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Texto de pré-visualização
Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza AS ESCOLHAS ESTILÍSTICAS DE JJ VEIGA OBRAS ESCOLHIDAS Pedro e João editores 1 As escolhas estilísticas de J J Veiga Obras Escolhidas 3 Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza Organizadores As escolhas estilísticas de J J Veiga Obras Escolhidas Copyright Autoras e autores Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos autores Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza Orgs As escolhas estilísticas de JJ Veiga Obras escolhidas São Carlos Pedro João Editores 2023 218p 16 x 23 cm ISBN 9786526506554 Impresso 9786526506561Digital 1 Escolhas LéxicoEstilísticas 2 José J Veiga 3 Culturemas 4 Análise linguística I Título CDD 410 Capa Petricor Design Ficha Catalográfica Hélio Márcio Pajeú CRB 88828 Diagramação Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito João Rodrigo de Moura Brito Conselho Científico da Pedro João Editores Augusto Ponzio BariItália João Wanderley Geraldi UnicampBrasil Hélio Márcio Pajeú UFPEBrasil Maria Isabel de Moura UFSCarBrasil Maria da Piedade Resende da Costa UFSCarBrasil Valdemir Miotello UFSCarBrasil Ana Cláudia Bortolozzi UNESPBauruBrasil Mariangela Lima de Almeida UFESBrasil José Kuiava UNIOESTEBrasil Marisol Barenco de Mello UFFBrasil Camila Caracelli Scherma UFFSBrasil Luís Fernando Soares Zuin USPBrasil Pedro João Editores wwwpedroejoaoeditorescombr 13568878 São Carlos SP 2023 5 À Profa Dra Elis Cardoso USP por sua fecunda produção acadêmica no âmbito dos estudos de Língua Portuguesa Morfologia Lexicologia e Estilística 7 Sumário As clássicas duas palavras As obras do Escolhidas de J J Veiga Procedimentos metodológicos e a descrição dos culturemas aos textos literários As Escolhas LéxicoEstilísticas de J J Veiga Parte I Obras Escolhidas Culturemas em A hora dos ruminantes 1966 Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela e Ytayara Ribeiro de Albuquerque Culturemas em Os pecados da tribo 1976 Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa e Wendel Mesquita Ferreira Culturemas em Torvelinho dia e noite 1985 Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca da Silva Simão Danae de Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante e Zacarias da Ponte Soares Culturemas em O relógio Belisário 1995 Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves e Sinara Souza Fernandes 9 13 19 29 59 97 141 8 Parte II Recorte Temático A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 1967 Sara Hevilly Ferreira Souza ANEXO I Categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir do modelo de Igareda 2011 ANEXO II Quadro sintético de categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literári a a partir de Igareda 2011 Sobre os Organizadores e a Organizadora 187 211 215 217 9 As clássicas duas palavras Na formação inicial em Letras a Estilística é uma das disciplinas fundamentais para a construção de uma carreira exitosa produtiva e profícua do profissional de língua portuguesa e suas respectivas literaturas portuguesa brasileira africana em especial Isso se deve certamente a quatro objetivos que envolvem a oferta da referida disciplina nos cursos de Letras do país i o estudo dos usos dos recursos linguísticos para a expressão da emoção e da afetividade bem como da impressividade incluída a criação de efeitos estéticos contribuindo para a produção e a compreensão dos textos e seus efeitos de sentido no campo artísticoliterário ii a compreensão dos processos estilísticos da Língua Portuguesa conhecendo os diversos recursos expressivos impressivos e estéticos da língua como são utilizados e como funcionam no campo artístico literário iii a observação análise comentários e pesquisas iniciais com o uso estilístico dos elementos fonológicos morfológicos sintáticos lexicais e semânticos da Língua Portuguesa na diversidade de gêneros textuais e iv a realização de comentários estilísticos aos textos literários e nãoliterários orais e escritos Poderíamos ainda acrescentar ou postular um quinto objetivo o de oportunizar a interface Linguística e Literatura na formação de novos leitores e pesquisadores Uma pergunta sempre nos perseguiu ao longo dos anos como formadores de profissionais de Letras afinal quais são as fronteiras linguísticas e literárias da Estilística Se existem são aqui transponíveis porque este livro revela que as duas disciplinas são interdependentes e contíguas por terem em comum por exemplo o estilo como objeto de grande interesse para ambas as disciplinas por evidenciar as características formais conteudísticas e estéticas que identificam e distinguem as obras literárias Este livro é fruto do esforço acadêmico de três docentes na área de Letras de responder a esta questão acima o que significa a liberal diligência dos mesmos de aproximar a estilística linguística e a estilística literária O leitmotiv tem sido então o de oferecer aos graduandos em Letras no final do Curso em Sobral onde atuam 10 profissionalmente estratégias de leitura literária de modo a propor aos alunos uma nova experiência leitora de ler para aprender e de aprender para ler textos literários ou não a fim de leválos a produzir comentários estilísticos de textos artísticos poesia crônicas letras de música textos literários em prosa escritos em Língua Portuguesa Nessa trilha do trabalho duas datas são significativas do ponto de vista didáticopedagógico no Curso de Letras da UVA em Sobral A primeira podemos situála no ano de 2018 quando levamos pela primeira vez para a sala de aula a prosaística fantástica de J J Veiga Começamos por quatro obras escolhidas segundo parâmetros da estilística literária A hora dos ruminantes 1966 estudada por Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela e Ytayara Ribeiro de Albuquerque Os pecados da tribo 1976 por Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa e Wendel Mesquita Ferreira em Torvelinho dia e noite 1985 por Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca da Silva Simão Danae de Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante e Zacarias da Ponte Soares O relógio Belisário 1995 por Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves e Sinara Souza Fernandes E em 2023 demos início a recortes temáticos sobre a obra veigueana com estudo em nível de artigo científico sobre a A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 1967 por Sara Hevilly Ferreira Souza Todos os estudos presentes neste volume focam o uso estilístico do plano lexical nas obras de Veiga Todos os graduandos assinalados acima passados cinco anos são hoje graduados e respeitados profissionais de Letras em suas cidades e brevemente Sara que já atua como professora em Acaraú fará a conclusão de sua habilitação em 2023 Sara muito nos ajudou na revisão dos originais deste livro E tudo isso como foi possível Foi assim aplicamos primeiramente a noção de culturema entendida como unidade linguocultural aos textos literários Em seguida exploramos os conceitos e as terminologias implicados nos culturemas especialmente os presentes nos estudos linguísticos mais recentes ou seja consideramos as pesquisas fraseológicas e da tradução Por 11 fim mostramos aos alunos que os culturemas no campo artístico literário são também importantes unidades específicoculturais que bem caracterizam os textos literários porque são recursos estilísticos que promovem a expressividade na estruturas fônica lexical semântica e pragmática complexa decorrente das escolhas léxico semânticas dos autores A prática da pesquisa então foi consequência da compreensão docente do alcance dos estudos culturológicos à Literatura Somos levados a acreditar que na pesquisa linguística é imprescindível a formação teórica básica sobre linguística culturologia teoria literária e literatura brasileira enfim o aproveitamento de várias disciplinas regulares do projeto pedagógico do Curso de Letras para o olhar linguoliterário sobre os textos artísticoliterários Por isso deixamos que fizessem livremente a escolha das obras de Veiga para suas leituras em equipe semanalmente faziam relatórios de recuos e avanços na leitura compreensiva e melhor parte a prática da pesquisa ficou por conta dos mesmos alunos pouca intervenção docente agora leitores ávidos de mais discussão sobre temas derivados de conversas sobre a prosaística brasileira esta fase contou muito com as conversas de Márton e Vicente Jr o que nos levou por essa razão a preservar no presente livro a redação dos verbetes dos novos leitores de Veiga e por nós considerados doravante pesquisadores iniciantes em Estilística e Literatura Fantástica Os organizadores e a organizadora 13 As obras escolhidas de J J Veiga A hora dos ruminantes 1966 A obra dividese em três partes A chegada quando o acampamento se instala e já se percebe o quanto alguns personagens já aceitam a nova situação O dia dos cachorros quando a cidade é inexplicavelmente invadida por um enorme número de cães e curiosamente o povo passa a cuidar com certo carinho daqueles que o ameaçam e O dia dos bois quando a invasão é feita por tantos bois que as pessoas não conseguem nem mesmo sair de suas casas Cada invasão representa um tipo de opressão sofrida pelos moradores de Manarairema sendo a dos bois a mais extrema pois ela acaba com qualquer tipo de liberdade e de coletividade a vida restante tinha de ser vivida dentro de cada um A história se passa em Manarairema cidadezinha pequena onde as novidades são poucas Até que aparece uma caravana e acampa próximo à cidade Todos ficam curiosos para saber o que aquelas pessoas procuram e o que vieram fazer na pequena cidade As pessoas movidas pela curiosidade até param de trabalhar querendo saber da caravana e procurando alguém que saiba de algo Esse é o grande ponto de A hora dos ruminantes os modos e hábitos das pessoas que vivem em uma cidade pequena Como uma pequena coisa que normalmente associamos como uma coisa simples mexe completamente com a vida dessas pessoas A princípio é uma curiosidade boba mas se torna uma teia complexa de aproximação pouca conversa e diversos desentendimentos pois de uma forma opressora o lado de lá tenta persuadir os simpáticos moradores a fazerem o que eles desejam E os moradores diferentes entre si sentem medo coragem raiva vingança e passividade A caravana em si se sente incomodada pela curiosidade de Manarairema colocam panos em volta do acampamento para deter os olhos curiosos e o pouco contato que eles fazem com os moradores da cidade já que não aparecem nem para comprar mantimentos é feito de forma brusca e maleducada fazendo com que o povo comece a temer aquelas pessoas Alguns mais corajosos 14 tentam contato para saber o motivo do acampamento mas quando esse contato acontece voltam diferentes e não falam do que aconteceu Depois a cidade é tomada por cães que chegam às dúzias pelas ruas causando uma inversão de papéis enquanto os moradores ficam acuados em suas casas os animais passeiam livremente pela cidade e por último a chegada de centenas de bois completa a situação inusitada nesse pequeno vilarejo Os mantimentos são comprados pelas crianças que andam nos lombos dos bois pela cidade O livro não foca em um único personagem podese dizer que a protagonista desta história é a própria cidade É ela que nos apresenta seus moradores e suas peculiaridades Aos poucos vamos descobrindo os pensamentos de cada um e como lidam com o repentino e o inusitado Os pecados da tribo 1976 A mudança no cotidiano dos moradores se inicia a partir de uma sucessão de golpes que são empreendidos para que novos Umahlas chefes tomem o poder A instabilidade política faz com que os comandantes que ascendem sintam a necessidade de demonstrar o poder pelo poder com proibições e ordens arbitrárias e uma vigilância paranoica e constante no intuito de manter um clima de medo que legitime sua autoridade A atmosfera de desconfiança esfacela os valores antigos e cria inimizades entre vizinhos e amigos traços culturais são substituídos ou compulsoriamente abandonados sem qualquer justificativa e a liberdade é cerceada A culminância disso é que o animal de estimação do Umahla mais recente um híbrido com características humanas e que desenvolve grande inteligência acaba por se tornar o Umahla Em meio a todas essas turbulências o único personagem que consegue manterse aliado do poder instituído mesmo que para isso precise lançar mão de manobras sórdidas é o irmão do personagem narrador Rudêncio É ele quem dá ao narrador as informações sobre o funcionamento do regime a que ele não poderia ter acesso de outro modo considerandose que vive à margem daquela sociedade 15 oprimido e alienado São essas também as únicas informações que o leitor possui ficando igualmente desnorteado No que diz respeito ao título os pecados da tribo poderiam ser a tolerância com o crescente controle exercido pelo estado visto que não há uma resistência real mas na verdade os pecados são irrelevantes o importante é o ambiente de punição criado Os poderosos punem porque podem quer haja motivo para punição ou não Aliando tudo isso a elementos que lembram o realismo mágico1 o autor constrói uma alegoria do regime militar brasileiro de forma bastante sutil e quase poética em episódios curtos que lembram sua vocação de contista Apesar de o cenário ser o interior do Brasil bem caracterizado pelos regionalismos linguísticos e pela citação constante da vegetação e de objetos típicos da cultura local a obra ganha universalidade ao tratar do abuso de poder Torvelinho dia e noite 1985 Torvelinho dia e noite tem como tônica o realismo mágico e traz uma mistura incrível de metáfora e realidade dando um ar bastante característico para a história Tratase de uma cidade chamada Torvelinho que recebe a presença de fantasmas que aparecem primeiramente para dois meninos Então a vinda desses seres quiméricos começou a gerar um certo alvoroço na cidade e alguns habitantes começaram a saber da história fantasmagórica sendo que até mesmo alguns adultos puderam sentir a presença desses seres do outro mundo Porém o questionamento que permanece no livro é sobre a finalidade da sua visita Outros acontecimentos também instigam os moradores da pacata cidade como o aparecimento repentino de pessoas estranhas sendo algo que representa uma novidade para aquela localidade gerando uma grande aversão por parte de todos Também acontece um fato de teor natural que assusta os habitantes daquele local o aparecimento de uma enorme quantidade de flores que muda totalmente o aspecto da cidade 1 Pecados da tribo a rigor não nos parece se encaixar bem nas questões fundamentais do realismo mágico ao contrário de Torvelinho 16 A narrativa desperta pensamentos que vão além do enredo da obra Na verdade traça um paralelo entre a história e o devaneio dos personagens representando a própria sociedade em que o autor está inserido Apesar de se tratar de realismo mágico o autor traz momentos de bastante interação com o cotidiano dando um ar rotineiro É um livro atemporal em que o autor dá ao leitor uma história incrível e com a possibilidade de se tirar grandes pensamentos e considerações O relógio Belisário 1995 O livro O relógio Belisário narra a história de um relógio que presenciou fatos marcantes na história tanto no Brasil como fora dele A narrativa tem como personagens o menino Belisário um menino sem família que atua como mensageiro entre o Relógio e o povo do sítio que tem como dono o Desembargador Mariano Este era um homem culto educado e muito gentil casado com D Artemisa Adquirira o relógio Belisário em um leilão pois ficou apaixonado pelo objeto Chegando em casa recomendou a todos que não mexessem no relógio deixassem que ele mesmo limparia quando fosse necessário Morria de ciúmes do relógio e todas as noites levantavase altas horas para ficar observandoo o qual aliás parecia ter vida própria Às vezes Mariano chegava a pensar que estava ficando louco por estar dando tanta importância a um relógio um objeto que não tem vida própria ou pelo menos não deveria ter O relógio Belisário não era um relógio comum ele tinha o poder de transportar as pessoas para fatos distantes do passado e fazia com que elas presenciassem tudo aquilo que ele havia presenciado de marcante em suas viagens de Paris para o Brasil mas o fato mais marcante que presenciou foi a guerra dos Sete anos entre a Prússia e a Áustria que deixou várias consequências na época O relógio surgiu em meados do século XVIII e fora feito por um M Lepaute de Luxemburgo relojoeiro que trabalhava para a corte do rei Luís XV Ele chamava a atenção de todos apesar de ser muito antigo a caixa era de bronze formada com volutas e flores parecidas com girassóis e o pedestal também de volutas tinha à esquerda um cachorro de rabo comprido a cabeça e o bico lembrando arara Todo o conjunto media cerca de dois palmos e meio de altura 17 O relógio Belisário fora adquirido no inverno europeu de 1905 no antiquário Jean Baptiste Diette estabelecido no número sete da rua SainteAnastase em Paris pelo bibliófilo colecionador e publicista José Carlos Roche Ele presenciou tudo que aconteceu em sua vinda para o Brasil até sua estadia na casa do Dr José Carlos O fato que mais marcou sua chegada foi o resgate das joias da condessa de Wilson pelo delegado Edgar Pahl que foram roubadas por um sujeito chamado Cartucho O famoso Sherlock Holmes também participou do caso Todas essas façanhas vão sendo distribuídas dentro da narrativa apresentando muito simbolismo e voltandose principalmente para aspectos da natureza e a forma como os filhos o desembargador e sua mulher os moradores do sítio e Belisário lidam com a realidade Assim através do menino escolhido como ponte entre essa experiência passadofuturo o relógio vai contando as mais diversas histórias e transportando os envolvidos para distantes momentos históricos 19 Procedimentos metodológicos e a descrição dos culturemas aplicados aos textos literários Os processos metodológicos desta pesquisa lexicográfica e linguoliterária no âmbito da Estilística Literária foram constituídos das seguintes etapas propostas por Martins 2013 e 2017 a Leitura da versão impressa e releitura das obras narrativas esta fase consistiu na leitura da obra narrativa de J J Veiga e após esse contato com as edições em papel iniciamos o processo de recolha de culturemas a partir de sua versão digital todos os livros foram redigidos para fins didáticos leituras releituras e pesquisa linguística além de capturas das versões já disponibilizadas em sites na Internet como um meio colaborativo para buscas mais sistematizadas de expressões e suas ocorrências b Revisão de literatura realizamos nesta fase uma busca no Google Acadêmico e repositórios acadêmicos online de artigos dissertações e teses sobre a obra narrativa por exemplo em Repositório da Universidade Federal de Goiás disponível em httpsrepositoriobcufgbr com o objetivo de conhecer as pesquisas já realizadas o u r e c e n t e s sobre as obras de J J Veiga Da mesma forma fizemos uma revisão literária relativa aos culturemas c Levantamento de culturemas nesta fase procuramos construir um levantamento de culturemas na obra ficcional de J J Veiga d Análise e refinamento em posse do levantamento de lexias simples composta complexa incluindo expressões idiomáticas seguimos para organização e análise desse material Na organização do levantamento dos culturemas observamos os seguintes critérios a Corpus durante a constituição do corpus por obra todos os culturemas foram apresentados entre colchetes e hashtags como unidades discretas da seguinte forma CULTUREMA Posteriormente excluímos para esta publicação os diacríticos mencionados para a apresentação mais elegante do dicionário colchetes e hashtags 20 b Contexto e ocorrências cada um dos culturemas do levantamento lexical segue acompanhado do seu respectivo trecho em que o aparece na obra Para termos uma ideia da frequência de uso do termo indicamos sempre que julgamos pertinente ao interesse do leitor quantas vezes o culturema é empregado pelo escritor e as acepções viáveis sempre guiadas evidentemente pelo contexto na obra Ocasionalmente situamos o leitor acerca do contexto em que o culturema está empregado apresentamos um breve resumo sobre o enredo do trecho ou nos debruçamos sobre aspectos relacionados à datação e às formas históricas do verbete entre outras digressões instigantes ou curiosas por exemplo que outros escritores da literatura brasileira fizeram uso do culturema em tela c Notas de normatização e informativas baseandose na versão impressa da obra incluímos nas informações sobre os culturemas as indicações de citação entre parênteses contendo o sobrenome do autor em letra maiúscula seguido pelo ano de publicação e página do texto em que se encontra o culturema assim VEIGA 1996 p 37 Apesar de a coleta dos culturemas ser unicamente ou prioritariamente selecionada na produção contística e romanesca de J J Veiga julgamos necessário a repetição de dados da citação autor ano e página em todas as ocorrências em que extraímos os itens posto que em algumas ocasiões o mesmo verbete aparece em outras ocorrências nas obras em diferentes anos ora com as mesmas acepções outras vezes com acepções distintas considerado que o ciclo sombrio2 estendese da coletânea de contos Os cavalinhos de Platiplanto 1958 até o romance Aquele mundo de Vasabarros 1982 segundo a periodização estabelecida por Gémes 2022 que acompanha a periodização de Agostinho P de Souza em Arnoni Prado1989 d Informações enciclopédicas nessa parte foram feitos comentários estilísticos livres ou de caráter enciclopédico sobre sobre o culturema selecionado A classificação escolhida para nossa pesquisa foi baseada no modelo Igareda 2011 denominado categorias para a análise dos 2 O termo do ciclo sombrio foi criado por Agostinho Souza em 89 Observe ele que todos os textos até e incluindo Aquele mundo de Vasabarros de 1982 têm uma atmosfera sombria em comum A partir de Torvelinho essa atmosfera fica muito mais leve positiva inclusive o estilo se aproxima agora do realismo mágico 21 culturemas ou referentes culturais na aplicação inédita ao estudo do léxico nos textos literários Embora voltado para o campo da tradução elegemos esse método de Igareda para embasar nosso corpus devido a sua amplitude e por ser direcionado ou mais viável para textos literários especialmente em prosa A categorização proposta por Igareda 2011 p 19 é dividida gradativamente em três níveis sendo categorização temática categorização por áreas e subcategorias A autora divide o primeiro em sete classes ecologia história estrutura social instituições sociais universo social cultura material aspectos linguísticos culturais e humor Fizemos a recategorização e criamos terminologia própria para os culturemas levantados ao longo da leitura das obras literárias Ao longo da recolha de culturemas julgamos mais apropriado recorrermos aos princípios lexicográficos de semasiologia e onomasiologia correlacionados a traços semânticos de hiponímia e hiperonímia respectivamente Primeiramente durante a leitura silenciosa ou a acurada releitura dos contos eou romances nos deparamos por exemplo com expressões do tipo tocar para a frente saiu de chofre dar o braço a torcer entre outros no primeiro momento recorremos a dicionários gerais por exemplo Houaiss atualizado em 2023 para procedermos com o registro de acepções viáveis ao contexto daí estarem sempre aspeadas ou a dicionários de cunho mais folclórico Dicionário do Folclore Brasileiro de Luís Câmara Cascudo para citar a mais frequente consulta de cunho culturológico Em qualquer situação as definições que prevaleceram nos verbetes sempre foram as guiadas essencialmente pelo contexto de uso Previamente classificamos os culturemas nos diversos âmbitos culturológicos A título de ilustração informamos que ao encaixarmos culturemas como pertencentes por exemplo ao âmbito antropoculturemas nos orientamos a partir da técnica semasiológica ou seja partimos dos significantes expressões para esclarecer os significados mais amplos que lhes correspondem âmbitos culturológicos Culturemas como Rudêncio Obelardo Manlio Zulta e Edualdo foram considerados por nós como significantes e acolhidos como antroproculturemas Do ponto de vista semântico e em defesa de uma abordagem metalinguística da 22 semântica dos nomes próprios vimos os nomes de personagens como hipônimos no âmbito dos antroproculturemas hiperônimos Em caso de hesitações sobre o devido enquadramento culturológico dos culturemas extraídos das obras narrativas de J J Veiga valemonos da técnica onomasiológica bem como do fenômeno hiperonimia como suficientemente esclarecedores para assinalarmos a relação estabelecida entre um vocábulo de sentido mais genérico e outro de sentido mais específico Por exemplo a ideia de religião ou culto que se presta à divindade consolidado nesse sistema superveniente ao sentido dos culturemas da cultura religiosa expressões como malembe credo esconjuro levaramnos a lançar mão da técnica onomasiológica a partir de significados idiomáticos para melhor definir seu âmbito culturológico assim as duas expressões foram inseridas no âmbito de religioculturemas São os seguintes âmbitos para a classificação geral dos culturemas aplicados aos textos literários segundo a proposta de Martins 2017 bioculturemas humaniculturemas edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas familiculturemas politiculturemas amiculturemas crediculturemas etnoculturemas criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas alcuturemas indumentocuturemas liciculturemas mobiculturemas moedoculturemas mediculturemas verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas e humoculturema A escolha deste recorte acima foi motivada devido à grande incidência de expressões idiomáticas na obra romanesca e contística de J J Veiga objeto de estudo nesta pesquisa Tratase de um corpus literário que recorre a inúmeros culturemas figuração simbólica para instaurar um caráter insólito em suas narrativas Os contos de Veiga em particular revelam fantasticamente atmosfera de mistério e de apreensão que resulta da interrelação entre personagem espaço e linguagem o que podemos comprovar com uma intenção na escolha léxicoestilística do escritor também reveladora das possibilidades da ficção que soube e sabe ainda explorar em que imaginação suspense e metaficção atravessam as narrativas 23 Em nossa pesquisa léxicocultural entendemos as expressões fixas segundo Fulgêncio 2008 p 101 ZULUAGA 1980 MARTINS 2013 como uma sequência de palavras memorizadas pelos falantes da língua sendo igualmente recuperada em bloco Dessa forma as expressões idiomáticas são definidas como conjuntos de palavras cujo sentido geral não é o resultado da soma dos sentidos literais dos seus elementos constituintes configuram um tipo de expressão fixa assim como os provérbios entendidos como frase de origem popular que expressa de forma alegórica ou simbólica os valores culturais de uma determinada sociedade As definições de fraseologia e culturema se fazem necessárias assinalar aqui partindo da análise dos dois termos linguísticos fraseologia e unidades fraseológicas Segundo MonteiroPlantin 2011 p 64 a fraseologia é o ramo da linguística que se ocupa de estudar as unidades fraseológicas Essas são definidas como um conjunto de dois ou mais termos com formas fixas tendo certa frequência de uso pelos falantes Do termo culturema podemos extrair o CULT elemento de composição antepositivo do verbo latim colois colĕre colŭi cultum que significa cultivar habitar morar em cuidar de tratar de preparar e EMA um dos sufixos mais privilegiados na terminologia linguística glossema grafema lexema morfema fonema semantema entre outros Culturema é uma unidade linguística discreta tão linguisticamente marcada como um fonema um grafema um morfema ou um prosodema Assim como categoria ou terminologia linguística assumimos a seguinte definição de culturemas símbolos extralinguísticos culturalmente motivados que servem de modelo para que as línguas gerem expressões figuradas inicialmente como alusões ou reaproveitamento de dito simbolismo e que podem se generalizar e até se automatizar Uma vez dentro da língua como palavras ou componentes de frasemas conservam ainda assim algo de sua autonomia inicial na medida em que unem conjuntos de metáforas e até permitem a adição de outras a partir do mesmo valor acessíveis para a competência metafórica LUQUE NADAL 2010 PAMIES BERTRÁN 2008 p 54 e 2012 Como já dissemos anteriormente o modelo de análise linguística se deu com a releitura minuciosa das obras em suas versões em 24 papel utilizandose após a leitura do material a digitação e a consequente constituição do corpus eletrônico ad hoc especialmente constituído para a consulta e extração dos culturemas A princípio foi feito o levantamento de palavras e expressões que tivessem esse teor cultural Após uma seleção daquilo que era ou não considerado culturema algumas expressões foram descartas e outras expressões foram devidamente contextualizadas e comentadas e em cada comentário buscavase descobrir o valor cultural fraseológico e linguístico da expressão em tela através de suas origens etimologias e significados bem buscando na intertextualidade matérias e pesquisas relacionadas ao culturema selecionado Gostaríamos de ressaltar que os culturemas na presente obra referemse ao conjunto de itens linguísticos relacionados à língua enquanto sistema e cultura na sua dimensão antropológica escolhas léxicoestilísticas do escritor goiano Durante a recolha de itens para descrevermos as escolhas léxicoestilísticas de Veiga priorizamos sobretudo os ecoculturemas e os antroproculteramas com menor atenção aos idioculturemas unidades fraseológicas para deixar a versão deste livro estilisticamente elegante e mais enxuta no fazer lexicográfico mesmo assim o produto final ficou robusto em número de páginas Referências ARNONI PRADO António ed 1989 Atrás do mágico relance uma conversa com J J Veiga Campinas Ed da Unicamp Coleção Viagens da Voz FULGÊNCIO Lúcia Expressões fixas e idiomatismos do português brasileiro 506f 2008 Tese de doutorado em Linguística Programa de PósGraduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte 2008 GÉMES Márton Tamás Quando pequenos mundos se despedaçam O ciclo sombrio de J J Veiga Reconhecimento Perspectiva Poder e Fantástico São Carlos Pedro João Editores 2022 IGAREDA P Categorización temática del análisis cultural una propuesta para la traducción Íkala Revista de Lenguaje y Cultura Vol 16 No 27 enero abril de 2011 p 1131 25 LUQUE NADAL L Fundamentos teóricos de los diccionarios linguísticoculturales Granada Educatori Granada Lingvistica 2010 MARTINS Vicente de Paula da Silva Estratégias de compreensão de expressões idiomáticas por não nativos do português brasileiro 411 f Tese Doutorado em Linguística Programa de PósGraduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará Fortaleza 2013 MARTINS Vicente de Paula da Silva Sapienciário Cultural identificação classificação e constituição de corpus de culturemas nos romances do nordeste brasileiro Salvador Programa de Pós Graduação em Língua e CulturaUFBA 2017 Relatório Final de Estágio PósDoutoral no período de 20162017 MONTEIROPLANTIN Rosemeire Selma Gastronomismos linguísticos um olhar sobre Fraseologia e cultura In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva OrgsUma revisão da teoria e da pesquisa fraseológicas São Paulo Pontes 2011 p 249275 PAMIES BERTRÁN A Productividad fraseológica y competencia metafórica intercultural Paremia 17 4157 2008 SOUZA Agostinho P de 1989 Recompondo o percurso o projeto In António Arnoni Prado ed Atrás do mágico relance uma conversa com J J Veiga Campinas Ed da Unicamp Coleção Viagens da Voz 324 ZULUAGA Alberto Introducción al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 27 Parte I Obras Escolhidas 29 Culturemas em A hora dos ruminantes 1966 Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela Ytayara Ribeiro de Albuquerque Em A hora dos ruminantes o entusiasmo com o moderno é apenas inicial quando há confabulação na cidade a respeito do que seriam os cargueiros que chegaram Manarairema é uma das cidades de Veiga mais refratárias à modernidade as tecnologias e pessoas vindas de fora são vistas como ameaça às velhas formas de vida consideradas livres Flaviana Mesquita Amâncio 2019 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas MAL O SOL SE AFUNDAVA ATRÁS DA SERRA A noite chegava cedo em Manarairema Mal o sol se afundava atrás da serra quase que de repente como caindo já era hora de acender candeeiros de recolher bezerros de se enrolar em xales VEIGA 1996 p 01 A expressão referese ao pôr do sol O autor se utilizou deste culturema para retratar o anoitecer mostrando que antes mesmo do sol se pôr completamente os habitantes de Manarairema já estavam se preparando para dormir Há apenas um registro na obra SOL TININDO NAS PEDRAS E NO BRANCO DAS PAREDES quando todo mundo se recolhe e lá fora só fica o sol tinindo nas pedras e no branco das paredes se uma pessoa vai andando pela rua e de repente se abaixa para apanhar qualquer coisa no chão no mesmo dia a cidade fica sabendo que Fulano achou um dinheiro ou um objeto de valor VEIGA 1996 p 63 30 A expressão faz referência ao sol forte sol quente J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar que quando o sol estava forte os habitantes da cidade de Manarairema não ficavam na rua e o sol atingia apenas as pedras e as paredes O poeta brasileiro Jorge de Lima recorreu a este culturema em seu poema intitulado Felicidade As mãos descem na lama As canoas afundam de sururu O sol está tinindo mas ninguém sente calor Há apenas um registro na obra VENTINHO FRESCO DA BOCADANOITE Mas uma tarde já ao escurecer como obedecendo um comando secreto todos os cachorros cessaram o que estavam fazendo farejaram o ar limparam os pés e dispararam rumo a tapera atropelando gente e se atropelando Os bandos que saíam de cada rua iam desaguar no largo formando uma enchente que se despejava para a ponte ganhava a estrada e subia compacta para a tapera deixando atrás um vazio escuro que o ventinho fresco da bocadanoite vinha preencher VEIGA 1996 p 38 A expressão referese a um vento frio que surge no início da noite J J Veiga se utilizou deste culturema para retratar o momento que os cachorros estavam saindo das ruas de Manarairema para ocupar a tapera mostrando que com a saída desses animais as ruas ficaram vazias porém como estes cães saíram ao anoitecer o autor buscou mostrar que as ruas da cidade ficaram preenchidas por um vento frio que é comum no início da noite Há apenas um registro na obra MOITA Quando uma galinha conseguia escapar para cima de um muro de um cafezeiro para o meio de uma moita qualquer e lá ficava ofegante se refazendo do susto sempre aparecia alguém com uma vara para espantála e a perseguição recomeçava VEIGA 1996 p 37 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de tufo maciço de plantas arvorecentes ou rasteiras e densas 31 Na obra as moitas serviam de esconderijo para as galinhas quando estas eram perseguidas Há duas ocorrências dessa palavra TIÇÃO Há duas ocorrências estilisticamente expressivas Esse tição é muito é besta Só porque arranjou uma carroça pensa que virou gente Havera de ser comigo VEIGA 1996 p08 e pedaço de lenha ou de carvão aceso ou meio queimado Um tição resvalou caiu quebrouse estralejando fagulhas por todo lado VEIGA 1996 p 97 Na obra esta palavra é utilizada para se referir ao personagem Geminiano que possui pele de cor negra e também como um pedaço de lenha de uma fogueira Há duas ocorrências dessa palavra no livro HOMEM DE BRIO Na venda de Amâncio nas lojas nas ruas Apolinário era apontado como homem de brio uma lição para todos um exemplo para quem quisesse seguir Diziam que se Manarairema tivesse mais uma meia dúzia de pessoas como ele os homens da tapera aprendiam a pisar com mais cautela VEIGA 1996 p 58 Esta expressão diz respeito a um homem corajoso honrado e que tem dignidade Na literatura brasileira o romancista e poeta Bernardo Guimarães em seu livro A Escrava Isaura recorreu a este culturema no seguinte trecho Que me importam as leis para o homem de brio a honra é superior às leis e se não és um covarde como penso GUIMARÃES 1875 p 71 J J Veiga usou este culturema para mostrar esta característica de homem corajoso e honrado em Apolinário Há apenas um registro na obra 32 HOMEM MADURO Enquanto D Bita foi providenciar a toalha ele se olhou no espelho grande da sala e quase se assustou Quem estava ali não era ele mas um rapaz que nunca chegaria a homem maduro não seria marido nem pai de ninguém não teria cabelos brancos nem sofreria de reumatismo Seria um mal muito grande VEIGA 1996 p 92 Esta expressão referese a um homem experiente e consciente que tem maturidade J J Veiga se utilizou deste culturema para retratar a reflexão do personagem Pedrinho em relação a seu desenvolvimento enquanto homem pois ele acreditava que nunca se tornaria um homem experiente capaz de assumir as responsabilidades de um adulto e que sempre seria aquele rapaz que recebia cuidados de Dona Bita Na literatura brasileira Machado de Assis recorreu a este termo em seu livro Dom Casmurro Na chácara antes de entrar em casa repetias comigo depois em voz alta para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu Preciso falarlhe sem falta amanhã escolha o lugar e digame Proferias lentamente e mais lentamente ainda as palavras sem falta como para sublinhálas Repetias ainda e então acheias secas demais quase ríspidas e francamente impróprias de um criançola para um homem maduro ASSIS 1899 p 22 Há apenas um registro na obra FULANO Em hora de sol quente quando todo mundo se recolhe e lá fora só fica o sol tinindo nas pedras e no branco das paredes se uma pessoa vai andando pela rua e de repente se abaixa para apanhar qualquer coisa no chão no mesmo dia a cidade fica sabendo que Fulano achou um dinheiro ou um objeto de valor VEIGA 1996 p 63 Na literatura brasileira Aluísio Azevedo em seu livro Casa de Pensão também recorreu a este culturema Não seria agarrado às saias da mãe que iria pra diante Há muito mais tempo devia ter seguido o filho de fulano fora aos quinze anos AZEVEDO 1890 p 10 33 J J Veiga utilizou esta expressão para mostrar a indeterminação do sujeito ou seja para revelar que não se sabe quem praticou a ação neste caso de achar dinheiro ou objeto de valor Há apenas um registro na obra ENTANGUIDA Nazaré tinha entrado em casa encharcada entanguida com um lenço de chita na cabeça espirrando e tossindo Entrou apalpando hesitante sem a certeza de ficar por isso nem tirou o lenço Vendo a afilhada ali parada desamparada escorrendo água pelos cabelos pela roupa os pés metidos em chinelos grandes talvez de homem D Bita amoleceu VEIGA 1996 p 97 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem de entanguir J J Veiga recorreu a este culturema para mostrar que Nazaré havia se molhado na chuva e por isso entrou em casa entanguida ou seja com muito frio O médico e escritor Goiano Carlos Magno de Melo recorreu a este culturema em seu livro Mata Serena Dona Zózima arranjou uma coberta e deu um jeito em um vestido para a menina que estava entanguida de frio com roupas molhadas MELO 2003 p 31 Há apenas um registro na obra BARRANCOS A vaga de pêlos de dentes de patas de rabos de uivos chegou inteira e logo se espalhou por toda a parte farejando raspando acuando regando pedras barrancos muros raízes de árvores unhando portas choramingando erguendose nas patas traseiras para ver se descobriam nas salas alguma coisa digna de atenção e era repelida pelos moradores a varadas lambadas pauladas até a tapas e chineladas VEIGA 1996 p 35 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino quebrada do terreno alta e de forte vertente ocasionada por chuva deslizamento ou pela ação do homem baianca escavação natural vale profundo de encostas íngremes despenhadeiro precipício abismo 34 BIBOCAS DA BEIRA DO RIO Não era à toa que ele vivia sozinho no mundo separado dos parentes sem família e vai ver que até sem amigos aquelas poucas pessoas que ainda se incomodavam com ele e iam procurálo pelas bibocas da beira do rio pelos capinzais dos arrabaldes onde ele caísse depois de uma bebedeira procediam mais por pena do que por amizade VEIGA 1996 p 10 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que corresponde a sanga ou barranco produzido por águas de enxurrada ou por outras causas naturais Na obra há uma ocorrência desta expressão CACHORROS DA TAPERA Dois ou três dias antes o povo notou que os cachorros da tapera estavam ficando inquietos turbulentos aflitos como em véspera de uma grande caçada VEIGA 1996 p 33 Diz respeito a cães que vivem em uma aldeia ou em uma povoação abandonada Houaiss 2023 nos informa que a palavra cachorro vem do latim vulgar cattùlus por catùlu filhote de cão e tapera vem do tupi tapera aldeia indígena abandonada habitação em ruínas tawa taba pwera que foi O autor utilizou a expressão cachorros da tapera para mostrar que não eram quaisquer cachorros mas os da tapera que se caracterizam por cães sujos fedidos que não têm o que comer cães sem dono Há apenas um registro na obra ESPINHOS DE ROSEIRAS OU MANDACARU Houve casos também de cachorros entrando numa casa indo direto aos quartos e saindo com chinelas sapatos roupas tudo o que pudessem agarrar com a boca lençóis eram arrastados pelos quintais estraçalhados em espinhos de roseiras ou mandacaru lambuzados na lama dos regos e afinal abandonados em qualquer parte quando já não serviam para nada VEIGA 1996 p 36 35 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do tupi yamandakaru ou ñamandakaru planta da família das cactáceas O poeta cearense Paulo de Tarso Bezerra Gomes escreveu um cordel que recorre a este culturema Não dá sombra nem encosto Se diz do mandacaru Mas no sertão ele é rei Cardeiro ou Jamacaru E lá na língua Tupi É o iamanakaru Uma arbustiva xerófita Nativa aqui do Brasil No Nordeste é muito usada De maneira bem sutil Sendo alimento para o gado Numa seca muito hostil J J Veiga utilizou este culturema para retratar uma planta presente na vegetação da caatinga e como ela é fácil de se desenvolver o autor mostra que ela estava presente no quintal da casa e na obra foi mostrado apenas o lado ruim dessa planta que são os espinhos ou seja os espinhos destruíram os lençóis que os cachorros arrastavam pelo quintal Há apenas um registro na obra Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas PEITORIL Um dia muito cedo com o tempo ameaçando chuva Pedrinho Afonso passou das costas de um boi para a janela de D Bita pulou para dentro da sala e ficou debruçado no peitoril o rosto escondido nos braços o corpo tremendo VEIGA 1996 p 89 De acordo com Houaiss 2023 definese como parte superior de uma balaustrada onde as pessoas podem debruçarse Encontramos a palavra com a mesma significância no seguinte fragmento Antigamente as janelas eram pequenas aberturas no maciço da alvenaria de sustentação que não podia ser comprometida por vãos muito grandes e próximos uns dos outros Tradicionalmente uma janela tem uma verga viga que fecha superiormente o vão duas ombreiras e o peitoril superfície de fecho horizontal na parte inferior SILVA Jorge Henrique Pais da CALADO Margarida 2005 p 207 Ao longo da obra foram encontrados dois registros da palavra 36 CARROÇA DE ALUGUEL Isso aconteceu com Geminiano Dias proprietário de uma carroça de aluguel Geminiano estava carregando estrume para horta numa das viagens foi interpelado na cerca do pasto por um homem alto queixudo de cabelo cortado à escovinha VEIGA 1996 p 07 Segundo o Houaiss 2009 carroça referese ao substantivo feminino antigo coche carruagem luxuoso isto é carro grosseiro quase sempre feito de madeira geralmente puxado por animais usado para transporte de carga Gramática do diminutivo irregular carrocim Sua etimologia segundo o Houaiss 2023 vem de carrozza no sentido de viatura para pessoas com quatro rodas puxada por um ou mais cavalos latim medieval de Roma carrotìa carrus ou carrumi Tratase do transporte usado para o tráfego de mercadorias pelos personagens da narrativa No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas 1881 no seguinte trecho Elle precisa comer são horas de jantar vamos levaio ao Pharoux dividamos a consciência delle uma parte fique lá com a dama tomemos nós a outra para que ele vá direito não abalroe as gentes e as carroças tire o chapéu aos conhecidos e finalmente chegue são e salvo ao hotel ASSIS 1881 pág 193194 Ao longo da obra há sessenta e sete registros MONTUROS Mas uma tarde já ao escurecer como obedecendo um comando secreto todos os cachorros cessaram o que estavam fazendo farejaram o ar limparam os pés e dispararam rumo a tapera atropelando gente e se atropelando Saíam de quintais latadas de monturos ainda arrastando gravetos e ramagens derrubando cinza cavacos folhas secas do lombo VEIGA 1996 p 38 Datado em Houaiss 2023 do século XIV referese a monte de lixo aglomeração de coisas velhas e descartadas montureira O poeta cearense Patativa do Assaré recorreu a este culturema em forma singular no poema Saudade Saudade dentro do peito 37 É qual fogo de monturo Por fora tudo perfeito Por dentro fazendo furo Segundo o Houaiss 2023 este culturema também pode ser compreendido como lugar onde se deposita o lixo J J Veiga se utilizou deste culturema para se referir a um dos lugares frequentados pelos cachorros antes de invadirem Manarairema mostrando que naquele momento esses animais estavam indo ocupar a tapera porém este ambiente só foi ocupado por aqueles cães que viviam na rua que não tinham dono por isso saíam de locais sujos como o próprio culturema representa Há apenas um registro na obra Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas MODA PARA OS BOIS Joaquim Rufino o único preso da cadeia ao ver a dificuldade que os meninos estavam tendo para suprilo de água e comida apanhou a viola sentouse no parapeito da janela gradeada e fez uma moda para os bois VEIGA 1996 p 89 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de uma denominação genérica de canção canto música de salão ou folclórica portuguesa Sua etimologia vem de fr mode modo do lat modusi medida Há uma ocorrência desta palavra no livro NOITE DE CACHAÇADA E DESATINO quando Amâncio amanhecia caído em alguma grota machucado e enlameado depois de uma noite de cachaçada e desatino quem ia buscálo as mais das vezes era Manuel Florêncio de cada vez jurando que seria a última VEIGA 1996 p 17 Esta expressão corresponde a uma noite de bebedeira No trecho em análise notase que o personagem Amâncio envolviase em noites de bebedeiras e nestas noites ficava sem 38 condição de voltar para casa sozinho assim ele contava com a ajuda de Manuel Florêncio que o ajudava a retornar a sua casa Neste sentido o autor utilizou este culturema para enfatizar uma noite em que se ingere muita bebida Há apenas um registro na obra FOGUEIRA NA PORTA DA IGREJA Meninos acenderam fogueira na porta da igreja gente grande reuniuse em volta para aproveitar o calor apareceram garrafas em várias mãos até meninos provaram ninguém censurou porque a noite era de todos merecida VEIGA 1996 p 96 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma pilha de lenha ou monte feito com matérias de fácil combustão a que se toca fogo Na obra a fogueira é acesa para as pessoas se juntarem e jogarem conversa fora Existe nove ocorrências desta expressão GAMELA Me davam comida numa gamela no chão Eu tinha de comer enfiando a cara como cachorro Ela ficava perto olhando de vez em quando empurrava a gamela para longe com o pé só para me ver me arrastar no chão VEIGA 1996 p 90 Datado em Houaiss 2023 referese a vasilha de madeira ou de barro de vários tamanhos em forma de alguidar ou quadrilonga usada para dar de come aos porcos para banhos lavagens e outros fins Esse momento da narrativa tratase de uma conversa entre Pedrinho e D Bita onde ele conta para ela tudo o que sofreu com os homens da tapera e como era tratado com desprezo por Nazaré Na literatura brasileira Mário de Andrade em sua obra Macunaíma usa a mesma palavra com igual significância na referida passagem Então a cotia pegou na gamela cheia de caldo envenenado de aipim e jogou a lavagem no piá Macunaíma fastou sarapantado mas só conseguiu livrar a cabeça todo o resto do corpo se molhou O herói deu um espirro e botou corpo Foi desempenando crescendo fortificando e ficou do tamanho dum homem taludo 39 Porém a cabeça não molhada ficou pra sempre rombuda e com carinha enjoada de piá ANDRADE 1993 p 16 Ao longo da obra há quatro registros da palavra LAMPIÕES DO ACAMPAMENTO À noite a fogueira e os lampiões do acampamento queimavam até tarde da cidade viase o clarão entre as folhagens e quando o vento era favorável chegavase a ouvir vozes e risos e ondulações esgarçadas de música mas o povo não prestava maior atenção aquilo já fazia parte do cenário natural da noite não chegava perturbar o sossego VEIGA 1996 p 13 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino que se refere a uma grande lanterna elétrica ou a combustível portátil ou fixa em um teto esquina ou parede Na obra era utilizado para clarear o acampamento Há apenas uma ocorrência ESTALAR CHICOTES Então todos ali não tinham visto ou pelo menos entrevisto os animais trocando pernas ao peso da carga os cavaleiros atrás estalando chicotes VEIGA 1996 p 02 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino um instrumento resistente e flexível feito de longas tiras de couro ou de cordões entrançados e presos a um cabo Na obra os chicotes são utilizados para dar ordens aos animais Há nove ocorrências desta expressão no livro CHALEIRA Pensando e pensando nisso ela se distraiu na cozinha e cometeu uma série de deslizes queimou a mão numa panela deixou o arroz esturrar esqueceu a chaleira fervendo até a água transbordar e quase apagar o fogo VEIGA 1996 p 51 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a um recipiente bojudo geralmente de metal 40 com tampa asa e gargalo em forma de bico próprio para ferver água Há duas ocorrências na obra BAIXAR A ESPINGARDA Vamos entrando disse Amâncio baixando a espingarda notando a estranheza dos homens justificouse Tive de me armar por causa de uns bedamerdas aí fora Vamos entrando Entra Gemi VEIGA 1996 p 28 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma arma de fogo portátil de cano comprido e com coronha própria para apoiar no ombro Na obra há três ocorrências BOLEIA Agora era aquilo um homem desmanchado na boleia os olhos fixos nas ancas cada vez mais magras do Serrote despreocupado das rédeas e do caminho Quando cruzava com alguém na rua ou na estrada Geminiano levantava a mão num cumprimento mecânico que não chegava à aba do chapéu Quando alguém o saudava êle não ouvia da primeira vez ou ouvia atrasado VEIGA 1996 p 29 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma peça boleada de madeira fixa no varal da carruagem na qual se armaram os tirantes Assento do cocheiro na carruagem a parte fronteira superior desse veículo Nos automóveis e afins o assento do motorista nos caminhões e afins cabina do motorista Na obra há uma ocorrência TOLDO IMPROVISADO Coberta com um toldo improvisado simples lona apoiada em um varal e dois esteios e quando parou na porta da venda dela desceram três homens vestidos com paletós de cinto e bolsos com tampo e botões coisa mesmo de gente de fora raramente vista em 41 Manarairema Desceram endireitaram a roupa como se preparando para tirar retrato bateram na porta VEIGA 1996 p 2728 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino que se refere a uma cobertura destinada ao abrigo da embarcação passageiros e guarnição Qualquer cobertura de lona brim zinco ou outro material Na obra há uma ocorrência PRATO DE LOUÇA Muita almôndega macia fritada em boa gordura lhes foi servida em prato de louça como se faz com hóspedes de categoria VEIGA 1996 p 37 Esta expressão referese a um recipiente de cerâmica que é esmaltado e usado para servir refeições O professor pesquisador e escritor Eduard Montgomery Meira Costa recorreu a este culturema em seu livro Fantasias Inconscientes Sempre são crianças abaixo de doze anos de idade Uma escorregou e caiu batendo na mesa vindo a cair um prato de louça sobre seu pescoço cortando sua cabeça pois este prato tinha as bordas afiadas COSTA 2007 p 52 J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar a importância que os habitantes de Manarairema deram para os cachorros estranhos que haviam chegado na cidade mostrando que eles foram tão bem recebidos que a população lhes deu comida em um prato de louça e não em um prato qualquer Há apenas um registro na obra BOLAS DE SABÃODATERRA Bolas de sabãodaterra caixa de espoletas de espingarda maço das cabeças da assistência para os que não conseguiam alcançar o balcão tudo com muita algazarra muita espremeção muita reclamação VEIGA 1996 p 26 Expressão que representa uma fórmula de sabão que surgiu da necessidade de reutilizar o óleo de cozinha que degrada o solo e água contaminando o meio ambiente 42 Referese ao tipo de sabão encontrado na venda do personagem Amâncio Há apenas uma ocorrência na obra GOLE DE ÁGUA DO POTE Quando acabou Apolinário enxaguou a boca com um gole de água do pote cuspiu de esguelha na parede para não molhar o chão e voltou assoviando para a oficina VEIGA 1996 p 55 Referese à água armazenada em potes de barro muito usado no sertão nordestino O escritor brasileiro Mário de Andrade recorreu a este culturema no livro Macunaíma Maanape logo foi buscar o famoso Bento curandeiro em Beberibe que curava com alma de índio e a água do pote ANDRADE 1928 p 76 J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar que o personagem Apolinário não usou qualquer água para enxaguar a boca mas sim a água do pote Há apenas um registro na obra CAFEZEIRO Quando uma galinha conseguia escapar para cima de um muro de um cafezeiro para o meio de uma moita qualquer e lá ficava ofegante se refazendo do susto sempre aparecia alguém com uma vara para espantála e a perseguição recomeçava Freqüentemente uma galinha já manca de asa despencada e muitas falhas de penas pelo corpo era apanhada e entregue na boca de um cachorro e geralmente o cachorro destinguido com a prenda apenas a cheirava e virava as costas VEIGA 1996 p 37 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino no âmbito angiosperma com acepção de cafeeiro cafeicultor PASSADO LIGEIRAMENTE NA FARINHA Ninguém almoçou direito receando perder grandes acontecimentos enquanto estivesse à mesa quem comeu alguma 43 coisa foi em pé mesmo diante da janela geralmente um simples pedaço de linguiça ou de carne espetado num garfo e passado ligeiramente na farinha os olhos sempre no acampamento VEIGA 1996 p 0405 Segundo o Houaiss 2023 pode ser compreendida também como farinha de mandioca fina usada na culinária brasileira em pratos como pirão farofa etc farinha suruí farinha seca farinha de guerra farinha de pau Vem do latim farínaae no sentido de farinha Tratase de um alimento bastante comum na culinária da época recorrente na obra devido seu consumo pelos personagens No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Manuel Antônio de Almeida em Memorias de um Sargento de Milicias 1854 no seguinte trecho Segura aquelle homem granadeiro disse o major a um dos seus soldados apontando para o tomalargura que se achava em pé cambaleando tendo numa mão um balaio em que viera a farinha e na outra uma garrafa com que ameaçava os circumstantes ALMEIDA 1854 pág 113 Há oito ocorrências na obra FARELOS DE RAPADURA E FARINHA O chão precisava de vassoura o balcão precisava de uma limpeza com pano molhado para tirar aquelas argolas de fundo de copo de cachaça os derramados de açúcar a gordura salgada dos pesos de carneseca os farelos de rapadura e farinha VEIGA 1996 p 19 Datado em Houaiss 2023 de 1720 com acepção de ato ou efeito de rapar rapadela isto é açúcar mascavo solidificado em forma de um pequeno tijolo Tratase de uma comida bastante comum na cultura culinária dos personagens da narrativa Sua etimologia vem de radical de rapado ura No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por José de Alencar em O sertanejo romance brasileiro Volume 1 1875 no seguinte trecho Compunhase esta de uma naca de carne de vento e alguns punhado de farinha que trazia no alforge De postre um pedaço de rapadura regado com água da borracha ALENCAR 1875 pág 64 Há cinco ocorrências na obra 44 COPO DE CACHAÇA O chão precisava de vassoura o balcão precisava de uma limpeza com pano molhado para tirar aquelas argolas de fundo de copo de cachaça os derramados de açúcar a gordura salgada dos pesos de carneseca os farelos de rapadura e farinha VEIGA 1996 p 19 Datado em Houaiss 2023 de 1635 com acepção de espuma grossa que se forma durante a primeira fervura do caldo de cana usada na produção de açúcar e dele retirada para servir de alimento ger na forma de beberagem fermentada ou para obtenção de bebida alcoólica isto é aguardente que se extrai por fermentação e destilação das borras do melaço da canadeaçúcar aguardente de cana Na cultura popular essa expressão pode ser compreendida ainda pelos seguintes nomes abrideira aço águabenta aguardente bagaceira birita branca branquinha brasa braseira braseiro calibrina cana caninha dengosa engasgagato ferro goró malvada manguaça muamba parati pinga pura purinha tempero uca veneno Tratase do nome mais comum associado a uma bebida alcoólica vendida nos bares da comunidade de Manarairema No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Joaquim Manuel de Macedo em A Moreninha 1844 no seguinte trecho Pela nossa parte confessamos que não ha cachaça que nos embebede mais depressa do que uma que se bebe nos olhos travessos de certas pessoas MACEDO 1844 pág 74 Há apenas duas ocorrências na obra CARREGAMENTO DE TOUCINHO Podia ser carregamento de toucinho mantimento escasso Enquanto esperavam a confirmação acenderam cigarros otimistas VEIGA 1996 p 02 Datada pelo Houaiss 2023 do século XV com acepção de gordura dos porcos subjacente à pele com o respectivo couro isto é produto extraído da gordura de outros animais toicinho O Houaiss 2023 remetese a essa expressão que segundo Corominas provém derivada do latim tùcca caldo gorduroso de 45 origem céltica donde tuccétum carne de porco conservada em salmoura Tratase de um alimento presente na culinária dos personagens da narrativa No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Aluísio Azevedo em O mulato 1881 no seguinte trecho Fallou depois em Portugal das cornesainas portuguezasas caldeiradas de sardinhas a orelheira de porco com feijão branco as boas nacas de toucinho a açôrda o caldo gordo o famoso bacaIháo dAlgarve AZEVEDO 1881 pág 44 Há nove ocorrências na obra BEIJU Então come um pédemoleque Um beiju Qualquer coisa disse Amâncio mandando Manuel aceitou um beiju para evitar crítica enquanto os outros iam virando careteando bufando e cuspindo VEIGA 1996 p 41 Segundo Houaiss 2009 referese a espécie de bolo de goma polvilho ou de massa de mandioca assada de que há diversas variedades A poeta e escritora baiana Jacinta Passos recorreu a este culturema no poema Canção da partida publicado no livro Coração militante Mandioca tem veneno dá farinha e dá beiju Este culturema também pode ser compreendido como acepipe feito com fubá açúcar e manteiga que se assa no forno ou em chapa J J Veiga se utilizou deste culturema para destacar uma comida comum que era fácil de se encontrar na cidade de Manarairema e com isto o autor revela que não tinha muita opção de comida para o personagem Manuel se alimentar naquele momento Há dois registros na obra Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas 46 CARGUEIROS Os cargueiros vinham descendo a estrada quase cansados com azul geral VEIGA 1996 p 01 Segundo o dicionário Houaiss 2023 referese àquele que leva carga ou conduz besta de carga Na obra era através dos cargueiros que chegavam mantimentos na cidade como o toucinho Há quinze ocorrências desta palavra na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas CREDO Ah que cabeça a minha credo disse ela Não lhe ofereci nada para comer Também só tem rapadura e farinha Serve VEIGA 1996 p 92 De acordo com Houaiss 2023 definese como uma interjeição que exprime frequente espanto e por vezes aversão credo em cruz cruzcredo cruzes A expressão foi usada no trecho quando D Bita lembrase de oferecer a Pedrinho alguma coisa para comer no caso tendo como alternativa apenas rapadura ou farinha pois como estava presa em casa por causa da invasão dos bois na cidade não podia comprar outros alimentos Ao longo da obra há duas ocorrências ESCONJURO Cachorros Esconjuro Capetas Capetas de quatro pés Cachorros foi só o que se conseguiu de Geminiano VEIGA 1996 p 33 Datada pelo Houaiss 2023 de 1550 com acepção de ação de esconjurar conjuro maldição Tratase de uma expressão espantosa referente aos cachorros que apareceram na cidade de Manarairema 47 No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por José de Alencar em O sertanejo romance brasileiro Volume 2 1875 no seguinte trecho Não lhe sahia da lembrança o dito de Fragozo e receioso de que pela intercessão de algum santo ou por artes occultas conseguisse o despeitado mancebo abrandarlhe o animo pensou que o melhor esconjuro contra esse maleficio era casar quanto antes a filha ALENCAR 1875 pág 210 Há apenas uma ocorrência na obra Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas RESMUNGAR Mas acontece que Geminiano deu para resmungar A princípio eram queixas imprecisas sem alvo nem motivo determinados que o povo atribuía a cansaço ou desinteresse por um serviço que não variava e que parecia não ter fim VEIGA 1996 p 2829 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um verbo transitivo direto que se refere a pronunciar confusamente por entre dentes geralmente com mau humor Falar baixo geralmente com rabugice rezingar Na obra há uma ocorrência EMBARAÇO O embaraço foi geral Aquilo era novo Geminiano chorando Deviam consolálo como se faz com criança ou ir saindo disfarçado em respeito ao desespero de um homem antes tão equilibrado VEIGA 1996 p 29 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino qualquer fato ou coisa que dificulta ou impede dificuldade complicação atrapalhação Na obra há uma ocorrência 48 ALARIDO A noite o alarido era tal que chegava a perturbar o sossêgo na cidade A impressão geral era que os homens não estavam dando comida suficiente aos bichos Seria por maldade Ou distração Ou falta de recursos Talvez Geminiano pudesse dar uma explicação VEIGA 1996 p 33 Segundo dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino gritaria de guerra clamor de combate ruído de vozes de gritos falatório algazarra gritaria Na obra há duas ocorrências PUXAR BRIGA Tendo dado a sua opinião e na frente de todos Justino achou que a sua obrigação estava cumprida Insistir seria puxar briga sem necessidade VEIGA 1996 p 9 Esta expressão corresponde ao mesmo que procurar briga buscar confusão John Boyne um escritor irlandês também recorreu a este culturema em seu conto Um dia de folga Um Conto de Natal no seguinte trecho A coisa toda o deixou intrigado Logo em seguida Cathy falaria pra todo mundo que ele tentou se engraçar pra cima dela e seu irmão foi bater na porta da casa de Hawke na manhã de Natal querendo puxar briga J J Veiga utilizou este culturema para mostrar que o personagem Justino tinha dado sua opinião a respeito da atitude de Geminiano quando ele se encontrou com um homem que queria alugar sua carroça assim ele apenas revelou sua opinião pois sabia se dissesse algo mais iria desagradar Geminiano e assim estaria procurando confusão Há apenas um registro na obra BARRIGAMEDÓI A dúvida era de Balduíno já com algumas experiências mas ninguém quis se demorar nela nada igual tinha acontecido antes e se 49 acontecesse agora Júlio Barbosa saberia o que fazer Eles saem Não tem barrigamedói VEIGA 1996 p 06 A expressão diz respeito a uma atitude sem desculpas isto é uma ação a ser realizada sem interrupções com precisão Na obra é uma expressão usada pelo personagem Júlio Barbosa homem de atitudes sérias demostrando essa característica com a referida expressão Há duas ocorrências na obra TRENS TODOS Por enquanto você fica no quarto de Nazaré como ele está Depois faço uma arrumação tiro aqueles trens todos e jogo fora VEIGA 1996 p 92 De acordo com Houaiss 2023 definese como um regionalismo mais usado em Minas Gerais no uso informal pejorativo referindose ao que não tem valor ou préstimo dizse de pessoa ou coisa imprestável inútil O termo foi usado no trecho em uma conversa entre D Bita e Pedrinho onde ela pede para ele ocupar o quarto de Nazaré que depois ela arrumaria jogando as coisas dela fora Ao longo da obra há apenas uma ocorrência NÃO DAR TRELA As pessoas respondiam com reserva ou ficavam na intenção de responder não davam trela a conduta recente de Geminiano estava ainda muito viva na lembrança de todos VEIGA 1996 p 100 O trecho em destaque ocorreu à expressão no sentido negativo se referindo ao ato da população de Manarairema não querer conversa com Geminiano pois ele tinha se aliado aos homens da tapera Ao longo da obra há apenas uma ocorrência TOCAR PARA A FRENTE Ninguém quis perder tempo falando nos homens da tapera se alguém se lembrou deles foi de passagem o momento era alto demais para miudezas agora era festejar e tocar para a frente 50 quem não gostasse que se recolhesse e tapasse os ouvidos VEIGA 1996 p 96 A expressão tocar para a frente pode ser compreendida com o mesmo sentido de ir em frente apostar acreditar Na passagem a locução se refere ao momento em que os bois foram embora de Manarairema e finalmente as pessoas puderam sair de suas casas para comemorar nas ruas alegremente O compositor Renato Teixeira usou a sentença Tocando em frente na composição de uma música que possui o mesmo tema e significado atribuído na obra A hora dos Ruminantes de JJ Veiga Penso que cumprir a vida Seja simplesmente Compreender a marcha E ir tocando em frente Ao longo da obra há duas ocorrências da expressão SAIU DE CHOFRE Bom tome conta de sua venda que eu tenho serviço esperando disse Manuel e saiu de chofre esquecendo o embrulho de linguiça VEIGA 1996 p 25 A palavra chofre é datada pelo Houaiss 2023 de 1712 com acepção de golpe ou choque repentino isto é a expressão representa uma forma súbita de retirada Tratase da maneira como o personagem Manuel Florêncio saiu do bar após uma conversa com o personagem Amâncio Há apenas uma ocorrência na obra ENCHENTES DE BICHOS Já no caso dos cachorros a atitude de Amâncio fora muito criticada Além de ter achado graça naquela enchente de bichos ainda zombou das pessoas que tentaram escorraçáIos e não ficou nisso passada a crise andou fazendo indagações para apurar quem mais quem chegara a levantar a mão contra eles VEIGA 1996 p 63 Esta expressão referese a uma grande quantidade de animais Neste trecho o autor utilizou a expressão enchente de bichos para mostrar que a tapera estava habitada por muitos animais Assim enfatizou esta expressão por meio da atitude de Amâncio pois ele estava agindo de forma que causava estranhamento nas pessoas de 51 modo que suas atitudes eram criticadas principalmente diante da grande quantidade de animais Isto porque ele apenas riu da situação Há apenas um registro na obra NÃO PERDER A MÃO Dei lá umas cepilhadas para não perder a mão Virou a cabeça para a porta e comentou Esta lama aí hein Vai custar a secar Deve ter mais de um palmo de altura VEIGA 1996 p 99 No trecho a expressão foi usada em um momento de conversa entre Amâncio e Manoel onde o primeiro pergunta se Manoel já recomeçou com as suas atividades agrícolas depois que Manarairema voltou a sua normalidade este responde com o uso da expressão com a finalidade de afirmar positivamente a pergunta Ao longo da obra há apenas uma ocorrência NÃO CANTAR DE GALO Por que não largou o serviço então Porque não matei meu pai a soco Pergunte a Amâncio por que ele não cantou de galo perto deles Olhe ele aí Pergunte só VEIGA 1996 p 101 Houaiss 2023 referese ao termo cantar no sentido figurado e regionalista como tentar convencer ou convencer alguém a fazer ou a permitir fazer algo Nesse sentido a expressão pode ser entendida como que determinada pessoa está querendo ser chefe ou seja mandar e falar alto sem merecer e também quer falar mais alto que todos Nessa sentença a expressão foi usada no momento em que Geminiano voltava da casa de tapera com alguns objetos na carroça e tenta uma conversa com as outras pessoas estas não confiam mais nele ele se defende dizendo que nem mesmo Amâncio teve coragem de cantar de galo perto dos homens da tapera Ao longo da obra há apenas uma ocorrência DAR A TÁBUA Ela me deu a tábua Não vejo Nazaré desde domingo Vim fugido VEIGA 1996 p 90 52 Houaiss 2023 referese a essa expressão dando o contexto significativo no sentido figurado regional à palavra tábua como ato praticado de máfé que objetiva lesar ou ludibriar logro engano No trecho destacado a expressão foi usada por Pedrinho quando D Bita pergunta por sua neta Nazaré e ele fala que foi enganado por ela e que fazia algum tempo que não a via O cantor e compositor Gabriel O Pensador usou também essa palavra no seu sentido conotativo no seguinte trecho de sua música Eu e a tábua Outro dia eu Tava em casa me sentindo na prisão Jogando dardo na televisão Estressado cansado dessa vida louca Olhei pro lado e vi a mulher passando roupa Minha cueca azul da cor do mar Me deu vontade de ir pegar uma onda com a minha tábua de passar A expressão só ocorre uma vez na obra NÃO QUERER DAR O BRAÇO A TORCER Sabia que os outros estavam vendo a minha mentira e não queria dar o braço a torcer Quantas noites passei rezando pedindo um milagre pedindo a Deus para fazer dela a menina que eu tinha inventado Fui uma boba e agora estou pagando Mas eu já estava ficando velha sem tempo de começar de novo Achei mais fácil fazer de conta que ela estava saindo como eu queria Outra ilusão minha foi pensar que podia morrer antes antes de qualquer desgosto grande com ela VEIGA 1996 p 91 Assim a expressão dar o braço a torcer confere o mesmo sentido pois é o mesmo que admitir um fato que de alguma forma prova que determinada pessoa estava errada No trecho a expressão foi usada na forma negativa em um momento onde D Bita conversava com Pedrinho a respeito de Nazaré e confessa que já sabia que sua neta não prestava porém não queria admitir nem para ela mesma a verdade O termo foi usado com igual significância na literatura no romance Black fugir não vai adiantar de autoria de Raquel Moreira na seguinte passagem Não quero esboçar nenhuma reação ao seu toque mas noto que minhas pernas ficaram fracas Não vou dar o braço a torcer não com ele me fitando com esse olhar convencido que diz Eu 53 consigo a mulher que eu quiser MOREIRA 2015 p 638 Há apenas uma ocorrência da expressão na obra TIRAR A LIMPO Seriam engenheiros Mineradores Gente do governo Vamos lá ver conversar tirar a limpo propôs alguém VEIGA 1996 p 04 K J Veiga se utilizou deste culturema para destacar a curiosidade das pessoas em saber quem eram aqueles indivíduos que estavam chegando na cidade de Manarairema e para confirmarem estavam dispostos a se aproximarem destas pessoas para tirar a limpo e saber quem realmente eram O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recorreu a este culturema em seu livro O Irmão Alemão no seguinte trecho Eu já pensava em tirar a limpo essa história quando um vidente não sei como descobriu meu telefone de casa e nem bem o atendi arrolou seus serviços prestados à polícia na elucidação de sequestros na localização de cativeiros e de esconderijos de bandidos HOLANDA 2014 p 108 Há apenas um registro na obra O SOL ESPICHAVA AS SOMBRAS NO LARGO No meio da tarde quando o sol espichava as sombras no largo a carroça dobrou a esquina e entrou no beco VEIGA 1996 p 27 Datada pelo Houaiss 2023 em sua forma infinitiva espichar de 1713 com acepção de tornar mais longo esticar alongar Na obra a palavra referese ao modo como o sol aparecia na cidade No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Aluísio de Azevedo em O Mulato 1881 no seguinte trecho Dahi a uma hora o conego depois de saborear a sua canja e amaciar o lombo luzidio de seu maltez fazia a oração do costume e espichava se ao comprido tranquillamente na sua rede branca e cheirosa disposto a passar uma bôa noute AZEVEDO 1881 p 464 Há apenas uma ocorrência na obra 54 ESCALDAPÉS Menina do céu onde está o seu juízo disse ela afinal Olhe só a sua roupa Toda molhada até os cabelos Você adoece menina Vá mudar esse vestido enxugar esse cabelo Tome um escaldapés e calce uma meia Vou esquentar a água Vá mudar essa roupa depressa que eu não quero ver você doente E não saia do quarto Levo o escaldapés e o chá VEIGA 1996 p 98 Segundo Houaiss 2009 referese ao banho que se dá aos pés imergindoos em água quente Na literatura brasileira Joaquim Manuel de Macedo no livro A Moreninha recorreu a este culturema no seguinte trecho Pois bem minhas senhoras disse Augusto para se ver livre delas dêem lhe o preconizado escaldapés MACEDO 1844 p 59 J J Veiga se utilizou deste culturema para realçar que o escalda pés combate o resfriado por isso nos fragmentos apresentados a menina foi orientada a trocar de roupa e aplicar o escaldapés para não adoecer Há dois registros na obra CHEIRO DE URINA DO CUEIRO No Beco da Pedreira Grande atraídos pelo cheiro de urina do cueiro de uma criança que dormia no berço perto da janela os bois comeram todos os panos do berço depois descascaram completamente a pele da criança com a lixa da língua VEIGA 1996 p 89 Segundo Houaiss 2023 referese a um pano leve e macio com que se envolvem em torno das nádegas e das pernas as crianças de colo A sentença destacada é relacionada ao momento em que a cidade de Manarairema sofre com a invasão dos bois e o momento narrado é quando os bois atraídos pelo cheiro de urina vão até uma casa e através de uma janela comem todos os panos do berço de uma criança que dormia Encontramos a palavra com o mesmo sentido no seguinte trecho Logo que a criança era capaz de dispensar a ajuda da mãe ou da ama depois de um desmame tardio que acontecia por volta dos 55 sete anos de idade ela ingressava na comunidade dos adultos participava dos jogos e dos trabalhos e seus trajes também não a diferenciavam dos mais velhos pois assim que deixava o cueiro se vestia como os outros homens e mulheres embora as roupas mostrassem a hierarquia social TOURINHO 2008 p 05 Ao longo da obra só há dois registros da expressão Referências ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 1 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 Disponível em httpsdigitalbbmuspbr handlebbm4644 Acesso em 28022018 ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 2 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 Disponível em httpsdigitalbbm uspbrhandlebbm4643 Acesso em 28022018 ALMEIDA Manuel Antônio de Memorias de um sargento de milícias Rio de Janeiro Typographia Brasiliense de Maximiano Gomes Ribeiro 1854 Disponível em httpsdigitalbbmuspbr handlebbm4846 Acesso em 28032018 ANDRADE Mário de Macunaíma o herói sem nenhum caráter Belo Horizonte Vila Rica 1993 Disponível emhttpwwwseerufrgsbr NauLiterariaarticledownload48532769 Acesso em 28 fev 2018 ASSIS Machado de Memorias posthumas de Braz Cubas Rio de Janeiro Typographia Nacional 1881 Disponível em https digitalbbmuspbrhandlebbm4826 Acessos em 28032018 Acesso em 26 de março de 2018 AZEVEDO Aluísio O mulato Maranhão Typ do Paiz 1881 Disponível em httpsdigitalbbmuspbrhandlebbm4812 Acesso em 28032018 BUARQUE Chico O irmão Alemão Disponível em http delubiocombrbibliotecawpcontentuploads201502OIrmao AlemaoChicoBuarquepdf Acesso em 20 de março de 2018 COSTA Eduard Montgomery Meira Fantasias Inconscientes Disponível em ttpsbooksgooglecombrbooksidheNMBQAAQB AJpgPA6dqfantasiasinconscienteshlptBRsaXved0ah UKEwjJs7KE84aAhVJg5AKHZeCc8Q6AEIJzAAvonepageqfan tasias20inconscientesffalse Acesso em 23 de março de 2018 56 GOMES Paulo de Tarso Bezerra NVC Nordestinando Mandacaru Até Perfume nos dá Disponível em httpswwwnorte andovocecombrnoticiasnordestinandomandacaruateperfume nosda Acesso em 23 de março de 2018 HOUAISS Antônio e VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 LEVI Dicionário Informal Disponível em httpwwwdicionario informalcombrC3A1gua20do20pote Acesso em 25 de março de 2018 MACEDO Joaquim Manuel de A Moreninha Rio de Janeiro Typographia Franceza 1844 Disponível em httpsdigital bbmuspbrhandlebbm4000 Acesso em 28032018 MELO Carlos Magno de Mata Serena Disponível em httpsbooksgooglecombrbooksid10ZrSFZDWICprintsecfron tcoverdqmataserenahlptBRsaXved0ahUKEwj0y9SviJLaA hWGgJAKH e2hDXoQ6AEIJzAAvonepageqmata20serenaf false Acesso em 24 de março de 2018 MENDES Iba Macunaíma Disponível em httpsanderlei combrPDFMariodeAndradeMariodeAndradeMacunaimapdf Acesso em 22 de março de 2018 MOREIRA Raquel Black Fugir não vai adiantar Rio de Janeiro Planeta Literário 2015 PASSOS Jacinta Coração Militante Disponível em https booksgooglecombrbooksidG0eqCgAAQBAJpgPP1dqcoraC 3A7C3A3omilitantehlpt BRsaXved0ahUKEwiJhuejmJLaAhUBHJAKHVPSBREQ6AEIJzAA vonepageqcoraC3A7C3A3o20militanteffalse Acesso em 20 de março de 2018 PENSADOR EU E A TÁBUA Rio de Janeiro Sony Music 1997 Disponível em wwwvagalumecombrgabrielpensadoreuea tabuahtml Acesso em 25 mar 2018 SATER Tocando em frente Rio de Janeiro Sony Music 1992 Disponível em wwwvagalumecombralmirsatertocandoem frentehtml Acesso em 28 mar 2018 SILVA Jorge Henrique Pais da CALADO Margarida Dicionário de termos de arte e arquitectura 2005 Disponível em www estudogeralsibucptbitstream1031674101Primeira20partepdf Acesso em 28 mar 2018 57 TOURINHO Júlia Gama A mãe perfeita idealização e realidade Algumas reflexões sobre a maternidade UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 Disponível em wwwigtpscbrojsincludegetdocphpid90article24modepd f Acesso em 28 mar 2018 VEIGA José Jacinto A Hora dos Ruminantes 31ª ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 WAGNER Max Um dia folga Um conto de natal Disponível emhttpaultimapoesiademaxwagnerblogspotcombr201512diade folgaumcontodenataljohnhtml Acesso em 24 de março de 2018 59 Culturemas em Os pecados da tribo 1976 Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa Wendel Mesquita Ferreira O narrador de Os pecados da tribo logo no início do romance mostrase hesitante quanto à duração do regime que governava o lugar O enredo é narrado em um espaço de uma tribo Não há a insurgência de invasões tudo já está posto o autoritarismo e a hierarquia dominantes já vigoram sem que forasteiros os imponham Analice De Sousa Gomes 2017 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas e humaniculturemas BAMBU DA CERCA DO GALINHEIRO VELHO Me animei e para não me atrasar muito apanhei só três coités racheios ao meio tirei o miolo preparei os pavios despejei o azeite de um pedaço de trançado de bambu da cerca do galinheiro velho fiz um tabuleiro arrumei as luminárias em cima acendias e me toquei para o lago VEIGA 1991 p 120 A utilização recorrente de vocábulos que se referem à fauna do território em que se passa o romance ajuda a caracterizar a sua ambientação como um local rústico em que se utilizam elementos da natureza para construir objetos de uso cotidiano como a cerca do galinheiro feita de trançado de bambu Na literatura brasileira há referência ao termo na obra Iracema de José de Alencar A sahida do bosque sagrado encontrou Iracema a virgem reclinava num tronco áspero do arvoredo tinha os olhos no chão o sangue fugira das faces o coração lhe tremia nos lábios como gota de orvalho nas folhas do 60 bambu ALENCAR 1865 p 30 Ao longo da obra foram encontrados oito registros PEIXEBALÃO Pelo contexto da obra o peixebalão designado não é um baiacu comum e sim uma espécie criada pelo autor baseandose no conhecido peixe que chega a atingir proporções impossíveis na realidade No Dia da Carimbagem dos Potes cerimônia que só interessa a mulheres eu e Rudêncio aproveitamos a folga para pescar peixebalão VEIGA 1991 p 32 O Peixebalão é um dos nomes pelos quais o baiacu é conhecido Segundo Houaiss 2023 baiacu é designação comum a vários a vários peixes teleósteos são geralmente capazes de inflar o corpo quando se sentem ameaçados No trecho Rudêncio e o narrador utilizam um dia de folga devido a uma cerimônia tradicional do território para pescar esse tipo de peixe Em seu Nina romance Joaquim Manuel de Macedo recorre a este termo O interessante grupo chegara á ponte fronteira ao outeiro dos jacarés e portanto ao ponto em que para um lado a corrente se alarga formando o lago onde os cysnes tém a sua ilha e o peixeboi o sitio que mais frequenta MACEDO 1871 p 34 Há apenas um registro do vocábulo no livro CAITITU Nisso surgiram dois rapazes da casa dos Obelardos cada um carregando um caititu no ombro segurado pelos pés o sangue ainda escorrendo pelas feridas das flechadas VEIGA 1991 p 47 Referese a mamífero artiodátilo diurno e florestal encontrado dos EUA ao Norte da Argentina com cerca de 90 cm de comprimento e pelagem cinzaescura com uma faixa branca no pescoço em forma de colar A referência à caça dos caititus feita no trecho destacado serve para caracterizar a fauna da região em que se ambienta o livro mas também caracteriza o modo de vida dos habitantes que dependem da caça pesca e coleta para sobreviver 61 Euclides da Cunha recorre ao vocábulo em Os Sertões campanha de Canudos As lendas arrepiadoras do caapora travesso e maldoso atravessando célere montado em caititu arisco as chapadas desertas nas noites mysteriosas de luares claros CUNHA 1905 p 139 Este culturema aparece duas vezes na obra BORRACHUDOS Deilhe o cesto e acendi um cigarro para espantar os borrachudos enquanto esperava VEIGA 1991 p 50 É a designação comum a diversas espécies de insetos dípteros de 2 a 6 mm de comprimento e coloração negra Esse tipo de mosquito é típico de regiões quentes pois o frio dificulta a sua proliferação sendo um método natural de controle Nestes trechos do texto o autor prova tratarse de um mosquito próprio de região quente pois a pesca descrita na passagem ocorria no período diurno com temperatura elevada por isso a presença dos mosquitos prevalecia Na obra A mocidade de Trajano Visconde de Taunay já utiliza o termo Se não fosse freqüente apparecerem ahi também borrachudos e mosquitinhos fora encantador lugar de meditação e descanço mas cada hora que nelle passava Trajano custavalhe incharem as mãos de tão chupadas que erão TAUNAY 1871 p 108 Não há repetição deste léxico no texto MÚSCULOS DA BOCA Eu ria de doer os músculos da boca enquanto ele encarnava o sogro a sogra vários Couracas VEIGA 1991 p 32 Segundo Houaiss 2023 é um órgão formado por fibras que possuem a capacidade de se contrair e se alongar sendo classificados como cardíaco liso e estriado segundo suas características No trecho destacado o narrador reforça a descrição da intensidade do seu riso ao dizer que riu até sentir dor nos músculos da boca devido às imitações que seu irmão Rudêncio faz de figuras conhecidas dos dois Há três registros da expressão ao longo do texto 62 BREJO Eles ficaram tão satisfeitos que resolveram me contar um segredo sabiam de um lugar onde se pode pegar cairas Temos muita caira aqui mesmo no rego principalmente depois que chove O lugar secreto deles é um brejo depois da várzea dos buritis pouco frequentado por causa dos caldeirões fundos que já engoliram muito animal e dizem que gente também VEIGA 1991 p 49 Segundo Houaiss 2023 tratase de terreno alagadiço lodoso No trecho destacado o brejo aparece como o local no qual os personagens pescam cairas Em Til romance brazileiro José de Alencar se utiliza do vocábulo no seguinte trecho Estuavalhe a alma Entrava na venda para matar a sede que o abrasava mas a cachaça parecialhe chilra e insipida como a água do brejo ALENCAR 1872 p 47 Há dez ocorrências do culturema nesta obra demonstrando a intencionalidade do autor em caracterizar a geografia da região em que se passa a obra BORÁ Edualdo é o mais gentil me oferece leite de cabra mel de borá cigarro de mentastro mangarito cozido essas especialidades que reservamos para amigos VEIGA 1991 p 84 O dicionário Houaiss 2023 apresenta uma definição da palavra com o sentido de medida de capacidade para secos equivalente a quatro cândis No livro o termo se refere a uma espécie de abelha nativa do Brasil que pertente à família dos Meliponídeos cujo nome original vem do Tupi Heborá que significa o que há de ter mel No trecho em destaque o narrador descreve as especialidades que o vizinho Edualdo lhe oferece e que são todas típicas da fauna e da flora regional Há duas ocorrências do termo na obra 63 MANGARITO Um senhor que plantava mangarito num terreno perto do nosso começou a dizer que ele também não ia ter tempo VEIGA 1991 p 53 De acordo com Houaiss 2023 é uma erva nativa do Brasil de folhas sagitadas panduriformes com 15 cm de comprimento espata brancoesverdeada e espádice branco muito menor que a espata Nessa passagem o narrador e alguns vizinhos receberam ordens de autoridades do território para cavar um buraco próximo às suas casas e cada um apresenta uma justificativa para não poder cavar Mais uma vez o autor cita elementos da flora nativa do Brasil e caracteriza os seus personagens como pequenos agricultores familiares que se alimentam do que plantam Já são encontradas referências ao vocábulo na literatura brasileira em Caramuru de José de Santa Rita Durão Tem mimofos legumes que não cedem Aos que ufamos na Europa mais prezados Gingibre Gergelim que os mais excedem Mendubim Mangaló que usão guizados Alguns medicinaes com que dependem Do peito eítilicidios radicados Tem o Cará o Inhame e em cópia grata Mangaràs mangaritos e batata DURÃO 1781 p 206 Há quatro ocorrências do vocábulo na obra RAMAS DE MELÃODESÃOCAETANO Desdobramos o balão e examinamos parecia em ordem O cesto estava meio esburacado e nós o reforçamos com um trançado de cordas Acendemos uma fogueirinha no meio do terreiro quando as chamas ganharam força jogamos em cima uma das braçadas de ramas de melãodesãocaetano que faz muita fumaça VEIGA 1991 p 53 É uma trepadeira monoica da família das cucurbitáceas de folhas suborbiculares com cinco ou sete lobos ovadoblongos flores solitárias unissexuais e bagas comestíveis que se abrem como cápsulas com sementes vermelhas oleaginosas nativa de regiões tropicais cultivada pelos frutos por vários usos medicinais e 64 especialmente para extração de substância com efeitos semelhantes aos da insulina Há apenas uma ocorrência na obra ESTOQUES DE FUMÍGENOS DOS ARMAZÉNS DO ESTADO E explicou que as atuais circunstâncias eram as dificuldades momentâneas da indústria química Com o aumento atípico da taxa de natalidade dos ratos baratas percevejos cupins os estoques de fumígenos dos Armazéns do Estado se esgotaram e as fábricas ainda não haviam acertado passo com a demanda Enquanto isso as autoridades haviam instituído um sistema de prioridades para os casos mais urgentes Locais de ajuntamento esporádico logicamente iriam para o fim da lista VEIGA 1991 p 8 De acordo com Houaiss 2023 diz respeito ao que produz fumo ou fumaça No trecho destacado uma autoridade informa ao narrador que a Casa do Couro foi fechada para fumigação mas que não poderá ser fumigada em um futuro próximo por conta da falta de fumígenos no território Há duas ocorrências na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas e religiculturemas ERA DOS INVENTOS As ocorrências que observei enquanto meus companheiros falavam me levam a concluir que vamos entrar numa fase de retrocessos e rejeições semelhante àquela que precedeu o fim da Era dos Inventos VEIGA 1991 p 32 No trecho destacado o narrador expressa sua desconfiança de que um período conturbado semelhante ao que levou ao fim da Era dos Inventos vai começar por conta de acontecimentos que ele observou na Casa do Couro Só há uma ocorrência da expressão na obra 65 GRANDE FOME No século passado nos dias da Grande Fome um nutricionista descobriu que a fumaça da folha da nanica alimenta tanto quanto a fruta e o hábito voltou agora recomendado pelas próprias autoridades VEIGA 1991 p 104 Denominação criada pelo autor para nomear um período da história do território ocorrido no século anterior àquele em que ocorre a ação do romance em que a escassez de alimento foi extrema No trecho o narrador conta que no período da Grande Fome descobriuse que a fumaça da folha de bananeira nanica servia também para a alimentação caracterizando a flora da região Há apenas uma ocorrência da expressão na obra Culturemas relacionados a Instituições Culturais Religião criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas comuniculturemas MALEMBE Ótimo E muito breve não vai ver mais Estou dando um sufoco neles Não demora muito e eles pedem malembe VEIGA 1991 p 101 Segundo Houaiss 2023 referese ao cântico de quem pede misericórdia aos encantados nos candomblés caboclos No trecho Rudêncio conta que está propositadamente prejudicando as vidas dos vizinhos da família os Obelardos e que em breve eles pedirão misericórdia A utilização do termo malembe regionalismo típico da religião cabocla caracteriza a religiosidade do espaço em que se situa o texto Ao longo da obra só há um registro 66 Culturemas Relacionados à Estrutura Social Política ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas CASA DO COURO Pensando nesses pequeninos sinais e juntandoos estou inclinado a concluir que muito breve não teremos mais reuniões na Casa do Couro VEIGA1991 p 1 Em seu sentindo literal essa expressão poderia significar um lugar onde se vende couro porém J J Veiga a utilizou para designar um local destinado à discussão de assuntos políticos em uma espécie de assembleia Essa instituição é extinta logo ao início do romance quando a repressão política começa a ser exercida Nessa passagem o narrador que é irmão do personagem Rudêncio comenta que as reuniões que aconteciam na Casa do Couro nas quais se discutia sobre política possivelmente jamais voltariam a acontecer dado o fechamento injustificado da instituição Ao longo da obra a expressão em destaque aparece dezesseis vezes CAINCARA Eu pouco vou à casa deles porque o Caincara se encantou com os netos e praticamente se mudou para lá Não é que eu desgoste do velho mas de Caincara quero distância VEIGA1991 p 5 Tratase de um neologismo A palavra foi criada pelo autor e designa cargo fictício criado para a obra que aparenta se tratar de uma autoridade menor subalterna ao Umahla mas superior aos turunxas No trecho destacado o narrador expressa sua desconfiança e medo dos Caincaras a ponto de evitar visitar a família do irmão porque a esposa de Rudêncio é filha de um velho Caincara que encantado pelos netos passa muito tempo na cada deles Há vinte e uma ocorrências na obra 67 UMAHLA A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla para eles é o Sol no céu e o Umahla na terra julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA 1991 p 2 Vocábulo criado pelo autor para denominar os governantes do território em que se situa a obra O Umahla seria uma espécie de ditador uma vez que não há participação popular na sua escolha nem alguma forma de parlamentarismo Após a extinção da Casa do Couro o poder do Umahla passa a ser absoluto pois não restam instituições populares que ele consulte ao governar Vários golpes de Estado são empreendidos ao longo da obra depondo e sucedendo Umahlas sem a participação ou o conhecimento da população No trecho o narrador descreve a popularidade do Umahla mais recente que assumiu o poder após matar seu predecessor e depois criou um novo sistema de leis Foram encontradas cinquenta e quatro ocorrências do vocábulo KANKA Eles têm também o seu Umahla que lá se chama Kanka galo na língua deles VEIGA 1991 p 72 Palavra criada pelo autor para designar o cargo de governante de uma tribo vizinha os Aruguas que vivem sob um regime que imita o regime democrático No trecho o narrador explica que o Kanka é o equivalente de um Umahla para os Aruguas e descreve a forma como ele é escolhido através de uma votação com caráter ritualístico Foram encontradas seis ocorrências do vocábulo UBICHA meu pai foi eleito ubicha da Casa do Couro impedindo a entrada de indesejáveis desarmando malfeitores separando brigas acalmando visitantes exaltados VEIGA 1991 p 16 68 Vocábulo criado pelo autor para nomear empregados da Casa do Couro encarregados de apaziguar os ânimos nas assembleias da instituição Nesta passagem o narrador descreve a natureza diplomática de seu pai que fez com que ele se tornasse ubicha Foram encontradas duas ocorrências da palavra no texto MÉTODO DA CONSULESA Se o método da Consulesa não era grande coisa ela era VEIGA 1991 p 13 No dicionário Houaiss 2023 não há referência ao vocábulo Consulesa no entanto consta o significado de Cônsul como funcionário de uma embaixada ou de um consulado geralmente encarregado de manter contatos com autoridades e personalidades em cidades onde não está situada a embaixada fomentando relações culturais comerciais etc Desse modo Consulesa poderia se referir a uma mulher que exerce essas funções mas o contexto da obra indica que o vocábulo tem sentido apenas de esposa do Cônsul Durante toda a obra o protagonista utiliza a palavra Consulesa como um nome próprio sem jamais citar o nome da personagem de fato Essa caracterização do personagem apenas pela sua função social ou profissão é recorrente na obra Os Pecados da Tribo No trecho destacado o narrador demonstra seu interesse amoroso pela Consulesa pela primeira vez Há sessenta e duas ocorrências ao longo da obra ARMAZÉNS PROIBIDOS Quem mandou guardar em casa objetos que deviam ser recolhidos aos Armazéns Proibidos VEIGA 1991 p 17 Expressão utilizada pelo autor para nomear a instituição em que o narrador do livro trabalha e que reúne artefatos de tempos antigos de uso proibido para a população Na passagem destacada o narrador conta que seu irmão Rudêncio não sente piedade por aqueles que são punidos por 69 guardarem objetos proibidos em casa e os considera culpados pela própria desgraça Há onze ocorrências da expressão na obra QUATROCENTOS PRINCÍPIOS A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA 1991 p 2 Pelo contexto da obra inferese que a expressão se refere a um conjunto de leis uma espécie de constituição instituídas pelo governante máximo do território No trecho o narrador conta que após evaporar o Umahla anterior o novo Umahla instituiu novas regras que o povo o considera incapaz de transgredir Há apenas uma ocorrência ao longo da obra BANDOS DE TURUNXAS Primeiro fui levar Rudêncio em casa ele tinha bebido bem mais do que eu e andava desorientado Na estrada da Fundição de Lanças notamos que havia alguma coisa fora do comum no aldeamento Bandos de turunxas armados em guerra paravam as pessoas e as revistavam Sempre que posso evito contato com turunxas mas a companhia de Rudêncio genro de Caincara me animou a continuar VEIGA 1991 p 32 Vocábulo criado pelo autor para designar uma profissão do universo ficcional de sua obra cujas funções se assemelham às de um policial visto que em diversos momentos do livro os turunxas aparecem vigiando ou punindo a população A descrição das punições muitas vezes arbitrárias infligidas pelos turunxas e do medo que eles despertam nos habitantes pode ser interpretada como uma crítica à violência policialmilitar No trecho após um golpe ser empreendido pelo sogro de Rudêncio que se tornou o novo Umahla turunxas armados revistam os passantes mas o narrador apesar de não gostar de ter contato 70 com eles se sente seguro pela presença de Rudêncio Há trinta e duas ocorrências da expressão na obra GENTE DE PASSAMARA Da rampa do gramado víamos mais gente descendo para o lago em procissões cada vez mais compridas parecia que o território inteiro tinha resolvido ao mesmo tempo levar luminárias para o lago descia gente de Passamara de Guaxumã de Sanserá de Miramaia de Tunca Grande de todos os morros que circundam o nosso vale numa infinidade de luzinhas descendo dando voltas se emendando se esticando se espalhando ao alcançar a planície tomando os vários caminhos do lago VEIGA 1991 p 121 Nome fictício que o autor criou para uma das aldeias que ele utiliza para formar a geografia social que consta na obra Os nomes de aldeias fictícias criados pelo autor utilizam sempre sonoridades comuns à língua portuguesa e neste caso transmitem até mesmo a impressão de uma composição formada por dois vocábulos quando reconhecemos a palavra passa Há apenas um registro na obra GUAXUMÃ Da rampa do gramado víamos mais gente descendo para o lago em procissões cada vez mais compridas parecia que o território inteiro tinha resolvido ao mesmo tempo levar luminárias para o lago descia gente de Passamara de Guaxumã de Sanserá de Miramaia de Tunca Grande de todos os morros que circundam o nosso vale numa infinidade de luzinhas descendo dando voltas se emendando se esticando se espalhando ao alcançar a planície tomando os vários caminhos do lago VEIGA 1991 p 121 Nome fictício que o autor criou para nomear uma das aldeias presentes na geografia social da sua obra No dicionário Michaelis Online há menção ao vocábulo guaxuma como variação de guaxima que significa Denominação comum às diversas plantas de diferentes gêneros da família das malváceas e referência à sua etimologia do tupi 71 waxýma No campo da Geografia Guaxumã é o nome de uma praia localizada em Maceió Alagoas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra ATRASADOS ARUGUAS aqueles objetos vindos do tempo antigo que não nos servem para nada mas parecem ter muito valor para os atrasados Aruguas VEIGA 1991 p3 Nome criado pelo autor para designar um povo que vive próximo ao território no qual se passa a ação do romance e que é considerado inimigo por praticar costumes antigos muito semelhantes aos nossos e por seguir um regime que remete ao democrático No trecho destacado contase que os Aruguas apreciam objetos do tempo antigo que são proibidos no território em que habitam os protagonistas do livro Há dezessete ocorrências do vocábulo na obra ZUUMBAS O hábito de fumar charuto de folha de nanica foi herdado dos zuumbas antigos habitantes do território e esteve proibido durante muito tempo por motivos nunca explicados VEIGA 1991 p 104 Nome fictício criado pelo autor para nomear um dos povos apresentados no seu romance No trecho o narrador explica que os zuumbas são os habitantes antigos do território cujos costumes foram proibidos arbitrariamente Há apenas uma ocorrência do vocábulo no livro VIAGENS A ALTAMATA Fiquei intrigado Por que um bando de estranhos ia se esconder na várzea para comer estrume de cavalo Comentei o caso com mamãe ela se lembrou de uma conversa de meu pai há muitos anos quando ele contou que em uma de suas viagens a Altamata conheceu uma tribo que comia estrume de cavalo não para matar a fome mas 72 como meio de entrar em comunicação com o mundo invisível VEIGA 1991 p 24 Nome criado pelo autor para uma região fictícia do território em que se passa a ação do romance No trecho as autoridades atribuem a presença de um povo desconhecido no território ao objetivo de comer estrume de cavalo e a mãe do narrador rememora que o pai fez uma visita à Altamata onde conheceu uma tribo que o fazia por motivos religiosos Notese que mais uma vez o autor utiliza sonoridades comuns à língua portuguesa e uma composição dos termos alta e mata Foram encontrados quatro registros na obra EMBURREI Com isso fiquei sabendo que eu não era o único outro a acariciar os pés da Consulesa em nosso território Emburrei e não falei mais nada VEIGA 1991 p 14 Segundo Houaiss 2023 tem o sentido de ficar aborrecido e calado mostrarse melindrado ou sentido amuar fecharse Na passagem extraída o narrador se aborrece e se cala depois de descobrir que não é o único homem com quem a Consulesa se relaciona fora do casamento Há apenas uma ocorrência na obra ACUSADOS DE DERROTISTAS e aqueles que não se deixam enganar e fazem perguntas e apontam sinais indesejáveis de agravamento da doença são acusados de derrotistas e escorraçados de perto do doente VEIGA 1991 p 113 Segundo Houaiss 2023 referese a aquele que em conflitos acredita sistematicamente na derrota No trecho contase que há uma tentativa de mascarar a piora no estado de saúde de um personagem não nomeado Por isso aqueles que apontam os sinais dessa piora são acusados de serem derrotistas Há apenas uma ocorrência na obra 73 PLANO FULPRUF Saiu tudo errado Um trabalho tão bem planejado Um plano fulpruf como dizemos Quem diria Tanta coisa surgindo de repente para atrapalhar VEIGA 1991 p 105 Verbete adaptado do termo inglês foolproof infalível e que o autor utilizou como mostra o fragmento a seguir para designar um plano infalível Pelo contexto podese inferir que o vocábulo se configura como uma gíria local haja vista o comentário como dizemos Ao longo da obra há apenas uma ocorrência APEAR Rudêncio passou aqui rapidamente a cavalo com um cacho grande de bananas de cada lado da sela Disse que precisava muito falar comigo mas não quis apear VEIGA 1991 p 45 Segundo Houaiss 2023 referese a fazer descer ou descer de montaria ou veículo desmontarse A palavra típica da fala sertaneja aparece no trecho em que Rudêncio tendo sido investido de maior autoridade pelo novo Umahla vai a cavalo apressadamente à casa de sua infância para propor um cargo de autoridade ao irmão Em seu livro O sertanejo romance brasileiro Volume 2 José de Alencar também utiliza o vocábulo O possante animal tombou por terra como si um clava o abatesse Sem apearse o sertanejo retirou o laço e com uma rapidez de maravilhar deu um talho no rejeito das mãos com o que peou completamente o animal e tornou o inofiensivo ALENCAR 1875 p 65 Há na obra apenas uma referência a esta palavra CALHOU cada um se equipou com uma pá ou uma picareta conforme calhou pegar primeiro a pressa não deixava escolher VEIGA 1991 p 54 De acordo com Houaiss 2023 dentre outras acepções significa ocorrer por acaso darse acontecer 74 No trecho os personagens estão sendo obrigados pelas autoridades a cavar um buraco sem qualquer justificativa Sob ameaça e vigiados de perto eles se apressam para pegar os instrumentos e começar a cavar A expressão calhou dá um tom coloquial à passagem A expressão também é utilizada por Aluísio Azevedo em O Mulato E afiançavalhe que o casamento estavalhe mesmo a calhar com aquelle gênio e com aquella economia seu Dias dava um bom marido AZEVEDO 1881 p 44 Há apenas uma ocorrência ao longo do livro ESTREBUCHANDO Por sorte uma franga que ciscava perto veio correndo provou o caldo deu uns pulos e caiu estrebuchando arrepiada Olhei para Edualdo ele olhou para mim e arregalou os olhos de compreensão VEIGA 1991 p 29 e 30 Segundo Houaiss 2023 significa agitarse convulsivamente estrebuchando estremecerse sacudirse A expressão é coloquial e por se referir geralmente a animais é mais usada em regiões rurais No trecho destacado a irmã do narrador Zulta tenta envenenar seu namorado depois de uma discussão mas o narrador consegue evitar isso derramando o líquido envenenado no chão que logo depois é engolido por uma galinha que morre estrebuchando No romance Um noivo à duas noivas Joaquim Manuel de Macedo também se utiliza do vocábulo A minha idea a minha esperança era forçala á encoatrarse comigo porque então á chorar á estorcerme á estrebuchar á seos olhos eu suppunha impossível que não movesse a sua piedade que não conseguisse reavivar o seo doce e celeste amor MACEDO 1871 p 62 Há duas ocorrências na obra ESQUIPADO esporeou o cavalo que se assustou e saiu esquipado e soltando ar VEIGA 1991 p 60 75 Segundo Houaiss 2023 a acepção que mais se adequa ao contexto é Regionalismo Brasil Dizse de ou certa andadura do cavalo em que este levanta simultaneamente a pata dianteira e a traseira do mesmo lado No trecho o personagem Rudêncio ao receber uma recusa a uma proposta feita ao irmão fica irritado e esporeia subitamente o cavalo que em resposta fica esquipado A utilização do vocábulo regional pouco conhecido caracteriza regionalismo linguístico Há apenas uma ocorrência do termo na obra CANCHA devo ou não deixar a cancha e o território mas deixar mesmo como quem joga fora uma coisa que não quer nem ver mais VEIGA 1991 p 119 De acordo com Houaiss 2023 referese a lugar de pousio ou parada costumeira de gente ou de animais Essa acepção indica uma parada temporária ainda que recorrente no entanto na obra estudada as famílias vivem nas canchas o que faz com que se subentenda que o que conhecemos como casa seja referido no livro como cancha No trecho o narrador se pergunta se deve abandonar sua canchacasa e o território para sempre Sua hesitação em deixar a cancha demonstra que não é uma habitação de caráter temporário Há nove ocorrências ao longo da obra BALELA Eu penso é que há um mistério em volta desse bicho Ou ele não existe ou é mais difícil de ser visto do que o próprio Umahla e nem seu irmão já chegou perto dele É tudo balela num sentido ou noutro VEIGA 1991 p 80 Segundo Houaiss 2023 referese a afirmação ou boato infundado ou falso Na passagem a expressão se refere ao boato da existência de um animal de estimação do Umahla que seria dotado da capacidade de aprendizagem de habilidades humanas que o Sr Manlio acredita 76 não ser verdadeiro Apenas uma ocorrência foi encontrada ao longo da obra CABRA Quem vai apertar sou eu Você não precisa aparecer Me dá o nome desse cabra que eu resolvo o assunto hoje mesmo Hoje não amanhã VEIGA 1991 p 100 Segundo Houaiss 2023 entre outros significados referese a indivíduo determinado sujeito cara Nessa passagem Rudêncio se oferece para ameaçar o dono de uma olaria na qual seu irmão se disse interessado A utilização do vocábulo cabra reforça a coloquialidade regional do diálogo Há apenas um registro do termo nessa acepção ao longo da obra no entanto em referência ao animal denominado cabra há mais três ocorrências MUNDÉU Não fizeram mal a ninguém foram até amáveis com quem precisou passar na ponte e essa amabilidade foi justamente o que nos deixou desconfiados Se tudo estivesse normal eles teriam se comportado de outra maneira como fizeram aqueles que nos mandaram abrir o buraco que está aí escancarado até hoje transformado em lamento e mundéu para gente e animais VEIGA 1991 p 73 Segundo Houaiss 2023 referese a uma armadilha de caça no entanto na obra o vocábulo se refere a um buraco cavado por homens e que continuava aberto semelhante a um mundéu armadilha criada para apanhar homens ou animais Na passagem o narrador se mostra desconfiado da presença de homens estranhos em uma ponte do território principalmente porque eles foram amáveis ao invés de darem as ordens arbitrárias com as quais a população já se acostumara e que resultara no buraco inútil e perigoso a que ele se refere como mundéu Apenas um registro foi encontrado ao longo da obra 77 DESENTULHADO Não viemos perguntar se podem ou não Esse buraco tem que ser aberto hoje Antes do pôr do sol ele tem que estar furado e desentulhado VEIGA 1991 p 54 Designação da forma nominal particípio do verbo desentulhar e que conforme Houaiss 2023 referese ao ato de remover entulho o lixo de desobstruir No texto o coloquialismo aparece na fala de uma autoridade do território que ordena arbitrariamente que a população cave um buraco e o esvazie Há apenas uma ocorrência na obra ABUSOS DOS DE CIMA Antes a gente ainda tinha certas pequenas regalias quando havia abusos dos de cima uma queixa na Casa do Couro às vezes dava resultado agora não há a quem se queixar VEIGA 1991 p 55 A expressão é utilizada ao longo da obra para fazer referência a autoridades e figuras em posição de poder No trecho o narrador reclama que com a extinção da Casa do Couro não há mais a quem recorrer em casos de abuso de poder por parte de autoridades Há três ocorrências da expressão com esse sentido ENCALACRADO É melhor não dizer nada Quanto mais falar mais encalacrado fica VEIGA 1991 p 52 Designação da forma nominal particípio do verbo encalacrar que conforme Houaiss 2023 referese a meterse em empreendimento prejudicial embaraçarse No trecho um turunxa ameaça o narrador dizendo que quanto mais ele falar mais se prejudicará mesmo não tendo sido flagrado cometendo nenhum ato infracional A coloquialidade do termo contribui para a verossimilhança da informalidade do diálogo Há três ocorrências do vocábulo e da variação encalacrar ao longo da obra 78 RUDÊNCIO Tanto que esta tarde vou pescar com meu irmão Rudêncio Ele na certa vai me sondar sobre a reunião de ontem e já armei minhas defesas Rudêncio é meu irmão pessoa razoavelmente correta e tudo mais mas é casado com filha de Caincara e não devo me abrir com ele VEIGA 1991 p 2 Nome de batismo do irmão do narrador Não foram encontradas informações sobre sua origem o que indica que foi criado pelo autor para seu livro configurando um hápax Esta expressão designa uma palavra que se utilizou ou registrou apenas uma vez num corpus ou um vocábulo do qual só se tem um exemplo numa época dada num autor ou na totalidade de uma obra No trecho o narrador apresenta seu irmão ao leitor pela primeira vez já demonstrando que possui certa desconfiança em relação à associação dele com o poder É importante observar que o narrador da obra jamais é nomeado e que a maioria dos outros personagens é identificada apenas através da sua profissão da sua função dentro daquela sociedade enquanto Rudêncio é um dos únicos personagens a ser referido pelo seu próprio nome durante toda a obra Seu nome é citado cento e quarenta e seis vezes ao longo da obra uma recorrência bastante expressiva ZULTA Minha mãe e Zulta tinham ido ajudar na evaporação de uma amiga que morava do outro lado da serra e só voltariam no dia seguinte porque a evaporação é uma cerimônia demorada começa de tardinha e acaba ao amanhecer VEIGA 1991 p 4 Nome de batismo da irmã do narrador Não foram encontradas informações sobre a ocorrência do vocábulo em contextos de uso da língua portuguesa apenas referências a ele como sobrenome comum em Israel No trecho a mãe e a irmã do narrador deixam a casa para participar de uma cerimônia de evaporação deixando os irmãos sozinhos com a futura noiva de Rudêncio O nome é citado cinquenta vezes ao longo da obra 79 EDUALDO Edualdo quis que eu provasse do vinho disse que era de uma reserva especial Acreditei por que ele estava realmente querendo agradar Talvez eu tomasse mesmo um pouco mas noutra ocasião Apanhei o pote para guardar e aproveitei para ver porque Zulta demorava VEIGA 1991 p 29 Nome de batismo do namorado de Zulta e vizinho da família do narrador Provavelmente se trata de variação do nome de origem anglosaxã Eduardo mas não foram encontradas informações a respeito do surgimento dessa variação No trecho após uma briga de casal entre Zulta e Edualdo o rapaz vai à casa vizinha trazendo vinho e buscando uma reconciliação No entanto Zulta acaba por tentar envenenálo e só não consegue realizar seu intento porque o irmão a impede O vocábulo é citado vinte e cinco vezes na obra VELHO MANLIO Já que eu estava batendo pernas lembreime de passar na casa de Rudêncio se eu tivesse sorte podia ver o tão falado uiua e depois fazer uma descrição objetiva para o velho Manlio VEIGA 1991 p 69 Nome de batismo do patriarca da família Obelardo vizinha da família do narrador Não foram encontradas informações sobre sua origem nem referências em língua portuguesa apenas citações do vocábulo como nome próprio comum na Itália No trecho o narrador expressa sua intenção de conhecer o uiua para satisfazer a curiosidade de Manlio em relação ao animal O nome aparece vinte vezes na obra OS OBELARDOS Rudêncio implicou mesmo com os Obelardos e só um golpe de sorte um milagre pode tirálos da bigorna VEIGA 1991 p 97 Sobrenome da família vizinha à família do narrador Pela semelhança com o nome próprio Abelardo comum no Brasil e pela ausência de registros do nome Obelardo em qualquer outra fonte 80 inferese que o autor tenha tomado Abelardo como base para criar a variação que nomeia seus personagens No trecho o narrador explica que por conta de uma implicância pessoal com a família Obelardo Rudêncio ao atingir uma posição de poder se dedicou a prejudicálos O vocábulo ocorre trinta e seis vezes na obra TININDO Todo mundo estava inspirado e tinindo quem quis falar falou o que quis sem medo de desagradar VEIGA 1991 p 1 Segundo Houaiss 2023 referese a soar vidro metal louça etc de maneira aguda ou vibrante Pelo contexto é possível perceber que o vocábulo não aparece em seu sentido literal e sim com o sentido de algo que está impecável como se costuma dizer informalmente Ao longo da obra a expressão aparece uma vez LUZEIROS Notei ainda que um grupo de indivíduos estranhos à Casa espalhados pelo grande salão contava e anotava os luzeiros as estátuas os defumadores as esteiras banquetas VEIGA 1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 referese a qualquer aparelhagem que produza foco luminoso Nessa passagem indivíduos desconhecidos fazem uma espécie de inventário dos bens da Casa do Couro e o narrador infere que eles têm a intenção de leiloálos Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez QUILHA Depois de muito andar e muito discutir a Comissão Executiva escolheu e marcou o lugar na floresta onde será lançada a quilha é no fundo mais ou menos plano de uma grota entre dois morros cobertos de mata fechada lugar de difícil acesso onde poderemos trabalhar sossegados VEIGA 1991 p 109 81 Segundo Houaiss 2023 referese a peça da estrutura da embarcação disposta longitudinalmente na parte mais inferior e à qual se prendem todas as grandes peças verticais da ossada que estruturam o casco A palavra faz parte de um vocabulário muito específico o náutico e por isso não é facilmente compreendida No contexto da obra serve para descrever a utopia da construção de um navio no qual os habitantes do território depositam suas esperanças Há apenas um registro na obra COITÉS Depois voltei lá dentro quebrei dois ovos num coité joguei uma pitada de sal em cima e vireios de uma vez para não sentir o gosto VEIGA 1991 p 119 Segundo Houaiss 2023 referese a cuia ou cuieira No entanto considerando o fragmento abaixo percebese que o autor utiliza a palavra coité para se referir a um recipienteobjeto dentro do qual se põe algo para comer isto é já não se trata mais de uma cuia fruto da cuieira e sim de um instrumento construído pelo homem a partir do fruto No trecho o narrador passa a noite em claro se sentindo insatisfeito com a situação em que se encontra sua vida e o território que habita e ao despertar desses pensamentos se sente faminto a ponto de comer ovos crus O uso do vocábulo coité indica a simplicidade e a rusticidade dos instrumentos utilizados na sociedade criada por Veiga para seu livro Há oito registros ao longo da obra PICARETA mas no fim cada um se equipou com uma pá ou uma picareta conforme calhou pegar primeiro a pressa não deixava escolher Ao segundo apito já estávamos quebrando o chão com afinco VEIGA 1991 p 54 Segundo Houaiss 2023 referese a um instrumento que consiste em uma peça de ferro com duas pontas aguçadas que se prende a um cabo geralmente de madeira e serve para escavar a 82 terra arrancar pedras etc Na obra o uso da picareta caracteriza a região como um ambiente sertanejo em que esse tipo de instrumento ainda é utilizado para cavar a terra Este termo aparece sete vezes no texto EMBORNAIS Estiveram aqui uns meninos com um saco cheio de artefatos Aceitei a proposta apanhei o cesto e saí com os garotos Num instante eles encheram o meu cesto e mais os embornais que levavam Os meninos acharam isso um bom divertimento e fizeram o mesmo com algumas que retiraram dos seus embornais VEIGA 1991 p 50 De acordo com Houaiss 2023 referese a saco que contém a comida das cavalgaduras bornal sacola Na obra este instrumento é utilizado por meninos que pretendiam pescar cairas e serve para guardar o pescado Há a repetição deste termo sete vezes no texto BERRANTE Ainda não tínhamos acabado de comer a papa da manhã chegaram uns homens no descampado aí em frente tocaram o berrante e todo mundo atendeu correndo VEIGA 1991 p 53 De acordo com Houaiss 2023 diz respeito àquilo que berra àquilo que chama ou corneta de chifre com que os boiadeiros tangem o gado Na obra o termo é empregado no seu sentido literal já que como é possível observar no trecho destacado os turunxas chegam a cavalo e utilizam o instrumento para anunciar sua chegada Este vocábulo aparece seis vezes na obra o que caracteriza uma intencionalidade do autor em enfatizar a utilização desse instrumento regional SOVELA Ele fez mais uma fileira de furos no couro com a sovela VEIGA 1991 p 63 83 Segundo Houaiss 2023 é um Diacronismo antigo instrumento formado por uma espécie de agulha reta ou curva com cabo com que os sapateiros e correeiros furam o couro para o costurar No trecho o Sr Manlio conversa com o narrador enquanto costura um colete de couro A utilização de uma ferramenta tão antiga e a preparação artesanal das peças de couro ajuda a caracterizar o território ficcional do livro como um local de tecnologia escassa em que os habitantes se voltam para o trabalho em profissões tradicionais e manufatureiras O vocábulo aparece duas vezes na obra JIRAU Mamãe recolheu a alegria subiu para o jirau e deitouse calada VEIGA 1991 p 18 Segundo Houaiss 2023 referese a armação de madeira semelhante a estrado ou palanque que pode ser usada como cama depósito de utensílios domésticos secador de frutas ou quando posta em cima de um fogão como fumeiro de carne toucinho peixe etc No trecho a mãe dos protagonistas que estava doente se alegra ao receber presentes do filho Rudêncio mas depois que ele comenta que sua doença é fingimento ela se entristece e volta a se deitar no jirau do qual quase não saía por conta da enfermidade Treze registros foram encontrados ao longo da obra uma recorrência bastante expressiva que indica a intenção do autor de caracterizar o lar de seus personagens através do mobiliário simples e típico do interior do Brasil RODILHA DE PANO DEBAIXO DA REDE Vi que o velho ficou feliz com a promessa tanto que me ofereceu um gole da cuia de aguada que descansava numa rodilha de pano debaixo da rede VEIGA 1991 p 64 De acordo com Houaiss 2023 tratase de rosca de pano para pôr sobre a cabeça no transporte de carga pano ou trapo us para limpa qualquer coisa que se enrole que se arrume sem muito cuidado 84 No trecho o vizinho do narrador que se chama Manlio fica feliz com a promessa de que será levado para conhecer o uiua e oferece ao narrador uma bebida que está apoiada numa rodilha embaixo de sua rede Desse modo inferese que a rodilha seja utilizada no contexto também como um objeto para apoiar outros objetos em conformidade com a caracterização rústica e simples do mobiliário das habitações dos personagens Visconde de Taunay se utiliza do termo em sua obra Innocencia Este ente singular trajava uma comprida blusa parda sobre calças que por haverem pertencido a quem quer que fosse muito mais alto formavam em baixo volumosa rodilha apezar de estarem dobradas TAUNAY 1872 p 70 Há duas ocorrências do vocábulo ao longo da obra CEPO DO LADO DE FORA DE NOSSA CANCHA Numa noite de muito calor quando conversávamos os três sentados no cepo do lado de fora de nossa cancha VEIGA 1991 p 4 Segundo Houaiss 2023 referese a pedaço ou tronco de árvore cortado perpendicularmente ao eixo No trecho o narrador conta que a ideia de que Rudêncio se casasse com Joanda surgiu numa noite em que os três estavam sentados no cepo do lado de fora da casa fugindo do calor A utilização do cepo objeto rústico de madeira como elemento do mobiliário coadunase com a atmosfera rural da obra e revela até mesmo um costume do interior do Brasil o de sentar ao cair da tarde e início da noite na frente de casa para conversar com a família e os amigos Ao longo da obra a expressão em destaque aparece treze vezes TREMPE Vovó era muito velha e freqüentemente dormia em sua banqueta ao lado da trempe e deixava o fogo apagar VEIGA 1991 p 4 85 Segundo Houaiss 2023 referese uma chapa de ferro com buracos arredondados colocada em fogão a lenha sobre o espaço destinado ao fogo para sustentar as panelas No trecho o narrador conta que sua avó era muito velha e já não conseguia mais executar tarefas domésticas porque acabava dormindo e por isso a ajuda da noiva de Rudêncio seria bemvinda O uso do vocábulo trempe revela que o fogão a lenha era utilizado para cozinhar as refeições da família instrumento rudimentar bastante utilizado no interior do Brasil Rachel de Queiroz na obra O Quinze já fazia referência ao termo como no trecho Já as mulheres tinham improvisado uma trempe e accendiam o fogo E a carne foi assada sobre as brazas chiando e estalando o sal QUEIROZ 1930 p 47 Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas JENIPAPOS CAÍDOS Puxei um balde de água da cisterna apanhei uns jenipapos caídos davam uma boa salada e de repente me veio um pressentimento VEIGA 1991 p 29 Segundo Houaiss 2023 tratase de fruto do jenipapeiro amarelopardacento com polpa aromática e comestível de que se fazem compotas doces xaropes licor etc e de que se extrai tinta preta us pelos indígenas Já de acordo com registro na Enciclopédia Agrícola Brasileira o jenipapo é uma Fruteira de conhecimento pré colombiano no Brasil o jenipapeiro é a mais conhecida e cultivada das rubiáceas nativas cuja primeira referência escrita no Brasil data de 1584 pelo padre Fernão Cardim SOUZA 1995 p 172 No trecho extraído da obra o narrador se afasta para os fundos do terreiro para dar privacidade a Zulta e Edualdo enquanto eles se reconciliam A preferência do autor pela citação de frutas e plantas nativas do Brasil revela sua intenção de exaltação do que é regional Ao longo do livro o vocábulo aparece apenas uma vez 86 CINZA DE SEMENTE DE JATOBÁ Passoume o canudinho mas antes de me servir eu quis saber o que era Cinza de semente de jatobá VEIGA 1991 p 42 Segundo Houaiss 2023 significa árvore de até 40 m Hymenaeacourbaril principal fonte para a produção de copal nativa do México ao Brasil comum na Amazônia com casca tanífera folhas com dois folíolos coriáceos pequenas flores brancas em cimeiras terminais e frutos quase negros cilíndricos duros com polpa farinácea amareloclara doce nutritiva e laxante árvore de até 20 m Hymenaeacourbaril var stilbocarpa nativa do Piauí ao Paraná com as mesmas propriedades da sp anterior tb us em arborização e reflorestamento Já de acordo com o a ONG Cerratinga a origem de seu nome vem do tupi e quer dizer árvore com frutos duros No trecho a Consulesa oferece ao narrador um líquido ao qual ela acrescentou pó de semente de jatobá que no contexto do livro causa efeitos psicoativos semelhantes aos da Cannabis Não foram encontrados indícios de que o pó de semente de jatobá seja usado para esses fins na realidade o que sugere que o autor tenha criado este uso fictício para fazer alusão à maconha Em Iracema José de Alencar faz alusão ao termo e inclusive o utiliza para nomear um personagem O luar passava por entre ás folhas do jatobá e o sorriso pelos lábios do varão possante que tomara seu nome e robustez ALENCAR 1865 p 89 Há sete ocorrências do vocábulo na obra BOM PACU Por isso acho melhor fazer de conta que penso como todo mundo para poder continuar pescando e comendo o bom pacu VEIGA 1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 referese a um tipo de peixe Metynnismaculatus encontrado nas bacias dos rios Amazonas São Francisco e Paraguai de até 18cm de comprimento corpo com manchas discoides castanhas flancos cinzentos e uma mancha alaranjada acima do opérculo piranha 87 Nesse trecho o narrador diz que apesar de sua desconfiança em relação ao novo governante considera mais prudente fingir concordar com a opinião positiva que a população do território tem sobre ele para poder continuar levando uma vida tranquila O vocábulo destacado ajuda a caracterizar a alimentação e o modo de vida dos personagens que se dedicam a atividades como a pescaria para obter alimento e consomem peixes típicos do Brasil como o Pacu Ao longo da obra a palavra aparece uma vez CANILHA O vocábulo não consta no dicionário Houaiss mas no Dicionário Online há menção a ela com o significado de Peça da lançadeira em que o fio está enrolado bobina No contexto da obra no entanto a palavra apresenta outro sentido sendo utilizada pelo autor para se referir a uma espécie de bebida alcóolica frequentemente consumida pela população e descrita como um líquido azulado mais forte que vinho Logo que chegamos tomamos uma rodada de canilha para ganhar coragem entramos na água e pegamos dois balões de bom tamanho VEIGA 1991 p 32 No trecho destacado o narrador e seu irmão Rudêncio bebem canilha antes de entrar na água para uma pescaria Há vinte e uma ocorrências do vocábulo no livro CAIRA Não há um significado reconhecido pelo dicionário Houaiss Provavelmente o vocábulo foi criado pelo autor porém pelo contexto da obra o protagonista parece referirse a um animal conhecido no Nordeste brasileiro como Gia nome popular dado às rãs comestíveis sabiam de um lugar onde se pode pegar cairas enormes e quase sem leite se eu quisesse me levariam lá Temos muita caira aqui mesmo no rego principalmente depois que chove mas são pequenas e muito leitosas só o trabalho de tirar o leite me desanima de pegálas Quando eu retirava as cairas do cesto para jogar no brejo foi que reparei direito nelas São gordas e quase redondas rosadas nas costas e azuladas na barriga e 88 no papo e os dedos têm unhas moles como unha de rato VEIGA 1991 p 49 Há no texto vinte e cinco referências à palavra caira O autor parece querer caracterizar a região em que se passa a história partindo da fauna da região Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas RECORECO Adiante encontramos um bando de rapazes fantasiados tocando recoreco pandeiro frigideira numa barulheira irritante VEIGA 1991 p 14 Segundo Houaiss 2023 referese a instrumento de percussão feito de um gomo de bambu seco com entalhes transversais sobre os quais se esfrega uma vareta produzindo som rítmico para acompanhamento em música popular Nessa passagem se descreve o encontro entre o narrador e um grupo de rapazes que tocavam instrumentos de forma bastante festiva às margens do lago do lugarejo Todos os instrumentos citados no trecho são bastante utilizados na música popular brasileira Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez CISCAR Finalmente parou de ciscar e perguntou por Zulta Bem como eu havia imaginado VEIGA 1991 p 27 Segundo Houaiss 2023 significa tirar ou afastar ciscos gravetos folhas esgaravatar solo revolver cisco Nessa passagem Edualdo hesita em perguntar por Zulta e em uma comparação com a ação típica da galinha o narrador utiliza a expressão ciscar para descrever essa hesitação e a forma como Edualdo tenta iniciar outros assuntos antes de chegar ao ponto Ao longo da obra a palavra ocorre apenas uma vez 89 ALISAR OS PÉS DAS MOÇAS Nadar no lago dançar de noite em volta de fogueiras tomar canilha alisar os pés das moças tudo isso é muito bom mas não faz a grandeza de um território VEIGA 1991 p 47 A expressão tem o sentido de tornar liso aplainar nivela Figurado abrandar amaciar suavizar Poupar castigos a tratar com carinhos paparicar Esta expressão na obra aparece significando não apenas como um ato de acariciar os pés de uma mulher mas pode ser entendido como namorála ou manter um relacionamento passageiro de uma noite por exemplo Há apenas uma ocorrência FAZER CORPO MOLE Procuramos fazer corpo mole imagine abrir um buraco tão espaçoso assim de uma hora para outra com o sol já começando a queimar forte VEIGA 1191 p 53 Aa palavra mole significa àquele que falta energia vigor Portanto a expressão corpo mole na obra referese a alguém que age com preguiça ou falta de ânimo ou seja com moleza fragilidade No trecho o narrador faz corpo mole de propósito para evitar cumprir a tarefa arbitrária que lhe foi delegada pelas autoridades Há três ocorrências desta expressão na obra FAZER DAS TRIPAS CORAÇÃO Tentei mudar para um lugar mais fofo um dos homens do berrante percebeu a manobra e me ameaçou com o chicote de birro de boi O jeito era fazer das tripas coração e continuar cavando o meu mau pedaço VEIGA 1991 p 55 Segundo Correia e Teixeira 2007 a expressão significa conformarse dominarse vencendo a própria fraqueza resistir mais que o possível fazer das fraquezas força suportar com relutância com paciência Na obra a expressão aparece em um trecho importante em que o protagonista tem que fazer um esforço físico extremo para 90 conseguir obedecer às ordens arbitrárias das autoridades Esta expressão aparece apenas uma vez na obra SER MUITA SOPA Se não for mais tarde se vê É muita sopa um paisano sozinho encher um cesto grande e vários embornais de cairas corderosa sem estar desrespeitando alguma lei VEIGA 1991 p 52 A palavra sopa significa alimento que consiste num caldo geralmente à base de legumes que se serve no começo das duas principais refeições Assim podese entender a expressão é muita sopa a partir da ideia deste termo ou seja significando moleza facilidade pelo fato de a sopa ser sempre líquida e de fácil mastigação No texto a expressão aparece na fala de um turunxa que acha que não é possível que um homem qualquer consiga sozinho pegar muitas cairas e ainda escapar facilmente sem estar infringindo leia alguma Não há repetição desta expressão na obra ÊPA Êpa Lá vem besteira disse Rudêncio sentando ereto VEIGA 1991 p 33 É uma interjeição que exprime surpresa espanto ou contrariedade e é muito utilizada na linguagem coloquial No trecho destacado Rudêncio expressa seu descontentamento ao ser parado por turunxas ao voltar de uma pescaria com o irmão O vocábulo ajuda a retratar a linguagem oral marcada pelo regionalismo linguístico na obra Há três ocorrências da expressão no livro PULGA NA VIRILHA Não gostei foi de certas ocorrências marginais que observei durante os trabalhos e que me deixaram com uma pulga na virilha como dizemos aqui VEIGA 1991 p 1 Essa expressão também foi criada pelo autor J J Veiga adaptando a expressão pulga atrás da orelha que é bastante 91 recorrente nas falas dos sertanejos e significa desconfiar de alguma coisa ou alguém Durante a leitura percebese que se trata de uma espécie de gíria ou expressão coloquial comum naquela sociedade e que tem significado semelhante ao da expressão que conhecemos visto que o narrador conta que certas ocorrências marginais na Casa do Couro o deixaram desconfiado Ao longo da obra a expressão apareceu duas vezes PONDO AS MANGUINHAS DE FORA Também nunca o arbítrio oficial aproveitando a complacência dos órgãos da opinião se mostrou mais resoluto em pôr as manguinhas de fora Está pondo as manguinhas de fora Só o bobo do meu sogro não vê VEIGA 1991 p 86 O escritor regionalista José Lins do Rêgo no romance Pedra Bonita também utilizou a expressão O juiz andava botando as manguinhas de fora desmoralizando a justiça Segundo o blog Ditos Curiosos tem o mesmo sentido de pôr as unhas de fora ou revelar subitamente intenção abusiva ou imprevista Rui Barbosa em artigo em A Imprensa em 23011899 já utilizava a expressão No trecho destacado Rudêncio conta ao irmão que o uiua está demonstrando atitudes manipuladoras no palácio e que o Umahla seu sogro e governante do território não está percebendo Há apenas uma ocorrência na obra EVAPORAR A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 significa transformarse converter se líquido em vapor ou ainda fazer desaparecer ou desaparecer Podemos tomar esse último sentido como norte para compreender o significado atribuído ao vocábulo pelo autor em Os 92 Pecados da Tribo visto que parece ser esse o modo como a população se refere à morte nãonatural que não deixa de ser um modo de fazer outrem desaparecer No trecho o narrador conta que o novo Umahla chegou ao poder depois de assassinar o Umahla antigo mas que mesmo assim o povo o apoia Há vinte e duas ocorrências do vocábulo e das variações evaporaram evaporado e evaporação CERCALOURENÇO NEGACIADO O desejo de saber o que se passa nos leva a procurar outras pessoas e quando encontramos algum conhecido a conversa fica naquele chovenãomolha naquele cercaLourenço negaciado cada um com medo do outro VEIGA1991 p 73 Segundo o dicionário Aulete Digital significa se aproximar de uma pessoa com uma série de rodeios de alusões ou insinuações para se beneficiar de algo ou encaixar um pedido No trecho o narrador descreve o clima de desconfiança que se estabeleceu entre os habitantes do território e que os leva a não perguntar diretamente o que querem uns aos outros quando se encontram e sim fazer apenas insinuações vagas Há apenas uma ocorrência da expressão ao longo da obra NUVEM PESADA Os coletores de artefatos receberam ordem de suspender a coleta Proibiram o trânsito de carroças no centro Apertaram a vigilância sobre o consumo de canilha As crianças não podem mais soltar papagaio Tudo isso compõe essa nuvem pesada que vem baixando sobre nós VEIGA 1991 p 72 A expressão aparece no texto como metáfora para uma atmosfera sombria de medo e proibição que se instaura como uma nuvem pesada baixando sobre a população No trecho o narrador enumera os recentes acontecimentos negativos que fizeram com que ele sentisse que uma nuvem pesada baixara sobre o território A expressão aparece apenas uma vez ao longo do livro 93 QUADRADAMENTE Mas no caso da Lei de Fomento da Pirotécnica ou LFP na linguagem oficial nos enganamos quadradamente VEIGA 1991 p 72 O vocábulo alude à expressão redondamente utilizada frequentemente na locução redondamente enganados com o significado de completamente No trecho o narrador conta que a população se enganou ao pensar que a lei arbitrária que obrigava a população a soltar fogos de artifício não entraria em vigor de fato por ser apenas reflexo de uma inquietação dos governantes em mostrar serviço A brincadeira que o autor faz com as palavras trocando as formas geométricas e quebrando as expectativas do leitor gera um sentido de humor Há apenas uma ocorrência da palavra na obra NÃOSEIDEONDE O Cônsul nãoseideonde vinha me cercando como quem está querendo alguma coisa mas não sabe como pedir Quando me encontrava se desfazia em gentilezas perguntava pela minha saúde pela de mamãe apertava a minha mão com empenho e custava a soltar VEIGA 1991 p 11 Notese que a palavra é formada por encadeamento vocabular que é uma associação ocasional de palavras muito comum por exemplo quando se refere uma relação entre duas ou mais entidades o percurso Rio de JaneiroSão Paulo o jogo Inglaterra França No trecho o narrador conta que o Cônsul de um lugar indeterminado expresso por nãoseideonde estava cercandoo de gentilezas com o intuito de pedir algo que ainda não tivera a coragem de pedir Há apenas uma ocorrência do vocábulo na obra 94 Referências ALENCAR José de Iracema lenda do Ceará Rio de Janeiro Typ de Viana Filhos 1865 ALENCAR José de Til romance brazileiro Rio de Janeiro B L Garnier 1872 ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 2 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 AZEVEDO Aluísio O mulato Maranhão Typ do Paiz 1881 BLOG CERRATINGA Jatobá Disponível em httpwww cerratingaorgbrjatoba Acesso em 23 mar 2018 BLOG DITOS CURIOSOS Pôr as manguinhas de fora Disponível em httpditoscuriososblogspotcombr201106porasmanguinhasde forahtml Acesso em 23 mar 2018 Pôr as manguinhas de fora CANILHA In Dicionário Online da Língua Portuguesa Disponível em httpswwwdiciocombrcanilha Acesso em 24 mar 2018 CERCALOURENÇO In Aulete Digital Disponível em http auletew20combrcercalourenC3A7oixzz5B9HHLNYj Acesso em 23 mar 2018 CORREIA Emanuel de Moura TEIXEIRA Persília de Melim Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes Porto Papiro Editora 2007 CUNHA Euclides da Os sertões campanha de Canudos Rio de Janeiro São Paulo Laemmert C 1905 DURÃO José de Santa Rita Caramurú poema epico do descubrimento da Bahia Lisboa Regia Officina Typografica 1781 HOUAISSAntônio VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 MACEDO Joaquim Manuel de Nina romance Tomo I Rio de Janeiro B L Garnier 1871 MACEDO Joaquim Manuel de Um noivo à duas noivas romance Tomo III Rio de Janeiro B L Garnier 1871 PIVOTO Lucio Espécies de Abelhas Disponível em httpmelipona riopivotoblogspotcombrpespeciesdeabelhas8html Acesso em 23 mar 2018 QUEIRÓZ Rachel de O Quinze Fortaleza Urania 1930 SOUZA Julio Seabra Inglez PEIXOTO Aristeu Mendes TOLEDO Francisco Ferraz de Enciclopédia Agrícola Brasileira São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz 1995 95 TAUNAY Visconde de A mocidade de Trajano Parte 1 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1871 TAUNAY Visconde de Innocencia Rio de Janeiro Typographia Nacional 1872 VEIGA José J Os pecados da tribo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1991 97 Culturemas em Torvelinho dia e noite 1985 Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca Da Silva Simão Danae De Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante Zacarias da Ponte Soares Já em Torvelinho dia e noite que veio a público em 1985 começase a notar uma atmosfera ficcional distinta daquelas que compunham as obras anteriores O romance traz em seu enredo a representação das relações sociais comuns a qualquer comunidade Há momentos de apreensão mas os bons ventos espalham otimismo Analice de Sousa Gomes 2017 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas TOUCEIRA DE BANANEIRAS E no que pensei vi o gavião despencar uma asa soltar uma coisa que eu nem sabia o que era e ir baixando no rumo da chácara de Dª Olga A coisa que ele soltou caiu numa touceira de bananeiras no fundo do quintal Corri lá pra ver era um frango Estava vivo então eu trouxe E inventei a história do tiro para seu Tião que estava aí fazendo um conserto na luz Ele disse que o frango era de Dª Angélica e levou para ela VEIGA 1986 p 16 Esse trecho destacase quando o gavião pegou o galo e foi acertado com um tiro caindo na touceira de bananeiras Há uma ocorrência na obra JARDINZINHO CENTRAL FLORIDO DE DÁLIAS Quando passava pelo largo do Mestre Frade atento à tigela de doce que levava na palma da mão esquerda Nilo sofreu uma espécie de atordoamento de alucinação que não se sobrepunha à consciência mas se misturava com ela O largo estava como era com 98 o jardinzinho central florido de dálias hortênsias papoulas crisântemos girassóis e no meio do jardim a pedra enorme em forma de ovo instalada ali há muito tempo para marcar lugar do enforcamento desse tal Mestre Frade Os prédios também eram os mesmos as lojas o banco o sobrado do Dr Hermenegildo abandonado e descascado por estar em litígio as cajazeiras carregadas e derrubando a Prefeitura de estilo modernohorrendo com janelas basculantes Tudo igual mas de repente diferente VEIGA 1986 p 18 Datado em Houaiss 2023 substantivo feminino plural no âmbito das angiospermas com a acepção de designação comum às plantas do gênêro Dahlia da família das compostas com 29 espécies nativas das montanhas do México à Colômbia de raízes tuberosas caules ger não ramificados e que terminam em belos capítulos florais Planta de até 8 m D excelsa com folhas bipenadas ou tripenadas e inflorescência com mais de 300 capítulos florais DE TARDINHA De tardinha o pai chegou de viagem e tão cansado que não deu muita atenção à história de Nequinho que ouviu distraído VEIGA 1986 p 14 O contexto aborda o momento em que Gumercindo chega em casa após uma viagem de trabalho Há apenas uma ocorrência na obra Outro grande autor que também utiliza essa expressão hifenizada é Guimarães Rosa em Sagarana É detardinha quando as mutucas convidam as muriçocas de volta para casa e quando o carapanã rajado mais o moçorongo cinzento se recolhem que ele aparece o pernilongo pampa de pés de prata e asas de xadrez ROSA 1946 p 119 GAVIÃO O Nequinho teria sofrido ou o gavião não deu tempo Dizem que gavião primeiro quebra o pescoço da presa para ela não se mexer Se é assim ainda bem Bem Que maldade Se gavião precisa comer por que não come sementes frutas insetos ou não pega só cobra e gambá que também são bichos daninhos Bom Já foi já foi Paciência Mas o Nequinho ia fazer falta no quintal VEIGA 1986 p 6 99 Datado em Houaiss 2009 do século XIII é um substantivo masculino comum às aves falconiformes da família dos acipitrídeos e falconídeos cosmopolitas que geralmente se alimentam de presas vivas ou de animais mortos Ao longo da obra há cinquenta e seis ocorrências JARDINZINHO CENTRAL FLORIDO DE DÁLIAS HORTÊNSIAS PAPOULAS CRISÂNTEMOS GIRASSÓIS Quando passava pelo largo do Mestre Frade atento à tigela de doce que levava na palma da mão esquerda Nilo sofreu uma espécie de atordoamento de alucinação que não se sobrepunha à consciência mas se misturava com ela O largo estava como era com o jardinzinho central florido de dálias hortênsias papoulas crisântemos girassóis e no meio do jardim a pedra enorme em forma de ovo instalada ali há muito tempo para marcar lugar do enforcamento desse tal Mestre Frade Os prédios também eram os mesmos as lojas o banco o sobrado do Dr Hermenegildo abandonado e descascado por estar em litígio as cajazeiras carregadas e derrubando a Prefeitura de estilo modernohorrendo com janelas basculantes Tudo igual mas de repente diferente VEIGA 1986 p 18 Datado em Houaiss 2023 de 1858 no âmbito de angiosperma de flores brancas azuis ou róseas em panículas ou corimbos e frutos capsulares nativo da China e do Japão e mundialmente cultivado como ornamental com inúmeros cultivares Há uma ocorrência na obra ACORDAR OCO Dr Guimercindo acordou oco molengo com um zumbido renitente nos ouvidos que ele não sabia se vinha de dentro ou de fora A custo se levantou e tomou uma xícara de café puro esperando com isso espantar a morrinha Não espantou botou mais já que café é estimulante segundo uma lenda Quando levava a xícara à boca ela se escapuliu caiu no pires e se quebrou empapando a toalha VEIGA 1986 p 35 100 Datado em Houaiss 2023 de 1596 referese ao que é vazio por dentro cavo vão desprovido de sentido fútil insignificante Etimologia Houaiss 2023 nos informa que este verbete deriva de ocar na acepção tornar oco abrir um buraco Há apenas uma ocorrência expressiva na obra ROSEIRINHACHÁ Dia nada propício ao aparecimento de fantasmas que parecem preferir a escuridão da noite A roseirinhachá precisava de poda mas era melhor adiar isso até a próxima crescente VEIGA 1986 p 18 Nesta expressão roseirinha referese a uma planta que dá flores No contexto referese ao momento em que Dona Angélica observa suas plantas que estão precisando de poda mas pode esperar até Aldair que estava viajando chegar Há uma ocorrência na obra Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas BALUARTE Vá aprendendo porque você ainda será um baluarte dela Eu Corta Estou pensando em me naturalizar goiano Goiano É mais mineiro do que mineiro Você precisa ver um goiano de classe média falar É um mineiro falando com uma agravante não tem a nostalgia do mar VEIGA 1986 p 34 No texto encontramos a palavra no sentido figurado em que o pai de Nilo diz que um dia ele será a base da família mineira A família mineira disse o pai cutucando o braço do Nilo A palavra aparece apenas uma vez no livro 101 DESLINDAR Os biscoitos se evaporaram como se tragados por algum fantasma Quando terminaram Dr Gumercindo consultou o relógio e disse Agora leve esta bandeja daqui e vá cuidar de sua vida que eu tenho um processo a deslindar Se eu não descascálo de hoje para amanhã a minha vaca também vai pro brejo VEIGA 1986 p 61 De acordo com o dicionário Houaiss 2023 com a palavra datada séc XVI possui o significado de tornar inteligível compreensível o que está confuso obscuro explicitar desenvolver estudos sobre investigar pesquisar esquadrinhar dar solução a apurar resolver descobrir No texto temos Dr Gumercindo conversando com sua família sobre um processo que ele tinha que estudar e solucionar e usou a palavra deslindar para mostrar que tinha que resolver Há apenas uma ocorrência expressiva na obra MAROMBA Sentouse e ficou cruzando e descruzando as pernas descansando ora um braço ora o outro no encosto da cadeira Doca dobrou o jornal para não parecer grosseiro com o senhor prefeito Como vai a maromba doutor Maromba A Prefeitura Ah Pesando demais VEIGA 1986 p 37 De acordo com o dicionário Houaiss 2009 a palavra data de 1844 e referese à vara utilizada pelos equilibristas para manter o equilíbrio sobre a maroma corda bamba No caso da palavra no texto terá um sentido figurado posição ou situação difícil de sustentar atitude de quem adia uma definição ou decisão na expectativa de ver como decorrem os acontecimentos A palavra aqui referese a algo pesado que está dando trabalho no caso com a prefeitura os acontecimentos que ocorriam o prefeito estava preocupado com epidemia que se falava na época Há duas ocorrências da palavra no texto 102 Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas AINDA BEM São estes os contextos de ocorrência na obra Se é assim ainda bem VEIGA 1986 p 04 Mas vamos andar com esse almoço logo o Nilo vai chegar do colégio com uma fome de rapar tacho ainda bem que ele não é enjoado pra comer VEIGA 1986 p 08 Ainda bem que na família Fajardo ninguém o levava a sério todos brincavam sadiamente com ele VEIGA 1986 p 57 Ainda bem disse Dª Angélica VEIGA 1986 p 107 Ainda bem que elas sabem quebrar golpes de foice VEIGA 1986 p 202 Essa expressão aparece no texto com o significado de alívio Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Ainda bem que foi bem empregado ROSA 1946 p 615 Há cinco ocorrências na obra Culturemas relacionados Identidade Linguocultural verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemashumoculturemas ANTES QUEBRAR A CABAÇA DO QUE A CABEÇA É isso aí pai Antes quebrar a cabaça do que a cabeça como dizia meu avô disse Nilo VEIGA 1986 p 36 Em Houaiss 2023 temos a datação de cabaça como utensílio feito da metade do fruto cuia usado para medir ou transportar farinha grãos etc e esp para beber ou esgotar líquidos cuia cumbuca Nesse sentido a expressão indica que a situação poderia ter ocorrido de uma forma pior Expressão dita por Nilo quando seu pai derruba acidentalmente a xícara em que tomava café Há apenas uma ocorrência ao longo da obra 103 ARRIBA Não se sabe Ele soltou o frango e saiu voando de banda com uma asa meio despencada Bom Então está entregue não é A senhora faz um curativo nele que ele arriba Está só machucado VEIGA 1986 p 07 Palavra datada de 1188 no dicionário Houaiss 2023 com o significado acima para cima para adiante voz de comando ordem para fazer arribar retornar entrar ou desviar o navio adiante Há muitas palavras no texto com ligação militar nesse caso arriba apresentase com significado de ir pra frente O trecho faz referência ao acontecido com o galinho do Nilo que foi pego pelo gavião e de alguma forma conseguiu sobreviver e irá se levantar Há duas ocorrências dentro da obra ATIÇAVA O culpado era o pai que atiçava a imaginação do filho e depois saía de perto deixando o problema com ela e ela é que teria de se informar sobre o comportamento dos fantasmas para poder manter conversa com o filho como fora no caso das formigas depois no das enzimas depois no dos buracos negros VEIGA 1986 p 03 Verbo da língua portuguesa que pode significar o ato de avivar algo promovendo o seu funcionamento através de uma ação estimulante Nesse trecho o autor fala da chateação da mãe de ter que lidar com os pensamentos aguçados do jovem filho curioso No livro há apenas uma ocorrência BESTALHÃO Era esse problema que atormentava o Dr Hadocan Machado na Prefeitura Havia outro menor que ele procurava afastar mas não estava conseguindo a intimação da mulher de não voltar para casa sem alguns exemplares da oração para serem pregados atrás de cada porta e janela formando um aceiro contra a doença Como iria ele o prefeito procurar a tal oração Pedir a um auxiliar que se 104 encarregasse da encomenda nem pensar Razão tiveram o Dr Fajardo e outros quando disseram que ele estava procurando sarna ao se candidatar a prefeito Por que esse raio de epidemia foi acontecer logo na gestão dele Até parecia praga do derrotado o bestalhão do Epaminondas Bestalhão Nem tanto Nesta hora o Epaminondas estava bem bom em sua fazenda olhando os bezerros e a soja crescerem e ele o esperto ali aguentando o rojão VEIGA 1986 p 49 Houaiss 2023 retrata o substantivo masculino com o uso pejorativo que ou quem é ignorante rústico ou falta de inteligência O termo dá ao personagem um ar bobo e frívolo CACETE Papagaio o cacete disse Nilo irritado e logo se encolheu esperando uma reprimenda VEIGA 1986 p 102 Datado em Houaiss 2023 como expressa apreensão lembrança repentina aborrecimento Nessa fala Nilo declara à família que encontrou o gavião que havia atacado Nequinho na praça fazendo palhaçadas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra CAVALO NÃO DÁ CISCADA Eu acho que devemos ficar prevenidos Como diz aquele ditado árabe cavalo não dá ciscada VEIGA 1986 p 109 Expressão utilizada com o sentido de manterse prevenido Nesse contexto Gumercindo fala a Dr Fajardo que achou o comportamento de Sr Abreuciano estranho ao chegar à chácara Há apenas uma ocorrência ao longo da obra COM A BOCA NA BOTIJA É Você precisava ver o desconsolo dele Sabe como é quando você apanha um conhecido com boca em alguma botija Os dois ficam constrangidos você quer ir embora mas não sai logo para não dar a impressão de que já descobriu o que já procurava e quando 105 mais você se esforça por disfarçar o constrangimento mais o outro fica constrangido Se fosse uma reunião para tratar de assuntos lá do trabalho dele que grande transtorno haveria em ele me mandar entrar nem que fosse por um instante me oferecer um café ou um copo d água me apresentar as outras pessoas e me pedir para voltar outro dia Para ele ter procedido daquela maneira é porque está aprontando VEIGA 1986 p 109 Nesse trecho Sr Gumercindo contava a Dr Fajardo que notou Sr Abreuciano agindo de forma estranha na chácara Há apenas uma ocorrência COM EFEITO Eis os contextos Com efeito Nilo Você foi dizer no colégio que viu fantasma VEIGA 1986 p 12 Com efeito Cindo Se preocupar com uma coisa tão mínima disse Dª Angélica VEIGA 1986 p 36 Com efeito D Branca Eu não sabia que a senhora era contra o futebol o esporte nacional que tanta alegria nos deu VEIGA 1986 p 123 Com efeito Manuel Eu lhe pedi tanto VEIGA 1986 p 172 Com efeito as flores das imediações pareciam serenas VEIGA 1986 p 193 No texto a expressão aparece com o sentido de fato verdadeiro esperado como consequência de fato anterior Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Parece que com efeito no poder de feitiço do contrato ele muito não acreditava ROSA 1996 p 111 Há cinco ocorrências na obra CORTANDO O AR Foi o zunido seco de alguma coisa cortando o ar atrás dela e quando se virou ainda viu um vulto cinzento caindo no chão sem 106 fazer barulho e logo se erguendo agora com um volume maior o que a queda VEIGA 1986 p 05 Essa expressão aparece no texto no momento em que o galo Nequinho foi atacado pelo gavião com o sentido de voar rápido Esta expressão aparece em Houaiss 2023 com a acepção de fato efetivamente e em Aulete Digital sem dúvida confirmando consequência verdadeira de fato ou ideia anterior Há apenas uma ocorrência na obra CREDO Que bom ver uma pessoa feliz nesses tempos que todo mundo parece estar vendo urubu credo VEIGA 1986 p 121 No âmbito da Liturgia Católica referese à oração cristã em latim que se inicia com as palavras credo in unum Deus Patrem no sentido de creio em Deus Pai e sintetiza os artigos essenciais do catolicismo creio em Deus Padre creio em Deus Pai crendospadre admite a forma credo Nesse trecho Sr Cristófaro passa pela cidade e vê Dª Cynara a única que parecia feliz enquanto os outros moradores estavam preocupados Ao longo da obra a expressão aparece apenas uma vez TER DEIXADO CORRER O MARFIM É Precisamos fazer alguma coisa Até agora temos deixado correr o marfim Se o senhor puder aparecer lá em casa uma noite dessas Doca pode ensinar o caminho ou melhor pode ir também VEIGA 1986 p 96 Aguardar com indiferença os acontecimentos Expressão comum a jogadores de bilhar ou talvez de roleta por causa da bolinha de marfim usada neste jogo Nesse trecho Dr Gumercindo caminhava com Sr Abreuciano pela cidade enfrentando os visitantes que haviam invadido as ruas da cidade sem deixar caminho para as pessoas transitarem Há apenas uma ocorrência na obra 107 MEIO DE VIDA DE NINGUÉM Eis contextos Para ele todos os meus problemas que eram muitos se reduziam a um só conseguir um trabalho um meio de vida VEIGA 1986 p 25 Esperar visita de fantasma não sendo meio de vida de ninguém Nilo e o pai e os outros aficionados acabaram se distraindo com suas obrigações e o assunto foi ficando esquecido tanto mais quanto outros acontecimentos vieram preencher a lacuna gente velha morria crianças nasciam gente nova chegava e se instalava VEIGA 1986 p 62 Nesses trechos a expressão se refere a um tipo de trabalho que garanta sustento Há apenas uma ocorrência na obra MINHA NOSSA Minha nossa No meu tempo quando acontecia um casal assim era um escândalo a família tinha que se mudar VEIGA 1986 p 202 Nesse trecho Aldair e a tia Mariana conversam sobre sexo e a tia fica abismada ao saber que isso já é comum entre os jovens Há apenas uma ocorrência na obra MUXIBA O pobre gaviãozinho apenas queria comer se ela soubesse onde ele estava seria capaz de ir tratar ele dar comida não um frango é lógico mas um pedaço de carne uma muxiba que fosse afinal eles também são criaturas de Deus VEIGA 1986 p 08 D Angélica estava preocupada com o gavião que havia atacado o Nequinho imaginando que podia oferecer algum alimento singelo para ele Há apenas uma ocorrência na obra 108 NÃO SE FAZ OMELETE SEM QUEBRAR OS OVOS Quem não gosta do progresso ou tem medo deve se naturalizar índio e se esconder numa aldeia das poucas que restam lá pelo extremo norte É a tal história de não se poder quebrar ovo sem fazer omelete ou coisa parecida mas isso é lá com o Doca Nortista que gosta de ditados VEIGA 1986 p 99 Expressa a ideia de que não se atinge objetivos sem esforço ou sacrifício Nesse contexto o narrador conta como o prefeito está lidando com a onda de visitantes que chega à cidade de Torvelinho Há apenas uma ocorrência na obra ORA ESSA Eis os contextos Ora essa Sr Prefeito O senhor só me honra vindo aqui em vez de me convocar ao seu gabinete Estou às suas ordens VEIGA 1986 p 73 Com chave falsa ora essa VEIGA 1986 p 119 Dª Cynara Ora essa Dª Cynara estranhou Jamil VEIGA 1986 p 166 Em Houaiss 2023 referese a expressão que indica admiração ou espanto Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Ora essas digo Se Otacília viesse aparecesse lá em no meio de nós que seguimento de coisas havia de suceder ROSA 1994 p 699 Há três ocorrências na obra REMAR CONTRA A MARÉ Ação frustrada sem êxito situação que tomou um rumo indesejado Em política é assim podese remar contra a onda mas não contra a maré VEIGA 1986 p 100 Nesse trecho Dr Hadocan pensa em como agir com relação aos visitantes que chegaram à cidade Há apenas uma ocorrência na obra 109 TEM DÓ Aldair Goiabada e banana no pão Tem dó Quero isso não VEIGA 1986 p 203 Nessa fala Nilo reclama da comida que a irmã fez Em Houaiss 2023 possui acepção de sentimento de pena com relação a alguém a si mesmo ou a alguma coisa compaixão Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TER BOA MÃO PARA PLANTAS As duas figueiras também pediam trato coitadas davam tanto figo e há muito não recebiam nenhuma recompensa não custava nada aplicar nos pés um pouco de estrume misturado com cinza do fogão mas isso também podia esperar a volta de Aldair ela tem boa mão para plantas VEIGA 1986 p 04 A expressão aparece em Aulete Digital com o sentido de ser habilidoso com as mãos ter jeito para alguma coisa No texto esse trecho se refere ao momento em que a mãe pensa na filha para cuidar das plantas do quintal já que ela sabe lidar melhor com as plantas Há apenas uma ocorrência na obra TRATO As duas figueiras também pediam trato coitadas davam tanto figo e há muito não recebiam nenhuma recompensa não custava nada aplicar nos pés um pouco de estrume misturado com cinza do fogão mas isso também podia esperar a volta de Aldair ela tem boa mão para plantas VEIGA 1986 p 04 Gíria utilizada na língua portuguesa com o significado de melhorar algo Essa expressão aparece no texto quando D Angélica passava pelo quintal observando as plantas e pensando na volta da filha que estava em Belo Horizonte Há apenas uma ocorrência na obra 110 NÃO TROCAR OS PÉS PELAS MÃOS Quer dizer que eu não fiz burrada com as pilhas não troquei os pés pelas mãos VEIGA 1986 p 22 A forma canônica da expressão é não meter os pés pelas mãos com as seguintes acepções não se atrapalhar não se confundir na realização de alguma coisa e não cometer deslizes Nesse trecho da obra o pai não consegue manusear as pilhas corretamente e pede ajuda a Nilo Ao longo da obra a expressão ocorre apenas uma vez VER URUBU Que bom ver uma pessoa feliz nesses tempos que todo mundo parece estar vendo urubu credo VEIGA 1986 p 121 A expressão referese a um ditado popular de cunho supersticioso Popularmente os urubus são conhecidos por serem anunciadores da morte As cores das penas geralmente muito pretas carregam a ideia de luto e seus hábitos alimentares provocam a associação com a morte Tal ligação causou a superstição relacionada a maus presságios Nesse trecho Sr Cristófaro se refere a D Cynara que passou contente por ele Ao longo da obra surge apenas uma ocorrência Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas ALDAIR Eis os contextos Está bem Aldair Você já entortou demais a minha cabeça por hoje O que é que vamos comer VEIGA 1986 p 203 Mosca de noite seu bobo disse Aldair VEIGA 1986 p 204 111 Nome da filha de Dª Angélica e Gumercindo irmã de Nilo Há setenta e sete ocorrências na obra Dª ANGÉLICA Nisso bateram palmas na porta Dª Angélica acordou de seus pensamentos e foi atender Era seu Tiãodaluz que se apresentou respeitoso e misterioso uma mão tocando o bico do boné a outra escondida nas costas segurando qualquer coisa que ele não queria mostrar logo VEIGA 1986 p 06 Há noventa e seis ocorrências na obra Dª CYNARA Primeiro apareceu Dª Cynara uma senhora muito simpática e dinâmica VEIGA 1986 p 63 Logo a figura de Dª Cynara ficou conhecida e comentada na cidade que ela percorria quase que diariamente com um vestido comprido de cigana aparentemente sempre o mesmo mas sempre limpo o cabelo repartido ao meio e preso atrás com uma fita os olhos verdes brilhantes parecendo bem mais moça do que a idade declarada VEIGA 1986 p 66 Nome da senhora que chega a Torvelinho e instala uma oficina de rendeiras que movimenta a economia da cidade O nome Cinara é de origem grega sendo conhecida como uma planta que tem como característica espinhos Entre os gregos a cinara é especificamente a alcachofra que se encontra em abundância na ilha Zinara localizada no Mar Egeu Esse trecho narra a chegada de Dª Cynara a Torvelinho e a reação das pessoas Há cinquenta e oito ocorrências na obra DOCA NORTISTA Eis os contextos Ele apeou de um caminhão que ia descarregar arroz num depósito de cereais seguiu as instruções do motorista e chegou fácil na pensão de Doca Nortista VEIGA 1986 p 68 112 Nos fins de semana as pensões se enchiam de gente de fora que vinham comprar ou apenas olhar as rendas das muitas oficinas cada qual mais bonita e delicada comprar mel puro e provar dos pratos chamados típicos que Doca Nortista inventou em sua pensão VEIGA 1986 p 77 Nome do proprietário da pensão onde Sr Abreuciano ficou hospedado ao chegar a Torvelinho No contexto do primeiro trecho Sr Abreuciano acaba de chegar à cidade e logo se instala na pensão de Doca Nortista No segundo trecho a cidade agora movimentada recebe visitantes diariamente para conhecer e fazer compras Há quarenta e duas ocorrências na obra DR FAJARDO Vai ver que morrendo cheio de dores ou já morto em alguma biboca com certeza atraindo formigas e urubus a inconsciência de certos pais que dão arma de fogo aos filhos e logo quem Dr Fajardo um médico que volta e meia era chamado para atender pessoas baleadas VEIGA 1986 p 08 Nome do médico da cidade de Torvelinho Nesse trecho Dª Angélica pensa onde estará seu frango que foi atacado por um gavião Há oitenta e cinco ocorrências na obra DR HADOCAN Estão vendo como o fuxico trabalha ligeiro Olhem o Dr Hadocan já procurando o Sr Abreuciano na pensão para uma conversa ele que nunca viu o apicultor com bons olhos Dr Hadocan parecia preocupado e não gostou de saber que o Sr Abreuciano estava com visita lá em cima Não conversou muito com o Doca Sentouse e ficou cruzando e descruzando as pernas descansando ora um braço ora o outro no encosto da cadeira Doca dobrou o jornal para não parecer grosseiro com o senhor prefeito VEIGA 1986 p 72 e 73 Nome do prefeito da cidade de Torvelinho 113 Nesse trecho Dr Hadocan vai até a pensão de Doca para conversar com Sr Abreuciano após saber que ele estava ganhando o respeito da população Há trinta ocorrências na obra GUMERCINDO Longe dela dizer que Gumercindo não era um bom pai mas tinha essa mania de achar que todo choro de criança era manha VEIGA 1986 p 05 Nome do pai de Nilo marido de Dª Angélica Nesse trecho da obra Dª Angélica pensa como Gumercindo é despreocupado em relação ao cuidado com os filhos Há cento e seis ocorrências na obra JAMIL ASMAR Outro abalo na suspeita de morte foi o encontro com Jamil Asmar proprietário de uma loja de roupas calçado armarinho cama mesa e cozinha a Princesa do Levante situado ali perto no largo VEIGA 1986 p 43 Nome do dono de uma loja em Torvelinho Nesse contexto Gumercindo acorda leve e feliz e se sente estranho por isso achando até que pode ter morrido e ainda não ter percebido mas ao passar pela loja de Jamil e ser cumprimentado percebe que está vivo mesmo Há sessenta e seis ocorrências na obra TIA MARIANA Depois de lavar as vasilhas do café a mãe foi dar uma olhada nas plantas enquanto pensava no que fazer para o almoço que aliás não daria muito trabalho porque o marido estava em Brasília e a filha Aldair tinha ido a Belo Horizonte acompanhando a tia Mariana numas compras a tia achava que sem o assessoramento de Aldair não saberia comprar um pente VEIGA 1986 p 04 Nome da irmã de Dª Angélica Nome de origem hebraica Maria significa senhora soberana vidente ou pura Ana por sua vez vem do hebraico Hannah que quer dizer cheia de graça Neste 114 caso Mariana significa senhora soberana cheia de graça mulher pura e graciosa Nesse trecho Dª Angélica pensa sobre seus afazeres e lembra que a filha está em uma viagem com a tia Há cinquenta e cinco ocorrências na obra NEQUINHO Deus nos livre que seu Neco Fontes saiba disso pessoa tão educada e simpática quem deu o nome de Nequinho ao frango foi Aldair tão bem dado que pegou Nessa hora Nequinho já deve estar todo estraçalhado por aquele bico de picareta ajudado pelas garras de prego afiado as tripas e as penas espalhadas pelo chão ou em algum galho alto de árvore sangue por todo lado até no pescoço e no peito do gavião VEIGA 1986 p 06 Nome do frango que é criado com muito carinho na casa de Dª Angélica e Dr Gumercindo Nesse contexto Dª Angélica vê o momento em que Nequinho foi atacado por um gavião Há vinte e nove ocorrências na obra NILO Então É camarão mesmo Camarão Parece mais rabinhos de rato na brasa Oh Nilo De onde você tirou essa idéia De uns rabinhos de rato que comi uma vez VEIGA 1986 p 01 Nome do garoto que primeiro vê as aparições dos fantasmas na cidade Filho de Dª Angélica e Dr Gumercindo Nesse trecho Nilo brinca com sua mãe na mesa do café da manhã Há cento e sessenta e nove ocorrências na obra PADRE AUDÁLIO Que é isso Dr Gumercindo Não há vacina nem soro contra isso Só água benta mas isso é lá com Padre Audálio VEIGA 1986 p 40 115 Padre da cidade de Torvelinho Significa O senhor é justo De origem hebraica Nesse trecho Gumercindo é consultado por Dr Fajardo após ver a primeira aparição de fantasma Há trinta e duas ocorrências na obra PELINTRA Eis os contextos Ora à face do Senhor teu Deus por mim disse o Sr Abreuciano com uma reverência e informou que no dia seguinte o burro Pelintra estaria na porta do padre VEIGA 1986 p 181 Que pelintra eu era hein disse ele um dia à filha diante de um desses retratos Só faltava o bigodinho que felizmente nunca me tentou VEIGA 1986 p 187 Datado por Houaiss 2023 como que ou aquele que é pobre e malajambrado mas pretende fazer boa figura que ou o que é pobre e malvestido maltrapilho Nome do burro dado ao Padre Audálio pelo Sr Abreuciano Como os caminhos da cidade estavam tomados pelas flores Padre Audálio estava com dificuldades de se locomover então Sr Abreuciano ofereceulhe um burrinho para leválo pelos caminhos já que esses animais estavam se entendendo bem com as flores No segundo trecho Hadocan comenta com a filha sobre seu antigo modo de se vestir Ao longo da obra vemos duas ocorrências SR ABREUCIANO Outro que chegou sem estardalhaço e sem atropelar ninguém foi um Sr Abreuciano VEIGA 1986 p 68 Assim ele ficou sabendo que o novo hóspede Sr Abreuciano era viúvo vinha da Bahia onde tinha dois filhos homens já encaminhados e uma filha casada era contador aposentado e apicultor por passatempo atividade que pretendia exercer em Torvelinho VEIGA 1986 p 69 Nome do senhor que chega a cidade misteriosamente e começa a trabalhar com apicultura 116 O primeiro trecho relata a chegada do Sr Abreuciano à cidade de Torvelinho No segundo trecho Sr Abreuciano conversa com Doca Nortista e se apresenta Há cento e sessenta e seis ocorrências na obra SR CRISTÓFARO O Sr Cristófaro ficou passado olhando em volta sem entender Tudo remexido na igreja coisas fora do lugar muitas peças no chão e nenhum sinal de arrombamento nem a porta da sacristia que ele abrira com a chave para entrar nem nas outras portas nem nas janelas VEIGA 1986 p 114 Nome do Zelador da igreja Do latim Christophorus que veio do grego antigo Christóforos combinação de Christós Cristo Féro carregar Nesse trecho o zelador encontra a igreja totalmente remexida porém sem sinais de arrombamento ou roubo Há catorze ocorrências na obra SEU TIÃODALUZ Nisso bateram palmas na porta Dª Angélica acordou de seus pensamentos e foi atender Era seu Tiãodaluz que se apresentou respeitoso e misterioso uma mão tocando o bico do boné a outra escondida nas costas segurando qualquer coisa que ele não queria mostrar logo VEIGA 1986 p 06 e 07 Nome de um morador da cidade de Torvelhinho que estava sempre ajudando os outros Nesse trecho Tião vai até a casa de Dª Angélica para entregar o frango Nequinho que ele havia encontrado no quintal do Dr Fajardo Há quarenta e nove ocorrências na obra TORVELINHO Logo Torvelinho entrou no mapa turístico do Estado funcionários da Secretária de Lazer e Turismo andaram lá indagando fotografando entrando casas adentro e incomodando os moradores 117 e não entendendo a resistência que às vezes encontravam que gente atrasada não percebe a importância do trabalho que estamos fazendo em benefício deles Uma agência incluiu Torvelinho em um pacote intitulado Roteiro dos Inconfidentes e foi o golpe de misericórdia no sossego VEIGA 1986 p 78 Nome da cidade onde se desenvolve o enredo da história Datado em Houaiss 2023 como movimento de rotação em espiral redemoinho remoinho Etimologia da palavra esp torbellino id Nesse contexto a pacata cidade começa a mudar e receber muitos visitantes Há trinta ocorrências na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas FANTASMA Mãe eu vi um fantasma Então era esse o problema Ou seria ainda um disfarce Com o Nilo era preciso estar sempre alerta apalpando sondando Ele era esperto como vento ora sopra pra lá ora pra cá Um fantasma Onde No quarto E como foi que ele entrou lá Ora mãe Quem é que sabe como os fantasmas entram e saem Quando vi estava lá VEIGA 1986 p02 Houaiss 2023 coloca o substantivo como imagem ou visão quimérica e assustadora aparição sobrenatural de pessoa morta algo que gera medo ou terror O garoto alega à mãe ter visto um fantasma um ser assombrado Há sessenta e nove ocorrências na obra TORAPÉ O torapé ficou sendo o grande assunto alimentado por novas notícias que chegavam a cada dia Muitos achavam que essa tal epidemia era puro boato de algum desocupado imaginoso outros que era jogada de fabricante de algum produto para os pés outros 118 apenas sorriam e inventavam novas histórias que passavam adiante VEIGA 1986 p 48 Doença cujo pé do indivíduo seria inutilizado Dentro da história é uma doença que preocupava os moradores da cidade mesmo sem saber se essa patologia de fato existia Há nove ocorrências na obra Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas PALETOZÃO MARROM SURRADO Outro que chegou sem estardalhaço e sem atropelar ninguém foi um Sr Abreuciano Ele apeou de um caminhão que ia descarregar arroz num depósito de cereais seguiu as instruções do motorista e chegou fácil na pensão de Doca Nortista Só trazia uma mala muito velha estufada de cheia Quando o viu abaixo com dificuldade para equilibrar a mala no chão o Doca achou que ali estava mais um hóspede daqueles que só trazem chateação mas bastou o recém chegado se endireitar e mostrar a cara para ele reformar o julgamento O paletozão marrom surrado a barba de dois dias o cabelo farto dos lados e ralo em cima deixaram de ter importância As feições e olhos apagavam qualquer aversão que a roupa e a mala pudessem inspirar Os dois se olharam o Doca meio hipnotizado o estranho sorrindo discreto como se já estivesse acostumado a situações idênticas Por fim o Doca como que acordou piscou repetidamente perguntou se o cavalheiro queria um quarto e logo se censurou intimamente pois o que mais pode querer um estranho que chega de mala a uma pensão VEIGA 1986 p 68 Paletó de grande extensão O termo paletozão dá entender que o seu dono era uma pessoa alta Ocorre uma vez na obra 119 CHÁ DE ARTEMÍSIA E CARIPÉ Tudo combinado tomaram um chá de Artemísia e caripé para relaxar e Abreuciano saiu para uma ronda de visitas outras VEIGA 1986 p 194 Designação comum aos arbustos e ervas do gênero Artemisia da família das compostas aromáticas e com capítulos pequenos nativas de regiões temperadas do hemisfério norte e também do Oeste da América do Sul e do Sul da África geralmente em áreas secas algumas cultivadas para tempero culinário como o estragão para infusões estimulantes como absinto medicinais ou apenas tomadas como chá Já Caraipé tem acepção de angiospermas da família das crisobalanáceas nativas da Amazônia Dª Cynara e Sr Abreuciano estavam reunidos conversando sobre o que iriam fazer para livrar as plantas do ataque dos vândalos Há apenas uma ocorrência na obra CHÁ DE LAVÂNDULA Conversaram outros assuntos menos prementes Dª Cynara fez um chá de lavândula que ela apanhou apenas esticando a mão para fora da janela VEIGA 1986 p 192 Designação comum às plantas do gênero Lavandula cultivadas como ornamentais algumas para extração de óleo aromático e ger mais conhecidas como lavanda ou alfazema Nesse contexto Dª Cynara recebe Sr Abreuciano em sua casa Ele está preocupado com o comportamento das flores e resolve pedir a ajuda dela para descobrir o que estava acontecendo Há apenas uma ocorrência na obra FEIJÃO TROPEIRO Eis os contextos Para ganhar tempo resolveu fazer feijão tropeiro os torresmos já estavam prontos ficava faltando só fritar a linguiça e os ovos e isso se ajeita num instante ela só podia sentar um pouco para descansar as pernas VEIGA 1986 p 09 120 Arroz feijão tropeiro lombinho mandioca frita VEIGA 1986 p 102 Houaiss 2023 define como prato da cozinha mineira feito de feijão refogado na gordura de porco com cebola alho e temperos e misturado em seguida com torresmos e farinha de mandioca No livro a palavra aparece como referência ao prato culinário típico brasileiro preparado por Dª Angélica Há duas ocorrências na obra SUMO DE ALFAVACA Tomaram o chá com biscoitinhos de sumo de alfavaca e o Sr Abreuciano deu boanoite VEIGA 1986 p 192 Nesse trecho Dª Cynara e Sr Abreuciano se encontraram para conversar sobre o comportamento estranho das plantas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TORRESMOS Para ganhar tempo resolveu fazer feijão tropeiro os torresmos já estavam prontos ficava faltando só fritar a linguiça e os ovos e isso se ajeita num instante ela só podia sentar um pouco para descansar as pernas VEIGA 1986 p 09 Segundo Houaiss 2023 de 1857 referese a toucinho frito em pequenos pedaços rijão Nesse contexto Dª Angélica se apressa para terminar o almoço antes que Nilo volte da escola Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Angu e couve abóboramoranga cozida torresmos e em toda fogueira assavam mantas de carne ROSA 1994 p 397 Ao longo da obra é encontrado apenas um registro 121 Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas A CALHAR Eis os contextos É e combinado com aquele outro que diz que seguro morreu de velho vem a calhar VEIGA 1986 p 109 Casamento vem depois se calhar VEIGA 1986 p 140 Em Houaiss 2023 temos a acepção acontecer a propósito ser bemvindo Nesta fala de Gumercindo no primeiro trecho destacado ele conta que ao chegar à casa de Abreuciano ele age de forma estranha como se estivesse escondendo algo No segundo contexto Aldair e Mariana conversavam sobre relacionamento nos dias atuais Há duas ocorrências na obra MEIO ATARENTADO MUITO ATARENTADA Eis os contextos Era Tião passando a mão espalmada na frente do rosto de Nilo Nilo acordou mas meio atarentado ainda entrou errado no contexto VEIGA 1986 p 20 Só se eu desse uma olhada Mas vai demorar estou muito atarentada hoje VEIGA 1986 p 07 Apresentado em Dicionário Informal como desnortear ficar nervoso perdido ansioso Nesse trecho Nilo e Tião conversam à beira do largo Nilo está confuso pois vê fantasmas a sua frente Nesse trecho Tião chega à casa de Dª Angélica perguntando se ela não havia percebido que algo havia sumido de casa Era o frango Nequinho que ele havia encontrado e voltara para devolvêlo Há duas ocorrências ao longo da obra 122 ATIÇAR O culpado era o pai que atiçava a imaginação do filho e depois saía de perto deixando o problema com ela e ela é que teria de se informar sobre o comportamento dos fantasmas para poder manter conversa com o filho como fora no caso das formigas depois no das enzimas depois no dos buracos negros VEIGA 1986 p 03 Em Houaiss 2023 tem acepção de impelir alguém a algo estimular incitar Nesse trecho o autor fala da chateação da mãe de ter que lidar com os pensamentos aguçados do jovem filho curioso No livro há apenas uma ocorrência na obra BENÇA Elas falam mesmo pai Bença Vem ver disse Luizinho VEIGA 1986 p 171 Nilo vestiuse e desceu enquanto Dª Angélica ainda preparava o café Bença mãe VEIGA 1986 p 29 Alteração popular do substantivo benção Palavra do século XII que significa ato ou efeito de abençoar oriunda do latim benedictionis bênção equivale a bendição o oposto de maldição Benção em liturgia católica é ato ou efeito de um sacerdote invocar em geral com o sinaldacruztraçado no ar com os dedos a graça de Deus para alguém ou algo graça concedida por Deus Ganhou na linguagem informal brasileira do século XIX essa forma apocopada e desnasalizada bença Forma geralmente utilizada quando é pedida a proteção da benção de alguém e a proteção divina A expressão na primeira passagem referese ao momento em que Nilo conta ao pai que Dª Cynara fala com as flores Na segunda Nilo pede a benção da mãe ao acordar como faz habitualmente Ao longo da obra podemos perceber duas ocorrências 123 BERRANTE Devem ter ouvido algum berrante chamando VEIGA 1986 p 125 Em Houaiss 2023 tem acepção de corneta de chifre com que os boiadeiros tangem o gado Nessa fala de Nilo ele conta à família que os visitantes da cidade haviam sumido misteriosamente Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Aí João Vaqueiro viu um berrante bom pendurado na parede da salagrande pegou ele chegou na varanda e tocou as reses entendiam uma ou outra respondendo e entraram no curral para a beira dos cochos na esperança de sal ROSA 1994 p 455 Há apenas uma ocorrência na obra BIBOCA Vai ver que morrendo cheio de dores ou já morto em alguma biboca com certeza atraindo formigas e urubus a inconsciência de certos pais que dão arma de fogo aos filhos e logo quem Dr Fajardo um médico que volta e meia era chamado para atender pessoas baleadas VEIGA 1986 p 08 Datado por Houaiss 2023 como lugar parcialmente encoberto de acesso difícil ou perigoso Eis a interessante etimologia da palavra do tupi ïmbïmboka buraco local de difícil acesso do tupi ïmbï terra solo chão e mboka abertura fenda ou oka casa toca A expressão aparece no texto referindose ao lugar que Dª Angélica achava que Nequinho poderia estar após ser atacado pelo gavião Há apenas uma ocorrência na obra BOCA DE SIRI E a senhora também ó boca de siri VEIGA 1986 p 04 E ele faz boca de siri VEIGA 1986 p 161 É uma expressão popular utilizada na língua portuguesa quando alguém se compromete em manter segredo sobre determinado assunto não contando pra ninguém 124 A primeira expressão ocorre após Nilo contar a sua mãe sobre os fantasmas Ele pede que ela não conte nada a ninguém Na segunda expressão Jamil reclama por Doca não ter contado que Sr Abreuciano ia continuar morando na pousada Há duas ocorrências na obra BÓIAFRIA Parece um bóiafria um trabalhador de estrada e não um homem que já foi prefeito e podia ter chegado a deputado e governador VEIGA 1986 p 187 Em Houaiss 2023 apresentase como regionalismo brasileiro com acepção de trabalhador rural itinerante que se ocupa em tarefas temporárias sem vínculo empregatício Nesse contexto Dª Zilma conversa com Dr Hadocan sobre o seu novo comportamento e sua forma de se vestir Há apenas uma ocorrência na obra COISA DE CADUCO OU MALUCO Sei não Mas andar por aí resmungando para as flores que encontra é coisa de caduco ou maluco Sem querer ofender o menino do Dr Gumercindo VEIGA 1986 p 165 Em Houaiss 2023 dizse de ou pessoa que perdeu parcialmente o juízo em decorrência da idade ou de doença mental Vem do latim cadúcusaum que cai que está sujeito a cair Nessa passagem os senhores Jamil e Gumercindo conversam sobre a estranheza que causa as pessoas estarem falando com as flores Há apenas uma ocorrência ao longo da obra FICAR CAINÃOCAI O gavião pulou do ombro de Tião para a janela do carro e ficou cainãocai com dificuldade de se firmar no metal liso mas não assustou o médico que até viu nisso um bom sinal VEIGA 1986 p 170 125 Expressão popular que indica que o ser não está equilibrado sobre a base ou superfície em que se encontra Nesse trecho Tião e seu gavião encontram Dr Fajardo no dia em que a cidade amanhece radiante e todos parecem felizes Os dois se cumprimentam e o gavião pousa na janela do carro do médico Há apenas uma ocorrência na obra CARADEPAU Era o despachante Getulino muito mal visto na Prefeitura mas muito caradepau VEIGA 1986 p 50 Com a acepção de pessoa que não tem escrúpulos ou timidez Nesse trecho o prefeito recebe Getulino em seu escritório e os dois não se entendem bem Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR CEGO DE FOME O que é que estão descolando aí pra nós Estou cego de fome disse farejando na mesa VEIGA 1986 p 203 Estar cheio de fome A frase acima é dita por Nilo Ao voltar da comemoração da vitória das flores ele pergunta a Aldair o quê ela está preparando para comer Há apenas uma ocorrência na obra COPO DÁGUA É Você precisava ver o desconsolo dele Sabe como é quando você apanha um conhecido com boca em alguma botija Os dois ficam constrangidos você quer ir embora mas não sai logo para não dar a impressão de que já descobriu o que já procurava e quando mais você se esforça por disfarçar o constrangimento mais o outro fica constrangido Se fosse uma reunião para tratar de assuntos lá do trabalho dele que grande transtorno haveria em ele me mandar entrar nem que fosse por um instante me oferecer um café ou um copo d água me apresentar as outras pessoas e me pedir para voltar outro dia Para ele ter procedido daquela maneira é porque está 126 aprontando Eu acho que devemos ficar prevenidos Como diz aquele ditado árabe cavalo não dá ciscada VEIGA 1986 p 109 Houaiss 2023 retrata a expressão típica do regionalismo brasileiro tendo o significado de pequena reunião com doces bebidas oferecida por amigos para homenagear alguém Resquício de informalidade no texto Há duas ocorrências na obra CORTANDO O AR Foi o zunido seco de alguma coisa cortando o ar atrás dela e quando se virou ainda viu um vulto cinzento caindo no chão sem fazer barulho e logo se erguendo agora com um volume maior o que a queda VEIGA 1986 p 05 Essa expressão aparece no texto no momento em que o galo Nequinho foi atacado pelo gavião com o sentido de voar rápido Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR NAQUELA DE NÃO CRER NEM DESCRER Sei lá Estou naquela de não crer nem descrer VEIGA 1986 p 17 Não saber se o fato é verdadeiro ou não Nesse trecho Nilo e Luizinho conversavam sobre a aparição do fantasma que Adãozinho dizia ter visto Há apenas uma ocorrência na obra DAR POR FALTA A senhora deu por falta de alguma coisa hoje VEIGA 1986 p 07 O Sr Cristófaro arrumou tudo fez um balanço e não deu por falta de nada VEIGA 1986 p 114 A expressão aparece no texto com o significado de sentir falta perceber que algo sumiu No primeiro trecho Tião chega a casa de Dª Angélica para entregar o franguinho que ele havia encontrado 127 No segundo trecho o zelador verifica se não roubaram nada da igreja após encontrála totalmente bagunçada Há duas ocorrências na obra DESCOLAR Eis os contextos Quero nada não mãe Vou ver televisão Mais tarde se der vontade descolo qualquer coisa Se preocupe não Tem banana não tem VEIGA 1986 p 27 O que é que estão descolando aí pra nós Estou cego de fome VEIGA 1986 p 203 Datado em Houaiss 2023 como ser bemsucedido em arranjar dinheiro favor emprego etc Nessas duas frases de Nilo ele se refere a conseguir algo para comer Há duas ocorrências na obra DESMILINGUIR Se eu visse um fantasma acho que me desmontava desmaiava me desmilinguia VEIGA 1986 p 23 Em Houaiss 2023 aparece com o sentido de tornarse fraco sem forças perder o vigor debilitarse Nesse trecho Gumercindo fala como agiria diante de um fantasma Há apenas uma ocorrência na obra DEUS NÃO FALA AOS APRESSADOS Eis os contextos Gente do norte do centro e do sul de Dores Passa Quatro Monte Azul Viajantes bancários boiadeiros normalistas adventistas matamouro escrevam cartas pintem o sete esqueçam os prazos montem o vento e sobretudo olhem o céu e as borboletas Deus não fala aos apressados VEIGA 1986 p 44 Mas a cidade que se mostrou ao longe banhada na luz amortecida do entardecer essa ele nunca tinha visto Valia a pena 128 parar um instante e contemplar aquilo antes que o encanto se desmanchasse Deus não fala aos apressados dizis o verso genial de Ramiro Café aquele momento de beleza podia ser apenas o efeito de uma combinação acidental de luz um capricho de nuvens do ar da atmosfera se projetando no casario VEIGA 1986 p 167 e 168 No primeiro trecho há o poema de um colega de pensão de Dr Fajardo Dr Fajardo recordase do poema ao voltar de uma viagem e encontrar Torvelinho com uma beleza nunca vista antes e sentiu a necessidade de descer do carro para observar a linda paisagem Há duas ocorrências na obra O DIABO A QUATRO O senhor acha é Sei não E quando começar a aparecer toda raça de bichos cobras preás ouriços o diabo a quatro Ainda vão me dar parabéns VEIGA 1986 p 176 A Expressão popular significa coisas espantosas desordem bagunça Nesse contexto o Prefeito Hadocan conversava com os homens da cidade que defendiam que as plantas tinham deixado a cidade mais bonita já o prefeito as via como algo negativo Há apenas uma ocorrência na obra A DURAS PENAS E terá que aprender tudo a duras penas VEIGA 1986 p 26 O mundinho de cada um é o seu cercado aquele espaço que ele ocupou e amansou a duras penas e tudo o que destoa dele é visto como uma ameaça VEIGA 1986 p 163 Com a acepção de que exigiu muito esforço como dificuldade No primeiro contexto Gumercindo reclama com Dª Angélica porque ela protege demais o filho No segundo trecho a expressão faz referência às conquistas realizadas com dificuldade Ao longo da obra aparecem duas ocorrências 129 É PRA JÁ Algo que será feito logo imediatamente utilizado geralmente como resposta É pra já VEIGA 1986 p 11 Nilo utiliza essa expressão para responder a mãe que pediu que ele guardasse os livros que havia deixado no sofá Há apenas uma ocorrência na obra EMBARAFUSTAR Dando o espetáculo por encerrado o regente fosse ele quem fosse mandou as moitas se abrirem em ruas para soltar os pobres foiceiros que embarafustaram por elas uns correndo outros mancando outros se arrastando e desapareceram na madrugada VEIGA 1986 p 198 Em Houaiss 2023 com a acepção de ingressar num recinto atropeladamente desordenadamente ou impetuosamente Esse trecho relata o momento em que os homens que atacavam as flores sem êxito desistiram e começaram a fugir Há apenas uma ocorrência ao longo da obra EMPANCAR Se a conversa às vezes empancou foi devido às evasivas do fantasma que não quis se abrir VEIGA 1986 p 28 Segundo Houaiss 2023 este termo é datado de 1857 e refere se a um verbo segurar por meio de panca interromper o fluxo de represar suster vedar encher em demasia enfartar empachar Nesse trecho Nilo tentar encontrar o motivo por não ter recebido a visita do fantasma novamente Em toda a obra há apenas uma aparição do vocábulo FAZER CORPO MOLE O negócio era ir contemporizando jogando areia segurando as pontas fazendo corpo mole VEIGA 1986 p 100 130 Essa expressão idiomática é usada quando alguém não demonstra esforço para fazer algo escapa ou tenta escapar de algum trabalho ou pedido de ajuda Nesse contexto Dr Hadocan está pensando na melhor forma para agir com os visitantes que chegaram na cidade Ao longo da obra há apenas uma ocorrência FICAR NA MOITA Nilo pensou se devia contar que ele também tinha visto um fantasma e conversado com ele e decidiu que por enquanto convinha ficar na moita VEIGA 1986 p 17 Ficar na espreita esperando o momento certo para dar o ataque O contexto aborda a conversa entre Nilo e seu pai sobre o fantasma que ambos haviam visto Há apenas uma ocorrência na obra FOME DE RAPAR TACHO Mas vamos andar com esse almoço logo o Nilo vai chegar do colégio com uma fome de rapar tacho ainda bem que ele não é enjoado pra comer VEIGA 1986 p 08 Essa expressão aparece com o significado de comer toda a comida da panela Nesse contexto Dª Angélica pensa que precisa se apressar para preparar o almoço antes que Nilo chegue da escola Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR GRILADA GRILO NA CABEÇA Eis os contextos Parar com a conspiração disse Aldair entrando no escritório com uma bandeja Pausa para o café O que é que vocês estão tramando aí esse tempo todo Mamãe está grilada VEIGA 1986 p 60 O Nequinho Com tanto grilo na cabeça Nilo tinha esquecido o frango voador VEIGA 1986 p 29 131 Em Houaiss 2023 como deixarse grilado amolarse preocuparse encucarse Nessa primeira fala de Aldair ao entrar no escritório do pai ela encontra Gumercindo e Nilo conversando secretamente sobre os fantasmas Aparece também a expressão grilo na cabeça com o mesmo valor Nilo está tão preocupado com a aparição dos fantasmas que se esquece de visitar Nequinho Há duas ocorrências ao longo da obra GRUDAR NELE COMO CARRAPATO Agora Tião ia grudar nele como carrapato e ele não podia dizer nada não ia querer passar por maluco VEIGA 1986 p 20 Agir de forma insistente Nilo pensa que não pode falar para Tião sobre os fantasmas visto que ele era muito fofoqueiro Há apenas uma ocorrência na obra HUMHUM Ela pensou ofereceu uma saída Você quer dizer que sonhou com um fantasma Humhum Sonhei não Vi Eu não estava dormindo E por que não me chamou Eu gostaria de ter visto também Acho que ele não iria aprovar Ele queria falar era comigo E como era esse fantasma Ah legal Sentou conversou Olhou meus livros E você não teve medo Lógico que tive Mas não durou Quando viu que eu estava com medo e queria gritar ele me sossegou Disse que ter medo de fantasma é coisa do passado Diferente esse fantasma Vocês conversaram o quê Um monte de coisas História Política Meus estudos Então valeu a pena Só valeu Ele vai voltar Prometeu Mais essa agora Nos próximos dias se não meses ela teria de ouvir aquela conversa de fantasma e fingir que acreditava até o Nilo inventar outra novidade VEIGA 1986 p 03 Expressão de negação O personagem usa esse termo para negar a afirmação da mãe Ocorre uma vez na obra 132 NÃO LEVAR CHUMBO Por isso é que a vida dos místicos é dificultosa A faculdade deles de ver além é na verdade uma condenação Eles precisam olhar muito onde pisam para não levar chumbo Ninguém quer ser invadido VEIGA 1986 p 163 Datado por Houaiss 2023 como ser malsucedido levar ferro entrar pelo cano Nesse trecho Sr Abreuciano e Dr Gumercindo conversavam sobre os místicos e os cuidados que estes deviam tomar na vida em sociedade Há apenas uma ocorrência na obra GAVIÃO MALANDRO Eis os contextos Segundo Houaiss 2023 que ou aquele que é sagaz arguto esperto brincalhão ou maroto Vá voando que eu não vou carregar gavião malandro ladeira acima VEIGA 1986 p 170 Te vira malandro VEIGA 1986 p 203 No primeiro trecho Tião manda seu gavião ir voando e não em seu ombro No segundo trecho Nilo reclama por estar com muita fome após chegar da comemoração da vitória das flores e sua irmã não ter preparado nada para ele comer e Aldair manda ele mesmo providenciar a própria comida Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Aprovei de ver o Teofrásio principal deles apontando em homem malandro inocente com a velha garrucha que era a dele com dois canos encavalados ROSA 1994 p 742 Há duas ocorrências na obra MOLECAGEM Eis os contextos Como eu dizia continuou o Dr Fajardo é uma brincadeira uma molecagem contra a qual nada se pode fazer e 133 nem devíamos estar aqui perdendo tempo e nos expondo ao ridículo VEIGA 1986 p 54 Molecagem desses forasteiros só pode ser Aliás estava demorando VEIGA 1986 p 119 Em Houaiss 2023 como ato de moleque molecada molequeira Etimologia da palavra quimb muleke garoto filho pequeno No primeiro trecho Dr Fajardo reclama da proporção que tomou a história do Torapé na cidade mesmo que a veracidade da doença não tivesse sido confirmada No segundo trecho Sr Cristófaro conta a Padre Audálio que a igreja foi invadida Há duas ocorrências ao longo da obra MOLENGO Dr Gumercindo acordou oco molengo com um zumbido renitente nos ouvidos que ele não sabia se vinha de dentro ou de fora VEIGA 1986 p 35 Segundo Houaiss 2023 de 1857 referese ao termo que faz as coisas com vagar e sem empenho indolente mole preguiçoso que não tem determinação firmeza resolução fraco frouxo covarde Gumercindo acorda indisposto no dia seguinte ao seu primeiro contato com um fantasma Há apenas uma ocorrência ao longo da obra MOLHAR O BICO É claro que houve algumas arruaças inevitáveis nessas ocasiões provocadas geralmente por pessoas que em tudo vêem um pretexto para molhar o bico mas fora ocorrências localizadas que em nada prejudicaram o espetáculo VEIGA 1986 p 196 Ingerir bebida alcóolica embriagarse O trecho em questão diz respeito à comemoração que aconteceu após as plantas se defenderem do ataque que sofreram Há apenas uma ocorrência ao longo da obra 134 SACUDIR ESPANTAR VOLTAR A MORRINHA Eis os contextos Como pôde uma solteirona assumida com todas as manias que essa condição acarreta cada vez se fechando mais em si e em casa de repente sacudir a morrinha por conta própria e sair sozinha ir à igreja conversar com estranhos fazer visita não falar em doença que era um assunto obrigatório VEIGA 1986 p 136 A custo se levantou e tomou uma xícara de café puro esperando com isso espantar a morrinha VEIGA 1986 p 35 Dr Gumercindo sacudiu a morrinha acabou de fazer a barba vestiuse e saiu para o tal passeio mas o que ele queria mesmo era apressar a passagem do tempo até o Nilo voltar do colégio ele tinha muito que conversar com aquele maroto para poder se orientar VEIGA 1986 p 42 Mas nenhuma comunidade por feliz que seja se conforma com a monotonia e de vez em quando descobre um problema real ou imaginário para sacudir a morrinha um escândalo um crime um acidente uma ameaça e Torvelinho teve o seu momento de desassossego VEIGA 1986 p 47 Por que mãe Eles animavam tanto a cidade Agora voltou a morrinha Bendita Morrinha VEIGA 1986 p 125 Datada em Houaiss 2023 como sentimento melancólico tristeza soturnidade indisposição para agir prostração No primeiro trecho Dª Angélica tenta entender a mudança repentina da irmã No segundo trecho Gumercindo acorda indisposto após encontrar um fantasma na noite anterior No terceiro trecho Gumercindo resolve sair um pouco de mais para melhorar o humor depois de se sentir mal por ter visto um fantasma No quarto trecho o autor introduz a explicação sobre a doença que atormentou Torvelinho No quinto trecho Nilo e a mãe conversam sobre o sumiço dos visitantes que haviam invadido a cidade Outro grande autor utiliza essa expressão em sua obra Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas A dita morrinha até 135 a água que se bebia pegava na boca da gente e rançava ROSA 1994 p 499 Há seis ocorrências ao longo da obra OS CÃES NADAM E A CARRASPANA PASSA Eu também Sei que é inveja Mas os cães nadam e a carraspana passa disse Nilo VEIGA 1986 p 159 Os cães ladram mas a caravana passa é um ditado arábe Significa que se deve ignorar as provocações que possam impedir o progresso e esquecer as críticas que não sejam construtivas Nesse contexto Nilo conversava com Dª Angélica Mariana e Aldair Ele brinca de trocar as palavras dos ditados populares para fazer os outros rirem Ao longo da obra observamos apenas uma ocorrência PERNAS PRA QUE TE QUERO Então o garotão viu um fantasma E pernas para que te quero VEIGA 1986 p 23 Com acepção de ação de fugir correndo antes de algo perigoso Nesse contexto Nilo fala ao pai sobre os fantasmas pela primeira vez Ao longo da narrativa há apenas uma ocorrência PUXAR A ORELHA DELE Belo amigo é o Doca disse Jamil Uma notícia tão boa E ele faz boca de siri Vou puxar a orelha dele VEIGA 1986 p 161 Expressão referente ao ato denotativo de castigar alguém repreender Nesse contexto Sr Abreuciano conta a Jamil que Doca já sabia que ele não trocaria a moradia na cidade pelo campo Há apenas uma ocorrência na obra 136 PXIIII Pxiiii Olhe aí pai Qualquer dia seu filhinho está embarcando pra pra pra chatanuga Bons ventos disse Aldair e saiu depressa para não ouvir o repique do Nilo Mas nem foi preciso descer a escadinha para o quintal da porta mesmo ela viu o Nequinho dando uma corrida em outro frango e chamou a mãe Ainda bem disse Dª Angélica E agora já que não preciso de arrumar a cozinha se me dão licença eu também vou como é mesmo Nilo Teiquenep Teiquenep É língua de índio VEIGA 1986 p 107 Expressão que significa um pedido de silêncio O filho com essa expressão pede o silêncio e a atenção do pai Ocorre uma vez na obra QUE BICHO LHE MORDEU Você foi à missa Sozinha Que bicho lhe mordeu VEIGA 1986 p 132 Expressão dita a uma pessoa que muda repentinamente de comportamento Nesse trecho D Angélica se assusta com a mudança repentina de Mariana Há apenas uma ocorrência na obra CAUSAR REBOLIÇO Como é que um bando de estranhos chega em um lugar pequeno e se instala num ponto central como é o largo sem causar reboliço quando um simples andarilho ou viajante ou novo funcionário de banco é imediatamente notado e vigiado até ser aceito VEIGA 1986 p 29 Foi quando alcançou a cidade a notícia de uma epidemia desconhecida que estaria grassando em parte do estado vinda da fronteira sudoeste ou de Goiás pelo Triângulo Os informes eram alarmantes mas vagos diziam que os pés das pessoas caíam durante a noite cortados na altura dos tornozelos por um cupim ou roedor invisível quando a vítima acordava de manhã sentavase na cama e fazia aquele gesto natural de procurar os chinelos com os pés 137 descobria que não tinha mais pés e era aquele reboliço na casa às vezes a família inteira tentando se equilibrar nos tocos das pernas outras vezes era só uma pessoa que amanhecia assim não se sabendo por que as outras tinham sido poupadas e nesses casos o mutilado ficava desconfiando de alguma vingança ou maldade VEIGA 1986 p 47 e 48 Datado em Houaiss 2023 como em forma de rebolo que tem formato redondo ou cilíndrico Nesse contexto Nilo está preocupado com as aparições de fantasmas e pessoas estranhas na cidade No segundo contexto o narrador apresenta a possível doença que atormentou os moradores de Torvelinho o Torapé Há duas ocorrências na obra SALVESE QUEM PUDER E quando estouraram as gargalhadas vindas não se sabia de onde mas de muito perto aí o pânico os eletrizou e foi o salvese quempuder VEIGA 1986 p 198 Expressão dita a uma situação alarmante perigosa que causa medo e pânico correcorre debandada Nesse contexto os vândalos tentavam destruir as flores mas a ação não foi concluída e as pessoas que estavam escondidas começaram a rir Há apenas uma ocorrência na obra TE VIRA MALANDRO Nem adiantaria Esses são pra mim e pra titia E eu Te vira malandro VEIGA 1986 p 203 E ele não sabe se virar VEIGA 1986 p 26 Deixe Nilo se virar sozinho VEIGA 1986 p 26 Os professores faltam muito porque ganham pouco e ainda recebem com atraso por isso precisam se virar em outras atividades VEIGA 1986 p 59 Gíria usada para dizer a outra pessoa de modo sincero resolva 138 Nesse trecho Nilo reclama por estar com muita fome após chegar da comemoração pela vitória das flores e sua irmã não ter preparado nada para ele comer No segundo contexto Gumercindo fala a Angélica que Nilo já está crescendo e ela precisa deixálo resolver suas coisas sozinho No terceiro contexto Nilo e Gumercindo estão preocupados com a crise vivida pelo país Aparecem quatro ocorrências ao longo obra TARDE PIASTE Digo mesmo Tarde piaste irmãzinha Essa novidade ó já tem barba de avô VEIGA 1986 p 128 A expressão idiomática tarde piaste dizse a alguém que chegou tarde ou interveio tarde num assunto É dizer alguma coisa depois de passado o momento oportuno dar uma explicação tardiamente quando já não pode ter qualquer efeito sobre a situação Mediante a consulta da Web surgiram duas explicações para a sua origem Segundo uma delas a expressão refere o Milhafre uma ave que não costuma apanhar as presas vivas mas que por vezes apanha um pintinho ainda vivo e o devora Mesmo que pie já não terá salvação possível A outra versão é a história de um galego que estava a comer ovos crus ao engolir um que não estava fresco já na garganta piou um pinto e assim este observou Tarde piaste Raimundo Magalhães Jr Nesse trecho Aldair chega apressada em casa para contar à família que os visitantes da cidade tinham sumido mas Nilo já havia contado a novidade para todos Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TOCAR A IDEIA PRA FRENTE A gente toca a ideia pra frente Aceitar ou não é com eles disse Tião VEIGA 1986 p 164 Com acepção de perseverar persistir 139 Jamil e TiãoLuz dão a ideia de oferecer o título de cidadão honorário para Dª Cynara e Sr Gumercindo mas têm receio de que eles não aceitem Há apenas uma ocorrência na obra TRATAR NA PALMA DA MÃO Se eu tivesse um amigo místico eu ia tratalo na palma da mão ia querer aprender com ele como é que se atravessa a fronteira para o mundo invisível VEIGA 1986 p 163 Em Houaiss 2023 significa tratar muito bem com muito carinho paparicar Nesse trecho Sr Gumercindo conversa com Jamil e Sr Abreuciano sobre as mudanças ocorridas em Torvelinho Ao longo da obra há apenas uma ocorrência VICEVERSA Conferidos os detalhes os dois chegaram à conclusão de que tinham visto o mesmo fantasma a menos que os fantasmas tenham traços individuais característicos sejam assim como asiáticos para os ocidentais e talvez viceversa VEIGA 1986 p 45 Temse em Houaiss 2023 a acepção em ordem invertida à ordem inicialmente dada em sentido inverso Nesse contexto Nilo e Gumercindo conversam sobre as aparições que viram e chegam à conclusão de que viram o mesmo o fantasma Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Depois se repraçava um entranço de viceversa com espinhos e restolho de graviá áspera raça verdepreto cor de cobra ROSA 1994 p 62 Há apenas uma ocorrência na obra XA COMIGO Xa comigo Estou aprendendo a lidar com eles VEIGA 1986 p 24 140 Gíria que significa deixa comigo tomar a responsabilidade por algum assunto O termo xa representa a contração do verbo deixa Nesse trecho o pai brinca com Nilo a respeito dos fantasmas Ao longo da obra há apenas uma ocorrência ESTAR MEIO ZONZO Nilo disse que o frango ainda estava meio zonzo mas parecia que ia aprumar VEIGA 1986 p 16 Em Houaiss 2023 tem sentido como tomado por tonteira vertigem Nilo fala como estava Nequinho após o ataque do gavião Ao longo da obra há apenas uma ocorrência ESTAR ZURETA MESMO Eh rapaz você está zureta mesmo hein VEIGA 1986 p 20 Em Houaiss 2023 como um tanto maluco que se encontra fora do juízo confuso atordoado ou transtornado azoratado Nesse trecho Nilo e Tião conversavam à beira do largo onde Nilo viu os fantasmas Guimarães Rosa também utilizou essa expressão em sua obra Grande Sertão Veredas Seguro já nasceu assim zureta arvoado criatura de confusão ROSA 1994 p 99 Há apenas uma ocorrência na obra Referências HOUAISS Antônio VILLAR Mauro S Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 2023atualização VEIGA José J Torvelinho Dia e Noite 2ª Edição São Paulo DIFEL 1986 141 Culturemas em O relógio Belisário 1995 Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves Sinara Souza Fernandes No romance O Relógio Belisário José J Veiga faz opção pelo narrador com visão de dentro a personagem não tem segredos para o narrador que conhece de igual modo as intenções de todas as personagens assimilando suas dúvidas e suas certezas Wania de Sousa Majadas 2007 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas LOBEIRA É lobeira Fruta de lobo Lobeira Não pode Eu mesmo plantei De sementes VEIGA 1999 p 31 A lobeira frutadelobo ou guarambá é um pequeno arbusto ou árvore de até 5 metros de altura Pertence à família das Solanaceae a mesma do tomate e do jiló O fruto da lobeira lembra um tomate na aparência Calmante combate a diabetes epilepsia hepatite A saúde do loboguará depende do consumo da lobeira na defesa contra o verme que ataca os rins e o mata Dentro da obra o termo representa muito para o Desembargador por lembrar de momentos da sua infância no sítio A escolha desse culturema revela uma semelhança com outra planta que desconhecíamos Ao longo da obra há quatro ocorrências 142 JURUBEBA Ele tinha adotado o hábito duas vezes por dia depois do café da manhã e antes de escurecer inspecionar dois arbustinhos plantados por ele mesmo desde as sementes pensando que eram jurubeba e que já estavam de quase um metro de altura um deles um tanto maiorzinho VEIGA 1999 p 19 Em Houaiss 2023 verbete datado de 1627 no âmbito da angiosperma designação comum a várias plantas do gênero Solanum da família das solanáceas geralmente com usos medicinais Arbusto pubescente da família das solanáceas de folhas polimorfas inteiras ou lobadas angulosas e sinuadas flores em panículas semelhantes a umbelas as raízes e frutos são amargos e usado contra a icterícia como desobstruentes e febrífugos Augusto dos Anjos em Eu 1912 utiliza o termo em um de seus poemas intitulado Tristezas de Um Quarto Minguante na seguinte estrofe Ah Minha ruina é peor do que a de Thebas Quizera ser numa ultima cobiça A fatia esponjosa de carniça Que os corvos comem sobre as jurubebas ANJOS 1912 p 126 A grande ocorrência nessa obra cerca de dez vezes demonstra a variedade da flora dentro da obra e apresenta plantas não tão conhecidas mas de cunho regionalista CHUCHU O JILÓ A ABOBRINHA O MANGARITO E O ALHO Choveu vários dias sem trégua obrigando as pessoas a ficarem mais tempo recolhidas em casa o que foi bom para a arrumação da cabeça de cada um por dentro e bom para o chuchu o jiló a abobrinha o mangarito e o alho e ainda para o rego que vinha jorrando pouco ultimamente VEIGA 1999 p 47 Datado em Houaiss 2023 de 1730 no âmbito da angiosperma tem como designação comum a algumas plantas do gênero Xanthosoma da família das aráceas cultivadas como ornamentais e especialmente pelos tubérculos e folhas comestíveis cocodenazaré mangará mangarámirim mangaraz taioba taiova Erva Xanthosoma sagittifolium nativa da América tropical de folhas sagitadas ovadas com cerca de 50 cm de comprimento e um pouco menores na largura e espata esverdeada maior que o espádice 143 matabala STP Erva X riedelianum nativa do Brasil de folhas sagitadas panduriformes com 15 cm de comprimento espata brancoesverdeada e espádice branco muito menor que a espata Na obra de João Salomé Queiroga Maricota e o Padre Chico Lenda do Rio S Francisco romance brasileiro 1871 o termo também aparece juntamente com algumas plantas da mesma família utilizadas para alimentação no seguinte trecho A segunda coberta consistia em doces de fructas do paiz excellente goiabada de calda e de massa burity de colher conserva de cagaiteiras e pitangas das quaes havia também transparentes geléas em copinhos de crystal o saborosíssimo doce de nata de leite para comerse com machaxeira inhames de dedos mangarito e batata doce assado tudo ao forno QUEIROGA 1871 p 5859 Esse termo encontrase dentro da obra como diversas outras plantas típicas do campo utilizadas para consumo Há somente uma ocorrência CHÁ DE LOSNA OU BARBATIMÃO Ela sabe tudo quanto é remédio e pode querer me sapecar um chá de losna ou barbatimão e aí sim é que vou mesmo passar mal de verdade VEIGA 1999 p 11 Datado em Houaiss 2023 do ano de 1749 no âmbito da angiosperma o termo seria a designação comum a plantas do gênero Stryphnodendron da família das leguminosas subfamília mimosóidea e do gênero Dimorphandra subfamília cesalpinioídea Árvore pequena Stryphnodendron adstringens de folhas bipenadas flores avermelhadas ou esbranquiçadas e fruto carnoso barbadetimão barbatimãoverdadeiro cascadavirgindade casca dobrasil charãozinhoroxo Ocorre nos campos e cerrados do Pará até São Paulo e Mato Grosso do Sul a madeira é útil e resistente à umidade extraise tanino do fruto e esp da casca que também fornece tinta vermelha e tem vários usos medicinais as sementes são tóxicas ao gado No romance O Sertanejo de José de Alencar o termo aparece lindamente descrito dentro da tradição sertaneja Havia á beira da varsea e já no taboleiro um alto e esgalhado barbatimão que 144 estendia rasteiras os grossos ramos encarquilhados formando uma sebe viva ALENCAR 1875 p 75 Dentro da obra o verbete aparece somente uma vez BOLO DE CARÁ Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre sabe quem é Aquela especialista em bolo de cará você gostou se lembra VEIGA 1999 p 16 No Houaiss 2023 datado de 1587 no âmbito da angiosperma a palavra seria uma designação comum a várias trepadeiras do gênero Dioscorea da família das discoreáceas a maioria com folhas cordiformes ovadas e acuminadas e frutos capsulares inúmeras nativas do Brasil algumas exóticas e cultivadas pelos tubérculos comestíveis Houaiss 2023 informa que este verbete vem do tupi kara no sentido de nome comum a plantas dioscoreáceas Aparece duas vezes na obra enfatizando seu uso para consumo BANCO DE GAMELEIRA Muito bem pensado disse Mirkiz tirando o chapéu e o embornal e pendurandoos na bicicleta já encostada no banco da gameleira VEIGA 1999 p 37 Em Houaiss 2023 no ano de 1669 dentro do âmbito da angiosperma o verbete tem designação comum a diversas árvores da família das moráceas especialmente do gênero Ficus com madeira geralmente usada para a confecção de gamelas e objetos domésticos nativa do Brasil MA de folhas coriáceas flores róseas em cimeiras e drupas piriformes Encontrase bem recorrente na obra O Sertanejo de José de Alencar sendo uma de suas quatro ocorrências a seguinte Depois 145 de algumas voltas iam sentarse à sombra de uma gameleira que ficava no principio da matta ALENCAR 1875 p 224 Ainda na literatura brasileira Joaquim Felício dos Santos em seu Acayaca romance indigena 1729 1894 recorre a este termo no seguinte contexto Ahi uma frondosa gameleira estendia ao longe suas pesadas ramagens o solo era plano e alcatifado de gramineas sempre virentes SANTOS 1729 p 69 No decorrer da obra há duas ocorrências É importante ressaltar a escolha desse culturema acerca de mostrar a cultura como essa planta se apresenta na natureza e sua utilização SAMAMBÁIAS CHORONAS ENORMES O delegado Pahl achou que a pausa era oportuna para cortar o recitativo da condessa e pediu licença para percorrer a casa desde a porta arrombada porta lateral que dava para um alpendre lajeado cheio de trepadeiras e plantas raras e duas samambaias choronas enormes que maravilharam Holmes que acompanhava a inspeção juntamente com José Carlos a convite do delegado VEIGA 1999 p 120 Segundo Houaiss 2023 no âmbito das pterodófitas seria o feto Polypodium subauriculatum da família das polipodiáceas com rizomas rampantes frondes de até 1 m oblongolanceoladas pêndulas e recurvadas nativo da Índia e Austrália e muito cultivado como ornamental também em outras regiões tropicais com vários híbridos samambaiademetro samambaiapaulista Somente uma ocorrência TIRIRICA Havia umas mandioqueiras e bananeiras dois ou três mamoeiros sem nenhum trato e muita tiririca VEIGA 1999 p 129 Segundo o dicionário Houaiss dos séculos XVIIXVIII no âmbito da angiosperma com designação comum a várias plantas de diferentes gêneros da família das ciperáceas muitas tidas como daninhas às plantações embora algumas sejam úteis especialmente como medicinais Planta de até 40 cm Cyperus rotundus com inflorescências umbeliformes de distribuição cosmopolita 146 considerada como uma das piores ervas daninhas usado como estimulante febrífuga diurética e adstringente e outrora em perfumaria junçaaromática pédegalinha tiriricacomum Na literatura brasileira Joaquim Felício dos Santos em seu Acayaca romance indigena 1729 1894 recorre a este termo no seguinte contexto Levantouse um tumulto extraordinário Os guerreiros iá corriam às armas quando viram sobre o tronco decepado da Acayaca o vulto feroz de Cururupeba brandindo a macana e agitando um facho de tiririca incendido em signal de que queria falar SANTOS 1729 p 30 Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas MACHADO DE ASSIS Finalmente puderam entrar no assunto do roubo A condessa fez uma recapitulação desde a chegada de Petrópolis Tomara um banho para tirar a poeira e aliviar o calor Pedira uma sopa de ervilha com torresmo e torradas lera umas páginas de Quincas Borba de Machado de Assis que escritor precisava ser traduzido pelos ingleses eles iam gostar lembra muito Sterne Tomara uma dose de sherry não passava sem ele e fora para a cama VEIGA 1999 p 119 Escritor brasileiro e autor do romance Quincas Borba estando associado ao Realismo brasileiro A busca da verdade é dos traços da escola e de sua obra Para os realistas a verdade pode ser alcançada por meio do recurso das ciências do Positivismo do Determinismo do Evolucionismo Quincas Borba não é o romance mais conhecido de Machado de Assis disputado por Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro mas tem a mesma relevância O escritor brasileiro Machado de Assis é citado no romance de JJ Veiga quando descreve a cena da chegada de José Carlos e do detetive Sherlock Holmes à casa da condessa de Wilson para investigarem o roubo das joias 147 LIMA BARRETO É um jornalista com quem cruzo vez ou outra Não sei onde mora não é pessoa de minhas relações Mas me consta que é funcionário do Ministério da Guerra O nome dele é Lima Barreto Afonso de Lima Barreto Escreveu qualquer coisa sobre o tal homem que fala javanês VEIGA 1999 p 123 Jornalista e escritor brasileiro pertencente ao Prémodernismo e Modernismo brasileiro publicou romances contos e crônicas principalmente em revistas populares O escritor Lima Barreto aparece na obra como um personagem que possivelmente poderá ajudar a solucionar o roubo das joias ao encontrar o homem que falava javanês Mas como encontrar esse homem se ele é um personagem ficcional da obra de Lima Barreto Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas COMADRE DELZIRA Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre VEIGA 1999 p 17 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do latim eclesiástico commāterātris no sentido de mulher que pelo batismo do neófito se tornava entre os cristãos como uma sua segunda mãe Datado do Houaiss do século XV referese à madrinha de uma pessoa em relação aos pais desta Por extensão de sentido da linguagem informal pode ser também mulher com quem se mantêm relações familiares de amizade ou de companhia tratamento que as pessoas do povo dão às mulheres conhecidas às vizinhas Na obra comadre Delzira é vizinha muito amiga de Dª Artemisa e o valor do culturema citado é de cunho afetivo de amizade Há somente duas ocorrências mas de grande valor cultural 148 FORO ÍNTIMO O desembargador não precisou pensar muito para responder naquela sua voz calma de quem está sempre ensinando que imagem de santo deve ficar no quarto sim porque religião é assunto de foro íntimo VEIGA 1999 p 8 A obra apresenta também a locução foro íntimo que o Houaiss 2023 do ano de 1105 define como julgamento segundo a própria consciência consciência Segundo o Houaiss 2023 com datação do ano 1105 no âmbito jurídico referese à extensão territorial onde determinado juízo exerce sua competência Não tenho mais nenhuma obrigação às segundasfeiras nem às terças nem às quartas Não preciso mais vestir uma camisa bempassada me engravatar calçar sapatos exagerados e sair com uma pasta estufada de papéis para o Foro Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim fórum no sentido de praça pública A pronúncia intercalase entre foroó ou foroô Como primeira definição o termo iniciado com letra maiúscula aparece somente uma vez Como locução o vocábulo aparece cinco vezes Culturemas Relacionados à Instituições Culturais criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas comuniculturemas PAISAGEM A ÓLEO DE OSWALDO TEIXEIRA Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa VEIGA 1999 p 12 Datado em Houaiss 2023 de 1567 no âmbito das belasartes com acepção de pintura em que o tema principal é a representação de formas naturais de lugares campestres Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do francês paysage no sentido de extensão de terra que a vista alcança 149 Ao longo da obra há um só registro ÚLTIMA CEIA DE LEONARDO DA VINCI Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa e por incrível uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido o espelho com moldura de metal dourado cheia de floreios tendo no alto do vidro em letras foscas imitando manuscrito a saudação BomDia VEIGA 1999 p 12 É um afresco de Leonardo da Vinci que representa a última refeição que de acordo com os cristãos Jesus dividiu com seus apóstolos em Jerusalém antes da crucificação Ela é a base escritural para a instituição da Eucaristia também conhecida como comunhão Ao longo da obra há apenas uma ocorrência CASA SUCENA DO RIO DE JANEIRO Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa e por incrível uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido VEIGA 1999 p 12 150 Datado em Houaiss 2023 de 1221 o verbete casa com acepção de estabelecimento ou firma comercial loja Sucena não aparece no dicionário mas estabelecese relação com nome dado ao estabelecimento comercial localizado na cidade do Rio de Janeiro Nesse trecho ao apresentar o local onde ficava o Relógio da Arara também são apresentados outros objetos de arte e decoração da casa do casal Mariano e Artemisa dentre os objetos pertencentes ao casal é mencionado dois quadros de pintores famosos que foram comprados pelo pai de Artemisa numa loja de nome Sucena localizada no Rio de Janeiro MUSEU NINA ROGRIGUES Já o capitão Virgulino Ferreira mais conhecido pelo apelido de Lampião perdeu a vida por causa de um relógio Ele possuía um Roskoff de ouro do qual nunca se separava dizem que presenteado pelo Dr Floro Bartolomeu do Juazeiro Em escaramuça com a polícia da Paraíba em 1938 quando finalmente conseguiu se desvencilhar quis saber a hora E cadê o relógio Procura nos bolsos procura na patrona nada Muito triste com a perda mas precisando de um esconderijo seguro até a poeira assentar tocouse com o bando para o Oco dos Angicos em Sergipe Mas não se conformava com a perda do relógio e mandou dois homens refazerem um caminho até o ponto do embate com os paraibanos a ver se o achavam quem sabe não é Mas os homens foram percebidos por um contingente da polícia baiana que os pombeou até o esconderijo do bando Caiu em cima deles de surpresa e levou todos para o Museu Nina Rodrigues na Bahia mas só as cabeças A que pode levar o apego a um relógio VEIGA 1999 p 62 Em Houaiss 2023 o substantivo museu aparece com acepção de instituição dedicada a buscar conservar estudar e expor objetos de interesse duradouro ou de valor artístico histórico etc Nina Rodrigues é o nome do museu localizado em Salvador Bahia Esse trecho relata os motivos pelo qual os policiais baianos conseguiram decapitar os cangaceiros principalmente o capitão do grupo Lampião que em busca de seu relógio perde a vida As cabeças dos cangaceiros ficaram exposta ao público por trinta anos 151 no museu Nina Rodrigues em Salvador BA ou seja do período da decapitação até 1968 A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido VEIGA 1999 p 12 A persistência da memória no texto de Veiga é referência a obra de Salvador Dalí datada de de 1931 A representação desse quadro no texto literário revela uma alegoria ao gosto por relógios simbolizando a noção de temporalidade tempo real e tempo do inconsciente e de memória temas recorrentes na obra O Relógio Belisário PALÁCIO DE BAGDÁ Exemplo histórico disso é Harum alRashid o quinto califa abácida da Arábia Apesar de amante e protetor das ciências e das artes era sujeito a acessos de ira destrutiva contra pessoas animais e coisas Mas depois que recebeu do imperador Carlos Magno o presente de um pônei da Terra Nova com o qual passou a conviver em seu palácio de Bagdá e nas tendas quando em campanha experimentou um processo de abrandamento a ponto de parecer outra pessoa segundo depoimento de Abu Nuwas poeta e companheiro de farras do califa Passou a se interessar pelos problemas de seus serviçais mesmo os mais humildes a protegêlos contra os graduados que eram aconselhados a ser brandos na aplicação de castigos necessários A ira antiga só funcionava contra quem não tratasse o pônei com a deferência devida VEIGA 1999 p 15 No âmbito da arquitetura com acepção de vasta e suntuosa residência de um monarca de um alto dignitário do poder eclesiástico de um chefe de estado etc 152 Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim Palatìumìi Palatino colina de Roma onde ficava a moradia imperial nesse contexto moradia do quinto califa abácida da Arábia GUERRA NAS ESTRELAS Doutrinando a si mesma aos poucos Dª Artemisa resolveu não se fechar ao relógio por enquanto Podia até ser divertido se ela também conseguisse ver as cenas que ele mostrava a Bel desde que não fossem assustadoras se é que havia mesmo alguma coisa a ver porque podia ser tudo invenção criança inventa muito antigamente elas eram mais moderadas essa nova mania deve ser consequência do hábito de ver televisão aquelas coisas de robô de guerra nas estrelas Mas peraí Dolores e Simão criticavam muito a televisão diziam que ela mata nas crianças a capacidade de inventar dá tudo mastigadinho vaise saber quem tem razão VEIGA 1999 p 63 A expressão que não aparece em Houaiss 2023 referese a uma franquia do tipo operação no espaço criada pelo cineasta George Lucas e que conta com uma série de oitos filmes de fantasia científica O primeiro foi lançado em 1977 apenas com o título de Star Wars e tornouse um fenômeno mundial de cultura popular Segundo MASTROCOLA 2015 Guerra nas Estrelas é uma narrativa que se desdobra em múltiplas plataformas midiáticas como internet livros videogames quadrinhos televisão e cinema A expressão aparece na obra quando Dª Artemisa pensa sobre as visões que Belisário ao tocar do relógio presencia questionando se as visões podem ser fruto da imaginação do menino por influência do hábito de assistir televisão SHERLOCK HOMES No primeiro jantar a bordo José Carlos teve uma surpresa agradável Convidado com ele para a mesa do comandante estava também uma personalidade famosa Mr Sherlock Tweedsmuir Holmes cujo trabalho de detetive fora divulgado no mundo inteiro por seu amigo Arthur Conan Doyle Até então José Carlos pensava como aliás quase todo mundo que Sherlock Holmes fosse 153 personagem ficcional de Sin Arthur Não seria aquilo uma brincadeira do comandante para estabelecer um clima de descontração durante a viagem Vou fazer de conta que acredito Afinal estou em vilegiatura como gosta de dizer o conselheiro Rui Barbosa VEIGA 1999 p 74 Famoso detetive personagem fictício gerado pela mente do médico e escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle Ele nasceu no interior da trama do livro Um Estudo em Vermelho lançado de forma inédita pela revista Beetons Christmas Annual 1887 Obsessivo na hora de decifrar um mistério Sherlock ganhou fama ao se valer da metodologia científica e da lógica dedutiva Sherlock Holmes em viagem sigilosa ao Brasil conhece José Carlos o primeiro dono do Relógio da Arara e este convidao para hospedarse em sua casa no Rio de Janeiro e também a ajudar nas investigações do roubo das joias da condessa Relevando a forma como o autor transita do ficcional para o real o personagem utilizado como culturema aparece nove vezes dentro da obra ALMA PENADA Exatamente Ele andou de ceca a meca por muito tempo como alma penada até que encontrou o seu lugar Resta saber até quando VEIGA 1999 p 13 Datado do século XIII Houaiss 2023 registra no âmbito da religião com acepção em parte imaterial do homem dotada de existência individual e que subsiste após a morte do corpo No uso informal a expressão é usada para se referir a espírito desencarnado fantasma O trecho referese ao relógio da Arara que por ser muito antigo passou por diversos lugares até pertencer à família do desembargador Mariano Em sua obra O caminho para a distância 1933 Vinicius de Moraes faz uso também do termo hifenizado em um de seus poemas intitulado Judeuerrante assim presente nos versos a seguir Sem me importar com a noite que vem vindo Como uma pavorosa almapenada MORAES 1933 p 137 154 ESCUTAR UM CORO DOS ANJOS Enquanto o desembargador olhava para o menino para ver a reação dele ficou como que congelado A estranheza do adulto e a atitude do menino chamaram a atenção de Simão que ficou olhando os dois sem nada entender Belisário estava imóvel o braço direito esticado em direção às plantas a boca entreaberta como para falar mas os olhos muito ativos acompanhando alguma coisa que acontecia à frente dele Não demorou muito Simão também entrou naquela espécie de transe ficou parado como estátua mas os olhos seguindo qualquer coisa que aparentemente só ele e o menino viam Parece que vocês viajaram para longe e me deixaram sozinho aqui disse o desembargador Viram passarinho verde Ou escutaram um coro de anjos VEIGA 1999 p 32 A reação de Simão ao ouvir o carrilhonar do relógio foi semelhante a do menino Belisário ao ouvir seu toque Assim nesse trecho os dois se encontravam como mensageiros do relógio vendo as cenas que este transmitia MÉDIUM DO RELÓGIO Mirkiz pensou coçando o queixo Grande maçada disse Se ele tem medo pode dificultar as coisas Precisamos primeiro achar um jeito de exorcizar o medo Vamos convencer o menino de que ele é um médium do relógio mas vamos dizer médico e que ser médico de relógio é uma qualidade rara existem pouquíssimos no mundo e que ele tem mais é que aceitar em vez de ficar apavorado Se ele escutar o relógio e abrir os olhos ao que ele está querendo mostrar vai ver e saber coisas do arcodavelha Vai ser uma pessoa invejada Não não Melhor não dizer essa última parte a ele pode não ser bom Vamos insistir só nos aspectos positivos VEIGA 1999 p 69 Datado em Houaiss 2023 de 1881 segundo o Espiritismo pessoa detentora de dons que supostamente lhe permitem conhecer coisas dados ocorrências por meios sobrenaturais Expressão idiomática utilizada quando algo de improvável acontece com características positivas As palavras coro que tem sentido de conjunto de sons manifestados por várias vozes que vibram em harmonia e anjos segundo o Cristianismo ser 155 puramente espiritual servidor de Deus e mensageiro entre Ele e os homens dão um aspecto religioso ao fraseologismo Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim medius a um que está no meio intermediário pelo inglês medium intermediário pessoa que intermedeia a comunicação com os espíritos Ao longo da obra existem apenas dois registros CIGANOS DE HOJE Disse que as civilizações indianas e chinesa codificaram importantes conhecimentos sobre propriedades curativas de plantas e que os ciganos de hoje guardam muito desse conhecimento VEIGA 1999 p 48 Datado em Houaiss 2023 de 1521 no âmbito da religião com acepção relativa a indivíduo dos ciganos povo itinerante que imigrou do Norte da Índia para o oeste antiga Pérsia Egito de onde se espalhou pelos países do Ocidente caracterizado pelo nomadismo Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do francês cigain atual tsigane ou tzigane do grego bizantino athígganos intocável nome de um grupo de heréticos da Ásia Menor que evitava o contato com estranhos a que os ciganos foram comparados O verbete aparece na obra quando Sr Rufus sentado à mesa para o almoço comenta com a família do desembargador Mariano sobre seu interesse em relação às propriedades medicinais das plantas referindose ao povo cigano como detentores de conhecimentos medicinais DE GERAÇÃO A GERAÇÃO O resto do almoço foi pouco conversado Mesmo assim especulado vez ou outra o Sr Mirkiz falou de suas viagens do seu interesse por ervas como aprendera sobre as propriedades de várias espécies delas a reconhecêlas e a preparálas Falou do perigo de envenenamento no caso de se confundir erva benéfica com erva daninha já que o próprio gado ás vezes se engana Informou que a terapia por ervas é conhecimento muito antigo precede a medicina mas infelizmente se perdeu nas culturas ditas civilizadas Mesmo 156 assim alguma coisa ficou e é passada de geração a geração entre as pessoas das classes pobres que não têm acesso á medicina acadêmica VEIGA 1999 p 47 Em Houaiss 2023 atribuise a acepção conjunto de pessoas que descendem de alguém em cada um dos graus de filiação descendência Expressão que aparece em vários livros bíblicos com sentido que o conhecimento a respeito de Deus deve ser transmitido de pais para filhos ou seja para os descendentes EZEQUIEL Lembrou que a fitoterapia já era referida por Ezequiel com as palavras E sobre a torrente nascerão árvores frutíferas e os seus frutos servirão de sustento e as folhas de medicina Disse que as civilizações indianas e chinesa codificaram importantes conhecimentos sobre propriedades curativas de plantas e que os ciganos de hoje guardam muito desse conhecimento VEIGA 1999 p 47 A expressão aparece na Bíblia como um profeta autor do livro Ezequiel Ele é um contemporâneo de dois outros profetas Jeremias e Daniel De acordo com o Cristianismo Ezequiel foi um sacerdote que profetizou por 22 anos durante o século VI aC através de visões que teve durante o exílio na Babilônia A expressão aparece na fala de Rufus Mirkzis para referirse ao livro de Ezequiel citando a passagem bíblica para fundamentar seus conhecimentos e interesses fitoterápicos CASTIGO DE BABEL A festa começava a murchar muitos convidados já se retiravam e lá embaixo os cocheiros faziam o maior alarido Holmes deixou a janela e foi ao salão principal onde o apresentaram a mais duas ou três figuras importantes que não falavam inglês Aceitou outro uísque e soda fazer mais o quê que tomou sozinho com as pessoas o olhando à distância o que não o desagradou porque nada é mais penoso do que se ficar lado a lado com alguém com quem não se pode conversar por falta de um código linguístico comum O 157 castigo de Babel foi rigoroso demais coisa mesmo da Bíblia VEIGA1999 p 113 Houaiss 2023 registra o verbete com acepção de confusão mistura de línguas A expressão usada por Sherlock Holmes faz referência à torre de Babel mencionada no livro do Gênesis da Bíblia que teria sido construída pelos descendentes de Noé após o dilúvio Segundo os relatos bíblicos Deus desce para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam e vendo o que faziam resolveu confundir lhes as línguas para impedir que prosseguissem com sua empreitada Por isso se chamou o seu nome Babel porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra Gênesis 119 SÓ DEUS SABE Mas quem Quem mais teria a desenvoltura necessária sabe vestir um fraque sem ficar parecendo barata em pé fala inglês e francês sem gaguejar sabe comer em banquete sem se atrapalhar com os talheres tem sangue frio para ouvir palavras duras e não se ofender Só Deus sabe o que um negociador brasileiro de empréstimo ouve em Lombard Street VEIGA 1999 p 78 Nesta expressão Deus aparece em Aulete digital com a seguinte acepção O ser supremo que é perfeito criador de todas as coisas ente infinito e existente por si mesmo a causa necessária e fim de tudo que existe O termo sabe aparece com acepção ter conhecimento informação ou notícia de ou sobre algo A expressão tem sentido de exprimir dúvida desconhecer informação e sua origem deuse por meio dos cristãos que acreditam ser Deus o criador e conhecedor de todas as coisas Nesse trecho José Carlos durante a viagem de volta ao Brasil e em jantar com o comandante do navio e alguns convidados presencia na mesa comentários políticos e jogos diplomáticos relacionados os britânicos e franceses que segundo o próprio personagem em nada lhe interessavam e usou a expressão para colocar dúvida ou demonstrar repúdio ao que ouvia 158 DEUS ME LIVRE Mas foi assim disse o menino Um dia achei na rua foi lá no Campo Lindo antes do Corumbá Achei uma nota de cinco Fui comprar picolé com ela a moça não aceitou Fui comprar um sanduíche bauru o moço não aceitou a nota Ninguém queria aceitar a nota porque faltava um canto nela diziam que não valia mais Aí fiquei com raiva rasguei em pedacinho e ainda pisei em cima Agora cocô isso eu nunca comi Deus me livre VEIGA 1999 p 56 Em Houaiss 2023 temos a expressão regionalista característica dos moradores do Rio de Janeiro com acepção lugar ermo e afastado de difícil acesso Em O Relógio Belisário a expressão aparece com sentido religioso pedido a Deus para livrar do mal de coisas ruins Somente uma ocorrência TELEGRAMAS PARA PARIS Mais ou menos informado sobre o diaadia do mundo José Carlos expediu alguns telegramas para Paris Londres e Rio de Janeiro e deitouse para descansar um pouco antes do chá das quatro que os ingleses teimam em chamar de chá das cinco Mas o leve balanço do navio no porto o adormeceu e ele perdeu o chá VEIGA 1999 p 76 Em Houaiss 2023 o termo aparece datado em 1874 no âmbito dos meios de comunicação com acepção de comunicação transmitida ou recebida via telégrafo Houaiss 2023 no informa que o verbete vem do inglês telegram mensagem transmitida por telégrafo prov pelo fr télégramme id Ao longo da obra há dois registros do termo 159 Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas RELÓGIO PARA O BRASIL A história que nos interessa começa com a vinda do relógio para o Brasil VEIGA 1999 p 72 A título de curiosidade o termo é datado no Houaiss 2023 do ano de 1534 relativo ao Brasil ou o que é seu natural ou habitante especialmente o indígena brasileiro O termo aparece na obra para explicar a origem e viagem do relógio mostrando como o mesmo percorreu vários países inclusive o Brasil Houaiss 2023 apresenta o verbete no sentido de paubrasil substantivo natural do Brasil Ao longo da obra há sete ocorrências CORUMBÁ Aí eu não sei não Quando me lembro eu estava no Corumbá na casa do professor Ramir VEIGA 1999 p 52 Em Houaiss 2023 datado de 1914 o termo referese a localidade geralmente deserta e distante de qualquer povoado Houaiss 2023 traz a origem da palavra ligada ao topônimo Corumbá MS localidade distante o nome do topônimo seria o tupi kurumba no sentido de banco de cascalho Nasc confirma o tupi kuru no sentido de seixo e diz faltar explicação para mba A escolha do vocábulo é pelo fato de ser a cidade em que Belisário morava que passou por alguns problemas por conta do relógio e acabou fugindo Há três ocorrências dentro da obra CARROÇA GRANDE Ih tanta Vi uma carroça grande tombando e pegando fogo Os dois cavalo acho que era dois caindo e esperneando de barriga 160 pra cima querendo se soltar das correias Vi umas bolas de fogo saindo do pé de umas árvores lá longe e vindo voando pra cá Vi VEIGA 1999 p 33 Segundo Houaiss 2023 do ano de 1721 o termo referese ao carro grosseiro quase sempre feito de madeira geralmente puxado por animais usado para transporte de carga Houaiss 2023 mostra o verbete de origem italiana carrozza 1575 viatura para pessoas com quatro rodas puxada por um ou mais cavalos derivado do latim medieval de Roma 1363 carrotĭa carrus ou carrumi É muito interessante a história em torno do culturema em questão pois tem origem há muitos anos atrás mas para o meio rural é como se o veículo fosse criado exclusivamente por agricultores Aparece três vezes dentro da obra Na Literatura Brasileira encontramos o culturema presente em diversas obras do contexto rural entre elas O Cortiço 1890 de Aluísio Azevedo na seguinte descrição À comida arranjavalha mediante quatrocentos réis por dia uma quitandeira sua vizinha a Bertoleza crioula trintona escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada cora um portuguez que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade AZEVEDO 1890 pag 8 Há três ocorrências dentro da obra enfatizando a atualização de um transporte antigo para o meio rural de hoje CALDEIRÕES NA COZINHA As panelas os tachos e os caldeirões na cozinha também deviam estar repercutindo o tumulto repentino e inexplicável VEIGA 1999 p 01 De acordo com o Houaiss 2023 no ano de 946 a palavra dizse do compartimento de uma residência geralmente afastado da parte social dessa equipado com objetos próprios para preparação de alimentos recinto mais ou menos afastado da parte social de um restaurante bar navio avião etc onde são preparados alimentos A escolha desse culturema deuse pela importância que esse local tem para a obra culturalmente tendo quatorze ocorrências ao longo do texto e ambiente muito propício para alimentação Segundo Houaiss 2023 o verbete tem origem latina coquīna oucocīnaae no sentido de a arte de cozinhar 161 MENINO BELISÁRIO Mas havia uma pessoa na área do tumulto que não estava só assustada estava fascinada também Era o menino Belisário às vezes Bel às vezes Béu que tinha a sua cama no porão bem embaixo da sala de jantar de três amplas janelas que se abriam para a planície em volta da casa e para os morros distantes De sua cama no porão Belisário via tudo como num cinema com medo de ver mas olhando VEIGA 1999 p 6 Datado em Houaiss 2023 de 1817 1819 o termo é registrado com acepção que tem má sorte malfadado infeliz Etimologia Segundo Houaiss o antropônimo Belisário está associado ao general de Justiniano 527565 o qual após brilhantes vitórias foi destituído de seu cargo e cego pedia esmolas pelas ruas O trecho acima narra o momento inicial de abertura do romance O menino Belisário em seu dormitório escuta barulho de cavalos e das panelas caindo fica assustado e ao mesmo tempo fascinado Era uma visão Curiosamente no âmbito da literatura Bernardo Élis em O Tronco 1988 registra o nome de um dos seus personagens como Belisário NA SUA FALA arrastada de maranhense Belisário dizia Eu cá num vou Num vou nessas tropelias do coronel Estou aqui para cuidar de gado e não para fazer arrelias Se eu gostasse de cangaço estava mais os jagunços de Pernambuco Oxém apois num vê home de Deus Belisário conversava no rancho de palha perdido no oco do mundo Seu interlocutor era também vaqueiro de Pedro Melo o Casemiro encarregado daquele sítio ÉLIS 1988 1956 p 43 Há sessenta e um registros do termo ao longo da obra Dª ARTEMISA Ouvindo todas as recomendações Dª Artemisa perguntou ao marido por que sendo assim ele não instalava o relógio na cômoda do quarto deles ao lado da redoma de Nossa Senhora da Conceição VEIGA 1999 p 8 Datado em Houaiss 2023 do século XV o substantivo aparece com a variação artemísia no âmbito das angiospermas o termo designa conjunto de arbustos e ervas do gênero Artemisia da família 162 das compostas com cerca de 350 ssp aromáticas e com capítulos pequenos nativas de regiões temperadas do hemisfério norte também do Oeste da América do Sul e do Sul da África geralmente em áreas secas algumas cultivadas para tempero culinário como o estragão para infusões estimulantes como absinto medicinais ou apenas tomadas como chá O trecho acima referese ao momento em que o desembargador Mariano procura um local da casa para colocar o Relógio da Arara e Dª Artemisa sugere que coloque na cômoda do quarto deles mas Mariano prefere colocálo no ambiente onde há as pinturas adquiridas pelo pai dela No âmbito da literatura Susan Vreeland em A Paixão de Artemísia 2010 traça um particular retrato através do tempo neste caso da pintora pósrenascentista Artemísia Gentileschi e sua obraprima Judith Em uma época em que as mulheres não eram facilmente aceitas na comunidade artística ou por patronos ela foi a primeira a se tornar membro da Academia de Belas Artes de Florença Ao longo da obra há quarenta e três registros do termo DOLORES Você sabe que nem Dolores nem Simão são adeptos da vida rural e precisam abrir o caminho deles na vida VEIGA 1999 p 14 Em Houaiss do século XIV apresenta o termo dolor com referência a dor O antropônimo tem origem no espanhol dolores que quer dizer literalmente dores Surgiu a partir do título espanhol de Maria das Dores dado à Virgem Maria originalmente chamada de María de los Dolores Inicialmente este nome era dado às meninas que nasciam no dia da festa das Sete Dores de Maria É utilizado nos países de língua inglesa desde o século XIX e foi muito popular nos Estados Unidos entre os anos de 1920 e 1930 Dolores é filha de Dona Artemisa sendo uma jovem que mora na cidade e não é muito praticante da vida ao ar livre Devido ao grande número de ocorrências e à religiosidade presente no vocábulo o nome foi escolhido para designação Há cinquenta ocorrências ao longo da obra 163 ESCOLÁSTICA Provei na egreja e gostei Todo mundo gostou menos Dª Escolástica Não podia gostar mesmo porque a receita é de Dª Judite com quem Escolástica tem pinimba Pode beber Tem um apertinho gostoso VEIGA 1999 p 35 No Houaiss 2023 datado de 1802 no âmbito da filosofia e teologia o antropônimo referese a um pensamento cristão da Idade Média baseado na tentativa de conciliação entre um ideal de racionalidade corporificado especialmente na tradição grega do plantonismo e aristotelismo e a experiência de contato direto com a verdade revelada tal como a concebe a fé cristã O Houaiss 2023 nos informa que provavelmente este substantivo feminino vem de escolástico sc filosofia o vocábulo registrase no latim scholastĭca mas no sentido de declamação JM supõe um gr skholastikḗ de skolastikósḗón no sentido de que tem descansos ócios desocupado que consagra os momentos livres aos estudos ou à escola estudioso relativo ao estudo ou à escola próprio da escola Lima Barreto também se utiliza do termo para nomear um personagem a Tia Escolástica presente na obra Vida e morte de M J Gonzaga de Sá 1919 Machado minha tia Escolastica apresentoume Gonzaga de Sá Que linda figura de velha era a delia Muito clara com uns olhinhos verdes e um meúdo perfil de creança BARRETO 1919 p 86 Registramos duas ocorrências na obra BIBLIÓFILO COLECIONADOR E PUBLICISTA JOSÉ CARLOS ROCHE Ele foi adquirido no inverno europeu de 1905 no antiquário Jean Baptiste Diette estabelecido no número sete da rue Sainte Anastase em Paris pelo bibliófilo colecionador e publicista José Carlos Roche VEIGA 1999 p 72 O antropônimo teria como significado homem do povo a quem Deus multiplica ou Deus acrescenta ao guerreiro Etimologicamente José vem do hebraico Yosef nome bastante utilizado entre os judeus na Idade média ganhando força em Espanha e Itália pela veneração a São José Carlos seria de origem 164 germânica vindo do nome Karl Outras pessoas também designavam a origem de Hari que se traduzia como exército ou guerreiro Antropônimo expressivo dentro da obra com cento e treze ocorrências e que mostra narrativas acerca do primeiro dono do relógio DESEMBARGADOR MARIANO E porque estava o menino assustado se ele sabia muito bem que no sítio do desembargador Mariano onde ele vivia não tinha cavalo nem tanta gente para correr de um lado para outro nem arma de fogo a não ser a espingarda velha e as garruchas também velhas que enfeitavam uma parede da sala E muito menos tinha crianças para ficarem berrando como coitadinhas atrás das mães que também não estavam lá É curioso entender mas aconteceu e não foi essa a primeira vez VEIGA 1999 p 6 Datado em Houaiss 2023 de 1789 a noção de Mariano com acepção frade da Ordem dos Marianos fundada com o fim de disseminar e ampliar o culto da Imaculada Conceição Aqui residiria a motivação para a escolha léxicoestilístico do personagem No âmbito da literatura Guimarães Rosa 2013 na obra Estas Estórias apresenta um conto intitulado Entremeio com o vaqueiro Mariano Em julho na Nhecolândia Pantanal de Mato Grosso encontrei um vaqueiro que reunia em si em qualidade e cor quase tudo o que a literatura empresta esparso aos vaqueiros principais Típico e não um herói nenhum Era tão de carneeosso que nele não poderia empessoarse o cediço e fácil da pequena lenda Apenas um profissional esportista um técnico amoroso de sua oficina Mas denso presente almado bomcondutor de sentimentos crepitante de calor humano governador de si mesmo e inteligente Essa pessoa este homem é o vaqueiro José Mariano da Silva meu amigo ROSA 2013 1956 p 60 Ao longo da obra há vinte e cinco registros do termo Dª MAURA Valia a pena levantar de noite de vez em quando para olhar o céu e aprender coisas mas por hoje já chegava amanhã cedo ele 165 precisava estar em pé para ajudar Dª Maura a pôr a cozinha em andamento e se desobrigar de outros trabalhos VEIGA 1999 p 8 Há trinta ocorrências dentro da obra ilustrando a responsável pelas comidas do sítio SIMÃO Estou pensando no longo prazo espero Não somos eternos e ainda bem Você sabe que nem Simão nem Dolores são adeptos da vida rural e precisam abrir o caminho deles na vida VEIGA 1999 p 14 No âmbito da literatura aparece no mais antigo e famoso livro de todos os tempos a Bíblia Pelo menos 9 personagens bíblicos são mencionados no Novo Testamento pelo nome de Simão Porém o apóstolo Pedro certamente é o personagem mais conhecido com esse nome Comparado aos outros é de Simão que se tem mais informações na Bíblia E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios A Simão a quem pôs o nome de Pedro Marcos 31416 O apóstolo Pedro foi um dos primeiros discípulos escolhidos por Jesus e era irmão do apóstolo André um pescador de profissão assim como ele João 1 40 Simão era um nome comum nos tempos do Novo Testamento Por esse motivo muitos homens na Bíblia são chamados de Simão É amplamente aceito que esse nome é uma variante de Simeão um nome que aparece no Antigo Testamento e que transmite um significado relacionado a ouvir no hebraico Ao longo da obra há setenta e dois registros do termo FICAR ENCABULADO Mas era um motivo tão inocente que se lhe perguntassem ele provavelmente ficaria encabulado VEIGA 1999 p 20 De acordo com o Houaiss 2023 do século XX diz ser aquele que é ou está acanhado envergonhado constrangido Houaiss 2023 apresenta o verbete com origem duvidosa proveniente de en cabular no Brasil cábula adquiriu o 166 significado de má sorte infelicidade constante que pode ter sido a ponte para a criação do verbo encabular e seus derivados Nei Lopes por sua vez sugere estar relacionado com o quimbundo kulebule no sentido de envergonhar Quem geralmente aparece encabulado é o menino Belisário Há três ocorrências ao longo da obra Culturemas relacionados Identidade Linguocultural verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas VIRAM PASSARINHO VERDE Parece que vocês viajaram para longe e me deixaram sozinho aqui disse o desembargador Viram passarinho verde Ou escutaram um coro de anjos VEIGA 1999 p 32 Essa expressão idiomática significa estar alegre satisfeito ou demonstrar satisfação sem motivo aparente A expressão aparece apenas uma vez ACERTO NA MOSCA O mecanismo deve ser obra de famoso relojoeiro do Luxemburgo cujo nome não me ocorre Acerto na mosca disse o desembargador VEIGA 1999 p 38 É uma expressão tipicamente brasileira e significa acertar em cheio ou adivinhar e acertar alguma coisa na primeira tentativa A expressão surge na obra no momento em que Mirkiz chega no sítio e fica impressionado com o relógio na sala e já vai fazendo especulações a respeito da origem do mesmo Ao longo da obra há uma ocorrência SOLTAR A LÍNGUA Fosse o que Deus quisesse Quem mandou soltar a língua VEIGA 1999 p 55 Em Portugal a expressão significa fazer com que alguém fale conte segredos Na obra a expressão surge no momento em que 167 dona Artemisa e Mariano especulam a vida de Belisário antes de ele ir morar no sítio Há uma ocorrência ao longo da obra VOU NUM PÉ E VOLTO NOUTRO Pra que isso agora doutor Com um calorão desse Vou num pé e volto noutro Já tou indo Com um salto deixou a varanda e saiu correndo Os soldados o agarraram VEIGA 1999 p 133 Em Aulete digital registrase como ir num pé e voltar no outro com o sentido de ser muito rápido e demorar pouco tempo para ir a algum lugar e voltar fazer algo executar tarefa A expressão aparece em Houaiss 2023 com a variação um pé lá e outro cá que não altera o sentido fraseológico o mais rapidamente possível Nesse trecho aparece a fala do ladrão das joias que ao ser interrogado pelo delegado diz ter deixado o punhal que tinha pegado para vender na casa de um conhecido e que vai buscálo o mais rapidamente possível Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas RELÓGIO COMPRADO EM UM LEILÃO Isso aconteceu no ano passado quando o desembargador chegou radiante com o relógio comprado em um leilão reuniu a família para ver a preciosidade e ouvir as explicações e chamou também os empregados para serem informados dos cuidados que deviam ter VEIGA 1999 p 8 A título de curiosidade o termo é datado de 1416 e segundo o Houaiss 2023 consta como maquinismo ou parelho que serve para marcar o tempo e indicar as horas Segundo o Houaiss 2023 o verbete teria origem no latim horologĭumĭie do grego hōrológionou no sentido de quadrante solar em que se lia a hora relógio É o termo que revela extrema 168 carga de importância dentro da obra uma vez que rege o título e traz um objeto como dono de cena sendo digno de contar suas histórias aos personagens e ao leitor Em Alice no país das maravilhas de Charles Lutwidge Dodgson podemos encontrar o relógio como companheiro do coelho personagem que vive atrasado apesar de ter um marcador de horas sempre por perto Demonstrando essa grande importância o verbete aparece duzentas e quinze vezes dentro da obra DUAS ESCARRADEIRAS DE LATÃO e as duas escarradeiras de latão que ficavam de cada lado do sofá não para serem utilizadas mas para efeito decorativo esquecidas ou deixadas pelos donos antigos da casa VEIGA 1999 p 12 Houaiss 2023 datado de 1873 apresenta o termo escarradeira como recipiente em que se escarra escarrador cuspideira O Houaiss do século XIII explica que latão no âmbito dos metais é a liga de cobre e zinco em proporções variáveis e por vezes contendo outros metais usada para fabricar objetos de uso doméstico bacia tacho etc e artefatos em geral instrumento musical corda de piano etc A escarradeiras foram intensamente utilizadas no século XIX considerandose de bomtom o hábito de se expelir secreções em público Fabricadas em porcelana faiança fina vidro ou metais nobres eram utilizadas nos espaços sociais das unidades domésticas basicamente na sala e no gabinete de fumantes e eram deixadas à disposição das visitas no chão em geral aos pares ladeando os sofás Era um equipamento habitual nas residências de médio e alto poder aquisitivo A etimologia da palavra vem do próprio radical Augusto dos Anjos também faz uso do termo em sua obra Eu presente no poema Doentes da seguinte forma Com a bocca junto de uma escarradeira Pintando o chão de coágulos sanguíneos ANJOS 1912 pag 53 Só há uma ocorrência dentro da obra 169 ESPINGARDA VELHA E porque estava o menino assustado se ele sabia muito bem que no sítio do desembargador Mariano onde ele vivia não tinha cavalo nem tanta gente para correr de um lado para outro nem arma de fogo a não ser a espingarda velha e as garruchas também velhas que enfeitavam uma parede da sala VEIGA 1999 p 6 Houaiss do século XV apresenta o termo no âmbito dos armamentos como arma de fogo portátil e de cano comprido Houaiss 2023 apresenta a palavra de origem do francês antigo espringarde espringale séc XIIIXV máquina de guerra montada geralmente em uma carroça para lançar chumbos ou pedras do antigo verbo espringuier derivado do frâncico springan no sentido de saltar o vocábulo penetrou no português pelo italiano spingarda c13201340 no sentido definido de mesma origem Há duas ocorrências na obra ESTERCO Quando caminhavam para o lugar delas perto do rego encontraram Belisário carregando esterco para a horta em um carrinho de caixote feito por ele VEIGA 1999 p 30 Em Houaiss do século XIV o termo aparece definido como excremento de animal Matéria orgânica de origem vegetal misturada à terra para tornála mais fértil adubo Tem origem no latim vulgar É um elemento bastante regional da cultura agrícola e que aparece quatro vezes dentro da obra DEPOIS DO CAFÉ Muito cuidadoso com tudo e metódico todas as manhãs depois do café e antes de um passeio pelas imediações o desembargador o desempoeirava com o espanador e os pincéis VEIGA 1999 p 10 Segundo Houaiss 2023 no ano de 1622 no âmbito da angiosperma o termo seria o fruto do cafeeiro Coffea arabica considerado individual ou coletivamente Produto resultante da secagem torrefação e moagem ou socadura desses grãos e de cuja 170 infusão decocção ou percolação se obtém o café no sentido de bebida pó de café Em Houaiss 2023 a palavra tem origem árabe qahwa no sentido de vinho nome também aplicado ao café pelo turco qahvé no sentido de café pelo italiano caffè 1615 e mais tarde pelo francês café 1665 e daí às demais línguas europeias no séc XVII O termo foi escolhido pela sua relevância quanto à ocorrência dezoito no total e por ser um fruto tipicamente rural Outras obras fazem uso desse fruto para ilustrar a vida no campo e o ganho com o seu cultivo entre elas está O Cortiço de Aluísio Azevedo como ilustra o trecho a seguir Mourejava a valer mas de cara alegre ás quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias aviando o café para os freguizes e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda AZEVEDO 1890 p 11 Aparece em diversos momentos da obra sempre em sinal de reunir as pessoas ou receber bem alguma visita VESTIR UM FRAQUE Mas quem Quem mais teria a desenvoltura necessária sabe vestir um fraque sem ficar parecendo barata em pé fala inglês e francês sem gaguejar sabe comer em banquete sem se atrapalhar com os talheres tem sangue frio para ouvir palavras duras e não se ofender VEIGA 1999 p 78 Datado do Houaiss 2023 de 1791 o verbete significa traje masculino usado em certas cerimônias casamentos cujo casaco é ajustado ao corpo e arrematado atrás com longas abas Houaiss 2023 nos informa que esta palavra tem origem no francês fracionário 1767 traje masculino cujo paletó é curto na frente e comprido atrás este do inglês frock séc XIV vestimenta externa usada por monges e freiras o a surgindo por má interpretação do o muito aberto do inglês Há somente duas ocorrências na obra mas revelam um tipo de vestimenta bastante utilizada naquela época em que se passa a obra 171 PORÃO Eis os contextos e a velha espingarda em desuso ladeada por duas garruchas velhíssimas armas essas encontradas no porão pelo desembargador quando tomou posse do sítio VEIGA 1999 p 13 Era o menino Belisário às vezes Bel às vezes Béu que tinha a sua cama no porão bem embaixo da sala de jantar de três amplas janelas que se abriam para a planície em volta da casa e para os morros distantes VEIGA 1999 p 6 Segundo Houaiss 2023 com datação c1537 1583 referese a parte de uma casa ou edifício entre o primeiro piso e o solo onde geralmente se guardam coisas velhas ou sujas grande suficiente para ser habitada Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do português arcaico prão com suarabácti latim planus a um plano Ao longo da obra há onze registros JASMINEIRO DA VARANDA DO QUARTO Só lhe peço uma coisa Dô Que você ache um tempinho entre as suas muitas ocupações para molhar minhas plantinhas Não deixe o jasmineiro da varanda do quarto morrer ele perfuma o quarto de noite não é Mariano E não esqueça de vigiar as molduras dos dois retratos para ver se os cupins voltam a atacar Se voltarem chame logo o especialista O telefone dele está trás de um dos quadros VEIGA 1999 p 22 Datado do século XV no âmbito da arquitetura com acepção em galeria ou compartimento aberto geralmente protegido por uma cobertura e frequentemente constituído da edificação que faz parte da frente da casa o sítio a fazenda alpendre Ao longo da obra encontramse três registros RANCHO Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha 172 dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre sabe quem é Aquela especialista em bolo de cará você gostou se lembra VEIGA 1999 p 16 Datado em Houaiss 2023 de 1597 1617 no âmbito da arquitetura com acepção de habitação pobre cabana usada como abrigo temporário ou para descanso de trabalhadores agrícolas Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do espanhol rancho no sentido de casa rústica inicialmente lugar para acomodar soldados marinheiros e pessoas de fora do povoado Ao longo da obra há apenas um registro HÓSPEDES PARA AS PENSÕES Quando atingiu a idade assentou praça na polícia estadual e fez carreira chegou a comandante não é incrível Eu fui para a ponta dos trilhos como se dizia das estações finais da estrada de ferro que estava entrando devagarinho no estado Carregava malas dos viajantes agenciava hóspedes para as pensões Depois trabalhei em circos navios em cidades grandes fazendo de tudo de camelô a repórter fotográfico no tempo das máquinas de magnésio faziam um fumaceiro de carvoaria E estudando de noite VEIGA 1999 p 42 Datado em Houaiss 2023 de 1371 no âmbito da arquitetura com acepção de hotel pequeno e de caráter familiar Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do latim penso onis no sentido de aluguel Ao longo da obra há apenas um registro CORTIÇO Datado em Houaiss 2023 do século XIV no âmbito da arquitetura com acepção de aglomeração de casas muito pobres Um conhecido dele morador ali naquela mesma casa que era um cortiço como o doutor delegado estava vendo se oferecera para vender o punhal e agora nem prestava conta nem devolvia o pertence ficava de nhenhenhém VEIGA 1999 p 130 173 O termo lembra a obra muito famosa de Aluísio Azevedo O cortiço já citada no trabalho Há apenas um registro ao longo da obra ENJÔO POR TER COMIDO TORRESMO Podia ter dito que foi uma tonteira um enjôo por ter comido torresmo com farinha na merenda dizem que dá indigestão por causa da muita gordura Mas agora não dava pra consertar VEIGA 1999 p 33 Em Houaiss 2023 de 1673 o termo aparece para designar toucinho frito em pequenos pedaços pele estorricada O Houaiss 2023 nos informa que o verbete tem origem no espanhol torrezno 1495 pedaço de toucinho frito ou para fritar derivado de tostar 1220 derivado deo latim torrĕo es ui tostum torrēre no sentido de torrar tostar assar Comida bem típica para quem cria animais o torresmo também aparece representado na obra O Sertanejo de José de Alencar e pelo tom do enredo parece ser uma iguaria Então o velho tarugo que tem três dedos de banha Que bom torresmo não daria ALENCAR 1875 p 96 Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas QUERER ME SAPECAR UM CHÁ DE LOSNA OU BARBATIMÃO Ela sabe tudo quanto é remédio e pode querer me sapecar um chá de losna ou barbatimão e aí sim é que vou mesmo passar mal de verdade VEIGA 1999 p 11 Houaiss 2023 datado do ano de 1846 apresenta o termo no âmbito do brasileirismo como verbo bitransitivo no sentido de obrigar a aceitar ou suportar algo que não se deseja empurrar impor infligir A forma como o termo aparece dentro da obra causa humor pois o menino Belisário começa a ter os flashes de memória por conta do relógio e associa a algum tipo de doença lembrando que se contar a alguém podem forçálo a tomar remédios amargos e ruins É 174 relevante também por ser um brasileirismo o que configura o regionalismo da obra Houaiss 2023 diz que a palavra tem origem obscura eventualmente ligada ao tupi sapek chamuscar mas cuja derivação semântica seria difícil de justificar Ao longo da obra há somente um registro ANDAR DE CECA A MECA Exatamente Ele andou de ceca a meca por muito tempo como alma penada até que encontrou o seu lugar Resta saber até quando VEIGA 1999 p 13 Segundo o Houaiss 2023 o termo ceca referese a lugar indefinido distante A locução ceca em meca seria vagar por vários lugares terras e regiões ceca e meca por ceca e meca por ceca e meca e olivais de Santarém Houaiss 2023 nos traz o verbete de origem árabe do hispânico sekka que seria a redução de dār assekka no sentido de casa da moeda e este do árabe síkka no sentido de moeda provavelmente pelo castelhano ceca 1511 em espanhol a escolha do vocábulo na frase de Ceca en Meca ou de la Ceca a la Meca devese segundo Corominas a uma consonância com Meca lugar célebre por ser distante e pertencente ao mundo árabe como Ceca JRFras afirma ainda ser Ceca ou Seca palavra bérbere asseca no sentido de povoação habitação casa Certamente a escolha desse culturema é pelo valor estrangeiro que apresenta e para enfatizar o conhecimento dos personagens Há somente uma ocorrência BALÃOZINHO DE SONDAGEM Uma tarde na sala tomando o chazinho de costume agora das rosas recuperadas por Dª Artemisa acompanhado de um bolo de cará mandado pela comadre Delzira Dª Artemisa pousou a xícara pendeu a cabeça para a esquerda como era seu hábito sempre que ia soltar um balãozinho de sondagem e falou VEIGA 1999 p 17 A expressão é referente ao ato de sondar investigar perguntar O termo também pode ser associado aos instrumentos de estudos 175 meteorológicos Na obra o valor semântico confere ao primeiro significado Por não encontrar significado concreto a escolha desse culturema mostra a riqueza de aspectos linguísticos dentro da obra sejam eles criados pelos personagens ou não Há duas ocorrências na obra A PACHORRA DE PLANTAR JURUBEBA Por quê ou para quê tivera o desembargador Mariano Afortunado a pachorra de plantar jurubeba e acompanhar com tanto interesse o crescimento das plantas VEIGA 1999 p 20 No Houaiss 2023 datado de 1720 o verbete aparece como substantivo feminino que expressa falta de pressa ou de aplicação calma excessiva paciência embotada Houaiss 2023 traz a palavra pachorra no sentido de fleuma início séc XVII segundo Corominas pertencente a uma raiz comum a muitos idiomas romances e a outros que expressa a ideia de gordura pesadume provavelmente de criação expressiva Seguindo a mesma linha de raciocínio que aparece na obra José de Alencar apresenta o termo em sua obra O Sertanejo da seguinte foma Aquella pachorra e socego só a mostrava em relação ao filho e parecia mais produzida por uma firme resolução do que por temperamento ou tibieza de affecto ALENCAR 1875 p 165 Há somente uma ocorrência TAQUARA RACHADA E admirava também um tal Bicudo e o Taquara Rachada e mais tarde os geniozinhos do cruzado VEIGA 1999 p 24 Segundo o Houaiss 2009 datado de 1584 no âmbito da angiosperma a palavra taquara tem acepção em comum a diversas plantas da família das gramíneas cujo caule é oco bambu bambu taquara taboca Devido ao seu caule oco essas plantas se racham facilmente Quando está ventando essas rachaduras produzem um barulho fino e estridente 176 O culturema teria então significado de pessoa de voz estridente e desafinada chegando a ser irritante HOBBY Ah Como hobby então Antes isso do que automobilismo ou motociclismo Ou aquela asa que plana no ar Não vejo nenhum mal VEIGA 1999 p 26 Houaiss 2023 define esse termo da língua inglesa como atividade exercida exclusivamente como forma de lazer de distração passatempo Houaiss 2023 nos apresenta o verbete datado de 1816 que seria uma redução do inglês hobbyhorse datado de 1557 que seria bufão cavalo de pau um tópico ao qual alguém sempre retorna A escolha desse culturema mostra a presença de estrangeirismo na obra e como ela se relaciona com o regionalismo Somente uma ocorrência EM PASSANT Bravos Simão Agora vou falar também mas em passant Você devia estar estudando direito Daria um excelente advogado ou promotor VEIGA 1999 p 27 Houaiss 2023 define o termo francês como algo ligeira e circunstancialmente É muito presente a influência de outros idiomas dentro da obra aspecto que consideramos importante ressaltar No dicionário Houaiss 2023 a palavra deriva do francês sentido de de passagem comb da prep En no sentido de em passant partpres do v passer no sentido de passar Ao longo da obra há somente uma ocorrência e muito próxima do termo citado anteriormente ROQUEIRO Posso falar E sem esperar autorização O seguinte pai O meu irmão aí está querendo trocar Adam Smith e Keynes por Ron Carter Stanley Clarck e Nico Assunção Pelo menos são esses os 177 nomes que mais escuto lá em casa hoje em dia quando a fauna se reúne Se o senhor não sabe quem é essa gente eu digo são os cobras do baixo Em outras palavras o seu filho Simão está querendo ser roqueiro Está estudando baixo VEIGA 1999 p 25 Datado em Houaiss 2023 do século XX no âmbito da música com acepção aquele que compõe eou executa rockandroll Em conversa com seu pai Dolores faz o seguinte comentário em relação ao gosto musical do irmão Simão declarando para o pai que ele está estudando o instrumento denominado baixo além de ouvir grupos musicais do estilo rock FALAR NA MAÇADA Dito isso ele olhou para os filhos à sua frente observandoos com a experiência de magistrado E percebeu salvo erro ou omissão que apesar de algum esforço para disfarçar ambos ficaram contentes Em sua inocência Dª Artemisa ainda quis amaciar a informação que lhe pareceu abrupta e começou a falar na maçada que estava sendo vir e ir toda semana O desembargador interveio novamente com seu talento para a simplificação VEIGA 1999 p 21 Em Houaiss 2023 o substantivo aparece caracterizado como expressão de uso regionalista com acepção de situação embaraçosa adversa mau negócio A família do desembargador morava na cidade e tinha um sítio no interior Após o desembargador aposentarse resolveram fixar moradia no sítio e os filhos ainda estudando continuaram morando na cidade Ao longo da obra há quatro registros do termo O QUEQUEISSO Que coisa mais esquisita pai Será que será que estou ficando biruta A resposta do pai foi um sorriso de quem está sabendo o incabível Tive a impressão de que ele ele está querendo dizer alguma coisa É estranho Parece que quer falar O quequeisso Alisou os pêlos arrepiados do braço Puxa Mexeu comigo olhe aí VEIGA 1999 p 29 178 Expressão popular usada para designar espanto surpresa perplexidade ou admiração diante situação embaraçosa A expressão aparece na obra na fala de Dolores que ao ouvir o toque do relógio tem a sensação de que ele quer transmitir uma mensagem e diante do espanto e da situação atípica usa a expressão como forma de reforçar a sensação BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA Vivia assustado mas de boca fechada Agora o doutorzinho Simão puxava aquela conversa Podia ser uma arapuca para pegálo Vai ver desconfiaram que ele sofria do juízo ou estava caminhando para isso Dizem que gente assim eles levam pra um asilo e deixam lá jogado tomando choque elétrico e outras maldades Também quem mandou se abrir contando o que tinha visto Então ele nunca tinha ouvido dizer que em boca fechada não entra mosca Por que não continuou calado ou não inventou outra coisa Podia ter dito que foi uma tonteira um enjôo por ter comido torresmo com farinha na merenda dizem que dá indigestão por causa da muita gordura Mas agora não dava pra consertar VEIGA 1999 p 33 Essa expressão idiomática tem sentido de advertência ou conselho para se guardar silêncio sobre algo calarse e não revelar o que se sabe Referese ao ato de manter sigilo a respeito daquilo que lhe foi confiado expresso pela expressão boca fechada A passagem acima diz respeito ao momento em que o desembargador Mariano Simão e Belisário conversam sobre a diferença entre jurubeba e lobeira o relógio toca e Simão indaga Bel se ele ouviu o toque do relógio o menino assustado e com medo de revelar que tinha visões e acharem que estava louco e mandaremno para um asilo prefere manter sigilo sobre as visões A expressão aparece apenas uma vez na obra MOLHAR A LÍNGUA Mãe e filha molharam a língua experimentando Salivaram e sancionaram Beberam e repetiram VEIGA 1999 p 35 Não há registro no dicionário Expressão popular e que tem sentido de tomar algum tipo de bebida em pequena quantidade ou 179 ainda não dar para molhar a língua com sentido de que a bebida foi insuficiente pouca e só umedeceu a língua e não chegou ao estômago No contexto Artemisa e Dolores experimentam um refresco de semente de abacate feito pela cozinheira Maura e como nunca tinham bebido antes tomam em pequena quantidade Logo após terem gostado do sabor repetiram em quantidade maior RASGAR NOSSAS SEDAS Muito bem Sr Herborista Agora que já rasgamos nossas sedas disse o desembargador sorrindo vamos falar como gente normal Que tal se o senhor entrasse lavasse as mãos e o rosto para tomarmos um café com mistura como se diz por estas bandas ou prefere um Veludilho VEIGA 1999 p 65 Expressão idiomática na forma canônica rasgar seda usada quando as pessoas querem desfazer as amabilidades recíprocas geralmente usadas quando se conhecem A expressão acima aparece no momento em que Mirkiz e Dr Mariano se conhecem em seu sítio FAZER CORPO MOLE Não sendo homem de fazer luxo o Sr Mirkiz aceitou imediatamente Dolores lembrou ao irmão que estava na hora de irem ele fez corpo mole para que a pressa tinham o dia inteiro não estavam com o pai na forca olhe o pai sentado aí bem fagueiro VEIGA 1999 p 43 Expressão idiomática usada quando alguém foge ou tenta fugir ao cumprimento de uma obrigação trabalho pedido não demonstra esforço para fazer algo Outras variações fraseológicas com sentidos semelhantes são é fazer cera simular que trabalha de corpo mole falta de entusiasmo e vigor Nesse trecho a expressão popular aparece se referindo a Simão que não estava querendo voltar para a casa da cidade e deu uma desculpa para Dolores adiando dessa forma a volta A expressão aparece apenas uma vez na obra 180 ARAPUCA Belisário baixou os olhos e ficou pensando Ele mesmo não sabia o que vinha acontecendo só desconfiava Vivia assustado mas de boca fechada Agora o doutorzinho Simão puxava aquela conversa Podia ser uma arapuca para pegálo Vai ver desconfiaram que ele sofria do juízo ou estava caminhando para isso VEIGA 1999 p 33 Houaiss 2023 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal com acepção em armação para surpreender que significa deixarse apanhar ser pego em armadilha cair no conto do vigário Houaiss 2023 nos informa que esse verbete vem do tupi ara puka utilizada com acepção armadilha para caçar pequenos pássaros geralmente uma pirâmide feita de pauzinhos ou talas de bambu arapuca utilizada pelos indígenas para obter alimentos Ao longo da obra o verbete aparece apenas uma vez PEQUENAS URUCUBACAS Belisário também teve a sua pequena desventura sob a forma de um coice da vaca Badalhoca quando se meteu a desleitála sem ter ainda a experiência necessária O coice acertou num joelho e o menino ficou mancando e andando de lado e passou umas noites sem dormir com o joelho inchado latejando O desembargador levouo á cidade tirouse uma radiografia não havia fratura só uma contusão sem maior importância que se resolveria com compressas de gelo Dª Artemisa e Dª Maura se revezavam aplicando compressas várias vezes ao dia Só o desembargador escapou dessas pequenas urucubacas ou por ser cauto de natureza ou por ter bom santo protetor VEIGA 1999 p 50 Houaiss 2023 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal que significa má sorte no que se faz ou intenta ziquizira Houaiss 2023 nos informa que o verbete é um vocativo expressivo cuja base é urubu ave de agouro que pressente os cadáveres Ao longo da obra há apenas um registro 181 PINIMBA Provei na egreja e gostei Todo mundo gostou menos Dª Escolástica Não podia gostar mesmo porque a receita é de Dª Judite com quem Escolástica tem pinimba Pode beber Tem um apertinho gostoso VEIGA 1999 p 35 Houaiss 2009 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal com acepção disposição de insistir obstinadamente em alguma coisa ou implicar com alguém birra No contexto Maura oferece refresco de semente de abacate a Artemisa e Dolores ela diz que aprendeu a receita com Dª Judite Todos lá na igreja gostaram menos Escolástica que tem implicância birra com Dª Judite CITADINA Felizmente vivemos separados Não por desavença ou coisa assim Ela é citadina detesta a vida no campo É fonoaudióloga seja lá o que isso signifique Parece que é alguma coisa necessária porque tem lá a sua clientela VEIGA 1999 p 44 Segundo Houaiss 2023 no ano de 1561 o termo referese a quem é da cidade O termo aparece na obra para explicar como vive a mulher do Sr Mirkiz que prefere a cidade e seu trabalho Um termo contrário que pode ser utilizado para designar quem gosta do campo é rurícola Há somente uma ocorrência na obra ERVANÁRIO Não propriamente Sou ervanário Uns dizem herborista outros herbolário mas prefiro ervanário Tenho uma portinha para venda de ervas na cidade Quem cuida é uma senhora minha amiga professora aposentada VEIGA 1999 p 4445 Datado do Houaiss 2023 do ano 1881 diz respeito a que ou aquele que conhece plantas medicinais herbolário É quase possível afirmar que não só o senhor Rufus mas boa parte dos personagens da obra são ervanários É uma característica 182 marcante de quem vive no campo que cultiva plantas medicinais Por isso o motivo da escolha como culturema a culturicidade da palavra dentro da obra Há duas ocorrências ao longo da obra RUMO ESTRAMBÓLICO Dª Artemisa olhou apreensiva para o marido depois para Mirkiz Que rumo estrambólico a conversa estava tomando VEIGA 1999 p 67 Exemplificado em Houaiss 2023 mas com definição indeterminada O termo diz respeito ao indivíduo ou objeto repleto de extravagância pouco ou nada convencional esquisito que tende a ser ridículo ou causar riso estrambótico O adjetivo foi utilizado na obra para definir as narrações de Belisário a respeito dos flashes do relógio que seriam narrações esquisitas difíceis de acreditar Há somente uma ocorrência na obra mas é o suficiente para enfatizar o valor linguístico cultural que tem dentro da obra QUE COISA SIÔ Então era coisa de duzentos anos ou mais ora essa Então as batidas daquele martelinho na espiral de aço para dar as notas do carrilhão e soar as horas tinham sido ouvidas pelo rei da Guerra dos Sete Anos e do Iluminismo Até dava arrepios Aquele relógio era uma testemunha da história Que coisa siô VEIGA 1999 p 10 Em Houaiss 2023 o substantivo masculino informal referese a senhor Dentro da gramática é também empregado como interlocutório pessoal É uma expressão que ilustra a linguagem informal os moradores do campo Há três ocorrências na obra sempre enfatizando situações de impaciência de indagação Referências AULETE digital Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Baseado em Aulete Digital Francisco J Valente Antonio Lopes dos 183 Santos Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Aulete Digital Edição brasileira original Hamílcar de Garcia Desenvolvido por Lexikon Editora Digital LTDA Disponível em http wwwauletecombr Acesso em 28032018 ALENCAR José de O Sertanejo Vol II Rio de Janeiro b l garnier Livreiroeditor Instituto Histórico 1875 ANJOS Augusto dos Eu Rio de Janeiro Augusto dos Anjos 1912 ASSIS Machado de Quincas Borba Obra Completa vol I Rio de Janeiro Nova Aguilar 1994 AZEVEDO Aluísio O cortiço Rio de Janeiro B L GARNIER liTreiro editor Rua do Ontidor 71 1890 BARRETO Lima Vida e morte de M J Gonzaga de Sá São Paulo Edição da Revista do Brazil 1919 BÍBLIA Sagrada Online Disponível em httpswwwbibliaoncom Acessado em 22032018 DOYLE Arthur Conan Um estudo em vermelho Tradução de A Study in Scarlet publicado em As Aventuras de Shelock Homes Volume I Tradução de Hamílcar de Garcia Editora círculo do livro Disponível em httpwwwkbookcombrlivrariawpcontentfilesmf umestudo emvermelhopdf ÉLIS Bernardo O Tronco romance 8ed Rio de Janeiro José Olympio 1988 Disponível em httpdelubiocombrbibliotecawp contentuploads201404otroncopdf HOUAISS Antônio e VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 MARTINS Vicente de Paula da Silva Estratégias de compreensão de expressões idiomáticas por não nativos do português Brasileiro Tese doutorado Universidade Federal do Ceará Centro de Humanidades Departamento de Letras Vernáculas Programa de Pós Graduação em Linguística Fortaleza 2013 Disponível em http wwwrepositorioufcbrhandleriufc8233 Acessado em 22032018 MASTROCOLA Vicente Martin Comunicação Consumo e Entretenimento o interator na ficção seriada Star Wars Tese mestrado Escola Superior de Propaganda e Marketing Programa de Mestrado Comunicação e Práticas de Consumo ESPM São Paulo 2011 MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Disponível em httpmichaelisuolcombrAcesso em 28032018 184 MORAES Vinicius de O caminho para a distancia Rio de Janeiro Schmidt 1933 QUEIROGA João Salomé Maricota e o Padre Chico Lenda do Rio S Francisco romance brasileiro Rio de Janeiro Typograplua PERSEVERANÇA rua do Hospício n 91 1871 ROSA João Guimarães Estas Estórias contos brasileiros 6ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2013 Disponível em httpsdrivegoogle comfiled1B2Hu5SqNLjAomFzN3YTuILQoBmMtc4Wview SANTOS Joaquim Felício dos Acayaca romance indigena 1729 Ouro Preto Typographia do Estado de Minas 1894 TEIXEIRA Gismair Martins O Relógio Belisário de José J Veiga e o imaginário espirita VIII Simpósio Nacional de História Cultural Universidade Federal do Tocantins UFT Araguaína TO 2016 Disponível em httpwwwespiritualidadescombrArtigosT autoresTEIXEIRAGismairMartinstitRelogioBelisariodeJoseJ VeigaeoImaginarioEspiritaOhtm VEIGA José J O Relógio Belisário Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999 185 Parte II Recorte temático 187 A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 19673 Sara Hevilly Ferreira Souza Introdução O acaso existe Seria possível em determinada altura da vida numa fase importantíssima e definitiva seu poder transformar tudo para melhor Talvez nunca se possa assegurar que determinada ação se concretizou a partir do acaso mas de alguma forma no último semestre do Curso de Letras coincidentemente surge uma disciplina chamada Estilística do Português e o professor que a ministra apresenta um escritor até então e incrivelmente não muito conhecido pelos alunos J J Veiga Foi dessa forma que surgiu a escolha do conto em estudo Ao conhecer a obra A Estranha Máquina Extraviada do referido autor abrindo o Sumário com os olhos fechados e o dedo apontando aleatoriamente para os títulos chegouse ao conto Acidente em Sumaúma o primeiro do livro Por mais curioso que possa parecer esse método é inteligente no sentido de proporcionar um desafio a quem o aplica e ao mesmo tempo exige extrema coragem para seguir em frente e realizar um grande estudo a partir de algo novo até a descoberta de que estudar Veiga é um grande deleite por sua sensibilidade humana e sua genialidade e escrita brilhantes O conto escolhido oferece uma gama de possibilidades de desenvolvimento em aspectos temáticos e linguísticos mas um ponto de inquietação sempre foi o de investigar a língua falada particularmente os culturemas palavras e expressões linguísticas que carregam consigo o poder de toda uma cultura de falantes de determinada comunidade linguística Tendo o conto um excelente 3 Este artigo foi originalmente apresentado como trabalho de conclusão de curso ao Curso de Letras Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA em 17 de maio de 2023 como requisito parcial para a conclusão do Curso de Letras Habilitação em Língua Portuguesa sob a orientação de Vicente de Paula da Silva Martins e contando com os examinadores Márton Tamás Gémes e Francisco Vicente de Paula Júnior 188 material de fala a sertaneja fazse necessário também abordar o aspecto do regionalismo para que se possa compreender como estes termos se configuram na obra Portanto o objetivo deste estudo é mostrar como o regionalismo se configura no texto analisando alguns culturemas da fala regional figurada na escrita veigueana Para tanto dividese em três seções A primeira Ler e compreender o conto para desvelar suas entrelinhas trará um breve resumo do conto e apresentará algumas considerações acerca do potencial temático presente na obra tendo por base principal os estudos do professor Márton Tamás Gémes 2022 em sua obra Quando Pequenos Mundos se Despedaçam O ciclo Sombrio de José J Veiga A segunda seção A representatividade regionalista encaminhase para a concretização do objetivo presente pois trata de aclarar a questão do regionalismo veigueano e algumas controvérsias nela imbrincadas utilizando como base argumentativa o estudo Um olhar crítico sobre o nosso tempo Uma leitura da obra de José J Veiga de Agostinho Potenciano de Souza 1987 Por fim a terceira seção Análise de culturemas trará o exemplário cultural de fala do conto mostrando como seus sentidos se configuram no contexto da obra e demonstrando assim sua riqueza no reconhecimento da identidade da cultura linguística presente na escrita veigueana Para os procedimentos metodológicos de coleta e análise dos culturemas recorrese ao conjunto de pesquisa nos últimos anos de Martins 2020a 2020b 2021 e Martins Gémes Cerqueira Lino 2020 A proposição de reflexões neste campo é de extrema importância tanto na interpretação de temas no enredo das obras veigueanas quanto em pesquisas lexicais pois sua magistralidade e estilo perpassam a barreira de uma simples criação e despontam para várias instâncias de estudos possíveis como por exemplo a linguística particularmente a Estilística Literária Estilística da Palavra A fala de um povo muito mostra de sua cultura e dar visibilidade a uma comunidade por estudos dessa natureza é valorizar sua história pois são determinantes para reforçar sua identidade expressa em seu falar único carregado de vivências 189 LER E COMPREENDER O CONTO PARA DESVELAR SUAS ENTRELINHAS O conto Acidente em Sumaúma narra a história de um mascate que vinha de uma comunidade chamada Ururu pois não havia conseguido vendas no lugar pela ocupação do povo com a ferra do gado então a caminho de Batepaca resolveu passar em uma vila próxima que ficava no caminho Sumaúma Lá chegando deparouse com uma cena que o deixou perplexo o espancamento de um lobo Homens e cães empenhavamse em atacar o animal forasteiro e o mascate vendo aquilo questionou o comportamento dos homens obtendo como resposta o simples prazer da tortura Como aquele lugar não tinha nada de proveitoso para ele o homem apressouse para ir embora dali mas um menino emissário de Seu Viriates um senhor dono de fazenda apareceu e avisou que seu patrão desejava vêlo O encontro rendeu poucas palavras e o mascate decidiu partir mesmo com a insistência do fazendeiro para que ele ficasse Ao tentar ir embora percebeu que o portão estava trancado Sem a chave e receoso em incomodar Seu Viriates que dormia teve que esperar até o jantar Após uma verdadeira seção de brigas entre os filhos do homem e censuras à mesa por parte da mãe o mascate tentou mais uma vez ir embora mas teve seu burro roubado por um dos filhos e acabou tendo que dormir na fazenda junto aos trabalhadores adiando sua viagem para o outro dia Este não se sabe ao certo se chegou a vir pois ao fechar os olhos o mascate tenta imaginar que está em outro lugar um melhor e ao abrilos ouve vozes que acusam sua suposta morte gerando então a dúvida final estaria ele morrendo ou apenas sonhando A ambiguidade gerada pela forma como são narrados os últimos fatos bem como outras passagens que geram estranhamento angústia e dúvidas no leitor configuram o fantástico na obra tanto pelo discurso do narrador que conduz o leitor aos efeitos pretendidos pelo autor quanto pelos cenários que retratam com integridade o sertão brasileiro e a rica linguagem regional empregada Numa análise temática do conto podemos observar situações que causam tensão no personagem principal e por conseguinte no 190 leitor Esses efeitos são fortemente influenciados pela instância narradora que através do seu discurso descreve os acontecimentos mas parece também conhecer além da história os sentimentos e pensamentos do mascate as intenções do povo de Sumaúma e até mesmo dos animais4 Essa tensão compartilhada entre leitor e personagem trabalha segundo Gémes 2022 na transmissão de incertezas sobre o mundo apresentado Se o fantástico se define pelo levar em questão a realidade fictícia pela incerteza em relação ao sistema de realidade então uma coisa fica bem clara há de ter por consequência alguma instância que põe em questão esta realidade que está incerta sobre seu status Não se trata meramente daquele enfadonho tema da alternativa entre o leitor implícito e o empírico mas antes de tudo da instância mediadora portanto do narrador e afinal de contas do discurso p 63 O receio do mascate em ir até Sumaúma é justificado pelo narrador com o argumento de que ele já havia estado lá anteriormente mas não teve grande sucesso em seus empreendimentos Descer o vale para vender um ou dois cortes de chita da mais barata alguns pentes uns metrinhos de fita não pagava o trabalho VEIGA 1968 2010 p 7 Ainda assim ele achou que atrasado por atrasado não custava tentar a sorte em Sumaúma idem 4 O narrador descreve as intenções dos cachorros que atacavam o lobo em Um cachorro que ia passando cheirouo no pescoço no focinho desinteressouse achou mais divertido dar susto numa galinha que ciscava perto p 9 e as atitudes do burro do mascate como uma forma de colaboração ao dono O burro obedeceu ao puxão da rédea com presteza parecia que ele também tinha pressa de deixar aquele lugar tão tristonho e esquipou para a porteira e com a prática de ajudar o dono a abrilas encostouse paralelo às tábuas com a cabeça para o lado batente p 11 Há também a evidenciação da intenção do homem quando informa sobre o lobo espancado Um homem ao lado do mascate informou de má vontade que o bicho era um lobo p 8 As reações de descaso da parte de Seu Viriates ao conversar com o mascate Seu Viriates não se interessou pela explicação ficou olhando pela janela em frente pensando ou simplesmente matando o tempo até que veio o café já nas xícaras p 10 A falta de preocupação com o convidado pelos filhos do fazendeiro 191 Ao presenciar o flagelo do lobo a reação de decepção do mascate e sua pressa em partir reafirmam a assertiva do narrador de que Sumaúma não rendia nada não adiantava insistir p 910 Junto ao protagonista o leitor sente o espanto da cena e a frustração com as pessoas e com o lugar tanto pela frieza dos que realizaram o ato de espancar um animal indefeso gratuitamente quanto pela inércia dos que viam aquilo e mantinhamse como se nada de importante ou chocante estivesse acontecendo5 Essa falta de senso de justiça pode ser compreendida como característica daquela comunidade separada do resto do mundo uma comunidade hermética que se fecha sobre si mesma com suas próprias leis na qual injustiça violência e egoísmo se constituem como cotidianas GÉMES 2022 p 125 A tensão na narrativa é crescente à medida que o mascate tenta deixar o lugar mas é impedido primeiro pela convocação de Seu Viriates para uma conversa na qual o homem não demonstra entusiasmo na recepção do convidado depois com sua retenção na fazenda que o obriga a esperar até que o dono acorde e seja acompanhado por ele no jantar e finalmente quando pensa estar livre para ir embora mas tem seu burro levado fazendoo esperar até o dia seguinte para empreender viagem Em Sumaúma o mascate tem sua liberdade cerceada pela vontade do outro sem que possa protestar por ser justamente um elemento intruso não pertencente ao lugar e estranho não partilhando dos costumes e conversas daquela comunidade não identificado com o meio Neste aspecto A imagem do ser humano destes textos se caracteriza destarte como uma que representa o homem como cognitivamente não adequado à sua realidade GÉMES 2022 p 124 O desinteresse pelo homem de fora que ao chegar não é notado nem pelos cães p 7 nem sua conversa e suas intenções são relevantes sendo que Seu Viriates mais o interroga ao encontrálo do que propriamente estabelece um diálogo e assim o faz verdadeiramente como uma demonstração de autoridade numa 5 Ao chegar em Sumaúma o cenário descrito demonstra a naturalidade da reação das pessoas com o que estava acontecendo ao lobo inclusive como se fosse uma espécie de espetáculo Sumaúma estava em grande alvoroço muitos camaradas no curral mulheres nas janelas da varanda falando rindo apontando p 7 192 afirmação do seu poder como líder daquele espaço evidencia uma marca opressiva sobre o elemento intruso Além disso a falta de consideração dos filhos do fazendeiro para com o convidado à mesa é mais um fator de desvalorização do estranho6 O burro roubado e a necessidade de espera fortalecem o sentimento de opressão que se abate sobre o mascate e é automaticamente transferido ao leitor pelo discurso A morte tornase também uma temática presente na obra visto que assim como o lobo pode ser associado ao mascate como elemento intruso sua morte também pode estar atrelada simbolicamente a do outro como uma alegoria caso aquela tenha realmente acontecido Por outro lado temse a instância do sonho a elevação do personagem a uma realidade outra alheia ao mundo no qual se encontrava antes numa tentativa de fuga diante de uma realidade experimentada como insatisfatória GÉMES 2022 p 151 O mascate arruma um lugar entre os peões para dormir fecha os olhos e imagina algum quarto decente uma cama com colchão e roupas limpas lavatório no canto a baciinha branca o jarro com água podendo ter uma poeirinha em cima pousada durante a noite o sabão a toalha o cheiro bom de asseio p 18 mas ao abrilos o cenário descrito é outro Quando abriu os olhos estranhou o tamanho do quarto Deviam ter retirado os bancos arreios os apetrechos todos e isso dava a impressão de que as paredes estavam mais longe idem O que se segue a partir daí pode ser produto de um protagonista que realmente acorda e ouve os outros atestando sua morte ou simplesmente de um sonho ao qual sua mente se rendeu possivelmente pelo cansaço da luta diária ao imaginar um lugar decente para repousar diferente do pátio em que estava com Um cheiro de couro mal curtido baixeiros azedos roupa suja e suor p 17 A descrição da cena após esse acordar é a seguinte Pessoas caminhavam nas pontas dos pés cochichavam deviam estar falando dele Ele estava muito doente não podia se mexer nem falar Uns tipos sisudos chegaramse bem perto os rostos prejudicados pela sombra de uma 6 Os filhos não lavam as mãos não trocam de roupa brigam à mesa e estragam a refeição do mascate e um deles ainda leva o burro do homem fazendo com que ele se mantenha ali inerte 193 luz vinda de cima Um ajoelhouse apalpouo na testa mão áspera indiferente logo retirada Tem jeito perguntou outro O coração ainda bate Vocês sabem quem é Os outros balançaram a cabeça Identidade desconhecida então Ele quis explicar antes que o homem escrevesse fez força retesouse a voz não saía nem um grito pelo menos Escutem Não foi ele Foi mas não foi pra nós Então já está mandando mensagem É Já se entregou Ficaram os três desconhecidos ali parados sem ação só olhando Por fim um sacudiu a cabeça e disse Coitado Vir de tão longe É assim mesmo disse outro Eles zanzam zanzam um dia param em qualquer lugar Os três abanaram novamente a cabeça como se isso fosse tudo o que pudessem fazer e foram saindo na ponta dos pés confundindose com as próprias sombras Quando já iam longe perderam a cerimônia e pisaram forte Os passos ressoando como marteladas Era verdade Ele tinha vindo de longe andando zanzando e afinal chegado Couro velho paredes sujas uma esteira no chão frio VEIGA 1968 2010 p 1819 Se o leitor optar pela aceitação da morte do mascate o conto passaria a não mais apresentar o fantástico na situação final por um viés de ambiguidade do discurso pois sua manutenção se daria principalmente sobre a causa da morte não justificada A aceitação do sonho como fato também anula a dúvida final mas conserva o fantástico pelo onírico7 Contudo o modo como a situação é narrada não deixa um esclarecimento se de fato o mascate sonha ou morre mantendo a questão sem resposta e demarcando o efeito fantástico através dessa incerteza acerca do sistema de realidade como defende Gémes 2022 São muitas as possibilidades de discussão em uma obra como esta dada a polivalência da escrita veigueana8 porém é pertinente 7 Sobre isso Souza 1987 aponta que A construção dessas passagens procede de tal maneira que a realidade perde algumas de suas barreiras Já que os limites de suas diversas faces são oscilantes a transitividade entre suas várias fronteiras expande a leitura das realidades encobertas ora chamadas de sonho devaneio ou fantasia p 110 8 Souza 1987 reconhece que As leituras das críticas sobre José J Veiga mostram 194 adotar como centro da sua escrita o homem suas questões em sociedade suas atitudes frente aos dilemas da vida seus sonhos e esperanças É a partir desse homem geralmente retratado como um sertanejo ou habitante do interior do Brasil que Veiga cria um homem universal pela utilização de temas universais inerentes a qualquer ser humano em qualquer parte do mundo9 A REPRESENTATIVIDADE REGIONALISTA A escrita polivalente de Veiga gera até hoje divergências em sua classificação 10 mas é justamente porque figura uma nova tendência na busca de refletir a realidade das questões humanas a partir do regional daquilo que é conhecido para uma realidade maior a representatividade universal Para Souza 1987 Veiga parte do regionalismo já num conceito menos restrito e envereda para o fantástico moderno11p 9 isso mesmo sua obra é plurívoca aberta e plural pág 38 9 Gémes 2022 ao falar sobre os textos veigueanos declara que estes textos além do momento histórico e da localização brasileira aparentemente reivindicam para si de falar sobre o ser humano como ser humano p 123 10 Souza 1987 comenta essa questão no capítulo As vozes críticas sobre a ficção de José J Veiga citando algumas classificações recebidas pelo escritor como regionalismo goiano regionalismo não ortodoxo conto rural regionalismo brasileiro latinoamericano realismo mágico gótico fantástico absurdo alegórico p 9 bem como em nota os devidos autores 11 Neste aspecto para aclarar o conceito de Fantástico Moderno fazse necessário destacar três citações do professor Francisco Vicente de Paula Júnior em seu estudo intitulado Aspectos do Fantástico na Literatura Cearense 2003 1 Tradicionalmente o Fantástico esteve marcado pela supramundanidade do Evento e pelo caráter de medo que tinha necessariamente que fazer parte do projeto estéticoliterário daquele que se propunha a escrever esse tipo de texto em particular p 102 2 No âmbito da Modernidade porém o Fantástico passou a ser representado de outras formas Em primeiro lugar o espaço necessariamente precisou mudar pois os contos aterrorizantes do século XIX passados em locais lúgubres da fria e distante Europa passaram a construirse de acordo com o local em que se passavam ou seja nessa visão mais moderna ou menos tradicional o fantástico passou a ser construído sem a preocupação com o espaço onde o Evento se processava p 103 3 Assim podemos dizer que o fantástico atualmente do ponto de vista estrutural não obedece mais a fórmulas pois lida antes de tudo com a impressão tanto que pode se instalar da forma mais inusitada possível como em José J Veiga p 104 195 No campo das classificações alguns teóricos atribuem a Veiga o título de regionalista12 o que não procede quando se pensa no sentido mais restrito do termo Veiga não é regionalista no aspecto de reproduzir fielmente sua região para atribuirlhe o foco de sua escrita essa não é uma preocupação do escritor mas seu regionalismo se configura pelo uso dos elementos regionais no alcance dos efeitos da narrativa ou seja contribuem para criar um ambiente próximo à realidade e ali desenvolvemse as temáticas pretendidas13 A título de ilustração em sua pesquisa Gémes 2022 recorre ao termo sertão em cerca de 136 ocorrências e registramse oito ocorrências para sertanejo como em núcleos sertanejos e Brasil sertanejo para citar apenas dois exemplos Em substância é o pesquisador que faz uma assertiva que traduz não apenas a robustez da temática em Veiga como seu viés de ruralismo na sua contística O sertão se encontra conotado através de uma série de termos que marcam sua imagem até hoje pobreza coronelismo e injustiça social fanatismo atraso e um meio rude e hostil à vida por um lado e pelo outro atrelado a capacidade de sofrer a valentia e a uma honestidade simples GÉMES 2022 p 169 Utilizando como pano de fundo o cenário sertanejo no conto em estudo Veiga traz a questão da opressão do homem pela sociedade pelos regimes de poder por meio da relação entre oprimido e opressor um tema universal suscetível de acontecer em qualquer lugar do mundo mas regional pela representação sertaneja através dos cenários Alguns estudos apontam para essa 12 Souza 1987 cita em nota sobre o capítulo As vozes críticas sobre a ficção de José J Veiga os estudos de Gilberto M Teles Wilson Lousada Temístocles Linhares e outros como alguns críticos que reconhecem Veiga como regionalista num sentido restrito do regional como foco de sua escrita 13 Leite e Santana 2010 em seu estudo A Permanência do Regionalismo no Romance Brasileiro O Cerrado de Carmo Bernardes apresentam as raízes românticas do regionalismo e defendem sua evolução numa espécie de metamorfose na configuração de um caráter universal em conformidade com José Maurício Gomes de Almeida 1980 que declara que o significado da obra evidencia sua universalidade e os aspectos culturais aos quais está presa não impedem a realização de questões universais na mesma 196 temática como uma crítica velada à instauração do governo totalitário de 196414 A comunidade de Sumaúma localizada em algum lugar do sertão brasileiro é representada na narrativa como uma comunidade distante em um vale ao qual o mascate tem que descer para vender suas mercadorias Essa distância entre vilarejos tem valor simbólico tanto na representação de um regime de opressão quanto numa visão de atraso em relação ao mundo moderno15 A fazenda de Seu Viriates apesar de não ter muitas descrições retrata também um elemento típico das comunidades sertanejas uma família detentora do poder com seus peões como subordinados e o respeito de todos os habitantes Novamente uma alegoria política se assim pode ser interpretada na qual o fazendeiro é a entidade máxima de autoridade que convoca questiona e oprime o mascate16 Quanto à fala apresentada no conto há muitas expressões regionais presentes nos diálogos dos personagens e na própria narração que expressam elementos da cultura regional conhecidos estilisticamente como culturemas17 14 Gémes 2022 p 327 aponta para a coincidência do fechamento do Ciclo Sombrio de Veiga ao mesmo tempo que o fim do regime militar no Brasil Souza 1987 p 47 comenta a alegoria política também presente na obra veiguana num processo de universalização temática pelo tema da repressão O próprio Veiga em entrevista a Agostinho Potenciano de Souza em 1987 admite a leitura do contexto militar como possível em algumas de suas obras 15 Gémes 2022 ao tratar sobre a comunidade opressora na introdução do capítulo Os pequenos mundos de Veiga declara É principalmente nos pequenos mundos coletivos que a préfiguração especificamente brasileira marca o texto O isolamento local e suas estruturas sociais crescidas as quais se manifestam nos costumes nas maneiras e normas de comportamento especificamente coletivos fundam e constituem este pequeno mundo que cria no seu isolamento a impressão de uma quase autarquia p 125 No mesmo capítulo no tópico Um mundo do passado Gémes aborda a questão da modernização como ameaça às comunidades arcaicas com um isolamento insuficiente para resistência frente a um mundo cada vez mais tecnológico e industrializado 16 Em seu artigo O Fantástico Alegórico e a Realidade Sóciopolítica em A Hora dos Ruminantes José Jacinto Veiga a professora Vera Lúcia Mendes Paganini discute dentre outras coisas o aspecto da repressão social em obras veiguanas em que A realidade opressiva dificultava ou até proibia manifestações que pudessem sugerir a idéia de democracia e liberdade 2007 p 134 17 A professora Lúcia Luque Nadal 2009 em seu artigo Los culturemas unidades 197 Alguns caracterizam costumes como o ato de ferrar o gado outros configuram uma espécie de carnavalização do momento18 como quando na mesa de jantar os filhos do fazendeiro utilizam os termos boiota19 e sanhaço como ofensas em sua pendenga O pai também contribui para a ridicularização da situação com o seu repentino pega pra capar ao acordar do cochilo tirado à mesa Desse modo Veiga não segue um regionalismo tradicional mas usa suas leituras do sertão para compor suas obras contribuindo assim para a valorização da cultura sertaneja através de sua genial escrita É uma forma de trazer um sabor de brasilidade à obra SOUZA 1987 p 132 Valorizar o lugar o povo a cultura e a fala que é um rico fator de expressão e determinante contribuinte na autenticidade e geração de efeitos inclusive do gênero20 ANÁLISE DE CULTUREMAS Os culturemas constituem ricos elementos linguísticos pela união de cultura e língua na geração de expressões de fala que caracterizam uma comunidade Na Literatura trabalham também na produção de efeitos estilísticos de aproximação da realidade como no conto em estudo e na obra veigueana em geral Pela ficção de Veiga o leitor percebe que o alimento de sua poética é a língua comum do Brasil transformada num sintagma narrativo particular cuja substância de conteúdo é o nosso tempo histórico SOUZA 1987 p 4 lingüísticas ideológicas o culturales define culturemas como nociones específicoculturales de un país o de un ámbito cultural p 94 18 Em seu estudo intitulado A Carnavalização e o Riso segundo Mikhail Bakhtin a professora Claudiana Soerensen declara que O carnaval na concepção do autor é o locus privilegiado da inversão onde os marginalizados apropriamse do centro simbólico numa espécie de explosão de alteridade onde se privilegia o marginal o periférico o excludente 2017 p 320 Portanto a carnavalização propõe uma inovação e principalmente uma quebra de solenidade num momento tornando o cômico 19 Na linguagem regional tipicamente de Goiás o termo referese aquele que é bobo tolo paspalhão bolha Embora de origem obscura podese especular sua etimologia metafórica e pejorativa a partir da formação da palavra boi ota com sentido de testículo demasiado dilatado ou com hidrocele 20 Pelas ambiguidades contribui para a geração da dúvida Nas falas caricatas configura uma carnavalização de situações e assim por diante 198 Assim como o sintagma é uma unidade linguística composta de um núcleo Veiga utiliza os gêneros os lugares os costumes e a língua para passar sua mensagem seja ela uma crítica política ou ao próprio homem enquanto ser humano e social abordando suas atitudes e pensamentos frente ao mundo Por todas essas evidências linguísticas e pela vasta oferta de culturemas presente no conto construiuse o exemplário a seguir para apreciação e reconhecimento do valor cultural da fala sertaneja expressa na escrita veigueana EXEMPLÁRIO DA LINGUAGEM REGIONAL NO CONTO A coleta de culturemas segue os procedimentos metodológicos de Martins 2020a 2020b 2021 e Martins Gémes Cerqueira Lino 2020 BATER EM O mascate escolheu um mau dia para bater em SumaúmaTambém se ele adivinhasse não estaria naquela vida Ele já tinha estado ali algumas vezes e da última jurava nunca mais voltar VEIGA 1968 2010 7 ênfase adicionada A expressão bater em nesse contexto tem o sentido de pôr se a caminho HOUAISS 2009 Segundo o narrador o mascate escolheu um mal dia para ir até Sumaúma FERRAR O GADO Mas naquele dia com o contratempo do Ururu os homens ferrando o gado as mulheres na correria de preparar comida para muita gente ninguém com tempo nem mão limpa para vir pegar apalpar alisar a mercadoria ele achou que atrasado por atrasado não custava tentar a sorte em Sumaúma VEIGA 1968 2010 7 ênfase adicionada A expressão ferrar o gado revela a tradição da ferra de marcar o gado a ferro quente para que assim o dono do rebanho pudesse identificálo com facilidade AULETE 2023 199 No conto a ferra do gado ocupava a todos em Ururu naquele dia fato que motivou a ida do mascate a outro lugar para realizar suas vendas DE COSTAS QUENTES Um lobo amarrado numa estaca atacado por dez doze homens armados de porrete e vara de ferrão e mais uns quatro cachorros de costas quentes lembra uma criança entre feras longe da mãe Amarrado com corda curta ele só podia defenderse rodando em volta da estaca defesa ilusória porque as pancadas e ferroadas vinham de todos os lados VEIGA 1968 2010 8 ênfase adicionada A expressão de costas quentes evoca aqui o sentido de maldade e impunidade historicamente atrelado aos fidalgos corruptos não punidos do Brasil colonial que usavam grossos casacos e por isso tinham as costas quentes DIC POPULAR 2023 O aspecto corruptivo se relaciona à ferocidade extrema dos cães que agem contra um animal do mesmo gênero inclusive tendo respaldo no apoio de seus donos BORDOADAS O chão em volta da estaca estava limpo e riscado como varrido com vassoura de graveto e a madeira da estaca estava lustrosa do sovar da corda Por fim o lobo deitouse de lado a cabeça meio erguida por causa da corda os olhos avermelhados a língua estirada pingando suor e conseguiu ir aguentando as bordoadas e ferroadas sem se levantar VEIGA 1968 2010 8 ênfase adicionada A expressão bordoadas referese a receber uma pancada com um bordão espécie de cajado de apoio utilizado em viagens HOUAISS 2009 No conto sinaliza para os golpes que os homens desferiam contra o lobo com varas ESTAR NAS ÚLTIMAS Deitado no chão molhado mas morno de tanto sofrimento o lobo era a imagem da derrota Bastava vêlo de língua de fora 200 puxando o ar com urgência a cabeça inchada de bordoadas o corpo sangrando o sangue endurecendo no pelo para se compreender que ele estava nas últimas Um homem chegou a tocálo com pé conservando o outro bem atrás naturalmente e ele nem teve ânimo de rosnar o inimigo agora era o cansaço que ia apagando as últimas resistências do corpo VEIGA 1968 2010 9 ênfase adicionada A expressão estar nas últimas referese às últimas horasmomentos antes da morte de alguém HOUAISS 2009 O narrador descreve nesse trecho os momentos finais do lobo atestando pela expressão que ele possivelmente morreria após o ataque recebido NÃO RENDER NADA O mascate estava apertando a barrigueira da sela para continuar viagem Sumaúma não rendia nada não adiantava insistir quando um capiauzinho veio dizer que seu Viriates estava chamando Ele afagou a orelha do burro como pedindo licença e acompanhou o emissário VEIGA 1968 2010 910 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de algo não apresenta bom resultado bons rendimentos HOUAISS 2009 Essa referência é feita a Sumaúma numa reafirmação após a cena de maustratos ao lobo de que aquele lugar não teria coisas boas ou proveitosas a oferecer VER ALGO PARA ALGUÉM Seu Viriates recebeuo na rede Não tinha ainda tirado as botas nem o chapéu Sim senhor Sente aí nesse tamborete Menino vai ver um café pra nós Bem quente Se trouxer frio leva ele na cara VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão nesse caso tem o sentido de ocuparse de algo HOUAISS 2009 O menino recebeu uma ordem de seu patrão para providenciar o café para ele e o convidado como um cumprimento de uma regra de etiqueta 201 SAIR CHISPADO Seu Viriates recebeuo na rede Não tinha ainda tirado as botas nem o chapéu Sim senhor Sente aí nesse tamborete Menino vai ver um café pra nós Bem quente Se trouxer frio leva ele na cara O menino saiu chispado o mascate localizou o tamborete encostado na parede sentouse VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada Sair chispado significa partir deixar um lugar imediatamente HOUAISS 2009 A expressão originouse da onomatopeia chispas que representa faíscas ideia de rapidez No conto indica que o menino saiu rapidamente para providenciar o que Seu Viriates o havia solicitado CUSTAR O menino saiu chispado o mascate localizou o tamborete encostado na parede sentouse O senhor custou hein Estava brigado com a gente O mascate se assustouse Não sabia que tinha feito falta Realmente começou ele procurando uma desculpa que não o ofendesse Seu Viriates repetiu O senhor demorou muito Eu tenho meus passos traçados as paradas certas VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de demorar tardar HOUAISS 2009 No conto Seu Viriates na conversa com o mascate alega que o homem demorou a retornar a Sumaúma MATAR O TEMPO Seu Viriates repetiu O senhor demorou muito Eu tenho meus passos traçados as paradas certas Então por que quebrou caminho hoje Eu trago aí umas coisas novas bonitas queria mostrar Seu Viriates não se interessou pela explicação ficou olhando pela janela em frente pensando ou simplesmente matando o tempo até que veio o café já nas xícaras VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada Matar o tempo expressa alguma forma de passar o tempo ociosamente distrairse AULETE 2023 Durante a conversa Seu Viriates não demonstrou interesse em ouvir a explicação do mascate 202 o que se pode constatar pelo fato de ele olhar para a janela para matar o tempo para distrairse e não para o locutor enquanto falava SOLTAR COBRE Seu Viriates limpou a boca com a manga da camisa tomando cuidado pra não desarrumar a barba De repente falou Perdeu seu tempo Minha mulher não precisa de nada meus empregados já estão me devendo muito e eu não solto mais cobre O mascate sentiuse aliviado com a informação já estava mesmo querendo uma desculpa para ir embora Então com a sua licença VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão soltar cobre é referente a liberar dinheiro HOUAISS 2009 com cobre como uma metonímia para dinheiro o material em substituição do produto Seu Viriates nesse trecho tratou de derrubar qualquer pretensão de vendas do mascate com o argumento de que não daria dinheiro para que ninguém comprasse nada PISAR LEVE Mas o velho já cochilava com a cabeça caída pra trás os braços cruzados no peito O mascate cautelosamente saiu pisando leve Quando punha o pé no estribo para montar o menino gritou da porta Ei moço Não é pra sair agora não Meu padrinho quer que o senhor jante primeiro VEIGA 1968 2010 11 ênfase adicionada Pisar leve nesse contexto indica caminhar sem força cuidadosamente AULETE 2023 O mascate deixa a sala da casa de Seu Viriates caminhando cuidadosamente para não o acordar ENGOLIR UMA DISTÂNCIA Ele agradeceu o convite explicou que pretendia pousar no Batepaca e não queria chegar muito de noite Demais não estava com fome almoçara tarde no Ururu Adianta não Ele quer que o senhor jante Agradeço mas não posso Tenho quatro légua para 203 engolir Fica para outra vez Convém sair não Padrinho disse que é para jantar primeiro VEIGA 1968 2010 11 ênfase adicionada O sentido aqui empregado é o de encurtar distâncias HOUAISS 2009 Encaminhandose para deixar Sumaúma o mascate explica que tem quatro léguas de caminho a percorrer NÃO MOVER PALHA Quando inclinou o corpo para puxar o trinco o mascate viu que a porteira estava fechada com corrente e cadeado Olhou para a porta o menino continuava na mesma posição fingindo indiferença Ei a chave daqui Traz a chave Posso não Padrinho guardou O mascate pensou um pouco concluiu que não adiantava insistir com o menino aquele ali não ia mover uma palha De repente ocorreulhe que o menino podia estar brincando fazendo maldade por conta própria VEIGA 1968 2010 1112 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de não fazer coisa alguma AULETE 2023 No conto o mascate ao perceberse trancado na fazenda pensa em solicitar ajuda ao menino mas ao ver sua atitude negativa conclui que ele não ia mover uma palha não faria nada para ajudálo MARIAMINGAU Seu Viriates estava na mesma posição como se alguém de muita autoridade lhe tivesse dado ordem de não se mexer Os únicos movimentos eram o leve balanço natural da rede e a vibração dos fios da barba em volta da boca ao compasso da respiração O mascate ficou olhando indeciso já arrependido do rompante Se ele não fizesse qualquer coisa o menino iria pensar que ele era um maria mingau o menino já estava parado na porta olhando malicioso aguardando O mascate avançou para a rede estendeu a mão para tocar o joelho do velho hesitou desistiu rodou uma duas vezes saiu pisando duro derrotado VEIGA 1968 2010 12 ênfase adicionada Nesse trecho a expressão mariamingau indica um indivíduo de personalidade fraca sem reação O mascate pensou que se 204 aceitasse sua contenção naquele lugar sem reivindicar o menino o acharia um covarde um homem sem atitude BOIOTA No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada A expressão nesse caso significa idiota uma pessoa com pouca capacidade intelectual AULETE 2023 A cena retratada mostra a briga entre os filhos de Seu Viriates em que chamam um ao outro de boiota solicitando uma comprovação da não idiotice pela resposta rápida a uma conta matemática SANHAÇO No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa Não amola sanhaço Eu quero comer VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada 205 A expressão destacada corresponde ao nome de um pássaro o sanhaço uma ave de cores chamativas e que possui dismorfismo sexual HOUAISS 2009 ou seja não existem diferenças físicas ou comportamentais entre machos ou fêmeas dessa espécie o que leva à conclusão que no conto um irmão insinua que o outro seria afeminado nesse contexto o termo é considerado pejorativo visto que o irmão que recebe o apelido se irrita DAR UM JEITO No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa Não amola sanhaço Eu quero comer Não diz porque não sabe E quem de trinta tira treze Depressa Mãe dá um jeito nele senão eu dou Mãedájeitonelesenãoeudou fez o outro imitando voz de criança e mal acabou recebeu uma colherada de farinha no rosto VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada A expressão dar um jeito nesse caso tem sentido de resolver uma situação agindo sobre alguém para que mude de atitude Um dos filhos sentindose ofendido recorre à mãe para que esta interfira na atitude de seu irmão sob a ameaça de ele mesmo dar um jeito no outro EM TEMPO DE O mascate estranhou que o pai não se manifestasse um homem aparentemente tão severo olhou para a cabeceira da mesa e viu que ele dormia a cabeça descansando no ombro a mão esquerda 206 apoiada na beira do prato em tempo de virálo VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada Em tempo de no trecho significa sob risco de acontecer algo AULETE 2023 A mão de Seu Viriates que cochilava à mesa estava apoiada no prato de tal maneira que o risco de que o prato virasse era alto PEGAR PRA CAPAR Um dos rapazes deu um pontapé num cachorro debaixo da mesa o bicho ganiu o velho acordou assustado quase entornou o prato deu um murro na mesa e gritou Pega Pega Os dois rapazes se olharam e caíram na risada O mascate discretamente fingiu que catava um cisco na toalha não queria participar da zombaria O velho mastigou em seco resmungou fechou os olhos De repente soltou outro brado Pega Pega pra capar É com você Tiago disse um dos irmãos Comigo os coletes Você é que está precisando VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada A expressão referese a uma espécie de confusão sendo sua origem relativa ao trabalho rural de castração de animais Nessa situação possivelmente por estar cochilando Seu Viriates poderia estar sonhando com alguma confusão e ordenando a captura do seu causador para capálo ENTOJADO O velho mastigou em seco resmungou fechou os olhos De repente soltou outro brado Pega Pega pra capar É com você Tiago disse um dos irmãos Comigo os coletes Você é que está precisando É Olhe que eu conto o caso da bezerra Olhe mãe aí Respeite Então não mexa comigo Se mexer eu conto O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada A palavra entojado aqui expressa um tipo de ofensa equivalendo a alguém presunçoso encrenqueiro AULETE 2023 Esta é mais uma das ofensas trocadas entre os filhos de Seu Viriates em sua discussão 207 CORTAR UM DOZE O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado O outro sorriu vitorioso Quando Tiago deixou a mesa ele disse para o mascate Ele corta um doze comigo O mascate sorriu comedido Não queria envolverse em pendenga de irmãos muito menos daqueles VEIGA 1968 2010 1415 ênfase adicionada O sentido da expressão cortar um doze é passar dificuldade enfrentar um obstáculo AULETE 2023 Um dos irmãos ao sentirse vitorioso sobre o outro comentou com o mascate que o perdedor passava dificuldades com ele como se fosse um obstáculo o qual o irmão não pudesse enfrentar PENDENGA O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado O outro sorriu vitorioso Quando Tiago deixou a mesa ele disse para o mascate Ele corta um doze comigo O mascate sorriu comedido Não queria envolverse em pendenga de irmãos muito menos daqueles VEIGA 1968 2010 1415 ênfase adicionada Pendenga é uma briga um desentendimento entre pessoas de maneira agressiva HOUAISS 2009 No conto o narrador evidencia o riso discreto do mascate como uma forma de não se envolver na briga dos dois irmãos ZANZAR Ficaram os três desconhecidos ali parados sem ação só olhando Por fim um sacudiu a cabeça e disse Coitado Vir de tão longe É assim mesmo disse outro Eles zanzam zanzam um dia param em qualquer VEIGA 1968 2010 19 ênfase adicionada A expressão zanzar tem o sentido de andar ao acaso sem destino certo HOUAISS 2009 Os mesmos homens desconhecidos que supostamente atestam a morte do mascate declaram que 208 forasteiros como ele vivem andando sem rumo de um lugar para outro para finalmente pararem com a morte em qualquer lugar pois não pertencem a nenhum SAIR NA PONTA DOS PÉS Os três abanaram novamente a cabeça como se isso fosse tudo o que pudessem fazer e foram saindo na ponta dos pés confundindose com as próprias sombras Quando já iam longe perderam a cerimônia e pisaram forte Os passos ressoando como marteladas VEIGA 1968 2010 p19 ênfase adicionada A expressão sair na ponta dos pés indica um movimento cauteloso sair com cuidado AULETE 2023 No texto os homens que supostamente atestam a morte do mascate saem com o cuidado de não fazer barulho para não incomodar o moribundo CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo se propôs a discutir brevemente o aspecto regional veigueano no conto Acidente em Sumaúma trazendo alguns culturemas da fala sertaneja nele expressas Como questões temáticas iniciais tratouse da constituição de poder na comunidade e a opressão sofrida por personagens estranhos àquela realidade além de serem feitos comentários acerca do fantástico gerado pelo discurso da instância narradora que institui situações de ambiguidade numa insinuação de temas como morte ou sonho Para as discussões sobre o regionalismo foram trazidos pontos como a classificação recebida por Veiga como regionalista tradicional e a conseguinte retificação a esse respeito que consistiu em demonstrar o caráter universalizante da escrita veigueana em que o regional se torna o palco de questões humanas universais e outras situações da narrativa que apresentam descrições de lugares e costumes do sertão Além disso para a demonstração do poder cultural expresso na fala foram elencadas algumas expressões regionais do conto e demonstradas as suas devidas correspondências de sentido em cada situação 209 Apesar de a valorização do aspecto regional não ser o foco da escrita de Veiga ela tornase uma consequência de seu trabalho um produto das descrições culturais e linguísticas verossimilhantes ao campo e ao sertão reforçando sobretudo a universalidade não só das questões humanas e sociais mas também da língua nacional A escrita de Veiga traz à luz ricas expressões que compõem a Língua Portuguesa valorizando o regional e o Brasil como um todo A realização desse estudo surgiu da necessidade de ir mais fundo no baú de riquezas da Língua Portuguesa Os culturemas reafirmam a cultura de um povo e na literatura consolidam seu caráter identitário Por isso fazse de extrema necessidade o desenvolvimento de pesquisas na área de expressões da língua tanto para melhorar o nível de compreensão na comunicação entre comunidades quanto para os falantes de língua estrangeira que buscam conhecer a língua real do Brasil e formarse culturalmente desse modo A língua não é um produto do acaso ainda que algumas situações como a que ilustrou a escrita desse trabalho o possam ser A língua é construída através dos tempos da história das vivências das pessoas dos tropeços e acertos dos poderes e também das resistências A língua é tudo para todos É força é expressão e é a vida Referências AULETE Caldas Aulete Digital Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Dicionário Caldas Aulete vs online disponível em httpsauletecombr acessado em março e abril de 2023 GÉMES Márton Tamás Quando pequenos mundos se despedaçam O ciclo sombrio de José J Veiga Reconhecimento Perspectiva Poder e Fantástico São Carlos Pedro João Editores 2022 HOUAISS Antônio Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa Rio de Janeiro Ed Objetiva 2009 Disponível em houaiss 30zip LEITE Vanilde Gonçalves dos Santos SANTANA Rogério A Permanência do Regionalismo no Romance Brasileiro O Cerrado de Carmo Bernardes Disponível em httpwwwsbpcnetorgbr livro63raconpeexmestradotrabalhosmestradomestradovanilde goncalvespdf Universidade Federal de Goiás 2010 210 MARTINS Vicente de Paula da Silva As escolhas léxicoestilísticas culturemas na obra de Lygia Fagundes Telles São Carlos Pedro João Editores 2021 MARTINS Vicente de Paula da Silva Capitães da Areia dicionário de língua e cultura São Carlos Pedro João Editores 2020a MARTINS Vicente de Paula da Silva Os Corumbas dicionário de língua e cultura culturemas São Carlos Pedro João Editores 2020b MARTINS Vicente de Paula da Silva GÉMESMárton Tamás CERQUEIRAGislaine Costa LINO Bianca Carvalho Sombras de Reis Barbudos dicionário de culturemas fraseológicos religiosos São Carlos Pedro João Editores 2020 NADAL Lúcia Luque Los culturemas unidades lingüísticas ideológicas o culturales Disponível em httpeliesredirises Langua geDesignLD11LD1105Luciapdf Language Design 11 2009 93120 PAGANINI Vera Lúcia Mendes O Fantástico Alegórico e a Realidade Sóciopolítica em A Hora dos Ruminantes José Jacinto Veiga Disponível em httpwwwslmbuegbriconeletras ÍCONE Revista de Letras São Luís de Montes Belos v 1 p 123139 dez 2007 PAULA JÚNIOR Francisco Vicente de Aspectos do fantástico na literatura cearense 2003 114f Dissertação Mestrado Universidade Federal do Ceará Mestrado em Letras Fortaleza CE 2003 Disponível em httpsrepositorioufcbrhandleriufc35447 SOERENSEN C A CARNAVALIZAÇÃO E O RISO SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN Travessias Cascavel v 5 n 1 p e4370 2017 Disponível em httpserevistaunioestebrindexphptravessiasarticleview 4370 SOUZA Agostinho Potenciano Um Olhar Crítico sobre o nosso tempo uma leitura da obra de José J Veiga Campinas SP Unicamp 1987 Disponível em httpsrepositoriounicampbracervodetalhe 48296 VEIGA José J Acidente em Sumaúma In A Estranha Máquina Extraviada Rio de Janeiro Bertrand 1968 2010 p 719 211 Anexo I Categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir do modelo de Igareda 2011 CATEGORIAS PARA A ANÁLISE DOS CULTUREMAS EM TEXTOS LITERÁRIOS SEGUNDO IGAREDA 2011 CATEGORIZACÃO TEMÁTICA CATEGORIZAÇÃO POR ÁREAS SUBCATEGORIAS 1 ECOLOGIA 1Geografia topografia Montanhas rios mares 2 Meteorologia Tempo temperatura clima calor luz 3 Biologia Flora fauna domesticada selvagem relação com animais tratamento nomes 4 Ser humano Descrições físicas partes ações do corpo 2 HISTÓRIA 1Edifícios históricos Monumentos castelos pontes ruínas 2 Acontecimentos Revoluções datas guerras 3 Personalidades Autores políticos reis rainhas reais ou fictícios 4Conflitos históricos Referências sobre rebeliões populares lutas armadas manifestações populares entre outros conflitos que ao longo do período colonial imperial e republicano da história brasileira relacionados à construção do Estado e da sociedade brasileira 5Mitos lendas legendas heróis Relatos simbólicos passados de geração em geração dentro de um grupo que narra e explica a origem de determinado fenômeno ser vivo instituição costume social ou representações de fatos eou personagens históricos amplificados através do imaginário coletivo e de longas tradições literárias orais ou escritas 6 Perspectiva euro centrista da história Histórias de países latinoamericanos os nativosos colonizadores e seus 212 universal ou outro descendentes 7História da religião Referência ao conjunto de práticas e de crenças de ritos e de mitos 3 ESTRUTURA SOCIAL 1 Trabalho Comércio indústria estrutura de trabalhos empresas cargos 2Organização social Estrutura estilos interativos etc 3 Política Órgãos do Estado organizações sistema partidário eleitoral ideologia e atitudes sistema político e legal 4 Família Referências agrupamentos humanos formados por indivíduos com ancestrais em comum eou ligados por laços afetivos e que geralmente vivem numa mesma casa 5 Amizades Relacionamento social compadrio coleguismo camaradagem etc 6 Modelos sociais e figuras respeitadas Profissões ofícios ocupações atitudes comportamentos personalidades etc 7Religiões oficiais ou preponderantes Referência aos sistemas diversos de doutrinas crenças e práticas rituais próprias de um grupo social estabelecido segundo uma determinada concepção de divindade e da sua relação com o homem 4 INSTITUIÇÕES CULTURAIS 1 Belas artes Referência a aspectos relacionados à arquitetura à pintura às artes plásticas à escultura música dança 2 Arte Teatro cinema literatura 3 Cultura religiosa crenças tabus etc Edifícios religiosos ritos festas orações expressões deuses e mitologia crenças populares e pensamentos etc 4 Educação Referênciais métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico intelectual e moral de um ser humano pedagogia didática ensino 5Meios de comunicação Televisão imprensa internet artes gráficas 5 UNIVERSO SOCIAL 1Condições e hábitos sociais Grupos relações familiares e papéis sistema de parentesco relação de pessoas quer por vínculo de sangue consanguinidade quer pelo casamento afinidade tratamento 213 entre pessoas cortesia valores morais valores estéticos símbolos de status rituais e protocolos tarefas domésticas 2Geografia cultural Populações estados munícipios distritos localidades estruturaviária ruas países toponímia 3 Transporte Veículos meios de transporte 4 Edifícios Arquitetura tipos de edifícios partes da casa 5 Nomes próprios Pseudônimos nomes de batismos alcunhas 6Linguagem coloquial variantes diastráticas idioletos insultos Gírias coloquialismos empréstimos linguísticos palavrões blasfêmias tabuísmos nomes com significado adicional 7 Expressões De felicidade aborrecimento pesar surpresa perdão amor agradecimentos saudações despedidas 8 Costumes Modo de pensar e agir característico de pessoa ou grupo social 9 Organização do tempo Época propícia para certos fenômenos ou atividades estação sazão quadra 6 CULTURA MATERIAL 1 Alimentação Comida bebida chás ervas rapé 2 Indumentária Roupa complementos joias adornos 3 Cosmética Pinturas maquiagens cosméticos produtos de higiene eou beleza usados especialmente por mulheres perfumes 4 Tempo livre ou lazer Deportes festas atividades de tempo livre jogos celebrações folclóricas 5 Objetos materiais 651Mobiliário móveis destinados ao uso e à decoração de uma habitação um escritório um hotel um hospital etc objetos em geral 6 Tecnologia Motores computadores máquinas 7Moedas medidas Real 8 Medicina Drogas e similares 214 7 ASPECTOS LINGUÍSTICOS CULTURAIS E HUMOR 1 Tempos verbais verbos determinados Marcadores discursivos regras de fala e rotinas discursivas formas de fechar interromper o diálogo modalização do enunciado intensificação intensificadores atenuadores dêixis interjeições 2Advérbios nomes adjetivos expressões Referemse às categorias gramaticais classes de palavras que compõem o léxico de uma língua e que são possíveis núcleos de sintagmas nomes verbos preposições advérbios 3Elementos culturais muito concretos Provérbios expressões fixas expressões idiomáticas modismos clichês ditos arcaísmos símiles alusões associações simbólicas metáforas generalizadas 4Expressões próprias de determinados países idiomatismos 5 Jogos de palavras refrães frases feitas 6 Humor Fonte Igareda 2011 com adaptação de Martins 2017 215 Anexo II Quadro sintético de categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir de Igareda 2011 Categorização por âmbitos Categorização por culturemas 1Ecossistema 1 Topoculturemas 2 Meteoroculturemas 3 Bioculturemas 4 Humaniculturemas 2História mitos e legados 1 Edificulturemas 2 Taticulturemas 3 Personiculturemas 4 Mitoculturemas 5 Euroculturemas 6 Religiculturemas 3Organização social 1 Ocupaculturemas 2 Organiculturemas 3 Politiculturemas 4 Familiculturemas 5 Amiculturemas 6 Socioculturemas 7 Crediculturemas 4Instituições culturais 1 Criaculturemas 2 Articulturemas 3 Tabuculturemas 4 Educulturemas 5 Comuniculturemas 5Universo social 1 Habiculturemas 2 Geoculturemas 3 Portaculturemas 4 Edificulturemas 5 Antropoculturemas 216 6 Gargaculturemas 7 Formaculturemas 8 Costumiculturemas 6Cultura material 1 Alculturemas 2 Indumentoculturemas 3 Cosmoculturemas 4 Liciculturemas 5 Mobiculturemas 6 Tecnoculturemas 7 Moedoculturemas 8 Mediculturemas 7Identidade Linguocultural 1 Verboculturemas 2 Gramaticulturemas 3 Reiculturemas 4 Idioculturemas 5 Idiomaticulturemas 6 Humoculturemas Fonte Igareda 2011 com adaptação terminólogica de Martins 2017 217 Sobre os Organizadores e a Organizadora Vicente de Paula da Silva Martins Graduação em Letras UECE 1987 e pósgraduação em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Ceará UECE 1989 Fortaleza com mestrado em educação brasileira UFC 1994 e doutorado em linguística pela Universidade Federal do Ceará UFC 2013 Fortaleza Possui dois estágios de pósdoutorados em Linguística UFBA 2017 e UFC 2020 Desde 1994 é professor adjunto de Linguística da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA Sobral Autor de vários livros e ebooks na área de educação e linguística todos publicados pela Pedro João Editores São Carlos SP contando com incentivo editorial do linguista e editor Valdemir Miotello UFScar Márton Tamás Gémes Possui graduação em Lusitanistik Anglistik e Germanistik pela Universidade de Köln Alemanha 1999 e doutorado em Romanistik Lusitanistik pela Universidade de Köln Alemanha 2008 Desde 2015 é professor adjunto de literatura inglesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú Tem experiência na área de Letras com ênfase em Literatura em Língua Inglesa atuando principalmente nos seguintes temas fantástico conto gênero José J Veiga narratologia Francisco Vicente de Paula Júnior Graduado em Letras pela UFC 2000 Possui mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará 2003 É especialista em Educação pela UECE 2011 Doutor em Letras Literatura e Cultura pela UFPB 2011 e desenvolve pesquisas em Literatura Fantástica Autoria feminina na Literatura Assédio Moral Bullying e Cultura Popular Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA É membro efetivo da Academia Cearense da Língua Portuguesa ACLP onde ocupa a cadeira nº 4 Desenvolveu Estágio Pósdoutoral na Universidade Federal do Ceará UFC Sara Hevilly Ferreira Souza Graduanda em Letras Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA em Sobral Atuou como tutora escolar de Língua Portuguesa em 2021 e 2022 na EEMTI Vicente de Paulo da Costa em Acaraú pelo programa Minha Escola é da Comunidade e FOCO na Aprendizagem Em 2022 atuou também como professora de Espanhol para o Enem e vestibulares na mesma instituição As escolhas Léxicoestilísticas na obra de J J Veiga apresenta uma instigante trajetória de três docentes pesquisadores da área de Letras e seus estudantes da Universidade Estadual do Vale do Acaraú polo importantíssimo na cidade de Sobral interior do Ceará O trabalho desenvolvido teve por objetivo aproximar a estilística linguística e a estilística literária na formação de novos leitores e pesquisadores aspecto que torna a obra inovadora pois possibilita a ampliação do olhar sobre os textos artísticoliterários Cristiane Aparecida Silva Nascimento Mestre em Psicologia Desenvolvimento e Aprendizagem área de leitura UNESPSP
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Texto de pré-visualização
Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza AS ESCOLHAS ESTILÍSTICAS DE JJ VEIGA OBRAS ESCOLHIDAS Pedro e João editores 1 As escolhas estilísticas de J J Veiga Obras Escolhidas 3 Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza Organizadores As escolhas estilísticas de J J Veiga Obras Escolhidas Copyright Autoras e autores Todos os direitos garantidos Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos autores Vicente de Paula da Silva Martins Márton Tamás Gémes Francisco Vicente de Paula Júnior Sara Hevilly Ferreira Souza Orgs As escolhas estilísticas de JJ Veiga Obras escolhidas São Carlos Pedro João Editores 2023 218p 16 x 23 cm ISBN 9786526506554 Impresso 9786526506561Digital 1 Escolhas LéxicoEstilísticas 2 José J Veiga 3 Culturemas 4 Análise linguística I Título CDD 410 Capa Petricor Design Ficha Catalográfica Hélio Márcio Pajeú CRB 88828 Diagramação Diany Akiko Lee Editores Pedro Amaro de Moura Brito João Rodrigo de Moura Brito Conselho Científico da Pedro João Editores Augusto Ponzio BariItália João Wanderley Geraldi UnicampBrasil Hélio Márcio Pajeú UFPEBrasil Maria Isabel de Moura UFSCarBrasil Maria da Piedade Resende da Costa UFSCarBrasil Valdemir Miotello UFSCarBrasil Ana Cláudia Bortolozzi UNESPBauruBrasil Mariangela Lima de Almeida UFESBrasil José Kuiava UNIOESTEBrasil Marisol Barenco de Mello UFFBrasil Camila Caracelli Scherma UFFSBrasil Luís Fernando Soares Zuin USPBrasil Pedro João Editores wwwpedroejoaoeditorescombr 13568878 São Carlos SP 2023 5 À Profa Dra Elis Cardoso USP por sua fecunda produção acadêmica no âmbito dos estudos de Língua Portuguesa Morfologia Lexicologia e Estilística 7 Sumário As clássicas duas palavras As obras do Escolhidas de J J Veiga Procedimentos metodológicos e a descrição dos culturemas aos textos literários As Escolhas LéxicoEstilísticas de J J Veiga Parte I Obras Escolhidas Culturemas em A hora dos ruminantes 1966 Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela e Ytayara Ribeiro de Albuquerque Culturemas em Os pecados da tribo 1976 Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa e Wendel Mesquita Ferreira Culturemas em Torvelinho dia e noite 1985 Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca da Silva Simão Danae de Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante e Zacarias da Ponte Soares Culturemas em O relógio Belisário 1995 Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves e Sinara Souza Fernandes 9 13 19 29 59 97 141 8 Parte II Recorte Temático A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 1967 Sara Hevilly Ferreira Souza ANEXO I Categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir do modelo de Igareda 2011 ANEXO II Quadro sintético de categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literári a a partir de Igareda 2011 Sobre os Organizadores e a Organizadora 187 211 215 217 9 As clássicas duas palavras Na formação inicial em Letras a Estilística é uma das disciplinas fundamentais para a construção de uma carreira exitosa produtiva e profícua do profissional de língua portuguesa e suas respectivas literaturas portuguesa brasileira africana em especial Isso se deve certamente a quatro objetivos que envolvem a oferta da referida disciplina nos cursos de Letras do país i o estudo dos usos dos recursos linguísticos para a expressão da emoção e da afetividade bem como da impressividade incluída a criação de efeitos estéticos contribuindo para a produção e a compreensão dos textos e seus efeitos de sentido no campo artísticoliterário ii a compreensão dos processos estilísticos da Língua Portuguesa conhecendo os diversos recursos expressivos impressivos e estéticos da língua como são utilizados e como funcionam no campo artístico literário iii a observação análise comentários e pesquisas iniciais com o uso estilístico dos elementos fonológicos morfológicos sintáticos lexicais e semânticos da Língua Portuguesa na diversidade de gêneros textuais e iv a realização de comentários estilísticos aos textos literários e nãoliterários orais e escritos Poderíamos ainda acrescentar ou postular um quinto objetivo o de oportunizar a interface Linguística e Literatura na formação de novos leitores e pesquisadores Uma pergunta sempre nos perseguiu ao longo dos anos como formadores de profissionais de Letras afinal quais são as fronteiras linguísticas e literárias da Estilística Se existem são aqui transponíveis porque este livro revela que as duas disciplinas são interdependentes e contíguas por terem em comum por exemplo o estilo como objeto de grande interesse para ambas as disciplinas por evidenciar as características formais conteudísticas e estéticas que identificam e distinguem as obras literárias Este livro é fruto do esforço acadêmico de três docentes na área de Letras de responder a esta questão acima o que significa a liberal diligência dos mesmos de aproximar a estilística linguística e a estilística literária O leitmotiv tem sido então o de oferecer aos graduandos em Letras no final do Curso em Sobral onde atuam 10 profissionalmente estratégias de leitura literária de modo a propor aos alunos uma nova experiência leitora de ler para aprender e de aprender para ler textos literários ou não a fim de leválos a produzir comentários estilísticos de textos artísticos poesia crônicas letras de música textos literários em prosa escritos em Língua Portuguesa Nessa trilha do trabalho duas datas são significativas do ponto de vista didáticopedagógico no Curso de Letras da UVA em Sobral A primeira podemos situála no ano de 2018 quando levamos pela primeira vez para a sala de aula a prosaística fantástica de J J Veiga Começamos por quatro obras escolhidas segundo parâmetros da estilística literária A hora dos ruminantes 1966 estudada por Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela e Ytayara Ribeiro de Albuquerque Os pecados da tribo 1976 por Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa e Wendel Mesquita Ferreira em Torvelinho dia e noite 1985 por Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca da Silva Simão Danae de Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante e Zacarias da Ponte Soares O relógio Belisário 1995 por Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves e Sinara Souza Fernandes E em 2023 demos início a recortes temáticos sobre a obra veigueana com estudo em nível de artigo científico sobre a A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 1967 por Sara Hevilly Ferreira Souza Todos os estudos presentes neste volume focam o uso estilístico do plano lexical nas obras de Veiga Todos os graduandos assinalados acima passados cinco anos são hoje graduados e respeitados profissionais de Letras em suas cidades e brevemente Sara que já atua como professora em Acaraú fará a conclusão de sua habilitação em 2023 Sara muito nos ajudou na revisão dos originais deste livro E tudo isso como foi possível Foi assim aplicamos primeiramente a noção de culturema entendida como unidade linguocultural aos textos literários Em seguida exploramos os conceitos e as terminologias implicados nos culturemas especialmente os presentes nos estudos linguísticos mais recentes ou seja consideramos as pesquisas fraseológicas e da tradução Por 11 fim mostramos aos alunos que os culturemas no campo artístico literário são também importantes unidades específicoculturais que bem caracterizam os textos literários porque são recursos estilísticos que promovem a expressividade na estruturas fônica lexical semântica e pragmática complexa decorrente das escolhas léxico semânticas dos autores A prática da pesquisa então foi consequência da compreensão docente do alcance dos estudos culturológicos à Literatura Somos levados a acreditar que na pesquisa linguística é imprescindível a formação teórica básica sobre linguística culturologia teoria literária e literatura brasileira enfim o aproveitamento de várias disciplinas regulares do projeto pedagógico do Curso de Letras para o olhar linguoliterário sobre os textos artísticoliterários Por isso deixamos que fizessem livremente a escolha das obras de Veiga para suas leituras em equipe semanalmente faziam relatórios de recuos e avanços na leitura compreensiva e melhor parte a prática da pesquisa ficou por conta dos mesmos alunos pouca intervenção docente agora leitores ávidos de mais discussão sobre temas derivados de conversas sobre a prosaística brasileira esta fase contou muito com as conversas de Márton e Vicente Jr o que nos levou por essa razão a preservar no presente livro a redação dos verbetes dos novos leitores de Veiga e por nós considerados doravante pesquisadores iniciantes em Estilística e Literatura Fantástica Os organizadores e a organizadora 13 As obras escolhidas de J J Veiga A hora dos ruminantes 1966 A obra dividese em três partes A chegada quando o acampamento se instala e já se percebe o quanto alguns personagens já aceitam a nova situação O dia dos cachorros quando a cidade é inexplicavelmente invadida por um enorme número de cães e curiosamente o povo passa a cuidar com certo carinho daqueles que o ameaçam e O dia dos bois quando a invasão é feita por tantos bois que as pessoas não conseguem nem mesmo sair de suas casas Cada invasão representa um tipo de opressão sofrida pelos moradores de Manarairema sendo a dos bois a mais extrema pois ela acaba com qualquer tipo de liberdade e de coletividade a vida restante tinha de ser vivida dentro de cada um A história se passa em Manarairema cidadezinha pequena onde as novidades são poucas Até que aparece uma caravana e acampa próximo à cidade Todos ficam curiosos para saber o que aquelas pessoas procuram e o que vieram fazer na pequena cidade As pessoas movidas pela curiosidade até param de trabalhar querendo saber da caravana e procurando alguém que saiba de algo Esse é o grande ponto de A hora dos ruminantes os modos e hábitos das pessoas que vivem em uma cidade pequena Como uma pequena coisa que normalmente associamos como uma coisa simples mexe completamente com a vida dessas pessoas A princípio é uma curiosidade boba mas se torna uma teia complexa de aproximação pouca conversa e diversos desentendimentos pois de uma forma opressora o lado de lá tenta persuadir os simpáticos moradores a fazerem o que eles desejam E os moradores diferentes entre si sentem medo coragem raiva vingança e passividade A caravana em si se sente incomodada pela curiosidade de Manarairema colocam panos em volta do acampamento para deter os olhos curiosos e o pouco contato que eles fazem com os moradores da cidade já que não aparecem nem para comprar mantimentos é feito de forma brusca e maleducada fazendo com que o povo comece a temer aquelas pessoas Alguns mais corajosos 14 tentam contato para saber o motivo do acampamento mas quando esse contato acontece voltam diferentes e não falam do que aconteceu Depois a cidade é tomada por cães que chegam às dúzias pelas ruas causando uma inversão de papéis enquanto os moradores ficam acuados em suas casas os animais passeiam livremente pela cidade e por último a chegada de centenas de bois completa a situação inusitada nesse pequeno vilarejo Os mantimentos são comprados pelas crianças que andam nos lombos dos bois pela cidade O livro não foca em um único personagem podese dizer que a protagonista desta história é a própria cidade É ela que nos apresenta seus moradores e suas peculiaridades Aos poucos vamos descobrindo os pensamentos de cada um e como lidam com o repentino e o inusitado Os pecados da tribo 1976 A mudança no cotidiano dos moradores se inicia a partir de uma sucessão de golpes que são empreendidos para que novos Umahlas chefes tomem o poder A instabilidade política faz com que os comandantes que ascendem sintam a necessidade de demonstrar o poder pelo poder com proibições e ordens arbitrárias e uma vigilância paranoica e constante no intuito de manter um clima de medo que legitime sua autoridade A atmosfera de desconfiança esfacela os valores antigos e cria inimizades entre vizinhos e amigos traços culturais são substituídos ou compulsoriamente abandonados sem qualquer justificativa e a liberdade é cerceada A culminância disso é que o animal de estimação do Umahla mais recente um híbrido com características humanas e que desenvolve grande inteligência acaba por se tornar o Umahla Em meio a todas essas turbulências o único personagem que consegue manterse aliado do poder instituído mesmo que para isso precise lançar mão de manobras sórdidas é o irmão do personagem narrador Rudêncio É ele quem dá ao narrador as informações sobre o funcionamento do regime a que ele não poderia ter acesso de outro modo considerandose que vive à margem daquela sociedade 15 oprimido e alienado São essas também as únicas informações que o leitor possui ficando igualmente desnorteado No que diz respeito ao título os pecados da tribo poderiam ser a tolerância com o crescente controle exercido pelo estado visto que não há uma resistência real mas na verdade os pecados são irrelevantes o importante é o ambiente de punição criado Os poderosos punem porque podem quer haja motivo para punição ou não Aliando tudo isso a elementos que lembram o realismo mágico1 o autor constrói uma alegoria do regime militar brasileiro de forma bastante sutil e quase poética em episódios curtos que lembram sua vocação de contista Apesar de o cenário ser o interior do Brasil bem caracterizado pelos regionalismos linguísticos e pela citação constante da vegetação e de objetos típicos da cultura local a obra ganha universalidade ao tratar do abuso de poder Torvelinho dia e noite 1985 Torvelinho dia e noite tem como tônica o realismo mágico e traz uma mistura incrível de metáfora e realidade dando um ar bastante característico para a história Tratase de uma cidade chamada Torvelinho que recebe a presença de fantasmas que aparecem primeiramente para dois meninos Então a vinda desses seres quiméricos começou a gerar um certo alvoroço na cidade e alguns habitantes começaram a saber da história fantasmagórica sendo que até mesmo alguns adultos puderam sentir a presença desses seres do outro mundo Porém o questionamento que permanece no livro é sobre a finalidade da sua visita Outros acontecimentos também instigam os moradores da pacata cidade como o aparecimento repentino de pessoas estranhas sendo algo que representa uma novidade para aquela localidade gerando uma grande aversão por parte de todos Também acontece um fato de teor natural que assusta os habitantes daquele local o aparecimento de uma enorme quantidade de flores que muda totalmente o aspecto da cidade 1 Pecados da tribo a rigor não nos parece se encaixar bem nas questões fundamentais do realismo mágico ao contrário de Torvelinho 16 A narrativa desperta pensamentos que vão além do enredo da obra Na verdade traça um paralelo entre a história e o devaneio dos personagens representando a própria sociedade em que o autor está inserido Apesar de se tratar de realismo mágico o autor traz momentos de bastante interação com o cotidiano dando um ar rotineiro É um livro atemporal em que o autor dá ao leitor uma história incrível e com a possibilidade de se tirar grandes pensamentos e considerações O relógio Belisário 1995 O livro O relógio Belisário narra a história de um relógio que presenciou fatos marcantes na história tanto no Brasil como fora dele A narrativa tem como personagens o menino Belisário um menino sem família que atua como mensageiro entre o Relógio e o povo do sítio que tem como dono o Desembargador Mariano Este era um homem culto educado e muito gentil casado com D Artemisa Adquirira o relógio Belisário em um leilão pois ficou apaixonado pelo objeto Chegando em casa recomendou a todos que não mexessem no relógio deixassem que ele mesmo limparia quando fosse necessário Morria de ciúmes do relógio e todas as noites levantavase altas horas para ficar observandoo o qual aliás parecia ter vida própria Às vezes Mariano chegava a pensar que estava ficando louco por estar dando tanta importância a um relógio um objeto que não tem vida própria ou pelo menos não deveria ter O relógio Belisário não era um relógio comum ele tinha o poder de transportar as pessoas para fatos distantes do passado e fazia com que elas presenciassem tudo aquilo que ele havia presenciado de marcante em suas viagens de Paris para o Brasil mas o fato mais marcante que presenciou foi a guerra dos Sete anos entre a Prússia e a Áustria que deixou várias consequências na época O relógio surgiu em meados do século XVIII e fora feito por um M Lepaute de Luxemburgo relojoeiro que trabalhava para a corte do rei Luís XV Ele chamava a atenção de todos apesar de ser muito antigo a caixa era de bronze formada com volutas e flores parecidas com girassóis e o pedestal também de volutas tinha à esquerda um cachorro de rabo comprido a cabeça e o bico lembrando arara Todo o conjunto media cerca de dois palmos e meio de altura 17 O relógio Belisário fora adquirido no inverno europeu de 1905 no antiquário Jean Baptiste Diette estabelecido no número sete da rua SainteAnastase em Paris pelo bibliófilo colecionador e publicista José Carlos Roche Ele presenciou tudo que aconteceu em sua vinda para o Brasil até sua estadia na casa do Dr José Carlos O fato que mais marcou sua chegada foi o resgate das joias da condessa de Wilson pelo delegado Edgar Pahl que foram roubadas por um sujeito chamado Cartucho O famoso Sherlock Holmes também participou do caso Todas essas façanhas vão sendo distribuídas dentro da narrativa apresentando muito simbolismo e voltandose principalmente para aspectos da natureza e a forma como os filhos o desembargador e sua mulher os moradores do sítio e Belisário lidam com a realidade Assim através do menino escolhido como ponte entre essa experiência passadofuturo o relógio vai contando as mais diversas histórias e transportando os envolvidos para distantes momentos históricos 19 Procedimentos metodológicos e a descrição dos culturemas aplicados aos textos literários Os processos metodológicos desta pesquisa lexicográfica e linguoliterária no âmbito da Estilística Literária foram constituídos das seguintes etapas propostas por Martins 2013 e 2017 a Leitura da versão impressa e releitura das obras narrativas esta fase consistiu na leitura da obra narrativa de J J Veiga e após esse contato com as edições em papel iniciamos o processo de recolha de culturemas a partir de sua versão digital todos os livros foram redigidos para fins didáticos leituras releituras e pesquisa linguística além de capturas das versões já disponibilizadas em sites na Internet como um meio colaborativo para buscas mais sistematizadas de expressões e suas ocorrências b Revisão de literatura realizamos nesta fase uma busca no Google Acadêmico e repositórios acadêmicos online de artigos dissertações e teses sobre a obra narrativa por exemplo em Repositório da Universidade Federal de Goiás disponível em httpsrepositoriobcufgbr com o objetivo de conhecer as pesquisas já realizadas o u r e c e n t e s sobre as obras de J J Veiga Da mesma forma fizemos uma revisão literária relativa aos culturemas c Levantamento de culturemas nesta fase procuramos construir um levantamento de culturemas na obra ficcional de J J Veiga d Análise e refinamento em posse do levantamento de lexias simples composta complexa incluindo expressões idiomáticas seguimos para organização e análise desse material Na organização do levantamento dos culturemas observamos os seguintes critérios a Corpus durante a constituição do corpus por obra todos os culturemas foram apresentados entre colchetes e hashtags como unidades discretas da seguinte forma CULTUREMA Posteriormente excluímos para esta publicação os diacríticos mencionados para a apresentação mais elegante do dicionário colchetes e hashtags 20 b Contexto e ocorrências cada um dos culturemas do levantamento lexical segue acompanhado do seu respectivo trecho em que o aparece na obra Para termos uma ideia da frequência de uso do termo indicamos sempre que julgamos pertinente ao interesse do leitor quantas vezes o culturema é empregado pelo escritor e as acepções viáveis sempre guiadas evidentemente pelo contexto na obra Ocasionalmente situamos o leitor acerca do contexto em que o culturema está empregado apresentamos um breve resumo sobre o enredo do trecho ou nos debruçamos sobre aspectos relacionados à datação e às formas históricas do verbete entre outras digressões instigantes ou curiosas por exemplo que outros escritores da literatura brasileira fizeram uso do culturema em tela c Notas de normatização e informativas baseandose na versão impressa da obra incluímos nas informações sobre os culturemas as indicações de citação entre parênteses contendo o sobrenome do autor em letra maiúscula seguido pelo ano de publicação e página do texto em que se encontra o culturema assim VEIGA 1996 p 37 Apesar de a coleta dos culturemas ser unicamente ou prioritariamente selecionada na produção contística e romanesca de J J Veiga julgamos necessário a repetição de dados da citação autor ano e página em todas as ocorrências em que extraímos os itens posto que em algumas ocasiões o mesmo verbete aparece em outras ocorrências nas obras em diferentes anos ora com as mesmas acepções outras vezes com acepções distintas considerado que o ciclo sombrio2 estendese da coletânea de contos Os cavalinhos de Platiplanto 1958 até o romance Aquele mundo de Vasabarros 1982 segundo a periodização estabelecida por Gémes 2022 que acompanha a periodização de Agostinho P de Souza em Arnoni Prado1989 d Informações enciclopédicas nessa parte foram feitos comentários estilísticos livres ou de caráter enciclopédico sobre sobre o culturema selecionado A classificação escolhida para nossa pesquisa foi baseada no modelo Igareda 2011 denominado categorias para a análise dos 2 O termo do ciclo sombrio foi criado por Agostinho Souza em 89 Observe ele que todos os textos até e incluindo Aquele mundo de Vasabarros de 1982 têm uma atmosfera sombria em comum A partir de Torvelinho essa atmosfera fica muito mais leve positiva inclusive o estilo se aproxima agora do realismo mágico 21 culturemas ou referentes culturais na aplicação inédita ao estudo do léxico nos textos literários Embora voltado para o campo da tradução elegemos esse método de Igareda para embasar nosso corpus devido a sua amplitude e por ser direcionado ou mais viável para textos literários especialmente em prosa A categorização proposta por Igareda 2011 p 19 é dividida gradativamente em três níveis sendo categorização temática categorização por áreas e subcategorias A autora divide o primeiro em sete classes ecologia história estrutura social instituições sociais universo social cultura material aspectos linguísticos culturais e humor Fizemos a recategorização e criamos terminologia própria para os culturemas levantados ao longo da leitura das obras literárias Ao longo da recolha de culturemas julgamos mais apropriado recorrermos aos princípios lexicográficos de semasiologia e onomasiologia correlacionados a traços semânticos de hiponímia e hiperonímia respectivamente Primeiramente durante a leitura silenciosa ou a acurada releitura dos contos eou romances nos deparamos por exemplo com expressões do tipo tocar para a frente saiu de chofre dar o braço a torcer entre outros no primeiro momento recorremos a dicionários gerais por exemplo Houaiss atualizado em 2023 para procedermos com o registro de acepções viáveis ao contexto daí estarem sempre aspeadas ou a dicionários de cunho mais folclórico Dicionário do Folclore Brasileiro de Luís Câmara Cascudo para citar a mais frequente consulta de cunho culturológico Em qualquer situação as definições que prevaleceram nos verbetes sempre foram as guiadas essencialmente pelo contexto de uso Previamente classificamos os culturemas nos diversos âmbitos culturológicos A título de ilustração informamos que ao encaixarmos culturemas como pertencentes por exemplo ao âmbito antropoculturemas nos orientamos a partir da técnica semasiológica ou seja partimos dos significantes expressões para esclarecer os significados mais amplos que lhes correspondem âmbitos culturológicos Culturemas como Rudêncio Obelardo Manlio Zulta e Edualdo foram considerados por nós como significantes e acolhidos como antroproculturemas Do ponto de vista semântico e em defesa de uma abordagem metalinguística da 22 semântica dos nomes próprios vimos os nomes de personagens como hipônimos no âmbito dos antroproculturemas hiperônimos Em caso de hesitações sobre o devido enquadramento culturológico dos culturemas extraídos das obras narrativas de J J Veiga valemonos da técnica onomasiológica bem como do fenômeno hiperonimia como suficientemente esclarecedores para assinalarmos a relação estabelecida entre um vocábulo de sentido mais genérico e outro de sentido mais específico Por exemplo a ideia de religião ou culto que se presta à divindade consolidado nesse sistema superveniente ao sentido dos culturemas da cultura religiosa expressões como malembe credo esconjuro levaramnos a lançar mão da técnica onomasiológica a partir de significados idiomáticos para melhor definir seu âmbito culturológico assim as duas expressões foram inseridas no âmbito de religioculturemas São os seguintes âmbitos para a classificação geral dos culturemas aplicados aos textos literários segundo a proposta de Martins 2017 bioculturemas humaniculturemas edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas familiculturemas politiculturemas amiculturemas crediculturemas etnoculturemas criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas alcuturemas indumentocuturemas liciculturemas mobiculturemas moedoculturemas mediculturemas verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas e humoculturema A escolha deste recorte acima foi motivada devido à grande incidência de expressões idiomáticas na obra romanesca e contística de J J Veiga objeto de estudo nesta pesquisa Tratase de um corpus literário que recorre a inúmeros culturemas figuração simbólica para instaurar um caráter insólito em suas narrativas Os contos de Veiga em particular revelam fantasticamente atmosfera de mistério e de apreensão que resulta da interrelação entre personagem espaço e linguagem o que podemos comprovar com uma intenção na escolha léxicoestilística do escritor também reveladora das possibilidades da ficção que soube e sabe ainda explorar em que imaginação suspense e metaficção atravessam as narrativas 23 Em nossa pesquisa léxicocultural entendemos as expressões fixas segundo Fulgêncio 2008 p 101 ZULUAGA 1980 MARTINS 2013 como uma sequência de palavras memorizadas pelos falantes da língua sendo igualmente recuperada em bloco Dessa forma as expressões idiomáticas são definidas como conjuntos de palavras cujo sentido geral não é o resultado da soma dos sentidos literais dos seus elementos constituintes configuram um tipo de expressão fixa assim como os provérbios entendidos como frase de origem popular que expressa de forma alegórica ou simbólica os valores culturais de uma determinada sociedade As definições de fraseologia e culturema se fazem necessárias assinalar aqui partindo da análise dos dois termos linguísticos fraseologia e unidades fraseológicas Segundo MonteiroPlantin 2011 p 64 a fraseologia é o ramo da linguística que se ocupa de estudar as unidades fraseológicas Essas são definidas como um conjunto de dois ou mais termos com formas fixas tendo certa frequência de uso pelos falantes Do termo culturema podemos extrair o CULT elemento de composição antepositivo do verbo latim colois colĕre colŭi cultum que significa cultivar habitar morar em cuidar de tratar de preparar e EMA um dos sufixos mais privilegiados na terminologia linguística glossema grafema lexema morfema fonema semantema entre outros Culturema é uma unidade linguística discreta tão linguisticamente marcada como um fonema um grafema um morfema ou um prosodema Assim como categoria ou terminologia linguística assumimos a seguinte definição de culturemas símbolos extralinguísticos culturalmente motivados que servem de modelo para que as línguas gerem expressões figuradas inicialmente como alusões ou reaproveitamento de dito simbolismo e que podem se generalizar e até se automatizar Uma vez dentro da língua como palavras ou componentes de frasemas conservam ainda assim algo de sua autonomia inicial na medida em que unem conjuntos de metáforas e até permitem a adição de outras a partir do mesmo valor acessíveis para a competência metafórica LUQUE NADAL 2010 PAMIES BERTRÁN 2008 p 54 e 2012 Como já dissemos anteriormente o modelo de análise linguística se deu com a releitura minuciosa das obras em suas versões em 24 papel utilizandose após a leitura do material a digitação e a consequente constituição do corpus eletrônico ad hoc especialmente constituído para a consulta e extração dos culturemas A princípio foi feito o levantamento de palavras e expressões que tivessem esse teor cultural Após uma seleção daquilo que era ou não considerado culturema algumas expressões foram descartas e outras expressões foram devidamente contextualizadas e comentadas e em cada comentário buscavase descobrir o valor cultural fraseológico e linguístico da expressão em tela através de suas origens etimologias e significados bem buscando na intertextualidade matérias e pesquisas relacionadas ao culturema selecionado Gostaríamos de ressaltar que os culturemas na presente obra referemse ao conjunto de itens linguísticos relacionados à língua enquanto sistema e cultura na sua dimensão antropológica escolhas léxicoestilísticas do escritor goiano Durante a recolha de itens para descrevermos as escolhas léxicoestilísticas de Veiga priorizamos sobretudo os ecoculturemas e os antroproculteramas com menor atenção aos idioculturemas unidades fraseológicas para deixar a versão deste livro estilisticamente elegante e mais enxuta no fazer lexicográfico mesmo assim o produto final ficou robusto em número de páginas Referências ARNONI PRADO António ed 1989 Atrás do mágico relance uma conversa com J J Veiga Campinas Ed da Unicamp Coleção Viagens da Voz FULGÊNCIO Lúcia Expressões fixas e idiomatismos do português brasileiro 506f 2008 Tese de doutorado em Linguística Programa de PósGraduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte 2008 GÉMES Márton Tamás Quando pequenos mundos se despedaçam O ciclo sombrio de J J Veiga Reconhecimento Perspectiva Poder e Fantástico São Carlos Pedro João Editores 2022 IGAREDA P Categorización temática del análisis cultural una propuesta para la traducción Íkala Revista de Lenguaje y Cultura Vol 16 No 27 enero abril de 2011 p 1131 25 LUQUE NADAL L Fundamentos teóricos de los diccionarios linguísticoculturales Granada Educatori Granada Lingvistica 2010 MARTINS Vicente de Paula da Silva Estratégias de compreensão de expressões idiomáticas por não nativos do português brasileiro 411 f Tese Doutorado em Linguística Programa de PósGraduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará Fortaleza 2013 MARTINS Vicente de Paula da Silva Sapienciário Cultural identificação classificação e constituição de corpus de culturemas nos romances do nordeste brasileiro Salvador Programa de Pós Graduação em Língua e CulturaUFBA 2017 Relatório Final de Estágio PósDoutoral no período de 20162017 MONTEIROPLANTIN Rosemeire Selma Gastronomismos linguísticos um olhar sobre Fraseologia e cultura In ORTIZ Alvarez Maria Luisa e UNTERNBAUMEN Enrique Huelva OrgsUma revisão da teoria e da pesquisa fraseológicas São Paulo Pontes 2011 p 249275 PAMIES BERTRÁN A Productividad fraseológica y competencia metafórica intercultural Paremia 17 4157 2008 SOUZA Agostinho P de 1989 Recompondo o percurso o projeto In António Arnoni Prado ed Atrás do mágico relance uma conversa com J J Veiga Campinas Ed da Unicamp Coleção Viagens da Voz 324 ZULUAGA Alberto Introducción al estudio de las expresiones fijas Frankfurt am Maim Peter D Lang 1980 27 Parte I Obras Escolhidas 29 Culturemas em A hora dos ruminantes 1966 Antônia Érica Vasconcelos Lopes Cleane Araújo Azevedo Isa Cristina Januário Veras Jéssica dos Santos Silva Leiliane Machado Portela Ytayara Ribeiro de Albuquerque Em A hora dos ruminantes o entusiasmo com o moderno é apenas inicial quando há confabulação na cidade a respeito do que seriam os cargueiros que chegaram Manarairema é uma das cidades de Veiga mais refratárias à modernidade as tecnologias e pessoas vindas de fora são vistas como ameaça às velhas formas de vida consideradas livres Flaviana Mesquita Amâncio 2019 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas MAL O SOL SE AFUNDAVA ATRÁS DA SERRA A noite chegava cedo em Manarairema Mal o sol se afundava atrás da serra quase que de repente como caindo já era hora de acender candeeiros de recolher bezerros de se enrolar em xales VEIGA 1996 p 01 A expressão referese ao pôr do sol O autor se utilizou deste culturema para retratar o anoitecer mostrando que antes mesmo do sol se pôr completamente os habitantes de Manarairema já estavam se preparando para dormir Há apenas um registro na obra SOL TININDO NAS PEDRAS E NO BRANCO DAS PAREDES quando todo mundo se recolhe e lá fora só fica o sol tinindo nas pedras e no branco das paredes se uma pessoa vai andando pela rua e de repente se abaixa para apanhar qualquer coisa no chão no mesmo dia a cidade fica sabendo que Fulano achou um dinheiro ou um objeto de valor VEIGA 1996 p 63 30 A expressão faz referência ao sol forte sol quente J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar que quando o sol estava forte os habitantes da cidade de Manarairema não ficavam na rua e o sol atingia apenas as pedras e as paredes O poeta brasileiro Jorge de Lima recorreu a este culturema em seu poema intitulado Felicidade As mãos descem na lama As canoas afundam de sururu O sol está tinindo mas ninguém sente calor Há apenas um registro na obra VENTINHO FRESCO DA BOCADANOITE Mas uma tarde já ao escurecer como obedecendo um comando secreto todos os cachorros cessaram o que estavam fazendo farejaram o ar limparam os pés e dispararam rumo a tapera atropelando gente e se atropelando Os bandos que saíam de cada rua iam desaguar no largo formando uma enchente que se despejava para a ponte ganhava a estrada e subia compacta para a tapera deixando atrás um vazio escuro que o ventinho fresco da bocadanoite vinha preencher VEIGA 1996 p 38 A expressão referese a um vento frio que surge no início da noite J J Veiga se utilizou deste culturema para retratar o momento que os cachorros estavam saindo das ruas de Manarairema para ocupar a tapera mostrando que com a saída desses animais as ruas ficaram vazias porém como estes cães saíram ao anoitecer o autor buscou mostrar que as ruas da cidade ficaram preenchidas por um vento frio que é comum no início da noite Há apenas um registro na obra MOITA Quando uma galinha conseguia escapar para cima de um muro de um cafezeiro para o meio de uma moita qualquer e lá ficava ofegante se refazendo do susto sempre aparecia alguém com uma vara para espantála e a perseguição recomeçava VEIGA 1996 p 37 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de tufo maciço de plantas arvorecentes ou rasteiras e densas 31 Na obra as moitas serviam de esconderijo para as galinhas quando estas eram perseguidas Há duas ocorrências dessa palavra TIÇÃO Há duas ocorrências estilisticamente expressivas Esse tição é muito é besta Só porque arranjou uma carroça pensa que virou gente Havera de ser comigo VEIGA 1996 p08 e pedaço de lenha ou de carvão aceso ou meio queimado Um tição resvalou caiu quebrouse estralejando fagulhas por todo lado VEIGA 1996 p 97 Na obra esta palavra é utilizada para se referir ao personagem Geminiano que possui pele de cor negra e também como um pedaço de lenha de uma fogueira Há duas ocorrências dessa palavra no livro HOMEM DE BRIO Na venda de Amâncio nas lojas nas ruas Apolinário era apontado como homem de brio uma lição para todos um exemplo para quem quisesse seguir Diziam que se Manarairema tivesse mais uma meia dúzia de pessoas como ele os homens da tapera aprendiam a pisar com mais cautela VEIGA 1996 p 58 Esta expressão diz respeito a um homem corajoso honrado e que tem dignidade Na literatura brasileira o romancista e poeta Bernardo Guimarães em seu livro A Escrava Isaura recorreu a este culturema no seguinte trecho Que me importam as leis para o homem de brio a honra é superior às leis e se não és um covarde como penso GUIMARÃES 1875 p 71 J J Veiga usou este culturema para mostrar esta característica de homem corajoso e honrado em Apolinário Há apenas um registro na obra 32 HOMEM MADURO Enquanto D Bita foi providenciar a toalha ele se olhou no espelho grande da sala e quase se assustou Quem estava ali não era ele mas um rapaz que nunca chegaria a homem maduro não seria marido nem pai de ninguém não teria cabelos brancos nem sofreria de reumatismo Seria um mal muito grande VEIGA 1996 p 92 Esta expressão referese a um homem experiente e consciente que tem maturidade J J Veiga se utilizou deste culturema para retratar a reflexão do personagem Pedrinho em relação a seu desenvolvimento enquanto homem pois ele acreditava que nunca se tornaria um homem experiente capaz de assumir as responsabilidades de um adulto e que sempre seria aquele rapaz que recebia cuidados de Dona Bita Na literatura brasileira Machado de Assis recorreu a este termo em seu livro Dom Casmurro Na chácara antes de entrar em casa repetias comigo depois em voz alta para ver se eram adequadas e se obedeciam às recomendações de Capitu Preciso falarlhe sem falta amanhã escolha o lugar e digame Proferias lentamente e mais lentamente ainda as palavras sem falta como para sublinhálas Repetias ainda e então acheias secas demais quase ríspidas e francamente impróprias de um criançola para um homem maduro ASSIS 1899 p 22 Há apenas um registro na obra FULANO Em hora de sol quente quando todo mundo se recolhe e lá fora só fica o sol tinindo nas pedras e no branco das paredes se uma pessoa vai andando pela rua e de repente se abaixa para apanhar qualquer coisa no chão no mesmo dia a cidade fica sabendo que Fulano achou um dinheiro ou um objeto de valor VEIGA 1996 p 63 Na literatura brasileira Aluísio Azevedo em seu livro Casa de Pensão também recorreu a este culturema Não seria agarrado às saias da mãe que iria pra diante Há muito mais tempo devia ter seguido o filho de fulano fora aos quinze anos AZEVEDO 1890 p 10 33 J J Veiga utilizou esta expressão para mostrar a indeterminação do sujeito ou seja para revelar que não se sabe quem praticou a ação neste caso de achar dinheiro ou objeto de valor Há apenas um registro na obra ENTANGUIDA Nazaré tinha entrado em casa encharcada entanguida com um lenço de chita na cabeça espirrando e tossindo Entrou apalpando hesitante sem a certeza de ficar por isso nem tirou o lenço Vendo a afilhada ali parada desamparada escorrendo água pelos cabelos pela roupa os pés metidos em chinelos grandes talvez de homem D Bita amoleceu VEIGA 1996 p 97 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem de entanguir J J Veiga recorreu a este culturema para mostrar que Nazaré havia se molhado na chuva e por isso entrou em casa entanguida ou seja com muito frio O médico e escritor Goiano Carlos Magno de Melo recorreu a este culturema em seu livro Mata Serena Dona Zózima arranjou uma coberta e deu um jeito em um vestido para a menina que estava entanguida de frio com roupas molhadas MELO 2003 p 31 Há apenas um registro na obra BARRANCOS A vaga de pêlos de dentes de patas de rabos de uivos chegou inteira e logo se espalhou por toda a parte farejando raspando acuando regando pedras barrancos muros raízes de árvores unhando portas choramingando erguendose nas patas traseiras para ver se descobriam nas salas alguma coisa digna de atenção e era repelida pelos moradores a varadas lambadas pauladas até a tapas e chineladas VEIGA 1996 p 35 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino quebrada do terreno alta e de forte vertente ocasionada por chuva deslizamento ou pela ação do homem baianca escavação natural vale profundo de encostas íngremes despenhadeiro precipício abismo 34 BIBOCAS DA BEIRA DO RIO Não era à toa que ele vivia sozinho no mundo separado dos parentes sem família e vai ver que até sem amigos aquelas poucas pessoas que ainda se incomodavam com ele e iam procurálo pelas bibocas da beira do rio pelos capinzais dos arrabaldes onde ele caísse depois de uma bebedeira procediam mais por pena do que por amizade VEIGA 1996 p 10 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que corresponde a sanga ou barranco produzido por águas de enxurrada ou por outras causas naturais Na obra há uma ocorrência desta expressão CACHORROS DA TAPERA Dois ou três dias antes o povo notou que os cachorros da tapera estavam ficando inquietos turbulentos aflitos como em véspera de uma grande caçada VEIGA 1996 p 33 Diz respeito a cães que vivem em uma aldeia ou em uma povoação abandonada Houaiss 2023 nos informa que a palavra cachorro vem do latim vulgar cattùlus por catùlu filhote de cão e tapera vem do tupi tapera aldeia indígena abandonada habitação em ruínas tawa taba pwera que foi O autor utilizou a expressão cachorros da tapera para mostrar que não eram quaisquer cachorros mas os da tapera que se caracterizam por cães sujos fedidos que não têm o que comer cães sem dono Há apenas um registro na obra ESPINHOS DE ROSEIRAS OU MANDACARU Houve casos também de cachorros entrando numa casa indo direto aos quartos e saindo com chinelas sapatos roupas tudo o que pudessem agarrar com a boca lençóis eram arrastados pelos quintais estraçalhados em espinhos de roseiras ou mandacaru lambuzados na lama dos regos e afinal abandonados em qualquer parte quando já não serviam para nada VEIGA 1996 p 36 35 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do tupi yamandakaru ou ñamandakaru planta da família das cactáceas O poeta cearense Paulo de Tarso Bezerra Gomes escreveu um cordel que recorre a este culturema Não dá sombra nem encosto Se diz do mandacaru Mas no sertão ele é rei Cardeiro ou Jamacaru E lá na língua Tupi É o iamanakaru Uma arbustiva xerófita Nativa aqui do Brasil No Nordeste é muito usada De maneira bem sutil Sendo alimento para o gado Numa seca muito hostil J J Veiga utilizou este culturema para retratar uma planta presente na vegetação da caatinga e como ela é fácil de se desenvolver o autor mostra que ela estava presente no quintal da casa e na obra foi mostrado apenas o lado ruim dessa planta que são os espinhos ou seja os espinhos destruíram os lençóis que os cachorros arrastavam pelo quintal Há apenas um registro na obra Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas PEITORIL Um dia muito cedo com o tempo ameaçando chuva Pedrinho Afonso passou das costas de um boi para a janela de D Bita pulou para dentro da sala e ficou debruçado no peitoril o rosto escondido nos braços o corpo tremendo VEIGA 1996 p 89 De acordo com Houaiss 2023 definese como parte superior de uma balaustrada onde as pessoas podem debruçarse Encontramos a palavra com a mesma significância no seguinte fragmento Antigamente as janelas eram pequenas aberturas no maciço da alvenaria de sustentação que não podia ser comprometida por vãos muito grandes e próximos uns dos outros Tradicionalmente uma janela tem uma verga viga que fecha superiormente o vão duas ombreiras e o peitoril superfície de fecho horizontal na parte inferior SILVA Jorge Henrique Pais da CALADO Margarida 2005 p 207 Ao longo da obra foram encontrados dois registros da palavra 36 CARROÇA DE ALUGUEL Isso aconteceu com Geminiano Dias proprietário de uma carroça de aluguel Geminiano estava carregando estrume para horta numa das viagens foi interpelado na cerca do pasto por um homem alto queixudo de cabelo cortado à escovinha VEIGA 1996 p 07 Segundo o Houaiss 2009 carroça referese ao substantivo feminino antigo coche carruagem luxuoso isto é carro grosseiro quase sempre feito de madeira geralmente puxado por animais usado para transporte de carga Gramática do diminutivo irregular carrocim Sua etimologia segundo o Houaiss 2023 vem de carrozza no sentido de viatura para pessoas com quatro rodas puxada por um ou mais cavalos latim medieval de Roma carrotìa carrus ou carrumi Tratase do transporte usado para o tráfego de mercadorias pelos personagens da narrativa No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas 1881 no seguinte trecho Elle precisa comer são horas de jantar vamos levaio ao Pharoux dividamos a consciência delle uma parte fique lá com a dama tomemos nós a outra para que ele vá direito não abalroe as gentes e as carroças tire o chapéu aos conhecidos e finalmente chegue são e salvo ao hotel ASSIS 1881 pág 193194 Ao longo da obra há sessenta e sete registros MONTUROS Mas uma tarde já ao escurecer como obedecendo um comando secreto todos os cachorros cessaram o que estavam fazendo farejaram o ar limparam os pés e dispararam rumo a tapera atropelando gente e se atropelando Saíam de quintais latadas de monturos ainda arrastando gravetos e ramagens derrubando cinza cavacos folhas secas do lombo VEIGA 1996 p 38 Datado em Houaiss 2023 do século XIV referese a monte de lixo aglomeração de coisas velhas e descartadas montureira O poeta cearense Patativa do Assaré recorreu a este culturema em forma singular no poema Saudade Saudade dentro do peito 37 É qual fogo de monturo Por fora tudo perfeito Por dentro fazendo furo Segundo o Houaiss 2023 este culturema também pode ser compreendido como lugar onde se deposita o lixo J J Veiga se utilizou deste culturema para se referir a um dos lugares frequentados pelos cachorros antes de invadirem Manarairema mostrando que naquele momento esses animais estavam indo ocupar a tapera porém este ambiente só foi ocupado por aqueles cães que viviam na rua que não tinham dono por isso saíam de locais sujos como o próprio culturema representa Há apenas um registro na obra Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas MODA PARA OS BOIS Joaquim Rufino o único preso da cadeia ao ver a dificuldade que os meninos estavam tendo para suprilo de água e comida apanhou a viola sentouse no parapeito da janela gradeada e fez uma moda para os bois VEIGA 1996 p 89 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de uma denominação genérica de canção canto música de salão ou folclórica portuguesa Sua etimologia vem de fr mode modo do lat modusi medida Há uma ocorrência desta palavra no livro NOITE DE CACHAÇADA E DESATINO quando Amâncio amanhecia caído em alguma grota machucado e enlameado depois de uma noite de cachaçada e desatino quem ia buscálo as mais das vezes era Manuel Florêncio de cada vez jurando que seria a última VEIGA 1996 p 17 Esta expressão corresponde a uma noite de bebedeira No trecho em análise notase que o personagem Amâncio envolviase em noites de bebedeiras e nestas noites ficava sem 38 condição de voltar para casa sozinho assim ele contava com a ajuda de Manuel Florêncio que o ajudava a retornar a sua casa Neste sentido o autor utilizou este culturema para enfatizar uma noite em que se ingere muita bebida Há apenas um registro na obra FOGUEIRA NA PORTA DA IGREJA Meninos acenderam fogueira na porta da igreja gente grande reuniuse em volta para aproveitar o calor apareceram garrafas em várias mãos até meninos provaram ninguém censurou porque a noite era de todos merecida VEIGA 1996 p 96 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma pilha de lenha ou monte feito com matérias de fácil combustão a que se toca fogo Na obra a fogueira é acesa para as pessoas se juntarem e jogarem conversa fora Existe nove ocorrências desta expressão GAMELA Me davam comida numa gamela no chão Eu tinha de comer enfiando a cara como cachorro Ela ficava perto olhando de vez em quando empurrava a gamela para longe com o pé só para me ver me arrastar no chão VEIGA 1996 p 90 Datado em Houaiss 2023 referese a vasilha de madeira ou de barro de vários tamanhos em forma de alguidar ou quadrilonga usada para dar de come aos porcos para banhos lavagens e outros fins Esse momento da narrativa tratase de uma conversa entre Pedrinho e D Bita onde ele conta para ela tudo o que sofreu com os homens da tapera e como era tratado com desprezo por Nazaré Na literatura brasileira Mário de Andrade em sua obra Macunaíma usa a mesma palavra com igual significância na referida passagem Então a cotia pegou na gamela cheia de caldo envenenado de aipim e jogou a lavagem no piá Macunaíma fastou sarapantado mas só conseguiu livrar a cabeça todo o resto do corpo se molhou O herói deu um espirro e botou corpo Foi desempenando crescendo fortificando e ficou do tamanho dum homem taludo 39 Porém a cabeça não molhada ficou pra sempre rombuda e com carinha enjoada de piá ANDRADE 1993 p 16 Ao longo da obra há quatro registros da palavra LAMPIÕES DO ACAMPAMENTO À noite a fogueira e os lampiões do acampamento queimavam até tarde da cidade viase o clarão entre as folhagens e quando o vento era favorável chegavase a ouvir vozes e risos e ondulações esgarçadas de música mas o povo não prestava maior atenção aquilo já fazia parte do cenário natural da noite não chegava perturbar o sossego VEIGA 1996 p 13 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino que se refere a uma grande lanterna elétrica ou a combustível portátil ou fixa em um teto esquina ou parede Na obra era utilizado para clarear o acampamento Há apenas uma ocorrência ESTALAR CHICOTES Então todos ali não tinham visto ou pelo menos entrevisto os animais trocando pernas ao peso da carga os cavaleiros atrás estalando chicotes VEIGA 1996 p 02 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino um instrumento resistente e flexível feito de longas tiras de couro ou de cordões entrançados e presos a um cabo Na obra os chicotes são utilizados para dar ordens aos animais Há nove ocorrências desta expressão no livro CHALEIRA Pensando e pensando nisso ela se distraiu na cozinha e cometeu uma série de deslizes queimou a mão numa panela deixou o arroz esturrar esqueceu a chaleira fervendo até a água transbordar e quase apagar o fogo VEIGA 1996 p 51 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a um recipiente bojudo geralmente de metal 40 com tampa asa e gargalo em forma de bico próprio para ferver água Há duas ocorrências na obra BAIXAR A ESPINGARDA Vamos entrando disse Amâncio baixando a espingarda notando a estranheza dos homens justificouse Tive de me armar por causa de uns bedamerdas aí fora Vamos entrando Entra Gemi VEIGA 1996 p 28 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma arma de fogo portátil de cano comprido e com coronha própria para apoiar no ombro Na obra há três ocorrências BOLEIA Agora era aquilo um homem desmanchado na boleia os olhos fixos nas ancas cada vez mais magras do Serrote despreocupado das rédeas e do caminho Quando cruzava com alguém na rua ou na estrada Geminiano levantava a mão num cumprimento mecânico que não chegava à aba do chapéu Quando alguém o saudava êle não ouvia da primeira vez ou ouvia atrasado VEIGA 1996 p 29 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo feminino que se refere a uma peça boleada de madeira fixa no varal da carruagem na qual se armaram os tirantes Assento do cocheiro na carruagem a parte fronteira superior desse veículo Nos automóveis e afins o assento do motorista nos caminhões e afins cabina do motorista Na obra há uma ocorrência TOLDO IMPROVISADO Coberta com um toldo improvisado simples lona apoiada em um varal e dois esteios e quando parou na porta da venda dela desceram três homens vestidos com paletós de cinto e bolsos com tampo e botões coisa mesmo de gente de fora raramente vista em 41 Manarairema Desceram endireitaram a roupa como se preparando para tirar retrato bateram na porta VEIGA 1996 p 2728 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino que se refere a uma cobertura destinada ao abrigo da embarcação passageiros e guarnição Qualquer cobertura de lona brim zinco ou outro material Na obra há uma ocorrência PRATO DE LOUÇA Muita almôndega macia fritada em boa gordura lhes foi servida em prato de louça como se faz com hóspedes de categoria VEIGA 1996 p 37 Esta expressão referese a um recipiente de cerâmica que é esmaltado e usado para servir refeições O professor pesquisador e escritor Eduard Montgomery Meira Costa recorreu a este culturema em seu livro Fantasias Inconscientes Sempre são crianças abaixo de doze anos de idade Uma escorregou e caiu batendo na mesa vindo a cair um prato de louça sobre seu pescoço cortando sua cabeça pois este prato tinha as bordas afiadas COSTA 2007 p 52 J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar a importância que os habitantes de Manarairema deram para os cachorros estranhos que haviam chegado na cidade mostrando que eles foram tão bem recebidos que a população lhes deu comida em um prato de louça e não em um prato qualquer Há apenas um registro na obra BOLAS DE SABÃODATERRA Bolas de sabãodaterra caixa de espoletas de espingarda maço das cabeças da assistência para os que não conseguiam alcançar o balcão tudo com muita algazarra muita espremeção muita reclamação VEIGA 1996 p 26 Expressão que representa uma fórmula de sabão que surgiu da necessidade de reutilizar o óleo de cozinha que degrada o solo e água contaminando o meio ambiente 42 Referese ao tipo de sabão encontrado na venda do personagem Amâncio Há apenas uma ocorrência na obra GOLE DE ÁGUA DO POTE Quando acabou Apolinário enxaguou a boca com um gole de água do pote cuspiu de esguelha na parede para não molhar o chão e voltou assoviando para a oficina VEIGA 1996 p 55 Referese à água armazenada em potes de barro muito usado no sertão nordestino O escritor brasileiro Mário de Andrade recorreu a este culturema no livro Macunaíma Maanape logo foi buscar o famoso Bento curandeiro em Beberibe que curava com alma de índio e a água do pote ANDRADE 1928 p 76 J J Veiga se utilizou deste culturema para mostrar que o personagem Apolinário não usou qualquer água para enxaguar a boca mas sim a água do pote Há apenas um registro na obra CAFEZEIRO Quando uma galinha conseguia escapar para cima de um muro de um cafezeiro para o meio de uma moita qualquer e lá ficava ofegante se refazendo do susto sempre aparecia alguém com uma vara para espantála e a perseguição recomeçava Freqüentemente uma galinha já manca de asa despencada e muitas falhas de penas pelo corpo era apanhada e entregue na boca de um cachorro e geralmente o cachorro destinguido com a prenda apenas a cheirava e virava as costas VEIGA 1996 p 37 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino no âmbito angiosperma com acepção de cafeeiro cafeicultor PASSADO LIGEIRAMENTE NA FARINHA Ninguém almoçou direito receando perder grandes acontecimentos enquanto estivesse à mesa quem comeu alguma 43 coisa foi em pé mesmo diante da janela geralmente um simples pedaço de linguiça ou de carne espetado num garfo e passado ligeiramente na farinha os olhos sempre no acampamento VEIGA 1996 p 0405 Segundo o Houaiss 2023 pode ser compreendida também como farinha de mandioca fina usada na culinária brasileira em pratos como pirão farofa etc farinha suruí farinha seca farinha de guerra farinha de pau Vem do latim farínaae no sentido de farinha Tratase de um alimento bastante comum na culinária da época recorrente na obra devido seu consumo pelos personagens No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Manuel Antônio de Almeida em Memorias de um Sargento de Milicias 1854 no seguinte trecho Segura aquelle homem granadeiro disse o major a um dos seus soldados apontando para o tomalargura que se achava em pé cambaleando tendo numa mão um balaio em que viera a farinha e na outra uma garrafa com que ameaçava os circumstantes ALMEIDA 1854 pág 113 Há oito ocorrências na obra FARELOS DE RAPADURA E FARINHA O chão precisava de vassoura o balcão precisava de uma limpeza com pano molhado para tirar aquelas argolas de fundo de copo de cachaça os derramados de açúcar a gordura salgada dos pesos de carneseca os farelos de rapadura e farinha VEIGA 1996 p 19 Datado em Houaiss 2023 de 1720 com acepção de ato ou efeito de rapar rapadela isto é açúcar mascavo solidificado em forma de um pequeno tijolo Tratase de uma comida bastante comum na cultura culinária dos personagens da narrativa Sua etimologia vem de radical de rapado ura No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por José de Alencar em O sertanejo romance brasileiro Volume 1 1875 no seguinte trecho Compunhase esta de uma naca de carne de vento e alguns punhado de farinha que trazia no alforge De postre um pedaço de rapadura regado com água da borracha ALENCAR 1875 pág 64 Há cinco ocorrências na obra 44 COPO DE CACHAÇA O chão precisava de vassoura o balcão precisava de uma limpeza com pano molhado para tirar aquelas argolas de fundo de copo de cachaça os derramados de açúcar a gordura salgada dos pesos de carneseca os farelos de rapadura e farinha VEIGA 1996 p 19 Datado em Houaiss 2023 de 1635 com acepção de espuma grossa que se forma durante a primeira fervura do caldo de cana usada na produção de açúcar e dele retirada para servir de alimento ger na forma de beberagem fermentada ou para obtenção de bebida alcoólica isto é aguardente que se extrai por fermentação e destilação das borras do melaço da canadeaçúcar aguardente de cana Na cultura popular essa expressão pode ser compreendida ainda pelos seguintes nomes abrideira aço águabenta aguardente bagaceira birita branca branquinha brasa braseira braseiro calibrina cana caninha dengosa engasgagato ferro goró malvada manguaça muamba parati pinga pura purinha tempero uca veneno Tratase do nome mais comum associado a uma bebida alcoólica vendida nos bares da comunidade de Manarairema No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Joaquim Manuel de Macedo em A Moreninha 1844 no seguinte trecho Pela nossa parte confessamos que não ha cachaça que nos embebede mais depressa do que uma que se bebe nos olhos travessos de certas pessoas MACEDO 1844 pág 74 Há apenas duas ocorrências na obra CARREGAMENTO DE TOUCINHO Podia ser carregamento de toucinho mantimento escasso Enquanto esperavam a confirmação acenderam cigarros otimistas VEIGA 1996 p 02 Datada pelo Houaiss 2023 do século XV com acepção de gordura dos porcos subjacente à pele com o respectivo couro isto é produto extraído da gordura de outros animais toicinho O Houaiss 2023 remetese a essa expressão que segundo Corominas provém derivada do latim tùcca caldo gorduroso de 45 origem céltica donde tuccétum carne de porco conservada em salmoura Tratase de um alimento presente na culinária dos personagens da narrativa No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Aluísio Azevedo em O mulato 1881 no seguinte trecho Fallou depois em Portugal das cornesainas portuguezasas caldeiradas de sardinhas a orelheira de porco com feijão branco as boas nacas de toucinho a açôrda o caldo gordo o famoso bacaIháo dAlgarve AZEVEDO 1881 pág 44 Há nove ocorrências na obra BEIJU Então come um pédemoleque Um beiju Qualquer coisa disse Amâncio mandando Manuel aceitou um beiju para evitar crítica enquanto os outros iam virando careteando bufando e cuspindo VEIGA 1996 p 41 Segundo Houaiss 2009 referese a espécie de bolo de goma polvilho ou de massa de mandioca assada de que há diversas variedades A poeta e escritora baiana Jacinta Passos recorreu a este culturema no poema Canção da partida publicado no livro Coração militante Mandioca tem veneno dá farinha e dá beiju Este culturema também pode ser compreendido como acepipe feito com fubá açúcar e manteiga que se assa no forno ou em chapa J J Veiga se utilizou deste culturema para destacar uma comida comum que era fácil de se encontrar na cidade de Manarairema e com isto o autor revela que não tinha muita opção de comida para o personagem Manuel se alimentar naquele momento Há dois registros na obra Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas 46 CARGUEIROS Os cargueiros vinham descendo a estrada quase cansados com azul geral VEIGA 1996 p 01 Segundo o dicionário Houaiss 2023 referese àquele que leva carga ou conduz besta de carga Na obra era através dos cargueiros que chegavam mantimentos na cidade como o toucinho Há quinze ocorrências desta palavra na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas CREDO Ah que cabeça a minha credo disse ela Não lhe ofereci nada para comer Também só tem rapadura e farinha Serve VEIGA 1996 p 92 De acordo com Houaiss 2023 definese como uma interjeição que exprime frequente espanto e por vezes aversão credo em cruz cruzcredo cruzes A expressão foi usada no trecho quando D Bita lembrase de oferecer a Pedrinho alguma coisa para comer no caso tendo como alternativa apenas rapadura ou farinha pois como estava presa em casa por causa da invasão dos bois na cidade não podia comprar outros alimentos Ao longo da obra há duas ocorrências ESCONJURO Cachorros Esconjuro Capetas Capetas de quatro pés Cachorros foi só o que se conseguiu de Geminiano VEIGA 1996 p 33 Datada pelo Houaiss 2023 de 1550 com acepção de ação de esconjurar conjuro maldição Tratase de uma expressão espantosa referente aos cachorros que apareceram na cidade de Manarairema 47 No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por José de Alencar em O sertanejo romance brasileiro Volume 2 1875 no seguinte trecho Não lhe sahia da lembrança o dito de Fragozo e receioso de que pela intercessão de algum santo ou por artes occultas conseguisse o despeitado mancebo abrandarlhe o animo pensou que o melhor esconjuro contra esse maleficio era casar quanto antes a filha ALENCAR 1875 pág 210 Há apenas uma ocorrência na obra Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas RESMUNGAR Mas acontece que Geminiano deu para resmungar A princípio eram queixas imprecisas sem alvo nem motivo determinados que o povo atribuía a cansaço ou desinteresse por um serviço que não variava e que parecia não ter fim VEIGA 1996 p 2829 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um verbo transitivo direto que se refere a pronunciar confusamente por entre dentes geralmente com mau humor Falar baixo geralmente com rabugice rezingar Na obra há uma ocorrência EMBARAÇO O embaraço foi geral Aquilo era novo Geminiano chorando Deviam consolálo como se faz com criança ou ir saindo disfarçado em respeito ao desespero de um homem antes tão equilibrado VEIGA 1996 p 29 Segundo o dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino qualquer fato ou coisa que dificulta ou impede dificuldade complicação atrapalhação Na obra há uma ocorrência 48 ALARIDO A noite o alarido era tal que chegava a perturbar o sossêgo na cidade A impressão geral era que os homens não estavam dando comida suficiente aos bichos Seria por maldade Ou distração Ou falta de recursos Talvez Geminiano pudesse dar uma explicação VEIGA 1996 p 33 Segundo dicionário Houaiss 2023 tratase de um substantivo masculino gritaria de guerra clamor de combate ruído de vozes de gritos falatório algazarra gritaria Na obra há duas ocorrências PUXAR BRIGA Tendo dado a sua opinião e na frente de todos Justino achou que a sua obrigação estava cumprida Insistir seria puxar briga sem necessidade VEIGA 1996 p 9 Esta expressão corresponde ao mesmo que procurar briga buscar confusão John Boyne um escritor irlandês também recorreu a este culturema em seu conto Um dia de folga Um Conto de Natal no seguinte trecho A coisa toda o deixou intrigado Logo em seguida Cathy falaria pra todo mundo que ele tentou se engraçar pra cima dela e seu irmão foi bater na porta da casa de Hawke na manhã de Natal querendo puxar briga J J Veiga utilizou este culturema para mostrar que o personagem Justino tinha dado sua opinião a respeito da atitude de Geminiano quando ele se encontrou com um homem que queria alugar sua carroça assim ele apenas revelou sua opinião pois sabia se dissesse algo mais iria desagradar Geminiano e assim estaria procurando confusão Há apenas um registro na obra BARRIGAMEDÓI A dúvida era de Balduíno já com algumas experiências mas ninguém quis se demorar nela nada igual tinha acontecido antes e se 49 acontecesse agora Júlio Barbosa saberia o que fazer Eles saem Não tem barrigamedói VEIGA 1996 p 06 A expressão diz respeito a uma atitude sem desculpas isto é uma ação a ser realizada sem interrupções com precisão Na obra é uma expressão usada pelo personagem Júlio Barbosa homem de atitudes sérias demostrando essa característica com a referida expressão Há duas ocorrências na obra TRENS TODOS Por enquanto você fica no quarto de Nazaré como ele está Depois faço uma arrumação tiro aqueles trens todos e jogo fora VEIGA 1996 p 92 De acordo com Houaiss 2023 definese como um regionalismo mais usado em Minas Gerais no uso informal pejorativo referindose ao que não tem valor ou préstimo dizse de pessoa ou coisa imprestável inútil O termo foi usado no trecho em uma conversa entre D Bita e Pedrinho onde ela pede para ele ocupar o quarto de Nazaré que depois ela arrumaria jogando as coisas dela fora Ao longo da obra há apenas uma ocorrência NÃO DAR TRELA As pessoas respondiam com reserva ou ficavam na intenção de responder não davam trela a conduta recente de Geminiano estava ainda muito viva na lembrança de todos VEIGA 1996 p 100 O trecho em destaque ocorreu à expressão no sentido negativo se referindo ao ato da população de Manarairema não querer conversa com Geminiano pois ele tinha se aliado aos homens da tapera Ao longo da obra há apenas uma ocorrência TOCAR PARA A FRENTE Ninguém quis perder tempo falando nos homens da tapera se alguém se lembrou deles foi de passagem o momento era alto demais para miudezas agora era festejar e tocar para a frente 50 quem não gostasse que se recolhesse e tapasse os ouvidos VEIGA 1996 p 96 A expressão tocar para a frente pode ser compreendida com o mesmo sentido de ir em frente apostar acreditar Na passagem a locução se refere ao momento em que os bois foram embora de Manarairema e finalmente as pessoas puderam sair de suas casas para comemorar nas ruas alegremente O compositor Renato Teixeira usou a sentença Tocando em frente na composição de uma música que possui o mesmo tema e significado atribuído na obra A hora dos Ruminantes de JJ Veiga Penso que cumprir a vida Seja simplesmente Compreender a marcha E ir tocando em frente Ao longo da obra há duas ocorrências da expressão SAIU DE CHOFRE Bom tome conta de sua venda que eu tenho serviço esperando disse Manuel e saiu de chofre esquecendo o embrulho de linguiça VEIGA 1996 p 25 A palavra chofre é datada pelo Houaiss 2023 de 1712 com acepção de golpe ou choque repentino isto é a expressão representa uma forma súbita de retirada Tratase da maneira como o personagem Manuel Florêncio saiu do bar após uma conversa com o personagem Amâncio Há apenas uma ocorrência na obra ENCHENTES DE BICHOS Já no caso dos cachorros a atitude de Amâncio fora muito criticada Além de ter achado graça naquela enchente de bichos ainda zombou das pessoas que tentaram escorraçáIos e não ficou nisso passada a crise andou fazendo indagações para apurar quem mais quem chegara a levantar a mão contra eles VEIGA 1996 p 63 Esta expressão referese a uma grande quantidade de animais Neste trecho o autor utilizou a expressão enchente de bichos para mostrar que a tapera estava habitada por muitos animais Assim enfatizou esta expressão por meio da atitude de Amâncio pois ele estava agindo de forma que causava estranhamento nas pessoas de 51 modo que suas atitudes eram criticadas principalmente diante da grande quantidade de animais Isto porque ele apenas riu da situação Há apenas um registro na obra NÃO PERDER A MÃO Dei lá umas cepilhadas para não perder a mão Virou a cabeça para a porta e comentou Esta lama aí hein Vai custar a secar Deve ter mais de um palmo de altura VEIGA 1996 p 99 No trecho a expressão foi usada em um momento de conversa entre Amâncio e Manoel onde o primeiro pergunta se Manoel já recomeçou com as suas atividades agrícolas depois que Manarairema voltou a sua normalidade este responde com o uso da expressão com a finalidade de afirmar positivamente a pergunta Ao longo da obra há apenas uma ocorrência NÃO CANTAR DE GALO Por que não largou o serviço então Porque não matei meu pai a soco Pergunte a Amâncio por que ele não cantou de galo perto deles Olhe ele aí Pergunte só VEIGA 1996 p 101 Houaiss 2023 referese ao termo cantar no sentido figurado e regionalista como tentar convencer ou convencer alguém a fazer ou a permitir fazer algo Nesse sentido a expressão pode ser entendida como que determinada pessoa está querendo ser chefe ou seja mandar e falar alto sem merecer e também quer falar mais alto que todos Nessa sentença a expressão foi usada no momento em que Geminiano voltava da casa de tapera com alguns objetos na carroça e tenta uma conversa com as outras pessoas estas não confiam mais nele ele se defende dizendo que nem mesmo Amâncio teve coragem de cantar de galo perto dos homens da tapera Ao longo da obra há apenas uma ocorrência DAR A TÁBUA Ela me deu a tábua Não vejo Nazaré desde domingo Vim fugido VEIGA 1996 p 90 52 Houaiss 2023 referese a essa expressão dando o contexto significativo no sentido figurado regional à palavra tábua como ato praticado de máfé que objetiva lesar ou ludibriar logro engano No trecho destacado a expressão foi usada por Pedrinho quando D Bita pergunta por sua neta Nazaré e ele fala que foi enganado por ela e que fazia algum tempo que não a via O cantor e compositor Gabriel O Pensador usou também essa palavra no seu sentido conotativo no seguinte trecho de sua música Eu e a tábua Outro dia eu Tava em casa me sentindo na prisão Jogando dardo na televisão Estressado cansado dessa vida louca Olhei pro lado e vi a mulher passando roupa Minha cueca azul da cor do mar Me deu vontade de ir pegar uma onda com a minha tábua de passar A expressão só ocorre uma vez na obra NÃO QUERER DAR O BRAÇO A TORCER Sabia que os outros estavam vendo a minha mentira e não queria dar o braço a torcer Quantas noites passei rezando pedindo um milagre pedindo a Deus para fazer dela a menina que eu tinha inventado Fui uma boba e agora estou pagando Mas eu já estava ficando velha sem tempo de começar de novo Achei mais fácil fazer de conta que ela estava saindo como eu queria Outra ilusão minha foi pensar que podia morrer antes antes de qualquer desgosto grande com ela VEIGA 1996 p 91 Assim a expressão dar o braço a torcer confere o mesmo sentido pois é o mesmo que admitir um fato que de alguma forma prova que determinada pessoa estava errada No trecho a expressão foi usada na forma negativa em um momento onde D Bita conversava com Pedrinho a respeito de Nazaré e confessa que já sabia que sua neta não prestava porém não queria admitir nem para ela mesma a verdade O termo foi usado com igual significância na literatura no romance Black fugir não vai adiantar de autoria de Raquel Moreira na seguinte passagem Não quero esboçar nenhuma reação ao seu toque mas noto que minhas pernas ficaram fracas Não vou dar o braço a torcer não com ele me fitando com esse olhar convencido que diz Eu 53 consigo a mulher que eu quiser MOREIRA 2015 p 638 Há apenas uma ocorrência da expressão na obra TIRAR A LIMPO Seriam engenheiros Mineradores Gente do governo Vamos lá ver conversar tirar a limpo propôs alguém VEIGA 1996 p 04 K J Veiga se utilizou deste culturema para destacar a curiosidade das pessoas em saber quem eram aqueles indivíduos que estavam chegando na cidade de Manarairema e para confirmarem estavam dispostos a se aproximarem destas pessoas para tirar a limpo e saber quem realmente eram O músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recorreu a este culturema em seu livro O Irmão Alemão no seguinte trecho Eu já pensava em tirar a limpo essa história quando um vidente não sei como descobriu meu telefone de casa e nem bem o atendi arrolou seus serviços prestados à polícia na elucidação de sequestros na localização de cativeiros e de esconderijos de bandidos HOLANDA 2014 p 108 Há apenas um registro na obra O SOL ESPICHAVA AS SOMBRAS NO LARGO No meio da tarde quando o sol espichava as sombras no largo a carroça dobrou a esquina e entrou no beco VEIGA 1996 p 27 Datada pelo Houaiss 2023 em sua forma infinitiva espichar de 1713 com acepção de tornar mais longo esticar alongar Na obra a palavra referese ao modo como o sol aparecia na cidade No âmbito da literatura brasileira a expressão foi usada também por Aluísio de Azevedo em O Mulato 1881 no seguinte trecho Dahi a uma hora o conego depois de saborear a sua canja e amaciar o lombo luzidio de seu maltez fazia a oração do costume e espichava se ao comprido tranquillamente na sua rede branca e cheirosa disposto a passar uma bôa noute AZEVEDO 1881 p 464 Há apenas uma ocorrência na obra 54 ESCALDAPÉS Menina do céu onde está o seu juízo disse ela afinal Olhe só a sua roupa Toda molhada até os cabelos Você adoece menina Vá mudar esse vestido enxugar esse cabelo Tome um escaldapés e calce uma meia Vou esquentar a água Vá mudar essa roupa depressa que eu não quero ver você doente E não saia do quarto Levo o escaldapés e o chá VEIGA 1996 p 98 Segundo Houaiss 2009 referese ao banho que se dá aos pés imergindoos em água quente Na literatura brasileira Joaquim Manuel de Macedo no livro A Moreninha recorreu a este culturema no seguinte trecho Pois bem minhas senhoras disse Augusto para se ver livre delas dêem lhe o preconizado escaldapés MACEDO 1844 p 59 J J Veiga se utilizou deste culturema para realçar que o escalda pés combate o resfriado por isso nos fragmentos apresentados a menina foi orientada a trocar de roupa e aplicar o escaldapés para não adoecer Há dois registros na obra CHEIRO DE URINA DO CUEIRO No Beco da Pedreira Grande atraídos pelo cheiro de urina do cueiro de uma criança que dormia no berço perto da janela os bois comeram todos os panos do berço depois descascaram completamente a pele da criança com a lixa da língua VEIGA 1996 p 89 Segundo Houaiss 2023 referese a um pano leve e macio com que se envolvem em torno das nádegas e das pernas as crianças de colo A sentença destacada é relacionada ao momento em que a cidade de Manarairema sofre com a invasão dos bois e o momento narrado é quando os bois atraídos pelo cheiro de urina vão até uma casa e através de uma janela comem todos os panos do berço de uma criança que dormia Encontramos a palavra com o mesmo sentido no seguinte trecho Logo que a criança era capaz de dispensar a ajuda da mãe ou da ama depois de um desmame tardio que acontecia por volta dos 55 sete anos de idade ela ingressava na comunidade dos adultos participava dos jogos e dos trabalhos e seus trajes também não a diferenciavam dos mais velhos pois assim que deixava o cueiro se vestia como os outros homens e mulheres embora as roupas mostrassem a hierarquia social TOURINHO 2008 p 05 Ao longo da obra só há dois registros da expressão Referências ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 1 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 Disponível em httpsdigitalbbmuspbr handlebbm4644 Acesso em 28022018 ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 2 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 Disponível em httpsdigitalbbm uspbrhandlebbm4643 Acesso em 28022018 ALMEIDA Manuel Antônio de Memorias de um sargento de milícias Rio de Janeiro Typographia Brasiliense de Maximiano Gomes Ribeiro 1854 Disponível em httpsdigitalbbmuspbr handlebbm4846 Acesso em 28032018 ANDRADE Mário de Macunaíma o herói sem nenhum caráter Belo Horizonte Vila Rica 1993 Disponível emhttpwwwseerufrgsbr NauLiterariaarticledownload48532769 Acesso em 28 fev 2018 ASSIS Machado de Memorias posthumas de Braz Cubas Rio de Janeiro Typographia Nacional 1881 Disponível em https digitalbbmuspbrhandlebbm4826 Acessos em 28032018 Acesso em 26 de março de 2018 AZEVEDO Aluísio O mulato Maranhão Typ do Paiz 1881 Disponível em httpsdigitalbbmuspbrhandlebbm4812 Acesso em 28032018 BUARQUE Chico O irmão Alemão Disponível em http delubiocombrbibliotecawpcontentuploads201502OIrmao AlemaoChicoBuarquepdf Acesso em 20 de março de 2018 COSTA Eduard Montgomery Meira Fantasias Inconscientes Disponível em ttpsbooksgooglecombrbooksidheNMBQAAQB AJpgPA6dqfantasiasinconscienteshlptBRsaXved0ah UKEwjJs7KE84aAhVJg5AKHZeCc8Q6AEIJzAAvonepageqfan tasias20inconscientesffalse Acesso em 23 de março de 2018 56 GOMES Paulo de Tarso Bezerra NVC Nordestinando Mandacaru Até Perfume nos dá Disponível em httpswwwnorte andovocecombrnoticiasnordestinandomandacaruateperfume nosda Acesso em 23 de março de 2018 HOUAISS Antônio e VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 LEVI Dicionário Informal Disponível em httpwwwdicionario informalcombrC3A1gua20do20pote Acesso em 25 de março de 2018 MACEDO Joaquim Manuel de A Moreninha Rio de Janeiro Typographia Franceza 1844 Disponível em httpsdigital bbmuspbrhandlebbm4000 Acesso em 28032018 MELO Carlos Magno de Mata Serena Disponível em httpsbooksgooglecombrbooksid10ZrSFZDWICprintsecfron tcoverdqmataserenahlptBRsaXved0ahUKEwj0y9SviJLaA hWGgJAKH e2hDXoQ6AEIJzAAvonepageqmata20serenaf false Acesso em 24 de março de 2018 MENDES Iba Macunaíma Disponível em httpsanderlei combrPDFMariodeAndradeMariodeAndradeMacunaimapdf Acesso em 22 de março de 2018 MOREIRA Raquel Black Fugir não vai adiantar Rio de Janeiro Planeta Literário 2015 PASSOS Jacinta Coração Militante Disponível em https booksgooglecombrbooksidG0eqCgAAQBAJpgPP1dqcoraC 3A7C3A3omilitantehlpt BRsaXved0ahUKEwiJhuejmJLaAhUBHJAKHVPSBREQ6AEIJzAA vonepageqcoraC3A7C3A3o20militanteffalse Acesso em 20 de março de 2018 PENSADOR EU E A TÁBUA Rio de Janeiro Sony Music 1997 Disponível em wwwvagalumecombrgabrielpensadoreuea tabuahtml Acesso em 25 mar 2018 SATER Tocando em frente Rio de Janeiro Sony Music 1992 Disponível em wwwvagalumecombralmirsatertocandoem frentehtml Acesso em 28 mar 2018 SILVA Jorge Henrique Pais da CALADO Margarida Dicionário de termos de arte e arquitectura 2005 Disponível em www estudogeralsibucptbitstream1031674101Primeira20partepdf Acesso em 28 mar 2018 57 TOURINHO Júlia Gama A mãe perfeita idealização e realidade Algumas reflexões sobre a maternidade UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 Disponível em wwwigtpscbrojsincludegetdocphpid90article24modepd f Acesso em 28 mar 2018 VEIGA José Jacinto A Hora dos Ruminantes 31ª ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 WAGNER Max Um dia folga Um conto de natal Disponível emhttpaultimapoesiademaxwagnerblogspotcombr201512diade folgaumcontodenataljohnhtml Acesso em 24 de março de 2018 59 Culturemas em Os pecados da tribo 1976 Bárbara Kesley Sousa Cavalcante Cláudio de Araújo Silva Francisco Renato da Silva Pires Maria de Fátima Matos Sousa Mayrillane Mesquita de Sousa Wendel Mesquita Ferreira O narrador de Os pecados da tribo logo no início do romance mostrase hesitante quanto à duração do regime que governava o lugar O enredo é narrado em um espaço de uma tribo Não há a insurgência de invasões tudo já está posto o autoritarismo e a hierarquia dominantes já vigoram sem que forasteiros os imponham Analice De Sousa Gomes 2017 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas e humaniculturemas BAMBU DA CERCA DO GALINHEIRO VELHO Me animei e para não me atrasar muito apanhei só três coités racheios ao meio tirei o miolo preparei os pavios despejei o azeite de um pedaço de trançado de bambu da cerca do galinheiro velho fiz um tabuleiro arrumei as luminárias em cima acendias e me toquei para o lago VEIGA 1991 p 120 A utilização recorrente de vocábulos que se referem à fauna do território em que se passa o romance ajuda a caracterizar a sua ambientação como um local rústico em que se utilizam elementos da natureza para construir objetos de uso cotidiano como a cerca do galinheiro feita de trançado de bambu Na literatura brasileira há referência ao termo na obra Iracema de José de Alencar A sahida do bosque sagrado encontrou Iracema a virgem reclinava num tronco áspero do arvoredo tinha os olhos no chão o sangue fugira das faces o coração lhe tremia nos lábios como gota de orvalho nas folhas do 60 bambu ALENCAR 1865 p 30 Ao longo da obra foram encontrados oito registros PEIXEBALÃO Pelo contexto da obra o peixebalão designado não é um baiacu comum e sim uma espécie criada pelo autor baseandose no conhecido peixe que chega a atingir proporções impossíveis na realidade No Dia da Carimbagem dos Potes cerimônia que só interessa a mulheres eu e Rudêncio aproveitamos a folga para pescar peixebalão VEIGA 1991 p 32 O Peixebalão é um dos nomes pelos quais o baiacu é conhecido Segundo Houaiss 2023 baiacu é designação comum a vários a vários peixes teleósteos são geralmente capazes de inflar o corpo quando se sentem ameaçados No trecho Rudêncio e o narrador utilizam um dia de folga devido a uma cerimônia tradicional do território para pescar esse tipo de peixe Em seu Nina romance Joaquim Manuel de Macedo recorre a este termo O interessante grupo chegara á ponte fronteira ao outeiro dos jacarés e portanto ao ponto em que para um lado a corrente se alarga formando o lago onde os cysnes tém a sua ilha e o peixeboi o sitio que mais frequenta MACEDO 1871 p 34 Há apenas um registro do vocábulo no livro CAITITU Nisso surgiram dois rapazes da casa dos Obelardos cada um carregando um caititu no ombro segurado pelos pés o sangue ainda escorrendo pelas feridas das flechadas VEIGA 1991 p 47 Referese a mamífero artiodátilo diurno e florestal encontrado dos EUA ao Norte da Argentina com cerca de 90 cm de comprimento e pelagem cinzaescura com uma faixa branca no pescoço em forma de colar A referência à caça dos caititus feita no trecho destacado serve para caracterizar a fauna da região em que se ambienta o livro mas também caracteriza o modo de vida dos habitantes que dependem da caça pesca e coleta para sobreviver 61 Euclides da Cunha recorre ao vocábulo em Os Sertões campanha de Canudos As lendas arrepiadoras do caapora travesso e maldoso atravessando célere montado em caititu arisco as chapadas desertas nas noites mysteriosas de luares claros CUNHA 1905 p 139 Este culturema aparece duas vezes na obra BORRACHUDOS Deilhe o cesto e acendi um cigarro para espantar os borrachudos enquanto esperava VEIGA 1991 p 50 É a designação comum a diversas espécies de insetos dípteros de 2 a 6 mm de comprimento e coloração negra Esse tipo de mosquito é típico de regiões quentes pois o frio dificulta a sua proliferação sendo um método natural de controle Nestes trechos do texto o autor prova tratarse de um mosquito próprio de região quente pois a pesca descrita na passagem ocorria no período diurno com temperatura elevada por isso a presença dos mosquitos prevalecia Na obra A mocidade de Trajano Visconde de Taunay já utiliza o termo Se não fosse freqüente apparecerem ahi também borrachudos e mosquitinhos fora encantador lugar de meditação e descanço mas cada hora que nelle passava Trajano custavalhe incharem as mãos de tão chupadas que erão TAUNAY 1871 p 108 Não há repetição deste léxico no texto MÚSCULOS DA BOCA Eu ria de doer os músculos da boca enquanto ele encarnava o sogro a sogra vários Couracas VEIGA 1991 p 32 Segundo Houaiss 2023 é um órgão formado por fibras que possuem a capacidade de se contrair e se alongar sendo classificados como cardíaco liso e estriado segundo suas características No trecho destacado o narrador reforça a descrição da intensidade do seu riso ao dizer que riu até sentir dor nos músculos da boca devido às imitações que seu irmão Rudêncio faz de figuras conhecidas dos dois Há três registros da expressão ao longo do texto 62 BREJO Eles ficaram tão satisfeitos que resolveram me contar um segredo sabiam de um lugar onde se pode pegar cairas Temos muita caira aqui mesmo no rego principalmente depois que chove O lugar secreto deles é um brejo depois da várzea dos buritis pouco frequentado por causa dos caldeirões fundos que já engoliram muito animal e dizem que gente também VEIGA 1991 p 49 Segundo Houaiss 2023 tratase de terreno alagadiço lodoso No trecho destacado o brejo aparece como o local no qual os personagens pescam cairas Em Til romance brazileiro José de Alencar se utiliza do vocábulo no seguinte trecho Estuavalhe a alma Entrava na venda para matar a sede que o abrasava mas a cachaça parecialhe chilra e insipida como a água do brejo ALENCAR 1872 p 47 Há dez ocorrências do culturema nesta obra demonstrando a intencionalidade do autor em caracterizar a geografia da região em que se passa a obra BORÁ Edualdo é o mais gentil me oferece leite de cabra mel de borá cigarro de mentastro mangarito cozido essas especialidades que reservamos para amigos VEIGA 1991 p 84 O dicionário Houaiss 2023 apresenta uma definição da palavra com o sentido de medida de capacidade para secos equivalente a quatro cândis No livro o termo se refere a uma espécie de abelha nativa do Brasil que pertente à família dos Meliponídeos cujo nome original vem do Tupi Heborá que significa o que há de ter mel No trecho em destaque o narrador descreve as especialidades que o vizinho Edualdo lhe oferece e que são todas típicas da fauna e da flora regional Há duas ocorrências do termo na obra 63 MANGARITO Um senhor que plantava mangarito num terreno perto do nosso começou a dizer que ele também não ia ter tempo VEIGA 1991 p 53 De acordo com Houaiss 2023 é uma erva nativa do Brasil de folhas sagitadas panduriformes com 15 cm de comprimento espata brancoesverdeada e espádice branco muito menor que a espata Nessa passagem o narrador e alguns vizinhos receberam ordens de autoridades do território para cavar um buraco próximo às suas casas e cada um apresenta uma justificativa para não poder cavar Mais uma vez o autor cita elementos da flora nativa do Brasil e caracteriza os seus personagens como pequenos agricultores familiares que se alimentam do que plantam Já são encontradas referências ao vocábulo na literatura brasileira em Caramuru de José de Santa Rita Durão Tem mimofos legumes que não cedem Aos que ufamos na Europa mais prezados Gingibre Gergelim que os mais excedem Mendubim Mangaló que usão guizados Alguns medicinaes com que dependem Do peito eítilicidios radicados Tem o Cará o Inhame e em cópia grata Mangaràs mangaritos e batata DURÃO 1781 p 206 Há quatro ocorrências do vocábulo na obra RAMAS DE MELÃODESÃOCAETANO Desdobramos o balão e examinamos parecia em ordem O cesto estava meio esburacado e nós o reforçamos com um trançado de cordas Acendemos uma fogueirinha no meio do terreiro quando as chamas ganharam força jogamos em cima uma das braçadas de ramas de melãodesãocaetano que faz muita fumaça VEIGA 1991 p 53 É uma trepadeira monoica da família das cucurbitáceas de folhas suborbiculares com cinco ou sete lobos ovadoblongos flores solitárias unissexuais e bagas comestíveis que se abrem como cápsulas com sementes vermelhas oleaginosas nativa de regiões tropicais cultivada pelos frutos por vários usos medicinais e 64 especialmente para extração de substância com efeitos semelhantes aos da insulina Há apenas uma ocorrência na obra ESTOQUES DE FUMÍGENOS DOS ARMAZÉNS DO ESTADO E explicou que as atuais circunstâncias eram as dificuldades momentâneas da indústria química Com o aumento atípico da taxa de natalidade dos ratos baratas percevejos cupins os estoques de fumígenos dos Armazéns do Estado se esgotaram e as fábricas ainda não haviam acertado passo com a demanda Enquanto isso as autoridades haviam instituído um sistema de prioridades para os casos mais urgentes Locais de ajuntamento esporádico logicamente iriam para o fim da lista VEIGA 1991 p 8 De acordo com Houaiss 2023 diz respeito ao que produz fumo ou fumaça No trecho destacado uma autoridade informa ao narrador que a Casa do Couro foi fechada para fumigação mas que não poderá ser fumigada em um futuro próximo por conta da falta de fumígenos no território Há duas ocorrências na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas e religiculturemas ERA DOS INVENTOS As ocorrências que observei enquanto meus companheiros falavam me levam a concluir que vamos entrar numa fase de retrocessos e rejeições semelhante àquela que precedeu o fim da Era dos Inventos VEIGA 1991 p 32 No trecho destacado o narrador expressa sua desconfiança de que um período conturbado semelhante ao que levou ao fim da Era dos Inventos vai começar por conta de acontecimentos que ele observou na Casa do Couro Só há uma ocorrência da expressão na obra 65 GRANDE FOME No século passado nos dias da Grande Fome um nutricionista descobriu que a fumaça da folha da nanica alimenta tanto quanto a fruta e o hábito voltou agora recomendado pelas próprias autoridades VEIGA 1991 p 104 Denominação criada pelo autor para nomear um período da história do território ocorrido no século anterior àquele em que ocorre a ação do romance em que a escassez de alimento foi extrema No trecho o narrador conta que no período da Grande Fome descobriuse que a fumaça da folha de bananeira nanica servia também para a alimentação caracterizando a flora da região Há apenas uma ocorrência da expressão na obra Culturemas relacionados a Instituições Culturais Religião criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas comuniculturemas MALEMBE Ótimo E muito breve não vai ver mais Estou dando um sufoco neles Não demora muito e eles pedem malembe VEIGA 1991 p 101 Segundo Houaiss 2023 referese ao cântico de quem pede misericórdia aos encantados nos candomblés caboclos No trecho Rudêncio conta que está propositadamente prejudicando as vidas dos vizinhos da família os Obelardos e que em breve eles pedirão misericórdia A utilização do termo malembe regionalismo típico da religião cabocla caracteriza a religiosidade do espaço em que se situa o texto Ao longo da obra só há um registro 66 Culturemas Relacionados à Estrutura Social Política ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas CASA DO COURO Pensando nesses pequeninos sinais e juntandoos estou inclinado a concluir que muito breve não teremos mais reuniões na Casa do Couro VEIGA1991 p 1 Em seu sentindo literal essa expressão poderia significar um lugar onde se vende couro porém J J Veiga a utilizou para designar um local destinado à discussão de assuntos políticos em uma espécie de assembleia Essa instituição é extinta logo ao início do romance quando a repressão política começa a ser exercida Nessa passagem o narrador que é irmão do personagem Rudêncio comenta que as reuniões que aconteciam na Casa do Couro nas quais se discutia sobre política possivelmente jamais voltariam a acontecer dado o fechamento injustificado da instituição Ao longo da obra a expressão em destaque aparece dezesseis vezes CAINCARA Eu pouco vou à casa deles porque o Caincara se encantou com os netos e praticamente se mudou para lá Não é que eu desgoste do velho mas de Caincara quero distância VEIGA1991 p 5 Tratase de um neologismo A palavra foi criada pelo autor e designa cargo fictício criado para a obra que aparenta se tratar de uma autoridade menor subalterna ao Umahla mas superior aos turunxas No trecho destacado o narrador expressa sua desconfiança e medo dos Caincaras a ponto de evitar visitar a família do irmão porque a esposa de Rudêncio é filha de um velho Caincara que encantado pelos netos passa muito tempo na cada deles Há vinte e uma ocorrências na obra 67 UMAHLA A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla para eles é o Sol no céu e o Umahla na terra julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA 1991 p 2 Vocábulo criado pelo autor para denominar os governantes do território em que se situa a obra O Umahla seria uma espécie de ditador uma vez que não há participação popular na sua escolha nem alguma forma de parlamentarismo Após a extinção da Casa do Couro o poder do Umahla passa a ser absoluto pois não restam instituições populares que ele consulte ao governar Vários golpes de Estado são empreendidos ao longo da obra depondo e sucedendo Umahlas sem a participação ou o conhecimento da população No trecho o narrador descreve a popularidade do Umahla mais recente que assumiu o poder após matar seu predecessor e depois criou um novo sistema de leis Foram encontradas cinquenta e quatro ocorrências do vocábulo KANKA Eles têm também o seu Umahla que lá se chama Kanka galo na língua deles VEIGA 1991 p 72 Palavra criada pelo autor para designar o cargo de governante de uma tribo vizinha os Aruguas que vivem sob um regime que imita o regime democrático No trecho o narrador explica que o Kanka é o equivalente de um Umahla para os Aruguas e descreve a forma como ele é escolhido através de uma votação com caráter ritualístico Foram encontradas seis ocorrências do vocábulo UBICHA meu pai foi eleito ubicha da Casa do Couro impedindo a entrada de indesejáveis desarmando malfeitores separando brigas acalmando visitantes exaltados VEIGA 1991 p 16 68 Vocábulo criado pelo autor para nomear empregados da Casa do Couro encarregados de apaziguar os ânimos nas assembleias da instituição Nesta passagem o narrador descreve a natureza diplomática de seu pai que fez com que ele se tornasse ubicha Foram encontradas duas ocorrências da palavra no texto MÉTODO DA CONSULESA Se o método da Consulesa não era grande coisa ela era VEIGA 1991 p 13 No dicionário Houaiss 2023 não há referência ao vocábulo Consulesa no entanto consta o significado de Cônsul como funcionário de uma embaixada ou de um consulado geralmente encarregado de manter contatos com autoridades e personalidades em cidades onde não está situada a embaixada fomentando relações culturais comerciais etc Desse modo Consulesa poderia se referir a uma mulher que exerce essas funções mas o contexto da obra indica que o vocábulo tem sentido apenas de esposa do Cônsul Durante toda a obra o protagonista utiliza a palavra Consulesa como um nome próprio sem jamais citar o nome da personagem de fato Essa caracterização do personagem apenas pela sua função social ou profissão é recorrente na obra Os Pecados da Tribo No trecho destacado o narrador demonstra seu interesse amoroso pela Consulesa pela primeira vez Há sessenta e duas ocorrências ao longo da obra ARMAZÉNS PROIBIDOS Quem mandou guardar em casa objetos que deviam ser recolhidos aos Armazéns Proibidos VEIGA 1991 p 17 Expressão utilizada pelo autor para nomear a instituição em que o narrador do livro trabalha e que reúne artefatos de tempos antigos de uso proibido para a população Na passagem destacada o narrador conta que seu irmão Rudêncio não sente piedade por aqueles que são punidos por 69 guardarem objetos proibidos em casa e os considera culpados pela própria desgraça Há onze ocorrências da expressão na obra QUATROCENTOS PRINCÍPIOS A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA 1991 p 2 Pelo contexto da obra inferese que a expressão se refere a um conjunto de leis uma espécie de constituição instituídas pelo governante máximo do território No trecho o narrador conta que após evaporar o Umahla anterior o novo Umahla instituiu novas regras que o povo o considera incapaz de transgredir Há apenas uma ocorrência ao longo da obra BANDOS DE TURUNXAS Primeiro fui levar Rudêncio em casa ele tinha bebido bem mais do que eu e andava desorientado Na estrada da Fundição de Lanças notamos que havia alguma coisa fora do comum no aldeamento Bandos de turunxas armados em guerra paravam as pessoas e as revistavam Sempre que posso evito contato com turunxas mas a companhia de Rudêncio genro de Caincara me animou a continuar VEIGA 1991 p 32 Vocábulo criado pelo autor para designar uma profissão do universo ficcional de sua obra cujas funções se assemelham às de um policial visto que em diversos momentos do livro os turunxas aparecem vigiando ou punindo a população A descrição das punições muitas vezes arbitrárias infligidas pelos turunxas e do medo que eles despertam nos habitantes pode ser interpretada como uma crítica à violência policialmilitar No trecho após um golpe ser empreendido pelo sogro de Rudêncio que se tornou o novo Umahla turunxas armados revistam os passantes mas o narrador apesar de não gostar de ter contato 70 com eles se sente seguro pela presença de Rudêncio Há trinta e duas ocorrências da expressão na obra GENTE DE PASSAMARA Da rampa do gramado víamos mais gente descendo para o lago em procissões cada vez mais compridas parecia que o território inteiro tinha resolvido ao mesmo tempo levar luminárias para o lago descia gente de Passamara de Guaxumã de Sanserá de Miramaia de Tunca Grande de todos os morros que circundam o nosso vale numa infinidade de luzinhas descendo dando voltas se emendando se esticando se espalhando ao alcançar a planície tomando os vários caminhos do lago VEIGA 1991 p 121 Nome fictício que o autor criou para uma das aldeias que ele utiliza para formar a geografia social que consta na obra Os nomes de aldeias fictícias criados pelo autor utilizam sempre sonoridades comuns à língua portuguesa e neste caso transmitem até mesmo a impressão de uma composição formada por dois vocábulos quando reconhecemos a palavra passa Há apenas um registro na obra GUAXUMÃ Da rampa do gramado víamos mais gente descendo para o lago em procissões cada vez mais compridas parecia que o território inteiro tinha resolvido ao mesmo tempo levar luminárias para o lago descia gente de Passamara de Guaxumã de Sanserá de Miramaia de Tunca Grande de todos os morros que circundam o nosso vale numa infinidade de luzinhas descendo dando voltas se emendando se esticando se espalhando ao alcançar a planície tomando os vários caminhos do lago VEIGA 1991 p 121 Nome fictício que o autor criou para nomear uma das aldeias presentes na geografia social da sua obra No dicionário Michaelis Online há menção ao vocábulo guaxuma como variação de guaxima que significa Denominação comum às diversas plantas de diferentes gêneros da família das malváceas e referência à sua etimologia do tupi 71 waxýma No campo da Geografia Guaxumã é o nome de uma praia localizada em Maceió Alagoas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra ATRASADOS ARUGUAS aqueles objetos vindos do tempo antigo que não nos servem para nada mas parecem ter muito valor para os atrasados Aruguas VEIGA 1991 p3 Nome criado pelo autor para designar um povo que vive próximo ao território no qual se passa a ação do romance e que é considerado inimigo por praticar costumes antigos muito semelhantes aos nossos e por seguir um regime que remete ao democrático No trecho destacado contase que os Aruguas apreciam objetos do tempo antigo que são proibidos no território em que habitam os protagonistas do livro Há dezessete ocorrências do vocábulo na obra ZUUMBAS O hábito de fumar charuto de folha de nanica foi herdado dos zuumbas antigos habitantes do território e esteve proibido durante muito tempo por motivos nunca explicados VEIGA 1991 p 104 Nome fictício criado pelo autor para nomear um dos povos apresentados no seu romance No trecho o narrador explica que os zuumbas são os habitantes antigos do território cujos costumes foram proibidos arbitrariamente Há apenas uma ocorrência do vocábulo no livro VIAGENS A ALTAMATA Fiquei intrigado Por que um bando de estranhos ia se esconder na várzea para comer estrume de cavalo Comentei o caso com mamãe ela se lembrou de uma conversa de meu pai há muitos anos quando ele contou que em uma de suas viagens a Altamata conheceu uma tribo que comia estrume de cavalo não para matar a fome mas 72 como meio de entrar em comunicação com o mundo invisível VEIGA 1991 p 24 Nome criado pelo autor para uma região fictícia do território em que se passa a ação do romance No trecho as autoridades atribuem a presença de um povo desconhecido no território ao objetivo de comer estrume de cavalo e a mãe do narrador rememora que o pai fez uma visita à Altamata onde conheceu uma tribo que o fazia por motivos religiosos Notese que mais uma vez o autor utiliza sonoridades comuns à língua portuguesa e uma composição dos termos alta e mata Foram encontrados quatro registros na obra EMBURREI Com isso fiquei sabendo que eu não era o único outro a acariciar os pés da Consulesa em nosso território Emburrei e não falei mais nada VEIGA 1991 p 14 Segundo Houaiss 2023 tem o sentido de ficar aborrecido e calado mostrarse melindrado ou sentido amuar fecharse Na passagem extraída o narrador se aborrece e se cala depois de descobrir que não é o único homem com quem a Consulesa se relaciona fora do casamento Há apenas uma ocorrência na obra ACUSADOS DE DERROTISTAS e aqueles que não se deixam enganar e fazem perguntas e apontam sinais indesejáveis de agravamento da doença são acusados de derrotistas e escorraçados de perto do doente VEIGA 1991 p 113 Segundo Houaiss 2023 referese a aquele que em conflitos acredita sistematicamente na derrota No trecho contase que há uma tentativa de mascarar a piora no estado de saúde de um personagem não nomeado Por isso aqueles que apontam os sinais dessa piora são acusados de serem derrotistas Há apenas uma ocorrência na obra 73 PLANO FULPRUF Saiu tudo errado Um trabalho tão bem planejado Um plano fulpruf como dizemos Quem diria Tanta coisa surgindo de repente para atrapalhar VEIGA 1991 p 105 Verbete adaptado do termo inglês foolproof infalível e que o autor utilizou como mostra o fragmento a seguir para designar um plano infalível Pelo contexto podese inferir que o vocábulo se configura como uma gíria local haja vista o comentário como dizemos Ao longo da obra há apenas uma ocorrência APEAR Rudêncio passou aqui rapidamente a cavalo com um cacho grande de bananas de cada lado da sela Disse que precisava muito falar comigo mas não quis apear VEIGA 1991 p 45 Segundo Houaiss 2023 referese a fazer descer ou descer de montaria ou veículo desmontarse A palavra típica da fala sertaneja aparece no trecho em que Rudêncio tendo sido investido de maior autoridade pelo novo Umahla vai a cavalo apressadamente à casa de sua infância para propor um cargo de autoridade ao irmão Em seu livro O sertanejo romance brasileiro Volume 2 José de Alencar também utiliza o vocábulo O possante animal tombou por terra como si um clava o abatesse Sem apearse o sertanejo retirou o laço e com uma rapidez de maravilhar deu um talho no rejeito das mãos com o que peou completamente o animal e tornou o inofiensivo ALENCAR 1875 p 65 Há na obra apenas uma referência a esta palavra CALHOU cada um se equipou com uma pá ou uma picareta conforme calhou pegar primeiro a pressa não deixava escolher VEIGA 1991 p 54 De acordo com Houaiss 2023 dentre outras acepções significa ocorrer por acaso darse acontecer 74 No trecho os personagens estão sendo obrigados pelas autoridades a cavar um buraco sem qualquer justificativa Sob ameaça e vigiados de perto eles se apressam para pegar os instrumentos e começar a cavar A expressão calhou dá um tom coloquial à passagem A expressão também é utilizada por Aluísio Azevedo em O Mulato E afiançavalhe que o casamento estavalhe mesmo a calhar com aquelle gênio e com aquella economia seu Dias dava um bom marido AZEVEDO 1881 p 44 Há apenas uma ocorrência ao longo do livro ESTREBUCHANDO Por sorte uma franga que ciscava perto veio correndo provou o caldo deu uns pulos e caiu estrebuchando arrepiada Olhei para Edualdo ele olhou para mim e arregalou os olhos de compreensão VEIGA 1991 p 29 e 30 Segundo Houaiss 2023 significa agitarse convulsivamente estrebuchando estremecerse sacudirse A expressão é coloquial e por se referir geralmente a animais é mais usada em regiões rurais No trecho destacado a irmã do narrador Zulta tenta envenenar seu namorado depois de uma discussão mas o narrador consegue evitar isso derramando o líquido envenenado no chão que logo depois é engolido por uma galinha que morre estrebuchando No romance Um noivo à duas noivas Joaquim Manuel de Macedo também se utiliza do vocábulo A minha idea a minha esperança era forçala á encoatrarse comigo porque então á chorar á estorcerme á estrebuchar á seos olhos eu suppunha impossível que não movesse a sua piedade que não conseguisse reavivar o seo doce e celeste amor MACEDO 1871 p 62 Há duas ocorrências na obra ESQUIPADO esporeou o cavalo que se assustou e saiu esquipado e soltando ar VEIGA 1991 p 60 75 Segundo Houaiss 2023 a acepção que mais se adequa ao contexto é Regionalismo Brasil Dizse de ou certa andadura do cavalo em que este levanta simultaneamente a pata dianteira e a traseira do mesmo lado No trecho o personagem Rudêncio ao receber uma recusa a uma proposta feita ao irmão fica irritado e esporeia subitamente o cavalo que em resposta fica esquipado A utilização do vocábulo regional pouco conhecido caracteriza regionalismo linguístico Há apenas uma ocorrência do termo na obra CANCHA devo ou não deixar a cancha e o território mas deixar mesmo como quem joga fora uma coisa que não quer nem ver mais VEIGA 1991 p 119 De acordo com Houaiss 2023 referese a lugar de pousio ou parada costumeira de gente ou de animais Essa acepção indica uma parada temporária ainda que recorrente no entanto na obra estudada as famílias vivem nas canchas o que faz com que se subentenda que o que conhecemos como casa seja referido no livro como cancha No trecho o narrador se pergunta se deve abandonar sua canchacasa e o território para sempre Sua hesitação em deixar a cancha demonstra que não é uma habitação de caráter temporário Há nove ocorrências ao longo da obra BALELA Eu penso é que há um mistério em volta desse bicho Ou ele não existe ou é mais difícil de ser visto do que o próprio Umahla e nem seu irmão já chegou perto dele É tudo balela num sentido ou noutro VEIGA 1991 p 80 Segundo Houaiss 2023 referese a afirmação ou boato infundado ou falso Na passagem a expressão se refere ao boato da existência de um animal de estimação do Umahla que seria dotado da capacidade de aprendizagem de habilidades humanas que o Sr Manlio acredita 76 não ser verdadeiro Apenas uma ocorrência foi encontrada ao longo da obra CABRA Quem vai apertar sou eu Você não precisa aparecer Me dá o nome desse cabra que eu resolvo o assunto hoje mesmo Hoje não amanhã VEIGA 1991 p 100 Segundo Houaiss 2023 entre outros significados referese a indivíduo determinado sujeito cara Nessa passagem Rudêncio se oferece para ameaçar o dono de uma olaria na qual seu irmão se disse interessado A utilização do vocábulo cabra reforça a coloquialidade regional do diálogo Há apenas um registro do termo nessa acepção ao longo da obra no entanto em referência ao animal denominado cabra há mais três ocorrências MUNDÉU Não fizeram mal a ninguém foram até amáveis com quem precisou passar na ponte e essa amabilidade foi justamente o que nos deixou desconfiados Se tudo estivesse normal eles teriam se comportado de outra maneira como fizeram aqueles que nos mandaram abrir o buraco que está aí escancarado até hoje transformado em lamento e mundéu para gente e animais VEIGA 1991 p 73 Segundo Houaiss 2023 referese a uma armadilha de caça no entanto na obra o vocábulo se refere a um buraco cavado por homens e que continuava aberto semelhante a um mundéu armadilha criada para apanhar homens ou animais Na passagem o narrador se mostra desconfiado da presença de homens estranhos em uma ponte do território principalmente porque eles foram amáveis ao invés de darem as ordens arbitrárias com as quais a população já se acostumara e que resultara no buraco inútil e perigoso a que ele se refere como mundéu Apenas um registro foi encontrado ao longo da obra 77 DESENTULHADO Não viemos perguntar se podem ou não Esse buraco tem que ser aberto hoje Antes do pôr do sol ele tem que estar furado e desentulhado VEIGA 1991 p 54 Designação da forma nominal particípio do verbo desentulhar e que conforme Houaiss 2023 referese ao ato de remover entulho o lixo de desobstruir No texto o coloquialismo aparece na fala de uma autoridade do território que ordena arbitrariamente que a população cave um buraco e o esvazie Há apenas uma ocorrência na obra ABUSOS DOS DE CIMA Antes a gente ainda tinha certas pequenas regalias quando havia abusos dos de cima uma queixa na Casa do Couro às vezes dava resultado agora não há a quem se queixar VEIGA 1991 p 55 A expressão é utilizada ao longo da obra para fazer referência a autoridades e figuras em posição de poder No trecho o narrador reclama que com a extinção da Casa do Couro não há mais a quem recorrer em casos de abuso de poder por parte de autoridades Há três ocorrências da expressão com esse sentido ENCALACRADO É melhor não dizer nada Quanto mais falar mais encalacrado fica VEIGA 1991 p 52 Designação da forma nominal particípio do verbo encalacrar que conforme Houaiss 2023 referese a meterse em empreendimento prejudicial embaraçarse No trecho um turunxa ameaça o narrador dizendo que quanto mais ele falar mais se prejudicará mesmo não tendo sido flagrado cometendo nenhum ato infracional A coloquialidade do termo contribui para a verossimilhança da informalidade do diálogo Há três ocorrências do vocábulo e da variação encalacrar ao longo da obra 78 RUDÊNCIO Tanto que esta tarde vou pescar com meu irmão Rudêncio Ele na certa vai me sondar sobre a reunião de ontem e já armei minhas defesas Rudêncio é meu irmão pessoa razoavelmente correta e tudo mais mas é casado com filha de Caincara e não devo me abrir com ele VEIGA 1991 p 2 Nome de batismo do irmão do narrador Não foram encontradas informações sobre sua origem o que indica que foi criado pelo autor para seu livro configurando um hápax Esta expressão designa uma palavra que se utilizou ou registrou apenas uma vez num corpus ou um vocábulo do qual só se tem um exemplo numa época dada num autor ou na totalidade de uma obra No trecho o narrador apresenta seu irmão ao leitor pela primeira vez já demonstrando que possui certa desconfiança em relação à associação dele com o poder É importante observar que o narrador da obra jamais é nomeado e que a maioria dos outros personagens é identificada apenas através da sua profissão da sua função dentro daquela sociedade enquanto Rudêncio é um dos únicos personagens a ser referido pelo seu próprio nome durante toda a obra Seu nome é citado cento e quarenta e seis vezes ao longo da obra uma recorrência bastante expressiva ZULTA Minha mãe e Zulta tinham ido ajudar na evaporação de uma amiga que morava do outro lado da serra e só voltariam no dia seguinte porque a evaporação é uma cerimônia demorada começa de tardinha e acaba ao amanhecer VEIGA 1991 p 4 Nome de batismo da irmã do narrador Não foram encontradas informações sobre a ocorrência do vocábulo em contextos de uso da língua portuguesa apenas referências a ele como sobrenome comum em Israel No trecho a mãe e a irmã do narrador deixam a casa para participar de uma cerimônia de evaporação deixando os irmãos sozinhos com a futura noiva de Rudêncio O nome é citado cinquenta vezes ao longo da obra 79 EDUALDO Edualdo quis que eu provasse do vinho disse que era de uma reserva especial Acreditei por que ele estava realmente querendo agradar Talvez eu tomasse mesmo um pouco mas noutra ocasião Apanhei o pote para guardar e aproveitei para ver porque Zulta demorava VEIGA 1991 p 29 Nome de batismo do namorado de Zulta e vizinho da família do narrador Provavelmente se trata de variação do nome de origem anglosaxã Eduardo mas não foram encontradas informações a respeito do surgimento dessa variação No trecho após uma briga de casal entre Zulta e Edualdo o rapaz vai à casa vizinha trazendo vinho e buscando uma reconciliação No entanto Zulta acaba por tentar envenenálo e só não consegue realizar seu intento porque o irmão a impede O vocábulo é citado vinte e cinco vezes na obra VELHO MANLIO Já que eu estava batendo pernas lembreime de passar na casa de Rudêncio se eu tivesse sorte podia ver o tão falado uiua e depois fazer uma descrição objetiva para o velho Manlio VEIGA 1991 p 69 Nome de batismo do patriarca da família Obelardo vizinha da família do narrador Não foram encontradas informações sobre sua origem nem referências em língua portuguesa apenas citações do vocábulo como nome próprio comum na Itália No trecho o narrador expressa sua intenção de conhecer o uiua para satisfazer a curiosidade de Manlio em relação ao animal O nome aparece vinte vezes na obra OS OBELARDOS Rudêncio implicou mesmo com os Obelardos e só um golpe de sorte um milagre pode tirálos da bigorna VEIGA 1991 p 97 Sobrenome da família vizinha à família do narrador Pela semelhança com o nome próprio Abelardo comum no Brasil e pela ausência de registros do nome Obelardo em qualquer outra fonte 80 inferese que o autor tenha tomado Abelardo como base para criar a variação que nomeia seus personagens No trecho o narrador explica que por conta de uma implicância pessoal com a família Obelardo Rudêncio ao atingir uma posição de poder se dedicou a prejudicálos O vocábulo ocorre trinta e seis vezes na obra TININDO Todo mundo estava inspirado e tinindo quem quis falar falou o que quis sem medo de desagradar VEIGA 1991 p 1 Segundo Houaiss 2023 referese a soar vidro metal louça etc de maneira aguda ou vibrante Pelo contexto é possível perceber que o vocábulo não aparece em seu sentido literal e sim com o sentido de algo que está impecável como se costuma dizer informalmente Ao longo da obra a expressão aparece uma vez LUZEIROS Notei ainda que um grupo de indivíduos estranhos à Casa espalhados pelo grande salão contava e anotava os luzeiros as estátuas os defumadores as esteiras banquetas VEIGA 1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 referese a qualquer aparelhagem que produza foco luminoso Nessa passagem indivíduos desconhecidos fazem uma espécie de inventário dos bens da Casa do Couro e o narrador infere que eles têm a intenção de leiloálos Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez QUILHA Depois de muito andar e muito discutir a Comissão Executiva escolheu e marcou o lugar na floresta onde será lançada a quilha é no fundo mais ou menos plano de uma grota entre dois morros cobertos de mata fechada lugar de difícil acesso onde poderemos trabalhar sossegados VEIGA 1991 p 109 81 Segundo Houaiss 2023 referese a peça da estrutura da embarcação disposta longitudinalmente na parte mais inferior e à qual se prendem todas as grandes peças verticais da ossada que estruturam o casco A palavra faz parte de um vocabulário muito específico o náutico e por isso não é facilmente compreendida No contexto da obra serve para descrever a utopia da construção de um navio no qual os habitantes do território depositam suas esperanças Há apenas um registro na obra COITÉS Depois voltei lá dentro quebrei dois ovos num coité joguei uma pitada de sal em cima e vireios de uma vez para não sentir o gosto VEIGA 1991 p 119 Segundo Houaiss 2023 referese a cuia ou cuieira No entanto considerando o fragmento abaixo percebese que o autor utiliza a palavra coité para se referir a um recipienteobjeto dentro do qual se põe algo para comer isto é já não se trata mais de uma cuia fruto da cuieira e sim de um instrumento construído pelo homem a partir do fruto No trecho o narrador passa a noite em claro se sentindo insatisfeito com a situação em que se encontra sua vida e o território que habita e ao despertar desses pensamentos se sente faminto a ponto de comer ovos crus O uso do vocábulo coité indica a simplicidade e a rusticidade dos instrumentos utilizados na sociedade criada por Veiga para seu livro Há oito registros ao longo da obra PICARETA mas no fim cada um se equipou com uma pá ou uma picareta conforme calhou pegar primeiro a pressa não deixava escolher Ao segundo apito já estávamos quebrando o chão com afinco VEIGA 1991 p 54 Segundo Houaiss 2023 referese a um instrumento que consiste em uma peça de ferro com duas pontas aguçadas que se prende a um cabo geralmente de madeira e serve para escavar a 82 terra arrancar pedras etc Na obra o uso da picareta caracteriza a região como um ambiente sertanejo em que esse tipo de instrumento ainda é utilizado para cavar a terra Este termo aparece sete vezes no texto EMBORNAIS Estiveram aqui uns meninos com um saco cheio de artefatos Aceitei a proposta apanhei o cesto e saí com os garotos Num instante eles encheram o meu cesto e mais os embornais que levavam Os meninos acharam isso um bom divertimento e fizeram o mesmo com algumas que retiraram dos seus embornais VEIGA 1991 p 50 De acordo com Houaiss 2023 referese a saco que contém a comida das cavalgaduras bornal sacola Na obra este instrumento é utilizado por meninos que pretendiam pescar cairas e serve para guardar o pescado Há a repetição deste termo sete vezes no texto BERRANTE Ainda não tínhamos acabado de comer a papa da manhã chegaram uns homens no descampado aí em frente tocaram o berrante e todo mundo atendeu correndo VEIGA 1991 p 53 De acordo com Houaiss 2023 diz respeito àquilo que berra àquilo que chama ou corneta de chifre com que os boiadeiros tangem o gado Na obra o termo é empregado no seu sentido literal já que como é possível observar no trecho destacado os turunxas chegam a cavalo e utilizam o instrumento para anunciar sua chegada Este vocábulo aparece seis vezes na obra o que caracteriza uma intencionalidade do autor em enfatizar a utilização desse instrumento regional SOVELA Ele fez mais uma fileira de furos no couro com a sovela VEIGA 1991 p 63 83 Segundo Houaiss 2023 é um Diacronismo antigo instrumento formado por uma espécie de agulha reta ou curva com cabo com que os sapateiros e correeiros furam o couro para o costurar No trecho o Sr Manlio conversa com o narrador enquanto costura um colete de couro A utilização de uma ferramenta tão antiga e a preparação artesanal das peças de couro ajuda a caracterizar o território ficcional do livro como um local de tecnologia escassa em que os habitantes se voltam para o trabalho em profissões tradicionais e manufatureiras O vocábulo aparece duas vezes na obra JIRAU Mamãe recolheu a alegria subiu para o jirau e deitouse calada VEIGA 1991 p 18 Segundo Houaiss 2023 referese a armação de madeira semelhante a estrado ou palanque que pode ser usada como cama depósito de utensílios domésticos secador de frutas ou quando posta em cima de um fogão como fumeiro de carne toucinho peixe etc No trecho a mãe dos protagonistas que estava doente se alegra ao receber presentes do filho Rudêncio mas depois que ele comenta que sua doença é fingimento ela se entristece e volta a se deitar no jirau do qual quase não saía por conta da enfermidade Treze registros foram encontrados ao longo da obra uma recorrência bastante expressiva que indica a intenção do autor de caracterizar o lar de seus personagens através do mobiliário simples e típico do interior do Brasil RODILHA DE PANO DEBAIXO DA REDE Vi que o velho ficou feliz com a promessa tanto que me ofereceu um gole da cuia de aguada que descansava numa rodilha de pano debaixo da rede VEIGA 1991 p 64 De acordo com Houaiss 2023 tratase de rosca de pano para pôr sobre a cabeça no transporte de carga pano ou trapo us para limpa qualquer coisa que se enrole que se arrume sem muito cuidado 84 No trecho o vizinho do narrador que se chama Manlio fica feliz com a promessa de que será levado para conhecer o uiua e oferece ao narrador uma bebida que está apoiada numa rodilha embaixo de sua rede Desse modo inferese que a rodilha seja utilizada no contexto também como um objeto para apoiar outros objetos em conformidade com a caracterização rústica e simples do mobiliário das habitações dos personagens Visconde de Taunay se utiliza do termo em sua obra Innocencia Este ente singular trajava uma comprida blusa parda sobre calças que por haverem pertencido a quem quer que fosse muito mais alto formavam em baixo volumosa rodilha apezar de estarem dobradas TAUNAY 1872 p 70 Há duas ocorrências do vocábulo ao longo da obra CEPO DO LADO DE FORA DE NOSSA CANCHA Numa noite de muito calor quando conversávamos os três sentados no cepo do lado de fora de nossa cancha VEIGA 1991 p 4 Segundo Houaiss 2023 referese a pedaço ou tronco de árvore cortado perpendicularmente ao eixo No trecho o narrador conta que a ideia de que Rudêncio se casasse com Joanda surgiu numa noite em que os três estavam sentados no cepo do lado de fora da casa fugindo do calor A utilização do cepo objeto rústico de madeira como elemento do mobiliário coadunase com a atmosfera rural da obra e revela até mesmo um costume do interior do Brasil o de sentar ao cair da tarde e início da noite na frente de casa para conversar com a família e os amigos Ao longo da obra a expressão em destaque aparece treze vezes TREMPE Vovó era muito velha e freqüentemente dormia em sua banqueta ao lado da trempe e deixava o fogo apagar VEIGA 1991 p 4 85 Segundo Houaiss 2023 referese uma chapa de ferro com buracos arredondados colocada em fogão a lenha sobre o espaço destinado ao fogo para sustentar as panelas No trecho o narrador conta que sua avó era muito velha e já não conseguia mais executar tarefas domésticas porque acabava dormindo e por isso a ajuda da noiva de Rudêncio seria bemvinda O uso do vocábulo trempe revela que o fogão a lenha era utilizado para cozinhar as refeições da família instrumento rudimentar bastante utilizado no interior do Brasil Rachel de Queiroz na obra O Quinze já fazia referência ao termo como no trecho Já as mulheres tinham improvisado uma trempe e accendiam o fogo E a carne foi assada sobre as brazas chiando e estalando o sal QUEIROZ 1930 p 47 Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas JENIPAPOS CAÍDOS Puxei um balde de água da cisterna apanhei uns jenipapos caídos davam uma boa salada e de repente me veio um pressentimento VEIGA 1991 p 29 Segundo Houaiss 2023 tratase de fruto do jenipapeiro amarelopardacento com polpa aromática e comestível de que se fazem compotas doces xaropes licor etc e de que se extrai tinta preta us pelos indígenas Já de acordo com registro na Enciclopédia Agrícola Brasileira o jenipapo é uma Fruteira de conhecimento pré colombiano no Brasil o jenipapeiro é a mais conhecida e cultivada das rubiáceas nativas cuja primeira referência escrita no Brasil data de 1584 pelo padre Fernão Cardim SOUZA 1995 p 172 No trecho extraído da obra o narrador se afasta para os fundos do terreiro para dar privacidade a Zulta e Edualdo enquanto eles se reconciliam A preferência do autor pela citação de frutas e plantas nativas do Brasil revela sua intenção de exaltação do que é regional Ao longo do livro o vocábulo aparece apenas uma vez 86 CINZA DE SEMENTE DE JATOBÁ Passoume o canudinho mas antes de me servir eu quis saber o que era Cinza de semente de jatobá VEIGA 1991 p 42 Segundo Houaiss 2023 significa árvore de até 40 m Hymenaeacourbaril principal fonte para a produção de copal nativa do México ao Brasil comum na Amazônia com casca tanífera folhas com dois folíolos coriáceos pequenas flores brancas em cimeiras terminais e frutos quase negros cilíndricos duros com polpa farinácea amareloclara doce nutritiva e laxante árvore de até 20 m Hymenaeacourbaril var stilbocarpa nativa do Piauí ao Paraná com as mesmas propriedades da sp anterior tb us em arborização e reflorestamento Já de acordo com o a ONG Cerratinga a origem de seu nome vem do tupi e quer dizer árvore com frutos duros No trecho a Consulesa oferece ao narrador um líquido ao qual ela acrescentou pó de semente de jatobá que no contexto do livro causa efeitos psicoativos semelhantes aos da Cannabis Não foram encontrados indícios de que o pó de semente de jatobá seja usado para esses fins na realidade o que sugere que o autor tenha criado este uso fictício para fazer alusão à maconha Em Iracema José de Alencar faz alusão ao termo e inclusive o utiliza para nomear um personagem O luar passava por entre ás folhas do jatobá e o sorriso pelos lábios do varão possante que tomara seu nome e robustez ALENCAR 1865 p 89 Há sete ocorrências do vocábulo na obra BOM PACU Por isso acho melhor fazer de conta que penso como todo mundo para poder continuar pescando e comendo o bom pacu VEIGA 1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 referese a um tipo de peixe Metynnismaculatus encontrado nas bacias dos rios Amazonas São Francisco e Paraguai de até 18cm de comprimento corpo com manchas discoides castanhas flancos cinzentos e uma mancha alaranjada acima do opérculo piranha 87 Nesse trecho o narrador diz que apesar de sua desconfiança em relação ao novo governante considera mais prudente fingir concordar com a opinião positiva que a população do território tem sobre ele para poder continuar levando uma vida tranquila O vocábulo destacado ajuda a caracterizar a alimentação e o modo de vida dos personagens que se dedicam a atividades como a pescaria para obter alimento e consomem peixes típicos do Brasil como o Pacu Ao longo da obra a palavra aparece uma vez CANILHA O vocábulo não consta no dicionário Houaiss mas no Dicionário Online há menção a ela com o significado de Peça da lançadeira em que o fio está enrolado bobina No contexto da obra no entanto a palavra apresenta outro sentido sendo utilizada pelo autor para se referir a uma espécie de bebida alcóolica frequentemente consumida pela população e descrita como um líquido azulado mais forte que vinho Logo que chegamos tomamos uma rodada de canilha para ganhar coragem entramos na água e pegamos dois balões de bom tamanho VEIGA 1991 p 32 No trecho destacado o narrador e seu irmão Rudêncio bebem canilha antes de entrar na água para uma pescaria Há vinte e uma ocorrências do vocábulo no livro CAIRA Não há um significado reconhecido pelo dicionário Houaiss Provavelmente o vocábulo foi criado pelo autor porém pelo contexto da obra o protagonista parece referirse a um animal conhecido no Nordeste brasileiro como Gia nome popular dado às rãs comestíveis sabiam de um lugar onde se pode pegar cairas enormes e quase sem leite se eu quisesse me levariam lá Temos muita caira aqui mesmo no rego principalmente depois que chove mas são pequenas e muito leitosas só o trabalho de tirar o leite me desanima de pegálas Quando eu retirava as cairas do cesto para jogar no brejo foi que reparei direito nelas São gordas e quase redondas rosadas nas costas e azuladas na barriga e 88 no papo e os dedos têm unhas moles como unha de rato VEIGA 1991 p 49 Há no texto vinte e cinco referências à palavra caira O autor parece querer caracterizar a região em que se passa a história partindo da fauna da região Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas RECORECO Adiante encontramos um bando de rapazes fantasiados tocando recoreco pandeiro frigideira numa barulheira irritante VEIGA 1991 p 14 Segundo Houaiss 2023 referese a instrumento de percussão feito de um gomo de bambu seco com entalhes transversais sobre os quais se esfrega uma vareta produzindo som rítmico para acompanhamento em música popular Nessa passagem se descreve o encontro entre o narrador e um grupo de rapazes que tocavam instrumentos de forma bastante festiva às margens do lago do lugarejo Todos os instrumentos citados no trecho são bastante utilizados na música popular brasileira Ao longo da obra a expressão em destaque aparece uma vez CISCAR Finalmente parou de ciscar e perguntou por Zulta Bem como eu havia imaginado VEIGA 1991 p 27 Segundo Houaiss 2023 significa tirar ou afastar ciscos gravetos folhas esgaravatar solo revolver cisco Nessa passagem Edualdo hesita em perguntar por Zulta e em uma comparação com a ação típica da galinha o narrador utiliza a expressão ciscar para descrever essa hesitação e a forma como Edualdo tenta iniciar outros assuntos antes de chegar ao ponto Ao longo da obra a palavra ocorre apenas uma vez 89 ALISAR OS PÉS DAS MOÇAS Nadar no lago dançar de noite em volta de fogueiras tomar canilha alisar os pés das moças tudo isso é muito bom mas não faz a grandeza de um território VEIGA 1991 p 47 A expressão tem o sentido de tornar liso aplainar nivela Figurado abrandar amaciar suavizar Poupar castigos a tratar com carinhos paparicar Esta expressão na obra aparece significando não apenas como um ato de acariciar os pés de uma mulher mas pode ser entendido como namorála ou manter um relacionamento passageiro de uma noite por exemplo Há apenas uma ocorrência FAZER CORPO MOLE Procuramos fazer corpo mole imagine abrir um buraco tão espaçoso assim de uma hora para outra com o sol já começando a queimar forte VEIGA 1191 p 53 Aa palavra mole significa àquele que falta energia vigor Portanto a expressão corpo mole na obra referese a alguém que age com preguiça ou falta de ânimo ou seja com moleza fragilidade No trecho o narrador faz corpo mole de propósito para evitar cumprir a tarefa arbitrária que lhe foi delegada pelas autoridades Há três ocorrências desta expressão na obra FAZER DAS TRIPAS CORAÇÃO Tentei mudar para um lugar mais fofo um dos homens do berrante percebeu a manobra e me ameaçou com o chicote de birro de boi O jeito era fazer das tripas coração e continuar cavando o meu mau pedaço VEIGA 1991 p 55 Segundo Correia e Teixeira 2007 a expressão significa conformarse dominarse vencendo a própria fraqueza resistir mais que o possível fazer das fraquezas força suportar com relutância com paciência Na obra a expressão aparece em um trecho importante em que o protagonista tem que fazer um esforço físico extremo para 90 conseguir obedecer às ordens arbitrárias das autoridades Esta expressão aparece apenas uma vez na obra SER MUITA SOPA Se não for mais tarde se vê É muita sopa um paisano sozinho encher um cesto grande e vários embornais de cairas corderosa sem estar desrespeitando alguma lei VEIGA 1991 p 52 A palavra sopa significa alimento que consiste num caldo geralmente à base de legumes que se serve no começo das duas principais refeições Assim podese entender a expressão é muita sopa a partir da ideia deste termo ou seja significando moleza facilidade pelo fato de a sopa ser sempre líquida e de fácil mastigação No texto a expressão aparece na fala de um turunxa que acha que não é possível que um homem qualquer consiga sozinho pegar muitas cairas e ainda escapar facilmente sem estar infringindo leia alguma Não há repetição desta expressão na obra ÊPA Êpa Lá vem besteira disse Rudêncio sentando ereto VEIGA 1991 p 33 É uma interjeição que exprime surpresa espanto ou contrariedade e é muito utilizada na linguagem coloquial No trecho destacado Rudêncio expressa seu descontentamento ao ser parado por turunxas ao voltar de uma pescaria com o irmão O vocábulo ajuda a retratar a linguagem oral marcada pelo regionalismo linguístico na obra Há três ocorrências da expressão no livro PULGA NA VIRILHA Não gostei foi de certas ocorrências marginais que observei durante os trabalhos e que me deixaram com uma pulga na virilha como dizemos aqui VEIGA 1991 p 1 Essa expressão também foi criada pelo autor J J Veiga adaptando a expressão pulga atrás da orelha que é bastante 91 recorrente nas falas dos sertanejos e significa desconfiar de alguma coisa ou alguém Durante a leitura percebese que se trata de uma espécie de gíria ou expressão coloquial comum naquela sociedade e que tem significado semelhante ao da expressão que conhecemos visto que o narrador conta que certas ocorrências marginais na Casa do Couro o deixaram desconfiado Ao longo da obra a expressão apareceu duas vezes PONDO AS MANGUINHAS DE FORA Também nunca o arbítrio oficial aproveitando a complacência dos órgãos da opinião se mostrou mais resoluto em pôr as manguinhas de fora Está pondo as manguinhas de fora Só o bobo do meu sogro não vê VEIGA 1991 p 86 O escritor regionalista José Lins do Rêgo no romance Pedra Bonita também utilizou a expressão O juiz andava botando as manguinhas de fora desmoralizando a justiça Segundo o blog Ditos Curiosos tem o mesmo sentido de pôr as unhas de fora ou revelar subitamente intenção abusiva ou imprevista Rui Barbosa em artigo em A Imprensa em 23011899 já utilizava a expressão No trecho destacado Rudêncio conta ao irmão que o uiua está demonstrando atitudes manipuladoras no palácio e que o Umahla seu sogro e governante do território não está percebendo Há apenas uma ocorrência na obra EVAPORAR A grande maioria do povo está como que enfeitiçada pelo Umahla julgamno incapaz de transgredir qualquer dos Quatrocentos Princípios baixados por ele mesmo quando tomou as rédeas depois de evaporar o Umahla antigo VEIGA1991 p 2 Segundo Houaiss 2023 significa transformarse converter se líquido em vapor ou ainda fazer desaparecer ou desaparecer Podemos tomar esse último sentido como norte para compreender o significado atribuído ao vocábulo pelo autor em Os 92 Pecados da Tribo visto que parece ser esse o modo como a população se refere à morte nãonatural que não deixa de ser um modo de fazer outrem desaparecer No trecho o narrador conta que o novo Umahla chegou ao poder depois de assassinar o Umahla antigo mas que mesmo assim o povo o apoia Há vinte e duas ocorrências do vocábulo e das variações evaporaram evaporado e evaporação CERCALOURENÇO NEGACIADO O desejo de saber o que se passa nos leva a procurar outras pessoas e quando encontramos algum conhecido a conversa fica naquele chovenãomolha naquele cercaLourenço negaciado cada um com medo do outro VEIGA1991 p 73 Segundo o dicionário Aulete Digital significa se aproximar de uma pessoa com uma série de rodeios de alusões ou insinuações para se beneficiar de algo ou encaixar um pedido No trecho o narrador descreve o clima de desconfiança que se estabeleceu entre os habitantes do território e que os leva a não perguntar diretamente o que querem uns aos outros quando se encontram e sim fazer apenas insinuações vagas Há apenas uma ocorrência da expressão ao longo da obra NUVEM PESADA Os coletores de artefatos receberam ordem de suspender a coleta Proibiram o trânsito de carroças no centro Apertaram a vigilância sobre o consumo de canilha As crianças não podem mais soltar papagaio Tudo isso compõe essa nuvem pesada que vem baixando sobre nós VEIGA 1991 p 72 A expressão aparece no texto como metáfora para uma atmosfera sombria de medo e proibição que se instaura como uma nuvem pesada baixando sobre a população No trecho o narrador enumera os recentes acontecimentos negativos que fizeram com que ele sentisse que uma nuvem pesada baixara sobre o território A expressão aparece apenas uma vez ao longo do livro 93 QUADRADAMENTE Mas no caso da Lei de Fomento da Pirotécnica ou LFP na linguagem oficial nos enganamos quadradamente VEIGA 1991 p 72 O vocábulo alude à expressão redondamente utilizada frequentemente na locução redondamente enganados com o significado de completamente No trecho o narrador conta que a população se enganou ao pensar que a lei arbitrária que obrigava a população a soltar fogos de artifício não entraria em vigor de fato por ser apenas reflexo de uma inquietação dos governantes em mostrar serviço A brincadeira que o autor faz com as palavras trocando as formas geométricas e quebrando as expectativas do leitor gera um sentido de humor Há apenas uma ocorrência da palavra na obra NÃOSEIDEONDE O Cônsul nãoseideonde vinha me cercando como quem está querendo alguma coisa mas não sabe como pedir Quando me encontrava se desfazia em gentilezas perguntava pela minha saúde pela de mamãe apertava a minha mão com empenho e custava a soltar VEIGA 1991 p 11 Notese que a palavra é formada por encadeamento vocabular que é uma associação ocasional de palavras muito comum por exemplo quando se refere uma relação entre duas ou mais entidades o percurso Rio de JaneiroSão Paulo o jogo Inglaterra França No trecho o narrador conta que o Cônsul de um lugar indeterminado expresso por nãoseideonde estava cercandoo de gentilezas com o intuito de pedir algo que ainda não tivera a coragem de pedir Há apenas uma ocorrência do vocábulo na obra 94 Referências ALENCAR José de Iracema lenda do Ceará Rio de Janeiro Typ de Viana Filhos 1865 ALENCAR José de Til romance brazileiro Rio de Janeiro B L Garnier 1872 ALENCAR José de O sertanejo romance brasileiro Volume 2 Rio de Janeiro B L Garnier 1875 AZEVEDO Aluísio O mulato Maranhão Typ do Paiz 1881 BLOG CERRATINGA Jatobá Disponível em httpwww cerratingaorgbrjatoba Acesso em 23 mar 2018 BLOG DITOS CURIOSOS Pôr as manguinhas de fora Disponível em httpditoscuriososblogspotcombr201106porasmanguinhasde forahtml Acesso em 23 mar 2018 Pôr as manguinhas de fora CANILHA In Dicionário Online da Língua Portuguesa Disponível em httpswwwdiciocombrcanilha Acesso em 24 mar 2018 CERCALOURENÇO In Aulete Digital Disponível em http auletew20combrcercalourenC3A7oixzz5B9HHLNYj Acesso em 23 mar 2018 CORREIA Emanuel de Moura TEIXEIRA Persília de Melim Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes Porto Papiro Editora 2007 CUNHA Euclides da Os sertões campanha de Canudos Rio de Janeiro São Paulo Laemmert C 1905 DURÃO José de Santa Rita Caramurú poema epico do descubrimento da Bahia Lisboa Regia Officina Typografica 1781 HOUAISSAntônio VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 MACEDO Joaquim Manuel de Nina romance Tomo I Rio de Janeiro B L Garnier 1871 MACEDO Joaquim Manuel de Um noivo à duas noivas romance Tomo III Rio de Janeiro B L Garnier 1871 PIVOTO Lucio Espécies de Abelhas Disponível em httpmelipona riopivotoblogspotcombrpespeciesdeabelhas8html Acesso em 23 mar 2018 QUEIRÓZ Rachel de O Quinze Fortaleza Urania 1930 SOUZA Julio Seabra Inglez PEIXOTO Aristeu Mendes TOLEDO Francisco Ferraz de Enciclopédia Agrícola Brasileira São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz 1995 95 TAUNAY Visconde de A mocidade de Trajano Parte 1 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1871 TAUNAY Visconde de Innocencia Rio de Janeiro Typographia Nacional 1872 VEIGA José J Os pecados da tribo Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1991 97 Culturemas em Torvelinho dia e noite 1985 Antonia Manuela Alves Rodrigues Bianca Da Silva Simão Danae De Matos Ferreira Larissa Santos Cavalcante Zacarias da Ponte Soares Já em Torvelinho dia e noite que veio a público em 1985 começase a notar uma atmosfera ficcional distinta daquelas que compunham as obras anteriores O romance traz em seu enredo a representação das relações sociais comuns a qualquer comunidade Há momentos de apreensão mas os bons ventos espalham otimismo Analice de Sousa Gomes 2017 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas TOUCEIRA DE BANANEIRAS E no que pensei vi o gavião despencar uma asa soltar uma coisa que eu nem sabia o que era e ir baixando no rumo da chácara de Dª Olga A coisa que ele soltou caiu numa touceira de bananeiras no fundo do quintal Corri lá pra ver era um frango Estava vivo então eu trouxe E inventei a história do tiro para seu Tião que estava aí fazendo um conserto na luz Ele disse que o frango era de Dª Angélica e levou para ela VEIGA 1986 p 16 Esse trecho destacase quando o gavião pegou o galo e foi acertado com um tiro caindo na touceira de bananeiras Há uma ocorrência na obra JARDINZINHO CENTRAL FLORIDO DE DÁLIAS Quando passava pelo largo do Mestre Frade atento à tigela de doce que levava na palma da mão esquerda Nilo sofreu uma espécie de atordoamento de alucinação que não se sobrepunha à consciência mas se misturava com ela O largo estava como era com 98 o jardinzinho central florido de dálias hortênsias papoulas crisântemos girassóis e no meio do jardim a pedra enorme em forma de ovo instalada ali há muito tempo para marcar lugar do enforcamento desse tal Mestre Frade Os prédios também eram os mesmos as lojas o banco o sobrado do Dr Hermenegildo abandonado e descascado por estar em litígio as cajazeiras carregadas e derrubando a Prefeitura de estilo modernohorrendo com janelas basculantes Tudo igual mas de repente diferente VEIGA 1986 p 18 Datado em Houaiss 2023 substantivo feminino plural no âmbito das angiospermas com a acepção de designação comum às plantas do gênêro Dahlia da família das compostas com 29 espécies nativas das montanhas do México à Colômbia de raízes tuberosas caules ger não ramificados e que terminam em belos capítulos florais Planta de até 8 m D excelsa com folhas bipenadas ou tripenadas e inflorescência com mais de 300 capítulos florais DE TARDINHA De tardinha o pai chegou de viagem e tão cansado que não deu muita atenção à história de Nequinho que ouviu distraído VEIGA 1986 p 14 O contexto aborda o momento em que Gumercindo chega em casa após uma viagem de trabalho Há apenas uma ocorrência na obra Outro grande autor que também utiliza essa expressão hifenizada é Guimarães Rosa em Sagarana É detardinha quando as mutucas convidam as muriçocas de volta para casa e quando o carapanã rajado mais o moçorongo cinzento se recolhem que ele aparece o pernilongo pampa de pés de prata e asas de xadrez ROSA 1946 p 119 GAVIÃO O Nequinho teria sofrido ou o gavião não deu tempo Dizem que gavião primeiro quebra o pescoço da presa para ela não se mexer Se é assim ainda bem Bem Que maldade Se gavião precisa comer por que não come sementes frutas insetos ou não pega só cobra e gambá que também são bichos daninhos Bom Já foi já foi Paciência Mas o Nequinho ia fazer falta no quintal VEIGA 1986 p 6 99 Datado em Houaiss 2009 do século XIII é um substantivo masculino comum às aves falconiformes da família dos acipitrídeos e falconídeos cosmopolitas que geralmente se alimentam de presas vivas ou de animais mortos Ao longo da obra há cinquenta e seis ocorrências JARDINZINHO CENTRAL FLORIDO DE DÁLIAS HORTÊNSIAS PAPOULAS CRISÂNTEMOS GIRASSÓIS Quando passava pelo largo do Mestre Frade atento à tigela de doce que levava na palma da mão esquerda Nilo sofreu uma espécie de atordoamento de alucinação que não se sobrepunha à consciência mas se misturava com ela O largo estava como era com o jardinzinho central florido de dálias hortênsias papoulas crisântemos girassóis e no meio do jardim a pedra enorme em forma de ovo instalada ali há muito tempo para marcar lugar do enforcamento desse tal Mestre Frade Os prédios também eram os mesmos as lojas o banco o sobrado do Dr Hermenegildo abandonado e descascado por estar em litígio as cajazeiras carregadas e derrubando a Prefeitura de estilo modernohorrendo com janelas basculantes Tudo igual mas de repente diferente VEIGA 1986 p 18 Datado em Houaiss 2023 de 1858 no âmbito de angiosperma de flores brancas azuis ou róseas em panículas ou corimbos e frutos capsulares nativo da China e do Japão e mundialmente cultivado como ornamental com inúmeros cultivares Há uma ocorrência na obra ACORDAR OCO Dr Guimercindo acordou oco molengo com um zumbido renitente nos ouvidos que ele não sabia se vinha de dentro ou de fora A custo se levantou e tomou uma xícara de café puro esperando com isso espantar a morrinha Não espantou botou mais já que café é estimulante segundo uma lenda Quando levava a xícara à boca ela se escapuliu caiu no pires e se quebrou empapando a toalha VEIGA 1986 p 35 100 Datado em Houaiss 2023 de 1596 referese ao que é vazio por dentro cavo vão desprovido de sentido fútil insignificante Etimologia Houaiss 2023 nos informa que este verbete deriva de ocar na acepção tornar oco abrir um buraco Há apenas uma ocorrência expressiva na obra ROSEIRINHACHÁ Dia nada propício ao aparecimento de fantasmas que parecem preferir a escuridão da noite A roseirinhachá precisava de poda mas era melhor adiar isso até a próxima crescente VEIGA 1986 p 18 Nesta expressão roseirinha referese a uma planta que dá flores No contexto referese ao momento em que Dona Angélica observa suas plantas que estão precisando de poda mas pode esperar até Aldair que estava viajando chegar Há uma ocorrência na obra Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas BALUARTE Vá aprendendo porque você ainda será um baluarte dela Eu Corta Estou pensando em me naturalizar goiano Goiano É mais mineiro do que mineiro Você precisa ver um goiano de classe média falar É um mineiro falando com uma agravante não tem a nostalgia do mar VEIGA 1986 p 34 No texto encontramos a palavra no sentido figurado em que o pai de Nilo diz que um dia ele será a base da família mineira A família mineira disse o pai cutucando o braço do Nilo A palavra aparece apenas uma vez no livro 101 DESLINDAR Os biscoitos se evaporaram como se tragados por algum fantasma Quando terminaram Dr Gumercindo consultou o relógio e disse Agora leve esta bandeja daqui e vá cuidar de sua vida que eu tenho um processo a deslindar Se eu não descascálo de hoje para amanhã a minha vaca também vai pro brejo VEIGA 1986 p 61 De acordo com o dicionário Houaiss 2023 com a palavra datada séc XVI possui o significado de tornar inteligível compreensível o que está confuso obscuro explicitar desenvolver estudos sobre investigar pesquisar esquadrinhar dar solução a apurar resolver descobrir No texto temos Dr Gumercindo conversando com sua família sobre um processo que ele tinha que estudar e solucionar e usou a palavra deslindar para mostrar que tinha que resolver Há apenas uma ocorrência expressiva na obra MAROMBA Sentouse e ficou cruzando e descruzando as pernas descansando ora um braço ora o outro no encosto da cadeira Doca dobrou o jornal para não parecer grosseiro com o senhor prefeito Como vai a maromba doutor Maromba A Prefeitura Ah Pesando demais VEIGA 1986 p 37 De acordo com o dicionário Houaiss 2009 a palavra data de 1844 e referese à vara utilizada pelos equilibristas para manter o equilíbrio sobre a maroma corda bamba No caso da palavra no texto terá um sentido figurado posição ou situação difícil de sustentar atitude de quem adia uma definição ou decisão na expectativa de ver como decorrem os acontecimentos A palavra aqui referese a algo pesado que está dando trabalho no caso com a prefeitura os acontecimentos que ocorriam o prefeito estava preocupado com epidemia que se falava na época Há duas ocorrências da palavra no texto 102 Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas AINDA BEM São estes os contextos de ocorrência na obra Se é assim ainda bem VEIGA 1986 p 04 Mas vamos andar com esse almoço logo o Nilo vai chegar do colégio com uma fome de rapar tacho ainda bem que ele não é enjoado pra comer VEIGA 1986 p 08 Ainda bem que na família Fajardo ninguém o levava a sério todos brincavam sadiamente com ele VEIGA 1986 p 57 Ainda bem disse Dª Angélica VEIGA 1986 p 107 Ainda bem que elas sabem quebrar golpes de foice VEIGA 1986 p 202 Essa expressão aparece no texto com o significado de alívio Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Ainda bem que foi bem empregado ROSA 1946 p 615 Há cinco ocorrências na obra Culturemas relacionados Identidade Linguocultural verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemashumoculturemas ANTES QUEBRAR A CABAÇA DO QUE A CABEÇA É isso aí pai Antes quebrar a cabaça do que a cabeça como dizia meu avô disse Nilo VEIGA 1986 p 36 Em Houaiss 2023 temos a datação de cabaça como utensílio feito da metade do fruto cuia usado para medir ou transportar farinha grãos etc e esp para beber ou esgotar líquidos cuia cumbuca Nesse sentido a expressão indica que a situação poderia ter ocorrido de uma forma pior Expressão dita por Nilo quando seu pai derruba acidentalmente a xícara em que tomava café Há apenas uma ocorrência ao longo da obra 103 ARRIBA Não se sabe Ele soltou o frango e saiu voando de banda com uma asa meio despencada Bom Então está entregue não é A senhora faz um curativo nele que ele arriba Está só machucado VEIGA 1986 p 07 Palavra datada de 1188 no dicionário Houaiss 2023 com o significado acima para cima para adiante voz de comando ordem para fazer arribar retornar entrar ou desviar o navio adiante Há muitas palavras no texto com ligação militar nesse caso arriba apresentase com significado de ir pra frente O trecho faz referência ao acontecido com o galinho do Nilo que foi pego pelo gavião e de alguma forma conseguiu sobreviver e irá se levantar Há duas ocorrências dentro da obra ATIÇAVA O culpado era o pai que atiçava a imaginação do filho e depois saía de perto deixando o problema com ela e ela é que teria de se informar sobre o comportamento dos fantasmas para poder manter conversa com o filho como fora no caso das formigas depois no das enzimas depois no dos buracos negros VEIGA 1986 p 03 Verbo da língua portuguesa que pode significar o ato de avivar algo promovendo o seu funcionamento através de uma ação estimulante Nesse trecho o autor fala da chateação da mãe de ter que lidar com os pensamentos aguçados do jovem filho curioso No livro há apenas uma ocorrência BESTALHÃO Era esse problema que atormentava o Dr Hadocan Machado na Prefeitura Havia outro menor que ele procurava afastar mas não estava conseguindo a intimação da mulher de não voltar para casa sem alguns exemplares da oração para serem pregados atrás de cada porta e janela formando um aceiro contra a doença Como iria ele o prefeito procurar a tal oração Pedir a um auxiliar que se 104 encarregasse da encomenda nem pensar Razão tiveram o Dr Fajardo e outros quando disseram que ele estava procurando sarna ao se candidatar a prefeito Por que esse raio de epidemia foi acontecer logo na gestão dele Até parecia praga do derrotado o bestalhão do Epaminondas Bestalhão Nem tanto Nesta hora o Epaminondas estava bem bom em sua fazenda olhando os bezerros e a soja crescerem e ele o esperto ali aguentando o rojão VEIGA 1986 p 49 Houaiss 2023 retrata o substantivo masculino com o uso pejorativo que ou quem é ignorante rústico ou falta de inteligência O termo dá ao personagem um ar bobo e frívolo CACETE Papagaio o cacete disse Nilo irritado e logo se encolheu esperando uma reprimenda VEIGA 1986 p 102 Datado em Houaiss 2023 como expressa apreensão lembrança repentina aborrecimento Nessa fala Nilo declara à família que encontrou o gavião que havia atacado Nequinho na praça fazendo palhaçadas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra CAVALO NÃO DÁ CISCADA Eu acho que devemos ficar prevenidos Como diz aquele ditado árabe cavalo não dá ciscada VEIGA 1986 p 109 Expressão utilizada com o sentido de manterse prevenido Nesse contexto Gumercindo fala a Dr Fajardo que achou o comportamento de Sr Abreuciano estranho ao chegar à chácara Há apenas uma ocorrência ao longo da obra COM A BOCA NA BOTIJA É Você precisava ver o desconsolo dele Sabe como é quando você apanha um conhecido com boca em alguma botija Os dois ficam constrangidos você quer ir embora mas não sai logo para não dar a impressão de que já descobriu o que já procurava e quando 105 mais você se esforça por disfarçar o constrangimento mais o outro fica constrangido Se fosse uma reunião para tratar de assuntos lá do trabalho dele que grande transtorno haveria em ele me mandar entrar nem que fosse por um instante me oferecer um café ou um copo d água me apresentar as outras pessoas e me pedir para voltar outro dia Para ele ter procedido daquela maneira é porque está aprontando VEIGA 1986 p 109 Nesse trecho Sr Gumercindo contava a Dr Fajardo que notou Sr Abreuciano agindo de forma estranha na chácara Há apenas uma ocorrência COM EFEITO Eis os contextos Com efeito Nilo Você foi dizer no colégio que viu fantasma VEIGA 1986 p 12 Com efeito Cindo Se preocupar com uma coisa tão mínima disse Dª Angélica VEIGA 1986 p 36 Com efeito D Branca Eu não sabia que a senhora era contra o futebol o esporte nacional que tanta alegria nos deu VEIGA 1986 p 123 Com efeito Manuel Eu lhe pedi tanto VEIGA 1986 p 172 Com efeito as flores das imediações pareciam serenas VEIGA 1986 p 193 No texto a expressão aparece com o sentido de fato verdadeiro esperado como consequência de fato anterior Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Parece que com efeito no poder de feitiço do contrato ele muito não acreditava ROSA 1996 p 111 Há cinco ocorrências na obra CORTANDO O AR Foi o zunido seco de alguma coisa cortando o ar atrás dela e quando se virou ainda viu um vulto cinzento caindo no chão sem 106 fazer barulho e logo se erguendo agora com um volume maior o que a queda VEIGA 1986 p 05 Essa expressão aparece no texto no momento em que o galo Nequinho foi atacado pelo gavião com o sentido de voar rápido Esta expressão aparece em Houaiss 2023 com a acepção de fato efetivamente e em Aulete Digital sem dúvida confirmando consequência verdadeira de fato ou ideia anterior Há apenas uma ocorrência na obra CREDO Que bom ver uma pessoa feliz nesses tempos que todo mundo parece estar vendo urubu credo VEIGA 1986 p 121 No âmbito da Liturgia Católica referese à oração cristã em latim que se inicia com as palavras credo in unum Deus Patrem no sentido de creio em Deus Pai e sintetiza os artigos essenciais do catolicismo creio em Deus Padre creio em Deus Pai crendospadre admite a forma credo Nesse trecho Sr Cristófaro passa pela cidade e vê Dª Cynara a única que parecia feliz enquanto os outros moradores estavam preocupados Ao longo da obra a expressão aparece apenas uma vez TER DEIXADO CORRER O MARFIM É Precisamos fazer alguma coisa Até agora temos deixado correr o marfim Se o senhor puder aparecer lá em casa uma noite dessas Doca pode ensinar o caminho ou melhor pode ir também VEIGA 1986 p 96 Aguardar com indiferença os acontecimentos Expressão comum a jogadores de bilhar ou talvez de roleta por causa da bolinha de marfim usada neste jogo Nesse trecho Dr Gumercindo caminhava com Sr Abreuciano pela cidade enfrentando os visitantes que haviam invadido as ruas da cidade sem deixar caminho para as pessoas transitarem Há apenas uma ocorrência na obra 107 MEIO DE VIDA DE NINGUÉM Eis contextos Para ele todos os meus problemas que eram muitos se reduziam a um só conseguir um trabalho um meio de vida VEIGA 1986 p 25 Esperar visita de fantasma não sendo meio de vida de ninguém Nilo e o pai e os outros aficionados acabaram se distraindo com suas obrigações e o assunto foi ficando esquecido tanto mais quanto outros acontecimentos vieram preencher a lacuna gente velha morria crianças nasciam gente nova chegava e se instalava VEIGA 1986 p 62 Nesses trechos a expressão se refere a um tipo de trabalho que garanta sustento Há apenas uma ocorrência na obra MINHA NOSSA Minha nossa No meu tempo quando acontecia um casal assim era um escândalo a família tinha que se mudar VEIGA 1986 p 202 Nesse trecho Aldair e a tia Mariana conversam sobre sexo e a tia fica abismada ao saber que isso já é comum entre os jovens Há apenas uma ocorrência na obra MUXIBA O pobre gaviãozinho apenas queria comer se ela soubesse onde ele estava seria capaz de ir tratar ele dar comida não um frango é lógico mas um pedaço de carne uma muxiba que fosse afinal eles também são criaturas de Deus VEIGA 1986 p 08 D Angélica estava preocupada com o gavião que havia atacado o Nequinho imaginando que podia oferecer algum alimento singelo para ele Há apenas uma ocorrência na obra 108 NÃO SE FAZ OMELETE SEM QUEBRAR OS OVOS Quem não gosta do progresso ou tem medo deve se naturalizar índio e se esconder numa aldeia das poucas que restam lá pelo extremo norte É a tal história de não se poder quebrar ovo sem fazer omelete ou coisa parecida mas isso é lá com o Doca Nortista que gosta de ditados VEIGA 1986 p 99 Expressa a ideia de que não se atinge objetivos sem esforço ou sacrifício Nesse contexto o narrador conta como o prefeito está lidando com a onda de visitantes que chega à cidade de Torvelinho Há apenas uma ocorrência na obra ORA ESSA Eis os contextos Ora essa Sr Prefeito O senhor só me honra vindo aqui em vez de me convocar ao seu gabinete Estou às suas ordens VEIGA 1986 p 73 Com chave falsa ora essa VEIGA 1986 p 119 Dª Cynara Ora essa Dª Cynara estranhou Jamil VEIGA 1986 p 166 Em Houaiss 2023 referese a expressão que indica admiração ou espanto Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Ora essas digo Se Otacília viesse aparecesse lá em no meio de nós que seguimento de coisas havia de suceder ROSA 1994 p 699 Há três ocorrências na obra REMAR CONTRA A MARÉ Ação frustrada sem êxito situação que tomou um rumo indesejado Em política é assim podese remar contra a onda mas não contra a maré VEIGA 1986 p 100 Nesse trecho Dr Hadocan pensa em como agir com relação aos visitantes que chegaram à cidade Há apenas uma ocorrência na obra 109 TEM DÓ Aldair Goiabada e banana no pão Tem dó Quero isso não VEIGA 1986 p 203 Nessa fala Nilo reclama da comida que a irmã fez Em Houaiss 2023 possui acepção de sentimento de pena com relação a alguém a si mesmo ou a alguma coisa compaixão Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TER BOA MÃO PARA PLANTAS As duas figueiras também pediam trato coitadas davam tanto figo e há muito não recebiam nenhuma recompensa não custava nada aplicar nos pés um pouco de estrume misturado com cinza do fogão mas isso também podia esperar a volta de Aldair ela tem boa mão para plantas VEIGA 1986 p 04 A expressão aparece em Aulete Digital com o sentido de ser habilidoso com as mãos ter jeito para alguma coisa No texto esse trecho se refere ao momento em que a mãe pensa na filha para cuidar das plantas do quintal já que ela sabe lidar melhor com as plantas Há apenas uma ocorrência na obra TRATO As duas figueiras também pediam trato coitadas davam tanto figo e há muito não recebiam nenhuma recompensa não custava nada aplicar nos pés um pouco de estrume misturado com cinza do fogão mas isso também podia esperar a volta de Aldair ela tem boa mão para plantas VEIGA 1986 p 04 Gíria utilizada na língua portuguesa com o significado de melhorar algo Essa expressão aparece no texto quando D Angélica passava pelo quintal observando as plantas e pensando na volta da filha que estava em Belo Horizonte Há apenas uma ocorrência na obra 110 NÃO TROCAR OS PÉS PELAS MÃOS Quer dizer que eu não fiz burrada com as pilhas não troquei os pés pelas mãos VEIGA 1986 p 22 A forma canônica da expressão é não meter os pés pelas mãos com as seguintes acepções não se atrapalhar não se confundir na realização de alguma coisa e não cometer deslizes Nesse trecho da obra o pai não consegue manusear as pilhas corretamente e pede ajuda a Nilo Ao longo da obra a expressão ocorre apenas uma vez VER URUBU Que bom ver uma pessoa feliz nesses tempos que todo mundo parece estar vendo urubu credo VEIGA 1986 p 121 A expressão referese a um ditado popular de cunho supersticioso Popularmente os urubus são conhecidos por serem anunciadores da morte As cores das penas geralmente muito pretas carregam a ideia de luto e seus hábitos alimentares provocam a associação com a morte Tal ligação causou a superstição relacionada a maus presságios Nesse trecho Sr Cristófaro se refere a D Cynara que passou contente por ele Ao longo da obra surge apenas uma ocorrência Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas ALDAIR Eis os contextos Está bem Aldair Você já entortou demais a minha cabeça por hoje O que é que vamos comer VEIGA 1986 p 203 Mosca de noite seu bobo disse Aldair VEIGA 1986 p 204 111 Nome da filha de Dª Angélica e Gumercindo irmã de Nilo Há setenta e sete ocorrências na obra Dª ANGÉLICA Nisso bateram palmas na porta Dª Angélica acordou de seus pensamentos e foi atender Era seu Tiãodaluz que se apresentou respeitoso e misterioso uma mão tocando o bico do boné a outra escondida nas costas segurando qualquer coisa que ele não queria mostrar logo VEIGA 1986 p 06 Há noventa e seis ocorrências na obra Dª CYNARA Primeiro apareceu Dª Cynara uma senhora muito simpática e dinâmica VEIGA 1986 p 63 Logo a figura de Dª Cynara ficou conhecida e comentada na cidade que ela percorria quase que diariamente com um vestido comprido de cigana aparentemente sempre o mesmo mas sempre limpo o cabelo repartido ao meio e preso atrás com uma fita os olhos verdes brilhantes parecendo bem mais moça do que a idade declarada VEIGA 1986 p 66 Nome da senhora que chega a Torvelinho e instala uma oficina de rendeiras que movimenta a economia da cidade O nome Cinara é de origem grega sendo conhecida como uma planta que tem como característica espinhos Entre os gregos a cinara é especificamente a alcachofra que se encontra em abundância na ilha Zinara localizada no Mar Egeu Esse trecho narra a chegada de Dª Cynara a Torvelinho e a reação das pessoas Há cinquenta e oito ocorrências na obra DOCA NORTISTA Eis os contextos Ele apeou de um caminhão que ia descarregar arroz num depósito de cereais seguiu as instruções do motorista e chegou fácil na pensão de Doca Nortista VEIGA 1986 p 68 112 Nos fins de semana as pensões se enchiam de gente de fora que vinham comprar ou apenas olhar as rendas das muitas oficinas cada qual mais bonita e delicada comprar mel puro e provar dos pratos chamados típicos que Doca Nortista inventou em sua pensão VEIGA 1986 p 77 Nome do proprietário da pensão onde Sr Abreuciano ficou hospedado ao chegar a Torvelinho No contexto do primeiro trecho Sr Abreuciano acaba de chegar à cidade e logo se instala na pensão de Doca Nortista No segundo trecho a cidade agora movimentada recebe visitantes diariamente para conhecer e fazer compras Há quarenta e duas ocorrências na obra DR FAJARDO Vai ver que morrendo cheio de dores ou já morto em alguma biboca com certeza atraindo formigas e urubus a inconsciência de certos pais que dão arma de fogo aos filhos e logo quem Dr Fajardo um médico que volta e meia era chamado para atender pessoas baleadas VEIGA 1986 p 08 Nome do médico da cidade de Torvelinho Nesse trecho Dª Angélica pensa onde estará seu frango que foi atacado por um gavião Há oitenta e cinco ocorrências na obra DR HADOCAN Estão vendo como o fuxico trabalha ligeiro Olhem o Dr Hadocan já procurando o Sr Abreuciano na pensão para uma conversa ele que nunca viu o apicultor com bons olhos Dr Hadocan parecia preocupado e não gostou de saber que o Sr Abreuciano estava com visita lá em cima Não conversou muito com o Doca Sentouse e ficou cruzando e descruzando as pernas descansando ora um braço ora o outro no encosto da cadeira Doca dobrou o jornal para não parecer grosseiro com o senhor prefeito VEIGA 1986 p 72 e 73 Nome do prefeito da cidade de Torvelinho 113 Nesse trecho Dr Hadocan vai até a pensão de Doca para conversar com Sr Abreuciano após saber que ele estava ganhando o respeito da população Há trinta ocorrências na obra GUMERCINDO Longe dela dizer que Gumercindo não era um bom pai mas tinha essa mania de achar que todo choro de criança era manha VEIGA 1986 p 05 Nome do pai de Nilo marido de Dª Angélica Nesse trecho da obra Dª Angélica pensa como Gumercindo é despreocupado em relação ao cuidado com os filhos Há cento e seis ocorrências na obra JAMIL ASMAR Outro abalo na suspeita de morte foi o encontro com Jamil Asmar proprietário de uma loja de roupas calçado armarinho cama mesa e cozinha a Princesa do Levante situado ali perto no largo VEIGA 1986 p 43 Nome do dono de uma loja em Torvelinho Nesse contexto Gumercindo acorda leve e feliz e se sente estranho por isso achando até que pode ter morrido e ainda não ter percebido mas ao passar pela loja de Jamil e ser cumprimentado percebe que está vivo mesmo Há sessenta e seis ocorrências na obra TIA MARIANA Depois de lavar as vasilhas do café a mãe foi dar uma olhada nas plantas enquanto pensava no que fazer para o almoço que aliás não daria muito trabalho porque o marido estava em Brasília e a filha Aldair tinha ido a Belo Horizonte acompanhando a tia Mariana numas compras a tia achava que sem o assessoramento de Aldair não saberia comprar um pente VEIGA 1986 p 04 Nome da irmã de Dª Angélica Nome de origem hebraica Maria significa senhora soberana vidente ou pura Ana por sua vez vem do hebraico Hannah que quer dizer cheia de graça Neste 114 caso Mariana significa senhora soberana cheia de graça mulher pura e graciosa Nesse trecho Dª Angélica pensa sobre seus afazeres e lembra que a filha está em uma viagem com a tia Há cinquenta e cinco ocorrências na obra NEQUINHO Deus nos livre que seu Neco Fontes saiba disso pessoa tão educada e simpática quem deu o nome de Nequinho ao frango foi Aldair tão bem dado que pegou Nessa hora Nequinho já deve estar todo estraçalhado por aquele bico de picareta ajudado pelas garras de prego afiado as tripas e as penas espalhadas pelo chão ou em algum galho alto de árvore sangue por todo lado até no pescoço e no peito do gavião VEIGA 1986 p 06 Nome do frango que é criado com muito carinho na casa de Dª Angélica e Dr Gumercindo Nesse contexto Dª Angélica vê o momento em que Nequinho foi atacado por um gavião Há vinte e nove ocorrências na obra NILO Então É camarão mesmo Camarão Parece mais rabinhos de rato na brasa Oh Nilo De onde você tirou essa idéia De uns rabinhos de rato que comi uma vez VEIGA 1986 p 01 Nome do garoto que primeiro vê as aparições dos fantasmas na cidade Filho de Dª Angélica e Dr Gumercindo Nesse trecho Nilo brinca com sua mãe na mesa do café da manhã Há cento e sessenta e nove ocorrências na obra PADRE AUDÁLIO Que é isso Dr Gumercindo Não há vacina nem soro contra isso Só água benta mas isso é lá com Padre Audálio VEIGA 1986 p 40 115 Padre da cidade de Torvelinho Significa O senhor é justo De origem hebraica Nesse trecho Gumercindo é consultado por Dr Fajardo após ver a primeira aparição de fantasma Há trinta e duas ocorrências na obra PELINTRA Eis os contextos Ora à face do Senhor teu Deus por mim disse o Sr Abreuciano com uma reverência e informou que no dia seguinte o burro Pelintra estaria na porta do padre VEIGA 1986 p 181 Que pelintra eu era hein disse ele um dia à filha diante de um desses retratos Só faltava o bigodinho que felizmente nunca me tentou VEIGA 1986 p 187 Datado por Houaiss 2023 como que ou aquele que é pobre e malajambrado mas pretende fazer boa figura que ou o que é pobre e malvestido maltrapilho Nome do burro dado ao Padre Audálio pelo Sr Abreuciano Como os caminhos da cidade estavam tomados pelas flores Padre Audálio estava com dificuldades de se locomover então Sr Abreuciano ofereceulhe um burrinho para leválo pelos caminhos já que esses animais estavam se entendendo bem com as flores No segundo trecho Hadocan comenta com a filha sobre seu antigo modo de se vestir Ao longo da obra vemos duas ocorrências SR ABREUCIANO Outro que chegou sem estardalhaço e sem atropelar ninguém foi um Sr Abreuciano VEIGA 1986 p 68 Assim ele ficou sabendo que o novo hóspede Sr Abreuciano era viúvo vinha da Bahia onde tinha dois filhos homens já encaminhados e uma filha casada era contador aposentado e apicultor por passatempo atividade que pretendia exercer em Torvelinho VEIGA 1986 p 69 Nome do senhor que chega a cidade misteriosamente e começa a trabalhar com apicultura 116 O primeiro trecho relata a chegada do Sr Abreuciano à cidade de Torvelinho No segundo trecho Sr Abreuciano conversa com Doca Nortista e se apresenta Há cento e sessenta e seis ocorrências na obra SR CRISTÓFARO O Sr Cristófaro ficou passado olhando em volta sem entender Tudo remexido na igreja coisas fora do lugar muitas peças no chão e nenhum sinal de arrombamento nem a porta da sacristia que ele abrira com a chave para entrar nem nas outras portas nem nas janelas VEIGA 1986 p 114 Nome do Zelador da igreja Do latim Christophorus que veio do grego antigo Christóforos combinação de Christós Cristo Féro carregar Nesse trecho o zelador encontra a igreja totalmente remexida porém sem sinais de arrombamento ou roubo Há catorze ocorrências na obra SEU TIÃODALUZ Nisso bateram palmas na porta Dª Angélica acordou de seus pensamentos e foi atender Era seu Tiãodaluz que se apresentou respeitoso e misterioso uma mão tocando o bico do boné a outra escondida nas costas segurando qualquer coisa que ele não queria mostrar logo VEIGA 1986 p 06 e 07 Nome de um morador da cidade de Torvelhinho que estava sempre ajudando os outros Nesse trecho Tião vai até a casa de Dª Angélica para entregar o frango Nequinho que ele havia encontrado no quintal do Dr Fajardo Há quarenta e nove ocorrências na obra TORVELINHO Logo Torvelinho entrou no mapa turístico do Estado funcionários da Secretária de Lazer e Turismo andaram lá indagando fotografando entrando casas adentro e incomodando os moradores 117 e não entendendo a resistência que às vezes encontravam que gente atrasada não percebe a importância do trabalho que estamos fazendo em benefício deles Uma agência incluiu Torvelinho em um pacote intitulado Roteiro dos Inconfidentes e foi o golpe de misericórdia no sossego VEIGA 1986 p 78 Nome da cidade onde se desenvolve o enredo da história Datado em Houaiss 2023 como movimento de rotação em espiral redemoinho remoinho Etimologia da palavra esp torbellino id Nesse contexto a pacata cidade começa a mudar e receber muitos visitantes Há trinta ocorrências na obra Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas FANTASMA Mãe eu vi um fantasma Então era esse o problema Ou seria ainda um disfarce Com o Nilo era preciso estar sempre alerta apalpando sondando Ele era esperto como vento ora sopra pra lá ora pra cá Um fantasma Onde No quarto E como foi que ele entrou lá Ora mãe Quem é que sabe como os fantasmas entram e saem Quando vi estava lá VEIGA 1986 p02 Houaiss 2023 coloca o substantivo como imagem ou visão quimérica e assustadora aparição sobrenatural de pessoa morta algo que gera medo ou terror O garoto alega à mãe ter visto um fantasma um ser assombrado Há sessenta e nove ocorrências na obra TORAPÉ O torapé ficou sendo o grande assunto alimentado por novas notícias que chegavam a cada dia Muitos achavam que essa tal epidemia era puro boato de algum desocupado imaginoso outros que era jogada de fabricante de algum produto para os pés outros 118 apenas sorriam e inventavam novas histórias que passavam adiante VEIGA 1986 p 48 Doença cujo pé do indivíduo seria inutilizado Dentro da história é uma doença que preocupava os moradores da cidade mesmo sem saber se essa patologia de fato existia Há nove ocorrências na obra Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas PALETOZÃO MARROM SURRADO Outro que chegou sem estardalhaço e sem atropelar ninguém foi um Sr Abreuciano Ele apeou de um caminhão que ia descarregar arroz num depósito de cereais seguiu as instruções do motorista e chegou fácil na pensão de Doca Nortista Só trazia uma mala muito velha estufada de cheia Quando o viu abaixo com dificuldade para equilibrar a mala no chão o Doca achou que ali estava mais um hóspede daqueles que só trazem chateação mas bastou o recém chegado se endireitar e mostrar a cara para ele reformar o julgamento O paletozão marrom surrado a barba de dois dias o cabelo farto dos lados e ralo em cima deixaram de ter importância As feições e olhos apagavam qualquer aversão que a roupa e a mala pudessem inspirar Os dois se olharam o Doca meio hipnotizado o estranho sorrindo discreto como se já estivesse acostumado a situações idênticas Por fim o Doca como que acordou piscou repetidamente perguntou se o cavalheiro queria um quarto e logo se censurou intimamente pois o que mais pode querer um estranho que chega de mala a uma pensão VEIGA 1986 p 68 Paletó de grande extensão O termo paletozão dá entender que o seu dono era uma pessoa alta Ocorre uma vez na obra 119 CHÁ DE ARTEMÍSIA E CARIPÉ Tudo combinado tomaram um chá de Artemísia e caripé para relaxar e Abreuciano saiu para uma ronda de visitas outras VEIGA 1986 p 194 Designação comum aos arbustos e ervas do gênero Artemisia da família das compostas aromáticas e com capítulos pequenos nativas de regiões temperadas do hemisfério norte e também do Oeste da América do Sul e do Sul da África geralmente em áreas secas algumas cultivadas para tempero culinário como o estragão para infusões estimulantes como absinto medicinais ou apenas tomadas como chá Já Caraipé tem acepção de angiospermas da família das crisobalanáceas nativas da Amazônia Dª Cynara e Sr Abreuciano estavam reunidos conversando sobre o que iriam fazer para livrar as plantas do ataque dos vândalos Há apenas uma ocorrência na obra CHÁ DE LAVÂNDULA Conversaram outros assuntos menos prementes Dª Cynara fez um chá de lavândula que ela apanhou apenas esticando a mão para fora da janela VEIGA 1986 p 192 Designação comum às plantas do gênero Lavandula cultivadas como ornamentais algumas para extração de óleo aromático e ger mais conhecidas como lavanda ou alfazema Nesse contexto Dª Cynara recebe Sr Abreuciano em sua casa Ele está preocupado com o comportamento das flores e resolve pedir a ajuda dela para descobrir o que estava acontecendo Há apenas uma ocorrência na obra FEIJÃO TROPEIRO Eis os contextos Para ganhar tempo resolveu fazer feijão tropeiro os torresmos já estavam prontos ficava faltando só fritar a linguiça e os ovos e isso se ajeita num instante ela só podia sentar um pouco para descansar as pernas VEIGA 1986 p 09 120 Arroz feijão tropeiro lombinho mandioca frita VEIGA 1986 p 102 Houaiss 2023 define como prato da cozinha mineira feito de feijão refogado na gordura de porco com cebola alho e temperos e misturado em seguida com torresmos e farinha de mandioca No livro a palavra aparece como referência ao prato culinário típico brasileiro preparado por Dª Angélica Há duas ocorrências na obra SUMO DE ALFAVACA Tomaram o chá com biscoitinhos de sumo de alfavaca e o Sr Abreuciano deu boanoite VEIGA 1986 p 192 Nesse trecho Dª Cynara e Sr Abreuciano se encontraram para conversar sobre o comportamento estranho das plantas Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TORRESMOS Para ganhar tempo resolveu fazer feijão tropeiro os torresmos já estavam prontos ficava faltando só fritar a linguiça e os ovos e isso se ajeita num instante ela só podia sentar um pouco para descansar as pernas VEIGA 1986 p 09 Segundo Houaiss 2023 de 1857 referese a toucinho frito em pequenos pedaços rijão Nesse contexto Dª Angélica se apressa para terminar o almoço antes que Nilo volte da escola Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Angu e couve abóboramoranga cozida torresmos e em toda fogueira assavam mantas de carne ROSA 1994 p 397 Ao longo da obra é encontrado apenas um registro 121 Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas A CALHAR Eis os contextos É e combinado com aquele outro que diz que seguro morreu de velho vem a calhar VEIGA 1986 p 109 Casamento vem depois se calhar VEIGA 1986 p 140 Em Houaiss 2023 temos a acepção acontecer a propósito ser bemvindo Nesta fala de Gumercindo no primeiro trecho destacado ele conta que ao chegar à casa de Abreuciano ele age de forma estranha como se estivesse escondendo algo No segundo contexto Aldair e Mariana conversavam sobre relacionamento nos dias atuais Há duas ocorrências na obra MEIO ATARENTADO MUITO ATARENTADA Eis os contextos Era Tião passando a mão espalmada na frente do rosto de Nilo Nilo acordou mas meio atarentado ainda entrou errado no contexto VEIGA 1986 p 20 Só se eu desse uma olhada Mas vai demorar estou muito atarentada hoje VEIGA 1986 p 07 Apresentado em Dicionário Informal como desnortear ficar nervoso perdido ansioso Nesse trecho Nilo e Tião conversam à beira do largo Nilo está confuso pois vê fantasmas a sua frente Nesse trecho Tião chega à casa de Dª Angélica perguntando se ela não havia percebido que algo havia sumido de casa Era o frango Nequinho que ele havia encontrado e voltara para devolvêlo Há duas ocorrências ao longo da obra 122 ATIÇAR O culpado era o pai que atiçava a imaginação do filho e depois saía de perto deixando o problema com ela e ela é que teria de se informar sobre o comportamento dos fantasmas para poder manter conversa com o filho como fora no caso das formigas depois no das enzimas depois no dos buracos negros VEIGA 1986 p 03 Em Houaiss 2023 tem acepção de impelir alguém a algo estimular incitar Nesse trecho o autor fala da chateação da mãe de ter que lidar com os pensamentos aguçados do jovem filho curioso No livro há apenas uma ocorrência na obra BENÇA Elas falam mesmo pai Bença Vem ver disse Luizinho VEIGA 1986 p 171 Nilo vestiuse e desceu enquanto Dª Angélica ainda preparava o café Bença mãe VEIGA 1986 p 29 Alteração popular do substantivo benção Palavra do século XII que significa ato ou efeito de abençoar oriunda do latim benedictionis bênção equivale a bendição o oposto de maldição Benção em liturgia católica é ato ou efeito de um sacerdote invocar em geral com o sinaldacruztraçado no ar com os dedos a graça de Deus para alguém ou algo graça concedida por Deus Ganhou na linguagem informal brasileira do século XIX essa forma apocopada e desnasalizada bença Forma geralmente utilizada quando é pedida a proteção da benção de alguém e a proteção divina A expressão na primeira passagem referese ao momento em que Nilo conta ao pai que Dª Cynara fala com as flores Na segunda Nilo pede a benção da mãe ao acordar como faz habitualmente Ao longo da obra podemos perceber duas ocorrências 123 BERRANTE Devem ter ouvido algum berrante chamando VEIGA 1986 p 125 Em Houaiss 2023 tem acepção de corneta de chifre com que os boiadeiros tangem o gado Nessa fala de Nilo ele conta à família que os visitantes da cidade haviam sumido misteriosamente Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Aí João Vaqueiro viu um berrante bom pendurado na parede da salagrande pegou ele chegou na varanda e tocou as reses entendiam uma ou outra respondendo e entraram no curral para a beira dos cochos na esperança de sal ROSA 1994 p 455 Há apenas uma ocorrência na obra BIBOCA Vai ver que morrendo cheio de dores ou já morto em alguma biboca com certeza atraindo formigas e urubus a inconsciência de certos pais que dão arma de fogo aos filhos e logo quem Dr Fajardo um médico que volta e meia era chamado para atender pessoas baleadas VEIGA 1986 p 08 Datado por Houaiss 2023 como lugar parcialmente encoberto de acesso difícil ou perigoso Eis a interessante etimologia da palavra do tupi ïmbïmboka buraco local de difícil acesso do tupi ïmbï terra solo chão e mboka abertura fenda ou oka casa toca A expressão aparece no texto referindose ao lugar que Dª Angélica achava que Nequinho poderia estar após ser atacado pelo gavião Há apenas uma ocorrência na obra BOCA DE SIRI E a senhora também ó boca de siri VEIGA 1986 p 04 E ele faz boca de siri VEIGA 1986 p 161 É uma expressão popular utilizada na língua portuguesa quando alguém se compromete em manter segredo sobre determinado assunto não contando pra ninguém 124 A primeira expressão ocorre após Nilo contar a sua mãe sobre os fantasmas Ele pede que ela não conte nada a ninguém Na segunda expressão Jamil reclama por Doca não ter contado que Sr Abreuciano ia continuar morando na pousada Há duas ocorrências na obra BÓIAFRIA Parece um bóiafria um trabalhador de estrada e não um homem que já foi prefeito e podia ter chegado a deputado e governador VEIGA 1986 p 187 Em Houaiss 2023 apresentase como regionalismo brasileiro com acepção de trabalhador rural itinerante que se ocupa em tarefas temporárias sem vínculo empregatício Nesse contexto Dª Zilma conversa com Dr Hadocan sobre o seu novo comportamento e sua forma de se vestir Há apenas uma ocorrência na obra COISA DE CADUCO OU MALUCO Sei não Mas andar por aí resmungando para as flores que encontra é coisa de caduco ou maluco Sem querer ofender o menino do Dr Gumercindo VEIGA 1986 p 165 Em Houaiss 2023 dizse de ou pessoa que perdeu parcialmente o juízo em decorrência da idade ou de doença mental Vem do latim cadúcusaum que cai que está sujeito a cair Nessa passagem os senhores Jamil e Gumercindo conversam sobre a estranheza que causa as pessoas estarem falando com as flores Há apenas uma ocorrência ao longo da obra FICAR CAINÃOCAI O gavião pulou do ombro de Tião para a janela do carro e ficou cainãocai com dificuldade de se firmar no metal liso mas não assustou o médico que até viu nisso um bom sinal VEIGA 1986 p 170 125 Expressão popular que indica que o ser não está equilibrado sobre a base ou superfície em que se encontra Nesse trecho Tião e seu gavião encontram Dr Fajardo no dia em que a cidade amanhece radiante e todos parecem felizes Os dois se cumprimentam e o gavião pousa na janela do carro do médico Há apenas uma ocorrência na obra CARADEPAU Era o despachante Getulino muito mal visto na Prefeitura mas muito caradepau VEIGA 1986 p 50 Com a acepção de pessoa que não tem escrúpulos ou timidez Nesse trecho o prefeito recebe Getulino em seu escritório e os dois não se entendem bem Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR CEGO DE FOME O que é que estão descolando aí pra nós Estou cego de fome disse farejando na mesa VEIGA 1986 p 203 Estar cheio de fome A frase acima é dita por Nilo Ao voltar da comemoração da vitória das flores ele pergunta a Aldair o quê ela está preparando para comer Há apenas uma ocorrência na obra COPO DÁGUA É Você precisava ver o desconsolo dele Sabe como é quando você apanha um conhecido com boca em alguma botija Os dois ficam constrangidos você quer ir embora mas não sai logo para não dar a impressão de que já descobriu o que já procurava e quando mais você se esforça por disfarçar o constrangimento mais o outro fica constrangido Se fosse uma reunião para tratar de assuntos lá do trabalho dele que grande transtorno haveria em ele me mandar entrar nem que fosse por um instante me oferecer um café ou um copo d água me apresentar as outras pessoas e me pedir para voltar outro dia Para ele ter procedido daquela maneira é porque está 126 aprontando Eu acho que devemos ficar prevenidos Como diz aquele ditado árabe cavalo não dá ciscada VEIGA 1986 p 109 Houaiss 2023 retrata a expressão típica do regionalismo brasileiro tendo o significado de pequena reunião com doces bebidas oferecida por amigos para homenagear alguém Resquício de informalidade no texto Há duas ocorrências na obra CORTANDO O AR Foi o zunido seco de alguma coisa cortando o ar atrás dela e quando se virou ainda viu um vulto cinzento caindo no chão sem fazer barulho e logo se erguendo agora com um volume maior o que a queda VEIGA 1986 p 05 Essa expressão aparece no texto no momento em que o galo Nequinho foi atacado pelo gavião com o sentido de voar rápido Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR NAQUELA DE NÃO CRER NEM DESCRER Sei lá Estou naquela de não crer nem descrer VEIGA 1986 p 17 Não saber se o fato é verdadeiro ou não Nesse trecho Nilo e Luizinho conversavam sobre a aparição do fantasma que Adãozinho dizia ter visto Há apenas uma ocorrência na obra DAR POR FALTA A senhora deu por falta de alguma coisa hoje VEIGA 1986 p 07 O Sr Cristófaro arrumou tudo fez um balanço e não deu por falta de nada VEIGA 1986 p 114 A expressão aparece no texto com o significado de sentir falta perceber que algo sumiu No primeiro trecho Tião chega a casa de Dª Angélica para entregar o franguinho que ele havia encontrado 127 No segundo trecho o zelador verifica se não roubaram nada da igreja após encontrála totalmente bagunçada Há duas ocorrências na obra DESCOLAR Eis os contextos Quero nada não mãe Vou ver televisão Mais tarde se der vontade descolo qualquer coisa Se preocupe não Tem banana não tem VEIGA 1986 p 27 O que é que estão descolando aí pra nós Estou cego de fome VEIGA 1986 p 203 Datado em Houaiss 2023 como ser bemsucedido em arranjar dinheiro favor emprego etc Nessas duas frases de Nilo ele se refere a conseguir algo para comer Há duas ocorrências na obra DESMILINGUIR Se eu visse um fantasma acho que me desmontava desmaiava me desmilinguia VEIGA 1986 p 23 Em Houaiss 2023 aparece com o sentido de tornarse fraco sem forças perder o vigor debilitarse Nesse trecho Gumercindo fala como agiria diante de um fantasma Há apenas uma ocorrência na obra DEUS NÃO FALA AOS APRESSADOS Eis os contextos Gente do norte do centro e do sul de Dores Passa Quatro Monte Azul Viajantes bancários boiadeiros normalistas adventistas matamouro escrevam cartas pintem o sete esqueçam os prazos montem o vento e sobretudo olhem o céu e as borboletas Deus não fala aos apressados VEIGA 1986 p 44 Mas a cidade que se mostrou ao longe banhada na luz amortecida do entardecer essa ele nunca tinha visto Valia a pena 128 parar um instante e contemplar aquilo antes que o encanto se desmanchasse Deus não fala aos apressados dizis o verso genial de Ramiro Café aquele momento de beleza podia ser apenas o efeito de uma combinação acidental de luz um capricho de nuvens do ar da atmosfera se projetando no casario VEIGA 1986 p 167 e 168 No primeiro trecho há o poema de um colega de pensão de Dr Fajardo Dr Fajardo recordase do poema ao voltar de uma viagem e encontrar Torvelinho com uma beleza nunca vista antes e sentiu a necessidade de descer do carro para observar a linda paisagem Há duas ocorrências na obra O DIABO A QUATRO O senhor acha é Sei não E quando começar a aparecer toda raça de bichos cobras preás ouriços o diabo a quatro Ainda vão me dar parabéns VEIGA 1986 p 176 A Expressão popular significa coisas espantosas desordem bagunça Nesse contexto o Prefeito Hadocan conversava com os homens da cidade que defendiam que as plantas tinham deixado a cidade mais bonita já o prefeito as via como algo negativo Há apenas uma ocorrência na obra A DURAS PENAS E terá que aprender tudo a duras penas VEIGA 1986 p 26 O mundinho de cada um é o seu cercado aquele espaço que ele ocupou e amansou a duras penas e tudo o que destoa dele é visto como uma ameaça VEIGA 1986 p 163 Com a acepção de que exigiu muito esforço como dificuldade No primeiro contexto Gumercindo reclama com Dª Angélica porque ela protege demais o filho No segundo trecho a expressão faz referência às conquistas realizadas com dificuldade Ao longo da obra aparecem duas ocorrências 129 É PRA JÁ Algo que será feito logo imediatamente utilizado geralmente como resposta É pra já VEIGA 1986 p 11 Nilo utiliza essa expressão para responder a mãe que pediu que ele guardasse os livros que havia deixado no sofá Há apenas uma ocorrência na obra EMBARAFUSTAR Dando o espetáculo por encerrado o regente fosse ele quem fosse mandou as moitas se abrirem em ruas para soltar os pobres foiceiros que embarafustaram por elas uns correndo outros mancando outros se arrastando e desapareceram na madrugada VEIGA 1986 p 198 Em Houaiss 2023 com a acepção de ingressar num recinto atropeladamente desordenadamente ou impetuosamente Esse trecho relata o momento em que os homens que atacavam as flores sem êxito desistiram e começaram a fugir Há apenas uma ocorrência ao longo da obra EMPANCAR Se a conversa às vezes empancou foi devido às evasivas do fantasma que não quis se abrir VEIGA 1986 p 28 Segundo Houaiss 2023 este termo é datado de 1857 e refere se a um verbo segurar por meio de panca interromper o fluxo de represar suster vedar encher em demasia enfartar empachar Nesse trecho Nilo tentar encontrar o motivo por não ter recebido a visita do fantasma novamente Em toda a obra há apenas uma aparição do vocábulo FAZER CORPO MOLE O negócio era ir contemporizando jogando areia segurando as pontas fazendo corpo mole VEIGA 1986 p 100 130 Essa expressão idiomática é usada quando alguém não demonstra esforço para fazer algo escapa ou tenta escapar de algum trabalho ou pedido de ajuda Nesse contexto Dr Hadocan está pensando na melhor forma para agir com os visitantes que chegaram na cidade Ao longo da obra há apenas uma ocorrência FICAR NA MOITA Nilo pensou se devia contar que ele também tinha visto um fantasma e conversado com ele e decidiu que por enquanto convinha ficar na moita VEIGA 1986 p 17 Ficar na espreita esperando o momento certo para dar o ataque O contexto aborda a conversa entre Nilo e seu pai sobre o fantasma que ambos haviam visto Há apenas uma ocorrência na obra FOME DE RAPAR TACHO Mas vamos andar com esse almoço logo o Nilo vai chegar do colégio com uma fome de rapar tacho ainda bem que ele não é enjoado pra comer VEIGA 1986 p 08 Essa expressão aparece com o significado de comer toda a comida da panela Nesse contexto Dª Angélica pensa que precisa se apressar para preparar o almoço antes que Nilo chegue da escola Há apenas uma ocorrência na obra ESTAR GRILADA GRILO NA CABEÇA Eis os contextos Parar com a conspiração disse Aldair entrando no escritório com uma bandeja Pausa para o café O que é que vocês estão tramando aí esse tempo todo Mamãe está grilada VEIGA 1986 p 60 O Nequinho Com tanto grilo na cabeça Nilo tinha esquecido o frango voador VEIGA 1986 p 29 131 Em Houaiss 2023 como deixarse grilado amolarse preocuparse encucarse Nessa primeira fala de Aldair ao entrar no escritório do pai ela encontra Gumercindo e Nilo conversando secretamente sobre os fantasmas Aparece também a expressão grilo na cabeça com o mesmo valor Nilo está tão preocupado com a aparição dos fantasmas que se esquece de visitar Nequinho Há duas ocorrências ao longo da obra GRUDAR NELE COMO CARRAPATO Agora Tião ia grudar nele como carrapato e ele não podia dizer nada não ia querer passar por maluco VEIGA 1986 p 20 Agir de forma insistente Nilo pensa que não pode falar para Tião sobre os fantasmas visto que ele era muito fofoqueiro Há apenas uma ocorrência na obra HUMHUM Ela pensou ofereceu uma saída Você quer dizer que sonhou com um fantasma Humhum Sonhei não Vi Eu não estava dormindo E por que não me chamou Eu gostaria de ter visto também Acho que ele não iria aprovar Ele queria falar era comigo E como era esse fantasma Ah legal Sentou conversou Olhou meus livros E você não teve medo Lógico que tive Mas não durou Quando viu que eu estava com medo e queria gritar ele me sossegou Disse que ter medo de fantasma é coisa do passado Diferente esse fantasma Vocês conversaram o quê Um monte de coisas História Política Meus estudos Então valeu a pena Só valeu Ele vai voltar Prometeu Mais essa agora Nos próximos dias se não meses ela teria de ouvir aquela conversa de fantasma e fingir que acreditava até o Nilo inventar outra novidade VEIGA 1986 p 03 Expressão de negação O personagem usa esse termo para negar a afirmação da mãe Ocorre uma vez na obra 132 NÃO LEVAR CHUMBO Por isso é que a vida dos místicos é dificultosa A faculdade deles de ver além é na verdade uma condenação Eles precisam olhar muito onde pisam para não levar chumbo Ninguém quer ser invadido VEIGA 1986 p 163 Datado por Houaiss 2023 como ser malsucedido levar ferro entrar pelo cano Nesse trecho Sr Abreuciano e Dr Gumercindo conversavam sobre os místicos e os cuidados que estes deviam tomar na vida em sociedade Há apenas uma ocorrência na obra GAVIÃO MALANDRO Eis os contextos Segundo Houaiss 2023 que ou aquele que é sagaz arguto esperto brincalhão ou maroto Vá voando que eu não vou carregar gavião malandro ladeira acima VEIGA 1986 p 170 Te vira malandro VEIGA 1986 p 203 No primeiro trecho Tião manda seu gavião ir voando e não em seu ombro No segundo trecho Nilo reclama por estar com muita fome após chegar da comemoração da vitória das flores e sua irmã não ter preparado nada para ele comer e Aldair manda ele mesmo providenciar a própria comida Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Aprovei de ver o Teofrásio principal deles apontando em homem malandro inocente com a velha garrucha que era a dele com dois canos encavalados ROSA 1994 p 742 Há duas ocorrências na obra MOLECAGEM Eis os contextos Como eu dizia continuou o Dr Fajardo é uma brincadeira uma molecagem contra a qual nada se pode fazer e 133 nem devíamos estar aqui perdendo tempo e nos expondo ao ridículo VEIGA 1986 p 54 Molecagem desses forasteiros só pode ser Aliás estava demorando VEIGA 1986 p 119 Em Houaiss 2023 como ato de moleque molecada molequeira Etimologia da palavra quimb muleke garoto filho pequeno No primeiro trecho Dr Fajardo reclama da proporção que tomou a história do Torapé na cidade mesmo que a veracidade da doença não tivesse sido confirmada No segundo trecho Sr Cristófaro conta a Padre Audálio que a igreja foi invadida Há duas ocorrências ao longo da obra MOLENGO Dr Gumercindo acordou oco molengo com um zumbido renitente nos ouvidos que ele não sabia se vinha de dentro ou de fora VEIGA 1986 p 35 Segundo Houaiss 2023 de 1857 referese ao termo que faz as coisas com vagar e sem empenho indolente mole preguiçoso que não tem determinação firmeza resolução fraco frouxo covarde Gumercindo acorda indisposto no dia seguinte ao seu primeiro contato com um fantasma Há apenas uma ocorrência ao longo da obra MOLHAR O BICO É claro que houve algumas arruaças inevitáveis nessas ocasiões provocadas geralmente por pessoas que em tudo vêem um pretexto para molhar o bico mas fora ocorrências localizadas que em nada prejudicaram o espetáculo VEIGA 1986 p 196 Ingerir bebida alcóolica embriagarse O trecho em questão diz respeito à comemoração que aconteceu após as plantas se defenderem do ataque que sofreram Há apenas uma ocorrência ao longo da obra 134 SACUDIR ESPANTAR VOLTAR A MORRINHA Eis os contextos Como pôde uma solteirona assumida com todas as manias que essa condição acarreta cada vez se fechando mais em si e em casa de repente sacudir a morrinha por conta própria e sair sozinha ir à igreja conversar com estranhos fazer visita não falar em doença que era um assunto obrigatório VEIGA 1986 p 136 A custo se levantou e tomou uma xícara de café puro esperando com isso espantar a morrinha VEIGA 1986 p 35 Dr Gumercindo sacudiu a morrinha acabou de fazer a barba vestiuse e saiu para o tal passeio mas o que ele queria mesmo era apressar a passagem do tempo até o Nilo voltar do colégio ele tinha muito que conversar com aquele maroto para poder se orientar VEIGA 1986 p 42 Mas nenhuma comunidade por feliz que seja se conforma com a monotonia e de vez em quando descobre um problema real ou imaginário para sacudir a morrinha um escândalo um crime um acidente uma ameaça e Torvelinho teve o seu momento de desassossego VEIGA 1986 p 47 Por que mãe Eles animavam tanto a cidade Agora voltou a morrinha Bendita Morrinha VEIGA 1986 p 125 Datada em Houaiss 2023 como sentimento melancólico tristeza soturnidade indisposição para agir prostração No primeiro trecho Dª Angélica tenta entender a mudança repentina da irmã No segundo trecho Gumercindo acorda indisposto após encontrar um fantasma na noite anterior No terceiro trecho Gumercindo resolve sair um pouco de mais para melhorar o humor depois de se sentir mal por ter visto um fantasma No quarto trecho o autor introduz a explicação sobre a doença que atormentou Torvelinho No quinto trecho Nilo e a mãe conversam sobre o sumiço dos visitantes que haviam invadido a cidade Outro grande autor utiliza essa expressão em sua obra Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas A dita morrinha até 135 a água que se bebia pegava na boca da gente e rançava ROSA 1994 p 499 Há seis ocorrências ao longo da obra OS CÃES NADAM E A CARRASPANA PASSA Eu também Sei que é inveja Mas os cães nadam e a carraspana passa disse Nilo VEIGA 1986 p 159 Os cães ladram mas a caravana passa é um ditado arábe Significa que se deve ignorar as provocações que possam impedir o progresso e esquecer as críticas que não sejam construtivas Nesse contexto Nilo conversava com Dª Angélica Mariana e Aldair Ele brinca de trocar as palavras dos ditados populares para fazer os outros rirem Ao longo da obra observamos apenas uma ocorrência PERNAS PRA QUE TE QUERO Então o garotão viu um fantasma E pernas para que te quero VEIGA 1986 p 23 Com acepção de ação de fugir correndo antes de algo perigoso Nesse contexto Nilo fala ao pai sobre os fantasmas pela primeira vez Ao longo da narrativa há apenas uma ocorrência PUXAR A ORELHA DELE Belo amigo é o Doca disse Jamil Uma notícia tão boa E ele faz boca de siri Vou puxar a orelha dele VEIGA 1986 p 161 Expressão referente ao ato denotativo de castigar alguém repreender Nesse contexto Sr Abreuciano conta a Jamil que Doca já sabia que ele não trocaria a moradia na cidade pelo campo Há apenas uma ocorrência na obra 136 PXIIII Pxiiii Olhe aí pai Qualquer dia seu filhinho está embarcando pra pra pra chatanuga Bons ventos disse Aldair e saiu depressa para não ouvir o repique do Nilo Mas nem foi preciso descer a escadinha para o quintal da porta mesmo ela viu o Nequinho dando uma corrida em outro frango e chamou a mãe Ainda bem disse Dª Angélica E agora já que não preciso de arrumar a cozinha se me dão licença eu também vou como é mesmo Nilo Teiquenep Teiquenep É língua de índio VEIGA 1986 p 107 Expressão que significa um pedido de silêncio O filho com essa expressão pede o silêncio e a atenção do pai Ocorre uma vez na obra QUE BICHO LHE MORDEU Você foi à missa Sozinha Que bicho lhe mordeu VEIGA 1986 p 132 Expressão dita a uma pessoa que muda repentinamente de comportamento Nesse trecho D Angélica se assusta com a mudança repentina de Mariana Há apenas uma ocorrência na obra CAUSAR REBOLIÇO Como é que um bando de estranhos chega em um lugar pequeno e se instala num ponto central como é o largo sem causar reboliço quando um simples andarilho ou viajante ou novo funcionário de banco é imediatamente notado e vigiado até ser aceito VEIGA 1986 p 29 Foi quando alcançou a cidade a notícia de uma epidemia desconhecida que estaria grassando em parte do estado vinda da fronteira sudoeste ou de Goiás pelo Triângulo Os informes eram alarmantes mas vagos diziam que os pés das pessoas caíam durante a noite cortados na altura dos tornozelos por um cupim ou roedor invisível quando a vítima acordava de manhã sentavase na cama e fazia aquele gesto natural de procurar os chinelos com os pés 137 descobria que não tinha mais pés e era aquele reboliço na casa às vezes a família inteira tentando se equilibrar nos tocos das pernas outras vezes era só uma pessoa que amanhecia assim não se sabendo por que as outras tinham sido poupadas e nesses casos o mutilado ficava desconfiando de alguma vingança ou maldade VEIGA 1986 p 47 e 48 Datado em Houaiss 2023 como em forma de rebolo que tem formato redondo ou cilíndrico Nesse contexto Nilo está preocupado com as aparições de fantasmas e pessoas estranhas na cidade No segundo contexto o narrador apresenta a possível doença que atormentou os moradores de Torvelinho o Torapé Há duas ocorrências na obra SALVESE QUEM PUDER E quando estouraram as gargalhadas vindas não se sabia de onde mas de muito perto aí o pânico os eletrizou e foi o salvese quempuder VEIGA 1986 p 198 Expressão dita a uma situação alarmante perigosa que causa medo e pânico correcorre debandada Nesse contexto os vândalos tentavam destruir as flores mas a ação não foi concluída e as pessoas que estavam escondidas começaram a rir Há apenas uma ocorrência na obra TE VIRA MALANDRO Nem adiantaria Esses são pra mim e pra titia E eu Te vira malandro VEIGA 1986 p 203 E ele não sabe se virar VEIGA 1986 p 26 Deixe Nilo se virar sozinho VEIGA 1986 p 26 Os professores faltam muito porque ganham pouco e ainda recebem com atraso por isso precisam se virar em outras atividades VEIGA 1986 p 59 Gíria usada para dizer a outra pessoa de modo sincero resolva 138 Nesse trecho Nilo reclama por estar com muita fome após chegar da comemoração pela vitória das flores e sua irmã não ter preparado nada para ele comer No segundo contexto Gumercindo fala a Angélica que Nilo já está crescendo e ela precisa deixálo resolver suas coisas sozinho No terceiro contexto Nilo e Gumercindo estão preocupados com a crise vivida pelo país Aparecem quatro ocorrências ao longo obra TARDE PIASTE Digo mesmo Tarde piaste irmãzinha Essa novidade ó já tem barba de avô VEIGA 1986 p 128 A expressão idiomática tarde piaste dizse a alguém que chegou tarde ou interveio tarde num assunto É dizer alguma coisa depois de passado o momento oportuno dar uma explicação tardiamente quando já não pode ter qualquer efeito sobre a situação Mediante a consulta da Web surgiram duas explicações para a sua origem Segundo uma delas a expressão refere o Milhafre uma ave que não costuma apanhar as presas vivas mas que por vezes apanha um pintinho ainda vivo e o devora Mesmo que pie já não terá salvação possível A outra versão é a história de um galego que estava a comer ovos crus ao engolir um que não estava fresco já na garganta piou um pinto e assim este observou Tarde piaste Raimundo Magalhães Jr Nesse trecho Aldair chega apressada em casa para contar à família que os visitantes da cidade tinham sumido mas Nilo já havia contado a novidade para todos Há apenas uma ocorrência ao longo da obra TOCAR A IDEIA PRA FRENTE A gente toca a ideia pra frente Aceitar ou não é com eles disse Tião VEIGA 1986 p 164 Com acepção de perseverar persistir 139 Jamil e TiãoLuz dão a ideia de oferecer o título de cidadão honorário para Dª Cynara e Sr Gumercindo mas têm receio de que eles não aceitem Há apenas uma ocorrência na obra TRATAR NA PALMA DA MÃO Se eu tivesse um amigo místico eu ia tratalo na palma da mão ia querer aprender com ele como é que se atravessa a fronteira para o mundo invisível VEIGA 1986 p 163 Em Houaiss 2023 significa tratar muito bem com muito carinho paparicar Nesse trecho Sr Gumercindo conversa com Jamil e Sr Abreuciano sobre as mudanças ocorridas em Torvelinho Ao longo da obra há apenas uma ocorrência VICEVERSA Conferidos os detalhes os dois chegaram à conclusão de que tinham visto o mesmo fantasma a menos que os fantasmas tenham traços individuais característicos sejam assim como asiáticos para os ocidentais e talvez viceversa VEIGA 1986 p 45 Temse em Houaiss 2023 a acepção em ordem invertida à ordem inicialmente dada em sentido inverso Nesse contexto Nilo e Gumercindo conversam sobre as aparições que viram e chegam à conclusão de que viram o mesmo o fantasma Outro grande autor que utiliza essa expressão em sua obra é Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas Depois se repraçava um entranço de viceversa com espinhos e restolho de graviá áspera raça verdepreto cor de cobra ROSA 1994 p 62 Há apenas uma ocorrência na obra XA COMIGO Xa comigo Estou aprendendo a lidar com eles VEIGA 1986 p 24 140 Gíria que significa deixa comigo tomar a responsabilidade por algum assunto O termo xa representa a contração do verbo deixa Nesse trecho o pai brinca com Nilo a respeito dos fantasmas Ao longo da obra há apenas uma ocorrência ESTAR MEIO ZONZO Nilo disse que o frango ainda estava meio zonzo mas parecia que ia aprumar VEIGA 1986 p 16 Em Houaiss 2023 tem sentido como tomado por tonteira vertigem Nilo fala como estava Nequinho após o ataque do gavião Ao longo da obra há apenas uma ocorrência ESTAR ZURETA MESMO Eh rapaz você está zureta mesmo hein VEIGA 1986 p 20 Em Houaiss 2023 como um tanto maluco que se encontra fora do juízo confuso atordoado ou transtornado azoratado Nesse trecho Nilo e Tião conversavam à beira do largo onde Nilo viu os fantasmas Guimarães Rosa também utilizou essa expressão em sua obra Grande Sertão Veredas Seguro já nasceu assim zureta arvoado criatura de confusão ROSA 1994 p 99 Há apenas uma ocorrência na obra Referências HOUAISS Antônio VILLAR Mauro S Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 2023atualização VEIGA José J Torvelinho Dia e Noite 2ª Edição São Paulo DIFEL 1986 141 Culturemas em O relógio Belisário 1995 Ana Joelha Carneiro Antonio Mendes Filho Maria Danmatta de Sousa Arcanjo Maria Karen Mendes Alves Sinara Souza Fernandes No romance O Relógio Belisário José J Veiga faz opção pelo narrador com visão de dentro a personagem não tem segredos para o narrador que conhece de igual modo as intenções de todas as personagens assimilando suas dúvidas e suas certezas Wania de Sousa Majadas 2007 Culturemas Relacionados à Ecologia topoculturemas meteoroculturemas bioculturemas humaniculturemas LOBEIRA É lobeira Fruta de lobo Lobeira Não pode Eu mesmo plantei De sementes VEIGA 1999 p 31 A lobeira frutadelobo ou guarambá é um pequeno arbusto ou árvore de até 5 metros de altura Pertence à família das Solanaceae a mesma do tomate e do jiló O fruto da lobeira lembra um tomate na aparência Calmante combate a diabetes epilepsia hepatite A saúde do loboguará depende do consumo da lobeira na defesa contra o verme que ataca os rins e o mata Dentro da obra o termo representa muito para o Desembargador por lembrar de momentos da sua infância no sítio A escolha desse culturema revela uma semelhança com outra planta que desconhecíamos Ao longo da obra há quatro ocorrências 142 JURUBEBA Ele tinha adotado o hábito duas vezes por dia depois do café da manhã e antes de escurecer inspecionar dois arbustinhos plantados por ele mesmo desde as sementes pensando que eram jurubeba e que já estavam de quase um metro de altura um deles um tanto maiorzinho VEIGA 1999 p 19 Em Houaiss 2023 verbete datado de 1627 no âmbito da angiosperma designação comum a várias plantas do gênero Solanum da família das solanáceas geralmente com usos medicinais Arbusto pubescente da família das solanáceas de folhas polimorfas inteiras ou lobadas angulosas e sinuadas flores em panículas semelhantes a umbelas as raízes e frutos são amargos e usado contra a icterícia como desobstruentes e febrífugos Augusto dos Anjos em Eu 1912 utiliza o termo em um de seus poemas intitulado Tristezas de Um Quarto Minguante na seguinte estrofe Ah Minha ruina é peor do que a de Thebas Quizera ser numa ultima cobiça A fatia esponjosa de carniça Que os corvos comem sobre as jurubebas ANJOS 1912 p 126 A grande ocorrência nessa obra cerca de dez vezes demonstra a variedade da flora dentro da obra e apresenta plantas não tão conhecidas mas de cunho regionalista CHUCHU O JILÓ A ABOBRINHA O MANGARITO E O ALHO Choveu vários dias sem trégua obrigando as pessoas a ficarem mais tempo recolhidas em casa o que foi bom para a arrumação da cabeça de cada um por dentro e bom para o chuchu o jiló a abobrinha o mangarito e o alho e ainda para o rego que vinha jorrando pouco ultimamente VEIGA 1999 p 47 Datado em Houaiss 2023 de 1730 no âmbito da angiosperma tem como designação comum a algumas plantas do gênero Xanthosoma da família das aráceas cultivadas como ornamentais e especialmente pelos tubérculos e folhas comestíveis cocodenazaré mangará mangarámirim mangaraz taioba taiova Erva Xanthosoma sagittifolium nativa da América tropical de folhas sagitadas ovadas com cerca de 50 cm de comprimento e um pouco menores na largura e espata esverdeada maior que o espádice 143 matabala STP Erva X riedelianum nativa do Brasil de folhas sagitadas panduriformes com 15 cm de comprimento espata brancoesverdeada e espádice branco muito menor que a espata Na obra de João Salomé Queiroga Maricota e o Padre Chico Lenda do Rio S Francisco romance brasileiro 1871 o termo também aparece juntamente com algumas plantas da mesma família utilizadas para alimentação no seguinte trecho A segunda coberta consistia em doces de fructas do paiz excellente goiabada de calda e de massa burity de colher conserva de cagaiteiras e pitangas das quaes havia também transparentes geléas em copinhos de crystal o saborosíssimo doce de nata de leite para comerse com machaxeira inhames de dedos mangarito e batata doce assado tudo ao forno QUEIROGA 1871 p 5859 Esse termo encontrase dentro da obra como diversas outras plantas típicas do campo utilizadas para consumo Há somente uma ocorrência CHÁ DE LOSNA OU BARBATIMÃO Ela sabe tudo quanto é remédio e pode querer me sapecar um chá de losna ou barbatimão e aí sim é que vou mesmo passar mal de verdade VEIGA 1999 p 11 Datado em Houaiss 2023 do ano de 1749 no âmbito da angiosperma o termo seria a designação comum a plantas do gênero Stryphnodendron da família das leguminosas subfamília mimosóidea e do gênero Dimorphandra subfamília cesalpinioídea Árvore pequena Stryphnodendron adstringens de folhas bipenadas flores avermelhadas ou esbranquiçadas e fruto carnoso barbadetimão barbatimãoverdadeiro cascadavirgindade casca dobrasil charãozinhoroxo Ocorre nos campos e cerrados do Pará até São Paulo e Mato Grosso do Sul a madeira é útil e resistente à umidade extraise tanino do fruto e esp da casca que também fornece tinta vermelha e tem vários usos medicinais as sementes são tóxicas ao gado No romance O Sertanejo de José de Alencar o termo aparece lindamente descrito dentro da tradição sertaneja Havia á beira da varsea e já no taboleiro um alto e esgalhado barbatimão que 144 estendia rasteiras os grossos ramos encarquilhados formando uma sebe viva ALENCAR 1875 p 75 Dentro da obra o verbete aparece somente uma vez BOLO DE CARÁ Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre sabe quem é Aquela especialista em bolo de cará você gostou se lembra VEIGA 1999 p 16 No Houaiss 2023 datado de 1587 no âmbito da angiosperma a palavra seria uma designação comum a várias trepadeiras do gênero Dioscorea da família das discoreáceas a maioria com folhas cordiformes ovadas e acuminadas e frutos capsulares inúmeras nativas do Brasil algumas exóticas e cultivadas pelos tubérculos comestíveis Houaiss 2023 informa que este verbete vem do tupi kara no sentido de nome comum a plantas dioscoreáceas Aparece duas vezes na obra enfatizando seu uso para consumo BANCO DE GAMELEIRA Muito bem pensado disse Mirkiz tirando o chapéu e o embornal e pendurandoos na bicicleta já encostada no banco da gameleira VEIGA 1999 p 37 Em Houaiss 2023 no ano de 1669 dentro do âmbito da angiosperma o verbete tem designação comum a diversas árvores da família das moráceas especialmente do gênero Ficus com madeira geralmente usada para a confecção de gamelas e objetos domésticos nativa do Brasil MA de folhas coriáceas flores róseas em cimeiras e drupas piriformes Encontrase bem recorrente na obra O Sertanejo de José de Alencar sendo uma de suas quatro ocorrências a seguinte Depois 145 de algumas voltas iam sentarse à sombra de uma gameleira que ficava no principio da matta ALENCAR 1875 p 224 Ainda na literatura brasileira Joaquim Felício dos Santos em seu Acayaca romance indigena 1729 1894 recorre a este termo no seguinte contexto Ahi uma frondosa gameleira estendia ao longe suas pesadas ramagens o solo era plano e alcatifado de gramineas sempre virentes SANTOS 1729 p 69 No decorrer da obra há duas ocorrências É importante ressaltar a escolha desse culturema acerca de mostrar a cultura como essa planta se apresenta na natureza e sua utilização SAMAMBÁIAS CHORONAS ENORMES O delegado Pahl achou que a pausa era oportuna para cortar o recitativo da condessa e pediu licença para percorrer a casa desde a porta arrombada porta lateral que dava para um alpendre lajeado cheio de trepadeiras e plantas raras e duas samambaias choronas enormes que maravilharam Holmes que acompanhava a inspeção juntamente com José Carlos a convite do delegado VEIGA 1999 p 120 Segundo Houaiss 2023 no âmbito das pterodófitas seria o feto Polypodium subauriculatum da família das polipodiáceas com rizomas rampantes frondes de até 1 m oblongolanceoladas pêndulas e recurvadas nativo da Índia e Austrália e muito cultivado como ornamental também em outras regiões tropicais com vários híbridos samambaiademetro samambaiapaulista Somente uma ocorrência TIRIRICA Havia umas mandioqueiras e bananeiras dois ou três mamoeiros sem nenhum trato e muita tiririca VEIGA 1999 p 129 Segundo o dicionário Houaiss dos séculos XVIIXVIII no âmbito da angiosperma com designação comum a várias plantas de diferentes gêneros da família das ciperáceas muitas tidas como daninhas às plantações embora algumas sejam úteis especialmente como medicinais Planta de até 40 cm Cyperus rotundus com inflorescências umbeliformes de distribuição cosmopolita 146 considerada como uma das piores ervas daninhas usado como estimulante febrífuga diurética e adstringente e outrora em perfumaria junçaaromática pédegalinha tiriricacomum Na literatura brasileira Joaquim Felício dos Santos em seu Acayaca romance indigena 1729 1894 recorre a este termo no seguinte contexto Levantouse um tumulto extraordinário Os guerreiros iá corriam às armas quando viram sobre o tronco decepado da Acayaca o vulto feroz de Cururupeba brandindo a macana e agitando um facho de tiririca incendido em signal de que queria falar SANTOS 1729 p 30 Culturemas Relacionados à História edificulturemas taticulturemas personiculturemas mitoculturemas euroculturemas religiculturemas MACHADO DE ASSIS Finalmente puderam entrar no assunto do roubo A condessa fez uma recapitulação desde a chegada de Petrópolis Tomara um banho para tirar a poeira e aliviar o calor Pedira uma sopa de ervilha com torresmo e torradas lera umas páginas de Quincas Borba de Machado de Assis que escritor precisava ser traduzido pelos ingleses eles iam gostar lembra muito Sterne Tomara uma dose de sherry não passava sem ele e fora para a cama VEIGA 1999 p 119 Escritor brasileiro e autor do romance Quincas Borba estando associado ao Realismo brasileiro A busca da verdade é dos traços da escola e de sua obra Para os realistas a verdade pode ser alcançada por meio do recurso das ciências do Positivismo do Determinismo do Evolucionismo Quincas Borba não é o romance mais conhecido de Machado de Assis disputado por Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro mas tem a mesma relevância O escritor brasileiro Machado de Assis é citado no romance de JJ Veiga quando descreve a cena da chegada de José Carlos e do detetive Sherlock Holmes à casa da condessa de Wilson para investigarem o roubo das joias 147 LIMA BARRETO É um jornalista com quem cruzo vez ou outra Não sei onde mora não é pessoa de minhas relações Mas me consta que é funcionário do Ministério da Guerra O nome dele é Lima Barreto Afonso de Lima Barreto Escreveu qualquer coisa sobre o tal homem que fala javanês VEIGA 1999 p 123 Jornalista e escritor brasileiro pertencente ao Prémodernismo e Modernismo brasileiro publicou romances contos e crônicas principalmente em revistas populares O escritor Lima Barreto aparece na obra como um personagem que possivelmente poderá ajudar a solucionar o roubo das joias ao encontrar o homem que falava javanês Mas como encontrar esse homem se ele é um personagem ficcional da obra de Lima Barreto Culturemas Relacionados à Estrutura Social ocupaculturemas organiculturemas politiculturemas familiculturemas amiculturemas socioculturemas crediculturemas COMADRE DELZIRA Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre VEIGA 1999 p 17 Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do latim eclesiástico commāterātris no sentido de mulher que pelo batismo do neófito se tornava entre os cristãos como uma sua segunda mãe Datado do Houaiss do século XV referese à madrinha de uma pessoa em relação aos pais desta Por extensão de sentido da linguagem informal pode ser também mulher com quem se mantêm relações familiares de amizade ou de companhia tratamento que as pessoas do povo dão às mulheres conhecidas às vizinhas Na obra comadre Delzira é vizinha muito amiga de Dª Artemisa e o valor do culturema citado é de cunho afetivo de amizade Há somente duas ocorrências mas de grande valor cultural 148 FORO ÍNTIMO O desembargador não precisou pensar muito para responder naquela sua voz calma de quem está sempre ensinando que imagem de santo deve ficar no quarto sim porque religião é assunto de foro íntimo VEIGA 1999 p 8 A obra apresenta também a locução foro íntimo que o Houaiss 2023 do ano de 1105 define como julgamento segundo a própria consciência consciência Segundo o Houaiss 2023 com datação do ano 1105 no âmbito jurídico referese à extensão territorial onde determinado juízo exerce sua competência Não tenho mais nenhuma obrigação às segundasfeiras nem às terças nem às quartas Não preciso mais vestir uma camisa bempassada me engravatar calçar sapatos exagerados e sair com uma pasta estufada de papéis para o Foro Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim fórum no sentido de praça pública A pronúncia intercalase entre foroó ou foroô Como primeira definição o termo iniciado com letra maiúscula aparece somente uma vez Como locução o vocábulo aparece cinco vezes Culturemas Relacionados à Instituições Culturais criaculturemas articulturemas tabuculturemas educulturemas comuniculturemas PAISAGEM A ÓLEO DE OSWALDO TEIXEIRA Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa VEIGA 1999 p 12 Datado em Houaiss 2023 de 1567 no âmbito das belasartes com acepção de pintura em que o tema principal é a representação de formas naturais de lugares campestres Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do francês paysage no sentido de extensão de terra que a vista alcança 149 Ao longo da obra há um só registro ÚLTIMA CEIA DE LEONARDO DA VINCI Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa e por incrível uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido o espelho com moldura de metal dourado cheia de floreios tendo no alto do vidro em letras foscas imitando manuscrito a saudação BomDia VEIGA 1999 p 12 É um afresco de Leonardo da Vinci que representa a última refeição que de acordo com os cristãos Jesus dividiu com seus apóstolos em Jerusalém antes da crucificação Ela é a base escritural para a instituição da Eucaristia também conhecida como comunhão Ao longo da obra há apenas uma ocorrência CASA SUCENA DO RIO DE JANEIRO Como acontece com todas as novidades o Relógio da Arara também acabou no rol dos acessórios da casa mais um dos inúmeros itens que compunham o ambiente como a paisagem a óleo de Oswaldo Teixeira a cópia da Última Ceia de Leonardo da Vinci adquirida na Casa Sucena do Rio de Janeiro pelo pai de Dª Artemisa e por incrível uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido VEIGA 1999 p 12 150 Datado em Houaiss 2023 de 1221 o verbete casa com acepção de estabelecimento ou firma comercial loja Sucena não aparece no dicionário mas estabelecese relação com nome dado ao estabelecimento comercial localizado na cidade do Rio de Janeiro Nesse trecho ao apresentar o local onde ficava o Relógio da Arara também são apresentados outros objetos de arte e decoração da casa do casal Mariano e Artemisa dentre os objetos pertencentes ao casal é mencionado dois quadros de pintores famosos que foram comprados pelo pai de Artemisa numa loja de nome Sucena localizada no Rio de Janeiro MUSEU NINA ROGRIGUES Já o capitão Virgulino Ferreira mais conhecido pelo apelido de Lampião perdeu a vida por causa de um relógio Ele possuía um Roskoff de ouro do qual nunca se separava dizem que presenteado pelo Dr Floro Bartolomeu do Juazeiro Em escaramuça com a polícia da Paraíba em 1938 quando finalmente conseguiu se desvencilhar quis saber a hora E cadê o relógio Procura nos bolsos procura na patrona nada Muito triste com a perda mas precisando de um esconderijo seguro até a poeira assentar tocouse com o bando para o Oco dos Angicos em Sergipe Mas não se conformava com a perda do relógio e mandou dois homens refazerem um caminho até o ponto do embate com os paraibanos a ver se o achavam quem sabe não é Mas os homens foram percebidos por um contingente da polícia baiana que os pombeou até o esconderijo do bando Caiu em cima deles de surpresa e levou todos para o Museu Nina Rodrigues na Bahia mas só as cabeças A que pode levar o apego a um relógio VEIGA 1999 p 62 Em Houaiss 2023 o substantivo museu aparece com acepção de instituição dedicada a buscar conservar estudar e expor objetos de interesse duradouro ou de valor artístico histórico etc Nina Rodrigues é o nome do museu localizado em Salvador Bahia Esse trecho relata os motivos pelo qual os policiais baianos conseguiram decapitar os cangaceiros principalmente o capitão do grupo Lampião que em busca de seu relógio perde a vida As cabeças dos cangaceiros ficaram exposta ao público por trinta anos 151 no museu Nina Rodrigues em Salvador BA ou seja do período da decapitação até 1968 A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA uma reprodução do quadro A Persistência da Memória do surrealista Salvador Dalí representando relógios como se fossem de cera mole um pendurado pelo meio como peça de roupa em um galho seco caindo metade para cada lado outro na quina de um cepo ficando parte na horizontal e parte na vertical outro equilibrado no lombo de um animal indefinido VEIGA 1999 p 12 A persistência da memória no texto de Veiga é referência a obra de Salvador Dalí datada de de 1931 A representação desse quadro no texto literário revela uma alegoria ao gosto por relógios simbolizando a noção de temporalidade tempo real e tempo do inconsciente e de memória temas recorrentes na obra O Relógio Belisário PALÁCIO DE BAGDÁ Exemplo histórico disso é Harum alRashid o quinto califa abácida da Arábia Apesar de amante e protetor das ciências e das artes era sujeito a acessos de ira destrutiva contra pessoas animais e coisas Mas depois que recebeu do imperador Carlos Magno o presente de um pônei da Terra Nova com o qual passou a conviver em seu palácio de Bagdá e nas tendas quando em campanha experimentou um processo de abrandamento a ponto de parecer outra pessoa segundo depoimento de Abu Nuwas poeta e companheiro de farras do califa Passou a se interessar pelos problemas de seus serviçais mesmo os mais humildes a protegêlos contra os graduados que eram aconselhados a ser brandos na aplicação de castigos necessários A ira antiga só funcionava contra quem não tratasse o pônei com a deferência devida VEIGA 1999 p 15 No âmbito da arquitetura com acepção de vasta e suntuosa residência de um monarca de um alto dignitário do poder eclesiástico de um chefe de estado etc 152 Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim Palatìumìi Palatino colina de Roma onde ficava a moradia imperial nesse contexto moradia do quinto califa abácida da Arábia GUERRA NAS ESTRELAS Doutrinando a si mesma aos poucos Dª Artemisa resolveu não se fechar ao relógio por enquanto Podia até ser divertido se ela também conseguisse ver as cenas que ele mostrava a Bel desde que não fossem assustadoras se é que havia mesmo alguma coisa a ver porque podia ser tudo invenção criança inventa muito antigamente elas eram mais moderadas essa nova mania deve ser consequência do hábito de ver televisão aquelas coisas de robô de guerra nas estrelas Mas peraí Dolores e Simão criticavam muito a televisão diziam que ela mata nas crianças a capacidade de inventar dá tudo mastigadinho vaise saber quem tem razão VEIGA 1999 p 63 A expressão que não aparece em Houaiss 2023 referese a uma franquia do tipo operação no espaço criada pelo cineasta George Lucas e que conta com uma série de oitos filmes de fantasia científica O primeiro foi lançado em 1977 apenas com o título de Star Wars e tornouse um fenômeno mundial de cultura popular Segundo MASTROCOLA 2015 Guerra nas Estrelas é uma narrativa que se desdobra em múltiplas plataformas midiáticas como internet livros videogames quadrinhos televisão e cinema A expressão aparece na obra quando Dª Artemisa pensa sobre as visões que Belisário ao tocar do relógio presencia questionando se as visões podem ser fruto da imaginação do menino por influência do hábito de assistir televisão SHERLOCK HOMES No primeiro jantar a bordo José Carlos teve uma surpresa agradável Convidado com ele para a mesa do comandante estava também uma personalidade famosa Mr Sherlock Tweedsmuir Holmes cujo trabalho de detetive fora divulgado no mundo inteiro por seu amigo Arthur Conan Doyle Até então José Carlos pensava como aliás quase todo mundo que Sherlock Holmes fosse 153 personagem ficcional de Sin Arthur Não seria aquilo uma brincadeira do comandante para estabelecer um clima de descontração durante a viagem Vou fazer de conta que acredito Afinal estou em vilegiatura como gosta de dizer o conselheiro Rui Barbosa VEIGA 1999 p 74 Famoso detetive personagem fictício gerado pela mente do médico e escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle Ele nasceu no interior da trama do livro Um Estudo em Vermelho lançado de forma inédita pela revista Beetons Christmas Annual 1887 Obsessivo na hora de decifrar um mistério Sherlock ganhou fama ao se valer da metodologia científica e da lógica dedutiva Sherlock Holmes em viagem sigilosa ao Brasil conhece José Carlos o primeiro dono do Relógio da Arara e este convidao para hospedarse em sua casa no Rio de Janeiro e também a ajudar nas investigações do roubo das joias da condessa Relevando a forma como o autor transita do ficcional para o real o personagem utilizado como culturema aparece nove vezes dentro da obra ALMA PENADA Exatamente Ele andou de ceca a meca por muito tempo como alma penada até que encontrou o seu lugar Resta saber até quando VEIGA 1999 p 13 Datado do século XIII Houaiss 2023 registra no âmbito da religião com acepção em parte imaterial do homem dotada de existência individual e que subsiste após a morte do corpo No uso informal a expressão é usada para se referir a espírito desencarnado fantasma O trecho referese ao relógio da Arara que por ser muito antigo passou por diversos lugares até pertencer à família do desembargador Mariano Em sua obra O caminho para a distância 1933 Vinicius de Moraes faz uso também do termo hifenizado em um de seus poemas intitulado Judeuerrante assim presente nos versos a seguir Sem me importar com a noite que vem vindo Como uma pavorosa almapenada MORAES 1933 p 137 154 ESCUTAR UM CORO DOS ANJOS Enquanto o desembargador olhava para o menino para ver a reação dele ficou como que congelado A estranheza do adulto e a atitude do menino chamaram a atenção de Simão que ficou olhando os dois sem nada entender Belisário estava imóvel o braço direito esticado em direção às plantas a boca entreaberta como para falar mas os olhos muito ativos acompanhando alguma coisa que acontecia à frente dele Não demorou muito Simão também entrou naquela espécie de transe ficou parado como estátua mas os olhos seguindo qualquer coisa que aparentemente só ele e o menino viam Parece que vocês viajaram para longe e me deixaram sozinho aqui disse o desembargador Viram passarinho verde Ou escutaram um coro de anjos VEIGA 1999 p 32 A reação de Simão ao ouvir o carrilhonar do relógio foi semelhante a do menino Belisário ao ouvir seu toque Assim nesse trecho os dois se encontravam como mensageiros do relógio vendo as cenas que este transmitia MÉDIUM DO RELÓGIO Mirkiz pensou coçando o queixo Grande maçada disse Se ele tem medo pode dificultar as coisas Precisamos primeiro achar um jeito de exorcizar o medo Vamos convencer o menino de que ele é um médium do relógio mas vamos dizer médico e que ser médico de relógio é uma qualidade rara existem pouquíssimos no mundo e que ele tem mais é que aceitar em vez de ficar apavorado Se ele escutar o relógio e abrir os olhos ao que ele está querendo mostrar vai ver e saber coisas do arcodavelha Vai ser uma pessoa invejada Não não Melhor não dizer essa última parte a ele pode não ser bom Vamos insistir só nos aspectos positivos VEIGA 1999 p 69 Datado em Houaiss 2023 de 1881 segundo o Espiritismo pessoa detentora de dons que supostamente lhe permitem conhecer coisas dados ocorrências por meios sobrenaturais Expressão idiomática utilizada quando algo de improvável acontece com características positivas As palavras coro que tem sentido de conjunto de sons manifestados por várias vozes que vibram em harmonia e anjos segundo o Cristianismo ser 155 puramente espiritual servidor de Deus e mensageiro entre Ele e os homens dão um aspecto religioso ao fraseologismo Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do latim medius a um que está no meio intermediário pelo inglês medium intermediário pessoa que intermedeia a comunicação com os espíritos Ao longo da obra existem apenas dois registros CIGANOS DE HOJE Disse que as civilizações indianas e chinesa codificaram importantes conhecimentos sobre propriedades curativas de plantas e que os ciganos de hoje guardam muito desse conhecimento VEIGA 1999 p 48 Datado em Houaiss 2023 de 1521 no âmbito da religião com acepção relativa a indivíduo dos ciganos povo itinerante que imigrou do Norte da Índia para o oeste antiga Pérsia Egito de onde se espalhou pelos países do Ocidente caracterizado pelo nomadismo Houaiss 2023 nos informa que o verbete vem do francês cigain atual tsigane ou tzigane do grego bizantino athígganos intocável nome de um grupo de heréticos da Ásia Menor que evitava o contato com estranhos a que os ciganos foram comparados O verbete aparece na obra quando Sr Rufus sentado à mesa para o almoço comenta com a família do desembargador Mariano sobre seu interesse em relação às propriedades medicinais das plantas referindose ao povo cigano como detentores de conhecimentos medicinais DE GERAÇÃO A GERAÇÃO O resto do almoço foi pouco conversado Mesmo assim especulado vez ou outra o Sr Mirkiz falou de suas viagens do seu interesse por ervas como aprendera sobre as propriedades de várias espécies delas a reconhecêlas e a preparálas Falou do perigo de envenenamento no caso de se confundir erva benéfica com erva daninha já que o próprio gado ás vezes se engana Informou que a terapia por ervas é conhecimento muito antigo precede a medicina mas infelizmente se perdeu nas culturas ditas civilizadas Mesmo 156 assim alguma coisa ficou e é passada de geração a geração entre as pessoas das classes pobres que não têm acesso á medicina acadêmica VEIGA 1999 p 47 Em Houaiss 2023 atribuise a acepção conjunto de pessoas que descendem de alguém em cada um dos graus de filiação descendência Expressão que aparece em vários livros bíblicos com sentido que o conhecimento a respeito de Deus deve ser transmitido de pais para filhos ou seja para os descendentes EZEQUIEL Lembrou que a fitoterapia já era referida por Ezequiel com as palavras E sobre a torrente nascerão árvores frutíferas e os seus frutos servirão de sustento e as folhas de medicina Disse que as civilizações indianas e chinesa codificaram importantes conhecimentos sobre propriedades curativas de plantas e que os ciganos de hoje guardam muito desse conhecimento VEIGA 1999 p 47 A expressão aparece na Bíblia como um profeta autor do livro Ezequiel Ele é um contemporâneo de dois outros profetas Jeremias e Daniel De acordo com o Cristianismo Ezequiel foi um sacerdote que profetizou por 22 anos durante o século VI aC através de visões que teve durante o exílio na Babilônia A expressão aparece na fala de Rufus Mirkzis para referirse ao livro de Ezequiel citando a passagem bíblica para fundamentar seus conhecimentos e interesses fitoterápicos CASTIGO DE BABEL A festa começava a murchar muitos convidados já se retiravam e lá embaixo os cocheiros faziam o maior alarido Holmes deixou a janela e foi ao salão principal onde o apresentaram a mais duas ou três figuras importantes que não falavam inglês Aceitou outro uísque e soda fazer mais o quê que tomou sozinho com as pessoas o olhando à distância o que não o desagradou porque nada é mais penoso do que se ficar lado a lado com alguém com quem não se pode conversar por falta de um código linguístico comum O 157 castigo de Babel foi rigoroso demais coisa mesmo da Bíblia VEIGA1999 p 113 Houaiss 2023 registra o verbete com acepção de confusão mistura de línguas A expressão usada por Sherlock Holmes faz referência à torre de Babel mencionada no livro do Gênesis da Bíblia que teria sido construída pelos descendentes de Noé após o dilúvio Segundo os relatos bíblicos Deus desce para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam e vendo o que faziam resolveu confundir lhes as línguas para impedir que prosseguissem com sua empreitada Por isso se chamou o seu nome Babel porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra Gênesis 119 SÓ DEUS SABE Mas quem Quem mais teria a desenvoltura necessária sabe vestir um fraque sem ficar parecendo barata em pé fala inglês e francês sem gaguejar sabe comer em banquete sem se atrapalhar com os talheres tem sangue frio para ouvir palavras duras e não se ofender Só Deus sabe o que um negociador brasileiro de empréstimo ouve em Lombard Street VEIGA 1999 p 78 Nesta expressão Deus aparece em Aulete digital com a seguinte acepção O ser supremo que é perfeito criador de todas as coisas ente infinito e existente por si mesmo a causa necessária e fim de tudo que existe O termo sabe aparece com acepção ter conhecimento informação ou notícia de ou sobre algo A expressão tem sentido de exprimir dúvida desconhecer informação e sua origem deuse por meio dos cristãos que acreditam ser Deus o criador e conhecedor de todas as coisas Nesse trecho José Carlos durante a viagem de volta ao Brasil e em jantar com o comandante do navio e alguns convidados presencia na mesa comentários políticos e jogos diplomáticos relacionados os britânicos e franceses que segundo o próprio personagem em nada lhe interessavam e usou a expressão para colocar dúvida ou demonstrar repúdio ao que ouvia 158 DEUS ME LIVRE Mas foi assim disse o menino Um dia achei na rua foi lá no Campo Lindo antes do Corumbá Achei uma nota de cinco Fui comprar picolé com ela a moça não aceitou Fui comprar um sanduíche bauru o moço não aceitou a nota Ninguém queria aceitar a nota porque faltava um canto nela diziam que não valia mais Aí fiquei com raiva rasguei em pedacinho e ainda pisei em cima Agora cocô isso eu nunca comi Deus me livre VEIGA 1999 p 56 Em Houaiss 2023 temos a expressão regionalista característica dos moradores do Rio de Janeiro com acepção lugar ermo e afastado de difícil acesso Em O Relógio Belisário a expressão aparece com sentido religioso pedido a Deus para livrar do mal de coisas ruins Somente uma ocorrência TELEGRAMAS PARA PARIS Mais ou menos informado sobre o diaadia do mundo José Carlos expediu alguns telegramas para Paris Londres e Rio de Janeiro e deitouse para descansar um pouco antes do chá das quatro que os ingleses teimam em chamar de chá das cinco Mas o leve balanço do navio no porto o adormeceu e ele perdeu o chá VEIGA 1999 p 76 Em Houaiss 2023 o termo aparece datado em 1874 no âmbito dos meios de comunicação com acepção de comunicação transmitida ou recebida via telégrafo Houaiss 2023 no informa que o verbete vem do inglês telegram mensagem transmitida por telégrafo prov pelo fr télégramme id Ao longo da obra há dois registros do termo 159 Culturemas relacionados ao Universo Social habiculturemas geoculturemas portaculturemas edificulturemas antropoculturemas gargaculturemas formaculturemas costumiculturemas RELÓGIO PARA O BRASIL A história que nos interessa começa com a vinda do relógio para o Brasil VEIGA 1999 p 72 A título de curiosidade o termo é datado no Houaiss 2023 do ano de 1534 relativo ao Brasil ou o que é seu natural ou habitante especialmente o indígena brasileiro O termo aparece na obra para explicar a origem e viagem do relógio mostrando como o mesmo percorreu vários países inclusive o Brasil Houaiss 2023 apresenta o verbete no sentido de paubrasil substantivo natural do Brasil Ao longo da obra há sete ocorrências CORUMBÁ Aí eu não sei não Quando me lembro eu estava no Corumbá na casa do professor Ramir VEIGA 1999 p 52 Em Houaiss 2023 datado de 1914 o termo referese a localidade geralmente deserta e distante de qualquer povoado Houaiss 2023 traz a origem da palavra ligada ao topônimo Corumbá MS localidade distante o nome do topônimo seria o tupi kurumba no sentido de banco de cascalho Nasc confirma o tupi kuru no sentido de seixo e diz faltar explicação para mba A escolha do vocábulo é pelo fato de ser a cidade em que Belisário morava que passou por alguns problemas por conta do relógio e acabou fugindo Há três ocorrências dentro da obra CARROÇA GRANDE Ih tanta Vi uma carroça grande tombando e pegando fogo Os dois cavalo acho que era dois caindo e esperneando de barriga 160 pra cima querendo se soltar das correias Vi umas bolas de fogo saindo do pé de umas árvores lá longe e vindo voando pra cá Vi VEIGA 1999 p 33 Segundo Houaiss 2023 do ano de 1721 o termo referese ao carro grosseiro quase sempre feito de madeira geralmente puxado por animais usado para transporte de carga Houaiss 2023 mostra o verbete de origem italiana carrozza 1575 viatura para pessoas com quatro rodas puxada por um ou mais cavalos derivado do latim medieval de Roma 1363 carrotĭa carrus ou carrumi É muito interessante a história em torno do culturema em questão pois tem origem há muitos anos atrás mas para o meio rural é como se o veículo fosse criado exclusivamente por agricultores Aparece três vezes dentro da obra Na Literatura Brasileira encontramos o culturema presente em diversas obras do contexto rural entre elas O Cortiço 1890 de Aluísio Azevedo na seguinte descrição À comida arranjavalha mediante quatrocentos réis por dia uma quitandeira sua vizinha a Bertoleza crioula trintona escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada cora um portuguez que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade AZEVEDO 1890 pag 8 Há três ocorrências dentro da obra enfatizando a atualização de um transporte antigo para o meio rural de hoje CALDEIRÕES NA COZINHA As panelas os tachos e os caldeirões na cozinha também deviam estar repercutindo o tumulto repentino e inexplicável VEIGA 1999 p 01 De acordo com o Houaiss 2023 no ano de 946 a palavra dizse do compartimento de uma residência geralmente afastado da parte social dessa equipado com objetos próprios para preparação de alimentos recinto mais ou menos afastado da parte social de um restaurante bar navio avião etc onde são preparados alimentos A escolha desse culturema deuse pela importância que esse local tem para a obra culturalmente tendo quatorze ocorrências ao longo do texto e ambiente muito propício para alimentação Segundo Houaiss 2023 o verbete tem origem latina coquīna oucocīnaae no sentido de a arte de cozinhar 161 MENINO BELISÁRIO Mas havia uma pessoa na área do tumulto que não estava só assustada estava fascinada também Era o menino Belisário às vezes Bel às vezes Béu que tinha a sua cama no porão bem embaixo da sala de jantar de três amplas janelas que se abriam para a planície em volta da casa e para os morros distantes De sua cama no porão Belisário via tudo como num cinema com medo de ver mas olhando VEIGA 1999 p 6 Datado em Houaiss 2023 de 1817 1819 o termo é registrado com acepção que tem má sorte malfadado infeliz Etimologia Segundo Houaiss o antropônimo Belisário está associado ao general de Justiniano 527565 o qual após brilhantes vitórias foi destituído de seu cargo e cego pedia esmolas pelas ruas O trecho acima narra o momento inicial de abertura do romance O menino Belisário em seu dormitório escuta barulho de cavalos e das panelas caindo fica assustado e ao mesmo tempo fascinado Era uma visão Curiosamente no âmbito da literatura Bernardo Élis em O Tronco 1988 registra o nome de um dos seus personagens como Belisário NA SUA FALA arrastada de maranhense Belisário dizia Eu cá num vou Num vou nessas tropelias do coronel Estou aqui para cuidar de gado e não para fazer arrelias Se eu gostasse de cangaço estava mais os jagunços de Pernambuco Oxém apois num vê home de Deus Belisário conversava no rancho de palha perdido no oco do mundo Seu interlocutor era também vaqueiro de Pedro Melo o Casemiro encarregado daquele sítio ÉLIS 1988 1956 p 43 Há sessenta e um registros do termo ao longo da obra Dª ARTEMISA Ouvindo todas as recomendações Dª Artemisa perguntou ao marido por que sendo assim ele não instalava o relógio na cômoda do quarto deles ao lado da redoma de Nossa Senhora da Conceição VEIGA 1999 p 8 Datado em Houaiss 2023 do século XV o substantivo aparece com a variação artemísia no âmbito das angiospermas o termo designa conjunto de arbustos e ervas do gênero Artemisia da família 162 das compostas com cerca de 350 ssp aromáticas e com capítulos pequenos nativas de regiões temperadas do hemisfério norte também do Oeste da América do Sul e do Sul da África geralmente em áreas secas algumas cultivadas para tempero culinário como o estragão para infusões estimulantes como absinto medicinais ou apenas tomadas como chá O trecho acima referese ao momento em que o desembargador Mariano procura um local da casa para colocar o Relógio da Arara e Dª Artemisa sugere que coloque na cômoda do quarto deles mas Mariano prefere colocálo no ambiente onde há as pinturas adquiridas pelo pai dela No âmbito da literatura Susan Vreeland em A Paixão de Artemísia 2010 traça um particular retrato através do tempo neste caso da pintora pósrenascentista Artemísia Gentileschi e sua obraprima Judith Em uma época em que as mulheres não eram facilmente aceitas na comunidade artística ou por patronos ela foi a primeira a se tornar membro da Academia de Belas Artes de Florença Ao longo da obra há quarenta e três registros do termo DOLORES Você sabe que nem Dolores nem Simão são adeptos da vida rural e precisam abrir o caminho deles na vida VEIGA 1999 p 14 Em Houaiss do século XIV apresenta o termo dolor com referência a dor O antropônimo tem origem no espanhol dolores que quer dizer literalmente dores Surgiu a partir do título espanhol de Maria das Dores dado à Virgem Maria originalmente chamada de María de los Dolores Inicialmente este nome era dado às meninas que nasciam no dia da festa das Sete Dores de Maria É utilizado nos países de língua inglesa desde o século XIX e foi muito popular nos Estados Unidos entre os anos de 1920 e 1930 Dolores é filha de Dona Artemisa sendo uma jovem que mora na cidade e não é muito praticante da vida ao ar livre Devido ao grande número de ocorrências e à religiosidade presente no vocábulo o nome foi escolhido para designação Há cinquenta ocorrências ao longo da obra 163 ESCOLÁSTICA Provei na egreja e gostei Todo mundo gostou menos Dª Escolástica Não podia gostar mesmo porque a receita é de Dª Judite com quem Escolástica tem pinimba Pode beber Tem um apertinho gostoso VEIGA 1999 p 35 No Houaiss 2023 datado de 1802 no âmbito da filosofia e teologia o antropônimo referese a um pensamento cristão da Idade Média baseado na tentativa de conciliação entre um ideal de racionalidade corporificado especialmente na tradição grega do plantonismo e aristotelismo e a experiência de contato direto com a verdade revelada tal como a concebe a fé cristã O Houaiss 2023 nos informa que provavelmente este substantivo feminino vem de escolástico sc filosofia o vocábulo registrase no latim scholastĭca mas no sentido de declamação JM supõe um gr skholastikḗ de skolastikósḗón no sentido de que tem descansos ócios desocupado que consagra os momentos livres aos estudos ou à escola estudioso relativo ao estudo ou à escola próprio da escola Lima Barreto também se utiliza do termo para nomear um personagem a Tia Escolástica presente na obra Vida e morte de M J Gonzaga de Sá 1919 Machado minha tia Escolastica apresentoume Gonzaga de Sá Que linda figura de velha era a delia Muito clara com uns olhinhos verdes e um meúdo perfil de creança BARRETO 1919 p 86 Registramos duas ocorrências na obra BIBLIÓFILO COLECIONADOR E PUBLICISTA JOSÉ CARLOS ROCHE Ele foi adquirido no inverno europeu de 1905 no antiquário Jean Baptiste Diette estabelecido no número sete da rue Sainte Anastase em Paris pelo bibliófilo colecionador e publicista José Carlos Roche VEIGA 1999 p 72 O antropônimo teria como significado homem do povo a quem Deus multiplica ou Deus acrescenta ao guerreiro Etimologicamente José vem do hebraico Yosef nome bastante utilizado entre os judeus na Idade média ganhando força em Espanha e Itália pela veneração a São José Carlos seria de origem 164 germânica vindo do nome Karl Outras pessoas também designavam a origem de Hari que se traduzia como exército ou guerreiro Antropônimo expressivo dentro da obra com cento e treze ocorrências e que mostra narrativas acerca do primeiro dono do relógio DESEMBARGADOR MARIANO E porque estava o menino assustado se ele sabia muito bem que no sítio do desembargador Mariano onde ele vivia não tinha cavalo nem tanta gente para correr de um lado para outro nem arma de fogo a não ser a espingarda velha e as garruchas também velhas que enfeitavam uma parede da sala E muito menos tinha crianças para ficarem berrando como coitadinhas atrás das mães que também não estavam lá É curioso entender mas aconteceu e não foi essa a primeira vez VEIGA 1999 p 6 Datado em Houaiss 2023 de 1789 a noção de Mariano com acepção frade da Ordem dos Marianos fundada com o fim de disseminar e ampliar o culto da Imaculada Conceição Aqui residiria a motivação para a escolha léxicoestilístico do personagem No âmbito da literatura Guimarães Rosa 2013 na obra Estas Estórias apresenta um conto intitulado Entremeio com o vaqueiro Mariano Em julho na Nhecolândia Pantanal de Mato Grosso encontrei um vaqueiro que reunia em si em qualidade e cor quase tudo o que a literatura empresta esparso aos vaqueiros principais Típico e não um herói nenhum Era tão de carneeosso que nele não poderia empessoarse o cediço e fácil da pequena lenda Apenas um profissional esportista um técnico amoroso de sua oficina Mas denso presente almado bomcondutor de sentimentos crepitante de calor humano governador de si mesmo e inteligente Essa pessoa este homem é o vaqueiro José Mariano da Silva meu amigo ROSA 2013 1956 p 60 Ao longo da obra há vinte e cinco registros do termo Dª MAURA Valia a pena levantar de noite de vez em quando para olhar o céu e aprender coisas mas por hoje já chegava amanhã cedo ele 165 precisava estar em pé para ajudar Dª Maura a pôr a cozinha em andamento e se desobrigar de outros trabalhos VEIGA 1999 p 8 Há trinta ocorrências dentro da obra ilustrando a responsável pelas comidas do sítio SIMÃO Estou pensando no longo prazo espero Não somos eternos e ainda bem Você sabe que nem Simão nem Dolores são adeptos da vida rural e precisam abrir o caminho deles na vida VEIGA 1999 p 14 No âmbito da literatura aparece no mais antigo e famoso livro de todos os tempos a Bíblia Pelo menos 9 personagens bíblicos são mencionados no Novo Testamento pelo nome de Simão Porém o apóstolo Pedro certamente é o personagem mais conhecido com esse nome Comparado aos outros é de Simão que se tem mais informações na Bíblia E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a pregar e para que tivessem o poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios A Simão a quem pôs o nome de Pedro Marcos 31416 O apóstolo Pedro foi um dos primeiros discípulos escolhidos por Jesus e era irmão do apóstolo André um pescador de profissão assim como ele João 1 40 Simão era um nome comum nos tempos do Novo Testamento Por esse motivo muitos homens na Bíblia são chamados de Simão É amplamente aceito que esse nome é uma variante de Simeão um nome que aparece no Antigo Testamento e que transmite um significado relacionado a ouvir no hebraico Ao longo da obra há setenta e dois registros do termo FICAR ENCABULADO Mas era um motivo tão inocente que se lhe perguntassem ele provavelmente ficaria encabulado VEIGA 1999 p 20 De acordo com o Houaiss 2023 do século XX diz ser aquele que é ou está acanhado envergonhado constrangido Houaiss 2023 apresenta o verbete com origem duvidosa proveniente de en cabular no Brasil cábula adquiriu o 166 significado de má sorte infelicidade constante que pode ter sido a ponte para a criação do verbo encabular e seus derivados Nei Lopes por sua vez sugere estar relacionado com o quimbundo kulebule no sentido de envergonhar Quem geralmente aparece encabulado é o menino Belisário Há três ocorrências ao longo da obra Culturemas relacionados Identidade Linguocultural verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas VIRAM PASSARINHO VERDE Parece que vocês viajaram para longe e me deixaram sozinho aqui disse o desembargador Viram passarinho verde Ou escutaram um coro de anjos VEIGA 1999 p 32 Essa expressão idiomática significa estar alegre satisfeito ou demonstrar satisfação sem motivo aparente A expressão aparece apenas uma vez ACERTO NA MOSCA O mecanismo deve ser obra de famoso relojoeiro do Luxemburgo cujo nome não me ocorre Acerto na mosca disse o desembargador VEIGA 1999 p 38 É uma expressão tipicamente brasileira e significa acertar em cheio ou adivinhar e acertar alguma coisa na primeira tentativa A expressão surge na obra no momento em que Mirkiz chega no sítio e fica impressionado com o relógio na sala e já vai fazendo especulações a respeito da origem do mesmo Ao longo da obra há uma ocorrência SOLTAR A LÍNGUA Fosse o que Deus quisesse Quem mandou soltar a língua VEIGA 1999 p 55 Em Portugal a expressão significa fazer com que alguém fale conte segredos Na obra a expressão surge no momento em que 167 dona Artemisa e Mariano especulam a vida de Belisário antes de ele ir morar no sítio Há uma ocorrência ao longo da obra VOU NUM PÉ E VOLTO NOUTRO Pra que isso agora doutor Com um calorão desse Vou num pé e volto noutro Já tou indo Com um salto deixou a varanda e saiu correndo Os soldados o agarraram VEIGA 1999 p 133 Em Aulete digital registrase como ir num pé e voltar no outro com o sentido de ser muito rápido e demorar pouco tempo para ir a algum lugar e voltar fazer algo executar tarefa A expressão aparece em Houaiss 2023 com a variação um pé lá e outro cá que não altera o sentido fraseológico o mais rapidamente possível Nesse trecho aparece a fala do ladrão das joias que ao ser interrogado pelo delegado diz ter deixado o punhal que tinha pegado para vender na casa de um conhecido e que vai buscálo o mais rapidamente possível Culturemas Relacionados à Cultura Material alculturemas indumentoculturemas cosmoculturemas liciculturemas mobiculturemas tecnoculturemas moedoculturemas mediculturemas RELÓGIO COMPRADO EM UM LEILÃO Isso aconteceu no ano passado quando o desembargador chegou radiante com o relógio comprado em um leilão reuniu a família para ver a preciosidade e ouvir as explicações e chamou também os empregados para serem informados dos cuidados que deviam ter VEIGA 1999 p 8 A título de curiosidade o termo é datado de 1416 e segundo o Houaiss 2023 consta como maquinismo ou parelho que serve para marcar o tempo e indicar as horas Segundo o Houaiss 2023 o verbete teria origem no latim horologĭumĭie do grego hōrológionou no sentido de quadrante solar em que se lia a hora relógio É o termo que revela extrema 168 carga de importância dentro da obra uma vez que rege o título e traz um objeto como dono de cena sendo digno de contar suas histórias aos personagens e ao leitor Em Alice no país das maravilhas de Charles Lutwidge Dodgson podemos encontrar o relógio como companheiro do coelho personagem que vive atrasado apesar de ter um marcador de horas sempre por perto Demonstrando essa grande importância o verbete aparece duzentas e quinze vezes dentro da obra DUAS ESCARRADEIRAS DE LATÃO e as duas escarradeiras de latão que ficavam de cada lado do sofá não para serem utilizadas mas para efeito decorativo esquecidas ou deixadas pelos donos antigos da casa VEIGA 1999 p 12 Houaiss 2023 datado de 1873 apresenta o termo escarradeira como recipiente em que se escarra escarrador cuspideira O Houaiss do século XIII explica que latão no âmbito dos metais é a liga de cobre e zinco em proporções variáveis e por vezes contendo outros metais usada para fabricar objetos de uso doméstico bacia tacho etc e artefatos em geral instrumento musical corda de piano etc A escarradeiras foram intensamente utilizadas no século XIX considerandose de bomtom o hábito de se expelir secreções em público Fabricadas em porcelana faiança fina vidro ou metais nobres eram utilizadas nos espaços sociais das unidades domésticas basicamente na sala e no gabinete de fumantes e eram deixadas à disposição das visitas no chão em geral aos pares ladeando os sofás Era um equipamento habitual nas residências de médio e alto poder aquisitivo A etimologia da palavra vem do próprio radical Augusto dos Anjos também faz uso do termo em sua obra Eu presente no poema Doentes da seguinte forma Com a bocca junto de uma escarradeira Pintando o chão de coágulos sanguíneos ANJOS 1912 pag 53 Só há uma ocorrência dentro da obra 169 ESPINGARDA VELHA E porque estava o menino assustado se ele sabia muito bem que no sítio do desembargador Mariano onde ele vivia não tinha cavalo nem tanta gente para correr de um lado para outro nem arma de fogo a não ser a espingarda velha e as garruchas também velhas que enfeitavam uma parede da sala VEIGA 1999 p 6 Houaiss do século XV apresenta o termo no âmbito dos armamentos como arma de fogo portátil e de cano comprido Houaiss 2023 apresenta a palavra de origem do francês antigo espringarde espringale séc XIIIXV máquina de guerra montada geralmente em uma carroça para lançar chumbos ou pedras do antigo verbo espringuier derivado do frâncico springan no sentido de saltar o vocábulo penetrou no português pelo italiano spingarda c13201340 no sentido definido de mesma origem Há duas ocorrências na obra ESTERCO Quando caminhavam para o lugar delas perto do rego encontraram Belisário carregando esterco para a horta em um carrinho de caixote feito por ele VEIGA 1999 p 30 Em Houaiss do século XIV o termo aparece definido como excremento de animal Matéria orgânica de origem vegetal misturada à terra para tornála mais fértil adubo Tem origem no latim vulgar É um elemento bastante regional da cultura agrícola e que aparece quatro vezes dentro da obra DEPOIS DO CAFÉ Muito cuidadoso com tudo e metódico todas as manhãs depois do café e antes de um passeio pelas imediações o desembargador o desempoeirava com o espanador e os pincéis VEIGA 1999 p 10 Segundo Houaiss 2023 no ano de 1622 no âmbito da angiosperma o termo seria o fruto do cafeeiro Coffea arabica considerado individual ou coletivamente Produto resultante da secagem torrefação e moagem ou socadura desses grãos e de cuja 170 infusão decocção ou percolação se obtém o café no sentido de bebida pó de café Em Houaiss 2023 a palavra tem origem árabe qahwa no sentido de vinho nome também aplicado ao café pelo turco qahvé no sentido de café pelo italiano caffè 1615 e mais tarde pelo francês café 1665 e daí às demais línguas europeias no séc XVII O termo foi escolhido pela sua relevância quanto à ocorrência dezoito no total e por ser um fruto tipicamente rural Outras obras fazem uso desse fruto para ilustrar a vida no campo e o ganho com o seu cultivo entre elas está O Cortiço de Aluísio Azevedo como ilustra o trecho a seguir Mourejava a valer mas de cara alegre ás quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias aviando o café para os freguizes e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda AZEVEDO 1890 p 11 Aparece em diversos momentos da obra sempre em sinal de reunir as pessoas ou receber bem alguma visita VESTIR UM FRAQUE Mas quem Quem mais teria a desenvoltura necessária sabe vestir um fraque sem ficar parecendo barata em pé fala inglês e francês sem gaguejar sabe comer em banquete sem se atrapalhar com os talheres tem sangue frio para ouvir palavras duras e não se ofender VEIGA 1999 p 78 Datado do Houaiss 2023 de 1791 o verbete significa traje masculino usado em certas cerimônias casamentos cujo casaco é ajustado ao corpo e arrematado atrás com longas abas Houaiss 2023 nos informa que esta palavra tem origem no francês fracionário 1767 traje masculino cujo paletó é curto na frente e comprido atrás este do inglês frock séc XIV vestimenta externa usada por monges e freiras o a surgindo por má interpretação do o muito aberto do inglês Há somente duas ocorrências na obra mas revelam um tipo de vestimenta bastante utilizada naquela época em que se passa a obra 171 PORÃO Eis os contextos e a velha espingarda em desuso ladeada por duas garruchas velhíssimas armas essas encontradas no porão pelo desembargador quando tomou posse do sítio VEIGA 1999 p 13 Era o menino Belisário às vezes Bel às vezes Béu que tinha a sua cama no porão bem embaixo da sala de jantar de três amplas janelas que se abriam para a planície em volta da casa e para os morros distantes VEIGA 1999 p 6 Segundo Houaiss 2023 com datação c1537 1583 referese a parte de uma casa ou edifício entre o primeiro piso e o solo onde geralmente se guardam coisas velhas ou sujas grande suficiente para ser habitada Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do português arcaico prão com suarabácti latim planus a um plano Ao longo da obra há onze registros JASMINEIRO DA VARANDA DO QUARTO Só lhe peço uma coisa Dô Que você ache um tempinho entre as suas muitas ocupações para molhar minhas plantinhas Não deixe o jasmineiro da varanda do quarto morrer ele perfuma o quarto de noite não é Mariano E não esqueça de vigiar as molduras dos dois retratos para ver se os cupins voltam a atacar Se voltarem chame logo o especialista O telefone dele está trás de um dos quadros VEIGA 1999 p 22 Datado do século XV no âmbito da arquitetura com acepção em galeria ou compartimento aberto geralmente protegido por uma cobertura e frequentemente constituído da edificação que faz parte da frente da casa o sítio a fazenda alpendre Ao longo da obra encontramse três registros RANCHO Dª Artemisa também tinha as suas manobras táticas o expurgo da roseirachá uma visita que estava devendo à comadre Delzira para saber se ela tinha melhorado do panarício coitadinha 172 dizem que dói muito uma vergonha não ter ido antes e no rancho ali tão perto até ficava parecendo descaso uma pessoa tão gentil e sempre alegre apesar das dificuldades que sofre sabe quem é Aquela especialista em bolo de cará você gostou se lembra VEIGA 1999 p 16 Datado em Houaiss 2023 de 1597 1617 no âmbito da arquitetura com acepção de habitação pobre cabana usada como abrigo temporário ou para descanso de trabalhadores agrícolas Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do espanhol rancho no sentido de casa rústica inicialmente lugar para acomodar soldados marinheiros e pessoas de fora do povoado Ao longo da obra há apenas um registro HÓSPEDES PARA AS PENSÕES Quando atingiu a idade assentou praça na polícia estadual e fez carreira chegou a comandante não é incrível Eu fui para a ponta dos trilhos como se dizia das estações finais da estrada de ferro que estava entrando devagarinho no estado Carregava malas dos viajantes agenciava hóspedes para as pensões Depois trabalhei em circos navios em cidades grandes fazendo de tudo de camelô a repórter fotográfico no tempo das máquinas de magnésio faziam um fumaceiro de carvoaria E estudando de noite VEIGA 1999 p 42 Datado em Houaiss 2023 de 1371 no âmbito da arquitetura com acepção de hotel pequeno e de caráter familiar Houaiss 2023 nos informa que este verbete vem do latim penso onis no sentido de aluguel Ao longo da obra há apenas um registro CORTIÇO Datado em Houaiss 2023 do século XIV no âmbito da arquitetura com acepção de aglomeração de casas muito pobres Um conhecido dele morador ali naquela mesma casa que era um cortiço como o doutor delegado estava vendo se oferecera para vender o punhal e agora nem prestava conta nem devolvia o pertence ficava de nhenhenhém VEIGA 1999 p 130 173 O termo lembra a obra muito famosa de Aluísio Azevedo O cortiço já citada no trabalho Há apenas um registro ao longo da obra ENJÔO POR TER COMIDO TORRESMO Podia ter dito que foi uma tonteira um enjôo por ter comido torresmo com farinha na merenda dizem que dá indigestão por causa da muita gordura Mas agora não dava pra consertar VEIGA 1999 p 33 Em Houaiss 2023 de 1673 o termo aparece para designar toucinho frito em pequenos pedaços pele estorricada O Houaiss 2023 nos informa que o verbete tem origem no espanhol torrezno 1495 pedaço de toucinho frito ou para fritar derivado de tostar 1220 derivado deo latim torrĕo es ui tostum torrēre no sentido de torrar tostar assar Comida bem típica para quem cria animais o torresmo também aparece representado na obra O Sertanejo de José de Alencar e pelo tom do enredo parece ser uma iguaria Então o velho tarugo que tem três dedos de banha Que bom torresmo não daria ALENCAR 1875 p 96 Aspectos Linguísticos Culturais e Humor verboculturemas gramaticulturemas reiculturemas idioculturemas idiomaticulturemas humoculturemas QUERER ME SAPECAR UM CHÁ DE LOSNA OU BARBATIMÃO Ela sabe tudo quanto é remédio e pode querer me sapecar um chá de losna ou barbatimão e aí sim é que vou mesmo passar mal de verdade VEIGA 1999 p 11 Houaiss 2023 datado do ano de 1846 apresenta o termo no âmbito do brasileirismo como verbo bitransitivo no sentido de obrigar a aceitar ou suportar algo que não se deseja empurrar impor infligir A forma como o termo aparece dentro da obra causa humor pois o menino Belisário começa a ter os flashes de memória por conta do relógio e associa a algum tipo de doença lembrando que se contar a alguém podem forçálo a tomar remédios amargos e ruins É 174 relevante também por ser um brasileirismo o que configura o regionalismo da obra Houaiss 2023 diz que a palavra tem origem obscura eventualmente ligada ao tupi sapek chamuscar mas cuja derivação semântica seria difícil de justificar Ao longo da obra há somente um registro ANDAR DE CECA A MECA Exatamente Ele andou de ceca a meca por muito tempo como alma penada até que encontrou o seu lugar Resta saber até quando VEIGA 1999 p 13 Segundo o Houaiss 2023 o termo ceca referese a lugar indefinido distante A locução ceca em meca seria vagar por vários lugares terras e regiões ceca e meca por ceca e meca por ceca e meca e olivais de Santarém Houaiss 2023 nos traz o verbete de origem árabe do hispânico sekka que seria a redução de dār assekka no sentido de casa da moeda e este do árabe síkka no sentido de moeda provavelmente pelo castelhano ceca 1511 em espanhol a escolha do vocábulo na frase de Ceca en Meca ou de la Ceca a la Meca devese segundo Corominas a uma consonância com Meca lugar célebre por ser distante e pertencente ao mundo árabe como Ceca JRFras afirma ainda ser Ceca ou Seca palavra bérbere asseca no sentido de povoação habitação casa Certamente a escolha desse culturema é pelo valor estrangeiro que apresenta e para enfatizar o conhecimento dos personagens Há somente uma ocorrência BALÃOZINHO DE SONDAGEM Uma tarde na sala tomando o chazinho de costume agora das rosas recuperadas por Dª Artemisa acompanhado de um bolo de cará mandado pela comadre Delzira Dª Artemisa pousou a xícara pendeu a cabeça para a esquerda como era seu hábito sempre que ia soltar um balãozinho de sondagem e falou VEIGA 1999 p 17 A expressão é referente ao ato de sondar investigar perguntar O termo também pode ser associado aos instrumentos de estudos 175 meteorológicos Na obra o valor semântico confere ao primeiro significado Por não encontrar significado concreto a escolha desse culturema mostra a riqueza de aspectos linguísticos dentro da obra sejam eles criados pelos personagens ou não Há duas ocorrências na obra A PACHORRA DE PLANTAR JURUBEBA Por quê ou para quê tivera o desembargador Mariano Afortunado a pachorra de plantar jurubeba e acompanhar com tanto interesse o crescimento das plantas VEIGA 1999 p 20 No Houaiss 2023 datado de 1720 o verbete aparece como substantivo feminino que expressa falta de pressa ou de aplicação calma excessiva paciência embotada Houaiss 2023 traz a palavra pachorra no sentido de fleuma início séc XVII segundo Corominas pertencente a uma raiz comum a muitos idiomas romances e a outros que expressa a ideia de gordura pesadume provavelmente de criação expressiva Seguindo a mesma linha de raciocínio que aparece na obra José de Alencar apresenta o termo em sua obra O Sertanejo da seguinte foma Aquella pachorra e socego só a mostrava em relação ao filho e parecia mais produzida por uma firme resolução do que por temperamento ou tibieza de affecto ALENCAR 1875 p 165 Há somente uma ocorrência TAQUARA RACHADA E admirava também um tal Bicudo e o Taquara Rachada e mais tarde os geniozinhos do cruzado VEIGA 1999 p 24 Segundo o Houaiss 2009 datado de 1584 no âmbito da angiosperma a palavra taquara tem acepção em comum a diversas plantas da família das gramíneas cujo caule é oco bambu bambu taquara taboca Devido ao seu caule oco essas plantas se racham facilmente Quando está ventando essas rachaduras produzem um barulho fino e estridente 176 O culturema teria então significado de pessoa de voz estridente e desafinada chegando a ser irritante HOBBY Ah Como hobby então Antes isso do que automobilismo ou motociclismo Ou aquela asa que plana no ar Não vejo nenhum mal VEIGA 1999 p 26 Houaiss 2023 define esse termo da língua inglesa como atividade exercida exclusivamente como forma de lazer de distração passatempo Houaiss 2023 nos apresenta o verbete datado de 1816 que seria uma redução do inglês hobbyhorse datado de 1557 que seria bufão cavalo de pau um tópico ao qual alguém sempre retorna A escolha desse culturema mostra a presença de estrangeirismo na obra e como ela se relaciona com o regionalismo Somente uma ocorrência EM PASSANT Bravos Simão Agora vou falar também mas em passant Você devia estar estudando direito Daria um excelente advogado ou promotor VEIGA 1999 p 27 Houaiss 2023 define o termo francês como algo ligeira e circunstancialmente É muito presente a influência de outros idiomas dentro da obra aspecto que consideramos importante ressaltar No dicionário Houaiss 2023 a palavra deriva do francês sentido de de passagem comb da prep En no sentido de em passant partpres do v passer no sentido de passar Ao longo da obra há somente uma ocorrência e muito próxima do termo citado anteriormente ROQUEIRO Posso falar E sem esperar autorização O seguinte pai O meu irmão aí está querendo trocar Adam Smith e Keynes por Ron Carter Stanley Clarck e Nico Assunção Pelo menos são esses os 177 nomes que mais escuto lá em casa hoje em dia quando a fauna se reúne Se o senhor não sabe quem é essa gente eu digo são os cobras do baixo Em outras palavras o seu filho Simão está querendo ser roqueiro Está estudando baixo VEIGA 1999 p 25 Datado em Houaiss 2023 do século XX no âmbito da música com acepção aquele que compõe eou executa rockandroll Em conversa com seu pai Dolores faz o seguinte comentário em relação ao gosto musical do irmão Simão declarando para o pai que ele está estudando o instrumento denominado baixo além de ouvir grupos musicais do estilo rock FALAR NA MAÇADA Dito isso ele olhou para os filhos à sua frente observandoos com a experiência de magistrado E percebeu salvo erro ou omissão que apesar de algum esforço para disfarçar ambos ficaram contentes Em sua inocência Dª Artemisa ainda quis amaciar a informação que lhe pareceu abrupta e começou a falar na maçada que estava sendo vir e ir toda semana O desembargador interveio novamente com seu talento para a simplificação VEIGA 1999 p 21 Em Houaiss 2023 o substantivo aparece caracterizado como expressão de uso regionalista com acepção de situação embaraçosa adversa mau negócio A família do desembargador morava na cidade e tinha um sítio no interior Após o desembargador aposentarse resolveram fixar moradia no sítio e os filhos ainda estudando continuaram morando na cidade Ao longo da obra há quatro registros do termo O QUEQUEISSO Que coisa mais esquisita pai Será que será que estou ficando biruta A resposta do pai foi um sorriso de quem está sabendo o incabível Tive a impressão de que ele ele está querendo dizer alguma coisa É estranho Parece que quer falar O quequeisso Alisou os pêlos arrepiados do braço Puxa Mexeu comigo olhe aí VEIGA 1999 p 29 178 Expressão popular usada para designar espanto surpresa perplexidade ou admiração diante situação embaraçosa A expressão aparece na obra na fala de Dolores que ao ouvir o toque do relógio tem a sensação de que ele quer transmitir uma mensagem e diante do espanto e da situação atípica usa a expressão como forma de reforçar a sensação BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA Vivia assustado mas de boca fechada Agora o doutorzinho Simão puxava aquela conversa Podia ser uma arapuca para pegálo Vai ver desconfiaram que ele sofria do juízo ou estava caminhando para isso Dizem que gente assim eles levam pra um asilo e deixam lá jogado tomando choque elétrico e outras maldades Também quem mandou se abrir contando o que tinha visto Então ele nunca tinha ouvido dizer que em boca fechada não entra mosca Por que não continuou calado ou não inventou outra coisa Podia ter dito que foi uma tonteira um enjôo por ter comido torresmo com farinha na merenda dizem que dá indigestão por causa da muita gordura Mas agora não dava pra consertar VEIGA 1999 p 33 Essa expressão idiomática tem sentido de advertência ou conselho para se guardar silêncio sobre algo calarse e não revelar o que se sabe Referese ao ato de manter sigilo a respeito daquilo que lhe foi confiado expresso pela expressão boca fechada A passagem acima diz respeito ao momento em que o desembargador Mariano Simão e Belisário conversam sobre a diferença entre jurubeba e lobeira o relógio toca e Simão indaga Bel se ele ouviu o toque do relógio o menino assustado e com medo de revelar que tinha visões e acharem que estava louco e mandaremno para um asilo prefere manter sigilo sobre as visões A expressão aparece apenas uma vez na obra MOLHAR A LÍNGUA Mãe e filha molharam a língua experimentando Salivaram e sancionaram Beberam e repetiram VEIGA 1999 p 35 Não há registro no dicionário Expressão popular e que tem sentido de tomar algum tipo de bebida em pequena quantidade ou 179 ainda não dar para molhar a língua com sentido de que a bebida foi insuficiente pouca e só umedeceu a língua e não chegou ao estômago No contexto Artemisa e Dolores experimentam um refresco de semente de abacate feito pela cozinheira Maura e como nunca tinham bebido antes tomam em pequena quantidade Logo após terem gostado do sabor repetiram em quantidade maior RASGAR NOSSAS SEDAS Muito bem Sr Herborista Agora que já rasgamos nossas sedas disse o desembargador sorrindo vamos falar como gente normal Que tal se o senhor entrasse lavasse as mãos e o rosto para tomarmos um café com mistura como se diz por estas bandas ou prefere um Veludilho VEIGA 1999 p 65 Expressão idiomática na forma canônica rasgar seda usada quando as pessoas querem desfazer as amabilidades recíprocas geralmente usadas quando se conhecem A expressão acima aparece no momento em que Mirkiz e Dr Mariano se conhecem em seu sítio FAZER CORPO MOLE Não sendo homem de fazer luxo o Sr Mirkiz aceitou imediatamente Dolores lembrou ao irmão que estava na hora de irem ele fez corpo mole para que a pressa tinham o dia inteiro não estavam com o pai na forca olhe o pai sentado aí bem fagueiro VEIGA 1999 p 43 Expressão idiomática usada quando alguém foge ou tenta fugir ao cumprimento de uma obrigação trabalho pedido não demonstra esforço para fazer algo Outras variações fraseológicas com sentidos semelhantes são é fazer cera simular que trabalha de corpo mole falta de entusiasmo e vigor Nesse trecho a expressão popular aparece se referindo a Simão que não estava querendo voltar para a casa da cidade e deu uma desculpa para Dolores adiando dessa forma a volta A expressão aparece apenas uma vez na obra 180 ARAPUCA Belisário baixou os olhos e ficou pensando Ele mesmo não sabia o que vinha acontecendo só desconfiava Vivia assustado mas de boca fechada Agora o doutorzinho Simão puxava aquela conversa Podia ser uma arapuca para pegálo Vai ver desconfiaram que ele sofria do juízo ou estava caminhando para isso VEIGA 1999 p 33 Houaiss 2023 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal com acepção em armação para surpreender que significa deixarse apanhar ser pego em armadilha cair no conto do vigário Houaiss 2023 nos informa que esse verbete vem do tupi ara puka utilizada com acepção armadilha para caçar pequenos pássaros geralmente uma pirâmide feita de pauzinhos ou talas de bambu arapuca utilizada pelos indígenas para obter alimentos Ao longo da obra o verbete aparece apenas uma vez PEQUENAS URUCUBACAS Belisário também teve a sua pequena desventura sob a forma de um coice da vaca Badalhoca quando se meteu a desleitála sem ter ainda a experiência necessária O coice acertou num joelho e o menino ficou mancando e andando de lado e passou umas noites sem dormir com o joelho inchado latejando O desembargador levouo á cidade tirouse uma radiografia não havia fratura só uma contusão sem maior importância que se resolveria com compressas de gelo Dª Artemisa e Dª Maura se revezavam aplicando compressas várias vezes ao dia Só o desembargador escapou dessas pequenas urucubacas ou por ser cauto de natureza ou por ter bom santo protetor VEIGA 1999 p 50 Houaiss 2023 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal que significa má sorte no que se faz ou intenta ziquizira Houaiss 2023 nos informa que o verbete é um vocativo expressivo cuja base é urubu ave de agouro que pressente os cadáveres Ao longo da obra há apenas um registro 181 PINIMBA Provei na egreja e gostei Todo mundo gostou menos Dª Escolástica Não podia gostar mesmo porque a receita é de Dª Judite com quem Escolástica tem pinimba Pode beber Tem um apertinho gostoso VEIGA 1999 p 35 Houaiss 2009 registra o verbete como uma expressão regionalista brasileira de uso informal com acepção disposição de insistir obstinadamente em alguma coisa ou implicar com alguém birra No contexto Maura oferece refresco de semente de abacate a Artemisa e Dolores ela diz que aprendeu a receita com Dª Judite Todos lá na igreja gostaram menos Escolástica que tem implicância birra com Dª Judite CITADINA Felizmente vivemos separados Não por desavença ou coisa assim Ela é citadina detesta a vida no campo É fonoaudióloga seja lá o que isso signifique Parece que é alguma coisa necessária porque tem lá a sua clientela VEIGA 1999 p 44 Segundo Houaiss 2023 no ano de 1561 o termo referese a quem é da cidade O termo aparece na obra para explicar como vive a mulher do Sr Mirkiz que prefere a cidade e seu trabalho Um termo contrário que pode ser utilizado para designar quem gosta do campo é rurícola Há somente uma ocorrência na obra ERVANÁRIO Não propriamente Sou ervanário Uns dizem herborista outros herbolário mas prefiro ervanário Tenho uma portinha para venda de ervas na cidade Quem cuida é uma senhora minha amiga professora aposentada VEIGA 1999 p 4445 Datado do Houaiss 2023 do ano 1881 diz respeito a que ou aquele que conhece plantas medicinais herbolário É quase possível afirmar que não só o senhor Rufus mas boa parte dos personagens da obra são ervanários É uma característica 182 marcante de quem vive no campo que cultiva plantas medicinais Por isso o motivo da escolha como culturema a culturicidade da palavra dentro da obra Há duas ocorrências ao longo da obra RUMO ESTRAMBÓLICO Dª Artemisa olhou apreensiva para o marido depois para Mirkiz Que rumo estrambólico a conversa estava tomando VEIGA 1999 p 67 Exemplificado em Houaiss 2023 mas com definição indeterminada O termo diz respeito ao indivíduo ou objeto repleto de extravagância pouco ou nada convencional esquisito que tende a ser ridículo ou causar riso estrambótico O adjetivo foi utilizado na obra para definir as narrações de Belisário a respeito dos flashes do relógio que seriam narrações esquisitas difíceis de acreditar Há somente uma ocorrência na obra mas é o suficiente para enfatizar o valor linguístico cultural que tem dentro da obra QUE COISA SIÔ Então era coisa de duzentos anos ou mais ora essa Então as batidas daquele martelinho na espiral de aço para dar as notas do carrilhão e soar as horas tinham sido ouvidas pelo rei da Guerra dos Sete Anos e do Iluminismo Até dava arrepios Aquele relógio era uma testemunha da história Que coisa siô VEIGA 1999 p 10 Em Houaiss 2023 o substantivo masculino informal referese a senhor Dentro da gramática é também empregado como interlocutório pessoal É uma expressão que ilustra a linguagem informal os moradores do campo Há três ocorrências na obra sempre enfatizando situações de impaciência de indagação Referências AULETE digital Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Baseado em Aulete Digital Francisco J Valente Antonio Lopes dos 183 Santos Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Aulete Digital Edição brasileira original Hamílcar de Garcia Desenvolvido por Lexikon Editora Digital LTDA Disponível em http wwwauletecombr Acesso em 28032018 ALENCAR José de O Sertanejo Vol II Rio de Janeiro b l garnier Livreiroeditor Instituto Histórico 1875 ANJOS Augusto dos Eu Rio de Janeiro Augusto dos Anjos 1912 ASSIS Machado de Quincas Borba Obra Completa vol I Rio de Janeiro Nova Aguilar 1994 AZEVEDO Aluísio O cortiço Rio de Janeiro B L GARNIER liTreiro editor Rua do Ontidor 71 1890 BARRETO Lima Vida e morte de M J Gonzaga de Sá São Paulo Edição da Revista do Brazil 1919 BÍBLIA Sagrada Online Disponível em httpswwwbibliaoncom Acessado em 22032018 DOYLE Arthur Conan Um estudo em vermelho Tradução de A Study in Scarlet publicado em As Aventuras de Shelock Homes Volume I Tradução de Hamílcar de Garcia Editora círculo do livro Disponível em httpwwwkbookcombrlivrariawpcontentfilesmf umestudo emvermelhopdf ÉLIS Bernardo O Tronco romance 8ed Rio de Janeiro José Olympio 1988 Disponível em httpdelubiocombrbibliotecawp contentuploads201404otroncopdf HOUAISS Antônio e VILLAR Mauro de Salles Dicionário Houaiss da língua portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009 MARTINS Vicente de Paula da Silva Estratégias de compreensão de expressões idiomáticas por não nativos do português Brasileiro Tese doutorado Universidade Federal do Ceará Centro de Humanidades Departamento de Letras Vernáculas Programa de Pós Graduação em Linguística Fortaleza 2013 Disponível em http wwwrepositorioufcbrhandleriufc8233 Acessado em 22032018 MASTROCOLA Vicente Martin Comunicação Consumo e Entretenimento o interator na ficção seriada Star Wars Tese mestrado Escola Superior de Propaganda e Marketing Programa de Mestrado Comunicação e Práticas de Consumo ESPM São Paulo 2011 MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Disponível em httpmichaelisuolcombrAcesso em 28032018 184 MORAES Vinicius de O caminho para a distancia Rio de Janeiro Schmidt 1933 QUEIROGA João Salomé Maricota e o Padre Chico Lenda do Rio S Francisco romance brasileiro Rio de Janeiro Typograplua PERSEVERANÇA rua do Hospício n 91 1871 ROSA João Guimarães Estas Estórias contos brasileiros 6ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 2013 Disponível em httpsdrivegoogle comfiled1B2Hu5SqNLjAomFzN3YTuILQoBmMtc4Wview SANTOS Joaquim Felício dos Acayaca romance indigena 1729 Ouro Preto Typographia do Estado de Minas 1894 TEIXEIRA Gismair Martins O Relógio Belisário de José J Veiga e o imaginário espirita VIII Simpósio Nacional de História Cultural Universidade Federal do Tocantins UFT Araguaína TO 2016 Disponível em httpwwwespiritualidadescombrArtigosT autoresTEIXEIRAGismairMartinstitRelogioBelisariodeJoseJ VeigaeoImaginarioEspiritaOhtm VEIGA José J O Relógio Belisário Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999 185 Parte II Recorte temático 187 A Face do Regionalismo de J J Veiga no Conto Acidente em Sumaúma 19673 Sara Hevilly Ferreira Souza Introdução O acaso existe Seria possível em determinada altura da vida numa fase importantíssima e definitiva seu poder transformar tudo para melhor Talvez nunca se possa assegurar que determinada ação se concretizou a partir do acaso mas de alguma forma no último semestre do Curso de Letras coincidentemente surge uma disciplina chamada Estilística do Português e o professor que a ministra apresenta um escritor até então e incrivelmente não muito conhecido pelos alunos J J Veiga Foi dessa forma que surgiu a escolha do conto em estudo Ao conhecer a obra A Estranha Máquina Extraviada do referido autor abrindo o Sumário com os olhos fechados e o dedo apontando aleatoriamente para os títulos chegouse ao conto Acidente em Sumaúma o primeiro do livro Por mais curioso que possa parecer esse método é inteligente no sentido de proporcionar um desafio a quem o aplica e ao mesmo tempo exige extrema coragem para seguir em frente e realizar um grande estudo a partir de algo novo até a descoberta de que estudar Veiga é um grande deleite por sua sensibilidade humana e sua genialidade e escrita brilhantes O conto escolhido oferece uma gama de possibilidades de desenvolvimento em aspectos temáticos e linguísticos mas um ponto de inquietação sempre foi o de investigar a língua falada particularmente os culturemas palavras e expressões linguísticas que carregam consigo o poder de toda uma cultura de falantes de determinada comunidade linguística Tendo o conto um excelente 3 Este artigo foi originalmente apresentado como trabalho de conclusão de curso ao Curso de Letras Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA em 17 de maio de 2023 como requisito parcial para a conclusão do Curso de Letras Habilitação em Língua Portuguesa sob a orientação de Vicente de Paula da Silva Martins e contando com os examinadores Márton Tamás Gémes e Francisco Vicente de Paula Júnior 188 material de fala a sertaneja fazse necessário também abordar o aspecto do regionalismo para que se possa compreender como estes termos se configuram na obra Portanto o objetivo deste estudo é mostrar como o regionalismo se configura no texto analisando alguns culturemas da fala regional figurada na escrita veigueana Para tanto dividese em três seções A primeira Ler e compreender o conto para desvelar suas entrelinhas trará um breve resumo do conto e apresentará algumas considerações acerca do potencial temático presente na obra tendo por base principal os estudos do professor Márton Tamás Gémes 2022 em sua obra Quando Pequenos Mundos se Despedaçam O ciclo Sombrio de José J Veiga A segunda seção A representatividade regionalista encaminhase para a concretização do objetivo presente pois trata de aclarar a questão do regionalismo veigueano e algumas controvérsias nela imbrincadas utilizando como base argumentativa o estudo Um olhar crítico sobre o nosso tempo Uma leitura da obra de José J Veiga de Agostinho Potenciano de Souza 1987 Por fim a terceira seção Análise de culturemas trará o exemplário cultural de fala do conto mostrando como seus sentidos se configuram no contexto da obra e demonstrando assim sua riqueza no reconhecimento da identidade da cultura linguística presente na escrita veigueana Para os procedimentos metodológicos de coleta e análise dos culturemas recorrese ao conjunto de pesquisa nos últimos anos de Martins 2020a 2020b 2021 e Martins Gémes Cerqueira Lino 2020 A proposição de reflexões neste campo é de extrema importância tanto na interpretação de temas no enredo das obras veigueanas quanto em pesquisas lexicais pois sua magistralidade e estilo perpassam a barreira de uma simples criação e despontam para várias instâncias de estudos possíveis como por exemplo a linguística particularmente a Estilística Literária Estilística da Palavra A fala de um povo muito mostra de sua cultura e dar visibilidade a uma comunidade por estudos dessa natureza é valorizar sua história pois são determinantes para reforçar sua identidade expressa em seu falar único carregado de vivências 189 LER E COMPREENDER O CONTO PARA DESVELAR SUAS ENTRELINHAS O conto Acidente em Sumaúma narra a história de um mascate que vinha de uma comunidade chamada Ururu pois não havia conseguido vendas no lugar pela ocupação do povo com a ferra do gado então a caminho de Batepaca resolveu passar em uma vila próxima que ficava no caminho Sumaúma Lá chegando deparouse com uma cena que o deixou perplexo o espancamento de um lobo Homens e cães empenhavamse em atacar o animal forasteiro e o mascate vendo aquilo questionou o comportamento dos homens obtendo como resposta o simples prazer da tortura Como aquele lugar não tinha nada de proveitoso para ele o homem apressouse para ir embora dali mas um menino emissário de Seu Viriates um senhor dono de fazenda apareceu e avisou que seu patrão desejava vêlo O encontro rendeu poucas palavras e o mascate decidiu partir mesmo com a insistência do fazendeiro para que ele ficasse Ao tentar ir embora percebeu que o portão estava trancado Sem a chave e receoso em incomodar Seu Viriates que dormia teve que esperar até o jantar Após uma verdadeira seção de brigas entre os filhos do homem e censuras à mesa por parte da mãe o mascate tentou mais uma vez ir embora mas teve seu burro roubado por um dos filhos e acabou tendo que dormir na fazenda junto aos trabalhadores adiando sua viagem para o outro dia Este não se sabe ao certo se chegou a vir pois ao fechar os olhos o mascate tenta imaginar que está em outro lugar um melhor e ao abrilos ouve vozes que acusam sua suposta morte gerando então a dúvida final estaria ele morrendo ou apenas sonhando A ambiguidade gerada pela forma como são narrados os últimos fatos bem como outras passagens que geram estranhamento angústia e dúvidas no leitor configuram o fantástico na obra tanto pelo discurso do narrador que conduz o leitor aos efeitos pretendidos pelo autor quanto pelos cenários que retratam com integridade o sertão brasileiro e a rica linguagem regional empregada Numa análise temática do conto podemos observar situações que causam tensão no personagem principal e por conseguinte no 190 leitor Esses efeitos são fortemente influenciados pela instância narradora que através do seu discurso descreve os acontecimentos mas parece também conhecer além da história os sentimentos e pensamentos do mascate as intenções do povo de Sumaúma e até mesmo dos animais4 Essa tensão compartilhada entre leitor e personagem trabalha segundo Gémes 2022 na transmissão de incertezas sobre o mundo apresentado Se o fantástico se define pelo levar em questão a realidade fictícia pela incerteza em relação ao sistema de realidade então uma coisa fica bem clara há de ter por consequência alguma instância que põe em questão esta realidade que está incerta sobre seu status Não se trata meramente daquele enfadonho tema da alternativa entre o leitor implícito e o empírico mas antes de tudo da instância mediadora portanto do narrador e afinal de contas do discurso p 63 O receio do mascate em ir até Sumaúma é justificado pelo narrador com o argumento de que ele já havia estado lá anteriormente mas não teve grande sucesso em seus empreendimentos Descer o vale para vender um ou dois cortes de chita da mais barata alguns pentes uns metrinhos de fita não pagava o trabalho VEIGA 1968 2010 p 7 Ainda assim ele achou que atrasado por atrasado não custava tentar a sorte em Sumaúma idem 4 O narrador descreve as intenções dos cachorros que atacavam o lobo em Um cachorro que ia passando cheirouo no pescoço no focinho desinteressouse achou mais divertido dar susto numa galinha que ciscava perto p 9 e as atitudes do burro do mascate como uma forma de colaboração ao dono O burro obedeceu ao puxão da rédea com presteza parecia que ele também tinha pressa de deixar aquele lugar tão tristonho e esquipou para a porteira e com a prática de ajudar o dono a abrilas encostouse paralelo às tábuas com a cabeça para o lado batente p 11 Há também a evidenciação da intenção do homem quando informa sobre o lobo espancado Um homem ao lado do mascate informou de má vontade que o bicho era um lobo p 8 As reações de descaso da parte de Seu Viriates ao conversar com o mascate Seu Viriates não se interessou pela explicação ficou olhando pela janela em frente pensando ou simplesmente matando o tempo até que veio o café já nas xícaras p 10 A falta de preocupação com o convidado pelos filhos do fazendeiro 191 Ao presenciar o flagelo do lobo a reação de decepção do mascate e sua pressa em partir reafirmam a assertiva do narrador de que Sumaúma não rendia nada não adiantava insistir p 910 Junto ao protagonista o leitor sente o espanto da cena e a frustração com as pessoas e com o lugar tanto pela frieza dos que realizaram o ato de espancar um animal indefeso gratuitamente quanto pela inércia dos que viam aquilo e mantinhamse como se nada de importante ou chocante estivesse acontecendo5 Essa falta de senso de justiça pode ser compreendida como característica daquela comunidade separada do resto do mundo uma comunidade hermética que se fecha sobre si mesma com suas próprias leis na qual injustiça violência e egoísmo se constituem como cotidianas GÉMES 2022 p 125 A tensão na narrativa é crescente à medida que o mascate tenta deixar o lugar mas é impedido primeiro pela convocação de Seu Viriates para uma conversa na qual o homem não demonstra entusiasmo na recepção do convidado depois com sua retenção na fazenda que o obriga a esperar até que o dono acorde e seja acompanhado por ele no jantar e finalmente quando pensa estar livre para ir embora mas tem seu burro levado fazendoo esperar até o dia seguinte para empreender viagem Em Sumaúma o mascate tem sua liberdade cerceada pela vontade do outro sem que possa protestar por ser justamente um elemento intruso não pertencente ao lugar e estranho não partilhando dos costumes e conversas daquela comunidade não identificado com o meio Neste aspecto A imagem do ser humano destes textos se caracteriza destarte como uma que representa o homem como cognitivamente não adequado à sua realidade GÉMES 2022 p 124 O desinteresse pelo homem de fora que ao chegar não é notado nem pelos cães p 7 nem sua conversa e suas intenções são relevantes sendo que Seu Viriates mais o interroga ao encontrálo do que propriamente estabelece um diálogo e assim o faz verdadeiramente como uma demonstração de autoridade numa 5 Ao chegar em Sumaúma o cenário descrito demonstra a naturalidade da reação das pessoas com o que estava acontecendo ao lobo inclusive como se fosse uma espécie de espetáculo Sumaúma estava em grande alvoroço muitos camaradas no curral mulheres nas janelas da varanda falando rindo apontando p 7 192 afirmação do seu poder como líder daquele espaço evidencia uma marca opressiva sobre o elemento intruso Além disso a falta de consideração dos filhos do fazendeiro para com o convidado à mesa é mais um fator de desvalorização do estranho6 O burro roubado e a necessidade de espera fortalecem o sentimento de opressão que se abate sobre o mascate e é automaticamente transferido ao leitor pelo discurso A morte tornase também uma temática presente na obra visto que assim como o lobo pode ser associado ao mascate como elemento intruso sua morte também pode estar atrelada simbolicamente a do outro como uma alegoria caso aquela tenha realmente acontecido Por outro lado temse a instância do sonho a elevação do personagem a uma realidade outra alheia ao mundo no qual se encontrava antes numa tentativa de fuga diante de uma realidade experimentada como insatisfatória GÉMES 2022 p 151 O mascate arruma um lugar entre os peões para dormir fecha os olhos e imagina algum quarto decente uma cama com colchão e roupas limpas lavatório no canto a baciinha branca o jarro com água podendo ter uma poeirinha em cima pousada durante a noite o sabão a toalha o cheiro bom de asseio p 18 mas ao abrilos o cenário descrito é outro Quando abriu os olhos estranhou o tamanho do quarto Deviam ter retirado os bancos arreios os apetrechos todos e isso dava a impressão de que as paredes estavam mais longe idem O que se segue a partir daí pode ser produto de um protagonista que realmente acorda e ouve os outros atestando sua morte ou simplesmente de um sonho ao qual sua mente se rendeu possivelmente pelo cansaço da luta diária ao imaginar um lugar decente para repousar diferente do pátio em que estava com Um cheiro de couro mal curtido baixeiros azedos roupa suja e suor p 17 A descrição da cena após esse acordar é a seguinte Pessoas caminhavam nas pontas dos pés cochichavam deviam estar falando dele Ele estava muito doente não podia se mexer nem falar Uns tipos sisudos chegaramse bem perto os rostos prejudicados pela sombra de uma 6 Os filhos não lavam as mãos não trocam de roupa brigam à mesa e estragam a refeição do mascate e um deles ainda leva o burro do homem fazendo com que ele se mantenha ali inerte 193 luz vinda de cima Um ajoelhouse apalpouo na testa mão áspera indiferente logo retirada Tem jeito perguntou outro O coração ainda bate Vocês sabem quem é Os outros balançaram a cabeça Identidade desconhecida então Ele quis explicar antes que o homem escrevesse fez força retesouse a voz não saía nem um grito pelo menos Escutem Não foi ele Foi mas não foi pra nós Então já está mandando mensagem É Já se entregou Ficaram os três desconhecidos ali parados sem ação só olhando Por fim um sacudiu a cabeça e disse Coitado Vir de tão longe É assim mesmo disse outro Eles zanzam zanzam um dia param em qualquer lugar Os três abanaram novamente a cabeça como se isso fosse tudo o que pudessem fazer e foram saindo na ponta dos pés confundindose com as próprias sombras Quando já iam longe perderam a cerimônia e pisaram forte Os passos ressoando como marteladas Era verdade Ele tinha vindo de longe andando zanzando e afinal chegado Couro velho paredes sujas uma esteira no chão frio VEIGA 1968 2010 p 1819 Se o leitor optar pela aceitação da morte do mascate o conto passaria a não mais apresentar o fantástico na situação final por um viés de ambiguidade do discurso pois sua manutenção se daria principalmente sobre a causa da morte não justificada A aceitação do sonho como fato também anula a dúvida final mas conserva o fantástico pelo onírico7 Contudo o modo como a situação é narrada não deixa um esclarecimento se de fato o mascate sonha ou morre mantendo a questão sem resposta e demarcando o efeito fantástico através dessa incerteza acerca do sistema de realidade como defende Gémes 2022 São muitas as possibilidades de discussão em uma obra como esta dada a polivalência da escrita veigueana8 porém é pertinente 7 Sobre isso Souza 1987 aponta que A construção dessas passagens procede de tal maneira que a realidade perde algumas de suas barreiras Já que os limites de suas diversas faces são oscilantes a transitividade entre suas várias fronteiras expande a leitura das realidades encobertas ora chamadas de sonho devaneio ou fantasia p 110 8 Souza 1987 reconhece que As leituras das críticas sobre José J Veiga mostram 194 adotar como centro da sua escrita o homem suas questões em sociedade suas atitudes frente aos dilemas da vida seus sonhos e esperanças É a partir desse homem geralmente retratado como um sertanejo ou habitante do interior do Brasil que Veiga cria um homem universal pela utilização de temas universais inerentes a qualquer ser humano em qualquer parte do mundo9 A REPRESENTATIVIDADE REGIONALISTA A escrita polivalente de Veiga gera até hoje divergências em sua classificação 10 mas é justamente porque figura uma nova tendência na busca de refletir a realidade das questões humanas a partir do regional daquilo que é conhecido para uma realidade maior a representatividade universal Para Souza 1987 Veiga parte do regionalismo já num conceito menos restrito e envereda para o fantástico moderno11p 9 isso mesmo sua obra é plurívoca aberta e plural pág 38 9 Gémes 2022 ao falar sobre os textos veigueanos declara que estes textos além do momento histórico e da localização brasileira aparentemente reivindicam para si de falar sobre o ser humano como ser humano p 123 10 Souza 1987 comenta essa questão no capítulo As vozes críticas sobre a ficção de José J Veiga citando algumas classificações recebidas pelo escritor como regionalismo goiano regionalismo não ortodoxo conto rural regionalismo brasileiro latinoamericano realismo mágico gótico fantástico absurdo alegórico p 9 bem como em nota os devidos autores 11 Neste aspecto para aclarar o conceito de Fantástico Moderno fazse necessário destacar três citações do professor Francisco Vicente de Paula Júnior em seu estudo intitulado Aspectos do Fantástico na Literatura Cearense 2003 1 Tradicionalmente o Fantástico esteve marcado pela supramundanidade do Evento e pelo caráter de medo que tinha necessariamente que fazer parte do projeto estéticoliterário daquele que se propunha a escrever esse tipo de texto em particular p 102 2 No âmbito da Modernidade porém o Fantástico passou a ser representado de outras formas Em primeiro lugar o espaço necessariamente precisou mudar pois os contos aterrorizantes do século XIX passados em locais lúgubres da fria e distante Europa passaram a construirse de acordo com o local em que se passavam ou seja nessa visão mais moderna ou menos tradicional o fantástico passou a ser construído sem a preocupação com o espaço onde o Evento se processava p 103 3 Assim podemos dizer que o fantástico atualmente do ponto de vista estrutural não obedece mais a fórmulas pois lida antes de tudo com a impressão tanto que pode se instalar da forma mais inusitada possível como em José J Veiga p 104 195 No campo das classificações alguns teóricos atribuem a Veiga o título de regionalista12 o que não procede quando se pensa no sentido mais restrito do termo Veiga não é regionalista no aspecto de reproduzir fielmente sua região para atribuirlhe o foco de sua escrita essa não é uma preocupação do escritor mas seu regionalismo se configura pelo uso dos elementos regionais no alcance dos efeitos da narrativa ou seja contribuem para criar um ambiente próximo à realidade e ali desenvolvemse as temáticas pretendidas13 A título de ilustração em sua pesquisa Gémes 2022 recorre ao termo sertão em cerca de 136 ocorrências e registramse oito ocorrências para sertanejo como em núcleos sertanejos e Brasil sertanejo para citar apenas dois exemplos Em substância é o pesquisador que faz uma assertiva que traduz não apenas a robustez da temática em Veiga como seu viés de ruralismo na sua contística O sertão se encontra conotado através de uma série de termos que marcam sua imagem até hoje pobreza coronelismo e injustiça social fanatismo atraso e um meio rude e hostil à vida por um lado e pelo outro atrelado a capacidade de sofrer a valentia e a uma honestidade simples GÉMES 2022 p 169 Utilizando como pano de fundo o cenário sertanejo no conto em estudo Veiga traz a questão da opressão do homem pela sociedade pelos regimes de poder por meio da relação entre oprimido e opressor um tema universal suscetível de acontecer em qualquer lugar do mundo mas regional pela representação sertaneja através dos cenários Alguns estudos apontam para essa 12 Souza 1987 cita em nota sobre o capítulo As vozes críticas sobre a ficção de José J Veiga os estudos de Gilberto M Teles Wilson Lousada Temístocles Linhares e outros como alguns críticos que reconhecem Veiga como regionalista num sentido restrito do regional como foco de sua escrita 13 Leite e Santana 2010 em seu estudo A Permanência do Regionalismo no Romance Brasileiro O Cerrado de Carmo Bernardes apresentam as raízes românticas do regionalismo e defendem sua evolução numa espécie de metamorfose na configuração de um caráter universal em conformidade com José Maurício Gomes de Almeida 1980 que declara que o significado da obra evidencia sua universalidade e os aspectos culturais aos quais está presa não impedem a realização de questões universais na mesma 196 temática como uma crítica velada à instauração do governo totalitário de 196414 A comunidade de Sumaúma localizada em algum lugar do sertão brasileiro é representada na narrativa como uma comunidade distante em um vale ao qual o mascate tem que descer para vender suas mercadorias Essa distância entre vilarejos tem valor simbólico tanto na representação de um regime de opressão quanto numa visão de atraso em relação ao mundo moderno15 A fazenda de Seu Viriates apesar de não ter muitas descrições retrata também um elemento típico das comunidades sertanejas uma família detentora do poder com seus peões como subordinados e o respeito de todos os habitantes Novamente uma alegoria política se assim pode ser interpretada na qual o fazendeiro é a entidade máxima de autoridade que convoca questiona e oprime o mascate16 Quanto à fala apresentada no conto há muitas expressões regionais presentes nos diálogos dos personagens e na própria narração que expressam elementos da cultura regional conhecidos estilisticamente como culturemas17 14 Gémes 2022 p 327 aponta para a coincidência do fechamento do Ciclo Sombrio de Veiga ao mesmo tempo que o fim do regime militar no Brasil Souza 1987 p 47 comenta a alegoria política também presente na obra veiguana num processo de universalização temática pelo tema da repressão O próprio Veiga em entrevista a Agostinho Potenciano de Souza em 1987 admite a leitura do contexto militar como possível em algumas de suas obras 15 Gémes 2022 ao tratar sobre a comunidade opressora na introdução do capítulo Os pequenos mundos de Veiga declara É principalmente nos pequenos mundos coletivos que a préfiguração especificamente brasileira marca o texto O isolamento local e suas estruturas sociais crescidas as quais se manifestam nos costumes nas maneiras e normas de comportamento especificamente coletivos fundam e constituem este pequeno mundo que cria no seu isolamento a impressão de uma quase autarquia p 125 No mesmo capítulo no tópico Um mundo do passado Gémes aborda a questão da modernização como ameaça às comunidades arcaicas com um isolamento insuficiente para resistência frente a um mundo cada vez mais tecnológico e industrializado 16 Em seu artigo O Fantástico Alegórico e a Realidade Sóciopolítica em A Hora dos Ruminantes José Jacinto Veiga a professora Vera Lúcia Mendes Paganini discute dentre outras coisas o aspecto da repressão social em obras veiguanas em que A realidade opressiva dificultava ou até proibia manifestações que pudessem sugerir a idéia de democracia e liberdade 2007 p 134 17 A professora Lúcia Luque Nadal 2009 em seu artigo Los culturemas unidades 197 Alguns caracterizam costumes como o ato de ferrar o gado outros configuram uma espécie de carnavalização do momento18 como quando na mesa de jantar os filhos do fazendeiro utilizam os termos boiota19 e sanhaço como ofensas em sua pendenga O pai também contribui para a ridicularização da situação com o seu repentino pega pra capar ao acordar do cochilo tirado à mesa Desse modo Veiga não segue um regionalismo tradicional mas usa suas leituras do sertão para compor suas obras contribuindo assim para a valorização da cultura sertaneja através de sua genial escrita É uma forma de trazer um sabor de brasilidade à obra SOUZA 1987 p 132 Valorizar o lugar o povo a cultura e a fala que é um rico fator de expressão e determinante contribuinte na autenticidade e geração de efeitos inclusive do gênero20 ANÁLISE DE CULTUREMAS Os culturemas constituem ricos elementos linguísticos pela união de cultura e língua na geração de expressões de fala que caracterizam uma comunidade Na Literatura trabalham também na produção de efeitos estilísticos de aproximação da realidade como no conto em estudo e na obra veigueana em geral Pela ficção de Veiga o leitor percebe que o alimento de sua poética é a língua comum do Brasil transformada num sintagma narrativo particular cuja substância de conteúdo é o nosso tempo histórico SOUZA 1987 p 4 lingüísticas ideológicas o culturales define culturemas como nociones específicoculturales de un país o de un ámbito cultural p 94 18 Em seu estudo intitulado A Carnavalização e o Riso segundo Mikhail Bakhtin a professora Claudiana Soerensen declara que O carnaval na concepção do autor é o locus privilegiado da inversão onde os marginalizados apropriamse do centro simbólico numa espécie de explosão de alteridade onde se privilegia o marginal o periférico o excludente 2017 p 320 Portanto a carnavalização propõe uma inovação e principalmente uma quebra de solenidade num momento tornando o cômico 19 Na linguagem regional tipicamente de Goiás o termo referese aquele que é bobo tolo paspalhão bolha Embora de origem obscura podese especular sua etimologia metafórica e pejorativa a partir da formação da palavra boi ota com sentido de testículo demasiado dilatado ou com hidrocele 20 Pelas ambiguidades contribui para a geração da dúvida Nas falas caricatas configura uma carnavalização de situações e assim por diante 198 Assim como o sintagma é uma unidade linguística composta de um núcleo Veiga utiliza os gêneros os lugares os costumes e a língua para passar sua mensagem seja ela uma crítica política ou ao próprio homem enquanto ser humano e social abordando suas atitudes e pensamentos frente ao mundo Por todas essas evidências linguísticas e pela vasta oferta de culturemas presente no conto construiuse o exemplário a seguir para apreciação e reconhecimento do valor cultural da fala sertaneja expressa na escrita veigueana EXEMPLÁRIO DA LINGUAGEM REGIONAL NO CONTO A coleta de culturemas segue os procedimentos metodológicos de Martins 2020a 2020b 2021 e Martins Gémes Cerqueira Lino 2020 BATER EM O mascate escolheu um mau dia para bater em SumaúmaTambém se ele adivinhasse não estaria naquela vida Ele já tinha estado ali algumas vezes e da última jurava nunca mais voltar VEIGA 1968 2010 7 ênfase adicionada A expressão bater em nesse contexto tem o sentido de pôr se a caminho HOUAISS 2009 Segundo o narrador o mascate escolheu um mal dia para ir até Sumaúma FERRAR O GADO Mas naquele dia com o contratempo do Ururu os homens ferrando o gado as mulheres na correria de preparar comida para muita gente ninguém com tempo nem mão limpa para vir pegar apalpar alisar a mercadoria ele achou que atrasado por atrasado não custava tentar a sorte em Sumaúma VEIGA 1968 2010 7 ênfase adicionada A expressão ferrar o gado revela a tradição da ferra de marcar o gado a ferro quente para que assim o dono do rebanho pudesse identificálo com facilidade AULETE 2023 199 No conto a ferra do gado ocupava a todos em Ururu naquele dia fato que motivou a ida do mascate a outro lugar para realizar suas vendas DE COSTAS QUENTES Um lobo amarrado numa estaca atacado por dez doze homens armados de porrete e vara de ferrão e mais uns quatro cachorros de costas quentes lembra uma criança entre feras longe da mãe Amarrado com corda curta ele só podia defenderse rodando em volta da estaca defesa ilusória porque as pancadas e ferroadas vinham de todos os lados VEIGA 1968 2010 8 ênfase adicionada A expressão de costas quentes evoca aqui o sentido de maldade e impunidade historicamente atrelado aos fidalgos corruptos não punidos do Brasil colonial que usavam grossos casacos e por isso tinham as costas quentes DIC POPULAR 2023 O aspecto corruptivo se relaciona à ferocidade extrema dos cães que agem contra um animal do mesmo gênero inclusive tendo respaldo no apoio de seus donos BORDOADAS O chão em volta da estaca estava limpo e riscado como varrido com vassoura de graveto e a madeira da estaca estava lustrosa do sovar da corda Por fim o lobo deitouse de lado a cabeça meio erguida por causa da corda os olhos avermelhados a língua estirada pingando suor e conseguiu ir aguentando as bordoadas e ferroadas sem se levantar VEIGA 1968 2010 8 ênfase adicionada A expressão bordoadas referese a receber uma pancada com um bordão espécie de cajado de apoio utilizado em viagens HOUAISS 2009 No conto sinaliza para os golpes que os homens desferiam contra o lobo com varas ESTAR NAS ÚLTIMAS Deitado no chão molhado mas morno de tanto sofrimento o lobo era a imagem da derrota Bastava vêlo de língua de fora 200 puxando o ar com urgência a cabeça inchada de bordoadas o corpo sangrando o sangue endurecendo no pelo para se compreender que ele estava nas últimas Um homem chegou a tocálo com pé conservando o outro bem atrás naturalmente e ele nem teve ânimo de rosnar o inimigo agora era o cansaço que ia apagando as últimas resistências do corpo VEIGA 1968 2010 9 ênfase adicionada A expressão estar nas últimas referese às últimas horasmomentos antes da morte de alguém HOUAISS 2009 O narrador descreve nesse trecho os momentos finais do lobo atestando pela expressão que ele possivelmente morreria após o ataque recebido NÃO RENDER NADA O mascate estava apertando a barrigueira da sela para continuar viagem Sumaúma não rendia nada não adiantava insistir quando um capiauzinho veio dizer que seu Viriates estava chamando Ele afagou a orelha do burro como pedindo licença e acompanhou o emissário VEIGA 1968 2010 910 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de algo não apresenta bom resultado bons rendimentos HOUAISS 2009 Essa referência é feita a Sumaúma numa reafirmação após a cena de maustratos ao lobo de que aquele lugar não teria coisas boas ou proveitosas a oferecer VER ALGO PARA ALGUÉM Seu Viriates recebeuo na rede Não tinha ainda tirado as botas nem o chapéu Sim senhor Sente aí nesse tamborete Menino vai ver um café pra nós Bem quente Se trouxer frio leva ele na cara VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão nesse caso tem o sentido de ocuparse de algo HOUAISS 2009 O menino recebeu uma ordem de seu patrão para providenciar o café para ele e o convidado como um cumprimento de uma regra de etiqueta 201 SAIR CHISPADO Seu Viriates recebeuo na rede Não tinha ainda tirado as botas nem o chapéu Sim senhor Sente aí nesse tamborete Menino vai ver um café pra nós Bem quente Se trouxer frio leva ele na cara O menino saiu chispado o mascate localizou o tamborete encostado na parede sentouse VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada Sair chispado significa partir deixar um lugar imediatamente HOUAISS 2009 A expressão originouse da onomatopeia chispas que representa faíscas ideia de rapidez No conto indica que o menino saiu rapidamente para providenciar o que Seu Viriates o havia solicitado CUSTAR O menino saiu chispado o mascate localizou o tamborete encostado na parede sentouse O senhor custou hein Estava brigado com a gente O mascate se assustouse Não sabia que tinha feito falta Realmente começou ele procurando uma desculpa que não o ofendesse Seu Viriates repetiu O senhor demorou muito Eu tenho meus passos traçados as paradas certas VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de demorar tardar HOUAISS 2009 No conto Seu Viriates na conversa com o mascate alega que o homem demorou a retornar a Sumaúma MATAR O TEMPO Seu Viriates repetiu O senhor demorou muito Eu tenho meus passos traçados as paradas certas Então por que quebrou caminho hoje Eu trago aí umas coisas novas bonitas queria mostrar Seu Viriates não se interessou pela explicação ficou olhando pela janela em frente pensando ou simplesmente matando o tempo até que veio o café já nas xícaras VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada Matar o tempo expressa alguma forma de passar o tempo ociosamente distrairse AULETE 2023 Durante a conversa Seu Viriates não demonstrou interesse em ouvir a explicação do mascate 202 o que se pode constatar pelo fato de ele olhar para a janela para matar o tempo para distrairse e não para o locutor enquanto falava SOLTAR COBRE Seu Viriates limpou a boca com a manga da camisa tomando cuidado pra não desarrumar a barba De repente falou Perdeu seu tempo Minha mulher não precisa de nada meus empregados já estão me devendo muito e eu não solto mais cobre O mascate sentiuse aliviado com a informação já estava mesmo querendo uma desculpa para ir embora Então com a sua licença VEIGA 1968 2010 10 ênfase adicionada A expressão soltar cobre é referente a liberar dinheiro HOUAISS 2009 com cobre como uma metonímia para dinheiro o material em substituição do produto Seu Viriates nesse trecho tratou de derrubar qualquer pretensão de vendas do mascate com o argumento de que não daria dinheiro para que ninguém comprasse nada PISAR LEVE Mas o velho já cochilava com a cabeça caída pra trás os braços cruzados no peito O mascate cautelosamente saiu pisando leve Quando punha o pé no estribo para montar o menino gritou da porta Ei moço Não é pra sair agora não Meu padrinho quer que o senhor jante primeiro VEIGA 1968 2010 11 ênfase adicionada Pisar leve nesse contexto indica caminhar sem força cuidadosamente AULETE 2023 O mascate deixa a sala da casa de Seu Viriates caminhando cuidadosamente para não o acordar ENGOLIR UMA DISTÂNCIA Ele agradeceu o convite explicou que pretendia pousar no Batepaca e não queria chegar muito de noite Demais não estava com fome almoçara tarde no Ururu Adianta não Ele quer que o senhor jante Agradeço mas não posso Tenho quatro légua para 203 engolir Fica para outra vez Convém sair não Padrinho disse que é para jantar primeiro VEIGA 1968 2010 11 ênfase adicionada O sentido aqui empregado é o de encurtar distâncias HOUAISS 2009 Encaminhandose para deixar Sumaúma o mascate explica que tem quatro léguas de caminho a percorrer NÃO MOVER PALHA Quando inclinou o corpo para puxar o trinco o mascate viu que a porteira estava fechada com corrente e cadeado Olhou para a porta o menino continuava na mesma posição fingindo indiferença Ei a chave daqui Traz a chave Posso não Padrinho guardou O mascate pensou um pouco concluiu que não adiantava insistir com o menino aquele ali não ia mover uma palha De repente ocorreulhe que o menino podia estar brincando fazendo maldade por conta própria VEIGA 1968 2010 1112 ênfase adicionada A expressão empregada tem o sentido de não fazer coisa alguma AULETE 2023 No conto o mascate ao perceberse trancado na fazenda pensa em solicitar ajuda ao menino mas ao ver sua atitude negativa conclui que ele não ia mover uma palha não faria nada para ajudálo MARIAMINGAU Seu Viriates estava na mesma posição como se alguém de muita autoridade lhe tivesse dado ordem de não se mexer Os únicos movimentos eram o leve balanço natural da rede e a vibração dos fios da barba em volta da boca ao compasso da respiração O mascate ficou olhando indeciso já arrependido do rompante Se ele não fizesse qualquer coisa o menino iria pensar que ele era um maria mingau o menino já estava parado na porta olhando malicioso aguardando O mascate avançou para a rede estendeu a mão para tocar o joelho do velho hesitou desistiu rodou uma duas vezes saiu pisando duro derrotado VEIGA 1968 2010 12 ênfase adicionada Nesse trecho a expressão mariamingau indica um indivíduo de personalidade fraca sem reação O mascate pensou que se 204 aceitasse sua contenção naquele lugar sem reivindicar o menino o acharia um covarde um homem sem atitude BOIOTA No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada A expressão nesse caso significa idiota uma pessoa com pouca capacidade intelectual AULETE 2023 A cena retratada mostra a briga entre os filhos de Seu Viriates em que chamam um ao outro de boiota solicitando uma comprovação da não idiotice pela resposta rápida a uma conta matemática SANHAÇO No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa Não amola sanhaço Eu quero comer VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada 205 A expressão destacada corresponde ao nome de um pássaro o sanhaço uma ave de cores chamativas e que possui dismorfismo sexual HOUAISS 2009 ou seja não existem diferenças físicas ou comportamentais entre machos ou fêmeas dessa espécie o que leva à conclusão que no conto um irmão insinua que o outro seria afeminado nesse contexto o termo é considerado pejorativo visto que o irmão que recebe o apelido se irrita DAR UM JEITO No meio do jantar chegaram os dois filhos mais velhos do Seu Viriates chegaram suados e barulhentos e foram sentando à mesa sem nem lavar as mãos Vão mudar essa roupa suada disse a mãe fazendo menção de se levantar Eu vou ver roupa limpa pra vocês Carece não A fome é muita disse o que se sentou ao lado do mascate E ao olhar para ele perguntou Burro lá fora é seu Quer negociar Antes que o mascate desocupasse a boca para responder o outro irmão intrometeuse Olhe o exibido Vais comprar burro com quê siô Olhe o boiota metendo a colher Ninguém pediu a sua opinião Boiota é você que não sabe fazer conta de diminuir Quem de quinze tira seis quanto é que fica Diz depressa Não amola sanhaço Eu quero comer Não diz porque não sabe E quem de trinta tira treze Depressa Mãe dá um jeito nele senão eu dou Mãedájeitonelesenãoeudou fez o outro imitando voz de criança e mal acabou recebeu uma colherada de farinha no rosto VEIGA 1968 2010 13 ênfase adicionada A expressão dar um jeito nesse caso tem sentido de resolver uma situação agindo sobre alguém para que mude de atitude Um dos filhos sentindose ofendido recorre à mãe para que esta interfira na atitude de seu irmão sob a ameaça de ele mesmo dar um jeito no outro EM TEMPO DE O mascate estranhou que o pai não se manifestasse um homem aparentemente tão severo olhou para a cabeceira da mesa e viu que ele dormia a cabeça descansando no ombro a mão esquerda 206 apoiada na beira do prato em tempo de virálo VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada Em tempo de no trecho significa sob risco de acontecer algo AULETE 2023 A mão de Seu Viriates que cochilava à mesa estava apoiada no prato de tal maneira que o risco de que o prato virasse era alto PEGAR PRA CAPAR Um dos rapazes deu um pontapé num cachorro debaixo da mesa o bicho ganiu o velho acordou assustado quase entornou o prato deu um murro na mesa e gritou Pega Pega Os dois rapazes se olharam e caíram na risada O mascate discretamente fingiu que catava um cisco na toalha não queria participar da zombaria O velho mastigou em seco resmungou fechou os olhos De repente soltou outro brado Pega Pega pra capar É com você Tiago disse um dos irmãos Comigo os coletes Você é que está precisando VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada A expressão referese a uma espécie de confusão sendo sua origem relativa ao trabalho rural de castração de animais Nessa situação possivelmente por estar cochilando Seu Viriates poderia estar sonhando com alguma confusão e ordenando a captura do seu causador para capálo ENTOJADO O velho mastigou em seco resmungou fechou os olhos De repente soltou outro brado Pega Pega pra capar É com você Tiago disse um dos irmãos Comigo os coletes Você é que está precisando É Olhe que eu conto o caso da bezerra Olhe mãe aí Respeite Então não mexa comigo Se mexer eu conto O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado VEIGA 1968 2010 14 ênfase adicionada A palavra entojado aqui expressa um tipo de ofensa equivalendo a alguém presunçoso encrenqueiro AULETE 2023 Esta é mais uma das ofensas trocadas entre os filhos de Seu Viriates em sua discussão 207 CORTAR UM DOZE O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado O outro sorriu vitorioso Quando Tiago deixou a mesa ele disse para o mascate Ele corta um doze comigo O mascate sorriu comedido Não queria envolverse em pendenga de irmãos muito menos daqueles VEIGA 1968 2010 1415 ênfase adicionada O sentido da expressão cortar um doze é passar dificuldade enfrentar um obstáculo AULETE 2023 Um dos irmãos ao sentirse vitorioso sobre o outro comentou com o mascate que o perdedor passava dificuldades com ele como se fosse um obstáculo o qual o irmão não pudesse enfrentar PENDENGA O tal do Tiago calouse murcho piscando muito para compensar a falta de ação De repente levantouse e disse Você é muito entojado O outro sorriu vitorioso Quando Tiago deixou a mesa ele disse para o mascate Ele corta um doze comigo O mascate sorriu comedido Não queria envolverse em pendenga de irmãos muito menos daqueles VEIGA 1968 2010 1415 ênfase adicionada Pendenga é uma briga um desentendimento entre pessoas de maneira agressiva HOUAISS 2009 No conto o narrador evidencia o riso discreto do mascate como uma forma de não se envolver na briga dos dois irmãos ZANZAR Ficaram os três desconhecidos ali parados sem ação só olhando Por fim um sacudiu a cabeça e disse Coitado Vir de tão longe É assim mesmo disse outro Eles zanzam zanzam um dia param em qualquer VEIGA 1968 2010 19 ênfase adicionada A expressão zanzar tem o sentido de andar ao acaso sem destino certo HOUAISS 2009 Os mesmos homens desconhecidos que supostamente atestam a morte do mascate declaram que 208 forasteiros como ele vivem andando sem rumo de um lugar para outro para finalmente pararem com a morte em qualquer lugar pois não pertencem a nenhum SAIR NA PONTA DOS PÉS Os três abanaram novamente a cabeça como se isso fosse tudo o que pudessem fazer e foram saindo na ponta dos pés confundindose com as próprias sombras Quando já iam longe perderam a cerimônia e pisaram forte Os passos ressoando como marteladas VEIGA 1968 2010 p19 ênfase adicionada A expressão sair na ponta dos pés indica um movimento cauteloso sair com cuidado AULETE 2023 No texto os homens que supostamente atestam a morte do mascate saem com o cuidado de não fazer barulho para não incomodar o moribundo CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo se propôs a discutir brevemente o aspecto regional veigueano no conto Acidente em Sumaúma trazendo alguns culturemas da fala sertaneja nele expressas Como questões temáticas iniciais tratouse da constituição de poder na comunidade e a opressão sofrida por personagens estranhos àquela realidade além de serem feitos comentários acerca do fantástico gerado pelo discurso da instância narradora que institui situações de ambiguidade numa insinuação de temas como morte ou sonho Para as discussões sobre o regionalismo foram trazidos pontos como a classificação recebida por Veiga como regionalista tradicional e a conseguinte retificação a esse respeito que consistiu em demonstrar o caráter universalizante da escrita veigueana em que o regional se torna o palco de questões humanas universais e outras situações da narrativa que apresentam descrições de lugares e costumes do sertão Além disso para a demonstração do poder cultural expresso na fala foram elencadas algumas expressões regionais do conto e demonstradas as suas devidas correspondências de sentido em cada situação 209 Apesar de a valorização do aspecto regional não ser o foco da escrita de Veiga ela tornase uma consequência de seu trabalho um produto das descrições culturais e linguísticas verossimilhantes ao campo e ao sertão reforçando sobretudo a universalidade não só das questões humanas e sociais mas também da língua nacional A escrita de Veiga traz à luz ricas expressões que compõem a Língua Portuguesa valorizando o regional e o Brasil como um todo A realização desse estudo surgiu da necessidade de ir mais fundo no baú de riquezas da Língua Portuguesa Os culturemas reafirmam a cultura de um povo e na literatura consolidam seu caráter identitário Por isso fazse de extrema necessidade o desenvolvimento de pesquisas na área de expressões da língua tanto para melhorar o nível de compreensão na comunicação entre comunidades quanto para os falantes de língua estrangeira que buscam conhecer a língua real do Brasil e formarse culturalmente desse modo A língua não é um produto do acaso ainda que algumas situações como a que ilustrou a escrita desse trabalho o possam ser A língua é construída através dos tempos da história das vivências das pessoas dos tropeços e acertos dos poderes e também das resistências A língua é tudo para todos É força é expressão e é a vida Referências AULETE Caldas Aulete Digital Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Dicionário Caldas Aulete vs online disponível em httpsauletecombr acessado em março e abril de 2023 GÉMES Márton Tamás Quando pequenos mundos se despedaçam O ciclo sombrio de José J Veiga Reconhecimento Perspectiva Poder e Fantástico São Carlos Pedro João Editores 2022 HOUAISS Antônio Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa Rio de Janeiro Ed Objetiva 2009 Disponível em houaiss 30zip LEITE Vanilde Gonçalves dos Santos SANTANA Rogério A Permanência do Regionalismo no Romance Brasileiro O Cerrado de Carmo Bernardes Disponível em httpwwwsbpcnetorgbr livro63raconpeexmestradotrabalhosmestradomestradovanilde goncalvespdf Universidade Federal de Goiás 2010 210 MARTINS Vicente de Paula da Silva As escolhas léxicoestilísticas culturemas na obra de Lygia Fagundes Telles São Carlos Pedro João Editores 2021 MARTINS Vicente de Paula da Silva Capitães da Areia dicionário de língua e cultura São Carlos Pedro João Editores 2020a MARTINS Vicente de Paula da Silva Os Corumbas dicionário de língua e cultura culturemas São Carlos Pedro João Editores 2020b MARTINS Vicente de Paula da Silva GÉMESMárton Tamás CERQUEIRAGislaine Costa LINO Bianca Carvalho Sombras de Reis Barbudos dicionário de culturemas fraseológicos religiosos São Carlos Pedro João Editores 2020 NADAL Lúcia Luque Los culturemas unidades lingüísticas ideológicas o culturales Disponível em httpeliesredirises Langua geDesignLD11LD1105Luciapdf Language Design 11 2009 93120 PAGANINI Vera Lúcia Mendes O Fantástico Alegórico e a Realidade Sóciopolítica em A Hora dos Ruminantes José Jacinto Veiga Disponível em httpwwwslmbuegbriconeletras ÍCONE Revista de Letras São Luís de Montes Belos v 1 p 123139 dez 2007 PAULA JÚNIOR Francisco Vicente de Aspectos do fantástico na literatura cearense 2003 114f Dissertação Mestrado Universidade Federal do Ceará Mestrado em Letras Fortaleza CE 2003 Disponível em httpsrepositorioufcbrhandleriufc35447 SOERENSEN C A CARNAVALIZAÇÃO E O RISO SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN Travessias Cascavel v 5 n 1 p e4370 2017 Disponível em httpserevistaunioestebrindexphptravessiasarticleview 4370 SOUZA Agostinho Potenciano Um Olhar Crítico sobre o nosso tempo uma leitura da obra de José J Veiga Campinas SP Unicamp 1987 Disponível em httpsrepositoriounicampbracervodetalhe 48296 VEIGA José J Acidente em Sumaúma In A Estranha Máquina Extraviada Rio de Janeiro Bertrand 1968 2010 p 719 211 Anexo I Categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir do modelo de Igareda 2011 CATEGORIAS PARA A ANÁLISE DOS CULTUREMAS EM TEXTOS LITERÁRIOS SEGUNDO IGAREDA 2011 CATEGORIZACÃO TEMÁTICA CATEGORIZAÇÃO POR ÁREAS SUBCATEGORIAS 1 ECOLOGIA 1Geografia topografia Montanhas rios mares 2 Meteorologia Tempo temperatura clima calor luz 3 Biologia Flora fauna domesticada selvagem relação com animais tratamento nomes 4 Ser humano Descrições físicas partes ações do corpo 2 HISTÓRIA 1Edifícios históricos Monumentos castelos pontes ruínas 2 Acontecimentos Revoluções datas guerras 3 Personalidades Autores políticos reis rainhas reais ou fictícios 4Conflitos históricos Referências sobre rebeliões populares lutas armadas manifestações populares entre outros conflitos que ao longo do período colonial imperial e republicano da história brasileira relacionados à construção do Estado e da sociedade brasileira 5Mitos lendas legendas heróis Relatos simbólicos passados de geração em geração dentro de um grupo que narra e explica a origem de determinado fenômeno ser vivo instituição costume social ou representações de fatos eou personagens históricos amplificados através do imaginário coletivo e de longas tradições literárias orais ou escritas 6 Perspectiva euro centrista da história Histórias de países latinoamericanos os nativosos colonizadores e seus 212 universal ou outro descendentes 7História da religião Referência ao conjunto de práticas e de crenças de ritos e de mitos 3 ESTRUTURA SOCIAL 1 Trabalho Comércio indústria estrutura de trabalhos empresas cargos 2Organização social Estrutura estilos interativos etc 3 Política Órgãos do Estado organizações sistema partidário eleitoral ideologia e atitudes sistema político e legal 4 Família Referências agrupamentos humanos formados por indivíduos com ancestrais em comum eou ligados por laços afetivos e que geralmente vivem numa mesma casa 5 Amizades Relacionamento social compadrio coleguismo camaradagem etc 6 Modelos sociais e figuras respeitadas Profissões ofícios ocupações atitudes comportamentos personalidades etc 7Religiões oficiais ou preponderantes Referência aos sistemas diversos de doutrinas crenças e práticas rituais próprias de um grupo social estabelecido segundo uma determinada concepção de divindade e da sua relação com o homem 4 INSTITUIÇÕES CULTURAIS 1 Belas artes Referência a aspectos relacionados à arquitetura à pintura às artes plásticas à escultura música dança 2 Arte Teatro cinema literatura 3 Cultura religiosa crenças tabus etc Edifícios religiosos ritos festas orações expressões deuses e mitologia crenças populares e pensamentos etc 4 Educação Referênciais métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico intelectual e moral de um ser humano pedagogia didática ensino 5Meios de comunicação Televisão imprensa internet artes gráficas 5 UNIVERSO SOCIAL 1Condições e hábitos sociais Grupos relações familiares e papéis sistema de parentesco relação de pessoas quer por vínculo de sangue consanguinidade quer pelo casamento afinidade tratamento 213 entre pessoas cortesia valores morais valores estéticos símbolos de status rituais e protocolos tarefas domésticas 2Geografia cultural Populações estados munícipios distritos localidades estruturaviária ruas países toponímia 3 Transporte Veículos meios de transporte 4 Edifícios Arquitetura tipos de edifícios partes da casa 5 Nomes próprios Pseudônimos nomes de batismos alcunhas 6Linguagem coloquial variantes diastráticas idioletos insultos Gírias coloquialismos empréstimos linguísticos palavrões blasfêmias tabuísmos nomes com significado adicional 7 Expressões De felicidade aborrecimento pesar surpresa perdão amor agradecimentos saudações despedidas 8 Costumes Modo de pensar e agir característico de pessoa ou grupo social 9 Organização do tempo Época propícia para certos fenômenos ou atividades estação sazão quadra 6 CULTURA MATERIAL 1 Alimentação Comida bebida chás ervas rapé 2 Indumentária Roupa complementos joias adornos 3 Cosmética Pinturas maquiagens cosméticos produtos de higiene eou beleza usados especialmente por mulheres perfumes 4 Tempo livre ou lazer Deportes festas atividades de tempo livre jogos celebrações folclóricas 5 Objetos materiais 651Mobiliário móveis destinados ao uso e à decoração de uma habitação um escritório um hotel um hospital etc objetos em geral 6 Tecnologia Motores computadores máquinas 7Moedas medidas Real 8 Medicina Drogas e similares 214 7 ASPECTOS LINGUÍSTICOS CULTURAIS E HUMOR 1 Tempos verbais verbos determinados Marcadores discursivos regras de fala e rotinas discursivas formas de fechar interromper o diálogo modalização do enunciado intensificação intensificadores atenuadores dêixis interjeições 2Advérbios nomes adjetivos expressões Referemse às categorias gramaticais classes de palavras que compõem o léxico de uma língua e que são possíveis núcleos de sintagmas nomes verbos preposições advérbios 3Elementos culturais muito concretos Provérbios expressões fixas expressões idiomáticas modismos clichês ditos arcaísmos símiles alusões associações simbólicas metáforas generalizadas 4Expressões próprias de determinados países idiomatismos 5 Jogos de palavras refrães frases feitas 6 Humor Fonte Igareda 2011 com adaptação de Martins 2017 215 Anexo II Quadro sintético de categorias para análise dos referentes culturais adaptado por Vicente de Paula da Silva Martins à análise literária a partir de Igareda 2011 Categorização por âmbitos Categorização por culturemas 1Ecossistema 1 Topoculturemas 2 Meteoroculturemas 3 Bioculturemas 4 Humaniculturemas 2História mitos e legados 1 Edificulturemas 2 Taticulturemas 3 Personiculturemas 4 Mitoculturemas 5 Euroculturemas 6 Religiculturemas 3Organização social 1 Ocupaculturemas 2 Organiculturemas 3 Politiculturemas 4 Familiculturemas 5 Amiculturemas 6 Socioculturemas 7 Crediculturemas 4Instituições culturais 1 Criaculturemas 2 Articulturemas 3 Tabuculturemas 4 Educulturemas 5 Comuniculturemas 5Universo social 1 Habiculturemas 2 Geoculturemas 3 Portaculturemas 4 Edificulturemas 5 Antropoculturemas 216 6 Gargaculturemas 7 Formaculturemas 8 Costumiculturemas 6Cultura material 1 Alculturemas 2 Indumentoculturemas 3 Cosmoculturemas 4 Liciculturemas 5 Mobiculturemas 6 Tecnoculturemas 7 Moedoculturemas 8 Mediculturemas 7Identidade Linguocultural 1 Verboculturemas 2 Gramaticulturemas 3 Reiculturemas 4 Idioculturemas 5 Idiomaticulturemas 6 Humoculturemas Fonte Igareda 2011 com adaptação terminólogica de Martins 2017 217 Sobre os Organizadores e a Organizadora Vicente de Paula da Silva Martins Graduação em Letras UECE 1987 e pósgraduação em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Ceará UECE 1989 Fortaleza com mestrado em educação brasileira UFC 1994 e doutorado em linguística pela Universidade Federal do Ceará UFC 2013 Fortaleza Possui dois estágios de pósdoutorados em Linguística UFBA 2017 e UFC 2020 Desde 1994 é professor adjunto de Linguística da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA Sobral Autor de vários livros e ebooks na área de educação e linguística todos publicados pela Pedro João Editores São Carlos SP contando com incentivo editorial do linguista e editor Valdemir Miotello UFScar Márton Tamás Gémes Possui graduação em Lusitanistik Anglistik e Germanistik pela Universidade de Köln Alemanha 1999 e doutorado em Romanistik Lusitanistik pela Universidade de Köln Alemanha 2008 Desde 2015 é professor adjunto de literatura inglesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú Tem experiência na área de Letras com ênfase em Literatura em Língua Inglesa atuando principalmente nos seguintes temas fantástico conto gênero José J Veiga narratologia Francisco Vicente de Paula Júnior Graduado em Letras pela UFC 2000 Possui mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará 2003 É especialista em Educação pela UECE 2011 Doutor em Letras Literatura e Cultura pela UFPB 2011 e desenvolve pesquisas em Literatura Fantástica Autoria feminina na Literatura Assédio Moral Bullying e Cultura Popular Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA É membro efetivo da Academia Cearense da Língua Portuguesa ACLP onde ocupa a cadeira nº 4 Desenvolveu Estágio Pósdoutoral na Universidade Federal do Ceará UFC Sara Hevilly Ferreira Souza Graduanda em Letras Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA em Sobral Atuou como tutora escolar de Língua Portuguesa em 2021 e 2022 na EEMTI Vicente de Paulo da Costa em Acaraú pelo programa Minha Escola é da Comunidade e FOCO na Aprendizagem Em 2022 atuou também como professora de Espanhol para o Enem e vestibulares na mesma instituição As escolhas Léxicoestilísticas na obra de J J Veiga apresenta uma instigante trajetória de três docentes pesquisadores da área de Letras e seus estudantes da Universidade Estadual do Vale do Acaraú polo importantíssimo na cidade de Sobral interior do Ceará O trabalho desenvolvido teve por objetivo aproximar a estilística linguística e a estilística literária na formação de novos leitores e pesquisadores aspecto que torna a obra inovadora pois possibilita a ampliação do olhar sobre os textos artísticoliterários Cristiane Aparecida Silva Nascimento Mestre em Psicologia Desenvolvimento e Aprendizagem área de leitura UNESPSP