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Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 172 A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS EM ENTREVISTAS COM IDOSOS QUE VIVEM EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANENCIA NA GRANDE VITÓRIA Mariana Atallah UFESCAPES Mayara Nogueira UFESFAPES nogueiradvhotmailcom 1 Introdução O presente trabalho aborda um dos princípios vetores da pragmá tica griciana denominado principio da cooperação isto é aquele pelo qual o interlocutor deve dar a sua contribuição à comunicação Isto ocor re porque segundo o autor nas trocas comunicativas há uma lógica que rege a comunicação e deve ser seguida pelos interactantes Nós só somos considerados pessoa humana e nos diferenciamos porque usamos a linguagem Nós montamos uma personalidade a partir de como nos expressamos neste mundo Somos pessoas porque falamos porque comunicamos Poucas vezes paramos para pensar nos mecanis mos ocultos que fazem funcionar a comunicação Não pensamos nos princípios que guiam a comunicação entre ouvintefalante Exigese mui to mais do que o intercâmbio de significados préestabelecidos O que somos ou queremos quando usamos determinadas palavras Essas esco lhas nos mostrarão que somos e o que queremos quando falamos As pa lavras que o indivíduo fala não quer dizer o que ele quer falar A estrutu ra linguística não diz nem semântica nem sintagmaticamente o que se quer dizer Considerase a intenção A pragmática é o aqui e agora Leva se em conta o outro e o que se quer que o outro queira enquadrandose neste esteio categorias tais quais a de polidez e o principio da coopera ção Neste trabalho de modo especial focaremos neste ultimo enquanto dispositivo de análise 2 Contextualização da legislação do idoso no Brasil e no Espírito Santo Levandose em conta os dados do Instituto Brasileiro de Geogra fia Estatística IBGE o número de idosos cresce cada vez mais Com base no censo do ano de 2000 são 145 milhões de pessoas no país o Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 173 que corresponde a 86 de sua população total Ainda segundo esse cen so Vitória é a sexta capital que mais concentra idosos o que representa 89 da população desse município ficando atrás apenas do Rio de Ja neiro Porto Alegre Recife São Paulo e Belo Horizonte Segundo o censo 2000 a população de 60 anos ou mais de idade no Bra sil era de 14536029 de pessoas contra 10722705 em 1991 O peso relativo da população idosa no início da década representava 73 enquanto em 2000 essa proporção atingia 86 Neste período por conseguinte o numero de idosos aumentou em quase 4 milhões de pessoas fruto do crescimento ve getativo e do aumento gradual da esperança média de vida Tratase certa mente de um conjunto bastante elevado de pessoas com tendência de cresci mento nos próximos anos IBGE 2002 Por isso tornamse cada vez mais necessários os olhares atentos para as pesquisas que se voltem para os idosos visto que esses indiví duos ainda sofrem processo de desvalorização principalmente aqueles que vivem em instituições Atualmente essas instituições recebem diver sos nomes tais como lar de velhos casa de repouso e abrigo dentre ou tros Essas denominações sugiram para diminuir o uso da palavra asilo considerada delicada e dolorosa Segundo é estabelecido pela Política Nacional do Idoso Decreto nº 1948 de 1996 Art 3º Entendese por modalidade asilar o atendimento em regime de in ternato ao idoso sem vinculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia alimenta ção saúde e convivência social Parágrafo único A assistência na modalidade asilar ocorre no caso da i nexistência do grupo familiar abandono carência de recursos financeiros pró prios ou da própria família Decreto nº 1948 de 1996 Há muitos casos de idosos que mesmo morando com sua família são descuidados abandonados por ela o que faz com que a situação do abandono se torne bastante complexa Entretanto neste trabalho focaliza remos os idosos que vivem em instituições longe dos familiares Segundo o estudo do Núcleo de Estudos do Envelhecimento da Universidade de Caxias do Sul as causas que levam ao abandono são várias As situações que levam ao abandono são provocadas pela condição de fragilidade do idoso que pode passar a depender de outras pessoas pela perda da autonomia e da independência pelo esfriamento dos vínculos afetivos e pe la conduta do grupo de relações ou ausência dele Ainda há situações que de pendem do próprio idoso no que se refere ao modo como se dá o enfrenta mento dessas situações Isso significa dizer que uma mesma situação pode ser motivo gerador do sentimento de abandono para uma pessoa e não o ser parar Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 174 outra Depende das circunstâncias objetivas e subjetivas de cada indivíduo HEREDIA CORTELLETTI CASARA 200536 O presente estudo também revelou por meio de entrevistas com nossos informantes que a situação de abandono acarreta sentimentos de sofrimento e que por sua relação social no momento a maioria prefere lembrase das coisas do passado a falar do presente há também casos em que a condição de abandono expressa tristeza pelo abandono da família pela situação relacionada a sua saúde etc Em relação a isso as pesquisas feitas com idosos pelo Núcleo de Envelhecimento da Universidade de Caxias do Sul apontam parar questões que dizem respeito às relações humanas princi palmente as relações interpessoais que foram construídas ao longo da vida e que na velhice se desdobram com mais clareza quando da necessidade de maior atenção cuidados diante das fragilidades decorrentes do processo de envelhecimento Muitas das situações de sentimentos de abandono são refle xos da perda de afeto representada pela perda do companheiro de filhos fa miliares e amigos Quando os vínculos afetivos são rompidos e as relações se mantêm apenas por meio de lembranças passadas o idoso percebe o quanto está só e os motivos que geraram essa condição Muitos vivem sozinhos por escolha própria mas não se sentem isolados devido às condições que criaram para desenvolver suas atividades de vida diária podendo inclusive sentir soli dão decorrente da sua condição humana mas não associam o sentimento de abandono Podese dizer então que existem variáveis objetivas e subjetivas que influenciam essa condição HEREDIA CORTELLETTI E CASARA 2005 Sabese que o número de idosos residentes em instituições em to do o Brasil ainda é desconhecido Não se tem ainda no Censo Nacional o número de locais nem o número de idosos residentes Segundo Gam burgo 2006 p 45 a maioria destas instituições se enquadra em um modelo que na prática aparta o idoso da covivencia com a comunidade geral privandoo da independência e da afirmação da sua identidade 3 Fundamentos teóricos e metodológicos Neste item faremos uma incursão teórica no que diz respeito ao sentido literal e sentido expresso num enunciado dentro da perspectiva 36 Esta citação é do artigo encontrado no site Portal do Envelhecimento que apresenta reflexões sobre o tema abandono na velhice com base na percepção que idosos domiciliados e institucionali zados possuem sobre o abandono Disponível em httpportaldoenvelhecimentoorgbrnoticiasartigosabandononavelhicehtml Acesso em 1403 2011 Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 175 da pragmática e na relação destes com o que o H P Grice descrever como implicatura e seu principio de cooperação para entender o fenô meno interacional dentro de um evento de comunicação entre duas entre vistadoras e entrevistados partindo do ponto de vista da resposta destes últimos analisando como ocorrem as implicaturas em entrevistas face a face de idosos que vivem em instituições de longa permanência Primeiramente pesquisamos as instituições devidamente registra das na cidade de Vitória capital do Espírito Santo de acordo com a lista do Ministério Público Federal São elas Gobetti Coelho Casa de Re pouso para Idosos SS LtdaCasa de Repouso AME Assistência à Me lhor Idade no bairro de Jardim Camburi Congregação das Missionárias da Caridade Madre Tereza de Calcutá no bairro de Nossa Senhora da Consolação Sociedade de Assistência à velhice Desamparada no bairro Monte Belo e Lar da Vovó Sueli no bairro de Bonfim Entramos em contato com essas instituições e apenas uma nos foi recusada a entrar pa ra fazermos as entrevistas Fomos aos locais citados e no mesmo mês em setembro de 2010 realizamos as entrevistas geradas com os idosos com o consentimento formal da direção das instituições e dos entrevistados que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido A primeira instituição vi sitada foi a Sociedade de Assistência à Velhice Desamparada depois o Lar da Vovó Sueli e por último a Congregação das Missionárias da Cari dade Madre Tereza de Calcutá Em todas as três instituições a comunica ção com a direção não foi difícil e inclusive fomos muito bem recebidas Em janeiro de 2012 entramos em contato com outras duas institu ições dentro da Grande Vitória a primeira delas situada em Cariacica Sede denominada Avedalma Abrigo Velhice Desamparada Auta Lou reiro Machado e a segunda localizada na cidade de Serra no bairro Jar dim Limoeiro intitulada Abrigo dos Velhos Abel Lino Portela Na insti tuição Avedalma em princípio não houve grande embaraço para o le vantamento do corpus no entanto num segundo momento a política da instituição tornouse um tanto mais rígida o que dificultou a continuida de do trabalho Já no Abrigo dos Velhos Abel Lino Portela fomos bem recebidas e pudemos desenvolver a pesquisa sem maiores dificuldades Primeiramente tentamos estabelecer um numero fixo de idosos entrevistados para cada instituição mas ao entrarmos no campo perce bemos que isso era impossível haja vista muitos deles não terem condi ções de conversar por motivos de doença por se recusarem a ser entre Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 176 vistados ou mesmo por problemas de dicção Procuramos então selecio nar os entrevistados junto à Direção de cada Instituição e manter as mesmas perguntas para todos Sobre a vida pessoal o nome completo onde nasceu se tem filhos os melhores amigos Sobre a vida profissional em que trabalhava se gostava do trabalho sobre a vida atual como é a vida dele na instituição do que mais gosta a relação com a família Comparações entra a vida no passado e a atual qual foi a melhor fase de sua vida como foi a vida se tem planos para o futuro Em seu artigo Logic and Conversation 1982 Grice dá o se guinte exemplo Um individuo A está conversando com o indivíduo B sobre C que está atualmente trabalhando num banco O individuo A pergunta a B como está a situação do emprego de C A resposta de B é a seguinte Oh muito bem eu acho ele gosta de seus colegas e ainda não foi preso GRICE 1982 p 84 O autor mostra que a resposta de B apesar de dizer que o C está bem implicase no momento que diz que ele ainda não foi preso que poderia ter acontecido já que é um tipo de pessoa que pode não aguentar a pressão do trabalho e fazer algo que o leve a prisão Foi do termo implicitar que Grice construiu o termo implicatura Segundo Françoise Armengaud 2006 p87 a implicatura cor responde em linguagem comum à sugestão e à insinuação Grice distin gue as implicaturas conversacionais ou discursivas e as implicaturas con vencionais ou lexicais Esta última a convencional é a implicatura que está presa ao significado convencional das palavras já a conversacional é aquela que não depende da significação usual sendo determinada por certos principio básicos do ato comunicativo A presença de uma implicatura conversacional deve poder ser deduzida elabora pois ainda que possa ser intuitivamente compreendida se a intuição não for substituída por um argumento a implicatura se presente não contará como implicatura COVERSACIONAL será uma implicatura CONVENCIO NAL GRICE 1982 p 92 É nessa linha de pensamento que se formulou o principio da coo peração um principio geral em que se estabelece Faça sua contribui ção conversacional tal como é requerida no momento em que ocorre pe Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 177 lo propósito ou direção do intercâmbio conversacional em que você está engajado GRICE 1982 p 86 Grice então cunhou o princípio em quatro máximas cuja distri buição e denominação foram tomadas de empréstimo à tabela dos juízos de Kant Elas especificam o principio em questão segundo as rubricas re conhecidas por Kant como presidindo nossos juízos ARMANGAUD 2006 p 98 A Máxima da Quantidade A1 Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido para o propósito corrente da con versação A2 Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido B Máxima da Qualidade B1 Não diga o que você acredita ser fal so B2 Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evi dencia adequada C Máxima da Relação C1 Se relevante D Máxima do Modo D1 Seja claro D2 Evite obscuridade de ex pressão D3 Evite ambiguidade D4 Seja breve D5 Seja orde nado Apesar de haver outras máximas Grice acredita que essas quatro são suficientes em relação a implicatura conversacional produzidose nos seguintes casos quando o falante obedece às máximas o ouvinte entenderá com menos esforço Por exemplo A Nossa esqueci minha caneta B Eu tenho uma azul e uma preta Nesse exemplo estamos diante de um ato de fala indireto uma vez que diante do princípio da coope ração ao trazer esses objetos para o enunciado implicase o ofere cimento das canetas quando parece violálas mas não o faz em alguns casos o falante parece violar as máximas por exemplo um professor de filosofia escreve uma carta para recomendar um aluno para uma vaga no cur so de doutorado em filosofia Dizse Senhor X assiste sempre as aulas faz pontualmente todos os trabalhos e se expressa com propri edade Podemos perceber que o professor em momento algum não indica o grau de conhecimento do aluno que o capacita para fazer um curso de doutorado em filosofia Por isso o destinatário fará a Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 178 implicatura que o Senhor X não possui os requisitos para frequentar um doutorado de filosofia quando tem que violar para não violar outra de maior importância também chamado de choque entre as máximas às vezes damos uma informação aproximada porque não sabemos ao certo Por e xemplo se alguém perguntar onde fica o Cube X e o informante não sabe ao certo diz pega essa reta passando pelos correios Quem recebe a informação pode imaginar que não há cooperação pois a informação é insuficiente ou implicase que o informante não sabe bem onde fica e é tudo que sabe sobre o assunto Ainda que a máxima de qualidade parece ser a hierarquia mais alta do que as ou tras há alguns falantes que preferem mentir a passar por pouco coo perativos quando viola uma máxima deliberadamente também chamada vio lação ostensiva deixa ao ouvinte no dilema de perceber ou não a observância do falante ao Principio de cooperação Por exemplo um menino pela décima vez pergunta a sua mão quando vamos co mer mamãe e ela responde quando esta senhora que está escre vendo agora terminar de fazer seu trabalho e se levantar da cadeira e ir à cozinha e pôr a comida para esquentar 4 A violação das máximas conversacionais em entrevistas com ido sos que vivem em instituições de longa permanência O presente corpus como aludido no tópico anterior apresenta 19 entrevistas gênero textual na modalidade oral e de domínio jornalístico o qual de acordo com Marcuschi 1988 p 53 não é apenas um tipo de discurso mas um mecanismo de controle de um indivíduo sobre o outro o que pode ser considerado um poder institucionalmente derivado ou se ja intrínseco ao tipo de evento O objeto desde estudo é analisar a inexistência e o modo como ocorrem as implicaturas conversacionais em interação face a face através de entrevistas com idosos residente em instituições asilares Pôdese perceber que a quebra da máxima da relação Seja relevante se deu com maior frequência 53 ocorrências nas 19 entrevistas com média de 20 minutos de duração seguida das máximas da qualidade 30 de quantidade 22 e de modo 07 Em razão da limitação de um artigo não pudemos analisar todas as ocorrências de quebra das máximas conversa Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 179 cionais encontradas no corpus levantado por este motivo selecionamos alguns trechos que cremos ser mais ilustrativos ENTREVISTA COM A INFORMANTE SRF 01 Entrevistadora é mesmo e agora vamos falar de coisas boa dos presentes que você me deu que você gosta muito de arte é você sempre teve essa facilidade é é você sempre teve ou você começou aqui a fa zer essas coisas 02 Informante Eu desde criança eu já fazia casinha de boneca de tijolo botava lampadazinha neles fazia móveis aí eu fazia um curralzinho tinha minhas ovelhas meus bichinhos tudo de osso mocotó da vaca da canela papai comprava carne tinha abatedouro ele comprava mamãe fazia mocotó então eu dizia mamãe deixa eu comprar esses bichinhos que é pra mim fazer esses bichinhos pra minha fazenda risos 03 Entrevistadora risos 04 Informante Então juntava seus ossinhos secava repartia um pouco com meus irmão e um pouco era meua fazendinha era separada pra não dar briga né 05 Entrevistadora risos 06 Informante risos ah eu andava de cavalinho de pau carrinho de lomba 07 Entrevistadora Nossa como é diferente né 08 Informante Ah eu gostava muito de brincar na cachoeira lá em casa tinha uma pescar depois de meiodia às vezes a gente pescava mas não pescava coisa nenhuma risos 09 Entrevistadora risos 10 Informante Tudo coisa de criança subir nas árvores comer frutas depois de meiodia nós ia dormir na rede eu e meu irmão subia nas árvores aproveitar pegar aquelas frutas lá bem maduras no pátio né em torno do ah a mamãe tá cansada de procurar lá na casa quan do ela olha tá lá na ponta da árvore crianças desçam daí porque senão vai quebrar o braço uma pernavocês vão ver quando vo cês descerem daí olha aqui ó olha o gesto risos 11 Entrevistadora risos e saíam correndo né risos 12 Informante Nós vínhamos voando e não sei o que deu quando a gente viu já caímos no chão ela batia com o joelho no chão assim e nós os velhos da bolha eu corria pra casa do vizinho risos era uma coisa era um troféu mas foi a melhor coisa da minha vida que foi a minha infância fui criada no campo 13 Entrevistadora Não tinha aquelas preocupações né 14 Informante É sem problemas sem preocupação sem estresse 15 Entrevistadora Melhor remédio pra todo mundo né 16 Informante Longe da violência não existia tanta violência como existe ho je sequestro relâmpago Essa parte da conversa é interessante pois essa pessoa no inicio não queria ser entrevistada Koch 2007 p 125 diz que cada indivíduo Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 180 tem uma face externa e uma interna No caso dessa informante ela mos trou inicialmente possuir um território intimo que não gostaria de ser in vadido isto é queria preservar sua face intima Depois que viu outras pessoas serem entrevistadas ela se interessou e disse que só responderia as perguntas depois que lêssemos seu caderno uma espécie de diário Sua caligrafia era de difícil compreensão além do que tivemos que voltar no outro dia pois não havia tempo para lermos suas anotações e entrevistala depois Mas era interessante a ideia e a aceitamos Como resultado essa foi a conversa em que encontramos mais footings diferen tes Vemos que a partir do questionamento sobre suas produções artísti cas antes de entrar na instituição a informante respondeu mais livremen te sobre sua infância interagindo melhor na conversa comportandose com mais fluidez e espontaneidade linguística e paralinguisticamente Percebemos também que nesse tipo de situação a contribuição da Pragmática é importante As constantes risadas durante a conversa nos fazem refletir sobre o apoio ou podemos até dizer a garantia de compre ensão e interação da informante em relação ao ouvinte É a partir daí que se observa uma prática constante entre os interlocutores chamada estra tégias conversacionais Koch 2007 p 79 nos mostra alguns exemplos de estratégias dados por Grice 1 Se perceber que o parceiro já compreendeu o que você pretendia lhe comu nicar a continuação de sua fala na maioria das situações se torna desnecessá ria 2 Logo que perceber que o ouvinte não o está entendendo suspenda o fluxo de informação repita mude o planejamento ou introduza uma explicação 3 Ao perceber que formulou algo de forma inadequada interrompase imedia tamente e corrijase na sequência KOCH 2007 p 79 No caso do diálogo acima as atividades de fala expressas de ma neira positiva fizeramnos entender que os interlocutores conseguiram in teragir frente a frente e tiveram a mesma vontade de colaborar com a construção da conversa em si A risada foi de certa maneira o principal fator para a informante continuar contando sua história de forma mais prazerosa Esse tipo de estratégia conforme Goffman 1974 conceitua designa não só elementos verbais mas também prosódicos e não linguís ticos desempenhando uma função interacional qualquer na fala Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 181 ENTREVISTA COM O INFORMANTE MAO 01 Entrevistadora Aí você sabe tudo de casa né E e você tem filhos 02 Informante Nunca me casei Observase no trecho acima uma quebra da máxima da relação isto é a contribuição dada não fora apropriada à necessidade imediata já que quando se questiona você tem filhos a resposta que satisfaria o in terlocutor seria sim ou não No entanto não é de se olvidar a lógica que se está por detrás da afirmação nunca me casei só está legitimado a ter filhos aquele que é ou foi casado Daí possível implicar que por não ter se casado o informante não poderia ter filhos ENTREVISTA COM A INFORMANTE M 01 Entrevistadora Você gosta de morar aqui 02 Informante Eu quero ir pra casa Nesta estrutura tópica é possível perceber mais uma vez a quebra da máxima da relação no momento em que a resposta dada pela infor mante não guarda relação com a pergunta feita pela entrevistadora En tretanto pelo dito eu quero ir pra casa implicase querer estar num lu gar em que não é aquele em que está isto é não estar onde é o objeto de seu desejo logo uma insatisfação o não gostar O verbo morar via de regra nos remete a uma noção de lar ca sa morada Dentro do contexto em que se encontrou a entrevista institu ição asilar o advérbio aqui ancora o lugar de onde se fala Ao dizer eu quero ir pra casa cremos que a informante concebe este lugar não como casa para onde ela quer e gosta de viver ENTREVISTA COM A INFORMANTE L 01 Entrevistadora Você tem quantos anos 02 Informante Vinte e dois Neste segmento há uma ruptura da máxima da qualidade isto é aquela por meio da qual o interactante deve fazer uma contribuição que seja verdadeira Tendo em vista que a informante é uma idosa a resposta não é verossímil Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 182 ENTREVISTA COM A INFORMANTE D 01 Entrevistadora Nossa a minha memória é muito ruim muito ruim não lem bro nada 02 Informante Eu também não lembro do meu meu lembro também lem bro muito não agora eu lembro de alguma coisa mas as simmuita coisa não lembro não 03 Entrevistadora Acho que você é uma das que estudou mais tempo aqui 04 Entrevistadora 2 Mais tempo aquimais estudos vocêé 05 Entrevistadora Pelo que eu to perguntando 06 Informante Mas é aqui não tinha é que aqui eu to estudando também era a professora acho que vai vim em fevereiro ela desde mil novecentos e dois mil e oitodois mil e nove que ela ta a qui ENTREVISTA COM A INFORMANTE MB 01 Informante Pior ainda NE minha filha mora em Cobilândia alaga tam bém 02 Entrevistadora Alaga tudo 03 Informante Alaga até o teto ela é muito sabida viu quando saiu daqui pra substituir conhece tudo tudo ele tirou o passaporte dela ela quis ir né A categoria de modo segundo Grice 1982 p 87 está relaciona da não ao que é dito mas como o que é dito deve ser dito postulando no teórico a supermáxima Seja claro Entretanto por se tratar de en trevistas numa instituição asilar e por óbvio com idosos devemos pon derar aquilo que afirma Dino Preti 1991 p 27 Considerandose o problema dos idosos velhos37 é possível afirmar que em geral o envelhecimento afeta sua condição de relacionamento social pela linguagem Assim as causas de natureza física decorrentes da idade que in terferem de maneira às vezes decisiva nas atividades dos idosos quer sobre sua vida exterior quer sobre suas reações psíquicas seu poder de reflexão e análise atingem consideravelmente sua capacidade comunicativa e receptiva e por conseqüência a própria habilidade conversacional Os fragmentos acima transcritos nos revelam a quebra da máxima de modo bem como a premissa griciana 1982 seja ordenado perten 37 Dino Preti em seu livro A Linguagem dos Idosos 1991 p 16 trabalha unicamente com falantes acima de 80 anos os chamados idosos velhos por julgar que é mais ou menos a partir dessa i dade que em geral o indivíduo assume definitivamente a velhice em decorrência provavelmente da perda mais acentuada das habilidades psicofísicas Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 183 cente àquela máxima Em ambos os momentos percebemos que as in formantes possuem dificuldade em responder os questionamentos de modo claro e coerente Muito embora tal máxima seja quebrada o que dificulta o curso da conversação temse que tal quebra está para além da cooperação conversacional estáse diante de barreiras de ordem psíquica e física ENTREVISTA COM A INFORMANTE F 01 Entrevistadora Quantos filhos você tem 02 Informante Eu tenho oito filhos vivos eram nove filhos né Agora tem só oito em nome de Jesus Um já é pai de família O Sebastião Ele éJá é avô a filha mais velha dele um casal o filho e a filha mais ca souTá só a menina que é a última que eles num vão ter mais né Tá com dez ano ta estudando 03 Entrevistadora Como que é assim como que é a relação que você tem com ovocê tem alguém que você consegue conversar 04 Informante Eu converso com todo mundo Risos 05 Entrevistadora Com todo mundo Risos 06 Informante Eu converso muito Risos uma tal de faladeira mas eu falo só o que de razão né eu não falo mentira ne ofendo ninguém nãoa gerente a dona daqui tudo gosta ela já falou meus trens tá tudo arrumado tem mais de mês esperando mas por causa dessa chuva quando ela falou vamos mãe Ibatiba tem um pedaço lá que é de chão entãotem um a lugar que se chama Volta da Ferraduracaiu muita gente de lá parece que tem medo né quando ta na chuva assim o carro pode disparar e eu queria ta em todo lugar né Deus ta em toda parte ENTREVISTA COM A INFORMANTE D 01 Entrevistadora Então a senhora nunca casou 02 Informante Eu casei sim casei com acordo casei a força não encravei a força eu tinha treze ano quando me encravaram com um tal de Seu Ataíde não valia nada casei a força não assinalei papel de casamento não fui lá no cartório da ordem pra ninguém assinar quatro vezes ele foi lá onde eu tava na casa da minha irmã que eu tava trabalhando na corporativa que a gente tava né tava traba lhando na coperativa mas só de segunda a sextaaí eu fiquei en chendo bomba dáguaenchendo a caixa dágua pra mim não ir no cartório pra não ir né pra eles não fazer papel de casamento lá não fazer nadapegaram e fizeram por conta deleo Seu Ataíde assinou o desgraçado fez eu casar com ele a forçae RP pegou um trocado e assinou um tal de R P velho puxando o saco de le por que ele não deu a filha dele pra casar Ataíde ficou atrás de mim né Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 184 Segundo Grice a categoria da quantidade está relacionada à quan tidade de informação assim conforme pudemos notar nos fragmentos acima os informantes contribuem com mais informação do que lhes é requerido De sorte que tal superinformatividade pode causar confusão na medida em que é capaz de gerar questões secundárias GRICE 1982 p 87 A informante F ao responder se realmente conversa com todos é superinformativa ultrapassando aquilo que lhe foi indagado e fugindo ao cabo de sua resposta do cerne da questão Culminando em Deus está em toda parte Da mesma maneira a informante L rompe com tal máxima quando lhe é questionado se já havia se casado 5 Considerações finais Partindo da análise realizada pôdese constatar que a quebra de máximas conversacionais mais recorrentes foi a da relação Tendo em vista que as entrevistas foram feitas com idosos que vivem em institui ções de longa permanência tal dado é significativo na medida em que es tes indivíduos sofrem devido à limitação de ordem psíquica e sociocultural Embora Grice 1982 tenha elaborado o princípio da cooperação considerando todos os interactantes independente da idade percebemos que em se tratando de linguagem variáveis como idade e saúde são sig nificativos No que tange à existência ou não de estratégias no uso das quebras das máximas almejamos investigálas em um trabalho posterior REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARMENGAUD Françoise A pragmática Tradução Marcos Marcionilo São Paulo Parábola 2006 GOFFMAN E Frame Analysis New York Haper Row 1974 GRICE H P Lógica e conversação In DASCAL M Org Funda mentos metodológicos da linguística vol IV Campinas 1982 HEREDIA V B M CORTELLETTI I A CASARA M B Abando no na velhice Textos envelhecimento online 2005 vol 8 n 3 p 307 319 Disponível em httprevistaunatiuerjbrscielophpscriptsciarttextpidS1517 59282005000300002lngptnrmiso Acesso em 13062012 Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 185 IBGE Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Censo demográfico Perfil dos Idosos Responsáveis pelos Domicílios no Brasil 2000 Rio de Janeiro IBGE 2002 KERBRATORECCHIONI C Análise da conversação Princípios e mé todos Tradução Carlos Piovezani Filho São Paulo Parábola 2006 KOCH I G V A interação pela linguagem São Paulo Contexto 2007 MARCUSCHI Luiz Antônio Manifestações de poder em formas assi métricas de interação Investigações Recife vol 01 p 5170 1988 PRETI Dino A linguagem dos idosos um estudo de análise da conver sação São Paulo Contexto 1991 A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS EM ENTREVISTAS COM IDOSOS QUE VIVEM EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANENCIA NA GRANDE VITÓRIA Mariana Atallah UFESCAPES Mayara Nogueira UFESFAPES PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO Um dos principais princípios vetores da pragmática griciana Tratase daquele pelo qual o interlocutor deve dar a sua contribuição à comunicação Nas trocas comunicativas há uma lógica que rege a comunicação e deve ser seguida pelos interactantes Tornamse cada vez mais necessários os olhares atentos para as pesquisas que se voltem para os idosos visto que esses indivíduos ainda sofrem processo de desvalorização principalmente aqueles que vivem em instituições Atualmente essas instituições recebem diversos nomes tais como lar de velhos casa de repouso e abrigo dentre outros Essas denominações sugiram para diminuir o uso da palavra asilo considerada delicada e dolorosa Segundo é estabelecido pela Política Nacional do Idoso Decreto nº 1948 de 1996 Art 3º Entendese por modalidade asilar o atendimento em regime de internato ao idoso sem vinculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia alimentação saúde e convivência social Parágrafo único A assistência na modalidade asilar ocorre no caso da inexistência do grupo familiar abandono carência de recursos financeiros próprios ou da própria família Decreto nº 1948 de 1996 4 máximas do princípio da cooperação A Máxima da Quantidade A1 Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido para o propósito corrente da conversação A2 Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido B Máxima da Qualidade B1 Não diga o que você acredita ser falso B2 Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidencia adequada C Máxima da Relação C1 Se relevante D Máxima do Modo D1 Seja claro D2 Evite obscuridade de expressão D3 Evite ambiguidade D4 Seja breve D5 Seja ordenado Corpus da pesquisa 19 entrevistas gênero textual na modalidade oral e de domínio jornalístico Objetivo analisar a inexistência e o modo como ocorrem as implicaturas conversacionais em interação face a face através de entrevistas com idosos residente em instituições asilares RESULTADOS DA ANÁLISE A quebra de máximas conversacionais mais recorrentes foi a da relação Tendo em vista que as entrevistas foram feitas com idosos que vivem em instituições de longa permanência tal dado é significativo na medida em que estes indivíduos sofrem devido à limitação de ordem psíquica e sociocultural Embora Grice 1982 tenha elaborado o princípio da cooperação considerando todos os interactantes independente da idade percebemos que em se tratando de linguagem variáveis como idade e saúde são significativos REFERÊNCIAS ATALLAH Mariana NOGUEIRA Mayara A violação das máximas conversacionais em entrevistas com idosos que vivem em instituições de longa permanência na grande vitória Cadernos do CNLF Vol XVI Nº 04 t 1 Anais do XVI CNLF pág 184 GRICE H P Lógica e conversação In DASCAL M Org Fundamentos metodológicos da linguística vol IV Campinas 1982 CRONOGRAMA DE APRESENTAÇÃO 1 Informações técnicas título da apresentação e identificação das autoras 2 Sobre o Princípio da cooperação 3 Citação do Decreto n 1948 de 1996 4 Política Nacional do Idoso 5 As 4 máximas do princípio da cooperação 6 Elementos constituintes do corpus da pesquisa 7 Apresentação dos principais resultados demonstrados na análise 8 Referências