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UNIRIO
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Unidade 4 Cultura popular e revoluções Convite ao estudo Prezado estudante seja bemvindo Parabéns Chegamos à última unidade da disciplina de História moderna Esta unidade possui grande importância para a formação do profissional de História tanto em sua atuação como professor como na pesquisa histórica Nela trataremos de processos históricos importantes para a formação do mundo contemporâneo que influenciaram de maneira decisiva as formas pelas quais o mundo se organizou desde o século XVIII até hoje Na Seção 41 estudaremos a Cultura popular na Idade Moderna tema importante para os historiadores da atualidade que revelará nuances sobre o cotidiano das camadas populares e as formas de relacionamento entre seus membros e com as elites proprietárias Na Seção 42 estudaremos a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra em 1760 processo histórico que transformou de forma profunda a economia a sociedade e a cultura do mundo contemporâneo A Revolução Industrial é um dos eventos mais importantes da história da humanidade tão importante quanto a invenção do fogo ou a revolução agrícola no Neolítico Tal importância fica evidente em nosso cotidiano repleto de máquinas e indústrias Na Seção 43 estudaremos a Revolução Francesa ocorrida entre 1789 e 1799 Do ponto de vista político ela influenciou de forma decisiva toda a história do mundo ocidental e continua a fazêlo até hoje A luta de cidadãos pela existência de um Estado que os represente tem profunda influência nos acontecimentos de 1789 Por ser tão importante acabou sendo um dos temas mais pesquisados pelos historiadores contemporâneos como veremos Portanto a aprendizagem nessa seção é importante para a sua boa formação profissional Bons estudos U4 Cultura popular e revoluções 163 Seção 41 Cultura popular na Idade Moderna Olá estudante Seja bemvindo a esta nova seção de nossos estudos sobre a História Nela iremos mergulhar em um tema instigante a cultura popular na Idade Moderna Tratase de trabalhar com os novos temas com os quais os historiadores passaram a se preocupar desde algumas décadas atrás Esse tema não trata da Grande História dos grandes eventos políticos das grandes revoluções ou dos grandes líderes Ele trata de pessoas comuns que vivem seu cotidiano entre o trabalho e a família com esposas maridos filhos vizinhos e patrões Trata do camponês que lavrava a terra e colhia os alimentos de mestres e aprendizes que produziam mercadorias antes da propagação das novas técnicas e das máquinas na Revolução Industrial Trata das formas pelas quais essas pessoas comuns se relacionavam com seus patrões em relações que alternavam resistência à opressão e acomodação diante da realidade Um dos temas estudados por esses historiadores sociais da cultura é o carnaval No caso do Brasil é tema importante visto que ocorre grande mobilização popular no período das festas carnavalescas Sabemos que ocorreu uma tentativa de captura do carnaval pela indústria cultural e pelos meios de comunicação de massa Você estudante realizará uma atividade que articula o carnaval em sua localidade A escola de samba do bairro em que você mora está organizando preparativos para o desfile de carnaval na cidade e você como historiador resolveu ajudar na pesquisa para dar as diretrizes ao carnavalesco responsável O tema escolhido para o ano em questão é a história do Carnaval suas origens e as características de sua história no Brasil Quais seriam as orientações históricas que você levaria para o carnavalesco Pense nos seguintes temas na Europa e no Brasil de qual forma o Carnaval foi um instrumento de resistência popular contra o domínio de grupos sociais sobre outros De qual maneira os temas da liberdade do riso da comédia da transgressão da desigualdade e da oposição aos poderes instituídos estarão presentes Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 164 em suas orientações ao carnavalesco No caso do Brasil de qual maneira você vai descrever eou narrar a repressão ao Carnaval até 1930 e sua posterior cooptação pelo Estado Novo Introdução As formas de investigação da História sofreram grandes transformações ao longo dos últimos dois séculos Sem pretender fazer aqui uma discussão aprofundada sobre o tema é importante salientar que os europeus do século XIX se preocupavam com a história nacional enquanto abordagens históricas com recortes econômicos se expandiram ao longo do século XX Permaneceu inclusive até a atualidade uma forma tradicional de abordagem da História que enfatiza as preocupações nas realizações dos Grandes Homens Assim buscouse entender o Império Helenístico de Alexandre a França de Napoleão a Alemanha de Bismark e o Brasil de Vargas por exemplo Buscando novos objetos de pesquisa investigações e interpretações dos processos históricos surgiram outras formas de narração do passado humano Por exemplo podemos citar a Nova História movimento que nas palavras de Peter Burke 1992 p 10 se reuniu como uma reação deliberada contra o paradigma tradicional que hegemonizou a escrita da História até algumas décadas atrás Esse paradigma tradicional estava centrado no entendimento de que os movimentos de permanências ou rupturas históricas deveriam centrar suas investigações na história política da ação dos Estados Nacionais de seus líderes dos Grandes Homens BURKE 1992 p 10 Surgiram em especial após os anos 40 do século XX outras formas de investigação histórica cuja preocupação foi entender outras dimensões das atividades humanas tais como as ideias de indivíduos ou de grupos sociais seus costumes seus cotidianos suas culturas Ganharam força movimentos de historiadores interessados em todas as atividades humanas pois todas elas poderiam ter uma história a infância a morte a loucura os gestos a feminilidade a leitura Uma parte desses historiadores estaria circunscrita aos trabalhos do que podemos denominar de História Cultural sobretudo na historiografia francesa e em autores como Roger Chartier e História Não pode faltar U4 Cultura popular e revoluções 165 Social da Cultura em especial na historiografia inglesa no caso de autores como E P Thompson Na presente seção buscamos oferecer um pequeno panorama de algumas contribuições desses historiadores a respeito do período que denominamos História moderna Uma primeira aproximação para a discussão sobre a cultura popular na Idade Moderna deve salientar mesmo que de forma genérica a discussão sobre o conceito de cultura Inúmeros pensadores se debruçaram sobre esse tema mas para nossos objetivos tomemos como referência as reflexões de um autor clássico Clifford Geertz integrante de uma das correntes da Antropologia Social contemporânea o culturalismo americano Para Geertz 2008 em síntese a cultura é um conjunto ordenado de sistemas de símbolos significantes sendo o símbolo tudo aquilo que carrega em si um significado São esses símbolos que orientam coordenam e dão sentido às ações humanas Para além das determinações biológicas a cultura é um elemento central para a própria definição de humanidade Tal contextualização teórica do conceito de cultura mesmo feita de forma sumária é importante para que possamos alcançar outra discussão central o que é cultura popular Também nesse tema existem inúmeros autores cujas reflexões são relevantes mas aqui tomaremos como referência o trabalho do historiador Peter Burke Burke 1989 p 15 admite a dificuldade de definir cultura mas aceita uma conceituação que lhe parece adequada sistema de significados atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas em que eles são expressos ou encarnados BURKE 1989 p 15 Sobre o conceito de cultura popular optase pela definição negativa seria a cultura não oficial a cultura da não elite das classes subalternas Essas classes subalternas na Idade Moderna seriam os camponeses e artesãos incluindo mulheres crianças pastores marinheiros mendigos entre outros grupos populares Notese que no século XVIII a Europa é essencialmente rural e que a esmagadora maioria da população é composta por camponeses Na França às vésperas da Revolução Francesa essas classes populares somavam 24 milhões para uma população de 25 milhões de pessoas Burke 1989 aponta para a necessidade de que a cultura popular seja pesquisada explicada e compreendida além das preocupações que buscaram o caráter dito folclórico de suas manifestações U4 Cultura popular e revoluções 166 Tratase de na perspectiva dos historiadores sociais buscar uma forma de investigação histórica que procure entender as manifestações dos grupos populares a partir de seus próprios termos Claro que tal objeto de estudo pressupõe uma vastidão de temas e abordagens em função das especificidades dos variados grupos sociais das questões regionais linguísticas entre outros A busca dos historiadores pelo popular é parte integrante de vários questionamentos de interpretações da História que sempre privilegiaram as formas de pensar e agir das elites como fatores preponderantes para explicar as transformações das sociedades e nações Trata se de investigar as formas pelas quais os grupos sociais subalternos influenciaram os processos históricos buscando entender as suas formas de participar da política as características dos relacionamentos entre homens e mulheres a sua forma própria de entender o universo religioso entre tantos outros aspectos BURKE 1992 Exemplificando Mikhail Bakhtim investigou as práticas do carnaval na Europa do Renascimento a partir da obra de François Rabelais Sua tese central é a de que o carnaval era o momento no qual as classes sociais subalternas conseguiam com suas estratégias festivas criar um mundo sem hierarquias sociais sem distinção de classes Contrastando com a excepcional hierarquização do regime feudal com sua extrema compartimentação em estados e corporações na vida diária esse contato livre e familiar era vivido intensamente e constituía uma parte essencial da visão carnavalesca do mundo O indivíduo parecia dotado de uma segunda vida que lhe permitia estabelecer relações novas verdadeiramente humanas com os seus semelhantes A alienação desaparecia provisoriamente O homem tornava a si mesmo e sentia se um ser humano entre seus semelhantes O autêntico humanismo que caracterizava essas relações não era em absoluto fruto da imaginação ou do pensamento abstrato mas experimentavase concretamente nesse contato vivo material e sensível O ideal utópico e o real baseavamse provisoriamente na percepção carnavalesca do mundo única no gênero BAHKTIM 1987 p 9 U4 Cultura popular e revoluções 167 Transformações e resistências Entre as preocupações dos historiadores sociais da cultura destaca se a busca por entender os costumes que formavam a identidade dos grupos sociais subalternos Edward P Thompson é o mais famoso entre esses historiadores o cofundador da New Left Review investigou as formações culturais populares que estavam presentes na Inglaterra antes da Revolução Industrial Em uma de suas obras mais importantes Costumes em Comum Thompson 1998 investiga um conjunto variado de temas mas com destaque para a permanência de valores tradicionais das camadas populares no século XVIII quando as mudanças na sociedade e na economia transformavam a Inglaterra gradativamente em uma nação composta por uma elite proprietária de mentalidade capitalista norteada pala ação em busca da acumulação de riquezas Tratouse para o autor de compreender as ações de artesãos e camponeses que eram mediadas por costumes que colidiam com a hegemonia dos grupos sociais dominantes A investigação buscou eventuais protagonismos desses atores no processo histórico que formou a sociedade capitalista inglesa Uma das abordagens diz respeito às formas de relacionamento entre a gentry e a plebe A Inglaterra do século XVIII seria uma nação onde a busca pela riqueza não foi mediada por estratégias sutis de acumulação mas sim por um processo predatório ocorrido no comércio e na exploração da terra Com a legitimação e o apoio do poder de Estado por vezes em nome do rei os proprietários rurais lutavam por despojos tais como dízimos reivindicações de florestas e terras comunais Um dos desdobramentos da ação dos proprietários rurais foram os cercamentos No contexto de transição de uma sociedade rural tradicionalmente marcada pelos controles paternalistas característica do período anterior na Inglaterra para outra cada vez mais mediada pelo uso do dinheiro e do assalariamento as antigas formas de disciplinarização dos trabalhadores entravam em crise e se transformavam Foi nesse contexto que camponeses e artesãos promoveram variados meios de contestação ao poder político e econômico Entre essas formas de contestação e resistência estava o recurso ao poder dos juízes locais Tribunais Senhoriais no qual camponeses e trabalhadores buscavam reivindicar seus direitos Tais demandas judiciais ocorriam no U4 Cultura popular e revoluções 168 contexto da tradição jurídica inglesa que privilegiava a observação do direito costumeiro em detrimento da lei positivada pelo Estado Buscar a mediação do poder judiciário era uma forma de reivindicar seus direitos costumeiros Além disso entre as características das ações de resistência dos trabalhadores chama a atenção o seu caráter anônimo o mesmo homem que faz uma reverência a um fidalgo de dia pode à noite matar suas ovelhas roubar os seus faisões ou envenenar os seus cães THOMPSON 1998 p 201202 Tais ações de resistência por parte das camadas populares englobavam a produção de músicas de contestação músicas rudes em tradução literal de rough music por vezes satíricas movimentos de multidões em protestos contra situações que consideravam injustas além de confrontos físicos contra autoridades locais Notase que o autor busca no cotidiano de camponeses e trabalhadores ações que evidenciam sua condição de insubordinação inclusive buscando amparo na justiça para reparar aquilo que considerava injusto Assim as ações das camadas populares podem ser interpretadas como uma forma de resistência aos padrões de poder econômico estabelecidos pelas elites Alguns historiadores buscaram entender a racionalidade dessas manifestações no contexto dos costumes desses grupos sociais Como já escrevemos as pesquisas realizadas na área de História Social da Cultura são feitas por historiadores de várias matrizes teóricas mas seus objetos possuem similaridades destacandose os movimentos cotidianos de rebeldia e acomodação em relação aos conflitos com os grupos sociais hegemônicos Robert Darnton em sua obra O Grande Massacre dos Gatos e outros escritos da história cultural francesa buscou se aproximar da cultura popular a partir de variados registros de ações e tradições que foram recolhidas por diversos autores a partir da tradição oral dos camponeses franceses do século XVIII Nesse livro o mais notável relato diz respeito a eventos que levaram trabalhadores de uma gráfica de Paris em 1730 a exterminar dezenas de gatos julgando e condenando os sobreviventes à forca O que explica a erupção de tamanha violência contra os gatos com direito aos rituais de julgamento dos mesmos A explicação oferecida pelo autor gira em torno dos componentes da cultura popular francesa U4 Cultura popular e revoluções 169 do período bem como da situação social e econômica dos trabalhadores franceses Aprendizes de artesãos e trabalhadores em geral viviam em situação de precariedade material em relação à habitação e alimentação Moravam em quartos escuros e úmidos alimentando se por vezes de restos deixados pelos empregadores e mesmo de restos de animais de estimação Com horários reduzidos para dormir esses aprendizes ainda eram incomodados pelo miar dos gatos no telhado durante a noite Após a permissão do patrão gatos começam a ser assassinados e um clima de histeria toma conta da ação dos aprendizes Lembremos que na cultura popular europeia das Idades Média e Moderna os gatos tinham sua imagem ligada às atividades de bruxaria Portanto simbolicamente os aprendizes que assassinavam os gatos poderiam estar dando continuidade a uma tradição de repulsa às bruxas cuja imagem estava ligada ao mal O massacre de gatos poderia representar de modo simbólico o desejo de exterminar patrões que os exploravam de forma extrema A abordagem de Darnton 1986 remete a várias reflexões entre elas a busca de certos padrões ritualísticos para entender as manifestações de violência das classes subalternas Tais padrões podem apontar para questões que estão imersas nas relações sociais de produção e na cultura popular Vida privada mulheres na História Como já foi mencionado a Nova História proporcionou a abertura de um grande leque de possibilidades para novos objetos de investigação dos historiadores Um desses novos objetos diz respeito às condições das mulheres na História Inúmeros autores pesquisaram e continuam trabalhando sobre essa temática mas vamos aqui expor dois trabalhos que consideramos importantes para o que chamamos de História Social da Cultura Um deles é o já citado E P Thompson que investigou um costume que chocou os folcloristas no início do século XX a prática da venda de esposas em praça pública O autor 1998 busca demonstrar que tais rituais possuíam um significado profundo na cultura popular inglesa visto que sendo um ritual público parecia ser algo feito em comum acordo entre o casal e U4 Cultura popular e revoluções 170 aceito pela comunidade Tal acordo poderia girar em torno do final de um casamento sendo uma forma de selar um divórcio que não era possível aos pobres Eventualmente poderia ser uma forma de ritualizar o início de um novo relacionamento em público já que muitos compradores de mulheres já eram seus amantes Evidentemente tais rituais demonstravam a existência de uma cultura autônoma em relação à cultura das elites e a demonstração de um grande desprezo pelas percepções religiosas do casamento Assim as mulheres são interpretadas em sua condição de sujeitos de suas histórias e não como objetos de manipulação masculina Outra obra de investigação importante para o estudo da cultura popular na Idade Moderna é O Retorno de Martin Guerre da historiadora Natalie Zemon Davis Na primeira metade do século XVI em Languedoc no sul da França um camponês bem estabelecido abandonou sua mulher Bertrande de Rols filhos e propriedades Ele retorna mas após alguns anos de casamento ele é denunciado para a justiça sendo acusado de impostor O julgamento é levado à cabo O verdadeiro Martin Guerre aparece quando os juízes estão quase absolvendo o farsante tamanha a sua capacidade de provar que era o verdadeiro Martin Guerre A autora 1987 utiliza documentos históricos cartoriais inventários cartas pessoais e inclusive um livro do magistrado que julgou o caso A narrativa é escrita a partir da documentação e de uma certa imaginação da autora com aspectos ficcionais que buscaram explorar possibilidades de interpretação das estratégias de vida cotidiana dos personagens Para oferecer maior força à sua narrativa a autora preenche algumas lacunas da documentação com alguns complementos ficcionais o que não reduz em nada o caráter objetivo de sua investigação Sobre a narrativa do episódio em si surgiram uma série de questões As principais delas giram em torno do papel da esposa de Martin Guerre Bertrande de Rols Afinal ela conviveu com o verdadeiro Martin Guerre por anos e também por anos com o farsante A história da vida particular de Bertrande de Rols evidencia um comportamento dirigido por valores divergentes dos padrões morais e culturais hegemônicos do período Bertrande de Rols aparece como articuladora de suas próprias U4 Cultura popular e revoluções 171 estratégias de sobrevivência e com grande capacidade de manipulação de seu presente a partir do ambiente cultural em que viveu Como o farsante conseguiu convencer boa parte da comunidade de que era o verdadeiro Martin Guerre narrando com riquezas de detalhes episódios do passado com riquezas de detalhes que quase convenceram os próprios juízes Teria contado com o auxílio de Bertrande de Rols De qualquer forma sua caracterização e a teia de acontecimentos não evidenciam uma esposa passiva e submissa perante os homens mesmo que sua identidade local tenha sido construída a partir dos padrões de mulher honesta e religiosa O livro de Davis suscita outras questões tais como a da construção da identidade no século XVI a relativização dos dogmas religiosos na vida cotidiana dos indivíduos e grupos sociais o entendimento do casamento para as camadas populares entre outras Mas levanta como questão central o papel feminino no imbrincado contexto de relações sociais do cotidiano dominado por homens evidenciando a necessidade de outras abordagens sobre a suposta submissão das mulheres na história Reflita Esse é um trecho de um processo judicial transcorrido em Campinas datado de 1828 Nele fica evidente que africanos escravizados buscavam a Justiça para discutir situações nas quais consideravam injusta a sua condição de escravizados Africanos escravizados lutaram A fim de prevenir demandas de onde se originam despesas ódios e inimizades achava justo que cada uma das partes apoentes entregasse a ele juiz todos os documentos em que estribam suas respectivas pretensões para que mandando o mesmo juiz à Corte do Rio de Janeiro examinálos por dois doutores de conceito daquela Corte e estes depois de pesarem as razões de uma e de outra parte decidirão enfim se os libertandos são na realidade forros ou se escravos do suplicado BRASIL 1828 sp U4 Cultura popular e revoluções 172 pela sua liberdade usando os códigos legais de seus prorietários e muitos conseguiram assim suas liberdades Muitos escravos buscaram a justiça para reivindicar a liberdade com esse mesmo argumento eram vítimas de uma escravidão injusta Poderíamos afirmar que esses escravos poderiam considerar algum tipo de escravidão justa Ou esse argumento era apenas uma estratégia de resistência para legitimar a busca pela liberdade Literatura popular e o Iluminismo Outro tema importante investigado por esses historiadores da cultura popular diz respeito a como os camponeses artesãos e trabalhadores em geral homens e mulheres tiveram acesso leram e interpretaram as obras da cultura letrada na Idade Moderna em especial no século XVIII Mais especialmente como esses grupos sociais leram e interpretaram o iluminismo Ainda no âmbito da busca pela cultura popular como fator determinante para a explicação dos processos históricos mais amplos devemos lembrar a obra de Roger Chartier A História Cultural entre práticas e representações Em uma das investigações do autor sobre o universo cultural francês do século XVII ele buscou entender a complexidade das relações entre o livro e a cultura popular notadamente a cultura camponesa Existe um conjunto amplo de problemas teóricos sobre o tema notadamente sobre as práticas culturais envolvidas na produção literária Essas práticas envolvem questões autorais editoriais de suporte gêneros literários entre outros Ademais quais são os fatores condicionantes que determinam as formas de apreensão das representações contidas em um livro que podem ou não determinar novas práticas culturais Não entraremos aqui nos pormenores dessas discussões mas as apontamos com o objetivo de clarificar a aridez do debate Especificamente sobre as leituras camponesas sobre o iluminismo o caminho também é árido visto que a documentação remete a uma aproximação ao tema por vias indiretas são documentos em sua maioria produzidos não pelos camponeses mas por pessoas letradas que falam em seu nome Mesmo assim Chartier 2002 aponta para a crescente importância e interesse dos camponeses pela leitura ao longo do século XVIII U4 Cultura popular e revoluções 173 Para os iluministas a leitura dos camponeses seria uma leitura perdida O diagnóstico sobre a quantidade de livros de suas espécies e os relatos de épocas dos agentes que controlavam as bibliotecas aponta para uma visão negativa sobre a qualidade dessas leituras No entanto desde a Renascença textos escritos se multiplicaram das mais variadas formas livros e panfletos e o interesse pela leitura aumentou em todos os segmentos da sociedade Na França do século XVIII a leitura foi um elemento fundamental para a propagação dos ideais iluministas No entanto a literatura de cordel que os iluministas e a cultura oficial adjetivaram como inferior e grosseira teve início na produção literária erudita e a sua popularização ocorreu muito em função dos interesses dos editores O processo histórico que originou a Revolução Francesa teria tido como uma das causas sendo ao mesmo tempo consequência a politização das camadas populares Tal processo estaria inserido no contexto de aumento dos índices de alfabetização dessas camadas sociais Conclusão A História Social da Cultura permitiu que novos objetos de estudo viessem à luz da pesquisa histórica bem como antigos objetos de pesquisa fossem reinterpretados Ademais esses estudos demonstraram o protagonismo de atores históricos que sempre foram interpretados como passivos e liderados por Grandes Homens ou grandes nações Inúmeros outros autores poderiam ser citados e descritos porém para os limites desse texto convém apenas despertar a curiosidade do estudante para que ele possa aprofundar seus estudos e pesquisas nessa rica perspectiva historiográfica Assimile As formas de investigação da História sofreram grandes transformações ao longo dos últimos dois séculos Surgiu o que podemos chamar de Nova História com novos objetos de estudo Entre esses novos objetos podemos citar a história da criança das ideias da cultura popular entre outros Clifford Geertz 2008 p 2831 é o autor de referência para conceituar U4 Cultura popular e revoluções 174 cultura sistemas de símbolos significantes sendo o símbolo tudo aquilo que carrega em si um significado São esses símbolos que orientam coordenam e dão sentido às ações humanas Podemos entender cultura popular como define Peter Burke 1989 p15 a cultura não oficial a cultura da não elite das classes subalternas Entre os recortes possíveis sobre os estudos de cultura popular podemos destacar A cultura popular operando como formas de resistências a movimentos de mudanças estruturais na economia e na política Edward P Thompson buscou evidências da existência de uma cultura popular na Inglaterra do século XVIII que ao seu modo e de acordo com seus costumes e experiências confrontou o domínio das elites agrárias Darnton buscou evidências da existência de rituais culturais na França do século XVIII que demonstram formas de resistência à exploração dos mestres sobre os aprendizes nas oficinas artesanais Edward P Thompson e Natalie Zemon Davis buscaram em suas pesquisas relativizar a suposta passividade feminina nos cotidianos de suas vidas na Inglaterra e na França no século XVIII Roger Chartier buscou demonstrar a importância da leitura popular que os camponeses faziam da cultura erudita e como isso pode ter sido um dos elementos propulsores da Revolução Francesa Pesquise mais ARANTES Antonio Augusto O que é cultura popular São Paulo Brasiliense 1998 Primeiros Passos Nesta obra o autor faz um panorama historicamente datado das discussões sobre cultura popular Filme Le retour de Martin Guerre Direção de Daniel Vigne TFI Vídeos França 1982 O filme é uma adaptação para o cinema do livro homônimo de Natalie Zemon Davis e contou com a sua colaboração na escrita do roteiro original CUNHA Maria Clementina Pereira Org Carnavais e outras frestas Campinas Editora da Unicamp 2002 U4 Cultura popular e revoluções 175 Sem medo de errar O que precisa ficar claro para o carnavalesco para que ele possa montar o roteiro do desfile O Carnaval era uma festa pagã de povos germânicos cujo objetivo era comemorar a entrada da primavera A Igreja Católica incorporou essa festa popular para cooptála para seus propósitos Assim o Carnaval passou a ser o momento no qual alguns exageros de comportamento eram permitidos antes de um período de penitência até a Páscoa Sobre a Europa será importante que o carnavalesco entenda a tese de Mikhail Bakhtin para que ele possa explorála no desfile no enredo e na música O Carnaval assim seria uma manifestação da cultura popular na qual as classes sociais subalternas conseguiam com suas estratégias festivas criar um mundo sem hierarquias sociais sem distinção de classes Nesse sentido o anonimato resultante do uso de fantasias e máscaras bem como as trocas de papéis entre homens e mulheres acentuavam o caráter contestatário da ordem vigente Em algum sentido condutas morais e sociais desaprovadas pela cultura oficial são relativizadas e contestadas pelo Carnaval e por outras manifestações populares No caso do Brasil o entrudo era uma prática de festa popular comum no Brasil do século XIX O entrudo era uma manifestação festiva bastante violenta marcada pelo arremesso de bolas de cera com água em direção aos participantes Charles Darwin em 1832 foi testemunha ocular dessas manifestações no Rio de Janeiro Quando Vargas toma o poder em 1930 no contexto dos projetos nacionalistas dos anos 30 e de sua prática populista e autoritária reconhece o Carnaval como manifestação popular legítima mas passa a controlálo por meio da organização oficial dos desfiles Tais festas a manifestações da cultura popular sempre foram enquanto não puderam ser controladas pelo Estado perseguidas pelos governos das elites proprietárias Isso ocorreu com o Carnaval e com a capoeira até os anos 20 do século XX Isso está ocorrendo atualmente com o funk Projeto de lei que tramita no Parlamento brasileiro sugere a criminalização do funk Por exemplo ver httpf5folhauolcom brcolunistastonygoes201706propostadeproibicaodofunke absurdaautoritariaeinconstitucionalshtml Acesso em 12 out 2017 U4 Cultura popular e revoluções 176 O carnavalesco poderia traçar paralelos entre a cultura popular do funk atual com a do carnaval no período anterior a 1930 Faça valer a pena 1 O trecho de texto de Mikhail Bahktin aponta para uma determinada interpretação das manifestações populares em especial o Carnaval qual seja a O Carnaval seria um momento no qual as classes dominantes aceitavam de forma espontânea as manifestações de rebeldia das classes populares b As classes subalternas projetavam o Carnaval de forma consciente com o objetivo de contestar o poder de classe dos dominantes e promover revoluções sociais c O Carnaval seria uma festa popular que no contexto cultural de sua época as classes populares utilizavam também para contestar o domínio das classes dominantes pelo tempo em que transcorriam as festas d Na perspectiva de Bakhtin o Carnaval seria um momento cultural no qual os papéis sociais se invertiam de forma grotesca com o objetivo de anular as tensões entre as classes e A hierarquia era atacada de forma simbólica pelo Carnaval popular tendo como pano de fundo cultural a crítica à nobreza e ao clero protestante 2 Ao contrário da festa oficial o carnaval era o fundo de uma espécie de libertação temporária da verdade dominante e do regime vigente de abolição provisória de todas as relações hierárquicas privilégios regras e tabus Era a autêntica festa do tempo a do futuro das alternâncias e renovações BAKHTIN 2008 p 89 No curto prazo parece provável que os motins e o ato de fixar os preços anulavam seus próprios objetivos Os fazendeiros ficavam às vezes tão intimidados que mais tarde se recusavam durante várias semanas a levar as mercadorias ao mercado A interdição do deslocamento dos grãos pelo país provavelmente só agravava a escassez em outras regiões Embora seja possível encontrar exemplos em que os protestos parecem ter como resultado a queda dos preços bem como seu oposto e mais ainda encontrar exemplos em que parece haver pouca diferença no movimento U4 Cultura popular e revoluções 177 3 Sobre a interpretaçãzo de Thompson da cultura popular na Inglaterra no século XVIII no contexto do texto anterior recortado podemos afirmar a O autor elaborou a tese de que havia uma cultura popular de resistência espalhada em várias de suas manifestações b Thompson demonstra que os motins populares se caracterizaram por uma primitiva consciência de classe c O autor afirma que havia uma disputa pela hegemonia entre duas concepções políticas na Inglaterra uma capitalista definida pelo poder das elites e outra popular definida por noções democráticas de participação d A luta entre as classes sociais na Inglaterra do século XVIII tinha como elemento principal a consciência de classe da gentry contra a ausência de consciência dos trabalhadores e O autor afirma que havia uma disputa pela hegemonia entre duas concepções de economia na Inglaterra uma capitalista definida pela busca do lucro e outra popular definida por noções de moralidade no que diz respeito ao direito de acesso aos alimentos dos preços em mercados atingidos por motins ou não nenhum desses casos por mais que se perfaça o total ou se tire a média revela necessariamente o efeito que a expectativa de motins tinha sobre a situação total do mercado THOMPSON 1998 p 187 Portanto essa era uma cultura de formas conservadoras que recorria aos costumes tradicionais e procurava reforçálos As formas são também não racionais não apelam para a razão por meio do panfleto do sermão ou do palanque do orador Elas impõem uma variedade de sanções pela força o ridículo a vergonha a intimidação Mas o conteúdo ou os significados dessa cultura não podem ser qualificados facilmente de conservadores porque na realidade social o trabalho se libera cada vez mais década após década dos controles senhoriais paternais da paróquia e da corporação distanciandose da dependência direta em que ficavam a princípio os clientes da gentry Em consequência temos urna cultura costumeira que não está sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domínio ideológico dos governantes A hegemonia suprema da gentry pode definir os limites dentro dos quais a cultura plebeia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia é laica e não religiosa ou mágica pouco pode fazer para determinar o caráter dessa cultura plebeia THOMPSON 1998 p 19 U4 Cultura popular e revoluções 178 Sobre o conceito de cultura popular presente no texto podemos afirmar a A cultura popular nunca é conservadora pois sempre busca contestar o poder das classes dominantes b O autor relativiza a noção de que interpreta a cultura popular como algo irracional c A cultura popular é povoada de crenças mágicas e superstições que facilitam o domínio de classe da gentry d A cultura popular nunca está subordinada à cultura das elites e O autor busca entender a racionalidade da cultura popular U4 Cultura popular e revoluções 179 Seção 42 Revolução Industrial Prezado estudante seja bemvindo a mais um importante tema da disciplina de História moderna Nesta seção examinaremos um tema fundamental para a história da humanidade qual seja a Revolução Industrial Tratouse de processo complexo e definidor de nossa contemporaneidade Do ponto de vista tecnológico ela foi a gênese de mudanças na produção de mercadorias que definem o nosso presente Seria impossível imaginar nosso cotidiano sem por exemplo os automóveis a energia elétrica e os computadores Essa realidade do presente não existiria sem que tivesse ocorrido o nascimento das fábricas na Inglaterra no século XVIII Uma parte significativa dos conflitos sociais vivenciados nos centros urbanos europeus nos séculos XIX e XX estiveram ligados direta ou indiretamente às atividades fabris e a de seus principais agentes o operariado urbano Ademais os grandes conflitos militares dos séculos XIX e XX na Europa na América na Ásia e na África tiveram grande influência dos interesses da nova classe social hegemônica que surgiu durante a Revolução Industrial a burguesia industrial Em sua atividade como profissional da educação e pesquisador surgiu uma oportunidade interessante de pesquisa Em sua cidade existe uma fábrica que está completando 100 anos de fundação e pretende realizar um trabalho de preservação de sua própria memória Para isso ela contrata os seus serviços para organizar uma exposição sobre sua história Você tem à disposição toda a documentação da empresa incluindo antigos equipamentos e um rico acervo de fotografias Que propostas você poderia fazer à empresa sobre a maneira como a exposição poderia ser organizada Como trabalhar com a memória da empresa Pense em como você poderia conectar a exposição com os seus conhecimentos sobre a Revolução Industrial Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 180 Entre as várias possibilidades de exploração de pesquisa uma delas diz respeito às percepções da passagem do tempo e como ele é vivenciado Os registros da fábrica apontam para vários ex funcionários já aposentados que estão disponíveis para entrevistas Como você construiria um acervo de História Oral Quais seriam os questionamentos a serem feitos aos entrevistados para compreender as transformações nas percepções da passagem do tempo e nas formas com que ele é vivido no passado e no presente Introdução A expressão Revolução Industrial foi difundida a partir de 1845 para definir um grande conjunto de transformações tecnológicas econômicas sociais e de processos produtivos que ocorreram na Europa primeiramente na Inglaterra a partir de 1760 Tais transformações foram impactantes na forma de produção das mercadorias que antes eram resultados da produção artesanal ou da manufatureira Nesse processo houve o crescimento do uso da energia das máquinas em detrimento do trabalho manual e da fábrica em relação à manufatura Tais transformações criaram as condições para que houvesse um grande aumento na produção de mercadorias Nas palavras de um historiador Tal processo foi revolucionário do ponto de vista tecnológico em função da utilização de máquinas inventadas por empreendedores que passaram a ocupar a centralidade material no mundo da produção industrial O aumento exponencial da produção de mercadorias resultou no crescimento do comércio Não pode faltar O que significa a frase a revolução industrial explodiu Significa que a certa altura da década de 1780 e pela primeira vez na história da humanidade foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida constante e até o presente ilimitada de homens mercadorias e serviços HOBSBAWN 1991 p 20 U4 Cultura popular e revoluções 181 internacional Além disso houve um crescimento urbano significativo em função do adensamento populacional em torno das fábricas e o surgimento de uma massa de trabalhadores fabris denominados operários Nas fábricas tiveram início novas formas de gerenciamento do processo produtivo e passou a ocorrer progressivamente a divisão manufatureira do trabalho Fatores causais do pioneirismo inglês na Revolução Industrial A Revolução Industrial teve origem na Inglaterra e alguns fatores contribuíram para esse pioneirismo todos eles interligados entre si 1 A Inglaterra foi a nação que mais acumulou capitais durante o período de crescimento do comércio internacional entre os séculos XVI e XVIII Várias foram as causas para essa grande acumulação Entre elas podemos citar a relação comercial que a Inglaterra possuía com Portugal Pelo Tratado de Methuen também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos Portugal passou a exportar sua produção de vinhos para a Inglaterra com baixos impostos e a produção de tecidos ingleses passou a ter o mesmo tratamento no país ibérico Com isso Portugal passou a acumular um grande déficit comercial que foi pago com metais preciosos explorados na colônia brasileira em especial o ouro que era extraído da região das Minas Gerais Assim Londres se transformou no grande centro financeiro da Europa com grande disponibilidade de capitais para investimentos A Inglaterra teve a supremacia naval em grande parte do planeta em especial a partir dos Atos de Navegação de 1651 Isso permitiu que ela dominasse o comércio internacional e pudesse construir um imenso império colonial que servia de fornecedor de matériaprima para suas manufaturas e indústrias além de consumirem suas mercadorias 2 A Revolução Gloriosa de 1689 instaurou um regime político liberal baseado no apoio da burguesia inglesa Os governos ingleses passaram a impulsionar o capitalismo industrial na Inglaterra 3 O triunfo da ideologia liberal foi marcante na Inglaterra com John Locke 16321704 e Adam Smith 17231790 Se no plano político o triunfo do ideário de Locke auxiliou na hegemonia U4 Cultura popular e revoluções 182 burguesa no parlamento a formulação liberal de Smith auxiliou na legitimação do capitalismo liberal criando um ambiente para a propagação da livre concorrência e na prática da liberdade comercial 4 No século XVIII havia disponibilidade de mão de obra barata nos grandes centros urbanos ingleses como Londres Manchester entre outras Isso ocorreu em função dos cercamentos enclosures processo pelo qual grande parte dos camponeses ingleses foram expulsos de suas terras comunais pela nobreza inglesa com apoio dos governos absolutistas dos séculos XVI e XVIII Essas terras deixaram de produzir alimentos para servir de pasto para ovelhas cuja lã era usada nas manufaturas de tecido Tais cercamentos proporcionaram um grande êxodo rural disponibilizando mão de obra excedente para as nascentes fábricas 5 Na Inglaterra surgiu um conjunto significativo de inventores que passaram a criar máquinas que revolucionaram as técnicas de produção das mercadorias Além disso havia recursos naturais em abundância tais como ferro e carvão que serviram de matériasprimas fundamentais para o início da Revolução Industrial Primeira Revolução Industrial 17601860 Os processos de inovação tecnológica na produção de mercadorias na Inglaterra tiveram início na produção de tecidos Antes de 1760 existia na Inglaterra o sistema doméstico de produção pelo qual o comerciante entregava a matériaprima e ferramentas na casa do trabalhador na área rural Após um determinado período ele retornava e retirava os produtos já manufaturados pagando o trabalhador pelos produtos entregues Essa forma de produzir as mercadorias permitiu uma expansão significativa da produção mas havia alguns fatores limitadores para o aumento da produtividade o capitalista não controlava nem o tempo nem o ritmo de trabalho dos artesãos Assim houve uma tendência de criação de galpões onde os artesãos passaram a trabalhar sob a supervisão do capitalista e a receber salários Foi nesse processo que surgiram as primeiras inovações tecnológicas na Inglaterra com destaque para U4 Cultura popular e revoluções 183 Máquina de fiar inventada por James Hargreaves em 1767 Bastidor hidráulico produzido por Richard Arkwright em 1769 Tear mecânico patenteado por Edmund Cartwright em 1785 Máquina a vapor aperfeiçoada por James Watt em 1769 Barco a vapor criado por Robert Fulton norteamericano em 1807 Locomotiva inventada por George Stephenson em 1825 Telégrafo inventado por Samuel Morse em 1844 Exemplificando A invenção da máquina de fiar por Hargreaves revolucionou a produção de tecidos pois aumentou de forma significativa a produção de fios que anteriormente era feita pelos artesãos A exportação de tecidos ingleses para outras nações foi de fundamental importância para a manutenção de um comércio internacional superavitário Essas exportações foram garantidas por vários tratados comerciais por exemplo o Tratado de Metheun com Portugal Salienta se também o tratado assinado com a França em 1786 Tratado de Eden Rayneval pelo qual os produtos manufaturados ingleses em especial os tecidos tiveram seus impostos reduzidos nas exportações para a França A máquina de fiar foi patenteada por James Hargreaves em 1770 Recebeu o nome de Spinning Jenny Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileZeichnungSpinningjennyjpguselangptbr Acesso em 16 jul 2017 Figura 41 A máquina de fiar U4 Cultura popular e revoluções 184 Os avanços tecnológicos da indústria inglesa associados ao domínio militar e comercial da Inglaterra sobre grande parte do planeta e ao extraordinário acúmulo de capitais propiciaram as condições para a utilização intensiva da ciência no aperfeiçoamento dos processos produtivos Assim várias outras inovações surgiram dando início ao que costumeiramente denominamos Segunda Revolução Industrial Segunda Revolução Industrial 1860 A partir de 1860 outras inovações tecnológicas importantes foram incorporadas aos processos industriais da Inglaterra tais como Produção de aço o aço é uma liga que mistura ferro e carbono sendo muito mais maleável e resistente do que o Assimile Revolução Industrial foi um conjunto de transformações tecnológicas econômicas sociais e de processos produtivos que ocorreram na Europa primeiramente na Inglaterra a partir de 1760 Causas da industrialização na Inglaterra Acúmulo de capitais em função de uma vitoriosa política econômica mercantilista A supremacia naval que garantiu mercados fornecedores de matériasprimas e consumidoras de produtos industrializados A existência de governos liberais que incentivaram o crescimento fabril das mais variadas formas Disponibilidade de mão de obra barata em função do êxodo rural provocado pelos cercamentos A existência de empreendedores que inventaram máquinas A disponibilidade de ferro e carvão em abundância em seu território Entre as invenções importantes da Primeira Revolução Industrial devemos destacar a máquina de fiar o tear mecânico a máquina a vapor a locomotiva e o telégrafo U4 Cultura popular e revoluções 185 ferro puro Ele já era conhecido muito antes da Revolução Industrial mas foi Henry Bressemer quem aperfeiçoou o seu processo de fabricação Esse novo componente das indústrias tornou as máquinas mais resistentes e passou a ser o elemento fundamental da produção industrial Eletricidade a invenção do dínamo permitiu o uso da eletricidade como força motriz das máquinas nas fábricas substituindo gradativamente o uso de energia gerada da queima do carvão Motor à combustão interna essa invenção permitiu o uso em larga escala da energia gerada pelo petróleo Permitindo as condições ideais para o surgimento do automóvel Expansão da Revolução Industrial O processo de crescimento das indústrias se expandiu por toda a Europa chegando à América e Ásia França após a Revolução Francesa de 1789 houve por várias razões um crescimento do mercado interno e um relativo crescimento industrial A partir de 1830 esse crescimento foi acelerado em função do governo de Luis Felipe que apoiou os investimentos em indústrias Alemanha a região da Prússia parte da Alemanha atual foi a pioneira no processo de crescimento industrial e liderou a unificação alemã ocorrida em 1871 No final do século XIX em função da própria unificação e da tomada da região da AlsáciaLorena rica em recursos minerais a Alemanha se tornou a maior produtora de aço da Europa Itália a industrialização na Itália teve grande impulso com a unificação política em 1871 mas ficou restrita à região norte do país onde se desenvolveu às margens do Rio Pó Estados Unidos da América nesse país o crescimento industrial foi potencializado após a vitória do norte urbano e industrial sobre o sul agrário e escravista na chamada Guerra de Secessão entre 18611865 Japão nesse país oriental o crescimento industrial ocorreu U4 Cultura popular e revoluções 186 após a centralização do poder em torno do rei na chamada Era Meiji em 1867 Rússia a industrialização na Rússia ocorreu de forma muito tênue no final do século XIX apenas em algumas poucas regiões do seu território ocidental mas continuou a ser fundamentalmente um país agrário Reflita O Vale do Silício é uma região localizada na Califórnia nos Estados Unidos da América É a região onde estão localizadas as principais empresas de tecnologia do planeta tais como Hitachi Oracle Google Facebook e Apple Nessa região por meios dessas centenas de empresas surgiram inúmeras inovações tecnológicas entre elas o sistema de compartilhamento de automóveis denominado Uber As inovações tecnológicas sempre trazem perdas e ganhos para a humanidade sob todos os pontos de vista Como você avalia a relação entre tecnologia e qualidade de vida das pessoas Artesanato manufatura e trabalho fabril Podemos diferenciar mesmo que de forma superficial algumas práticas produtivas 1 Trabalho artesanal relação de trabalho do homem com a natureza na qual um artesão tem a propriedade da matériaprima e das ferramentas de produção conhecendo todo o processo de produção O artesão produz e vende sua produção diretamente para o usuário final da mercadoria Um exemplo desse tipo de trabalho foram as oficinas artesanais que surgiram na Baixa Idade Média europeia e que se organizaram junto às Corporações de Ofício 2 Trabalho manufatureiro relação de trabalho na qual os artesãos são reunidos em um mesmo galpão e executam suas tarefas de forma muito parecida com o que faziam nas Oficinas artesanais mas agora sob a vigilância de um capitalista que supervisiona suas atividades e lhes paga um salário em função das horas trabalhadas U4 Cultura popular e revoluções 187 3 Trabalho fabril forma de relação de trabalho na qual há parcelamento dos processos implicados na feitura de um produto em numerosas operações executadas por diferentes trabalhadores já com a existência e o uso de máquinas Com a evolução do sistema fabril houve o crescimento desse parcelamento e a instituição do que denominamos divisão manufatureira do trabalho O trabalhador recebe um salário em função das horas trabalhadas A forma de administrar do capitalista industrial era historicamente nova Desde o início da Revolução Industrial os capitalistas aperfeiçoaram seus métodos de vigilância sobre os trabalhadores fabris operários porém foi na segunda metade do século XIX que tais métodos passaram a sofrer grande influência do cientificismo reinante do período Dentre os pensadores que estudaram o ambiente fabril e propuseram formas aprimoradas para esse controle destacase Frederick Winslow Taylor 1856 1915 Toda a obra de Taylor caminhou no sentido de demonstrar que a necessidade absoluta da gerência científica é impor ao trabalhador uma maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado O trabalhador não pode ter nenhuma decisão sobre seu trabalho O gerente deve efetuar o controle do modo concreto de execução de toda atividade no trabalho desde a mais simples à mais complicada A gerência deve reunir todo o conhecimento tradicional que no passado foi possuído pelos trabalhadores e classificálos tabulálos reduzindo esse conhecimento às regras leis e fórmulas Todo trabalho cerebral deve ser banido do local da produção e centrado no departamento de planejamento ou projeto O propósito do estudo do trabalho nunca deve ser robustecer a capacidade do trabalhador concentrar nele maior capacidade científica ou eleválo ao nível das técnicas empreendidas na produção mas sim baratear o do custo trabalhador ao diminuir seu preparo e aumentar sua produção Como já escrevi antes A gerência científica implica em preparar as tarefas e sua execução especificando não só o que deve ser feito mas também como deve ser feito Se o primeiro princípio é o U4 Cultura popular e revoluções 188 recolhimento do conhecimento entre os trabalhadores sobre as formas de produção o terceiro é a utilização deste monopólio de conhecimento para controlar cada fase do processo de trabalho e seu modo de produção As consequências da aplicação da gerência científica sobre os trabalhadores são várias A separação de trabalho mental e manual reduz a necessidade de trabalhadores diretamente na produção já que o trabalho mental passa para outros funcionários da empresa A consequência inexorável da separação entre concepção e execução é que o processo de trabalho é dividido em locais distintos e em distintos grupos de trabalhadores Num local um grupo de trabalhadores executa os processos físicos da produção e em outro local outro grupo de trabalhadores concebe previamente as atividades antes de elas serem postas em movimento Todo o trabalho de planejamento que antes era feito pelo próprio artesão é agora feito por um setor de planejamento ou processos Ambos continuam sendo necessários à produção Assim o processo de trabalho retém sua unidade Os trabalhadores que se especializam no planejamento e processos continuam sob a vigilância do capitalista através de uma hierarquia de poder no interior da empresa A tendência é de proletarização dos trabalhadores em planejamento e processos e dos trabalhadores em escritórios em geral na medida em que suas próprias tarefas cotidianas também são objeto do gerenciamento científico transformando a própria tarefa de planejar e controlar a produção como destituídos do vínculo entre trabalho e conhecimento O trabalhador enfim se vê destituído do conhecimento que era característico do artesão típico da prérevolução industrial DAMASIO 1998 p 127128 Karl Marx ao descrever esse processo o denominou de estranhamento Entfremdung O taylorismo alcançou seu auge no sistema de produção criado por Henry Ford 18631947 nos Estados Unidos da América responsável pela criação das linhas de produção composta por esteiras rolantes nas quais as operações fabris eram feitas Como as esteiras rolantes tinham velocidade constante elas ditavam o ritmo de produção fazendo com que os operários tivessem seu ritmo de trabalho determinado pelas máquinas Tal método foi fundamental para a criação da indústria automobilística U4 Cultura popular e revoluções 189 Algumas consequências da Revolução Industrial Várias foram as consequências da Revolução Industrial na Europa ao longo dos séculos XVIII XIX e XX Vamos nos ater a algumas delas 1 Em primeiro lugar é preciso ressaltar que ocorreu o aparecimento de uma nova classe social fundamental nas lutas políticas que se seguiram na Europa o operariado urbano trabalhadores fabris que viveram em condições sociais e de vida aviltantes com extensas jornadas de trabalho baixíssimos salários e com a exploração sem limites do trabalho feminino e infantil 2 Esse operariado fabril e urbano demonstrou sua insatisfação de várias formas ao longo do século XIX criando alguns movimentos de contestação Um deles foi o ludismo Reflita A imagem retrata uma linha de montagem de automóveis em seus primórdios apontando para aquilo que Marx denominou de estranhamento ou alienação do trabalhador ou seja a existência de um modelo de produção que separa drasticamente o planejamento da produção e a produção em si Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileFordfertigung1923jpguselangptbr Acesso em 24 jul 2017 Figura 42 Trabalho na linha de montagem fordista U4 Cultura popular e revoluções 190 nome criado a partir do personagem Ned Ludd cuja estratégia foi quebrar máquinas que eram vistas como as causadoras de suas péssimas condições sociais e de trabalho Outro movimento importante ocorrido na Inglaterra foi o dos cartistas movimento de trabalhadores que enviavam cartas ao parlamento inglês exigindo sufrágio universal para a representação no parlamento entre outras reivindicações 3 Outra transformação também importante diz respeito à noção do tempo e de como ele passou a ser vivenciado em função das necessidades da produção fabril cada vez mais dependente do relógio instrumento de medição do tempo que se tornou popular no século XIX Com o crescimento do ritmo das máquinas não há mais tempo a ser desperdiçado e o ócio passou a ser combatido como um mal até mesmo como pecado diante da divindade As transformações pelas quais a Europa passou a partir da Revolução Industrial levou a um processo de disciplinarização das massas urbanas Nas palavras de Edward P Thompson 1998 p 300301 O autor ressalta a necessidade de perceber as alterações de percepções do tempo como um processo que não é consensual mas sim produto e resultado de conflitos entre as classes sociais As evidências são abundantes e nos lembram pelo método do contraste até que ponto nos habituamos a diferentes disciplinas Sociedades industriais maduras de todos os tipos são marcadas pela administração do tempo e por uma clara demarcação entre o trabalho e a vida O que precisa ser dito não é que um modo de vida seja melhor do que o outro mas que esse é um ponto de conflito de enorme alcance que o registro histórico não acusa simplesmente uma mudança tecnológica neutra e inevitável mas também a exploração e a resistência à exploração e que os valores resistem a ser perdidos bem como a ser ganhos Assimile Entre as invenções mais importantes da Segunda Revolução Industrial devemos destacar o novo processo de produção de aço U4 Cultura popular e revoluções 191 o uso da eletricidade como energia para as máquinas e o motor a combustão interna Durante a Revolução Industrial foi criada a gerência científica taylorismo que teve como consequência o aumento da divisão manufatureira do trabalho O taylorismo foi aperfeiçoado por Henry Ford que criou as linhas de produção da indústria automobilística Entre as consequências da Revolução Industrial destacamse O surgimento da classe operária como nova classe social urbana O aparecimento de movimentos de contestação à hegemonia fabril e burguesa tais como o ludismo e o cartismo Nesse processo houve um movimento de disciplinarização dos trabalhadores para garantir a satisfação das necessidades das novas fábricas e deus proprietários A Revolução industrial se expandiu para vários países ainda no século XIX tais como França Itália Alemanha Japão Estados Unidos da América e Rússia Pesquise mais Tempos Modernos Direção Charles Chaplin United Artists 1936 113 min Nesta obraprima de Charles Chaplin ele produz por meio do humor uma crítica severa ao fordismo e à alienação dos trabalhadores de fábricas com linha de produção DECCA Edgard Salvadori de O nascimento das fábricas São Paulo Brasiliense 1996 Tudo é História nº 51 Nesta obra o autor busca investigar e entender o ambiente fabril como uma construção social e não apenas como um fenômeno tecnológico U4 Cultura popular e revoluções 192 Sem medo de errar Sugestão de encaminhamento para o trabalho proposto pela indústria em seu centenário 1 Em primeiro lugar o pesquisador deverá levantar e ler quatro tipos de bibliografias a Bibliografia sobre a industrialização do Brasil b Bibliografia sobre a história da cidade ou região onde está localizada a fábrica c Bibliografia sobre História Oral em especial o livro de BOSI Eclea Memória e Sociedade lembrança de velhos São Paulo Companhia das Letras 1994 d Bibliografia sobre a relação entre produção histórica e imagens por exemplo BURKE Peter Testemunha Ocular imagem e história Bauru EDUSC 2004 2 A partir das leituras e da análise das fontes históricas disponíveis será possível escrever um projeto de pesquisa que inclua as seguintes preocupações a O projeto em si deve apontar um método de pesquisa que leve em consideração a documentação disponível b Recorte um objeto de pesquisa em função da leitura das bibliografias e do material disponível para pesquisa c Não se iluda em desejar pesquisar tudo e abarcar todos os objetos possíveis de serem investigados pois isso seria um trabalho de décadas mesmo que não o fizesse sozinho dEstabeleça um prazo de pesquisa em função do dimensionamento das atividades de leitura pesquisa empírica e produção dos resultados e Se necessário dimensione a equipe de auxiliares que você necessitará para realizar os trabalhos tais como estagiários por exemplo U4 Cultura popular e revoluções 193 f Dimensione os materiais e equipamentos que usará tais como filmadoras e gravadores 3 Sobre o objeto de pesquisa em si uma sugestão é caminhar nos rumos da recuperação da memória dos funcionários da empresa que estejam vivos e de suas percepções sobre o mundo do trabalho com a seguinte sugestão de questionamentos a As primeiras perguntas devem ser soltas e sem grandes intenções deve ser um batepapo para buscar a confiança do interlocutor b Informações gerais sobre nascimento infância família educação formal e atividades profissionais vivenciadas c As perguntas devem ser genéricas pois a memória será seletiva e impressões gerais e escolhidas pelo interlocutor serão oferecidas O interlocutor decide na prática quais são os temas sobre os quais gosta de falar d Busque informações sobre a relação entre o mundo do trabalho e a família relações entre elas e Busque informações sobre quais eram os sentimentos ou quais são os sentimentos ligados ao trabalho f Sobre a questão do tempo pergunte como era a divisão do tempo de trabalho dos pais em sua infância e como era a sua Havia diferenças entre elas 4 No projeto você deve indicar os produtos finais que serão entregues à empresa entre eles a Produção escrita sob a forma de uma obra literária livro b Exposição do material iconográfico c Produção de um site para exposição virtual de toda a pesquisa d No site criado é possível inserir o banco de entrevistas feitas ao longo do projeto U4 Cultura popular e revoluções 194 Sobre os efeitos da invenção da máquina a vapor no século XIX podemos afirmar a A invenção da máquina a vapor possibilitou o aumento da produção artesanal b A máquina a vapor foi determinante para o progresso da indústria química c Não há relação entre a invenção da máquina a vapor e outros inventos da Revolução Industrial d Ela foi determinante também para novas invenções no setor de transportes e O aumento da produtividade industrial teve as máquinas a vapor como única causa 2 Nesse trecho de texto o autor consagra uma determinada visão e entendimento da sociedade capitalista ocidental qual seja a O verdadeiro ator do capitalismo industrial é o homem comum de classe média alta que vende sua força de trabalho por altos salários Faça valer a pena 1 O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bemestar de outras pessoas são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem A grande empresa depende do consumo de massa Em um livre mercado não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum Na qualidade de consumidor o homem comum é o soberano que ao comprar ou ao se abster de comprar decide os rumos da atividade empresarial MISES 2013a sp A máquina a vapor tornando possível o uso da energia em todos os artifícios mecânicos em quantidades maiores do que qualquer outra coisa conseguiria realizar no passado foi a chave para tudo o que ocorreu em seguida sob o nome de Revolução Industrial A face do mundo mudou mais drasticamente e mais rapidamente do que em qualquer outra época desde a invenção da agricultura cerca de 10 mil anos antes ASIMOV 1993 p 395 U4 Cultura popular e revoluções 195 3 b O capitalismo industrial está condicionado à lei da oferta e da procura em especial em relação ao desejo dos assalariados c A industrialização foi marcada pelo progresso do homem em seu enfrentamento com a natureza e melhorou de maneira uniforme o padrão de consumo dos ingleses d O capitalismo está ancorado na luta entre classes sociais em especial na luta entre patrões e empregados e Tratase de uma visão liberal de sociedade e economia na qual a presença do Estado serve para regular as funções das empresas e dos consumidores A indústria algodoeira britânica como todas as outras indústrias algodoeiras tinha originalmente se desenvolvido como um subproduto do comércio ultramarino que produzia sua matéria prima e os tecidos indianos de algodão ou chita que conquistaram os mercados que os fabricantes europeus tentariam ganhar com suas imitações Inicialmente eles não foram muito bemsucedidos embora melhor capacitados a reproduzir competitivamente as mercadorias grosseiras e baratas do que as finas e elaboradas Felizmente entretanto o velho e poderoso interesse estabelecido do comércio lanífero periodicamente assegurava proibições de importação de chitas indianas que o interesse puramente mercantil da Companhia das Índias Orientais procurava exportar da Índia nas maiores quantidades possíveis dando assim uma chance aos substitutos da indústria algodoeira nativa Mais barato que a lã o algodão e as misturas de algodão conquistaram um mercado doméstico pequeno porém útil Mas suas maiores chances de expansão rápida estavam no ultramar HOBSBAWN 1991 p 26 O texto de Hobsbawm relata uma situação contraditória na questão da relação entre comércio exterior e produção doméstica Assinale a alternativa que aponta essa contradição interna na Inglaterra a Havia divergência de interesses entre a Companhia das Índias Orientais e os produtores de lã b A Índia exportava livremente seus tecidos para a Inglaterra sob a proteção do governo inglês c A origem do processo de industrialização na Inglaterra tem profunda relação com a exploração comercial ultramarina em especial na África d A indústria algodoeira inglesa apenas se desenvolveu após a invenção da máquina a vapor e Houve grande contradição entre a produção de tecidos grosseiros e os de alta qualidade U4 Cultura popular e revoluções 196 Seção 43 Revolução Francesa Olá estudante Nesta seção estudaremos um processo histórico instigante a Revolução Francesa ocorrida entre 1789 e 1799 Ela é considerada por muitos historiadores como um marco fundamental para a separação entre História moderna e História contemporânea Tal divisão da História ocidental está presente até hoje nos livros didáticos de História Sobre ela escreveu o historiador Eric Hobsbawm 1991 p 49 Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa Ou seja o autor salienta a importância da Revolução Francesa afirmando que ela foi fundamental para a formação do mundo político ocidental Claro que você deverá trabalhar a ideia de uma mudança significativa nas práticas políticas com seus alunos tendo como referência a Revolução Francesa A ideia é que você além de abordar o tema histórico em si reflita com seus alunos sobre os reflexos desse processo histórico atualmente Nesse contexto imagine que você está pesquisando sobre Revolução Francesa e seus reflexos na atualidade quando se depara com a seguinte notícia httpscopadomundouolcom brnoticiasredacao20140625artilheirodafrancanaocanta ohinodopaisemprotestocontraxenofobiahtmAcesso em 29 mar 2017 Como você encaminhará sua pesquisa sobre a Revolução Francesa a partir dessa notícia De qual forma você refletirá sobre a ressignificação dos símbolos nacionais ao longo do tempo levando em consideração os vários significados da Revolução Francesa Quais outros símbolos nacionais podem ser analisados sob a mesma perspectiva no Brasil e no mundo Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 197 Introdução A Revolução Francesa 17891799 é um dos processos históricos mais importantes da História do mundo ocidental marcando em conjunto com a Revolução Industrial uma ruptura profunda nos alicerces políticos e econômicos do Antigo Regime séculos XVI ao XVIII Nela o regime absolutista de governo foi confrontado por meio de uma guerra civil que perdurou por 10 anos e contou inclusive com a decapitação do rei na guilhotina Além disso o processo revolucionário permitiu o destaque de importantes atores sociais em especial os camponeses e populações pobres das cidades que participaram ativamente do processo Ademais a sua importância é de tamanha grandeza que historiadores de várias linhas teóricas a pesquisam interpretam e reinterpretam até hoje na clássica linha do tempo ocidental ela marca o início da história contemporânea A França antes da Revolução de 1789 Ao final do século XVIII a estrutura social da França permanecia fundamentalmente aristocrática porém os burgueses do setor financeiro e comercial tinham se tornado a classe social hegemônica do ponto de vista econômico Apesar de tamanha importância econômica esses burgueses não detinham o poder político Parte significativa dessa burguesia tratou de aderir à filosofia iluminista e buscar mudanças no sentido de limitar o poder dos reis O regime político era absolutista e os poderes assim se concentravam nas mãos dos reis da dinastia Bourbon Internamente ainda vigoravam as alfândegas internas com cobrança de impostos sobre mercadorias que transitavam entre as várias partes do território o que seria um empecilho para o desenvolvimento do capitalismo Os camponeses formavam a esmagadora maioria da população e parte deles ainda viviam sob laços de servidão típicos do período feudal A população urbana crescia de forma significativa Não pode faltar U4 Cultura popular e revoluções 198 especialmente em Paris e vivia o agravamento das dificuldades de abastecimento de alimentos em um momento em que a agricultura francesa passava por uma séria crise de produção em função das secas das duas últimas décadas do século XVIII A sociedade estava dividida em estamentos compostos pelo clero primeiro estado pela nobreza segundo estado e pelo povo terceiro estado Clero e nobreza possuíam privilégios como a isenção de pagamentos de impostos Um dado importante da França antes de 1789 foi a deterioração da situação fiscal do Estado francês No final do governo de Luis XIV a França mesmo sendo a maior potência europeia começava a dar sinais de enfraquecimento Ao se envolver em várias guerras ao longo do século XVIII o tesouro real francês começou a ter sérios déficits em função dos gastos militares Os conflitos militares Exemplificando Caricatura revolucionária produzida em 1789 satiriza o clero e a nobreza que agora deve carregar o terceiro estado FontehttpscommonswikimediaorgwikiFileJ27savoisbenqu27j27aurionsnottour jpguselangptbr Acesso em 28 jul 2017 Figura 43 Os três estados U4 Cultura popular e revoluções 199 foram a Guerra de Sucessão Austríaca 17401748 a Guerra dos Sete Anos 17561763 e o envolvimento francês na Guerra de Independência dos Estados Unidos da América 17761783 Além das guerras nas quais a França se envolveu lembremos que os gastos públicos com a manutenção da corte real em Versalhes eram significativos Quando Luis XVI assumiu o trono francês em 1774 já existia uma forte crise nas finanças do Estado francês Começava um período de reformas na França Para tal empreitada o rei nomeou o fisiocrata Anne Robert Jacques Turgot 17271781 para ser seu ministro das finanças Turgot buscou incentivar a produção industrial da nação e reduzir as barreiras para o comércio interno de produtos agrícolas mas seu maior desafio seria reduzir ou eliminar o déficit financeiro do governo propondo redução dos gastos da corte e a criação de impostos sobre as atividades do clero e da nobreza Essas últimas medidas não foram aceitas pela monarquia pela nobreza e pelo clero Em 1776 Turgot pediu demissão do cargo por não conseguir fazer com que clero e nobreza pagassem impostos Para substituir Turgot Luis XVI nomeou um banqueiro genebrino Jacques Necker 17321804 Esse ministro tentou ser cauteloso com os interesses da corte da nobreza e do clero mas acabou tornando pública a desastrosa situação fiscal do governo francês dando especial destaque aos gastos da corte acabando por ser dispensado do cargo O rei nomeia Charles Alexandre visconde de Calonne para o comando das finanças da nação O novo ministro retoma os planos de Turgot sem sucesso Agravamento da crise na França A crise econômica e financeira da França se agrava ao longo dos anos 80 do século XVIII Várias foram as causas desse agravamento A crise financeira do estado francês se avolumava e os ministros indicados pelo rei não conseguiram estancar os gastos públicos como também não conseguiram aumentar a arrecadação de impostos Os preços dos vinhos exportados pela França sofreram U4 Cultura popular e revoluções 200 queda em função de acordos comerciais desvantajosos para os seus produtores ampliando a crise econômica Ao longo da década de 1780 a agricultura francesa vivenciou uma vigorosa crise de produção em função de fenômenos climáticos com variações na produção de trigo ao longo do período Na safra agrícola de 1787 produziuse trigo em grande quantidade fazendo com que os preços despencassem e isso fez com que os camponeses reduzissem a produção nos dois anos seguintes Uma grande quantidade de panfletos de inspiração iluminista se propagou por toda a França em especial em Paris criticando abertamente a monarquia absolutista Diante da crise que se apresentava Luis XVI decidiu convocar os Estados Gerais órgão meramente consultivo que reunia representantes dos três estados clero nobreza e povo Anteriormente a última convocação ocorreu em 1614 no reinado de Luis XIV Pela tradição o rei consultava os três estados que poderiam votar soluções para resolução de problemas do reino e o sistema de votação tinha como critério a consideração de um voto por estado Assim o terceiro estado representante da absoluta maioria do povo francês tinha direito a apenas um voto Logo após a convocação dos Estados Gerais a agitação contestatória ao absolutismo se espalhou pela França sob a forma de panfletos iluministas e dos Cahiers de Doléances Lista de Queixas que exigiam aumento da representação do terceiro estado e sistema de votação por cabeça ou seja por representante e não mais por estado Naquele momento a nobreza liberal e o baixo clero aderiram ao movimento de contestação ao poder absoluto dos reis O Abade de Sieyés sintetizou as contestações num célebre escrito que circulou pela França O plano desse escrito é muito simples Temos três questões a tratar 1 O que é o Terceiro Estado Tudo 2 Que foi ele até o presente na ordem política Nada 3 Que solicita Tornarse alguma coisa Mas de que lhe serviria participar dos Estados Gerais se o interesse contrário ao U4 Cultura popular e revoluções 201 Assembleia Nacional 17891792 Diante do impasse nas discussões e sem solução para a crise financeira do Estado francês os representantes do terceiro estado da nobreza liberal e do baixo clero se autoproclamam em Assembleia Nacional Constituinte e passam a escrever uma Constituição para a França A partir desse momento os fatos se precipitam e o que Luiz XVI acreditava ser uma simples revolta se transforma em uma revolução política A maioria do exército do rei adere à revolução e a agitação toma conta de Paris Armas são distribuídas à população A Bastilha antiga prisão e símbolo do absolutismo francês é tomada pela população em 14 de julho de 1789 Em agosto os movimentos revolucionários se estenderam para o campo quando os camponeses passaram a assaltar castelos e muitos nobres e membros do clero foram massacrados A Assembleia Nacional Constituinte aboliu todos os privilégios feudais tais como dízimos isenção de impostos privilégios de ocupação de cargos em tribunais corporações de ofício entre outros seu aí predominasse O povo apenas consagraria pela sua presença a opressão de que ele seria vítima eterna SIEYÉS 1789 apud HOBSBAWN 1991 p 43 Exemplificando A tomada da Bastilha vista por Claude Cholat que participou do evento Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileSiegeoftheBastilleClaudeCholatjpg Acesso em 26 jul 2017 Figura 44 A tomada da Bastilha U4 Cultura popular e revoluções 202 No mês de agosto a Assembleia aprovava a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão documento que consagra o respeito às liberdades individuais e à igualdade dos cidadãos perante a lei Sob o ardor dos acontecimentos e sentindo as dificuldades de abastecimento de alimentos pobres de Paris marcharam até o Palácio de Versalhes e obrigaram a família real a voltar para Paris Assustados e sem capacidade de reação parte da nobreza e do clero começam a deixar o país e seguir principalmente rumo ao Sacro Império RomanoGermânico O governo revolucionário acolhe uma proposta de expropriação das terras da Igreja como forma de atenuar os problemas financeiros do governo francês Começa no Sacro Império RomanoGermânico um movimento para organizar um exército estrangeiro para invadir a França e acabar com a Revolução Preso o rei tenta fugir com a família mas é capturado novamente A promulgação da Constituição consagrava os princípios iluministas assinada por Luis XVI e determinava o voto censitário para as eleições do Parlamento a partir de critérios de pagamento de impostos Ademais logo depois as greves e os sindicatos foram considerados ilegais Assim apenas as elites econômicas francesas teriam direito à participação política A Assembleia Constituinte foi dissolvida e uma eleição foi realizada para definição da Assembleia Legislativa Em função do critério censitário a Assembleia Legislativa contava com maioria de membros da alta burguesia divididos entre os leuillants representantes da burguesia financeira e os girondinos representantes da burguesia comercial e industrial Havia também os jacobinos representantes das classes médias e os cordeliers representantes das camadas populares Em abril de 1792 os emigrados franceses e os exércitos da Áustria e da Prússia atacaram a França sendo vencidos pelas tropas populares que protegeram Paris e expulsaram o exército invasor A tentativa de invasão de tropas estrangeiras influenciou a decisão da Assembleia Constituinte de convocar novas eleições usando o critério do voto universal Uma nova Assembleia foi formada com uma composição diferente da primeira com destaque para três grupos políticos girondinos jacobinos e os remanescentes U4 Cultura popular e revoluções 203 dos leuillants denominados de pântano Logo após a expulsão das tropas estrangeiras a República foi proclamada em setembro de 1792 Em janeiro de 1793 o rei foi condenado e executado na guilhotina Convenção Nacional 17921795 Sentindose ameaçadas as potências absolutistas da Europa se uniram para a criação da primeira coligação militar contra a Revolução Francesa Áustria Prússia Holanda Espanha e Inglaterra uniramse para conter o movimento Além disso eclodiu uma revolta contra a Revolução na região da Vendeia liderada por católicos realistas No ardor dos acontecimentos e das pressões externas e internas os jacobinos desfecham um golpe de estado e tomam o poder liderados por JeanPaul Marat Jacques Hébert e Jacques Roux com o apoio dos sanscullotes camadas populares de Paris Todos os girondinos foram presos Começaria assim a República Jacobina chamada de Período do Terror pelos girondinos Uma nova constituição foi aprovada com garantia de voto universal a todos os franceses com mais de 21 anos No poder pressionados pelos sansculottes os jacobinos adotaram várias medidas populares tais como o fim da escravidão nas colônias o tabelamento de preços de gêneros alimentícios criação do ensino gratuito e obrigatório entre outras medidas Também sob seu governo derrotaram a coligação estrangeira que invadira a França e reprimiram a revolta da Vendeia Comandando o Comitê de Salvação Pública os jacobinos começam a perseguir seus opositores sob o comando de Maximilien de Roberspierre 17581794 inaugurando o que pode ser definido como terrorismo de Estado com a execução de dezenas de milhares de pessoas na guilhotina Nesse período tem início uma divisão interna entre os jacobinos os moderados que desejavam o fim das execuções na guilhotina e os radicais que desejavam a continuidade das execuções Muitos jacobinos moderados foram executados As divisões internas levaram ao fim da hegemonia dos jacobinos e permitiram que os girondinos retomassem o poder U4 Cultura popular e revoluções 204 Diretório 17951799 Após a queda dos jacobinos os grupos representados pelo pântano e pelos girondinos assumem o poder A alta burguesia francesa consegue reassumir o poder e passa a reformular as leis do período da Convenção as eleições voltaram a ser guiadas pelo voto censitário e os preços deixaram de ser controlados O novo governo passa a ser composto por um Diretório de cinco membros eleitos pela Assembleia Legislativa e os novos governantes passam a incentivar os empreendimentos capitalistas Apesar do crescimento econômico verificado no período as elites Francesas tiveram que combater outro movimento popular a Revolta dos Iguais comandada por François Babeuf Passados dez anos de revolução e guerra civil ameaças e invasões de exércitos estrangeiros e centenas de milhares de mortos o povo francês estava cansado A corrupção de governo e a inflação continuavam a criar consequências sociais desastrosas para o povo francês Em 1798 uma nova coligação de tropas estrangeiras se formava para invadir a França A burguesia francesa assustada com os rumos da Revolução e com as perspectivas futuras decide entregar o poder a um habilidoso general Napoleão Bonaparte toma o poder em novembro de 1799 data muitas vezes considerada como o fim da Revolução Francesa apesar da ambiguidade do governo napoleônico Considerações sobre a historiografia da Revolução Francesa A Revolução Francesa é um dos processos históricos mais pesquisados pelos historiadores contemporâneos e dessas variadas pesquisas e leituras diferenciadas dos documentos de época várias explicações surgiram sobre ela Tais discordâncias opõem fundamentalmente pensadores liberais e marxistas Ao longo do século XIX vários outros autores liberais se debruçaram sobre o tema muito influenciados pelas agitações revolucionárias da França ao longo desse século Atentemos ao fato de que após a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815 a França foi governada por dois reis que pretenderam restaurar o absolutismo na França Luis XVIII e Carlos X e que a maioria das nações europeias continuava sendo governada por reis absolutistas U4 Cultura popular e revoluções 205 que condenavam a Revolução Os historiadores liberais da Revolução Francesa no século XIX produziram suas obras em meio à continuidade da luta contra o que acreditavam ser um retrocesso político diante das conquistas de 1789 sempre ameaçadas por governantes conservadores Um dos autores fundamentais para essa escola liberal foi Alexis de Tocqueville 18051859 que pesquisou documentos históricos de forma consistente e compreendeu o processo revolucionário como o resultado de transformações sociais tais como o crescimento da disfuncionalidade da nobreza classes médias e dos camponeses Tocqueville argumenta que a nobreza possuía grande status mas seu poder estava diminuindo ao longo do século XVIII as classes médias passaram a ter elevado poder econômico mas sem nenhum poder político grande parte dos camponeses deixou a condição de servos e passou a ter pequenas propriedades tornandose agentes de mercado Essas mudanças sociais teriam criado a citada disfuncionalidade causadora de insatisfações com o Antigo Regime Além disso entre outros fatores causais o papel dos pensadores iluministas teria sido fundamental para explicar a Revolução A tradição liberal na historiografia aponta para uma revolução linear e o período mais violento o período do Terror 17931794 que é abordado como um momento de excesso ocorrido em função de situações excepcionais A verdadeira revolução para a interpretação liberal seria a de 1789 com a promulgação de uma Constituição que limitava o poder dos reis abolia os privilégios feudais da nobreza e do clero e garantia as liberdades individuais e a propriedade privada Recentemente historiadores lançaram novas interpretações sobre a Revolução Francesa Entre eles podemos destacar François Furet Denis Richet e Elizabeth Eisenstein que afirmam terem sido a nobreza e a burguesia parte de uma elite que desejava limitar o poder dos reis e buscar soluções para os problemas financeiros do Estado francês ou seja não havia divergência de interesses entre burgueses e nobres em sua grande maioria A participação popular na Revolução protestando e pressionando por questões como abastecimento teria sido o principal fator para explicar a radicalização do movimento em um momento em U4 Cultura popular e revoluções 206 que a França vivia uma séria crise na agricultura Isso explicaria a ascensão ao poder de um líder autoritário como Robespierre que teria se aproveitado da situação social caótica para em meio ao processo revolucionário liberal impor uma ditadura Outra interpretação da Revolução Francesa foi vastamente oferecida pelos historiadores marxistas Em verdade o próprio Karl Marx interpretou a Revolução de forma a buscar demonstrar que ela teria sido o grande exemplo das revoluções burguesas ou seja um processo histórico no qual a burguesia com interesses opostos aos da nobreza e clero teria tomado o poder de Estado em nome de um projeto de constituição de um Estado liberal ligado aos seus interesses Para Marx e os marxistas o Iluminismo seria uma espécie de legitimação ideológica dessa tomada de poder pela burguesia Isso explicaria a sociedade francesa que teria surgido após a Revolução que não era nem igualitária nem fraterna nem livre Ela continuaria a ser uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas agora com preponderância para o antagonismo entre burguesia e proletariado A radicalização da revolução teria sido resultado das pressões das classes sociais dominadas pela burguesia e teriam sido decisivas para a existência de outros projetos revolucionários mais profundos para a sociedade e política francesas Teria existido assim várias revoluções entre 1789 e 1799 Vários historiadores seguiram os caminhos de Marx e aqui podemos citar Albert Soboul 19141982 e George Lefebvre 1874 1959 Eles buscaram pesquisar e salientar as aspirações das classes populares jornaleiros artesãos camponeses entre outros que teriam sido guiadas pelos ideais de luta contra o absolutismo mas que no desenrolar do processo revolucionário teriam construído lutas autônomas Teriam sido essas lutas populares as responsáveis pelos avanços e recuos da revolução Em suma nas palavras de Soboul 2007 p 109 a Revolução Francesa consignase desta maneira um lugar excepcional na história do mundo contemporâneo Revolução burguesa clássica ela constitui para a abolição do regime senhorial e da feudalidade o ponto de partida da sociedade capitalista e da democracia liberal na história U4 Cultura popular e revoluções 207 O presente texto tem uma relativa influência da narrativa marxista a despeito de reconhecer as contribuições dos autores que relativizaram essa interpretação da França Revolução camponesa e popular porque antifeudal sem compromisso tendeu por duas vezes a ultrapassar seus limites burgueses Assimile A França antes de 1789 Governo absolutista Sociedade estamental Alfândegas internas Econômica com fortes características mercantilistas Crise na produção agrícola alimentos Crise financeira do Estado déficit no orçamento público Convocação dos Estados Gerais em 1789 Ausência de solução sobre os temas impostos e sistema de votação Início da Revolução com o levante dos representantes do Terceiro Estado para redigir uma Constituição para a França Fases da Revolução Assembleia Nacional 17891792 domínio dos girondinos Convenção Nacional 17921795 domínio dos jacobinos Diretório 17951799 domínio dos girondinos A Revolução Francesa termina com a tomada de poder por Napoleão Bonaparte A Revolução Francesa possui várias interpretações destacandose duas a liberal e a marxista U4 Cultura popular e revoluções 208 Reflita O governo dos jacobinos foi extremamente popular em função das medidas que tomou para as massas urbanas e rurais mas acabou numa ditadura sangrenta que assassinou milhares de pessoas em processos judiciais sumários e sem direito à defesa Em processos revolucionários violentos muitas atrocidades ocorrem em nome da liberdade da igualdade da nação ou de algum outro discurso Em sua avaliação a luta por um ideal político justifica violências extremas No auge do terror a máquina alimentavase com umas trinta cabeças por dia Tratavase de um espetáculo de vingança coletiva no qual a massa popular encenava o seu acerto de contas com a nobreza deposta e seus adeptos Anteciparam as grandes encenações outras que irão se repetir durante as situações revolucionárias do século XX na Rússia comunista de 1917 na Alemanha nazista de 1933 na Itália fascista de 1922 ou nos julgamentos de massa dos seguidores da ditadura batistista feitos na Cuba revolucionária em 1959 TERRA sd sp Pesquise mais MarieAntoniette Direção de Yves Simoneau e Francis Leclerc Canadá 2006 Cinema Biografia de Maria Antonieta 17551793 arquiduquesa da Áustria e rainha da França e Navarra Com apenas 14 anos ela chega à opulenta corte francesa após ser prometida ao rei Luis XVI Sozinha incompreendida e rejeitada por seu próprio marido ela logo se torna a protagonista de vários escândalos cortesãos OSTERMANN Nilse Wink KUNZE Iole Carreta Às Armas Cidadãos São Paulo Atual 1995 Este livro traz uma boa discussão historiográfica sobre o tema além de ser rico em documentos de época Claro também narra os acontecimentos de 1789 a 1799 U4 Cultura popular e revoluções 209 Sem medo de errar 1 Em primeiro lugar é preciso pesquisar as origens da escrita do Hino Nacional da França e entender por qual motivo ele é conhecido como Marselhesa O hino nacional francês foi composto por Claude Joseph de Lisle oficial do exército francês em 1792 Ele foi escrito com o objetivo de encorajar os soldados franceses a lutar contra as tropas estrangeiras que invadiram a França e tentaram pôr fim à Revolução Francesa Acabou ficando conhecido como Marselhesa pois era cantado com muita frequência pelas tropas do exército revolucionário de Marselha Uma atividade bastante interessante será buscar documentos de época que informem sobre a criação dessa canção 2 Em segundo lugar faça uma análise da letra da canção no contexto histórico da Revolução Francesa Lembrese da história do nacionalismo francês oriundo do processo revolucionário e das invasões dos reinos absolutistas que a França sofria naquele momento Reflita também sobre como a noção de cidadania iluminista trouxe outra relação ao sentimento nacional diferente daquele vivido pelos súditos do Antigo Regime 3 No que se refere ao conteúdo do Hino Nacional francês busque entender e interpretar as passagens que remetem aos conteúdos que você estudou destacando os versos em que constam a Contra nós da tirania quem são os tiranos no contexto da revolução de 1789 b Sangue impuro quem são os homens de sangue impuro no contexto da revolução E atualmente c Somos todos soldados para vos combater de qual forma esse verso afirma o nacionalismo francês no final do século XVIII e atualmente d Por qual motivo o Hino Nacional da França aborda diversas vezes os espaços agrários falando em campos e arados U4 Cultura popular e revoluções 210 Faça valer a pena 1 4 Identifique os momentos da história francesa do século XIX em que a Marselhesa foi utilizada como hino nacional e os momentos em que ela foi banida pelos governantes da França Busque os significados políticos desses momentos 5 Pesquise sobre as discussões em torno do problema da imigração africana e árabe para a França e a atual composição da população francesa em termos de origens nacionais e de suas religiões 6 Pesquise sobre as posições políticas dos principais partidos políticos da França e suas posições sobre a questão da imigração para o território francês 7 Insira o conteúdo da reportagem nesse contexto oferecendo especial destaque aos significados que a letra da Marselhesa possui para os grupos políticos franceses bem como para suas lideranças A concepção que foi questionada é a que vê o século XVIII francês como uma luta de classes entre uma burguesia capitalista ascendente e uma classe dominante estabelecida de aristocratas feudais que a burguesia em ascensão consciente de si mesma como classe procurava combater para substituíla na condição de força dominante na sociedade Essa concepção via a Revolução Francesa como o triunfo dessa classe e consequentemente como o mecanismo histórico que acabou com a sociedade feudalaristocrática e inaugurou a sociedade burguesa capitalista do século XIX a qual deduziase não teria podido surgir senão quebrando aquilo que Marx quando falava da revolução proletária que considerava destinada a derrubar o capitalismo chamava de o invólucro da velha sociedade Em resumo o revisionismo criticava e critica o conceito de que a Revolução Francesa foi essencialmente uma revolução social necessária um passo essencial e inevitável no desenvolvimento histórico da sociedade moderna e é claro a transferência de poder de uma classe para outra HOBSBAWN 1996 p 23 U4 Cultura popular e revoluções 211 2 Esse trecho da obra de Hobsbawm deve ser interpretado como a O relato de uma discussão historiográfica em torno da Revolução Francesa b Uma discussão sobre as origens da Revolução Francesa cUma forma de legitimar a Revolução Francesa diante dos seus contemporâneos d Uma discussão sobre o caráter classista da Revolução Francesa e Uma reafirmação das posições marxistas do autor sobre a Revolução Francesa Depois de 1794 ficaria claro para os moderados que o regime jacobino tinha levado a revolução longe demais para os objetivos e comodidades burgueses exatamente como ficaria claro para os revolucionários que o sol de 1793 se fosse nascer de novo teria que brilhar sobre uma sociedade não burguesa Por outro lado os jacobinos podiam sustentar o radicalismo porque em sua época não existia uma classe que pudesse fornecer uma solução social coerente como alternativa a deles Esta classe só surgiu no curso da revolução industrial com o proletariado ou mais precisamente com as ideologias e movimentos baseados nele HOBSBAWN 1991 p 65 O texto do autor aponta para uma visão teleológica da História legitimada na ideia de que a Os objetivos da burguesia e da própria marcha natural da História impediram que a burguesia entendesse os movimentos políticos dos jacobinos b A derrota dos jacobinos fez ver aos radicais tanto quanto aos sans culottes que uma sociedade igualitária seria possível apenas com o esmagamento dos girondinos c Os jacobinos e sansculottes não poderiam oferecer uma solução social visto que isso estava reservado pela História ao movimento operário nascido com a Revolução Industrial d Apenas a formulação socialista do movimento operário nascido da Revolução Industrial poderia redundar na redenção da humanidade visto que os jacobinos não tinham consciência do seu papel histórico e A revolução foi longe demais e colocou em perigo os projetos de todos os grupos sociais que dela participaram U4 Cultura popular e revoluções 212 3 Quando o leigo instruído pensa na Revolução Francesa são os acontecimentos de 1789 mas especialmente a República Jacobina do Ano II que vêm à sua mente O empertigado Robespierre o gigantesco e dissoluto Danton a gélida elegância revolucionária de SaintJust o gordo Marat o Comitê de Salvação Pública o tribunal revolucionário e a guilhotina são as imagens que vemos mais claramente Os girondinos são lembrados apenas como um grupo e talvez por causa das mulheres politicamente sem importância mas românticas que estavam ligadas a eles Mme Roland ou Charlotte Corday Quem fora do campo especializado conhece sequer os nomes de Brissot Vergniaud Guadet e do resto Os conservadores criaram uma imagem duradoura do Terror da ditadura e da histérica e desenfreada sanguinolência embora pelos padrões do século XX e mesmo pelos padrões das repressões conservadoras contra as revoluções sociais tais como os massacres que se seguiram à Comuna de Paris de 1871 suas matanças em massa fossem relativamente modestas 17 mil execuções oficiais em 14 meses Os revolucionários especialmente na França viram na como a primeira república do povo inspiração de toda a revolta subsequente Pois esta não era uma época a ser medida pelos critérios humanos cotidianos HOBSBAWN 1996 p 72 Nesse trecho de sua obra o historiador Eric Hobsbawm 1991 busca a Justificar a ditadura de Robespierre b Reduzir a importância de Robespierre no período do Terror c Relativizar a importância da ditadura de Robespierre d Responsabilizar os girondinos pela tradicional ênfase dada às matanças do período do Terror e Afirmar que o período do Terror é justificado pelos padrões humanos cotidianos CULTURA POPULAR E REVOLUÇÕES Em História Moderna livro do historiador Adauto Damasio dividido em quatro unidades no qual a última dela intitulada Cultura Popular e revoluções discute de maneira didática fatos importantes que tiveram grande influência para o processo histórico na formação do mundo contemporâneo Tais como a cultura popular na Idade Moderna Revolução Industrial e a Revolução Francesa que foram momentos decisivos para a transformação da nossa economia política sociedade e cultura atual Ao que antecede a grande Revolução Industrial o autor discorre sobre a cultura popular na Idade Moderna Apresenta uma cultura pela forma mais literal do popular uma cultura do povo da classe subalterna que optando em discutir pela perspectiva de todas as atividades humanas DAMASIO 2017 p 164 sem recortes da história política A princípio o autor aborda discursões sobre a definição de cultura e cultura popular pelo ponto de vista de historiadores sociais que buscaram entender as manifestações populares Dessa maneira esses historiadores sociais buscaram entender essas manifestações que evidenciam a resistência das classes subalternas em que contestavam as diferenças políticas e econômicas O autor exemplifica entre essas ferramentas de resistência a música mas sabemos que ainda pelo que soa nas manifestações da atualidade as diversas formas de protestos Entre os grupos marginalizados Damasio aponta a posição da mulher na história moderna que no contexto da cultura popular inglesa as mulheres são interpretadas em sua condição de sujeitos de suas histórias e não objetos de manipulação masculina IBID p 170 o que contrapõe as concepções da sociedade da época sobretudo a religiosa No texto o que o torna plausível é como as manifestações desenvolvida em uma cultura popular por trabalhadores escravos mulheres até a sua aceitação foi como a elite tentou e tenta controlar No carnaval manifestação da cultura popular na qual as classes subalternas conseguiam com suas estratégias criar um mundo sem hierarquia sociais IBID p 175 que por perseguições políticas sofreu até ser reconhecida como cultura popular o mesmo aconteceu entre outras manifestações haja vista haja vista a capoeira CULTURA POPULAR E REVOLUÇÕES Por fim nessa etapa o autor finda com a discursão do poder da literatura que além de ferramenta poderosa na luta contra a opressão e a injustiça social a literatura desempenha um papel importante na compreensão das manifestações de resistência das classes subalternas No entanto ao que notamos de uma literatura formada pela tradição de sua formação até pouco tempo de homens branco e elitizados o acesso a ela por pessoas que viviam a margem teve um grande interesse crescente pela leitura que para Damasio 2017 aumentou o índice de alfabetização e por consequência a politização dessas classes e isso seria uma das causas que deu origem a Revolução Francesa Entre os séculos XIX e XX os conflitos sociais teve ligação as atividades nas fábricas indústrias já que nessa época a Revolução Industrial tinha maior influência no desenvolvimento da sociedade Para Damasio 2017 essa revolução surgiu para transformar a tecnologia a economia as questões sociais e os processos produtivos na Europa Originada na Inglaterra a Revolução Industrial fez do seu comércio um modo de acumular capital para impulsionar o capitalismo foi instaurado no seu regime político a ideologia liberal que com a revolução de suas tecnologias utilizaram da mão de obra barata Entre a primeira e segunda revolução o autor apresenta inovações tecnológicas que foram crucias para nossa tecnologia atual e consequentemente se expandiu por toda a Europa e posteriormente para o mundo Sobre as formas de trabalho no texto é destacado o artesanal manufatureiro fabril que foram formas em que a indústria buscou de utilizar a mão de obra no entanto são diferentes formas de produção sendo que a última é a grande predominante na sociedade industrial Sendo assim foi uma forma de impor ao trabalhador uma maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado O trabalhado não pode ter nenhuma decisão sobre seu trabalho IBID p 187 Através dessa posição no texto é discutido algumas consequência da Revolução Industrial como o surgimento de uma nova classe o operário urbano que por uma mão de obra assalariada e barata além de uma longa jornada de trabalho que posteriormente iniciaram grandes contestações Em uma sociedade aristocrata o surgimento de manifestações em que os subalternos reivindicavam seus direitos e essa classe popular especificamente os camponeses e as populações pobres das cidades foram grandes protagonistas da Revolução Francesa Sendo um dos processos históricos mais relevantes da História ocidental marcou em conjunto com a revolução Industrial rompendo com os alicerces políticos e econômicos do Antigo Regime século XVI ao XVIII que pelo regime absolutista confrontou por uma guerra civil por 10 anos DAMASIO 2017 Antes da revolução o autor aponta a estrutura social era marcado pela aristocracia e o regime político absolutista o que concentravam os poderes nas mãos dos reis que passam por crises resultantes em conflitos militares e gastos públicos pela corte impuseram a criação de impostos e a redução de gastos Apesar disso não foi suficiente como bem ressalta Damasio pois a crise econômica e financeira foi agravada o que foi decidido pelo rei Luís XVI uma convocação com Estados Gerais que por ideias iluministas após a convocação surgiu uma grande contestação que exigiam que o voto deixasse de ser por estado e passava ser por pessoa Esse movimento teve apoio de outras classes a nobreza liberal e o baixo clero que com a junção desses povos a Assembleia Nacional Constituinte surgiu uma nova constituição para França o que a uma maior parte do exército do rei adotar essa revolução Posteriormente tiveram a conquista Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que foi crucial para que a liberdade e igualdade fosse exercida por lei No entanto apesar das conquistas apenas as elites econômicas francesas teriam direito a participação política o que passou de Assembleia constituinte a Legislativa Por critério em seu funcionamento essa assembleia dividiamse em grupos leuillants burguesia financeira girondinos burguesia comercial e industrial jacobinos classe média e cordeliers camadas populares Após a tentativa da Áustria e Prússia de invadir a França uma nova Constituinte foi formada assim como a modificação dos grupos políticos permanecendo os girondinos e jacobinos e surgindo os pântanos Os jacobinos deram um golpe de estado mas por favorecer a população e tomarem medidas populares pressionados pelo sansculottes garantiram o poder do voto para todo povo francês fim da escravidão tabelamento dos preços dos alimentos ensino gratuito e obrigatório Entretanto essas medidas que favorecia as classes mais pobres tiveram um retrocesso com a queda do jacobinos e a alta burguesia francesa assume o poder De maneira didática e de fácil compreensão nessa unidade o autor Adauto Damasio discorrem sobre os grandes impactos sofridos pelo surgimento do capitalismo e a fortificação da estratificação social no percurso histórico europeu que posteriormente influencia o mundo Assim como a importância para o historiador em elevar as lutas das classes e da cultura popular em resistências a políticas que favoreciam a aristocracia e a elite bem como foram norteadoras nas revoluções e na implementação mesmo que de maneira subordinada para os avós tecnológicos marcados pela Revolução Industrial que fizeram de sua mão de obra barata uma grande ferramenta para o acúmulo de capital
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Unidade 4 Cultura popular e revoluções Convite ao estudo Prezado estudante seja bemvindo Parabéns Chegamos à última unidade da disciplina de História moderna Esta unidade possui grande importância para a formação do profissional de História tanto em sua atuação como professor como na pesquisa histórica Nela trataremos de processos históricos importantes para a formação do mundo contemporâneo que influenciaram de maneira decisiva as formas pelas quais o mundo se organizou desde o século XVIII até hoje Na Seção 41 estudaremos a Cultura popular na Idade Moderna tema importante para os historiadores da atualidade que revelará nuances sobre o cotidiano das camadas populares e as formas de relacionamento entre seus membros e com as elites proprietárias Na Seção 42 estudaremos a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra em 1760 processo histórico que transformou de forma profunda a economia a sociedade e a cultura do mundo contemporâneo A Revolução Industrial é um dos eventos mais importantes da história da humanidade tão importante quanto a invenção do fogo ou a revolução agrícola no Neolítico Tal importância fica evidente em nosso cotidiano repleto de máquinas e indústrias Na Seção 43 estudaremos a Revolução Francesa ocorrida entre 1789 e 1799 Do ponto de vista político ela influenciou de forma decisiva toda a história do mundo ocidental e continua a fazêlo até hoje A luta de cidadãos pela existência de um Estado que os represente tem profunda influência nos acontecimentos de 1789 Por ser tão importante acabou sendo um dos temas mais pesquisados pelos historiadores contemporâneos como veremos Portanto a aprendizagem nessa seção é importante para a sua boa formação profissional Bons estudos U4 Cultura popular e revoluções 163 Seção 41 Cultura popular na Idade Moderna Olá estudante Seja bemvindo a esta nova seção de nossos estudos sobre a História Nela iremos mergulhar em um tema instigante a cultura popular na Idade Moderna Tratase de trabalhar com os novos temas com os quais os historiadores passaram a se preocupar desde algumas décadas atrás Esse tema não trata da Grande História dos grandes eventos políticos das grandes revoluções ou dos grandes líderes Ele trata de pessoas comuns que vivem seu cotidiano entre o trabalho e a família com esposas maridos filhos vizinhos e patrões Trata do camponês que lavrava a terra e colhia os alimentos de mestres e aprendizes que produziam mercadorias antes da propagação das novas técnicas e das máquinas na Revolução Industrial Trata das formas pelas quais essas pessoas comuns se relacionavam com seus patrões em relações que alternavam resistência à opressão e acomodação diante da realidade Um dos temas estudados por esses historiadores sociais da cultura é o carnaval No caso do Brasil é tema importante visto que ocorre grande mobilização popular no período das festas carnavalescas Sabemos que ocorreu uma tentativa de captura do carnaval pela indústria cultural e pelos meios de comunicação de massa Você estudante realizará uma atividade que articula o carnaval em sua localidade A escola de samba do bairro em que você mora está organizando preparativos para o desfile de carnaval na cidade e você como historiador resolveu ajudar na pesquisa para dar as diretrizes ao carnavalesco responsável O tema escolhido para o ano em questão é a história do Carnaval suas origens e as características de sua história no Brasil Quais seriam as orientações históricas que você levaria para o carnavalesco Pense nos seguintes temas na Europa e no Brasil de qual forma o Carnaval foi um instrumento de resistência popular contra o domínio de grupos sociais sobre outros De qual maneira os temas da liberdade do riso da comédia da transgressão da desigualdade e da oposição aos poderes instituídos estarão presentes Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 164 em suas orientações ao carnavalesco No caso do Brasil de qual maneira você vai descrever eou narrar a repressão ao Carnaval até 1930 e sua posterior cooptação pelo Estado Novo Introdução As formas de investigação da História sofreram grandes transformações ao longo dos últimos dois séculos Sem pretender fazer aqui uma discussão aprofundada sobre o tema é importante salientar que os europeus do século XIX se preocupavam com a história nacional enquanto abordagens históricas com recortes econômicos se expandiram ao longo do século XX Permaneceu inclusive até a atualidade uma forma tradicional de abordagem da História que enfatiza as preocupações nas realizações dos Grandes Homens Assim buscouse entender o Império Helenístico de Alexandre a França de Napoleão a Alemanha de Bismark e o Brasil de Vargas por exemplo Buscando novos objetos de pesquisa investigações e interpretações dos processos históricos surgiram outras formas de narração do passado humano Por exemplo podemos citar a Nova História movimento que nas palavras de Peter Burke 1992 p 10 se reuniu como uma reação deliberada contra o paradigma tradicional que hegemonizou a escrita da História até algumas décadas atrás Esse paradigma tradicional estava centrado no entendimento de que os movimentos de permanências ou rupturas históricas deveriam centrar suas investigações na história política da ação dos Estados Nacionais de seus líderes dos Grandes Homens BURKE 1992 p 10 Surgiram em especial após os anos 40 do século XX outras formas de investigação histórica cuja preocupação foi entender outras dimensões das atividades humanas tais como as ideias de indivíduos ou de grupos sociais seus costumes seus cotidianos suas culturas Ganharam força movimentos de historiadores interessados em todas as atividades humanas pois todas elas poderiam ter uma história a infância a morte a loucura os gestos a feminilidade a leitura Uma parte desses historiadores estaria circunscrita aos trabalhos do que podemos denominar de História Cultural sobretudo na historiografia francesa e em autores como Roger Chartier e História Não pode faltar U4 Cultura popular e revoluções 165 Social da Cultura em especial na historiografia inglesa no caso de autores como E P Thompson Na presente seção buscamos oferecer um pequeno panorama de algumas contribuições desses historiadores a respeito do período que denominamos História moderna Uma primeira aproximação para a discussão sobre a cultura popular na Idade Moderna deve salientar mesmo que de forma genérica a discussão sobre o conceito de cultura Inúmeros pensadores se debruçaram sobre esse tema mas para nossos objetivos tomemos como referência as reflexões de um autor clássico Clifford Geertz integrante de uma das correntes da Antropologia Social contemporânea o culturalismo americano Para Geertz 2008 em síntese a cultura é um conjunto ordenado de sistemas de símbolos significantes sendo o símbolo tudo aquilo que carrega em si um significado São esses símbolos que orientam coordenam e dão sentido às ações humanas Para além das determinações biológicas a cultura é um elemento central para a própria definição de humanidade Tal contextualização teórica do conceito de cultura mesmo feita de forma sumária é importante para que possamos alcançar outra discussão central o que é cultura popular Também nesse tema existem inúmeros autores cujas reflexões são relevantes mas aqui tomaremos como referência o trabalho do historiador Peter Burke Burke 1989 p 15 admite a dificuldade de definir cultura mas aceita uma conceituação que lhe parece adequada sistema de significados atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas em que eles são expressos ou encarnados BURKE 1989 p 15 Sobre o conceito de cultura popular optase pela definição negativa seria a cultura não oficial a cultura da não elite das classes subalternas Essas classes subalternas na Idade Moderna seriam os camponeses e artesãos incluindo mulheres crianças pastores marinheiros mendigos entre outros grupos populares Notese que no século XVIII a Europa é essencialmente rural e que a esmagadora maioria da população é composta por camponeses Na França às vésperas da Revolução Francesa essas classes populares somavam 24 milhões para uma população de 25 milhões de pessoas Burke 1989 aponta para a necessidade de que a cultura popular seja pesquisada explicada e compreendida além das preocupações que buscaram o caráter dito folclórico de suas manifestações U4 Cultura popular e revoluções 166 Tratase de na perspectiva dos historiadores sociais buscar uma forma de investigação histórica que procure entender as manifestações dos grupos populares a partir de seus próprios termos Claro que tal objeto de estudo pressupõe uma vastidão de temas e abordagens em função das especificidades dos variados grupos sociais das questões regionais linguísticas entre outros A busca dos historiadores pelo popular é parte integrante de vários questionamentos de interpretações da História que sempre privilegiaram as formas de pensar e agir das elites como fatores preponderantes para explicar as transformações das sociedades e nações Trata se de investigar as formas pelas quais os grupos sociais subalternos influenciaram os processos históricos buscando entender as suas formas de participar da política as características dos relacionamentos entre homens e mulheres a sua forma própria de entender o universo religioso entre tantos outros aspectos BURKE 1992 Exemplificando Mikhail Bakhtim investigou as práticas do carnaval na Europa do Renascimento a partir da obra de François Rabelais Sua tese central é a de que o carnaval era o momento no qual as classes sociais subalternas conseguiam com suas estratégias festivas criar um mundo sem hierarquias sociais sem distinção de classes Contrastando com a excepcional hierarquização do regime feudal com sua extrema compartimentação em estados e corporações na vida diária esse contato livre e familiar era vivido intensamente e constituía uma parte essencial da visão carnavalesca do mundo O indivíduo parecia dotado de uma segunda vida que lhe permitia estabelecer relações novas verdadeiramente humanas com os seus semelhantes A alienação desaparecia provisoriamente O homem tornava a si mesmo e sentia se um ser humano entre seus semelhantes O autêntico humanismo que caracterizava essas relações não era em absoluto fruto da imaginação ou do pensamento abstrato mas experimentavase concretamente nesse contato vivo material e sensível O ideal utópico e o real baseavamse provisoriamente na percepção carnavalesca do mundo única no gênero BAHKTIM 1987 p 9 U4 Cultura popular e revoluções 167 Transformações e resistências Entre as preocupações dos historiadores sociais da cultura destaca se a busca por entender os costumes que formavam a identidade dos grupos sociais subalternos Edward P Thompson é o mais famoso entre esses historiadores o cofundador da New Left Review investigou as formações culturais populares que estavam presentes na Inglaterra antes da Revolução Industrial Em uma de suas obras mais importantes Costumes em Comum Thompson 1998 investiga um conjunto variado de temas mas com destaque para a permanência de valores tradicionais das camadas populares no século XVIII quando as mudanças na sociedade e na economia transformavam a Inglaterra gradativamente em uma nação composta por uma elite proprietária de mentalidade capitalista norteada pala ação em busca da acumulação de riquezas Tratouse para o autor de compreender as ações de artesãos e camponeses que eram mediadas por costumes que colidiam com a hegemonia dos grupos sociais dominantes A investigação buscou eventuais protagonismos desses atores no processo histórico que formou a sociedade capitalista inglesa Uma das abordagens diz respeito às formas de relacionamento entre a gentry e a plebe A Inglaterra do século XVIII seria uma nação onde a busca pela riqueza não foi mediada por estratégias sutis de acumulação mas sim por um processo predatório ocorrido no comércio e na exploração da terra Com a legitimação e o apoio do poder de Estado por vezes em nome do rei os proprietários rurais lutavam por despojos tais como dízimos reivindicações de florestas e terras comunais Um dos desdobramentos da ação dos proprietários rurais foram os cercamentos No contexto de transição de uma sociedade rural tradicionalmente marcada pelos controles paternalistas característica do período anterior na Inglaterra para outra cada vez mais mediada pelo uso do dinheiro e do assalariamento as antigas formas de disciplinarização dos trabalhadores entravam em crise e se transformavam Foi nesse contexto que camponeses e artesãos promoveram variados meios de contestação ao poder político e econômico Entre essas formas de contestação e resistência estava o recurso ao poder dos juízes locais Tribunais Senhoriais no qual camponeses e trabalhadores buscavam reivindicar seus direitos Tais demandas judiciais ocorriam no U4 Cultura popular e revoluções 168 contexto da tradição jurídica inglesa que privilegiava a observação do direito costumeiro em detrimento da lei positivada pelo Estado Buscar a mediação do poder judiciário era uma forma de reivindicar seus direitos costumeiros Além disso entre as características das ações de resistência dos trabalhadores chama a atenção o seu caráter anônimo o mesmo homem que faz uma reverência a um fidalgo de dia pode à noite matar suas ovelhas roubar os seus faisões ou envenenar os seus cães THOMPSON 1998 p 201202 Tais ações de resistência por parte das camadas populares englobavam a produção de músicas de contestação músicas rudes em tradução literal de rough music por vezes satíricas movimentos de multidões em protestos contra situações que consideravam injustas além de confrontos físicos contra autoridades locais Notase que o autor busca no cotidiano de camponeses e trabalhadores ações que evidenciam sua condição de insubordinação inclusive buscando amparo na justiça para reparar aquilo que considerava injusto Assim as ações das camadas populares podem ser interpretadas como uma forma de resistência aos padrões de poder econômico estabelecidos pelas elites Alguns historiadores buscaram entender a racionalidade dessas manifestações no contexto dos costumes desses grupos sociais Como já escrevemos as pesquisas realizadas na área de História Social da Cultura são feitas por historiadores de várias matrizes teóricas mas seus objetos possuem similaridades destacandose os movimentos cotidianos de rebeldia e acomodação em relação aos conflitos com os grupos sociais hegemônicos Robert Darnton em sua obra O Grande Massacre dos Gatos e outros escritos da história cultural francesa buscou se aproximar da cultura popular a partir de variados registros de ações e tradições que foram recolhidas por diversos autores a partir da tradição oral dos camponeses franceses do século XVIII Nesse livro o mais notável relato diz respeito a eventos que levaram trabalhadores de uma gráfica de Paris em 1730 a exterminar dezenas de gatos julgando e condenando os sobreviventes à forca O que explica a erupção de tamanha violência contra os gatos com direito aos rituais de julgamento dos mesmos A explicação oferecida pelo autor gira em torno dos componentes da cultura popular francesa U4 Cultura popular e revoluções 169 do período bem como da situação social e econômica dos trabalhadores franceses Aprendizes de artesãos e trabalhadores em geral viviam em situação de precariedade material em relação à habitação e alimentação Moravam em quartos escuros e úmidos alimentando se por vezes de restos deixados pelos empregadores e mesmo de restos de animais de estimação Com horários reduzidos para dormir esses aprendizes ainda eram incomodados pelo miar dos gatos no telhado durante a noite Após a permissão do patrão gatos começam a ser assassinados e um clima de histeria toma conta da ação dos aprendizes Lembremos que na cultura popular europeia das Idades Média e Moderna os gatos tinham sua imagem ligada às atividades de bruxaria Portanto simbolicamente os aprendizes que assassinavam os gatos poderiam estar dando continuidade a uma tradição de repulsa às bruxas cuja imagem estava ligada ao mal O massacre de gatos poderia representar de modo simbólico o desejo de exterminar patrões que os exploravam de forma extrema A abordagem de Darnton 1986 remete a várias reflexões entre elas a busca de certos padrões ritualísticos para entender as manifestações de violência das classes subalternas Tais padrões podem apontar para questões que estão imersas nas relações sociais de produção e na cultura popular Vida privada mulheres na História Como já foi mencionado a Nova História proporcionou a abertura de um grande leque de possibilidades para novos objetos de investigação dos historiadores Um desses novos objetos diz respeito às condições das mulheres na História Inúmeros autores pesquisaram e continuam trabalhando sobre essa temática mas vamos aqui expor dois trabalhos que consideramos importantes para o que chamamos de História Social da Cultura Um deles é o já citado E P Thompson que investigou um costume que chocou os folcloristas no início do século XX a prática da venda de esposas em praça pública O autor 1998 busca demonstrar que tais rituais possuíam um significado profundo na cultura popular inglesa visto que sendo um ritual público parecia ser algo feito em comum acordo entre o casal e U4 Cultura popular e revoluções 170 aceito pela comunidade Tal acordo poderia girar em torno do final de um casamento sendo uma forma de selar um divórcio que não era possível aos pobres Eventualmente poderia ser uma forma de ritualizar o início de um novo relacionamento em público já que muitos compradores de mulheres já eram seus amantes Evidentemente tais rituais demonstravam a existência de uma cultura autônoma em relação à cultura das elites e a demonstração de um grande desprezo pelas percepções religiosas do casamento Assim as mulheres são interpretadas em sua condição de sujeitos de suas histórias e não como objetos de manipulação masculina Outra obra de investigação importante para o estudo da cultura popular na Idade Moderna é O Retorno de Martin Guerre da historiadora Natalie Zemon Davis Na primeira metade do século XVI em Languedoc no sul da França um camponês bem estabelecido abandonou sua mulher Bertrande de Rols filhos e propriedades Ele retorna mas após alguns anos de casamento ele é denunciado para a justiça sendo acusado de impostor O julgamento é levado à cabo O verdadeiro Martin Guerre aparece quando os juízes estão quase absolvendo o farsante tamanha a sua capacidade de provar que era o verdadeiro Martin Guerre A autora 1987 utiliza documentos históricos cartoriais inventários cartas pessoais e inclusive um livro do magistrado que julgou o caso A narrativa é escrita a partir da documentação e de uma certa imaginação da autora com aspectos ficcionais que buscaram explorar possibilidades de interpretação das estratégias de vida cotidiana dos personagens Para oferecer maior força à sua narrativa a autora preenche algumas lacunas da documentação com alguns complementos ficcionais o que não reduz em nada o caráter objetivo de sua investigação Sobre a narrativa do episódio em si surgiram uma série de questões As principais delas giram em torno do papel da esposa de Martin Guerre Bertrande de Rols Afinal ela conviveu com o verdadeiro Martin Guerre por anos e também por anos com o farsante A história da vida particular de Bertrande de Rols evidencia um comportamento dirigido por valores divergentes dos padrões morais e culturais hegemônicos do período Bertrande de Rols aparece como articuladora de suas próprias U4 Cultura popular e revoluções 171 estratégias de sobrevivência e com grande capacidade de manipulação de seu presente a partir do ambiente cultural em que viveu Como o farsante conseguiu convencer boa parte da comunidade de que era o verdadeiro Martin Guerre narrando com riquezas de detalhes episódios do passado com riquezas de detalhes que quase convenceram os próprios juízes Teria contado com o auxílio de Bertrande de Rols De qualquer forma sua caracterização e a teia de acontecimentos não evidenciam uma esposa passiva e submissa perante os homens mesmo que sua identidade local tenha sido construída a partir dos padrões de mulher honesta e religiosa O livro de Davis suscita outras questões tais como a da construção da identidade no século XVI a relativização dos dogmas religiosos na vida cotidiana dos indivíduos e grupos sociais o entendimento do casamento para as camadas populares entre outras Mas levanta como questão central o papel feminino no imbrincado contexto de relações sociais do cotidiano dominado por homens evidenciando a necessidade de outras abordagens sobre a suposta submissão das mulheres na história Reflita Esse é um trecho de um processo judicial transcorrido em Campinas datado de 1828 Nele fica evidente que africanos escravizados buscavam a Justiça para discutir situações nas quais consideravam injusta a sua condição de escravizados Africanos escravizados lutaram A fim de prevenir demandas de onde se originam despesas ódios e inimizades achava justo que cada uma das partes apoentes entregasse a ele juiz todos os documentos em que estribam suas respectivas pretensões para que mandando o mesmo juiz à Corte do Rio de Janeiro examinálos por dois doutores de conceito daquela Corte e estes depois de pesarem as razões de uma e de outra parte decidirão enfim se os libertandos são na realidade forros ou se escravos do suplicado BRASIL 1828 sp U4 Cultura popular e revoluções 172 pela sua liberdade usando os códigos legais de seus prorietários e muitos conseguiram assim suas liberdades Muitos escravos buscaram a justiça para reivindicar a liberdade com esse mesmo argumento eram vítimas de uma escravidão injusta Poderíamos afirmar que esses escravos poderiam considerar algum tipo de escravidão justa Ou esse argumento era apenas uma estratégia de resistência para legitimar a busca pela liberdade Literatura popular e o Iluminismo Outro tema importante investigado por esses historiadores da cultura popular diz respeito a como os camponeses artesãos e trabalhadores em geral homens e mulheres tiveram acesso leram e interpretaram as obras da cultura letrada na Idade Moderna em especial no século XVIII Mais especialmente como esses grupos sociais leram e interpretaram o iluminismo Ainda no âmbito da busca pela cultura popular como fator determinante para a explicação dos processos históricos mais amplos devemos lembrar a obra de Roger Chartier A História Cultural entre práticas e representações Em uma das investigações do autor sobre o universo cultural francês do século XVII ele buscou entender a complexidade das relações entre o livro e a cultura popular notadamente a cultura camponesa Existe um conjunto amplo de problemas teóricos sobre o tema notadamente sobre as práticas culturais envolvidas na produção literária Essas práticas envolvem questões autorais editoriais de suporte gêneros literários entre outros Ademais quais são os fatores condicionantes que determinam as formas de apreensão das representações contidas em um livro que podem ou não determinar novas práticas culturais Não entraremos aqui nos pormenores dessas discussões mas as apontamos com o objetivo de clarificar a aridez do debate Especificamente sobre as leituras camponesas sobre o iluminismo o caminho também é árido visto que a documentação remete a uma aproximação ao tema por vias indiretas são documentos em sua maioria produzidos não pelos camponeses mas por pessoas letradas que falam em seu nome Mesmo assim Chartier 2002 aponta para a crescente importância e interesse dos camponeses pela leitura ao longo do século XVIII U4 Cultura popular e revoluções 173 Para os iluministas a leitura dos camponeses seria uma leitura perdida O diagnóstico sobre a quantidade de livros de suas espécies e os relatos de épocas dos agentes que controlavam as bibliotecas aponta para uma visão negativa sobre a qualidade dessas leituras No entanto desde a Renascença textos escritos se multiplicaram das mais variadas formas livros e panfletos e o interesse pela leitura aumentou em todos os segmentos da sociedade Na França do século XVIII a leitura foi um elemento fundamental para a propagação dos ideais iluministas No entanto a literatura de cordel que os iluministas e a cultura oficial adjetivaram como inferior e grosseira teve início na produção literária erudita e a sua popularização ocorreu muito em função dos interesses dos editores O processo histórico que originou a Revolução Francesa teria tido como uma das causas sendo ao mesmo tempo consequência a politização das camadas populares Tal processo estaria inserido no contexto de aumento dos índices de alfabetização dessas camadas sociais Conclusão A História Social da Cultura permitiu que novos objetos de estudo viessem à luz da pesquisa histórica bem como antigos objetos de pesquisa fossem reinterpretados Ademais esses estudos demonstraram o protagonismo de atores históricos que sempre foram interpretados como passivos e liderados por Grandes Homens ou grandes nações Inúmeros outros autores poderiam ser citados e descritos porém para os limites desse texto convém apenas despertar a curiosidade do estudante para que ele possa aprofundar seus estudos e pesquisas nessa rica perspectiva historiográfica Assimile As formas de investigação da História sofreram grandes transformações ao longo dos últimos dois séculos Surgiu o que podemos chamar de Nova História com novos objetos de estudo Entre esses novos objetos podemos citar a história da criança das ideias da cultura popular entre outros Clifford Geertz 2008 p 2831 é o autor de referência para conceituar U4 Cultura popular e revoluções 174 cultura sistemas de símbolos significantes sendo o símbolo tudo aquilo que carrega em si um significado São esses símbolos que orientam coordenam e dão sentido às ações humanas Podemos entender cultura popular como define Peter Burke 1989 p15 a cultura não oficial a cultura da não elite das classes subalternas Entre os recortes possíveis sobre os estudos de cultura popular podemos destacar A cultura popular operando como formas de resistências a movimentos de mudanças estruturais na economia e na política Edward P Thompson buscou evidências da existência de uma cultura popular na Inglaterra do século XVIII que ao seu modo e de acordo com seus costumes e experiências confrontou o domínio das elites agrárias Darnton buscou evidências da existência de rituais culturais na França do século XVIII que demonstram formas de resistência à exploração dos mestres sobre os aprendizes nas oficinas artesanais Edward P Thompson e Natalie Zemon Davis buscaram em suas pesquisas relativizar a suposta passividade feminina nos cotidianos de suas vidas na Inglaterra e na França no século XVIII Roger Chartier buscou demonstrar a importância da leitura popular que os camponeses faziam da cultura erudita e como isso pode ter sido um dos elementos propulsores da Revolução Francesa Pesquise mais ARANTES Antonio Augusto O que é cultura popular São Paulo Brasiliense 1998 Primeiros Passos Nesta obra o autor faz um panorama historicamente datado das discussões sobre cultura popular Filme Le retour de Martin Guerre Direção de Daniel Vigne TFI Vídeos França 1982 O filme é uma adaptação para o cinema do livro homônimo de Natalie Zemon Davis e contou com a sua colaboração na escrita do roteiro original CUNHA Maria Clementina Pereira Org Carnavais e outras frestas Campinas Editora da Unicamp 2002 U4 Cultura popular e revoluções 175 Sem medo de errar O que precisa ficar claro para o carnavalesco para que ele possa montar o roteiro do desfile O Carnaval era uma festa pagã de povos germânicos cujo objetivo era comemorar a entrada da primavera A Igreja Católica incorporou essa festa popular para cooptála para seus propósitos Assim o Carnaval passou a ser o momento no qual alguns exageros de comportamento eram permitidos antes de um período de penitência até a Páscoa Sobre a Europa será importante que o carnavalesco entenda a tese de Mikhail Bakhtin para que ele possa explorála no desfile no enredo e na música O Carnaval assim seria uma manifestação da cultura popular na qual as classes sociais subalternas conseguiam com suas estratégias festivas criar um mundo sem hierarquias sociais sem distinção de classes Nesse sentido o anonimato resultante do uso de fantasias e máscaras bem como as trocas de papéis entre homens e mulheres acentuavam o caráter contestatário da ordem vigente Em algum sentido condutas morais e sociais desaprovadas pela cultura oficial são relativizadas e contestadas pelo Carnaval e por outras manifestações populares No caso do Brasil o entrudo era uma prática de festa popular comum no Brasil do século XIX O entrudo era uma manifestação festiva bastante violenta marcada pelo arremesso de bolas de cera com água em direção aos participantes Charles Darwin em 1832 foi testemunha ocular dessas manifestações no Rio de Janeiro Quando Vargas toma o poder em 1930 no contexto dos projetos nacionalistas dos anos 30 e de sua prática populista e autoritária reconhece o Carnaval como manifestação popular legítima mas passa a controlálo por meio da organização oficial dos desfiles Tais festas a manifestações da cultura popular sempre foram enquanto não puderam ser controladas pelo Estado perseguidas pelos governos das elites proprietárias Isso ocorreu com o Carnaval e com a capoeira até os anos 20 do século XX Isso está ocorrendo atualmente com o funk Projeto de lei que tramita no Parlamento brasileiro sugere a criminalização do funk Por exemplo ver httpf5folhauolcom brcolunistastonygoes201706propostadeproibicaodofunke absurdaautoritariaeinconstitucionalshtml Acesso em 12 out 2017 U4 Cultura popular e revoluções 176 O carnavalesco poderia traçar paralelos entre a cultura popular do funk atual com a do carnaval no período anterior a 1930 Faça valer a pena 1 O trecho de texto de Mikhail Bahktin aponta para uma determinada interpretação das manifestações populares em especial o Carnaval qual seja a O Carnaval seria um momento no qual as classes dominantes aceitavam de forma espontânea as manifestações de rebeldia das classes populares b As classes subalternas projetavam o Carnaval de forma consciente com o objetivo de contestar o poder de classe dos dominantes e promover revoluções sociais c O Carnaval seria uma festa popular que no contexto cultural de sua época as classes populares utilizavam também para contestar o domínio das classes dominantes pelo tempo em que transcorriam as festas d Na perspectiva de Bakhtin o Carnaval seria um momento cultural no qual os papéis sociais se invertiam de forma grotesca com o objetivo de anular as tensões entre as classes e A hierarquia era atacada de forma simbólica pelo Carnaval popular tendo como pano de fundo cultural a crítica à nobreza e ao clero protestante 2 Ao contrário da festa oficial o carnaval era o fundo de uma espécie de libertação temporária da verdade dominante e do regime vigente de abolição provisória de todas as relações hierárquicas privilégios regras e tabus Era a autêntica festa do tempo a do futuro das alternâncias e renovações BAKHTIN 2008 p 89 No curto prazo parece provável que os motins e o ato de fixar os preços anulavam seus próprios objetivos Os fazendeiros ficavam às vezes tão intimidados que mais tarde se recusavam durante várias semanas a levar as mercadorias ao mercado A interdição do deslocamento dos grãos pelo país provavelmente só agravava a escassez em outras regiões Embora seja possível encontrar exemplos em que os protestos parecem ter como resultado a queda dos preços bem como seu oposto e mais ainda encontrar exemplos em que parece haver pouca diferença no movimento U4 Cultura popular e revoluções 177 3 Sobre a interpretaçãzo de Thompson da cultura popular na Inglaterra no século XVIII no contexto do texto anterior recortado podemos afirmar a O autor elaborou a tese de que havia uma cultura popular de resistência espalhada em várias de suas manifestações b Thompson demonstra que os motins populares se caracterizaram por uma primitiva consciência de classe c O autor afirma que havia uma disputa pela hegemonia entre duas concepções políticas na Inglaterra uma capitalista definida pelo poder das elites e outra popular definida por noções democráticas de participação d A luta entre as classes sociais na Inglaterra do século XVIII tinha como elemento principal a consciência de classe da gentry contra a ausência de consciência dos trabalhadores e O autor afirma que havia uma disputa pela hegemonia entre duas concepções de economia na Inglaterra uma capitalista definida pela busca do lucro e outra popular definida por noções de moralidade no que diz respeito ao direito de acesso aos alimentos dos preços em mercados atingidos por motins ou não nenhum desses casos por mais que se perfaça o total ou se tire a média revela necessariamente o efeito que a expectativa de motins tinha sobre a situação total do mercado THOMPSON 1998 p 187 Portanto essa era uma cultura de formas conservadoras que recorria aos costumes tradicionais e procurava reforçálos As formas são também não racionais não apelam para a razão por meio do panfleto do sermão ou do palanque do orador Elas impõem uma variedade de sanções pela força o ridículo a vergonha a intimidação Mas o conteúdo ou os significados dessa cultura não podem ser qualificados facilmente de conservadores porque na realidade social o trabalho se libera cada vez mais década após década dos controles senhoriais paternais da paróquia e da corporação distanciandose da dependência direta em que ficavam a princípio os clientes da gentry Em consequência temos urna cultura costumeira que não está sujeita em seu funcionamento cotidiano ao domínio ideológico dos governantes A hegemonia suprema da gentry pode definir os limites dentro dos quais a cultura plebeia tem liberdade para atuar e crescer mas como essa hegemonia é laica e não religiosa ou mágica pouco pode fazer para determinar o caráter dessa cultura plebeia THOMPSON 1998 p 19 U4 Cultura popular e revoluções 178 Sobre o conceito de cultura popular presente no texto podemos afirmar a A cultura popular nunca é conservadora pois sempre busca contestar o poder das classes dominantes b O autor relativiza a noção de que interpreta a cultura popular como algo irracional c A cultura popular é povoada de crenças mágicas e superstições que facilitam o domínio de classe da gentry d A cultura popular nunca está subordinada à cultura das elites e O autor busca entender a racionalidade da cultura popular U4 Cultura popular e revoluções 179 Seção 42 Revolução Industrial Prezado estudante seja bemvindo a mais um importante tema da disciplina de História moderna Nesta seção examinaremos um tema fundamental para a história da humanidade qual seja a Revolução Industrial Tratouse de processo complexo e definidor de nossa contemporaneidade Do ponto de vista tecnológico ela foi a gênese de mudanças na produção de mercadorias que definem o nosso presente Seria impossível imaginar nosso cotidiano sem por exemplo os automóveis a energia elétrica e os computadores Essa realidade do presente não existiria sem que tivesse ocorrido o nascimento das fábricas na Inglaterra no século XVIII Uma parte significativa dos conflitos sociais vivenciados nos centros urbanos europeus nos séculos XIX e XX estiveram ligados direta ou indiretamente às atividades fabris e a de seus principais agentes o operariado urbano Ademais os grandes conflitos militares dos séculos XIX e XX na Europa na América na Ásia e na África tiveram grande influência dos interesses da nova classe social hegemônica que surgiu durante a Revolução Industrial a burguesia industrial Em sua atividade como profissional da educação e pesquisador surgiu uma oportunidade interessante de pesquisa Em sua cidade existe uma fábrica que está completando 100 anos de fundação e pretende realizar um trabalho de preservação de sua própria memória Para isso ela contrata os seus serviços para organizar uma exposição sobre sua história Você tem à disposição toda a documentação da empresa incluindo antigos equipamentos e um rico acervo de fotografias Que propostas você poderia fazer à empresa sobre a maneira como a exposição poderia ser organizada Como trabalhar com a memória da empresa Pense em como você poderia conectar a exposição com os seus conhecimentos sobre a Revolução Industrial Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 180 Entre as várias possibilidades de exploração de pesquisa uma delas diz respeito às percepções da passagem do tempo e como ele é vivenciado Os registros da fábrica apontam para vários ex funcionários já aposentados que estão disponíveis para entrevistas Como você construiria um acervo de História Oral Quais seriam os questionamentos a serem feitos aos entrevistados para compreender as transformações nas percepções da passagem do tempo e nas formas com que ele é vivido no passado e no presente Introdução A expressão Revolução Industrial foi difundida a partir de 1845 para definir um grande conjunto de transformações tecnológicas econômicas sociais e de processos produtivos que ocorreram na Europa primeiramente na Inglaterra a partir de 1760 Tais transformações foram impactantes na forma de produção das mercadorias que antes eram resultados da produção artesanal ou da manufatureira Nesse processo houve o crescimento do uso da energia das máquinas em detrimento do trabalho manual e da fábrica em relação à manufatura Tais transformações criaram as condições para que houvesse um grande aumento na produção de mercadorias Nas palavras de um historiador Tal processo foi revolucionário do ponto de vista tecnológico em função da utilização de máquinas inventadas por empreendedores que passaram a ocupar a centralidade material no mundo da produção industrial O aumento exponencial da produção de mercadorias resultou no crescimento do comércio Não pode faltar O que significa a frase a revolução industrial explodiu Significa que a certa altura da década de 1780 e pela primeira vez na história da humanidade foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida constante e até o presente ilimitada de homens mercadorias e serviços HOBSBAWN 1991 p 20 U4 Cultura popular e revoluções 181 internacional Além disso houve um crescimento urbano significativo em função do adensamento populacional em torno das fábricas e o surgimento de uma massa de trabalhadores fabris denominados operários Nas fábricas tiveram início novas formas de gerenciamento do processo produtivo e passou a ocorrer progressivamente a divisão manufatureira do trabalho Fatores causais do pioneirismo inglês na Revolução Industrial A Revolução Industrial teve origem na Inglaterra e alguns fatores contribuíram para esse pioneirismo todos eles interligados entre si 1 A Inglaterra foi a nação que mais acumulou capitais durante o período de crescimento do comércio internacional entre os séculos XVI e XVIII Várias foram as causas para essa grande acumulação Entre elas podemos citar a relação comercial que a Inglaterra possuía com Portugal Pelo Tratado de Methuen também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos Portugal passou a exportar sua produção de vinhos para a Inglaterra com baixos impostos e a produção de tecidos ingleses passou a ter o mesmo tratamento no país ibérico Com isso Portugal passou a acumular um grande déficit comercial que foi pago com metais preciosos explorados na colônia brasileira em especial o ouro que era extraído da região das Minas Gerais Assim Londres se transformou no grande centro financeiro da Europa com grande disponibilidade de capitais para investimentos A Inglaterra teve a supremacia naval em grande parte do planeta em especial a partir dos Atos de Navegação de 1651 Isso permitiu que ela dominasse o comércio internacional e pudesse construir um imenso império colonial que servia de fornecedor de matériaprima para suas manufaturas e indústrias além de consumirem suas mercadorias 2 A Revolução Gloriosa de 1689 instaurou um regime político liberal baseado no apoio da burguesia inglesa Os governos ingleses passaram a impulsionar o capitalismo industrial na Inglaterra 3 O triunfo da ideologia liberal foi marcante na Inglaterra com John Locke 16321704 e Adam Smith 17231790 Se no plano político o triunfo do ideário de Locke auxiliou na hegemonia U4 Cultura popular e revoluções 182 burguesa no parlamento a formulação liberal de Smith auxiliou na legitimação do capitalismo liberal criando um ambiente para a propagação da livre concorrência e na prática da liberdade comercial 4 No século XVIII havia disponibilidade de mão de obra barata nos grandes centros urbanos ingleses como Londres Manchester entre outras Isso ocorreu em função dos cercamentos enclosures processo pelo qual grande parte dos camponeses ingleses foram expulsos de suas terras comunais pela nobreza inglesa com apoio dos governos absolutistas dos séculos XVI e XVIII Essas terras deixaram de produzir alimentos para servir de pasto para ovelhas cuja lã era usada nas manufaturas de tecido Tais cercamentos proporcionaram um grande êxodo rural disponibilizando mão de obra excedente para as nascentes fábricas 5 Na Inglaterra surgiu um conjunto significativo de inventores que passaram a criar máquinas que revolucionaram as técnicas de produção das mercadorias Além disso havia recursos naturais em abundância tais como ferro e carvão que serviram de matériasprimas fundamentais para o início da Revolução Industrial Primeira Revolução Industrial 17601860 Os processos de inovação tecnológica na produção de mercadorias na Inglaterra tiveram início na produção de tecidos Antes de 1760 existia na Inglaterra o sistema doméstico de produção pelo qual o comerciante entregava a matériaprima e ferramentas na casa do trabalhador na área rural Após um determinado período ele retornava e retirava os produtos já manufaturados pagando o trabalhador pelos produtos entregues Essa forma de produzir as mercadorias permitiu uma expansão significativa da produção mas havia alguns fatores limitadores para o aumento da produtividade o capitalista não controlava nem o tempo nem o ritmo de trabalho dos artesãos Assim houve uma tendência de criação de galpões onde os artesãos passaram a trabalhar sob a supervisão do capitalista e a receber salários Foi nesse processo que surgiram as primeiras inovações tecnológicas na Inglaterra com destaque para U4 Cultura popular e revoluções 183 Máquina de fiar inventada por James Hargreaves em 1767 Bastidor hidráulico produzido por Richard Arkwright em 1769 Tear mecânico patenteado por Edmund Cartwright em 1785 Máquina a vapor aperfeiçoada por James Watt em 1769 Barco a vapor criado por Robert Fulton norteamericano em 1807 Locomotiva inventada por George Stephenson em 1825 Telégrafo inventado por Samuel Morse em 1844 Exemplificando A invenção da máquina de fiar por Hargreaves revolucionou a produção de tecidos pois aumentou de forma significativa a produção de fios que anteriormente era feita pelos artesãos A exportação de tecidos ingleses para outras nações foi de fundamental importância para a manutenção de um comércio internacional superavitário Essas exportações foram garantidas por vários tratados comerciais por exemplo o Tratado de Metheun com Portugal Salienta se também o tratado assinado com a França em 1786 Tratado de Eden Rayneval pelo qual os produtos manufaturados ingleses em especial os tecidos tiveram seus impostos reduzidos nas exportações para a França A máquina de fiar foi patenteada por James Hargreaves em 1770 Recebeu o nome de Spinning Jenny Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileZeichnungSpinningjennyjpguselangptbr Acesso em 16 jul 2017 Figura 41 A máquina de fiar U4 Cultura popular e revoluções 184 Os avanços tecnológicos da indústria inglesa associados ao domínio militar e comercial da Inglaterra sobre grande parte do planeta e ao extraordinário acúmulo de capitais propiciaram as condições para a utilização intensiva da ciência no aperfeiçoamento dos processos produtivos Assim várias outras inovações surgiram dando início ao que costumeiramente denominamos Segunda Revolução Industrial Segunda Revolução Industrial 1860 A partir de 1860 outras inovações tecnológicas importantes foram incorporadas aos processos industriais da Inglaterra tais como Produção de aço o aço é uma liga que mistura ferro e carbono sendo muito mais maleável e resistente do que o Assimile Revolução Industrial foi um conjunto de transformações tecnológicas econômicas sociais e de processos produtivos que ocorreram na Europa primeiramente na Inglaterra a partir de 1760 Causas da industrialização na Inglaterra Acúmulo de capitais em função de uma vitoriosa política econômica mercantilista A supremacia naval que garantiu mercados fornecedores de matériasprimas e consumidoras de produtos industrializados A existência de governos liberais que incentivaram o crescimento fabril das mais variadas formas Disponibilidade de mão de obra barata em função do êxodo rural provocado pelos cercamentos A existência de empreendedores que inventaram máquinas A disponibilidade de ferro e carvão em abundância em seu território Entre as invenções importantes da Primeira Revolução Industrial devemos destacar a máquina de fiar o tear mecânico a máquina a vapor a locomotiva e o telégrafo U4 Cultura popular e revoluções 185 ferro puro Ele já era conhecido muito antes da Revolução Industrial mas foi Henry Bressemer quem aperfeiçoou o seu processo de fabricação Esse novo componente das indústrias tornou as máquinas mais resistentes e passou a ser o elemento fundamental da produção industrial Eletricidade a invenção do dínamo permitiu o uso da eletricidade como força motriz das máquinas nas fábricas substituindo gradativamente o uso de energia gerada da queima do carvão Motor à combustão interna essa invenção permitiu o uso em larga escala da energia gerada pelo petróleo Permitindo as condições ideais para o surgimento do automóvel Expansão da Revolução Industrial O processo de crescimento das indústrias se expandiu por toda a Europa chegando à América e Ásia França após a Revolução Francesa de 1789 houve por várias razões um crescimento do mercado interno e um relativo crescimento industrial A partir de 1830 esse crescimento foi acelerado em função do governo de Luis Felipe que apoiou os investimentos em indústrias Alemanha a região da Prússia parte da Alemanha atual foi a pioneira no processo de crescimento industrial e liderou a unificação alemã ocorrida em 1871 No final do século XIX em função da própria unificação e da tomada da região da AlsáciaLorena rica em recursos minerais a Alemanha se tornou a maior produtora de aço da Europa Itália a industrialização na Itália teve grande impulso com a unificação política em 1871 mas ficou restrita à região norte do país onde se desenvolveu às margens do Rio Pó Estados Unidos da América nesse país o crescimento industrial foi potencializado após a vitória do norte urbano e industrial sobre o sul agrário e escravista na chamada Guerra de Secessão entre 18611865 Japão nesse país oriental o crescimento industrial ocorreu U4 Cultura popular e revoluções 186 após a centralização do poder em torno do rei na chamada Era Meiji em 1867 Rússia a industrialização na Rússia ocorreu de forma muito tênue no final do século XIX apenas em algumas poucas regiões do seu território ocidental mas continuou a ser fundamentalmente um país agrário Reflita O Vale do Silício é uma região localizada na Califórnia nos Estados Unidos da América É a região onde estão localizadas as principais empresas de tecnologia do planeta tais como Hitachi Oracle Google Facebook e Apple Nessa região por meios dessas centenas de empresas surgiram inúmeras inovações tecnológicas entre elas o sistema de compartilhamento de automóveis denominado Uber As inovações tecnológicas sempre trazem perdas e ganhos para a humanidade sob todos os pontos de vista Como você avalia a relação entre tecnologia e qualidade de vida das pessoas Artesanato manufatura e trabalho fabril Podemos diferenciar mesmo que de forma superficial algumas práticas produtivas 1 Trabalho artesanal relação de trabalho do homem com a natureza na qual um artesão tem a propriedade da matériaprima e das ferramentas de produção conhecendo todo o processo de produção O artesão produz e vende sua produção diretamente para o usuário final da mercadoria Um exemplo desse tipo de trabalho foram as oficinas artesanais que surgiram na Baixa Idade Média europeia e que se organizaram junto às Corporações de Ofício 2 Trabalho manufatureiro relação de trabalho na qual os artesãos são reunidos em um mesmo galpão e executam suas tarefas de forma muito parecida com o que faziam nas Oficinas artesanais mas agora sob a vigilância de um capitalista que supervisiona suas atividades e lhes paga um salário em função das horas trabalhadas U4 Cultura popular e revoluções 187 3 Trabalho fabril forma de relação de trabalho na qual há parcelamento dos processos implicados na feitura de um produto em numerosas operações executadas por diferentes trabalhadores já com a existência e o uso de máquinas Com a evolução do sistema fabril houve o crescimento desse parcelamento e a instituição do que denominamos divisão manufatureira do trabalho O trabalhador recebe um salário em função das horas trabalhadas A forma de administrar do capitalista industrial era historicamente nova Desde o início da Revolução Industrial os capitalistas aperfeiçoaram seus métodos de vigilância sobre os trabalhadores fabris operários porém foi na segunda metade do século XIX que tais métodos passaram a sofrer grande influência do cientificismo reinante do período Dentre os pensadores que estudaram o ambiente fabril e propuseram formas aprimoradas para esse controle destacase Frederick Winslow Taylor 1856 1915 Toda a obra de Taylor caminhou no sentido de demonstrar que a necessidade absoluta da gerência científica é impor ao trabalhador uma maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado O trabalhador não pode ter nenhuma decisão sobre seu trabalho O gerente deve efetuar o controle do modo concreto de execução de toda atividade no trabalho desde a mais simples à mais complicada A gerência deve reunir todo o conhecimento tradicional que no passado foi possuído pelos trabalhadores e classificálos tabulálos reduzindo esse conhecimento às regras leis e fórmulas Todo trabalho cerebral deve ser banido do local da produção e centrado no departamento de planejamento ou projeto O propósito do estudo do trabalho nunca deve ser robustecer a capacidade do trabalhador concentrar nele maior capacidade científica ou eleválo ao nível das técnicas empreendidas na produção mas sim baratear o do custo trabalhador ao diminuir seu preparo e aumentar sua produção Como já escrevi antes A gerência científica implica em preparar as tarefas e sua execução especificando não só o que deve ser feito mas também como deve ser feito Se o primeiro princípio é o U4 Cultura popular e revoluções 188 recolhimento do conhecimento entre os trabalhadores sobre as formas de produção o terceiro é a utilização deste monopólio de conhecimento para controlar cada fase do processo de trabalho e seu modo de produção As consequências da aplicação da gerência científica sobre os trabalhadores são várias A separação de trabalho mental e manual reduz a necessidade de trabalhadores diretamente na produção já que o trabalho mental passa para outros funcionários da empresa A consequência inexorável da separação entre concepção e execução é que o processo de trabalho é dividido em locais distintos e em distintos grupos de trabalhadores Num local um grupo de trabalhadores executa os processos físicos da produção e em outro local outro grupo de trabalhadores concebe previamente as atividades antes de elas serem postas em movimento Todo o trabalho de planejamento que antes era feito pelo próprio artesão é agora feito por um setor de planejamento ou processos Ambos continuam sendo necessários à produção Assim o processo de trabalho retém sua unidade Os trabalhadores que se especializam no planejamento e processos continuam sob a vigilância do capitalista através de uma hierarquia de poder no interior da empresa A tendência é de proletarização dos trabalhadores em planejamento e processos e dos trabalhadores em escritórios em geral na medida em que suas próprias tarefas cotidianas também são objeto do gerenciamento científico transformando a própria tarefa de planejar e controlar a produção como destituídos do vínculo entre trabalho e conhecimento O trabalhador enfim se vê destituído do conhecimento que era característico do artesão típico da prérevolução industrial DAMASIO 1998 p 127128 Karl Marx ao descrever esse processo o denominou de estranhamento Entfremdung O taylorismo alcançou seu auge no sistema de produção criado por Henry Ford 18631947 nos Estados Unidos da América responsável pela criação das linhas de produção composta por esteiras rolantes nas quais as operações fabris eram feitas Como as esteiras rolantes tinham velocidade constante elas ditavam o ritmo de produção fazendo com que os operários tivessem seu ritmo de trabalho determinado pelas máquinas Tal método foi fundamental para a criação da indústria automobilística U4 Cultura popular e revoluções 189 Algumas consequências da Revolução Industrial Várias foram as consequências da Revolução Industrial na Europa ao longo dos séculos XVIII XIX e XX Vamos nos ater a algumas delas 1 Em primeiro lugar é preciso ressaltar que ocorreu o aparecimento de uma nova classe social fundamental nas lutas políticas que se seguiram na Europa o operariado urbano trabalhadores fabris que viveram em condições sociais e de vida aviltantes com extensas jornadas de trabalho baixíssimos salários e com a exploração sem limites do trabalho feminino e infantil 2 Esse operariado fabril e urbano demonstrou sua insatisfação de várias formas ao longo do século XIX criando alguns movimentos de contestação Um deles foi o ludismo Reflita A imagem retrata uma linha de montagem de automóveis em seus primórdios apontando para aquilo que Marx denominou de estranhamento ou alienação do trabalhador ou seja a existência de um modelo de produção que separa drasticamente o planejamento da produção e a produção em si Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileFordfertigung1923jpguselangptbr Acesso em 24 jul 2017 Figura 42 Trabalho na linha de montagem fordista U4 Cultura popular e revoluções 190 nome criado a partir do personagem Ned Ludd cuja estratégia foi quebrar máquinas que eram vistas como as causadoras de suas péssimas condições sociais e de trabalho Outro movimento importante ocorrido na Inglaterra foi o dos cartistas movimento de trabalhadores que enviavam cartas ao parlamento inglês exigindo sufrágio universal para a representação no parlamento entre outras reivindicações 3 Outra transformação também importante diz respeito à noção do tempo e de como ele passou a ser vivenciado em função das necessidades da produção fabril cada vez mais dependente do relógio instrumento de medição do tempo que se tornou popular no século XIX Com o crescimento do ritmo das máquinas não há mais tempo a ser desperdiçado e o ócio passou a ser combatido como um mal até mesmo como pecado diante da divindade As transformações pelas quais a Europa passou a partir da Revolução Industrial levou a um processo de disciplinarização das massas urbanas Nas palavras de Edward P Thompson 1998 p 300301 O autor ressalta a necessidade de perceber as alterações de percepções do tempo como um processo que não é consensual mas sim produto e resultado de conflitos entre as classes sociais As evidências são abundantes e nos lembram pelo método do contraste até que ponto nos habituamos a diferentes disciplinas Sociedades industriais maduras de todos os tipos são marcadas pela administração do tempo e por uma clara demarcação entre o trabalho e a vida O que precisa ser dito não é que um modo de vida seja melhor do que o outro mas que esse é um ponto de conflito de enorme alcance que o registro histórico não acusa simplesmente uma mudança tecnológica neutra e inevitável mas também a exploração e a resistência à exploração e que os valores resistem a ser perdidos bem como a ser ganhos Assimile Entre as invenções mais importantes da Segunda Revolução Industrial devemos destacar o novo processo de produção de aço U4 Cultura popular e revoluções 191 o uso da eletricidade como energia para as máquinas e o motor a combustão interna Durante a Revolução Industrial foi criada a gerência científica taylorismo que teve como consequência o aumento da divisão manufatureira do trabalho O taylorismo foi aperfeiçoado por Henry Ford que criou as linhas de produção da indústria automobilística Entre as consequências da Revolução Industrial destacamse O surgimento da classe operária como nova classe social urbana O aparecimento de movimentos de contestação à hegemonia fabril e burguesa tais como o ludismo e o cartismo Nesse processo houve um movimento de disciplinarização dos trabalhadores para garantir a satisfação das necessidades das novas fábricas e deus proprietários A Revolução industrial se expandiu para vários países ainda no século XIX tais como França Itália Alemanha Japão Estados Unidos da América e Rússia Pesquise mais Tempos Modernos Direção Charles Chaplin United Artists 1936 113 min Nesta obraprima de Charles Chaplin ele produz por meio do humor uma crítica severa ao fordismo e à alienação dos trabalhadores de fábricas com linha de produção DECCA Edgard Salvadori de O nascimento das fábricas São Paulo Brasiliense 1996 Tudo é História nº 51 Nesta obra o autor busca investigar e entender o ambiente fabril como uma construção social e não apenas como um fenômeno tecnológico U4 Cultura popular e revoluções 192 Sem medo de errar Sugestão de encaminhamento para o trabalho proposto pela indústria em seu centenário 1 Em primeiro lugar o pesquisador deverá levantar e ler quatro tipos de bibliografias a Bibliografia sobre a industrialização do Brasil b Bibliografia sobre a história da cidade ou região onde está localizada a fábrica c Bibliografia sobre História Oral em especial o livro de BOSI Eclea Memória e Sociedade lembrança de velhos São Paulo Companhia das Letras 1994 d Bibliografia sobre a relação entre produção histórica e imagens por exemplo BURKE Peter Testemunha Ocular imagem e história Bauru EDUSC 2004 2 A partir das leituras e da análise das fontes históricas disponíveis será possível escrever um projeto de pesquisa que inclua as seguintes preocupações a O projeto em si deve apontar um método de pesquisa que leve em consideração a documentação disponível b Recorte um objeto de pesquisa em função da leitura das bibliografias e do material disponível para pesquisa c Não se iluda em desejar pesquisar tudo e abarcar todos os objetos possíveis de serem investigados pois isso seria um trabalho de décadas mesmo que não o fizesse sozinho dEstabeleça um prazo de pesquisa em função do dimensionamento das atividades de leitura pesquisa empírica e produção dos resultados e Se necessário dimensione a equipe de auxiliares que você necessitará para realizar os trabalhos tais como estagiários por exemplo U4 Cultura popular e revoluções 193 f Dimensione os materiais e equipamentos que usará tais como filmadoras e gravadores 3 Sobre o objeto de pesquisa em si uma sugestão é caminhar nos rumos da recuperação da memória dos funcionários da empresa que estejam vivos e de suas percepções sobre o mundo do trabalho com a seguinte sugestão de questionamentos a As primeiras perguntas devem ser soltas e sem grandes intenções deve ser um batepapo para buscar a confiança do interlocutor b Informações gerais sobre nascimento infância família educação formal e atividades profissionais vivenciadas c As perguntas devem ser genéricas pois a memória será seletiva e impressões gerais e escolhidas pelo interlocutor serão oferecidas O interlocutor decide na prática quais são os temas sobre os quais gosta de falar d Busque informações sobre a relação entre o mundo do trabalho e a família relações entre elas e Busque informações sobre quais eram os sentimentos ou quais são os sentimentos ligados ao trabalho f Sobre a questão do tempo pergunte como era a divisão do tempo de trabalho dos pais em sua infância e como era a sua Havia diferenças entre elas 4 No projeto você deve indicar os produtos finais que serão entregues à empresa entre eles a Produção escrita sob a forma de uma obra literária livro b Exposição do material iconográfico c Produção de um site para exposição virtual de toda a pesquisa d No site criado é possível inserir o banco de entrevistas feitas ao longo do projeto U4 Cultura popular e revoluções 194 Sobre os efeitos da invenção da máquina a vapor no século XIX podemos afirmar a A invenção da máquina a vapor possibilitou o aumento da produção artesanal b A máquina a vapor foi determinante para o progresso da indústria química c Não há relação entre a invenção da máquina a vapor e outros inventos da Revolução Industrial d Ela foi determinante também para novas invenções no setor de transportes e O aumento da produtividade industrial teve as máquinas a vapor como única causa 2 Nesse trecho de texto o autor consagra uma determinada visão e entendimento da sociedade capitalista ocidental qual seja a O verdadeiro ator do capitalismo industrial é o homem comum de classe média alta que vende sua força de trabalho por altos salários Faça valer a pena 1 O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bemestar de outras pessoas são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem A grande empresa depende do consumo de massa Em um livre mercado não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum Na qualidade de consumidor o homem comum é o soberano que ao comprar ou ao se abster de comprar decide os rumos da atividade empresarial MISES 2013a sp A máquina a vapor tornando possível o uso da energia em todos os artifícios mecânicos em quantidades maiores do que qualquer outra coisa conseguiria realizar no passado foi a chave para tudo o que ocorreu em seguida sob o nome de Revolução Industrial A face do mundo mudou mais drasticamente e mais rapidamente do que em qualquer outra época desde a invenção da agricultura cerca de 10 mil anos antes ASIMOV 1993 p 395 U4 Cultura popular e revoluções 195 3 b O capitalismo industrial está condicionado à lei da oferta e da procura em especial em relação ao desejo dos assalariados c A industrialização foi marcada pelo progresso do homem em seu enfrentamento com a natureza e melhorou de maneira uniforme o padrão de consumo dos ingleses d O capitalismo está ancorado na luta entre classes sociais em especial na luta entre patrões e empregados e Tratase de uma visão liberal de sociedade e economia na qual a presença do Estado serve para regular as funções das empresas e dos consumidores A indústria algodoeira britânica como todas as outras indústrias algodoeiras tinha originalmente se desenvolvido como um subproduto do comércio ultramarino que produzia sua matéria prima e os tecidos indianos de algodão ou chita que conquistaram os mercados que os fabricantes europeus tentariam ganhar com suas imitações Inicialmente eles não foram muito bemsucedidos embora melhor capacitados a reproduzir competitivamente as mercadorias grosseiras e baratas do que as finas e elaboradas Felizmente entretanto o velho e poderoso interesse estabelecido do comércio lanífero periodicamente assegurava proibições de importação de chitas indianas que o interesse puramente mercantil da Companhia das Índias Orientais procurava exportar da Índia nas maiores quantidades possíveis dando assim uma chance aos substitutos da indústria algodoeira nativa Mais barato que a lã o algodão e as misturas de algodão conquistaram um mercado doméstico pequeno porém útil Mas suas maiores chances de expansão rápida estavam no ultramar HOBSBAWN 1991 p 26 O texto de Hobsbawm relata uma situação contraditória na questão da relação entre comércio exterior e produção doméstica Assinale a alternativa que aponta essa contradição interna na Inglaterra a Havia divergência de interesses entre a Companhia das Índias Orientais e os produtores de lã b A Índia exportava livremente seus tecidos para a Inglaterra sob a proteção do governo inglês c A origem do processo de industrialização na Inglaterra tem profunda relação com a exploração comercial ultramarina em especial na África d A indústria algodoeira inglesa apenas se desenvolveu após a invenção da máquina a vapor e Houve grande contradição entre a produção de tecidos grosseiros e os de alta qualidade U4 Cultura popular e revoluções 196 Seção 43 Revolução Francesa Olá estudante Nesta seção estudaremos um processo histórico instigante a Revolução Francesa ocorrida entre 1789 e 1799 Ela é considerada por muitos historiadores como um marco fundamental para a separação entre História moderna e História contemporânea Tal divisão da História ocidental está presente até hoje nos livros didáticos de História Sobre ela escreveu o historiador Eric Hobsbawm 1991 p 49 Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa Ou seja o autor salienta a importância da Revolução Francesa afirmando que ela foi fundamental para a formação do mundo político ocidental Claro que você deverá trabalhar a ideia de uma mudança significativa nas práticas políticas com seus alunos tendo como referência a Revolução Francesa A ideia é que você além de abordar o tema histórico em si reflita com seus alunos sobre os reflexos desse processo histórico atualmente Nesse contexto imagine que você está pesquisando sobre Revolução Francesa e seus reflexos na atualidade quando se depara com a seguinte notícia httpscopadomundouolcom brnoticiasredacao20140625artilheirodafrancanaocanta ohinodopaisemprotestocontraxenofobiahtmAcesso em 29 mar 2017 Como você encaminhará sua pesquisa sobre a Revolução Francesa a partir dessa notícia De qual forma você refletirá sobre a ressignificação dos símbolos nacionais ao longo do tempo levando em consideração os vários significados da Revolução Francesa Quais outros símbolos nacionais podem ser analisados sob a mesma perspectiva no Brasil e no mundo Diálogo aberto U4 Cultura popular e revoluções 197 Introdução A Revolução Francesa 17891799 é um dos processos históricos mais importantes da História do mundo ocidental marcando em conjunto com a Revolução Industrial uma ruptura profunda nos alicerces políticos e econômicos do Antigo Regime séculos XVI ao XVIII Nela o regime absolutista de governo foi confrontado por meio de uma guerra civil que perdurou por 10 anos e contou inclusive com a decapitação do rei na guilhotina Além disso o processo revolucionário permitiu o destaque de importantes atores sociais em especial os camponeses e populações pobres das cidades que participaram ativamente do processo Ademais a sua importância é de tamanha grandeza que historiadores de várias linhas teóricas a pesquisam interpretam e reinterpretam até hoje na clássica linha do tempo ocidental ela marca o início da história contemporânea A França antes da Revolução de 1789 Ao final do século XVIII a estrutura social da França permanecia fundamentalmente aristocrática porém os burgueses do setor financeiro e comercial tinham se tornado a classe social hegemônica do ponto de vista econômico Apesar de tamanha importância econômica esses burgueses não detinham o poder político Parte significativa dessa burguesia tratou de aderir à filosofia iluminista e buscar mudanças no sentido de limitar o poder dos reis O regime político era absolutista e os poderes assim se concentravam nas mãos dos reis da dinastia Bourbon Internamente ainda vigoravam as alfândegas internas com cobrança de impostos sobre mercadorias que transitavam entre as várias partes do território o que seria um empecilho para o desenvolvimento do capitalismo Os camponeses formavam a esmagadora maioria da população e parte deles ainda viviam sob laços de servidão típicos do período feudal A população urbana crescia de forma significativa Não pode faltar U4 Cultura popular e revoluções 198 especialmente em Paris e vivia o agravamento das dificuldades de abastecimento de alimentos em um momento em que a agricultura francesa passava por uma séria crise de produção em função das secas das duas últimas décadas do século XVIII A sociedade estava dividida em estamentos compostos pelo clero primeiro estado pela nobreza segundo estado e pelo povo terceiro estado Clero e nobreza possuíam privilégios como a isenção de pagamentos de impostos Um dado importante da França antes de 1789 foi a deterioração da situação fiscal do Estado francês No final do governo de Luis XIV a França mesmo sendo a maior potência europeia começava a dar sinais de enfraquecimento Ao se envolver em várias guerras ao longo do século XVIII o tesouro real francês começou a ter sérios déficits em função dos gastos militares Os conflitos militares Exemplificando Caricatura revolucionária produzida em 1789 satiriza o clero e a nobreza que agora deve carregar o terceiro estado FontehttpscommonswikimediaorgwikiFileJ27savoisbenqu27j27aurionsnottour jpguselangptbr Acesso em 28 jul 2017 Figura 43 Os três estados U4 Cultura popular e revoluções 199 foram a Guerra de Sucessão Austríaca 17401748 a Guerra dos Sete Anos 17561763 e o envolvimento francês na Guerra de Independência dos Estados Unidos da América 17761783 Além das guerras nas quais a França se envolveu lembremos que os gastos públicos com a manutenção da corte real em Versalhes eram significativos Quando Luis XVI assumiu o trono francês em 1774 já existia uma forte crise nas finanças do Estado francês Começava um período de reformas na França Para tal empreitada o rei nomeou o fisiocrata Anne Robert Jacques Turgot 17271781 para ser seu ministro das finanças Turgot buscou incentivar a produção industrial da nação e reduzir as barreiras para o comércio interno de produtos agrícolas mas seu maior desafio seria reduzir ou eliminar o déficit financeiro do governo propondo redução dos gastos da corte e a criação de impostos sobre as atividades do clero e da nobreza Essas últimas medidas não foram aceitas pela monarquia pela nobreza e pelo clero Em 1776 Turgot pediu demissão do cargo por não conseguir fazer com que clero e nobreza pagassem impostos Para substituir Turgot Luis XVI nomeou um banqueiro genebrino Jacques Necker 17321804 Esse ministro tentou ser cauteloso com os interesses da corte da nobreza e do clero mas acabou tornando pública a desastrosa situação fiscal do governo francês dando especial destaque aos gastos da corte acabando por ser dispensado do cargo O rei nomeia Charles Alexandre visconde de Calonne para o comando das finanças da nação O novo ministro retoma os planos de Turgot sem sucesso Agravamento da crise na França A crise econômica e financeira da França se agrava ao longo dos anos 80 do século XVIII Várias foram as causas desse agravamento A crise financeira do estado francês se avolumava e os ministros indicados pelo rei não conseguiram estancar os gastos públicos como também não conseguiram aumentar a arrecadação de impostos Os preços dos vinhos exportados pela França sofreram U4 Cultura popular e revoluções 200 queda em função de acordos comerciais desvantajosos para os seus produtores ampliando a crise econômica Ao longo da década de 1780 a agricultura francesa vivenciou uma vigorosa crise de produção em função de fenômenos climáticos com variações na produção de trigo ao longo do período Na safra agrícola de 1787 produziuse trigo em grande quantidade fazendo com que os preços despencassem e isso fez com que os camponeses reduzissem a produção nos dois anos seguintes Uma grande quantidade de panfletos de inspiração iluminista se propagou por toda a França em especial em Paris criticando abertamente a monarquia absolutista Diante da crise que se apresentava Luis XVI decidiu convocar os Estados Gerais órgão meramente consultivo que reunia representantes dos três estados clero nobreza e povo Anteriormente a última convocação ocorreu em 1614 no reinado de Luis XIV Pela tradição o rei consultava os três estados que poderiam votar soluções para resolução de problemas do reino e o sistema de votação tinha como critério a consideração de um voto por estado Assim o terceiro estado representante da absoluta maioria do povo francês tinha direito a apenas um voto Logo após a convocação dos Estados Gerais a agitação contestatória ao absolutismo se espalhou pela França sob a forma de panfletos iluministas e dos Cahiers de Doléances Lista de Queixas que exigiam aumento da representação do terceiro estado e sistema de votação por cabeça ou seja por representante e não mais por estado Naquele momento a nobreza liberal e o baixo clero aderiram ao movimento de contestação ao poder absoluto dos reis O Abade de Sieyés sintetizou as contestações num célebre escrito que circulou pela França O plano desse escrito é muito simples Temos três questões a tratar 1 O que é o Terceiro Estado Tudo 2 Que foi ele até o presente na ordem política Nada 3 Que solicita Tornarse alguma coisa Mas de que lhe serviria participar dos Estados Gerais se o interesse contrário ao U4 Cultura popular e revoluções 201 Assembleia Nacional 17891792 Diante do impasse nas discussões e sem solução para a crise financeira do Estado francês os representantes do terceiro estado da nobreza liberal e do baixo clero se autoproclamam em Assembleia Nacional Constituinte e passam a escrever uma Constituição para a França A partir desse momento os fatos se precipitam e o que Luiz XVI acreditava ser uma simples revolta se transforma em uma revolução política A maioria do exército do rei adere à revolução e a agitação toma conta de Paris Armas são distribuídas à população A Bastilha antiga prisão e símbolo do absolutismo francês é tomada pela população em 14 de julho de 1789 Em agosto os movimentos revolucionários se estenderam para o campo quando os camponeses passaram a assaltar castelos e muitos nobres e membros do clero foram massacrados A Assembleia Nacional Constituinte aboliu todos os privilégios feudais tais como dízimos isenção de impostos privilégios de ocupação de cargos em tribunais corporações de ofício entre outros seu aí predominasse O povo apenas consagraria pela sua presença a opressão de que ele seria vítima eterna SIEYÉS 1789 apud HOBSBAWN 1991 p 43 Exemplificando A tomada da Bastilha vista por Claude Cholat que participou do evento Fonte httpscommonswikimediaorgwikiFileSiegeoftheBastilleClaudeCholatjpg Acesso em 26 jul 2017 Figura 44 A tomada da Bastilha U4 Cultura popular e revoluções 202 No mês de agosto a Assembleia aprovava a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão documento que consagra o respeito às liberdades individuais e à igualdade dos cidadãos perante a lei Sob o ardor dos acontecimentos e sentindo as dificuldades de abastecimento de alimentos pobres de Paris marcharam até o Palácio de Versalhes e obrigaram a família real a voltar para Paris Assustados e sem capacidade de reação parte da nobreza e do clero começam a deixar o país e seguir principalmente rumo ao Sacro Império RomanoGermânico O governo revolucionário acolhe uma proposta de expropriação das terras da Igreja como forma de atenuar os problemas financeiros do governo francês Começa no Sacro Império RomanoGermânico um movimento para organizar um exército estrangeiro para invadir a França e acabar com a Revolução Preso o rei tenta fugir com a família mas é capturado novamente A promulgação da Constituição consagrava os princípios iluministas assinada por Luis XVI e determinava o voto censitário para as eleições do Parlamento a partir de critérios de pagamento de impostos Ademais logo depois as greves e os sindicatos foram considerados ilegais Assim apenas as elites econômicas francesas teriam direito à participação política A Assembleia Constituinte foi dissolvida e uma eleição foi realizada para definição da Assembleia Legislativa Em função do critério censitário a Assembleia Legislativa contava com maioria de membros da alta burguesia divididos entre os leuillants representantes da burguesia financeira e os girondinos representantes da burguesia comercial e industrial Havia também os jacobinos representantes das classes médias e os cordeliers representantes das camadas populares Em abril de 1792 os emigrados franceses e os exércitos da Áustria e da Prússia atacaram a França sendo vencidos pelas tropas populares que protegeram Paris e expulsaram o exército invasor A tentativa de invasão de tropas estrangeiras influenciou a decisão da Assembleia Constituinte de convocar novas eleições usando o critério do voto universal Uma nova Assembleia foi formada com uma composição diferente da primeira com destaque para três grupos políticos girondinos jacobinos e os remanescentes U4 Cultura popular e revoluções 203 dos leuillants denominados de pântano Logo após a expulsão das tropas estrangeiras a República foi proclamada em setembro de 1792 Em janeiro de 1793 o rei foi condenado e executado na guilhotina Convenção Nacional 17921795 Sentindose ameaçadas as potências absolutistas da Europa se uniram para a criação da primeira coligação militar contra a Revolução Francesa Áustria Prússia Holanda Espanha e Inglaterra uniramse para conter o movimento Além disso eclodiu uma revolta contra a Revolução na região da Vendeia liderada por católicos realistas No ardor dos acontecimentos e das pressões externas e internas os jacobinos desfecham um golpe de estado e tomam o poder liderados por JeanPaul Marat Jacques Hébert e Jacques Roux com o apoio dos sanscullotes camadas populares de Paris Todos os girondinos foram presos Começaria assim a República Jacobina chamada de Período do Terror pelos girondinos Uma nova constituição foi aprovada com garantia de voto universal a todos os franceses com mais de 21 anos No poder pressionados pelos sansculottes os jacobinos adotaram várias medidas populares tais como o fim da escravidão nas colônias o tabelamento de preços de gêneros alimentícios criação do ensino gratuito e obrigatório entre outras medidas Também sob seu governo derrotaram a coligação estrangeira que invadira a França e reprimiram a revolta da Vendeia Comandando o Comitê de Salvação Pública os jacobinos começam a perseguir seus opositores sob o comando de Maximilien de Roberspierre 17581794 inaugurando o que pode ser definido como terrorismo de Estado com a execução de dezenas de milhares de pessoas na guilhotina Nesse período tem início uma divisão interna entre os jacobinos os moderados que desejavam o fim das execuções na guilhotina e os radicais que desejavam a continuidade das execuções Muitos jacobinos moderados foram executados As divisões internas levaram ao fim da hegemonia dos jacobinos e permitiram que os girondinos retomassem o poder U4 Cultura popular e revoluções 204 Diretório 17951799 Após a queda dos jacobinos os grupos representados pelo pântano e pelos girondinos assumem o poder A alta burguesia francesa consegue reassumir o poder e passa a reformular as leis do período da Convenção as eleições voltaram a ser guiadas pelo voto censitário e os preços deixaram de ser controlados O novo governo passa a ser composto por um Diretório de cinco membros eleitos pela Assembleia Legislativa e os novos governantes passam a incentivar os empreendimentos capitalistas Apesar do crescimento econômico verificado no período as elites Francesas tiveram que combater outro movimento popular a Revolta dos Iguais comandada por François Babeuf Passados dez anos de revolução e guerra civil ameaças e invasões de exércitos estrangeiros e centenas de milhares de mortos o povo francês estava cansado A corrupção de governo e a inflação continuavam a criar consequências sociais desastrosas para o povo francês Em 1798 uma nova coligação de tropas estrangeiras se formava para invadir a França A burguesia francesa assustada com os rumos da Revolução e com as perspectivas futuras decide entregar o poder a um habilidoso general Napoleão Bonaparte toma o poder em novembro de 1799 data muitas vezes considerada como o fim da Revolução Francesa apesar da ambiguidade do governo napoleônico Considerações sobre a historiografia da Revolução Francesa A Revolução Francesa é um dos processos históricos mais pesquisados pelos historiadores contemporâneos e dessas variadas pesquisas e leituras diferenciadas dos documentos de época várias explicações surgiram sobre ela Tais discordâncias opõem fundamentalmente pensadores liberais e marxistas Ao longo do século XIX vários outros autores liberais se debruçaram sobre o tema muito influenciados pelas agitações revolucionárias da França ao longo desse século Atentemos ao fato de que após a derrota de Napoleão Bonaparte em 1815 a França foi governada por dois reis que pretenderam restaurar o absolutismo na França Luis XVIII e Carlos X e que a maioria das nações europeias continuava sendo governada por reis absolutistas U4 Cultura popular e revoluções 205 que condenavam a Revolução Os historiadores liberais da Revolução Francesa no século XIX produziram suas obras em meio à continuidade da luta contra o que acreditavam ser um retrocesso político diante das conquistas de 1789 sempre ameaçadas por governantes conservadores Um dos autores fundamentais para essa escola liberal foi Alexis de Tocqueville 18051859 que pesquisou documentos históricos de forma consistente e compreendeu o processo revolucionário como o resultado de transformações sociais tais como o crescimento da disfuncionalidade da nobreza classes médias e dos camponeses Tocqueville argumenta que a nobreza possuía grande status mas seu poder estava diminuindo ao longo do século XVIII as classes médias passaram a ter elevado poder econômico mas sem nenhum poder político grande parte dos camponeses deixou a condição de servos e passou a ter pequenas propriedades tornandose agentes de mercado Essas mudanças sociais teriam criado a citada disfuncionalidade causadora de insatisfações com o Antigo Regime Além disso entre outros fatores causais o papel dos pensadores iluministas teria sido fundamental para explicar a Revolução A tradição liberal na historiografia aponta para uma revolução linear e o período mais violento o período do Terror 17931794 que é abordado como um momento de excesso ocorrido em função de situações excepcionais A verdadeira revolução para a interpretação liberal seria a de 1789 com a promulgação de uma Constituição que limitava o poder dos reis abolia os privilégios feudais da nobreza e do clero e garantia as liberdades individuais e a propriedade privada Recentemente historiadores lançaram novas interpretações sobre a Revolução Francesa Entre eles podemos destacar François Furet Denis Richet e Elizabeth Eisenstein que afirmam terem sido a nobreza e a burguesia parte de uma elite que desejava limitar o poder dos reis e buscar soluções para os problemas financeiros do Estado francês ou seja não havia divergência de interesses entre burgueses e nobres em sua grande maioria A participação popular na Revolução protestando e pressionando por questões como abastecimento teria sido o principal fator para explicar a radicalização do movimento em um momento em U4 Cultura popular e revoluções 206 que a França vivia uma séria crise na agricultura Isso explicaria a ascensão ao poder de um líder autoritário como Robespierre que teria se aproveitado da situação social caótica para em meio ao processo revolucionário liberal impor uma ditadura Outra interpretação da Revolução Francesa foi vastamente oferecida pelos historiadores marxistas Em verdade o próprio Karl Marx interpretou a Revolução de forma a buscar demonstrar que ela teria sido o grande exemplo das revoluções burguesas ou seja um processo histórico no qual a burguesia com interesses opostos aos da nobreza e clero teria tomado o poder de Estado em nome de um projeto de constituição de um Estado liberal ligado aos seus interesses Para Marx e os marxistas o Iluminismo seria uma espécie de legitimação ideológica dessa tomada de poder pela burguesia Isso explicaria a sociedade francesa que teria surgido após a Revolução que não era nem igualitária nem fraterna nem livre Ela continuaria a ser uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas agora com preponderância para o antagonismo entre burguesia e proletariado A radicalização da revolução teria sido resultado das pressões das classes sociais dominadas pela burguesia e teriam sido decisivas para a existência de outros projetos revolucionários mais profundos para a sociedade e política francesas Teria existido assim várias revoluções entre 1789 e 1799 Vários historiadores seguiram os caminhos de Marx e aqui podemos citar Albert Soboul 19141982 e George Lefebvre 1874 1959 Eles buscaram pesquisar e salientar as aspirações das classes populares jornaleiros artesãos camponeses entre outros que teriam sido guiadas pelos ideais de luta contra o absolutismo mas que no desenrolar do processo revolucionário teriam construído lutas autônomas Teriam sido essas lutas populares as responsáveis pelos avanços e recuos da revolução Em suma nas palavras de Soboul 2007 p 109 a Revolução Francesa consignase desta maneira um lugar excepcional na história do mundo contemporâneo Revolução burguesa clássica ela constitui para a abolição do regime senhorial e da feudalidade o ponto de partida da sociedade capitalista e da democracia liberal na história U4 Cultura popular e revoluções 207 O presente texto tem uma relativa influência da narrativa marxista a despeito de reconhecer as contribuições dos autores que relativizaram essa interpretação da França Revolução camponesa e popular porque antifeudal sem compromisso tendeu por duas vezes a ultrapassar seus limites burgueses Assimile A França antes de 1789 Governo absolutista Sociedade estamental Alfândegas internas Econômica com fortes características mercantilistas Crise na produção agrícola alimentos Crise financeira do Estado déficit no orçamento público Convocação dos Estados Gerais em 1789 Ausência de solução sobre os temas impostos e sistema de votação Início da Revolução com o levante dos representantes do Terceiro Estado para redigir uma Constituição para a França Fases da Revolução Assembleia Nacional 17891792 domínio dos girondinos Convenção Nacional 17921795 domínio dos jacobinos Diretório 17951799 domínio dos girondinos A Revolução Francesa termina com a tomada de poder por Napoleão Bonaparte A Revolução Francesa possui várias interpretações destacandose duas a liberal e a marxista U4 Cultura popular e revoluções 208 Reflita O governo dos jacobinos foi extremamente popular em função das medidas que tomou para as massas urbanas e rurais mas acabou numa ditadura sangrenta que assassinou milhares de pessoas em processos judiciais sumários e sem direito à defesa Em processos revolucionários violentos muitas atrocidades ocorrem em nome da liberdade da igualdade da nação ou de algum outro discurso Em sua avaliação a luta por um ideal político justifica violências extremas No auge do terror a máquina alimentavase com umas trinta cabeças por dia Tratavase de um espetáculo de vingança coletiva no qual a massa popular encenava o seu acerto de contas com a nobreza deposta e seus adeptos Anteciparam as grandes encenações outras que irão se repetir durante as situações revolucionárias do século XX na Rússia comunista de 1917 na Alemanha nazista de 1933 na Itália fascista de 1922 ou nos julgamentos de massa dos seguidores da ditadura batistista feitos na Cuba revolucionária em 1959 TERRA sd sp Pesquise mais MarieAntoniette Direção de Yves Simoneau e Francis Leclerc Canadá 2006 Cinema Biografia de Maria Antonieta 17551793 arquiduquesa da Áustria e rainha da França e Navarra Com apenas 14 anos ela chega à opulenta corte francesa após ser prometida ao rei Luis XVI Sozinha incompreendida e rejeitada por seu próprio marido ela logo se torna a protagonista de vários escândalos cortesãos OSTERMANN Nilse Wink KUNZE Iole Carreta Às Armas Cidadãos São Paulo Atual 1995 Este livro traz uma boa discussão historiográfica sobre o tema além de ser rico em documentos de época Claro também narra os acontecimentos de 1789 a 1799 U4 Cultura popular e revoluções 209 Sem medo de errar 1 Em primeiro lugar é preciso pesquisar as origens da escrita do Hino Nacional da França e entender por qual motivo ele é conhecido como Marselhesa O hino nacional francês foi composto por Claude Joseph de Lisle oficial do exército francês em 1792 Ele foi escrito com o objetivo de encorajar os soldados franceses a lutar contra as tropas estrangeiras que invadiram a França e tentaram pôr fim à Revolução Francesa Acabou ficando conhecido como Marselhesa pois era cantado com muita frequência pelas tropas do exército revolucionário de Marselha Uma atividade bastante interessante será buscar documentos de época que informem sobre a criação dessa canção 2 Em segundo lugar faça uma análise da letra da canção no contexto histórico da Revolução Francesa Lembrese da história do nacionalismo francês oriundo do processo revolucionário e das invasões dos reinos absolutistas que a França sofria naquele momento Reflita também sobre como a noção de cidadania iluminista trouxe outra relação ao sentimento nacional diferente daquele vivido pelos súditos do Antigo Regime 3 No que se refere ao conteúdo do Hino Nacional francês busque entender e interpretar as passagens que remetem aos conteúdos que você estudou destacando os versos em que constam a Contra nós da tirania quem são os tiranos no contexto da revolução de 1789 b Sangue impuro quem são os homens de sangue impuro no contexto da revolução E atualmente c Somos todos soldados para vos combater de qual forma esse verso afirma o nacionalismo francês no final do século XVIII e atualmente d Por qual motivo o Hino Nacional da França aborda diversas vezes os espaços agrários falando em campos e arados U4 Cultura popular e revoluções 210 Faça valer a pena 1 4 Identifique os momentos da história francesa do século XIX em que a Marselhesa foi utilizada como hino nacional e os momentos em que ela foi banida pelos governantes da França Busque os significados políticos desses momentos 5 Pesquise sobre as discussões em torno do problema da imigração africana e árabe para a França e a atual composição da população francesa em termos de origens nacionais e de suas religiões 6 Pesquise sobre as posições políticas dos principais partidos políticos da França e suas posições sobre a questão da imigração para o território francês 7 Insira o conteúdo da reportagem nesse contexto oferecendo especial destaque aos significados que a letra da Marselhesa possui para os grupos políticos franceses bem como para suas lideranças A concepção que foi questionada é a que vê o século XVIII francês como uma luta de classes entre uma burguesia capitalista ascendente e uma classe dominante estabelecida de aristocratas feudais que a burguesia em ascensão consciente de si mesma como classe procurava combater para substituíla na condição de força dominante na sociedade Essa concepção via a Revolução Francesa como o triunfo dessa classe e consequentemente como o mecanismo histórico que acabou com a sociedade feudalaristocrática e inaugurou a sociedade burguesa capitalista do século XIX a qual deduziase não teria podido surgir senão quebrando aquilo que Marx quando falava da revolução proletária que considerava destinada a derrubar o capitalismo chamava de o invólucro da velha sociedade Em resumo o revisionismo criticava e critica o conceito de que a Revolução Francesa foi essencialmente uma revolução social necessária um passo essencial e inevitável no desenvolvimento histórico da sociedade moderna e é claro a transferência de poder de uma classe para outra HOBSBAWN 1996 p 23 U4 Cultura popular e revoluções 211 2 Esse trecho da obra de Hobsbawm deve ser interpretado como a O relato de uma discussão historiográfica em torno da Revolução Francesa b Uma discussão sobre as origens da Revolução Francesa cUma forma de legitimar a Revolução Francesa diante dos seus contemporâneos d Uma discussão sobre o caráter classista da Revolução Francesa e Uma reafirmação das posições marxistas do autor sobre a Revolução Francesa Depois de 1794 ficaria claro para os moderados que o regime jacobino tinha levado a revolução longe demais para os objetivos e comodidades burgueses exatamente como ficaria claro para os revolucionários que o sol de 1793 se fosse nascer de novo teria que brilhar sobre uma sociedade não burguesa Por outro lado os jacobinos podiam sustentar o radicalismo porque em sua época não existia uma classe que pudesse fornecer uma solução social coerente como alternativa a deles Esta classe só surgiu no curso da revolução industrial com o proletariado ou mais precisamente com as ideologias e movimentos baseados nele HOBSBAWN 1991 p 65 O texto do autor aponta para uma visão teleológica da História legitimada na ideia de que a Os objetivos da burguesia e da própria marcha natural da História impediram que a burguesia entendesse os movimentos políticos dos jacobinos b A derrota dos jacobinos fez ver aos radicais tanto quanto aos sans culottes que uma sociedade igualitária seria possível apenas com o esmagamento dos girondinos c Os jacobinos e sansculottes não poderiam oferecer uma solução social visto que isso estava reservado pela História ao movimento operário nascido com a Revolução Industrial d Apenas a formulação socialista do movimento operário nascido da Revolução Industrial poderia redundar na redenção da humanidade visto que os jacobinos não tinham consciência do seu papel histórico e A revolução foi longe demais e colocou em perigo os projetos de todos os grupos sociais que dela participaram U4 Cultura popular e revoluções 212 3 Quando o leigo instruído pensa na Revolução Francesa são os acontecimentos de 1789 mas especialmente a República Jacobina do Ano II que vêm à sua mente O empertigado Robespierre o gigantesco e dissoluto Danton a gélida elegância revolucionária de SaintJust o gordo Marat o Comitê de Salvação Pública o tribunal revolucionário e a guilhotina são as imagens que vemos mais claramente Os girondinos são lembrados apenas como um grupo e talvez por causa das mulheres politicamente sem importância mas românticas que estavam ligadas a eles Mme Roland ou Charlotte Corday Quem fora do campo especializado conhece sequer os nomes de Brissot Vergniaud Guadet e do resto Os conservadores criaram uma imagem duradoura do Terror da ditadura e da histérica e desenfreada sanguinolência embora pelos padrões do século XX e mesmo pelos padrões das repressões conservadoras contra as revoluções sociais tais como os massacres que se seguiram à Comuna de Paris de 1871 suas matanças em massa fossem relativamente modestas 17 mil execuções oficiais em 14 meses Os revolucionários especialmente na França viram na como a primeira república do povo inspiração de toda a revolta subsequente Pois esta não era uma época a ser medida pelos critérios humanos cotidianos HOBSBAWN 1996 p 72 Nesse trecho de sua obra o historiador Eric Hobsbawm 1991 busca a Justificar a ditadura de Robespierre b Reduzir a importância de Robespierre no período do Terror c Relativizar a importância da ditadura de Robespierre d Responsabilizar os girondinos pela tradicional ênfase dada às matanças do período do Terror e Afirmar que o período do Terror é justificado pelos padrões humanos cotidianos CULTURA POPULAR E REVOLUÇÕES Em História Moderna livro do historiador Adauto Damasio dividido em quatro unidades no qual a última dela intitulada Cultura Popular e revoluções discute de maneira didática fatos importantes que tiveram grande influência para o processo histórico na formação do mundo contemporâneo Tais como a cultura popular na Idade Moderna Revolução Industrial e a Revolução Francesa que foram momentos decisivos para a transformação da nossa economia política sociedade e cultura atual Ao que antecede a grande Revolução Industrial o autor discorre sobre a cultura popular na Idade Moderna Apresenta uma cultura pela forma mais literal do popular uma cultura do povo da classe subalterna que optando em discutir pela perspectiva de todas as atividades humanas DAMASIO 2017 p 164 sem recortes da história política A princípio o autor aborda discursões sobre a definição de cultura e cultura popular pelo ponto de vista de historiadores sociais que buscaram entender as manifestações populares Dessa maneira esses historiadores sociais buscaram entender essas manifestações que evidenciam a resistência das classes subalternas em que contestavam as diferenças políticas e econômicas O autor exemplifica entre essas ferramentas de resistência a música mas sabemos que ainda pelo que soa nas manifestações da atualidade as diversas formas de protestos Entre os grupos marginalizados Damasio aponta a posição da mulher na história moderna que no contexto da cultura popular inglesa as mulheres são interpretadas em sua condição de sujeitos de suas histórias e não objetos de manipulação masculina IBID p 170 o que contrapõe as concepções da sociedade da época sobretudo a religiosa No texto o que o torna plausível é como as manifestações desenvolvida em uma cultura popular por trabalhadores escravos mulheres até a sua aceitação foi como a elite tentou e tenta controlar No carnaval manifestação da cultura popular na qual as classes subalternas conseguiam com suas estratégias criar um mundo sem hierarquia sociais IBID p 175 que por perseguições políticas sofreu até ser reconhecida como cultura popular o mesmo aconteceu entre outras manifestações haja vista haja vista a capoeira CULTURA POPULAR E REVOLUÇÕES Por fim nessa etapa o autor finda com a discursão do poder da literatura que além de ferramenta poderosa na luta contra a opressão e a injustiça social a literatura desempenha um papel importante na compreensão das manifestações de resistência das classes subalternas No entanto ao que notamos de uma literatura formada pela tradição de sua formação até pouco tempo de homens branco e elitizados o acesso a ela por pessoas que viviam a margem teve um grande interesse crescente pela leitura que para Damasio 2017 aumentou o índice de alfabetização e por consequência a politização dessas classes e isso seria uma das causas que deu origem a Revolução Francesa Entre os séculos XIX e XX os conflitos sociais teve ligação as atividades nas fábricas indústrias já que nessa época a Revolução Industrial tinha maior influência no desenvolvimento da sociedade Para Damasio 2017 essa revolução surgiu para transformar a tecnologia a economia as questões sociais e os processos produtivos na Europa Originada na Inglaterra a Revolução Industrial fez do seu comércio um modo de acumular capital para impulsionar o capitalismo foi instaurado no seu regime político a ideologia liberal que com a revolução de suas tecnologias utilizaram da mão de obra barata Entre a primeira e segunda revolução o autor apresenta inovações tecnológicas que foram crucias para nossa tecnologia atual e consequentemente se expandiu por toda a Europa e posteriormente para o mundo Sobre as formas de trabalho no texto é destacado o artesanal manufatureiro fabril que foram formas em que a indústria buscou de utilizar a mão de obra no entanto são diferentes formas de produção sendo que a última é a grande predominante na sociedade industrial Sendo assim foi uma forma de impor ao trabalhador uma maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado O trabalhado não pode ter nenhuma decisão sobre seu trabalho IBID p 187 Através dessa posição no texto é discutido algumas consequência da Revolução Industrial como o surgimento de uma nova classe o operário urbano que por uma mão de obra assalariada e barata além de uma longa jornada de trabalho que posteriormente iniciaram grandes contestações Em uma sociedade aristocrata o surgimento de manifestações em que os subalternos reivindicavam seus direitos e essa classe popular especificamente os camponeses e as populações pobres das cidades foram grandes protagonistas da Revolução Francesa Sendo um dos processos históricos mais relevantes da História ocidental marcou em conjunto com a revolução Industrial rompendo com os alicerces políticos e econômicos do Antigo Regime século XVI ao XVIII que pelo regime absolutista confrontou por uma guerra civil por 10 anos DAMASIO 2017 Antes da revolução o autor aponta a estrutura social era marcado pela aristocracia e o regime político absolutista o que concentravam os poderes nas mãos dos reis que passam por crises resultantes em conflitos militares e gastos públicos pela corte impuseram a criação de impostos e a redução de gastos Apesar disso não foi suficiente como bem ressalta Damasio pois a crise econômica e financeira foi agravada o que foi decidido pelo rei Luís XVI uma convocação com Estados Gerais que por ideias iluministas após a convocação surgiu uma grande contestação que exigiam que o voto deixasse de ser por estado e passava ser por pessoa Esse movimento teve apoio de outras classes a nobreza liberal e o baixo clero que com a junção desses povos a Assembleia Nacional Constituinte surgiu uma nova constituição para França o que a uma maior parte do exército do rei adotar essa revolução Posteriormente tiveram a conquista Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que foi crucial para que a liberdade e igualdade fosse exercida por lei No entanto apesar das conquistas apenas as elites econômicas francesas teriam direito a participação política o que passou de Assembleia constituinte a Legislativa Por critério em seu funcionamento essa assembleia dividiamse em grupos leuillants burguesia financeira girondinos burguesia comercial e industrial jacobinos classe média e cordeliers camadas populares Após a tentativa da Áustria e Prússia de invadir a França uma nova Constituinte foi formada assim como a modificação dos grupos políticos permanecendo os girondinos e jacobinos e surgindo os pântanos Os jacobinos deram um golpe de estado mas por favorecer a população e tomarem medidas populares pressionados pelo sansculottes garantiram o poder do voto para todo povo francês fim da escravidão tabelamento dos preços dos alimentos ensino gratuito e obrigatório Entretanto essas medidas que favorecia as classes mais pobres tiveram um retrocesso com a queda do jacobinos e a alta burguesia francesa assume o poder De maneira didática e de fácil compreensão nessa unidade o autor Adauto Damasio discorrem sobre os grandes impactos sofridos pelo surgimento do capitalismo e a fortificação da estratificação social no percurso histórico europeu que posteriormente influencia o mundo Assim como a importância para o historiador em elevar as lutas das classes e da cultura popular em resistências a políticas que favoreciam a aristocracia e a elite bem como foram norteadoras nas revoluções e na implementação mesmo que de maneira subordinada para os avós tecnológicos marcados pela Revolução Industrial que fizeram de sua mão de obra barata uma grande ferramenta para o acúmulo de capital