• Home
  • Chat IA
  • Guru IA
  • Tutores
  • Central de ajuda
Home
Chat IA
Guru IA
Tutores

·

Biomedicina ·

Filosofia

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

o Cuidado em Saúde Mental e a Noção de Sujeito

24

o Cuidado em Saúde Mental e a Noção de Sujeito

Filosofia

CEUCLAR

Refletir sobre a Dimensão Social da Saúde

10

Refletir sobre a Dimensão Social da Saúde

Filosofia

CEUCLAR

Exercícios de Filosofia: Pré-Socráticos, Sofistas e Lógica Aristotélica

3

Exercícios de Filosofia: Pré-Socráticos, Sofistas e Lógica Aristotélica

Filosofia

CEUCLAR

História da Filosofia Moderna II - Caderno de Referência

204

História da Filosofia Moderna II - Caderno de Referência

Filosofia

CEUCLAR

Reflexões Éticas sobre o Documentário Human - Análise e Ética na Filosofia Política

3

Reflexões Éticas sobre o Documentário Human - Análise e Ética na Filosofia Política

Filosofia

CEUCLAR

Domesticação do Homem em Nietzsche - Revisão Bibliográfica e Análise Contemporânea

2

Domesticação do Homem em Nietzsche - Revisão Bibliográfica e Análise Contemporânea

Filosofia

CEUCLAR

Tópicos de Filosofia e Educação em Cursos de Graduação EAD

192

Tópicos de Filosofia e Educação em Cursos de Graduação EAD

Filosofia

CEUCLAR

História da Filosofia Moderna I - Caderno de Referência de Conteúdo

216

História da Filosofia Moderna I - Caderno de Referência de Conteúdo

Filosofia

CEUCLAR

Paideia Grega - Análise Comparativa dos Modelos Educacionais de Esparta e Atenas

7

Paideia Grega - Análise Comparativa dos Modelos Educacionais de Esparta e Atenas

Filosofia

CEUCLAR

Historia da Filosofia Moderna I - Claretiano - Material Didatico

218

Historia da Filosofia Moderna I - Claretiano - Material Didatico

Filosofia

CEUCLAR

Texto de pré-visualização

Han ByungChul Sociedade do cansaço Tradução de Enio Paulo Giachini 2 ed ampl Petrópolis Vozes 2017 128 pp Elton Corbanezi Universidade Federal de Mato Grosso Cuiabá Mato Grosso Brasil Sociedade do cansaço é um livro curto numa época de velocidade e esgotamento tratase de uma forma precisa de transmitir para o público leitor o aspecto tenebroso da valorização de indivíduos inquietos e hiperativos que se arrastam no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas Publicado original mente em língua alemã Sociedade do cansaço foi traduzido para o português em 2015 e ampliado na segunda edição em 2017 com dois textos anexos es clarecedores Sociedade do esgotamento e Tempo de celebração a festa numa época sem celebração No livro o sulcoreano ByungChul Han pro fessor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim parte de uma constatação relativamente comum para o problema das relações entre sociedade e sofrimento psíquico cada época tem suas enfermi dades1 Dado que os sofrimentos psíquicos são com preendidos nos dias atuais sobretudo como desvios neuroquímicos para o autor do livro em tela nossa época se configura como uma violência neuronal Não obstante a expressão sua explicação passa ao largo de aspectos fisiológicos do sistema nervoso sofrimentos psíquicos como síndrome de burnout transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão são apreendidos pelo autor em sua rela ção direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo De saída ByungChul Han sustenta que as so ciedades ocidentais não são mais designadas pela negatividade típica de épocas e dispositivos imu nológicos cujos mecanismos de defesa são a reação o estranhamento e o isolamento do estranho como formas de proteção Para além da negatividade das sociedades disciplinares em que semelhantes dis positivos operam por meio de muros passagens e barreiras e nas quais o princípio de interdição torna possível o modelo freudiano da neurose enquanto conflito intrapsíquico a sociedade contemporâ nea distinguese pelo excesso de positividade Em seu aspecto biológico e social a violência neuronal a que se refere o autor não está mais associada à negativi dade estranha exterior ao sistema tratase de uma violência imanente ao próprio sistema p 20 Em sua forma especificamente social a nomeação ade quada do sistema é sociedade do desempenho É dessa maneira que o sulcoreano designa o modo de funcionamento da sociedade ocidental contemporâ nea pósdisciplinar já apreendida por outros autores como por exemplo sociedade pósindustrial Bell 1999 sociedade de controle Deleuze 1992 ca pitalismo cognitivo ou economia material Negri e Lazzarato 2001 Gorz 2005 e biopolítica Fou cault 20082 A despeito do matiz analítico diverso de cada uma das expressões conceituais todas indi cam a constituição de uma nova subjetividade prove Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 336 Resenhas pp 335342 niente das transformações sóciohistóricas ocorridas desde o final do último século Yes we can o slogan utilizado pelo presiden te estadunidense Barack Obama expressa com precisão o excesso de positividade da sociedade do desempenho p 24 No lugar do enunciado disci plinar coercitivo tu deves imposto de fora en tra em cena o novo enunciado nós podemos o qual em seu aspecto imanente remete a uma falsa liberdade ao impor aos indivíduos o imperativo da realização da mobilidade da velocidade e da supe ração constantes O aspecto central da análise do coreano reside justamente na falsa liberdade e no processo destrutivo contido nesta transformação contemporânea O filme Cisne negro de Aronofsky 2010 pode evidenciar sua tese Neste thriller psi cológico a imposição da performance e do desem penho mediante a autossuperação é incorporada pela protagonista e levada a suas últimas consequências A autodestruição da bailarina que figura aqui apenas como metáfora do desempenho profissional contemporâneo nada mais é senão a perseguição obstinada do enunciado tu podes Em que pesem os efeitos destrutivos o filme parece ratificar a cons tatação de ByungChul Han de que a positivida de do poder é mais eficiente que a negatividade do dever p 25 Ou seja a autossuperação postulada em yes we can é capaz de extrair toda a potência e eficácia insuspeitas ao próprio sujeito ainda que o custo da autossuperação possa ser a autossupressão Com o deslocamento da negatividade para a positividade o sujeito do desempenho mais rápi do e eficiente substitui o sujeito da obediência Transformase assim o paradigma do inconsciente freudiano que não é atemporal mas histórico Suas condições de possibilidade são a disciplina a inter dição e a repressão modernas cujo corolário forma o sujeito obediente temerário e angustiado diante da possibilidade de transgressão Ao contrário do inconsciente freudiano vinculado necessariamente à repressão e à negatividade o sujeito neoliberal do desempenho é dominado hoje pelo excesso de posi tividade Portanto se no modelo freudiano o sujei to da obediência se submete ao superego o sujeito do desempenho projeta para si uma forma ideal de existência p 100 O excesso de positividade inves tido para alcançála conduz o indivíduo de forma inexorável ao esgotamento típico dos sofrimentos psíquicos da nossa época que são aos olhos de Han especialmente a síndrome de burnout e a depressão Sua tese é explicita a sociedade disciplinar ain da está dominada pelo não Sua negatividade gera loucos e delinquentes A sociedade do desempenho ao contrário produz depressivos e fracassados Esses estados psíquicos de esgotamento são carac terísticos de um mundo que se tornou pobre em negatividade e que é dominado por um excesso de positividade pp 2425 e 70 grifo do autor Com efeito em uma época cujas palavraschave são projeto motivação iniciativa eficiência flexibilidade não surpreende a avaliação positiva de indivíduos ativos Para além da rubrica psicopa tológica a hiperatividade que é também a impos sibilidade de recusa de dizer não a estímulos intru sivos apresentase para ByungChul Han como a expressão cabal da valorização do excesso de positivi dade É verdade que o déficit de atenção associado à hiperatividade constitui um transtorno psiquiátrico específico de nossa época No entanto a justa medi da da hiperatividade é valorizada sutilmente no pró prio Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais dsm da Associação Psiquiátrica America na documento que como referência mundial para a prática clínica e as pesquisas epidemiológicas é res ponsável por estabelecer cientificamente a distinção entre conduta normal e patológica Na apresentação ao Episódio hipomaníaco o dsmivtr evidencia como o estado moderado de euforia e agitação que não implica deficiência no funcionamento normal do indivíduo não requer hospitalização nem apre senta características psicóticas pode ser social mente desejado a alteração no funcionamento 337 SepDec 2018 Resenhas em alguns indivíduos pode assumir a forma de um aumento acentuado na eficiência realizações ou cria tividade apa 2002 p 362 Para criticar o excesso de positividade da nossa época ByungChul Han evoca Nietzsche mostrando assim que o estado atual da sociedade nada mais é do que o desenvolvimento da modernidade ocidental de cadente Por falta de repouso afirma o filósofo alemão em 1878 nossa civilização caminha para uma nova barbárie Em nenhuma outra época os ativos isto é os inquietos valeram tanto Nietzsche apud p 37 Influenciado por Nietzsche que perpassa seu texto ByungChul Han considera a hiperatividade contemporânea como uma espécie de esgotamento espiritual dos nossos dias Contra o tédio que cons titui o ponto alto do descanso espiritual o indiví duo afundase inquieto na atividade Ácida outra passagem do autor de Humano demasiado humano dá o tom da crítica do coreano aos valores conside rados nobres pelo capitalismo contemporâneo Os ativos rolam como rola a pedra segundo a estupidez da mecânica Nietzsche apud p 533 Ora mas por que julgar de forma tão desprezível a atividade sôfrega dos indivíduos contemporâneos É que o sujeito do desempenho contemporâneo experimenta uma contradictio in adjecto a liberdade coercitiva Alçado à condição de empresário de si mesmo o sujeito atual não tem mais como máximas a obediência ao outro o cumprimento da lei e do dever mas o sentimento de liberdade e de auto nomia a partir do qual deve fazer operarem cria tividade desempenho inovação boa vontade iniciativa individual e flexibilidade Notese que o autor patenteia a autoexploração latente na última característica supervalorizada pelo mercado e pelos indivíduos em suas condutas de vida para as relações sociais de produção capitalista contemporânea o su jeito de desempenho pode explorarse a si próprio de modo ainda mais efetivo quando se mantém aberto para tudo p 96 Não obstante a ênfase dada à fle xibilidade juntas todas as expressões supracitadas constituem o mantra do paradigma produtivo atual que perpassa inteiramente a existência individual submetendoa a novas coações Daí a ideia de que o sujeito de desempenho pósmoderno não está submisso a ninguém salvo a ele próprio p 101 Lembremos uma vez mais o Cisne negro o enuncia do do diretor da peça de balé que é incorporado pela protagonista apresentase da seguinte forma Você não tem nenhum obstáculo a superar a não ser você mesma Soando liberdade a perseguição da meta violenta psíquica e corporalmente o sujeito É que como mostra ByungChul Han de forma convincen te o sujeito narcísico e de desempenho solicitado em nossos dias não realiza a meta concorrendo consigo próprio é incapaz de chegar à conclusão É ilusório portanto associar atividade excessiva pretensamente autônoma à conquista de liberdade A coação de desempenho forçao o sujeito narcísico de desempenho a produzir cada vez mais Assim jamais alcança um ponto de repouso da gratificação Vive cons tantemente num sentimento de carência e de culpa E visto que em última instância está concorrendo consigo mes mo procura superar a si mesmo até sucumbir Sofre um colapso psíquico que se chama de burnout esgotamento O sujeito de desempenho se realiza na morte Realizarse e autodestruirse aqui coincidem pp 8586 A forma pronominal do verbo destruir parece nesse excerto de fato insuficiente o prefixo auto sublinha a dimensão da destruição do sujeito de de sempenho Dessa forma o coreano apresenta o as pecto áspero e inequívoco de sua tese Veiculada não apenas por discursos empresariais management e mensagens da indústria cultural4 mas também por discursos institucionais de promoção da saúde e do bemestar5 a tão propagada autorrealização conduz o indivíduo à autodestruição Eis a lógica paradoxal da liberdade em uma sociedade pósdisciplinar que absolutiza desempenho e produção O excesso de trabalho e desempenho agudizase numa autoexplo Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 338 Resenhas pp 335342 ração Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal p 30 Na sociedade do desempenho ação e identida de são reduzidas à esfera do trabalho e da produção Experimentase o tempo de trabalho total expres são que nos remete às avessas da suposta liberdade individual sustentada pelos arautos do neoliberalis mo à noção de um trabalho totalitário A própria pausa se conserva implícita no tempo de trabalho Ela serve apenas para nos recuperar do trabalho para poder continuar funcionando p 113 para o trabalho é preciso acrescentar Ainda que não seja mobilizada pelo autor de A sociedade do cansaço a noção de trabalho imaterial formulada na passagem para o século xxi por André Gorz Antonio Negri e Maurizio Lazarrato evidencia de que forma o novo paradigma produtivo do capitalismo cogniti vo e a procura constante do indivíduo por acúmulo de capital humano deitam por terra de fato a cisão entre tempo de trabalho e tempo livre Concebese este como investimento naquele é no tempo de não trabalho que se adquirem condições matériasprimas e capital necessários para a geração da riqueza capita lista contemporânea6 Com a sobrestimada noção de autoinvestimento a dialética senhorescravo desaparece como dois polos contraditórios para encarnarse a um só tempo como unidade indissociável no próprio indivíduo Tudo se passa como se assistíssemos a uma nova servidão vo luntária No lugar da sujeição ao outro seja a obe diência à tirania do soberano Boétie 1576 2017 ou a submissão à exploração do capitalista Marx 1844 2004 na sociedade de desempenho pre domina a autoexploração Enquanto realidade incon testável você sa configura o novo paradigma das relações sociais de produção capitalista contemporâ nea Para o autor de Sociedade do cansaço o atual está gio socioeconômico é neste sentido essencialmente pósmarxista uma vez que a alienação não demanda mais o outro que está na origem do conceito O sistema capitalista mudou o registro da exploração estranha para a exploração própria a fim de acelerar o pro cesso Hoje vivemos numa época pósmarxista No regime neoliberal a exploração tem lugar não mais como alienação e autodesrealização mas como liberdade e au torrealização Aqui não entra o outro como explorador que me obriga a trabalhar e me explora Ao contrário eu próprio exploro a mim mesmo de boa vontade na fé de que possa me realizar E me realizo na direção da morte Otimizo a mim mesmo para a morte pp 105 e 116 Embora não esteja explicitado na letra do livro tornase patente que o outro a que o indivíduo con temporâneo se submete sob a ilusão de liberdade é o mercado e sua lógica performática Lemos afinal que destruindose na vitória o sujeito do desempe nho faz funcionar uma sociedade cuja base reside na autoexploração determinada pela racionalidade neoliberal Sem conotação propriamente marxis ta o autor destaca e nesse ponto indica o limite do estudo sociológico de Alain Ehrenberg 1998 sobre a depressão que o imperativo do desempe nho que conduz o sujeito primeiro ao esgotamento síndrome de burnout e depois à depressão provém sobretudo do excesso de positividade solicitado pelas relações sociais de produção capitalista7 Uma vez que o aperfeiçoamento das habilidades ilimitadas para o sucesso profissional é lançado ao infinito compreendese segundo Han pp 45 108 e 117 a elevação da saúde à condição de divindade ou melhor a histeria ou mania de saúde Valen dose ao longo do ensaio de expressões conceituais compostas por palavras cujas acepções são eminente mente paradoxais tais como liberdade coercitiva e autorrealização destruidora o autor faz notar as contradições do tempo presente trazendo à tona tam bém a perseguição patológica pela saúde Se por um lado a vitória pode ser alcançada mediante tal con dicionamento por outro o sujeito depressivo atual figura como o único responsável por seu fracasso Em uma sociedade clivada que produz perdedores 339 SepDec 2018 Resenhas em série o depressivo é o sujeito que está cansa do esgotado de si mesmo de lutar consigo mesmo Desgastase correndo numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma p 91 Nesse sentido apesar da crítica de que Ehrenberg desconsidera as relações sociais de dominação neoli beral o argumento do autor de Sociedade do cansaço não está tão distante quanto presume do autor de La fatigue dêtre soi dépression et société conforme os próprios títulos dão a ver8 Para Ehrenberg mais do que paixão triste a depressão é uma patologia da capacidade insuficiente de ação e iniciativa Sua condição de possibilidade insiste o sociólogo fran cês em seu livro provém da conquista de autonomia e de responsabilidade no mundo pósdisciplinar as quais transformadas em norma social o sujeito não suporta prostrandose depressivo Como se vê a substituição do elemento negativo pela pura positivação não é considerada por Byung Chul Han como favorável aos indivíduos visto que ela é antes de tudo autoagressividade Para eviden ciar sua concepção o coreano diferencia duas formas de potência a positiva e a negativa A primeira como traço distintivo do tempo presente inibe a re flexão proveniente da atenção profunda e conduz o sujeito à hiperatividade superficial e fatal A potência negativa que o autor ao contrário de Agamben não identifica no escrivão Bartleby I would prefer no to de Melville consiste justamente na resistência ao estímulo em vez do paraisso ação constante do hiperativo enaltecese o nãopara Tratase de uma espécie de tédio profundo ou cansaço fun damental sobre o qual ByungChul Han discorre a partir de Para uma abordagem da fadiga do escritor austríaco Peter Handke 1990 Inspirador seme lhante cansaço indica menos o que se deve fazer do que aquilo de que se pode abrir mão Tal cansaço habilita o homem para uma serenidade e abandono especial para um não fazer sereno p 73 Próxi mo à angústia à ira e ao luto potências negativas fundamentais substituídas no universo existencial contemporâneo pela irritação e pelo medo9 o cansaço fundamental consiste numa forma de fa zer desaparecer a economia da eficiência e da acele ração resistindolhe Com todos os paradoxos que a linguagem permite o cansaço elogiado pelo autor constitui a potência negativa em que seria possível gozar sem aberração o uso do inútil p 76 Claro está que para Han o estado de esgota mento na sociedade atual não provém desse tipo de potência mas do excesso de positividade leiase estímulos A leitura de 247 Capitalismo tardio e os fins do sono pode ratificar o sentido da experiência social analisado por ByungChul Han Nesse livro o professor de história da arte Jonathan Crary 2016 evidencia de que forma a presença constante de estí mulos tende a impedir o desligamento do indivíduo que dorme hoje em sleep mode Inspirada nas má quinas essa expressão recorrente e apenas aparen temente inócua dá a ver a ideia de que o indivíduo está em modo de consumo reduzido à disposição superando a lógica desligadoligado de manei ra que nada está de fato desligado e nunca há um estado real de repouso Crary 2016 pp 2223 Trazendo à tona projetos científicos tecnológicos e laboratoriais cujo objetivo consiste em reduzir ou eliminar o sono o norteamericano mostra que tais empreendimentos supostamente inacreditáveis são consonantes à cultura moderna ocidental que deprecia o sono desde a estimação positiva de con ceitos e valores como produtividade racionalidade consciência vontade objetividade ação desempe nho Na cultura ocidental contemporânea 247 na qual impera o regime de trabalho nonstop o sono se apresenta como a única dimensão existencial ainda não colonizada pelo capitalismo A sociedade do cansaço atual nada mais é do que a absolutização unilateral da potência positiva Por isso é também uma sociedade do doping O me lhoramento cognitivo neuroenhancement pode não representar nenhum problema moral diante da normatividade social vigente na sociedade do Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 340 Resenhas pp 335342 desempenho Ou seja o uso pragmático e utilitário circunscrito à psicofarmacologia cosmética Kra mer 1993 apresenta absoluta coerência em uma configuração social que inculca nos indivíduos a necessidade tanto de realização permanente para a qual se solicita antes a autossuperação quanto de bemestar como fórmula para o sucesso social Uma substituição ocorre assim no plano terapêuti co Desprovido de tempo o sujeito do desempenho não procura mais a gênese do conflito psíquico cuja temporalidade técnica é lenta A medicação psiquiá trica pode atender com a urgência necessária o res tabelecimento a manutenção e o aperfeiçoamento das potencialidades do sujeito impaciente para a escavação arqueológica de cunho psicanalítico que visa a descobrir a origem do sofrimento psíquico Em um aforismo sugestivo o antropólogo esta dunidense Marshall Sahlins 2004 p 23 senten cia um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz Do mesmo modo ao juízo de Han a lógica social parece inequívoca a sociedade hiperativa do desempenho só pode produzir indivíduos estafa dos Daí a epidemia de um sofrimento psíquico re lacionado diretamente ao desempenho profissional que captura todos os aspectos da vida humana A síndrome de burnout que precede a depressão é a consequência lógica e patológica da autoexploração Sublinhemos por fim o fato de que a associação entre a depressão e outros sofrimentos psíquicos e as normas sociais do capitalismo contemporâneo não é inédita Além de Ehrenberg 1998 e sua ênfa se na autonomia como norma social que se impõe sobre os indivíduos Maria Rita Kehl 2009 tam bém argumenta que a epidemia atual de depressão encontra suas condições de possibilidade em uma sociedade simultaneamente antidepressiva e manía ca leiase patologicamente hiperativa Subtraindo o aspecto psicanalítico que foge ao escopo da nossa análise a autora brasileira sustenta que a depressão recusa e questiona valores essenciais da sociedade ca pitalista contemporânea entre os quais se destacam a velocidade e o gozo isto é a aceleração do tempo e o imperativo da felicidade do prazer e da satisfação prêtàporter A despeito desta observação final dialogando com obras de escritores e artistas diversos entre os quais despontam não apenas os já citados Nietzsche Melville Handke Agamben mas também Kafka Maurice Blanchot Cézanne MerleauPonty Walter Benjamin Theodor Adorno Hannah Arendt Jean Baudrillard e Roberto Esposito ByungChul Han apresenta em seu Sociedade do cansaço uma reflexão percuciente para o público leitor compreender me lhor o modo de funcionamento da sociedade capi talista contemporânea De forma mais específica o livro é uma contribuição a ser considerada por so ciólogos e pesquisadores que estudam a relação entre sociedade e sofrimento psíquico na medida em que associa de forma inequívoca autorrealização e au todestruição em uma determinada configuração so cial Com uma pergunta o Zaratustra de Nietzsche 2011 p 46 pode ainda nos perturbar e inquietar provocando a reflexão e também vós para quem a vida é furioso trabalho e desassossego não estais muito cansados da vida Referências Bibliográficas Associação psiquiátrica americana apa 2002 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais dsmivtr Porto Alegre Artmed Bell Daniel 1999 The coming of postindustrial society Nova York Basic Books Boétie Étienne de la 1576 2017 Discurso sobre a servidão voluntária São Paulo Edipro Bruni José Carlos 2002 O tempo da cultura em Nietzsche Ciência e Cultura Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 2 54 3335 Corbanezi Elton Rogerio 2015 Saúde mental e depressão a função política de concepções científicas contemporâneas Campinas tese de doutorado Insti 341 SepDec 2018 Resenhas tuto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas Crary Jonathan 2016 Capitalismo tardio e os fins do sono São Paulo Ubu Deleuze Gilles 1992 Conversações São Paulo Edi tora 34 Ehrenberg Alain 1998 La fatigue dêtre soi dépression et société Paris Odile Jacob Foucault Michel 2008 Nascimento da biopolítica curso dado no Collège de France 19781979 São Paulo Martins Fontes Foucault Michel 2010 História da sexualidade i a vontade de saber Rio de Janeiro Graal Freud Sigmund 2010 O malestar na civilização In Freud Sigmund O malestar na civilização novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos 19301936 São Paulo Companhia das Letras pp 13122 Gorz André 2005 O imaterial São Paulo Annablume Handke Peter 1990 Para uma abordagem da fadiga Tradução de Isabel de Almeida e Sousa Lisboa Difel Kehl Maria Rita 2009 O tempo e o cão a atualidade das depressões São Paulo Boitempo Kramer Peter 1993 Listening to prozac a psychiatrist explores antidepressants drugs and the remaking of the self Nova York Viking Lazzarato Maurizio Negri Antonio 2001 Trabalho imaterial formas de vida e produção de subjetividade Rio de Janeiro dpa LópezRuiz Osvaldo 2007 Os executivos das transnacio nais e o espírito do capitalismo capital humano e empreen dedorismo como valores sociais Rio de Janeiro Azougue Marx Karl 1932 2004 Manuscritos econômico filosóficos São Paulo Boitempo Nietzsche Friedrich 2004 Aurora São Paulo Com panhia das Letras Nietzsche Friedrich 2011 Assim falou Zaratustra um livro para todos e para ninguém São Paulo Com panhia das Letras Organização Mundial da Saúde oms 1946 Constitution of the World Health Organization Disponível em httpappswhointgbbdpdfbd47 enconstitutionenpdf consultado em 10112017 Organização Mundial da Saúde oms 2001 Re latório sobre a saúde no mundo 2001 Saúde mental nova concepção nova esperança Biblioteca da oms Sahlins Marshall 2004 Esperando Foucault ainda São Paulo Cosac Naify Referências Filmográficas Aronofsky Darren 2010 Cisne negro Estados Unidos da América Daniels Lee 2013 O mordomo da Casa Branca Estados Unidos da América McQueen Steve Doze anos de escravidão Estados Unidos da América tillman jr George 2000 Homens de honra Estados Unidos da América Notas 1 A esse respeito basta lembrar que para Freud 2010 por exemplo a histeria e a neurose são patologias específicas da civilização moderna 2 Essa relação de expressões conceituais não é exaustiva A res peito da última é preciso observar que o conceito de biopoder tal como elaborado por Foucault 2010 é contempo râneo ao poder disciplinar moderno sucedendoo apenas em termos analíticos Contudo em seu curso dedicado ao neoliberalismo alemão e norteamericano Foucault 2008 evidencia o aspecto atual da biopolítica por meio da teoria econômica do capital humano e sua concepção de vida como objeto de investimento o que circunscreve também as noções de trabalho imaterial e capitalismo cognitivo 3 A esse respeito ver Bruni 2002 que se ocupa do tempo so cial e da cultura em Nietzsche 4 Ver por exemplo produções cinematográficas recentes como Homens de honra 2000 O mordomo da Casa Branca 2013 e Doze anos de escravidão 2014 que veiculam ao lado do problema da questão racial a ideia de possibilidade de sucesso social por meio da autossuperação e da consequente autorrea lização Nesses casos circulase a ideia de que o homem pode por esforço e persistência próprios escapar às determinações históricas e sociais que o circunscrevem 5 A Organização Mundial da Saúde oms 2001 p 29 asse Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 342 Resenhas pp 335342 gura por exemplo que em seu aspecto positivo ou seja não restrito aos transtornos mentais e comportamentais o conceito de saúde mental envolve qualidades como bemestar subjetivo autoeficácia autonomia competência e autorrea lização Observese que a definição conceitual específica pro vém da célebre concepção de saúde da oms 1946 p 1 que postula desde sua constituição a ideia de que a saúde não é apenas ausência de enfermidade mas completo bemestar físico mental e social 6 A respeito do tempo de trabalho atual conforme as noções de trabalho imaterial e capitalismo cognitivo ver Lazzarato e Negri 2001 Quanto à teoria econômica do capital hu mano que é incorporada como valor social na conduta de vida dos indivíduos contemporâneos transformando assim igualmente o tempo de vida em trabalho ver Foucault 2008 e LópezRuiz 2007 7 Ehrenberg 1998 aborda a depressão a partir da economia psíquica do déficit Pierre Janet que para o sociólogo substitui o conflito característico do modelo freudiano das neuroses Em vez de excesso de energia psíquica a depressão é considerada então como patologia da insuficiência Em que pesem os sinais invertidos nas análises de ByungChul Han positividade e Alain Ehrenberg deficiência parece que em ambos os casos o sujeito depressivo apresentase como efeito ou recusa do tipo ideal de indivíduo contemporâneo capaz de empreender nele próprio graças à aquisição à exe cução e à exibição das seguintes qualidades ação motiva ção responsabilidade iniciativa individual autonomia flexibilidade capacidade comunicacional e para enfrentar riscos mobilidade criatividade persistência eficiência e felicidade 8 Destaquese contudo que Han critica com razão a nosso ver a ideia do sociólogo francês de que assistimos hoje à ascensão do indivíduo soberano de Nietzsche para Ehren berg 1998 pp 129 e 236 em vez de um modo de vida se lecionado e destinado a alguns fortes segundo a tipologia nietzschiana tal indivíduo sobrevém nos dias atuais demo craticamente massificado e não suportando a soberania de si tornase depressivo Como observa Han 2017 pp 9495 ao contrário do sujeito do desempenho e da hiperatividade o alémdohomem nietzschiano é um espíritolivre forjado como contramodelo de crítica cultural deste sujeito esgotado que dissemina uma singular ausência de espírito As passagens citadas em nosso texto denotam a crítica implacável do filóso fo autodenominado amigo do lento cf Nietzsche 2004 p 14 à hiperatividade moderna e contemporânea 9 Conforme Han 2017 pp 5455 enquanto a irritação e o medo se reportam a um aspecto específico da vida a angústia e a ira podem fazer o indivíduo questionar com profundidade estados existenciais Quanto à tendência de desaparecimento do luto na sociedade do desempenho registremos a alteração na duração do luto considerado normal realizada na mais re cente versão do manual psiquiátrico da Associação Psiquiátri ca Americana Enquanto no dsmiv a tristeza decorrente da perda de um ente querido poderia durar até dois meses sem configurar sintoma patológico no dsm5 a tolerância é redu zida para apenas duas semanas A esse respeito ver Corbanezi 2015 pp 126129 Texto recebido em 28112017 e aprovado 08122017 doi 101160601032070ts2018141124 elton corbanezi é professor do Departamento de So ciologia e Ciência Política da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisador do grupo de pesquisa Conhecimento Tecnologia e Mercado cteme ifchUnicamp Email eltoncorbanezihotmailcom

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Recomendado para você

o Cuidado em Saúde Mental e a Noção de Sujeito

24

o Cuidado em Saúde Mental e a Noção de Sujeito

Filosofia

CEUCLAR

Refletir sobre a Dimensão Social da Saúde

10

Refletir sobre a Dimensão Social da Saúde

Filosofia

CEUCLAR

Exercícios de Filosofia: Pré-Socráticos, Sofistas e Lógica Aristotélica

3

Exercícios de Filosofia: Pré-Socráticos, Sofistas e Lógica Aristotélica

Filosofia

CEUCLAR

História da Filosofia Moderna II - Caderno de Referência

204

História da Filosofia Moderna II - Caderno de Referência

Filosofia

CEUCLAR

Reflexões Éticas sobre o Documentário Human - Análise e Ética na Filosofia Política

3

Reflexões Éticas sobre o Documentário Human - Análise e Ética na Filosofia Política

Filosofia

CEUCLAR

Domesticação do Homem em Nietzsche - Revisão Bibliográfica e Análise Contemporânea

2

Domesticação do Homem em Nietzsche - Revisão Bibliográfica e Análise Contemporânea

Filosofia

CEUCLAR

Tópicos de Filosofia e Educação em Cursos de Graduação EAD

192

Tópicos de Filosofia e Educação em Cursos de Graduação EAD

Filosofia

CEUCLAR

História da Filosofia Moderna I - Caderno de Referência de Conteúdo

216

História da Filosofia Moderna I - Caderno de Referência de Conteúdo

Filosofia

CEUCLAR

Paideia Grega - Análise Comparativa dos Modelos Educacionais de Esparta e Atenas

7

Paideia Grega - Análise Comparativa dos Modelos Educacionais de Esparta e Atenas

Filosofia

CEUCLAR

Historia da Filosofia Moderna I - Claretiano - Material Didatico

218

Historia da Filosofia Moderna I - Claretiano - Material Didatico

Filosofia

CEUCLAR

Texto de pré-visualização

Han ByungChul Sociedade do cansaço Tradução de Enio Paulo Giachini 2 ed ampl Petrópolis Vozes 2017 128 pp Elton Corbanezi Universidade Federal de Mato Grosso Cuiabá Mato Grosso Brasil Sociedade do cansaço é um livro curto numa época de velocidade e esgotamento tratase de uma forma precisa de transmitir para o público leitor o aspecto tenebroso da valorização de indivíduos inquietos e hiperativos que se arrastam no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas Publicado original mente em língua alemã Sociedade do cansaço foi traduzido para o português em 2015 e ampliado na segunda edição em 2017 com dois textos anexos es clarecedores Sociedade do esgotamento e Tempo de celebração a festa numa época sem celebração No livro o sulcoreano ByungChul Han pro fessor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim parte de uma constatação relativamente comum para o problema das relações entre sociedade e sofrimento psíquico cada época tem suas enfermi dades1 Dado que os sofrimentos psíquicos são com preendidos nos dias atuais sobretudo como desvios neuroquímicos para o autor do livro em tela nossa época se configura como uma violência neuronal Não obstante a expressão sua explicação passa ao largo de aspectos fisiológicos do sistema nervoso sofrimentos psíquicos como síndrome de burnout transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão são apreendidos pelo autor em sua rela ção direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo De saída ByungChul Han sustenta que as so ciedades ocidentais não são mais designadas pela negatividade típica de épocas e dispositivos imu nológicos cujos mecanismos de defesa são a reação o estranhamento e o isolamento do estranho como formas de proteção Para além da negatividade das sociedades disciplinares em que semelhantes dis positivos operam por meio de muros passagens e barreiras e nas quais o princípio de interdição torna possível o modelo freudiano da neurose enquanto conflito intrapsíquico a sociedade contemporâ nea distinguese pelo excesso de positividade Em seu aspecto biológico e social a violência neuronal a que se refere o autor não está mais associada à negativi dade estranha exterior ao sistema tratase de uma violência imanente ao próprio sistema p 20 Em sua forma especificamente social a nomeação ade quada do sistema é sociedade do desempenho É dessa maneira que o sulcoreano designa o modo de funcionamento da sociedade ocidental contemporâ nea pósdisciplinar já apreendida por outros autores como por exemplo sociedade pósindustrial Bell 1999 sociedade de controle Deleuze 1992 ca pitalismo cognitivo ou economia material Negri e Lazzarato 2001 Gorz 2005 e biopolítica Fou cault 20082 A despeito do matiz analítico diverso de cada uma das expressões conceituais todas indi cam a constituição de uma nova subjetividade prove Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 336 Resenhas pp 335342 niente das transformações sóciohistóricas ocorridas desde o final do último século Yes we can o slogan utilizado pelo presiden te estadunidense Barack Obama expressa com precisão o excesso de positividade da sociedade do desempenho p 24 No lugar do enunciado disci plinar coercitivo tu deves imposto de fora en tra em cena o novo enunciado nós podemos o qual em seu aspecto imanente remete a uma falsa liberdade ao impor aos indivíduos o imperativo da realização da mobilidade da velocidade e da supe ração constantes O aspecto central da análise do coreano reside justamente na falsa liberdade e no processo destrutivo contido nesta transformação contemporânea O filme Cisne negro de Aronofsky 2010 pode evidenciar sua tese Neste thriller psi cológico a imposição da performance e do desem penho mediante a autossuperação é incorporada pela protagonista e levada a suas últimas consequências A autodestruição da bailarina que figura aqui apenas como metáfora do desempenho profissional contemporâneo nada mais é senão a perseguição obstinada do enunciado tu podes Em que pesem os efeitos destrutivos o filme parece ratificar a cons tatação de ByungChul Han de que a positivida de do poder é mais eficiente que a negatividade do dever p 25 Ou seja a autossuperação postulada em yes we can é capaz de extrair toda a potência e eficácia insuspeitas ao próprio sujeito ainda que o custo da autossuperação possa ser a autossupressão Com o deslocamento da negatividade para a positividade o sujeito do desempenho mais rápi do e eficiente substitui o sujeito da obediência Transformase assim o paradigma do inconsciente freudiano que não é atemporal mas histórico Suas condições de possibilidade são a disciplina a inter dição e a repressão modernas cujo corolário forma o sujeito obediente temerário e angustiado diante da possibilidade de transgressão Ao contrário do inconsciente freudiano vinculado necessariamente à repressão e à negatividade o sujeito neoliberal do desempenho é dominado hoje pelo excesso de posi tividade Portanto se no modelo freudiano o sujei to da obediência se submete ao superego o sujeito do desempenho projeta para si uma forma ideal de existência p 100 O excesso de positividade inves tido para alcançála conduz o indivíduo de forma inexorável ao esgotamento típico dos sofrimentos psíquicos da nossa época que são aos olhos de Han especialmente a síndrome de burnout e a depressão Sua tese é explicita a sociedade disciplinar ain da está dominada pelo não Sua negatividade gera loucos e delinquentes A sociedade do desempenho ao contrário produz depressivos e fracassados Esses estados psíquicos de esgotamento são carac terísticos de um mundo que se tornou pobre em negatividade e que é dominado por um excesso de positividade pp 2425 e 70 grifo do autor Com efeito em uma época cujas palavraschave são projeto motivação iniciativa eficiência flexibilidade não surpreende a avaliação positiva de indivíduos ativos Para além da rubrica psicopa tológica a hiperatividade que é também a impos sibilidade de recusa de dizer não a estímulos intru sivos apresentase para ByungChul Han como a expressão cabal da valorização do excesso de positivi dade É verdade que o déficit de atenção associado à hiperatividade constitui um transtorno psiquiátrico específico de nossa época No entanto a justa medi da da hiperatividade é valorizada sutilmente no pró prio Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais dsm da Associação Psiquiátrica America na documento que como referência mundial para a prática clínica e as pesquisas epidemiológicas é res ponsável por estabelecer cientificamente a distinção entre conduta normal e patológica Na apresentação ao Episódio hipomaníaco o dsmivtr evidencia como o estado moderado de euforia e agitação que não implica deficiência no funcionamento normal do indivíduo não requer hospitalização nem apre senta características psicóticas pode ser social mente desejado a alteração no funcionamento 337 SepDec 2018 Resenhas em alguns indivíduos pode assumir a forma de um aumento acentuado na eficiência realizações ou cria tividade apa 2002 p 362 Para criticar o excesso de positividade da nossa época ByungChul Han evoca Nietzsche mostrando assim que o estado atual da sociedade nada mais é do que o desenvolvimento da modernidade ocidental de cadente Por falta de repouso afirma o filósofo alemão em 1878 nossa civilização caminha para uma nova barbárie Em nenhuma outra época os ativos isto é os inquietos valeram tanto Nietzsche apud p 37 Influenciado por Nietzsche que perpassa seu texto ByungChul Han considera a hiperatividade contemporânea como uma espécie de esgotamento espiritual dos nossos dias Contra o tédio que cons titui o ponto alto do descanso espiritual o indiví duo afundase inquieto na atividade Ácida outra passagem do autor de Humano demasiado humano dá o tom da crítica do coreano aos valores conside rados nobres pelo capitalismo contemporâneo Os ativos rolam como rola a pedra segundo a estupidez da mecânica Nietzsche apud p 533 Ora mas por que julgar de forma tão desprezível a atividade sôfrega dos indivíduos contemporâneos É que o sujeito do desempenho contemporâneo experimenta uma contradictio in adjecto a liberdade coercitiva Alçado à condição de empresário de si mesmo o sujeito atual não tem mais como máximas a obediência ao outro o cumprimento da lei e do dever mas o sentimento de liberdade e de auto nomia a partir do qual deve fazer operarem cria tividade desempenho inovação boa vontade iniciativa individual e flexibilidade Notese que o autor patenteia a autoexploração latente na última característica supervalorizada pelo mercado e pelos indivíduos em suas condutas de vida para as relações sociais de produção capitalista contemporânea o su jeito de desempenho pode explorarse a si próprio de modo ainda mais efetivo quando se mantém aberto para tudo p 96 Não obstante a ênfase dada à fle xibilidade juntas todas as expressões supracitadas constituem o mantra do paradigma produtivo atual que perpassa inteiramente a existência individual submetendoa a novas coações Daí a ideia de que o sujeito de desempenho pósmoderno não está submisso a ninguém salvo a ele próprio p 101 Lembremos uma vez mais o Cisne negro o enuncia do do diretor da peça de balé que é incorporado pela protagonista apresentase da seguinte forma Você não tem nenhum obstáculo a superar a não ser você mesma Soando liberdade a perseguição da meta violenta psíquica e corporalmente o sujeito É que como mostra ByungChul Han de forma convincen te o sujeito narcísico e de desempenho solicitado em nossos dias não realiza a meta concorrendo consigo próprio é incapaz de chegar à conclusão É ilusório portanto associar atividade excessiva pretensamente autônoma à conquista de liberdade A coação de desempenho forçao o sujeito narcísico de desempenho a produzir cada vez mais Assim jamais alcança um ponto de repouso da gratificação Vive cons tantemente num sentimento de carência e de culpa E visto que em última instância está concorrendo consigo mes mo procura superar a si mesmo até sucumbir Sofre um colapso psíquico que se chama de burnout esgotamento O sujeito de desempenho se realiza na morte Realizarse e autodestruirse aqui coincidem pp 8586 A forma pronominal do verbo destruir parece nesse excerto de fato insuficiente o prefixo auto sublinha a dimensão da destruição do sujeito de de sempenho Dessa forma o coreano apresenta o as pecto áspero e inequívoco de sua tese Veiculada não apenas por discursos empresariais management e mensagens da indústria cultural4 mas também por discursos institucionais de promoção da saúde e do bemestar5 a tão propagada autorrealização conduz o indivíduo à autodestruição Eis a lógica paradoxal da liberdade em uma sociedade pósdisciplinar que absolutiza desempenho e produção O excesso de trabalho e desempenho agudizase numa autoexplo Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 338 Resenhas pp 335342 ração Os adoecimentos psíquicos da sociedade de desempenho são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal p 30 Na sociedade do desempenho ação e identida de são reduzidas à esfera do trabalho e da produção Experimentase o tempo de trabalho total expres são que nos remete às avessas da suposta liberdade individual sustentada pelos arautos do neoliberalis mo à noção de um trabalho totalitário A própria pausa se conserva implícita no tempo de trabalho Ela serve apenas para nos recuperar do trabalho para poder continuar funcionando p 113 para o trabalho é preciso acrescentar Ainda que não seja mobilizada pelo autor de A sociedade do cansaço a noção de trabalho imaterial formulada na passagem para o século xxi por André Gorz Antonio Negri e Maurizio Lazarrato evidencia de que forma o novo paradigma produtivo do capitalismo cogniti vo e a procura constante do indivíduo por acúmulo de capital humano deitam por terra de fato a cisão entre tempo de trabalho e tempo livre Concebese este como investimento naquele é no tempo de não trabalho que se adquirem condições matériasprimas e capital necessários para a geração da riqueza capita lista contemporânea6 Com a sobrestimada noção de autoinvestimento a dialética senhorescravo desaparece como dois polos contraditórios para encarnarse a um só tempo como unidade indissociável no próprio indivíduo Tudo se passa como se assistíssemos a uma nova servidão vo luntária No lugar da sujeição ao outro seja a obe diência à tirania do soberano Boétie 1576 2017 ou a submissão à exploração do capitalista Marx 1844 2004 na sociedade de desempenho pre domina a autoexploração Enquanto realidade incon testável você sa configura o novo paradigma das relações sociais de produção capitalista contemporâ nea Para o autor de Sociedade do cansaço o atual está gio socioeconômico é neste sentido essencialmente pósmarxista uma vez que a alienação não demanda mais o outro que está na origem do conceito O sistema capitalista mudou o registro da exploração estranha para a exploração própria a fim de acelerar o pro cesso Hoje vivemos numa época pósmarxista No regime neoliberal a exploração tem lugar não mais como alienação e autodesrealização mas como liberdade e au torrealização Aqui não entra o outro como explorador que me obriga a trabalhar e me explora Ao contrário eu próprio exploro a mim mesmo de boa vontade na fé de que possa me realizar E me realizo na direção da morte Otimizo a mim mesmo para a morte pp 105 e 116 Embora não esteja explicitado na letra do livro tornase patente que o outro a que o indivíduo con temporâneo se submete sob a ilusão de liberdade é o mercado e sua lógica performática Lemos afinal que destruindose na vitória o sujeito do desempe nho faz funcionar uma sociedade cuja base reside na autoexploração determinada pela racionalidade neoliberal Sem conotação propriamente marxis ta o autor destaca e nesse ponto indica o limite do estudo sociológico de Alain Ehrenberg 1998 sobre a depressão que o imperativo do desempe nho que conduz o sujeito primeiro ao esgotamento síndrome de burnout e depois à depressão provém sobretudo do excesso de positividade solicitado pelas relações sociais de produção capitalista7 Uma vez que o aperfeiçoamento das habilidades ilimitadas para o sucesso profissional é lançado ao infinito compreendese segundo Han pp 45 108 e 117 a elevação da saúde à condição de divindade ou melhor a histeria ou mania de saúde Valen dose ao longo do ensaio de expressões conceituais compostas por palavras cujas acepções são eminente mente paradoxais tais como liberdade coercitiva e autorrealização destruidora o autor faz notar as contradições do tempo presente trazendo à tona tam bém a perseguição patológica pela saúde Se por um lado a vitória pode ser alcançada mediante tal con dicionamento por outro o sujeito depressivo atual figura como o único responsável por seu fracasso Em uma sociedade clivada que produz perdedores 339 SepDec 2018 Resenhas em série o depressivo é o sujeito que está cansa do esgotado de si mesmo de lutar consigo mesmo Desgastase correndo numa roda de hamster que gira cada vez mais rápida ao redor de si mesma p 91 Nesse sentido apesar da crítica de que Ehrenberg desconsidera as relações sociais de dominação neoli beral o argumento do autor de Sociedade do cansaço não está tão distante quanto presume do autor de La fatigue dêtre soi dépression et société conforme os próprios títulos dão a ver8 Para Ehrenberg mais do que paixão triste a depressão é uma patologia da capacidade insuficiente de ação e iniciativa Sua condição de possibilidade insiste o sociólogo fran cês em seu livro provém da conquista de autonomia e de responsabilidade no mundo pósdisciplinar as quais transformadas em norma social o sujeito não suporta prostrandose depressivo Como se vê a substituição do elemento negativo pela pura positivação não é considerada por Byung Chul Han como favorável aos indivíduos visto que ela é antes de tudo autoagressividade Para eviden ciar sua concepção o coreano diferencia duas formas de potência a positiva e a negativa A primeira como traço distintivo do tempo presente inibe a re flexão proveniente da atenção profunda e conduz o sujeito à hiperatividade superficial e fatal A potência negativa que o autor ao contrário de Agamben não identifica no escrivão Bartleby I would prefer no to de Melville consiste justamente na resistência ao estímulo em vez do paraisso ação constante do hiperativo enaltecese o nãopara Tratase de uma espécie de tédio profundo ou cansaço fun damental sobre o qual ByungChul Han discorre a partir de Para uma abordagem da fadiga do escritor austríaco Peter Handke 1990 Inspirador seme lhante cansaço indica menos o que se deve fazer do que aquilo de que se pode abrir mão Tal cansaço habilita o homem para uma serenidade e abandono especial para um não fazer sereno p 73 Próxi mo à angústia à ira e ao luto potências negativas fundamentais substituídas no universo existencial contemporâneo pela irritação e pelo medo9 o cansaço fundamental consiste numa forma de fa zer desaparecer a economia da eficiência e da acele ração resistindolhe Com todos os paradoxos que a linguagem permite o cansaço elogiado pelo autor constitui a potência negativa em que seria possível gozar sem aberração o uso do inútil p 76 Claro está que para Han o estado de esgota mento na sociedade atual não provém desse tipo de potência mas do excesso de positividade leiase estímulos A leitura de 247 Capitalismo tardio e os fins do sono pode ratificar o sentido da experiência social analisado por ByungChul Han Nesse livro o professor de história da arte Jonathan Crary 2016 evidencia de que forma a presença constante de estí mulos tende a impedir o desligamento do indivíduo que dorme hoje em sleep mode Inspirada nas má quinas essa expressão recorrente e apenas aparen temente inócua dá a ver a ideia de que o indivíduo está em modo de consumo reduzido à disposição superando a lógica desligadoligado de manei ra que nada está de fato desligado e nunca há um estado real de repouso Crary 2016 pp 2223 Trazendo à tona projetos científicos tecnológicos e laboratoriais cujo objetivo consiste em reduzir ou eliminar o sono o norteamericano mostra que tais empreendimentos supostamente inacreditáveis são consonantes à cultura moderna ocidental que deprecia o sono desde a estimação positiva de con ceitos e valores como produtividade racionalidade consciência vontade objetividade ação desempe nho Na cultura ocidental contemporânea 247 na qual impera o regime de trabalho nonstop o sono se apresenta como a única dimensão existencial ainda não colonizada pelo capitalismo A sociedade do cansaço atual nada mais é do que a absolutização unilateral da potência positiva Por isso é também uma sociedade do doping O me lhoramento cognitivo neuroenhancement pode não representar nenhum problema moral diante da normatividade social vigente na sociedade do Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 340 Resenhas pp 335342 desempenho Ou seja o uso pragmático e utilitário circunscrito à psicofarmacologia cosmética Kra mer 1993 apresenta absoluta coerência em uma configuração social que inculca nos indivíduos a necessidade tanto de realização permanente para a qual se solicita antes a autossuperação quanto de bemestar como fórmula para o sucesso social Uma substituição ocorre assim no plano terapêuti co Desprovido de tempo o sujeito do desempenho não procura mais a gênese do conflito psíquico cuja temporalidade técnica é lenta A medicação psiquiá trica pode atender com a urgência necessária o res tabelecimento a manutenção e o aperfeiçoamento das potencialidades do sujeito impaciente para a escavação arqueológica de cunho psicanalítico que visa a descobrir a origem do sofrimento psíquico Em um aforismo sugestivo o antropólogo esta dunidense Marshall Sahlins 2004 p 23 senten cia um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz Do mesmo modo ao juízo de Han a lógica social parece inequívoca a sociedade hiperativa do desempenho só pode produzir indivíduos estafa dos Daí a epidemia de um sofrimento psíquico re lacionado diretamente ao desempenho profissional que captura todos os aspectos da vida humana A síndrome de burnout que precede a depressão é a consequência lógica e patológica da autoexploração Sublinhemos por fim o fato de que a associação entre a depressão e outros sofrimentos psíquicos e as normas sociais do capitalismo contemporâneo não é inédita Além de Ehrenberg 1998 e sua ênfa se na autonomia como norma social que se impõe sobre os indivíduos Maria Rita Kehl 2009 tam bém argumenta que a epidemia atual de depressão encontra suas condições de possibilidade em uma sociedade simultaneamente antidepressiva e manía ca leiase patologicamente hiperativa Subtraindo o aspecto psicanalítico que foge ao escopo da nossa análise a autora brasileira sustenta que a depressão recusa e questiona valores essenciais da sociedade ca pitalista contemporânea entre os quais se destacam a velocidade e o gozo isto é a aceleração do tempo e o imperativo da felicidade do prazer e da satisfação prêtàporter A despeito desta observação final dialogando com obras de escritores e artistas diversos entre os quais despontam não apenas os já citados Nietzsche Melville Handke Agamben mas também Kafka Maurice Blanchot Cézanne MerleauPonty Walter Benjamin Theodor Adorno Hannah Arendt Jean Baudrillard e Roberto Esposito ByungChul Han apresenta em seu Sociedade do cansaço uma reflexão percuciente para o público leitor compreender me lhor o modo de funcionamento da sociedade capi talista contemporânea De forma mais específica o livro é uma contribuição a ser considerada por so ciólogos e pesquisadores que estudam a relação entre sociedade e sofrimento psíquico na medida em que associa de forma inequívoca autorrealização e au todestruição em uma determinada configuração so cial Com uma pergunta o Zaratustra de Nietzsche 2011 p 46 pode ainda nos perturbar e inquietar provocando a reflexão e também vós para quem a vida é furioso trabalho e desassossego não estais muito cansados da vida Referências Bibliográficas Associação psiquiátrica americana apa 2002 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais dsmivtr Porto Alegre Artmed Bell Daniel 1999 The coming of postindustrial society Nova York Basic Books Boétie Étienne de la 1576 2017 Discurso sobre a servidão voluntária São Paulo Edipro Bruni José Carlos 2002 O tempo da cultura em Nietzsche Ciência e Cultura Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 2 54 3335 Corbanezi Elton Rogerio 2015 Saúde mental e depressão a função política de concepções científicas contemporâneas Campinas tese de doutorado Insti 341 SepDec 2018 Resenhas tuto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas Crary Jonathan 2016 Capitalismo tardio e os fins do sono São Paulo Ubu Deleuze Gilles 1992 Conversações São Paulo Edi tora 34 Ehrenberg Alain 1998 La fatigue dêtre soi dépression et société Paris Odile Jacob Foucault Michel 2008 Nascimento da biopolítica curso dado no Collège de France 19781979 São Paulo Martins Fontes Foucault Michel 2010 História da sexualidade i a vontade de saber Rio de Janeiro Graal Freud Sigmund 2010 O malestar na civilização In Freud Sigmund O malestar na civilização novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos 19301936 São Paulo Companhia das Letras pp 13122 Gorz André 2005 O imaterial São Paulo Annablume Handke Peter 1990 Para uma abordagem da fadiga Tradução de Isabel de Almeida e Sousa Lisboa Difel Kehl Maria Rita 2009 O tempo e o cão a atualidade das depressões São Paulo Boitempo Kramer Peter 1993 Listening to prozac a psychiatrist explores antidepressants drugs and the remaking of the self Nova York Viking Lazzarato Maurizio Negri Antonio 2001 Trabalho imaterial formas de vida e produção de subjetividade Rio de Janeiro dpa LópezRuiz Osvaldo 2007 Os executivos das transnacio nais e o espírito do capitalismo capital humano e empreen dedorismo como valores sociais Rio de Janeiro Azougue Marx Karl 1932 2004 Manuscritos econômico filosóficos São Paulo Boitempo Nietzsche Friedrich 2004 Aurora São Paulo Com panhia das Letras Nietzsche Friedrich 2011 Assim falou Zaratustra um livro para todos e para ninguém São Paulo Com panhia das Letras Organização Mundial da Saúde oms 1946 Constitution of the World Health Organization Disponível em httpappswhointgbbdpdfbd47 enconstitutionenpdf consultado em 10112017 Organização Mundial da Saúde oms 2001 Re latório sobre a saúde no mundo 2001 Saúde mental nova concepção nova esperança Biblioteca da oms Sahlins Marshall 2004 Esperando Foucault ainda São Paulo Cosac Naify Referências Filmográficas Aronofsky Darren 2010 Cisne negro Estados Unidos da América Daniels Lee 2013 O mordomo da Casa Branca Estados Unidos da América McQueen Steve Doze anos de escravidão Estados Unidos da América tillman jr George 2000 Homens de honra Estados Unidos da América Notas 1 A esse respeito basta lembrar que para Freud 2010 por exemplo a histeria e a neurose são patologias específicas da civilização moderna 2 Essa relação de expressões conceituais não é exaustiva A res peito da última é preciso observar que o conceito de biopoder tal como elaborado por Foucault 2010 é contempo râneo ao poder disciplinar moderno sucedendoo apenas em termos analíticos Contudo em seu curso dedicado ao neoliberalismo alemão e norteamericano Foucault 2008 evidencia o aspecto atual da biopolítica por meio da teoria econômica do capital humano e sua concepção de vida como objeto de investimento o que circunscreve também as noções de trabalho imaterial e capitalismo cognitivo 3 A esse respeito ver Bruni 2002 que se ocupa do tempo so cial e da cultura em Nietzsche 4 Ver por exemplo produções cinematográficas recentes como Homens de honra 2000 O mordomo da Casa Branca 2013 e Doze anos de escravidão 2014 que veiculam ao lado do problema da questão racial a ideia de possibilidade de sucesso social por meio da autossuperação e da consequente autorrea lização Nesses casos circulase a ideia de que o homem pode por esforço e persistência próprios escapar às determinações históricas e sociais que o circunscrevem 5 A Organização Mundial da Saúde oms 2001 p 29 asse Tempo Social revista de sociologia da USP v 30 n 3 342 Resenhas pp 335342 gura por exemplo que em seu aspecto positivo ou seja não restrito aos transtornos mentais e comportamentais o conceito de saúde mental envolve qualidades como bemestar subjetivo autoeficácia autonomia competência e autorrea lização Observese que a definição conceitual específica pro vém da célebre concepção de saúde da oms 1946 p 1 que postula desde sua constituição a ideia de que a saúde não é apenas ausência de enfermidade mas completo bemestar físico mental e social 6 A respeito do tempo de trabalho atual conforme as noções de trabalho imaterial e capitalismo cognitivo ver Lazzarato e Negri 2001 Quanto à teoria econômica do capital hu mano que é incorporada como valor social na conduta de vida dos indivíduos contemporâneos transformando assim igualmente o tempo de vida em trabalho ver Foucault 2008 e LópezRuiz 2007 7 Ehrenberg 1998 aborda a depressão a partir da economia psíquica do déficit Pierre Janet que para o sociólogo substitui o conflito característico do modelo freudiano das neuroses Em vez de excesso de energia psíquica a depressão é considerada então como patologia da insuficiência Em que pesem os sinais invertidos nas análises de ByungChul Han positividade e Alain Ehrenberg deficiência parece que em ambos os casos o sujeito depressivo apresentase como efeito ou recusa do tipo ideal de indivíduo contemporâneo capaz de empreender nele próprio graças à aquisição à exe cução e à exibição das seguintes qualidades ação motiva ção responsabilidade iniciativa individual autonomia flexibilidade capacidade comunicacional e para enfrentar riscos mobilidade criatividade persistência eficiência e felicidade 8 Destaquese contudo que Han critica com razão a nosso ver a ideia do sociólogo francês de que assistimos hoje à ascensão do indivíduo soberano de Nietzsche para Ehren berg 1998 pp 129 e 236 em vez de um modo de vida se lecionado e destinado a alguns fortes segundo a tipologia nietzschiana tal indivíduo sobrevém nos dias atuais demo craticamente massificado e não suportando a soberania de si tornase depressivo Como observa Han 2017 pp 9495 ao contrário do sujeito do desempenho e da hiperatividade o alémdohomem nietzschiano é um espíritolivre forjado como contramodelo de crítica cultural deste sujeito esgotado que dissemina uma singular ausência de espírito As passagens citadas em nosso texto denotam a crítica implacável do filóso fo autodenominado amigo do lento cf Nietzsche 2004 p 14 à hiperatividade moderna e contemporânea 9 Conforme Han 2017 pp 5455 enquanto a irritação e o medo se reportam a um aspecto específico da vida a angústia e a ira podem fazer o indivíduo questionar com profundidade estados existenciais Quanto à tendência de desaparecimento do luto na sociedade do desempenho registremos a alteração na duração do luto considerado normal realizada na mais re cente versão do manual psiquiátrico da Associação Psiquiátri ca Americana Enquanto no dsmiv a tristeza decorrente da perda de um ente querido poderia durar até dois meses sem configurar sintoma patológico no dsm5 a tolerância é redu zida para apenas duas semanas A esse respeito ver Corbanezi 2015 pp 126129 Texto recebido em 28112017 e aprovado 08122017 doi 101160601032070ts2018141124 elton corbanezi é professor do Departamento de So ciologia e Ciência Política da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisador do grupo de pesquisa Conhecimento Tecnologia e Mercado cteme ifchUnicamp Email eltoncorbanezihotmailcom

Sua Nova Sala de Aula

Sua Nova Sala de Aula

Empresa

Central de ajuda Contato Blog

Legal

Termos de uso Política de privacidade Política de cookies Código de honra

Baixe o app

4,8
(35.000 avaliações)
© 2025 Meu Guru®