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Linguística

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Mário Eduardo Martelotta (org.)\nMariangela Rios de Oliveira - Maria Maura Cezario\nAngélica Furtado da Cunha - Sebastião Votre\nMarcos Antonio Costa - Victoria Wilson\nEduardo Kenedy - Márcio Martins Leitão\nRoza Palomanes\n\nManual de lingüística\n\neditora contexto Copyright© 2008 Mário Eduardo Martelotta\nTodos os direitos desta edição reservados à\nEditora Contexto (Editora Pinsky Ltda.)\n\nCapa e diagramação\nGustavo S. Vilas Boas\n\nPreparação de textos:\nDaniela Marini Iwamoto\n\nRevisão\nLilian Aquino\n\nDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)\n(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)\nManual de lingüística / Mário Eduardo Martelotta,\n(org.) — São Paulo : Contexto, 2008.\n\nVários autores.\nBibliografia.\nISBN 978-85-7244-386-9\n\nI. Lingüística. I. Martelotta, Mário Eduardo.\n\n07-9635 CDD-410\n\nÍndice para catálogo sistemático:\n1. Lingüística 410\n\nEDITORA CONTEXTO\n Diretor editorial: Jaime Pinsky\n\nRua Dr. José Elias, 520 - Alto da Lapa\n 05083-030 - São Paulo - SP\nPABX: (11) 3832 5888\ncontato@editoracontEXT0.com.br\nwww.editoracontEXT0.com.br\n\n2008\n\nProibida a reprodução total ou parcial.\nOs infratores serão processados na forma da lei. Gerativismo\n\nEduardo Kenedy\n\nNeste capítulo, apresenta-se em linhas gerais os principais aspectos que caracterizam a corrente de estudos lingüísticos conhecida como gerativismo. Analisaremos a concepção de linguagem humana que norteia as pesquisas dessa corrente, bem como faremos uma exposição da maneira gerativista de observar, descrever e explicar os fatos das línguas naturais. Trata-se de uma visão geral, introdutória e simplificada, destinada ao estudante que conhece pouco ou nada sobre o gerativismo. Nas indicações bibliográficas, apresentadas no fim do livro, o leitor encontrará sugestões de leituras em português para prosseguir nos estudos sobre o assunto.\n\nA faculdade da linguagem\n\nA lingúística gerativa – ou gerativismo, ou, ainda, gramática gerativa – é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que teve início nos Estados Unidos, no final da década de 1950, a partir dos trabalhos do lingüista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT. Considera-se o ano de 1957 a data do nascimento da lingüística gerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeiro livro, Estruturas sintáticas. Trata-se, portanto, de uma linha de pesquisa lingüística que já possui cinquenta anos de plena atividade e produtividade. Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificações e reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como funciona a linguagem humana.\n\nA lingüística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, modelo esse que dominou a lingüística e nas ciências da uma maneira geral durante toda a primeira metade do século xx. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava o linguista norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia mediante os estímulos que recebia da interação social. Essa resposta, a partir da repetição constante e mecânica, seria convertida em hábitos, que caracterizariam o comportamento lingüístico de um falante. Vejamos, por exemplo, como Bloomfield (1933: 29-30) descrevia a maneira pela qual uma criança aprendia a falar uma língua:\n\nCada criança que nasce num grupo escolar adquire hábitos de fala e de respostas nos primeiros anos de sua vida. [...] Sob estimulação variada, a criança repete sons vocais. [...] Alguém, por exemplo, a mãe, produz, na presença da criança, um som que se assembleia a uma das sílabas de seu balbucio. Por exemplo, ela diz doll [boneca]. Quando esses sons chegam aos ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela produz a sílaba de balbucio mais próxima. Daí, dizemos que nesse momento a criança começa a imitar. A visão e o manuseio da boneca e a audição e a produção da palavra doll (isto é, da) ocorrem repetidas vezes em conjunto, até que a criança forma um hábito. [...] Ela tem agora o uso de uma palavra.\n\nPara um behaviorista, a linguagem humana é exatamente o que descreveu Bloomfield: um fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos gerado como resposta a estímulos fixado pela recepção. Numa resenha feita em 1959 sobre o livro Competence and Performance, escrito por B. F. Skinner, professor da universidade de Harvard e principal teórico do behaviorismo, Chomsky apresentou uma crítica radical e impiedosa à visão comportamentalista da linguagem sustentada pelos behavioristas. Na resenha, Chomsky chamou a atenção para o fato de um indivíduo humano sempre agir criativamente no uso da linguagem, isto é, a todo momento, os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, ou seja, jamais ditas antes pelo próprio falante que as produziu ou por qualquer outro indivíduo.\n\nPor isso, todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos clássicos da literatura, já que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples e despretensiosas às mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que acabamos de produzir aqui mesmo neste texto. É muito provável que ela nunca tenha sido proferida exatamente da maneira como o fizemos, bem como jamais será dita novamente da mesma forma. Chomsky chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento lingüístico humano, aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação animal.\n\nDe acordo com esse pensamento de Chomsky, se considerarmos a criatividade a principal característica da linguagem humana, então devemos abandonar o modelo teórico e metodológico do behaviorismo, já que nele não há espaço para eventos criativos, pois, para lingüistas como Bloomfield, o comportamento lingüístico deve ser interpretado como uma resposta completamente previsível a partir de um dado estímulo, tal como é possível prever que um cão começará a latir ao ouvir, por exemplo, o som de uma campainha caso tenha sido treinado para isso. Se o behaviorismo deve ser abandonado, como de fato foi após a publicação da resenha de Chomsky, o gerativismo se apresenta como um modelo capaz de superá-lo e substituí-lo.\n\nCom as suas ideias, Chomsky revitalizou a concepção racionalista dos estudos da linguagem, em oposição franca e direta à concepção empiricista de Skinner, Bloomfield e demais estruturalistas norte-americanos e europeus. Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos), isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos, deve ser compreendida como o resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo humano (o não completamente determinada pelo mundo exterior, como diziam os behavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/mente de espécie e é destinada a constituir a competência linguística de um falante. Essa disposição inata para a competência linguística é o que ficou conhecido como faculdade da linguagem.\n\nHá, de fato, muitas evidências de que a linguagem seja uma facultade natural à espécie humana. Pensemos, por exemplo, que, excluindo-se os casos patológicos graves, todos os indivíduos humanos, de todas as raças, em qualquer condição social, em todas as regiões do planeta e em todos os tempos da história foram e são capazes de manifestar, ao cabo de alguns anos de vida e sem receber instrução explícita para tanto, uma competência linguística – a capacidade natural e inconsciente de produzir e entender frases. É notável que nenhum outro ser do planeta, a não ser o próprio humano, seja capaz de dominar naturalmente um sistema de linguagem tão complexo como uma língua natural mesmo após muitos anos de treinamento. Em mesmo mesmo mais potente e arrojado dos computadores modernos é capaz de reproduzir artificialmente os aspectos mais elementares do comportamento linguístico de uma criança de três anos de idade, como criar ou compreender uma frase completamente nova.\n\nNão é por outra razão que a faculdade de linguagem é a característica mental mais marcante que separa os humanos dos demais primatas superiores do resto do mundo natural. O papel do gerativismo no seio da linguística é constituir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa faculdade, o que significa procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana, como afirmou o próprio Chomsky (1980: 9):\n\nUma das razões para estudar a linguagem (exatamente a razão gerativista) – e para mim, pessoalmente, a mais premente delas – é a possibilidade instante de ver a linguagem como um \"espelho do espírito\", como diz a expressão tradicional. Com isto não quero apenas dizer que os conceitos expressos ao distinções descobridos no uso normal da linguagem nos revelam os modelos do pensamento e o universo do “senso comum\" construídos pela mente humana. Mais instigante ainda, pelo menos para mim, é a possibilidade de descobrir, através do estudo da linguagem, princípios que governam sua estrutura e uso, princípios que são universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e que decorrerem de características mentais da espécie humana.\n\nCom o gerativismo, as línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisados como uma faculdade mental natural. A morada da linguagem passa a ser a mente humana. O modelo teórico\n\nNaturalmente, apenas postular a existência da faculdade da linguagem como um dispositivo inato que permite aos humanos desenvolver uma competência linguística não resolveria todos os problemas da lingüística gerativa. Era (e ainda é) preciso descrever exatamente como é essa faculdade, como ela funciona e como é possível que ela seja geneticamente determinada se as línguas do mundo parecem tão diferentes entre si. Para dar conta dessa aparente contradição entre a hipótese da faculdade da linguagem e as milhares de línguas existentes no planeta, os lingüistas da corrente gerativa vêm elaborando teorias que procuram explicar o funcionamento da linguagem na mente das pessoas. Ao observar os fatos das línguas naturais, um gerativista faz-se perguntas como:\n\n• O que há em comum entre todas as línguas humanas e de que maneira elas diferem entre si?\n• Em que consiste o conhecimento que um indivíduo possui quando é capaz de falar e compreender uma língua?\n• Como o indivíduo adquire esse conhecimento?\n• De que maneira esse conhecimento é posto em uso pelo indivíduo?\n• Quais são as sustentações físicas presentes no cérebro/mente que esse conhecimento recebe?\n\nPara procurar responder a perguntas como essas, a lingüística gerativa propõe-se a analisar a linguagem humana de uma forma matemática e abstrata (formal), que se afasta bastante do trabalho empírico da gramática tradicional, da lingüística estrutural e da sociolingüística, e se aproxima da linha interdisciplinar de estudos da mente humana conhecida como ciências cognitivas. A maneira pela qual tais perguntas vêm sendo respondidas constitui o modelo teórico do gerativismo.\n\nAo longo dos anos, lingüistas de todas as partes do mundo (inclusive do Brasil, desde a década de 1970) têm trabalhado na formulação e no refinamento do modelo teórico gerativista. O mais importante deles é o próprio Chomsky, mas existem muitos estudiosos que dele discordam e acabam formalizando modelos alternativos, que às vezes divergem crucialmente do modelo chomskyano. Não há qualquer dúvida de que Chomsky seja não só o criador como, principalmente, o mais influente teórico da lingüística gerativa – um dos mais importantes estudiosos da linguagem de todos os tempos –, no entanto não se deve traçar um sinal de igual entre Chomsky e o gerativismo. É muito comum encontrarmos gerativistas que não são chomskyanos, apesar de que, quase sempre, ser chomskyano significa ser gerativista. Vejamos a seguir as principais características dos modelos chomskyano (e convidamos o leitor, ao avançar em seus estudos, a conhecer os modelos diferentes). A gramática como sistema de regras\n\nA primeira elaboração do modelo gerativista ficou conhecida como gramática transformacional e foi desenvolvida e reformulada diversas vezes durante as décadas de 1960 e 1970. Os objetivos dessa fase do gerativismo consistiam em descrever como os constituintes das sentenças eram formados e como tais constituintes transformavam-se em outros por meio da aplicação de regras. Por exemplo, a sentença \"o estudante leu o livro\" possui cinco itens lexicais, que estão organizados entre si através de relações estruturais que chamamos de marcadores sintagmáticos, e tais marcadores poderiam sofrer regras de transformação de modo a formar outras sentenças, como \"o livro foi lido pelo estudante\", \"o que o estudante leu?\", \"quem leu o livro?\", etc. Ou seja, os gerativistas perceberam que as infinitas sentenças de uma língua eram formadas a partir da aplicação de um finito sistema de regras (a gramática) que transforma uma estrutura em outra (sentença ativa em sentença passiva, declarativa em interrogativa, afirmativa em negativa, etc.) – e é precisamente esse sistema de regras que, então, se assumia como o conhecimento linguístico existente na mente do falante de uma língua, o qual deveria ser descrito e explicado pelo linguista gerativista.\n\nVejamos um exemplo. A sentença (s) \"o aluno leu o livro\" é formada pela relação estrutural entre o sintagma nominal (sn) \"o aluno\" e o sintagma verbal (sv) \"leu o livro\". O sn é formado pelo determinante (det) \"o\" e pelo nome (n) \"aluno\"; e o sv, por sua vez, é formado pelo verbo (v) \"leu\" e pelo outro sn \"o livro\", o qual se forma também por uma relação entre det e n, no caso \"o\" e \"livro\" respectivamente.\nToda essa estrutura sintagmática pode ser mais claramente visualizada no esquema abaixo, denominado diagrama arbóreo (ou, simplesmente, árvore), que é a famosa maneira pela qual os gerativistas representam estruturas sintáticas.\n\nS\n SN\n DET N\n o estudante\n SV\n V\n leu\n SN\n DET N\n o livro\n\nFigura 1: representação arbórea. 132\nManual de lingüística\n\nEssas regras de composição sintagmática explicam como uma estrutura simples como esta é gerada, mas não são suficientes para explicar como uma outra estrutura relacionada, como a voz passiva, seria formada a partir da estrutura de base, no caso, a voz ativa. Para dar conta da relação entre estruturas diferentes, mas relacionadas, os gerativistas formularam as regras transformacionais. Essencialmente, uma transformação forma uma estrutura a partir de uma outra previamente existente. A estrutura primeiramente formada é chamada de estrutura profunda, e a estrutura dela derivada chama-se estrutura superficial.\nNesse sentido, a voz ativa é interpretada como a estrutura profunda sobre a qual são aplicadas as regras transformacionais que geram a voz passiva, a estrutura superficial.\n\nESTRUTURA PROFUNDA\n\nS\n SN\n DET N\n o estudante\n SV\n V\n leu\n SN\n DET N\n o livro\n\nESTRUTURA SUPERFICIAL\n\nS\n SV\n V\n o livro\n SP\n P\n por (pelo)\n SN\n DET N\n o estudante\n\nFigura 2: transformação passiva. Gerativismo 133\n\nNa década de 1990, a ideia da transformação de uma estrutura profunda numa estrutura superficial seria abandonada em favor de uma visão que não mais representava estruturas, e sim as derivava – mostrando os passos pelos quais uma estrutura é formada (derivada) sem que ela tenha de ser comparada com uma outra estrutura independente. Não obstante, a ideia das transformações como operações computacionais (fenômenos sintáticos) que derivam sentenças é o tópico central da pesquisa gerativista até o presente momento.\nOutro centro de atenção dos gerativistas sempre foi compreender como é possível que os falantes de uma língua tenham intuições sobre as estruturas sintáticas que produzem e ouvem. Por exemplo, todo falante nativo do português sabe que uma frase como \"quantos livros você já escreveu?\" é perfeitamente normal e pode ser falada por qualquer um de nós sem causar estranhamento. Trata-se, portanto, de uma frase gramatical, normal na língua. Esse mesmo falante do português também sabe, pela sua intuição, que uma frase como \"*que livro você conhece uma pessoa que escreveu?\" não é normal, é estranha, é uma frase agramatical da língua (e, por isso, aparece antecedida do asterisco, que indica a agramaticalidade).\nComo, então, é possível saber disso? Como ele consegue distinguir uma frase gramatical de uma frase agramatical em sua língua? Note bem: estamos falando de um conhecimento implícito, inconsciente e natural acerca da língua que todos os falantes nativos possuem, e não das regras da gramática normativa que aprendemos na escola. Na escola nunca são analisadas construções como a frase agramatical citada.\n\na) quantos livros você já escreveu? grammatical\nb) *que livro você conhece uma pessoa que escreveu? agramatical\n\nFigura 3: gramaticalidade vs. agramaticalidade. indivíduo, aquelas frases que de fato uma pessoa pronuncia quando usa a língua. Esse uso concreto da língua denomina-se desempenho linguístico (também conhecido por performance ou, ainda, atuação) e envolve diversos tipos de habilidade que não são linguísticas, como atenção, memória, emoção, nível de estresse, conhecimento de mundo, etc. Imagine que você desejava pronunciar a frase “Vou tentar a sorte”, mas enrolou a língua e acabou dizendo “vou tentar a tort”. Ora, o que aconteceu foi apenas um erro de execução, com a preservação do segmento /t/ no início da palavra “sorte”, o que significa que seu conhecimento sobre o português tinha sido abalado. O que ocorreu não foi um problema de conhecimento, mas de uso, de desempenho, de performance da língua.\n\nClassicamente o interesse central das pesquisas gerativistas recai na competência linguística dos falantes – muito embora só se possa ter acesso a ela através do desempenho – pois é essa competência que torna o indivíduo capaz de falar e compreender uma língua. De acordo com essa abordagem, é somente através do estudo da competência que será possível elaborar uma teoria formal que explique o funcionamento abstrato da linguagem na mente dos indivíduos.\n\nEm razão desse interesse central na competência linguística, os estudos clássicos do gerativismo não costumam usar dados linguísticos reais (performance) retirados do uso concreto da língua na vida cotidiana. Isso ocorre fundamentalmente ao gerativista e o funcionamento da mente que permite a geração das estruturas linguísticas observadas nos dados de qualquer corpus de fala, mas não lhe interessam esses dados em si mesmos ou em função de qualquer fator extralinguístico, como o contexto comunicativo ou as variáveis sociais que influenciam o uso da linguagem. Os gerativistas usam como dados para as suas análises principalmente (1) testes de gramaticalidade, nos quais frases são expostas a falantes nativos de uma língua, que devem utilizar sua intuição e distinguir as frases gramaticais das agramaticais, e (2) a intuição do próprio linguista, que, afinal, também é um falante nativo de sua própria língua.\n\nNo entanto, os gerativistas que fazem pesquisas aplicadas (psicolinguistas, neurolinguistas, etc.) também observam os dados do uso da língua, em situação natural ou em situação experimental, procurando extrair deles informações para o modelo de explicação da competência linguística. Por exemplo, essas gerativistas se interessam por (1) testes e experimentos psicolinguísticos, com pessoas de todas as idades, nos quais os informantes são levados a produzir ou interpretar determinados tipos de estruturas linguísticas; (2) testes e experimentos de aquisição da linguagem com crianças, além de gravações da fala natural destas; (3) testes e experimentos neurolinguísticos através dos quais se observou o funcionamento do cérebro quando em atividade linguística e também o desempenho linguístico de pacientes afásicos (pessoas que possuem dificuldades no desempenho linguístico em decorrência de uma lesão cerebral, na maior parte das vezes); (4) evidências das mudanças linguísticas por que passam as línguas, como uma maneira de compreender o que ocorre com a