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A8LLP1 Leituras em contraponto Curso Letras Língua Portuguesa Docente Andrea Muraro Quinhentismo literatura de catequese A escrita jesuítica atua como um dispositivo colonizador que ao controlar o tempo e a memória produz corpos integrados ao projeto português de fundação da cidade cristã no Brasil Telles 2004 p 11 A leitura em contraponto deve considerar ambos os processos o do imperialismo e o da resistência a ele o que pode ser feito estendendo nossa leitura dos textos de forma a incluir o que antes era forçosamente excluído E SAID 1995 p 104 Eîmoîngôpukukatu Faze estar muito longamente Kô taba Tupã resê esta aldeia em Deus Ybytyrygûara bé Os habitantes das montanhas também Oré pyri tereru Que os tragas para junto de nós Eru paraibygûara Traze os habitantes do Paraíba Oréretama irumôno Para aumentar nossa terra Ta setá nde raûsupara Que sejam muitos os que te amam Nde resé oîepysyrõmo por tua causa salvandose ANCHIETA José de Poemas lírica portuguesa e tupi 2 ed São Paulo Martins Fontes 2004 p 174177 8691 A554p Cf também pdf no Sigaa Vida e obra de José de Anchieta por Eduardo Navarro httpredememoriabnbrwpcontentuploads201112autorepresentadonafestade saolourencopdf Excerto do auto Na Festa de São Lourenço 1583 de José de Anchieta TEMA Após a cena do martírio de São Lourenço Guaixará rei dos diabos chama Aimbirê e Saravaia ajudantes do Diabo para ajudarem a perverter a aldeia São Lourenço padroeiro da aldeia a defende São Sebastião padroeiro do Rio de Janeiro prende os demônios Um anjo mandaos sufocarem Décio e Valeriano Quatro companheiros acorrem para auxiliar os demônios Os imperadores recordam façanhas quando Aimbirê se aproxima O calor que se desprende dele abrasa os imperadores que suplicam a morte O Anjo o Temor de Deus e o Amor de Deus aconselham a caridade contrição e confiança em São Lourenço Fazse o enterro do santo Meninos índios dançam TERCEIRO ATO Depois de São Lourenço morto na grelha o Anjo fica em sua guarda e chama os dois diabos Aimbirê e Saravaia que venham sufocar os imperadores Décio e Valeriano que estão sentados em seus tronos Para download da peça integral SARAVAIA Têm razão se desconfiam vivem sempre a se lograr AIMBIRÊ Cala a boca beberrão só por isso és tão valente moleirão impertinente SARAVAIA Ai de mim me prenderão mas vou por te ver contente E a quem vamos devorar AIMBIRÊ A algozes de São Lourenço SARAVAIA Aqueles cheios de ranço Com isto eu vou mudar meu nome de que me canso Muito bem Suas entranhas sejam hoje o meu quinhão parte AIMBIRÊ Vou morder seu coração SARAVAIA E os que não nos acompanham sua parte comerão Chama quatro companheiros para que os ajudem Kaka Watrú Jecupé A VOZ DO Trovão mito da criação segundo a cultura guarani Naquele tempo nem antigo e nem passado porque nem tempo havia já existia Nhamandú Sua presença é como se uma música infinita desde sempre ecoasse em um ritmo cadenciado vibrando a luz da vida Muitos lhe chamam de respiração do sempreviver Nhamandú inspira e quando sopra seu hálito a existência simplesmente acontece Uma vez NHAMANDÚ inspirou e quando soprou nasceu KUARAY de dentro dele mesmo pleno de brilhantíssima luminosidade Por sua vez KUARAY de si mesmo no seu coração faz surgir TUPÃ que se põe a dançar e cantar na imensidão de Nhamandú e criando mundos através de seus cantos sagrados Kaka é um apelido um escudo De acordo com a nossa tradição uma palavra pode proteger ou destruir uma pessoa o poder de uma palavra na boca é o mesmo de uma flecha no arco de modo que às vezes usamos apelidos como patuás Werá Jecupé é o meu tom ou seja meu espírito nomeado De acordo com esse nome meu espírito veio do leste fazendo um movimento para o sul entonando assim um som uma dança um gesto do espírito para a matéria que nos apresenta ao mundo como uma assinatura Essa assinatura registrada na alma me faz algo como neto do Trovão bisneto de Tupã É dessa maneira que somos nomeados para que não se perca a qualidade da Natureza de que descendemos Na terra meus pais não são Guarani eles vieram das Minas Gerais ladeando o São Francisco Ficaram conhecidos no passado como Tapuia No entanto minha família se autodenomina guerreiros sem armas ou como eu gosto de me apresentar Txukarramãe Os antepassados dos meus pais vieram do rio Araguaia São clãs totalmente diferentes dos Guarani povo no qual fui batizado Devo no entanto dizer que não são os mesmos Txukarramãe presentes hoje no Alto Xingu da família kayapó Apresentome como Txukarramãe pelo fato de ser um guerreiro sem armas simplesmente E como meus pais já se foram para a Terra sem Males comecei uma tarefa a partir dos ensinamentos que me foram passados de difundir a tradição plantando agora para o próximo Ciclo da Natureza Cósmica nessa terra chamada Brasil sementes ancestrais para o florescimento de uma nova tribo Para o índio toda palavra possui espírito Um nome é uma alma provida de um assento dizse na língua ayvu É uma vida entonada em uma forma Vida é o espírito em movimento Espírito para o índio é silêncio e som O silênciosom possui um ritmo um tom cujo corpo é a cor Quando o espírito é entonado tornase passa a ser ou seja possui um tom Antes de existir a palavra índio para designar todos os povos indígenas já havia o espírito índio espalhado em centenas de tons Os tons se dividem por afinidade formando clãs que formam tribos que habitam aldeias constituindo nações Os mais antigos vão parindo os mais novos O índio mais antigo dessa terra hoje chamada Brasil se autodenomina Tupy que na língua sagrada o abanhaenga significa tu som barulho e py pé assentoo ou seja o somdepé o somassentado o entonado De modo que índio é uma qualidade de espírito posta em uma harmonia de forma Segundo os historiadores quando Cristóvão Colombo saiu da Espanha com destino à Índia e chegou à América enganouse chamando os filhos dessa terra de índios Eo termo índio acabou sendo com o tempo adotado para designar todos os habitantes das Américas No Brasil no entanto no início do chamado descobrimento os povos daqui eram chamados negros por não serem brancos como os portugueses franceses holandeses e espanhóis que aqui transitavam e por lembrarem os africanos já conhecidos daqueles povos Eram os negros da terra assim conhecidos nos primeiros séculos após a chegada dos portugueses principalmente na região de São Paulo Contudo a nomeação variava de lugar para lugar Na região baiana onde eram escravizados ou aliciados para tirar o paubrasil ficaram conhecidos como brasis ou brasileiros Ou seja gente da terra do paubrasil JECUPÉ Kaka Werá A terra dos mil povos história indígena brasileira contada por um índio São Paulo Peirópolis 1998 Oré awé roirua ma Todas as vezes que dissemos adeus Whenever we said goodbye 2 ed São Paulo TRIOM 2002 Tupã Tenondé a criação do Universo da Terra e do Homem segundo a tradição oral Guarani São Paulo Peirópolis 2001 httpdanielmundurukublogspotcom2016023edicaodolivroo banquetedosdeuseshtml Sinopse A história vivida pelo índio Koru prende a atenção A narrativa envolve pela determinação do personagem na busca da verdade Durante uma caçada Koru passou por uma estranha experiência na clareira das árvores Meu espanto cresceu quando outros bichos iguais a ele apareceram e começaram a conversar em uma língua estranha Um deles levantou a mão que começou a brilhar de forma tão intensa que eu tive de tapar meu rosto com as mãos A luz ficou mais forte e dessa vez veio junto com um forte ruído Ao contar o ocorrido com exceção do pajé e de sua mulher Maíra ninguém na aldeia acreditou Para os outros guerreiros aquilo tinha sido um delírio e como castigo não poderia participar da caçada anual da aldeia Koru desonrado e humilhado por sua gente partiu com Maíra em uma pequena canoa e seguiu o curso do rio Tapajós Nas suas águas ele tinha certeza de que encontraria as respostas para o seu tormento Certa feita tomei o metrô rumo à Praça da Sé Eram os primeiros dias que estava em São Paulo e gostava de andar de metrô e ônibus Tinha um gosto especial em mostrarme para sentir a reação das pessoas quando me viam passar Queria poder ter a certeza de que as pessoas me identificavam como índio a fim de formar minha autoimagem Nessa ocasião a que me refiro ouvi o seguinte diálogo entre duas senhoras que me olharam de cima abaixo quando entrei no metrô Você viu aquele moço que entrou no metrô Parece que é índio disse a primeira senhora É parece Mas eu não tenho tanta certeza assim Vi que ele usa calças jeans Não é possível que ele seja índio usando roupa de branco Acho que não é índio de verdade retrucou a segunda senhora Sei não Você viu que ele usa relógio Índio vê a hora olhando para o tempo O relógio do índio é o sol a lua as estrelas Não é possível que ele seja índio argumentou a outra Você viu o colar que ele está usando Parece que é de dentes Será que é de dentes de gente De repente até é Ouvi dizer que ainda existem índios que comem gente medrou a segunda senhora É eu acho mas confesso que não tenho muita coragem de iniciar um diálogo com ele Você pergunta Isto dito pela segunda senhora que a esta altura já se mostrava um tanto constrangida Eu pergunto Eu estava ouvindo a conversa de costas para as duas e de vez em quando ria com vontade De repente sinto um leve toque de dedos Virome Infelizmente elas demoraram a chamarme Meu ponto de desembarque estava chegando Olhei para elas sorri e disse Sim