·
Letras ·
Linguística
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
13
Aquisição da Linguagem: Reflexões sobre Língua I e Língua E
Linguística
UNEAL
1
Ficha de Leitura VIII - Linguística III
Linguística
UNEAL
28
Gerativismo Linguístico: Teorias Linguísticas e Pesquisa
Linguística
UNEAL
17
A Comunidade de Fala na Sociolinguística Laboviana: Reflexões sobre Homogeneidade e Heterogeneidade
Linguística
UNEAL
172
Sociolinguística: Estudo e Aplicações - Universidade Federal de Santa Catarina
Linguística
UNEAL
22
Conceitos de Identidade e Métodos para seu Estudo na Sociolinguística
Linguística
UNEAL
1
Analise Sociorretorica e Estrategias de Introducao Artigo Cientifico - Resumo
Linguística
UNEAL
2
Comunidade de Fala e Identidade na Sociolinguística Variacionista - Exercício
Linguística
UNEAL
194
Resumo Marxismo e Filosofia da Linguagem Bakhtin - Análise e Reflexões
Linguística
UNEAL
2
Linguistica I - Exercicios Resolvidos sobre Variacao Linguistica e Norma Padrao
Linguística
UNEAL
Preview text
Estruturas sintáticas e a reinvenção da teoria linguística Gabriel de Ávila Othero Sergio de Moura Menuzzi Na edição de 2002 de Estruturas sintáticas David Lightfoot inicia a apresentação do livro de Chomsky com as seguintes palavras O livro Estruturas sintáticas de Noam Chomsky foi a bola de neve que começou a revolução cognitiva moderna Para entendermos um pouco sobre a importância que essa bola de neve teve na revolução cognitiva que se seguiu à sua publicação na segunda metade do século XX temos de entender um pouco sobre o contexto da época em que o Estruturas o primeiro livro de Noam Chomsky foi publicado Neste capítulo falaremos um pouco sobre seu contexto de publicação e sobre a relação entre algumas das ideias centrais exploradas por Chomsky em Estruturas e os primeiros desenvolvimentos da Teoria Gerativa Para isso vamos apresentar resumidamente alguns dos principais pontos do Estruturas tendo como base obviamente nosso olhar contemporâneo sobre essa obra clássica O CONTEXTO HISTÓRICO Como dissemos Estruturas sintáticas foi o primeiro livro publicado por Noam Chomsky então com 28 anos Ainda assim este não foi seu primeiro trabalho influente em Linguística Estruturas foi publicado em 1957 dois anos depois de Chomsky ter finalizado um trabalho monográfico de fôlego The Logical Structure of Linguistic Theory A estrutura lógica da teoria linguística em tradução livre publicado apenas 20 anos depois em 1975 e ainda inédito em português Nesse trabalho Chomsky desenvolve em detalhes muitas das ideias apenas esboçadas em Estruturas Como dissemos em outro lugar1 é nessas duas obras Syntactic Structures e The Logical Structure of Linguistic Theory que Chomsky lança as bases do que se tornou o programa de investigação linguística que mais influenciou a Linguística no século XX o programa gerativista Além dessas duas obras Chomsky já havia feito um trabalho de conclusão de curso que também antecipava elementos da Linguística Gerativa seu Morphophonemics of Modern Hebrew A morfofonêmica do hebraico moderno em tradução livre 28 Chomsky Um fato curioso acerca do Estruturas é que ele não se originou como um trabalho monográfico de pesquisa propriamente dito mas a partir de anotações das aulas de Linguística que Chomsky ministrava à época no MIT Como Harris 1993 observa não havia ainda um Departamento de Linguística na universidade o que permitiu a Chomsky total liberdade para ensinar aquilo que ele próprio entendia como Linguística Sua pesquisa no Laboratório de Pesquisas Eletrônicas do MIT não era restringida o que permitia que Chomsky continuasse pesquisando sua modelagem abstrata da linguagem Mas seu compromisso era apenas parcial e ele tinha de dar aulas para completar sua renda de Alemão de Francês de Filosofia de Lógica E de Linguística E como não tinha ninguém lá para dizer como as aulas de Linguística deveriam ser ministradas já que o MIT ainda não tinha um departamento de Linguística ele ensinava a sua Linguística e as anotações das aulas para esse curso revisadas e publicadas como Estruturas sintáticas constituem uma das obrasprimas da Linguística Harris 1993 39 O livro teve imediata repercussão muito graças a uma resenha influente de Robert B Lees publicada na revista Language ainda em 1957 essa resenha para Lightfoot 2002 VI é um dos três textos centrais que marcaram o início da Linguística Gerativa juntamente com Estruturas sintáticas e The Logical Structure of Linguistic Theory Segundo Lees 1957 3778 Estruturas é uma das primeiras tentativas sérias de um linguista para construir uma teoria abrangente de linguagem que possa ser entendida no mesmo sentido em que uma teoria química ou biológica é comumente entendida em Química ou Biologia Não se trata de uma mera reorganização de dados em um formato de catálogo bibliotecário nem outra filosofia especulativa sobre a natureza do Homem e da Linguagem é antes uma explicação rigorosa de nossas intuições sobre a linguagem em termos de um sistema axiomático explícito com teoremas derivados desse sistema resultados explícitos que podem ser comparados com novos dados e com outras intuições tudo baseado plenamente em uma teoria explícita da estrutura interna das línguas O trabalho de Chomsky era inovador e apresentava uma Linguística muito diferente da Linguística estruturalista de base harrisiana e bloomfieldiana dominante à época Contudo ainda que Estruturas se diferenciasse em grande parte de tudo o que havia sido feito em Linguística até então as influências estruturalistas estavam ali Como afirma o próprio Chomsky em carta Minha introdução formal no campo da Linguística foi em 1947 quando Zellig Harris me deu um esboço de seu Methods in Structural Linguistics para ler Achei fascinante e após algumas discussões estimulantes com Harris resolvi me formar em Linguística na Universidade da Pensilvânia Eu tinha alguns conhecimentos sobre Linguística Histórica e gramática do hebraico medieval com base na obra de meu pai nessas áreas apud Barsky 2004 70 Estruturas sintáticas e a reinvenção da teoria linguística 29 Chomsky tinha um sólido background em Filologia especialmente por influência de seu pai que trabalhava com a gramática e a história do hebraico e em Linguística estruturalista visto que Chomsky foi aluno de Harris e trabalhou com ele de maneira muito próxima Além disso Chomsky precisaria de interlocutores Para que suas ideias chegassem até os linguistas da época seria preciso escrever da maneira1 que um estruturalista pudesse compreender Apesar de o Estruturas estar fortemente condicionado pelo contexto da Linguística estruturalista e de tentar dialogar com ela já apresenta as ideiaschave que servem de base para o desenvolvimento posterior da Linguística Gerativa como reconhece o próprio Chomsky ainda hoje em textos mais recentes cf Chomsky 2014 por exemplo Estruturas foi de fato a bola de neve que deu início à avalanche cognitiva como afirmou Lightfoot O QUE É UMA GRAMÁTICA No breve prefácio do Estruturas já encontramos uma advertência importante que antecipa o que veremos nos capítulos seguintes2 Este estudo trata da estrutura sintática tanto em sentido lato oposto à semântica como em sentido estrito oposto à fonologia e à morfologia Ele faz parte de uma tentativa de construção de uma teoria geral formalizada da estrutura linguística e de exploração dos fundamentos desta teoria 2015 11 Ao contrário do que muitos estruturalistas defendiam Chomsky não acreditava que seria preciso primeiro entender a morfologia e a fonologia para depois levar a cabo uma investigação séria sobre os aspectos sintáticos das línguas naturais Ao contrário para Chomsky a investigação em sintaxe poderia trazer insights para os estudos em morfologia e fonologia das línguas naturais Por isso o Estruturas é como o próprio título já indica um livro que discute as estruturas sintáticas do inglês dando pouca atenção a aspectos fonológicos morfológicos ou semânticos A sintaxe foi como se sabe a área que recebeu desde o início prioridade nos estudos gerativistas de base chomskyana O primeiro capítulo não passa de uma brevíssima introdução É nele que Chomsky define justamente o que entende por sintaxe A sintaxe é o estudo dos princípios e dos processos por meio dos quais as sentenças são construídas em línguas particulares O estudo sintático de uma determinada língua tem como objetivo a construção de uma gramática que pode ser encarada como algum tipo de mecanismo de produção das sentenças da língua sob análise 2015 15 Repare como Chomsky entende que a gramática de uma língua deve ser considerada um tipo de mecanismo de produção de sentenças Vemos aí o quanto sua maneira de entender a Linguística difere da Linguística estruturalista Para os estruturalistas a Linguística teria como tarefa desenvolver métodos de descrição e sistematização dos dados de corpora obtidos em trabalho de campo por exemplo Obviamente os dados de um corpus são finitos além disso podem conter enunciados fragmentados hesitações etc que não seriam considerados bem formados pelos falantes da língua Para Chomsky a tarefa da Linguística não seria a de analisar e organizar as sentenças de um corpus ou de qualquer material linguístico supostamente representativo do que ele veio a chamar posteriormente de línguaE isto é língua externa antes o linguista está atrás de um construto que seja semelhante ao conhecimento que um falante tem de sua língua a línguaI ou interna 3 É em Estruturas sintáticas que Chomsky introduz a ideia de que a gramática de uma língua é concebida como um conjunto de princípios e regras é um mecanismo de produção de sentenças que potencialmente pode gerar todas as sentenças de uma língua e apenas elas Ora não há limites para o número de sentenças possíveis em qualquer língua natural e a gramática elaborada pelo linguista deve ser capaz de dar conta desse fato Além disso qualquer falante nativo de uma dada língua tem em princípio a capacidade de diferenciar sentenças bem formadas de sequências malformadas ou agramaticais naquela língua ainda que essas possam ocorrer e até mesmo ser relativamente frequentes em certos tipos de corpora de fala ou escrita Você mesmo leitor com base em sua própria intuição reconhece que 1 é uma frase bem formada em português ao passo que 2 não é 1 O Pedro sabe por que o João estava chorando 2 Por que o Pedro sabe o João estava chorando Uma gramática deve dar conta de capturar essa intuição Isto é uma teoria linguística também deve ser capaz de lidar com dados negativos as regras e os princípios que compõem a gramática de uma língua devem ser abrangentes o suficiente para gerar todas as sentenças bem formadas de uma língua como 1 mas devem ao mesmo tempo ser restritas o suficiente para não gerar qualquer sequência agramatical como 2 Isso é formulado no capítulo 2 do Estruturas o objetivo fundamental na análise linguística de uma língua L é separar as sequências gramaticais que são as sentenças de L das sequências agramaticais que não são sentenças de L e estudar a estrutura das sequências gramaticais A gramática de L será portanto um mecanismo que gera todas as sequências gramaticais de L e nenhuma das sequências agramaticais Uma maneira de testar a adequação de uma gramática proposta para L é determinar se as sequências que ela gera são realmente gramaticais ou não isto é aceitáveis a um falante nativo etc Poderíamos dar alguns passos na direção de fornecer um critério comportamental para a gramaticalidade de tal forma que este teste possa ser aplicado Para os propósitos da presente discussão contudo podemos assumir como dado o conhecimento intuitivo das sentenças gramaticais do inglês perguntandonos que tipo de gramática será capaz de realizar a tarefa de produzir tais sentenças gramaticais de maneira eficiente e reveladora 2015 17 Surge então um novo método de investigação linguística o julgamento intuitivo e introspectivo sobre a aceitabilidade e a gramaticalidade de uma sequência de palavras Foi esse método que utilizamos quando pedimos a você para julgar os exemplos 1 e 2 Ao longo do empreendimento gerativista e com o desenvolvimento da tecnologia outras maneiras de avaliar o nível de aceitabilidade e gramaticalidade de sentenças tornaramse disponíveis e antigos métodos foram aprimorados cf Maia 2015 mas o julgamento intuitivo ainda é prática comum em trabalhos de cunho gerativo A gramaticalidade de uma sequência é fruto de uma reação concreta e observável do falanteouvinte a um arranjo particular de itens lexicais A aceitabilidade é uma conclusão a que o linguista chega a partir de juízos de aceitabilidade somados a outros aspectos teóricoanalíticometodológicos que o levam a inferir que as regras da gramática são tais que legitimam certos arranjos e não outros num plano mais abstrato que aquele do uso efetivo da língua que é influenciado por fatores extragramaticais como memória atenção expectativa etc Guimarães 2017 32 Ainda sobre a noção de gramaticalidade Chomsky argumenta a noção de gramatical não pode ser confundida com as noções de dotado de sentido ou significativo em qualquer sentido semântico 2015 19 Chomsky estava separando à época a noção de gramatical de qualquer base semântica daí sua já conhecida frase Ideias verdes incolores dormem furiosamente sintaticamente bem formada mas semanticamente anômala Repare que Chomsky traça uma divisão fundamental aqui boa formação sintática não garante que o enunciado seja dotado de sentido Da mesma forma uma sequência de itens lexicais que tenha algum sentido não garante a boa formação sintática de uma sequência Esse passo metodológico importante de Chomsky separa crucialmente sintaxe de semântica qualquer procura por uma definição de gramaticalidade baseada em noções semânticas será fútil 2015 20 voltaremos a falar sobre a semântica em Estruturas mais a frente Nos três capítulos seguintes capítulos 3 4 e 5 Chomsky mostra as inadequações dos recursos de análise postos à disposição do linguista que tinham grande aceitação à época Chomsky argumenta que tais limitações só se tornam claras quando se formalizam tais teorias isto é quando se procura explicitar de modo cabal os elementos e mecanismos que a teoria utiliza para descrever regras linguísticas Especificamente são dois os tipos de mecanismos que Chomsky argumenta serem demasiadamente limitados para sozinhos descreverem a gramática de uma língua natural as chamadas cadeias de Markov também chamadas de autômatos finitos mecanismos que caracterizariam os modelos gramaticais baseados na mera ordem linear de palavras e as regras sintagmáticas que caracterizariam os modelos limitados à descrição da estrutura de constituintes Segundo Chomsky tanto essa argumentação quanto a distinção entre aceitabilidade e gramaticalidade foram motivadas pelo contexto em que desenvolvia seu trabalho Meu trabalho Estruturas sintáticas Chomsky 1957 começa com observações sobre a adequação em princípio dos autômatos finitos portanto das fontes markovianas mas apenas porque esse trabalho era baseado em notas dos cursos que eu ministrava no MIT onde a adequação dos autômatos finitos era amplamente aceita Por razões parecidas o Estruturas sintáticas começa explorando a tarefa de distinguir sentenças gramaticais de agramaticais tendo por base a analogia de boaformação que vemos em sistemas formais assumida à época como um modelo apropriado para a linguagem Chomsky 2018 2007 125 Em Estruturas sintáticas Chomsky menciona como exemplo de modelo estruturalista markoviano aquele proposto por Hockett em seu Manual of Phonology 1955 que se baseia na teoria da informação de Shannon cf Shannon e Weaver 1949 Chomsky argumenta que a limitação mais grave das cadeias de Markov é a de que só são capazes de caracterizar sequências em que um elemento depende estritamente do elemento imediatamente precedente Segundo Chomsky isso é insuficiente para dar conta de fenômenos triviais nas línguas como as orações ligadas com conectores descontínuos do tipo Se então ou Ou ou como vemos nos exemplos a seguir 3 Se o português tem suas origens no latim então é uma língua românica 4 Ou a hipótese biolinguística está correta ou está equivocada Obviamente a introdução do segundo elemento de um conector descontínuo depende do primeiro mas os elementos não são adjacentes na sequência de palavras Quanto às regras sintagmáticas Chomsky demonstra que são capazes não apenas de descrever padrões de ordem palavra por palavra sendo nesse sentido equivalentes às cadeias de Markov mas também de caracterizar um outro aspecto fundamental das línguas humanas o fato de que suas regras são dependentes de estrutura isto é de que operam apenas sobre constituintes sequências específicas de palavras identificáveis por meio de sua categoria sintática Por isso a teoria proposta por Estruturas assegura um papel central para as regras sintagmáticas na descrição gramatical Ainda assim Chomsky argumenta essas regras não são suficientes pois posiciona os afixos nas formas verbais na superfície da frase o efeito da regra é deslocar um afixo que é inserido como parte de um constituinte auxiliar para o verbo que segue imediatamente esse auxiliar por exemplo o sufixo ndo é inserido como parte do auxiliar estar ndo de aspecto progressivo resultando V ndo depois da operação 2015 634 Esse procedimento derivacional envolvendo transformações opcionais e obrigatórias é importante por várias razões entre as quais destacamos três i a partir daqui o modelo de teoria linguística chomskyano passou a ser amplamente conhecido como Gramática Transformacional ou Gramática GerativoTransformacional ii apesar de não estarem explícitas em Estruturas sintáticas as noções de estrutura profunda e estrutura de superfície já subjazem ao raciocínio esboçado por Chomsky essas noções foram desenvolvidas alguns anos mais tarde especialmente a partir da publicação de Aspectos da teoria da sintaxe de 1965 veja o capítulo Teoria Padrão e Teoria Padrão Estendida neste volume e iii fica explicitado o modelo de gramática da primeira fase da Teoria Gerativa com a seguinte arquitetura 5 ESTRUTURA SINTAGMÁTICA regras de reescrita sintagmáticas X1 Y1 Z1 W1 Xn Yn Zn Wn SENTENÇA NUCLEAR ESTRUTURA TRANSFORMACIONAL regras transformacionais X1 Y1 Z1 A1 B1 C1 Xn Yn Zn An Bn Cn SENTENÇA DERIVADA ESTRUTURA MORFOFONÊMICA regras de reescrita morfofonêmicas MORF1 MORF2 WORD1 MORFp MORFq WORDn Fonte adaptado de Chomsky 2015 1957 66 não capturam outros aspectos importantes do conhecimento gramatical dos falantes de uma língua em particular um tipo de intuição fundamental a de que há uma relação gramatical entre certos tipos de frases como por exemplo a existente entre frases declarativas interrogativas e negativas ou entre frases na voz ativa e na voz passiva Além disso há uma outra motivação há regras que dependem da história derivacional de uma categoria em particular sua função sintática e só operaram sobre marcadores sintagmáticos completos Para resolver essas limitações Chomsky propõe um novo tipo de regra as regras transformacionais desenvolveremos um terceiro modelo transformacional para a estrutura linguística que é mais poderoso do que o modelo de constituintes imediatos em certos aspectos importantes e que dá conta de tais relações de maneira natural Quando formulamos a teoria das transformações de maneira cuidadosa e a aplicamos livremente ao inglês vemos que ela lança uma luz sobre uma grande variedade de fenômenos indo além daqueles fenômenos para os quais ela foi especificamente concebida 2015 12 Uma transformação é uma regra que toma uma estrutura sentencial incluindo uma sentença nuclear a representação básica de uma sentença gerada pelas regras sintagmáticas e a altera em aspectos particulares como por exemplo a função gramatical de um termo no Apêndice II de Estruturas Chomsky lista as regras transformacionais que desenvolve para dar conta de várias construções do inglês Veja por exemplo a regra da transformação interrogativa Tint que forma sentenças interrogativas simples em inglês essa regra toma sequências nucleares correspondentes a sentenças declarativas tendo o efeito de intercambiar o primeiro e o segundo segmentos dessas sequências 2015 90 Pegue uma sequência em inglês como They can arrive eles podem chegar e a transformação interrogativa para o inglês lembrese irá produzir a sequência Can they arrive lit podem eles chegar uma estrutura interrogativa em inglês Uma transformação menos óbvia exemplo do tipo de inovação permitido pela nova concepção de gramática é a regra que ficou conhecida na literatura como o pulo do afixo uma transformação obrigatória4 que tinha a seguinte formulação 2015 165 Análise estrutural X Af v Y em que Af é um afixo verbal v é um verbo modal ou principal ou ainda have ou be Mudança estrutural X1 X2 X3 X4 X1 X3 X2 X4 em que marca os limites das palavras superficiais que passarão por regras morfofonêmicas Ou seja essa transformação permite gerar de modo correto sequências de auxiliares como vai poder ler pode ter lido tinha estado lendo etc pois ela Esse modelo foi significativamente revisto ao longo dos anos veja os capítulos Teoria Padrão e Teoria Padrão Estendida Teoria da Regência e Ligação e a proposta de Princípios e Parâmetros e O Programa Minimalista também neste volume mas a ideia básica proposta em Estruturas com um nível de representação subjacente abstrato e outro nível de output com características próximas às da sentença pronunciada ainda está por trás de vários modelos correntes de teoria gramatical contemporâneos A própria noção de transformação também sofreu modificações substanciais mas a intuição de que um elemento pode ser movido de uma posição na qual tem uma relação linguística para outra posição onde adquire outra relação linguística transformando a estrutura inicial é um fato que precisa ser reconhecido e incorporado de algum modo em qualquer teoria da estrutura sintática Além disso o componente transformacional tira o peso das regras sintagmáticas e captura generalizações gramaticais importantes tais como as que apontamos anteriormente É importante observar que a gramática é significativamente simplificada quando adicionamos um nível transformacional uma vez que agora é necessário fornecer diretamente a estrutura sintagmática apenas para as sentenças nucleares as sequências terminais da gramática são apenas aquelas que subjazem às sentenças nucleares Escolhemos as sentenças nucleares de tal forma que as sequências terminais subjacentes ao núcleo são facilmente derivadas enquanto todas as outras sentenças podem ser derivadas dessas sequências terminais através de transformações que podem ser formuladas de modo simples 2015 6895 Isso significa que não precisamos mais nos preocupar com regras sintagmáticas que gerem todas e apenas as sequências gramaticais da língua Pelo contrário as regras sintagmáticas irão formar apenas as sentenças nucleares na verdade as sequências que subjazem às sentenças nucleares 2015 68 Essas sentenças nucleares passarão por transformações obrigatórias e opcionais como vimos para que resultem em sequências gramaticais atestadas na língua Disso temos que todas as sentenças da língua ou pertencerão ao núcleo da língua ou serão derivadas por meio da aplicação sucessiva de uma ou mais transformações das sequências que subjazem a uma ou mais sentenças nucleares 2015 65 EXPLORANDO QUESTÕES FUNDACIONAIS Seguindo o Estruturas encontramos no capítulo 6 uma espécie de parênteses preparatórios em que Chomsky procura aprofundar um pouco a metateoria linguística discutindo um dos dois critérios que já havia introduzido no capítulo 2 para identificar gramáticas adequadas Além de satisfazer a certas condições externas de adequação por exemplo dar conta dos juízos de aceitabilidade dos falantes da língua uma gramática deve também satisfazer segundo Chomsky a uma condição de generalidade isto é deve ser construída a partir de uma teoria da estrutura linguística na qual noções gramaticais como fonema ou sintagma sejam definidas de modo geral isto é independentemente das propriedades específicas dessa ou daquela língua particular Esse critério permite a Chomsky levantar uma questão crucial 2015 73 qual a relação entre a teoria geral e as gramáticas particulares que são dela derivadas Segundo ele do modo como a maior parte das propostas da época formulava essa relação o objetivo de uma teoria da linguagem deveria ser o de fornecer um procedimento de descoberta a teoria deveria fornecer um método prático e mecânico que tivesse como input um corpus significativo da língua e como output a gramática correta da língua Entre os trabalhos nos quais Chomsky identifica essa posição estão obras de Harris Hockett Bernard Bloch Rulon Wells e dele próprio Noam Chomsky Ver a nota 3 p 75 do Estruturas sintáticas Para ele essa exigência é demasiadamente forte e dá origem a limitações excessivas à teoria linguística como a de que os níveis superiores de estrutura devem ser literalmente construídos a partir de elementos dos níveis inferiores ou a de que não deve haver mistura de níveis Ao tentar desenvolver procedimentos de descoberta de gramáticas somos naturalmente levados a considerar morfemas como classes de sequências de fonemas isto é como tendo conteúdo fonêmico real num sentido quase literal Isso nos leva a problemas em casos bem conhecidos como o da forma verbal took tuk pegou em inglês em que é difícil associar sem artificialidade qualquer parte dessa palavra com o morfema de tempo passado que aparece como t em walked wokt caminhou como d em framed freymd modelou etc 2015 82 A proposta de Chomsky é mais modesta mas é a que veio a prevalecer a partir de então o objetivo de uma teoria linguística deve ser o de fornecer um procedimento de avaliação dadas duas gramáticas e um corpus significativo da língua a teoria deve fornecer critérios para definir qual das duas gramáticas é mais adequada em relação àquele corpus Em outras palavras o critério explorado por Chomsky em Estruturas é o da simplicidade que segundo ele abarca o conjunto de propriedades formais das gramáticas 2015 76 por exemplo qual das gramáticas descreve o conjunto de fatos linguísticos por meio de um menor número de regras ou por meio de regras mais simples que utilizam menos símbolos etc Eis uma das razões pelas quais Chomsky enfatiza tanto a importância de formalizar as análises gramaticais Nessa concepção não há restrições meto dológicas que excluam certas hipóteses a priori Podese chegar a uma gramática pela intuição por meio de suposições de sugestões metodológicas parciais por indução a partir da experiência passada etc 2015 79 Chomsky finaliza o capítulo com uma alfinetada especialmente dirigida aos estruturalistas que baseados no pressuposto de que a teoria linguística deveria fornecer procedimentos de descoberta defendiam a precedência dos estudos de morfologia e fonologia sobre as investigações em sintaxe acredito que seja completamente insustentável a ideia de que a teoria sintática deva esperar a solução de problemas da morfologia e da fonologia independentemente de que se tenha ou não a preocupação com o problema de procedimentos de descoberta Acredito que tal ideia tenha sido alimentada por uma analogia defeituosa entre a ordem do desenvolvimento da teoria linguística e a ordem presumida das operações na descoberta da estrutura gramatical 2015 85 O autor retorna às transformações do inglês no capítulo 7 com o objetivo específico de mostrar como o desenvolvimento deste conjunto de regras permite simplificar a gramática como um todo em particular o componente sintagmático Nosso objetivo é limitar o núcleo de tal forma que as sequências terminais subjacentes às sentenças nucleares sejam derivadas por um sistema simples de estrutura sintagmática e possam fornecer a base a partir da qual todas as sentenças possam ser derivadas por transformações simples transformações obrigatórias no caso do núcleo e transformações obrigatórias e opcionais no caso de sentenças não nucleares 2015 87 Chomsky segue o capítulo 7 discutindo uma série impressionante de transformações do inglês a que forma orações negativas pela introdução de not a que forma orações interrogativas pela inversão entre verbo auxiliar e sujeito a que introduz o auxiliar do em certas orações negativas e interrogativas a que forma orações interrogativas com pronomes como who e what formulações alternativas da transformação passiva etc Não só a formalização a formulação explícita dessas e de outras transformações é discutida em detalhe como sua interação entre si e com as regras sintagmáticas e morfofonêmicas Por exemplo Chomsky explora em profundidade as interações entre as regras sintagmáticas que introduzem verbos auxiliares em inglês a transformação de pulo do afixo as transformações de negação e de interrogação de inserção de do e ainda as regras morfofonêmicas A discussão sustenta de modo persuasivo não apenas aspectos específicos das análises propostas como a ideia de que a inserção de do deve ser realizada por uma transformação e não por uma regra sintagmática sustenta principalmente a arquitetura da gramática proposta em 5 O capítulo 7 ilustra exemplarmente o espírito do modelo transformacional nesse primeiro momento da Linguística Gerativa ao mesmo tempo em que enfatiza certas ideias e um estilo de argumentação que viriam a ser característicos da abordagem generativa ainda que as transformações específicas ali propostas tenham sido revistas ou mesmo abandonadas ao longo dos anos Daí a atualidade do Estruturas que Carlos Mioto bem sintetiza ao comentar a tradução brasileira publicada em 2015 o comentário aparece no texto de orelha da tradução Acho que o propósito desta tradução é sacudir a poeira porventura acumulada sobre a obra clássica de Chomsky que emblematicamente registra os primeiros pontos da pauta do empreendimento gerativista O acúmulo de poeira parece ser resultado do fato de a teoria gerativa estar em constante remodelação Assim é que de Estruturas sintáticas foram abandonadas ideias como as que derivam das sentenças negativas e interrogativas de uma mesma sentença nuclear mediante transformações Tnec e Tw respectivamente mas não ideias que coincidem com a busca da gramática melhor mais simples e mais aparelhada para descrever e explicar fenômenos afeitos às línguas naturais que subjaz a todo o empreendimento gerativista A importância de Estruturas sintáticas não é apenas histórica O capítulo 8 de Estruturas é um capítulo curto em que Chomsky procura reforçar a argumentação a favor do nível de representação estrutura transformacional mas de um novo ângulo buscando aplicar a mesma lógica encontrada em argumentos que estabelecem a necessidade de níveis como a fonologia a morfologia e a estrutura de constituintes na sintaxe Chomsky se concentra na ambiguidade de interpretação de certas sequências terminais indicando a não correspondência entre suas análises em diferentes níveis É o que acontece com as sequências a name um nome e an aim um objetivo que só podem ser distinguidas como segmentações morfológicas alternativas da mesma sequência fonêmica əneɪm essas duas sequências não podem ser distinguidas sintaticamente já que ambas possuem a estrutura sintagmática SN Det N Chomsky chama esse tipo de problema de homonímia construcional e nele inclui os casos de ambiguidade estrutural isto é em que uma única sequência morfológica de palavras pode ter mais de uma análise sintagmática por exemplo old men and women homens e mulheres velhos que pode ser analisada como Adj N and N ou como Adj N and N em inglês Segundo Chomsky as transformações podem explicar casos de ambiguidade de interpretação que não são analisáveis somente por meio da estrutura sintagmática Por exemplo uma nominalização como the shooting of the hunters os tiros dos nos caçadores é ambígua em inglês os caçadores podem ser aqueles que atiram ou aqueles que são atingidos por tiros mas the growling of the lion o rugido do leão e the raising of the flowers o cultivo de flores não são ambíguas o leão só pode ser quem ruge e as flores só podem ser aquilo que é cultivado Chomsky explica esses fatos postulando uma transformação que converte estruturas sintagmáticas nucleares do tipo SN1 V SN2 em uma única e indistinguível estrutura sintagmática derivada Det N of SN em que SN pode ser SN1 ou SN2 Isso porque a nominalização the shooting of the hunters pode ser derivada de duas sentenças nucleares diferentes The hunters shot someone Os caçadores atiraram em alguém ou Someone shot the hunters Alguém atirou nos caçadores As outras duas nominalizações só podem ser derivadas de uma única sentença nuclear The lion roared O leão rugiu e Someone raised the flowers Alguém cultivou as flores respectivamente veja p 130131 de Estruturas para discussão detalhada Assim o capítulo 8 não apenas oferece novos argumentos a favor da necessidade do nível de representação estrutura transformacional mas acaba levando Chomsky a uma concepção inovadora do que é compreender uma sentença O que estamos sugerindo é que aquilo que chamamos de compreender uma sentença deve ser explicado em parte em termos da noção de nível de representação Para compreender uma sentença então é necessário primeiro reconstruir sua análise em cada nível linguístico incluindo níveis superiores como a estrutura sintagmática e a estrutura transformacional 2015 128 Essa concepção é inovadora tanto porque não havia sido formulada nesses termos antes como também porque abre a porta para uma nova abordagem das questões relativas à significação das frases abordagem que emerge do capítulo 9 onde Chomsky discute a relação entre sintaxe e semântica O ponto central do capítulo é defender a ideia de que é possível construir os diferentes níveis de representação gramatical sem apelo à noção de significado Chomsky argumenta que além de obscuras várias das noções semânticas utilizadas até então na descrição gramatical eram ou desnecessárias por exemplo a noção de significado na definição de fonema ou insuficientes por exemplo a noção de agente na definição de sujeito Em particular no que diz respeito às transformações Chomsky reconhece que muitos dos argumentos a favor delas recorrem a termos como compreender uma sentença ambiguidade de interpretação ou mesma interpretação em algum nível mas enfatiza que são todos argumentos que se baseiam em intuições sobre formas linguísticas 2015 137 intuições que podem ser analisadas por meio de relações e operações de natureza formal Segundo ele noções como referência significação e sinonímia não desempenharam qualquer papel na discussão 2015 150 De fato na maior parte das análises transformacionais do Estruturas em que alguma noção de significado poderia ser pertinente o que a substitui é o apelo às sentenças nucleares Por exemplo a sinonímia parcial entre passiva e ativa é expressa pela análise segundo a qual as sentenças passivas são derivadas de sentenças nucleares cuja estrutura básica é a mesma das sentenças ativas correspondentes Além disso a sinonímia entre sentenças passivas e ativas é parcial porque limitada a pares como Maria demitiu João João foi demitido por Maria em que os SNs são não quantificados Mas como Chomsky percebeu 2015 148 quando os SNs são quantificados como em Todos nesta sala falam ao menos duas línguas Ao menos duas línguas são faladas por todos nesta sala já não há equivalência necessária na primeira a interpretação preferencial é que cada pessoa na sala fala duas línguas as línguas não precisam ser as mesmas já na segunda a leitura preferencial é que há duas línguas específicas que todos na sala falam as duas línguas são as mesmas Fatos como esse levaram Jackendoff 1972 a sustentar que algumas propriedades semânticas das frases como o escopo de SNs quantificados devem ser lidas diretamente da estrutura de superfície das frases e não da estrutura profunda Obviamente seja lá o que há de comum à interpretação dos dois tipos de sentenças passiva e ativa esse elemento comum será expresso por representado no nível de suas sentenças nucleares O crucial é que mesmo representando aspectos incertos de alguma noção também incerta de significado as sentenças nucleares são parte da sintaxe da língua são as representações gramaticais geradas pelas regras sintagmáticas Portanto se codificam aspectos do significado o fazem formalmente isto é em termos das formas da língua especificamente das combinações de morfemas e palavras em sintagmas Quais aspectos do significado são codificados pelas sentenças nucleares Chomsky não oferece resposta explícita em Estruturas As noções que permitem algum progresso nesse sentido só começam a ser estudadas de modo mais sistemático a partir da década de 1960 são noções como a de papel temático que permitem identificar e caracterizar um dependente semântico de verbos e outras palavras que exigem complementos argumentos do predicado para usar os termos hoje consagrados em Semântica Tais noções começaram a ser estudadas apenas na década de 1960 Katz e Postal 1964 e Chomsky 1965 começaram a utilizar de modo sistemático as chamadas restrições selecionais certos verbos exigem complementos animados ou inanimados concretos ou abstratos etc Logo a seguir Gruber 1965 dá início ao estudo sistemático dos papéis temáticos noções como agente paciente recipiente destinatário causador etc que buscam caracterizar o modo de participação de um argumento na situação descrita por um predicado Os papéis temáticos especialmente já haviam sido utilizados na descrição tradicional mas não haviam recebido atenção sistemática a partir de Gruber e de Jackendoff 1969 1972 os papéis temáticos se tornaram tópicos centrais de pesquisa na interface SintaxeSemântica para uma síntese recente das noções relevantes com referências atualizadas remetemos o leitor a Cançado e Amaral 2016 Retrospectivamente podese dizer que as sentenças nucleares provavelmente buscavam capturar o fato de que os papéis temáticos de um predicado permanecem basicamente os mesmos ainda que esse predicado venha a sofrer modificações por operações lexicaisgramaticais passivização nominalizações e que essas modificações afetem a manifestação sintática de alguns dos papéis temáticos Ainda que Chomsky não tenha conseguido em Estruturas ser mais específico sobre que aspecto do significado estava sendo codificado pelas sentenças nucleares ele vislumbrou no recurso uma abordagem geral para certos elementos de significado das frases aqueles que são regularmente associados a aspectos gramaticais podem ser mais bem identificados e estudados uma vez que os aspectos gramaticais sintáticos pertinentes sejam elucidamos Parece claro então que existem correspondências inegáveis ainda que apenas imperfeitas entre características formais e semânticas da linguagem O fato de que as correspondências são inexatas sugere que o significado será relativamente inútil para servir de base para a descrição gramatical intuições e generalizações importantes podem ser perdidas se pistas semânticas forem seguidas perto demais O fato de que as correspondências existem contudo não pode ser ignorado Uma vez determinada a estrutura sintática da língua podemos estudar a maneira como é posta em uso no funcionamento real da língua Uma investigação da função semântica da estrutura de níveis gramaticais poderia configurar em um passo razoável em direção a uma teoria das interconexões entre sintaxe e semântica 2015 148149 Ou seja a prioridade de investigação é dos aspectos formais das expressões linguísticas Eis aí uma das origens nesse caso metodológica do que veio a ser conhecido como a centralidade da sintaxe ou o sintaticocentrismo de Chomsky Retornando ao papel das sentenças nucleares na descrição de aspectos do significado de uma frase percebese que há em Estruturas um claro prenúncio daquilo que viria a se chamar de hipótese de Katz e Postal sugerida em Katz e Postal 1964 a hipótese de que haveria um nível de representação sintático que codificaria todas as informações gramaticais necessárias à interpretação semântica da frase Chomsky não chega a formular explicitamente em Estruturas a distinção entre estrutura profunda e estrutura de superfície como dissemos a hipótese de Katz e Postal é adotada em Aspectos da teoria da sintaxe Chomsky 1965 quando surge o chamado modelo padrão da Gramática Gerativa mas como havíamos apontado já podemos perceber que as bases para os dois níveis já estava formada o processo de compreender uma sentença pode ser explicado em parte utilizandose a noção de nível linguístico Em particular para compreender uma sentença é necessário conhecer as sentenças nucleares das quais ela se originou mais precisamente as sequências terminais subjacentes a essas sentenças nucleares e a estrutura sintagmática de cada uma delas assim como a história transformacional do desenvolvimento da sentença a partir das sentenças nucleares O problema geral de se analisar o processo de compreender uma sentença é então reduzido de certo modo ao problema de se explicar como as sentenças nucleares são compreendidas sendo essas consideradas os elementos de conteúdo básicos a partir dos quais as sentenças comuns da vida real mais complexas são formadas por meio de um desenvolvimento transformacional 2015 1356 O quanto a proposta contida em Estruturas teve sucesso pode ser julgado pelo desenvolvimento posterior da tese de que é possível compreender melhor aspectos do significado à medida que se consegue correlacionálos com níveis de representação formais é essa abordagem que está por trás do surgimento da estrutura profunda em Chomsky 1965 e que está por trás da compreensão de que certos aspectos de significado não poderiam ser expressos pela estrutura profunda cf Jackendoff 1972 e que certos aspectos que não cabem na estrutura profunda podem ser lidos diretamente da estrutura de superfície cf Jackendoff 1972 Reinhart 1976 e que outros aspectos exigiriam um novo nível de representação sintático a forma lógica cf May 1977 1985 A contribuição de Estruturas para a Semântica foi fundamental Em Estruturas em particular já encontramos a preocupação em aproximar a Linguística às ciências exatas E o rigor metodológico de investigação científica aplicado à linguagem E a distinção entre níveis linguísticos E a importância do estudo da estrutura gramatical da frase em detrimento do estudo da sequência linear em que os itens lexicais estão dispostos E a preocupação com sentenças nucleares com a história derivacional das sentenças e com a gramática mais simples E o entendimento de que a gramática das línguas segue regras gerativas de base universal e uniforme E o insight de que a noção de nível de representação abre uma porta para a compreensão de vários aspectos do significado É por isso que Estruturas sintáticas é de fato uma das obras fundamentais da bola de neve que deu origem à revolução cognitiva nos estudos da linguagem na metade do século passado Disciplina Linguística III Prof Dr Almir Almeida de Oliveira Nome FICHA DE LEITURA IX 1 O que é julgamento linguístico e como ele serve às investigações em gramática gerativa 2 Explique o conceito teórico por trás da sentença ideias verdes incolores dormem furiosamente 3 Em que consistem as chamadas Cadeias de Markov e por que são limitadas para explicarem a língua natural 4 Por que a linguística gerativa também é chamada de linguística transformacional 5 O que significa dizer que a língua é uma estrutura 6 Por que Chomsky critica a ideia uma preconização dos estudos fonéticos ou morfológicos sobre os sintáticos 7 Quais as principais fragilidades do estruturalismo gerativista em explicar a significação linguística E quais as principais soluções da teoria para estes problemas FICHA DE LEITURA VII Respostas 1 A criança para ter aquisição da linguagem precisa de estímulos ou seja precisa de ambiente rico em linguagem que se durante a primeira infância a criança não ter acesso ao input necessário para o seu desenvolvimento irá comprometer a aquisição da linguagem logo o input pobre é aquele que não desenvolve estímulos suficiente para a criança 2 De acordo com Chomsky o verdadeiro objeto de estudo da teoria gramatical deve ser a línguaI uma vez que ela é considerada a língua da mente dos falantes em qualquer idioma logo por ser internalizada têla como objeto é fundamental para entendermos nossa competência linguística 3 O Input é responsável pelo desenvolvimento da linguagem que é produzido através dos movimentos sociais ou seja a relação entre o Input e a realidade externa se dá pelas experiências vivenciadas por cada falantes que são essenciais para evoluir no processo de aquisição de uma língua Pois se não houver acesso a esse Input nas suas relações externas pode comprometer o desenvolvimento da língua 4 Não falamos todos a mesma língua apesar da Gramática Universal proposta por Chomsky que apesar das semelhanças entre as línguas pelas propriedades como os verbos essa gramática não universaliza as línguas por diversos fatores como os parâmetros que são responsáveis pelas variações nas línguas Assim como fatores socioculturais e geográficos por exemplo que diversificam as línguas 5 Pelo fato de que todas as línguas seguem seus princípios que são as regras universais ela também pode ter variações de acordo com seus parâmetros que facilitam a construir uma estrutura gramatical que representam o lugar da variação das línguas dessa maneira essa teoria defende que a predisposição inata e os princípios subjacentes compartilhados nas línguas faz com que a aquisição da linguagem seja desenvolvida 6 Na visão maturacionista defende que os princípios e parâmetros não estão disponíveis quando a criança nasce e esta dependerá dos fatores biológicos e maturacionais por isso a aquisição da linguagem não é instantânea logo acontece aos poucos Na visão Continuísta defende que o conhecimento linguístico está disponível desde o nascimento que dependerá assim como de fatores biológicos também dependerá do cognitivo social e linguístico É um precessão gradual e não instantâneo FICHA DE LEITURA IX Respostas 1 O julgamento linguístico é um método para avaliar o nível de aceitabilidade e gramaticalidade das sentenças linguísticas através de experimentos que poderá fazer o julgamento e avaliar a gramaticalidade dessas sentenças tornandoo uma ferramenta essencial para a gramática gerativa 2 Para Chomsky a noção de gramaticalidade não pode ser confundida com as noções de significados ou seja que uma boa formação sintática não garante que o enunciado terá sentido assim como pode ser não gramatical e ser compreendida Dessa forma essa frase que contém termos distintos foi criada para mostrar que a gramaticalidade nem sempre estará relacionado aos seu significado 3 Também chamadas de autômatos finitos as cadeias de Markov têm um papel fundamental nas regras sintagmáticas e que são capazes apenas de caracterizar sequências em que um elemento depende do seu precedente por isso faz essa cadeia ser limitada já que não conseguem capturar foda complexidade da língua natural 4 Procurando resolver as limitações Chomsky propõe as regras transformacionais que através dessa teoria realiza uma alteração na estrutura sentencial movimentando reorganizando e substituindo com um intuito de ir além dos fenômenos já existentes essas transformações são construídas dentro da abordagem gerativa 5 Significa dizer que qualquer língua natural tem sua organização que baseadas em regras que formam uma comunicação significativa entre os falantes Logo essa estrutura da língua é o conjunto de propriedades formais das gramaticas o facilita para que os falantes produzam variações 6 O autor discorda da precedência dos estudos de morfologia e fonologia sobre as investigações em sintaxe uma vez que Chomsky defende que passa de uma analogia defeituosa já que a sintaxe é um aspecto central para ele 7 Apesar das contribuições ainda há uma falha com a preocupação na relação entre conhecimento gramatical e cognição humana assim como outras questões como desconsiderar o contexto e a realidade psicológica das regras já que se preocupa com a estrutura sintáticas das frases Mas que há uma preocupação em aproximar a Linguística às ciências exatas surgiram outras abordagens que se atentam a esses fatores tais como o a pragmática
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
13
Aquisição da Linguagem: Reflexões sobre Língua I e Língua E
Linguística
UNEAL
1
Ficha de Leitura VIII - Linguística III
Linguística
UNEAL
28
Gerativismo Linguístico: Teorias Linguísticas e Pesquisa
Linguística
UNEAL
17
A Comunidade de Fala na Sociolinguística Laboviana: Reflexões sobre Homogeneidade e Heterogeneidade
Linguística
UNEAL
172
Sociolinguística: Estudo e Aplicações - Universidade Federal de Santa Catarina
Linguística
UNEAL
22
Conceitos de Identidade e Métodos para seu Estudo na Sociolinguística
Linguística
UNEAL
1
Analise Sociorretorica e Estrategias de Introducao Artigo Cientifico - Resumo
Linguística
UNEAL
2
Comunidade de Fala e Identidade na Sociolinguística Variacionista - Exercício
Linguística
UNEAL
194
Resumo Marxismo e Filosofia da Linguagem Bakhtin - Análise e Reflexões
Linguística
UNEAL
2
Linguistica I - Exercicios Resolvidos sobre Variacao Linguistica e Norma Padrao
Linguística
UNEAL
Preview text
Estruturas sintáticas e a reinvenção da teoria linguística Gabriel de Ávila Othero Sergio de Moura Menuzzi Na edição de 2002 de Estruturas sintáticas David Lightfoot inicia a apresentação do livro de Chomsky com as seguintes palavras O livro Estruturas sintáticas de Noam Chomsky foi a bola de neve que começou a revolução cognitiva moderna Para entendermos um pouco sobre a importância que essa bola de neve teve na revolução cognitiva que se seguiu à sua publicação na segunda metade do século XX temos de entender um pouco sobre o contexto da época em que o Estruturas o primeiro livro de Noam Chomsky foi publicado Neste capítulo falaremos um pouco sobre seu contexto de publicação e sobre a relação entre algumas das ideias centrais exploradas por Chomsky em Estruturas e os primeiros desenvolvimentos da Teoria Gerativa Para isso vamos apresentar resumidamente alguns dos principais pontos do Estruturas tendo como base obviamente nosso olhar contemporâneo sobre essa obra clássica O CONTEXTO HISTÓRICO Como dissemos Estruturas sintáticas foi o primeiro livro publicado por Noam Chomsky então com 28 anos Ainda assim este não foi seu primeiro trabalho influente em Linguística Estruturas foi publicado em 1957 dois anos depois de Chomsky ter finalizado um trabalho monográfico de fôlego The Logical Structure of Linguistic Theory A estrutura lógica da teoria linguística em tradução livre publicado apenas 20 anos depois em 1975 e ainda inédito em português Nesse trabalho Chomsky desenvolve em detalhes muitas das ideias apenas esboçadas em Estruturas Como dissemos em outro lugar1 é nessas duas obras Syntactic Structures e The Logical Structure of Linguistic Theory que Chomsky lança as bases do que se tornou o programa de investigação linguística que mais influenciou a Linguística no século XX o programa gerativista Além dessas duas obras Chomsky já havia feito um trabalho de conclusão de curso que também antecipava elementos da Linguística Gerativa seu Morphophonemics of Modern Hebrew A morfofonêmica do hebraico moderno em tradução livre 28 Chomsky Um fato curioso acerca do Estruturas é que ele não se originou como um trabalho monográfico de pesquisa propriamente dito mas a partir de anotações das aulas de Linguística que Chomsky ministrava à época no MIT Como Harris 1993 observa não havia ainda um Departamento de Linguística na universidade o que permitiu a Chomsky total liberdade para ensinar aquilo que ele próprio entendia como Linguística Sua pesquisa no Laboratório de Pesquisas Eletrônicas do MIT não era restringida o que permitia que Chomsky continuasse pesquisando sua modelagem abstrata da linguagem Mas seu compromisso era apenas parcial e ele tinha de dar aulas para completar sua renda de Alemão de Francês de Filosofia de Lógica E de Linguística E como não tinha ninguém lá para dizer como as aulas de Linguística deveriam ser ministradas já que o MIT ainda não tinha um departamento de Linguística ele ensinava a sua Linguística e as anotações das aulas para esse curso revisadas e publicadas como Estruturas sintáticas constituem uma das obrasprimas da Linguística Harris 1993 39 O livro teve imediata repercussão muito graças a uma resenha influente de Robert B Lees publicada na revista Language ainda em 1957 essa resenha para Lightfoot 2002 VI é um dos três textos centrais que marcaram o início da Linguística Gerativa juntamente com Estruturas sintáticas e The Logical Structure of Linguistic Theory Segundo Lees 1957 3778 Estruturas é uma das primeiras tentativas sérias de um linguista para construir uma teoria abrangente de linguagem que possa ser entendida no mesmo sentido em que uma teoria química ou biológica é comumente entendida em Química ou Biologia Não se trata de uma mera reorganização de dados em um formato de catálogo bibliotecário nem outra filosofia especulativa sobre a natureza do Homem e da Linguagem é antes uma explicação rigorosa de nossas intuições sobre a linguagem em termos de um sistema axiomático explícito com teoremas derivados desse sistema resultados explícitos que podem ser comparados com novos dados e com outras intuições tudo baseado plenamente em uma teoria explícita da estrutura interna das línguas O trabalho de Chomsky era inovador e apresentava uma Linguística muito diferente da Linguística estruturalista de base harrisiana e bloomfieldiana dominante à época Contudo ainda que Estruturas se diferenciasse em grande parte de tudo o que havia sido feito em Linguística até então as influências estruturalistas estavam ali Como afirma o próprio Chomsky em carta Minha introdução formal no campo da Linguística foi em 1947 quando Zellig Harris me deu um esboço de seu Methods in Structural Linguistics para ler Achei fascinante e após algumas discussões estimulantes com Harris resolvi me formar em Linguística na Universidade da Pensilvânia Eu tinha alguns conhecimentos sobre Linguística Histórica e gramática do hebraico medieval com base na obra de meu pai nessas áreas apud Barsky 2004 70 Estruturas sintáticas e a reinvenção da teoria linguística 29 Chomsky tinha um sólido background em Filologia especialmente por influência de seu pai que trabalhava com a gramática e a história do hebraico e em Linguística estruturalista visto que Chomsky foi aluno de Harris e trabalhou com ele de maneira muito próxima Além disso Chomsky precisaria de interlocutores Para que suas ideias chegassem até os linguistas da época seria preciso escrever da maneira1 que um estruturalista pudesse compreender Apesar de o Estruturas estar fortemente condicionado pelo contexto da Linguística estruturalista e de tentar dialogar com ela já apresenta as ideiaschave que servem de base para o desenvolvimento posterior da Linguística Gerativa como reconhece o próprio Chomsky ainda hoje em textos mais recentes cf Chomsky 2014 por exemplo Estruturas foi de fato a bola de neve que deu início à avalanche cognitiva como afirmou Lightfoot O QUE É UMA GRAMÁTICA No breve prefácio do Estruturas já encontramos uma advertência importante que antecipa o que veremos nos capítulos seguintes2 Este estudo trata da estrutura sintática tanto em sentido lato oposto à semântica como em sentido estrito oposto à fonologia e à morfologia Ele faz parte de uma tentativa de construção de uma teoria geral formalizada da estrutura linguística e de exploração dos fundamentos desta teoria 2015 11 Ao contrário do que muitos estruturalistas defendiam Chomsky não acreditava que seria preciso primeiro entender a morfologia e a fonologia para depois levar a cabo uma investigação séria sobre os aspectos sintáticos das línguas naturais Ao contrário para Chomsky a investigação em sintaxe poderia trazer insights para os estudos em morfologia e fonologia das línguas naturais Por isso o Estruturas é como o próprio título já indica um livro que discute as estruturas sintáticas do inglês dando pouca atenção a aspectos fonológicos morfológicos ou semânticos A sintaxe foi como se sabe a área que recebeu desde o início prioridade nos estudos gerativistas de base chomskyana O primeiro capítulo não passa de uma brevíssima introdução É nele que Chomsky define justamente o que entende por sintaxe A sintaxe é o estudo dos princípios e dos processos por meio dos quais as sentenças são construídas em línguas particulares O estudo sintático de uma determinada língua tem como objetivo a construção de uma gramática que pode ser encarada como algum tipo de mecanismo de produção das sentenças da língua sob análise 2015 15 Repare como Chomsky entende que a gramática de uma língua deve ser considerada um tipo de mecanismo de produção de sentenças Vemos aí o quanto sua maneira de entender a Linguística difere da Linguística estruturalista Para os estruturalistas a Linguística teria como tarefa desenvolver métodos de descrição e sistematização dos dados de corpora obtidos em trabalho de campo por exemplo Obviamente os dados de um corpus são finitos além disso podem conter enunciados fragmentados hesitações etc que não seriam considerados bem formados pelos falantes da língua Para Chomsky a tarefa da Linguística não seria a de analisar e organizar as sentenças de um corpus ou de qualquer material linguístico supostamente representativo do que ele veio a chamar posteriormente de línguaE isto é língua externa antes o linguista está atrás de um construto que seja semelhante ao conhecimento que um falante tem de sua língua a línguaI ou interna 3 É em Estruturas sintáticas que Chomsky introduz a ideia de que a gramática de uma língua é concebida como um conjunto de princípios e regras é um mecanismo de produção de sentenças que potencialmente pode gerar todas as sentenças de uma língua e apenas elas Ora não há limites para o número de sentenças possíveis em qualquer língua natural e a gramática elaborada pelo linguista deve ser capaz de dar conta desse fato Além disso qualquer falante nativo de uma dada língua tem em princípio a capacidade de diferenciar sentenças bem formadas de sequências malformadas ou agramaticais naquela língua ainda que essas possam ocorrer e até mesmo ser relativamente frequentes em certos tipos de corpora de fala ou escrita Você mesmo leitor com base em sua própria intuição reconhece que 1 é uma frase bem formada em português ao passo que 2 não é 1 O Pedro sabe por que o João estava chorando 2 Por que o Pedro sabe o João estava chorando Uma gramática deve dar conta de capturar essa intuição Isto é uma teoria linguística também deve ser capaz de lidar com dados negativos as regras e os princípios que compõem a gramática de uma língua devem ser abrangentes o suficiente para gerar todas as sentenças bem formadas de uma língua como 1 mas devem ao mesmo tempo ser restritas o suficiente para não gerar qualquer sequência agramatical como 2 Isso é formulado no capítulo 2 do Estruturas o objetivo fundamental na análise linguística de uma língua L é separar as sequências gramaticais que são as sentenças de L das sequências agramaticais que não são sentenças de L e estudar a estrutura das sequências gramaticais A gramática de L será portanto um mecanismo que gera todas as sequências gramaticais de L e nenhuma das sequências agramaticais Uma maneira de testar a adequação de uma gramática proposta para L é determinar se as sequências que ela gera são realmente gramaticais ou não isto é aceitáveis a um falante nativo etc Poderíamos dar alguns passos na direção de fornecer um critério comportamental para a gramaticalidade de tal forma que este teste possa ser aplicado Para os propósitos da presente discussão contudo podemos assumir como dado o conhecimento intuitivo das sentenças gramaticais do inglês perguntandonos que tipo de gramática será capaz de realizar a tarefa de produzir tais sentenças gramaticais de maneira eficiente e reveladora 2015 17 Surge então um novo método de investigação linguística o julgamento intuitivo e introspectivo sobre a aceitabilidade e a gramaticalidade de uma sequência de palavras Foi esse método que utilizamos quando pedimos a você para julgar os exemplos 1 e 2 Ao longo do empreendimento gerativista e com o desenvolvimento da tecnologia outras maneiras de avaliar o nível de aceitabilidade e gramaticalidade de sentenças tornaramse disponíveis e antigos métodos foram aprimorados cf Maia 2015 mas o julgamento intuitivo ainda é prática comum em trabalhos de cunho gerativo A gramaticalidade de uma sequência é fruto de uma reação concreta e observável do falanteouvinte a um arranjo particular de itens lexicais A aceitabilidade é uma conclusão a que o linguista chega a partir de juízos de aceitabilidade somados a outros aspectos teóricoanalíticometodológicos que o levam a inferir que as regras da gramática são tais que legitimam certos arranjos e não outros num plano mais abstrato que aquele do uso efetivo da língua que é influenciado por fatores extragramaticais como memória atenção expectativa etc Guimarães 2017 32 Ainda sobre a noção de gramaticalidade Chomsky argumenta a noção de gramatical não pode ser confundida com as noções de dotado de sentido ou significativo em qualquer sentido semântico 2015 19 Chomsky estava separando à época a noção de gramatical de qualquer base semântica daí sua já conhecida frase Ideias verdes incolores dormem furiosamente sintaticamente bem formada mas semanticamente anômala Repare que Chomsky traça uma divisão fundamental aqui boa formação sintática não garante que o enunciado seja dotado de sentido Da mesma forma uma sequência de itens lexicais que tenha algum sentido não garante a boa formação sintática de uma sequência Esse passo metodológico importante de Chomsky separa crucialmente sintaxe de semântica qualquer procura por uma definição de gramaticalidade baseada em noções semânticas será fútil 2015 20 voltaremos a falar sobre a semântica em Estruturas mais a frente Nos três capítulos seguintes capítulos 3 4 e 5 Chomsky mostra as inadequações dos recursos de análise postos à disposição do linguista que tinham grande aceitação à época Chomsky argumenta que tais limitações só se tornam claras quando se formalizam tais teorias isto é quando se procura explicitar de modo cabal os elementos e mecanismos que a teoria utiliza para descrever regras linguísticas Especificamente são dois os tipos de mecanismos que Chomsky argumenta serem demasiadamente limitados para sozinhos descreverem a gramática de uma língua natural as chamadas cadeias de Markov também chamadas de autômatos finitos mecanismos que caracterizariam os modelos gramaticais baseados na mera ordem linear de palavras e as regras sintagmáticas que caracterizariam os modelos limitados à descrição da estrutura de constituintes Segundo Chomsky tanto essa argumentação quanto a distinção entre aceitabilidade e gramaticalidade foram motivadas pelo contexto em que desenvolvia seu trabalho Meu trabalho Estruturas sintáticas Chomsky 1957 começa com observações sobre a adequação em princípio dos autômatos finitos portanto das fontes markovianas mas apenas porque esse trabalho era baseado em notas dos cursos que eu ministrava no MIT onde a adequação dos autômatos finitos era amplamente aceita Por razões parecidas o Estruturas sintáticas começa explorando a tarefa de distinguir sentenças gramaticais de agramaticais tendo por base a analogia de boaformação que vemos em sistemas formais assumida à época como um modelo apropriado para a linguagem Chomsky 2018 2007 125 Em Estruturas sintáticas Chomsky menciona como exemplo de modelo estruturalista markoviano aquele proposto por Hockett em seu Manual of Phonology 1955 que se baseia na teoria da informação de Shannon cf Shannon e Weaver 1949 Chomsky argumenta que a limitação mais grave das cadeias de Markov é a de que só são capazes de caracterizar sequências em que um elemento depende estritamente do elemento imediatamente precedente Segundo Chomsky isso é insuficiente para dar conta de fenômenos triviais nas línguas como as orações ligadas com conectores descontínuos do tipo Se então ou Ou ou como vemos nos exemplos a seguir 3 Se o português tem suas origens no latim então é uma língua românica 4 Ou a hipótese biolinguística está correta ou está equivocada Obviamente a introdução do segundo elemento de um conector descontínuo depende do primeiro mas os elementos não são adjacentes na sequência de palavras Quanto às regras sintagmáticas Chomsky demonstra que são capazes não apenas de descrever padrões de ordem palavra por palavra sendo nesse sentido equivalentes às cadeias de Markov mas também de caracterizar um outro aspecto fundamental das línguas humanas o fato de que suas regras são dependentes de estrutura isto é de que operam apenas sobre constituintes sequências específicas de palavras identificáveis por meio de sua categoria sintática Por isso a teoria proposta por Estruturas assegura um papel central para as regras sintagmáticas na descrição gramatical Ainda assim Chomsky argumenta essas regras não são suficientes pois posiciona os afixos nas formas verbais na superfície da frase o efeito da regra é deslocar um afixo que é inserido como parte de um constituinte auxiliar para o verbo que segue imediatamente esse auxiliar por exemplo o sufixo ndo é inserido como parte do auxiliar estar ndo de aspecto progressivo resultando V ndo depois da operação 2015 634 Esse procedimento derivacional envolvendo transformações opcionais e obrigatórias é importante por várias razões entre as quais destacamos três i a partir daqui o modelo de teoria linguística chomskyano passou a ser amplamente conhecido como Gramática Transformacional ou Gramática GerativoTransformacional ii apesar de não estarem explícitas em Estruturas sintáticas as noções de estrutura profunda e estrutura de superfície já subjazem ao raciocínio esboçado por Chomsky essas noções foram desenvolvidas alguns anos mais tarde especialmente a partir da publicação de Aspectos da teoria da sintaxe de 1965 veja o capítulo Teoria Padrão e Teoria Padrão Estendida neste volume e iii fica explicitado o modelo de gramática da primeira fase da Teoria Gerativa com a seguinte arquitetura 5 ESTRUTURA SINTAGMÁTICA regras de reescrita sintagmáticas X1 Y1 Z1 W1 Xn Yn Zn Wn SENTENÇA NUCLEAR ESTRUTURA TRANSFORMACIONAL regras transformacionais X1 Y1 Z1 A1 B1 C1 Xn Yn Zn An Bn Cn SENTENÇA DERIVADA ESTRUTURA MORFOFONÊMICA regras de reescrita morfofonêmicas MORF1 MORF2 WORD1 MORFp MORFq WORDn Fonte adaptado de Chomsky 2015 1957 66 não capturam outros aspectos importantes do conhecimento gramatical dos falantes de uma língua em particular um tipo de intuição fundamental a de que há uma relação gramatical entre certos tipos de frases como por exemplo a existente entre frases declarativas interrogativas e negativas ou entre frases na voz ativa e na voz passiva Além disso há uma outra motivação há regras que dependem da história derivacional de uma categoria em particular sua função sintática e só operaram sobre marcadores sintagmáticos completos Para resolver essas limitações Chomsky propõe um novo tipo de regra as regras transformacionais desenvolveremos um terceiro modelo transformacional para a estrutura linguística que é mais poderoso do que o modelo de constituintes imediatos em certos aspectos importantes e que dá conta de tais relações de maneira natural Quando formulamos a teoria das transformações de maneira cuidadosa e a aplicamos livremente ao inglês vemos que ela lança uma luz sobre uma grande variedade de fenômenos indo além daqueles fenômenos para os quais ela foi especificamente concebida 2015 12 Uma transformação é uma regra que toma uma estrutura sentencial incluindo uma sentença nuclear a representação básica de uma sentença gerada pelas regras sintagmáticas e a altera em aspectos particulares como por exemplo a função gramatical de um termo no Apêndice II de Estruturas Chomsky lista as regras transformacionais que desenvolve para dar conta de várias construções do inglês Veja por exemplo a regra da transformação interrogativa Tint que forma sentenças interrogativas simples em inglês essa regra toma sequências nucleares correspondentes a sentenças declarativas tendo o efeito de intercambiar o primeiro e o segundo segmentos dessas sequências 2015 90 Pegue uma sequência em inglês como They can arrive eles podem chegar e a transformação interrogativa para o inglês lembrese irá produzir a sequência Can they arrive lit podem eles chegar uma estrutura interrogativa em inglês Uma transformação menos óbvia exemplo do tipo de inovação permitido pela nova concepção de gramática é a regra que ficou conhecida na literatura como o pulo do afixo uma transformação obrigatória4 que tinha a seguinte formulação 2015 165 Análise estrutural X Af v Y em que Af é um afixo verbal v é um verbo modal ou principal ou ainda have ou be Mudança estrutural X1 X2 X3 X4 X1 X3 X2 X4 em que marca os limites das palavras superficiais que passarão por regras morfofonêmicas Ou seja essa transformação permite gerar de modo correto sequências de auxiliares como vai poder ler pode ter lido tinha estado lendo etc pois ela Esse modelo foi significativamente revisto ao longo dos anos veja os capítulos Teoria Padrão e Teoria Padrão Estendida Teoria da Regência e Ligação e a proposta de Princípios e Parâmetros e O Programa Minimalista também neste volume mas a ideia básica proposta em Estruturas com um nível de representação subjacente abstrato e outro nível de output com características próximas às da sentença pronunciada ainda está por trás de vários modelos correntes de teoria gramatical contemporâneos A própria noção de transformação também sofreu modificações substanciais mas a intuição de que um elemento pode ser movido de uma posição na qual tem uma relação linguística para outra posição onde adquire outra relação linguística transformando a estrutura inicial é um fato que precisa ser reconhecido e incorporado de algum modo em qualquer teoria da estrutura sintática Além disso o componente transformacional tira o peso das regras sintagmáticas e captura generalizações gramaticais importantes tais como as que apontamos anteriormente É importante observar que a gramática é significativamente simplificada quando adicionamos um nível transformacional uma vez que agora é necessário fornecer diretamente a estrutura sintagmática apenas para as sentenças nucleares as sequências terminais da gramática são apenas aquelas que subjazem às sentenças nucleares Escolhemos as sentenças nucleares de tal forma que as sequências terminais subjacentes ao núcleo são facilmente derivadas enquanto todas as outras sentenças podem ser derivadas dessas sequências terminais através de transformações que podem ser formuladas de modo simples 2015 6895 Isso significa que não precisamos mais nos preocupar com regras sintagmáticas que gerem todas e apenas as sequências gramaticais da língua Pelo contrário as regras sintagmáticas irão formar apenas as sentenças nucleares na verdade as sequências que subjazem às sentenças nucleares 2015 68 Essas sentenças nucleares passarão por transformações obrigatórias e opcionais como vimos para que resultem em sequências gramaticais atestadas na língua Disso temos que todas as sentenças da língua ou pertencerão ao núcleo da língua ou serão derivadas por meio da aplicação sucessiva de uma ou mais transformações das sequências que subjazem a uma ou mais sentenças nucleares 2015 65 EXPLORANDO QUESTÕES FUNDACIONAIS Seguindo o Estruturas encontramos no capítulo 6 uma espécie de parênteses preparatórios em que Chomsky procura aprofundar um pouco a metateoria linguística discutindo um dos dois critérios que já havia introduzido no capítulo 2 para identificar gramáticas adequadas Além de satisfazer a certas condições externas de adequação por exemplo dar conta dos juízos de aceitabilidade dos falantes da língua uma gramática deve também satisfazer segundo Chomsky a uma condição de generalidade isto é deve ser construída a partir de uma teoria da estrutura linguística na qual noções gramaticais como fonema ou sintagma sejam definidas de modo geral isto é independentemente das propriedades específicas dessa ou daquela língua particular Esse critério permite a Chomsky levantar uma questão crucial 2015 73 qual a relação entre a teoria geral e as gramáticas particulares que são dela derivadas Segundo ele do modo como a maior parte das propostas da época formulava essa relação o objetivo de uma teoria da linguagem deveria ser o de fornecer um procedimento de descoberta a teoria deveria fornecer um método prático e mecânico que tivesse como input um corpus significativo da língua e como output a gramática correta da língua Entre os trabalhos nos quais Chomsky identifica essa posição estão obras de Harris Hockett Bernard Bloch Rulon Wells e dele próprio Noam Chomsky Ver a nota 3 p 75 do Estruturas sintáticas Para ele essa exigência é demasiadamente forte e dá origem a limitações excessivas à teoria linguística como a de que os níveis superiores de estrutura devem ser literalmente construídos a partir de elementos dos níveis inferiores ou a de que não deve haver mistura de níveis Ao tentar desenvolver procedimentos de descoberta de gramáticas somos naturalmente levados a considerar morfemas como classes de sequências de fonemas isto é como tendo conteúdo fonêmico real num sentido quase literal Isso nos leva a problemas em casos bem conhecidos como o da forma verbal took tuk pegou em inglês em que é difícil associar sem artificialidade qualquer parte dessa palavra com o morfema de tempo passado que aparece como t em walked wokt caminhou como d em framed freymd modelou etc 2015 82 A proposta de Chomsky é mais modesta mas é a que veio a prevalecer a partir de então o objetivo de uma teoria linguística deve ser o de fornecer um procedimento de avaliação dadas duas gramáticas e um corpus significativo da língua a teoria deve fornecer critérios para definir qual das duas gramáticas é mais adequada em relação àquele corpus Em outras palavras o critério explorado por Chomsky em Estruturas é o da simplicidade que segundo ele abarca o conjunto de propriedades formais das gramáticas 2015 76 por exemplo qual das gramáticas descreve o conjunto de fatos linguísticos por meio de um menor número de regras ou por meio de regras mais simples que utilizam menos símbolos etc Eis uma das razões pelas quais Chomsky enfatiza tanto a importância de formalizar as análises gramaticais Nessa concepção não há restrições meto dológicas que excluam certas hipóteses a priori Podese chegar a uma gramática pela intuição por meio de suposições de sugestões metodológicas parciais por indução a partir da experiência passada etc 2015 79 Chomsky finaliza o capítulo com uma alfinetada especialmente dirigida aos estruturalistas que baseados no pressuposto de que a teoria linguística deveria fornecer procedimentos de descoberta defendiam a precedência dos estudos de morfologia e fonologia sobre as investigações em sintaxe acredito que seja completamente insustentável a ideia de que a teoria sintática deva esperar a solução de problemas da morfologia e da fonologia independentemente de que se tenha ou não a preocupação com o problema de procedimentos de descoberta Acredito que tal ideia tenha sido alimentada por uma analogia defeituosa entre a ordem do desenvolvimento da teoria linguística e a ordem presumida das operações na descoberta da estrutura gramatical 2015 85 O autor retorna às transformações do inglês no capítulo 7 com o objetivo específico de mostrar como o desenvolvimento deste conjunto de regras permite simplificar a gramática como um todo em particular o componente sintagmático Nosso objetivo é limitar o núcleo de tal forma que as sequências terminais subjacentes às sentenças nucleares sejam derivadas por um sistema simples de estrutura sintagmática e possam fornecer a base a partir da qual todas as sentenças possam ser derivadas por transformações simples transformações obrigatórias no caso do núcleo e transformações obrigatórias e opcionais no caso de sentenças não nucleares 2015 87 Chomsky segue o capítulo 7 discutindo uma série impressionante de transformações do inglês a que forma orações negativas pela introdução de not a que forma orações interrogativas pela inversão entre verbo auxiliar e sujeito a que introduz o auxiliar do em certas orações negativas e interrogativas a que forma orações interrogativas com pronomes como who e what formulações alternativas da transformação passiva etc Não só a formalização a formulação explícita dessas e de outras transformações é discutida em detalhe como sua interação entre si e com as regras sintagmáticas e morfofonêmicas Por exemplo Chomsky explora em profundidade as interações entre as regras sintagmáticas que introduzem verbos auxiliares em inglês a transformação de pulo do afixo as transformações de negação e de interrogação de inserção de do e ainda as regras morfofonêmicas A discussão sustenta de modo persuasivo não apenas aspectos específicos das análises propostas como a ideia de que a inserção de do deve ser realizada por uma transformação e não por uma regra sintagmática sustenta principalmente a arquitetura da gramática proposta em 5 O capítulo 7 ilustra exemplarmente o espírito do modelo transformacional nesse primeiro momento da Linguística Gerativa ao mesmo tempo em que enfatiza certas ideias e um estilo de argumentação que viriam a ser característicos da abordagem generativa ainda que as transformações específicas ali propostas tenham sido revistas ou mesmo abandonadas ao longo dos anos Daí a atualidade do Estruturas que Carlos Mioto bem sintetiza ao comentar a tradução brasileira publicada em 2015 o comentário aparece no texto de orelha da tradução Acho que o propósito desta tradução é sacudir a poeira porventura acumulada sobre a obra clássica de Chomsky que emblematicamente registra os primeiros pontos da pauta do empreendimento gerativista O acúmulo de poeira parece ser resultado do fato de a teoria gerativa estar em constante remodelação Assim é que de Estruturas sintáticas foram abandonadas ideias como as que derivam das sentenças negativas e interrogativas de uma mesma sentença nuclear mediante transformações Tnec e Tw respectivamente mas não ideias que coincidem com a busca da gramática melhor mais simples e mais aparelhada para descrever e explicar fenômenos afeitos às línguas naturais que subjaz a todo o empreendimento gerativista A importância de Estruturas sintáticas não é apenas histórica O capítulo 8 de Estruturas é um capítulo curto em que Chomsky procura reforçar a argumentação a favor do nível de representação estrutura transformacional mas de um novo ângulo buscando aplicar a mesma lógica encontrada em argumentos que estabelecem a necessidade de níveis como a fonologia a morfologia e a estrutura de constituintes na sintaxe Chomsky se concentra na ambiguidade de interpretação de certas sequências terminais indicando a não correspondência entre suas análises em diferentes níveis É o que acontece com as sequências a name um nome e an aim um objetivo que só podem ser distinguidas como segmentações morfológicas alternativas da mesma sequência fonêmica əneɪm essas duas sequências não podem ser distinguidas sintaticamente já que ambas possuem a estrutura sintagmática SN Det N Chomsky chama esse tipo de problema de homonímia construcional e nele inclui os casos de ambiguidade estrutural isto é em que uma única sequência morfológica de palavras pode ter mais de uma análise sintagmática por exemplo old men and women homens e mulheres velhos que pode ser analisada como Adj N and N ou como Adj N and N em inglês Segundo Chomsky as transformações podem explicar casos de ambiguidade de interpretação que não são analisáveis somente por meio da estrutura sintagmática Por exemplo uma nominalização como the shooting of the hunters os tiros dos nos caçadores é ambígua em inglês os caçadores podem ser aqueles que atiram ou aqueles que são atingidos por tiros mas the growling of the lion o rugido do leão e the raising of the flowers o cultivo de flores não são ambíguas o leão só pode ser quem ruge e as flores só podem ser aquilo que é cultivado Chomsky explica esses fatos postulando uma transformação que converte estruturas sintagmáticas nucleares do tipo SN1 V SN2 em uma única e indistinguível estrutura sintagmática derivada Det N of SN em que SN pode ser SN1 ou SN2 Isso porque a nominalização the shooting of the hunters pode ser derivada de duas sentenças nucleares diferentes The hunters shot someone Os caçadores atiraram em alguém ou Someone shot the hunters Alguém atirou nos caçadores As outras duas nominalizações só podem ser derivadas de uma única sentença nuclear The lion roared O leão rugiu e Someone raised the flowers Alguém cultivou as flores respectivamente veja p 130131 de Estruturas para discussão detalhada Assim o capítulo 8 não apenas oferece novos argumentos a favor da necessidade do nível de representação estrutura transformacional mas acaba levando Chomsky a uma concepção inovadora do que é compreender uma sentença O que estamos sugerindo é que aquilo que chamamos de compreender uma sentença deve ser explicado em parte em termos da noção de nível de representação Para compreender uma sentença então é necessário primeiro reconstruir sua análise em cada nível linguístico incluindo níveis superiores como a estrutura sintagmática e a estrutura transformacional 2015 128 Essa concepção é inovadora tanto porque não havia sido formulada nesses termos antes como também porque abre a porta para uma nova abordagem das questões relativas à significação das frases abordagem que emerge do capítulo 9 onde Chomsky discute a relação entre sintaxe e semântica O ponto central do capítulo é defender a ideia de que é possível construir os diferentes níveis de representação gramatical sem apelo à noção de significado Chomsky argumenta que além de obscuras várias das noções semânticas utilizadas até então na descrição gramatical eram ou desnecessárias por exemplo a noção de significado na definição de fonema ou insuficientes por exemplo a noção de agente na definição de sujeito Em particular no que diz respeito às transformações Chomsky reconhece que muitos dos argumentos a favor delas recorrem a termos como compreender uma sentença ambiguidade de interpretação ou mesma interpretação em algum nível mas enfatiza que são todos argumentos que se baseiam em intuições sobre formas linguísticas 2015 137 intuições que podem ser analisadas por meio de relações e operações de natureza formal Segundo ele noções como referência significação e sinonímia não desempenharam qualquer papel na discussão 2015 150 De fato na maior parte das análises transformacionais do Estruturas em que alguma noção de significado poderia ser pertinente o que a substitui é o apelo às sentenças nucleares Por exemplo a sinonímia parcial entre passiva e ativa é expressa pela análise segundo a qual as sentenças passivas são derivadas de sentenças nucleares cuja estrutura básica é a mesma das sentenças ativas correspondentes Além disso a sinonímia entre sentenças passivas e ativas é parcial porque limitada a pares como Maria demitiu João João foi demitido por Maria em que os SNs são não quantificados Mas como Chomsky percebeu 2015 148 quando os SNs são quantificados como em Todos nesta sala falam ao menos duas línguas Ao menos duas línguas são faladas por todos nesta sala já não há equivalência necessária na primeira a interpretação preferencial é que cada pessoa na sala fala duas línguas as línguas não precisam ser as mesmas já na segunda a leitura preferencial é que há duas línguas específicas que todos na sala falam as duas línguas são as mesmas Fatos como esse levaram Jackendoff 1972 a sustentar que algumas propriedades semânticas das frases como o escopo de SNs quantificados devem ser lidas diretamente da estrutura de superfície das frases e não da estrutura profunda Obviamente seja lá o que há de comum à interpretação dos dois tipos de sentenças passiva e ativa esse elemento comum será expresso por representado no nível de suas sentenças nucleares O crucial é que mesmo representando aspectos incertos de alguma noção também incerta de significado as sentenças nucleares são parte da sintaxe da língua são as representações gramaticais geradas pelas regras sintagmáticas Portanto se codificam aspectos do significado o fazem formalmente isto é em termos das formas da língua especificamente das combinações de morfemas e palavras em sintagmas Quais aspectos do significado são codificados pelas sentenças nucleares Chomsky não oferece resposta explícita em Estruturas As noções que permitem algum progresso nesse sentido só começam a ser estudadas de modo mais sistemático a partir da década de 1960 são noções como a de papel temático que permitem identificar e caracterizar um dependente semântico de verbos e outras palavras que exigem complementos argumentos do predicado para usar os termos hoje consagrados em Semântica Tais noções começaram a ser estudadas apenas na década de 1960 Katz e Postal 1964 e Chomsky 1965 começaram a utilizar de modo sistemático as chamadas restrições selecionais certos verbos exigem complementos animados ou inanimados concretos ou abstratos etc Logo a seguir Gruber 1965 dá início ao estudo sistemático dos papéis temáticos noções como agente paciente recipiente destinatário causador etc que buscam caracterizar o modo de participação de um argumento na situação descrita por um predicado Os papéis temáticos especialmente já haviam sido utilizados na descrição tradicional mas não haviam recebido atenção sistemática a partir de Gruber e de Jackendoff 1969 1972 os papéis temáticos se tornaram tópicos centrais de pesquisa na interface SintaxeSemântica para uma síntese recente das noções relevantes com referências atualizadas remetemos o leitor a Cançado e Amaral 2016 Retrospectivamente podese dizer que as sentenças nucleares provavelmente buscavam capturar o fato de que os papéis temáticos de um predicado permanecem basicamente os mesmos ainda que esse predicado venha a sofrer modificações por operações lexicaisgramaticais passivização nominalizações e que essas modificações afetem a manifestação sintática de alguns dos papéis temáticos Ainda que Chomsky não tenha conseguido em Estruturas ser mais específico sobre que aspecto do significado estava sendo codificado pelas sentenças nucleares ele vislumbrou no recurso uma abordagem geral para certos elementos de significado das frases aqueles que são regularmente associados a aspectos gramaticais podem ser mais bem identificados e estudados uma vez que os aspectos gramaticais sintáticos pertinentes sejam elucidamos Parece claro então que existem correspondências inegáveis ainda que apenas imperfeitas entre características formais e semânticas da linguagem O fato de que as correspondências são inexatas sugere que o significado será relativamente inútil para servir de base para a descrição gramatical intuições e generalizações importantes podem ser perdidas se pistas semânticas forem seguidas perto demais O fato de que as correspondências existem contudo não pode ser ignorado Uma vez determinada a estrutura sintática da língua podemos estudar a maneira como é posta em uso no funcionamento real da língua Uma investigação da função semântica da estrutura de níveis gramaticais poderia configurar em um passo razoável em direção a uma teoria das interconexões entre sintaxe e semântica 2015 148149 Ou seja a prioridade de investigação é dos aspectos formais das expressões linguísticas Eis aí uma das origens nesse caso metodológica do que veio a ser conhecido como a centralidade da sintaxe ou o sintaticocentrismo de Chomsky Retornando ao papel das sentenças nucleares na descrição de aspectos do significado de uma frase percebese que há em Estruturas um claro prenúncio daquilo que viria a se chamar de hipótese de Katz e Postal sugerida em Katz e Postal 1964 a hipótese de que haveria um nível de representação sintático que codificaria todas as informações gramaticais necessárias à interpretação semântica da frase Chomsky não chega a formular explicitamente em Estruturas a distinção entre estrutura profunda e estrutura de superfície como dissemos a hipótese de Katz e Postal é adotada em Aspectos da teoria da sintaxe Chomsky 1965 quando surge o chamado modelo padrão da Gramática Gerativa mas como havíamos apontado já podemos perceber que as bases para os dois níveis já estava formada o processo de compreender uma sentença pode ser explicado em parte utilizandose a noção de nível linguístico Em particular para compreender uma sentença é necessário conhecer as sentenças nucleares das quais ela se originou mais precisamente as sequências terminais subjacentes a essas sentenças nucleares e a estrutura sintagmática de cada uma delas assim como a história transformacional do desenvolvimento da sentença a partir das sentenças nucleares O problema geral de se analisar o processo de compreender uma sentença é então reduzido de certo modo ao problema de se explicar como as sentenças nucleares são compreendidas sendo essas consideradas os elementos de conteúdo básicos a partir dos quais as sentenças comuns da vida real mais complexas são formadas por meio de um desenvolvimento transformacional 2015 1356 O quanto a proposta contida em Estruturas teve sucesso pode ser julgado pelo desenvolvimento posterior da tese de que é possível compreender melhor aspectos do significado à medida que se consegue correlacionálos com níveis de representação formais é essa abordagem que está por trás do surgimento da estrutura profunda em Chomsky 1965 e que está por trás da compreensão de que certos aspectos de significado não poderiam ser expressos pela estrutura profunda cf Jackendoff 1972 e que certos aspectos que não cabem na estrutura profunda podem ser lidos diretamente da estrutura de superfície cf Jackendoff 1972 Reinhart 1976 e que outros aspectos exigiriam um novo nível de representação sintático a forma lógica cf May 1977 1985 A contribuição de Estruturas para a Semântica foi fundamental Em Estruturas em particular já encontramos a preocupação em aproximar a Linguística às ciências exatas E o rigor metodológico de investigação científica aplicado à linguagem E a distinção entre níveis linguísticos E a importância do estudo da estrutura gramatical da frase em detrimento do estudo da sequência linear em que os itens lexicais estão dispostos E a preocupação com sentenças nucleares com a história derivacional das sentenças e com a gramática mais simples E o entendimento de que a gramática das línguas segue regras gerativas de base universal e uniforme E o insight de que a noção de nível de representação abre uma porta para a compreensão de vários aspectos do significado É por isso que Estruturas sintáticas é de fato uma das obras fundamentais da bola de neve que deu origem à revolução cognitiva nos estudos da linguagem na metade do século passado Disciplina Linguística III Prof Dr Almir Almeida de Oliveira Nome FICHA DE LEITURA IX 1 O que é julgamento linguístico e como ele serve às investigações em gramática gerativa 2 Explique o conceito teórico por trás da sentença ideias verdes incolores dormem furiosamente 3 Em que consistem as chamadas Cadeias de Markov e por que são limitadas para explicarem a língua natural 4 Por que a linguística gerativa também é chamada de linguística transformacional 5 O que significa dizer que a língua é uma estrutura 6 Por que Chomsky critica a ideia uma preconização dos estudos fonéticos ou morfológicos sobre os sintáticos 7 Quais as principais fragilidades do estruturalismo gerativista em explicar a significação linguística E quais as principais soluções da teoria para estes problemas FICHA DE LEITURA VII Respostas 1 A criança para ter aquisição da linguagem precisa de estímulos ou seja precisa de ambiente rico em linguagem que se durante a primeira infância a criança não ter acesso ao input necessário para o seu desenvolvimento irá comprometer a aquisição da linguagem logo o input pobre é aquele que não desenvolve estímulos suficiente para a criança 2 De acordo com Chomsky o verdadeiro objeto de estudo da teoria gramatical deve ser a línguaI uma vez que ela é considerada a língua da mente dos falantes em qualquer idioma logo por ser internalizada têla como objeto é fundamental para entendermos nossa competência linguística 3 O Input é responsável pelo desenvolvimento da linguagem que é produzido através dos movimentos sociais ou seja a relação entre o Input e a realidade externa se dá pelas experiências vivenciadas por cada falantes que são essenciais para evoluir no processo de aquisição de uma língua Pois se não houver acesso a esse Input nas suas relações externas pode comprometer o desenvolvimento da língua 4 Não falamos todos a mesma língua apesar da Gramática Universal proposta por Chomsky que apesar das semelhanças entre as línguas pelas propriedades como os verbos essa gramática não universaliza as línguas por diversos fatores como os parâmetros que são responsáveis pelas variações nas línguas Assim como fatores socioculturais e geográficos por exemplo que diversificam as línguas 5 Pelo fato de que todas as línguas seguem seus princípios que são as regras universais ela também pode ter variações de acordo com seus parâmetros que facilitam a construir uma estrutura gramatical que representam o lugar da variação das línguas dessa maneira essa teoria defende que a predisposição inata e os princípios subjacentes compartilhados nas línguas faz com que a aquisição da linguagem seja desenvolvida 6 Na visão maturacionista defende que os princípios e parâmetros não estão disponíveis quando a criança nasce e esta dependerá dos fatores biológicos e maturacionais por isso a aquisição da linguagem não é instantânea logo acontece aos poucos Na visão Continuísta defende que o conhecimento linguístico está disponível desde o nascimento que dependerá assim como de fatores biológicos também dependerá do cognitivo social e linguístico É um precessão gradual e não instantâneo FICHA DE LEITURA IX Respostas 1 O julgamento linguístico é um método para avaliar o nível de aceitabilidade e gramaticalidade das sentenças linguísticas através de experimentos que poderá fazer o julgamento e avaliar a gramaticalidade dessas sentenças tornandoo uma ferramenta essencial para a gramática gerativa 2 Para Chomsky a noção de gramaticalidade não pode ser confundida com as noções de significados ou seja que uma boa formação sintática não garante que o enunciado terá sentido assim como pode ser não gramatical e ser compreendida Dessa forma essa frase que contém termos distintos foi criada para mostrar que a gramaticalidade nem sempre estará relacionado aos seu significado 3 Também chamadas de autômatos finitos as cadeias de Markov têm um papel fundamental nas regras sintagmáticas e que são capazes apenas de caracterizar sequências em que um elemento depende do seu precedente por isso faz essa cadeia ser limitada já que não conseguem capturar foda complexidade da língua natural 4 Procurando resolver as limitações Chomsky propõe as regras transformacionais que através dessa teoria realiza uma alteração na estrutura sentencial movimentando reorganizando e substituindo com um intuito de ir além dos fenômenos já existentes essas transformações são construídas dentro da abordagem gerativa 5 Significa dizer que qualquer língua natural tem sua organização que baseadas em regras que formam uma comunicação significativa entre os falantes Logo essa estrutura da língua é o conjunto de propriedades formais das gramaticas o facilita para que os falantes produzam variações 6 O autor discorda da precedência dos estudos de morfologia e fonologia sobre as investigações em sintaxe uma vez que Chomsky defende que passa de uma analogia defeituosa já que a sintaxe é um aspecto central para ele 7 Apesar das contribuições ainda há uma falha com a preocupação na relação entre conhecimento gramatical e cognição humana assim como outras questões como desconsiderar o contexto e a realidade psicológica das regras já que se preocupa com a estrutura sintáticas das frases Mas que há uma preocupação em aproximar a Linguística às ciências exatas surgiram outras abordagens que se atentam a esses fatores tais como o a pragmática