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Bioquímica

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Perfil lipídico Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem vamos aprender as funções dos principais lipídeos sanguíneos e conhecer suas características bioquímicas Veremos a importância do colesterol HDL lipoproteína de alta densidade e LDL lipoproteína de baixa densidade e dos triglicerídeos no organismo Além disso alterações no perfil lipídico aumentam o fator de risco para doenças cardiovasculares Bons estudos Ao final desta Unidade de Aprendizagem você deve apresentar os seguintes aprendizados Identificar os principais métodos de determinação de colesterol total HDL LDL e triglicerídeos Interpretar resultados provenientes da avaliação de lipídeos Relacionar as funções dos principais lipídeos séricos e as alterações orgânicas resultantes do descontrole lipídico Desafio O sr Silva de 45 anos realizou uma bateria de exames laboratoriais Os resultados do seu perfil lipídico foram Colesterol total 266 mgdL Triglicerídeos 184 mgdL Colesterol HDL 35 mgdL Colesterol LDL 194 mgdL No exame clínico o paciente queixavase fadiga dor no peito angina Além disso sr Silva possui um Índice de Massa Muscular IMC de 34 hipertenso e diabético tipo 2 Diante do seguinte caso clínico responda a Como estes resultados podem ser usados para calcular o risco cardiovascular b Quais lipídeos devem ser alvo de redução c Quais as exigências na hora da coleta e quais os interferentes nos exames de perfil lipídico Infográfico Na ilustração está representada uma visão geral sobre os principais lipídeos séricos Além disso está demonstrado os valores de referência do perfil lipídico no qual pode favorecer um aumento do risco de doenças cardiovasculares Conteúdo do livro O perfil lipídico referese aos principais lipídeos do organismo que são colesterol total colesterol HDL lipoproteína de alta densidade colesterol LDL lipoproteína de baixa densidade e triglicerídeos Os métodos laboratoriais mais utilizados para a dosagem desses parâmetros são os testes enzimáticos colorimétricos No caso da LDL a maioria dos laboratórios opta por calcular o seu valor com base no resultado dos outros lipídeos As dislipidemias podem ser primárias ou secundárias a outras doenças e a principal consequencia da desordem no perfil lipídico são as doenças cardiovasculares No capítulo Perfil Lipídico da Obra Bioquímica Clínica e Líquidos Corporais você vai aprender sobre as metodologias laboratoriais utilizadas para a dosagem dos principais lipídeos a interpretação dos resultados e fazer associações das funções dos lipídeos com as alterações orgânicas resultantes de distúrbios lipídicos Perfil lipídico Adriana Dalpicolli Rodrigues Perfil lipídico OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Identificar os principais métodos de determinação de colesterol total HDL LDL e triglicerídeos Interpretar resultados provenientes da avaliação de lipídeos Relacionar as funções dos principais lipídeos séricos com as alterações orgânicas resultantes do descontrole lipídico Introdução Lipídeos são compostos orgânicos oleosos ou gordurosos insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos Quando se fala sobre a avaliação do perfil lipídico clinicamente se está referindo aos principais lipídeos do organismo humano tais como colesterol total colesterol HDL lipoproteína de alta densidade coleste rol LDL lipoproteína de baixa densidade e triglicerídeos Métodos enzimáticos colorimétricos são os mais utilizados na rotina laboratorial para a determinação dos principais lipídeos com exceção do LDL que é normalmente calculado Cada lipídeo apresenta funções específicas no organismo seja para a produção de hormônios seja para o transporte de moléculas ou para o armazenamento de energia Assim quando seus níveis se alteram aumentam ou diminuem podem ser indicativos ou fatores de risco para diversas patologias principalmente doenças cardiovasculares Neste capítulo você vai aprender sobre os principais métodos laboratoriais para a determinação dos principais lipídeos a interpretar os resultados e a associar as suas funções com as alterações orgânicas resultantes do descontrole lipídico Métodos de determinação de lipídeos O conceito de lipídeos se refere a substâncias oleosas ou gordurosas que são solúveis em solventes orgânicos como o éter mas não são solúveis no solvente universal que é a água Esses compostos são importantes componentes estruturais de nossas células a membrana plasmática é formada por bicamada lipídica de fosfolipídeos e composta também por colesterol precursores hormonais e de sais biliares colesterol e reserva energética triglicerídeos também chamados de triglicérides Os lipídeos são transportados pelo sangue no interior das lipoproteínas plasmáticas globulares que apresentam porção polar no seu exterior as apolipoproteínas componentes proteicos que determinam o destino metabólico dos lipídeos apoA apoB apoC apoE São lipoproteínas de acordo com Motta 2009 e McPherson e Pincus 2012 quilomícrons maior lipoproteína e rica principalmente em triglicerídeos VLDL lipoproteína de densidade muito baixa carrega colesterol e principalmente triglicerídeos IDL lipoproteína de densidade intermediária carrega principalmente triglicerídeos e ésteres de colesterol LDL lipoproteínas de densidade baixa carrega principalmente ésteres de colesterol e colesterol livre HDL lipoproteínas de densidade alta carrega ésteres de colesterol Quando um profissional da saúde solicita determinação do perfil lipídico são dosados os principais lipídeos colesterol total colesterolHDL colesterolLDL colesterol não HDL e triglicerídeos Até 2017 era exigido jejum para determinação laboratorial desse perfil especialmente por causa dos triglicerídeos que variam mais facilmente com a alimentação já que a produção do colesterol é muito mais endógena A partir de 2017 segundo o Consenso Brasileiro para a Normatização da Determinação Laboratorial do Perfil Lipídico o jejum de 12 horas não é mais obrigatório Esse documento foi elaborado em conjunto pelas Sociedades Brasileiras CardiologiaDepartamento de Aterosclerose SBCDA Patologia Clínica e Medicina Laboratorial SBPCML Análises Clínicas SBAC Diabetes SBD e Endocrinologia e Metabologia SBEM pois pesquisas têm mostrado que a hipertrigliceridemia no estado pósprandial aumenta o risco cardiovascular Desse modo a dosagem de triglicerídeos aleatório é mais adequada para refletir a situação metabólica habitual do paciente do que a determinação em jejum Com isso foram estabelecidos novos valores de referência e valores de alvo terapêutico para o perfil lipídico de crianças adolescentes e adultos com mais de 20 anos Quadros 1 e 2 e é indicado que sejam fornecidos no laudo valores com e sem jejum para melhor interpreta ção clínica Observase que com jejum e sem jejum os valores apresentam diferença somente para os triglicerídeos A obrigatoriedade de jejum de 1214 horas deve ser avaliada pelo profissional da saúde que fizer a solicitação em casos específicos como por exemplo os casos em que o paciente apresenta concentração de triglicerídeos acima de 440 mgdL fora do estado de jejum sendo considerado como referência o nível desejável até 175 mgdL Quando houver na mesma solicitação de perfil lipídico outros exames que necessitem de jejum prolongado o mesmo deve ser feito para contemplar todos os exames conforme Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 Quadro 1 Valores referenciais e de alvo terapêutico do perfil lipídico adul tos 20 anos Lipídeos Com jejum mgdL Sem jejum mgdL Categoria referencial Colesterol total 190 190 Desejável HDLc 40 40 Desejável Triglicerídeos 150 175 Desejável Categoria de risco LDLc 130 130 Baixo 100 100 Intermediário 70 70 Alto 50 50 Muito alto Não HDLc 160 160 Baixo 130 130 Intermediário 100 100 Alto 80 80 Muito alto Conforme avaliação de risco cardiovascular estimado pelo médico solicitante colesterol total 310 mgdL há probabilidade de hipercolesterolemia familiar Quando os níveis de triglicerídeos estiverem acima de 440 mgdL sem jejum o médico solicitante faz outra prescrição para a avaliação de triglicerídeos com jejum de 12 horas e deve ser considerado um novo exame de triglicerídeos pelo laboratório clínico Fonte Adaptado de Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 Perfil lipídico 3 Quadro 2 Valores de referência para lipídeos e lipoproteínas em crianças e adolescentes Grau de Recomendação IIa Nível de Evidência C Lipídeos Com jejum mgdL Sem jejum mgdL Colesterol total 170 170 HDLc 45 45 Triglicerídeos 09 anos 75 85 Triglicerídeos 1019 anos 90 100 LDLc 110 110 Fonte Adaptado de Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 A flexibilização do jejum foi possível devido ao avanço das metodologias diagnósticas onde o consumo de alimentos antes da realização desses exames desde que habituais e sem sobrecarga de gordura causa baixa ou nenhuma interferência na análise do perfil lipídico A não obrigatoriedade do jejum evita por exemplo que o paciente diabético corra risco de entrar em estado de hipoglicemia situação corriqueira em jejum prolongado sendo melhor também para o bemestar de gestantes crianças e idosos além de gerar mais opções de horários para realizar a coleta de sangue menor congestionamento no início das manhãs SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA 2017 A amostra para a dosagem do perfil lipídico é soro mais utilizado deve ser separado da porção celular em no máximo 3 horas após a coleta estável por 7 dias ou plasma heparinizado isentos de hemólise Em relação às meto dologias de análise do perfil lipídico existem várias entretanto muitas são utilizadas na rotina laboratorial apenas em centros de pesquisa O método de referência para a determinação das lipoproteínas LDL IDL HDL VLDL e quilomicrons é a ultracentrifugação que é baseada na flutuação das molé culas em relação às suas densidades em campo gravitacional intenso É um método muito caro e demorado no entanto não sendo adequado para o dia a dia no laboratório do mesmo modo que a espectroscopia por ressonância magnética a espectrometria de massas com a técnica de MALDITOF Matrix Assisted Laser DesorptionIonization TimeofFlight e a eletroforese segundo SBPCML 2014 e Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 Os métodos de escolha mais utilizados na prática clínica são os enzimá ticocolorimétricos Eles apresentam boa sensibilidade e especificidade Perfil lipídico 4 são simples de ser executados o custo é baixo permitem execução manual semiautomatizada ou automatizada para colesterol total enzima mais utilizada colesterol esterase do HDL um dos métodos mais utilizados consiste em as VLDL LDL e quilomícrons precipitam com uma mistura de sulfato dextrano ou ácido fosfotúngstico e cloreto de magnésio onde após centrifugação o colesterol ligado às HDL é determinado no sobre nadante e dos triglicerídeos enzimas que podem ser utilizadas lipase glicerol1fosfato oxidase glicerol quinase e peroxidase Em geral a reação para cada teste utiliza enzimas e a coloração resultante é proporcional à quantidade do respectivo lipídeo na amostra lei de LambertBeer Os kits comerciais das mais variadas marcas apresentam boa correlação e baixo coeficiente de variação entre os testes para colesterol e triglicerídeos mas para o HDL as variações são maiores até 15 entre as metodologias Para a determinação do LDL pode ser feita dosagem direta por métodos colorimétricos entretanto o custo é alto e os testes disponíveis sofrem bastante variação podem variar em até 30 Desse modo a maioria dos laboratórios acaba optando por definir o valor dessa lipoproteína por cálculo de acordo com McPherson e Pincus 2012 e Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 A fórmula utilizada por muitos anos em todo mundo foi descrita por Frie dewald em 1972 LDL Colesterol total HDL VLDL sendo o valor de triglicerídeos5 uma estimativa da VLDL Todas as concentrações precisam estar expressas em mgdL para que seja calculado Essa fórmula apresenta limitações a principal delas é em relação aos triglicerídeos que devem apresentar valor menor que 400 mg dL Martin et al 2013 sugeriram outro cálculo para definir os valores de LDL o qual está sendo recomendado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e outras sociedades Essa fórmula foi determinada com base no método de ultracentrifugação e cálculos estatísticos Para essa fórmula foram definidos diferentes divisores para os resultados de triglicerídeos desse modo são mais fiéis aos valores reais de VLDL do que apenas dividir por 5 Para obter estes divisores dependese das concentrações do colesterol não HDL compreende a soma das frações LDL e VLDL do colesterol e ele inclui todas as lipoproteínas que contêm apolipoproteína B Como o não HDL e o HDL são interrelacionados acreditase que o baixo HDL pode ser devido à elevação do não HDL indicativo de riscos à saúde e dos triglicerídeos do Perfil lipídico 5 paciente valores apresentados na Figura 1 É possível determinar o LDL mesmo com valores de triglicerídeos superiores a 400 mgdL Com o divisor x realizase o seguinte cálculo LDLc CT HDLc TGx onde x varia de 31 a 119 MCPHERSON PINCUS 2012 MARTIN et al 2013 XAVIER DORA BARROS 2016 SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA 2017 Em relação às interferências nos resultados do perfil lipídico níveis altos de bilirrubina superior a 5 mgdL tendem a provocar resultados falsamente diminuídos e de triglicerídeos superior a 1500 mgdL por sua vez provocam Figura 1 Valores de referência e alvos terapêuticos para o perfil lipídico de adultos crianças e adolescentes Fonte Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 p 6 Perfil lipídico 6 resultados falsamente elevados veja outros exemplos no Quadro 3 Deve se sempre atentar à bula do kit para consultar quais são os interferentes descritos pelo fabricante Quadro 3 Interferentes do perfil lipídico Parâmetro Resultados falsamente elevados Resultados falsamente reduzidos Colesterol Adrenalina contraceptivos orais ácido ascórbico clorpromazina corticoesteróides fenitoína amiodarona levodopa sulfonamidas Alopurinol isoniazida eritromicina clorpropamida azatioprina andrógenos propiltioutacil estrógenos orais colesteiramina tetraciclinas nitratos e corticoesteróides HDL Ácido nicotínico ciclofenil cimetidina estrógenos etanol fenitoína hidrocarbonetos clorados lovastatina terbutalina insulina Esteróides andrógenos progestágenos anabolizantes tiazínicos bloqueadores βadrenérgicos neomicina antihipertensivo Triglicerídeos Exercícios recentes estresse emocional doença hepática diabetes melito medicação contendo glicerol hemodiálise anticoncepcionais corticoesteróides diuréticos tiazínicos colestiramina Ácido ascórbico asparaginase clofibrato fenformin metaformin Fonte Adaptado de Motta 2009 Interpretação de resultados de lipídeos Anteriormente ao consenso de 2017 citado no título anterior todos os parâmetros do perfil lipídico eram interpretados de acordo com o valor de referência e o paciente recebia o devido tratamento Além disso sabia se que poderia haver variação por faixa etária mas não existiam valores confiáveis para crianças Após o consenso o colesterol total o HDL e os triglicerídeos continuam sendo interpretados em relação ao valor de referên Perfil lipídico 7 cia com determinações máximas desejáveis por grupos etários Entretanto o LDL e não HDL começaram a ser avaliados de acordo com a categoria de risco onde os valores são alvos terapêuticos segundo avaliação de risco cardiovascular estimado pelo profissional que solicitou os exames e não valores de referência No paciente em que o resultado encontrado indica baixo risco o alvo terapêutico será manter o LDL com valor inferior a 130 mgdL já no que apresentar alto risco a meta terapêutica para o LDL terá que ser inferior a 50 mgdL Em outras palavras quanto maior o risco cardiovascular menor deverá ser a concentração de LDL Quando os valores estão alterados é importante verificar se o soroplasma está normal transparente ou se há algum nível de lipemia turvação da amostra causada por excesso de lipídeos Caso esteja levemente lipêmico lipêmico ou fortemente lipêmico a informação deve ser descrita no laudo Observe na Figura 2 amostras de soro onde a última apresenta lipemia Antes de liberar o laudo devese observar resultados anteriores do paciente caso haja e suas medicações para verificar se os resultados atuais são coerentes segundo Motta 2009 e Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 Mesmo antes do consenso já havia preocupação em relação à saúde cardiovascular do paciente Geralmente quando são observados os valores do perfil lipídico verificase o resultado do colesterol total estando este alto é importante ver qual o valor do HD esse também estando alto pode Figura 2 Amostras de soro normal e lipêmico Fonte Xray ComputerShutterstockcom Perfil lipídico 8 não ser necessário conduta terapêutica Isso porque uma forma de avaliar o risco de doença coronariana risco cardiovascular é por meio da divisão do valor do colesterol total pelo HDL o que resulta em valores empregados diretamente como índice de risco coronariano Podese também associar a relação do colesterol total HDL e triglicerídeos fazendo a divisão do valor do LDL pelo HDL Esses cálculos não podem ser aplicados para indivíduos que apresentam doenças que causam alteração na concentração das lipoproteínas séricas como por exemplo enfermidade hepática e após infarto do miocárdio A interpretação é feita a partir dos valores descritos no Quadro 4 para homens e mulheres onde esperase encontrar valores abaixo de 3 relação colesterol totalHDL para ser considerado ideal Quadro 4 Valores de referência para índice de risco coronariano Risco colesterol totalHDL Gênero masculino Gênero feminino Metade da média Média 2 vezes a média 3 vezes a média 343 497 955 2339 327 444 705 1104 Risco LDLHDL Gênero masculino Gênero feminino Metade da média Média 2 vezes a média 3 vezes a média 100 355 625 799 147 322 503 614 Fonte Adaptado de Motta 2009 Em relação ao Quadro 4 ao ser feita a divisão do valor do colesterol total pelo HDL se o valor encontrado for menor que 343 para um paciente do sexo masculino e inferior a 327 para uma paciente do sexo feminino concluise que o risco desse indivíduo apresentar uma doença coronariana é inferior ao risco apresentado pela metade da população Já se apresentarem valores de 2339 e 1104 respectivamente o risco é extremamente alto 3 x ao que é encontrado na população em geral Por exemplo um paciente masculino que apresenta colesterol de 250 mgdL e HDL de 50 mgdL apresentará uma relação de 5 ou seja um risco médio Em geral aumento ou diminuição de um ou mais dos parâmetros pertencentes ao perfil lipídico podem ser indicativos principalmente de hiperco lesterolemia hipertrigliceridemia e hiperlipoproteinemia as quais podem ser de origem genética eou adquirida por fatores ambientais alimentação sedentarismo etilismo tabagismo ou ainda serem secundárias a alguma outra condição clínica como hipotireoidismo diabetes melito obesidade doenças hepáticas renais síndrome nefrótica insuficiência renal crônica autoimunes uso de medicamentos antihipertensivos imunossupressores esteróides anticonvulsivantes ácido acetilsalicílico ácido ascórbico alopu rinol entre outros de acordo com Motta 2009 e Sociedade Brasileira de Cardiologia 2017 Caso clínico Paciente feminina 50 anos assintomática diabética obesa faz tratamento com carbamazepina anticonvulsivante e apresenta histórico familiar de doença cardiovascular realiza consulta de rotina após 5 anos sem realizar exa mes O exame clínico mostrou pressão arterial alta Foi solicitada a determinação da glicemia e do perfil lipídico os quais apresentaram os seguintes resultados glicemia 312 mgdL colesterol total 395 mgdL HDL 30 mgdL LDL 355 mgdL não HDL 365 mgdL e triglicerídeos 350 mgdL Índice de risco cardiovascular 1317 Sabese que a carbamazepina provoca alteração no perfil lipídico com elevação especialmente nos níveis de LDL De qualquer modo todos os resultados estão muito altos exceto HDL Desse modo concluiuse que a paciente apresenta um quadro de dislipidemia marcado por hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia com alto risco cardiovascular Caso indicativo também de Síndrome Metabólica pressão alta obesidade diabetes hipertrigliceridemia baixo HDL Relação das funções dos lipídeos séricos com as alterações orgânicas A concentração de lipídeos séricos pode aumentar ou diminuir no organismo por diversas causas sejam elas decorrentes de alterações orgânicas primárias genéticas ou secundárias A seguir serão apresentadas as principais MOTTA 2009 MCPHERSON PINCUS 2012 SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA 2017 Hipercolesterolemia poligênica situação clínica mais comum de elevação do colesterol sérico decorrente de fatores genéticos e ambientais Dentre os fatores podem ser citados alimentação regulação da síntese de colesterol e ácidos biliares metabolismo intravascular das lipoproteínas regulação da atividade do receptor de LDL Inicialmente encontrase valores entre 240 e 350 Perfil lipídico 10 mgdL com resultados dentro da normalidade para triglicerídeos Desordem associada a doenças cardiovasculares Hipercolesterolemia familiar doença autossômica dominante em que há au mento nas concentrações de colesterol total e LDL Nessa doença há ausência ou disfunção dos receptores das LDL os quais são os principais fatores para a captação dessas lipoproteínas pelo fígado Hipercolesterolemia isolada caracterizada normalmente por aumento iso lado de LDL Hipertrigliceridemia é comum a ocorrência dessa desordem sendo favo recida pelo diabetes melito não controlado tipo 1 ou tipo 2 obesidade e sedentarismo Pode ser causada por síndromes familiares e genéticas doenças metabólicas medicamentos alimentação etc Situação associada a risco cardiovascular principalmente em pacientes com HDL baixo e LDL alto Hipertrigliceridemia familial é um distúrbio autossômico dominante onde a família apresenta elevações isoladas de triglicerídeos e alto risco cardio vascular prematuro Hipertrigliceridemia isolada caracterizada normalmente por aumento isolado de VLDL eou quilomicrons Hiperlipoproteinemia caracterizada por distúrbios qualitativos ou quanti tativos das lipoproteínas séricas Pode ocorrer por exemplo com aumento de LDL eou triglicerídeos e redução do HDL Hiperlipoproteinemia tipo 1 é uma causa bem característica de hipertrigli ceridemia embora rara e é causada por deficiência ou defeito da enzima lipase de lipoproteína dependente de insulina ou de seu cofator apoCII enzima importante para hidrólise de triglicerídeos Hiperlipidemia mista tipo V representada por concentrações elevadas de colesterol total em alguns casos pode estar normal triglicerídeos superior a 1000 mgdL excesso de VLDL e quilomícrons em amostras de jejum em pacientes com mais de 30 anos Muitas vezes sua causa é decorrente de obe sidade diabetes ou alcoolismo algumas vezes por terapia com estrógenos e mais raro são os casos familiares Perfil lipídico 11 Hiperlipidemia exógena tipo I situação rara caracterizada pela presença maciça de quilomícrons séricos superior a 1000 mgdL em jejum soro for temente lipêmico em indivíduos com menos de 10 anos de idade A causa é a deficiência familiar da lipase lipoprotéica ou da apoCII O paciente pode apresentar xantomas pequenas lesões na pele em alto relevo formadas por lipídeos Figura 3 quando os triglicerídeos excedem 2000 mgdL dor abdominal esplenomegalia eou hepatomegalia Hiperlipidemia endógena tipo IV o paciente apresenta resultados eleva dos de VLDL com triglicerídeos entre 1601000 mgdL em amostra de soro coletada em jejum Pode ter causa familiar mas geralmente ocorre devido à alimentação rica em carboidratos alcoolismo tratamento com estrógenos progestina interrupção na renovação da lipase lipoprotéica mediada comum na insuficiência renal crônica e diabetes melito Hiperlipidemia combinada tipo IIb ocorre normalmente aumento de LDL e VLDL com aumento de colesterol e triglicerídeos A provável causa é o aumento na produção de apoB Situação mais comum com aumento da idade e obesidade Figura 3 Xantoma Fonte Svetlana DolgovaShutterstockcom Perfil lipídico 12 Hiperlipidemia remanescente situação rara genética e associada a doença cardiovascular periférica Caracterizada por acúmulo de VLDL remanescente causada por apoE anormal com presença de xantomas palmares nos cotovelos e joelhos Aterosclerose doença de origem multifatorial inflamatória crônica com caráter evolutivo provocada por agressão endotelial principalmente na camada íntima de artérias de médio e grande calibre A agressão pode ser provocada por vários fatores de risco tais como dislipidemia hipertensão arterial ou tabagismo A disfunção endotelial provoca aumento da permeabilidade da camada íntima às lipoproteínas plasmáticas as quais são retidas no espaço subendotelial As LDL retidas sofrem oxidação e tornamse imunogênicas A disfunção endotelial tam bém provoca o aparecimento de moléculas de adesão leucocitária na superfície endotelial também estimulada pelas LDL oxidadas Essas moléculas de adesão atraem monócitos e linfócitos células de defesa para a intimidade da parede arterial Os monócitos migram para o espaço subendotelial se diferenciando em macrófagos que captam as LDL oxidadas Os macrófagos ativados colaboram com a progressão da placa aterosclerótica por meio da secreção de citocinas que amplificam a inflamação e de enzimas proteolíticas capazes de degradar colágeno e outros componentes teciduais locais Outras células inflamatórias também participam do processo aterosclerótico Os linfócitos T podem se diferenciar e produzir citocinas que modulam o pro cesso inflamatório local A quanto mais fatores de risco o paciente for exposto maior será a ativação de complexo inflamatório associado ao rompimento da placa aterosclerótica ou erosão endotelial Assim ativamse os fatores de coagulação com geração de trombina ativação plaquetária e formação do trombo determinando as principais complicações da aterosclerose infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral AVC As placas ateroscleróticas podem ser estáveis ou instáveis as primeiras são caracterizadas por predomí nio de colágeno escassas células inflamatórias e núcleo lipídico e necrótico de baixas proporções já as segundas exibem atividade inflamatória intensa com grande atividade proteolítica núcleo lipídico e necrótico proeminente e capa fibrótica tênue O rompimento da capa libera material lipídico com alto potencial trombogênico formação de um trombo um dos principais fatores associados às manifestações clínicas da aterosclerose Na Figura 4 podem ser visualizados os diferentes níveis da artéria com acúmulo de LDL e gorduras nas paredes formando uma placa que começa a bloquear a passagem e isso reduz o suprimento de sangue além de favorecer a formação de coágulo trombo Perfil lipídico 13 Hipotiroidismo causa secundária de dislipidemia que deve ser sempre lembrada e afastada Em pacientes com hipotireoidismo doença em que a produção hormonal pela tireoide é insuficiente a dislipidemia se caracteriza por elevação de LDL devido ao decréscimo de receptores hepáticos para a remoção destas partículas e do aumento da absorção intestinal do colesterol devido à ação do hormônio tireoidiano na proteína NPC1L1 NiemannPick C1like 1 essa proteína é parte de um transportador de colesterol intestinal está situada na membrana apical do enterócito e promove a passagem do colesterol favorecendo sua absorção intestinal A hipertrigliceridemia por sua vez ocorre por aumento da produção hepática das partículas de VLDL Terapia com reposição hormonal pode ajustar a dislipidemia induzida pelo hipotireoidismo sendo que os que não respondem pode ser por coexistência de dislipidemia primária Lúpus eritematoso sistêmico LES nessa doença autoimune são observadas altas concentrações de VLDL e triglicerídeos e baixas de HDL associadas à atividade da doença Anticorpos antiLDL oxidado também se encontram aumentados favorecendo a formação da placa aterogênica O microambiente inflamatório da doença origina HDL disfuncional próinflamatória que parece contribuir para o risco aumentado de doença aterosclerótica Anticorpos como anticardiolipina e antiβ2GP1 e citocinas inflamatórias TNFα e IL6 parecem ter influência na dislipidemia do LES Em torno de 50 dos pacientes com Figura 4 Aterogênese Fonte ilusmedicalShutterstockcom Perfil lipídico 14 LES apresentam nefrite fator que também se relaciona com os distúrbios do metabolismo lipídico Em geral os pacientes aparentemente apresentam menor atividade da lipase lipoprotéica e anticorpos anti lipase lipoprotéica A dislipidemia aumenta muito o risco cardiovascular e a ocorrência de danos permanentes em órgãos do paciente Diabetes melito o paciente diabético apresenta alto risco cardiovascu lar e normalmente apresenta hipertrigliceridemia e HDL baixo Não são observadas diferenças quantitativas em relação aos níveis de LDL mas associase ao perfil de alta aterogenicidade pela presença de partículas pequenas e densas As LDLs podem em geral ser classificadas em dois fenótipos que se diferem pelo tamanho densidade composição físicoquímica comportamento metabólico e aterogenicidade das partículas que são Fenótipo A quando as partículas predominantes de LDL forem grandes e flutuantes e Fenótipo B quando as partículas predominantes forem pequenas e densas Ou podem também ser classificadas em 4 subfrações LDLI LDLII LDLIII e LDLIV A LDLII é comumente a mais abundante entre as partículas de LDL em pacientes normolipêmicos a LDLI grandes e menos densas e LDLIII pequenas e densas são encontradas em quantidades variáveis e a LDLIV são dificilmente detectadas confundidas facilmente pela presença de HDL ou Lpa Observase maior aterogenicidade das partículas pequenas e den sas pois penetram mais facilmente na parede arterial e são degradas mais lentamente devido por exemplo a terem menor afinidade pelos receptores de LDL além de oxidarem mais facilmente de acordo com a dissertação de Thatiana Dal Toé Razão triglicerídios HDLcolesterol como preditor do perfil de subclasses de lipoproteínas Síndrome metabólica muitos pacientes apresentam hipertrigliceridemia e baixos ní veis de HDL Essa síndrome também apresenta alto rico para doença cardiovascular Alterações orgânicas primárias ou secundárias em geral provocam de sequilíbrio no metabolismo dos lipídeos É fundamental que independente mente da causa da alteração no perfil lipídico este seja controlado através de exames laboratoriais e tratado para que sejam evitadas complicações e consequências graves até mesmo morte associadas especialmente a doenças cardiovasculares como citado anteriormente Perfil lipídico 15 Referências MARTIN S S et al Comparison of a novel method vs the Friedewald equation for estimating lowdensity lipoprotein cholesterol levels from the standard lipid profile JAMA v 310 n 19 p 20612068 2013 Disponível em httpswwwncbinlmnihgov pmcarticlesPMC4226221pdfnihms639194pdf Acesso em 1 set 2020 MCPHERSON R A PINCUS M R Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais de Henry 21 ed Barueri Manole 2012 MOTTA V T Bioquímica clínica para o laboratório princípios e interpretações 5 ed Rio de Janeiro Medbook 2009 SBPCML Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial SBPCML coleta e preparo da amostra biológica Barueri Manole 2014 Disponível em httpwwwsbpcorgbruploadconteudolivrocoletabiologica2013 pdf Acesso em 1 set 2020 SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA Atualização da diretriz brasileira de disli pidemias e prevenção da aterosclerose 2017 Arquivos Brasileiros de Cardiologia v 109 n 2 Supl 1 2017 Disponível em httppublicacoescardiolbr2014diretri zes201702DIRETRIZDEDISLIPIDEMIASpdf Acesso em 1 set 2020 XAVIER R M DORA J M BARROS E org Laboratório na prática clínica consulta rápida 3 ed Porto Alegre Artmed 2016 Leitura recomendada DAL TOÉ T Razão triglicerídios HDLcolesterol como preditor do perfil de subclasses de lipoproteínas 2007 Dissertação Mestrado em Medicina Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2007 Disponível em httptede2pucrs brtede2handletede1466 Acesso 15 ago 2020 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links Perfil lipídico 16 Conteúdo sagah SOLUÇÕES EDUCACIONAIS INTEGRADAS Dica do professor No vídeo veremos a estrutura e função dos tipos de colesterol total HDL e LDL e triglicerídeos além de relacionar o perfil lipídico alterado com o risco para doença cardíaca Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Na prática A hiperlipoproteinemia tipo V ou hipertrigliceridemia endógena é caracterizada por elevados níveis de quilomícrons e VLDL A hiperlipoproteinemia tipo V é uma doença rara no qual há uma deficiência da síntese da lipoproteína lípase LPL ou da ApoE Alem disso é um distúrbio genético ou adquirido sendo algumas causas secundárias diabete melito consumo excessivo de álcool estrógenos orais e hiperuricemia Portanto pacientes portadores dessa dislipidemia são tratados com fibratos e ácido nicotínico para diminuir os valores elevados dos triglicerídeos e colesterol Saiba Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto veja abaixo as sugestões do professor IV Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Formação da placa de ateroma aterosclerose Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Bioquímica Aula 20 Lipídios Triacilgliceróis Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar Bioquímica Ilustrada de Harper Lange MURRAY ROBERT K BENDER DAVID A BOTHAM KM KENNELY PETER J RODWELL VICTOR W WEIL P ANTHONY Bioquímica Ilustrada de Harper Lange 29 ed MacGraw Hill 2013 Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino