·

Psicologia ·

Literatura

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

5.\nVisão Psicológica da Adolescência Normal\nMaurício Knobel\n\nNo estudo da psicologia do desenvolvimento, a adolescência ocupa, atualmente, lugar de destaque que merece a atenção de pesquisadores, clínicos, educadores e agentes de saúde em geral. A população \"adolescente\" pode ser estudada a partir de óticas diversas e com diferentes referenciais psicológicos. Aqui, são apresentadas as observações e as experiências sob o ponto de vista denominado \"psicodinâmico\", que já tem exame em diversos países e mereceu reconhecimento de diversos autores e da Organização Pan-Americana de Saúde.\n\nO primeiro aspecto a ser assinalado é que a adolescência é verdadeira e autêntica fase evolutiva do ser humano e que deve ser considerada desde os vértices biológico, social e psicológico, aprofundando cada área para interagir. As restrições familiares e sociais, para \"controlar\" seus impulsos, chegam a ser desenvolvimentemente acomodadas de tal maneira que a \"confusão\" pode ser perfeitamente considerada normal. As mudanças corporais obrigam também o adolescente a reformular seu \"esquema corporal\", isto é, reformular a imagem que tem de seu próprio corpo, o que só vai se tornando possível à medida que elaboram a perda do corpo infantil e conseguem o novo corpo. Fala-se de \"elaborar\" no sentido psicológico do termo, o que implica aceitar tudo o processo adolescente que poderá agora nem intensificado em muitos adolescentes \"normais\" e mais acentuados em toda a psicopatologia dessa etapa da vida.\n39 PERDA DO CORPO INFANTIL\nAs transformações corporais que se desencadeiam a partir da puberdade são vividas geralmente com muita ansiedade pelo adolescente. Ele vive esse fenômeno com mentalidade ainda infantil, num corpo que vai se desenvolvendo de forma incontrolável para o indivíduo. A sexualidade, que agora irrompe em nível crítico, exige do adolescente reordenar os seus mundos interno e externo. As restrições familiares e sociais, para \"controlar\" seus impulsos, chegam a ser desenvolvimentemente acomodadas de tal maneira que a \"confusão\" pode ser perfeitamente considerada normal. As mudanças corporais obrigam também o adolescente a reformular seu \"esquema corporal\", isto é, reformular a imagem que tem de seu próprio corpo, o que implica aceitar tudo o processo adolescente que poderá agora nem intensificado em muitos adolescentes \"normais\" e mais acentuados em toda a psicopatologia dessa etapa da vida.\n\nNa adolescência, a definição sexual deverá efetuar-se no plano psicológico, ao mesmo tempo que acontece em suas estruturas biológicas. Nessa fase, a intensificação da masturbação desta a dificuldade de abandonar a \"bisexualidade\" preconizada até então, assim como tem também funcionado exploratória, reconhecendo-se próximo corpo preparatório para o exercício gentil vivido com plenitude, mais diante, na juventude e adultícia. O exercício genital pode desenvolver-se base da fantasias imaginárias ou concretas e, assim, o adolescente poderá optar pela heterossexualidade ou por \"opção\" homossexual. A identidade adulta, alicerçada em responsabilidade e autoconhecimento, se poderá surgir a partir da aceitação do próprio corpo com todas as transformações próprias dessa fase evolutiva e os condicionantes psicossociais.\n40 PERDA DA IDENTIDADE E DO PAPEL INFANTIL\nNa infância, a relação de dependência é a situação natural do convívio da criança com os pais. Quando chega a adolescência, há confusão de papéis, pois o adolescente, não sendo mais criança e não sendo ainda adulto, tem dificuldade em se definir nas diversas situações de sua cultura (a \"forma\" varia de cultura e até de pai em sua região para região). É importante conhecer melhor essas \"subculturas\" ambientais, para reconhecer o peso que elas podem ter nesta era de \"pós-modernismo\". Cada avanço que faz para obter sua independência deixa o adolescente um tanto quanto temeroso e inseguro. Procurar, assim, o apoio do grupo em que deposita a toda sua confiança e esperança, deixando a cargo dos pais as mais significativas obrigações e responsabilidades. A adolescência, nessa fase, tem função importante para o estabelecimento da identidade adulta, pois facilita o distanciamento dos pais, mencionando ainda, e permite novas \"identificações\", levando a novas configurações e reestruturas de personalidades. A \"grupalidade\" e a \"desindividualização\" são fenômenos humanos a ser estudados com a maior objetividade possível.\n\nPor algum tempo, o adolescente experimenta vários papéis, identificando-se com diferentes figuras ou grupos de seu meio social e assimilando valores e papéis fora do meio familiar. Nessa etapa da vida, pode assumir diferentes identidades, às quais podem ser transitórias, ocasionais ou circunstanciais. Tudo ocorre em uma mesa à pessoa que começa a sentir necessidade entender sua intimidade, base de \"individualidade\", da pessoa que cada um é e será.\n41 □ Tendência e necessidade grupal\nNa busca da individualidade, o adolescente desloca o sentimento de dependência dos pais para o grupo de companheiros e amigos, ou para os ideais de identidade com cada um. Nesse momento, pertença mais ao grupo (pode ser até uma urna ou “gangue”) de companheiros que a família. Essa acentuada necessidade revela a mudança nas regras grupais em relação a tudo, observada em vestimenta, modas diversas, costumes e preferência de todos os tipos. O grupo é importante e altera significativamente, porque constituiu o passo intermediário no mundo externo para alcançar a identidade pessoal.\n\n□ Necessidade de fantasiar com o futuro imaginário e a saída do presente\nEssas são as formas mais típicas do pensamento adolescente, em que se usam essas capacidades como mecanismos de defesa diante do que acontece em seu corpo (que frequentemente se vivencia como algo que acontece e que “assiste” passivamente). É um tipo de fuga para o interior, específico e reativo emocional que leva a preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais e políticos, que muitas vezes permitem formular um plano de vida bem diferente do que tinha até esse momento; também permite a teorização e a imaginação acerca de grandes reformas que poderiam acontecer no mundo exterior, numa feição que não se admite.\n\n□ Questionamento das religiões e da religiosidade\nAs crises religiosas no adolescente manifestam-se por atitudes de ateísmo ou de misticismo, ambas geralmente como situações extremas e críticas de fanatismo. Neste momento histórico, pode predominar mais uma crença, um fanatismo do que a realidade. A atitude mais indifferente parece preceder em certos setores da classe média e universitária. É importante reconhecer que se as religiões e a religiosidade não se questionam essas seitas ou grupos adolescentes radicais (vejam-se, por exemplo, criticas da Irlanda ou a futilidade suicida de jovens daquela conturban) em relação ao que se diz sobre a religiosidade.\n\n□ Deslocação temporal\nExiste nesse período evolutivo certa desorientação temporal, em que as urgências são enormes e as postergacões irracionais. Há o que se poderia chamar de “normal desconformidade”. Tudo pode chegar a ser “agora ou nunca”, ou um permanente “ainda temos tempo”.\n\n□ Evolução sexual desde o auto-erotismo até a sexualidade genital\nO estímulo biológico e a cultura praticamente empurram o adolescente a iniciar-se na atividade genital, no mínimo com fantasias. Assim, há um tipo de jogo entre a atividade masturbatória e o começo de exercício genital, que tem fundamentalmente caráter exploratório. No início, procura-se tímida mas intensamente uma reação; o momento dos contatos, das carícias mais íntimas e/ou do “amor apixonado”, porém geralmente transitório e até fugaz. Os desejos são intensos e, nesta sociedade, fortemente reprimidos e vividos com culpa. A evolução sexual adolescente vai de uma fase prévia de masturbação à atividade lúdica que leva a apreensão: jogos eróticos, bailes, esportes, cartinhas, todos com conteúdo exploratório de si mesmo e do(a) outro(a). Existem desejos mais intensos e a relação genital, que muitas vezes é a expressão de maturidade, desconectou de ato mesmo. □ Atitude social reivindicatória, agressividade e violência\nNa sociedade, há contradição entre as possibilidades materiais do ser humano, que praticamente tudo pode (ou poderia), e o adolescente, que diante desse “tudo” é marginalizado, o que leva a atitude social reivindicatória. Por meio de sua atividade e força, tenta modificar a sociedade que, por sua vez, vive mudanças intensas, influenciando o indivíduo. Os padrões sociais mudam muito pelo próprio impacto dos adolescentes e jovens. É a juventude, naturalmente revolucionária, do mundo e logicamente embrenhada a nosa que tem em si o sentimento místico da necessidade de mudança social. O jovem não mantém a mesma linha de conduta rígida e permanente. Sua personalidade é permeável e sua instabilidade necessária. Lida permanentemente com o imprevisível, tanto no seu mundo interno como externo. Joga com seu corpo, sua alma, sua conduta de acordo com as possibilidades que lhe aparecem constantes. A contradição parece ser a conduta.\n\n□ Separação progressiva ou briga dos pais\nPara atingir a maturidade é necessário ter individualidade e independência reais. A separação progressiva dos pais, a entrada na turma e a posterior individualização discriminativa são passos necessários do processo evolutivo humano. Muitos pais em nossa cultura angustiam-se em filhos e chega até a negá-lo. Existe a já mencionada “ambivalência dual” por ambas as partes que, às vezes, são fonte de conflitos que perturbam o crescimento físico e psicológico normal. O conflito de gerações e a realidade será necessária para o desenvolvimento sadio, tanto dos filhos adolescentes como de seus pais.\n\n□ Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo, com bases depressiva\nUma conquista, por mínima que seja, entusiasma e alegra. Uma frustração aborrece e deixa tristeza; isso acontece milhares de vezes por dia. A luta do adolescente com os pais, a sociedade, os preconceitos, o medo, seus triunfos físicos ou sua realização intelectual, uma aprovação, uma rejeição, tudo constante e vertiginosamente alterado no dia-a-dia, expelindo sentimentos de solidão e de exaltação. Essas mudanças de estado de ânimo são normais. Assim é que se aprende a ter sentimentos humanos, sentimentos válidos com o grande valor das experiências vividas plena e intensamente, ainda que possuam seu pouco duradoras. Dessa forma, pode-se sentir uma, só uma, visão psicológica da adolescência normal. Questiona-se às vezes se é possível falar de “normalidade” em uma sociedade tão alienada como a nossa, e em uma fase da sociedade chamada por alguns sociólogos de “pós-modernidade”. Portanto, é necessário ter referência psicológica para lidar com os adolescentes tanto na saúde como na doença. Este capítulo só aspira oferecer referencial que permita não rotular como \"patológico\" ou que pode ser normal e facilitar o médico habilitado a entender seu paciente adolescente, para realizar história clínica mais objetiva nessa faixa etária e considerar seus conflitos e condutas na sociedade de hoje.\n\nBIBLIOGRAFIA CONSULTADA\nABERASTURY, A.; KNOBEL, M. - Adolescência Normal. 10ª ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1992.\nEIRIKSON, E.H. - Identidade, Intimidade e Crise. ZAHNY, Rio de Janeiro, 1976.\nKNOBEL, J.F.; PERRETTI, M.O.; UCHOA, D. de M. - Adolescência e Família Mult. Athena, Rio de Janeiro, 1981.\nLEVISKY, D.L. et al. - Adolescência Pelas Caminhas de Formação. Casa do Psicólogo. São Paulo, 1998.\nLOTVARD, J.F. - Moralidades Pós-Modernas. Papirus, Campinas, 1996.\nOrganización Panamericana de la Salud - La Salud de los Adolescentes y Jóvenes en las Américas Latinas - Un Compromisos en Futuro Folleto, Washington, D.C., 1985.\nOrganización Panamericana de la Salud - La Salud de los Adolescentes y Jóvenes en las Américas. OPS. Publicación Centenaria 489, Washington, D.C., 1985.\nSPRINGER, E. - Psicología de la Edad Juvenil. Revisita de Ociamento, Madrid, 1984.\nWEIL FERREIRA, B. - Adolescência. Teoria e Pesquisa. Saluno, Porto Alegre, 1984.