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Psicologia ·

Psicologia Social

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Rollo May e a Psicologia Existencial May assinalou em 1967 que na segunda metade do século XX o problema central a ser enfrentado seria um sentimento de impotência uma convicção penetrante de que o indivíduo não pode fazer algo efetivo frente aos enormes problemas culturais sociais e econômicos O sentimento de impotência é agravado pela ansiedade e pela perda dos valores tradicionais CONCEITOS MAIS RELEVANTES 1 Impotência O mundo desenvolvido frequentemente age como se não houvesse problemas reais nos menos desenvolvidos apesar de sua pobreza e sofrimentos massivos Com o incremento na tecnologia o poder se tornou impessoal uma força autônoma que age em seu próprio nome Em princípios da década de 1950 May observou que muitos dos pacientes que o procuravam sofriam de sentimentos intensos de vacuidade Notou que o neurótico com frequência atua aquilo que os outros estão temporalmente inconscientes May antecipou que a experiência de vacuidade e impotência que havia registrado em seus pacientes com o tempo se tornaria epidêmica 2 Ansiedade A ansiedade é a apreensão caracterizada por uma ameaça a algum valor que o indivíduo considera essencial para sua existência como pessoa 1977 Tornouse comum descrever nossa época como uma era de ansiedade Contudo antes de 1950 foram escritos somente dois livros que apresentam de maneira específica uma descrição objetiva da ansiedade e sugeriam formas construtivas para tratá la The problem of Anxiety de Freud e The Concept of Dread de Kierkegaard Depois de May ter escrito The Meaning of Anxiety publicado em 1950 surgiram centenas de livros sobre o tema Alguns psiquiatras preferem usar o termo stress em lugar de ansiedade May acha esta tendência infeliz e imprecisa A palavra stress tornouse popular devido a suas origens na engenharia e na física onde pode ser definida com facilidade e medida com precisão O problema com o conceito de stress é não descrever de forma adequada a apreensão à que se faz referência de maneira ordinária como ansiedade May propôs a seguinte definição para ansiedade 3 A perda dos valores A origem dos problemas reside na perda do centro de valores na sociedade Desde o Renascimento o valor dominante na sociedade ocidental tem sido o prestígio competitivo medido em termos de trabalho e êxito financeiro Tais valores já não são efetivos no mundo pósmoderno no qual se tem que aprender a trabalhar com outras pessoas a fim de sobreviver 4 Quatro estados de consciência Quatro etapas na consciência do ego 1 A primeira é a etapa da inocência antes que nasça a consciência do ego Esta é característica do bebê 2 A etapa da rebelião na qual o indivíduo busca estabelecer alguma força interna A criança que já anda e o adolescente ilustram esta etapa a qual pode implicar desafio e hostilidade 3 A terceira etapa é a consciência ordinária do ego Esta é a etapa a que se refere a maioria das pessoas quando falam de uma personalidade saudável Implica ser capaz de aprender com os próprios erros e viver de modo responsável 4 A quarta etapa pressupõe a consciência criativa do ego Implica a capacidade de observar algo fora do ponto de vista limitado usual da pessoa e vislumbrar a verdade última como existe na realidade Este nível abre caminho através da dicotomia entre a subjetividade e a objetividade Nem todos conseguem atingir este nível de consciência May concebe o ser humano como consciente do ego capaz de intencionalidade e com a necessidade de fazer escolhas Em sua análise existencial da personalidade May busca solapar o dualismo tradicional de sujeito e objeto que atormentou o auto entendimento ocidental desde Descartes quem disse que sermos conscientes de nós mesmos já era como ser sujeito ou objeto May considera o ego como uma unidade Em lugar de abstrair conceitualizações necessita reconhecer e enfrentar os paradoxos de nossas próprias vidas Em um paradoxo duas coisas opostas são delineadas contra si e parecem negarse contudo uma sem a outra não podem existir Portanto o bem e o mal a vida e a morte a beleza e o feio parecem estar brigados entre si mas esta mesma confrontação inspira vida e significação ao outro 5 A possessão absoluta É qualquer função natural que tenha o poder de assumir o controle da pessoa inteira O sexo a ira uma ânsia de poder tudo isto pode converterse em mal quando se apodera do ego sem importarlhe sua integração Podese reprimir o demoníaco mas não evitar suas consequências O demoníaco é criativo e destrutivo em potência ao mesmo tempo Ao tornarmonos conscientes de sua existência podemos integrálo em nós mesmos Podemos aprender a querer nossos demônios internos e permitirlhes a nos dar o sal da vida A possessão começa como impessoal ao trazêla à nossa consciência tornamos pessoais os seus impulsos A possessão absoluta nos empurra para a estrutura universal da realidade Isto sucede de uma dimensão impessoal para pessoal da consciência 6 Poder Crise contemporânea Com efeito um fator básico na crise contemporânea o sentimento de insignificância e impotência CONFLITO DA VIDA HUMANA Atingir um sentido de significação do próprio ego e o sentimento de impotência por outro lado Tendemos a evitar ambos os lados o primeiro devido às más conotações associadas com o ser demasiado poderoso e o último porque é demasiado doloroso suportar nossa impotência A violência tem seu campo fértil na impotência e na apatia Conforme as pessoas se tornam impotentes cresce sua violência em lugar de controlála Os fatos violentos tais como a violência urbana são realizados por aqueles que buscam aumentar sua autoestima As pessoas impotentes por vezes partem para a exploração com o fim de se sentirem significativas ou buscam vingança em formas passivoagressivas tais como no uso de drogas ilícitas e álcool Certo é que a cultura tem efeitos poderosos sobre nós Mas poderia não chegar a isto se estas tendências não estivessem já presentes conosco pois somos nós que constituímos a cultura 1983 7 Amor e sexo O amor poderia ser a grande resposta aos problemas humanos No entanto o amor mesmo converteuse em problema A dificuldade real é chegarse a ser capaz de amar Nosso mundo é esquizoide fora de contato incapaz de sentir ou de participar de uma relação íntima A carência de afeto e a apatia são atitudes predominantes em nossas vidas são formas de proteção contra o estímulo excessivo da sociedade moderna Nossa liberdade sexual converteuse em uma forma nova de puritanismo a emoção está separada da razão e o corpo é usado como uma máquina A comercialização do sexo destrói os sentimentos verdadeiros de um modo tão grave como em certa época o fizeram os tabus tradicionais Colocouse o sexo contra o Eros o impulso de relacionarse com outra pessoa e criar novas formas de vida May sugere que somente a experiência e a redescoberta do afeto o oposto à apatia nos permitirá resistir ao cinismo que caracteriza nossos dias Os mitos do afeto parecem sinalizar para a necessidade de se desenvolver uma moralidade nova de autenticidade nas relações humanas 8 Intencionalidade May acredita na necessidade de usar da decisão e regressar ao centro de nossa descrição da personalidade Sua intenção não é excluir as influências deterministas senão incluílas introduzindo o conceito de intencionalidade a qual subjaz na vontade e na decisão Por intencionalidade May quer dizer a estrutura que dá significado à experiência Uma capacidade humana distintiva a intencionalidade é uma atenção imaginativa que subjaz a nossas intenções e informa nossas ações É a atitude de participar no conhecer A maneira em que é percebido um pedaço de papel diferirá dependendo do uso que se lhe queira dar É o mesmo pedaço de papel que proporciona o estímulo e a mesma pessoa que responde a ele mas o papel e a experiência terão um significado diferente 9 Liberdade e Destino A atitude existencialista por ocasiões é criticada de maneira equivocada por descrever o indivíduo como livre em absoluto sem restrições de nenhuma classe May contudo nos lembra que a liberdade somente pode ser considerada juntamente com o destino Liberdade significa abertura disposição a amadurecimento tolerância e mudança na busca de valores humanos mais importantes Implica nossa capacidade de intervir em nosso próprio desenvolvimento A liberdade é básica para o entendimento existencialista da natureza humana devido a que subjaz à nossa capacidade de eleição e aos valores DESTINO o desenho vital do universo expresso em cada um de nós Em sua forma extrema nosso destino é a morte mas também se expressa nos talentos individuais próprios em nossas histórias pessoais e coletivas na cultura e na sociedade em que temos nascido O destino nos estabelece limites mas também nos proporciona meios para executar certas tarefas Fazer frente a estes limites gera valores construtivos 10 Coragem e Criatividade A coragem é a capacidade para avançar apesar da desesperação Nos seres humanos a coragem é necessária para poder existir e tornarse possível A coragem não é uma virtude e sim uma função que subjaz e dá realidade a todos os demais valores O paradoxo da coragem é que devemos estar comprometidos por completo mas também estarmos cientes ao mesmo tempo de que poderíamos estar equivocados A coragem criativa é a descoberta de formas novas símbolos e padrões sobre os quais pode ser construída uma nova sociedade 11 Psicoterapia O enfoque existencial da psicoterapia sustenta que o objetivo central da terapia é ajudar a promover o entendimento do ego e o próprio modo de ser no mundo Os construtos psicológicos para entender os seres humanos são colocados então em uma base ontológica e tomam um significado da situação presente Impulsos dinamismos ou padrões de conduta são entendidos somente no contexto da estrutura da existência da pessoa individual May assinala que Ser no sentido humano não é dado de uma vez e para sempre Como humanos temos que estar conscientes ser responsáveis por nós mesmos e tornarmonos nós mesmos Uma experiência eu sou é uma precondição para solucionar problemas específicos De outro modo somente trocamos um conjunto de defesas por outro Tornarse consciente do próprio ser não significa ser explicado em termos sociais A aceitação do terapeuta pode facilitar a experiência eu sou entretanto não conduz de maneira autônoma a isto A questão crucial é que o indivíduo mesmo em sua própria consciência e responsabilidade de sua existência dê com o fato de que pode ser aceito 1983 O surgimento de uma experiência eu sou tampouco é idêntico ao desenvolvimento do ego Ocorre em um nível mais básico ontológico e é uma precondição para o desenvolvimento do ego subsequente A fim de se compreender o que significa existir é necessário entender também a opção de nãoser A morte é uma forma óbvia de ameaça de nãoser e o conformismo um modo alternativo que May encontra com muita frequência em nossos dias As pessoas abandonam sua identidade para ser aceitas pelos demais e evitar serem condenadas ao ostracismo ou à solidão mas assim fazendo perdem seu poder e seu caráter único Enquanto a repressão e a inibição foram padrões neuróticos comuns na época de Freud na atualidade o conformismo tem sido um padrão prevalente Esta negação das potencialidades próprias conduz à experiência da culpa A culpa ontológica não provém da proibição cultural mas surge do fato da consciência de si mesmo e do reconhecimento de que não temos realizado nossas potencialidades Enfrentar esta culpa no processo da terapia conduz a efeitos construtivos Portanto a tarefa central do terapeuta é buscar entender o modo de ser e de nãoser no mundo do paciente É o contexto que distingue o enfoque existencial mais que qualquer técnica específica O ser humano não á um objeto que possa ser manejado e analisado A técnica se segue ao entendimento May entende que a associação livre é particularmente útil para revelar a intencionalidade A relação entre terapeuta e paciente é considerada como relação real May adverte contra o uso de fármacos na psicoterapia Em sua maior parte crê que têm um efeito negativo devido a que eliminando a ansiedade do paciente podem inibir a motivação para a mudança e em consequência negar uma oportunidade à aprendizagem e destruir recursos vitais O trabalho de Rollo May une a tradição psicanalítica e o movimento existencialista na filosofia pelo que se enfatiza a existência em lugar da essência Sugere também que não há verdade nem realidade com exceção daquela na qual participamos O conhecimento é um ato de fazer A descrição filosófica da natureza humana desenvolvida por May é coerente e relevante global e irresistível Evita com êxito os dualismos da filosofia de Descartes O marco de referência existencial que influi sua teoria é mais compatível com nosso mundo que os supostos filosóficos da ciência do século XIX que influenciaram o trabalho de Freud Uma filosofia existencial proporciona um plano útil para discutir o que Freud queria dizer acerca da natureza do funcionamento psíquico Ainda que Freud não fosse um existencialista esta corrente de pensamento proporciona categorias que esclarecem as ideias e a intenção freudianas Portanto May reconcebe de forma frutífera muitos conceitos freudianos o que se constitui em um aporte inegável à psicologia e à sociedade atual A obra de May abre as cadeias que atam os próprios marcos culturais e sociais da época na qual confluem A liberdade a existência assim como também os valores inseridos nesta obra geram um espaço de reflexão que é necessário quando tratamos de seres humanos Esta obra reúne em poderosos enlaces todos os conceitos essenciais das bases epistemológicas nas quais se apoia É gratificante encontrar coerência e capacidade em seu pensamento mais ainda extremamente útil achálas em seu trabalho na prática O caráter profético de May é produto da pós modernidade na qual postula acharse mas se valida empiricamente através do sentido comum Embora sejam poucas as informações a respeito de seu trabalho privado que provavelmente deveuse ao seu rompimento do âmbito das ciências é clara a mensagem filosófica e analítica que ele deixou Obras de Rollo May publicadas em português O homem à procura de si mesmo 3ª ed 1953 Psicologia existencial 2ª ed 1960 Psicologia e dilema humano 3ª ed 1967 Poder e inocência 1972 A coragem de criar 2ª ed 1975 Eros e repressão Amor e vontade 1978 O significado de ansiedade 1980 A arte do aconselhamento psicológico 4ª ed 1982 Liberdade e destino 1987 A descoberta do Ser 1988 A procura do mito 1992 Minha busca da beleza 1992 Em espanhol Existencia 1977 obra de grande importância