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Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo 2a edição Nead UPE 2013 Dados Internacionais de CatalogaçãonaPublicação CIP Núcleo de Educação à Distância Universidade de Pernambuco Recife Azevedo Luciano Taveira de Letras Estilística Luciano Taveira de Azevedo Recife UPENEAD 2012 44 p Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx Universidade de Pernambuco Núcleo de Educação à Distância II Título XXX xxx xxxxxx Xxxxxxxxxxxxx Xxxx XXXxxxxx xxxxxxxxxxxx XXXX Reitor ViceReitor PróReitor Administrativo PróReitor de Planejamento PróReitor de Graduação PróReitora de PósGraduação e Pesquisa PróReitor de Extensão e Cultura PróReitor de Integração e Fortalecimento da Interiorização Prof Carlos Fernando de Araújo Calado Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Rosângela Prof Béda Barkokébas Jr Profa Izabel Christina de Avelar Silva Profa Viviane Colares S de Andrade Amorim Prof Rivaldo Mendes de Albuquerque Prof Pedro Henrique de Barros Falcão UNIVERsIDADE DE PERNAmbUCo UPE NEAD NÚCLEo DE EDUCAÇÃo A DIsTÂNCIA Coordenador Geral Coordenador Adjunto Assessora da Coordenação Geral Coordenação de Curso Coordenação Pedagógica Coordenação de Revisão Gramatical Gerente de Projetos Administração do Ambiente Coordenação de Design e Produção Equipe de design Coordenação de suporte EDIÇÃo 2013 Prof Renato Medeiros de Moraes Prof Walmir Soares da Silva Júnior Profa Waldete Arantes Profa Francisca Núbia Bezerra e Silva Profa Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Profa Angela Maria Borges Cavalcanti Profa Eveline Mendes Costa Lopes Profa Geruza Viana da Silva Prof Valdemar Vieira de Melo José Alexandro Viana Fonseca Prof José Lopes Ferreira Júnior Valquíria de Oliveira Leal Prof Marcos Leite Anita Sousa Gabriela Castro Renata Moraes Rodrigo Sotero Afonso Bione Wilma Sali Impresso no Brasil Tiragem 150 exemplares Av Agamenon Magalhães sn Santo Amaro Recife Pernambuco CEP 50103010 Fone 81 31833691 Fax 81 31833664 5 Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 60 horas EmEnta Componentes estilísticos da Língua Portuguesa fonético lexical morfológico e sintático linguagem figurada o vocabulário Português figuras de linguagem fraseologia clichê artigos nomes e outras classes gramaticais na perspectiva estilística ObjEtivO GEral Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acerca dos processos que envolvem a expressão estética da palavra aprEsEntaçãO da disciplina Estimado estudante É com muita alegria que elaboramos mais um livro que procura atender às ne cessidades do curso de Letras na modalidade a distância Desta vez a disciplina sobre a qual este livro discorrerá é a Estilística Como veremos ao longo destas páginas a Estilística voltase para aquilo que no nível da forma e do conteúdo constitui um uso individual da língua É o estilo individual de cada produtor de textos que permite reconhecermos a produção literária por exemplo de um determinado escritor Em Aristóteles 384322 aC já encontramos as primeiras reflexões acerca do estilo quando discorre sobre retórica de maneira que o in teresse pelo estudo acerca da expressividade não é recente Em nosso material decidimos apresentar por um lado os conceitos gerais e tradicionais dos casos compreendidos no âmbito da Estilística e por outro desenvolver uma discussão acerca da relação entre texto expressividade e discurso Valendose de teorias que advêm do estudo sobre texto e discurso proporemos uma reflexão que não se restrinja apenas à palavra eou à frase mas assuma também o texto em seus aspectos enunciativos e discursivos É com esse objetivo em mente que damos início à escritura deste livro Bons estudos 7 Capítulo 1 7 Capítulo 1 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na Língua Portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Neste capítulo traçaremos o percurso histórico e teórico da Estilística Nessa direção apresentaremos os diferentes conceitos que foram sendo agregados ao campo da Estilística de acordo com a orientação teórica na qual figurava Para en tendermos o conceito de Estilística palavra que aparece pela primeira vez em lín gua portuguesa no ano de 1899 fazse necessário remontarmos ao antigo estudo de Retórica e Poética uma vez que o seu conceito moderno deve a esses conceitos seu caráter vinculado à expressão do pensamento e do sentimento Em seguida passearemos pelos diferentes entendimentos do termo estilística na história das Ciências da Linguagem e por fim apresentaremos suas duas grandes correntes a estilística descritiva e idealista Vamos começar nossa viagem Bons estudos Prof Luciano Azevedo 1 para iníciO dE cOnvErsa Afinal de contas o que é estilo É com essa pergunta que damos início à nos sa jornada rumo ao conhecimento dos processos que singularizam as práticas Estilística brEvE ExcursO tEóricO E HistóricO Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 8 Capítulo 1 de escrita Assim começaremos trazendo algumas definições tradicionais ou melhor de estilo para depois apresentarmos a que mais se aproxima da abordagem que daremos às questões relacionadas à estilística Assim Estilo vem do latim stilus e em seu sentido originário signi fica qualquer objeto em forma de haste pontiaguda ponta de ferro que serve para escrever sobre tabuinhas enceradas Com o decorrer do tempo de objeto utilizado para escrever o termo estilo passou a significar a pró pria escrita e depois aquilo que essa escrita tem de característico Atualmente entendese por estilo Tudo aquilo que individualiza obra criada pelo homem como resultado de um esforço mental de uma elaboração do espírito traduzido em ideias imagens ou formas con cretas Garcia 2010123 É importante salientar que o que individualiza a escrita do produtor de textos não é o desvio mas a escolha que esse produtor faz das palavras que comporão o arranjo textual Nessa direção Gui raud 1978140 afirma ser o estilo o aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de expressão determinada pela natureza e intenções do indivíduo que fala ou escreve Essa escolha lin guística da qual fala o autor até pode vir por meio de um desvio mas não é este que define o estilo de um texto Numa definição um pouco mais recente que a do professor Othon M Garcia Estilo é o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos fonológicos morfológicos sintáticos lexicais semânticos discursivos da língua para expressar oralmente ou por es crito pensamentos sentimentos opiniões etc Henriques 201127 A definição de Henriques 2011 por ser mais abrangente uma vez que não se restringe aos as pectos meramente linguísticos mas alcança os as pectos semânticos e discursivos ganha prioridade neste trabalho de maneira que abordaremos os fe nômenos estilísticos em seus aspectos linguísticos mas desdobraremos nossa abordagem de modo a considerarmos os aspectos do discurso que deter minam o estilo de uma produção linguística seja oral seja escrita Acreditamos com Beaugrande apud Marcuschi 200880 que é essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações lin guísticas cognitivas e sociais e além do que o texto é um sistema atualizado de escolhas extraído de sistemas virtuais entre os quais a língua é o sis tema mais importante Beaugrande apud Marcus chi 200879 Dessa maneira o texto é resultado das escolhas linguísticas que fazemos ao longo da produção textual mas elas não resultam de um ato abstraído da situação de produção Toda produção se dá na perspectiva da situação social em que é realizada de modo que o estilo é também determi nado pelos parâmetros e atividades dessa situação 11 a rEtórica VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilo O estilo definido pelo período clássico como um não sei quê constitui a marca da in dividualidade do sujeito na fala noção fun damental fortemente ideológica que cabe à estilística depurar para tornála operatória e fazêla passar da intuição ao saber A linguística saussuriana em sua primeira manifestação não perturba profundamente essa concepção O estilo pertence à fala ele é a escolha feita pelos usuários em todos os comportamentos da língua Cressot Seja esta escolha consciente e deliberada ou um simples desvio o estilo reside na distin ção entre língua e fala individual A teoria da informação a análise mais avan çada das funções da linguagem os desen volvimentos do estruturalismo aprofundam a noção Existe uma função estilística que su blinha os traços significativos da mensagem e que põe em relevo as estruturas represen tantes das outras funções A língua exprime o estilo sublinha Riffaterre Os efeitos em que se manifestam essa função formam uma estrutura particular o estilo Dubois et alii 2006237238 243 SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para saber mais sobre a definição de estilísti ca e estilo recomendo a leitura do capítulo 3 do livro Estilística e Discurso de Claudio Cezar Henriques HENRIQUES C C Estilística e Discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 9 Capítulo 1 É pelo discurso que persuadimos sempre que demonstramos a verdade ou o que parece ser verdade de acordo com o que sobre cada assunto é suscetível de persuadir Aristóteles Para traçarmos a história da Estilística fazse ne cessário entendermos como o homem num dado momento histórico começou a preocuparse com a maneira de dizer o que diz ou seja como esse homem voltouse para o seu discurso a fim de entendêlo e organizálo para atingir fins específi cos É dessa necessidade parecenos que nasce o que se convencionou chamar de Retórica palavra originada do latim rethorica cujas raízes vêm do grego rhetor significando orador Assim Rhetor deriva de rhema cujo significado é palavra ou seja aquilo que se diz Seu primeiro registro no Português data do século XIV Em Atenas a democracia serviuse da retórica como instrumento de reivindicação uma vez que sua organização política e social possibilitava a contenda judicial Assim a Retórica assumiu um papel importante já que implicava a arte de fa lar bem para envolver e convencer o outro Em seus primeiros momentos a Retórica tinha um objetivo preciso convencer o outro da justeza de uma causa Para isso seria necessário ter um co nhecimento amplo das propriedades do discurso que se decompunha em quatro partes inventio dispositio elocutio pronuntiatio Cada uma dessas partes representa uma etapa que não deve ser re ligiosamente cumprida Essas etapas podem sem assim explicitadas a Invenção a busca de todos os argumentos e de outros meios de persuasão relativos ao tema do seu discurso b Disposição a ordenação organização desses argumentos seu planejamento c Elocução a escolha e disposição das palavras na frase d Enunciação a proferição efetiva do discurso Segundo Aristóteles o orador deve adequar o es tilo às diferentes situações evitando sempre que possível o estilo afetado Ainda para Aristóteles o que produz o discurso deve buscar a melhor es tratégia para apresentar um argumento a determi nado público Nessa época havia três gêneros do discurso 1 deliberativo cuja finalidade é aconselhar o público acerca de algo que se pretende fazer 2 judicial que apresenta uma acusação ou defe sa em relação às ações consideradas justas ou injustas 3 epidíctico ou demonstrativo que procura louvar ou reprovar atos ou temas de conheci mento geral De acordo com o exposto vêse que a retórica ti nha uma estrutura a ser seguida de maneira que o discurso deveria ser estrategicamente organizado Desse modo ao organizar o discurso recomenda se seguir a seguinte subdivisão a exórdio introdução do discurso cujo objeti vo é preparar o auditório de maneira a deixálo atento ao que será proferido pelo orador b a narração exposição dos fatos relacionados ao tema do discurso c a confirmação apresentação dos argumentos d a digressão inserção de uma ilustração no processo discursivo com a intenção de distrair o auditório e a peroração conclusão do discurso Esta últi ma pode subdividirse em amplificação cuja finalidade é rever os argumentos paixão pro vocar comoção no auditório e a recapitulação sintetizar a argumentação Diante do exposto chegamos à conclusão de que o exercício da retórica era voltado à preocupação em produzir determinados efeitos estilísticos a fim de convencer o público hoje temos a figura do lei tor que substitui a de público ou plateia de uma verdade ou daquilo em que se acreditava ser uma verdade Assim a Retórica visa à construção de um estilo que percorre o texto e produz um efeito de verdade com fins de convencimento 12 a pOética 10 Capítulo 1 A poesia é a arte que se manifesta pela palavra Janilto Andrade Póetica vem do latim poeticus que por sua vez tem origem no grego poiétikos cujo significado é que tem a virtude de fazer O primeiro uso escrito dessa pala vra no Português data de 1697 Desde Aristóteles 384322 aC o termo Poética vem recebendo diferentes definições formuladas conforme o lugar teórico de sua configuração As sim recebe uma definição quando pensado por formalistas russos outra quando aparece em tex tos sobre a Antiguidade clássica ou em manuais de literatura Segundo Roberto Acízelo de Souza apud Henriques 201137 há pelo menos três acepções a considerar quando nos referimos à Poética 1 Disciplina antiga dedicada aos estudos de lite ratura e por esse motivo chamada de poética clássica 2 Disciplina contemporânea dedicada ao estudo sistemático da literatura 3 Abreviação do sintagma arte poética equiva lente ao termo metapoema usado para rotular composições em que se expõe explicitamente uma concepção de poesia Para Henriques 201137 se optarmos pela segun da definição eremos que na tradição de estudos literários a Poética en globa a designação de toda a teoria interna da literatura a escolha feita por um autor entre todas as possibilidades literárias e o conjunto de regras práticas construídas por uma escola literária A essas definições acrescentase a consideração de Tadié 1992 afirmando a distinção de três poéti cas assim denominadas poética da prosa poética da poesia e poética da leitura De acordo com o autor a poética da prosa daria conta dos proces sos de construção do romance enquanto a poética da poesia se encarregaria dos elementos e dos ins trumentos necessários à compreensão da poesia Entre a poética da prosa e a poética da poesia te mos a poética da leitura incumbida dos processos relacionados à estética da recepção e de como o leitor interpreta um texto literário levandose em consideração os fatores externos que determinam essa leitura como o momento histórico no qual se encontra inserido Mais próximo dessa poética da leitura a definição de Andrade 20023334 diz que uma poética é um conjunto de razões que delimitam uma concepção do artístico Por conseguinte dizendo respeito à investigação da obra literária uma poética será entendida como um corpo de razões que dão conta de uma forma de pensar sobre a literatura Tratase de uma espécie de fio condutor da interpretação dos textos poéticos No en tanto tendo em vista que a obra literária recusa qualquer leitura doutrinária que se queira fazer a partir de critérios a priori devese ter na poética uma construção de intenções teóricas a que o leitorintérprete recorre para lastrear os caminhos da sua leitura Seja um corpo teórico que permite a análise sis SAIBA MAIS SAIBA MAIS DUBOIS et alii Retórica Geral São Paulo Cultrix e EdUSP 1974 TRIGALI D Introdução à Retórica a retórica como crítica literária São Paulo Duas Cida des 1988 HALLIDAY T L O Que é Retórica São Pau lo Brasiliense nº 232 da Coleção Primeiros Passos 1990 Reboul O Introdução à Retórica São Paulo Martins Fontes 1998 ARISTÓTELES Retórica Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda Bibliotecas de Autores Clássicos 2005 Fontehttpwwwcentrofilosofiaorgpublicacoes phppagina8criterio 11 Capítulo 1 temática das formas poéticas seja uma chave que abre para a reflexão acerca dos processos relaciona dos à interpretação do texto literário a Poética se configura como um campo de estudos preocupado com os elementos implicados com a construção do texto literário Assim procedendo a Poética desbrava caminhos e sugere temas que mais tar de interessarão à Estilística uma vez que antecipa reflexões e problemáticas referentes ao estilo e ao modo de escrever 13 a Estilística 18651947 fala da Estilística como disciplina que permite identificar na fala traços afetivos que se deixam refletir na língua considerada como ex pressão do pensamento Vale lembrar que Char les Bally foi discípulo do linguista genebrino Fer dinand de Saussure 18571913 e suas reflexões partem desse lugar inaugurado por Saussure qual seja a linguística estrutural Enquanto Bally voltavase para a expressão de ele mentos afetivos que se deixam marcar na fala Vos sler 18721947 e Spitzer 18871960 decidiram estudar as relações entre expressão e indivíduo So bre o pensamento de Bally Henriques 201153 afirma que inspirado pelos ensinamentos de Saus sure Bally cunhou o termo Estilística cuja teoria se baseia num conceitochave que serve de suporte para todas as estilísticas posteriores a linguagem não se presta apenas para expressar ideias mas também sentimentos Numa outra direção cami nham Vossler e Spitizer pois esses privilegiam o componente literário Na perspectiva desses teóri cos tudo o que é determinado pela fantasia só se manifesta genuinamente na literatura Desses dois lugares teóricos que dizem sobre a es tilística surgem dois segmentos dos estudos esti lísticos um mais próximo da gramática descritiva influenciado pelo pensamento de Bally e o ou tro caminhando em direção aos estudos literários Vossler e Sitzer Desses encaminhamentos temos as duas grandes vertentes da Estilística denomina das descritiva e idealista 131 Estilística DEscritiva linguística A Estilística Descritiva ocupase dos aspectos afe tivos da língua que se encontram à disposição do homem de maneira espontânea A tarefa dessa ver tente dos estudos estilísticos é a sistematização e ou descrição das possibilidades que a língua ofe rece para expressarmos os elementos afetivos que se encontram na cadeia do enunciado Dito isso os elementos afetivos disponíveis na língua encon tramse sujeitos à descrição uma vez que partici pam de um sistema expressivo Conforme Henriques 201156 afirma a Estilística Linguística obviamente procura parceria com todos os componentes linguísticos do texto desde os fo nemas que constroem os morfemas e as palavras até os períodos e parágrafos que constroem a totalidade do texto sempre levando em conta os valores semânticos pragmáti SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para conhecer mais a história da Poética re comendo SPINA S Introdução à Poética Clássica São Paulo Martins Fontes 1967 SUHAMY H A Poética Rio de Janeiro Jorge Zahar nº 10 da coleção Cultura Contempo rânea 1988 ANDRADE J Procurando o Poético 3ª ed Ed Ideia 2002 SOUZA R A Império da eloquência estudos de retórica e poética no Brasil oitocentista Rio de Janeiro e Niterói EdUERJ e EdUFF 1999 A Estilística teve seu primeiro registro escrito em português no ano de 1899 e aqueles que traba lham nesse campo de estudo ocupamse do texto ou seja dos fenômenos relacionados às caracterís ticas em qualquer nível da língua individuais que singularizam os textos O termo Estilística sur giu no âmbito do Romantismo via tradição da re tórica e se consagrou na França dando ao campo outro direcionamento que não mais aquele recla mado pela Retórica Afirmamos de saída que o objeto principal do qual se ocupa a Estilística é a linguagem poética que implica a manifestação estética expressiva e ou apelativa praticada em texto com literariedade Henriques 201152 Mas é importante salientar que embora a estilística priorize os textos literá rios não se ocupará apenas deles Segundo Karl Bühler 1950 a Estilística é a dis ciplina que estuda a língua nas suas funções ex pressiva e apelativa O seu criador Charles Bally 12 Capítulo 1 cos e discursivos Nesse sentido Mattoso Câmara Jr 1978 acrescenta ser ela a Estilística Linguística um ramo de estudos que pretende organizar e interpretar dados expres sivos que se integram nos traços da língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e amplo Vejamos um exemplo 1 Hoje eu tenho apenas umapedra no meu peito Exijo respeito não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentira Samba do grande amor Chico Buarque 2 A pedra lhe caiu sobre o peito e esmagou a caixa torácica Não obstante a proximidade de sentido entre o enunciado 2 e o início do 1 apenas o 1 carrega uma bagagem expressiva e emocionada quando Chico Buarque se utiliza de uma metáfora para falar da dor causada pela a ausência da mulher amada Desse modo a Estilística Descritiva dará atenção a esses recursos linguísticos que expressam as emoções do usuário da língua 132 Estilística iDEalista A Estilística Idealista de cunho psicológico pro cura refletir acerca dos desvios da linguagem em relação ao uso comum Essa vertente afirma que qualquer desvio identificado no uso comum da linguagem corresponde a uma alteração no estado psíquico do escritor Baseada nesses pressupos tos a Estilística Idealista entende o estilo como a expressão pessoal do escritor conforme reflexo do seu universo interior e experiência de vida A produção literária ganhará centralidade no progra ma de estudos desse campo de investigação a qual considera que toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente da intuição de quem se investe do desejo de desvendar os mis térios de criação de uma obra e dos efeitos dessa obra sobre os leitores NS Martins 200826 Henriques 201165 Vejamos este exemplo Fonte httpwwwjobimorgchicobitstreamhandle20102656CB320PrJ12460jpgsequence1 13 Capítulo 1 Esse texto de Chico Buarque de Holanda foi pu blicado num caderno suplemento do jornal O Globo em 08 de outubro de 1966 Nesse artigo de opinião Chico fala acerca da Bossa Nova do sam ba enfim daquilo que se convencionou chamar Música Popular Brasileira No decorrer do texto Chico expressa seu reconhecimento à contribuição dada pela Bossa Nova à música popular e faz consi derações sobre o samba dizendo que já não é mais aquele samba de letras fáceis e representante da va riedade popular da língua Antes diz que o nosso bom samba aparece agora vestido de novo rico e metido a falar difícil Logo em seguida diz que a situação atual do samba é promover um resgate das características originárias ou seja a simplicidade das letras e elaboração calcada no cotidiano e na fala coloquial dos brasileiros Essa abordagem con siderando os aspectos linguísticos componente temático e elaboração formal é ilustrativa de uma abordagem dentro dos parâmetros da Estilística Idealista Outro trecho que exemplifica essa abor dagem se encontra no fim do texto quando Chico se volta para sua própria produção musical e diz que seu Refrão é o refrão urbano do moleque e do pedreiro da janela e do baião em outras palavras é a música que canta os detalhes da vida do povo brasileiro sem adornos e requintes SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para aprofundamento na história da Esti lística e sua aplicação recomendo a leitu ra do artigo PARENTE M C M O domínio da Estilís tica num convite a pesquisas e criações autônomas Caderno Discente do Instituto Superior de Educação Ano 2 nº 2 Apare cida de Goiânia 2008 VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Estilística Charles Bally definiu a estilística deste modo Estudos dos fatos de expressão da linguagem organizada do ponto de vista de seu conteúdo afetivo isto é expressão dos fatos da sensi bilidade pela linguagem sobre a sensibilidade A estilística ramo da linguística consiste portanto num inventário das potencialidades estilísticas da língua efeitos de estilo no sentido saussuriano e não no estudo do estilo de tal autor que é um emprego voluntário e consis tente desses valores Essa definição vincula o estilo à sensibilidade que é definida assim O sentimento é uma deformação cuja natureza é causada pelo nosso eu desse modo a metá fora existe porque podemos tornar o espírito vítima da associação de duas representações A estilística é mais amiúde o estado científico do estilo das obras literárias tendo como jus tificativa primeira esta tomada de posição de Roman Jakobson Se existem ainda críticas que põem em dúvida a competência da linguística em matéria de poesia penso por mim que elas devem prenderse à incompetência de alguns linguistas limitados por uma incapacidade fun damental em relação à própria ciência da linguística Um linguista surdo à função poética como um especialista em literatura indiferente aos problemas e ignorante dos métodos da linguística constituem daqui por diante ambos um anacronismo flagrante 2 línGua tExtO E discursO Os fatos estilísticos podem ser observados descri tos e analisados no texto já que é no texto que eles ganham vida e se realizam Para entendermos os fenômenos estilísticos devemos nos apropriar de uma concepção de língua e texto mais ampla que a apreendida durante os anos escolares e que nos foi legada pelos gramáticos e professores de língua materna e estrangeira A noção de discurso que muito tem contribuído com os estudos linguísti cos e do texto pode nos fazer entender os fatos estilísticos como os que são determinados por fa tores mais amplos que não apenas linguísticos e ou gramaticais Assim nossa intenção é abordar esses fatos nos próximos capítulos à luz das teorias do discurso de maneira que julgamos necessário discorrer brevemente acerca da noção de língua texto e discurso norteando a apresentação e abor dagem das manifestações estilísticas apresentadas neste livro 14 Capítulo 1 21 a línGua Na história dos estudos linguísticos a língua objeto de sistematização e de especulações científicas de cunho positivista sofre um des locamento naquilo que diz respeito à sua con cepção como produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções neces sárias adotadas pelo corpo social para permi tir o exercício dessa faculdade nos indivíduos SAUSSURE 200417 e passa a figurar em contextos epistemológicos que a veem como uma forma de atividade entre dois protagonis tas POSSENTI 198848 Esse deslocamento aparece nos trabalhos de Benve niste 1989 1991 Ducrot 1988 e Austin 1990 que embasados no viés específico postulado por cada teórico trazem para os estudos linguísticos elementos que haviam sido deixados de fora de uma análise linguística de cunho estruturalista Assim esses trabalhos ampliam as perspectivas de abordagem que agora não mais se atêm tão somente à forma linguística mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes ou seja da enunciação em situações efetivas de comunicação Não obstante os estudos pragmáticos tenham oferecido uma contribuição bastante significati va à inclusão do sujeito e da situação de fala às reflexões desenvolvidas sobre os processos enun ciativos o alcance das suas pesquisas iniciais não ia além da situação empírica de interação ver bal entre interlocutores e o contexto imediato Nessa direção a Análise do Discurso de linha francesa doravante AD produziu estudos concretos que fizeram avançar a questão do su jeito arrancandoo a uma visão psicologizante por um lado e à empiricidade imediata das situ ações de comunicação por outro GUILHAU MOU MALDIDIER 198962 Assim sendo a abordagem da enunciação na perspectiva da te oria do discurso tem seus horizontes alargados posto que a análise dos processos de produção de sentido nessa perspectiva não recai apenas sobre o contexto imediato em que o enunciado é produzido mas implica as condições amplas de sua produção A AD desloca a análise das con dições de enunciação de um contexto restrito à situação de fala e a situa em outro lugar ou em outro plano por assim dizer o dos processos sóciohistóricos de produção de sentidos 22 O tExtO Hoje há praticamente um consenso entre os estu diosos da linguagem de que o enunciado é produ zido em uma condição sóciohistórica dada Desse modo os processos enunciativos se inscrevem em um contexto imediato que é aquele da situação efe tiva em que ocorre a enunciação e em um contexto mediato ou seja o arranjo sóciohistórico mais am plo com suas regras crenças costumes etc Temos então isso a linguagem é produzida e os sentidos são construídos dentro de um processo que impli ca um jogo de relações dos sujeitos enunciadores com as condições de produção do enunciado Numa perspectiva enunciativodiscursiva o texto deslocase de uma concepção centrada na estrutura e passa a ser visto como o lugar por excelência em que se dá a interação entre sujeitos Mediada pela linguagem essa interação se configura em textos formulados numa dada instância sóciohistórica e passam a circular socialmente Esse aspecto inte racional do texto que constitui sua textualidade é possível porque todo texto tem um sujeito um autor BAKHTIN 2006308 que se inscreve nas malhas textuais e com o qual o sujeito leitor ne cessariamente interage quando da produção da lei tura É nessa relação intersubjetiva que o diálogo se estabelece e abre para a possibilidade de uma resposta que por sua vez cria as condições para que novos textos se constituam Acerca do autor e do leitor Bakhtin 2006311 diz que o acon tecimento da vida do texto isto é sua verdadeira essência sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências de dois sujeitos Em seus aspectos estruturais organizadores do cor po textual apresenta coerência coesão não con tradição progressão etc Na perspectiva dos primei ros trabalhos elaborados no campo da Linguística Textual esses aspectos dentre outros asseguram a textualidade de um texto Embora concordemos que um texto se caracteriza também por seus aspec tos estruturais e linguísticos acreditamos em que não se define apenas por eles mesmos nem como objeto fechado Conceber o texto como um artefa to construído com base na realização de regras de boa formação textual é reduzilo ao nível linguísti co sem remetêlo às condições de produção Desse modo não conceituamos o texto nos seus aspectos estritamente linguísticos mas procuramos redefi nir a noção de texto como materialidade do dis curso isto é da materialidade linguísticohistóri 15 Capítulo 1 ca ORLANDI 200174 Assim os processos de textualização vistos por um viés discursivo não se reduzem aos aspectos meramente formais mas são definidos em relação ao discurso ou seja aos interlocutores em interação discursiva à situação pragmática ao contexto sóciohistórico etc 23 O discursO Em Orlandi 1999 lemos que o discurso é palavra em movimento prática de linguagem De acordo com a autora o discurso se caracteriza como pro cesso histórico de produção de sentidos em que a língua intervém como pressuposto Pensado como um complexo processo de constituição dos sujeitos em interação pela linguagem e dos sentidos histo ricamente situados o discurso é entendido como um objeto sóciohistórico que tem sua regularida de seu funcionamento Essa relação constitutiva dos processos de signifi cação permeia todo e qualquer enunciado desde o mais simples como um aviso para não fumar colocado na parede de um hospital aos mais com plexos como um romance De um a outro enun ciado temos determinantes sóciohistóricos que atravessam a cadeia do dizer e fazem se dizer de uma determinada forma e não de outra que toda atividade comunicativa que se organiza em torno do texto verbal ou não verbal se insere em uma categoria genérica determinada por fato res linguísticos e extralinguísticos Além disso os gêneros discursivos medeiam o processo de interação verbal entre interlocutores de tal modo que podemos afirmar com Marcus chi 200522 que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero O processo comunicativo só é bem sucedido porque há regularidades na forma dos gêneros que são de terminadas por fatores sociocomunicativos e fun cionais de modo que se a língua não elaborasse seus tipos relativamente estáveis de enunciados BAKHTIN 2006 a comunicação certamente ficaria comprometida uma vez que o falante se uti lizaria de formas diferentes a cada acontecimento comunicativo A estrutura relativamente estável do gênero discursivo permite que o falante recorra à forma mais apropriada para realizar com compe tência seu projeto de dizer atividadE Leia o texto abaixo VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA a estrutura ou regularidade de uma lín gua surge do discurso e é configurada pelo discurso mas o discurso também é configu rado pela estrutura ou regularidade da lín gua Não há de se entender então a gramá tica como um prérequisito do discurso um bem anterior que se atribui de forma idênti ca tanto ao falante quanto ao seu interlocu tor As formas linguísticas que estruturam os discursos não são padrões fixos são compo nentes negociáveis na interação emissorre ceptor com base em escolhas que refletem as experiências vividas pelos falantes com essas formas linguísticas Henriques 20114 3 GênErOs discursivOs As práticas comunicativas dos sujeitos interactan tes nunca se dão desvinculadas de um gênero dis cursivo que configura igualmente um modo de enunciar Maingueneau 2005 afirma que todo texto pertence a um gênero do discurso de modo Fonte 1 Agora identifique o gênero discursivo no qual o texto se realiza 2 Para processar e entender o anúncio o lei tor levanta hipóteses acerca de alguns conheci mentos que se encontram no nível do discurso como possíveis enunciadores lugar e tempo de enunciação Mobilize hipóteses e diga quem são os enunciadores o lugar de enunciação e o mo mento histórico de produção do texto acima 3 Como o anunciante explora a polissemia implicada na palavra burro 4 Uma vez que o estilo não se manifesta ape nas na obra literária reflita sobre a relação en tre elementos extralinguísticos e construção do estilo nesse anúncio publicitário 16 Capítulo 1 rEfErências ANDRADE J Procurando o poético 3 ed João Pessoa Ideia 2002 AUSTIN J L Quando dizer é fazer palavras e ações Porto Alegre Artes Médicas 1990 BAKHTIN Mikhail Estética da criação verbal 4ª ed São Paulo Martins Fontes 2006 BENVENISTE E Problemas de Linguística Geral I 3ª ed São Paulo Pontes 1991 Problemas de Linguística Geral II 3ª ed São Paulo Pontes 1989 BÜHLER K Teoría Del Lenguaje Madrid Revis ta de Ocidente 1950 CÂMARA JR J M Contribuição à Estilística Portuguesa Rio de Janeiro Ao Livro Técnico 1978 DUBOIS J et alii Dicionário de linguística São Paulo Cultrix 2006 DUCROT O O Dizer e o Dito Campinas Pon tes 1988 GARCIA O M Comunicação em prosa moder na 27ª ed Rio de Janeiro FGV Editora 2010 GUIRAUD P A Estilística São Paulo Mestre Jou 1978 GUILHAUMOU J MALDIDIER D Da enuncia ção ao acontecimento discursivo em Análise do Discurso In GUIMARÃES E História e sentido na linguagem Campinas Pontes 1989 HENRIQUES C C Estilística e discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 JORNAL O GLOBO Meu refrão Caderno Su plemento 1966 Disponível em httpwww jobimorgchicohandle20102656 MAINGUENEAU D Análise de textos de comu nicação 4 ed São Paulo Cortez 2005 MARCUSCHI L A Produção textual análise de gêneros e compreensão São Paulo Parábola Editorial 2008 Gêneros textuais definição e funcio nalidade In DIONÍSIO A P MACHADO A R BEZERRA M A Orgs Gêneros textuais e ensino 4ª ed Rio de Janeiro Lucerna 2005 ORLANDI E Discurso e texto formulação e cir culação dos sentidos São Paulo Pontes 2001 Análise de Discurso princípios e proce dimentos São Paulo Pontes 1999 POSSENTI Sírio Discurso estilo e subjetivida de São Paulo Martins Fontes 1988 SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguística Geral 26 ed São Paulo Cultrix 2004 17 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na língua portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Após traçar o percurso histórico e apresentar a base teórica dos fatos estilísticos que irão figurar neste curso delinearemos os níveis de análise estilística de ma neira que vamos abordar neste capítulo a Estilística Fônica Lexical Sintática e da Enunciação Sobre Estilística Fônica entendemos aquela que se volta para os fenômenos estilísticos que se dão no nível do fonema a Estilística Lexical por sua vez se debruça sobre os fenômenos no nível do léxico a Estilística Sintática repousa seus interesses nos efeitos estilísticos que se dão nas relações entre as palavras a Estilística da Enunciação privilegiará o enunciado ou seja os textos efetivamente realizados em situação de enunciação Na Estilística da Enuncia ção o estilo é referido aos processos de constituição do texto de maneira que elementos extralinguísticos como os interlocutores e o lugar da enunciação são considerados na abordagem dos fatos estilísticos Bom estudo Prof Luciano Azevedo 1 Estilística fônica O estilo não é um fenômeno reservado apenas aos enunciados ou às palavras Ele se manifesta também nas unidades mínimas da língua que são chamadas de fone ma Pensando nisso Henriques afirma que os valores estilísticos podem ter uma natureza sonora e se expressam tanto no âmbito da palavra como no dos enuncia dos Henriques 201195 Além do elemento fonético ele acrescenta o ritmo nívEis dE análisE Estilística Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 18 Capítulo 2 SAIBA MAIS SAIBA MAIS Há outros processos envolvidos na articula ção dos sons da fala como o timbre a altura e a quantidade Timbre efeito acústico resultante da maior ou menor abertura da boca Essa produção é máxima na produção das vogais abertas a é ó mínima na emissão das vogais fe chadas ê ô i u e média na formação das reduzidas Altura impressão auditiva relacionada à in tensidade do som Quantidade diz respeito à duração da emis são de um som As definições acima foram retiradas de CE GALLA D P Novíssima Gramática da Língua Portuguesa São Paulo Companhia Editorial Nacional 2005 a intensidade e a entonação como elementos que devem ser considerados quando se analisa o estilo produzido no nível do som qual seja o fonema Assim ele define ritmo intensidade entonação e prosódia esta última tratada pelo autor como fe nômeno pertencente a outro nível mas ambien tada no campo da sonoridade Por ritmo o autor entende ser a distribuição de sons num enunciado considerando de que modo eles se organizam ou se repetem a intervalos regulares ou espaços sen síveis quanto à duração e à acentuação Já no que diz respeito à intensidade o autor declara que se trata do maior grau de força expiratória com que o som da fala é proferido força que se manifesta acusticamente na maior ou menor amplitude de vibrações É nesse momento que o linguista traz aquela clássica definição de sílaba átona e tônica Por sílaba átona entendese aquela proferida com menor intensidade característica que a difere da tônica uma vez que esta se refere à sílaba sobre a qual recai a intensidade Trocando em miúdos a sílaba ou vogal tônica é aquela acentuada e a vogal Por fim englobando todos os fenômenos acima descritos temos a Prosódia Por Prosódia entendese ou sílaba átona é aquela não acentuada Na zona de articulação da palavra ainda temos outro fenômeno que implica a variação de tom qual seja variações de altura na cadeia vocabular as quais resultam da velocidade e vibração das cor das vocais São oxítonas São paroxítonas São proparoxítonas cateter aziago década condor gratuito lêvedo hangar fortuito égide cister rubrica aerólito a área da fonética preocupada com a exata acentu ação tônica das palavras Para entender a estilística fônica temos que nos ocu par dos fenômenos que se dão no nível do fonema e relacionar essa produção fônica à construção de Fonte httpnathaliaqueirozdesignswordpresscomtagpublicidade um determinado efeito estilístico É isso que tenta remos mostrar nos textos abaixo O anúncio publicitário acima foi elaborado por ocasião do Dia dos Namorados que é comemo rado no Brasil no dia 12 de junho A intenção do enunciador é por meio do anúncio divulgar uma promoção realizada pelo Shopping Tacaruna que consiste em premiar com um carro Gol zero quilômetro aqueles consumidores que realizarem compras acima de 200 reais Vale salientar que até correr o sorteio todos os consumidores que apre sentam compras acima de 200 reais são possíveis ganhadores da promoção 19 Capítulo 2 No anúncio o enunciador joga com o nome do carro Gol e o grito extenso e demorado da pa lavra Gol quando pronunciada por ocasião de um jogo de futebol por exemplo quando a bola atra vessa a linha que fica embaixo da baliza O contex to de produção do anúncio foi o ano da Copa do Mundo e o enunciador ao construir o anúncio deixa implícito o sentido de que ao fazer compras no valor determinado pelo regimento da promo ção contase com a possibilidade de ganhar o carro Gol de maneira que sair vencedor da promoção é equivalente à alegria produzida quando pronuncia mos euforicamente Gooooooooooooooooooolllllllllllll Assim ganhar o Gol carro é como ganhar a Copa do Mundo ou gritar Gooooollll quando a Seleção Brasileira de Futebol faz aquele gol contra o time adversário O efeito estilístico produzido pela intensidade e quantidade da palavra Goooooollllll produz no leitor a impressão de vitória que se encontra am plamente associada às ideias de consumo concor rência e premiação implicados na promoção Vejamos agora um excerto deste poema de Eugé nio de Castro um sonho Na messe que enlourece estremece a quermesse O Sol o celestial girassol esmorece E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros Cornamusas e crotalos Cítolas cítaras sistros Sons suaves sonolentos Sonolentos e suaves Em suaves Suaves lentos lamentos De acentos Graves Suaves Esse poema de Eugénio de Castro poeta portu guês e introdutor do Simbolismo em Portugal apresenta vários elementos que produzem no texto um efeito estilístico no nível do som Os recursos sonoros disponíveis na língua e utilizados pelo poeta na construção do poema dão ao texto uma musicalidade que nos faz recitálo como se estivés semos cantando uma delicada música de Djavan cantor brasileiro Que recursos sonoros são esses Só para citar alguns temos a presença dos versos regulares das rimas ricas perfeitas e raras o uso das fricativas s f v e R e de figuras de linguagem como a aliteração e a paranomásia No início do poema encontramos o uso da pa ranomásia que consiste no emprego de palavras parônimas que têm sons parecidos O uso dessas palavras pode produzir ambiguidades dentro do texto dar um tom engraçado ou criar uma sonori dade diferente No poema de Eugénio de Castro a presença da paranomásia tem a finalidade de criar certa musicalidade como podemos constatar no primeiro verso a Na messe que enlourece estremece a quer messe A aliteração aparece como recurso estilístico utili zado para reforçar a sonoridade impressa ao poe ma e pode ser identificado nos versos b Sons suaves sonolentos Sonolentos e suaves Em suaves Suaves lentos lamentos Outro recurso ligado à sonoridade é o uso das fri cativas já mencionadas acima e que aparecem nos versos c O sol celestial girassol esmorece E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas fluindo a fina flor dos fenos O poeta Eugénio de Castro foi quem melhor traba lhou em seus versos a rima o ritmo e o vocabulário e com base nos recursos estilísticos que se dão ao nível do som construiu efeitos estéticos surreais 2 Estilística lExical Na estilística lexical explorase a carga expressiva das palavras que compõem os textos Vamos anali sar este poema de Carlos Drummond de Andrade sob essa perspectiva o homEm as viagEns O homem bicho da terra tão pequeno Chateiase na terra Lugar de muita miséria e pouca diversão 20 Capítulo 2 Faz um foguete uma cápsula um módulo Toca para a lua Desce cauteloso na lua Pisa na lua Planta bandeirola na lua Experimenta a lua Coloniza a lua Civiliza a lua Humaniza a lua Lua humanizada tão igual à terra O homem chateiase na lua Vamos para marte ordena a suas máquinas Elas obedecem o homem desce em marte Pisa em marte Experimenta Coloniza Civiliza Humaniza marte com engenho e arte Marte humanizado que lugar quadrado Vamos a outra parte Claro diz o engenho Sofisticado e dócil Vamos a vênus O homem põe o pé em vênus Vê o visto é isto Idem Idem Idem O homem funde a cuca se não for a júpiter Proclamar justiça junto com injustiça Repetir a fossa Repetir o inquieto Repetitório Outros planetas restam para outras colônias O espaço todo vira terra a terra O homem chega ao sol ou dá uma volta Só para tever Nãovê que ele inventa Roupa insiderável de viver no sol Põe o pé e Mas que chato é o sol falso touro Espanhol domado Restam outros sistemas fora Do solar a col Onizar Ao acabarem todos Só resta ao homem estará equipado A dificílima dangerosíssima viagem De si a si mesmo Pôr o pé no chão Do seu coração Experimentar Colonizar Civilizar Humanizar O homem Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas A perene insuspeitada alegria De conviver O poema de Drummond tem como referência dois momentos históricos que devem ser mobilizados quando da interpretação do texto quais sejam a viagem do homem à Lua em 1969 e o movimento ecológico que teve início em 1968 com base nos protestos que explodiram em vários países Vale lembrar que anos depois em 1972 é realizada a Conferência Mundial do Meio Ambiente Humano A princípio o poema não apresenta grandes difi culdades de interpretação Ao longo dos versos Drummond fala das viagens descobertas e con quistas humanas que saturam mas produz tam bém no homem uma sensação de vazio À decep ção que acompanha cada descoberta seguese a necessidade de redescobrirse para ressignificando se ressignificar o mundo Nos últimos versos do poema Drummond cria neologismos para falar dessa nova condição do homem e da tentativa de promover arranjos exis tenciais que permitam a sobrevivência baseada no conhecimento de si mesmo Após sucessivas decep ções durante sua viagem espacial resta ao homem somente o conhecimento de si mesmo Findo o espanto provocado pelo conhecimento inusitado sobralhe o espetáculo banalizado da televisão que é expresso no verso O homem chega ao sol ou dá uma voltaSó para tever A mudança de verbos no tempo presente experi menta coloniza civiliza humaniza que confi guram rimas de som mais leve para verbos no futuro do indicativo e infinitivo pôr experimen tar civilizar colonizar humanizar produz uma alteração no ritmo do poema que também apon ta para a necessidade desse homem em explorar o universo interior A esse projeto estético que leva a refletir acerca das perplexidades produzidas pelo mundo moderno e propõe a instauração de uma nova perspectiva que valorize a busca interior somamse os efeitos expressivos e impressivos pro duzidos por palavras como colonizar e conviver a adjetivação presente em a dificílima dangerosíssima viagem em suas próprias inexploradas entranhas e a perene insuspeitada alegria Assim além de figuras imagens e rimas Drummond explora o léxico da língua portuguesa para construir com expressivida de uma obra prima da sua antologia e conduzir o leitor à reflexão acerca da voracidade dos tempos modernos que ameaça o desenvolvimento de so 21 Capítulo 2 ciedades mais fraternas solidárias e socioambien talmente mais justas 3 Estilística sintática A sintaxe é o campo que estuda as combinações ocor ridas entre elementos da língua que vão em senti do lato da derivação das palavras pela combinação de afixos e em sentido estrito à palavra de manei ra que por sintaxe entendese tradicionalmente o estudo das regras que presidem à combinação de palavras para constituir frases LUFT 200227 A análise de uma comunicação completa abrange cinco elementos que podem ser assim dispostos 1 texto oral ou escrito 2 frase 3 sintagma 4 palavra 5 morfema são postos em relação para formar frases Neste nosso estudo vale fazer uma distinção entre frase oração e período Por frase entendemos a pro dução de um enunciado com sentido completo de maneira que se constitui como a menor unidade autônoma de comunicação Luft 2002 vai dizer que a frase possui uma dupla autonomia uma que se dá no plano do significado pois possui uma intenção comunicativa definida e outra no pla no significante uma vez que apresenta uma linha completa de entoação Quando a frase apresenta apenas um verbo temos uma oração e logo um único período Vale salientar que todo período é uma frase mas nem toda frase é um período pois há frases sem verbos e por conseguinte não cons tituem período COMUNICAÇÃO CLASSES ELEMENTOS texto frases frase sintagmas sintagma palavras palavra morfemas morfema Cada um desses elementos constitui unidades que vão do elemento superior ao inferior sendo o mor fema uma unidade que não é desmembrável Dentre essas unidades são objeto da Sintaxe em SAIBA MAIS SAIBA MAIS BRANDÃO C Sintaxe clássica portuguesa Belo Horizonte Ed do Autor 1963 MEIER H Sintaxe gramatical sintaxe fun cional estilística In Boletim de Filologia Lisboa 8 2120144 1946 THOMAS E W The syntax of spoken Bra zilian Portuguese Nashville Vanderbilt 1969 sentido estrito a frase e o sintagma Assim interes sa ao campo entender como as palavras se combi nam para formar sintagmas e como os sintagmas SAIBA MAIS SAIBA MAIS Sintagma é qualquer constituinte imediato da oração exercendo função de sujeito complemen to predicativo adjunto adverbial Tanto pode ser uma palavra só como mais de uma palavra O aluno está lendo a história com muita atenção Ele lê aquilo atentamente SS SV SS SPAdv Nomenclatura SS sintagma substantivo SV sintagma verbal SS sintagma substantivo SPAdv sintagma preposicional e sintagma ad verbial Acerca da oração afirmamos que se trata de uma unidade marcada por verbo Geralmente a oração apresenta um substantivo a que se refere e com o qual concorda o verbo formando a estrutura biná ria Sujeito Predicado Qual o lugar porém da estilística nisso tudo A única coisa que está relacionada com a estilís tica é a extensão da frase e sua organização De pendendo do tema do tópico frasal e dos focos dados teremos uma determinada arrumação da frase Sobre isso Henriques 2011105 diz que os tópicos e os focos dados no interior das frases resultam em efeitos na ordem das palavras na combinação dos sintagmas na disposição dos termos e nas escolhas morfossintáticas Assim o 22 Capítulo 2 produtor de textos tem diante de si uma infinida de de possibilidades combinatórias que permitem a escolha entre um período simples ou composto uma forma sintética ou analítica uma voz ativa ou passiva concordância verbal ou nominal regência verbal ou nominal etc Essas escolhas dentro de uma proposta de construção do texto e do sentido favorecem a expressividade dos textos de maneira a caracterizar o estilo subjacente à produção textual Vejamos um exemplo BEija Eu Marisa Monte Seja eu seja eu Deixa que eu seja eu E aceita o que seja seu Então deita e aceita eu Molha eu seca eu Deixa que eu seja o céu E receba o que seja seu Anoiteça amanheça eu Beija eu beija eu beija eu Me beija Deixa o que seja seu Então beba e receba Meu corpo no seu corpo Eu no meu corpo Deixa eu me deixo Anoiteça amanheça Seja eu seja eu Deixa que eu seja eu E aceita o que seja seu Então deita e aceita eu Molha eu seca eu Deixa que eu seja o céu E receba o que seja seu Anoiteça amanheça eu A autora da letra Marisa Monte resolveu trans gredir algumas normas do padrão culto da língua portuguesa a fim de produzir determinados efeitos expressivos Assim ela começa promovendo essa transgressão já no título da letra que apresenta um pronome do caso reto eu 1ª pessoa do singular como complemento do verbo beijar quando de acordo com a norma culta deveria utilizar o pro nome oblíquo átono me Além disso nas orações imperativas afirmativas os pronomes oblíquos áto nos devem estar em ênclise isto é após o verbo e o pronome pessoal do caso reto eu só pode ser empregado na função sintática de sujeito Ao empregar o pronome reto eu na função sintá tica de complemento do verbo beijar no lugar do pronome oblíquo me a autora intenciona desta car os desejos do eu lírico e dar maior destaque à subjetividade que se revela por meio de um desejo de atenção que esse eu lírico evoca Esse uso insis tente do imperativo seguido de pronome pessoal remete à criança que ainda não consegue formular sentenças linguísticas normativas e diz Levanta eu mamãe Ainda sobre esse aspecto do uso do pro nome oblíquo vale destacar o verso Me beija que inicia oração com uma próclise quando de acordo com a norma padrão da língua a autora deveria utilizar uma ênclise Se assim o fizesse certamen te não atingiria os efeitos estilísticos que é indicar uma conversa informal entre dois amantes a qual se caracteriza pelo desenvolvimento de uma série de ordens que são colocadas numa sequência Queremos chamar a atenção para a construção Seja eu no início do poema Essa construção num primeiro momento deixanos a impressão de que o verbo ser se encontra no imperativo Com base em uma análise mais aprofundada e atenta con cluímos que o verbo ora mencionado encontrase no modo subjuntivo e é como se o eu lírico estives se ao utilizar o sujeito posposto ao verbo dizendo É necessário que seja eu aceita por você Passando essa sentença para a ordem direta terí amos É necessário que eu seja aceita por você Esse emprego do verbo no modo subjuntivo no verso Seja eu é reforçado numa outra estrofe quando o eu lírico expressa Deixa que eu seja eu Nesse verso o verbo está posto no subjuntivo de maneira clara Todas essas estratégias linguísticas utilizadas pela compositora apontam para o forte poder apelati vo do poema e a carga expressiva construída desde o jogo estabelecido entre as palavras Por meio de um jogo expressivo o eu lírico externa seu desejo de atenção e centralidade 4 Estilística da EnunciaçãO O estilo de um enunciado é também resultante das determinações extralinguísticas ou seja dis cursivas que incidem sobre esse enunciado Henri ques 2011116 afirma que não se pode dissociar a relação que existe entre o estilo e o enunciado entre o estilo e os domínios ou gêneros do dis 23 Capítulo 2 curso O enunciado é o produto de um processo de enunciação de maneira que os elementos que participam desse processo enunciadores gênero discursivo momento e lugar de enunciação con dições sóciohistóricas etc afetam o enunciado e sua construção É nesse sentido que Henriques 2011118 postula um objetivo para a Estilística da Enunciação ao dizer que para a estilística da enunciação interessa sobretudo estudar o siste ma expressivo inteiro em seu funcionamento Ao falar desse sistema expressivo inteiro Henriques 2011 referese aos aspectos de ordem fonológica e morfossintática mas também discursiva que de vem ser considerados na análise de um enunciado A expressividade de um texto é por um lado de Inácio Lula da Silva nas eleições 2002 No topo da capa temos o enunciado O PRIMEIRO PRESI DENTE DE ORIGEM POPULAR em amarelo e logo abaixo a logomarca Veja em azul que sofre uma gradação do mais escuro para o mais claro torneada por um filete branco e sobre a letra v e e passa uma tarja em amarelo que anuncia RE PORTAGEM ESPECIAL em preto Acima da le tra a consta a editora a edição preço e data de publicação e abaixo o site da revista wwwveja combr No centro a foto de Lula que sorrindo segura a bandeira do Brasil Do lado esquerdo o enunciado Seu desafio retomar o crescimento e corrigir as injustiças sociais sem colocar em risco as conquistas da era FHC Sobre a bandeira na par te inferior e centralizado aparece o enunciado em maiúscula e destaca do TRIUNFO HISTÓRICO No canto direito inferior encontramos a logomarca da Editora Abril e do mesmo lado sobre a bandeira iden tificamos Luís Inácio Lula da Silva 57 anos O código de barras apare ce no lado esquerdo da capa Todos esses elementos são colocados sobre um fundo azul que aparece em um movimento gradativo de tonalidade que vai do mais claro partindo do centro da capa para o mais escuro As cores usadas pelo enunciador na construção da capa conferem uma impressão de misticismo que dá à cena um aspecto bastante pe culiar de aparição miraculosa Essa capa traz cores amenas e alegres as quais convergem para a construção de uma cena que vai ao encontro do leitoreleitor no sentido de come morar com ele a vitória nas urnas do seu candidato É uma capa festiva que traduz vitória mediante uma ati tude contumaz e uma força de von tade inabalável No enunciado O PRIMEIRO PRESIDENTE DE ORIGEM POPULAR o enunciador remete à origem de Lula e ativa na memória do leitor essa história do presidente que é pontilhada de neces sidades não atendidas e condições limitadas Nes se primeiro enunciado temos os primeiros tijolos discursivos que participarão da construção de uma representação de Lula que é identificado com o Fonte httpvejaabrilcombr terminada por seus aspectos linguísticos de nature za fonológica e morfossintática e por outro lado por aspectos discursivos que constituem a teia do dizer Vamos ver como isso acontece analisando a capa da revista Veja A capa acima é uma edição especial de Veja e traz di versas reportagens sobre a vida e a história política de Lula e do PT A razão para esse dossiê publicado em uma edição especial de Veja é a vitória de Luís 24 Capítulo 2 menino pobre e cercado de déficits que acompa nharão sua trajetória Na reportagem que a revista traz lemos que meninos pobres como Lula não nascem no Brasil para serem presidentes e vemos uma foto que traz como legenda Lula aos 3 anos Sandálias emprestadas pelo fotógrafo Nessa capa está delineada a construção de um sujeito íntegro e vencedor por ter superado todo tipo de precon ceito e limitação para chegar ao posto máximo da atividade política Nessa mesma reportagem Lula é comparado a Machado de Assis que não obs tante às limitações físicas e sociais pesando sobre ele tornouse o maior escritor brasileiro Dos fios discursivos que se lançam na cena de enunciação fazse um herói A cena se amplia e o olhar do leitor se depara com a imagem sorridente de Lula que de pale tó gravata e cabelos e barbas feitos segura num gesto triunfal a bandeira do Brasil Na bandeira que se abre as palavras ORDEM E PROGRESSO são encobertas pelo enunciado TRIUNFO HIS TÓRICO que se sobrepõe As mãos que seguram a bandeira não são aquelas que durante os anos da Ditadura Militar traduziam uma intransigên cia que precisava ser contida e combatida porque vinda de um agitador que durante as paralisações do ABC distribuía caninha 51 aos grevistas Nes sa nova cena política Lula representa o triunfo de uma ideia e por conseguinte a imagem do herói que luta contra todas as mazelas e injustiças é refor çada pelos efeitos estilísticos produzidos na cons trução do enunciado Nessa atmosfera discursiva em que cores imagens perspectivas e palavras participam da construção de um discurso sobre a vitória de Lula nas eleições 2001 temos um enunciado um pouco mais lon go que diz Seu desafio retomar o crescimento e corrigir as injustiças sociais sem colocar em risco as conquistas da era FHC Como todo bom he rói Lula terá desafios a enfrentar e o maior deles é retomar o crescimento ou seja dar continuidade ao que vinha sendo desenvolvido no governo de Fernando Henrique Cardoso FHC Isso significa que Lula não terá de fazer muita coisa nem preci sa inovar pois muito já foi feito e ele só tem que retomar de onde FHC parou e dar continuidade Assim na materialidade linguística é possível ler sentidos que deslizam e desembocam em outros e ao lermos retomar o crescimento e sem colocar em risco as conquistas da era FHC interpretamos que esse discurso favorece e coloca como central os triunfos do governo anterior que Lula não poderá colocar em risco sob pena de ser punido pelos elei tores que lhe deram um voto de confiança Desse modo o discurso de Veja constrói uma identidade de Lula para desqualificála e favorecer o suposto desenvolvimento trazido pela direita Nessa capa da revista Veja podemos ler no senti do pleno da palavra a construção da identidade do presidente Lula Desse modo através de estra tégias discursivas que produzem determinados efeitos expressivos Veja constrói uma determi nada imagem do expresidente Lula e assim manipula a opinião pública produzindo senti dos e sujeitos que circulam socialmente e mo delam o imaginário dos leitores atividadE Faça uma análise do poema de Manuel Ban deira 18861968 Neologismo com base nos pressupostos da Estilística Lexical nEologismo SAIBA MAIS SAIBA MAIS GREGOLIN Maria do Rosário Formação discursiva redes de memória e trajetos so ciais de sentido mídia e produção de iden tidades Disponível em httpwwwuems brpadadirosariohtml Acesso em 07 de nov de 2007 Discurso história e a produção da identidade na mídia Disponível em httpwwwgeocitiescomgtadmaria dorosariogregolindoc Acesso em 14 de maio de 2008 HERNANDES Nilton A revista Veja e o discurso do emprego na globalização uma análise semiótica Dissertação Mes trado em Lingüística Universidade de São Paulo São Paulo 2001 MAGALHÃES L Veja IstoÉ Leia produ ção e disputas de sentido na mídia Teresi na Ed da UFPI 2003 Discurso e texto formulação e cir culação dos sentidos São Paulo Pontes 2001 25 Capítulo 2 Beijo pouco falo menos ainda Mas invento palavras Que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana Inventei por exemplo o verbo teadorar Intransitivo Teadoro Teodora rEfErências CEGALLA D P Novíssima Gramática da Língua Portuguesa São Paulo Companhia Editorial Nacional 2005 HENRIQUES C C Estilística e discurso estu dos produtivos sobre texto e expressividade Rio de Janeiro Elsevier 2011 CASTRO E Um sonho Disponível em http wwwjornaldepoesiajorbreug01html ANDRADE C D O homem as viagens Dis ponível em httpletrasterracombrcarlos drummonddeandrade807510 LUFT C P Moderna Gramática Brasileira São Paulo Ed Globo 2002 MONTE M Beija eu Disponível em httple trasterracombrmarisamonte6644 27 Capítulo 3 Capítulo 3 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na língua portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Neste capítulo abordaremos alguns fatos da língua numa perspectiva estilística e discursiva Assim tentaremos refletir acerca de conteúdos expostos na gramá tica normativa com base na análise estilística e sempre que possível traremos esses conteúdos para a discussão dos aspectos do discurso que determinam a construção do estilo Na esteira do que pretendemos desenvolver neste capítulo encontramse o Processo de Formação das Palavras e o Processo de Criação da Palavra os quais têm uma estreita relação com as possibilidades de expressão do falante em textos escritos Bom estudo Prof Luciano Azevedo 1 Estrutura das palavras Começamos este capítulo com uma sucinta apresentação da estrutura mórfica da palavra Mas antes de dissecarmos as palavras daremos uma pequena definição Afinal de contas o que é palavra Por palavra entendemos tratarse de uma unidade linguística de som e significado que compõe os enunciados da língua Estrutura E fOrmaçãO das palavras Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 28 Capítulo 3 Assim sendo a palavra serve a dois tipos de análise que não se excluem mas que são complementares aquela estritamente linguística e a discursiva e ou enunciativa Quando nos debruçamos sobre as menores partes que compõem o esqueleto de uma palavra a fim de analisar seus elementos mórficos por meio de um processo de segmentação esta mos fazendo uma análise tão somente linguística uma vez que nossa preocupação não se volta para os usos que são feitos dessa palavra em diferentes situações de enunciação Por outro lado quando nossa análise se volta para o uso e as determina ções sociais que afetam a estrutura eou sentido da palavra então fincamos o pé no campo da enun ciação Inicialmente faremos uma análise propria mente linguística e quando julgarmos necessário e possível acrescentaremos uma análise discursiva uma vez que a formação e a estrutura das palavras não se restringem ao âmbito da língua apenas mas envolve processos enunciativos que estão relacio nados com interlocutores situação de enunciação e gêneros textuais 11 Os ElEmEntOs mórficOs Os falantes ao longo de sua vida usam um núme ro enorme de palavras que compõem aquilo que costumamos chamar de léxico ou seja o repertório total de palavras que esse falante se apropriou em contato com a sua língua materna em diferentes situações de letramento Há palavras que vão es tar presentes no repertório linguístico de todos os falantes como pai mãe comida etc Já outras se encontram presentes no repertório de algumas pes soas apenas pois se referem a objetos e conceitos que não estão presentes na vida de todos a saber sintagma epistemologia agravante etc As palavras podem ser divididas em partes meno res dotadas de significação chamadas morfemas Embora os clipes de Madonna não causem o mes mo impacto e polêmicas que causaram em décadas passadas ainda há uma expectativa em torno do tema e a maneira de apresentálo ao público em cli pes inéditos Like a prayer e Erótica parecem ape nas sombras diante das surpresas que ela ainda é capaz de produzir Transgressão continua sendo o carrochefe do seu trabalho e os clipes provocam a discussão sempre necessária acerca das identidades de gênero instituições e tolerância Morfemas são unidades mínimas de significação Observe estes exemplos Radical O que contém o sentido básico do vocábulo Aquilo que per manece intacto quando a palavra é modificada Obs Em se tratando de verbos descobrese o radical reti rando a terminação AR ER ou IR Ex falar comer dormir casa carro Vogal Temática Nos verbos são as vogais A E e I presentes à terminação verbal Elas indicam a que conjugação o verbo pertence 1ª conjugação Verbos terminados em AR 2ª conjugação Verbos terminados em ER 3ª conjugação Verbos terminados em IR Obs O verbo pôr pertence à 2ª conjugação já que proveio do antigo verbo poer Nos substantivos e adjetivos são as vogais A E I O e U no final da palavra evitando que ela termine em consoante como acontece em meia pente táxi couro urubu Cuidado para não confundir vogal temática de substantivo e adjetivo com desinência nominal de gênero Ex Vogal temática a amar amava amarão amássemos Tema É a junção do radical com a vogal temática Se não existir a vogal temática o tema e o radical serão o mesmo elemento a mesma coisa acontecerá quando o radical for terminado em vogal Por exemplo em se tratando de verbo o tema sempre será a soma do radical com a vogal temática estu da come parte em se tratando de substantivos e adjetivos nem sempre isso acontecerá Vejamos alguns exemplos no substantivo pasta past é o radical a a vogal temática e pasta o tema já na palavra leal o radical e o tema são o mesmo elemento leal pois não há vogal temática e na palavra tatu também mas agora porque o radical é termi nado pela vogal temática Ex falarfalava comercomerá rirria 29 Capítulo 3 Desinências É a terminação das palavras flexiona das ou variáveis posposta ao radi cal com o intuito de modificálas Modi ficamos os verbos conjugando os modificamos os substantivos e os adjetivos em gêne ro e número Exis tem dois tipos de desinências Nominais de gênero indica o gênero da palavra Esta terá desinência nominal de gênero quando houver a oposição masculino x feminino Por exemplo cabeleireiro cabeleireira A vogal a será desinência nominal de gênero sempre que indicar o feminino de uma palavra mesmo que o masculino não ter mine em o Por exemplo crua ela traidora de número indica o plural da palavra É a letra s somente quando indicar o plural da palavra Por exemplo cadeiras pedras águas Verbais Modotemporais indicam o tempo e o modo São quatro as desinências modotemporais va e ia para o Pretérito Imperfeito do Indicativo estu dava vendia partia ra para o Pretérito Maisqueperfeito do Indicativo es tudara vendera partira ria para o Futuro do Pretérito do Indicativo estudaria venderia partiria sse para o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo estudasse vendesse partisse Númeropessoais indicam a pessoa e o número São três os grupos das desinências númeropessoais Grupo I i ste u mos stes ram para o Pretérito Perfeito do Indicativo eu cantei tu cantaste ele cantou nós canta mos vós cantastes eles cantaram Grupo II es mos des em para o Infinitivo Pessoal e para o Futuro do Subjuntivo Era para eu cantar tu canta res ele cantar nós cantarmos vós cantardes eles cantarem Quando eu puser tu puseres ele puser nós pusermos vós puserdes eles puserem Grupo III s mos is m para todos os outros tempos eu canto tu cantas ele canta nós cantamos cantamos vós cantais eles cantam Afixos São elementos que se juntam a radicais para formar novas palavras São eles prefixo e sufixo Prefixo É o afixo que aparece antes do radical Ex destampar in capaz amoral Sufixo É o afixo que aparece depois do radical do tema ou do infi nitivo Por exemplo pensamento acusação felizmente Ex pensamento acusação felizmente Vogais e consoantes de ligação São vogais e consoantes que surgem entre dois morfemas para tornar mais fácil e agradável a pronúncia de certas palavras Ex flores bam buzal gasômetro canais VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Os morfemas são classificados em lexicais e gramaticais Os morfemas lexicais fazem referência a seres ou conceitos da realidade objetiva ou subjetiva Paulo dia ar ou seja possuem referentes extralinguísticos Os morfemas gramaticais têm uma significação interna ao sistema linguístico porque atuam para es tabelecer relações entre palavras ou para marcar categorias como gênero número modo pessoa etc Afixos são os morfemas que somados aos radicais formam novas palavras Quando acrescentados antes ao radical são chamados de prefixos e adicionados após o radical de sufixos As desinências são os sufixos que indicam as flexões das palavras variáveis A vogal temática é um morfema vocálico que se acrescenta a determinados radicais antes das desi nências O conjunto formado por radical vogal temática recebe o nome de tema Os temas podem ser nominais e verbais 30 Capítulo 3 atividadE 1 Indique o radical das séries de palavras abaixo a gordinho gordos engordar gordura b pobreza pobretão empobrecer pobrezinho c florescer florido florada reflorir d realizar irreal realmente realidade 2 Destaque o prefixo de cada palavra a desfazer b incompetente c ilegal d reflorir e deselegante f reler g incapaz h reproduzir 2 prOcEssO dE criaçãO das palavras 21 nEOlOGismO A palavra neologismo é formada pelos radicais gregos néos que significa novo ou moderno e lógos palavra tratado Assim significa palavra nova Todas as línguas sem exceção usam esse re curso para atender às necessidades de expressão e criação dos falantes em determinados contextos de uso O conhecimento intuitivo dos elementos mórficos que compõem as palavras é acionado no falante quando da criação do neologismo Vale ain da dizer que os neologismos surgem da necessida de de nomear uma nova realidade tanto no campo da ciência quanto no da arte enfim em todos os campos do conhecimento e mesmo com base na linguagem comum e na influência de uma língua estrangeira Weg Antunes de Jesus 201123 As SAIBA MAIS SAIBA MAIS Cintra L Cunha C 1984 Nova Gramá tica do Português Contemporâneo Lisboa Sá da Costa Bechara E 1999 Moderna Gramática Por tuguesa 37ª ed revista e ampliada Rio de Janeiro Lucerna Mateus M H et alli 2003 Gramática da Língua Portuguesa Lisboa Caminho Ali M Said 1969 Gramática Secundária da Língua Portuguesa 8ª edição revista e comen tada por Evanildo Bechara S Paulo Ed Me lhoramentos autoras ainda dão os seguintes exemplos acerca de alguns neologismos atuais 211 ProcEssos DE Formação Dos nEologismos A formação de neologismos envolve processos variados que vão da comparação com termos já usados até outros processos que implicam o uso de prefixos sufixos e empréstimos de termos de Amanhã é meu níver Amanhã é meu aniversário Adoro refri Adoro refrigerante Ele é animal Ele é muito bom Ela gosta de causar Ela gosta de impressionar criar confusão Estamos só ficando Estamos só nos relacionando sem compromisso Ele me azarou na festa Ele me paquerou na festa superherói herói muito capacitado não policial civil enxugamento conjunto de medidas jeans estrangeirismo besteirol conjunto cômico de bobagens outras línguas Sobre esses processos Weg e Jesus 201124 citam os seguintes exemplos Agora observe o efeito estilístico que o poeta Ma nuel Bandeira constrói valendose do uso do neolo gismo no poema que recebeu o título de Neologismo nEologismo Beijo pouco falo menos ainda Mas invento palavras que traduzem a ternura mais funda E mais cotidiana inventei por exemplo o verbo teadorar Intransitivo Teadoro Teodora 22 EstranGEirismO Quando necessitamos nomear uma nova realida de criamos conceitos que são expressos em pala vras A esse processo de criação de palavras para abranger uma realidade que se descortina a nossa frente damos o nome de neologismo Diferente 31 Capítulo 3 mente mas não oposto a esse processo temos o es trangeirismo que implica o processo pelo qual uma língua se apropria de termos e expressões oriundos de outras línguas Dessa maneira Estrangeirismo é o uso de termos ou expressões tomadas por empréstimo de outras línguas Esse processo resulta do contato entre culturas Tal contato produz efeitos no vocabulário das línguas de modo que novas palavras são criadas valendose de termos de outras línguas ou simplesmente fa zendose uso do termo como se encontra na língua de origem O estrangeirismo advém de processos vários e origens distintas a anglicanismo ou anglicismo proveniente do inglês shoppingshowstress b arabismo oriundo do árabe beirutebazar c galicismo ou francesismo proveniente do francês toaleteabajur d castelhanismo oriundo do espanhol casta nholas quixotesco e italianismo proveniente do italiano pizza muçarela f germanismo oriundo do alemão chope g grecismo oriundo do grego antífona skatista que usa skate jeans tecidocalças backup cópia de segurança de um arquivo closet pequeno aposento sem janela onde se guardam roupas e outros materiais doping utilização ilegal de substâncias químicas feedback realimentação estímulo que provo ca outro estímulo upload envio de arquivo de um microcompu tador a outro para computador remoto Mas ocorrem em alguns casos adaptações de algu mas palavras que entraram na língua portuguesa via empréstimo xampu produto de higiene que é grafado shampoo na sua forma original piquenique escrita picnic em sua forma VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA As palavras de origem estrangeira geral mente passam por um processo de aportu guesamento fonológico e gráfico de manei ra que às vezes nem chegamos a perceber que estamos usando um estrangeirismo Quem nunca usou alguns desses termos de maneira tão natural como se fossem pala vras da língua portuguesa linkarblogueiroclicarsitetwittar etc h latinismo proveniente do latim minuto currículo Às vezes o termo ou expressão oriundo de outra língua é usado da mesma maneira como na língua original por exemplo VOCÊ SABIA VOCÊ SABIA Linchar derivado do nome próprio inglês Lynch e da expressão Lynchs law lei de Lynch Entre os séculos XV e XIX vários juí zes com o mesmo nome na Irlanda e nos Es tados Unidos condenaram criminosos sem processo legal Linchar significa executar sumariamente segundo a lei chamada de Lynch aplicação da lei de Lynch execução sumária por uma população extraído do livro A língua como expressão e criação de Rosana Morais Weg e Virgínia Antunes de Jesus original abajur abatjour quebraluz Atente para o efeito estético e expressivo que a palavra equalizar oriunda do inglês equalize pro duz no interior desta canção da compositora e cantora Pitty EqualizE Às vezes se eu me distraio Se eu não me vigio um instante Me transporto pra perto de você Já vi que não posso ficar tão solta Me vem logo aquele cheiro Que passa de você pra mim Num fluxo perfeito Enquanto você conversa e me beija 32 Capítulo 3 Ao mesmo tempo eu vejo As suas cores no seu olho tão de perto Me balanço devagar Como quando você me embala O ritmo rola fácil Parece que foi ensaiado E eu acho que eu gosto mesmo de você Bem do jeito que você é Eu vou equalizar você Numa frequência que só a gente sabe Eu te transformei nessa canção Pra poder te gravar em mim PITTY Souza Peu Equalize Admirável chip novo CD Deckdisc 2003 23 arcaísmO O arcaísmo é uma palavra ou expressão que deixou de ser usada nas interações verbais dos falantes fa ladas ou escritas Isso acontece porque a língua é um código que se encontra sujeito às mudanças socioculturais e temporais Desse modo quando certas expressões caem em desuso temos o arca ísmo Se o neologismo representa o acréscimo de novas palavras ao léxico de uma língua dada o ar caísmo representa o processo contrário ou seja a supressão eou desaparecimento de uma palavra expressão eou construção frasal São exemplos de arcaísmo ocorridos na língua portuguesa ceroula cueca vosmicê você alcaide prefeito outrossim também magote grande quantidade Essas palavras foram consideradas inadequadas e antiquadas no decorrer do tempo O arcaísmo é resultado de um processo inerente às línguas que não são estáticas nem imutáveis mas produto das interações sociais do uso cotidiano e da passagem do tempo Há de se considerar que o arcaísmo é determinado também pelo contexto ou lugar onde é usado Por exemplo em Portugal algumas pala vras usadas atualmente são consideradas arcaicas no Brasil Na música abaixo atente para as palavras em negri to que não são mais usadas nas interações atuais mas foram muito exploradas pelos compositores do movimento musical que ficou conhecido como Jovem Guarda FEsta DE arromBa Erasmo Carlos Vejam só que Festa de Arromba Bapára No outro dia eu fui parar Bapára Presentes no local o rádio e a televisão Bapára Cinema mil jornais muita gente confusão Quase não consigo Na entrada chegar pois a multidão estava de amargar Em Portugal hoje No Brasil hoje Quero uma chávena de chá Quero uma xícara de chá O púcaro de açúcar está cheio O pote de açúcar está cheio SAIBA MAIS SAIBA MAIS ROCHA LIMA C H da Gramática Normati va da Língua Portuguesa 43 ed São Paulo José OlympioRecord 2002 AZEREDO J C de Gramática Houaiss da língua portuguesa 45 ed São Paulo Sarai va 2005 ALMEIDA N M de Gramática Metódica da Língua Portuguesa 45 ed São Paulo Publi folha 2009 Hey Hey Hey Hey Que onda Que festa de arromba 3 nívEis da linGuaGEm Há grosso modo dois níveis que marcam o uso da língua São eles o nível formal e o coloquial A opção por um ou outro dependerá da situação de enunciação que envolve os interlocutores o lugar da interação e o gênero textual no qual a produção 33 Capítulo 3 verbal é realizada De acordo com isso temos o se guinte quadro Uma conferência numa universidade por ter um caráter informativo e didático exige que o falante lance mão de uma linguagem mais formal Já uma conversa entre amigos num barzinho da cidade requer uma linguagem menos formal e mais ínti ma Desse modo a linguagem ajustase à situação de produção 31 O jarGãO Em Morais Weg e Antunes de Jesus 201135 le mos que o jargão é um código linguístico bastante particular É um conjunto de termos ou expressões comuns a um grupo restrito termos especializados de direito marketing jornalismo artes plásticas música etc Depreendemos assim que o jargão é uma variedade linguística que identifica determi nados grupos sociais cujas características são muito específicas Weg e Antunes de Jesus 201137 ainda disponibi Linguagem coloquial Nesse nível de linguagem o fa lante faz uso de uma variedade mais informal familiar íntima espontânea e popular da língua Carta pessoal Bilhete Email Conversa Linguagem formal É caracterizada por assumir for ma na escrita e na fala mais erudita menos íntima e menos espontânea Aula Conferência Documento Comunicado Esportes Feminino Brasil começa busca vaga para o mundial de 2010 A seleção feminina de vôlei estreia hoje no torneio classificatório para o Campeonato Mundial feminino de 2010 Favoritas as campeãs olímpicas enfrentam a Venezuela às 19h em Contagem MG Folha de São Paulo Esportes 22 de jul 2009 p5 Informática Falta de padronização em hardware e software irrita consumidor confira esforços de unificação e galeria de adaptadores Folha de São Paulo Informática 22 jul 2009 p 5 Literatura Histórica e essencialmente matriz da novela e do romance o conto apresenta estrutura própria diversa da que preside aquelas e demais formas narrativas apólogo crônica poema em prosa etc MOISÉS Massaud Dicionário de termos literários São Paulo Cultrix 1995 P 100 Saúde Uma metaanálise da Cochrane organização internacional que avalia pesquisas mé dicas mostra que um terço dos cânceres de mama diagnosticados em países com ras treamento estabelecido não causaria sintomas ou não levaria as pacientes à morte mesmo que não fossem tratados Folha de São Paulo Saúde 22 de jul 2009 p C9 lizam um quadro com jargões específicos a deter minadas áreas que reproduziremos em parte De acordo com o quadro acima há termos e ex pressões que são específicos de determinada área do conhecimento eou social de maneira que eles tendem a ser usados reiteradamente no discurso desses grupos Uma vez que o jargão é recorrente dentro da esfera de um determinado grupo social fazse necessário contextualizar os textos produzidos por esses gru pos a fim de que a compreensão seja eficaz O co nhecimento do código e das especificidades ine rentes a esse código utilizado pelos interlocutores dentro do processo da atividade comunicativa é imprescindível quando intentamos compreender os textos em toda sua inteireza Assim devemos usar o jargão quando os interlocu tores pertencem ao mesmo campo de atuação ou quando esses têm interesses comuns Além disso o jargão não afetaria a compreensão dos leitores quando o texto produzido numa situação específi ca se trata de um texto especializado ou seja quan do o texto escrito ou oral for divulgado numa de terminada área 32 O clicHê O clichê se caracteriza pelo uso de vocábulos ex pressões ou frases que por força da repetição pas sam a perder em força expressiva e inventividade Poderíamos citar como clichês frases do tipo a Minha vida é um livro aberto b Quem acredita sempre alcança Essas expressões tornamse desgastadas ao longo do tempo e passam a figurar naquele grupo de ex pressões que se configuram como lugarcomum Como tipos de clichês podemos citar 34 Capítulo 3 atividadE Leia o texto abaixo e identifique as expressões que podem ser considerados clichês e depois comente o uso desse recurso neste gênero tex tual específico e seu uso nessa situação especí fica de comunicação Venho por estas mal traçadas linhas dizerlhe do fun do do meu coração que estou cego de amor por você minha musa e mulher exemplar Sei que as aparências enganam e que quem vê cara não vê coração mas também sei que os olhos são o espelho da alma Assim dentro da minha infinita humildade ouso revelarlhe que percebo que meus anseios não são corres pondidos o que parte meu coração No entanto como a esperança é a última que morre e devagar se vai ao longe não vou fugir da raia Extraído de Weg Antunes de Jesus 201142 rEfErências ALMEIDA N M de Gramática Metódica da Língua Portuguesa 45ª ed São Paulo Publifo lha 2009 ALI M SAID 1969 Gramática Secundária da Língua Portuguesa 8ª edição revista e comen tada por Evanildo Bechara S Paulo Ed Me lhoramentos AZEREDO J C de Gramática Houaiss da lín gua portuguesa 45ª ed São Paulo Saraiva 2005 BECHARA E 1999 Moderna Gramática Por tuguesa 37ª ed revista e ampliada Rio de Ja neiro Lucerna CINTRA L CUNHA C 1984 Nova Gra mática do Português Contemporâneo Lisboa Sá da Costa MATEUS M H et alli 2003 Gramática da Língua Portuguesa Lisboa Caminho ROCHA LIMA C H da Gramática Normativa da Língua Portuguesa 43 ed São Paulo José OlympioRecord 2002 WEG ANTUNES DE JESUS A língua como ex pressão e criação v 2 São Paulo Contexto 2011 1 Provérbios e ditos populares geralmente caem no rol de expressões que chamamos de clichê uma vez que seu uso repetitivo aponta para a falta de criatividade do falante Só para citar alguns a Deus escreve certo por linhas tortas b Filho de peixe peixinho é c Quem vê cara não vê coração 2 Outro tipo de clichê pode ser exemplificado pelas frases alheias que são usadas pelo falante sem identificação do autor distorcidas ou pior atribuem a frase a um autor que não a proferiu a Só sei que nada sei Sócrates b Tudo vale a pena se a alma não é pequena Fernando Pessoa Mar Português c Ser ou não ser eis a questão Shakeaspe are Hamlet d Penso logo existo Descartes Discurso do Método 3 Existem também os clichês de época que apa recem em determinados momentos históricos e duram o tempo da situação a qual se referem Esses clichês circulam geralmente nas mídias impressa e televisiva a Durante uma epidemia aparecem os seguin tes clichês grupo de risco a doença se alastra rapidamente etc b Quando um novo governo assume a gestão de um estado país etc vamos colocar a casa em ordem 4 Há também clichês diversos que podem não ser tão problemáticos se utilizados em situa ções adequadas de comunicação São eles a fechar a sete chaves b ter calorosa recepção c errar é humano d comer o pão que o diabo amassou e jogar tudo para o alto f voltar à estaca zero Assim como o jargão o clichê deve ser usado levan do em consideração o lugar e os interlocutores im plicados no processo de comunicação Não serão problemáticos nem representarão falta de inventi vidade no manuseio da língua se utilizados para produzir efeitos estéticos específicos em gêneros textuais que permitem seu uso 35 Capítulo 4 Capítulo 4 ObjEtivOs EspEcíficOs Apresentar ao aluno os fundamentos históricos da Estilística Refletir acerca dos recursos estilísticos disponíveis na língua portuguesa Possibilitar o conhecimento dos diversos recursos expressivos agenciados na produção de sentido intrOduçãO Caríssimo estudante Dando continuidade ao capítulo anterior abordaremos neste outros fatos da língua que se encontram na esteira do que se configuram como recursos expressi vos Tal como no anterior apresentaremos esses fatos da língua numa perspectiva estilística e discursiva Assim tentaremos refletir acerca de conteúdos expostos na gramática normativa com base na análise estilística e sempre que possível traremos para a discussão aspectos do discurso que determinam a construção do estilo Na exposição do que pretendemos desenvolver aqui encontramse concei tos como conotação e denotação e as figuras de linguagem Bom estudo Profº Luciano Azevedo 1 a linGuaGEm fiGurada Figuras de linguagem ou figuras de estilo são recursos dos quais o falante lança mão a fim de falar ou escrever de maneira mais expressiva e bela São divididas em quatro grupos figuras de som figuras de pensamento figuras de sintaxe e figuras de palavras Começaremos falando das figuras de linguagem baseados no conceito de denotação e conotação 11 dEnOtaçãO E cOnOtaçãO As palavras podem ser usadas em sentido denotativo eou conotativo Quando são empregadas em sentido literal temos a denotação Sentido literal é aquele atribuído pelo dicionário Essas palavras são usadas geralmente para indicar no mundo um referencial preciso e de forma objetiva Temos como exemplo a Prof Luciano Taveira de Azevedo Carga Horária 15 horas 36 Capítulo 4 1 A televisão está ligada televisão s f 1 sistema de transmissão de sons e imagens à distância 2 A laranja está na despensa despensa s f compartimento para guardar alimentos A definição de televisão e despensa pode ser encon trada no Miniaurélio Dicionário da Língua Portu guesa Veja que as informações apresentadas pelo dicionarista acerca das palavras televisão e despensa não têm a finalidade de emocionar nem expressar beleza e por isso foram usadas em seu sentido lite ral nos enunciados 1 e 2 Esse sentido denotativo das palavras pode sofrer deslocamentos e desembocar em novos sentidos que são determinados por fatores como a experiência pessoal do locutor b intenção do locutor que pode ser a de emocionar c intenção do locutor em produzir novos senti dos para uma mesma palavra A esses novos sentidos atribuídos à palavra num processo criativo e inventivo dáse o nome de co notação Vejamos um exemplo Das utoPias Mário Quintana Se as coisas são inatingíveis ora não é motivo para não querêlas Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas Disponível em httpwwwjornaldepoesiajorbr quinta1htmldasutopias Observe que nesse poema de Quintana a pala vra estrelas tem o seu significado alargado reve lando assim o aspecto opaco da palavra Nesse contexto construído pelo poema estrelas signi fica coisas difíceis de serem atingidas sonhos distantes abismos intransponíveis Nesse caso a palavra foi usada em seu sentido conotativo ou figurado 12 fiGuras dE linGuaGEm Uma das maneiras de atribuir sentido conotati vo às palavras e consequentemente aos textos chamase figuras de linguagem ou figuras de estilo Por meio desse recurso criamos imagens que ex pressam a maneira como percebemos a realidade Vamos ao exemplo 1 Foram nublados esses dias de frio nos ossos do pensamento e dores nas artérias das horas Do ventre beberamse partos demorados umedeci dos de desamor e tragos duma chuva de nava lha Mas hoje nesse sol que não virá há de se buscar passos de magma onde o frio imprimira silêncio e mágoas desses brotar outra estrada e quem sabe prosseguir na leve trilha que ou trora o sol deixara Carlos Tenreiro poeta e professor da rede pública do Estado de São Paulo O texto foi publicado na página pessoal do autor na plataforma Facebook O texto apresenta várias palavras e expressões em sentido figurado das quais apenas destacaremos o primeiro período Foram nublados esses dias de frio nos ossos do pensamento e dores nas artérias das horas De acordo com nosso conhecimento de mundo temos por certo que pensamentos não têm ossos nem horas artérias Contudo por uma associação de ideias criamos uma figura ou imagem que nos faz imaginar pensamentos com ossos e horas repletas de artérias Isso é um efeito estético dado pela aproximação de palavras que têm alguma se melhança de sentido Quando assim procedemos utilizamos a palavra em sentido conotativo e cons truímos figuras 121 Figuras DE som As figuras de som podem ser percebidas e identifi cadas quando as pronunciamos em voz alta uma vez que sua finalidade é a produção de determina dos efeitos sonoros São elas alitEração Essa figura de linguagem consiste na repetição de consoantes Encontramos esse recurso estilístico em travalínguas músicas e poemas quando se in tenciona produzir uma forte sonoridade dentro do texto poético Ah Menina tonta toda suja de tinta 37 Capítulo 4 mal o céu desponta Sentouse na ponte muito desatenta E agora se espanta Quem é que a ponte pinta com tanta tinta A ponte aponta e se desaponta A tontinha tenta limpar tinta ponto por ponto e pinta por pinta Ah a menina tonta Não viu a tinta da ponte Tanta Tinta Cecília Meireles Nesse poema Cecília Meireles constrói o efeito sonoro por meio da repetição da consoante linguo dental t e da bilabial p Temos na repetição dessas consoantes a produção da aliteração A po etisa utilizouse desse recurso para dar mais ritmo e musicalidade ao poema assonância Diferentemente da aliteração a assonância é uma figura de som que consiste na repetição de vogais A assonância é também bastante utilizada na pro dução de composições musicais travalínguas e poemas Nesse último é comum a utilização da assonância na construção das rimas atrás Da Porta Chico Buarque Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei eu te estranhei Me debrucei sobre teu corpo e duvidei E me arrastei e te arranhei E me agarrei nos teus cabelos No teu peito teu pijama Nos teus pés ao pé da cama Sem carinho sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua Disponível em httpletrasterracombrchico buarque45113 Essa primorosa composição de Chico Buarque de Holanda retrata o momento e as emoções que acompanham a separação de um casal O eulírico é feminino e o título Atrás da porta já aponta para o desenrolar dramático das ações que com põem a narrativa Como recurso estilístico o com positor abusa da aliteração e assonância O uso da assonância fica evidente em Juro que não acreditei eu te estranheiMe debrucei so bre teu corpo e duvideiE me arrastei e te arranhei A repetição das vogais e e i na terminação dos ver bos acreditei estranhei debrucei duvidei arrastei e arranhei produz um efeito sonoro que enfatiza o tempo verbal nesse caso o pretérito perfeito Essa ênfase dada ao passado das formas verbais dentro desse cenário de separação aprofunda ainda mais a dramaticidade da cena Paranomásia A paranomásia referese ao uso repetitivo de pala vras que têm sons parecidos ou seja parônimas Esse recurso pode produzir diferentes efeitos que vão da ambiguidade à impressão de um tom engra çado que é dado ao texto Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu erro quero que você ganhe que você me apanhe sou o seu bezerro gritando mamãe Caetano Veloso Esse trecho da música Qualquer Coisa de Caetano Veloso apresenta uma sequência de palavras que têm sons parecidos mas significados diferentes Esse efeito pode ser observado entre as palavras berroaterrodesterroerrobezerro e ganheapanhe A essa repetição de palavras que apresentam sons semelhantes mas significados diferentes damos o nome de paronomásia onomatoPEia A onomatopeia é um recurso sonoro e estilístico que consiste na criação de palavras que represen tam os sons da realidade O uso da onomatopeia é frequente em histórias em quadrinhos e tem a finalidade de reproduzir sons de ruídos quedas gritos socos etc 38 Capítulo 4 Nessa pequena história em quadrinhos encontra mos algumas onomatopeias como CHUAC VUP POF Essas palavras foram criadas para represen tar os sons de um beijo do lançamento de um bumerangue e de um soco Atente para o efeito estilístico que a onomatopeia produz dentro do texto ao representar graficamente os mais variados sons com os quais nos deparamos em contextos diversos Ao criarmos uma figura sonora construímos de terminados efeitos estilísticos mas não só uma vez que novos sentidos são atribuídos ao texto que produzimos atividadE Leia o texto abaixo PoDEroso Português Pedro Paulo Pereira Pinto pequeno pintor por tuguês pintava portas paredes portais Porém pediu para parar porque preferiu pintar panfletos Partindo para Piracicaba pintou prateleiras para poder progredir Posteriormente partiu para Pirapora Pernoitan do prosseguiu para Paranavaí pois pretendia pra Fonte httpportaldoprofessormecgovbrstoragediscovirtualgaleriasimagem0000000095md0000001170jpg 39 Capítulo 4 ticar pinturas para pessoas pobres Porém pouco praticou porque Padre Paulo pediu para pintar panelas porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas Pálido porém personalizado preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas preferindo por tanto Paris Partindo para Paris passou pelos Pirineus pois pretendia pintálos Pareciam plácidos porém pesaroso percebeu penhascos pedregosos preferindo pintálos par cialmente pois perigosas pedras pareciam precipi tarse principalmente pelo Pico porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada provocando provavelmente pequenas perfurações pois pelo passo percorriam permanentemente possantes potrancas Pisando Paris pediu permissão para pintar pa lácios pomposos procurando pontos pitorescos pois para pintar pobreza precisaria percorrer pontos perigosos pestilentos perniciosos prefe rindo Pedro Paulo precaverse Profundas privações passou Pedro Paulo Pensava poder prosseguir pintando porém pretas previ sões passavam pelo pensamento provocando pro fundo pesar principalmente por pretender partir prontamente para Portugal Povo previdente Pensava Pedro Paulo Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios pintando principais portos portugueses Passando pela principal praça parisiense partin do para Portugal pediu para pintar pequenos pás saros pretos Pintou prostrou perante políticos populares po bres pedintes Paris Paris Proferiu Pedro Paulo Parto porém penso pintála permanentemente pois pretendo progredir Pisando Portugal Pedro Paulo procurou pelos pais porém Papai Procópio partira para Província Pedindo provisões partiu prontamente pois pre cisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas Profundamente pálido perfez percurso percorrido pelo pai Pe dindo permissão penetrou pelo portão principal Porém Papai Procópio puxandoo pelo pescoço proferiu Pediste permissão para praticar pintura porém praticando pintas pior Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petú nia Porque pintas porcarias Papai proferiu Pedro Paulo pinto porque permi tiste porém preferindo poderei procurar profis são própria para poder provar perseverança pois pretendo permanecer por Portugal Pegando Pedro Paulo pelo pulso penetrou pelo patamar procurando pelos pertences partiu prontamente pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita pedreiro Passan do pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando Primeiro pegaram peixes pequenos porém passando pouco prazo pegaram pacus piaparas pirarucus Partindo pela picada próxima pois pretendiam pernoitar perti nho para procurar primo Péricles primeiro Pisando por pedras pontudas Papai Procópio procurou Péricles primo próximo pedreiro pro fissional perfeito Poucas palavras proferiram po rém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras po rém Péricles pediulhe para pintar prédios pois precisava pagar pintores práticos Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios Pereceu pin tando prédios para Péricles pois precipitouse pe las paredes pintadas Pobre Pedro Paulo pereceu pintando Permitame pois pedir perdão pela paciência pois pretendo parar para pensar Texto disponível em httpwwwpalpitedigital combrwp20070801textointeirosocoma letrap a Com base no texto acima produza outro texto de no mínimo cinco frases cujas palavras comecem por consoante escolhida por você Aventurese e produza textos com estilo b Agora conclua que figura de linguagem foi utilizada em ambos os textos 122 Figuras DE PEnsamEnto As figuras de pensamento constituem processos que se dão no nível ou na esfera do pensamento e podem ser definidas pela associação de ideias que 40 Capítulo 4 o locutor deseja expressar antítEsE Consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto A antítese configurase como um recurso de estilo bastante eficaz Veja o exemplo cErtas coisas Não existiria som se não Houvesse o silêncio Não haveria luz se não Fosse a escuridão A vida é mesmo assim Dia e noite não e sim Em Certas coisas Lulu Santos e Nelson Motta usam à exaustão esse recurso estilístico Ocorre antítese entre os termos somsilêncio luzescuridão dianoite e nãosim Essas palavras embora apre sentem sentidos contrários são aproximadas pelos compositores e apontam para a ideia de que a vida é composta de realidades opostas de maneira que necessariamente uma coisa não existiria se não houvesse o seu contrário ParaDoxo No paradoxo temos uma espécie de antítese em que ideias opostas não se encontram apenas justa postas mas entram em contradição O paradoxo também chamado de oximoro representa a produ ção intencional de um contrassenso Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer Nessa estrofe do mais famoso poema de Luís Vaz de Camões temos várias ocorrências de paradoxos que se distribuem pelos versos mas destacamos apenas o segundo por ser mais representativo do fenômeno estilístico que estamos estudando Nes se verso Camões fala de uma ferida que dói e não se sente e ao assim fazêlo produz uma contradição dói x não se sente EuFEmismo Essa figura de pensamento consiste em suavizar uma ideia desagradável triste por meio da substi tuição do termo contundente por palavras amenas a José foi desta para melhor morreu b Sua nota na prova não foi das melhores foi péssima hiPérBolE A hipérbole é usada quando queremos enfatizar uma ideia Isso acontece por meio de termos que dão ideia de exagero No exemplo temos a Arrancou todos os cabelos ao saber a notícia desesperouse b Chorou rios de lágrimas chorou copiosamente ironia A ironia é a figura de pensamento pela qual di zemos o contrário daquilo que pensamos Geral mente empregamos esse recurso quando queremos expressar sarcasmo a Ele é rápido como um bicho preguiça lento b Você fez um excelente serviço péssimo graDação Na gradação as ideias são apresentadas em pro gressão ascendente clímax ou descendente anti clímax Ou seja há uma apresentação gradativa das ideias em que clímax e anticlímax representam o ponto de chegada da gradação Um coração chegando de desejos Latejando batendo restrugindo Vicente de Carvalho Ó não guardes que a madura idade te converta essa flor essa beleza em terra em cinzas em pó em sombra em nada Gregório de Matos ProsoPoPEia ou PErsoniFicação Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados ou características humanas a seres não humanos Veja os exemplos a A floresta gesticulava nervosamente diante do fogo que a devorava b O ipê acenavalhe brandamente chamandoo para casa 41 Capítulo 4 atividadE 1 IdentIfIque que fIguras de pensamento fo ram empregadas nos textos a seguIr a tIre o seu sorrIso do camInho que eu que ro passar com a mInha dor nélson cavaquI nho e guIlherme de BrIto B você foI a mentIra sIncera BrIncadeIra maIs sérIa que já me aconteceu Isolda c Ó morte vem depressa acorda vem de pressa acordeme depressa vemme enxu gar o suor que o estertor começa camI lo pessanha 123 Figuras DE sintaxE As figuras de sintaxe aparecem quando queremos dar maior expressividade ao sentido de maneira que a lógica da frase é usada para construir um efei to estilístico que realce determinado significado EliPsE Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados tanto por elementos gramaticais presentes na pró pria oração quanto pelo contexto Veja o exemplo a Veio sem pinturas em vestido leve sandálias coloridas Rubem Braga Nesse exemplo ocorre elipse do pronome ela Ela veio e da preposição de de sandálias Atente para a pontuação usada no período Geralmente a vírgula marca a supressão do termo dentro do período zEugma Consiste na supressão de um termo que foi usado anteriormente de maneira que ele fica subenten dido na oração A zeugma é uma forma de elipse Segue o exemplo a Foi saqueada a vida e assassinados os partidá rios dos Felipes Camilo Castelo Branco A zeugma ocorre na supressão do verbo e foram assassinados silEPsE A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto e sim com a ideia que ele representa É uma concordância ideológi ca latente porque se faz com um termo oculto facilmente subentendido Há três tipos de silepse de gênero número e pessoa a Silepse de gênero Ocorre a silepse de gênero quando a concordância acontece com a ideia que o termo comporta e não necessariamente com o gênero masculinofemini no da palavra a qual se refere Veja este exemplo São Paulo é movimentada São Paulo é um nome próprio cujo gênero é mas culino Nesse caso a concordância do adjetivo mo vimentada é feita com a ideia de cidade que fica subentendida e não com o gênero da palavra b Silepse de número A silepse de número acontece quando o verbo não concorda com o número singularplural expres so pelo sujeito da oração mas com a ideia contida nele Esta gente está furiosa e com medo por conse quência capazes de tudo Almeida Garrett Nesse exemplo o adjetivo capazes concorda com a ideia de plural contida no substantivo feminino gente e não com o número dessa palavra que gra maticalmente é singular c Silepse de pessoa A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância O verbo mais uma vez não concor da com o sujeito da oração mas com a pessoa que está inscrita no sujeito Analisemos esta oração Os brasileiros choramos a derrota da seleção Nessa oração há uma discordância entre a pessoa verbal e o sujeito expresso Ao colocar o verbo na 1ª pessoa do plural o falante incluise na ideia ex pressa pelo sujeito e subverte assim a estrutura padrão que seria um verbo na 3ª pessoa do plural 42 Capítulo 4 concordando com o sujeito assínDEto Consiste na coordenação de termos ou orações sem utilização de conectivos conjunções Esse re curso imprime lentidão ao ritmo narrativo Segue um exemplo a A tua raça quer partir guerrear sofrer vencer voltar Cecília Meireles Observe que nesse exemplo a autora preferiu omitir o conectivo e que poderia ter sido usado entre os verbos vencer e voltar Ao se utilizar desse recurso Cecília dá maior lentidão à leitura do tex to de maneira que podemos ler as palavras com certa pausa e saboreálas lentamente PolissínDEto Ao contrário do assíndeto o recurso expressivo denominado polissíndeto consiste na repetição do conectivo na coordenação de termos ou orações Se o assíndeto desacelera o ritmo da narrativa o polissíndeto confere mais movimento ao texto no qual é empregado a Se era noivo se era virgem Se era alegre se era bom Não sei É tarde para saber Carlos Drummond de Andrade O que foi dito acima pode ser comprovado nesses versos do poeta Drummond que repete a conjun ção se e imprime um ritmo mais acelerado à leitura do poema hiPérBato O hipérbato é uma inversão que acontece quando mudamos a sequência padrão dos termos da ora ção ou da frase de maneira que o termo deslocado de sua posição normal recebe forte ênfase a Aberta em par estava a porta Almeida Garret A ordem normal da oração acima seria A porta estava aberta em par Esse recurso pode ser usado quando intencionamos pôr em destaque um ter mo específico da oração anacoluto É uma ruptura na estrutura lógica da frase ou oração Esse recurso é bastante utilizado na cons trução dos diálogos que procuram reproduzir na escrita a língua falada Veja o exemplo a A velha hipocrisia recordome dela com vergo nha Camilo Castelo Branco Observe que nesse discurso há uma ruptura na disposição dos termos de maneira que a referida ruptura promove um efeito estilístico cuja finali dade é enfatizar um determinado elemento do diálogo Vale ressaltar que o anacoluto desse ser é usado apenas para efeitos estilísticos e em casos específicos Em geral devese evitálo PlEonasmo Consiste na repetição de um termo ou ideia utili zandose das mesmas palavras ou não A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia tornála mais ex pressiva Veja este exemplo a Chovia uma triste chuva de resignação Ma nuel Bandeira O pleonasmo identificado na repetição dos termos choviachuva é considerado um pleonasmo estilísti co e foi utilizado pelo autor para enfatizar a ideia de resignação que assume grande vulto Assim como o anacoluto o pleonasmo deve ser usado em casos muito especiais e com finalidades estilísticas atividadE 1 Nos textos abaixo identifique o recurso da estilística sintática que foi usado a Amou daquela vez como se fosse a última Amou daquela vez como se fosse o últi mo Amou daquela vez como fosse máqui na Chico Buarque b E a menina para não passar a noite só era melhor que fosse dormir na casa de uns vizi nhos Rachel de Queiroz c Fez o caminho inverso não foi da coisa ao sonho ao nome à sombra foi do vapor de água à gota em que se condensa foi da pa lavra à coisa árdua que seja ou demorada 43 Capítulo 4 a coisa seja áspera ou arisca em sua coisa a coisa seja doída pesada seja enfim coisa a coisa João Cabral de Melo Neto Fábula de Rafael Alberti 124 Figuras DE Palavra A figura de palavra consiste na substituição de uma palavra por outra a fim de explorar os signifi cados dessas palavras seja por associação similari dade ou comparação A exploração do significado das palavras de maneira expressiva ocorre quando criamos a metáfora a metonímia a antítese o eu femismo a hipérbole a ironia a gradação entre outros mEtáFora A metáfora ocorre quando uma palavra passa a designar alguma coisa com a qual não mantém ne nhuma relação objetiva Na base de toda metáfora encontrase um processo comparativo a Seus olhos são como luzes brilhantes Nesse exemplo ocorre uma aproximação de senti do entre olhos e luzes brilhantes dentro de um pro cesso comparativo Assim os olhos descritos são tão vivos como as luzes ou tão bonitos que se asse melham às luzes que brilham mEtonímia Ocorre metonímia quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse Veja o exemplo a Moro no campo e como do meu trabalho Nesse exemplo utilizouse uma metonímia uma vez que a causa trabalho é usada no lugar do efei to alimento produzido Se quiséssemos desfazer a metonímia deveríamos escrever Moro no campo e como o alimento que produzo catacrEsE A catacrese consiste numa metáfora que por causa de seu uso frequente acabou por se cristalizar É comum ocorrer a catacrese quando por falta de um termo adequado para designar um determina do conceito tomase outro por empréstimo Essas palavras passam a ser empregadas fora do seu senti do original Como exemplo temos a asa da xícara b maçã do rosto c braço da cadeira Atente para o fato de que asa maçã e braço tive ram seu sentido deslocado ou emprestado a fim de dar conta de um conceito para o qual não se tem uma palavra adequada sinEstEsia A sinestesia consiste em mesclar numa mesma expressão sensações percebidas por diferentes ór gãos do sentido Como na metáfora tratase de re lacionar elementos de universos diferentes Como exemplo temos a A sua voz áspera intimidava a plateia Nesse exemplo voz remete a uma experiência au ditiva ao passo que áspera reclama outro sentido qual seja o tato PEríFrasE A perífrase ocorre quando uma palavra ou expres são designa um ser por uma dos seus atributos ou características a A Dama do Suspense escreveu livros ótimos Dama do Suspense Agatha Christie símilE O símile ocorre quando a comparação é feita por associação ou seja quando a relação entre duas partes aproxima dois campos conceituais a prin cípio independentes e usa a conjunção como ou suas formas equivalentes tal qual assim como do mesmo modo que Veja o exemplo a Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado tra jando luto me lembrou Carlitos A lua tal qual a dona do bordel pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel João Bosco e Aldir Blanc EPonímia Ocorre eponímia quando um substantivo próprio passa a substantivo comum por estabelecer com 44 Capítulo 4 este último uma relação de equivalência semânti ca a exemplo de a Washington Olivetto para muitos o Pelé da Propaganda afirmou em entrevista ao Spor TV que Pelé é o pelé dos Pelés atividadE 1 Leia o texto abaixo Aqui no prédio há um casal que prestigia o nosso grupo de teatro e que só perde um ensaio quando não encontram uma pessoa que possa tomar conta de sua filha pequena a Nesse texto indique onde ocorre silepse b Agora responda por que o locutor preferiu usar a silepse em vez de empregar a concordância lógica rEfErências ALMEIDA N M de Gramática Metódica da Língua Portuguesa 45ª ed São Paulo Publifo lha 2009 ALI M SAID 1969 Gramática Secundária da Língua Portuguesa 8ª edição revista e comen tada por Evanildo Bechara S Paulo Ed Me lhoramentos AZEREDO J C de Gramática Houaiss da lín gua portuguesa 45ª ed São Paulo Saraiva 2005 BECHARA E 1999 Moderna Gramática Por tuguesa 37ª ed revista e ampliada Rio de Ja neiro Lucerna CINTRA L CUNHA C 1984 Nova Gra mática do Português Contemporâneo Lisboa Sá da Costa MATEUS M H et alli 2003 Gramática da Língua Portuguesa Lisboa Caminho ROCHA LIMA C H da Gramática Normativa da Língua Portuguesa 43ª ed São Paulo José OlympioRecord 2002 WEG ANTUNES DE JESUS A língua como ex pressão e criação v 2 São Paulo Contexto 2011 SAIBA MAIS SAIBA MAIS Para saber mais sobre estilística e recursos estilísticos consulte ALI M Said 1951 Meios de expressão e al terações semânticas Rio Ed Organizações Simões GALVÃO Jesus Belo 1967 Língua e expres são artística Subconsciência e afetividade na língua portuguesa Rio de Janeiro Civiliza ção Brasileira HALLIDAY M A K 1990 Estrutura e função da linguagem In Novos Horizontes em Lin guística Organização de John Lyons Trad de Geraldo Cintra e outros São Paulo cul trixEdusp LAPA Manuel Rodrigues 1975 Estilística da Língua Portuguesa Coimbra Ed MARTINS Nilce SantAnna 1989 Introdu ção à estilística São Paulo Edusp MATTOSO CÂMARA JR Joaquim 1977 Contribuição à estilística portuguesa Rio de Janeiro Ao Livro Técnico MURRY Middleton G 1968 O problema do estilo Trad de Aurélio Gomes de Oliveira Rio de Janeiro Livraria Acadêmica