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Cursos Gerais ·

Comportamento Organizacional

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Artigo recebido em 24072016 Aceito em 20052017 httpdxdoiorg105007217580772017v19n48p54 Esta obra está sob uma Licença Creative Commons AtribuiçãoUso 54 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 PRESENTEÍSMO CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DE UM MAL SUBTERRÂNEO Presenteeism causes and consequences of an underground evil Giovanna Garrido Mestre em Engenharia de Produção Universidade Federal de São Carlos UFSCar Bolsista CNPq do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Campinas SP Brasil Email giovannagarridoctigovbr Adriana Vazzoler Mendonça Especialista em Administração e Gestão da Qualidade Instituto Nacional de PósGraduação INPG Pesquisadora Bolsista CNPq do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Graduanda em Psicologia na Anhanguera Educacional Campinas SP Brasil Email adrianaitaliagmailcom Kelly Marques de Oliveira Lopes Mestre em Matemática Aplicada UNICAMP IMECC Pesquisadora Bolsista CNPq do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Doutoranda em Matemática Aplicada na Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Campinas SP Brasil Email kellyunespyahoocombr Marco Antonio Silveira Doutor em Engenharia Mecânica Processos de Fabricação Faculdade de Engenharia Mecânica Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Faculdade de Campo Limpo Paulista Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Administração Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Campinas SP Brasil Email marcosilveiractigovbr Resumo Este estudo visa construir um mapa sistêmico incluindo as principais variáveis que circundam o construto Presenteísmo denotando a forma como impactam na produtividade do trabalho e no desempenho das organizações Classificado como pesquisa bibliográfica de cunho psicológico e sociológico o estudo sustentouse em referenciais teóricos disponíveis em periódicos julgados pertinentes à pesquisa Considerando sua ocorrência na interface entre fatores pessoais e organizacionais constatouse que o comportamento presenteísta pode ser determinado por uma propensão individual voluntária ou pela própria irracionalidade da organização A abordagem sistêmica do presenteísmo mostrouse útil pelo fato de que através dela tornase possível a compreensão das relações causais e das influências recíprocas direta ou inversamente proporcionais entre as variáveis de interesse oferecendo subsídios para decisões e servindo de orientação para as estratégias de amenização deste fenômeno que ameaça a sustentabilidade organizacional Palavraschave Presenteísmo Nãotrabalho no trabalho Desempenho Produtividade Abstract This research aims to build a systemic map including the main variables that surround the relation between both phenomena denoting the way as they impact on job productivity and on organizational performance It has been classified as a bibliographic research in the psychological and sociological fields considering journals which are related to the subject Considering its occurrence on the interface between personal and organizational factors it was found that the presenteeism can be determined by a voluntary individual propensity or by the organizational irrationality The graphic approach of the phenomenon was judged pertinent for allowing a comprehensive understanding of the relationship among variables of interest resulting in guidelines for organizations to take action to reduce and prevent this underground and silent phenomenon which has been a threat for organizational sustainability Keywords Presenteeism Nonwork at work Performance Productivity 55 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo 1 INTRODUÇÃO O presenteísmo tem sido objeto de discussões nos ambientes organizacionais e acadêmicos por impactar negativamente o desempenho das organizações Po rém esses debates limitamse a vieses analíticos que o relacionam apenas com aspectos da saúde do tra balhador alegando ser consequência da inadequação entre a capacidade do indivíduo ao trabalho em termos físicos e mentais e a exigência da tarefa Contudo considerase o presenteísmo como um comportamento que ultrapassa essa esfera Fun damentandose em uma perspectiva que o desvenda na apropriação desequilibrada do tempo no trabalho com nãotrabalho este estudo analisa o presenteísmo como algo não relacionado à doença mas como algo crônico que só se manifesta na empresa Nesse contexto considerando sua ocorrência na interface entre fatores pessoais e organizacionais o objetivo é construir um mapa sistêmico incluindo as principais variáveis que o circundam denotando a forma como impactam na produtividade do trabalho e no desempenho das organizações Tal metodologia foi julgada pertinente pelo fato de que através dela tornase possível a compreensão das relações causais e das influências recíprocas direta ou inversamente proporcionais entre as variáveis de inte resse oferecendo subsídios para decisões e servindo de orientação para as estratégias de amenização desse fe nômeno que ameaça a sustentabilidade organizacional Para este fim o artigo estruturase da seguinte forma inicialmente demonstrase o método como foi conduzido depois apresentase o referencial teórico subdividido em cinco tópicos principais Pri meiramente apresentase o conceito Em seguida fundamentase a questão do nãotrabalho no trabalho como viés analítico do comportamento presenteísta ressaltando a influência de fatores organizacionais e pessoais O terceiro tópico traz a discussão central do artigo organizando sistemicamente as relações esta belecidas entre os principais fatores que circundam o presenteísmo No quarto tópico com vistas a sua utilização como conhecimento aplicado buscase traduzir a lógica sistêmica em algumas estratégias de amenização deste fenômeno No quinto tópico fazse alusão ao modelo da Organização Mundial da Saúde OMS visando comparálo ao que é proposto neste estudo em alguns aspectos Por fim apresentamse as conclusões alcançadas no estudo 2 METODOLOGIA O estudo foi qualitativo visando abordar o objeto da pesquisa em suas relações sistêmicas Assumindose como base os quesitos de Gil 2002 o estudo se classifica como exploratório e des critivo Exploratório pois além de se delimitar a um teor analítico que o difere do contingente de publica ções acerca do construto presenteísmo e ter um intuito de trabalho diferenciado específico à construção do mapa sistêmico a proposta do artigo foi direcionada ao aprimoramento de ideais e à descoberta de intuições concernentes ao comportamento com vistas a tornálo mais explícito Descritivo pois intui a identificação e a representação das relações entre as variáveis que nor teiam o fenômeno com a pretensão de constituir uma nova visão do problema e suas implicações no âmbito organizacional Para tanto o estudo foi bibliográfico de cunho psicológico e sociológico sustentado em referenciais teóricos disponíveis em periódicos julgados pertinentes ao conteúdo e caráter da pesquisa Assim investigaramse os fundamentos norte adores do comportamento presenteísta no contexto organizacional com o intuito de construir um mapa sistêmico incluindo as principais variáveis que o cir cundam denotando a causalidade entre elas e a forma como impactam na produtividade do trabalho e no desempenho das organizações 3 REFERENCIAL TEÓRICO 31 Presenteísmo uma delimitação do conceito No que tange à área do comportamento organi zacional os esforços pela diminuição dos problemas associados ao capital humano tornamse priorida de Atenção considerável tem sido direcionada ao absenteísmo e ao presenteísmo Em virtude de seus impactos para o desempenho econômico e operacio nal das organizações para os trabalhadores e para a sociedade frequentes têm sido os estudos das causas e decorrências concernentes a eles 56 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira Apesar de se consistir em um fenômeno cujas manifestações vão além daquilo que é percebido e mensurável constatase que o presenteísmo se porta como um mal ainda mais pernicioso que o absenteís mo Mesmo de forma silenciosa o comportamento pre senteísta tem sido considerado um fator de alto custo e forte impacto na produtividade uma condição negativa ao resultado econômico das organizações DABATE EDDY 2007 UMANN GUIDO GRAZZIANO 2012 Vale dizer que diferentemente da consistência das considerações de seus impactos na produtividade observase que os debates acerca do fenômeno se limitam a vieses analíticos que o relacionam apenas com aspectos da saúde do trabalhador Grande parte dos estudos sobre o presenteísmo enviesa a perda de produtividade como algo estritamente relacionado à doença alegando ser consequência da inadequação entre a capacidade do indivíduo ao trabalho em termos físicos e mentais e a exigência da tarefa BÖCKERMAN LAUKKANEN 2009 2010 COLLINS CARTWRIGHT 2012 TALOYAN et al 2012 UMANN GUIDO GRA ZZIANO 2012 UMANN GUIDO SILVA 2014 Assim com o intuito de estender o construto para além desta esfera assumese a conceituação estabe lecida por DAbate e Eddy 2007 que combinando a ideia do indivíduo presente e do absenteísmo definem o presenteísmo como o estar presente no trabalho mas ausente em mente ou comportamento de forma que a produtividade seja afetada Tal escolha se deve à capacidade do enunciado de sintetizar o teor analítico pretendido neste estudo o presenteísmo como algo que não tem relações com doença mas como algo crônico que só se manifesta na empresa A desconsideração das relações entre o presen teísmo e a saúde do trabalhador direciona a interpre tação deste comportamento para um viés analítico que desvenda a ação presenteísta na apropriação desequilibrada do tempo no trabalho com assuntos pessoais fazendo menção à questão do nãotrabalho no trabalho Afinal atividades não relacionadas ao trabalho e o desvio no trabalho já se estabelecem como sinônimos do presenteísmo EDDY DABATE THURSTON JR 2010 32 Nãotrabalho no trabalho uma apropriação silenciosa do tempo Sabese que os indivíduos gerenciam uma gama de papéis relacionados ao trabalho e ao nãotrabalho Sua atenção é dividida para o atendimento de três tipos de demanda trabalho família e lazer A questão é que tais demandas não se portam como entidades de geren ciamento individualizadas Delimitadas por fronteiras permeáveis muitas das vezes elas se sobrepõem umas às outras Assim mesmo que fisicamente engajado no gerenciamento das demandas de um papel o indiví duo não é focado e não opera somente para esse fim É natural que em mente ou comportamento ele trans ponha as fronteiras que o separam dos demais papéis DABATE 2005 EDDY DABATE THURSTON JR 2010 VIJAYAKUMAR 2015 Esta convergência entre as demandas da vida pessoal e do trabalho foi propiciada pelo próprio desenvolvimento tecnológico É fato que quando se trata de uma sobreposição e não de uma competição entre as demandas tal ocorrência não seja maléfica Afinal o equilíbrio entre os vários domínios da vida é importante e possível de ser alcançado DABATE 2005 IVARSSOM LARSSOM 2012 VIJAYAKUMAR 2015 O problema reside quando o indivíduo nota um desequilíbrio em seus papéis São frequentes os casos em que por interferências internas ou externas um domínio passa a exercer supremacia e requerer atenção e recursos a ponto de criar conflito perante os demais VIJAYAKUMAR 2015 A consequência disso é o desbalanceamento do esforço emocional e da energia requeridos no atendimento das demandas presentes refletindo no rendimento individual DABATE 2005 É a incorporação dos três domínios da vida que sustenta o debate sobre o comportamento presente ísta alinhando a sua ocorrência ao envolvimento do trabalhador em assuntos não relacionados ao trabalho no trabalho de modo que se tenha uma apropriação desequilibrada do tempo do esforço da inclinação e da energia despendida no atendimento às demandas do trabalho Daí seu impacto na produtividade DABATE EDDY 2007 321 Apropriação do tempo no trabalho influência de fatores organizacionais e pessoais Vale dizer que a apropriação do tempo no trabalho não provém apenas de fatores pessoais 57 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo muitas vezes fatores organizacionais induzem essa postura Seja por questões estruturais organizacionais e institucionais PAULSEN 2015 pelo ambiente organizacional suscetível à postura EDDY DABATE THURSTON JR 2010 PAGE 2015 ou mesmo por razões mais implícitas como uma forma de lidar com o estresse PAGE 2015 a busca pelo prazer e pelo equilíbrio almejado DABATE 2005 DABATE EDDY 2007 EDDY DABATE THURSTON JR 2010 PAGE 2015 por insatisfação por tédio DABATE 2005 PAGE 2015 SAARVALA 2006 VIJAYAKUMAR 2015 pela tendência a procrastinação DABATE EDDY 2007 e pela própria falta de sentido naquilo que é feito DABATE 2005 PAGE 2015 o traba lhador passa a estar presente no trabalho mas ausente em mente em comportamento em capacidade para realizar as suas tarefas de forma produtiva e eficaz Isto é como um meio de reduzir sua própria frustração e descontentamento e de satisfazer suas necessidades e vícios psicológicos ele apropria silenciosamente seu tempo em outras coisas simulando disfarçando e sabotando a sua própria produtividade FERREIRA ESTEVES 2016 PAULSEN 2015 Isso faz da postura presenteísta um dos principais problemas organizacionais relacionados ao capital humano Porém é importante notar que ela é consequ ência da própria noção organizacional que desvaloriza o capital humano É notória a persistência de sistemas organizacionais que absorvem a personalidade e colonizam a subjetividade não permitindo nenhuma manifestação de resistência Isso acaba fazendo com que os indivíduos adotem formas mais sutis de resis tência PAGE 2015 PAULSEN 2011 como uma espécie de decaf resistance assumindo posturas que a simbolizam mas não testemunham os limites que gera e a violência que a envolve sendo apenas submersas no silêncio CONTU 2008 Além disso a ação presenteísta de apropriar o tempo de trabalho em nãotrabalho e ter a produti vidade prejudicada não se define apenas como uma ação de resistência Muitas vezes o indivíduo pode ser forçado à postura pelo próprio desperdício organizado pela cultura presenteísta que permeia a organização tendo em vista as explosões de descontentamento entre os trabalhadores que levam ao tédio e à alienação PAGE 2015 PAULSEN 2011 2015 322 O presenteísmo na interface entre o significado e a carga do trabalho Ao delimitar uma tipologia representativa da apropriação do tempo no trabalho combinando fatores relacionados à inclinação do indivíduo ao trabalho e fatores relacionados às exigências da tarefa Paulsen 2015 subsidia o debate acerca da influência de fatores organizacionais e pessoais no presenteísmo A interpretação dessa obra permite inferir que combinando eixos representativos da subjetividade do trabalhador e da objetividade do trabalho delimitam se contextos em que o comportamento presenteísta é resultante de fatores pessoais e contextos em que a própria irracionalidade da organização do trabalho o determina denotando o caráter involuntário deste comportamento Isto é quando a opacidade na defini ção de cargos e tarefas em termos de suas exigências e da capacidade de seus executores propicia a conduta presenteísta PAULSEN 2011 2015 Vale enfatizar que referindose à inclinação individual ao trabalho Paulsen 2015 afirma que o seu teor não provém da gestão mas do significado do trabalho Ou seja esta inclinação é um fenômeno endógeno que depende da forma como o indivíduo enxerga o trabalho que executa Assim alinhando o debate estabelecido neste estudo aos ideais de Paulsen 2015 estruturase a análise do presenteísmo via nãotrabalho no trabalho de acordo com o representado na Figura 1 com o fenômeno interfaceando o significado e a carga do trabalho Figura 1 O estudo do presenteísmo em dois eixos Fonte Elaboração dos autores Observase que o comportamento presenteísta pode ser manifesto segundo níveis variáveis de atuação 58 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira de fatores pessoais e organizacionais Cada quadrante desta tipologia estabelece contextos e razões diferentes para a manifestação deste fenômeno nas organizações Porém conforme é debatido na literatura EDDY DABATE THURSTON JR 2012 FRITZ et al 2013 FRITZ LAM SPREITZER 2011 PAGE 2015 PAUL SEN 2011 2015 entre outros são fortes as ligações entre o comportamento presenteísta e o significado que o indivíduo atribui ao trabalho tornandoo mais agudo quanto menor for este significado como ocorre nos quadrantes C e D da Figura 1 Assim sendo este estudo considera que são estes contextos que mais evocam o sentido de ausência mental e comportamental do conceito de presenteís mo que defende e por isso os tem como foco Afinal não havendo significado do trabalho os índices de motivação e atenção são mínimos e maiores são as necessidades do indivíduo de se engajar em outras atividades que lhe façam mais sentido Consequen temente são nestes contextos que os impactos do presenteísmo são mais marcantes e a produtividade mais aguçadamente simulada Parafraseando Paulsen 2015 o Quadrante C contextualiza a postura presenteísta como involuntária induzida pelas próprias características do trabalho Não vendo significado naquilo que desempenha o fato de exercer uma função cujo nível de estresse não lhe man tém ativo é tratado com indiferença Assim o indivíduo se mantém em uma postura inerte e sem a intenção de mudar apropria seu tempo em nãotrabalho Ou seja na interface destes fatores a postura presenteísta se manifesta por apatia e desinteresse Por sua vez o Quadrante D contextualiza o pre senteísmo como um ato voluntário e manifesto como uma ação de resistência Sem um relacionamento ético ou identitário com o trabalho este comportamento se porta como uma racionalização de um trabalho sem sentido em que o indivíduo usa desequilibradamente seu tempo para estender o período de realização de suas tarefas Isso mostra que a organização se apresenta como uma arena política permeada por barganhas onde o trabalho tem a opção de silenciar a sabotagem De qualquer modo as motivações para essas apropriações indevidas do tempo no trabalho são diversas Ora elas aparecem como um meio de indig nação pessoal ora política quando implícita à empresa e explícita entre os trabalhadores como uma forma de provocar mudanças ou mesmo como resultado de algo já introjetado na cultura da empresa Muitas vezes pela forma como o trabalho é organizado a simulação tornase tão integrada à tarefa que agir de maneira diferente é como um suicídio organizacional induzindo o resigno passivo como um ajuste ao próprio desperdício PAULSEN 2011 Corroborando a explanação do presenteísmo na interface entre o significado e a carga do trabalho Paulsen 2011 também pontua que a própria resigna ção individual em alegar necessidade de tempo livre motiva a postura Sabese que os indivíduos não se mantêm ativos e engajados em suas atividades todo o expediente Embora eles difiram entre si pela forma como criam fronteiras entre o trabalho e o nãotrabalho a própria necessidade de sustentação de energias induz micropa radas para alívio de fadiga e desconforto físico Aliás existem alguns estudos que afirmam que microparadas durante o trabalho são vistas como positivas Alegase que o distanciamento mental e psicológico do traba lho através do envolvimento com outros assuntos é uma forma de manter ou repor recursos psicológicos considerados limitados porém importantes para o desempenho FRITZ et al 2013 FRITZ LAM SPREIT ZER 2011 Desse modo enfatizase que a relação benéfica entre distanciamento mental e psicológico e desempe nho no trabalho depende do nível em que ela ocorre Isto é níveis muito altos ou baixos de distanciamento são prejudiciais para o desempenho Assim é neces sária moderação no envolvimento em nãotrabalho no trabalho o suficiente para a recuperação de energias FRITZ et al 2013 VIJAYAKUMAR 2015 Neste ponto destacase novamente o papel do significado do trabalho nesta tendência presenteísta de apropriação de tempo no trabalho Quanto maior o sig nificado que o indivíduo atribui ao seu trabalho menor é a sua necessidade de se desapegar dele para reposi ção de energias FRITZ et al 2013 VITAYAKUMAR 2015 Considerando o estado afetivo do indivíduo como um recurso para o trabalho sendo identificado com o que faz não é o fato de se distanciar mental ou psicologicamente que garantirá seu bem estar e satisfação O trabalho em si já é uma fonte de prazer TROUGAKOS HIDEG 2009 59 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo Cruciais para a pretensão deste estudo são os pareceres de Fritz Lam e Spreitzer 2011 e Trougakos e Hideg 2009 de que é a natureza e o conteúdo do distanciamento mental e psicológico do trabalho que determinam o teor da recuperação de energias e o desempenho individual Isto é microparadas no traba lho só são positivas dependendo do tipo de atividades realizadas no momento FRITZ et al 2013 Assim constatase que envolverse em nãotrabalho como um meio de recuperação de recursos psicológicos não passa de uma falácia Nãotrabalho no trabalho não é associado à manutenção ou reposição de energias Tratase portanto de uma estratégia popular e frequente que acaba subsidiando e induzindo o caráter crônico do comportamento presenteísta Seja por apatia ou como uma manifestação de resistência a opção por se envolver em nãotrabalho no trabalho não retribui ao indivíduo os efeitos desejados sejam em méritos de reposição de energias ou mesmo de um estado afetivo positivo Assim sendo este comporta mento tornase um mal crônico que atenuando o ca pital humano silenciosamente impacta o desempenho organizacional em todos seus aspectos 33 A postura presenteísta causas e efeitos sistemicamente representados Visando uma representação gráfica do presente ísmo na Figura 2 é demonstrado um mapa sistêmico que organiza os principais fatores que o circundam denotando a causalidade estabelecida entre eles e seus efeitos na produtividade do trabalho e no desempenho das organizações Figura 2 Mapa sistêmico Fonte Criação dos autores Observase que a Figura é composta por um mapa principal representado por blocos e flechas espessos que consolida os seis principais fatores relacionados com a variável Presenteísmo a saber Qualidade de Vida Cooperação Atenção Qualidade Produtividade e Aprendizagem Agregados a ele temse quatro submapas que também devem ser considerados na interpretação e gestão do fenômeno Numerados de 1 a 4 e representados por blocos e flechas tênues eles constituem o segundo plano do mapa sistêmico e atuam em perspectiva garantindo a sustentação dos fatores principais na relação com o presenteísmo O fundamento de tal representação assim como de todos os mapas sistêmicos tem como base hipóte ses intuições e o próprio conhecimento especializado acerca das relações recíprocas estabelecidas entre os fatores Vale a explicação de que as relações expostas são diretamente proporcionais quando representadas com o sinal e inversamente proporcionais quando representadas com o sinal Assim o mapa representa uma sumarização das questões discutidas a respeito do comportamento presenteísta a partir de sua acepção de nãotrabalho no trabalho Concernentes a sua posição no mapa principal observase que o comportamento tem como antecedentes principais a Qualidade de Vida e a Cooperação A relação inversamente proporcional entre Presenteísmo e Qualidade de Vida explicita que a apropriação desequilibrada do tempo no trabalho se deve à presença de elementos estressores e a outros indicadores físicos e psicológicos de bem estar VI JAYAKUMAR 2015 Notase que esta relação é sustentada por subfa tores organizacionais Submapa 1 provenientes da própria Cultura Organizacional Muitas vezes como consequência do contexto em que se insere a orga nização acaba propiciando condições para o com portamento presenteísta Inclusive a maneira como a gestão se estabelece é correlata à manifestação do comportamento É por este motivo que se pontua o papel da Gestão Educadora e sua influência direta sobre o comportamento e suas consequências Modelos de gestão que prezam o relacionamento com o traba lhador além de influentes na constituição do Clima Organizacional tendem a reduzir a exaustão emocional FERREIRA et al 2015 e a propensão individual ao envolvimento em nãotrabalho no trabalho 60 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira A Cooperação também consiste em um fator inversamente relacionado ao Presenteísmo Pela sua influência no estresse e na consequente alteração de humor e desmotivação a falta de atitudes cooperativas se estabelece como razão do comportamento presente ísta SAARVALA 2006 A qualidade do relacionamen to e da cooperação no trabalho atua na reposição dos recursos psicológicos e quanto mais energizado física e psicologicamente menor é a propensão individual em ausentarse do trabalho em mente ou comportamento e apropriar o tempo em nãotrabalho FRITZ LAM SPREITZER 2011 Notase que a relação entre Cooperação e Pre senteísmo é biunívoca Assim a apropriação do tempo no trabalho com nãotrabalho também impacta nas atitudes cooperativas e no relacionamento interpes soal Mesmo que presente o distanciamento mental e comportamental e a falta de foco no trabalho impos sibilitam o gerenciamento das demandas e atitudes concernentes a ele Já os efeitos do Presenteísmo no Resultado Orga nizacional são delimitados pelo seu impacto no índice de Atenção individual fator diretamente relacionado com a Produtividade Qualidade e Aprendizagem Isto é pelos lapsos de atenção o presenteísmo limita o desempenho em quantidade pela diminuição do rendimento físico e mental em qualidade pela possi bilidade de erros no desenvolvimento das atividades laborais UMANN GUIDO GRAZZIANO 2012 e em méritos de capacitação visto que estando engajado em nãotrabalho menor é o tempo despendido pelo in divíduo no desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades Como visto a falta de atenção é o que dificulta o desempenho eficiente e eficaz no trabalho DABATE e EDDY 2007 Corroborando o foco deste estudo o índice de Atenção é subsidiado pelo Significado do Trabalho de maneira diretamente proporcional Submapa 2 Isso comprova que a delimitação do impacto do comporta mento presenteísta na eficiência e eficácia do trabalho e consequentemente no Resultado Organizacional é atrelado ao quanto ele é significativo àquele que o executa A referência à Aprendizagem como uma limitação do presenteísmo devese também a sua influência na Motivação um fator essencial que subsidia a conside ração do aprendizado como estratégia de melhoria do desempenho Tratandose de um estado psicológico do qual provêm os motivos e a determinação para cada ação humana a Motivação engloba o interesse e o comprometimento afetivo com o trabalho e com o aprendizado GODOI FREITAS CARVALHO 2011 KIKUCHI SALES TARRAGÔ 2013 Inclusive é válido ressaltar que esta relação é ga rantida quando se considera o Significado do Trabalho e a própria essência humana como fatores influentes Afinal a associação entre a subjetividade do indiví duo com a ação que pratica só é permitida por meio da análise da relação entre o trabalho e a vida deste indivíduo DEJOURS 2004 É diante desta influência que ocorre o desenca deamento de reações que subsidiam a relação entre a Aprendizagem e Motivação Submapa 3 Objetivamen te sabese que considerando o trabalho como fonte de significação e elemento de identificação pessoal o fato de enriquecêlo cognitivamente soa para o indivíduo como uma ação de Reconhecimento Identitário Isto é o aprendizado atua como um elemento que reforça seu conceito e reconhece sua essência humana MORETTI e TREICHEL 2003 SILVEIRA MAIA FIORAVANTI 2012 Pela satisfação das necessidades concernentes a sua natureza e da saciedade de suas demandas intrín secas pelo desenvolvimento de competências o fato de estar inserido em um processo de aprendizagem floresce o reconhecimento que o indivíduo tem de sua imagem e de si mesmo influenciando sua Autoestima Autorrealização e Prazer com aquilo que faz GODOI FREITAS CARVALHO 2011 Posto que o enriquecimento cognitivo e a atribui ção de mais sentido naquilo que faz remetem a uma valorização daquilo que o indivíduo realmente é suas próprias funções cognitivas o direcionam a um estado de Representação Valorizante um estado de satisfação pelo favorecimento de suas necessidades humanas Vale dizer que de forma consequente a este estado emocional as próprias atitudes que cuidam da apren dizagem são conjugadas e a subjetividade do indivíduo o permite investir no aperfeiçoamento de suas com petências performáticas Assim o desenvolvimento das potencialidades humanas é aprimorado redundando em maior compromisso e produtividade FONSECA 2014 TÉLLEZ 2012 Considerase que uma vez que a Aprendizagem floresce a Representação Valorizante do indivíduo e as 61 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo emoções humanas permitem que as ações inerentes ao processo sejam conjugadas a subjetividade do indivíduo é enriquecida e ele acaba sendo conduzido a um estado de motivação intrínseca FONSECA 2014 uma manifestação do processo de aprendiza gem na subjetividade humana que atua na propensão individual em tirar vantagens da oportunidade para aplicação dos conhecimentos adquiridos WEISSBEIN et al 2011 Observase que assim como as variáveis Reco nhecimento Identitário e Representação Valorizante a Motivação também se posiciona como um fator que alimenta a aprendizagem e o desenvolvimento cog nitivo levando em consideração o estado emocional do indivíduo e a afetividade requerida por esse estado KIKUCHI SALES TARRAGÔ 2013 Sendo assim o intuito da representação destes efeitos é relatar a forma como a limitação mental ou comportamental à Aprendizagem impacta no processo motivacional fortalecendo ainda mais o comporta mento presenteísta e prejudicando o desempenho no trabalho Afinal sendo a Motivação um processo psicológico responsável pelo teor de esforço para o alcance dos resultados KIKUCHI SALES TARRAGÔ 2013 postulase que quanto menor a motivação de um indivíduo maior sua propensão ao Presenteísmo Influente na Motivação também é a carga de tra balho representada pela variável Estresse Submapa 4 Uma carga de trabalho que faz com que o trabalhador opere em um nível de estresse superior ou inferior ao seu nível ótimo além de impactar nos níveis de Atenção tende a gerar desmotivação e irritabilidade SAARVALA 2006 propiciando condições para a apropriação do tempo no trabalho com nãotrabalho Em suma comprovase a opinião de Böckerman e Laukkanen 2010 de que o presenteísmo tem como determinantes tanto as características do trabalhador como do trabalho Isto é sob influência de fatores pessoais e organizacionais temse um comportamento que subterraneamente ameaça a Sustentabilidade Organizacional Sabendose que o conceito se resume na combinação entre Qualidade de Vida e Resultado Or ganizacional SILVEIRA e BECARO 2014 corrompida esta combinação silenciosos e cruéis são seus efeitos no âmbito organizacional 34 Amenizando o inevitável alternativas para ação da gestão Sabendo que ignorar as conexões entre o trabalho e o nãotrabalho incorre em custos e perdas na produ tividade cabe à organização reconhecêlas e atuar na interface que as delimitam DABATE 2005 Assim fazse necessário explorar algumas estratégias de atuação da gestão para amenizar os efeitos deste mal que silen ciosamente impacta o desempenho das organizações Na atual realidade econômica existem diversas alternativas de atuação FRITZ LAM SPREITZER 2011 No entanto o que prevalece são pontos de vista que priorizam a adoção de políticas de intervenção para deter e eliminar a ocorrência deste comportamen to EDDY DABATE THURSTON JR 2010 Isto é alternativas de ação que consideram apenas os fatores organizacionais que o impactam Tais medidas além do alto custo são de difícil adaptação a cada caso Assim tratandose de um fenômeno relacionado ao capital humano são requeridas maneiras mais informais de atuação DABATE 2005 ou um deli neamento estratégico que também considere os fatores intrínsecos impactantes neste tipo de comportamento FRITZ LAM SPREITZER 2011 A justificativa para este parecer está na própria defesa da proximidade entre a postura presenteísta e o significado que o indivíduo atribui ao trabalho es tabelecida no tópico 322 Sabese que o significado do trabalho não é determinado apenas por fatores extrínsecos concernentes ao contexto organizacional mas por fatores intrínsecos que os qualificam Desse modo uma vez que a apropriação do tempo em assuntos pessoais é inevitável e o ato de trabalhar não necessariamente inclua o trabalho DABATE e EDDY 2007 PAULSEN 2015 toda e qualquer ação organizacional não deve se limitar à objetividade ou à subjetividade subjacentes Para que o tempo e a atenção dedicados a essas atividades sejam os menores possíveis a organização deve atuar simultaneamente nos dois âmbitos Referirse à adoção de estratégias simultâneas é remeterse à tipologia exposta na Figura 1 e enfatizar que a propensão ao envolvimento em nãotrabalho no trabalho pode ser amenizada por meio de medidas que abranjam tanto a questão do significado como da carga do trabalho 62 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira Sustentando esse ponto de vista ressaltase o parecer de Eddy DAbate e Thurston Jr 2010 de que atuar estrategicamente na reversão desse fenômeno é tornar o trabalho mais significativo e atentarse às características das tarefas de acordo com as caracterís ticas dos trabalhadores de modo que não estimulem o indivíduo à sabotagem aos lapsos de atenção ou a qualquer outro tipo de comportamento não produtivo Ciente da dificuldade de atuação direta nos fa tores intrínsecos dos trabalhadores no que tangem às questões acerca do significado do trabalho destacase a adoção de medidas estratégicas para ampliação do repertório cognitivo e aprendizagem oportunizando mudanças nas crenças e valores individuais e permi tindo novas escolhas e novos comportamentos Já em relação à objetividade do trabalho aqui representadas por fatores relacionados à carga do trabalho destacase o papel das metas e métricas bem definidas e a criação de indicadores de produti vidade com vistas a manter os trabalhadores em sua produtividade ótima reduzindo as oportunidades de engajamento em nãotrabalho no trabalho Conforme abordado anteriormente existe uma predominância no pensamento organizacional em rela ção às atuações objetivas Porém sem que haja sentido naquilo que é exercido no trabalho metas e métricas envolvem o indivíduo nas demandas do trabalho mas não necessariamente o direcionam ao sentimento de prazer naquilo que faz O cumprimento de suas obri gações o conduz a um estado intermediário de satis fação visto que o indivíduo sabe que suas ações não deixaram de ser atos simulados e não representaram o seu potencial Essa não satisfação pode levar ao tédio induzindo o caráter crônico da postura presenteísta Assim com a adoção de estratégias simultâneas nos dois eixos da tipologia as demandas do trabalho tornamse primordiais para o indivíduo e ele mais enga jado desfruta do prazer daquilo que faz Havendo prazer menores são as chances de nãotrabalho no trabalho Tendo em vista a consonância do que propõem à abordagem defendida neste estudo é válido referenciar mais uma vez Fritz Lam e Spreitzer 2011 Alinhando se à consideração de que a postura presenteísta pode ser decorrente da resignação individual em alegar necessidade de tempo livre para reposição de recur sos psicológicos reforçamse três fatores abordados que se portam como pilares de ação estratégica para amenização deste comportamento Aprendizagem Relacionamento e Significado do Trabalho A consideração da aprendizagem como elemen to estratégico explicase pelo fato de que a própria noção de crescimento e desenvolvimento propicia o florescimento dos recursos psicológicos necessários ao trabalho o que faz com que o indivíduo não se veja diante da necessidade de distanciamento mental e psicológico para reposição de suas energias Além disso cada vez que seu estado mental o permite investir no aperfeiçoamento de suas competências performáticas e ser mais orientado ao aprendizado o indivíduo tornase aberto para o novo e os sinais de apatia e resistência tornamse cada vez mais amenos e menos influentes no comportamento que assumem FRITZ LAM SPREITZER 2011 Vale também enfatizar que sendo um processo que exige ação e reflexão contínuas para se auferir resultados ao mesmo tempo em que aprimora as com petências individuais o aprendizado tem potencial de enriquecer as práticas organizacionais fazendo dele um elemento de transformação tanto no âmbito dos fatores pessoais como no âmbito dos fatores organizacionais Da mesma forma os relacionamentos positi vos também são responsáveis pela energização do indivíduo tanto física quanto psicologicamente visto que é inerente à essência humana o demandar por qualidades pessoais e relacionais SANTANNA MO RAES KILIMNIK 2005 Considerase que a falta de relacionamentos absorve os recursos psicológicos afetando a qualidade do relacionamento interpessoal e a cooperação no trabalho Consequentemente o indivíduo fica propenso à apropriação desequilibrada do seu tempo com nãotrabalho Neste pilar estraté gico Fritz Lam e Spreitzer 2011 enfatizam que o relacionamento que mais garante vigor no trabalho e ameniza o nãotrabalho no trabalho é o relaciona mento com a gestão Ciente de que a propensão ao comportamento presenteísta é mais aguda quando o trabalho não é visto como significativo atentarse às questões envoltas ao significado do trabalho também consiste em uma ação estratégica para amenizar este mal Conforme abordado quanto mais o indivíduo percebe que suas tarefas e metas são significantes menor é a sua pro pensão e necessidade de se envolver com nãotrabalho FRITZ LAM SPREITZER 2011 63 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo Observase que centrada nesses três aspectos a proposta de Fritz Lam e Spreitzer 2011 justifica a delimitação do estudo do presenteísmo aos dois contextos em que o estar presente no trabalho mas ausente em mente ou comportamento relacionase à falta de sentido naquilo que é desempenhado Figura 1 Tendo em mente tal tipologia esses fatores se mos tram como alternativas válidas dentre as estratégias a serem tomadas para amenizar o fenômeno Com base na Figura 2 alinhandose a esses as pectos a organização estará atuando diretamente nos principais fundamentos do mapa Objetivamente o aprender faz o indivíduo mais motivado ao seu traba lho e consequentemente menos propenso à postura presenteísta O relacionamento além de propiciar a cooperação entre os trabalhadores e quando estrei tado com a gestão promover melhorias na qualidade de vida no trabalho consiste em um fator essencial ao próprio aprendizado Por sua vez um trabalho significativo eleva o nível de atenção individual e a propensão ao processo de aprendizado remetendo a todos os efeitos já discutidos Como se nota a sua importância reforça a dos outros dois fatores Assim unindo a essencialidade dos três pilares estratégicos de Fritz Lam e Spreitzer 2011 destacase o papel da gestão educadora Sabese que na coorde nação do capital intelectual o gestor educador é aquele que sem comprometer a sua capacidade de gerenciar é o responsável em relacionarse com o trabalhador e identificar as competências a serem desenvolvidas considerando a sua função e o seu perfil de forma que a aprendizagem seja não homogênea mas dotada de sentido SILVEIRA MAIA FIORAVANTI 2012 Tratandose de um estilo gerencial que age es trategicamente na interface entre a Aprendizagem Relacionamento e Significado do Trabalho podese dizer que o aprimoramento da gestão neste aspecto também se alinha às alternativas para o combate do presenteísmo por nãotrabalho no trabalho A ame nização deste comportamento requer que a gestão conheça as tendências individuais FRITZ et al 2013 É conhecendo os trabalhadores que a organização se torna capaz de gerenciálos e de delinear as barreiras entre o trabalho e a vida pessoal EDDY DABATE THURSTON JR 2010 Utilizandose uma estratégia de aproximação individualizada tornase possível desvendar o senti mento subjacente ao trabalho executado Conhecer cada trabalhador individualmente é o fundamento para que a gestão educadora possa descobrir aquilo que compõe sua identidade que sentido ele remete às suas atividades como ele se sente no trabalho e quais são as suas necessidades e aspirações Ciente de que o indivíduo é movido à satisfação de suas necessidades SAARVALA 2006 o entendi mento gerenciamento e acompanhando do trabalha dor de suas demandas e de seus possíveis conflitos de interesse subsidiam medidas efetivas na atuação sobre o desequilíbrio na apropriação do tempo no trabalho DABATE e EDDY 2007 Relacionandose com o trabalhador a gestão educadora tem meios para fazer com que cresça em suas funções o significado psicológico adotando medidas de estímulo cognitivo que acabam fazendo com que ele sinta sua identidade reconhecida e suas necessidades satisfeitas Pelo fato de cada sujeito apresentar uma propen são individualizada em cada um dos fatores indutores da atitude presenteísta a precisão na atuação da organização sobre o presenteísmo está na capacidade de reconhecer padrões de comportamento e suas alte rações possibilitando abordar cada situação conforme suas especificidades e características dos manifestantes Inclusive é por meio do relacionamento que se torna possível o gerenciamento do estresse de cada trabalhador Ou seja é relacionandose com o traba lhador que a gestão detém meios de prover estímulos ao trabalho favorecendo acesso a um nível ótimo de estresse que o mantém motivado energizado e enga jado em suas atividades SAARVALA 2006 Remetendo à aprendizagem é o relacionamento que permite a preparação do indivíduo para o apren dizado e para a transferência do conhecimento após o processo WEISSBEIN et al 2011 É conhecendo o trabalhador e relacionandose com ele que a gestão educadora consegue identificar quais os tipos de com petências que lhe dão prazer e quais não dão prazer a esse indivíduo Muitos gestores falham em desenvolver competências considerando apenas os resultados em curto prazo não sabendo que tais conhecimentos habilidades ou atitudes podem não sustentar o prazer do indivíduo no longo prazo TANURE 2008 fazen do da ação organizacional sobre o comportamento presenteísta algo temporário e efêmero 64 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira Em suma a postura presenteísta manifestada de forma voluntária ou involuntária é amenizada quando há harmonia entre as metas organizacionais e as necessidades dos indivíduos A harmonização dos interesses é uma forma em que a organização coope rativamente gerencia as responsabilidades e demandas da vida pessoal e consequentemente a propensão ao transbordamento desses fatores no diaadia do trabalho DABATE EDDY 2007 SAARVALA 2006 Estratégias desse tipo podem não ser palatáveis para as organizações alegandose a impossibilidade de intervir nos fatores intrínsecos Porém nenhuma norma ou procedimento é requerido A atuação em melhorias no ambiente e no relacionamento entre a gestão e os trabalhadores mostrase mais efetiva do que qualquer política contra o comportamento presenteísta EDDY DABATE THURSTON JR 2010 35 Alusão ao modelo da Organização Mundial da Saúde Os esforços pelo entendimento dos problemas associados ao capital humano têm sido objeto de aten ção de diferentes áreas do conhecimento Associando a sua ocorrência a fatores psicossociais tornase comum atribuílos à baixa qualidade de vida segurança e saúde no trabalho Visando o tratamento desses aspectos a Organiza ção Mundial da Saúde OMS adota o modelo Psycho logical Risk Management Excellence Framework PRIMAEF Figura 3 que elege o estresse como a principal variável da qualidade de vida no trabalho e o presenteísmo como um dos seus resultados na con cepção de estar presente no trabalho mesmo estando adoecido ou com algum sofrimento PRIMAEF 2011 Figura 3 Modelo OMSPRIMAEF RPS Riscos Psicossociais Fonte PRIMAEF 2011 p 25 Visando comparar alguns aspectos deste modelo ao que é proposto neste estudo observase que a OMS PRIMAEF como um representante do contingente de pesquisas que atrela o presenteísmo aos aspectos da saúde do trabalhador apresenta um cenário genérico de influências e posiciona o estresse como epicentro que origina o comportamento e seus respectivos impactos Já o modelo proposto apresentando uma visão minuciosa das causas e efeitos do presenteísmo posi ciona o estresse como uma das variáveis impactantes deste comportamento e explicita outras também influentes Aliás a própria relação entre o estresse e o presenteísmo se dá por meio de uma concepção diferente Embora também considere as características individuais pelo desvínculo do estudo aos aspectos da saúde atrelouse o estresse à carga de trabalho No comparativo entre a carga de trabalho e a capacida de produtiva do trabalhador trabalhar com nível de estresse abaixo ou acima do necessário para a mobi lização das potencialidades é prejudicial e favorece o nãotrabalho no trabalho Tendo como base a abordagem do presenteísmo na interface entre fatores pessoais e organizacionais Fi gura 1 os pontos de ações preventivas estabelecidos pela OMS são consonantes aos ideais deste estudo diferindose contudo nas estratégias adotadas Assim constatase que a dissonância entre o modelo da OMS e o proposto reside em três fatores a etiologia do presenteísmo a consequente generalização da influência do estresse e as estratégias adotadas para amenização do comportamento 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste artigo foi construir um mapa sistêmico incluindo as principais variáveis que circun dam o construto Presenteísmo denotando a forma como impactam na produtividade do trabalho e no desempenho das organizações Para tanto realizou se um estudo bibliográfico de caráter exploratório e descritivo visando fundamentar tal construção Com a realização do estudo é possível afirmar que as análises predominantes acerca do presenteísmo limitamse a relacionálo apenas aos aspectos da saúde do trabalhador Assim sua relevância reside no caráter diferenciado da reflexão que promove analisandoo 65 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo como algo não relacionado à doença mas como algo crônico que só se manifesta na empresa Nesse contexto estruturouse a análise do pre senteísmo a partir de sua acepção de nãotrabalho no trabalho relacionando a sua manifestação ao uso desequilibrado do tempo no trabalho com aquilo que não é relacionado ao trabalho daí seu impacto na produtividade Assim considerando sua ocorrência na interface entre fatores pessoais e organizacionais constatouse que o comportamento presenteísta pode ser determinado por uma propensão individual volun tária ou pela própria irracionalidade da organização A solidez deste debate foi garantida ancorandoo a dois eixos representativos da subjetividade do traba lhador e da objetividade do trabalho o significado do trabalho e a carga do trabalho O estudo considerou que o presenteísmo ocorre segundo níveis variáveis de atuação destes fatores Contudo ressaltase que esse comportamento se torna mais agudo quanto menor for o significado que o indivíduo atribui ao trabalho contexto que mais evoca o sentido de ausência mental e comportamental do conceito de presenteísmo que defende Em suma a metodologia sistêmica empregada foi pertinente pelo fato de permitir a compreensão das relações causais e das influências recíprocas direta ou inversamente proporcionais entre as variáveis de in teresse oferecendo subsídios para decisões e servindo de orientação para as estratégias de amenização deste mal que ameaça a sustentabilidade organizacional Há de se considerar que este artigo pode ser sub sídio para novos estudos O mapa sistêmico com suas variáveis direta ou inversamente relacionadas sugere sistemas de medição para essas grandezas no contexto organizacional onde a produção realmente ocorre Além disso diante de tantas variáveis subordinadas à subjetividade humana sugerese sua exploração por meio de lógicas matemáticas como a Lógica Fuzzy propiciando diferentes combinações entre as variáveis elencadas Ainda a abordagem ao presenteísmo limitouse à questão do nãotrabalho no trabalho em especial a sua manifestação por razões circundas aos contextos C e D da Figura 1 Deste modo uma recomendação válida seria a realização de um estudo comparativo tendo como base os quadrantes A e B Além disso centrandose nesse enfoque não fo ram consideradas outras possíveis abordagens capazes de também contribuir com novos lampejos acerca do comportamento abrindose portanto possibilidades de novas reflexões sobre o construto AGRADECIMENTOS Ao Grupo de Apoio à Inovação e Aprendizagem do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer GAIACTI REFERÊNCIAS BÖCKERMAN P LAUKKANEN E Predictors of sickness absence and presenteeism does the pattern differ by a respondents health Journal of Occupational and Environmental Medicine v52 n3 p 332335 2010 What makes you work while you are sick Evidence from a survey of workers European Journal of Public Health v20 n1 p 4346 2009 COLLINS A CARTWRIGHT S Why come into work ill Individual and organizational factor underlying presenteeism Employee Relation v34 n4 p429442 2012 CONTU A Decaf resistance on misbehavior cynicism and desire in liberal workplaces Management Communication Quarterly v21 n3 p 364379 2008 DABATE C P Working hard or hardly working a study of individuals engaging in personal business on the job Human Relations v58 n8 p 10091032 2005 DABATE C P EDDY E R Engaging in personal business on the job extending the presenteeism construct Human Resource Development Quarterly v18 n3 p 361383 2007 DEJOURS C Subjetividade trabalho ação Revista Produção v14 n3 p 2734 2004 EDDY E R DABATE C P THURSTON JR PW Explaining engagement in personal activities on company time Personnel Review v39 n5 p 639354 2010 66 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Giovanna Garrido Adriana Vazzoler Mendonça Kelly Marques de Oliveira Lopes Marco Antonio Silveira FERREIRA A I et al LMX as a negative predictor of presenteeism climate a crosscultural study in the financial and health sectors Journal of Organizational Effectiveness People and Performance v2 n3 p 282302 2015 FERREIRA A I ESTEVES J D Perceptions of time at work Personnel Review v45 n1 p 2950 2016 FONSECA V da Papel das funções cognitivas conativas e executivas na aprendizagem uma abordagem neuro psicopedagógica Revista Psicopedagogia v31 n36 p 236253 2014 FRITZ C et al Embracing work breaks recovering from work stress Organizational Dynamics v42 p 274280 2013 FRITZ C LAM C F SPREITZER G M Its the little things that matter an examination of knowledge workers energy management The Academy of Management Perspectives v25 n3 p 2839 2011 GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed São Paulo Atlas 2002 GODOI C K FREITAS S M F de CARVALHO T B Motivação na aprendizagem organizacional construindo as categorias afetiva cognitiva e social Revista de Administração Mackenzie v12 n2 p 3054 2011 IVARSSON L LARSSOM P Personal activities on company time to make everyday life work In BERGMAN A HUZELL B Segregationens seghet och dess föränderliga former Karlstad Sweden Universitetstryckeriet 2012 p 127137 KIKUCHI L S SALES E A TARRAGÔ R M Enriquecimento cognitivo para desenvolvimento da inovação e do potencial humano In SILVEIRA M A et al Inovação para desenvolvimento de organizações sustentáveis Campinas SP CTI Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer p 3143 2013 MORETTI S TREICHEL A Qualidade de vida no trabalho x autorealização humana Revista Leonardo pósÓrgão de Divulgação Científica e Cultural do ICPG Blumenau v1 n3 p 7380 2003 PAGE D Teachers personal web use at work Behavior Information Technology v34 n5 p 443453 2015 PAULSEN R Layers of dissent the meaning of time appropriation Outlines Critical Practice Studies v13 n1 p 5381 2011 Nonwork at work resistance or what Organization v22 n3 p 351367 2015 PRIMAEF Orientações do modelo europeu para a gestão de riscos psicossociais um recurso para empregadores e representantes dos trabalhadores Tradução do Serviço Social da Indústria Departamento Nacional Brasília SESI 2011 63 p SAARVALA E Presenteeism the latest attack on economic and human productivity Human Resources Management 2006 SANTANNA A de S MORAES L R F de KILIMNIK Z M Competências individuais modernidade organizacional e satisfação no trabalho um estudo de diagnóstico comparativo RAE Eletrônica v4 n1 2005 Disponível em httpbitly2zJLMul Acesso em 24 out 2017 SILVEIRA M A BECARO T C Competitividade com qualidade de vida estratégias e práticas baseadas na valorização do fator humano nas organizações In SILVEIRA M A BECARO T C Orgs Competitividade com qualidade de vida o capital humano como fator de produção Campinas SP CTI Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer p 2137 2014 SILVEIRA M A MAIA L FIORAVANTI M Aprendizagem organizacional para a sustentabilidade integração ao trabalho e valorização do fator humano In SILVEIRA M A Gestão da sustentabilidade organizacional inovação aprendizagem e capital humano Campinas SP CTI Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer p 163180 2012 TALOYAN M et al Sickness presenteeism predicts suboptimal selfrated health and sickness absence a nationally representative study of the Swedish working population PLOS ONE v7 n9 2012 Disponível em httpbitly1QO6kBh Acesso em 02 mai 2016 67 Revista de Ciências da Administração v 19 n 48 p 5467 agosto 2017 Presenteísmo causas e consequências de um mal subterrâneo TANURE B Sofrimento transitivo GVexecutivo v7 n6 p 6267 2008 TÉLLEZ J A V Implicaciones de la teoría motivacional de la autodeterminación en el ámbito laboral Revista Electrónica Nova Scientia v5 n9 p 154175 2012 Disponível em httpbitly1Oa5wvW Acesso em 17 dez 2015 TROUGAKOS J P HIDEG I Momentary work recovery the role of withinday work breaks Current perspectives on jobstress recovery research in occupational stress and well being v7 p 3784 2009 UMANN J GUIDO L de A GRAZZIANO E da S Presenteísmo em enfermeiros hospitalares Rev Latino Am Enfermagem Ribeirão Preto v20 n1 p 159166 2012 UMANN J GUIDO L de A SILVA R M da Estresse coping e presenteísmo em enfermeiros que assistem pacientes críticos e potencialmente críticos Rev Esc Enferm USP São Paulo v48 n5 p 891898 2014 Disponível em httpbitly1rejXVz Acesso em 02 mai 2016 VIJAYAKUMAR P B Worklife balance identity salience and break taking behaviors in Indian expatriates 2015 83p Dissertação Master of Science Psychology The University of Tennessee at Chattanooga Chattanooga Tennessee 2015 WEISSBEIN D A et al Influencing learning states to enhance trainee motivation and improve training transfer Journal of Business and Psychology v26 p 423435 2011