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Economia Internacional

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Recursos e comércio: o modelo de Heckscher-Ohlin Bibliografia KOM cap. 5 Tópicos • Possibilidades de produção • Mudança na composição dos insumos • Relação entre preços de fatores e preços de bens, e entre recursos e produto • Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Equalização dos preços de fatores • Comércio e distribuição de renda • Evidência empírica Introdução • Além das diferenças na produtividade do trabalho, o comércio ocorre devido a diferenças de recursos entre países. • A teoria de Heckscher-Ohlin argumenta que o comércio ocorre devido a diferenças entre países em trabalho, qualificação do trabalho, capital físico, capital ou outros fatores de produção. – Países possuem fatores de produção com abundância relativa diferente. – Processos de produção usam fatores de produção com intensidade relativa diferente. Modelo Heckscher-Ohlin com dois fatores 1. Duas economias: Doméstica e Estrangeira. 2. Dois bens: tecidos e alimentos. 3. Dois fatores de produção: trabalho e capital. 4. A proporção de uso de trabalho e capital varia entre bens. 5. A oferta de trabalho e capital em cada país é constante e varia entre países. 6. No longo prazo, trabalho e capital se deslocam entre setores, equalizando seus retornos (salário e aluguel) entre setores. Possibilidades de produção • Com mais de um fator de produção, o custo de oportunidade na produção não é mais constante e a fronteira de possibilidades de produção PP não é mais uma linha reta. Por quê? • Exemplo numérico: K = 3000, quantidade total de capital disponível para produção (oferta de capital) L = 2000, quantidade total de trabalho disponível para produção (oferta de trabalho) Possibilidades de produção • Suponha o uso de uma proporção fixa de capital e trabalho em cada setor. aKC = 2, capital usado para produzir um metro de tecido aLC = 2, trabalho usado para produzir um metro de tecido aKF = 3, capital usado para produzir uma caloria de alimento aLF = 1, trabalho usado para produzir uma caloria de alimento Possibilidades de produção • As possibilidades de produção descrevem montantes diferentes de tecido e alimento que podem ser produzidos, dadas as dotações de fatores e tecnologia. – QC é o total de metros produzidos de tecido – QF é o total de calorias produzidas de alimento Possibilidades de produção • As possibilidades de produção são influenciadas por capital e trabalho: – O capital utilizado para produzir tecido e alimento não pode superar a oferta de capital disponível. KC C KF F a Q a Q K +  – O trabalho utilizado para produzir tecido e alimento não pode superar a oferta de trabalho disponível. LC C LF F a Q a Q L +  Possibilidades de produção • Interpretação econômica dos termos que compõem as possibilidades de produção: aKCQC + aKFQF ≤ K aLCQC + aLFQF ≤ L Quantidade total de recursos de capital Capital usado para produção de cada metro de tecido Total da produção de tecidos em metros Capital usado para produção de cada caloria de alimentos Total da produção de alimentos em calorias Quantidade total de recursos de trabalho Trabalho usado para produção de cada metro de tecido Trabalho usado para produção de cada caloria de alimentos Possibilidades de produção • Restrição sobre o capital: o capital usado não pode ser maior do que a oferta de capital 2QC + 3QF ≤ 3000 • Restrição sobre o trabalho: o trabalho usado não pode ser maior do que a oferta de trabalho 2QC + QF ≤ 2000 Possibilidades de produção • A economia deve produzir sujeita às duas restrições – i.e., deve ter capital e trabalho suficientes. • Sem a substituição de fatores, a fronteira de possibilidades de produção é o interior das duas restrições de fatores. Fig. 5-1 Fronteira de possibilidades de produção sem substituição de fatores Se o trabalho não pode substituir capital ou vice- versa, a fronteira de possibilidades de produção no modelo de proporção de fatores seria definida por duas restrições de recursos: a economia não pode usar mais do que a oferta disponível de trabalho (2.000 homens-hora) ou capital (3.000 máquinas- hora). Logo, a fronteira de possibilidades de produção é definida pela linha vermelha nesta figura. Possibilidades de produção • A produção máxima de alimento 1000 (ponto 1) utiliza todo o capital, com excess de trabalho. • A produção máxima de tecido 1000 (ponto 2) utiliza todo o trabalho, com excess de capital. • A interseção das restrições de trabalho e capital ocorre a 500 calorias de alimento e 750 metros de tecido (ponto 3). Possibilidades de produção • O custo de oportunidade de produzir um metro a mais de tecido, em termos de alimentos, não é constante: – é baixo (2/3 no exemplo) quando a economia produz uma quantidade baixa de tecidos e uma quantidade alta de alimentos – é alto (2 no exemplo) quando a economia produz uma quantidade alta de tecidos e uma quantidade baixa de alimentos • Por quê? Porque quando uma economia aloca mais recursos para a produção de um bem, temos que a produtividade marginal destes recursos tende a ser baixa, de modo que o custo de oportunidade é alto. Possibilidades de produção • As equações da PP acima não permitem substituição de trabalho por capital na produção. – As necessidades unitárias de fatores são constantes ao longo de cada segmento de reta da PP. • Se os produtores puderem substituir um insumo pelo outro no processo de produção, então a PP será uma curva (côncava). – O custo de oportunidade do tecido (em termos de alimentos) aumenta à medida que os produtores fazem mais tecidos. Fig. 5-2 Fronteira de possibilidades de produção com substituição de fatores Se o trabalho pode ser substituído por capital e vice-versa, a fronteira de possibilidades de produção não tem mais uma mudança abrupta de inclinação. Mas permanece verdade que o custo de oportunidade de tecido em termos de alimento aumenta à medida que a composição da produção da economia aumenta a proporção de tecido em detrimento do alimento. Possibilidades de produção • O que o país produz? • A economia produz no ponto que maximiza o valor da produção, V. • Uma reta isovalor é uma reta representando um valor de produção V constante: 𝑉 = 𝑃𝐶𝑄𝐶 + 𝑃𝐹𝑄𝐹 – onde PC e PF são os preços de tecidos e alimentos. – a inclinação da reta isovalor é − 𝑃𝐶 𝑃𝐹 Fig. 5-3: Preços e produção A economia produz no ponto que maximiza o valor da produção dados os preços com que se defronta; este é o ponto sobre a reta isovalor mais alta possível. Nesse ponto, o custo de oportunidade de tecido em termos de alimento é igual ao preço relativo do tecido, PC /PF. Possibilidades de produção • Dado o preço relativo dos tecidos, a economia produz no ponto Q que tangencia a reta isovalor mais alta possível. • Naquele ponto, o preço relativo do tecido é igual à inclinação da PP, que é o custo de oportunidade de produzir tecido (em termos de alimento). Escolha da proporção de insumos • Os produtores podem escolher quantidades diferentes dos fatores de produção usados para fazer tecidos ou alimentos. • Sua escolha depende do salário, w, pago ao trabalho e da taxa de aluguel, r, paga quando se aluga o capital. • À medida que o salário w aumenta em relação à taxa de aluguel r, os produtores usam menos trabalho e mais capital na produção de alimentos e tecidos. Fig. 5-4 Possibilidades de insumos na produção de alimentos Um fazendeiro pode produzir uma caloria de alimento com menos capital se usar mais trabalho, e vice-versa. Escolha da proporção de insumos • Suponha que, para quaisquer preços de fatores dados, a produção de tecidos use mais trabalho em relação ao capital do que a produção de alimentos: 𝑎𝐿𝐶 𝑎𝐾𝐶 > 𝑎𝐿𝐹 𝑎𝐾𝐹 • ou 𝐿𝐶 𝐾𝐶 > 𝐿𝐹 𝐾𝐹 • A produção de tecidos é relativamente trabalho intensiva, enquanto a produção de alimentos é relativamente capital intensiva. • A curva de demanda relativa por fatores para os tecidos CC está mais para fora em relação à de alimentos FF. Fig. 5-5 Preços de fatores e escolhas de insumos A qualquer razão salário-aluguel, a produção de tecidos usa uma razão trabalho- capital maior; quando esse é o caso, dizemos que a produção de tecido é trabalho- intensiva e a produção de alimento é capital- intensiva. Preços de fatores e preços de bens • Em mercados competitivos, o preço de um bem deve ser igual ao custo de produção, que por sua vez depende dos preços dos fatores. • O modo como mudanças no salário e no aluguel afetam o custo de produção de um bem depende da proporção dos fatores utilizados. – Um aumento na taxa de aluguel do capital afeta o preço do alimento mais do que o preço do tecido porque o setor alimentício é uma indústria capital-intensiva. • Mudanças em 𝑤 𝑟 estão diretamente ligadas a mudanças em 𝑃𝐶 𝑃𝐹 . Fig. 5-6 Preços de fatores e preços de bens Como a produção de tecido é trabalho- intensiva e a produção de alimento é capital- intensiva, quanto maior o custo relativo do trabalho, maior será o preço relativo do bem trabalho-intensivo . Preços de fatores e preços de bens • Teorema de Stolper-Samuelson: Se o preço relativo de um bem aumenta, então o salário real ou a taxa de aluguel do fator usado intensivamente na produção daquele bem aumenta, enquanto o salário real ou a taxa de aluguel do outro fator diminui. • Qualquer mudança no preço relativo dos bens altera a distribuição de renda. Fig. 5-7 De preços de bens para escolhas de insumos Se o preço relativo do tecido aumenta, a razão salário-aluguel deve aumentar. Isso faz com que a razão trabalho-capital usada na produção dos dois bens diminua. Preços de fatores e preços de bens • Um aumento no preço relativo dos tecidos, 𝑃𝐶 𝑃𝐹 , deve – aumentar a renda dos trabalhadores em relação à dos capitalistas, 𝑤 𝑟 . – diminuir a razão trabalho-capital, 𝐿 𝐾 , usada nas duas indústrias. – aumentar a renda real (poder de compra) de trabalhadores e diminuir a renda real dos capitalistas. Recursos e produto • Como os níveis de produto mudam quando os recursos da economia mudam? • Teorema de Rybczynski: Se você mantiver os preços dos produtos constantes à medida que a quantidade de um fator de produção aumenta, então a oferta do bem que usa esse fator intensivamente aumenta e a oferta do outro bem diminui. Recursos e produto • Suponha que a força de trabalho de uma economia aumente, o que implica em um aumento da razão entre trabalho e capital 𝐿 𝐾 . • A expansão das possibilidades de produção é enviesada para tecidos. • A um dado preço relativo de tecidos, a razão entre trabalho e capital usados nos dois setores permanece constante. • Para empregar os trabalhadores adicionais, a economia expande a produção de tecidos, o bem relativamente trabalho-intensivo, e contrai a produção de alimentos, o bem relativamente capital-intensivo. Fig. 5-8 Recursos e possibilidades de produção Um aumento da oferta de trabalho desloca a fronteira de possibilidades de produção para a direita e para cima, desproporcionalmente para a produção de tecido. A um preço relativo de tecido inalterado, a produção de alimento diminui. Recursos e produto • Uma economia com uma razão entre trabalho e capital elevada obtém uma produção de tecido em relação a alimento elevada. • Suponha que a economia Doméstica seja relativamente abundante em trabalho e a Estrangeira seja relativamente capital-abundante: 𝐿 𝐾 > 𝐿∗ 𝐾∗ – Isto é, a economia Doméstica é relativamente escassa em capital e a Estrangeira é relativamente escassa em trabalho. – A economia Doméstica será relativamente eficiente na produção de tecido porque tecido é relativamente trabalho-intensiva. Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Suponha que os países tenham a mesma tecnologia e os mesmos gostos. – Com a mesma tecnologia, cada economia tem vantagem comparativa na produção do bem que usa de forma relativamente intensiva os fatores de produção nos quais o país é relativamente bem dotado. – Com os mesmos gostos, os dois países irão consumir uma razão entre tecido e alimentos igual àquela quando se deparam com o mesmo preço relativo de tecido sob livre comércio. Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Como os tecidos são relativamente trabalho-intensivos, a cada preço relativo de tecidos por alimentos a economia Doméstica irá produzir uma razão de tecidos por alimentos maior do que a Estrangeira. – A economia Doméstica terá uma oferta relativa de tecidos por alimentos maior do que a Estrangeira. – A curva de oferta relativa da economia Doméstica fica à direita da oferta relativa da Estrangeira. Fig. 5-9 Comércio leva a uma convergência dos preços relativos Em autarquia, o equilíbrio de Doméstica seria no ponto 1, onde a curva de oferta relativa doméstica RS cruza a curva de demanda relativa RD. Da mesma forma, o equilíbrio de Estrangeira seria no ponto 3. O comércio leva a um preço relativo mundial que fica entre os preços de autarquia, como por exemplo o ponto 2. Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Como no modelo ricardiano, o modelo de Heckscher-Ohlin prevê uma convergência de preços relativos quando há comércio. • Quando há comércio, o preço relativo dos tecidos aumenta na economia relativamente trabalho-abundante (Doméstica) e cai na economia relativamente escassa em trabalho (Estrangeira). Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Preços relativos e padrão de comércio: na economia Doméstica, o aumento no preço relativo dos tecidos leva a um aumento no produto relativo de tecidos e uma queda no consumo relativo de tecidos. – Doméstica se torna exportadora de tecidos e importadora de alimentos. • Diminuição do preço relativo dos tecidos na economia Estrangeira faz com que a Estrangeira se torne importadora de tecidos e exportadora de alimentos. Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • Teorema de Heckscher-Ohlin: O país que é abundante em um fator exporta o bem cuja produção seja intensiva naquele fator. • Em outras palavras: – Uma economia possui vantagem comparativa na produção de bens que sejam relativamente intensivos no uso dos fatores de produção relativamente abundantes. – Uma economia exportará bens em que possui vantagem comparativa, e importará bens que são relativamente intensivos no uso dos fatores de produção relativamente escassos. Comércio no modelo de Heckscher-Ohlin • O Teorema de Heckscher-Ohlin mostra um resultado que se generaliza em uma correlação: – Países tendem a exportar bens cuja produção seja intensiva nos fatores em que sejam dotados abundantemente. Comércio e a distribuição de renda • Mudanças nos preços relativos podem afetar as remunerações de trabalho e capital. – Um aumento no preço do tecido eleva o poder de compra do trabalho em termos dos dois bens e reduz o poder de compra do capital em termos dos dois bens. – Um aumento do preço do alimento tem o efeito oposto. Comércio e a distribuição de renda • Logo, o comércio internacional pode afetar a distribuição de renda, mesmo no longo prazo: – Proprietários dos fatores abundantes de um país ganham com o comércio, mas os proprietários dos fatores escassos de um país perdem. – Fatores de produção que são usados intensivamente pela indústria que concorre com as importações são prejudicados pela abertura do comércio – independentemente da indústria em que eles são empregados. Comércio e a distribuição de renda • Comparado ao restante do mundo, os EUA é dotado abundantemente com trabalho altamente qualificado, ao mesmo tempo em que o trabalho de baixa qualificação é comparativamente escasso. – O comércio internacional tem o potencial de fazer com que trabalhadores com baixa qualificação fiquem em uma situação pior – não apenas temporariamente, mas de uma forma sustentada. Comércio e a distribuição de renda • Mudanças na distribuição de renda ocorrem com toda mudança econômica, e não apenas com o comércio internacional. – Mudanças na tecnologia, alterações nas preferências do consumidor, exaustão dos recursos e descoberta de novos recursos afetam a distribuição de renda. – Os economistas colocam a maior parte da culpa na mudança tecnológica e no prêmio pago à educação em decorrência como a causa principal da desigualdade de renda crescente nos EUA. • Seria melhor compensar os perdedores do comércio (ou de qualquer mudança econômica) do que proibir o comércio. – A economia como um todo se beneficia do comércio. Comércio e a distribuição de renda • Há um viés politico na política comercial: os perdedores potenciais do comércio são mais bem organizados politicamente do que aqueles que ganham com o comércio. – Perdas normalmente são concentradas entre poucos, mas os ganhos normalmente são divididos entre muitos. – Cada um dos norte-americanos paga cerca de US$8/ano para restringir as importações de açúcar, e o custo total desta política é cerca de US$2 bilhões/ano. – Os benefícios deste programa totalizam cerca de US$1 bilhão, mas este montante vai para relativamente poucos produtores de açúcar. Comércio Norte-Sul e desigualdade de renda • Nos últimos 40 anos, países como Coreia do Sul, México e China exportaram para os EUA bens intensivos em trabalho não qualificado (por exemplo, vestuário, sapatos, brinquedos, bens montados). • Ao mesmo tempo, a desigualdade de renda aumentou nos EUA, à medida que salários de trabalhadores não qualificados cresceram lentamente em comparação com os salários de trabalhadores qualificados. • A primeira tendência causou a segunda tendência? Comércio Norte-Sul e desigualdade de renda • O modelo de Heckscher-Ohlin prevê que os proprietários de fatores relativamente abundantes irão ganhar com o comércio e os proprietários de fatores relativamente escassos irão perder com o comércio. – Há pouca evidência empírica a favor dessa previsão do modelo. 1. De acordo com o modelo, uma mudança na distribuição de renda ocorre através de mudanças nos preços do produto, mas não há evidência empírica de uma mudança nos preços de bens intensivos em trabalho qualificado em relação aos bens intensivos em trabalho não qualificado. Comércio Norte-Sul e desigualdade de renda 2. De acordo com o modelo, os salários de trabalhadores não qualificados deveriam crescer em relação a salários de trabalhadores qualificados em países com abundância de trabalho não qualificado, mas em alguns casos o contrário ocorreu: – Salários do trabalho qualificado aumentaram mais rapidamente no México do que os salários do trabalho não qualificado. – Comparativamente a EUA e Canadá, supõe-se que o México seja abundante em trabalhadores não qualificados. Comércio Norte-Sul e desigualdade de renda 3. Mesmo se o modelo fosse exatamente correto, o comércio é apenas uma fração pequena da economia dos EUA e, por isso, seus efeitos sobre os preços e salários dos EUA seriam pequenos. • A visão da maioria dos economistas da área de economia internacional é que o vilão não é o comércio, mas sim as novas tecnologias de produção que necessitam de maior qualificação dos trabalhadores (como a introdução ampla de computadores e outras tecnologias avançadas no ambiente de trabalho). Mudança tecnológica enviesada para a qualificação e a desigualdade de renda • Mesmo que o trabalho qualificado se torne relativamente mais caro, no painel (b) os produtores dos dois setores respondem à mudança tecnológica enviesada para qualificação aumentando seu emprego de trabalhadores qualificados em relação a seus trabalhadores não qualificados. – A explicação do comércio no painel (a) prevê uma resposta oposta para o emprego nos dois setores. • Um aumento generalizado das razões de trabalho qualificado para a maioria dos setores na economia dos EUA aponta para a explicação da mudança tecnológica enviesada para a qualificação. Mudança tecnológica enviesada para a qualificação e a desigualdade de renda • O comércio provavelmente tem sido um colaborador indireto para o aumento da desigualdade de salários, ao acelerar o processo de mudança tecnológica. – Firmas que começam a exportar evoluem para tecnologias de produção mais intensivas em qualificação. – A liberalização do comércio pode então gerar uma mudança tecnológica generalizada ao induzir uma maior proporção de firmas ao optar por atualização de tecnologias. • A divisão do processo de produção entre países pode aumentar a demanda relativa por trabalhadores qualificados nos países desenvolvidos como na mudança tecnológica enviesada para qualificação. Figura 5.10 Aumento da desigualdade de salários: comércio ou mudança tecnológica enviesada para qualificação? As curvas LL e HH mostram a razão de emprego qualificado- não qualificado como uma função da razão de salários qualificado-não qualificado nos setores de baixa e alta tecnologia, de modo que a curva HH se desloca para a direita e para cima em relação à curva LL. Figura 5.11 Evolução das razões de emprego não produção-produção em quatro grupos de setores dos EUA Setores são agrupados com base em sua intensidade de qualificação. A razão de emprego não produção- produção aumentou ao longo do tempo nos quatro grupos de setores. Fonte: NBER- CES Manufacturing Productivity Database. Complementaridade entre capital e qualificação • A Figura 5-12 mostra que a tendência para uma parcela de trabalho menor (e uma parcela de capital maior) é um fenômeno mundial. – Experimentada em países trabalho-abundantes (como China, Índia e México) e em países capital- abundantes como os Estados Unidos. • A evidência empírica dá suporte à explicação baseada na mudança tecnológica dentro de setores – e não à crescente concorrência de importações. Complementaridade entre capital e qualificação • A mudança tecnológica normalmente ocorre com máquinas novas e melhores (capital) que tomam o lugar de trabalhadores não qualificados mas ainda necessitam de trabalho qualificado. – Isso produz retornos maiores para capital e trabalho qualificado e diminui os retornos para trabalhadores não qualificados. • A automação crescente pode explicar os aumentos observados ao redor do mundo na desigualdade de salários e nos retornos de capital, bem como os aumentos intrassetoriais da fração de emprego de trabalhadores não produção relativamente qualificados. Figura 5.12 Fração de trabalho das empresas (EUA e media mundial) Média mundial não ponderada de 59 países com dados disponíveis. Fonte: Loukas Karabarbounis and Brent Neiman, “The Global Decline of the Labor Share,” The Quarterly Journal of Economics 129.1 (2014), pp. 61–103. Equalização dos preços de fatores • Ao contrário do modelo ricardiano, o modelo de Heckscher-Ohlin prevê que os preços dos fatores serão equalizados entre os parceiros comerciais. • O livre comércio equaliza os preços relativos de produto. • Devido à conexão entre preços de produtos e preços de fatores, os preços de fatores também são equalizados. • O comércio aumenta a demanda por bens produzidos pelos fatores relativamente abundantes, aumentando indiretamente a demanda por esses fatores e aumentando os preços dos fatores relativamente abundantes. Equalização dos preços de fatores • No mundo real, os preços dos fatores não são iguais entre países. • O modelo supõe que os parceiros comerciais produzam os mesmos bens, mas os países podem produzir bens diferentes se suas razões de fatores forem radicalmente diferentes. • O modelo também supõe que os parceiros comerciais possuam a mesma tecnologia, mas tecnologias diferentes poderiam afetar as produtividades dos fatores e, assim, os salários/aluguéis pagos a estes fatores. Tabela 5.1 Comparação de salários internacionais (EUA = 100) Country Hourly Compensation of Manufacturing Workers 2015 (United States = 100) United States 100 Germany 112 Japan 63 Spain 63 South Korea 60 Brazil 31 Mexico 16 China (2013) 11.3 India (2012) 4.5 Source: The Conference Board, International Labor Comparisons. Equalização dos preços de fatores • O modelo também ignora as barreiras comerciais e os custos de transporte, o que pode impedir a equalização dos preços de produto e, assim, dos preços de fatores. • O modelo prevê resultados para o longo prazo mas, depois que uma economia permite o comércio, os fatores de produção podem não se deslocar rapidamente para as indústrias que utilizam intensivamente os fatores abundantes. – No curto prazo, a produtividade dos fatores será determinada por seu uso na indústria atual, de modo que seu salário/aluguel pode variar entre países. Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher- Ohlin • Testes com dados dos EUA – Leontief descobriu que as exportações dos EUA eram menos intensivas em capital do que as importações dos EUA, mesmo sendo os EUA o país mais abundante em capital do mundo: paradoxo de Leontief. • Testes com dados globais – Bowen, Leamer e Sveikauskas testaram o modelo de Heckscher-Ohlin com dados de 27 países e confirmaram o paradoxo de Leontief em nível internacional. Tabela 5-2: Conteúdo de fator de exportações e importações dos EUA em 1962 blank Imports Exports Capital per million dollars $2,132,000 $1,876,000 Labor (person-years) per million dollars 119 131 Capital-labor ration (dollars per worker) $17,916 $14,321 Average years of education per worker 9.9 10.1 Proportion of engineers and scientists in work force 0.0189 0.0255 Fonte: Robert Baldwin, “Determinants of the Commodity Structure of U.S. Trade,” American Economic Review 61 (March 1971), pp. 126-145. Tabela 5-3: Teste do modelo de Heckscher- Ohlin Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher- Ohlin • Como o modelo de Heckscher-Ohlin prevê que os preços de fatores serão equalizados entre parceiros comerciais, ele também prevê que os fatores de produção irão produzir e exportar uma quantidade de bens até que os preços de fatores sejam equalizados. – Em outras palavras, um valor previsto de serviços dos fatores de produção será incorporado em um volume previsto de comércio entre países. Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher- Ohlin • Mas como os preços de fatores não são equalizados entre países, o volume previsto de comércio é muito maior do que o que efetivamente ocorre. – Um resultado do “comércio desaparecido” (missing trade) descoberto por Daniel Trefler. • O motivo para este “comércio desaparecido” parece ser a hipótese de tecnologia idêntica entre países. – A tecnologia afeta a produtividade dos trabalhadores e, assim, o valor dos serviços de trabalho. – Um país com alta tecnologia e alto valor dos serviços de trabalho não necessariamente importaria muito de um país com baixa tecnologia e baixo valor dos serviços de trabalho. Tabela 5-4: Eficiência tecnológica estimada, 1983 (EUA = 1) Country blank Bangladesh 0.03 Thailand 0.17 Hong Kong 0.40 Japan 0.70 West Germany 0.78 United States 1 Source: Daniel Trefler, “The Case of the Missing Trade and Other mysteries,” American Economic Review (December 1995), pp. 1029-1046. Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher-Ohlin • Um estudo importante de Donald Davis e David Weinstein mostrou que, se relaxarmos a hipótese de tecnologias comuns, juntamente com as hipóteses por trás da equalização dos preços de fatores (países produzem os mesmos bens e o comércio sem custo equaliza os preços dos bens): – Então as previsões da direção e do volume do conteúdo de fatores do comércio se alinham bem com a evidência empírica e produzem um bom ajuste. Tabela 5.5 Um ajuste melhor para o conteúdo de fatores do comércio blank Assumptions Dropped None Assumptions Dropped Drop (1) Assumptions Dropped Drop (1)-(2) Assumptions Dropped Drop (1)-(3) Predictive Success (sign test) 0.32 0.50 0.86 0.91 Missing Trade (observed/predicted) 0.0005 0.008 0.19 0.69 Assumptions: (1) common technologies across countries; (2) countries produce the same set of goods; and (3) costless trade equalizes goods prices. Source: Donald R. Davis and David Weinstein, “An Account of Global Factor Trade,” American Economic Review (2001), pp. 1423–1453. Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher- Ohlin • Um exame das mudanças nos padrões de exportação entre países desenvolvidos (alta renda) e em desenvolvimento (baixa/média renda) corrobora a teoria. • Importações americanas de Bangladesh são maiores em indústrias intensivas em baixa qualificação, enquanto as importações americanas da Alemanha são maiores em indústrias intensivas em alta qualificação. Fig. 5-12: Intensidade de qualificação e o padrão das importações americanas de dois países Fonte: John Romalis, “Factor Proportions and the Structure of Commodity Trade,” American Economic Review 94 (March 2004), pp. 67–97. Evidência empírica sobre o modelo de Heckscher- Ohlin • À medida que Japão e os quatro “milagres” asiáticos se tornaram mais abundantes em qualificação, as importações americanas desses países mudaram de indústrias menos qualificadas para indústrias mais qualificadas. Fig. 5-13: Mudança dos padrões de vantagem comparativa Fig. 5-13: Mudança dos padrões de vantagem comparativa Resumo 1. Substituição de fatores usados no processo de produção gera uma FPP côncava. – Quando uma economia produz uma quantidade baixa de um bem, o custo de oportunidade de produzir aquele bem é baixo. – Quando uma economia produz uma quantidade alta de um bem, o custo de oportunidade de produzir aquele bem é alto. 2. Quando uma economia produz o máximo valor que ela pode a partir de seus recursos, o custo de oportunidade de produzir um bem iguala o preço relativo daquele bem nos mercados. Resumo 3. Um aumento no preço relativo de um bem faz com que aumente o salário real ou o aluguel real do fator utilizado intensivamente na produção daquele bem, – enquanto diminui o salário real ou o aluguel real dos outros fatores de produção. 4. Se os preços dos produtos permanecem constantes à medida que aumenta a quantidade de um fator de produção, então aumenta a oferta do bem que usa este fator intensivamente, e diminui a oferta do outro bem. Resumo 5. Um economia exporta bens que são relativamente intensivos nos fatores de produção relativamente abundantes e importa bens que são relativamente intensivos nos fatores de produção relativamente escassos. 6. Os proprietários dos fatores abundantes ganham, enquanto os proprietários dos fatores escassos perdem através do comércio. 7. Pode-se prever que um país como um todo estará em uma situação melhor através do comércio, de modo que os vencedores poderiam em tese compensar os perdedores dentro de cada país. Resumo 8. O modelo de Heckscher-Ohlin prevê que os preços relativos de produto e os preços de fatores irão se equalizar, o que não ocorre no mundo real. 9. A comprovação empírica do modelo de Heckscher- Ohlin é fraca, exceto nos casos que envolvem comércio entre países com alta renda e países com baixa/média renda ou quando as diferenças tecnológicas são incluídas.