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1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL PARA A AÇÃO PSICOLÓGICA NA PRÁTICA E NA PESQUISA EM INSTITUIÇÕES HENRIETTE T P MORATO Buscar aproximar a Psicologia como ciência da Filosofia como teoria do conhecimento é tarefa impertinente São modos de pensar que nem sequer caminham em paralelo Cumpre ao filósofo resgatar o caminho próprio da Filosofia enquanto ao psicólogo talvez seja possível caber compreender o modo de ser psicólogo como humano que é não pelo modelo de cientista da Psicologia Desse modo este trabalho se resume a uma ousadia procurar articular algumas considerações da Fenomenologia analítica Existencial de Heidegger e a ação psicológica no modo como ocorre na prática e na pesquisa em instituições O caminho a percorrer envereda pelos existenciários e a partir deles poder compreender o modo de ser clínico pela sua acontescência em campo Nesse percurso recorrese a uma tese de doutorado ALMEIDA 2005 orientada pela autora que buscou compreender Aconselhamento Psicológico por uma leitura fenomenológica existencial Entremeando será tentada uma interpretação tomando por base alguns textos anteriores a respeito de compreensões da prática e pesquisa em projetos de intervenção em instituições I Ser clínico uma possibilidade de leitura fenomenológica existencial O termo clínica provindo do grego kline significa cama assim clínica significaria debruçarse sobre alguém que está ao leito Clinicar seria debruçarse ou inclinar se para poder apreender e escutar aquele que precisa de cuidado em mal estar Clínica então seria uma modalidade da solicitude1 fundamentada na escuta De fato sercom implica em não apenas fazer com outros mas também através e por eles já que ao preocuparse com possibilidades de outros o seraí realiza também suas 1 Solicitude diz respeito a procurar composta pelo prefixo pro que se refere a projeto no sentido de proyectum traduzido por lançado adiante e por curar em sua concepção de cuidar Sendo o seraí é sempre projetivo na acepção de lançarse adiante em direção a possibilidades equivale a dizer que o homem é um realizador de possibilidades sempre conjuntamente com outros 2 possibilidades Nesse sentido psicólogos da saúde e da educação são íntima e explicitamente engajados nesse ofício o ser psicólogo deve compreensivamente moverse no âmbito do ser com no modo de ser clínico pois o outro é sempre alguém com o qual o psicólogo profissionalmente se preocupa solicitude não é ocupação mas preocupação Partindo de considerações de Heidegger 19271984 acerca da solicitude há duas formas básicas e extremas a do modo da substituição e a do modo liberador No primeiro tomase o lugar do outro em sua tarefa de cuidar de ser retirandoo de realizador de suas próprias possibilidades Referese a quando o profissional da saúde e da educação ao invés de acompanhar seu cliente em suas possibilidades como testemunha compreendeo por interpretações de diversas teorias explicativas ou por prescrições tecnicamente padronizadas por atitude autoritária portadora da verdade sobre a experiência substitui o cuidado do outro por si mesmo Já no modo liberador compreendese o outro diante de suas próprias possibilidades encarregandoo de seu poderser para conduzirse em dada situação pertinentemente a seu sernomundo Na experiência cotidiana o primeiro modo na esfera da saúde revelase por um saber fazer algo a alguém intencionado atenuar o sofrimento do outro Quanto ao segundo quando uma supervisão educativa atenta ao modo como o supervisionando é tocado pelo cliente possibilita que o psicólogo se compreenda nesse encontro para poder dar seu testemunho como possível encaminhamento de uma história a seus cuidados atento ao modo como é mobilizado em sua experiência com o supervisionando o supervisor dirige sua atenção na ressonância estabelecida entre este e seu cliente pois cuida do outro se dirigindo tanto a cenas do passado quanto ao futuro dando lugar à paciência visto que a solicitude apresentase sob viés temporal Desse modo como sercom o seraí é para si mesmo e para outros circulando o mundo da alteridade com o qual se implica e refere na teia de significatividade na qual é Aparece em seu estado de aberto em seu próprio sernomundo porém também é do lançado ao mundo pelo outro sempre o descobrindo numa certa mundanidade à qual se reporta compreendendo o outro o eu sabe de si mesmo através do outro em seu mundo Assim o eu nunca é dado a partir de si mesmo é um poderser que desenvolve possibilidades dadas pelo mundo pois que lançado o seraí aceita ou refuta os modos através dos quais os outros cuidam de ser identificandose ou distinguindose Por esse modo de ser percebe diferenças ante a alteridade simultaneamente desenvolvendo características específicas e organizando estilos que o diferenciam dos outros nem sempre se revela como autenticidade 3 Assim a condição de serem e de sercom do seraí recolhe e expressa como logos a maneira de ser do homem pode dizer algo porque já recolheu reuniu juntou esse algo junto a outro de legen em alemão como colocar junto Como conhecimento recolher referese a captar o que foi visto sendo possível falar sobre sobre algo que se apreendeu escutou Desse modo compreender dizer e escutar são muito próximos e articulados expressando o modo pelo qual o eu já se encontra no mundo junto a outros o eu sempre é numa forma afetiva humoral de encontro com o que está acontecendo constituindo o seu sernomundo uma fatia de sua história Para Almeida 2005 p 178 O encontrarse condição ontológica da manifestação ôntica do encontro humoral com o que há no mundo surge da possibilidade do homem como sernomundo sendo os humores a manifestação pela qual a vida é dada ao humano 1 Ser afetado Uma escuta clínica atenta aos estados de humor sendo possível através deles compreender o aí mundo no qual cada um está situado medo em mundo ameaçador mau humor em mundo que falha alegria em mundo vibrante angústia em mundo inóspito e carente de sentido revelando o cotidiano transitar de uma emoção para outra A este modo Heidegger 19271984 denomina de indiferença afetiva cotidiana movimento com emoções sem grandes diferenças uniformizadas e sem ressonância intensa O estado de humor como abertura para o mundo revela o modo do ser aí nesse mundo é nessa afetividade que está mais plenamente entregue a si mesmo como quem de fato é e não pela idéia que tem do mundo Através da emoção o eu situase no mundo compreendendo tal situação pois a apreensão do mundo dáse através do modo pelo qual o eu nele se insere Emoção por emergir do mundo não é algo interno mas sim se apresenta através do próprio sernomundo a emoção referese a como se está no mundo em tal preciso momento Se as emoções expressam a situação na qual o eu já está imerso mostrando sua circunstância considerar a emoção algo intrapsíquico de um sujeito como pregam teorias psicológicas é algo a ponderar Na constituição de ser aí o mundo fere2 o eu que por sua vez a ele se refere respondendo na justa medida em que é ferido Afetando o eu o mundo lhe 2 Ferir do latim ferre em sentido próprio é levar carregar suportar Assim o mundo é levado para o eu impactandoo por sua vez o eu é trazido ao mundo respondendo a esse impacto Websters Third New International Dictionary Unabridged MerriamWebster 2002 httpunabridgedmerriamwebstercom in 12 Aug 2011 4 é revelado nesse toque implicando que o real só é real por ser experienciado de certa maneira e não originariamente modelado por conceito Implacavelmente há uma realidade que se abre por uma emoção e uma emoção que se esculpe numa realidade ALMEIDA 2005 p 182 a emoção abre o real que por sua vez dispõe o eu em determinado estado de ânimo Na ação psicológica pela escuta clínica podese captar que o mundo do clientenarrador se converte numa ameaça por ferilo ameaçadoramente respondendo com temor Assim compreendese que não há um ato de vontade pelo qual se constitua uma emoção para ser vivida a emoção convoca o eu numa dada circunstância e o eu é por ela colhido Tocado inapelavelmente pelos acontecimentos mundanos ao eu é entregue a responsabilidade de ser respondendo a uma dada situação mesmo que cale e não aja ALMEIDA 2005 p 182 Mas como essa condição pode expressarse e ser compreendida pela ação psicológica No entanto apesar de ser colhido é o eu quem vive essa emoção o eu é inescapável de si através de seus humores e dores Inclinandose ao eu com dores o clínico não apreende um funcionamento psíquico perturbado por vicissitudes ou traumas mas uma situação dolorosa composta por circunstâncias e por outros Apresentandose na condição de uma situação na qual o eu é testemunhado no momento preciso de seu sofrimento e procura por cuidado o Plantão Psicológico é um espaço possibilitador para que a situação do narrador possa desvelarse em inteireza e complexidade articuladas debruçandose sobre a narrativa o psicólogo pode silenciosamente escutar os desvios de rumo de uma história que clama por um sentido pertinente ALMEIDA 2005 p 182 Ser quem se é diz de caráter de ser e aparecer para si mesmo já acolhido numa dada existência numa determinada circunstância e não numa realidade dada como algo independente do eu Pelo olhar clínico apreendese que a rejeição é um tipo de acolhimento pois o homem é sempre lançado acolhido mesmo que seja em demasia adversa numa certa facticidade enigmática já que o eu é abrigado de tal modo que só pode ver o que seu olhar permite e ouvir o que é possível ALMEIDA 2005 p 183 Encontrarse é a condição de possibilidade pela qual o eu percebe sua facticidade por seus humores o eu apanhase em sua facticidade atualizando como é ferido e como se refere por ser uma abertura numa facticidade de uma facticidade e para uma facticidade constituindose no modo pelo qual o eu é no mundo já acolhido3 Desse modo na ação psicológica debruçandose solicitamente sobre uma história que clama por um redestinarse o clínico é atingido pela experiência narrada constituindo sua própria experiência pela 3 O ontológico referese à estrutura de possibilidades e o ôntico à configuração das possibilidades Só se chega ao ontológico pelo ôntico compreendese ontologicamente aquilo que se apanha onticamente ou seja o que está em manifestação Assim pela condição ontológica do encontrarse o eu se encontra consigo mesmo inapelavelmente 5 referência a ela sua compreensão do cliente dáse por ressonância e não por empatia MORATO 1989 Isto porque a compreensão empática diz poder compreender o narrador indo ao mundo fenomenal da experiência como se fosse ele assim promovendo uma objetivação da subjetividade tanto do cliente quanto do psicólogo Fenomenologicamente compreendese o outro tal como se foi por ele afetado dada a condição de sercom Numa entrevista de Plantão implica pôrse diante do outro para trabalhar com o que está acontecendo primeiramente tal como4 se é tocado pelo cliente a compreensão é originariamente afetiva e acontece no encontro do psicólogo com o cliente acontecendo no entre por ressonância Assim o encontrarse do plantonista com o cliente não pode ser tomado como recurso para mero acolhimento afetivo incondicional mas sim pelo olhar do tratamento ontológico do encontro por sua própria condição de ser se encontra com outro e a si mesmo Ou seja por não ser técnica de aproximação e acolhimento o encontro toca a historicidade manifestandose pelo passado interrogase pelo que está comprometido no presente e futuro O encaminhamento dessa interrogação atrelase ao estado de ânimo de cliente e plantonista afetado pelo testemunho narrado ALMEIDA 2005 p 184 É a experiência humoradaafetiva que abre a possibilidade do seraí depararse consigo mesmo pois a emoção efetua a realização do real dando significatividade a tudo que é é por ela que o ser humano se dá conta de quão intransferível é sua possibilidade de ser expressa no próprio estar presente num mundo aí lançado o eu sempre está lançado numa situação num certo sentido norteador aberto pela emoção Nesse sentido a emoção é já uma forma de compreensão apesar de nada ter a ver com a racionalidade ela é um modo específico de entendimento O estar lançado não é caótico pois o eu já se descobre numa situação acolhido por e nela mesmo que sob a forma da rejeição o que implica que há vários modos de acolhimento acontecido num entrelaçamento no qual o eu circunstancialmente se experiencia Todas as relações humanas são assim conotadas pelas emoções o que alude a que o procurar pelos outros por exemplo a solicitude do conselheiro ou psicoterapeuta sempre se dá numa relação sentida e por isso consistente ALMEIDA 2005 p 186 Através das emoções o eu descobrese sernomundo com outros não podendo deixar de considerar sua circunstância e facticidade Talvez por isso na entrevista psicológica clínica a referência direta aos sentimentos do cliente propicia um alargamento da 4 Tal como pode ser compreendido como a coisa mesma hursserliana o real validado pela experiência 6 compreensão do que está experienciando favorecendoo não paralisarse em uma dada situação Citando Arendt 1993 é pela compreensão que o homem se reconcilia com o mundo tornandoo familiar e novamente transitável Ou seja descobrese no mundo entendendo primeiro a mundanidade os outros e si mesmo pois que as emoções se originam do modo de habitar o mundo modo esse cultural Testemunhado pelo psicólogo o cliente compreende que seu destino não é dado a priori nem pelo livre arbítrio já que habitar o mundo orienta sua existência pela facticidade do mundo e emoções que o afetam o eu entendese como alguém que tem direção isto é se destina por ires e vires na coexistência percebendose na espacialidade do existir por aproximações e afastamentos Referese à possibilidade do homem em dirigirse um sentido Capturando o homem o estado de ânimoafetabilidade permite que este permaneça sempre referido a algo por aproximação ou distanciamento porém sempre aberto a uma direção As emoções chamam ao sair cair e ir para o mundo tornandoo público na co existência embora atente a si está voltado para o mundo O único humor que não procede do mundo é a angústia sua proveniência é do poderser mais peculiar do eu o que a torna no exclusivo estado de ânimo que o afasta do mundo aproximandoo de si mesmo ALMEIDA 2005 p 186 Desse modo enquanto as emoções revelam a condição humana de aberta ao mundo a angústia traz a experiência da ausência de mundo do nada se todas as emoções possibilitam que se habite o mundo a angústia nasce da ocorrência de um mundo inabitável o qual clama para ser reabitado a angústia é uma requisição para que o eu sem morada e carente de sentido e destinação habite de novo o mundo ALMEIDA 2005 p 187 A vida cotidiana pautada pela ameaça abre ao homem compreender sua existência como uma cargapeso que pode esmagálo provinda de algo do mundo ou junto aos outros Ademais nada nem ninguém pode defendêlo contra a morte sempre está lançado em perigo sendo sua condição ontológica compreender tanto ser quanto não ser Ao assumir atitudes de prevenção em relação a sua existência a proteção de si mesmo não é uma aproximação de si mesmo mas de dirigir a atenção àquilo que provindo do mundo o ameaça Focado no perigo que pode atingilo não foca si mesmo como segurança ao contrário há incerteza quanto a acontecimentos no mundo que podem ferilo Uma entrevista de Plantão é uma situação acolhedora na qual às avessas desse exemplo acima algo pode ser desmascarado do falso caráter ameaçador emergido na circunstância de uma existência na qual havendo uma preponderância absoluta do medo se teme por qualquer passo em direção à assunção de possibilidades mais 7 próprias Esse desmascaramento pode abrir o aconselhando num outro estado de ânimo o qual permite que esse algo apareça numa outra perspectiva o aconselhando pode deixarse tocar de uma nova maneira pelo que antes só se apresentava ameaçadoramente Seu veremtorno via como temível quaisquer desses passos porque seu estado de ânimo hegemônico era o temor Nesses termos cada emoção dá liberdade a tudo que se apresenta segundo o tipo de abertura que proporciona conferindolhe assim consistência ALMEIDA 2005 p 194 Em outras palavras algo temido nem sempre se apresenta assim diz respeito a tirálo do lugar no qual se apresenta pela emoção de temor temer é dar liberdade pois deixar ser e aparecer é aletheia Nesse sentido contrariamente ao pensamento cartesiano o verdadeiro se dá a ver pelas emoções o que é verdadeiro de algo se apresenta tornase o que é aberto pelo que é sentido e não pelo que é pensado A sensação experienciada é aletheia dando liberdade para o que é pelas emoções É ação psicológica abrir o cuidar de ser sob própria responsabilidade como bem vindo levando o cliente a assumirse como referência de si mesmo para possibilidades dada pela situação destinarse em apropriação Porém sendo temerária a angústia que abre à propriedade o cliente pode respoder a ela com desespero desresponsabilizandose por si mesmo É próprio da ação psicológica acompanhar o cliente paralisado em projetarse abrindo o benefício da dúvida quanto à certeza temerosa experienciada Assim a ação psicológica na prática seria um modo do psicólogo procurar pelo cliente que cuida de ser si mesmo testemunhando a narrativa do vivido como cuidado MORATO 2006 Nesse sentido fenomenológica existencialmente experiência diz do seraí como abertura temporal diz respeito a um dado projetarse pelo qual vindo a si o eu volta a si retomando determinados modos do sido e assim se torna presente numa dada situação atualizando uma determinada ação ALMEIDA 2005 p 199 Como testemunha de uma narrativa o psicólogo é afetado pelo que é experienciado pelo cliente é próprio à clínica psicológica agir debruçandose na direção do encontrarse do cliente e do psicólogo desvelandoos a si mesmos via a compreensão originária de si manifestada pelo modo como se é tocado em cada situação Na mesma direção o psicólogo pesquisador encaminha sua investigação pelos vestígios da narrativa do pesquisado compreendida como elaboração de experiência ao mesmo tempo em que também registra suas sensações e compreensões prévias em diários de bordo a fim de compor uma cartografia do contexto pesquisado MORATO 2007 Resgatando Heidegger 19271984 Almeida 2005 p 201 diz que a clínica só pode acontecer à medida que já se está aberto numa afetação possibilitando um acesso direto 8 à própria historicidade e não personalidade e identidade do eu o conselheiro deve permanecer atento à abertura do aconselhando atentando à maneira pela qual é tocado nessa relação o que se constitui numa compreensão originária Para Gendlin 19781979 a partir de Heidegger a propriedade da afetabilidade befindlichkeit abre a possibilidade da ação psicológica como cuidado por abrir ao psicólogo experienciar em si a própria manifestação de disposições humorais por ele denominada feltsense o real dado no próprio ato de experienciar MORATO 2009 Seria legítimo dizer que a ação psicológica junto ao singular ôntico possibilita aproximarse do ser humano como tal isto é a humanidade de cada um 2 A compreensão e interpretação Compreender referese à apreensão do que está na abertura junto a outros ou seja diz do a fim de que da condição de existir abrindo ao homem seu poderser e a dimensão de ser como projeto do seraí Nesse sentido o compreender acompanha sempre o encontrarse não há humor que já não seja compreensivo como também não há compreensão que não seja humorada O aberto ao mundo é compreensão no sentido originário já que destinarse ao mundo é destinarse a si mesmo sernomundo é abertura para o que o seraí se interessa Nessa abertura encontrase a significatividadeinterpretação do mundo apresentada pela cultura costumes moral leis saberes o compreender já está aí no fenômeno uma vez que o compreendido é o desvelado Sendo o compreender projetivo aquilo a que se dirige numa intervenção5 psicológica isso se pode se mostrar quando o cliente se vê possível não nas referências trazidas mas em cada gesto seu em relação a elas É tarefa da ação psicológica clarear que antes de ir em direção a algo o eu vai em direção ao que lhe é possível ser diretamente implicado ao cuidar concreto realizado a cada momento é pelo cuidado que se abre ao poder ser realizar possibilidades sendo o real possibilidades e não necessidades Assim vir a ser através do cuidar confere à humanidade do homem o caráter de inauguração Desse modo numa ação psicológica procurar ser testemunhado em sua experiência pode ser manifestação do poderser reclamando redestinarse a reinaugurar sua história Isto porque o possível é o que ainda não é mas cujo significado pode ser antevisto pela compreensão 5 Intervenção como interpor os bons ofícios engage to look after or attend to accept the responsibility for the care of Websters Third New International Dictionary Unabridged MerriamWebster 2002 httpunabridgedmerriam webstercom in 4 Oct 2011 9 A possibilidade já é anunciada no contexto em que a existência é lançada ou seja numa circunstância podendo ser a partir do que já lhe é dado o eu não é livre de sua circunstância porém para poder ser além O eu é livre para resgatar possibilidades ainda não configuradas voltandose para a realização do que ainda não é o agir humano instaura a liberdade Compreender é abertura para o possível isto é projetarse sobre possibilidades apreendidas não por entendimento abrindo o poderser para responder em situação trazer à luz o possível do oculto não como saberconhecer mas como abarcar o sentido da existência humana ou seja pelo modo como vai se constituindo pela vida situado num mundo junto a outros Testemunhado pelo psicólogo o cliente pode expressar como se encontra no mundo em relação aos demais avaliando o quão está na direção ou não de seu poderser e o quão necessita de certa sujeição necessária para prosseguir em seu projeto É compreendendo em situação que se faz possível ao homem desconsiderar seu modo próprio de ser por convenientes determinações culturais É nesse sentido que também se encaminha a ação psicológica em prática e pesquisa em instituições Para este presente trabalho recorremos a projetos realizados por laboratórios universitários a partir de solicitações de instituições públicas de saúde educação e segurança pública de atenção psicológica tanto para usuários e seus familiares como para funcionários e profissionais que nelas atuam Iniciados em 2000 mantiveramse alguns por 8 anos enquanto outros se iniciaram em 2007 e ainda se mantêm Desfiando a prática psicológica tradicional MORATO 2009 constituíramse em elementos para pesquisa interventiva participativa SZYMANSKI e CURY 2004 ambas relendo a ação psicológica pela ótica da Fenomenologia Existencial O questionamento implicava em considerar precisamente a compreensão da condição humana em suas dimensões de seraíno mundo com outros a qual seria possível ser contemplada visto a ação ocorrer numa instituição podendo se dar a ver bem como a todos os atravessamentos manifestos que implicam em seu modo de ser interpelado MORATO 2008 Sendo o poderser direcionado a sentido e duração a compreensão se manifesta temporalmente como interpretação decodificando o compreendido como possibilidades projetadas no compreender Dizendo respeito ao modo pelo qual tudo se apresenta constitui se num como sendo a interpretação aquilo que é Existencialmente a estrutura do como é uma interpretação articuladora enunciada por proposição Sucintamente a compreensão do possível desdobrase temporalmente na interpretação que sustenta a possibilidade de 10 entendimento da proposição a qual pertence à ordem da língua e pela qual se exibe a interpretação ALMEIDA 2005 p 203 No contexto da ação psicológica ocorre um jogo interpretativo entre psicólogo e cliente através de enunciados como expressão de dada interpretação o que permite ao cliente elaborar possibilidades por ele projetadas Assim interpretar não é obtenção de informações para explicar funcionamento mental por teoria explicativa Referese a preencher lacunas presentes numa forma de compreensão do projetarse desse cliente manifesto em seu temporalizarse ou seja de que modo um futuro incerto remete a eventos do passado dificultando sua atualização Isto porque o homem já é imerso em trama de significações culturais interpretadas o que a ele se abre já se abre num fundo de cultura que demanda compreensão prévia interpretativa Assim A interpretação permite que qualquer coisa que seja se mostre em sua significatividade É pelo veremtorno que o mundo sempre já compreendido se interpreta o que remete a que o àmão é clareado pelo enxergar da compreensão em todo seu contexto de significações Essa interpretação já está dada a priori a qualquer veremtorno possibilitando assim seu referenciarse apreendendo a serventia o veremtorno decodifica o que se apresenta ALMEIDA 2005 p 209 Tudo que é existe numa totalidade de nexos significativos no contexto prévio de antemão da tradição adquirindo um caráter de utilidade e uso àmão Desse modo ver de antemão é reconhecer que existe algo da tradição que também constitui o modo humano de ser implicando uma concepção prévia da trama de significações existir em uma situação atravessada pela cultura conduz a interpretações Nessa medida a ação psicológica inclinandose à narrativa do cliente é interpretativa por requerer identificar como a tradição e a trama de significações são constituintes de seu modo de ser É sua tarefa interpretativa dar a ver como concepções culturais podem estar conduzindo à ausência de sentido na existência Sentido é a direção o rumo para onde se vai estando assim atrelado ao destinar se o destino último da existência é a morte última paragem do ser Ainda que não visível em si o sentido é uma armação sem a qual o mundo não se arruma organiza configurandose somente na dimensão humana todos os demais entes são carentes de sentido Fenomenológica existencialmente a pergunta pelo ser não se dirige ao que é porém ao sentido de ser por esse viés a pergunta pelo ser não passa pelo significado dos entes os quais só fazem sentido quando são apanhados em modos de existir desenvolvidos pelo homem O sentido em si é inarticulável sendo um fundo invisível atua como um fundamento sobre o qual tudo o que é pode aparecer em sua especificidade só numa destinação é que algo faz sentido Nessa medida já que o sentido é inerente à estrutura da compreensão o 11 que não faz sentido não chega a ser compreendido o estado de compreensível de algo apóiase sobre um fundo que é o sentido ALMEIDA 2005 p 213 Pela proposta fenomenológica o sentido é inerente ao projetarse humano destinarse Vir a ser diz de algo manifesto mas desdobrandose a um poderser O que tem sentido é a existência do homem pois apenas ele pode compreender sua direção imprimindo modos que são e como podem ser sentido é a direção na qual o humano articula os fatos de sua vida Dessa forma desorientarse expressa ausência de sentido que clama pela necessidade de encontrarse É este o preciso momento que a ação psicológica entra em cena a emergência da urgência por sentido Prestase à demanda do cliente para encaminhamento de si testemunhado por outro o psicólogo inclinado à sua historicidade Por outro lado mas na mesma direção na supervisão do psicólogo como situação de aprendizagem atentamente inclinada à compreensão do cliente pelo supervisionando a ação psicológica do supervisor abre um ver além6 dirigese ao modo como o supervisionando foi tocado na situação do atendimento e de supervisão como forma de dar a ver como através de sua disposição afetiva abriuse uma compreensão interpretativa do cliente e pelo qual o cliente surge em sua singularidade Contudo ser tocado compreenderinterpretar não esclarece a questão do sentido se não houver uma sinalização responsiva a essas manifestações Sendo no mundo com outros o compreendido desdobrase pela ordem da língua em comunicação apreender e responder o que se mostra por palavras para que outros apreendam o que foi apreendido tornandoo comum pois o dizer torna presente tudo o que é para o sernomundo que sempre coexiste com outros ALMEIDA 2005 p 219 ampliando tanto o próprio ouvir quanto o mundo como mundo comum pela significação comunicativa Assim numa situação de ação psicológica de prática e pesquisa em instituições o testemunho do psicólogo atento ao dizer narrativo de quem o solicita possibilita um recolhimento para ampliar a compreensão de circunstâncias de vida por meio do desvelar sentido para reencaminhamento de direção Nesse sentido pela ressonância afetiva ao expresso junto a outros e com ferramentas à mão uma interpretação esclarecedora da experiência vivida pode se apresentar e sugerir a continuidade de uma história Por esses projetos a ação psicológica tem desvelado como o falar só consegue permitir que palavras possam conduzir a uma interpretação caso se apresentem apontando 6 Sentido etimológico de supervisão encontrado na expressão latina super videre mas do grego theorein ato de ver contemplar MORATO 1989 12 direçãosentido Porém palavras podem indicar sentido quando partem do sentimentodisposição afetiva referindo que ser afetadosentir é o fundosentido da palavra O sentir abrese como um sentido em que a existência se põe sendo o aí em que se forja o falar De novo falase do Plantão e também da supervisão como um exercício do logos já que nessas situações pelo jogo interpretativo se evoca o sentido e não o pensado o qual para adquirir tal condição precisa destacarse do sentido para tornarse anteosolhos num distanciamento sem envolvimento o jogo interpretativo só pode acontecer na emergência da afetação do conselheiro psicoterapeuta supervisor aconselhando analisando e estagiário dandose numa absoluta proximidade em que o envolvimento elicia a confiança ALMEIDA 2005 p 224 Nesses termos a ação psicológica possibilita o clareamento de uma situação para tomada de decisões testemunhando uma narrativa de história lacunar O narrar vindo por meio de conteúdos vêse atravessado pelo joga da interpretação como historicidade dando a verse um entre que nem sempre conduz a um destinarse pertinente mas sim à lacuna de sentido Por ser atravessado pela cultura o homem é lançado no âmbito da pluralidade contudo buscando ser quem é como singularidade nem sempre suporta a angústia de seu ser sernomundo com outros levandoo a rupturas em sua história Pela ação psicológica é possível reintegração pelo jogo interpretativo que operando no âmbito do desvelamento traz à tona o fio de sentido seguido ALMEIDA 2005 p 221 que possibilita ao cliente recorrer a seus próprios recursos para ir adiante rumo a ser singular 3 Linguagem dizer e ouvir para fazer sentido Para Heidegger o falar originase de logos do verbo legein cuja tradução é falar Simultaneamente ao sentir e compreender o falar é originário para o homem é por ele que se expressa a articulação entre ser afetado e compreender dando a ver o sentido É fundamento ontológicoexistenciário da linguagem pelo qual o mundo dito e interpretado pelo homem expressa articuladamente sua significação logos é fala expressão de compreensibilidade do mundo por reunião e separação de palavras como significado articular ou desarticular sentidosignificações Na ação psicológica clínica o falar é modo fundante de procedimento Inclinado à narrativa o falar se apresenta como um falar sobre ou a respeito de ou seja daquilo do que se fala num primeiro momento Entretanto aquilo do que se fala se fala a outro constituinte do sercom o cliente fala de experiência ao psicólogo Porém ao falar deixa entrever algo não 13 presente no falado mas ocultamente expresso como se a própria fala falasse por entre lacunas de compreensão CRITELLI 2002 Nesse sentido a fala é comunicação revelando intenções de quem fala por outros modos que não por palavras noticia algo É esta a brecha da possibilidade interpretativa da ação psicológica Desse modo fala é comunicação pois o homem é no mundo falando com outros abrindo possibilidade para o que é comum entre homens aquilo que é familiarmente compartilhado em coexistência condição de ser humano Ser psicólogo expressa a especificidade mesma do sercom no sendocom o cuidado a que se dirige é solicitude pela préocupação com o outro em seu padecimento É essa a tarefa da ação psicológica não se desincumbe de sua ação de cuidar limitante7 balizada circunscrita numa situação de atendimento procurando pelo outro naquilo que nessa situação possa ser testemunhado o que possibilita um esclarecimento norteador ao aconselhando assim não se trata de ocuparse com o aconselhando fazendo um mero encaminhamento nos moldes de uma triagem Numa entrevista de Plantão a comunicação não se dá como transporte de mensagens e vivências entre aconselhando e conselheiro o sercom condição de ser do seraí já é patente nas manifestações do encontrarse e nos desdobramentos temporais da compreensão que se dão em concomitância o que é expresso no jogo interpretativo pela fala A fala articula tanto o sentido fundado no sentir quanto o desdobramento das possibilidades projetadas no compreender assim vinculando o encontrarse ao compreender e alimentando o ser comum ALMEIDA 2005 p 224 Nessa direção a experiência da comunidade apresentase dentro de uma circularidade articulase pelo cocompreendido e cosentido estofo do jogo interpretativo numa ação que se proponha terapêutica ou educativa Ao falar o que se comunica é também uma notificação manifestada pelo modo modalidade como se expressa a forma como foi tocado pelo mundo e como o compreende A fala só pode articular uma compreensibilidade por sua dimensão do ouvir constituinte básico do compreender como apreender com O ouvir dispõe um proceder em relação ao outro acompanhao negao não o ouve acolheo opõese a ele sem o ouvir não há acolhimento das crenças embutidas no estado de interpretado impossibilitando a comunidade humana pois ninguém ouve o não compreendido É a interpretação desdobrando o compreendido que é a expressão do significado da realidade tendo linguagem como organizadora do mundo A fala difícil e raramente traz o estranho já que é a articulação do já interpretado 7 O substantivo limite remetese à fronteira que perfaz um horizonte a partir do qual algo começa a se fazer presente 14 Se o ouvir ocorre como possibilidade fundante do humano o escutar é uma sua realização nunca se escuta ruídos puros porém já imbricados na interpretação já articulada A escuta permite a vinculação entre os homens pois o sercom acontece articulado pelo ouvir o que está pendente é aberto pelo escutar Contudo o ouvir pode realizarse como um mero escutar não levando adiante qualquer crença e interrompendo a comunicação entre os falantes A ação psicológica como debruçarse sobre o sofrimento do outro constituise em solicitude apoiada na escuta o ouvir radical Acompanhar o cliente na expressão do que lhe dói urge apreendêlo em sua realidade e sentido do existir é escuta que pode permitir se manifestarem certos elementos norteadores vindos da tradição mas que emperram a singularização Clinicamente nunca se escutam queixas puras mas já mescladas no caldo interpretativo de sua realidade estado de interpretado no qual se forjam as relações da vida em situações com outros em família social e no trabalho Também é pela escuta que se estabelece a relação com o psicólogo fundada na confiança pelo bom ouvinte A escuta clínica pelo ouvir é fundamental em qualquer situação demandante de ampliação da compreensão Em projetos de atenção psicológica em instituições nas modalidades de Plantão Psicogiagnóstico Colaborativo Plantão Psicoeducativo Supervisão de Apoio e Oficina de Recursos Expressivos o ouvir se apresenta como abertura à compreensão de mal estares em relações situadas indicando caminhos para aprendizagem significativa como direçãosentido O falar propriamente dito é o falar com outros o que se dá pela enunciação de proposições é resposta a uma escuta que já realizou a articulação do interpretado tratandose de uma contrafala que faz parte de um mesmo circuito como complemento do compreendido Nesse sentido o falar propriamente dito tomado como contrafala da escuta é um dizer contudo esse falar pode assumir as vezes de um mero falar associado a uma mera escuta ALMEIDA 2005 p 225 O dizer do psicólogo se apresenta como contrafala8 própria ao jogo interpretativo Nesse sentido responde completando e abrindo possibilidade de ampliar a compreensão emergente do cliente assim apreende temporalmente a experiência narrada conduzindo à indicação de sentido O dizer responsivo do psicólogo pela escuta primeira completa o círculo da comfiança fiarsecom ser fiador do outro no encontro o que 8 Questionase contrafala na medida em que contra pode ser compreendida como contrária 15 acarreta que se acredite nesse dizer que por ter recolhido expressa aquilo que é constituindose na contrafala do bom ouvinte ALMEIDA 2005 p 225 Outra dimensão da fala além do dizer e ouvir diz respeito ao calar que colhe e acolhe o ouvido É uma forma de dizer articulando o compreendido embora se revele no silenciar não expressando o compreendido em palavras pois o compreensível para além da palavra pode ser apreendido pelo silêncio é a silenciosidade como fala Silêncio não é mutismo pelo qual nada se tem a dizer Falando sem palavras no silêncio o calar referese a uma compreensão que calou fundo cala porque corta a palavra pela genuinidade da interpretação A compreensão funda não passível de apreensão em palavras debuta no silêncio ao genuíno falar compete o calar no qual fulgura o sentido O insight acontecimento fundante em qualquer situação terapêutica e de aprendizagem ocorre na silenciosidade pelo jogo interpretativo abrese caladamente ao aconselhando a direção em que seu existir navega possibilitandolhe uma visão clara e genuína de seu mundo e o discernimento de seu poderser nesse mundo ALMEIDA 2005 p 228 Sendo a condição fundante do homem serem é um aí aberto ou seja o si mesmo como centro dessa clareira pode exercer o logos que ouvindo dizendo e calando tira o véu e traz à luz a coisa mesma como realmente é Por recolher e expressar falar se constitui num desvelar o mundo os outros e si mesmo Assim na situação de ação psicológica clinica eou de aprendizagem acontece o exercício do logos como aletheia O Plantão Psicológico e a Supervisão de Apoio modalidades da ação psicológica ocorrem como um acontecimento tratase de uma paragem na qual o psicólogo debruçado e atento à narrativa testemunha o entre ou seja a condição do cliente de ser em história Através do jogo interpretativo é possível deixar ver um sentido na temporalização de uma experiência uma história oculta mas repleta de lacunas agora passíveis de serem perscrutadas pelo exercício do logos revelando filamentos desconectadamente conexos Dáse a ver que o falar não é apreensível por análise formal mas sua acontescência é própria ao humano e pela qual constitui sua humanidade em seu falar cotidiano Como cada um de nós se humaniza pela forma aprendida em dada cultura somos também ao mesmo tempo todos nós e nenhum Desse modo o homem tem na fala a possibilidade de se inserir no mundo expressandocomunicando sua compreensão de mundo comum pelo falar cotidiano que a todos captura Nesse sentido esse falar é impessoal dizendo respeito ao que Heidegger denomina por impropriedade que exerce imperativo domínio no humano Se a questão fundamental é ser humano como se é humano a fala como 16 falada no cotidiano por todos nós a fala imprópria é aquela que possibilita uma compreensão por pôr em andamento a publicidade em suas formas de equivalência uniformização e distanciamento empurrando cada um para o mundo comum o cotidiano estando na dimensão da impropriedade apresenta um modo característico de falar cujas três formas Heidegger denomina falação avidez de novidades e ambigüidade O modo de ser do seraí poder realizar seu ser mostra que a linguagem originariamente não é um sistema Sustentase como um enunciado de uma interpretação prévia pois expressa algo já interpretado Nesses termos a fala regula o que é comum entre os homens um modo cultural de apreensão do mundo que tudo articula Desse modo o que se interpreta não são fatos em si mas modos de ser Pela sua abertura o ser aí encontrase com si mesmo no mundo com outros através da linguagem numa rede de significatividade por ela apresentada É ela que intermedeia pela abertura o seraí junto ao mundo e outros Assim a fala mesma é um modo de abertura pelo qual o eu cuida de ser cuidando de como é no mundo é isso que a fala fala Nessa medida o falar cotidiano é possibilidade de manter o contato junto a outros no mundo garantindo o real daí não importar sobre o que se fala mas que se fale A falação falar por falar é uma dimensão da fala cotidiana que não explora o que se passou mas apenas permitir a circulação do falado mantendo julgamentos e crenças pelos quais cada um se vai constituindo sustentando a trama da realidade e explicitando a condição de homem HEIDEGGER 19271984 Tratase de um levar adiante da fala favorecendo a entrada na publicidade porém sem uma apropriação do que é dito Põese veladamente em cena o que é falado sabendose tudo por alto embora não tenha o propósito de promoção de engano ao invés de explicitar o falar da falação vela ALMEIDA 2005 p 229 Numa situação de ocorrência da ação psicológica dois aspectos da falação podem se apresentar O primeiro diz respeito a que é pela falação que o cliente se introduz trazendo o já é interpretado e comum no entanto não há como negar que esse momento é possibilidade de entrar em contato com sua experiência Por sua vez o segundo revela como o cliente se traz longe de ser propriamente mas como que guiado por circunstâncias da realidade de um mundo inóspito Nesse sentido esses dois aspectos permitem compreender como a versão primeira da experiência trazida pelo cliente chega sob a forma de queixas ou seja a emergência do mal estar incômodo sentido pelas circunstâncias da vida É especificidade da ação psicológica como atenção e cuidado a tarefa de acompanhando a realidade apresentada pela falação do cliente sugerirlhe através do jogo interpretativo 17 encaminharse para a apropriação de si mesmo ou seja dizer de sua demandanecessidade como urgência na procura por poder ser MORATO 2006 Junto à falação surge a avidez de novidade HEIDEGGER 19271984 maneira da fala cotidiana apoiada no ver à distância ou seja vendo tudo por cima não se demorando junto a nada passando rapidamente para o que vem depois É sofreguidão de acúmulo do visto pelo aspecto o que incide numa dissipação pela qual o eu não tem paragem e assim moradia passandose rapidamente a outros aspectos instalase um distanciamento para que não haja envolvimento Estáse diante da perdição do eu ALMEIDA 2005 p 230 No tocante à ambigüidade HEIDEGGER 19271984 referese a um modo cotidiano da fala acerca de possibilidades que não podem ser atualizadas apenas rastreadas numa esfera pública em que tudo parece ser acessível com uma conseqüente compreensão subliminar de que pode ser feito Essa forma é bem reconhecida no discurso tanto político notadamente ideológicopartidário quanto institucional há uma essencial e evidente ambigüidade entre o falar e agir Afinal a ambigüidade pressupõe que não se saia do lugar pois requer uma ação que se realizada provocaria restrições Desse modo impede as alternativas do agir pela fala das possibilidades Realizar alguma possibilidade aventada implicaria sairse da impessoalidade dando a ver a própria irresponsabilidade Pela fala ambígua mantémse o descompromisso em fazer o que deve ser feito relegado à dimensão da suspeita No cotidiano buscase a impessoalidade porque não se quer puxar para si o gasto que uma situação configurada possa deflagrar Embora se queira algo não se suporta que aconteça ou seja desejase profundamente uma realidade diferente mas recusa se também profundamente que o sonhado se torne real Quem age responde pela realização do que estava em possibilidade o eu é colocado em questão e cobrança permanecendo no possível o eu eximese de qualquer responsabilidade Por isso é que a ambigüidade resolve a questão na fala dispensando qualquer realização que pode abortar ou fracassar ALMEIDA 2005 p 229 É nesse sentido que a tarefa da ação psicológica em instituições dirigese a testemunhar o outro fugidio em sua responsabilidade perante o que lhe diga respeito Procura servir como cama elástica ao outro em seu lento tempo de empreendimento para poder ser si mesmo contrastando com o tempo rápido da fala cotidiana O tempo do fazer genuíno dá se sob a égide do empenho que medra no silêncio a silenciosidade é realizadora já o marketing não faz só fala O psicólogo acompanha o cliente que ainda teme fracassar caso se empenhe em realizar uma possibilidade cabível Testemunhando a ameaça possibilita ao 18 cliente tanto a discernir sua situação e como disponibilizarse para a consecução de seu projeto Contudo a ambigüidade caminha sobre um saber dar conta de uma situação não pela prescrição do que deve ser feito mas por suspeitas se isso então resolvendo pela fala e não pela ação visto operar por projeções Porém estas surgem não como possibilidades próprias mas aquelas disponíveis a todos escolhendo fazer algo no âmbito do público no qual se perde por prevalecer o ninguém É deste modo que a fala cotidiana pela ambigüidade falação e avidez de novidades aproximam os homens entre si mas sem que se esteja com o outro porém com todos Assim na ação psicológica em instituições de saúde ou educação precisamente pelo caráter do todos nós ninguém há que cuidar para acompanhar o cliente em suas peculiaridades de ser conforme suas possibilidades públicas de realização a fim de não se estar contra ele na dissimulação peculiar mas não deliberada ao ser um com o outro na cotidianidade Afinal competir e não cooperar revela ser um contra o outro também um modo de sercom Na fala cotidiana sendo na impropriedade o seraí é impessoalmente equivalente a outros modos de ser um desvio de si abafando a angústia para a propriedade Assim embora a tarefa de ser humano convoque para a impropriedade sempre permanece a abertura de ser quem se é na propriedade Isto porque ser si mesmo não é dado a priori mas sim vai se afirmando que ser si mesmo ocorre pela aprendizagem na fala da coexistência mesmo que se desviando já que seraí é uma absorção de ser lançado aí no mundo prévio Estáse diante do fenômeno denominado por Heidegger 19271984 de queda que de modo algum significa que o eu nasça formado e depois decaia tratase de ser absorvido pelo mundo no qual é lançado não é posterior mas integrante ao nascimento Assim não se trata de um novo fenômeno porém a junção das condições de lançamento e absorção Sendo capturados tragados pelo mundo os homens são submissos a modos de usar os úteis e sujeitados aos outros por exemplo na moralidade o sernomundo é anterior à percepção do eu e a queda tanto condição da própria existência quanto situação presente e permanente A captura do eu pelo mundo dáse na e pela fala cotidiana Na falação o eu flutua sem base num lago de como se é dito na avidez de novidades está em todas as partes e ao mesmo tempo em nenhuma na ambigüidade nada está ocultado à compreensão do eu com o propósito de reforço da situação anterior Realizandose através desse falar uns com os outros a queda apresenta quatro características fundamentais sedução tranqüilização ou aquietamento alienação e enredamento as quais se intercambiam num movimento contínuo de derrubamento no qual uma é levada para outra perfazendo um redemoinho ALMEIDA 2005 p 230 Sempre é possível que pela falação já se possa encontrar si mesmo recorrendo a interpretações já dadas no público para dizer o que se é usos e costumes Isto seduz pois significa já ter uma resposta para si de antemão encobrindo a angústia para apropriarse do 19 poderser reconhecendose bem situado no mundo Desse modo tranqüilizado os outros passam a ser a referência de ser porém alienado de si mesmo absorto que é pelo mundo Assim enredado em si mesmo em suas questões diluído nos outros porém aquietado ocorre a sensação de estar conduzindo sua vida adiante esimbora a presumida segurança esteja no que é dado e não apropriado de Na ação psicológica através do exercício do logos acompanhase como naquilo que crer seu próprio o cliente está interpretandose pelo que é dado perdendose de si nas vozes comuns Nem se dá conta como esse modo de ser impessoal o incomoda desespera e faz sofrer pela ausência de sentido próprio Enredado interpreta a angústia por sensações corpóreas aflito e desamparado que está Nessa situação de atropelado por si mesmo o cliente prendese à ocupação percebendo contudo que está sendo derrubado mas não por si mesmo É nessa dimensão da queda como experiência da impropriedade que se tem a maior dimensão do que é serno mundo no diaadia o eu está nesse enovelamento É um modo de ser que significa estar no mundo habitandoo ALMEIDA 2005 p 231 É pelo jogo interpretativo que o psicólogo pode acompanhar o cliente realçando o enovelamento em que se encontra buscando juntos retecer fios para que ele se encaminhe em seu poderser no mundo como é Debruçado atento pela comfiança cooperativa o psicólogo pode agir legitimado pelo cliente na direção do desenvolvimento da própria experiência para sentido de ser si mesmo II Para a ação psicológica na prática e na pesquisa em instituições O desenrolamento da experiência do humano pela ação psicológica revelase também uma escuta afinada com a ação educativa Educar do latim educere compõese pelo prefixo ex para fora e pela palavra ducere conduzir levar guiar referindose a conduzir para fora ou seja promover que algo possível de si possa surgir eduzir no no mundo pelo ensinar e aprender Ensinar do latim insignare remete a insignum em sinal como diz Rosa 1989 aquele que ensina não se ensimesma mas sim sai de si indicando sinais no mundo que são relevantes para o aprendiz Por sua vez aprender vem do latim adprendere cujo prefixo ad por para indica direção enquanto prendere diz de tomar agarrar pegar Assim aprendizagem referese a fazer uso de sinais no mundo que apontem para mudanças aprendiz é aquele que se transforma em trânsito pela existência narrando sua experiência para levála 20 adiante e abrir brechas para outras aprendizagens Por sua vez a experiência pela ótica fenomenológica existencial sendo uma abertura temporal na qual presente passado e futuro se copertencem é a manifestação da historicidade do ser aí fazse como acontecimento e apresentase pela fala como narrativa a qual se constitui num dizer no fazer situado O psicólogo seja numa entrevista de Plantão em clínicaescola ou em cartografia por uma instituição de saúde ou de educação mantendose inclinado à narrativa daquele com quem fala está sempre investigando a experiência clinicamente experiência essa que vindo do mundo com outros se apresenta enovelada no público porém sem fio de sentido ao narrador Em outras palavras a ação psicológica conduzse a ir por entre os vestígios do vivido para desocultar outras facetas que se mostram nas situações de homens e atores institucionais Buscando desenredar a experiência da trama sedutora de significados na qual se encontra acompanha o cliente testemunhando sua narrativa pela desorientação e desamparo para junto a ele sugerir o encaminharse para fora de seu sofrimento levandose adiante dessa urdidura do público na qual se enroscou E isso só pode acontecer em experiência em ação ou seja quando a interpretação da compreensão pudesse conduzirse para fora do perigo considerando a etimologia latina de experiência experire Estruturandose a partir da escuta a ação psicológica amparada na perspectiva fenomenológica existencial conduzse pela narrativa na prática e na pesquisa já que ambas dizem de experiência e história que urgem por uma compreensão mais ampla Na trilha do sofrimento na história outros modos de seu enfrentamento são perseguidos pela atenção e cuidado psicológicos sem jamais percorrer modelos clássicos de triagem amparados no psicodiagnóstico tradicional ou na psicopatologia nem de intervenção quase sempre acompanhamento psicoterápico Apenas emerge no encontro entre o cliente e o psicólogopesquisador como testemunha que autoriza e legitima uma continuação da história desse cliente numa dimensão em que possa existir em bem estar e autenticidade A ação psicológica por esta ótica sempre se vincula a uma situação que tem tanto uma vertente institucional referida à pertença do profissional e do cliente quanto uma vertente vinculada à realidade sociocultural e existencial do cliente e do psicólogo Desse modo é importante que busque uma compreensão da realidade do cliente para cotejála com o que a realidade da instituição pode oferecer Assim a ação psicológica pode ser ainda caracterizada como uma prática e pesquisa psicossocial De qualquer forma nela importa a demanda do cliente do que uma explicação que se possa ter dele assim como também a relação estabelecida importa mais do que uma interioridade a ser perscrutada Nesse sentido a interioridade é manifestada na relação e 21 não tomada como um emsi a relação é o campo de aparência tanto dessa interioridade quanto de uma realidade sócioeconômica cultural uma vez que é nela que a experiência do cliente encontra lugar para ser compreendida e clareada Tratase de contextos originários em que a experiência ocorre pois não há homem sem mundo com outros tratase de uma perspectiva fáctica que é histórica e concreta A ação psicológica se apresenta para além de âmbito de intimidade não se restringindo a qualquer um mas se referindo a mundo trazido pela apresentação que cada cliente faz de si próprio Nesse contexto emergem modos de cuidar já que o cuidarse de si requer a explicitação da teia de relações estabelecidas na sociedade que sustenta representações que ideologicamente vinculam o sofrimento psíquico a fatores individuais velando suas determinações sócioculturais ALMEIDA 2005 p 232 Assim partindo do contexto psicosócioexistencial a ação psicológica intenta uma visão compreensiva de sofrimento embutido na narração de uma história que embora singular diz respeito a outras pessoas em vários contextos Nesse sentido o cuidado do pesquisadorpsicólogo considera as questões de quem se é como se é com quem se está e onde se está dando a ver como modos de cuidado apoiados na experiência do encontro psicólogocliente que consideram a situação existencial do cliente incluindo a esfera sociocultural Desse modo na perspectiva fenomenológica existencial o sofrimento psíquico não é da ordem do patológico assim determinando uma história É algo que aparece nessa história revelando um destinarse conturbado no mundo do narrador e em suas situações de vida com outros enraizado na história o sofrimento psíquico diz de um acontecimento pertinente a seu modo de ser não sendo considerado como proveniente de doença mental Ao mesmo tempo em que a ação psicológica na prática e pesquisa em instituições contempla um aspecto clínico também pode apresentar um elemento educativo voltado tanto para a formação profissional de psicólogos quanto de outros profissionais de saúde e educação Nos projetos de atenção psicológica o estudanteestagiário tem a oportunidade de entrar em contato com as mais diversas realidades trazidas pela clientela e por instituições conduzindoo a pensar o sentido originário de clínica de prática de pesquisa de intervenção de público e privado de ser quem se é de modo próprio a poder ser Desse modo o estagiário experiencia debruçarse não ao entendimento de uma doença seus mecanismos e sua repercussão na mente e na conduta de um doente ou de uma instituição mas ao modo de ser do qual emergem as experiências existenciais que sustentam as atividades da pessoa que está 22 a sua frente cliente ou ator institucional Na perspectiva existencial a experiência humana não é conseqüência de um processo de desenvolvimento da sexualidade da cognição e da volição mas a condição historial9 do homem fundamentando a constituição de quaisquer das esferas da experiência pelas quais o homem transita O modo de condução da ação psicológica nos projetos de atenção não compreende uma automática continuidade de atendimento aos encontros com a clientela Orientamse a cada encontro a possíveis desdobramentos para questões apresentadas como demanda considerandose no diálogo com o cliente outras intervenções de práticas especializadas ou populares contando com recursos institucionais comunitários ou familiares quando se fizer necessário Assim cliente e psicólogo consideram conjuntamente aquilo que melhor atende ao que é preciso e não ao que é explicitado como pedido Este modo fazse particularmente pertinente quando o cliente é um dirigente de uma instituição compreendese a necessidade institucional do dirigente como seu ator mas também se abre a perspectiva de considerar qual a demanda da comunidade a quem está sendo pedida a atenção psicológica É a isto que se dirige a cartografia amparada na atitude clínica Ao aluno esta é uma situação que o provoca a procurar por seu próprio modo de ser psicólogo não enovelado nas malhas publicas da trama de significações implicadas em sua formação Experiencia ele mesmo orientarse a um poderser de modo próprio e não impessoal Tal aprendizagem se manifesta em sua forma de cuidar tanto do cliente quanto do autor institucional conduzindo o outro a encontrarse propriamente em sua vida eou em seu trabalho tornandose ele mesmo estagiário um multiplicador de possibilidades de poderser junto a outros uma aprendizagem significativa Esse comprometimento em várias oportunidades árduo e sofrido aponta a direção que se trilha na ação psicológica ao invés de circunscreverse a aspectos referentes a alterações de personalidade e presença de doenças psíquicas tratase de decisivamente atentar à possibilidade de um redestinarse da existência no que plausivelmente se anuncia Por esse viés a história pessoal emergindo da história coletiva é narrada ao psicólogoouvinte o qual via essa intervenção passa também a ser narrador Enquanto uma atividade com sentido educativo na formação profissional de psicólogo contemplando a supervisão do trabalho prático e de pesquisa realizado pelos estudantesestagiários a ação psicológica se apresenta em dimensão clínicopedagógica É o caráter de acompanhamento junto ao estagiário que constitui a especificidade dessa 9 Historial remetese à dimensão ontológica humana 23 supervisão elaborar a experiência de testemunha de uma história que de algum modo o afetou Assim entre o supervisor e o estagiário surgem possibilidades de compreensão de si mesmo e do outro na medida em que o supervisor atenta ao modo como o estagiário foi tocado compreensivamente pelo cliente suspendendo as préconcepções que normalmente um aluno de psicologia tem sobre psicoterapia e entendimento do sofrimento na supervisão a ação psicológica é experienciada na mesma direção em que foi realizada junto ao cliente Muitas vezes a supervisão atémse a dimensões bem concretas do atendimento No entanto isso não quer dizer orientarse por uma visão pragmática do ser humano e da atividade clínica Tratase mais uma vez de partir da situação para nela encontrar saídas concretas plausíveis de postura e conduta considerandose a singularidade de cada encontro Assim a própria ação psicológica constituise numa situação de passagem na qual se avaliam e decidem os possíveis encaminhamentos10 disponíveis para o enfrentamento de um sofrimento emergente de uma pessoa que clama por cuidados Desse modo ação psicológica na prática e pesquisa em instituições em seu exercício requer recursos institucionais e comunitários que possam redirigir o caminhar de uma existência requisando uma específica paragem como abertura de recursos necessários a desdobramento harmonioso de sua história para tornar tolerável um sofrimento Nesse sentido a ação psicológica demanda uma rede de apoio social que acompanhar e atender modalidades de cuidados clínicos eou pedagógicos de que a clientela possa necessitar Em suma essa rede de apoio social constituise num organismo em relação mútua que possibilita a prática da solicitude própria ao trabalho da ação psicológica viabilizando a seqüência de atendimentos necessários na realidade emergente Sendo realizada dentro da Universidade e de outras instituições públicas a elas servindo pelo exercício das responsabilidades civis de ensino pesquisa e extensão universitária compete que os desdobramentos solicitados pela ação psicológica dirijamse por esses mesmos objetivos A Universidade por sua vez não se deve constituir em apenas ser um banco de dados e informações de interesse da comunidade é sua tarefa poder ser um centro de referência para os profissionais de várias áreas possibilitando a circulação de colaboração como trabalho de coautoria Nesse contexto uma de suas funções é poder subsidiar pesquisas que concorram na efetivação de modalidades de prática da ação 10 Por encaminhamento compreendese o encaminharse do próprio cliente em direção ao que sua demanda lhe desvendou durante a ação psicológica 24 psicológica propiciadoras de tal trabalho é ação política11 realizar pesquisas interventivas em instituições demandantes III Para arrematar Finalizando este trabalho teve o propósito de apresentar a possibilidade de uma leitura da ação psicológica na prática e pesquisa de profissionais de saúde e educação através de uma compreensão fenomenológica existencial que subsidiasse sua propriedade de ação humana entre homens Nesse sentido configurase a necessidade de refletir temáticas pertinentes à ação psicológica destinada à demanda de humanidade do homem contemporâneo Percorrer tais temáticas implica conduzila a pensar sua legitimação de um agir comprometido a interpor os bons ofícios ou seja intervenção junto a profissionais de saúde e educação apresentandolhes um modo de pensar diverso daquele implicitamente comprometidos com modelos tradicionais explicativos percorrendo sentido de homem existência e história12 Assim esta contribuição consistiu em apresentar temas básicos segundo uma ótica fenomenológica existencial o modo de ser clínico implicado na ação psicológica ressaltando o ser afetado a compreensão desdobrandose em interpretação e fala ouvir dizer calar O desenvolvimento desses temas é um esforço de leitura de ação psicológica em prática e pesquisa em instituições de saúde e educação através da ontologia fundamental de Martin Heidegger em El ser y el tiempo 19271984 recorrendo a situações dessa ação em suas várias modalidades Enfim a interrogação que se leva adiante ao abordar tais temáticas é a busca de subsídios para a ação psicológica pela antropologia filosófica proposta nessa obra que apresenta uma compreensão do humano pela aproximação da pergunta pelo ser Na experiência da própria prática e da pesquisa na ação psicológica a compreensão aqui empreendida abriu questões ainda a serem esclarecidas No entanto procurouse sempre conservar ao alcance dos olhos um todo que pudesse paulatinamente crescer e concomitantemente oferecer uma possibilidade para encaminhamento do sentido da ação psicológica Mas sem dúvida o que se pretendeu com essa retomada em perspectiva foi 11 MORATO H T P Plantão Psicológico inventividade e plasticidade In Anais do IX Simpósio de Práticas Psicológicas em Instituições Atenção psicológica fundamentos pesquisa e prática Recife UNICAP 2009 v 1 p 115 12 Não se trata de compreender a existência segundo o critério de uma concretude aparente mas de compreendêla como um modo humano de ser 25 abrir outros horizontes para uma aproximação existencial da ação psicológica clínica na prática e na pesquisa em instituições de saúde e educação Referências ALMEIDA F M Ser clínico como educador uma leitura fenomenológica existencial de algumas temáticas na prática de profissionais de saúde e educação Tese Doutorado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 2005 ARENDT H A dignidade da política 2ª Ed Tradução de Helena Martins Frida Coelho Antônio Abranches César Almeida Cláudia Drucker e Fernando Rodrigues Rio de Janeiro RelumeDumará 1993 CRITELLI D M Caminho existencial São Paulo Existentia Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana 2002 GENDLIN E T Befindlichkeit Heidegger and the philosophy of psychology Review of existencial psychology and psychiatry 16 13 p 4371 19781979 HEIDEGGER M El ser y el tiempo 5ª Ed Tradução de José Gaos México Madrid Buenos Aires Fondo de Cultura Económica 1984 MORATO H T P EuSupervisão Em cena uma ação buscando significado sentido Tese Doutorado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 1989 MORATO H T P Pedido Queixa e demanda no plantão psicológico querer poder ou precisar Anais do VI Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituição Psicologia e Políticas Públicas 2006 Vitória Espírito Santo UFES v 1 p 3843 2006 MORATO H T P Pesquisa Interventiva e Cartografia na prática psicológica em instituições Anais do VII Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituição Fronteiras da Ação Psicológica entre educação e saúde São Paulo v 1 p 113 2007 MORATO H T P Prática Psicológica em Instituições ação política Anais do VIII Simpósio Nacional Prática Psicológica em Instituição Atenção Psicológica experiência intervenção e pesquisa São Paulo v 1 pag 119 2008 MORATO H T P Atenção Psicológica e Aprendizagem Significativa In MORATO H T P BARRETO C L B T NUNES A P Org Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial Rio de Janeiro Editora Guanabara Koogan 2009 v 1 p 2240 2009 MORATO H T P Uma Introdução In MORATO H T P BARRETO C L B T NUNES A P Org Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial Uma Introdução Rio de Janeiro Editora Guanabara Koogan 2009 26 MORATO H T P Plantão Psicológico inventividade e plasticidade Anais do IX Simpósio Nacional Práticas Psicológicas em Instituições Atenção Psicológica fundamentos pesquisa e prática Recife PE UNICAP p 3145 2009 SZYMANSKI H e CURY V E A pesquisa interventiva em psicologia da educação e clínica pesquisa e prática psicológica Estudos de Psicologia 9 2 355364 2004 ROSA J G Tutaméia São Paulo Nova Fronteira 1989
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1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL PARA A AÇÃO PSICOLÓGICA NA PRÁTICA E NA PESQUISA EM INSTITUIÇÕES HENRIETTE T P MORATO Buscar aproximar a Psicologia como ciência da Filosofia como teoria do conhecimento é tarefa impertinente São modos de pensar que nem sequer caminham em paralelo Cumpre ao filósofo resgatar o caminho próprio da Filosofia enquanto ao psicólogo talvez seja possível caber compreender o modo de ser psicólogo como humano que é não pelo modelo de cientista da Psicologia Desse modo este trabalho se resume a uma ousadia procurar articular algumas considerações da Fenomenologia analítica Existencial de Heidegger e a ação psicológica no modo como ocorre na prática e na pesquisa em instituições O caminho a percorrer envereda pelos existenciários e a partir deles poder compreender o modo de ser clínico pela sua acontescência em campo Nesse percurso recorrese a uma tese de doutorado ALMEIDA 2005 orientada pela autora que buscou compreender Aconselhamento Psicológico por uma leitura fenomenológica existencial Entremeando será tentada uma interpretação tomando por base alguns textos anteriores a respeito de compreensões da prática e pesquisa em projetos de intervenção em instituições I Ser clínico uma possibilidade de leitura fenomenológica existencial O termo clínica provindo do grego kline significa cama assim clínica significaria debruçarse sobre alguém que está ao leito Clinicar seria debruçarse ou inclinar se para poder apreender e escutar aquele que precisa de cuidado em mal estar Clínica então seria uma modalidade da solicitude1 fundamentada na escuta De fato sercom implica em não apenas fazer com outros mas também através e por eles já que ao preocuparse com possibilidades de outros o seraí realiza também suas 1 Solicitude diz respeito a procurar composta pelo prefixo pro que se refere a projeto no sentido de proyectum traduzido por lançado adiante e por curar em sua concepção de cuidar Sendo o seraí é sempre projetivo na acepção de lançarse adiante em direção a possibilidades equivale a dizer que o homem é um realizador de possibilidades sempre conjuntamente com outros 2 possibilidades Nesse sentido psicólogos da saúde e da educação são íntima e explicitamente engajados nesse ofício o ser psicólogo deve compreensivamente moverse no âmbito do ser com no modo de ser clínico pois o outro é sempre alguém com o qual o psicólogo profissionalmente se preocupa solicitude não é ocupação mas preocupação Partindo de considerações de Heidegger 19271984 acerca da solicitude há duas formas básicas e extremas a do modo da substituição e a do modo liberador No primeiro tomase o lugar do outro em sua tarefa de cuidar de ser retirandoo de realizador de suas próprias possibilidades Referese a quando o profissional da saúde e da educação ao invés de acompanhar seu cliente em suas possibilidades como testemunha compreendeo por interpretações de diversas teorias explicativas ou por prescrições tecnicamente padronizadas por atitude autoritária portadora da verdade sobre a experiência substitui o cuidado do outro por si mesmo Já no modo liberador compreendese o outro diante de suas próprias possibilidades encarregandoo de seu poderser para conduzirse em dada situação pertinentemente a seu sernomundo Na experiência cotidiana o primeiro modo na esfera da saúde revelase por um saber fazer algo a alguém intencionado atenuar o sofrimento do outro Quanto ao segundo quando uma supervisão educativa atenta ao modo como o supervisionando é tocado pelo cliente possibilita que o psicólogo se compreenda nesse encontro para poder dar seu testemunho como possível encaminhamento de uma história a seus cuidados atento ao modo como é mobilizado em sua experiência com o supervisionando o supervisor dirige sua atenção na ressonância estabelecida entre este e seu cliente pois cuida do outro se dirigindo tanto a cenas do passado quanto ao futuro dando lugar à paciência visto que a solicitude apresentase sob viés temporal Desse modo como sercom o seraí é para si mesmo e para outros circulando o mundo da alteridade com o qual se implica e refere na teia de significatividade na qual é Aparece em seu estado de aberto em seu próprio sernomundo porém também é do lançado ao mundo pelo outro sempre o descobrindo numa certa mundanidade à qual se reporta compreendendo o outro o eu sabe de si mesmo através do outro em seu mundo Assim o eu nunca é dado a partir de si mesmo é um poderser que desenvolve possibilidades dadas pelo mundo pois que lançado o seraí aceita ou refuta os modos através dos quais os outros cuidam de ser identificandose ou distinguindose Por esse modo de ser percebe diferenças ante a alteridade simultaneamente desenvolvendo características específicas e organizando estilos que o diferenciam dos outros nem sempre se revela como autenticidade 3 Assim a condição de serem e de sercom do seraí recolhe e expressa como logos a maneira de ser do homem pode dizer algo porque já recolheu reuniu juntou esse algo junto a outro de legen em alemão como colocar junto Como conhecimento recolher referese a captar o que foi visto sendo possível falar sobre sobre algo que se apreendeu escutou Desse modo compreender dizer e escutar são muito próximos e articulados expressando o modo pelo qual o eu já se encontra no mundo junto a outros o eu sempre é numa forma afetiva humoral de encontro com o que está acontecendo constituindo o seu sernomundo uma fatia de sua história Para Almeida 2005 p 178 O encontrarse condição ontológica da manifestação ôntica do encontro humoral com o que há no mundo surge da possibilidade do homem como sernomundo sendo os humores a manifestação pela qual a vida é dada ao humano 1 Ser afetado Uma escuta clínica atenta aos estados de humor sendo possível através deles compreender o aí mundo no qual cada um está situado medo em mundo ameaçador mau humor em mundo que falha alegria em mundo vibrante angústia em mundo inóspito e carente de sentido revelando o cotidiano transitar de uma emoção para outra A este modo Heidegger 19271984 denomina de indiferença afetiva cotidiana movimento com emoções sem grandes diferenças uniformizadas e sem ressonância intensa O estado de humor como abertura para o mundo revela o modo do ser aí nesse mundo é nessa afetividade que está mais plenamente entregue a si mesmo como quem de fato é e não pela idéia que tem do mundo Através da emoção o eu situase no mundo compreendendo tal situação pois a apreensão do mundo dáse através do modo pelo qual o eu nele se insere Emoção por emergir do mundo não é algo interno mas sim se apresenta através do próprio sernomundo a emoção referese a como se está no mundo em tal preciso momento Se as emoções expressam a situação na qual o eu já está imerso mostrando sua circunstância considerar a emoção algo intrapsíquico de um sujeito como pregam teorias psicológicas é algo a ponderar Na constituição de ser aí o mundo fere2 o eu que por sua vez a ele se refere respondendo na justa medida em que é ferido Afetando o eu o mundo lhe 2 Ferir do latim ferre em sentido próprio é levar carregar suportar Assim o mundo é levado para o eu impactandoo por sua vez o eu é trazido ao mundo respondendo a esse impacto Websters Third New International Dictionary Unabridged MerriamWebster 2002 httpunabridgedmerriamwebstercom in 12 Aug 2011 4 é revelado nesse toque implicando que o real só é real por ser experienciado de certa maneira e não originariamente modelado por conceito Implacavelmente há uma realidade que se abre por uma emoção e uma emoção que se esculpe numa realidade ALMEIDA 2005 p 182 a emoção abre o real que por sua vez dispõe o eu em determinado estado de ânimo Na ação psicológica pela escuta clínica podese captar que o mundo do clientenarrador se converte numa ameaça por ferilo ameaçadoramente respondendo com temor Assim compreendese que não há um ato de vontade pelo qual se constitua uma emoção para ser vivida a emoção convoca o eu numa dada circunstância e o eu é por ela colhido Tocado inapelavelmente pelos acontecimentos mundanos ao eu é entregue a responsabilidade de ser respondendo a uma dada situação mesmo que cale e não aja ALMEIDA 2005 p 182 Mas como essa condição pode expressarse e ser compreendida pela ação psicológica No entanto apesar de ser colhido é o eu quem vive essa emoção o eu é inescapável de si através de seus humores e dores Inclinandose ao eu com dores o clínico não apreende um funcionamento psíquico perturbado por vicissitudes ou traumas mas uma situação dolorosa composta por circunstâncias e por outros Apresentandose na condição de uma situação na qual o eu é testemunhado no momento preciso de seu sofrimento e procura por cuidado o Plantão Psicológico é um espaço possibilitador para que a situação do narrador possa desvelarse em inteireza e complexidade articuladas debruçandose sobre a narrativa o psicólogo pode silenciosamente escutar os desvios de rumo de uma história que clama por um sentido pertinente ALMEIDA 2005 p 182 Ser quem se é diz de caráter de ser e aparecer para si mesmo já acolhido numa dada existência numa determinada circunstância e não numa realidade dada como algo independente do eu Pelo olhar clínico apreendese que a rejeição é um tipo de acolhimento pois o homem é sempre lançado acolhido mesmo que seja em demasia adversa numa certa facticidade enigmática já que o eu é abrigado de tal modo que só pode ver o que seu olhar permite e ouvir o que é possível ALMEIDA 2005 p 183 Encontrarse é a condição de possibilidade pela qual o eu percebe sua facticidade por seus humores o eu apanhase em sua facticidade atualizando como é ferido e como se refere por ser uma abertura numa facticidade de uma facticidade e para uma facticidade constituindose no modo pelo qual o eu é no mundo já acolhido3 Desse modo na ação psicológica debruçandose solicitamente sobre uma história que clama por um redestinarse o clínico é atingido pela experiência narrada constituindo sua própria experiência pela 3 O ontológico referese à estrutura de possibilidades e o ôntico à configuração das possibilidades Só se chega ao ontológico pelo ôntico compreendese ontologicamente aquilo que se apanha onticamente ou seja o que está em manifestação Assim pela condição ontológica do encontrarse o eu se encontra consigo mesmo inapelavelmente 5 referência a ela sua compreensão do cliente dáse por ressonância e não por empatia MORATO 1989 Isto porque a compreensão empática diz poder compreender o narrador indo ao mundo fenomenal da experiência como se fosse ele assim promovendo uma objetivação da subjetividade tanto do cliente quanto do psicólogo Fenomenologicamente compreendese o outro tal como se foi por ele afetado dada a condição de sercom Numa entrevista de Plantão implica pôrse diante do outro para trabalhar com o que está acontecendo primeiramente tal como4 se é tocado pelo cliente a compreensão é originariamente afetiva e acontece no encontro do psicólogo com o cliente acontecendo no entre por ressonância Assim o encontrarse do plantonista com o cliente não pode ser tomado como recurso para mero acolhimento afetivo incondicional mas sim pelo olhar do tratamento ontológico do encontro por sua própria condição de ser se encontra com outro e a si mesmo Ou seja por não ser técnica de aproximação e acolhimento o encontro toca a historicidade manifestandose pelo passado interrogase pelo que está comprometido no presente e futuro O encaminhamento dessa interrogação atrelase ao estado de ânimo de cliente e plantonista afetado pelo testemunho narrado ALMEIDA 2005 p 184 É a experiência humoradaafetiva que abre a possibilidade do seraí depararse consigo mesmo pois a emoção efetua a realização do real dando significatividade a tudo que é é por ela que o ser humano se dá conta de quão intransferível é sua possibilidade de ser expressa no próprio estar presente num mundo aí lançado o eu sempre está lançado numa situação num certo sentido norteador aberto pela emoção Nesse sentido a emoção é já uma forma de compreensão apesar de nada ter a ver com a racionalidade ela é um modo específico de entendimento O estar lançado não é caótico pois o eu já se descobre numa situação acolhido por e nela mesmo que sob a forma da rejeição o que implica que há vários modos de acolhimento acontecido num entrelaçamento no qual o eu circunstancialmente se experiencia Todas as relações humanas são assim conotadas pelas emoções o que alude a que o procurar pelos outros por exemplo a solicitude do conselheiro ou psicoterapeuta sempre se dá numa relação sentida e por isso consistente ALMEIDA 2005 p 186 Através das emoções o eu descobrese sernomundo com outros não podendo deixar de considerar sua circunstância e facticidade Talvez por isso na entrevista psicológica clínica a referência direta aos sentimentos do cliente propicia um alargamento da 4 Tal como pode ser compreendido como a coisa mesma hursserliana o real validado pela experiência 6 compreensão do que está experienciando favorecendoo não paralisarse em uma dada situação Citando Arendt 1993 é pela compreensão que o homem se reconcilia com o mundo tornandoo familiar e novamente transitável Ou seja descobrese no mundo entendendo primeiro a mundanidade os outros e si mesmo pois que as emoções se originam do modo de habitar o mundo modo esse cultural Testemunhado pelo psicólogo o cliente compreende que seu destino não é dado a priori nem pelo livre arbítrio já que habitar o mundo orienta sua existência pela facticidade do mundo e emoções que o afetam o eu entendese como alguém que tem direção isto é se destina por ires e vires na coexistência percebendose na espacialidade do existir por aproximações e afastamentos Referese à possibilidade do homem em dirigirse um sentido Capturando o homem o estado de ânimoafetabilidade permite que este permaneça sempre referido a algo por aproximação ou distanciamento porém sempre aberto a uma direção As emoções chamam ao sair cair e ir para o mundo tornandoo público na co existência embora atente a si está voltado para o mundo O único humor que não procede do mundo é a angústia sua proveniência é do poderser mais peculiar do eu o que a torna no exclusivo estado de ânimo que o afasta do mundo aproximandoo de si mesmo ALMEIDA 2005 p 186 Desse modo enquanto as emoções revelam a condição humana de aberta ao mundo a angústia traz a experiência da ausência de mundo do nada se todas as emoções possibilitam que se habite o mundo a angústia nasce da ocorrência de um mundo inabitável o qual clama para ser reabitado a angústia é uma requisição para que o eu sem morada e carente de sentido e destinação habite de novo o mundo ALMEIDA 2005 p 187 A vida cotidiana pautada pela ameaça abre ao homem compreender sua existência como uma cargapeso que pode esmagálo provinda de algo do mundo ou junto aos outros Ademais nada nem ninguém pode defendêlo contra a morte sempre está lançado em perigo sendo sua condição ontológica compreender tanto ser quanto não ser Ao assumir atitudes de prevenção em relação a sua existência a proteção de si mesmo não é uma aproximação de si mesmo mas de dirigir a atenção àquilo que provindo do mundo o ameaça Focado no perigo que pode atingilo não foca si mesmo como segurança ao contrário há incerteza quanto a acontecimentos no mundo que podem ferilo Uma entrevista de Plantão é uma situação acolhedora na qual às avessas desse exemplo acima algo pode ser desmascarado do falso caráter ameaçador emergido na circunstância de uma existência na qual havendo uma preponderância absoluta do medo se teme por qualquer passo em direção à assunção de possibilidades mais 7 próprias Esse desmascaramento pode abrir o aconselhando num outro estado de ânimo o qual permite que esse algo apareça numa outra perspectiva o aconselhando pode deixarse tocar de uma nova maneira pelo que antes só se apresentava ameaçadoramente Seu veremtorno via como temível quaisquer desses passos porque seu estado de ânimo hegemônico era o temor Nesses termos cada emoção dá liberdade a tudo que se apresenta segundo o tipo de abertura que proporciona conferindolhe assim consistência ALMEIDA 2005 p 194 Em outras palavras algo temido nem sempre se apresenta assim diz respeito a tirálo do lugar no qual se apresenta pela emoção de temor temer é dar liberdade pois deixar ser e aparecer é aletheia Nesse sentido contrariamente ao pensamento cartesiano o verdadeiro se dá a ver pelas emoções o que é verdadeiro de algo se apresenta tornase o que é aberto pelo que é sentido e não pelo que é pensado A sensação experienciada é aletheia dando liberdade para o que é pelas emoções É ação psicológica abrir o cuidar de ser sob própria responsabilidade como bem vindo levando o cliente a assumirse como referência de si mesmo para possibilidades dada pela situação destinarse em apropriação Porém sendo temerária a angústia que abre à propriedade o cliente pode respoder a ela com desespero desresponsabilizandose por si mesmo É próprio da ação psicológica acompanhar o cliente paralisado em projetarse abrindo o benefício da dúvida quanto à certeza temerosa experienciada Assim a ação psicológica na prática seria um modo do psicólogo procurar pelo cliente que cuida de ser si mesmo testemunhando a narrativa do vivido como cuidado MORATO 2006 Nesse sentido fenomenológica existencialmente experiência diz do seraí como abertura temporal diz respeito a um dado projetarse pelo qual vindo a si o eu volta a si retomando determinados modos do sido e assim se torna presente numa dada situação atualizando uma determinada ação ALMEIDA 2005 p 199 Como testemunha de uma narrativa o psicólogo é afetado pelo que é experienciado pelo cliente é próprio à clínica psicológica agir debruçandose na direção do encontrarse do cliente e do psicólogo desvelandoos a si mesmos via a compreensão originária de si manifestada pelo modo como se é tocado em cada situação Na mesma direção o psicólogo pesquisador encaminha sua investigação pelos vestígios da narrativa do pesquisado compreendida como elaboração de experiência ao mesmo tempo em que também registra suas sensações e compreensões prévias em diários de bordo a fim de compor uma cartografia do contexto pesquisado MORATO 2007 Resgatando Heidegger 19271984 Almeida 2005 p 201 diz que a clínica só pode acontecer à medida que já se está aberto numa afetação possibilitando um acesso direto 8 à própria historicidade e não personalidade e identidade do eu o conselheiro deve permanecer atento à abertura do aconselhando atentando à maneira pela qual é tocado nessa relação o que se constitui numa compreensão originária Para Gendlin 19781979 a partir de Heidegger a propriedade da afetabilidade befindlichkeit abre a possibilidade da ação psicológica como cuidado por abrir ao psicólogo experienciar em si a própria manifestação de disposições humorais por ele denominada feltsense o real dado no próprio ato de experienciar MORATO 2009 Seria legítimo dizer que a ação psicológica junto ao singular ôntico possibilita aproximarse do ser humano como tal isto é a humanidade de cada um 2 A compreensão e interpretação Compreender referese à apreensão do que está na abertura junto a outros ou seja diz do a fim de que da condição de existir abrindo ao homem seu poderser e a dimensão de ser como projeto do seraí Nesse sentido o compreender acompanha sempre o encontrarse não há humor que já não seja compreensivo como também não há compreensão que não seja humorada O aberto ao mundo é compreensão no sentido originário já que destinarse ao mundo é destinarse a si mesmo sernomundo é abertura para o que o seraí se interessa Nessa abertura encontrase a significatividadeinterpretação do mundo apresentada pela cultura costumes moral leis saberes o compreender já está aí no fenômeno uma vez que o compreendido é o desvelado Sendo o compreender projetivo aquilo a que se dirige numa intervenção5 psicológica isso se pode se mostrar quando o cliente se vê possível não nas referências trazidas mas em cada gesto seu em relação a elas É tarefa da ação psicológica clarear que antes de ir em direção a algo o eu vai em direção ao que lhe é possível ser diretamente implicado ao cuidar concreto realizado a cada momento é pelo cuidado que se abre ao poder ser realizar possibilidades sendo o real possibilidades e não necessidades Assim vir a ser através do cuidar confere à humanidade do homem o caráter de inauguração Desse modo numa ação psicológica procurar ser testemunhado em sua experiência pode ser manifestação do poderser reclamando redestinarse a reinaugurar sua história Isto porque o possível é o que ainda não é mas cujo significado pode ser antevisto pela compreensão 5 Intervenção como interpor os bons ofícios engage to look after or attend to accept the responsibility for the care of Websters Third New International Dictionary Unabridged MerriamWebster 2002 httpunabridgedmerriam webstercom in 4 Oct 2011 9 A possibilidade já é anunciada no contexto em que a existência é lançada ou seja numa circunstância podendo ser a partir do que já lhe é dado o eu não é livre de sua circunstância porém para poder ser além O eu é livre para resgatar possibilidades ainda não configuradas voltandose para a realização do que ainda não é o agir humano instaura a liberdade Compreender é abertura para o possível isto é projetarse sobre possibilidades apreendidas não por entendimento abrindo o poderser para responder em situação trazer à luz o possível do oculto não como saberconhecer mas como abarcar o sentido da existência humana ou seja pelo modo como vai se constituindo pela vida situado num mundo junto a outros Testemunhado pelo psicólogo o cliente pode expressar como se encontra no mundo em relação aos demais avaliando o quão está na direção ou não de seu poderser e o quão necessita de certa sujeição necessária para prosseguir em seu projeto É compreendendo em situação que se faz possível ao homem desconsiderar seu modo próprio de ser por convenientes determinações culturais É nesse sentido que também se encaminha a ação psicológica em prática e pesquisa em instituições Para este presente trabalho recorremos a projetos realizados por laboratórios universitários a partir de solicitações de instituições públicas de saúde educação e segurança pública de atenção psicológica tanto para usuários e seus familiares como para funcionários e profissionais que nelas atuam Iniciados em 2000 mantiveramse alguns por 8 anos enquanto outros se iniciaram em 2007 e ainda se mantêm Desfiando a prática psicológica tradicional MORATO 2009 constituíramse em elementos para pesquisa interventiva participativa SZYMANSKI e CURY 2004 ambas relendo a ação psicológica pela ótica da Fenomenologia Existencial O questionamento implicava em considerar precisamente a compreensão da condição humana em suas dimensões de seraíno mundo com outros a qual seria possível ser contemplada visto a ação ocorrer numa instituição podendo se dar a ver bem como a todos os atravessamentos manifestos que implicam em seu modo de ser interpelado MORATO 2008 Sendo o poderser direcionado a sentido e duração a compreensão se manifesta temporalmente como interpretação decodificando o compreendido como possibilidades projetadas no compreender Dizendo respeito ao modo pelo qual tudo se apresenta constitui se num como sendo a interpretação aquilo que é Existencialmente a estrutura do como é uma interpretação articuladora enunciada por proposição Sucintamente a compreensão do possível desdobrase temporalmente na interpretação que sustenta a possibilidade de 10 entendimento da proposição a qual pertence à ordem da língua e pela qual se exibe a interpretação ALMEIDA 2005 p 203 No contexto da ação psicológica ocorre um jogo interpretativo entre psicólogo e cliente através de enunciados como expressão de dada interpretação o que permite ao cliente elaborar possibilidades por ele projetadas Assim interpretar não é obtenção de informações para explicar funcionamento mental por teoria explicativa Referese a preencher lacunas presentes numa forma de compreensão do projetarse desse cliente manifesto em seu temporalizarse ou seja de que modo um futuro incerto remete a eventos do passado dificultando sua atualização Isto porque o homem já é imerso em trama de significações culturais interpretadas o que a ele se abre já se abre num fundo de cultura que demanda compreensão prévia interpretativa Assim A interpretação permite que qualquer coisa que seja se mostre em sua significatividade É pelo veremtorno que o mundo sempre já compreendido se interpreta o que remete a que o àmão é clareado pelo enxergar da compreensão em todo seu contexto de significações Essa interpretação já está dada a priori a qualquer veremtorno possibilitando assim seu referenciarse apreendendo a serventia o veremtorno decodifica o que se apresenta ALMEIDA 2005 p 209 Tudo que é existe numa totalidade de nexos significativos no contexto prévio de antemão da tradição adquirindo um caráter de utilidade e uso àmão Desse modo ver de antemão é reconhecer que existe algo da tradição que também constitui o modo humano de ser implicando uma concepção prévia da trama de significações existir em uma situação atravessada pela cultura conduz a interpretações Nessa medida a ação psicológica inclinandose à narrativa do cliente é interpretativa por requerer identificar como a tradição e a trama de significações são constituintes de seu modo de ser É sua tarefa interpretativa dar a ver como concepções culturais podem estar conduzindo à ausência de sentido na existência Sentido é a direção o rumo para onde se vai estando assim atrelado ao destinar se o destino último da existência é a morte última paragem do ser Ainda que não visível em si o sentido é uma armação sem a qual o mundo não se arruma organiza configurandose somente na dimensão humana todos os demais entes são carentes de sentido Fenomenológica existencialmente a pergunta pelo ser não se dirige ao que é porém ao sentido de ser por esse viés a pergunta pelo ser não passa pelo significado dos entes os quais só fazem sentido quando são apanhados em modos de existir desenvolvidos pelo homem O sentido em si é inarticulável sendo um fundo invisível atua como um fundamento sobre o qual tudo o que é pode aparecer em sua especificidade só numa destinação é que algo faz sentido Nessa medida já que o sentido é inerente à estrutura da compreensão o 11 que não faz sentido não chega a ser compreendido o estado de compreensível de algo apóiase sobre um fundo que é o sentido ALMEIDA 2005 p 213 Pela proposta fenomenológica o sentido é inerente ao projetarse humano destinarse Vir a ser diz de algo manifesto mas desdobrandose a um poderser O que tem sentido é a existência do homem pois apenas ele pode compreender sua direção imprimindo modos que são e como podem ser sentido é a direção na qual o humano articula os fatos de sua vida Dessa forma desorientarse expressa ausência de sentido que clama pela necessidade de encontrarse É este o preciso momento que a ação psicológica entra em cena a emergência da urgência por sentido Prestase à demanda do cliente para encaminhamento de si testemunhado por outro o psicólogo inclinado à sua historicidade Por outro lado mas na mesma direção na supervisão do psicólogo como situação de aprendizagem atentamente inclinada à compreensão do cliente pelo supervisionando a ação psicológica do supervisor abre um ver além6 dirigese ao modo como o supervisionando foi tocado na situação do atendimento e de supervisão como forma de dar a ver como através de sua disposição afetiva abriuse uma compreensão interpretativa do cliente e pelo qual o cliente surge em sua singularidade Contudo ser tocado compreenderinterpretar não esclarece a questão do sentido se não houver uma sinalização responsiva a essas manifestações Sendo no mundo com outros o compreendido desdobrase pela ordem da língua em comunicação apreender e responder o que se mostra por palavras para que outros apreendam o que foi apreendido tornandoo comum pois o dizer torna presente tudo o que é para o sernomundo que sempre coexiste com outros ALMEIDA 2005 p 219 ampliando tanto o próprio ouvir quanto o mundo como mundo comum pela significação comunicativa Assim numa situação de ação psicológica de prática e pesquisa em instituições o testemunho do psicólogo atento ao dizer narrativo de quem o solicita possibilita um recolhimento para ampliar a compreensão de circunstâncias de vida por meio do desvelar sentido para reencaminhamento de direção Nesse sentido pela ressonância afetiva ao expresso junto a outros e com ferramentas à mão uma interpretação esclarecedora da experiência vivida pode se apresentar e sugerir a continuidade de uma história Por esses projetos a ação psicológica tem desvelado como o falar só consegue permitir que palavras possam conduzir a uma interpretação caso se apresentem apontando 6 Sentido etimológico de supervisão encontrado na expressão latina super videre mas do grego theorein ato de ver contemplar MORATO 1989 12 direçãosentido Porém palavras podem indicar sentido quando partem do sentimentodisposição afetiva referindo que ser afetadosentir é o fundosentido da palavra O sentir abrese como um sentido em que a existência se põe sendo o aí em que se forja o falar De novo falase do Plantão e também da supervisão como um exercício do logos já que nessas situações pelo jogo interpretativo se evoca o sentido e não o pensado o qual para adquirir tal condição precisa destacarse do sentido para tornarse anteosolhos num distanciamento sem envolvimento o jogo interpretativo só pode acontecer na emergência da afetação do conselheiro psicoterapeuta supervisor aconselhando analisando e estagiário dandose numa absoluta proximidade em que o envolvimento elicia a confiança ALMEIDA 2005 p 224 Nesses termos a ação psicológica possibilita o clareamento de uma situação para tomada de decisões testemunhando uma narrativa de história lacunar O narrar vindo por meio de conteúdos vêse atravessado pelo joga da interpretação como historicidade dando a verse um entre que nem sempre conduz a um destinarse pertinente mas sim à lacuna de sentido Por ser atravessado pela cultura o homem é lançado no âmbito da pluralidade contudo buscando ser quem é como singularidade nem sempre suporta a angústia de seu ser sernomundo com outros levandoo a rupturas em sua história Pela ação psicológica é possível reintegração pelo jogo interpretativo que operando no âmbito do desvelamento traz à tona o fio de sentido seguido ALMEIDA 2005 p 221 que possibilita ao cliente recorrer a seus próprios recursos para ir adiante rumo a ser singular 3 Linguagem dizer e ouvir para fazer sentido Para Heidegger o falar originase de logos do verbo legein cuja tradução é falar Simultaneamente ao sentir e compreender o falar é originário para o homem é por ele que se expressa a articulação entre ser afetado e compreender dando a ver o sentido É fundamento ontológicoexistenciário da linguagem pelo qual o mundo dito e interpretado pelo homem expressa articuladamente sua significação logos é fala expressão de compreensibilidade do mundo por reunião e separação de palavras como significado articular ou desarticular sentidosignificações Na ação psicológica clínica o falar é modo fundante de procedimento Inclinado à narrativa o falar se apresenta como um falar sobre ou a respeito de ou seja daquilo do que se fala num primeiro momento Entretanto aquilo do que se fala se fala a outro constituinte do sercom o cliente fala de experiência ao psicólogo Porém ao falar deixa entrever algo não 13 presente no falado mas ocultamente expresso como se a própria fala falasse por entre lacunas de compreensão CRITELLI 2002 Nesse sentido a fala é comunicação revelando intenções de quem fala por outros modos que não por palavras noticia algo É esta a brecha da possibilidade interpretativa da ação psicológica Desse modo fala é comunicação pois o homem é no mundo falando com outros abrindo possibilidade para o que é comum entre homens aquilo que é familiarmente compartilhado em coexistência condição de ser humano Ser psicólogo expressa a especificidade mesma do sercom no sendocom o cuidado a que se dirige é solicitude pela préocupação com o outro em seu padecimento É essa a tarefa da ação psicológica não se desincumbe de sua ação de cuidar limitante7 balizada circunscrita numa situação de atendimento procurando pelo outro naquilo que nessa situação possa ser testemunhado o que possibilita um esclarecimento norteador ao aconselhando assim não se trata de ocuparse com o aconselhando fazendo um mero encaminhamento nos moldes de uma triagem Numa entrevista de Plantão a comunicação não se dá como transporte de mensagens e vivências entre aconselhando e conselheiro o sercom condição de ser do seraí já é patente nas manifestações do encontrarse e nos desdobramentos temporais da compreensão que se dão em concomitância o que é expresso no jogo interpretativo pela fala A fala articula tanto o sentido fundado no sentir quanto o desdobramento das possibilidades projetadas no compreender assim vinculando o encontrarse ao compreender e alimentando o ser comum ALMEIDA 2005 p 224 Nessa direção a experiência da comunidade apresentase dentro de uma circularidade articulase pelo cocompreendido e cosentido estofo do jogo interpretativo numa ação que se proponha terapêutica ou educativa Ao falar o que se comunica é também uma notificação manifestada pelo modo modalidade como se expressa a forma como foi tocado pelo mundo e como o compreende A fala só pode articular uma compreensibilidade por sua dimensão do ouvir constituinte básico do compreender como apreender com O ouvir dispõe um proceder em relação ao outro acompanhao negao não o ouve acolheo opõese a ele sem o ouvir não há acolhimento das crenças embutidas no estado de interpretado impossibilitando a comunidade humana pois ninguém ouve o não compreendido É a interpretação desdobrando o compreendido que é a expressão do significado da realidade tendo linguagem como organizadora do mundo A fala difícil e raramente traz o estranho já que é a articulação do já interpretado 7 O substantivo limite remetese à fronteira que perfaz um horizonte a partir do qual algo começa a se fazer presente 14 Se o ouvir ocorre como possibilidade fundante do humano o escutar é uma sua realização nunca se escuta ruídos puros porém já imbricados na interpretação já articulada A escuta permite a vinculação entre os homens pois o sercom acontece articulado pelo ouvir o que está pendente é aberto pelo escutar Contudo o ouvir pode realizarse como um mero escutar não levando adiante qualquer crença e interrompendo a comunicação entre os falantes A ação psicológica como debruçarse sobre o sofrimento do outro constituise em solicitude apoiada na escuta o ouvir radical Acompanhar o cliente na expressão do que lhe dói urge apreendêlo em sua realidade e sentido do existir é escuta que pode permitir se manifestarem certos elementos norteadores vindos da tradição mas que emperram a singularização Clinicamente nunca se escutam queixas puras mas já mescladas no caldo interpretativo de sua realidade estado de interpretado no qual se forjam as relações da vida em situações com outros em família social e no trabalho Também é pela escuta que se estabelece a relação com o psicólogo fundada na confiança pelo bom ouvinte A escuta clínica pelo ouvir é fundamental em qualquer situação demandante de ampliação da compreensão Em projetos de atenção psicológica em instituições nas modalidades de Plantão Psicogiagnóstico Colaborativo Plantão Psicoeducativo Supervisão de Apoio e Oficina de Recursos Expressivos o ouvir se apresenta como abertura à compreensão de mal estares em relações situadas indicando caminhos para aprendizagem significativa como direçãosentido O falar propriamente dito é o falar com outros o que se dá pela enunciação de proposições é resposta a uma escuta que já realizou a articulação do interpretado tratandose de uma contrafala que faz parte de um mesmo circuito como complemento do compreendido Nesse sentido o falar propriamente dito tomado como contrafala da escuta é um dizer contudo esse falar pode assumir as vezes de um mero falar associado a uma mera escuta ALMEIDA 2005 p 225 O dizer do psicólogo se apresenta como contrafala8 própria ao jogo interpretativo Nesse sentido responde completando e abrindo possibilidade de ampliar a compreensão emergente do cliente assim apreende temporalmente a experiência narrada conduzindo à indicação de sentido O dizer responsivo do psicólogo pela escuta primeira completa o círculo da comfiança fiarsecom ser fiador do outro no encontro o que 8 Questionase contrafala na medida em que contra pode ser compreendida como contrária 15 acarreta que se acredite nesse dizer que por ter recolhido expressa aquilo que é constituindose na contrafala do bom ouvinte ALMEIDA 2005 p 225 Outra dimensão da fala além do dizer e ouvir diz respeito ao calar que colhe e acolhe o ouvido É uma forma de dizer articulando o compreendido embora se revele no silenciar não expressando o compreendido em palavras pois o compreensível para além da palavra pode ser apreendido pelo silêncio é a silenciosidade como fala Silêncio não é mutismo pelo qual nada se tem a dizer Falando sem palavras no silêncio o calar referese a uma compreensão que calou fundo cala porque corta a palavra pela genuinidade da interpretação A compreensão funda não passível de apreensão em palavras debuta no silêncio ao genuíno falar compete o calar no qual fulgura o sentido O insight acontecimento fundante em qualquer situação terapêutica e de aprendizagem ocorre na silenciosidade pelo jogo interpretativo abrese caladamente ao aconselhando a direção em que seu existir navega possibilitandolhe uma visão clara e genuína de seu mundo e o discernimento de seu poderser nesse mundo ALMEIDA 2005 p 228 Sendo a condição fundante do homem serem é um aí aberto ou seja o si mesmo como centro dessa clareira pode exercer o logos que ouvindo dizendo e calando tira o véu e traz à luz a coisa mesma como realmente é Por recolher e expressar falar se constitui num desvelar o mundo os outros e si mesmo Assim na situação de ação psicológica clinica eou de aprendizagem acontece o exercício do logos como aletheia O Plantão Psicológico e a Supervisão de Apoio modalidades da ação psicológica ocorrem como um acontecimento tratase de uma paragem na qual o psicólogo debruçado e atento à narrativa testemunha o entre ou seja a condição do cliente de ser em história Através do jogo interpretativo é possível deixar ver um sentido na temporalização de uma experiência uma história oculta mas repleta de lacunas agora passíveis de serem perscrutadas pelo exercício do logos revelando filamentos desconectadamente conexos Dáse a ver que o falar não é apreensível por análise formal mas sua acontescência é própria ao humano e pela qual constitui sua humanidade em seu falar cotidiano Como cada um de nós se humaniza pela forma aprendida em dada cultura somos também ao mesmo tempo todos nós e nenhum Desse modo o homem tem na fala a possibilidade de se inserir no mundo expressandocomunicando sua compreensão de mundo comum pelo falar cotidiano que a todos captura Nesse sentido esse falar é impessoal dizendo respeito ao que Heidegger denomina por impropriedade que exerce imperativo domínio no humano Se a questão fundamental é ser humano como se é humano a fala como 16 falada no cotidiano por todos nós a fala imprópria é aquela que possibilita uma compreensão por pôr em andamento a publicidade em suas formas de equivalência uniformização e distanciamento empurrando cada um para o mundo comum o cotidiano estando na dimensão da impropriedade apresenta um modo característico de falar cujas três formas Heidegger denomina falação avidez de novidades e ambigüidade O modo de ser do seraí poder realizar seu ser mostra que a linguagem originariamente não é um sistema Sustentase como um enunciado de uma interpretação prévia pois expressa algo já interpretado Nesses termos a fala regula o que é comum entre os homens um modo cultural de apreensão do mundo que tudo articula Desse modo o que se interpreta não são fatos em si mas modos de ser Pela sua abertura o ser aí encontrase com si mesmo no mundo com outros através da linguagem numa rede de significatividade por ela apresentada É ela que intermedeia pela abertura o seraí junto ao mundo e outros Assim a fala mesma é um modo de abertura pelo qual o eu cuida de ser cuidando de como é no mundo é isso que a fala fala Nessa medida o falar cotidiano é possibilidade de manter o contato junto a outros no mundo garantindo o real daí não importar sobre o que se fala mas que se fale A falação falar por falar é uma dimensão da fala cotidiana que não explora o que se passou mas apenas permitir a circulação do falado mantendo julgamentos e crenças pelos quais cada um se vai constituindo sustentando a trama da realidade e explicitando a condição de homem HEIDEGGER 19271984 Tratase de um levar adiante da fala favorecendo a entrada na publicidade porém sem uma apropriação do que é dito Põese veladamente em cena o que é falado sabendose tudo por alto embora não tenha o propósito de promoção de engano ao invés de explicitar o falar da falação vela ALMEIDA 2005 p 229 Numa situação de ocorrência da ação psicológica dois aspectos da falação podem se apresentar O primeiro diz respeito a que é pela falação que o cliente se introduz trazendo o já é interpretado e comum no entanto não há como negar que esse momento é possibilidade de entrar em contato com sua experiência Por sua vez o segundo revela como o cliente se traz longe de ser propriamente mas como que guiado por circunstâncias da realidade de um mundo inóspito Nesse sentido esses dois aspectos permitem compreender como a versão primeira da experiência trazida pelo cliente chega sob a forma de queixas ou seja a emergência do mal estar incômodo sentido pelas circunstâncias da vida É especificidade da ação psicológica como atenção e cuidado a tarefa de acompanhando a realidade apresentada pela falação do cliente sugerirlhe através do jogo interpretativo 17 encaminharse para a apropriação de si mesmo ou seja dizer de sua demandanecessidade como urgência na procura por poder ser MORATO 2006 Junto à falação surge a avidez de novidade HEIDEGGER 19271984 maneira da fala cotidiana apoiada no ver à distância ou seja vendo tudo por cima não se demorando junto a nada passando rapidamente para o que vem depois É sofreguidão de acúmulo do visto pelo aspecto o que incide numa dissipação pela qual o eu não tem paragem e assim moradia passandose rapidamente a outros aspectos instalase um distanciamento para que não haja envolvimento Estáse diante da perdição do eu ALMEIDA 2005 p 230 No tocante à ambigüidade HEIDEGGER 19271984 referese a um modo cotidiano da fala acerca de possibilidades que não podem ser atualizadas apenas rastreadas numa esfera pública em que tudo parece ser acessível com uma conseqüente compreensão subliminar de que pode ser feito Essa forma é bem reconhecida no discurso tanto político notadamente ideológicopartidário quanto institucional há uma essencial e evidente ambigüidade entre o falar e agir Afinal a ambigüidade pressupõe que não se saia do lugar pois requer uma ação que se realizada provocaria restrições Desse modo impede as alternativas do agir pela fala das possibilidades Realizar alguma possibilidade aventada implicaria sairse da impessoalidade dando a ver a própria irresponsabilidade Pela fala ambígua mantémse o descompromisso em fazer o que deve ser feito relegado à dimensão da suspeita No cotidiano buscase a impessoalidade porque não se quer puxar para si o gasto que uma situação configurada possa deflagrar Embora se queira algo não se suporta que aconteça ou seja desejase profundamente uma realidade diferente mas recusa se também profundamente que o sonhado se torne real Quem age responde pela realização do que estava em possibilidade o eu é colocado em questão e cobrança permanecendo no possível o eu eximese de qualquer responsabilidade Por isso é que a ambigüidade resolve a questão na fala dispensando qualquer realização que pode abortar ou fracassar ALMEIDA 2005 p 229 É nesse sentido que a tarefa da ação psicológica em instituições dirigese a testemunhar o outro fugidio em sua responsabilidade perante o que lhe diga respeito Procura servir como cama elástica ao outro em seu lento tempo de empreendimento para poder ser si mesmo contrastando com o tempo rápido da fala cotidiana O tempo do fazer genuíno dá se sob a égide do empenho que medra no silêncio a silenciosidade é realizadora já o marketing não faz só fala O psicólogo acompanha o cliente que ainda teme fracassar caso se empenhe em realizar uma possibilidade cabível Testemunhando a ameaça possibilita ao 18 cliente tanto a discernir sua situação e como disponibilizarse para a consecução de seu projeto Contudo a ambigüidade caminha sobre um saber dar conta de uma situação não pela prescrição do que deve ser feito mas por suspeitas se isso então resolvendo pela fala e não pela ação visto operar por projeções Porém estas surgem não como possibilidades próprias mas aquelas disponíveis a todos escolhendo fazer algo no âmbito do público no qual se perde por prevalecer o ninguém É deste modo que a fala cotidiana pela ambigüidade falação e avidez de novidades aproximam os homens entre si mas sem que se esteja com o outro porém com todos Assim na ação psicológica em instituições de saúde ou educação precisamente pelo caráter do todos nós ninguém há que cuidar para acompanhar o cliente em suas peculiaridades de ser conforme suas possibilidades públicas de realização a fim de não se estar contra ele na dissimulação peculiar mas não deliberada ao ser um com o outro na cotidianidade Afinal competir e não cooperar revela ser um contra o outro também um modo de sercom Na fala cotidiana sendo na impropriedade o seraí é impessoalmente equivalente a outros modos de ser um desvio de si abafando a angústia para a propriedade Assim embora a tarefa de ser humano convoque para a impropriedade sempre permanece a abertura de ser quem se é na propriedade Isto porque ser si mesmo não é dado a priori mas sim vai se afirmando que ser si mesmo ocorre pela aprendizagem na fala da coexistência mesmo que se desviando já que seraí é uma absorção de ser lançado aí no mundo prévio Estáse diante do fenômeno denominado por Heidegger 19271984 de queda que de modo algum significa que o eu nasça formado e depois decaia tratase de ser absorvido pelo mundo no qual é lançado não é posterior mas integrante ao nascimento Assim não se trata de um novo fenômeno porém a junção das condições de lançamento e absorção Sendo capturados tragados pelo mundo os homens são submissos a modos de usar os úteis e sujeitados aos outros por exemplo na moralidade o sernomundo é anterior à percepção do eu e a queda tanto condição da própria existência quanto situação presente e permanente A captura do eu pelo mundo dáse na e pela fala cotidiana Na falação o eu flutua sem base num lago de como se é dito na avidez de novidades está em todas as partes e ao mesmo tempo em nenhuma na ambigüidade nada está ocultado à compreensão do eu com o propósito de reforço da situação anterior Realizandose através desse falar uns com os outros a queda apresenta quatro características fundamentais sedução tranqüilização ou aquietamento alienação e enredamento as quais se intercambiam num movimento contínuo de derrubamento no qual uma é levada para outra perfazendo um redemoinho ALMEIDA 2005 p 230 Sempre é possível que pela falação já se possa encontrar si mesmo recorrendo a interpretações já dadas no público para dizer o que se é usos e costumes Isto seduz pois significa já ter uma resposta para si de antemão encobrindo a angústia para apropriarse do 19 poderser reconhecendose bem situado no mundo Desse modo tranqüilizado os outros passam a ser a referência de ser porém alienado de si mesmo absorto que é pelo mundo Assim enredado em si mesmo em suas questões diluído nos outros porém aquietado ocorre a sensação de estar conduzindo sua vida adiante esimbora a presumida segurança esteja no que é dado e não apropriado de Na ação psicológica através do exercício do logos acompanhase como naquilo que crer seu próprio o cliente está interpretandose pelo que é dado perdendose de si nas vozes comuns Nem se dá conta como esse modo de ser impessoal o incomoda desespera e faz sofrer pela ausência de sentido próprio Enredado interpreta a angústia por sensações corpóreas aflito e desamparado que está Nessa situação de atropelado por si mesmo o cliente prendese à ocupação percebendo contudo que está sendo derrubado mas não por si mesmo É nessa dimensão da queda como experiência da impropriedade que se tem a maior dimensão do que é serno mundo no diaadia o eu está nesse enovelamento É um modo de ser que significa estar no mundo habitandoo ALMEIDA 2005 p 231 É pelo jogo interpretativo que o psicólogo pode acompanhar o cliente realçando o enovelamento em que se encontra buscando juntos retecer fios para que ele se encaminhe em seu poderser no mundo como é Debruçado atento pela comfiança cooperativa o psicólogo pode agir legitimado pelo cliente na direção do desenvolvimento da própria experiência para sentido de ser si mesmo II Para a ação psicológica na prática e na pesquisa em instituições O desenrolamento da experiência do humano pela ação psicológica revelase também uma escuta afinada com a ação educativa Educar do latim educere compõese pelo prefixo ex para fora e pela palavra ducere conduzir levar guiar referindose a conduzir para fora ou seja promover que algo possível de si possa surgir eduzir no no mundo pelo ensinar e aprender Ensinar do latim insignare remete a insignum em sinal como diz Rosa 1989 aquele que ensina não se ensimesma mas sim sai de si indicando sinais no mundo que são relevantes para o aprendiz Por sua vez aprender vem do latim adprendere cujo prefixo ad por para indica direção enquanto prendere diz de tomar agarrar pegar Assim aprendizagem referese a fazer uso de sinais no mundo que apontem para mudanças aprendiz é aquele que se transforma em trânsito pela existência narrando sua experiência para levála 20 adiante e abrir brechas para outras aprendizagens Por sua vez a experiência pela ótica fenomenológica existencial sendo uma abertura temporal na qual presente passado e futuro se copertencem é a manifestação da historicidade do ser aí fazse como acontecimento e apresentase pela fala como narrativa a qual se constitui num dizer no fazer situado O psicólogo seja numa entrevista de Plantão em clínicaescola ou em cartografia por uma instituição de saúde ou de educação mantendose inclinado à narrativa daquele com quem fala está sempre investigando a experiência clinicamente experiência essa que vindo do mundo com outros se apresenta enovelada no público porém sem fio de sentido ao narrador Em outras palavras a ação psicológica conduzse a ir por entre os vestígios do vivido para desocultar outras facetas que se mostram nas situações de homens e atores institucionais Buscando desenredar a experiência da trama sedutora de significados na qual se encontra acompanha o cliente testemunhando sua narrativa pela desorientação e desamparo para junto a ele sugerir o encaminharse para fora de seu sofrimento levandose adiante dessa urdidura do público na qual se enroscou E isso só pode acontecer em experiência em ação ou seja quando a interpretação da compreensão pudesse conduzirse para fora do perigo considerando a etimologia latina de experiência experire Estruturandose a partir da escuta a ação psicológica amparada na perspectiva fenomenológica existencial conduzse pela narrativa na prática e na pesquisa já que ambas dizem de experiência e história que urgem por uma compreensão mais ampla Na trilha do sofrimento na história outros modos de seu enfrentamento são perseguidos pela atenção e cuidado psicológicos sem jamais percorrer modelos clássicos de triagem amparados no psicodiagnóstico tradicional ou na psicopatologia nem de intervenção quase sempre acompanhamento psicoterápico Apenas emerge no encontro entre o cliente e o psicólogopesquisador como testemunha que autoriza e legitima uma continuação da história desse cliente numa dimensão em que possa existir em bem estar e autenticidade A ação psicológica por esta ótica sempre se vincula a uma situação que tem tanto uma vertente institucional referida à pertença do profissional e do cliente quanto uma vertente vinculada à realidade sociocultural e existencial do cliente e do psicólogo Desse modo é importante que busque uma compreensão da realidade do cliente para cotejála com o que a realidade da instituição pode oferecer Assim a ação psicológica pode ser ainda caracterizada como uma prática e pesquisa psicossocial De qualquer forma nela importa a demanda do cliente do que uma explicação que se possa ter dele assim como também a relação estabelecida importa mais do que uma interioridade a ser perscrutada Nesse sentido a interioridade é manifestada na relação e 21 não tomada como um emsi a relação é o campo de aparência tanto dessa interioridade quanto de uma realidade sócioeconômica cultural uma vez que é nela que a experiência do cliente encontra lugar para ser compreendida e clareada Tratase de contextos originários em que a experiência ocorre pois não há homem sem mundo com outros tratase de uma perspectiva fáctica que é histórica e concreta A ação psicológica se apresenta para além de âmbito de intimidade não se restringindo a qualquer um mas se referindo a mundo trazido pela apresentação que cada cliente faz de si próprio Nesse contexto emergem modos de cuidar já que o cuidarse de si requer a explicitação da teia de relações estabelecidas na sociedade que sustenta representações que ideologicamente vinculam o sofrimento psíquico a fatores individuais velando suas determinações sócioculturais ALMEIDA 2005 p 232 Assim partindo do contexto psicosócioexistencial a ação psicológica intenta uma visão compreensiva de sofrimento embutido na narração de uma história que embora singular diz respeito a outras pessoas em vários contextos Nesse sentido o cuidado do pesquisadorpsicólogo considera as questões de quem se é como se é com quem se está e onde se está dando a ver como modos de cuidado apoiados na experiência do encontro psicólogocliente que consideram a situação existencial do cliente incluindo a esfera sociocultural Desse modo na perspectiva fenomenológica existencial o sofrimento psíquico não é da ordem do patológico assim determinando uma história É algo que aparece nessa história revelando um destinarse conturbado no mundo do narrador e em suas situações de vida com outros enraizado na história o sofrimento psíquico diz de um acontecimento pertinente a seu modo de ser não sendo considerado como proveniente de doença mental Ao mesmo tempo em que a ação psicológica na prática e pesquisa em instituições contempla um aspecto clínico também pode apresentar um elemento educativo voltado tanto para a formação profissional de psicólogos quanto de outros profissionais de saúde e educação Nos projetos de atenção psicológica o estudanteestagiário tem a oportunidade de entrar em contato com as mais diversas realidades trazidas pela clientela e por instituições conduzindoo a pensar o sentido originário de clínica de prática de pesquisa de intervenção de público e privado de ser quem se é de modo próprio a poder ser Desse modo o estagiário experiencia debruçarse não ao entendimento de uma doença seus mecanismos e sua repercussão na mente e na conduta de um doente ou de uma instituição mas ao modo de ser do qual emergem as experiências existenciais que sustentam as atividades da pessoa que está 22 a sua frente cliente ou ator institucional Na perspectiva existencial a experiência humana não é conseqüência de um processo de desenvolvimento da sexualidade da cognição e da volição mas a condição historial9 do homem fundamentando a constituição de quaisquer das esferas da experiência pelas quais o homem transita O modo de condução da ação psicológica nos projetos de atenção não compreende uma automática continuidade de atendimento aos encontros com a clientela Orientamse a cada encontro a possíveis desdobramentos para questões apresentadas como demanda considerandose no diálogo com o cliente outras intervenções de práticas especializadas ou populares contando com recursos institucionais comunitários ou familiares quando se fizer necessário Assim cliente e psicólogo consideram conjuntamente aquilo que melhor atende ao que é preciso e não ao que é explicitado como pedido Este modo fazse particularmente pertinente quando o cliente é um dirigente de uma instituição compreendese a necessidade institucional do dirigente como seu ator mas também se abre a perspectiva de considerar qual a demanda da comunidade a quem está sendo pedida a atenção psicológica É a isto que se dirige a cartografia amparada na atitude clínica Ao aluno esta é uma situação que o provoca a procurar por seu próprio modo de ser psicólogo não enovelado nas malhas publicas da trama de significações implicadas em sua formação Experiencia ele mesmo orientarse a um poderser de modo próprio e não impessoal Tal aprendizagem se manifesta em sua forma de cuidar tanto do cliente quanto do autor institucional conduzindo o outro a encontrarse propriamente em sua vida eou em seu trabalho tornandose ele mesmo estagiário um multiplicador de possibilidades de poderser junto a outros uma aprendizagem significativa Esse comprometimento em várias oportunidades árduo e sofrido aponta a direção que se trilha na ação psicológica ao invés de circunscreverse a aspectos referentes a alterações de personalidade e presença de doenças psíquicas tratase de decisivamente atentar à possibilidade de um redestinarse da existência no que plausivelmente se anuncia Por esse viés a história pessoal emergindo da história coletiva é narrada ao psicólogoouvinte o qual via essa intervenção passa também a ser narrador Enquanto uma atividade com sentido educativo na formação profissional de psicólogo contemplando a supervisão do trabalho prático e de pesquisa realizado pelos estudantesestagiários a ação psicológica se apresenta em dimensão clínicopedagógica É o caráter de acompanhamento junto ao estagiário que constitui a especificidade dessa 9 Historial remetese à dimensão ontológica humana 23 supervisão elaborar a experiência de testemunha de uma história que de algum modo o afetou Assim entre o supervisor e o estagiário surgem possibilidades de compreensão de si mesmo e do outro na medida em que o supervisor atenta ao modo como o estagiário foi tocado compreensivamente pelo cliente suspendendo as préconcepções que normalmente um aluno de psicologia tem sobre psicoterapia e entendimento do sofrimento na supervisão a ação psicológica é experienciada na mesma direção em que foi realizada junto ao cliente Muitas vezes a supervisão atémse a dimensões bem concretas do atendimento No entanto isso não quer dizer orientarse por uma visão pragmática do ser humano e da atividade clínica Tratase mais uma vez de partir da situação para nela encontrar saídas concretas plausíveis de postura e conduta considerandose a singularidade de cada encontro Assim a própria ação psicológica constituise numa situação de passagem na qual se avaliam e decidem os possíveis encaminhamentos10 disponíveis para o enfrentamento de um sofrimento emergente de uma pessoa que clama por cuidados Desse modo ação psicológica na prática e pesquisa em instituições em seu exercício requer recursos institucionais e comunitários que possam redirigir o caminhar de uma existência requisando uma específica paragem como abertura de recursos necessários a desdobramento harmonioso de sua história para tornar tolerável um sofrimento Nesse sentido a ação psicológica demanda uma rede de apoio social que acompanhar e atender modalidades de cuidados clínicos eou pedagógicos de que a clientela possa necessitar Em suma essa rede de apoio social constituise num organismo em relação mútua que possibilita a prática da solicitude própria ao trabalho da ação psicológica viabilizando a seqüência de atendimentos necessários na realidade emergente Sendo realizada dentro da Universidade e de outras instituições públicas a elas servindo pelo exercício das responsabilidades civis de ensino pesquisa e extensão universitária compete que os desdobramentos solicitados pela ação psicológica dirijamse por esses mesmos objetivos A Universidade por sua vez não se deve constituir em apenas ser um banco de dados e informações de interesse da comunidade é sua tarefa poder ser um centro de referência para os profissionais de várias áreas possibilitando a circulação de colaboração como trabalho de coautoria Nesse contexto uma de suas funções é poder subsidiar pesquisas que concorram na efetivação de modalidades de prática da ação 10 Por encaminhamento compreendese o encaminharse do próprio cliente em direção ao que sua demanda lhe desvendou durante a ação psicológica 24 psicológica propiciadoras de tal trabalho é ação política11 realizar pesquisas interventivas em instituições demandantes III Para arrematar Finalizando este trabalho teve o propósito de apresentar a possibilidade de uma leitura da ação psicológica na prática e pesquisa de profissionais de saúde e educação através de uma compreensão fenomenológica existencial que subsidiasse sua propriedade de ação humana entre homens Nesse sentido configurase a necessidade de refletir temáticas pertinentes à ação psicológica destinada à demanda de humanidade do homem contemporâneo Percorrer tais temáticas implica conduzila a pensar sua legitimação de um agir comprometido a interpor os bons ofícios ou seja intervenção junto a profissionais de saúde e educação apresentandolhes um modo de pensar diverso daquele implicitamente comprometidos com modelos tradicionais explicativos percorrendo sentido de homem existência e história12 Assim esta contribuição consistiu em apresentar temas básicos segundo uma ótica fenomenológica existencial o modo de ser clínico implicado na ação psicológica ressaltando o ser afetado a compreensão desdobrandose em interpretação e fala ouvir dizer calar O desenvolvimento desses temas é um esforço de leitura de ação psicológica em prática e pesquisa em instituições de saúde e educação através da ontologia fundamental de Martin Heidegger em El ser y el tiempo 19271984 recorrendo a situações dessa ação em suas várias modalidades Enfim a interrogação que se leva adiante ao abordar tais temáticas é a busca de subsídios para a ação psicológica pela antropologia filosófica proposta nessa obra que apresenta uma compreensão do humano pela aproximação da pergunta pelo ser Na experiência da própria prática e da pesquisa na ação psicológica a compreensão aqui empreendida abriu questões ainda a serem esclarecidas No entanto procurouse sempre conservar ao alcance dos olhos um todo que pudesse paulatinamente crescer e concomitantemente oferecer uma possibilidade para encaminhamento do sentido da ação psicológica Mas sem dúvida o que se pretendeu com essa retomada em perspectiva foi 11 MORATO H T P Plantão Psicológico inventividade e plasticidade In Anais do IX Simpósio de Práticas Psicológicas em Instituições Atenção psicológica fundamentos pesquisa e prática Recife UNICAP 2009 v 1 p 115 12 Não se trata de compreender a existência segundo o critério de uma concretude aparente mas de compreendêla como um modo humano de ser 25 abrir outros horizontes para uma aproximação existencial da ação psicológica clínica na prática e na pesquisa em instituições de saúde e educação Referências ALMEIDA F M Ser clínico como educador uma leitura fenomenológica existencial de algumas temáticas na prática de profissionais de saúde e educação Tese Doutorado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 2005 ARENDT H A dignidade da política 2ª Ed Tradução de Helena Martins Frida Coelho Antônio Abranches César Almeida Cláudia Drucker e Fernando Rodrigues Rio de Janeiro RelumeDumará 1993 CRITELLI D M Caminho existencial São Paulo Existentia Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana 2002 GENDLIN E T Befindlichkeit Heidegger and the philosophy of psychology Review of existencial psychology and psychiatry 16 13 p 4371 19781979 HEIDEGGER M El ser y el tiempo 5ª Ed Tradução de José Gaos México Madrid Buenos Aires Fondo de Cultura Económica 1984 MORATO H T P EuSupervisão Em cena uma ação buscando significado sentido Tese Doutorado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo 1989 MORATO H T P Pedido Queixa e demanda no plantão psicológico querer poder ou precisar Anais do VI Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituição Psicologia e Políticas Públicas 2006 Vitória Espírito Santo UFES v 1 p 3843 2006 MORATO H T P Pesquisa Interventiva e Cartografia na prática psicológica em instituições Anais do VII Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituição Fronteiras da Ação Psicológica entre educação e saúde São Paulo v 1 p 113 2007 MORATO H T P Prática Psicológica em Instituições ação política Anais do VIII Simpósio Nacional Prática Psicológica em Instituição Atenção Psicológica experiência intervenção e pesquisa São Paulo v 1 pag 119 2008 MORATO H T P Atenção Psicológica e Aprendizagem Significativa In MORATO H T P BARRETO C L B T NUNES A P Org Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial Rio de Janeiro Editora Guanabara Koogan 2009 v 1 p 2240 2009 MORATO H T P Uma Introdução In MORATO H T P BARRETO C L B T NUNES A P Org Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial Uma Introdução Rio de Janeiro Editora Guanabara Koogan 2009 26 MORATO H T P Plantão Psicológico inventividade e plasticidade Anais do IX Simpósio Nacional Práticas Psicológicas em Instituições Atenção Psicológica fundamentos pesquisa e prática Recife PE UNICAP p 3145 2009 SZYMANSKI H e CURY V E A pesquisa interventiva em psicologia da educação e clínica pesquisa e prática psicológica Estudos de Psicologia 9 2 355364 2004 ROSA J G Tutaméia São Paulo Nova Fronteira 1989