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Linguagem Ensino Vol 8 No 1 2005 73100 A valência verbal em três dicionários brasileiros Verbal valency in three Brazilian dictionaries Herbert Andreas WELKER Universidade de Brasília ABSTRACT The concept of verb valency was used in a Brazilian dictionary for the first time in 1990 Its organizer presented the theoretical foundations in more detail in Borba 1996a In the present article I distinguish very succinctly several types of valency and then show how verbal valency is treated in the abovementioned monolingual verb dictionary a general dictionary and a bilingual verb dictionary which is still being compiled Although all three indicate valency being therefore more useful than other dictionaries for people who want to use the verbs they do it in a different way In my opinion certain information in the first two is unnecessary about semantic cases and verb classes whereas in the second some important information about semantic restrictions is lacking RESUMO O conceito de valência verbal foi aplicado num dicionário brasileiro pela primeira vez em 1990 Seu organizador apresentou as bases teóricas mais detalhadamente em Borba 1996a No presente artigo A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 74 diferencio muito sucintamente diversos tipos de valência para em seguida mostrar como a valência verbal é tratada no supracitado dicionário de verbos monolíngüe num dicionário geral e num dicionário de verbos bilíngüe ainda em elaboração Todos os três indicam a valência e por isso são mais úteis do que outros para aquele usuário que quer empregar os verbos mas há diferenças Considero que nos dois primeiros certas informações são desnecessárias sobre casos semânticos e classes de verbos ao passo que no segundo faltam informações importantes sobre restrições semânticas KEYWORDS verb valency lexicography deep cases semantic restrictions verb classes PALAVRASCHAVE valência verbal lexicografia casos profundos restrições semânticas classes de verbos Foi na Alemanha que surgiu o primeiro dicionário de valências monolíngüe HelbigSchenkel 1969 assim como o primeiro bilíngüe BusseDubost 1977 francêsalemão O alemão Busse organizou ainda um bilíngüe portuguêsalemão Busse 1994 e escreveu junto com Mário Vilela o primeiro livro em português dedicado especificamente à gramática ou teoria da valência BusseVilela 19861 No Brasil o conceito de valência foi aplicado num dicionário pela primeira vez em 1990 num dicionário de verbos 1 Os três dicionários citados e mais alguns outros foram analisados brevemente em Welker 2003 p178203 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 75 Borba 1990 aqui abreviado DGV e posteriormente num dicionário geral Borba 2002 É do seu organizador também o primeiro livro brasileiro sobre a gramática da valência Borba 1996a Na verdade o conceito de valência faz parte da Gramática da Dependência do francês Lucien Tesnière Tesnière 1959 que se tornou conhecida na Alemanha através de diversos escritos de Helbig Embora Tesnière que desenvolveu sua teoria já nos anos trinta seja considerado o pai desse conceito não se deve esquecer que outros tiveram idéias semelhantes como o alemão Bühler em 1934 e o russo Kacnelson em 1948 cf Ágel 2000 p2731 Além disso três gramáticas alemãs de 1959 e 1960 continham pensamentos parecidos sem que os autores conhecessem a Gramática da Dependência como afirma Engel em 1980 na sua introdução à tradução alemã de Tesnière 19592 O QUE É A VALÊNCIA VERBAL Borba 1990 pXXI a define como o conjunto de rela ções estabelecidas entre o verbo e seus argumentos ou cons tituintes indispensáveis Para ser exato é preciso dizer que existe também a valência de substantivos e de adjetivos tra 2 Borba 1996a não cita nenhum trabalho brasileiro sobre a valência ou a dependência mas existe por exemplo a dissertação de Raulino Bussarello Contribuição lingüística do modelo dependencial de Lucien Tesnière para o estudo do Latim em cursos de Letras PUCRS 1981 Ignácio 1996 1997 inclui na bibliografia sua Tese de LivreDocência Para uma tipologia dos complementos verbais do português contemporâneo do Brasil UNESP Araraquara 1984 à qual não tive acesso Portanto não sei se trata da valência Ele próprio não a menciona em Ignácio 2000 A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 76 tada em Borba 1996a p84190 de modo que há até mesmo dicionários dedicados especificamente a ela Porém vamos restringirnos aqui à valência verbal Tesnière considera o verbo o núcleo da frase É o ver bo que determina quais elementos a frase tem que conter Como determinado átomo precisa de um certo número de ou tros átomos para formar uma molécula o que é indicado pela valência química assim um determinado verbo ou melhor determinada acepção exige um certo número de comple mentos ou actantes para que a frase seja gramaticalmente correta Mas a valência verbal dá mais informações do que o simples número Enquanto a regência só informa se o verbo pede um objeto direto ou indireto a valência indica que por exemplo morar na acepção mais comum isto é residir pede além do sujeito um complemento de lugar No caso de dizer vai haver a informação de que além do sujeito tem que ocor rer um complemento na forma de um nome substantivo ou pronome como asneiras ou nada ou do discurso direto ou indireto Há um certo problema quanto ao termo complemen tos Com Tesnière boa parte dos teóricos da valência consi dera o sujeito nada mais do que um complemento mesmo que difira dos outros em vários aspectos sendo que alguns prefe rem o termo actante Porém diversos autores entre eles Borba concedem ao sujeito um lugar especial distinguindo portanto sujeito e complementos Dessa forma o verbo ex plicar exigirá um sujeito e dois complementos que podem ser omitidos ou apagados como em Já expliquei Eu prefiro contar o sujeito entre os complementos mesmo que várias vezes mencione o termo sujeito como também os de objeto direto e de objeto indireto No lugar de complemento utilizase às vezes também HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 77 o termo argumento como na definição de Borba supracitada Mas nesse caso sempre está incluído o sujeito O termo ar gumento foi primeiro empregado quando se falava da valência lógica Valência lógica Foi Heger 1966 quem chamou a atenção para o fato de que a valência poderia ser considerada uma categoria conceitual não sendo restrita à morfossintaxe à forma dos complementos do verbo Depois Bondzio 1971 introduziu a valência lógica Sobre o fato de por exemplo o verbo vigiar implicar que há alguém que vigia e alguémalgo vigiado ele diz p89 Essas relações são representadas na lógica dos predicados mediante os conceitos predicado ou functor lugares vazios e argumentos do predicado Assim o verbo vigiar pode ser descrito como predicado functor com dois lugares vazios que podem ser ocupados pelos respectivos argumentos3 Como predicado o verbo costuma ser representado por P quando tem apenas um argumento e por R quando tem mais de um argumento os argumentos por sua vez são represen tados por x y z Dessa forma nadar teria a valência lógica P x onde x simboliza o único argumento que é o sujeito já visitar seria representado por R xy onde y simboliza o se gundo argumento o objeto direto Ao tratar desse assunto Borba 1996a p20 emprega 3 Todas as traduções são minhas A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 78 primeiro os termos valência quantitativa valência lógica ou lógicosemântica mas depois p46 só utiliza o termo valência quantitativa De fato a valência lógica diz respeito apenas ao número de argumentos que um verbo possui devido ao seu significado Não existe consenso a respeito da valência lógica de todos os verbos e acepções Por exemplo enquanto para Helbig 1992 p175 o verbo fliegen ir de avião possui três argumentos x alguém y de avião z a algum lugar não há dúvida de que o verbo implica como quarto argumento o lugar de onde o avião parte Ickler 1985 p374 chega à conclusão de que poucos autores analisam o mesmo fato da mesma maneira De qualquer modo é desnecessário incluir a valência lógica nos dicionários pois devido à apresentação do signifi cado do verbo o consulente já tem uma idéia a respeito do número de argumentos ou seja mesmo sem saber nada a res peito de argumentos ele sabe que andar na acepção mais comum implica que alguém se movimenta de um lugar para outro Aliás como afirma Helbig 1992 p166 existe a possi bilidade de certos argumentos não poderem ser realizados em determinada língua Assim mentir tem como argumentos ou implica a pessoa que mente e a pessoa a quem se mente mas em alemão o equivalente lügen só admite um complemento o sujeito Portanto saber o número de argumentos não serve àquele usuário que queira empregar esse verbo Valência semântica Segundo Borba 1996a p49 a valência semântica diz respeito em primeiro lugar às propriedades semânticas dos verbos ou seja sua subcategorização em traços Toda HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 79 via a maioria dos autores entende outra coisa por valência semântica a saber algo ao que o próprio Borba se refere posteriormente p52 quando diz que Da aproximação entre as estruturas conceituais resultam os papéis temáticos A idéia dos papéis temáticos foi introduzida por Fillmore 1968 que chamou atenção para casos profundos também denominados casos semânticos diferentes dos casos superfi ciais como nominativo ou acusativo Para Fillmore a frase na sua estrutura básica consiste em um verbo e um ou mais sintagmas nominais cada um associado ao verbo numa rela ção específica de casos p21 O autor estabeleceu uma lista provisória de seis casos agentive instrumental dative factitive locative objective ele mesmo e outros autores posteriormente listaram mais ou diferentes casos No DGV por exemplo encontramse os seguintes agente beneficiário experimentador objetivo locativo instrumental causativo meta origem temporal Sendo casos profundos que de pendem do significado do verbo eles podem ser realizados na superfície de diferentes maneiras ou mesmo nem apare cer Assim cortar implica alguém que corta agente algo que é cortado objetivo e um instrumento instrumental de modo que o quadro de casos case frame desse verbo é necessariamente AOI mas com cortar na referida acepção podem ser formadas frases como Pedro cortou a árvore com o machado Machado bom que já cortou muita árvore4 Pedro cortou a árvore 4 Enunciado tirado do DGV A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 80 Ou seja o instrumental pode aparecer como adjunto adverbial como sujeito ou ser omitido Nos anos setenta vários autores percebendo semelhan ças entre as idéias de Fillmore e de Tesnière pois ambos viam no verbo aquele elemento que determina a estrutura bá sica da frase incluíram os casos profundos na teoria da valência denominando essa parte de valência semântica Como acontece com a valência lógica não há unanimi dade quanto ao estabelecimento dos quadros de casos dos di versos verbos Borba 1996a p31 reconhece que a identifi cação dos casos por seus traços constituintes às vezes se tor na sutil ou difícil No que diz respeito a dicionários surge também aqui a pergunta se uma informação sobre a valência semântica é necessária A resposta é parecida com aquela dada no caso da valência lógica o usuário que conhece a teoria dos casos pode entendendo o significado de determinada acepção do verbo ele mesmo estabelecer o quadro de casos pois ao con trário da estrutura superficial própria a cada língua os ca sos profundos independem do idioma É por isso que Schumacher 1986 p358 e Fischer 1990 p24 reconhecem que os casos semânticos não constituem um problema para o aprendiz de línguas estrangeiras Assim os equivalentes de comprar implicam em todas as línguas nas quais existe esse conceito um comprador caso agente o objeto comprado caso objetivo e o vendedor caso origem podese ainda acrescentar o valor da compra mas como foi dito acima não há consenso quanto ao número de argumentos e de casos Por tudo isso um dicionário que indique os casos profundos apenas facilita as coisas para aquele que estiver interessado nesses casos mas não fornece nenhuma informação que o usuário não possa deduzir ele próprio do significado do verbo HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 81 Por exemplo se sei a definição dos casos agente paciente e experimentador sei também que nas seguintes acepções de cheirar a tomar o cheiro de aplicar o sentido do olfato a b exalar cheiro c pressentir perceber o caso do sujeito é agente paciente e experimentador respectivamente5 Valência sintática Esta é a valência tradicional isto é idealizada por Tesnière e a mais comum aquela definida acima e exemplificada com os verbos morar e dizer ou seja a valência sintática indica quantos complementos actantes o verbo exi ge na superfície e qual é a forma desses complementos obje to direto objeto indireto com determinada preposição adjunto ou complemento adverbial de lugar complemento oracional etc Enquanto podem ser levantadas dúvidas quanto à utili dade de informações sobre a valência lógica e a semântica é obviamente a valência sintática que o usuário tem que conhe cer para poder expressarse corretamente não necessaria mente conforme os ditames das gramáticas tradicionais e sim conforme a norma o usual O grande problema que suscitou uma discussão sem fim é saber quais complementos são imprescindíveis Como no caso dos dois outros tipos de valência aqui tampouco exis te unanimidade É claro que em primeiro lugar devem ser distinguidas as diversas acepções dos verbos o que reconhecidamente já é uma tarefa difícil pois cada uma tem sua valência específi ca 5 Exemplos tirados do DGV A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 82 Em segundo lugar temse diferenciado desde os anos sessenta entre complementos obrigatórios e facultativos Tesnière já havia percebido que nem todos os actantes têm que ser realizados mas a distinção entre os dois novamente não é fácil como não é estabelecer um limite nítido entre os facultativos e os elementos não exigidos pelo verbo os chamados circunstantes ou adjuntos Por exemplo segundo o DGV presentear exige além do sujeito apenas um objeto direto como em Ele presenteou todos os funcionários Mas em quase todas as frases inclusive nas abonações do próprio DGV há um complemento com a preposição com de modo que este deveria ser considerado no mínimo complemento facultativo Além disso existe a possibilidade de ocorrerem frases como Ela sabe presentear na qual o objeto direto complemento obrigatório é omitido Pasch 1977 considera que tais complementos apagáveis em situações muito especiais são obrigatórios relativos ao passo que a autora chama de obrigatórios absolutos aqueles que nunca podem ser omitidos A valência pragmática Se as situações especiais no caso mencionado por Pasch são lingüísticas pois a omissão do complemento no último exemplo é possibilitada pela ocorrência do verbo saber há ainda que levar em consideração fatores extralingüísticos que podem causar variações na valência de modo que Růžička 1977 cunhou o termo valência pragmática Götze 1974 já havia chamado atenção para a influência de aspectos pragmáticos na valência aspectos bastante discutidos posteriormente Storrer 1992 criou um complexo modelo de valência situacional HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 83 Enquanto na maioria das vezes tais fatores provocam uma redução do número de complementos como no exemplo Já expliquei há casos em que ocorre um aumento da valência normal isto é em certas situações o verbo exige mais comple mentos do que normalmente Assim Schwitalla 1985 perce beu que em anúncios de falecimento o verbo alemão sterben falecer que normalmente só tem o sujeito como actante obrigatório e facultativamente um actante que indica a causa da morte é acompanhado quase obrigatoriamente de um complemento informando a idade da pessoa Por falta de espaço e por razões econômicas os dicionários impressos não podem fornecer todas as informa ções a respeito de todas as possibilidades de ocorrência ou omissão de complementos Nos dicionários eletrônicos não faltaria espaço porém persistem as dificuldades de elabora ção detalhada dos verbetes Evidentemente pode e deve ha ver mais informações do que nos dicionários tradicionais Valência sintáticosemântica Embora seja quase impossível mencionar todas as es truturas que mais ou menos freqüentemente ocorrem na lín gua falada e escrita há uma informação que o bom dicionário deveria fornecer a saber sobre a categoria semântica à qual devem ou podem pertencer os diversos actantes por exemplo sobre o fato de que o objeto direto de desfavorecer é segun do o DGV expresso por um nome humano pessoas ou con juntos de pessoas como escola classe média Tratase de restrições selecionais que foram denominadas pelos teó ricos da valência informações semânticoreferenciais Helbig 1992 p18 categoriais ou ontológicas Schumacher 1996 p290 Diversos autores afirmaram que A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 84 elas constituem a valência semântica HelbigSchenkel 1969 ou fazem parte dela Borba 1996a6 Tais informações já foram incluídas parcialmente nos primeiros dicionários de valência Por exemplo em Busse Dubost opcit os complementos são geralmente simboliza dos apenas por N mas às vezes especificase que N re ferese a pessoas ou ao contrário a coisas É verdade que em muitos casos a informação de que o sujeito tem que ser uma pessoa é supérflua pois sabendose do significado de aprovar por exemplo é claro que só seres humanos podem aprovar algo mas em outros casos isso é menos evidente Por exemplo se não conheço o verbo desfa lecer e ele é explicado como no DGV por enfraquecer esmorecer desmaiar vou supor que somente pessoas ou ani mais podem desfalecer como não existe tal restrição o dici onário deveria indicar a possibilidade de o sujeito ser uma coisa7 Informações semânticoreferenciais são ainda mais 6 A valência semântica diz respeito às características categoriais traços que compõem cada uma das categorias Nanim hum cont etc às funções temáticas papéis como agente causativo beneficiário experimentador etc e às restrições selecionais que determinam quais classes subclasses de itens preenchem os argumentos p21 Eu prefiro reservar o termo valência semântica para os casos profundos que se manifestam na superfície de várias maneiras já as restrições selecionais que também são semânticas limitam a escolha dos complementos na superfície ou seja determinado complemento indicado pela valência sintática tem que pertencer a determinada categoria Por isso uso o termo valência sintáticosemântica 7 Expressões como o sujeito é uma pessoacoisa são abreviações feitas por comodidade significando no lugar do sujeitocomplemento é usado um lexema ou nome substantivo pronome ou nome próprio que designa seres humanos coisas No próprio DGV encontramse às vezes expressões abreviadas como sujeito humano por exemplo no verbete comer HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 85 importantes no caso dos outros complementos Por exemplo as explicações dos significados de estragar no DGV são in suficientes para o usuário saber o que se pode estragar por tanto as restrições selecionais que de fato constam nesse dicionário são imprescindíveis OS TRÊS DICIONÁRIOS Será examinada a apresentação da valência nos dicio nários DGV Borba 1990 DUP Borba 2002 e DVAP Di cionário de verbos alemãoportuguês de minha autoria Este último ainda não foi publicado e sua elaboração encon trase apenas em estágio inicial porém como ele já pode ser consultado mesmo contendo poucos verbetes consideroo não um projeto e sim um dicionário em construção Ele está disponível na internet no endereço httpwwwunbbrillet welkerdiciindex O DGV Em Welker 2000a foi feita uma análise crítica geral desse dicionário de verbos Aqui restrinjome a considerações sobre a valência Além das explicações mediante sinônimos e paráfra ses das abonações e de locuções o DGV oferece as seguin tes informações as quais são dadas em forma de linguagem comum não de siglas ou abreviaturas como acontece em to dos os dicionários valenciais a Valência sintáticosemântica Indicamse o sujeito e os outros complementos exigidos A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 86 pelo verbo em cada uma de suas acepções para esses últi mos informase ao usuário se deve ser usada alguma preposi ção ou se o complemento é de um tipo especial como por exemplo de modo ou oração conjuncional O fato de certos complementos serem facultativos é expresso pela observação apagável Assim em Essa histó ria não me cheira bem o pronome me é considerado apagável Muito freqüentemente são apresentadas restrições selecionais para o sujeito e os outros complementos mediante a indicação de traços semânticos como humano concre to abstrato concreto nãoanimado instituição Às vezes as informações semânticas são mais preci sas por exemplo informase que determinado complemento tem que ser um nome designativo de espaço concreto visí vel designativo de objeto cognitivo designativo de produ ção lingüística indicativo de sabor ou som designativo de pedra de jogo de xadrez ou de damas Chamo essas restri ções de restrições semânticas em oposição às restrições selecionais as quais também são semânticas porém mais ge rais Mais raramento fazemse observações em letra me nor sobre situações específicas por exemplo tendo em vis ta que comer em determinada acepção significa engolir para se alimentar explicase que com sujeito humano o verbo pode significar tomar uma refeição b Valência semântica Curiosamente os casos semânticos ou profundos são informados apenas em relação ao sujeito enquanto a Te oria dos Casos prevê a indicação para todos os argumentos Segundo o Glossário anexo à introdução do DGV são diferenciados os casos agente beneficiário causativo HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 87 experimentador factitivo inativo e paciente Algumas vezes sendo o sujeito um agente há uma ob servação em letra menor de que um instrumental pode ocupar a posição de sujeito Há também esclarecimentos como Um locativo temporal ou espacial pode ocupar a posi ção de sujeito que então se apaga verbete comemorar Como foi explicado em 12 considero a indicação de casos profundos desnecessária8 c Classes sintáticosemânticas dos verbos Para cada acepção o DGV informa a classe sintático semântica do verbo Essas classes são ação açãoproces so processo e estado Estranhamente o autor não cita Chafe 1970 p95104 que introduziu tanto a classificação quanto os termos As classes têm a ver com a valência semântica na me dida em que por exemplo só pode haver ação e açãoproces so quando existe um agente Como acontece com os casos profundos a informação sobre a classe é desnecessária pois tendo compreendido a conceituação das quatro classes o usuário do dicionário pode ele próprio atribuir as classes a partir do significado do verbo Por exemplo se em uma acepção escutar significa perce ber e entender os sons pelo sentido da audição ouvir e em outra prestar atenção em ele vai saber que se trata de ver bo de processo e de verbo de ação respectivamente É claro que o fornecimento dessa informação constitui 8 Informações sobre os casos profundos dos argumentos podem ser necessárias em certos programas computacionais por exemplo na tradução automática porém aquelas dadas num dicionário somente são úteis se a conceituação divisão e definição dos diversos casos no dicionário coincide com aquela do programa A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 88 uma ajuda àquele que a deseja Por exemplo vendo a obser vação de que em determinada acepção um verbo indica esta do o usuário sem ter que refletir vai saber de imediato que não poderá usálo nem na forma do imperativo nem na voz passiva De qualquer modo o enorme trabalho taxionômico dos autores do DGV justificase na medida em que eles queri am elaborar um dicionário gramatical oferecendo uma des crição completa da estrutura e do funcionamento dos sintagmas verbais pVII Entretanto não há informações explícitas sobre as possibilidades de apassivação pois esta atinge vári as classes de verbos pXII Para ter uma idéia da diagramação veja o início do ver bete calcinar CALCINAR I Indica açãoprocesso com sujeito causativo e com complemento expresso por nome concreto Significa queimar com violência e muito abrasar O sol a pino calcina os mandacarus MS 46 as labaredas calcinaram as casas II Indica processo na forma pronominal ou não com sujeito concreto paciente Significa ficar muito queimado Os velhos troncos calcinaramse com o incêndio Os ossos calcinavam ao sol Após as diversas críticas quero repetir uma afirmação feita em Welker 2000a p200 o DGV é um excelente dicionário de verbos que constitui um enorme passo à frente e um auxílio imprescindível para quem precisa conhecer os significados dos verbos e as estruturas em que devem ou podem estar inseridos O DUP Esse dicionário foi anunciado e explicado em Borba HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 89 1993 1996b 1997 e em BorbaLongo 1996 Ignácio 1996 tratou especificamente da apresentação dos verbos9 Não sendo um dicionário especial de verbos o DUP obviamente não pode ser tão exaustivo quanto o DGV Mes mo assim em consonância com seu título oferece mais infor mações essenciais para o uso do que outros dicionários Em comparação com o DGV a diagramação é muito melhor e o fato de as informações não serem dadas em frases inteiras como no DGV contribui muito para a clareza Welker 2003 p144 apesar de algumas críticas chama atenção para o grandioso trabalho do autor e dos colaboradores No que concerne à valência notase o seguinte a Não há informações sobre os casos profundos Tal vez os autores tenham percebido que elas são desnecessárias b Continua a indicação da classe de verbo a que cada acepção pertence Não a considero imprescindível veja mi nhas explicações acima mas é louvável que ela seja feita de maneira clara e breve a saber em negrito entre colchetes c Continuam as informações sobre a valência sintáti cosemântica Felizmente elas são dadas com muito maior clareza do que no DGV os termos não frases inteiras estão entre colchetes em negrito e em itálico A facultatividade dos complementos é indicada pelo sinal que significa que o complemento mencionado pode ocorrer ou não 9 Causa estranheza que não haja nenhuma bibliografia em Borba 1996b e Borba 1997 e que nos outros três trabalhos existam pouquíssimas referências bibliográficas O leitor não é informado de onde provêm os conceitos teóricos Somente Ignácio cita Ignácio 1984 e Chafe 1970 Este último é ainda citado em Neves 1996 um artigo no qual o DUP é mencionado apenas numa nota de pé de página Ignácio 2000 faz referência tanto a Tesnière quanto a Chafe A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 90 Veja um pequeno verbete onde V indica a categoria verbo e o asterisco a divisão em classes as abonações foram omitidas aqui Lastrear V Ação Compl nome abstrato 1 garantir 2 servir de apoio subsidiar Estado Pronominal Compl emnome abstrato 3 estar fundamentado baseado Nesse exemplo abstrato é uma restrição seletiva em mostra a forma do complemento isto é tratase de um com plemento acompanhado da preposição em a qual é destacada pois está sublinhada Embora a redação do verbete já seja muito mais sucinta do que no DGV a repetição da palavra nome nas informações sobre os complementos poderia ter sido evitada Mais grave entretanto é a falta de informação sobre o sujeito Se é óbvio em muitos casos que o sujeito só pode ter o traço semântico humano e que em outros as paráfrases e ou abonações evidenciam que o sujeito pode ser uma pessoa ou uma coisa em diversos casos isso não é tão evidente As sim a falta de restrições selecionais em relação ao sujeito é uma falha importante num dicionário que pretende prover os usuários da língua escrita de um instrumento eficiente de agilização do uso escrito pVI e trazer informações que esclarecem o uso da palavra pXI Nos seguintes exemplos as explicações do significado da respectiva acepção mediante sinônimos ou paráfrases mostradas após dois pontos e as abonações não permitem ao usuário saber se o sujeito pode ter o traço humano doer causar dor ou sofrimento físico doer apresentar dor física elitizar transformar em elite diferenciar do comum HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 91 enfarar causar enjôo aborrecimento enfastiar enfastiar causar fastio enjoar aborrecer enfeixar reunir concentrar lastrear garantir Não é somente em relação ao sujeito mas também aos outros complementos que o usuário precisa de esclarecimen tos ainda mais detalhados o que chamei de restrições semân ticas Aquelas que constam no DGV foram omitidas como por exemplo no verbete carregar a informação com com plemento expresso por nome concreto designativo de meio de transporte Provavelmente os autores do DUP tendo que diminuir o tamanho dos verbetes imaginaram que a explica ção do significado pôr carga já fosse suficiente o que freqüentemente é verdade Outros exemplos são casar e empalhar onde as informações do DGV sobre o sujeito nome humano designativo de ministro religioso ou agente do estado de instituições e o objeto animais mortos res pectivamente parecem supérfluas Entretanto há inúmeros casos em que uma informação mais detalhada é indispensável para quem quer não somente compreender as diversas acepções como também empregá las Novamente mostro alguns exemplos apresentando o verbo e a paráfrase da acepção à qual me refiro Aqui a per gunta é será que não existem restrições quanto à escolha dos lexemas que podem ser o complemento objeto direto do ver bo carregar fazer funcionar carregar prover da munição necessária celebrar contrair solenemente contratar celebrar efetuar realizar emitir confeccionar A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 92 A falta de espaço na verdade não pode desculpar a omissão de informação tão relevante pois perdese muito es paço com a repetição da palavra nome e de expressões como qualificador de nome animado no feminino as quais poderi am ser abreviadas Concluindo constatase que o DUP por ser mais su cinto é de leitura muito mais agradável do que o DGV mas por outro lado foram deixadas de lado informações importan tes para quem quer usar os verbos Mesmo assim o DUP é bem mais informativo do que outros dicionários gerais brasilei ros e portanto mais útil na produção de textos10 O DVAP O DVAP foi projetado para ser editado em forma de livro cf Welker 1998 2000b 2003 mas está sendo divulga do como dicionário eletrônico online No que diz respeito à 10 No presente trabalho só é levado em consideração a valência verbal No que concerne aos substantivos adjetivos e advérbios o DUP oferece o resultado de um trabalho extraordinário de classificação Porém enquanto as informações a respeito da valência dos substantivos e adjetivos são necessárias pois o usuário precisa saber quando se diz metido em ou metido com e que enaltação pode ter um complemento precedida das preposições a ou de podese duvidar da utilidade de indicações como qualificador de nome concreto nãoanimado para encaixável E num dicionário que objetiva ajudar na produção de textos deve ser criticado o número insuficiente de marcas de uso ou informações pragmáticas Visto que tais marcas faltam por exemplo em hostes imorredouro incola incólume irar tréfego parece que esses lexemas encontramse no mesmo nível estilístico registro que na fossa e treco cf Welker 2003 p 144 Quanto a erros eles ocorrem no DUP como em todos os dicionários devendo ser eliminados em futuras edições por exemplo diversas vezes a valência nas abonações é diferente daquela indicada comprazer acepção 2 compreender 3 dobrar 15 16 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 93 valência que é o enfoque deste artigo a única diferença é que devido à disponibilidade de espaço as valências podem ser indicadas tanto por meio de siglas como em forma de fra ses Tendo em vista as opiniões expressas no item 1 o DVAP não apresenta informações sobre valência lógica valência se mântica casos profundos e classes de verbos Por outro lado pretendendo oferecer dados imprescindíveis para o uso correto indica não somente a valência sintáticosemântica for ma dos actantes restrições selecionais como também detalhadamente restrições semânticas e lexicais11 Como em todos os dicionários exceto o DGV utili zamse siglas No DVAP tanto a forma dos complementos quanto as restrições selecionais são mostradas por meio de siglas na própria fórmula valencial Restrições selecionais N nome sem restrição V animado ser vivo P humano pessoa AN animado nãohumano animal A nãoanimado algo CO coletividade de pessoas como governo administração empresa jornal Exemplos da forma dos complementos Ad complemento com a restrição A no dativo Adj adjetivo INF oração infinitiva OB oração subordinada integrante introduzida por ob se W oração introduzida por um pronomeadvérbio interrogativo 11 Além disso há um número maior de marcas de uso do que em outros dicionários pois elas são essenciais para quem quer empregar os lexemas Cf a crítica na nota anterior A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 94 Complementos facultativos estão entre parênteses Uma barra transversal significa ou Para destacar o verbo ele é simbolizado por um asteris co Desse modo as fórmulas valenciais podem ter o seguinte aspecto P AAN Exemplo traduzido alguém compra algo um animal AN V um animal morde um ser vivo N Pd algo ou um ser vivo agrada a alguém P P INF alguém pede para alguém fazer algo P P OBW alguém pergunta a alguém sequando quem A sigla à esquerda do verbo representa o sujeito que em alemão está no caso nominativo aquela à direita se não houver indicação de caso simboliza o objeto direto caso acusativo Após a fórmula valencial dáse o equivalente português da respectiva acepção do verbo acompanhado de informa ções sobre o cotexto isto é sobre restrições semânticas e lexicais com relação aos complementos elas são semânticas quando o complemento tem que pertencer a determinada ca tegoria semântica por exemplo veículo ou lexicais quan do apenas determinados lexemas podem ser empregados por exemplo dentes em uma das acepções de escovar Para evitar falhas que ocorrem em outros dicionários essas informações semânticas e lexicais são subdivididas e apresentadas em três tipos de chaves HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 95 Entre estas barras encontramse hiperônimos por exemplo aeronave às vezes seguidos de alguns de seus hipônimos Entre estes sinais são citados os únicos lexemas aceitáveis como complemento por exemplo dentes Quando não existe hiperônimo nem a segunda situação mostramse se isso for considerado útil entre colchetes alguns exemplos de lexemas que podem ser o complemento Na versão papel do DVAP essas informações seriam dadas em português Veja um pequeno verbete sem as marcas de uso e sem abonações blenden 1 A PANA fonte de luz ou algo que reflete a luz solfaróisholofote vidro da janela ofusca encandeia P ANA A só pode ser olhos 2 A P belezariqueza deslumbraencandeia P 3 P A P escurece couro pele de animais 4 P PAN mit A 41 P ofuscaencandeia PAN com A lanternafaróis 42 P cega PAN com A facaácido 5 P P mit A moça deslumbraencandeia P com A sua beleza Na versão eletrônica o dicionário é dividido em dois um para falantes de alemão o outro para falantes de português e as restrições semânticas e lexicais são apresentadas na respectiva língua CONCLUSÃO Depois de diferenciar diversos conceitos de valência A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 96 pretendi mostrar como a valência verbal é apresentada em três dicionários elaborados no Brasil sendo que um ainda está em construção e se diferencia dos outros por ser bilíngüe Constatouse que para a produção de textos os três são mais informativos e portanto mais úteis do que outros dicionários brasileiros O DGV e o DUP incluem uma classificação dos verbos que não é necessária para a produção de textos O DGV bem mais detalhado que o DUP oferece outra informação desnecessária a saber sobre o caso profundo do sujeito Informações sobre restrições semânticas existentes no DGV infelizmente faltam no DUP No DVAP apresentamse não somente a valência sin tática como também restrições selecionais semânticas e lexicais Apesar de certas falhas o DGV e o DUP constituem uma ajuda enorme para quem quer escrever ou falar portu guês Quanto ao DVAP resta esperar que ele possa ser con cluído REFERÊNCIAS ÁGEL Vilmos Valenztheorie Tübingen Narr 2000 BONDZIO Wilhelm Valenz Bedeutung und Satzmodelle In HELBIG G Ed Beiträge zur Valenztheorie pp85103 Paris The Hague 1971 BORBA Francisco da Silva Coord Dicionário gramatical de verbos do Português Contemporâneo do Brasil São Paulo UNESP 1990 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 97 Roteiro para a montagem de um dicionário de usos do português contemporâneo do Brasil DUP In ZAMBONIM DJ Org Estudos sobre Lexicografia pp7 32 Araraquara UNESP Campus de Araquara 1993 Uma gramática de valências para o português São Paulo Ática 1996a Les fondements de lorganisation dun dictionnaire dusages Meta XLI 2 pp279287 1996b Dicionário de usos do português contemporâneo In GÄRTNER E Ed Pesquisas lingüísticas em Portugal e no Brasil pp113124 Frankfurt am Main Vervuert Madrid Iberoamericana 1997 Dicionário de usos do Português do Brasil São Paulo Ática 2002 BUSSE Winfried Org Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses Coimbra Almedina 1994 DUBOST JeanPierre Französisches Verblexikon Stuttgart Klett 1977 VILELA Mario Gramática de valências Coimbra Almedina 1986 CHAFE Wallace L Meaning and the Structure of Language Chicago Chicago University Press 1970 FILLMORE Charles J The case for case In BACH E HARMS RT Ed Universals in Linguistic Theory pp1 88 New York Holt Rinehart and Winston 1968 FISCHER Klaus DependenzVerbGrammatik und kontrastive Analyse In GROSS H FISCHER K Ed A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 98 Grammatikarbeit im DaFUnterricht pp942 München iudicium 1990 GÖTZE Lutz Zu den Begriffspaaren obligatorischfakultativ und notwendignicht notwendig in einer Valenzgrammatik und ihre Relevanz für den Sprachunterricht Zielsprache Deutsch 5 p6271 1974 HEGER Klaus Valenz Diathese und Kasus Zeitschrift für romanische Philologie 82 p138170 1966 HELBIG Gerhard Probleme der Valenz und Kasustheorie Tübingen Niemeyer 1992 HELBIG Gerhard SCHENKEL Wolfgang Wörterbuch zur Valenz und Distribution deutscher Verben Leipzig VEB Bibliographisches Institut 1969 ICKLER Theodor Valenz und Bedeutung Beobachtungen zur Lexikographie des Deutschen als Fremdsprache In BERGENHOLTZ W MUGDAN J Ed Lexikographie und Grammatik pp358377 Tübingen Niemeyer 1985 IGNÁCIO Sebastião E A apresentação dos verbos num dicionário gramatical de usos Alfa 40 p119128 São Paulo 1996 O estudo das relações semânticas intrafrasais uma contribuição à gramática pedagógica Boletim da ABRALIN edição 21 Junho 1997 Disponível em http wwwletrasufrjbrabralinboletimboletim21tema74html Acesso em 20 out 2003 O registro de verbos nomes e adjetivos num dicionário de usos do Português do Brasil Revista Interna cional de Língua Portuguesa v1 n1 pp2229 2000 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 99 NEVES Maria H de M A prática lexicográfica onde ciência e arte se encontram Alfa São Paulo 40 pp129139 1996 PASCH Renate Zum Status der Valenz Linguistische Studien Reihe A 42 pp150 1977 RŮŽIČKA Rudolf Three Aspects of Valence In ABRAHAM W Ed Valence semantic case and grammatical relations pp4753 Amsterdam Benjamins 1978 SCHUMACHER Helmut Stand und Aufgaben der germanistischen Valenzlexikographie Germanistische Linguistik 8486 p327389 1986 SCHWITALLA Jochen Verbvalenz und Text Deutsch als Fremdsprache 22 pp266270 1985 STORRER Angelika Verbvalenz Theoretische und methodische Beschreibung in Grammatikographie und Lexikographie Tübingen Niemeyer 1992 TESNIÈRE Lucien Eléments de syntaxe structurale Paris Klincksieck 1959 WELKER Herbert A Urgente precisamos de um dicionário de verbos alemães Projekt Revista dos Professores de Alemão no Brasil 3132 pp6062 1998 Avaliação crítica do Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil In SEDYCIAS J Org Tópicos em lingüística aplicada I Issues in Applied Linguistics I p181203 Brasília Oficina Editorial do Instituto de Letras da Universidade de Brasília Plano Editora 2000a A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 100 Sobre o projeto de um dicionário alemãoportuguês de verbos In HORSTMEYER E EGGENSPERGER K Ed Anais do IV Congresso Brasileiro de Professores de Alemão pp541555 Curitiba ABRAPA 2000b Zweisprachige Lexikographie Vorschläge für deutschportugiesische Verbwörterbücher München Utz 2003 Recebido Dezembro de 2003 Aceito Fevereiro de 2004 Endereço para correspondência Herbert Andreas Welker SHIS QI 28 Conj 18 Casa 26 71670380 Brasília DF hawelkeryahoocom
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Linguagem Ensino Vol 8 No 1 2005 73100 A valência verbal em três dicionários brasileiros Verbal valency in three Brazilian dictionaries Herbert Andreas WELKER Universidade de Brasília ABSTRACT The concept of verb valency was used in a Brazilian dictionary for the first time in 1990 Its organizer presented the theoretical foundations in more detail in Borba 1996a In the present article I distinguish very succinctly several types of valency and then show how verbal valency is treated in the abovementioned monolingual verb dictionary a general dictionary and a bilingual verb dictionary which is still being compiled Although all three indicate valency being therefore more useful than other dictionaries for people who want to use the verbs they do it in a different way In my opinion certain information in the first two is unnecessary about semantic cases and verb classes whereas in the second some important information about semantic restrictions is lacking RESUMO O conceito de valência verbal foi aplicado num dicionário brasileiro pela primeira vez em 1990 Seu organizador apresentou as bases teóricas mais detalhadamente em Borba 1996a No presente artigo A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 74 diferencio muito sucintamente diversos tipos de valência para em seguida mostrar como a valência verbal é tratada no supracitado dicionário de verbos monolíngüe num dicionário geral e num dicionário de verbos bilíngüe ainda em elaboração Todos os três indicam a valência e por isso são mais úteis do que outros para aquele usuário que quer empregar os verbos mas há diferenças Considero que nos dois primeiros certas informações são desnecessárias sobre casos semânticos e classes de verbos ao passo que no segundo faltam informações importantes sobre restrições semânticas KEYWORDS verb valency lexicography deep cases semantic restrictions verb classes PALAVRASCHAVE valência verbal lexicografia casos profundos restrições semânticas classes de verbos Foi na Alemanha que surgiu o primeiro dicionário de valências monolíngüe HelbigSchenkel 1969 assim como o primeiro bilíngüe BusseDubost 1977 francêsalemão O alemão Busse organizou ainda um bilíngüe portuguêsalemão Busse 1994 e escreveu junto com Mário Vilela o primeiro livro em português dedicado especificamente à gramática ou teoria da valência BusseVilela 19861 No Brasil o conceito de valência foi aplicado num dicionário pela primeira vez em 1990 num dicionário de verbos 1 Os três dicionários citados e mais alguns outros foram analisados brevemente em Welker 2003 p178203 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 75 Borba 1990 aqui abreviado DGV e posteriormente num dicionário geral Borba 2002 É do seu organizador também o primeiro livro brasileiro sobre a gramática da valência Borba 1996a Na verdade o conceito de valência faz parte da Gramática da Dependência do francês Lucien Tesnière Tesnière 1959 que se tornou conhecida na Alemanha através de diversos escritos de Helbig Embora Tesnière que desenvolveu sua teoria já nos anos trinta seja considerado o pai desse conceito não se deve esquecer que outros tiveram idéias semelhantes como o alemão Bühler em 1934 e o russo Kacnelson em 1948 cf Ágel 2000 p2731 Além disso três gramáticas alemãs de 1959 e 1960 continham pensamentos parecidos sem que os autores conhecessem a Gramática da Dependência como afirma Engel em 1980 na sua introdução à tradução alemã de Tesnière 19592 O QUE É A VALÊNCIA VERBAL Borba 1990 pXXI a define como o conjunto de rela ções estabelecidas entre o verbo e seus argumentos ou cons tituintes indispensáveis Para ser exato é preciso dizer que existe também a valência de substantivos e de adjetivos tra 2 Borba 1996a não cita nenhum trabalho brasileiro sobre a valência ou a dependência mas existe por exemplo a dissertação de Raulino Bussarello Contribuição lingüística do modelo dependencial de Lucien Tesnière para o estudo do Latim em cursos de Letras PUCRS 1981 Ignácio 1996 1997 inclui na bibliografia sua Tese de LivreDocência Para uma tipologia dos complementos verbais do português contemporâneo do Brasil UNESP Araraquara 1984 à qual não tive acesso Portanto não sei se trata da valência Ele próprio não a menciona em Ignácio 2000 A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 76 tada em Borba 1996a p84190 de modo que há até mesmo dicionários dedicados especificamente a ela Porém vamos restringirnos aqui à valência verbal Tesnière considera o verbo o núcleo da frase É o ver bo que determina quais elementos a frase tem que conter Como determinado átomo precisa de um certo número de ou tros átomos para formar uma molécula o que é indicado pela valência química assim um determinado verbo ou melhor determinada acepção exige um certo número de comple mentos ou actantes para que a frase seja gramaticalmente correta Mas a valência verbal dá mais informações do que o simples número Enquanto a regência só informa se o verbo pede um objeto direto ou indireto a valência indica que por exemplo morar na acepção mais comum isto é residir pede além do sujeito um complemento de lugar No caso de dizer vai haver a informação de que além do sujeito tem que ocor rer um complemento na forma de um nome substantivo ou pronome como asneiras ou nada ou do discurso direto ou indireto Há um certo problema quanto ao termo complemen tos Com Tesnière boa parte dos teóricos da valência consi dera o sujeito nada mais do que um complemento mesmo que difira dos outros em vários aspectos sendo que alguns prefe rem o termo actante Porém diversos autores entre eles Borba concedem ao sujeito um lugar especial distinguindo portanto sujeito e complementos Dessa forma o verbo ex plicar exigirá um sujeito e dois complementos que podem ser omitidos ou apagados como em Já expliquei Eu prefiro contar o sujeito entre os complementos mesmo que várias vezes mencione o termo sujeito como também os de objeto direto e de objeto indireto No lugar de complemento utilizase às vezes também HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 77 o termo argumento como na definição de Borba supracitada Mas nesse caso sempre está incluído o sujeito O termo ar gumento foi primeiro empregado quando se falava da valência lógica Valência lógica Foi Heger 1966 quem chamou a atenção para o fato de que a valência poderia ser considerada uma categoria conceitual não sendo restrita à morfossintaxe à forma dos complementos do verbo Depois Bondzio 1971 introduziu a valência lógica Sobre o fato de por exemplo o verbo vigiar implicar que há alguém que vigia e alguémalgo vigiado ele diz p89 Essas relações são representadas na lógica dos predicados mediante os conceitos predicado ou functor lugares vazios e argumentos do predicado Assim o verbo vigiar pode ser descrito como predicado functor com dois lugares vazios que podem ser ocupados pelos respectivos argumentos3 Como predicado o verbo costuma ser representado por P quando tem apenas um argumento e por R quando tem mais de um argumento os argumentos por sua vez são represen tados por x y z Dessa forma nadar teria a valência lógica P x onde x simboliza o único argumento que é o sujeito já visitar seria representado por R xy onde y simboliza o se gundo argumento o objeto direto Ao tratar desse assunto Borba 1996a p20 emprega 3 Todas as traduções são minhas A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 78 primeiro os termos valência quantitativa valência lógica ou lógicosemântica mas depois p46 só utiliza o termo valência quantitativa De fato a valência lógica diz respeito apenas ao número de argumentos que um verbo possui devido ao seu significado Não existe consenso a respeito da valência lógica de todos os verbos e acepções Por exemplo enquanto para Helbig 1992 p175 o verbo fliegen ir de avião possui três argumentos x alguém y de avião z a algum lugar não há dúvida de que o verbo implica como quarto argumento o lugar de onde o avião parte Ickler 1985 p374 chega à conclusão de que poucos autores analisam o mesmo fato da mesma maneira De qualquer modo é desnecessário incluir a valência lógica nos dicionários pois devido à apresentação do signifi cado do verbo o consulente já tem uma idéia a respeito do número de argumentos ou seja mesmo sem saber nada a res peito de argumentos ele sabe que andar na acepção mais comum implica que alguém se movimenta de um lugar para outro Aliás como afirma Helbig 1992 p166 existe a possi bilidade de certos argumentos não poderem ser realizados em determinada língua Assim mentir tem como argumentos ou implica a pessoa que mente e a pessoa a quem se mente mas em alemão o equivalente lügen só admite um complemento o sujeito Portanto saber o número de argumentos não serve àquele usuário que queira empregar esse verbo Valência semântica Segundo Borba 1996a p49 a valência semântica diz respeito em primeiro lugar às propriedades semânticas dos verbos ou seja sua subcategorização em traços Toda HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 79 via a maioria dos autores entende outra coisa por valência semântica a saber algo ao que o próprio Borba se refere posteriormente p52 quando diz que Da aproximação entre as estruturas conceituais resultam os papéis temáticos A idéia dos papéis temáticos foi introduzida por Fillmore 1968 que chamou atenção para casos profundos também denominados casos semânticos diferentes dos casos superfi ciais como nominativo ou acusativo Para Fillmore a frase na sua estrutura básica consiste em um verbo e um ou mais sintagmas nominais cada um associado ao verbo numa rela ção específica de casos p21 O autor estabeleceu uma lista provisória de seis casos agentive instrumental dative factitive locative objective ele mesmo e outros autores posteriormente listaram mais ou diferentes casos No DGV por exemplo encontramse os seguintes agente beneficiário experimentador objetivo locativo instrumental causativo meta origem temporal Sendo casos profundos que de pendem do significado do verbo eles podem ser realizados na superfície de diferentes maneiras ou mesmo nem apare cer Assim cortar implica alguém que corta agente algo que é cortado objetivo e um instrumento instrumental de modo que o quadro de casos case frame desse verbo é necessariamente AOI mas com cortar na referida acepção podem ser formadas frases como Pedro cortou a árvore com o machado Machado bom que já cortou muita árvore4 Pedro cortou a árvore 4 Enunciado tirado do DGV A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 80 Ou seja o instrumental pode aparecer como adjunto adverbial como sujeito ou ser omitido Nos anos setenta vários autores percebendo semelhan ças entre as idéias de Fillmore e de Tesnière pois ambos viam no verbo aquele elemento que determina a estrutura bá sica da frase incluíram os casos profundos na teoria da valência denominando essa parte de valência semântica Como acontece com a valência lógica não há unanimi dade quanto ao estabelecimento dos quadros de casos dos di versos verbos Borba 1996a p31 reconhece que a identifi cação dos casos por seus traços constituintes às vezes se tor na sutil ou difícil No que diz respeito a dicionários surge também aqui a pergunta se uma informação sobre a valência semântica é necessária A resposta é parecida com aquela dada no caso da valência lógica o usuário que conhece a teoria dos casos pode entendendo o significado de determinada acepção do verbo ele mesmo estabelecer o quadro de casos pois ao con trário da estrutura superficial própria a cada língua os ca sos profundos independem do idioma É por isso que Schumacher 1986 p358 e Fischer 1990 p24 reconhecem que os casos semânticos não constituem um problema para o aprendiz de línguas estrangeiras Assim os equivalentes de comprar implicam em todas as línguas nas quais existe esse conceito um comprador caso agente o objeto comprado caso objetivo e o vendedor caso origem podese ainda acrescentar o valor da compra mas como foi dito acima não há consenso quanto ao número de argumentos e de casos Por tudo isso um dicionário que indique os casos profundos apenas facilita as coisas para aquele que estiver interessado nesses casos mas não fornece nenhuma informação que o usuário não possa deduzir ele próprio do significado do verbo HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 81 Por exemplo se sei a definição dos casos agente paciente e experimentador sei também que nas seguintes acepções de cheirar a tomar o cheiro de aplicar o sentido do olfato a b exalar cheiro c pressentir perceber o caso do sujeito é agente paciente e experimentador respectivamente5 Valência sintática Esta é a valência tradicional isto é idealizada por Tesnière e a mais comum aquela definida acima e exemplificada com os verbos morar e dizer ou seja a valência sintática indica quantos complementos actantes o verbo exi ge na superfície e qual é a forma desses complementos obje to direto objeto indireto com determinada preposição adjunto ou complemento adverbial de lugar complemento oracional etc Enquanto podem ser levantadas dúvidas quanto à utili dade de informações sobre a valência lógica e a semântica é obviamente a valência sintática que o usuário tem que conhe cer para poder expressarse corretamente não necessaria mente conforme os ditames das gramáticas tradicionais e sim conforme a norma o usual O grande problema que suscitou uma discussão sem fim é saber quais complementos são imprescindíveis Como no caso dos dois outros tipos de valência aqui tampouco exis te unanimidade É claro que em primeiro lugar devem ser distinguidas as diversas acepções dos verbos o que reconhecidamente já é uma tarefa difícil pois cada uma tem sua valência específi ca 5 Exemplos tirados do DGV A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 82 Em segundo lugar temse diferenciado desde os anos sessenta entre complementos obrigatórios e facultativos Tesnière já havia percebido que nem todos os actantes têm que ser realizados mas a distinção entre os dois novamente não é fácil como não é estabelecer um limite nítido entre os facultativos e os elementos não exigidos pelo verbo os chamados circunstantes ou adjuntos Por exemplo segundo o DGV presentear exige além do sujeito apenas um objeto direto como em Ele presenteou todos os funcionários Mas em quase todas as frases inclusive nas abonações do próprio DGV há um complemento com a preposição com de modo que este deveria ser considerado no mínimo complemento facultativo Além disso existe a possibilidade de ocorrerem frases como Ela sabe presentear na qual o objeto direto complemento obrigatório é omitido Pasch 1977 considera que tais complementos apagáveis em situações muito especiais são obrigatórios relativos ao passo que a autora chama de obrigatórios absolutos aqueles que nunca podem ser omitidos A valência pragmática Se as situações especiais no caso mencionado por Pasch são lingüísticas pois a omissão do complemento no último exemplo é possibilitada pela ocorrência do verbo saber há ainda que levar em consideração fatores extralingüísticos que podem causar variações na valência de modo que Růžička 1977 cunhou o termo valência pragmática Götze 1974 já havia chamado atenção para a influência de aspectos pragmáticos na valência aspectos bastante discutidos posteriormente Storrer 1992 criou um complexo modelo de valência situacional HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 83 Enquanto na maioria das vezes tais fatores provocam uma redução do número de complementos como no exemplo Já expliquei há casos em que ocorre um aumento da valência normal isto é em certas situações o verbo exige mais comple mentos do que normalmente Assim Schwitalla 1985 perce beu que em anúncios de falecimento o verbo alemão sterben falecer que normalmente só tem o sujeito como actante obrigatório e facultativamente um actante que indica a causa da morte é acompanhado quase obrigatoriamente de um complemento informando a idade da pessoa Por falta de espaço e por razões econômicas os dicionários impressos não podem fornecer todas as informa ções a respeito de todas as possibilidades de ocorrência ou omissão de complementos Nos dicionários eletrônicos não faltaria espaço porém persistem as dificuldades de elabora ção detalhada dos verbetes Evidentemente pode e deve ha ver mais informações do que nos dicionários tradicionais Valência sintáticosemântica Embora seja quase impossível mencionar todas as es truturas que mais ou menos freqüentemente ocorrem na lín gua falada e escrita há uma informação que o bom dicionário deveria fornecer a saber sobre a categoria semântica à qual devem ou podem pertencer os diversos actantes por exemplo sobre o fato de que o objeto direto de desfavorecer é segun do o DGV expresso por um nome humano pessoas ou con juntos de pessoas como escola classe média Tratase de restrições selecionais que foram denominadas pelos teó ricos da valência informações semânticoreferenciais Helbig 1992 p18 categoriais ou ontológicas Schumacher 1996 p290 Diversos autores afirmaram que A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 84 elas constituem a valência semântica HelbigSchenkel 1969 ou fazem parte dela Borba 1996a6 Tais informações já foram incluídas parcialmente nos primeiros dicionários de valência Por exemplo em Busse Dubost opcit os complementos são geralmente simboliza dos apenas por N mas às vezes especificase que N re ferese a pessoas ou ao contrário a coisas É verdade que em muitos casos a informação de que o sujeito tem que ser uma pessoa é supérflua pois sabendose do significado de aprovar por exemplo é claro que só seres humanos podem aprovar algo mas em outros casos isso é menos evidente Por exemplo se não conheço o verbo desfa lecer e ele é explicado como no DGV por enfraquecer esmorecer desmaiar vou supor que somente pessoas ou ani mais podem desfalecer como não existe tal restrição o dici onário deveria indicar a possibilidade de o sujeito ser uma coisa7 Informações semânticoreferenciais são ainda mais 6 A valência semântica diz respeito às características categoriais traços que compõem cada uma das categorias Nanim hum cont etc às funções temáticas papéis como agente causativo beneficiário experimentador etc e às restrições selecionais que determinam quais classes subclasses de itens preenchem os argumentos p21 Eu prefiro reservar o termo valência semântica para os casos profundos que se manifestam na superfície de várias maneiras já as restrições selecionais que também são semânticas limitam a escolha dos complementos na superfície ou seja determinado complemento indicado pela valência sintática tem que pertencer a determinada categoria Por isso uso o termo valência sintáticosemântica 7 Expressões como o sujeito é uma pessoacoisa são abreviações feitas por comodidade significando no lugar do sujeitocomplemento é usado um lexema ou nome substantivo pronome ou nome próprio que designa seres humanos coisas No próprio DGV encontramse às vezes expressões abreviadas como sujeito humano por exemplo no verbete comer HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 85 importantes no caso dos outros complementos Por exemplo as explicações dos significados de estragar no DGV são in suficientes para o usuário saber o que se pode estragar por tanto as restrições selecionais que de fato constam nesse dicionário são imprescindíveis OS TRÊS DICIONÁRIOS Será examinada a apresentação da valência nos dicio nários DGV Borba 1990 DUP Borba 2002 e DVAP Di cionário de verbos alemãoportuguês de minha autoria Este último ainda não foi publicado e sua elaboração encon trase apenas em estágio inicial porém como ele já pode ser consultado mesmo contendo poucos verbetes consideroo não um projeto e sim um dicionário em construção Ele está disponível na internet no endereço httpwwwunbbrillet welkerdiciindex O DGV Em Welker 2000a foi feita uma análise crítica geral desse dicionário de verbos Aqui restrinjome a considerações sobre a valência Além das explicações mediante sinônimos e paráfra ses das abonações e de locuções o DGV oferece as seguin tes informações as quais são dadas em forma de linguagem comum não de siglas ou abreviaturas como acontece em to dos os dicionários valenciais a Valência sintáticosemântica Indicamse o sujeito e os outros complementos exigidos A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 86 pelo verbo em cada uma de suas acepções para esses últi mos informase ao usuário se deve ser usada alguma preposi ção ou se o complemento é de um tipo especial como por exemplo de modo ou oração conjuncional O fato de certos complementos serem facultativos é expresso pela observação apagável Assim em Essa histó ria não me cheira bem o pronome me é considerado apagável Muito freqüentemente são apresentadas restrições selecionais para o sujeito e os outros complementos mediante a indicação de traços semânticos como humano concre to abstrato concreto nãoanimado instituição Às vezes as informações semânticas são mais preci sas por exemplo informase que determinado complemento tem que ser um nome designativo de espaço concreto visí vel designativo de objeto cognitivo designativo de produ ção lingüística indicativo de sabor ou som designativo de pedra de jogo de xadrez ou de damas Chamo essas restri ções de restrições semânticas em oposição às restrições selecionais as quais também são semânticas porém mais ge rais Mais raramento fazemse observações em letra me nor sobre situações específicas por exemplo tendo em vis ta que comer em determinada acepção significa engolir para se alimentar explicase que com sujeito humano o verbo pode significar tomar uma refeição b Valência semântica Curiosamente os casos semânticos ou profundos são informados apenas em relação ao sujeito enquanto a Te oria dos Casos prevê a indicação para todos os argumentos Segundo o Glossário anexo à introdução do DGV são diferenciados os casos agente beneficiário causativo HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 87 experimentador factitivo inativo e paciente Algumas vezes sendo o sujeito um agente há uma ob servação em letra menor de que um instrumental pode ocupar a posição de sujeito Há também esclarecimentos como Um locativo temporal ou espacial pode ocupar a posi ção de sujeito que então se apaga verbete comemorar Como foi explicado em 12 considero a indicação de casos profundos desnecessária8 c Classes sintáticosemânticas dos verbos Para cada acepção o DGV informa a classe sintático semântica do verbo Essas classes são ação açãoproces so processo e estado Estranhamente o autor não cita Chafe 1970 p95104 que introduziu tanto a classificação quanto os termos As classes têm a ver com a valência semântica na me dida em que por exemplo só pode haver ação e açãoproces so quando existe um agente Como acontece com os casos profundos a informação sobre a classe é desnecessária pois tendo compreendido a conceituação das quatro classes o usuário do dicionário pode ele próprio atribuir as classes a partir do significado do verbo Por exemplo se em uma acepção escutar significa perce ber e entender os sons pelo sentido da audição ouvir e em outra prestar atenção em ele vai saber que se trata de ver bo de processo e de verbo de ação respectivamente É claro que o fornecimento dessa informação constitui 8 Informações sobre os casos profundos dos argumentos podem ser necessárias em certos programas computacionais por exemplo na tradução automática porém aquelas dadas num dicionário somente são úteis se a conceituação divisão e definição dos diversos casos no dicionário coincide com aquela do programa A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 88 uma ajuda àquele que a deseja Por exemplo vendo a obser vação de que em determinada acepção um verbo indica esta do o usuário sem ter que refletir vai saber de imediato que não poderá usálo nem na forma do imperativo nem na voz passiva De qualquer modo o enorme trabalho taxionômico dos autores do DGV justificase na medida em que eles queri am elaborar um dicionário gramatical oferecendo uma des crição completa da estrutura e do funcionamento dos sintagmas verbais pVII Entretanto não há informações explícitas sobre as possibilidades de apassivação pois esta atinge vári as classes de verbos pXII Para ter uma idéia da diagramação veja o início do ver bete calcinar CALCINAR I Indica açãoprocesso com sujeito causativo e com complemento expresso por nome concreto Significa queimar com violência e muito abrasar O sol a pino calcina os mandacarus MS 46 as labaredas calcinaram as casas II Indica processo na forma pronominal ou não com sujeito concreto paciente Significa ficar muito queimado Os velhos troncos calcinaramse com o incêndio Os ossos calcinavam ao sol Após as diversas críticas quero repetir uma afirmação feita em Welker 2000a p200 o DGV é um excelente dicionário de verbos que constitui um enorme passo à frente e um auxílio imprescindível para quem precisa conhecer os significados dos verbos e as estruturas em que devem ou podem estar inseridos O DUP Esse dicionário foi anunciado e explicado em Borba HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 89 1993 1996b 1997 e em BorbaLongo 1996 Ignácio 1996 tratou especificamente da apresentação dos verbos9 Não sendo um dicionário especial de verbos o DUP obviamente não pode ser tão exaustivo quanto o DGV Mes mo assim em consonância com seu título oferece mais infor mações essenciais para o uso do que outros dicionários Em comparação com o DGV a diagramação é muito melhor e o fato de as informações não serem dadas em frases inteiras como no DGV contribui muito para a clareza Welker 2003 p144 apesar de algumas críticas chama atenção para o grandioso trabalho do autor e dos colaboradores No que concerne à valência notase o seguinte a Não há informações sobre os casos profundos Tal vez os autores tenham percebido que elas são desnecessárias b Continua a indicação da classe de verbo a que cada acepção pertence Não a considero imprescindível veja mi nhas explicações acima mas é louvável que ela seja feita de maneira clara e breve a saber em negrito entre colchetes c Continuam as informações sobre a valência sintáti cosemântica Felizmente elas são dadas com muito maior clareza do que no DGV os termos não frases inteiras estão entre colchetes em negrito e em itálico A facultatividade dos complementos é indicada pelo sinal que significa que o complemento mencionado pode ocorrer ou não 9 Causa estranheza que não haja nenhuma bibliografia em Borba 1996b e Borba 1997 e que nos outros três trabalhos existam pouquíssimas referências bibliográficas O leitor não é informado de onde provêm os conceitos teóricos Somente Ignácio cita Ignácio 1984 e Chafe 1970 Este último é ainda citado em Neves 1996 um artigo no qual o DUP é mencionado apenas numa nota de pé de página Ignácio 2000 faz referência tanto a Tesnière quanto a Chafe A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 90 Veja um pequeno verbete onde V indica a categoria verbo e o asterisco a divisão em classes as abonações foram omitidas aqui Lastrear V Ação Compl nome abstrato 1 garantir 2 servir de apoio subsidiar Estado Pronominal Compl emnome abstrato 3 estar fundamentado baseado Nesse exemplo abstrato é uma restrição seletiva em mostra a forma do complemento isto é tratase de um com plemento acompanhado da preposição em a qual é destacada pois está sublinhada Embora a redação do verbete já seja muito mais sucinta do que no DGV a repetição da palavra nome nas informações sobre os complementos poderia ter sido evitada Mais grave entretanto é a falta de informação sobre o sujeito Se é óbvio em muitos casos que o sujeito só pode ter o traço semântico humano e que em outros as paráfrases e ou abonações evidenciam que o sujeito pode ser uma pessoa ou uma coisa em diversos casos isso não é tão evidente As sim a falta de restrições selecionais em relação ao sujeito é uma falha importante num dicionário que pretende prover os usuários da língua escrita de um instrumento eficiente de agilização do uso escrito pVI e trazer informações que esclarecem o uso da palavra pXI Nos seguintes exemplos as explicações do significado da respectiva acepção mediante sinônimos ou paráfrases mostradas após dois pontos e as abonações não permitem ao usuário saber se o sujeito pode ter o traço humano doer causar dor ou sofrimento físico doer apresentar dor física elitizar transformar em elite diferenciar do comum HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 91 enfarar causar enjôo aborrecimento enfastiar enfastiar causar fastio enjoar aborrecer enfeixar reunir concentrar lastrear garantir Não é somente em relação ao sujeito mas também aos outros complementos que o usuário precisa de esclarecimen tos ainda mais detalhados o que chamei de restrições semân ticas Aquelas que constam no DGV foram omitidas como por exemplo no verbete carregar a informação com com plemento expresso por nome concreto designativo de meio de transporte Provavelmente os autores do DUP tendo que diminuir o tamanho dos verbetes imaginaram que a explica ção do significado pôr carga já fosse suficiente o que freqüentemente é verdade Outros exemplos são casar e empalhar onde as informações do DGV sobre o sujeito nome humano designativo de ministro religioso ou agente do estado de instituições e o objeto animais mortos res pectivamente parecem supérfluas Entretanto há inúmeros casos em que uma informação mais detalhada é indispensável para quem quer não somente compreender as diversas acepções como também empregá las Novamente mostro alguns exemplos apresentando o verbo e a paráfrase da acepção à qual me refiro Aqui a per gunta é será que não existem restrições quanto à escolha dos lexemas que podem ser o complemento objeto direto do ver bo carregar fazer funcionar carregar prover da munição necessária celebrar contrair solenemente contratar celebrar efetuar realizar emitir confeccionar A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 92 A falta de espaço na verdade não pode desculpar a omissão de informação tão relevante pois perdese muito es paço com a repetição da palavra nome e de expressões como qualificador de nome animado no feminino as quais poderi am ser abreviadas Concluindo constatase que o DUP por ser mais su cinto é de leitura muito mais agradável do que o DGV mas por outro lado foram deixadas de lado informações importan tes para quem quer usar os verbos Mesmo assim o DUP é bem mais informativo do que outros dicionários gerais brasilei ros e portanto mais útil na produção de textos10 O DVAP O DVAP foi projetado para ser editado em forma de livro cf Welker 1998 2000b 2003 mas está sendo divulga do como dicionário eletrônico online No que diz respeito à 10 No presente trabalho só é levado em consideração a valência verbal No que concerne aos substantivos adjetivos e advérbios o DUP oferece o resultado de um trabalho extraordinário de classificação Porém enquanto as informações a respeito da valência dos substantivos e adjetivos são necessárias pois o usuário precisa saber quando se diz metido em ou metido com e que enaltação pode ter um complemento precedida das preposições a ou de podese duvidar da utilidade de indicações como qualificador de nome concreto nãoanimado para encaixável E num dicionário que objetiva ajudar na produção de textos deve ser criticado o número insuficiente de marcas de uso ou informações pragmáticas Visto que tais marcas faltam por exemplo em hostes imorredouro incola incólume irar tréfego parece que esses lexemas encontramse no mesmo nível estilístico registro que na fossa e treco cf Welker 2003 p 144 Quanto a erros eles ocorrem no DUP como em todos os dicionários devendo ser eliminados em futuras edições por exemplo diversas vezes a valência nas abonações é diferente daquela indicada comprazer acepção 2 compreender 3 dobrar 15 16 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 93 valência que é o enfoque deste artigo a única diferença é que devido à disponibilidade de espaço as valências podem ser indicadas tanto por meio de siglas como em forma de fra ses Tendo em vista as opiniões expressas no item 1 o DVAP não apresenta informações sobre valência lógica valência se mântica casos profundos e classes de verbos Por outro lado pretendendo oferecer dados imprescindíveis para o uso correto indica não somente a valência sintáticosemântica for ma dos actantes restrições selecionais como também detalhadamente restrições semânticas e lexicais11 Como em todos os dicionários exceto o DGV utili zamse siglas No DVAP tanto a forma dos complementos quanto as restrições selecionais são mostradas por meio de siglas na própria fórmula valencial Restrições selecionais N nome sem restrição V animado ser vivo P humano pessoa AN animado nãohumano animal A nãoanimado algo CO coletividade de pessoas como governo administração empresa jornal Exemplos da forma dos complementos Ad complemento com a restrição A no dativo Adj adjetivo INF oração infinitiva OB oração subordinada integrante introduzida por ob se W oração introduzida por um pronomeadvérbio interrogativo 11 Além disso há um número maior de marcas de uso do que em outros dicionários pois elas são essenciais para quem quer empregar os lexemas Cf a crítica na nota anterior A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 94 Complementos facultativos estão entre parênteses Uma barra transversal significa ou Para destacar o verbo ele é simbolizado por um asteris co Desse modo as fórmulas valenciais podem ter o seguinte aspecto P AAN Exemplo traduzido alguém compra algo um animal AN V um animal morde um ser vivo N Pd algo ou um ser vivo agrada a alguém P P INF alguém pede para alguém fazer algo P P OBW alguém pergunta a alguém sequando quem A sigla à esquerda do verbo representa o sujeito que em alemão está no caso nominativo aquela à direita se não houver indicação de caso simboliza o objeto direto caso acusativo Após a fórmula valencial dáse o equivalente português da respectiva acepção do verbo acompanhado de informa ções sobre o cotexto isto é sobre restrições semânticas e lexicais com relação aos complementos elas são semânticas quando o complemento tem que pertencer a determinada ca tegoria semântica por exemplo veículo ou lexicais quan do apenas determinados lexemas podem ser empregados por exemplo dentes em uma das acepções de escovar Para evitar falhas que ocorrem em outros dicionários essas informações semânticas e lexicais são subdivididas e apresentadas em três tipos de chaves HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 95 Entre estas barras encontramse hiperônimos por exemplo aeronave às vezes seguidos de alguns de seus hipônimos Entre estes sinais são citados os únicos lexemas aceitáveis como complemento por exemplo dentes Quando não existe hiperônimo nem a segunda situação mostramse se isso for considerado útil entre colchetes alguns exemplos de lexemas que podem ser o complemento Na versão papel do DVAP essas informações seriam dadas em português Veja um pequeno verbete sem as marcas de uso e sem abonações blenden 1 A PANA fonte de luz ou algo que reflete a luz solfaróisholofote vidro da janela ofusca encandeia P ANA A só pode ser olhos 2 A P belezariqueza deslumbraencandeia P 3 P A P escurece couro pele de animais 4 P PAN mit A 41 P ofuscaencandeia PAN com A lanternafaróis 42 P cega PAN com A facaácido 5 P P mit A moça deslumbraencandeia P com A sua beleza Na versão eletrônica o dicionário é dividido em dois um para falantes de alemão o outro para falantes de português e as restrições semânticas e lexicais são apresentadas na respectiva língua CONCLUSÃO Depois de diferenciar diversos conceitos de valência A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 96 pretendi mostrar como a valência verbal é apresentada em três dicionários elaborados no Brasil sendo que um ainda está em construção e se diferencia dos outros por ser bilíngüe Constatouse que para a produção de textos os três são mais informativos e portanto mais úteis do que outros dicionários brasileiros O DGV e o DUP incluem uma classificação dos verbos que não é necessária para a produção de textos O DGV bem mais detalhado que o DUP oferece outra informação desnecessária a saber sobre o caso profundo do sujeito Informações sobre restrições semânticas existentes no DGV infelizmente faltam no DUP No DVAP apresentamse não somente a valência sin tática como também restrições selecionais semânticas e lexicais Apesar de certas falhas o DGV e o DUP constituem uma ajuda enorme para quem quer escrever ou falar portu guês Quanto ao DVAP resta esperar que ele possa ser con cluído REFERÊNCIAS ÁGEL Vilmos Valenztheorie Tübingen Narr 2000 BONDZIO Wilhelm Valenz Bedeutung und Satzmodelle In HELBIG G Ed Beiträge zur Valenztheorie pp85103 Paris The Hague 1971 BORBA Francisco da Silva Coord Dicionário gramatical de verbos do Português Contemporâneo do Brasil São Paulo UNESP 1990 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 97 Roteiro para a montagem de um dicionário de usos do português contemporâneo do Brasil DUP In ZAMBONIM DJ Org Estudos sobre Lexicografia pp7 32 Araraquara UNESP Campus de Araquara 1993 Uma gramática de valências para o português São Paulo Ática 1996a Les fondements de lorganisation dun dictionnaire dusages Meta XLI 2 pp279287 1996b Dicionário de usos do português contemporâneo In GÄRTNER E Ed Pesquisas lingüísticas em Portugal e no Brasil pp113124 Frankfurt am Main Vervuert Madrid Iberoamericana 1997 Dicionário de usos do Português do Brasil São Paulo Ática 2002 BUSSE Winfried Org Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses Coimbra Almedina 1994 DUBOST JeanPierre Französisches Verblexikon Stuttgart Klett 1977 VILELA Mario Gramática de valências Coimbra Almedina 1986 CHAFE Wallace L Meaning and the Structure of Language Chicago Chicago University Press 1970 FILLMORE Charles J The case for case In BACH E HARMS RT Ed Universals in Linguistic Theory pp1 88 New York Holt Rinehart and Winston 1968 FISCHER Klaus DependenzVerbGrammatik und kontrastive Analyse In GROSS H FISCHER K Ed A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 98 Grammatikarbeit im DaFUnterricht pp942 München iudicium 1990 GÖTZE Lutz Zu den Begriffspaaren obligatorischfakultativ und notwendignicht notwendig in einer Valenzgrammatik und ihre Relevanz für den Sprachunterricht Zielsprache Deutsch 5 p6271 1974 HEGER Klaus Valenz Diathese und Kasus Zeitschrift für romanische Philologie 82 p138170 1966 HELBIG Gerhard Probleme der Valenz und Kasustheorie Tübingen Niemeyer 1992 HELBIG Gerhard SCHENKEL Wolfgang Wörterbuch zur Valenz und Distribution deutscher Verben Leipzig VEB Bibliographisches Institut 1969 ICKLER Theodor Valenz und Bedeutung Beobachtungen zur Lexikographie des Deutschen als Fremdsprache In BERGENHOLTZ W MUGDAN J Ed Lexikographie und Grammatik pp358377 Tübingen Niemeyer 1985 IGNÁCIO Sebastião E A apresentação dos verbos num dicionário gramatical de usos Alfa 40 p119128 São Paulo 1996 O estudo das relações semânticas intrafrasais uma contribuição à gramática pedagógica Boletim da ABRALIN edição 21 Junho 1997 Disponível em http wwwletrasufrjbrabralinboletimboletim21tema74html Acesso em 20 out 2003 O registro de verbos nomes e adjetivos num dicionário de usos do Português do Brasil Revista Interna cional de Língua Portuguesa v1 n1 pp2229 2000 HERBERT WELKER Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 99 NEVES Maria H de M A prática lexicográfica onde ciência e arte se encontram Alfa São Paulo 40 pp129139 1996 PASCH Renate Zum Status der Valenz Linguistische Studien Reihe A 42 pp150 1977 RŮŽIČKA Rudolf Three Aspects of Valence In ABRAHAM W Ed Valence semantic case and grammatical relations pp4753 Amsterdam Benjamins 1978 SCHUMACHER Helmut Stand und Aufgaben der germanistischen Valenzlexikographie Germanistische Linguistik 8486 p327389 1986 SCHWITALLA Jochen Verbvalenz und Text Deutsch als Fremdsprache 22 pp266270 1985 STORRER Angelika Verbvalenz Theoretische und methodische Beschreibung in Grammatikographie und Lexikographie Tübingen Niemeyer 1992 TESNIÈRE Lucien Eléments de syntaxe structurale Paris Klincksieck 1959 WELKER Herbert A Urgente precisamos de um dicionário de verbos alemães Projekt Revista dos Professores de Alemão no Brasil 3132 pp6062 1998 Avaliação crítica do Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil In SEDYCIAS J Org Tópicos em lingüística aplicada I Issues in Applied Linguistics I p181203 Brasília Oficina Editorial do Instituto de Letras da Universidade de Brasília Plano Editora 2000a A VALÊNCIA VERBAL Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 1 p 73100 janjun 2005 100 Sobre o projeto de um dicionário alemãoportuguês de verbos In HORSTMEYER E EGGENSPERGER K Ed Anais do IV Congresso Brasileiro de Professores de Alemão pp541555 Curitiba ABRAPA 2000b Zweisprachige Lexikographie Vorschläge für deutschportugiesische Verbwörterbücher München Utz 2003 Recebido Dezembro de 2003 Aceito Fevereiro de 2004 Endereço para correspondência Herbert Andreas Welker SHIS QI 28 Conj 18 Casa 26 71670380 Brasília DF hawelkeryahoocom