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Psicologia Institucional
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Compreensão integral do sofrimento humano na triagem psicológica em clínicaescola Icaro Bonamigo Gaspodini 1 Caroline Stumpf Buaes 2 1 Faculdade Meridional IMED Brasil Email icaroicarogmailcom 2 Faculdade Meridional IMED Brasil Email carolinebuaesgmailcom Resumo Em uma clínicaescola o primeiro contato das pessoas que buscam alguma forma de alívio para seu sofrimento geralmente acontece no processo de triagem psicológica um conjunto de entrevistas iniciais que permitem uma compreensão inicial do sujeito para pensar o encaminhamento aos serviços disponíveis Este artigo foi produzido a partir da experiência de um grupo de estágio em triagem psicológica no Serviço Integrado de Atendimento em Psicologia SINAPSI da Faculdade Meridional IMED Ao longo de 10 meses o grupo de 5 estagiáriasos realizou 62 atendimentos e reuniuse semanalmente para encontros de supervisão grupal com duração média de 35 horas O objetivo deste artigo é apresentar a sistematização da forma de trabalho desenvolvida pelo grupo para organizar os procedimentos de agendamento entrevista de acolhimento entrevista de anamnese entrevista lúdica entrevista de devolução e produção textual de relatos de atendimentos e síntese de caso A perspectiva adotada desde o início foi de uma compreensão integral do sofrimento humano desafiando olhares reducionistas ou patologizantes O trabalho do grupo contribuiu no processo de encaminhamento para as linhas de atendimento oferecidas pela clínicaescola e possibilitou um espaço de discussão que permitiu a troca de experiências durante os encontros de supervisão bem como a problematização das questões de poder na prática psicológica Palavraschave Prática psicológica Escuta clínica Triagem psicológica Abstract In a school psychology clinic people who seek some form of relief from their suffering often come across the psychological screening phase a set of initial interviews that permit a preliminary comprehension of the subject in order to think about further referral to available services We produced this article from the experience of a training group of psychology students who worked in psychological screening at Serviço Integrado de Atendimento em Psicologia SINAPSI at Faculdade Meridional IMED During 10 months the group of 5 trainees carried 62 interviews and gathered weekly for group supervision meetings which would last 35 hoursaverage The objective of this article is to present the systematizing of the work developed by the group to organize the procedures of setting the first interview welcoming interview anamnesis ludic interview devolution interview and text production of reports and case syntheses The group adopted the perspective of integral comprehension of human suffering challenging reductionisms and pathologization processes The group contributed to the process of referral to available psychotherapy lines offered by the service and allowed a discussion space to exchange experiences and problematize the matter of power in psychological practice Keywords Psychological practice Clinic listening Psychological screening 1 INTRODUÇÃO Inaugurado em 2011 o Serviço Integrado de Atendimento em Psicologia SINAPSI é um programa para prática de estágio no Curso de Psicologia da Faculdade Meridional IMED em Passo Fundo Rio Grande do Sul A clínicaescola presta atendimento psicológico para a comunidade e a partir da experiência na prática clínica possibilita a produção de conhecimento científico em Psicologia Os atendimentos são distribuídos em diferentes projetos que abordam temas como relações conjugais e familiares transtornos de humor e de ansiedade desenvolvimento humano drogadição e avaliação psicológica O encaminhamento para uma das linhas específicas é o resultado do processo de triagem psicológica o primeiro contato das pessoas com o serviço O SINAPSI atende pessoas que buscam o serviço por livre escolha e também recebe encaminhamentos de órgãos como Centros de Atenção Psicossocial CAPS Os processos de mediação de conflitos familiares realizados pelo Núcleo de Prática Jurídica NUJURIMED também resultam em encaminhamentos para o SINAPSI propiciando o trabalho interdisciplinar com a clínicaescola Este artigo apresenta o trabalho desenvolvido por um grupo de estágio básico responsável pela triagem psicológica do SINAPSI durante o período de 10 meses janmar 2013 No intuito de buscar formas de trabalho que propiciassem uma compreensão integral do sofrimento humano o grupo sistematizou uma forma de compreensão inicial do sofrimento do sujeito de forma integrada que permitiu o encaminhamento para as linhas de psicoterapia oferecidas pelo serviço Compunham o grupo 5 acadêmicasos de Psicologia além da professora supervisora Durante o período do estágio foram atendidas 62 pessoas entre crianças e adultos 2 TRIAGEM PSICOLÓGICA PRÁTICAS DE UMA CLÍNICAESCOLA O objetivo da triagem psicológica é realizar uma compreensão inicial do sofrimento apresentado pela pessoa que procura alguma forma de alivio para seu sofrimento possibilitando a elaboração de hipóteses diagnósticas e a sugestão de caminhos investigativos para a escolha do encaminhamento mais apropriado Enquanto espaço fundamental de escuta e acolhida a triagem é a tarefa de procurar um significado para as perturbações trazidas pelo paciente e de ajudálo a descobrir recursos que o aliviem MARQUES 2005 p 162 A triagem psicológica pode contribuir para responder por exemplo se o encaminhamento para um atendimento focado nos aspectos relacionais beneficiaria melhor a pessoa ao invés de atendimentos individuais outra situação envolve a decisão acerca da adequação dos membros conforme a composição e os objetivos dos grupos terapêuticos TAVARES 2000 p 50 As entrevistas clínicas iniciais compõem um procedimento investigativo limitado no tempo e guiado por entrevistadores que utilizam saberes da Psicologia estabelecendo uma relação cuja finalidade envolve a descrição e avaliação de aspectos pessoais relacionais ou sistêmicos culminando em uma tomada de decisão a que chamamos encaminhamento TAVARES 2000 p 45 O grau de planejamento prévio definirá o formato enquanto entrevistas estruturadas semiestruturadas e de livre estruturação admitindose que qualquer entrevista supõe na verdade exige alguma forma de estruturação TAVARES 2000 p 48 No processo de triagem relatado neste artigo predominou o uso de entrevista semiestruturada que pode ser iniciada por uma técnica mais diretiva com a finalidade de apresentação mútua e esclarecimento do setting seguida de uma técnica de entrevista não estruturada oportunizando a expressão do paciente para finalizar ou encerrar a entrevista novamente com técnicas diretivas preenchendo brechas nas informações coletadas OCAMPO ARZENO 2009 21 Sistematização do trabalho do grupo A Figura 1 mostra o resultado da sistematização do trabalho do grupo de estágio desenvolvido para responder aos seguintes objetivos realizar escuta clínica no processo de triagem psicológica através de entrevistas iniciais criar hipóteses clínicas e sugerir caminhos de investigação relacionados ao encaminhamento de cada caso elaborar durante supervisão em grupo uma compreensão integrada do sofrimento humano para decidir sobre a melhor forma de encaminhamento entre as linhas de atendimento do serviço avaliar a pertinência de encaminhar pessoas para outros serviços de saúde disponíveis na rede local caso necessáriopossível FIGURA 1 Sistematização do processo de triagem psicológica O procedimento diferia para adultos e crianças quando responsável por si própria a pessoa passava por uma entrevista de acolhimento e outra de devolução O atendimento infantil era realizado em quatro encontros entrevista de acolhimento entrevista de anamnese entrevista lúdica e entrevista de devolução A criança participava apenas da entrevista lúdica as outras eram realizadas com mãespais eou cuidadores Como recomendação nenhum atendimento poderia ultrapassar a duração de 50 minutos Nas reuniões semanais de supervisão em grupo cada estagiáriao apresentava ou relatos de entrevistas de acolhimento anamnese lúdica e de devolução ou a síntese do caso documento de encaminhamento para um dos projetos disponíveis no SINAPSI A seguir discutiremos cada aspecto do processo 211 Supervisão A atenção de estagiáriasos de Psicologia geralmente se divide entre suas necessidades de formação e as das pessoas a quem seus serviços se dirigem frequentemente levandoasos a construir discursos saturados dos seus anseios por aprender debilitando o discurso de seus clientes pacientes grupos e usuários CENCI MENESES 2009 p 29 Essa questão apareceu diversas vezes durante os encontros do grupo ressurgindo em diferentes configurações ao longo do processo de estágio assegurando o lugar crucial do modo como a professora realizou a supervisão a partir da criação de um espaço de acolhimento e contingência das questões subjetivas dasos estagiáriasos e a relação dessas questões com o trabalho que cada estudante realizava Na percepção dasos estagiáriasos um dos aspectos mais positivos em reuniões de supervisão são as discussões envolvendo casos clínicos e a curta duração dos encontros é apontada como ponto mais negativo BARLETTA FONSÊCA 2012 Pensando nesses aspectos os encontros de supervisão foram realizados em grupo com periodicidade semanal e duração média de 35 horas Cada estagiáriao dispunha de 40 minutos para exposição de seus relatossínteses dúvidas e questões subjetivas ampliando a riqueza advinda da troca de diferentes olhares para o mesmo caso O processo de estágio foi guiado de modo semelhante ao descrito por Cenci e Meneses 2009 p 35 sobre encontros de supervisão o aluno deve ganhar experiência de vida enquanto ser humano e aprender a diferenciar saberes afinal o sentimento de incapacidade de lidar com a situação pode ser dialogado e reconstruído nesses encontros transformando aquele discurso inicial de eu não sei em um discurso mais apropriado de estou aprendendo estou entendendo 212 Agendamento da primeira entrevista A escolha das pessoas na lista de espera para atendimento seguiu o critério cronológico embora alguns casos apontados como urgentes ganhassem prioridade no agendamento Esses geralmente provinham de encaminhamentos do Núcleo de Prática Jurídica da Escola de Direito NUJURIMED para trabalho interdisciplinar em processos de mediação de conflitos familiares Também era critério de escolha as demandas específicas do próprio SINAPSI em sua diversidade de práticas e linhas de atendimento No atendimento infantil solicitavase que a criança não estivesse presente na primeira entrevista pois se tratava de um espaço em que criança seria narrada a partir dos próprios discursos que a subjetivam Como a clínicaescola não possuía uma sala de espera com atividades lúdicas nem profissionais disponíveis para o cuidado indicavase caso responsáveis comparecem com a criança realizar uma primeira entrevista apenas para a coleta de dados de identificação sem a expressão detalhada da queixa e da história de vida As únicas informações disponíveis no cadastro da lista de espera eram nome idade telefone e data do contato Observouse nos últimos meses do estágio a presença de alguns descritores ao lado dos nomes das pessoas tais como depressão dependência química ou especial Os motivos da presença dos descritores não foram investigados mas foram problematizados em supervisão em relação aos riscos de reducionismo e patologização 213 Entrevista de acolhimento A partir dos objetivos de uma entrevista inicial observamse entre outras as seguintes necessidades perceber a primeira impressão que nos desperta o paciente e ver se ela se mantém ao longo de toda a entrevista ou muda e em que sentido comparar o que o sujeito verbaliza com a imagem que transmite através da maneira de falar compreender o grau de coerência ou discrepância entre tudo que foi verbalizado e tudo o que captamos através de sua linguagem não verbal OCAMPO ARZENO 2009 p 1921 No início da primeira entrevista após apresentação mútua expunhase o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE que apresentava o SINAPSI e explicava a respeito da utilização do conteúdo das entrevistas para fins científicos reforçando a garantia do sigilo Tratavase do momento de esclarecer características processo de triagem em linguagem simples ressaltando o fato de que o processo psicoterapêutico não seria realizado pelao mesmao estagiáriao e que aquele seria apenas o procedimento inicial Também eram explicitadas as combinações em relação ao pagamento Esse momento da entrevista não se apresentava necessariamente de forma rígida ou distanciada porquanto o interesse genuíno dao estagiáriao fosse o de explorar cada dado sociodemográfico como uma possibilidade de compreender o sujeito e construir o vínculo de confiança necessário para o próximo passo Segundo Cordioli e Gomes 2008a p 86 durante uma coleta de dados é possível que ao estagiáriao se perceba como preenchendo um formulário desinteressante ou executando uma tarefa obrigatória no entanto sugere aproveitar as predefinições específicas desse momento para ser cordial demonstrar calor humano simpatia interesse e autenticidade O sujeito somente abordará aspectos delicados de sua história se desenvolver confiança suficiente para fazêlo pois para quem busca atendimento psicológico esse momento pode estar ocorrendo depois de muitas dúvidas expectativas e ambivalências e representa um momento crítico em sua vida CORDIOLI GOMES 2008a p 86 Ainda na primeira entrevista geralmente após decorrida metade do tempo realizavase o acolhimento da queixa do sujeito Nesse momento a pessoa apresentava não somente os motivos pelos quais procurara o serviço como também as próprias hipóteses acerca das razões de seu sofrimento No caso de atendimentos infantis o acolhimento da queixa permitia àsaos estagiáriasos conhecerem um sujeito narrado através de outro situação que Lima 2007 p 64 descreve como suscitante de um questionamento sobre a importância de se diferenciar o discurso dos pais do discurso da própria criança afinal ela só chegará até a clínica se seu sintoma incomodar os pais As impressões iniciais acerca das crianças se desdobravam ao longo do processo confirmandose negandose transformandose Segundo Lima 2007 p 11 caso seja formulada a hipótese de uma criança estar encobrindo outros conflitos relacionais em seu sistema familiar devese considerar a importante função de acolher essas demandas inicialmente formuladas pelos pais para começar um trabalho de depuração a partir de uma escuta que localiza a posição de cada um na situação da qual se queixam Esses espaços de entrevista com responsáveis são importantes para identificar o lugar que o filho ocupa no desejo e na fantasia deles para posteriormente ao escutar a criança identificar de que forma responde a esse lugar que lhe é oferecido LIMA 2007 p 11 214 Entrevista de anamnese e entrevista lúdica Bastava uma observação superficial dos contatos na lista de espera do SINAPSI para que se percebesse a presença de crianças e adolescentes como maior demanda do serviço O fato de crianças chegarem à clínica trazidas por seus responsáveis pode figurar como ponto inicial de reflexão À queixa de mãespais eou cuidadores somamse narrativas atribuídas à criança no contexto escolar muitas vezes culpabilizando apenas a criança por seu atraso problema ou dificuldade Ainda que se culpabilizem as crianças trazêlas para a Psicologia é um indicativo de cuidado que por si só pode funcionar como ponto de partida da psicoterapia A relevância de um olhar crítico à simples chegada da criança à clínicaescola pode possibilitar o engajamento das pessoas responsáveis por seus principais espaços de socialização ampliando a queixa do indivíduo para as interrelações em que se insere Na entrevista de anamnese realizada com responsáveis pela criança investigavase uma série de características dos momentos evolutivos específicos da vida infantil sendo que a quantidade de informação trazida bem como a qualidade e a forma pela qual era transmitida indicavam aspectos da relação daquelae responsável com a criança Carrasco e Pötter 2005 p 187 acreditam que as entrevistas de anamnese devem investigar os aspectos da história do casal que gerou a criança pois as informações revelam o clima familiar à época de seu nascimento e irão refletir em seu desenvolvimento biopsicossocial A extensão da entrevista de anamnese foi discutida pelo grupo que percebeu a importância no desdobramento de narrativas ricas em informações sobre as crianças sendo que durante grande parte das entrevistas sobre a criança acabavam fornecendo informações sobre os próprios informantes Os dados coletados nas entrevistas sobre a criança eram confrontados com as impressões do encontro proporcionado pela entrevista lúdica centrada em brincadeiras com um fundo investigativo relacionado à queixa A prática da entrevista lúdica foi fundamentada ao longo do estágio no critério diagnóstico da hora do jogo Citando o trabalho de Arminda Aberastury Werlang 2000 p 98 explica que a hora do jogo se fundamenta no pressuposto de que fenômenos transferenciais não se estabelecem apenas com a terapeuta mas que a criança é capaz de estruturar através dos brinquedos a representação de seus conflitos básicos suas principais defesas e fantasias de doença e cura deixando em evidência já nos primeiros encontros o seu funcionamento mental Antes de iniciar a entrevista lúdica investigavase se a criança conhecia os motivos pelos quais havia sido trazida até uma clínicaescola e qual sua representação de profissionais da Psicologia afinal segundo Carrasco e Pötter 2005 p 187 essa atitude faz com que o paciente tenha confiança no psicólogo podendo mesmo em um curto processo deixar transparecer os motivos de seu sofrimento psíquico O procedimento da entrevista lúdica procurava atender ao que foi sugerido por Werlang 2000 p 98 oferecer à criança a oportunidade de brincar como deseje com todo o material lúdico disponível na sala esclarecendo sobre o espaço onde poderá brincar sobre o tempo disponível os papéis da criança e dao estagiáriao e também os objetivos dessa atividade que possibilitará conhecêla mais e assim poder posteriormente ajudála 215 Entrevista de devolução Segundo Tavares 2000 p 51 as entrevistas de devolução comunicam o resultado da avaliação ao sujeito permitindo a expressão de seus pensamentos e sentimentos em relação às conclusões e recomendações do avaliador O autor conclui que mesmo na fase devolutiva a entrevista mantém seu aspecto avaliativo e temse a oportunidade de verificar a atitude do sujeito em relação à avaliação e às recomendações Para Teixeira et al 2004 p 3 tratase de um importante momento para retomar os motivos da consulta a necessidade ou não de tratamento psicológico e a indicação terapêutica Os autores também sugerem a abordagem de questões negadas até o momento e o esclarecimento de assuntos obscuros com o intuito de colocar a queixa no seu devido lugar Percebeuse entre os relatos do grupo certa frequência de ocasiões em que informações relevantes apareciam apenas na entrevista de devolução por vezes em seus últimos momentos Entre as razões levantadas em busca de uma explicação foi considerado o fato da celeridade do processo de triagem 2 encontros no atendimento adulto 4 encontros no atendimento infantil relacionada ao tempo subjetivo de cada pessoa em adquirir a confiança necessária para abordar questões conflitivas 216 Produção textual os relatos e a síntese do caso Os relatos escritos dos atendimentos eram apresentados na supervisão em grupo mediante exposição oral eou projeção A construção textual foi considerada parte integrante do processo investigativo da triagem psicológica pois a produção de um discurso sobre um sujeito acabava sendo o produto final do documento de encaminhamento a síntese do caso A elaboração da síntese do caso era a última tarefa realizada antes do encaminhamento final O modelo de síntese desenvolvido pelo grupo fornecia uma compreensão de cada caso com informações relevantes ao início do processo de psicoterapia a ser realizado pelasos estagiáriasos de Clínica responsáveis pelo processo psicoterapêutico Esse documento apresentava uma primeira página destacando a queixa que segundo Toy e Klamen 2011 p 2021 deve ser descrita preferencialmente nas próprias palavras do sujeito por mais bizarras que sejam colocando suas afirmações entre aspas para que os leitores saibam que se trata de uma transcrição literal do que o paciente relatou e não das palavras do redator A primeira página ainda informava as datas das entrevistas realizadas e o encaminhamento sugerido O corpo do documento era divido nas seguintes seções a Impressões gerais aspectos socioeconômicos expressão verbal e nãoverbal higiene vestuário comportamento durante a entrevista aparência sinais de ansiedade capacidade de insight e recursos de saúde que auxiliarão num bom prognóstico Nesta seção ainda constava o grau de motivação para o processo psicoterapêutico b Início e curso da queixa atual aspectos prémórbidos evolução do sofrimento do sujeito hipóteses diagnósticas dasos acadêmicasos bem como a percepção do sujeito de seu próprio sofrimento com as hipóteses que criou sobre sua situação Aqui também se buscou entender o porquê da procura naquele momento específico do curso da queixa c História de vida aspectos relevantes acerca do desenvolvimento do sujeito dinâmicas familiares ou conjugais momentos e experiências marcantes que tenham relação com a queixa apresentada d Encaminhamento para uma das linhas de atendimento oferecidas pelo serviço bem como encaminhamentos externos presentes na rede local de atendimento à saúde quando necessário e possível Antes da elaboração da última seção da síntese do caso as questões relativas ao encaminhamento eram discutidas e decididas em supervisão a partir das demandas do sujeito e da disponibilidade do próprio serviço conforme detalhado na próxima seção 217 Processo de Encaminhamento O encaminhamento pode ser abordado a partir de três hipóteses iniciais partindo das diferenças entre as abordagens psicodinâmica cognitivocomportamental e sistêmica A hipótese psicodinâmica entende que os conflitos entre forças psíquicas determinam os sintomas presentes quando impulsos ou emoções intoleráveis e mecanismos de defesa adaptativos ou não impedem que o sujeito se torne consciente dos motivos subjacentes ao seu sofrimento Uma hipótese cognitivocomportamental se preocupa com a gênese na modulação e principalmente na manutenção dos sintomas de determinados transtornos como resultado de influências de aprendizagens errôneas identificando pensamentos automáticos como consequência de crenças nucleares disfuncionais Finalmente a hipótese sistêmica aponta para a relevância das interações influências recíprocas e papéis que existem nas relações do sujeito que mora com a família ou mantém uma relação íntima significativa com outra pessoa CORDIOLI GOMES 2008a p 94 96 A decisão por uma modalidade específica de psicoterapia depende em grande parte das condições pessoais do paciente para se beneficiar dos diferentes modelos CORDIOLI GOMES 2008a p 97 Dentre essas condições é preciso avaliar o grau de sofrimento psíquico do sujeito leve moderado grave muito grave a motivação para realizar mudanças pessoais através da psicoterapia a qualidade das relações de objeto e a capacidade de se vincular ao terapeuta e de estabelecer uma aliança terapêutica a disposição para produzir insights sobre o próprio problema ou a capacidade de utilizar o chamado pensar psicológico conceito que inclui o desejo do paciente em aprender os possíveis significados e causas de suas experiências internas e externas a habilidade de olhar preferentemente para dentro de si na direção dos fatores psicológicos e não só para fatores externos ou ambientais os recursos de ego e as vulnerabilidades do sujeito e a presença ou não de um foco problemático CORDIOLI GOMES 2008b p 104116 Nas reuniões de supervisão durante as discussões acerca do encaminhamento dos sujeitos era comum encontrar pontos de convergência entre as diferentes possibilidades de atendimento psicoterápico Procurouse fugir do lugar comum por exemplo indicando psicoterapia de orientação analítica para pessoas que precisam se conhecer melhor ou psicoterapia cognitivo comportamental para simples remoção de sintomas Apesar de se levar em conta a indicação terapêutica de determinadas abordagens para determinados problemas acreditouse que os pontos em comum entre as diferentes linhas teóricas pudessem beneficiar o sujeito na elaboração de seu sofrimento Quanto aos encaminhamentos das crianças esses foram dirigidos às linhas de orientação psicodinâmica individual ou em grupo sistêmica através da terapia familiar ou avaliação psicológica processo ateórico Realizouse também o trabalho terapêutico com grupos de criança sob o referencial teórico psicanalítico De qualquer forma Falceto 2008 indica o envolvimento da família no trabalho com crianças em qualquer linha teórica ou abordagem técnica Algumas das dificuldades encontradas em tais casos dificultaram o processo de triagem oferecido pelo SINAPSI como por exemplo a ultrapassagem do valor definido como limite para rendimentos mensais característica irrelevante para as práticas do NUJUR no entanto critério de inclusãoexclusão nas práticas do SINAPSI O caráter de urgência implícito ou explícito nas ações judiciais também dificultou o encaminhamento para dentro do próprio serviço pois após a triagem a pessoa precisava retornar a outra lista de espera para iniciar atendimento 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estagiar em triagem psicológica durante o curto período de dez meses certamente não nos prepara para a clínica como um método muito menos para a psicoterapia como tecnologia OLIVEIRA 2011 mas de qualquer maneira a aprendizagem do silêncio interno implícita no exercício da escuta possibilitou repensar as expectativas pessoais dasos estagiáriasos em torno desse encontro com as pessoas em sofrimento Estar em contato com uma pessoa que busca alívio para seu sofrimento é certamente ocupar um lugar de poder nesta relação Tratase de um privilégio automático dado às pessoas que trabalham na área da saúde por acessar a fragilidade do ser humano em situação de dor e sua vulnerabilidade aos cuidados de quem sabe Esperase imediatamente que asos psicólogasos saibam o que se passa com quem asos procura Tal quadro também é sustentado por uma representação social da profissão que reproduz o estigma da ajuda O serviço de triagem psicológica desenvolvido pelo grupo contribuiu no processo de encaminhamento para as linhas de atendimento oferecidas pela clínicaescola As pessoas atendidas relatavam em geral uma leve melhora pelo simples fato de terem sido ouvidas com atenção e respeito A metodologia de trabalho do grupo permitiu a compreensão integrada do sofrimento das pessoas e instrumentalizou a escolha pela abordagem que daria continuidade ao processo psicoterapêutico Ao confrontar idealizações pessoais com a realidade que se apresentava foi possível perceber o quanto nos sentimos vulneráveis frente ao sofrimento do outro e como esse sentimento desperta a necessidade de colaborar para sua redução principalmente quando acreditamos possuir os caminhos para fazêlo Aos poucos foise desconstruindo a ideia binária de colocar em prática os conhecimentos teóricos conforme percebíamos a impossibilidade de separação dessas instâncias O trabalho com a coisa mental ou coisa subjetiva OLIVEIRA 2011 exige esforços no sentido de aproximar asos profissionais de quem asos procuram compreendendo as relações de poder na técnica psicoterapêutica e suas implicações clínicas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARLETTA Janaína Bianca FONSÊCA Ana Lúcia Barreto da Avaliação do processo supervisionado como norteador de ensino de psicoterapia reflexões sobre a vivência prática Revista de Psicologia da IMED Passo Fundo v 4 n 1 p 671680 2012 CARRASCO Leanira Kesseli PÖTTER Juliana Rausch Psicodiagnóstico recurso de compreensão In MACEDO Mônica Medeiros Kother CARRASCO Leanira Kesseli Orgs Contextos de entrevista olhares diversos sobre a interação humana São Paulo Casa do Psicólogo 2005 p 181191 CENCI Cláudia Mara Bosetto MENESES María Piedad Rangel Meneses Intervenção psicossocial estudo de um caso a partir da formação de psicólogos e as narrativas como meio de ação In CENCI Cláudia Mara Bosetto MAURINA Leda Rúbia Corbulim WAGNER Marcia Fortes Orgs Intervenções da psicologia transitando em diferentes contextos Passo Fundo IMED 2009 p 2536 CORDIOLI Aristides Volpato GOMES Fabiano Alves O diagnóstico do paciente e a escolha da psicoterapia In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008a p 85102 As condições do paciente e a escolha da psicoterapia In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008b p 103124 FALCETO Olga Garcia Terapia de Família In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008 p 221245 LIMA Nádia Laguárdia de Atendimento às crianças na clínicaescola desafios e possibilidades In REIS José Tiago dos FRANCO Vânia Carneiro Orgs Aprendizes da clínica novos saberes psi São Paulo Casa do Psicólogo 2007 p 6378 MARQUES Nádia Entrevista de triagem espaço de acolhimento escuta e ajuda terapêutica In MACEDO Mônica Medeiros Kother CARRASCO Leanira Kesseli Orgs Contextos de entrevista olhares diversos sobre a interação humana São Paulo Casa do Psicólogo 2005 p 161180 OCAMPO María Luisa Siquier de ARZENO María Esther García A entrevista inicial In OCAMPO María Luisa Siquier de ARZENO María Esther García PICCOLO Elza Grassano de O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas Tradução de Miriam Felzenszwalb 11 ed São Paulo Editora WMF Martins Fontes 2009 p 1646 OLIVEIRA Marcus Vinícius de Mesa A ação clínica e os espaços institucionais das políticas públicas desafios éticos e técnicos In CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA CFP V Seminário Nacional Psicologia e Políticas Públicas Subjetividade Cidadania e Políticas Públicas Brasília CFP 2011 p 85 106 TAVARES Marcelo A entrevista clínica In CUNHA J A et al PsicodiagnósticoV 5 ed Porto Alegre Artmed 2000 p 4556 TEIXEIRA Egínia Lúcia Alves et al Avaliação Psicológica da Criança Triagem uma Articulação Assistência e Ensino no Ambulatório Bias Fortes do HCUFMG In 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária 2004 Belo Horizonte MG Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Disponível em httpswwwufmgbrcongrextSaudeSaude46pdf Acesso em 30 maio 2014 TOY Eugene C KLAMEN Debra Casos Clínicos em Psiquiatria 3 ed Porto Alegre AMGH Editora 2011 VASCONCELLOS Maria José Esteves de Pensamento Sistêmico O novo paradigma da ciência 9 ed Campinas Papirus 2012 WERLANG Blanca Guevara Entrevista lúdica In CUNHA J A et al PsicodiagnósticoV 5 ed Porto Alegre Artmed 2000 p 96104
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practice Keywords Psychological practice Clinic listening Psychological screening 1 INTRODUÇÃO Inaugurado em 2011 o Serviço Integrado de Atendimento em Psicologia SINAPSI é um programa para prática de estágio no Curso de Psicologia da Faculdade Meridional IMED em Passo Fundo Rio Grande do Sul A clínicaescola presta atendimento psicológico para a comunidade e a partir da experiência na prática clínica possibilita a produção de conhecimento científico em Psicologia Os atendimentos são distribuídos em diferentes projetos que abordam temas como relações conjugais e familiares transtornos de humor e de ansiedade desenvolvimento humano drogadição e avaliação psicológica O encaminhamento para uma das linhas específicas é o resultado do processo de triagem psicológica o primeiro contato das pessoas com o serviço O SINAPSI atende pessoas que buscam o serviço por livre escolha e também recebe encaminhamentos de órgãos como Centros de Atenção Psicossocial CAPS Os processos de mediação de conflitos familiares realizados pelo Núcleo de Prática Jurídica NUJURIMED também resultam em encaminhamentos para o SINAPSI propiciando o trabalho interdisciplinar com a clínicaescola Este artigo apresenta o trabalho desenvolvido por um grupo de estágio básico responsável pela triagem psicológica do SINAPSI durante o período de 10 meses janmar 2013 No intuito de buscar formas de trabalho que propiciassem uma compreensão integral do sofrimento humano o grupo sistematizou uma forma de compreensão inicial do sofrimento do sujeito de forma integrada que permitiu o encaminhamento para as linhas de psicoterapia oferecidas pelo serviço Compunham o grupo 5 acadêmicasos de Psicologia além da professora supervisora Durante o período do estágio foram atendidas 62 pessoas entre crianças e adultos 2 TRIAGEM PSICOLÓGICA PRÁTICAS DE UMA CLÍNICAESCOLA O objetivo da triagem psicológica é realizar uma compreensão inicial do sofrimento apresentado pela pessoa que procura alguma forma de alivio para seu sofrimento possibilitando a elaboração de hipóteses diagnósticas e a sugestão de caminhos investigativos para a escolha do encaminhamento mais apropriado Enquanto espaço fundamental de escuta e acolhida a triagem é a tarefa de procurar um significado para as perturbações trazidas pelo paciente e de ajudálo a descobrir recursos que o aliviem MARQUES 2005 p 162 A triagem psicológica pode contribuir para responder por exemplo se o encaminhamento para um atendimento focado nos aspectos relacionais beneficiaria melhor a pessoa ao invés de atendimentos individuais outra situação envolve a decisão acerca da adequação dos membros conforme a composição e os objetivos dos grupos terapêuticos TAVARES 2000 p 50 As entrevistas clínicas iniciais compõem um procedimento investigativo limitado no tempo e guiado por entrevistadores que utilizam saberes da Psicologia estabelecendo uma relação cuja finalidade envolve a descrição e avaliação de aspectos pessoais relacionais ou sistêmicos culminando em uma tomada de decisão a que chamamos encaminhamento TAVARES 2000 p 45 O grau de planejamento prévio definirá o formato enquanto entrevistas estruturadas semiestruturadas e de livre estruturação admitindose que qualquer entrevista supõe na verdade exige alguma forma de estruturação TAVARES 2000 p 48 No processo de triagem relatado neste artigo predominou o uso de entrevista semiestruturada que pode ser iniciada por uma técnica mais diretiva com a finalidade de apresentação mútua e esclarecimento do setting seguida de uma técnica de entrevista não estruturada oportunizando a expressão do paciente para finalizar ou encerrar a entrevista novamente com técnicas diretivas preenchendo brechas nas informações coletadas OCAMPO ARZENO 2009 21 Sistematização do trabalho do grupo A Figura 1 mostra o resultado da sistematização do trabalho do grupo de estágio desenvolvido para responder aos seguintes objetivos realizar escuta clínica no processo de triagem psicológica através de entrevistas iniciais criar hipóteses clínicas e sugerir caminhos de investigação relacionados ao encaminhamento de cada caso elaborar durante supervisão em grupo uma compreensão integrada do sofrimento humano para decidir sobre a melhor forma de encaminhamento entre as linhas de atendimento do serviço avaliar a pertinência de encaminhar pessoas para outros serviços de saúde disponíveis na rede local caso necessáriopossível FIGURA 1 Sistematização do processo de triagem psicológica O procedimento diferia para adultos e crianças quando responsável por si própria a pessoa passava por uma entrevista de acolhimento e outra de devolução O atendimento infantil era realizado em quatro encontros entrevista de acolhimento entrevista de anamnese entrevista lúdica e entrevista de devolução A criança participava apenas da entrevista lúdica as outras eram realizadas com mãespais eou cuidadores Como recomendação nenhum atendimento poderia ultrapassar a duração de 50 minutos Nas reuniões semanais de supervisão em grupo cada estagiáriao apresentava ou relatos de entrevistas de acolhimento anamnese lúdica e de devolução ou a síntese do caso documento de encaminhamento para um dos projetos disponíveis no SINAPSI A seguir discutiremos cada aspecto do processo 211 Supervisão A atenção de estagiáriasos de Psicologia geralmente se divide entre suas necessidades de formação e as das pessoas a quem seus serviços se dirigem frequentemente levandoasos a construir discursos saturados dos seus anseios por aprender debilitando o discurso de seus clientes pacientes grupos e usuários CENCI MENESES 2009 p 29 Essa questão apareceu diversas vezes durante os encontros do grupo ressurgindo em diferentes configurações ao longo do processo de estágio assegurando o lugar crucial do modo como a professora realizou a supervisão a partir da criação de um espaço de acolhimento e contingência das questões subjetivas dasos estagiáriasos e a relação dessas questões com o trabalho que cada estudante realizava Na percepção dasos estagiáriasos um dos aspectos mais positivos em reuniões de supervisão são as discussões envolvendo casos clínicos e a curta duração dos encontros é apontada como ponto mais negativo BARLETTA FONSÊCA 2012 Pensando nesses aspectos os encontros de supervisão foram realizados em grupo com periodicidade semanal e duração média de 35 horas Cada estagiáriao dispunha de 40 minutos para exposição de seus relatossínteses dúvidas e questões subjetivas ampliando a riqueza advinda da troca de diferentes olhares para o mesmo caso O processo de estágio foi guiado de modo semelhante ao descrito por Cenci e Meneses 2009 p 35 sobre encontros de supervisão o aluno deve ganhar experiência de vida enquanto ser humano e aprender a diferenciar saberes afinal o sentimento de incapacidade de lidar com a situação pode ser dialogado e reconstruído nesses encontros transformando aquele discurso inicial de eu não sei em um discurso mais apropriado de estou aprendendo estou entendendo 212 Agendamento da primeira entrevista A escolha das pessoas na lista de espera para atendimento seguiu o critério cronológico embora alguns casos apontados como urgentes ganhassem prioridade no agendamento Esses geralmente provinham de encaminhamentos do Núcleo de Prática Jurídica da Escola de Direito NUJURIMED para trabalho interdisciplinar em processos de mediação de conflitos familiares Também era critério de escolha as demandas específicas do próprio SINAPSI em sua diversidade de práticas e linhas de atendimento No atendimento infantil solicitavase que a criança não estivesse presente na primeira entrevista pois se tratava de um espaço em que criança seria narrada a partir dos próprios discursos que a subjetivam Como a clínicaescola não possuía uma sala de espera com atividades lúdicas nem profissionais disponíveis para o cuidado indicavase caso responsáveis comparecem com a criança realizar uma primeira entrevista apenas para a coleta de dados de identificação sem a expressão detalhada da queixa e da história de vida As únicas informações disponíveis no cadastro da lista de espera eram nome idade telefone e data do contato Observouse nos últimos meses do estágio a presença de alguns descritores ao lado dos nomes das pessoas tais como depressão dependência química ou especial Os motivos da presença dos descritores não foram investigados mas foram problematizados em supervisão em relação aos riscos de reducionismo e patologização 213 Entrevista de acolhimento A partir dos objetivos de uma entrevista inicial observamse entre outras as seguintes necessidades perceber a primeira impressão que nos desperta o paciente e ver se ela se mantém ao longo de toda a entrevista ou muda e em que sentido comparar o que o sujeito verbaliza com a imagem que transmite através da maneira de falar compreender o grau de coerência ou discrepância entre tudo que foi verbalizado e tudo o que captamos através de sua linguagem não verbal OCAMPO ARZENO 2009 p 1921 No início da primeira entrevista após apresentação mútua expunhase o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE que apresentava o SINAPSI e explicava a respeito da utilização do conteúdo das entrevistas para fins científicos reforçando a garantia do sigilo Tratavase do momento de esclarecer características processo de triagem em linguagem simples ressaltando o fato de que o processo psicoterapêutico não seria realizado pelao mesmao estagiáriao e que aquele seria apenas o procedimento inicial Também eram explicitadas as combinações em relação ao pagamento Esse momento da entrevista não se apresentava necessariamente de forma rígida ou distanciada porquanto o interesse genuíno dao estagiáriao fosse o de explorar cada dado sociodemográfico como uma possibilidade de compreender o sujeito e construir o vínculo de confiança necessário para o próximo passo Segundo Cordioli e Gomes 2008a p 86 durante uma coleta de dados é possível que ao estagiáriao se perceba como preenchendo um formulário desinteressante ou executando uma tarefa obrigatória no entanto sugere aproveitar as predefinições específicas desse momento para ser cordial demonstrar calor humano simpatia interesse e autenticidade O sujeito somente abordará aspectos delicados de sua história se desenvolver confiança suficiente para fazêlo pois para quem busca atendimento psicológico esse momento pode estar ocorrendo depois de muitas dúvidas expectativas e ambivalências e representa um momento crítico em sua vida CORDIOLI GOMES 2008a p 86 Ainda na primeira entrevista geralmente após decorrida metade do tempo realizavase o acolhimento da queixa do sujeito Nesse momento a pessoa apresentava não somente os motivos pelos quais procurara o serviço como também as próprias hipóteses acerca das razões de seu sofrimento No caso de atendimentos infantis o acolhimento da queixa permitia àsaos estagiáriasos conhecerem um sujeito narrado através de outro situação que Lima 2007 p 64 descreve como suscitante de um questionamento sobre a importância de se diferenciar o discurso dos pais do discurso da própria criança afinal ela só chegará até a clínica se seu sintoma incomodar os pais As impressões iniciais acerca das crianças se desdobravam ao longo do processo confirmandose negandose transformandose Segundo Lima 2007 p 11 caso seja formulada a hipótese de uma criança estar encobrindo outros conflitos relacionais em seu sistema familiar devese considerar a importante função de acolher essas demandas inicialmente formuladas pelos pais para começar um trabalho de depuração a partir de uma escuta que localiza a posição de cada um na situação da qual se queixam Esses espaços de entrevista com responsáveis são importantes para identificar o lugar que o filho ocupa no desejo e na fantasia deles para posteriormente ao escutar a criança identificar de que forma responde a esse lugar que lhe é oferecido LIMA 2007 p 11 214 Entrevista de anamnese e entrevista lúdica Bastava uma observação superficial dos contatos na lista de espera do SINAPSI para que se percebesse a presença de crianças e adolescentes como maior demanda do serviço O fato de crianças chegarem à clínica trazidas por seus responsáveis pode figurar como ponto inicial de reflexão À queixa de mãespais eou cuidadores somamse narrativas atribuídas à criança no contexto escolar muitas vezes culpabilizando apenas a criança por seu atraso problema ou dificuldade Ainda que se culpabilizem as crianças trazêlas para a Psicologia é um indicativo de cuidado que por si só pode funcionar como ponto de partida da psicoterapia A relevância de um olhar crítico à simples chegada da criança à clínicaescola pode possibilitar o engajamento das pessoas responsáveis por seus principais espaços de socialização ampliando a queixa do indivíduo para as interrelações em que se insere Na entrevista de anamnese realizada com responsáveis pela criança investigavase uma série de características dos momentos evolutivos específicos da vida infantil sendo que a quantidade de informação trazida bem como a qualidade e a forma pela qual era transmitida indicavam aspectos da relação daquelae responsável com a criança Carrasco e Pötter 2005 p 187 acreditam que as entrevistas de anamnese devem investigar os aspectos da história do casal que gerou a criança pois as informações revelam o clima familiar à época de seu nascimento e irão refletir em seu desenvolvimento biopsicossocial A extensão da entrevista de anamnese foi discutida pelo grupo que percebeu a importância no desdobramento de narrativas ricas em informações sobre as crianças sendo que durante grande parte das entrevistas sobre a criança acabavam fornecendo informações sobre os próprios informantes Os dados coletados nas entrevistas sobre a criança eram confrontados com as impressões do encontro proporcionado pela entrevista lúdica centrada em brincadeiras com um fundo investigativo relacionado à queixa A prática da entrevista lúdica foi fundamentada ao longo do estágio no critério diagnóstico da hora do jogo Citando o trabalho de Arminda Aberastury Werlang 2000 p 98 explica que a hora do jogo se fundamenta no pressuposto de que fenômenos transferenciais não se estabelecem apenas com a terapeuta mas que a criança é capaz de estruturar através dos brinquedos a representação de seus conflitos básicos suas principais defesas e fantasias de doença e cura deixando em evidência já nos primeiros encontros o seu funcionamento mental Antes de iniciar a entrevista lúdica investigavase se a criança conhecia os motivos pelos quais havia sido trazida até uma clínicaescola e qual sua representação de profissionais da Psicologia afinal segundo Carrasco e Pötter 2005 p 187 essa atitude faz com que o paciente tenha confiança no psicólogo podendo mesmo em um curto processo deixar transparecer os motivos de seu sofrimento psíquico O procedimento da entrevista lúdica procurava atender ao que foi sugerido por Werlang 2000 p 98 oferecer à criança a oportunidade de brincar como deseje com todo o material lúdico disponível na sala esclarecendo sobre o espaço onde poderá brincar sobre o tempo disponível os papéis da criança e dao estagiáriao e também os objetivos dessa atividade que possibilitará conhecêla mais e assim poder posteriormente ajudála 215 Entrevista de devolução Segundo Tavares 2000 p 51 as entrevistas de devolução comunicam o resultado da avaliação ao sujeito permitindo a expressão de seus pensamentos e sentimentos em relação às conclusões e recomendações do avaliador O autor conclui que mesmo na fase devolutiva a entrevista mantém seu aspecto avaliativo e temse a oportunidade de verificar a atitude do sujeito em relação à avaliação e às recomendações Para Teixeira et al 2004 p 3 tratase de um importante momento para retomar os motivos da consulta a necessidade ou não de tratamento psicológico e a indicação terapêutica Os autores também sugerem a abordagem de questões negadas até o momento e o esclarecimento de assuntos obscuros com o intuito de colocar a queixa no seu devido lugar Percebeuse entre os relatos do grupo certa frequência de ocasiões em que informações relevantes apareciam apenas na entrevista de devolução por vezes em seus últimos momentos Entre as razões levantadas em busca de uma explicação foi considerado o fato da celeridade do processo de triagem 2 encontros no atendimento adulto 4 encontros no atendimento infantil relacionada ao tempo subjetivo de cada pessoa em adquirir a confiança necessária para abordar questões conflitivas 216 Produção textual os relatos e a síntese do caso Os relatos escritos dos atendimentos eram apresentados na supervisão em grupo mediante exposição oral eou projeção A construção textual foi considerada parte integrante do processo investigativo da triagem psicológica pois a produção de um discurso sobre um sujeito acabava sendo o produto final do documento de encaminhamento a síntese do caso A elaboração da síntese do caso era a última tarefa realizada antes do encaminhamento final O modelo de síntese desenvolvido pelo grupo fornecia uma compreensão de cada caso com informações relevantes ao início do processo de psicoterapia a ser realizado pelasos estagiáriasos de Clínica responsáveis pelo processo psicoterapêutico Esse documento apresentava uma primeira página destacando a queixa que segundo Toy e Klamen 2011 p 2021 deve ser descrita preferencialmente nas próprias palavras do sujeito por mais bizarras que sejam colocando suas afirmações entre aspas para que os leitores saibam que se trata de uma transcrição literal do que o paciente relatou e não das palavras do redator A primeira página ainda informava as datas das entrevistas realizadas e o encaminhamento sugerido O corpo do documento era divido nas seguintes seções a Impressões gerais aspectos socioeconômicos expressão verbal e nãoverbal higiene vestuário comportamento durante a entrevista aparência sinais de ansiedade capacidade de insight e recursos de saúde que auxiliarão num bom prognóstico Nesta seção ainda constava o grau de motivação para o processo psicoterapêutico b Início e curso da queixa atual aspectos prémórbidos evolução do sofrimento do sujeito hipóteses diagnósticas dasos acadêmicasos bem como a percepção do sujeito de seu próprio sofrimento com as hipóteses que criou sobre sua situação Aqui também se buscou entender o porquê da procura naquele momento específico do curso da queixa c História de vida aspectos relevantes acerca do desenvolvimento do sujeito dinâmicas familiares ou conjugais momentos e experiências marcantes que tenham relação com a queixa apresentada d Encaminhamento para uma das linhas de atendimento oferecidas pelo serviço bem como encaminhamentos externos presentes na rede local de atendimento à saúde quando necessário e possível Antes da elaboração da última seção da síntese do caso as questões relativas ao encaminhamento eram discutidas e decididas em supervisão a partir das demandas do sujeito e da disponibilidade do próprio serviço conforme detalhado na próxima seção 217 Processo de Encaminhamento O encaminhamento pode ser abordado a partir de três hipóteses iniciais partindo das diferenças entre as abordagens psicodinâmica cognitivocomportamental e sistêmica A hipótese psicodinâmica entende que os conflitos entre forças psíquicas determinam os sintomas presentes quando impulsos ou emoções intoleráveis e mecanismos de defesa adaptativos ou não impedem que o sujeito se torne consciente dos motivos subjacentes ao seu sofrimento Uma hipótese cognitivocomportamental se preocupa com a gênese na modulação e principalmente na manutenção dos sintomas de determinados transtornos como resultado de influências de aprendizagens errôneas identificando pensamentos automáticos como consequência de crenças nucleares disfuncionais Finalmente a hipótese sistêmica aponta para a relevância das interações influências recíprocas e papéis que existem nas relações do sujeito que mora com a família ou mantém uma relação íntima significativa com outra pessoa CORDIOLI GOMES 2008a p 94 96 A decisão por uma modalidade específica de psicoterapia depende em grande parte das condições pessoais do paciente para se beneficiar dos diferentes modelos CORDIOLI GOMES 2008a p 97 Dentre essas condições é preciso avaliar o grau de sofrimento psíquico do sujeito leve moderado grave muito grave a motivação para realizar mudanças pessoais através da psicoterapia a qualidade das relações de objeto e a capacidade de se vincular ao terapeuta e de estabelecer uma aliança terapêutica a disposição para produzir insights sobre o próprio problema ou a capacidade de utilizar o chamado pensar psicológico conceito que inclui o desejo do paciente em aprender os possíveis significados e causas de suas experiências internas e externas a habilidade de olhar preferentemente para dentro de si na direção dos fatores psicológicos e não só para fatores externos ou ambientais os recursos de ego e as vulnerabilidades do sujeito e a presença ou não de um foco problemático CORDIOLI GOMES 2008b p 104116 Nas reuniões de supervisão durante as discussões acerca do encaminhamento dos sujeitos era comum encontrar pontos de convergência entre as diferentes possibilidades de atendimento psicoterápico Procurouse fugir do lugar comum por exemplo indicando psicoterapia de orientação analítica para pessoas que precisam se conhecer melhor ou psicoterapia cognitivo comportamental para simples remoção de sintomas Apesar de se levar em conta a indicação terapêutica de determinadas abordagens para determinados problemas acreditouse que os pontos em comum entre as diferentes linhas teóricas pudessem beneficiar o sujeito na elaboração de seu sofrimento Quanto aos encaminhamentos das crianças esses foram dirigidos às linhas de orientação psicodinâmica individual ou em grupo sistêmica através da terapia familiar ou avaliação psicológica processo ateórico Realizouse também o trabalho terapêutico com grupos de criança sob o referencial teórico psicanalítico De qualquer forma Falceto 2008 indica o envolvimento da família no trabalho com crianças em qualquer linha teórica ou abordagem técnica Algumas das dificuldades encontradas em tais casos dificultaram o processo de triagem oferecido pelo SINAPSI como por exemplo a ultrapassagem do valor definido como limite para rendimentos mensais característica irrelevante para as práticas do NUJUR no entanto critério de inclusãoexclusão nas práticas do SINAPSI O caráter de urgência implícito ou explícito nas ações judiciais também dificultou o encaminhamento para dentro do próprio serviço pois após a triagem a pessoa precisava retornar a outra lista de espera para iniciar atendimento 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estagiar em triagem psicológica durante o curto período de dez meses certamente não nos prepara para a clínica como um método muito menos para a psicoterapia como tecnologia OLIVEIRA 2011 mas de qualquer maneira a aprendizagem do silêncio interno implícita no exercício da escuta possibilitou repensar as expectativas pessoais dasos estagiáriasos em torno desse encontro com as pessoas em sofrimento Estar em contato com uma pessoa que busca alívio para seu sofrimento é certamente ocupar um lugar de poder nesta relação Tratase de um privilégio automático dado às pessoas que trabalham na área da saúde por acessar a fragilidade do ser humano em situação de dor e sua vulnerabilidade aos cuidados de quem sabe Esperase imediatamente que asos psicólogasos saibam o que se passa com quem asos procura Tal quadro também é sustentado por uma representação social da profissão que reproduz o estigma da ajuda O serviço de triagem psicológica desenvolvido pelo grupo contribuiu no processo de encaminhamento para as linhas de atendimento oferecidas pela clínicaescola As pessoas atendidas relatavam em geral uma leve melhora pelo simples fato de terem sido ouvidas com atenção e respeito A metodologia de trabalho do grupo permitiu a compreensão integrada do sofrimento das pessoas e instrumentalizou a escolha pela abordagem que daria continuidade ao processo psicoterapêutico Ao confrontar idealizações pessoais com a realidade que se apresentava foi possível perceber o quanto nos sentimos vulneráveis frente ao sofrimento do outro e como esse sentimento desperta a necessidade de colaborar para sua redução principalmente quando acreditamos possuir os caminhos para fazêlo Aos poucos foise desconstruindo a ideia binária de colocar em prática os conhecimentos teóricos conforme percebíamos a impossibilidade de separação dessas instâncias O trabalho com a coisa mental ou coisa subjetiva OLIVEIRA 2011 exige esforços no sentido de aproximar asos profissionais de quem asos procuram compreendendo as relações de poder na técnica psicoterapêutica e suas implicações clínicas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARLETTA Janaína Bianca FONSÊCA Ana Lúcia Barreto da Avaliação do processo supervisionado como norteador de ensino de psicoterapia reflexões sobre a vivência prática Revista de Psicologia da IMED Passo Fundo v 4 n 1 p 671680 2012 CARRASCO Leanira Kesseli PÖTTER Juliana Rausch Psicodiagnóstico recurso de compreensão In MACEDO Mônica Medeiros Kother CARRASCO Leanira Kesseli Orgs Contextos de entrevista olhares diversos sobre a interação humana São Paulo Casa do Psicólogo 2005 p 181191 CENCI Cláudia Mara Bosetto MENESES María Piedad Rangel Meneses Intervenção psicossocial estudo de um caso a partir da formação de psicólogos e as narrativas como meio de ação In CENCI Cláudia Mara Bosetto MAURINA Leda Rúbia Corbulim WAGNER Marcia Fortes Orgs Intervenções da psicologia transitando em diferentes contextos Passo Fundo IMED 2009 p 2536 CORDIOLI Aristides Volpato GOMES Fabiano Alves O diagnóstico do paciente e a escolha da psicoterapia In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008a p 85102 As condições do paciente e a escolha da psicoterapia In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008b p 103124 FALCETO Olga Garcia Terapia de Família In CORDIOLI Aristides Volpato Org Psicoterapias abordagens atuais Porto Alegre Artmed 2008 p 221245 LIMA Nádia Laguárdia de Atendimento às crianças na clínicaescola desafios e possibilidades In REIS José Tiago dos FRANCO Vânia Carneiro Orgs Aprendizes da clínica novos saberes psi São Paulo Casa do Psicólogo 2007 p 6378 MARQUES Nádia Entrevista de triagem espaço de acolhimento escuta e ajuda terapêutica In MACEDO Mônica Medeiros Kother CARRASCO Leanira Kesseli Orgs Contextos de entrevista olhares diversos sobre a interação humana São Paulo Casa do Psicólogo 2005 p 161180 OCAMPO María Luisa Siquier de ARZENO María Esther García A entrevista inicial In OCAMPO María Luisa Siquier de ARZENO María Esther García PICCOLO Elza Grassano de O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas Tradução de Miriam Felzenszwalb 11 ed São Paulo Editora WMF Martins Fontes 2009 p 1646 OLIVEIRA Marcus Vinícius de Mesa A ação clínica e os espaços institucionais das políticas públicas desafios éticos e técnicos In CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA CFP V Seminário Nacional Psicologia e Políticas Públicas Subjetividade Cidadania e Políticas Públicas Brasília CFP 2011 p 85 106 TAVARES Marcelo A entrevista clínica In CUNHA J A et al PsicodiagnósticoV 5 ed Porto Alegre Artmed 2000 p 4556 TEIXEIRA Egínia Lúcia Alves et al Avaliação Psicológica da Criança Triagem uma Articulação Assistência e Ensino no Ambulatório Bias Fortes do HCUFMG In 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária 2004 Belo Horizonte MG Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Disponível em httpswwwufmgbrcongrextSaudeSaude46pdf Acesso em 30 maio 2014 TOY Eugene C KLAMEN Debra Casos Clínicos em Psiquiatria 3 ed Porto Alegre AMGH Editora 2011 VASCONCELLOS Maria José Esteves de Pensamento Sistêmico O novo paradigma da ciência 9 ed Campinas Papirus 2012 WERLANG Blanca Guevara Entrevista lúdica In CUNHA J A et al PsicodiagnósticoV 5 ed Porto Alegre Artmed 2000 p 96104