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Economia ·

História Econômica

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HISTÓRIA MODERNA Caroline Silveira Bauer A construção dos ideais do liberalismo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto você deve apresentar os seguintes aprendizados Relacionar a construção do liberalismo com a queda dos poderes absolutistas Diferenciar o sistema liberalista do sistema mercantilista Identificar os principais pensadores da estrutura liberalista moderna Introdução O liberalismo surgiu como um conjunto de ideias que propunha uma alternativa aos modelos econômicos predominantes na Europa Ocidental durante a Idade Moderna na esteira das transformações das mentalidades daquele período e posteriormente configurouse como uma teoria do pensamento econômico com diferentes matizes e adequações a novas realidades culturais e históricas Neste capítulo você vai compreender a conjuntura de surgimento dos ideais liberais principalmente sua relação com o declínio do poder absolutista do monarca Além disso vai conhecer as diferenças existentes entre as teorias liberais e mercantilistas em relação às práticas econômicas e por fim aprenderá sobre os principais pensadores do liberalismo du rante a Idade Moderna também conhecido como liberalismo clássico 1 O surgimento do liberalismo As origens do liberalismo remetem ao século XVII e XVIII mais especifi ca mente à oposição ao Absolutismo e sua política econômica o mercantilismo sendo a França e a Inglaterra os dois focos de irradiação desses ideais que posteriormente disseminaramse pela Europa Ocidental e pela América Tratase do conjunto de ideias proveniente da burguesia ascendente que se tornou muito poderosa economicamente mas não possuía poder político nem espaços para defesa de seus interesses junto às políticas econômicas e sociais dos Estados absolutistas De acordo com Bobbio Matteucci e Pasquino 1998 p 699 a própria lógica do Estado absolutista criou as condições para seu enfraquecimento com o surgimento do liberalismo tal Estado na prática instaura uma rígida separação entre política ou área pública e moral área particular eliminando a moral da realidade política e confinando os indivíduos tornados meros súditos na área particular Porém no interior de todo Estado absoluto criase um espaço particular interno que a burguesia uma vez tomada consciência da própria moralidade ocupa progressivamente até tornálo público embora não político imediatamente as ações políticas começam a ser julgadas pelo tribunal da moral Este tribunal da sociedade clubes salões bolsa cafés academias jornais chamase opinião pública e age em nome da razão e da crítica Enquanto na Inglaterra se dá uma verdadeira coordenação entre moral opinião pública e política Governo na França com o iluminismo o contraste é radicalizado preparando desta forma a crise revolucionária A burguesia liberal iria se firmando pois no século XVIII mediante o monopólio do poder moral e do poder econômico em relação ao qual o Estado absoluto enquanto Estado exclusivamente político tinha ficado neutro Sua transformação e sua destruição tiveram origem na opinião pública e no mercado Nesse sentido os principais rivais da burguesia eram a monarquia e os nobres aristocratas suas práticas econômicas e sociais e seus valores as dinâmicas do capitalismo se chocavam frontalmente com as estruturas do Antigo Regime De acordo com Bobbio Matteucci e Pasquino 1998 p 695 as origens do liberalismo coincidem assim com a própria formação da civilização moderna europeia que se constitui na vitória do imanentismo sobre o transcendentalismo a liberdade sobre a revelação da razão sobre a autoridade da ciência sobre o mito De maneira geral podemos afirmar que os principais ideais e valores dessa classe em ascensão que se contrapunha aos valores dominantes na época eram a defesa da liberdade individual a predileção por regimes políticos com a separação entre os poderes o direito e proteção à propriedade privada a concorrência e a livre iniciativa como práticas para o desenvolvimento do capitalismo A construção dos ideais do liberalismo 2 Do ponto de vista histórico a situação era de emergência dos ideais e valores liberais no âmbito da Revolução Gloriosa da Revolução Industrial da Revolução Francesa e seu apogeu nas revoluções liberais do século XIX ou seja no período de transformações ocorridas na Europa Ocidental do final do século XVII a meados do século XIX De que forma o desenvolvimento dos ideais liberais se relacionam com a Revolução Industrial Conforme Bruc 2006 apud SILVA 2018 p 33 com a Revolução Industrial a manufatura o comércio e as invenções cresceram significativa mente A Inglaterra ganhou supremacia tanto no comércio quanto na indústria Por causa dessa supremacia o país se beneficiou com o livre comércio internacional Os empresários ingleses não precisavam mais dos antigos subsídios do governo privilégios de monopólios e prote ção tarifária Com a Revolução Industrial também surgiram a força de trabalho livre e a divisão do trabalho isto é cada trabalhador se especializavam em determinada atividade Foi também nessa época que leis de delimitação de terras por uso de cercas cercas vivas e paredes foram aprovadas o que colocou as terras em um regime de propriedade privada Assim os camponeses se transformaram em trabalhadores assalariados dos donos das terras Os artesãos que perderam espaço para as fábricas também se tornaram trabalhadores assalariados A taxa de natalidade em alta e a taxa de mortalidade em queda aumentavam a população e consequentemente a força de trabalho Esses eventos se relacionam com as mudanças nas mentalidades ocorridas desde o Renascimento e a revolução científica culminando com o Iluminismo Ou seja a economia o comércio e as relações internacionais assim como outras esferas da realidade passaram a ser concebidos a partir de leis universais que foram formuladas pelos pensadores liberais do período Somada às transfor mações ocorridas na ciência é importante destacar as mudanças no âmbito da religião a partir das reformas religiosas que fizeram com que os juros e o lucro deixassem de ser vistos como pecado bem como abandonassem a compreensão de que as pessoas nasciam e morriam com o mesmo status social As pessoas deviam ser livres para seguir a lei natural e o interesse próprio sem restrições do governo ou de quem quer que fosse BRUC 2006 apud SILVA 2018 p 34 3 A construção dos ideais do liberalismo Bobbio Matteucci e Pasquino 1998 p 696 resumem desta forma o sur gimento do liberalismo Encontramos na história da Europa moderna uma série de fenômenos cul turais e sociais que quebram a ordem que sustentava o mundo medieval e desarticulam a sociedade Temos a Reforma Protestante e o surgimento de uma pluralidade de Igrejas e temos também a afirmação de um mercado aberto onde novos grupos sociais começam a emergir a tomar consciência de si e a entrar em confrontos O nascimento do Liberalismo se dá justamente no momento em que se percebe que esta diversidade não é um mal e sim um bem Percebese ainda a necessidade de encontrar soluções institucionais que possibilitem a esta sociedade diferente sua expressão Entre a Revolução Gloriosa 1689 e a Revolução Francesa 1789 o li beralismo ficou conhecido como sistema inglês uma forma de governo cujo regime político era uma monarquia constitucional em que poder do rei era limitado por um parlamento e em que havia liberdade civil e religiosa Melquior 1991 p 16 afirma que na Inglaterra embora o acesso ao poder fosse controlado por uma oligarquia fora refreado o poder arbitrário e havia mais liberdade geral do que me qualquer outra parte da Europa Dessa forma podemos afirmar que o pensamento liberal surge como forma de atender os interesses econômicos políticos e sociais de uma determinada classe a burguesia que se opõe à organização econômica política e social das monarquias absolutistas principalmente na França e na Inglaterra 2 Diferenças entre o liberalismo e o mercantilismo Chamamos de mercantilismo o conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa Ocidental durante a Idade Moderna desde a metade do século XV DEYON 1992 As características dessas práticas variaram muito entre os países europeus mas tinham como um núcleo comum a intervenção estatal na economia em função do objetivo de unifi car o mercado interno facilitar as práticas comerciais e fortalecer os incipientes Estados Nacionais Assim houve um incentivo às manufaturas à instituição de tarifas alfandegárias como forma de proteger a economia ao desenvolvimento do colonialismo e à criação de monopólios Lembremos que o termo mercantilismo foi formulado pelos seus adversários do século XVII os fi siocratas e os liberais para assinalar as características às quais se opunham Essa é a mesma interpretação de Mattos A construção dos ideais do liberalismo 4 2007 p 110 que afi rma que é quase impossível caracterizar o que seria o sistema de liberdade natural de Adam Smith sem fazer referência ao que ele denomina sistema comercial ou mercantil uma vez que o primeiro aparece praticamente como uma antítese do segundo A política mercantil segundo essas teorias entendia a riqueza e o desen volvimento como dependentes de um Estado que deveria unificar a tributação controlar a atividade produtiva e estabelecer um sistema alfandegário para proteger os produtores do seu país O Estado deveria manter uma balança comercial favorável ou seja exportar mais do que importar devido à neces sidade de manutenção dessa balança favorável associada ao metalismo os governos mercantilistas foram levados a argumentar em favor da autossufi ciência interna e da prática do monopólio ainda que em inúmeras ocasiões esse monopólio não tenha sido respeitado porque para os comerciantes era muito mais interessante comerciar com o maior número de clientes possíveis Assim podemos afirmar que para além de nomenclaturas como mer cantilismo a economia da Europa Ocidental durante a Idade Moderna foi marcada por práticas como o metalismo quantidade de metais preciosos por ele acumulado convertido ou não em moedas e títulos a balança comercial favorável regulação das exportações e importações e o protecionismo estatal intervenção do Estado na economia Falcon 1991 p 17 nos auxilia a compreender a conjuntura histórica do mercantilismo lembrando que ele se identifica com aquelas ideias e práticas econômicas que durante três séculos estiveram sempre ligadas ao processo de transição do feudalismo ao capitalismo e mais particularmente aos problemas dos Estados modernos absolutistas e à expansão comercial e colonial europeia iniciada com grandes navegações e descobrimentos dos séculos XVXVI Indo um pouco mais longe podemos ver no mercantilismo o conceito que tenta dar conta da profunda conexão da quase impossível dissociação entre o político e o econômico a qual constitui uma das principais características da época situada entre o final da Idade Média e o início da Revolução Industrial As primeiras críticas aos princípios mercantilistas da economia foram elaboradas pelos chamados fisiocratas principalmente por François Quesnay no século XVIII Influenciados pelas mudanças de mentalidades advindas da revolução científica acreditavam que a economia assim como a natureza tinha leis universais que precisavam ser compreendidas e defendiam que a terra era a única fonte de riqueza de uma nação 5 A construção dos ideais do liberalismo Antes de passarmos aos liberais devemos lembrar da importância que o papel do indivíduo adquire na Modernidade De acordo com Amadeo 2015 p 2 este parece ter sido o principal tema da história do pensamento político moderno a história da definição do indivíduo como proprietário e possuidor de direitos Um dos elementos centrais para entender as origens do liberalismo isto é a relação entre liberdade autoridade e propriedade está relacionado com as importantes mudanças ocorridas no século XVII nos modos de apropriação e exploração da propriedade Os pensadores liberais clássicos refutariam as práticas mercantilistas e as doutrinas fisiocratas principalmente no que diz respeito à riqueza dos países diferentemente dos primeiros que estabeleciam que a riqueza era proveniente do comércio e da posse de metais preciosos e dos segundos que afirmavam que somente a agricultura produziria riquezas os liberais defendiam que a riqueza das nações era proveniente do resultado dos valores de troca nos mercados De acordo com Merquior 1991 p 3536 o liberalismo clássico pode ser caracterizado como um corpo de formulações teóricas que defendem um Estado constitucional ou seja uma autoridade nacional central com poderes bem definidos e limitados e um bom grau de controle pelos governados e uma ampla margem de liberdade civil Mas em que contexto emergem essas ideias Vimos que o pensamento liberal refuta os pressupostos econômicos do mercantilismo e do fisiocracismo mas por quais transformações econômicas passava a sociedade da Europa Ocidental nesse período O historiador Falcon 1991 p 47 nos auxilia a encontrar uma resposta estendendose de 1700 ou 1720 até 1810 ou 1815 temos a conjuntura do século XVIII a qual vista como um todo assinala uma reversão quase geral das tendências típicas da crise do século anterior Assistese a um rápido aumento da produção agrícola e manufatureira multiplicase o comércio interno e externo retomase em parte pelo menos o afluxo de metais preciosos rumo à Europa tendendo então os preços a se elevarem tal como os salários embora não ne cessariamente na mesma proporção que aqueles Há também uma retomada se é que se pode chamála assim da expansão demográfica sobretudo a partir de 1740 de um extremo a outro da Europa aumentando também consideravelmente o volume do movimento migratório das áreas rurais para as urbanas sobretudo na Europa Ocidental e das regiões europeias para as colônias americanas A grande novidade é a afirmação do caráter capitalista nas transformações que então têm lugar com a Inglaterra ocupando aí o primeiro posto enquanto se agrava sobretudo nas regiões ocidentais do continente europeu a crise das estruturas senhoriais ou feudais possibilitando tentativas reformistas adap tações que revelam a ascensão de uma nova sociedade capitalista e burguesa A construção dos ideais do liberalismo 6 De forma bastante esquemática veja no Quadro 1 as diferenças entre o liberalismo e o mercantilismo Fonte Adaptado de Bruc 2006 apud SILVA 2018 Liberalismo Mercantilismo Estado mínimo e descentralização Fortalecimento do Estado e centralização política Reconhece outras fontes de riqueza que não os metais preciosos e a terra A fonte da riqueza de uma nação provém da posse de metais preciosos Defende o livre comércio Defende a proteção tarifária e os monopólios Quadro 1 Diferenças entre o liberalismo e o mercantilismo Assim como consequências do desenvolvimento do pensamento liberal podemos citar as revoluções burguesas ocorridas na Inglaterra e na França o processo de independência dos Estados Unidos a Revolução Industrial e as revoluções liberais europeias do século XIX a disseminação da defesa da liberdade individual do direito inalienável à propriedade da livre iniciativa e da livre concorrência o debate sobre a democracia e a concepção de Estado com separação e independência entre os poderes executivo judiciário e legislativo Podemos afirmar portanto que o crescimento econômico o enrique cimento da burguesia e o aumento de seu poder político esbarravam nas políticas econômicas praticadas no Antigo Regime as práticas mercantilis tas principalmente o intervencionismo e os monopólios a perpetuação de privilégios para o alto clero e a nobreza bem como as técnicas defasadas de cultivo no campo Esses fatores dificultavam a formação de um mercado nacional e internacional mais robusto assim como geravam entraves para a industrialização e o livre mercado Assim o liberalismo surgiu como uma concepção de economia e de sociedade que criticará os entraves ao 7 A construção dos ideais do liberalismo desenvolvimento do capitalismo propondo reflexões filosóficas e teóricas que de acordo com seus teóricos impulsionariam o progresso econômico dos Estados Modernos 3 Os pensadores do liberalismo Os principais pensadores do chamado liberalismo clássico foram Adam Smith David Ricardo e Thomas Malthus mas houve muitos outros pensa dores com importantes contribuições para o desenvolvimento dessa teoria econômica Seus pensamentos se basearam nos valores da liberdade e do individualismo opondose às políticas econômicas mercantis e à forma de gestão do Estado absolutista Não é à toa que as refl exões sobre o liberalismo surgem na Inglaterra Para Amadeo 2015 p 4 a percepção dos homens do século XVII era uma percepção de indivíduos com uma mentalidade em fase de transição para concepções políticas moder nas para os quais autoridade e magistratura ainda eram parte de uma ordem natural o ponto de partida do pensamento político mais radical foi o colapso de fato da autoridade política na Inglaterra entre 1642 e 1649 Vamos conhecer um pouco mais sobre suas trajetórias e suas obras a seguir Adam Smith Adam Smith 17231790 é considerado por muitos como o fundador da eco nomia moderna e o mais importante teórico do liberalismo econômico Em sua principal obra A riqueza das nações uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações defendeu a liberdade comercial livre competi ção com pouca ou nenhuma intervenção estatal Sua tese se baseava na ideia de que a livre competição levaria à queda do preço dos produtos e a constantes inovações tecnológicas para o barateamento do custo de produção Afi rmava que a riqueza de uma nação era resultado da produtividade do trabalho que estaria diretamente relacionado à especialização e à divisão Smith expõe a teoria que ele considera correta sobre a natureza e causas da riqueza para na sequência se lançar à tarefa de respaldar a crítica ao mercantilismo no rigor da teoria econômica MATTOS 2007 p 111 A construção dos ideais do liberalismo 8 Conheça um pouco mais sobre a trajetória e as teorias de Adam Smith acessando o link a seguir e assistindo a um vídeo produzido pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo httpsqrgopagelinkiPMRF David Ricardo David Ricardo 17771823 foi responsável pela elaboração de diversas teorias econômicas e em sua obra dedicouse a diferentes temas tais como o comércio internacional e questões relacionadas à moeda De acordo com Silva 2018 p 50 David Ricardo formulou o conceito de vantagem comparativa e demonstrou que o comércio internacional é uma situação de ganhoganho para os países envolvidos Essa visão clássica destruiu a equivocada teoria do mercantilismo que defendia que o colonialismo deveria benefi ciar apenas a metrópole à custa da colônia Uma forma bastante interessante de apresentar aos alunos o pensamento de David Ricardo é iniciar uma discussão perguntando à turma por que as mercadorias têm esses preços e o que esse valor significa Esse foi um dos questionamentos que moveram os teóricos econômicos dos séculos XVIII e XIX e que levou a diferentes intepretações sobre o valor das mercadorias a moeda e o trabalho BATISTA 2012 David Ricardo afirmava que no valor de um bem está contido o valor da mão de obra propriamente dita empregada para sua produção juntamente com as máquinas e os equipamentos utilizados pelos trabalhadores para produzilos Outra forma de abordar o pensamento de David Ricardo em sala de aula é apresentar sua teoria sobre a relação entre a emissão de moeda e a inflação Durante o conflito com a França a Inglaterra emitiu muito papelmoeda para financiamento dos gastos Ricardo mencionava que o papelmoeda era uma mercadoria como qualquer outra e portanto uma excessiva quan tidade a desvalorizaria em relação às demais mercadorias desta forma seria necessária uma quantidade maior de moeda para adquirir bens o que geraria inflação Para essa situação Ricardo defendia que era preciso limitar a emissão de papelmoeda e propunha vincular sua emissão à quantidade disponível de ouro prática que já havia sido utilizada mas que estava em desuso pelo Banco da Inglaterra BATISTA 2012 p 11 9 A construção dos ideais do liberalismo Thomas Malthus Thomas Malthus 17661834 conviveu em um círculo de intelectuais do qual participavam JeanJacques Rousseau e David Hume e publicou em 1798 Ensaio sobre o Princípio da População escrita nos contextos históricos da Revolução Francesa e Revolução Industrial e que para Souza e Previdelli 2017 p 5 dialoga diretamente com as ideias de transformação social da primeira e os problemas de distribuição de riqueza da segunda Sua tese central conveniente aos interesses burgueses enunciada em tom diretivo ganharia a condição de princípio Até hoje Malthus é conhecido por suas teorias sobre o crescimento da população em que afirmava que a taxa de crescimento da população poderia ser descrita em uma progressão geométrica enquanto os recursos naturais para seu sustento cresciam em uma progressão aritmética Dessa forma defendia políticas de controle do crescimento populacional para evitar a queda do padrão de vida mas também argumentava favoravelmente em relação a fatores que levassem à diminuição da população como a fome a guerra a miséria e as pragas A distribuição da riqueza foi sempre um assunto importante dentro da economia política e sempre envolveu muitas polêmicas Antes de se estabelecerem alguns critérios científicos para a área que garantiriam a possibilidade de validação dos dados como a utilização de fontes primárias públicas algumas análises foram reelaboradas com base em parcos materiais empíricos e em muito preconceito PIKETTY 2014 Em relação ao recorte espacial e cronológico em que estamos trabalhando França e Inglaterra nos séculos XVIII e XIX as transformações ocorridas nos âmbitos econômico político e social fizeram com que os pensadores passassem a buscar explicações para os fenômenos do crescimento demográfico e populacional e do êxodo rural por exemplo e seus impactos na distribuição da riqueza na estrutura social e no equilíbrio político Para Thomas Malthus não restava dúvida a superpopulação era a principal ame aça Embora suas fontes fossem escassas Malthus fez o melhor que pôde com as informações que detinha A construção dos ideais do liberalismo 10 Portanto podemos situar os três autores em uma conjuntura de profundas transformações ocorridas na Europa Ocidental Da hegemonia das práticas mercantilistas e dos ideais fisiocratas com ênfases respectivamente no comércio internacional e na produção agrícola passouse a defender a indus trialização e o trabalho como fontes de riqueza ambos pautados por princípios autorreguladores e de livre concorrência Malthus estava muito preocupado com as notícias políticas vindas da França Revolução Francesa e para evitar que o torvelinho vitimasse o Reino Unido argumentou que todas as medidas de assistência aos pobres deveriam ser suspensas de imediato e que a taxa de natalidade deveria ser severamente controlada com a finalidade de afastar o risco de uma catástrofe global associada à superpopulação ao caos e à miséria PIKETTY 2014 p 16 As previsões de Malthus somente podem ser compreendidas se as inserirmos em uma conjuntura de medo vivenciada pelas elites europeias frente ao processo revolucionário francês Boa parte dos teóricos da época possuam uma visão um tanto sombria apocalíptica até da evolução da distribuição da riqueza e da estrutura social no longo prazo PIKETTY 2014 p 16 David Ricardo por exemplo preocupavase no longo prazo com o preço da terra De acordo com Piketty Ricardo Estava acima de tudo interessado no seguinte paradoxo lógico se o crescimento da população e da produção se prolonga a terra tende a se tornar mais escassa em relação aos outros bens De acordo com a lei da oferta e da demanda o preço do bem escasso a terra deveria subir de modo contínuo bem como os aluguéis pagos aos proprietários No limite os donos da terra receberiam uma parte cada vez mais significativa da renda nacional e o restante da população uma parte cada vez mais reduzida destruindo o equilíbrio social Ricardo via como única saída lógica e politicamente satisfatória a adoção de um imposto crescente sobre a renda territorial PIKETTY 2014 p 16 Contudo nenhuma das previsões apocalípticas desses autores se concretizou Novamente seu medo e seu pensamento devem ser contextualizados em relação às transformações ocorridas na sociedade europeia em função das revoluções burguesas e da Revolução Industrial 11 A construção dos ideais do liberalismo AMADEO J As raízes do liberalismo liberdade e propriedade no pensamento político do século XVII Perspectivas São Paulo v 46 p 128 2015 Disponível em httpsperiodicos fclarunespbrperspectivasarticleview10052 Acesso em 30 jan 2020 BATISTA J M A evolução da economia uma abordagem histórica sobre os principais modelos teorias e pensadores RENEFARA Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia Goiânia v 2 n 2 p 116 2012 BOBBIO N MATTEUCCI N PASQUINO G Dicionário de política Brasília UnB 1998 DEYON P O mercantilismo São Paulo Perspectiva 1992 FALCON F Mercantilismo e Transição São Paulo Brasiliense 1991 MERQUIOR J G O Liberalismo Antigo e Moderno Rio de Janeiro Nova Fronteira 1991 PIKETTY T O capital no século XXI Rio de Janeiro Intrínseca 2014 SILVA F P M et al Economia política Porto Alegre Sagah 2018 SOUZA L E S PREVIDELLI M F S C Algumas considerações sobre a contribuição de Malthus ao Pensamento Econômico In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA 12 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS 132017 Niterói Anais Niterói ABPHE 2017 Disponível em httpwwwabpheorgbruploadsABPHE202017820Algu mas20consideraC3A7C3B5es20sobre20a20contribuiC3A7C3A3o20 de20Malthus20ao20Pensamento20EconC3B4micopdf Acesso em 30 jan 2020 Leituras recomendadas BRUE S L História do Pensamento Econômico São Paulo Cengage Learning 2005 D09 Adam Smith S d s n 2015 1 vídeo 6 min Publicado pelo canal UNIVESP Dis ponível em httpswwwyoutubecomwatchv0WG5TeYxcU Acesso em 30 jan 2020 DOBB M A Evolução do Capitalismo Rio de Janeiro Zahar 1983 DROUIN J C Os Grandes Economistas São Paulo Martins Fontes 2008 HUNT E K LAUTZENHEISER M História do pensamento econômico uma perspectiva crítica Rio de Janeiro Elsevier 2005 POCOCK J G A Linguagens do ideário político São Paulo EDUSP 2003 POLANY K A grande transformação as origens da nossa época Rio de Janeiro Elsevier Editora 2010 SKINNER Q As fundações do pensamento político moderno São Paulo Companhia das Letras 2009 A construção dos ideais do liberalismo 12 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu fun cionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links 13 A construção dos ideais do liberalismo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem Na Biblioteca Virtual da Instituição você encontra a obra na íntegra Conteúdo