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ensinamento 3 conversa sobre raça e racismo Professores costumam estar naquele grupo mais relutante em reconhecer a extensão da influência do pensamento supremacista branco na construção de cada aspecto de nossa cultura incluindo a maneira como aprendemos o conteúdo do que aprendemos e o modo como somos ensinados Muito do processo de conscientização em relação à questão da supremacia branca e do racismo está voltado a ensinar como o racismo é e como ele se manifesta no nosso dia a dia Em oficinas e seminários antirracistas a maior parte do tempo é usada simplesmente para romper a negação que leva muitas pessoas brancas não conscientes assim como pessoas de cor a fingir que o pensamento e a ação racistas e de supremacia branca já não prevalecem em nossa cultura No ambiente de sala de aula tenho ouvido grupos de estudantes me dizerem que o racismo não molda mais os contornos de nossa vida que não existem mais coisas como diferença racial que somos todos apenas pessoas Então poucos minutos depois proponho a eles um exercício Pergunto se estivessem prestes a morrer e pudessem escolher voltar à vida como um homem branco uma mulher branca uma mulher negra ou um homem negro qual identidade escolheriam Toda vez que faço esse exercício a maioria independentemente de gênero e raça sempre escolhe a branquitude e em geral a masculinidade branca Mulheres negras são as menos escolhidas Quando peço aos estudantes que justifiquem sua resposta eles fazem uma análise sofisticada sobre o privilégio baseado em raça com perspectivas que levam em consideração gênero e classe Essa desconexão entre o repúdio consciente à raça como indicação de privilégio e a compreensão inconsciente é uma lacuna que precisamos eliminar uma ilusão que precisa ser suprimida antes que um debate significativo sobre raça e racismo aconteça Esse exercício ajuda alunos e alunas a superar a negação da existência do racismo Nos permite começar a trabalhar juntos por uma abordagem menos tendenciosa do conhecimento Ao ensinar palestrar viabilizar oficinas e escrever sobre como dar fim ao racismo e a outras formas de dominação tenho sentido que confrontar preconceitos raciais e mais importante o pensamento supremacista branco em geral requer de todos nós um olhar crítico sobre o que aprendemos na infância acerca da natureza da raça Essas impressões iniciais parecem marcar fundo os comportamentos relacionados à raça Em grupos de escrita em geral começamos com nossa primeira ideia consciente sobre esse assunto Explorar nossos entendimentos mais primários do que é raça facilita pensar sobre a questão do lugar de fala Ao se moverem da negação para a consciência racial pessoas brancas de repente percebem que a cultura supremacista branca as encoraja a negar seu entendimento sobre raça a reivindicar como parte de sua superioridade que estão além do pensamento sobre o assunto Ainda assim quando a negação cessa tornase nítido que por baixo da pele a maioria das pessoas tem uma consciência íntima das políticas de raça e racismo Elas aprenderam a fingir que isso não existe para assumir a postura de vulnerabilidade aprendida Passou a ser moda e por vezes lucrativo pessoas brancas em ambientes acadêmicos pensando e escrevendo sobre raça É como se o próprio ato de pensar sobre a natureza da raça e do racismo fosse ainda visto como trabalho sujo destinado às pessoas negras e outras pessoas de cor ou como forma privilegiada de ativismo de brancos e brancas pela causa antirracista Pessoas negrasde cor que falam muito sobre raça são frequentemente descritas pela mentalidade racista como indivíduos que estão apelando para a cartada da raça observe como a expressão banaliza a discussão sobre o racismo sugerindo que tudo isso é apenas um jogo ou simplesmente como neuróticos e neuróticas Pessoas brancas que falam sobre raça porém são em geral representadas como patronos como seres civilizados superiores Ainda assim suas ações são apenas outra indicação do poder supremacista branco algo do tipo Somos tão mais civilizados e inteligentes do que as pessoas negrasde cor que sabemos mais do que elas tudo o que se pode entender sobre raça O simples fato de falar sobre raça supremacia branca e racismo pode fazer com que uma pessoa seja estereotipada excluída colocada na base da cadeia alimentar no sistema existente de supremacia branca Então não é de surpreender que essa fala se torne um exercício de impotência devido à maneira como é filtrada e mediada por aqueles que detêm o poder de controlar o discurso público por meio da edição da censura dos modos de representação e da interpretação Ao passo que mais indivíduos na cultura contemporânea falam sobre raça e racismo o poder desse discurso tem sido diminuído pela reação racista que o torna trivial não raro representandoo como mera histeria Pessoas negrasde cor costumam relatar situações em que enfrentam discursos racistas em reuniões ou em outros contextos formais apenas para em seguida assistir à maioria dos presentes se apressando para consolar o indivíduo racista como se ele fosse a vítima e a pessoa que levantou a questão opressora Portanto não à toa ainda que discussões sobre supremacia branca e racismo tenham se tornado bastante comuns em produções acadêmicas individuais e em reportagens a maioria das pessoas está cautelosa se não com medo mesmo em discutir esses assuntos em grupo sobretudo entre estranhos Muita gente me diz que não compartilha aberta e sinceramente sua posição sobre o pensamento supremacista branco e racista por medo de dizer a coisa errada Mas quando essa justificativa é questionada ela geralmente se revela como um disfarce para o medo de conflito a crença de que dizer algo errado gerará tensão mágoa ou levará a um contraataque Grupos com maioria de pessoas brancas insistem que raça e racismo no fundo não significam grande coisa no mundo atual afinal estamos muito além dessa questão Então pergunto a elas por que têm tanto medo de falar o que pensam Seu medo seu silêncio censurador são indicativos da carga significativa que raça e racismo têm em nossa sociedade Uma das ironias mais amargas que os antirracistas enfrentam quando trabalham para acabar com pensamentos e ações de supremacia branca é que as pessoas que mais os disseminam são indivíduos que usualmente estão menos abertos a reconhecer que a raça importa Em quase todos os meus escritos sobre os tópicos relacionados a raça deixo nítida a preferência pelo uso do termo supremacia branca para descrever o sistema de preconceitos de raça no qual vivemos pois esse termo mais do que racismo inclui todo mundo Ele engloba pessoas negras e de cor cuja mentalidade é racista ainda que organizem o pensamento e ajam de forma diferente das pessoas brancas racistas Por exemplo uma mulher negra que internalizou o racismo talvez alise os cabelos para se parecer mais com as mulheres brancas Ainda assim essa mesma mulher pode ficar enfurecida se qualquer pessoa branca a elogiar por querer ser branca Ela talvez confronte essa pessoa por ser racista enquanto permanece em negação completa sobre sua devoção à concepção de beleza supremacista branca Pode ser tão difícil para essa pessoa superar a negação sobre seu conluio com o pensamento supremacista branco quanto é tentar criar consciência numa pessoa branca racista A maioria dos habitantes de nossa nação se opõe a atos terroristas e violentos de manifestação racista Somos uma nação de cidadãs e cidadãos que afirmam querer ver o fim do racismo da discriminação racial Está nítido porém que há uma lacuna fundamental entre teoria e prática Não é de estranhar portanto que tem sido mais fácil para todos em nossa nação aceitar um discurso crítico escrito sobre racismo que geralmente é lido apenas por aqueles que têm algum grau de privilégio educacional do que criar caminhos construtivos para falar sobre supremacia branca e racismo e encontrar ações construtivas que vão além do discurso Nos últimos anos à medida que os debates sobre raça e racismo foram aceitos em ambientes acadêmicos pessoas negrasde cor ficaram até certo ponto psicologicamente aterrorizadas com a distância bizarra entre teoria e prática Por exemplo uma professora branca bemintencionada pode escrever um livro relevante sobre intersecções entre raça e gênero mas continuar permitindo que preconceitos racistas influenciem a maneira como ela responde pessoalmente a mulheres de cor Talvez ela tenha uma noção pretensiosa de si mesma ou seja a confiança de que é antirracista sem se manter atenta às conexões que transformariam seu comportamento e não apenas seu pensamento Quando o assunto é raça e racismo muita gente um dia inocentemente acreditou que se pudéssemos mudar a maneira de pensar das pessoas mudaríamos o comportamento delas Normalmente esse não tem sido o caso Mas não devemos nos desmotivar por isso Em uma cultura de dominação quase todo mundo reproduz comportamentos que contradizem suas crenças e valores É por esse motivo que alguns sociólogos e psicólogos estão escrevendo sobre a realidade de que em nossa nação as pessoas mentem cada vez mais sobre todo tipo de coisa grande e pequena Essas mentiras conduzem a modos de negação que impedem os indivíduos de distinguir fantasia de fato sonho de realidade Ainda que a vontade de ver o fim do racismo seja um aspecto positivo da nossa cultura paradoxalmente é esse desejo sincero que subjaz à persistência da falsa noção de que o racismo acabou de que esta não é uma nação supremacista branca Em nossa cultura quase todo mundo não importa a cor da pele associa a supremacia branca ao fanatismo conservador extremo com os skinheads nazistas que pregam todos os velhos estereótipos do racismo puritano Mesmo assim esses grupos extremistas raramente ameaçam nosso cotidiano São as crenças e os pressupostos supremacistas brancos menos extremos mais fáceis de disfarçar ou mascarar que mantêm e disseminam o racismo diário como forma de opressão de um grupo Uma vez que consigamos enfrentar a miríade de maneiras como o pensamento supremacista branco molda nossas percepções diárias poderemos entender por que brancos liberais comprometidos com o fim do racismo talvez mantenham crenças e concepções cuja raiz está na supremacia branca Podemos também encarar o modo como pessoas negrasde cor consciente ou inconscientemente internalizam o pensamento supremacista branco Em uma aula que dei nos últimos tempos debatemos sobre uma palestra minha em que muitos estudantes brancos expressaram com vaias seu desprezo pelas ideias que expus e pela minha presença Desafiei o grupo a considerar que o que eu estava dizendo não era tão perturbador para eles quanto a minha presença incorporada em uma aparência jovem de uma mulher negra com cabelos naturais trançados Eu mal havia terminado esse comentário quando um homem branco liberal membro daquele grupo atacou dizendo Você está apelando para a cartada da raça A resposta defensiva e imediata dele é a reação costumeira quando uma pessoa negrade cor faz um comentário sobre a dinâmica diária de raça e racismo sexo e sexismo que não condiz com as percepções privilegiadas de pessoas brancas Entender o grau em que o privilégio de classe intervém em percepções sobre raça e as molda é vital para qualquer discurso público sobre esse assunto porque as pessoas mais privilegiadas de nossa nação sobretudo com poder de classe muitas vezes são as menos abertas a falar honestamente sobre preconceitos raciais Trabalhadores e trabalhadoras brancos costumam falar com bastante eloquência sobre como pressupostos racistas alimentam nossas percepções e ações todos os dias enquanto pessoas brancas vindas de classes privilegiadas continuam na dança da negação fingindo que privilégios de classe compartilhados intervêm ou transformam o racismo Expliquei ao grupo que uma das manifestações da vida cotidiana em um patriarcado supremacista branco capitalista imperialista é que a vasta maioria das pessoas brancas tem pouca intimidade com pessoas negras e raramente está em situações em que precisa ouvir pessoas negras sobretudo mulheres negras falando por trinta minutos De fato não existiam professores negros nem quando eu era aluna da graduação em inglês nem quando era estudante da pósgraduação Não me ocorreu procurar professoras negras em outras disciplinas Eu aceitava essa ausência Compartilhei com a turma que no meu cotidiano como integrante das classes mais altas morando sozinha num bairro predominantemente branco e trabalhando em ambientes predominantemente brancos tenho pouco contato orgânico com mulheres negras Se eu quisesse falar com elas ou ouvilas teria de me esforçar E eis aqui um homem branco de classe alta vivendo em um mundo predominantemente branco dizendo que homens brancos não têm dificuldade de ouvir mulheres negras dando uma aula a eles expressando crenças e valores que colidem com os seus Pedi ao grupo para refletir sobre o motivo de a resposta às minhas ideias iniciais sobre como é raro pessoas brancas precisarem ouvir mulheres negras não ter sido esta Meu deus Nunca tinha pensado sobre como a raça determina a quem ouvimos a quem aceitamos como autoridade Teria sido interessante se o colega branco que discordou de mim com tanta veemência mantivesse seus comentários até o momento em que dedicasse ao assunto a atenção devida e fosse capaz de apresentar razões coerentes para discordar da minha afirmação Ao me avaliar ou seja sugerindo que eu estava sendo falsa e apelando para a cartada da raça ele evitou ter de apresentar razões fundamentadas em fatos eou experiências que ele interpretou de maneira diferente de mim A resposta dele personalizou uma observação que não considero pessoal Dada a natureza do patriarcado supremacista branco capitalista imperialista como um sistema que molda a cultura e as crenças é fato que a maioria das pessoas brancas raramente está se é que está em algum momento em situações em que precise ouvir mulheres negras falando Mesmo as pessoas brancas que têm trabalhadoras domésticas negras em casa diariamente não as escutam falar Essa realidade foi dramatizada em Imitação da vida sucesso de bilheteria do fim da década de 1950 No filme Lora mulher branca e rica vai ao funeral de sua empregada negra Annie e fica impressionada com o fato de que Annie tinha amigos era bastante querida na igreja e tudo o mais Certamente as biografias e autobiografias das mulheres brancas que foram criadas por empregadas negras são carregadas de testemunhos sobre o fato de que elas não dialogavam com essas mulheres não as ouviam contar suas histórias nem compartilhar informações Vivemos em um mundo de privilégio de classe que permanece não democrático e discriminatório de tal maneira que as pessoas negras de classe alta em ambientes brancos ficam isoladas e precisam se esforçar para ouvir mulheres negras conversando eou palestrando por trinta minutos Meu relato sincero desse evento foi uma intervenção importante que criou uma pausa na cabeça daqueles estudantes que não estavam com a mente fechada Eles puderam refletir sobre meus comentários e relacionálos à própria vida Puderam se questionar A quem eu escuto ou As palavras de quem valorizo Citei Oprah Winfrey como exemplo de mulher negra que todos os dias comanda a atenção de uma multidão de pessoas brancas ainda assim o papel dela é geralmente de comentarista Ela escuta e interpreta o discurso dos outros É raro que ela expresse sua opinião pessoal sobre um assunto por mais do que alguns minutos quando o faz De muitas formas ela é vista pelo imaginário racista como uma empregada domésticamammy 10 nada diferente de Annie em Imitação da vida cujo maior objetivo é garantir que pessoas brancas possam ter a melhor vida possível Lembremse de que por quinze anos em todos os natais Annie dava ao velho leiteiro seu dinheiro suado fingindo que tinha vindo da mulher branca rica e egoísta Esse era o jeito de Annie ensinar por meio do exemplo A motivação dela é tornar Lora uma pessoa melhor e obviamente ao fazer isso ela revela a pessoa boa que é Annie é a mulher negra que sabe que seu papel é ser subordinada e servir ela serve com complacência dignidade e graça Não confronta a senhora branca com ideias e perspectivas críticas que as mulheres brancas não querem ouvir Esse é o modelo que o imaginário racista e sexista reserva às mulheres negras Esse modelo é reproduzido atualmente em quase toda representação hollywoodiana de mulheres negras Não é de estranhar então que muitas pessoas brancas achem difícil ouvir uma mulher negra crítica falando de ideias e opiniões que ameaçam seu sistema de crenças No debate em sala de aula alguém ressaltou que um homem branco poderoso dera uma palestra semelhante mas não recebeu críticas verbais negativas nem desdenhosas Não que os ouvintes tenham concordado com o que ele disse eles acreditavam que ele tinha direito de expressar seu ponto de vista É comum que estejamos em ambientes em que somos as únicas pessoas negrasde cor presentes Em tais contextos pessoas brancas sem consciência muitas vezes nos tratam como se fossem anfitriãs e nós convidadas Agem como se nossa presença fosse muito mais uma caridade filantrópica do que consequência de nosso talento atitude e genialidade Pensando dessa forma veem nossa presença sobretudo como prova de sua generosidade isso dio ao mundo que elas não são racistas No entanto a própria noção de que estamos lá para servilas é em si expressão do pensamento supremacista branco No cerne do pensamento supremacista branco nos Estados Unidos e em qualquer outro lugar está o pressuposto de que é natural para as raças inferiores pessoas mais escuras servir às raças superiores em sociedades onde não há pessoas brancas pessoas de pele mais clara devem servir por pessoas de pele mais escura Imbuída nessa noção de servidão está a ideia de que não importa o status da pessoa de cor sua posição precisa ser reconfigurada para o bem da branquitude Esse foi um dos aspectos do pensamento supremacista branco que tornaram a integração racial e a diversidade palatáveis para pessoas brancas Para elas a integração significava ter acesso a pessoas de cor que dariam um tempero a mais à sua vida o tipo de serviço que denominaríamos performance do exotismo ou proporcionariam as ferramentas necessárias para perpetuar a dominação baseada em raça por exemplo estudantes universitários de origem branca e privilegiada que viajam ao Terceiro Mundo para aprender espanhol ou suaíli por diversão mas depois essa habilidade se revela útil na busca por um emprego Repetidas vezes em sala de aula estudantes brancos se preparavam para estudar ou viver por um breve período em países não brancos falavam das pessoas desses lugares como se elas existissem apenas para incrementar a experiência branca De fato essa visão não difere daquela que crianças brancas absorviam assistindo na tv ao seriado racista Tarzan tornese nativo e melhore sua vida O poeta da geração beat Jack Kerouac expressou seus sentimentos de um jeito bem moderno O melhor que o mundo branco me ofereceu não foi suficientemente arrebatador para mim Assim como muitos brancos não conscientes na maioria liberais viam e veem suas interações com pessoas de cor por meio de ações afirmativas como um investimento que vai melhorar sua vida ou até mesmo aumentar sua superioridade orgânica muitas pessoas de cor formadas na arte do pensamento supremacista branco internalizado compartilham dessa concepção A escritora chinesa Anchee Min capturou muito bem a essência dessa exaltação à branquitude em Katherine romance sobre uma jovem professora branca que vai à China carregada de um sedutor imperialismo cultural Ao descrever a um de seus estudantes sua percepção de que os chineses são pessoas cruéis certamente esse era um dos estereótipos racistas na América préséculo xx ela provoca a admiração de um de seus pupilos chineses que confessa O jeito de pensar me tocou Era algo que eu havia esquecido ou que talvez nunca soubesse Era flor às pétalas do meu coração amargurado Uma flor que eu não sabia existir começou a desabrochar dentro de mim Katherine estendeu minha vida para além de suas circunstâncias Foi o tipo de pureza que preservou que me emocionou A mulher branca como símbolo de pureza continua a dominar o imaginário racista globalmente Nos Estados Unidos Hollywood segue projetando essa imagem usandoa para afirmar e reaffirmar o poder da supremacia branca Quando pessoas de cor tentam intervir de forma crítica e se opor à supremacia branca sobretudo em torno do assunto da representação quase sempre somos colocados de lado como quem está forçando uma visão politicamente correta restrita ou apenas somos rotulados como malhumorados Escrevendo sobre apropriação cultural em English is Broken Here Aqui o inglês é precário Coco Fusco explica Eu e muitos outros criados num contexto de ações afirmativas fomos socializados para identificar o racismo como característica exclusiva de pessoas ignorantes e reacionárias e sobretudo velhas e isso funcionou para desviar nossa atenção de como a branquitude funciona no presente Abordar o espectro do racismo não aqui e agora sugerir que apesar de suas crenças políticas e orientações sexuais pessoas brancas atuam dentro das estruturas sociais de supremacia branca e se beneficiam delas ainda equivale a uma declaração de guerra Quando a supremacia branca é desafiada e enfrenta resistência pessoas de cor e nossos aliados de luta enfrentam a censura que emerge quando os detentores do poder de dominação nos dizem Você é radical você que é racista está apelando para a cartada da raça É evidente que a ironia está justamente no fato de que não nos foi permitido jogar com a raça somos apenas peões nas mãos daqueles que inventam os jogos e determinam as regras Toda pessoa negra e de cor é conivente com o sistema em voga de maneiras sutis todos os dias mesmo aquelas entre nós que se veem como antirracistas radicais Essa cumplicidade acontece simplesmente porque somos todos produtos da cultura em que vivemos e fomos todos sujeitos às formas de socialização e aculturamento consideradas normais em nossa sociedade Ao cultivar a consciência e a descolonização do pensamento conseguimos as ferramentas para romper com o modelo dominador da sociabilidade humana e do desejo de imaginar novas e diferentes formas de as pessoas se unirem Martin Luther King imaginou uma comunidade amorosa criando uma concepção de mundo onde as pessoas se conectariam com base na humanidade compartilhada Sua percepção permanece King nos ensinou que o simples ato de se unir fortaleceria a comunidade No entanto antes de ser assassinado ele começava a perceber que desaprender o racismo exigiria mudança tanto de pensamento quanto de ação e que as pessoas poderiam concordar em se unir independentemente da raça mas não formariam uma comunidade Construir comunidade exige uma consciência vigilante do trabalho que precisamos fazer continuamente para enfraquecer toda socialização que nos leva a ter um comportamento que perpetua a dominação Um corpus em teoria crítica hoje está disponível para explicar a dinâmica do racismo e do pensamento supremacista branco Mas apenas explicações não nos levam à prática da comunidade amorosa Quando tomamos a teoria as explicações e as aplicamos concretamente à vida cotidiana às experiências ampliamos e aprofundamos a prática da transformação antirracista Em vez de apenas aceitar que o poder de classe muitas vezes me situa em um mundo onde tenho pouco ou nenhum contato com outras pessoas negras sobretudo indivíduos de classes desprivilegiadas eu como pessoa negra com privilégio de classe posso ativamente buscar essas relações Na maioria das vezes preciso me esforçar para ampliar meu universo social Nos últimos anos pessoas brancas conhecidas que sempre se viram como antirracistas adotaram crianças de cor e perceberam o que deveria ser evidente que não tinham amizades íntimas com pessoas de cor Elas precisam fazer uma desconstrução ativa de seu pensamento supremacista branco que diz que você é superior devido à branquitude e portanto mais bem preparado para criar uma criança não branca do que qualquer pessoa de cor procurando criar relações com maior diversidade racial Recorrentemente noto pessoas brancas conhecidas desaprendendo a supremacia conforme se conscientizam de que têm pouco contato com pessoas não brancas elas abrem os olhos e enxergam que sempre existiram pessoas não brancas ao redor que elas não tinham visto quando sua percepção estava bloqueada pelo privilégio branco vindo de instituições racistas Repetidas vezes faço trabalhos antirracistas em faculdades de artes que dizem ser exclusivamente brancas e então descubro que os funcionários da equipe de suporte e de serviço na maioria são pessoas não brancas A presença de pessoas negrasde cor que não são vistas como companheiras de classe é facilmente ignorada em um contexto em que a identidade privilegiada é a branca Quando paramos de pensar e de avaliar pelos parâmetros da hierarquia e conseguimos valorizar todos os membros de uma comunidade rompemos uma cultura de dominação A supremacia branca é restabelecida com facilidade quando as pessoas descrevem comunidades de estudantes e faculdades como exclusivamente brancas em vez de afirmar sua diversidade mesmo que esteja evidente apenas pela presença de poucos indivíduos O trabalho antirracista requer de todos nós vigilância sobre as maneiras como usamos a linguagem O pensamento excludente é importante para a manutenção do racismo e de outras formas de opressão de grupo Sempre que usamos a lógica inclusiva ambose estamos mais bem situados em construir comunidade Imagine a diferença em um campus escuto que as pessoas brancas continuam sendo o maior grupo mas tornamse diversas devido à presença de pessoas não brancas e que a maioria deseja diversidade Em outro campus escuto que somos todos brancos o que nega o valor da presença de pessoas de cor não importando quão reduzido esse grupo seja A linguagem que usamos para expressar essas ideias em um primeiro momento é incômoda mas quando adotamos uma linguagem mais inclusiva e normalizamos seu uso esse desconforto diminui Muitos pensamentos e ações de supremacia branca que inconscientemente aprendemos vêm à tona em comportamentos habituais Portanto é desse comportamento que devemos nos tornar conscientes e precisamos trabalhar para transformálo Por exemplo muitas mães negras me perguntam o que fazer quando seus filhos chegam da escola dizendo que querem ser transformados em pessoas brancas Em geral essas mulheres compartilham que fizeram tudo para estimular o amor pela negritude No entanto em todos os casos elas procuram mudar a própria aparência para parecer mais claras ou alisam os cabelos Em todos os casos a pessoa resiste à ideia de que a criança enxerga sua hipocrisia de que essa criança parte do seguinte pressuposto Se eu não consigo ser vista como uma pessoa bonita aceitável e digna nem por minha mãe então aquele mundo mais amplo que todos os dias me diz que branco é melhor deve estar certo Essa é a citação exata de uma linda aluna negra com aproximadamente vinte anos que compartilhou ser isso que ela costumava dizer a si mesma E já adulta quando pessoas dizem o quanto ela é bonita essa é a mensagem que sua voz interior transmite como lembrete Mesmo que muitos estudiosos e intelectuais ridicularizem a autoajuda é uma área importante no processo de autorrecuperação para as mentes racialmente colonizadas Falar todos os dias em voz alta afirmações que mudem mensagens tóxicas há muito tempo internalizadas é uma estratégia útil para limpar a mente Isso promove uma consciência vigilante sobre os modos pelos quais o pensamento supremacista branco diariamente codificado no mundo da propaganda em comerciais imagens de revista etc entra em nosso sistema e nos dá poder para romper seu domínio sobre nossa consciência Quando decidi escrever livros sobre amor assumi que meu público seria composto por leitores de qualquer raça que estivessem interessados pelo tema Contudo quando negociei com quem toma as decisões no mercado editorial pediram que eu identificasse qual público seria Explicaram que poderia ser difícil atrair leitores brancos pois eles me associavam à libertação negra Acreditei que poderia transcender o consumo baseado em raça que é a norma em nossa sociedade Se um filme tem apenas personagens brancos presumese que será promovido para todos os consumidores ele é para todo mundo No entanto se o filme tem apenas personagens negros percebese que é direcionado apenas aos espectadores negros Quando escrevi Tudo sobre o amor novas perspectivas nunca identifiquei minha raça no livro apesar de a foto na quarta capa mostrar minha cor porque eu queria demonstrar com esse gesto que autores negros que escrevem especificamente sobre raça nem sempre estão apenas interessados nesse assunto Queria mostrar que somos todos pensadores complexos que podem ser tanto específicos em seu foco quanto universais O pensamento excludente que está no coração da supremacia branca baseada no dualismo metafísico ocidental ensina que as pessoas precisam escolher gostar ou de imagens negras ou de imagens brancas ou ainda enxergar os livros escritos por pessoas brancas como destinados ao público geral e livros escritos por pessoas negras destinados apenas a pessoas negras A natureza inclusiva do pensamento ambose nos permite ser pessoas inclusivas Quando criança nunca pensei que Emily Dickinson tivesse escrito seus poemas apenas para leitores brancos e ela foi de fato a primeira poeta cujo trabalho amei Mais tarde quando li o trabalho de Langston Hughes nunca pensei que ele estivesse escrevendo apenas para leitores negros Ambos os poetas escreveram sobre o mundo que conheciam mais intimamente Conforme se intensificou minha consciência sobre o modo como o pensamento supremacista branco molda até mesmo as escolhas de quais livros lemos dos livros com os quais queremos enfeitar a mesa de centro desenvolvi estratégias de resistência Meu segundo livro sobre amor Salvation Black People and Love Salvação pessoas negras e o amor retratava especificamente as experiências de pessoas negras e então precisei questionar o uso da expressão black love amor negro por leitores brancos e negros Precisei explicar que estava falando sobre as mesmas ideias de amor sobre as quais escrevi no primeiro livro que ninguém disse ser um livro sobre amor branco mas agora com foco no impacto que aqueles modos de pensar sobre amor tiveram na consciência de pessoas negras O pressuposto de que branquitude engloba o que é universal e portanto é para todo mundo enquanto negritude é específica e portanto é apenas para pessoas negras é pensamento supremacista branco Ainda assim muitas pessoas liberais junto com seus companheiros mais conservadores pensam dessa forma não porque sejam pessoas más nem porque conscientemente escolheram ser racistas mas porque inconscientemente aprenderam a pensar dessa maneira Esse tipo de pensamento como muitos outros padrões de pensamento e ação que ajudam a disseminar e a manter a supremacia branca pode facilmente ser desaprendido Trinta anos de conversas sobre racismo e supremacia branca dando palestras e promovendo oficinas antirracistas me mostraram como é fácil para indivíduos mudar pensamentos e ações quando se tornam conscientes e quando desejam usar aquela consciência para alterar comportamentos A reação da supremacia branca que buscou eliminar tanto o legado dos direitos civis quanto o foco sobre a teoria crítica de raça e suas práticas continua a forçar a noção de que o pensamento racista sobretudo em mentes brancas não pode ser alterado Isso não é verdade Mas essa falsa concepção ganhou destaque porque não tem havido demonstrações coletivas das massas de pessoas brancas de que elas estejam prontas para acabar com a dominação baseada em raça sobretudo quando se trata da manifestação diária do pensamento supremacista branco do poder branco Nitidamente o indicador mais poderoso de que pessoas brancas gostariam de ver o racismo estrutural acabar foi o apoio generalizado da sociedade ao fim da segregação e à integração Entretanto o fato de que muitas pessoas brancas não associaram esse apoio ao fim das ações diárias do pensamento supremacista branco tem ajudado o racismo a dominar nossa cultura Para romper esse domínio precisamos de um ativismo antirracista contínuo Precisamos gerar uma consciência cultural maior sobre a dinâmica do pensamento supremacista branco no cotidiano Precisamos aprender com as pessoas que sabem porque elas têm vivido uma vida antirracista o que todo mundo pode fazer para descolonizar a mente para manter a consciência mudar o comportamento e criar uma comunidade amorosa ensinamento 4 educação democrática Professores dotados de visão democrática sobre a educação assumem que esse aprendizado nunca está confinado apenas à sala de aula institucionalizada Em vez de incorporar a falsa concepção de que a universidade não é o mundo real e ensinar de acordo com isso o educador democrático libertase da falsa ideia da universidade corporativa como ambiente à parte da vida real e procura repensar o ensino como elemento permanente da experiência de mundo e da vida real Quando incorporamos o conceito de educação democrática passamos a enxergar ensino e aprendizagem como constantes Compartilhamos o conhecimento obtido em salas de aula para além daquele espaço trabalhando portanto para desafiar a concepção de que certas formas de saber são sempre e somente acessíveis à elite Quando os professores apoiam a educação democrática automaticamente apoiam a difusão do letramento Garantir o letramento é a conexão vital entre o sistema público de ensino e o ambiente universitário A escola pública é a formação educacional necessária para todo mundo é dela a tarefa de ensinar estudantes a ler e escrever e com sorte a se engajar em alguma forma de pensamento crítico Assim todas as pessoas que sabem ler e escrever têm as ferramentas necessárias para acessar um aprendizado superior mesmo que ele não possa acontecer e mesmo que de fato não aconteça em um ambiente universitário Nosso governo ao exigir a frequência em escolas públicas defende as políticas públicas que apoiam a educação democrática Mas o preconceito elitista de classe quanto ao modo como o conhecimento é transmitido costuma dizer aos estudantes nesses contextos que eles não serão aprendizes sofisticados se não fizerem faculdade Isso significa que muitos interrompem a prática da aprendizagem porque sentem que aprender não é mais relevante para a vida deles depois que se formam no ensino médio a menos que planejem cursar uma faculdade Na escola pública aprenderam que a faculdade não é o mundo real que o aprendizado da teoria lá oferecido não tem relevância no mundo além dos muros da universidade Mesmo que todo o conhecimento vindo dos livros adotados nas faculdades seja acessível a qualquer leitorpensador independentemente de frequentar ou não as aulas as fronteiras de classe solidamente construídas mantêm a maioria das pessoas formadas no ensino médio que não estão matriculadas no ensino superior bem longe da formação continuada Mesmo os estudantes universitários que recebem diploma de graduação e saem do ambiente da faculdade para entrar no mercado de trabalho tendem a parar de estudar baseando suas ações na falsa premissa de que o que se aprende nos livros tem pouca relevância para a sua nova rotina como trabalhadores É impressionante que muitos graduados nunca mais leiam um livro depois de se formar E se leem não estudam mais Para trazer uma mentalidade estudiosa ao processo de aprendizagem que acontece dentro e fora da sala de aula é necessário compreender o conhecimento como experiência que enriquece a vida integralmente Citando O único e eterno rei a série de livros de T H White Parker Palmer honra a sabedoria que Merlin o mágico oferece quando afirma A melhor coisa a fazer quando se está triste é aprender algo Essa é a única coisa que nunca falha Aprender por que o mundo gira e o que o faz girar Essa é a única coisa da qual a mente não pode jamais se cansar nem se alienar nem se torturar nem temer ou descrer e nunca sonhar em se arrepender Aprender é o que lhe resta Parker acrescenta a essa declaração seu próprio entendimento vital de que a educação em sua melhor forma essa profunda transação humana chamada ensino e aprendizagem não está relacionada apenas a adquirir informação ou a conseguir um emprego Educação tem a ver com cura e plenitude Está relacionada com empoderamento libertação transcendência renova a vitalidade Diz respeito a encontrar e reivindicar nossa existência e nosso lugar no mundo Uma vez que nosso lugar no mundo está sempre mudando precisamos aprender constantemente a estar presentes no agora Se não estamos engajados por completo no presente ficamos presos ao passado e nossa capacidade de aprender diminui Educadores que se desafiam a ensinar para além do ambiente de sala de aula a se deslocar pelo mundo compartilhando conhecimento aprendem diversas maneiras de transmitir informação Essa é uma das habilidades mais valiosas que qualquer professor pode adquirir Pela prática vigilante aprendemos a usar a linguagem capaz de dialogar com o cerne da questão independentemente do ambiente de ensino em que nos encontremos Quando professores universitários que são educadores democráticos compartilham conhecimento fora da sala de aula nosso trabalho afasta a noção de que acadêmicos não têm contato com o mundo externo aos sagrados salões da academia É nossa tarefa abrir o espaço de aprendizagem para que ele possa ser mais inclusivo além de sempre nos desafiar a fortalecer nossas habilidades de ensino Essas práticas progressistas são vitais para manter a educação democrática tanto na sala de aula quanto fora dela Práticas autoritárias promovidas e encorajadas por muitas instituições enfraquecem a educação democrática na sala de aula Ao atacar a educação como prática da liberdade o autoritarismo na sala de aula desumaniza e com isso apaga a mágica que está sempre presente quando os indivíduos são aprendizes ativos Isso tira a graça do estudo o torna repressivo e opressivo Professores autoritários comumente investem na ideia de que são os únicos profissionais sérios enquanto educadores democráticos são com frequência estereotipados pelos colegas mais conservadores como não rigorosos ou fora do padrão Esse é o caso sobretudo quando educadores democráticos tentam criar uma atmosfera prazerosa na prática de sala de aula Em À sombra desta mangueira Paulo Freire argumenta que educadores democráticos devem fazer de tudo em favor da criação de um clima na sala de aula em que ensinar aprender estudar são atos sérios demandantes mas também provocadores de alegria E mais adiante afirma Só para a mente autoritária é que o ato de ensinar de aprender de estudar são tarefas enfadonhas mas necessárias Para educadores e educadoras democráticos o ato de ensinar de aprender de estudar são que fazeres exigentes sérios que não apenas provocam contentamento mas que já são em si alegres A satisfação com que se põe em face dos alunos a segurança com que lhes fala a abertura com que os ouve a justiça com que lida com seus problemas fazem do educador democrata um modelo Sua autoridade se afirma sem desrespeitar as liberdades E é porque respeita as liberdades que estas a respeitam Com seus hábitos educadores democráticos mostram que não se envolvem em formas de cisão psicológica socialmente aceitas segundo as quais alguém ensina apenas na sala de aula e depois age como se o conhecimento não fosse significativo em outros ambientes Quando isso é transmitido aos estudantes eles conseguem vivenciar a aprendizagem como um processo completo não como uma prática restrita que os desconecta e os aliena do mundo O diálogo é o espaço central da pedagogia para o educador democrático Conversar para compartilhar informações e trocar ideias é a prática que tanto dentro quanto fora do ambiente acadêmico afirma que o aprendizado pode ocorrer em durações variadas podemos dividir e aprender muito em cinco minutos e que o conhecimento pode ser compartilhado em diferentes registros de discurso Embora dialetos e variações regionais de linguagem raramente sejam usados por professores em sala de aula esses registros podem ser o principal modo de trocar conhecimentos em outros ambientes Quando espaços educacionais se tornam lugares cujo objetivo central é o ensino de costumes burgueses o registro informal e a linguagem que foge à norma culta do idioma não são valorizados na verdade são abertamente desprezados Ainda que reconheça o valor do idioma padrão o educador democrático também valoriza a diversidade da linguagem Por exemplo estudantes que falam o inglês padrão mas para os quais o inglês é a segunda língua são fortalecidos em sua autoestima bilíngue quando seu idioma materno é valorizado em sala de aula Essa valorização pode ocorrer quando professores e professoras incorporam práticas de ensino que honram a diversidade resistindo à tendência tradicional de manter os valores do dominador no ensino superior Como educadores democráticos temos de trabalhar para encontrar maneiras de ensinar e compartilhar conhecimento de modo a não reforçar estruturas existentes de dominação aquelas hierarquias de raça gênero classe e religião A diversidade de discursos e de presenças pode ser bastante valorizada como um recurso que intensifica qualquer experiência de aprendizado Nos últimos anos todos temos sido desafiados como educadores e educadoras a examinar os modos como apoiamos seja consciente ou inconscientemente as estruturas de dominação existentes E somos todos encorajados por educadores democráticos a nos tornar mais atentos a fazer escolhas mais conscientes Talvez involuntariamente estejamos conspirando com as estruturas de dominação por conta do modo como o aprendizado é organizado nas instituições Ou talvez possamos reunir material de ensino que não seja preconceituoso e ainda assim apresentálo de maneira tendenciosa reforçando as hierarquias opressivas existentes Sem movimentos contemporâneos por justiça social em nossa nação a educação progressista tornase ainda mais importante já que talvez seja o único lugar em que as pessoas possam encontrar apoio para adquirir consciência crítica para se comprometer com o fim da dominação Os dois movimentos por justiça social que têm tido o maior impacto transformador em nossa cultura são a luta antirracista e o movimento feminista Por entender que os movimentos por ativismo tendem a perder força uma vez que os direitos civis são conquistados ambos trabalharam para criar lugares de estudo acadêmico com o intuito de que uma abordagem não tendenciosa do conhecimento e do aprendizado fosse legitimada no ambiente escolar e universitário agindo ao mesmo tempo como catalisadora capaz de transformar cada disciplina acadêmica O aprendizado portanto serviria para educar os estudantes para a prática da liberdade e não para sustentar as estruturas de dominação existentes Todo estudo progressista sobre raça e gênero desenvolvido nas universidades tem impacto significativo para muito além do espaço acadêmico Educadores democráticos que defenderam acabar com as metodologias de ensino preconceituosas diminuíram a distância entre o mundo acadêmico e o chamado mundo real Muito antes de as escolas progressistas se interessarem pelas temáticas de raça ou gênero e de diversidade ou multiculturalismo grandes empresas reconheceram a necessidade de ensinar seus funcionários sobretudo os negociadores cuja tarefa era criar mercados ao redor do mundo sobre diferenças e outras culturas Obviamente o fundamento dessa abordagem não era ensinar como acabar com a dominação mas promover os interesses do mercado Ainda assim tanto conservadores quanto liberais reconheceram a necessidade de mostrar aos estudantes perspectivas que incluíam o reconhecimento de diferentes formas de saber No rescaldo dessa mudança gerada pelas preocupações capitalistas de manter o poder em um mercado global ativistas antirracistas e antissexistas conseguiram influenciar um questionamento dos modos como noções imperialistas de supremacia branca e de nacionalismo implantavam preconceitos nos materiais didáticos nas diferentes práticas pedagógicas e nas estratégias dos educadores O discurso acadêmico tanto o escrito quanto o falado sobre raça e racismo sobre gênero e feminismo fez uma grande intervenção conectando lutas por justiça externas à academia com os modos de saber de dentro dela E isso foi realmente revolucionário As instituições educacionais que foram fundadas nos princípios da exclusão o pressuposto de que os valores que defendem e mantêm o patriarcado supremacista branco capitalista imperialista são verdadeiros começaram a refletir sobre a realidade dos preconceitos e a discutir o valor da inclusão Ainda assim muitos apoiavam a inclusão apenas quando as diversas formas de saber eram ensinadas como subordinadas às formas de saber superiores caracterizadas pelo dualismo metafísico ocidental e sua cultura do dominador A fim de se opor a essa abordagem distorcida sobre inclusão e diversidade educadores democráticos ressaltaram o valor do pluralismo No artigo Commitment and Openness A Contemplative Approach to Pluralism Comprometimento e abertura uma abordagem contemplativa ao pluralismo Judith Simmer Brown explica Pluralismo não é diversidade Diversidade é um fato da vida moderna sobretudo nos Estados Unidos Há diferenças enormes em nossas comunidades relacionadas à ética à raça e à religiosidade Diversidade sugere a existência dessas diferenças Pluralismo por outro lado é uma resposta à existência da diversidade No pluralismo nos comprometemos a nos engajar com a outra pessoa ou com a outra comunidade Pluralismo é um compromisso de se comunicar e de se relacionar com o mundo maior com um vizinho muito diferente ou uma comunidade distante Muitos educadores abraçam a ideia da diversidade enquanto resistem ao pluralismo ou a qualquer outro pensamento que sugira que eles não devem mais defender a cultura dominadora As ações afirmativas tinham como objetivo promover maior diversidade e eram pelo menos em teoria uma prática positiva de reparação uma forma de proporcionar acesso aos grupos aos quais foram negados educação e outros direitos por causa da opressão fundamentada em grupos sociais Apesar das várias falhas as ações afirmativas conseguiram quebrar as barreiras à inclusão racial e de gênero beneficiando principalmente as mulheres brancas Conforme nossas escolas se tornaram mais diversas professores e professoras viram seus valores mais profundos serem desafiados Velhas ideias sobre estudar os trabalhos de outras pessoas a fim de achar nossas próprias teorias e defendêlas foram e estão sendo constantemente desafiadas SimmerBrown oferece a percepção útil de que esse modo de aprendizado não nos permite aceitar ambiguidade e incerteza Como educadoras e educadores uma das melhores coisas que podemos fazer por nossos estudantes é não os forçar a se ater a teorias e conceitos sólidos mas em vez disso encorajar o processo os questionamentos envolvidos e os momentos de não saber com todas as incertezas inerentes a essa dinâmica Isso é o que nos dá apoio para ir fundo Isso é abertura Quando eu trabalhava com professores de uma das principais faculdades de artes para ajudálos a desaprender formas de educação do dominador escutei homens brancos verbalizarem sentimentos de medo e incerteza sobre abdicar de modelos já conhecidos Embora eles estivessem dispostos a aceitar o desafio da transformação ainda assim estavam temerosos porque simplesmente não sabiam qual seria a fonte de seu poder se não pudessem mais contar com uma noção racializada e genderizada de autoridade para manter aquele poder A honestidade deles nos ajudou a imaginar e articular quais poderiam ser os resultados positivos de uma abordagem pluralista de aprendizado Um dos efeitos mais positivos é o comprometimento com a abertura radical a disposição para explorar diferentes perspectivas e mudar a mente conforme novas ideias são apresentadas Ao longo da minha carreira como educadora democrática conheci vários estudantes brilhantes que buscam educação que sonham em trabalhar a serviço da liberdade que se desesperam ou se desmotivam completamente porque faculdades e universidades estão estruturadas de uma forma que os desumaniza que os desvia do espírito de comunidade no qual anseiam viver Com muita frequência esses estudantes sobretudo aqueles talentosos não brancos de origens sociais diversas desistem de ter esperança Eles têm baixo desempenho nos estudos Assumem o papel de vítima Falham Abandonam as aulas A maioria não foi orientada sobre como encontrar o próprio caminho em um sistema educacional que apesar de estruturado para manter a dominação não é fechado e portanto tem dentro dele subculturas de resistência em que a educação como prática da liberdade ainda acontece Muitos desses estudantes talentosos não encontram essas subculturas nem os educadores democráticos que poderiam ajudálos a achar o caminho Eles perdem a paixão Por mais de trinta anos testemunhei estudantes que não querem ser educados para serem opressores chegarem perto da graduação e então se autossabotarem São estudantes que abandonam a faculdade faltando apenas um semestre ou uma disciplina Às vezes são pósgraduandos brilhantes mas que nunca escreveram a dissertação Temerosos de que não serão capazes de manter a fé de que não se tornarão educadores democráticos temerosos de que entrarão no sistema e se transformarão nele eles vão embora A educação competitiva raramente funciona para estudantes que foram socializados para valorizar o trabalho voltado para o bem da comunidade Isso os dilacera os deixa arrasados Eles vivenciam níveis de desconexão e fragmentação capazes de destruir todo o prazer de aprender São esses alunos e alunas que mais precisam da orientação influente de um educador democrático Ao criar uma comunidade de aprendizado que valorize o todo acima da divisão da desassociação da separação o educador democrático empenha se para criar proximidade Palmer chama isso de intimidade que não aniquila a diferença Como uma estudante que chegou à graduação e à pós graduação por meio dos movimentos radicais por justiça social que abriram um espaço que havia sido fechado aprendi a agarrar a comunidade onde eu a encontrasse criando laços a partir de raça gênero classe e experiência religiosa para salvar e proteger a parte de mim que queria permanecer em um mundo acadêmico que queria escolher uma vida intelectual Os laços que criei foram com pessoas que como eu valorizavam o aprendizado como fim em si e não como meio de atingir outro objetivo mobilidade social poder status Nós sabíamos que independentemente de estar em um ambiente acadêmico continuaríamos a estudar a aprender a educar
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ensinamento 3 conversa sobre raça e racismo Professores costumam estar naquele grupo mais relutante em reconhecer a extensão da influência do pensamento supremacista branco na construção de cada aspecto de nossa cultura incluindo a maneira como aprendemos o conteúdo do que aprendemos e o modo como somos ensinados Muito do processo de conscientização em relação à questão da supremacia branca e do racismo está voltado a ensinar como o racismo é e como ele se manifesta no nosso dia a dia Em oficinas e seminários antirracistas a maior parte do tempo é usada simplesmente para romper a negação que leva muitas pessoas brancas não conscientes assim como pessoas de cor a fingir que o pensamento e a ação racistas e de supremacia branca já não prevalecem em nossa cultura No ambiente de sala de aula tenho ouvido grupos de estudantes me dizerem que o racismo não molda mais os contornos de nossa vida que não existem mais coisas como diferença racial que somos todos apenas pessoas Então poucos minutos depois proponho a eles um exercício Pergunto se estivessem prestes a morrer e pudessem escolher voltar à vida como um homem branco uma mulher branca uma mulher negra ou um homem negro qual identidade escolheriam Toda vez que faço esse exercício a maioria independentemente de gênero e raça sempre escolhe a branquitude e em geral a masculinidade branca Mulheres negras são as menos escolhidas Quando peço aos estudantes que justifiquem sua resposta eles fazem uma análise sofisticada sobre o privilégio baseado em raça com perspectivas que levam em consideração gênero e classe Essa desconexão entre o repúdio consciente à raça como indicação de privilégio e a compreensão inconsciente é uma lacuna que precisamos eliminar uma ilusão que precisa ser suprimida antes que um debate significativo sobre raça e racismo aconteça Esse exercício ajuda alunos e alunas a superar a negação da existência do racismo Nos permite começar a trabalhar juntos por uma abordagem menos tendenciosa do conhecimento Ao ensinar palestrar viabilizar oficinas e escrever sobre como dar fim ao racismo e a outras formas de dominação tenho sentido que confrontar preconceitos raciais e mais importante o pensamento supremacista branco em geral requer de todos nós um olhar crítico sobre o que aprendemos na infância acerca da natureza da raça Essas impressões iniciais parecem marcar fundo os comportamentos relacionados à raça Em grupos de escrita em geral começamos com nossa primeira ideia consciente sobre esse assunto Explorar nossos entendimentos mais primários do que é raça facilita pensar sobre a questão do lugar de fala Ao se moverem da negação para a consciência racial pessoas brancas de repente percebem que a cultura supremacista branca as encoraja a negar seu entendimento sobre raça a reivindicar como parte de sua superioridade que estão além do pensamento sobre o assunto Ainda assim quando a negação cessa tornase nítido que por baixo da pele a maioria das pessoas tem uma consciência íntima das políticas de raça e racismo Elas aprenderam a fingir que isso não existe para assumir a postura de vulnerabilidade aprendida Passou a ser moda e por vezes lucrativo pessoas brancas em ambientes acadêmicos pensando e escrevendo sobre raça É como se o próprio ato de pensar sobre a natureza da raça e do racismo fosse ainda visto como trabalho sujo destinado às pessoas negras e outras pessoas de cor ou como forma privilegiada de ativismo de brancos e brancas pela causa antirracista Pessoas negrasde cor que falam muito sobre raça são frequentemente descritas pela mentalidade racista como indivíduos que estão apelando para a cartada da raça observe como a expressão banaliza a discussão sobre o racismo sugerindo que tudo isso é apenas um jogo ou simplesmente como neuróticos e neuróticas Pessoas brancas que falam sobre raça porém são em geral representadas como patronos como seres civilizados superiores Ainda assim suas ações são apenas outra indicação do poder supremacista branco algo do tipo Somos tão mais civilizados e inteligentes do que as pessoas negrasde cor que sabemos mais do que elas tudo o que se pode entender sobre raça O simples fato de falar sobre raça supremacia branca e racismo pode fazer com que uma pessoa seja estereotipada excluída colocada na base da cadeia alimentar no sistema existente de supremacia branca Então não é de surpreender que essa fala se torne um exercício de impotência devido à maneira como é filtrada e mediada por aqueles que detêm o poder de controlar o discurso público por meio da edição da censura dos modos de representação e da interpretação Ao passo que mais indivíduos na cultura contemporânea falam sobre raça e racismo o poder desse discurso tem sido diminuído pela reação racista que o torna trivial não raro representandoo como mera histeria Pessoas negrasde cor costumam relatar situações em que enfrentam discursos racistas em reuniões ou em outros contextos formais apenas para em seguida assistir à maioria dos presentes se apressando para consolar o indivíduo racista como se ele fosse a vítima e a pessoa que levantou a questão opressora Portanto não à toa ainda que discussões sobre supremacia branca e racismo tenham se tornado bastante comuns em produções acadêmicas individuais e em reportagens a maioria das pessoas está cautelosa se não com medo mesmo em discutir esses assuntos em grupo sobretudo entre estranhos Muita gente me diz que não compartilha aberta e sinceramente sua posição sobre o pensamento supremacista branco e racista por medo de dizer a coisa errada Mas quando essa justificativa é questionada ela geralmente se revela como um disfarce para o medo de conflito a crença de que dizer algo errado gerará tensão mágoa ou levará a um contraataque Grupos com maioria de pessoas brancas insistem que raça e racismo no fundo não significam grande coisa no mundo atual afinal estamos muito além dessa questão Então pergunto a elas por que têm tanto medo de falar o que pensam Seu medo seu silêncio censurador são indicativos da carga significativa que raça e racismo têm em nossa sociedade Uma das ironias mais amargas que os antirracistas enfrentam quando trabalham para acabar com pensamentos e ações de supremacia branca é que as pessoas que mais os disseminam são indivíduos que usualmente estão menos abertos a reconhecer que a raça importa Em quase todos os meus escritos sobre os tópicos relacionados a raça deixo nítida a preferência pelo uso do termo supremacia branca para descrever o sistema de preconceitos de raça no qual vivemos pois esse termo mais do que racismo inclui todo mundo Ele engloba pessoas negras e de cor cuja mentalidade é racista ainda que organizem o pensamento e ajam de forma diferente das pessoas brancas racistas Por exemplo uma mulher negra que internalizou o racismo talvez alise os cabelos para se parecer mais com as mulheres brancas Ainda assim essa mesma mulher pode ficar enfurecida se qualquer pessoa branca a elogiar por querer ser branca Ela talvez confronte essa pessoa por ser racista enquanto permanece em negação completa sobre sua devoção à concepção de beleza supremacista branca Pode ser tão difícil para essa pessoa superar a negação sobre seu conluio com o pensamento supremacista branco quanto é tentar criar consciência numa pessoa branca racista A maioria dos habitantes de nossa nação se opõe a atos terroristas e violentos de manifestação racista Somos uma nação de cidadãs e cidadãos que afirmam querer ver o fim do racismo da discriminação racial Está nítido porém que há uma lacuna fundamental entre teoria e prática Não é de estranhar portanto que tem sido mais fácil para todos em nossa nação aceitar um discurso crítico escrito sobre racismo que geralmente é lido apenas por aqueles que têm algum grau de privilégio educacional do que criar caminhos construtivos para falar sobre supremacia branca e racismo e encontrar ações construtivas que vão além do discurso Nos últimos anos à medida que os debates sobre raça e racismo foram aceitos em ambientes acadêmicos pessoas negrasde cor ficaram até certo ponto psicologicamente aterrorizadas com a distância bizarra entre teoria e prática Por exemplo uma professora branca bemintencionada pode escrever um livro relevante sobre intersecções entre raça e gênero mas continuar permitindo que preconceitos racistas influenciem a maneira como ela responde pessoalmente a mulheres de cor Talvez ela tenha uma noção pretensiosa de si mesma ou seja a confiança de que é antirracista sem se manter atenta às conexões que transformariam seu comportamento e não apenas seu pensamento Quando o assunto é raça e racismo muita gente um dia inocentemente acreditou que se pudéssemos mudar a maneira de pensar das pessoas mudaríamos o comportamento delas Normalmente esse não tem sido o caso Mas não devemos nos desmotivar por isso Em uma cultura de dominação quase todo mundo reproduz comportamentos que contradizem suas crenças e valores É por esse motivo que alguns sociólogos e psicólogos estão escrevendo sobre a realidade de que em nossa nação as pessoas mentem cada vez mais sobre todo tipo de coisa grande e pequena Essas mentiras conduzem a modos de negação que impedem os indivíduos de distinguir fantasia de fato sonho de realidade Ainda que a vontade de ver o fim do racismo seja um aspecto positivo da nossa cultura paradoxalmente é esse desejo sincero que subjaz à persistência da falsa noção de que o racismo acabou de que esta não é uma nação supremacista branca Em nossa cultura quase todo mundo não importa a cor da pele associa a supremacia branca ao fanatismo conservador extremo com os skinheads nazistas que pregam todos os velhos estereótipos do racismo puritano Mesmo assim esses grupos extremistas raramente ameaçam nosso cotidiano São as crenças e os pressupostos supremacistas brancos menos extremos mais fáceis de disfarçar ou mascarar que mantêm e disseminam o racismo diário como forma de opressão de um grupo Uma vez que consigamos enfrentar a miríade de maneiras como o pensamento supremacista branco molda nossas percepções diárias poderemos entender por que brancos liberais comprometidos com o fim do racismo talvez mantenham crenças e concepções cuja raiz está na supremacia branca Podemos também encarar o modo como pessoas negrasde cor consciente ou inconscientemente internalizam o pensamento supremacista branco Em uma aula que dei nos últimos tempos debatemos sobre uma palestra minha em que muitos estudantes brancos expressaram com vaias seu desprezo pelas ideias que expus e pela minha presença Desafiei o grupo a considerar que o que eu estava dizendo não era tão perturbador para eles quanto a minha presença incorporada em uma aparência jovem de uma mulher negra com cabelos naturais trançados Eu mal havia terminado esse comentário quando um homem branco liberal membro daquele grupo atacou dizendo Você está apelando para a cartada da raça A resposta defensiva e imediata dele é a reação costumeira quando uma pessoa negrade cor faz um comentário sobre a dinâmica diária de raça e racismo sexo e sexismo que não condiz com as percepções privilegiadas de pessoas brancas Entender o grau em que o privilégio de classe intervém em percepções sobre raça e as molda é vital para qualquer discurso público sobre esse assunto porque as pessoas mais privilegiadas de nossa nação sobretudo com poder de classe muitas vezes são as menos abertas a falar honestamente sobre preconceitos raciais Trabalhadores e trabalhadoras brancos costumam falar com bastante eloquência sobre como pressupostos racistas alimentam nossas percepções e ações todos os dias enquanto pessoas brancas vindas de classes privilegiadas continuam na dança da negação fingindo que privilégios de classe compartilhados intervêm ou transformam o racismo Expliquei ao grupo que uma das manifestações da vida cotidiana em um patriarcado supremacista branco capitalista imperialista é que a vasta maioria das pessoas brancas tem pouca intimidade com pessoas negras e raramente está em situações em que precisa ouvir pessoas negras sobretudo mulheres negras falando por trinta minutos De fato não existiam professores negros nem quando eu era aluna da graduação em inglês nem quando era estudante da pósgraduação Não me ocorreu procurar professoras negras em outras disciplinas Eu aceitava essa ausência Compartilhei com a turma que no meu cotidiano como integrante das classes mais altas morando sozinha num bairro predominantemente branco e trabalhando em ambientes predominantemente brancos tenho pouco contato orgânico com mulheres negras Se eu quisesse falar com elas ou ouvilas teria de me esforçar E eis aqui um homem branco de classe alta vivendo em um mundo predominantemente branco dizendo que homens brancos não têm dificuldade de ouvir mulheres negras dando uma aula a eles expressando crenças e valores que colidem com os seus Pedi ao grupo para refletir sobre o motivo de a resposta às minhas ideias iniciais sobre como é raro pessoas brancas precisarem ouvir mulheres negras não ter sido esta Meu deus Nunca tinha pensado sobre como a raça determina a quem ouvimos a quem aceitamos como autoridade Teria sido interessante se o colega branco que discordou de mim com tanta veemência mantivesse seus comentários até o momento em que dedicasse ao assunto a atenção devida e fosse capaz de apresentar razões coerentes para discordar da minha afirmação Ao me avaliar ou seja sugerindo que eu estava sendo falsa e apelando para a cartada da raça ele evitou ter de apresentar razões fundamentadas em fatos eou experiências que ele interpretou de maneira diferente de mim A resposta dele personalizou uma observação que não considero pessoal Dada a natureza do patriarcado supremacista branco capitalista imperialista como um sistema que molda a cultura e as crenças é fato que a maioria das pessoas brancas raramente está se é que está em algum momento em situações em que precise ouvir mulheres negras falando Mesmo as pessoas brancas que têm trabalhadoras domésticas negras em casa diariamente não as escutam falar Essa realidade foi dramatizada em Imitação da vida sucesso de bilheteria do fim da década de 1950 No filme Lora mulher branca e rica vai ao funeral de sua empregada negra Annie e fica impressionada com o fato de que Annie tinha amigos era bastante querida na igreja e tudo o mais Certamente as biografias e autobiografias das mulheres brancas que foram criadas por empregadas negras são carregadas de testemunhos sobre o fato de que elas não dialogavam com essas mulheres não as ouviam contar suas histórias nem compartilhar informações Vivemos em um mundo de privilégio de classe que permanece não democrático e discriminatório de tal maneira que as pessoas negras de classe alta em ambientes brancos ficam isoladas e precisam se esforçar para ouvir mulheres negras conversando eou palestrando por trinta minutos Meu relato sincero desse evento foi uma intervenção importante que criou uma pausa na cabeça daqueles estudantes que não estavam com a mente fechada Eles puderam refletir sobre meus comentários e relacionálos à própria vida Puderam se questionar A quem eu escuto ou As palavras de quem valorizo Citei Oprah Winfrey como exemplo de mulher negra que todos os dias comanda a atenção de uma multidão de pessoas brancas ainda assim o papel dela é geralmente de comentarista Ela escuta e interpreta o discurso dos outros É raro que ela expresse sua opinião pessoal sobre um assunto por mais do que alguns minutos quando o faz De muitas formas ela é vista pelo imaginário racista como uma empregada domésticamammy 10 nada diferente de Annie em Imitação da vida cujo maior objetivo é garantir que pessoas brancas possam ter a melhor vida possível Lembremse de que por quinze anos em todos os natais Annie dava ao velho leiteiro seu dinheiro suado fingindo que tinha vindo da mulher branca rica e egoísta Esse era o jeito de Annie ensinar por meio do exemplo A motivação dela é tornar Lora uma pessoa melhor e obviamente ao fazer isso ela revela a pessoa boa que é Annie é a mulher negra que sabe que seu papel é ser subordinada e servir ela serve com complacência dignidade e graça Não confronta a senhora branca com ideias e perspectivas críticas que as mulheres brancas não querem ouvir Esse é o modelo que o imaginário racista e sexista reserva às mulheres negras Esse modelo é reproduzido atualmente em quase toda representação hollywoodiana de mulheres negras Não é de estranhar então que muitas pessoas brancas achem difícil ouvir uma mulher negra crítica falando de ideias e opiniões que ameaçam seu sistema de crenças No debate em sala de aula alguém ressaltou que um homem branco poderoso dera uma palestra semelhante mas não recebeu críticas verbais negativas nem desdenhosas Não que os ouvintes tenham concordado com o que ele disse eles acreditavam que ele tinha direito de expressar seu ponto de vista É comum que estejamos em ambientes em que somos as únicas pessoas negrasde cor presentes Em tais contextos pessoas brancas sem consciência muitas vezes nos tratam como se fossem anfitriãs e nós convidadas Agem como se nossa presença fosse muito mais uma caridade filantrópica do que consequência de nosso talento atitude e genialidade Pensando dessa forma veem nossa presença sobretudo como prova de sua generosidade isso dio ao mundo que elas não são racistas No entanto a própria noção de que estamos lá para servilas é em si expressão do pensamento supremacista branco No cerne do pensamento supremacista branco nos Estados Unidos e em qualquer outro lugar está o pressuposto de que é natural para as raças inferiores pessoas mais escuras servir às raças superiores em sociedades onde não há pessoas brancas pessoas de pele mais clara devem servir por pessoas de pele mais escura Imbuída nessa noção de servidão está a ideia de que não importa o status da pessoa de cor sua posição precisa ser reconfigurada para o bem da branquitude Esse foi um dos aspectos do pensamento supremacista branco que tornaram a integração racial e a diversidade palatáveis para pessoas brancas Para elas a integração significava ter acesso a pessoas de cor que dariam um tempero a mais à sua vida o tipo de serviço que denominaríamos performance do exotismo ou proporcionariam as ferramentas necessárias para perpetuar a dominação baseada em raça por exemplo estudantes universitários de origem branca e privilegiada que viajam ao Terceiro Mundo para aprender espanhol ou suaíli por diversão mas depois essa habilidade se revela útil na busca por um emprego Repetidas vezes em sala de aula estudantes brancos se preparavam para estudar ou viver por um breve período em países não brancos falavam das pessoas desses lugares como se elas existissem apenas para incrementar a experiência branca De fato essa visão não difere daquela que crianças brancas absorviam assistindo na tv ao seriado racista Tarzan tornese nativo e melhore sua vida O poeta da geração beat Jack Kerouac expressou seus sentimentos de um jeito bem moderno O melhor que o mundo branco me ofereceu não foi suficientemente arrebatador para mim Assim como muitos brancos não conscientes na maioria liberais viam e veem suas interações com pessoas de cor por meio de ações afirmativas como um investimento que vai melhorar sua vida ou até mesmo aumentar sua superioridade orgânica muitas pessoas de cor formadas na arte do pensamento supremacista branco internalizado compartilham dessa concepção A escritora chinesa Anchee Min capturou muito bem a essência dessa exaltação à branquitude em Katherine romance sobre uma jovem professora branca que vai à China carregada de um sedutor imperialismo cultural Ao descrever a um de seus estudantes sua percepção de que os chineses são pessoas cruéis certamente esse era um dos estereótipos racistas na América préséculo xx ela provoca a admiração de um de seus pupilos chineses que confessa O jeito de pensar me tocou Era algo que eu havia esquecido ou que talvez nunca soubesse Era flor às pétalas do meu coração amargurado Uma flor que eu não sabia existir começou a desabrochar dentro de mim Katherine estendeu minha vida para além de suas circunstâncias Foi o tipo de pureza que preservou que me emocionou A mulher branca como símbolo de pureza continua a dominar o imaginário racista globalmente Nos Estados Unidos Hollywood segue projetando essa imagem usandoa para afirmar e reaffirmar o poder da supremacia branca Quando pessoas de cor tentam intervir de forma crítica e se opor à supremacia branca sobretudo em torno do assunto da representação quase sempre somos colocados de lado como quem está forçando uma visão politicamente correta restrita ou apenas somos rotulados como malhumorados Escrevendo sobre apropriação cultural em English is Broken Here Aqui o inglês é precário Coco Fusco explica Eu e muitos outros criados num contexto de ações afirmativas fomos socializados para identificar o racismo como característica exclusiva de pessoas ignorantes e reacionárias e sobretudo velhas e isso funcionou para desviar nossa atenção de como a branquitude funciona no presente Abordar o espectro do racismo não aqui e agora sugerir que apesar de suas crenças políticas e orientações sexuais pessoas brancas atuam dentro das estruturas sociais de supremacia branca e se beneficiam delas ainda equivale a uma declaração de guerra Quando a supremacia branca é desafiada e enfrenta resistência pessoas de cor e nossos aliados de luta enfrentam a censura que emerge quando os detentores do poder de dominação nos dizem Você é radical você que é racista está apelando para a cartada da raça É evidente que a ironia está justamente no fato de que não nos foi permitido jogar com a raça somos apenas peões nas mãos daqueles que inventam os jogos e determinam as regras Toda pessoa negra e de cor é conivente com o sistema em voga de maneiras sutis todos os dias mesmo aquelas entre nós que se veem como antirracistas radicais Essa cumplicidade acontece simplesmente porque somos todos produtos da cultura em que vivemos e fomos todos sujeitos às formas de socialização e aculturamento consideradas normais em nossa sociedade Ao cultivar a consciência e a descolonização do pensamento conseguimos as ferramentas para romper com o modelo dominador da sociabilidade humana e do desejo de imaginar novas e diferentes formas de as pessoas se unirem Martin Luther King imaginou uma comunidade amorosa criando uma concepção de mundo onde as pessoas se conectariam com base na humanidade compartilhada Sua percepção permanece King nos ensinou que o simples ato de se unir fortaleceria a comunidade No entanto antes de ser assassinado ele começava a perceber que desaprender o racismo exigiria mudança tanto de pensamento quanto de ação e que as pessoas poderiam concordar em se unir independentemente da raça mas não formariam uma comunidade Construir comunidade exige uma consciência vigilante do trabalho que precisamos fazer continuamente para enfraquecer toda socialização que nos leva a ter um comportamento que perpetua a dominação Um corpus em teoria crítica hoje está disponível para explicar a dinâmica do racismo e do pensamento supremacista branco Mas apenas explicações não nos levam à prática da comunidade amorosa Quando tomamos a teoria as explicações e as aplicamos concretamente à vida cotidiana às experiências ampliamos e aprofundamos a prática da transformação antirracista Em vez de apenas aceitar que o poder de classe muitas vezes me situa em um mundo onde tenho pouco ou nenhum contato com outras pessoas negras sobretudo indivíduos de classes desprivilegiadas eu como pessoa negra com privilégio de classe posso ativamente buscar essas relações Na maioria das vezes preciso me esforçar para ampliar meu universo social Nos últimos anos pessoas brancas conhecidas que sempre se viram como antirracistas adotaram crianças de cor e perceberam o que deveria ser evidente que não tinham amizades íntimas com pessoas de cor Elas precisam fazer uma desconstrução ativa de seu pensamento supremacista branco que diz que você é superior devido à branquitude e portanto mais bem preparado para criar uma criança não branca do que qualquer pessoa de cor procurando criar relações com maior diversidade racial Recorrentemente noto pessoas brancas conhecidas desaprendendo a supremacia conforme se conscientizam de que têm pouco contato com pessoas não brancas elas abrem os olhos e enxergam que sempre existiram pessoas não brancas ao redor que elas não tinham visto quando sua percepção estava bloqueada pelo privilégio branco vindo de instituições racistas Repetidas vezes faço trabalhos antirracistas em faculdades de artes que dizem ser exclusivamente brancas e então descubro que os funcionários da equipe de suporte e de serviço na maioria são pessoas não brancas A presença de pessoas negrasde cor que não são vistas como companheiras de classe é facilmente ignorada em um contexto em que a identidade privilegiada é a branca Quando paramos de pensar e de avaliar pelos parâmetros da hierarquia e conseguimos valorizar todos os membros de uma comunidade rompemos uma cultura de dominação A supremacia branca é restabelecida com facilidade quando as pessoas descrevem comunidades de estudantes e faculdades como exclusivamente brancas em vez de afirmar sua diversidade mesmo que esteja evidente apenas pela presença de poucos indivíduos O trabalho antirracista requer de todos nós vigilância sobre as maneiras como usamos a linguagem O pensamento excludente é importante para a manutenção do racismo e de outras formas de opressão de grupo Sempre que usamos a lógica inclusiva ambose estamos mais bem situados em construir comunidade Imagine a diferença em um campus escuto que as pessoas brancas continuam sendo o maior grupo mas tornamse diversas devido à presença de pessoas não brancas e que a maioria deseja diversidade Em outro campus escuto que somos todos brancos o que nega o valor da presença de pessoas de cor não importando quão reduzido esse grupo seja A linguagem que usamos para expressar essas ideias em um primeiro momento é incômoda mas quando adotamos uma linguagem mais inclusiva e normalizamos seu uso esse desconforto diminui Muitos pensamentos e ações de supremacia branca que inconscientemente aprendemos vêm à tona em comportamentos habituais Portanto é desse comportamento que devemos nos tornar conscientes e precisamos trabalhar para transformálo Por exemplo muitas mães negras me perguntam o que fazer quando seus filhos chegam da escola dizendo que querem ser transformados em pessoas brancas Em geral essas mulheres compartilham que fizeram tudo para estimular o amor pela negritude No entanto em todos os casos elas procuram mudar a própria aparência para parecer mais claras ou alisam os cabelos Em todos os casos a pessoa resiste à ideia de que a criança enxerga sua hipocrisia de que essa criança parte do seguinte pressuposto Se eu não consigo ser vista como uma pessoa bonita aceitável e digna nem por minha mãe então aquele mundo mais amplo que todos os dias me diz que branco é melhor deve estar certo Essa é a citação exata de uma linda aluna negra com aproximadamente vinte anos que compartilhou ser isso que ela costumava dizer a si mesma E já adulta quando pessoas dizem o quanto ela é bonita essa é a mensagem que sua voz interior transmite como lembrete Mesmo que muitos estudiosos e intelectuais ridicularizem a autoajuda é uma área importante no processo de autorrecuperação para as mentes racialmente colonizadas Falar todos os dias em voz alta afirmações que mudem mensagens tóxicas há muito tempo internalizadas é uma estratégia útil para limpar a mente Isso promove uma consciência vigilante sobre os modos pelos quais o pensamento supremacista branco diariamente codificado no mundo da propaganda em comerciais imagens de revista etc entra em nosso sistema e nos dá poder para romper seu domínio sobre nossa consciência Quando decidi escrever livros sobre amor assumi que meu público seria composto por leitores de qualquer raça que estivessem interessados pelo tema Contudo quando negociei com quem toma as decisões no mercado editorial pediram que eu identificasse qual público seria Explicaram que poderia ser difícil atrair leitores brancos pois eles me associavam à libertação negra Acreditei que poderia transcender o consumo baseado em raça que é a norma em nossa sociedade Se um filme tem apenas personagens brancos presumese que será promovido para todos os consumidores ele é para todo mundo No entanto se o filme tem apenas personagens negros percebese que é direcionado apenas aos espectadores negros Quando escrevi Tudo sobre o amor novas perspectivas nunca identifiquei minha raça no livro apesar de a foto na quarta capa mostrar minha cor porque eu queria demonstrar com esse gesto que autores negros que escrevem especificamente sobre raça nem sempre estão apenas interessados nesse assunto Queria mostrar que somos todos pensadores complexos que podem ser tanto específicos em seu foco quanto universais O pensamento excludente que está no coração da supremacia branca baseada no dualismo metafísico ocidental ensina que as pessoas precisam escolher gostar ou de imagens negras ou de imagens brancas ou ainda enxergar os livros escritos por pessoas brancas como destinados ao público geral e livros escritos por pessoas negras destinados apenas a pessoas negras A natureza inclusiva do pensamento ambose nos permite ser pessoas inclusivas Quando criança nunca pensei que Emily Dickinson tivesse escrito seus poemas apenas para leitores brancos e ela foi de fato a primeira poeta cujo trabalho amei Mais tarde quando li o trabalho de Langston Hughes nunca pensei que ele estivesse escrevendo apenas para leitores negros Ambos os poetas escreveram sobre o mundo que conheciam mais intimamente Conforme se intensificou minha consciência sobre o modo como o pensamento supremacista branco molda até mesmo as escolhas de quais livros lemos dos livros com os quais queremos enfeitar a mesa de centro desenvolvi estratégias de resistência Meu segundo livro sobre amor Salvation Black People and Love Salvação pessoas negras e o amor retratava especificamente as experiências de pessoas negras e então precisei questionar o uso da expressão black love amor negro por leitores brancos e negros Precisei explicar que estava falando sobre as mesmas ideias de amor sobre as quais escrevi no primeiro livro que ninguém disse ser um livro sobre amor branco mas agora com foco no impacto que aqueles modos de pensar sobre amor tiveram na consciência de pessoas negras O pressuposto de que branquitude engloba o que é universal e portanto é para todo mundo enquanto negritude é específica e portanto é apenas para pessoas negras é pensamento supremacista branco Ainda assim muitas pessoas liberais junto com seus companheiros mais conservadores pensam dessa forma não porque sejam pessoas más nem porque conscientemente escolheram ser racistas mas porque inconscientemente aprenderam a pensar dessa maneira Esse tipo de pensamento como muitos outros padrões de pensamento e ação que ajudam a disseminar e a manter a supremacia branca pode facilmente ser desaprendido Trinta anos de conversas sobre racismo e supremacia branca dando palestras e promovendo oficinas antirracistas me mostraram como é fácil para indivíduos mudar pensamentos e ações quando se tornam conscientes e quando desejam usar aquela consciência para alterar comportamentos A reação da supremacia branca que buscou eliminar tanto o legado dos direitos civis quanto o foco sobre a teoria crítica de raça e suas práticas continua a forçar a noção de que o pensamento racista sobretudo em mentes brancas não pode ser alterado Isso não é verdade Mas essa falsa concepção ganhou destaque porque não tem havido demonstrações coletivas das massas de pessoas brancas de que elas estejam prontas para acabar com a dominação baseada em raça sobretudo quando se trata da manifestação diária do pensamento supremacista branco do poder branco Nitidamente o indicador mais poderoso de que pessoas brancas gostariam de ver o racismo estrutural acabar foi o apoio generalizado da sociedade ao fim da segregação e à integração Entretanto o fato de que muitas pessoas brancas não associaram esse apoio ao fim das ações diárias do pensamento supremacista branco tem ajudado o racismo a dominar nossa cultura Para romper esse domínio precisamos de um ativismo antirracista contínuo Precisamos gerar uma consciência cultural maior sobre a dinâmica do pensamento supremacista branco no cotidiano Precisamos aprender com as pessoas que sabem porque elas têm vivido uma vida antirracista o que todo mundo pode fazer para descolonizar a mente para manter a consciência mudar o comportamento e criar uma comunidade amorosa ensinamento 4 educação democrática Professores dotados de visão democrática sobre a educação assumem que esse aprendizado nunca está confinado apenas à sala de aula institucionalizada Em vez de incorporar a falsa concepção de que a universidade não é o mundo real e ensinar de acordo com isso o educador democrático libertase da falsa ideia da universidade corporativa como ambiente à parte da vida real e procura repensar o ensino como elemento permanente da experiência de mundo e da vida real Quando incorporamos o conceito de educação democrática passamos a enxergar ensino e aprendizagem como constantes Compartilhamos o conhecimento obtido em salas de aula para além daquele espaço trabalhando portanto para desafiar a concepção de que certas formas de saber são sempre e somente acessíveis à elite Quando os professores apoiam a educação democrática automaticamente apoiam a difusão do letramento Garantir o letramento é a conexão vital entre o sistema público de ensino e o ambiente universitário A escola pública é a formação educacional necessária para todo mundo é dela a tarefa de ensinar estudantes a ler e escrever e com sorte a se engajar em alguma forma de pensamento crítico Assim todas as pessoas que sabem ler e escrever têm as ferramentas necessárias para acessar um aprendizado superior mesmo que ele não possa acontecer e mesmo que de fato não aconteça em um ambiente universitário Nosso governo ao exigir a frequência em escolas públicas defende as políticas públicas que apoiam a educação democrática Mas o preconceito elitista de classe quanto ao modo como o conhecimento é transmitido costuma dizer aos estudantes nesses contextos que eles não serão aprendizes sofisticados se não fizerem faculdade Isso significa que muitos interrompem a prática da aprendizagem porque sentem que aprender não é mais relevante para a vida deles depois que se formam no ensino médio a menos que planejem cursar uma faculdade Na escola pública aprenderam que a faculdade não é o mundo real que o aprendizado da teoria lá oferecido não tem relevância no mundo além dos muros da universidade Mesmo que todo o conhecimento vindo dos livros adotados nas faculdades seja acessível a qualquer leitorpensador independentemente de frequentar ou não as aulas as fronteiras de classe solidamente construídas mantêm a maioria das pessoas formadas no ensino médio que não estão matriculadas no ensino superior bem longe da formação continuada Mesmo os estudantes universitários que recebem diploma de graduação e saem do ambiente da faculdade para entrar no mercado de trabalho tendem a parar de estudar baseando suas ações na falsa premissa de que o que se aprende nos livros tem pouca relevância para a sua nova rotina como trabalhadores É impressionante que muitos graduados nunca mais leiam um livro depois de se formar E se leem não estudam mais Para trazer uma mentalidade estudiosa ao processo de aprendizagem que acontece dentro e fora da sala de aula é necessário compreender o conhecimento como experiência que enriquece a vida integralmente Citando O único e eterno rei a série de livros de T H White Parker Palmer honra a sabedoria que Merlin o mágico oferece quando afirma A melhor coisa a fazer quando se está triste é aprender algo Essa é a única coisa que nunca falha Aprender por que o mundo gira e o que o faz girar Essa é a única coisa da qual a mente não pode jamais se cansar nem se alienar nem se torturar nem temer ou descrer e nunca sonhar em se arrepender Aprender é o que lhe resta Parker acrescenta a essa declaração seu próprio entendimento vital de que a educação em sua melhor forma essa profunda transação humana chamada ensino e aprendizagem não está relacionada apenas a adquirir informação ou a conseguir um emprego Educação tem a ver com cura e plenitude Está relacionada com empoderamento libertação transcendência renova a vitalidade Diz respeito a encontrar e reivindicar nossa existência e nosso lugar no mundo Uma vez que nosso lugar no mundo está sempre mudando precisamos aprender constantemente a estar presentes no agora Se não estamos engajados por completo no presente ficamos presos ao passado e nossa capacidade de aprender diminui Educadores que se desafiam a ensinar para além do ambiente de sala de aula a se deslocar pelo mundo compartilhando conhecimento aprendem diversas maneiras de transmitir informação Essa é uma das habilidades mais valiosas que qualquer professor pode adquirir Pela prática vigilante aprendemos a usar a linguagem capaz de dialogar com o cerne da questão independentemente do ambiente de ensino em que nos encontremos Quando professores universitários que são educadores democráticos compartilham conhecimento fora da sala de aula nosso trabalho afasta a noção de que acadêmicos não têm contato com o mundo externo aos sagrados salões da academia É nossa tarefa abrir o espaço de aprendizagem para que ele possa ser mais inclusivo além de sempre nos desafiar a fortalecer nossas habilidades de ensino Essas práticas progressistas são vitais para manter a educação democrática tanto na sala de aula quanto fora dela Práticas autoritárias promovidas e encorajadas por muitas instituições enfraquecem a educação democrática na sala de aula Ao atacar a educação como prática da liberdade o autoritarismo na sala de aula desumaniza e com isso apaga a mágica que está sempre presente quando os indivíduos são aprendizes ativos Isso tira a graça do estudo o torna repressivo e opressivo Professores autoritários comumente investem na ideia de que são os únicos profissionais sérios enquanto educadores democráticos são com frequência estereotipados pelos colegas mais conservadores como não rigorosos ou fora do padrão Esse é o caso sobretudo quando educadores democráticos tentam criar uma atmosfera prazerosa na prática de sala de aula Em À sombra desta mangueira Paulo Freire argumenta que educadores democráticos devem fazer de tudo em favor da criação de um clima na sala de aula em que ensinar aprender estudar são atos sérios demandantes mas também provocadores de alegria E mais adiante afirma Só para a mente autoritária é que o ato de ensinar de aprender de estudar são tarefas enfadonhas mas necessárias Para educadores e educadoras democráticos o ato de ensinar de aprender de estudar são que fazeres exigentes sérios que não apenas provocam contentamento mas que já são em si alegres A satisfação com que se põe em face dos alunos a segurança com que lhes fala a abertura com que os ouve a justiça com que lida com seus problemas fazem do educador democrata um modelo Sua autoridade se afirma sem desrespeitar as liberdades E é porque respeita as liberdades que estas a respeitam Com seus hábitos educadores democráticos mostram que não se envolvem em formas de cisão psicológica socialmente aceitas segundo as quais alguém ensina apenas na sala de aula e depois age como se o conhecimento não fosse significativo em outros ambientes Quando isso é transmitido aos estudantes eles conseguem vivenciar a aprendizagem como um processo completo não como uma prática restrita que os desconecta e os aliena do mundo O diálogo é o espaço central da pedagogia para o educador democrático Conversar para compartilhar informações e trocar ideias é a prática que tanto dentro quanto fora do ambiente acadêmico afirma que o aprendizado pode ocorrer em durações variadas podemos dividir e aprender muito em cinco minutos e que o conhecimento pode ser compartilhado em diferentes registros de discurso Embora dialetos e variações regionais de linguagem raramente sejam usados por professores em sala de aula esses registros podem ser o principal modo de trocar conhecimentos em outros ambientes Quando espaços educacionais se tornam lugares cujo objetivo central é o ensino de costumes burgueses o registro informal e a linguagem que foge à norma culta do idioma não são valorizados na verdade são abertamente desprezados Ainda que reconheça o valor do idioma padrão o educador democrático também valoriza a diversidade da linguagem Por exemplo estudantes que falam o inglês padrão mas para os quais o inglês é a segunda língua são fortalecidos em sua autoestima bilíngue quando seu idioma materno é valorizado em sala de aula Essa valorização pode ocorrer quando professores e professoras incorporam práticas de ensino que honram a diversidade resistindo à tendência tradicional de manter os valores do dominador no ensino superior Como educadores democráticos temos de trabalhar para encontrar maneiras de ensinar e compartilhar conhecimento de modo a não reforçar estruturas existentes de dominação aquelas hierarquias de raça gênero classe e religião A diversidade de discursos e de presenças pode ser bastante valorizada como um recurso que intensifica qualquer experiência de aprendizado Nos últimos anos todos temos sido desafiados como educadores e educadoras a examinar os modos como apoiamos seja consciente ou inconscientemente as estruturas de dominação existentes E somos todos encorajados por educadores democráticos a nos tornar mais atentos a fazer escolhas mais conscientes Talvez involuntariamente estejamos conspirando com as estruturas de dominação por conta do modo como o aprendizado é organizado nas instituições Ou talvez possamos reunir material de ensino que não seja preconceituoso e ainda assim apresentálo de maneira tendenciosa reforçando as hierarquias opressivas existentes Sem movimentos contemporâneos por justiça social em nossa nação a educação progressista tornase ainda mais importante já que talvez seja o único lugar em que as pessoas possam encontrar apoio para adquirir consciência crítica para se comprometer com o fim da dominação Os dois movimentos por justiça social que têm tido o maior impacto transformador em nossa cultura são a luta antirracista e o movimento feminista Por entender que os movimentos por ativismo tendem a perder força uma vez que os direitos civis são conquistados ambos trabalharam para criar lugares de estudo acadêmico com o intuito de que uma abordagem não tendenciosa do conhecimento e do aprendizado fosse legitimada no ambiente escolar e universitário agindo ao mesmo tempo como catalisadora capaz de transformar cada disciplina acadêmica O aprendizado portanto serviria para educar os estudantes para a prática da liberdade e não para sustentar as estruturas de dominação existentes Todo estudo progressista sobre raça e gênero desenvolvido nas universidades tem impacto significativo para muito além do espaço acadêmico Educadores democráticos que defenderam acabar com as metodologias de ensino preconceituosas diminuíram a distância entre o mundo acadêmico e o chamado mundo real Muito antes de as escolas progressistas se interessarem pelas temáticas de raça ou gênero e de diversidade ou multiculturalismo grandes empresas reconheceram a necessidade de ensinar seus funcionários sobretudo os negociadores cuja tarefa era criar mercados ao redor do mundo sobre diferenças e outras culturas Obviamente o fundamento dessa abordagem não era ensinar como acabar com a dominação mas promover os interesses do mercado Ainda assim tanto conservadores quanto liberais reconheceram a necessidade de mostrar aos estudantes perspectivas que incluíam o reconhecimento de diferentes formas de saber No rescaldo dessa mudança gerada pelas preocupações capitalistas de manter o poder em um mercado global ativistas antirracistas e antissexistas conseguiram influenciar um questionamento dos modos como noções imperialistas de supremacia branca e de nacionalismo implantavam preconceitos nos materiais didáticos nas diferentes práticas pedagógicas e nas estratégias dos educadores O discurso acadêmico tanto o escrito quanto o falado sobre raça e racismo sobre gênero e feminismo fez uma grande intervenção conectando lutas por justiça externas à academia com os modos de saber de dentro dela E isso foi realmente revolucionário As instituições educacionais que foram fundadas nos princípios da exclusão o pressuposto de que os valores que defendem e mantêm o patriarcado supremacista branco capitalista imperialista são verdadeiros começaram a refletir sobre a realidade dos preconceitos e a discutir o valor da inclusão Ainda assim muitos apoiavam a inclusão apenas quando as diversas formas de saber eram ensinadas como subordinadas às formas de saber superiores caracterizadas pelo dualismo metafísico ocidental e sua cultura do dominador A fim de se opor a essa abordagem distorcida sobre inclusão e diversidade educadores democráticos ressaltaram o valor do pluralismo No artigo Commitment and Openness A Contemplative Approach to Pluralism Comprometimento e abertura uma abordagem contemplativa ao pluralismo Judith Simmer Brown explica Pluralismo não é diversidade Diversidade é um fato da vida moderna sobretudo nos Estados Unidos Há diferenças enormes em nossas comunidades relacionadas à ética à raça e à religiosidade Diversidade sugere a existência dessas diferenças Pluralismo por outro lado é uma resposta à existência da diversidade No pluralismo nos comprometemos a nos engajar com a outra pessoa ou com a outra comunidade Pluralismo é um compromisso de se comunicar e de se relacionar com o mundo maior com um vizinho muito diferente ou uma comunidade distante Muitos educadores abraçam a ideia da diversidade enquanto resistem ao pluralismo ou a qualquer outro pensamento que sugira que eles não devem mais defender a cultura dominadora As ações afirmativas tinham como objetivo promover maior diversidade e eram pelo menos em teoria uma prática positiva de reparação uma forma de proporcionar acesso aos grupos aos quais foram negados educação e outros direitos por causa da opressão fundamentada em grupos sociais Apesar das várias falhas as ações afirmativas conseguiram quebrar as barreiras à inclusão racial e de gênero beneficiando principalmente as mulheres brancas Conforme nossas escolas se tornaram mais diversas professores e professoras viram seus valores mais profundos serem desafiados Velhas ideias sobre estudar os trabalhos de outras pessoas a fim de achar nossas próprias teorias e defendêlas foram e estão sendo constantemente desafiadas SimmerBrown oferece a percepção útil de que esse modo de aprendizado não nos permite aceitar ambiguidade e incerteza Como educadoras e educadores uma das melhores coisas que podemos fazer por nossos estudantes é não os forçar a se ater a teorias e conceitos sólidos mas em vez disso encorajar o processo os questionamentos envolvidos e os momentos de não saber com todas as incertezas inerentes a essa dinâmica Isso é o que nos dá apoio para ir fundo Isso é abertura Quando eu trabalhava com professores de uma das principais faculdades de artes para ajudálos a desaprender formas de educação do dominador escutei homens brancos verbalizarem sentimentos de medo e incerteza sobre abdicar de modelos já conhecidos Embora eles estivessem dispostos a aceitar o desafio da transformação ainda assim estavam temerosos porque simplesmente não sabiam qual seria a fonte de seu poder se não pudessem mais contar com uma noção racializada e genderizada de autoridade para manter aquele poder A honestidade deles nos ajudou a imaginar e articular quais poderiam ser os resultados positivos de uma abordagem pluralista de aprendizado Um dos efeitos mais positivos é o comprometimento com a abertura radical a disposição para explorar diferentes perspectivas e mudar a mente conforme novas ideias são apresentadas Ao longo da minha carreira como educadora democrática conheci vários estudantes brilhantes que buscam educação que sonham em trabalhar a serviço da liberdade que se desesperam ou se desmotivam completamente porque faculdades e universidades estão estruturadas de uma forma que os desumaniza que os desvia do espírito de comunidade no qual anseiam viver Com muita frequência esses estudantes sobretudo aqueles talentosos não brancos de origens sociais diversas desistem de ter esperança Eles têm baixo desempenho nos estudos Assumem o papel de vítima Falham Abandonam as aulas A maioria não foi orientada sobre como encontrar o próprio caminho em um sistema educacional que apesar de estruturado para manter a dominação não é fechado e portanto tem dentro dele subculturas de resistência em que a educação como prática da liberdade ainda acontece Muitos desses estudantes talentosos não encontram essas subculturas nem os educadores democráticos que poderiam ajudálos a achar o caminho Eles perdem a paixão Por mais de trinta anos testemunhei estudantes que não querem ser educados para serem opressores chegarem perto da graduação e então se autossabotarem São estudantes que abandonam a faculdade faltando apenas um semestre ou uma disciplina Às vezes são pósgraduandos brilhantes mas que nunca escreveram a dissertação Temerosos de que não serão capazes de manter a fé de que não se tornarão educadores democráticos temerosos de que entrarão no sistema e se transformarão nele eles vão embora A educação competitiva raramente funciona para estudantes que foram socializados para valorizar o trabalho voltado para o bem da comunidade Isso os dilacera os deixa arrasados Eles vivenciam níveis de desconexão e fragmentação capazes de destruir todo o prazer de aprender São esses alunos e alunas que mais precisam da orientação influente de um educador democrático Ao criar uma comunidade de aprendizado que valorize o todo acima da divisão da desassociação da separação o educador democrático empenha se para criar proximidade Palmer chama isso de intimidade que não aniquila a diferença Como uma estudante que chegou à graduação e à pós graduação por meio dos movimentos radicais por justiça social que abriram um espaço que havia sido fechado aprendi a agarrar a comunidade onde eu a encontrasse criando laços a partir de raça gênero classe e experiência religiosa para salvar e proteger a parte de mim que queria permanecer em um mundo acadêmico que queria escolher uma vida intelectual Os laços que criei foram com pessoas que como eu valorizavam o aprendizado como fim em si e não como meio de atingir outro objetivo mobilidade social poder status Nós sabíamos que independentemente de estar em um ambiente acadêmico continuaríamos a estudar a aprender a educar