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Psicologia Social
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Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 httpsdoiorg10159019823703002612015 Disponível em wwwscielobrpcp Oficinas com Usuários de Saúde Mental a Família como Tema de Reflexão Raquel Souza Coelho Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Thelma Maria Grisi Velôso Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Sibelle Maria Martins de Barros Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Resumo Com o advento da Reforma Psiquiátrica as ações em saúde visam promover a autonomia e o protagonismo dos usuários a partir de uma visão integral de sujeito em que se consideram os diferentes contextos e os grupos sociais de que ele faz parte incluindo a família Tal mudança paradigmática contribuiu para o abandono da perspectiva individual na assistência à saúde mental e ampliou o olhar e as ações dos profissionais para os grupos familiares As problemáticas trazidas por diferentes usuários passam a ser compreendidas com uma visão psicossocial em que se focalizam as relações interpessoais e familiares Nesse contexto este artigo relata uma experiência com um grupo de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial CAPS III da cidade de Campina GrandeParaíba com base na Psicologia Social Comunitária As intervenções psicossociais tinham o objetivo de promover o protagonismo dos usuários e sua corresponsabilização nos processos familiares por meio de oficinas semanais sobre temas relacionados à família Constatouse que o conceito de família romântica e idealizada ainda faz parte do imaginário desses usuários Os conflitos familiares foram destacados assim como a importância do diálogo da reflexão e de outras estratégias para resolver problemas o que denota posturas mais participativas e críticas Essa experiência confirmou a relevância do desenvolvimento de ações nos serviços de atenção em saúde mental focadas tanto na família quanto no usuário atentos à desconstrução dos modelos de vitimização e culpabilização Palavraschave Intervenção Psicossocial Reforma Psiquiátrica Família Psicologia Social Comunitária 490 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 Workshops with Mental Health Users the Family as a Theme for Reflection Abstract After the approval of the Psychiatric Reform Health actions aim at encouraging the autonomy and the central role of users based on the whole view of the subject taking into account the different contexts and social groups he or she is part of including the family group This change of paradigm has contributed to the discarding of the individual perspective in the assistance to mental health and has amplified the vision and the actions of the professionals in relation to the family groups The problems brought to light by different users started being understood from a psychosocial perspective on which interpersonal and family relations are focused In this context this article gives account of a particular experience with a group of users of a Center of Psychosocial Attention CAPS III in the city of Campina Grande Paraíba based on Social Community Psychology The psychosocial interventions aimed at promoting the central role of users and their coresponsibility in the family processes Weekly workshops were held about themes connected with family issues The conclusion reached was that the concept of the romantic idealized family still prevails among these users imaginary Family conflicts were emphasized as well as the importance of the dialogue and the reflection and additional strategies to solve the problems and this denotes more participative and critical attitudes This experience confirmed the relevance of the actions in the services of attention to mental health focused both on the family and on the user paying attention to the deconstruction of the models of victimization and culpability Keywords Psycosocial Intervention Psychiatric Reform Family Social Communitary Psychology Talleres con Usuarios de Salud Mental la Familia como Tema de Reflexión Resumen Con el advenimiento de la Reforma Psiquiátrica las acciones en salud visan fomentar la autonomía y el protagonismo de los usuarios a partir de una visión integral de sujeto en que se consideran los contextos distintos y los grupos sociales del cual él o ella hacen parte incluyendo la familia Dicho cambio paradigmático contribuyó para el abandono de la perspectiva individual en la asistencia a la salud mental y amplió la mirada y las acciones de los profesionales hacia los grupos familiares Las problemáticas traídas por distintos usuarios pasan a ser comprendidas con una visión psicosocial en que se focalizan las relaciones interpersonales y familiares En este contexto este artículo relata una experiencia con un grupo de usuarios de un Centro de Atención Psicosocial CAPS III de la ciudad de Campina GrandeParaíba con base en la Psicología Social Comunitaria Las intervenciones psicosociales tuvieron el objetivo de promover el protagonismo de los usuarios y su corresponsabilidad en los procesos familiares por medio de talleres semanales sobre temas relacionados con la familia Se constató que el concepto de familia romántica e idealizada hace parte aún del imaginario de estos usuarios Los conflictos familiares fueron destacados así como la importancia del diálogo de la reflexión y otras estrategias para resolver problemas lo que implica posturas más participativas y críticas Esta experiencia confirmó la relevancia del desarrollo de acciones en los servicios de atención en salud mental enfocadas tanto en la familia como en el usuario atentos a la desconstrucción de los modelos de victimización y culpabilidad Palabras clave Intervención Psicosocial Reforma Psiquiátrica Familia Psicología Social Comunitaria 491 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental Introdução Respaldadas por uma nova concepção de saúde e de ser humano as novas formas de atenção à saúde mental que surgiram com a chamada Reforma Psi quiátrica incluíram diferentes ações e atores com o fim de suplantar a ênfase na perspectiva individual que alicerça o modelo biomédico e hospitalocên trico Recursos afetivos representados por familiares e amigos assim como sociais sanitários econômi cos culturais e religiosos passaram a constituir a rede de atenção à saúde mental Brasil 2004 Nessa nova proposta a família assumiu o papel de parceira de corresponsável pelo tratamento da pessoa em sofri mento psíquico pela resolutividade e efetividade do processo Soares Munari 2007 A proposta de participação direta da família no cotidiano dos serviços por meio de projetos tera pêuticos e ações de integração social Brasil 2004 destaca a importância desse grupo no que concerne ao suporte e ao incentivo ao usuário Além disso por meio da análise da dinâmica familiar os profissionais podem compreender as diferentes nuances do sofri mento psíquico direcionando adequadamente os projetos terapêuticos De acordo com Rosa 2011 as pesquisas sobre família e usuários com transtorno mental têm perce bido a família de diferentes formas a saber como um recurso no sentido de estratégia de intervenção como um lugar de possível convivência do portador de trans torno mental como sofredora e fragilizada e que por tanto precisa da ação do Estado como sujeito da ação ou ator político que se organiza em associações espe cíficas e avalia os serviços e como uma provedora de cuidados Apesar de essas diferentes maneiras de con ceber a família estarem articuladas às diversas pers pectivas teóricometodológicas dos autores isso não significa que essas concepções devam ser excludentes ao contrário elas revelam as diversas possibilidades de se trabalhar com as famílias Nos serviços substitutivos de saúde mental com preendese a família como parceira e como um grupo que tem demandas e direitos próprios Geralmente são oferecidas atividades individuais e grupais voltadas para as famílias dos usuários Entretanto o trabalho com o grupo familiar também acontece de outras for mas quando por exemplo os profissionais abordam o tema família em diferentes tipos de atendimento volta dos para a pessoa em sofrimento psíquico Neste artigo propomonos com base numa experiência em Psicologia Social Comunitária em um Centro de Atenção Psicossocial CAPS III locali zado em Campina GrandePB contribuir a partir da perspectiva dos próprios usuários com uma reflexão sobre o papel da família na rede intersetorial de saúde mental Considerando a reconhecida relevância da família nos processos de saúde e doença a depender do papel que exerce como agente protetor ou refor çador de vulnerabilidade Sousa Baptista 2008 realizamos oficinas1 com um grupo de usuários do serviço voltadas para reflexões acerca das relações familiares Os conteúdos construídos nessas oficinas são aqui analisados com o objetivo de contribuir em novas abordagens com familiares e usuários da rede de saúde mental Os CAPS são serviços comunitários de saúde que oferecem assistência especializada em regime de atenção diária e ambulatorial a usuários do serviço de saúde mental e seus familiares Seu objetivo é de promover a cidadania e garantir os direitos dos usu ários e sua reinserção social2 No que diz respeito ao funcionamento do CAPS III de Campina Grande algu mas etapas são seguidas Ao chegarem ao CAPS os usuários passam por um acolhimento que conforme orientação do Ministério da Saúde Brasil 2004 tem como objetivos principais compreender a situação da pessoa da forma mais abrangente possível e começar a estabelecer um vínculo terapêutico e de confiança entre a pessoa e os profissionais do serviço O estabe 1 As oficinas são entendidas conforme definido por Afonso e Coutinho 2010 como um trabalho estruturado em torno de uma questão central que o grupo pretende elaborar Independentemente da quantidade de encontros as oficinas envolvem o sujeito integralmente e afeta formas de pensar agir e sentir Ela se diferencia de um projeto puramente pedagógico por envolver vivências e significados rela cionados ao tema trabalhado Desse modo a oficina é uma prática de intervenção psicossocial 2 Existem diferentes tipos de CAPS Segundo o Ministério da Saúde Brasil 2004 o CAPS I é um serviço para cidades de pequeno porte que devem dar cobertura durante o dia para adultos crianças e adolescentes com transtornos mentais severos e pessoas com proble mas devido ao uso de álcool e outras drogas Já os CAPS II são serviços para cidades de médio porte e atendem durante o dia à clientela adulta Os CAPS III são serviços 24 horas geralmente disponíveis em grandes cidades que atendem à clientela adulta Existem também os CAPSi que são serviços para crianças e adolescentes em cidades de médio porte que funcionam durante o dia Já os CAPSad estão voltados para pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool ou outras drogas Geralmente disponível em cidades de médio porte esse serviço funciona apenas durante o dia Já o CAPS ad III funciona 24 horas 492 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 lecimento de um diagnóstico mesmo sendo impor tante não é a prioridade desse momento Caso seja constatada a necessidade de acompanhamento é preparado um projeto terapêutico singular que cor responde a um conjunto de atendimentos personali zados feitos dentro e fora da unidade e que respeitem as particularidades de cada indivíduo Ele também define as atividades de que o usuário participa quando está no serviço Em geral o profissional que o acolhe se torna o seu terapeuta de referência TR e responsável por acompanhar o projeto terapêutico redefinindoo conforme necessário Brasil 2004 O atendimento aos usuários é feito por uma equipe multidisciplinar com posta de médicos psicólogos enfermeiros assisten tes sociais pedagogos entre outros Essa instituição abriga cerca de 700 adultos de ambos os sexos por tadores de transtornos mentais severos O serviço fun ciona 24 horas todos os dias da semana e dispõe de leitos para curta permanência cerca de duas semanas no máximo para usuários em crise Diversas ativida des são realizadas na instituição entre elas podemos citar grupos operativos e terapêuticos assembleias de usuários oficinas de música artes e outras aten dimento psicológico e psiquiátrico escuta atividades físicas grupos de família brechós festas comemorati vas e reuniões dos profissionais As intervenções psicossociais que realizamos no CAPS III foram respaldadas nos pressupostos da Psi cologia Social Comunitária Conforme Freitas 1996 p73 essa área de conhecimento da Psicologia com preende o homem como sendo sóciohistoricamente construído e ao mesmo tempo construindo as con cepções a respeito de si mesmo dos outros homens e do contexto social Por meio da linguagem das rela ções grupais das emoções e dos afetos característicos da subjetividade o psicólogo comunitário atua no nível da consciência da atividade e da identidade dos indi víduos a favor da construção de relações comunitárias Lane 1996 Convém compreender que o objetivo da intervenção psicossocial é de promover melhores condições humanas e boa qualidade de vida Sarriera 2004 O psicólogo facilita mudanças ao fomentar prá ticas coletivas organizadas que possibilitam a leitura crítica da realidade e a transformação social A atuação referenciada pela Psicologia Social Comunitária em diálogo com a Educação Popular EP em saúde rompe com o modelo assistencia lista tradicionalmente ligado aos serviços de saúde e passa a trabalhar em prol do desenvolvimento de uma reflexão crítica estimulando a autonomia e o protagonismo social das pessoas Em relação a isso Alberti Salbego Martins e Alberti 2014 afirmam que a Educação Popular ao reconhecer o outro como um sujeito de direitos e protagonista da própria existên cia promove ações emancipatórias e dialógicas que contribuem para que ele conquiste sua autonomia Nossa escolha por esse referencial teórico baseouse na crença de que a atuação da Psicologia no campo das políticas públicas requer práticas de saúde que reconheçam a importância da participação crítica e coletiva na elaboração de propostas voltadas para as necessidades dos grupos e para a transforma ção social A interface da Psicologia com o campo das políticas públicas configurase portanto como uma aposta em práticas sociais promotoras de novos mun dos como destaca Mancebo 2011 bem como de novas subjetividades A Psicologia Social Comunitária a Educação Popular e os princípios da Reforma Psiquiátrica ser viram de base para a construção e o desenvolvimento das atividades realizadas no CAPS III de Campina Grande No entanto neste relato faremos referência apenas às oficinas com um grupo de usuários cuja temática trabalhada foi a família Por reconhecer a pluralidade de arranjos familia res que revelam a insuficiência de certos parâmetros que definem a família como consanguinidade hete rossexualidade divisão da mesma casa entre outros partilhamos a ideia de família como um grupo afetivo influenciado por uma diversidade de fatores e con textos e caracterizado por relações íntimas e inter geracionais Nesse grupo iniciase a aprendizagem dos afetos dos valores e das relações sociais Dessen 2010 Simionato Oliveira 2003 Como já explicitado entendemos a família tam bém como uma unidade básica de cuidado para a pessoa em sofrimento psíquico razão por que é importante que os profissionais participem da iden tificação de recursos que esse grupo apresenta e de fatores de vulnerabilidade que o impedem de desem penhar sua função de cuidar ou a dificultam Pontes 2009 A identificação das potencialidades e das difi culdades assim como as intervenções realizadas no campo da saúde mental devem contemplar todos os atores envolvidos nesse grupo porque os membros familiares se influenciam mutuamente Este relato é relevante pois é imprescindível não só escutar os familiares dos portadores de transtorno 493 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental mental mas também os usuários e lhes dar oportu nidades para que reflitam sobre seu lugar no grupo familiar e sobre o seu papel na construção de novas relações Com o intuito de atingir esse objetivo o tema família foi inserido nas oficinas com os usuários Percurso metodológico As atividades aqui relatadas foram desenvolvidas com um grupo de usuários de saúde mental no CAPS III como já ressaltado O grupo reuniase semanal mente há cerca de um ano numa sala da instituição e contava com a participação de quatro a 12 usuários de ambos os sexos adultos jovens e adultos a cada oficina Assim a faixa etária variava de 20 a 59 anos Todos resi diam com seus familiares pais irmãos cônjuges eou filhos A maioria já havia sido internada em hospitais psiquiátricos e trazia em seus corpos e subjetividades as marcas da reclusão do silêncio e das demais violên cias a que foram submetidos pela psiquiatria asilar Como prática de intervenção psicossocial as oficinas nos permitiram trabalhar diversas temáticas com os usuários Em determinado momento propu semonos a trabalhar o tema família recorrente nas falas dos usuários durante as oficinas Ao longo dos encontros discutimos sobre o significado de família suas características positivas e negativas e o papel dos usuários nessas relações Tínhamos o intuito de fomentar uma reflexão sobre essas relações atentando para a sua importância e para a forma como cada um poderia contribuir para a boa qualidade delas tendo sempre como horizonte o estímulo ao protagonismo e à autonomia dos usuários Inspirandonos na proposta da Arteterapia que sugere a utilização da arte em contextos terapêuticos com a intenção de possibilitar a expressão a elabo ração e a reelaboração dos modos de estar pensar e sentir o mundo Vanderley 2001 as linguagens artís ticas foram o principal instrumento metodológico utilizado para o desenvolvimento das oficinas com destaque para o uso dos jogos e exercícios do Teatro do Oprimido TO propostos por Augusto Boal A arte caracterizase como um eficiente instru mento metodológico porquanto tem a função de criar uma consciência do mundo não necessaria mente verbal ou verbalizável Boal 2008 No campo da saúde mental como discutem Tavares e Sobral 2005 a arte surge como um recurso para a proposta de humanizar a assistência Utilizada em atividades diversas no CAPS ela produz subjetividades catalisa afetos e engendra meio de produção e inserção social das pessoas em sofrimento psíquico Por meio do Teatro do Oprimido podemse ques tionar dogmas ou regras fixas adotadas pelas pessoas de forma mecânica Com o trabalho em grupo é pos sível compreender as condições objetivas de produção dessas ideias arraigadas socialmente e adotadas sem questionamentos Através dos exercícios os sujeitos podem refletir sobre si mesmos já que visam a um melhor conhecimento do corpo suas atrofias e hiper trofias mecanismos capacidades de recuperação reestruturação e rearmonização Os jogos por sua vez trabalham a expressividade dos corpos como emisso res e receptores de mensagens Boal 2008 Relato da experiência Neste artigo tratamos das oficinas realizadas sobre a temática família das quais escolhemos três Consi derando que é importante salvaguardar o anonimato dos usuários utilizamos nomes de cores para identificar cada um A ideia é de relatar sinteticamente como ocor reu cada uma dessas oficinas para no próximo item fazer algumas considerações teóricas Cabe destacar ainda que estamos fazendo um pequeno recorte de uma experiência muito mais ampla Oficina Significados sobre família Participaram dessa oficina oito usuários Como sempre fazíamos iniciamos com uma técnica de relaxamento que consistia em respirar profunda mente alongar cada parte do corpo e concentrarse na oficina que se iniciava Com o objetivo de intro duzir a temática e fomentar discussões iniciamos a intervenção com o exercício de Teatro do Oprimido TO intitulado Imagem da palavra que conforme Boal 2002 p18 caracterizase da seguinte forma o diretor convida voluntários para que mostrem de forma visual o tema escolhido pelo grupo Cada um trabalha sem olhar o que fazem os demais para que não haja influências Cada um vai ao centro e usando somente o corpo expressa o tema O exercício consistiu em expressar por meio de gestos e movimentos a imagem que os usuários construíam do termo indutor família Esperávamos que esse exercício gerasse diálogos sobre a definição de família socialmente construída e sobre a família dos participantes Como não pudemos evitar que os usuários trabalhassem sem olhar uns para os outros 494 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 todos eles fizeram corações com as mãos e disseram que aquilo representava a união e o amor da família Em seguida passamos para a atividade de dese nho Cada participante desenhou o que entendia por família depois conversamos sobre os desenhos e sobre as famílias deles Os usuários disseram que havia coisas ruins na família mas também identificaram coi sas boas O amor a união e o companheirismo eram características da família no entanto estavam faltando nas famílias dos usuários Vermelho por exemplo além de desenhar pessoas de mãos dadas e uma casa que entendia como o alicerce da família escreveu Família é união companheirismo amor fraternidade Dese jando mais união familiar ele ressaltou a falta que os pais faziam e a separação da família após a morte deles Lilás e Amarelo frequentemente relatavam os conflitos que tinham em casa e afirmaram que era necessário haver mais união e paz na família Verde por sua vez falou que havia coisas boas na família mas que na sua faltava amor entre os pais fato que ele retratou no dese nho que fez de um homem uma mulher e um coração Porém o coração estava afastado do casal que parecia não se tocar nem se olhar Por fim iniciamos uma reflexão sobre as carac terísticas das famílias com o intuito de desconstruir o ideal de família perfeita porque cada uma delas tem suas limitações É necessário pensar em modos de intervenção que revertam a lógica de idealiza ção e culpabilização da família Severo Dimenstein Brito Cabral Alverga 2009 A oficina foi encerrada como sempre fazíamos com um Círculo de Energia que consistia em organizados em círculo e de mãos dadas recapitular as principais questões discutidas na oficina Nesse momento relembramos aspectos importantes da que foi realizada naquele dia em que obtivemos informações sobre as famílias dos usuários e sobre alguns sentimentos e representações deles acerca de seu grupo familiar Oficina O que gosto e o que não gosto na família Nessa oficina contamos com a participação de doze usuários Iniciamos o encontro com a técnica de relaxamento e em seguida continuamos a refle xão sobre o tema família Para essa oficina seleciona mos uma música intitulada Família da banda Titãs A música como instrumento metodológico propicia a expressão de sentimentos e emoções e contribui para que sejam pensados e discutidos Araújo 1999 A música ao criar e despertar a subjetividade parece modificar a maneira como a pessoa dá significado ao mundo que a rodeia Maheirie 2003 No momento reservado para o debate foram pro duzidos novos discursos com a introdução de novos ele mentos Os participantes referiram que os animais tam bém fazem parte da família como a música dizia Alguns falaram sobre seus aspectos problemáticos como a falta de união as brigas as discussões Outros destacaram os aspectos positivos que é bom ter uma família e a importância de que haja união no grupo familiar Posteriormente propusemos uma atividade de colagem para que os usuários expressassem por meio de figuras coisas de que gostavam e de que não gostavam na família Após a colagem das figuras ini ciamos uma discussão sobre tais produções Verme lho relatou que o de que mais gostava em sua família era o filho e a falta de união o de que não gostava Vários outros usuários também apontaram a falta de união da família Foi abordada também a questão do alcoolismo Marrom por exemplo que era alcoolista assim como sua mãe não mencionou o que mais lhe desagradava na família mas que não gostava da bebida e que ela prejudicava a família Já Azul escolheu figuras de malas para representar os irmãos e afirmou que só precisava da mãe pois não gostava dos familiares Vários usuários como Laranja falaram que o de que gostam na família são os sobri nhos Laranja também foi o único participante que disse não saber o que não gostava na própria família Outros falaram sobre os pais e alguns destacaram a falta que sentem dos pais falecidos Depois de ter sido identificada a demanda do grupo perguntamoslhes o que achavam que pode riam fazer para mudar o que não gostam na família Partimos do pressuposto de que os serviços de aten ção à saúde mental precisam abandonar as práticas excludentes e tutelares e trabalhar em prol do prota gonismo e da autonomia dos usuários Medeiros Guimarães 2002 Nesse sentido procuramos esti mular a ideia de que eles também são responsáveis e podem contribuir para melhorar o relacionamento familiar com uma postura mais ativa e participativa Os usuários propuseram estratégias como dia logar e conversar para tentar resolver os problemas sem gerar mais conflitos e pensar antes de agir ou falar Chamounos a atenção o fato de alguns deles não defenderem estratégias relacionadas à interação com a família mas a uma maior separação como no discurso 495 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental de Azul que já havia dito antes que não gostava da família Nessa oficina também encerrada com o Cír culo de Energia cada um refletiu sobre a realidade de sua família Também enfatizamos a responsabilização dos usuários na relação com os seus familiares Oficina Lembranças Tendo em vista os relatos sobre conflitos fami liares em oficinas anteriores nossa proposta nesse encontro foi de resgatar lembranças de bons momen tos que fortalecessem os vínculos familiares e con tribuíssem para melhorar os relacionamentos Essa oficina contou com a presença de seis usuários e começou com o relaxamento Em seguida utilizando imagens mentais como recurso propusemos que os usuários viajassem em sua imaginação até o passado e relembrassem um momento feliz que vivenciaram com a família uma adaptação do exercício de TO Memória e emoção lembrando um dia do passado Conforme Boal 2008 nesse exercício cada parti cipante escolhe algum dia do seu passado em que algo importante ou marcante tenha acontecido e que ainda hoje provoque uma emoção e conta para outro participante chamado de copiloto Como esse exercí cio foi adaptado não houve copilotos Na sequência dividimos os participantes em dois grupos e entregamoslhes uma tigela onde colo camos farinha de trigo água e anilina para produzir massa de modelar que eles deveriam utilizar para representar o que tinham relembrado A seguir cada um deles apresentou sua produção algumas das quais descreveremos a seguir Vermelho fez uma panelinha de barro para repre sentar uma feijoada em família realizada quando seu irmão foi promovido no emprego Azul fez um boneco representando um cantor que o faz lembrar coisas boas da infância Entretanto durante a discussão ele não relatou bons momentos com sua família Amarelo fez um bolo que simbolizava uma festa de aniversário da infância que fora um momento especial para ele Lilás fez uma tapioca Primeiramente ela não fez referência a alguma lembrança mas depois afirmou que gostava muito da mãe embora a mãe não gostasse dela Em seguida refletimos sobre as esculturas feitas com a massa de modelar e conversamos a respeito do que poderíamos fazer para que os momentos bons se repetissem Os usuários falaram novamente sobre a necessidade de mais união na família mais amor a importância de ter paciência evitar brigas e discussões Nesse diálogo em grupo continuamos a estimular a compreensão de que eles também são res ponsáveis pelo que acontece em suas famílias e que portanto podem intervir ativamente e criticamente nessas relações Como de costume a oficina se encer rou com o Círculo de Energia Algumas considerações teóricas Guiandonos pela perspectiva teóricometodoló gica da Psicologia Social Comunitária através dessas oficinas promovemos um debate sobre as relações familiares o qual foi aprofundado em outras ofici nas e contribuiu para incrementar a reflexão crítica e o protagonismo social desse grupo Com isso esti mulamos a ideia de que os usuários podem exercer sua autonomia também na família e colaborar para a melhoria das relações Em nossas oficinas os participantes enfatizaram sobretudo a importância da união e do amor na família Embora tenham incluído os animais como membros da família rompendo o tradicional discurso normatizador e dando indícios de transformações na forma de dar sig nificado à família seus discursos parecem estar ancora dos em uma ideia romântica e idealista de família que caracterizou o modelo nuclear moderno Seguindo essa lógica de pensamento a família não deve ter conflitos porque deve ser um grupo harmônico A família nuclear burguesa assumiu o lugar de modelo ideal de família e isso frequentemente gera sentimentos negativos de inadequação nas pessoas que não têm um grupo familiar correspondente a esse ideal Szymanski 2004 Percebemos isso nos discur sos dos usuários e podemos sugerir que esse ideal de família também origina expectativas inalcançáveis e posteriormente causa frustração e mais sofrimento psíquico por não ser concretizado O fato de as pró prias famílias não corresponderem ao que os usuários esperam ou acreditam ser o ideal acaba por provocar mais sofrimento A família é produzida socialmente em determinado tempo histórico e marcada por con tradições e conflitos específicos Concordamos com os autores acima citados quando ressaltam a necessi dade de se desconstruir esse modelo de família com o intuito de legitimar outras configurações familiares A promoção de novos significados em torno da família pode proporcionar uma leitura crítica e realista desse grupo social que considere a existência de conflitos advindos de seu ciclo de vida de seu contexto ou de eventos inesperados 496 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 Por outro lado podemos compreender que o desejo de união mesmo sendo expresso de forma idealizada pode estar revelando o fato de alguns usu ários se sentirem desamparados Borba Schwartz e Kantorski 2008 apontam que as relações afetivas na família podem ser prejudicadas pela sobrecarga financeira física do cuidado e emocional que surge da vivência do sofrimento psíquico Assim os profis sionais devem estar atentos aos fatores que causam essa sobrecarga e à qualidade dos relacionamentos estabelecidos entre as pessoas em sofrimento psí quico e suas famílias Outra possibilidade de análise seria reconhe cer que essas famílias têm conflitos de certa forma difíceis para os usuários As constantes referências à existência de brigas discussões e falta de união indi cam que há problemas de relacionamento dentro das famílias o que pode ser também alimentado pela sobrecarga familiar acima mencionada Entretanto não podemos ter uma visão simplista em que se culpa o usuário pelos conflitos familiares tampouco culpa bilizar a família pela emergência do sofrimento psí quico e desconsiderar a influência de outros fatores em jogo como os sociais e os econômicos Os confli tos de todo modo influenciam a vida das pessoas em sofrimento psíquico e são merecedores de atenção Consideramos que ao promover uma reflexão sobre essas questões estimulamos também a participação ativa dos usuários na melhoria dessas relações A falta de lembrança de bons momentos com a família por parte de Azul e de outros usuários pos sivelmente relacionase a momentos em família e a sentimentos daí decorrentes que são difíceis de ser expressos Em relação a isso Farias et al 2016 ressal tam que essas atividades de atenção psicossocial mui tas vezes são o primeiro lugar onde aquele usuário terá liberdade de se expressar sem ser estigmatizado Desse modo o usuário pode no começo ter certa dificuldade de expressar seus sentimentos e o profissional deve estar atento a isso propiciando o contexto adequado e ouvindo o que é dito de forma verbal e não verbal Em alguns momentos da intervenção verifica mos a construção da solidariedade entre os membros do grupo ao compartilharem ideias posicionamen tos e sentimentos Esse processo vai ao encontro do paradigma da desinstitucionalização que privilegia a promoção de dispositivos grupais e tem como preo cupação a solidariedade na atenção à clientela de cui dado contínuo Vasconcelos 2004 A escolha dos participantes por estratégias como o diálogo e a reflexão para resolver conflitos familia res revela o deslocamento de um papel passivo para o de protagonista que busca reconstruir os laços de família ou melhorar sua qualidade O desejo de se dis tanciar de se isolar ou de delimitar território citado por outros participantes pode auxiliar no processo de busca de autonomia do usuário em relação a sua família que por vezes não respeita seu espaço Como discutem Pereira e Pereira Junior 2003 muitos usuários convivem com o estigma o desprezo o desrespeito e a desconfiança das próprias famílias e isso acarreta prejuízos nos relacionamentos e em sua subjetividade Rosa 2011 fortalece essa discus são ao afirmar que a infantilização decorrente da superproteção pode ocorrer em certos grupos fami liares Ao afirmar seu desejo de se isolar e delimitar território esses usuários podem estar procurando romper com essa infantilização A família se organiza como pode para cuidar da pessoa em sofrimento psí quico mas nem sempre as estratégias empregadas são eficientes ou beneficiam o grupo familiar Assim é necessário colaborar para a criação de estratégias de cuidado tanto para a família quanto para o usuário O incentivo à rememoração de lembranças posi tivas na família estimulado em uma das oficinas teve como objetivo instaurar um processo de reelaboração de experiências catastróficas e de dar um novo sentido aos eventos Vasconcelos 2007 Ao levar para a memória essas lembranças os usuários tiveram a oportunidade de reavaliar situações algumas não tão distantes como a feijoada pelo novo emprego do irmão e outras vindas de muitos anos atrás ainda na infância Por meio do dispo sitivo grupal outros sentidos e sentimentos em relação à família foram provocados com o fim de motiválos a pôr em prática as estratégias discutidas em encontro anterior e estimular o protagonismo dos usuários em relação as suas famílias Com o trabalho em grupo podemse cons truir novos modos de existir por meio de processos de criação de si e do mundo Passos 2007 Nas oficinas ministradas percebemos também a necessidade de ultrapassar propostas de atuação baseadas em modelos clínicos tradicionais e de com preendermos a necessidade de refletir sobre as con dições socioeconômicas e culturais que influenciam o nosso contexto de atuação e a vida dos indivíduos com os quais trabalhamos Em cada oficina aden tramos um pouco mais o universo de cada usuário e trouxemos à tona novas questões sobre as condições 497 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental de vida deles Esses aspectos são extremamente rele vantes como alertam Sales e Dimenstein 2009 Aprendemos que lidar com a família como uma unidade de cuidado realmente requer o conheci mento de suas singularidades e da complexidade de fatores envolvidos como afirmam Severo Dimens tein Brito Cabral e Alverga 2007 e que olhemos para a família que sofre e não para a família de risco ou incapaz Sawaia 2003 p 45 e potencializemos os membros nesse caso os usuários para ressignificar o sofrimento e reconstruir suas narrativas Considerações finais Por meio das intervenções realizadas no CAPS III procuramos trazer algumas contribuições com o intuito de fomentar a discussão sobre a importância dos pro cessos familiares na rede intersetorial em saúde mental Todas as oficinas que facilitamos com o grupo de usuários tiveram o objetivo de estimular a autonomia o protagonismo social e a reflexão crítica desse grupo como propõe a Psicologia Social Comunitária As ofici nas realizadas sobre o tema família contribuíram para que os usuários fizessem algumas reflexões desejas sem participar das relações familiares mais ativamente e tivessem mais responsabilidades Considerando que o fortalecimento dos laços familiares é condição para se concretizar a proposta da rede de atenção em saúde mental nossa intenção era de que essas ações fossem condizentes com tais princípios Concepções de famí lia aspectos positivos e negativos observados pelos usuários e atitudes que podem colaborar para melho rar as relações foram alguns dos temas debatidos Per cebemos a existência de sentimentos tanto positivos quanto negativos associados às relações familiares Consideramos que atingimos o objetivo de iniciar um processo de reflexão sobre as relações familiares e o papel dos usuários nesses relacionamentos Futuros encaminhamentos podem incluir o desenvolvimento de ações em longo prazo e a avalia ção de possíveis impactos que a participação nessas ações poderá ter nas relações familiares dos usuá rios Acreditamos que experiências como esta com o tempo podem efetivamente modificar as relações familiares Isso poderia ser acompanhado e avaliado através dos conteúdos trazidos pelos próprios usuá rios participantes e dos relatos dos familiares Também ressaltamos a importância de haver intervenções com a participação do usuário e de seus familiares Os recursos teóricos e metodológicos da Terapia Familiar por exemplo poderiam subsidiar algumas ações em saúde mental Nesse caso os dife rentes modelos das intervenções familiares devem ser adaptados aos objetivos sociais característicos da intervenção psicossocial Além disso destacamos intervenções que levem em conta a rede pessoal signi ficativa com o intuito de dar suporte às famílias e aos usuários em sofrimento psíquico Com base em nossa experiência podemos afir mar que para efetivar a proposta da Reforma é impor tante desenvolver ações por meio das quais possamos discutir sobre as relações familiares em grupos com as famílias com os usuários e com os usuários e seus familiares a partir de uma perspectiva que estimule seu protagonismo sua autonomia e corresponsabili zação a fim de que possam abandonar as tradicionais posições de vítimas e de culpados Referências Afonso M L Coutinho A R A 2010 Metodologias de trabalho com grupos e sua utilização na área da saúde In M L AfonsoOrg Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde pp 5984 São Paulo SP Casa do Psicólogo Alberti G F Salbego C C Martins S O R Alberti D L 2014 Educação popular trabalhada em oficinas de saúde a sexualidade durante o adolescer Revista de Educação Popular 131 7581 Recuperado de httpwww seerufubrindexphpreveducpoparticleview24871 Araújo R C 1999 A música como instrumento da Psicologia Comunitária In I R Brandão Z A C Bon fim Orgs Os jardins da psicologia comunitária escritos sobre a trajetória de um modelo teóricovivencial pp121129 Fortaleza CE Universidade Federal do Ceará Boal A 2008 Jogos para atores e não atores 12a ed Rio de Janeiro RJ Civilização Brasileira Boal A 2002 Teatro do Oprimido de ponto a ponto Rio de Janeiro RJ Centro de Teatro do Oprimido Borba L O Schwartz E Kantorski L P 2008 A sobrecarga da família que convive com a realidade do trans torno mental Acta Paulista de Enfermagem 214 588594 httpsdoiorg101590S010321002008000400009 498 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 Brasil 2004 Ministério da Saúde Saúde mental no SUS os centros de atenção psicossocial Brasília DF o autor Dessen M A 2010 Estudando a família em desenvolvimento desafios conceituais e teóricos Psicologia Ciência e Profissão 30spe 202219 httpsdoiorg101590S141498932010000500010 Farias I Z Thofehrn M B Andrade A P M Carvalho L A Fernandes H N Porto A R 2016 Oficina terapêutica como expressão da subjetividade SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog 123 14753 httpsdoiorg1011606issn18066976v12i3p147153 Freitas M F Q 1996 Psicologia na comunidade Psicologia da comunidade e Psicologia social comunitária práticas da psicologia em comunidade nas décadas de 60 a 90 no Brasil In R H F Campos Org Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia pp 5479 Petrópolis RJ Vozes Lane S T M 1996 História e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil In R H F Campos Org Psico logia social comunitária da solidariedade à autonomia pp 17 34 Petrópolis RJ Vozes Maheirie K 2003 Processo de criação no fazer musical uma objetivação da subjetividade a partir dos trabalhos de Sartre e Vygotsky Psicologia em Estudo 82 147153 httpsdoiorg101590S141373722003000200016 Mancebo D 2011 Prefácio In M G M Gonçalves Org Psicologia subjetividade e políticas públicas pp1115 São Paulo SP Cortez Medeiros S M Guimarães J 2002 Cidadania e saúde mental no Brasil contribuição ao debate Ciência Saúde Coletiva 73 571579 httpsdoiorg101590S141381232002000300014 Passos E 2007 Quando um grupo é a afirmação de um paradoxo In R B Barros Org Grupo a afirmação de um simulacro pp1119 Porto Alegre RS Sulina Pereira M A O Pereira Junior A 2003 Transtorno mental dificuldades enfrentadas pela família Revista da Escola de Enfermagem USP 374 92100 httpsdoiorg101590S008062342003000400011 Pontes M N 2009 Famílias e psicoses In L C Osório M E P Valle Orgs Manual de terapia familiar pp 343349 Porto Alegre RS Artmed Rosa L 2011 Transtorno mental e o cuidado na família São Paulo SP Cortez Sales A L L F Dimenstein M 2009 Psicólogos no processo de reforma psiquiátrica práticas em desconstru ção Psicologia em Estudo 142 277285 httpsdoiorg101590S141373722009000200008 Sarriera J C 2004 Intervenção psicossocial e algumas questões éticas e técnicas In J C Sarriera Org Psicolo gia comunitária estudos atuais pp 1941 Porto Alegre RS Sulina Sawaia B B 2003 Família e afetividade a configuração de uma práxis éticopolítica perigos e oportunidades In A R Acosta M A F Vitale Orgs Família redes laços e políticas públicas pp 3950 São Paulo SP IEEPUCSP Severo A K S Dimenstein M Brito M Cabral C Alverga A R 2007 A experiência de familiares no cuidado em saúde mental Arquivos Brasileiros de Psicologia 592 143155 Recuperado de httppepsicbvsaludorg scielophpscriptsciarttextpidS180952672007000200005lngpttlngp Severo A K S Dimenstein M Brito M Cabral C Alverga A R 2009 Família e práticas de cuidado em saúde mental In M Dimenstein Org Produção do conhecimento agenciamentos e implicações do fazer pesquisa em psicologia pp 6980 Natal RN EDUFRN Simionato MA W Oliveira R G 2003 Funções e transformações da família ao longo da história In Anais do I Encontro Paranaense de Psicopedagogia p 57 Maringá PR Associação Brasileira de Psicopedagogia Soares C B Munari D B 2007 Considerações acerca da sobrecarga em familiares de pessoas com transtornos mentais Ciência Cuidado e Saúde 63 357362 httpsdoiorg104025cienccuidsaudev6i34024 Sousa M S Baptista M N 2008 Associações entre suporte familiar e saúde mental Psicologia Argumento 2654 207215 Recuperado de httpwww2pucprbrreolpbindexphppadd12495dd99viewdd98pb Szymanski H 2004 Práticas educativas familiares a família como foco de atenção psicoeducacional Estudos de Psicologia Campinas 212 516 httpsdoiorg101590S0103166X2004000200001 Tavares C M M Sobral V R S 2005 Avaliação das práticas de cuidar envolvendo arte no âmbito do Centro de Aten ção Psicossocial CAPS Revista Mineira de Enfermagem 92 121125 httpsdoiorgS141527622005000200005 Vanderley L 2001 O vazio vivo In A Pitta Org Reabilitação psicossocial no Brasil pp 6371 São Paulo SP Hucitec 499 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental Como citar Coelho R S Velôso T M G Barros S M M 2017 Oficinas com usuários de saúde mental a família como tema de reflexão Psicologia Ciência e Profissão 372 489499 httpsdoiorg10159019823703002612015 How to cite Coelho R S Velôso T M G Barros S M M 2017 Workshops with mental health users the family as a theme for reflection Psicologia Ciência e Profissão 372 489499 httpsdoiorg10159019823703002612015 Cómo citar Coelho R S Velôso T M G Barros S M M 2017 Talleres con usuarios de salud mental la familia como tema de reflexión Psicologia Ciência e Profissão 372 489499 httpsdoiorg10159019823703002612015 Vasconcelos E M 2007 Dispositivos associativos de luta e empoderamento de usuários familiares e trabalhado res em saúde mental no Brasil Vivência 32 173206 Vasconcelos E M 2004 Mundos paralelos até quando Os psicólogos e o campo da saúde mental pública no Brasil nas duas últimas décadas Mnemosine 10 7390 Recuperado de httpwwwcliopsycheuerjbrlivros clio1mundosparalelosatequandohtm Raquel Souza Coelho Psicóloga graduada em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB Aluna recémselecionada para o Mestrado em Serviço Social e Direitos Humanos na Universidade de Gotemburgo Suécia Email raquelsouzacoelhogmailcom Thelma Maria Grisi Velôso Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB e Professora do Programa de Pósgraduação em Psicologia da Saúde UEPB Campina Grande PB Brasil Email tgrisivelosogmailcom Sibelle Maria Martins de Barros Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB Campina Grande PB Brasil Email barrossibellegmailcom Endereço para envio de correspondência Rua Rodrigues Alves 1979104 Bairro Universitário CEP 58429145 Campina Grande PB Brasil Recebido 18082015 Reformulação 08032017 Aprovado 25042017 Received 08182016 Reformulated 03082016 Approved 04252017 Recebido 18082015 Reformulado 08032017 Aceptado 25042017
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Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 httpsdoiorg10159019823703002612015 Disponível em wwwscielobrpcp Oficinas com Usuários de Saúde Mental a Família como Tema de Reflexão Raquel Souza Coelho Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Thelma Maria Grisi Velôso Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Sibelle Maria Martins de Barros Universidade Estadual da Paraíba PB Brasil Resumo Com o advento da Reforma Psiquiátrica as ações em saúde visam promover a autonomia e o protagonismo dos usuários a partir de uma visão integral de sujeito em que se consideram os diferentes contextos e os grupos sociais de que ele faz parte incluindo a família Tal mudança paradigmática contribuiu para o abandono da perspectiva individual na assistência à saúde mental e ampliou o olhar e as ações dos profissionais para os grupos familiares As problemáticas trazidas por diferentes usuários passam a ser compreendidas com uma visão psicossocial em que se focalizam as relações interpessoais e familiares Nesse contexto este artigo relata uma experiência com um grupo de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial CAPS III da cidade de Campina GrandeParaíba com base na Psicologia Social Comunitária As intervenções psicossociais tinham o objetivo de promover o protagonismo dos usuários e sua corresponsabilização nos processos familiares por meio de oficinas semanais sobre temas relacionados à família Constatouse que o conceito de família romântica e idealizada ainda faz parte do imaginário desses usuários Os conflitos familiares foram destacados assim como a importância do diálogo da reflexão e de outras estratégias para resolver problemas o que denota posturas mais participativas e críticas Essa experiência confirmou a relevância do desenvolvimento de ações nos serviços de atenção em saúde mental focadas tanto na família quanto no usuário atentos à desconstrução dos modelos de vitimização e culpabilização Palavraschave Intervenção Psicossocial Reforma Psiquiátrica Família Psicologia Social Comunitária 490 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 Workshops with Mental Health Users the Family as a Theme for Reflection Abstract After the approval of the Psychiatric Reform Health actions aim at encouraging the autonomy and the central role of users based on the whole view of the subject taking into account the different contexts and social groups he or she is part of including the family group This change of paradigm has contributed to the discarding of the individual perspective in the assistance to mental health and has amplified the vision and the actions of the professionals in relation to the family groups The problems brought to light by different users started being understood from a psychosocial perspective on which interpersonal and family relations are focused In this context this article gives account of a particular experience with a group of users of a Center of Psychosocial Attention CAPS III in the city of Campina Grande Paraíba based on Social Community Psychology The psychosocial interventions aimed at promoting the central role of users and their coresponsibility in the family processes Weekly workshops were held about themes connected with family issues The conclusion reached was that the concept of the romantic idealized family still prevails among these users imaginary Family conflicts were emphasized as well as the importance of the dialogue and the reflection and additional strategies to solve the problems and this denotes more participative and critical attitudes This experience confirmed the relevance of the actions in the services of attention to mental health focused both on the family and on the user paying attention to the deconstruction of the models of victimization and culpability Keywords Psycosocial Intervention Psychiatric Reform Family Social Communitary Psychology Talleres con Usuarios de Salud Mental la Familia como Tema de Reflexión Resumen Con el advenimiento de la Reforma Psiquiátrica las acciones en salud visan fomentar la autonomía y el protagonismo de los usuarios a partir de una visión integral de sujeto en que se consideran los contextos distintos y los grupos sociales del cual él o ella hacen parte incluyendo la familia Dicho cambio paradigmático contribuyó para el abandono de la perspectiva individual en la asistencia a la salud mental y amplió la mirada y las acciones de los profesionales hacia los grupos familiares Las problemáticas traídas por distintos usuarios pasan a ser comprendidas con una visión psicosocial en que se focalizan las relaciones interpersonales y familiares En este contexto este artículo relata una experiencia con un grupo de usuarios de un Centro de Atención Psicosocial CAPS III de la ciudad de Campina GrandeParaíba con base en la Psicología Social Comunitaria Las intervenciones psicosociales tuvieron el objetivo de promover el protagonismo de los usuarios y su corresponsabilidad en los procesos familiares por medio de talleres semanales sobre temas relacionados con la familia Se constató que el concepto de familia romántica e idealizada hace parte aún del imaginario de estos usuarios Los conflictos familiares fueron destacados así como la importancia del diálogo de la reflexión y otras estrategias para resolver problemas lo que implica posturas más participativas y críticas Esta experiencia confirmó la relevancia del desarrollo de acciones en los servicios de atención en salud mental enfocadas tanto en la familia como en el usuario atentos a la desconstrucción de los modelos de victimización y culpabilidad Palabras clave Intervención Psicosocial Reforma Psiquiátrica Familia Psicología Social Comunitaria 491 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental Introdução Respaldadas por uma nova concepção de saúde e de ser humano as novas formas de atenção à saúde mental que surgiram com a chamada Reforma Psi quiátrica incluíram diferentes ações e atores com o fim de suplantar a ênfase na perspectiva individual que alicerça o modelo biomédico e hospitalocên trico Recursos afetivos representados por familiares e amigos assim como sociais sanitários econômi cos culturais e religiosos passaram a constituir a rede de atenção à saúde mental Brasil 2004 Nessa nova proposta a família assumiu o papel de parceira de corresponsável pelo tratamento da pessoa em sofri mento psíquico pela resolutividade e efetividade do processo Soares Munari 2007 A proposta de participação direta da família no cotidiano dos serviços por meio de projetos tera pêuticos e ações de integração social Brasil 2004 destaca a importância desse grupo no que concerne ao suporte e ao incentivo ao usuário Além disso por meio da análise da dinâmica familiar os profissionais podem compreender as diferentes nuances do sofri mento psíquico direcionando adequadamente os projetos terapêuticos De acordo com Rosa 2011 as pesquisas sobre família e usuários com transtorno mental têm perce bido a família de diferentes formas a saber como um recurso no sentido de estratégia de intervenção como um lugar de possível convivência do portador de trans torno mental como sofredora e fragilizada e que por tanto precisa da ação do Estado como sujeito da ação ou ator político que se organiza em associações espe cíficas e avalia os serviços e como uma provedora de cuidados Apesar de essas diferentes maneiras de con ceber a família estarem articuladas às diversas pers pectivas teóricometodológicas dos autores isso não significa que essas concepções devam ser excludentes ao contrário elas revelam as diversas possibilidades de se trabalhar com as famílias Nos serviços substitutivos de saúde mental com preendese a família como parceira e como um grupo que tem demandas e direitos próprios Geralmente são oferecidas atividades individuais e grupais voltadas para as famílias dos usuários Entretanto o trabalho com o grupo familiar também acontece de outras for mas quando por exemplo os profissionais abordam o tema família em diferentes tipos de atendimento volta dos para a pessoa em sofrimento psíquico Neste artigo propomonos com base numa experiência em Psicologia Social Comunitária em um Centro de Atenção Psicossocial CAPS III locali zado em Campina GrandePB contribuir a partir da perspectiva dos próprios usuários com uma reflexão sobre o papel da família na rede intersetorial de saúde mental Considerando a reconhecida relevância da família nos processos de saúde e doença a depender do papel que exerce como agente protetor ou refor çador de vulnerabilidade Sousa Baptista 2008 realizamos oficinas1 com um grupo de usuários do serviço voltadas para reflexões acerca das relações familiares Os conteúdos construídos nessas oficinas são aqui analisados com o objetivo de contribuir em novas abordagens com familiares e usuários da rede de saúde mental Os CAPS são serviços comunitários de saúde que oferecem assistência especializada em regime de atenção diária e ambulatorial a usuários do serviço de saúde mental e seus familiares Seu objetivo é de promover a cidadania e garantir os direitos dos usu ários e sua reinserção social2 No que diz respeito ao funcionamento do CAPS III de Campina Grande algu mas etapas são seguidas Ao chegarem ao CAPS os usuários passam por um acolhimento que conforme orientação do Ministério da Saúde Brasil 2004 tem como objetivos principais compreender a situação da pessoa da forma mais abrangente possível e começar a estabelecer um vínculo terapêutico e de confiança entre a pessoa e os profissionais do serviço O estabe 1 As oficinas são entendidas conforme definido por Afonso e Coutinho 2010 como um trabalho estruturado em torno de uma questão central que o grupo pretende elaborar Independentemente da quantidade de encontros as oficinas envolvem o sujeito integralmente e afeta formas de pensar agir e sentir Ela se diferencia de um projeto puramente pedagógico por envolver vivências e significados rela cionados ao tema trabalhado Desse modo a oficina é uma prática de intervenção psicossocial 2 Existem diferentes tipos de CAPS Segundo o Ministério da Saúde Brasil 2004 o CAPS I é um serviço para cidades de pequeno porte que devem dar cobertura durante o dia para adultos crianças e adolescentes com transtornos mentais severos e pessoas com proble mas devido ao uso de álcool e outras drogas Já os CAPS II são serviços para cidades de médio porte e atendem durante o dia à clientela adulta Os CAPS III são serviços 24 horas geralmente disponíveis em grandes cidades que atendem à clientela adulta Existem também os CAPSi que são serviços para crianças e adolescentes em cidades de médio porte que funcionam durante o dia Já os CAPSad estão voltados para pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool ou outras drogas Geralmente disponível em cidades de médio porte esse serviço funciona apenas durante o dia Já o CAPS ad III funciona 24 horas 492 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 lecimento de um diagnóstico mesmo sendo impor tante não é a prioridade desse momento Caso seja constatada a necessidade de acompanhamento é preparado um projeto terapêutico singular que cor responde a um conjunto de atendimentos personali zados feitos dentro e fora da unidade e que respeitem as particularidades de cada indivíduo Ele também define as atividades de que o usuário participa quando está no serviço Em geral o profissional que o acolhe se torna o seu terapeuta de referência TR e responsável por acompanhar o projeto terapêutico redefinindoo conforme necessário Brasil 2004 O atendimento aos usuários é feito por uma equipe multidisciplinar com posta de médicos psicólogos enfermeiros assisten tes sociais pedagogos entre outros Essa instituição abriga cerca de 700 adultos de ambos os sexos por tadores de transtornos mentais severos O serviço fun ciona 24 horas todos os dias da semana e dispõe de leitos para curta permanência cerca de duas semanas no máximo para usuários em crise Diversas ativida des são realizadas na instituição entre elas podemos citar grupos operativos e terapêuticos assembleias de usuários oficinas de música artes e outras aten dimento psicológico e psiquiátrico escuta atividades físicas grupos de família brechós festas comemorati vas e reuniões dos profissionais As intervenções psicossociais que realizamos no CAPS III foram respaldadas nos pressupostos da Psi cologia Social Comunitária Conforme Freitas 1996 p73 essa área de conhecimento da Psicologia com preende o homem como sendo sóciohistoricamente construído e ao mesmo tempo construindo as con cepções a respeito de si mesmo dos outros homens e do contexto social Por meio da linguagem das rela ções grupais das emoções e dos afetos característicos da subjetividade o psicólogo comunitário atua no nível da consciência da atividade e da identidade dos indi víduos a favor da construção de relações comunitárias Lane 1996 Convém compreender que o objetivo da intervenção psicossocial é de promover melhores condições humanas e boa qualidade de vida Sarriera 2004 O psicólogo facilita mudanças ao fomentar prá ticas coletivas organizadas que possibilitam a leitura crítica da realidade e a transformação social A atuação referenciada pela Psicologia Social Comunitária em diálogo com a Educação Popular EP em saúde rompe com o modelo assistencia lista tradicionalmente ligado aos serviços de saúde e passa a trabalhar em prol do desenvolvimento de uma reflexão crítica estimulando a autonomia e o protagonismo social das pessoas Em relação a isso Alberti Salbego Martins e Alberti 2014 afirmam que a Educação Popular ao reconhecer o outro como um sujeito de direitos e protagonista da própria existên cia promove ações emancipatórias e dialógicas que contribuem para que ele conquiste sua autonomia Nossa escolha por esse referencial teórico baseouse na crença de que a atuação da Psicologia no campo das políticas públicas requer práticas de saúde que reconheçam a importância da participação crítica e coletiva na elaboração de propostas voltadas para as necessidades dos grupos e para a transforma ção social A interface da Psicologia com o campo das políticas públicas configurase portanto como uma aposta em práticas sociais promotoras de novos mun dos como destaca Mancebo 2011 bem como de novas subjetividades A Psicologia Social Comunitária a Educação Popular e os princípios da Reforma Psiquiátrica ser viram de base para a construção e o desenvolvimento das atividades realizadas no CAPS III de Campina Grande No entanto neste relato faremos referência apenas às oficinas com um grupo de usuários cuja temática trabalhada foi a família Por reconhecer a pluralidade de arranjos familia res que revelam a insuficiência de certos parâmetros que definem a família como consanguinidade hete rossexualidade divisão da mesma casa entre outros partilhamos a ideia de família como um grupo afetivo influenciado por uma diversidade de fatores e con textos e caracterizado por relações íntimas e inter geracionais Nesse grupo iniciase a aprendizagem dos afetos dos valores e das relações sociais Dessen 2010 Simionato Oliveira 2003 Como já explicitado entendemos a família tam bém como uma unidade básica de cuidado para a pessoa em sofrimento psíquico razão por que é importante que os profissionais participem da iden tificação de recursos que esse grupo apresenta e de fatores de vulnerabilidade que o impedem de desem penhar sua função de cuidar ou a dificultam Pontes 2009 A identificação das potencialidades e das difi culdades assim como as intervenções realizadas no campo da saúde mental devem contemplar todos os atores envolvidos nesse grupo porque os membros familiares se influenciam mutuamente Este relato é relevante pois é imprescindível não só escutar os familiares dos portadores de transtorno 493 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental mental mas também os usuários e lhes dar oportu nidades para que reflitam sobre seu lugar no grupo familiar e sobre o seu papel na construção de novas relações Com o intuito de atingir esse objetivo o tema família foi inserido nas oficinas com os usuários Percurso metodológico As atividades aqui relatadas foram desenvolvidas com um grupo de usuários de saúde mental no CAPS III como já ressaltado O grupo reuniase semanal mente há cerca de um ano numa sala da instituição e contava com a participação de quatro a 12 usuários de ambos os sexos adultos jovens e adultos a cada oficina Assim a faixa etária variava de 20 a 59 anos Todos resi diam com seus familiares pais irmãos cônjuges eou filhos A maioria já havia sido internada em hospitais psiquiátricos e trazia em seus corpos e subjetividades as marcas da reclusão do silêncio e das demais violên cias a que foram submetidos pela psiquiatria asilar Como prática de intervenção psicossocial as oficinas nos permitiram trabalhar diversas temáticas com os usuários Em determinado momento propu semonos a trabalhar o tema família recorrente nas falas dos usuários durante as oficinas Ao longo dos encontros discutimos sobre o significado de família suas características positivas e negativas e o papel dos usuários nessas relações Tínhamos o intuito de fomentar uma reflexão sobre essas relações atentando para a sua importância e para a forma como cada um poderia contribuir para a boa qualidade delas tendo sempre como horizonte o estímulo ao protagonismo e à autonomia dos usuários Inspirandonos na proposta da Arteterapia que sugere a utilização da arte em contextos terapêuticos com a intenção de possibilitar a expressão a elabo ração e a reelaboração dos modos de estar pensar e sentir o mundo Vanderley 2001 as linguagens artís ticas foram o principal instrumento metodológico utilizado para o desenvolvimento das oficinas com destaque para o uso dos jogos e exercícios do Teatro do Oprimido TO propostos por Augusto Boal A arte caracterizase como um eficiente instru mento metodológico porquanto tem a função de criar uma consciência do mundo não necessaria mente verbal ou verbalizável Boal 2008 No campo da saúde mental como discutem Tavares e Sobral 2005 a arte surge como um recurso para a proposta de humanizar a assistência Utilizada em atividades diversas no CAPS ela produz subjetividades catalisa afetos e engendra meio de produção e inserção social das pessoas em sofrimento psíquico Por meio do Teatro do Oprimido podemse ques tionar dogmas ou regras fixas adotadas pelas pessoas de forma mecânica Com o trabalho em grupo é pos sível compreender as condições objetivas de produção dessas ideias arraigadas socialmente e adotadas sem questionamentos Através dos exercícios os sujeitos podem refletir sobre si mesmos já que visam a um melhor conhecimento do corpo suas atrofias e hiper trofias mecanismos capacidades de recuperação reestruturação e rearmonização Os jogos por sua vez trabalham a expressividade dos corpos como emisso res e receptores de mensagens Boal 2008 Relato da experiência Neste artigo tratamos das oficinas realizadas sobre a temática família das quais escolhemos três Consi derando que é importante salvaguardar o anonimato dos usuários utilizamos nomes de cores para identificar cada um A ideia é de relatar sinteticamente como ocor reu cada uma dessas oficinas para no próximo item fazer algumas considerações teóricas Cabe destacar ainda que estamos fazendo um pequeno recorte de uma experiência muito mais ampla Oficina Significados sobre família Participaram dessa oficina oito usuários Como sempre fazíamos iniciamos com uma técnica de relaxamento que consistia em respirar profunda mente alongar cada parte do corpo e concentrarse na oficina que se iniciava Com o objetivo de intro duzir a temática e fomentar discussões iniciamos a intervenção com o exercício de Teatro do Oprimido TO intitulado Imagem da palavra que conforme Boal 2002 p18 caracterizase da seguinte forma o diretor convida voluntários para que mostrem de forma visual o tema escolhido pelo grupo Cada um trabalha sem olhar o que fazem os demais para que não haja influências Cada um vai ao centro e usando somente o corpo expressa o tema O exercício consistiu em expressar por meio de gestos e movimentos a imagem que os usuários construíam do termo indutor família Esperávamos que esse exercício gerasse diálogos sobre a definição de família socialmente construída e sobre a família dos participantes Como não pudemos evitar que os usuários trabalhassem sem olhar uns para os outros 494 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 todos eles fizeram corações com as mãos e disseram que aquilo representava a união e o amor da família Em seguida passamos para a atividade de dese nho Cada participante desenhou o que entendia por família depois conversamos sobre os desenhos e sobre as famílias deles Os usuários disseram que havia coisas ruins na família mas também identificaram coi sas boas O amor a união e o companheirismo eram características da família no entanto estavam faltando nas famílias dos usuários Vermelho por exemplo além de desenhar pessoas de mãos dadas e uma casa que entendia como o alicerce da família escreveu Família é união companheirismo amor fraternidade Dese jando mais união familiar ele ressaltou a falta que os pais faziam e a separação da família após a morte deles Lilás e Amarelo frequentemente relatavam os conflitos que tinham em casa e afirmaram que era necessário haver mais união e paz na família Verde por sua vez falou que havia coisas boas na família mas que na sua faltava amor entre os pais fato que ele retratou no dese nho que fez de um homem uma mulher e um coração Porém o coração estava afastado do casal que parecia não se tocar nem se olhar Por fim iniciamos uma reflexão sobre as carac terísticas das famílias com o intuito de desconstruir o ideal de família perfeita porque cada uma delas tem suas limitações É necessário pensar em modos de intervenção que revertam a lógica de idealiza ção e culpabilização da família Severo Dimenstein Brito Cabral Alverga 2009 A oficina foi encerrada como sempre fazíamos com um Círculo de Energia que consistia em organizados em círculo e de mãos dadas recapitular as principais questões discutidas na oficina Nesse momento relembramos aspectos importantes da que foi realizada naquele dia em que obtivemos informações sobre as famílias dos usuários e sobre alguns sentimentos e representações deles acerca de seu grupo familiar Oficina O que gosto e o que não gosto na família Nessa oficina contamos com a participação de doze usuários Iniciamos o encontro com a técnica de relaxamento e em seguida continuamos a refle xão sobre o tema família Para essa oficina seleciona mos uma música intitulada Família da banda Titãs A música como instrumento metodológico propicia a expressão de sentimentos e emoções e contribui para que sejam pensados e discutidos Araújo 1999 A música ao criar e despertar a subjetividade parece modificar a maneira como a pessoa dá significado ao mundo que a rodeia Maheirie 2003 No momento reservado para o debate foram pro duzidos novos discursos com a introdução de novos ele mentos Os participantes referiram que os animais tam bém fazem parte da família como a música dizia Alguns falaram sobre seus aspectos problemáticos como a falta de união as brigas as discussões Outros destacaram os aspectos positivos que é bom ter uma família e a importância de que haja união no grupo familiar Posteriormente propusemos uma atividade de colagem para que os usuários expressassem por meio de figuras coisas de que gostavam e de que não gostavam na família Após a colagem das figuras ini ciamos uma discussão sobre tais produções Verme lho relatou que o de que mais gostava em sua família era o filho e a falta de união o de que não gostava Vários outros usuários também apontaram a falta de união da família Foi abordada também a questão do alcoolismo Marrom por exemplo que era alcoolista assim como sua mãe não mencionou o que mais lhe desagradava na família mas que não gostava da bebida e que ela prejudicava a família Já Azul escolheu figuras de malas para representar os irmãos e afirmou que só precisava da mãe pois não gostava dos familiares Vários usuários como Laranja falaram que o de que gostam na família são os sobri nhos Laranja também foi o único participante que disse não saber o que não gostava na própria família Outros falaram sobre os pais e alguns destacaram a falta que sentem dos pais falecidos Depois de ter sido identificada a demanda do grupo perguntamoslhes o que achavam que pode riam fazer para mudar o que não gostam na família Partimos do pressuposto de que os serviços de aten ção à saúde mental precisam abandonar as práticas excludentes e tutelares e trabalhar em prol do prota gonismo e da autonomia dos usuários Medeiros Guimarães 2002 Nesse sentido procuramos esti mular a ideia de que eles também são responsáveis e podem contribuir para melhorar o relacionamento familiar com uma postura mais ativa e participativa Os usuários propuseram estratégias como dia logar e conversar para tentar resolver os problemas sem gerar mais conflitos e pensar antes de agir ou falar Chamounos a atenção o fato de alguns deles não defenderem estratégias relacionadas à interação com a família mas a uma maior separação como no discurso 495 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental de Azul que já havia dito antes que não gostava da família Nessa oficina também encerrada com o Cír culo de Energia cada um refletiu sobre a realidade de sua família Também enfatizamos a responsabilização dos usuários na relação com os seus familiares Oficina Lembranças Tendo em vista os relatos sobre conflitos fami liares em oficinas anteriores nossa proposta nesse encontro foi de resgatar lembranças de bons momen tos que fortalecessem os vínculos familiares e con tribuíssem para melhorar os relacionamentos Essa oficina contou com a presença de seis usuários e começou com o relaxamento Em seguida utilizando imagens mentais como recurso propusemos que os usuários viajassem em sua imaginação até o passado e relembrassem um momento feliz que vivenciaram com a família uma adaptação do exercício de TO Memória e emoção lembrando um dia do passado Conforme Boal 2008 nesse exercício cada parti cipante escolhe algum dia do seu passado em que algo importante ou marcante tenha acontecido e que ainda hoje provoque uma emoção e conta para outro participante chamado de copiloto Como esse exercí cio foi adaptado não houve copilotos Na sequência dividimos os participantes em dois grupos e entregamoslhes uma tigela onde colo camos farinha de trigo água e anilina para produzir massa de modelar que eles deveriam utilizar para representar o que tinham relembrado A seguir cada um deles apresentou sua produção algumas das quais descreveremos a seguir Vermelho fez uma panelinha de barro para repre sentar uma feijoada em família realizada quando seu irmão foi promovido no emprego Azul fez um boneco representando um cantor que o faz lembrar coisas boas da infância Entretanto durante a discussão ele não relatou bons momentos com sua família Amarelo fez um bolo que simbolizava uma festa de aniversário da infância que fora um momento especial para ele Lilás fez uma tapioca Primeiramente ela não fez referência a alguma lembrança mas depois afirmou que gostava muito da mãe embora a mãe não gostasse dela Em seguida refletimos sobre as esculturas feitas com a massa de modelar e conversamos a respeito do que poderíamos fazer para que os momentos bons se repetissem Os usuários falaram novamente sobre a necessidade de mais união na família mais amor a importância de ter paciência evitar brigas e discussões Nesse diálogo em grupo continuamos a estimular a compreensão de que eles também são res ponsáveis pelo que acontece em suas famílias e que portanto podem intervir ativamente e criticamente nessas relações Como de costume a oficina se encer rou com o Círculo de Energia Algumas considerações teóricas Guiandonos pela perspectiva teóricometodoló gica da Psicologia Social Comunitária através dessas oficinas promovemos um debate sobre as relações familiares o qual foi aprofundado em outras ofici nas e contribuiu para incrementar a reflexão crítica e o protagonismo social desse grupo Com isso esti mulamos a ideia de que os usuários podem exercer sua autonomia também na família e colaborar para a melhoria das relações Em nossas oficinas os participantes enfatizaram sobretudo a importância da união e do amor na família Embora tenham incluído os animais como membros da família rompendo o tradicional discurso normatizador e dando indícios de transformações na forma de dar sig nificado à família seus discursos parecem estar ancora dos em uma ideia romântica e idealista de família que caracterizou o modelo nuclear moderno Seguindo essa lógica de pensamento a família não deve ter conflitos porque deve ser um grupo harmônico A família nuclear burguesa assumiu o lugar de modelo ideal de família e isso frequentemente gera sentimentos negativos de inadequação nas pessoas que não têm um grupo familiar correspondente a esse ideal Szymanski 2004 Percebemos isso nos discur sos dos usuários e podemos sugerir que esse ideal de família também origina expectativas inalcançáveis e posteriormente causa frustração e mais sofrimento psíquico por não ser concretizado O fato de as pró prias famílias não corresponderem ao que os usuários esperam ou acreditam ser o ideal acaba por provocar mais sofrimento A família é produzida socialmente em determinado tempo histórico e marcada por con tradições e conflitos específicos Concordamos com os autores acima citados quando ressaltam a necessi dade de se desconstruir esse modelo de família com o intuito de legitimar outras configurações familiares A promoção de novos significados em torno da família pode proporcionar uma leitura crítica e realista desse grupo social que considere a existência de conflitos advindos de seu ciclo de vida de seu contexto ou de eventos inesperados 496 Psicologia Ciência e Profissão AbrJun 2017 v 37 n2 489499 Por outro lado podemos compreender que o desejo de união mesmo sendo expresso de forma idealizada pode estar revelando o fato de alguns usu ários se sentirem desamparados Borba Schwartz e Kantorski 2008 apontam que as relações afetivas na família podem ser prejudicadas pela sobrecarga financeira física do cuidado e emocional que surge da vivência do sofrimento psíquico Assim os profis sionais devem estar atentos aos fatores que causam essa sobrecarga e à qualidade dos relacionamentos estabelecidos entre as pessoas em sofrimento psí quico e suas famílias Outra possibilidade de análise seria reconhe cer que essas famílias têm conflitos de certa forma difíceis para os usuários As constantes referências à existência de brigas discussões e falta de união indi cam que há problemas de relacionamento dentro das famílias o que pode ser também alimentado pela sobrecarga familiar acima mencionada Entretanto não podemos ter uma visão simplista em que se culpa o usuário pelos conflitos familiares tampouco culpa bilizar a família pela emergência do sofrimento psí quico e desconsiderar a influência de outros fatores em jogo como os sociais e os econômicos Os confli tos de todo modo influenciam a vida das pessoas em sofrimento psíquico e são merecedores de atenção Consideramos que ao promover uma reflexão sobre essas questões estimulamos também a participação ativa dos usuários na melhoria dessas relações A falta de lembrança de bons momentos com a família por parte de Azul e de outros usuários pos sivelmente relacionase a momentos em família e a sentimentos daí decorrentes que são difíceis de ser expressos Em relação a isso Farias et al 2016 ressal tam que essas atividades de atenção psicossocial mui tas vezes são o primeiro lugar onde aquele usuário terá liberdade de se expressar sem ser estigmatizado Desse modo o usuário pode no começo ter certa dificuldade de expressar seus sentimentos e o profissional deve estar atento a isso propiciando o contexto adequado e ouvindo o que é dito de forma verbal e não verbal Em alguns momentos da intervenção verifica mos a construção da solidariedade entre os membros do grupo ao compartilharem ideias posicionamen tos e sentimentos Esse processo vai ao encontro do paradigma da desinstitucionalização que privilegia a promoção de dispositivos grupais e tem como preo cupação a solidariedade na atenção à clientela de cui dado contínuo Vasconcelos 2004 A escolha dos participantes por estratégias como o diálogo e a reflexão para resolver conflitos familia res revela o deslocamento de um papel passivo para o de protagonista que busca reconstruir os laços de família ou melhorar sua qualidade O desejo de se dis tanciar de se isolar ou de delimitar território citado por outros participantes pode auxiliar no processo de busca de autonomia do usuário em relação a sua família que por vezes não respeita seu espaço Como discutem Pereira e Pereira Junior 2003 muitos usuários convivem com o estigma o desprezo o desrespeito e a desconfiança das próprias famílias e isso acarreta prejuízos nos relacionamentos e em sua subjetividade Rosa 2011 fortalece essa discus são ao afirmar que a infantilização decorrente da superproteção pode ocorrer em certos grupos fami liares Ao afirmar seu desejo de se isolar e delimitar território esses usuários podem estar procurando romper com essa infantilização A família se organiza como pode para cuidar da pessoa em sofrimento psí quico mas nem sempre as estratégias empregadas são eficientes ou beneficiam o grupo familiar Assim é necessário colaborar para a criação de estratégias de cuidado tanto para a família quanto para o usuário O incentivo à rememoração de lembranças posi tivas na família estimulado em uma das oficinas teve como objetivo instaurar um processo de reelaboração de experiências catastróficas e de dar um novo sentido aos eventos Vasconcelos 2007 Ao levar para a memória essas lembranças os usuários tiveram a oportunidade de reavaliar situações algumas não tão distantes como a feijoada pelo novo emprego do irmão e outras vindas de muitos anos atrás ainda na infância Por meio do dispo sitivo grupal outros sentidos e sentimentos em relação à família foram provocados com o fim de motiválos a pôr em prática as estratégias discutidas em encontro anterior e estimular o protagonismo dos usuários em relação as suas famílias Com o trabalho em grupo podemse cons truir novos modos de existir por meio de processos de criação de si e do mundo Passos 2007 Nas oficinas ministradas percebemos também a necessidade de ultrapassar propostas de atuação baseadas em modelos clínicos tradicionais e de com preendermos a necessidade de refletir sobre as con dições socioeconômicas e culturais que influenciam o nosso contexto de atuação e a vida dos indivíduos com os quais trabalhamos Em cada oficina aden tramos um pouco mais o universo de cada usuário e trouxemos à tona novas questões sobre as condições 497 Coelho RS Velôso TMG Barros SMM 2017 Oficinas com Usuários de Saúde Mental de vida deles Esses aspectos são extremamente rele vantes como alertam Sales e Dimenstein 2009 Aprendemos que lidar com a família como uma unidade de cuidado realmente requer o conheci mento de suas singularidades e da complexidade de fatores envolvidos como afirmam Severo Dimens tein Brito Cabral e Alverga 2007 e que olhemos para a família que sofre e não para a família de risco ou incapaz Sawaia 2003 p 45 e potencializemos os membros nesse caso os usuários para ressignificar o sofrimento e reconstruir suas narrativas Considerações finais Por meio das intervenções realizadas no CAPS III procuramos trazer algumas contribuições com o intuito de fomentar a discussão sobre a importância dos pro cessos familiares na rede intersetorial em saúde mental Todas as oficinas que facilitamos com o grupo de usuários tiveram o objetivo de estimular a autonomia o protagonismo social e a reflexão crítica desse grupo como propõe a Psicologia Social Comunitária As ofici nas realizadas sobre o tema família contribuíram para que os usuários fizessem algumas reflexões desejas sem participar das relações familiares mais ativamente e tivessem mais responsabilidades Considerando que o fortalecimento dos laços familiares é condição para se concretizar a proposta da rede de atenção em saúde mental nossa intenção era de que essas ações fossem condizentes com tais princípios Concepções de famí lia aspectos positivos e negativos observados pelos usuários e atitudes que podem colaborar para melho rar as relações foram alguns dos temas debatidos Per cebemos a existência de sentimentos tanto positivos quanto negativos associados às relações familiares Consideramos que atingimos o objetivo de iniciar um processo de reflexão sobre as relações familiares e o papel dos usuários nesses relacionamentos Futuros encaminhamentos podem incluir o desenvolvimento de ações em longo prazo e a avalia ção de possíveis impactos que a participação nessas ações poderá ter nas relações familiares dos usuá rios Acreditamos que experiências como esta com o tempo podem efetivamente modificar as relações familiares Isso poderia ser acompanhado e avaliado através dos conteúdos trazidos pelos próprios usuá rios participantes e dos relatos dos familiares Também ressaltamos a importância de haver intervenções com a participação do usuário e de seus familiares Os recursos teóricos e metodológicos da Terapia Familiar por exemplo poderiam subsidiar algumas ações em saúde mental Nesse caso os dife rentes modelos das intervenções familiares devem ser adaptados aos objetivos sociais característicos da intervenção psicossocial Além disso destacamos intervenções que levem em conta a rede pessoal signi ficativa com o intuito de dar suporte às famílias e aos usuários em sofrimento psíquico Com base em nossa experiência podemos afir mar que para efetivar a proposta da Reforma é impor tante desenvolver ações por meio das quais possamos discutir sobre as relações familiares em grupos com as famílias com os usuários e com os usuários e seus familiares a partir de uma perspectiva que estimule seu protagonismo sua autonomia e corresponsabili zação a fim de que possam abandonar as tradicionais posições de vítimas e de culpados Referências Afonso M L Coutinho A R A 2010 Metodologias de trabalho com grupos e sua utilização na área da saúde In M L AfonsoOrg Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde pp 5984 São Paulo SP Casa do Psicólogo Alberti G F Salbego C C Martins S O R Alberti D L 2014 Educação popular trabalhada em oficinas de saúde a sexualidade durante o adolescer Revista de Educação Popular 131 7581 Recuperado de httpwww seerufubrindexphpreveducpoparticleview24871 Araújo R C 1999 A música como instrumento da Psicologia Comunitária In I R Brandão Z A C Bon fim Orgs Os jardins da psicologia comunitária escritos sobre a trajetória de um modelo teóricovivencial pp121129 Fortaleza CE Universidade Federal do Ceará 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Psicologia da comunidade e Psicologia social comunitária práticas da psicologia em comunidade nas décadas de 60 a 90 no Brasil In R H F Campos Org Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia pp 5479 Petrópolis RJ Vozes Lane S T M 1996 História e fundamentos da psicologia comunitária no Brasil In R H F Campos Org Psico logia social comunitária da solidariedade à autonomia pp 17 34 Petrópolis RJ Vozes Maheirie K 2003 Processo de criação no fazer musical uma objetivação da subjetividade a partir dos trabalhos de Sartre e Vygotsky Psicologia em Estudo 82 147153 httpsdoiorg101590S141373722003000200016 Mancebo D 2011 Prefácio In M G M Gonçalves Org Psicologia subjetividade e políticas públicas pp1115 São Paulo SP Cortez Medeiros S M Guimarães J 2002 Cidadania e saúde mental no Brasil contribuição ao debate Ciência Saúde Coletiva 73 571579 httpsdoiorg101590S141381232002000300014 Passos E 2007 Quando um grupo é a afirmação de um paradoxo In R B Barros Org Grupo a afirmação de um 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Pósgraduação em Psicologia da Saúde UEPB Campina Grande PB Brasil Email tgrisivelosogmailcom Sibelle Maria Martins de Barros Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB Campina Grande PB Brasil Email barrossibellegmailcom Endereço para envio de correspondência Rua Rodrigues Alves 1979104 Bairro Universitário CEP 58429145 Campina Grande PB Brasil Recebido 18082015 Reformulação 08032017 Aprovado 25042017 Received 08182016 Reformulated 03082016 Approved 04252017 Recebido 18082015 Reformulado 08032017 Aceptado 25042017