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Medicina Veterinária ·

Bioquímica e Metabolismo

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SÍNTESE E SECREÇÃO DO LEITE COMPONENTES DO LEITE O leite é sintetizado a partir de nutrientes fornecidos para as células secretoras da glândula mamária pelo sangue Estes nutrientes são provenientes diretamente da dieta ou após sofrerem modificações nos tecidos dos animais antes de alcançar a glândula mamária Os principais componentes do leite são Água 86 88 Sólidos totais 120 140 Gordura 35 45 Proteína 32 35 Lactose 46 52 Minerais 07 08 Vitaminas Bactérias leucócitos células mamárias secretoras Um esquema geral dos passos envolvidos na conversão dos componentes da dieta em componentes do leite é mostrada na figura abaixo SÍNTESE DA LACTOSE A lactose é um dissacarídeo formado por uma molécula de glicose e outra de galactose unidas por uma ligação beta entre o carbono 1 da galactose e o carbono 4 da glicose O nome químico da lactose é 40βDgalactopiranosilDglucopyranose Seminário apresentado na disciplina Bioquímica do Tecido Animal VET 00036 no Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS pelo aluno GIOVANI NORO no primeiro semestre de 2001 Professor da disciplina Félix HD González 1 Fórmula da lactose A lactose é o principal carboidrato encontrado no leite variando de 2 a 7 a sua concentração no leite das diferentes espécies de mamíferos No entanto a sua concentração é bastante constante na espécie sendo o componente do leite que tem a menor variação na composição 46 a 52 no leite de bovinos Ela é quase exclusivamente encontrada no leite e na glândula mamária Pequenas quantidades de lactose são encontradas nas plantas em muito baixas concentrações sendo que os mecanismos de síntese nas plantas são diferentes A lactose apresenta uma grande função na síntese do leite Ela é o principal componente osmótico do leite sendo o processo de síntese de lactose o principal responsável pela extração de água para o leite Devido à estreita relação entre a síntese de lactose e a quantidade de água drenada para o leite a concentração de lactose é a menos variável dentre os componentes do leite A lactose não é doce como os outros dissacarídeos sendo a mais digestível fonte de glicose para os neonatos Precursores da lactose A maior parte da galactose que entra na síntese da lactose é proveniente da glicose ou de substâncias rapidamente convertidas em glicose Barry 1964 resumiu as diferenças arteriovenosas e concluiu que tanto na vaca como na cabra o principal precursor da lactose é a glicose do sangue Afirmou também que alguns dos átomos de carbono da lactose especialmente galactose procedem do outros compostos como o acetato lactato aminoácidos e o glicerol As diferenças arteriovenosas da concentração de glicose na glândula mamária são aproximadamente o dobro das necessárias para a síntese de lactose sendo que a glicose que não é utilizada para a síntese de lactose pode ser utilizada no fornecimento de energia e para a síntese de glicerol A glândula mamária parece dispor de dois pools de hexose para a síntese de lactose Um é o pool de glicose livre utilizada como receptor de unidades galactosil e o outro um pool de hexosesfosfato que proporciona parte das móleculas de galactose Em monogástricos a glicose é absorvida através do intestino delgado e é a principal fonte de energia e de cadeias carbônicas curtas Em ruminantes a fermentação dos carboidratos da dieta no rúmen resulta na formação de ácidos graxos voláteis especialmente acetato propionato e butirato Muito pouca glicose é capaz de passar pelo rúmen e ser absorvida no intestino dos ruminantes Aproximadamente 45 a 60 da glicose sangüínea em ruminantes é sintetizada a partir do propionato e dos aminoácidos glicogênicos alanina aspartato asparagina cisteína glicina isoleucina metionina fenilalanina serina treonina tirosina e valina no fígado por um processo chamado gliconeogênese Os ruminantes são particularmente dependentes da gliconeogênese que ocorre no fígado Alguma glicose pode ser estocada no fígado como glicogênio que atua como um regulador de glicose sangüínea Entretanto muito pouco glicogênio é armazenado no fígado nos primeiros dias de lactação Os níveis de glicose sangüínea nos ruminantes são metade dos encontrados nos monogástricos 2 Diminuindo o acetato ou os aminoácidos como substratos direcionados à glândula mamária diminuiu acentuadamente a produção de gordura e proteína do leite mas não se altera muito a produção de leite Isto indica que a secreção de lactose gordura e proteína são um tanto independentes um do outro O mecanismo de passagem da glicose pelas células secretoras não tem sido descrito mas sabese que não é afetado pelo nível de insulina no sangue e é diretamente proporcional à concentração de glicose no sangue A glicose pode ser o fator limitante para a máxima secreção de leite sob um manejo normal Por exemplo em cabras com alta produção de leite a infusão intravenosa de acetato não afetou a secreção de leite sugerindo que adequada quantidade de acetato é produzida pela fermentação ruminal dos carboidratos da dieta Entretanto a infusão de glicose pode aumentar a produção de leite em 62 e a produção de lactose em 87 não variando a gordura do leite os carbonos da glicose não foram utilizados para síntese de ácidos graxos em ruminantes Já foi encontrada uma correlação entre produção de leite e consumo de glicose de 093 O úbere de cabras de alta produção utiliza 60 a 85 da glicose total disponível para o organismo Vacas de baixa produção não utilizam uma alta percentagem de glicose corporal assim como as vacas de alta produção Infusão de glicose pode aumentar a produção de leite Entretanto isto pode ser parcialmente compensado por um decréscimo da disponibilidade da glicose endógena Destinos da glicose na glândula mamária Uma vez absorvida pela célula mamária a glicose é utilizada em muitas vias incluindo é metabolizada pelas células para produção de energia geração de ATP é usada para síntese de glicerol usado para síntese de triglicerídeos do leite aproximadamente 20 a 30 vai para o via das pentosesfosfato para gerar NADPH usado como equivalente redutor na síntese de ácidos graxos do leite e para produção de ribose usado na síntese de DNA e RNA em torno de 60 a 70 é usado para síntese de lactose Síntese da lactose A lactose é sintetizada a partir da glicose nas células epiteliais que envolvem os alvéolos na glândula mamária dos mamíferos por uma série de reações descritas a 3 seguir A maioria destas reações ocorre no citosol mas ao final a reação catalisada pela lactose sintetase ocorre na vesícula de Golgi A via de síntese da lactose é mostrada na figura abaixo Os seguintes pontos são importantes para esta figura como indicado pelos números da figura veja abaixo da figura a legenda de abreviações 1 Duas moléculas de glicose são necessárias para cada molécula de lactose sintetizada Uma das glicoses se fosforila na posição C6 pela ação de uma hexoquinase formando glicose6fosfato mais ADP sendo esta uma reação irreversível Esta glicose6fosfato na presença da enzima fosfoglicomutase formará glicose1fosfato A glicose1fosfato então se liga a uridina trifosfato para formar uridina difosfato glicose mais pirofosfato inorgânico pela ação da enzima UDPglicose pirofosforilase Posteriormente a UDPglicose sofre a ação da UDPgalactose epimerase se convertendo em UDPgalactose Todas estas reações descritas ocorrem no citosol da célula mamária A outra glicose é usada para a síntese de lactose sem sofrer modificação sendo que posteriormente esta glicose e a UDPgalactose são transportadas para o aparelho de Golgi onde por ação do complexo lactose sintetase será formada lactose e UDP 2 A glicose passa através da membrana do aparelho de Golgi para o lúmen do aparelho de Golgi pela ação de uma enzima chamada glicose transportadora GLUT1 A presença de GLUT1 na membrana do aparelho de Golgi aparentemente é específica das células epiteliais mamárias pois a maioria das células não tem este transportador na membrana do aparelho Golgi O transportador de glicose não é ativo não necessita de energia e aparentemente não apresenta velocidade limitante para síntese de lactose Porém é afetado pelos níveis de glicose no citoplasma e também pela captação de glicose do plasma sanguíneo 3 UDPgalactose é ativamente transportada para dentro do lúmen do aparelho de Golgi um processo necessitando energia e o transporte de UDPgalactose para dentro do lúmen do aparelho de Golgi pode ser limitante para a síntese de lactose A UDPglicose não é transportada para dentro do aparelho de Golgi e vesículas secretoras 4 A lactose é um dissacarídeo não permeável que não pode se difundir para fora da membrana do aparelho de Golgi ou fora da membrana das vesículas secretoras Esta característica é importante para a síntese do leite porque é a síntese de lactose que resulta na água atraída para o aparelho de Golgi processo que será comentado posteriormente 5 A uridinadifosfato UDP gerada da síntese de lactose poderia ser inibitória para a síntese de lactose se ficasse acumulada no lúmen do aparelho de Golgi Entretanto a UDP é rapidamente hidrolisada até uridinamonofosfato UMP e fosfato inorgânico pela nucleosídeo difosfatase NDPase UMP é ativamente removida do aparelho de Golgi enquanto o fosfato inorgânico se difunde para fora do aparelho de Golgi 6 A reação de síntese da lactose é uma reação irreversível pois a lactose não é hidrolisada para formar glicose e galactose Os altos níveis de lactose não inibem sua própria síntese 4 Abreviações GT galactosil transferase αLA αlactalbumina NDPase nucleotídeo difosfatase Pi fósforo inorgânico PPi difosfato inorgânico UDP uridina difosfato UDPgalactose uridina difosfatogalactose UDP glucose uridina difosfatoglucose UMP uridina monofosfato UTP uridina trifosfato Principais subunidades do complexo enzimático lactose sintetase β14Galactosiltransferase GT É uma subunidade enzimática ativa da lactose sintetase É uma glicoproteína com um peso molecular variando de 35 60 kDa Sem a presença da αlactoalbumina a função da enzima no aparelho de Golgi durante a biossíntese de glicoproteínas é adicionar galactose a oligossacarídeos com resíduos terminais Nacetylglicosamina com ligação β14 mas não a glicose A GT transfere a galactose da molécula doadora UDPgalactose para a Nacetilglicosamina terminal GlcNAc receptor no complexo oligossacarídeo de proteínas glicosiladas A GT é encontrada na maioria dos tecidos do corpo É somente encontrada na superfície interna da membrana do aparelho de Golgi GT é a única das glicotransferases em que o substrato específico pode ser modificado pela adição de αlactoalbumina Juntas GT e αlactoalbumina formam o complexo lactose sintetase As reações entre UDPgalactose e glicose podem ocorrer na presença de β14galactosiltransferase mas o Km para a reação é 14 M de glicose o qual é muito maior do que a concentração fisiológica da glicose que é de aproximadamente 2 a 5 mM Na presença da αlactoalbumina entretanto a enzima é modificada de tal forma que o Km para a reação com a glicose baixa para 5 mM e a lactose é sintetizada em condições de concentração normal de glicose Devido a αlactoalbumina ocorrer somente na glândula mamária a síntese de lactose ocorre somente na glândula mamária Como as vesículas secretoras se fundem com a superfície apical da célula mamária elas depositam a αlactoalbumina αLA dentro do lúmem mas muito da GT fica ligada à membrana apical Atividade da galactosiltransferase pode ser encontrada nas membranas da gordura do leite a membrana da gordura do leite é derivada da 5 membrana apical de célula mamária Alguma GT pode ser encontrada no leite também A atividade da GT é aumentada por cátions em dois diferentes sítios Estes cátions Mn Cu Zn Cd Ca ajudam a estabilizar a conformação da enzima e também formam uma ponte entre a enzima e substrato αLactoalbumina αLA É uma proteína do soro do leite e conta por 25 do total das proteínas do soro do leite bovino e por 2 a 5 das proteínas totais do leite Ela não apresenta atividade catalítica por si só mas é necessária para a síntese da lactose Apresenta similaridade na estrutura com a lisozima Lisozima é uma glicosidase que hidrolisa os polissacarídeos na parede celular das bactérias A αLA altera a afinidade da galactosiltransferase para a glicose assim sendo a lactose é produzida mais eficientemente É produzida a uma concentração de aproximadamente 02 a 18 mgml no leite da maioria dos mamíferos A αlactoalbumina é sintetizada no retículo endoplasmático rugoso e vai para o aparelho de Golgi onde interage com a galactosil transferase GT Ao contrário da GT que se encontra ligada à membrana do aparelho de Golgi a αLA encontrase livre no aparelho de Golgi onde se combina com a GT e altera o substrato específico da GT do Nacetilglicosamina GlcNAc para glicose Este complexo modificado transfere galactose para glicose melhor que para Nacetilglicosamina Lactose não pode se difundir para fora das vesículas secretórias do aparelho de Golgi então a água é drenada para dentro das vesículas para equilibrar a pressão osmótica Desde que a atividade da enzima lactose sintetase é necessária para produção de lactose e subsequente movimento da água nas vesículas secretoras mamárias ela é crítica no controle da lactação e secreção de leite Há a suposição que o transporte de glicose através da membrana plasmática das células possa ser limitante à síntese de lactose mas esta teoria não é conclusiva A expressão do transportador de glicose não é regulada em bovinos quando hormônio do crescimento exógeno é administrado Isto sugere que o transporte de glicose através da membrana plasmática não é normalmente um fator limitante na produção de leite O transportador de glicose do citoplasma da célula para o aparelho de Golgi tem uma grande capacidade e parece improvável que o transporte de glicose através da membrana do aparelho de Golgi seja limitante Estudos in vitro sugerem que a velocidade da síntese de lactose aparentemente é dependente da relação αLA para GT A máxima atividade de síntese da lactose foi observada com uma relação αLA para GT de 500 para 1 M Relações molares maiores que esta não aumentaram a síntese de lactose in vitro A relação molar de αLA para GT no Golgi da glândula mamária não é conhecida A importância da αLA na secreção do leite é demonstrada em experimentos usando ratos trangênicos que não expressam a αLA Estes ratos são incapazes de produzir lactose Suas glândulas mamárias contêm secreções viscosas que são isentas de lactose Os filhotes são incapazes de remover as secreções devido à alta viscosidade A expressão do gene αLA humano nestes ratos restaura a função da lactação A expressão da αLA é regulada estritamente por hormônios de forma que a síntese de lactose ocorre somente durante o período de lactação dos tecidos A síntese de lactose ocorre em pequena escala antes do final da gestação Entretanto grandes aumentos na sua síntese ocorrem no momento do parto A síntese de lactose atinge o máximo no momento do pico de produção de leite 6 Secreção da lactose A vesícula de Golgi cheia de solução contendo lactose e íons se move para a superfície apical da célula guiada por microtubulações Na superfície apical da membrana da célula a membrana da vesícula de Golgi se liga e ambas se abrem para o lúmem do alvéolo ocorrendo a secreção da lactose água e íons em proporção relativamente constantes então ocorre Este mecanismo é chamado de pinocitose reversa Efeito osmótico da lactose e minerais O leite é isosmótico com o plasma sanguíneo As membranas celulares são semi permeáveis sendo que elas permitem que a água se mova através dela mas não muitos solutos como por exemplo a lactose A lactose é responsável por aproximadamente 50 da pressão osmótica do leite o resto se deve ao citrato íons proteínas etc Os animais sadios secretam um leite em que o conteúdo de lactose potássio e sódio é constante Portanto quando a lactose é sintetizada a água se difunde na luz para manter o conteúdo isotônico com o citoplasma da célula A concentração máxima de lactose que se consegue obter é de aproximadamente 300 mM As membranas são também permeáveis a íons particularmente sódio potássio e cloro e quando há acúmulo de fluídos na vesícula de Golgi esses íons difusos diminuem a sua concentração A difusão dos íons na vesícula aumentará a pressão osmótica e estimulará movimentos subseqüentes da água O fluxo de água provavelmente induz uma diferença de potencial elétrico entre a membrana apical e a vesícula secretora quando as mesmas se fundem liberando seu conteúdo Este potencial elétrico causa o retorno do Na e do K para o fluído intracelular citoplasmático contra um gradiente de concentração Um sistema de bomba de cloro ativamente remove íons desse elemento da luz vesicular Já o Ca o citrato e o fosfato não retornam para o interior celular permanecendo no leite Os ductos da glândula mamária são impermeáveis aos principais constituintes do leite Não há reabsorção de água nos ductos Os ductos somente conduzem o leite dos alvéolos para a cisterna da glândula Por esta razão a composição iônica do leite é determinada nas células secretoras alveolares e não muda posteriormente A concentração de lactose é inversamente relacionada com a concentração de K e Na no leite Durante a lactação ou na ocorrência de mastite podem aparecer no leite concentrações mais altas de sódio e cloro Isto ocorre devido ao vazamento de líquido dos vasos sanguíneos sendo que o mesmo passa ao lúmen alveolar sem passar através das células epiteliais passa por entre as células Apesar do sangue ser isosmótico com o leite eles tem uma grande diferença entre a composição dos principais constituinte Por exemplo com relação ao sangue o leite tem 90 vezes mais açúcar 3 vezes mais Ca 10 vezes mais fosfato inorgânico 9 vezes mais gordura 50 menos proteínas 14 menos Na 7 PROTEÍNAS DO LEITE E SÍNTESE DE PROTEÍNAS Principais proteínas do leite As principais proteínas do leite bovino Tabela 1 incluem a caseína β lactoglobulina αlactoalbumina soroalbumina e imunoglobulinas Todas as principais proteínas do leite exceto soroalbumina e imunoglobulinas são sintetizadas por células epiteliais na glândula mamária a partir de aminoácidos extraídos do sangue Tabela 1 Características bioquímicas das proteínas do leite Proteínas Proporção do total de proteínas Ponto isoelétrico Peso molecular αCaseína 4555 41 23000 κCaseína 815 41 19000 ßCaseína 2535 45 24000 γCaseína 37 5860 αLactoalbumina 25 51 14437 ßLactoglobulina 712 53 18000 Soroalbumina 0713 47 68000 Lactoferrina 0208 87000 Imunoglobulinas IgG1 12 160000 IgG2 0205 160000 IgM 0102 1000000 IgA 005010 400000 Fonte RD Breme University of Wisconsin Caseína É uma fosfoproteína relativamente hidrofóbica encontrada no leite na forma de micelas denso grânulo de proteína Os grupos fosfato covalentes da molécula de caseína estão envolvidos na ligação com cálcio Após a caseína ser fosforilada o cálcio se liga ao fosfato para iniciar a polimerização das partículas de micela Esta estrutura caseínaPO4CaPO4caseína é chamada de micela em formação As micelas têm aproximadamente 140 nm de diâmetro Elas são compostas de alfa beta e kappa caseína A αcaseína apresenta diferentes formas multifosforiladas αs2 αs3 αs4 αs5 e αs6 A βcaseína é a maior caseína no leite de bovinos mas é a menor caseína no leite humano A kappacaseína está distribuída por toda a micela de caseína e atua estabilizandoa A gamacaseína está composta por fragmentos da βcaseína que são liberados pela digestão da plasmina enquanto o leite está na glândula mamária A micela de caseína tem como função servir de fonte de nutrientes para o neonato fornecendo aminoácidos cálcio e fosfato de alta digestibilidade A desestabilização da micela de caseína por proteases é parte do mecanismo envolvido na digestão do leite no estômago e no intestino Contrariamente a desestabilização da estrutura da micela de caseína e a parcial hidrólise da caseína por exemplo durante a mastite diminuem a qualidade do leite fluido e a produção de leite A hidrólise controlada da caseína é também uma maneira de produzir queijos e outros produtos lácteos Em pH baixo ocorre precipitação desta proteína que é o componente do leite de maior interesse comercial hoje em dia 8 Principais proteínas do soro do leite βLactoglobulina Representa aproximadamente 50 do total das proteínas do soro do leite É a principal proteína do soro nos ruminantes e suínos Não é encontrada no leite de muitas outras espécies incluindo o leite humano A função da βlactoglobulina não é conhecida podendo ser responsável pela ligação de ácidos graxos ou lipídios com a proteína Geralmente é encontrada no leite de espécies que transportam altos níveis de imunoglobulinas durante a formação de colostro Entretanto a relação específica entre a presença de βlactoglobulina e o transporte de imunoglobulina permanece desconhecida αLactoalbumina Representa aproximadamente 25 do total das proteínas do soro do leite É a fração B do complexo enzimático lactose sintetase Por esta razão é de grande interesse em termos de controle da secreção de leite Ela pode ter outros efeitos não específicos na integridade das membranas da gordura do leite Proteínas secundárias do leite Soroalbumina É proveniente do soro sangüíneo não sendo sintetizada pela glândula mamária É presumível que entre no leite por via paracelular ou por ligação com outros componentes como as imunoglobulinas Aumentos da concentração de soroalbumina no leite ocorrem especialmente durante a mastite e durante a involução da glândula mamária A função da soroalbumina no leite é desconhecida Ela pode se ligar a ácidos graxos assim como a outras pequenas moléculas Imunoglobulinas Incluem IgG1 IgG2 IgA e IgM As imunoglobulinas estão em concentrações muito altas no colostro mas em muito baixas concentrações no leite Imunoglobulinas são parte da imunidade passiva transportada para o neonato via colostro em muitas espécies como bovinos suínos eqüinos mas não em humanos Elas são parte do sistema imune mamário Lactoferrina É uma proteína ligada ao ferro e apresenta propriedades antimicrobianas O leite bovino tem relativamente baixas concentrações de lactoferrina durante a lactação mas ocorrem aumentos durante mastite ou involução da glândula mamária A lactoferrina também pode ser um imunomodulador No leite humano apresenta altas concentrações sendo a principal proteína do soro nesta espécie A lactoferrina é o principal fator de resistência não específica a doenças na glândula mamária Lactoperoxidase É uma enzima que rompe os peróxidos de hidrogênio É produzida pelas células secretórias epiteliais A reação oxidativa rompe a membrana bacteriana e resulta na morte da célula bacteriana 9 Lisozima É uma enzima que hidrolisa as ligações glicosídicas β14 em paredes celulares de bactérias gram positivas resultando em morte celular Esta ausente na glândula mamária bovina mas é uma importante proteína antimicrobiana no leite de humanos e eqüinos β2Microglobulina É parte do complexo de histocompatibilidade principal Precursores das proteínas do leite A caseína a βlactoglobulina e a αlactoalbumina correspondem a 95 das proteínas do leite sendo sintetizadas no úbere Já a soroalbumina as imunoglobulinas e a γcaseína não são sintetizadas no úbere e simplesmente são filtradas do sangue As três possíveis origens dos precursores sangüíneos das proteínas sintetizadas pela glândula mamária são 1 Peptídeos sua concentração no plasma sanguíneo é inferior à quantidade necessária para fornecer 10 dos aminoácidos que formam as proteínas sintetizadas na glândula mamária 2 Proteínas do plasma Fornecem menos de 10 da proteína sintetizada na glândula mamária 3 Aminoácidos livres A maior parte do nitrogênio utilizado para a síntese das proteínas do leite é proveniente dos aminoácidos livres absorvidos pela glândula mamária Metabolismo dos aminoácidos na glândula mamária A utilização de aminoácidos pelas células da glândula mamária ocorre em 2 fases captação celular e metabolismo intracelular A captação celular dos aminoácidos é dependente de a concentração arterial de aminoácidos b fluxo de sangue na glândula mamária c fluxo de aminoácidos através dos tecidos e d processo de extração pelo qual sistemas transportadores efetuam a transferência de aminoácidos através da membrana basal da célula As letras a b e c determinam a quantidade de aminoácidos que chegam às células mamárias epiteliais Uma vez dentro da célula o aminoácido pode 1 sofrer polimerização para formar proteínas do leite que serão secretadas das células 2 sofrer polimerização para formar proteínas celulares que serão mantidas nas células como parte de proteínas estruturais e enzimas 3 entrar em reações metabólicas produzindo dióxido de carbono uréia poliaminas e aminoácidos não essenciais 4 passar inalterados para o leite sangue ou linfa como aminoácidos livres A captação de aminoácidos do sangue é adequada para avaliar a utilização de aminoácidos na síntese de proteínas na glândula mamária Alguns aminoácidos essenciais são absorvidos em quantidades adequadas para suprir seus depósitos no leite enquanto outros são captados em excesso pois serão convertidos posteriormente em aminoácidos não essenciais na glândula mamária Mais de 60 de alguns aminoácidos essenciais notadamente os sulfurados são removidos do sangue quando este passa pela glândula mamária 10 É freqüentemente postulado que a disponibilidade destes aminoácidos pode limitar a síntese de proteína do leite e afetar a produção de leite A metionina em particular mas também fenilalanina histidina lisina e treonina têm sido consideradas como posíveis limitantes sendo indicado que a suplementação destes aminoácidos na forma bypass normalmente produz um aumento na produção de leite A absorção de aminoácidos não essenciais é mais variável do que a de aminoácidos essenciais sugerindo que a glândula mamária não é completamente dependente de precursores do plasma para aminoácidos não essenciais Alguns dos aminoácidos não essenciais se absorvem como aminoácidos livres a partir do sangue sendo que outros são sintetizados na glândula mamária Esta síntese fundamentalmente consiste em interconversões entre diferentes aminoácidos ou síntese a partir de esqueletos de carbono de carboidratos ou ácidos graxos para formar em quantidade suficiente os aminoácidos necessários Os aminoácidos são absorvidos do sangue por um mecanismo específico envolvendo a enzima γglutamil transpeptidase GGT o qual tem função semelhante em outros tecidos A quantidade de proteína no leite é relativamente constante sendo que há alguma forma de controle na glândula mamária No entanto o controle da síntese de proteínas não está bem entendido embora é provável que envolva inibição por feedback diretamente sobre a função enzimática assim como a síntese de enzimas dentro da célula Tabela 2 Extração de aminoácidos essenciais e não essenciais pela glândula mamária de cabras Aminoácidos essenciais extração Aminoácidos não essenciais extração Metionina 80 Glutamato 70 Fenilalanina 70 Tirosina 40 Leucina 70 Asparagina 40 Treonina 70 Ornitina 35 Lisina 60 Aspartato 30 Arginina 60 Alanina 25 Isoleucina 60 Glutamina 25 Histidina 55 Glicina traços Valina 50 Citrulina traços Serina traços derivado da diferença artério venosa Síntese protéica A síntese protéica ocorre na célula epitelial da glândula mamária sendo controlada geneticamente DNA por processo de síntese semelhante ao que ocorre em outras partes do corpo A seqüência da síntese protéica é mostrada no esquema abaixo que inclui replicação do DNA transcrição do RNA apartir do DNA e tradução que é a formação de proteínas de acordo com a informação contida no RNA replicação DNA DNA transcrição DNA RNA tradução RNA proteína A replicação exige a separação das duas hélices do DNA e a duplicação de cada uma delas mediante o acoplamento de bases A replicação ocorre antes da divisão 11 celular e tem importante função direta na síntese proteica A transcrição supõe a formação de RNA sobre o molde constituido pelas hélices de DNA As moléculas de RNA se deslocam ao citoplama e desempenham um papel ativo na síntese de proteína Na tradução uns aminoácidos se ligam a outros para formar as proteínas sendo que este processo ocorre nos ribossomos Secreção das proteínas do leite As proteínas do leite são sintetizadas pelo retículo endoplasmático rugoso e passam para o aparelho de Golgi A maneira pela qual este movimento ocorre não está totalmente definida Possivelmente as cadeias peptídicas atravessam o lúmen do retículo endoplasmático rugoso diretamente para o aparelho de Golgi ou ocorrendo a formação de vesículas fora do retículo endoplasmático rugoso que migram e fundemse com o aparelho de Golgi O aparelho de Golgi migra para a membrana apical onde se funde com a membrana plasmática Então ocorre o processo de pinocitose reversa onde as proteínas são liberadas para o lúmen do alvéolo Neste ponto o aparelho de Golgi tornase parte da membrana plasmática servindo de reparo da membrana plasmática perdida durante a formação e secreção de gotículas de gordura SÍNTESE DE GORDURA DO LEITE Composição da gordura do leite A gordura do leite é um dos componentes mais abundantes do leite e o mais variável Sua concentração e composição sofrem mais influência do que as demais frações pela nutrição e condições ambientais Está composta primariamente por triglicerídios que compõem aproximadamente 98 do total da gordura do leite Outros lipídios incluem diacilglicerídios 025048 monoacilglicerídios 00204 glicolipídios 0006 e ácidos graxos livres 0104 A diferença mais notável entre a gordura do leite dos ruminantes e dos monogástricos é a porcentagem relativamente alta que os ruminantes apresentam de ácidos graxos de cadeia curta 12 Precursores da gordura do leite A síntese de triglicerídios da gordura do leite ocorre nas células epiteliais mamárias Os precursores usados para a síntese da gordura do leite são glicose acetato βhidroxibutirato e triglicerídeos Os ácidos graxos usados para sintetizar os triglicerídeos provem de duas fontes lipídios do sangue e sintese de novo dentro das células epiteliais mamárias Tabela 3 Contribuição proporcional das fontes de ácidos graxos no leite bovino Ácidos graxos de AG da síntese de novo de AG da VLDL C4C10 100 0 C12 8090 1020 C14 3040 6070 C16 1030 7090 C18 0 100 Os ácidos graxos de 18 átomos de carbono e alguns de 16 átomos de carbonos da gordura do leite provem em quase sua totalidade dos triglicerídeos dos quilomicrons e das lipoproteínas de baixa densidade do sangue Tabela 3 Há uma pequena mas variável absorção de ácidos graxos livres pela glândula mamária Aproximadamente 4060 dos ácidos graxos encontrados no leite de vaca provêm do sangue Estes são primariamente derivados de lipoproteínas de muito baixa densidade VLDL que são sintetizadas no intestino ou no fígado As VLDL são compostas de 9095 de lipídios 5560 triglicerídeos no núcleo interno e 5 a 10 de proteínas na superficie externa Os quilomicrons contendo ácidos graxos ingeridos do intestino também podem atuar como fonte sanguínea de ácidos graxos para a glândula mamária Os triglicerídios nas VLDL são hidrolizados nos capilares mamários pela enzima lipoproteína lipase LPL A LPL pode hidrolizar um dois ou três dos ácidos graxos da cadeia do glicerol resultando em ácidos graxos livres mais diacilglicerídios monoacilglicerídios ou glicerol respectivamente Os ácidos graxos livres monoacilglicerídios diacilglicerídios e glicerol podem ser captados pelas células mamárias epiteliais e serem reutilizados para a síntese de triglicerídeos dentro das células Os ácidos graxos contidos nas VLDL e quilomicrons são dependentes dos lipídios da dieta e dos lipídios mobilizados da gordura corporal Nos animais não ruminantes a composição dos ácidos graxos da dieta afeta diretamente a composição dos ácidos graxos do leite Fornecendo gordura suplementar na dieta podese aumentar a produção de gordura e alterar a composição de ácidos graxos da gordura do leite sendo que nestas espécies também há síntese significativa de ácidos graxos apartir de glicose Em ruminantes as dietas são tipicamente baixas em lipídios e os lipídios da dieta são metabolizados no rúmen O resultado é que a composição de ácidos graxos no leite bovino não é normalmente regulada pela dieta Entretanto em casos de gordura protegida utilizada na dieta de ruminantes os lipídios passam diretamente ao intestino e tornamse parte do perfil dos ácidos graxos das VLDL e os quilomicrons A composição de ácidos graxos do leite bovino pode se alterada pela proporção de lipídios protegidos da dieta Estimase que 25 dos ácidos graxos do leite da vaca são provenientes dos ácidos graxos da dieta A glândula mamária de ruminantes sintetiza quantidades muito pequenas de ácidos graxos apartir de glicose pois apresenta atividade muito baixa da enzima citrato liase Isto faz com que o citrato proveniente do metabolismo da glicose 13 na glândula mamária seja transformado muito lentamente em acetil CoA o qual é utilizado na síntese de ácidos graxos O acetil CoA utilizado pela glândula mamária dos ruminantes para a síntese de gordura se forma fundalmentalmente apartir do acetato no citoplasma Estimase que 30 dos carbonos da gordura do leite sejam provenientes do acetato Síntese de novo de ácidos graxos A síntese de pequenas e médias cadeias de ácidos graxos com menos de 16 carbonos ocorre na glândula mamária pela síntese de novo síntese de novas moléculas de ácidos graxos de precursores absorvidos do sangue A síntese de novo de ácidos graxos ocorre no citoplasma das células mamárias epiteliais Em todas as espécies a síntese de novo requer de duas fontes cadeias carbônicas curtas acetilCoA e equivalentes redutores A origem destes varia entre as espécies particularmente quando se comparam ruminantes e não ruminantes Nos ruminantes as fontes de carbono usadas para a síntese de ácidos graxos são acetato mais importante e βhidroxibutirato BHB Pequena quantidade de propionato que se incorpora na gordura do leite se utiliza como unidade de três átomos de carbono ao qual se vão adicionando sucessivas unidades de acetato para formar ácidos graxos de número ímpar de carbonos A glicose é uma fonte de carbono para a síntese de ácidos graxos em não ruminantes apesar de o acetato também ser usado Os equivalentes redutores necessários para a síntese de ácidos graxos vêem do NADPH nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzida As duas enzimas chaves envolvidas na síntese de ácidos graxos na glândula mamária são a acetilCoA carboxilase que é a enzima limitante de velocidade para a via de síntese dos ácidos graxos Ela catalisa a produção de malonilCoA apartir do acetilCoA A acetilCoA carboxilase é a chave da atividade enzimática de síntese da gordura do leite que aumenta durante a lactogênese Há uma estreita relação observada entre a síntese de ácidos graxos pelo tecido mamário e a atividade da acetilCoA carboxilase durante a lactogênese e lactação b acido graxo sintetase que é um grande complexo de atividade enzimática responsável pela elongação da cadeia dos ácidos graxos Resumo das reações de síntese dos ácidos graxos na glândula mamária Cada ciclo completo da via malonilCoA resulta em 2 carbonos sendo adicionados à cadeia de ácidos graxos A reação total é dada aqui para a síntese de palmitato C16 aAcetilCoA 7 malonilCoA 14 NADPH são catalizados pela ácido graxo sintetase para produzir palmitato 7 CO2 14 NADP 8 CoA A via da enzima ácido graxo sintetase envolve os seguintes passos ativação carboxilação do acetilCoA resultando em malonilCoA elongação condensação malonilCoA acetilCoA acetoacetilACP redução acetoacetilACP βhidroxibutirilACP desidratação βhidroxibutirilACP crotonilACP outra redução crotonilACP butiril ACP O ciclo é então repetido Os passos envolvidos na via do malonilCoA ocorrem com o crescimento da cadeia estereficada do ácido graxo para uma acilproteína carreadora que é parte do complexo da enzima ácido graxo sintetase A ácido graxo sintetase é um grande complexo de atividade enzimática que é responsável por reações de síntese de ácidos graxos Também há enzimas aciltioesterases que são responsáveis pelo corte do crescimento 14 da cadeia de ácido graxo da acil proteína carreadora uma vez que ela tenha atingido certo comprimento A longa cadeia da aciltioesterase é parte do complexo ácido graxo sintetase e quebra cadeias de ácidos graxos maiores de 16 C Em não ruminantes a cadeia média da aciltioesterase é citoplasmática e quebra ácidos graxos livres não esterificados Em ruminantes a cadeia de aciltioesterase média é associada com o complexo ácido graxo sintetase e libera tioesteres acilCoA Isto é responsável em parte pela alta proporção de cadeias curtas e médias de ácidos graxos nos triglicerídeos de alguns animais O βhidroxibutirato BHB pode entrar no ciclo como um primer somente Ele não pode ser usado em síntese de ácidos graxos em posteriores estágios Ele contribui com mais de 50 dos primeiros 4 carbonos O BHB não pode ser dividido até acetato no citosol mas pode ser convertido para 2 acetilCoA na mitocôndria Entretanto estes acetilCoA não podem sair da mitocôndria e então não estão disponíveis para a síntese de ácidos graxos Síntese de glicerol O glicerol livre no sangue proporciona menos de 10 da necessidade de glicerol para a síntese dos triglicerídeos do leite Uma quantidade substancial de glicerol se absorve com os triglicerídeos do sangue A presença da glicerolquinase na glândula mamária demonstra que o glicerol 3fosfato para a síntese dos triglicerídeos pode derivarse do glicerol livre Estimase que a glicose circulante no sangue constitui a fonte de até 70 do glicerol dos lipídios do leite enquanto que os glicerídeos das lipoproteínas podem proporcionar até 50 A síntese de triglicerídeos de ácidos graxos preformados do sangue ou sintetizados de novo na célula ocorre na superfície citoplasmática do retículo endoplasmático liso 15 Os ácidos graxos são esterificados com os grupos hidroxila da molécula de glicerol Isto ocorre por uma série de esterases A esterificação dos ácidos graxos com o glicerol não ocorre ao acaso A análise dos triglicerídeos do leite bovino indica que os ácidos graxos C12 a C16 se concentram na posição C2 do glicerol Os ácidos graxos de cadeia curta C4 e C6 se localizam primordialmente no C1 e no C3 O ácido esteárico esterifica também de preferência o C1 e o C3 do glicerol Síntese de ácidos graxos em ruminantes e não ruminantes Muitas diferenças existem entre espécies ruminantes e não ruminantes em relação aos mecanismos de síntese de ácidos graxos Estas diferenças são relevantes ao tipo de ácidos graxos encontrados no leite à função da glicose na síntese de ácidos graxos e ao efeito dos lipídios da dieta sobre a composição dos ácidos graxos da gordura do leite nas varias espécies Por exemplo em ruminantes os lipídios e carboidratos da dieta são metabolizados no rúmen assim a fonte de carbonos para a síntese de ácidos graxos na glândula mamária são o acetato e o BHB A glicose é limitante em ruminantes Em adição a quase ausência de atividade de citrato liase em ruminantes significa que poucos carbonos da glicose serão usados para a síntese de ácidos graxos Todavia a glicose é necessária para a geração de equivalentes redutores tanto em ruminantes como em não ruminantes Muitas diferenças também existem entre espécies na atividade específica das enzimas associadas com a geração de estoques de NADPH necessários para a via de síntese dos ácidos graxos Formação das gotículas de lipídios Como os triglicerídeos são sintetizados na superfície externa do retículo endoplasmático liso eles começam a coalescer e formar microgotículas lipídicas Estas microgotículas lipídicas crescem e formam vesículas na superfície do retículo endoplasmático liso que são liberadas para o citoplasma As microgotículas lipídicas podem ser secretadas das células diretamente como pequenos glóbulos de gordura menos que 05 micrómetros Elas podem se fundir com outra gotícula citoplasmática para formar grandes gotículas gotas lipídicas citoplasmáticas e elas podem se fusionar com outras gotas citoplasmáticas resultando na formação de grandes gotas lipídicas do leite Os glóbulos de gordura do leite variam de menos de 05 a mais de 15 micrómetros As gotículas citoplasmáticas lipídicas não estão envolvidas por uma membrana lipídica de dupla camada mas aparentemente estão envolvidos por uma cobertura protéica incluindo a proteína chamada butirofilina e lipídios polares gangliosídeos Esta cobertura protéica previne a coalecência da gotícula com lipídios na célula e ainda permite a fusão entre gotículas De fato a proteína e o gangliosídeo desta cobertura junto com o cálcio estão envolvidos na fusão das gotículas Secreção da gordura do leite A grande gotícula de lipídio migra para a superfície apical da célula atraída por forças de LandonVan Der Walls causando o englobamento das gotículas de gordura pela membrana plasmática Esta membrana apical eventualmete se funde à gotícula sendo liberada junto com o glóbulo de gordura envolvendo o mesmo e posteriormente ocorrendo o fechamento da membrana apical da célula Durante o processo de englobamento pequenas quantidades de citoplasma podem ser perdidas 16 SECREÇÃO MINERAL Os mais importantes minerais secretados no leite sob o ponto de vista nutritivo são o cálcio e o fósforo Somente 25 do cálcio 20 do magnésio e 44 do fósforo se encontram na forma solúvel enquanto que os demais minerais se encontram totalmente na forma solúvel O cálcio e o magnésio se encontram física ou quimicamente ligados com caseína citrato ou fosfato permitindo que se acumule uma elevada concentração de cálcio no leite mantendo o equilíbrio osmótico com o sangue A capacidade tampão do leite se deve ao seu conteúdo de citrato fosfato bicarbonato e proteínas sendo que a ação conjunta destes sistemas tampões mantém a concentração de hidrogênio do leite próxima a um pH de 66 Os fosfatos inorgânicos da caseína do leite são oriundos do fosfato inorgânico do plasma sanguíneo O cálcio do leite também é oriundo do plasma sanguíneo Em geral é muito dificil aumentar o conteúdo de cálcio do leite apartir do aumento de cálcio na dieta Tabela 4 Concentração média de constituintes salinos no leite total Constituinte mgdl de leite Cálcio Ca 123 Fósforo P 95 Magnésio Mg 12 Potássio K 141 Sódio Na 58 Cloro Cl 119 Enxofre S 30 Ácido cítrico 160 Tabela 5 Proporção de formas solúveis dos minerais no leite Mineral do total na forma solúvel Ca 012 25 como complexos com fosfato ou citrato P 010 44 como complexo com Ca e outros minerais Mg 001 20 K 015 100 Na 005 100 Cl 011 100 O resto do cálcio e do fósforo do leite estão nas miscelas de caseína O mecanismo pelo qual Ca P e Mg são transportados para o leite não é bem entendido Um incremento na concentração destes minerais acima do encontrado no sangue indica a presença de um sistema transportador ativo A formação de complexos minerais com caseína para estabilizar a micela pode diminuir a concentração solúvel dentro da célula e permite algum escoamento destes minerais contra um gradiente de concentração O leite tem uma alta concentração de potássio K e uma baixa concentração de sódio Na o que é diferente do encontrado no fluido extracelular Um aumento na relação KNa pode significar que estes íons são provenientes do fluído intracelular ao passo que uma diminuição nesta relação provavelmente ocorra devido ao 17 extravasamento do fluído extracelular entre células alveolares A presença de firmes junções e hemedesmossomas entre as células alveolares que é detectada por microscopia eletrônica impede o extravazamento de fluído extracelular para o lúmen do alvéolo A necessidade de manter o gradiente iônico entre o interior da célula e o fluído extracelular pode explicar a alta relação KNa Sistemas transportadores da bomba de Na e K usando energia na forma de ATP são utilizados para manter o gradiente elétrico Bombas de sódio têm sido detectadas sobre a superfície basal e lateral das células alveolares mas não sobre a superfície apical Sistemas enzimáticos NaKATPase associados com a bomba de Na também têm sido encontrados sobre a superfície lateral e basal A falta de um sistema transportador ativo sobre a superfície apical explica o mecanismo em que falta a habilidade para conservar o K e expulsar o Na Íons portanto podem se difundir livremente através da membrana apical para o lúmen sob seus respectivos gradientes de concentração De fato análises do interior das células mamárias secretoras e o leite mostram idênticas relações KNa Cloretos se difundem sob um gradiente de concentração do fluído intracelular para o leite De qualquer modo um sistema transportador que existe em ambas as superfícies basal e apical ativa bombas de cloro para a célula Alguns minerais como zinco magnésio ferro cobre manganês e molibdênio são requeridos por enzimas como cofatores O zinco apresenta uma concentração relativamente alta se comparado com outros microminerais sendo que 12 do mesmo se encontra dissolvido enquanto o resto está associado as partículas de caseína e lactoferrina A maioria dos microminerais encontrase em complexos orgânicos e a concentração de alguns é maior na gordura do leite que no extrato desengordurado O cobre encontra se ligado a caseína βlactoglobulina lactoferrina e algumas proteínas das membranas dos glóbulos de gordura do leite O ferro encontrase ligado a lactoferrina transferrina xantinaoxidade e algumas caseínas O molibdênio é ligado a xantinaoxidase uma enzima associada com a membrana celular e encontrada no leite sobre a superfície interna da membrana dos glóbulos de gordura O manganes é associado com as membranas protéicas dos glóbulos de gordura do leite O ferro apresenta baixa 18 concentração no leite se comparado com a necessidade dos neonatos em muitas espécies A concentração de alguns minerais pode ser aumentada no leite pelo aumento no fornecimento dos mesmos na dieta Estes particularmente incluem iodo boro bromo cobalto manganês molibdênio selênio e zinco Já o ferro e o cobre não têm seus níveis aumentados com o aumento dos mesmos na dieta Não obstante se a dieta é pobre em cobre se reduz quantidade deste elemento no leite O colostro contém concentrações de microminerais várias vezes mais alta que o leite normal Se desconhece o método pelo qual é controlada a quantidade de microminerais presentes no leite Parece que é dependente da concentração destes minerais no sangue que chega a glândula mamária Foi demonstrado que glândula mamária é capaz de concentrar iodo de modo similar à tireóide Também parece que a transferência de iodo ao leite é um processo ativo pois o iodo não se difunde facilmente através das membranas da glândula mamária de modo passivo Tabela 6 Microminerais no leite bovino µgl Valores normais no leite quando o animal é alimentado com a quantidade correta na dieta e quando o elemento em particular é suplementado acima das necessidades do animal Vacas recebendo elemento Concentração normal Concentração com suplementação Alumínio 460 810 Arsénico 50 450 Boro 270 660 Bromo 600 aumenta Bromo litoral 2800 Cádmio 26 não aumenta Cromo 15 Cobalto 06 24 Cobre 130 não aumenta Fluor 150 aumenta Iodo 43 acima de 2700 Ferro 450 Não aumenta Chumbo 40 aumenta Manganês 22 64 Molibdênio 73 371 Níquel 27 não aumenta Selênio baixo Se no solo 40 aumenta Selênio alto Se no solo acima de 1270 Zinco 3900 5100 SECREÇÃO DE VITAMINAS A glândula mamária não pode sintetizar vitaminas sendo totalmente dependente do aporte sanguíneo 19 Vitamina A Os vegetais contém fundamentalmente carotenóides e os animais vitamina A Os carotenóides especialmente o βcaroteno se transforma em vitamina A no intestino A eficácia desta conversão na vaca é relativamente pequena A gordura do leite das raças Jersey e Guernsey apresenta três vezes mais caroteno que as vacas da raça Holandesa o que explica a intensa cor amarela do leite destas raças Já a raça Holandesa converte mais caroteno em vitamina A tendo o seu leite em média 60 mais vitamina A que a Guernsey O conteúdo de caroteno no leite esta muito relacionado com o consumo de carotenos na dieta O colostro apresenta 4 a 25 vezes mais vitamina A que o leite normal Vitamina D A vitamina D se encontra na forma de vitamina D2 que resulta da irradiação do ergosterol da dieta e vitamina D3 um derivado do 7dihidrocolesterol produzido por ação direta dos raios ultravioleta solares sobre o animal O conteúdo de vitamina D do leite esta diretamente relacionado com o conteúdo de ergosterol da dieta do animal e com sua exposição a luz solar O conteúdo de vitamina D no leite também esta relacionado com o teor de gordura do mesmo As raças Jersey e Guernsey têm mais vitamina D que as holandesas O colostro tem de 3 a 10 vezes mais vitamina D que o leite normal Vitamina E No leite a vitamina E se encontra na forma de αtocoferol A quantidade de αtocoferol presente no leite apresenta estreita relação com a quantidade na dieta do animal O colostro contém de 25 a 7 vezes mais vitamina E que o leite normal Vitamina K O leite é uma fonte relativamente pobre de vitamina K Ao contrário das outras vitaminas lipossolúveis o conteúdo de vitamina K do leite não se altera com a alteração dos seus níveis na dieta Vitamina B As vitaminas do grupo B são sintetizadas pela microflora do rúmem O leite bovino contém somente quantidades apreciáveis de riboflavina inositol e ácido pantotênico No entanto um litro de leite pode cobrir entre 3350 das necessidades de tiamina de um adulto 85140 da necessidade de riboflavina 2560 da necessidade de vitamina B6 33 da necessidade de ácido pantotênico 20 da necessidade de colina e 20 da necessidade de biotina O nível de vitamina B no leite dos ruminantes assim com dos monogástricos apresenta relação com o nível de vitamina na dieta O colostro também contém mais tiamina riboflavina vitamina B6 colina ácido fólico e vitamina B12 que o leite normal Vitamina C A vitamina C se encontra no leite em duas formas ativas ácido ascórbico uma forma estável reduzida e ácido dehidroascórbico uma forma reversivelmente oxidada A concentração de vitamina C no leite é muito pouco afetada pelo seu conteúdo na dieta Os ruminantes são capazes de sintetizar vitamina C enquanto o homem não O leite constitui uma fonte importante de vitamina C para o homem porém grande parte do conteúdo em ácido ascórbico do leite fresco é destruido antes de seu consumo 20 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARNES M A Biochemistry of the mammary gland Department of Dairy Science Virginia Tech Blachsburg httpwwwdascvtedudasc43744374notehtm FONSECA F A Fisiologia da lactação Centro de Ciências Agrárias Departamento de Zootecnia UFV Viçosa MG 1995 137 p HOLMESC WWILSONG F Produção de leite a pasto Instituto Campineiro de Ensino Agricola Campinas São Paulo 1998 708p HURLEY W L Lactose synthesis Lactation Biology Department of Animal Sciences University of Illinois Urbana Champaign httpclassesacesuiuceduAnSci308lactosesynthesishtml HURLEY W L Milk composition Lactation Biology Department of Animal Sciences University of Illinois Urbana Champaign httpclassesacesuiuceduAnSci308milkcomphtml HURLEY W L Milk fat synthesis Lactation Biology Department of Animal Sciences University of Illinois Urbana Champaign httpclassesacesuiuceduAnSci308fatsynthesishtml HURLEY W L Milk proteins and protein synthesis Lactation Biology Department of Animal Sciences University of Illinois Urbana Champaign httpclassesacesuiuceduAnSci308proteinsynthesishtml HURLEY W L Minerals and vitamins Lactation Biology Department of Animal Sciences University of Illinois Urbana Champaign httpclassesacesuiuceduAnSci308mineralandvitaminhtml LARSON B Smith V R Lactation a comprehensive treatise Vol II Academic Press Inc New York 1978 458p LARSON B Smith V R Lactation a comprehensive treatise Vol IV Academic Press Inc New York 1978 595p SCHIMDT G H Biología de la lactación Cornell 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