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Pedagogia ·

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Pág112 Considerações teóricas nos PCN Língualinguagem gramática gênero escrita Maria Luédna Ferreira de Melo1 EIXO TEMÁTICO ESTUDOS DA LINGUAGEM Resumo Para tratar do tema inicialmente apresentamos de modo geral uma breve análise das principais concepções de língualinguagem e de gramática apresentando alguns subsídios teóricos que compreendem a língua linguagem e gramática para um ensino de língua mais adequada Depois dessa explanação mostramos como se dá a concepção desses termos na visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa doravante PCN Mostramos ainda temas como a competência comunicativa as considerações sobre a produção escrita nos PCN às abordagens de ensino dessa produção na escola e a concepção de gêneros no citado documento Depois dessas discussões mais teóricas comparamos com a concepção do livro didático analisado Projeto Pitanguá o livro mais utilizado por escolas municipais em Maceió no período da pesquisa Tratase de uma pesquisa bibliográfica Palavraschaves PCN Livro didático concepções de língualinguagemgramática escrita Abstract to treat the subject initially we present in General a brief analysis of the main conceptions of languagegrammar and language showing some theoretical benefits that include the languagelanguage and grammar for a language After this explanation we have shown how the conception of these terms in view of national curriculum Parameters of Portuguese Language PCN We had even topics such as communicative competence production considerations written in PCN to teaching approaches of this production at the school and the design of genres in the quoted document After these more theoretical discussions compared with the design of textbook Pitanguá Project the most widely used book for municipal schools in Maceió in the period of the survey This is a bibliographical research Keywords PCN textbook conceptions of languagelanguagegrammar writing Introdução Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN é um documento elaborado pelo Ministério da Educação para o ensino fundamental Nesse sentido a intenção do MEC ao consolidar os Parâmetros é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo reflexivo e autônomo conhecedor de seus direitos e deveres 2001 p 11 Para que as crianças dominem os saberes que necessitam para se desenvolverem como cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e Pág212 assim exerçam seu papel em sociedade é necessário que tenham acesso aos recursos culturais dos domínios do saber habitual presentes no trabalho escolar quanto às preocupações contemporâneas Os PCN devem servir de referência de fonte de proposta e de elemento para reflexão e debate sobre o processo ensinoaprendizagem Entretanto para ter conhecimento dessa base teórica dos PCN o professor precisa estudar profundamente todos os sentidos e significados atribuídos por esse documento para o processo ensino aprendizagem o que não é fácil Sabemos que o domínio que se tem da língua oral e escrita é de extrema importância para uma participação social efetiva pois por meio dela nos comunicamos dia a dia em inúmeras situações comunicativas Mas para podermos discorrer sobre as definições os subsídios teóricosconcepções de língualinguagem e de gramática nos PCN vamos ponderar inicialmente sobre as principais tendências de língualinguagem e gramática de modo geral Vale ressaltar que a concepção de linguagemlíngua e gramática é um ponto importante para a própria composição do trabalho com a língua em termos de ensino e por conseguinte para a própria produção textual que em decorrência da concepção assumida varia As questões que no embasaram foram qual a concepção de língualinguagem e gramática presentes nos PCN depois dessas discussões mais teóricas comparamos com a concepção do livro didático analisado Projeto Pitanguá o livro mais utilizado por escolas municipais em Maceió no período da pesquisa 1 1 Concepções de língualinguagem Em meio às muitas questões que interferem claramente no processo ensino e aprendizagem de língua portuguesa Cavalcante e Freitas 2008 p 02 alegam que existe uma a qual diz respeito às concepções que garante um auxílio a esse processo ao discorrerem sobre as diferentes concepções de língualinguagem as autoras explicam que na visão tradicional a linguagem é concebida como representação do pensamento o que significa que os estudos feitos sob essa expectativa se viram para o percurso psíquico da linguagem porém sem relacionála com as estruturas sociais idem assim A língua é colocada como um objeto pronto e acabado que tem que ser apreendida de forma como é recomendada o que significa que o aluno não tem a possibilidade de construirreconstruirprocessarressignificar sua língua mas tão somente o dever de memorizar classificar imitar e sobretudo reproduzir as estruturas lingüísticas que são transmitidas na sala de aula idem p 02 grifos nosso Para as autoras essa é a compreensão de linguagem que permanece na base da maioria dos exercícios gramaticais presentes nos livros didáticos LD que é o que vem sendo demonstrado pelas pesquisas linguísticas ao longo dos anos além de ser a mais antiga das concepções Essa concepção vê a linguagem como uma representação como expressão do pensamento Travaglia confirma isso ao definir a mesma concepção explicitando que a compreensão errônea é que nessa concepção as pessoas não se expressam bem porque não pensam A expressão se constrói no interior da mente sendo sua exteriorização apenas uma tradução A enunciação é um ato monológico individual que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece TRAVAGLIA 2002 p 21 Assim a maneira como está constituído o texto não depende em nada de cada situação de interação comunicativa para quem se fala em que circunstância e situação se fala onde como quando ou seja não se leva em consideração os diferentes contextos em que a produção vai ser feita pelo indivíduo além de não considerar o outro como exposto na citação acima Outra concepção que vê a linguagem somente Pág312 levando em consideração alguns aspectos de maneira muito restrita e de modo limitado é a estruturalista com base no seu fundador Ferdinand Saussure a esse respeito Travaglia 2002 p 22 afirma que por meio dela a linguagem é idealizada como um instrumento de comunicação derivando daí a noção de língua como um sistema abstrato um fato social geral virtual cujas estruturas se completam se superpõem e se relacionam E acrescenta que essa concepção de linguagem além de entender a linguagem como um simples instrumento de comunicação e a língua como um código considera a estrutura lingüística somente observando um signo em relação a outro signo sem levar em conta o falante sua fala a situação de comunicação e até mesmo sua história idem p 22 grifos nossos Conforme se percebe essa concepção concebe a linguagem como objeto de comunicação Desse ponto de vista a língua é vista como um código ou seja como um conjunto de signos que se combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem informações de um emissor a um receptor Esse código deve portanto ser dominado pelos falantes para que a comunicação possa ser efetivada Como o uso do código que é a língua é um ato social envolvendo conseqüentemente pelo menos duas pessoas é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante preestabelecida convencionada para que a comunicação se efetive TRAVAGLIA 2002 p 22 Nessa concepção não se avalia os interlocutores e a situação de uso apartando o indivíduo falante do processo de produção que é social e histórico O estudo da língua é feita de forma imanente estudando a língua numa perspectiva que se limita ao funcionamento interno da língua separando o indivíduo do seu contexto social Na verdade assim como a concepção tradicional a noção de linguagemlíngua baseada no estruturalismo deixa muito a desejar especialmente com relação ao processo ensino e aprendizagem da língua materna por eleger aspectos tidos como mais importantes em perda de outros que se julgam menos importantes Cavalcante e Freitas citando Marcuschi 2008 explicam que em relação às atividades de compreensão recentemente essa é a noção de linguagem que prevalece nos livros didáticos nos quais compreender é o mesmo que identificar elementos textuais Oposta a essas duas concepções encontramos a concepção baseada no sociointeracionismo que abrange a linguagem como espaço de interação social pois na visão sociointeracionista a língua não é tão somente representação do pensamento ou um mero instrumento de comunicação Ela também é um meio de conscientização de persuasão de dissimulação de dominação bem como de libertação Nessa perspectiva levase em conta tanto os aspectos internos da língua fonologia morfologia sintaxe e semântica quanto os extralingüísticos psicológicos históricos sociais geográficos culturais etc inclusive e principalmente o sujeito de ação lingüística mas sempre tomando como unidade básica de ensino o texto CAVALCANTE e FREITAS 2008 p 03 Assim diferente das limitações das duas primeiras concepções a terceira concepção vê a linguagem como uma forma um processo de interação A língua é tida também como mecanismo de transformação de libertação Nessa concepção o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tãosomente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem mas sim realizar ações agir atuar sobre o interlocutor ouvinteleitor Os usuários da língua ou interlocutores interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e Pág412 falam e ouvem desses lugares de acordo com formações imaginarias imagens que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais TRAVAGLIA 2002 p 23 A linguagem é de verdade nesse sentido um espaço de interação humana de intercâmbio comunicativo em dada circunstância de comunicação e em um contexto sóciohistórico e ideológico Travaglia et al 1995 p 22 define a língua como um sistema de sinais orais ou escritos que os indivíduos de uma sociedade utilizam como instrumento de comunicação cada um a sua maneira Enquanto código a língua é comum a todos e existe em função da coletividade A sua utilização em qualquer ato de comunicação é diferente cada vez que se realiza pois as regras combinatórias são utilizadas diferentemente A partir dessa citação percebese a questão da existência de uma ampla variedade de formas de expressão em qualquer língua usada para variados propósitos de comunicação pelos falantes E que a língua é empregada como uma maneira de garantir a identidade cultural de uma dada comunidade Parece oportuno trazer as palavras de Antunes 2007 p 2021 sobre a língua ao que afirma o uso de determinada língua constitui mais que um fato isolado sendo um ato exclusivamente humano assim é mais que um fato especificamente lingüístico vocal ou gráfico É mais que um exercício prático de emissão de sinais É um ato humano social político histórico ideológico que tem conseqüências que tem repercussões na vida de todas as pessoas Para a autora a língua não pode ser vista de modo simplista como uma questão de certo e errado ou conjunto de vocábulos que têm relação com determinada classe e que se juntam para formar frases pois a língua é mais que isso tudo ela é parte de nós mesmos de nossa identidade cultural histórica social É a língua que nos faz sentir pertencendo a um espaço É ela que confirma nossa declaração eu sou daqui ANTUNES 2007 p 22 Marcuschi 2005 p 22 grifos do autor faz uma distinção preliminar entre os dois termos discutidos até aqui língua e linguagem pois apesar de dois termos aparentemente parecidos são de categoria diferente Para o autor a expressão linguagem designa uma faculdade humana a linguagem é um dispositivo que caracteriza a espécie humana como homo sapiens ou seja como um sujeito reflexivo pois pela linguagem conseguimos nos tornar seres sociais racionaisDessa maneira a linguagem é de verdade um fenômeno humano Já a língua refere uma das tantas formas de manifestação concreta dos sistemas de comunicação humanos desenvolvidos socialmente por comunidades lingüísticas e se manifesta como atividades sóciocognitivas para a comunicação interpessoal MARCUSCHI idem p 22 Em resumo o autor toma a noção de linguagem como uma capacidade humana geral e a noção de língua como uma apresentada manifestação característica histórica social e metódica de comunicação humana Especificando mais o tema podemse dizer as línguas segundo Marcuschi são não apenas um código para comunicação mas fundamentalmente uma atividade interativa dialógica de natureza sóciocognitiva e histórica 2005 p 22 Observando o LDP como resultados encontrados por Marcuschi 2005 constatamos que o LD toma a língua como um simples instrumento de comunicação não problemático capaz de trabalhar com transparência e homogeneidade De modo geral de acordo com o autor a língua é tida pelos LDP ora como conjunto de regras gramaticais cuja ênfase é no estudo da gramática ora como um instrumento de comunicação com uma visão instrumental da língua ou ainda como um meio de transmissão de informação o que sugere a língua como um código Essa concepção de língua nem sempre está visível explícita no LDP 111 Concepções de língualinguagem nos PCN Pág512 Com relação aos PCN 1998 p 35 esse documento esclarece que quando se afirma portanto que a finalidade do ensino de Língua Portuguesa é a expansão das possibilidades do uso da linguagem assumese que as capacidades a serem desenvolvidas estão relacionadas às quatro habilidades lingüísticas básicas falar escutar ler e escrever Assim é atribuído à escola o papel e a responsabilidade de assegurar a acessibilidade aos conhecimentos linguísticos que são necessários para a prática da cidadania Deste modo considerando os diferentes níveis de conhecimento prévio cabe à escola promover a sua ampliação de forma que progressivamente durante os oito anos do ensino fundamental cada aluno se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente de assumir a palavra e como cidadão de produzir textos eficazes nas mais variadas situações PCN 1998 p 21 Segundo os PCN 1998 p 22 a linguagem é uma forma de atuação interindividual norteada por uma intenção particular nas palavras do documento a linguagem é um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade nos distintos momentos da sua história Dessa forma se produz linguagem tanto numa conversa de bar entre amigos quanto ao escrever uma lista de compras Conforme se percebe a compreensão é que se produz linguagem nas diferentes práticas sociais a partir dessa perspectiva a língua é entendida e definida como um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade Assim aprendêla é aprender não só as palavras mas também os seus significados culturais PCN 1998 p 22 Nesse sentido definiríamos a noção de língualinguagem presente dos PCN como pertencente à concepção que vê a linguagem como forma de interação social Compreendese que a interação verbal constitui a realidade fundamental da linguagem uma vez que Produzir linguagem significa produzir discursos Significa dizer alguma coisa para alguém de uma determinada forma num determinado contexto histórico Isso significa que as escolhas feitas ao dizer ao produzir um discurso não são aleatórias mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado idem p 22 A língua nesse sentido ganha status de utilização social sendo cada vez mais um elemento ao qual o aluno se servirá para se situar na comunicação social e para adquirir conhecimentos que o permita viver mais conscientemente no mundo 12 Livro didático Projeto Pitanguá Português e os PCN Esse conceito de língua como participação social concebido pelos PCN está de acordo com os referenciais do LD analisado já que segundo o Guia e Recursos Didáticos todas as atividades e reflexões propostas incluindo o trabalho com os demais temas têm o objetivo de formar no aluno uma consciência social responsável e conseqüentemente uma postura cidadã comprometida com as questões sociais MODERNA 2006 p 8 Assim para que se possa conseguir a finalidade desejada desenvolver cidadãos com competência comunicativa a obra oferece uma proposta de ensino intenso de alguns discursos que são o narrativo argumentativo expositivo e instrucional Percebese que o documento PCN adota a concepção de que a Pág612 língua é um lugar de influência mútua de sujeitos ativos Essa opção de concepção de língua se deve ao fato das outras duas serem redutivas tradicional e estrutural apesar de possíveis Em relação aos PCN Antunes afirma que não se pode deixar de reconhecer que as concepções teóricas subjacentes ao documento já privilegiam a dimensão interacional e discursiva da língua e definem o domínio dessa língua como uma das condições para a plena participação do individuo em seu meio social Além disso estabelecem que os conteúdos de língua portuguesa devem se articular em torno de dois grandes eixos o de uso da língua oral e escrita e o da reflexão acerca desses usos ANTUNES 2003 p 22 Assim a base teórica dos PCN do Ensino Fundamental se inicia levando em consideração as reflexões em consideração a linguagem e a consequente participação social Notase no documento uma preocupação com a linguagem como uma atividade discursiva e a textualidade numa perspectiva de interação verbal considerada em situação concreta de produção 13 Concepções de Gramática A respeito dessas concepções temos as concepções de gramática Nesse caso a gramática tradicional preocupase excepcionalmente com a língua escrita com regras normativas nesse caso a modalidade mais formal é consagrada como item principal de estudo em detrimento as variedades linguísticas privilegiando as formas antigas em prejuízo das atuais que é o que vemos constantemente nas salas de aula Travaglia 2002 explica que há basicamente três sentidos para o entendimento de gramática No primeiro a gramática é concebida como manual com regras de bom uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se expressar adequadamente TRAVAGLIA 2002 p 24 Nesse caso da gramática normativa a variedade padrão é apresentada como a melhor superior às demais A gramática trata apenas de uma variedade de língua a qual se considerou como norma erudita e tudo que se opõe ao protótipo é considerado nãogramatical assim sendogramatical é aquilo que segui as normas que se considera certo e adequado ao uso da língua Percebese que na escola a gramática é usada como um meio de controle que disciplina o rumo a direção da própria língua por meio da obrigação de modelos ou padrões a serem seguidos A gramática nesse caso tem um papel estritamente regularizador A segunda concepção de gramática é a que tem sido chamada de gramática descritiva porque faz na verdade uma descrição da estrutura e funcionamento da língua de sua forma e função TRAVAGLIA 2002 p27 Nesse caso o que determina o que gramatical é tudo que consente às regras de funcionamento da língua em combinação com determinada variedade linguística Já a terceira concepção de gramática é aquela que considerando a língua como um conjunto de variedades utilizadas por uma sociedade de acordo com o exigido pela situação de interação comunicativa em que o usuário da língua está engajado percebe a gramática como o conjunto das regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar idem 2002 p 28 Nesse caso saber gramática vai além da questão da escolarização ou de qualquer aprendizado metódico mas de ativação do que seja linguagem Nesse sentido todas as variedades são importantes uma não é tida como superior a outra pois o uso de cada uma vai depender da situação de comunicação 131 Concepção de gramática nos PCN Pág712 Antunes 2007 p 41 grifos da autora afirma que para ser eficaz comunicativamente não basta saber apenas as regras específicas da gramática das diferentes classes de palavras suas flexões suas combinações possíveis a ordem de sua colocação nas frases seus casos de concordância entre outras Tudo isso é necessário mas não suficiente Para Guimarães 2006 os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN ratificam a linguística transmitida pela equipe técnica do Ministério da Educação e Cultura MEC Nos dois o objetivo do ensino de Língua Portuguesa tem a expectativa que os alunos ao longo dos oito agora nove anos do ensino fundamental adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado Finalmente proporcionarlhes a chamada competência comunicativa Desse modo Guimarães 2006 p 2 explica que para a gramática a proposta dos PCN sugere um direcionamento do ensino a partir da reflexão dos alunos para se chegar ao conhecimento da metalinguagem e não descrever incansavelmente as estruturas disponíveis saturando os alunos de terminologias prática que se revelou improdutiva A escola como sabemos tem embasado seu ensino na gramática tradicional Mas como defende Travaglia 2003 p16 o ensino de gramática só pode ter como fim principal e fundamental o desenvolvimento da competência comunicativajá adquirida pelo falante entendendose este desenvolvimento como o possibilitar ao falante utilizar cada vez um maior número de recursos da língua de forma adequada a cada situação de interação comunicativa Saber gramática é muito mais que o aluno descrever as classes de palavras o objeto direto ou indireto o sujeito ou predicado de uma frase ponderar se uma palavra é verbo advérbio substantivo ou qualquer outra definição desse tipo Segundo Antunes 2007 p 44 grifos da autora língua e gramática não se equivalem e por isso o ensino de línguas não pode constituise apenas de lições de gramática 14 Competência comunicativa A língua portuguesa é a língua utilizada na escola e no nosso dia a dia na vida cotidiana na prática social o que implica a necessidade dos alunos desenvolverem a competência comunicativa nessa língua Por isso o auxílio da instituição escolar é de extrema importância na tarefa de ampliação dessa competência que é um fator decisivo da qualidade de várias interações que cumprimos por meio das quais nos construímos como sujeitos e nos inserimos na coletividade e atuamos na sociedade Para isso a escola precisa levar em conta a realidade social dos alunos no entanto sem limitações A respeito do desenvolvimento da competência comunicativa Koch 2002 p53 vai além do conceito de competência comunicativa ao afirmar que A competência sociocomunicativa dos falantesouvintes levaos à detecção do que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais Essa competência leva ainda à diferenciação de determinados gêneros de textos como saber se se está perante uma anedota um poema um enigma uma explicação uma conversa telefônica etc Há o conhecimento pelo menos intuitivo de estratégias de construção e interpretação de um texto grifos nossos Nesse sentido a competência passa a ser sociocomunicativa o que implica o social nesse contexto E é a competência sócio comunicativa e consequentemente na escola a competência textual de um falante que vai lhe permite também examinar investigar se em um texto oferecido predomina sequências de caráter narrativo descritivo expositivo ou argumentativo E para isso o aluno precisa está em contato com diversos textos que estão presentes na vida cotidiana pois o contacto com os textos da vida quotidiana como anúncios avisos de toda ordem artigos de jornais catálogos receitas médicas prospectos guias turísticos literatura de apoio à manipulação de máquinas etc exercita a nossa capacidade metatextual para a construção e intelecção de textos idem 2002 p 53 Pág812 Sabemos que a competência comunicativa é de extrema importância para o ensino de língua materna a esse respeito tanto o LD 2005 como Travaglia 2002 alegam que a competência comunicativa está intimamente ligada a duas outras que são também interrelacionadas são elas a competência textual e a competência linguística Percebese no manual do professor que o texto visto como unidade de sentido apresentase como foco central do trabalho proposto pela coleção Considerando que a finalidade primeira do ensino da língua portuguesa é permitir a comunicação que se inicia pela compreensão e expressão orais os objetivos do ensino de língua portuguesa devem conduzir os alunos ao desenvolvimento dessas capacidades de compreensão e expressão orais e escritas A respeito dessa questão Travaglia et al 1995 p 20 esclarece que parece claro que com relação ao ensino de língua materna o professor deve ter antes de mais nada o domínio da língua que ensina isto é conhecimento das regras da gramática das variações de uso e da escolha convencional do uso culto Além disso para que se possa ajudar mais plenamente o aluno a se expressar com maior eficiência e clareza o professor deve ter um conhecimento básico do desenvolvimento cognitivo da criança Assim poderá o professor estar atento às dificuldades de expressão de seus alunos e às suas diferenças lingüísticoculturais A formação do professor sua concepções o conhecimento que possui vai fazer diferença na sala de aula Porém a simples teoria ou técnica não serão suficientes se o professor não tiver as condições de conhecimento citados Além do mais qualquer teoria só será boa quando dela se fizer um bom uso idem 1995 p21 o que é fundamental para o objetivo pretendido 15 Considerações sobre a produção escrita nos PCN Fazendo uma análise das seções dos parâmetros curriculares 2001 com relação ao ensino da escrita assim como resultados encontrados por Reinaldo 2005 indicam que as orientações que aparecem nesse documento como dominante são encaminhamentos na perspectiva sociointeracionista Essa característica pode ser percebida na preocupação relativa aos elementos característicos das diferentes situações comunicativas e ao gênero textual correspondente a determinada situação Para exemplificar o modelo teórico adotado na obra mostramos algumas passagens do documento que autenticam esse fato com em PCN 1997 p 69 Se a produção de textos já merece bastante atenção no início da escolaridade mais ainda a produção de textos por escrito Isso porque ao escrevêlos os alunos se envolvem numa tarefa particularmente difícil para um aprendiz a de coordenar decisões sobre o que dizer organização das idéias ao longo do texto com decisões sobre como dizer léxico recursos coesivos etc com a tarefa quase sempre mais lenta de grafar Ou seja a produção de textos escritos envolve complexos procedimentos necessários tanto à produção de textos como à escrita É uma tarefa que supõe que o escritor ainda que iniciante assuma diferentes papéis o de quem planeja o texto o de quem o lê para revisálo e o de quem o corrige propriamente Outro fragmento descrito pelos PCN 1997 p 33 diz respeito a um dos objetivos gerais para o ensino fundamental que indica que o ensino de Língua Portuguesa deverá organizarse de modo que os alunos sejam capazes de utilizar diferentes registros inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada socialmente sabendo adequálos às circunstâncias da situação comunicativa de que participamOutra parte do texto acrescenta que o aluno deve também ser capaz de compreender os textos orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de participação social Pág912 interpretandoos corretamente e inferindo as intenções de quem os produz idem 1997 p 33 A respeito dessa escrita interacionista tão ressaltada pelos PCN Antunes avaliza ainda que a escrita da mesma forma quanto à fala é interativa dialógica ativa e negociável Assim uma visão interacionista da escrita estima leva em consideração encontro parceria envolvimento entre sujeitos para que aconteça a comunhão das idéias das informações e das intenções pretendidas Assim por essa visão se supõe que alguém selecionou alguma coisa a ser dita a um outro alguém com quem pretendeu interagir em vista de algum objetivo ANTUNES p 45 grifos da autora A autora acrescenta ainda que essa visão interacionista da escrita supõe ainda que existe o outro o tu com quem dividimos o momento da escrita quem escreve na verdade escreve para alguém ou seja está em interação com outra pessoa ANTUNES 2003 p 46 grifos da autora Desse modo escrever sem saber para quem como se configura no LD é um trabalho impotente já que existe uma ausência a alusão do outro a quem todo texto deve como visto se ajustar assim sendo a produção acaba sendo artificial As atividades de produção não podem limitar os alunos a uma situação de meros reprodutores ou observadores de modelos prontos para circular somente no espaço escolar essas produções tem de ganhar sentido na vida dos educandos tem de ter praticidade senão os alunos só reproduzirão um modelo uma estrutura Há necessidade de um modelo que leve em consideração as situações diversas os contextos diferentes Pois é no contexto que ocorre determinada situação que vai ser determinado o sentido a escolha do gênero a ser usado apresentando fatores como quem é o locutor o interlocutor o tempo que ocorre o lugar em que acontece a comunicação Por isso nas propostas de escrita seria conveniente fornecer aos alunos algumas referências relativas ao gênero trabalhado não somente um reduzido modelo da estrutura que se quer reproduzir uma vez que os textos devem está relacionado às diferentes situações sociais É cada uma dessas circunstâncias que define o gênero que apresenta características temáticas composicionais e estilísticas próprias Com relação às aprendizagens fundamentais na escola Koch 2002 indica que a primeira e mais significante delas essa ideia está nos PCN também é a compreensão das diferentes instâncias públicas e privadas e juntamente a elas a captação da produção histórica de diferentes sistemas de referências Assim E neste sentido a aprendizagem da escrita se dá concomitantemente à aprendizagem dos conteúdos referenciais associados à escrita É este movimento entre uma instância e outra e sua articulação necessária e inexorável na compreensão que uma concepção sociointeracionista da linguagem pretende recuperar KOCH 2002 p 46 Ressalvamos como Koch 2002 que na situação escolar o gênero não é apenas uma ferramenta de comunicação mas se transformar num objeto de ensinoaprendizagem Por isso os alunos devem produzir o mais próximo de situações reais devendo ser orientados para expressarem o que é necessário fazer o que é realmente necessário comunicar aos outros para isso devem ser orientados para produzirem com clareza coesão seguindo uma lógica de acordo com que foi pedido 16 Abordagens do ensino de produção textual na escola Podemos ressaltar aqui algumas abordagens do gênero na escola Cabe lembrar mais uma vez que na escola o gênero não é apenas uma ferramenta de comunicação pois é do mesmo modo objeto de ensinoaprendizagem Assim o gênero de texto referese às diferentes formas de expressão textualKoch Pág1012 2002 afirma que se pode distinguir na escola segundo Schneuwly Dolz três modos principais de abordar o ensino da produção textual classificados assim apenas em termos de dominância Na primeira abordagem o gênero tornase uma pura forma linguística e o objetivo é o seu domínio a sua retenção Eles são estudados totalmente isolados dos parâmetros da situação de comunicação são bastante artificiais Nos termos da autora Seqüências estereotipadas balizam o avanço através das séries escolares em geral descrição narração dissertação às quais por vezes se acrescentam outros tipos como resumo a resenha o diálogo A produção de textos é concebida como representação do real exatamente como ele é ou do pensamento tal como é produzido os gêneros são desnaturalizados sua forma não depende das práticas sociais mas são vistos como modelos socialmente valorizados de representação do real ou do pensamento KOCH 2002 p 57 É nessa abordagem que a maioria de produção textual do LD se encaixa apesar de às vezes encontrarmos alguns resquícios características das outras abordagens Já na segunda maneira de abordar o ensino da produção textual a escola é ostentada como legítimo e verdadeiro espaço de comunicação as situações escolares são adotadas como ocasiões de produção e recepção de textos Assim as ocasiões de produção de textos se multiplicam na classe entre classes entre escolas texto livre correspondência escolar jornal da classe da escola murais etc Os gêneros são portanto resultado do próprio funcionamento da comunicação escolar e sua especificidade é o resultado desse funcionamento KOCH idem Nesse caso de abordagem Koch 2002 afirma que existe uma naturalização na qual a situação de comunicação é vista como causadora quase automática e instintiva do gênero que não é apresentado delineado ou ensinado mas aprendido pela prática Por último na terceira abordagem para o ensino da produção textual delegase a escola como espaço particular de comunicação em outras palavras agese como se existisse continuidade absoluta entre o exterior da escola e o seu interior Nesse caso a preocupação predominante é a de diversificar a escrita de criar situações autênticas de comunicação de levar o aluno ao domínio do gênero exatamente da forma como funciona nas práticas de linguagem de referência KOCH 2002 p 57 É a necessidade de dominar circunstâncias dadas que está no núcleo da concepção já que o ensino aponta ao domínio de ferramentas indispensáveis para funcionar nestas práticas Entendese no decorrer do LD Projeto Pitanguá Português que a concepção adotada é que dominar o gênero é dominar o próprio domínio da situação comunicativa pelo ensino da estrutura mesmo que vago das competências exigidas para a produção de determinado modelo sem referencia da praticidade dessas produções para a vida do aluno sem levar em contar as práticas sociais Considerações finais Na comparação do LD com as recomendações dos PCN de Língua Portuguesa é possível perceber que o LD investigado segue as indicações e algumas sugestões e a metodologia didática desse documento como por exemplo propor situações de produção de textos orais e escritos o trabalho com projetos a revisão além dos exemplos de gêneros trabalhados entre outros Os objetivos do ensino fundamental estão contemplados no LD por meio das práticas fundamentais do ensino de língua portuguesa propostas pelos PCN que são elas prática de leitura e escuta de textos prática de produção de textos orais e escritos e prática de análise linguística Seria interessante pôr os alunos em estados de comunicação e produção o mais próximo possível das situações verdadeiras que contenham para os alunos um sentido para que possam dominálas aprender Pág1112 suas formas como realmente são na sociedade de que fazem parte assim estaríamos desenvolvendo sujeitos participantes críticos e conscientes De tal modo que os alunos seriam apreciados como cidadãos que desenvolvem sua capacidade de compreender textos orais e escritos de assumir a palavra e produzir textos em situação de participação social PCN 1997 p46 referências bibliográficas ANTUNES Irandé Aula de português encontro interação São Paulo Parábola editorial 2003 Muito além da gramática por um ensino de línguas sem pedras no caminho São Paulo Parábola Editorial 2007 BRASIL Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais língua portuguesa Secretaria de Educação Fundamental Brasília 1997 Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental língua portuguesa Secretaria de Educação FundamentalBrasília MECSEF 1998 Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros curriculares nacionais língua portuguesa Secretaria de Educação Fundamental Brasília 2001 CAVALCANTE M A da S FREITAS M L de Queiroz O ensino da língua Portuguesa nos anos iniciais eventos e práticas de Letramento Maceió EDUFAL 2008 EDITORA MODERNA org Projeto Pitanguá português São Paulo Moderna 2005 GERALDI João Wanderley Linguagem e ensino exercícios de militância e divulgação Campinas São Paulo Mercado de Letras Associação de Leitura do Brasil 1996 Guimarães Tânia BragaRevista Veja e suas concepções de Língua e Ensino Revista espaço acadêmico N 62 julho2006 KOCH Ingidore G Villaça Desvendando os segredos do texto 2ª Ed São Paulo Cortez 2002 MARCUSCHI Luiz A Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Cortez 2008 Gêneros textuais definição e funcionalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Org Gêneros textuais e ensino 4 ed Rio de Janeiro Lucerna 2005 REINALDO Maria Augusta G de M SANTANA Tatiana Fernandes Análise da orientação para produção de texto no livro didático como atividade de formação docente Linguagem Ensino Pelotas v 8 n 2 p 97120 juldez 2005 TRAVAGLIA Luiz Carlos OrgGramática e interação uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus 8ª edição São Paulo Editora Cortez 2002 Gramática Ensino Plural São Paulo Cortez 2003 TRAVAGLIA Luiz Carlos ARAÚJO Maria Helena Santos PINTO Maria Teonila de Faria Alvim Metodologia e prática de ensino da Língua Portuguesa Uberlândia Edufu 1995 Pág1212 1 Aluna regular do mestrado do Programa de PósGraduação em Educação PPGEUFALMembro do grupo de pesquisa Educação e linguagem formação e trabalho docente do referido programa UFAL Email luedynahotmailcom