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E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 189 HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA Moises Domingos Sobrinho UFRN102 RESUMO Este artigo apresenta resultados preliminares de um conjunto de pesquisas sobre a construção do ser professor da educação básica da rede pública municipal e estadual de algumas cidades do Nordeste brasileiro Os dados são analisados e interpretados com base nos conceitos da praxiologia de Pierre Bourdieu em especial habitus e campo educacional e mostram como a gênese e estruturas sociais que estiveram na base da constituição do habitus docente investigado permitem compreender a atual posição dos professores no campo educacional seus gostos estilo de vida e formas identitárias Palavraschave habitus campo educacional identidade docente 102 Doutor em Sociologia pela Universidade de Louvain atualmente realizando estágio pósdoutoral na PUCSP Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 190 INTRODUÇÃO Este texto apresenta parte dos resultados de pesquisas que vimos desenvolvendo sobre a construção do ser professoraprofessor da educação básica e sua relação com a praxiologia bourdieusiana mais especificamente com os conceitos de habitus e campo social Quando fazemos a ressalva parte dos resultados isso se justifica para além dos limites de páginas de um artigo por três razões primeiro porque a problemática em foco vem sendo explorada à luz do modelo teórico praxiologiarepresentações sociais o qual articula os conceitos centrais da praxiologia de Pierre Bourdieu habitus campo social capital simbólico poder simbólico e violência simbólica com a teoria das representações sociais de Serge Moscovici segundo porque apresentaremos aqui apenas resultados voltados para a relação habitus docentecampo educacional terceiro porque no momento procedemos a uma avaliação do citado modelo após uma década de sua aplicação através de pesquisas individuais dissertações e teses por nós orientadas103 Feita esta ressalva explicitamos nosso objetivo central pôr em evidência alguns aspectos macro e microssociais da construção do ser professoraprofessor da educação básica do setor público municipal e estadual em diferentes realidades do Nordeste brasileiro mais especificamente destacar os condicionantes decorrentes das trajetórias social e individual dos agentes construtores e reprodutores dessa identidade social as principais estratégias desenvolvidas pelos mesmos para se inserirem no campo educacional as condições dessa inserção e sua repercussão sobre as posições aí ocupadas Nossa proposta de investigação nos seus objetivos mais amplos acima referenciados vinculase à Linha de Pesquisa Formação e Profissionalização Docente e visa a dialogar numa perspectiva cultural e psicossocial com algumas das questões que vêm norteando as inquietações dos pesquisadores as da mesma dentre elas que profissão é a do ensino Que deve ser garantido para que o trabalho docente avance na direção de uma profissão Como profissionalizar o ensino docente a docência e as 103 Atualmente desenvolvemos estágio de pósdoutoramento na PUCSP com o projeto Praxiologia Representações Sociais e a construção do ser professor a da educação básica implicações teóricas metodológicas e práticas de um modelo E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 191 próprias agências formadoras Estas inquietações estão dentre tantas outras que vêm conclamando os pesquisadores não apenas no Brasil mas também em outros países à busca de respostas dada a transformação acelerada das sociedades contemporâneas e as novas expectativas em relação à Escola e aos sistemas educacionais porquanto acreditase amplamente que o progresso dessas sociedades está fortemente ligado à qualidade da educação fornecida a qual por sua vez depende da qualidade daqueles que ensinam e educam Diante disso instalouse uma onda mundial de reformas dos Programas de Formação para o ensino centrada na profissionalização do docente a qual se transformou gradativamente numa tendência adotada pelos países dos hemisférios Norte e Sul No Brasil desde o início da década de 1990 constroemse discursos sobre a formação e a profissionalização docente que visam a dar conta desse novo cenário Se tradicionalmente a formação docente esteve centrada na aquisição de saberes acadêmicos e disciplinares e numa racionalidade fechada exógena ao professorado hoje toma progressivamente uma nova direção centrada na aprendizagem de competências profissionais RAMALHO NUNEZ GAUTHIER 2004 p 11 Dizem estes autores haver no tocante ao magistério uma tradição formativa que mantém forte relação entre docência desprofissionalizada e ensino desqualificado Afirmam ainda existir além de uma crise de identidade profissional na categoria docente um enorme déficit de competência na hora de formar o professorado reforçando nosso entendimento de que se algo anda mal com o que resulta do ensino isto muito tem a ver com o que são osas professoresas como pensam e praticam o métier e as condições do exercício da profissão ibid p 120 Como tem se dado a preparação para o trabalho docente Que obstáculos epistemológicos práticos pedagógicos têm contribuído para limitar a configuração do trabalho de ensino como uma atividade profissional São perguntas que merecem respostas todavia ressaltese considerandose as particularidades de cada contexto Os discursos e modelos atualmente predominantes relativos à formação docente apregoam que o professor deve ser considerado em todas as suas dimensões de ser social política cultural subjetiva didáticopedagógica O educador dizse deve ser diferenciado do especialista de conteúdo do facilitador de aprendizagem para ser visto como ser reflexivo que alia açãoreflexãoação e pesquisa Considerar a reflexão a crítica e a pesquisa como atitudes que possibilitam ao professor participar da construção E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 192 da sua profissão e no desenvolvimento da inovação educativa como defendem os autores supracitados significa contribuir para uma formação docente voltada não só para a compreensão da realidade que circunda o professorado no espaço escolar mas também nos espaços sociais por onde circula e atua Dentre as várias dimensões e variáveis a serem consideradas nos processos formativos desse novo docente chamamos a atenção em particular às dimensões cultural e psicossocial Essas fornecem sustentação à nossa hipótese segundo a qual as estruturações identitárias do professorado construídas com base nos esquemas de um habitus específico e as representações sociais que o professor constrói sobre os objetos do mundo social que lhes afirmam e ao mesmo tempo diferenciam inclusive aquelas construídas sobre si mesmo podem funcionar como obstáculos simbólicos à incorporação das novidades propostas pelos processos formativos Neste texto reafirmamos não exploraremos os resultados gerais já encontrados que indicam a pertinência da articulação praxiologiarepresentações sociais Nosso olhar estará aqui voltado para uma primeira aproximação dos achados concernentes à relação habitus campo educacional 1 O HABITUS NA ÓTICA BOURDIEUSIANA O conceito de habitus é central na obra de Bourdieu e alimentou por isso mesmo a maioria das polêmicas que teve de enfrentar durante toda sua vida Tratase de um conceito que tem raízes no pensamento aristotélico e na Escolástica medieval Mais precisamente deriva da noção aristotélica de hexis convertida pela tradição escolástica em habitus que significa uma moral que se tornou hexis gesto postura BOURDIEU 1983 p 104 Por que ir buscar esta velha palavra Porque esta noção de habitus permite enunciar algo que se aparenta àquilo que evoca a noção de hábito distinguindose desta num ponto essencial O habitus como diz a palavra é aquilo que se adquiriu mas que se encarnou no corpo de forma durável sob a forma de disposições permanentes Por ter sido incorporado o autor destaca seu caráter histórico porquanto ligado à história individual e inscrito num modo de pensamento genético por oposição a modos de pensamento essencialistas ibid p 105 Lembra ainda que a escolástica E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 193 considerava como habitus as propriedades inerentes aos indivíduos e tidas como um capital conotação com a qual concordava De fato para ele o habitus é um capital que incorporado apresentase com as aparências de algo inato Mas por que não dizer hábito O hábito é considerado espontaneamente como repetitivo mecânico automático antes reprodutivo que produtivo Ora eu queria insistir na idéia de que o habitus é algo que possui uma enorme potência geradora ibid Do ponto de vista dos debates teóricos que travou para impor sua definição Bourdieu insistiu que uma das principais funções do conceito de habitus era evitar por um lado as correntes mecanicistas segundo as quais a ação constitui um efeito imediato da coerção de causas externas e de outro o finalismo segundo o qual o agente atua de maneira livre consciente sendo sua ação por conseguinte produto de um cálculo de chances e ganhos Asssim Contra ambas as teorias convém ressaltar que os agentes sociais são dotados de habitus inscritos nos corpos pelas experiências passadas tais sistemas de esquemas de percepção apreciação e ação permitem tanto operar atos de conhecimento prático fundados no mapeamento e no reconhecimento de estímulos condicionais e convencionais a que os agentes estão dispostos a reagir como também engendrar sem posição explícita de finalidades nem cálculo racional de meios estratégias adaptadas e incessantemente renovadas situadas porém nos limites das constrições estruturais de que são o produto e que as definem BOURDIEU 2001a p 169 Bourdieu encontra assim o conceito que acredita dar conta da mediação entre as estruturas e as práticas entre sociedade e indivíduo o que implica afirmar que o individual o pessoal e o subjetivo são ao mesmo tempo sociais e coletivamente orquestrados que as condições sociais de existência são interiorizadas sob a forma de princípios inconscientes de ação e reflexão esquemas de percepção e entendimento portanto sob a forma de estruturas da subjetividade Ressaltemos ainda um aspecto da citação feita acima O autor chama a atenção para o emprego do termo estratégia uma necessidade segundo ele para designar seqüências de ações objetivamente orientadas para uma finalidade e observáveis em E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 194 todos os campos sociais Como destacaremos adiante as estratégias desenvolvidas pela população pesquisada tendo em vista inserirse no campo educacional é oportuno desde já sublinhar o sentido deste termo na praxiologia bourdieusiana As estratégias não são produzidas por um cálculo racional ou projeto conscientemente construído e perseguido pelos agentes Por serem oriundas de disposições modeladas pelas necessidades imanentes de determinado campo social são tendentes a se ajustar espontaneamente a essa necessidade sem qualquer intenção manifesta nem cálculo Isto significa afirmar que o agente nunca é por inteiro o sujeito de suas práticas ibid O senso prático sens pratique é o que permite ao agente atuar de maneira adequada sem interpor ou executar uma regra de conduta mas fundamentalmente guiado pelos sistemas de esquemas de percepção apreciação e ação estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes como sempre repetiu este autor 2 A NOÇÃO DE CAMPO SOCIAL O conceito de campo social como ressaltamos em outro texto DOMINGOS SOBRINHO 2002 é um dos aspectos inovadores da sociologia de Bourdieu devido à analogia que este autor faz entre a economia e os mercados de bens simbólicos ou seja os espaços sociais não econômicos nos quais os indivíduos são tão calculistas e estratégicos como nos mercados econômicos Para ele não são exclusivas do campo econômico as estratégias aí desenvolvidas pelos agentes visando comprar ou acumular bens e capitais Essas são também comuns aos demais espaços sociais Um campo social é portanto um mercado de bens simbólicos mas igualmente um campo de forças e de lutas no interior do qual os agentes se enfrentam com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças contribuindo assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura BOURDIEU 2007 p 50 É um mundo social como outro qualquer embora com leis sociais mais ou menos exclusivas no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem reproduzem ou difundem a arte a literatura a ciência a educação dentre outras realidades sociais Ao referirse às propriedades gerais dos campos sociais Bourdieu diz que um campo se define ao se definir também os objetos de disputa e os interesses que E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 195 determinarão a sua dinâmica Por essa razão os objetos de disputa e interesses específicos de um campo são irredutíveis aos de outros campos e não são percebidos senão pelos agentes dotados do habitus correspondente não se poderia fazer moverse um filósofo com as razões que mobilizam um geógrafo pois cada categoria de interesse implica a indiferença a outros interesses e a outros investimentos destinados a serem percebidos como absurdos insensatos sublimes ou desinteressados BOURDIEU 1980 p113116 Tradução nossa Do ponto de vista operacional este conceito ajudanos por exemplo a entender como as trajetórias social familiar e escolar dos indivíduos no caso as professoras e professores condicionam sua forma de inserção no campo educacional e repercutem sobre as posições por eles e elas ocupadas posto que essas dependem em larga escala do volume de capitais sobretudo simbólicos exigidos pelas regras próprias de funcionamento do campo Após esta breve apresentação dos principais conceitos aqui explorados passemos à discussão de alguns resultados de nossas pesquisas 3 A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA Ser professoraprofessor da educação básica é compartilhar uma identidade social e uma cultura específica um habitus que nos limites do senso comum podem ser percebidas tão somente como um conjunto de profissionais com características peculiares assim como os médicos advogados e tantas outras categorias como bem ressalta Lira 2007 Todavia como diz este autor apesar de ser relativamente fácil elencar pontos em comum demarcatórios da identidade docente muito nos falta para entender a lógica que preside a construção e estruturação identitária dos mesmos ibid p 16 Assim o que parece ser um bloco homogêneo quando visto a partir da representação social hegemônica do ser professoraprofessor na sociedade brasileira esconde na verdade um emaranhado de possibilidades entrecuzadas e o longo processo social de construção desses profissionais Considero bastante pertinentes essas questões levantadas por Lira posto que do ponto de vista da gestão dos espaços das práticas docentes da discussão de políticas públicas e de várias outras formas de intervenção as mesmas são muitas vezes negligenciadas predominando a homogeneização de realidades diferentes E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 196 Como alertado na introdução apresentaremos a seguir os resultados parciais dos achados que nos permitem estabelecer a relação entre a construção de um habitus e o campo social no qual sua existência passa a ter sentido Nas pesquisas realizadas buscamos observar como os indivíduos investigados tornaramse docentes da educação básica analisando suas origens sociais as trajetórias percorridas até inserirse no campo educacional e as condições em que ocorreu essa inserção As pesquisas que nos servirão de fontes de dados são Albuquerque 2005 que pesquisou uma população docente do ensino fundamental da cidade de Maracanaú CE Lira 2007 e Melo 2009 que pesquisaram o professorado das redes públicas de ensino municipal e estadual da cidade do Natal envolvendo professoras e professores da educação infantil e do ensino fundamental I e II Silva 2007 que investigou docentes da disciplina de Geografia do ensino fundamental em TeresinaPI e Soares 2011 cuja investigação voltouse para o processo de construção do ser professoraprofessor da educação infantil em Campina Grande A seguir apresentamos de forma sucinta os principais achados a Os sujeitos compartilham uma origem social semelhante dada sua vinculação a famílias que migraram na grande maioria para os centros urbanos alegando de acordo com as duas justificativas mais citadas em busca de uma vida melhor ou para oferecer educação aos filhos o que não seria mais possível nas pequenas cidades ou distritos de onde vieram b as ocupações dos pais em geral podem ser classificadas como essencialmente manuais de baixa qualificação e remuneração o mesmo acontecendo com os sujeitos quando exerceram alguma atividade remunerada antes de se tornar docente c a inserção no mercado de trabalho educacional ou seja no campo educacional representou um movimento de ascensão profissional tanto do ponto de vista da família de origem quanto das experiências individuais anteriores ao magistério Os resultados indicam como apresentado nestes itens que os professores pesquisados seja em Teresina Natal Maracanaú ou Campina Grande são oriundos de famílias pertencentes a grupos sociais situados nas faixas de renda mais baixas da População Econômica Ativa cujos pais sempre estiveram engajados em E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 197 ocupaçõesprofissões essencialmente manuais o que na sociedade brasileira indica estar em posições menos prestigiadas do mundo social e do trabalho SAES 1985 DOMINGOS SOBRINHO 1998 2000 e cuja escolaridade não ultrapassou na grande maioria entre 63 e 72 o segundo grau incompleto Tornarse professorprofessora representou como já dito uma ascensão social Continuemos d identificouse junto às populações pesquisadas uma disposição permanente para a aquisição de capital educacional embora esse esforço não tenha ido além para a maioria em torno de 55 62 ou mais do curso de magistério do segundo grau não profissionalizante ou de um curso de licenciatura A pósgraduação quando ocorre concentrase nos cursos de Especialização lato sensu sendo portanto muito baixa a incidência na formação stricto sensu mestrado e doutorado e Essa disposição tem raízes nas famílias de origem posto que essas por alimentarem a crença no valor redentor da educação desenvolveram cada uma à sua maneira as estratégias que levaram seus descendentes à superação dos obstáculos iniciais para a acumulação do capital cultural sob sua forma de saberes e títulos escolares Vejamos como esses achados são ilustrados e interpretados por Albuquerque 2005 p 6465 As famílias citadas não ocupavam um mesmo espaço geográfico mas compartilhavam a mesma valorização da escola pois acreditavam que esta instituição teria a capacidade de redimir seus filhos do estado de penúria em que viviam ao examinar as trajetórias dos professores pesquisados constatase uma postura diferenciada do restante da população rural suas famílias fizeram inúmeros sacrifícios para lhes possibilitar acesso ao saber escolarizado A força simbólica exercida pela escola vista como possibilidade de ascensão social direcionou as práticas dessas famílias A acumulação do capital cultural necessário à posição atualmente ocupada no campo educacional iniciase pois na família a qual graças à crença no valor redentor da educação desenvolve diferentes estratégias de investimento tendo em vista assegurar um futuro promissor aos seus descendentes Diz Albuquerque fazendo referência a Bourdieu que nesse momento da trajetória dos indivíduos passa a ser gestado o mais E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 198 oculto e determinante dos investimentos educativos a transmissão doméstica do capital cultural ibid p66 A respeito desta acumulação primitiva do capital cultural estamos aqui parodiando Marx sob a forma educacional é oportuno dizer que Bourdieu introduziu esta noção no seu diálogo com os teóricos do capital humano visando desmistificar as crenças na aptidão e no dom A noção de capital cultural impôsse primeiramente como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais relacionando o sucesso escolar ou seja os benefícios específicos que as crianças das diferentes classes e frações de classe podem obter no mercado escolar à distribuição do capital cultural entre as classes e frações de classe Este ponto de partida implica uma ruptura com os pressupostos inerentes tanto à visão comum que considera o sucesso ou o fracasso escolar como efeito das aptidões naturais quanto às teorias do capital humano BOURDIEU 1999 p 73 O capital cultural assim acumulado vai orientar os professores pesquisados ao longo de suas vidas nos seus contatos com o campo educacional permitindolhes entender e familiarizarse com os códigos bens materiais e simbólicos e jogos específicos desse campo passando então a valorizar as práticas relativas ao estudo a identificarse com o espaço escolar e com certos modelos de professor manifestações de esquemas mentais particulares que estão na gênese do habitus docente É bem expressiva a este respeito a conclusão a qual chega Lira 2007 p 222 O fato desses sujeitos ingressarem na carreira docente resultou de uma disposição prática que decorre não necessariamente de uma escolha intencional e desejada mas da confluência de um habitus e um campo social Dito em outras palavras orquestra se aqui uma tomada de posição de um conjunto de indivíduos que colocados sob as mesmas circunstâncias históricas e tendo uma estrutura de capitais relativamente semelhantes investiram de acordo com o sistema de percepção e apreciação moldados nesse espaço recortado do mundo social Ao citar dados sobre a escolha profissional Lira afirma que entre as professoras cujos memoriais de formação serviram de fonte à sua pesquisa 72 afirmaram que essa decisão era fruto de uma não escolha profissional ibid Ou seja essa escolha E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 199 diferentemente do que se poderia imaginar não é na maioria das vezes fruto de uma opção deliberada do sujeito mas fruto de uma lógica da destinação profissional fruto por conseguinte dos fatores acima referidos pelo autor Outro resultado que também serve de ilustração está na tese de Soares 2011 Pesquisando a construção do ser professora da educação infantil na cidade de Campina GrandePB esta autora encontra relatos sobre o desejo de se tornar professora os quais remontam à infância queria ser professora desde criança ou desde adolescente Todavia quando se investiga as opções feitas no momento de prestar o exame vestibular constatase que o curso de Pedagogia ou qualquer outra licenciatura nunca esteve na primeira opção Ou ainda que o despertar para a docência só ocorreu ao lidar com crianças no decurso da formação em Pedagogia A este respeito Bourdieu 2004 p130 defende que nas nossas vidas fazemos escolhas aparentemente racionais quando na verdade são escolhas produzidas pela nossa história individual ou coletiva decorrentes das experiências vividas ao longo de nossa trajetória pessoal e social Os agentes de algum modo caem na sua própria prática mais do que escolhem de acordo com um livre projeto ou do que são empurrados para ela por uma coação mecânica Podese concluir então que as trajetórias individuais e sociais percorridas pelos professoresprofessoras garantiramlhes a acumulação dos capitais necessários à aquisição do droit dentrée direito de entrada tradução nossa no campo educacional isto é a acumulação das competências incorporadas não apenas como saberes mas sobretudo como senso prático esquemas mentais que permitem avaliar se vale a pena ou não entrar no jogo e quais as condições para jogálo BOURDIEU 2001 f Todavia se o ser professor do ensino fundamental representa nos casos pesquisados uma ascensão social os sujeitos trilharam no entanto um caminho que os levou a distanciarse tanto das ocupações e profissões menos qualificadas e valorizadas socialmente quanto daquelas que exigem maior volume de capitais e são por conseguinte mais qualificadas e valorizadas Como diz Pereira 2001 p 94 ao pesquisar as origens do professorado da rede estadual de São Paulo E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 200 os agentes das posições médias mais bem dotados em capital cultural de relações sociais e econômico orientam suas estratégias em consonância com as estratégias familiares para os cursos de nível superior mais rentáveis engenharia direito medicina entre outros carreiras que ou preservem a posição da família ou potencializem alavancagens compatíveis com os capitais disponíveis Em contrapartida se o volume e a composição dos capitais individuais e familiares não autorizam estratégias mais ambiciosas os agentes são mais ou menos encaminhados por todas as coações visíveis e invisíveis a optar por cursos socialmente mais modestos licenciaturas e sobretudo pedagogia Os esquemas do habitus de origem funcionaram dessa forma como orientação prática permitindo aos professores sentir e pressentir quais as chances de realização profissional que posições seriam mais ajustadas às suas possibilidades Os agentes sociais como enfatiza Bourdieu 2007 p 160 constituemse na relação com um espaço e em relação a esse Estão pois situados num lugar do espaço social que pode ser caracterizado por sua posição em relação aos demais isto é acima abaixo entre etc e pela distância que o separa deles Como o espaço físico é definido pela exterioridade mútua das partes o espaço social é definido pela exclusão mútua ou a distinção das posições que o constituem A tese central do autor é não há espaço em uma sociedade hierarquizada que não seja hierarquizado e não exprima por conseguinte as hierarquias e distâncias sociais embora isso ocorra de maneira mais ou menos deformada e sobretudo dissimulada pelo efeito de naturalização que leva a se dizer no cotidiano isso é assim mesmo A inserção dos professores pesquisados no campo educacional dáse portanto em decorrência do volume de capitais acumulados ao longo de suas trajetórias e dos condicionantes sociais que os impediram de buscar alternativas socialmente mais valorizadas e rentáveis pela ocupação dos lugares com menor valor distintivo O setor público municipal e estadual não obstante os crônicos problemas salariais de desvalorização da carreira e condições de trabalho dentre outros foi o lugar do campo ocupado pela nossa população Na ótica aqui adotada ao ingressarem no mercado de trabalho educacional em todos os casos pesquisados a população investigada não está apenas criando um vínculo burocráticocontratual mas ingressando num espaço social regido por determinadas leis por certo tipo de disputa material e simbólica e por pessoas prontas a disputar esse E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 201 jogo pois os campos são lugares de relações de força que implicam tendências imanentes e probabilidades objetivas BOURDIEU 2004 p 27 Nada aí acontece por acaso nem as possibilidades e impossibilidades são iguais em todos os momentos Como ilustra Silva 2007 p 151 Dos dados apresentados podemos inferir que o professorado de Geografia é produto de um encontro de indivíduos com trajetórias sociais e individuais semelhantes A escolha da Geografia podese constatar é fruto do cálculo das possibilidades de investimento material e simbólico realizado ou inferido pelos esquemas mentais do habitus de origem Ao inserirse no campo do ensino da Geografia na cidade de Teresina cada agente ocupará uma posição que será resultante do volume dos capitais acumulados e das estratégias desenvolvidas para ocupála No grupo de professores as estudado os investimentos em capital educacional são limitados à sua capacidade e da família de reconverter o capital dinheiro ou outros bens bens materiais capital social capital lingüístico cognitivo nas formas mais distintivas do campo educacional Dada a exigüidade do capital possuído o investimento é orientado para áreas de baixo risco ou cujo retorno é mais rápido e mais seguro Observemos que a autora se refere ao campo de ensino da Geografia Esse espaço é na verdade um subcampo do campo educacional assim como o são outros espaços regidos pelos interesses e particularidades disciplinares O funcionamento desses microcosmos está submetido às leis gerais de funcionamento do macrocosmo no qual estão inseridos BOURDIEU 2004 g O habitus docente apreendido em cada realidade pesquisada constituise numa síntese das trajetórias percorridas por indivíduos que foram submetidos a condições e condicionamentos semelhantes dos esquemas de outros habitus incorporados ao longo dessas trajetórias e da incorporação de outras produções e referentes culturais Como sublinha Wacquant 2004 o habitus nunca é uma réplica de uma única estrutura social mas um conjunto dinâmico de disposições sobrepostas em camadas que agrava armazena e prolonga a influência dos diversos ambientes sucessivamente encontrados na vida de uma pessoa Observação oportuna para afastar as críticas simplistas ao conceito ou que se amparam em leituras reducionistas do mundo social A esse respeito diz Albuquerque E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 202 Temos defendido que o habitus do professorado de Maracanaú é construído enquanto síntese dos habitus rural provinciano e religioso presentes na realidade do Nordeste O município de Maracanaú apresenta como é usual nas pequenas cidades do interior desta região uma predominância de relações sociais primárias de amizade parentesco companheirismo compadrio Como nos apoiamos no conceito de campo social podemos inferir que os espaços do mundo familiar e particularmente das práticas educativas não possuem fronteiras bem demarcadas Por esta razão a escola é considerada como prolongamento da família e o professor comportase como um parente do alunado Essa sobreposição de disposições de outros habitus é da mesma forma ilustrada por Melo 2009 numa realidade mais complexa que o pequeno município de Maracanaú isto é na cidade do Natal capital do estado do RN Nessa mesma direção segue a reprodução dos elementos da faceta da dimensão sacerdotal potencializados pela adesão a correntes religiosas as quais buscam sacralizar o espaço escolar através de apelos religiosos e a manifestação de uma hexis que materializa os sentidos compartilhados Constatamos professores numa postura de extrema paciência com os alunos se esforçando para atendêlos de carteira em carteira e dizendo se orgulhar e amar o que fazem não importando as adversidades MELO 2009 p 160 A respeito dessa função estruturante e mais duradoura dos esquemas do habitus docente a tese de Lira é bastante enfática a configuração identitária do professorado do ensino fundamental público caracterizase por uma síntese integradora produto de um habitus que se sobrepõe e ao mesmo tempo coexiste com diferentes variações identitárias LIRA 2007 p 218 Com a ajuda deste conceito continua o autor podemos compreender tanto as regularidades identitárias manifestas pelo professorado pesquisado observáveis através de certas práticas disposições e representações predominantes quanto as variações identitárias expressas pelos subgrupos que o compõem h Por ser simultaneamente estruturado e estruturante o habitus docente funciona em todas as realidades pesquisadas como princípio não escolhido de todas as escolhas como tantas vezes repetiu Bourdieu guiando ações que parecem ter um E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 203 caráter sistemático de estratégias como já nos referimos A análise da gênese e estruturas sociais que estiveram na base da constituição do habitus em foco e de sua relação com o campo educacional permitenos compreender a partir das pesquisas referenciadas como as disposições do mesmo condicionam os gostos e estilo de vida do professorado através de exemplos relacionados com a escolha do cônjuge o tamanho das famílias a escolha do lugar e condições de moradia o acesso e formas de utilização dos bens de consumo da sociedade contemporânea carro computador TV celular etc a utilização do tempo livre e em particular das férias o acesso a livros jornais e revistas os gostos de leitura e musicais a relação com o campo científico e suas produções leitura e assinatura de revistas científicas participação em eventos científicos por exemplo as práticas pedagógicas relação professoraluno relação com o espaço escolar com o ato de ensinar dentre outros aspectos dessas e com a representação social do ser professor Apresentamos assim de forma panorâmica alguns dos resultados que vem sendo sistematizados por nós após quase dez anos de aplicação do modelo teórico anunciado no inicio desta exposição Expusemos conforme advertido apenas o que se refere à praxiologia bourdieusiana mais especificamente aos conceitos de habitus e campo social As teses aqui referenciadas estão disponíveis na página do Programa de PósGraduação em Educação da UFRN e permitirão ao leitorleitora ampliar sua compreensão e olhar crítico sobre nossa proposta E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 204 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Lia Matos Brito de Habitus representações sociais e construção identitária dos professores de Maracanaú 2005 141f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2005 BOURDIEU Pierre Questions de sociologie Paris Editions de Minuit 1980 Questões de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 Escritos de educação 7 ed PetrópolisRJ Vozes 1999 Meditações Pascalianas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001a Science de la science et réflexivité cours du Collège de France 20002001 Paris Raisons dAgir 2001b Esboço de uma teoria da prática precedido de três estudos sobre etnologia cabila Oeiras Celta 2002 edição portuguesa Os usos sociais da ciência por uma sociologia clínica do campo científico São Paulo UNESP 2004 Razões Práticas sobre a teoria da ação 8ed Campinas Papirus 2007 DOMINGOS SOBRINHO Moisés Classe média assalariada e representações sociais da Educação algumas questões de ordem teóricometodológicas In MADEIRA Margot Campos Org Representações sociais e educação algumas reflexões Natal EDUFRN 1998 p 2138 Habitus e representações sociais questões para o estudo de identidades coletivas In MOREIRA Antonia Silva Paredes OLIVEIRA Denise Cristina de Org Estudos interdisciplinares de representação social Goiânia AB 2000 p 117 130 Campo científico e interdisciplinaridade In FERNANDES Aliana GUIMARÃES Flávio Romero BRASILEIRO Maria do Carmo Eulálio Org O fio que une as pedras a pesquisa interdisciplinar na pósgraduação São Paulo Biruta 2002 p 4958 LIRA André Augusto Diniz Tornarse ser e viver do professorado entre regularidades e variações identitárias 2007 271 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2007 MELO Elda Silva do Nascimento Representação social do ensinar a dimensão E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 205 pedagógica do habitus professoral 2009 203 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte PEREIRA Gilson Servidão ambígua valores e condição do magistério São Paulo Escrituras 2001 RAMALHO Betânia Leite NUNEZ Isauro Beltrán GAUTIER Clermont Formar o professor profissionalizar o ensino 2 ed Porto Alegre Sulinas 2004 SAES Décio Classe média e sistema político no Brasil São Paulo Ta Queiroz 1985 SOARES Luísa de Marillac Ramos Praxiologia representações sociais e a construção do ser professoraprofessor da educação infantil em Campina Grande PB Tese em fase de conclusão no PPGEd UFRN SILVA Josélia Saraiva e Habitus docente e representação social do ensinar geografia na educação básica de Terezina Piauí 2007 180 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2007 WACQUANT Loic Esclarecer o habitus 2004 Disponível em httpsociologyberkeleyedufacultywacquantwacquantpdfESCLARECEROHABIT US Acesso em 12 de junho 2011 DISCENTE TEXTO HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA ATIVIDADE INDIVIDUAL A APARTIR DO TEXTO HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA O QUE IRÁ PREVALECER SERÁO CONTEÚDO TRABALHADO OU SEJA QUE OS PONTOS PRINCIPAIS DO TEXTO SEJAM TODOS ANALISADOS E DESENVOLVIDOS ELABORAR UMA RESENHA CRÍTICA A resenha crítica é gênero textual informativo descritivo e opinativo sobre uma determinada obra por exemplo livro artigo filme série documentário exposição de artes peça teatral apresentação de dança shows Nela o resenhista sintetiza as ideias e expõe suas apreciações influenciando seus leitores Assim a função da resenha crítica é fazer uma análise interpretativa da obra expondo considerações pessoais sobre o objeto analisado Esse texto é muito utilizado no mundo acadêmico pois eles são lidos pelos pesquisadores para conhecer melhor os aspectos positivos e negativos expandir a visão sobre o tema explorado e entender a abordagem utilizado pelo autor Resenha sobre os Textos sobre Capital Cultural Habitus Docente e Campo Educacional Acúmulo de Capital Cultural e Desigualdade Educacional A discussão inicial gira em torno do conceito de capital cultural introduzido por Bourdieu para explicar as disparidades de desempenho escolar entre crianças de diferentes origens sociais O capital cultural não se limita ao conhecimento acadêmico mas engloba também habilidades valores e comportamentos adquiridos ao longo da vida A análise aponta para a necessidade de desmistificar a ideia de aptidão natural ou dom como determinantes do sucesso educacional destacando que o capital cultural desempenha um papel crucial nesse processo Formação do Habitus Docente e Escolha Profissional O texto aborda como a acumulação de capital cultural ao longo da vida influencia a escolha da carreira docente muitas vezes não como uma decisão intencional mas como resultado de trajetórias individuais e sociais Destacase que a inserção no campo educacional não se resume a uma escolha burocrática mas envolve a compreensão das leis e dinâmicas desse campo influenciadas pelo habitus docente Impacto do Habitus na Trajetória Profissional e Estilo de Vida A análise evidencia que o habitus docente não se restringe ao ambiente escolar mas permeia as escolhas gostos estilo de vida e práticas dos professores em diversos aspectos da vida cotidiana Isso inclui desde a escolha do cônjuge até as formas de utilização dos bens de consumo mostrando como as disposições adquiridas ao longo da vida influenciam as ações dos professores dentro e fora da sala de aula Relação entre Habitus e Campo Educacional A relação entre habitus docente e campo educacional é explorada como um princípio não escolhido que orienta as ações dos professores dentro do contexto educacional O habitus funciona como um guia implícito influenciando estratégias e práticas que parecem sistemáticas mas são na verdade resultado das disposições adquiridas ao longo da vida Síntese Integradora do Habitus e Variações Identitárias Os textos enfatizam que o habitus docente não é uma réplica única de uma estrutura social mas uma síntese integradora de disposições sobrepostas em camadas ao longo da vida Essas sobreposições resultam em variações identitárias dentro do grupo de professores refletindo as diferentes trajetórias individuais e sociais Considerações e críticas Primeiramente é importante ressaltar a relevância da discussão sobre o capital cultural como um elemento determinante na desigualdade educacional A abordagem crítica desses textos destaca a necessidade de desmistificar crenças arraigadas na sociedade como a ideia de aptidão natural e evidencia a importância do capital cultural na trajetória educacional dos indivíduos A reflexão sobre o habitus docente é outro ponto crucial A análise aprofundada mostra como as experiências vividas ao longo da vida dos professores influenciam suas práticas pedagógicas escolhas profissionais e identidades profissionais No entanto seria enriquecedor explorar ainda mais como o habitus docente pode ser transformado ou adaptado diante de novos desafios e contextos educacionais em constante mudança Além disso a resenha crítica destaca a importância de considerar as variações identitárias dentro do grupo de professores refletindo a diversidade de trajetórias individuais e sociais Essa abordagem ampla e inclusiva é fundamental para compreender as diferentes realidades e contextos em que os profissionais da educação atuam No entanto seria interessante aprofundar ainda mais a discussão sobre como as estruturas sociais econômicas e políticas influenciam a formação do habitus docente e as práticas educacionais Uma análise mais crítica desses aspectos poderia contribuir para uma compreensão mais ampla das dinâmicas presentes no campo educacional Considerações Finais Em suma os textos analisados oferecem uma visão profunda e abrangente sobre a influência do capital cultural e do habitus docente na trajetória profissional práticas pedagógicas e identidades dos professores no campo educacional Eles destacam a importância de considerar não apenas as aptidões individuais mas também as condições sociais e históricas que moldam as escolhas e ações dos profissionais da educação
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E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 189 HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA Moises Domingos Sobrinho UFRN102 RESUMO Este artigo apresenta resultados preliminares de um conjunto de pesquisas sobre a construção do ser professor da educação básica da rede pública municipal e estadual de algumas cidades do Nordeste brasileiro Os dados são analisados e interpretados com base nos conceitos da praxiologia de Pierre Bourdieu em especial habitus e campo educacional e mostram como a gênese e estruturas sociais que estiveram na base da constituição do habitus docente investigado permitem compreender a atual posição dos professores no campo educacional seus gostos estilo de vida e formas identitárias Palavraschave habitus campo educacional identidade docente 102 Doutor em Sociologia pela Universidade de Louvain atualmente realizando estágio pósdoutoral na PUCSP Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 190 INTRODUÇÃO Este texto apresenta parte dos resultados de pesquisas que vimos desenvolvendo sobre a construção do ser professoraprofessor da educação básica e sua relação com a praxiologia bourdieusiana mais especificamente com os conceitos de habitus e campo social Quando fazemos a ressalva parte dos resultados isso se justifica para além dos limites de páginas de um artigo por três razões primeiro porque a problemática em foco vem sendo explorada à luz do modelo teórico praxiologiarepresentações sociais o qual articula os conceitos centrais da praxiologia de Pierre Bourdieu habitus campo social capital simbólico poder simbólico e violência simbólica com a teoria das representações sociais de Serge Moscovici segundo porque apresentaremos aqui apenas resultados voltados para a relação habitus docentecampo educacional terceiro porque no momento procedemos a uma avaliação do citado modelo após uma década de sua aplicação através de pesquisas individuais dissertações e teses por nós orientadas103 Feita esta ressalva explicitamos nosso objetivo central pôr em evidência alguns aspectos macro e microssociais da construção do ser professoraprofessor da educação básica do setor público municipal e estadual em diferentes realidades do Nordeste brasileiro mais especificamente destacar os condicionantes decorrentes das trajetórias social e individual dos agentes construtores e reprodutores dessa identidade social as principais estratégias desenvolvidas pelos mesmos para se inserirem no campo educacional as condições dessa inserção e sua repercussão sobre as posições aí ocupadas Nossa proposta de investigação nos seus objetivos mais amplos acima referenciados vinculase à Linha de Pesquisa Formação e Profissionalização Docente e visa a dialogar numa perspectiva cultural e psicossocial com algumas das questões que vêm norteando as inquietações dos pesquisadores as da mesma dentre elas que profissão é a do ensino Que deve ser garantido para que o trabalho docente avance na direção de uma profissão Como profissionalizar o ensino docente a docência e as 103 Atualmente desenvolvemos estágio de pósdoutoramento na PUCSP com o projeto Praxiologia Representações Sociais e a construção do ser professor a da educação básica implicações teóricas metodológicas e práticas de um modelo E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 191 próprias agências formadoras Estas inquietações estão dentre tantas outras que vêm conclamando os pesquisadores não apenas no Brasil mas também em outros países à busca de respostas dada a transformação acelerada das sociedades contemporâneas e as novas expectativas em relação à Escola e aos sistemas educacionais porquanto acreditase amplamente que o progresso dessas sociedades está fortemente ligado à qualidade da educação fornecida a qual por sua vez depende da qualidade daqueles que ensinam e educam Diante disso instalouse uma onda mundial de reformas dos Programas de Formação para o ensino centrada na profissionalização do docente a qual se transformou gradativamente numa tendência adotada pelos países dos hemisférios Norte e Sul No Brasil desde o início da década de 1990 constroemse discursos sobre a formação e a profissionalização docente que visam a dar conta desse novo cenário Se tradicionalmente a formação docente esteve centrada na aquisição de saberes acadêmicos e disciplinares e numa racionalidade fechada exógena ao professorado hoje toma progressivamente uma nova direção centrada na aprendizagem de competências profissionais RAMALHO NUNEZ GAUTHIER 2004 p 11 Dizem estes autores haver no tocante ao magistério uma tradição formativa que mantém forte relação entre docência desprofissionalizada e ensino desqualificado Afirmam ainda existir além de uma crise de identidade profissional na categoria docente um enorme déficit de competência na hora de formar o professorado reforçando nosso entendimento de que se algo anda mal com o que resulta do ensino isto muito tem a ver com o que são osas professoresas como pensam e praticam o métier e as condições do exercício da profissão ibid p 120 Como tem se dado a preparação para o trabalho docente Que obstáculos epistemológicos práticos pedagógicos têm contribuído para limitar a configuração do trabalho de ensino como uma atividade profissional São perguntas que merecem respostas todavia ressaltese considerandose as particularidades de cada contexto Os discursos e modelos atualmente predominantes relativos à formação docente apregoam que o professor deve ser considerado em todas as suas dimensões de ser social política cultural subjetiva didáticopedagógica O educador dizse deve ser diferenciado do especialista de conteúdo do facilitador de aprendizagem para ser visto como ser reflexivo que alia açãoreflexãoação e pesquisa Considerar a reflexão a crítica e a pesquisa como atitudes que possibilitam ao professor participar da construção E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 192 da sua profissão e no desenvolvimento da inovação educativa como defendem os autores supracitados significa contribuir para uma formação docente voltada não só para a compreensão da realidade que circunda o professorado no espaço escolar mas também nos espaços sociais por onde circula e atua Dentre as várias dimensões e variáveis a serem consideradas nos processos formativos desse novo docente chamamos a atenção em particular às dimensões cultural e psicossocial Essas fornecem sustentação à nossa hipótese segundo a qual as estruturações identitárias do professorado construídas com base nos esquemas de um habitus específico e as representações sociais que o professor constrói sobre os objetos do mundo social que lhes afirmam e ao mesmo tempo diferenciam inclusive aquelas construídas sobre si mesmo podem funcionar como obstáculos simbólicos à incorporação das novidades propostas pelos processos formativos Neste texto reafirmamos não exploraremos os resultados gerais já encontrados que indicam a pertinência da articulação praxiologiarepresentações sociais Nosso olhar estará aqui voltado para uma primeira aproximação dos achados concernentes à relação habitus campo educacional 1 O HABITUS NA ÓTICA BOURDIEUSIANA O conceito de habitus é central na obra de Bourdieu e alimentou por isso mesmo a maioria das polêmicas que teve de enfrentar durante toda sua vida Tratase de um conceito que tem raízes no pensamento aristotélico e na Escolástica medieval Mais precisamente deriva da noção aristotélica de hexis convertida pela tradição escolástica em habitus que significa uma moral que se tornou hexis gesto postura BOURDIEU 1983 p 104 Por que ir buscar esta velha palavra Porque esta noção de habitus permite enunciar algo que se aparenta àquilo que evoca a noção de hábito distinguindose desta num ponto essencial O habitus como diz a palavra é aquilo que se adquiriu mas que se encarnou no corpo de forma durável sob a forma de disposições permanentes Por ter sido incorporado o autor destaca seu caráter histórico porquanto ligado à história individual e inscrito num modo de pensamento genético por oposição a modos de pensamento essencialistas ibid p 105 Lembra ainda que a escolástica E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 193 considerava como habitus as propriedades inerentes aos indivíduos e tidas como um capital conotação com a qual concordava De fato para ele o habitus é um capital que incorporado apresentase com as aparências de algo inato Mas por que não dizer hábito O hábito é considerado espontaneamente como repetitivo mecânico automático antes reprodutivo que produtivo Ora eu queria insistir na idéia de que o habitus é algo que possui uma enorme potência geradora ibid Do ponto de vista dos debates teóricos que travou para impor sua definição Bourdieu insistiu que uma das principais funções do conceito de habitus era evitar por um lado as correntes mecanicistas segundo as quais a ação constitui um efeito imediato da coerção de causas externas e de outro o finalismo segundo o qual o agente atua de maneira livre consciente sendo sua ação por conseguinte produto de um cálculo de chances e ganhos Asssim Contra ambas as teorias convém ressaltar que os agentes sociais são dotados de habitus inscritos nos corpos pelas experiências passadas tais sistemas de esquemas de percepção apreciação e ação permitem tanto operar atos de conhecimento prático fundados no mapeamento e no reconhecimento de estímulos condicionais e convencionais a que os agentes estão dispostos a reagir como também engendrar sem posição explícita de finalidades nem cálculo racional de meios estratégias adaptadas e incessantemente renovadas situadas porém nos limites das constrições estruturais de que são o produto e que as definem BOURDIEU 2001a p 169 Bourdieu encontra assim o conceito que acredita dar conta da mediação entre as estruturas e as práticas entre sociedade e indivíduo o que implica afirmar que o individual o pessoal e o subjetivo são ao mesmo tempo sociais e coletivamente orquestrados que as condições sociais de existência são interiorizadas sob a forma de princípios inconscientes de ação e reflexão esquemas de percepção e entendimento portanto sob a forma de estruturas da subjetividade Ressaltemos ainda um aspecto da citação feita acima O autor chama a atenção para o emprego do termo estratégia uma necessidade segundo ele para designar seqüências de ações objetivamente orientadas para uma finalidade e observáveis em E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 194 todos os campos sociais Como destacaremos adiante as estratégias desenvolvidas pela população pesquisada tendo em vista inserirse no campo educacional é oportuno desde já sublinhar o sentido deste termo na praxiologia bourdieusiana As estratégias não são produzidas por um cálculo racional ou projeto conscientemente construído e perseguido pelos agentes Por serem oriundas de disposições modeladas pelas necessidades imanentes de determinado campo social são tendentes a se ajustar espontaneamente a essa necessidade sem qualquer intenção manifesta nem cálculo Isto significa afirmar que o agente nunca é por inteiro o sujeito de suas práticas ibid O senso prático sens pratique é o que permite ao agente atuar de maneira adequada sem interpor ou executar uma regra de conduta mas fundamentalmente guiado pelos sistemas de esquemas de percepção apreciação e ação estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes como sempre repetiu este autor 2 A NOÇÃO DE CAMPO SOCIAL O conceito de campo social como ressaltamos em outro texto DOMINGOS SOBRINHO 2002 é um dos aspectos inovadores da sociologia de Bourdieu devido à analogia que este autor faz entre a economia e os mercados de bens simbólicos ou seja os espaços sociais não econômicos nos quais os indivíduos são tão calculistas e estratégicos como nos mercados econômicos Para ele não são exclusivas do campo econômico as estratégias aí desenvolvidas pelos agentes visando comprar ou acumular bens e capitais Essas são também comuns aos demais espaços sociais Um campo social é portanto um mercado de bens simbólicos mas igualmente um campo de forças e de lutas no interior do qual os agentes se enfrentam com meios e fins diferenciados conforme sua posição na estrutura do campo de forças contribuindo assim para a conservação ou a transformação de sua estrutura BOURDIEU 2007 p 50 É um mundo social como outro qualquer embora com leis sociais mais ou menos exclusivas no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem reproduzem ou difundem a arte a literatura a ciência a educação dentre outras realidades sociais Ao referirse às propriedades gerais dos campos sociais Bourdieu diz que um campo se define ao se definir também os objetos de disputa e os interesses que E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 195 determinarão a sua dinâmica Por essa razão os objetos de disputa e interesses específicos de um campo são irredutíveis aos de outros campos e não são percebidos senão pelos agentes dotados do habitus correspondente não se poderia fazer moverse um filósofo com as razões que mobilizam um geógrafo pois cada categoria de interesse implica a indiferença a outros interesses e a outros investimentos destinados a serem percebidos como absurdos insensatos sublimes ou desinteressados BOURDIEU 1980 p113116 Tradução nossa Do ponto de vista operacional este conceito ajudanos por exemplo a entender como as trajetórias social familiar e escolar dos indivíduos no caso as professoras e professores condicionam sua forma de inserção no campo educacional e repercutem sobre as posições por eles e elas ocupadas posto que essas dependem em larga escala do volume de capitais sobretudo simbólicos exigidos pelas regras próprias de funcionamento do campo Após esta breve apresentação dos principais conceitos aqui explorados passemos à discussão de alguns resultados de nossas pesquisas 3 A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA Ser professoraprofessor da educação básica é compartilhar uma identidade social e uma cultura específica um habitus que nos limites do senso comum podem ser percebidas tão somente como um conjunto de profissionais com características peculiares assim como os médicos advogados e tantas outras categorias como bem ressalta Lira 2007 Todavia como diz este autor apesar de ser relativamente fácil elencar pontos em comum demarcatórios da identidade docente muito nos falta para entender a lógica que preside a construção e estruturação identitária dos mesmos ibid p 16 Assim o que parece ser um bloco homogêneo quando visto a partir da representação social hegemônica do ser professoraprofessor na sociedade brasileira esconde na verdade um emaranhado de possibilidades entrecuzadas e o longo processo social de construção desses profissionais Considero bastante pertinentes essas questões levantadas por Lira posto que do ponto de vista da gestão dos espaços das práticas docentes da discussão de políticas públicas e de várias outras formas de intervenção as mesmas são muitas vezes negligenciadas predominando a homogeneização de realidades diferentes E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 196 Como alertado na introdução apresentaremos a seguir os resultados parciais dos achados que nos permitem estabelecer a relação entre a construção de um habitus e o campo social no qual sua existência passa a ter sentido Nas pesquisas realizadas buscamos observar como os indivíduos investigados tornaramse docentes da educação básica analisando suas origens sociais as trajetórias percorridas até inserirse no campo educacional e as condições em que ocorreu essa inserção As pesquisas que nos servirão de fontes de dados são Albuquerque 2005 que pesquisou uma população docente do ensino fundamental da cidade de Maracanaú CE Lira 2007 e Melo 2009 que pesquisaram o professorado das redes públicas de ensino municipal e estadual da cidade do Natal envolvendo professoras e professores da educação infantil e do ensino fundamental I e II Silva 2007 que investigou docentes da disciplina de Geografia do ensino fundamental em TeresinaPI e Soares 2011 cuja investigação voltouse para o processo de construção do ser professoraprofessor da educação infantil em Campina Grande A seguir apresentamos de forma sucinta os principais achados a Os sujeitos compartilham uma origem social semelhante dada sua vinculação a famílias que migraram na grande maioria para os centros urbanos alegando de acordo com as duas justificativas mais citadas em busca de uma vida melhor ou para oferecer educação aos filhos o que não seria mais possível nas pequenas cidades ou distritos de onde vieram b as ocupações dos pais em geral podem ser classificadas como essencialmente manuais de baixa qualificação e remuneração o mesmo acontecendo com os sujeitos quando exerceram alguma atividade remunerada antes de se tornar docente c a inserção no mercado de trabalho educacional ou seja no campo educacional representou um movimento de ascensão profissional tanto do ponto de vista da família de origem quanto das experiências individuais anteriores ao magistério Os resultados indicam como apresentado nestes itens que os professores pesquisados seja em Teresina Natal Maracanaú ou Campina Grande são oriundos de famílias pertencentes a grupos sociais situados nas faixas de renda mais baixas da População Econômica Ativa cujos pais sempre estiveram engajados em E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 197 ocupaçõesprofissões essencialmente manuais o que na sociedade brasileira indica estar em posições menos prestigiadas do mundo social e do trabalho SAES 1985 DOMINGOS SOBRINHO 1998 2000 e cuja escolaridade não ultrapassou na grande maioria entre 63 e 72 o segundo grau incompleto Tornarse professorprofessora representou como já dito uma ascensão social Continuemos d identificouse junto às populações pesquisadas uma disposição permanente para a aquisição de capital educacional embora esse esforço não tenha ido além para a maioria em torno de 55 62 ou mais do curso de magistério do segundo grau não profissionalizante ou de um curso de licenciatura A pósgraduação quando ocorre concentrase nos cursos de Especialização lato sensu sendo portanto muito baixa a incidência na formação stricto sensu mestrado e doutorado e Essa disposição tem raízes nas famílias de origem posto que essas por alimentarem a crença no valor redentor da educação desenvolveram cada uma à sua maneira as estratégias que levaram seus descendentes à superação dos obstáculos iniciais para a acumulação do capital cultural sob sua forma de saberes e títulos escolares Vejamos como esses achados são ilustrados e interpretados por Albuquerque 2005 p 6465 As famílias citadas não ocupavam um mesmo espaço geográfico mas compartilhavam a mesma valorização da escola pois acreditavam que esta instituição teria a capacidade de redimir seus filhos do estado de penúria em que viviam ao examinar as trajetórias dos professores pesquisados constatase uma postura diferenciada do restante da população rural suas famílias fizeram inúmeros sacrifícios para lhes possibilitar acesso ao saber escolarizado A força simbólica exercida pela escola vista como possibilidade de ascensão social direcionou as práticas dessas famílias A acumulação do capital cultural necessário à posição atualmente ocupada no campo educacional iniciase pois na família a qual graças à crença no valor redentor da educação desenvolve diferentes estratégias de investimento tendo em vista assegurar um futuro promissor aos seus descendentes Diz Albuquerque fazendo referência a Bourdieu que nesse momento da trajetória dos indivíduos passa a ser gestado o mais E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 198 oculto e determinante dos investimentos educativos a transmissão doméstica do capital cultural ibid p66 A respeito desta acumulação primitiva do capital cultural estamos aqui parodiando Marx sob a forma educacional é oportuno dizer que Bourdieu introduziu esta noção no seu diálogo com os teóricos do capital humano visando desmistificar as crenças na aptidão e no dom A noção de capital cultural impôsse primeiramente como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais relacionando o sucesso escolar ou seja os benefícios específicos que as crianças das diferentes classes e frações de classe podem obter no mercado escolar à distribuição do capital cultural entre as classes e frações de classe Este ponto de partida implica uma ruptura com os pressupostos inerentes tanto à visão comum que considera o sucesso ou o fracasso escolar como efeito das aptidões naturais quanto às teorias do capital humano BOURDIEU 1999 p 73 O capital cultural assim acumulado vai orientar os professores pesquisados ao longo de suas vidas nos seus contatos com o campo educacional permitindolhes entender e familiarizarse com os códigos bens materiais e simbólicos e jogos específicos desse campo passando então a valorizar as práticas relativas ao estudo a identificarse com o espaço escolar e com certos modelos de professor manifestações de esquemas mentais particulares que estão na gênese do habitus docente É bem expressiva a este respeito a conclusão a qual chega Lira 2007 p 222 O fato desses sujeitos ingressarem na carreira docente resultou de uma disposição prática que decorre não necessariamente de uma escolha intencional e desejada mas da confluência de um habitus e um campo social Dito em outras palavras orquestra se aqui uma tomada de posição de um conjunto de indivíduos que colocados sob as mesmas circunstâncias históricas e tendo uma estrutura de capitais relativamente semelhantes investiram de acordo com o sistema de percepção e apreciação moldados nesse espaço recortado do mundo social Ao citar dados sobre a escolha profissional Lira afirma que entre as professoras cujos memoriais de formação serviram de fonte à sua pesquisa 72 afirmaram que essa decisão era fruto de uma não escolha profissional ibid Ou seja essa escolha E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 199 diferentemente do que se poderia imaginar não é na maioria das vezes fruto de uma opção deliberada do sujeito mas fruto de uma lógica da destinação profissional fruto por conseguinte dos fatores acima referidos pelo autor Outro resultado que também serve de ilustração está na tese de Soares 2011 Pesquisando a construção do ser professora da educação infantil na cidade de Campina GrandePB esta autora encontra relatos sobre o desejo de se tornar professora os quais remontam à infância queria ser professora desde criança ou desde adolescente Todavia quando se investiga as opções feitas no momento de prestar o exame vestibular constatase que o curso de Pedagogia ou qualquer outra licenciatura nunca esteve na primeira opção Ou ainda que o despertar para a docência só ocorreu ao lidar com crianças no decurso da formação em Pedagogia A este respeito Bourdieu 2004 p130 defende que nas nossas vidas fazemos escolhas aparentemente racionais quando na verdade são escolhas produzidas pela nossa história individual ou coletiva decorrentes das experiências vividas ao longo de nossa trajetória pessoal e social Os agentes de algum modo caem na sua própria prática mais do que escolhem de acordo com um livre projeto ou do que são empurrados para ela por uma coação mecânica Podese concluir então que as trajetórias individuais e sociais percorridas pelos professoresprofessoras garantiramlhes a acumulação dos capitais necessários à aquisição do droit dentrée direito de entrada tradução nossa no campo educacional isto é a acumulação das competências incorporadas não apenas como saberes mas sobretudo como senso prático esquemas mentais que permitem avaliar se vale a pena ou não entrar no jogo e quais as condições para jogálo BOURDIEU 2001 f Todavia se o ser professor do ensino fundamental representa nos casos pesquisados uma ascensão social os sujeitos trilharam no entanto um caminho que os levou a distanciarse tanto das ocupações e profissões menos qualificadas e valorizadas socialmente quanto daquelas que exigem maior volume de capitais e são por conseguinte mais qualificadas e valorizadas Como diz Pereira 2001 p 94 ao pesquisar as origens do professorado da rede estadual de São Paulo E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 200 os agentes das posições médias mais bem dotados em capital cultural de relações sociais e econômico orientam suas estratégias em consonância com as estratégias familiares para os cursos de nível superior mais rentáveis engenharia direito medicina entre outros carreiras que ou preservem a posição da família ou potencializem alavancagens compatíveis com os capitais disponíveis Em contrapartida se o volume e a composição dos capitais individuais e familiares não autorizam estratégias mais ambiciosas os agentes são mais ou menos encaminhados por todas as coações visíveis e invisíveis a optar por cursos socialmente mais modestos licenciaturas e sobretudo pedagogia Os esquemas do habitus de origem funcionaram dessa forma como orientação prática permitindo aos professores sentir e pressentir quais as chances de realização profissional que posições seriam mais ajustadas às suas possibilidades Os agentes sociais como enfatiza Bourdieu 2007 p 160 constituemse na relação com um espaço e em relação a esse Estão pois situados num lugar do espaço social que pode ser caracterizado por sua posição em relação aos demais isto é acima abaixo entre etc e pela distância que o separa deles Como o espaço físico é definido pela exterioridade mútua das partes o espaço social é definido pela exclusão mútua ou a distinção das posições que o constituem A tese central do autor é não há espaço em uma sociedade hierarquizada que não seja hierarquizado e não exprima por conseguinte as hierarquias e distâncias sociais embora isso ocorra de maneira mais ou menos deformada e sobretudo dissimulada pelo efeito de naturalização que leva a se dizer no cotidiano isso é assim mesmo A inserção dos professores pesquisados no campo educacional dáse portanto em decorrência do volume de capitais acumulados ao longo de suas trajetórias e dos condicionantes sociais que os impediram de buscar alternativas socialmente mais valorizadas e rentáveis pela ocupação dos lugares com menor valor distintivo O setor público municipal e estadual não obstante os crônicos problemas salariais de desvalorização da carreira e condições de trabalho dentre outros foi o lugar do campo ocupado pela nossa população Na ótica aqui adotada ao ingressarem no mercado de trabalho educacional em todos os casos pesquisados a população investigada não está apenas criando um vínculo burocráticocontratual mas ingressando num espaço social regido por determinadas leis por certo tipo de disputa material e simbólica e por pessoas prontas a disputar esse E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 201 jogo pois os campos são lugares de relações de força que implicam tendências imanentes e probabilidades objetivas BOURDIEU 2004 p 27 Nada aí acontece por acaso nem as possibilidades e impossibilidades são iguais em todos os momentos Como ilustra Silva 2007 p 151 Dos dados apresentados podemos inferir que o professorado de Geografia é produto de um encontro de indivíduos com trajetórias sociais e individuais semelhantes A escolha da Geografia podese constatar é fruto do cálculo das possibilidades de investimento material e simbólico realizado ou inferido pelos esquemas mentais do habitus de origem Ao inserirse no campo do ensino da Geografia na cidade de Teresina cada agente ocupará uma posição que será resultante do volume dos capitais acumulados e das estratégias desenvolvidas para ocupála No grupo de professores as estudado os investimentos em capital educacional são limitados à sua capacidade e da família de reconverter o capital dinheiro ou outros bens bens materiais capital social capital lingüístico cognitivo nas formas mais distintivas do campo educacional Dada a exigüidade do capital possuído o investimento é orientado para áreas de baixo risco ou cujo retorno é mais rápido e mais seguro Observemos que a autora se refere ao campo de ensino da Geografia Esse espaço é na verdade um subcampo do campo educacional assim como o são outros espaços regidos pelos interesses e particularidades disciplinares O funcionamento desses microcosmos está submetido às leis gerais de funcionamento do macrocosmo no qual estão inseridos BOURDIEU 2004 g O habitus docente apreendido em cada realidade pesquisada constituise numa síntese das trajetórias percorridas por indivíduos que foram submetidos a condições e condicionamentos semelhantes dos esquemas de outros habitus incorporados ao longo dessas trajetórias e da incorporação de outras produções e referentes culturais Como sublinha Wacquant 2004 o habitus nunca é uma réplica de uma única estrutura social mas um conjunto dinâmico de disposições sobrepostas em camadas que agrava armazena e prolonga a influência dos diversos ambientes sucessivamente encontrados na vida de uma pessoa Observação oportuna para afastar as críticas simplistas ao conceito ou que se amparam em leituras reducionistas do mundo social A esse respeito diz Albuquerque E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 202 Temos defendido que o habitus do professorado de Maracanaú é construído enquanto síntese dos habitus rural provinciano e religioso presentes na realidade do Nordeste O município de Maracanaú apresenta como é usual nas pequenas cidades do interior desta região uma predominância de relações sociais primárias de amizade parentesco companheirismo compadrio Como nos apoiamos no conceito de campo social podemos inferir que os espaços do mundo familiar e particularmente das práticas educativas não possuem fronteiras bem demarcadas Por esta razão a escola é considerada como prolongamento da família e o professor comportase como um parente do alunado Essa sobreposição de disposições de outros habitus é da mesma forma ilustrada por Melo 2009 numa realidade mais complexa que o pequeno município de Maracanaú isto é na cidade do Natal capital do estado do RN Nessa mesma direção segue a reprodução dos elementos da faceta da dimensão sacerdotal potencializados pela adesão a correntes religiosas as quais buscam sacralizar o espaço escolar através de apelos religiosos e a manifestação de uma hexis que materializa os sentidos compartilhados Constatamos professores numa postura de extrema paciência com os alunos se esforçando para atendêlos de carteira em carteira e dizendo se orgulhar e amar o que fazem não importando as adversidades MELO 2009 p 160 A respeito dessa função estruturante e mais duradoura dos esquemas do habitus docente a tese de Lira é bastante enfática a configuração identitária do professorado do ensino fundamental público caracterizase por uma síntese integradora produto de um habitus que se sobrepõe e ao mesmo tempo coexiste com diferentes variações identitárias LIRA 2007 p 218 Com a ajuda deste conceito continua o autor podemos compreender tanto as regularidades identitárias manifestas pelo professorado pesquisado observáveis através de certas práticas disposições e representações predominantes quanto as variações identitárias expressas pelos subgrupos que o compõem h Por ser simultaneamente estruturado e estruturante o habitus docente funciona em todas as realidades pesquisadas como princípio não escolhido de todas as escolhas como tantas vezes repetiu Bourdieu guiando ações que parecem ter um E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 203 caráter sistemático de estratégias como já nos referimos A análise da gênese e estruturas sociais que estiveram na base da constituição do habitus em foco e de sua relação com o campo educacional permitenos compreender a partir das pesquisas referenciadas como as disposições do mesmo condicionam os gostos e estilo de vida do professorado através de exemplos relacionados com a escolha do cônjuge o tamanho das famílias a escolha do lugar e condições de moradia o acesso e formas de utilização dos bens de consumo da sociedade contemporânea carro computador TV celular etc a utilização do tempo livre e em particular das férias o acesso a livros jornais e revistas os gostos de leitura e musicais a relação com o campo científico e suas produções leitura e assinatura de revistas científicas participação em eventos científicos por exemplo as práticas pedagógicas relação professoraluno relação com o espaço escolar com o ato de ensinar dentre outros aspectos dessas e com a representação social do ser professor Apresentamos assim de forma panorâmica alguns dos resultados que vem sendo sistematizados por nós após quase dez anos de aplicação do modelo teórico anunciado no inicio desta exposição Expusemos conforme advertido apenas o que se refere à praxiologia bourdieusiana mais especificamente aos conceitos de habitus e campo social As teses aqui referenciadas estão disponíveis na página do Programa de PósGraduação em Educação da UFRN e permitirão ao leitorleitora ampliar sua compreensão e olhar crítico sobre nossa proposta E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 204 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Lia Matos Brito de Habitus representações sociais e construção identitária dos professores de Maracanaú 2005 141f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2005 BOURDIEU Pierre Questions de sociologie Paris Editions de Minuit 1980 Questões de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 Escritos de educação 7 ed PetrópolisRJ Vozes 1999 Meditações Pascalianas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2001a Science de la science et réflexivité cours du Collège de France 20002001 Paris Raisons dAgir 2001b Esboço de uma teoria da prática precedido de três estudos sobre etnologia cabila Oeiras Celta 2002 edição portuguesa Os usos sociais da ciência por uma sociologia clínica do campo científico São Paulo UNESP 2004 Razões Práticas sobre a teoria da ação 8ed Campinas Papirus 2007 DOMINGOS SOBRINHO Moisés Classe média assalariada e representações sociais da Educação algumas questões de ordem teóricometodológicas In MADEIRA Margot Campos Org Representações sociais e educação algumas reflexões Natal EDUFRN 1998 p 2138 Habitus e representações sociais questões para o estudo de identidades coletivas In MOREIRA Antonia Silva Paredes OLIVEIRA Denise Cristina de Org Estudos interdisciplinares de representação social Goiânia AB 2000 p 117 130 Campo científico e interdisciplinaridade In FERNANDES Aliana GUIMARÃES Flávio Romero BRASILEIRO Maria do Carmo Eulálio Org O fio que une as pedras a pesquisa interdisciplinar na pósgraduação São Paulo Biruta 2002 p 4958 LIRA André Augusto Diniz Tornarse ser e viver do professorado entre regularidades e variações identitárias 2007 271 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2007 MELO Elda Silva do Nascimento Representação social do ensinar a dimensão E d u c a ç ã o e S o c i e d a d e 205 pedagógica do habitus professoral 2009 203 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte PEREIRA Gilson Servidão ambígua valores e condição do magistério São Paulo Escrituras 2001 RAMALHO Betânia Leite NUNEZ Isauro Beltrán GAUTIER Clermont Formar o professor profissionalizar o ensino 2 ed Porto Alegre Sulinas 2004 SAES Décio Classe média e sistema político no Brasil São Paulo Ta Queiroz 1985 SOARES Luísa de Marillac Ramos Praxiologia representações sociais e a construção do ser professoraprofessor da educação infantil em Campina Grande PB Tese em fase de conclusão no PPGEd UFRN SILVA Josélia Saraiva e Habitus docente e representação social do ensinar geografia na educação básica de Terezina Piauí 2007 180 f Tese Doutorado em Educação Programa de PósGraduação em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal 2007 WACQUANT Loic Esclarecer o habitus 2004 Disponível em httpsociologyberkeleyedufacultywacquantwacquantpdfESCLARECEROHABIT US Acesso em 12 de junho 2011 DISCENTE TEXTO HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA ATIVIDADE INDIVIDUAL A APARTIR DO TEXTO HABITUS CAMPO EDUCACIONAL E A CONSTRUÇÃO DO SER PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA O QUE IRÁ PREVALECER SERÁO CONTEÚDO TRABALHADO OU SEJA QUE OS PONTOS PRINCIPAIS DO TEXTO SEJAM TODOS ANALISADOS E DESENVOLVIDOS ELABORAR UMA RESENHA CRÍTICA A resenha crítica é gênero textual informativo descritivo e opinativo sobre uma determinada obra por exemplo livro artigo filme série documentário exposição de artes peça teatral apresentação de dança shows Nela o resenhista sintetiza as ideias e expõe suas apreciações influenciando seus leitores Assim a função da resenha crítica é fazer uma análise interpretativa da obra expondo considerações pessoais sobre o objeto analisado Esse texto é muito utilizado no mundo acadêmico pois eles são lidos pelos pesquisadores para conhecer melhor os aspectos positivos e negativos expandir a visão sobre o tema explorado e entender a abordagem utilizado pelo autor Resenha sobre os Textos sobre Capital Cultural Habitus Docente e Campo Educacional Acúmulo de Capital Cultural e Desigualdade Educacional A discussão inicial gira em torno do conceito de capital cultural introduzido por Bourdieu para explicar as disparidades de desempenho escolar entre crianças de diferentes origens sociais O capital cultural não se limita ao conhecimento acadêmico mas engloba também habilidades valores e comportamentos adquiridos ao longo da vida A análise aponta para a necessidade de desmistificar a ideia de aptidão natural ou dom como determinantes do sucesso educacional destacando que o capital cultural desempenha um papel crucial nesse processo Formação do Habitus Docente e Escolha Profissional O texto aborda como a acumulação de capital cultural ao longo da vida influencia a escolha da carreira docente muitas vezes não como uma decisão intencional mas como resultado de trajetórias individuais e sociais Destacase que a inserção no campo educacional não se resume a uma escolha burocrática mas envolve a compreensão das leis e dinâmicas desse campo influenciadas pelo habitus docente Impacto do Habitus na Trajetória Profissional e Estilo de Vida A análise evidencia que o habitus docente não se restringe ao ambiente escolar mas permeia as escolhas gostos estilo de vida e práticas dos professores em diversos aspectos da vida cotidiana Isso inclui desde a escolha do cônjuge até as formas de utilização dos bens de consumo mostrando como as disposições adquiridas ao longo da vida influenciam as ações dos professores dentro e fora da sala de aula Relação entre Habitus e Campo Educacional A relação entre habitus docente e campo educacional é explorada como um princípio não escolhido que orienta as ações dos professores dentro do contexto educacional O habitus funciona como um guia implícito influenciando estratégias e práticas que parecem sistemáticas mas são na verdade resultado das disposições adquiridas ao longo da vida Síntese Integradora do Habitus e Variações Identitárias Os textos enfatizam que o habitus docente não é uma réplica única de uma estrutura social mas uma síntese integradora de disposições sobrepostas em camadas ao longo da vida Essas sobreposições resultam em variações identitárias dentro do grupo de professores refletindo as diferentes trajetórias individuais e sociais Considerações e críticas Primeiramente é importante ressaltar a relevância da discussão sobre o capital cultural como um elemento determinante na desigualdade educacional A abordagem crítica desses textos destaca a necessidade de desmistificar crenças arraigadas na sociedade como a ideia de aptidão natural e evidencia a importância do capital cultural na trajetória educacional dos indivíduos A reflexão sobre o habitus docente é outro ponto crucial A análise aprofundada mostra como as experiências vividas ao longo da vida dos professores influenciam suas práticas pedagógicas escolhas profissionais e identidades profissionais No entanto seria enriquecedor explorar ainda mais como o habitus docente pode ser transformado ou adaptado diante de novos desafios e contextos educacionais em constante mudança Além disso a resenha crítica destaca a importância de considerar as variações identitárias dentro do grupo de professores refletindo a diversidade de trajetórias individuais e sociais Essa abordagem ampla e inclusiva é fundamental para compreender as diferentes realidades e contextos em que os profissionais da educação atuam No entanto seria interessante aprofundar ainda mais a discussão sobre como as estruturas sociais econômicas e políticas influenciam a formação do habitus docente e as práticas educacionais Uma análise mais crítica desses aspectos poderia contribuir para uma compreensão mais ampla das dinâmicas presentes no campo educacional Considerações Finais Em suma os textos analisados oferecem uma visão profunda e abrangente sobre a influência do capital cultural e do habitus docente na trajetória profissional práticas pedagógicas e identidades dos professores no campo educacional Eles destacam a importância de considerar não apenas as aptidões individuais mas também as condições sociais e históricas que moldam as escolhas e ações dos profissionais da educação