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Psicologia ·

Psicologia Social

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ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 474 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 outroS tEmaS ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL PRISCILLA DE OLIVEIRA MARTINSSILVA ELOISIO MOULIN DE SOUZA ANNOR DA SILVA JUNIOR DANIELLY BART DO NASCIMENTO RAFAEL RUBENS DE QUEIROZ BALBI NETO RESUMO O objetivo da pesquisa é identificar concepções de adolescentes sobre homossexua lidade em seu contexto social Para isso articula duas teorias Representações So ciais e Identidade Social Aplicaramse questionários semiestruturados a adoles centes de escolas particular e pública e na análise dos dados utilizouse o software Alceste Os resultados revelam a presença de elementos positivos e negativos na representação social da homossexualidade e o seu processo de formação está asso ciado ao processo de formação identitário A configuração da representação social se relaciona a medo provocado por objetos sociais diferentes do que é considerado padrão tentativa de retomar o sentido de ordem e controle sobre o mundo valo res e crenças presentes na história da sociedade e posição social dos grupos sociais e ganhos que podem advir da relação intergrupal rePresenTaçÕes soCiais idenTidade hoMosseXualidade adolesCenTes Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 475 ADOLESCENTS AND HOMOSEXUALITY SOCIAL REPRESENTATIONS AND SOCIAL IDENTITY PRISCILLA DE OLIVEIRA MARTINSSILVA ELOISIO MOULIN DE SOUZA ANNOR DA SILVA JUNIOR DANIELLY BART DO NASCIMENTO RAFAEL RUBENS DE QUEIROZ BALBI NETO aBsTraCT The research aims to identify how adolescents comprehend homosexuality in their social context It articulates two theories Social Representations Social Identity Methodologically semistructured questionnaires were applied to adolescents from public and private schools The data was analyzed by software Alceste The results show the presence of positive and negative elements in the social representation of homosexuality The formation process of social representation is associated to the identity process formation Social representation configuration is related to fear provoked by social objects considered different from the established pattern attempt to retake the sense of order and control over the world values and beliefs present in the society history social position of social groups and the gains that can come from the intergroup social relationship soCial rePresenTaTions idenTiTY hoMoseXualiTY adolesCenTs ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 476 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 os deBaTes aTuais sobre discriminação as expressões mais utilizadas são racismo antissemitismo sexismo e homofobia RIOS 2007 Entretanto Rios salienta que dentre todas essas expressões a discriminação relacio nada à homofobia é a mais controversa e a menos estudada e discutida o que em parte indica a relevância da realização desta pesquisa Para abordar o tema optouse por utilizar duas perspectivas teó ricas já exploradas separadamente na Psicologia Social porém ainda pou co utilizadas em conjunto Teoria da Identidade Social TIS de Henry Tajfel 1982 e Teoria das Representações Sociais TRS de Serge Mosco vici 1961 A utilização das duas perspectivas teóricas fundamentase no entendimento de que as teorias podem auxiliar na melhor compreensão do fenômeno da homofobia Ao articular as duas teorias para discutir a homofobia investigou se a população adolescente por entender que esse público está num mo mento importante da formação da identidade e que por isso as informa ções e experiências adquiridas nesse momento contribuem com a cons trução da forma pela qual vivem e experienciam o mundo MARTINS TRINDADE ALMEIDA 2003 Outro fator determinante na escolha de adolescentes foi a pesquisa de SavinWilliams 2005 que demonstra a existência de maior tolerância em relação à homossexualidade nessa po pulação uma vez que adolescentes e jovens tem se sentido mais livres para assumir a homossexualidade Considerando esses aspectos buscouse responder o seguinte problema de pesquisa Como os adolescentes concebem a homossexua lidade a luz da TIS e da TRS Objetivouse com esse estudo identificar n Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 477 como a população adolescente subdivida em dois grupos sociais distin tos concebe a homossexualidade no próprio contexto social hoMosseXualidade e hoMoFoBia Durante muito tempo os estudos sobre gênero enxergaram a heterosse xualidade como algo essencial determinado biologicamente A concep ção de que alguns comportamentos são tipicamente femininos ou mas culinos está apoiada na possibilidade de procriação Essa possibilidade aparece primeiramente na ordem dos valores e da moral construídos social e historicamente por uma rede de sentidos que faz circular as normas que acabam sendo naturalizadas ou seja adquirem o selo de verdades universais SWAIN 2001 O binarismo heterossexual é uma invenção ocorrida há aproximadamente dois séculos com o surgimento do twosexmodel LAQUEUR 1996 Até o século XVIII o modelo de sexualidade existente era o onesexmodel Nesse modelo havia uma hierarquia corporal em que ape nas um sexo existia o masculino Dessa forma havia uma escala de per feição que começava com a mulher e atingia seu apogeu com o homem A mulher não era considerada como algo diferente do homem mas um homem invertido e inferior Segundo Costa 1995 a teoria da diferença sexual denominada em Laqueur 1996 de twosexmodel nasceu do interesse filosófico moral e político de se encontrar algo para justificar a inferioridade políticojurídico moral da mulher Nesse processo observouse primeiramente a produção de desigualdades sociais e políticas entre homens e mulheres que foram justificadas pela desigualdade do sexo para em seguida a diferença de se xos fundar a diferença de gêneros masculino ou feminino COSTA 1995 Observase com isso uma mudança fundamental em relação ao onesexmodel Enquanto no onesexmodel a mulher era um homem invertido e inferior no twosexmodel ela passa a ser considerada o inverso complementar do ho mem Em contrapartida a essa mudança o homossexual passou a ser o in vertido e sua inversão será vista como perversão porquanto antinatural COSTA 1995 p 128 e até mesmo considerada como uma doença A concepção de inversão do homossexual está atrelada a teoria desenvolvida por Karl Heinrich Ulrichs na década de 1860 denominada uranista Essa teoria afirmava que um homem que sentisse atração sexual por outro homem era na verdade uma mulher presa no corpo de um homem GREEN 2000 p 87 Assim por essas consoantes o ho mossexual passou a ser socialmente desvalorizado por se ver nele uma extensão da mulher COSTA 1995 A divisão das pessoas em homossexuais e heterossexuais era algo teoricamente impossível e em termos sociais algo impraticável ante riormente à diferenciação dos sexos Assim ocorre a invenção dos ho ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 478 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 mossexuais como uma consequência políticoteórica das normas feitas à mulher e ao homem no twosexmodel COSTA 1995 A sexualidade fica re duzida ao regime binário de masculino e feminino que se configura como o limite entre lícito e ilícito permitido e proibido em que a homossexua lidade conforme já dito é considerada um desvio uma anormalidade Com isso passase a atribuir uma origem biológica à homossexualidade classificandoa como uma patologia e retirando sua discussão do campo político FOUCAULT 1988 A sexualidade como salienta Foucault 1988 é historicamente construída por dispositivos discursivos e de poder e desse modo deve ser analisada levandose em consideração os aspectos culturais como organizadores da sexualidade e não como algo determinado biologica mente Nessa mesma linha de pensamento Heilborn 1996 p 137 afir ma que a sexualidade não possui essência a ser desvelada mas é antes um produto de aprendizado de significados socialmente disponíveis para o exercício dessa atividade humana Do ponto de vista da construção social e invenção do homosse xual admitese que a superação da homofobia passa pela desconstrução do binômio heterohomo pois a homofobia promove a afirmação da he terossexualidade por meio do repúdio e do combate à homossexualida de ou seja para atacar a homofobia em suas raízes é preciso suplantar a heterossexualidade e a homossexualidade como identidades sexuais RIOS 2007 p 37 Seguindo essa concepção de Rios o pensamento queer originário do encontro entre os estudos culturais norteamericanos e pós estruturalismo francês MISKOLCI 2007 surge como um mecanismo social de rompimento da visão binária e biológica da homossexualidade Segundo Lara Neto 2007 a base do pensamento queer está na analítica de poder de Michel Foucault salientando que esse foi pioneiro ao descartar o binômio sexualidadenatureza passando a abordar a se xualidade em termos de história significação e discurso Para Miskolci 2007 a afirmação foucaultiana de que a sexualidade tornouse um dis positivo histórico de poder desenvolvido pelas sociedades ocidentais modernas é o ponto de partida do pensamento queer Na tentativa de romper com a categorização binária de classificação e normalização do comportamento sexual o pensamento queer entende que desconstruir a polaridade rígida dos gêneros significa problematizar tanto a oposição entre eles quanto a unidade interna de cada um LOURO 2008 p 3132 O termo queer tem sido empregado como um marcador da instabilidade da identidade ao mesmo tempo em que busca dar conta de todos os outsiders do sexo e do gênero LARA NETO 2007 p 5 Nesse contexto o grande desafio do pensamento queer tratandose de identidade sexual é admitir que as fronteiras vêm sendo constantemente atravessa das e o que é ainda mais complicado que o lugar social no qual alguns sujeitos vivem é exatamente a fronteira LOURO 2004 p 28 Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 479 Teoria da idenTidade soCial e disCriMinação A Teoria da Identidade Social foi proposta por Tajfel 1982 com o ob jetivo de explicar a dinâmica das relações interpessoais e intergrupais BREAKWELL 1993 Os conceitos importantes para a construção da TIS são estereó tipo social e identidade social De fato para entender o conceito de identidade social proposto por Tajfel 1982 é importante primeiro compreen der o conceito de estereótipo social Dessa forma será discu tido inicialmente o conceito de estereótipo social para então ser apre sentado o conceito de identidade social IS Tajfel 1982 levantou em suas pesquisas sobre preconceito duas possibilidades de estudo de estereótipo uma possibilidade é relacionada com a cognição e outra voltada para o entendimento social Em uma concepção estritamente cognitivista o estereótipo é a capacidade que um indivíduo tem de generalizar um conceito uma descrição para vá rios estímulos ambientais diferentes porém semelhantes O estereótipo é uma parte do processo de categorização que visa a simplificar siste matizar e facilitar a percepção das complexas e abundantes informações ambientais Para Tajfel 1982 a concepção cognitivista do estereótipo desconsidera a necessidade de estudos das interações sociais para se for mular leis individuais gerais pois o contexto social é considerado ape nas um gerador de classe de estímulos TAJFEL 1982 p 163 Partindo desse conceito o autor propõe o conceito de estereótipo social no qual são incluídas as interações sociais o contexto social na formação do estereótipo Assim os estereótipos sociais têm por característica serem comuns a um grande número de pessoas provém de e são estruturados pelas relações entre grupos sociais e entidades em larga escala O fun cionamento e utilização dos estereótipos resultam duma profunda interação entre esta estruturação contextual social e o seu papel na adaptação dos indivíduos ao meio social em que estão inseri dos TAJFEL 1982 p 163 Tajfel 1982 também apresenta as funções sociais do estereótipo causalidade social explicar a causa de fenômenos sociais justificação justifi ca as ações ocorridas entre grupos sociais e diferenciação diferenciar positi vamente o grupo próprio dos outros grupos sociais O conceito de estereó tipo social é utilizado para dar sustentação ao conceito de IS dessa forma A identidade social de um indivíduo é concebida como o conheci mento que ele tem de que pertence a determinados grupos sociais A este conhecimento está vinculado um significado emocional e de valor que só podem ser definidos através dos efeitos das cate ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 480 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 gorizações sociais que dividem o meio social de um indivíduo no seu próprio grupo e em outros TAJFEL 1982 p 294 O processo de construção dos estereótipos permite a criação de uma identidade social grupal tanto para o grupo a que o indivíduo pertence ingroup quanto para os outros grupos outgroups A aquisição e o desenvol vimento da identidade grupal são definidos pela percepção da posição que o indivíduo ocupa na sociedade pela comparação com outros indivíduos em relação à sua filiação em grupos sociais O processo de aquisição da IS é feito de forma classificatória e valorativa TAJFEL 1982 o processo cognitivo no entanto implica o reconhecimento do indivíduo como integrante de um grupo de pessoas com características próprias e que se diferencia dos outros grupos e dessa consciência de filiação decorre o julgamento sobre o seu gru po e os outros grupos Tanto o processo de reconhecimento quanto o de jul gamento envolvem certa demanda emocional DEL PRETTE DEL PRETTE 2003 Como o processo de construção da IS ocorre a partir da comparação entre o ingroup e o outgroup para que o primeiro seja caracterizado como positivo é necessário que o segundo seja caracterizado de forma negativa A comparação envolve também os interesses sociais circulantes Dessa forma como afirma Velho 1999 um grupo social pode ser objeto de valorização ou estigmatização dependendo do contexto em que é percebido Teoria das rePresenTaçÕes soCiais A Teoria das Representações Sociais TRS foi criada por Serge Moscovici na década de 1960 O conceito apareceu pela primeira vez em La pschanalyse son image et son public um estudo sobre como a sociedade francesa havia compreendido os conceitos psicanalíticos e de que forma os representava em seu cotidiano MOSCOVICI 1961 A TRS possibilitou a aproximação da Psicologia Social com a Sociologia visto que anteriormente a preponderante tradição norte americana estava mais voltada para as questões individuais Essa teoria permite esclarecer o que as pessoas pensam a respeito de um objeto no mundo e como essa forma de pensar influencia as práticas no cotidiano A TRS questiona a tradição norteamericana na qual existiria uma fron teira separando o individual do social e com isso apresenta uma rela ção de mão dupla em que a sociedade influencia o indivíduo e o indiví duo influencia a sociedade ABRIC 1998 JODELET 2001 As representações sociais são explicações e afirmações produzidas no cotidiano de indivíduos que interagem Representar um objeto é pro curar justificativas para transformálo de estranho em algo familiar para que se possa identificálo no meio social ABRIC 1998 Em outras palavras representar não é simplesmente duplicar ou reproduzir um sentido causal unidimensional mas vai além uma vez que significa a constituição do pró Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 481 prio indivíduo ao construir ou reconstruir uma realidade social e uma visão de mundo BANCHS 2000 Essa visão de mundo possibilita que esse sujeito dê um sentido aos seus comportamentos e entenda a realidade mediante seu próprio sistema de crenças regras e valores possibilitando ao indiví duo um lugar de entrada e adaptação à realidade ABRIC 1998 Os processos formadores das representações sociais foram des critos como aqueles de objetivação e de ancoragem A objetivação tem como função dar materialidade a um objeto abstrato duplicar um sen tido por meio de objeto ALMEIDA 2005 Em outros termos na obje tivação os conceitos abstratos ganham forma matéria na medida em que os significados abstratos são conferidos a um objeto Com isso é possível tornar familiar algo abstrato Como exemplo lembra o fato de comparar Deus a um pai o que faz com que a pessoa preencha a mente e desperte os sentimentos correspondentes LEME 1995 p 49 ao signi ficado do papel de pai conforme o contexto social em que está inserido A ancoragem tem a função de dar um sentido inteligível dentro de um contexto Ela ocorre quando há a incorporação ou assimilação de novos elementos de um objeto em um sistema de categorias familia res e funcionais aos indivíduos e que lhes estão facilmente disponíveis na memória ALMEIDA 2005 p 126 Moscovici 1961 em seu primei ro trabalho sobre a TRS exemplifica esse processo na psicanálise em que a terapia é uma estranha medicina sem remédios mas ao mesmo tempo assemelhase a uma confissão religiosa Na ancoragem e na objetivação é preciso decidir se o que está sendo avaliado é semelhante ou é diferente de um modelo e essa deci são não é neutra ela implica uma atitude para com a pessoa ou coisa e um desejo de considerála normal ou desviante LEME 1995 p 49 A participação dos afetos vista dessa perspectiva é de grande importância para o maior entendimento das representações sociais uma vez que os afetos são os mediadores em sua constituição ou seja é por meio dos afetos que são constituídos os vínculos com os grupos com as ideias e com a visão de mundo do indivíduo LANE 1995 De acordo com Arruda 2002 a compreensão pela qual as pes soas representam socialmente determinado objeto pode permitir ao pesquisador ir além da identificação dos elementos de representação so cial e possibilitar o entendimento do pensamento social A partir disso a autora sugere que apenas com esse conhecimento é possível trans formar ou quando menos entender as dificuldades para a transfor mação do pensamento social ARRUDA 2002 p 138 Segundo Abric 1998 as representações sociais possuem basi camente quatro funções compreensão e explicação da realidade social definição da identidade grupal e proteção da especificidade do grupo guia para comportamentos e práticas sociais e justificativa de tomadas de posição e de comportamentos Elas funcionam como um sistema de ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 482 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 interpretação do mundo regendo as relações entre as pessoas e deter minando seus componentes e suas práticas Desse modo as representa ções sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborada com objetivo prático e que contribui para a construção de uma realida de comum a um conjunto social JODELET 2001 p 22 a Teoria da idenTidade soCial e a Teoria das rePresenTaçÕes soCiais De acordo com o exposto sobre a TIS e a TRS verificase que uma teoria pode complementar a outra com a finalidade de melhor entender o objeto de estudo em questão a compreensão da homossexualidade para os adoles centes Isso porque as duas pressupõem uma questão essencial a importân cia do contexto social na compreensão de si do outro e do mundo Uma vez que a RS é a forma pela qual o indivíduo compreende o mundo podese afirmar que a IS é formada das representações sociais de si do ingroup e do outgroup Desse modo verificase que o processo de formação da identidade social faz parte do processo de compreensão e vivência do mundo que ocorre por meio das representações sociais Partindo das funções de cada um dos elementos RS e IS observa se que há uma justaposição em três questões que tanto a RS como a IS procuram explicar e compreender a realidade social justificar as tomadas de posição e de comportamentos e definir a identidade grupal Em relação à última questão Tajfel 1982 é mais específico indicando que na diferen ciação do grupo este sempre tenderá a ser identificado positivamente em relação aos outros Breakwell 1993 sugere teoricamente a possibilidade de integra ção das duas teorias Argumenta que a TIS é restrita ao explicar o pro cesso de formação identitário exclusivamente nas necessidades e mo tivações individuais ou seja na necessidade de uma identidade social positiva e sugere que a TRS pode contribuir com um modelo mais amplo sobre o papel do processo identitário A autora também afirma que a TRS pode ter contribuições da TIS pois pode permitir a compreensão dos processos que estão articulados para a formação de determinada RS Alguns estudos realizados com a TRS já têm procurado entender que processos estão presentes na formação das RS como estudo sobre a representação da Aids realizado por Joffe 1995 que verifica junto a homossexuais e heterossexuais britânicos e africanos que a respon sabilidade pela disseminação é sempre atribuída a um grupo externo De acordo com a autora a projeção da responsabilidade sobre grupos estranhos é um mecanismo de defesa que afasta tanto o próprio grupo como o Eu da Aids deixando intacta a sensação de controle Neste estudo para integrar as duas teorias será realizado o le vantamento das RS da homossexualidade com o objetivo de avaliar de que forma esse outro é compreendido e reconhecer os processos identi tários que são engendrados na formação dessas representações Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 483 MéTodo Tratase de uma pesquisa de natureza qualitativa que assume a postu ra teórica da composição cultural da realidade social e subjetiva FLICK 2004 Participaram desta pesquisa 283 alunos dos últimos anos do ensino fundamental da região metropolitana de um estado da Região Sudeste Desses 442 estudavam no oitavo ano e 558 no nono ano 537 eram do sexo feminino e 463 do sexo masculino 565 estudavam em escola pública e 435 em escola particular A média M da idade dos alunos na escola pública foi de 1415 anos e o desvio padrão DP de 134 já na escola particular temse M 1361 e DP 123 Quanto à renda familiar a maioria dos alunos da rede pública de clara ter renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos 506 188 entre 4 e 8 salários mínimos 44 acima de 8 salários mínimos e 146 não ter renda fixa 81 dessa população não respondeu a essa questão Um quadro inverso é observado em relação à população da rede particular de ensino 317 informou que a renda familiar é maior do que 8 salários mínimos 26 entre 4 e 8 salários mínimos 154 entre 1 e 3 salários mí nimos 181 não ter renda fixa e 122 não respondeu à questão Foi aplicado um questionário constituído de duas partes na pri meira parte havia dados pessoais idade sexo atividade laboral renda total familiar e local de moradia e na segunda parte questões abertas pertinentes ao objetivo da pesquisa As perguntas que compuseram o questionário foram O que é homossexualidade segundo o seu entendi mento O que a homossexualidade representa para você Quais são os comportamentos que caracterizam a pessoa homossexual Para você o que leva à homossexualidade A aplicação do questionário foi feita de modo coletivo em sala de aula e individual cada pessoa respondia o seu questionário de ma neira individual Para a análise dos dados foi utilizado o software Análise Lexical Con textual de um Conjunto de Segmentos de Texto Alceste1 A utilização de programas computacionais como o Alceste tem sido de grande auxí lio nas ciências sociais Isso porque os programas computacionais tornam mais sistemático e explícito o processo de pesquisa e desse modo mais transparente e rigoroso e por livrar o pesquisador de tarefas mecânicas tediosas e complicadas KELLE 2002 p 409 liberam mais tempo para ta refas criativas e analíticas Porém é importante ressaltar que as vantagens dos programas computacionais não vão além de um tratamento qualifica do dos dados que facilita mas não substitui o trabalho de interpretação ARRUDA 2005 p 247 Compete ao pesquisador fornecer as articulações e as explicações sobre o conjunto de dados da pesquisa que foi previamente organizado e sistematizado por programas computacionais A tese principal que embasou a construção do programa Alceste é que todo discurso expressa um sistema de mundos lexicais que possui 1 Analyse Lexical par Contexte dun Ensemble de Segment de Texte Todos os direitos reservados à IMAGE Tratase de um programa computacional de análise quantitativa de dados textuais desenvolvido por Max Reinert na Universidade de Toulouse II França ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 484 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 racionalidade e dá coerência ao discurso daquele quem fala O mundo lexical é evocado pelo conjunto de palavras que constituem uma frase ou um fragmento do discurso independente de sua construção sintática Nesse sentido o mundo lexical compreendido como a forma pela qual o indivíduo representa socialmente o mundo por meio da linguagem O programa tem como objetivo observar a noção de mundo lexical median te a análise estatística da ocorrências de palavras em um ou mais enun ciados DE ALBA 2004 Para este estudo utilizouse a análise estatística Classificação Hie rárquica Descendente CHD realizada pelo programa Para operar a CHD o programa efetua uma matrizpalavra por unidade contextual afir mações com o objetivo de investigar semelhanças e dessemelhanças es tatísticas das palavras visando a identificar padrões repetitivos de lingua gem O objetivo da CDH é conseguir uma divisão do corpus conjunto de respostas dadas em classes de tal forma que as classes não contenham palavras sobrepostas KRONBERGER WAGNER 2002 A CDH também apresenta a posição de cada classe sob forma de uma árvore dendrogra ma O dendrograma possibilita verificar a ligação entre as classes forte ou fraca e a representatividade de cada classe em percentil dentro do corpus avaliado Para a utilização do programa Alceste o corpus foi composto de to das as respostas dadas pelos que responderam a segunda parte do questio nário As respostas foram ordenadas da seguinte forma primeiro foram digitadas todas as respostas do primeiro respondente em seguida todas as respostas do segundo e assim sucessivamente até o último respondente Devido às diferenças lexicais entre os dois grupos pesquisados foi neces sário fazer a análise das respostas dos adolescentes da escola particular e dos adolescentes das escolas públicas em separado resulTados Como explicitado anteriormente a análise do corpus foi feita conside rando os grupos adolescentes de escola particular e de escola pública em separado Assim primeiro será exposta a análise dos adolescentes que frequentam escola particular e posteriormente a dos que frequentam escola pública Os exemplos dos discursos estão numerados pela ordem de apresentação no artigo Na figura 1 observase a análise do corpus dos alunos das escolas particulares Nela estão representadas três classes que foram denomina das pessoa com atração por outra do mesmo sexo classe 1 homem que deseja virar mulher classe 2 e homem que se comporta como mulher classe 3 As classes 2 e 3 possuem uma forte relação r 062 e a classe 1 tem uma fraca relação com as demais classes r 002 Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 485 figura 1 dendrograMa do CorPus das resPosTas dos adolesCenTes de esCola ParTiCular n 123 002 062 Classe 1 Classe 3 Classe 2 Pessoa com atração por outra do mesmo sexo homem que se comporta como mulher homem que deseja virar mulher formas X2 formas X2 formas X2 escolha 1284 homem 1778 homens 3790 opção 849 agir 1626 Querer 1952 pessoa 3062 andar 3916 Vontade ficar 1479 do 2696 falar 2676 mulher 2489 mesmo 3508 Jeito 1318 olhar 2289 sexo 3577 maneira 1100 Às vezes 2138 pensar 2221 Viado 1725 Vestir 4108 feio 3027 feminino 773 1103 6277 1556 2167 Fonte dados da pesquisa Na classe 1 está contido o discurso que considera o homossexual uma pessoa que se sente atraída por outra do mesmo sexo ou tem a opção sexual por uma pessoa do mesmo sexo Outra característica dessa classe é achar que a homossexualidade deve ser respeitada porém ao mesmo tempo contém um discurso que a considera um desvio Den tro dessa classe estão representados 6277 dos discursos encontrados nas escolas particulares que participaram da pesquisa Exemplos Uma pessoa que se atrai por pessoas do mesmo sexo Algo terrível Eu acho muito estranho e incompatível com a sociedade Respeitar a opção sexual da pessoa Na classe 3 a visão de homossexualidade está vinculada ao homem que se comporta como mulher pois fala como mulher se veste como mulher é delicado Quando a pessoa começa a ter muita frescura tem a voz fina e seu andar é delicado O jeito de andar de falar de se vestir de se comportar A classe 2 compreende os homossexuais como sendo homens com vontade de se transformar em mulheres Devido à proximidade da relação entre a classe 2 e 3 verificase em parte do discurso dos entrevis tados que a homossexualidade não está apenas em se vestir e se compor tar como mulher mas também em realizar modificações corporais que pode ser por meio de cirurgias plásticas para parecer mulher Nessa classe que abarca 2127 do discurso também estão presentes aspectos pejorativos e críticas A homossexualidade é quando os homens que rem virar mulher Às vezes tem homens que fazem até cirurgia para ficarem mais parecidos com mulheres ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 486 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 Embora na análise do discurso pelo programa Alceste não tenha surgido uma classe que indique as causas da homossexualidade esse discurso esteve presente A nãodivisão desse conteúdo em uma classe indica que ele esteve presente ao longo dos discursos mas que não foi muito significativo As causas citadas para a homossexualidade foram aspectos biológicos doença pecado escolha pessoal curiosidade insa tisfação pessoal e socialização Já nascem com essa vontade Para mim é uma doença a pessoa nasce ou não com ela Pessoas que não tem o entendimento de Deus que acabam des viando para um caminho de engano Novas experiências para saber como é namorar alguém do mesmo sexo Problemas familiares a vida vivida de forma solitária ou até mesmo a educação que a pessoa recebe A Figura 2 análise dos dados coletados em escolas públicas con tém três classes homossexualidade como inata ou como escolha pes soal classe 1 homossexualidade socialmente construída classe 2 e homem que gosta de homem e mulher que gosta de mulher classe 3 Observase uma fraca relação entre as classes 1 e 3 r 02 e ausência de relação entre a classe 2 e as outras classes r 00 figura 2 dendrograMa do CorPus das resPosTas dos adolesCenTes de esCola PÚBliCa n 160 00 02 Classe 1 Classe 3 Classe 2 homossexualidade como inata ou escolha pessoal homem que gosta de homem e mulher que gosta de mulher homossexualidade socialmente construída formas X2 formas X2 formas X2 acho 1217 desejo 1232 pai 11834 escolha 1216 ficar 2275 deixa 2440 pessoa 3595 Gay 1515 falta 1293 sexo oposto 3966 homem 7866 filho 8165 mesmo Jeito 1363 mulher 9424 mãe 5781 Nasceu 1360 Namorar 1221 Virar 2325 1173 sentir 1323 mão 4605 74 Viado 1177 rebolar 1396 safado 1396 bicha 1396 boiola 1843 5855 812 2167 Fonte dados da pesquisa Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 487 Na classe 1 encontrase o discurso em que o homossexual é uma pessoa que escolheu gostar de outra pessoa do mesmo sexo ou que a homossexualidade é inata isso é a pessoa nasce homossexual Os ado lescentes acrescentam que esta característica é normal e deve ser respei tada Além disso verificase um discurso baseado na religião que propõe de certa forma que esse comportamento não é adequado Essa classe engloba a maioria do discurso analisado 5855 A pessoa nasceu gay e tem esse dom Se ele se sente feliz dei xa ele ser feliz do jeito dele Uma pessoa de um determinado sexo que se interessa por pessoas do mesmo sexo Uma coisa supernormal cada um tem o direito de escolher sobre sua vida e praticar suas escolhas Mas como existe o bem e o mal o certo e o errado o pecado as pessoas acham que são donas de suas vidas e que não devem sa tisfação a Deus que tanto nos ama Observase que essa classe apresenta conteúdos contraditórios a homossexualidade é uma opção do sujeito versus a homossexualidade é determinada biologicamente a homossexualidade é normal versus a ho mossexualidade não é adequada Isso ocorreu pois o programa organiza as classes de acordo com a análise estatística da presença de palavras e não por análise semântica de palavras nesse caso as palavras escolha nasceu e jeito foram significativas para essa classe assim como as palavras errado x2 21 sendo que 100 dessa palavra presente no corpus está nesta classe e normal x2 24 sendo que 75 dessa palavra presente no corpus está nesta classe Observase ainda que o conjunto de palavras classificado nessa classe diferenciase do conjunto de palavras das outras classes Na classe 3 é predominante a ideia de que o homossexual é um homem que gosta de homem ou uma mulher que gosta de mulher Verificamse também nessa classe elementos negativos relacionados à homossexualidade Essa classe representa apenas 81 do discurso Na mora o mesmo tipo ou seja homem com homem e mulher com mu lher Um homem gostar de outro homem e uma mulher gostar de outra mulher é uma palhaçada uma poucavergonha Na classe 2 o discurso predominante indica que a homossexuali dade é construída socialmente por meio da criação e interação familiar Além disso observase a presença de aspectos pejorativos e elementos que identificam o homossexual com trejeitos tipicamente femininos Essa classe está representada por 333 do discurso O pai não dá atenção para o filho não explica para ele deixa ele com a mãe o menino aprende coisas de mulher ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 488 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 Às vezes tem alguns pais que falam que os filhos são boiola e por isso que alguns viram homossexuais Gay boiola viado safadeza semvergonha Mãomole modo de andar de falar disCussão Observase em parte do discurso analisado a aceitação da homossexua lidade como uma forma de existência inclusive com a expressão da ne cessidade de respeito à opção sexual das pessoas entretanto esse pen samento representa ainda minoria Verificase certa tolerância nas falas dos adolescentes o que pode ter levado à conclusão de SavinWillians 2005 de que os adolescentes e jovens sentemse mais livres para assu mir a sua opção sexual Ressaltase todavia que de acordo com o con junto dos dados é possível verificar que a vivência da homossexualidade ainda é muito discriminada A persistência da homossexualidade no campo da discrimina ção tem múltiplas causas como aponta a bibliografia Uma dessas cau sas relacionase à forma pela qual a homossexualidade tem sido conce bida na história da humanidade qual seja como uma anormalidade FOUCAULT 1988 Observando os dados verificamse dois tipos de discursos um agressivo em relação ao homossexual e outro que indica a necessidade de respeito para com esses indivíduos Vale ressaltar entretanto que o discurso do respeito por vezes é acompanhado de certo estranhamen to Ainda que se observem algumas conquistas em relação aos direitos civis dos homossexuais ARAN CORREA 2004 a sua vivência cotidiana permanece como alvo de grande discriminação social Uma questão que merece consideração é como os entrevistados concebem a homossexualidade é a vontade de o homem ser mulher e de a mulher ser homem Classe 2 e 3 para a escola particular e Classe 3 para a escola pública A afirmação de que é uma pessoa que gosta de pessoa do mesmo sexo Classe 1 para a escola particular e Classe 3 para a escola pública é uma outra forma de entender a homossexualidade A primeira forma de apreender a homossexualidade assemelha se à Teoria Uranista GREEN 2000 e está baseada nas normas heteros sexuais ou seja na dicotomia de gênero homemmulher LAQUEUR 1996 fazendo menção tanto ao comportamento quanto à vestimenta Essa forma acaba por categorizar as pessoas e consequentemente atri buir a elas uma identidade social Como aponta Tajfel 1982 o conceito de identidade social é sustentado pelo de estereótipo social Podese ob servar nos dados a função de diferenciação verificandose a diferencia ção dos homossexuais como pertencentes a um grupo com característi cas negativas vergonha safadeza terrível entre outros Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 489 A segunda forma de entender a homossexualidade está aparente mente mais próxima do pensamento queer que propõe que a sexualidade homossexual pode ser vivida de várias maneiras LOURO 2004 2008 O discurso que abarca essa forma de entender a homossexualidade ape sar de referir a necessidade do respeito a essas pessoas vem por vezes acompanhado de certa estranheza em relação a essa forma de lidar com a sexua lidade Essa estranheza também cumpre a função de diferencia ção De qualquer forma observase um avanço mesmo que pequeno ao afirmar a necessidade tanto no âmbito particular quanto no social do respeito à pessoa na sua individualidade e na sua opção de vida Ao observar os dois grupos separadamente verificamse diferen ças na linguagem utilizada para descrever a homossexualidade que tornaram necessário realizar a análise das respostas dos grupos pesqui sados em separado O discurso dos alunos da rede pública manifesta de maior agressividade e contém uma quantidade maior de aspectos pejo rativos que o discurso de alunos da rede particular Apesar da diferença na quantidade e no tipo de palavras utilizadas o conjunto dos discursos caracteriza negativamente os homossexuais Caracterização que tem por função justificar os estereótipos sociais TAJFEL 1982 na medida em que esse discurso pode ser utilizado para justificar qualquer ação em relação aos homossexuais e justificar comportamentos discriminatórios que podem chegar à violência JOFFE 1995 SOUZA 2004 Os dados também apontam para as causas da homossexualidade As razões indicadas pelos alunos são similares ao que vem sendo obser vado Para os alunos das escolas particulares as causas principais são a vontade de o homem ser ou virar mulher ou seja a homossexua lidade é justificada por uma lógica bidimensional de gênero GREEN 2000 COSTA 1995 ou uma opção sexual Além disso também aparecem os itens socialização insatisfação pessoal e curiosidade Para os alunos das escolas públicas a homossexualidade pode ser consequência de proble mas familiares opção sexual ou ainda mau caratismo SWAIN 2001 Constatase também em ambos os grupos que a homossexualidade pode ser vista como algo inato biológico FOUCAULT 1988 e em al guns casos ainda é considerada uma doença ou uma prática perversa FOUCAULT 1988 COSTA 1995 O conjunto dos resultados revela a construção do estereótipo social da pessoa homossexual De acordo com Tajfel 1982 o estereótipo social é construído por meio das interações sociais inter e intragrupais com o ob jetivo de permitir a adaptação do indivíduo ao seu meio social Para isso possui as funções de causalidade social diferenciação e justificação Nesta pesquisa ainda que se observe a elaboração de duas formas diferentes de entendimento sobre a homossexualidade verificase em ambos os casos a construção de um estereótipo da homossexualidade o que permite a sua diferenciação assim como pode permitir e justificar contra um grupo social ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 490 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 A construção dos estereótipos sociais da homossexualidade refere se a elementos das representações sociais sobre a homossexualidade Con siderando a TRS com base nos dados analisados é possível realizar duas discussões a primeira seria identificar o processo de ancoragem dessas RS e as suas razões Por meio do processo de ancoragem das RS é possível constatar que os entrevistados utilizam os elementos que estão a sua volta valores concepções crenças experiências entre outros para dar um sig nificado ALMEIDA 2005 ABRIC 1998 à homossexualidade Assim a par tir dos dados podese indicar que a representação social de homossexua lidade possui vários elementos entretanto é preciso ressaltar os elemen tos discriminatórios que podem estar ancorados na religião nos papéis tradicionais de gênero e nos aspectos da relação saúdedoença COSTA 1995 FOUCAULT 1988 A segunda discussão apresenta uma ampliação da forma pela qual normalmente os estudos em TRS têm sido realizados Perguntar por que essa representação e não àquela e qual a finalida de dessa RS para este grupo pode contribuir conforme sugere Arruda 2002 para a compreensão do pensamento social e a sua transformação Foi possível identificar pelos dados da pesquisa algumas razões na configuração das RS da homossexualidade 1 A estranheza no discurso pode estar relacionada com o medo provo cado por objetos sociais diferentes do que se considera padrão pois esses ameaçam o sentido de ordem e a sensação de controle das pes soas sobre o mundo 2 Na tentativa de retomar o sentido de ordem e de controle sobre o mundo é necessário o enquadramento desse objeto social ou seja tornar familiar aquilo que não é familiar Isso ocorre por meio das projeções individuais e grupais em determinado objeto que podem permitir a sua identificação ou a sua diferenciação Ambos os pro cessos são importantes na formação da identidade do indivíduo A identificação é processo psicológico pelo qual um indivíduo assimila um aspecto uma propriedade um atributo do outro e se transforma total ou parcialmente segundo o modelo desta pessoa LAPLANCHE PONTALIS 1971 p 295 Em outros termos identificarse implica sob a perspectiva individual a constituição da representação de si e da autoestima do ponto de vista social se rela ciona com as modalidades de pertencimento aos grupos os diversos papéis que a pessoa vive e as diversas representações em relação às quais ela se situa COUTINHO KRAWULSKI SOARES 2007 p 32 A diferenciação é o processo pelo qual o indivíduo se distan cia de outro mediante categorização positiva ou negativa Para Tajfel 1982 há uma tendência à valorização positiva do ingroup e negativa do Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 491 outgroup Diante dessa constatação Souza 2004 afirma que é por meio dos processos de categorização e identificação que é possível a produ ção de solidariedade e exclusão dos mais diversos tipos Evidenciase entretanto a exclusão moral que destitui os grupos e seus membros de suas características humanas SOUZA 2004 p 66 permitindo assim a produção de violência contra esses indivíduos 3 Os processos de identificação e diferenciação estão atrelados aos va lores e crenças presentes na história da sociedade além da posição e dos ganhos sociais que um grupo de natureza social pode alcançar por meio da relação intergrupal No caso desta pesquisa verificase a utilização de características negativas em sua maioria para a denominação de homossexuais Ape sar de os movimentos em defesa dos direitos dos homossexuais ARAN CORREA 2004 terem conseguido vitórias significativas no mundo todo o pensamento social ARRUDA 2002 sobre a homossexualidade está organizado de forma a caracterizála negativamente A transformação desse pensamento de acordo com os dados passa necessariamente pela reformulação dos valores e crenças da sociedade que assume o padrão heteronormativo RIOS 2007 até o alcance de relações sociais baseadas em princípios de equidade A pesquisa proporcionou duas contribuições fundamentais a viabilidade de articular duas teorias para compreender um fenômeno complexo e pouco estudado RIOS 2007 e o destemor de uma popula ção adolescente que não tem receio de manifestar opiniões em compa ração com a população adulta visibilizando um discurso de intolerância que precisa ser debatido socialmente e revisto com o objetivo de que se respeitem as individualidades e as diferentes sexualidades reFerÊnCias ABRIC J C A Abordagem estrutural das representações sociais In MOREIRA A S P OLIVEIRA D C Org Estudos interdisciplinares de representação social Goiânia AB 1998 p 2738 ALMEIDA A M O A Pesquisa em representações sociais proposições metodológicas In SANTOS M F S ALMEIDA L M Org Diálogos com a teoria da representação social UFPE 2005 p 117160 ARAN M CORREA M V Sexualidade e política na cultura contemporânea o reconhecimento social e jurídico do casal homossexual Physis Rio de Janeiro v 2 n 14 p 329341 juldez 2004 ARRUDA A Despertando do pesadelo a interpretação In MOREIRA B V CAMARGO JC NOBREGA BV Perspectivas teóricometodológicas em representações sociais João Pessoa UFPB 2005 p 229258 Teoria das representações sociais e teorias de gênero Cadernos de Pesquisa Campinas n 117 p 127147 nov 2002 ADOLESCENTES E HOMOSSEXUALIDADE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IDENTIDADE SOCIAL 492 CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 BANCHS M A Aproximaciones procesuales y estruturales al estúdio de las representaciones sociales Paper on Social Representation London v 9 p 31315 2000 BREAKWELL G M Social representations and social identity Papers on Social Representations Linz v 2 n 3 p 198217 2003 COSTA JF A Face e o verso estudos sobre o homoerotismo 2 São Paulo Escuta 1995 COUTINHO M C KRAWULSKI E SOARES D H P Identidade e trabalho na contemporaneidade repensando articulações possíveis Psicologia Sociedade Belo Horizonte v 19 n 1 esp p 2937 2007 DE ALBA M El Método Alceste y su aplicación al estúdio de las representaciones sociales del espacio urbano el caso de la Ciudad de México Papers on Social Representations London v 13 p 11120 2004 DEL PRETTE A DEL PRETTE Z A P Assertividade sistema de crenças e identidade social Psicologia em Revista Belo Horizonte v 9 n 13 p 125136 jun 2003 FLICK U Uma introdução a pesquisa qualitativa Porto Alegre Bookman 2004 FOUCAULT M História da sexualidade1 A vontade de saber Rio de Janeiro Graal 1988 GREEN J N Além do carnaval a homossexualidade masculina no Brasil do século XX São Paulo Unesp 2000 HEILBORN M L Ser ou estar homossexual dilemas de construção de identidade social In PARKER R BARBOSA R M Sexualidades brasileiras Rio de Janeiro Relume Dumará 1996 p 6389 JODELET D Representações sociais um domínio em expansão In Org As Representações sociais Rio de Janeiro Eduerj 2001 p 1744 JOFFE H Eu não o meu grupo não representações sociais transculturais da AIDS In GUARESCHI P A JOVCHELOVITCH S Org Textos em representações sociais 8 ed Petrópolis RJ Vozes 1995 p 297322 KELLE U Análise com auxílio de computador codificação e indexação In BAUER M W GASKEL G Org Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual prático Petrópolis Vozes 2002 p 393415 KRONBERGER N WAGNER W Palavraschave em contexto análise estatística de textos In BAUER M W GASKEL G Org Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual prático Petrópolis Vozes 2002 p 416441 LANE S T M Usos e abusos do conceito de representação social In SPINK M J Org O Conhecimento no cotidiano as representações sociais na perspectiva da psicologia social São Paulo Brasiliense 1995 p 5872 LAPLANCHE J PONTALIS J B Vocabulaire de psychanalyse Paris PUF 1971 LAQUEUR T Inventando o sexo corpo e gênero dos gregos a Freud Rio de Janeiro Relume Dumará 1996 LARA NETO O A A Teoria queer e as sexualidades no contexto brasileiro desafios teórico metodológicos In ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS 31 2007 Caxambu Anais São Paulo Anpocs 2007 LEME M A V S O Impacto da teoria das representações sociais In SPINK M J Org O Conhecimento no cotidiano as representações sociais na perspectiva da psicologia social São Paulo Brasiliense 1995 p 4657 LOURO G L Um corpo estranho ensaios sobre sexualidade e teoria queer Belo Horizonte Autêntica 2004 Gênero sexualidade e educação uma perspectiva pósestruturalista Petrópolis Vozes 2008 Priscilla de Oliveira MartinsSilva Eloisio Moulin de Souza Annor da Silva Junior Danielly Bart do Nascimento e Rafael Rubens de Queiroz Balbi Neto CADERNOS DE PESQUISA v42 n146 p474493 maioago 2012 493 MARTINS P O TRINDADE Z A ALMEIDA A M O O Ter e o ser representações sociais da adolescência entre adolescentes de inserção urbana e rural Psicologia Reflexão e Crítica Porto Alegre v 16 n 3 p 555568 2003 MISKOLCI R A Teoria queer e a questão das diferenças por uma analítica da normalização In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas 2007 p 119 MOSCOVICI S La Psychanalyse son image et son public étude sur la représentation sociale de la psychanalyse Paris PUF 1961 RIOS R R O Conceito de homofobia na perspectiva dos direitos humanos e no contexto dos estudos sobre preconceito e discriminação In POCAHY F Org Rompendo o silêncio homofobia e heterossexismo na sociedade contemporânea políticas teoria e atuação Porto Alegre Nuances 2007 p 3748 SAVINWILLIAMS R C The New Gay Teenager Cambridge Ma Harvard University 2005 SOUZA L Processos de categorização e identidade solidariedade exclusão e violência In SOUZA L TRINDADE Z Org Violência e exclusão convivendo com paradoxos São Paulo Casa do Psicólogo 2004 p 5774 SWAIN T N Para além do binário os queers e o heterogêneo Gênero Niterói v 2 n 1 p 8798 set 2001 TAJFEL H Grupos humanos e categorias sociais estudos em psicologia social 1 Lisboa Livros Horizonte 1982 VELHO G Individualismo e cultura notas para uma antropologia da sociedade contemporânea Rio de Janeiro Zahar 1999 PRISCILLA DE OLIVEIRA MARTINSSILVA Professora do Departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo priscillamartinssilvagmailcom ELOISIO MOULIN DE SOUZA Professor do Departamento de Administração da Universidade Federal do Espírito Santo eloisiomoulingmailcom ANNOR DA SILVA JUNIOR Professor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo annorsjgmailcom DANIELLY BART DO NASCIMENTO Aluna do Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo danybartnascyahoocombr RAFAEL RUBENS DE QUEIROZ BALBI NETO Aluno do Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo rafaelbalbihotmailcom recebido em Dezembro 2011 aprovado para publicação em maio 2012 Este artigo aborda o tema da homossexualidade e da homofobia utilizando como base teórica a Teoria da Identidade Social e a Teoria das Representações Sociais para compreender melhor o fenômeno da homofobia Nesse viés A Teoria da Identidade Social de Tajfel sugere que as pessoas desenvolvem sua identidade social através da adoção de grupos sociais aos quais elas se identificam Assim a homossexualidade pode ser entendida como uma das diferentes formas de identidade social ou seja se torna uma das categorias a partir das quais as pessoas se identificam Já a Teoria das Representações Sociais de Moscovici afirma que as representações sociais são sistemas complexos de pensamento socialmente elaborados e compartilhados que servem aos propósitos de orientação comunicação e justificação de comportamentos e atitudes Dessa forma a homofobia pode ser vista como uma das representações sociais presentes em nossa sociedade servindo para justificar comportamentos e atitudes discriminatórias em relação às pessoas homossexuais Nesse sentido os estudos realizados utilizando a articulação da Teoria da Identidade Social e da Teoria das Representações Sociais buscam compreender como a homofobia é construída e dividida socialmente pelos grupos que possuem outras identidades sociais ou seja como as identidades são construídas em oposição a outras e como as representações sociais são criadas justamente para manter essa oposição Para atingir seus objetivos o artigo utilizou uma metodologia qualitativa de análise de dados com auxílio de um software próprio realizado com adolescentes Foram utilizados estudos já existentes no campo da psicologia social para alimentar as análises O objetivo da pesquisa foi analisar a fenomenologia da homofobia sob a luz da Teoria da Identidade Social e Teoria das Representações Sociais A pesquisa foi conduzida em duas escolas públicas da cidade de São Paulo com estudantes do ensino fundamental e médio Ao todo foram selecionados 560 alunos que responderam a um questionário previamente elaborado contendo perguntas abertas e fechadas acerca do tema da homofobia Os dados coletados foram inseridos e analisados em um software específico de computador As respostas dos alunos foram codificadas e indexadas a partir de seis categorias previamente definidas pelos autores que contemplavam desde a frequência de situações de homofobia observadas pelos alunos até as características que eles percebiam em homossexuais As análises permitiram identificar padrões nos dados coletados como a influência da religião e da educação familiar na construção da homofobia e a influência da mídia na percepção acerca dos homossexuais Foram também verificadas as relações estabelecidas pelos adolescentes entre a homossexualidade e outras formas de desigualdade como o racismo e o machismo A partir da análise dos dados foi possível verificar que muitos dos estereótipos e preconceitos relacionados à homossexualidade são reproduzidos por adolescentes que ainda não tiveram a oportunidade de compreender a complexidade do tema Além disso a pesquisa apontou que a homofobia é um fenômeno ainda pouco estudado e compreendido o que ressalta a importância da articulação entre a Teoria da Identidade Social e Teoria das Representações Sociais para aprofundar a compreensão acerca do assunto Os resultados da pesquisa indicaram que os adolescentes ainda reproduzem muitos dos estereótipos e preconceitos relacionados à homossexualidade A análise dos dados coletados também revelou que a homofobia é um fenômeno pouco estudado e compreendido apesar de já terem sido feitos diversos avanços em relação à defesa dos direitos dos homossexuais no mundo todo Além disso foi possível verificar que a homofobia é uma representação social compartilhada que é criada para justificar comportamentos e atitudes discriminatórias em relação às pessoas homossexuais Os dados coletados também indicaram que a construção da homofobia está diretamente relacionada com a construção da identidade social ou seja as pessoas tendem a se identificar com grupos sociais que não incluem os homossexuais A influência da educação familiar e das religiões no processo de construção da homofobia também foi evidenciada na pesquisa Os resultados indicaram que a presença de valores heteronormativos é muito forte na vida das pessoas e que a construção de uma identidade homossexual pode gerar conflitos e desafios para os jovens Por fim a pesquisa indicou que a homofobia está diretamente relacionada aos processos de categorização e identificação presentes na história da sociedade Os processos de identificação e diferenciação estão atrelados aos valores e crenças presentes na sociedade além da posição social de um determinado grupo Este artigo aborda o tema da homossexualidade e da homofobia utilizando como base teórica a Teoria da Identidade Social e a Teoria das Representações Sociais para compreender melhor o fenômeno da homofobia Nesse viés A Teoria da Identidade Social de Tajfel sugere que as pessoas desenvolvem sua identidade social através da adoção de grupos sociais aos quais elas se identificam Assim a homossexualidade pode ser entendida como uma das diferentes formas de identidade social ou seja se torna uma das categorias a partir das quais as pessoas se identificam Já a Teoria das Representações Sociais de Moscovici afirma que as representações sociais são sistemas complexos de pensamento socialmente elaborados e compartilhados que servem aos propósitos de orientação comunicação e justificação de comportamentos e atitudes Dessa forma a homofobia pode ser vista como uma das representações sociais presentes em nossa sociedade servindo para justificar comportamentos e atitudes discriminatórias em relação às pessoas homossexuais Nesse sentido os estudos realizados utilizando a articulação da Teoria da Identidade Social e da Teoria das Representações Sociais buscam compreender como a homofobia é construída e dividida socialmente pelos grupos que possuem outras identidades sociais ou seja como as identidades são construídas em oposição a outras e como as representações sociais são criadas justamente para manter essa oposição Para atingir seus objetivos o artigo utilizou uma metodologia qualitativa de análise de dados com auxílio de um software próprio realizado com adolescentes Foram utilizados estudos já existentes no campo da psicologia social para alimentar as análises O objetivo da pesquisa foi analisar a fenomenologia da homofobia sob a luz da Teoria da Identidade Social e Teoria das Representações Sociais A pesquisa foi conduzida em duas escolas públicas da cidade de São Paulo com estudantes do ensino fundamental e médio Ao todo foram selecionados 560 alunos que responderam a um questionário previamente elaborado contendo perguntas abertas e fechadas acerca do tema da homofobia Os dados coletados foram inseridos e analisados em um software específico de computador As respostas dos alunos foram codificadas e indexadas a partir de seis categorias previamente definidas pelos autores que contemplavam desde a frequência de situações de homofobia observadas pelos alunos até as características que eles percebiam em homossexuais As análises permitiram identificar padrões nos dados coletados como a influência da religião e da educação familiar na construção da homofobia e a influência da mídia na percepção acerca dos homossexuais Foram também verificadas as relações estabelecidas pelos adolescentes entre a homossexualidade e outras formas de desigualdade como o racismo e o machismo A partir da análise dos dados foi possível verificar que muitos dos estereótipos e preconceitos relacionados à homossexualidade são reproduzidos por adolescentes que ainda não tiveram a oportunidade de compreender a complexidade do tema Além disso a pesquisa apontou que a homofobia é um fenômeno ainda pouco estudado e compreendido o que ressalta a importância da articulação entre a Teoria da Identidade Social e Teoria das Representações Sociais para aprofundar a compreensão acerca do assunto Os resultados da pesquisa indicaram que os adolescentes ainda reproduzem muitos dos estereótipos e preconceitos relacionados à homossexualidade A análise dos dados coletados também revelou que a homofobia é um fenômeno pouco estudado e compreendido apesar de já terem sido feitos diversos avanços em relação à defesa dos direitos dos homossexuais no mundo todo Além disso foi possível verificar que a homofobia é uma representação social compartilhada que é criada para justificar comportamentos e atitudes discriminatórias em relação às pessoas homossexuais Os dados coletados também indicaram que a construção da homofobia está diretamente relacionada com a construção da identidade social ou seja as pessoas tendem a se identificar com grupos sociais que não incluem os homossexuais A influência da educação familiar e das religiões no processo de construção da homofobia também foi evidenciada na pesquisa Os resultados indicaram que a presença de valores heteronormativos é muito forte na vida das pessoas e que a construção de uma identidade homossexual pode gerar conflitos e desafios para os jovens Por fim a pesquisa indicou que a homofobia está diretamente relacionada aos processos de categorização e identificação presentes na história da sociedade Os processos de identificação e diferenciação estão atrelados aos valores e crenças presentes na sociedade além da posição social de um determinado grupo