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CURSOS DE GRADUAÇÃO EAD Ética I Prof Juan Antonio Acha e Prof Dr Pe Sérgio Ibanor Piva Meu nome é Juan Antonio Acha Sou graduado em Licenciatura em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano e realizo Pósgraduação na área de Gestão e Filosofia Atuo como docente em Antropologia Filosófica Sempre fui preocupado com o valor da vida e da vida humana em especial por isso tenho presente as palavras de Sócrates referidas por Platão na Apologia de Sócrates Uma vida que não é examinada não vale a pena ser vivida email juanclaretianoedubr Meu nome é Pe Sérgio Ibanor Piva Sou Doutor em Ciências da Educação pela Università Pontificia Salesiana Roma1966 especialista em Perfezionamento Didattico in Psicologia pela Universidade Salesiana Roma1963 em Psicologia da Educação pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Barão de Mauá Ribeirão Preto1972 e em Logoterapia aplicada à Educação pela Sociedade Brasileira de Logoterapia 1993 Atuo dentre outras atribuições como Reitor do Centro Universitário Claretiano e Orador Sacro com mais de 10000 homilias proferidas email reitorclaretianoedubr Fazemos parte do Claretiano Rede de Educação ÉTICA I Caderno de Referência de Conteúdo Juan Antonio Acha Sérgio Ibanor Piva Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano Rede de Educação Ação Educacional Claretiana 2013 Batatais SP Versão dez2013 170 A16e Acha Juan Antonio Ética I Juan Antonio Acha Sérgio Ibanor Piva Batatais SP Claretiano 2013 92 p ISBN 9788567425573 1 Visão geral dos fundamentos da Ética bem como das bases conceituais e de suas diferenças ligada à moral 2 Influência do cristianismo no pensamento medieval ocidental I Piva Sérgio Ibanor II Ética I CDD 170 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional J Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães CRB7 6411 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F M Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados É proibida a reprodução a transmissão total ou parcial por qualquer forma eou qualquer meio eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia gravação e distribuição na web ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana Claretiano Centro Universitário Rua Dom Bosco 466 Bairro Castelo Batatais SP CEP 14300000 ceadclaretianoedubr Fone 16 36601777 Fax 16 36601780 0800 941 0006 wwwclaretianobtcombr SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO 7 2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO 8 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20 UNIDADE 1 FILOSOFIA MORAL LEGADO GREGO 1 OBJETIVOS 21 2 CONTEÚDOS 21 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 22 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 23 5 ÉTICA NO ÂMBITO DA FILOSOFIA MORAL 24 6 FILÓSOFOS GREGOS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CIÊNCIA DO CARÁTER E DOS COSTUMES 26 7 PLATÃO OS DIÁLOGOS SOCRÁTICOS A VIRTUDE COMO SABEDORIA 27 8 O FIM ÚLTIMO A FELICIDADE 31 9 OS SOFISTAS DEFENSORES DO NÓMOS 36 10 ESTOICOS E A LEI NATURAL PERÍODO HELENISTA 37 11 TEXTOS COMPLEMENTAR 46 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 47 13 CONSIDERAÇÕES 49 14 EREFERÊNCIAS 49 15 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS 50 UNIDADE 2 A FINALIDADE DA ÉTICA E A ESSÊNCIA DA MORAL 1 OBJETIVOS 53 2 CONTEÚDOS 54 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 54 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 55 5 MORAL 58 6 ÉTICA NORMATIVA E O FENÔMENO MORAL 66 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 68 8 CONSIDERAÇÕES 69 9 EREFERÊNCIAS 70 10 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS 71 UNIDADE 3 ÉTICA MEDIEVAL EMBASAMENTO CRISTÃO 1 OBJETIVOS 73 2 CONTEÚDOS 74 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 74 Claretiano Centro Universitário 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE 75 5 INFLUÊNCIA JUDEOCRITÃ NA ÉTICA DA IDADE MÉDIA 76 6 PESSOA HUMANA 79 7 O FUNDAMENTO DA VIDA ÉTICA É A DIGNIDADE DA PESSOA 80 8 AGOSTINHO DE HIPONA 81 9 TOMÁS DE AQUINO ÉTICA DA LEI NATURAL 84 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS 88 11 CONSIDERAÇÃO FINAL 89 12 EREFERÊNCIAS 90 13 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS 91 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa Visão geral dos fundamentos da Ética bem como das bases conceituais e de suas diferenças ligadas à moral Influência do Cristianismo no pensamento me dieval ocidental 1 INTRODUÇÃO O presente Material Didático Mediacional aspira introduzir o estudante de EaD no estudo dos problemas fundamentais da Ética no âmbito da Filosofia A Ética é uma parte da Filosofia que estuda a vida moral dos homens Centrase no comportamento da pessoa Os temas que integram este material são desenvolvimento histórico da Filosofia moral dos gregos antigos até a Idade Média doutrinas éticas fundamentais importância da moral estudo da Ética como essência da moral e relação da Ética com a moral Quanto ao corpo conceitual da Ética apresentaremos uma completa explicação na Unidade 2 O conhecimento factual e a cla Ética I 8 reza conceitual são imprescindíveis na hora de realizar um juízo de orientação ética O conhecimento é fundamental para poder atuar com liberdade Se o leitor analisar em profundidade o maior diá logo ético da antiguidade o Críton perceberá que Sócrates morre combatendo a ignorância e alertando para a necessidade de ana lisar racionalmente as teorias éticas normativas existentes no seio da sociedade grega antiga PLATÃO 1999 2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO Abordagem Geral Prof Juan Antonio Acha Neste tópico apresentase uma visão geral do que será estu dado neste Caderno de Referência de Conteúdo Aqui você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade Desse modo essa Abordagem Geral visa fornecerlhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida científica e cultural para que no futuro exercício de sua profis são você a exerça com competência cognitiva ética e responsabi lidade social Vamos começar nossa análise pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este CRC Neste CRC a Ética é considerada como a parte da Filosofia que trata da reflexão sobre a moral propiciando as condições para explicar racionalmente a conduta moral humana Durante o estu do das três unidades que a compõem você perceberá que a Ética desde suas origens na Grécia Antiga é uma disciplina normativa ou seja é um saber que pretende elucidar as bases racionais da vida moral que diferencia o que é do que deve ser A Filosofia mo ral expõe uma reflexão exaustiva sobre as diferentes morais 9 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário A moral é uma construção social mais do que uma ação de orientação normativa própria do indivíduo podemos dizer que a moralidade está determinada por uma exigência exterior É o ins trumento de que se vale a sociedade para organizar as ações indi viduais Tem correspondência com a lei com as convenções sociais e com a História Segundo Frankena 1969 p 21 a moralidade surge como um conjunto de objetivos culturalmente definidos e como um conjunto de regras a governar a consecução de tais objetivos que permanecem mais ou menos exteriores ao indivíduo e que a ele se impõem ou nele se inculcam como hábitos É característico dos sistemas morais oferecerem uma razão que justifique os preceitos comandos normas de conduta proi bições etc A nossa história ocidental está repleta de testemunhos sobre nossa inclinação para justificar racionalmente os atos morais A vida na sociedade ocidental no que diz respeito à moral é uma vida meditada somos críticos das regras e valores da sociedade como o fez Sócrates na Apologia PLATÃO 1999 Por outro lado nenhuma prática pode prescindir de uma teoria que nos oriente sobre a conduta a adotar ante cada situação Assim entendida a moral é um sistema de conteúdos que organiza uma determinada forma de vida Sabemos que ao longo da História surgiram diferentes con cepções morais São objeto de estudo deste compêndio de Filoso fia as Filosofias Antiga e Medieval Nesse período que se estende por 2000 anos a Ética centrouse no ser e a moralidade esteve atrelada ao homem Os filósofos da Grécia Antiga conceberam a moral como a busca da felicidade ou como eles a definiram da vida boa e da prática do bem idealizando um meio de atingila As bases para alcançar esse objetivo eram a correta deliberação racional que permitia traçar as estratégias que conduziriam de forma segura para o que consideravam o fim da existência huma na a felicidade Esse legado chegou à Idade Média uma época im pregnada de religiosidade em que os critérios de bem e mal estão Ética I 10 vinculados à fé e à esperança de vida após a morte Nesse período o comportamento ético não foi moldado tão só por doutrinas ide ais mas também por modelos pessoais No âmbito de abrangência da Ética como Filosofia moral está a pessoa humana considerada a partir de seu ser e sua conduta virtuosa ou viciosa A proposta pedagógica que orienta este CRC está em concor dância com Projeto Educativo Claretiano Este propõe educar para a liberdade para que o educando possa atuar como pessoa ou seja de forma livre por entender que só assim poderá contribuir para a perfeição de seu humanismo que repercutirá na comunida de onde atua e na global onde está situado A educação é aquele caminho a que o homem deve recorrer para que sua liberdade seja possível Sem o conhecimento do que significa cada coisa ficamos confinados a um universo limitado A liberdade acompanhada de responsabilidade possibilita rá a você tornarse um ser ético É importante salientarmos que liberdade não é falta de controle para fazer isto ou aquilo a liber dade é a capacidade do ser racional de ter condições de pensar an tes de atuar e atuar pensando em cada ato que executa de forma consciente Por ser livre o ser humano pode atuar de diferentes maneiras mas por ser um ser racional deve agir de forma ética A partir dessa perspectiva a Ética como disciplina filosófica propi ciará a você condições para escolher de forma racional como agir diante determinadas circunstâncias bem como propiciar os meios para avaliar um determinado ato moral como sendo ou não etica mente correto A Ética não pode ser vista dissociada da realidade sócio históricacultural ainda que nesse primeiro período do desenvol vimento da Ética que vai desde os gregos clássicos até a Idade Moderna encontremos teorias abstratas como a de Platão ou de influência religiosa como ocorreu na Idade Média com o advento do Cristianismo 11 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá pida e precisa das definições conceituais possibilitandolhe um bom domínio dos termos técnicocientíficos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados no CRC Ética I Veja a seguir a definição dos principais conceitos 1 Amor virtude central na maioria das tradições éticas denotando uma atitude para com o outro que envolve tanto afeto como um compromisso sério em relação ao próximo 2 Amoral termo que reúne o prefixo a acéfalo priva ção e a palavra moral o termo se refere aos campos da conduta humana Tem a ver com os princípios que orientam a conduta do homem Ser amoral significa não possuir um código moral 3 Antinomismo literalmente significa contra a lei Ter mo teológicocristão nos primórdios da Igreja afirma que a graça por meio da fé aboliu a lei e que portanto o cristão não está sujeito à lei 4 Autonomia literalmente lei de si mesmo Exercício independente da vontade no sentido de obrar indepen dentemente 5 Bem comum ideia baseada em que o padrão normativo para a justiça é o bem das pessoas como um todo 6 Bem viver como um princípio ético o bem viver é fun damento da moralidade e processo para tomar determi nações éticas 7 Caráter as várias dimensões de personalidade que dis tinguem um indivíduo de outro 8 Cinismo escola de pensamento ético que afirma que todo comportamento humano é motivado pelo desejo egoísta e que a bondade é a mais alta realização da vida Para esses pensadores a virtude está em alcançar a total independência do material O cínico mais famoso é Dió genes de Sínope 9 Compaixão atitude ou emoção altruísta leva a atos de sinteressados Ética I 12 10 Consciência processo interior da responsabilidade mo ral e da capacidade inata para discernir o bem e o mal 11 Costume padrão habitual de comportamento caracte rístico de um grupo social específico 12 Deontologia é a ciência que estabelece normas direto ras das atividades profissionais sob o signo de retidão moral ou honestidade estabelecendo o bem a fazer e o mal a evitar no exercício da profissão É uma disciplina normativa mas também descritiva e empírica que tem como finalidade a determinação dos deveres que devem ser cumpridos em determinadas circunstâncias sociais 13 Deontologismo de regra uma teoria do raciocínio moral na Ética deontológica que declara que a correção ou im propriedade de um ato moral é determinado com base na obediência a um conjunto de regras ou princípios mo rais 14 Determinismo termo ligado ao conceito de livrearbí trio O contrário na prática de arbitrar livremente Com relação à Ética afirma que as formas de comportamento são consequência inevitáveis de causas anteriores 15 Empatia capacidade de partilhar sentimentos de ou tros 16 Equidade princípio de justiça que afirma que todas as pessoas devem ter equitativa partilha 17 Eros termo empregado para definir forma de amor como a presente no Banquete de Platão Após o período marcado pelo surgimento do Novo Testamento foi usado para definir paixão carnal e irracional 18 Estoico nome grego que designa o pórtico ogival de Atenas usado para diferenciar os filósofos da escola de Zenão de Cítio 19 Ética ética do grego ethika de ethos comporta mento costume Filosofia moral que envolve o estudo ou modo como devem viver os homens Está subdividida segundo a forma de estudo em Ética analítica cristã da libertação da população da reforma da situação deon tológica dialética do Antigo Testamento do fazer do Novo Testamento do ser do trabalho empírica evan 13 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário gélica existencialista feminista geral hindu industrial institucional islâmica judaica maniqueísta médica medieval normativa patrística pessoal profissional psicológica tomista etc 20 Ética cristã parte de um conjunto de verdades revela das a respeito de Deus das relações do homem com seu Criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação 21 Ética estoica tem a ver com o direito romano e a moral cristã o mais importante é a exaltação da natureza que é animada pela divindade Para Zenão a virtude consiste em viver em harmonia com a natureza A lei natural apa rece acima dos costumes e das leis dos povos 22 Ética dos bens ou dos fins doutrina ética iniciada pela filósofo grego Aristóteles Ao contrário do empirismo re lativista essa doutrina admite a existência de um valor absoluto que é o bem supremo 23 Ética empírica iniciada pelos sofistas a Ética empírica tem sido defendida pelos relativistas e materialistas de todos os tempos Seu fundamento é a experiência Seu ponto de vista é de que as normas do comportamento ético derivam da própria atividade livre do homem 24 Ética normativa tem relação com a formação e elabo ração das normas sociais e não com seu seguimento ou execução 25 Eudaimonia de eu que significa bem disposto e daimon com um poder divino Eudaimon é o ad jetivo para feliz 26 Eudemonismo teoria ética que afirma que a felicidade é o bem supremo e a base para a moral 27 Felicidade como termo ético está relacionado às ideias do bemviver 28 Hedonismo abordagem de reflexão ética que declara o prazer como valor mais alto a ser alcançado 29 Instintos força oposta à racional 30 Juízos morais universais são afirmações consideradas aplicáveis a qualquer situação e lugar Ética I 14 31 Lei Natural lei fundada na própria natureza que supõe um ordenamento de uma razão superior A Lei natural é uma norma para o comportamento ético considera da inerente a todos os seres humanos por ser ocorrente com a essência que os causa 32 Mal privação ou ausência do bem Aquilo oposto ao bem que a ele resiste e o mina 33 Moral conjunto de normas estabelecidas e de caráter normativo que regem a convivência social Sofre pro gressos na medida em que se amplia seu campo de atu ação 34 Moral moralidade moralizar do latim mos significa costume ou uso Envolve o que se deve acreditar como correto e bom 35 Norma termo ético que designa uma lei ou princípio que governa direciona algum aspeto da conduta moral 36 Pitágoras filósofo matemático que no século 6 aC de senvolveu umas das primeiras reflexões filosóficas de or dem moral a partir dos ensinamentos da religião orfista propunha que a natureza intelectual é superior à sensu al e recomendava a disciplina mental Sócrates Platão e Aristóteles são seguidores dessa Filosofia Moral 37 Prazer termo utilizado dentro da reflexão filosófica rela cionado ao agradável ao gozo 38 Princípio em Ética designa um preceito geral Os prin cípios morais são equiparados a regras os categóricos a deveres inerentes 39 Princípio ontológico está na linha do ser no que é bem no sentido natural 40 Prudência virtude que está relacionada à sabedoria É uma das Virtudes Cardinais 41 Sabedoria reconhecida como virtude associada à capa cidade de viver bem no sentido moral Também designa a capacidade de fazer juízos corretos 42 Sofistas nunca gostaram da criação de sistemas morais com bases religiosas tidos como absolutos Protágoras ensinava que o juízo humano é subjetivo Górgias como 15 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário crítica colocava que os seres humanos não têm a capa cidade para conhecer e muito menos comunicar esse co nhecimento moral Telêmaco acreditava na força como produtora da moral 43 Temperança esse termo denota virtude no pensamento ético grego está associado a moderação e autocontrole 44 Utilitarismo teoria relacionada à Ética Teleológica volta da para o princípio de utilidade 45 Virtude disposição para realizar atos moralmente cor retos Tendência para agir corretamente Também consi derada qualidade que torna a pessoa sábia 46 Virtudes Cardinais compreendem a prudência justiça temperança e coragem Tomás de Aquino herda as qua tro virtudes gregas e acrescenta as três virtudes teológi cas fé esperança e amor Esquema dos Conceitoschave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo apresentamos a seguir Figura 1 um Esquema dos Conceitoschave O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitoschave ou até mesmo o seu mapa mental Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitoschave é representar de maneira gráfica as relações entre os conceitos por meio de palavraschave partindo dos mais complexos para os mais simples Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino Com base na teoria de aprendizagem significativa entende se que por meio da organização das ideias e dos princípios em es quemas e mapas mentais o indivíduo pode construir o seu conhe cimento de maneira mais produtiva e obter assim ganhos peda gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem Ética I 16 Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar tais como planejamentos de currículo sistemas e pesquisas em Educação o Esquema dos Conceitoschave baseiase ainda na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno Assim novas ideias e informações são aprendidas uma vez que existem pontos de ancoragem Temse de destacar que aprendizagem não significa apenas realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno é preciso sobretudo estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa Para isso é importante considerar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem Além disso as novas ideias e os novos conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno uma vez que ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cognitivas outros serão também relembrados Nessa perspectiva partindose do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas o Esquema dos Conceitoschave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizagem transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular ou seja estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo adaptado do site disponível em httppenta2ufrgs bredutoolsmapasconceituaisutilizamapasconceituaishtml Acesso em 11 mar 2010 17 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário As filosofias moral ou ética não organizam de modo direto a vida cotidiana seu objetivo é refletir sobre a moral Doutrinas morais orientações imediatas para a vida moral O que devo fazer diante tal situação Teorias éticas são teorias filosóficas que respondem Por que utilizar essa moral concreta As soluções estarão em concordância com os problemas de cada época As As diferenças teorias éticas começam a ser elaboradas no século 5 aC Primeira fase Antiguidade clássica período greco romano Idade Média As concepções morais são formadas por normas de condutas comandos proibições e permissões Todos adoramos uma determinada concepção moral A concepção moral dominante no período que vai desde a Grécia clássica até a Idade Média esteve centrada no ser humano Para os filósofos gregos a moral era a meta para viver feliz A racionalidade moral permitialhes alcançar a máxima felicidade A orientação moral da Idade Média incorpora elementos procedentes dos filósofos gregos e latinos juntos com elementos judeucristãos Figura 1 Esquema dos Conceitoschave do Caderno de Referência de Conteúdo Ética I Como pode observar esse Esquema oferece a você como dissemos anteriormente uma visão geral dos conceitos mais im portantes deste estudo Ao seguilo será possível transitar en tre os principais conceitos deste CRC e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensinoaprendizagem Da análise do esquema precedente surge que a Ética se ocupa da moralidade Existe uma pluralidade de enfoques em Filosofia Moral que permi tem falar em Ética Esta disciplina trata do início da reflexão ética que coincide com o período da Filosofia grega denominado pe ríodo socrático que se estende até a Idade Média Essa reflexão está comprometida com a razão prática e visa ao bem de todas as pessoas Como ser racional o homem é capaz de decidir sua con duta de acordo com a moral vigente mores costume norma ou de atuar de acordo com a sua reflexão ethos Ética Ética I 18 O Esquema dos Conceitoschave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien te virtual por meio de suas ferramentas interativas bem como àqueles relacionados às atividades didáticopedagógicas realiza das presencialmente no polo Lembrese de que você aluno EaD deve valerse da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento Questões Autoavaliativas No final de cada unidade você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados as quais podem ser de múltipla escolha abertas objetivas ou abertas dissertati vas Responder discutir e comentar essas questões bem como relacionálas à prática do ensino de Filosofia pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento Assim mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado você estará se prepa rando para a avaliação final que será dissertativa Além disso essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional Você encontrará ainda no final de cada unidade um gaba rito correspondente às questões de múltipla escolha que lhe per mitirá conferir as suas respostas As questões de múltipla escolha são as que têm como respos ta apenas uma alternativa correta Por sua vez entendese por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada inalterada Já as questões abertas dissertativas obtêm por res posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado por isso normalmente não há nada relacionado a elas no item Gabarito Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma 19 Caderno de Referência de Conteúdo Claretiano Centro Universitário Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos mas não se prenda só a ela Consulte também as bibliografias complementares Figuras ilustrações quadros Neste material instrucional as ilustrações fazem parte inte grante dos conteúdos ou seja elas não são meramente ilustra tivas pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con teúdos do CRC pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual Dicas motivacionais O estudo deste CRC convida você a olhar de forma mais apu rada a Educação como processo de emancipação do ser humano É importante que você se atente às explicações teóricas práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação bem como partilhe suas descobertas com seus colegas pois ao com partilhar com outras pessoas aquilo que você observa permitese descobrir algo que ainda não se conhece aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes Observar é portanto uma capacidade que nos impele à maturidade Você como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade EaD necessita de uma formação conceitual sólida e consistente Para isso você contará com a ajuda do tutor a distância do tutor presencial e sobretudo da interação com seus colegas Sugeri mos pois que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas É importante ainda que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações pois no futuro elas pode rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ ções científicas Ética I 20 Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos Cotejeos com o material didático discu ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau las No final de cada unidade você encontrará algumas questões autoavaliativas que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação Indague reflita conteste e construa resenhas pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure cimento intelectual Lembrese de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar ou seja interagir procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este CRC entre em contato com seu tutor Ele estará pronto para ajudar você 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANKENA W K Ética Rio de Janeiro Zahar Editores 1969 STANLEY J G SMITH J T Dicionário de Ética São Paulo Vida 2005 PLATÃO Diálogos São Paulo Nova Cultural 1999 Os Pensadores 1 EAD Filosofia moral legado grego 1 OBJETIVOS Entender os fundamentos da Ética Perceber quais são os objetos material e formal da Ética Apreender as doutrinas éticas fundamentais que se de senvolveram em diferentes épocas do pensamento oci dental ética grega grecoromana ética cristã medieval 2 CONTEÚDOS A Ética como a parte da Filosofia que se dedica à reflexão sobre as questões morais A tradição socrática e platônica o conhecimento do bem como provocador da ação justa A Ética sofista mera convenção social Aristóteles ética e virtudes Fim último da vida ética Ética I 22 Centro Universitário Claretiano A felicidade como eudaimonia O estoicismo a existência de uma ordem universal supe rior Lei natural As virtudes cardinais princípios orientadores Análise da proposta de fuga de Sócrates apresentada por Platão no diálogo Críton 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Para iniciar o estudo desta unidade você deve conside rar que a Ética é uma reflexão sobre os sistemas morais que são variados já que os conteúdos morais variam de sociedade para sociedade e de época para época en quanto a reflexão ética segundo os pensadores socráti cos não deveria ser assim 2 Durante a leitura dos conteúdos desta unidade leve em conta que as teorias éticas gregas concebidas entre o século 5 e o século 6 aC estão condicionadas pela ne cessidade de auxiliar a participação dos cidadãos na vida política da cidade Observe também que o início da re flexão teve como articulistas Sócrates e os sofistas e que eles deixaram de lado o estudo exaustivo da physis para se aprofundar nas questões da polis São centrais nesse período a Ética socrática baseada no caráter eterno de valores como Bem Virtude Justiça Saber b Ética platônica alicerçada no Bem valor supremo não conveniado c Ética aristotélica fundamentada no princípio de fe licidade a ser atingido pelos membros da sociedade d Ética sofista defensora do relativismo dos valores e da predominância da vontade do mais forte 23 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário 3 Com o advento do império de Alexandre Magno o mapa político e social da Grécia Antiga muda drasticamente e a relação do homem com a polis deixa de ser fundamen tal para reger o comportamento moral Surge uma ética mais individualista a A Ética epicurista de Epicuro e Lucrécio b A Ética hedonista de Aristipo de Cirene baseada no prazer O verdadeiro sábio é aquele que sabe apre ciar os prazeres mais sutis e elevados Seu objetivo é sentirse dono e não objeto do prazer c A Ética dos cínicos de Diógenes preocupados com a harmonia do sábio com a natureza d A Ética de Pirro Sexto Empírio etc denominada cép tica e A Ética estoica de Zenão Sêneca e Marco Aurélio que se preocupa com a relação do homem com a natu reza O ideal do homem estoico está em conseguir alcançar o estado de ataraxia Isto é alcançar o do mínio para ser imperturbável ante as dores paixões e problemas existenciais 4 Para ponderar sobre outra óptica os conceitos desen volvidos nesta primeira unidade sugerimos que leia o artigo de Mariá Brochado intitulado Prolegômenos à Ética Ocidental que foi publicado na revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais disponível em httprevistatcemggovbrContentUpload Materia637pdf 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Os conteúdos desta primeira unidade auxiliarão você aluno a entender mais claramente as questões filosóficas acerca da Éti ca Para isso partiremos da proposta grega clássica sobre o com portamento ético levando em consideração que a preocupação por estabelecer o que está bem e o que está mal apõe códigos e normas morais e é tão antiga como a humanidade Ética I 24 O fundamento que inspira a Ética grega é a busca de uma compreensão racional dos princípios que regem a conduta hu mana Sócrates segundo Platão 1999 levantou a seguinte tese como deve viver um homem para alcançar a eudaimonia Sócra tes nesse primeiro período do pensamento levanta questões éti cas fundamentais que são discutidas na Filosofia da atualidade O tema da Ética grega gira em torno das seguintes questões da concordância com a ideia de Bem em si mesmo proposta pla tônica da compreensão dos termos eudaimonia e aretê presen tes na Ética a Nicômaco de Aristóteles que chegam até a Ética do estoicismo antigo Encontramos o cimo da Ética grega na relação do indivíduo com a polis ou seja ele está no desenvolvimento do ethos no enfrentamento do cidadão com as exigências da socieda de organizada da qual faz parte Além dos pensadores mencionados devemos destacar a participação dos sofistas no ato de relacionar a Ética à ação hu mana Mesmo assim sua proposta difere da socrática pois estes trouxeram à reflexão a norma nómos como a única ordem válida para construir a organização social e política Da leitura dos escritos gregos sobre Ética surge a pergunta a lei quer política quer moral é consequência de uma necessida de natural produto de uma vontade ou razão ordenadora ou do nómos Da leitura das diferentes propostas éticas da Grécia Antiga surge a interrogação qual seria a melhor lei para uma cidade a que surge da ordem da Natureza do ser ou aquela que deriva das convenções humanas 5 ÉTICA NO ÂMBITO DA FILOSOFIA MORAL Podemos dizer que o interesse por regular mediante normas preestabelecidas as ações dos seres humanos é tão antigo como a humanidade formam parte de todas as sociedades e culturas as prescrições proibições códigos e normas que definem sua moral 25 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Por isso a Filosofia Moral ou Ética tem como objetivo escla recer os juízos morais e serve em última instância de orientação moral Vamos supor que precisemos realizar um juízo ético sobre o problema do aborto envolvendo fetos anencéfalos que nascem sem o cérebro ou referirnos ao problema da corrupção O correto é analisar essas questões à luz de argumentos racionais e com conhecimento do tema para estabelecer se a concepção moral que valida a questão mostra boas razões ou não Da reflexão filo sófica sobre o tema surgirá uma orientação que pode concordar ou discordar com a posição moral em questão A Filosofia Moral compreende tanto a Ética como a moral Ética tem relação com o bem moral com o justo que impulsio na o conjunto de regras que fixam condições de convivência Como alerta segundo Cortina e Martínez 2005 p 1011 para compreender melhor que tipo de saberes constituem a Ética devemos lembrarnos da distinção aristotélica entre saberes 1 O saber teorético é aquele cuja finalidade é o próprio saber a verdade e cujos objetos são seres que existem independentemente da vontade e da ação dos homens Está composto de três grandes ciências teoréticas a Físi ca a Matemática e a Teologia ou Filosofia primeira pos teriormente Metafísica 2 O saber teórico mas não teorético pois seu princí pio ou causa é o homem como agente é aquele que se constitui a partir da finalidade de conhecer a realidade Para as Ciências Teóricas seu objeto de conhecimento depende da vontade e da ação humanas 3 O saber prático que é o que mais nos interessa nes te momento é aquele que pretende dirigir a atuação humana o fazer humano Para Aristóteles a sabedoria prática está relacionada à capacidade de justificar as normas e valores que ajudam a ordenar a vida em socie dade que ajudam a viver de forma ordenada sem con flitos O saber prático possibilita viver de forma digna Ética I 26 a viver uma boa vida Vejamos o que dizem Cortina e Martínez 2005 p 11 sobre esse saber Na classificação aristotélica os saberes práticos eram agrupados sob o rótulo filosofia prática rótulo que abarca não só a Ética sa ber prático destinado a orientar a tomada de decisões prudentes que nos leva a conseguir uma vida boa mas também a Economia saber prático encarregado da boa administração dos bens da casa e da cidade e a Política saber prático que tem por objeto o bom governo da pólis Os saberes práticos são aqueles que servem para orientar a vida de forma boa e justa que nos auxiliam na hora de agir contri buindo para adotar a atitude mais correta ante cada situação par ticular Estes são normativos nos mostram como conduzir a vida de forma justa Ainda segundo Cortina e Martínez 2005 p 1011 Aristóte les agrupou os saberes práticos dentro da denominação Filosofia Prática A Ética é concebida por Aristóteles como um saber orien tador para alcançar a felicidade e a vida boa assim está dentro do âmbito da Filosofia Prática 6 FILÓSOFOS GREGOS ELEMENTOS FUNDAMEN TAIS DA CIÊNCIA DO CARÁTER E DOS COSTUMES Comparato 2006 p 471473 explica que os gregos desco briram que a razão está desdobrada em duas capacidades Uma tem a ver com o caráter objetivo corresponde à capaci dade do ser humano de enxergar as essências por trás das formas individuais e possibilita agir de acordo com esse conhecimento Chamaramna de razão especulativa por meio da análise da coisa apreendida se chega à verdade A segunda fase da razão tem relação com o agir e o fazer se gundo a arte belo e a técnica o útil Uma das mais importantes dimensões da razão é sua capacidade ética com ela organizamos nosso comportamento no mundo ela serve para indicar a linha reta 27 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Sócrates foi o primeiro pensador a colocar que no âmbito da Ética se encontram as noções de felicidade de virtudes e de caráter 7 PLATÃO OS DIÁLOGOS SOCRÁTICOS A VIRTUDE COMO SABEDORIA Para a tradição socrática e platônica só o conhecimento do bem poderia dirigir a ação justa Antes de Sócrates não existia na Grécia uma reflexão orga nizada sobre o homem moral a não ser a posição relativista dos sofistas Ele inicia a reflexão sobre a Ética e por isso é chamado Pai da Ética Contudo devemos apontar o fato de que nos perío dos anteriores sempre houve uma definição perfeita do que era o bem comum e o bem individual Para os sofistas a Ética é mera convenção social ou pactos entre os homens Sócrates os refuta e também critica os tradicio nalistas os primeiros por não reconhecer a realidade objetiva dos valores éticos e os segundos por não se aprofundar no caráter permanente desses valores Com exceção de uns poucos fragmentos de Heráclito e Xenófanes encontramos entre os sofistas e e Sócrates século V aC as pri meiras reflexões filosóficas sobre questões morais Com relação aos sofistas sabese que consideram a si mesmos mestres da virtu de concretamente a virtude política ou excelência da gestão dos assuntos públicos Mas ao mesmo tempo suas doutrinas filosóficas defendem ao que parece posições individualistas e relativistas que de fato conduzem ao ceticismo ante a própria noção da virtu de política Eles alardeiam saber como educar os jovens para que cheguem a ser bons cidadãos e ao mesmo tempo negam a possi bilidade de alcançar critérios seguros para saber em que consiste a boa cidadania CORTINA MARTÍNEZ 2005 p 53 Sócrates defende a necessidade de estabelecer critérios ra cionais para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente defendida pelos sofistas Essa doutrina que equipara sabedoria e virtude é denominada Intelectualismo ético e está apoiada no Ética I 28 pressuposto de que os conceitos morais não são produto de con venções nem de pactos porque estão referidos às realidades uni versais às ideias A bondade em si a prudência em si o que é justo em si mesmo como todos os outros valores morais existem por si próprios O homem por intermédio da razão os pode definir objetivamente e uma vez conhecidos os pode levar para a vida prática A moral baseada nesses princípios universais ideias deve presidir a vida individual tanto a do cidadão como a da Polis A Ética socrática é profundamente racionalista Para esse pensador só o reto conhecimento das coisas leva ao homem a vi ver bem Seu grande legado está relacionado a esse saber com uma ordem que emana da natureza das coisas da essência delas Tanto para Platão como para Sócrates só o conhecimento do que é virtude pode tornar o homem virtuoso Platão afirma que só o sábio é virtuoso porque unicamente conhecendo o que é virtude ou seja conhecendo a ideia de virtude é possível ser virtuoso Hoje essa afirmação seria no mínimo ingênua mas de vemos considerála no contexto do Mundo das Ideias na Filosofia platônica para entender esse raciocínio Sugerimos a releitura do Mito ou Alegoria da caverna PLATÃO 2006 livro VII p 267 para entender melhor o sábio que é aquele que está em contato com o Mundo das Ideias Na Ética como na Antropologia platônica de vemos pensar em um bem absoluto um Bem com B maiúsculo Em Fédon Platão coloca em evidência seu dualismo antro pológico evidenciando que o corpo dificulta o acesso às virtudes e ao verdadeiro conhecimento Nesse ponto discrepa de seu discí pulo Aristóteles Logo no período socrático Platão começa a trabalhar sua teoria das formas ou das ideias colocando a forma do Bem agathós como a forma metafísica suprema Platão 1999 p 149 diz que a alma quando está em si mesma e analisa as coisas por si mesmas sem se valer do corpo encaminhase para o que é puro eterno imortal imutável Dando continuidade ao pensamen to 29 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Há algum sentido corporal por meio do qual chegaste a apreciar as coisas de que te falo como a nobreza a sanidade a força em resumo a essência de todas as coisas isto é aquilo que são nelas mesmas Não o conseguirá claramente quem examine as coisas apenas com o pensamento sem pretender aumentar sua meditação com a vista nem sustentar seu raciocínio por nenhum outro sentido cor poral aquele que se servir do pensamento sem nenhuma mistura procurará encontrar a essência pura e verdadeira sem o auxílio dos olhos ou ouvidos e por assim dizêlo completamente isolado do corpo PLATÃO 1999 p 127 É muito clara a distinção metafísica entre corpo e alma o corpo é visto como um cárcere da alma e o prazer e os sentidos são extremamente desvalorizados Os filósofos ao verem sua alma presa ao corpo são obrigados a apreciar as coisas por intermédio do corpo como se fosse através de uma cerca ou prisão Ao sentirem que a força dessa ligação cor poral consiste em paixões que fazem com que a alma acorrentada ajude a apertar seus ferros Consolamse e a advertem para não utilizar os sentidos mais do que exige a necessidade aconselhando a recolherse e encerrarse em si mesma a não crer em nenhum testemunho que não seja o seu próprio PLATÃO 1999 p 149 A felicidade eudaimonia Eudaimonia é um termo formado por o prefixo eu que significa bem disposto e daimon com um poder divino eudaimon é o adjetivo para feliz No pensamento grego anti go ser feliz significa poder usufruir os dons divinos Para Platão a felicidade é produto da sabedoria O sábio que acede ao mundo das ideias é então eudaímon feliz Contrariamente a esse pensa mento para Aristóteles a felicidade é uma atividade acessível ao ser virtuoso que respeita os valores morais Esse tema foi comentado por Platão nas obra A República 2006 354a e As Leis 1991 livro 5 e citado por Aristóteles em Ética a Nicômaco 2002 livro 1 A proposta platônica também é diferente da defendida pelo estoicismo para os seguidores dessa doutrina a felicidade resulta Ética I 30 da vida harmoniosa mas não é um fim telos e sim um estado concomitante Porém tanto para Platão como para Aristóteles a felicidade é o fim da ação humana A virtude aretê Figura 1 A escola de Atenas 15091510 quadro de Rafael que mostra Platão ao centro Em A República PLATÃO 2006 Platão ao reportarse ás qualidades da cidade enumera as quatro virtudes principais a sabedoria sophia a coragem ou fortaleza de ânimo andreia a temperança sophrosyne e a justiça dikaiosyne Posteriormente essas virtudes foram chamadas de cardeais ou seja fundamen tais Platão alerta não basta conhecer a virtude devemos também fazer algo voluntariamente para conservarnos virtuosos A República não é simplesmente uma utopia nem simples mente uma obra de Filosofia Política envolve um projeto éticopolíticoeducativo Está baseada num princípio ético para que exista uma sociedade justa esta deve estar governada por pessoas justas e receber uma educação específica Para concluir esse tema é oportuno citar as palavras de Cor tina e Martínez 2005 p 57 31 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Talvez o que mais chame a atenção da teoria ética de Platão seja sua insistência na noção de um bem absoluto e objetivo o Bem com maiúscula que em sua qualidade de Idéia Suprema no mun do das Ideias constitui a razão última de tudo o que existe e de toda possibilidade de conhecimento Platão afirma que só os que têm a capacidade e a constância ade quadas chegarão a se encontrar frente a frente com o Bem em si Quanto às demais pessoas que por falta de capacidades natu rais não chegarem à contemplação da Idéia de Bem encontrarão o tipo de felicidade que lhes corresponde atendendo às capacidades que têm sempre e quando é claro desempenharem cabalmente as virtudes próprias de sua função social 8 O FIM ÚLTIMO A FELICIDADE Aristóteles expõe suas reflexões éticas na obra Ética a Nicô maco ARISTÓTELES 2002 Também escreveu outras duas obras sobre este tema a Ética a Eudemo que reflete elementos de seu período de juventude e a Grande Moral ou magna moralia na qual aparecem de forma resumida as ideias centrais da Ética a Ni cômaco a obra Política que para Aristóteles é um desdobramento da Ética Aristóteles inicia a Ética a Nicômaco afirmando que toda ação humana se realiza visando um fim o fim que impulsiona a ação coincide com o bem se identifica com o bem Ainda assim alerta o pensador muitas das ações que o indivíduo executa são instrumentos para possibilitar a realização do fim Por exemplo o fato de submeterse aos cuidados da Medicina preventiva tende a evitar futuras intervenções mais complexas e perigosas possi bilitando um fim que não é o imediato Alimentarnos de forma racional sem cometer excessos para ter boa saúde também visa a um fim não imediato A correta alimentação é um instrumento como a Medicina preventiva para ter boa saúde que é o fim últi mo da ação Aqui surge a pergunta existe algum fim que não seja um ins trumento para alcançar outro bem mais cobiçado Aristóteles diz Ética I 32 nessa obra que a felicidade é o bem último A felicidade é aquele estado a que todos aspiraram por natureza A felicidade é um con ceito que está identificado com a boa vida O problema é que não são todos os homens que concebem de forma clara o que é a ver dadeira felicidade muitos procurando a felicidade se entregam ao prazer procuram acumular riquezas materiais cargos de reco nhecimento honras enquanto a verdadeira felicidade é viver de forma virtuosa sem cometer excessos Quanto maior for o núme ro de virtudes que o indivíduo pratica mais virtuoso ele será e a prática consciente da virtude está diretamente ligada à felicidade A felicidade é então o maior dos bens é um bem em si ARISTÓTE LES 2002 livro 1 1 Ninguém pode buscar a felicidade pela felicidade a felici dade não é uma coisa que pode ser adquirida Muitos imaginam que adentrando no mundo dos prazeres das posses materiais do poder podem comprar a felicidade mas esta é um bem absolu to é considerada um bem em si mesmo Só podemos alcançar a felicidade como consequência de uma vida reta e virtuosa No livro 2 da Metafísica 2006 Aristóteles descreve o que entende por virtude e vício O homem deve repetir as boas ações aquelas consagradas como boas Praticando boas ações e descar tando as erradas adquirese um hábito que para Aristóteles é a Virtude Por sua vez se a minha conduta não é a correta e mesmo assim persisto nela estarei adquirindo um vício Virtudes e vícios têm relação com a conduta escolhida Todo bom hábito deve ter como farol o termo médio que se encontra entre os extremos Al guns vícios são produto do excesso outros da privação a virtude escolhe o termo médio Assim a virtude é o termo médio mas a perfeição que a determina é o Bem Contudo não existe uma norma rígida sobre como se comportar perante determinado fato Continuamente devemos racionalmente tomar decisões corre tas Mesmo que exista essa necessidade de avaliar continuamente nossas decisões não podemos nem pensar que Aristóteles aceite a relatividade da virtude Acontece que o que é termo médio para uns pode ser extremo para outros e viceversa 33 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Ora realmente parece haver diversas finalidades visadas por nos sas ações entretanto ao elegermos algumas delas por exemplo a riqueza ou flautas e instrumentos em geral como um meio para algo mais fica claro que nem todas são finalidades completas ao passo que o bem mas excelente o bem supremo parece algo completo Conseqüentemente se houver alguma coisa que por si só seja a finalidade completa essa coisa ou se houver várias finalidades completas aquela entre elas que for a mais completa será o em que é o objeto da nossa investigação Ao nos referirmos a graus do completo queremos dizer que uma coisa buscada como uma finalidade em si mesma é mais completa do que uma busca da como um meio para alguma coisa mais e que uma coisa jamais eleita como um meio para qualquer coisa mais é mais completa do que as coisas eleitas tanto como finalidade em si mesmas quanto meios para aquela coisa em conformidade com isso chamamos de absolutamente completa uma coisa sempre eleita como uma finalidade e nunca como um meio Ora a felicidade acima de tudo o mais parece ser absolutamente completa nesse sentido uma vez que sempre optamos por ela mes ma Mas ninguém opta pela felicidade pela honra pelo prazer etc ARISTÓTELES 2002 p 1516 Virtudes éticas e dianoéticas Para explicar as virtudes Aristóteles 2002 parte da análise da ação humana Aristóteles com relação às ações humanas determina que existem três aspectos principais presentes nelas a volição a deliberação e a decisão Sobre a primeira a vontade Aristóteles afirma que está orientada para o bem Portanto a preocupação não é sobre o que queremos e sim sobre que caminhos escolhemos para alcançar o bem que já está determinado na própria natureza humana O segundo aspeto sim é fundamental a deliberação como e o quê fazer este inspira o terceiro a decisão Mas como a felicidade é uma certa atividade da alma em conformi dade com a virtude perfeita é mister examinar natureza da virtude por isto provavelmente nos ajudará em nossa investigação da na tureza da felicidade Acresçase que aprece que o verdadeiro esta dista é alguém que realizou um estudo especial da virtude visto ser sua meta tornar os cidadãos indivíduos virtuosos e respeitadores da lei Ética I 34 A virtude que temos que considerar é a virtude humana visto que o bem e a felicidade que nos dispomos a buscar foram o bem hu mano e a felicidade humana Mas a felicidade humana significa a nosso ver excelência da alma não excelência do corpo em coerên cia com isso definimos a felicidade como uma atividade da alma Ora a virtude também é diferenciada em consonância com a divi são da alma vegetativa apetitiva e racional Algumas formas de virtude são chamadas de virtudes intelectuais e outras virtudes morais A sabedoria o entendimento e a prudência são virtudes intelectuais a generosidade e a temperança são virtudes morais Ao descrever o caráter moral de alguém não falamos que se trata de alguém sábio ou capaz de entendimento mas que é uma pessoa moderada ou sóbria Mas o homem sábio também é louvado por sua disposição e chamamos virtudes às disposições dignas de lou vor ARISTÓTELES 2002 p 6063 Aristóteles continua explicando que as virtudes éticas são resultado de nossos costumes e hábitos e são dirigidas a dominar a alma sensitiva Durante toda nossa existência vamos desenvol vendo um ethos Para as virtudes éticas vale a teoria do justo meio por exemplo entre a vaidade que é um excesso e a extre ma modéstia que evidencia falta de autoestima está o respeito próprio que coincide como o justomeio que é uma virtude As principais virtudes são fortaleza temperança e justiça As virtudes dianoéticas relacionadas às funções da alma racional formam parte do intelecto nous e do pensamento noésis Seu desenvolvimento depende da boa educação As principais virtudes dianoéticas são sabedoria e prudên cia Segundo Aristóteles 2002 livro 106 p 274 275 A felicidade não pode ser uma disposição do caráter porque se o fosse poderia ser possuída por um individuo que passasse a totali dade de sua vida adormecido vivendo a vida de um vegetal ou por alguém que estivesse mergulhando no mais profundo infortúnio Fica claro que a felicidade deve ser considerada uma atividade desejável em si mesma e não entre aquelas desejáveis a título de meios para alguma coisa Mas a felicidade consiste na atividade de acordo com a virtude 35 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Continuando o raciocínio vejamos um extrato da obra de Ana Leonor Santos 2008 p 3943 o qual explica a função da educação responsável pela formação do êthos Do êthos animal ao humano A ética deve importar particularmente a alguns seres humanos aqueles que não estão sob protecção imediata dos deuses Mas este conjunto de seres a que a ética diz respeito é intersectado por um outro respeitante aos animais aos quais Aristóteles aplica o termo êthos No homem diferentemente do que acontece com os animais não há um êthos da espécie humana no nosso caso a singulari dade manifestase também nas diferenças individuais de carácter justificadas pela ausência de regulação natural da faculdade de siderativa regulação vigente no mundo animal para cuja for mação contribuem os hábitos adquiridos através da educação Assim sendo e apesar de algumas diferenças individuais devidas à natureza já que nem todos são igualmente receptivos à edu cação existe uma dimensão de indeterminação que vai adqui rindo forma graças à educação e que é porventura responsável pela formação do êthos numa dimensão que não estritamente psicológica ao mesmo tempo e pelo mesmo motivo responsável pela imputabilidade das noções de bem e de mal ao ser humano juntamente com a posse da razão e a ausência de autosuficiência Pela posse da razão percebese que o homem não é um simples animal pela ausência de autosuficiência ele afastase dos deuses A sua situação é intermédia entre um e outros encontrase o único ser vivo que percebe o bem e o mal o justo e o injusto distinções cujo conhecimento lhe é indispensável na medida em que nem o seu carácter está determinado pela natureza nem o seu compor tamento é padronizado Deve pois escolher o comportamento a adoptar após um período de deliberação durante o qual se supõe que a percepção ética acima referida exerça influência caso tenha sido correctamente adquirida formando um carácter temperado O ideal grego consistia na beatitude da contemplação O ro mano porém era o oposto do grego caracterizandose pelo espí rito prático Ética I 36 9 OS SOFISTAS DEFENSORES DO NÓMOS Segundo Guthrie 1995 p 6269 no século 5 aC como consequência das teorias físicas da evolução da vida desde a ma téria inanimada surgiram teorias que se opuseram às alinhadas à perfeição da Raça dourada de Hesíodo Essas teorias evolutivas relatam que no começo os homens viviam como os animais não tinham ideia de organização social nem econômica morriam em grande número de frio de fome e de ataque de feras As necessi dades lhes impuseram a precisão da comunicação racional apren der a falar simbolicamente e a armazenar alimentos para períodos de escassez como o inverno e épocas de seca Isso marcou o co meço da vida civilizada em comunidade para isso foi fundamental observar o respeito pelos direitos do outro Esses relatos de corte racionalista referido à evolução humana estão em forte oposição às teorias religiosas baseadas na idade da perfeição de Hesíodo ou da Idade do Amor de Empédocles Os seguidores das teorias evolucionistas estavam a favor de que o nómos fosse considerado o meio para elevar a vida huma na a uma vida civilizada Um dos grandes defensores dessa teo ria do progresso é Protágoras na lista de suas obras encontramos uma que se destaca nesse sentido Sobre o estado original do ho mem Esse pensador sofista defende que o avanço moral depende da experiência e da educação Por tanto discorda de Sócrates ao defender que a aretê ou conteúdo moral é uma habilidade adquirida respeitando as leis Para Protágoras então autodomínio e senso de justiça são virtudes necessárias à sociedade que por sua vez é necessária para a sobre vivência humana e nomoi são as linhasmestras fixadas pelo Esta do para ensinar aos cidadãos os limites dentro dos quais podem se movimentarse sem violálas GUTHRIE 1995 p 69 Segundo Guthrie 1995 p 57 o termo nomo norma es crita para os pensadores do século 5 aC é alguma coisa em que se acredita que se pratica e se aceita por certa Assim é aceito que povos diferentes tenham diferentes nomis 37 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Segundo Heráclito as leis humanas são sustentadas pelas leis divinas nómosphysis para os sofistas elas dependem de cos tumes e hábitos 10 ESTOICOS E A LEI NATURAL PERÍODO HELENISTA Enquanto a Grécia viveu seu momento de maior esplendor cultural no século 5 aC no período helenista reinou a confusão política e moral Esses tempos foram marcados por inúmeras guer ras ruíram as cidades de Atenas Esparta e Tebas enquanto isso viram surgir novas cidades de cultura grega entre elas Alexandria e Antioquia Na Filosofia podemos destacar diferentes escolas a Os cínicos 400 aC que cultivavam a ideia de que ser feliz dependia de se liberar das coisas transitórias Para esses pensadores a felicidade é um bem que pode ser alcançado por todos pois ela não consiste em luxúria poder político ou boa saúde e sim em se libertar disso tudo b Os estoicos cujo fundador é Zenão e os epicuristas es cola fundada por Epicuro Ambos os grupos acreditavam que a Ética e as questões morais eram mais importantes do que as questões teóricas Baseavam sua Filosofia em um individualismo moral Os estoicos em geral prega vam uma vida austera mas os epicuristas defendiam o prazer hedoné só que o prazer que procede do exer cício do lógos No campo da moral proclamavam viver conforme a natureza sendo a natureza o lógos ou seja deveria se viver em concordância com a razão c O neoplatonismo que conserva traços do movimento inspirado pelos présocráticos Demócrito e Heráclito de Éfeso Os estoicos acreditavam no destino e na resignação ante o irremediável Como diz Comparato 2006 p 109 É inegável que o pensamento estoico inserese na linha histórica das filosofias de Pacificação da alma Ética I 38 O estoicismo representa a reunião de um grande número de pensadores Os primeiros foram Zenão de Cítio 322264 aC e Crísipo 232204 aC Cuidado para não confundir Zenão de Cito com Zenão de Eleia conhecido por seus paradoxos Infelizmente não existe nenhuma obra completa desses pensadores abundam citações e comentários de seguidores ou detratores mas faltam os textos originais Para todos os estoicos era muito importante a exaltação da ordem da natureza Ainda segundo Comparato 2006 os estoicos defendem que existe uma ordem universal superior Por isso é possível dizer que para os estoicos natureza physis e razão logos se confun dem A natureza possui um princípio racional que é responsável por organizar as estruturas do mundo a vida em todos seis níveis inclusive a humana e a verdade ética Motivado por esta ideia Ze não divide a Filosofia em Lógica Física e Ética Para ele a virtude consiste em viver em concordância com a natureza Cortina e Martínez 2005 p 6163 falam que sob a denomi nação de estoicos agrupamse as doutrinas filosóficas de um amplo conjunto de autores gregos e romanos que viveram nos séculos III aC e II dC Eles julgaram necessário indagar em que consiste a or dem do universo para determinar qual devia ser o comportamento correto dos seres humano Acreditam que deve haver uma Razão primeira comum que será ao mesmo tempo a Lei que rege o uni verso Essa razão cósmica esse logos é providente ou seja cuida de tudo o que existe O sábio é o que consegue conquistar os bens internos e desprezar os externos chegando a ser nas palavras de Sêneca artífice de sua própria vida Já aparece aqui ainda que de forma rudimentar a concepção de liberdade como autonomia que será desenvolvida posteriormente por Santo Agostinho Natureza como lei Está presente em diversas culturas da Antiguidade Clássica a concepção de que existem leis universais ou um direito que é comum a todos 39 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário Aristóteles 2005 escreve na obra Retórica que existem leis particulares dos povos e leis comuns ao gênero humano As últi mas são conforme à natureza pois existe algo que todos de certo modo percebemos ser Aristóteles 2005 p 114 cita a afirmação de Antígona de que tais leis não são de hoje nem de ontem senão que sempre existiram Natureza para Burgos 2007 deriva da palavra latina na tura tradução do temo grego physis substantivo que tem por raiz nascer crescer produzir reproduzir etc Mas para o grego antigo natura natureza physis é tudo o que existe é o con junto da infinidade de coisas que existem mas também o senti do por que surge e vive cada um em particular A natureza assim entendida sugere perfeição beleza espontaneidade harmonia é perpassada por leis que são independentes do homem Burgos 2007 p 22 nos diz que o homem só pode aceder a elas por intermédio da razão Ainda segundo Burgos 2007 é de Aristóteles a definição que diz que também é natureza o elemento primeiro imutável a essência que faz com que as coisas tenham um princípio ativo que lhes empurra para a perfeição do ser Burgos 2007 p 31 escre ve O conceito de natureza ultrapassa o mundo físico e alcança o metafísico por essa perspectiva natureza é a essência enquanto princípio de operação tradução nossa Natureza inclui a nature za humana abarca a dimensão de alma física e também de alma intelectual inclui a dimensão humana de liberdade Platão na Re pública 2006 486a explica que existe uma natureza filosófica physis philósophos que é inata Segundo Comparato 2006 a Ética estoica difundida por Cí cero e trazida para Roma por Panécio se destaca pelos seguintes princípios a A lei natural está acima dos costumes e das leis dos povos ela não depende da vontade popular Ética I 40 b Viver em harmonia com a natureza c Saber conformar seu próprio interesse com o interesse da co letividade observando o bem comum e as leis que emanam da ordem natural d Respeitar ao próximo pelo fato de ser pessoa humana de acor do com a lei natural implica em não atentar contra os direitos alheios e Só o respeito pela lei natural resguarda as virtudes amor à pá tria piedade vontade de fazer o bem etc f O termo Lex toma em Cícero o sentido geral e abstrato de princípio tal como a palavra nómos na filosofia grega A lei se define como a razão fundamental ínsita na natureza que ordena o que se deve fazer e proíbe o contrário A lei verda deira é portanto a expressão da razão e da justiça Seguese que um mandamento injusto ainda que revestido de aparência legal não é lei senão corrupção dela assim como uma receita médica que induz a morte do paciente não é uma verdadeira receita em essência Um mandamento pernicioso votado pelo povo é tão pouco uma lei quanto aquele promulgado por uma assembléia de bandidos CÍCERO apud COMPARATO 2006 p 112113 Para viver em harmonia com a natureza o ser humano que é um não pode ser dividido em alma e corpo como substâncias diferentes desde o ponto de vista hierárquico como supusera Pla tão deve controlar as paixões a dor o medo o desejo sexual o prazer pelo prazer Para alcançar o estágio de sábio o ser humano deve controlar sua conduta sendo indiferente apático aos fatos exteriores sobre os quais não tem poder nenhum morte dores pelo corpo beleza ou feiura de seus traços riqueza material ou pobreza condição social etc Para os helênicos viver em concor dância com a natureza consiste em última instância em viver em harmonia consigo mesmo afirma Comparato 2006 p 110 Para os Estoicos o sistema físico o lógico e ético encontram se unificados pela noção de logos A Física estoica enxerga o mun do como um ser vivo totalmente racional governado por uma es pécie de Providência racional pronoia 41 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário A phýsis se apresenta aos olhos estoicos como algo sagra do evocando a soma daquilo que é permanente e essencial nos fenômenos naturais não no sentido de um Deus criador como o do cristianismo e sim como princípio de racionalidade que se en contra em todas as coisas em especial no homem que contém em si o logoi spermatikoi ou seja a capacidade de racionalidade equivalente Cícero 2012 sustenta que a beleza e a complexidade do mundo onde tudo está em equilíbrio e se ajusta perfeitamente são provas ontológicas da existência de uma inteligência superior que tudo governa e ordena Não foram átomos acidentais os for jadores do mundo como pensaram os epicuristas Viver de acordo com a natureza significa respeitar o princípio que opera nela Estoicismo e o Estado Universal Para os estoicos não existem atos maus em si mesmos o mal moral sintetiza a ausência da reta ordem na vontade humana Nenhuma ação é por si boa ou má também não pode ser con siderado bom ou ruim o que não é nem virtude nem vício já que nos é indiferente Os estoicos aderem às virtudes cardinais propos tas por Platão Prudência Temperança Fortaleza e Justiça e pres taram uma grande atenção a problemas da conduta para alcançar o fim da vida humana que é a felicidade Para isso ensinam que devemos ser virtuosos viver de acordo com a lei da natureza En tendem que tudo no universo é regido pela lei natural e o homem racional deve se adaptar a sua própria naturezaessencial e viver de acordo com as leis do universo Os estoicos usaram a alegoria de um cachorro amarrado a uma carroça para ilustrar nossa realidade quando ela se movi menta o cão deve ir atrás dela mas isso pode ser feito de duas maneiras aceitando o fato ou ir sem aceitálo sendo arrastado pelo pescoço Tudo o que acontece depende da natureza orde nada por Deus A morte é inevitável e estamos destinados a ela como a maior ou menor fama riqueza pobreza dor ou alegria tudo faz parte do nosso destino Ética I 42 Eles os estoicos são deterministas nada acontece fora da ordem da natureza Tudo tem um significado e uma razão Para ser feliz o homem deve aceitar sua finidade e seu destino deve conformarse com a sua condição de transitoriedade e fragilidade a vida humana é passageira se comparada aos milhões de anos do universo O sábio estoico é aquele que não nega a sua transitorie dade e se acredita eterno não nega a sua fragilidade e se pensa invulnerável já que o engano implica sofrimento A máxima estoi ca diz para evitar o sofrimento devemos aceitar o nosso destino Assim o termo estoicismo ficou associado à resistência ao infortúnio e à fortaleza ante a nossa sensibilidade No entanto o pensamento estoico vai muito além disso sustentará o amor como fundamento do direito verdadeiro e exporá as bases para ideali zar uma sociedade de todos os homens uma sociedade universal unida pelo princípio da fraternidade Ensinará que não deve haver cidadesestados governadas por diferentes sistemas jurídicos to das devem observar ou ter como base o princípio da igualdade de todos os homens que emerge da Lei Natural Assim delineiam as bases do Estado Universal no qual as pessoas convivem juntas em harmonia guiadas pela luz da razão Iniciamse desse modo os alicerces do edifício dos Direitos Humanos Os estoicos explicam a história que envolve o desenvol vimento da sociedade da seguinte forma no começo da história humana as pessoas conviviam sem divisão de classes ou naciona lidades No primeiro estágio social denominado Idade de Ouro não era aceito qualquer tipo de discriminação ou dominação de um sobre seus semelhantes uma vez que todos participavam da propriedade comum dos bens conseguidos A humanidade era formada por uma comunidade de homens livres e iguais que foi terminando quando se instalou a troca a ganância e o egoísmo Assim o Direito Natural perfeito e absoluto teve de ser substituído por outro relativo que levasse em conta a natureza imperfeita do homem e observasse as condições reais da realidade 43 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário social Para corresponder ao princípio do Direito Natural deveria se evitar a discriminação por sexo raça condição socioeconômica promovendo a liberdade e igualdade de todos os homens Essa concepção de Direito Natural defendida pelos estoicos teve uma grande influência sobre o ulterior desenvolvimento do Direito está presente no pensamento dos Padres da Igreja influen ciou as instituições jurídicas do Direito Romano que foi legado para os povos do Ocidente primeiramente para logo se universalizar Figura 2 O império romano antigo Para Comparato 2006 p 111112 Cícero por exemplo ex plicou que o Direito Civil é simplesmente a manifestação huma na da Lei Natural O verdadeiro Direito não pode ser diferente em Atenas e Roma por ser de aplicação universal imutável eterna e obrigatória para todos os povos Observemos o que diz Comparato 2006 p 116117 A partir do final da Segunda Guerra Púnica 218201 aC iniciase o chamado período helenístico da história jurídica roma na em que os jurisconsultos passam a aplicar o método dialético grego na análise do Direito A dialética foi introduzida em Roma pelos estóicos notadamente por Panécio Ética I 44 O método dialético consistia antes de tudo na classificação dos dados da realidade empírica pelo duplo processo de distinção diairesis differentia e do relacionamento synthesis o qual con duzia ao estabelecimento de gêneros e espécies distinctio divisio ou seja à formulação de conceitos Uma vez formulados os conceitos o segundo passo da análi se dialética consistia em descobrir os princípios ou explicações ra cionais da realidade Uma breve narração das coisas brevis rerum narration Mas a contribuição dos estóicos para a criação da ciência jurídica não se limita à introdução do método da análise dialética da reali dade jurídica Eles trouxeram também para Roma uma visão ética do mundo expressa em um sistema de princípios Por exemplo há uma correspondência essências entre as virtudes cardinais e as tendências fundamentais da natureza humana A jus tiça segundo Panécio corresponde com tendência do indivíduo a viver em harmonia com a humanidade A prudência à tendência natural à descoberta da verdade e ao cumprimento dos valores morais Por sua vez a virtude da moderação ou razoabilidade que ele denominara sophrossyne está ligada à tendência natural do respeito à dignidade própria e à dos outros homens Aidôs A qual conduz à beleza moral kálon que os romanos traduziram por decorum ou honestum em oposição à seca utilidade Na verdade nada pode existir de útil na vida que não seja ao mesmo tempo justo e honesto O jurisconsulto Celso segundo Comparato 2006 p 448 define o Direito como o Bom e Equitativo Declara que os princí pios jurídicos fundamentais são três a Viver de modo honesto b Não lesar ninguém c Atribuir a cada um o que lhe corresponde Esses princípios formam a base do Direito Comum a todos os povos e surgem do princípio do Direito Natural Por serem supe riores aos do Direito convencionado regem todas as ações éticas Não podemos encerrar o tema dos estóicos sem deixarmos de tratar de outro grande filósofo cuja importância para a Ética será tão grande que sua corrente ética receberá o seu nome Refe rimonos ao filósofo Epicuro que tem uma reputação até um pou 45 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário co injusta por parte de alguns filósofos cristãos pois o consideram estimulador da autoindulgência e da supremacia da alegria Talvez porque nos jardins comunidade dos discípulos de Epicuro reina va a alegria por sobre as outras práticas educativas a vida simples guiada pelo sensível desconsiderando a imortalidade da alma no sentido platônico No que respeita à moral esse pensador defende a Regra de Ouro é impossível viver uma vida prazerosa sem viver sabiamente e é impossível viver bem e com prudência evitando a dor o perigo a doença etc sem se viver uma vida agradável Em realidade buscava mais a extinção do sofrimento do que propria mente o prazer O mérito de Epicuro está em ter compreendido que havia alguma coisa que reclamava um grande número de espíritos e em terlhes dado satisfação de uma forma admirável Muitos homens com efeito preocupamse acima de tudo em ser felizes a felicidade é o último termo das suas aspirações mas como são inteligentes não podem recusar o terem em conta as exigências do seu espíri to não poderiam ser completamente felizes se não dessem uma razão plausível da sua regra de procedimento sentem a necessi dade de conceber uma explicação do espetáculo que apresentam os seres e os fenômenos do mundo mas não apresentam muitas dificuldades não são muito exigentes em matéria de explicação contentamse de boa vontade com a primeira teoria que lhes pro põem que julgam compreender e que aceitam com confiança não se dão ao trabalho de a complicar de a aprofundar se as suas dou trinas apresentam algumas contradições não dão por isso ou não se inquietam com a sua resolução O epicurismo trazialhes preci samente aquilo que eles pediam Ó aberta e simples e direta via diz Cícero JOYAU in Os Pensadores 1985 A Lei moral inspirada no Direito Natural impresso por Deus no homem deve ser aplicada na vida cotidiana O homem deve controlar as paixões amor admiração ódio tristeza alegria e de sejo e encaminharse para uma vida justa Segundo Agostinho 2000 como o homem possui uma vontade livre é responsável ante Deus e ante si mesmo por sua vida Esse e outros temas serão estudaremos na Unidade 3 Ética I 46 11 TEXTOS COMPLEMENTAR Sócrates o patrono da Filosofia Moral nos últimos dias de sua vida deixa como está retratado na obra Críton de Platão um grande ensinamento sobre o que é bom virtuoso justo e sobre como atuar corretamente ante as desavenças injustiças etc Figura 3 A morte de Sócrates 1787 quadro de JacquesLouis David Segundo Platão 2012 Sócrates está na prisão de Atenas es perando a hora de sua execução Analisando a proposta de fuga apresentada por Críton Sócrates conclui que nunca devemos agir de forma moralmente errada Para fundamentar sua posição utili za três argumentos por meio dos quais mostra que nessas circuns tâncias é errado fugir 1 Nunca devemos lesar ninguém e muito menos o Estado e seu conjunto de leis 2 Se Sócrates fugisse estaria desonrando o acordo de acei tar as leis do Estado faltando às promessas realizadas 3 A sociedade e Estado em que vivemos são nossos pais e mestres e é errado desobedecer ao pai e ao mestre Sócrates defende os seguintes princípios nunca se deve agir injustamente nunca se deve fazer mal aos outros nem mesmo como paga do mal que nos é feito Se ele se transformasse num 47 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário fora da lei nenhum bem estaria fazendo a si mesmo a seus amigos e familiares Em Críton Platão exemplifica a Filosofia Moral argumentando sobre a forma como deve ser justificada uma importante decisão prática Sócrates podia ter fugido da prisão e saído de Atenas ou pedido clemência aceitando o que os políticos argumentavam con tra ele mas não quis preferiu cumprir com as leis da cidade Prefe riu terminar sua vida salvando sua integridade moral Leia os Diálogos Platônicos especialmente o Críton ou o Dever disponível em httpwwwdominiopublicogovbrdownloadtexto cv000015pdf 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder discutir e comentar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade ou seja sobre a proposta grega clássica e sobre o com portamento ético A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões procure revisar os conteúdos estuda dos para sanar as suas dúvidas Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade Lembrese de que na Edu cação a Distância a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa compartilhe portanto as suas desco bertas com os seus colegas Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Aristóteles no livro 2 da Metafísica 2006 descreve o que entende por vir tude e vício Esclarece que virtudes e vícios têm relação com a conduta es colhida e afirma o hábito sempre deve ter como farol o termo médio que se encontra entre os extremos Responda Ética I 48 a Como Aristóteles explica o que é virtude b Vício é o contrário de virtude 2 Como se denominam os seguidores das teorias evolucionistas que estão a favor do nómos E como estes entendem a Ética Justifique sua resposta 3 O que você entende por Intelectualismo ético 4 Os estoicos julgaram necessário indagar em que consiste a ordem do uni verso para determinar qual devia ser o comportamento correto dos seres humanos Acreditam que deve haver uma Razão primeira comum Disserte sobre a proposta ética dos estoicos referenciandoa do Direito Natural 5 O estoicismo representa a reunião de um grande número de pensadores Mencione os principais e comente sua proposta ética 6 Uma das primeiras preocupações da Ética é idealizar uma teoria normativa que venha auxiliarnos a resolver problemas sobre o que é certo e sobre como devemos agir Sócrates no diálogo Críton e na Apologia justifica seus juízos normativos Não devo tentar fugir da prisão o conhecimento é um bem é sempre mal lesar outrem 7 Se fugisse Sócrates evitaria ser morto injustamente mas para isso iria de sobedecer a lei nomos que como cidadão jurou respeitar Ainda que a lei seja injusta deve ser acatada Do ponto de vista ético isto é correto Assi nale qual das seguintes alternativas não é compatível com as teorias éticas socrática e platônica a Para a tradição socrática e platônica só o conhecimento do bem poderia dirigir a ação justa b Sócrates defende a necessidade de se estabelecer critérios racionais para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente defendida pe los sofistas Essa doutrina que equipara sabedoria e virtude é denomina da Intelectualismo ético c Platão afirma que só o sábio é virtuoso porque unicamente conhece o que é virtude ou seja conhecendo a Ideia de virtude é possível ser vir tuoso d Tanto para Platão como para Aristóteles a felicidade é o fim da ação hu mana e Na República 2006 Platão ao reportar sobre as qualidades da cidade enumera as quatro virtudes principais o individualismo a vontade ou ânimo o amor e a medida justa Posteriormente essas virtudes foram chamadas de cardeais Gabarito 7 e 49 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário 13 CONSIDERAÇÕES A moral sempre esteve presente em todas as sociedades e culturas na forma de regulamento do comportamento social o que supõe que sempre existiu uma reflexão filosófica sobre ela e tam bém porque é próprio da natureza humana esclarecer os critérios que levam a ter uma boa vida No entanto foi com Sócrates que a Ética se organiza a partir de princípios teóricos racionais Fervente opositor do relativismo sofista defendeu a existência de normas e valores morais absolutos e imutáveis Esse pensador ateniense afirmava que para alcançar a felicidade devemos ser virtuosos e para alcançar a virtude dependemos do conhecimento Assim o termo grego eudaimonia se relaciona com aretê entendido como virtude As virtudes no trinômio Sócrates Platão e principalmente Aristóteles cobraram sentido enquanto caminho para alcançar a felicidade As reflexões socráticas sobre a Filoso fia Moral possibilitaram o surgimento de muitas propostas éticas Platão considerava que a felicidade era o fim da ação humana e o bem o fim da Ética Aristóteles definiu a felicidade também como fim que concorda com o atributo humano da razão E os estoicos aderiram às virtudes cardinais propostas por Platão e centraram sua reflexão nos problemas da conduta para alcançar o fim da vida humana que é a felicidade 14 EREFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 A escola de Atenas 15091510 quadro de Rafael que mostra Platão ao centro Disponível em httpjornaldefilosofiadiriodeaulablogspotcombr201201os sofistahtml Acesso em 24 abr 2013 Figura 2 O império romano antigo Disponível em httpprofellingtonalexandre blogspotcombr201209historiaderomaantigaeoimperiohtml Acesso em 24 abr 2013 Figura 3 A morte de Sócrates 1787 quadro de JacquesLouis David Disponível em httppaxprofundisorglivrosapologiaapologiahtm Acesso em 24 abr 2013 Ética I 50 Sites pesquisados BOFF L Saber cuidar Ética do humano Disponível em httpcursaihmcus rid1GMSLFWNB5RXV9CGSQSaber20Cuidar2020Etica20do20Humano pdf Acesso em 24 abr 2013 BROCHADO M Prolegômenos à Ética Ocidental Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais Belo Horizonte ano XXVII v 73 n 4 outdez 2009 Disponível em httprevistatcemggovbrContentUploadMateria637pdf Acesso em 24 abr 2013 CICÉRO The offices Tradução de Thomas Cockman Disponível em http pensamentosnomadasfileswordpresscom201204officesenglishpdf Acesso em 6 maio 2013 EARNHART P O sermão da montanha Extraindo os tesouros das Escrituras exposições práticas São Paulo 1997 Disponível em httpwwwestudosdabiblianetsompdf Acesso em 24 abr 2013 PESSANHA J A M Org Antologia de textos Epicuro Da natureza Tito Lucrécio Caro Da república Marco Túlio Cícero Consolação a minha mãe Hélvia Da tranqüilidade da alma Medéia Apocoloquintose do divino Cláudio Lúcio Aneu Sêneca Meditações Marco Aurélio Traduções e notas de Agostinho da Silva et al estudos introdutórios de E Joyau e G Ribbeck 3 ed São Paulo Abril Cultural 1985 Os Pensadores Disponível em httpwwwnhuufmsbrBioeticaTextosLivrosOS20PENSADORES2020 Epicuro20LucrC3A9cio20CC3ADcero20SC3AAneca20Marco20 AurC3A9lio2020ColeC3A7C3A3o20Os20Pensadorespdf Acesso em 23 abr 2013 Sócrates Platão Defesa de Sócrates Xenofonte Ditos e feitos memoráveis de Sócrates Apologia de Sócrates Aristófanes As nuvens Tradução de Jaime Bruna Libero Rangel de Andrade Gilda Maria Reale Strazynski 4 ed São Paulo Nova Cultural 1987 Os Pensadores Disponível em httpbvespiritacomOs20Pensadores20 20SC3B3crates20JosC3A920AmC3A9rico20Mottapdf Acesso em 24 abr 2013 PLATÃO Diálogos Platônicos Disponível em httpwwwdominiopublicogovbr pesquisaPesquisaObraFormdoselectactioncoautor173 Acesso em 24 abr 2013 SANTOS A L Para uma Ética do como se Contingência e Liberdade em Aristóteles e Kant Covilhã Universidade da Beira Interior 2008 Disponível em httpwww lusosofianettextossantosanaleonorparaumaeticadocomosepdf Acesso em 22 abr 2013 15 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO N História da Filosofia 5 ed Lisboa Presença 2000 v 1 ARISTÓTELES Arte retórica e arte poética 17 ed Rio de Janeiro Ediouro 2005 Ética a Nicômaco São Paulo Edipro 2002 Metafísica Bauru Edipro 2006 Tratado da política Lisboa Publicações EuropaAmérica 2003 51 U1 Filosofia moral legado grego Claretiano Centro Universitário AGOSTINHO S A cidade de Deus 2 ed Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 2000 BURGOS J M Repensar la naturaleza humana Madrid Ediciones internacionales universitárias 2007 BITTAR E C B Curso de filosofia aristotélica leitura e interpretação do pensamento aristotélico Barueri Manole 2003 COMPARATO F K Ética Direito moral e religião no mundo moderno São Paulo Companhia das Letras 2006 CORTINA A MARTÍNEZ E Ética São Paulo Loyola 2005 GUTHRIE W K C Os Sofistas São Paulo Paulus 1995 MACINTYRE A Depois da virtude Bauru EDUSC 2001 PLATÃO A República São Paulo Martin Fontes 2006 Diálogos Platônicos São Paulo Nova Cultura 1999 Coleção Os Pensadores Las Leyes Epinomis El político México DF Editorial Porrúa 1991 STANLEY J G SMITH J T Dicionário de Ética São Paulo Vida 2005 VERGNIÈRES S Ética e política em Aristóteles physis ethos nomos São Paulo Paulus 1999 EAD 2 1 OBJETIVOS Entender o cerne da reflexão ética na perspectiva filosó fica Apreender a natureza o objeto e o campo semântico da Ética e da moral Compreender a relação que o aspecto moral tem com a liberdade humana Dotar de uma ideia adequada o que é um valor moral Entender a presença iniludível de regras morais no seio da sociedade Compreender por que as normas morais são de caráter obrigatório A finalidade da Ética e a essência da moral Ética I 54 2 CONTEÚDOS A Ética no âmbito das disciplinas filosóficas Razão prática e Ética Análise dos termos moral moralidade ética Diversidade de concepções morais e éticas Campo da Ética e campo da moral Conceitos fundamentais da Ética o ser humano razão história liberdade Ética e religião os grandes princípios éticos 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Os temas desta segunda unidade são bastante questio nadores porém é bom lembrar que na reflexão sobre o sentido que as coisas têm não existe receita pronta A única receita é desenvolver a capacidade de discernir de possuir o próprio pensamento e de ser crítico 2 Como você pôde perceber para os gregos antigos o ho mem não vive imerso no meio ambiente vive na me diação da liberdade que se realiza dentro de um mundo humano estruturado pela cultura Para entender as dife rentes concepções éticas do período que vai dos gregos antigos até a Idade Média você deverá levar em con ta que é própria do homem a capacidade de decidir de agir com autonomia e responsabilidade de posicionar se diante da realidade com autodeterminação ou seja de tomar decisões e atitudes dentro das circunstâncias da vida a partir de critérios que são identificados pela consciência O ser humano é um ser de responsabilidade porque a dimensão racional lhe possibilita escolher com liberdade 3 Ao longo da vida podemos adotar uma única concepção moral ou pelo contrário podemos nos apropriar em 55 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário algum momento de nossas vidas de alguma outra que consideremos mais apropriada em parte ou na totali dade Em realidade no mundo globalizado existe uma multiplicidade de concepções morais que apresentam diversidades no que toca a definição do que é bem ou mal Os costumes do latim mores estão presentes na identidade dos povos mas nem tudo o que pertence aos costumes tem relevância moral 4 Somos seres no mundo no mundo realizamos nossa vida Para ajudálo a refletir sobre a Ética e a práxis não deixe de ler as seguintes obras de Leonardo Boff Ética e moral a busca dos fundamentos Disponível em httpptscribdcomdoc89815308Eticae moralabuscadosfundamentos Saber cuidar ética do humano Disponível em httpcursaihmcusrid1GMSLFWNB5RXV9CGSQ Saber20Cuidar2020Etica20do20Humano pdf 5 Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Ética e a moral sugerimos que assista ao filme O Jardineiro Fiel 2005 dirigido por Fernando Meirelles Após assistilo você estará apto a realizar a última questão do Tópico Questões Autoavaliativas desta unidade 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE Como vimos na primeira unidade quando analisamos as di ferentes doutrinas éticas da Antiguidade a Ética é uma reflexão sobre a conduta humana considerando seus dois aspectos parti cular ou subjetivo e social ou objetivo A dimensão subjetiva cor responde à noção grega de êthos forma de ser da pessoa tra duzida por caráter enquanto a parte dos costumes e hábitos o que tem como desencadeador o social corresponde ao conceito de ethos traduzido como o que vem da casa o que surge dos costumes da comunidade As teorias éticas buscam responder às Ética I 56 perguntas por que existe a moral Por que esse sistema moral é válido para orientar nossa vida social Enquanto as morais con cretas buscam esclarecer de que modo podemos organizar uma boa sociedade respondem à pergunta como devo atuar ou o que devo fazer ante tal ou qual situação Tanto os pensadores citados na primeira unidade como os pensadores da Ética medieval propunham uma moral universal obrigatória para toda a humanidade que na Grécia Antiga estava baseada em normas de validez objetiva em supostos necessaria mente verdadeiros enquanto na Idade Média ela dependia da pa lavra de Deus Porém é bom esclarecer que a moral não pode estar fun damentada em um primeiro princípio indemonstrável tese fun damentalista A comunidade é formada por pessoas quando dizemos que o homem é pessoa estamos supondo que tem auto nomia ética traduzida como a capacidade de distinção entre bem e mal E também que possui a capacidade de autodeterminação de assumir a condução de sua própria vida desde a perspectiva moral Diferente do resto dos entes o ser humano contém na sua natureza a dimensão de pessoa evidenciada na disposição que possui para atuar de forma autônoma ante uma ação concreta Por ser pessoa ante um caso extremo pode escolher entre o me lhor e o pior dos males A liberdade é a capacidade de que dispõe o ser humano de obrar ou não obrar de se sentir responsável por seus atos voluntários a liberdade ética caracteriza a pessoa A pes soa humana pode agir em conformidade com agentes externos ou não por isso o direito a considera como sujeito ético e um ser de responsabilidade A responsabilidade tem relação com a capaci dade humana de exercer reflexivamente os atos ponderando as consequências boas ou más dos mesmos Atuar com responsa bilidade equivale a crescer em direção ao bem ao ser no sentido de um crescimento individual e comunitário traduzido como hu manização 57 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário Enfim a reflexão ética e o comportamento moral são ineren tes ao homem livre Analisando os escritos de Aristóteles 2002 livro II vamos perceber que para esse autor a palavra ética procede do ter mo grego ethos termo que na Filosofia aristotélica possui dois sentidos por um lado significa morada casa familiar lugar onde se habita e em segundo lugar quer dizer modo de ser ou o caráter de que o ser humano vai se apropriando ao longo de sua vida Esses dois momentos também estão presentes na hora de idealizar as virtudes na mesma obra faz referência a duas formas de virtudes aquelas inatas dianõetikaí e as que são adquiridas pelo hábito ethikaí Na Retórica 2005 livro II 1214 Aristóteles distingue os di ferentes tipos de êthes mas estas têm relação com o amadure cimento com a idade Assim o ético ethos compreende o caráter do homem os seus costumes e também a moral Dessa forma podemos descartar as tentativas de considerar a moral como um sistema normativo fixo que vale em todos os momentos e cir cunstâncias Na passagem do grego para latim os dois termos gregos ethos e êthos foram englobados num único termo moralitas de moris que vai significar tanto o modo de ser como aquela disposição de cada um para o bem para a retitude Paul Ricoeur 2011 na obra Ética e moral pergunta é pre ciso distinguir moral e Ética Esclarecendo que nada na etimologia das palavras nem no uso histórico das mesmas o exige a diferen ça é clara a primeira vem do latim enquanto a outra do grego Mesmo que ambas remetam à ideia dos costumes ethosmores é importante esclarecer que por convenção se reserva o termo ética para a intenção da vida boa realizada sob o signo das ações estimadas boas e o termo moral para o lado obrigatório marca do por normas obrigações interdições caracterizadas ao mesmo tempo por uma exigência de universalidade e por um efeito de constrição Ética I 58 5 MORAL Schopenhauer diz que instituir moral é simples o difícil é funda mentála E Wittgenstein acrescenta instituir moral é simples fundamentála impossível Vásquez 2007 p 19 diz que os problemas éticos se caracte rizam por sua generalidade e se diferenciam dos problemas morais da vida cotidiana que são os que têm relação com as situações concretas A Ética como Filosofia moral serve para fundamentar ou justificar a forma de comportamento moral A moral diz sobre o modo de comportarse do ser humano que por natureza é his tórico ele é um ser de liberdade e responsabilidade ética É um ser que não nasce perfeito tem como característica produzirse e aperfeiçoarse mediante suas ações O ser humano vive como uma pessoa quando é senhor de si mesmo sem liberdade de escolha lhe é impossível a responsabilidade ética A moral está presente em toda coletividade na forma de regulamento do comportamen to social ela tem uma dimensão social mas essa realidade não para no binômio homemsociedade o ser humano tem interesses pessoais além dos coletivos A moral nesse sentido deve estar baseada na responsabilidade pessoal Para conceituar o termo moral devemos partir da ideia de que existe uma série de morais concretas com características his tóricas todas elas compostas de regras que orientam o comporta mento sendo portanto normativas Essas regras fazem referên cias a ações concretas não mentir não roubar não enganar não desrespeitar os pais os maiores etc E como contrapartida estão as ações morais que fazem referência às normas ser solidário com quem precisa não jogar lixo na rua não perturbar o descanso dos vizinhos com sons altos ou gritos dar bons exemplos aos menores etc o que muitas vezes supera o alcance da norma As normas impõem um comportamento moral e esses atos devem estar em consonância com elas 59 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário Também devemos considerar que a Ética não cria a moral ela procura determinar a essência da moral A Ética é concebida como a ciência da moral Diferença de moral e moralidade Segundo Vásquez 2007 p 66 existe uma distinção entre moral e moralidade A moral tende a transformarse em moralidade devido à exigência de realização que está na essência do corpo normativo a mora lidade é a moral em ação a moral praticada Por isso lembrando que não é possível levantar um muro instransponível entre as duas esferas cremos que é melhor empregar um termo só o da moral como se costuma fazer tradicionalmente e não dois Mas deve fi car claro que se utilizamos um só com ele se indicam os dois planos da moral o normativo ou prescritivo e o prático ou efetivo ambos integrados na conduta humana concreta Diferentes sociedades diferentes concepções morais Como diz Vásquez 2007 p 67 A moral possui em sua es sência uma qualidade social Toda sociedade ainda as mais pri mitivas possuem normas morais que convivem com outras nor mas as jurídicas as religiosas técnicas etc e todos os indivíduos adotam uma concepção moral determinada pelo simples fato de pertencer a uma sociedade Toda mudança radical na estrutura social traz consigo uma mudança na moral A História apresenta uma sequência de morais que correspondem às diferentes socie dades que se sucederam no tempo É importante esclarecer que essa linha não deve ser necessariamente ascendente como a do conhecimento científico social ou cultural Toda sociedade em seu momento teve códigos morais e estes podem ser considerados avançados ou deficientes independente do momento histórico As sociedades escravistas podem ter sido as piores mas se com paradas às que aceitavam o canibalismo foram melhores mesmo assim foram péssimas Ética I 60 Na realidade cotidiana percebemos que algumas comuni dades gens progrediriam mais que outras tiveram melhores nor mas morais na medida em que estimularam a responsabilidade dos atos dos integrantes Portanto uma sociedade é mais eleva da em seu desenvolvimento moral quanto maior seja o grau de liberdade e responsabilidade que todos os seus membros têm É verdade que na sociedade há uma série de padrões que mode lam o comportamento social dos indivíduos e que estes variam de uma para outra mas a sociedade é a união de homens livres que com suas relações a constroem A sociedade não existe sem os indivíduos concretos e estes também não existem fora do social Como alerta Vásquez 2007 p 67 não devemos considerar a so ciedade como algo que existe em si e por si como uma realidade substancial que se sustenta independentemente dos homens que a formam A moral é fundamental para garantir a ordem ou a harmonia da sociedade ela regulamenta a conduta entre os homens Os in divíduos que compõem a sociedade aceitam os valores as normas que a distinguem e se submetem livremente a eles A moral tem uma concordância com o Direito ambos ba seiamse em regras que visam organizar a partir do ponto de vista da conveniência a maioria das ações humanas Porém diferen ciamse no fato de que enquanto o Direito garante o cumprimen to do sistema social em vigor a moral procura fazer com que os indivíduos que compõem a sociedade harmonizem de maneira consciente voluntária e livre seus interesses pessoais com os in teresses coletivos As idéias normas e relações sociais nascem e se desenvolvem em correspondência com uma necessidade social A função social da moral consiste na regulamentação das relações entre os ho mens entre os indivíduos e entre o indivíduo e a comunidade para contribuir assim no sentido de manter e garantir uma determinada ordem social Esta ação também se cumpre no Direito Graças ao Direito cujas normas para assegurar o seu cumprimento contam com o dispositivo coercitivo do estado assim conseguese que os indivíduos aceitem voluntária ou involuntariamente a ordem 61 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário social que é juridicamente formulada Mas isso não considerado suficiente procurase que os indivíduos aceitem de forma íntima e livremente por convicção pessoal os fins princípios valores e interesses dominantes em uma determinada sociedade Tal função social que a moral deve cumprir VÁSQUEZ 2007 p 69 A moral acontece em dois planos o normativo e o factual No primeiro encontramos as normas regras e princípios que exi gem obediência e no segundo estão os atos humanos denomina dos morais que têm relação com esses princípios O enriquecimento da vida moral acarreta um aumento de responsabilidade individual e isso depende do exercício da liber dade e da responsabilidade humana Quem não tem liberdade não pode ser responsável pelos seus atos por isso a massificação dos dias de hoje apresentase como impedimento para o progresso da moral Figura 1 Astreia divindade que difundia entre os homens sentimentos de justiça e de virtude Ética I 62 Astreia filha de Zeus e Têmis Segundo Grimal 1997 p 51 ela espalhava entre os homens os sentimentos de justiça e de virtude Isto passavase na tempo da Idade de Ouro Mas depois que os mortais degeneraram e a inclinação para o mal se espalhou pelo mundo Astreia subiu de novo ao céu SUPREMO TRIBUNAL FE DERAL 2012 Diferentes usos do termo moral Cortina e Martínez 2005 p 13 alertam sobre a pluralidade de significados que o termo moral possui na linguagem atual O termo moral é utilizado hoje em dia de maneiras muito diferentes dependendo dos contextos Essa multiplicidade de usos dá lugar a muitos malentendidos Frequentemente utilizamos esse termo como adjetivo fu lano é imoral Como adjetivo estamos fazendo um julgamento das ações dos indivíduos na medida em que estes não respeitam valo res estabelecidos normas ou princípios consagrados como morais Outras vezes ele é utilizado como substantivo a moral equivale a um conjunto de ordens normas de conduta proibições e permissões relacionados à vida boa para um determinado grupo social Assim o termo moral equivale à forma de vida no sentido coletivo como norma correta de conduta Outro uso do termo moral como substantivo faz referência ao código de conduta pessoal ou de alguma instituição fulano tem uma moral muito rígida Tais instituições impõem uma moral muito rigorosa ou carecem de moral Dessa forma o termo faz referência ao código moral que inspira a conduta do indivíduo ou da instituição Também é normal ouvir a palavra amoral Esse termo reú ne o prefixo a acéfalo privação e a palavra moral o termo se refere aos campos da conduta humana e tem a ver com os princí pios que orientam a conduta do homem ser amoral significa não 63 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário possuir um código moral Cuidado essa palavra não é sinônimo de imoral A conduta dos animais é amoral ou seja não tem relação com a moralidade que rege a sociedade de seres humanos em que são moralmente maduros cada um é senhor de seus atos e é responsável por sua conduta moral A invenção da bomba atômi ca é em si um descobrimento científico amoral O uso no caso do bombardeio americano ao Japão foi imoral Um tem relação com o desenvolvimento de um princípio físico e o outro com o uso des truidor desse princípio com a intenção de matar e destruir Pessoas imorais são aquelas que reconhecendo a validade das normas e dos valores da sociedade os infringem priorizando seu próprio interesse Outro termo de uso frequente que tem relação com moral é ter a moral bem alta nesse caso referese à confiança à co ragem que tem o indivíduo para fazer frente a um determinado desafio A moral deixa de ser um dever para refletir uma determi nada atitude Outro uso frequente do termo moral como substantivo no sentido de moral como a ciência que trata do bem geral da comu nidade faz referência àquele conjunto de normas estabelecidas e de caráter normativo que regem à convivência social A mesma tem um caráter histórico Sofre progressos na medida em que se amplia o campo de atuação ou seja que se universaliza Atos morais Os atos morais são atos essencialmente humanos Neles dis tinguimos três elementos objeto fim e circunstâncias São motivados por uma eleição relacionada com a pergunta por quê sucedida pela indagação para quê relacionada à finalidade do referido ato A consciência das possíveis consequên cias de nossos atos é importante para a valoração moral Os atos morais devem ser realizados de forma voluntária podendo esco lher realizálos ou não Ética I 64 O ato humano implica uma estrutura baseada nos seguintes princípios 1 Cognoscitivo é um princípio fundamental já que não podemos querer algo se não temos conhecimento de sua existência Assim o conhecimento intelectual é in dispensável para a realização do ato moral 2 Volitivo é voluntário Todo ato moral deve ser voluntá rio e para isso devemos prever de forma antecipada as consequências de tal ação A liberdade é componente essencial sem ela estaríamos ao nível animal Para que exista o ato moral devemos ser responsá veis pelo mesmo Como disse o Papa João Paulo II 2013 Nenhum homem pode esquivarse às perguntas fundamentais Que devo fazer Como discernir o bem do mal O bom como valor moral Vásquez 2007 p 135 diz que todo ato moral inclui a neces sidade de escolher entre vários atos possíveis Todo ato moral no sentido positivo é um ato valioso Mas o que é bom Lembremos que na Unidade 1 para Sócrates e seus principais discípulos o bom é o absoluto incondicionado Na Idade Média o bom concor da com a vontade de Deus O bom tem concordância então com a razão ordenadora presente na natureza Durante a Idade Mo derna esse conceito muda condicionado pelo progresso socioe conômico O problema do que fazer ante cada situação concreta é um problema práticomoral mas definir o que é bom tem caráter teórico é de competência da Ética 65 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário Figura 2 Têmis divindade grega responsável por definir a justiça no sentido moral Moral e religião Toda crença religiosa leva implícita uma determinada con cepção moral e uma visão de mundo ou cosmovisão As grandes religiões como o Cristianismo Budismo e Islamismo possuem um corpo doutrinar moral em geral muito bem elaborado que o crente deve observar para orientar suas ações Nele detalhamse valores objetivos normas e virtudes que servirão para orientar a ação Entretanto a religião não compreende só um código moral é uma forma de relacionarse com o transcendente e ordenador A obrigatoriedade moral A realização da moral é um fato individual porém a moral responde aos interesses da sociedade formada pelos indivíduos e sua vida econômica política espiritual e social Ética I 66 As teorias morais são sistematizações de algum conjunto de valores princípios ou normas como é o caso da moral cristã da laicista moral protestante etc Ante a pergunta qual moral deve ser cultivada existem diferentes teorias egoístas utilitaristas as teleológicas ou deontológicas formalistas etc Todas as teorias morais partem de uma concepção de ho mem Muitas vezes essa concepção é abstrata e a teoria deriva da será também abstrata em outros casos estará relacionada às ideias de sociedade e em concordância com a História Contudo seja qual for a concepção de homem a humanidade sempre admi tirá a obrigatoriedade da moral 6 ÉTICA NORMATIVA E O FENÔMENO MORAL As normas morais são de caráter obrigatório mas a moral não entra em nossa consciência como uma injeção pelo con trário é de responsabilidade pessoal do sujeito Ante o caráter normativo da mesma é preciso responder à questão como devo agir ante determinada situação Os filósofos morais colocam como alternativas as teorias teleológicas e as teorias deontológicas As teorias teleológicas de telos que em grego significa fim baseiamse nas ideias de que o padrão para decidir o que é certo e o errado o conveniente e o inconveniente depende da quantidade de bem que a ação vai causar Assim uma ação é boa se produz consequências intrínsecas boas superiores ao mal pro duzido Como diz Frankena 1969 p 29 o teologista pode assumir qualquer posição com relação ao que é o bem no sentido não mo ral Frequentemente os teologistas têm sido hedonistas relacio nando o bem ao prazer Em Aristóteles 2002 a Ética teria um caráter propriamente teleológico e não deontológico e esclarece na Ética a Nicômaco que só pode ser bom aquele que é orientado para o bem em seus afetos e em suas inclinações 67 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário Já as teorias deontológicas de déon palavra grega para dever negam a proposta teleológica e defendem que existem outras características legitimadoras do ato moral Partem de juízos como devemos sempre cumprir nossas promessas independen te das cosequências de dito ato moral Defendem que o caráter específico de cada ato diante de cada situação impede que pos samos apelar para uma norma geral que determine o que deve mos fazer Essa posição é comum a diversas teorias éticas como a kantiana as intuicionistas e contratualistas etc que analisaremos futuramente no CRC Ética II Todas elas postulam a existência de princípios e deveres morais independentes de seus efeitos Para esses éticos as ações humanas são boas ou más por sua coerência com esses princípios não por suas consequências Frankena 1969 p 39 destaca ainda as teorias atodeoanto lógicas que são aquelas que não propõem qualquer padrão para determinar o que é certo ou errado em casos particulares Os juí zos particulares não devem seguir uma determinada regra Os ato deoantológicos não propõem nenhum princípio orientador Uma aproximação às teorias éticas é importante para enten der o fenômeno da moral Assim para finalizar esta unidade suge rimos a leitura do mito O anel de Giges contido no livro II da A Re pública em que Platão discute sobre a deficiência do ser humano ante a possibilidade de ser imoral porque não terá consequências PLATÃO A República São Paulo Martin Fontes 2006 Figura 3 O anel de Giges Ética I 68 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Chegamos ao final desta unidade Sugerimos que você pro cure analisar responder e comentar as questões a seguir que tra tam da temática aqui desenvolvida ou seja dos problemas éticos e dos problemas morais da vida cotidiana 1 Com base nos conteúdos desta unidade e nos conhecimentos sobre a rela ção entre Ética e moral analise se é correto afirmar que Os problemas éticos são caracterizados pela generalidade Seria inútil recorrer à Ética para encontrar uma norma de ação para uma situação concreta A ética vai ajudar na análise do comportamento pautado por normas que consiste o fim do comportamento moral Resposta 2 Responda as seguintes questões a O que é moral b O que é Ética 3 O homem se diferencia do animal pois se relaciona de forma diferente com o mundo exterior transformao conheceo O animal vive sua relação com o mundo exterior de forma única já o homem intervém na natureza de for mas diferentes segundo a sua cultura Mas não nos é permitido fazer qualquer coisa Aqui surge o problema da responsabilidade Para falar em responsabilidade ante nossos atos de conduta devemos referirnos ao conhecimento de um lado e à liberdade de outro A ignorância e a falta de liberdade entendida como coação permitem eximir o sujeito da responsabilidade por seus atos Você considera possível argumentar ignorância ante as normas morais e as leis positivas para não ser responsável por nossas ações 4 Sobre Ética podemos afirmar que a é um conjunto de regras que determina ou que mostra como os indiví duos devem se comportar em determinado grupo social b é um estudo sistemático que se ocupa da reflexão e do estudo do com portamento humano bem como da sua relação com o belo e com a arte c é a parte da Filosofia que se ocupa da reflexão sobre as noções e princí pios que fundamentam a vida moral da discussão acerca do que é certo ou errado e do comportamento dos indivíduos d é o estudo dos comportamentos individuais 5 Hoje em dia quase todos utilizam com frequência a palavra ética em suas conversas Nos meios de comunicação também é comum que se fale da 69 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário Ética como condição da vida política e social em geral No entanto sabemos que muitas vezes se fala da Ética sem ter claro qual é seu significado Identi fique situações em que a palavra ética aparece na mídia com um sentido apresentado neste CRC 6 Escreva uma breve dissertação respondendo à seguinte questão por que devo obedecer às leis morais 7 Diferencie moralidade de moralismo e dê um exemplo de moralismo 8 Sobre o mito O anel de Giges presente no livro II de A República de Platão Glaucón expõe a Sócrates que aqueles que seguem a justiça o fazem por desejo próprio ou para evitar punições Justifique sua resposta 9 Como exercício de reflexão propomos que você analise na prática a essên cia dos termos ética e moral Para isso é preciso que você assista ao fil me O Jardineiro Fiel 2005 Esse filme permite reflexividade sobre os temas éticos e você poderá entrar em contato com juízos de dever efetivo regras morais e juízos éticos Após assistir ao filme analise qual é a justificação válida para a conduta moral Gabarito 4 c 8 CONSIDERAÇÕES É comum na Filosofia encontrarmos correntes de pensa mento que embaraçam o significado dos termos ética e moral por partirem eles de uma mesma fonte o ethos Essa posição é muito discutida porque as funções dos dois saberes são bem diferenciadas a Ética consiste fundamentalmente numa reflexão filosófica sobre a moral enquanto a esta última competem as nor mas e códigos que regulam o comportamento dos indivíduos em sociedade Moral e Ética respondem a diferentes questionamentos já que a moral tem relação com os códigos que versam sobre a ação do indivíduo na sociedade e opera ante o questionamento o que devo fazer perante determinada situação concreta Enquanto isso a Ética atua num nível teórico tratando de responder a perguntas Ética I 70 sobre o fundamento da moral sua aplicação na vida cotidiana sua incidência no bom funcionamento da sociedade etc O problema está na interpretação do ethos grego que tinha como fundamento a ideia de autoperfeição liberdade estética etc O ethos tinha uma função transcendente na medida em que era a meta para a perfeição imitativa da beleza dos deuses 9 EREFERÊNCIAS Lista de Figuras Figura 1 Astreia divindade que difundia entre os homens sentimentos de justiça e de virtude Disponível em httpwwwstfjusbrportalcmsverTextoaspservicobibliot ecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJusticapaginaastreia Acesso em 26 abr 2013 Figura 2 Têmis divindade grega responsável por definir a justiça no sentido moral Disponível em httpwwwstfjusbrportalcmsverTextoaspservicobibliotecaCons ultaProdutoBibliotecaSimboloJusticapaginatemis Acesso em 26 abr 2013 Figura 3 O anel de Giges Disponível em httpwwwoutonoscombrfilosofiaasp Acesso em 26 abr 2013 Sites pesquisados ARISTÓTELES Moral Disponível em httpwwwdominiopublicogovbrdownload textobk000424pdf Acesso em 26 abr 2013 BOFF L Ética e moral a busca dos fundamentos 2 ed Petrópolis Vozes 2003 Disponível em httpptscribdcomdoc89815308Eticaemoralabuscadosfundamentos Acesso em 26 abr de 2013 Saber cuidar Ética do humano Disponível em httpcursaihmcus rid1GMSLFWNB5RXV9CGSQSaber20Cuidar2020Etica20do20Humano pdf Acesso em 26 abr 2013 JOÃO PAULO II Carta Encíclica Veritatis Splendor Disponível em httpwww rainhamariacombrPagina193CARTAENCICLICAVERITATISSPLENDOR Acesso em 25 abr 2013 RICOEUR P Ética e Moral Tradução de António Campelo Amaral Covilhã Universidade da Beira Interior 2011 Disponível em httpwwwconteudojuridicocombrpdf cj035379pdf Acesso em 25 abr 2013 SANTOS A L Para uma Ética do como se Contingência e Liberdade em Aristóteles e Kant Convilhã Universidade da Beira Interior 2008 Disponível em httpwwwlusosofia nettextossantosanaleonorparaumaeticadocomosepdf Acesso em 26 abr 2013 71 U2 A finalidade da Ética e a essência da moral Claretiano Centro Universitário 10 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS ARISTÓTELES Arte retórica e arte poética 17 ed Rio de Janeiro Ediouro 2005 Ética a Nicômaco São Paulo Edipro 2002 BOFF L Ética e moral a busca dos fundamentos 2 ed Petrópolis Vozes 2003 CORTINA A MARTÍNEZ E Ética São Paulo Loyola 2005 FRANKENA W K Ética Rio de Janeiro Zahar 1969 GARCÍA GÓMEZHERAS J M Teorías de la moralidad Madrid Síntesis 2004 PLATÃO Diálogos Platônicos São Paulo Nova Cultura 1999 Coleção Os Pensadores VÁZQUEZ A S Ética Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2007 EAD 3 1 OBJETIVOS Entender o contexto em que se desenvolveu a Ética reli giosa Perceber e examinar criticamente as principais questões éticas derivadas da religião cristã Reconhecer os principais representantes da Filosofia cris tã medieval Reflexionar sobre a influência da Filosofia platônica aris totélica da Bíblia judaica e dos primeiros escritos cristãos na formação da Ética medieval Identificar os fatores que contribuíram para essa nova sín tese éticomoral Ética medieval embasamento cristão Ética I 74 2 CONTEÚDOS As Éticas medievais Concepção de pessoa humana A obra de Santo Agostinho A Ética eudemonista de Tomás de Aquino A origem das virtudes 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir 1 Nesta unidade apresentamse as linhas fundamentais de duas escolas medievais que entrelaçaram o pensa mento grego com o cristão a Patrística representada no pensamento de Agostinho de Hipona e a Escolástica analisada por meio da obra de Tomás de Aquino 2 A Ética é a parte da Filosofia que trata da moral e das obrigações dos homens portanto é a ciência da con duta No período medieval impregnase com elemen tos das doutrinas clássicas que têm como fim último do agir humano a felicidade Esta que motivou a concepção de Ética grega clássica passa a depender da observân cia dos princípios cristãos que considera o fim último da ação humana a caridade caminho para aceder à vi são de Deus Nesse contexto a Ética medieval passa a contemplar os homens menos afortunados os oprimi dos pela escravidão os limitados os explorados os des criminados etc Assim como no período grego antigo quando a Filosofia se caracterizou por discutir a relação do homem com a polis o predomínio da razão e sua pro dução a Filosofia durante o medievo não estabeleceu fronteiras precisas entre religião cultura e Estado 3 A Ética da Idade Média tem como característica o teo centrismo A mensagem cristã apresenta um profundo conteúdo moral que vem de Deus e se encontra impres 75 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário so na natureza criada Santo Agostinho e Tomás de Aqui no este último fora discípulo de Santo Antonio Magno durante a Alta Idade Média foram dois dos maiores pensadores que sintetizaram o pensamento cristão me dieval Ambos são considerados Pais da Igreja O pri meiro representa a Patrística movimento que abarca desde o fim do Cristianismo primitivo até aproximada mente o século 12 O segundo é representante da Es colástica movimento que se divide em inicial séculos 913 com forte influência do neoplatonismo Escolás tica clássica séculos 1415 com evidente domínio do aristotelismo com embasamento cristão e a Escolástica tardia séculos 1516 4 O que caracteriza este período histórico é ter Deus como sumo Bem pois todas as perfeições provêm dele 5 Um dado histórico que você aluno deve ter para en tender esse momento é que no início da Idade Média século 5 que coincide com a queda do Império Romano de Ocidente as instituições romanas ruíram e o seu sis tema jurídico sofreu grandes perdas Todavia a religião Cristã já era a religião oficial do Império Romano Em 312 dC o imperador romano Constantino converteuse ao Cristianismo em seguida o imperador Teodósio em 390 dC por meio do Edito de Tessalônica tornou o Cris tianismo a religião oficial do Império Os cristãos trou xeram a palavra de Jesus Cristo que pregava a santida de pessoal Veremos que para os pensadores das duas escolas citadas anteriormente o fim último da vontade humana é o Bem supremo 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE O apóstolo Paulo trouxe as noções evangélicas ao mundo grecoromano e a mensagem contida nos Evangelhos revolucio nou os valores tradicionais e pode ser descrita como uma das maiores revoluções éticas da humanidade Ética I 76 Os romanos de tradição imperialista escravista e politeísta enfrentaram pregações como os pobres são moralmente supe riores aos ricos Lucas 112 32 a salvação não advém do cum primento dos rituais religiosos e sim das atitudes que temos com nós mesmos e com os outros Amar a Deus acima de tudo e amar ao próximo como a ti mesmo Mateus 19 1630 e Lucas 18 18 30 O Sermão da Montanha Mateus 5 2028 contém as bases da nova Ética que invade ocidente Nesse contexto Deus já não é um frio modelo de justiça é onipresente um exemplo de amor Porém seus princípios são im perativos Os autores da Antiguidade Clássica utilizaram a expressão direito natural ius naturale para referiremse a quaisquer prin cípios considerados reitores da conduta humana diferentes dos originados na legislação humana ou direito positivo ius positivum Vimos na Unidade 1 que para a cultura grega exis tem leis universais cuja origem é tida como divina Aristóteles na Retórica 2005 as descreve como koinoi nomoi comuns a to dos os povos paralelamente existem as leis particulares de cada povo descritas por Aristóteles como ídioi nomoi 5 INFLUÊNCIA JUDEOCRITÃ NA ÉTICA DA IDADE MÉDIA A Ética teocrática e teológica é aquela que identifica o Bem com a vontade de Deus Dentro dessa categoria incluemse as Éti cas hebreia e cristã A relação e o reconhecimento do outro cons titui a base para essa Ética precisamente porque a realização da justiça consiste no reconhecimento da alteridade do outro Nes se sentido o Cristianismo manda em seis de seus mandamentos amar o próximo como a si mesmo AMARÁS O PRÓXIMO COMO A TI MESMO Jesus disse a seus discí pulos Amaivos uns aos outros como eu vos amei Jo 1334 Em resposta à pergunta feita acerca do primeiro dos mandamentos 77 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário Jesus diz O primeiro é Ouve ó Israel o Senhor nosso Deus é o único Senhor e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma com todo o teu espírito e com toda a tua força O segundo é este Amarás O teu próximo como a ti mesmo Não existe outro mandamento maior do que estes Mc 12 2931 O apóstolo S Paulo o recorda Quem ama o outro cumpriu a lei De fato os preceitos não cometerás adultério não matarás não furta rás não cobiçarás e todos os Outros se resumem nesta sentença amarás o teu próximo como a ti mesmo A caridade não pratica o mal contra o próximo Portanto a caridade é a plenitude da lei Rm 13 810 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 1993 2196 p 449 Nesse preceito bíblico está muito clara a importância da experiência alteritária Bauman 2005 p 101 afirma que amar o próximo como amamos a nós mesmos significaria respeitar a sin gularidade de cada um Assim amar ao próximo tem relação com tolerância e promoção da individualidade do outro o valor de nos sas diferenças enriquece o mundo A grande síntese da moralidade bíblica está expressa nos Dez Mandamentos Ex 20 10 As chamadas duas tábuas da lei mos tram os deveres das pessoas para com Deus nos três primeiros mandamentos e para com o seu próximo nos sete seguintes Figura 1 Os Dez Mandamentos Ética I 78 A moralidade para os cristãos não é criada de forma arbitrá ria por Deus provém do caráter inato de Deus que é bom portan to não pode ser aceito pecado ou ruptura com a ordem divina A lei moral é obra da sabedoria divina obra excelente do criador a lei moral fornece os fundamentos só lidos sobre os quais pode o homem construir o edifício das regras morais que orientam suas ações CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 1993 p 449450 Para alcançar a felicidade que coincide com a contemplação de Deus devemos impedir que o pecado tome o lugar da ordem moral existente na criação o mal não é senão a corrupção da ordem natural A natureza má é portanto a que está corrompida porque a que não está cor rompida é boa Porém ainda quando corrompida a natureza não deixa de ser boa quando corrompida é má AGOSTINHO 2005 p 25 A Ética de Jesus está contida nos seus ensinamentos e é ilus trada pela sua vida O Sermão da Montanha uma das melhores sínteses da Ética cristã apresenta as bases éticas de Jesus carac terizada pela humildade misericórdia integridade e veracidade a busca da justiça e da paz pelo perdão a generosidade e acima de tudo pelo amor a Deus que se desprende do amor ao próximo Figura 2 Lápide sepulcral com peixes e âncora 79 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário Joseph Klausner escritor judeu escreveu na obra titulada Jesus de Nazareth 1996 que é universalmente aceito que Cristo ensinou a mais pura e sublime Ética já que a mesma supera os preceitos morais e as máximas dos homens sábios da antiguidade 6 PESSOA HUMANA Apoiada na declaração do Livro do Gênesis que diz que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus Gn 1 2627 a Bíblia eleva à condição de dignidade todos os seres humanos por participarem da condição divina O conceito de pessoa humana reflete a essência de todos os seres humanos Segundo Comparato 2006 p 457 o concei to de pessoa humana toma forma com Boécio no século 6 Esse pensador define a pessoa humana como substância individual da natureza racional definição que posteriormente foi adotada por Tomás de Aquino O nome pessoa vem ganhando destaque desde a Antigui dade grega Platão na República 2006 e Aristóteles na Meta física 2006 destacaram a capacidade racional como condição de imortalidade existente entre os deuses e que se repete no ser humano Contudo o conceito de pessoa humana nos moldes cris tãos mesmo que mantendo pontos em comum com a concepção grega clássica traz uma nova visão do mundo e do homem Desta ca o ser pessoal do homem como imagem e semelhança de Deus MARÍAS 1975 p 78 Segundo Lucas 1996 a palavra pessoa é derivada do ver bo latino personare que significa ressoar em português Os pensadores comprometidos com essa radical visão de ser humano colocaram a origem da pessoa na cultura grega Pessoa decorre do vocábulo grego prósopon que significa máscara em alusão às máscaras utilizadas pelos atores nas tragédias gregas que re presentavam personagens pessoas das diferentes classes sociais Ética I 80 Suas vozes ressoavam por meio das máscaras utilizadas pelos ato res assim também na pessoa ressoa uma voz que tem caracterís ticas de divindade por trás de sua forma biológica No Direito romano eram pessoas os que possuíam direitos e deveres de cidadãos os escravos e os estrangeiros não eram pes soa para essa forma de Direito Com a difusão da idia cristã de espiritualidade e imortalidade da alma e a noção de que todos os homens são filhos de Deus e iguais em direitos o conceito de pes soa se universalizou em todo o Império Romano Figura 3 Martírio dos escravos 7 O FUNDAMENTO DA VIDA ÉTICA É A DIGNIDADE DA PESSOA Com o advento do Cristianismo o conceito de pessoa como substância passou a sustentar o atributo da dignidade humana A partir do conceito de pessoa todos os seres humanos são consi derados iguais em essência Vejam que esse conceito de igualdade não abrange as igualdades culturais e históricas O importante é 81 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário que a partir dessa visão todo ser humano passa a ter direitos que emanam do fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus Com a Teologia medieval o princípio do Direito formulado por Cícero comentado na Unidade 1 fica em segundo plano en quanto a organização da vida em sociedade e conduta individual em primeiro lugar está a supremacia da fé Porém a fonte da refle xão jurídica continua sendo o Direito Natural 8 AGOSTINHO DE HIPONA Como explicam Cortina e Martínez 2005 p 6364 a obra de Agostinho pertence cronologicamente ao período romano mas seu conteúdo inaugura uma série de temas que serão discutidos ao longo da Idade Média A Ética cristã de Santo Agostinho é inspi rada como todo o seu pensamento na Filosofia grecoplatônica estoica matizada pela visão bíblica Tanto Santo Agostinho como São Boaventura se apoiam na Filosofia de Plotino 204270 que possui características neoplatônicas mas ambos se contrapõem ao racionalismo ético dos pensadores gregos Concordando com os gregos Agostinho afirma que a moral é um conjunto de normas que ajudam a alcançar a boa vida e como consequência a felicidade Sua Ética resulta da releitura das teorias éticas socráticas Diferente dos gregos Agostinho em Ci dade de Deus AGOSTINHO 2000 explica que a meta para alcan çar a felicidade é o encontro amoroso com Deus a partir do que se deduz que os conteúdos da moral não podem ser outros que os ensinados por Jesus aos homens Para Agostinho na doutrina cristã está a solução para os problemas éticos Esse raciocínio nos afasta um pouco do caminho que a Ética vinha traçando na medida em que os conteúdos da fé não podem ser apresentados com o mesmo valor de verdade para todos os seres racionais mas como dizem Cortina e Martínez 2005 p 64 Ética I 82 as éticas religiosas são realmente éticas sempre que ofereçam sua correspondente explicação da moral mas são éticas de máxi mos pois contêm elementos de convite à felicidade que não po dem razoavelmente ser impostos a todo ser racional No entanto com a adoção de muitas dessas éticas de máximos é possível coin cidir com outras éticas em conteúdos alguns mínimos comuns que permitiriam uma convivência harmoniosa Santo Agostinho parte do princípio ético emancipante de que o ser humano é feito à semelhança de Deus para justificar a correspondência com as três pessoas da Trindade As expressões dessa correspondência encontramse nas três faculdades da alma Considera que a alma contém uma norma divina correspondência com ideia platônica de alma que lhe orienta para a felicidade mas não é suficiente conhecer essa norma divina é necessário ser movido em direção a ela pelo amor e pela Graça O autor da Ci dade de Deus afirma que a alma tem como princípio a ratio recta princípio que é inato no ser humano A Ética tem como fundamen to a vida virtuosa é a beatitude dito fim é a visão de Deus Segundo Agostinho 2005 a dignidade do homem está fun damentada na citada passagem bíblica que explica que este foi criado à imagem e semelhança de Deus e sua miséria está explica da por sua inclinação ao pecado O homem pelo pecado original nasce orgulhoso e inclinado a pecar e pelo livrearbítrio que rece be de Deus pode fazer mau uso dos bens temporais Assim o mal não está na criação e sim no mau uso que o homem faz dela A pergunta de Evódio como é possível que Deus conceda ao homem o livrearbítrio uma vez que é certeza que po dia pecar é respondida por Agostinho 2004 da seguinte forma não é por que o homem tem a vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para isso Sem ela o homem não teria oportunidades de viver e agir corretamente se o homem não fosse dotado de livrearbítrio não existiria esse bem que consiste na realização da justiça por meio da condenação da ação moral mente errada e a premiação pela ação da ação correta 83 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário Segundo Marcondes 2007 p 5859 nas Confissões livro VII capítulo 12 Agostinho diz que o mal deve ser entendido como diminuição ou privação do bem já que sendo Deus sumamente bom teria criado bens bons No capítulo 16 AGOSTINHO apud Marcondes 2007 da mesma obra o pensador conclui que o mal não é substância pois as coisas são boas ele é produto do desvio de conduta O pecado para Agostinho é o resultado de uma má escolha possibilitada pelo livrearbítrio Na Filosofia agostiniana o homem é livre e responsável por seus atos Na obra A Natureza do bem 2005 livro II Agostinho explica que o livrearbítrio possibilita que o homem racional tenha responsabilidade moral em seus atos ou seja que seja merecedor de castigos ou de prêmios Você pode ampliar seus conhecimentos sobre esse tema lendo a obra AGOSTINHO Santo O livrearbítrio Disponível em httpsumateologicafileswordpresscom200907santo agostinho olivrearbitriopdf Acesso em 29 abr 2013 Na obra de Agostinho dentre os principais problemas éti cos está a origem do mal ante a perfeição de Deus e a questão da liberdade humana ante a realidade do pecado original Agostinho distingue a lei eterna vinculada a Deus de caráter imutável das leis temporais sujeitas a mudanças Estas nada têm de justo e le gítimo se não foram retiradas da lei eterna assim uma lei justa no sentido temporal deve ser inspirada na obra de Deus Agostinho é um autor preocupado com a Ética se bem que não escreveu uma obra específica sobre este tema no texto intitu lado Sobre o sermão do senhor da montanha 2003 tratou quan do ainda era bispo em Hipona sobre a Ética do Sermão da Monta nha considerado um dos grandes tratados éticos antigos Escrito em uma linguagem figurada ensina aquilo que o homem deve ser Ética I 84 Para entender melhor sobre este tema sugerimos que leia O Ser mão da Montanha de Paul Earnhart disponível em httpwww estudosdabiblianetsompdf Acesso em 29 abr 2013 9 TOMÁS DE AQUINO ÉTICA DA LEI NATURAL Cortina e Martínez 2005 p 65 explicam que Tomás de Aquino segue a linha eudemonista por considerar a felicidade como o fim último da atividade humana mas sempre dentro da tradição ética teocráticateológica iniciada por Agostinho A moral para Santo Tomás é a ciência que dirige os atos hu manos para seu fim último Esses atos humanos devem estar or denados segundo a razão que apreende as leis da natureza Assim a razão estará em concordância com a lei natural que é comum a todos os povos Ainda existem os costumes que são particulares de cada povo nesse sentido a educação moral que consiste no ordenamento dos hábitos e dos costumes fará com que o homem alcance a felicidade na ordem do cumprimento de sua própria na tureza AQUINO 2004 p 1921 A felicidade total não é possível para o homem nesta vida só pode ser alcançada na vida definitiva junto ao Criador Para isso o homem deve atuar em concordância com as virtudes para aper feiçoar sua vida Segundo Marcondes 2007 p 6163 o conceito de virtude em Santo Tomás provém de Aristóteles só que para o pensador medieval a virtude já não está relacionada ao concei to de polis como no universo grego e sim às virtudes teologais enquanto unidas à caridade amor ao próximo que dá forma aos atos das virtudes O conceito de felicidade que para Aristóteles coincidia com eudaimonia está relacionado à beatitude Suas principais teses filosóficas estão contidas na Suma Teo lógica AQUINO 2004 Nessa obra em forma de respostas trata do ser da verdade e do conhecimento de Deus e da criação da 85 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário Graça Divina dos sacramentos da Antropologia das virtudes teo logais e da lei eterna que contém os lineamentos da verdadeira moral natural Para Tomás de Aquino a vida prática deve ser organizada por meio dos princípios fornecidos pela sindérese e pela consciên cia moral A sindérese como habitus apreende e formula os dois grandes princípios da vida moral fazer o bem e evitar o mal A palavra latina habitus significa um estado de corpo e alma ou seja a maneira de ser da pessoa humana Assim habitus que para Aristóteles é a primeira categoria predicamental hexis é um agir relacionado com o concreto com a inteligência dispen sando os instintos dispensando a ação da dimensão vegetativa da alma Esse termo simboliza um desejo refletido Sendo as virtudes habitus pode se dizer que o homem virtuoso age bem em con cordância com seu ser AQUINO 2004 IV III p 45 Porém como está expresso no prólogo do volume 5 da Suma Teológica 2004 p 45 A moral em generalidades é pouco útil já que as ações se realizam em situações particulares Esses princípios são sempre confrontados com a realidade pessoal Para que isso seja possível necessitamos da intervenção da consciência moral que é um ato da razão prática que engloba a sindérese o conhecimento moral a experiência as convicções etc A moral é uma ciência prática isto é uma ciência do ato humano tal como existe onde quer que seja exercido Não basta ter estuda do os princípios gerais da moral o fim do homem a felicidade eter na depois os atos das paixões que podem conduzir à felicidade Para maior utilidade de aquele que age é preciso retomar em par ticular Não podemos conceber todo pensamento palavra ou ato que estando relacionados a um mesmo objeto sejam da mesma espécie Não podemos tampouco pensar em determinar a norma ou a medida de toda ação concreta Esta depende tanto de circunstâncias tempo lugar humor ou simplesmente de fraqueza ou força de ignorância ou ciência AQUINO 2004 p 43 Os princípios traduzidos em regras darão inicio à vida mo ral No entanto para realizar as boas ações devemos praticar as virtudes disposição do espírito e do coração para agir bem são Ética I 86 sete as virtudes Santo Tomás na Suma Teológica 2004 VI p 1170 precisamente a partir da questão 58 diferencia as virtudes morais e virtudes intelectuais na questão 61 destaca as cardeais Segundo pode ser apreciado no volume 6 em primeiro lugar Santo Tomás coloca a justiça pela extensão das funções que lhe são consagradas enquanto controladoras de pessoa e sociedade logo vem a força e a temperança a primeira controladora pelas pai xões enquanto a segunda nos afirma racionais ante a pressão da paixão e por último temos a prudência AQUINO 2004 Entretanto como diz Santo Tomás 2004 para agir bem é necessário que a razão esteja bem disposta pelo hábito da virtude intelectual e que a potência apetitiva atue em relação ao hábito da virtude moral em conformidade com a razão Tal como o apetite se distingue da razão assim também a virtude moral se distingue da intelectual As virtudes morais são vivenciadas na afetividade humana em relação ao costume Tanto as virtudes morais como as intelectuais têm como objeto algo que a razão humana pode compreender Só as virtu des teologais podem relacionarnos à aventurança sobrenatural AQUINO 2004 Cristo e a caridade são a pedra angular da estrutura moral Para Santo Tomás a moral é uma ciência prática que pode conduzir o homem à felicidade eterna A condição para que exista moral é que exista liberdade sem a liberdade não há moral sendo que esta tem fundamento na razão O fim último da vida humana significa um retorno a Deus e o homem se dirige a ele com passos do conhecimento e do amor Todas as criaturas são chamadas de volta ao Criador Na maior par te delas por não serem dotadas de inteligência o retorno será operado de maneira passiva mas no ser humano por ser criado à imagem de Deus e gozar de inteligência livrearbítrio capaci dade de autodeterminação o retorno envolve outras condições 87 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário Enquanto as criaturas irracionais são simplesmente atraídas com o homem acontece um movimento diferente Deus só o orienta mediante uma inclinação à sua própria realização por intermédio de um desejo de bemaventurança AQUINO 2004 Portanto to das as criaturas possuem um só e mesmo fim último Deus A lei que liga ordem e ação compete ao âmbito da razão O Tratado da Lei se encontra na primeira e segunda parte da obra Suma Teológica Nele está expresso que o homem deve buscar sua realização que coincide em conhecer e amar a Deus para isso precisa orientar seus atos para esse fim Assim surge a necessidade da lei que lhe dê direção já que tal empreitada não pode ser deixada ao arbítrio de cada consciência É importante portanto que o ser humano disponha de uma fonte pedagógica e objetiva sobre a qual possa basear as decisões que pesam sobre sua consciência Para Santo Tomás a fonte de toda lei é a vontade divina pla no de Deus para o governo de suas criaturas expressa na criação que se evidencia no conhecimento do homem que está situado no tempo e na história A partir do pensamento divino chega a lei eterna que vai determinando as leis mais contingentes que são as terrenas A Nova Lei ou lei de Cristo é a própria Graça presença dinâmica do amor de Deus AUBERT in AQUINO 2004 Os quatro tipos de leis para Santo Tomás são a lei eter na que é a razão de Deus a lei natural que é a participação da lei eterna na criatura racional a lei humana que se deriva da lei natural e que norma a vida social e a lei divina que é dada ao ho mem para que possa orientarse para seu fim último que é a vida Vejam que para Santo Tomás a vida na terra é importante e faz parte do plano de salvação do homem Ética I 88 Para saber mais sobre esse pensadorsugerimos que leia a obra de Patrícia Calvário O Governo da Cidade no De Regno de Tomás de Aquino que se encontra disponível em httpwwwlusosofia nettextoscalvariopatriciaogovernocidadenoderegno detomasdeaquinopdf Acesso em 6 maio 2013 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure refletir responder e comentar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade ou seja a respeito da Ética da Idade Média caracterizada pelo teocentrismo presente na mensagem cristã na forma de um profundo conteúdo moral que vem de Deus e está impresso na natureza criada Confira a seguir as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade 1 Analise as seguintes afirmações e indique a única alternativa incorreta a A Ética teocrática e teológica é aquela que identifica o bem com a vonta de de Deus Dentro dessa categoria incluemse as Éticas hebreia e cristã b A moralidade para os cristãos não é criada de forma arbitrária por Deus provém do caráter inato de Deus que é bom portanto não pode ser aceito o pecado ou a ruptura com a ordem divina c A ética de Jesus está contida nos seus ensinamentos e é ilustrada pela sua vida caracterizase por humildade misericórdia integridade e vera cidade busca da justiça e da paz perdão generosidade e acima de tudo amor a Deus que se desprende do amor ao próximo d Com o advento do Cristianismo o conceito de pessoa como substância passou a sustentar o atributo da dignidade humana A partir do conceito de pessoa todos os seres humanos são considerados iguais em essência e Nenhuma das alternativas 2 Como Santo Agostinho justifica que Deus seja sumamente bom e exista o mal 3 Se Deus é o todo poderoso por que permitiu o livrearbítrio no homem 4 Como Santo Tomás relaciona as virtudes 89 U3 Ética medieval embasamento cristão Claretiano Centro Universitário 5 Compare a posição de Santo Tomás de Aquino sobre as virtudes com a de Aristóteles de quem foi assíduo leitor 6 Analise as seguintes afirmações e indique a única alternativa incorreta a Tanto para Tomás de Aquino como para Agostinho o mal é a ausência do bem isto é o mal não é substancial Ambos seguem a teoria da não substancialidade do mal b O mal não é intrínseco nem à natureza e nem ao ser humano que é do tado de capacidade de distinguir o Bem e naturalmente tende para ele Aparece na sua condição de ignorância ou ausência de sabedoria c Segundo Tomás de Aquino existem duas espécies de mal a pena e a culpa que é o ato humano de escolha deliberada do mal d Para Agostinho é natural que exista uma substância do Bem que se cha ma Deus e outra contrária as Trevas e Na obra Livrearbítrio Agostinho apresenta o problema do mal sob dois pontos de vista o metafísicoontológico e o mal moral 7 Disserte sobre o seguinte tema Na Filosofia agostiniana o homem é livre e responsável por seus atos Na obra A Natureza do bem 2005 livro II Agostinho explica que o livrearbítrio pos sibilita que o homem racional seja merecedor de castigos ou de prêmios que tenha responsabilidade moral em seus atos Gabaritos 1 e 6 d 11 CONSIDERAÇÃO FINAL A Ética grega clássica teve sua consolidação entre o século 5 e o século 4 aC Nesse período da História da Filosofia a reflexão filosófica moral esteve marcada por dois aspectos fundamentais a polis e o ser O eixo de discussão da Ética grega estava no ethos morada ou lugar onde se habita O termo ethos para os gregos tinha um significado mais amplo que o conteúdo atual do ético abrangia a disposição do ser humano seu caráter adquirido pelo hábito sua moral familiar e seus costumes A moral da sociedade determinava as leis da polis mas como vimos na Unidade 1 com a reflexão socrática se gesta a Ciência Éti Ética I 90 ca que trairá à discussão a existência de valores absolutos e imu táveis em que deveriam basearse as leis Para Sócrates o bem e a justiça são valores que o homem pode aceder racionalmente surge então o intelectualismo moral Nesse período a Ética passa a ter como finalidade a busca da felicidade Surgem posteriormen te as escolas helênicas que defendiam que a finalidade da vida é o prazer racional que se alcança dominando os desejos superando a dor controlando o medo e as paixões para se tornar ético é ne cessário aderir à vida sóbria As Éticas medievais estudadas na Unidade 3 que corres pondem ao período medieval compreendido entre os séculos 4 a 15 dC incorporam à ideia grecoromana muitos elementos provenientes da Bíblia judaica dos Evangélicos e dos primeiros es critos cristãos a felicidade passa a ter relação com a união com Deus Duas escolas imprimem suas características à ação ética a Patrística e a Escolástica A felicidade continua sendo o fim da Éti ca mas diferentes dos gregos que identificavam a felicidade ao conhecimento das coisas mais elevadas esse novo conceito de fe licidade passa a ser identificado com a contemplação da beatitude de Deus Para esses pensadores a vida do ser humano não se es gota na terra e portanto a felicidade não pode estar relacionada a coisas do mundo terreno Na época moderna com a revolução científica a visão de mundo muda radicalmente e surgem novas teorias éticas como a proposta ética de Hume e o imperativo categórico kantiano Já no século 20 junto com as teorias utilitaristas marxistas e da lingua gem surge a Ética material dos valores Max Scheler que tenta superar os pontos escuros da Ética kantiana 91 Claretiano Centro Universitário U3 Ética medieval embasamento cristão 12 EREFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 Os Dez Mandamentos Disponível em httprompendoemfe4blogspotcom br201012osdezmandamentoshtml Acesso em 29 abr 2013 Figura 2 Lápide sepulcral com peixes e âncora Disponível em httpblogdefrine blogspotcombr200708enlasentraasderomahtml Acesso em 29 abr 2013 Figura 3 Martírio dos escravos Disponível em httpptwikipediaorgwiki FicheiroMuseumofSousseMosaics2detailjpg Acesso em 6 maio 2013 Sites pesquisados AGOSTINHO S O livrearbítrio São Paulo Paulus 1995 Disponível em http sumateologicafileswordpresscom200907santoagostinhoolivrearbitriopdf Acesso em 29 abr 2013 CALVÁRIO P O Governo da Cidade no De Regno de Tomás de Aquino Covilhã Universidade da Beira Interior 2008 Disponível em httpwwwlusosofianettextos calvariopatriciaogovernocidadenoderegnodetomasdeaquinopdf Acesso em 6 maio 2013 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA Disponível em httpcatecismoaztripodcom conteudoazppaishtml Acesso em 29 abr 2013 EARNHART P O sermão da montanha Extraindo os tesouros das Escrituras exposições práticas São Paulo 1997 Disponível em httpwwwestudosdabiblianetsompdf Acesso em 29 abr 2013 13 REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO S A Natureza do Bem Tradução de Carlos Ancêde Nougué Rio de Janeiro Sétimo Selo 2005 A Cidade de Deus contra os pagãos 2 ed Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 2000 O livrearbítrio Tradução de Nair de Assis Oliveira 4 ed São Paulo Paulus 2004 Sobre o Sermão do senhor da montanha Mato Grosso Santo Tomás 2003 ARISTÓTELES Arte retórica e arte poética Tradução de Antônio Pinto de Carvalho 17 ed Rio de Janeiro Ediouro 2005 Metafísica Tradução de Edson Bini Bauru Edipro 2006 AQUINO T Suma Teológica São Paulo Loyola 2004 BAUMAN Z Amor Líquido sobre a fragilidade dos laços humanos Tradução de Carlos Alberto Medeiros Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2005 Ética I 92 BIBLÍA Português Bíblia sagrada Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueredo Rio de Janeiro Encyclopedia Britannica 1980 Edição Ecumênica CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 2 ed São Paulo LoyolaVozes 1993 COMPARATO F K Ética Direito moral e religião no mundo moderno São Paulo Companhia das Letras 2006 CORTINA A MARTÍNEZ E Ética São Paulo Loyola 2005 EVANS G R Agostinho sobre o bem e o mal São Paulo Paulus 1995 KLAUSNER J Jesús de Nazaret Buenos Aires Paidos 1996 LUCAS S J Las dimensiones del hombre Salamanca Sigueme 1996 MARÍAS J O tema do homem São Paulo Duas Cidades 1975 MARCONDES D Textos básicos de Ética de Platão a Foucault Rio de Janeiro Jorge Zahar 2007 PLATÃO A República Tradução de Anna Lia Amaral de Almeida Prado São Paulo Martin Fontes 2006