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1 Profa Dra Cibele Beirith Figueiredo Freitas Profa Ma Daniela Arns Silveira CONCEPÇÕES DE ESCRITA E SEUS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO 4 Para que possamos compreender os processos de escrita e as concepções de pro dução é necessário que conheçamos um pouco da história da escrita e de sua rela ção com a humanidade Assim percebemos que a escrita tem uma trajetória que se foi constituindo junto ao desenvolvimento do homem como ser social o que notamos nos desenhos ainda hoje encontrados em muitos lugares do mundo os quais contam a vida de um povo de outrora A ESCRITA E O HOMEM 1 Não é no silêncio que os homens se fazem mas na palavra no trabalho na açãoreflexão Paulo Freire Fonte Pintura rupestre símbolo do Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí Para saber mais sobre a história da escrita acesse aqui SAIBA MAIS Ao longo da história então as comunidades fizeram uso de diferentes formas de comunicação desde a oralidade os símbolos e os desenhos até a chegada da es crita a qual se usa até hoje principalmente em diferentes situações com diferentes contextos Contudo passados mais de 40 mil anos ainda é possível atualmente encontrarmos pinturas rupestres em paredes de cavernas espalhadas pelo mundo Somente por volta de 3500 aC é que surge a escrita sistematizada com o desenvol vimento da escrita cuneiforme proposta pelos sumérios na Mesopotâmia Figura 1 Placa de argila com escritura cuneiforme exposta no Museu Britânico Fonte Imagen Creative Commonscrédito Charles Tilford 5 Essa escrita se construía com o auxílio de objetos em formato de cunha o que dá nome a ela e é uma das mais antigas do mundo embora também houvesse na mes ma época a comunicação por meio de hieróglifos A escrita cuneiforme propunha registros de questões cotidianas de aspectos políticos e econômicos os quais eram de domínio de uma pequena parcela da sociedade assim como para os hieróglifos que eram produzidos apenas por escribas e por sacerdotes É importante colocar que os hieróglifos foram uma escrita organizada e utilizada por muito tempo apenas por pessoas de maior poder da sociedade cujo conhecimento era tido também como símbolo de poder a escrita era sagrada Figura 2 Hieróglifos nas paredes de um templo em Karnak no Egito Fonte uwimagesFotolia Mais para frente nos últimos séculos do 2º milênio aC por conta do intercâmbio comercial que ocorria entre as nações do Mediterrâneo houve muitas junções de pictogramas usados pelos povos que estabeleciam essas relações Seus sons eram representados apenas no que hoje conhecemos como consoantes as vogais eram in feridas pelo contexto de uso tendo sido usadas e representadas apenas em meados de 800 aC pelos gregos que se valeram das consoantes utilizadas pelos fenícios e incluíram a escrita dos sons das vogais Isso permitiu que se criassem sílabas em razão dos sons produzidos o que teria dado origem ao alfabeto o qual é usado até os dias de hoje CONCEPÇÕES DE ESCRITA A LINGUAGEM 2 Ninguém educa ninguém ninguém educa a si mesmo os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo Paulo Freire 6 Agora que já vimos um pouco sobre a história da escrita e o surgimento do alfabeto percebemos o quanto a sociedade sente necessidade de se comunicar e o quanto as diferentes formas de comunicação fazem parte do processo evolutivo da humanida de Nesse sentido é necessário ainda que compreendamos os processos da escrita e as características que diferenciam a linguagem falada da linguagem escrita uma vez que por muito tempo nos espaços escolares a escrita fora tida como uma represen tação da fala embora não seja essa a função nem de uma nem de outra Segundo Elias e Koch 2015 por anos diferenças entre fala e escrita foram estabelecidas da forma como se apresenta a seguir FALA ESCRITA Contextualizada Descontextualizada Implícita Explícita Não planejada Planejada Predominância do modus pragmático Predominância do modus sintático Fragmentada Não fragmentada Incompleta Completa Pouco elaborada Elaborada Pouca densidade informacional Densidade informacional Predominância de frases curtas simples ou coordenadas Predominância de frases complexas com subordinação abundante Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas Poucas nominalizações Abundância de nominalizações Menos densidade lexical Maior densidade lexical Fonte adaptado de Elias e Koch 2015 O que acontece de fato é que as características apresentadas acima nem sempre são apenas de uma das linguagens falada e escrita por vezes a depender da situ ação de uso o usuário da língua aciona uma característica associada a uma ou outra linguagem Também é preciso que olhemos para a forma como a fala foi constituída ou seja como um elemento o qual tem por base a escrita Desse modo o que balizou por muito tempo a fala foram as características da escrita algo que não corresponde ao princípio da identidade de cada uma dessas linguagens uma vez que cada uma delas apresenta seu próprio desenho de construção pois os contextos e as condi ções de uso se modificam constantemente Diante do que foi apresentado é possível que pensemos sobre algumas questões relevan tes você de fato escreve como fala Você toma por base da escrita a sua construção de fala O texto falado e o texto escrito se constituem da mesma forma REFLITA Os questionamentos colocados acima nos fazem pensar sobre o exercício que faze mos para construir textos falados e textos escritos os falados acontecem em uma 7 ação continuada ou seja vão sendo construídos ao longo do momento da fala Signi fica dizer que o falante vai planejando e falando ao mesmo tempo Talvez você esteja se perguntando mas e quando alguém pronuncia um discurso O sujeito pensou antes de fazêlo Excelente pergunta caro estudante E a resposta é que o usuário da língua precisou anteriormente à sua fala realizar o exercício da escrita o que nos leva à compreensão de que houve um planejamento anterior à fala Nesse caso não aconteceu a simultaneidade isto é não houve espontaneidade na fala exceto se o discurso fora feito às pressas sem prévio aviso ou de forma nãoplanejada A linguagem escrita é resultante de um processo uma vez que o usuário se orga niza para a escrita tem a possibilidade de ir e vir de retornar ao seu texto e de re pensálo reorganizálo refazêlo pois é fruto de um olhar atento ao que se pretende dizer por meio de palavras escritas A linguagem falada é em si a própria fala o dito numa relação entre o que se pretende dizer e o que por fim se diz além do fato de muito comumente a fala acontecer num momento de interação com o outro o que reforça que ela vai se construindo nessa relação com o outro Interessante observar que ao mesmo tempo que podemos refazer a fala não podemos apagála pode ser corrigida mas o que se disse já fora dito e pode ser parte da interpretação do outro E como a criança lida com isso quando chega à escola Vejamos Elias e Koch 2015 colocam que a criança quando chega à escola já domina a língua falada Ao entrar em contato com a escrita precisa adequarse às exigências desta o que não é tarefa fácil É por essa razão que seus textos se apresentam eivados de marcas da oralidade que aos poucos deverão ser eliminadas ATENÇÃO É perfeitamente natural que a criança a qual já possui uma gramática internalizada a que usa no seu dia a dia e que a permite se comunicar com os outros na fase inicial de aquisição da escrita faça uso de elementos que costumeiramente são acionados em sua fala no momento de escrever Cabe ao professor apresentar à criança as si tuações de produção escrita chamandolhe atenção para as particularidades dessas situações Esse exercício acontece por um período relativamente longo porque exige de ambos professor e estudante olhar cuidadoso para o processo de prática contí nua e de respeito ao tempo de apreensão de cada criança Vejamos juntos um caso comum de produção escrita no começo da vida escolar em período de alfabetização Em uma casa grande tinha duas meninas morando no quarto do lado da sala Elas eram irmãs O quarto delas era rosa e lá tinha um monte de outros quartos Um dia fizeram uma festa do pijama As meninas convidaram as amigas delas Elas foram brincar de contar histórias debaixo do lençol Maria ficou um pouco assustada Rita disse que não tinha problema Elas ficaram lendo livros e comendo pipoca Fonte trecho de história criado pela autora EXEMPLO 8 Observe que no começo do processo de escrita a criança procura reproduzir exata mente o que falaria Percebemos isso pelos elementos de retomada usados no texto acima os quais remetem ao fato de que a história está clara na cabeça da criança como se estivesse reproduzindo o que está em sua cabeça Contudo na linguagem escrita é preciso que alguns elementos como o uso do pronome elas e de sua forma acoplada delas esteja colocado de maneira mais objetiva sem ambiguidade Veja como funcionam os elementos de retomada Caso 1 Elas eram irmãs Aqui o elas se refere com clareza ao duas irmãs Caso 2 As meninas convidaram as amigas delas Ainda aqui o delas se refere às irmãs Caso 3 Elas foram brincar de contar histórias debaixo do lençol Nessa situação é possível que haja uma dúvida sobre o uso do elas pois não é perfeitamente clara a condição de que se fala das irmãs ou das meninas O pronome por estar no plural pode retomar uma ou outra mas a história está clara para a criança em sua memória então se for questionada sobre a quem se refere ela falará com um grau de certeza absoluto CASO PRÁTICO Nessa situação é possível que haja uma dúvida sobre o uso do elas pois não é per feitamente clara a condição de que se fala das irmãs ou das meninas O pronome por estar no plural pode retomar uma ou outra mas a história está clara para a criança em sua memória então se for questionada sobre a quem se refere ela falará com um grau de certeza absoluto É fundamental que a linguagem escrita seja trabalhada como um processo o qual exi ge atenção cuidado e prática constante cujas construções sejam analisadas face a face ponto a ponto de tal forma que a criança perceba as especificidades de uso de cada uma das linguagens acionando os recursos necessários para a sua construção Isso não significa excluir a oralidade mas trabalhar ambas de forma que a criança per ceba que há situações de uso e elementos próprios para cada uma dessas situações CONCEPÇÕES DE ESCRITA O TEXTO 3 Ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção Paulo Freire 9 Estudamos o processo histórico da escrita passamos por uma discussão e uma refle xão a respeito das linguagens falada oralidade e escrita o que nos encaminhou para o aprendizado da escrita além é claro do elemento de comunicação o texto oral e escrito curto e longo simples e complexo formal e informal Nós nos comunicamos por meio de textos O que é a prática de produção de textos O que é a prática da escrita de textos A forma como vemos o papel da escrita em nossa sociedade e mais em nossas es colas delimita como vemos o papel da produção escrita nesses espaços De acordo com Antunes 2005 da compreensão que temos do que seja escrever vão derivar nossas atividades com a prática da escrita Assim Antunes nos convida a observar as noções sobre o que caracteriza a atividade de escrever 1 Escrever é como falar uma atividade de interação de intercâmbio verbal 2 Escrever na perspectiva da interação só pode ser uma atividade cooperativa 3 Escrever a outros e de forma interativa é pois uma atividade contextualizada 4 Tal como falar escrever é uma atividade necessariamente textual 5 Escrever é uma atividade que se manifesta em gêneros particulares de textos 6 Escrever é uma atividade que retoma outros textos isto é que remonta a outros dizeres 7 A escrita é uma atividade em relação de interdependência com a leitura Fonte adaptado de Antunes 2005 ATENÇÃO Observe que fizemos um destaque em dois dos apontamentos de Antunes o pri meiro e o último sem qualquer intenção de grau de importância No primeiro o que pretendemos é chamar atenção para o fato de que o ato de escrever é um ato de interação pois por meio de produções escritas o usuário da língua e por sua vez a criança se relacionará com outra criança com o professor e com quaisquer outras pessoas no espaço escolar e fora dele Por isso é fundamental que a criança saiba desde as primeiras produções para quem está escrevendo A Base Nacional Comum Curricular BNCC BRASIL 2017 apresenta tanto na abordagem com relação à educação infantil como no ensino fun damental séries iniciais e finais que o olhar para os processos de interação é fun damental porque a criança desenvolve competências ao se relacionar com os seus pares em todas as possibilidades de construção interacional Nesse período da vida as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas com os outros e com o mundo Como destacam as DCN a maior desenvoltura e a maior autonomia nos ATENÇÃO 10 Perceba o quão séria é a valorização da interação a qual deve ser promovida nas re lações entre o aprender o brincar o ser curioso diante do novo e do instigante E essa interação também se dá no exercício da produção de textos da escrita de textos porque sempre que escrevemos escrevemos textos e o fazemos porque vivemos em sociedade e essa é uma das formas de nos comunicarmos O trecho apresentado acima nos coloca a respeito da autonomia da criança e da ampliação de suas interações e a produção escrita de textos provocará também essa autonomia Nesse sentido a escrita como interação dialógica é fruto de uma relação que se estabelece entre quem escreve e para quem se escreve posto que há ali uma construção social De acordo com Rojo 1995 não foi agindo solitaria mente Foi no seio de interações orais onde o discurso do outro da cultura sobre e a partir desses objetos recortouos como existentes e interpretáveis e dotouos de sentido Ora se acreditamos que se escreve para alguém a relação que existe entre esses dois alguéns é de uma sinergia que se manifesta na produção do texto A criança para produzir um texto isto é fazer uso da escrita precisa ser convidada a conhecer as relações que a escrita provoca no outro acionando em si alguns ele mentos essenciais para a sua produção como a conhecimento sobre os elementos da situação de comunicação o quê como quem quando gênero textual histórico entre outros os quais contribuirão para a elaboração de seu texto b organização das ideias a serem abordadas é preciso rascunhar a sua construção textual c revisão de sua escrita olhar para o seu texto e verificar se está claro dentro do que pretendeu construir considerando que outro lerá o que produziu movimentos e deslocamentos ampliam suas interações com o espaço a relação com múltiplas linguagens incluindo os usos sociais da escrita e da matemática permite a participação no mundo letrado e a construção de novas aprendizagens na escola e para além dela a afirmação de sua identidade em relação ao coletivo no qual se inserem resulta em formas mais ativas de se relacionarem com esse coletivo e com as normas que regem as relações entre as pessoas dentro e fora da escola pelo reconhecimento de suas potencialidades e pelo acolhimento e pela valorização das diferenças Fonte BNCC BRASIL 2017 p 58 É preciso frisar 3 grandes estágios da produção de um texto escrito quais sejam 1 Planejamento 2 Produção escrita em si 3 Revisão do texto escrito final Esses três estágios devem ser considerados ao pensarmos na produção de um texto escrito principalmente quando estamos nos referindo às produções de crianças no começo de sua vida como escreventes ATENÇÃO 11 Havíamos colocado que seriam dois pontos fortes a serem pensados acerca do ato de escrever segundo Antunes 2005 Agora referimonos ao 7º elemento apontado acima que aborda a respeito da relação de interdependência da escrita com a leitu ra Fato é que a leitura existe para que seja lido o que outro escreveu e por sua vez a escrita existe para que outro a leia Assim a prática de uma favorece o exercício de outra Não significa que uma garantirá o sucesso da outra mas a sua relação e a prática de ambas propiciam o ato próprio da comunicação e a autonomia de que tratamos antes A criança ao ler aciona suas curiosidades internaliza elementos de língua natural mente brinca com as palavras e estimula sua criatividade Ao escrever busca de for ma automática os elementos de língua internalizados as palavras com as quais brin cou na leitura e rabisca seu texto com a criatividade estimulada ao ler dentre outros acionamentos E por que texto Por que motivo temos tratado tanto de texto escrito O texto é a centralidade de uma aula de língua Devemos partir do texto e a ele voltar Tudo na aula de Língua Portuguesa deve se voltar para o texto pois é o objeto da comunicação e das interações na sala de aula desse componente curricular É preci so compreender que o trabalho com as questões gramaticais as questões de sentido semântica e todas as demais possíveis questões a serem desenvolvidas em uma aula de Língua Portuguesa devem estar relacionadas ao texto pois ao sair da escola as crianças não vão viver em um mundo em que os processos comunicativos acontecerão por meio de perguntas relacionadas aos seus conhecimentos gramaticais por exemplo As crianças deverão interagir com outras crianças e com os adultos por meio da construção de textos pequenos ou grandes simples ou complexos formais ou in formais Veja uma proposição de uma sequência didática apenas atividades com a centralidade no texto para uma turma fictícia de 3º ano do ensino fundamental a Leitura da fábula A lebre e a tartaruga Vídeo para o professor acesse aqui b Discussão do entendimento da fábula em roda de conversa c Pesquisa de características dos animais que aparecem na fábula d Apresentação do gênero fábula e Produção de uma fábula criada pelas crianças e1 planejamento do que será escrito e2 escrita em si e3 revisão do texto escrito primeiro a criança depois o professor e4 reescrita e5 revisão final do professor para escrita final da criança f Apresentação à turma g Exposição em forma de varal Fonte elaborado pelas autoras REFLITA 12 O texto deve ser o elemento central No exemplo acima partimos de uma fábula ex ploramos o gênero fizemos pesquisa a respeito e voltamos ao texto quando da pro posição de escrita de outra fábula Nesse processo de produzir revisar e produzir de novo após revisão da própria criança que deve se acostumar a olhar para o próprio texto e do professor é que se verificam as questões de língua como os acentos os sinais de pontuação o uso dos verbos dos substantivos etc não como questões centrais mas ligadas à produção de forma natural CONCLUSÃO Vimos a importância das relações humanas interacionais no processo de aprendiza gem e de desenvolvimento da escrita Também percebemos que na vida em socieda de a escrita se apresenta por meio de textos os quais por sua vez são construídos com base em elementos da vida cotidiana e a partir de gêneros usados no dia a dia Percebemos que a interação com as outras crianças como em uma brincadeira em um fazdeconta permite que a escrita se desenvolva aconteça mesmo que no cam po da construção imaginária o que ocorre por meio de um texto Assim é por meio do texto que interagimos socialmente e de diversas formas com o outro REFERÊNCIAS ANTUNES Irandé Lutar com palavras coesão e coerência São Paulo Parábola 2005 BRASIL Ministério da Educação e do Desporto Base Nacional Comum Curricular BNCC versão aprovada pelo CNE Brasília DF MEC 2017 Disponível httpsbit ly2YYSMSD Acesso em 24 set 2021 ELIAS Vanda Maria KOCH Ingedore Villaça Ler e escrever estratégias de produ ção textual São Paulo Contexto 2015 ROJO Roxane Helena Rodrigues Concepções nãovalorizadas de escrita a escrita como um outro modo de falar In KLEIMAN Angela B org Os significados do letramento uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita Campinas SP Mercado das Letras 1995
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1 Profa Dra Cibele Beirith Figueiredo Freitas Profa Ma Daniela Arns Silveira CONCEPÇÕES DE ESCRITA E SEUS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO 4 Para que possamos compreender os processos de escrita e as concepções de pro dução é necessário que conheçamos um pouco da história da escrita e de sua rela ção com a humanidade Assim percebemos que a escrita tem uma trajetória que se foi constituindo junto ao desenvolvimento do homem como ser social o que notamos nos desenhos ainda hoje encontrados em muitos lugares do mundo os quais contam a vida de um povo de outrora A ESCRITA E O HOMEM 1 Não é no silêncio que os homens se fazem mas na palavra no trabalho na açãoreflexão Paulo Freire Fonte Pintura rupestre símbolo do Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí Para saber mais sobre a história da escrita acesse aqui SAIBA MAIS Ao longo da história então as comunidades fizeram uso de diferentes formas de comunicação desde a oralidade os símbolos e os desenhos até a chegada da es crita a qual se usa até hoje principalmente em diferentes situações com diferentes contextos Contudo passados mais de 40 mil anos ainda é possível atualmente encontrarmos pinturas rupestres em paredes de cavernas espalhadas pelo mundo Somente por volta de 3500 aC é que surge a escrita sistematizada com o desenvol vimento da escrita cuneiforme proposta pelos sumérios na Mesopotâmia Figura 1 Placa de argila com escritura cuneiforme exposta no Museu Britânico Fonte Imagen Creative Commonscrédito Charles Tilford 5 Essa escrita se construía com o auxílio de objetos em formato de cunha o que dá nome a ela e é uma das mais antigas do mundo embora também houvesse na mes ma época a comunicação por meio de hieróglifos A escrita cuneiforme propunha registros de questões cotidianas de aspectos políticos e econômicos os quais eram de domínio de uma pequena parcela da sociedade assim como para os hieróglifos que eram produzidos apenas por escribas e por sacerdotes É importante colocar que os hieróglifos foram uma escrita organizada e utilizada por muito tempo apenas por pessoas de maior poder da sociedade cujo conhecimento era tido também como símbolo de poder a escrita era sagrada Figura 2 Hieróglifos nas paredes de um templo em Karnak no Egito Fonte uwimagesFotolia Mais para frente nos últimos séculos do 2º milênio aC por conta do intercâmbio comercial que ocorria entre as nações do Mediterrâneo houve muitas junções de pictogramas usados pelos povos que estabeleciam essas relações Seus sons eram representados apenas no que hoje conhecemos como consoantes as vogais eram in feridas pelo contexto de uso tendo sido usadas e representadas apenas em meados de 800 aC pelos gregos que se valeram das consoantes utilizadas pelos fenícios e incluíram a escrita dos sons das vogais Isso permitiu que se criassem sílabas em razão dos sons produzidos o que teria dado origem ao alfabeto o qual é usado até os dias de hoje CONCEPÇÕES DE ESCRITA A LINGUAGEM 2 Ninguém educa ninguém ninguém educa a si mesmo os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo Paulo Freire 6 Agora que já vimos um pouco sobre a história da escrita e o surgimento do alfabeto percebemos o quanto a sociedade sente necessidade de se comunicar e o quanto as diferentes formas de comunicação fazem parte do processo evolutivo da humanida de Nesse sentido é necessário ainda que compreendamos os processos da escrita e as características que diferenciam a linguagem falada da linguagem escrita uma vez que por muito tempo nos espaços escolares a escrita fora tida como uma represen tação da fala embora não seja essa a função nem de uma nem de outra Segundo Elias e Koch 2015 por anos diferenças entre fala e escrita foram estabelecidas da forma como se apresenta a seguir FALA ESCRITA Contextualizada Descontextualizada Implícita Explícita Não planejada Planejada Predominância do modus pragmático Predominância do modus sintático Fragmentada Não fragmentada Incompleta Completa Pouco elaborada Elaborada Pouca densidade informacional Densidade informacional Predominância de frases curtas simples ou coordenadas Predominância de frases complexas com subordinação abundante Pequena frequência de passivas Emprego frequente de passivas Poucas nominalizações Abundância de nominalizações Menos densidade lexical Maior densidade lexical Fonte adaptado de Elias e Koch 2015 O que acontece de fato é que as características apresentadas acima nem sempre são apenas de uma das linguagens falada e escrita por vezes a depender da situ ação de uso o usuário da língua aciona uma característica associada a uma ou outra linguagem Também é preciso que olhemos para a forma como a fala foi constituída ou seja como um elemento o qual tem por base a escrita Desse modo o que balizou por muito tempo a fala foram as características da escrita algo que não corresponde ao princípio da identidade de cada uma dessas linguagens uma vez que cada uma delas apresenta seu próprio desenho de construção pois os contextos e as condi ções de uso se modificam constantemente Diante do que foi apresentado é possível que pensemos sobre algumas questões relevan tes você de fato escreve como fala Você toma por base da escrita a sua construção de fala O texto falado e o texto escrito se constituem da mesma forma REFLITA Os questionamentos colocados acima nos fazem pensar sobre o exercício que faze mos para construir textos falados e textos escritos os falados acontecem em uma 7 ação continuada ou seja vão sendo construídos ao longo do momento da fala Signi fica dizer que o falante vai planejando e falando ao mesmo tempo Talvez você esteja se perguntando mas e quando alguém pronuncia um discurso O sujeito pensou antes de fazêlo Excelente pergunta caro estudante E a resposta é que o usuário da língua precisou anteriormente à sua fala realizar o exercício da escrita o que nos leva à compreensão de que houve um planejamento anterior à fala Nesse caso não aconteceu a simultaneidade isto é não houve espontaneidade na fala exceto se o discurso fora feito às pressas sem prévio aviso ou de forma nãoplanejada A linguagem escrita é resultante de um processo uma vez que o usuário se orga niza para a escrita tem a possibilidade de ir e vir de retornar ao seu texto e de re pensálo reorganizálo refazêlo pois é fruto de um olhar atento ao que se pretende dizer por meio de palavras escritas A linguagem falada é em si a própria fala o dito numa relação entre o que se pretende dizer e o que por fim se diz além do fato de muito comumente a fala acontecer num momento de interação com o outro o que reforça que ela vai se construindo nessa relação com o outro Interessante observar que ao mesmo tempo que podemos refazer a fala não podemos apagála pode ser corrigida mas o que se disse já fora dito e pode ser parte da interpretação do outro E como a criança lida com isso quando chega à escola Vejamos Elias e Koch 2015 colocam que a criança quando chega à escola já domina a língua falada Ao entrar em contato com a escrita precisa adequarse às exigências desta o que não é tarefa fácil É por essa razão que seus textos se apresentam eivados de marcas da oralidade que aos poucos deverão ser eliminadas ATENÇÃO É perfeitamente natural que a criança a qual já possui uma gramática internalizada a que usa no seu dia a dia e que a permite se comunicar com os outros na fase inicial de aquisição da escrita faça uso de elementos que costumeiramente são acionados em sua fala no momento de escrever Cabe ao professor apresentar à criança as si tuações de produção escrita chamandolhe atenção para as particularidades dessas situações Esse exercício acontece por um período relativamente longo porque exige de ambos professor e estudante olhar cuidadoso para o processo de prática contí nua e de respeito ao tempo de apreensão de cada criança Vejamos juntos um caso comum de produção escrita no começo da vida escolar em período de alfabetização Em uma casa grande tinha duas meninas morando no quarto do lado da sala Elas eram irmãs O quarto delas era rosa e lá tinha um monte de outros quartos Um dia fizeram uma festa do pijama As meninas convidaram as amigas delas Elas foram brincar de contar histórias debaixo do lençol Maria ficou um pouco assustada Rita disse que não tinha problema Elas ficaram lendo livros e comendo pipoca Fonte trecho de história criado pela autora EXEMPLO 8 Observe que no começo do processo de escrita a criança procura reproduzir exata mente o que falaria Percebemos isso pelos elementos de retomada usados no texto acima os quais remetem ao fato de que a história está clara na cabeça da criança como se estivesse reproduzindo o que está em sua cabeça Contudo na linguagem escrita é preciso que alguns elementos como o uso do pronome elas e de sua forma acoplada delas esteja colocado de maneira mais objetiva sem ambiguidade Veja como funcionam os elementos de retomada Caso 1 Elas eram irmãs Aqui o elas se refere com clareza ao duas irmãs Caso 2 As meninas convidaram as amigas delas Ainda aqui o delas se refere às irmãs Caso 3 Elas foram brincar de contar histórias debaixo do lençol Nessa situação é possível que haja uma dúvida sobre o uso do elas pois não é perfeitamente clara a condição de que se fala das irmãs ou das meninas O pronome por estar no plural pode retomar uma ou outra mas a história está clara para a criança em sua memória então se for questionada sobre a quem se refere ela falará com um grau de certeza absoluto CASO PRÁTICO Nessa situação é possível que haja uma dúvida sobre o uso do elas pois não é per feitamente clara a condição de que se fala das irmãs ou das meninas O pronome por estar no plural pode retomar uma ou outra mas a história está clara para a criança em sua memória então se for questionada sobre a quem se refere ela falará com um grau de certeza absoluto É fundamental que a linguagem escrita seja trabalhada como um processo o qual exi ge atenção cuidado e prática constante cujas construções sejam analisadas face a face ponto a ponto de tal forma que a criança perceba as especificidades de uso de cada uma das linguagens acionando os recursos necessários para a sua construção Isso não significa excluir a oralidade mas trabalhar ambas de forma que a criança per ceba que há situações de uso e elementos próprios para cada uma dessas situações CONCEPÇÕES DE ESCRITA O TEXTO 3 Ensinar não é transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção Paulo Freire 9 Estudamos o processo histórico da escrita passamos por uma discussão e uma refle xão a respeito das linguagens falada oralidade e escrita o que nos encaminhou para o aprendizado da escrita além é claro do elemento de comunicação o texto oral e escrito curto e longo simples e complexo formal e informal Nós nos comunicamos por meio de textos O que é a prática de produção de textos O que é a prática da escrita de textos A forma como vemos o papel da escrita em nossa sociedade e mais em nossas es colas delimita como vemos o papel da produção escrita nesses espaços De acordo com Antunes 2005 da compreensão que temos do que seja escrever vão derivar nossas atividades com a prática da escrita Assim Antunes nos convida a observar as noções sobre o que caracteriza a atividade de escrever 1 Escrever é como falar uma atividade de interação de intercâmbio verbal 2 Escrever na perspectiva da interação só pode ser uma atividade cooperativa 3 Escrever a outros e de forma interativa é pois uma atividade contextualizada 4 Tal como falar escrever é uma atividade necessariamente textual 5 Escrever é uma atividade que se manifesta em gêneros particulares de textos 6 Escrever é uma atividade que retoma outros textos isto é que remonta a outros dizeres 7 A escrita é uma atividade em relação de interdependência com a leitura Fonte adaptado de Antunes 2005 ATENÇÃO Observe que fizemos um destaque em dois dos apontamentos de Antunes o pri meiro e o último sem qualquer intenção de grau de importância No primeiro o que pretendemos é chamar atenção para o fato de que o ato de escrever é um ato de interação pois por meio de produções escritas o usuário da língua e por sua vez a criança se relacionará com outra criança com o professor e com quaisquer outras pessoas no espaço escolar e fora dele Por isso é fundamental que a criança saiba desde as primeiras produções para quem está escrevendo A Base Nacional Comum Curricular BNCC BRASIL 2017 apresenta tanto na abordagem com relação à educação infantil como no ensino fun damental séries iniciais e finais que o olhar para os processos de interação é fun damental porque a criança desenvolve competências ao se relacionar com os seus pares em todas as possibilidades de construção interacional Nesse período da vida as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas com os outros e com o mundo Como destacam as DCN a maior desenvoltura e a maior autonomia nos ATENÇÃO 10 Perceba o quão séria é a valorização da interação a qual deve ser promovida nas re lações entre o aprender o brincar o ser curioso diante do novo e do instigante E essa interação também se dá no exercício da produção de textos da escrita de textos porque sempre que escrevemos escrevemos textos e o fazemos porque vivemos em sociedade e essa é uma das formas de nos comunicarmos O trecho apresentado acima nos coloca a respeito da autonomia da criança e da ampliação de suas interações e a produção escrita de textos provocará também essa autonomia Nesse sentido a escrita como interação dialógica é fruto de uma relação que se estabelece entre quem escreve e para quem se escreve posto que há ali uma construção social De acordo com Rojo 1995 não foi agindo solitaria mente Foi no seio de interações orais onde o discurso do outro da cultura sobre e a partir desses objetos recortouos como existentes e interpretáveis e dotouos de sentido Ora se acreditamos que se escreve para alguém a relação que existe entre esses dois alguéns é de uma sinergia que se manifesta na produção do texto A criança para produzir um texto isto é fazer uso da escrita precisa ser convidada a conhecer as relações que a escrita provoca no outro acionando em si alguns ele mentos essenciais para a sua produção como a conhecimento sobre os elementos da situação de comunicação o quê como quem quando gênero textual histórico entre outros os quais contribuirão para a elaboração de seu texto b organização das ideias a serem abordadas é preciso rascunhar a sua construção textual c revisão de sua escrita olhar para o seu texto e verificar se está claro dentro do que pretendeu construir considerando que outro lerá o que produziu movimentos e deslocamentos ampliam suas interações com o espaço a relação com múltiplas linguagens incluindo os usos sociais da escrita e da matemática permite a participação no mundo letrado e a construção de novas aprendizagens na escola e para além dela a afirmação de sua identidade em relação ao coletivo no qual se inserem resulta em formas mais ativas de se relacionarem com esse coletivo e com as normas que regem as relações entre as pessoas dentro e fora da escola pelo reconhecimento de suas potencialidades e pelo acolhimento e pela valorização das diferenças Fonte BNCC BRASIL 2017 p 58 É preciso frisar 3 grandes estágios da produção de um texto escrito quais sejam 1 Planejamento 2 Produção escrita em si 3 Revisão do texto escrito final Esses três estágios devem ser considerados ao pensarmos na produção de um texto escrito principalmente quando estamos nos referindo às produções de crianças no começo de sua vida como escreventes ATENÇÃO 11 Havíamos colocado que seriam dois pontos fortes a serem pensados acerca do ato de escrever segundo Antunes 2005 Agora referimonos ao 7º elemento apontado acima que aborda a respeito da relação de interdependência da escrita com a leitu ra Fato é que a leitura existe para que seja lido o que outro escreveu e por sua vez a escrita existe para que outro a leia Assim a prática de uma favorece o exercício de outra Não significa que uma garantirá o sucesso da outra mas a sua relação e a prática de ambas propiciam o ato próprio da comunicação e a autonomia de que tratamos antes A criança ao ler aciona suas curiosidades internaliza elementos de língua natural mente brinca com as palavras e estimula sua criatividade Ao escrever busca de for ma automática os elementos de língua internalizados as palavras com as quais brin cou na leitura e rabisca seu texto com a criatividade estimulada ao ler dentre outros acionamentos E por que texto Por que motivo temos tratado tanto de texto escrito O texto é a centralidade de uma aula de língua Devemos partir do texto e a ele voltar Tudo na aula de Língua Portuguesa deve se voltar para o texto pois é o objeto da comunicação e das interações na sala de aula desse componente curricular É preci so compreender que o trabalho com as questões gramaticais as questões de sentido semântica e todas as demais possíveis questões a serem desenvolvidas em uma aula de Língua Portuguesa devem estar relacionadas ao texto pois ao sair da escola as crianças não vão viver em um mundo em que os processos comunicativos acontecerão por meio de perguntas relacionadas aos seus conhecimentos gramaticais por exemplo As crianças deverão interagir com outras crianças e com os adultos por meio da construção de textos pequenos ou grandes simples ou complexos formais ou in formais Veja uma proposição de uma sequência didática apenas atividades com a centralidade no texto para uma turma fictícia de 3º ano do ensino fundamental a Leitura da fábula A lebre e a tartaruga Vídeo para o professor acesse aqui b Discussão do entendimento da fábula em roda de conversa c Pesquisa de características dos animais que aparecem na fábula d Apresentação do gênero fábula e Produção de uma fábula criada pelas crianças e1 planejamento do que será escrito e2 escrita em si e3 revisão do texto escrito primeiro a criança depois o professor e4 reescrita e5 revisão final do professor para escrita final da criança f Apresentação à turma g Exposição em forma de varal Fonte elaborado pelas autoras REFLITA 12 O texto deve ser o elemento central No exemplo acima partimos de uma fábula ex ploramos o gênero fizemos pesquisa a respeito e voltamos ao texto quando da pro posição de escrita de outra fábula Nesse processo de produzir revisar e produzir de novo após revisão da própria criança que deve se acostumar a olhar para o próprio texto e do professor é que se verificam as questões de língua como os acentos os sinais de pontuação o uso dos verbos dos substantivos etc não como questões centrais mas ligadas à produção de forma natural CONCLUSÃO Vimos a importância das relações humanas interacionais no processo de aprendiza gem e de desenvolvimento da escrita Também percebemos que na vida em socieda de a escrita se apresenta por meio de textos os quais por sua vez são construídos com base em elementos da vida cotidiana e a partir de gêneros usados no dia a dia Percebemos que a interação com as outras crianças como em uma brincadeira em um fazdeconta permite que a escrita se desenvolva aconteça mesmo que no cam po da construção imaginária o que ocorre por meio de um texto Assim é por meio do texto que interagimos socialmente e de diversas formas com o outro REFERÊNCIAS ANTUNES Irandé Lutar com palavras coesão e coerência São Paulo Parábola 2005 BRASIL Ministério da Educação e do Desporto Base Nacional Comum Curricular BNCC versão aprovada pelo CNE Brasília DF MEC 2017 Disponível httpsbit ly2YYSMSD Acesso em 24 set 2021 ELIAS Vanda Maria KOCH Ingedore Villaça Ler e escrever estratégias de produ ção textual São Paulo Contexto 2015 ROJO Roxane Helena Rodrigues Concepções nãovalorizadas de escrita a escrita como um outro modo de falar In KLEIMAN Angela B org Os significados do letramento uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita Campinas SP Mercado das Letras 1995