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História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 0 Ensino da História da África em debate Uma introdução aos estudos africanos Anderson Ribeiro Oliva Há alguns dias encontrei um professor colega de trabalho que retornara de sua primeira visita a uma cidade africana Ele estivera em Luanda capital de Angola Perguntei sobre referências da cidade que ainda carrego frescas em minha memória e de alguns hábitos comuns a certos grupos de pessoas que habitavam determinados bairros e que tinha me familiarizado Seu depoimento foi um misto de inquietação e descontentamento Problemas para apanhar e despachar as bagagens no Aeroporto Internacional 4 de fevereiro o trânsito caótico o sistema de coleta de lixo urbano extremamente falho ou ainda os intermitentes horários de funcionamento de algumas casas de comércio ou órgãos públicos marcaram seus olhares sobre Angola com os indícios do desprestígio e da incompreensão Apesar disso o tamanho da cidade o havia impressionado Já de sua estadia em Johannesburg na África do Sul em que pernoitou na volta sobraram elogios e espantos Mesmo já tendo escutado depoimentos e visto imagens sobre a cidade ele ficou admirado com seu traçado urbanístico com o moderno aeroporto e com o hotel de luxo em que ficou Nem parecia estar na África finalizava o colega Vista de um avião da companhia angola TAAG na pista do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro em Luanda Exageros em parte dessa postura podemos perceber que ela encontra elos com as narrativas de viagem de centenas de brasileiros americanos ou europeus que viajam ou viajaram para a África Discordo em parte de quase todos eles e de seus argumentos Parece plausível que em rápidas passagens por determinadas ruas de várias cidades africanas alguns ocidentais se impressionem pelo lixo acumulado nas sarjetas ou pelo trânsito caótico eles estão lá O mesmo serve para aqueles que se deparam com as estatísticas e os números de perdas humanas nas guerras das vítimas de malária e dos contaminados pela Aids eles também estão lá Porém essas realidades não revelam e nem sintetizam o que é a África nem seus centros urbanos Eles são evidentemente muito mais do que isso Os graves problemas 30 O Ensino da História da África em debate existem e vão continuar existindo nos próximos anos mas há nos passados e presentes africanos muito mais do que fome guerra doença e sujeira Além disso é certo afirmar que as realidades descritas pelo colega muito pouco de distingam de alguns bairros e dados estatísticos que encontramos em nossas cidades Sujeira e violência nunca foram exclusividades muito menos identificadores das cidades africanas apesar de parecer que elas pelos olhares ocidentais muito limitados deveriam se resumir a estas imagens Por que então reduzir o outro a isso enquanto olhamos para os mesmos problemas internos e achamos que são realidades passageiras ou de menor importância na construção de uma identidade positiva sobre nós mesmos Refletindo acerca de tão profundo desconhecimento ou sobre essa carga imaginária negativa cheguei a uma conclusão um tanto óbvia no esforço de tentar explicar o porquê de existir em nossas falas cotidianas tão poucas expectativas ou impressões positivas sobre o continente negro a África e suas múltiplas experiências históricas não nos foram apresentadas durante nossas trajetórias de vida e formações escolares a não ser por meio de informações que estavam recheadas de equívocos e simplificações Quantos de nós estudamos a África quando transitávamos pelos bancos das escolas Quantos tiveram a disciplina História Literatura Arte ou Geografia da África nos cursos de Graduação Quantos livros ou textos lemos sobre a questão Tirando as leituras que associam a África e os africanos à escravidão as breves incursões pelos programas do National Geographic ou Discovery Channel ou ainda as imagens chocantes de um mundo africano em agonia da Aids que se alastra da fome que esmaga dos grupos étnicos que se enfrentam com grande violência ou dos safáris e animais exóticos o que sabemos sobre a África Para começar a mudar esse quadro de imagens temos que inicialmente reconhecer a relevância de estudar a África independente de qualquer outra motivação Não é assim que fazemos com a Mesopotâmia a Grécia a Roma com suas civilizações e legados ou ainda a Reforma Religiosa os Estados Nacionais Europeus Revoluções Liberais ou as contribuições da Europa Moderna em nossa formação como nas artes nas formas de pensamento ou na literatura Muitos irão reagir à minha afirmação dizendo que o estudo dos citados assuntos muito explica nossas realidades ou alguns momentos de nossa História ou características atuais Nada a discordar Agora e a África não nos explica Não somos brasileiros frutos do encontro ou desencontro de diversos grupos étnicos ameríndios europeus e africanos A História da África e a História do Brasil estão mais próximas do que alguns1 gostariam Se nos desdobramos para pesquisar e ensinar tantos conteúdos em um esforço de algumas vezes apenas noticiar o passado ou características de algumas escolas de pensamento ou de padrões artísticos por que não dedicarmos um espaço efetivo para a África em nossos programas ou projetos Os africanos não foram criados por autogênese nos navios negreiros e nem se limitam em África à simplista e difundida divisão de bantos e sudaneses ou de culturas negroafricanas homogêneas Devemos conhecer a África não apenas para dar notícias aos alunos Na realidade não estamos fazendo referência a nenhuma instituição ou grupo de pessoas específico mas sim ao imaginário coletivo brasileiro que com poucas exceções não assume a sua africanidade História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 3 mas internalizála neles Por isso devemos saber responder com boa argumentação às perguntas acima apresentadas Porém chega de defesas ou apologias de uma História e nos concentremos nas coisas sérias O presente texto se propõe realizar uma dupla tarefa entregar aos nossos leitores uma reflexão sobre a forma como a África tem sido tratada nas salas de aula brasileiras a partir da análise dos conteúdos destinados à História da África em alguns manuais utilizados em nossas escolas Conjuntamente a essa tarefa que talvez se transforme em um manual de releitura dos livros didáticos pelos professores e alunos também apontaremos como poderia ser a forma correta de abordagem de algumas temáticas visitadas além de indicaremos referências bibliográficas aos docentes Esperamos que essa indicação das referências bibliográficas permita o complemento de leituras e uma aproximação mais densa e substancial por parte dos interessados no assunto A África ensinada no Brasil Ao levar em consideração que a freqüência ao ensino é obrigatória2 no Brasil no que chamamos de Ensino Fundamental com duração de nove anos podemos supor que o material didático produzido e utilizado nas escolas seja um instrumento de grande importância para a construção do conhecimento e na elaboração de referências sobre a História da África e dos africanos Talvez esse poder seja menor do que o da mídia ou das imagens daquele continente que chegam pela Internet cinema ou TV e cercam nossos estudantes Mas mesmo assim o estudo da história africana nas salas de aula brasileiras não deixa de ser uma possibilidade de mudanças nos olhares lançados sobre os africanos e suas histórias A partir desse contexto apresentaremos a seguir análise realizada sobre a forma como alguns dos manuais escolares de História utilizados nas escolas brasileiras abordaram a História da África e representaram por meio de imagens e textos escritos os africanos Com relação ao tratamento concedido a História do continente limitaremos o esforço analítico aos trechos que se referem ao período anterior ao século XIX já que sobre esse recorte da história africana é ainda maior o silêncio Esperamos que seja uma boa contribuição inicial para tão importante debate Os africanos dentro dos manuais escolares de História Silêncio desconhecimento e poucas experiências positivas Poderíamos assim definir o entendimento e a abordagem da história africana nas coleções de livros didáticos brasileiros Apenas um número muito pequeno de manuais possui capítulos específicos sobre a temática Nas outras obras a África aparece apenas como um figurante que passa despercebido em cena sendo mencionada como um apêndice misterioso e pouco interessante de outros assuntos Tornouse evidente também que quando o silêncio foi quebrado a bibliografia limitada e o distanciamento do tema por parte dos autores criaram obstáculos significativos para uma leitura mais atenta e um tratamento mais pontual sobre a questão Antes de maiores reflexões sobre nosso objeto3 que se registre um elogio Dentro 2 Nos anos noventa esta obrigatoriedade foi sendo aos poucos efetivada em números reais Os índices de alunos matriculados no Ensino Fundamental correspondem à grande parte da população em idade escolar no país O Ensino da História da África em debate de um total de mais de trinta coleções de História destinadas para o Ensino Fundamental apenas oito4 dedicam o espaço exclusivo de um capítulo para tratar a história do continente africano anterior ao século XIX e outras duas reservam tópicos extensos para tratar à temática Nas outras quase sempre a África aparece em óbvias passagens da História do Brasil da América ou da Europa ligadas à escravidão à expansão ultramarina ao domínio colonial no século XIX ao processo de independência e às graves crises sociais étnicas econômicas e políticas em que mergulhou grande parte dos países africanos formados no século XX Nos textos em enfoque por razões que talvez espelhem a pequena intimidade com a bibliografia especializada em História da África e as circunstâncias específicas da elaboração de um livro didático as imprecisões e equívocos acabam por predominar Isso não exclui algumas boas reflexões realizadas pelos autores ou ainda abordagens adequadas dos conteúdos apresentados No entanto os livros quase sempre são marcados mais pelos desacertos do que pelos acertos Façamos um breve balanço desses pontos lembrando que eles não são comuns a todos os livros mas sim fruto de um panorama geral desses manuais Como estratégia de apresentação dividimos os aspectos analisados em tópicos nos quais associamos as visões dos autores acerca de determinados conteúdos ou temáticas Poucas palavras para muitas Histórias Um primeiro problema a destacar pode ser identificado com uma simples passada de olhos pelos índices dos manuais Se elogiamos a disposição dos autores em conceder à África um capítulo específico é inversamente sintomático o espaço reservado a tal tarefa Existe clara tendência entre os volumes analisados com exceção de dois livros de dedicar um número significativamente menor de páginas ao tratar a África concentrando suas abordagens em uma versão eurocêntrica da História Por exemplo enquanto os capítulos que tratam de temas como Europa Medieval Absolutismo Monárquico Reforma Religiosa e Renascimento Cultural ocupam em média de 15 a 20 páginas e vasta bibliografia à História da África na maioria dos casos reservase algo entre 10 a 15 páginas ver gráfico 1 e com uma literatura de apoio restrita Por falta de conhecimento ou de interesse percebese um grande desequilíbrio ao se abordar a história da Europa e da África É claro que não estamos tomando como referência exclusiva o valor quantitativo da questão mas também qualitativo Parecenos óbvio que tratar a história africana abordando um período equivalente a pelo menos mil anos e englobando o complexo e diverso quadro das sociedades e civilizações do continente em dez ou quinze páginas é algo que só se torna possível com extremas simplificações e generalizações Frisamos que a expectativa sobre a abordagem escolar da história da África não 3 Pesquisa apresentada na tese de doutorado defendida em 2007 junto programa de PósGraduação em História da Universidade de Brasília UnB Lições sobre a África diálogos entre as representações dos africanos no imaginário Ocidental e o ensino da História da África no Mundo Atlântico 19902005 Na tese tenciono fazer a análise acima citada em manuais didáticos de História produzjdos a partir de 1990 utilizados nas escolas brasileiras e portuguesas Ver também meu artigo intitulado A África nos bancos escolares Representações e imprecisões na literatura didática presente na bibliografia 4 Ver lista na bibliografia História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola se encerra na ilusória idéia de que todas as sociedades africanas tenham que ser mencionadas ou abordadas Parece evidente também que qualquer assunto tratado em sala de aula ou em um livro didático é escolhido a partir de alguns critérios eleitos pelos autores editoras Estado currículos estudantes e professores Assim como a forma de abordar o tema nunca vai deixar de ser uma leitura parcial um recorte um tanto arbitrário das experiências enfocadas Mas o que não é justificável pelo menos em nosso entendimento é o pequeno espaço concedido ao estudo da história da África A África só dos grandes Reinos e Impérios Outro elemento comum aparece quando os autores apresentam as sociedades africanas que serão estudadas Eles quase sempre utilizam uma difundida idéia entre os historiadores pertencentes à chamada corrente da Superioridade Africana5 de que seria fundamental estudar as grandes civilizações encontradas na África Porém esse grupo de pesquisadores e intelectuais no período próximo anterior e posterior às independências utilizou padrões ou modelos europeus para afirmarão mundo e aos próprios africanos que a História do continente negro possuía elementos sofisticados e formas de organização avançadas e que deveriam ser estudadas Neste sentido encontrar os grandes impérios e reinos as grandes construções 5 0 historiador guineense Carlos Lopes organizou uma classificação para a historiografia africana na qual ela pode ser pensada em três correntes a corrente da Inferioridade Africana a corrente da Superioridade Africana e os novos estudos africanos Com relação à corrente da Superioridade Africana uma de suas principais características era supervalorizar o continente utilizando categorias européias no estudo de antigas civilizações africanas buscando igualar os feitos históricos africanos aos europeus Ver LOPES Carlos A Pirâmide invertida historiografia africana feita por africanos 34 O Ensino da História da África em debate e as esplendorosas obras de arte se tornou portanto quase que uma obsessão6 Porém já faz algum tempo que as novas historiografias africanas vêm alertando paral o fato de que a África é uma região de grande autonomia de imensa capacidade criativa e de fecunda participação na história da humanidade e de que não seria preciso eleger sempre referências européias para sua afirmação Porém os autores dos manuais parecem desconhecer essa crítica pois é justamente esse o critério adotado em oito7 dos dez livros para selecionar o que será estudado sobre a História da África Por isso a presença é quase certa dos reinos de Gana do Kongo da j Etiópia do Zimbabue e dos impérios do Mali e Songhai A princípio não temos nada contra a citação ou estudo dessas formações políticas elas devem ser abordadas Até por que de fato permitem a intimização por parte de estudantes e professores de uma África diversa rica e fascinante O que incomoda é sua supervalorização ou enfoque exclusivo e não a sua presença quase sempre obrigatória Tal ênfase ocorre em detrimento à outros contextos históricos também importantes o que causa uma leitura distorcida de certas sociedades africanas Fonte levantamento efetuado pelo autor Parece também que a ênfase na abordagem da África Ocidental encontrada em boa parte dos manuais se confunde com a perspectiva de que a existência dos grandes reinos e impérios ocorreu em maior número naquela região Dessa forma o resto da África não recebe a mesma atenção parecendo que suas sociedades seriam menos interessantes 6 Sobre a questão ver os trabalhos de Philip Curtin Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e contribuição à história em geral e Manuel Difuila Historiografia da História de África 7 Para informações e pesquisas mais completas acerca dessas formações políticas ver os seguintes estudos BIRMINGHAM David A África Central até 1870 COSTA E SILVA Alberto A Enxada e a lança A África antes dos portugueses KIZERBO Joseph História da África Negra M1 BOKOLO Elikia África Negra História e Civilizações até ao Século XVIII NIANE D T org História Geral da África vol IV África entre os séculos XII e XVI OLIVER Roland A Experiência Africana e FAGE J D e OLIVER Roland Breve História da África História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 35 0 vinho feito de palmeira era muito apreciado embora fizesse muito mal à saúde quando bebido exageradamente O guerreiro bêbado era fácil de ser derrotado o sábio bêbado não passava de tolo8 Apesar desses aspectos um ponto positivo pode ser destacado do esforço dos textos em descrever a concentração dos grandes reinos e impérios africanos na África Ocidental Ao abordarem por exemplo a relevância da metalurgia o domínio da grande agricultura e o circuito comercial que envolvia as atividades econômicas entre as sociedades africanas dali com as de outras regiões eles permitem a aproximação imaginária dos alunos com parte da cultura material desses povos Outro acerto comumente encontrado referese ao destaque concedido ao perfil comercial de algumas sociedades na área9 A presença de caravaneiros árabes e africanos envolvidos nos negócios é muitas vezes corretamente apresentada Ao mesmo tempo a referência à alguns importantes centros urbanos do período como Tombuctu Gao ou Djenné com seus grupos de comerciantes ou artesãos permite aos estudantes perceberem a ativa participação dos africanos nas atividades mercantisintelectuaisculturais desenvolvidas naquela parte do continente Os comerciantes habitavam uma cidade próxima e negociavam com os árabes do Norte da África comprando tecidos sal e cobre10 Já outro reino africano citado com freqüência é o da Etiópia A ênfase das informações concentrase na idéia de que ele foi um grande reino cristão cravado em meio às sociedades islamizadas Sua sobrevivência teria sido possível segundo alguns autores devido à aliança entre os governantes locais e os poderosos líderes religiosos Sendo assim em troca da construção de enormes igrejas de pedra e da doação de terras os líderes religiosos apoiavam as guerras contra os islamitas11 Parece um tanto limitante encerrar toda a importância ou história da Etiópia em um dado ela ser cristã E suas outras faces e características Que fique claro que não negamos a importância das abordagens dessas regiões ou formações políticas africanas Elas de fato possibilitam a construção de novos SCHMIDT Mario Nova História Crítica 6o ano p 181 90 comércio foi uma característica econômica comum a várias regiões na África não ficando limitada a citada área da África Ocidental Tanto na África Central com um comércio intraafricano até o século XV como na parte Oriental do continente com grande influência e participação do mundo árabe as atividades mercantis foram comuns SCHMIDT Mário Nova História Critica 6 ano p 178 DREGUER Ricardo e Toledo Eliete História cotidiano e mentalidades 7a p 58 O Ensino da História da África em debate referenciais imagéticas e conceituais sobre a África Porém a idéia transmitida pol esse enfoque parece reforçar a perspectiva de que os pequenos grupos não possuem relevância alguma Ou ainda diante da impossibilidade de atentar para a diversas sociedades que se espalham pelo continente a seleção ocorrei espelhandose na História da Europa o estudo das grandes civilizações ou reinos Não ignoramos a existência na África de organizações políticas ou sociais com semelhanças às européias ou americanas mas é preciso que se demonstre e enfatize suas singularidades e especificidades Porém esse importante debate sobre o sentido ou significado das categorias como reino ou império para esta sociedades africanas não ocorre Esses conceitos são empregados e apresentados como se possuíssem o mesmo valor explicativo utilizado na compreensão das realidades européias É muito provável que tal descaso confunda as referências adotadas ou construídas pelos alunos sobre a história africana A utilização de modelos ou categorias europeus é de fato uma ação comum e pouco didática por parte dos autores Em contra partida como aspecto extremamente adequado destacamos as tentativas realizadas por alguns livros de informar aos alunos a maneira como a História da África Ocidental foi reconstruída a partir do uso das fontes escritas árabes e européias e das fontes orais africanas No caso da história dos impérios africanos dos séculos XI a XV os historiadores encontram histórias orais transmitidas j de geração em geração até os dias de hoje 12 A escravidão na África e o tráfico de africanos escravizados A escravidão em debate Ao analisar os efeitos da escravidão e do tráfico negreiro nas populações africanas os livros didáticos com raras exceções revelam um grande descompasso com as novas pesquisas historiográficas acerca da temática Sobre as referências dos diferentes usos sentidos e concepções da escravidão na África e na América e das motivações econômicas que alimentaram o tráfico negreiro algumas posturas incomodam Primeiro poucos autores fazem alusão explicativa à escravidão tradicional africana aquela existente antes da chegada dos europeus ou árabes como se a escravidão fosse uma invenção estrangeira naquele continente Sabendo das profundas diferenças entre a escravidão praticada pelos africanos e aquela utilizada sob influência dos árabes ou europeus seria fundamental um comentário sobre o tema Em alguns textos isso ocorre parcialmente ldem ibidem p 63 O Ensino da História da África em debate referenciais imagéticas e conceituais sobre a África Porém a idéia transmitida por esse enfoque parece reforçar a perspectiva de que os pequenos grupos não possuem relevância alguma Ou ainda diante da impossibilidade de atentar para as diversas sociedades que se espalham pelo continente a seleção ocorreu espelhandose na História da Europa o estudo das grandes civilizações ou reinos Não ignoramos a existência na África de organizações políticas ou sociais com semelhanças às européias ou americanas mas é preciso que se demonstre e enfatize suas singularidades e especificidades Porém esse importante debate sobre o sentido ou significado das categorias como reino ou império para estas sociedades africanas não ocorre Esses conceitos são empregados e apresentados como se possuíssem o mesmo valor explicativo utilizado na compreensão das realidades européias É muito provável que tal descaso confunda as referências adotadas ou construídas pelos alunos sobre a história africana A utilização de modelos ou categorias europeus é de fato uma ação comum e pouco didática por parte dos autores Em contra partida como aspecto extremamente adequado destacamos as tentativas realizadas por alguns livros de informar aos alunos a maneira como a História da África Ocidental foi reconstruída a partir do uso das fontes escritas árabes e européias e das fontes orais africanas No caso da história dos impérios africanos dos séculos XI a XV os historiadores encontram histórias orais transmitidas de geração em geração até os dias de hoje A escravidão na África e o tráfico de africanos escravizados A escravidão em debate Ao analisar os efeitos da escravidão e do tráfico negreiro nas populações africanas os livros didáticos com raras exceções revelam um grande descompasso com as novas pesquisas historiográficas acerca da temática Sobre as referências dos diferentes usos sentidos e concepções da escravidão na África e na América e das motivações econômicas que alimentaram o tráfico negreiro algumas posturas incomodam Primeiro poucos autores fazem alusão explicativa à escravidão tradicional africana aquela existente antes da chegada dos europeus ou árabes como se a escravidão fosse uma invenção estrangeira naquele continente Sabendo das profundas diferenças entre a escravidão praticada pelos africanos e aquela utilizada sob influência dos árabes ou europeus seria fundamental um comentário sobre o tema Em alguns textos isso ocorre parcialmente Idem ibidem p 63 História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola Outra forma de escravização consistia em uma prática antiga entre os africanos os vencedores de uma guerra tinham o direito de levar parte dos derrotados para trabalhar em sua terra Contudo o escravo levava uma vida parecida com a dos trabalhadores livres trabalhava lado a lado com eles mantinha suas tradições e muitas vezes alcançava a liberdade ao lutar junto com os guerreiros da tribo13 Porém em outros as narrativas estão recobertas de imprecisões e equívocos como por exemplo quando o assunto tratado envolve a abordagem da escravidão e do tráfico praticado pelas sociedades islâmicas marcados por um intenso fluxo e grande quantidade de indivíduos escravizados A escravidão não era novidade na África Desde o século XI os árabes adquiriam escravos africanos Mas os árabes tinham poucos escravos e geralmente os filhos dos escravos já eram quase livres14 É evidente que existem outras faces não tão amistosas da escravidão praticada na região e que são ignoradas ou omitidas pelos autores Trabalhos de historiadores reconhecidos na temática como John Thornton e Paul Lovejoy revelaram há um bom tempo a existência de castigos castrações comercialização e sacrifícios envolvendo os usos da escravidão na África principalmente nas sociedades islamizadas e no tráfico saariano Ao mesmo tempo quase nada é dito sobre as carcaterísticas e especificidades da chamada escravidão doméstica ou de linhagem e parentesco concentrando as informações acerca da escravidão atlântica ou seja aquela que envolveu o tráfico e o uso de africanos escravizados nas Américas15 Gráfico 3 Abordagens sobre a escravidão na África Fonte levantamento efetuado pelo autor DREGUER Ricardo e Toledo Eliete História cotidiano e mentalidades 7a p 59 SCHMIDT Mario Nova História Crítica 6o ano p 180 15Sobre o assunto ver os seguintes trabalhos presentes na bibliografia MANNING Patrick Escravidão e mudança Social na África THORNTON John A África e os africanos na Formação do Mundo Atlântico e COSTA e SILVA Alberto da A manilha e o Libambo 38 O Ensino da História da África em debate Segundo ao tentar situar o aluno perante as relações das práticas materiais com I as mentalidades de certo período algumas análises se revestem de um perigoso I anacronismo Ao afirmarem que mesmo sendo apoiada pela Igreja governos comerciantes políticos fazendeiros e pela mentalidade da época a escravidão foi de alguma forma injusta em sua própria essência os livros que adotam tal postura I explicativa perdem os limites temporais e os critérios do relativismo fazendo com que o aluno visualize uma história na qual todos devem ter como valores e referências de vida os padrões ocidentais atuais16 Além das necessidades econômicas existia a mentalidade da época A escravidão não era escandalosa como é hoje Até mesmo os padres tiveram escravos Já pensou se alguém disser que temos de aceitar as injustiças sociais de hoje porque no futuro alguém vai falar que no nosso tempo as injustiças eram normais17 Ao exigir da Igreja Católica do período uma postura contrária a que historicamente manteve o autor desconsiderou as perspectivas teológicas e I temporais do catolicismo A idéia de que a Igreja foi omissa ou permissiva não condiz com as práticas e posturas do Vaticano à época são reflexões que encontram eco apenas a partir dos olhares contemporâneos8 Não podemos esquecer que os elementos que embasaram as bulas papais que autorizavam os reis portugueses a escravizar eternamente os muçulmanos os pagãos e os africanos negros foram retirados de um imaginário maior no qual o negro e os infiéis eram tipificados como inferiores aos homens da cristandade européia19 Não estamos justificando a postura de nenhuma instituição e nem negando a dramaticidade dos eventos envolvendo o I tráfico de pessoas pelo Atlântico O único incômodo é a iniciativa de julgar e emitir juízos de valor sobre fatos e contextos que se constituem em sua essência temporal e definidora com bases diversas das vivenciadas por estudantes e professores De forma parecida quase não existem menções aos africanos traficantes ou as formas de escravização usadas na África Para boa parte dos autores somente os comerciantes portugueses espanhóis ingleses e brasileiros fizeram parte das redes de lucro oriundas de tal atividade A participação de africanos no comércio de homens é apesar das positivas exceções ignorada a não ser pela perspectiva de que muitos escravos foram obtidos a partir dos conflitos entre grupos rivais do continente Somase a esse quadro o uso pouco adequado de imagens que ilustram 16 Parece óbvio que pensar a escravidão a partir dos valores e concepções de mundo influenciadas pelas ideologias e posturas humanitárias que marcaram a segunda metade do último século exige a rejeição e o combate da sua existência nos dias de hoje ou mesmo no passado Porém isso é uma visão do presente O conjunto de idéias valores e interesses daquela época eram outros e não eram homogêneos Mesmo que a violência fosse marca certa desse processo ele era justificado para os homens do período inclusive alguns africanos 17 SCHMIDT Mario Nova História Crítica 6 ano p 213 18 Alertamos que não estamos desconsiderando os esforços de alguns missionários religiosos ou teólogos contrários à escravidão Apenas evidenciamos o debate político diplomático e religioso de esferas hierárquicas maiores acerca da questão ou que se tornaram características gerais da Igreja 19 Acerca da questão ver o trabalho de Carlos Lopes A Pirâmide Invertida historiografia africana feita por africanos História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola os africanos e escravos no Brasil em condição de submissão e de punição Nelas é reproduzido o estereótipo do africano passivo e sofredor Nos manuais em que a África não recebe uma abordagem específica um dos maiores equívocos encontrados é de se referir à sua história apenas a partir do tráfico de escravos É como se o continente não tivesse uma trajetória histórica anterior à escravidão atlântica Alguns autores dos manuais analisados aqui chamam a atenção para a influência dessa referência na elaboração do imaginário cheio de estereótipos compartilhado pela grande maioria de nossos alunos e professores acerca dos africanos Em geral quando no Brasil e na América falamos em África todos se lembram logo da escravidão e exploração impostas aos africanos pelos europeus É como se a história da África estivesse sempre presa à história dos povos dominadores20 Entre diversidades e simplificações Uma das principais estratégias para desconstruir alguns dos estereótipos que simplificam ou inferiorizam os africanos aos olhares ocidentais é revelar aos alunos que abaixo do Saara não existiram apenas dois grandes grupos humanos os bantos e os sudaneses Ao longo da História da África inclusive nos dias atuais podemos encontrar centenas de grupos étnicos e diversas formas de organização política socialculturaleconômicas no continente Essa profunda diversidade é uma das faces mais vivas e características da África No começo dos capítulos quase todos os autores alertam de forma bastante pontual para essa diversidade cultural que teria caracterizado os povos africanos assim como para o fato de que a grande civilização egípcia ser antes de qualquer outra coisa africana Esses argumentos serviriam para desconstruir as idéias equivocadas transmitidas pelo ensino da História e preservada no imaginário comum de uma África homogênea e simplista A África é um imenso continente ocupado por muitos povos que apresentam uma grande diversidade cultural Tal diversidade resulta dos diferentes processos históricos vividos pelos habitantes de cada região na África21 Uma África ocupada por tribos Com relação à maneira de denominar ou identificar as sociedades africanas o uso de alguns termos ou conceitos demonstram muitas vezes o despreparo dos autores Por exemplo o conceito de tribo utilizado por seis dos dez manuais ver gráfico 4 parece ser por demais impreciso para se referir as sociedades do continente Existe já há algum tempo um intenso debate acerca das marcas ou interdições da utilização dessa categoria MACEDO José Rivair e OLIVEIRA Mariley W Brasil uma história em construção p195 DREGUER Ricardo e TOLEDO Eliete História cotidiano e mentalidades 7a p56 40 O Ensino da História da África em debate Diante do grande suporte que as pesquisas antropológicas e históricas já deram sobre o assunto acredito que insistir nessa forma de se referir às sociedades da África não encontra mais justificativa22 Porém a referência às sociedades africanas como tribais é freqüente Parece existir uma continuidade de idéias com os mitos ou teorias que defendiam a suposta inferioridade dos povos africanos já que tribo aparece nestes casos com o significado oposto ao de civilização A utilização da categoria tribo também é recorrente para designar as sociedades dominadas pelos impérios Será que existe nesta relação alguma intenção de interiorizar os pequenos grupos Em nenhum livro encontramos algum tipo de aparte explicativo sobre o significado trajetória e ajustes que devem cercar a aplicação desse conceito Gráfico 4 Associação das sociedades africanas aos conceitos de Tri ba lPri m itivoSelvagem O uso de alguns outros termos ou conceitos como de nação ou de país também são recorrentes e também estão encobertos de imprecisão Fica evidente que os autores encontram dificuldades em tratar os grupos étnicos africanos e confundem ainda mais os alunos ao usarem termos ou definições que se ajustam mais especificamente a outros contextos históricos do que ao africano pelo menos até o início do século XX Não que não possam ser aplicados no entendimento da África mas se utilizados devem ser contextualizados Neste caso o uso de termos como grupo étnico sociedades ou povos parece ser mais didática e conceitualmente mais acertado As cosmologias africanas esquecidas Outra falha encontrada em alguns textos é a pequena atenção dedicada às concepções cosmológicas23 das sociedades africanas Em poucos momentos os livros Ver os seguintes trabalhos SOUTHALL Aidan The illusion ofthe tribe p 3851 DAVIDSON Basil The search for África p141145 e de TRAJAIMO FILHO Wilson Uma experiência singular de crioulizaçêo p 68 Ao nos referirmos em África ao que no Ocidente entendemos por religião utilizaremos o termo Cosmologia Na verdade o termo procura condensar a idéia de uma estrutura de pensamento que articula as relações entre as esferas do físico e do metafísico de forma muito mais intimista e complexa do que no caso ocidental As relações com as forças invisíveis com os antepassados com as normas de funcionamento das sociedades e do cosmos se confundem nessa dinâmica perspectiva relacionai História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 41 atentam para uma abordagem explicativa da relação entre as diferentes percepções e definições daquilo que os ocidentais chamam de Religião para as elaborações africanas sobre a questão A literatura existente sobre o pensamento tradicional religioso africano oferece um rico subsídio para este debate em minha opinião fundamental para relativizar o universo africano e demonstrar como suas estruturas de explicação das relações sociais e da vida são diferentes das ocidentais24 Devido à polêmica que normalmente envolve o assunto nas salas de aula ele deveria ter presença obrigatória nos textos didáticos Porém o tema recebe apenas uns poucos parágrafos de atenção em apenas alguns poucos livros uma parte importante dos africanos acreditava num único Deus eles se tornaram muçulmanos Muitos povos africanos desenvolviam o culto aos antepassados Os parentes mortos eram adorados como deuses por seus familiares que acreditavam que os espíritos podiam ajudar ou perturbar o cotidiano dos vivos Por isso era comum jogarse um pouco de bebida na terra para que o espírito do parente morto pudesse beber e se alegrar25 Assim apesar da forte pressão dos imperadores nobres e grandes mercadores a favor da adesão ao islamismo a maioria da população do império continuava mantendo suas práticas religiosas como a adoração aos deuses da natureza26 Sobre essas passagens fica uma inquietante dúvida que parte importante dos africanos era monoteísta E esse é o único elemento que possibilitou a conversão ao islamismo Acreditamos que estas idéias estejam erradas Mais do que isso o que se percebe é a extrema simplificação e superficialidade ao se tratar das cosmologias africanas Em certos trechos se empresta a todo universo africano algumas práticas que se ocorriam em certas regiões do continente possuíam significados singulares e complexos em outros as complexas estruturas do pensamento africano ficam resumidas a estereótipos Não podemos ignorar o fato de que o fenômeno religioso em África não tem as mesmas bases do que o Ocidental Por isso para os povos da região seria mais adequado usar o termo cosmologia e não religião Além disso é difícil aceitar que as complexas estruturas dos pensamentos cosmológicos africanos sejam resumidas pela idéia deles serem adoradores de deuses da natureza Os africanos islamizados e o islã africanizado No tópico responsável pela abordagem das múltiplas relações presenças e apropriações do islamismo com as sociedades africanas percebemos um movimento Acerca da questão das cosmologias africanasver a obra de APPIAH Kwame Anthony Na casa de meu pai Ver SCHMIDT Mario Nova História Crítica 6o ano p 182183 DREGUER Ricardo e TOLEDO Eliete História cotidiano e mentalidades 7a p 61 O Ensino da História da África em debate explicativo comum entre os livros e impreciso historicamente Poderíamos falar em uma espécie de etnocentrismo árabe a nortear essas análises As ações históricas ocorridas na África do Norte Ocidental e Oriental se tornam exclusividades dos grupos árabes muçulmanos que percorrem a região restando aos africanos uma postura passiva perante o outro As influências do islamismo e a própria islamização de algumas sociedades africanas são mencionadas porém alguns aspectos são negligenciados ou citados de forma um tanto confusa Um desses pontos é a idéia de que a conversão ao islamismo atingiu a todos os membros das sociedades em contato com os mercadores árabes ou dos estados islâmicos em expansão de forma quase instantânea As estratégias de conversão das elites comerciais ou governamentais e a posterior e gradual conversão da população são fenômenos apenas parcialmente mencionados Apesar de manterem diversas práticas tradicionais converteramse ao islamismo absorvendo muitos aspectos da cultura islâmica A adoção dos mesmos elementos utilizados por seus parceiros comerciais possibilitava maior controle sobre as relações comerciais evitandose prejuízos27 Outro descuido é não mencionar a apropriação e influências dos africanos sobre o islamismo praticado na África Seria correto afirmar que o Islã foi muitas vezes africanizado Na arquitetura nas formas teocráticas nas interpretações alcorânicas na convivência com as concepções cosmológicas locais existiu uma participação ativa das sociedades da região sobre o Islã Porém a idéia mais repetida inclusive nas imagens é a da islamização dos africanos Outros pontos positivos e elogios No uso das imagens alguns autores parecem se sair um pouco melhor apesar de algumas citações e fontes estarem imprecisas ou ausentes A apresentação de mapas que fogem das representações cartográficas tradicionais dos manuais e de imagens de mesquitas em Mopti e Djenee e da cidade de Tombuctu e do Grande Zimbábue assim como de esculturas feitas pelos africanos são importantes instrumentos na apresentação das formas arquitetônicas das religiosidades artes e filosofias africanas Alguns autores em válida iniciativa chamam a atenção dos alunos para as representações elaboradas pelos africanos sobre os europeus como algumas imagens feitas por uma sociedade do Golfo da Guiné em seus contatos com os portugueses nos séculos XV e XVI revelando a postura mercantil e bélica dos europeus no continente africano Alertar para as representações feitas dos europeus pelos diversos grupos africanos é um exercício fecundo para que os alunos passem a DREGUER Ricardo e TOLEDO Eliete História cotidiano e mentalidades 7 ano p 6263 42 O Ensino da História da África em debate explicativo comum entre os livros e impreciso historicamente Poderíamos falar em uma espécie de etnocentrismo árabe a nortear essas análises As ações históricas ocorridas na África do Norte Ocidental e Oriental se tornam exclusividades dos grupos árabes muçulmanos que percorrem a região restando aos africanos uma postura passiva perante o outro As influências do islamismo e a própria islamização de algumas sociedades africanas são mencionadas porém alguns aspectos são negligenciados ou citados de forma um tanto confusa Um desses pontos é a idéia de que a conversão ao islamismo atingiu a todos os membros das sociedades em contato com os mercadores árabes ou dos estados islâmicos em expansão de forma quase instantânea As estratégias de conversão das elites comerciais ou governamentais e a posterior e gradual conversão da população são fenômenos apenas parcialmente mencionados Apesar de manterem diversas práticas tradicionais converteramse ao islamismo absorvendo muitos aspectos da cultura islâmica A adoção dos mesmos elementos utilizados por seus parceiros comerciais possibilitava maior controle sobre as relações comerciais evitandose prejuízos27 Outro descuido é não mencionar a apropriação e influências dos africanos sobre o islamismo praticado na África Seria correto afirmar que o Islã foi muitas vezes africanizado Na arquitetura nas formas teocráticas nas interpretações alcorânicas na convivência com as concepções cosmológicas locais existiu uma participação ativa das sociedades da região sobre o Islã Porém a idéia mais repetida inclusive nas imagens é a da islamização dos africanos Outros pontos positivos e elogios No uso das imagens alguns autores parecem se sair um pouco melhor apesar de algumas citações e fontes estarem imprecisas ou ausentes A apresentação de mapas que fogem das representações cartográficas tradicionais dos manuais e de imagens de mesquitas em Mopti e Djenee e da cidade de Tombuctu e do Grande Zimbábue assim como de esculturas feitas pelos africanos são importantes instrumentos na apresentação das formas arquitetônicas das religiosidades artes e filosofias africanas Alguns autores em válida iniciativa chamam a atenção dos alunos para as representações elaboradas pelos africanos sobre os europeus como algumas imagens feitas por uma sociedade do Golfo da Guiné em seus contatos com os portugueses nos séculos XV e XVI revelando a postura mercantil e bélica dos europeus no continente africano Alertar para as representações feitas dos europeus pelos diversos grupos africanos é um exercício fecundo para que os alunos passem a DREGUER Ricardo e TOLEDO Eliete História cotidiano e mentalidades 7 ano p 6263 História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 43 reconhecer a participação ativa e a autonomia das sociedades africanas perante as relações estabelecidas com outras sociedades Normalmente o que encontramos é a reprodução das imagens elaboradas pelos europeus sobre os africanos nas quais percebemos a mudança de suas fisionomias de seus gestos roupas e comportamentos que são europeizadas A Historiografia consultada Com relação à utilização das pesquisas realizadas pelas historiografias africana e africanista as bibliografias citadas apesar de conterem nomes e obras importantes são ainda bastante restritas se comparadas à difusão de estudos e pesquisas que a História da África passou nos últimos vinte anos A presença dos trabalhos de Basil Davidson Roland Oliver e Joseph KiZerbo demonstra o contato com a vertente de estudos efetuados até a década de 1970 Já a citação da obra de Alberto da Costa e Silva revela o contato com estudos mais recentes porém essas referências são ainda insuficientes O distanciamento com as novas investigações acerca da história do continente não mais se justifica Nos últimos anos a ação de um grupo considerável de pesquisadores brasileiros tem contribuído para minimizar o descaso com os estudos africanos no país Congressos31 publicações e centros de pesquisa têm tentado estender os estudos sobre o passado africano Destacaramse nessa tarefa três centros de estudos O mais antigo deles é o Centro de Estudos AfroOrientais Ceao da Universidade Federal da Bahia criado no final dos anos 1950 Sob sua tutela é publicada a revista AfroÁsia Nas décadas seguintes surgiam mais dois importantes centros o Centro de Estudos AfroAsiáticos 1973 na Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro e o Centro de Estudos Africanos 1978 da USP Ambos também são responsáveis pela manutenção de importantes revistas como a Estudos AfroAsiáticos e a África respectivamente Nesse mesmo tempo pesquisadores têm conquistado um espaço cada vez maior no cenário historiográfico internacional e nacional Para evitar a repetição excessiva de nomes e títulos serão mencionados apenas aqueles que são para os estudos africanos realizados a partir do Brasil indispensáveis e possuem publicações acessíveis ao público brasileiro É claro que devido a um descuido imperdoável alguns nomes não serão citados Isso ocorre não por demérito mas sim pela existência de um dado positivo o aumento do número de pesquisas impossibilita reunir todas em um só texto Citemos portanto os trabalhos agregados em algumas áreas temáticas Acerca do tráfico de escravos dois trabalhos são fundamentais o de Paul Lovejoy A escravidão na África uma história de suas transformações e o de John Thorton A África e os africanos na formação do Mundo Atlântico 14001800 Sobre regiões específicas da África como o reino do Kongo do Ndongo na África Central Ocidental existem os trabalhos de Joseph Mil ler Poder político e parentesco antigos estados mbundu em Angola de David Birmingham A África Central até 1870 e de Selma Pantoja Nzinga Mbandi mulher guerra e escravidão Sobre Angola contemporânea as reflexões de Marcelo Bittencourt Dos jornais às armas 44 O Ensino da História da África em debate trajectórias da contestação angolana são importantes Enfocando Cabo Verde os trabalhos de Leila Hernandez Os filhos da terra do sol a formação do Estadonação em Cabo Verde e de Gabriel Fernandes A diluição da África uma interpretação da saga identitária caboverdiana no panorama político pós colonial são boas referências Acerca de Moçambique destacamse Valdemir Zamparoni De escravo cozinheiro colonialismo e racismo em Moçambique e Edson Borges Moçambique Cultura e Racismo no País do Índico Para um olhar em torno das relações internacionais ÁfricaBrasil destacamse as investigações de José Flávio Sombra Saraiva O lugar da África e de Pio Penna Conflito e busca pela estabilidade no continente africano na década de 1990 Acerca da África Austral ou do período colonial encontramos alguns artigos como o de Wolfgang Dòpcke A vinda longa das linhas retas cinco mitos sobre as fronteiras na África Negra Englobando temáticas gerais africanas ou realizando grandes sínteses do continente temos os textos clássicos de Joseph KiZerbo História da África Negra de dois volumes e do embaixador Alberto da Costa e Silva A enxada e a lança e A manilha e o libambo além da excelente obra do africano Elikia MBokolo África Negra História e Civilizações até ao Século XVIII Apesar desses avanços ainda existe a necessidade de dinamizar os estudos da África e desvinculálos daqueles ligados às temáticas afrobrasileiras para percebê los em seu próprio eixo histórico africano ou naquilo que é chamado de contexto ou Mundo Atlântico Mesmo que o objetivo final desses estudos seja entender as relações históricas entre a África e o mundo é preciso que os historiadores voltem suas óticas Reflexões Finais Acredito que percorrida essa breve abordagem acerca da História da África temos ainda não respondida a questão que introduz o texto o que sabemos sobre a África Talvez demore mais algum tempo para que possamos professores e alunos fazêlo com desenvoltura Porém fica evidente que ensinar a História da África mesmo não sendo uma tarefa tão simples é algo imperioso urgente As limitações transcendem ao mesmo tempo em que se relacionam aos preconceitos existentes na sociedade brasileira e se refletem de certo modo no descaso da Academia com ainda um pequeno número de especialistas e pesquisas no despreparo de professores e na desatenção de editoras pelo tema Por isso não sei se aquela pergunta ainda uma tem resposta aceitável É obvio que muito se tem feito pela mudança desse quadro Louvea nesse sentido a ação de alguns núcleos de estudo e pesquisa em História da África montados no Brasil como o Centro de Estudos AfroOrientais CEAO o Centro de Estudos AfroAsiáticos e o Centro de Estudos AfroBrasileiros Enalteçase a iniciativa legal do governo do movimento negro e de alguns historiadores atentos à questão Ressaltea a ação de algumas instituições e professores que têm promovido palestras cursos de extensão e oferecido cursos de especialização em História da África como na Universidade Cândido Mendes na Universidade de Brasília UnB na Universidade de São Paulo USP na Universidade Federal da Bahia UFBA entre outras Porém História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 45 ainda existem grandes lacunas e silêncios A obrigatoriedade de se estudar África nas graduações a abertura do mercado editorial traduções e publicações para a temática até a maior cobrança de História da África nos vestibulares são medidas que possam aumentar o interesse pela História do continente que o Atlântico nos liga Talvez assim em um esforço coletivo as coisas tendam a mudar Incursionar sobre a História da África parece ser algo tentador motivador e necessário Esperamos que o presente texto venha a contribuir na melhoria e continuidade de algumas iniciativas aqui abordadas sempre objetivando a formação humana e o reconhecimento do continente que se conecta conosco pelas fronteiras Atlânticas As histórias dos iorubás dos haússas dos umbundos ou kicongos deveriam estar tão próximas de nós quanto à história dos gregos e romanos Nossa ancestralidade encontra conexões profundas com essa parte de nossa fronteira Atlântica E por fim pareceme inegável que a África e os africanos nos reservam um poderoso campo de pesquisa e de entendimento acerca da trajetória da humanidade Referências História da África APPIAH Kwame Anthony Na casa de meu pai Rio de Janeiro Contraponto 1997 BIRMINGHAM David A África Central até 1870 Luanda ENDIPUUEE 1992 BITTENCOURT Marcelo Dos Jornais às Armas Trajectórias da Contestação Angolana Lisboa Veja 1999 BOAHEN A Adu org História Geral da África vol VII A África sob dominação colonial 18801935 São Paulo Ática Unesco 1991 BORGES Edson Moçambique Cultura e Racismo no País do Índico Rio de Janeiro Academia da Latinidade 2001 COSTA E SILVA Alberto da A Enxada e a lança A África antes dos portugueses Rio de Janeiro Nova Fronteira 1992 COSTA E SILVA Alberto da A manilha e o Libambo A África e a escravidão 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova Fronteira 2002 COSTA E SILVA Alberto da Francisco Félix de Souza o mercador de escravos Rio de Janeiro Nova Fronteira EdUERJ 2004 COSTA E SILVA Alberto da Um Rio Chamado Atlântico A África no Brasil e o Brasil na África Rio de Janeiro Nova Fronteira 2003 CUNHA Henrique Cunha Jr O ensino da História Africana In Historianet wwwhistorianetcombr CURTIN PD Tendências recentes das pesquisas históricas africanas e O Ensino da História da África em debate contribuição à história em geral In Joseph KiZerbo org História Geral da África vol I São Paulo Ática Paris Unesco 1982 DAVIDSON Basil A Descoberta do Passado de África Lisboa Sá da Costa 1981 DAVIDSON Basil The search for África a History in the makíng London James Curvey 1994 DIFUILA Manuel Maria Historiografia da História de África In Actas do Colóquio Construção e Ensino da História de África Lisboa Linopazas 1995 p 5156 DÒPCKE Wolfgang A vinda longa das linhas retas cinco mitos sobre as fronteiras na África Negra In Revista Brasileira de Política Internacional 42 1 1999 p 77109 FAGE J D A evolução da historiografia africana In Joseph KiZerbo História Geral da África metodologia e préHistória da África vol I São Paulo Ática Paris Unesco 1982 p 4359 FAGE John e OLIVER Roland Breve História da África Lisboa Sá da Costa 1980 FANON Frantz Pele Negra Máscaras Brancas Rio de Janeiro Fator 1983 FERNANDES Gabriel A diluição da África uma interpretação da saga identitária caboverdiana no panorama político pós colonial Florianópolis UFSC 2002 GILROY Paul O Atlântico Negro Rio de Janeiro UCAM Editora 34 2001 HENRIQUES Isabel Castro Os pilares da diferença relações Portugal África séculos XVXIX Lisboa Caleidoscópio 2004 HERNANDEZ Leila Leite A África na sala de aula São Paulo Selo Negro 2005 Os filhos da terra do sol A formação do Estadonação em Cabo Verde São Paulo Summus Selo Negro 2002 KAPPLER Claude Monstros demônios e encantamentos no fim da Idade Média São Paulo Martins Fontes 1994 KIZERBO Joseph História Geral da África metodologia e préHistória da África vol IV São Paulo Ática Paris Unesco 1982 As tarefas da história na África In História da África Negra Lisboa Europa América sd p 943 LIMA Mônica A África na Sala de Aula In Nossa História ano 1 n 4 fevereiro de 2004 p 8486 LOPES Carlos A Pirâmide Invertida historiografia africana feita por africanos In Actas do Colóquio Construção e Ensino da História da África Lisboa Linopazas 1995 p 2129 LOVEJOY Paul E A escravidão na África uma história de suas História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola 47 transformações Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 M1 BOKOLO Elikia África Negra História e Civilizações Até ao Século XVIII Lisboa Vulgata 2003 MANNING Patrick Escravidão e mudança Social na África Novos Estudos CEBRAP n 21 julho 1988 p 829 MATTOS Hebe Maria O Ensino de História e a luta contra a discriminação racial no Brasil In Martha Abreu e Rachel Soihet Ensino de História conceitos temáticas e metodologia Rio de Janeiro Casa da Palavra FAPERJ 2003 p 127136 MILLER Joseph Poder Político e Parentesco Antigos estados mbundu em Angola Luanda Arquivo Histórico 1995 MOKHTAR G org História Geral da África vol II A África Antiga São Paulo Ática Unesco 1983 MUDIMBE V The invention of África Bloomington Indianapolis Indiana University Press 1988 NIANE D T org História Geral da África vol IV África entre os séculos XII e XVI São Paulo Ática Unesco 1988 OLIVA Anderson R A África o imaginário Ocidental e os livros didáticos In PANTOJA Selma e ROCHA Maria José orgs Rompendo Silêncios História da África nos currículos da educação Básica Brasília DP Comunicações 2004 OLIVA Anderson R A História da África nos Bancos Escolares representações e imprecisões na literatura didática Revista Estudos Afro Asiáticos ano 25 n 3 setdez 2003 p 421462 OLIVA Anderson R Visões da África leituras e interpretações da Religião dos Orixás na África Ocidental Brasília UnB Dissertação de Mestrado 2002 OLIVA Anderson R Lições sobre a África diálogos entre as representações dos africanos no imaginário Ocidental e o ensino da História da África no Mundo Atlântico 19902005 Brasília UnB Tese de Doutorado 2007 OLIVER Roland A Experiência Africana Rio de Janeiro Jorge Zahar 1994 PANTOJA Selma e ROCHA Maria José orgs Rompendo Silêncios História da África nos currículos da educação básica Brasília DP Comunicações 2004 PANTOJA Selma Nzinga Mbandi mulher guerra e escravidão Brasília Thesaurus 2000 PENNA Pio Conflito e busca pela estabilidade no continente africano na década de 1990 In PANTOJA Selma org Entre Áfricas e Brasis Brasília Paralelo 15 2001 p 99118 RAY Benjamin C African Religions symbol ritual and community New Jersey PrenticeHall 2000 RIBEIRO Ronilda Ação educacional na construção do novo imaginário infantil sobre a África In MUNANGA Kabengele org Estratégias e políticas 48 O Ensino da História da África em debate de combate à discriminação racial São Paulo EDUSP Estação Ciência 1996 p 167176 SARAIVA José Flávio Sombra O Lugar da África Brasília EdUnB 1996 Olhares Transatlânticos África e Brasil no mundo contemporâneo In Humanidades n 47 novembro de 1999 p 620 SOUTHALL Aidan W The lllusion of tribe In GRINKER Roy Richard e STEINER Christopher B Perspectives on África a reader in culture hístory e representation Oxford Blackwell Publishing 1997 THORNTON John A África e os africanos na formação do Mundo Atlântico TRAJANO FILHO Wilson Uma experiência singular de crioulização In Série Antropologia n 343 2003 VANSINA J A tradição oral e sua metodologia In KIZERBO Joseph org História Geral da África vol I São Paulo Ática Paris Unesco 1982 ZAMPARONI Valdemir De escravo a cozinheiro colonialismo e racismo em Moçambique Salvador Edufba 2007 Livros Didáticos APOLINÁRIO Maria Raquel org História Ensino Fundamental 6o ano Projeto Araribá São Paulo Moderna 2003 CAMPOS Flávio de AGUILAR Lidia CLARO Regina e MIRANDA Renan Garcia O jogo da História de Corpo na América e de Alma na África São Paulo Moderna 2002 DREGUER Ricardo e Toledo Eliete História cotidiano e mentalidades contato entre civilizações do século Vao XVI 6 ed São Paulo Atual 2000 JÚNIOR Alfredo Boulos História Sociedade e Cidadania 6 ed São Paulo FTD 2003 MACEDO José Rivair e OLIVEIRA Mariley W Uma história em construção vol 3 São Paulo Brasil 1999 MARANHÃO Ricardo e ANTUNES Maria Fernanda Trabalho e Civilização uma história global 2 ed São Paulo Moderna 1999 MONTELLATO Andréa CABRINI Conceição e CATELLI Roberto História Temática Diversidade Cultural 6o ano São Paulo Scipione 2000 MOZER Sônia e TELLES Vera Descobrindo a História Brasil Colônia 5o ano São Paulo Ática 2002 RODRIGUE Joelza Ester História em Documento Imagem e Texto 6 ed São Paulo FTD 2001 SCHMIDT Mário Nova História Crítica 6 ano São Paulo Nova Geração 2002 DIOP Cheik Nations Nègres et Culture Paris Présence Africaine 1955 FRANCISCO Dalmir Ancestralidade e Política de Sedução In SANTOS J E org Democracia e diversidade humana Salvador Edições SECNEB 1992 História e Cultura AfroBrasileira e Africana na Escola KIZERBO Joseph História da África Negra Lisboa Biblioteca Universitária 14 LUZ CP Narcimária Pawódà Dinâmica e Extensão In Luz CP Narcimária Pluralidade Cultural e Educação Salvador SECNEB 1996 Odara os contos de Mestre Didi In Revista da Faeba Educação e Literatura Salvador UNEB Departamento de educação Campos I ano 7 n9 janjun1998 Descolonização e educação Uma proposta política In Sementes caderno de pesquisa Salvador UNEB Departamento de educação Campos I Vol 1 n12 2000 p 812 Abebe A crianção de novos valores na Educação Salvador SECNEB 2000 LUZ Marco A O Agadá dinâmica da civilização africanobrasileira Salvador Centro editorial e didático da UFBa 1995 Da porteira para dentro da porteira para fora In SANTOS J E org Democracia e diversidade humana Salvador SECNEB 1992 p 57 74 NASCIMENTO Eliza Larkir Introdução à História da África In Educação Africanidades Brasil Brasília SecadUnB 2006 OLIVER R A Experiência Africana Rio de Janeiro Jorge Zahar 1994 SANTOS Lea A F Ancestralidade e Educação In Sementes caderno de pesquisa Salvador UNEB Departamento de educação Campus I v12 2000 SODRÉ Muniz A verdade seduzida 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1988