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Psicologia ·

Psicologia Social

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A Teoria Psicossocial de Erikson e a Construção da Identidade Capítulo 5 O mapa não é o território Gregory Bateson A expressão crise de identidade introduzida por Erik H Erikson há mais de meio século para explicar especialmente o período de tensão íntima da adolescência passou a ser parte aceita e conhecida do linguajar cotidiano A ênfase dada por ele aos problemas exclusivos dos adolescentes e dos adultos ajudou a retificar o destaque anterior unilateral da infância como sendo começo e fim do desenvolvimento da personalidade Embora Erikson não considerasse o comportamento adulto como simples derivado de acontecimentos da infância ele encontrou significativos paralelos entre os jogos infantis e os planos de jogos dos adultos entre a repetitividade de alguns folguedos infantis e o ritualismo de formas políticas como a eleição e a posse de autoridades É importante destacar que as contribuições de Erikson constituem legítimos avanços básicos da teoria freudiana Nesse particular ele foi rotulado como freudiano emancipado nãodogmático Entretanto Erikson difere dos chamados neofreudianos como Karen Horney Abram Kardiner e Harry Stack Sullivan que equivocadamente superaram que a teoria freudiana nada tivesse a dizer a respeito da relação do homem com a sociedade e a cultura Embora Freud tivesse enfatizado a sexualidade ele o fez porque os rígidos tabus sexuais daquele momento histórico eram freqüentemente a causa da neurose Em escritos posteriores contudo Freud começou a preocuparse com a atividade executiva da personalidade ou seja o ego que é também o repositório das atitudes e conceitos do indivíduo sobre si mesmo e o mundo E é do desenvolvimento psicossocial do ego que tratam inicialmente as observações e construções teóricas de Erikson que assim conseguiu introduzir inovações na teoria psicanalítica sem rejeitar nem desprezar a monumental contribuição de Freud Esse traço aliado às reservas éticas quanto a tornar público mesmo disfarçado o material de seus casos clínicos talvez ajude a explicar a relutância inicial de Erikson em divulgar seus conceitos e observações seu primeiro livro Childhood and Society apareceu em 1950 quando ele já completara 48 anos Uma carreira excepcional O curso da carreira profissional de Erik Homburger Erikson foi variado e incomum Ele nasceu na Alemanha em 15 de junho de 1902 Sua mãe judia dinamarquesa havia emigrado grávida para a Alemanha onde casou com um médico pediatra o Dr Homburger também de família judia Durante toda sua primeira infância lhe ocultaram que sua mãe havia se casado anteriormente com outro homem seu pai biológico que não se chamava Erikson de quem se separara antes que ele nascesse Erikson passou a usar o sobrenome do padrasto Homburger Posteriormente publicou seus livros sob o nome Erik Homburger Erikson e finalmente Erik Erikson literalmente Erik filho de Erik Ele se considerava alemão mas seus colegas de escola o rejeitavam porque ele era judeu Ao mesmo tempo seus amigos judeus o chamavam de goy não judeu devido a seu aspecto ariano Embora seu padrasto o tenha estimulado a estudar medicina Erikson freqüentou o gymnasium clássico e depois de se formar estudou arte em Munique e foi viver em Florença Aos 25 anos de idade voltou para casa procurando emprego de professor de arte e encontrou um amigo Peter Blos que também se tornaria um psicanalista de renome Blos o encaminhou a uma pequena escola em Viena criada por Anna Freud para crianças que estavam em psicanálise ou para filhos de pais que estavam sendo analisados Erikson ficou tão entusiasmado que se matriculou e se formou numa escola que treinava professores no método Montessori Fixouse então em Viena onde teve contatos informais com Sigmund Freud e sua filha Anna com quem submeteuse a uma análise didática enquanto estudava no Instituto Psicanalítico de Viena Lá conheceu e desposou Joan Moivat Serson uma professora de dança moderna formada em educação com mestrado em sociologia e que depois se tornou autora consultora sobre saúde mental e principal colaboradora de Erikson Decidiram morar na Dinamarca mas como isso não deu certo e também devido à perseguição nazista emigraram para os Estados Unidos em 1933 quando Erikson foi convidado a praticar e ensinar em Boston Ele foi de fato o primeiro psicanalista de crianças daquela região Nas duas décadas seguintes teve compromissos clínicos e acadêmicos em Harvard Yale e Berkeley Quando tratava crianças insistia sempre em conhecer os lares dos jovens pacientes e em jantar com suas famílias Na década de 1930 decidiu participar de um trabalho de campo com Scuder Mekeel um antropólogo seu amigo observando crianças índias na reserva Sioux de Dakota do Sul e na reserva Yurok no norte da Califórnia Seus relatórios sobre tais experiências revelaram o dom especial de sentir e penetrar nos modos de pensar e nas idéias gerais de culturas estranhas à sua Foi ao trabalhar com os índios que Erikson começou a observar síndromes que não soube explicar dentro dos limites da teoria psicanalítica tradicional O índio não só sentia o rompimento com o passado como não conseguia se identificar com a idéia de futuro oferecida pela assimilação dos valores da cultura branca Erikson reconheceu que os problemas enfrentados por aqueles homens tinham relação com o ego e a cultura e só incidentalmente com as pulsões sexuais enfatizadas por Freud As impressões colhidas por Erikson durante a permanência nas reservas indígenas foram reforçadas quando durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou em um Centro de Reabilitação de Veteranos em São Francisco Muitos dos soldados com os quais ele e seus colegas lidaram pareciam não se enquadrar nos tradicionais casos de neuroses de guerra da Primeira Guerra Mundial Em vez disso pareceu a Erikson que muitos deles haviam perdido a noção de quem eram e do que eram pois tinham dificuldades em conciliar suas atividades atitudes e sentimentos como soldados com as que tiveram antes da guerra Assim sendo embora pudessem ter problemas decorrentes de pulsões reprimidas ou incompatíveis seu principal problema parecia ser confusão de identidade Durante os anos em que fez pesquisas na Califórnia Erikson escreveu seu primeiro livro Childhood and Society 1950 Esse livro teve um impacto significativo e é ainda hoje considerado uma das mais importantes publicações de Erikson Em 1951 pediu demissão de seu cargo de docente na Universidade de Berkeley em sinal de protesto contra um juramento especial de lealdade ao Estado exigido dos membros da universidade juramento que foi mais tarde declarado inconstitucional Erikson ingressou no Centro Austin Riggs em Stockbridge Massachusetts um pólo importante de residência em psiquiatria para iniciar juntamente com um grupo de psicólogos e psiquiatras um programa novo de tratamento residencial privado para jovens com perturbações psicológicas É possível que as inovações de Erikson na teoria psicanalítica sejam exemplificadas melhor em seus escritos psicohistóricos nos quais ele combina a intuição psicanalítica com uma verdadeira imaginação histórica Escreveu uma série de brilhantes ensaios sobre homens diversos como Máximo Gorky George Bernard Shaw e o próprio Freud Tais estudos não são limitados relatos de casos mas sim reflexos da notável compreensão de Erikson da história social e política européia bem como da literatura eles contribuem ao mesmo tempo para a história e a teoria da personalidade Suas incursões pela psicobiografia chegaram ao auge com o estudo psicológico sobre o pai do Protestantismo Martinho Lutero intitulado Young Man Luther 1958 e outro sobre o apóstolo da nãoviolência Mahatma Gandhi intitulado Gandhis Truth 1969 É interessante salientar que nos dois casos houve na própria vida de Erikson elementos comparáveis às crises havidas na existência dos biografados a crise de identidade profissional em Lutero e a crise de generatividade a preocupação madura com as gerações futuras no primeiro protesto nãoviolento de Gandhi na Índia aos quarenta e oito anos mesma idade em que Erikson publicou seu primeiro livro Childhood and Society Erikson ficou em Riggs até 1961 quando foi nomeado professor de desenvolvimento humano e conferencista sobre psiquiatria em Harvard Em 1970 aposentouse deixou Harvard e mudouse para San Francisco na Califórnia onde continuou a escrever e a dar consultas em clínicas e universidades Erik Erikson e sua esposa Joan voltaram para Massachusetts em 1987 depois da fundação do centro Erik Erikson em Cambridge Erikson morreu em 12 de maio de 1994 Suas idéias inovadoras continuam estimulando a pesquisa e a teoria de hoje A teoria psicossocial de Erikson Em Childhood and Society Erikson conceituou as implicações de suas observações clínicas A obra síntese de quinze anos de experiência e pesquisa deu três contribuições importantes ao estudo do ego humano Primeiro sugeriu que paralelamente aos estágios de desenvolvimento psicosexual descritos por Freud oral anal fálico de latência e genital havia estágios psicossociais de desenvolvimento do ego nos quais o indivíduo tinha de fixar novas orientações básicas para si e para o seu mundo social Em segundo lugar afirmou que o desenvolvimento da personalidade não pára na adolescência mas continua através de todo o ciclo vital E finalmente declarou que cada estágio tem um momento crítico que Erikson denominou crise período de decisão entre um pólo positivo e outro negativo entre progressão e regressão integração e retardamento Cada estágio representa uma crise de aprendizagem com a possibilidade de aquisição de novas habilidades e atitudes Examinandose o esquema dos estágios podese compreender muita coisa a respeito dessas contribuições bem como sobre o modo de pensar de Erikson Ele identificou oito estágios no ciclo vital em cada um dos quais tornase possível uma nova dimensão de interação social isto é uma nova dimensão na interação da pessoa consigo mesma e com o seu ambiente social Segundo Erikson a personalidade resulta da interação contínua de três dimensões a biológica a social e a individual Tais dimensões são inseparáveis e interdependentes uma não pode existir sem a outra Embora Erikson concordasse com o ponto de vista psicanalítico de que o recémnascido possui um conjunto de pulsões ele acrescentou a este conjunto instintivo uma necessidade de continuidade da experiência acreditando também que o desenvolvimento ocorre numa seqüência mais ou menos previsível sendo em parte controlada por fa tores maturacionais Ele referiuse a tais fatores através do princípio epigenético Algo generalizado esse princípio afirma que tudo o que cresce tem um plano básico e é a partir deste que se erguem as partes ou peças componentes tendo cada uma delas o seu próprio momento de ascensão até que todas tenham surgido para formar um todo em funcionamento ERIKSON 1968 p 92 Este plano básico no entanto não se desenvolve independentemente de uma dimensão social O bebê humano dada sua grande dependência necessita de cuidados para sobreviver Segundo Erikson Devese acrescentar que a fraqueza do bebê lhe dá poder a partir de sua própria dependência e fragilidade ele faz sinais aos quais seu meio se for bem orientado por uma capacidade de reação que combine padrões instintivos e tradicionais é peculiarmente sensível A presença de um bebê exerce um domínio persistente e sistemático sobre as vidas exteriores e interiores de todos os membros da casa É tão válido dizer que os bebês controlam e criam suas famílias como o inverso Uma família só pode educar um bebê à medida que é educada por ele Seu crescimento consiste numa série de desafios àqueles que servem às suas potencialidades de interação social recentemente desenvolvidas ERIKSON 1968 p 9596 Assim tanto o bebê com a família têm que fazer ajustamentos recíprocos caracterizando o envolvimento de acomodações mútuas na dimensão social do desenvolvimento da personalidade Erikson também percebeu que a natureza dessas acomodações pode variar de cultura para cultura Ele referiuse a este princípio da relatividade cultural da seguinte forma Embora seja muito claro o que se deve fazer para se manter um bebê vivo os cuidados mínimos necessários e o que se deve fazer para que ele não seja fisicamente lesado nem cronicamente perturbado o máximo de frustração tolerável neste período inicial há uma certa amplitude de variação quanto ao que pode acontecer e diferentes culturas fazem extenso uso de suas prerrogativas para decidir o que elas consideram viável e insistem em chamar de necessário Algumas pessoas pensam que um bebê para não enfiar os dedos nos próprios olhos deve ficar necessariamente enfaixado a maior parte do dia e durante quase todo o primeiro ano e também pensam que ele deve ser embalado ou alimentado toda vez que chorar Outras pensam que ele deve sentir a liberdade de seus membros e movê1os livremente o mais cedo possível mas também que em geral deve ser forçado a chorar até que fique roxo para pedir suas refeições ERIKSON 1968 p 9899 Erikson afirmava que há uma lógica mesmo que instintiva e précientífico na suposição de que aquilo que é bom para a criança o que lhe pode acontecer depende daquilo que se espera que ela venha a ser mais tarde e onde isto ocorrerá ERIKSON 1968 p 99 Embora cada cultura possa ter um modo diferente de lidar com o plano básico que o bebê possui ao nascer todas elas se encaminham no sentido de transformar suas crianças dependentes em adultos autônomos Há um padrão semelhante na vida social das diversas culturas No início a criança interage com alguns adultos que cuidam dela No decorrer do desenvolvimento seu raio de relações se amplia à medida que suas habilidades sociais evoluem como resultado da interação entre a maturação e os cuidados que ela recebe Ao atingir a idade adulta o indivíduo assume seu lugar numa sociedade caracterizada por um conjunto de costumes e instituições de vários graus de complexidade processo que se estende e se modifica por todo o ciclo vital Erikson assinalava que se pode dizer que à personalidade se desenvolve de acordo com passos prédeterminados que tornam o organismo humano apto para se dirigir a estar alerta para e interagir com um raio cada vez maior de indivíduos e instituições significativas ERIKSON 1968 p 93 Apesar da existência de um plano básico biológico e de um plano social duas pessoas não desenvolvem personalidades idênticas Cada indivíduo percebe e responde ao mundo de uma forma diferente sendo que o modo como ele será percebido e responderá a isso também será particular Mesmo os gêmeos idênticos morando na mesma casa não passam exatamente pelas mesmas experiências As pessoas não integram as experiências de uma mesma forma Além das dimensões biológica e social Erikson postulava uma dimensão individual no desenvolvimento da personalidade a capacidade de integração da experiência O conceito de identidade Quando as três dimensões da personalidade se coordenam o resultado será segundo Erikson uma pessoa que domina ativamente seu ambiente mostra uma certa unidade da personalidade e é capaz de perceber corretamente o mundo e a si mesma ERIKSON 1968 p 92 Ele afirmava ainda que um indivíduo psicologicamente são é aquele que desenvolveu um firme sentido de identidade sendo capaz de reconhecer que é uma pessoa única inserido em uma determinada sociedade com um passado um presente e um futuro particulares A unidade da personalidade depende de um firme sentido de identidade do ego Assim O Homem como espécie tem sobrevivido pelo fato de estar dividido no que chamamos pseudoespécies Primeiro cada horda ou tribo classe e nação mas depois também cada associação religiosa converteuse em a espécie humana considerando todos os outros grupos como uma invenção extravagante e gratuita de alguma deidade irrelevante Para reforçar a ilusão de ser a eleita cada tribo reconhece uma criação própria uma mitologia e ulteriormente uma história assim se garantiu a lealdade a uma determinada ecologia e moralidade Nunca se faz uma idéia exata de como as outras tribos nasceram mas já que existem elas são úteis pelo menos como uma tela de projeção para as identidades negativas que são a contraparte necessária se bem que sumamente incômodas das identidades positivas Essa projeção em conjunto com a sua territorialidade proporcionou aos homens uma razão para se chacinarem mutuamente in majorem gloriam ERIKSON 1968 p 41 Da mesma forma cada pessoa desenvolve a necessidade de sentirse especial ou única dentro do seu próprio grupo Considerando a interdependência das três dimensões da personalidade Erikson definiu a identidade como a um sentido consciente de singularidade individual b um esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência c uma solidariedade para com os ideais de um grupo Erikson considerava que a necessidade de cada ser humano de sentirse único provém do esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência Esse sentimento de ser único no entanto não pode ser desenvolvido na ausência de uma cultura que além de fornecer os cuidados necessários para o desenvolvimento do ego tam está sempre mudando e se desenvolvendo na melhor das hipóteses é um processo de diferenciação crescente que se torna ainda mais abrangente à medida que o indivíduo vai se tornando cada vez mais consciente de um círculo crescentemente mais amplo de outras pessoas que são significativas para ele desde a pessoa materna até a humanidade O processo iniciase em algum momento durante o primeiro encontro verdadeiro entre a mãe e o bebê enquanto duas pessoas que podem tocarse e reconhecerse mutuamente e só termina quando se dissipa o poder da afirmação mútua do homem ERIKSON 1968 p 23 O desenvolvimento avança em estágios denominados idades nos trabalhos de Erikson veja a Figura 51 Figura 51 As crises psicossociais durante o ciclo da vida Fonte ERIKSON E H Childhood and Society Un Modo de Ver IaS Cosas escritos selectos de 1930 a 1980 México Fondo de Cultura1994 p 536 VIII velhice Integridade versus desesperança VII maturidade Genero tividade versus estagnacao adulto VI jovem Intimidade versus isolamento V adolescência Identidade versus confusão de 051 IV idade escolar Produtividade diligência versus inferioridade III ínciava Iniciativa versus culpa Autonomia vergonha e II dúvida infância Confiança básica versus desconfiança básica I idade do bebê Os estágios do desenvolvimento as oito idades do homem Segundo a teoria psicossocial de Erikson a personalidade não é um estado mas um processo que bem propicie uma série de diretrizes e rótulos que permite ao ego construir uma identidade O indivíduo deve manter um sentimento de solidariedade para com os ideais do grupo para que a identidade tenha uma base sólida Ele deve acreditar desde a infância que está seguindo com sucesso as diretrizes impostas por sua cultura uma criança ao crescer deve captar um sentimento vitalizador da realidade a partir da consciência de que o seu modo individual de dominar a experiência a síntese de seu ego é uma variante bemsucedida de uma identidade grupal sendo coerente com o seu plano espaciotemporal e vital ERIKSON 1968 p 49 Erikson ilustró a interação entre as dimensões da personalidade com o fato de aprender a andar Uma criança que acaba de perceber que é capaz de andar tornase consciente de seu novo status e estatura de alguém que pode andar sejam quais forem as conotações que isso possa ter nas coordenadas do plano vital de sua cultura ser aquele que correrá velozmente atrás da presa em fuga aquele que irá longe aquele que andará ereto ou aquele que poderá ir muito longe Ser alguém que pode andar convertese em uma das diversas etapas no desenvolvimento da criança que contribui para o estabelecimento de uma autoestima realista através da coincidência de controle físico e significado cultural do prazer funcional e do reconhecimento social ERIKSON 1968 p 49 A continuidade da experiência constitui uma variável crítica no desenvolvimento da personalidade havendo um intento de estabelecer uma série complexa de equilíbrios Cada estágio se desenrola de acordo com um plano de base definido e parcialmente inato sendo que cada um deles apresenta ao indivíduo um desafio Como este plano necessita também de um suporte social cada estágio apresenta também um desafio à sociedade Erikson descreveu estes desafios como crises normativas afirmando que há oito delas a serem resolvidas durante o ciclo vital Esses estágios não seguem um esquema cronológico rígido Erikson considerava que cada criança tinha seu próprio ritmo cronológico e que seria equivocado especificar uma duração exata para cada estágio A crise básica que constitui o núcleo de cada estágio não existe só durante aquele estágio Cada crise é importante durante um estágio específico mas tem raízes em estágios prévios e consequências em estágios subseqüentes Confiança básica versus desconfiança básica O primeiro estágio do esquema eriksoniano corresponde ao estágio oral da teoria psicanalítica clássica e em geral transcorre durante o primeiro ano de vida Erikson criou o conceito de modalidade mais abrangente do que instinto para descrever a forma como o ego da criança se relaciona com o mundo Para Erikson nesse estágio a modalidade pela qual a criança integra as experiências é oralsensorialincorporativa A dimensão de interação social que emerge durante esse período é a confiança básica num extremo e a desconfiança no outro O grau em que a criança vem a confiar no mundo nas demais pessoas e em si própria depende em grande parte da qualidade dos cuidados que recebe A criança cujas necessidades são satisfeitas logo que aparecem cujos desconfortos são prontamente atendidos que é acariciada com quem se brinca e conversa desenvolve uma noção do mundo como sendo um lugar seguro de se estar e das pessoas como solicitas e confiáveis Quando porém os cuidados são irregulares insuficientes e marcados pela rejeição promovem a desconfiança básica uma atitude de medo e suspeita da criança quanto ao mundo em geral e às pessoas em particular Essa atitude permanecerá durante os estágios posteriores de desenvolvimento É preciso lembrar que o mundo do qual ela participa apresenta alguns perigos e riscos sendo essencial um certo grau de desconfiança para garantir a própria sobrevivência Por outro lado para que se inicie o processo de construção de um sentido de identidade é necessário que predomine a confiança A crise da confiança básica versus desconfiança básica não se resolve de uma vez e para sempre durante o primeiro ano de vida pois torna a reaparecer em cada uma das crises dos estágios posteriores A conquista de um estágio é posta em risco pela crise seguinte da mesma forma que aspectos não resolvidos também podem ser resolvidos posteriormente Por exemplo uma criança que entra na escola com um senso acentuado de desconfiança pode vir a confiar em determinado professor Com esta segunda oportunidade ela pode vir a superar a desconfiança inicial De outro lado uma criança que atravessa a infância com um senso de confiança ainda poderá ter sua desconfiança ativada em um estágio posterior da vida se por exemplo seus pais se divorciarem ou separarem em circunstâncias traumáticas e adversas Autonomia versus vergonha e dúvida O segundo estágio corresponde ao segundo e ao terceiro ano de vida período denominado estágio anal na teoria freudiana Embora reconhecesse a importância das funções de eliminação e de controle dos esfíncteres durante esse estágio Erikson entendi que nesse período o elemento principal é a modalidade a maneira pela qual o ego da criança organiza a experiência Uma vez superada a receptividade passiva do estágio anterior a criança se defronta com a questão mais abrangente de conterse ou soltarse Além de ser o modo de operação dos esfíncteres esse é também o modo de operação do ego Surge a autonomia desenvolvimento que se baseia nas novas habilidades motoras e mentais da criança Nesse estágio a criança não só pode andar mas também subir descer abrir e fechar cair empurrar puxar segurar e soltar A criança pequena orgulhase dessas novas realizações e quer fazer tudo sozinha seja tirar o papel de uma bala tirar a vitamina do vidro ou dar descarga na privada Se os pais reconhecem a necessidade de a criança fazer tudo aquilo de que é capaz por conta própria e quando quiser então ela desenvolve o senso de que pode controlar seus músculos seus impulsos a si própria e o que não é de pouca importância seu meio ambiente este é o senso da autonomia O conflito nuclear que caracteriza a segunda idade do homem é o confronto entre o senso de autonomia e o sentimento de vergonha e dúvida Quando aqueles que cuidam da criança se mostram impaci entes fazendo o que ela é capaz de fazer sozinha estarão reforçando seu senso de vergonha e dúvida É certo que todos os pais por vezes são ásperos com os filhos e que as crianças são resilientes o bastante para desculpar tais lapsos Somente quando os cuidados são seguidamente superprotetores e as reprimendas pelos acidentes sejam eles urinar sujar derramar ou quebrar coisas são ríspidas e irrefletidas é que a criança cria um exagerado senso de vergonha em relação a outras pessoas e um exagerado senso de dúvida em relação à sua capacidade de controlar o mundo e a si própria Se ela sai desse estágio com menos autonomia do que vergonha ou dúvida isso influenciará negativamente suas tentativas posteriores de conquistar autonomia na adolescência e na maturidade Aquela que ao contrário passa por essa fase com o senso de autonomia superando nitidamente os sentimentos de vergonha e dúvida estará bem preparada para ser autônoma Tanto o senso de autonomia como o sentimento de vergonha e dúvida estabelecidos durante este período podem ser alterados positiva ou negativamente por acontecimentos posteriores Iniciativa versus culpa Nesse terceiro estágio a criança em idade préescolar é praticamente dona do seu corpo e é capaz de andar de velocípede correr cortar e bater Pode pois iniciar atividades motoras de vários tipos por conta própria e não mais responder apenas às ações de outras crianças ou simplesmente imitálas A dependência dos pais continua a diminuir gradualmente sua capacidade verbal se torna mais refinada ampliandose também sua consciência do fato de que aumentam as diferenças entre sua própria autonomia e a dos outros Surge também uma curiosidade pelos próprios órgãos sexuais e um interesse maior do menino pela mãe e da menina pelo pai Mas para Erikson a questão principal deste estágio que corresponde ao estágio fálico da teoria freudiana vai além dessas preocupações O complexo de Édipo afirma ele é apenas uma conseqüência das muitas mudanças físicas que ocorrem A criança nessa fase é capaz de se introduzir no mundo muito mais vigorosamente seu ego funciona agora por meio de um modo intrusivo que domina grande parte do comportamento deste estágio caracterizando uma variedade de atividades e fantasias configurativamente semelhantes Estas incluem 1 a intrusão no espaço mediante a locomoção vigorosa 2 a intrusão no desconhecido mediante uma curiosidade insaciável 3 a intrusão no ouvido e mente de outras pessoas através da voz agressiva 4 a intrusão sobre ou no corpo dos outros através do ataque físico 5 e freqüentemente a mais assustadora a idéia do falo introduzindose no corpo feminino ERIKSON 1968 p 116 Estas atividades todas contribuem para a emergência de um senso de iniciativa A tradução das pulsações psicossexuais em modalidades do ego mais abrangentes criou um problema para Erikson os meninos têm um aparato genital potencialmente intrusivo ao passo que os genitais das meninas continuam receptivos Ele procurou adequar sua teoria a esta diferença As meninas sofrem freqüentemente uma importante mudança nesta fase porque mais cedo ou mais tarde elas observam que embora sua intrusividade locomotora mental e social seja tão vigorosa quanto a do menino permitindolhes tornaremse verdadeiros moleques faltalhes um item o pênis e por isso elas perdem algumas prerrogativas importantes na maioria das culturas e classes sociais Enquanto o menino tem esse órgão visível erétil e compreensível ao qual pode ligar sonhos de grandeza adulta o clitóris da menina só muito pobremente alimentará sonhos de igualdade sexual e ela não possui sequer mamas desenvolvidas como testemunho analogamente tangível do seu futuro ERIKSON 1968 p 117 É evidente nas afirmações acima o vínculo que Erikson manteve com a psicanálise ortodoxa ao definir dois tipos de iniciativa o masculino intrusivo e o feminino receptivo Nessa idade menino e menina se relacionam com o mundo de modo diferente O estágio ambulatório da atividade lúdica e da genitalidade infantil vem acrescentar ao repertório de modalidades sociais básicas em ambos os sexos a de produzir primeiro na acepção infantil de estar em fabricação Não há palavras simples nem fortes no inglês que correspondam às modalidades sociais básicas As palavras sugerem a alegria da competição a insistência nos objetivos o prazer da conquista No menino a ênfase permanece em produzir por um ataque frontal na menina podese converter em captar arrebantado agressivamente ou cativar tornandose ela própria atraente e meiga Assim a criança desenvolve os prérequisitos da iniciativa masculina ou feminina e sobretudo certas autoimagens sexuais que se tornarão os elementos essenciais dos aspectos positivos e negativos de sua identidade futura ERIKSON 1968 p 118 Se a criança vai sair desse estágio com o senso de iniciativa superando em muito um sentimento de culpa depende em grande parte de como seus pais respondem a essas atividades de iniciativa própria Crianças que têm muita liberdade e oportunidade de iniciar brincadeiras motoras como correr andar de bicicleta patinar escorregar disputar e lutar têm reforçado o seu senso da iniciativa E a iniciativa é reforçada sobremaneira quando os pais respondem às perguntas das crianças iniciativa intelectual e não se esquivam nem inibem a atividade imaginária ou a brincadeira De outro lado se os pais fazem a criança sentir que sua atividade motora é má que suas perguntas aborrecem e que suas brincadeiras são tolas e estúpidas neste caso fomentam um senso de culpa que ultrapassa as atividades da iniciativa própria em geral e que prevalecerá durante estágios posteriores da vida Produtividade diligência versus inferioridade O quarto estágio corresponde aos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental descrito na psicanálise clássica como estágio de latência que sucede à resolução parcial do conflito edipiano Erikson assinalava que esse estágio difere dos anteriores porque não se trata da passagem de uma agitação íntima para uma nova modalidade Para ele esse é um período apenas aparentemente latente Quando alcançam a idade escolar as crianças de todas as culturas recebem instrução sistemática embora esta não seja de forma alguma dada no tipo de escola existente entre os povos alfabetizados onde as pessoas são agrupadas em torno de professores que aprenderam como ensinar Nos povos préletrados muito é aprendido através dos adultos que se tornam professores mais por aclamação do que nomeação e muitas coisas também são aprendidas com as crianças mais velhas mas os conhecimentos adquiridos se relacionam com as aptidões básicas de tecnologia simples que podem ser entendidas no momento em que a criança está pronta para manejar os utensílios as ferramentas e as armas ou facsímiles destas usadas pelos adultos A criança ingressa na tecnologia de sua tribo muito gradualmente mas também muito diretamente ERIKSON 1968 p 122123 É também um período em que a criança se torna capaz de raciocínio lógico e de brincar e aprender por regras Somente nesse período por exemplo ela pode realmente jogar bolas de gude damas e outros jogos em que cada um tem sua vez e que exigem a obediência a regras Erikson afirmava que a dimensão psicossocial que emerge durante esse período tem num extremo o senso de produtividade e no outro o sentimento de inferioridade A palavra produtividade descreve esplendidamente um tema dominante nesse período do ensino fundamental no qual predomina o interesse pela maneira como as coisas são feitas como funcionam e para que servem Quando as crianças são estimuladas em seus esforços por fazer realizar ou construir coisas práticas seja construir cabanas no alto das árvores ou modelos de aviões ou cozinhar fazer doces ou costurar quando têm permissão para terminar seus produtos e são elogiadas e recompensadas pelos resultados então o senso de produtividade é promovido Quando ocorre o contrário ao desconsiderarem os esforços dos filhos no sentido de fazer e realizar os pais ou outros agentes do meio podem fomentar um sentimento de inferioridade na criança Nesse período o mundo da criança é mais amplo que o lar Outras instituições sociais além da família passam a desempenhar um papel importante na crise de desenvolvimento do indivíduo Neste sentido Erikson introduziu mais um avanço na teoria psicanalítica que até então se preocupava primordialmente com os efeitos do comportamento dos pais sobre o desenvolvimento da criança As experiências escolares da criança contribuem para o seu equilíbrio entre produtividade e inferioridade Por exemplo uma criança com dificuldades de adaptação à escola e com um desempenho deficiente nas tarefas propostas pode sofrer um abalo em sua autoestima mesmo quando o seu senso de produtividade é recompensado e estimulado em casa Conseqüentemente os constantes fracassos nos deveres escolares podem reforçar o seu senso de inferioridade De outro lado a criança que tenha tido o seu senso de produtividade desestimulado no lar poderá resgatálo na escola mediante a dedicação de um professor sensível e interessado Identidade versus confusão de papéis Segundo a teoria psicanalítica tradicional quando a criança passa à adolescência ocorre um redesppertar dos conflitos edipianos da primeira infância Sua maneira de resolver esse problema é procurar encontrar fora da família um parceiro romântico de sua própria geração Embora Erikson não rejeitasse esse aspecto da adolescência ele chamava a atenção para o fato de que há também outros problemas considerando a adolescência como um período crítico que influenciará sobremaneira a resolução das crises posteriores do ciclo vital O adolescente amadurece tanto mental como fisiologicamente e assim segundo Erikson a formação de identidade requer um processo de reflexão e observação simultâneas um processo que ocorre em todos os níveis de funcionamento mental e pelo qual o indivíduo se julga à luz daquilo que percebe ser a forma como os outros o julgam em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles Ao mesmo tempo ele julga o maneira como os outros o julgam de acordo com o modo como ele se vê em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele ERIKSON 1968 p 2223 Seu ego se torna mais capaz de sintetizar e integrar a experiência tão serão muito maiores suas possibilidades de alcançar um significativo senso de identidade do ego O oposto naturalmente vale para o jovem que entra na adolescência com muita desconfiança vergonha dúvida culpa e inferioridade Por conseguinte começa no berço a preparação para uma adolescência bemsucedida e a obtenção de um senso integrado de identidade psicossocial Quando seja devido a uma infância infeliz ou por circunstâncias sociais difíceis o jovem não consegue formar um senso de identidade pessoal apresenta uma certa confusão de papéis ou seja o senso de não saber quem é nem daquilo de que faz parte nem de com quem se está Essa confusão é um sintoma freqüente entre jovens delinqüentes Alguns jovens procuram uma identidade negativa uma identidade oposta à que lhes foi atribuída pela família e pelos amigos Possuir uma identidade como delinqüente como louco ou mesmo como toxicômano às vezes pode ser preferível a não ter qualquer identidade O insucesso no estabelecimento de um senso claro de identidade pessoal na adolescência não significa um fracasso perpétuo Como já foi enfatizado anteriormente a conquista feita em um estágio é colocada em risco no estágio seguinte Deste modo a pessoa que atinge um senso de identidade do ego na adolescência encontrará desafios e ameaças a essa identidade no decorrer do ciclo vital Erikson talvez mais que qualquer outro teórico da personalidade enfatizou que a vida é um processo constante de mudanças e que resolver problemas em qualquer estágio da vida não constitui garantia contra a ocorrência de novos problemas da mesma forma que questões pendentes num determinado estágio não se cristalizam necessariamente podendo ser solucionadas em estágios subseqüentes Intimidade versus isolamento O sexto estágio do ciclo vital é o início da maturidade aproximadamente o período de namoro e começo da vida familiar que se estende desde o final da adolescência até o começo da meiaidade Quanto a esse estágio bem como aos estágios subseqüentes a psicanálise clássica nada tem de novo nem de importante a dizer Erikson entretanto utilizou uma afirmação de Freud para fundamentar a concepção deste estágio Certa vez perguntaram a Freud o que ele considerava que uma pessoa normal deveria ser capaz de fazer bem Provavelmente o interlocutor esperava uma resposta complicada e profunda Mas ele disse simplesmente Lieben und arbeiten amar e trabalhar Vale a pena meditar sobre esta fórmula simples ela vai se tornando mais profunda à medida que pensamos a seu respeito Pois quando Freud disse amar ele se referia tanto à generosidade da intimidade como ao amor genital e quando disse amar e trabalhar ele considerava uma produtividade geral de trabalho que não preocupasse o indivíduo a ponto dele perder o seu direito ou capacidade de ser uma criatura sexual e amorosa ERIKSON 1968 p 136 A aquisição prévia de um senso de identidade pessoal e a dedicação a um trabalho produtivo que assinalam esse período dão origem a uma nova dimensão interpessoal de intimidade num extremo e de isolamento no outro Quando Erikson falava em intimidade queria dizer muito mais que a simples realização amorosa referiase à capacidade de envolverse de partilhar com outrem e cuidar de outrem sem temor de perderse no processo Segundo ele o incremento da identidade se baseia na fórmula Nós somos o que amamos ERIKSON 1968 p 138 O êxito na realização de um senso de intimidade depende apenas indiretamente dos pais no que eles tenham contribuído para o sucesso ou fracasso do indivíduo nos estágios iniciais da vida Também aqui tal como no caso da identidade as condições sociais podem ajudar ou prejudicar o estabelecimento do senso de intimidade Um indivíduo que a teme pode evitar o contato com as outras pessoas se escondendo atrás do seu trabalho Se não for criado um senso de intimidade com os amigos ou com parceiro conjugal o resultado no entender de Erikson é um senso de isolamento a incapacidade para arriscar a própria identidade compartilhando uma intimidade autêntica ERIKSON 1968 p 138 Generatividade versus estagnação ou autoabsorção A sétima crise normativa ocorre aproximadamente na meiaidade período em que para muitas pessoas os filhos se tornam adolescentes e elas já estão fixadas em seu trabalho ou profissão Ela traz consigo o potencial de uma nova dimensão com a generatividade de num extremo e a absorção em si mesmo ou estagnação no outro O que Erikson queria dizer com generatividade é que a pessoa começa a se interessar por outras fora de sua família imediata pelas gerações futuras e pela natureza da sociedade e do mundo em que elas viverão Antecipando o desaparecimento gradual de suas próprias vidas as pessoas sentem a necessidade de participar da continuação da vida Por conseguinte a generatividade não se restringe aos que são pais e pode se manifestar em qualquer indivíduo que se preocupe ativamente com o bemestar das próximas gerações e com a idéia de tornar o mundo um lugar melhor para elas viverem e trabalharem Aqueles indivíduos que não chegam a formar um senso de generatividade caem em um estado de estagnação inércia ou de absorção em si mesmos em que a preocupação está focalizada quase que exclusivamente sobre suas necessidades e comodidades pessoais Integridade versus desesperança O oitavo e último estágio no esquema eriksoniano corresponde de modo geral ao período em que os principais esforços do indivíduo aproximamse do fim e há tempo para a reflexão A partir dos resultados das crises anteriores ele precisa avaliar recapitular e aceitar sua vida para que possa enfrentar a chegada da morte A dimensão psicossocial que ganha destaque durante esta fase tem a integridade num extremo e a desesperança no outro O senso de integridade decorre da capacidade do indivíduo de apreciar em retrospecto toda a sua vida com alto grau de satisfação Na outra extremidade fica o indivíduo que revê a própria vida como uma série de oportunidades e direções perdidas No ocaso da vida defrontandose com a aproximação do fim biológico ele entende que é tarde demais para começar de novo e se desespera apegado às fantasias do que poderia ter sido Alguns anos após a morte de Erikson sua esposa e colaboradora Joan Erikson publicou em 1997 uma versão ampliada do livro The Life Cycle Completed de Erik Erikson 1982 Nesta obra ela acrescentou um nono estágio que se refere aos desafios enfrentados pelo indivíduo ao atravessar os oitenta e os noventa anos de idade Atividades 1 Imaginese voltando no tempo Como eram seus ancestrais há 75 ou 150 anos atrás Sua herança cultural afetao de alguma forma hoje em dia por exemplo no seu papel sexual trabalho aspirações educacionais Pense em pelo menos uma coisa que você faz e que é influenciada culturalmente 2 Imagine sua vida sendo representada num palco através das oito idades de Erikson O que se diria sobre seu valor sua aparência suas habilidades sua inteligência sua moral sua saúde sua sexualidade seu futuro Agora olhe seu presente e projete seu futuro Alunas Professora Cbcl A paciente Cleusa de 65 anos solteira chef de cozinha aposentada chega no consultório relatando que quando era um 1bebê seu pai não era carinhoso e não a acolhia da forma que um bebe precisa E a medida que ela ia crescendo seu 2pai era mais áspero em situações que qualquer criança passa como o desfralde que ela fazia as suas necessidades nas calças e ela era humilhada e desprezada por ele Quando seu pai não estava em casa sua mãe levava ela ao parque comprava brinquedos e roupas e brincava com ela 3estimulando a sua imaginação contando varias histórias A paciente relata que sua mãe era boa e sempre cuidou muito bem dela Os melhores momentos que ela tinha com sua mãe era na cozinha fazendo varias receitas de um caderninho de sua avó ela sempre gostava muito de cozinhar e sua mãe sempre a 4incentivava a criar receitas e comidas deliciosas Entretanto ela relata que a sua 5adolescência foi conturbada devido diversos problemas que enfrentou Sua relação com o pai piorava a cada dia e o seu desejo de ir embora aumentava cada vez mais tanto que ela fugiu de casa duas vezes com o seu namorado da época Ela diz que ele era mais velho que ela e que ela tinha um apego emocional muito grande dele acabando cometendo alguns delitos por sua influência como roubar algumas lojas beber sendo menor de idade e dirigir sem habilitação frequentando diversas festas Durante a sua vida adulta ela teve diversos 6relacionamentos e nunca duradouros ela sempre se sentia isolada e nunca conseguia se manter e ter uma boa convivência devido o seu foco intenso no trabalho que nenhum deles entendiam Ela se sentia muito insegura e que ela nunca era boa suficiente como mulher e ela nunca sentia que ia ser uma boa esposa ou mãe A sua única certeza foi que ela fez o seu trabalho muito bem feito e sempre se dedicou E por isso para ela o seu 7trabalho era a sua fuga e foi a única coisa que ela se dedicou se preocupando com o seu próprio bem estar financeiro estagnando em diversas áreas principalmente na questão de filhos que ela disse nunca sentir vontade ou nem mesmo parar para pensar sobre isso Agora aos 65 anos ao 8olhar para toda a sua vida se sentiu desesperançosa vendo que perdeu varias oportunidades e entendendo que é tarde demais para começar tudo de novo e caindo na fantasia de o que ela poderia ter feito diferente Por isso ela decidiu procurar a terapia para encontrar razão em tudo que ela fez Alunas Professora Cbcl A paciente Cleusa de 65 anos solteira chef de cozinha aposentada chega no consultório relatando que quando era um 1bebê seu pai não era carinhoso e não a acolhia da forma que um bebe precisa E a medida que ela ia crescendo seu 2pai era mais áspero em situações que qualquer criança passa como o desfralde que ela fazia as suas necessidades nas calças e ela era humilhada e desprezada por ele Quando seu pai não estava em casa sua mãe levava ela ao parque comprava brinquedos e roupas e brincava com ela 3estimulando a sua imaginação contando varias histórias A paciente relata que sua mãe era boa e sempre cuidou muito bem dela Os melhores momentos que ela tinha com sua mãe era na cozinha fazendo varias receitas de um caderninho de sua avó ela sempre gostava muito de cozinhar e sua mãe sempre a 4incentivava a criar receitas e comidas deliciosas Entretanto ela relata que a sua 5adolescência foi conturbada devido diversos problemas que enfrentou Sua relação com o pai piorava a cada dia e o seu desejo de ir embora aumentava cada vez mais tanto que ela fugiu de casa duas vezes com o seu namorado da época Ela diz que ele era mais velho que ela e que ela tinha um apego emocional muito grande dele acabando cometendo alguns delitos por sua influência como roubar algumas lojas beber sendo menor de idade e dirigir sem habilitação frequentando diversas festas Durante a sua vida adulta ela teve diversos 6relacionamentos e nunca duradouros ela sempre se sentia isolada e nunca conseguia se manter e ter uma boa convivência devido o seu foco intenso no trabalho que nenhum deles entendiam Ela se sentia muito insegura e que ela nunca era boa suficiente como mulher e ela nunca sentia que ia ser uma boa esposa ou mãe A sua única certeza foi que ela fez o seu trabalho muito bem feito e sempre se dedicou E por isso para ela o seu 7trabalho era a sua fuga e foi a única coisa que ela se dedicou se preocupando com o seu próprio bem estar financeiro estagnando em diversas áreas principalmente na questão de filhos que ela disse nunca sentir vontade ou nem mesmo parar para pensar sobre isso Agora aos 65 anos ao 8olhar para toda a sua vida se sentiu desesperançosa vendo que perdeu varias oportunidades e entendendo que é tarde demais para começar tudo de novo e caindo na fantasia de o que ela poderia ter feito diferente Por isso ela decidiu procurar a terapia para encontrar razão em tudo que ela fez ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DE ERIK ERICKSON Embora Erikson não considerasse o comportamento adulto como simples derivado de acontecimentos da infância ele encontrou significativos paralelos entre os jogos infantis e os planos de jogos dos adultos entre a repetitividade de alguns folguedos infantis e o ritualismo de formas políticas como a eleição e a posse de autoridades PEREIRA 2005 A paciente Cleusa de 65 anos relata uma história de vida marcada por experiências que podem ser relacionadas aos estágios de Eric Erickson na Teoria Psicossocial Desde a falta de acolhimento e carinho do pai na infância passando pela conturbada adolescência até a dificuldade de estabelecer relacionamentos duradouros na vida adulta é possível identificar elementos que remetem aos estágios de desenvolvimento propostos por Erickson A relação conturbada com o pai na infância pode ser associada ao estágio de Confiança versus Desconfiança no qual a criança desenvolve a confiança a partir das interações com os cuidadores EIZIRIK BASSOLS 2013 A falta de acolhimento e o tratamento áspero do pai podem ter impactado negativamente a construção da confiança e segurança emocional de Cleusa Já a adolescência conturbada marcada por fugas de casa e comportamentos de risco pode ser relacionada ao estágio de Identidade versus Difusão de Papéis Nesse período o indivíduo busca definir sua identidade e papel na sociedade e as experiências vividas por Cleusa podem refletir uma busca tumultuada por essa definição VIVEIROS JUNIOR 2007 A dificuldade em estabelecer relacionamentos duradouros na vida adulta e a intensa dedicação ao trabalho podem estar relacionadas ao estágio de Intimidade versus Isolamento A busca por relacionamentos significativos e a dificuldade em conciliálos com as demandas profissionais podem refletir o conflito desse estágio PEREIRA 2005 Ao refletir sobre sua vida aos 65 anos Cleusa demonstra sentimentos de desesperança e arrependimento o que pode ser associado à busca por integridade versus desespero Nesse estágio o indivíduo enfrenta o desafio de aceitar a própria vida e lidar com possíveis arrependimentos SILVA 2006 Dessa forma a história de vida de Cleusa pode ser compreendida com base nos estágios de desenvolvimento propostos por Erickson evidenciando a influência das experiências vividas em cada fase na construção da identidade e no enfrentamento dos desafios ao longo da vida adulta Conforme Pereira 2005 p 57 a expressão crise de identidade introduzida por Erik H Erikson há mais de meio século para explicar especialmente o período de tensão íntima da adolescência passou a ser parte aceita e conhecida do linguajar cotidiano A ênfase dada por ele aos problemas exclusivos dos adolescentes e dos adultos ajudou a retificar o destaque anterior unilateral da infância como sendo começo e fim do desenvolvimento da personalidade REFERÊNCIAS EIZIRIK Cláudio L BASSOLS Ana Margareth S O Ciclo da Vida Humana Uma Perspectiva Psicodinâmica Artmed 2013 PEREIRA Antônio Carlos Amador O adolescente em desenvolvimento São Paulo Harbra p 945 2005 SILVA Antônio Itamar da et al Envelhecimento resiliência e espiritualidade 2006 Disponível em httpsbdtducbbr8443jspuihandle1234567891229 VIVEIROS Ana Paula Soares JUNIOR Armando Rocha A orientação vocacional sua importância na definição profissional de estudantes adolescentes Revista EducaçãoUNGSer v 2 n 2 p 3946 2007 Disponível em httpsrevistasungbreducacaoarticleview114