só têm capacidade muito reduzida de catexia quantitativa A condição necessária para que se produza a consciência é a coincidência dessas quantidades mínimas com a qualidade que lhes é fielmente transferida do órgão terminal Agora em meu novo esquema intercalo esses neurônios w entre os neurônios f e os neurônios y de modo que f transfira sua qualidade para w e então w não transfere qualidade nem quantidade a y mas meramente o excita isto é indica as vias a serem tomadas pela energia livre Não sei se você vai poder entender essa confusão Existem por assim dizer três formas pelas quais os neurônios se afetam mutuamente 1 transferindo quantidade entre si 2 transferindo qualidade entre si e 3 exercendo segundo determinadas regras um efeito excitante recíproco Segundo essa visão os processos perceptuais abrangeriam eo ipso por sua própria natureza a consciência e só produziriam seus efeitos psíquicos depois de se tornarem conscientes Os processos y em compensação seriam inconscientes em si e só subseqüentemente adquiririam uma consciência secundária artificial ao se vincularem aos processos de descarga e de percepção associação da fala em 1 Uma descarga de w que tive de postular na exposição anterior desse tema em 1 já não é mais necessária a alucinação cuja explicação sempre criou dificuldades já não é mais um movimento retroativo da excitação até O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 246 em 1 mas só até w Agora fica muito mais fácil compreender a regra da defesa que não se aplica às percepções mas apenas aos processos y O fato de a consciência secundária ficar para trás ver atrás possibilita uma descrição simples dos processos neuróticos Também me livrei do incômodo problema de determinar quanto da intensidade f dos estímulos sensoriais é transferida para os neurônios y A resposta é em forma direta absolutamente nada A Q em y depende exclusivamente da medida em que a atenção livre de y é dirigida pelos neurônios w Essa nova hipótese também se ajusta melhor ao fato de que os estímulos sensoriais objetivos são tão ínfimos que de acordo com o princípio da constância é difícil derivar dessa fonte a força de vontade Em compensação na nova teoria a sensação não traz nenhum Q para y a fonte da energia de y são as vias de condução orgânicas endógenas O conflito entre a condução orgânica puramente quantitativa e os processos excitados em y pela sensação consciente me permite explicar também a liberação de desprazer da qual necessito para o recalcamento nas neuroses sexuais No que se refere ao seu lado da questão essa nova colocação abre a possibilidade de que ocorram estados de estimulação em órgãos que não produzem sensações espontâneas embora devam ser indubitavelmente sensíveis à pressão mas que por ação reflexa isto é pela influência do equilíbrio podem instigar distúrbios a partir de outros centros nervosos Com efeito a idéia de que existe uma ligação mútua entre os neurônios ou entre os centros nervosos sugere também que os sintomas motores da descarga são de vários tipos É provável também que os atos voluntários sejam determinados por uma transferência de Q uma vez que descarregam a tensão psíquica Além disso existem descargas de prazer espasmos etc que não explico pela transferência de Q para o centro motor mais sim pela liberação dela nesse centro em decorrência de uma possível diminuição da Q de ligação no centro sensorial pareado com ele Isso nos ofereceria a tão almejada distinção entre os movimentos voluntários e espásticos e ao mesmo tempo permitiria explicar todo um grupo de efeitos somáticos secundários na histeria por exemplo Quanto aos processos puramente quantitativos de transferência para y existe uma possibilidade de eles atraírem a consciência para si mesmos mas só se essas conduções de Q atenderem às condições necessárias para produzir dor Dessas condições a essencial talvez seja a suspensão da soma e um afluxo contínuo de Q até y durante algum tempo Certos neurônios w tornamse hipercatexizados produzem um sentimento de desprazer e levam também a atenção a se fixar nesse ponto particular Assim se teria de conceber a modificação nevrálgica como um afluxo de Q emanada de determinado órgão e aumentada acima de certo limite até deixar anulada a soma levando à hipercatexização dos neurônios w e à fixação da energia y livre Como vê chegamos à enxaqueca a precondição necessária seria a existência de regiões nasais no estado de estimulação que você comprovou a olho nu O excesso de Q se distribuiria por diversas vias subcorticais antes de chegar a y Uma vez feito isso o fluxo de Q agora contínuo força seu O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 247 acesso a y e de acordo com a regra da atenção em 1 a energia y livre aflui para a sede da erupção Agora cabe perguntar qual é a fonte dos estados de estimulação nos órgãos nasais A idéia que logo se oferece é a de que o órgão qualitativo dos estímulos olfativos seria a membrana de Schneider enquanto o órgão quantitativo diferente daquele seriam os corpora cavernosa As substâncias olfativas como você mesmo crê e as flores nos ensinam são produtos de degradação do metabolismo sexual funcionariam como estímulos sobre os dois órgãos citados Durante a menstuação e em outros processos sexuais o organismo produz uma Q aumentada dessas substâncias desses estímulos portanto Teríamos que estabelecer se elas atuam sobre os órgãos nasais através do ar expiratório ou por intermédio dos vasos sangüíneos provavelmente por via sangüínea já que antes dos ataques de enxaqueca não se tem nenhuma sensação olfativa subjetiva Por conseguinte o nariz receberia por assim dizer informações sobre os estímulos olfativos internos por intermédio dos corpora cavernosa tal como recebe os estímulos externos através da membrana de Schneider seríamos vítimas do próprio corpo Essas duas formas de se produzir a enxaqueca espontaneamente ou por odores e emanações tóxicas humanas em 1 seriam portanto equivalentes e seus respectivos efeitos poderiam ser provocados a qualquer momento por soma Desse modo a tumefação dos órgãos nasais de quantidade seria uma espécie de adaptação do órgão sensorial resultante do incremento do estímulo interno à semelhança do que ocorre na adaptação dos órgãos sensoriais verdadeiros qualitativos no arregalar dos olhos e concentrálos em algum foco de atenção no aguçar dos ouvidos e assim por diante Talvez não seja muito difícil transpor para essa concepção as outras fontes de enxaqueca e estados semelhantes embora eu ainda não saiba como se poderia fazer isso Em todo caso é mais importante verificar a idéia em relação ao nosso tema principal Dessa maneira numerosas idéias médicas antigas e obscuras adquirem vida e valor APÊNDICE C A NATUREZA DA Q Não há mistério em torno da primeira das duas idéias principais com que Freud inicia o Projeto cf em 1 o neurônio e a Q A segunda porém exige certo exame principalmente quando tudo leva a crer que foi a precursora de um conceito que iria desempenhar um papel fundamental na psicanálise Aqui não nos interessa decifrar o enigma especial mencionado atrás na Introdução do Editor da diferença entre Q e Q Vamos nos ocupar agora é da Q como o próprio Freud declara explicitamente no fim do primeiro parágrafo do Projeto uma Q que possui alguma conexão especial com o sistema nervoso Como foi portanto que Freud imaginou essa Q no outono de 1895 À parte a circunstância óbvia de que ele tencionava apresentála como uma coisa O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 248 concreta sujeita às leis gerais do movimento em 1 logo se percebe que ela surge em duas formas distintas A primeira consistiria na Q em fluxo passando através de um neurônio ou indo de um neurônio a outro Isso vem descrito de vários modos por exemplo a excitação neuronal em estado fluente em 1 uma Q fluente em 1 corrente em 1 ou passagem de excitação em 1 A segunda que é mais estática é demonstrada por um neurônio catexizado cheio de Q em 1 A importância dessa distinção entre os dois estados da Q só se faz sentir gradativamente no Projeto ficandose quase tentado a supor que o próprio Freud só se deu conta dela quando escrevia a obra O primeiro indício dessa importância está relacionado com a análise do mecanismo para apontar a diferença entre alucinações e percepções e o papel desempenhado nesse mecanismo pela ação inibidora procedente do ego Seções 14 e 15 da Parte I Os pormenores dessa ação inibidora a interferência de uma catexia colateral dirigida por uma catexia da atenção vinda do ego são fornecidos em 12 e seu efeito consiste em modificar o estado da Q em fluxo para um estado de Q estática num neurônio Essa distinção é depois em 12 relacionada com a distinção entre o processo primário nãoinibido e o secundário inibido Outra forma ainda de descrevêla surge pouco mais adiante em 1 com a noção de que a catexia colateral interveniente exerce um efeito de ligação sobre a Q Mas é só na Parte III do Projetoem 1 que ficam expostas todas as implicações da diferença entre um estado ligado e um estado móvel da Q A necessidade da hipótese de haver dois estados de Q aparece àquela altura relacionada à análise do mecanismo do pensamento de Freud que requer um estado no neurônio que embora na presença de uma catexia elevada permite apenas uma corrente pequena em 1 Assim a Q pareceria mensurável de dois modos pela altura do nível da catexia dentro de um neurônio e pelo índice de fluxo entre as catexias Isso foi ocasionalmente interpretado como prova de que Freud realmente acreditava que a Q fosse simplesmente eletricidade e que as duas maneiras de medila corresponderiam à amperagem e à voltagem É bem verdade que cerca de um ano e meio antes da redação do Projeto em seu primeiro artigo sobre as neuropsicoses de defesa 1894a ele já tinha feito uma vaga comparação entre algo que seria precursor da Q e uma carga elétrica espalhada pela superfície de um corpo ver em 1 É também verdade que Breuer em sua contribuição teórica para os Estudos sobre a Histeria 1895d publicados apenas alguns meses antes de ser escrito o Projeto dedicou um pouco de espaço a uma analogia elétrica com as excitações nas vias condutoras do cérebro ver em 12 Apesar disso não há nenhuma palavra no Projeto que sugira que houvesse qualquer idéia desse tipo na mente de Freud Ao contrário ele não cansa de salientar que desconhecemos a natureza do movimento neuronal Ver por exemplo em 1 2 e 3 É forçoso reconhecer que existem certas partes obscuras na descrição fornecida no Projeto para a natureza do estado ligado e seu mecanismo Uma das mais intrigantes diz respeito O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 249 ao processo de juízo e ao papel nele desempenhado por uma catexia procedente do ego Essa influência está descrita das maneiras mais variadas como catexia colateral ou précatexia ou hipercatexia e se encontra intrinsecamente implicada naidéia de uma catexia da atenção A princípio ver em 1 por exemplo parece que a atenção é apenas um meio de dirigir as catexias colaterais para o lugar onde são necessárias Mas em outros trechos ver em 1 por exemplo temse a impressão de que a hipercatexia da atenção constitui em si mesma a força que produz o estado ligado Efetivamente todo o problema da relação da atenção com a Q requer um exame meticuloso A energia livre de como Freud parece denominála na carta enviada a Fliess em 1º de janeiro de 1896 Apêndice B A atenção é mencionada discretamente na Seção 14 da Parte I em 1 mas logo começa a mostrar sua importância na Seção 19 da Parte I e na Seção 6 da Parte II até se tornar na Parte III um elemento quase predominante Apesar disso nos escritos posteriores de Freud a atenção depois de ser citada esporadicamente é quase relegada ao esquecimento Alguns vestígios anônimos porém persistem até o fim em dois sentidos bastante diferentes que em última análise remontam ao Projeto O primeiro e mais óbvio se relaciona com o teste de realidade cuja história foi integralmente documentada na Nota do Editor Inglês à discussão metapsicológica dos sonhos 1917d Edição Standard Brasileira Vol XIV em 12 IMAGO Editora 1974 O outro menos evidente mas talvez mais importante diz respeito justamente ao papel desempenhado pela atenção ou por alguma instância semelhante na determinação da diferença entre a Q em seu estado ligado e seu estado livre e além disso entre os processos primário e secundário Essa função da atenção é discutida numa nota de rodapé do Editor Inglês a O Inconsciente 1915e Edição Standard Brasileira Vol XIV em 1 IMAGO Editora 1974 E há uma alusão indireta nas derradeiras obras de Freud Moisés e o Monoteísmo 1939a Edição Standard Brasileira Vol XXIII em 1 IMAGO Editora 1975 e o Esboço de Psicanálise 1940a 1938 ibid em 1 Sejam quais forem os pormenores exatos do mecanismo responsável pela transformação da Q livre em Q ligada é evidente que Freud atribuía a maior importância à distinção propriamente dita Em minha opinião escreveu ele em O Inconsciente essa distinção representa a compreensão mais profunda a que chegamos até agora quanto à natureza da energia nervosa ibid Vol XIV em 1 Essa citação talvez também nos anime a esperar que os escritos posteriores de Freud esclareçam nosso problema imediato da natureza da Q A Q propriamente dita com esse nome jamais reaparece embora não haja dificuldade em reconhecêla sob várias cognominações a maioria das quais já usadas no Projeto Uma delas sobretudo a energia psíquica exige atenção pois enfatiza o que parece constituir uma mudança vital sofrida pelo conceito Q não é mais uma coisa concreta tornouse uma coisa psíquica Não há nenhuma referência a energia psíquica no Projeto Energia y mencionada na Carta 39 cf em 1 etc significa apenas energia procedente O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 250 do sistema neuronal y Mas já passa ao uso comum em A Interpretação dos Sonhos Apesar disso a mudança não implica um abandono completo de uma base física Muito embora Freud declare Edição Standard Brasileira Vol V 1 IMAGO Editora 1972 que permanecerá no campo psicológico um exame minucioso revela traços da antiga formação neurológica Mesmo no famoso trecho do livro sobre o chiste 1905c Edição Standard Brasileira Vol VIII 1 onde ele parece dar as costas aos neurônios e fibras nervosas na realidade deixa a porta totalmente aberta para uma explicação fisiológica Com efeito na frase do artigo sobre O Inconsciente 1915e citada acima Freud fala em energia nervosa e não em energia psíquica Por outro lado na edição alemã de suas obras completas publicada em 1925 ele modificou duas palavras na última frase dos Estudos sobre a Histeria 1895d de sistema nervoso para vida mental Edição Standard Brasileira Vol II 1 IMAGO Editora 1974 Mas por maior ou menor que tenha sido essa revolução não resta dúvida de que muitas características fundamentais da Q sobreviveram em forma transfigurada até o fim nos escritos de Freud prova disso são as inúmeras referências nas notas de rodapé destas páginas Um problema particularmente interessante surge na relação da Q com as pulsões Estas quase nunca são citadas pelo nome no Projeto É evidente porém que são as sucessoras da Q endógena ou das excitações endógenas Um pouco da história da evolução dos pontos de vista de Freud em relação às pulsões é dado na Nota do Editor Inglês a As Pulsões OsInstintos e Suas Vicissitudes Edição Standard Brasileira Vol XIV 1 e seguintes IMAGO Editora 1974 e sobretudo da história das várias classificações que fez delas primeiro em pulsões libidinais e do ego e depois em pulsões libidinais e destrutivas Um aspecto que não foi mencionado aqui e que apresenta um interesse todo especial no presente contexto é a sugestão duas vezes lançada por Freud da possibilidade de uma energia psíquica indiferente que poderia assumir qualquer das duas formas de pulsão cf o artigo sobre o narcisismo 1914c Edição Standard Brasileira Vol XIV 1 IMAGO Editora 1974 e Edição Standard Brasileira Vol XIX 1 Essa energia psíquica indiferente se parece muito com um retorno à Q Essas incertezas subseqüentes a respeito das pulsões entidades que tal como a Q se encontram na fronteira entre o mental e o físico e de sua classificação nos lembram que Freud sempre se mostrou muito coerente ao salientar nossa ignorância quanto à natureza básica da Q ou de seja lá qual for o nome que se lhe dê Isso como já vimos em 1 é repetido com insistência no próprio Projeto Mas a questão volta uma infinidade de vezes nas obras posteriores para citar apenas algumas em A Interpretação dos Sonhos 1900a Edição Standard Brasileira Vol V 1 IMAGO Editora 1972 no artigo sobre O Inconsciente 1915e ibid Vol XIV 1 e em Moisés e o Monoteísmo 1939a ibid Vol XXIII 1 Essa conclusão está expressa com a maior clareza possível em Além do Princípio do Prazer 1920g Edição Standard Brasileira Vol XVIII 1 A indefinição de todas as nossas discussões sobre o que descrevemos como metapsicologia se deve naturalmente ao fato de nada sabermos da natureza do processo excitatório que ocorre nos O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal 251 elementos dos sistemas psíquicos e a não nos sentirmos autorizados a formular qualquer hipótese sobre o assunto Estamos conseqüentemente trabalhando o tempo todo com um grande fator desconhecido que somos obrigados a transportar para cada fórmula nova Tudo indica portanto que a nossa investigação tem que terminar aqui e que não há outro remédio senão seguir Freud deixando insóluvel o problema da Q Mas embora a natureza fundamental da Q fosse ignorada por Freud alguns de seus traços essenciais sempre foram pressupostos e reiterados por ele até o fim de sua vida Se nos voltarmos para uma das primeiras referências a ela citada em 1 no primeiro artigo sobre as neuropsicoses de defesa 1894a Edição Standard Brasileira Vol III 1 encontraremos essa entidade desconhecida descrita como algo que possui todas as características de uma quantidade embora não tenhamos meios de medila capaz de aumento diminuição deslocamento e descarga Não resta a menor dúvida de que a misteriosa Q recebeu seu nome pela própria razão de possuir essas características Desde o início as considerações quantitativas sempre tiveram que ser levadas em conta em vários pontos das teorias de Freud Por exemplo em A Etiologia da Histeria 1896c lêse que na etiologia das neuroses as precondições quantitativas são tão importantes quanto as qualitativas há valores liminares que têm de ser transpostos antes que a enfermidade possa tornarse manifesta Edição Standard Brasileira Vol III 1 Mais importante porém é o fato de que a quantidade está implícita em toda a teoria do conflito como causa não só das neuroses mas também de toda uma série de estados mentais Há uma porção de trechos em que esse fato se torna explícito por exemplo em Tipos de Desencadeamento da Neurose 1912c Edição Standard Brasileira Vol XII 1 na Conferência XXIII das Conferências Introdutórias 191617 idem Vol XVI 12 em Alguns Mecanismos Neuróticos 1922b idem Vol XVIII 1 e em Análise Terminável e Interminável 1937c Edição Standard Brasileira Vol XXIII 1 IMAGO Editora 1975 Neste último caso a importância dos fatores quantitativos está relacionada com a situação terapêutica mas isso também já ocorrera quarenta anos antes na contribuição de Freud aos Estudos sobre a Histeria 1895d Edição Standard Brasileira Vol II pág 1 IMAGO Editora 1974 Em seu grande artigo sobre O Inconsciente 1915e Freud usou o termo econômico como equivalente de quantitativo ibid Vol XIV pág 1 IMAGO Editora 1974 e a partir daí passou a usar as duas palavras como sinônimos Estaremos certos portanto em considerar a nossa enigmática Q seja qual for a sua natureza última como a precursora de um dos três fatores fundamentais de metapsicologia O conteúdo desta aula em PDF é licenciado para Aline Gomides Cupertino CPF 08920856656 vedada por quaisquer meios e a qualquer título a sua reprodução cópia divulgação ou distribuição sujeitando os infratores a responsabilização civil e criminal