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R bras Ci e Mov 2008 161 8997 Periodização do treinamento de força uma revisão crítica Periodized strength training a critical review MINOZZO F C LIRA C A B DE VANCINI R L SILVA A A B FACHINA R J DE F G GUEDES JR D P GOMES A C SILVA A C DA Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 RESUMO Originária da Alemanha e da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS a teoria da periodização do treinamento se desenvolveu em meados do século XX no chamado período científi co baseada na teoria da Síndrome Geral da Adaptação SGA A literatura científi ca pertinente ao treinamento de força entende a periodização como a variação sistemática da intensidade e do volume com a fi nalidade de se desenvolver de forma efi ciente uma ou mais capacidades físicas O presente trabalho teve por objetivo analisar o efeito da periodização sobre o treinamento de força com relação às suas adaptações específi cas e comparar os modelos mais recorrentes fi xo linear e ondulado Para tanto foi feito um levantamento bibliográfi co sobre as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento resistido assim como uma revisão sistemática de artigos encontrados nas seguintes bases de dados Pubmed e Scielo A constatação principal da presente revisão foi que o modelo ondulado é o mais efi ciente para o aumento de força máxima e potência seguido pelo linear e por último o fi xo embora sejam necessárias mais investigações enfocando resistência de força e hipertrofi a muscular Palavras chaves força muscular treinamento resistido volume intensidade MINOZZO F C LIRA C A B DE VANCINI R L SILVA A A B FACHINA R J DE F G GUEDES JR D P GOMES A C SILVA A C DA Periodized strength training a critical review R bras Ci e Mov 2008 161 8997 ABSTRACT Originating from Germany and former Union of Soviet Socialist Republics USSR the training periodization theory was developed in the middle of the 20th Century the socalled scientifi c period based on the General Adaptation Syndrome theory GAS The scientifi c literature on strength training understands periodization as the systematic variation of intensity and volume aiming at more effi ciently developing one or more physical abilities This paper aimed at analyzing the effect of periodization on strength training as related to its specifi c adaptations and comparing the most recurrent models fi xed linear and undulating For that a bibliographic survey on the training variables used to prescript resistance training was carried out as well as a systematic review of the articles found in the following databases Pubmed and Scielo The main fi nding of this review was that the undulated model is the most effective one for increasing maximum strength and power followed by the linear one and lastly by the fi xed one although more investigation focusing on strength resistance and muscle hypertrophy is required Key words muscle strength resistance training volume intensity Fabio Carderelli Minozzo1 Claudio Andre Barbosa de Lira1 Rodrigo Luiz Vancini1 Ana Amélia BeneditoSilva2 Rafael Júlio de Freitas Guina Fachina1 Dilmar Pinto Guedes Jr1 Antônio Carlos Gomes3 Antônio Carlos da Silva1 Recebimento 08052007 Aceite 23032008 Correspondência Prof Dr Antônio Carlos da Silva email carlosantoniounifespbr Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício CEFE Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP Rua Botucatu 862 5º andar Vila Clementino CEP 04023901 São Paulo SP Brasil 1 Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício CEFE Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP São Paulo Brasil 2 Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo USP São Paulo Brasil 2 Clube Atlético Paranaense Curitiba PR Brasil Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 90 1 Introdução Ao se fazer menção à Teoria da Periodização acabase por se fazer alguma alusão ao desenvolvimento da Ciência do Treinamento Desportivo Para isso é imprescindível recorrer a algumas obras clássicas que fundamentaram teoricamente tal ciência criandose as condições ideais para o entendimento da origem das propostas publicadas mais recentemente O desenvolvimento da Ciência do Treinamento Desportivo acompanhou a humanidade desde as civilizações primitivas abrangendo o chamado período empírico passando pelo renascimento e a idade moderna período de improvisação Contudo foi somente no fi nal do século XIX e início do XX que surgiu na Alemanha e na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS o conceito sobre o planejamento do treino desportivo período da sistematização Porém foi a partir da década de 50 período científi co que nos países do Leste Europeu surgiram os primeiros compilados teóricos sobre a periodização32 De forma global a periodização do treinamento pode ser defi nida como a aproximação sistemática seqüencial e progressiva ao planejamento e organização do treinamento de todas as qualidades motoras dentro de uma estrutura cíclica para a obtenção do rendimento ótimo de um desportista ou uma equipe Sua efi cácia máxima depende de saber interrelacionar ao longo do período de treinamento todas as habilidades motoras para se atingir o rendimento específi co máximo121432 A partir da década de 60 o cientista russo Lev Pavlovitch Matveev publicou seus primeiros trabalhos sobre a periodização do treinamento baseado na teoria da Síndrome Geral da Adaptação SGA proposta em 1936 por Hans Selye31 Selye31 acreditava que o organismo reagia de forma muito similar em resposta a diferentes tipos de estresse ou seja que invariavelmente ajustarseia no sentido de recuperar o equilíbrio homeostático de acordo com as seguintes fases reação de alarme resistência e exaustão É geralmente na fase de resistência após uma recuperação adequada que ocorre o processo de supercompensação e possivelmente na fase de exaustão crônica sem recuperação adequada que pode ocorrer o overtraining6 Baseado nisso Matveev22 criou um modelo de periodização para estruturação e planejamento do treinamento contendo três fases período preparatório construção período competitivo manutenção e período transitório perda temporária Tais períodos compõem o chamado macrociclo que tem por fi nalidade projetar as diretrizes de um programa de treinamento com alguma antecedência sendo este subdividido em estruturas médias mesociclos e pequenas microciclos5 O modelo proposto por Matveev22 pode ser resumido em uma constante alternância entre cargas gerais que são relacionadas às capacidades físicas gerais e especiais relacionadas às capacidades específi cas da modalidade esportiva A macroestrutura parte do predomínio inicial das cargas gerais sendo estas gradativamente substituídas no decorrer do período de treinamento pelas cargas especiais à medida que se aproxima o período competitivo Durante as cargas gerais o volume tem papel de destaque no total da sobrecarga imposta enquanto que a intensidade avança progressivamente durante este período Por outro lado ao se aplicar as cargas especiais esta relação se inverte porém com uma redução de volume não tão acentuada614 2532 Verkhoshanski3436 alega haver uma carência de especifi cidade na proposta de Matveev Entretanto a maior parte das críticas feitas a este modelo se justifi ca quando se tenta aplicar seus conceitos dentro de um planejamento competitivo contemporâneo visto que a realidade científi ca e desportiva atual é muito diferente da época em que o modelo foi concebido25 Com base nisso Tschiene32 e Vorobyev37 adaptaram a estrutura clássica de Matveev às necessidades atuais conferindolhe maior possibilidade de picos de desempenho em um mesmo macrociclo e um caráter mais específi co Por fi m reunindose os inúmeros modelos de periodização constatamse duas tendências distintas a clássica derivada do modelo de Matveev e a de cargas concentradas derivada do modelo de Verkhoshanski25 A periodização no treinamento da força tem ganhado importância já que a mesma tem infl uência decisiva tanto para o sucesso esportivo quanto para a realização das atividades da vida diária disseminando R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 91 se também para setores que utilizam o exercício na promoção da saúde e do bem estar Neste sentido diferentes atividades esportivas eou recreativas necessitam de enfoques distintos sobre as várias manifestações da força resistência de força força máxima e potência e também sobre os resultados apresentados em conseqüência de um programa de treinamento como por exemplo a hipertrofi a muscular1935 Cada esporte tem particularidades que determinam os tipos de força que devem ser mais enfatizados muitas vezes infl uenciando o modelo de periodização a ser adotado16 Dessa forma cada vez mais profi ssionais da área da saúde buscam nos princípios da organização das cargas de treinamento uma ferramenta para melhor desempenho e entendimento dos sistemas fi siológicos Isso despertou nos acadêmicos um novo horizonte de pesquisa ou seja a verifi cação do efeito da sistematização metodológica da sobrecarga sobre o treinamento de força3 Muitos autores concordam em defi nir a periodização no treinamento de força como a variação sistemática da intensidade e do volume com o intuito de se desenvolver a força e evitarse o estado de overtraining10 151925 Seguindo esta defi nição a literatura distingue três modelos para o treinamento de força o modelo nãoperiodizado onde não há variação de intensidade e volume o modelo de periodização linear que segue o modelo clássico de diminuição progressiva do volume e com aumento concomitante de intensidade e o modelo periodizado ondulado26 que abrange outros modelos que possuem alterações fl utuantes de volume e intensidade Desta forma o objetivo da presente revisão foi comparar os diferentes modelos de periodização aplicados ao treinamento da força no intuito de verifi car qual deles proporciona melhores resultados em relação aos ganhos de força Para tanto foi feito um i levantamento bibliográfi co sobre as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento de força assim como uma ii revisão sistemática de artigos nas bases de dados Pubmed e Scielo até o ano de 2007 Estabeleceramse os seguintes limites para a revisão sistemática originais randomizados e controlados revisões e metaanálises Em seguida foi realizado o cruzamento das seguintes palavras pertencentes a títulos eou resumos periodization and strength training periodization and resistance training periodization and weight training Foram encontrados 27 itens todos no Pubmed A partir destes 27 estudos estabeleceuse um critério de inclusão similar ao adotado pela metaanálise de Rhea e Alderman28 para estudos originais os estudos deveriam ter como objetivo principal a comparação de no mínimo dois modelos de periodização de treinamento de força levandose em consideração a manipulação de apenas duas variáveis volume e intensidade Por fi m 15 estudos foram selecionados para está obra de revisão 2 Variáveis do treinamento de força e mecanismos de adaptação Existe uma série de variáveis que possibilitam periodizar o treinamento de força dentre elas se destacam o tipo de ação muscular isométrica concêntrica e excêntrica a seleção de exercícios os métodos de treino a intensidade geralmente relacionada a uma porcentagem da carga máxima o volume normalmente atribuído ao número total de repetições o intervalo que seria a duração das pausas entre as séries a velocidade de execução fundamental para o direcionamento do treino de potência muscular e a freqüência que representa o número de sessões dentro de um período1920 Apesar de as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento de força estarem intrinsecamente relacionadas é possível tratá las de forma isolada de acordo com objetivos a serem alcançados11 No entanto a maioria das pesquisas envolvendo a periodização no treinamento de força invariavelmente isola o volume e a intensidade2481718 20212324 2729303839 Há diversas maneiras de se estabelecer a intensidade durante o treinamento de força111920 Por exemplo Fry11 sugere que esta pode ser calculada em função da potência trabalho sobre tempo Entretanto a intensidade tem sido determinada mais comumente por duas maneiras i como a porcentagem da carga atingida no teste de uma repetição máxima 1RM ou ii como o maior número de repetições realizadas Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 92 para uma dada carga de trabalho até a falha mecânica na ação motora concêntrica 0811151920 Já o volume é geralmente dado pelo número de repetições totais em uma sessão de treino ou seja o número de séries multiplicado pelo de repetições multiplicado pelo número de exercícios151920 Isso porque o número total de repetições está relacionado ao tempo de duração do estímulo no qual o indivíduo está sendo submetido a uma carga não contabilizando o intervalo de recuperação1 Quanto ao intervalo de recuperação entre os estímulos treinos este é dependente da intensidade do volume e dos objetivos do treinamento20 De maneira geral para obteremse as respostas adaptativas desejadas os exercícios que visam o ganho de força máxima ou potência cargas altas necessitam de intervalos maiores para o restabelecimento do sistema fosfagênico ATPCP Já os que objetivam hipertrofi a muscular cargas médias precisam de intervalos intermediários e fi nalmente os que visam a resistência de força baixa intensidade que se caracterizam por intervalos menores com maior participação do metabolismo oxidativo19 Dependendo da magnitude do estímulo e da manipulação das variáveis o sistema neuromuscular geralmente sofre ajustes agudos que de acordo com o tipo de programa de treinamento podem potencializar adaptações neurais metabólicas endócrinas histológicas morfológicas imunológicas e cardiovasculares Essas adaptações por sua vez estão intimamente ligadas e podem ser manipuladas conforme o objetivo do treinamento força potência ou resistência de força9 21 Periodização no treinamento de força De maneira geral os estudos sobre a periodização no treinamento de força comparam o modelo fi xo nãoperiodizado a um ou mais modelos periodizados linear eou ondulado sendo o objetivo principal verifi car se os modelos periodizados são superiores ao fi xo em termos de resultados alcançados238101516181921232426303839 Na década de 60 o modelo fi xo era o mais popular entre os praticantes4 na tentativa de obter aumento na força máxima Este modelo era utilizado para o treinamento de diferentes grupamentos musculares e era composto por séries entre 5 ou 6RM Contudo OBryant et al24 propuseram um modelo baseado nos princípios clássicos de periodização redução de volume e concomitante aumento de intensidade Estes autores compararam o modelo fi xo ao periodizado linear e encontraram que o modelo periodizado proporcionou maiores ganhos de força Seguindo esta mesma linha outros estudos3839 também apresentaram resultados onde o treinamento periodizado se mostrou signifi cativamente superior quando comparado a outros modelos não periodizados com relação aos ganhos de força máxima A possível crítica para os achados de OBryant et al24 e Willoughby3839 foi que a manipulação do volume seria o principal responsável pelo ocorrido e que provavelmente o modelo periodizado teria propiciado uma fase hipertrófi ca inicial o que conduziu a um aumento de força na fase fi nal Outra comparação importante é com relação aos diferentes tipos de modelos de treinamento fi xo em relação aos modelos periodizados Por exemplo McGee et al23 comparando o modelo fi xo de séries únicas uma série por exercício ao de séries múltiplas mais de uma série por exercício e ao periodizado linear também de séries múltiplas com relação ao desenvolvimento da resistência de força constataram que apesar de não haver encontrado diferença no ganho de força dos grupos periodizado e fi xo de séries múltiplas estes foram superiores aos obtidos pelo grupo de séries simples o que os levou a concluir que o modelo de treinamento para o desenvolvimento da resistência de força é volumedependente ou seja séries múltiplas seriam superiores às simples Além disso parece que a simples manipulação de volume também exerceu grande infl uência sobre a melhora observada visto que apesar de o grupo periodizado ter realizado um menor volume de séries múltiplas que o fi xo ambos obtiveram resultados similares Observou se que de alguma maneira a fase inicial duas primeiras semanas de treinamento do grupo periodizado teria gerado adaptações sufi cientes na resistência de força e que talvez estas tenham sido mantidas pelo aumento da intensidade nas semanas seguintes R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 93 Em contrapartida Baker et al2 avaliaram isoladamente o efeito da periodização sobre as diversas adaptações provenientes do treinamento de força tentando isolar apenas o efeito da manipulação do volume mantendo a sua somatória fi nal aproximadamente similar nos diferentes modelos estudados equalização de volumes Este estudo foi conduzido ao longo de 12 semanas e envolveu três grupos fi xo periodizado linear e periodizado ondulado Foram realizados testes que avaliaram adaptações relacionadas à força máxima 1RM à potência muscular avaliação da impulsão vertical à hipertrofi a muscular avaliação da massa magra e à capacidade de recrutamento muscular análise eletromiográfi ca Todos os grupos demonstraram aumentos estatisticamente signifi cativos das variáveis analisadas excetuandose a capacidade de recrutamento muscular que permaneceu inalterada nos três grupos Contudo não houve diferenças quando foram comparados os resultados de todos os testes entre os grupos Com isso os autores concluíram que não havia diferença entre os modelos periodizados e o fi xo quando o volume total era controlado equalização acreditando inclusive que alguns dos trabalhos anteriores3839 teriam obtido resultados favoráveis aos modelos periodizados devido às diferenças de volume de treinamento entre os grupos Quando outros estudos começaram a fazer uso da equalização de volumes1730 parecia que a periodização perderia seu valor e efi cácia para o treinamento Ou seja se os volumes totais eram equalizados qualquer modelo produziria ganhos de força assim como de outras capacidades similares independentemente da manipulação feita nos seus volumes durante o treinamento Paralelamente Kraemer18 e Marx et al21 mudaram o foco das discussões por meio da comparação do modelo periodizado ondulado ao fi xo sem fazer a equalização de volumes publicando trabalhos envolvendo treinamento de força usando da periodização ondulada O trabalho de Kraemer18 teve como objetivo solucionar questões relativas ao treinamento de jogadores de futebol americano comparando o modelo fi xo de séries simples e de cargas altas em circuito ao periodizado ondulado Os jogadores foram avaliados em força máxima 1RM resistência de força repetições máximas potência anaeróbia impulsão vertical e teste de Wingate e composição corporal dobras cutâneas A maioria dos resultados demonstrou a superioridade do grupo periodizado ondulado sobre o fi xo na maior parte das variáveis avaliadas levandose em conta todos os momentos de avaliação no prétreino após a 7ª semana após a 14ª semana e no póstreino Sendo assim concluiuse que a superioridade do modelo periodizado teria relação com a manutenção da continuidade adaptativa ou seja a variação de volume e intensidade semanal criaria melhores condições para o desenvolvimento hipertrófi co produzindo estresse metabólico e endócrino de força máxima e potência por meio da imposição de estresse neural e de resistência de força devido à grande mobilização metabólica Já o modelo fi xo não conseguiria manter as adaptações de força máxima devido a um menor estímulo hipertrófi co o que conseqüentemente difi cultaria desenvolvimento da força máxima como também haveria uma tendência à estagnação platô promovida pela monotonia do treinamento fi xo Adicionalmente o estudo de Marx et al21 testou a hipótese que a variação dos volumes seria algo inerente à periodização ou seja que a equalização dos volumes provavelmente anularia o efeito destes sobre o treinamento Para isso avaliou três grupos periodizado de alto volume nãoperiodizado de séries simples e baixo volume e o grupo controle em um programa de treinamento de força de 24 semanas O grupo não periodizado executou séries simples em forma de circuito de 8RM a 12RM com um minuto de intervalo três vezes por semana o grupo periodizado treinou quatro vezes por semana por meio de diferentes tipos de séries múltiplas periodização ondulada enfocando a força máxima e a potência 3RM a 5RM com três minutos de intervalo série de hipertrofi a 8RM a 10RM com dois minutos de intervalo de resistência de força 12RM a 15RM com um minuto de intervalo e de manutenção 8RM a 10RM e baixo volume Antes após 12 semanas e ao fi nal das 24 semanas do programa de treinamento foram realizados os seguintes testes composição corporal pesagem hidrostática força Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 94 máxima teste de 1RM potência anaeróbia impulsão vertical e teste de Wingate e avaliação das concentrações de testosterona cortisol fator de crescimento semelhante à insulina1 e hormônio do crescimento Os achados deste estudo demonstraram que o grupo periodizado obteve aumento de massa muscular signifi cativamente superior ao nãoperiodizado assim como melhor desempenho nos testes de 1RM impulsão vertical e teste de Wingate como também concentrações hormonais que favoreciam o estado de anabolismo muscular em todas as fases O grupo nãoperiodizado apresentou resultados signifi cativamente superiores apenas quando comparado ao grupo controle Os autores concluíram que apesar de o grupo periodizado ter realizado um volume maior que o nãoperiodizado apresentou menor tendência à estagnação ou seja de alguma maneira a manipulação do volume evitou o platô No entanto a literatura28 já demonstrara que algumas considerações deveriam ser feitas quanto aos desenhos experimentais nos trabalhos que tentaram isolar o efeito da variabilidade proveniente da periodização por meio da equalização de cargas Um dos problemas encontrado na maior parte dos estudos acontece quando não existe a preocupação em se isolar os componentes da força a serem testados Em outras palavras não há como se verifi car a superioridade de um modelo sobre o outro em todas as adaptações objetivadas com o treinamento de força ou seja neurais metabólicas morfológicas endócrinas cardiovasculares entre outras já que apesar de várias delas de certa forma serem complementares outras podem ser totalmente antagônicas Os autores citados no parágrafo anterior basearam suas afi rmações em dois trabalhos prévios2729 onde realizaram estudos com desenhos similares porém com objetivos distintos Ambos comparavam os diferentes modelos de treinamento de força a fi m de obter uma adaptação específi ca fazendo a equalização de volume O primeiro estudo29 comparou o modelo periodizado linear com o ondulado sendo realizado em indivíduos com experiência em treinamento com pesos com o objetivo de melhorar a força máxima O segundo estudo27 comparou os modelos de periodização linear ondulada e reversa do linear derivada da periodização linear onde existe a redução de intensidade e o aumento de volume no transcorrer do treinamento para a obtenção de aumento da resistência de força Os resultados demonstraram que apesar de ter sido feita a equalização de volumes o modelo de periodização ondulada proporcionou ganhos de força máxima signifi cativamente superiores aos obtidos pelo modelo de periodização linear Apesar deste aumento da força máxima os dois modelos não proporcionaram ganhos em hipertrofi a muscular Os autores concluíram que o modelo de periodização ondulada causaria maior estresse neural e assim estimularia uma melhor manifestação da força máxima quando comparado ao modelo linear Observouse também que o modelo de periodização reversa do linear quando comparado aos modelos ondulado e linear proporcionou aumento superior em relação à resistência de força entretanto inferior em relação à força máxima Por outro lado o modelo ondulado proporcionou maiores ganhos de força máxima Outro achado interessante deste estudo foi que os diferentes modelos analisados proporcionaram redução da circunferência da coxa É importante observar que a força aumentou apesar da redução da circunferência das coxa dos grupos avaliados e os autores inferiram que isto seria benéfi co para a resistência geral adaptação cardiorrespiratória visto que o consumo máximo de oxigênio VO2 máx está intrinsecamente ligado ao peso corporal Conjeturouse que essa redução pudesse estar relacionada à diminuição do número de fi bras do tipo II maiores responsáveis pelo aumento de volume muscular além da diminuição do tecido adiposo Sugeriuse que o direcionamento do treino teria levado o modelo reverso linear a contribuir com maiores ganhos em resistência muscular localizada ou seja o volume de trabalho realizado resultou em valores de resistência superiores quando comparados aos outros modelos Isso veio corroborar com a teoria da especifi cidade Em outras palavras para se comparar os efeitos de diferentes modelos periodizados devese levar em conta os objetivos do treinamento resistência de força força máxima potência entre outros Os resultados sugerem que o modelo de periodização reverso do linear seja o mais recomendado para os atletas de resistência R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 95 já os modelos linear e ondulado aos atletas de força e potência Entretanto os autores ressaltaram que a literatura necessita de investigações mais apuradas sobre os efeitos específi cos dos inúmeros modelos de treinamento de força principalmente para as modalidades que visem outras adaptações além da força máxima e potência musculares Entretanto nem mesmo em relação à obtenção de força máxima a literatura parece ser consensual com respeito ao efeito da manipulação do volume gerada pela periodização principalmente quando este é equalizado Na tentativa de sanar estas questões Rhea and Alderman28 publicaram uma metaanálise por meio de uma revisão sistemática da literatura entre os anos de 1962 e 2000 Os critérios de inclusão deste trabalho para a seleção dos artigos foram comparar os modelos periodizados e fi xos sendo que a variável dependente deveria medir a força incluindo valores de pré e póstestes e que os dados fossem sufi cientes para o cálculo do tamanho do efeito índice muito usado em estudos de metaanálise que corresponde à magnitude do efeito de um tratamento Ao fi nal do processo de seleção 11 referências perfaziam tais exigências Em seguida foram feitas duas análises a primeira não levou em consideração as diferenças do volume total entre os modelos periodizados e fi xo enquanto que a segunda considerou apenas o efeito da variabilidade corrigindo a infl uência da falta de equalização de cargas se necessário Com o volume total equalizado ou não o modelo periodizado se mostrou superior ao fi xo Porém o tamanho do efeito dos trabalhos equalizados era cerca de um quarto do tamanho do efeito encontrado sem a padronização do volume Em outras palavras apesar da variabilidade ser a principal variável responsável pela superioridade do modelo periodizado a diferença entre os volumes totais exerceu grande infl uência em seus resultados Creditouse parte do efeito da periodização à variabilidade e parte ao predomínio em volume que alguns modelos periodizados apresentaram sobre os nãoperiodizados Uma vez mais trazendo à tona a questão da equalização do volume dois recentes estudos78 buscaram elucidar as dúvidas atreladas à comparação entre o modelo fi xo e diferentes modelos periodizados DeBeliso et al8 propuseram uma comparação entre o modelo fi xo e o periodizado linear por 18 semanas em idosos de ambos os gêneros e sem experiência prévia em treinamento de força sendo o primeiro estudo a utilizar esta população para este fi m Uma particularidade deste estudo foi que o mesmo não utilizou o ajuste das cargas dos exercícios pelo percentual do teste de 1RM Os autores justifi caram que por utilizarem máquinas projetadas para o treinamento de força e não pesos livres um ajuste pelo percentual da carga máxima dinâmica poderia não ser possível e a carga poderia ser sub ou superestimada Dessa forma o estudo padronizou que as cargas deveriam ser ajustadas sempre que o sujeito conseguisse por duas sessões seguidas realizar todas as séries e repetições programadas Ambos os programas tiveram seus volumes equalizados para as 18 semanas Ao fi nal do período experimental ambos os programas de treinamento apresentaram ganhos de força signifi cativos em comparação ao grupo controle Porém não foram observadas diferenças estatisticamente signifi cativas entre o modelo fi xo e o periodizado Os próprios autores ressaltaram que o fato de não terem realizado testes no decorrer do período experimental não permitiu avaliar se algum dos modelos manifestou seus ganhos mais depressa do que o outro Por outro lado Buford et al7 preferiu propor uma comparação apenas entre modelos periodizados linear ondulado por dia e ondulado por semana com o volume de todos devidamente equalizados O desenho deste estudo mostrouse bastante cuidadoso pois os sujeitos eram praticantes recreativos de treinamento de força e permaneceram oito semanas sem treinar antes do início do experimento As primeiras quatro semanas do estudo eram de treinamento fi xo para todos os grupos para que então cada grupo seguisse nas nove semanas seguintes em seus respectivos modelos de periodização Os parâmetros a serem analisados seriam a força máxima dinâmica teste de 1RM e a composição corporal dobras cutâneas Os testes seriam realizados em três momentos pré após quatro semanas e ao fi nal das nove semanas propostas pelo protocolo Os autores tomaram o cuidado de manter os testes sempre no mesmo horário e com Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 96 o mesmo pesquisador aplicandoos Os achados demonstraram que os três modelos apresentaram ganhos estatisticamente signifi cativos ao fi nal da nona semana e em todos os parâmetros estudados Os autores afi rmam que como houve redução da massa gorda e aumento da massa corporal magra os ganhos de força não devem ser atrelados unicamente a fatores de adaptação neural ao estímulo mas também a adaptações do próprio tecido muscular Porém não foram encontradas tais diferenças na comparação entre os grupos Entretanto os autores fazem uma ressalva de que em observações empíricas do cotidiano do treinamento as diferenças entre os modelos de periodização necessitariam de um período maior de tempo indivíduos com níveis superiores de treinabilidade e devido a isso capazes de executar e suportar técnicas mais avançadas de treinamento 3 Conclusão A maior parte dos estudos demonstrou que o modelo fi xo apresentouse inferior aos modelos periodizados em que um maior volume era empregado Entretanto quando se equalizou os volumes resultados contraditórios foram obtidos ao se comparar o modelo periodizado com o fi xo Neste sentido não há consenso sobre quais seriam os melhores protocolos de avaliação de força para comparar os diferentes modelos já que um mesmo modelo pode se mostrar superior ou inferior a outro quanto ao desenvolvimento de determinadas manifestações da força Ainda assim a literatura sugere que dentre os modelos periodizados o ondulado tem demonstrado melhores resultados se comparado com o linear e com o reverso do linear principalmente com relação ao desenvolvimento da força máxima e potência musculares Fora isso ainda cabe salientar que as pesquisas ainda não conseguiram reproduzir muitas das situações observadas no cotidiano do treinamento desportivo principalmente no que tange ao treinamento de atletas de alto rendimento já que estes são submetidos a um elevado volume geral de tarefas motoras além do treinamento de força Portanto são necessárias mais investigações acerca de outras manifestações da força e controle mais rígido de variáveis específi cas tais como um maior número de avaliações durante o protocolo experimental e melhor caracterização da população estudada Adicionalmente são necessárias investigações com um período maior de treinamento Para tanto é importante primeiro isolar as adaptações a serem avaliadas para posteriormente analisar o efeito de cada modelo sobre o desenvolvimento específi co dos diferentes tipos de força que na maioria das vezes solicitam adaptações distintas 4 Referências 1 Badillo JJ Ayestarán EG Fundamentos do treinamento de força aplicação ao alto rendimento 2ª ed Porto Alegre Artmed 2001 2 Baker D Wilson G Carlyon R Periodization the effect on strength of manipuling volume and intensity J Strength Cond Res 19948423542 3 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1999131829 11 Fry AC The role resistance exercise intensity on muscle fi bre adaptations Sports Med 2004341066379 R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 97 12 Gambetta V Concept and application of periodization NSCA Journal 1991135646 13 Gomes AC Almeida HF Almeida DC Uma ótica evolutiva do treinamento desportivo através da história Revista Treinamento Desportivo 2000514052 14 Graham J Periodization research and an example application Strength and Conditioning Journal 20022466770 15 Haff GG Roundtable Discussion Periodization of training Part1 Strength and Conditioning Journal 2004261 5069 16 Haff GG Roundtable Discussion Periodization of training Part2 Strength and Conditioning Journal 20042625670 17 Herrick AB Stone WJ The effects of periodization versus progressive resistance exercise on upper and lower body strength in women J Strength Cond Res 1996102 726 18 Kraemer WJ A series of studies the physiological basis for strength training in American football fact over philosophy J Strength Cond Res 199711313142 19 Kraemer WJ Adams K Cafarelli E Dudley GA Dooly C Feigenbaun MS Fleck SJ Franklin B Fry AC Hoffman JR Newton RO Potteiger J Stone MS Ratamess NA McBride TT American College of Sports Medicine position stand Progresssion models in resistance training for healthy adults Med Sci Sports Exerc 200234236480 20 Kraemer WJ Ratamess NA Fundamentals of resistance training Progression and exercise pre scription Med Sci Sports Exerc 200436467488 21 Marx JO Fleck SJ Newton RU Kraemer WJ Hakkinen K Ratamess NA Nindl BC Lowvolume circuit versus highvolume periodized resistance training women Med Sci Sports Exerc 2001 33463543 22 Matveev LP Fundamentos do Treino Desportivo Lisboa Livros Horizonte 1977 23 McGee D Jesse C Stone MH Blessing D Leg and hip endurance adaptations to three weighttrain ing programs J Applied Sports Sci Res 199262925 24 OBryant HS Byrd R Stone MH Cycle ergometer performance and maximum leg and hip strength adaptations to two different methods of weighttraining J Applied Sports Sci Res 1988222730 25 Plisk SS Stone MH Periodization Strategies Strength and Conditioning Journal 200325619 37 26 Poliquin C Five steps to increase the effectiveness of your strength training program NSCA Jour nal 1988103349 27 Rhea MR Phillips WT Burkett LN Stone WJ Ball SD Alvar BA Thomas AB A comparison of linear and daily undulating periodized programs with equated volume and intensity for a local muscular endurance J Strength Cond Res 2003171827 28 Rhea MR Alderman BL A metaanalysis of periodized versus non periodized strength and power training programs Res Q Exerc Sport 200475441322 29 Rhea MR Ball SD Phillips WT Burkett LN A comparison of linear and undulating periodized pro grams with equated volume and intensity for strength J Strength Cond Res 20021622505 30 Schiotz MK Potteiger JA Huntsinger PG Denmark DC The shortterm effects of periodized and constant intensity training on body composition strenght and performance J Strength Cond Res 19981231738 31 Selye G General Adaptation Syndrome Moscow Medguiz 1960 32 Sequeiros JL Oliveira AL Castanhede D Dantas EH Estudo de Tudor Bompa Fitness Performance Journal 2005463417 33 Tschiene P El estado actual de la teoría del entrenamiento Roma Escuela de deportes 1990 34 Verkhoshanski YV Treinamento Desportivo teoria e metodologia Porto Alegre Artmed 2001 35 Verkhoshanski YV Special Strength Training a practical manual for coaches Moscow Mockba 2006 36 Verkhoshanski YV Verso una teoria e metodologia scientifi che dellallenamento sportivo Efde portes 2001632 37 Vorobyev NA Training methods In A textbook on Weightlifting Budapest International Weight lifting Federation Budapeste 1978 p172242 38 Willoughby DS Training volume equated A comparison of periodized and progressive resistance weight training programs J Human Mov Studies 19912123348 39 Willoughby DS The effects of mesocyclelength weight training programs involving periodization and partially equated volume on upper and lower body strength J Strength Cond Res 19937128
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R bras Ci e Mov 2008 161 8997 Periodização do treinamento de força uma revisão crítica Periodized strength training a critical review MINOZZO F C LIRA C A B DE VANCINI R L SILVA A A B FACHINA R J DE F G GUEDES JR D P GOMES A C SILVA A C DA Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 RESUMO Originária da Alemanha e da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS a teoria da periodização do treinamento se desenvolveu em meados do século XX no chamado período científi co baseada na teoria da Síndrome Geral da Adaptação SGA A literatura científi ca pertinente ao treinamento de força entende a periodização como a variação sistemática da intensidade e do volume com a fi nalidade de se desenvolver de forma efi ciente uma ou mais capacidades físicas O presente trabalho teve por objetivo analisar o efeito da periodização sobre o treinamento de força com relação às suas adaptações específi cas e comparar os modelos mais recorrentes fi xo linear e ondulado Para tanto foi feito um levantamento bibliográfi co sobre as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento resistido assim como uma revisão sistemática de artigos encontrados nas seguintes bases de dados Pubmed e Scielo A constatação principal da presente revisão foi que o modelo ondulado é o mais efi ciente para o aumento de força máxima e potência seguido pelo linear e por último o fi xo embora sejam necessárias mais investigações enfocando resistência de força e hipertrofi a muscular Palavras chaves força muscular treinamento resistido volume intensidade MINOZZO F C LIRA C A B DE VANCINI R L SILVA A A B FACHINA R J DE F G GUEDES JR D P GOMES A C SILVA A C DA Periodized strength training a critical review R bras Ci e Mov 2008 161 8997 ABSTRACT Originating from Germany and former Union of Soviet Socialist Republics USSR the training periodization theory was developed in the middle of the 20th Century the socalled scientifi c period based on the General Adaptation Syndrome theory GAS The scientifi c literature on strength training understands periodization as the systematic variation of intensity and volume aiming at more effi ciently developing one or more physical abilities This paper aimed at analyzing the effect of periodization on strength training as related to its specifi c adaptations and comparing the most recurrent models fi xed linear and undulating For that a bibliographic survey on the training variables used to prescript resistance training was carried out as well as a systematic review of the articles found in the following databases Pubmed and Scielo The main fi nding of this review was that the undulated model is the most effective one for increasing maximum strength and power followed by the linear one and lastly by the fi xed one although more investigation focusing on strength resistance and muscle hypertrophy is required Key words muscle strength resistance training volume intensity Fabio Carderelli Minozzo1 Claudio Andre Barbosa de Lira1 Rodrigo Luiz Vancini1 Ana Amélia BeneditoSilva2 Rafael Júlio de Freitas Guina Fachina1 Dilmar Pinto Guedes Jr1 Antônio Carlos Gomes3 Antônio Carlos da Silva1 Recebimento 08052007 Aceite 23032008 Correspondência Prof Dr Antônio Carlos da Silva email carlosantoniounifespbr Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício CEFE Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP Rua Botucatu 862 5º andar Vila Clementino CEP 04023901 São Paulo SP Brasil 1 Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício CEFE Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP São Paulo Brasil 2 Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo USP São Paulo Brasil 2 Clube Atlético Paranaense Curitiba PR Brasil Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 90 1 Introdução Ao se fazer menção à Teoria da Periodização acabase por se fazer alguma alusão ao desenvolvimento da Ciência do Treinamento Desportivo Para isso é imprescindível recorrer a algumas obras clássicas que fundamentaram teoricamente tal ciência criandose as condições ideais para o entendimento da origem das propostas publicadas mais recentemente O desenvolvimento da Ciência do Treinamento Desportivo acompanhou a humanidade desde as civilizações primitivas abrangendo o chamado período empírico passando pelo renascimento e a idade moderna período de improvisação Contudo foi somente no fi nal do século XIX e início do XX que surgiu na Alemanha e na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS o conceito sobre o planejamento do treino desportivo período da sistematização Porém foi a partir da década de 50 período científi co que nos países do Leste Europeu surgiram os primeiros compilados teóricos sobre a periodização32 De forma global a periodização do treinamento pode ser defi nida como a aproximação sistemática seqüencial e progressiva ao planejamento e organização do treinamento de todas as qualidades motoras dentro de uma estrutura cíclica para a obtenção do rendimento ótimo de um desportista ou uma equipe Sua efi cácia máxima depende de saber interrelacionar ao longo do período de treinamento todas as habilidades motoras para se atingir o rendimento específi co máximo121432 A partir da década de 60 o cientista russo Lev Pavlovitch Matveev publicou seus primeiros trabalhos sobre a periodização do treinamento baseado na teoria da Síndrome Geral da Adaptação SGA proposta em 1936 por Hans Selye31 Selye31 acreditava que o organismo reagia de forma muito similar em resposta a diferentes tipos de estresse ou seja que invariavelmente ajustarseia no sentido de recuperar o equilíbrio homeostático de acordo com as seguintes fases reação de alarme resistência e exaustão É geralmente na fase de resistência após uma recuperação adequada que ocorre o processo de supercompensação e possivelmente na fase de exaustão crônica sem recuperação adequada que pode ocorrer o overtraining6 Baseado nisso Matveev22 criou um modelo de periodização para estruturação e planejamento do treinamento contendo três fases período preparatório construção período competitivo manutenção e período transitório perda temporária Tais períodos compõem o chamado macrociclo que tem por fi nalidade projetar as diretrizes de um programa de treinamento com alguma antecedência sendo este subdividido em estruturas médias mesociclos e pequenas microciclos5 O modelo proposto por Matveev22 pode ser resumido em uma constante alternância entre cargas gerais que são relacionadas às capacidades físicas gerais e especiais relacionadas às capacidades específi cas da modalidade esportiva A macroestrutura parte do predomínio inicial das cargas gerais sendo estas gradativamente substituídas no decorrer do período de treinamento pelas cargas especiais à medida que se aproxima o período competitivo Durante as cargas gerais o volume tem papel de destaque no total da sobrecarga imposta enquanto que a intensidade avança progressivamente durante este período Por outro lado ao se aplicar as cargas especiais esta relação se inverte porém com uma redução de volume não tão acentuada614 2532 Verkhoshanski3436 alega haver uma carência de especifi cidade na proposta de Matveev Entretanto a maior parte das críticas feitas a este modelo se justifi ca quando se tenta aplicar seus conceitos dentro de um planejamento competitivo contemporâneo visto que a realidade científi ca e desportiva atual é muito diferente da época em que o modelo foi concebido25 Com base nisso Tschiene32 e Vorobyev37 adaptaram a estrutura clássica de Matveev às necessidades atuais conferindolhe maior possibilidade de picos de desempenho em um mesmo macrociclo e um caráter mais específi co Por fi m reunindose os inúmeros modelos de periodização constatamse duas tendências distintas a clássica derivada do modelo de Matveev e a de cargas concentradas derivada do modelo de Verkhoshanski25 A periodização no treinamento da força tem ganhado importância já que a mesma tem infl uência decisiva tanto para o sucesso esportivo quanto para a realização das atividades da vida diária disseminando R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 91 se também para setores que utilizam o exercício na promoção da saúde e do bem estar Neste sentido diferentes atividades esportivas eou recreativas necessitam de enfoques distintos sobre as várias manifestações da força resistência de força força máxima e potência e também sobre os resultados apresentados em conseqüência de um programa de treinamento como por exemplo a hipertrofi a muscular1935 Cada esporte tem particularidades que determinam os tipos de força que devem ser mais enfatizados muitas vezes infl uenciando o modelo de periodização a ser adotado16 Dessa forma cada vez mais profi ssionais da área da saúde buscam nos princípios da organização das cargas de treinamento uma ferramenta para melhor desempenho e entendimento dos sistemas fi siológicos Isso despertou nos acadêmicos um novo horizonte de pesquisa ou seja a verifi cação do efeito da sistematização metodológica da sobrecarga sobre o treinamento de força3 Muitos autores concordam em defi nir a periodização no treinamento de força como a variação sistemática da intensidade e do volume com o intuito de se desenvolver a força e evitarse o estado de overtraining10 151925 Seguindo esta defi nição a literatura distingue três modelos para o treinamento de força o modelo nãoperiodizado onde não há variação de intensidade e volume o modelo de periodização linear que segue o modelo clássico de diminuição progressiva do volume e com aumento concomitante de intensidade e o modelo periodizado ondulado26 que abrange outros modelos que possuem alterações fl utuantes de volume e intensidade Desta forma o objetivo da presente revisão foi comparar os diferentes modelos de periodização aplicados ao treinamento da força no intuito de verifi car qual deles proporciona melhores resultados em relação aos ganhos de força Para tanto foi feito um i levantamento bibliográfi co sobre as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento de força assim como uma ii revisão sistemática de artigos nas bases de dados Pubmed e Scielo até o ano de 2007 Estabeleceramse os seguintes limites para a revisão sistemática originais randomizados e controlados revisões e metaanálises Em seguida foi realizado o cruzamento das seguintes palavras pertencentes a títulos eou resumos periodization and strength training periodization and resistance training periodization and weight training Foram encontrados 27 itens todos no Pubmed A partir destes 27 estudos estabeleceuse um critério de inclusão similar ao adotado pela metaanálise de Rhea e Alderman28 para estudos originais os estudos deveriam ter como objetivo principal a comparação de no mínimo dois modelos de periodização de treinamento de força levandose em consideração a manipulação de apenas duas variáveis volume e intensidade Por fi m 15 estudos foram selecionados para está obra de revisão 2 Variáveis do treinamento de força e mecanismos de adaptação Existe uma série de variáveis que possibilitam periodizar o treinamento de força dentre elas se destacam o tipo de ação muscular isométrica concêntrica e excêntrica a seleção de exercícios os métodos de treino a intensidade geralmente relacionada a uma porcentagem da carga máxima o volume normalmente atribuído ao número total de repetições o intervalo que seria a duração das pausas entre as séries a velocidade de execução fundamental para o direcionamento do treino de potência muscular e a freqüência que representa o número de sessões dentro de um período1920 Apesar de as variáveis utilizadas para a prescrição do treinamento de força estarem intrinsecamente relacionadas é possível tratá las de forma isolada de acordo com objetivos a serem alcançados11 No entanto a maioria das pesquisas envolvendo a periodização no treinamento de força invariavelmente isola o volume e a intensidade2481718 20212324 2729303839 Há diversas maneiras de se estabelecer a intensidade durante o treinamento de força111920 Por exemplo Fry11 sugere que esta pode ser calculada em função da potência trabalho sobre tempo Entretanto a intensidade tem sido determinada mais comumente por duas maneiras i como a porcentagem da carga atingida no teste de uma repetição máxima 1RM ou ii como o maior número de repetições realizadas Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 92 para uma dada carga de trabalho até a falha mecânica na ação motora concêntrica 0811151920 Já o volume é geralmente dado pelo número de repetições totais em uma sessão de treino ou seja o número de séries multiplicado pelo de repetições multiplicado pelo número de exercícios151920 Isso porque o número total de repetições está relacionado ao tempo de duração do estímulo no qual o indivíduo está sendo submetido a uma carga não contabilizando o intervalo de recuperação1 Quanto ao intervalo de recuperação entre os estímulos treinos este é dependente da intensidade do volume e dos objetivos do treinamento20 De maneira geral para obteremse as respostas adaptativas desejadas os exercícios que visam o ganho de força máxima ou potência cargas altas necessitam de intervalos maiores para o restabelecimento do sistema fosfagênico ATPCP Já os que objetivam hipertrofi a muscular cargas médias precisam de intervalos intermediários e fi nalmente os que visam a resistência de força baixa intensidade que se caracterizam por intervalos menores com maior participação do metabolismo oxidativo19 Dependendo da magnitude do estímulo e da manipulação das variáveis o sistema neuromuscular geralmente sofre ajustes agudos que de acordo com o tipo de programa de treinamento podem potencializar adaptações neurais metabólicas endócrinas histológicas morfológicas imunológicas e cardiovasculares Essas adaptações por sua vez estão intimamente ligadas e podem ser manipuladas conforme o objetivo do treinamento força potência ou resistência de força9 21 Periodização no treinamento de força De maneira geral os estudos sobre a periodização no treinamento de força comparam o modelo fi xo nãoperiodizado a um ou mais modelos periodizados linear eou ondulado sendo o objetivo principal verifi car se os modelos periodizados são superiores ao fi xo em termos de resultados alcançados238101516181921232426303839 Na década de 60 o modelo fi xo era o mais popular entre os praticantes4 na tentativa de obter aumento na força máxima Este modelo era utilizado para o treinamento de diferentes grupamentos musculares e era composto por séries entre 5 ou 6RM Contudo OBryant et al24 propuseram um modelo baseado nos princípios clássicos de periodização redução de volume e concomitante aumento de intensidade Estes autores compararam o modelo fi xo ao periodizado linear e encontraram que o modelo periodizado proporcionou maiores ganhos de força Seguindo esta mesma linha outros estudos3839 também apresentaram resultados onde o treinamento periodizado se mostrou signifi cativamente superior quando comparado a outros modelos não periodizados com relação aos ganhos de força máxima A possível crítica para os achados de OBryant et al24 e Willoughby3839 foi que a manipulação do volume seria o principal responsável pelo ocorrido e que provavelmente o modelo periodizado teria propiciado uma fase hipertrófi ca inicial o que conduziu a um aumento de força na fase fi nal Outra comparação importante é com relação aos diferentes tipos de modelos de treinamento fi xo em relação aos modelos periodizados Por exemplo McGee et al23 comparando o modelo fi xo de séries únicas uma série por exercício ao de séries múltiplas mais de uma série por exercício e ao periodizado linear também de séries múltiplas com relação ao desenvolvimento da resistência de força constataram que apesar de não haver encontrado diferença no ganho de força dos grupos periodizado e fi xo de séries múltiplas estes foram superiores aos obtidos pelo grupo de séries simples o que os levou a concluir que o modelo de treinamento para o desenvolvimento da resistência de força é volumedependente ou seja séries múltiplas seriam superiores às simples Além disso parece que a simples manipulação de volume também exerceu grande infl uência sobre a melhora observada visto que apesar de o grupo periodizado ter realizado um menor volume de séries múltiplas que o fi xo ambos obtiveram resultados similares Observou se que de alguma maneira a fase inicial duas primeiras semanas de treinamento do grupo periodizado teria gerado adaptações sufi cientes na resistência de força e que talvez estas tenham sido mantidas pelo aumento da intensidade nas semanas seguintes R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 93 Em contrapartida Baker et al2 avaliaram isoladamente o efeito da periodização sobre as diversas adaptações provenientes do treinamento de força tentando isolar apenas o efeito da manipulação do volume mantendo a sua somatória fi nal aproximadamente similar nos diferentes modelos estudados equalização de volumes Este estudo foi conduzido ao longo de 12 semanas e envolveu três grupos fi xo periodizado linear e periodizado ondulado Foram realizados testes que avaliaram adaptações relacionadas à força máxima 1RM à potência muscular avaliação da impulsão vertical à hipertrofi a muscular avaliação da massa magra e à capacidade de recrutamento muscular análise eletromiográfi ca Todos os grupos demonstraram aumentos estatisticamente signifi cativos das variáveis analisadas excetuandose a capacidade de recrutamento muscular que permaneceu inalterada nos três grupos Contudo não houve diferenças quando foram comparados os resultados de todos os testes entre os grupos Com isso os autores concluíram que não havia diferença entre os modelos periodizados e o fi xo quando o volume total era controlado equalização acreditando inclusive que alguns dos trabalhos anteriores3839 teriam obtido resultados favoráveis aos modelos periodizados devido às diferenças de volume de treinamento entre os grupos Quando outros estudos começaram a fazer uso da equalização de volumes1730 parecia que a periodização perderia seu valor e efi cácia para o treinamento Ou seja se os volumes totais eram equalizados qualquer modelo produziria ganhos de força assim como de outras capacidades similares independentemente da manipulação feita nos seus volumes durante o treinamento Paralelamente Kraemer18 e Marx et al21 mudaram o foco das discussões por meio da comparação do modelo periodizado ondulado ao fi xo sem fazer a equalização de volumes publicando trabalhos envolvendo treinamento de força usando da periodização ondulada O trabalho de Kraemer18 teve como objetivo solucionar questões relativas ao treinamento de jogadores de futebol americano comparando o modelo fi xo de séries simples e de cargas altas em circuito ao periodizado ondulado Os jogadores foram avaliados em força máxima 1RM resistência de força repetições máximas potência anaeróbia impulsão vertical e teste de Wingate e composição corporal dobras cutâneas A maioria dos resultados demonstrou a superioridade do grupo periodizado ondulado sobre o fi xo na maior parte das variáveis avaliadas levandose em conta todos os momentos de avaliação no prétreino após a 7ª semana após a 14ª semana e no póstreino Sendo assim concluiuse que a superioridade do modelo periodizado teria relação com a manutenção da continuidade adaptativa ou seja a variação de volume e intensidade semanal criaria melhores condições para o desenvolvimento hipertrófi co produzindo estresse metabólico e endócrino de força máxima e potência por meio da imposição de estresse neural e de resistência de força devido à grande mobilização metabólica Já o modelo fi xo não conseguiria manter as adaptações de força máxima devido a um menor estímulo hipertrófi co o que conseqüentemente difi cultaria desenvolvimento da força máxima como também haveria uma tendência à estagnação platô promovida pela monotonia do treinamento fi xo Adicionalmente o estudo de Marx et al21 testou a hipótese que a variação dos volumes seria algo inerente à periodização ou seja que a equalização dos volumes provavelmente anularia o efeito destes sobre o treinamento Para isso avaliou três grupos periodizado de alto volume nãoperiodizado de séries simples e baixo volume e o grupo controle em um programa de treinamento de força de 24 semanas O grupo não periodizado executou séries simples em forma de circuito de 8RM a 12RM com um minuto de intervalo três vezes por semana o grupo periodizado treinou quatro vezes por semana por meio de diferentes tipos de séries múltiplas periodização ondulada enfocando a força máxima e a potência 3RM a 5RM com três minutos de intervalo série de hipertrofi a 8RM a 10RM com dois minutos de intervalo de resistência de força 12RM a 15RM com um minuto de intervalo e de manutenção 8RM a 10RM e baixo volume Antes após 12 semanas e ao fi nal das 24 semanas do programa de treinamento foram realizados os seguintes testes composição corporal pesagem hidrostática força Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 94 máxima teste de 1RM potência anaeróbia impulsão vertical e teste de Wingate e avaliação das concentrações de testosterona cortisol fator de crescimento semelhante à insulina1 e hormônio do crescimento Os achados deste estudo demonstraram que o grupo periodizado obteve aumento de massa muscular signifi cativamente superior ao nãoperiodizado assim como melhor desempenho nos testes de 1RM impulsão vertical e teste de Wingate como também concentrações hormonais que favoreciam o estado de anabolismo muscular em todas as fases O grupo nãoperiodizado apresentou resultados signifi cativamente superiores apenas quando comparado ao grupo controle Os autores concluíram que apesar de o grupo periodizado ter realizado um volume maior que o nãoperiodizado apresentou menor tendência à estagnação ou seja de alguma maneira a manipulação do volume evitou o platô No entanto a literatura28 já demonstrara que algumas considerações deveriam ser feitas quanto aos desenhos experimentais nos trabalhos que tentaram isolar o efeito da variabilidade proveniente da periodização por meio da equalização de cargas Um dos problemas encontrado na maior parte dos estudos acontece quando não existe a preocupação em se isolar os componentes da força a serem testados Em outras palavras não há como se verifi car a superioridade de um modelo sobre o outro em todas as adaptações objetivadas com o treinamento de força ou seja neurais metabólicas morfológicas endócrinas cardiovasculares entre outras já que apesar de várias delas de certa forma serem complementares outras podem ser totalmente antagônicas Os autores citados no parágrafo anterior basearam suas afi rmações em dois trabalhos prévios2729 onde realizaram estudos com desenhos similares porém com objetivos distintos Ambos comparavam os diferentes modelos de treinamento de força a fi m de obter uma adaptação específi ca fazendo a equalização de volume O primeiro estudo29 comparou o modelo periodizado linear com o ondulado sendo realizado em indivíduos com experiência em treinamento com pesos com o objetivo de melhorar a força máxima O segundo estudo27 comparou os modelos de periodização linear ondulada e reversa do linear derivada da periodização linear onde existe a redução de intensidade e o aumento de volume no transcorrer do treinamento para a obtenção de aumento da resistência de força Os resultados demonstraram que apesar de ter sido feita a equalização de volumes o modelo de periodização ondulada proporcionou ganhos de força máxima signifi cativamente superiores aos obtidos pelo modelo de periodização linear Apesar deste aumento da força máxima os dois modelos não proporcionaram ganhos em hipertrofi a muscular Os autores concluíram que o modelo de periodização ondulada causaria maior estresse neural e assim estimularia uma melhor manifestação da força máxima quando comparado ao modelo linear Observouse também que o modelo de periodização reversa do linear quando comparado aos modelos ondulado e linear proporcionou aumento superior em relação à resistência de força entretanto inferior em relação à força máxima Por outro lado o modelo ondulado proporcionou maiores ganhos de força máxima Outro achado interessante deste estudo foi que os diferentes modelos analisados proporcionaram redução da circunferência da coxa É importante observar que a força aumentou apesar da redução da circunferência das coxa dos grupos avaliados e os autores inferiram que isto seria benéfi co para a resistência geral adaptação cardiorrespiratória visto que o consumo máximo de oxigênio VO2 máx está intrinsecamente ligado ao peso corporal Conjeturouse que essa redução pudesse estar relacionada à diminuição do número de fi bras do tipo II maiores responsáveis pelo aumento de volume muscular além da diminuição do tecido adiposo Sugeriuse que o direcionamento do treino teria levado o modelo reverso linear a contribuir com maiores ganhos em resistência muscular localizada ou seja o volume de trabalho realizado resultou em valores de resistência superiores quando comparados aos outros modelos Isso veio corroborar com a teoria da especifi cidade Em outras palavras para se comparar os efeitos de diferentes modelos periodizados devese levar em conta os objetivos do treinamento resistência de força força máxima potência entre outros Os resultados sugerem que o modelo de periodização reverso do linear seja o mais recomendado para os atletas de resistência R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 95 já os modelos linear e ondulado aos atletas de força e potência Entretanto os autores ressaltaram que a literatura necessita de investigações mais apuradas sobre os efeitos específi cos dos inúmeros modelos de treinamento de força principalmente para as modalidades que visem outras adaptações além da força máxima e potência musculares Entretanto nem mesmo em relação à obtenção de força máxima a literatura parece ser consensual com respeito ao efeito da manipulação do volume gerada pela periodização principalmente quando este é equalizado Na tentativa de sanar estas questões Rhea and Alderman28 publicaram uma metaanálise por meio de uma revisão sistemática da literatura entre os anos de 1962 e 2000 Os critérios de inclusão deste trabalho para a seleção dos artigos foram comparar os modelos periodizados e fi xos sendo que a variável dependente deveria medir a força incluindo valores de pré e póstestes e que os dados fossem sufi cientes para o cálculo do tamanho do efeito índice muito usado em estudos de metaanálise que corresponde à magnitude do efeito de um tratamento Ao fi nal do processo de seleção 11 referências perfaziam tais exigências Em seguida foram feitas duas análises a primeira não levou em consideração as diferenças do volume total entre os modelos periodizados e fi xo enquanto que a segunda considerou apenas o efeito da variabilidade corrigindo a infl uência da falta de equalização de cargas se necessário Com o volume total equalizado ou não o modelo periodizado se mostrou superior ao fi xo Porém o tamanho do efeito dos trabalhos equalizados era cerca de um quarto do tamanho do efeito encontrado sem a padronização do volume Em outras palavras apesar da variabilidade ser a principal variável responsável pela superioridade do modelo periodizado a diferença entre os volumes totais exerceu grande infl uência em seus resultados Creditouse parte do efeito da periodização à variabilidade e parte ao predomínio em volume que alguns modelos periodizados apresentaram sobre os nãoperiodizados Uma vez mais trazendo à tona a questão da equalização do volume dois recentes estudos78 buscaram elucidar as dúvidas atreladas à comparação entre o modelo fi xo e diferentes modelos periodizados DeBeliso et al8 propuseram uma comparação entre o modelo fi xo e o periodizado linear por 18 semanas em idosos de ambos os gêneros e sem experiência prévia em treinamento de força sendo o primeiro estudo a utilizar esta população para este fi m Uma particularidade deste estudo foi que o mesmo não utilizou o ajuste das cargas dos exercícios pelo percentual do teste de 1RM Os autores justifi caram que por utilizarem máquinas projetadas para o treinamento de força e não pesos livres um ajuste pelo percentual da carga máxima dinâmica poderia não ser possível e a carga poderia ser sub ou superestimada Dessa forma o estudo padronizou que as cargas deveriam ser ajustadas sempre que o sujeito conseguisse por duas sessões seguidas realizar todas as séries e repetições programadas Ambos os programas tiveram seus volumes equalizados para as 18 semanas Ao fi nal do período experimental ambos os programas de treinamento apresentaram ganhos de força signifi cativos em comparação ao grupo controle Porém não foram observadas diferenças estatisticamente signifi cativas entre o modelo fi xo e o periodizado Os próprios autores ressaltaram que o fato de não terem realizado testes no decorrer do período experimental não permitiu avaliar se algum dos modelos manifestou seus ganhos mais depressa do que o outro Por outro lado Buford et al7 preferiu propor uma comparação apenas entre modelos periodizados linear ondulado por dia e ondulado por semana com o volume de todos devidamente equalizados O desenho deste estudo mostrouse bastante cuidadoso pois os sujeitos eram praticantes recreativos de treinamento de força e permaneceram oito semanas sem treinar antes do início do experimento As primeiras quatro semanas do estudo eram de treinamento fi xo para todos os grupos para que então cada grupo seguisse nas nove semanas seguintes em seus respectivos modelos de periodização Os parâmetros a serem analisados seriam a força máxima dinâmica teste de 1RM e a composição corporal dobras cutâneas Os testes seriam realizados em três momentos pré após quatro semanas e ao fi nal das nove semanas propostas pelo protocolo Os autores tomaram o cuidado de manter os testes sempre no mesmo horário e com Periodização do treinamento de força uma revisão crítica R bras Ci e Mov 2008 161 8997 96 o mesmo pesquisador aplicandoos Os achados demonstraram que os três modelos apresentaram ganhos estatisticamente signifi cativos ao fi nal da nona semana e em todos os parâmetros estudados Os autores afi rmam que como houve redução da massa gorda e aumento da massa corporal magra os ganhos de força não devem ser atrelados unicamente a fatores de adaptação neural ao estímulo mas também a adaptações do próprio tecido muscular Porém não foram encontradas tais diferenças na comparação entre os grupos Entretanto os autores fazem uma ressalva de que em observações empíricas do cotidiano do treinamento as diferenças entre os modelos de periodização necessitariam de um período maior de tempo indivíduos com níveis superiores de treinabilidade e devido a isso capazes de executar e suportar técnicas mais avançadas de treinamento 3 Conclusão A maior parte dos estudos demonstrou que o modelo fi xo apresentouse inferior aos modelos periodizados em que um maior volume era empregado Entretanto quando se equalizou os volumes resultados contraditórios foram obtidos ao se comparar o modelo periodizado com o fi xo Neste sentido não há consenso sobre quais seriam os melhores protocolos de avaliação de força para comparar os diferentes modelos já que um mesmo modelo pode se mostrar superior ou inferior a outro quanto ao desenvolvimento de determinadas manifestações da força Ainda assim a literatura sugere que dentre os modelos periodizados o ondulado tem demonstrado melhores resultados se comparado com o linear e com o reverso do linear principalmente com relação ao desenvolvimento da força máxima e potência musculares Fora isso ainda cabe salientar que as pesquisas ainda não conseguiram reproduzir muitas das situações observadas no cotidiano do treinamento desportivo principalmente no que tange ao treinamento de atletas de alto rendimento já que estes são submetidos a um elevado volume geral de tarefas motoras além do treinamento de força Portanto são necessárias mais investigações acerca de outras manifestações da força e controle mais rígido de variáveis específi cas tais como um maior número de avaliações durante o protocolo experimental e melhor caracterização da população estudada Adicionalmente são necessárias investigações com um período maior de treinamento Para tanto é importante primeiro isolar as adaptações a serem avaliadas para posteriormente analisar o efeito de cada modelo sobre o desenvolvimento específi co dos diferentes tipos de força que na maioria das vezes solicitam adaptações distintas 4 Referências 1 Badillo JJ Ayestarán EG Fundamentos do treinamento de força aplicação ao alto rendimento 2ª ed Porto Alegre Artmed 2001 2 Baker D Wilson G Carlyon R Periodization the effect on strength of manipuling volume and intensity J Strength Cond Res 19948423542 3 Barbanti VJ Tricoli V Ugrinowitsch C Relevância do conhecimento científi co na prática do treinamento físico Rev Paul Educ Fís 2004181019 4 Berger RA Effect of varied weight training programs on strength Res Q 19623316881 5 Bompa TO Periodização teoria e metodologia do treinamento São Paulo Phorte 2002 6 Brown LE Greenwood M Periodization essentials and innovations in resistance training protocols Strength and Conditioning Journal 2005274805 7 Buford TW Rossi SJ Smith DB Warren AJ A comparison of periodization models during nine weeks with equated volume and intensity for strength J Strength Cond Res 2007214124550 8 DeBeliso M Harri C SpitzerGibson T Adams KJ A comparison of periodised and fi xed repetition training protocol on strength in older adults J Sci Med Sport 2005821909 9 Deschenes MR Kraemer WJ Performance and physiologic adaptations to resistance training Am J Phys Med Rehabil 20028111suppl316 10 Fleck SJ Periodized Strength Training A critical review J Strength Cond Res 1999131829 11 Fry AC The role resistance exercise intensity on muscle fi bre adaptations Sports Med 2004341066379 R bras Ci e Mov 2008 161 8997 F C MINOZZO et al 97 12 Gambetta V Concept and application of periodization NSCA Journal 1991135646 13 Gomes AC Almeida HF Almeida DC Uma ótica evolutiva do treinamento desportivo através da história Revista Treinamento Desportivo 2000514052 14 Graham J Periodization research and an example application Strength and Conditioning Journal 20022466770 15 Haff GG Roundtable Discussion Periodization of training Part1 Strength and Conditioning Journal 2004261 5069 16 Haff GG Roundtable Discussion Periodization of training Part2 Strength and Conditioning Journal 20042625670 17 Herrick AB Stone WJ The effects of periodization versus progressive resistance exercise on upper and lower body strength in women J Strength Cond Res 1996102 726 18 Kraemer WJ A series of studies the physiological basis for strength training in American football fact over 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