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Contudo já aproveito para compartilhar com vocês nosso próximo texto a saber Sobre a Pedagogia de Kant Leremos todo o livro porém como Jack o estripador risos iremos por partes Começaremos a leitura apenas dia 3110 com a introdução e o primeiro capítulo sobre a educação física Dia 31 vocês também precisarão me entregar uma atividade responder a seguinte pergunta O que Kant propõe com seu conceito de Educação Física No dia 0711 faremos a segunda e derradeira aula sobre o livro de Kant lendo o segundo capítulo sobre educação prática Nessa aula também terão que entregar uma atividade a saber responder a pergunta O que Kant propõe com seu conceito de educação prática Immanuel Kant Sobre a Pedagogia 70 Immanuel Kant Sobre a Pedagogia 70 Pôr o leitor directamente em contacto com textos marcantes da história da filosofia através de traduções feitas a partir dos respectivos originais por tradutores responsáveis acompanhadas de introduções e notas explicativas foi o ponto de partida para esta colecção O seu âmbito estenderseá a todas as épocas e todos os tipos e estilos de filosofia procurando incluir os textos mais significativos do pensamento filosófico na sua multiplicidade e riqueza Será assim um reflexo da vibratilidade do espírito filosófico perante o seu tempo 1 perante a dência o problema do homem e do mundo 2 Título original Ober die Pedagogik desta tradução João Tiago Proença e Edições 70 Lda Tradução e notas João Tiago Proença Capa FBA Biblioteca Nacional de Portugal Catalogação na Publicação KANT Immanuel 17241804 Sobre a Pedagogia Textos filosóficos ISBN 9789724421261 CDU 3701 ISBN 9789724421261 EDIÇÕES 70 LDA Fevereiro de 2017 EDIÇÕES 70 Lda Avenida Engenheiro Arantes e Oliveira 11 3 C 1900221 Lisboa Portugal Telefs 213 190 3 2 4 0 Fax 213 190 249 email geraledicoes70pt wwwedicoes70pt 4 índice Nota prévia Introdução Dissertação Da educação física Da educação prática 5 Nota prévia O texto Sobre a pedagogia de Immanuel Kant é o resultado da edição autorizada que o seu aluno Friedrich Theodor Rink efectuou sobre as notas enviadas pelo filósofo para publicação e que correspondem pelo menos parcialmente ao material usado nas cadeiras de pedagogia de que foi encarregado de leccionar nos semestres de Inverno de 17767 de Verão de 1780 e de Inverno de 178670 texto foi publicado origmalmente por Rink em 1803 na casa de Friedrich Nicolavius Königsberg Apresente tradução utilizou o texto publicado em Werke in zehn Bänden editada por Wilhelm Weischedel W issenschaftliche Buchgesellschaft Darmstadt 1964 vol 10 pp 697761 6 Introdução O homem é a única criatura que tem de ser educada Por educação compreendemos os cuidados alimentação subsistência disciplina e instrução juntamente com a formação Por conseguinte o homem é bebé educando formando Os animais utilizam as suas forças de modo regular logo que as têm quer dizer de modo a não serem prejudiciais a si próprios É com efeito digno de admiração ver como as crias das andorinhas mal se arrastando para fora do ovo e ainda cegas nem por isso deixam de saber fazer os excrementos cair fora do ninho Os animais não precisam por isso de cuidados quando muito de alimento calor e orientação ou de uma certa protecção A maioria dos animais necessita de alimentação mas não de cuidados Por cuidados entendese a previdência dos pais para que as crias não façam um uso prejudicial das suas forças Se um animal por exemplo gritasse ao vir ao mundo como as crianças o fazem tom arseia fatalmente presa dos lobos e de outros animais selvagens atraídos pelos seus gritos 7 A disdplina transforma a animalidade em humanidade Um animal é já tudo mediante o instinto uma razão alheia já lhe dispensou tudo de que ele precisa O homem porém tem precisão de uma razão própria Não tem instinto e tem de se dotar do plano do seu comportamento Mas porque não está desde logo em condições de o fazer antes vem ao mundo em estado rude assim outrem tem de o fazer por ele O género humano deve desenvolver todas as disposições naturais da humanidade gradualmente a partir de si através do seu próprio esforço Uma geração educa a outra Pode procurarse o primeiro começo num estado rude ou num estado perfeito já formado Se se supuser este último como tendo existido primeira e anteriormente o homem tem de se ter tomado novamente selvagem em seguida e resvalado para o estado mde A disciplina preserva o homem de se desviar mediante os seus impulsos animais da sua destinação a humanidade Tem de o limitar por exemplo para que não corra perigos de modo selvagem e irreflectido A disciplina é pois meramente negativa a saber a acção pela qual se remove o elemento selvagem do homem a instrução é pelo contrário a parte positiva da educação O elemento selvagem é a independência das leis A disciplina submete o homem às leis da humanidade e começa a fazerlhe sentir a coacção das leis 8 Isto tem contudo de acontecer cedo Assim por exemplo as crianças são enviadas à escola de início não com o propósito de aprenderem lá alguma coisa mas para que se consigam habituar a estar sentadas em silêncio e a observarem pontualmente o que lhes é prescrito para que no futuro não possam também pôr em prática real e imediatamente tudo o que lhes passa pela cabeça O homem contudo tem por natureza um tão grande pendor para a liberdade que se a ela se tiver de início habituado durante algum tempo tudo lhe sacrifica Justamente por isso devese lançar mão da disciplina desde muito cedo como já se disse pois se tal não suceder tomase difícil modificar o homem posteriormente Passa a seguir cada um dos seus caprichos Podese também observar isto nas nações selvagens que ainda que prestem serviços aos europeus durante um longo período de tempo nunca se habituam ao seu modo de vida Mas nelas isso não é um nobre pendor para liberdade como o pretendiam Rousseau e outros mas um certo estado rude na medida em que o animal como que ainda não desenvolveu em si a humanidade Daí que o homem tenha de ser acostumado desde cedo a submeterse aos preceitos da razão Quando é deixado entregue à sua vontade na juventude e nada lhe opõe resistência conservará então uma certa disposição selvagem ao longo de toda a sua vida E também não o ajuda ser poupado na juventude pela excessiva ternura materna pois desse 9 modo sentirá ainda mais resistências de todos os lados e por toda a parte sofrerá revezes assim que entrar nos negócios do mundo É um erro comum na educação dos grandes que logo na sua juventude nunca se lhes oponha realmente nada porque estão destinados a reinar No homem por causa do seu pendor para a liberdade é necessário limar o seu estado rude no animal pelo contrário por causa do seu instinto isso não é necessário O homem necessita de cuidados e formação A formação compreende sob si disciplina e instrução Nenhum animal tanto quanto se sabe necessita desta última Pois destes nenhum aprende o que quer que seja dos mais velhos com excepção das aves que aprendem o seu canto Neste caso são ensinadas pelos mais velhos e é comovedor contemplar quando como que numa escola os mais velhos cantam com todas as suas forças para os mais novos e estes se esforçam por em itir os mesmos sons com as suas pequenas goelas Para se ficar convencido de que as aves não cantam por instinto mas que realmente o aprendem vale a pena o esforço de tirar a prova e retirar aos canários por exemplo metade dos seus ovos e colocá los entre ovos de pardais ou misturar as crias de uns e outros Coloquese estes assim misturados num local onde não possam ouvir os pardais lá fora e aprendem o canto dos canários obtemos pardais cantantes É com efeito 10 motivo de grande admiração o facto de cada espécie de aves conservar ao longo de todas as gerações um certo canto principal e a tradição do canto é a mais fiel no mundo O homem só se pode tom ar homem através da educação Nada mais é do que aquilo em que a educação o tom a É de notar que o homem só pode ser educado por homens por homens que foram igualmente educados Daí que a falta de disciplina e instrução em alguns homens os tom e maus educadores dos seus educandos Se um ser de género mais elevado se interessasse pela nossa educação verseia o que o homem poderia vir a ser Dado que porém a educação em parte ensina algo aos homens em parte só desenvolve nele certas coisas não se pode saber que extensão alcançam em si as disposições naturais Se se fizesse aqui pelo menos um experimento com o apoio dos grandes e através das forças unidas de muitos obteríamos esclarecimentos acerca da extensão do que o homem conseguiria porventura realizar Mas é igualmente tão importante para a cabeça especulativa como uma nota triste para os filantropos ver como os grandes só se preocupam na maioria dos casos consigo e não tomam parte no importante experimento da educação do género humano de modo a que a natureza desse um passo em frente rumo à perfeição 11 Não existe ninguém que desprovido de cuidados na sua juventude não veja por si na idade madura onde foi negligenciado seja na disciplina seja na cultura como também se pode designar a instrução Quem não é cultivado é rude quem não é disciplinado é selvagem O descuido da disciplina é um mal maior que o descuido da cultura pois esta pode ser recuperada posteriormente o elemento selvagem porém não pode ser removido e um engano na disciplina nunca pode ser reparado Talvez que a educação se tom e sempre melhor e que cada geração subsequente dê um passo em direcção ao aperfeiçoamento da humanidade pois por detrás da educação alojase o grande segredo da perfeição da natureza humana De agora em diante tal pode acontecer Pois só agora se começa a avaliar correctamente e a ver com nitidez o que pertence intrinsecamente a uma boa educação É encantador imaginar que a natureza humana se desenvolverá cada vez melhor através da educação e que se pode levar esta a uma forma que seja adequada à humanidade Isto abrenos o prospecto de um género humano vindouro mais feliz Um esboço de uma teoria da educação é um ideal magnífico e o facto de ainda não estarmos em condições de o realizar não causa qualquer dano É necessário somente não considerar a ideia como quimérica e não a difamar como um belo sonho por mais obstáculos que surjam na sua execução 12 Uma ideia nada mais é que o conceito de uma perfeição que ainda não se encontra na experiência Por exemplo a ideia de uma república perfeita governada segundo as regras da justiça Será por isso impossível Primeiro a nossa ideia tem de ser correcta e então por mais obstáculos que surjam no caminho da sua execução não é de todo impossível Se por exemplo alguém mentisse dizer a verdade passaria a ser um mero capricho E a ideia de uma educação que desenvolva todas as disposições naturais no homem é sem dúvida verdadeira Na educação actual o homem não alcança a finalidade da sua existência Pois quão distintamente vivem os homens Só pode ter lugar uma uniformidade entre eles quando agirem segundo os mesmos princípios e estes princípios se tomarem para si outra natureza Podemos trabalhar no plano de uma educação mais adequada e entregar os preceitos para tal aos vindouros que a podem realizar a pouco e pouco Vêse nas orelhasdeurso por exemplo quando as plantamos por estaca que são de uma e mesma cor quando as semeamos pelo contrário são de cores totalm ente diferentes e variadas A natureza colocou nelas pois os germes e tudo depende de serem devidamente semeadas ou plantadas para os desenvolverem em si O mesmo se passa com os homens 13 Existem muitos germes na humanidade e é tarefa nossa desenvolver proporcionadamente as disposições naturais e desenvolver a humanidade a partir dos seus germes e fazer que o homem alcance a sua destinação Os animais realizamna por si e sem a conhecerem O homem tem primeiro de procurar alcançála mas tal não pode suceder se não tiver um conceito da sua destinação É totalmente impossível atingir tal destinação considerando apenas o indivíduo Se supusermos um primeiro casal humano realmente formado queremos ver como educa ele os seus educandos Os primeiros pais dão logo aos filhos um exemplo que os filhos imitam e assim desenvolvemse algumas disposições naturais Mas nem todas podem ser formadas deste modo pois é sobretudo em ocasiões circunstanciais que os filhos vêem exemplos Antigamente os homens não tinham um conceito da perfeição que a natureza humana pode alcançar Nós próprios ainda não clarificámos totalm ente tal conceito Mas já se sabe certamente o suficiente para afirmar que não é o homem individualmente na formação dos seus educandos que pode leválos a alcançarem a sua destinação Não é o homem individualmente mas o género humano que deve ter êxito nessa tarefa Educar é uma arte cujo exercício tem de ser aperfeiçoado através de muitas gerações Cumulada com os conhecimentos dos que já passaram cada geração pode sempre levar a cabo cada vez mais uma educação que 14 desenvolva propordonadamente e de modo conforme ao seu fim todas as disposições naturais do homem e assim conduzir todo o género humano à sua destinação A Providênda quis que o homem deva sempre produzir o bem a partir de si próprio e dirigiuse por assim dizer ao homem vai para o mundo o Criador poderia porventura ter falado aos homens deste modo Equipeite com todas as disposições para o bem Cabete desenvolvêlas e por isso a tua feliddade ou infelicidade depende de ti próprio O homem deve desenvolver primeiro as suas disposições para o bem a Providênda não as colocou já prontas nele são meras disposições e sem a nota da moralidade Tomarse melhor cultivarse e quando se é mau produzir em si a moralidade isso é tarefa do homem Mas quando se reflecte maduramente sobre isso descobrese que tal é muito difícil Daí que a educação seja o maior e mais difícil problema que pode ser confiado ao homem Pois o saber depende da educação e a educação depende por seu turno do saber Daí que a educação também só possa avançar a pouco e pouco e é apenas pelo facto de uma geração transm itir as suas experiências e conhecimentos à seguinte e esta acrescentar algo por sua vez e passá lo desse modo à seguinte que pode emergir um conceito correcto do modo de educar Que grande cultura e experiência não pressupõe este conceito Só podia nascer por conseguinte tardiamente e nós próprios ainda não o 15 clarificámos inteiramente Deve a educação no indivíduo im itar a formação da humanidade em geral ao longo das suas diferentes gerações Duas invenções dos homens podem ser consideradas como sendo as mais difíceis a saber a arte de governar e a arte de educar e no entanto as ideias de ambas ainda são controversas Desde quando começamos nós a desenvolver as disposições humanas Devemos começar de um estado rude ou de um já formado É difícil pensarmos um desenvolvimento a partir do estado rude daí ser também tão difícil o conceito de primeiro homem e vemos que num desenvolvimento a partir de um tal estado acabase por recair sempre no estado rude e que só então se eleva outra vez para aquele estado que era o objectivo primeiro Também em povos muito civilizados alguma coisa encontramos nos mais antigos documentos escritos que deixaram e quantas culturas não pertencem já à escrita de modo que em referência aos homens civilizados poderseia chamar ao início da escrita o início do mundo que é uma forte delimitação do estado rude Posto que nos homens o desenvolvimento das disposições naturais não ocorre por si então toda a educação é uma arte A natureza não depositou nele nenhum instinto para tal A origem bem como a continuação desta arte ou é m ecânica sem plano ordenada segundo as circunstâncias dadas ou 16 judiciosa A arte da educação nasce mecanicamente nas meras ocasiões que vão surgindo onde experimentamos se algo é prejudicial ou útil ao homem Toda a arte da educação que brota de modo meramente mecânico tem de comportar em si muitos erros e lacunas porquanto não tem nenhum plano na sua base A arte da educação ou pedagogia tem de se tomar portanto judiciosa se quiser desenvolver a natureza humana de tal modo que esta alcance a sua destinação Os pais já educados são exemplos segundo os quais os filhos se formam para se guiarem Mas se estes se devem tom ar melhores a pedagogia tem de se tom ar uma disciplina autónoma senão nada há a esperar dela e alguém já estragado na educação educa outros em vão O mecanismo na arte da educação deve transformarse em ciência senão nunca se tom ará um esforço com nexo e uma geração poderia arrasar o que outra já edificara Um princípio da arte da educação que os homens que fazem planos para a educação deveriam ter presente é as crianças devem ser educadas não para o estado presente do género humano mas para um estado futuro melhor isto é adequado à ideia de humanidade e à sua destinação integral Este princípio é de grande importância Os pais educam comummente os seus filhos apenas de modo a que estes se adaptem ao mundo presente por mais corrompido que possa estar Deviam porém educálos melhor para 17 que um estado futuro melhor possa desse modo ser produzido Mas aqui deparamos com dois obstáculos 1 É que os pais cuidam comummente apenas de que os seus filhos vinguem no mundo e 2 os príncipes consideram os seus súbditos apenas como instrumentos dos seus propósitos Os pais cuidam do lar os príncipes do Estado Nem uns nem outros têm como fim último a perfeição do mundo e a perfeição a que está destinada a humanidade e para a qual possui também as disposições As disposições para um plano educativo têm de se tom ar cosmopolitas E será então a perfeição do mundo uma ideia que pode ser nociva ao nosso bem estar privado Nunca pois ainda que parecesse que nela algo teria de ser sacrificado não se estaria senão a fomentar através dela a melhoria do seu estado presente E que magníficas consequências as acompanham então Uma boa educação é justamente aquilo donde brota todo o bem no mundo É necessário somente desenvolver cada vez mais os germes que residem no homem Pois os fundamentos do mal não se encontram nas disposições naturais do homem A causa do mal é somente o não se submeter a natureza a regras No homem residem apenas germes para o bem 18 Mas donde deve provir o estado melhor do mundo Dos príncipes ou dos súbditos a saber que apenas estes se aperfeiçoem e vão ao encontro a meio caminho de um bom governo Se tal houver de ser fundado pelos príncipes a educação dos príncipes tem de ser primeiro melhorada esta incorreu sempre no grande erro ao longo de um vasto período de tempo de não se lhes oferecer resistência na sua juventude Uma árvore porém que se ergue isoladamente no campo cresce retorcida e estende os seus ramos bem longe uma árvore pelo contrário que esteja no meio de uma floresta dado que as árvores em seu redor lhe oferecem resistência cresce a direito e procura ar e sol acima de si O mesmo se passa com os príncipes É ainda melhor porém que sejam educados por alguém do número dos súbditos que serem educados por algum dos seus pares só podemos esperar que o bem venha de cima no caso da educação ser ali mais aprimorada Daí que o importante aqui seja prindpalmente os esforços privados e não a intervenção dos príncipes como o pretendiam Basedow e outros pois a experiência ensina que aqueles a fim de alcançarem os seus fins têm como propósito não tanto a perfeição do mundo quanto apenas o bem do seu Estado Além de que se forem eles a contribuir com o dinheiro para tal os planos terão também de ficar sujeitos ao seu parecer E assim acontece em tudo o que respeita à formação do espírito humano ao alargamento dos conhecimentos humanos O poder e o dinheiro não o realizam quando 19 muito fadlitam no Mas poderiam realizálo se a economia do Estado não capitalizasse de antemão os impostos para os cofres do reino Também as academias não o fizeram até ao presente e que ainda o venham a fazer sobre isso nunca houve menos ilusões que actualmente A instituição de escolas por conseguinte devia também depender meramente do juízo dos conhecedores mais esclarecidos Toda a cultura começa no homem privado e disseminase a partir dele A aproximação gradual da natureza humana à sua finalidade é possível somente através do esforço de pessoas de inclinações mais amplas que se interessam pela perfeição do mundo e são capazes da ideia de um estado futuro melhor Mais do que um dos grandes considera por vezes porém a dimensão variada do seu povo como que apenas uma parte do reino da natureza e também tem em mira portanto apenas o facto de ser propagada Quando muito continua a requerse habilidade mas apenas para os súbditos poderem ser tanto mais bem usados como instrumentos para os seus propósitos Os homens privados têm claro está de ter em vista em primeiro lugar os fins da natureza mas então têm também de aspirar ao desenvolvimento da humanidade e velar para que esta se tom e não somente hábil como também moral e o que é mais difícil de procurar levar a sua descendência mais além do ponto a que eles próprios chegaram 20 Na educação o homem tem de ser 1 disciplinado Disciplinar significa procurar impedir que a animalidade prejudique a humanidade tanto no homem individual como no social A disciplina é pois a mera doma da condição selvagem 2 O homem tem de ser cultivado Por cultura entendese o ensino e a instrução Obtémse assim aptidões Esta é a posse de uma capacidade que basta a todas e quaisquer finalidades Não determina portanto nenhum fim mas deixa isso por conta das circunstâncias posteriores Algumas aptidões são boas em todos os casos por exemplo ler e escrever outras apenas para alguns fins por exemplo a música para nos tomarmos populares Por causa da grande quantidade de fins a aptidão não tem de certo modo termo 3 Tem de se velar para que o homem também se tom e prudente se ajuste à sociedade humana que seja popular e tenha influência A tal pertence uma certa espécie de cultura que se designa por civilizar Para tal requerse maneiras amabilidade e uma certa pm dênda segundo a qual se pode usar todos os homens para os seus fins últimos Aquela pautase pelo 21 gosto mutável de qualquer época Assim ainda há algumas décadas eram apreciadas cerimónias no trato 4 Tem de se velar pela m oralização O homem não deve estar apto pura e simplesmente a todos os fins mas deve também ser dotado de consciência de molde a eleger de preferência apenas bons fins Fins bons são aqueles que são necessariamente aprovados por todo o homem e que podem ser simultaneamente os fins de cada qual O homem pode ser ou meramente adestrado amestrado instruído mecanicamente ou ser realmente esclarecido Adestrase cães cavalos e também se pode adestrar homens Com o adestramento porém ainda não se esgota a educação o importante é prindpalmente que as crianças aprendam a pensar Isso leva nos aos princípios donde brotam todas as acções Vêse portanto que há muito a fazer numa educação genuína Habitualmente porém na educação privada exerdtase ainda pouco a quarta parte a mais importante pois educase os filhos essencialmente de tal modo que a moralização é deixada 22 por conta dos clérigos Mas quão infinitamente importante não é ensinar os filhos a aborrecerem o vício desde a juventude não apenas pela razão de Deus o ter justamente proibido mas sim porque é digno de aborrecimento em si próprio No caso contrário chegam facilmente ao pensamento de que o poderiam praticar a seu belprazer e aliás seria de facto permitido se Deus o não tivesse proibido e que Deus poderia por isso abrir uma excepção só por uma vez Deus é o ser mais sagrado e só quer aquilo que é bom e exige que devamos praticar a virtude apenas por causa do seu valor íntimo e não porque ele o exija Vivemos na época da disciplinização da cultura e da civilização mas estamos muito longe de viver na época da moralização No estado actual do homem pode dizerse que a felicidade dos Estados cresce em simultâneo com a miséria dos homens E há ainda a questão de saber se nós no estado rude dado que não se encontraria em nós toda esta cultura não seríamos mais felizes que no nosso estado actual Pois como podemos fazer o homem feliz se não o tomarmos moral e sábio Em caso contrário a quantidade do mal não se reduzirá Em primeiro lugar tem de se instituir escolas experimentais antes de se poder instituir escolas normais A educação e a instrução não podem ser meramente mecânicas têm antes de assentar em princípios Mas não 23 podem ser um mero arrazoado devem ser de certa maneira também um mecanismo Na Áustria havia maioritariamente escolas normais que foram edificadas segundo um plano contra o qual muito se disse e com razão e ao qual se poderia censurar em particular o mecanismo cego Todas as outras escolas tinham de se regular por estas e chegavase ao pondo de recusar emprego a pessoas que não tivessem frequentado estas escolas Tais preceitos mostram o elevado grau em que o governo se imiscui nisto e com um tal constrangimento é de facto impossível que medre algo de bom Imaginase comummente que não seriam precisos experimentos na educação e que se poderia ajuizar directamente a partir da razão se algo será bom ou não Mas aqui há muitos enganos e a experiência ensina que se mostram com frequência nas nossas tentativas efeitos diametralmente opostos aos que se esperava Vêse portanto que no atinente aos experimentos nenhuma época humana pode apresentar um plano educativo completo A única escola experimental que de certo modo começou a desbravar caminho foi o instituto de Dessau Cabelhe essa honra sem atender aos muitos erros que se lhe poderia censurar erros que se encontram em todas as conclusões que se extraem de tentativas é que lhe são sempre inerentes novas tentativas De certo modo foi a única escola em que os professores tinham a liberdade de trabalhar segundo métodos 24 e planos próprios e onde estavam em ligação entre si como também com todos os eruditos na Alemanha A educação encerra em si cuidado e form ação Esta é 1 negativa a disciplina que impede os meros erros 2 positiva a instrução e orientação e nesta medida faz parte da cultura Orientação é a condução na prática daquilo que se aprendeu Daí que se gere uma distinção entre instrutor que é um mero professor e preceptor que é um guia Aquele educa meramente para a escola este para a vida A primeira época no educando é aquela em que tem de dar provas de submissão e obediência passivas a outra aquela em que lhe deve ser permitido fazer já um uso da reflexão e da sua liberdade claro que sob leis Na primeira tratase de uma coacção mecânica na segunda moral A educação ou é uma educação privada ou pública A última diz respeito somente à informação e pode permanecer sempre pública O exercício dos preceitos fica entregue à primeira Uma educação pública completa é aquela que une ambas instrução e formação moral A sua finalidade é promoção de uma boa educação privada Uma escola onde tal ocorre designase por 25 instituto educativo Tais institutos não podem ser numerosos e o número de educandos neles não pode ser grande porquanto são muito dispendiosos e a sua mera edificação requer desde logo muito dinheiro Passase com eles o mesmo que se passa com os asilos e hospitais Os edifícios requeridos para isso os salários dos directores bedéis e contínuos levam logo metade do dinheiro que lhes estava destinado e é certo que se se remetesse este dinheiro aos pobres nas suas casas eles seriam muito mais bem tratados Daí que seja igualmente difícil que outras crianças além das de pessoas ricas possam frequentar esses institutos A finalidade de tais institutos públicos é o aperfeiçoamento da educação doméstica Somente se os pais ou outros que são seus auxiliares na educação fossem bemeducados poderia ser suprimida a despesa dos institutos públicos Neles devese proceder a tentativas para a formação de sujeitos e assim deve brotar deles uma boa educação doméstica Da educação privada cuidam ou os próprios pais ou se estes às vezes não tiverem tempo capacidade ou também se não encontrarem prazer nisso outras pessoas que são auxiliares assalariados Na educação mediantes estes auxiliares dáse a circunstância muito melindrosa de a autoridade estar repartida entre os pais e estes preceptores A criança deve regularse pelas prescrições dos preceptores e depois seguir novamente os caprichos 26 dos pais É necessário que numa tal educação os pais cedam toda a sua autoridade aos preceptores Em que medida porém deve a educação privada ter a primazia perante a pública ou viceversa Em geral parece porém que a educação pública é mais vantajosa que a educação doméstica não meramente do lado das aptidões como também no atinente ao carácter de um cidadão A última não só produz erros de família como também os propaga Mas quanto tempo deve a educação durar Até à época em que a própria natureza determina o homem a conduzirse a si próprio até que o instinto para o sexo se desenvolva nele até que ele possa ser pai e deva ele próprio educar aproximadamente até aos dezasseis anos Depois desta idade bem se pode utilizar os expedientes da cultura e exercer uma disciplina oculta mas já não se educa com a necessária regularidade A submissão do educando ou é positiva quando faz o que lhe é prescrito porquanto não pode julgar por si próprio e ainda persiste nele a mera capacidade de imitação ou é negativa quando faz o que os outros querem se quiser que os outros lhe devam fazer por seu turno algo do seu agrado Na primeira intervém o castigo na outra que não se faça o que ele quer é que ele é aqui pese embora o facto de já poder pensar dependente no seu contentamento 27 Um dos maiores problemas da educação é saber como se pode unir a sujeição sob a coacção de leis com a capacidade de se servir da sua liberdade Pois é necessário que haja coacção Como cultivo eu a liberdade na coacção Devo habituar o meu educando a tolerar uma coacção da sua liberdade e devo leválo simultaneamente a fazer um bom uso da sua liberdade Sem isto tudo é mero mecanismo e aquele que completou a sua educação não se sabe servir da sua liberdade Tem de sentir muito cedo a inevitável resistência da sociedade para se familiarizar a passar pela dificuldade de se sustentar e de adquirir o necessário à sua independência Devese observar aqui o seguinte 1 que se deixe a criança em liberdade desde a mais tem a infância em todos os aspectos com a excepção das coisas com as quais se pode magoar por exemplo ao agarrar uma faca afiada se tal não suceder de modo a que esteja no caminho da liberdade de outrem por exemplo quando grita ou quando está ruidosamente alegre isso incomoda desde logo os outros 2 tem de se lhe mostrar que não poderia alcançar os seus fins de outro modo senão permitindo que os outros alcancem os deles por exemplo que não se lhe dê prazer nenhum quando não faz aquilo que se quer que ele deve aprender etc 3 tem de se lhe provar que se lhe inflige uma coacção que o conduz ao uso da sua própria liberdade que se o cultiva para que um dia possa ser livre quer dizer não tenha de estar dependente do cuidado de outrem Esta última coisa é a mais 28 tardia Pois nas crianças a consideração de que por exemplo têm de cuidar do seu sustento só surge tardiamente Julgam que as coisas serão sempre como na casa dos pais onde têm de comer e beber sem que tenham de se preocupar com isso Sem aquele tratamento as crianças em particular as de pais ricos e os filhos de príncipes bem como os habitantes do Taiti continuam a ser crianças durante toda a sua vida É aqui que a educação pública tem as suas vantagens mais evidentes pois nela aprendese a medir as suas forças aprendese as suas limitações através do direito dos outros Aqui não gozamos de vantagens porquanto sentimos resistência por toda a parte e porque é somente através desta que nos tomamos cientes de que só nos distinguimos pelo mérito Tal apresenta o melhor modelo do futuro cidadão Mas aqui tem de se pensar ainda noutra dificuldade que consiste em antecipar o conhecimento do sexo a fim de protegêlas dos vícios mesmo antes da entrada na puberdade Mas disso tratarseá mais à frente Johann Bernard Basedow 172390 filho de um peruqueiro de Hamburgo estudou Teologia em Leipzig Desempenhou funções educativas em várias instituições Depois de ter visto a sua obra Philalethie proibida dedicouse à reforma do ensino Em 1771 foi chamado pelo príncipe de AnhaltDessau para apoiar a sua reforma pedagógica É em Dessau que em 1774 funda a Filantropa de Dessau escola experimental onde procura pôr em prática as 29 concepções pedagógicas expostas na sua obra principal publicada em 1769 Elementarwerk N T Kant referese ao regulamento escolar de Johann Ignaz von Felbiger 172488 de 1774 Felbiger estudou Teologia em Breslau foi preceptor privado e ordenado Padre em 1748 Em 1774 foi chamado a Viena pela Imperatriz Maria Teresa e nomeado Comissário Geral da Educação para todas as regiões alemãs do Império A primeira escola normal austríaca foi fundada em 1771 N 7 30 Dissertação A pedagogia ou doutrina da educação ou é física ou é prática A educação física é aquela que o homem tem em comum com o animal ou cuidado A educação prática ou moral é aquela através da qual o homem deve ser formado para que possa viver como um ser que age livremente Designamos por prático tudo aquilo que se relaciona com a liberdade Esta é educação para a personalidade educação de um ser que age livremente que se pode sustentar a si próprio e constitui um membro da sociedade mas que pode ter um valor interior por si próprio A educação consiste por conseguinte 1 na formação escolástico m ecânica em atenção à aptidão é portanto didáctica instrutor 2 na formação pragm ática em atenção à prudência preceptor 3 na formação moral em atenção aos costumes O ser humano tem necessidade de uma formação escolástica ou de instrução a fim de se tom ar apto à prossecução de todos os seus fins Esta 31 conferelhe um valor em atenção a si próprio enquanto indivíduo Através da formação para a prudência porém é formado para cidadão adquire então um valor público Aprende então tanto a dirigir a sociedade civil para as suas intenções como a adaptarse à sociedade civil Por fim mediante a formação moral recebe um valor em atenção a todo o género humano A formação escolástica é mais temporã e a primeira Pois toda a prudência pressupõe a aptidão Prudência é a faculdade de usar a sua aptidão de modo a que aproveite aos outros A formação moral na medida em que assenta em princípios que o próprio homem deve reconhecer é a mais tardia conquanto assente apenas no são entendimento humano tem de ser observada de início desde logo na educação física também pois em caso contrário arreigamse facilmente erros em que toda a arte da educação labora posteriormente debalde Em atenção à aptidão e à prudência tudo tem de ir sucedendo com os anos Na infância ser hábil prudente e de boa índole sem matreirice à maneira dos adultos serve de tão pouco como uma mentalidade infantil num adulto 32 Da educação física Sendo certo que aqueles que se encarregam da educação enquanto preceptores não se ocupam das crianças tão cedo de modo a poderem cuidar também da sua educação física não deixa de ser útil saber tudo aquilo que se deve necessariamente observar na educação desde o seu início até ao seu termo Mesmo que se lide enquanto preceptor apenas com crianças crescidas pode muito bem acontecer que nasçam novas crianças na casa e se aquele se conduziu bem tem sempre pretensões a ser da confiança dos pais e de ser também consultado por estes sobre a educação física delas dado que além disso é frequentemente a única pessoa com formação na casa Daí que também sejam necessários a um preceptor conhecimentos daquela Na realidade a educação física consiste apenas em cuidados ou dos pais ou de amas ou de aias O alimento que a natureza determinou à criança é o leite materno Que a criança sorva com ele as suas convicções como se ouve dizer com frequência já mamaste isso com o leite materno 33 é um mero preconceito É mais benéfico à mãe e ao filho que a própria mãe amamente É claro que em casos extremos haja excepções a isto por motivos de doença Há muito tempo acreditavase que o primeiro leite que se encontra na mãe depois do parto e é seroso seria prejudicial à criança e que a mãe teria de o expelir primeiro antes de poder amamentar o filho Foi Rousseau o primeiro a chamar a atenção dos médicos para o facto de este leite poder ser benéfico à criança já que a natureza nada dispôs em vão E também se chegou realmente à opinião de que este leite seria o melhor para expelir as impurezas que se encontram nos recémnascidos que os médicos designam como mecónio e que portanto seria altamente benéfico às crianças Levantouse a questão de saber se se poderia alimentar a criança igualmente bem com leite animal O leite humano é bastante diferente do animal O leite de todos os herbívoros dos animais que vivem de vegetais coalha muito rapidamente quando se lhe adiciona um pouco de ácido por exemplo vinagre ou sumo de limão ou particularmente o ácido do estômago dos vitelos que se chama coalho O leite humano porém não coalha de modo nenhum Mas se a mãe ou as amas só comerem refeições de vegetais durante alguns dias o leite delas coalhará tão bem como o leite de vaca etc mas se só comerem refeições de came durante algum tempo o leite delas volta a ser tão bom como anteriormente Daqui concluiuse que 34 seria melhor e mais benéfico à criança que a mãe ou as amas comessem carne durante o período de amamentação Pois quando as crianças bolçam o leite vêse que coalhou Os ácidos do estômago das crianças têm de fomentar ainda mais que os outros ácidos o coalhar do leite porque o leite humano não pode ser levado a coalhar de nenhum outro modo Quão pior seria portanto se se desse à criança leite que já coalha por si Mas que isto não é tudo o que importa vêse nas outras nações Os Tungueses por exemplo quase nada mais comem a não ser carne e são pessoas fortes e saudáveis Todos esses povos contudo também não vivem muito tempo e podese levantar no ar com pouco esforço um rapaz já crescido que não dá a ideia de ser muito leve Os suecos ao invés mas principalmente as nações nas índias quase não comem came de todo e no entanto as pessoas desenvolvemse bem Parece portanto que o importante é simplesmente aquilo a que as amas se adaptam e que o melhor alimento é aquele que lhes cai bem Mas perguntase então com que se alimenta a criança quando o leite materno cessar Desde há algum tempo experimentouse todo o tipo de papas Não é bom porém alimentar a criança desde logo com tais refeições Em particular é de sublinhar que não se dê às crianças nada de estimulante como vinho especiarias sal etc Mas é sem dúvida singular que as crianças tenham um tão grande desejo por todas as coisas desse 35 género A causa disso reside no facto de tal proporcionar um estímulo e uma animação às suas sensações ainda embotadas o que lhes é agradável As crianças na Rússia recebem claro que das suas mães aguardente que estas bebem com assiduidade e coisas do género e notase que nisso os russos são pessoas sadias fortes É claro que aquelas que resistem a isso são de boa constituição física mas também morrem muitas que bem podiam ter sobrevivido Pois um tal estímulo precoce nos nervos produz muitas desordens Até das refeições ou bebidas demasiado quentes temos de guardar cuidadosamente as crianças pois também elas causam fraquezas Além disso devese notar que as crianças não devem ser mantidas muito quentes pois o seu sangue já é em si muito mais quente que o de um adulto O calor do sangue nas crianças monta em termómetros Fahrenheit a 110 e o sangue do adulto apenas a 96a graus A criança sufoca no calor em que os mais velhos se sentem bem Aposentos frescos tom am em geral as pessoas mais fortes E também não é bom nos adultos vestiremse agasalharemse em excesso e habituaremse a bebidas demasiado quentes Daí que a criança deva ter um local fresco e rigoroso Também os banhos frios são bons Não se deve admitir nenhum meio para estimular o apetite nas crianças antes este deve ser sempre a consequência da actividade e da ocupação Não se deve porém deixar que a criança se habitue a nada que 36 acabe por se lhe tom ar uma necessidade Até mesmo coisas boas não se lhe devem tom ar um hábito através da arte Os cueiros quase não se encontram em povos rudes As nações selvagens na América por exemplo escavam buracos na terra para os seus filhos pequenos espargemnas com pó de árvores podres para absorverem a urina e as impurezas da criança e assim as crianças podem permanecer enxutas e cobremnas com folhas no resto permitemlhes um livre uso dos seus membros É também apenas comodismo da nossa parte enfaixar as crianças como múmias para não sermos obrigados a ter cautelas para que a criança não fique deformada o que acaba frequentemente por suceder contudo com os cueiros Também é pavoroso para as próprias crianças não poderem utilizar os seus membros e por isso caem num certo desespero E então pretendemos calar a sua gritaria com meras admoestações Mas enfaixese um homem adulto uma só vez e vejase então se ele não gritará e não começará a angustiarse e a desesperar É de notar em geral que a primeira educação deverá ser meramente negativa quer dizer não é necessário acrescentar nada de novo nem uma só coisa à providência da natureza mas permitir apenas que a natureza não estorve Se alguma arte for permitida na educação só pode ser a do fortalecimento Também por isso é de rejeitar os cueiros Se se quiser 37 observar no entanto alguma precaução o mais adequado é uma espécie de caixa munida na parte de cima com correias Os italianos usamna e chamamlhe arcuccio A criança permanece sempre nesta caixinha e é lá colocada para a amamentação Assim fica protegida de modo a que ainda que a mãe adormeça à noite enquanto amamenta a criança porém não possa ser esmagada a ponto de morrer Entre nós todavia morrem muitas crianças desta maneira Esta precaução é portanto melhor que os cueiros pois as crianças têm aí mais liberdade e protegemse das deformações ao passo que se tom am disformes muitas vezes através dos próprios cueiros Um outro hábito na primeira educação é o em balar A maneira mais fácil é aquela de que alguns camponeses se servem Penduram o berço por um cabo numa trave e portanto só é preciso darem o primeiro empurrão para que ele balance por si próprio de um lado para o outro O embalar porém para nada serve Pois o ir e vir do balanço é prejudicial à criança Vêse até em pessoas crescidas que o baloiçar produz um movimento que conduz ao vómito e às tonturas O objectivo é entorpecer as crianças para que elas não gritem Mas gritar é saudável para as crianças Assim que saem do ventre materno onde não fruem de qualquer ar inspiram o primeiro ar A circulação do sangue modificada desse modo produz uma sensação dolorosa Através dos gritos porém a criança desenvolve tanto melhor os componentes internos e os canais do seu corpo Acorrer logo 38 em ajuda da criança quando ela grita cantarlhe qualquer coisa como é hábito das amas ou fazer qualquer desse género é muito prejudicial Isso é habitualmente a primeira coisa a estragar a criança pois ao ver que tudo acorre ao seu chamamento repete os seus gritos com mais frequência Bem se pode dizer com verdade que as crianças das pessoas comuns são mais estragadas com mimos do que as das pessoas distintas Pois as pessoas comuns brincam com elas como com macacos Cantamlhes acariciam nas beijamnas dançam com elas Pensam fazer algo de bom à criança quando logo que ela grita acorrem a brincar com ela etc Mas assim gritam mais frequentemente Se pelo contrário não nos voltarmos ao seu choro acabam por parar de chorar Pois nenhuma criatura se dá a trabalhos vãos Se as habituarmos contudo a verem todos os seus caprichos satisfeitos o quebrar da vontade chega depois demasiado tarde Mas se as deixarmos gritar acabam por se fartar Se satisfizermos na primeira infância porém todos os seus caprichos estragamoslhes o coração e os costumes É claro que a criança ainda não tem um conceito de costumes mas estragaselhe as suas disposições naturais pelo facto de se ter de aplicar castigos muito duros depois a fim de reparar os estragos Depois quando se quer desabituálas de nos apressarmos às suas exigências as crianças manifestam uma fúria tão grande nos seus gritos de que apenas os adultos 39 são capazes só que àquelas faltam as forças para passar a vias de facto Enquanto só tiverem de chamar para que tudo em seu redor lhes acorra dominam por conseguinte despoticamente Ora quando esta dominação cessa aborrecemse com isso naturalmente Pois até a grandes homens que tenham detido um poder durante algum tempo lhes custa sempre muito desabituaremse rapidamente dele As crianças não conseguem ver correctamente nos primeiros tempos aproximadamente nos três primeiros meses É certo que têm a sensação da luz mas não distinguem os objectos entre si Podemos veriíicálo da seguinte maneira se lhes pusermos algo brilhante à frente não o seguem com os olhos Com a visão dáse também a faculdade de rir e chorar Quando a criança chega então a este estado chora reflectidamente porque não está tão escuro como queria Significa sempre então que se lhe provocou algum sofrimento Rousseau diz que se se bater na mão de uma criança de aproximadamente seis meses ela grita tanto como se lhe tivesse caído um tição nas mãos A isto já se liga realmente o conceito de ofensa Os pais muito falam ordinariamente do quebrar da vontade nas crianças Não é necessário quebrarlhes a vontade se ela não tiver sido anteriormente estragada O primeiro estrago contudo consiste em anuirmos à vontade despótica das crianças ao deixarmos que elas consigam tudo o que querem com base na gritaria Além de que é extremamente difícil reparar isso 40 depois e raramente se tem êxito Podese conseguir com efeito que a criança fique calada mas ela engole a bílis em si e nutre uma furia interior tanto maior Habituase assim a criança à dissimulação e a movimentos interiores do ânimo É muito estranho por isso que por exemplo os pais exijam que as crianças depois de terem apanhado com o açoite lhes beijem as mãos Desse modo habituamolas à dissimulação e à falsidade Pois o açoite não é precisamente um presente assim tão belo que se fique agradecido por ele e facilmente se imagina com que coração a criança beijará uma tal mão Servimonos habitualmente para ensinar as crianças a andar de andadeiras e andarilhos Mas é surpreendente que se queira ensinar as crianças a andar como se alguma pessoa tivesse ficado sem o saber por falta de lições As andadeiras em particular são muito prejudiciais Um escritor queixouse outrora de crises de falta de ar que atribuía pura e simplesmente às andadeiras Pois dado que uma criança agarra tudo e apanha tudo do chão debruçase com o peito sobre a andadeira Mas dado que o peito ainda é mole é pressionado até ficar chato e acaba por conservar depois esta forma As crianças também não aprendem a andar tão seguramente com estes meios como se o aprendessem por si próprias O melhor é deixá las gatinhar no chão até que comecem a pouco e pouco a andar por si 41 Por precaução podese equipar o aposento com tapetes de lã para que não espetem picos e também não caiam tão duramente Dizse vulgarmente que as crianças caem muito pesadamente Mas além de nem sequer poderem cair pesadamente não lhes vem grande mal por caírem uma vez por outra Aprendem a distribuir melhor o peso e a virarem se de modo a que a queda não lhes faça mal Também se lhes coloca amiúde o chamado gorro acolchoado tão proeminente que a criança nunca pode cair de cara no chão Mas isto é apenas uma educação negativa empregando meios artificiais quando a criança os tem naturais Os instrumentos naturais são aqui as mãos que a criança ao cair põe logo à frente Quantos mais instrumentos artificiais se usar mais dependente de utensílios se tom a o homem Em geral seria melhor se se usasse de início poucos utensílios e se deixasse as crianças aprenderem mais por si poderiam então aprender poucas coisas mas muito mais fundamentadamente Assim seria bem possível por exemplo que a criança aprendesse por si a escrever Pois alguém inventou a escrita em algum momento e também não é uma invenção assim tão grande Seria necessário somente por exemplo quando a criança quer pão dizer consegues desenhálo A criança desenharia então uma figura oval Então dirselheia que não se sabe se ela representou um 42 pão ou uma pedra então tentaria em seguida desenhar o P etc e assim a criança inventaria para si o seu próprio ABC que depois só teria de trocar por outros sinais Algumas crianças vêm ao mundo com aleijões Não se tem meios para corrigir novamente esta figura defeituosa como que estragada Chegou se à opinião mediante os esforços de muitos e sábios escritores de que os espartilhos de nada servem aqui pelo contrário ainda aumentam o mal na medida em que obstam à circulação do sangue e dos humores bem como à altamente necessária expansão das partes internas e externas do corpo Quando se deixa a criança à vontade ela exercita m ais o seu corpo e um homem que usa um espartilho estará quando o tirar muito mais fraco que outro que nunca o tenha posto Podese talvez ajudar aqueles que nasceram com aleijões colocando mais peso no lado em que os músculos são mais robustos Mas isto também é muito perigoso pois que homem pode estipular o equilíbrio O melhor é que a criança se exercite a si mesma e adquira uma posição ainda que lhe seja custosa pois aqui nenhuma máquina remedeia a coisa Todos os aparelhos artificiais desse género são tanto mais prejudiciais quanto vão ao arrepio da finalidade da natureza num ser organizado racional ao qual por conseguinte deve assistir a liberdade de aprender 43 a utilizar as suas forças Na educação devese impedir somente que as crianças se tom em moles E o fortalecimento é o oposto da moleza É arriscar demasiado querer habituar a criança a tudo A educação dos Russos vai muito longe a este respeito Mas por isso morre um inacreditável número de crianças A habituação através de uma repetição mais frequente do mesmo gozo ou acção tom ase em necessidade do gozo ou da acção A nada as crianças se habituam mais facilmente e nada se deve dar menos às crianças do que coisas estimulantes por exemplo tabaco aguardente e bebidas quentes A desabituação depois é muito difícil e de início implica queixas porque através do prazer mais frequente ocorreu uma modificação nas funções do nosso corpo Quanto mais hábitos um homem tem menos livre e independente é Sucede ao homem o mesmo que a todos os outros animais acaba por lhe ficar um certo pendor para aquilo a que cedo se habituou Devese impedir por isso que a criança contraia habituações não se pode permitir que nasça nela uma habituação Muitos pais querem que os seus filhos se acostumem a tudo Isto porém de nada serve Pois a natureza humana em geral e em parte a própria natureza do sujeito individual não lhe permite habituarse a tudo e muitas crianças quedamse pelas primeiras lições Assim querem por exemplo 44 que as crianças durmam e se levantem a qualquer altura do dia ou que devam comer quando eles lho exigem Mas para aguentar isso requerse um modo de vida peculiar um modo de vida que robustece o corpo e que restaura o que o deteriorou Mas na natureza também encontramos muita coisa periódica Os animais também têm o seu tempo certo para dormir O homem deve habituarse igualmente a um tempo certo para que o corpo não seja perturbado nas suas funções No que diz respeito ao facto de as crianças deverem comer a qualquer hora não podemos invocar aqui o exemplo dos animais Pois por exemplo todos os animais que se alimentam de erva ingerem comida pouco rica por isso comer é um assunto corriqueiro Mas é muito saudável para o homem comer sempre numa determinada altura Assim alguns pais querem que os seus filhos consigam suportar grandes frios o fedor todo e qualquer ruído e coisas do género Mas isso de modo nenhum é necessário se eles a nada se acostumarem E para tal é de grande préstimo que se transponha as crianças para diferentes estados Uma cama dura é muito mais saudável que uma mole Em geral uma educação dura ajuda muito ao fortalecimento do corpo Por educação dura entendemos porém o mero impedimento do conforto Não faltam exemplos notáveis para corroborar esta afirmação só que não se atenta neles ou mais bem dito não se quer atentar 45 No que diz respeito à formação do ânimo que realmente e em certa medida também se pode designar por física é necessário observar principalmente que a disciplina não seja servil mas que a criança tenha sempre de sentir a sua liberdade só que de tal modo que não perturbe a liberdade dos demais daí que tenha de encontrar resistência Alguns pais cerceiam tudo aos seus filhos a fim de exercitarem a sua paciência e exigem por conseguinte mais paciência aos filhos do que aquela que eles próprios têm Isto no entanto é cruel Dêse à criança tanto quanto lhe serve e depois digaselhe tens o suficiente Mas é sem dúvida necessário que tal seja então irrevogável Atendase aos gritos das crianças e condescendase com elas somente se elas não quiserem forçar a alguma coisa através da gritaria mas concedaselhes aquilo que pedirem amavelmente se lhes for de préstimo Assim habituase também a criança a ser sincera e a não se tom ar impertinente através da sua gritaria e desse modo todos serão também afáveis com ela A Providência parece ter dado um semblante afável às crianças para que possam inspirar simpatia às pessoas e obterem vantagens Nada é mais prejudicial que uma disciplina trocista servil para quebrar o egoísmo Costumase censurar as crianças Que porcaria não tem vergonha que feio etc Mas não se deve fazer isso na primeira educação A criança ainda não tem conceitos de vergonha e de decoro nada tem de 46 que se envergonhar não se deve envergonhar e deste modo tomase simplesmente acanhada Fica embaraçada assim que vê outrem e esconde se de bom grado perante outras pessoas Nasce assim uma reserva e uma dissimulação prejudiciais Já não se atreve a pedir o que quer que seja e deveria contudo poder pedir tudo dissimula a sua disposição e parece sempre diferente do que realmente é em lugar de ter de lhe ser permitido dizer tudo com sinceridade Em vez de estar sempre na proximidade dos pais evitaos e lançase nos braços da criadagem condescendente Em nada melhor que aquela educação trocista é perder tempo com ninharias e carícias ininterruptas Isso reforça a vontade própria da criança tom aa falsa e na medida em que lhe denuncia uma fraqueza dos pais arrebatalhes o respeito necessário aos olhos da criança Mas quando se educa de tal modo que a criança nada consegue com os seus gritos tom ase livre sem impertinência e modesta sem ser acanhada Deverse ia dizer dräust ameaçador e não dreist insolente pois deriva de dräuen drohen ameaçar Ninguém pode tolerar uma pessoa ameaçadora Algumas pessoas tem rostos de tal modo insolentes que se tem sempre de recear uma grosseria da sua parte tal como se vêem outros rostos que nunca poderiam dizer uma grosseria a quem quer que seja Podese sempre parecer sincero quando há uma ligação a uma certa bondade As pessoas dizem frequentemente de homens distintos que têm a aparência de um rei Mas 47 isto nada mais é que um certo olhar insolente a que se habituaram desde a juventude porque não se lhes opôs resistência Tudo isto ainda se pode contar somente na formação negativa Pois muitas fraquezas do homem não provêm frequentemente do facto de não se lhes ter ensinado nada mas mais do facto de se lhes ter ensinado impressões falsas Assim por exemplo as amas passam para as crianças o medo das aranhas sapos etc As crianças poderiam certamente apanhar as aranhas da mesma maneira em que agarram outras coisas Mas porque as amas assim que vêem uma aranha mostram a sua repugnância através de caretas isso acaba por influenciar a criança através de uma certa simpatia Muitas conservam este medo por toda a sua vida e a esse respeito permanecem sempre pueris Pois as aranhas são de facto perigosas para as moscas e a sua mordedura élhes venenosa mas não são prejudiciais ao homem E um sapo é um animal tão inocente como uma bela rã verde ou qualquer outro animal A parte positiva da educação física é a cultura O homem distinguese do animal pela sua referência a esta Consiste ela principalmente no exercício 48 das faculdades do ânimo Por isso os pais têm de proporcionar aos filhos as oportunidades para que tal suceda A primeira e mais importante regra para isso é que se prescinda tanto quanto possível de todos os instrumentos Assim presdndase de início das andadeiras e dos andarilhos e deixese a criança gatinhar no chão até que aprenda a andar por si própria pois assim andará com maior segurança É que os instrumentos apenas arruinam o jeito natural Podese utilizar um fio para medir uma dada extensão mas podese fazêlo igualmente bem a olho um relógio para determinar o tempo mas podese fazêlo através da posição do sol uma bússola para nos orientarmos na floresta mas podese fazêlo também através da posição do sol de dia e da posição das estrelas à noite Até se pode dizer que em vez de precisar de um batel para avançar sobre as águas se pode nadar O célebre FranklinO admirase que haja alguém que o não aprenda visto que é tão agradável e útil Menciona igualmente um modo fácil de cada qual aprendê lo por si Coloquese um ovo no fundo de um ribeiro onde se tenha pé de modo a que pelo menos a cabeça fique à tona Procurese então agarrar o ovo Ao inclinarmonos os pés sobem e para que não entre água na boca giraremos logo a cabeça no sentido da nuca e assim obtémse a posição correcta que é necessária para podermos nadar Podese nessa altura trabalhar com as mãos e assim já estamos a nadar O que importa é cultivar 49 a aptidão natural Ora se requer informação para tal ora a própria criança tem inventiva quanto baste ou descobre instrumentos por si própria O que há a observar na educação física ou seja do ponto de vista do corpo referese ou ao uso de movimento voluntário ou aos órgãos dos sentidos No primeiro caso importa que a criança se auxilie sempre a si própria Para isso requerse forças destreza agilidade segurança por exemplo o poder andar sobre uma base vacilante em veredas estreitas em elevações alcantiladas onde se tem um precipício diante de si Se uma pessoa o não consegue fazer também não é completamente o que poderia ser Desde que a Filantropa de Dessau nos precedeu aqui com o seu modelo foram feitas muitas tentativas do género com crianças noutros institutos É assaz admirável ler que os Suíços são habituados desde a juventude a andar nas serras e a que perícia chegam de tal modo que podem caminhar com total segurança nas veredas mais estreitas e saltam sobre precipícios que sabem a olho que conseguirão transpor A maioria das pessoas porém tem medo perante um caso desses meramente imaginado e este medo como que lhes tolhe os membros de modo que depois um tal caminho se associa imediatamente a perigo Este medo aumenta geralmente com a idade e encontramolo principalmente em pessoas muito habituadas ao trabalho intelectual 50 Tais feitos nas crianças não são realmente muito perigosos Pois as crianças têm um peso de longe mais escasso em proporção às suas forças que as outras pessoas e por isso não lhes custa tanto Além disso os ossos não são nelas tão rígidos e quebradiços como vêm a ser com a idade As crianças também experimentam por si as suas forças Por isso as vemos às vezes por exemplo a escalarem sem que tenham um qualquer desígnio Correr é um movimento saudável e fortalece o corpo Saltar a elevação carregar a fisga o tiro ao alvo a luta a corrida e exercícios semelhantes são muito bons A dança na medida em que for artística parece precoce para crianças em sentido próprio O exercício de atirar seja o atirar longe seja também o acertar em alguma coisa tem como finalidade o exercício dos sentidos em particular da vista O jogo da bola é um dos melhores jogos infantis para o qual contribui também a corrida saudável Em geral os melhores jogos são aqueles em que ao exercício da destreza se somam os exercícios dos sentidos por exemplo o exercício de avaliar correctamente a olho a distância a dimensão e as proporções de encontrar a posição dos lugares segundo os quadrantes do mundo onde é útil o sol etc tudo isso são bons exercícios Também a imaginação local pelo que entendemos a proficiência para imaginar tudo aquilo que realmente se viu nos sítios certos é algo de muito vantajoso por exemplo o prazer de se orientar para sair de uma 51 floresta nomeadamente através do facto de se ter reparado nas árvores pelas quais já se passou O mesmo sucede com a m em ória localis que se saiba por exemplo não só em que livro se leu algo como também o seu preciso local no mesmo Assim o músico tem as teclas na cabeça de tal modo que já não precisa de as procurar com o olhar A cultura da audição é igualmente precisa para se saber através dela se algo está longe ou perto e de que lado está O jogo da cabracega já era conhecido dos gregos designavamno por muAinda Regra geral os jogos infantis encontramse um pouco por toda a parte Aqueles que temos na Alemanha também se encontram na Inglaterra na França etc Subjazlhes um certo instinto natural das crianças no jogo da cabracega por exemplo apercebemse de como se desenvencilhariam se lhes faltasse um sentido O pião é um jogo particular tais jogos infantis no entanto são m atéria para os homens prosseguirem as suas reflexões e dão azo de quando em quando a invenções importantes Assim Segner escreveu uma dissertação acerca do pião e este deu oportunidade a um capitão inglês para inventar um espelho através do qual se conseguisse no barco medir a altitude das estrelas As crianças gostam de ter instrumentos que fazem barulho por exemplo com etas tambores etc Mas isso não serve para nada porque 52 desse modo tomamse maçadoras para os outros Já seria melhor no entanto que aprendessem a cortar uma cana de tal modo que pudessem tocar música com ela O baloiço também constitui um bom movimento mesmo os adultos necessitam dele para efeitos de saúde as crianças necessitam de supervisão porquanto o movimento pode atingir uma grande velocidade O papagaio depapel também é um jogo que não suscita objecções Cultiva a destreza na medida em que depende de uma certa posição da direção do vento se se quer que suba muito alto O rapaz privase de outras necessidades em favor destes jogos e aprende gradualmente a prescindir de variadíssimas coisas Além de que se habitua a uma ocupação duradoura mas justamente por isso não se permite o mero jogo antes tem de jogar com intenção e um fim último Pois quanto mais o seu corpo se fortalece e endurece desta maneira tanto mais seguro está das consequências nocivas do mimo A ginástica também deve somente conduzir a natureza não pode suscitar uma graciosidade forçada A disciplina tem de ser introduzida de início mas não a informação Aqui devese velar porém para que se forme as crianças na cultura do seu corpo também para a sociedade Rousseau afirma Nunca conseguireis fazer sages se não começardes por fazer traquinas Mais depressa se faz de um 53 rapaz vivo um bom homem do que de um impertinente um moço prudente e trabalhador A criança não só não pode ser enfadonha na sociedade como também não pode ser insinuante Deve ser familiar com quem frequenta sem ser indiscreta sincera sem ser impertinente O meio para isso é nada se corrompa não se lhe ensine conceitos de decoro através dos quais se tom e acanhada e receosa dos homens ou por outro lado seja levada à ideia de se querer fazer valer Nada é mais ridículo do que o recato precoce ou a presunção impertinente da criança No último caso tanto mais temos de fazer sentir à criança as suas fraquezas mas não em demasia a nossa superioridade e domínio para que se forme de facto a partir de si mesma como um homem que deve viver em sociedade onde o mundo tem de ser suíicientemente grande para ela própria mas também para os outros No Tristram Shandy Toby diz a uma mosca que o maçara durante muito tempo enquanto a soltava à janela Ide pobre diabo idevos daqui por que vos haveria eu de fazer mal este mundo é por certo bastante grande para nós os dois Cada qual poderia adoptar esta divisa Não devemos ser importunos entre nós o mundo é suficientemente grande para todos nós 54 Chegamos agora à cultura da alma que também podemos designar em certa medida como física Tem de se distinguir porém entre natureza e liberdade Dar leis à liberdade é algo completamente diferente de formar a natureza A natureza do corpo e da alma concordam no facto de se procurar impedir uma corrupção aquando da sua formação recíproca e no facto de a arte acrescentar então algo àquela bem como a esta Podese igualmente designar a formação da alma portanto em certa medida por física tal como a formação do corpo Esta formação física do espírito distinguese da moral contudo por esta visar apenas a liberdade e aquela apenas a natureza Uma pessoa pode ser fisicamente muito cultivada pode ter um espírito muito formado mas ser em simultâneo mal cultivada moralmente ser uma criatura má A cultura física porém deve ser distinguida da prática esta última é pragm ática ou moral No último caso é m oralização não cultivo Dividimos a cultura física do espírito em livre e escolástica A livre é como que apenas um jogo a escolástica pelo contrário constitui um negócio a livre é aquela que tem de ser sempre observada no educando na escolástica porém o educando é considerado como que sob coacção Podese estar ocupado no jogo a isso chamamos também estar ocupado no ódo mas 55 também se pode estar ocupado sob coacção e a isso chamase trabalhar A formação escolástica deve ser trabalho para a criança a livre jogo Foram esboçados vários planos educativos para experimentar o que é sempre muito louvável qual seria o melhor método na educação Aventou se também a ideia entre outras de que a criança deixa que lhe ensinem tudo como num jogo Lichtenberg queixouse num texto do magazine de Gotinga da ilusão segundo a qual deverseia fazer tudo aos rapazes como num jogo que no entanto cumpre habituar desde muito cedo aos negócios uma vez que um dia têm de entrar na vida activa Isto produz um efeito completamente invertido A criança deve brincar deve ter horas de repouso mas também tem de aprender a trabalhar A cultura da sua aptidão é claro está igualmente tão boa como a cultura do espírito mas ambos os géneros de cultura têm de ser exercitados em tempos diferentes Mesmo sem isso já é uma infelicidade para o homem que ele seja tão inclinado à inactividade Quanto mais um homem mandriar mais dificilmente se resolve a trabalhar No trabalho a ocupação não é agradável em si mesma é empreendida por mor de outro propósito No jogo pelo contrário a ocupação é agradável em si sem se propor qualquer propósito para além de si própria Quando se vai passear o passeio é em si o propósito e quanto mais longo for o caminho mais nos é agradável Mas se queremos ir a algum lado onde a 56 sociedade que lá se encontra ou qualquer outra coisa é o propósito do nosso passeio preferimos escolher o caminho mais curto O mesmo se passa com os jogos de cartas É realmente notável vermos homens razoáveis sentados frequentemente durante horas a baralharem cartas Donde se depreende que os homens não deixam de ser crianças assim tão facilmente Pois em que é que tal jogo é melhor do que o jogo da bola das crianças Os adultos não andam em cavalos de batalha mas não deixam de ter as suas manias É da maior importância que as crianças aprendam a trabalhar O homem é o único animal que tem de trabalhar Somente depois de muitos preparativos chega o homem ao estado de poder fruir de algo para seu sustento À pergunta não teria o céu cuidado de nós mais bondosamente se nos permitisse encontrar tudo já de tal modo preparado que não nos veríamos obrigados a trabalhar deve decerto responderse com um não pois o homem requer negócios mesmo os que acarretam uma certa coacção Igualmente tão falsa é a ideia de que se Adão e Eva tivessem permanecido sempre no Paraíso nada mais teriam feito que estar sentados lado a lado cantado canções arcádicas e contemplado a beleza da natureza O tédio teria sido tão certo como o que torturou outros homens em situação análoga 57 O homem tem de estar de tal modo ocupado que com o propósito que tem em vista realizar dessa maneira não se sinta a si mesmo e que o seu melhor repouso seja aquele que se segue ao trabalho A criança tem de ser pois habituada a trabalhar E onde a não ser na escola se deve cultivar a inclinação para o trabalho A escola é uma cultura por coação É extremamente nocivo que a criança seja habituada a considerar tudo como jogo Tem de ter tempo para se recrear mas também tem de haver tempo em que trabalha Ainda que a criança não vislumbre logo qual seja a utilidade dessa coacção descobrirá no futuro o maior proveito disso Seria amimalhar excessivamente a curiosidade indiscreta da criança responder sempre às suas perguntas para que serve isto e aquilo A educação tem de se conformar à coacção mas nem por isso lhe é permitido ser servil No atinente à livre cultura das faculdades do ânimo deve notar se que está sempre a avançar Tem de dizer respeito com efeito às faculdades superiores As inferiores são igualmente cultivadas mas apenas em referência às superiores a argúcia por exemplo em referência ao entendimento Aqui a regra principal é que nenhuma faculdade do ânimo deva ser cultivada isoladamente por si mas sim que cada uma o seja em referência às outras por exemplo a imaginação apenas para vantagem do entendimento 58 As faculdades inferiores não têm por si só nenhum valor por exemplo um homem com uma grande memória mas sem faculdade de ajuizar Um tal homem é uma enciclopédia viva Tais burros de carga do Pamasso também são necessários ainda que não consigam realizar nada de brilhante pois carreiam consigo materiais para que outros possam realizar algo de bom a partir disso A argúcia dá puras tolices quando não se lhe acrescenta a faculdade de julgar O entendimento é o conhecimento do geral A faculdade de julgar é a aplicação do geral ao particular A razão é a faculdade de apreender a ligação do geral ao particular Esta cultura livre abre o seu caminho desde a infanda até à época em que o adolescente completa toda a educação Quando um adolescente por exemplo invoca uma regra geral podese fazêlo indicar casos da história das fábulas em que esta regra está mascarada passagens dos poetas onde já se encontra expressa e assim darlhe ensejo de exerdtar a sua argúcia a sua memória etc A sentença tantum scimus quantum m em ória tenemus tem decerto a sua justeza e por isso a cultura da memória é muito necessária Todas as coisas estão constituídas de tal modo que o entendimento segue primeiramente as impressões sensíveis e a memória deve retêlas O mesmo sucede por exemplo com as línguas Podese aprendêlas pela memorização formal ou através do convívio e este último método é o melhor nas línguas vivas 59 Aprender os vocábulos é realmente importante mas o que de melhor há a fazer é aprender aquelas palavras que aparecem no autor que se está precisamente a ler com o adolescente Os jovens têm de ter o seu programa certo e determinado Assim a geografia também se aprende melhor mediante um certo mecanismo A memória gosta preferencialmente deste mecanismo que também é muito útil numa série de casos Para a história ainda não se inventou até ao presente um mecanismo adequado é certo que já se tentou com tabelas mas parece que ainda assim as coisas também não correram lá muito bem A história porém é um excelente meio para exercitar o entendimento no juízo A memorização é muito necessária mas de nada serve como mero exercício por exemplo aprender discursos de cor Em todo caso ajuda como fomento da ousadia e além disso o declamar é assunto de homens Têm aqui lugar todas as coisas que se aprendem apenas para um futuro exame ou em referência ao futuram oblivionem Devese ocupar a memória apenas com assuntos que temos interesse em conservar e que têm uma relação com a vida real Nas crianças o mais nocivo é a leitura de romances visto que não farão outro uso deles a não ser o de se divertirem no momento em que os lêem A leitura de romances enfraquece a memória Pois seria ridículo fixar romances e querer contálos a outrem Daí que se tenha de tirar todos os romances das mãos das crianças Ao lê los imaginam por seu turno um novo romance no romance dado que 60 imaginam as circunstâncias diferentemente devaneiam e ficam sentadas absortas Nunca podem ser toleradas distracções pelo menos na escola pois acabam por produzir um certo pendor para tal um certo hábito Mesmo os talentos mais belos arruínamse naquele que se entregue à distracção Quando as crianças se distraem com prazeres voltam a concentrar se em breve mas vemolas no ponto máximo da distracção quando têm marotices na cabeça pois então cismam como podem ocultálas ou reparálas Nessa altura ouvem tudo somente pela metade respondem ao contrário e não sabem o que lêem etc A memória tem de ser cultivada cedo mas imediatamente a par disso o entendimento Cultivase a memória 1 através da fixação de nomes nas narrativas 2 através da leitura e da escrita aquela porém tem de ser exercitada de cabeça e não soletrando 3 através das línguas que têm de ser ensinadas às crianças inidalmente através da audição antes de conseguirem ler alguma coisa Nessa altura é de grande préstimo o chamado Orbis pictusÇ adequadamente organizado e podese dar início à Botânica à Mineralogia e à descrição da natureza em geral Fazer um bosquejo destes objectos dá azo ao desenho e à modelação para o que se precisa de matemática O mais 61 vantajoso no primeiro ensino científico é versar a geografia a matemática bem como a física As narrativas de viagens ilustradas com gravuras e mapas levam então à geografia política Do estado actual da superfície do globo remontase ao estado anterior passase então à descrição da terra antiga à história antiga etc Na criança porém devese procurar combinar gradualmente no ensino o saber e o poder Entre todas as ciências a matemática parece ser a única do género que satisfaz este fim último Além disso o saber e o falar tem de estar ligados facúndia oratória eloquência Mas a criança tem também de aprender a distinguir muito bem o saber do mero opinar e crer Deste modo preparase um entendimento correcto e um gosto correcto não fin o ou tem o Aquele deve ser antes de mais um gosto dos sentidos nomeadamente dos olhos e por fim um gosto das ideias Devem estar presentes regras em tudo o que deve educar o entendimento É também muito útil abstrair as regras para que o entendimento não proceda mecanicamente mas sim com a consciência de uma regra Também é muito bom levar as regras a uma certa fórmula e assim confiálas à memória Se tivermos as regras na memória e nos esquecermos do seu uso rapidamente nos orientamos A questão aqui é devem as regras 62 preceder apenas in abstracto ou devem as regras ser aprendidas apenas depois de se ter feito uso delas Ou devem a regra e o uso andar a par e passo Só este último caso é de aconselhar No outro caso demora se tanto até chegar às regras que o uso é muito inseguro As regras têm de ser oportunamente enquadradas em classes pois não se fixam se não estiverem em ligação entre si Nas línguas a gramática tem portanto de ter alguma precedência Temos agora de dar também um conceito sistemático do fim total da educação e do modo como se pode alcançálo 1 A cultura geral das faculdades do ânim o distinguese da cultura particular Dirigese à aptidão e ao aperfeiçoamento que não se informe o educando nisso mas antes que se fortaleça as suas faculdades do ânimo Ela é a ou física Aqui tudo assenta no exercício e na disciplina sem que as crianças possam conhecer as máximas É passiva para o formando este tem de ser obediente à direcção de outrem Outros pensam por ele 63 b ou moral Assenta então não na disciplina mas em máximas Está tudo estragado quando se quer fundamentála em exemplos ameaças castigos etc Nesse caso seria uma mera disciplina Deve se velar aí para que o educando aja bem a partir das suas próprias máximas não por hábito que ele não se limite a fazer o bem mas sim que o faça porque é bom Pois todo o valor moral das acções consiste nas máximas do bem A educação física distinguese da moral por ser passiva para o educando ao passo que esta é activa Ele tem de vislumbrar sempre o fundamento e a derivação da acção a partir dos conceitos do dever 2 A cultura particular das faculdades do ânimo Aqui temos a cultura da faculdade de conhecer dos sentidos da imaginação da memória da fortaleza da atenção e da argúcia o que diz igualmente respeito às faculdades inferiores do entendimento Da cultura dos sentidos por exemplo do olhar já se falou mais acima No atinente à cultura da imaginação devese notar o seguinte As crianças têm uma imaginação descomunalmente forte e esta não necessita de ser alargada e excitada pelos contos Tem antes de ser refreada e posta sob regras mas também não a podemos deixar totalmente desocupada 64 Os mapas têm em si algo que encanta todas as crianças inclusive as mais pequenas Quando já estão saturadas de tudo ainda aprendem mais qualquer coisa se utilizarmos mapas E é um bom divertimento para crianças onde a sua imaginação não pode devanear mas como que tem de se ater a uma certa figura Poderseia realmente começar nas crianças com a geografia Podese combinar com ela em simultâneo figuras de animais plantas etc estas devem dar vida à geografia A história porém deveria ser introduzida somente mais tarde No que diz respeito ao fortalecimento da atenção devese notar que esta tem de ser fortalecida em geral Um vínculo rígido dos nossos pensamentos a um objecto não é tanto um talento mas antes uma fraqueza do nosso sentido interno já que neste caso é inflexível e não se pode aplicar a nosso belo talante A distracção é inimiga de toda a educação A memória porém assenta na atenção Mas no que concerne às faculdades superiores do entendim ento temos a cultura do entendimento da faculdade de julgar e da razão De início o entendimento pode ser em certa medida formado também passivamente através de menção de exemplos para as regras ou ao invés através da descoberta de regras para os casos particulares A faculdade de julgar mostra que uso se deve fazer do entendimento Este é necessário para 65 compreender o que se aprende ou se diz e para não repetir nada sem o compreender Como alguns que lêem e escutam algo sem o compreenderem ainda que acreditem que o compreendem Para tal requer se imagens e objectos Através da razão penetrase nos fundamentos Mas temos de ponderar que o que está aqui em causa é uma razão que ainda não está encaminhada Não tem de estar sempre a querer raciocinar mas também não se deve arrazoarlhe muito de antemão sobre aquilo que ultrapassa os conceitos Também não se refere à razão especulativa mas sim à reflexão sobre o que acontece segundo as suas causas e efeitos É uma razão prática na sua economia e disposições O melhor cultivo das faculdades do ânimo é fazer por si tudo o que se quer realizar por exemplo quando se exercita de imediato a regra gramatical que se aprendeu Compreendese melhor um mapa de uma região quando se pode traçálo por si O compreender tem como expediente maior a produção Aprendese mais radicalmente e fixase melhor aquilo que como que se aprende de si mesmo Só poucas pessoas no entanto estão em condições de o fazer Designamse por autodidaktoi autodidactas Na formação da razão tem de se proceder socraticamente É que Sócrates que se intitulava a parteira dos conhecimentos dos seus ouvintes dá 66 exemplos nos seus diálogos que Platão em certa medida nos conservou de como mesmo no caso de pessoas já de idade se pode extrair muita coisa da sua própria razão A razão não precisa em muitos assuntos de ser exercitada pelas crianças Não têm de arrazoar acerca de tudo Não precisam de saber os fundamentos daquilo que os faz bemeducados mas assim que concerne ao dever têm de ser familiarizadas com esses fundamentos Devese velar no entanto para que os conhecimentos racionais não lhes sejam introduzidos a partir de fora mas sim que elas os hauram em si mesmas O método socrático devia constituir a regra no catecismo É claro que é aborrecido e é difícil organizálo de tal maneira que enquanto se faz sair os conhecimentos de um os outros também aprendam em simultâneo alguma coisa O método m ecânicocatedsta é igualmente bom em algumas ciências por exemplo na exposição da religião revelada Na religião universal pelo contrário tem de se utilizar o método socrático Atendendo àquilo que tem de ser aprendido historicamente recomendase de preferência o método mecânicocatecista Também cabe aqui a formação do sentimento de prazer e desprazer Aquela tem de ser negativa mas o sentimento em si não deve ser amimalhado O pendor para a comodidade é pior para os homens que todos os males da vida Daí que seja extremamente importante que as crianças aprendam a trabalhar desde a juventude As crianças se não estiverem já 67 estragadas com mimos gostam realmente dos prazeres que se associam às canseiras das ocupações que requerem as suas forças No que diz respeito à alimentação não se deve deixar que se tom em gulosas e não se pode deixálas escolher Geralmente as mães estragam os filhos com mimos neste particular e amimalhamnos em geral E no entanto notase que as crianças prindpalmente os rapazes gostam mais dos pais que das mães Isto provém do facto de as mães não os deixarem andar aos pinotes a correr etc com medo de que se possam magoar O pai ao invés que é quem repreende e também lhes bate se forem malcriados levaos de quando em quando ao campo e aí deixaos correrem brincarem e folgarem à medida da idade Crêse exercitar a paciência das crianças fazendoas esperar muito tempo por alguma coisa Mas tal não deveria ser necessário De paciência precisam realmente na doença e coisas do género A paciência é dupla Consiste ou na renúncia a toda a esperança ou no cobrar um novo ânimo A primeira não é necessária se se exigir sempre o possível e o último é o que se deve fazer se se desejar sempre apenas o que é justo Na doença a desesperança piora tanto quanto o bom ânimo traz melhoras Quem o consegue recobrar em relação ao seu estado físico ou moral ainda não renunciou a toda a esperança 68 Também não se pode tom ar as crianças acanhadas Isso acontece principalmente quando usamos de injúrias com elas e as envergonhamos reiteradamente Aqui entra em particular a exclamação dos pais que porcaria não tens vergonha Não se deve de modo nenhum fazer vista grossa àquilo de que a criança deveria realmente ter vergonha por exemplo quando põe o dedo na boca etc Isso não se faz não é bonito podese dizerlhe mas nunca gritarlhe um que porcaria que vergonha a não ser no caso de mentirem A natureza deu ao homem a pudicícia para que se traia assim que mentir Por isso nunca os pais dêem às crianças sermões sobre a vergonha a não ser que mintam assim elas conservarão por toda a sua vida o mbor de vergonha no que diz respeito à mentira Se são envergonhadas sem cessar isso provoca um acanhamento que se lhes cola de longe mais imutavelmente A vontade da criança não tem como já foi dito atrás de ser quebrada mas apenas de ser conduzida de modo a que ceda aos obstáculos naturais É claro que de início a criança tem de obedecer às cegas Não é natural que a criança comande através da sua gritaria e que o forte obedeça ao fraco Daí que nunca se possa condescender à gritaria das crianças inclusive na primeira infância e permitirlhes que se imponham Geralmente os pais erram aqui e querem em seguida reparar a situação de tal modo que cerceiam posteriormente tudo o que as crianças pedem Mas cercearlhes 69 sem causa aquilo que esperam da bondade dos pais pura e simplesmente para oferecer resistência e poder fazer sentir aos mais fracos a supremacia dos mais velhos é o inverso do que deve acontecer Estragase as crianças com mimos quando se lhes faz a vontade e são educadas de modo completamente errado quando se contraria a sua vontade e os seus desejos A primeira situação acontece geralmente na fase em que são um brinquedo dos pais prindpalmente na altura em começam a falar Mas daí brota um grande dano para toda a vida Na segunda situação impedese em simultâneo que elas mostrem o seu espírito de contradição o que tem necessariamente de acontecer mas assim ainda mais se enraivecem no íntimo Ainda não estão familiarizadas com o modo em que se devem então comportar A regra que se tem de observar nas crianças desde cedo é esta que quando chorarem e se crê que alguma coisa lhes faz mal ir em sua ajuda mas se o fazem por mera má vontade deixálas estar E depois tem de se seguir incansavelmente um procedimento igual A resistência que a criança encontra neste caso é totalm ente natural e intrinsecamente negativa na medida em que apenas se não é condescendente Algumas crianças ao invés conseguem dos pais tudo o que pretendem assim que se põem a pedinchar Quando se permite às crianças que consigam tudo pelos gritos tomam se más se conseguem tudo pelo pedinchar tomam se moles Se não houver bons motivos para 70 agir em sentido contrário devese aceder ao pedido da criança Se se encontrar uma causa para não o aceitar também não nos podemos deixar mover pelo pedinchar reiterado Toda a resposta negativa tem de ser irrevogável O seu primeiro efeito é o de que não é preciso estar sempre a negar Supondo que existisse na criança uma disposição natural para a teimosia o que contudo só muito raramente se pode supor o melhor modo de proceder é que se não fazemos nada para nos obsequiarmos também não lhe façamos nada para a obsequiar Quebrar a vontade acarreta um modo de pensar servil a resistência natural pelo contrário mansidão A cultura moral tem de se fundar em máximas não na disciplina Esta impede a falta de educação aquela forma o modo de pensar Tem de se velar para que a criança se habitue a agir segundo máximas e não segundo certos móbiles Através da disciplina fica apenas uma habituação que se extingue com o passar dos anos A criança deve aprender a agir segundo máximas de cuja equidade se aperceba Facilmente se percebe que isso é difícil de conseguir nas crianças pequenas e que por isso a formação moral requer os maiores conhecimentos dos pais e dos professores Se a criança mentir por exemplo não se deve castigála mas sim tratá la com desprezo dizerlhe que de futuro não acreditaremos nela etc Se se 71 castigar a criança quando faz o mal e for recompensada quando faz o bem fará o bem para ter o bem E se depois entrar no mundo onde tal não sucede onde pode agir bem sem receber recompensa e mal sem receber um castigo tom arseá uma pessoa que vê apenas como pode vingar no mundo e será boa ou má consoante lhe for mais propício As máximas têm de nascer da própria pessoa Na cultura moral devese procurar ensinar à criança desde cedo os conceitos do que é bom e mau Se se quer fundar a moralidade não se pode castigar A moralidade é algo tão sagrado e sublime que não se pode aviltála colocandoa no mesmo patamar da disciplina O primeiro esforço na educação moral é fundar um carácter O carácter consiste na prontidão a agir segundo máximas De início são máximas escolares em seguida máximas da humanidade De início a criança obedece a leis As máximas também são leis só que subjectivas nascem do próprio entendimento do homem Mas nenhuma infracção da lei escolar pode passar impune apesar do castigo ter de ser sempre adequado à infracção Se se quer formar um carácter nas crianças é muito importante tom ar lhes perceptível em todas as coisas um certo plano certas leis que têm de ser estritamente seguidas Estabeleçaselhes então por exemplo um tempo para dormir para o trabalho para os folguedos e não se encurte nem 72 se amplie tal tempo Em coisas indiferentes deixese a escolha às crianças têm apenas de seguir sempre posteriormente aquilo que de início quiseram como lei Nas crianças devese formar não o carácter de um cidadão mas sim o carácter de uma criança Pessoas que não se propuseram certas leis não são de fiar não as compreendemos porque nunca sabemos ao certo o que havemos de esperar delas É certo que hoje se censura frequentemente as pessoas que agem sempre segundo regras por exemplo o homem que estabeleceu um tempo certo pelo relógio para cada acção mas esta censura é amiúde injusta e esta exactidão ainda que pareça penosa é uma disposição para o carácter Ao carácter de uma criança em particular de um aluno compete antes de mais a obediência Esta é dupla primeiro uma obediência à vontade absoluta segundo à vontade reconhecida como racional e boa de um guia A obediência pode ser derivada da coacção e então é absoluta ou da confiança e então é do outro género Esta obediência voluntária é muito importante aquela porém é também extremamente necessária na medida em que prepara a criança para cumprir aquelas leis que como cidadão terá de cumprir no futuro ainda que lhe não agradem As crianças têm de estar por isso sob uma certa lei da necessidade Esta lei porém tem de ser geral pelo que se tem de velar em particular 73 na escola O professor não pode mostrar predilecção entre os vários alunos nem uma afeição preferencial por uma criança em particular Pois senão a lei cessa de ser geral Assim que a criança repara que todos os demais não têm de se sujeitar à mesma lei tom ase insubordinada Está sempre a dizerse que se deveria de apresentar tudo às crianças de molde a que o façam por inclinação É claro que em certos casos isso é bom mas também tem de se lhes prescrever muitas coisas como dever Isto tem posteriormente uma grande utilidade ao longo de toda a vida Pois nas tarefas públicas no trabalho num oficio e em muitos outros casos só o dever nos pode conduzir não a inclinação Supondo que a criança também não compreenda o seu dever é sempre tanto melhor que compreenda que algo é seu dever como criança mas é mais difícil ver o que seja o seu dever como homem Se o conseguisse compreender mas isso só é possível nos anos seguintes a obediência seria assim ainda mais perfeita Toda a infracção de um mandamento numa criança é uma falta de obediência e esta acarreta um castigo Mas também na infracção desatenta de um mandamento não deixa de ser necessário o castigo Este castigo ou é físico ou é moral Castigase moralmente quando se prejudica a inclinação de ser honrado e amado que são os meios auxiliares da moralidade por exemplo quando 74 se envergonha a criança quando a tratamos com uma frieza glacial Estas inclinações têm de ser conservadas tanto quanto possível Por isso este modo de castigar é o melhor porque vem em socorro da moralidade por exemplo quando uma criança mente um olhar de desprezo é castigo quanto baste e é o castigo mais adequado Os castigos físicos consistem ou na denegação do desejado ou na aplicação de penas O primeiro género é aparentado com o castigo moral e é negativo Os outros castigos têm de ser exercidos com cautela para que não se gere uma índoles servilis Que se dê recompensas às crianças de nada serve tomamse interesseiras e gerase daí uma índoles mercenária A obediência é por seu turno ou obediência da criança ou do adolescente A uma infracção deste seguese o castigo Este ou é um castigo realmente natural no qual o homem incorre através da sua conduta por exemplo se a criança comer demasiado adoecerá e estes castigos são os melhores pois o homem experimentaos ao longo da vida e não apenas enquanto mera criança ou o castigo é artificial A inclinação de ser respeitado e amado é um meio seguro de levar os castigos a terem um efeito mais duradouro Os castigos físicos têm de ser meros complementos da insuficiência dos castigos morais Quando os castigos morais já não ajudam em nada avança se para os castigos físicos mas através destes já não se forma um carácter 75 bom De início porém a coacção física substitui a falta de reflexão da criança Os castigos que são infligidos com a nota da cólera actuam de modo falso As crianças consideramnos então como consequências do afecto de outrem e consideramse a si mesmas como objectos desse mesmo afecto Em geral os castigos têm de ser aplicados às crianças sempre com cautela para que vejam que o fim último dos mesmos é somente o seu melhoramento Querer que as crianças quando são castigadas agradeçam beijem as mãos e coisas do género é loucura e tom a as crianças servis Se os castigos físicos forem repetidos com frequência formam um teimoso e se os pais castigam os seus filhos por causa da sua obstinação assim apenas os tom am ainda mais obstinados Aqueles que são teimosos nem sempre são os homens piores mas cedem facilmente com mais frequência às boas exortações A obediência do adolescente é distinta da da criança Consiste na sujeição às regras do dever Fazer algo por dever significa obedecer à razão Perorar às crianças acerca do dever é trabalho vão Acabam por considerálo como algo a cuja infracção se segue o açoite A criança poderia ser guiada através de meros instintos mas assim que cresce tem de se introduzir o conceito de dever A vergonha também não deve ser usada com crianças mas apenas 76 nos primeiros anos da adolescência É que só pode ter lugar quando o conceito de honra já lançou raízes Um segundo traço principal da fundação do carácter da criança é a veracidade Esta é o traço fundamental e o essencial de um carácter Um homem que mente não tem carácter e se algo de bom tem em si isso promana pura e simplesmente do temperamento Algumas crianças têm um pendor para a mentira que deve ser assacado a uma imaginação muito viva A tarefa do pai é velar para que a criança se desabitue disso pois as mães habitualmente não dão nenhuma atenção ou pouca a uma coisa que consideram de somenos frequentemente encontram nisso até uma prova que as lisonjeia das primorosas disposições e capacidades dos seus filhos Aqui é que é o lugar de fazer uso da vergonha pois aqui a criança compreendeo bem O rubor da vergonha trainos quando mentimos mas nem sempre é uma prova disso Frequentemente coramos devido à desfaçatez de outrem que nos acusa injustamente Em nenhuma circunstância podemos procurar forçar a verdade das crianças mediante castigos pois o facto de mentirem acarretaria o mesmo dano e elas seriam então castigadas por causa desses mesmos danos Priválos do respeito é o único castigo adequado da mentira 77 Os castigos também se deixam dividir em negativos e positivos dos quais os primeiros têm de entrar nos casos de preguiça ou imoralidade por exemplo na mentira na falta de obsequiosidade na falta de civilidade Os castigos positivos porém valem para a maldade Mas devemos sobretudo precatarmonos de guardar rancor às crianças Um terceiro traço no carácter de uma criança tem de ser a sociabilidade Deve travar amizade com outras crianças e não estar sempre sozinha Alguns professores são com efeito contra isso nas escolas mas isso é muito injusto As crianças devem prepararse para o mais doce gozo da vida Os professores porém não podem preferir nenhuma criança por causa dos seus talentos mas somente por causa do seu carácter pois de outra maneira gerase a inveja que é contrária à amizade As crianças também têm de ser francas e tão alegres no seu olhar como o sol Só o coração alegre é capaz de sentir comprazimento no bem Uma religião que tom a os homens lúgubres é falsa pois eles devem servir a Deus com um coração alegre e não por coacção O coração alegre não tem de se manter sempre rigorosamente sob coação escolar pois neste caso em breve fica abatido Se tiver liberdade recupera rapidamente Para isso servem certos jogos em que tem liberdade e onde a criança se esforça por exceder 78 outrem a propósito de alguma coisa A alma tom ase logo novamente alegre Muitas pessoas pensam que os anos da sua meninice foram os melhores e os mais agradáveis da sua vida Mas não é assim São os anos mais penosos porque se está sempre sob disciplina raramente se pode ter um verdadeiro amigo e ainda mais raramente se pode ter liberdade Já Horádo dizia multa tulit fecitqu e puer sudauit et alsitÇ Às crianças tem de se ensinar apenas aquelas coisas que se adequam à sua idade Alguns pais alegramse por os filhos conseguirem falar precocemente Mas habitualmente tais crianças em nada dão Uma criança tem de ser esperta como uma criança Não pode ser um macaqueador cego Uma criança porém que está já de posse de sentenças morais precocemente está totalmente fora da determinação da sua idade e está a macaquear Deve ter apenas o entendimento de uma criança e não fazer boa figura devido à sua precocidade Uma tal criança nunca se tom ará um homem perspicaz e de entendimento alegre Igualmente insuportável é o facto de uma criança querer participar em todas as modas por exemplo andar de 79 cabelo arranjado com pulseiras ou mesmo possuir uma bolsa de tabaco sua Tomase um ser afectado o que não convém a uma criança Um meio educado tomaselhe um fardo e por fim faltalhe completamente a desenvoltura de um homem Justamente por isso devese contrariar também desde cedo a vaidade ou mais bem dito não se lhe deve dar azo a que se tom e vaidosa Isso acontece porém quando se impinge às crianças muito cedo quão belas são ou quão amoroso é este ou aquele enfeite ou quando este lhe é prometido e dado como recompensa Os adornos não servem às crianças As suas vestes limpas ou sujas devemlhe ser dadas como necessidade Mas os pais também não devem valorizar tais coisas não se devem mirar ao espelho pois aqui como em todo o lado o exemplo é todopoderoso e consolida ou aniquila a boa doutrina Povo do Norte da Sibéria fiT Rousseau Emílio Livro I Tenho a certeza de que um pedaço de carvão em brasa que tivesse caído em cim a da mão daquela criança a teria feito sofrer menos que aquela palmada assaz ligeira mas dada com a intenção m anifesta de a ofender Publicações EuropaAmérica Vol 11990 trad de Pilar Delvaulx N T Kant referese a Benjamin Franklin 170690 cientista e um dos foundingfathers N T Kant referese ao matemático Johann Andreas Segner 170477 professor em lena Gotinga e Halle onde sucedeu a C W olf em 1758 80 Rousseau op d t livro II Vol I p 117 N T Laurence Stem e A vida e opiniões de Tristram Shandy Lisboa Antígona 1998 vol I Trad de Manuel Portela p 191 A versão que Kant apresenta não confere textualm ente com a tradução portuguesa O texto de Lichtenberg tinha por título Antwort auf das Sendschreiben eines Ungennanten e foi publicado no número 4 do terceiro ano do magazine de Gotinga N I Título da obra de Jan Amos Komensky 15921671 pedagogo checo m ais conheddo pela designação latina de Comenius intitulada em alemão O mundo vísivel das coisas que apresentava imagens legendadas e constituiu o modelo para inúmeras obras entre as quais a Elementarwerk de Basedow N T Muito fez e suportou desde menino suou sofreu verso 413 da Epistola ad Pisones mais conhedda desde Quintiliano como Arte poética A passagem completa reza O atleta que forceja por atingir na corrida a m eta desejada muito fez e suportou desde menino suou sofreu e abstevese do vinho e de Vénus in Horácio Arte poética Lisboa Editorial Inquérito 20014 trad de Rosado Fernandes p 105 N T 81 Da educação prática Da educação prática fazem parte 1 aptidão 2 prudência mundana 3 moralidade No que diz respeito à aptidão tem de se velar para que esteja arreigada e não seja efémera Não se pode aparentar conhecimentos de coisas que não se é capaz posteriormente de realizar Tem de haver solidez na aptidão e esta deve tomarse gradualmente num hábito do modo de pensar Ela é o essencial para o carácter de um homem A aptidão pertence ao talento No que diz respeito kprudência mundana esta consiste na arte de utilizar a nossa aptidão entre os homens quer dizer o modo em que nos podemos servir dos homens para os nossos propósitos Para tal requerse várias coisas Na verdade tratase do mais importante no homem mas segundo o valor ocupa o segundo lugar 82 No caso de a criança ficar entregue à prudência mundana tem de disfarçar e de se tom ar impenetrável mas tem de poder sondar os outros Tem de disfarçar prindpalmente no atinente ao seu carácter A arte da aparência externa é o decoro E devese possuir esta arte Sondar os outros é difícil mas tem de se compreender necessariamente esta arte para se tom ar a si próprio ao invés impenetrável Para isso requerse dissimulação quer dizer a reserva dos seus erros e aquela aparência exterior A dissimulação nem sempre é disfarçar e pode de vez em quando ser permitida mas roça a desonestidade O disfarce é um meio desesperado É preciso na prudência mundana não nos empertigarmos não podemos porém ser de modo nenhum demasiado negligentes Não devemos portanto ser impetuosos mas antes voluntariosos O voluntarismo é distinto da impetuosidade Voluntarioso strennus é aquele que tem prazer no querer A isto pertence moderação do afecto A prudência mundana diz respeito ao temperamento A m oralidade diz respeito ao carácter Sustine et abstineÇ é a preparação para uma sábia moderação Se se quer formar um bom carácter só tem de se eliminar as paixões O homem tem de se habituar às suas inclinações de tal modo que elas não se tom em paixões tem antes de aprender a passar sem aquilo que lhe é recusado Sustine significa suporta e habituate a aguentar 83 Requerse força de ânimo e inclinação se se quer aprender a passar por carências Temos de nos habituar a respostas demolidoras resistência etc Do temperamento faz parte a simpatia Devese evitar um compadecimento melancólico e lânguido nas crianças O compadecimento é uma sensibilidade real harmonizase apenas com um carácter tal que seja sensível Distinguese ainda da compaixão e é um mal quando consiste apenas em lamentar meramente uma coisa Deverseia dar dinheiro de bolso às crianças para que pudessem fazer bem aos necessitados assim ver seia se são compassivas ou não se porém são generosas apenas com o dinheiro dos pais é porque tal não é o caso A sentença festin a lenteÇ indica uma actividade contínua na qual temos de nos apressar para aprendermos muito quer dizer festin a Mas temos também de aprender fundamentadamente e gastar tempo em cada caso isto é lente A questão é então a de saber o que é preferível devese abranger muitos conhecimentos ou poucos mas fundamentados É melhor ter poucos conhecimentos mas saber estes poucos fundamentadamente que muitos e superficiais pois acabase por avistar a superficialidade neste último caso Mas a criança não sabe de facto em que circunstâncias pode vir a precisar destes ou daqueles conhecimentos e por isso é bem melhor 84 que de tudo saiba algo fundamentado pois senão engana e confunde os outros com os seus conhecimentos aprendidos pela rama O mais importante é alicerçar o carácter Este consiste na firme intenção de querer fazer algo e também no seu exercício real Virpropositi tenaxÇ diz Horácio e é isso um bom carácter Por exemplo se prometo algo a alguém tenho de o cumprir independentemente de me vir assim a prejudicar Pois um homem que se propõe algo mas não o faz já não pode confiar em si próprio por exemplo se alguém se propõe levantarse sempre cedo para estudar ou para fazer isto ou aquilo ou para dar um passeio e se desculpa na Primavera porque as manhãs são demasiado frias e lhe poderiam fazer mal no Verão porém que lhe sabe bem dormir e o sono lhe é agradável e assim adie o seu propósito de dia para dia acaba por já não confiar em si próprio Aquilo que é contra a moral é exceptuado de tais propósitos Num homem mau o carácter é muito mau mas aqui também já se trata de pertinácia ainda que o facto de ser constante e consumar os seus propósitos suscite agrado se bem que fosse melhor que ele se mostrasse assim no bem De alguém que adia sempre a consumação dos seus propósitos não se espera muito A chamada conversão futura é da mesma espécie Pois é impossível que o homem que viveu sempre viciosamente e que se quer converter num instante a não ser que suceda logo um milagre acabe por 85 se tom ar de uma só vez igual àquele que se aplicou bem toda a sua vida e que sempre pensou integramente Justamente por isso também nada há a esperar de peregrinações mortificações e jejuns pois não se vê em que é que as peregrinações e outros rituais podem contribuir para fazer de uma penada de um homem vicioso um homem nobre Em nada contribui para a integridade e aperfeiçoamento o facto de se jejuar de dia e de noite se comer novamente outro tanto nem pode em nada contribuir para a modificação da alma infligir penitências ao corpo Para alicerçar o carácter moral nas crianças temos de observar o seguinte Tem de se lhes apresentar os deveres que têm de cumprir tanto quanto possível através de exemplos e preceitos É que os deveres que a criança tem de cumprir são apenas deveres habituais para consigo e para com os outros Estes deveres têm de ser traçados pela natureza das coisas Temos de considerar por isso mais pormenorizadamente a os deveres para consigo mesmo Estes não consistem em adquirir vestimentas magníficas e tomar lautas refeições etc ainda que tudo tenha de andar limpo Não consistem no facto de se procurar satisfazer os apetites e inclinações pois devese ser pelo contrário muito moderado e sóbrio mas 86 antes no facto de o homem ter no seu íntimo uma certa dignidade que o enobrece perante todas as criaturas e o seu dever é não negar esta dignidade da humanidade na sua própria pessoa Negamos contudo a dignidade da humanidade se por exemplo nos dermos à bebida cometermos pecados não naturais e nos entregarmos a toda a espécie de licenciosidades etc que rebaixam todas elas o homem muito para lá dos animais Além disso se um homem se comportar servilmente com os outros se fizer sempre um cumprimento para se insinuar como ele julga através de uma conduta tão indigna também isto vai contra a dignidade da humanidade A dignidade do homem também se tom a perceptível à criança logo em si própria por exemplo em caso de falta de asseio que é pelo menos indecorosa para a humanidade A criança pode porém rebaixar se realmente para lá da dignidade da humanidade através da mentira conquanto já seja capaz de pensar e de comunicar os seus pensamentos a outrem O acto de m entir tom a o homem objecto de desprezo geral e é um meio de lhe arrebatar a si próprio o respeito e a confiança que cada qual deveria ter para consigo 87 b Deveres para com os outros A veneração e respeito pelo direito dos homens têm de lhe ser ensinados muito cedo e tem de se velar muito para que os ponha em prática por exemplo se uma criança encontrar uma outra criança pobre e a empurrar orgulhosamente para fora do caminho ou simplesmente a afastar de si com um tal empurrão ou lhe bater etc não se lhe deve dizer não faças isso isso dói sê compassivo é uma criança pobre etc devese antes fazerlhe o mesmo tão orgulhosamente e com a mesma força porquanto a sua conduta repugna ao direito da humanidade As crianças porém não possuem intrinsecamente qualquer generosidade Podese verificálo por exemplo no facto de que quando os pais lhes mandam dividir metade do seu pãodeleite com outra criança sem que contudo receba posteriormente desta por isso uma parte igual ou pura e simplesmente não o fazem ou só muito raramente e contrariadas Também não se pode sem mais arengarlhes muito sobre a generosidade uma vez que elas nada têm que seja seu Muitos autores omitiram a secção da moral que inclui a doutrina dos deveres para consigo mesmo ou explicaramna erradamente como CmgottC O dever para consigo mesmo contudo consiste como já se disse em o homem conservar a dignidade da humanidade na sua própria pessoa Ele censurase quando tem diante dos olhos a ideia da humanidade Tem um original na sua ideia com o qual se compara Quando o número de 88 anos cresce quando a inclinação para o sexo se começa a agitar então é o momento crítico em que apenas a dignidade do homem está em condições de conter o jovem dentro de limites É necessário com antecedência advertilo de como se precatar diante deste ou daquele Falta às nossas escolas quase sem excepção algo que fomentaria muito a formação das crianças para a integridade nomeadamente um catecismo do direito Este deveria conter casos populares que sucedem na vida comum e nos quais se levanta sem querer a questão de saber se algo será ou não justo Por exemplo se alguém que deve pagar hoje ao seu credor for tocado pela visão de um indigente e lhe entregar a soma em dívida e que deveria pagar isso é justo ou não Não é injusto pois tenho de ser livre se quiser ser beneficente E se eu der o dinheiro ao pobre faço uma obra meritória mas se pagar a m inha dívida faço uma obra devida Além disso seria permitida uma m entira por necessidade Não não é pensável um único caso em que aquela mereça desculpa muito menos por parte de crianças que aliás consideram toda a minudência um caso de necessidade e se permitiriam m entir reiteradamente Se já existisse um tal livro poderse ia com muito proveito achar que dizer diariamente durante uma hora para que as crianças conhecessem e aprendessem a levar a peito o direito dos homens essa menina dos olhos de Deus na terra 89 No que diz respeito à obrigação de beneficência é uma obrigação apenas imperfeita Não se tem tanto de amolecer o coração das crianças de modo a que sejam afectadas pelo infortúnio dos outros como de o tom ar voluntarioso Que ele não esteja repleto de sentimentos mas sim com a ideia do dever Muitas pessoas tomaramse com efeito de coração empedernido porquanto dado que haviam sido anteriormente compassivas se viram amiúde intrujadas É vão querer fazer compreender a uma criança o mérito das acções Os clérigos erram com muita frequência ao representarem as obras de beneficência como algo meritório Sem pensarem no facto de que em referência a Deus nunca podemos fazer mais que aquilo que devemos também é apenas nosso dever fazer bem ao pobre Pois a desigualdade da prosperidade dos homens provém apenas de circunstâncias fortuitas Se possuo um pecúlio também devo agradecê lo apenas ao partido que eu próprio ou o meu antepassado tirámos de determinadas circunstâncias e a referência ao todo permanece sempre a mesma Quando se chama a atenção de uma criança para se avaliar segundo o valor das outras provocase inveja Ela deve antes avaliarse segundo os conceitos da sua razão Daí que a humildade nada mais seja na verdade do que uma comparação do seu valor com a perfeição moral Assim a religião cristã por exemplo não ensina tanto a humildade quanto tom a o homem 90 humilde porquanto ele tem de se comparar de acordo com aquela como o supremo modelo da perfeição É uma completa inversão fazer da humildade uma avaliação de si inferior à de outrem Vê como esta e aquela criança se comporta e coisas do género uma exclamação deste tipo suscita apenas um modo de pensar muito vulgar Se o homem avalia o seu valor segundo outrem ou procura elevarse acima dos outros ou então amesquinhar o valor de outrem Este último facto porém constitui a inveja Procurase sempre então atribuir uma falta ao outro pois se ele não existisse também não se poderia ser comparado com ele e assim serseia o melhor Através de um espírito de emulação mal apresentado apenas se provoca inveja O caso em que a emulação ainda poderia servir para alguma coisa seria aquele em que para convencer alguém da exequibilidade de algo por exemplo ao requerer de uma criança que aprenda uma certa matéria lhe mostro que outros o conseguem fazer Em nenhum caso se pode permitir que uma criança envergonhe outra Tem de se procurar evitar todo o orgulho que se funde em prerrogativas da fortuna Em simultâneo porém tem de se procurar motivar nas crianças a franqueza Esta é uma modesta confiança em si próprio Através dela o homem colocase em posição de mostrar convenientemente todos os seus talentos Aquela distinguese bem da impudência que consiste na indiferença ante o juízo dos outros 91 Todos os desejos do homem ou são formais liberdade e capacidade ou materiais referidos a um objecto desejos do capricho ou do prazer ou acabam por se referir à mera duração de ambos como elementos da felicidade Desejos da primeira espécie são a ambição a ganância e o amor da dominação Da segunda o gozo sexual luxúria das coisas conforto ou da sociedade gosto pelo divertimento Desejos da terceira espécie por fim são o amor da vida da saúde das comodidades no futuro estar livre de cuidados Os vícios são porém ou da maldade ou da vileza ou da índole Aos primeiros pertencem a inveja a ingratidão e a alegria maligna aos da segunda espécie a injustiça a perfídia falsidade a leviandade tanto na dissipação dos bens como na da saúde intemperança e da honra São vícios da terceira espécie a insensibilidade a cupidez a indolência moleza As virtudes ou são virtudes do mérito ou simplesmente da obrigação ou da inocência Das primeiras fazem parte a generosidade na superação de si tanto da vingança como das comodidades e da ganância a beneficência o domínio de si da segunda espécie a lealdade o decoro e a índole pacífica da terceira espécie a honradez a modéstia e a sobriedade 92 Mas é o homem por natureza moralmente bom ou mau Nem uma coisa nem outra pois não é um ser moral por natureza só se tom a um ser moral se a sua razão se elevar aos conceitos de dever e de lei Podese dizer no entanto que tem em si originariamente estímulos para todos os vícios pois tem inclinações e instintos que o incitam como se a razão já se exercesse como contraponto Por isso só se pode tom ar moralmente bom através da virtude ou seja coagindose a si mesmo se bem que pudesse ser inocente sem estímulos Os vícios promanam maioritariamente do facto de o estado civilizado fazer violência à natureza e a nossa destinação como seres humanos é no entanto sair do rude estado natural enquanto animais A arte perfeita tom ase novamente natureza Na educação tudo assenta no estabelecimento por toda a parte dos alicerces correctos e em tomálos compreensíveis e aceitáveis às crianças Estas têm de aprender a colocar o aborrecimento daquilo que é repugnante e do disparate no lugar do ódio o aborrecer interno em vez das penas exteriores humanas e divinas a avaliação de si e a dignidade interior em vez da opinião dos homens o valor interno da acção e do acto em vez da palavra e movimentos de alma entendimento em vez de sentimento e a 93 alegria e piedade com bom humor em vez da devoção rabugenta temerosa e lúgubre Acima de todas as coisas porém é de evitar também que as crianças estimem excessivamente os m eritafortunae No que diz respeito à educação das crianças de um ponto de vista religioso põese uma questão prévia será oportuno ensinar desde cedo conceitos religiosos às crianças Sobre isto muito se disputou na pedagogia Os conceitos religiosos pressupõem sempre alguma teologia Deveria a juventude que não conhece o mundo que não se conhece a si própria poder ser ensinada teologicamente Deveria a juventude que ainda não conhece o dever estar em condições de compreender um dever imediato para com Deus Uma coisa é certa se fosse possível que as crianças não testemunhassem actos de veneração do ser supremo se não ouvissem nem uma única vez o nome de Deus seria adequado à ordem das coisas conduzilas a essa finalidade e àquilo que convém ao homem apurar a sua faculdade de apreciar ensinarlhes a ordem e beleza das obras da natureza e acrescentar ainda um conhecimento alargado do sistema do mundo e 94 assim abrirlhes então o conceito de um ser supremo de um legislador Mas uma vez que isto não é possível na nossa situação actual se se quisesse ensinarlhes só muito tardiamente algo acerca de Deus acabariam por ouvir alguém a nomeálo e veriam o chamado culto para com ele o que ou lhes provocaria indiferença ou suscitaria nelas um conceito invertido por exemplo um temor perante o seu poder Mas dado que se tem de cuidar que este não se possa anichar na imaginação das crianças é necessário para evitálo procurar ministrarlhes desde cedo conceitos religiosos Isto não pode ser porém um trabalho de memorização mera imitação e apenas um macaquear mas antes o caminho que se escolhe deve ser sempre adequado à natureza As crianças compreendem mesmo sem conceitos abstractos do dever das obrigações do bom e mau comportamento que existe uma lei do dever que a comodidade o útil e coisas do género não deviam determiná las mas sim algo universal que não se pauta pelo humor dos homens O próprio professor porém tem de estar munido deste conceito Antes de mais devese atribuir tudo à natureza e depois esta a Deus como por exemplo primeiro atribuir tudo à conservação das espécies e ao seu equilíbrio mas ainda mais em simultâneo ao homem para que ele próprio se tom e feliz 95 O conceito de Deus deveria ser mais bem clarificado de inído em analogia com o de pai sob cujo cuidado nos encontramos com o qual se pode reladonar vantajosamente a unidade dos homens como numa família Mas o que é afinal a religião A religião é a lei em nós na medida em que através de um legislador e juiz conserva uma impressão sobre nós é uma moral aplicada ao conhecimento de Deus Se não se ligar a religião à moralidade ela tom ase uma demanda de favores Os cânticos orações e a ffequênda da igreja devem apenas dar ao homem novas forças um novo alento para se aperfeiçoar ou ser expressão de um coração animado pela representação do dever São apenas preparações para as boas obras mas não obras boas em si mesmas e de nenhum outro modo podemos ser agradáveis ao ser supremo a não ser tomandonos homens melhores Em primeiro lugar devese começar na criança com a lei que ela tem em si Se for vidoso o homem é em si digno de desprezo Isto fundamenta se nele próprio e não somente porque Deus proibiu o mal Pois não é necessário que o legislador seja também o autor da lei Assim um príndpe pode proibir o roubo nos seus domínios sem por isso poder ser chamado o autor da proibição do roubo A partir daqui o homem aprende a ver que somente o seu bom comportamento o tom a digno da felicidade A lei divina 96 tem de aparecer como uma lei da natureza pois não é arbitrária Daí toda a moralidade requerer religião Não se deve porém começar com a teologia A religião que se constrói meramente sobre a teologia nunca pode conter nada de moral Neste caso só se tem temor por um lado e intenções e disposições que buscam recompensa por outro ora isso vem a ser um mero culto supersticioso A moralidade tem portanto de ter a precedência a teologia seguea então é isto a religião A lei em nós designase por consciência A consciência é de facto a aplicação das nossas acções a esta lei As censuras desta ficarão sem efeito se a não pensarmos como o representante de Deus que estabeleceu a sua sede sublime sobre nós mas também uma sede de juízo em nós Se a religião não for acrescentada ao escrúpulo moral não tem efeito A religião sem escrúpulo moral é um culto supersticioso Querse servir a Deus quando por exemplo se O louva se exalta o seu poder a sua sabedoria sem pensar como se cumpriria as leis divinas e mesmo sem conhecer e investigar o seu poder a sua sabedoria etc Estes louvores são um opiáceo para a consciência de tais pessoas uma almofada para dormirem tranquilamente As crianças não conseguem apreender todos os conceitos da religião mas tem de se lhes ensinar alguns só que estes devem ser mais negativos 97 que positivos Fazer que as crianças repitam fórmulas maquinalmente não serve de nada e produz apenas um conceito invertido da piedade A verdadeira veneração de Deus consiste em agir segundo a vontade de Deus e é isto que deve ser ensinado às crianças Tem de se velar nas crianças bem como em si mesmo para que o nome de Deus não seja invocado em vão com tanta frequência Se se o utilizar nos desejos de felicidade mesmo com intenção piedosa tratase de um abuso O conceito de Deus deveria instilar no homem reverência de cada vez que se pronunciar o seu nome e por isso raramente deveria ser utilizado e nunca de modo leviano A criança tem de aprender a sentir reverência perante Deus como perante o senhor da vida e de todo o mundo além disso como perante o protector dos homens e em terceiro e último lugar como perante o juiz deles Dizse que Newton sempre que pronunciava o nome de Deus recolhiase um momento e meditava Através de uma clarificação conjunta do conceito de Deus e do de dever a criança aprende tanto melhor a respeitar a Providência divina pelas criaturas e a guardarse do pendor para a destruição e para a crueldade que se manifesta frequentemente na tortura de animais pequenos Em simultâneo deverseia igualmente instruir a juventude para que descubra o bem no mal por exemplo os animais de rapina os insectos são modelos de asseio e diligência Despertam os homens maus para a lei As aves que perseguem os vermes são guardas do jardim etc 98 Devese também ensinar às crianças alguns conceitos do ser supremo para que quando virem outrem a orar etc possam saber a quem e por que acontece isso Estes conceitos porém devem ser poucos em número e como já foi dito apenas negativos Devese começar a ensinarlhos desde tenra juventude velando para que vejam aí que os homens não se avaliam pela sua observância religiosa pois a despeito da multiplicidade religiosa há por toda a parte unidade da religião Vamos agora acrescentar aqui como conclusão alguns reparos que deveriam ser observados principalmente pelas crianças aquando da sua entrada nos anos da adolescência O adolescente começa por esta altura a fazer certas distinções que não fazia anteriormente A saber em primeiro lugar a diferença dos sexos A natureza espalhou sobre isto um certo manto de segredo como se este assunto não fosse algo completamente decente para o homem e uma mera necessidade da animalidade no homem A natureza porém procurou ligar este tema a toda a espécie de moralidade que é apenas possível Até as nações selvagens se comportam aí com uma espécie de pudor e recato As crianças fazem de vez em quando perguntas 99 indiscretas aos adultos como por exemplo donde vêm os bebés mas não se dão por satisfeitas facilmente se se lhes der respostas absurdas que nada significam ou se forem despedidas com a resposta de que se trata de perguntas de crianças O desenvolvimento destas inclinações no adolescente é mecânico e passase aí o mesmo que em todos os instintos que se desenvolvem até na ausência de conhecimento do seu objecto É portanto impossível conservar o adolescente na ignorância e na inocência que se liga àquela Com o silêncio porém só se consegue agravar o mal O que se pode verificar na educação dos nossos antepassados Na educação dos novos tempos supõese com razão que se tem de falar sobre isso sem rebuço clara e distintamente É claro que se trata de uma questão delicada porquanto não será considerada objecto de uma conversa pública Mas tudo decorrerá da melhor forma se se falar disso com uma seriedade digna e se não entrar nas inclinações do adolescente O décimo terceiro ou décimo quarto ano é habitualmente o momento em que se desenvolve no adolescente a inclinação para o sexo pois as crianças teriam de ter sido desencaminhadas e corrompidas por maus exemplos se sobreviesse antes disso A sua faculdade de julgar já está então bem 100 formada e a natureza já as preparou de molde a que se possa falar com eles sobre isso Nada enfraquece mais o espírito bem como o corpo do homem que a espécie de luxúria que se orienta para si e que conflitua com a natureza do homem Mas também isto não deve ser escondido ao adolescente Tem de se lhe apresentar em toda a sua repugnância tem de se lhe dizer que se tom aria inútil para a propagação do género humano que o vigor do corpo se afunda mais que ele chega assim mais rapidamente à velhice e que o seu espírito sofrerá muito com isso etc Podese contrariar o estímulo para tal através da ocupação contínua não consagrando à cama e ao sono mais tempo que o necessário Os pensamentos para tal têm de ser expulsos do sentido através daquela ocupação pois se o objecto permanecer ainda que seja na mera imaginação continua a corroer a força vital Se se orientar a sua inclinação para o sexo oposto deparase sempre com alguma resistência se se orientar para si mesmo podese satisfazerse a qualquer altura O efeito físico é de sobremaneira prejudicial mas as consequências do ponto de vista da moralidade são de longe ainda piores Transgridese aqui os limites da natureza e a inclinação causa estragos sem cessar porquanto não tem lugar uma satisfação real Os professores de adolescentes já crescidos colocaram a 101 questão de saber se seria proibido um adolescente ter relações sexuais com o sexo oposto Se se tiver de escolher uma das duas coisas esta última é sem dúvida melhor Naquela o adolescente age contra a natureza mas aqui não A natureza chamao à virilidade logo que se tom a adulto e também por isso à propagação da espécie as necessidades porém que o homem necessariamente tem num estado cultivado fazem que ele nem sempre possa educar os seus filhos Comete aqui uma falta contra a ordem civil O melhor é portanto ou antes o dever é que o adolescente espere até estar em condições de se casar devidamente Age assim não só como um homem bom mas também como um bom cidadão Que o adolescente aprenda desde cedo a nutrir um respeito conveniente perante o sexo oposto a conquistar para si pelo contrário através de uma actividade sem vícios o mesmo respeito e assim a aspirar ao elevado prémio de um matrimónio feliz Uma segunda distinção que o adolescente começa a fazer pela época em que entra na sociedade consiste no conhecimento da diferença dos estados e da desigualdade dos homens Enquanto criança não se pode deixála aperceberse desta última Não se pode sequer admitir que dê ordens à criadagem Se ela vir que os pais dão ordens à criadagem podese dizerlhe em todo o caso damoslhes pão e por isso obedecemnos tu não o fazes por 102 isso também não têm de te obedecer As crianças também nada sabem disto se os pais não lhes ensinarem tal ilusão Devese mostrar ao adolescente que a desigualdade dos homens é uma instituição que nasceu porque um homem procurou adquirir vantagens perante outro A consciência da igualdade dos homens na desigualdade civil pode serlhe ensinada a pouco e pouco Devese velar para que o jovem se avalie em absoluto e não segundo os outros A sobrevalorização dos outros relativamente àquilo que não constitui o valor do homem é vaidade Além disso devese indicarlhe o escrúpulo em todas as coisas e que ele não pareça meramente mas que se esforce por ser Devese chamarlhe a atenção para que em nenhum assunto onde tenha bem ponderado sobre um propósito o deixe tomarse um propósito vazio É preferível não se propor nenhum propósito e deixar a coisa na dúvida para que seja modesto para com as circunstâncias exteriores e paciente nos trabalhos sustine et abstine para que seja modesto nos prazeres Se não se anseia por meros prazeres mas se formos pacientes nos trabalhos tomamonos um membro útil na comunidade e guardamonos do tédio Além disso devese indicar ao adolescente a alegria e o bom humor A alegria do coração promana de não se ter nada a censurarse da igualdade 103 do humor Podese atingir através do exercido o ponto de se poder mostrar sempre um participante bemdisposto da sodedade Devese ainda chamar a sua atenção para que considere muitas coisas sempre como dever Uma acção tem de ter valor para mim não porque concorde com a minha inclinação mas sim porque cumpro o meu dever Para que ame os outros e assim para disposições cosmopolitas Na nossa alma existe algo que faz que tenhamos interesse 1 em nós próprios 2 nos outros com quem crescemos e então tem 3 ainda de ter lugar um interesse na perfeição do mundo É necessário familiarizar as crianças com este interesse a fim de que possam nele aquecer as suas almas Têm de se alegrar com um mundo melhor ainda que não redunde em vantagem para a sua pátria ou para si próprios Para que atribua um valor diminuto à fruição dos divertimentos da vida O temor pueril da morte desvanecerseá então Devese mostrar ao adolescente que a fruição não proporciona o que o prospecto promete Para a necessidade por fim de fazer as contas consigo próprio em cada dia para que no fim da vida possa fazer um cálculo sobre o valor da sua vida Aguenta e abstémte divisa estóica N T Devagar com pressa N T 104 Citação da ode de Horádo cuja primeira estrofe é O homem justo e tenaz no seu propósitoem sua firme mente não se perturbacom o furor dos cidadãos impondo a injustiça nem com o vulto do ameaçador tirano Horácio Odes III 3 Livros Cotovia Lisboa 2008 trad de Pedro Braga Falcão Kant referese a Martin Crugot 172590 teólogo de Bremen cuja obra principal é Der Christ in der Einsamkeit N T 105 1 Para Kant a Educação Física desempenha um papel fundamental no desenvolvimento humano abrangendo várias fases Em primeiro lugar a Educação Física começa com o cuidado com o corpo um estágio que se inicia desde o nascimento Nesse estágio os pais desempenham um papel importante na orientação das crianças para que não utilizem suas forças de maneira prejudicial Posteriormente entra em cena a disciplina que visa domar os instintos humanos e levar o indivíduo da sua menoridade animal para a maioridade A terceira fase da Educação Física corresponde à cultura e instrução onde as habilidades da criança são desenvolvidas incluindo a imaginação e a memória Essa fase é crucial para diferenciar o homem dos animais pois é onde a verdadeira natureza humana se manifesta 2 De acordo com Kant a educação prática começa com o cultivo da aptidão É fundamental que as crianças adquiram conhecimentos e habilidades de forma profunda e duradoura evitando superficialidades Kant enfatiza que as aptidões são essenciais para a formação do caráter pois estão relacionadas ao talento e à habilidade das crianças A prudência mundana envolve a arte de se relacionar com outras pessoas de forma habilidosa As crianças devem aprender a utilizar suas aptidões no convívio social mas devem evitar mentiras dissimulações e comportamentos servis Kant destaca a importância de equilibrar o disfarce com a impenetrabilidade evitando comportamentos servis que possam comprometer a dignidade Kant considera que a moralidade é o aspecto mais importante da educação prática Ela se relaciona ao caráter e aos deveres das crianças para consigo mesmas e para com os outros As crianças devem ser ensinadas a respeitar os direitos das pessoas e a dignidade da humanidade Deveres e respeito pelo direito dos outros devem ser incutidos desde cedo Kant enfatiza que as crianças devem aprender a cumprir seus deveres e a serem fiéis às suas promessas o que contribui para a formação de um caráter sólido e confiável Kant destaca que a disciplina desempenha um papel crucial ao retirar o homem de seu estado primitivo e animal preparandoo para o desenvolvimento posterior Essa fase de ruptura com a natureza e a entrada na disciplina é vista como um dos momentos mais desafiadores do processo educacional kantiano No entanto a disciplina é essencial para afastar o homem de suas inclinações animais e permitir que ele evolua em direção à moralidade e ao esclarecimento A disciplina é seguida pela cultura e moralidade que são consequências naturais dessa jornada de educação

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Contudo já aproveito para compartilhar com vocês nosso próximo texto a saber Sobre a Pedagogia de Kant Leremos todo o livro porém como Jack o estripador risos iremos por partes Começaremos a leitura apenas dia 3110 com a introdução e o primeiro capítulo sobre a educação física Dia 31 vocês também precisarão me entregar uma atividade responder a seguinte pergunta O que Kant propõe com seu conceito de Educação Física No dia 0711 faremos a segunda e derradeira aula sobre o livro de Kant lendo o segundo capítulo sobre educação prática Nessa aula também terão que entregar uma atividade a saber responder a pergunta O que Kant propõe com seu conceito de educação prática Immanuel Kant Sobre a Pedagogia 70 Immanuel Kant Sobre a Pedagogia 70 Pôr o leitor directamente em contacto com textos marcantes da história da filosofia através de traduções feitas a partir dos respectivos originais por tradutores responsáveis acompanhadas de introduções e notas explicativas foi o ponto de partida para esta colecção O seu âmbito estenderseá a todas as épocas e todos os tipos e estilos de filosofia procurando incluir os textos mais significativos do pensamento filosófico na sua multiplicidade e riqueza Será assim um reflexo da vibratilidade do espírito filosófico perante o seu tempo 1 perante a dência o problema do homem e do mundo 2 Título original Ober die Pedagogik desta tradução João Tiago Proença e Edições 70 Lda Tradução e notas João Tiago Proença Capa FBA Biblioteca Nacional de Portugal Catalogação na Publicação KANT Immanuel 17241804 Sobre a Pedagogia Textos filosóficos ISBN 9789724421261 CDU 3701 ISBN 9789724421261 EDIÇÕES 70 LDA Fevereiro de 2017 EDIÇÕES 70 Lda Avenida Engenheiro Arantes e Oliveira 11 3 C 1900221 Lisboa Portugal Telefs 213 190 3 2 4 0 Fax 213 190 249 email geraledicoes70pt wwwedicoes70pt 4 índice Nota prévia Introdução Dissertação Da educação física Da educação prática 5 Nota prévia O texto Sobre a pedagogia de Immanuel Kant é o resultado da edição autorizada que o seu aluno Friedrich Theodor Rink efectuou sobre as notas enviadas pelo filósofo para publicação e que correspondem pelo menos parcialmente ao material usado nas cadeiras de pedagogia de que foi encarregado de leccionar nos semestres de Inverno de 17767 de Verão de 1780 e de Inverno de 178670 texto foi publicado origmalmente por Rink em 1803 na casa de Friedrich Nicolavius Königsberg Apresente tradução utilizou o texto publicado em Werke in zehn Bänden editada por Wilhelm Weischedel W issenschaftliche Buchgesellschaft Darmstadt 1964 vol 10 pp 697761 6 Introdução O homem é a única criatura que tem de ser educada Por educação compreendemos os cuidados alimentação subsistência disciplina e instrução juntamente com a formação Por conseguinte o homem é bebé educando formando Os animais utilizam as suas forças de modo regular logo que as têm quer dizer de modo a não serem prejudiciais a si próprios É com efeito digno de admiração ver como as crias das andorinhas mal se arrastando para fora do ovo e ainda cegas nem por isso deixam de saber fazer os excrementos cair fora do ninho Os animais não precisam por isso de cuidados quando muito de alimento calor e orientação ou de uma certa protecção A maioria dos animais necessita de alimentação mas não de cuidados Por cuidados entendese a previdência dos pais para que as crias não façam um uso prejudicial das suas forças Se um animal por exemplo gritasse ao vir ao mundo como as crianças o fazem tom arseia fatalmente presa dos lobos e de outros animais selvagens atraídos pelos seus gritos 7 A disdplina transforma a animalidade em humanidade Um animal é já tudo mediante o instinto uma razão alheia já lhe dispensou tudo de que ele precisa O homem porém tem precisão de uma razão própria Não tem instinto e tem de se dotar do plano do seu comportamento Mas porque não está desde logo em condições de o fazer antes vem ao mundo em estado rude assim outrem tem de o fazer por ele O género humano deve desenvolver todas as disposições naturais da humanidade gradualmente a partir de si através do seu próprio esforço Uma geração educa a outra Pode procurarse o primeiro começo num estado rude ou num estado perfeito já formado Se se supuser este último como tendo existido primeira e anteriormente o homem tem de se ter tomado novamente selvagem em seguida e resvalado para o estado mde A disciplina preserva o homem de se desviar mediante os seus impulsos animais da sua destinação a humanidade Tem de o limitar por exemplo para que não corra perigos de modo selvagem e irreflectido A disciplina é pois meramente negativa a saber a acção pela qual se remove o elemento selvagem do homem a instrução é pelo contrário a parte positiva da educação O elemento selvagem é a independência das leis A disciplina submete o homem às leis da humanidade e começa a fazerlhe sentir a coacção das leis 8 Isto tem contudo de acontecer cedo Assim por exemplo as crianças são enviadas à escola de início não com o propósito de aprenderem lá alguma coisa mas para que se consigam habituar a estar sentadas em silêncio e a observarem pontualmente o que lhes é prescrito para que no futuro não possam também pôr em prática real e imediatamente tudo o que lhes passa pela cabeça O homem contudo tem por natureza um tão grande pendor para a liberdade que se a ela se tiver de início habituado durante algum tempo tudo lhe sacrifica Justamente por isso devese lançar mão da disciplina desde muito cedo como já se disse pois se tal não suceder tomase difícil modificar o homem posteriormente Passa a seguir cada um dos seus caprichos Podese também observar isto nas nações selvagens que ainda que prestem serviços aos europeus durante um longo período de tempo nunca se habituam ao seu modo de vida Mas nelas isso não é um nobre pendor para liberdade como o pretendiam Rousseau e outros mas um certo estado rude na medida em que o animal como que ainda não desenvolveu em si a humanidade Daí que o homem tenha de ser acostumado desde cedo a submeterse aos preceitos da razão Quando é deixado entregue à sua vontade na juventude e nada lhe opõe resistência conservará então uma certa disposição selvagem ao longo de toda a sua vida E também não o ajuda ser poupado na juventude pela excessiva ternura materna pois desse 9 modo sentirá ainda mais resistências de todos os lados e por toda a parte sofrerá revezes assim que entrar nos negócios do mundo É um erro comum na educação dos grandes que logo na sua juventude nunca se lhes oponha realmente nada porque estão destinados a reinar No homem por causa do seu pendor para a liberdade é necessário limar o seu estado rude no animal pelo contrário por causa do seu instinto isso não é necessário O homem necessita de cuidados e formação A formação compreende sob si disciplina e instrução Nenhum animal tanto quanto se sabe necessita desta última Pois destes nenhum aprende o que quer que seja dos mais velhos com excepção das aves que aprendem o seu canto Neste caso são ensinadas pelos mais velhos e é comovedor contemplar quando como que numa escola os mais velhos cantam com todas as suas forças para os mais novos e estes se esforçam por em itir os mesmos sons com as suas pequenas goelas Para se ficar convencido de que as aves não cantam por instinto mas que realmente o aprendem vale a pena o esforço de tirar a prova e retirar aos canários por exemplo metade dos seus ovos e colocá los entre ovos de pardais ou misturar as crias de uns e outros Coloquese estes assim misturados num local onde não possam ouvir os pardais lá fora e aprendem o canto dos canários obtemos pardais cantantes É com efeito 10 motivo de grande admiração o facto de cada espécie de aves conservar ao longo de todas as gerações um certo canto principal e a tradição do canto é a mais fiel no mundo O homem só se pode tom ar homem através da educação Nada mais é do que aquilo em que a educação o tom a É de notar que o homem só pode ser educado por homens por homens que foram igualmente educados Daí que a falta de disciplina e instrução em alguns homens os tom e maus educadores dos seus educandos Se um ser de género mais elevado se interessasse pela nossa educação verseia o que o homem poderia vir a ser Dado que porém a educação em parte ensina algo aos homens em parte só desenvolve nele certas coisas não se pode saber que extensão alcançam em si as disposições naturais Se se fizesse aqui pelo menos um experimento com o apoio dos grandes e através das forças unidas de muitos obteríamos esclarecimentos acerca da extensão do que o homem conseguiria porventura realizar Mas é igualmente tão importante para a cabeça especulativa como uma nota triste para os filantropos ver como os grandes só se preocupam na maioria dos casos consigo e não tomam parte no importante experimento da educação do género humano de modo a que a natureza desse um passo em frente rumo à perfeição 11 Não existe ninguém que desprovido de cuidados na sua juventude não veja por si na idade madura onde foi negligenciado seja na disciplina seja na cultura como também se pode designar a instrução Quem não é cultivado é rude quem não é disciplinado é selvagem O descuido da disciplina é um mal maior que o descuido da cultura pois esta pode ser recuperada posteriormente o elemento selvagem porém não pode ser removido e um engano na disciplina nunca pode ser reparado Talvez que a educação se tom e sempre melhor e que cada geração subsequente dê um passo em direcção ao aperfeiçoamento da humanidade pois por detrás da educação alojase o grande segredo da perfeição da natureza humana De agora em diante tal pode acontecer Pois só agora se começa a avaliar correctamente e a ver com nitidez o que pertence intrinsecamente a uma boa educação É encantador imaginar que a natureza humana se desenvolverá cada vez melhor através da educação e que se pode levar esta a uma forma que seja adequada à humanidade Isto abrenos o prospecto de um género humano vindouro mais feliz Um esboço de uma teoria da educação é um ideal magnífico e o facto de ainda não estarmos em condições de o realizar não causa qualquer dano É necessário somente não considerar a ideia como quimérica e não a difamar como um belo sonho por mais obstáculos que surjam na sua execução 12 Uma ideia nada mais é que o conceito de uma perfeição que ainda não se encontra na experiência Por exemplo a ideia de uma república perfeita governada segundo as regras da justiça Será por isso impossível Primeiro a nossa ideia tem de ser correcta e então por mais obstáculos que surjam no caminho da sua execução não é de todo impossível Se por exemplo alguém mentisse dizer a verdade passaria a ser um mero capricho E a ideia de uma educação que desenvolva todas as disposições naturais no homem é sem dúvida verdadeira Na educação actual o homem não alcança a finalidade da sua existência Pois quão distintamente vivem os homens Só pode ter lugar uma uniformidade entre eles quando agirem segundo os mesmos princípios e estes princípios se tomarem para si outra natureza Podemos trabalhar no plano de uma educação mais adequada e entregar os preceitos para tal aos vindouros que a podem realizar a pouco e pouco Vêse nas orelhasdeurso por exemplo quando as plantamos por estaca que são de uma e mesma cor quando as semeamos pelo contrário são de cores totalm ente diferentes e variadas A natureza colocou nelas pois os germes e tudo depende de serem devidamente semeadas ou plantadas para os desenvolverem em si O mesmo se passa com os homens 13 Existem muitos germes na humanidade e é tarefa nossa desenvolver proporcionadamente as disposições naturais e desenvolver a humanidade a partir dos seus germes e fazer que o homem alcance a sua destinação Os animais realizamna por si e sem a conhecerem O homem tem primeiro de procurar alcançála mas tal não pode suceder se não tiver um conceito da sua destinação É totalmente impossível atingir tal destinação considerando apenas o indivíduo Se supusermos um primeiro casal humano realmente formado queremos ver como educa ele os seus educandos Os primeiros pais dão logo aos filhos um exemplo que os filhos imitam e assim desenvolvemse algumas disposições naturais Mas nem todas podem ser formadas deste modo pois é sobretudo em ocasiões circunstanciais que os filhos vêem exemplos Antigamente os homens não tinham um conceito da perfeição que a natureza humana pode alcançar Nós próprios ainda não clarificámos totalm ente tal conceito Mas já se sabe certamente o suficiente para afirmar que não é o homem individualmente na formação dos seus educandos que pode leválos a alcançarem a sua destinação Não é o homem individualmente mas o género humano que deve ter êxito nessa tarefa Educar é uma arte cujo exercício tem de ser aperfeiçoado através de muitas gerações Cumulada com os conhecimentos dos que já passaram cada geração pode sempre levar a cabo cada vez mais uma educação que 14 desenvolva propordonadamente e de modo conforme ao seu fim todas as disposições naturais do homem e assim conduzir todo o género humano à sua destinação A Providênda quis que o homem deva sempre produzir o bem a partir de si próprio e dirigiuse por assim dizer ao homem vai para o mundo o Criador poderia porventura ter falado aos homens deste modo Equipeite com todas as disposições para o bem Cabete desenvolvêlas e por isso a tua feliddade ou infelicidade depende de ti próprio O homem deve desenvolver primeiro as suas disposições para o bem a Providênda não as colocou já prontas nele são meras disposições e sem a nota da moralidade Tomarse melhor cultivarse e quando se é mau produzir em si a moralidade isso é tarefa do homem Mas quando se reflecte maduramente sobre isso descobrese que tal é muito difícil Daí que a educação seja o maior e mais difícil problema que pode ser confiado ao homem Pois o saber depende da educação e a educação depende por seu turno do saber Daí que a educação também só possa avançar a pouco e pouco e é apenas pelo facto de uma geração transm itir as suas experiências e conhecimentos à seguinte e esta acrescentar algo por sua vez e passá lo desse modo à seguinte que pode emergir um conceito correcto do modo de educar Que grande cultura e experiência não pressupõe este conceito Só podia nascer por conseguinte tardiamente e nós próprios ainda não o 15 clarificámos inteiramente Deve a educação no indivíduo im itar a formação da humanidade em geral ao longo das suas diferentes gerações Duas invenções dos homens podem ser consideradas como sendo as mais difíceis a saber a arte de governar e a arte de educar e no entanto as ideias de ambas ainda são controversas Desde quando começamos nós a desenvolver as disposições humanas Devemos começar de um estado rude ou de um já formado É difícil pensarmos um desenvolvimento a partir do estado rude daí ser também tão difícil o conceito de primeiro homem e vemos que num desenvolvimento a partir de um tal estado acabase por recair sempre no estado rude e que só então se eleva outra vez para aquele estado que era o objectivo primeiro Também em povos muito civilizados alguma coisa encontramos nos mais antigos documentos escritos que deixaram e quantas culturas não pertencem já à escrita de modo que em referência aos homens civilizados poderseia chamar ao início da escrita o início do mundo que é uma forte delimitação do estado rude Posto que nos homens o desenvolvimento das disposições naturais não ocorre por si então toda a educação é uma arte A natureza não depositou nele nenhum instinto para tal A origem bem como a continuação desta arte ou é m ecânica sem plano ordenada segundo as circunstâncias dadas ou 16 judiciosa A arte da educação nasce mecanicamente nas meras ocasiões que vão surgindo onde experimentamos se algo é prejudicial ou útil ao homem Toda a arte da educação que brota de modo meramente mecânico tem de comportar em si muitos erros e lacunas porquanto não tem nenhum plano na sua base A arte da educação ou pedagogia tem de se tomar portanto judiciosa se quiser desenvolver a natureza humana de tal modo que esta alcance a sua destinação Os pais já educados são exemplos segundo os quais os filhos se formam para se guiarem Mas se estes se devem tom ar melhores a pedagogia tem de se tom ar uma disciplina autónoma senão nada há a esperar dela e alguém já estragado na educação educa outros em vão O mecanismo na arte da educação deve transformarse em ciência senão nunca se tom ará um esforço com nexo e uma geração poderia arrasar o que outra já edificara Um princípio da arte da educação que os homens que fazem planos para a educação deveriam ter presente é as crianças devem ser educadas não para o estado presente do género humano mas para um estado futuro melhor isto é adequado à ideia de humanidade e à sua destinação integral Este princípio é de grande importância Os pais educam comummente os seus filhos apenas de modo a que estes se adaptem ao mundo presente por mais corrompido que possa estar Deviam porém educálos melhor para 17 que um estado futuro melhor possa desse modo ser produzido Mas aqui deparamos com dois obstáculos 1 É que os pais cuidam comummente apenas de que os seus filhos vinguem no mundo e 2 os príncipes consideram os seus súbditos apenas como instrumentos dos seus propósitos Os pais cuidam do lar os príncipes do Estado Nem uns nem outros têm como fim último a perfeição do mundo e a perfeição a que está destinada a humanidade e para a qual possui também as disposições As disposições para um plano educativo têm de se tom ar cosmopolitas E será então a perfeição do mundo uma ideia que pode ser nociva ao nosso bem estar privado Nunca pois ainda que parecesse que nela algo teria de ser sacrificado não se estaria senão a fomentar através dela a melhoria do seu estado presente E que magníficas consequências as acompanham então Uma boa educação é justamente aquilo donde brota todo o bem no mundo É necessário somente desenvolver cada vez mais os germes que residem no homem Pois os fundamentos do mal não se encontram nas disposições naturais do homem A causa do mal é somente o não se submeter a natureza a regras No homem residem apenas germes para o bem 18 Mas donde deve provir o estado melhor do mundo Dos príncipes ou dos súbditos a saber que apenas estes se aperfeiçoem e vão ao encontro a meio caminho de um bom governo Se tal houver de ser fundado pelos príncipes a educação dos príncipes tem de ser primeiro melhorada esta incorreu sempre no grande erro ao longo de um vasto período de tempo de não se lhes oferecer resistência na sua juventude Uma árvore porém que se ergue isoladamente no campo cresce retorcida e estende os seus ramos bem longe uma árvore pelo contrário que esteja no meio de uma floresta dado que as árvores em seu redor lhe oferecem resistência cresce a direito e procura ar e sol acima de si O mesmo se passa com os príncipes É ainda melhor porém que sejam educados por alguém do número dos súbditos que serem educados por algum dos seus pares só podemos esperar que o bem venha de cima no caso da educação ser ali mais aprimorada Daí que o importante aqui seja prindpalmente os esforços privados e não a intervenção dos príncipes como o pretendiam Basedow e outros pois a experiência ensina que aqueles a fim de alcançarem os seus fins têm como propósito não tanto a perfeição do mundo quanto apenas o bem do seu Estado Além de que se forem eles a contribuir com o dinheiro para tal os planos terão também de ficar sujeitos ao seu parecer E assim acontece em tudo o que respeita à formação do espírito humano ao alargamento dos conhecimentos humanos O poder e o dinheiro não o realizam quando 19 muito fadlitam no Mas poderiam realizálo se a economia do Estado não capitalizasse de antemão os impostos para os cofres do reino Também as academias não o fizeram até ao presente e que ainda o venham a fazer sobre isso nunca houve menos ilusões que actualmente A instituição de escolas por conseguinte devia também depender meramente do juízo dos conhecedores mais esclarecidos Toda a cultura começa no homem privado e disseminase a partir dele A aproximação gradual da natureza humana à sua finalidade é possível somente através do esforço de pessoas de inclinações mais amplas que se interessam pela perfeição do mundo e são capazes da ideia de um estado futuro melhor Mais do que um dos grandes considera por vezes porém a dimensão variada do seu povo como que apenas uma parte do reino da natureza e também tem em mira portanto apenas o facto de ser propagada Quando muito continua a requerse habilidade mas apenas para os súbditos poderem ser tanto mais bem usados como instrumentos para os seus propósitos Os homens privados têm claro está de ter em vista em primeiro lugar os fins da natureza mas então têm também de aspirar ao desenvolvimento da humanidade e velar para que esta se tom e não somente hábil como também moral e o que é mais difícil de procurar levar a sua descendência mais além do ponto a que eles próprios chegaram 20 Na educação o homem tem de ser 1 disciplinado Disciplinar significa procurar impedir que a animalidade prejudique a humanidade tanto no homem individual como no social A disciplina é pois a mera doma da condição selvagem 2 O homem tem de ser cultivado Por cultura entendese o ensino e a instrução Obtémse assim aptidões Esta é a posse de uma capacidade que basta a todas e quaisquer finalidades Não determina portanto nenhum fim mas deixa isso por conta das circunstâncias posteriores Algumas aptidões são boas em todos os casos por exemplo ler e escrever outras apenas para alguns fins por exemplo a música para nos tomarmos populares Por causa da grande quantidade de fins a aptidão não tem de certo modo termo 3 Tem de se velar para que o homem também se tom e prudente se ajuste à sociedade humana que seja popular e tenha influência A tal pertence uma certa espécie de cultura que se designa por civilizar Para tal requerse maneiras amabilidade e uma certa pm dênda segundo a qual se pode usar todos os homens para os seus fins últimos Aquela pautase pelo 21 gosto mutável de qualquer época Assim ainda há algumas décadas eram apreciadas cerimónias no trato 4 Tem de se velar pela m oralização O homem não deve estar apto pura e simplesmente a todos os fins mas deve também ser dotado de consciência de molde a eleger de preferência apenas bons fins Fins bons são aqueles que são necessariamente aprovados por todo o homem e que podem ser simultaneamente os fins de cada qual O homem pode ser ou meramente adestrado amestrado instruído mecanicamente ou ser realmente esclarecido Adestrase cães cavalos e também se pode adestrar homens Com o adestramento porém ainda não se esgota a educação o importante é prindpalmente que as crianças aprendam a pensar Isso leva nos aos princípios donde brotam todas as acções Vêse portanto que há muito a fazer numa educação genuína Habitualmente porém na educação privada exerdtase ainda pouco a quarta parte a mais importante pois educase os filhos essencialmente de tal modo que a moralização é deixada 22 por conta dos clérigos Mas quão infinitamente importante não é ensinar os filhos a aborrecerem o vício desde a juventude não apenas pela razão de Deus o ter justamente proibido mas sim porque é digno de aborrecimento em si próprio No caso contrário chegam facilmente ao pensamento de que o poderiam praticar a seu belprazer e aliás seria de facto permitido se Deus o não tivesse proibido e que Deus poderia por isso abrir uma excepção só por uma vez Deus é o ser mais sagrado e só quer aquilo que é bom e exige que devamos praticar a virtude apenas por causa do seu valor íntimo e não porque ele o exija Vivemos na época da disciplinização da cultura e da civilização mas estamos muito longe de viver na época da moralização No estado actual do homem pode dizerse que a felicidade dos Estados cresce em simultâneo com a miséria dos homens E há ainda a questão de saber se nós no estado rude dado que não se encontraria em nós toda esta cultura não seríamos mais felizes que no nosso estado actual Pois como podemos fazer o homem feliz se não o tomarmos moral e sábio Em caso contrário a quantidade do mal não se reduzirá Em primeiro lugar tem de se instituir escolas experimentais antes de se poder instituir escolas normais A educação e a instrução não podem ser meramente mecânicas têm antes de assentar em princípios Mas não 23 podem ser um mero arrazoado devem ser de certa maneira também um mecanismo Na Áustria havia maioritariamente escolas normais que foram edificadas segundo um plano contra o qual muito se disse e com razão e ao qual se poderia censurar em particular o mecanismo cego Todas as outras escolas tinham de se regular por estas e chegavase ao pondo de recusar emprego a pessoas que não tivessem frequentado estas escolas Tais preceitos mostram o elevado grau em que o governo se imiscui nisto e com um tal constrangimento é de facto impossível que medre algo de bom Imaginase comummente que não seriam precisos experimentos na educação e que se poderia ajuizar directamente a partir da razão se algo será bom ou não Mas aqui há muitos enganos e a experiência ensina que se mostram com frequência nas nossas tentativas efeitos diametralmente opostos aos que se esperava Vêse portanto que no atinente aos experimentos nenhuma época humana pode apresentar um plano educativo completo A única escola experimental que de certo modo começou a desbravar caminho foi o instituto de Dessau Cabelhe essa honra sem atender aos muitos erros que se lhe poderia censurar erros que se encontram em todas as conclusões que se extraem de tentativas é que lhe são sempre inerentes novas tentativas De certo modo foi a única escola em que os professores tinham a liberdade de trabalhar segundo métodos 24 e planos próprios e onde estavam em ligação entre si como também com todos os eruditos na Alemanha A educação encerra em si cuidado e form ação Esta é 1 negativa a disciplina que impede os meros erros 2 positiva a instrução e orientação e nesta medida faz parte da cultura Orientação é a condução na prática daquilo que se aprendeu Daí que se gere uma distinção entre instrutor que é um mero professor e preceptor que é um guia Aquele educa meramente para a escola este para a vida A primeira época no educando é aquela em que tem de dar provas de submissão e obediência passivas a outra aquela em que lhe deve ser permitido fazer já um uso da reflexão e da sua liberdade claro que sob leis Na primeira tratase de uma coacção mecânica na segunda moral A educação ou é uma educação privada ou pública A última diz respeito somente à informação e pode permanecer sempre pública O exercício dos preceitos fica entregue à primeira Uma educação pública completa é aquela que une ambas instrução e formação moral A sua finalidade é promoção de uma boa educação privada Uma escola onde tal ocorre designase por 25 instituto educativo Tais institutos não podem ser numerosos e o número de educandos neles não pode ser grande porquanto são muito dispendiosos e a sua mera edificação requer desde logo muito dinheiro Passase com eles o mesmo que se passa com os asilos e hospitais Os edifícios requeridos para isso os salários dos directores bedéis e contínuos levam logo metade do dinheiro que lhes estava destinado e é certo que se se remetesse este dinheiro aos pobres nas suas casas eles seriam muito mais bem tratados Daí que seja igualmente difícil que outras crianças além das de pessoas ricas possam frequentar esses institutos A finalidade de tais institutos públicos é o aperfeiçoamento da educação doméstica Somente se os pais ou outros que são seus auxiliares na educação fossem bemeducados poderia ser suprimida a despesa dos institutos públicos Neles devese proceder a tentativas para a formação de sujeitos e assim deve brotar deles uma boa educação doméstica Da educação privada cuidam ou os próprios pais ou se estes às vezes não tiverem tempo capacidade ou também se não encontrarem prazer nisso outras pessoas que são auxiliares assalariados Na educação mediantes estes auxiliares dáse a circunstância muito melindrosa de a autoridade estar repartida entre os pais e estes preceptores A criança deve regularse pelas prescrições dos preceptores e depois seguir novamente os caprichos 26 dos pais É necessário que numa tal educação os pais cedam toda a sua autoridade aos preceptores Em que medida porém deve a educação privada ter a primazia perante a pública ou viceversa Em geral parece porém que a educação pública é mais vantajosa que a educação doméstica não meramente do lado das aptidões como também no atinente ao carácter de um cidadão A última não só produz erros de família como também os propaga Mas quanto tempo deve a educação durar Até à época em que a própria natureza determina o homem a conduzirse a si próprio até que o instinto para o sexo se desenvolva nele até que ele possa ser pai e deva ele próprio educar aproximadamente até aos dezasseis anos Depois desta idade bem se pode utilizar os expedientes da cultura e exercer uma disciplina oculta mas já não se educa com a necessária regularidade A submissão do educando ou é positiva quando faz o que lhe é prescrito porquanto não pode julgar por si próprio e ainda persiste nele a mera capacidade de imitação ou é negativa quando faz o que os outros querem se quiser que os outros lhe devam fazer por seu turno algo do seu agrado Na primeira intervém o castigo na outra que não se faça o que ele quer é que ele é aqui pese embora o facto de já poder pensar dependente no seu contentamento 27 Um dos maiores problemas da educação é saber como se pode unir a sujeição sob a coacção de leis com a capacidade de se servir da sua liberdade Pois é necessário que haja coacção Como cultivo eu a liberdade na coacção Devo habituar o meu educando a tolerar uma coacção da sua liberdade e devo leválo simultaneamente a fazer um bom uso da sua liberdade Sem isto tudo é mero mecanismo e aquele que completou a sua educação não se sabe servir da sua liberdade Tem de sentir muito cedo a inevitável resistência da sociedade para se familiarizar a passar pela dificuldade de se sustentar e de adquirir o necessário à sua independência Devese observar aqui o seguinte 1 que se deixe a criança em liberdade desde a mais tem a infância em todos os aspectos com a excepção das coisas com as quais se pode magoar por exemplo ao agarrar uma faca afiada se tal não suceder de modo a que esteja no caminho da liberdade de outrem por exemplo quando grita ou quando está ruidosamente alegre isso incomoda desde logo os outros 2 tem de se lhe mostrar que não poderia alcançar os seus fins de outro modo senão permitindo que os outros alcancem os deles por exemplo que não se lhe dê prazer nenhum quando não faz aquilo que se quer que ele deve aprender etc 3 tem de se lhe provar que se lhe inflige uma coacção que o conduz ao uso da sua própria liberdade que se o cultiva para que um dia possa ser livre quer dizer não tenha de estar dependente do cuidado de outrem Esta última coisa é a mais 28 tardia Pois nas crianças a consideração de que por exemplo têm de cuidar do seu sustento só surge tardiamente Julgam que as coisas serão sempre como na casa dos pais onde têm de comer e beber sem que tenham de se preocupar com isso Sem aquele tratamento as crianças em particular as de pais ricos e os filhos de príncipes bem como os habitantes do Taiti continuam a ser crianças durante toda a sua vida É aqui que a educação pública tem as suas vantagens mais evidentes pois nela aprendese a medir as suas forças aprendese as suas limitações através do direito dos outros Aqui não gozamos de vantagens porquanto sentimos resistência por toda a parte e porque é somente através desta que nos tomamos cientes de que só nos distinguimos pelo mérito Tal apresenta o melhor modelo do futuro cidadão Mas aqui tem de se pensar ainda noutra dificuldade que consiste em antecipar o conhecimento do sexo a fim de protegêlas dos vícios mesmo antes da entrada na puberdade Mas disso tratarseá mais à frente Johann Bernard Basedow 172390 filho de um peruqueiro de Hamburgo estudou Teologia em Leipzig Desempenhou funções educativas em várias instituições Depois de ter visto a sua obra Philalethie proibida dedicouse à reforma do ensino Em 1771 foi chamado pelo príncipe de AnhaltDessau para apoiar a sua reforma pedagógica É em Dessau que em 1774 funda a Filantropa de Dessau escola experimental onde procura pôr em prática as 29 concepções pedagógicas expostas na sua obra principal publicada em 1769 Elementarwerk N T Kant referese ao regulamento escolar de Johann Ignaz von Felbiger 172488 de 1774 Felbiger estudou Teologia em Breslau foi preceptor privado e ordenado Padre em 1748 Em 1774 foi chamado a Viena pela Imperatriz Maria Teresa e nomeado Comissário Geral da Educação para todas as regiões alemãs do Império A primeira escola normal austríaca foi fundada em 1771 N 7 30 Dissertação A pedagogia ou doutrina da educação ou é física ou é prática A educação física é aquela que o homem tem em comum com o animal ou cuidado A educação prática ou moral é aquela através da qual o homem deve ser formado para que possa viver como um ser que age livremente Designamos por prático tudo aquilo que se relaciona com a liberdade Esta é educação para a personalidade educação de um ser que age livremente que se pode sustentar a si próprio e constitui um membro da sociedade mas que pode ter um valor interior por si próprio A educação consiste por conseguinte 1 na formação escolástico m ecânica em atenção à aptidão é portanto didáctica instrutor 2 na formação pragm ática em atenção à prudência preceptor 3 na formação moral em atenção aos costumes O ser humano tem necessidade de uma formação escolástica ou de instrução a fim de se tom ar apto à prossecução de todos os seus fins Esta 31 conferelhe um valor em atenção a si próprio enquanto indivíduo Através da formação para a prudência porém é formado para cidadão adquire então um valor público Aprende então tanto a dirigir a sociedade civil para as suas intenções como a adaptarse à sociedade civil Por fim mediante a formação moral recebe um valor em atenção a todo o género humano A formação escolástica é mais temporã e a primeira Pois toda a prudência pressupõe a aptidão Prudência é a faculdade de usar a sua aptidão de modo a que aproveite aos outros A formação moral na medida em que assenta em princípios que o próprio homem deve reconhecer é a mais tardia conquanto assente apenas no são entendimento humano tem de ser observada de início desde logo na educação física também pois em caso contrário arreigamse facilmente erros em que toda a arte da educação labora posteriormente debalde Em atenção à aptidão e à prudência tudo tem de ir sucedendo com os anos Na infância ser hábil prudente e de boa índole sem matreirice à maneira dos adultos serve de tão pouco como uma mentalidade infantil num adulto 32 Da educação física Sendo certo que aqueles que se encarregam da educação enquanto preceptores não se ocupam das crianças tão cedo de modo a poderem cuidar também da sua educação física não deixa de ser útil saber tudo aquilo que se deve necessariamente observar na educação desde o seu início até ao seu termo Mesmo que se lide enquanto preceptor apenas com crianças crescidas pode muito bem acontecer que nasçam novas crianças na casa e se aquele se conduziu bem tem sempre pretensões a ser da confiança dos pais e de ser também consultado por estes sobre a educação física delas dado que além disso é frequentemente a única pessoa com formação na casa Daí que também sejam necessários a um preceptor conhecimentos daquela Na realidade a educação física consiste apenas em cuidados ou dos pais ou de amas ou de aias O alimento que a natureza determinou à criança é o leite materno Que a criança sorva com ele as suas convicções como se ouve dizer com frequência já mamaste isso com o leite materno 33 é um mero preconceito É mais benéfico à mãe e ao filho que a própria mãe amamente É claro que em casos extremos haja excepções a isto por motivos de doença Há muito tempo acreditavase que o primeiro leite que se encontra na mãe depois do parto e é seroso seria prejudicial à criança e que a mãe teria de o expelir primeiro antes de poder amamentar o filho Foi Rousseau o primeiro a chamar a atenção dos médicos para o facto de este leite poder ser benéfico à criança já que a natureza nada dispôs em vão E também se chegou realmente à opinião de que este leite seria o melhor para expelir as impurezas que se encontram nos recémnascidos que os médicos designam como mecónio e que portanto seria altamente benéfico às crianças Levantouse a questão de saber se se poderia alimentar a criança igualmente bem com leite animal O leite humano é bastante diferente do animal O leite de todos os herbívoros dos animais que vivem de vegetais coalha muito rapidamente quando se lhe adiciona um pouco de ácido por exemplo vinagre ou sumo de limão ou particularmente o ácido do estômago dos vitelos que se chama coalho O leite humano porém não coalha de modo nenhum Mas se a mãe ou as amas só comerem refeições de vegetais durante alguns dias o leite delas coalhará tão bem como o leite de vaca etc mas se só comerem refeições de came durante algum tempo o leite delas volta a ser tão bom como anteriormente Daqui concluiuse que 34 seria melhor e mais benéfico à criança que a mãe ou as amas comessem carne durante o período de amamentação Pois quando as crianças bolçam o leite vêse que coalhou Os ácidos do estômago das crianças têm de fomentar ainda mais que os outros ácidos o coalhar do leite porque o leite humano não pode ser levado a coalhar de nenhum outro modo Quão pior seria portanto se se desse à criança leite que já coalha por si Mas que isto não é tudo o que importa vêse nas outras nações Os Tungueses por exemplo quase nada mais comem a não ser carne e são pessoas fortes e saudáveis Todos esses povos contudo também não vivem muito tempo e podese levantar no ar com pouco esforço um rapaz já crescido que não dá a ideia de ser muito leve Os suecos ao invés mas principalmente as nações nas índias quase não comem came de todo e no entanto as pessoas desenvolvemse bem Parece portanto que o importante é simplesmente aquilo a que as amas se adaptam e que o melhor alimento é aquele que lhes cai bem Mas perguntase então com que se alimenta a criança quando o leite materno cessar Desde há algum tempo experimentouse todo o tipo de papas Não é bom porém alimentar a criança desde logo com tais refeições Em particular é de sublinhar que não se dê às crianças nada de estimulante como vinho especiarias sal etc Mas é sem dúvida singular que as crianças tenham um tão grande desejo por todas as coisas desse 35 género A causa disso reside no facto de tal proporcionar um estímulo e uma animação às suas sensações ainda embotadas o que lhes é agradável As crianças na Rússia recebem claro que das suas mães aguardente que estas bebem com assiduidade e coisas do género e notase que nisso os russos são pessoas sadias fortes É claro que aquelas que resistem a isso são de boa constituição física mas também morrem muitas que bem podiam ter sobrevivido Pois um tal estímulo precoce nos nervos produz muitas desordens Até das refeições ou bebidas demasiado quentes temos de guardar cuidadosamente as crianças pois também elas causam fraquezas Além disso devese notar que as crianças não devem ser mantidas muito quentes pois o seu sangue já é em si muito mais quente que o de um adulto O calor do sangue nas crianças monta em termómetros Fahrenheit a 110 e o sangue do adulto apenas a 96a graus A criança sufoca no calor em que os mais velhos se sentem bem Aposentos frescos tom am em geral as pessoas mais fortes E também não é bom nos adultos vestiremse agasalharemse em excesso e habituaremse a bebidas demasiado quentes Daí que a criança deva ter um local fresco e rigoroso Também os banhos frios são bons Não se deve admitir nenhum meio para estimular o apetite nas crianças antes este deve ser sempre a consequência da actividade e da ocupação Não se deve porém deixar que a criança se habitue a nada que 36 acabe por se lhe tom ar uma necessidade Até mesmo coisas boas não se lhe devem tom ar um hábito através da arte Os cueiros quase não se encontram em povos rudes As nações selvagens na América por exemplo escavam buracos na terra para os seus filhos pequenos espargemnas com pó de árvores podres para absorverem a urina e as impurezas da criança e assim as crianças podem permanecer enxutas e cobremnas com folhas no resto permitemlhes um livre uso dos seus membros É também apenas comodismo da nossa parte enfaixar as crianças como múmias para não sermos obrigados a ter cautelas para que a criança não fique deformada o que acaba frequentemente por suceder contudo com os cueiros Também é pavoroso para as próprias crianças não poderem utilizar os seus membros e por isso caem num certo desespero E então pretendemos calar a sua gritaria com meras admoestações Mas enfaixese um homem adulto uma só vez e vejase então se ele não gritará e não começará a angustiarse e a desesperar É de notar em geral que a primeira educação deverá ser meramente negativa quer dizer não é necessário acrescentar nada de novo nem uma só coisa à providência da natureza mas permitir apenas que a natureza não estorve Se alguma arte for permitida na educação só pode ser a do fortalecimento Também por isso é de rejeitar os cueiros Se se quiser 37 observar no entanto alguma precaução o mais adequado é uma espécie de caixa munida na parte de cima com correias Os italianos usamna e chamamlhe arcuccio A criança permanece sempre nesta caixinha e é lá colocada para a amamentação Assim fica protegida de modo a que ainda que a mãe adormeça à noite enquanto amamenta a criança porém não possa ser esmagada a ponto de morrer Entre nós todavia morrem muitas crianças desta maneira Esta precaução é portanto melhor que os cueiros pois as crianças têm aí mais liberdade e protegemse das deformações ao passo que se tom am disformes muitas vezes através dos próprios cueiros Um outro hábito na primeira educação é o em balar A maneira mais fácil é aquela de que alguns camponeses se servem Penduram o berço por um cabo numa trave e portanto só é preciso darem o primeiro empurrão para que ele balance por si próprio de um lado para o outro O embalar porém para nada serve Pois o ir e vir do balanço é prejudicial à criança Vêse até em pessoas crescidas que o baloiçar produz um movimento que conduz ao vómito e às tonturas O objectivo é entorpecer as crianças para que elas não gritem Mas gritar é saudável para as crianças Assim que saem do ventre materno onde não fruem de qualquer ar inspiram o primeiro ar A circulação do sangue modificada desse modo produz uma sensação dolorosa Através dos gritos porém a criança desenvolve tanto melhor os componentes internos e os canais do seu corpo Acorrer logo 38 em ajuda da criança quando ela grita cantarlhe qualquer coisa como é hábito das amas ou fazer qualquer desse género é muito prejudicial Isso é habitualmente a primeira coisa a estragar a criança pois ao ver que tudo acorre ao seu chamamento repete os seus gritos com mais frequência Bem se pode dizer com verdade que as crianças das pessoas comuns são mais estragadas com mimos do que as das pessoas distintas Pois as pessoas comuns brincam com elas como com macacos Cantamlhes acariciam nas beijamnas dançam com elas Pensam fazer algo de bom à criança quando logo que ela grita acorrem a brincar com ela etc Mas assim gritam mais frequentemente Se pelo contrário não nos voltarmos ao seu choro acabam por parar de chorar Pois nenhuma criatura se dá a trabalhos vãos Se as habituarmos contudo a verem todos os seus caprichos satisfeitos o quebrar da vontade chega depois demasiado tarde Mas se as deixarmos gritar acabam por se fartar Se satisfizermos na primeira infância porém todos os seus caprichos estragamoslhes o coração e os costumes É claro que a criança ainda não tem um conceito de costumes mas estragaselhe as suas disposições naturais pelo facto de se ter de aplicar castigos muito duros depois a fim de reparar os estragos Depois quando se quer desabituálas de nos apressarmos às suas exigências as crianças manifestam uma fúria tão grande nos seus gritos de que apenas os adultos 39 são capazes só que àquelas faltam as forças para passar a vias de facto Enquanto só tiverem de chamar para que tudo em seu redor lhes acorra dominam por conseguinte despoticamente Ora quando esta dominação cessa aborrecemse com isso naturalmente Pois até a grandes homens que tenham detido um poder durante algum tempo lhes custa sempre muito desabituaremse rapidamente dele As crianças não conseguem ver correctamente nos primeiros tempos aproximadamente nos três primeiros meses É certo que têm a sensação da luz mas não distinguem os objectos entre si Podemos veriíicálo da seguinte maneira se lhes pusermos algo brilhante à frente não o seguem com os olhos Com a visão dáse também a faculdade de rir e chorar Quando a criança chega então a este estado chora reflectidamente porque não está tão escuro como queria Significa sempre então que se lhe provocou algum sofrimento Rousseau diz que se se bater na mão de uma criança de aproximadamente seis meses ela grita tanto como se lhe tivesse caído um tição nas mãos A isto já se liga realmente o conceito de ofensa Os pais muito falam ordinariamente do quebrar da vontade nas crianças Não é necessário quebrarlhes a vontade se ela não tiver sido anteriormente estragada O primeiro estrago contudo consiste em anuirmos à vontade despótica das crianças ao deixarmos que elas consigam tudo o que querem com base na gritaria Além de que é extremamente difícil reparar isso 40 depois e raramente se tem êxito Podese conseguir com efeito que a criança fique calada mas ela engole a bílis em si e nutre uma furia interior tanto maior Habituase assim a criança à dissimulação e a movimentos interiores do ânimo É muito estranho por isso que por exemplo os pais exijam que as crianças depois de terem apanhado com o açoite lhes beijem as mãos Desse modo habituamolas à dissimulação e à falsidade Pois o açoite não é precisamente um presente assim tão belo que se fique agradecido por ele e facilmente se imagina com que coração a criança beijará uma tal mão Servimonos habitualmente para ensinar as crianças a andar de andadeiras e andarilhos Mas é surpreendente que se queira ensinar as crianças a andar como se alguma pessoa tivesse ficado sem o saber por falta de lições As andadeiras em particular são muito prejudiciais Um escritor queixouse outrora de crises de falta de ar que atribuía pura e simplesmente às andadeiras Pois dado que uma criança agarra tudo e apanha tudo do chão debruçase com o peito sobre a andadeira Mas dado que o peito ainda é mole é pressionado até ficar chato e acaba por conservar depois esta forma As crianças também não aprendem a andar tão seguramente com estes meios como se o aprendessem por si próprias O melhor é deixá las gatinhar no chão até que comecem a pouco e pouco a andar por si 41 Por precaução podese equipar o aposento com tapetes de lã para que não espetem picos e também não caiam tão duramente Dizse vulgarmente que as crianças caem muito pesadamente Mas além de nem sequer poderem cair pesadamente não lhes vem grande mal por caírem uma vez por outra Aprendem a distribuir melhor o peso e a virarem se de modo a que a queda não lhes faça mal Também se lhes coloca amiúde o chamado gorro acolchoado tão proeminente que a criança nunca pode cair de cara no chão Mas isto é apenas uma educação negativa empregando meios artificiais quando a criança os tem naturais Os instrumentos naturais são aqui as mãos que a criança ao cair põe logo à frente Quantos mais instrumentos artificiais se usar mais dependente de utensílios se tom a o homem Em geral seria melhor se se usasse de início poucos utensílios e se deixasse as crianças aprenderem mais por si poderiam então aprender poucas coisas mas muito mais fundamentadamente Assim seria bem possível por exemplo que a criança aprendesse por si a escrever Pois alguém inventou a escrita em algum momento e também não é uma invenção assim tão grande Seria necessário somente por exemplo quando a criança quer pão dizer consegues desenhálo A criança desenharia então uma figura oval Então dirselheia que não se sabe se ela representou um 42 pão ou uma pedra então tentaria em seguida desenhar o P etc e assim a criança inventaria para si o seu próprio ABC que depois só teria de trocar por outros sinais Algumas crianças vêm ao mundo com aleijões Não se tem meios para corrigir novamente esta figura defeituosa como que estragada Chegou se à opinião mediante os esforços de muitos e sábios escritores de que os espartilhos de nada servem aqui pelo contrário ainda aumentam o mal na medida em que obstam à circulação do sangue e dos humores bem como à altamente necessária expansão das partes internas e externas do corpo Quando se deixa a criança à vontade ela exercita m ais o seu corpo e um homem que usa um espartilho estará quando o tirar muito mais fraco que outro que nunca o tenha posto Podese talvez ajudar aqueles que nasceram com aleijões colocando mais peso no lado em que os músculos são mais robustos Mas isto também é muito perigoso pois que homem pode estipular o equilíbrio O melhor é que a criança se exercite a si mesma e adquira uma posição ainda que lhe seja custosa pois aqui nenhuma máquina remedeia a coisa Todos os aparelhos artificiais desse género são tanto mais prejudiciais quanto vão ao arrepio da finalidade da natureza num ser organizado racional ao qual por conseguinte deve assistir a liberdade de aprender 43 a utilizar as suas forças Na educação devese impedir somente que as crianças se tom em moles E o fortalecimento é o oposto da moleza É arriscar demasiado querer habituar a criança a tudo A educação dos Russos vai muito longe a este respeito Mas por isso morre um inacreditável número de crianças A habituação através de uma repetição mais frequente do mesmo gozo ou acção tom ase em necessidade do gozo ou da acção A nada as crianças se habituam mais facilmente e nada se deve dar menos às crianças do que coisas estimulantes por exemplo tabaco aguardente e bebidas quentes A desabituação depois é muito difícil e de início implica queixas porque através do prazer mais frequente ocorreu uma modificação nas funções do nosso corpo Quanto mais hábitos um homem tem menos livre e independente é Sucede ao homem o mesmo que a todos os outros animais acaba por lhe ficar um certo pendor para aquilo a que cedo se habituou Devese impedir por isso que a criança contraia habituações não se pode permitir que nasça nela uma habituação Muitos pais querem que os seus filhos se acostumem a tudo Isto porém de nada serve Pois a natureza humana em geral e em parte a própria natureza do sujeito individual não lhe permite habituarse a tudo e muitas crianças quedamse pelas primeiras lições Assim querem por exemplo 44 que as crianças durmam e se levantem a qualquer altura do dia ou que devam comer quando eles lho exigem Mas para aguentar isso requerse um modo de vida peculiar um modo de vida que robustece o corpo e que restaura o que o deteriorou Mas na natureza também encontramos muita coisa periódica Os animais também têm o seu tempo certo para dormir O homem deve habituarse igualmente a um tempo certo para que o corpo não seja perturbado nas suas funções No que diz respeito ao facto de as crianças deverem comer a qualquer hora não podemos invocar aqui o exemplo dos animais Pois por exemplo todos os animais que se alimentam de erva ingerem comida pouco rica por isso comer é um assunto corriqueiro Mas é muito saudável para o homem comer sempre numa determinada altura Assim alguns pais querem que os seus filhos consigam suportar grandes frios o fedor todo e qualquer ruído e coisas do género Mas isso de modo nenhum é necessário se eles a nada se acostumarem E para tal é de grande préstimo que se transponha as crianças para diferentes estados Uma cama dura é muito mais saudável que uma mole Em geral uma educação dura ajuda muito ao fortalecimento do corpo Por educação dura entendemos porém o mero impedimento do conforto Não faltam exemplos notáveis para corroborar esta afirmação só que não se atenta neles ou mais bem dito não se quer atentar 45 No que diz respeito à formação do ânimo que realmente e em certa medida também se pode designar por física é necessário observar principalmente que a disciplina não seja servil mas que a criança tenha sempre de sentir a sua liberdade só que de tal modo que não perturbe a liberdade dos demais daí que tenha de encontrar resistência Alguns pais cerceiam tudo aos seus filhos a fim de exercitarem a sua paciência e exigem por conseguinte mais paciência aos filhos do que aquela que eles próprios têm Isto no entanto é cruel Dêse à criança tanto quanto lhe serve e depois digaselhe tens o suficiente Mas é sem dúvida necessário que tal seja então irrevogável Atendase aos gritos das crianças e condescendase com elas somente se elas não quiserem forçar a alguma coisa através da gritaria mas concedaselhes aquilo que pedirem amavelmente se lhes for de préstimo Assim habituase também a criança a ser sincera e a não se tom ar impertinente através da sua gritaria e desse modo todos serão também afáveis com ela A Providência parece ter dado um semblante afável às crianças para que possam inspirar simpatia às pessoas e obterem vantagens Nada é mais prejudicial que uma disciplina trocista servil para quebrar o egoísmo Costumase censurar as crianças Que porcaria não tem vergonha que feio etc Mas não se deve fazer isso na primeira educação A criança ainda não tem conceitos de vergonha e de decoro nada tem de 46 que se envergonhar não se deve envergonhar e deste modo tomase simplesmente acanhada Fica embaraçada assim que vê outrem e esconde se de bom grado perante outras pessoas Nasce assim uma reserva e uma dissimulação prejudiciais Já não se atreve a pedir o que quer que seja e deveria contudo poder pedir tudo dissimula a sua disposição e parece sempre diferente do que realmente é em lugar de ter de lhe ser permitido dizer tudo com sinceridade Em vez de estar sempre na proximidade dos pais evitaos e lançase nos braços da criadagem condescendente Em nada melhor que aquela educação trocista é perder tempo com ninharias e carícias ininterruptas Isso reforça a vontade própria da criança tom aa falsa e na medida em que lhe denuncia uma fraqueza dos pais arrebatalhes o respeito necessário aos olhos da criança Mas quando se educa de tal modo que a criança nada consegue com os seus gritos tom ase livre sem impertinência e modesta sem ser acanhada Deverse ia dizer dräust ameaçador e não dreist insolente pois deriva de dräuen drohen ameaçar Ninguém pode tolerar uma pessoa ameaçadora Algumas pessoas tem rostos de tal modo insolentes que se tem sempre de recear uma grosseria da sua parte tal como se vêem outros rostos que nunca poderiam dizer uma grosseria a quem quer que seja Podese sempre parecer sincero quando há uma ligação a uma certa bondade As pessoas dizem frequentemente de homens distintos que têm a aparência de um rei Mas 47 isto nada mais é que um certo olhar insolente a que se habituaram desde a juventude porque não se lhes opôs resistência Tudo isto ainda se pode contar somente na formação negativa Pois muitas fraquezas do homem não provêm frequentemente do facto de não se lhes ter ensinado nada mas mais do facto de se lhes ter ensinado impressões falsas Assim por exemplo as amas passam para as crianças o medo das aranhas sapos etc As crianças poderiam certamente apanhar as aranhas da mesma maneira em que agarram outras coisas Mas porque as amas assim que vêem uma aranha mostram a sua repugnância através de caretas isso acaba por influenciar a criança através de uma certa simpatia Muitas conservam este medo por toda a sua vida e a esse respeito permanecem sempre pueris Pois as aranhas são de facto perigosas para as moscas e a sua mordedura élhes venenosa mas não são prejudiciais ao homem E um sapo é um animal tão inocente como uma bela rã verde ou qualquer outro animal A parte positiva da educação física é a cultura O homem distinguese do animal pela sua referência a esta Consiste ela principalmente no exercício 48 das faculdades do ânimo Por isso os pais têm de proporcionar aos filhos as oportunidades para que tal suceda A primeira e mais importante regra para isso é que se prescinda tanto quanto possível de todos os instrumentos Assim presdndase de início das andadeiras e dos andarilhos e deixese a criança gatinhar no chão até que aprenda a andar por si própria pois assim andará com maior segurança É que os instrumentos apenas arruinam o jeito natural Podese utilizar um fio para medir uma dada extensão mas podese fazêlo igualmente bem a olho um relógio para determinar o tempo mas podese fazêlo através da posição do sol uma bússola para nos orientarmos na floresta mas podese fazêlo também através da posição do sol de dia e da posição das estrelas à noite Até se pode dizer que em vez de precisar de um batel para avançar sobre as águas se pode nadar O célebre FranklinO admirase que haja alguém que o não aprenda visto que é tão agradável e útil Menciona igualmente um modo fácil de cada qual aprendê lo por si Coloquese um ovo no fundo de um ribeiro onde se tenha pé de modo a que pelo menos a cabeça fique à tona Procurese então agarrar o ovo Ao inclinarmonos os pés sobem e para que não entre água na boca giraremos logo a cabeça no sentido da nuca e assim obtémse a posição correcta que é necessária para podermos nadar Podese nessa altura trabalhar com as mãos e assim já estamos a nadar O que importa é cultivar 49 a aptidão natural Ora se requer informação para tal ora a própria criança tem inventiva quanto baste ou descobre instrumentos por si própria O que há a observar na educação física ou seja do ponto de vista do corpo referese ou ao uso de movimento voluntário ou aos órgãos dos sentidos No primeiro caso importa que a criança se auxilie sempre a si própria Para isso requerse forças destreza agilidade segurança por exemplo o poder andar sobre uma base vacilante em veredas estreitas em elevações alcantiladas onde se tem um precipício diante de si Se uma pessoa o não consegue fazer também não é completamente o que poderia ser Desde que a Filantropa de Dessau nos precedeu aqui com o seu modelo foram feitas muitas tentativas do género com crianças noutros institutos É assaz admirável ler que os Suíços são habituados desde a juventude a andar nas serras e a que perícia chegam de tal modo que podem caminhar com total segurança nas veredas mais estreitas e saltam sobre precipícios que sabem a olho que conseguirão transpor A maioria das pessoas porém tem medo perante um caso desses meramente imaginado e este medo como que lhes tolhe os membros de modo que depois um tal caminho se associa imediatamente a perigo Este medo aumenta geralmente com a idade e encontramolo principalmente em pessoas muito habituadas ao trabalho intelectual 50 Tais feitos nas crianças não são realmente muito perigosos Pois as crianças têm um peso de longe mais escasso em proporção às suas forças que as outras pessoas e por isso não lhes custa tanto Além disso os ossos não são nelas tão rígidos e quebradiços como vêm a ser com a idade As crianças também experimentam por si as suas forças Por isso as vemos às vezes por exemplo a escalarem sem que tenham um qualquer desígnio Correr é um movimento saudável e fortalece o corpo Saltar a elevação carregar a fisga o tiro ao alvo a luta a corrida e exercícios semelhantes são muito bons A dança na medida em que for artística parece precoce para crianças em sentido próprio O exercício de atirar seja o atirar longe seja também o acertar em alguma coisa tem como finalidade o exercício dos sentidos em particular da vista O jogo da bola é um dos melhores jogos infantis para o qual contribui também a corrida saudável Em geral os melhores jogos são aqueles em que ao exercício da destreza se somam os exercícios dos sentidos por exemplo o exercício de avaliar correctamente a olho a distância a dimensão e as proporções de encontrar a posição dos lugares segundo os quadrantes do mundo onde é útil o sol etc tudo isso são bons exercícios Também a imaginação local pelo que entendemos a proficiência para imaginar tudo aquilo que realmente se viu nos sítios certos é algo de muito vantajoso por exemplo o prazer de se orientar para sair de uma 51 floresta nomeadamente através do facto de se ter reparado nas árvores pelas quais já se passou O mesmo sucede com a m em ória localis que se saiba por exemplo não só em que livro se leu algo como também o seu preciso local no mesmo Assim o músico tem as teclas na cabeça de tal modo que já não precisa de as procurar com o olhar A cultura da audição é igualmente precisa para se saber através dela se algo está longe ou perto e de que lado está O jogo da cabracega já era conhecido dos gregos designavamno por muAinda Regra geral os jogos infantis encontramse um pouco por toda a parte Aqueles que temos na Alemanha também se encontram na Inglaterra na França etc Subjazlhes um certo instinto natural das crianças no jogo da cabracega por exemplo apercebemse de como se desenvencilhariam se lhes faltasse um sentido O pião é um jogo particular tais jogos infantis no entanto são m atéria para os homens prosseguirem as suas reflexões e dão azo de quando em quando a invenções importantes Assim Segner escreveu uma dissertação acerca do pião e este deu oportunidade a um capitão inglês para inventar um espelho através do qual se conseguisse no barco medir a altitude das estrelas As crianças gostam de ter instrumentos que fazem barulho por exemplo com etas tambores etc Mas isso não serve para nada porque 52 desse modo tomamse maçadoras para os outros Já seria melhor no entanto que aprendessem a cortar uma cana de tal modo que pudessem tocar música com ela O baloiço também constitui um bom movimento mesmo os adultos necessitam dele para efeitos de saúde as crianças necessitam de supervisão porquanto o movimento pode atingir uma grande velocidade O papagaio depapel também é um jogo que não suscita objecções Cultiva a destreza na medida em que depende de uma certa posição da direção do vento se se quer que suba muito alto O rapaz privase de outras necessidades em favor destes jogos e aprende gradualmente a prescindir de variadíssimas coisas Além de que se habitua a uma ocupação duradoura mas justamente por isso não se permite o mero jogo antes tem de jogar com intenção e um fim último Pois quanto mais o seu corpo se fortalece e endurece desta maneira tanto mais seguro está das consequências nocivas do mimo A ginástica também deve somente conduzir a natureza não pode suscitar uma graciosidade forçada A disciplina tem de ser introduzida de início mas não a informação Aqui devese velar porém para que se forme as crianças na cultura do seu corpo também para a sociedade Rousseau afirma Nunca conseguireis fazer sages se não começardes por fazer traquinas Mais depressa se faz de um 53 rapaz vivo um bom homem do que de um impertinente um moço prudente e trabalhador A criança não só não pode ser enfadonha na sociedade como também não pode ser insinuante Deve ser familiar com quem frequenta sem ser indiscreta sincera sem ser impertinente O meio para isso é nada se corrompa não se lhe ensine conceitos de decoro através dos quais se tom e acanhada e receosa dos homens ou por outro lado seja levada à ideia de se querer fazer valer Nada é mais ridículo do que o recato precoce ou a presunção impertinente da criança No último caso tanto mais temos de fazer sentir à criança as suas fraquezas mas não em demasia a nossa superioridade e domínio para que se forme de facto a partir de si mesma como um homem que deve viver em sociedade onde o mundo tem de ser suíicientemente grande para ela própria mas também para os outros No Tristram Shandy Toby diz a uma mosca que o maçara durante muito tempo enquanto a soltava à janela Ide pobre diabo idevos daqui por que vos haveria eu de fazer mal este mundo é por certo bastante grande para nós os dois Cada qual poderia adoptar esta divisa Não devemos ser importunos entre nós o mundo é suficientemente grande para todos nós 54 Chegamos agora à cultura da alma que também podemos designar em certa medida como física Tem de se distinguir porém entre natureza e liberdade Dar leis à liberdade é algo completamente diferente de formar a natureza A natureza do corpo e da alma concordam no facto de se procurar impedir uma corrupção aquando da sua formação recíproca e no facto de a arte acrescentar então algo àquela bem como a esta Podese igualmente designar a formação da alma portanto em certa medida por física tal como a formação do corpo Esta formação física do espírito distinguese da moral contudo por esta visar apenas a liberdade e aquela apenas a natureza Uma pessoa pode ser fisicamente muito cultivada pode ter um espírito muito formado mas ser em simultâneo mal cultivada moralmente ser uma criatura má A cultura física porém deve ser distinguida da prática esta última é pragm ática ou moral No último caso é m oralização não cultivo Dividimos a cultura física do espírito em livre e escolástica A livre é como que apenas um jogo a escolástica pelo contrário constitui um negócio a livre é aquela que tem de ser sempre observada no educando na escolástica porém o educando é considerado como que sob coacção Podese estar ocupado no jogo a isso chamamos também estar ocupado no ódo mas 55 também se pode estar ocupado sob coacção e a isso chamase trabalhar A formação escolástica deve ser trabalho para a criança a livre jogo Foram esboçados vários planos educativos para experimentar o que é sempre muito louvável qual seria o melhor método na educação Aventou se também a ideia entre outras de que a criança deixa que lhe ensinem tudo como num jogo Lichtenberg queixouse num texto do magazine de Gotinga da ilusão segundo a qual deverseia fazer tudo aos rapazes como num jogo que no entanto cumpre habituar desde muito cedo aos negócios uma vez que um dia têm de entrar na vida activa Isto produz um efeito completamente invertido A criança deve brincar deve ter horas de repouso mas também tem de aprender a trabalhar A cultura da sua aptidão é claro está igualmente tão boa como a cultura do espírito mas ambos os géneros de cultura têm de ser exercitados em tempos diferentes Mesmo sem isso já é uma infelicidade para o homem que ele seja tão inclinado à inactividade Quanto mais um homem mandriar mais dificilmente se resolve a trabalhar No trabalho a ocupação não é agradável em si mesma é empreendida por mor de outro propósito No jogo pelo contrário a ocupação é agradável em si sem se propor qualquer propósito para além de si própria Quando se vai passear o passeio é em si o propósito e quanto mais longo for o caminho mais nos é agradável Mas se queremos ir a algum lado onde a 56 sociedade que lá se encontra ou qualquer outra coisa é o propósito do nosso passeio preferimos escolher o caminho mais curto O mesmo se passa com os jogos de cartas É realmente notável vermos homens razoáveis sentados frequentemente durante horas a baralharem cartas Donde se depreende que os homens não deixam de ser crianças assim tão facilmente Pois em que é que tal jogo é melhor do que o jogo da bola das crianças Os adultos não andam em cavalos de batalha mas não deixam de ter as suas manias É da maior importância que as crianças aprendam a trabalhar O homem é o único animal que tem de trabalhar Somente depois de muitos preparativos chega o homem ao estado de poder fruir de algo para seu sustento À pergunta não teria o céu cuidado de nós mais bondosamente se nos permitisse encontrar tudo já de tal modo preparado que não nos veríamos obrigados a trabalhar deve decerto responderse com um não pois o homem requer negócios mesmo os que acarretam uma certa coacção Igualmente tão falsa é a ideia de que se Adão e Eva tivessem permanecido sempre no Paraíso nada mais teriam feito que estar sentados lado a lado cantado canções arcádicas e contemplado a beleza da natureza O tédio teria sido tão certo como o que torturou outros homens em situação análoga 57 O homem tem de estar de tal modo ocupado que com o propósito que tem em vista realizar dessa maneira não se sinta a si mesmo e que o seu melhor repouso seja aquele que se segue ao trabalho A criança tem de ser pois habituada a trabalhar E onde a não ser na escola se deve cultivar a inclinação para o trabalho A escola é uma cultura por coação É extremamente nocivo que a criança seja habituada a considerar tudo como jogo Tem de ter tempo para se recrear mas também tem de haver tempo em que trabalha Ainda que a criança não vislumbre logo qual seja a utilidade dessa coacção descobrirá no futuro o maior proveito disso Seria amimalhar excessivamente a curiosidade indiscreta da criança responder sempre às suas perguntas para que serve isto e aquilo A educação tem de se conformar à coacção mas nem por isso lhe é permitido ser servil No atinente à livre cultura das faculdades do ânimo deve notar se que está sempre a avançar Tem de dizer respeito com efeito às faculdades superiores As inferiores são igualmente cultivadas mas apenas em referência às superiores a argúcia por exemplo em referência ao entendimento Aqui a regra principal é que nenhuma faculdade do ânimo deva ser cultivada isoladamente por si mas sim que cada uma o seja em referência às outras por exemplo a imaginação apenas para vantagem do entendimento 58 As faculdades inferiores não têm por si só nenhum valor por exemplo um homem com uma grande memória mas sem faculdade de ajuizar Um tal homem é uma enciclopédia viva Tais burros de carga do Pamasso também são necessários ainda que não consigam realizar nada de brilhante pois carreiam consigo materiais para que outros possam realizar algo de bom a partir disso A argúcia dá puras tolices quando não se lhe acrescenta a faculdade de julgar O entendimento é o conhecimento do geral A faculdade de julgar é a aplicação do geral ao particular A razão é a faculdade de apreender a ligação do geral ao particular Esta cultura livre abre o seu caminho desde a infanda até à época em que o adolescente completa toda a educação Quando um adolescente por exemplo invoca uma regra geral podese fazêlo indicar casos da história das fábulas em que esta regra está mascarada passagens dos poetas onde já se encontra expressa e assim darlhe ensejo de exerdtar a sua argúcia a sua memória etc A sentença tantum scimus quantum m em ória tenemus tem decerto a sua justeza e por isso a cultura da memória é muito necessária Todas as coisas estão constituídas de tal modo que o entendimento segue primeiramente as impressões sensíveis e a memória deve retêlas O mesmo sucede por exemplo com as línguas Podese aprendêlas pela memorização formal ou através do convívio e este último método é o melhor nas línguas vivas 59 Aprender os vocábulos é realmente importante mas o que de melhor há a fazer é aprender aquelas palavras que aparecem no autor que se está precisamente a ler com o adolescente Os jovens têm de ter o seu programa certo e determinado Assim a geografia também se aprende melhor mediante um certo mecanismo A memória gosta preferencialmente deste mecanismo que também é muito útil numa série de casos Para a história ainda não se inventou até ao presente um mecanismo adequado é certo que já se tentou com tabelas mas parece que ainda assim as coisas também não correram lá muito bem A história porém é um excelente meio para exercitar o entendimento no juízo A memorização é muito necessária mas de nada serve como mero exercício por exemplo aprender discursos de cor Em todo caso ajuda como fomento da ousadia e além disso o declamar é assunto de homens Têm aqui lugar todas as coisas que se aprendem apenas para um futuro exame ou em referência ao futuram oblivionem Devese ocupar a memória apenas com assuntos que temos interesse em conservar e que têm uma relação com a vida real Nas crianças o mais nocivo é a leitura de romances visto que não farão outro uso deles a não ser o de se divertirem no momento em que os lêem A leitura de romances enfraquece a memória Pois seria ridículo fixar romances e querer contálos a outrem Daí que se tenha de tirar todos os romances das mãos das crianças Ao lê los imaginam por seu turno um novo romance no romance dado que 60 imaginam as circunstâncias diferentemente devaneiam e ficam sentadas absortas Nunca podem ser toleradas distracções pelo menos na escola pois acabam por produzir um certo pendor para tal um certo hábito Mesmo os talentos mais belos arruínamse naquele que se entregue à distracção Quando as crianças se distraem com prazeres voltam a concentrar se em breve mas vemolas no ponto máximo da distracção quando têm marotices na cabeça pois então cismam como podem ocultálas ou reparálas Nessa altura ouvem tudo somente pela metade respondem ao contrário e não sabem o que lêem etc A memória tem de ser cultivada cedo mas imediatamente a par disso o entendimento Cultivase a memória 1 através da fixação de nomes nas narrativas 2 através da leitura e da escrita aquela porém tem de ser exercitada de cabeça e não soletrando 3 através das línguas que têm de ser ensinadas às crianças inidalmente através da audição antes de conseguirem ler alguma coisa Nessa altura é de grande préstimo o chamado Orbis pictusÇ adequadamente organizado e podese dar início à Botânica à Mineralogia e à descrição da natureza em geral Fazer um bosquejo destes objectos dá azo ao desenho e à modelação para o que se precisa de matemática O mais 61 vantajoso no primeiro ensino científico é versar a geografia a matemática bem como a física As narrativas de viagens ilustradas com gravuras e mapas levam então à geografia política Do estado actual da superfície do globo remontase ao estado anterior passase então à descrição da terra antiga à história antiga etc Na criança porém devese procurar combinar gradualmente no ensino o saber e o poder Entre todas as ciências a matemática parece ser a única do género que satisfaz este fim último Além disso o saber e o falar tem de estar ligados facúndia oratória eloquência Mas a criança tem também de aprender a distinguir muito bem o saber do mero opinar e crer Deste modo preparase um entendimento correcto e um gosto correcto não fin o ou tem o Aquele deve ser antes de mais um gosto dos sentidos nomeadamente dos olhos e por fim um gosto das ideias Devem estar presentes regras em tudo o que deve educar o entendimento É também muito útil abstrair as regras para que o entendimento não proceda mecanicamente mas sim com a consciência de uma regra Também é muito bom levar as regras a uma certa fórmula e assim confiálas à memória Se tivermos as regras na memória e nos esquecermos do seu uso rapidamente nos orientamos A questão aqui é devem as regras 62 preceder apenas in abstracto ou devem as regras ser aprendidas apenas depois de se ter feito uso delas Ou devem a regra e o uso andar a par e passo Só este último caso é de aconselhar No outro caso demora se tanto até chegar às regras que o uso é muito inseguro As regras têm de ser oportunamente enquadradas em classes pois não se fixam se não estiverem em ligação entre si Nas línguas a gramática tem portanto de ter alguma precedência Temos agora de dar também um conceito sistemático do fim total da educação e do modo como se pode alcançálo 1 A cultura geral das faculdades do ânim o distinguese da cultura particular Dirigese à aptidão e ao aperfeiçoamento que não se informe o educando nisso mas antes que se fortaleça as suas faculdades do ânimo Ela é a ou física Aqui tudo assenta no exercício e na disciplina sem que as crianças possam conhecer as máximas É passiva para o formando este tem de ser obediente à direcção de outrem Outros pensam por ele 63 b ou moral Assenta então não na disciplina mas em máximas Está tudo estragado quando se quer fundamentála em exemplos ameaças castigos etc Nesse caso seria uma mera disciplina Deve se velar aí para que o educando aja bem a partir das suas próprias máximas não por hábito que ele não se limite a fazer o bem mas sim que o faça porque é bom Pois todo o valor moral das acções consiste nas máximas do bem A educação física distinguese da moral por ser passiva para o educando ao passo que esta é activa Ele tem de vislumbrar sempre o fundamento e a derivação da acção a partir dos conceitos do dever 2 A cultura particular das faculdades do ânimo Aqui temos a cultura da faculdade de conhecer dos sentidos da imaginação da memória da fortaleza da atenção e da argúcia o que diz igualmente respeito às faculdades inferiores do entendimento Da cultura dos sentidos por exemplo do olhar já se falou mais acima No atinente à cultura da imaginação devese notar o seguinte As crianças têm uma imaginação descomunalmente forte e esta não necessita de ser alargada e excitada pelos contos Tem antes de ser refreada e posta sob regras mas também não a podemos deixar totalmente desocupada 64 Os mapas têm em si algo que encanta todas as crianças inclusive as mais pequenas Quando já estão saturadas de tudo ainda aprendem mais qualquer coisa se utilizarmos mapas E é um bom divertimento para crianças onde a sua imaginação não pode devanear mas como que tem de se ater a uma certa figura Poderseia realmente começar nas crianças com a geografia Podese combinar com ela em simultâneo figuras de animais plantas etc estas devem dar vida à geografia A história porém deveria ser introduzida somente mais tarde No que diz respeito ao fortalecimento da atenção devese notar que esta tem de ser fortalecida em geral Um vínculo rígido dos nossos pensamentos a um objecto não é tanto um talento mas antes uma fraqueza do nosso sentido interno já que neste caso é inflexível e não se pode aplicar a nosso belo talante A distracção é inimiga de toda a educação A memória porém assenta na atenção Mas no que concerne às faculdades superiores do entendim ento temos a cultura do entendimento da faculdade de julgar e da razão De início o entendimento pode ser em certa medida formado também passivamente através de menção de exemplos para as regras ou ao invés através da descoberta de regras para os casos particulares A faculdade de julgar mostra que uso se deve fazer do entendimento Este é necessário para 65 compreender o que se aprende ou se diz e para não repetir nada sem o compreender Como alguns que lêem e escutam algo sem o compreenderem ainda que acreditem que o compreendem Para tal requer se imagens e objectos Através da razão penetrase nos fundamentos Mas temos de ponderar que o que está aqui em causa é uma razão que ainda não está encaminhada Não tem de estar sempre a querer raciocinar mas também não se deve arrazoarlhe muito de antemão sobre aquilo que ultrapassa os conceitos Também não se refere à razão especulativa mas sim à reflexão sobre o que acontece segundo as suas causas e efeitos É uma razão prática na sua economia e disposições O melhor cultivo das faculdades do ânimo é fazer por si tudo o que se quer realizar por exemplo quando se exercita de imediato a regra gramatical que se aprendeu Compreendese melhor um mapa de uma região quando se pode traçálo por si O compreender tem como expediente maior a produção Aprendese mais radicalmente e fixase melhor aquilo que como que se aprende de si mesmo Só poucas pessoas no entanto estão em condições de o fazer Designamse por autodidaktoi autodidactas Na formação da razão tem de se proceder socraticamente É que Sócrates que se intitulava a parteira dos conhecimentos dos seus ouvintes dá 66 exemplos nos seus diálogos que Platão em certa medida nos conservou de como mesmo no caso de pessoas já de idade se pode extrair muita coisa da sua própria razão A razão não precisa em muitos assuntos de ser exercitada pelas crianças Não têm de arrazoar acerca de tudo Não precisam de saber os fundamentos daquilo que os faz bemeducados mas assim que concerne ao dever têm de ser familiarizadas com esses fundamentos Devese velar no entanto para que os conhecimentos racionais não lhes sejam introduzidos a partir de fora mas sim que elas os hauram em si mesmas O método socrático devia constituir a regra no catecismo É claro que é aborrecido e é difícil organizálo de tal maneira que enquanto se faz sair os conhecimentos de um os outros também aprendam em simultâneo alguma coisa O método m ecânicocatedsta é igualmente bom em algumas ciências por exemplo na exposição da religião revelada Na religião universal pelo contrário tem de se utilizar o método socrático Atendendo àquilo que tem de ser aprendido historicamente recomendase de preferência o método mecânicocatecista Também cabe aqui a formação do sentimento de prazer e desprazer Aquela tem de ser negativa mas o sentimento em si não deve ser amimalhado O pendor para a comodidade é pior para os homens que todos os males da vida Daí que seja extremamente importante que as crianças aprendam a trabalhar desde a juventude As crianças se não estiverem já 67 estragadas com mimos gostam realmente dos prazeres que se associam às canseiras das ocupações que requerem as suas forças No que diz respeito à alimentação não se deve deixar que se tom em gulosas e não se pode deixálas escolher Geralmente as mães estragam os filhos com mimos neste particular e amimalhamnos em geral E no entanto notase que as crianças prindpalmente os rapazes gostam mais dos pais que das mães Isto provém do facto de as mães não os deixarem andar aos pinotes a correr etc com medo de que se possam magoar O pai ao invés que é quem repreende e também lhes bate se forem malcriados levaos de quando em quando ao campo e aí deixaos correrem brincarem e folgarem à medida da idade Crêse exercitar a paciência das crianças fazendoas esperar muito tempo por alguma coisa Mas tal não deveria ser necessário De paciência precisam realmente na doença e coisas do género A paciência é dupla Consiste ou na renúncia a toda a esperança ou no cobrar um novo ânimo A primeira não é necessária se se exigir sempre o possível e o último é o que se deve fazer se se desejar sempre apenas o que é justo Na doença a desesperança piora tanto quanto o bom ânimo traz melhoras Quem o consegue recobrar em relação ao seu estado físico ou moral ainda não renunciou a toda a esperança 68 Também não se pode tom ar as crianças acanhadas Isso acontece principalmente quando usamos de injúrias com elas e as envergonhamos reiteradamente Aqui entra em particular a exclamação dos pais que porcaria não tens vergonha Não se deve de modo nenhum fazer vista grossa àquilo de que a criança deveria realmente ter vergonha por exemplo quando põe o dedo na boca etc Isso não se faz não é bonito podese dizerlhe mas nunca gritarlhe um que porcaria que vergonha a não ser no caso de mentirem A natureza deu ao homem a pudicícia para que se traia assim que mentir Por isso nunca os pais dêem às crianças sermões sobre a vergonha a não ser que mintam assim elas conservarão por toda a sua vida o mbor de vergonha no que diz respeito à mentira Se são envergonhadas sem cessar isso provoca um acanhamento que se lhes cola de longe mais imutavelmente A vontade da criança não tem como já foi dito atrás de ser quebrada mas apenas de ser conduzida de modo a que ceda aos obstáculos naturais É claro que de início a criança tem de obedecer às cegas Não é natural que a criança comande através da sua gritaria e que o forte obedeça ao fraco Daí que nunca se possa condescender à gritaria das crianças inclusive na primeira infância e permitirlhes que se imponham Geralmente os pais erram aqui e querem em seguida reparar a situação de tal modo que cerceiam posteriormente tudo o que as crianças pedem Mas cercearlhes 69 sem causa aquilo que esperam da bondade dos pais pura e simplesmente para oferecer resistência e poder fazer sentir aos mais fracos a supremacia dos mais velhos é o inverso do que deve acontecer Estragase as crianças com mimos quando se lhes faz a vontade e são educadas de modo completamente errado quando se contraria a sua vontade e os seus desejos A primeira situação acontece geralmente na fase em que são um brinquedo dos pais prindpalmente na altura em começam a falar Mas daí brota um grande dano para toda a vida Na segunda situação impedese em simultâneo que elas mostrem o seu espírito de contradição o que tem necessariamente de acontecer mas assim ainda mais se enraivecem no íntimo Ainda não estão familiarizadas com o modo em que se devem então comportar A regra que se tem de observar nas crianças desde cedo é esta que quando chorarem e se crê que alguma coisa lhes faz mal ir em sua ajuda mas se o fazem por mera má vontade deixálas estar E depois tem de se seguir incansavelmente um procedimento igual A resistência que a criança encontra neste caso é totalm ente natural e intrinsecamente negativa na medida em que apenas se não é condescendente Algumas crianças ao invés conseguem dos pais tudo o que pretendem assim que se põem a pedinchar Quando se permite às crianças que consigam tudo pelos gritos tomam se más se conseguem tudo pelo pedinchar tomam se moles Se não houver bons motivos para 70 agir em sentido contrário devese aceder ao pedido da criança Se se encontrar uma causa para não o aceitar também não nos podemos deixar mover pelo pedinchar reiterado Toda a resposta negativa tem de ser irrevogável O seu primeiro efeito é o de que não é preciso estar sempre a negar Supondo que existisse na criança uma disposição natural para a teimosia o que contudo só muito raramente se pode supor o melhor modo de proceder é que se não fazemos nada para nos obsequiarmos também não lhe façamos nada para a obsequiar Quebrar a vontade acarreta um modo de pensar servil a resistência natural pelo contrário mansidão A cultura moral tem de se fundar em máximas não na disciplina Esta impede a falta de educação aquela forma o modo de pensar Tem de se velar para que a criança se habitue a agir segundo máximas e não segundo certos móbiles Através da disciplina fica apenas uma habituação que se extingue com o passar dos anos A criança deve aprender a agir segundo máximas de cuja equidade se aperceba Facilmente se percebe que isso é difícil de conseguir nas crianças pequenas e que por isso a formação moral requer os maiores conhecimentos dos pais e dos professores Se a criança mentir por exemplo não se deve castigála mas sim tratá la com desprezo dizerlhe que de futuro não acreditaremos nela etc Se se 71 castigar a criança quando faz o mal e for recompensada quando faz o bem fará o bem para ter o bem E se depois entrar no mundo onde tal não sucede onde pode agir bem sem receber recompensa e mal sem receber um castigo tom arseá uma pessoa que vê apenas como pode vingar no mundo e será boa ou má consoante lhe for mais propício As máximas têm de nascer da própria pessoa Na cultura moral devese procurar ensinar à criança desde cedo os conceitos do que é bom e mau Se se quer fundar a moralidade não se pode castigar A moralidade é algo tão sagrado e sublime que não se pode aviltála colocandoa no mesmo patamar da disciplina O primeiro esforço na educação moral é fundar um carácter O carácter consiste na prontidão a agir segundo máximas De início são máximas escolares em seguida máximas da humanidade De início a criança obedece a leis As máximas também são leis só que subjectivas nascem do próprio entendimento do homem Mas nenhuma infracção da lei escolar pode passar impune apesar do castigo ter de ser sempre adequado à infracção Se se quer formar um carácter nas crianças é muito importante tom ar lhes perceptível em todas as coisas um certo plano certas leis que têm de ser estritamente seguidas Estabeleçaselhes então por exemplo um tempo para dormir para o trabalho para os folguedos e não se encurte nem 72 se amplie tal tempo Em coisas indiferentes deixese a escolha às crianças têm apenas de seguir sempre posteriormente aquilo que de início quiseram como lei Nas crianças devese formar não o carácter de um cidadão mas sim o carácter de uma criança Pessoas que não se propuseram certas leis não são de fiar não as compreendemos porque nunca sabemos ao certo o que havemos de esperar delas É certo que hoje se censura frequentemente as pessoas que agem sempre segundo regras por exemplo o homem que estabeleceu um tempo certo pelo relógio para cada acção mas esta censura é amiúde injusta e esta exactidão ainda que pareça penosa é uma disposição para o carácter Ao carácter de uma criança em particular de um aluno compete antes de mais a obediência Esta é dupla primeiro uma obediência à vontade absoluta segundo à vontade reconhecida como racional e boa de um guia A obediência pode ser derivada da coacção e então é absoluta ou da confiança e então é do outro género Esta obediência voluntária é muito importante aquela porém é também extremamente necessária na medida em que prepara a criança para cumprir aquelas leis que como cidadão terá de cumprir no futuro ainda que lhe não agradem As crianças têm de estar por isso sob uma certa lei da necessidade Esta lei porém tem de ser geral pelo que se tem de velar em particular 73 na escola O professor não pode mostrar predilecção entre os vários alunos nem uma afeição preferencial por uma criança em particular Pois senão a lei cessa de ser geral Assim que a criança repara que todos os demais não têm de se sujeitar à mesma lei tom ase insubordinada Está sempre a dizerse que se deveria de apresentar tudo às crianças de molde a que o façam por inclinação É claro que em certos casos isso é bom mas também tem de se lhes prescrever muitas coisas como dever Isto tem posteriormente uma grande utilidade ao longo de toda a vida Pois nas tarefas públicas no trabalho num oficio e em muitos outros casos só o dever nos pode conduzir não a inclinação Supondo que a criança também não compreenda o seu dever é sempre tanto melhor que compreenda que algo é seu dever como criança mas é mais difícil ver o que seja o seu dever como homem Se o conseguisse compreender mas isso só é possível nos anos seguintes a obediência seria assim ainda mais perfeita Toda a infracção de um mandamento numa criança é uma falta de obediência e esta acarreta um castigo Mas também na infracção desatenta de um mandamento não deixa de ser necessário o castigo Este castigo ou é físico ou é moral Castigase moralmente quando se prejudica a inclinação de ser honrado e amado que são os meios auxiliares da moralidade por exemplo quando 74 se envergonha a criança quando a tratamos com uma frieza glacial Estas inclinações têm de ser conservadas tanto quanto possível Por isso este modo de castigar é o melhor porque vem em socorro da moralidade por exemplo quando uma criança mente um olhar de desprezo é castigo quanto baste e é o castigo mais adequado Os castigos físicos consistem ou na denegação do desejado ou na aplicação de penas O primeiro género é aparentado com o castigo moral e é negativo Os outros castigos têm de ser exercidos com cautela para que não se gere uma índoles servilis Que se dê recompensas às crianças de nada serve tomamse interesseiras e gerase daí uma índoles mercenária A obediência é por seu turno ou obediência da criança ou do adolescente A uma infracção deste seguese o castigo Este ou é um castigo realmente natural no qual o homem incorre através da sua conduta por exemplo se a criança comer demasiado adoecerá e estes castigos são os melhores pois o homem experimentaos ao longo da vida e não apenas enquanto mera criança ou o castigo é artificial A inclinação de ser respeitado e amado é um meio seguro de levar os castigos a terem um efeito mais duradouro Os castigos físicos têm de ser meros complementos da insuficiência dos castigos morais Quando os castigos morais já não ajudam em nada avança se para os castigos físicos mas através destes já não se forma um carácter 75 bom De início porém a coacção física substitui a falta de reflexão da criança Os castigos que são infligidos com a nota da cólera actuam de modo falso As crianças consideramnos então como consequências do afecto de outrem e consideramse a si mesmas como objectos desse mesmo afecto Em geral os castigos têm de ser aplicados às crianças sempre com cautela para que vejam que o fim último dos mesmos é somente o seu melhoramento Querer que as crianças quando são castigadas agradeçam beijem as mãos e coisas do género é loucura e tom a as crianças servis Se os castigos físicos forem repetidos com frequência formam um teimoso e se os pais castigam os seus filhos por causa da sua obstinação assim apenas os tom am ainda mais obstinados Aqueles que são teimosos nem sempre são os homens piores mas cedem facilmente com mais frequência às boas exortações A obediência do adolescente é distinta da da criança Consiste na sujeição às regras do dever Fazer algo por dever significa obedecer à razão Perorar às crianças acerca do dever é trabalho vão Acabam por considerálo como algo a cuja infracção se segue o açoite A criança poderia ser guiada através de meros instintos mas assim que cresce tem de se introduzir o conceito de dever A vergonha também não deve ser usada com crianças mas apenas 76 nos primeiros anos da adolescência É que só pode ter lugar quando o conceito de honra já lançou raízes Um segundo traço principal da fundação do carácter da criança é a veracidade Esta é o traço fundamental e o essencial de um carácter Um homem que mente não tem carácter e se algo de bom tem em si isso promana pura e simplesmente do temperamento Algumas crianças têm um pendor para a mentira que deve ser assacado a uma imaginação muito viva A tarefa do pai é velar para que a criança se desabitue disso pois as mães habitualmente não dão nenhuma atenção ou pouca a uma coisa que consideram de somenos frequentemente encontram nisso até uma prova que as lisonjeia das primorosas disposições e capacidades dos seus filhos Aqui é que é o lugar de fazer uso da vergonha pois aqui a criança compreendeo bem O rubor da vergonha trainos quando mentimos mas nem sempre é uma prova disso Frequentemente coramos devido à desfaçatez de outrem que nos acusa injustamente Em nenhuma circunstância podemos procurar forçar a verdade das crianças mediante castigos pois o facto de mentirem acarretaria o mesmo dano e elas seriam então castigadas por causa desses mesmos danos Priválos do respeito é o único castigo adequado da mentira 77 Os castigos também se deixam dividir em negativos e positivos dos quais os primeiros têm de entrar nos casos de preguiça ou imoralidade por exemplo na mentira na falta de obsequiosidade na falta de civilidade Os castigos positivos porém valem para a maldade Mas devemos sobretudo precatarmonos de guardar rancor às crianças Um terceiro traço no carácter de uma criança tem de ser a sociabilidade Deve travar amizade com outras crianças e não estar sempre sozinha Alguns professores são com efeito contra isso nas escolas mas isso é muito injusto As crianças devem prepararse para o mais doce gozo da vida Os professores porém não podem preferir nenhuma criança por causa dos seus talentos mas somente por causa do seu carácter pois de outra maneira gerase a inveja que é contrária à amizade As crianças também têm de ser francas e tão alegres no seu olhar como o sol Só o coração alegre é capaz de sentir comprazimento no bem Uma religião que tom a os homens lúgubres é falsa pois eles devem servir a Deus com um coração alegre e não por coacção O coração alegre não tem de se manter sempre rigorosamente sob coação escolar pois neste caso em breve fica abatido Se tiver liberdade recupera rapidamente Para isso servem certos jogos em que tem liberdade e onde a criança se esforça por exceder 78 outrem a propósito de alguma coisa A alma tom ase logo novamente alegre Muitas pessoas pensam que os anos da sua meninice foram os melhores e os mais agradáveis da sua vida Mas não é assim São os anos mais penosos porque se está sempre sob disciplina raramente se pode ter um verdadeiro amigo e ainda mais raramente se pode ter liberdade Já Horádo dizia multa tulit fecitqu e puer sudauit et alsitÇ Às crianças tem de se ensinar apenas aquelas coisas que se adequam à sua idade Alguns pais alegramse por os filhos conseguirem falar precocemente Mas habitualmente tais crianças em nada dão Uma criança tem de ser esperta como uma criança Não pode ser um macaqueador cego Uma criança porém que está já de posse de sentenças morais precocemente está totalmente fora da determinação da sua idade e está a macaquear Deve ter apenas o entendimento de uma criança e não fazer boa figura devido à sua precocidade Uma tal criança nunca se tom ará um homem perspicaz e de entendimento alegre Igualmente insuportável é o facto de uma criança querer participar em todas as modas por exemplo andar de 79 cabelo arranjado com pulseiras ou mesmo possuir uma bolsa de tabaco sua Tomase um ser afectado o que não convém a uma criança Um meio educado tomaselhe um fardo e por fim faltalhe completamente a desenvoltura de um homem Justamente por isso devese contrariar também desde cedo a vaidade ou mais bem dito não se lhe deve dar azo a que se tom e vaidosa Isso acontece porém quando se impinge às crianças muito cedo quão belas são ou quão amoroso é este ou aquele enfeite ou quando este lhe é prometido e dado como recompensa Os adornos não servem às crianças As suas vestes limpas ou sujas devemlhe ser dadas como necessidade Mas os pais também não devem valorizar tais coisas não se devem mirar ao espelho pois aqui como em todo o lado o exemplo é todopoderoso e consolida ou aniquila a boa doutrina Povo do Norte da Sibéria fiT Rousseau Emílio Livro I Tenho a certeza de que um pedaço de carvão em brasa que tivesse caído em cim a da mão daquela criança a teria feito sofrer menos que aquela palmada assaz ligeira mas dada com a intenção m anifesta de a ofender Publicações EuropaAmérica Vol 11990 trad de Pilar Delvaulx N T Kant referese a Benjamin Franklin 170690 cientista e um dos foundingfathers N T Kant referese ao matemático Johann Andreas Segner 170477 professor em lena Gotinga e Halle onde sucedeu a C W olf em 1758 80 Rousseau op d t livro II Vol I p 117 N T Laurence Stem e A vida e opiniões de Tristram Shandy Lisboa Antígona 1998 vol I Trad de Manuel Portela p 191 A versão que Kant apresenta não confere textualm ente com a tradução portuguesa O texto de Lichtenberg tinha por título Antwort auf das Sendschreiben eines Ungennanten e foi publicado no número 4 do terceiro ano do magazine de Gotinga N I Título da obra de Jan Amos Komensky 15921671 pedagogo checo m ais conheddo pela designação latina de Comenius intitulada em alemão O mundo vísivel das coisas que apresentava imagens legendadas e constituiu o modelo para inúmeras obras entre as quais a Elementarwerk de Basedow N T Muito fez e suportou desde menino suou sofreu verso 413 da Epistola ad Pisones mais conhedda desde Quintiliano como Arte poética A passagem completa reza O atleta que forceja por atingir na corrida a m eta desejada muito fez e suportou desde menino suou sofreu e abstevese do vinho e de Vénus in Horácio Arte poética Lisboa Editorial Inquérito 20014 trad de Rosado Fernandes p 105 N T 81 Da educação prática Da educação prática fazem parte 1 aptidão 2 prudência mundana 3 moralidade No que diz respeito à aptidão tem de se velar para que esteja arreigada e não seja efémera Não se pode aparentar conhecimentos de coisas que não se é capaz posteriormente de realizar Tem de haver solidez na aptidão e esta deve tomarse gradualmente num hábito do modo de pensar Ela é o essencial para o carácter de um homem A aptidão pertence ao talento No que diz respeito kprudência mundana esta consiste na arte de utilizar a nossa aptidão entre os homens quer dizer o modo em que nos podemos servir dos homens para os nossos propósitos Para tal requerse várias coisas Na verdade tratase do mais importante no homem mas segundo o valor ocupa o segundo lugar 82 No caso de a criança ficar entregue à prudência mundana tem de disfarçar e de se tom ar impenetrável mas tem de poder sondar os outros Tem de disfarçar prindpalmente no atinente ao seu carácter A arte da aparência externa é o decoro E devese possuir esta arte Sondar os outros é difícil mas tem de se compreender necessariamente esta arte para se tom ar a si próprio ao invés impenetrável Para isso requerse dissimulação quer dizer a reserva dos seus erros e aquela aparência exterior A dissimulação nem sempre é disfarçar e pode de vez em quando ser permitida mas roça a desonestidade O disfarce é um meio desesperado É preciso na prudência mundana não nos empertigarmos não podemos porém ser de modo nenhum demasiado negligentes Não devemos portanto ser impetuosos mas antes voluntariosos O voluntarismo é distinto da impetuosidade Voluntarioso strennus é aquele que tem prazer no querer A isto pertence moderação do afecto A prudência mundana diz respeito ao temperamento A m oralidade diz respeito ao carácter Sustine et abstineÇ é a preparação para uma sábia moderação Se se quer formar um bom carácter só tem de se eliminar as paixões O homem tem de se habituar às suas inclinações de tal modo que elas não se tom em paixões tem antes de aprender a passar sem aquilo que lhe é recusado Sustine significa suporta e habituate a aguentar 83 Requerse força de ânimo e inclinação se se quer aprender a passar por carências Temos de nos habituar a respostas demolidoras resistência etc Do temperamento faz parte a simpatia Devese evitar um compadecimento melancólico e lânguido nas crianças O compadecimento é uma sensibilidade real harmonizase apenas com um carácter tal que seja sensível Distinguese ainda da compaixão e é um mal quando consiste apenas em lamentar meramente uma coisa Deverseia dar dinheiro de bolso às crianças para que pudessem fazer bem aos necessitados assim ver seia se são compassivas ou não se porém são generosas apenas com o dinheiro dos pais é porque tal não é o caso A sentença festin a lenteÇ indica uma actividade contínua na qual temos de nos apressar para aprendermos muito quer dizer festin a Mas temos também de aprender fundamentadamente e gastar tempo em cada caso isto é lente A questão é então a de saber o que é preferível devese abranger muitos conhecimentos ou poucos mas fundamentados É melhor ter poucos conhecimentos mas saber estes poucos fundamentadamente que muitos e superficiais pois acabase por avistar a superficialidade neste último caso Mas a criança não sabe de facto em que circunstâncias pode vir a precisar destes ou daqueles conhecimentos e por isso é bem melhor 84 que de tudo saiba algo fundamentado pois senão engana e confunde os outros com os seus conhecimentos aprendidos pela rama O mais importante é alicerçar o carácter Este consiste na firme intenção de querer fazer algo e também no seu exercício real Virpropositi tenaxÇ diz Horácio e é isso um bom carácter Por exemplo se prometo algo a alguém tenho de o cumprir independentemente de me vir assim a prejudicar Pois um homem que se propõe algo mas não o faz já não pode confiar em si próprio por exemplo se alguém se propõe levantarse sempre cedo para estudar ou para fazer isto ou aquilo ou para dar um passeio e se desculpa na Primavera porque as manhãs são demasiado frias e lhe poderiam fazer mal no Verão porém que lhe sabe bem dormir e o sono lhe é agradável e assim adie o seu propósito de dia para dia acaba por já não confiar em si próprio Aquilo que é contra a moral é exceptuado de tais propósitos Num homem mau o carácter é muito mau mas aqui também já se trata de pertinácia ainda que o facto de ser constante e consumar os seus propósitos suscite agrado se bem que fosse melhor que ele se mostrasse assim no bem De alguém que adia sempre a consumação dos seus propósitos não se espera muito A chamada conversão futura é da mesma espécie Pois é impossível que o homem que viveu sempre viciosamente e que se quer converter num instante a não ser que suceda logo um milagre acabe por 85 se tom ar de uma só vez igual àquele que se aplicou bem toda a sua vida e que sempre pensou integramente Justamente por isso também nada há a esperar de peregrinações mortificações e jejuns pois não se vê em que é que as peregrinações e outros rituais podem contribuir para fazer de uma penada de um homem vicioso um homem nobre Em nada contribui para a integridade e aperfeiçoamento o facto de se jejuar de dia e de noite se comer novamente outro tanto nem pode em nada contribuir para a modificação da alma infligir penitências ao corpo Para alicerçar o carácter moral nas crianças temos de observar o seguinte Tem de se lhes apresentar os deveres que têm de cumprir tanto quanto possível através de exemplos e preceitos É que os deveres que a criança tem de cumprir são apenas deveres habituais para consigo e para com os outros Estes deveres têm de ser traçados pela natureza das coisas Temos de considerar por isso mais pormenorizadamente a os deveres para consigo mesmo Estes não consistem em adquirir vestimentas magníficas e tomar lautas refeições etc ainda que tudo tenha de andar limpo Não consistem no facto de se procurar satisfazer os apetites e inclinações pois devese ser pelo contrário muito moderado e sóbrio mas 86 antes no facto de o homem ter no seu íntimo uma certa dignidade que o enobrece perante todas as criaturas e o seu dever é não negar esta dignidade da humanidade na sua própria pessoa Negamos contudo a dignidade da humanidade se por exemplo nos dermos à bebida cometermos pecados não naturais e nos entregarmos a toda a espécie de licenciosidades etc que rebaixam todas elas o homem muito para lá dos animais Além disso se um homem se comportar servilmente com os outros se fizer sempre um cumprimento para se insinuar como ele julga através de uma conduta tão indigna também isto vai contra a dignidade da humanidade A dignidade do homem também se tom a perceptível à criança logo em si própria por exemplo em caso de falta de asseio que é pelo menos indecorosa para a humanidade A criança pode porém rebaixar se realmente para lá da dignidade da humanidade através da mentira conquanto já seja capaz de pensar e de comunicar os seus pensamentos a outrem O acto de m entir tom a o homem objecto de desprezo geral e é um meio de lhe arrebatar a si próprio o respeito e a confiança que cada qual deveria ter para consigo 87 b Deveres para com os outros A veneração e respeito pelo direito dos homens têm de lhe ser ensinados muito cedo e tem de se velar muito para que os ponha em prática por exemplo se uma criança encontrar uma outra criança pobre e a empurrar orgulhosamente para fora do caminho ou simplesmente a afastar de si com um tal empurrão ou lhe bater etc não se lhe deve dizer não faças isso isso dói sê compassivo é uma criança pobre etc devese antes fazerlhe o mesmo tão orgulhosamente e com a mesma força porquanto a sua conduta repugna ao direito da humanidade As crianças porém não possuem intrinsecamente qualquer generosidade Podese verificálo por exemplo no facto de que quando os pais lhes mandam dividir metade do seu pãodeleite com outra criança sem que contudo receba posteriormente desta por isso uma parte igual ou pura e simplesmente não o fazem ou só muito raramente e contrariadas Também não se pode sem mais arengarlhes muito sobre a generosidade uma vez que elas nada têm que seja seu Muitos autores omitiram a secção da moral que inclui a doutrina dos deveres para consigo mesmo ou explicaramna erradamente como CmgottC O dever para consigo mesmo contudo consiste como já se disse em o homem conservar a dignidade da humanidade na sua própria pessoa Ele censurase quando tem diante dos olhos a ideia da humanidade Tem um original na sua ideia com o qual se compara Quando o número de 88 anos cresce quando a inclinação para o sexo se começa a agitar então é o momento crítico em que apenas a dignidade do homem está em condições de conter o jovem dentro de limites É necessário com antecedência advertilo de como se precatar diante deste ou daquele Falta às nossas escolas quase sem excepção algo que fomentaria muito a formação das crianças para a integridade nomeadamente um catecismo do direito Este deveria conter casos populares que sucedem na vida comum e nos quais se levanta sem querer a questão de saber se algo será ou não justo Por exemplo se alguém que deve pagar hoje ao seu credor for tocado pela visão de um indigente e lhe entregar a soma em dívida e que deveria pagar isso é justo ou não Não é injusto pois tenho de ser livre se quiser ser beneficente E se eu der o dinheiro ao pobre faço uma obra meritória mas se pagar a m inha dívida faço uma obra devida Além disso seria permitida uma m entira por necessidade Não não é pensável um único caso em que aquela mereça desculpa muito menos por parte de crianças que aliás consideram toda a minudência um caso de necessidade e se permitiriam m entir reiteradamente Se já existisse um tal livro poderse ia com muito proveito achar que dizer diariamente durante uma hora para que as crianças conhecessem e aprendessem a levar a peito o direito dos homens essa menina dos olhos de Deus na terra 89 No que diz respeito à obrigação de beneficência é uma obrigação apenas imperfeita Não se tem tanto de amolecer o coração das crianças de modo a que sejam afectadas pelo infortúnio dos outros como de o tom ar voluntarioso Que ele não esteja repleto de sentimentos mas sim com a ideia do dever Muitas pessoas tomaramse com efeito de coração empedernido porquanto dado que haviam sido anteriormente compassivas se viram amiúde intrujadas É vão querer fazer compreender a uma criança o mérito das acções Os clérigos erram com muita frequência ao representarem as obras de beneficência como algo meritório Sem pensarem no facto de que em referência a Deus nunca podemos fazer mais que aquilo que devemos também é apenas nosso dever fazer bem ao pobre Pois a desigualdade da prosperidade dos homens provém apenas de circunstâncias fortuitas Se possuo um pecúlio também devo agradecê lo apenas ao partido que eu próprio ou o meu antepassado tirámos de determinadas circunstâncias e a referência ao todo permanece sempre a mesma Quando se chama a atenção de uma criança para se avaliar segundo o valor das outras provocase inveja Ela deve antes avaliarse segundo os conceitos da sua razão Daí que a humildade nada mais seja na verdade do que uma comparação do seu valor com a perfeição moral Assim a religião cristã por exemplo não ensina tanto a humildade quanto tom a o homem 90 humilde porquanto ele tem de se comparar de acordo com aquela como o supremo modelo da perfeição É uma completa inversão fazer da humildade uma avaliação de si inferior à de outrem Vê como esta e aquela criança se comporta e coisas do género uma exclamação deste tipo suscita apenas um modo de pensar muito vulgar Se o homem avalia o seu valor segundo outrem ou procura elevarse acima dos outros ou então amesquinhar o valor de outrem Este último facto porém constitui a inveja Procurase sempre então atribuir uma falta ao outro pois se ele não existisse também não se poderia ser comparado com ele e assim serseia o melhor Através de um espírito de emulação mal apresentado apenas se provoca inveja O caso em que a emulação ainda poderia servir para alguma coisa seria aquele em que para convencer alguém da exequibilidade de algo por exemplo ao requerer de uma criança que aprenda uma certa matéria lhe mostro que outros o conseguem fazer Em nenhum caso se pode permitir que uma criança envergonhe outra Tem de se procurar evitar todo o orgulho que se funde em prerrogativas da fortuna Em simultâneo porém tem de se procurar motivar nas crianças a franqueza Esta é uma modesta confiança em si próprio Através dela o homem colocase em posição de mostrar convenientemente todos os seus talentos Aquela distinguese bem da impudência que consiste na indiferença ante o juízo dos outros 91 Todos os desejos do homem ou são formais liberdade e capacidade ou materiais referidos a um objecto desejos do capricho ou do prazer ou acabam por se referir à mera duração de ambos como elementos da felicidade Desejos da primeira espécie são a ambição a ganância e o amor da dominação Da segunda o gozo sexual luxúria das coisas conforto ou da sociedade gosto pelo divertimento Desejos da terceira espécie por fim são o amor da vida da saúde das comodidades no futuro estar livre de cuidados Os vícios são porém ou da maldade ou da vileza ou da índole Aos primeiros pertencem a inveja a ingratidão e a alegria maligna aos da segunda espécie a injustiça a perfídia falsidade a leviandade tanto na dissipação dos bens como na da saúde intemperança e da honra São vícios da terceira espécie a insensibilidade a cupidez a indolência moleza As virtudes ou são virtudes do mérito ou simplesmente da obrigação ou da inocência Das primeiras fazem parte a generosidade na superação de si tanto da vingança como das comodidades e da ganância a beneficência o domínio de si da segunda espécie a lealdade o decoro e a índole pacífica da terceira espécie a honradez a modéstia e a sobriedade 92 Mas é o homem por natureza moralmente bom ou mau Nem uma coisa nem outra pois não é um ser moral por natureza só se tom a um ser moral se a sua razão se elevar aos conceitos de dever e de lei Podese dizer no entanto que tem em si originariamente estímulos para todos os vícios pois tem inclinações e instintos que o incitam como se a razão já se exercesse como contraponto Por isso só se pode tom ar moralmente bom através da virtude ou seja coagindose a si mesmo se bem que pudesse ser inocente sem estímulos Os vícios promanam maioritariamente do facto de o estado civilizado fazer violência à natureza e a nossa destinação como seres humanos é no entanto sair do rude estado natural enquanto animais A arte perfeita tom ase novamente natureza Na educação tudo assenta no estabelecimento por toda a parte dos alicerces correctos e em tomálos compreensíveis e aceitáveis às crianças Estas têm de aprender a colocar o aborrecimento daquilo que é repugnante e do disparate no lugar do ódio o aborrecer interno em vez das penas exteriores humanas e divinas a avaliação de si e a dignidade interior em vez da opinião dos homens o valor interno da acção e do acto em vez da palavra e movimentos de alma entendimento em vez de sentimento e a 93 alegria e piedade com bom humor em vez da devoção rabugenta temerosa e lúgubre Acima de todas as coisas porém é de evitar também que as crianças estimem excessivamente os m eritafortunae No que diz respeito à educação das crianças de um ponto de vista religioso põese uma questão prévia será oportuno ensinar desde cedo conceitos religiosos às crianças Sobre isto muito se disputou na pedagogia Os conceitos religiosos pressupõem sempre alguma teologia Deveria a juventude que não conhece o mundo que não se conhece a si própria poder ser ensinada teologicamente Deveria a juventude que ainda não conhece o dever estar em condições de compreender um dever imediato para com Deus Uma coisa é certa se fosse possível que as crianças não testemunhassem actos de veneração do ser supremo se não ouvissem nem uma única vez o nome de Deus seria adequado à ordem das coisas conduzilas a essa finalidade e àquilo que convém ao homem apurar a sua faculdade de apreciar ensinarlhes a ordem e beleza das obras da natureza e acrescentar ainda um conhecimento alargado do sistema do mundo e 94 assim abrirlhes então o conceito de um ser supremo de um legislador Mas uma vez que isto não é possível na nossa situação actual se se quisesse ensinarlhes só muito tardiamente algo acerca de Deus acabariam por ouvir alguém a nomeálo e veriam o chamado culto para com ele o que ou lhes provocaria indiferença ou suscitaria nelas um conceito invertido por exemplo um temor perante o seu poder Mas dado que se tem de cuidar que este não se possa anichar na imaginação das crianças é necessário para evitálo procurar ministrarlhes desde cedo conceitos religiosos Isto não pode ser porém um trabalho de memorização mera imitação e apenas um macaquear mas antes o caminho que se escolhe deve ser sempre adequado à natureza As crianças compreendem mesmo sem conceitos abstractos do dever das obrigações do bom e mau comportamento que existe uma lei do dever que a comodidade o útil e coisas do género não deviam determiná las mas sim algo universal que não se pauta pelo humor dos homens O próprio professor porém tem de estar munido deste conceito Antes de mais devese atribuir tudo à natureza e depois esta a Deus como por exemplo primeiro atribuir tudo à conservação das espécies e ao seu equilíbrio mas ainda mais em simultâneo ao homem para que ele próprio se tom e feliz 95 O conceito de Deus deveria ser mais bem clarificado de inído em analogia com o de pai sob cujo cuidado nos encontramos com o qual se pode reladonar vantajosamente a unidade dos homens como numa família Mas o que é afinal a religião A religião é a lei em nós na medida em que através de um legislador e juiz conserva uma impressão sobre nós é uma moral aplicada ao conhecimento de Deus Se não se ligar a religião à moralidade ela tom ase uma demanda de favores Os cânticos orações e a ffequênda da igreja devem apenas dar ao homem novas forças um novo alento para se aperfeiçoar ou ser expressão de um coração animado pela representação do dever São apenas preparações para as boas obras mas não obras boas em si mesmas e de nenhum outro modo podemos ser agradáveis ao ser supremo a não ser tomandonos homens melhores Em primeiro lugar devese começar na criança com a lei que ela tem em si Se for vidoso o homem é em si digno de desprezo Isto fundamenta se nele próprio e não somente porque Deus proibiu o mal Pois não é necessário que o legislador seja também o autor da lei Assim um príndpe pode proibir o roubo nos seus domínios sem por isso poder ser chamado o autor da proibição do roubo A partir daqui o homem aprende a ver que somente o seu bom comportamento o tom a digno da felicidade A lei divina 96 tem de aparecer como uma lei da natureza pois não é arbitrária Daí toda a moralidade requerer religião Não se deve porém começar com a teologia A religião que se constrói meramente sobre a teologia nunca pode conter nada de moral Neste caso só se tem temor por um lado e intenções e disposições que buscam recompensa por outro ora isso vem a ser um mero culto supersticioso A moralidade tem portanto de ter a precedência a teologia seguea então é isto a religião A lei em nós designase por consciência A consciência é de facto a aplicação das nossas acções a esta lei As censuras desta ficarão sem efeito se a não pensarmos como o representante de Deus que estabeleceu a sua sede sublime sobre nós mas também uma sede de juízo em nós Se a religião não for acrescentada ao escrúpulo moral não tem efeito A religião sem escrúpulo moral é um culto supersticioso Querse servir a Deus quando por exemplo se O louva se exalta o seu poder a sua sabedoria sem pensar como se cumpriria as leis divinas e mesmo sem conhecer e investigar o seu poder a sua sabedoria etc Estes louvores são um opiáceo para a consciência de tais pessoas uma almofada para dormirem tranquilamente As crianças não conseguem apreender todos os conceitos da religião mas tem de se lhes ensinar alguns só que estes devem ser mais negativos 97 que positivos Fazer que as crianças repitam fórmulas maquinalmente não serve de nada e produz apenas um conceito invertido da piedade A verdadeira veneração de Deus consiste em agir segundo a vontade de Deus e é isto que deve ser ensinado às crianças Tem de se velar nas crianças bem como em si mesmo para que o nome de Deus não seja invocado em vão com tanta frequência Se se o utilizar nos desejos de felicidade mesmo com intenção piedosa tratase de um abuso O conceito de Deus deveria instilar no homem reverência de cada vez que se pronunciar o seu nome e por isso raramente deveria ser utilizado e nunca de modo leviano A criança tem de aprender a sentir reverência perante Deus como perante o senhor da vida e de todo o mundo além disso como perante o protector dos homens e em terceiro e último lugar como perante o juiz deles Dizse que Newton sempre que pronunciava o nome de Deus recolhiase um momento e meditava Através de uma clarificação conjunta do conceito de Deus e do de dever a criança aprende tanto melhor a respeitar a Providência divina pelas criaturas e a guardarse do pendor para a destruição e para a crueldade que se manifesta frequentemente na tortura de animais pequenos Em simultâneo deverseia igualmente instruir a juventude para que descubra o bem no mal por exemplo os animais de rapina os insectos são modelos de asseio e diligência Despertam os homens maus para a lei As aves que perseguem os vermes são guardas do jardim etc 98 Devese também ensinar às crianças alguns conceitos do ser supremo para que quando virem outrem a orar etc possam saber a quem e por que acontece isso Estes conceitos porém devem ser poucos em número e como já foi dito apenas negativos Devese começar a ensinarlhos desde tenra juventude velando para que vejam aí que os homens não se avaliam pela sua observância religiosa pois a despeito da multiplicidade religiosa há por toda a parte unidade da religião Vamos agora acrescentar aqui como conclusão alguns reparos que deveriam ser observados principalmente pelas crianças aquando da sua entrada nos anos da adolescência O adolescente começa por esta altura a fazer certas distinções que não fazia anteriormente A saber em primeiro lugar a diferença dos sexos A natureza espalhou sobre isto um certo manto de segredo como se este assunto não fosse algo completamente decente para o homem e uma mera necessidade da animalidade no homem A natureza porém procurou ligar este tema a toda a espécie de moralidade que é apenas possível Até as nações selvagens se comportam aí com uma espécie de pudor e recato As crianças fazem de vez em quando perguntas 99 indiscretas aos adultos como por exemplo donde vêm os bebés mas não se dão por satisfeitas facilmente se se lhes der respostas absurdas que nada significam ou se forem despedidas com a resposta de que se trata de perguntas de crianças O desenvolvimento destas inclinações no adolescente é mecânico e passase aí o mesmo que em todos os instintos que se desenvolvem até na ausência de conhecimento do seu objecto É portanto impossível conservar o adolescente na ignorância e na inocência que se liga àquela Com o silêncio porém só se consegue agravar o mal O que se pode verificar na educação dos nossos antepassados Na educação dos novos tempos supõese com razão que se tem de falar sobre isso sem rebuço clara e distintamente É claro que se trata de uma questão delicada porquanto não será considerada objecto de uma conversa pública Mas tudo decorrerá da melhor forma se se falar disso com uma seriedade digna e se não entrar nas inclinações do adolescente O décimo terceiro ou décimo quarto ano é habitualmente o momento em que se desenvolve no adolescente a inclinação para o sexo pois as crianças teriam de ter sido desencaminhadas e corrompidas por maus exemplos se sobreviesse antes disso A sua faculdade de julgar já está então bem 100 formada e a natureza já as preparou de molde a que se possa falar com eles sobre isso Nada enfraquece mais o espírito bem como o corpo do homem que a espécie de luxúria que se orienta para si e que conflitua com a natureza do homem Mas também isto não deve ser escondido ao adolescente Tem de se lhe apresentar em toda a sua repugnância tem de se lhe dizer que se tom aria inútil para a propagação do género humano que o vigor do corpo se afunda mais que ele chega assim mais rapidamente à velhice e que o seu espírito sofrerá muito com isso etc Podese contrariar o estímulo para tal através da ocupação contínua não consagrando à cama e ao sono mais tempo que o necessário Os pensamentos para tal têm de ser expulsos do sentido através daquela ocupação pois se o objecto permanecer ainda que seja na mera imaginação continua a corroer a força vital Se se orientar a sua inclinação para o sexo oposto deparase sempre com alguma resistência se se orientar para si mesmo podese satisfazerse a qualquer altura O efeito físico é de sobremaneira prejudicial mas as consequências do ponto de vista da moralidade são de longe ainda piores Transgridese aqui os limites da natureza e a inclinação causa estragos sem cessar porquanto não tem lugar uma satisfação real Os professores de adolescentes já crescidos colocaram a 101 questão de saber se seria proibido um adolescente ter relações sexuais com o sexo oposto Se se tiver de escolher uma das duas coisas esta última é sem dúvida melhor Naquela o adolescente age contra a natureza mas aqui não A natureza chamao à virilidade logo que se tom a adulto e também por isso à propagação da espécie as necessidades porém que o homem necessariamente tem num estado cultivado fazem que ele nem sempre possa educar os seus filhos Comete aqui uma falta contra a ordem civil O melhor é portanto ou antes o dever é que o adolescente espere até estar em condições de se casar devidamente Age assim não só como um homem bom mas também como um bom cidadão Que o adolescente aprenda desde cedo a nutrir um respeito conveniente perante o sexo oposto a conquistar para si pelo contrário através de uma actividade sem vícios o mesmo respeito e assim a aspirar ao elevado prémio de um matrimónio feliz Uma segunda distinção que o adolescente começa a fazer pela época em que entra na sociedade consiste no conhecimento da diferença dos estados e da desigualdade dos homens Enquanto criança não se pode deixála aperceberse desta última Não se pode sequer admitir que dê ordens à criadagem Se ela vir que os pais dão ordens à criadagem podese dizerlhe em todo o caso damoslhes pão e por isso obedecemnos tu não o fazes por 102 isso também não têm de te obedecer As crianças também nada sabem disto se os pais não lhes ensinarem tal ilusão Devese mostrar ao adolescente que a desigualdade dos homens é uma instituição que nasceu porque um homem procurou adquirir vantagens perante outro A consciência da igualdade dos homens na desigualdade civil pode serlhe ensinada a pouco e pouco Devese velar para que o jovem se avalie em absoluto e não segundo os outros A sobrevalorização dos outros relativamente àquilo que não constitui o valor do homem é vaidade Além disso devese indicarlhe o escrúpulo em todas as coisas e que ele não pareça meramente mas que se esforce por ser Devese chamarlhe a atenção para que em nenhum assunto onde tenha bem ponderado sobre um propósito o deixe tomarse um propósito vazio É preferível não se propor nenhum propósito e deixar a coisa na dúvida para que seja modesto para com as circunstâncias exteriores e paciente nos trabalhos sustine et abstine para que seja modesto nos prazeres Se não se anseia por meros prazeres mas se formos pacientes nos trabalhos tomamonos um membro útil na comunidade e guardamonos do tédio Além disso devese indicar ao adolescente a alegria e o bom humor A alegria do coração promana de não se ter nada a censurarse da igualdade 103 do humor Podese atingir através do exercido o ponto de se poder mostrar sempre um participante bemdisposto da sodedade Devese ainda chamar a sua atenção para que considere muitas coisas sempre como dever Uma acção tem de ter valor para mim não porque concorde com a minha inclinação mas sim porque cumpro o meu dever Para que ame os outros e assim para disposições cosmopolitas Na nossa alma existe algo que faz que tenhamos interesse 1 em nós próprios 2 nos outros com quem crescemos e então tem 3 ainda de ter lugar um interesse na perfeição do mundo É necessário familiarizar as crianças com este interesse a fim de que possam nele aquecer as suas almas Têm de se alegrar com um mundo melhor ainda que não redunde em vantagem para a sua pátria ou para si próprios Para que atribua um valor diminuto à fruição dos divertimentos da vida O temor pueril da morte desvanecerseá então Devese mostrar ao adolescente que a fruição não proporciona o que o prospecto promete Para a necessidade por fim de fazer as contas consigo próprio em cada dia para que no fim da vida possa fazer um cálculo sobre o valor da sua vida Aguenta e abstémte divisa estóica N T Devagar com pressa N T 104 Citação da ode de Horádo cuja primeira estrofe é O homem justo e tenaz no seu propósitoem sua firme mente não se perturbacom o furor dos cidadãos impondo a injustiça nem com o vulto do ameaçador tirano Horácio Odes III 3 Livros Cotovia Lisboa 2008 trad de Pedro Braga Falcão Kant referese a Martin Crugot 172590 teólogo de Bremen cuja obra principal é Der Christ in der Einsamkeit N T 105 1 Para Kant a Educação Física desempenha um papel fundamental no desenvolvimento humano abrangendo várias fases Em primeiro lugar a Educação Física começa com o cuidado com o corpo um estágio que se inicia desde o nascimento Nesse estágio os pais desempenham um papel importante na orientação das crianças para que não utilizem suas forças de maneira prejudicial Posteriormente entra em cena a disciplina que visa domar os instintos humanos e levar o indivíduo da sua menoridade animal para a maioridade A terceira fase da Educação Física corresponde à cultura e instrução onde as habilidades da criança são desenvolvidas incluindo a imaginação e a memória Essa fase é crucial para diferenciar o homem dos animais pois é onde a verdadeira natureza humana se manifesta 2 De acordo com Kant a educação prática começa com o cultivo da aptidão É fundamental que as crianças adquiram conhecimentos e habilidades de forma profunda e duradoura evitando superficialidades Kant enfatiza que as aptidões são essenciais para a formação do caráter pois estão relacionadas ao talento e à habilidade das crianças A prudência mundana envolve a arte de se relacionar com outras pessoas de forma habilidosa As crianças devem aprender a utilizar suas aptidões no convívio social mas devem evitar mentiras dissimulações e comportamentos servis Kant destaca a importância de equilibrar o disfarce com a impenetrabilidade evitando comportamentos servis que possam comprometer a dignidade Kant considera que a moralidade é o aspecto mais importante da educação prática Ela se relaciona ao caráter e aos deveres das crianças para consigo mesmas e para com os outros As crianças devem ser ensinadas a respeitar os direitos das pessoas e a dignidade da humanidade Deveres e respeito pelo direito dos outros devem ser incutidos desde cedo Kant enfatiza que as crianças devem aprender a cumprir seus deveres e a serem fiéis às suas promessas o que contribui para a formação de um caráter sólido e confiável Kant destaca que a disciplina desempenha um papel crucial ao retirar o homem de seu estado primitivo e animal preparandoo para o desenvolvimento posterior Essa fase de ruptura com a natureza e a entrada na disciplina é vista como um dos momentos mais desafiadores do processo educacional kantiano No entanto a disciplina é essencial para afastar o homem de suas inclinações animais e permitir que ele evolua em direção à moralidade e ao esclarecimento A disciplina é seguida pela cultura e moralidade que são consequências naturais dessa jornada de educação

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