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A ESCOLA TEM FUTURO DAS PROMESSAS ÀS INCERTEZAS Rui Canário Porto Alegre Artemed 2006 160 p il 23 cm ISBN 9788536306964 1 Educação Escola I Título CDU 371 Catálogo na publicação Júlia Angst Coelho CRB 101712 Sumário 4 Escola e educação nãoescolar 113 Uma janela para a educação 113 Formação e experiência 120 Uma sociedade sem escola 129 5 O que esperar das ciências da educação 141 As ciências da educação são úteis 141 Rui Canário O EDUCADOR NO OLHO DO FURACÃO Quero partilhar com educadores uma reflexão sobre o que convencionalmente se designa por crise da escola É uma satisfação mas também uma responsabilidade fazêla Há mais de 30 anos sou professor e tenho trabalhado em todos os níveis do sistema de ensino com crianças jovens e adultos em contextos urbano e rural na formação profissional e na animação cultural Mas sou também pesquisador e é a partir desta dupla experiência que vou expor um ponto de vista sobre os problemas atuais da escola e dos professores alto a baixo e conclui peremptório Bom talvez você saiba nader bem dentro da água faz da água não vejo nada não Obviamente não o dispensa A segunda história foi vivida por mim como pai de uma aluna da definição escrevi que se a exigência de uma aula de geografia veio me pedir ajuda para fazer o trabalho de casa A tarefa consistia em responder a pergunta O que é o zênite A definição já estava escrita no caderno para onde os alunos tinham copiado o que a professora escrevera no quadro A dúvida residia em saber o que pediam para novamente voltar a copiar o que já fizera algumas horas antes Esclarecida a questão afirmativamente claro pergunteise e elas e os colegas tinham percebido a definição que dizia assim Zênite é o ponto da abóbada celeste tocado por um eixo imaginário que passa pelo centro da terra e atravessa a sua cabeça A resposta negativa foi esclarecedora a professora tinha dito que não se preocupassem porque a abóbada celeste não existia e isso também não porque era imaginário e o zênite ainda mesmo Era necessário saber por que fazer parte do programa A terceira história do respeito a uma vez de física foi passado pelo célebre físico Niels Bohr a quem em uma prova oral o professor teria perguntado como se media a altura de um edifício como na utilização de um barômetro A resposta esperada tinha como base a variação dos valores da pressão atmosférica medida na base no topo do edifício O aluno foi proposto soluções sucessivamente rejeitadas pelo professor por não corresponderem a uma boa resposta Primeira solução deixar cair o barômetro do telhado e calcular a altura do edifício a partir do período de tempo gasto na queda recolhendo um cronômetro Segunda pendurar o barômetro com uma corda a partir do telhado e deixar tocar no chão Decidir e medir a corda Terceira colocar o barômetro e só determinar a altura do edifício a partir do conhecimento da altura do barômetro do comprimento das sombras e do próprio edifício Quarta utilizar o barômetro como unidadepadrão para medir o edifício em barômetros Depois de enunciar várias soluções e perante um professor previsivelmente irritado o aluno conduziuse contra a memória provocativa uma última lembrança de experiência não escolar que reconhecendo desta vez a competência de natureza social Tratavase de utilizar o barômetro como modelo de forma que se obtenha a informação desejada na porta do prédio Estas histórias contadas de forma deliberadamente caricatural pertencem a inúmeras algumas características mais marcantes da forma escolar São elas o menospreso pela experiência nãoescolar dos alunos que tempos em as experiências como uma tábua rasa história da ação a frequente dificuldade ou incapacidade que os alunos têm em atribuir sentido às tarefas escolares que lhes são impostas história do zênite e por fim a tendência da escola para ensinar soluções ou seja para respostas sustentando a capacidade de pesquisa e de descoberta que exige competências para equacionar problemas e imaginar diferentes soluções Não esqueçamos que a maior parte dos problemas importantes têm um caráter aberto e indeterminado admitindo uma pluralidade de soluções possíveis Esta forma escolar de conceber o processo de aprender foi progressivamente tendencialmente constituindose como a única maneira de conceber a educação o que teve duas consequências fundamentais consistiu em conferir à escola o quase monopólio da ação educativa desvaziando os espaços não adquiridos por via escolar e traduziuse em continuar todas as modalidades educativas nãoescolares transformandoas a sua imagem e semelhança Esse empobrecimento do campo de pensamento educativos proviu a própria forma de escola de referenciais exteriores que lhe permitiram criticar e se transformar Em síntese durante o século XX a educação tornouse refém da escola Construir uma nova legitimidade Para os que entendem os problemas educacionais sob uma perspectiva crítica principalmente a crise da escola aparece sobreduto como um problema de eficácia É contudo mais realista interpretar este cristo como um problema de legitimidade que resulta da erosão dos fundamentos de uma visão otimista da escola Recriar o ofício de professor A recriação de uma identidade profissional positiva passa pela construção de uma autonomia profissional que supera a atual situação de exercício profissional tutelada reorganizando o perfil profissional do professor em torno de algumas dimensões essenciais O professor entendido como um analista simbiótico É alguém que equaciona e resolve problemas em contextos marcados pela incerteza e pela complexidade A ESCOLA COMO COMUNIDADE DE ARTESÃOS É a primeira vez que estou no Rio Grande Sul o que não significa estar em um lugar desconhecido Familiarizeime com esta região e com a sua história através da leitura de Erico Verissimo em particular por um monumento literário que é a saga dos Cambarás em O tempo e o vento Nesse romance Erico Verissimo evoca em determinado trecho a notícia de que a Vila de Santa Fé havia passado à categoria de cidade por decreto de aprendizagem tem como ponto de partida uma pergunta Conforme nos ensina Gaston Bachelard 1984 em sua interrogação não há conhecimento A curiosidade e a abordagem de problemas estão no centro do trabalho de aprender Se a escola é um espaço onde se deve concluir uma relação prazerosa que é a relação que eu tinha ensinado ao avô para que pudesse fazer os ditados É um exemplo conveniente de uma relação circular um círculo neste caso virtuoso e não é uma relação linear e irreversível entre ensina e quem aprende Como se organiza a escola A escola que hoje conhecemos corresponde a um modelo organizativo muito estudante cujo princípio radica distintivo é a organização em classes homogêneas no que diz respeito a fazer perguntas e consequências A fala de interesse dos alunos questiona de forma direta o nosso trabalho docente e exprime o fato de trabalhar a escola parecer aos alunos como vazio de sentido o justificado poderia ser o aluno procurado Em relação aos pais ou avós os alunos atuam também como agentes de aprendizagem A maior parte das situações de aprendizagem são por um lado não formais não obedecem aos requisitos do modelo escolar e por outro lado são deliberadas CALVIN HOBBES POR QUE TENHO DE IR À ESCOLA POR QUE NÃO POSSO FICAR EM CASA HOCUSFOCUS ABRACADABRA ORDENAO AO MEU TRABALHO DE CASA QUE SE FAÇA POR SÉ TRABALHO DE CASA FAÇASE Diz o capitão ao sargento Por ordem do nosso coronel amanhã vai haver eclipse do sol na parada Se chover o que não se vê não se vê nada então o capitão dará a explicação em farda de trabalho na caserna O nosso coronel vai fazer um eclipse do sol na parada Se chover o que não se vê todos os dias não se vê nada então o capitão dará a explicação em farda de trabalho na caserna A escola do futuro Como tornar possível um exercício prospectivo sobre a escola do futuro que não seja nem uma tentativa de adivinhação nem um sonho totalmente desligado da realidade atual Penso que a única maneira de fazêlo consiste em nos descontrairmos da realidade escolar que nos é familiar e tentar imaginar a escola a partir do que fomos sobre a educação já escolar Quem levou mais este raciocínio rico precisamente Ivnik 1971 o que permitiu assumir sobre a necessidade e a viabilidade de uma sociedade sem escola As gerações atuais passam na escola uma parte cada vez mais importante da sua vida não só pelas exigências que decorrem do prolongamento a mantenente e a juíza da escolaridade obrigatória como também da aspiração generalizada a realizar recursos escolares mais longos Tais mudanças são concomitantes com a entrada das mulheres no mercado de trabalho e com as correspondentes alterações da estrutura familiar A escola do hoje está muito longe de se circunscrever à sua missão de instruir A escola representa um tempo e um espaço multifuncionais que se instituem como um meio de vida até a idade adulta Muitas crianças e jovens passam mais tempo em interação direta com os educadores e colegas do que com os pais A escola precisará então passar a não como sendo um somatório de salas de aula mas como um meio ambiente educativo cuja edugênica é possível reforçar e que possa ampliar a multiplicação de oportunidades de aprendizagem em que a aprendizagem ao longo da vida se constitua um exercício ativo A reformulação do funcionamento da escola e a ruptura com uma estrutura organizacional de origem não podem ficar restritas ao seu funcionamento interno A escola é um sistema aberto e sua organização interna determina a natureza das suas relações com o exterior Não sendo a escola um território físico nem um agregado biológico mas sim um sistema de comportamentos as suas funções são necessariamente móveis em função do tipo de projeto educativo que sustenta sua atividade ESCOLA APRENDIZAGEM E INOVAÇÃO O PROFESSOR E O ALUNO COMO PRODUTORES DE SABER Este tema é o cerne do que é mais importante na escola como é que os professores e os alunos podem interagir no sentido de serem ambos produtores de saber Vou abordar esta questão a partir da apresentação de um projeto de intervenção educativa e de formação de professores em meio rural no qual trabalhei durante cinco anos desde 1987 Fiz esta escolha por estar convicto de que o contexto rural pelas suas especificidades e pelas características que induz na escola representa um analisador particularmente fecundo de alguns dos principais problemas que os nossos sistemas escolares atravessam O exemplo que vou apresentar traduz portanto a escola em um ponto de vista que considero privilegiado para esclarecer possíveis modos de construir a relação com o saber no contexto escolar O assunto está organizado em quatro pontos Em primeiro lugar tendo como referência a realidade europeia questionarei a questão da escola rural no mundo do hoje Passarei em seguida a apresentação descritiva necessária e sintética do projeto de intervenção educativa que desenvolvi no Concelho de Arconches zona rural do interior de Portugal A partir desse exemplo tentarei esclarecer alguns dos pontos críticos de funcionamento da escola para ao final comentar as estratégias de mudança da realidade escolar