·
Pedagogia ·
Pedagogia
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
6
Práticas de Alfabetização e Letramento: Reflexões e Concepções Iniciais
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: Leitura e Produção de Textos
Pedagogia
UFSJ
60
Conhecimento Matemático e Alfabetização
Pedagogia
UFSJ
24
Cultura Aritmética e Modelos Matemáticos: A Interação entre Cultura e Mente
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: O Conceito de Número na Educação Infantil
Pedagogia
UFSJ
6
Construção de Perguntas e Problemas de Pesquisa na Alfabetização e Letramento
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização: A Produção do Gênero Convite na Escola
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: A importância da Literatura na Formação de Leitores
Pedagogia
UFSJ
6
Práticas de Alfabetização e Letramento: Leitura e Produção Textual
Pedagogia
UFSJ
3
Educação Matemática: Concepções e Linguagem na Prática Educacional
Pedagogia
UFSJ
Texto de pré-visualização
Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade Literatura Infantil e Alfabetização MEC SEED UAB 2011 Reitor Helvécio Luiz Reis Coordenador UABNEADUFSJ Heitor Antônio Gonçalves Comissão Editorial Fábio Alexandre de Matos Flávia Cristina Figueiredo Coura Geraldo Tibúrcio de Almeida e Silva José do Carmo Toledo José Luiz de Oliveira Leonardo Cristian Rocha Presidente Maria Amélia Cesari Quaglia Maria do Carmo Santos Neta Maria Jaqueline de Grammont Machado de Araújo Maria Rita Rocha do Carmo Marise Maria Santana da Rocha Rosângela Branca do Carmo Rosângela Maria de Almeida Camarano Leal Terezinha Lombello Ferreira Edição Núcleo de Educação a Distância Comissão Editorial NEADUFSJ Capa Eduardo Henrique de Oliveira Gaio Diagramação Luciano Alexandre Pinto G963l Guimarães Betânia Maria Monteiro Literatura infantil e alfabetização Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade São João delRei UFSJ 2011 48p Curso de Especialização em Práticas de Letramento e Alfabetização 1 Literatura infantojuvenil 2 Alfabetização I Guimarães Betânia Maria Monteiro II Andrade Maria José Netto II Título CDU 37241 Sumário Pra começo de conversa 05 Unidade 1 Histórico da literatura infantil 07 O conceito de infância 09 Vínculos entre o conto popular e a literatura infantil 11 Unidade 2 A arte de contar histórias 15 Narrativas bem sucedidas 17 Formas de apresentação das histórias 19 Literatura e a internet 23 Unidade 3 Poesia na escola 27 Considerações sobre a poesia infantil 29 Poesia as várias formas de brincar com as palavras 31 O recurso das rimas 35 O ritmo 35 Formas de trabalhar poemas com crianças 37 Pra final de conversa 45 Referências 47 5 Pra começo de conversa Prezadoa Estudante Você tem em mãos algumas páginas de estudo da disciplina Literatura infantil e alfabetização Elas foram cuidadosamente preparadas com a intenção de nelas você rever e ampliar seus conhecimentos sobre o conceito de infância nas diversas épocas e nas diversas sociedades até o conceito atual existente articulado com o contexto histórico social científico e cultural Nelas você verá também o surgimento da literatura infantil a influência que ela recebeu e as características que nela permanecem até hoje dos contos populares nos planos da expressão e do conteúdo Refletirá sobre os diversos aspectos que contribuem para a formação da criança que ouve muitas histórias e conhecerá algumas formas e alguns recursos para a apresentação das histórias infantis Por fim tomará conhecimento de alguns autores de livros infantis e suas obras Em poesia para crianças você terá exemplos do que se faz atualmente assim como trabalhar poesia com crianças de forma criativa proporcionando um tratamento lúdico desenvolvido pelo jogo das palavras pela imaginação e pela brincadeira O texto literário prosa ou poesia valoriza essencialmente a palavra Sua importância está em não ser um texto fechado e consequentemente abrir espaços para a subjetividade Contém um desafio maior que todos os outros textos No início funciona também como uma ferramenta a mais para a alfabetização e depois pode levar a outros conteúdos a outros conhecimentos sociais ecológicos talvez até matemáticos O leitor do texto literário é um leitor completo e portanto o mais apto a se tornar um cidadão em plenitude um cidadão letrado Bom estudo Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade 7 HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL Amar a leitura é reconhecerse como continuidade do que se lê ainda que se atribua ao texto uma presença alheia ao leitor O amor nesse caso atravessase pela razão surgindo de uma outra lógica como manifestação do intelecto Como professores pensamos e dessa maneira podemos despertar pensares Isso pode ser a promessa de futuro amor ao texto literário O desafio é ensinar aos alunos a necessidade de amar a palavra Landeira 2006 Objetivos da unidade Conceituar infância tendo como referência os diferentes contextos históricos Analisar contos infantis identificando nos planos de expressão e do conteúdo ou do significado os pontos que coincidem com a narrativa popular Problematizando Para leitura desta unidade guiese pelas seguintes questões 1 Que relação você faz entre criança e o conceito de infância 2 Como é formada a noção de infância nos diversos lugares e momentos da história humana 3 Como você explicaria a relação do dinamismo da sociedade com o conceito de infância 4 Quais são os vínculos do conto popular com a literatura infantil unidade 1 9 unidade1 O conceito de infância A noção de infância é antes de tudo uma construção histórica e vinculada ao pensamento hegemônico de cada época A criança sempre existiu mas nem sempre existiu a infância Certamente você imagina que o conceito de infância como se tem hoje foi sempre o mesmo Na verdade os séculos XVI e XVII como salienta Ariès 1981 esboçaram uma noção de infância centrada na inocência e na fragilidade infantil Não houve propriamente uma infância no sentido que conhecemos atualmente Na Alta Idade Média a criança era a expressão social do adulto em miniatura e assim compartilhava uma vida coletiva com adultos desde a mais tenra idade sem qualquer vínculo afetivo mais profundo A título de curiosidade você já reparou em pinturas antigas como as crianças se vestem como os adultos Repare a pintura de Agnolo Bronzino No período medieval crianças e adultos trabalhavam duro À noite sentavamse lado a lado e juntos deliciavamse com as mesmas histórias participavam das mesmas festas e pelo menos em tese estavam sintonizados com as mesmas inquietações Se examinarmos hoje a vida de uma criança pobre por exemplo é possível encontrarmos situação similar assim como se tomarmos um outro extremo em certas camadas sociais encontraremos jovens sem noção de trabalho ou de cidadania De origem latina o infans que não fala pode estar restrito aos primeiros 18 ou 24 meses de vida ou então ao período que se estende até os 7 anos a idade da razão e dentro dele a subdivisão em primeira infância de 0 a 2 anos e segunda infância de 2 a 6 anos Mas segundo análise de Ariès a infância podese prolongar até os 10 12 ou 14 anos No primeiro caso há a ideia de uma infância curta quando é vista como uma distração para adultos no segundo caso há um interesse de cunho psicológico e moral que sustenta a ideia do prolongamento da infância associada à criação de colégios onde as crianças ficariam separadas do mundo dos adultos de modo a serem resguardadas e disciplinadas 10 Alguns registros mais antigos quando comparados a outros contemporâneos ensinam que infantes e infância foram diferentemente concebidos e consequentemente tratados de maneira diferente em distintos momentos e lugares da história humana Percebemos então que quando se fala em infância não é a mesma coisa aqui e lá ontem e hoje sendo tantas infâncias quanto são as ideias práticas e discursos que em torno dela e sobre ela se organizem Daí a necessidade que teve Aurélio na busca de precisão cada vez maior ao conceituar a palavra infância Assim esse autor a definiu Período da vida que vai do nascimento à adolescência extremamente dinâmico e rico no qual o crescimento se faz concomitantemente em todos os domínios e que segundo os caracteres anatômicos fisiológicos e psíquicos se divide em três estágios primeira infância de zero a três anos segunda infância de três a sete anos e terceira infância de sete anos até a puberdade p 763 Moisés Kuhlmann Jr e Rogério Fernandes 2004 escrevem a respeito da dinâmica das relações da sociedade com a infância Como mudam os mais variados aspectos da atividade humana a relação da sociedade com a infância não poderia permanecer estática Ao longo dos séculos XIX e XX multiplicamse as propostas e as ações dirigidas às crianças na legislação nas políticas públicas na educação e na saúde no mercado etc p 18 Vivendo como adultos não existiam livros nem histórias dirigidas especificamente a elas nada havendo que pudesse ser chamado de literatura infantil Ao contrário a visão que temos hoje do que seja criança é ligada naturalmente ao nosso contexto históricosocial científico e cultural Estamos acostumados a conviver pelo menos em certas classes sociais com uma infância apartada da vida adulta seja do trabalho da sexualidade da política etc Diferentemente de outras épocas as crianças habitam hoje um universo delimitado por assuntos escolares certo vocabulário certas brincadeiras e certos assuntos infantis poderíamos assim dizer Antes existiram outras crianças tratadas de outras maneiras ocupando outros espaços dentro da família e da sociedade conforme nos conta Azevedo 1999 As crianças participavam da vida comunitária dos costumes sociais hábitos linguagem jogos brincadeiras e festas Aparentemente não havia no período medieval assuntos que a criança não pudesse conhecer Os temas da vida adulta as alegrias a luta pela sobrevivência as 11 unidade1 preocupações a sexualidade a morte a transgressão das regras sociais o imaginário as crenças as comemorações as indignações e perplexidades eram vivenciadas por toda a comunidade independentemente de faixas etárias AZEVEDO 1999 p 23 Como escreve esse autor a criança a partir de sete anos ocupava o papel de um novo adulto sem levar em conta toda a sua fragilidade e inexperiência muitas vezes incapaz mas já considerada como uma pessoa importante como força na família e na sociedade À época da Idade Média o espírito popular era ligado a festas e atos públicos e ao mesmo tempo impregnado pelo fatalismo pela crença no fantástico em poderes sobrehumanos em pactos com o diabo de toda a sorte de personificações Os contadores de histórias se valiam desse cenário habitado pela crença em fadas gigantes anões bruxas castelos encantados elixires de todo tipo tesouros fontes de juventude quebrantos e lugares mágicos para disseminar suas histórias Crianças e adultos sentavamse juntos nas praças públicas durante as festas e mesmo à noite após o trabalho para escutar os contadores de história Como vimos nesse contexto não havia uma separação nítida entre o real e o fantástico quando se levam em conta as concepções populares vigentes Vínculos entre o conto popular e a literatura infantil Na tentativa de discutirmos sobre as origens da literatura infantil fica evidente que quando nos referimos aos contos de fadas hoje nos remetemos quase que automaticamente à criança O mais importante é saber da grande influência que esses contos também chamados de contos de encantamento contos maravilhosos fábulas ou simplesmente contos populares tiveram em inúmeras obras da literatura infantil Esses contos representam verdadeiro depósito do imaginário das tradições e da visão de mundo oriundos de um certo espírito popular e sobreviveram num tempo em que a vida comunitária e coletiva adultos e crianças era intensa Como vimos houve grande aproximação entre o conto popular e a infância ou entre o popular e o infantil Caberiam aqui duas questões você saberia respondêlas Que características afinal têm esses contos e quais delas eventualmente podem ter permanecido vivas na literatura para crianças 12 Se você já trabalhou com literatura infantil certamente observou que como os contos populares no plano da expressão do discurso a maioria das obras destinadas ao público infantil se constitui de textos concisos marcados pela oralidade fórmulas verbais pré fabricadas ditados frases feitas utilizando vocabulário familiar e construído com o propósito de entrar em comunicação de forma clara e direta com o leitor Igualmente no plano do conteúdo ou do significado muitos pontos de contato unem as narrativas populares à literatura infantil 1 A recorrência do elemento cômico o riso o deboche a alegria e o revide aos paradoxos contrapostos pela existência 2 O uso singularmente livre da fantasia e da ficção muitas vezes como forma de verificação ou experimentação da verdade Mikhail Bakhtin 1993 considera esses dois itens das mais arcaicas tradições populares 3 Personagens movidos muito mais por seus próprios interesses pela aproximação afetiva pelo senso comum pelos sentidos pela empatia pela visão subjetiva pela busca da felicidade do que por uma ética geral preestabelecida racional abstrata uniforme objetiva e impessoal que pretende determinar a priori o certo e o errado 4 Certos temas e enredos tradicionais remanescentes que poderiam ser rotulados como a busca do autoconhecimento ou da identidade 5 O uso livre de personificações e antropomorfizações 6 A possibilidade da metamorfose 7 As poções adivinhas instrumentos e palavras mágicas 8 Histórias apresentando um caráter iniciático nas quais o herói parte enfrenta desafios é engolido por um peixe perde a memória vêse transformado num monstro e retorna modificado 9 Imagens recorrentes como voos mágicos monstros oxímoros belas e feras gordos e magros 10 O final feliz É um recurso presente em inúmeras narrativas populares Tudo no fim acaba voltando à pureza original portanto no fim tudo dá certo Se não deu certo diz o ditado popular é porque ainda não chegou ao fim 13 unidade1 Após leitura desta unidade realize as atividades a seguir DICA Se você pretende aprofundar seu conhecimento sobre a infância no Brasil principalmente consulte CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 ATIVIDADE 1 Como foi construído o conceito de infância ao longo da história Reconstrua as respostas dadas por você no início desta unidade 2 Escolha um conto infantil e faça uma análise identificando os pontos no plano da expressão e no plano do conteúdo ou do significado que coincidem com a narrativa popular 15 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS O narrador tem que transmitir confiança motivar a atenção e despertar a admiração Tem que conduzir a situação como se fosse um virtuose que sabe seu texto que o tem memorizado que pode permitirse o luxo de fazer variações sobre o tema ELIZAGARAY Alga Mariña apud COELHO 2006 Objetivo da unidade Elaborar um plano de narrativa de história observando o porquê da escolha a faixa etária à qual se destina como apresentar a história as atividades pertinentes após a narração da história Problematizando Para leitura desta unidade orientese pelas seguintes questões 1 Que fatores influenciam o sucesso da narrativa para crianças 2 Quais as possibilidades de trabalho com crianças uma história sem texto oferece 3 Quais os cuidados a serem observados na escolha de histórias para crianças 4 Que recursos você conhece para a apresentação de histórias 5 Pode a internet constituirse como mediação para a literatura unidade 2 17 unidade2 Narrativas bem sucedidas Contar história requer uma predisposição latente em todo educador em toda pessoa que se propõe a lidar com criança Sintetizando contar histórias é uma arte O contador precisa estar consciente de que ele é apenas o transmissor e é a história o mais importante Entretanto para haver sintonia com o público além de seu interesse e entusiasmo há necessidade de que ele se sinta seguro tenha certeza de que conhece a história e domina a técnica escolhida enfim está convenientemente preparado para contála Sua criatividade revelase ao recriar o texto com originalidade sem modificar sua estrutura essencial A voz é seu principal instrumento Pelos vários tipos de vozes o contador passa as emoções de acordo com a história Às vezes faz uma voz sussurrante adocicada suave cálida outras vezes eriçada espinhenta metálica sem vibrações sem modulações inertes sem consistência inexpressivas e monocórdias Você já teve oportunidade de constatar que a história é fonte de prazer para a criança muito contribui para o seu desenvolvimento e que não se pode correr o risco de improvisá la O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam sendo fundamental a elaboração de um plano um roteiro no sentido de organizar a fala do narrador seu desempenho garantindolhe segurança e naturalidade O roteiro transforma o improviso em técnica O primeiro passo a seguir é a seleção inicial observando entre outros fatores o ponto de vista literário o interesse do ouvinte sua faixa etária suas condições socioeconômicas É um cuidado necessário para evitar tropeços futuros Além desses fatores observados com relação ao ouvinte a história a ser contada tem que despertar no narrador sensibilidade emoção para que se obtenha sucesso Escolher sempre aquelas que goste de contar Se não gostar de contar histórias tristes por exemplo não as conte Um outro ponto importante é a qualidade literária que deve ser observado mesmo quando se tratar de histórias de tradição popular A linguagem deve ser correta de bom gosto simples sem ser vulgar nem rebuscada Nas narrativas para crianças pequenas é necessário respeitarlhes as peculiaridades sobretudo seu estágio emocional A história funciona como um alimento da imaginação da criança e precisa ser dosada conforme sua estrutura cerebral O que contar a quem contar 18 estará em consonância com o desenvolvimento da criança No caso de crianças enfermas deve haver todo bomsenso na escolha Contar histórias divertidas curtas nenhuma alusão ao problema que as aflige Existem ainda publicações com narrativa totalmente visual Toda a história é contada através de desenhos ou fotos sem nenhuma palavra Não há muito tempo que as editoras brasileiras começaram a publicar livros dessa natureza Há autores que se destacam em histórias sem texto escrito a exemplo de Eva Furnari Seu desenho é divertido muito colorido as figuras em movimento constante e personagens expressivas Conta do palhaço desastrado e perplexo o Amendoim Em seu livro Filó e Marieta seus desenhos apresentam velhinhas mágicas risonhas aprontadeiras Outros mostram personagens solenes e assustadiças como Zuza e Arquimedes personagens que se misturam com bichinhos domésticos dragões ratinhos caixas de molas varas de condão além de outras figuras e objetos que atravessam as cenas É preciso conhecer os três volumes da série Ping Pong em que cada página se estende para a próxima além do que acontece nela própria Como escreve Abramovich 2006 o mundo pode ser revisto os objetos transformados as pessoas modificadas pela página que está ao lado que a cada momento pode ser outra formando quantas situações se queira E o leitor sorri ri se espanta se encanta p 29 Outros autores também se destacam nas histórias sem texto Ângela Lago Juarez Machado Edith Derdyk Eliardo França nos vários volumes da coleção Gato e Rato e em O baile e A Festa e das traduções da suíça Monique Felix duas obras se destacam O ratinho que morava no livro e A nova aventura do ratinho Sobressai nesses autores desenhistas que se dedicam a contar histórias sem texto o talento gráfico a habilidade para construir uma narrativa sequenciada completa sem precisar de palavras De modo harmônico bonito e inteligente conseguem contar uma história de maneira ágil viva com conhecimento da cor e domínio da página das páginas do livro como um todo Por sua vez oferece à criança muitas possibilidades de ao oralizar essas histórias criar o seu texto ampliar algum detalhe proposto refazer todo o texto de uma forma nova criativa e pessoal Pelo exposto vêse que a escolha está mesmo relacionada a vários fatores e somente com a prática se tornará mais rápida É preciso descobrir quanta história maravilhosa existe e aumentar sempre o repertório para facilitar na hora da escolha Segue um quadro conforme sugere Coelho 2006 p 15 de acordo com a faixa etária e interesses das crianças e as respectivas histórias 19 unidade2 Préescolares Até 3 anos Fase prémágica histórias de bichinhos brinquedos objetos seres da natureza humanizados histórias de crianças histórias de repetição e acumulativas Dona Baratinha A formiguinha e a neve etc 3 a 5 anos fase mágica histórias de fadas Escolares 6 a 7 anos histórias de crianças animais e encantamento aventuras no ambiente próximo família comunidade histórias de fadas 8 anos histórias de fadas com enredo mais elaborado histórias humorísticas 9 anos histórias de fadas histórias vinculadas à realidade 10 anos em diante aventuras narrativas de viagens explorações invenções fábulas mitos e lendas Formas de apresentação das histórias Os livros infantis além de proporcionarem prazer contribuem para o enriquecimento intelectual da criança que tem um encontro significativo de suas histórias com o seu mundo imaginativo A criança tem a capacidade de colocar seus próprios significados nos textos Assim as imagens e o texto do livro literário são uma ponte para fazer brotar a fantasia do leitor infantil para além das imagens das palavras tornandose um convite à fruição De acordo com Bragatto Filho 1995 ao se tomar contato com literatura transpõese a cadeia dos significantes das palavras para penetrar nas teias significativas conhecese pensase sonhase experienciase emocionase interrogase descobrese criase reagese modificase p 84 Para que o contato com a literatura tenha esses efeitos ao apresentar uma história para a criança devese tomar cuidado para escolher o recurso mais adequado a melhor forma Os recursos mais utilizados vão da simples narrativa da narrativa com o auxílio do livro do uso de gravuras do flanelógrafo de desenhos até a narrativa com interferência do narrador e dos ouvintes Cada recurso tem suas vantagens específicas e requer uma técnica especial Vamos discorrer sobre cada um 20 a Simples narrativa É sem dúvida a mais fascinante de todas as formas a mais antiga tradicional e autêntica expressão do contador de histórias Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador de sua postura que com as mãos livres concentra toda a sua força na expressão corporal Os contos de fadas são um bom exemplo para fazer uso da forma de simples narrativa Que gravura mostraria o esplendor do baile da Cinderela ou a emoção da fuga ao soar as badaladas da meianoite Mesmo lidando com crianças pequenas ao contar histórias de brinquedos como A bonequinha preta O bonequinho doce A Pituchinha a forma de simples narrativa é mais apropriada para deixálas imaginar livremente Depois quando se pergunta como era a bonequinha as respostas são as mais variadas não há bonecas iguais Em seguida quando o livro é mostrado e por mais interessante que seja a boneca ilustrada verificase uma certa decepção pois geralmente a bonequinha imaginada é mais significativa para elas Que ilustração pode mostrar o bonequinho doce a correr como sugere a voz do narrador Bonequinho doce espere aí nós queremos brincar com você Corra Lucinha corra Lalá senão vocês não me pegam E o bonequinho doce corria corria E A Pituchinha Essa história requer as mais sutis entonações de voz desde o sussurro pra não acordar o soldadinho até o barulho da lata de doce a despencar da prateleira Pé cá pé lá De repente um tropeço Pituchinha esbarra na caixinha de PomPom Uai que susto Só vendo o susto das crianças chegam a estremecer Outras histórias cabem bem na forma narrativa como O rabo do macaco Tonho o elefante O elefante fica preso numa armadilha O narrador não move o pé do lugar e o texto exige dele muita concentração para transmitir a aflição do elefante enquanto todos procuram ajudálo como podem Ao final quando todos juntos puxam a corrente as crianças também imitam o gesto de puxálo e o narrador move a perna Um alívio para todos Lendas fábulas histórias recolhidas da tradição oral e histórias similares aos exemplos citados devem ser contadas também dessa forma pois estimulam a criatividade e a utilização de material ilustrativo poderá desviar a atenção do ouvinte que deve estar fixa no narrador A dramatização feita a partir dessas histórias demonstra que as crianças captam integralmente o enredo 21 unidade2 b O uso do livro Há textos que requerem indispensavelmente a apresentação do livro uma vez que a ilustração os complementa A apresentação gráfica e a imagem são tão ricas quanto o texto por vezes até mais ricas Devemos mostrar o livro para a classe virando lentamente as páginas com a mão direita enquanto a esquerda sustenta a parte inferior do livro aberto de frente para o público Narrar com o livro não é propriamente ler a história O narrador a conhece já a estudou e vai contando com suas próprias palavras sem titubeios vacilações ou consultas ao texto o que prejudicaria a integridade da narrativa Tratase de uma forma de narração que observada a técnica favorece o narrador inexperiente Recomendase evitar observações óbvias do tipo Estão vendo o gato Olhem o pé da vovó na porta As crianças ouvem e ao mesmo tempo são capazes de fazer a leitura da imagem Comentários dessa natureza não auxiliam só atrapalham Outras histórias devem ser apresentadas usandose o livro como Filó e Marieta Corre ratinho Bela borboleta O Curumim que virou gigante Flicts A centopéia e seus sapatinhos Zé diferente Maria vai com as outras Quero casa com janela Coleção Tererê Coleção Corpim Coleção Um dois feijão com arroz Coleção Gato e Rato Binduim Bassé grandão O menino maluquinho Nesses casos o livro se impõe como forma de apresentar a história Os contadores devem aproveitar todas as ocasiões de ajudar as crianças a crescer a pensar por isso a conversa em torno da história é o momento ideal como ensina Coelho 2006b para conhecer e atribuir às palavras um significado concreto real dirimir preconceitos ideias falsas p 37 sem contudo revelar à criança tal intenção É necessário também habituar a criança a referirse a seu cotidiano com palavras mais precisas mais objetivas Há ainda as histórias em versos poemas que em boa hora passam a ocupar lugar de destaque na literatura infantil a exemplo de Pé de pilão Boi da cara preta Ou isso ou aquilo Arcoíris e outras É impossível relacionar todos os livros que pela beleza do tema e integração gráfica devem ser mostrados durante a narrativa Essa forma de apresentação além de incentivar o gosto pela leitura mesmo no caso de crianças em processo de alfabetização contribui para desenvolver a sequência lógica do pensamento infantil 22 c O uso de gravuras reproduzidas Quando se torna inviável o uso do livro ou revista como recurso ilustrativo é aconselhável o uso de gravuras reproduzidas As imagens indispensáveis para a apresentação da história podem ser ampliadas e montadas em cartolina Esse processo favorece sobretudo às crianças pequenas permitindolhes que observem detalhes contribuindo para a organização do seu pensamento Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da ideia central fatos principais fatos secundários Antes do início da narração empilhamse as gravuras em ordem viradas para baixo À medida que a história é contada o narrador as coloca uma a uma em suporte próprio Esse movimento é feito com naturalidade sem atropelos sem interrupção da narração Histórias que podem ser contadas usandose dessa técnica de gravuras ampliadas O burrinho verde O presente dos pássaros Camilão o comilão Confusão no fundo do mar O coelhinho medroso Concluindose a apresentação as gravuras podem ser distribuídas entre as crianças e faz se a pergunta qual foi a parte mais interessante da história e a criança que estiver com ela se apresenta Perguntase ainda se foi assim que a história começou Quem estiver com o início da história vai à frente Perguntase em seguida O que aconteceu depois Dessa forma vaise reconstituindo a história coletivamente Com as gravuras dispostas em sequência podese perguntar ainda se alguém acha que se for retirada alguma gravura ela fará falta à história e como poderia ser mudado o final da história Quem se arriscaria a mudar Como ficaria então Sem saber a criança estará se familiarizando com noções de introdução enredo clímax desfecho ao olhar observar discutir e fazer a sua conclusão Cada história deve ser explorada ao máximo de acordo com as reações das crianças que de modo geral são surpreendentes e ricas Cada recurso é portanto valioso em sua peculiaridade permitindo variar a apresentação e recriar de modo original d O uso do flanelógrafo O flanelógrafo é um recurso visual muito prático e deve ser utilizado quando o personagem principal se movimenta muito entra e sai de cena durante o enredo As figuras podem 23 unidade2 ser confeccionadas em flanela feltro ou papelcamurça Outra opção é usar recortes de revistas personagens recortados em papel ofício e revestidos de papel de cores variadas ou em cartolina Nesse caso colamse no verso pedacinhos de lixa de madeira número um para fixação no flanelógrafo Atenção para não confundir o uso do flanelógrafo com o de apresentação de gravuras São situações distintas para histórias diferentes Na gravura reproduzse a cena enquanto que no flanelógrafo cada personagem é colocado individualmente ocupando seu lugar no quadro o que dá ideia de movimento O mais importante nessa técnica é a ação do personagem principal num movimento constante e O uso de interferência do ouvinte e do narrador A interferência resulta da criatividade do narrador que a incorpora ao texto para tornar a narrativa mais atraente É um excelente recurso quando se trata de público numeroso em locais abertos facilitando a concentração dos ouvintes Deve surgir em decorrência do enredo e ser mantida em equilíbrio e sob controle do narrador Monteiro Lobato evidencia a narrativa participada na estratégia utilizada por D Benta ao contar histórias ao pessoal do sítio ver Peter Pan na tradução de Lobato Também Malba Tahan introduz a interferência como técnica de grande efeito Seja qual for a forma de apresentação podese introduzir a interferência se o texto a requer ou sugere A história será o principal indicador da escolha do recurso No entanto as crianças devem se habituar também a ouvir caladas sem interferir Há casos em que a interferência poderá perturbar a atenção das crianças que acompanham o enredo Literatura e a internet Uma oportunidade revolucionária para o leitor contemporâneo é fazer uso da internet Por meio de uma série de comandos icônicos o teclado o mouse e menus que nos mostram quais operações podemos ou devemos realizar rapidamente temos à disposição endereços que nos levam a sites sobre literatura As bases de dados são constantemente atualizadas envolvendo autores obras gêneros diversos movimentos literários e períodos históricos Assim a internet nos oferece muitas fontes de consulta numa velocidade que economiza tempo de pesquisa em biblioteca ou livraria superando as dificuldades de distância e de 24 acesso a outras fontes e pessoas Aproveitamos para deixar um endereço de Jornal de Poesia um site muito interessante em ordem alfabética que oferece vários links sobre cerca de 2000 autores wwwsecrelcombrjpoesia A professora Maria Teresa de Assunção Freitas 2002 tem trabalhado em sua trajetória como educadora e pesquisadora com as questões referentes à leitura e escrita Segundo suas palavras a literatura além de prazer é fonte que faz a criança pensar sobre o mundo em que vive e sobre si mesma e sobre o trabalho que tem a realizar A partir da reflexão que ela faz na obra de autores como Bakhtin e Vygotsky que têm um ponto comum sobre o movimento dialético autorleitorobra no qual a obra literária toma existência essa pesquisadora discute as seguintes questões Pode a internet constituirse como mediação para a literatura O novo suporte da tela do computador muda essa relação entre autor obraleitor Como a literatura se apresenta na internet Diferentemente do códex que teve início no século IV que aproximou o leitor ao livro gerando uma nova forma de ler em substituição à maneira de ler nos antigos rolos Freitas 2002 questiona atualmente a interface da informática Apresenta a informática como um pacote intensamente redobrado com pouquíssima superfície que seja diretamente acessível em um mesmo instante p 31 As páginas não são como nos livros a escrita e a leitura não são mais lineares mas obedecem a uma lógica multilinear hipertextual p 31 O texto existe enquanto o arquivo é acessado e desaparece quando for fechado permanecendo guardado virtualmente Concordando com Chartier 2001 Freitas 2002 afirma que a revolução do texto eletrônico é ao mesmo tempo uma revolução da técnica de produção e reprodução dos textos uma revolução do suporte da escrita e uma revolução das práticas de leitura p 32 Devido ao caráter democrático descentralizado da rede digital não obedecendo a estruturas hierárquicas existem possibilidades de poder ser um novo autor ao lado de autores consagrados disponibilizando versos por exemplo junto a um Drummond de Andrade É o caso dos sites wwwarmazemliterariocombr e wwwautorescombr que convidam jovens a se aventurarem pelo mundo da literatura Igualmente temos o link novos escritores organizado para os leitores que gostam de escrever que se encontra na página wwwreleituracom 25 unidade2 Como vimos usando a internet o leitor transita com liberdade por caminhos os mais diversos construindo seu próprio trajeto de leitura unindo e reconstruindo textos o que resulta em uma nova criação em um novo sentido na leituraescrita É a presença da arte no caso da literatura via internet contribuindo para o trabalho da alfabetização e do letramento enfim da educação ATIVIDADE 1 Tendo como referência as questões propostas no início desta unidade e o texto base apresentado elabore um texto de cerca de 30 linhas destacando um dos seguintes pontos fatores que contribuem para o sucesso da narrativa a importância e as possibilidades das narrativas sem textos vantagens específicas de cada recurso que o professor poderá utilizar na apresentação da história e a mediação da internet para a literatura 2 Elabore um plano de narração de história observando todos os fatores estudados até aqui o porquê da escolha da história a que faixa etária se destina como apresentar a história e que atividades seriam apropriadas após a apresentação da história DICA Se você se interessar por uma relação completa de autores infantis e suas respectivas obras consulte COELHO Nelly Novaes Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira 5 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 2006b SAIBA MAIS Se você deseja aprofundar seus estudos sobre a literatura infantil não deixe de ler ABRAMOVICH Fanny Literatura infantil gostosuras e bobices São Paulo Scipione 2006 LAJOLLO Marisa Do mundo da leitura para a leitura do mundo 3 ed São Paulo Ática 1997 KRAMER Sônia Org Infância e produção cultural São Paulo Papirus sd 27 POESIA NA ESCOLA Falta à escola vibração beleza valorização de elementos culturais brasileiros mais autênticos Se a escola não cria poetas ela pode e deve criar leitores sensíveis e capazes de descobrir a magia do ritmo e dos elementos visuais e sensitivos que juntamente com as imagens poéticas dão a força para o poema José 2003 p 66 Objetivos da unidade Criar poemas ou dar exemplos em poemas já escritos do uso de recursos poéticos relacionados no texto aliteração trocadilho surpresa anagrama rimas ritmos sensações diversas Elencar as contribuições para uma nova prática pedagógica a partir de um poema novo Problematizando Para leitura desta unidade orientese pelas seguintes questões 1 Em seu ponto de vista o que caracteriza um poema infantil 2 O que não pode faltar em um poema infantil 3 Que recursos poéticos são usados pelos autores 4 Você ainda se lembra de algum poema de sua infância 5 Como você trabalha um poema com seus alunos unidade 3 29 unidade3 Considerações sobre a poesia infantil Esta unidade é dedicada à poesia na escola ao modo como alguns poetas brincaram com as palavras e escreveram bonitos poemas para crianças sugerindo atividades adequadas para trabalhar poesia na sala de aula Você terá oportunidade de estudar sobre as tendências atuais observadas pelos poetas ao escreverem sua obra dedicada às crianças depois de conhecer o surgimento no Brasil da poesia como gênero literário dirigido às crianças Antes do final do século XIX não existia no Brasil a poesia como gênero literário dedicada às crianças O que havia eram os poemas manuscritos de circulação familiar feitos de pai ou mãe para filhos e eventualmente incluídos posteriormente nos livros de seus autores junto a outros poemas não escritos para o leitor infantil Um dos conhecidos e mais antigos é o do inconfidente Alvarenga Peixoto 17441792 a sua filha Maria Efigênia quando ela completou sete anos O soneto se inicia com um vocativo Amada filha seguindose depois os conselhos para que a filha despreze a beleza as honras e a riqueza cultive a caridade o amor a Deus e aos semelhantes E conclui recomendando procura ser feliz na eternidade que o mundo são brevíssimos instantes De sua esposa Bárbara Eliodora 17591819 conhecese apenas um único poema Conselhos a meus filhos que como sugere o título é uma coleção de conselhos Dentre esses Bárbara adverte que a lição não faz saber quem faz saber é o pensar e recomenda o estudo das fábulas de Esopo Há nesses dois poemas de Alvarenga Peixoto e de Bárbara Eliodora uma característica que permanece na poesia infantil brasileira até a primeira metade do século XX a presença de uma voz poética adulta que se dirige a um leitor infantil utilizando o poema como meio de educação moral Também Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu incluíram em seus livros dirigidos ao leitor adulto alguns poemas dedicados às crianças Podese dizer que somente no final do século XIX com a organização de antologias para serem utilizadas na escola é que surgiu o gênero poesia infantil com o objetivo principal do ensino da Língua Portuguesa Havia uma demanda de textos em prosa e verso para utilização como livros de leitura nas escolas públicas de ensino primário Com essa finalidade Olavo Bilac escreveu Poesias infantis 1957 tornandose o bestseller do gênero na primeira metade do século XX editado vinte e sete vezes até o ano de 1961 Segundo suas próprias palavras essa obra foi escrita para uso das aulas de linguagem sobre assuntos simples visando a contribuir para a educação moral das crianças do seu país 30 Contudo continua uma escrita na perspectiva do adulto de característica moralizadora observada durante o século XX até os anos 60 quando a poesia infantil incorporou um paradigma moral e cívico aconselhando aos pequenos leitores o bom comportamento e o civismo Segundo Abramovich 2006 com relação à poesia infantil há ainda hoje muitas divergências Existem aqueles que são de opinião de que ela tem que ser moralizadora falar de costumes edificantes de como organizar o dia a dia descrever bons hábitos de higiene dentária ou glorificar o Dia das Mães ou o Dia do Índio p 66 Essa autora antecipa que por ser restritiva e diretiva já não pode ser vista como boa poesia Há ainda aqueles que julgam que a poesia para crianças tem que ser pequeninha bobinha e mimosinha que deve contar como a plantinha cresce por exemplo Seria interessante para crianças de um berçário e não para alunos dos primeiros anos que já possuem outras curiosidades Abramovich 2006 continua criticando outras pessoas que acham que a poesia para crianças deve trabalhar temas patrióticos cívicos fazendo com que alunos em coro recitem odes à pátria em várias datas específicas de preferência muitíssimo bem decoradas Como se cidadão não o fosse o ano inteiro e como se poesia fosse decantar um dia do calendário E ainda usando chavões grandiloquências frases de pretenso efeito que não se ouvem mais em lugar nenhum Em geral tediosos chatos compridos e dando aquela sensação de ridículo e de malestar ao ser poesia declamada em conjunto por toda uma classe p 66 Por último critica a poesia que não fala de emoção verdadeira bem descrita bem vivida É a poesia que trata de assuntos piegas de moça órfãos abandonados de escravos gratos de cartas enviadas pelo familiar que está na guerra ou na prisão A emoção verdadeira pode e deve estar presente mas como na definição de Mario Quintana apud Abramovich intitulada Tristeza de escrever na qual ele afirma Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página por isso a palavra escrita é sempre triste p 67 Por tudo isso concluise que o importante a considerar é que tanto a poesia para crianças quanto a prosa têm que ser de qualidade bem expressas Tocar a emoção as sensações de maneira inusitada divertida prazerosa ou triste sofredora ou ainda lúdica brincante conforme a intenção do autor A concepção contemporânea de poesia infantil prioriza o literário e não a educação moral Henriqueta Lisboa em sua obra O menino poeta 1998 já privilegia o lirismo utilizando largamente a metáfora explora as repetições o jogo 31 unidade3 de palavras e a sonoridade das rimas bem marcadas os poemas permitem a fruição da criança ainda que prevaleça a recriação adulta da infância É uma obra que não foi publicada por editora de livros didáticos e muito menos com prefácio recomendando sua leitura na escola Por isso mesmo rompe com a circulação escolar e abre caminho para uma poesia infantil livre de compromissos pedagógicos Em José Paulo Paes 2005 há uma nítida preferência pelo humor configurando o que poderia ser chamado de paradigma lúdico Ele mesmo afirma que a poesia é uma brincadeira com as palavras e que cada palavra deve significar mais de uma coisa como neste seu poema em que enfatiza o ludismo sonoro e o humor A poesia tende a chamar a atenção da criança para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ela fala todos os dias sem se dar conta delas Esse brincar com as palavras deve trazer também uma surpresa se não trouxer não é poesia é papofurado continua afirmando esse poeta Convite Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola papagaio pião Só que bola papagaiopião de tanto brincar se gastam As palavras não quanto mais se brinca com elas mais novas ficam Como a água do rio que é água sempre nova Como cada dia que é sempre um novo dia Vamos brincar de poesia Poesia as várias formas de brincar com as palavras Neste item estão alguns exemplos de poetas que brincam com as palavras de modo sábio especial A poesia tornase um prazer para a criança ouvir e ler A ludicidade é verbal sonora às vezes musical engraçada no jeito que vão decidindo juntar as palavras ao mesmo tempo em que vão jogando com os significados diferentes que uma mesma palavra possui Um primeiro exemplo é de Sidônio Muralha 1962 autor de A TV da bicharada 32 em seu poema Dia de Festa Dia de festa e tudo que lá havia e tudo o que havia lá que se chamasse alegria que se chamasse poesia só sabia o sabiá Ouçam como ele assobia assobia o sabiá Você percebeu como a brincadeira fluiu num bom trocadilho com sabia e sabiá e assobia sem contar a leveza das palavras Também Cecília Meireles 1972 a principal voz feminina da poesia brasileira traz para a poesia infantil a musicalidade explorando versos livres a combinação de diferentes metros a aliteração a assonância e a rima No poema a seguir ela apresenta mais um trocadilho agora é entre a letra erre e o verbo errar O menino dos FF e RR O menino dos ff e rr é o Orfeu Orofilo Ferreira ai com tantos rr não erres Jogos de palavras são muito usados em poesias infantis e as crianças amam Chico Buarque criou para a peça Os saltimbancos 1977 o poemacanção chamado A galinha Repare o trocadilho chocarse espantarse e chocar aquecer o ovo além de brincar com ovo novo e vovô 33 unidade3 A Galinha Elias José 2003 em Um pouco de tudo joga com diferentes significados da palavra grilo Observe a seguir Grilo Grilado Como escreve Abramovich 2006 O autor dá contemporaneidade ao poema quando lhe acrescenta um analista junta o bucólico com o urbano fala de amor como desencadeante de grilações repete o estribilho que é algo geralmente gostoso de ouvir e constrói um poema divertido p 70 Todo ovo Que eu choco Me toco De novo Todo ovo É a cara É a clara Do vovô Mas fiquei Bloqueada E agora De noite Só sonho Gemada A escassa produção Alarma o patrão As galinhas sérias Jamais tiram férias Estás velha te perdoo Tu ficas na granja Em forma de canja Ah é esse o meu troco Por anos de choco Deilhe uma bicada E fugi chocada Quero cantar Na ronda Na crista Da onda Pois um bico a mais Só faz mais feliz A grande gaiola Do meu país O grilo coitado anda grilado e eu sei o que há Salta pra aqui salta pra ali Cricri pra cá Cricri pra lá O grilo coitado anda grilado e não quer contar No fundo não ilude é só reparar em sua atitude pra se desconfiar O grilo coitado anda grilado e quer um analista e quer um doutor Seu grilo eu sei o seu grilo é um grilo de amor 34 A aliteração repetição de fonemas para produzir efeito é um recurso poético também muito usado em brincadeiras cantigas de rua É um jeito divertido de repetir uma letra para escrever um episódio engraçado e mesmo produzir e provocar um som semelhante ao de uma engrenagem esquentando martelando girando como Cecília Meireles fez em seus poemas do livro Isto ou aquilo 1972 Roda na rua Roda na rua a roda do carro Roda na rua a roda das danças A roda na rua rodava no barro Na roda da rua rodavam crianças O carro na rua Segundo Abramovich 2006 p 71 uma outra característica é a usada por Bartolomeu Campos de Queirós Além de outros recursos poéticos este poeta sabe usar bem o anagrama palavra ou frase obtida pela mudança de posição de letras de outra palavra ou frase Um bom exemplo é o seu poema RAUL é LUAR mesmo nome escrito de duas maneiras diferentes O autor faz um paralelo entre Raulmenino que gosta do luar e LUARluz da lua no céu que gosta de Raul Ao ler todo o poema o leitor fica encantado ao notar como ele cria novas relações e novas palavras tantas aproximações ao escrever a mesma palavra invertida de trás para frente Vejamos o poema Raul é luar O Raul luava E mais tarde RUA lugar de encontro do Luar e do Raul o luar ruava RUAVA ato da lua passear na rua do Raul 35 unidade O recurso das rimas As rimas são mais um recurso poético e quando bem usadas tornam a poesia mais agradável de ler e ouvir Devem ser bem trabalhadas e empregadas observando critérios e regras poéticas Podem vir intercaladas ou não dependendo do tipo de versificação escolhido pelo poeta para cada poema que faz Pode acontecer como no poema Hortênsia de Elias José que descreve esta flor com uma imagem pouco explorada na poesia a da flor gorda mas ele sabe fazer com que as rimas fluam naturalmente Apresenta a obesidade sob outro olhar A rima torna a poesia mais lúdica entretanto não é obrigatória existem versos livres escritos conforme a emoção o desejo do autor Devese tomar cuidado ao usar a rima para não cair no uso mais fácil mais preguiçoso mais rápido sem valor poético nenhum como rimar mão com não coração oco com sufoco toco também com ninguém Dessa forma seria um não trabalhar com a palavra sem conseguir o efeito mágico o inusitado novas possibilidades e surpresas que caracterizam a bela poesia O ritmo O ritmo é mais um recurso de que se valem os poetas é outra marca da poesia Abramovich 2006 defineo muito bem É o que possibilita acompanhamento musical ao que é lido ou ouvido Dado pelos olhos que vão seguindo linhas e linhas dado pela voz que fala pelo corpo que se move junto seguindo o compasso dos versos a cadência do poema o envolvimento acontecendo por inteiro Pode ser bailável leve rodopiante Pode ser marcado quase tiquetaqueado fazendo com que os olhos andem até em movimento pendular assim repetindo repetindo e de repente uma quebra no compasso que é também um final de história p 7677 3 Hortênsia Hortênsia hortênsia flor rainha da paciência Olhando pra ela sempre tão bela dá esperança Mas não lhe diga a não ser por intriga que ela precisa de uma balança Hortênsia hortênsia tão sorridente toda gordura engorda a gente só de ternura 36 As poesias podem evocar ainda sensações imagens visuais texturas diferentes sensação de vento provocando sons e deslocamentos Alguns poemas retratam os sonhos os desejos as vontades como se fossem os próprios anseios ou a felicidade do leitor A poesia fala principalmente de emoções de sentimentos vividos Fala de amor às vezes de amor amigo amor ternura de admiração pela simplicidade de sentimento de tristeza de perda de algo muito querido Por vezes fala de emoção do medo do terror geralmente tratada de modo assustador como convém ao tema Poucas vezes de modo bem humorado compreensivo e delicado como o poema do poeta José Paulo Paes Historinha de horror Certa vez eu sonhei que embaixo da cama havia um monstro medonho Acordei assustado e fui olhar de fato embaixo da cama havia um monstro medonho Ele me viu sorriu e me disse gentil Durma Sou apenas o monstro dos seus sonhos Outro poeta notável foi Vinícius de Moraes Desde 1960 seus poemas infantis circulam em antologias mas somente em 1970 seus 32 poemas foram reunidos no livro A arca de Noé provavelmente o livro infantil mais conhecido no Brasil na segunda metade do século XX Sua merecida popularidade devese a dois fatores o primeiro decorre do jogo sonoro da perspectiva infantil assumida pela voz poética do humor do aproveitamento de recursos típicos da poesia popular como a quadra a redondilha e a rima nos versos pares além da temática animal um dos temas de empatia junto às crianças o segundo fator para a sua popularidade é o fato de os poemas terem sido musicados por importantes compositores brasileiros como Tom Jobim e gravados em dois discos lançados no ano de 1982 Com letra e música do próprio Vinícius temos um de seus poemas infantis mais conhecidos A casa que transforma em estranho o conhecido o poema desconstrói verso a verso a noção de casa construindo uma ausência muito engraçada Veja 37 unidade3 A casa Vinicius de Moraes Era uma casa muito engraçada Não tinha teto não tinha nada Ninguém podia entrar nela não Porque na casa não Porque penico não tinha ali Mas era feita com muito esmero Na Rua dos Bobos número zero tinha chão Ninguém podia dormir na rede Porque na casa não tinha parede Ninguém podia fazer pipi Formas de trabalhar poemas com crianças É possível romper o preconceito de que é difícil trabalhar com poesia Várias iniciativas exitosas de professores que recuperaram o prazer da leitura poética o sabor de palavras combinadas a viagem na fantasia das imagens existem para confirmar essa assertiva De modo geral observamse resistências na escola em ler interpretar criar e recriar poemas Para alguns poesia nos remete ao passado coisa de nossos avós que declamavam para visitas ou recitavam versos na aula de Língua Portuguesa Vale a pena uma reflexão sobre o porquê de ensinar poesia na escola A experiência linguística começa com o nascimento quando os primeiros sons em melodias e palavras são ouvidos A poesia é tendência natural do ser humano desde o berço Primeiramente o som extrapola o significado nas parlendas quadrinhas canções de ninar e nos poemas A criança vive a poesia em seu cotidiano através das brincadeiras da invenção de rimas dos travalínguas e das músicas de embalar Ao entrar na escola essa relação com a poesia sofre uma brusca ruptura pois a escola privilegia a língua escrita e o dialeto padrão Porém devese deixar claro para o aluno que não se escreve por escrever não se lê por ler Segundo Geraldi 1993 quem escreve tem o que dizer uma razão para dizer e alguém para dizer o que se tem a dizer p 137 Também o professor deve abrir um livro de poemas e começar a ler com frequência para o colega na sala dos professores para o filho o sobrinho o marido a mãe para quem quiser ouvilo Talvez seja essa uma forma prazerosa de preparar o trabalho com poesia em sala de aula 38 Por que vale a pena ensinar poesia na sala de aula Como vimos a poesia é mais uma ferramenta que pode ser utilizada no processo da alfabetização A criança que desde os primeiros anos de escola entra em contato com poemas vêse sensibilizada para a manifestação do poético no mundo nas artes e nas palavras O convívio com a poesia favorece o prazer da leitura do texto poético e a estimula para a produção dos próprios poemas Além de enriquecer a sensibilidade o exercício poético ajuda no desenvolvimento de uma percepção mais rica da realidade aumenta a familiaridade com a linguagem mais elaborada da literatura e contribui simultaneamente para o processo da alfabetização e do letramento da criança Para o trabalho com poesia em sala de aula vamos tomar como exemplo o poema de José Paulo Paes Convite citado no início desta unidade à página 31 Começamos com a leitura do poema estimulando os alunos a brincarem com as palavras Em seguida pergunte à classe se poesia e poema têm o mesmo significado O que acham No ensino de poesia é muito comum haver confusão entre os conceitos de poesia e poema como se fossem vocábulos sinônimos Vamos mostrar que não são Poesia é um termo que provém da língua grega No sentido original poiesis é a atividade de produção artística a atividade de criar e fazer Em consonância com essa definição haverá poesia sempre que criando ou fazendo algo somos dominados pelo sentimento do belo sempre que nos comovermos com lugares pessoas objetos A poesia portanto pode estar nos lugares objetos e nas pessoas Assim não somente os poemas mas uma paisagem uma pintura uma foto uma dança um gesto um conto por exemplo podem estar carregados de poesia Poema é uma palavra que tem sua origem no latim poema que significa poema composição em verso companhia de atores comédia peça teatral e do grego poíéma o que se faz obra manual criação do espírito invenção Poema é então poesia que se organiza com palavras Seria bom iniciar trabalho com poemas fazendo primeiramente leituras individuais em voz alta com entonação e depois seria feito o entendimento do poema como a comparação do brincar com as palavras e com os brinquedos e das metáforas da água do rio e dos dias Outra ideia seria recortar o poema em palavras para reconstruílo e mesmo para usar essas palavras para formar outro poema 39 unidade3 Podese levar o aparelho de som para a sala e apresentar para as crianças os poemas que irão escutar juntos Conte às crianças que algumas canções que vão ouvir foram escritas originalmente como poemas É o caso por exemplo das faixas que compõem o CD A Arca de Noé cujas letras são de Vinícius de Moraes que só ganharam o acompanhamento da melodia muito tempo depois de terem sido criadas Leia os poemas textos ou letras das canções antes e também depois de ouvir a música Procure deixar ao alcance dos alunos os livros em que estão os poemas ou textos musicados para que sejam manuseados após a roda de leitura e música e também em outros momentos da aula Ao fim de um período todos já saberão cantar as músicas ouvidas podendo cantar com a gravação e saberão inclusive alguns poemas de cor Outra forma de trabalhar seria pedir que escolham poemas que falem de assuntos paralelos parecidos mas tratados de outra forma valorizados por outros aspectos de autores diferentes por exemplo com o assunto infância Podese iniciar lendo o poema Infância de Carlos Drummond de Andrade Mas antes da leitura pergunte como os alunos imaginam o poema Depois peça que imaginem cenas de infância reais ou fictícias de hoje e de outros tempos ou ainda de outros lugares Solicite que digam o que imaginaram Mostre uma imagem do poeta e forneça alguns dados biográficos sobre ele Em seguida leia o poema com bastante expressividade Explique que nesse poema o poeta relembra cenas da infância A família está presente na figura da mãe do pai do irmãozinho e da preta velha que oferecia café Infância A Abgar Renault Meu pai montava a cavalo ia para o campo Minha mãe ficava sentada cosendo Meu irmão pequeno dormia Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé comprida história que não acaba mais No meiodia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala nunca se esqueceu chamava para o café Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim PsiuNão acorde o menino Para o berço onde pousou um mosquito E dava um suspiro que fundo Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé 40 Acrescente informações que serão úteis para aumentar a compreensão do poema fale por exemplo quem foi Robinson Crusoé Se achar conveniente leve o livro para a classe e apresenteo aos alunos Em outro momento da aula proponha sua leitura Para ajudar ainda mais a compreensão ensine seus alunos a pesquisar no dicionário Escreva no quadrodegiz as palavras do poema menos usuais como campear senzala Aproveite para pesquisar a diferença entre coser costurar e cozer cozinhar Depois de resolvidas as dificuldades de significado das palavras menos usuais dê questões que ajudem os alunos a compreender melhor o poema Peça que em dupla respondam e anotem no caderno 1 A quem o poeta oferece o poema Informe que Drummond quis homenagear o amigo Abgar Renault professor educador político poeta ensaísta e tradutor que nasceu em Barbacena MG em 15 de abril de 1901 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 31 de dezembro de 1995 2 De quem é a infância de que fala o título do poema 3 O que faziam o pai a mãe o irmão pequeno o poeta e a preta velha na cena familiar descrita no poema 4 Que livro o menino estava lendo 5 Em que lugar da casa ele lia o livro 6 Alguém o acompanhava nesta leitura 7 O que o poeta acha da história do livro 8 Em que momento do dia a preta velha chamava para tomar café 9 Explique a expressão meiodia branco de luz 10 Qual era a reação da mãe quando o menino estava em casa 11 Onde viviam o poeta e sua família 12 Qual é a comparação que o poeta faz entre a sua história e a de Robinson Crusoé 13 A infância do poeta como está contada no poema é bonita Explique sua resposta Depois de debater as questões em dupla os alunos já têm o que falar sobre o texto Reúna os em círculo e discuta com eles sobre o entendimento do texto Não existem respostas certas o mais importante é que todos tenham a oportunidade de expressar seus pontos de vista o que entenderam pensaram e sentiram a partir da leitura e do estudo do poema Coloque as questões de compreensão em debate 41 unidade3 Seria interessante trabalhar em outra oportunidade com mais autores que escreveram sobre o tema infância Você poderá de acordo com o poema e sua criatividade trabalhar outros aspectos e outras questões Sugerimos os dois poemas que falam da infância de Roberto Passos do Amaral Pereira poeta capixaba e de Mário Quintana poeta gaúcho Compareos com o de Drummond Roberto Passos do Amaral Pereira nasceu em Vitória capital do Estado do Espírito Santo em 15101956 Em 1983 formouse em Medicina Fez residência em pediatria e especialização em Medicina do Trabalho Em seu tempo livre dedicavase à leitura e à escrita de crônicas poesias e resenhas Saudosa infância No final de tarde chega a saudade do pôrdosol da minha mocidade da vida da cidade do interior onde cada amanhecer tinha outro valor Vem a lembrança das longas conversas nas varandas dos banhos nas cachoeiras das festas das padroeiras da beleza do campo dos cantos dos pássaros do brilho da estrada de chão do fogão a lenha das novenas na vizinhança da serenata na calçada para a amada das cavalgadas Tudo isso assenta o meu desejo de voltar ao leito do rio da minha infância e mergulhar nas águas mansas do meu ser criança Uma ideia seria pedir aos alunos que pesquisem em casa sobre o autor Mário Quintana para a próxima aula assim como trazer outros poemas de sua autoria 42 As falsas recordações Mário Quintana Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau que nunca existiu na família e aquele arroio que nunca passou aos fundos do quintal e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão sob o zumbido inquietante dos besouros httpwwwpensadorinfofraseMTYyNjE Como última sugestão pedir que escolham um poema entre os muitos livros que você levar para a sala de aula Deixe que eles escolham livremente sem pressa Peça que preparem o poema escolhido para ler para os colegas É um momento propício para desenvolver a leitura e a oralidade Existe um número enorme de atividades que podem ser utilizadas no trabalho com poemas que irão variar de acordo com o poema e a criatividade do professor Porém não se pode esquecer que é melhor escolher poetas que sabem construir o verso controlar o ritmo eliminar o supérfluo para condensar de modo exato e belo as imagens provocar encantamento vontade de querer ler de novo para si e para outros ouvirem Por último é necessário ressaltar mais uma vez a importância de solicitar aos alunos o uso diário das atividades pedagógicas com a literatura em sala de aula e de qualquer outra atividade envolvendo literatura Esse resgate da literatura a partir de grandes escritores infantis contribui para a formação de leitores competentes capazes de ler qualquer tipo de texto com entendimento e somente assim exercer sua plena cidadania Muitos alunos leem mas não conseguem saber o que leram apenas decodificam os símbolos da língua A literatura infantil contribui para a formação de leitores e se nos primeiros anos o aluno for estimulado a ler e principalmente a ler bons autores o hábito e o gosto pela leitura podem ser desenvolvidos auxiliando o aluno na assimilação e compreensão em todas as disciplinas Por esse motivo é que se propõe um trabalho voltado para a leitura desde os primeiros anos valendose da literatura infantil 43 unidade3 Realize agora as atividades a seguir com base no estudo desta unidade ATIVIDADE Compare as respostas dadas por você no início desta unidade com o textobase apresentado e elabore uma síntese das mesmas Brincando de poeta Escolha um ou mais de um recurso poético e construa um poema mostre a sua criatividade Escolha um outro poema e elabore uma nova proposta de prática pedagógica com ênfase no letramento SAIBA MAIS Se você pretende aprofundar o estudo do poema e levar a poesia para a sala de aula procure ler CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 JOSÉ Elias A poesia pede passagem um guia para levar a poesia às escolas São Paulo Paulus 2003 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 PINHEIRO Hélder Org Poemas para crianças reflexões experiências sugestões São Paulo Duas Cidades 2000 45 Pra final de conversa Chegamos ao final desta disciplina mas certamente o assunto sobre literatura infantil não foi esgotado Esperamos que este estudo tenha funcionado como um estímulo à reflexão sobre a importância da literatura infantil como mais uma ferramenta auxiliar inicialmente no processo de alfabetização desenvolvendo simultaneamente no educando o gosto pela leitura e a consequente formação de leitores voltados inclusive para outros conteúdos outros conhecimentos Como ficou constatado o leitor do texto literário é um leitor completo e portanto o mais apto a se tornar um cidadão em plenitude um cidadão letrado Que você com sua sensibilidade conhecimento e interesse possa contribuir para que isso aconteça com seus alunos e que obtenha sempre sucesso em sua profissão de Professora Betânia Maria e Maria José 47 REFERÊNCIAS ABRAMOVICH Fanny Literatura infantil gostosuras e bobices São Paulo Scipione 2006 ARIÈS Philippe História social da criança e da família Rio de Janeiro Guanabara 1981 AURÉLIO Novo Dicionário Rio de Janeiro Nova Fronteira s d AZEVEDO Ricardo Literatura infantil origens visões da infância e traços populares Presença Pedagógica v 5 n 27 maiojun 1999 BAKHTIN Mikhail A cultura popular na Idade Média e no Renascimento 2 ed São Paulo Hucitec 1993 BILAC Olavo Poesias infantis Rio de Janeiro Francisco Alves 1957 BRAGATTO FILHO Paulo Pela leitura na escola de 1º grau São Paulo Ática 1995 COELHO Betty Contar histórias uma arte sem idade São Paulo Ática 2006a COELHO Nelly Novaes Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira 5 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 2006b CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 FREITAS Maria Teresa de Assunção Internet um caminho para a literatura Presença Pedagógica v 8 n 47 setout 2002 p 2937 JOSÉ Elias A poesia pede passagem um guia para levar a poesia às escolas São Paulo Paulus 2003 GERALDI J W Portos de passagem 2 ed São Paulo Martins Fontes 1993 48 KRAMER Sônia Org Infância e produção cultural São Paulo Papirus s d KUHLMANN JR Moisés FERNANDES Rogério Sobre a história da infância In FARIA FILHO Luciano Mendes de A infância e sua educação materiais práticas e representações Portugal e Brasil Belo Horizonte Autêntica 2004 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 LAJOLLO Marisa Do mundo da leitura para a leitura do mundo 3 ed São Paulo Ática 1997 LANDEIRA José Luís Marques L O amor à palavra e o estudo da linguagem na aula de português Presença Pedagógica Belo Horizonte Dimensão v 12 n 69 maiojun 2006 p 1217 LISBOA Henriqueta O menino poeta 12 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1998 56 p MEIRELES Cecília Poesias ou isto ou aquilo inéditos 2 ed Rio de Janeiro Melhoramentos 1972 MORAES Marcus Vinicius de A arca de Noé São Paulo Cia das Letras 1970 MURALHA Sidônio A televisão da bicharada São Paulo GiroflêGirafa 1962 PAES José Paulo É isso ali 2 ed São Paulo Moderna 2005 PINHEIRO Hélder Org Poemas para crianças reflexões experiências sugestões São Paulo Duas Cidades 2000
Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora
Recomendado para você
6
Práticas de Alfabetização e Letramento: Reflexões e Concepções Iniciais
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: Leitura e Produção de Textos
Pedagogia
UFSJ
60
Conhecimento Matemático e Alfabetização
Pedagogia
UFSJ
24
Cultura Aritmética e Modelos Matemáticos: A Interação entre Cultura e Mente
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: O Conceito de Número na Educação Infantil
Pedagogia
UFSJ
6
Construção de Perguntas e Problemas de Pesquisa na Alfabetização e Letramento
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização: A Produção do Gênero Convite na Escola
Pedagogia
UFSJ
3
Práticas de Alfabetização e Letramento: A importância da Literatura na Formação de Leitores
Pedagogia
UFSJ
6
Práticas de Alfabetização e Letramento: Leitura e Produção Textual
Pedagogia
UFSJ
3
Educação Matemática: Concepções e Linguagem na Prática Educacional
Pedagogia
UFSJ
Texto de pré-visualização
Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade Literatura Infantil e Alfabetização MEC SEED UAB 2011 Reitor Helvécio Luiz Reis Coordenador UABNEADUFSJ Heitor Antônio Gonçalves Comissão Editorial Fábio Alexandre de Matos Flávia Cristina Figueiredo Coura Geraldo Tibúrcio de Almeida e Silva José do Carmo Toledo José Luiz de Oliveira Leonardo Cristian Rocha Presidente Maria Amélia Cesari Quaglia Maria do Carmo Santos Neta Maria Jaqueline de Grammont Machado de Araújo Maria Rita Rocha do Carmo Marise Maria Santana da Rocha Rosângela Branca do Carmo Rosângela Maria de Almeida Camarano Leal Terezinha Lombello Ferreira Edição Núcleo de Educação a Distância Comissão Editorial NEADUFSJ Capa Eduardo Henrique de Oliveira Gaio Diagramação Luciano Alexandre Pinto G963l Guimarães Betânia Maria Monteiro Literatura infantil e alfabetização Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade São João delRei UFSJ 2011 48p Curso de Especialização em Práticas de Letramento e Alfabetização 1 Literatura infantojuvenil 2 Alfabetização I Guimarães Betânia Maria Monteiro II Andrade Maria José Netto II Título CDU 37241 Sumário Pra começo de conversa 05 Unidade 1 Histórico da literatura infantil 07 O conceito de infância 09 Vínculos entre o conto popular e a literatura infantil 11 Unidade 2 A arte de contar histórias 15 Narrativas bem sucedidas 17 Formas de apresentação das histórias 19 Literatura e a internet 23 Unidade 3 Poesia na escola 27 Considerações sobre a poesia infantil 29 Poesia as várias formas de brincar com as palavras 31 O recurso das rimas 35 O ritmo 35 Formas de trabalhar poemas com crianças 37 Pra final de conversa 45 Referências 47 5 Pra começo de conversa Prezadoa Estudante Você tem em mãos algumas páginas de estudo da disciplina Literatura infantil e alfabetização Elas foram cuidadosamente preparadas com a intenção de nelas você rever e ampliar seus conhecimentos sobre o conceito de infância nas diversas épocas e nas diversas sociedades até o conceito atual existente articulado com o contexto histórico social científico e cultural Nelas você verá também o surgimento da literatura infantil a influência que ela recebeu e as características que nela permanecem até hoje dos contos populares nos planos da expressão e do conteúdo Refletirá sobre os diversos aspectos que contribuem para a formação da criança que ouve muitas histórias e conhecerá algumas formas e alguns recursos para a apresentação das histórias infantis Por fim tomará conhecimento de alguns autores de livros infantis e suas obras Em poesia para crianças você terá exemplos do que se faz atualmente assim como trabalhar poesia com crianças de forma criativa proporcionando um tratamento lúdico desenvolvido pelo jogo das palavras pela imaginação e pela brincadeira O texto literário prosa ou poesia valoriza essencialmente a palavra Sua importância está em não ser um texto fechado e consequentemente abrir espaços para a subjetividade Contém um desafio maior que todos os outros textos No início funciona também como uma ferramenta a mais para a alfabetização e depois pode levar a outros conteúdos a outros conhecimentos sociais ecológicos talvez até matemáticos O leitor do texto literário é um leitor completo e portanto o mais apto a se tornar um cidadão em plenitude um cidadão letrado Bom estudo Betânia Maria Monteiro Guimarães Maria José Netto Andrade 7 HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL Amar a leitura é reconhecerse como continuidade do que se lê ainda que se atribua ao texto uma presença alheia ao leitor O amor nesse caso atravessase pela razão surgindo de uma outra lógica como manifestação do intelecto Como professores pensamos e dessa maneira podemos despertar pensares Isso pode ser a promessa de futuro amor ao texto literário O desafio é ensinar aos alunos a necessidade de amar a palavra Landeira 2006 Objetivos da unidade Conceituar infância tendo como referência os diferentes contextos históricos Analisar contos infantis identificando nos planos de expressão e do conteúdo ou do significado os pontos que coincidem com a narrativa popular Problematizando Para leitura desta unidade guiese pelas seguintes questões 1 Que relação você faz entre criança e o conceito de infância 2 Como é formada a noção de infância nos diversos lugares e momentos da história humana 3 Como você explicaria a relação do dinamismo da sociedade com o conceito de infância 4 Quais são os vínculos do conto popular com a literatura infantil unidade 1 9 unidade1 O conceito de infância A noção de infância é antes de tudo uma construção histórica e vinculada ao pensamento hegemônico de cada época A criança sempre existiu mas nem sempre existiu a infância Certamente você imagina que o conceito de infância como se tem hoje foi sempre o mesmo Na verdade os séculos XVI e XVII como salienta Ariès 1981 esboçaram uma noção de infância centrada na inocência e na fragilidade infantil Não houve propriamente uma infância no sentido que conhecemos atualmente Na Alta Idade Média a criança era a expressão social do adulto em miniatura e assim compartilhava uma vida coletiva com adultos desde a mais tenra idade sem qualquer vínculo afetivo mais profundo A título de curiosidade você já reparou em pinturas antigas como as crianças se vestem como os adultos Repare a pintura de Agnolo Bronzino No período medieval crianças e adultos trabalhavam duro À noite sentavamse lado a lado e juntos deliciavamse com as mesmas histórias participavam das mesmas festas e pelo menos em tese estavam sintonizados com as mesmas inquietações Se examinarmos hoje a vida de uma criança pobre por exemplo é possível encontrarmos situação similar assim como se tomarmos um outro extremo em certas camadas sociais encontraremos jovens sem noção de trabalho ou de cidadania De origem latina o infans que não fala pode estar restrito aos primeiros 18 ou 24 meses de vida ou então ao período que se estende até os 7 anos a idade da razão e dentro dele a subdivisão em primeira infância de 0 a 2 anos e segunda infância de 2 a 6 anos Mas segundo análise de Ariès a infância podese prolongar até os 10 12 ou 14 anos No primeiro caso há a ideia de uma infância curta quando é vista como uma distração para adultos no segundo caso há um interesse de cunho psicológico e moral que sustenta a ideia do prolongamento da infância associada à criação de colégios onde as crianças ficariam separadas do mundo dos adultos de modo a serem resguardadas e disciplinadas 10 Alguns registros mais antigos quando comparados a outros contemporâneos ensinam que infantes e infância foram diferentemente concebidos e consequentemente tratados de maneira diferente em distintos momentos e lugares da história humana Percebemos então que quando se fala em infância não é a mesma coisa aqui e lá ontem e hoje sendo tantas infâncias quanto são as ideias práticas e discursos que em torno dela e sobre ela se organizem Daí a necessidade que teve Aurélio na busca de precisão cada vez maior ao conceituar a palavra infância Assim esse autor a definiu Período da vida que vai do nascimento à adolescência extremamente dinâmico e rico no qual o crescimento se faz concomitantemente em todos os domínios e que segundo os caracteres anatômicos fisiológicos e psíquicos se divide em três estágios primeira infância de zero a três anos segunda infância de três a sete anos e terceira infância de sete anos até a puberdade p 763 Moisés Kuhlmann Jr e Rogério Fernandes 2004 escrevem a respeito da dinâmica das relações da sociedade com a infância Como mudam os mais variados aspectos da atividade humana a relação da sociedade com a infância não poderia permanecer estática Ao longo dos séculos XIX e XX multiplicamse as propostas e as ações dirigidas às crianças na legislação nas políticas públicas na educação e na saúde no mercado etc p 18 Vivendo como adultos não existiam livros nem histórias dirigidas especificamente a elas nada havendo que pudesse ser chamado de literatura infantil Ao contrário a visão que temos hoje do que seja criança é ligada naturalmente ao nosso contexto históricosocial científico e cultural Estamos acostumados a conviver pelo menos em certas classes sociais com uma infância apartada da vida adulta seja do trabalho da sexualidade da política etc Diferentemente de outras épocas as crianças habitam hoje um universo delimitado por assuntos escolares certo vocabulário certas brincadeiras e certos assuntos infantis poderíamos assim dizer Antes existiram outras crianças tratadas de outras maneiras ocupando outros espaços dentro da família e da sociedade conforme nos conta Azevedo 1999 As crianças participavam da vida comunitária dos costumes sociais hábitos linguagem jogos brincadeiras e festas Aparentemente não havia no período medieval assuntos que a criança não pudesse conhecer Os temas da vida adulta as alegrias a luta pela sobrevivência as 11 unidade1 preocupações a sexualidade a morte a transgressão das regras sociais o imaginário as crenças as comemorações as indignações e perplexidades eram vivenciadas por toda a comunidade independentemente de faixas etárias AZEVEDO 1999 p 23 Como escreve esse autor a criança a partir de sete anos ocupava o papel de um novo adulto sem levar em conta toda a sua fragilidade e inexperiência muitas vezes incapaz mas já considerada como uma pessoa importante como força na família e na sociedade À época da Idade Média o espírito popular era ligado a festas e atos públicos e ao mesmo tempo impregnado pelo fatalismo pela crença no fantástico em poderes sobrehumanos em pactos com o diabo de toda a sorte de personificações Os contadores de histórias se valiam desse cenário habitado pela crença em fadas gigantes anões bruxas castelos encantados elixires de todo tipo tesouros fontes de juventude quebrantos e lugares mágicos para disseminar suas histórias Crianças e adultos sentavamse juntos nas praças públicas durante as festas e mesmo à noite após o trabalho para escutar os contadores de história Como vimos nesse contexto não havia uma separação nítida entre o real e o fantástico quando se levam em conta as concepções populares vigentes Vínculos entre o conto popular e a literatura infantil Na tentativa de discutirmos sobre as origens da literatura infantil fica evidente que quando nos referimos aos contos de fadas hoje nos remetemos quase que automaticamente à criança O mais importante é saber da grande influência que esses contos também chamados de contos de encantamento contos maravilhosos fábulas ou simplesmente contos populares tiveram em inúmeras obras da literatura infantil Esses contos representam verdadeiro depósito do imaginário das tradições e da visão de mundo oriundos de um certo espírito popular e sobreviveram num tempo em que a vida comunitária e coletiva adultos e crianças era intensa Como vimos houve grande aproximação entre o conto popular e a infância ou entre o popular e o infantil Caberiam aqui duas questões você saberia respondêlas Que características afinal têm esses contos e quais delas eventualmente podem ter permanecido vivas na literatura para crianças 12 Se você já trabalhou com literatura infantil certamente observou que como os contos populares no plano da expressão do discurso a maioria das obras destinadas ao público infantil se constitui de textos concisos marcados pela oralidade fórmulas verbais pré fabricadas ditados frases feitas utilizando vocabulário familiar e construído com o propósito de entrar em comunicação de forma clara e direta com o leitor Igualmente no plano do conteúdo ou do significado muitos pontos de contato unem as narrativas populares à literatura infantil 1 A recorrência do elemento cômico o riso o deboche a alegria e o revide aos paradoxos contrapostos pela existência 2 O uso singularmente livre da fantasia e da ficção muitas vezes como forma de verificação ou experimentação da verdade Mikhail Bakhtin 1993 considera esses dois itens das mais arcaicas tradições populares 3 Personagens movidos muito mais por seus próprios interesses pela aproximação afetiva pelo senso comum pelos sentidos pela empatia pela visão subjetiva pela busca da felicidade do que por uma ética geral preestabelecida racional abstrata uniforme objetiva e impessoal que pretende determinar a priori o certo e o errado 4 Certos temas e enredos tradicionais remanescentes que poderiam ser rotulados como a busca do autoconhecimento ou da identidade 5 O uso livre de personificações e antropomorfizações 6 A possibilidade da metamorfose 7 As poções adivinhas instrumentos e palavras mágicas 8 Histórias apresentando um caráter iniciático nas quais o herói parte enfrenta desafios é engolido por um peixe perde a memória vêse transformado num monstro e retorna modificado 9 Imagens recorrentes como voos mágicos monstros oxímoros belas e feras gordos e magros 10 O final feliz É um recurso presente em inúmeras narrativas populares Tudo no fim acaba voltando à pureza original portanto no fim tudo dá certo Se não deu certo diz o ditado popular é porque ainda não chegou ao fim 13 unidade1 Após leitura desta unidade realize as atividades a seguir DICA Se você pretende aprofundar seu conhecimento sobre a infância no Brasil principalmente consulte CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 ATIVIDADE 1 Como foi construído o conceito de infância ao longo da história Reconstrua as respostas dadas por você no início desta unidade 2 Escolha um conto infantil e faça uma análise identificando os pontos no plano da expressão e no plano do conteúdo ou do significado que coincidem com a narrativa popular 15 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS O narrador tem que transmitir confiança motivar a atenção e despertar a admiração Tem que conduzir a situação como se fosse um virtuose que sabe seu texto que o tem memorizado que pode permitirse o luxo de fazer variações sobre o tema ELIZAGARAY Alga Mariña apud COELHO 2006 Objetivo da unidade Elaborar um plano de narrativa de história observando o porquê da escolha a faixa etária à qual se destina como apresentar a história as atividades pertinentes após a narração da história Problematizando Para leitura desta unidade orientese pelas seguintes questões 1 Que fatores influenciam o sucesso da narrativa para crianças 2 Quais as possibilidades de trabalho com crianças uma história sem texto oferece 3 Quais os cuidados a serem observados na escolha de histórias para crianças 4 Que recursos você conhece para a apresentação de histórias 5 Pode a internet constituirse como mediação para a literatura unidade 2 17 unidade2 Narrativas bem sucedidas Contar história requer uma predisposição latente em todo educador em toda pessoa que se propõe a lidar com criança Sintetizando contar histórias é uma arte O contador precisa estar consciente de que ele é apenas o transmissor e é a história o mais importante Entretanto para haver sintonia com o público além de seu interesse e entusiasmo há necessidade de que ele se sinta seguro tenha certeza de que conhece a história e domina a técnica escolhida enfim está convenientemente preparado para contála Sua criatividade revelase ao recriar o texto com originalidade sem modificar sua estrutura essencial A voz é seu principal instrumento Pelos vários tipos de vozes o contador passa as emoções de acordo com a história Às vezes faz uma voz sussurrante adocicada suave cálida outras vezes eriçada espinhenta metálica sem vibrações sem modulações inertes sem consistência inexpressivas e monocórdias Você já teve oportunidade de constatar que a história é fonte de prazer para a criança muito contribui para o seu desenvolvimento e que não se pode correr o risco de improvisá la O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam sendo fundamental a elaboração de um plano um roteiro no sentido de organizar a fala do narrador seu desempenho garantindolhe segurança e naturalidade O roteiro transforma o improviso em técnica O primeiro passo a seguir é a seleção inicial observando entre outros fatores o ponto de vista literário o interesse do ouvinte sua faixa etária suas condições socioeconômicas É um cuidado necessário para evitar tropeços futuros Além desses fatores observados com relação ao ouvinte a história a ser contada tem que despertar no narrador sensibilidade emoção para que se obtenha sucesso Escolher sempre aquelas que goste de contar Se não gostar de contar histórias tristes por exemplo não as conte Um outro ponto importante é a qualidade literária que deve ser observado mesmo quando se tratar de histórias de tradição popular A linguagem deve ser correta de bom gosto simples sem ser vulgar nem rebuscada Nas narrativas para crianças pequenas é necessário respeitarlhes as peculiaridades sobretudo seu estágio emocional A história funciona como um alimento da imaginação da criança e precisa ser dosada conforme sua estrutura cerebral O que contar a quem contar 18 estará em consonância com o desenvolvimento da criança No caso de crianças enfermas deve haver todo bomsenso na escolha Contar histórias divertidas curtas nenhuma alusão ao problema que as aflige Existem ainda publicações com narrativa totalmente visual Toda a história é contada através de desenhos ou fotos sem nenhuma palavra Não há muito tempo que as editoras brasileiras começaram a publicar livros dessa natureza Há autores que se destacam em histórias sem texto escrito a exemplo de Eva Furnari Seu desenho é divertido muito colorido as figuras em movimento constante e personagens expressivas Conta do palhaço desastrado e perplexo o Amendoim Em seu livro Filó e Marieta seus desenhos apresentam velhinhas mágicas risonhas aprontadeiras Outros mostram personagens solenes e assustadiças como Zuza e Arquimedes personagens que se misturam com bichinhos domésticos dragões ratinhos caixas de molas varas de condão além de outras figuras e objetos que atravessam as cenas É preciso conhecer os três volumes da série Ping Pong em que cada página se estende para a próxima além do que acontece nela própria Como escreve Abramovich 2006 o mundo pode ser revisto os objetos transformados as pessoas modificadas pela página que está ao lado que a cada momento pode ser outra formando quantas situações se queira E o leitor sorri ri se espanta se encanta p 29 Outros autores também se destacam nas histórias sem texto Ângela Lago Juarez Machado Edith Derdyk Eliardo França nos vários volumes da coleção Gato e Rato e em O baile e A Festa e das traduções da suíça Monique Felix duas obras se destacam O ratinho que morava no livro e A nova aventura do ratinho Sobressai nesses autores desenhistas que se dedicam a contar histórias sem texto o talento gráfico a habilidade para construir uma narrativa sequenciada completa sem precisar de palavras De modo harmônico bonito e inteligente conseguem contar uma história de maneira ágil viva com conhecimento da cor e domínio da página das páginas do livro como um todo Por sua vez oferece à criança muitas possibilidades de ao oralizar essas histórias criar o seu texto ampliar algum detalhe proposto refazer todo o texto de uma forma nova criativa e pessoal Pelo exposto vêse que a escolha está mesmo relacionada a vários fatores e somente com a prática se tornará mais rápida É preciso descobrir quanta história maravilhosa existe e aumentar sempre o repertório para facilitar na hora da escolha Segue um quadro conforme sugere Coelho 2006 p 15 de acordo com a faixa etária e interesses das crianças e as respectivas histórias 19 unidade2 Préescolares Até 3 anos Fase prémágica histórias de bichinhos brinquedos objetos seres da natureza humanizados histórias de crianças histórias de repetição e acumulativas Dona Baratinha A formiguinha e a neve etc 3 a 5 anos fase mágica histórias de fadas Escolares 6 a 7 anos histórias de crianças animais e encantamento aventuras no ambiente próximo família comunidade histórias de fadas 8 anos histórias de fadas com enredo mais elaborado histórias humorísticas 9 anos histórias de fadas histórias vinculadas à realidade 10 anos em diante aventuras narrativas de viagens explorações invenções fábulas mitos e lendas Formas de apresentação das histórias Os livros infantis além de proporcionarem prazer contribuem para o enriquecimento intelectual da criança que tem um encontro significativo de suas histórias com o seu mundo imaginativo A criança tem a capacidade de colocar seus próprios significados nos textos Assim as imagens e o texto do livro literário são uma ponte para fazer brotar a fantasia do leitor infantil para além das imagens das palavras tornandose um convite à fruição De acordo com Bragatto Filho 1995 ao se tomar contato com literatura transpõese a cadeia dos significantes das palavras para penetrar nas teias significativas conhecese pensase sonhase experienciase emocionase interrogase descobrese criase reagese modificase p 84 Para que o contato com a literatura tenha esses efeitos ao apresentar uma história para a criança devese tomar cuidado para escolher o recurso mais adequado a melhor forma Os recursos mais utilizados vão da simples narrativa da narrativa com o auxílio do livro do uso de gravuras do flanelógrafo de desenhos até a narrativa com interferência do narrador e dos ouvintes Cada recurso tem suas vantagens específicas e requer uma técnica especial Vamos discorrer sobre cada um 20 a Simples narrativa É sem dúvida a mais fascinante de todas as formas a mais antiga tradicional e autêntica expressão do contador de histórias Não requer nenhum acessório e se processa por meio da voz do narrador de sua postura que com as mãos livres concentra toda a sua força na expressão corporal Os contos de fadas são um bom exemplo para fazer uso da forma de simples narrativa Que gravura mostraria o esplendor do baile da Cinderela ou a emoção da fuga ao soar as badaladas da meianoite Mesmo lidando com crianças pequenas ao contar histórias de brinquedos como A bonequinha preta O bonequinho doce A Pituchinha a forma de simples narrativa é mais apropriada para deixálas imaginar livremente Depois quando se pergunta como era a bonequinha as respostas são as mais variadas não há bonecas iguais Em seguida quando o livro é mostrado e por mais interessante que seja a boneca ilustrada verificase uma certa decepção pois geralmente a bonequinha imaginada é mais significativa para elas Que ilustração pode mostrar o bonequinho doce a correr como sugere a voz do narrador Bonequinho doce espere aí nós queremos brincar com você Corra Lucinha corra Lalá senão vocês não me pegam E o bonequinho doce corria corria E A Pituchinha Essa história requer as mais sutis entonações de voz desde o sussurro pra não acordar o soldadinho até o barulho da lata de doce a despencar da prateleira Pé cá pé lá De repente um tropeço Pituchinha esbarra na caixinha de PomPom Uai que susto Só vendo o susto das crianças chegam a estremecer Outras histórias cabem bem na forma narrativa como O rabo do macaco Tonho o elefante O elefante fica preso numa armadilha O narrador não move o pé do lugar e o texto exige dele muita concentração para transmitir a aflição do elefante enquanto todos procuram ajudálo como podem Ao final quando todos juntos puxam a corrente as crianças também imitam o gesto de puxálo e o narrador move a perna Um alívio para todos Lendas fábulas histórias recolhidas da tradição oral e histórias similares aos exemplos citados devem ser contadas também dessa forma pois estimulam a criatividade e a utilização de material ilustrativo poderá desviar a atenção do ouvinte que deve estar fixa no narrador A dramatização feita a partir dessas histórias demonstra que as crianças captam integralmente o enredo 21 unidade2 b O uso do livro Há textos que requerem indispensavelmente a apresentação do livro uma vez que a ilustração os complementa A apresentação gráfica e a imagem são tão ricas quanto o texto por vezes até mais ricas Devemos mostrar o livro para a classe virando lentamente as páginas com a mão direita enquanto a esquerda sustenta a parte inferior do livro aberto de frente para o público Narrar com o livro não é propriamente ler a história O narrador a conhece já a estudou e vai contando com suas próprias palavras sem titubeios vacilações ou consultas ao texto o que prejudicaria a integridade da narrativa Tratase de uma forma de narração que observada a técnica favorece o narrador inexperiente Recomendase evitar observações óbvias do tipo Estão vendo o gato Olhem o pé da vovó na porta As crianças ouvem e ao mesmo tempo são capazes de fazer a leitura da imagem Comentários dessa natureza não auxiliam só atrapalham Outras histórias devem ser apresentadas usandose o livro como Filó e Marieta Corre ratinho Bela borboleta O Curumim que virou gigante Flicts A centopéia e seus sapatinhos Zé diferente Maria vai com as outras Quero casa com janela Coleção Tererê Coleção Corpim Coleção Um dois feijão com arroz Coleção Gato e Rato Binduim Bassé grandão O menino maluquinho Nesses casos o livro se impõe como forma de apresentar a história Os contadores devem aproveitar todas as ocasiões de ajudar as crianças a crescer a pensar por isso a conversa em torno da história é o momento ideal como ensina Coelho 2006b para conhecer e atribuir às palavras um significado concreto real dirimir preconceitos ideias falsas p 37 sem contudo revelar à criança tal intenção É necessário também habituar a criança a referirse a seu cotidiano com palavras mais precisas mais objetivas Há ainda as histórias em versos poemas que em boa hora passam a ocupar lugar de destaque na literatura infantil a exemplo de Pé de pilão Boi da cara preta Ou isso ou aquilo Arcoíris e outras É impossível relacionar todos os livros que pela beleza do tema e integração gráfica devem ser mostrados durante a narrativa Essa forma de apresentação além de incentivar o gosto pela leitura mesmo no caso de crianças em processo de alfabetização contribui para desenvolver a sequência lógica do pensamento infantil 22 c O uso de gravuras reproduzidas Quando se torna inviável o uso do livro ou revista como recurso ilustrativo é aconselhável o uso de gravuras reproduzidas As imagens indispensáveis para a apresentação da história podem ser ampliadas e montadas em cartolina Esse processo favorece sobretudo às crianças pequenas permitindolhes que observem detalhes contribuindo para a organização do seu pensamento Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da ideia central fatos principais fatos secundários Antes do início da narração empilhamse as gravuras em ordem viradas para baixo À medida que a história é contada o narrador as coloca uma a uma em suporte próprio Esse movimento é feito com naturalidade sem atropelos sem interrupção da narração Histórias que podem ser contadas usandose dessa técnica de gravuras ampliadas O burrinho verde O presente dos pássaros Camilão o comilão Confusão no fundo do mar O coelhinho medroso Concluindose a apresentação as gravuras podem ser distribuídas entre as crianças e faz se a pergunta qual foi a parte mais interessante da história e a criança que estiver com ela se apresenta Perguntase ainda se foi assim que a história começou Quem estiver com o início da história vai à frente Perguntase em seguida O que aconteceu depois Dessa forma vaise reconstituindo a história coletivamente Com as gravuras dispostas em sequência podese perguntar ainda se alguém acha que se for retirada alguma gravura ela fará falta à história e como poderia ser mudado o final da história Quem se arriscaria a mudar Como ficaria então Sem saber a criança estará se familiarizando com noções de introdução enredo clímax desfecho ao olhar observar discutir e fazer a sua conclusão Cada história deve ser explorada ao máximo de acordo com as reações das crianças que de modo geral são surpreendentes e ricas Cada recurso é portanto valioso em sua peculiaridade permitindo variar a apresentação e recriar de modo original d O uso do flanelógrafo O flanelógrafo é um recurso visual muito prático e deve ser utilizado quando o personagem principal se movimenta muito entra e sai de cena durante o enredo As figuras podem 23 unidade2 ser confeccionadas em flanela feltro ou papelcamurça Outra opção é usar recortes de revistas personagens recortados em papel ofício e revestidos de papel de cores variadas ou em cartolina Nesse caso colamse no verso pedacinhos de lixa de madeira número um para fixação no flanelógrafo Atenção para não confundir o uso do flanelógrafo com o de apresentação de gravuras São situações distintas para histórias diferentes Na gravura reproduzse a cena enquanto que no flanelógrafo cada personagem é colocado individualmente ocupando seu lugar no quadro o que dá ideia de movimento O mais importante nessa técnica é a ação do personagem principal num movimento constante e O uso de interferência do ouvinte e do narrador A interferência resulta da criatividade do narrador que a incorpora ao texto para tornar a narrativa mais atraente É um excelente recurso quando se trata de público numeroso em locais abertos facilitando a concentração dos ouvintes Deve surgir em decorrência do enredo e ser mantida em equilíbrio e sob controle do narrador Monteiro Lobato evidencia a narrativa participada na estratégia utilizada por D Benta ao contar histórias ao pessoal do sítio ver Peter Pan na tradução de Lobato Também Malba Tahan introduz a interferência como técnica de grande efeito Seja qual for a forma de apresentação podese introduzir a interferência se o texto a requer ou sugere A história será o principal indicador da escolha do recurso No entanto as crianças devem se habituar também a ouvir caladas sem interferir Há casos em que a interferência poderá perturbar a atenção das crianças que acompanham o enredo Literatura e a internet Uma oportunidade revolucionária para o leitor contemporâneo é fazer uso da internet Por meio de uma série de comandos icônicos o teclado o mouse e menus que nos mostram quais operações podemos ou devemos realizar rapidamente temos à disposição endereços que nos levam a sites sobre literatura As bases de dados são constantemente atualizadas envolvendo autores obras gêneros diversos movimentos literários e períodos históricos Assim a internet nos oferece muitas fontes de consulta numa velocidade que economiza tempo de pesquisa em biblioteca ou livraria superando as dificuldades de distância e de 24 acesso a outras fontes e pessoas Aproveitamos para deixar um endereço de Jornal de Poesia um site muito interessante em ordem alfabética que oferece vários links sobre cerca de 2000 autores wwwsecrelcombrjpoesia A professora Maria Teresa de Assunção Freitas 2002 tem trabalhado em sua trajetória como educadora e pesquisadora com as questões referentes à leitura e escrita Segundo suas palavras a literatura além de prazer é fonte que faz a criança pensar sobre o mundo em que vive e sobre si mesma e sobre o trabalho que tem a realizar A partir da reflexão que ela faz na obra de autores como Bakhtin e Vygotsky que têm um ponto comum sobre o movimento dialético autorleitorobra no qual a obra literária toma existência essa pesquisadora discute as seguintes questões Pode a internet constituirse como mediação para a literatura O novo suporte da tela do computador muda essa relação entre autor obraleitor Como a literatura se apresenta na internet Diferentemente do códex que teve início no século IV que aproximou o leitor ao livro gerando uma nova forma de ler em substituição à maneira de ler nos antigos rolos Freitas 2002 questiona atualmente a interface da informática Apresenta a informática como um pacote intensamente redobrado com pouquíssima superfície que seja diretamente acessível em um mesmo instante p 31 As páginas não são como nos livros a escrita e a leitura não são mais lineares mas obedecem a uma lógica multilinear hipertextual p 31 O texto existe enquanto o arquivo é acessado e desaparece quando for fechado permanecendo guardado virtualmente Concordando com Chartier 2001 Freitas 2002 afirma que a revolução do texto eletrônico é ao mesmo tempo uma revolução da técnica de produção e reprodução dos textos uma revolução do suporte da escrita e uma revolução das práticas de leitura p 32 Devido ao caráter democrático descentralizado da rede digital não obedecendo a estruturas hierárquicas existem possibilidades de poder ser um novo autor ao lado de autores consagrados disponibilizando versos por exemplo junto a um Drummond de Andrade É o caso dos sites wwwarmazemliterariocombr e wwwautorescombr que convidam jovens a se aventurarem pelo mundo da literatura Igualmente temos o link novos escritores organizado para os leitores que gostam de escrever que se encontra na página wwwreleituracom 25 unidade2 Como vimos usando a internet o leitor transita com liberdade por caminhos os mais diversos construindo seu próprio trajeto de leitura unindo e reconstruindo textos o que resulta em uma nova criação em um novo sentido na leituraescrita É a presença da arte no caso da literatura via internet contribuindo para o trabalho da alfabetização e do letramento enfim da educação ATIVIDADE 1 Tendo como referência as questões propostas no início desta unidade e o texto base apresentado elabore um texto de cerca de 30 linhas destacando um dos seguintes pontos fatores que contribuem para o sucesso da narrativa a importância e as possibilidades das narrativas sem textos vantagens específicas de cada recurso que o professor poderá utilizar na apresentação da história e a mediação da internet para a literatura 2 Elabore um plano de narração de história observando todos os fatores estudados até aqui o porquê da escolha da história a que faixa etária se destina como apresentar a história e que atividades seriam apropriadas após a apresentação da história DICA Se você se interessar por uma relação completa de autores infantis e suas respectivas obras consulte COELHO Nelly Novaes Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira 5 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 2006b SAIBA MAIS Se você deseja aprofundar seus estudos sobre a literatura infantil não deixe de ler ABRAMOVICH Fanny Literatura infantil gostosuras e bobices São Paulo Scipione 2006 LAJOLLO Marisa Do mundo da leitura para a leitura do mundo 3 ed São Paulo Ática 1997 KRAMER Sônia Org Infância e produção cultural São Paulo Papirus sd 27 POESIA NA ESCOLA Falta à escola vibração beleza valorização de elementos culturais brasileiros mais autênticos Se a escola não cria poetas ela pode e deve criar leitores sensíveis e capazes de descobrir a magia do ritmo e dos elementos visuais e sensitivos que juntamente com as imagens poéticas dão a força para o poema José 2003 p 66 Objetivos da unidade Criar poemas ou dar exemplos em poemas já escritos do uso de recursos poéticos relacionados no texto aliteração trocadilho surpresa anagrama rimas ritmos sensações diversas Elencar as contribuições para uma nova prática pedagógica a partir de um poema novo Problematizando Para leitura desta unidade orientese pelas seguintes questões 1 Em seu ponto de vista o que caracteriza um poema infantil 2 O que não pode faltar em um poema infantil 3 Que recursos poéticos são usados pelos autores 4 Você ainda se lembra de algum poema de sua infância 5 Como você trabalha um poema com seus alunos unidade 3 29 unidade3 Considerações sobre a poesia infantil Esta unidade é dedicada à poesia na escola ao modo como alguns poetas brincaram com as palavras e escreveram bonitos poemas para crianças sugerindo atividades adequadas para trabalhar poesia na sala de aula Você terá oportunidade de estudar sobre as tendências atuais observadas pelos poetas ao escreverem sua obra dedicada às crianças depois de conhecer o surgimento no Brasil da poesia como gênero literário dirigido às crianças Antes do final do século XIX não existia no Brasil a poesia como gênero literário dedicada às crianças O que havia eram os poemas manuscritos de circulação familiar feitos de pai ou mãe para filhos e eventualmente incluídos posteriormente nos livros de seus autores junto a outros poemas não escritos para o leitor infantil Um dos conhecidos e mais antigos é o do inconfidente Alvarenga Peixoto 17441792 a sua filha Maria Efigênia quando ela completou sete anos O soneto se inicia com um vocativo Amada filha seguindose depois os conselhos para que a filha despreze a beleza as honras e a riqueza cultive a caridade o amor a Deus e aos semelhantes E conclui recomendando procura ser feliz na eternidade que o mundo são brevíssimos instantes De sua esposa Bárbara Eliodora 17591819 conhecese apenas um único poema Conselhos a meus filhos que como sugere o título é uma coleção de conselhos Dentre esses Bárbara adverte que a lição não faz saber quem faz saber é o pensar e recomenda o estudo das fábulas de Esopo Há nesses dois poemas de Alvarenga Peixoto e de Bárbara Eliodora uma característica que permanece na poesia infantil brasileira até a primeira metade do século XX a presença de uma voz poética adulta que se dirige a um leitor infantil utilizando o poema como meio de educação moral Também Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu incluíram em seus livros dirigidos ao leitor adulto alguns poemas dedicados às crianças Podese dizer que somente no final do século XIX com a organização de antologias para serem utilizadas na escola é que surgiu o gênero poesia infantil com o objetivo principal do ensino da Língua Portuguesa Havia uma demanda de textos em prosa e verso para utilização como livros de leitura nas escolas públicas de ensino primário Com essa finalidade Olavo Bilac escreveu Poesias infantis 1957 tornandose o bestseller do gênero na primeira metade do século XX editado vinte e sete vezes até o ano de 1961 Segundo suas próprias palavras essa obra foi escrita para uso das aulas de linguagem sobre assuntos simples visando a contribuir para a educação moral das crianças do seu país 30 Contudo continua uma escrita na perspectiva do adulto de característica moralizadora observada durante o século XX até os anos 60 quando a poesia infantil incorporou um paradigma moral e cívico aconselhando aos pequenos leitores o bom comportamento e o civismo Segundo Abramovich 2006 com relação à poesia infantil há ainda hoje muitas divergências Existem aqueles que são de opinião de que ela tem que ser moralizadora falar de costumes edificantes de como organizar o dia a dia descrever bons hábitos de higiene dentária ou glorificar o Dia das Mães ou o Dia do Índio p 66 Essa autora antecipa que por ser restritiva e diretiva já não pode ser vista como boa poesia Há ainda aqueles que julgam que a poesia para crianças tem que ser pequeninha bobinha e mimosinha que deve contar como a plantinha cresce por exemplo Seria interessante para crianças de um berçário e não para alunos dos primeiros anos que já possuem outras curiosidades Abramovich 2006 continua criticando outras pessoas que acham que a poesia para crianças deve trabalhar temas patrióticos cívicos fazendo com que alunos em coro recitem odes à pátria em várias datas específicas de preferência muitíssimo bem decoradas Como se cidadão não o fosse o ano inteiro e como se poesia fosse decantar um dia do calendário E ainda usando chavões grandiloquências frases de pretenso efeito que não se ouvem mais em lugar nenhum Em geral tediosos chatos compridos e dando aquela sensação de ridículo e de malestar ao ser poesia declamada em conjunto por toda uma classe p 66 Por último critica a poesia que não fala de emoção verdadeira bem descrita bem vivida É a poesia que trata de assuntos piegas de moça órfãos abandonados de escravos gratos de cartas enviadas pelo familiar que está na guerra ou na prisão A emoção verdadeira pode e deve estar presente mas como na definição de Mario Quintana apud Abramovich intitulada Tristeza de escrever na qual ele afirma Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página por isso a palavra escrita é sempre triste p 67 Por tudo isso concluise que o importante a considerar é que tanto a poesia para crianças quanto a prosa têm que ser de qualidade bem expressas Tocar a emoção as sensações de maneira inusitada divertida prazerosa ou triste sofredora ou ainda lúdica brincante conforme a intenção do autor A concepção contemporânea de poesia infantil prioriza o literário e não a educação moral Henriqueta Lisboa em sua obra O menino poeta 1998 já privilegia o lirismo utilizando largamente a metáfora explora as repetições o jogo 31 unidade3 de palavras e a sonoridade das rimas bem marcadas os poemas permitem a fruição da criança ainda que prevaleça a recriação adulta da infância É uma obra que não foi publicada por editora de livros didáticos e muito menos com prefácio recomendando sua leitura na escola Por isso mesmo rompe com a circulação escolar e abre caminho para uma poesia infantil livre de compromissos pedagógicos Em José Paulo Paes 2005 há uma nítida preferência pelo humor configurando o que poderia ser chamado de paradigma lúdico Ele mesmo afirma que a poesia é uma brincadeira com as palavras e que cada palavra deve significar mais de uma coisa como neste seu poema em que enfatiza o ludismo sonoro e o humor A poesia tende a chamar a atenção da criança para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ela fala todos os dias sem se dar conta delas Esse brincar com as palavras deve trazer também uma surpresa se não trouxer não é poesia é papofurado continua afirmando esse poeta Convite Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola papagaio pião Só que bola papagaiopião de tanto brincar se gastam As palavras não quanto mais se brinca com elas mais novas ficam Como a água do rio que é água sempre nova Como cada dia que é sempre um novo dia Vamos brincar de poesia Poesia as várias formas de brincar com as palavras Neste item estão alguns exemplos de poetas que brincam com as palavras de modo sábio especial A poesia tornase um prazer para a criança ouvir e ler A ludicidade é verbal sonora às vezes musical engraçada no jeito que vão decidindo juntar as palavras ao mesmo tempo em que vão jogando com os significados diferentes que uma mesma palavra possui Um primeiro exemplo é de Sidônio Muralha 1962 autor de A TV da bicharada 32 em seu poema Dia de Festa Dia de festa e tudo que lá havia e tudo o que havia lá que se chamasse alegria que se chamasse poesia só sabia o sabiá Ouçam como ele assobia assobia o sabiá Você percebeu como a brincadeira fluiu num bom trocadilho com sabia e sabiá e assobia sem contar a leveza das palavras Também Cecília Meireles 1972 a principal voz feminina da poesia brasileira traz para a poesia infantil a musicalidade explorando versos livres a combinação de diferentes metros a aliteração a assonância e a rima No poema a seguir ela apresenta mais um trocadilho agora é entre a letra erre e o verbo errar O menino dos FF e RR O menino dos ff e rr é o Orfeu Orofilo Ferreira ai com tantos rr não erres Jogos de palavras são muito usados em poesias infantis e as crianças amam Chico Buarque criou para a peça Os saltimbancos 1977 o poemacanção chamado A galinha Repare o trocadilho chocarse espantarse e chocar aquecer o ovo além de brincar com ovo novo e vovô 33 unidade3 A Galinha Elias José 2003 em Um pouco de tudo joga com diferentes significados da palavra grilo Observe a seguir Grilo Grilado Como escreve Abramovich 2006 O autor dá contemporaneidade ao poema quando lhe acrescenta um analista junta o bucólico com o urbano fala de amor como desencadeante de grilações repete o estribilho que é algo geralmente gostoso de ouvir e constrói um poema divertido p 70 Todo ovo Que eu choco Me toco De novo Todo ovo É a cara É a clara Do vovô Mas fiquei Bloqueada E agora De noite Só sonho Gemada A escassa produção Alarma o patrão As galinhas sérias Jamais tiram férias Estás velha te perdoo Tu ficas na granja Em forma de canja Ah é esse o meu troco Por anos de choco Deilhe uma bicada E fugi chocada Quero cantar Na ronda Na crista Da onda Pois um bico a mais Só faz mais feliz A grande gaiola Do meu país O grilo coitado anda grilado e eu sei o que há Salta pra aqui salta pra ali Cricri pra cá Cricri pra lá O grilo coitado anda grilado e não quer contar No fundo não ilude é só reparar em sua atitude pra se desconfiar O grilo coitado anda grilado e quer um analista e quer um doutor Seu grilo eu sei o seu grilo é um grilo de amor 34 A aliteração repetição de fonemas para produzir efeito é um recurso poético também muito usado em brincadeiras cantigas de rua É um jeito divertido de repetir uma letra para escrever um episódio engraçado e mesmo produzir e provocar um som semelhante ao de uma engrenagem esquentando martelando girando como Cecília Meireles fez em seus poemas do livro Isto ou aquilo 1972 Roda na rua Roda na rua a roda do carro Roda na rua a roda das danças A roda na rua rodava no barro Na roda da rua rodavam crianças O carro na rua Segundo Abramovich 2006 p 71 uma outra característica é a usada por Bartolomeu Campos de Queirós Além de outros recursos poéticos este poeta sabe usar bem o anagrama palavra ou frase obtida pela mudança de posição de letras de outra palavra ou frase Um bom exemplo é o seu poema RAUL é LUAR mesmo nome escrito de duas maneiras diferentes O autor faz um paralelo entre Raulmenino que gosta do luar e LUARluz da lua no céu que gosta de Raul Ao ler todo o poema o leitor fica encantado ao notar como ele cria novas relações e novas palavras tantas aproximações ao escrever a mesma palavra invertida de trás para frente Vejamos o poema Raul é luar O Raul luava E mais tarde RUA lugar de encontro do Luar e do Raul o luar ruava RUAVA ato da lua passear na rua do Raul 35 unidade O recurso das rimas As rimas são mais um recurso poético e quando bem usadas tornam a poesia mais agradável de ler e ouvir Devem ser bem trabalhadas e empregadas observando critérios e regras poéticas Podem vir intercaladas ou não dependendo do tipo de versificação escolhido pelo poeta para cada poema que faz Pode acontecer como no poema Hortênsia de Elias José que descreve esta flor com uma imagem pouco explorada na poesia a da flor gorda mas ele sabe fazer com que as rimas fluam naturalmente Apresenta a obesidade sob outro olhar A rima torna a poesia mais lúdica entretanto não é obrigatória existem versos livres escritos conforme a emoção o desejo do autor Devese tomar cuidado ao usar a rima para não cair no uso mais fácil mais preguiçoso mais rápido sem valor poético nenhum como rimar mão com não coração oco com sufoco toco também com ninguém Dessa forma seria um não trabalhar com a palavra sem conseguir o efeito mágico o inusitado novas possibilidades e surpresas que caracterizam a bela poesia O ritmo O ritmo é mais um recurso de que se valem os poetas é outra marca da poesia Abramovich 2006 defineo muito bem É o que possibilita acompanhamento musical ao que é lido ou ouvido Dado pelos olhos que vão seguindo linhas e linhas dado pela voz que fala pelo corpo que se move junto seguindo o compasso dos versos a cadência do poema o envolvimento acontecendo por inteiro Pode ser bailável leve rodopiante Pode ser marcado quase tiquetaqueado fazendo com que os olhos andem até em movimento pendular assim repetindo repetindo e de repente uma quebra no compasso que é também um final de história p 7677 3 Hortênsia Hortênsia hortênsia flor rainha da paciência Olhando pra ela sempre tão bela dá esperança Mas não lhe diga a não ser por intriga que ela precisa de uma balança Hortênsia hortênsia tão sorridente toda gordura engorda a gente só de ternura 36 As poesias podem evocar ainda sensações imagens visuais texturas diferentes sensação de vento provocando sons e deslocamentos Alguns poemas retratam os sonhos os desejos as vontades como se fossem os próprios anseios ou a felicidade do leitor A poesia fala principalmente de emoções de sentimentos vividos Fala de amor às vezes de amor amigo amor ternura de admiração pela simplicidade de sentimento de tristeza de perda de algo muito querido Por vezes fala de emoção do medo do terror geralmente tratada de modo assustador como convém ao tema Poucas vezes de modo bem humorado compreensivo e delicado como o poema do poeta José Paulo Paes Historinha de horror Certa vez eu sonhei que embaixo da cama havia um monstro medonho Acordei assustado e fui olhar de fato embaixo da cama havia um monstro medonho Ele me viu sorriu e me disse gentil Durma Sou apenas o monstro dos seus sonhos Outro poeta notável foi Vinícius de Moraes Desde 1960 seus poemas infantis circulam em antologias mas somente em 1970 seus 32 poemas foram reunidos no livro A arca de Noé provavelmente o livro infantil mais conhecido no Brasil na segunda metade do século XX Sua merecida popularidade devese a dois fatores o primeiro decorre do jogo sonoro da perspectiva infantil assumida pela voz poética do humor do aproveitamento de recursos típicos da poesia popular como a quadra a redondilha e a rima nos versos pares além da temática animal um dos temas de empatia junto às crianças o segundo fator para a sua popularidade é o fato de os poemas terem sido musicados por importantes compositores brasileiros como Tom Jobim e gravados em dois discos lançados no ano de 1982 Com letra e música do próprio Vinícius temos um de seus poemas infantis mais conhecidos A casa que transforma em estranho o conhecido o poema desconstrói verso a verso a noção de casa construindo uma ausência muito engraçada Veja 37 unidade3 A casa Vinicius de Moraes Era uma casa muito engraçada Não tinha teto não tinha nada Ninguém podia entrar nela não Porque na casa não Porque penico não tinha ali Mas era feita com muito esmero Na Rua dos Bobos número zero tinha chão Ninguém podia dormir na rede Porque na casa não tinha parede Ninguém podia fazer pipi Formas de trabalhar poemas com crianças É possível romper o preconceito de que é difícil trabalhar com poesia Várias iniciativas exitosas de professores que recuperaram o prazer da leitura poética o sabor de palavras combinadas a viagem na fantasia das imagens existem para confirmar essa assertiva De modo geral observamse resistências na escola em ler interpretar criar e recriar poemas Para alguns poesia nos remete ao passado coisa de nossos avós que declamavam para visitas ou recitavam versos na aula de Língua Portuguesa Vale a pena uma reflexão sobre o porquê de ensinar poesia na escola A experiência linguística começa com o nascimento quando os primeiros sons em melodias e palavras são ouvidos A poesia é tendência natural do ser humano desde o berço Primeiramente o som extrapola o significado nas parlendas quadrinhas canções de ninar e nos poemas A criança vive a poesia em seu cotidiano através das brincadeiras da invenção de rimas dos travalínguas e das músicas de embalar Ao entrar na escola essa relação com a poesia sofre uma brusca ruptura pois a escola privilegia a língua escrita e o dialeto padrão Porém devese deixar claro para o aluno que não se escreve por escrever não se lê por ler Segundo Geraldi 1993 quem escreve tem o que dizer uma razão para dizer e alguém para dizer o que se tem a dizer p 137 Também o professor deve abrir um livro de poemas e começar a ler com frequência para o colega na sala dos professores para o filho o sobrinho o marido a mãe para quem quiser ouvilo Talvez seja essa uma forma prazerosa de preparar o trabalho com poesia em sala de aula 38 Por que vale a pena ensinar poesia na sala de aula Como vimos a poesia é mais uma ferramenta que pode ser utilizada no processo da alfabetização A criança que desde os primeiros anos de escola entra em contato com poemas vêse sensibilizada para a manifestação do poético no mundo nas artes e nas palavras O convívio com a poesia favorece o prazer da leitura do texto poético e a estimula para a produção dos próprios poemas Além de enriquecer a sensibilidade o exercício poético ajuda no desenvolvimento de uma percepção mais rica da realidade aumenta a familiaridade com a linguagem mais elaborada da literatura e contribui simultaneamente para o processo da alfabetização e do letramento da criança Para o trabalho com poesia em sala de aula vamos tomar como exemplo o poema de José Paulo Paes Convite citado no início desta unidade à página 31 Começamos com a leitura do poema estimulando os alunos a brincarem com as palavras Em seguida pergunte à classe se poesia e poema têm o mesmo significado O que acham No ensino de poesia é muito comum haver confusão entre os conceitos de poesia e poema como se fossem vocábulos sinônimos Vamos mostrar que não são Poesia é um termo que provém da língua grega No sentido original poiesis é a atividade de produção artística a atividade de criar e fazer Em consonância com essa definição haverá poesia sempre que criando ou fazendo algo somos dominados pelo sentimento do belo sempre que nos comovermos com lugares pessoas objetos A poesia portanto pode estar nos lugares objetos e nas pessoas Assim não somente os poemas mas uma paisagem uma pintura uma foto uma dança um gesto um conto por exemplo podem estar carregados de poesia Poema é uma palavra que tem sua origem no latim poema que significa poema composição em verso companhia de atores comédia peça teatral e do grego poíéma o que se faz obra manual criação do espírito invenção Poema é então poesia que se organiza com palavras Seria bom iniciar trabalho com poemas fazendo primeiramente leituras individuais em voz alta com entonação e depois seria feito o entendimento do poema como a comparação do brincar com as palavras e com os brinquedos e das metáforas da água do rio e dos dias Outra ideia seria recortar o poema em palavras para reconstruílo e mesmo para usar essas palavras para formar outro poema 39 unidade3 Podese levar o aparelho de som para a sala e apresentar para as crianças os poemas que irão escutar juntos Conte às crianças que algumas canções que vão ouvir foram escritas originalmente como poemas É o caso por exemplo das faixas que compõem o CD A Arca de Noé cujas letras são de Vinícius de Moraes que só ganharam o acompanhamento da melodia muito tempo depois de terem sido criadas Leia os poemas textos ou letras das canções antes e também depois de ouvir a música Procure deixar ao alcance dos alunos os livros em que estão os poemas ou textos musicados para que sejam manuseados após a roda de leitura e música e também em outros momentos da aula Ao fim de um período todos já saberão cantar as músicas ouvidas podendo cantar com a gravação e saberão inclusive alguns poemas de cor Outra forma de trabalhar seria pedir que escolham poemas que falem de assuntos paralelos parecidos mas tratados de outra forma valorizados por outros aspectos de autores diferentes por exemplo com o assunto infância Podese iniciar lendo o poema Infância de Carlos Drummond de Andrade Mas antes da leitura pergunte como os alunos imaginam o poema Depois peça que imaginem cenas de infância reais ou fictícias de hoje e de outros tempos ou ainda de outros lugares Solicite que digam o que imaginaram Mostre uma imagem do poeta e forneça alguns dados biográficos sobre ele Em seguida leia o poema com bastante expressividade Explique que nesse poema o poeta relembra cenas da infância A família está presente na figura da mãe do pai do irmãozinho e da preta velha que oferecia café Infância A Abgar Renault Meu pai montava a cavalo ia para o campo Minha mãe ficava sentada cosendo Meu irmão pequeno dormia Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé comprida história que não acaba mais No meiodia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala nunca se esqueceu chamava para o café Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim PsiuNão acorde o menino Para o berço onde pousou um mosquito E dava um suspiro que fundo Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé 40 Acrescente informações que serão úteis para aumentar a compreensão do poema fale por exemplo quem foi Robinson Crusoé Se achar conveniente leve o livro para a classe e apresenteo aos alunos Em outro momento da aula proponha sua leitura Para ajudar ainda mais a compreensão ensine seus alunos a pesquisar no dicionário Escreva no quadrodegiz as palavras do poema menos usuais como campear senzala Aproveite para pesquisar a diferença entre coser costurar e cozer cozinhar Depois de resolvidas as dificuldades de significado das palavras menos usuais dê questões que ajudem os alunos a compreender melhor o poema Peça que em dupla respondam e anotem no caderno 1 A quem o poeta oferece o poema Informe que Drummond quis homenagear o amigo Abgar Renault professor educador político poeta ensaísta e tradutor que nasceu em Barbacena MG em 15 de abril de 1901 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 31 de dezembro de 1995 2 De quem é a infância de que fala o título do poema 3 O que faziam o pai a mãe o irmão pequeno o poeta e a preta velha na cena familiar descrita no poema 4 Que livro o menino estava lendo 5 Em que lugar da casa ele lia o livro 6 Alguém o acompanhava nesta leitura 7 O que o poeta acha da história do livro 8 Em que momento do dia a preta velha chamava para tomar café 9 Explique a expressão meiodia branco de luz 10 Qual era a reação da mãe quando o menino estava em casa 11 Onde viviam o poeta e sua família 12 Qual é a comparação que o poeta faz entre a sua história e a de Robinson Crusoé 13 A infância do poeta como está contada no poema é bonita Explique sua resposta Depois de debater as questões em dupla os alunos já têm o que falar sobre o texto Reúna os em círculo e discuta com eles sobre o entendimento do texto Não existem respostas certas o mais importante é que todos tenham a oportunidade de expressar seus pontos de vista o que entenderam pensaram e sentiram a partir da leitura e do estudo do poema Coloque as questões de compreensão em debate 41 unidade3 Seria interessante trabalhar em outra oportunidade com mais autores que escreveram sobre o tema infância Você poderá de acordo com o poema e sua criatividade trabalhar outros aspectos e outras questões Sugerimos os dois poemas que falam da infância de Roberto Passos do Amaral Pereira poeta capixaba e de Mário Quintana poeta gaúcho Compareos com o de Drummond Roberto Passos do Amaral Pereira nasceu em Vitória capital do Estado do Espírito Santo em 15101956 Em 1983 formouse em Medicina Fez residência em pediatria e especialização em Medicina do Trabalho Em seu tempo livre dedicavase à leitura e à escrita de crônicas poesias e resenhas Saudosa infância No final de tarde chega a saudade do pôrdosol da minha mocidade da vida da cidade do interior onde cada amanhecer tinha outro valor Vem a lembrança das longas conversas nas varandas dos banhos nas cachoeiras das festas das padroeiras da beleza do campo dos cantos dos pássaros do brilho da estrada de chão do fogão a lenha das novenas na vizinhança da serenata na calçada para a amada das cavalgadas Tudo isso assenta o meu desejo de voltar ao leito do rio da minha infância e mergulhar nas águas mansas do meu ser criança Uma ideia seria pedir aos alunos que pesquisem em casa sobre o autor Mário Quintana para a próxima aula assim como trazer outros poemas de sua autoria 42 As falsas recordações Mário Quintana Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau que nunca existiu na família e aquele arroio que nunca passou aos fundos do quintal e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão sob o zumbido inquietante dos besouros httpwwwpensadorinfofraseMTYyNjE Como última sugestão pedir que escolham um poema entre os muitos livros que você levar para a sala de aula Deixe que eles escolham livremente sem pressa Peça que preparem o poema escolhido para ler para os colegas É um momento propício para desenvolver a leitura e a oralidade Existe um número enorme de atividades que podem ser utilizadas no trabalho com poemas que irão variar de acordo com o poema e a criatividade do professor Porém não se pode esquecer que é melhor escolher poetas que sabem construir o verso controlar o ritmo eliminar o supérfluo para condensar de modo exato e belo as imagens provocar encantamento vontade de querer ler de novo para si e para outros ouvirem Por último é necessário ressaltar mais uma vez a importância de solicitar aos alunos o uso diário das atividades pedagógicas com a literatura em sala de aula e de qualquer outra atividade envolvendo literatura Esse resgate da literatura a partir de grandes escritores infantis contribui para a formação de leitores competentes capazes de ler qualquer tipo de texto com entendimento e somente assim exercer sua plena cidadania Muitos alunos leem mas não conseguem saber o que leram apenas decodificam os símbolos da língua A literatura infantil contribui para a formação de leitores e se nos primeiros anos o aluno for estimulado a ler e principalmente a ler bons autores o hábito e o gosto pela leitura podem ser desenvolvidos auxiliando o aluno na assimilação e compreensão em todas as disciplinas Por esse motivo é que se propõe um trabalho voltado para a leitura desde os primeiros anos valendose da literatura infantil 43 unidade3 Realize agora as atividades a seguir com base no estudo desta unidade ATIVIDADE Compare as respostas dadas por você no início desta unidade com o textobase apresentado e elabore uma síntese das mesmas Brincando de poeta Escolha um ou mais de um recurso poético e construa um poema mostre a sua criatividade Escolha um outro poema e elabore uma nova proposta de prática pedagógica com ênfase no letramento SAIBA MAIS Se você pretende aprofundar o estudo do poema e levar a poesia para a sala de aula procure ler CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 JOSÉ Elias A poesia pede passagem um guia para levar a poesia às escolas São Paulo Paulus 2003 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 PINHEIRO Hélder Org Poemas para crianças reflexões experiências sugestões São Paulo Duas Cidades 2000 45 Pra final de conversa Chegamos ao final desta disciplina mas certamente o assunto sobre literatura infantil não foi esgotado Esperamos que este estudo tenha funcionado como um estímulo à reflexão sobre a importância da literatura infantil como mais uma ferramenta auxiliar inicialmente no processo de alfabetização desenvolvendo simultaneamente no educando o gosto pela leitura e a consequente formação de leitores voltados inclusive para outros conteúdos outros conhecimentos Como ficou constatado o leitor do texto literário é um leitor completo e portanto o mais apto a se tornar um cidadão em plenitude um cidadão letrado Que você com sua sensibilidade conhecimento e interesse possa contribuir para que isso aconteça com seus alunos e que obtenha sempre sucesso em sua profissão de Professora Betânia Maria e Maria José 47 REFERÊNCIAS ABRAMOVICH Fanny Literatura infantil gostosuras e bobices São Paulo Scipione 2006 ARIÈS Philippe História social da criança e da família Rio de Janeiro Guanabara 1981 AURÉLIO Novo Dicionário Rio de Janeiro Nova Fronteira s d AZEVEDO Ricardo Literatura infantil origens visões da infância e traços populares Presença Pedagógica v 5 n 27 maiojun 1999 BAKHTIN Mikhail A cultura popular na Idade Média e no Renascimento 2 ed São Paulo Hucitec 1993 BILAC Olavo Poesias infantis Rio de Janeiro Francisco Alves 1957 BRAGATTO FILHO Paulo Pela leitura na escola de 1º grau São Paulo Ática 1995 COELHO Betty Contar histórias uma arte sem idade São Paulo Ática 2006a COELHO Nelly Novaes Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira 5 ed São Paulo Companhia Editora Nacional 2006b CUNHA Maria Antonieta Antunes Literatura infantil teoria e prática São Paulo Ática 1983 FREITAS Marcos Cezar de Org História social da infância no Brasil São Paulo Cortez 2001 FREITAS Maria Teresa de Assunção Internet um caminho para a literatura Presença Pedagógica v 8 n 47 setout 2002 p 2937 JOSÉ Elias A poesia pede passagem um guia para levar a poesia às escolas São Paulo Paulus 2003 GERALDI J W Portos de passagem 2 ed São Paulo Martins Fontes 1993 48 KRAMER Sônia Org Infância e produção cultural São Paulo Papirus s d KUHLMANN JR Moisés FERNANDES Rogério Sobre a história da infância In FARIA FILHO Luciano Mendes de A infância e sua educação materiais práticas e representações Portugal e Brasil Belo Horizonte Autêntica 2004 LAJOLO Marisa ZILBERMAN Regina Literatura infantil histórias e história São Paulo Ática 1984 LAJOLLO Marisa Do mundo da leitura para a leitura do mundo 3 ed São Paulo Ática 1997 LANDEIRA José Luís Marques L O amor à palavra e o estudo da linguagem na aula de português Presença Pedagógica Belo Horizonte Dimensão v 12 n 69 maiojun 2006 p 1217 LISBOA Henriqueta O menino poeta 12 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1998 56 p MEIRELES Cecília Poesias ou isto ou aquilo inéditos 2 ed Rio de Janeiro Melhoramentos 1972 MORAES Marcus Vinicius de A arca de Noé São Paulo Cia das Letras 1970 MURALHA Sidônio A televisão da bicharada São Paulo GiroflêGirafa 1962 PAES José Paulo É isso ali 2 ed São Paulo Moderna 2005 PINHEIRO Hélder Org Poemas para crianças reflexões experiências sugestões São Paulo Duas Cidades 2000