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Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 112 UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DA TRANSITIVIDADE NUMA PERSPECTIVA SINTÁTICOSEMÂNTICA E DISCURSIVA A PROPOSAL FOR THE TEACHING OF TRANSITIVITY IN A SYNTHETIC SEMANTIC AND DISCURSIVE PERSPECTIVE Fabiana Pinto Moreira1 Resumo Neste artigo buscamos desenvolver propostas didáticas sobre o ensino da transitividade que possam subsidiar a prática reflexiva dos professores nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental Para isso discutimos a respeito do tratamento que é dado ao fenômeno da transitividade na tradição gramatical e em alguns estudos linguísticos NEVES 2007 Por fim apresentamos atividades que seguem o viés sintáticosemântico e discursivo que acreditamos ser indispensável para o ensino da transitividade na Educação Básica Palavraschave sintaxe transitividade português brasileiro Abstract In this article we seek to develop didactic proposals on the teaching of transitivity that can subsidize the reflective practice of teachers in Portuguese Language classes in Elementary School For this we discuss about the treatment that is given to the phenomenon of transitivity in the grammatical tradition and in some linguistic studies NEVES 2007 Finally we present activities that follow the syntacticsemantic and discursive bias that we believe to be indispensable for the teaching of transitivity in Basic Education Keywords syntax transitivity Brazilian Portuguese 1 Introdução2 O presente artigo consiste em apresentar considerações e propostas que possam subsidiar a prática reflexiva dos professores a fim de que possam enfrentar os problemas com os quais se deparam no ensino do fenômeno da transitividade nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental Esse tópico gramatical necessita de atenção e de um refinamento metodológico uma vez que apesar do tratamento linguístico dispensado ao tema 1 Mestre em Letras pelo Programa de Mestrado Profissional em Letras Pesquisadora do Grupo de Estudos Variacionistas GEVAR da UFTM Diretório CNPq 2 Agência de Fomento CAPES Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 113 os manuais didáticos no uso concretizado pelos professores ainda não encontraram uma forma de tornar seu ensino mais claro e eficaz para que os alunos o cristalizem e de fato o apreendam Tornando o aprendizado dispendioso e como muitos outros tópicos gramaticais superficiais Para que isso deixe de acontecer e as aulas de Língua Portuguesa se tornem mais produtivas e garantam a ampliação da competência comunicativa dos alunos os PCN orientam que os professores devem promover atividades didáticas que possibilitem a reflexão sobre as práticas da linguagem enquanto práticas sociais e discursivas estas ancoradas na leitura e interpretação textual Com isso acreditamos que o ensino da transitividade deve se basear na relação entre o significado dos verbos e sua valência e a possível influência que essa alternância de sentido pode ter na alternância da sua transitividade fazendo com que os alunos possam refletir e compreender que esse fenômeno se manifesta a partir de fatores sintáticos semânticos e discursivos Desse modo vamos no presente artigo tecer algumas considerações a respeito do tratamento que é dado ao fenômeno da transitividade na tradição gramatical apresentando algumas definições abordadas a respeito do tema Em seguida apresentaremos o escopo teórico das valências verbais por acreditarmos que a gramática de valências contribui para que o ensino do tópico gramatical da transitividade seja mais significativo e relevante nas aulas de Língua Portuguesa também serão apresentadas considerações sobre o ensino de como vem sendo trabalhado os tópicos gramaticais nas aulas de Língua Portuguesa e faremos considerações a respeito da perspectiva linguística para um ensino mais produtivo Na sequência apresentaremos atividades que seguem o viés sintáticosemântico e discursivo que acreditamos ser indispensável para o ensino da transitividade a fim de que se torne mais relevante a partir da reflexão da prática da língua em uso Por fim teceremos as considerações finais a respeito das atividades e a respeito do trabalho desenvolvido neste artigo 2 Transitividade e tradição gramatical Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 114 A respeito do que diz a tradição gramatical sobre a transitividade iniciamos apresentando a abordagem de Cunha e Cintra que definem a transitividade em dois pólos Cunha e Cintra 2008 consideram que aqueles verbos que exigem termos para completarlhes o significado são os transitivos e aqueles cuja ação não vai além de si são os chamados intransitivos Já Rocha Lima em sua Gramática Normativa realiza uma classificação dos verbos baseandose na natureza dos complementos por ele exigidos estabelecendo entre o verbo e o seu complemento uma expressão semântica De acordo com Rocha Lima 2007 p340 os verbos Intransitivos são aqueles que dispensam quaisquer complementações e encerram em si a noção predicativa e os Transitivos são aqueles que exigem a presença de complementos preposicional ou não O gramático apresenta uma classificação geral dos verbos quanto à predicação sempre relacionando sintaticamente o verbo com o seu complemento e apresenta o verbo transitivo relativo o transitivo circunstancial o bitransitivo o transobjetivo e o verbo de ligação Rocha Lima alerta que O caráter de cada qual destes tipos se denuncia na frase Verbos normalmente intransitivos podem empregarse transitivamente e viceversa de acordo com o sentido especial de determinadas frases Exemplo Quem ouve é surdo ouvirintransitivo Ouvi um ruído ouvir transitivo diretoROCHA LIMA 2007 p 542 É possível verificar que Rocha Lima considera o caráter sintático semântico do fenômeno da transitividade Além disso assim como Cunha e Cintra prevê que os verbos podem alterar a sua transitividade e não podem ser analisados no que se refere à transitividade de maneira isolada há que se considerar a situação discursiva Portanto não há que se falar em comportamentos estanques e definidos do verbo uma vez que a tradição gramatical reforça a necessidade de não rotular o verbo sem antes atentarse para o sentido do contexto Para Bechara 2009 os verbos transitivos são aqueles que necessitam de uma delimitação semântica os chamados argumentos ou complementos verbais Os verbos intransitivos são os de predicado simples que não necessitam dessa delimitação semântica são os verbos cujo significado lexical não é preenchido por Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 115 outros signos lexicais Nessa perspectiva semântica de transitividade Bechara admite que a oposição entre transitivo e intransitivo não é absoluta e mais pertence ao léxico do que a gramática p415 As normas gramaticais analisadas esbarram no problema de definição apontado por Azeredo 2007 p 75 que afirma que a oposição transitivointransitivo tem sido tratada como uma diferença de modos de significação do conteúdo léxico do verbo o que reitera as definições até então apresentadas mesmo considerando a alternância da transitividade de um mesmo verbo O que gera controvérsias e equívocos na transposição didática do tópico seria a uma definição pautada em critérios nocionais como adverte Azeredo 2007 estabelecendo que uma distinção de transitividade baseada na presença ou ausência de complementos deixa de ser sintática e paradigmática como propriedade intrínseca do verbo e passa a ser sintática e sintagmática conforme o emprego do verbo na frase Com isso ainda segundo Azeredo 2007 p75 a distinção de transitividade passa a ser mecânica e semanticamente irrelevante Uma vez que não são considerados os valores semânticos que os participantes do processo verbal desempenham no contexto O que acontece nas aulas destinadas ao ensino de transitividade é a superficialidade da identificação e da subcategorização dos verbos em transitivosintransitivos baseandose apenas na ausência ou presença de complementação Em relação ao ensino do fenômeno da transitividade constatamos com a prática docente que não são adotados critérios sintáticosemânticos e discursivos no momento da análise da transitividade que vem sendo tratada de forma mecânica e irrelevante visto que as atividades que são propostas para o ensino do tópico se concentram em identificar os verbos em um determinado texto e classificálos quanto a sua predicação apenas sem promover uma reflexão sobre o fenômeno Passemos agora para os avanços das pesquisas linguísticas em relação ao tópico com atenção ao que se refere à valência verbal para que possamos buscar um subsídio mais consistente que favoreça o estudo da transitividade nas aulas de Língua Portuguesa Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 116 3 Transitividade Valência e Discurso Os estudos linguísticos contemporâneos trazem muitas contribuições para o ensino da transitividade principalmente no que se refere à relação dos participantes do processo de predicação e do papel central do verbo nesse processo Em busca de subsídios coerentes para tornar o ensino do tópico gramatical em discussão neste trabalho esta seção se dedica às considerações do escopo teórico da linguística a respeito da transitividade sob uma perspectiva da gramática de valências além das contribuições da linguística acerca das relações sintáticosemântica e discursiva que envolvem o fenômeno da transitividade A transitividade segundo Mioto Silva e Lopes 2004 p59 é responsável pela organização semântica no nível frasal Esse processo envolve sintática e semanticamente seus participantes em relação à seleção dos elementos que irão compor a estrutura da frase Mioto Silva e Lopes 2004 ainda advertem que é necessário considerar as relações entre o verbo predicador e os participantes do processo de predicação argumentos Tal fato significa privilegiar a valência verbal as relações sintático semânticas entre o predicador os argumentos e os resultados decorrentes dessas relações Quanto às observações de Mioto Silva e Lopes Neves 2007 p40 esclarece que as relações sintáticosemânticas estabelecidas na predicação devem ser estipuladas pela estrutura do esquema de predicação e acrescenta que dentro do sistema de organização da estrutura argumental deve ser levado em consideração o contexto discursivo e situacional O fenômeno é primariamente sintático ligado especialmente à noção da obrigatoriedade de determinados termos para preencher a valência de determinados verbos que envolve a semântica já que há restrições semânticas nesse preenchimento e a pragmática já que a realização efetiva do sistema de transitividade resulta de necessidades e intenções comunicativas NEVES 2007 p40 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 117 Nesse sentido acreditamos que a gramática de valências deve ser estudada a fim de subsidiar o trabalho do professor no que se refere ao trabalho com a predicação Segundo Bagno 2012 em sua Gramática Pedagógica o verbo possui propriedades funcionais Ao aprendermos sobre essa classe de palavras vários aspectos devem ser considerados tais como o tempo o modo o aspecto e a sua valência Parafraseando Ilari e Basso 2008 Bagno 2012 p314 afirma que o verbo comporta espaços passíveis de serem preenchidos por sintagmas nominais gerando sentenças completas O significado do verbo que vai determinar o número e o tipo desses espaços A teoria de valências foi concebida pelo linguista francês Tesnière 1893 1954 Tal teoria concebe o verbo como centro da predicação Para ilustrar a ideia de Tesnière Bagno 2012 explica que O verbo é um pequeno sol em torno do qual se alinham todos os demais planetas da predicação ou seja da sintaxe sobre os quais o verbo projeta a luz de acordo com a necessidade o sujeito o tipo de sujeito e as características semânticas do sujeito por exemplo animado humano agente etc os complementos e os tipos de complementos direto indireto oblíquo ou nenhum complemento os adjuntos de todo tipo toda as relações de concordância que implicam flexão morfológica etc BAGNO 2012 p 314 Dessa forma Bagno explica a teoria de valências colocando o verbo como núcleo da hierarquia gramatical e desencadeador do processo de predicação sendo o responsável por selecionar os demais participantes do processo enunciativo Os elementos selecionados pelo verbo para participarem da predicação por meio da valência o poder de selecionar elementos para o enunciado verbal são chamados de argumentos Ao contrário da gramática tradicional na valência verbal o sujeito funciona como argumento externo do verbo É a partir da quantidade de argumentos que o verbo atrai para si que podemos determinar sua valência Um verbo pode ser Monovalente bivalente trivalente ou tetravalente Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 118 Segundo Bagno 2012 analisar o verbo a partir da sua valência nos permite ampliar as possibilidades de compreensão do funcionalismo dessa classe enquanto uso no sistema linguístico e suscita uma apreensão mais eficaz de sua semântica que só é possível admitindo a função do sujeito enquanto argumento externo do verbo Assim o verbo exige do sujeito enquanto argumento externo e dos complementos enquanto argumentos internos traços semânticos distintos A partir do entendimento do poder de atração dos verbos e de sua força na hierarquia gramatical podemos estabelecer critérios que realmente tornem o ensino da transitividade de fato mais relevante e significativo Uma vez que não basta definir a transitividade do verbo e a quantidade de complementos mas qual a natureza semântica dos participantes do processo de predicação verbal que são acionados pelo verbo assim como o efeito de sentido que tal processo acarreta para a situação discursiva Nesse sentido Perini 2008 alerta que não basta determinarmos a quantidade de argumentos que um verbo possui numa construção mas que é essencial conhecermos a valência dos verbos para compreendermos a intenção comunicativa da construção apreendendo dessa forma seu sentido global ou seja precisamos compreender em quais construções o verbo pode ou não aparecer Dessa forma Perini 2008 concebe o processo de predicação como um conjunto do verbo com os sintagmas nominais que são exigidos ou não como seus argumentos O verbo é o elemento nuclear e responsável pelo processo mas não é rotulado como sendo transitivointransitivo Nesse caso a valência de um verbo é o conjunto de construções em que ele pode ocorrer PERINI2008 p236 Portanto Perini fala de construção ou diátese transitiva ergativa e intransitiva a partir da ocorrência nessas construções é que os verbos são classificados As diáteses em Perini 2008 são definidas não só pela posição e pela quantidade de sintagmas nominais SN que se relacionam ao verbo mas também é levada em consideração a relação semântica entre o verbo e seus argumentos Essa relação semântica recebe o nome de papel temático que são o ingrediente principal na distinção semântica entre as diversas construções da língua Perini 2008 p185 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 119 Uma construção transitiva seria formada por Sujeito Agente V SN Paciente a Ergativa teria a seguinte estrutura Sujeito Paciente V e a Intransitiva seria formada pela conjugação entre Sujeito AgenteV Como exemplo das três construções encontramos em Perini 2008 1 Antônio comeu Pizza 2 O gato cegou 3 O gato fugiu O conhecimento das valências verbais sob a perspectiva abordada por Perini 2008 é de suma importância pois segundo o próprio autor salienta além de conhecer as construções em que a predicação se realiza quando aprendemos sobre categorias verbais há uma série de conhecimentos que precisam ser acionados e o que acontece com o ensino do tópico gramatical em questão transitividade é que não são feitas associações entre as representações semânticas e as estruturas formais para que haja uma compreensão efetiva do funcionamento da língua Nas discussões acerca das relações entre o significado do verbo e sua valência Perini 2008 admite que uma análise nesse nível pode reduzir as diáteses verbais mesmo reconhecendo que ao estabelecer a valência de verbos homônimos há a necessidade de definirmos suas diáteses e descrever as conexões entre elas e a partir disso descrever as acepções semânticas que os verbos apresentam que podem ser distintas ou não Assim mesmo que a diferença de significado não faça parte da explicitação da sua valência acreditamos essencial para o ensino da transitividade estabelecer um paralelo entre as diáteses e os significados dos verbos uma vez que isso pode acarretar uma reflexão sobre a variação semântica e suas motivações estruturais visto que Perini 2008 p 252 ressalta que a estrutura de papéis temáticos associada a um verbo é derivável desse verbo Com isso Perini conclui que Dar a valência de um verbo é expressar aspectos selecionados de seu comportamento sintático e semântico não exprimir sua sintaxe e sua semântica na totalidade No que diz respeito a semântica as construções expressam a parte do significado vinculada à estrutura PERINI 2008 p288 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 120 Fica claro a importância de se estabelecer que a transitividade não é apenas um critério sintático de análise linguística mas que envolve as relações semânticas de todos os participantes da predicação selecionada pelo verbo como elemento central Buscando relacionar a teoria das valências verbais com o significado do verbo é que se insere a proposta de tornar a prática de ensino mais significativa de forma que propicie uma reflexão acerca dos fenômenos linguísticos A partir das contribuições linguísticas até o momento explicitadas abordaremos como pode ser efetivado o ensino do tópico gramatical de modo mais condizente com a proposta que será apresentada centrada na prática reflexiva 4 Considerações acerca do ensino Muitas são as discussões que envolvem o ensino de Língua Portuguesa na escola Em relação a essas discussões os PCN preconizam que em uma prática baseada na reflexão sobre a língua a gramática deve ser concebida como relativa ao conhecimento que o falante tem da sua linguagem Nessa perspectiva o ensino de Língua Portuguesa deve ser uma prática discursiva na qual o texto é a unidade de ensino e o aluno é suscitado a analisar e refletir acerca dos múltiplos aspectos que permeiam a linguagem Para que de maneira progressiva possa ampliar sua competência discursiva Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para que haja a ampliação da competência discursiva do aluno o professor deve mobilizar alguns recursos metodológicos em relação ao trabalho com o ensino de Língua Portuguesa Deve se ter em mente que tal ampliação não pode ficar reduzida apenas ao trabalho sistemático com a matéria gramatical Aprender a pensar e falar sobre a própria linguagem realizar uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de análise linguística supõe o planejamento de situações didáticas que possibilitem a reflexão não apenas sobre os diferentes recursos expressivos utilizados pelo autor mas também sobre a formaBRASIL1998 p27 É nesse sentido que se situam as atividades epilinguisticas que mobilizam uma reflexão sobre a língua e sua imanência social e interativa Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 121 Para Antunes 2007 não se deve confundir o ensino de nomenclaturas gramaticais com o ensino de regras gramaticais na escola uma vez que as nomenclaturas gramaticais que como o próprio nome indica dizem respeito aos nomes que as unidades de gramática têm Esses nomes não asseguram que alguém vá falar ou escrever melhor e não representam o ensino de gramática como muitos acreditam ANTUNES 2007p78 O conhecimento acerca da nomenclatura gramatical embora faça parte do conhecimento enciclopédico não pode se tornar sinônimo de regra gramatical ensino de Língua Portuguesa nem um fim em si mesmo Quanto às regras gramaticais Antunes 2007 esclarece que as línguas são um sistema complexo por isso são dotadas de constituintes que regulam a situação de interação de seus usuários É por meio dessa regulação que um artigo vem sempre antes de um substantivo por exemplo São esses componentes reguladores do sistema complexo que é a língua que formam as regras gramaticais que por sua vez são comandadas por pessoas os usuários da língua que tornam essas regras ajustáveis à situação comunicativa É no sentido de refletir sobre o funcionamento da língua por meio de atividades que favoreçam a epilinguagem no ensino de tópicos gramaticais como a transitividade que se insere o presente artigo posto que saber que um verbo é transitivointransitivo não configura uma análise reflexiva sobre o processo de predicação apenas permite ao aluno subcategorizar uma classe gramatical por meio de critérios muito vagos muitas vezes apenas sintáticos o que não fomenta a ampliação da competência discursiva do aluno A respeito do ensino de tópicos gramaticais também Barbosa 2009 nos orienta quanto à busca dos três saberes que precisam ser considerados no ensino de Língua Portuguesa para que se obtenha êxito no desenvolvimento de habilidades linguísticas Os três saberes gramaticais segundo Barbosa 2009 devem ser abordados quando se pretende abordar algum tópico gramatical Devemos no tocante da abordagem linguística questionar o que dizem os falantes a tradição gramatical e as pesquisas linguísticas a fim de ampliarmos as possibilidades de ocorrência do fenômeno e considerarmos a língua em uso Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 122 Dessa forma o professor passa a ser um pesquisador do fenômeno a ser abordado compreendendo os seus usos lançando mão de estratégias que possibilitem um aprendizado significativo do tópico estudado e não apenas um mero repetidor dos manuais didáticos No processo de transposição didática a transitividade passa por um processo de simplificação e de perda de significado ou seja diante das constatações linguísticas acerca do fenômeno tanto no que diz respeito às contribuições dadas pela tradição gramatical quanto pela linguística ao transpor o tópico da transitividade para os alunos do Ensino Fundamental não se foram consideradas sobretudo as relações semânticas estabelecidas entre os actantes participantes do processo de predicação Gurpilhares 2003 O que com certeza prejudica a análise reflexiva e torna o aprendizado superficial 5 Proposta de atividades Pensando na relação semântica entre os participantes do processo de predicação os actantes Gurpulhares 2003 e a respeito da valência verbal que estabelece que o verbo é o centro desse processo Assim como nos três saberes gramaticais Barbosa 2009 foram elaboradas atividades que consistem em propor o ensino da transitividade com base na relação entre o significado dos verbos e sua valência fazendo com que os alunos reflitam e compreendam que a predicação se manifesta a partir de fatores sintáticos semânticos e discursivos As atividades são uma proposta de refletir sobre o funcionamento da língua no contexto discursivo considerando o processo de predicação e a alternância da transitividade que ocorre a partir desse contexto baseandose nas teorias linguísticas apontadas no decorrer do trabalho As atividades foram elaboradas pensando nos alunos do sétimo e oitavo ano do Ensino Fundamental levando em consideração tanto as considerações da tradição gramatical o conhecimento dos falantes e os conhecimentos linguísticos Primeiramente iremos apresentar as atividades para depois comentar o objetivo que se pretende alcançar com a proposta Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 123 Para a elaboração das atividades nos baseamos em dois textos portanto elas estão separadas em dois blocos Temos atividades relacionadas ao Texto I e ao Texto II Separamos as atividades em dois blocos para ficar estabelecido conforme orientam os PCN o texto como unidade de ensino e para salientar a nossa proposta de construção do aprendizado do tópico gramatical da transitividade a partir da relação sintáticosemântica entre os participantes do processo de predicação além de favorecer a reflexão do aluno acerca da influência do contexto no processo enfatizando a relação discursiva adotada nos objetivos de construção das atividades Acreditamos dessa maneira ter contemplado os objetivos da proposta que visa sobretudo à capacidade do usuário de fazer inferências sobre a língua Avaliando seu conhecimento implícito da linguagem 51 Atividades Leia os textos e responda às questões propostas em seguida Texto I A Revista Veja publicou Passarinheiros na berlinda Postado em 04092007 O Ibama demorou mas resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil O instituto desconfiou do crescimento assombroso de criadores no país que saltou de 8000 em 2005 para quase 40000 até agosto deste ano A suspeita era que esse aumento estaria encobrindo traficantes de pássaros silvestres Agora o Ibama acaba de baixar uma norma proibindo a inscrição de novos criadores Quer primeiro recadastrar todos eles Revista Veja 05 set 2007 pág 49 httpvejaabrilcombr050907radarshtml Fontehttpwwwprojetogaporgbrnoticiaarevistavejapublicoupassarinheirosna berlinda 1 O que é possível compreender com a afirmação de que o Ibama resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 124 2 Diante da situação noticiada por que a notícia recebeu como título a seguinte expressão Passarinheiros na berlinda 3 Observe a seguinte construção destacada do texto O instituto desconfiou do crescimento assombroso de criadores no país Se a construção fosse reformulada e retirássemos da sentença as seguintes partes do crescimento assombroso de criadores no país isso causaria algum prejuízo para o entendimento do trecho Por quê 4 Observe a construção retirada do texto com atenção para o verbo demorar O Ibama demorou mas resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil a O verbo demorar na situação descrita necessita de termos que auxiliem o preenchimento de sentido b Elabore um enunciado que apresente a forma verbal demorar O que foi possível constatar com a construção elaborada em relação à necessidade de complementação de sentido Texto II Trecho da música Quando a chuva passar Ivete Sangalo Só quero te lembrar De quando a gente andava nas estrelas Nas horas lindas que passamos juntos A gente só queria amar e amar e hoje eu tenho certeza A nossa história não termina agora Pois essa tempestade um dia vai acabar Quando a chuva passar Quando o tempo abrir Abra a janela e veja eu sou o sol Eu sou céu e mar Eu sou seu e fim E o meu amor é imensidão Fonte httpswwwvagalumecombrivetesangaloquandoachuvapassarhtml Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 125 1 A letra da canção transmite uma mensagem de esperança ou descrença em relação à reconstrução de um amor estremecido Justifique sua resposta com trechos da música 2 Veja as duas ocorrências do verbo abrir Ambas são semelhantes quanto à forma qual é a diferença de significado entre elas 3 A diferença de significado entre as formas do verbo abrir influencia na sua transitividade Explique 4 O verbo passar também aparece duas vezes com acepções distintas na canção Apresente com suas palavras o valor semântico de cada ocorrência desses verbos 5 O que você percebeu em relação ao verbo passar vai haver alternância na transitividade de acordo com o significado das duas ocorrências apresentadas na canção ou seja para cada significado há uma necessidade de complementação do sentido verbal Explique 6 A partir da resolução das questões feitas até aqui o que é possível concluir a respeito da influência que o valor semântico do verbo exerce sobre a definição da sua transitividade 52 Análises das atividades A proposta se vale em transpor a teoria linguística para a sala de aula sem tornar o aprendizado superficial e demasiado simplificado fazendo com que o aluno de fato reflita sobre o fenômeno linguístico em seu uso concreto Por meio da análise do escopo teórico apresentado acreditamos que o fenômeno da transitividade pode ser tratado de forma mais significativa em sala de aula se levado em consideração as relações estabelecidas entre os participantes do processo de predicação Valendose da primazia da centralidade do verbo nesse processo a proposta visa estabelecer um diálogo entre o significado do verbo e sua valência Tivemos a preocupação em contextualizar o tema dos textos adotados antes de entrarmos no estudo do tópico gramatical propriamente dito a transitividade Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 126 Desse modo o aluno faz sua interpretação do texto e compreende seu sentido global o que favorece a compreensão do tópico gramatical estudado numa perspectiva discursiva Na atividade número 03 do texto 1 esperamos que o aluno compreenda a relação sintáticosemântica entre o verbo e o complemento verbal sem entrarmos em questões de nomenclatura gramatical Em seguida na atividade número 04 esperamos que o aluno seja capaz de estabelecer uma relação entre os verbos demorar e resolver e o contexto discursivo através de uma análise lógicodiscursiva feita pelo próprio aluno acerca do funcionamento da língua Nas atividades do primeiro texto os verbos não foram subclassificados em transitivosintransitivos esperamos que os alunos construam suas próprias interpretações do fenômeno linguístico a partir da mediação do professor O que importa nesse primeiro momento é que o aluno consiga estabelecer a relação semântica entre o verbo e seus actantes assim como perceber que o contexto favorece essa relação No segundo bloco de atividades iniciamos contextualizando o tema do texto base das atividades de modo que o aluno possa compreender o sentido global A proposta das atividades do segundo bloco é que o aluno reflita sobre os diferentes usos de um mesmo verbo além de possibilitar que o aluno construa uma correlação entre o sentido e a valência do verbo em uso Com as atividades os alunos podem verificar que os verbos podem alternar de transitividade a depender do contexto e da valência de acordo com a relação semântica que estabelece com os participantes da predicação Optamos por não nomear os papéis temáticos na atividade proposta uma vez que a preocupação inicial é com a percepção da relação estabelecida A partir da compreensão de que há essa relação semântica podese mediar a construção do aprendizado acerca dos papéis temáticos princípio básico da relação semântica entre os participantes do processo de predicação preconizado pela gramática de valências Perini 2008 Acreditamos que a partir das atividades propostas é possível abordar a relação sintáticosemântica e discursiva que o fenômeno da transitividade Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 127 estabelece propiciando uma mediação que favoreça a reflexão acerca do uso concreto da língua Vale ressaltar que a sequência apresentada permite que o professor introduza uma prática reflexiva em relação ao funcionamento da língua o que vai possibilitar a discussão com os alunos acerca da função exercida pelos participantes da predicação na construção da transitividade verbal tornando dessa maneira o ensino desse tópico gramatical mais relevante e significativo podendo a partir de então introduzir outros tópicos como o ensino dos complementos e adjuntos Tópicos que não nos ocupamos em detalhar neste trabalho 6 Considerações Finais Buscamos através das atividades apresentadas construir uma proposta de ensino de um tópico gramatical de maneira que garanta uma reflexão sobre o funcionamento da língua e torne o aprendizado mais significativo Por meio da investigação do tratamento dado ao fenômeno da transitividade pela tradição gramatical percebemos que há um equívoco na transposição para o ensino do tópico gramatical em questão Esse equívoco pode ser percebido uma vez que apesar de alguns dos compêndios gramaticais analisados ainda considerarem a polarização dos verbos em transitivosintransitivos todas as gramáticas fornecem orientações a respeito do fenômeno linguístico a relação semântica entre os participantes do processo de predicação e consideram a alternância da transitividade relacionada ao contexto discursivo Ao didatizar um conteúdo é preciso cautela para não simplificálo tanto de forma a omitir fatos essenciais para a sua compreensão principalmente em se tratando das práticas da linguagem As contribuições da linguística não chegam à sala de aula as práticas de ensino tornam o aprendizado de tópicos gramaticais superficiais e irrelevantes pois na maioria das vezes apenas um dos saberes gramaticais é consideradoBarbosa 2009 aquele referente à tradição gramatical é muitas vezes interpretado como sinônimo de padrão linguístico a ser seguido mal interpretado e na maioria das vezes não condiz com a realidade linguística do fenômeno estudado não sendo Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 128 permitida as diversas possibilidades de realizações linguísticas que permeiam as complexas relações das práticas da linguagem O fenômeno da transitividade é tratado pela tradição gramatical com correspondência em relação à teoria linguística uma vez que já naquela se considera a relação sintáticosemântica entre os participantes do processo de predicação e a possibilidade de alternância de transitividade a partir do contexto Porém a gramática de valências amplia as possibilidades de análises reflexivas sobre o processo de predicação ao inserir o verbo no centro do processo e o sujeito como argumento externo do verbo Também as relações semânticas são definidas com mais clareza a partir da gramática de valências e as construções passam a ser consideradas transitivaintransitivas ou ergativas PERINI 2008 quando se pensa no esquema de predicação para que se possa subcategorizar o verbo que é o centro do poder na hierarquia gramatical Adotando uma posição mais cientifica é possível que os equívocos quanto à polarização de transitividade em critérios ora sintáticos ora semânticos possam ser eliminados das salas de aula de modo que esse fenômeno possa ser estudado de forma mais reflexiva e os alunos possam construir um aprendizado mais significativo a partir da percepção das relações sintáticosemânticas e discursivas entre os actantes como foi possível verificar no decorrer do trabalho estabelecem uma relação semântica e discursiva no processo de predicação Esperamos com este trabalho estabelecer uma reflexão acerca das práticas pedagógicas referentes ao ensino de Língua Materna sobretudo ao ensino da transitividadepredicação para que haja uma postura investigativa a respeito dos tópicos gramaticais que pretendemos ensinar e assim o ensino de Língua não se torne repetição de nomenclaturas pura identificação de categorias gramaticais que não levam a nenhuma reflexão sobre o funcionamento da língua nem garantem a ampliação da competência discursiva e comunicativa dos alunos 7 Referências ANTUNES I Muito além da gramática por um ensino de línguas sem pedras no caminho São Paulo Parábola Editorial 2007 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 129 AZEREDO J C Iniciação a sintaxe do português 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2007 BAGNO M Gramática pedagógica do português brasileiro São Paulo Parábola Editorial 2012 BECHARA E Moderna gramática portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2009 CUNHA C CINTRA LFL Nova gramática do português contemporâneo 5 ed Rio de Janeiro Lexikon 2008 GURPILHARES MSS A Intransitividade dos verbos de movimento Taubate Cabral Editora e Livraria Universitária 2002 MIOTO Carlos SILVA Maria Cristina Figueiredo LOPES Ruth Elisabeth Vasconcellos Novo Manual de sintaxe Florianópolis Insular 2004 280 p NEVES M H M Texto e gramática 1 ed São Paulo Contexto 2007 PERINI M A Estudos de gramática descritiva as valências verbais São Paulo Parábola Editorial 2008 ROCHA LIMA C H da Gramática normativa da língua portuguesa 46 ed Rio de Janeiro José Olympio 2007 PASSARINHEIROS NA BERLINDA 2007 Disponível em httpwwwprojetogaporgbrnoticiaarevistavejapublicoupassarinheirosna berlinda Acesso em 09 dez 2016 SANGALO I Quando a Chuva Passar 2016 Disponível em httpswwwvagalumecombrivetesangaloquandoachuvapassarhtml Acesso em 08 dez 2016
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Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 112 UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DA TRANSITIVIDADE NUMA PERSPECTIVA SINTÁTICOSEMÂNTICA E DISCURSIVA A PROPOSAL FOR THE TEACHING OF TRANSITIVITY IN A SYNTHETIC SEMANTIC AND DISCURSIVE PERSPECTIVE Fabiana Pinto Moreira1 Resumo Neste artigo buscamos desenvolver propostas didáticas sobre o ensino da transitividade que possam subsidiar a prática reflexiva dos professores nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental Para isso discutimos a respeito do tratamento que é dado ao fenômeno da transitividade na tradição gramatical e em alguns estudos linguísticos NEVES 2007 Por fim apresentamos atividades que seguem o viés sintáticosemântico e discursivo que acreditamos ser indispensável para o ensino da transitividade na Educação Básica Palavraschave sintaxe transitividade português brasileiro Abstract In this article we seek to develop didactic proposals on the teaching of transitivity that can subsidize the reflective practice of teachers in Portuguese Language classes in Elementary School For this we discuss about the treatment that is given to the phenomenon of transitivity in the grammatical tradition and in some linguistic studies NEVES 2007 Finally we present activities that follow the syntacticsemantic and discursive bias that we believe to be indispensable for the teaching of transitivity in Basic Education Keywords syntax transitivity Brazilian Portuguese 1 Introdução2 O presente artigo consiste em apresentar considerações e propostas que possam subsidiar a prática reflexiva dos professores a fim de que possam enfrentar os problemas com os quais se deparam no ensino do fenômeno da transitividade nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental Esse tópico gramatical necessita de atenção e de um refinamento metodológico uma vez que apesar do tratamento linguístico dispensado ao tema 1 Mestre em Letras pelo Programa de Mestrado Profissional em Letras Pesquisadora do Grupo de Estudos Variacionistas GEVAR da UFTM Diretório CNPq 2 Agência de Fomento CAPES Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 113 os manuais didáticos no uso concretizado pelos professores ainda não encontraram uma forma de tornar seu ensino mais claro e eficaz para que os alunos o cristalizem e de fato o apreendam Tornando o aprendizado dispendioso e como muitos outros tópicos gramaticais superficiais Para que isso deixe de acontecer e as aulas de Língua Portuguesa se tornem mais produtivas e garantam a ampliação da competência comunicativa dos alunos os PCN orientam que os professores devem promover atividades didáticas que possibilitem a reflexão sobre as práticas da linguagem enquanto práticas sociais e discursivas estas ancoradas na leitura e interpretação textual Com isso acreditamos que o ensino da transitividade deve se basear na relação entre o significado dos verbos e sua valência e a possível influência que essa alternância de sentido pode ter na alternância da sua transitividade fazendo com que os alunos possam refletir e compreender que esse fenômeno se manifesta a partir de fatores sintáticos semânticos e discursivos Desse modo vamos no presente artigo tecer algumas considerações a respeito do tratamento que é dado ao fenômeno da transitividade na tradição gramatical apresentando algumas definições abordadas a respeito do tema Em seguida apresentaremos o escopo teórico das valências verbais por acreditarmos que a gramática de valências contribui para que o ensino do tópico gramatical da transitividade seja mais significativo e relevante nas aulas de Língua Portuguesa também serão apresentadas considerações sobre o ensino de como vem sendo trabalhado os tópicos gramaticais nas aulas de Língua Portuguesa e faremos considerações a respeito da perspectiva linguística para um ensino mais produtivo Na sequência apresentaremos atividades que seguem o viés sintáticosemântico e discursivo que acreditamos ser indispensável para o ensino da transitividade a fim de que se torne mais relevante a partir da reflexão da prática da língua em uso Por fim teceremos as considerações finais a respeito das atividades e a respeito do trabalho desenvolvido neste artigo 2 Transitividade e tradição gramatical Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 114 A respeito do que diz a tradição gramatical sobre a transitividade iniciamos apresentando a abordagem de Cunha e Cintra que definem a transitividade em dois pólos Cunha e Cintra 2008 consideram que aqueles verbos que exigem termos para completarlhes o significado são os transitivos e aqueles cuja ação não vai além de si são os chamados intransitivos Já Rocha Lima em sua Gramática Normativa realiza uma classificação dos verbos baseandose na natureza dos complementos por ele exigidos estabelecendo entre o verbo e o seu complemento uma expressão semântica De acordo com Rocha Lima 2007 p340 os verbos Intransitivos são aqueles que dispensam quaisquer complementações e encerram em si a noção predicativa e os Transitivos são aqueles que exigem a presença de complementos preposicional ou não O gramático apresenta uma classificação geral dos verbos quanto à predicação sempre relacionando sintaticamente o verbo com o seu complemento e apresenta o verbo transitivo relativo o transitivo circunstancial o bitransitivo o transobjetivo e o verbo de ligação Rocha Lima alerta que O caráter de cada qual destes tipos se denuncia na frase Verbos normalmente intransitivos podem empregarse transitivamente e viceversa de acordo com o sentido especial de determinadas frases Exemplo Quem ouve é surdo ouvirintransitivo Ouvi um ruído ouvir transitivo diretoROCHA LIMA 2007 p 542 É possível verificar que Rocha Lima considera o caráter sintático semântico do fenômeno da transitividade Além disso assim como Cunha e Cintra prevê que os verbos podem alterar a sua transitividade e não podem ser analisados no que se refere à transitividade de maneira isolada há que se considerar a situação discursiva Portanto não há que se falar em comportamentos estanques e definidos do verbo uma vez que a tradição gramatical reforça a necessidade de não rotular o verbo sem antes atentarse para o sentido do contexto Para Bechara 2009 os verbos transitivos são aqueles que necessitam de uma delimitação semântica os chamados argumentos ou complementos verbais Os verbos intransitivos são os de predicado simples que não necessitam dessa delimitação semântica são os verbos cujo significado lexical não é preenchido por Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 115 outros signos lexicais Nessa perspectiva semântica de transitividade Bechara admite que a oposição entre transitivo e intransitivo não é absoluta e mais pertence ao léxico do que a gramática p415 As normas gramaticais analisadas esbarram no problema de definição apontado por Azeredo 2007 p 75 que afirma que a oposição transitivointransitivo tem sido tratada como uma diferença de modos de significação do conteúdo léxico do verbo o que reitera as definições até então apresentadas mesmo considerando a alternância da transitividade de um mesmo verbo O que gera controvérsias e equívocos na transposição didática do tópico seria a uma definição pautada em critérios nocionais como adverte Azeredo 2007 estabelecendo que uma distinção de transitividade baseada na presença ou ausência de complementos deixa de ser sintática e paradigmática como propriedade intrínseca do verbo e passa a ser sintática e sintagmática conforme o emprego do verbo na frase Com isso ainda segundo Azeredo 2007 p75 a distinção de transitividade passa a ser mecânica e semanticamente irrelevante Uma vez que não são considerados os valores semânticos que os participantes do processo verbal desempenham no contexto O que acontece nas aulas destinadas ao ensino de transitividade é a superficialidade da identificação e da subcategorização dos verbos em transitivosintransitivos baseandose apenas na ausência ou presença de complementação Em relação ao ensino do fenômeno da transitividade constatamos com a prática docente que não são adotados critérios sintáticosemânticos e discursivos no momento da análise da transitividade que vem sendo tratada de forma mecânica e irrelevante visto que as atividades que são propostas para o ensino do tópico se concentram em identificar os verbos em um determinado texto e classificálos quanto a sua predicação apenas sem promover uma reflexão sobre o fenômeno Passemos agora para os avanços das pesquisas linguísticas em relação ao tópico com atenção ao que se refere à valência verbal para que possamos buscar um subsídio mais consistente que favoreça o estudo da transitividade nas aulas de Língua Portuguesa Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 116 3 Transitividade Valência e Discurso Os estudos linguísticos contemporâneos trazem muitas contribuições para o ensino da transitividade principalmente no que se refere à relação dos participantes do processo de predicação e do papel central do verbo nesse processo Em busca de subsídios coerentes para tornar o ensino do tópico gramatical em discussão neste trabalho esta seção se dedica às considerações do escopo teórico da linguística a respeito da transitividade sob uma perspectiva da gramática de valências além das contribuições da linguística acerca das relações sintáticosemântica e discursiva que envolvem o fenômeno da transitividade A transitividade segundo Mioto Silva e Lopes 2004 p59 é responsável pela organização semântica no nível frasal Esse processo envolve sintática e semanticamente seus participantes em relação à seleção dos elementos que irão compor a estrutura da frase Mioto Silva e Lopes 2004 ainda advertem que é necessário considerar as relações entre o verbo predicador e os participantes do processo de predicação argumentos Tal fato significa privilegiar a valência verbal as relações sintático semânticas entre o predicador os argumentos e os resultados decorrentes dessas relações Quanto às observações de Mioto Silva e Lopes Neves 2007 p40 esclarece que as relações sintáticosemânticas estabelecidas na predicação devem ser estipuladas pela estrutura do esquema de predicação e acrescenta que dentro do sistema de organização da estrutura argumental deve ser levado em consideração o contexto discursivo e situacional O fenômeno é primariamente sintático ligado especialmente à noção da obrigatoriedade de determinados termos para preencher a valência de determinados verbos que envolve a semântica já que há restrições semânticas nesse preenchimento e a pragmática já que a realização efetiva do sistema de transitividade resulta de necessidades e intenções comunicativas NEVES 2007 p40 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 117 Nesse sentido acreditamos que a gramática de valências deve ser estudada a fim de subsidiar o trabalho do professor no que se refere ao trabalho com a predicação Segundo Bagno 2012 em sua Gramática Pedagógica o verbo possui propriedades funcionais Ao aprendermos sobre essa classe de palavras vários aspectos devem ser considerados tais como o tempo o modo o aspecto e a sua valência Parafraseando Ilari e Basso 2008 Bagno 2012 p314 afirma que o verbo comporta espaços passíveis de serem preenchidos por sintagmas nominais gerando sentenças completas O significado do verbo que vai determinar o número e o tipo desses espaços A teoria de valências foi concebida pelo linguista francês Tesnière 1893 1954 Tal teoria concebe o verbo como centro da predicação Para ilustrar a ideia de Tesnière Bagno 2012 explica que O verbo é um pequeno sol em torno do qual se alinham todos os demais planetas da predicação ou seja da sintaxe sobre os quais o verbo projeta a luz de acordo com a necessidade o sujeito o tipo de sujeito e as características semânticas do sujeito por exemplo animado humano agente etc os complementos e os tipos de complementos direto indireto oblíquo ou nenhum complemento os adjuntos de todo tipo toda as relações de concordância que implicam flexão morfológica etc BAGNO 2012 p 314 Dessa forma Bagno explica a teoria de valências colocando o verbo como núcleo da hierarquia gramatical e desencadeador do processo de predicação sendo o responsável por selecionar os demais participantes do processo enunciativo Os elementos selecionados pelo verbo para participarem da predicação por meio da valência o poder de selecionar elementos para o enunciado verbal são chamados de argumentos Ao contrário da gramática tradicional na valência verbal o sujeito funciona como argumento externo do verbo É a partir da quantidade de argumentos que o verbo atrai para si que podemos determinar sua valência Um verbo pode ser Monovalente bivalente trivalente ou tetravalente Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 118 Segundo Bagno 2012 analisar o verbo a partir da sua valência nos permite ampliar as possibilidades de compreensão do funcionalismo dessa classe enquanto uso no sistema linguístico e suscita uma apreensão mais eficaz de sua semântica que só é possível admitindo a função do sujeito enquanto argumento externo do verbo Assim o verbo exige do sujeito enquanto argumento externo e dos complementos enquanto argumentos internos traços semânticos distintos A partir do entendimento do poder de atração dos verbos e de sua força na hierarquia gramatical podemos estabelecer critérios que realmente tornem o ensino da transitividade de fato mais relevante e significativo Uma vez que não basta definir a transitividade do verbo e a quantidade de complementos mas qual a natureza semântica dos participantes do processo de predicação verbal que são acionados pelo verbo assim como o efeito de sentido que tal processo acarreta para a situação discursiva Nesse sentido Perini 2008 alerta que não basta determinarmos a quantidade de argumentos que um verbo possui numa construção mas que é essencial conhecermos a valência dos verbos para compreendermos a intenção comunicativa da construção apreendendo dessa forma seu sentido global ou seja precisamos compreender em quais construções o verbo pode ou não aparecer Dessa forma Perini 2008 concebe o processo de predicação como um conjunto do verbo com os sintagmas nominais que são exigidos ou não como seus argumentos O verbo é o elemento nuclear e responsável pelo processo mas não é rotulado como sendo transitivointransitivo Nesse caso a valência de um verbo é o conjunto de construções em que ele pode ocorrer PERINI2008 p236 Portanto Perini fala de construção ou diátese transitiva ergativa e intransitiva a partir da ocorrência nessas construções é que os verbos são classificados As diáteses em Perini 2008 são definidas não só pela posição e pela quantidade de sintagmas nominais SN que se relacionam ao verbo mas também é levada em consideração a relação semântica entre o verbo e seus argumentos Essa relação semântica recebe o nome de papel temático que são o ingrediente principal na distinção semântica entre as diversas construções da língua Perini 2008 p185 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 119 Uma construção transitiva seria formada por Sujeito Agente V SN Paciente a Ergativa teria a seguinte estrutura Sujeito Paciente V e a Intransitiva seria formada pela conjugação entre Sujeito AgenteV Como exemplo das três construções encontramos em Perini 2008 1 Antônio comeu Pizza 2 O gato cegou 3 O gato fugiu O conhecimento das valências verbais sob a perspectiva abordada por Perini 2008 é de suma importância pois segundo o próprio autor salienta além de conhecer as construções em que a predicação se realiza quando aprendemos sobre categorias verbais há uma série de conhecimentos que precisam ser acionados e o que acontece com o ensino do tópico gramatical em questão transitividade é que não são feitas associações entre as representações semânticas e as estruturas formais para que haja uma compreensão efetiva do funcionamento da língua Nas discussões acerca das relações entre o significado do verbo e sua valência Perini 2008 admite que uma análise nesse nível pode reduzir as diáteses verbais mesmo reconhecendo que ao estabelecer a valência de verbos homônimos há a necessidade de definirmos suas diáteses e descrever as conexões entre elas e a partir disso descrever as acepções semânticas que os verbos apresentam que podem ser distintas ou não Assim mesmo que a diferença de significado não faça parte da explicitação da sua valência acreditamos essencial para o ensino da transitividade estabelecer um paralelo entre as diáteses e os significados dos verbos uma vez que isso pode acarretar uma reflexão sobre a variação semântica e suas motivações estruturais visto que Perini 2008 p 252 ressalta que a estrutura de papéis temáticos associada a um verbo é derivável desse verbo Com isso Perini conclui que Dar a valência de um verbo é expressar aspectos selecionados de seu comportamento sintático e semântico não exprimir sua sintaxe e sua semântica na totalidade No que diz respeito a semântica as construções expressam a parte do significado vinculada à estrutura PERINI 2008 p288 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 120 Fica claro a importância de se estabelecer que a transitividade não é apenas um critério sintático de análise linguística mas que envolve as relações semânticas de todos os participantes da predicação selecionada pelo verbo como elemento central Buscando relacionar a teoria das valências verbais com o significado do verbo é que se insere a proposta de tornar a prática de ensino mais significativa de forma que propicie uma reflexão acerca dos fenômenos linguísticos A partir das contribuições linguísticas até o momento explicitadas abordaremos como pode ser efetivado o ensino do tópico gramatical de modo mais condizente com a proposta que será apresentada centrada na prática reflexiva 4 Considerações acerca do ensino Muitas são as discussões que envolvem o ensino de Língua Portuguesa na escola Em relação a essas discussões os PCN preconizam que em uma prática baseada na reflexão sobre a língua a gramática deve ser concebida como relativa ao conhecimento que o falante tem da sua linguagem Nessa perspectiva o ensino de Língua Portuguesa deve ser uma prática discursiva na qual o texto é a unidade de ensino e o aluno é suscitado a analisar e refletir acerca dos múltiplos aspectos que permeiam a linguagem Para que de maneira progressiva possa ampliar sua competência discursiva Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para que haja a ampliação da competência discursiva do aluno o professor deve mobilizar alguns recursos metodológicos em relação ao trabalho com o ensino de Língua Portuguesa Deve se ter em mente que tal ampliação não pode ficar reduzida apenas ao trabalho sistemático com a matéria gramatical Aprender a pensar e falar sobre a própria linguagem realizar uma atividade de natureza reflexiva uma atividade de análise linguística supõe o planejamento de situações didáticas que possibilitem a reflexão não apenas sobre os diferentes recursos expressivos utilizados pelo autor mas também sobre a formaBRASIL1998 p27 É nesse sentido que se situam as atividades epilinguisticas que mobilizam uma reflexão sobre a língua e sua imanência social e interativa Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 121 Para Antunes 2007 não se deve confundir o ensino de nomenclaturas gramaticais com o ensino de regras gramaticais na escola uma vez que as nomenclaturas gramaticais que como o próprio nome indica dizem respeito aos nomes que as unidades de gramática têm Esses nomes não asseguram que alguém vá falar ou escrever melhor e não representam o ensino de gramática como muitos acreditam ANTUNES 2007p78 O conhecimento acerca da nomenclatura gramatical embora faça parte do conhecimento enciclopédico não pode se tornar sinônimo de regra gramatical ensino de Língua Portuguesa nem um fim em si mesmo Quanto às regras gramaticais Antunes 2007 esclarece que as línguas são um sistema complexo por isso são dotadas de constituintes que regulam a situação de interação de seus usuários É por meio dessa regulação que um artigo vem sempre antes de um substantivo por exemplo São esses componentes reguladores do sistema complexo que é a língua que formam as regras gramaticais que por sua vez são comandadas por pessoas os usuários da língua que tornam essas regras ajustáveis à situação comunicativa É no sentido de refletir sobre o funcionamento da língua por meio de atividades que favoreçam a epilinguagem no ensino de tópicos gramaticais como a transitividade que se insere o presente artigo posto que saber que um verbo é transitivointransitivo não configura uma análise reflexiva sobre o processo de predicação apenas permite ao aluno subcategorizar uma classe gramatical por meio de critérios muito vagos muitas vezes apenas sintáticos o que não fomenta a ampliação da competência discursiva do aluno A respeito do ensino de tópicos gramaticais também Barbosa 2009 nos orienta quanto à busca dos três saberes que precisam ser considerados no ensino de Língua Portuguesa para que se obtenha êxito no desenvolvimento de habilidades linguísticas Os três saberes gramaticais segundo Barbosa 2009 devem ser abordados quando se pretende abordar algum tópico gramatical Devemos no tocante da abordagem linguística questionar o que dizem os falantes a tradição gramatical e as pesquisas linguísticas a fim de ampliarmos as possibilidades de ocorrência do fenômeno e considerarmos a língua em uso Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 122 Dessa forma o professor passa a ser um pesquisador do fenômeno a ser abordado compreendendo os seus usos lançando mão de estratégias que possibilitem um aprendizado significativo do tópico estudado e não apenas um mero repetidor dos manuais didáticos No processo de transposição didática a transitividade passa por um processo de simplificação e de perda de significado ou seja diante das constatações linguísticas acerca do fenômeno tanto no que diz respeito às contribuições dadas pela tradição gramatical quanto pela linguística ao transpor o tópico da transitividade para os alunos do Ensino Fundamental não se foram consideradas sobretudo as relações semânticas estabelecidas entre os actantes participantes do processo de predicação Gurpilhares 2003 O que com certeza prejudica a análise reflexiva e torna o aprendizado superficial 5 Proposta de atividades Pensando na relação semântica entre os participantes do processo de predicação os actantes Gurpulhares 2003 e a respeito da valência verbal que estabelece que o verbo é o centro desse processo Assim como nos três saberes gramaticais Barbosa 2009 foram elaboradas atividades que consistem em propor o ensino da transitividade com base na relação entre o significado dos verbos e sua valência fazendo com que os alunos reflitam e compreendam que a predicação se manifesta a partir de fatores sintáticos semânticos e discursivos As atividades são uma proposta de refletir sobre o funcionamento da língua no contexto discursivo considerando o processo de predicação e a alternância da transitividade que ocorre a partir desse contexto baseandose nas teorias linguísticas apontadas no decorrer do trabalho As atividades foram elaboradas pensando nos alunos do sétimo e oitavo ano do Ensino Fundamental levando em consideração tanto as considerações da tradição gramatical o conhecimento dos falantes e os conhecimentos linguísticos Primeiramente iremos apresentar as atividades para depois comentar o objetivo que se pretende alcançar com a proposta Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 123 Para a elaboração das atividades nos baseamos em dois textos portanto elas estão separadas em dois blocos Temos atividades relacionadas ao Texto I e ao Texto II Separamos as atividades em dois blocos para ficar estabelecido conforme orientam os PCN o texto como unidade de ensino e para salientar a nossa proposta de construção do aprendizado do tópico gramatical da transitividade a partir da relação sintáticosemântica entre os participantes do processo de predicação além de favorecer a reflexão do aluno acerca da influência do contexto no processo enfatizando a relação discursiva adotada nos objetivos de construção das atividades Acreditamos dessa maneira ter contemplado os objetivos da proposta que visa sobretudo à capacidade do usuário de fazer inferências sobre a língua Avaliando seu conhecimento implícito da linguagem 51 Atividades Leia os textos e responda às questões propostas em seguida Texto I A Revista Veja publicou Passarinheiros na berlinda Postado em 04092007 O Ibama demorou mas resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil O instituto desconfiou do crescimento assombroso de criadores no país que saltou de 8000 em 2005 para quase 40000 até agosto deste ano A suspeita era que esse aumento estaria encobrindo traficantes de pássaros silvestres Agora o Ibama acaba de baixar uma norma proibindo a inscrição de novos criadores Quer primeiro recadastrar todos eles Revista Veja 05 set 2007 pág 49 httpvejaabrilcombr050907radarshtml Fontehttpwwwprojetogaporgbrnoticiaarevistavejapublicoupassarinheirosna berlinda 1 O que é possível compreender com a afirmação de que o Ibama resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 124 2 Diante da situação noticiada por que a notícia recebeu como título a seguinte expressão Passarinheiros na berlinda 3 Observe a seguinte construção destacada do texto O instituto desconfiou do crescimento assombroso de criadores no país Se a construção fosse reformulada e retirássemos da sentença as seguintes partes do crescimento assombroso de criadores no país isso causaria algum prejuízo para o entendimento do trecho Por quê 4 Observe a construção retirada do texto com atenção para o verbo demorar O Ibama demorou mas resolveu pôr ordem na casa dos criadores de passarinhos do Brasil a O verbo demorar na situação descrita necessita de termos que auxiliem o preenchimento de sentido b Elabore um enunciado que apresente a forma verbal demorar O que foi possível constatar com a construção elaborada em relação à necessidade de complementação de sentido Texto II Trecho da música Quando a chuva passar Ivete Sangalo Só quero te lembrar De quando a gente andava nas estrelas Nas horas lindas que passamos juntos A gente só queria amar e amar e hoje eu tenho certeza A nossa história não termina agora Pois essa tempestade um dia vai acabar Quando a chuva passar Quando o tempo abrir Abra a janela e veja eu sou o sol Eu sou céu e mar Eu sou seu e fim E o meu amor é imensidão Fonte httpswwwvagalumecombrivetesangaloquandoachuvapassarhtml Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 125 1 A letra da canção transmite uma mensagem de esperança ou descrença em relação à reconstrução de um amor estremecido Justifique sua resposta com trechos da música 2 Veja as duas ocorrências do verbo abrir Ambas são semelhantes quanto à forma qual é a diferença de significado entre elas 3 A diferença de significado entre as formas do verbo abrir influencia na sua transitividade Explique 4 O verbo passar também aparece duas vezes com acepções distintas na canção Apresente com suas palavras o valor semântico de cada ocorrência desses verbos 5 O que você percebeu em relação ao verbo passar vai haver alternância na transitividade de acordo com o significado das duas ocorrências apresentadas na canção ou seja para cada significado há uma necessidade de complementação do sentido verbal Explique 6 A partir da resolução das questões feitas até aqui o que é possível concluir a respeito da influência que o valor semântico do verbo exerce sobre a definição da sua transitividade 52 Análises das atividades A proposta se vale em transpor a teoria linguística para a sala de aula sem tornar o aprendizado superficial e demasiado simplificado fazendo com que o aluno de fato reflita sobre o fenômeno linguístico em seu uso concreto Por meio da análise do escopo teórico apresentado acreditamos que o fenômeno da transitividade pode ser tratado de forma mais significativa em sala de aula se levado em consideração as relações estabelecidas entre os participantes do processo de predicação Valendose da primazia da centralidade do verbo nesse processo a proposta visa estabelecer um diálogo entre o significado do verbo e sua valência Tivemos a preocupação em contextualizar o tema dos textos adotados antes de entrarmos no estudo do tópico gramatical propriamente dito a transitividade Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 126 Desse modo o aluno faz sua interpretação do texto e compreende seu sentido global o que favorece a compreensão do tópico gramatical estudado numa perspectiva discursiva Na atividade número 03 do texto 1 esperamos que o aluno compreenda a relação sintáticosemântica entre o verbo e o complemento verbal sem entrarmos em questões de nomenclatura gramatical Em seguida na atividade número 04 esperamos que o aluno seja capaz de estabelecer uma relação entre os verbos demorar e resolver e o contexto discursivo através de uma análise lógicodiscursiva feita pelo próprio aluno acerca do funcionamento da língua Nas atividades do primeiro texto os verbos não foram subclassificados em transitivosintransitivos esperamos que os alunos construam suas próprias interpretações do fenômeno linguístico a partir da mediação do professor O que importa nesse primeiro momento é que o aluno consiga estabelecer a relação semântica entre o verbo e seus actantes assim como perceber que o contexto favorece essa relação No segundo bloco de atividades iniciamos contextualizando o tema do texto base das atividades de modo que o aluno possa compreender o sentido global A proposta das atividades do segundo bloco é que o aluno reflita sobre os diferentes usos de um mesmo verbo além de possibilitar que o aluno construa uma correlação entre o sentido e a valência do verbo em uso Com as atividades os alunos podem verificar que os verbos podem alternar de transitividade a depender do contexto e da valência de acordo com a relação semântica que estabelece com os participantes da predicação Optamos por não nomear os papéis temáticos na atividade proposta uma vez que a preocupação inicial é com a percepção da relação estabelecida A partir da compreensão de que há essa relação semântica podese mediar a construção do aprendizado acerca dos papéis temáticos princípio básico da relação semântica entre os participantes do processo de predicação preconizado pela gramática de valências Perini 2008 Acreditamos que a partir das atividades propostas é possível abordar a relação sintáticosemântica e discursiva que o fenômeno da transitividade Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 127 estabelece propiciando uma mediação que favoreça a reflexão acerca do uso concreto da língua Vale ressaltar que a sequência apresentada permite que o professor introduza uma prática reflexiva em relação ao funcionamento da língua o que vai possibilitar a discussão com os alunos acerca da função exercida pelos participantes da predicação na construção da transitividade verbal tornando dessa maneira o ensino desse tópico gramatical mais relevante e significativo podendo a partir de então introduzir outros tópicos como o ensino dos complementos e adjuntos Tópicos que não nos ocupamos em detalhar neste trabalho 6 Considerações Finais Buscamos através das atividades apresentadas construir uma proposta de ensino de um tópico gramatical de maneira que garanta uma reflexão sobre o funcionamento da língua e torne o aprendizado mais significativo Por meio da investigação do tratamento dado ao fenômeno da transitividade pela tradição gramatical percebemos que há um equívoco na transposição para o ensino do tópico gramatical em questão Esse equívoco pode ser percebido uma vez que apesar de alguns dos compêndios gramaticais analisados ainda considerarem a polarização dos verbos em transitivosintransitivos todas as gramáticas fornecem orientações a respeito do fenômeno linguístico a relação semântica entre os participantes do processo de predicação e consideram a alternância da transitividade relacionada ao contexto discursivo Ao didatizar um conteúdo é preciso cautela para não simplificálo tanto de forma a omitir fatos essenciais para a sua compreensão principalmente em se tratando das práticas da linguagem As contribuições da linguística não chegam à sala de aula as práticas de ensino tornam o aprendizado de tópicos gramaticais superficiais e irrelevantes pois na maioria das vezes apenas um dos saberes gramaticais é consideradoBarbosa 2009 aquele referente à tradição gramatical é muitas vezes interpretado como sinônimo de padrão linguístico a ser seguido mal interpretado e na maioria das vezes não condiz com a realidade linguística do fenômeno estudado não sendo Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 128 permitida as diversas possibilidades de realizações linguísticas que permeiam as complexas relações das práticas da linguagem O fenômeno da transitividade é tratado pela tradição gramatical com correspondência em relação à teoria linguística uma vez que já naquela se considera a relação sintáticosemântica entre os participantes do processo de predicação e a possibilidade de alternância de transitividade a partir do contexto Porém a gramática de valências amplia as possibilidades de análises reflexivas sobre o processo de predicação ao inserir o verbo no centro do processo e o sujeito como argumento externo do verbo Também as relações semânticas são definidas com mais clareza a partir da gramática de valências e as construções passam a ser consideradas transitivaintransitivas ou ergativas PERINI 2008 quando se pensa no esquema de predicação para que se possa subcategorizar o verbo que é o centro do poder na hierarquia gramatical Adotando uma posição mais cientifica é possível que os equívocos quanto à polarização de transitividade em critérios ora sintáticos ora semânticos possam ser eliminados das salas de aula de modo que esse fenômeno possa ser estudado de forma mais reflexiva e os alunos possam construir um aprendizado mais significativo a partir da percepção das relações sintáticosemânticas e discursivas entre os actantes como foi possível verificar no decorrer do trabalho estabelecem uma relação semântica e discursiva no processo de predicação Esperamos com este trabalho estabelecer uma reflexão acerca das práticas pedagógicas referentes ao ensino de Língua Materna sobretudo ao ensino da transitividadepredicação para que haja uma postura investigativa a respeito dos tópicos gramaticais que pretendemos ensinar e assim o ensino de Língua não se torne repetição de nomenclaturas pura identificação de categorias gramaticais que não levam a nenhuma reflexão sobre o funcionamento da língua nem garantem a ampliação da competência discursiva e comunicativa dos alunos 7 Referências ANTUNES I Muito além da gramática por um ensino de línguas sem pedras no caminho São Paulo Parábola Editorial 2007 Revista InterteXto ISSN 19810601 v 11 n 1 2018 129 AZEREDO J C Iniciação a sintaxe do português 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2007 BAGNO M Gramática pedagógica do português brasileiro São Paulo Parábola Editorial 2012 BECHARA E Moderna gramática portuguesa 37 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2009 CUNHA C CINTRA LFL Nova gramática do português contemporâneo 5 ed Rio de Janeiro Lexikon 2008 GURPILHARES MSS A Intransitividade dos verbos de movimento Taubate Cabral Editora e Livraria Universitária 2002 MIOTO Carlos SILVA Maria Cristina Figueiredo LOPES Ruth Elisabeth Vasconcellos Novo Manual de sintaxe Florianópolis Insular 2004 280 p NEVES M H M Texto e gramática 1 ed São Paulo Contexto 2007 PERINI M A Estudos de gramática descritiva as valências verbais São Paulo Parábola Editorial 2008 ROCHA LIMA C H da Gramática normativa da língua portuguesa 46 ed Rio de Janeiro José Olympio 2007 PASSARINHEIROS NA BERLINDA 2007 Disponível em httpwwwprojetogaporgbrnoticiaarevistavejapublicoupassarinheirosna berlinda Acesso em 09 dez 2016 SANGALO I Quando a Chuva Passar 2016 Disponível em httpswwwvagalumecombrivetesangaloquandoachuvapassarhtml Acesso em 08 dez 2016