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Psicologia ·
Psicanálise
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO HERMÍNIO OMETTO CURSO DE PSICOLOGIA ISABELLA ESMERIO DE SOUZA COMPREENSÃO PSICANALÍTICA DA HISTERIA SUA MANIFESTAÇÃO NOS DIAS ATUAIS ARARASSP 2023 ISABELLA ESMERIO DE SOUZA COMPREENSÃO PSICANALÍTICA DA HISTERIA SUA MANIFESTAÇÃO NOS DIAS ATUAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora do curso de Psicologia do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto como parte integrante da avaliação na disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso requisito para obtenção do título de Psicólogo Orientadora Profa Dr Henrique Guilherme Scatolin ARARASSP 2023 RESUMO A histeria é um fenômeno de interesse de estudo desde a Antiguidade no entanto sua definição e formas de expressão foram compreendidas de diferentes formas durante os anos A origem da palavra histeria vem do grego ὑστέρα hystera que significa útero Ao passar dos anos a histeria passou a ser analisada sob uma perspectiva científica sob as esferas psicológica biológica e neurológica produzindo uma nova concepção da manifestação histérica A partir dos estudos de Freud sobre histeria surge então a psicanálise que entende a histeria como uma manifestação dos traumas de origem sexuais que foram recalcados A partir deste contexto este trabalho tem como objetivo compreender a partir da psicanálise a manifestação da histeria no contexto histórico e social contemporâneo Os estudos acerca da histeria são de grande relevância para o meio social sendo necessária uma maior compreensão de suas manifestações possibilitando intervenções mais eficazes O presente trabalho tem como fundamentação metodológica a revisão bibliográfica utilizando materiais coletados em livros e artigos científicos Palavraschave Histeria Psicanálise Somatização I INTRODUÇÃO A histeria é uma manifestação que desperta interesse de estudo e compreensão desde a Antiguidade mas sua definição e formas de expressão vêm sofrendo mudanças constantemente A palavra Histeria tem sua origem do termo grego ὑστέρα hystera que significa útero Durante a Antiguidade era entendida como uma doença que acometia exclusivamente às mulheres uma patologia proveniente do útero Acreditava se que o útero era um organismo vivo e independente no qual teria o poder de se movimentar dentro do corpo feminino e controlar suas funções psíquicas Este conceito provocou grande estereótipo negativo entre as mulheres contribuindo para um olhar depreciativo e preconceituoso Neste tempo as histéricas eram vistas como ninfomaníacas privadas de relações sexuais capazes de tirar o sossego de um homem denegrir sua imagem proferir calúnias perseguilo e tomar atitudes vingativas para suprimir o orgulho ferido BIENVILLE 1999 p 278 Ao decorrer dos anos a histeria passa a ser analisada sob uma ótica científica que buscava compreender as causas em fontes neurológicas e psicológicas afastandose da fixação pelo útero causador dos distúrbios Na medicina a histeria era considerada o grande mistério da época e muitos discutiam sua validade como patologia havia o pensamento de que as pacientes histéricas eram apenas simuladoras que estavam em busca de atenção Freud se opunha a essas concepções e dedicouse a elucidar o grande problema da histeria Mezan 2019 Foi então a partir dos estudos e análise da histeria feitos essencialmente por Freud que surge então a psicanálise O tema da psicosexualidade volta a ser considerado porém é referido de outra maneira de forma a analisar a sexualidade sob as perspectivas psicológicas Freud conclui que a histeria possui suas raízes na sexualidade não mais como questões relacionadas ao útero como trazia a concepção da Antiguidade mas passa a ser compreendida como um trauma sexual ocorrido geralmente na infância ou adolescência que tem efeitos sob o âmbito psicológico e emocional sendo então recalcado pelo inconsciente que posteriormente se manifesta em sintomas histéricos Schmitz 2021 1 Freud passa então a analisar o inconsciente de suas pacientes através do método da hipnose desenvolvido pelo médico Joseph Breuer onde acreditavase que por meio da sugestionabilidade empregada na hipnose os sintomas causados pela histeria desapareciam entretanto foi constatado posteriormente que os sintomas sempre retornavam mesmo que em formas diferentes de manifestação Tempos depois Freud também assumiu que alguns pacientes não podiam ser hipnotizados Freud 19162006 p450 Ao abandonar a hipnose como método de tratamento da histeria Freud abre caminho para um novo modelo de tratamento dos sintomas através da cura analítica onde analisava o inconsciente das pacientes através da verbalização e interpretação dos sonhos A verbalização de sonhos desejos pesadelos e fantasias tornamse materiais de estudo para os analistas que ligam os fatos os gestos símbolos e sentimentos e buscam diagnosticar as causas para as neuroses e psicoses Freud encontra no feminino passivo e no masculino ativo as possíveis causas para as neuroses de origem sexual sendo compreensível que a histeria manifestasse mais entre as mulheres que vivenciam traumas ou algum tipo de repressão em sua sexualidade Relacionandose diretamente a mecanismos de defesa ou neuroses de defesa do inconsciente que eram vindos à tona durante a terapia Schmitz 2021 A psicanálise elimina os sintomas dos histéricos partindo da premissa de que tais sintomas são um substituto uma transcrição por assim dizer de uma série de processos desejos e aspirações investidos de afeto aos quais mediante um processo psíquico especial o recalcamento negase a descarga através de uma atividade psíquica passível de consciência FREUD 2006 p 101 Sendo assim é possível compreender a histeria como a manifestação somática de representações recalcadas pelo inconsciente contudo o trauma recalcado nunca é de fato extinto e posteriormente ele emerge podendo ser convertido em sintomas físicos tais como gritos paralisias fobias amnésias espasmos convulsões dentre os mais diversos sintomas de conversão 2 Entretanto a partir de 1914 o termo histeria e a representação de seus sintomas foram sendo deixados de lado e substituídos pelas psicopatologias somáticas transtornos dissociativos transtornos de personalidade ou até mesmo síndromes psicóticas Desde a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM a histeria não se inclui como uma categoria diagnóstica Em 1994 com o DSM IV a histeria foi dissolvida entre os Transtornos Somatoformes que integram os Transtornos Conversivos Na edição V do Manual Diagnóstico DSM os Transtornos Somatoformes foram designados Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados Contudo os critérios diagnósticos deste Manual não contemplam a personalidade histérica tornando um processo difícil a identificação da histeria clássica Zatti et al 2021 Com isso a histeria em si aparece dissolvida em diversas formas de transtornos como os somatoformes sexuais de personalidade histriônica e dissociativos Tal fragmentação é uma tentativa de dispersar os sintomas e desligálos tanto de sua etiologia sexual quanto do conflito psíquico VEIGA Angela 2013 p 28 Veiga 2013 compreende que o afastamento do termo histeria dos ambientes médicos e psicológicos é uma tentativa de desassociar os sintomas à esfera da sexualidade bem como satisfazer a necessidade contemporânea de classificar ou ser classificado dentro de um diagnóstico A nova maneira de lidar com as patologias proporciona uma dessubjetivação de quem adoece A medicalização e a diversa lista de categorização médica entram no lugar da escuta e objetivam o sintoma A ideia não é desconsiderar o avanço científico da medicina mas também de não deixar de considerar o tratamento como algo em que o sujeito está implicado em sua complexidade psíquica 2013 p29 É notório que as manifestações da histeria não se dão mais como nos tempos de Freud e a denominada histeria clássica na qual o sofrimento psíquico era traduzido a partir das conversões representadas pelos sintomas 3 de anestesias paralisias convulsões vômitos etc Contudo a histeria ainda permanece presente na contemporaneidade mesmo que sob a sombra de outras classificações Como aponta Veiga 2013 entendemos que o sujeito é um ser social que já nasce inserido em uma cultura assim as manifestações histéricas dos séculos passados já não acompanham mais a realidade atual na qual se transforma e acompanha o ritmo de desenvolvimento Birman 1999 propõe um debate acerca das subjetividades no mundo contemporâneo e suas novas formas de subjetivação Estas novas formas de ser são decorrentes dos novos destinos do desejo da atualidade O autor compreende como uma discussão urgente visto que vivemos em um mundo conturbado onde os recursos e ferramentas interpretativas se tornam limitados frente a velocidade dos acontecimentos Nesta perspectiva cabe uma reflexão acerca dos destinos do desejo da atualidade compreendendo o lugar do desejo é possível compreender e captar o que se passa nas novas formas de subjetivação Tratase pois de pensar nos destinos do desejo na atualidade já que esses destinos nos permitem captar o que passa nas subjetividades O rastreamento de algum destes destinos nos possibilita uma leitura acurada das subjetividades Com isso podemos nos aproximar do que há de sofrente nas novas formas de subjetivação da atualidade circunscrevendo então o campo do malestar contemporâneo BIRMAN Joel 1999 p16 Assim como as formas de subjetivação se modificam conforme o tempo histórico em que se está inserido os sintomas histéricos adquirem sentidos diferentes e manifestamse de formas diferentes Contudo a histeria ainda existe e se faz presente ao contrário do que pensam esta não desapareceu com o tempo e retorna de forma recorrente por diversos espaços e entrelinhas Costa e Lang 2016 Desta forma de acordo com os autores citados acima este estudo parte da seguinte questão Como se manifestam os sintomas histéricos em nossa sociedade atual 4 Não é de hoje que a histeria e suas formas de manifestação ocupam um lugar de interesse e questionamentos O conceito criado por Freud em seus primeiros estudos foi o pontapé inicial para a criação da psicanálise e suas teorias Contudo a sociedade e o mundo sofreram diversas modificações desde 1893 época em que Freud e Breuer desenvolveram e alinharam o conceito de histeria de forma com que os sintomas histéricos considerados clássicos se transformaram de acordo com a nova composição das subjetivações da contemporaneidade Desta forma este trabalho é de grande relevância para o meio científico e acadêmico visto que para intervenções mais eficazes e assertivas é necessário um debate sobre as novas formas de subjetividades no mundo da atualidade e a urgência de desenvolvermos novas ferramentas e instrumentos para compreendermos essas novas configurações e os desafios que delas surgem Birman 1999 Não somente para o meio acadêmico e científico este trabalho também é de grande relevância para a sociedade Os sintomas e manifestações que antes se enquadraram na histeria atualmente se dissolveram em diferentes nichos das psicopatologias tornando cada vez mais difícil sua identificação Estes realocamentos fizeram com que muitas pessoas obtivessem diagnósticos equivocados consequentemente tratamentos equivocados Este trabalho permite a compreensão das manifestações da histeria na atualidade possibilitando a compreensão das novas formas de subjetivação contemporânea Para a autora este é um tema de grande relevância e interesse por este motivo foi escolhido As psicopatologias psicanalíticas despertam curiosidades nos meios acadêmicos e a histeria foi o tema escolhido pela autora para aprofundamento Neste sentido o presente trabalho tem por objetivo compreender a histeria sob a óptica da psicanálise a partir do contexto social histórico atual Como objetivo secundário esta pesquisa visa A conceituar o fenômeno da histeria a partir do viés psicanalítico B Discutir como a histeria é compreendida na atualidade uma vez que a manifestação e expressão de sofrimento acompanham a conjuntura históricocultural de sua época sendo necessário que acompanhemos tais transformações Essa pesquisa se estrutura nos seguintes capítulos 5 II MÉTODO A fundamentação metodológica de um trabalho tratase da maneira como o pesquisador irá conduzir sua pesquisa Gil 1999 afirma que o método científico tratase do caminho que percorremos para alcançar um determinado fim referese ao conjunto de processos técnicos e intelectuais necessários para se atingir o conhecimento sobre um determinado tema Para que um conhecimento possa ser considerado científico tornase necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação Ou em outras palavras determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento 1999 p8 Entendemos que em todos os estudos de forma direta ou indireta utilizam de fontes bibliográficas ou usam a revisão bibliográfica como etapa de construção Contudo existem estudos que definem como delineamento da pesquisa materiais disponíveis exclusivamente na literatura estes recebem o título de Pesquisa Bibliográfica ou Revisão de literatura Gil 2002 Para Rother 2007 a revisão de literatura é uma forma de estruturação de pesquisa que se utiliza de materiais bibliográficos e eletrônicos com o objetivo de obter dados e pautarse teoricamente nas pesquisas de outros autores Essa categoria de artigos têm um papel fundamental para a educação continuada pois permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em um curto espaço de tempo porém não possuem metodologia que permitam a reprodução dos dados e nem fornecem respostas quantitativas para questões específicas São considerados artigos de revisão narrativa e são qualitativos 2007 p5 A partir do que foi colocado acima a metodologia utilizada neste trabalho é de Revisão Bibliográfica Narrativa A revisão narrativa constituise na análise da literatura publicada em livros e artigos a busca das fontes não é padronizada e cabe ao autor escolher quais referências utilizar O trabalho constituise sob a interpretação e análise crítica pessoal do autor diante a literatura selecionada Cordeiro Magno et al 2007 6 Batista e Kamuda 2021 compreendem que a Revisão Narrativa é um método mais amplo na coleta e análise dos dados encontrados em produções científicas Tratase de um método abrangente de consulta às produções científicas principalmente quando se compara à revisão sistemática Este tipo de revisão preocupase em fornecer sínteses narrativas que permitem selecionar materiais teóricos de diferentes obras apresentandoas ao leitor de maneira compreensiva e sem o dever de descrever os critérios de coleta e seleção das produções incluídas Neste sentido alguns autores podem se posicionar de forma crítica diante do tema enquanto outros preferem a neutralidade de descrever as informações encontradas A revisão narrativa é a abordagem metodológica que mais se adequa a esta pesquisa visto que para produzila se faz necessário recorrer a materiais teóricos já existentes estabelecidos de forma pessoal não utilizando de critérios explícitos e sistemáticos para busca do material bibliográfico e acrescida da concepção subjetiva da autora perante o tema em questão Desta forma o conceito de histeria será abordado de forma analítica sob o viés da psicanálise pautado em artigos e livros selecionados de forma não sistematizada organizados de forma a estabelecer sua concepção históricocultural ao longo dos anos de forma crítica respeitando a problemática deste estudo A maneira como o conteúdo será apresentado e explorado é singular possibilitando ao leitor uma percepção crítica enviesada sobre a compreensão psicanalítica da histeria em sua manifestação nos dias atuais Para a coleta de dados foram utilizados os descritores Histeria Psicologia e Psicanálise nas plataformas SciElo CAPES e Pepsic tendo como critério serem escritos no idioma português analisando o fenômeno da histeria a partir dos conceitos da psicanálise de forma histórica e crítica bem como uma análise sobre a manifestação em psicopatologias inscritas nos atuais CID e DSM Na plataforma Scielo foram encontrados 7 resultados na plataforma Pepsic foram encontrados 17 resultados e na plataforma CAPES foram encontrados 29 resultados A partir dos resultados encontrados os critérios de seleção foram baseados a partir da leitura do título e resumo selecionados a partir dos materiais que se enquadram na problemática da pesquisa 7 Os livros selecionados para a composição desta pesquisa foram escolhidos pelo critério teórico visando a definição de histeria para a psicanálise e a concepção histórica sobre o fenômeno utilizando os conceitos de Freud em suas obras clássicas e os autores pós freudianos que estudaram a manifestação da histeria tais como Trillat Bienville Mezan e Birman Não serão incluídos nesta pesquisa materiais que não estavam traduzidos para o idioma português não se utilizavam de perspectivas históricas para caracterizar a histeria bem como aqueles que não incluíam os dados dos manuais médicos de diagnósticos relacionados a representação da histeria na concepção psicanalítica também foram critérios de exclusão artigos baseados em estudos de caso 8 III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ao longo da história a histeria tem sido objeto de interesse e investigação que desperta curiosidade pelas formas de expressão atribuídas a ela Desde os tempos antigos até os dias atuais a compreensão da histeria tem evoluído constantemente refletindo a complexidade dessa manifestação psicossomática Para pensarmos na histeria sob o contexto contemporâneo se faz necessário um delineamento histórico do conceito e sua evolução no decorrer dos anos tendo em vista que sua história atravessa os períodos com diferentes significados e concepções Ao contrário do que se pensa o termo histeria já era utilizado antes mesmo das descobertas de Charcot e da criação da psicanálise este é um fenômeno pensado desde os tempos de Hipócrates período da Antiguidade Desta forma o primeiro capítulo desta pesquisa destinase a fazer uma contextualização histórica sobre o fenômeno da histeria e suas representações no transcorrer dos anos 9 Capítulo I A origem da palavra histeria advém do termo grego hystera que significa útero No século IV aC período da Antiguidade época de Hipócrates pressupunhase que a histeria era uma doença que acometia as mulheres especificamente no útero Nesta concepção os homens estavam resguardados dos acidentes histéricos o útero era considerado um organismo vivo e independente que possuía vapores que se deslocavam até os órgãos sexuais durante as relações sexuais Caso da mulher estivesse em abstinência sexual seja de forma voluntária ou não os vapores advindos do útero subiam ao cérebro através dos nervos e provocavam as convulsões histéricas o delírio confusão a mania ou possessão demoníaca TRILLAT 1991 O homem estaria portanto ao abrigo de acidentes histéricos Em compensação a semente da mulher contém além de fermentos voláteis como no homem fermentos fixos pesados muito pouco voláteis Isso freia o transporte dos vapores para os lugares que a natureza lhes destinaos órgãos sexuais As coisas se agravam com a abstinência voluntária ou forçada A semente se acumula e não encontrando exutório no exercício da sexualidade os vapores nascidos dessa fermentação sobem para o cérebro pelo canal dos nervos e provocam a convulsão histérica a confusão delírio inchação do ventre a mania ou a possessão diabólica 1991 p 64 Na Idade Média período marcado pela ascensão da igreja católica o papel social da mulher não sofreu grandes transformações sendo vista pela cultura patriarcal como submissa de forma com que a mulher histérica na manifestação de seus sintomas fosse considerada pela sociedade como uma bruxa ou que estivesse possuída pelo demônio Neste período centenas de mulheres tidas como bruxas ou possessas foram condenadas e jogadas na fogueira TRILLAT 1991 É a partir dessas concepções sobre o fenômeno da histeria construídos nos tempos antigos que se estabelece um estereótipo negativo lançado sobre as mulheres acometidas pela histeria Sendo estigmatizadas como ninfomaníacas e atreladas a figuras malignas Schmitz 2021 Tempos depois no período do Renascentismo caracterizado pelo momento de quebra de paradigmas e rompimento com os pensamentos da igreja 10 11
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1914 o termo histeria e a representação de seus sintomas foram sendo deixados de lado e substituídos pelas psicopatologias somáticas transtornos dissociativos transtornos de personalidade ou até mesmo síndromes psicóticas Desde a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM a histeria não se inclui como uma categoria diagnóstica Em 1994 com o DSM IV a histeria foi dissolvida entre os Transtornos Somatoformes que integram os Transtornos Conversivos Na edição V do Manual Diagnóstico DSM os Transtornos Somatoformes foram designados Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados Contudo os critérios diagnósticos deste Manual não contemplam a personalidade histérica tornando um processo difícil a identificação da histeria clássica Zatti et al 2021 Com isso a histeria em si aparece dissolvida em diversas formas de transtornos como os somatoformes sexuais de personalidade histriônica e dissociativos Tal fragmentação é uma tentativa de dispersar os sintomas e 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atualmente se dissolveram em diferentes nichos das psicopatologias tornando cada vez mais difícil sua identificação Estes realocamentos fizeram com que muitas pessoas obtivessem diagnósticos equivocados consequentemente tratamentos equivocados Este trabalho permite a compreensão das manifestações da histeria na atualidade possibilitando a compreensão das novas formas de subjetivação contemporânea Para a autora este é um tema de grande relevância e interesse por este motivo foi escolhido As psicopatologias psicanalíticas despertam curiosidades nos meios acadêmicos e a histeria foi o tema escolhido pela autora para aprofundamento Neste sentido o presente trabalho tem por objetivo compreender a histeria sob a óptica da psicanálise a partir do contexto social histórico atual Como objetivo secundário esta pesquisa visa A conceituar o fenômeno da histeria a partir do viés psicanalítico B Discutir como a histeria é compreendida na atualidade uma vez que a manifestação e expressão de sofrimento acompanham a conjuntura históricocultural de sua época sendo necessário que acompanhemos tais transformações Essa pesquisa se estrutura nos seguintes capítulos 5 II MÉTODO A fundamentação metodológica de um trabalho tratase da maneira como o pesquisador irá conduzir sua pesquisa Gil 1999 afirma que o método científico tratase do caminho que percorremos para alcançar um determinado fim referese ao conjunto de processos técnicos e intelectuais necessários para se atingir o conhecimento sobre um determinado tema Para que um conhecimento possa ser considerado científico tornase necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação Ou em outras palavras determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento 1999 p8 Entendemos que em todos os estudos de forma direta ou indireta utilizam de fontes bibliográficas ou usam a revisão bibliográfica como etapa de construção Contudo existem estudos que definem como delineamento da pesquisa materiais disponíveis exclusivamente na literatura estes recebem o título de Pesquisa Bibliográfica ou Revisão de literatura Gil 2002 Para Rother 2007 a revisão de literatura é uma forma de estruturação de pesquisa que se utiliza de materiais bibliográficos e eletrônicos com o objetivo de obter dados e pautarse teoricamente nas pesquisas de outros autores Essa categoria de artigos têm um papel fundamental para a educação continuada pois permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em um curto espaço de tempo porém não possuem metodologia que permitam a reprodução dos dados e nem fornecem respostas quantitativas para questões específicas São considerados artigos de revisão narrativa e são qualitativos 2007 p5 A partir do que foi colocado acima a metodologia utilizada neste trabalho é de Revisão Bibliográfica Narrativa A revisão narrativa constituise na análise da literatura publicada em livros e artigos a busca das fontes não é padronizada e cabe ao autor escolher quais referências utilizar O trabalho constituise sob a interpretação e análise crítica pessoal do autor diante a literatura selecionada Cordeiro Magno et al 2007 6 Batista e Kamuda 2021 compreendem que a Revisão Narrativa é um método mais amplo na coleta e análise dos dados encontrados em produções científicas Tratase de um método abrangente de consulta às produções científicas principalmente quando se compara à revisão sistemática Este tipo de revisão preocupase em fornecer sínteses narrativas que permitem selecionar materiais teóricos de diferentes obras apresentandoas ao leitor de maneira compreensiva e sem o dever de descrever os critérios de coleta e seleção das produções incluídas Neste sentido alguns autores podem se posicionar de forma crítica diante do tema enquanto outros preferem a neutralidade de descrever as informações encontradas A revisão narrativa é a abordagem metodológica que mais se adequa a esta pesquisa visto que para produzila se faz necessário recorrer a materiais teóricos já existentes estabelecidos de forma pessoal não utilizando de critérios explícitos e sistemáticos para busca do material bibliográfico e acrescida da concepção subjetiva da autora perante o tema em questão Desta forma o conceito de histeria será abordado de forma analítica sob o viés da psicanálise pautado em artigos e livros selecionados de forma não sistematizada organizados de forma a estabelecer sua concepção históricocultural ao longo dos anos de forma crítica respeitando a problemática deste estudo A maneira como o conteúdo será apresentado e explorado é singular possibilitando ao leitor uma percepção crítica enviesada sobre a compreensão psicanalítica da histeria em sua manifestação nos dias atuais Para a coleta de dados foram utilizados os descritores Histeria Psicologia e Psicanálise nas plataformas SciElo CAPES e Pepsic tendo como critério serem escritos no idioma português analisando o fenômeno da histeria a partir dos conceitos da psicanálise de forma histórica e crítica bem como uma análise sobre a manifestação em psicopatologias inscritas nos atuais CID e DSM Na plataforma Scielo foram encontrados 7 resultados na plataforma Pepsic foram encontrados 17 resultados e na plataforma CAPES foram encontrados 29 resultados A partir dos resultados encontrados os critérios de seleção foram baseados a partir da leitura do título e resumo selecionados a partir dos materiais que se enquadram na problemática da pesquisa 7 Os livros selecionados para a composição desta pesquisa foram escolhidos pelo critério teórico visando a definição de histeria para a psicanálise e a concepção histórica sobre o fenômeno utilizando os conceitos de Freud em suas obras clássicas e os autores pós freudianos que estudaram a manifestação da histeria tais como Trillat Bienville Mezan e Birman Não serão incluídos nesta pesquisa materiais que não estavam traduzidos para o idioma português não se utilizavam de perspectivas históricas para caracterizar a histeria bem como aqueles que não incluíam os dados dos manuais médicos de diagnósticos relacionados a representação da histeria na concepção psicanalítica também foram critérios de exclusão artigos baseados em estudos de caso 8 III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ao longo da história a histeria tem sido objeto de interesse e investigação que desperta curiosidade pelas formas de expressão atribuídas a ela Desde os tempos antigos até os dias atuais a compreensão da histeria tem evoluído constantemente refletindo a complexidade dessa manifestação psicossomática Para pensarmos na histeria sob o contexto contemporâneo se faz necessário um delineamento histórico do conceito e sua evolução no decorrer dos anos tendo em vista que sua história atravessa os períodos com diferentes significados e concepções Ao contrário do que se pensa o termo histeria já era utilizado antes mesmo das descobertas de Charcot e da criação da psicanálise este é um fenômeno pensado desde os tempos de Hipócrates período da Antiguidade Desta forma o primeiro capítulo desta pesquisa destinase a fazer uma contextualização histórica sobre o fenômeno da histeria e suas representações no transcorrer dos anos 9 Capítulo I A origem da palavra histeria advém do termo grego hystera que significa útero No século IV aC período da Antiguidade época de Hipócrates pressupunhase que a histeria era uma doença que acometia as mulheres especificamente no útero Nesta concepção os homens estavam resguardados dos acidentes histéricos o útero era considerado um organismo vivo e independente que possuía vapores que se deslocavam até os órgãos sexuais durante as relações sexuais Caso da mulher estivesse em abstinência sexual seja de forma voluntária ou não os vapores advindos do útero subiam ao cérebro através dos nervos e provocavam as convulsões histéricas o delírio confusão a mania ou possessão demoníaca TRILLAT 1991 O homem estaria portanto ao abrigo de acidentes histéricos Em compensação a semente da mulher contém além de fermentos voláteis como no homem fermentos fixos pesados muito pouco voláteis Isso freia o transporte dos vapores para os lugares que a natureza lhes destinaos órgãos sexuais As coisas se agravam com a abstinência voluntária ou forçada A semente se acumula e não encontrando exutório no exercício da sexualidade os vapores nascidos dessa fermentação sobem para o cérebro pelo canal dos nervos e provocam a convulsão histérica a confusão delírio inchação do ventre a mania ou a possessão diabólica 1991 p 64 Na Idade Média período marcado pela ascensão da igreja católica o papel social da mulher não sofreu grandes transformações sendo vista pela cultura patriarcal como submissa de forma com que a mulher histérica na manifestação de seus sintomas fosse considerada pela sociedade como uma bruxa ou que estivesse possuída pelo demônio Neste período centenas de mulheres tidas como bruxas ou possessas foram condenadas e jogadas na fogueira TRILLAT 1991 É a partir dessas concepções sobre o fenômeno da histeria construídos nos tempos antigos que se estabelece um estereótipo negativo lançado sobre as mulheres acometidas pela histeria Sendo estigmatizadas como ninfomaníacas e atreladas a figuras malignas Schmitz 2021 Tempos depois no período do Renascentismo caracterizado pelo momento de quebra de paradigmas e rompimento com os pensamentos da igreja 10 11