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Ciências Econômicas ·

Economia Internacional

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François Chesnais Finance capital today corporations and banks in the lasting global slump Boston Brill Academic Pub 2016 310 pp1 Ilan Lapyda Universidade de são PaUlo UsP são PaUlo São Paulo Brasil Com cinco livros publicados no Brasil2 além de arti gos o economista François Chesnais tornouse uma referência para os estudos críticos sobre a financei rização em todo o campo das ciências sociais tendo sido um dos pioneiros no tratamento da questão praticamente ignorada pelo mainstream da eco nomia até hoje Por empregar os termos da Escola da Regulação na primeira fase da sua obra anos de 1990 devido à importância dessa corrente no deba te francês3 foi por vezes considerado regulacionista Progressivamente essa via de análise perdeu força em seus textos em benefício de um maior recurso a Marx e foi abandonada a partir de 2006 O autor foi assim um dos poucos a teorizar a financeirização de modo mais aprofundado buscando retomar de perto a obra marxiana4 Tratase de um esforço fun damental na medida em que nesta não se encontra imediatamente a ideia de uma fase financeira ou de financeirização mas um quadro conceitual e analí tico indispensável A financeirização tal como entendida pelo au tor não significa somente o aumento da riqueza circulando em canais financeiros mas um longo processo histórico de transformações do capita lismo impulsionado fundamentalmente por uma situação de sobreacumulação do capital em âmbito mundial Esta culminou na recessão mundial dos anos de 1970 no fim do fordismokeynesianismo e na afirmação do neoliberalismo através de uma mundialização5 do capital operada cada vez mais pelos mercados e agentes financeiros Ao escrever La mondialisation du capital Chesnais percebeu a importância crescente das finanças de modo que a edição brasileira publicada dois anos depois possui acréscimos substanciais6 Chesnais 1996 p 13 nos dois capítulos que tratam da mundialização fi nanceira O livro seguinte uma obra coletiva tendo o objetivo de apresentar diferentes aspectos desse novo fenômeno já levou o título de La mondialisa tion financière A mundialização financeira Chesnais 1998b reconstituiu assim as prin cipais etapas dessa história até a década de 1990 que envolveu principalmente a abertura e desregu lamentação financeiras transformações do sistema monetário internacional o surgimentofortaleci mento de novos atores ligados ao capital portador de juros e ao capital fictício fundos de investimento e de pensão e seguradoras mudanças na ação do Estado política de juros de câmbio fiscal etc e na organização das empresas ampliação das ativi dades financeiras adoção de parâmetros financeiros de rentabilidade e as consequentes reestruturações produtivas e reconfiguração da relação de forças entre capital e trabalho vantajosa àquele e entre frações da classe capitalista em prol das finanças e do capitalpropriedade Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 332 Resenhas pp 331342 A primeira dessas etapas 19601979 iniciouse quando os sistemas monetários e financeiros ainda eram compartimentados e havia uma situação de fi nanças administradas e internacionalização finan ceira indireta Chesnais 1998b p 24 Nos anos de 1970 há o retorno de intensa especulação com moedas de modo que o mercado de câmbio foi o primeiro a ingressar na mundialização financeira A segunda etapa 19801985 caracterizouse pro priamente pelo golpe de Estado Chesnais 2005b p 40 dos credores com a desregulamentação e li beralização financeiras a partir da consolidação do neoliberalismo sobretudo nos Estados Unidos e no Reino Unido Nesse período surgiram novos pro dutos financeiros e houve a expansão dos mercados de títulos da dívida pública e a sua interligação em âmbito mundial A partir do Big Bang da City7 ingressouse na terceira etapa 19861995 Após a inclusão dos mercados de câmbio e de títulos da dí vida que continuaram crescendo e abrigando cada vez mais transações foi a vez dos mercados acioná rios serem abertos e desregulamentados em todo o mundo Nessa etapa os derivativos se multiplicaram a governança corporativa se consolidou como modo de gestão o shadow banking system8 encontrou novas oportunidades e ocorreu a incorporação de países emergentes com suas economias mais frágeis à mundialização financeira Em Finance capital today Chesnais tanto realiza uma síntese de seu trabalho das últimas duas décadas quanto analisa a situação do capitalismo no século xxi resultando em uma valiosa contribuição para a compreensão crítica do capitalismo Norteandose pelas indicações de Marx nos Grundrisse considera mais a sério a consolidação do mercado mundial9 p 10 onde a totalidade do sistema capitalista se consumaria Isso o conduz por exemplo a se debru çar mais sobre as economias emergentes10 de maior relevância inclusive o Brasil11 Nos capítulos 1 e 2 o autor retoma a reconstru ção histórica realizada anteriormente e a contribui ção teórica de Marx também e sobretudo no capí tulo 3 para então apresentar o que se poderia con siderar uma quarta etapa da financeirização Não se trata propriamente de uma nova rodada de expansão da mundialização financeira dado que ela já abarcava praticamente todo o mundo capitalista e seus mer cados mas de seu aprofundamento através de uma maior conexão entre os grandes bancos internacio nais de uma progressão na centralização e transna cionalização do capital da proliferação de produtos financeiros novas formas do capital fictício e do atingimento de certos limites do capitalismo Por meio de uma linguagem relativamente aces sível aos não especialistas em finanças12 são consi derados aspectos anteriormente não trabalhados a fundo pelo autor como as transformações do siste ma bancário e do crédito assim como o que estava e está em jogo na crise econômica e financeira mun dial iniciada em 2007 Essa crise foi um marco na medida em que pôs fim à mais longa fase de acumu lação da história do capitalismo p 25 e sua ocor rência revelou que havia novos processos em curso desde 2001 Infelizmente algumas questões são tra tadas de forma menos aprofundada compreensível na medida em que o intuito é abarcar diversos aspec tos relevantes do capitalismo atual Não obstante há apêndices interessantes e várias referências a outros trabalhos e relatórios para o leitor mais interessado O cuidado na apresentação de dados para susten tar a argumentação também se revela no capítulo mais teórico com boa referência a Marx e recurso à obra de David Harvey como comentador profícuo daquele13 bem como na exposição das divergências em relação a outros marxistas Para as ciências sociais brasileiras a importância da obra é inegável primeiramente pela maior aten ção dada à situação dos países em desenvolvimento em relação a livros anteriores do autor Além disso o entendimento adequado do fenômeno da finan ceirização cujos aspectos centrais estão resumidos na p 16 e dos processos recentes que o capitalismo 333 MayAug 2018 Resenhas atravessou é fundamental para a compreensão das transformações econômicas sociais sobretudo do mundo do trabalho e políticas pelas quais o Brasil tem passado Alguns exemplos a centralidade da dívida pública e da taxa de juros nas decisões go vernamentais brasileiras a política dos campeões nacionais de governos petistas e da atuação do bndes a atual crise política e a série de reformas Trabalhista da Terceirização da Previdência do Teto dos Gastos que são seu pontochave Nas próximas seções são comentados os pontos centrais do livro Crise de financeirização ou queda da taxa de lucro Já na Introdução do livro são adiantados aspectos primordiais do trabalho entre os quais justamente a concepção sobre a crise mundial atual Ela ocorre em um momento histórico caracterizado não só pela financeirização mas pela completude do mercado mundial com a entrada da China e dos países so cialistas do Leste EuropeuUnião Soviética e pelo abalo da hegemonia dos Estados Unidos que não seria mais capaz de sozinho erguer a economia mundial Contrariamente a Lapavitsas para quem se trataria de uma crise de financeirização pois não haveria queda de lucratividade Chesnais afir ma estarmos diante de uma crise do capitalismo tout court pp 12 Ou seja uma crise de sobrea cumulação e superprodução agravada pela queda da taxa de lucro adiada desde os anos de 1990 através da criação massiva de crédito e da incorporação da China à economia mundial A proposição da queda da taxa de lucro é um dos elementos controversos do livro e ainda deverá ser muito debatida pelos economistas em sua guerra de dados Lapavitsas e MendietaMuñoz 2016 por exemplo afirmam que a taxa de lucro caiu até os anos de 1980 tendo se estabilizado a partir de então Uma resposta a isso se encontra no capítulo 1 ao se con frontar também a tese de Husson p 29 de que a taxa de lucro nos países centrais têm aumentado Por um lado apontase o movimento descendente da taxa de lucro das empresas não financeiras nos Esta dos Unidos14 Por outro são apresentados os efeitos nas últimas décadas das contratendências à queda da taxa de lucro levantadas por Marx nO Capital Ou seja Chesnais busca justamente explicar ao longo da obra por quais expedientes a taxa de lucro pode se manter estável ou até se elevar por algum tempo sem que haja necessariamente aumento da produtividade ou da taxa de acumulação do capital intensificação da exploração do trabalho aumento da superpopu lação relativa atividades financeiras por parte das empresas apropriação pelos oligopólios de parte da maisvalia gerada por seus concorrentes ou por suas subcontratadas etc De todo modo a persistência do quadro de sobreacumulação em decorrência da insuficiente destruição de capacidade produtiva e da pouca eli minação de capital fictício devido aos salvamentos financeiros conduz ao diagnóstico de uma crise que teve seu curso interrompido e consequentemente da falta de perspectiva de sua superação Os países centrais ainda não teriam encontrado substituto para o modelo de crescimento impulsionado pela dívida debtled growth e os trabalhadores não te riam conseguido evitar que os custos recaíssem sobre os mais vulneráveis devido às pressões decorrentes da ampliação do exército industrial de reserva global pelo contingente chinês15 Duas dimensões da financeirização finance capital e financial capital Outro ponto fundamental da Introdução é concei tualterminológico Dados os mais de vinte anos de produção teórica do autor desde A mundialização do capital os diferentes termos próprios e citados por vezes semelhantes entre si e as inevitáveis questões de tradução para o português16 algumas confusões surgiram e com elas críticas nem sempre acertadas a Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 334 Resenhas pp 331342 Chesnais Talvez a principal seja a concepção equivo cada de que financeirização significaria uma mera hi pertrofia dos mercados financeiros ou uma progres siva indistinção entre o capital produtivo e o capital monetário que faria com que a valorização do capital deixasse de se basear na produção de mercadorias Consciente disso desde o início p 1 o autor diferencia conceitos relativos a duas dimensões interconectadas ainda que distintas da economia capitalista mundial contemporânea que se ligam à financeirização Primeiramente há o finance capital tradução em inglês do termo empregado por Hil ferding17 Na formulação de Chesnais referese às formas e consequências do entrelaçamento entre bancos globais altamente concentrados e interna cionalizados grandes empresas transnacionais in dustriais e de serviços e gigantes do comércio p 1 Sua configuração contemporânea é analisada ao longo do livro mas uma diferença importante em relação à Hilferding é colocada desde logo atual mente não haveria uma clara hegemonia dos bancos Os executivos de uma General Motors de um Wal Mart e de um Goldman Sachs estariam em patama res semelhantes18 e as grandes corporações indus triais seriam forçadas a destinar parte da maisvalia variando segundo a correlação de forças poderes de monopóliomonopsônio e posição na cadeia global de valor a essas outras modalidades de capital Esses gigantes oligopolistas por sua vez têm cada vez mais se envolvido com o financial capital o capital de investimento financeiro propriamente dito tradicionalmente gerido pelas instituições fi nanceiras cuja compreensão parte do conceito mar xiano de capital portador de juros Ou seja tratase da finance qua finance processos associados com e resultantes do crescimento espetacular ao longo dos últimos quarenta anos de ativos títulos ações deri vativos possuídos por empresas financeiras grandes bancos e fundos mas também pelos departamentos financeiros das empresas transnacionais e dos merca dos específicos em que operam p 1 Como ressalta Chesnais essa segunda dimensão da economia capitalista mundial colocou a classe trabalhadora em uma situação na qual enfrentam o capital como trabalhadores nas fábricas e como devedores na vida cotidiana O lucro financeiro produzido por empresas financeiras subiu de 15 20 do lucro total nos anos de 1980 para 40 às vésperas da crise de 20072008 nos Estados Unidos Houve elevação do ganho com taxas e comissões dos bancos devido às mudanças em sua atuação assim como de novos modos espoliativos de apropriação exploitative modes of appropriation p 75 dos sa lários dos trabalhadores19 juros e taxas sobre hipo tecas empréstimos estudantis cartão de crédito etc sobretudo nos Estados Unidos Semelhanças com a situação brasileira são nítidas Desde os anos de 1980 a concentração e cen tralização do capital industrial e do financial capital tornaramse então indissociáveis embora não in distintas Desse modo a financeirização diz respeito tanto às finanças como à produção ligase decerto ao aumento do capital de investimento financeiro em circulação mas também a um processo de oligo polização crescente do capital em todas as suas for mas em escala mundial sendo as atividades finan ceiras um de seus veículos e modos de reprodução fundamentais Certamente para enfatizar isso é que o título do livro leva o termo finance e não finan cial e que nos capítulos 4 a 6 Chesnais trata desses oligopólios globais e de seu modo de operação O capítulo 4 iniciase com uma análise de quatro casos mostrando como historicamente o finance ca pital se configurou de modo distinto nos países Ale manha Estados Unidos GrãBretanha e França sobretudo no que se refere ao predomínio dos ban cos Principalmente no caso dos Estados Unidos o desenvolvimento da acumulação financeira a emer gência dos fundos de pensão e o restabelecimento da força dos mercados de ações conferiu importância à questão da propriedade e do controle do capital Dessa forma a interconexão dos conselhos de ad 335 MayAug 2018 Resenhas ministração das empresas tornouse um elemento importante de análise embora segundo Chesnais a formação de uma classe capitalista mundial seja de difícil efetivação devido à grande concorrência entre as empresas oligopolistas20 De toda forma a imposição dos interesses das finanças através da governança corporativa e outros expedientes pro vocou uma série de transformações no país lógica curtoprazista da política de investimento e de retorno diminuição dos gastos em pd estraté gia empresarial de downsize and distribute enxuga mento da empresa sobretudo em termos de força de trabalho e distribuição de dividendos e desin dustrialização queda da participação da indústria e perda de competitividade Nesse sentido o autor busca em Lazonick a me lhor caracterização sobre o que ocorreu nos Estados Unidos nas últimas décadas uma transição da ên fase na criação de valor para a extração de valor p 104 Essa formulação vai ao encontro da questão da expropriação financeira de Lapavitsas ver nota 19 e da acumulação por espoliação de Harvey 2004 Um dos traços da financeirização portanto é a dissolução da antiga divisão entre as operações financeiras e não financeiras das grandes empresas embora analiticamente elas devam ser distinguidas p 112 Tanto empresas de produção e de comércio de mercadorias como General Motors e Wal Mart ampliam suas atividades financeiras com o lucro não reinvestido constituindo até bancos próprios como conglomerados financeiros passam a atuar nas ativi dades de produção e comércio como o Citigroup e o jp Morgan Chase Assim se perante os trabalhadores o finance ca pital se apresenta como um bloco entre as empresas oligopolistas há grande rivalidade da qual resulta a importância atual dos chamados lucros da circula ção expressão à qual Chesnais busca dar um sentido marxista Esses lucros do ponto de vista individual provêm do jogo de soma zero das atividades espe culativas o ganho de um é perda para o outro e da disputa entre esses gigantes pela apropriação da mais valia gerada na produção p 114 No final do capí tulo ainda é feita uma observação importante que poderia estar mais desenvolvida sobre os oligopó lios no setor de recursos naturais e petróleo no qual ocorre fusão entre renda e lucro tradicionalmente considerados como pertencentes a tipos de capita listas diferentes a receita obtida pela propriedade da terra somase à exploração do trabalho na obten ção do produto Desse modo nesse tipo de ativida de obtémse um lucro extra surplus profit baseado simultaneamente na posse de recursos naturais e na eficiência e brutalidade da organização capitalista da extração p 122 Finance capital e imperialismo No capítulo 5 a teoria clássica do imperialismo é retomada com base em Hilferding 1985 de modo a estabelecer as bases para o entendimento da confi guração contemporânea da internacionalização do capital produtivo ou seja do processo pelo qual a produção e apropriação de maisvalia são realizadas por capitalistas no exterior fora do seu país de base pp 133134 Ressaltase que Hilferding trouxe ele mentos de grande atualidade que explicam o espraia mento das transnacionais para o Terceiro Mundo nos anos de 1970 e 1980 tais como o lucro empre sarial no país de destino da exportação de capital ser maior devido à força de trabalho excepcionalmente barata os custos de produção serem baixos também porque a renda da terra é pequena ou puramente nominal e os lucros serem elevados em razão de privilégios especiais e monopólios Chesnais explica então as transformações ocorridas Na primeira geração de empresas multi nacionaistransnacionais consideradas sinônimo no livro isto é no pósguerra a integração era ho rizontal As filiais realizavam operações semelhantes à da matriz e segundo as necessidades do mercado doméstico ou das necessidades de exportação lo Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 336 Resenhas pp 331342 cais Até os anos de 1980 empresas estadunidenses com esse modelo de multiplantas estavam assim na dianteira da internacionalização do capital pro dutivo Com o início do processo de liberalização a partir do final dos anos de 1960 na Europa abriuse a possibilidade de uma incipiente divisão do trabalho no continente A abertura e desregulamentação dos governos Thatcher e Reagan possibilitaram então de fato a integração vertical das transnacionais ou seja a produção em diferentes países segundo uma divi são do trabalho estabelecida pela sede assim como o desenvolvimento do comércio intrafirmas que vale ressaltar corresponde atualmente a um terço do comércio mundial ver unctad 2013 A liberalização do comércio dos investimentos externos diretos e dos fluxos financeiros abriu ca minho para a aceleração da centralização de capital tendo o oligopólio global se tornado a única forma de estrutura de mercado do mercado mundial p 14221 Fusões e aquisições se tornaram mecanismos fundamentais e foram operacionalizados nos Esta dos Unidos principalmente por bancos de investi mentos que lucraram muito com taxas e comissões enquanto os Estados foram cruciais em outros paí ses como no caso do Brasil Para as transnacionais as fusões e aquisições por vezes na forma de aquisição hostil em outros países via Investimento Estrangei ro Direto ied se tornaram oportunidades estraté gicas Com base na caracterização do poder de mo nopólio entendido como a capacidade de moldar a trajetória da vida social sob o capitalismo em seu modo mais essencial p 144 Chesnais comenta os casos de oligopolização na indústria automobilísti ca farmacêutica e no agrobusiness Observase que a competição de preço só ocorre em última instância pois as empresas tentam superar umas às outras pela inovação de produtos escolhas estratégicas etc o que tende a conservar a lucratividade em cada setor O final do capítulo é dedicado a considerações sobre os países em desenvolvimento reservandose alguns parágrafos para o Brasil Um dado relevan te é que atualmente alguns deles principalmente os Bric entraram no jogo dos oligopólios mundiais em grande parte por meio de empresas estatais ou esti muladas pelo Estado com destaque para a atuação do bndes no Brasil Os fundos soberanos22 tam bém se desenvolveram intensamente nos últimos anos e embora a maior parte se volte para países do centro uma fração é investida via ied em recursos naturais de países em desenvolvimento Por fim há o crescimento do ied das transnacionais desses países através de fusões e aquisições em outros países do Sul Em boa parte dos casos isso se deve ao vácuo deixado por desinvestimento dos países desenvol vidos inclusive no setor financeiro O capítulo 6 concentrase no modo de opera ção das empresas transnacionais nas últimas décadas cujo traço principal é a evolução da internaciona lização para a mundialização Com a liberalização comercial e dos fluxos de ied uma segunda onda de mundialização se inicia a primeira tendo ocor rido no final do século xix culminando em cadeias globais de valor mais complexas a partir da metade dos anos de 1990 A produção se divide entre mais países primeiramente com filiais em seguida com a subcontratação de pequenas e médias empresas O uso de tecnologia da informação e da comunicação permitiu o incremento da maisvalia a redução dos custos de transporte e a apropriação de valor das empresas subcontratadas como uma das formas de lucros da circulação Após uma breve avaliação crítica da teoria da administração sobre as cadeias globais de valor Chesnais prossegue explicando que a situação das cadeias de produção de mercadorias atualmente é de tipo comandado pelo comprador buyerled Os gigantes do varejo por exemplo conseguiram estabelecer formas predatórias de apropriação de valor dos produtores menores através de seus pri vilégios de monopsônio23 Além disso nos anos 2000 o amplo recurso das transnacionais em geral à terceirização e à produção em outros países off 337 MayAug 2018 Resenhas shoring tornouse central e elevou drasticamente a exploração do trabalho Uma interessante e im portante constatação do autor é de que nas últimas quatro décadas observouse assim uma progressiva desintegração vertical p 163 externalizase uma série de etapas ou processos produtivos sem perder de fato o controle sobre estes mas livrando se de responsabilidades e dos riscos de flutuações de mercado e apropriase de valor produzido por empresas terceirizadas ou parceiros comerciais mais frágeis normalmente operando em países com níveis salariais menores A consequência de tamanha fragmentação e dis persão das atividades produtivas é que atualmente cerca de 60 do comércio mundial se refere a bens e serviços intermediários que compõem alguma etapa do produto final e que nos últimos 25 anos o comércio mundial cresceu mais rápido do que o pib Além disso as cadeias globais de valor tornaram os países em desenvolvimento de perfil exportador muito vulneráveis à demanda mundial já que esses chamados nonequity modes de produção internacio nal são ainda mais voláteis que o ied A expansão do comércio SulSul ainda depende bastante do fun cionamento dessas cadeias agravandose pelo fato de que em muitos países as exportações estão concen tradas em poucas empresas No Brasil por exemplo 1 das empresas exportadoras concentram 56 das exportações e 10 das empresas 98 das exporta ções p 168 Capital fictício e o sistema financeiro mundial O capítulo 7 é dedicado à evolução da mundializa ção financeira e à expansão de novas formas de capi tal fictício De início mostrase o aumento expres sivo de fluxos financeiros internacionais entre 1990 e 2007 e que os fluxos brutos de capital subiram de 10 do pib mundial em 1998 para 30 em 2007 p 174 Essa expansão foi resultante de operações entre economias avançadas a participação de emer gentes sendo bem inferior Porém o mais relevante é o significado desse movimento O autor explica que o forte aumento dos indicadores de mundialização financeira no período é resultado e causa da acumu lação financeira Quando a taxa de lucro começa a cair uma fração maior do capital assume a forma de capital portador de juros em busca de rentabili dade Assim entrando em outro ponto polêmico afirma que o aparente desvio de investimento das empresas para mercados financeiros visão póskey nesiana24 assinalaria na realidade o declínio das oportunidades lucrativas de investimento estado de sobreacumulação do capital Nesse contexto os fluxos financeiros para den tro e para fora entre os Estados Unidos e o resto do mundo se tornaram a partir dos anos de 1990 uma das características mais importantes das rela ções macroeconômicas no âmbito mundial Eles ti veram papel importante na crise mundial de 2007 na medida em que os fluxos para dentro dos Estados Unidos se concentraram nos setores privado e liga dos a hipotecas provindos da Europa na sua maioria Além disso em grande medida devido aos fundos de investimento e de pensão e às seguradoras as transações nos mercados de câmbio e de derivativos se tornaram as mais difundidas sendo muito mais volumosas embora menos visíveis e reveladoras do humor do mercado que as dos mercados de títulos e ações Mesmo após o início da crise essas transa ções continuaram elevadas entre outros fatores devi do à relativamente reduzida destruição de capital fic tício e elevada injeção de liquidez pelo fed mas com aumento do investimento em mercados emergentes nos quais havia maiores possibilidades de ganho Outro ponto importante do capítulo são as con siderações sobre os derivativos Estes se tornaram nos anos 2000 a principal forma de transação finan ceira internacional Seu volume e importância é tal que alguns autores de forma fetichista viram neles a forma contemporânea do dinheiro mundial o que é criticado por Chesnais Como o próprio nome Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 338 Resenhas pp 331342 diz esses produtos são atrelados a um ativo de base que inicialmente eram sobretudo moedas ou juros Por serem uma reivindicação sobre uma reivindi cação previamente estabelecida de futuras receitas citação de Ivanova na p 182 os derivativos são uma forma peculiar de capital fictício em relação à qual a fronteira entre a necessidade de proteção hedge e especulação é impossível de estabelecer Recentemente outros tipos de ativos subjacentes foram sendo utilizados sobretudo em derivativos negociados em balcão pouco regulados sendo considerados uma forma de capital fictício à ené sima potência Um deles se tornou muito transa cionado os credit default swaps cdss e foi um dos pivôs da crise pelo fato de seus riscos se tornarem sistêmicos No final do capítulo mais uma vez a atenção se volta aos países em desenvolvimento inclusive o Brasil pp 190192 que ganharam importância com a relativa desaceleração da mundialização finan ceira decorrente da crise Entre outros fatores dada a melhora geral da dívida externa desses países e as baixas taxas de juros praticadas no centro os fluxos de capital para os primeiros retornaram em 2012 os países em desenvolvimento respondiam por 32 dos fluxos de capital mundiais ao passo que eram 5 em 2000 p 189 Ainda nesses países como resultado da abertura dos anos de 1990 de modo geral houve uma internalização da dívida pública embora esta esteja controlada por estrangeiros A oligopolização e a transformação do sistema bancário e do crédito são tratadas no capítulo 8 como um passo da conexão entre a situação geral do capitalismo contemporâneo sua organização e forma de exploração do trabalho e de obtenção de lucro e a análise mais detida da atual crise mundial e de seu contexto mais imediato Em suma nos anos que antecederam a crise o sistema de crédito sofreu um processo de degeneração baseado no excesso de capital monetário em busca de lucros financeiros que se caracterizou por um crescimento espetacular do nível de endividamento das empresas financeiras perante o qual os governos foram permissivos Desde os anos de 1970 a atividade dos bancos comerciais esteve ameaçada pela desintermediação dos empréstimos operada pelos novos atores finan ceiros fundos de pensão e de investimento e o fortalecimento do mercado de títulos em geral Isso obrigou os primeiros a uma diversificação de suas atividades possível graças ao processo de liberaliza ção e desregulamentação que se seguiu reforçado pelo processo de concentração do setor a partir dos anos de 1990 tanto na Europa quanto nos Estados Unidos A virada para os anos de 1990 foi funda mental quando a inovação técnica criou novos ins trumentos para empréstimo interbancário reduzin do a necessidade de grandes reservas em dinheiro e abrindo o caminho para a alavancagem Os bancos comerciais então criaram fundos de investimento para seus clientes passaram a oferecer serviços de administração para fundos de pensão e até a investir em hedge funds25 A fronteira entre as transações para os clientes e para si próprios proprietary trading também se tornou difícil de estabelecer O único campo em que os bancos comerciais ainda ficavam atrás era o da emissão de securities26 um tipo de operação que viria a se tornar um dos pivôs da crise mundial A centralização do setor bancário e a modificação de legislação cujos passos principais na Europa e nos Estados Unidos são resu midos ao longo do capítulo abriram caminho para um novo modelo de atividades bancárias sobretu do a partir de meados dos anos 2000 o criar para distribuir originate to distribute Utilizandose do processo de securitização bancos passaram a transa cionar uma série de produtos que não apareciam em seus balanços pois eram junto com os riscos repas sados ao mercado Desse modo não contrariavam as limitações regulatórias de suas atividades Chesnais expõe o malabarismo técnico envolvi do nessas operações special purpose vehicles fatia mento e empacotamento de ativos etc e ressalta seu 339 MayAug 2018 Resenhas alcance sistêmico p 210 A multiplicação dessas operações em relação a hipotecas de famílias nos Estados Unidos a partir de 2003 alimentou e foi alimentada por uma bolha imobiliária A enorme quantidade de capital fictício criada circulava pelo shadow banking system e estimulou seu desenvol vimento O risco sistêmico ampliouse sem muito controle sobretudo pela interconexão dessas opera ções com a de bancos e seguradoras e porque hoje as atividades de shadow banking system se elevaram também em outras partes do mundo inclusive ten do crescido nos países emergentes A crise mundial Os capítulos 9 e 10 tratam propriamente da primeira grande crise de crédito póssecuritização segundo o autor Diferentemente de 1929 quando ocorreu primeiramente um crash da bolsa houve uma enor me crise bancária imediata marcada por uma retra ção do crédito entre corporações financeiras27 Os protagonistas foram os bancos de investimento e os hedge funds que são analisados por Chesnais Eles se tornaram muito alavancados nos anos imediata mente anteriores à crise para além da alavancagem latente embedded leverage existente devido ao risco sistêmico mencionado anteriormente Isso se ria decorrência da diminuição dos fluxos de valor devido à queda da taxa de acumulação bem como da resultante pressão colocada sobre os administrado res para conceberem formas de investimento que equivaliam a redistribuições de valor já criado As baixíssimas senão negativas taxas de ju ros nos países centrais nos últimos anos criaram problemas também para fundos que deveriam ser mais conservadores como os de pensão que fo ram levados a assumir mais riscos Por outro lado pelo mesmo motivo o endividamento privado foi estimulado e aumentou desde 2003 tendo sido par ticularmente rápido nos países emergentes Ambos os fatores compuseram as causas da crise ou insta bilidade atuais porém as autoridades não possuíam uma teoria do risco e do contágio em um sistema que lidasse com o capital fictício Não houve portanto capacidade para lidar com a alta centralização dos fundos de investimento nem com as entradas e saí das volumosas e rápidas de investimento financeiro propiciadas pelas tecnologias recentes Além disso alguns dos mecanismos de contágio também mudaram Comparandose com a crise de 1998 percebese que esta teve seu alastramento e portanto seus impactos restritos em certa medida permitindo que um grupo de bancos pudesse lidar com ela Dado o alto grau de securitização e o shadow banking system que ampliara a interconexão entre o sistema financeiro da Europa e dos Estados Unidos a crise de 2008 teve alto grau de transmissão e exigiu maciça intervenção governamental Aparentemente as medidas do governo estadunidense atingiram o objetivo de estabilizar a economia ao preço do fed ter transferido para o seu balanço uma grande quan tidade de junk bonds Já a Europa devido ao desenho políticoinstitucional da União Europeia sofreu uma segunda rodada de crise bancária em 2010 permane ce com a perspectiva de novas crises e teve que lidar com a questão da Espanha e da Grécia Esta é após a análise da situação europeia tomada como um caso exemplar da primazia dos interesses financeiros a maior parte da dívida grega foi transferida do setor privado para o público e apenas 11 do financia mento ao país foi usado para custear as operações do Estado grego mais de 80 do montante dos auxílios foi para salvar o setor financeiro Assim a intensi dade das transações financeiras a diversidade de ati vos transacionados os potenciais canais de contágio financeiro e as expressões da instabilidade financeira mundial endêmica são impressionantes p 255 Estagnação mundial e limites absolutos do capitalismo A Conclusão iniciase com uma necessária retomada dos objetivos do livro e de seus principais pontos Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 340 Resenhas pp 331342 assim como das dificuldades de pesquisa e cami nhos de investigação a serem trilhados A intenção de abarcar aspectos históricos de curto e de médio prazos teóricos institucionaisregulatórios econô micos e políticos do capitalismo contemporâneo e da crise atual somada à complexidade do fenômeno da financeirização mostra que o caráter por vezes fragmentado dos capítulos com algumas desconti nuidades dos subitens é uma quaseimposição do objeto As constantes referências a outras partes do texto mostram a consciência do autor dessa dificul dade e sua preocupação em orientar o leitor Entre os principais pontos abordados na parte final figura o diagnóstico do momento atual um regime de baixo crescimento sem final previsível cujo fundamento seriam as oportunidades de inves timento insuficientes devido ao estado da taxa de lucro e da dificuldade de realização da maisvalia O período de uma economia mundial impulsionada pela China que não escapou da desaceleração eco nômica é considerado como terminado Somente as grandes transnacionais teriam conseguido restaurar sua lucratividade mas seus poderes de oligopólio as dispensariam da urgência em investir Além disso a massa de capital monetário com dificuldades de se valorizar financeiramente seria responsável pela instabilidade crônica dos mercados financeiros Levantamse alguns mecanismos possíveis em bora nem todos prováveis para a saída dessa situa ção Se diferentemente dos anos de 1930 as grandes potências não estão se preparando para uma grande guerra que levaria a uma destruição de capital neces sária à retomada da acumulação restam a completa mercantilização dos serviços públicos e formas adi cionais de acumulação por espoliação o crescimento das classes médias de grandes países emergentes e novas revoluções tecnológicas Para Chesnais con tudo nenhuma dessas soluções parece ser suficiente e há ainda o problema dos limites absolutos do ca pitalismo mundial crise ecológica28 que ameaçam não só a continuidade do sistema capitalista mas da sociedade civilizada p 264 Assim prevêse que o fraco crescimento e a instabilidade financeira somados ao caos político decorrente vão convergir com os impactos sociais e políticos das mudanças climáticas O aquecimento global e o esgotamento ecológico constituemse segundo o autor em bar reiras imanentes ao capital em sentido forte que não poderão ser superadas tal qual indicado por Marx no volume iii dO Capital pela desvalorização periódica do capital existente nem por meios que recriem essas barreiras em uma escala ainda maior A financeirização é pois um mecanismo que tem dado sobrevida ao capitalismo mas acirrando suas contradições A questão é até quando e o que so brevirá Embora sejam mencionadas as lutas sociais e ambientais em várias partes do mundo a resposta fica no ar e não parece muito animadora Notas 1 Agradeço a Clarisse Coutinho Ribeiro pelos comentários ao texto eximindoa contudo da responsabilidade pelas imper feições deste texto 2 Levando em conta autoria e coautoriaorganização Chesnais 1996 1998a Chesnais et al 2003 Chesnais 2005a e Chesnais et al 2010 3 Mas também fora dele Na mesma época David Harvey 1993 assumidamente realiza uma análise regulacionista do capitalismo contemporâneo 4 Ver particularmente o capítulo do autor em A finança capi talista Chesnais et al 2010 5 Respeitase neste texto a tradução consagrada em português do termo mondialisation empregado pelo autor Os termos em francês mondialisation e globalisation muitas vezes são em pregados como sinônimos No campo crítico no entanto a preferência é pelo primeiro de modo a se distanciar do caráter vago e mesmo apologético que o termo anglófono globaliza tion por vezes possui de um mundo que se integra mais e de culturas que compartilham mais entre si obscurecendo a questão do capital 6 Por uma questão de clareza neste texto serão usadas aspas duplas para citações e aspas simples fora das citações para 341 MayAug 2018 Resenhas palavras com emprego não convencional neologismos etc 7 Conjunto de medidas liberalizantes colocadas em prática num curto espaço de tempo na praça financeira londrina que pressionou os mercados de outros países a também realiza rem mudanças nesse sentido Uma das consequências foi a concentração bancária que deu origem a grandes bancos de investimentos 8 Setor paralelo aos bancos comerciais que combina o dinheiro como capital centralizado por basicamente fundos de inves timento e de pensão 9 As referências a Finance capital today serão indicadas apenas com o número da página e as citações são de tradução nossa 10 O autor utiliza tanto o termo emergente quanto em de senvolvimento para designar paíseseconomias não centrais Aqui eles serão empregados em cada ocasião conforme o uso no livro 11 Os livros anteriores se concentravam no sistema mundial e nos países centrais Europa e Estados Unidos praticamente Pier re Salama especialista em economias emergentesperiféricas é que ficou a cargo do tratamento dessa questão em capítulos de obras coletivas 12 Há um glossário de termos financeiros no final do livro 13 Em A finança capitalista Chesnais já mobiliza mais a obra de Harvey na argumentação porém o recurso a ela em Finance Capital Today é sensivelmente maior Os benefícios analíti cos de explorar as relações entre a produção dos dois autores levaramme a tratar do assunto ver Lapyda 2011 14 Husson 2017 volta a insistir em sua tese com base em dados sobre o aumento da taxa de lucro e a estabilidade ou mesmo queda da taxa de acumulação 15 Este último ponto leva Chesnais a discutir no final do capí tulo 6 a questão da superexploração da força de trabalho e do subimperialismo A posição do autor é de que a interna cionalização do grau médio de habilidade e intensidade do trabalho produtividade do trabalhador com a existência de diferenças salariais em cada país explica a desindustriali zação das economias centrais assim como os lucros obtidos na periferia 16 Das obras publicadas no Brasil talvez a Finança Mundiali zada seja a que mais se prestou a malentendidos pela diver sidade de termos empregados à qual o próprio autor atenta O capital portador de juros também designado capital fi nanceiro ou simplesmente finança não foi levado ao lugar que hoje ocupa por um movimento próprio p 35 Para uma breve consideração sobre os termos empregados por Marx e por Chesnais ver Lapyda 2011 Anexo ii 17 Em seu livro mais famoso Das Finanzkapital Capital finan ceiro na tradução brasileira Hilferding 1985 18 Evidentemente a configuração varia entre os países Ches nais afirma que na Alemanha ainda são perceptíveis traços da posição privilegiada dos bancos pp 9495 Também nessa questão o autor diverge de Lapavitsas 2009 p 143 ss para quem a teoria do finance capital é incompatível com a situação atual 19 O termo é emprestado de Lapavitsas que passou a empregar a expressão mais sucinta de expropriação financeira Lapa vitsas 2009 Lapavistas e MendietaMuñoz 2016 20 Na Europa a existência da União Europeia imporia às grandes empresas a necessidade econômica e política de buscar o apoio dos seus paísessede no jogo da concorrência de modo que a interconexão dos conselhos de administração seria mais difícil e a formação de uma classe capitalista transnacional ainda mais distante Por outro lado estudos recentes têm revelado um aumento das interconexões e o setor financeiro é justamente aquele em que há maior transnacionalização pp 106108 21 O mesmo relatório da unctad citado anteriormente mostra que 80 do comércio mundial ocorre nas cadeias globais de valor ligadas às transnacionais 22 Detidos por Estados sobretudo aqueles com grandes exce dentes nas exportações devido normalmente ao petróleo e outros recursos naturais 23 É analisado o caso do Wal Mart que se tornou modelo ao lograr um incrível rebaixamento de salários além de impor condições draconianas a seus fornecedores 24 Tal visão é agora criticada Porém o autor flertou com ela em textos mais antigos ver Chesnais 1998b 2005b na forma como empregou os termos punção da finança e atonia da produção por exemplo 25 Tipo de fundo de investimentos menos regulado e normal mente de perfil mais agressivo 26 A definição de securities é vaga e basicamente referese a títulos financeiros negociáveis Sobretudo quando se trata de títulos de dívida sua difusão pelo mercado em tese diminui os riscos de crédito 27 Em outra ocasião Chesnais 2010 p xiii afirma ainda que na década de 1920 o chamado à realidade da economia Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 2 342 Resenhas pp 331342 real em relação à bolha da bolsa foi rápido ao passo que desta vez não é uma bolha financeira a mais que explode É uma imensa construção fictícia que está caindo um mundo fetiche que se esvai 28 Assunto que o autor já vem tratando há alguns anos em seus artigos Referências Bibliográficas Chesnais François 1996 A mundialização do capital São Paulo Xamã Chesnais François 1998a A mundialização financeira gênese custos e riscos São Paulo Xamã Chesnais François 1998b Introdução In Ches nais François org A mundialização financeira gênese custos e riscos São Paulo Xamã pp 1133 Chesnais François et al 2003 Uma nova fase do capitalismo São Paulo Xamã Chesnais François 2005a A finança mundializada raízes sociais e políticas configuração consequências São Paulo Boitempo Chesnais François 2005b O capital portador de juros acumulação internacionalização efeitos econô micos e políticos In Chesnais François org A finança mundializada raízes sociais e políticas configu ração consequências São Paulo Boitempo pp 3567 Chesnais François et al 2010 A finança capitalista São Paulo Alameda Chesnais François 2010 Prefácio In Marques Rosa Ferreira Mariana org O Brasil sob a nova ordem a economia brasileira contemporânea uma análise dos governos Collor a Lula São Paulo Saraiva pp ixxv Harvey David 1993 Condição pósmoderna São Paulo Loyola Harvey David 2004 O novo imperialismo São Paulo Loyola Hilferding R 1910 1985 O capital financeiro São Paulo Nova Cultural Husson Michel 2017 Le capital financier et ses limites autour du livre de François Chesnais Disponível em httpalencontreorgeconomie lecapitalfinancieretseslimitesautourdulivrede francoischesnaishtml consultado em 2362017 Lapavitsas Costas 2009 Financialised capitalism crisis and financial expropriation Historical Materia lism 17 2 114148 Lapavitsas Costas MendietaMuñoz Ivan 2016 The profits of financialization Monthly Review online 68 3 jul httpsmonthlyreview org20160701theprofitsoffinancialization Lapyda Ilan 2011 A financeirização no capitalismo contemporâneo uma discussão das teorias de François Chesnais e David Harvey São Paulo dissertação de mestrado Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Unctad 2013 80 of trade takes place in value chains linked to transnational corporations Dis ponível em httpunctadorgenpagesPressRe leaseaspxOriginalVersionid113 consultado em 2752016 Texto recebido em 1982017 e aprovado em 26102017 doi 101160601032070ts2018137236 ilan lapyda é doutorando em sociologia na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo ppgsusp Email ilanlapydauspbr