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Psicologia ·

Gestão Adequada de Conflitos

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Curso de Especialização em Formação de Educadores para a Educação Básica Luciana de Lima Oliveira Ferreira O USO DA COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA COMO POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS ENTRE OS ESTUDANTES Belo Horizonte 2019 LUCIANA DE LIMA OLIVEIRA FERREIRA O USO DA COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA COMO POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS ENTRE OS ESTUDANTES Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Especialização em Formação de Educadores para Educação Básica da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Coordenação Pedagógica Sujeitos e Práticas no Cotidiano Escolar Orientadora Profª Danielle Alves Martins Belo Horizonte 2019 F383 TCC Ferreira Luciana de Lima Oliveira 1978 O uso da comunicação não violenta como possibilidade de intervenção nas relações interpessoais entre os estudantes manuscrito Luciana de Lima Oliveira Ferreira Belo Horizonte 2019 46 f Orientadora Danielle Alves Martins Trabalho de conclusão de curso Especialização Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação Inclui bibliografia 1 Interação social 2 Ambiente de sala de aula 3 Análise de interação em educação 4 Comunicação interpessoal 5 Conflito interpessoal 6 Professores e alunos I Martins Danielle Alves II Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educação III Título CDD 3711023 Catalogação na Fonte Biblioteca da FaEUFMG Bibliotecária Carmen Lúcia de Carvalho Ramos CRB6 2566 Atenção É proibida a alteração no conteúdo na forma e na diagramação gráfica da ficha catalográfica Dedico este trabalho e seus frutos a cada colega de profissão Educação se faz também com diálogo Que ao passar por suas mãos para a leitura seja despertada a curiosidade em conhecer sobre a CNV Que possamos compreender que é possível fazermos uma Educação Pública e de qualidade para nossos alunos Que consigamos entender que para a maior parte deles esta Escola é que pode fazer diferença na vida de cada um AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo Dom da Vida Pela saúde restabelecida e por me proporcionar retornar aos estudos Aos colegas de trabalho que estiveram ao meu lado neste percurso foram muitos convites recusados e muitas palavras de incentivo Obrigada a cada um A todos os professores do Laseb minha imensa gratidão Como aprendi com cada um de vocês Aos orientadores André e Danielle Fui privilegiada Tive dois Grata pela paciência e disponibilidade em ajudar Com vocês pude compreender que o que produzo deve ser compartilhado Aos colegas de sala Rimos aprendemos compartilhamos Como valeu a pena cada sábado A PBH e a SMED por proporcionar a oportunidade de formação em serviço A minha mãe pelo amor incondicional pelo cuidado e incentivo a cada dia Ao meu esposo e filhos amados obrigada por compreender a ausência nos sábados nos domingos e em muitas noites de leitura e tarefas Obrigada pela paciência nos momentos de cansaço Amo vocês Mude mas comece devagar porque a direção é mais importante que a velocidade Clarice Lispector RESUMO Este estudo tem como objetivo geral Analisar como o uso da Comunicação Não Violenta CNV na mediação de conflitos pode contribuir para a melhoria das relações interpessoais entre os estudantes O trabalho foi realizada por meio da pesquisa qualitativa a qual se desenvolveu de modo colaborativo tendo o seu enfoque no refinamento da relação aluno professor entre estudantes e docentes de uma classe de 6º do Ensino Fundamental de uma escola pública de Belo Horizonte A intervenção foi construída colaborativamente com a participação dos alunos e professores da classe e contou com a mediação da Coordenação Pedagógica durante o corrente ano letivo de 2019 Como recurso metodológico e aporte teórico bibliográfico foram empregados os círculos de conversa delineados a partir dos postulados inscritos na Justiça Restaurativa com destaque para as técnicas e princípios da Comunicação Não Violenta CNV A análise processada à luz dos resultados observados e catalogados permite entrever trajetórias formativas docentes assinaladas por diferentes paradigmas educacionais que refletem pontos de tensão na relação aluno professor Estes perpassam as concepções educacionais de aula disciplina organização e uso dos tempos e espaços escolares de modo divergente Concluise que a comunicação que pressupõe a interlocução a interatividade a participação e o protagonismo estudantil e docente na efetivação dos currículos em sala de aula é indispensável Daí a necessidade do diálogo como elemento fortalecedor da relação aluno professor Nesta perspectiva as técnicas da CNV implementadas durante a pesquisa mostraram ser ferramentas eficientes para a promoção dos diálogos necessários ao tratamento dos pontos tensionais resolução de conflitos e fortalecimento de posturas respeitosas e trato refinado na relação aluno professor Palavraschave Relação Aluno Professor Justiça Restaurativa Comunicação Não Violenta ABSTRACT This study aims to Analyze how the use of Nonviolent Communication CNV in conflict mediation can contribute to the improvement of interpersonal relationships between teachers and students The proposed intervention was performed through action research which developed collaboratively focusing on the refinement of the student teacher relationship between students and teachers of a 6th grade elementary school a public school in Belo Horizonte The intervention was built collaboratively with the participation of students and teachers of the class and had the mediation of the Pedagogical Coordination during the current school year of 2019 As methodological resource and theoretical bibliographic contribution were used the circles of conversation delineated from the postulates registered in the Restorative Justice highlighting the techniques and principles of Nonviolent Communication The analysis processed in the light of the observed and cataloged results allows us to glimpse teacher training trajectories marked by different educational paradigms which reflect points of tension in the student teacher relationship These permeate the educational conceptions of class discipline organization and use of school times and spaces in a divergent way It is concluded that the communication that presupposes the interlocution the interactivity the participation and the student and teacher protagonism in the realization of the curriculum in the classroom is indispensable Hence the need for dialogue as a strengthening element of the student teacher relationship In this perspective the CNV techniques implemented during the action research proved to be efficient tools for the promotion of dialogues necessary for the treatment of tension points conflict resolution and the strengthening of respectful postures and refined treatment in the student teacher relationship Keywords Student Teacher Relationship Restorative Justice Nonviolent Communication LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CNV COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA EF ENSINO FUNDAMENTAL EJA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS PEA PROGRAMA ESCOLA ABERTA PEI PROGRAMA ESCOLA INTEGRADA PIP PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA RMEBH REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE BELO HORIZONTE SMED SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO PSE PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA PBH PREFEITURA DE BELO HORIZONTE SUMÁRIO SUMÁRIO 11 1 INTRODUÇÃO 12 2 OBJETIVOS 15 21 Objetivo geral 15 22 Objetivos específicos 15 3 O CONTEXTO DA PESQUISA 16 4 DIALOGANDO COM A LITERATURA 18 41 O Coordenador Pedagógico como Mediador nas Relações Interpessoais na Escola 18 42 Clima Escolar e seus desafios 20 43 A Comunicação Não Violenta na Escola 21 5 ASPECTOS METODOLÓGICOS 25 6 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 30 61 Primeiro Círculo coletivo 30 62 Segundo Círculo o grupo 31 63 Terceiro Círculo 33 64 Quarto Círculo 34 7 DISCUSSÃO 37 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40 REFERÊNCIAS 44 12 1 INTRODUÇÃO A vida nos coloca desafios entre eles refletir sobre nossas condutas no cotidiano Precisamos verificar se estão corretas adequadas pertinentes se precisam ser revistas ou mesmo modificadas Na escola não é diferente Cresci em um contexto escolar onde muitas vezes imperava o silêncio dos alunos e o professor detinha o poder da fala Hoje em dia percebo que muito se reforça dentro das escolas o que a legislação determina e orienta Esperase que a escola como instituição paute seu trabalho para a formação de um aluno crítico reflexivo e que participe ativamente do seu processo de aprendizagem Atualmente na sala é preciso movimento várias vozes e ação Frente a todas as mudanças está o professor e seus alunos cada um com suas expectativas convicções valores e modos de ser Uma multiplicidade de relações está posta todos os dias dentro da escola e de cada sala de aula Contudo devese estar atento e cuidar para que estas relações se deem de modo saudável e promovam conhecimento Conviver com as diferenças aceitandoas não é uma tarefa simples e fácil Conflitos se colocam constantemente dentro das salas de aula Neste cenário atitudes consideradas de indisciplina por parte dos professores se apresentam de modos diferentes e por vezes complexos dentro de sala de aula Cada vez mais são encaminhados à Coordenação Pedagógica para que possam ser solucionados ou amenizados Minhas indagações e reflexões como professora coordenadora tem girado em torno do cotidiano escolar do como cada professor se posiciona ou pode se posicionar frente a estes desafios que permeiam nossa rotina na escola e no mundo sobretudo sobre os conflitos ocorridos em sala de aula e como as relações têm se dado Este trabalho foi feito por meio de uma pesquisa qualitativa a partir de ações colaborativas entre pesquisador e professores Ele busca compreender como o Coordenador Pedagógico pode contribuir dentro do espaço escolar para a melhoria 13 das relações interpessoais por meio de possibilidades de intervenção junto aos professores e aos alunos Sobretudo na mediação dos conflitos dentro da sala de aula em uma turma de 6º ano em parceria com alguns dos professores No cotidiano da escola muitas são as atribuições dadas ao Coordenador Pedagógico A maioria delas acaba por envolver questões ligadas ao pedagógico e ao administrativo relacionadas aos diferentes grupos como gestores professores alunos e pais PLACCO ALMEIDA 2012 p12 Nesse fazer novas funções acabam lhe sendo atribuídas entre elas o papel de solucionar problemas principalmente aqueles que envolvem alunos que não se comportam em sala de aula Nesse contexto busquei verificar como a mediação de conflitos e o uso da Comunicação Não Violenta CNV1 podem contribuir para a melhoria das relações interpessoais entre os discentes na sala de aula e alguns de seus professores A pesquisa foi realizada em uma escola da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte RMEBH pertencente a Regional Venda Nova De forma geral pretendeuse refletir sobre o papel do Coordenador Pedagógico como articulador do trabalho pedagógico que pode contribuir no sentido de ajudar os professores e os estudantes na superação de dificuldades no que diz respeitos as relações dentro da sala de aula A CNV mostrouse uma possibilidade como instrumento dentro do espaço escolar para potencializar as ações que buscam a solução de conflitos escolares Podendo portanto ajudar a promover uma cultura de diálogo dentro da sala de aula aumentando o respeito e a boa convivência entre estudantes Para apresentar o trabalho desenvolvido o texto está organizado em sete seções Na primeira apresento os aspectos introdutórios sobre o assunto Na segunda seção apresento os objetivos do presente trabalho Na terceira seção trago a contextualização do território onde a pesquisa foi realizada Posteriormente na quarta trato do referencial teórico e os conceitos presentes na proposta desta pesquisa Já na quinta e sexta seções o procedimento metodológico e o 1Comunicação Não Violenta CNV é uma forma de comunicação proposta por Rosenberg 2003 onde por meio do diálogo somos convidados a por em ação o respeito a compreensão e a compaixão para solução de um conflito 14 desenvolvimento da pesquisa são apresentados Na sétima seção apresento as discussões apontadas pela pesquisa Nas considerações finais são apresentados como o uso da CNV pode proporcionar tanto à classe quanto aos professores participantes a construção coletiva de ações que sejam pensadas na perspectiva da prevenção da desordem dentro da sala de aula e uma consequente melhora na possibilidade da implementação de um ambiente mais harmônico que pode favorecer a melhoria da aprendizagem sobretudo no período observado 15 2 OBJETIVOS 21 Objetivo geral Analisar como o uso da Comunicação Não Violenta na mediação de conflitos pode contribuir para a melhoria das relações interpessoais entre os docentes e estudantes 22 Objetivos específicos a Desenvolver e descrever o processo de implementação dos círculos de mediação para a CNV entre alunos e professores em uma turma de 6º ano b Identificar questões relevantes da participação dos estudantes nos círculos de mediação e suas respectivas contribuições para melhoria das relações interpessoais 16 3 O CONTEXTO DA PESQUISA A Escola Municipal X2 foi fundada há 43 anos Está situada na Regional Venda Nova no Município de Belo Horizonte Atuo nessa escola há onze anos tendo exercido as funções de professora alfabetizadora dos anos iniciais docente de Matemática no 3º Ciclo e Coordenadora Pedagógica Transitar entre as funções de professora e coordenadora tem me proporcionado aprendizado e desenvolvimento profissional mediante as vivências e experiências acumuladas no exercício das funções relacionadas A escola atende a alunos do 1º ao 3º ciclo do Ensino Fundamental EF sendo que no turno da manhã atende alunos do 1º ao 5º ano e no da tarde alunos do 6º ao 9º ano Há ainda três turmas de Educação de Jovens e Adultos EJA à noite sendo uma de Alfabetização e duas turmas de Certificação3 A escola possui 19 salas de aula distribuídas em três prédios Conta com biblioteca brinquedoteca auditório secretaria sala de professores sala de coordenação sala de vídeo cantina laboratório de ciências laboratório de informática ginásio poliesportivo com vestiário A escola funciona com o tempo integral por meio do Programa Escola Integrada PEI O estudante inscrito no tempo integral tem sua jornada escolar estendida para nove horas Destas 4 horas e 30 minutos são destinadas ao turno regular de ensino e as restantes distribuídas em oficinas alimentação e aulas passeio Segundo dados da secretaria da escola em julho de 2019 eram 230 alunos participando do PEI num total de 986 alunos da escola O corpo docente da escola é formado por professores com curso superior Em sua maioria possuem pelo menos uma especialização dentro de sua área de formação A equipe de monitores que atua no PEI em sua maioria possui formação em nível superior ou finalizando Outro programa que há na escola é o Programa Escola Aberta PEA que se constitui como outra modalidade de ação educativa na perspectiva da Educação Integral desenvolvido durante os finais de semana Ele é aberto a toda comunidade escolar Este programa da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte 2 Buscando resguardar os participantes da pesquisa usarei nome fictício para a escola 3Turmas que após completarem carga horária recebem o certificado do Ensino Fundamental 17 tem como objetivo contribuir para a melhoria da qualidade da educação a inclusão social e a construção de uma cultura de paz além de ampliar as oportunidades de acesso a espaços de promoção da cidadania e contribuir para a redução da violência escolar por meio da melhoria do capital social e humano nas comunidades PREFEITURA DE BELO HORIZONTE 2019 Os discentes e monitores em sua maioria são moradores do bairro onde está localizada a escola Há no entanto alunos matriculados na escola de bairros vizinhos e também das cidades de Vespasiano e Santa Luzia 18 4 DIALOGANDO COM A LITERATURA 41 O Coordenador Pedagógico como Mediador nas Relações Interpessoais na Escola A escola é por sua constituição um espaço para o aprender É o lugar onde os que nela estão principalmente os alunos terão a oportunidade de além de aprender os conteúdos aprender a conviver com os demais atores presentes neste espaço colegas de sala professores e funcionários Portanto a escola também é o lugar onde as relações interpessoais se dão a todo vapor Placco e Almeida 2017 defendem que a escola também deve investir na qualidade das relações dentro do seu espaço Trabalhar para que o outro aprenda ou seja ensinar é a intencionalidade claramente da escola Ouso dizer que uma escola com essa intencionalidade claramente definida que aceita investir na qualidade das relações interpessoais para facilitar o acesso ao conhecimento é uma escola em que professores demais profissionais e alunos não pisam nos sonhos dos outros Caminham com cuidado PLACCO ALMEIDA 2017 p 30 Diante de uma legislação que determina o acesso a todos a escola encontramos dentro desta instituição e consequentemente de cada sala de aula uma multiplicidade de realidades cada discente chega trazendo consigo suas demandas pessoais suas convicções suas vivências seus valores e referências Da mesma forma distintos e cada vez mais crescentes são os problemas postos aos professores e gestores da escola principalmente ao que se refere à gestão dos conflitos em sala de aula Buscar ações que ajudem a cada aluno construir e valorizar um sentimento de pertencimento ao seu grupo é uma atitude assertiva Dentro de sala de aula para que o trabalho docente ocorra de modo a amenizar os conflitos e outros possíveis problemas como indisciplina e violência 19 percebese que o professor pode ser incentivado a buscar gradativamente substituir linguagens negativas por linguagens mais positivas e empáticas na busca por relações menos assimétricas A escola então é o local onde todos estão a se relacionar espaço propício e fecundo para socialização e produção do conhecimento Percebese então que o espaço escolar é partilhado por muitas pessoas que compartilham e confrontam opiniões e ações Elas são professores diretores pedagogos coordenadores de turno pessoal de apoio alunos pais e a comunidade local Logo esse espaço é repleto de contradições conflitos e também de possibilidades de interações capazes de em um fazer coletivo promover a educação que a sociedade demanda SILVA 2017 p133 Sabemos que realizar a gestão da sala de aula não tem sido uma tarefa fácil Muitos têm sido os desafios surgidos e vivenciados no cotidiano do espaço escolar A indisciplina e os conflitos nas relações são alguns deles Ambos têm se mostrado frequentes e vêm dificultando o trabalho do professor dentro das escolas Cotidianamente situações de conflitos atitudes de bullying e atos de violência entre os alunos são presenciados pelos docentes dentro das salas de aula Deste modo ao Coordenador Pedagógico cabe também articular junto aos discentes da escola estratégias que ajudem a minimizar esse desafio vivenciado dentro de sala de aula que por muitas vezes acaba por refletir ou gerar atitudes de desrespeito e violência em outros espaços do ambiente escolar É importante compreender e refletir em abordagens eficazes que ajudem a construir uma gestão efetiva dos conflitos em sala de aula Miziara 2014 p 612 ressalta a relevância da função do coordenador na escola em seu fazer cotidiano onde na convivência diária com tensões conflitos problemas diversos apresentados fazse necessário por em prática a habilidade a competência para organizálas de modo não autoritário Para isso estudo e formação são essenciais Aprender a fazer a escuta considerar o que outro tem a 20 dizer sobre e compreender a necessidade do outro é essencial Todos esses aspectos podem favorecer para a proposição de encaminhamentos e atividades a serem desenvolvidas visando prevenção de possíveis situações de conflito 42 Clima Escolar e seus desafios Pensar ações a serem desenvolvidas dentro do contexto escolar com foco nas relações interpessoais que busquem amenizar os conflitos e harmonizar a convivência e o trato com o outro se faz necessário dentro da escola Refletir sobre a formação integral dos envolvidos no processo escolar e as relações que estes estabelecem é um desafio posto a quem trabalha na educação nos tempos atuais Segundo estudos da área há vários conceitos para clima escolar conforme podemos ver nos estudos feitos por Placco e Almeida 2011 Garcia 1999 Cunha 1985 Vinha 2016 Para esta pesquisa trago a compreensão do conceito através da leitura de Vinha et al 2016 p 101 Referese à atmosfera de uma escola ou seja à qualidade dos relacionamentos e dos conhecimentos que ali são trabalhados além dos valores atitudes sentimentos e sensações partilhados entre docentes discentes equipe gestora funcionários e famílias Tratase assim de uma espécie de personalidade coletiva da instituição sendo que cada escola tem seu próprio clima Ele determina a qualidade de vida e a produtividade dos docentes dos alunos e permite conhecer os aspectos de natureza moral que permeiam as relações na escola O clima portanto é um fator crítico para a saúde e para a eficácia de uma escola A escola para além dos conteúdos está permeada por relações Estas relações muitas vezes têm aproximações diretas com os demais aspectos da prática pedagógica e com o processo de aprendizagem dos estudantes Bem sabemos que para que esse processo se dê de forma significativa é necessário estabelecer entre os envolvidos uma relação de confiança 21 Placco e Almeida 2017 p 3233 afirmam que uma abordagem centrada na pessoa só se efetiva se acredito que esse outro é digno de confiança Essa crença mobilizame para colocarme em seu lugar e ver o mundo com seus olhos Mas preciso comunicar ao outro os sentimentos que experiencio em nossa relação Desta forma para que a relação com o outro se dê é necessário que se estabeleça uma relação de confiança É prudente que os profissionais da escola se vejam como responsáveis assim como família e Estado pela criação de um clima escolar respeitoso que perceba e acolha as diferenças nos seus diversos aspectos Respeitar o outro é condição para que cada um seja respeitado Um dos caminhos para ajudar na efetivação de um clima escolar saudável dentro das salas de aula está na construção das relações que se dão de modo efetivo e respeitoso por parte dos professores coordenadores e docentes com os alunos Não restam dúvidas de que nos tempos atuais a competência em gerir conflitos no ambiente escolar é fundamental para um ambiente propício para a aprendizagem dentro das salas de aula Corroborando com Placco e Almeida 2012 o Coordenador Pedagógico é o profissional que cotidianamente deve refletir sobre as mudanças que ocorrem na escola e na sociedade É necessário que ele esteja sempre disposto a ouvir Esta atitude ajuda o outro que se põe a dizer a perder o medo de fazêlo ajudandoo se a perceber como sujeito capaz Ao se fazer disponível para a escuta tornase um agente de mediação nas relações entre os alunos professores e as famílias Ele deve portanto auxiliar dentro da escola no desafio de sugerir e implementar procedimentos que contribuam para que a mediação e prevenção de conflitos dentro do ambiente escolar com vistas à melhoria da convivência e da segurança 43 A Comunicação Não Violenta na Escola A violência nos dias de hoje é um problema social e está presente em muitas instituições inclusive na escola Segundo Oliveira e Martins 2007 p 90 a violência 22 aparece nos dias atuais e aponta para a constatação da ausência da palavra ausência do diálogo e de uma seja por parte de quem assiste ou de quem vivencia violência A Secretaria Municipal de Educação SMED de Belo Horizonte está atenta à situação também presente nas escolas através da Gerência de Clima Escolar a fim de ajudálas na criação de estratégias de ação para melhoria da gestão do clima escolar Esta gerência é responsável junto a cada instituição pela implementação de projetos e ações que visem à melhoria do mesmo promovendo a cultura pela paz por meio de práticas restaurativas objetivando atuar na prevenção dos conflitos e violência nas escolas da RMEBH Por meio dessas ações a instituição se preocupa em estreitar as relações entre todos que fazem parte da comunidade escolar e consolidar o sentimento de pertencimento em todos que constituem a mesma Como integrante dessas ações está a parceria com o Ministério Público de Minas Gerais por meio do Programa Justiça Restaurativa nas Escolas de Belo Horizonte Segundo Grossi et al 2009 p 500 A justiça restaurativa também parte do princípio de que as relações podem ser restauradas baseadas nos valores de inclusão pertença solidariedade e escuta ativa entre outros A justiça restaurativa tem demonstrado ser um terreno fértil para a instauração de uma nova ótica nas relações pautada pela reciprocidade compromisso e corresponsabilidade Este irá incidir na prevenção da violência e diminuir os riscos de vulnerabilidade penal de adolescentes instaurando novas formas de convivência Desta forma a parceria por meio do programa vem propor às escolas a implementação de círculos restaurativos dentro do espaço escolar como possibilidade para solução de conflitos surgidos de toda a natureza O objetivo é portanto construir um processo colaborativo voltado para resolução de um conflito dentro da escola 23 Cada escola deve construir um plano de ação para gerir seu clima escolar Nele o coletivo da escola é convidado a traçar metas e ações que favoreçam a criação de uma cultura da paz Percebese que os círculos de mediação aliados com a CNV pode ser uma das ações com potencial de contribuir para a melhoria do clima escolar uma vez que traz consigo a possibilidade do diálogo e da escuta sem julgamento com vistas à solução de problemas Corroborando com Grossi et al 2009 p 501 em algumas situações diante da dinamicidade em que se constitui o cotidiano escolar a escola acaba por reproduzir práticas discriminatórias excludentes e opressoras Os círculos de mediação propostos pela Justiça Restaurativa são vistos então como uma possibilidade dentro da escola uma vez que se mostram como alternativa na prática docente Por meio dele buscase construir momentos que promovam o diálogo a participação a construção do sentimento de pertencimento a corresponsabilização o exercício da honestidade responsabilidade empoderamento e esperança Podem ser implementados em sala de aula ou fora dela nas mais diversas situações de conflitos que venham surgir no espaço escolar Participam destes círculos pessoas envolvidas em situações de conflito surgido acompanhado por um adulto para mediar a conversa a fim de resolver e encontrar uma solução Os círculos de conversa e mediação baseiamse em sua essência na metodologia proposta por Marshall Bertram Rosenberg psicólogo americano criador do método da Comunicação Não Violenta CNV Segundo ele o objetivo do uso da CNV não é mudar as pessoas e seu comportamento para conseguir o que queremos mas sim estabelecer relacionamentos baseados em honestidade e empatia que acabarão atendendo as necessidades de todos ROSENBERG 2006 p 127 Desta forma ao propormos a realização de um círculo de mediação dentro da sala de aula estamos promovendo a oportunidade a alunos e professores a refletirem sobre alguns problemas surgidos e juntos encontrarem solução para o mesmo através do diálogo respeitoso e sem julgamento Tal ação busca além da 24 solução do problema ou conflito surgido auxiliar na prevenção e no agravamento de conflitos Rosenberg 2006 incentiva o estabelecimento de relações baseadas na parceria e cooperação com predomínio da comunicação eficaz e com empatia Enfatiza a importância de determinar ações à base de valores comuns aos envolvidos na situação de conflito Ao fazer uso da CNV o objetivo maior é propiciar a todos os envolvidos a sensibilidade de se perceber como corresponsáveis pelo problema ou conflito enfrentado e fazerse protagonista da solução do mesmo Para o psicólogo a CNV nos ajuda a nos ligarmos uns aos outros e a nós mesmos possibilitando que nossa compaixão natural floresça Ela nos guia no processo de reformular a maneira pela qual nos expressamos e escutamos uns aos outros mediante a concentração em quatro áreas o que observamos o que sentimos do que necessitamos e o que pedimos para enriquecer nossa vida A CNV promove maior profundidade no escutar fomenta o respeito e a empatia e provoca o desejo mútuo de nos entregarmos de coração Algumas pessoas usam a CNV para responder compassivamente a si mesmas outras para estabelecer maior profundidade em suas relações pessoais e outras ainda para gerar relacionamentos eficazes no trabalho ou na política No mundo inteiro utilizase a CNV para mediar disputas e conflitos em todos os níveis ROSENBERG 2006 p 32 Pelo exposto podese perceber as possibilidades que podem ser construídas dentro do espaço escolar sobretudo dentro da sala de aula ao se fazer uso da CNV para ajudar a construir atitudes para paz e também no que diz respeito às relações neste lugar São comuns em situações surgidas dentro de sala de aula como brigas e conflitos apresentamos um descontrole emocional e acabarmos comparando classificando ou mesmo julgando as pessoas envolvidas seja aluno ou professor O que acaba por gerar ainda mais um ambiente violento A necessidade de que alguém seja responsabilizado pelo ocorrido ou pelo problema logo aparece A coordenação é convocada nesse momento sem ter participado ou estar ciente do ocorrido para resolver o problema a partir da escuta do professor A CNV nos convida nesse momento a mudar a lógica por que não todos os envolvidos na situação pararem para juntos observando entendendo as necessidades de cada parte responsabilizandose buscar uma solução que venha de dentro do grupo 25 5 ASPECTOS METODOLÓGICOS Segundo AlvesMazzotti 1999 as pesquisas qualitativas se mostram multimetodológicas Neste sentido a observação participante e a entrevista e a análise a partir de documentos foram os procedimentos e instrumentos adotados para a coleta de dados nesta pesquisa O estudo proposto é de caráter qualitativo pois parte da necessidade em se compreender comportamentos a partir interrelações presentes em sala de aula e suas consequências Nesse sentido a observação participante será utilizada uma vez que pesquisador e pesquisados estavam envolvidos no processo e desenvolvimento da pesquisa A observação foi um procedimento adotado por permitir o registro do comportamento em seu contexto temporal espacial ALVESMAZZOTTI 1999 p164 Ela foi escolhida por permitir que os comportamentos observados sejam descritos de modo como acontecem objetivando entender o que foi observado A entrevista foi adotada como procedimento por permitir uma maior interação entre pesquisador e pesquisados Alguns documentos da escola também foram considerados pois os documentos podem nos dizer muita coisa sobre os princípios e normas que regem o comportamento de um grupo e sobre as relações que se estabelecem em diferentes subgrupos ALVESMAZZOTTI 1999 p169 A coleta dos dados para a escolha das turmas para a execução do pesquisa também foi feita a partir da análise das fichas de encaminhamento à coordenação das ocorrências feitas e dos diários de bordo das turmas Complementando estes dados também foram feitas entrevistas com três professores que participaram da pesquisa Vivemos hoje numa sociedade que a meu ver se propaga a cultura que muito incentiva e valoriza o individualismo Além disso vivemos numa época de globalização onde a tecnologia presente tem promovido um aumento da 26 complexidade no que diz respeito às relações e a comunicação Conflitos estão propensos a acontecer a todo o momento e valores pautados pelo individualismo e a desvalorização do outro tendem a ocorrer Neste cenário somos convidados a refletir sobre a necessidade de novas estratégias quando ainda dentro da escola percebemos arbitrariedade e julgamentos presentes dentro de sala de aula quando situações de enfrentamento indisciplina e conflitos ocorrem O Estatuto da Criança e do Adolescente 1990 nos diz que a escola deve incentivar e valorizar a participação destes para ajudar a promover seu pleno desenvolvimento Buscar promover ações que permitam o protagonismo dentro dos espaços escolares na mediação e resolução de conflitos tornase uma possibilidade No ano de 2018 a Escola Municipal José Maria Alkmin foi convidada a participar de uma formação sobre o Programa Justiça Restaurativa na Escola A intenção do programa era capacitar facilitadores futuros agentes multiplicadores na escola com vistas à implantação da prática dos círculos de mediação como possibilidade de restaurar o diálogo saudável no ambiente escolar de nossa escola diante do contexto onde a mesma está inserida Por meio desta formação a escola pode conhecer sobre os círculos de mediação sobre a CNV e um pouco sobre as possibilidades que esta metodologia traz quando utilizada de modo eficaz em variadas situações e em diversos níveis de comunicação A ideia defendida pelo programa que a cultura do diálogo dentro da escola aconteça de modo efetivo sobretudo de forma não violenta e com empatia foi acolhida por parte da gestão da escola e da equipe pedagógica Desta forma a utilização da CNV fazse presente entre estes e também por parte de alguns docentes que se sensibilizaram para a necessidade de uso deste instrumento como possibilidade de estreitar as relações com seus alunos A intenção em usar nesta intervenção a CNV para resolução de conflitos surgidos em sala partiu da necessidade de sensibilizar docentes mas também os discentes a fim de refletirem sobre as condutas adotadas Tais condutas que até 27 então estavam se mostrando sem sucesso e acabando por gerar frustrações e desânimo nos mesmos Além de gerarem mais conflito A questão da indisciplina na escola tem gerado situações de desconforto principalmente ao grupo de professores regentes Segundo Garcia 1999 p 101 situações de indisciplina vem apresentandose como uma fonte de estresse nas relações interpessoais particularmente quando associada a situações de conflito em sala de aula Então foram adotados os princípios da CNV em turmas em situação evidenciada de conflito para verificar os resultados gerados após a aplicação da CNV como forma de contribuir para a melhoria das relações interpessoais entre os discentes Nesse sentido a intervenção começou em fevereiro de 2019 no início do ano letivo quando a proposta foi compartilhada com a equipe pedagógica e com a gestão da escola em todos os turnos No turno vespertino somos quatro professores coordenadores sendo que um destes é o responsável pelas questões disciplinares Eu e ele conversamos sobre a formação ocorrida no ano anterior sobre a CNV Nessa direção a metodologia da CNV foi colocada como possibilidade de intervenção junto ao grupo de discentes e docentes Ficou acordado entre a equipe pedagógica que os encaminhamentos levados à coordenação pelos professores seriam mediados via CNV Adotando então uma abordagem colaborativa na mediação e na busca por resolução dos conflitos surgidos em sala de aula No mês de abril ao realizarmos com o coletivo de professores uma reunião pedagógica a questão indisciplina esteve em pauta Foi feito para esta reunião levantamento dos registros ocorrências e encaminhamentos realizados até então O 6º ano apareceu com a maior frequência de atitudes indisciplinares dos estudantes Constatouse então a necessidade de acompanhamento sistemático destas turmas principalmente com relação aos conflitos surgidos Ademais uma turma precisaria ser escolhida para que a intervenção ocorresse Para isto o levantamento do perfil de cada uma precisou ser feito A coleta dos dados para a escolha das turmas para a execução do plano foi feita a 28 partir da análise das fichas de encaminhamento das ocorrências e dos cadernos de bordo4 das turmas Complementando estes dados também foram feitas entrevistas com três professores para identificar as turmas que mais precisavam de atenção quanto à indisciplina A partir dos critérios adotados anteriormente uma turma de 6º ano foi escolhida entre as cinco da escola A intervenção foi planejada e implementada ao longo dos meses de abril maio junho e agosto de 2019 Em conversas com os professores a preocupação foi levantada junto a Coordenação Pedagógica já que as relações apontadas como conflituosas estavam atrapalhando o ambiente propício para a aprendizagem dentro da sala de aula Acolhida a metodologia por parte da equipe pedagógica o próximo passo foi o levantamento do perfil da turma para aplicação da metodologia CNV Conforme descrito anteriormente a escolha pelo desenvolvimento da CNV nesta pesquisa se justifica a partir da minha atuação como coordenadora pedagógica A opção por utilizar tal metodologia partiu das minhas experiências tanto no contexto escolar quanto na formação continuada no curso de Especialização da UFMG que aumentou minhas inquietações e vontade de compreender melhor minha própria prática O contexto principal da pesquisa portanto foi a sala de aula A partir da escolha do 6º ano ficou faltando detalhar a escolha da turma A seleção da turma foi feita a partir de conversa realizada com o grupo de professores do 3º ciclo da escola em momento de reunião pedagógica onde estava em pauta a discussão sobre os conflitos ocorridos em sala e a indisciplina na escola para traçarmos juntos as ações da equipe de professores e coordenadores A partir da análise dos dados acima se percebeu que o 6º ano turma Azul foi a turma que obteve o maior número de ocorrências e encaminhamentos à coordenação pedagógica no período analisado de fevereiro a abril de 2019 sendo a falta de respeito o item com maior frequência 4 Caderno que acompanha o diário da turma onde são registrados os fatos e ocorrências de cada aluno que compõe a turma 29 Segundo uma das professoras que atua na turma professora Zélia5 de Língua Portuguesa o 6º ano é uma série muito difícil os alunos tem dificuldade nesta transição entre a infância e a adolescência Eles ficam um pouco perdidos e há vários anos percebo isso Minha experiência é grande com 6º ano eu tento amenizar e é difícil para eles O professor precisa entender que esta dificuldade traz conflitos Entrevista 11072019 Escolhida a turma a metodologia foi aplicada buscandose criar condições para que os relacionamentos interpessoais se dessem a partir do respeito mútuo da compaixão da empatia e da cooperação Foram realizadas com a turma Azul quatro círculos de mediação de conflitos fazendose o uso da CNV Vale ressaltar que o processo da CNV segundo Rosenberg 2003 tem o objetivo aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência nos espaços onde ela se fizer presente Tratase segundo ele de uma abordagem que se aplica de maneira eficaz a todos os níveis de comunicação e a diversas situações ROSEMBERG 2003 p27 Corroborando com Garcia 1999 p103 percebese que os métodos tradicionais que podem ser caracterizados pela intenção comum de exercer controle comportamental sobre a conduta dos estudantes embora estejam consagrados ou apenas tacitamente introjetados no cotidiano de muitas escolas mostram se inefetivos Pretendo a seguir verificar e descrever o impacto dos círculos de mediação de conflito por meio da CNV na turma azul na qual foram identificados muitos alunos em situação de conflito visando sensibilizar ao professor a fim de que ele consiga ver seu aluno não como um problema em sala de aula mas como uma pessoa com necessidades desejos carências e ao mesmo tempo com responsabilidades ao estabelecer um acordo em comum que atenda as necessidades de todos envolvidos ROSEMBERG 2003 5 Por questões éticas a professora será tratada por pseudônimo 30 6 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 61 Primeiro Círculo coletivo O primeiro círculo aconteceu no dia 13 de junho de 2019 diante da demanda da professora Zélia A mesma enfrentou um a situação que se mostrou bastante desagradável e conflituosa com a turma Azul A professora solicitou a presença da coordenação em sala uma vez que não conseguiu ministrar a aula do dia anterior Isso porque os alunos não cumpriram o combinado da turma feito anteriormente com a mesma sobre o uso do capuz e do agasalho A professora não iniciou a aula enquanto havia aluno com os itens Os discentes percebendo que a professora se irritava insistiram em não tirar Eles combinaram de fazêlo para irritar a professora A professora não deu a aula do dia e afirmou a eles que a aula seguinte seria junto com a coordenação A coordenação se mostrou disponível para acompanhála mas ponderou que aproveitaria a oportunidade para usar da CNV com a turma conforme acordado previamente em conversa com a coordenação quando foi feito o relato do ocorrido A aula aconteceu após o recreio Como a turma tem o perfil mais agitado alguns minutos foram usados para que a mesma se acalmasse Relatei a classe que estava ali a pedido da professora Zélia para que juntos refletíssemos sobre o ocorrido na aula anterior buscando compreender o que ocorreu por que ocorreu e com qual objetivo ocorreu Expliquei que antes de iniciarmos alguns combinados precisavam ser construídos pelo grupo e seguidos ao longo das conversas Foram eles 1º escuta respeitosa e sem julgamento 2º um falando por vez 3º que todos deveriam se manifestar 31 4º que escolheríamos um objeto de fala para designar o momento de fala de cada um 5º que cada um fosse honesto ao se manifestar 6º que se colocasse no lugar do outro professora e dissesse como se sentiria 7º que manifestasse como a situação poderia ser resolvida pois a construção dos encaminhamentos iria ser feita ali Desta maneira a conversa aconteceria promovendo o processo previsto pela CNV a observação a escuta para entendermos a necessidade a conversa para entendermos o sentimento gerado e por fim os pedidos as ações concretas para solução da situação levantada Num primeiro momento os alunos ficaram receosos e acanhados para fazer seus relatos Foi necessária uma condução inicial da conversa pela coordenadora por meio de perguntas À medida que os colegas foram se sentindo à vontade para relatar a maior parte dos alunos conseguiu se expressar colocando suas falas concordando discordando ou apenas relatando sobre o ocorrido em sala Sempre fazia o convite a cada um que se manifestava a refletir sobre a necessidade expressa em cada fala e atitude de cada um naquele momento E posteriormente pensar sobre o sentimento gerado em cada um e no outro diante desta fala ou atitude tomada 62 Segundo Círculo o grupo Na semana seguinte após o ocorrido voltei a conversar com a professora sobre a turma e perguntei sobre como os estudantes haviam se comportado após a 32 primeira mediação A mesma relatou sobre algumas dificuldades ainda enfrentadas como a agitação o excesso de brincadeira por parte de alguns sobre atitudes de desrespeito de outros Disse que de modo geral conseguia perceber na classe um esforço para melhorar e de solicitar aos colegas que se lembrassem dos acordos feitos na conversa com a coordenação Manifestou entretanto a necessidade de realizar o mesmo tipo de conversa feito com a turma com um grupo menor de alunos que se mostravam ser o maior desafio e a fonte da maior parte dos conflitos com a mesma O grupo menor sugerido pela professora Zélia foi composto por sete alunos cinco meninos e duas meninas Destes dois são alunos meninos retidos e fora da faixa de idade em relação aos pares da turma Novamente a conversa aconteceu partindo da escuta de cada um deles Desta vez fora da sala de aula Aconteceu na sala da coordenação no dia 19 de junho A conversa aconteceu com os alunos que ainda não haviam conseguido expressar seus anseios e motivos à professora e à coordenação Este grupo permanecia com atitudes inadequadas em sala de aula agitados falantes usando vocabulário inadequado Novamente foi relembrado e explicado os combinados para iniciarmos a conversa Neste momento os alunos conseguiram expressar sua indignação diante da postura segundo eles da professora sempre entrar na sala de aula xingando Conseguiram expor que ela não estava tendo paciência em esperar e que ela professora queria tudo no tempo dela Conversamos sobre isto sobre o que seria tempo dela tempo deles tempo de aula tempo da turma dos possíveis motivos da professora estar ansiosa e desejar que eles se apressassem mais a partir do ponto de vista dos estudantes mas considerando as necessidades da professora Percebi neste momento a necessidade desses alunos serem ouvidos pela professora pois eles conseguiram expressar à maneira deles que só a professora podia falar e eles não podiam falar nem para se explicar não podemos abrir a boca 33 nem para explicar ela fica estressada e não deixa Temos apenas que sentar e calar Keliton6 Segundo Círculo 19062019 Finalizamos a conversa em grupo Surgiram dois encaminhamentos para a coordenação i que a coordenação conversasse com a professora para que ela tivesse um pouco mais de paciência e tentasse escutálos ii que a coordenação não desistisse de conversar e explicar à professora sobre o problema ocorrido Foi acordado também que os alunos tentassem usar a estratégia de ouvir primeiro para depois falar de modo respeitoso 63 Terceiro Círculo O terceiro círculo ocorreu após o intervalo de uma semana do círculo anterior A coordenação acompanhou e observou o comportamento da turma e após encaminhamentos sucessivos à coordenação de dois alunos da mesma que participaram dos círculos anteriores Keliton e Klaudio ocorreu o terceiro círculo Ele aconteceu por demanda do dia diante de atitude de enfrentamento dos alunos para com o professor Gerson7 Aproveitando que a acompanhante pedagógica da Regional8 estava na escola a convidei para participar da conversa tendo o cuidado de relatar todo o contexto e trabalho que vinha sendo desenvolvido com a turma O primeiro momento do terceiro círculo aconteceu no dia 29 de junho na sala da coordenação Apesar da mudança de comportamento de alguns alunos da turma alguns alunos permaneciam desafiando os professores mostrandose agressivos e desrespeitosos no modo de agir e conversar mesmo após a participação nos círculos anteriores O segundo momento da conversa aconteceu na sala da direção da escola Para isso lembrei o vicediretor que também foi convidado a participar sobre o processo da CNV desenvolvido junto aos estudantes do 6ºano Azul Iniciamos a 6 Os nomes utilizados para os alunos participantes da pesquisa serão fictícios 7 Nome fictício do professor 8Acompanhante Pedagógica da Diretoria Regional de Venda Nova 34 conversa dando voz a eles para que relatassem porque estavam ali e como estavam se sentindo Fizemos a escuta sem julgamentos Os dois alunos participaram expondo seus pontos de vista após relatarem o ocorrido em sala de aula e de como se sentiam Eles percebiam a dificuldade de escuta dos professores que sempre solicitavam que se calassem não tendo portanto oportunidade para falar Tal situação deixavaos frustrados irritados e estressados expressão usada por um dos alunos Os adultos presentes fizeram as ponderações necessárias Os dois adolescentes acabaram percebendo que estavam se excedendo e usando estratégias inadequadas para conseguir ser escutados Dispuseramse a tentar a mudar de postura sendo tolerantes e a fazer o exercício da escuta não agindo por impulso 64 Quarto Círculo O quarto círculo ocorreu em 27 de agosto Ele aconteceu na sala de aula e contou com a participação de 13 dos 28 alunos da turma Aproveitouse a ausência do professor do horário para realizar o encontro com os estudantes na escola O restante dos alunos encontravase no Projeto de Intervenção Pedagógica PIP9 realizado no turno de aula dos alunos e por isso não puderam participar Nessa reunião participaram eu e uma funcionária Laís10 que é agente do Programa de Saúde na Escola PSE11 Ela foi convidada a participar do círculo por também ter participado da formação Justiça Restaurativa na escola citada anteriormente e para ajudar a realizar a gravação do momento Neste momento a conversa aconteceu norteada por algumas questões que formulei levando em conta os círculos realizados anteriormente Como estava a relação e o convívio entre os colegas no momento da primeira intervenção 9 Projeto presente na escola que trabalha com os alunos com dificuldades de leitura e escrita 10 Nome fictício dado à funcionária do Programa Saúde na Escola 11Programa que fazia parte da Política Intersetorial da saúde e educação e que tinha como objetivo a construção de escolas saudáveis 35 Como estava naquele momento a relação com os professores O que gerava os conflitos em sala de aula Como vocês avaliam hoje a relação entre os colegas de sala E entre alunos e professores Entretanto outra questão que não estava prevista surgiu após o decorrer da conversa O que vocês avaliam ter ajudado a melhorar Antes de iniciarmos a conversa expliquei que a mesma iria ser registrada em forma de vídeo para que pudesse posteriormente fazer as transcrições necessárias de modo fidedigno ao ocorrido Ao realizar a primeira pergunta os alunos Kaleb e Keila se sentiram à vontade para se manifestar relatando que até o momento da primeira conversa os colegas não estavam obedecendo e respeitando os professores Keila complementou melhorou muito porque os meninos resolveram respeitar mais e agora estamos conseguindo ter mais aulas Keila 4º encontro data 27082019 Lembraram que o maior tempo em que o professor estava em sala era perdido com brincadeiras brigas e batebocas Os professores dedicavam seu tempo tentando resolver as confusões e sobrava pouco tempo para a aula aula mesmo nada O aluno Kleiton sentiuse à vontade para colocar sua avaliação Para ele a convivência entre os alunos estava melhorando A gente gritava muito Neste momento intervi perguntando o que na percepção deles aconteceu nos círculos que estava favorecendo o começar a existir uma boa convivência entre eles Kristiam levantou a mão e disse a conversa ajudouKristiam Quarto Círculo 27052019 Karina completou dizendo que da parte dos professores tá tendo um pouco de paciência em conversar com gente Karina Quarto círculo 27052019 O grupo conseguiu dizer que aos poucos estava tendo em sala oportunidade para conversar 36 Não por todos os professores mas que aqueles que estavam conseguindo fazer pequenos momentos de conversa e isto estava com certeza ajudando a turma Quando o grupo foi convidado a refletir sobre a relação com os professores o aluno Kleiton novamente se sentiu à vontade para relatar que antes tinha aluno que faltava bater no professor Kleiton Quarto círculo 27082019 Relatou ainda que ele percebeu que à medida que os professores estavam tendo maior diálogo a convivência entre eles estava melhorando Kaio pediu a vez para falar as confusões começavam a acontecer por causa das brincadeiras das bolinhas de papel Kaio Quarto círculo 2708 2019 O grupo entendeu que havia uma necessidade de falar mas que todos falando ao mesmo tempo estava gerando muita bagunça em sala confusão e até briga 37 7 DISCUSSÃO Para iniciar a discussão retornarei a questão da indisciplina em sala de aula que em geral a meu ver tem sido o desafio maior do contexto escolar Gerir dentro de sala de aula tempo espaço possibilidades de aprendizagem e indisciplina tem se tornado uma tarefa difícil em muitos momentos Nessa direção constantemente a equipe pedagógica é convidada a intervir e mediar situações ocorridas em sala de aula entre os alunos e professores Desta forma na maior parte dos casos os alunos são convidados a se retirarem de sala para que a aula possa continuar Espaços para o diálogo acabam ficando para um segundo plano De acordo com Garcia 1999 as atitudes de indisciplinas podem ter razões de origem dentro do espaço escolar O autor pontua que as causas encontradas no interior da escola por sua vez incluem o ambiente escolar e as condições de ensinoaprendizagem os modos de relacionamento humano o perfil dos alunos e sua capacidade de se adaptar aos esquemas da escola Assim na própria relação entre professores e alunos habitam motivos para a indisciplina e as formas de intervenção disciplinar que os professores praticam podem reforçar ou mesmo gerar modos de indisciplina GARCIA1999 p104 Por vezes sem perceber acabamos por promover ou reforçar atitudes que são indesejadas dentro da sala de aula Desta maneira é importante entendermos que o contexto vivido hoje exige que repensemos a todo o momento as relações que são postas na escola principalmente a relação professor x aluno Refletir sobre estratégias adotadas que sejam adequadas e que objetivam buscar pela prevenção dos conflitos e de atitudes de indisciplina é tarefa da escola Neste momento a figura do coordenador pedagógico tem um papel fundamental Assim com o objetivo de fazer a escuta dos alunos sobre a percepção do ponto de vista dos mesmos dos momentos ocorridos de mediação e intervenção 38 com a sala e com grupo específico de estudantes por meio da CNV foi proposto o quarto e último círculo Conversamos um pouco nesse momento sobre a importância da escuta sem julgamento Da importância da existência da confiança entre as pessoas que compõem um grupo para que o diálogo possa acontecer de modo respeitoso Os estudantes conseguiram relatar que ainda existem problemas na turma Disseram que há ainda professores que não conseguem fazer como Zélia escutar e conversar com a gente Karina Quarto círculo 27082019 Os alunos relataram ainda sobre os professores que tinham paciência em escutálos principalmente sobre suas dúvidas e que outros entretanto já nervosos que não deixam nem fazer pergunta sobre a aula que parecem que querem dar um tiro na gente Kleiton Quarto círculo 27082019 Na fala deles parece que alguns professores têm dificuldades em escutálos e tecem uma relação conflituosa todos os dias para que eles permaneçam em silêncio para participar efetivamente das aulas realizando as tarefas Ao fim do quarto círculo podese perceber sobre a necessidade de refletirmos sobre a realidade na atualidade dentro da sala de aula Podese perceber que ainda hoje com tantas mudanças e avanços principalmente nas questões tecnológicas insistimos que o espaço sala de aula permaneça o mesmo alunos enfileirados e em silêncio para que possamos dar nossas aulas É necessário refletirmos sobre a organização dos tempos dos espaços escolares e sobretudo nas possibilidades de utilizarmos diferentes abordagens com nossos alunos Fazer mais do mesmo já não é suficiente Segundo Garcia 1999 precisamos repensar vários aspectos presentes na escola Para o autor o ambiente escolar adequado capaz de agir como um elemento preventivo precisa ser fundamentalmente humano e caloroso algo certamente difícil de praticar em uma sala de aula congestionada onde conflitos interpessoais já se instalaram GARCIA 1999 p 104 39 Refletir sobre a organização dos tempos espaço e currículo na escola e como eles têm refletido nas relações e ações tem se mostrado de fundamental importância Como formar para a cidadania sem criar momentos para que o diálogo aconteça de modo franco e respeitoso buscando atender a demanda de todos 40 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se considerar e ressaltar que esta pesquisa foi desenvolvida junto a uma classe de alunos de 6ano do EF e alguns professores que lecionam para a referida classe tendo em vista tratarse de um ano de escolaridade no qual se desencadeiam diversas transições há que se retomar algumas reflexões Dentre elas é pertinente destacar que este ano de escolarização congrega a transição de turnos de organização curricular de tempo e espaço Nessa perspectiva além de se depararem com as mudanças envolvendo o próprio corpo a personalidade gostos interesses relação familiar e entre os grupos de colegas e amigos da escola o estudante do 6ano se defronta também com as mudanças na relação aluno e professor O professor que atua neste ano de escolarização é um profissional especialista na sua área de ensino Portanto dentre outros a trajetória formativa peculiar constitui um dos fatores que grosso modo caracterizam a diferença do perfil profissional do grupo de professores que atuam nos anos iniciais e finais do EF Noutra perspectiva o estudante 6ano além de experimentar todas as transformações pessoais inerentes à própria faixa etária em que se encontra ingressa num ano de escolarização que constitui não somente a transição de uma fase da vida humana mas também a transição entre ciclos de ensino Eis então um dos fatores desencadeadores de tensões diversas na relação aluno professor Contudo a análise dos resultados desse estudo aponta para uma queixa comum em cada lado Na perspectiva dos professores o lugar comum da queixa é a indisciplina que compromete a qualidade do trabalho docente em sala de aula bem como todo o processo ensino aprendizagem Na perspectiva do estudante o lugar comum da queixa é a impaciência por parte dos professores na escuta 41 E ambas as queixas embora formuladas a partir de perspectivas diferentes convergem para um ponto comum o trato nas relações a partir do diálogo Sendo que este implica interação entre interlocutores fala escuta debate feedback etc Por um lado o professor que atua neste ano de escolarização atua com várias classes simultaneamente E para cada uma é necessária uma organização curricular que também implica numa organização de tempo e espaço específicos para cada um dos anos finais do EF Noutras palavras há um currículo formal e um planejamento educacional a se cumprir Para que tal expectativa do professor se efetive a contento é fundamental um clima escolar salutar em sala de aula O que implica que além das disposições conceituais da aprendizagem os alunos também demonstrem disposições comportamentais e atitudinais favoráveis à aprendizagem Dito de outra forma é indispensável ao alunado um conjunto de hábitos habilidades e atitudes favoráveis a um clima de relações respeitosas dentro e fora de sala de aula Nesse contexto a comunicação que pressupõe a interlocução a interatividade a participação e o protagonismo estudantil na efetivação do currículo em sala de aula é indispensável Daí a necessidade do diálogo como elemento fortalecedor da relação aluno professor Eis então a importância da mediação da Coordenação Pedagógica quando fatores como organização curricular e dinâmica de tempo e espaço passam somados aos demais fatores já apontados neste estudo a corroborar para a potencialização dos pontos de tensão na relação aluno professor Durante os círculos da CNV verificouse tanto no discurso dos alunos quanto no discurso dos professores a presença do sentimento de expectativas frustradas em relação aos objetivos e necessidades de cada parte Outro aspecto recorrente no discurso de ambos os lados é a concepção pessoal que cada uma das partes tem de aula O discurso permite entrever que ambas as partes valorizam a execução de atividades escritas a aula expositiva em detrimento da combinação de 42 metodologias diferenciadas nas quais o diálogo a discussão e o debate são igualmente valorizados Neste contexto a atuação da Coordenação Pedagógica tem a sua perspectiva de mediação ressignificada Deixa de figurar como mera instância de combate à indisciplina na perspectiva sobretudo do estudante e passa a se configurar como elemento apoiador da gestão pedagógica das relações interpessoais em todos os espaços escolares Especialmente na sala de aula Outro aspecto merecedor de destaque referese ao aspecto comportamental tanto dos alunos quanto dos professores No discurso de ambas as partes há várias referências à linguagem corporal à postura de interlocutor com ou sem predisposição à escuta à análise e ao feedback das questões contextuais da sala de aula Finalmente cabe ressaltar que os círculos da CNV realizados entre os estudantes da classe de 6º ano participante desta pesquisa e os professores lançaram luz sobre o que Rosenberg 2003 tanto no contexto da CNV quanto no contexto da indisciplina escolar defende o diálogo é a mola propulsora das relações humanas em qualquer tempo em qualquer espaço É eficiente e indispensável aos processos conciliatórios à construção de propostas coletivas do fazer docente e discente ao fortalecimento da cultura da paz por meio do respeito e da cooperação à proposição formulação e resolução de situações que se apresentem como obstáculos à efetivação do processo educativo eficiente Além de reportar a importância da atuação da Coordenação Pedagógica enquanto eixo articulador e fomentador do diálogo entre as pessoas e as instâncias e segmentos da comunidade escolar esse estudo também permite entrever a necessidade de se potencializar o protagonismo estudantil em sala de aula a partir do fortalecimento dos processos e canais de comunicação Nessa perspectiva é também necessário compreender em que medida o professorado que atua nas escolas teve a oportunidade de vivenciar processos 43 formativos que não tenham sido centrados ainda que veladamente na concepção da Educação Bancária conforme esclarece Paulo Freire nas suas obras Nesta concepção a configuração da relação aluno professor e disciplina na escola se contrapõe às necessidades dos professores e estudantes em tempos de mudanças do século XXI Professores que conseguiram entender a lógica da escuta sem julgamento e sim para o entendimento da necessidade de seu aluno no momento de conflito surgido conseguiram estabelecer sentimento de confiança em seus alunos da turma azul o que acabou por proporcionar aulas mais produtivas O uso da CNV pode proporcionar à turma e a estes professores a proposição e a construção coletiva de ações que sejam pensadas na perspectiva da prevenção da desordem dentro da sala de aula e uma consequente melhora na possibilidade da implementação de um ambiente mais harmônico que pode favorecer a melhoria da aprendizagem 44 REFERÊNCIAS ALVESMAZZOTTI Alda Judith GEWANDSZNAJDER Fernando O Método nas Ciências Naturais e Sociais Pesquisa Quantitativa e Qualitativa 2 ed São Paulo Thomson 1999 BRASIL Lei nº 8069de 13 de julho de 1990Estatuto da Criança e do Adolescente Diário Oficial da União BrasiliaDF16 de julho de 1990 CUNHA P MONTEIRO A P LOURENÇO A A Clima de escola e táticas de gestão de conflito Estudo quantitativo com estudantes portugueses CESPsicol Medellín v 9 n 2 juldec 2016 Disponível em httpwwwscieloorgcopdfcespv9n220113080cesp90200007pdf Acesso em 20 abr 2019 CUNHA Rogério Cunha de Especialistas em Educação ideologia e cotidiano Educação em Revista Belo Horizonte v 2 dez1985 GARCIA Joe Indisciplina na Escola uma reflexão sobre a dimensão preventiva R Paran Desenv Curitiba n 95 p 101108 janabr 1999 Disponível em http wwwipardesprgovbrojsindexphprevistaparanaensearticleview275 Acesso em 20 abr 2019 GROSSi Patrícia Kriegeret al Implementando práticas restaurativas nas escolas brasileiras como estratégia para a construção de uma cultura de paz Rev Diálogo Educ Curitiba v 9 n 28 p 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Paulo Loyola 2011 PLACCO Vera M N ALMEIDA L Rorg O Coordenador Pedagógico provocações se possibilidades de sua atuação São Paulo Loyola 2012 PREFEITURA DE BELO HORIZONTE Escola Aberta Disponível em httpsprefeiturapbhgovbreducacaoescolaaberta Acesso em 15 out 2019 PREFEITURA DE BELO HORIZONTE Escolas de BH participam de programa de justiça restaurativa 2018 Disponível em 46 httpsprefeiturapbhgovbrnoticiasescolasdebhparticipamdeprograma dejusticarestaurativa Acesso em 16 set 2019 PREFEITURA DE BELO HORIZONTE Melhoria da convivência e da segurança no ambiente escolar 2018 Disponível em httpsprefeiturapbhgovbrprojetosestrategicosmelhoriaambienteescolar Acesso em 25 set 2019 ROSENBERG M B Comunicação NãoViolenta São Paulo Editora Ágora 2003 SILVA Itamar M OLIVEIRA Eduardo A M org Práticas de Coordenação Pedagógica na escola pública Curitiba Appris 2017 VINHA Telma Pileggi et al O clima escolar e a convivência respeitosa nas instituições educativas Est Aval Educ São Paulo v 27 n 64 p 96127 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