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Psicanálise
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David E Zimerman Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise O Vocabulário contemporâneo de psicanálise reúne cerca de 900 verbetes sobre teoria técnica além de biografias sumarizadas dos principais autores psicanalíticos Esta obra é indispensável e de consulta obrigatória aos estudantes e profissionais de saúde mental ISBN 9788536314143 artmed EDITORA RESPEITO PELO CONHECIMENTO wwwartmedcombr Z71v Zimerman David Vocabulário contemporâneo de psicanálise recurso eletrônico David Zimerman Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2008 Editado também como livro impresso em 2001 ISBN 9788536314143 1 Psicanálise Vocabulário I Título CDU 159964203 Catalogação na publicação Mônica Ballejo Canto CRB 101023 DAVID E ZIMERMAN Médico psiquiatra Membro efetivo e psicanalista didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre SPPA Psicoterapeuta de Grupo Expresidente da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise ARTMED Editora SA 2001 Capa Joaquim da Fonseca Preparação do original Henry Saatkamp Ilustrações Kundry Lyra Klippel desenhos modificados de fotos Leitura final Solange Canto Loguercio Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Editoração eletrônica Art Layout Assessoria e Produção Gráfica Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Agradecimentos À querida Guite pelo apoio total e incondi cional aos meus amados filhos nora gen ro e netos pela constante provisão de ale gria e orgulho ao Bernardo meu carinho so prefaciador aos meus amigos colegas alunos e editores pelo estímulo e permanen te incentivo às inúmeras instituições que têm me prestigiado com honrosos convites que me obrigam a manter atualizado e di versificado e aos meus pacientes de to dos os tempos minha profunda e eterna gratidão David e eu somos amigos de longa data Nosso conhecimento profissional passa pela formação psiquiátrica e psicanalítica Co nhecendo a sua pessoa vemos o profissio nal sério estudioso amigo da verdade afe tuosamente infatigável na busca de soluções para quem necessita de sua ajuda Ao fazer uma apreciação do Vocabu lário Contemporâneo de Psicanálise não posso dissociar a pessoa do autor Neste li vro David procura traduzir em linguagem simples e acessível a complexidade do sig nificado dos termos e conceitos psicanalíti cos evitando a linguagem hermética incom preensível para grande parte dos leitores da língua portuguesa Numa visão contempo rânea ele nos mostra a capacidade de arti cular os conceitos de vários autores partin do de Freud indo a M Klein Hartmann Winnicott Bion Kohut Lacan e outros Entre estes últimos constam autores segui dores de Freud como Abraham Ferenczi Anna Freud ou seguidores de M Klein como Rosenfeld H Segall Meltzer alguns dissidentes e desviacionistas da psicanálise clássica como Adler Jung Reich alguns outros que sem serem psicanalistas fizeram indiretamente importantes contribuições como o epistemólogo Piaget além de auto res representativos da psicanálise contempo rânea de formação mais eclética e autôno ma como Tustin Green Kernberg Bollas Prefácio A Ferro etc Ademais o livro fica enrique cido com a inclusão de inúmeras biografias relativas aos mais notáveis psicanalistas de todos tempos de verbetes alusivos a rese nhas de alguns artigos e livros considera dos como clássicos da psicanálise de alguns aspectos polêmicos que cercam o meio psi canalítico como o das Controvérsias acontecidas na Sociedade Psicanalítica Bri tânica e assim por diante Também cabe registrar que muitos verbetes são acompa nhados com ilustrações O autor consegue captar o pensamento desses autores no que eles têm de particular e o que lhes é comum acrescido de alguns dados bio gráficos e históricos o que não é uma ta refa fácil O trabalho de David Zimerman está alicerçado no mérito da divulgação da psi canálise através dos seus livros artigos pu blicados conferências participação ativa em congressos atividade didática e da prá tica clínica Sempre procurou transmitir os conhecimentos psicanalíticos de forma a desmistificar a psicanálise apresentandoa como uma ciência que trata da alma hu mana e não como um conjunto de seitas em busca de adeptos Assim vejo em sua obra atual a clareza de quem não prioriza esta ou aquela corrente psicanalítica o que não o impede de comprometerse em seu trabalho com idéias originais incluindo ver 8 DAVID E ZIMERMAN betes conceitos e comentários pessoais Par ticularmente entre outros mais creio que cabe destacar como úteis para a teoria e a prática da psicanálise a originalidade das concepções de Posição Narcisista Vín culo do Reconhecimento Estado Psíqui co de Desistência Prazer sem Nome Objeto Tantalizador Contraego etc Quando falamos de psicanálise não estamos nos referindo a um sistema fecha do acabado Cada nova descoberta exige novos termos e conceitos Correções sem pre serão necessárias para que possamos acompanhar a expansão dos conhecimen tos psicanalíticos Também a complexidade dos fenômenos psíquicos exige leituras re petidas para a compreensão e assimilação dos termos e conceitos sempre em um con tinuado processo de renovação Nesta nova obra de David podemos facilmente perceber que ele segue a mesma linha dos seus quatro livros anteriores isto é existe uma clara tendência para priorizar uma abordagem didática sistemática e de integração de sorte a contemplar tanto os analistas veteranos e experientes que neces sitam uma rápida consulta para relembrar ou esclarecer algum determinado tema quanto para os leitores que estão iniciando a sua formação e poderão dispor de uma nova fonte de estudos e aquisição de co nhecimentos nãoisolados mas sim inte grados Desta forma os 900 verbetes que com põem este vocabulário estão sinalizados de uma maneira que possibilita ao leitor ras trear determinado assunto porquanto se guidamente um verbete remete a outros que lhe complementam ao mesmo tempo que sugere fontes bibliográficas onde o tema que interessa possa ser estudado com mais profundidade nos trabalhos originais dos distintos autores mencionados Ao mesmo tempo cada título de verbete vem acompa nhado num parêntesis por uma referência que esclarece e situa o leitor relativamente a qual corrente psicanalítica ou nível con ceitual está fundamentado o vocábulo que está sendo consultado David também de monstra uma preocupação em manter im parcialidade e a maior fidelidade possível ao pensamento do autor que embasa o res pectivo verbete de modo que quando quer emitir algum acréscimo ou opinião pessoal ele os antecede com a palavra comentá rio Igualmente quando o verbete alude a alguma terminologia ou concepção original sua ele alerta o leitor com a colocação de um asterisco no final do título O res peito pelo leitor tem continuidade com a inclusão de um índice remissivo que além de facilitar a consulta também propicia uma visão sinóptica do vocabulário e de uma bibliografia a mais completa possí vel que visa a uma desejável complemen tação da leitura dos verbetes nas fontes originais É possível no entanto que al guns verbetes estejam faltando outros podem estar sendo breves ou longos de mais ou que eventualmente possam ser revistos Mas sem dúvida em seu conjunto o Vocabulário Contemporâneo de Psicanáli se além de um guia estimulante e facilita dor é uma fonte de estudo e de pesquisas que remete os interessados diretamente às fontes de origem para uma leitura crítica um estudo e uma pesquisa mais aprofun dados Até onde sei não existe nenhum vo cabulário da natureza deste na literatura psi canalítica e conhecendo a disposição do David os psicanalistas e todos interessados nesta área podem esperar que no futuro esta obra terá continuidade Bernardo Brunstein Psicanalista da SPPA Introdução Existem muitos e excelentes dicionários e vocabulários de psicanálise então por que mais este A essa pergunta que me faço de forma algo obsessiva respondo que os me lhores desses dicionários estão mais direta mente especializados em um determinado autor e na respectiva corrente psicanalítica Assim ninguém pode contestar o valor ines timável desse verdadeiro clássico que é o Vocabulário da Psicanálise de Laplanche e Pontalis cuja primeira edição é de 1982 e é de consulta obrigatória para dirimir qualquer dúvida e fazer definitivos esclarecimentos sobre os conceitos plantados por Freud ao longo de toda sua imensa obra Esse mag nífico vocabulário reúne em torno de 420 verbetes alguns são curtos e outros ocupam uma extensão de 15 páginas longos como artigos completos No entanto ficou virtu almente restrito às contribuições freudianas entremeadas de alguns poucos conceitos de outros autores O mesmo se pode dizer do Dicionário Freudiano surgido em 1995 de autoria do psicanalista argentino José Luis Valls Outro clássico imprescindível na biblio teca de todo psicanalista é o Dicionário do Pensamento Kleiniano surgido no início da década 90 de autoria de Robert Hinshe lwood Faz uma cobertura completa dos con ceitos kleinianos e póskleinianos porém per manece restrito exclusivamente a eles Outra obra excelente essa mais recen te surgida em 1994 é o Dicionário de Psi canálise de Elisabeth Roudinesco que ocu pa mais de 800 páginas apresenta uma maior variação de abordagens traz uma inestimável contribuição para o leitor inte ressado na história da psicanálise porém vir tualmente desconhece importantes idéias da psicanálise contemporânea como são as contidas nas concepções teóricas e técnicas de autores como Bion Kohut Winnicott Igualmente cabe destacar a publicação de dicionários de termos dirigidos quase que exclusivamente às contribuições originais de Lacan e de seus seguidores Para ficar num único exemplo pode ser mencionado o Dici onário de Psicanálise Artmed cujos verbe tes específicos elaborados por inúmeros au tores foram organizados pelo francês Roland Chemama A primeira edição é de 1993 Também cabe mencionar um livrodi cionário surgido em 1996 de autoria da psi canalista inglesa Jan Abram cujo título na edição brasileira é A Linguagem de Winni cott Seu subtítulo esclarece seu conteúdo Dicionário das Palavras e Expressões Utili zadas por Donald W Winnicott Destarte após fazer uma ampla con sulta em todos dicionários análogos existen tes na literatura psicanalítica entendi que estava faltando um compêndio que fizesse uma integração das escolas psicanalíticas 10 DAVID E ZIMERMAN mais importantes de sorte a oferecer uma visão sinóptica dos conceitos da psicanáli se desde a época pioneira atravessando sucessivas gerações de autores seguidores de Freud mas também dissidentes e ampli adores de seus conceitos até chegar às con tribuições da psicanálise contemporânea Além disso é inegável que diante da vasta e cada vez mais volumosa e diversifi cada literatura acontece um certo clima de confusão conceitual na psicanálise devido ao fato de que muitas vezes um mesmo ter mo empregado por autores distintos às vezes pelo mesmo autor pode adquirir sig nificados diferentes Também ocorre o con trário isto é o mesmo significado psicanalí tico recebe múltiplos rótulos e denominações bastante diferenciadas entre si Tudo isso pode concorrer para o risco de uma certa babeli zação da psicanálise embora existam inegá veis vantagens na proliferação de idéias e conceitos provindos de diversas fontes Após trocar idéias com meus editores aceitei o desafio ancorado em duas razões muito fortes A primeira é que percebia a grande freqüência com que alunos partici pantes de meus distintos grupos de estudo me dirigiam perguntas como Esse concei to ainda vale Isso já não tinha sido dito por Freud É a mesma coisa e assim por diante o que me fez sentir uma real neces sidade de tentar fazer esclarecimentos e si tuar muitos interessados A segunda razão é que após ter publicado quatro livros ter um continuado exercício de magistério ori entar grupos de estudos privados supervisio nar atividades na área da psicanálise atuar como conferencista em distintos eventos em uma variada geografia manter constantemen te atualizada a leitura e sobretudo ter a ex periência de mais de 40 anos de prática psi canalítica fundamentada numa formação plu ralista me davam condições de enfrentálo Na verdade acreditei que a tarefa de redigir este vocabulário poderia ficar facilitada o que de fato em boa parte sucedeu porque o úl timo livro que publiquei sobre psicanálise Fundamentos Psicanalíticos Teoria Técnica e Clínica em 1999 tinha me obrigado a pro ceder a uma exaustiva consulta e revisão de uma imensidade de textos publicados em re vistas e livros antigos e recentes provindos de autores de todas as órbitas Ao me atirar à estafante e demorada embora altamente gratificante tarefa de ten tar cumprir o projeto escolhi o caminho mais difícil e quem sabe o menos eficien te decidi realizálo sozinho mesmo saben do que poderia contar com a irrestrita cola boração de brilhantes amigos e colegas lo cais e internacionais que dominam profun damente determinadas áreas específicas da psicanálise Minha opção por essa linha de trabalho mais árduo é justificada pela crença de que o projeto de intenção integradora do presente vocabulário impõe a necessidade de conservar o mesmo estilo certa coerência na visão global de todas as múltiplas faces da psicanálise A autoria única também enseja inserir eventuais comentários pessoais e so bretudo manter a liberdade de fazer cone xões e remissões entre os distintos verbetes além de mencionar as manifestações de dife rentes autores sobre determinado conceito Até aqui estou discorrendo sobre as pretensões mais otimistas daquilo que esse livro visa a alcançar No entanto impõese a tarefa de definir esse vocabulário por alguns aspectos do que ele não é nem nunca pre tendeu ser A seguir enumero alguns deles Esse vocabulário sequer remotamen te pretende funcionar como uma espécie de enciclopédia que abarque tudo que diga respeito à psicanálise embora durante sua feitura diversas vezes me ocorreu que a IPA poderia assumir a gigantesca tarefa de no mear uma comissão de ilustres psicanalis tas para produzir uma verdadeira e tão quanto possível completa enciclopédia de psicanálise em diversos tomos é claro Assim o leitor vai se deparar com muitas omissões algumas intencionais e VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 11 outras não Perceberá que algumas obras importantes estão nominadas e resenhadas enquanto outras não alguns termos estão explicitados mais longamente enquanto outros não vão além de breves citações e assim por diante Também é óbvio que de forma algu ma o vocabulário pode dispensar a leitura dos textos originais dos autores cujos con ceitos são referidos Pelo contrário a inten ção é a de estimular essa leitura na fonte original razão porque seguidamente o verbete vem acompanhado de referências bibliográficas Intencionalmente para não tornar a leitura por demais enfadonha não me senti obrigado a proceder minuciosas e sistemáticas citações das fontes e de auto res que descreveram determinadas concep ções mesmo que eventualmente alguns tre chos curtos delas possam ter sido transcri tas literalmente É possível que no afã de fazer a maior integração possível este vocabulário tenha ficado por demais diluído e mesclado pois os verbetes atingem concepções oriundas das mais distintas fontes com conceituali zações tanto metapsicológicas quanto teó ricas técnicas e oriundas da prática clínica além de referências biográficas e históricas Ademais me permiti incluir alguns ver betes contendo conceitos pessoais que ve nho propondo Também inseri em certos verbetes comentários de minha lavra É evi dente que esses conceitos e comentários são de minha inteira responsabilidade Em am bos os casos essa condição está devidamen te ressaltada graficamente conforme itens 4 e 5 das Instruções de Uso Assim adverti do o leitor pode discordar deles ou até mesmo saltar sua leitura Estão incluídas informações sobre a etimologia de determinados termos porque creio que a descoberta da origem de certas palavras vai muito além de um dilentatismo ou do exercício de simples curiosidade É cer to que a etimologia pode dar uma idéia da gênese e da evolução de uma idéia às vezes de origem arcaica outras provinda de pensa dores e até mesmo da sabedoria popular Por acreditar que uma imagem pode trazer mais autenticidade a determinado conhecimento alguns verbetes especial mente os que se referem a autores pode rão vir acompanhados de ilustrações Ao final da obra há um índice que visa a facilitar as consultas Antes desse índice vão listadas as obras referenciadas neste vocabulário A fim de facilitar as consultas além de per mitir ao leitor atentar para as necessárias discriminações entre os termos e estabele cer complementações e correlações entre os verbetes que remetem a outros foi dado um tratamento tipográfico especial a deter minados termos e expressões As diferentes formas de grafia estão enumeradas adiante 1 Os verbetes estão ordenados alfa beticamente O título de cada verbete apa rece em negrito 2 Sempre que for indicado após o tí tulo do verbete consta entre colchetes o nome do autor do conceito ou alguma ou tra referência explicativa para situar o lei tor Por exemplo Transformações Bion 3 Quando indicar o de um livro o tí tulo do verbete é grafado em negrito itáli co seguido do nome do autor e a data do surgimento do texto Por exemplo Além do Princípio do Prazer Freud 1920 4 O asterisco colocado junto ao ver bete como por exemplo reconhecimen to vínculo do indica que se trata da pro posição de um conceito de caráter pessoal 5 A palavra Comentário grafada em negrito itálico precede uma nota de minha inteira responsabilidade 6 As palavras ou expressões sublinha das indicam remissão para verbete com esse Instruções de Uso título por exemplo Nesses casos de im passes a resistência é do tipo indica re missão para o verbete resistência de modo a permitir uma leitura complemen tar do conceito em causa e estabelecer cor relações 7 As demais palavras ou expressões em itálico marcam a a relevância do con ceito no contexto do verbete como no exemplo anterior impasse b os títulos de livros A Interpretação dos Sonhos c pa lavras em línguas estrangeiras em geral na chträglich 8 Quando a hipótese da alínea a su pra ocorrer em palavra ou expressão que for título de verbete será empregado itá lico sublinhado Por exemplo o su jeito passa a formar parte de uma cadeia de significantes na qual deverá estrutu rarse 9 A palavra frase em negrito itálico indica que se lhe seguirá a citação de texto especialmente elegante ou profundo de de terminado autor 10 Os títulos dos verbetes relativos à resenha de livros e artigos especialmente importantes aparecem em negrito itálico se guido do nome do autor e da data da pri meira edição entre colchetes Por exemplo Chistes e sua relação com o incons ciente Freud 1905 Option B 11 and 16 Option C 7 and 12 Option E 13 and 14 Option F 3 and 14 Option A 3 and 14 Option E 11 and 15 A abreviatura do Vínculo do Amor primeira fileira da Grade BION Em muitas traduções latinoamericanas da obra de BION a letra A designa a inicial de Amor vínculo do Em muitos outros escri tos a inicial utilizada para designar esse tipo de vínculo é a letra L inicial do original in glês Love Por outro lado BION emprega a letra A como constituindo a primeira fileira da sua Gra de mais exatamente a que designa o está dio da função de pensar que ainda está no nível dos protopensamentos ou seja dos elementos β Ver figura 1 que acompanha o verbete Grade A a abreviatura de Autre e autre LACAN Em LACAN a letra A maiúscula é a inicial do vocábulo francês Autre que LACAN chama de grande outro termo com o qual ele refere mais propriamente a figura do pai interditor como representante exterior da lei opondose à díade imaginária com a mãe Como letra minúscula é inicial de autre ou pequeno outro e refere mais ge ralmente mas não unicamente a mãe tal como está situada no plano do imaginário Ver os verbetes Outro outro A A posteriori ou après coup FREUD É a tradução preferida para o termo Nach träglich que FREUD empregou no original alemão Esse conceito também é bastante mencionado com a versão francesa après coup No Brasil por vezes aparece traduzi da como só depois A expressão a posteriori designa a con cepção original de FREUD introduzida em 1896 de que determinada impressão psí quica primitiva na mente da criança pode vir a ser organizada e reinscrita poste riormente no psiquismo do sujeito com um significado diferente do primitivo ini cial de modo que por exemplo algum acontecimento banal pode posterior mente sofrer algum tipo de elaboração secundária e adquirir configuração trau mática Assim no seu historial clínico O homem dos lobos Freud descreveu que este pa ciente quando tinha um ano e meio tes temunhou um coito a tergo entre os pais porém só veio a compreendêlo aos 4 anos e a partir disso já imiscuído com fantasias posteriores veio a elaborar sua vivência de cena primária Outro exem plo está contido na conceituação de lem brança encobridora 16 DAVID E ZIMERMAN Abraham Karl Foi um dos primeiros e mais importantes seguidores e ampliadores da obra de Freud Nasceu em 1877 em Bremen Alemanha originário de uma família de comerciantes judeus e faleceu em 1925 em Berlim Sua morte precoce com 48 anos foi devido a uma infecção pulmonar advinda do engas go com uma espinha de peixe que pene trou pela laringe no lugar da faringe Médico psiquiatra e psicanalista poliglota que se comunicava em oito idiomas ABRA HAM trabalhava no hospital Burghölzli em Zurique onde conheceu JUNG que desper tou seu interesse pelas idéias de Freud Po rém posteriormente tornaramse rivais e ti veram sérias divergências e desentendimen tos ABRAHAM fundou em 1910 a Associa ção Psicanalítica de Berlim em 1924 foi eleito como presidente da Associação Psi canalítica Internacional IPA International Psychiatric Association Na sua obra caracterizada por um estilo li terário simples e acessível além de seus escritos preliminares sobre mitos esquizo frenia autoerotismo e luto os seguintes as pectos merecem ser destacados 1 Seus estudos aprofundados e sistematizados so bre as etapas prégenitais da libido 2 A con ceituação original a respeito de objetos par ciais 3 A definição dos processos de intro jeção absorção oral e projeção expulsos por pulsões canibalísticas agressivas e sá dicodestrutivas orais e anais 5 Seu estu do clínico a respeito dos pacientes pseudo colaboradores como acontece naqueles que são portadores de uma caracterologia marcadamente narcisista tal como está ma gistralmente descrito no ainda atual artigo de 1919 Uma forma particular de resistên cia neurótica contra o método psicanalíti co onde aparece claramente a importân cia que ABRAHAM já conferia às pulsões sá dicas ocultas em certos pacientes É fácil perceber a nítida influência que ABRAHAM exerceu na obra de MKLEIN que foi paci ente dele A análise foi por um curto perío do e precocemente interrompida pela doença e morte de ABRAHAM Além de sua obra e da sua influência na pessoa e na obra de MKLEIN ABRAHAM também deixou o pre cioso legado de ter sido o analista didata de importantes psicanalistas como HELEN DEUTSCH EGLOVER KAREN HORNEY SANDOR RADO ERNEST SIMMEL Os estudos de ABRAHAM sobre mitos apare cem no trabalho Sonho e Mito de 1909 O artigo acima mencionado sobre resistên cia narcisística dentre muitos outros cons ta no capítulo 15 do livro que reúne interes santes contribuições de ABRAHAM Psicoanáli sis clínico editado pela Paidós em 1959 O mesmo livro no capítulo 17 p418501 traz um trabalho clássico de 1924 intitulado Um breve estudo da libido visto à luz dos trans tornos mentais que também aparece no li vro Selected papers on psychoanalysis Abreação FREUD BREUER Termo introduzido por FREUD e BREUER ao estudarem em Comunicação preliminar 1893 o mecanismo psíquico agindo no VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 17 fenômeno histérico Abreação designa uma descarga emocional de afetos ligados a fan tasias desejos proibidos e lembranças pe nosas de fatos traumáticos que estão repri midos no inconsciente ou no préconscien te através de uma irrupção no consciente provocada pela recordação e verbalização desses acontecimentos Referido trabalho permite destacar dois as pectos 1 O agente dos transtornos histéri cos é o afeto ligado à reminiscência e não ao acontecimento traumático em si 2 O termo abreação reflete a conexão existen te entre a psicanálise incipiente da época com a fisiologia dos mecanismos cerebrais como então eram entendidos O fenômeno da verbalização abreativa acon tece no processo psicanalítico porém já era constatado na época da utilização do recurso da hipnose Um exemplo ilustrativo da ab reação está contido nas expressões cura pela palavra e descarga pela chaminé proferidas pela paciente Anna O As versões em inglês dessas expressões talking cure e chimney sweeping tornaramse clássicas Uma sino nímia de abreação está nos termos catarse ou método catártico Ver esses verbetes Abstinência regra da FREUD Uma das regras técnicas legadas por FREUD a qual basicamente consiste na recomen dação de que tanto o analista como o paci ente devem fazer algumas abstenções du rante o curso da análise Assim o analista como um princípio técnico deve absterse de fazer gratificações externas mais parti cularmente as que se referem ao amor de transferência Freud sustentava que uma gratificação a algum pedido do paciente pertinente à neurose de transferência re duziria demasiadamente o surgimento de certo grau de ansiedade a qual é indispen sável para o método analítico O paciente por sua vez deveria abster se de efetivar qualquer ação importante em sua vida exterior sem antes analisála exaustivamente com a finalidade de ob ter o consentimento do psicanalista Freud utilizou a expressão abstinência pela pri meira vez em seu trabalho Recomenda ções sobre o amor de transferência 1915 Em 1918 por ocasião do V Con gresso em Budapeste ele reitera que o tratamento psicanalítico deve tanto quanto possível efetuarse num estado de frustração e abstinência Comentário Penso que embora esta re gra esteja implícita em qualquer análise os analistas contemporâneos não mais a in cluem nas combinações prévias que cons tituem o necessário contrato analítico ado tam uma postura igualmente firme com a colocação dos devidos limites porém com uma margem de elasticidade bem maior sem a necessidade de apelar para o recur so de proibições Como forma de sinteti zar a regra da abstinência ocorreme a seguinte frase a melhor forma de o ana lista atender às demandas do paciente é a de entender e interpretar o porquê e o para quê delas Abstração BION Consiste numa importante capacidade do ego adquirida fundamentalmente a par tir da capacidade de formação de símbo los a qual o sujeito adquire unicamente se ele atingiu exitosamente a posição de pressiva No eixo vertical da Grade de BION o chamado eixo genético da forma ção da capacidade para pensar os pensa mentos essa capacitação corresponde ao nível F Caso não tenha adquirido essa capacidade de abstração o sujeito não terá condições de fazer generalizações e síntese de fatos isolados e no lugar disso seu pensamento será concreto e sincrético ao mesmo tem po que os símbolos são substituídos por equações simbólicas 18 DAVID E ZIMERMAN Ação BION Refere à função do ego que possibilita ao sujeito agir no plano motor de sua vida o que pode suceder de forma exitosa ou pa tológica conforme o estado evolutivo das condições psíquicas Na Grade de BION a ação aparece no eixo horizontal o da uti lização das funções mentais ocupando o lugar reservado ao algarismo 6 Acasalamento ou apareamento BION Na parte de sua obra dedicada aos seus estudos sobre Grupos BION define acasala mento o termo original em inglês é pai ring como um suposto ou pressuposto básico consistente no fato de que atavica mente os indivíduos componentes de um grupo qualquer têm a tendência de formar casais ou pares como forma de proteção e diz BION como esperança mágica do casal de procriar novo messias que será o redentor do grupo e garantidor de sua pre servação Acessibilidade conceito de técnica Na psicanálise contemporânea o critério de acessibilidade está sendo mais valorizado do que o clássico de analisibilidade em re lação aos aspectos que recomendam ou não que o analista assuma o compromis so de analisar determinada pessoa que o procura para tanto Mais do que uma pre cisão diagnóstica e do que uma previsão prognóstica o analista levará em conta a reserva de capacidades positivas que es tão obstruídas e ocultas cuja libertação o paciente espera Da mesma forma o analista avaliará a maior ou menor permissividade que o pa ciente confere ao acesso analítico às regi ões desconhecidas do seu inconsciente seu compromisso em ser verdadeiro consigo mesmo e sua capacidade de contrair um vínculo analítico Acesso pacientes de difícil BETTY JOSEPH É de BETTY JOSEPH psicanalista britânica a expressão paciente de difícil acesso título de um clássico artigo seu de 1975 com que designa um tipo de analisando que usa maciçamente o recurso da dissociação pelo qual a parte realmente paciente do pacien te ou seja a criancinha frágil dependente e cheia de angústias e necessidades fica esplitada dissociada no campo analítico e por isso mesmo tornase de acesso mui to difícil às interpretações do analista No referido artigo a autora considera que es sas partes dissociadas devem ser procura das nos diferentes esconderijos apontan do os principais modos de ocultamento Esses pacientes de difícil acesso ao método psicanalítico também são conhecidos como pacientes difíceis Seu maior contingente é constituído por pessoas que erigiram uma couraça caracterológica composta por de fesas fortemente obsessivas e em especial narcisistas Essas defesas por sua vez se formaram como proteção contra antigos sentimentos de humilhação abandono trai ção etc de sorte que de forma inconsci ente tais pacientes estão fortemente prote gidos defensivamente contra qualquer ape go afetivo que desperte o temor de retorno das referidas frustrações Achados idéias problemas FREUD 1941 Escrito em 1938 com publicação póstuma em 1941 esse texto de FREUD consiste de série de curtos parágrafos sem relação en tre si datados em ordem cronológica em dias diferentes como uma espécie de apon tamentos de idéias originais a serem desen volvidas sem relação umas com as outras Dentre elas pela sua importância na atua lidade cabe destacar a idéia esboçada em 12 de julho com o cabeçalho Ter e Ser nas crianças Aí ele mostra que as crian VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 19 ças gostam de expressar uma relação de objeto por identificação Eu sou o objeto Segundo FREUD ter é mais tardio após a perda do objeto ele recai para ser Exem plo o seio O seio é uma parte de mim eu sou o seio e mais tarde Eu o tenho isto é eu não sou ele Esse escrito consta da edição brasileira da Standard Edition no volume XXIII p 335 Acting ou atuação FREUD E LACAN O termo original empregado por Freud em alemão é agieren que alude ao fato de que no lugar de lembrar e verbalizar determi nados sentimentos reprimidos o paciente os substitui por atos e ações motoras que funcionam como sintomas Assim em Re cordar repetir e elaborar 1914 FREUD afir ma que o automatismo da repetição subs titui a compulsão à recordação Como ten tativa de solução do problema da atuação na análise ele preconiza duas possibilida des uma a de fazer o paciente prometer não tomar nenhuma decisão séria sem an tes compartila com o analista a segunda consiste em transformar a transferência neu rótica num estado de neurose de transfe rência LACAN estabelece uma diferença entre ato sempre é um significante acting é uma conduta assumida por um sujeito que tem uma mensagem para ser decifrada por aquele a quem ela é dirigida e passagem ao ato que representa ser uma demanda de amor por parte de um sujeito que só consegue vivenciar seu desespero através de uma forma evacuativa Acting na prática clínica Até há pouco tempo os autores considera vam qualquer modalidade de acting como uma forma de resistência inconveniente à evolução da análise A psicanálise contem porânea contempla três aspectos que con ferem uma nova visualização e manejo téc nico das atuações dos pacientes Os actin gs 1 Processamse quando o paciente não consegue recordar pensar ou verbalizar seus conflitos ocultos ou quando não foi compreendido pelo seu analista 2 Podem constituir uma importante forma de comu nicação primitiva não verbal à espera de que o analista saiba descodificar e nomear a dramatização oriunda do libreto incons ciente 3 Podem ser malignos decorren tes de uma forte predominância da pulsão de morte ou benignos em cujo caso pre valece a pulsão de vida Assim o surgimen to de uma atuação tanto pode resultar como sendo negativa para a evolução da análi se ou positiva quando propicia uma via de comunicação ao desconhecido ou quan do traduz algum significativo movimento de um paciente no sentido de ele estar experi mentando vencer alguma inibição Em relação à terminologia que diferencia actingout atuação fora da situação analí tica de actingindentro e durante a sessão na atualidade ela pouco está sendo leva da em conta porquanto não representa maior vantagem do ponto de vista da prá tica clínica Adaptação Psicólogos do Ego O conceito de adaptação é original e fun damental da Escola da Psicologia do Ego a qual valoriza substancialmente a importân cia da realidade como algo objetivo exter no e essencial a qualquer sujeito HARTMANN o autor mais importante dessa corrente psi canalítica considerou o grau de adaptação como sendo o alcance que cada sujeito tem da função sintética e integradora do ego as quais podemos acrescentar implicam em demais funções do ego tais como a capaci dade para associar confrontar correlacionar indagar discriminar e exercer o juízo crítico O ponto de partida teórico para o conceito de adaptação é a biologia que estuda a constante interação entre o organismo ani 20 DAVID E ZIMERMAN mal e a natureza sendo que no homem essa relação recíproca entre a natureza nature e a cultura nurture adquire uma dimen são bastante complexa e está ocupando um lugar de grande relevância na psicanálise contemporânea Para não cometer uma injustiça contra os psicólogos do ego como é bastante corren te é necessário esclarecer que HARTMANN e colaboradores não preconizavam uma sim ples adaptação ao american way of lifeou seja uma submissão passiva à ordem so cial mas sim que a adaptação é um pro cesso ativo visando a uma harmonia do subjetivo mundo interno com o objetivo mundo externo incluindo o propósito de transformar metas e objetivos sociais Entre os muitos livros publicados o eixo central do pensamento teórico de HARTMANN está contido em Ego Psychology and the Problem of Adaptation 1939 Adaptação à realidade ou realização WINNICOTT WINNICOTT propôs que o desenvolvimento emocional se processa em três etapas su cessivas a de integração a de personaliza ção e a de adaptação à realidade A última também chamada realização consiste em que a criança após adquirir uma integração da quilo que estava em estado de nãointegra ção seguida da aquisição do sentimento de personalização isto é de que ela habita o seu próprio corpo deve dar o passo seguinte que é de fazer uma relação ótima com o seu mun do exterior ou seja deve fazer uma adapta ção à realidade com a ajuda inicial da mãe Assim quando o bebê tiver fome poderá alucinar algo que sacie sua necessidade Nesse momento a mãe oferece o seio um objeto real o que se constitui a primeira contribuição da mãe para aproximar a criança da objetividade ao que se acresce o contato dos órgãos sensoriais do bebê com a realidade exterior Segundo as palavras textuais de WINNICOTT em Desenvolvimento emocional primitivo 1945 o bebê alucina algo que pode ser atacado e então a mãe aproximao do seio real A criança percebe que isso é o que acaba de alucinar e suas idéias ficam enriquecidas pelos dados reais da visão tato olfatoDesta maneira a criança co meça a construir a sua capacidade para evocar o que está realmente à sua dispo sição Adicção Os pacientes drogadictos estão incluídos entre os que sofrem da patologia do vazio Assim as adicções estão sempre ligadas a uma tentativa de o sujeito preencher vazios existenciais decorrentes da primitiva angús tia de desamparo e para tanto lança mão do uso ilusório de drogas tóxicas e eufori zantes ou bebidas alcoólicas o que secun dariamente pode acarretar problemas so ciopáticos No entanto também existe adicção a ali mentos consumismo de roupas jóias etc A adicção também ocorre sob a forma de busca compulsória de relações pseudoge nitais com pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo sempre como uma busca de sentirse vivo porquanto a abstinência re mete o drogadicto ao vazio e gera nele a terrível sensação de desamparo de não existir Um fator complicador para o tratamento consiste no fato de que as adicções incidem numa estruturação psíquica idealizadora isto é construída com um excesso de idea lizações numa busca da magia ilusória por parte do viciado como proteção contra o seu receio de uma descompensação psicó tica Deste modo parece ser válido consi derar a adicção como sendo uma forma de perversão e viceversa na qual a droga funciona como um fetiche de sorte que também cabe referir a existência nos casos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 21 mais extremos de uma adicção às perver sões Adler Alfred ADLER nasceu num subúrbio de Viena em 1870 originário de uma família judia pos teriormente renegou sua condição de judeu e converteuse e faleceu em 1937 Era uma criança débil que sofria de um acentuado raquitismo Esse fato segundo seus biógra fos o deixava em estado de inferioridade em relação ao seu irmão mais velho que significativamente chamavase Sigmund ao qual ele tentava superar com outros re cursos A inferioridade orgânica veio a tor narse uma noção básica da doutrina adle riana Médico e psicólogo ADLER incorporouse ao grupo pioneiro de FREUD em 1902 e foi o primeiro discípulo a abandonar em 1911 o grupo do incipiente movimento psicana lítico devido a sua radical discordância e rejeição da etiologia sexual da neurose o que provocou um crescente estado de ten são com os demais do grupo Nessa oca sião ADLER afastase totalmente do círculo freudiano e funda sua própria escola a qual ele denominou inicialmente Psicanálise Li vre e posteriormente deulhe o nome defi nitivo de Psicologia individual comparada Essa escola consiste fundamentalmente nos seguintes elementos 1 Todo indivíduo é portador de estado de dependência orgâ nica e psicológica 2 Esse estado promove na criança um sentimento complexo de inferioridade 3 Esse sentimento é compen sado por uma vontade de poder 4 Essa vontade leva o indivíduo a querer ser e mostrarse superior aos outros Além do destaque dado ao complexo de inferioridade como o eixo central da origem das neuroses ADLER fez significativas con tribuições pioneiras como a instituição de consultas psicopedagógicas num trabalho com grupos de professores dirigido à edu cação de crianças uma abordagem da psi cologia social e da patologia dos desvios sociais tendo se interessado bastante pela situação psicossocial da mulher foi dos pri meiros a postular a aplicação da psicanáli se à personalidade total e a descrever uma parte do papel do ego na produção de neu roses Após ter sido bem sucedido numa série de conferências pronunciadas nos Es tados Unidos ADLER abandonou definitiva mente a Áustria e foi instalarse com a fa mília em Nova York É considerado um des viacionista de Freud porquanto desviouse da essência teórica e técnica freudiana as sumindo seu trabalho clínico uma orien tação de natureza pedagógica A ruptura entre FREUD e ADLER adquiriu um grau de violência extremada Decorridos 35 anos como atestam as publicações dessa época os dois continuavam a trocar insultos de baixo nível Seus principais livros são Teo ria e prática da psicologia individual 1918 Psicologia da criança difícil 1928 e O sen tido da vida 1933 O último pode ser con siderado como seu maior testamento em relação ao seu pensamento psicológico psicoterápico e educacional Adolescência e puberdade Os dicionários apontam para uma dupla origem da palavra adolescência Uma indi ca que procede dos étimos latinos ad para frente olesco crescer arder inflamarse A outra alude a adolescentia derivada de adolescent raiz de adolecens particípio de adolescere adol esc ent Tratase de um período de transformações portanto de crise especialmente no que refere à construção de um sentimento de identidade De modo geral considerase que a adoles cência abrange três níveis de maturação e desenvolvimento a puberdade ou préado lescência no período dos 12 aos 14 anos a adolescência propriamente dita dos 15 22 DAVID E ZIMERMAN aos 17 e a adolescência tardia dos 18 aos 21 anos Cada uma delas apresenta carac terísticas próprias e específicas que exigem abordagem psicanalítica com aspectos es pecíficos para cada uma delas Em relação à puberdade a etimologia mos tra que o termo deriva de púbis mais espe cificamente alude aos pêlos pubianos que começam a aparecer no menino ou na menina Esse fato mostra que a préadoles cência é uma etapa do desenvolvimento no qual começa a maturação fisiológica do aparelho sexual simultaneamente acompa nhada por inquietações emocionais Até há algumas décadas atrás os psicana listas consideravam muito difícil o tratamen to psicanalítico de púberes e adolescentes devido ao grande número de abandonos da análise em sua maior parte atribuídos ao fato de se considerar que levavam os sentimentos transferenciais não num pla no de um como se mas sim como se de fato estivessem realmente apaixonados pelo analista o que os levava a fugar À medida que os terapeutas psicanalíticos fo ram entendendo melhor a dinâmica do psi quismo adolescente e conseqüentemente posicionandose com uma postura de maior segurança e com um melhor manejo técni co a psicanálise de adolescentes ganhou um crescente crédito e relevância Afânise E JONES Até certa época muito em voga na termi nologia psicanalítica esse termo foi intro duzido por EJONES Significa uma aboli ção do desejo ou da capacidade de dese jar e deriva de aphanisis que em grego quer dizer fazer desaparecer JONES afir mou que o medo de castração no homem corresponde na mulher ao medo de aban dono Como conseqüência desses temores todo homem como toda mulher podem de senvolver em comum um estado de afani sia ou seja um congelamento dos desejos Afasia FREUD 1891 Em 1891 como médico neurologista FREUD produziu o trabalho Para uma concepção das afasias um estudo crítico no qual já esboçava algumas idéias que depois pros seguiram no Projeto para uma neurologia científica 1895 Nesse texto Freud opõe se à doutrina neurológica dominante na época segundo a qual a etiologia dos trans tornos da linguagem provindas do sistema nervoso ficava reduzida a regiões anatomi camente determinadas o que então era conhecido como teoria das localizações cerebrais É útil lembrar que o termo afa sia designa num sentido mais amplo um transtorno da memória e num sentido mais restrito alude à uma perturbação da lingua gem São descritos dois tipos de afasias a sensorial há uma perda da compreensão da linguagem embora as palavras sejam pronunciadas e a afasia motora nesse caso fica mantida a compreensão daquilo que os outros dizem enquanto desaparece a capacidade de articulação das palavras No lugar de explicar as afasias por uma sim ples relação de causaefeito como ocorria na teoria das localizações cerebrais e neuronais FREUD traçou um paralelismo entre três pro cessos 1 O fisiológico sensorial são as im pressões 2 O sistema nervoso no nível cor tical constituem as inscrições 3 O processo psicológico por meio das representações Assim segundo FREUD cada estímulo pro veniente do mundo exterior causa uma impressão sensorial e produz uma excita ção a qual vai provocar uma inscrição per manente no córtex cerebral As inscrições ficam aí armazenadas a confundirse entre si O armazenamento estratificado dessas inscrições constitui o que Freud denominou imagem mnêmica e quatro grupos de ima gens mnêmicas a acústica a cinestésica a de leitura e a de escrita O conjunto dessas quatro categorias de imagens formam a re presentação da palavra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 23 Essas especulações de FREUD sobre afasias especialmente no que se refere à escritura psíquica vão ressurgir na carta 52 dirigida a FLIESS Mas notável é o fato de que há mais de um século a título de estudar um problema de neurologia Freud construiu o esboço do primeiro modelo do aparelho mental que virá a ser desenvolvido no fa moso capítulo VII de Interpretação dos so nhos 1900 Afeto FREUD LACAN A etimologia da palavra afeto evidencia que ela alude a sentimentos que afetam tanto no sentido de afeições como de afeccões o psiquismo do sujeito Em sua formulação original FREUD postulou que a pulsão sexu al se manifesta pelo afeto da angústia a qual pode sofrer três tipos de transformações 1 Como sintoma histérico vertigem dispnéia suspirosa desmaio etc 2 Deslocamento em outro objeto temores fóbicos ou obses sivos como por exemplo de surgimento de uma tragédia iminente 3 Sua conver são em crises de angústia catastrófica de pânico Em seu trabalho O inconsciente 1915 FREUD afirma que se a pulsão não aparecesse sob a forma de afeto nada po deríamos fazer sobre ela O que de mais relevante destacou em relação à concep ção psicanalítica do afeto é que este é um dos registros de qualquer pulsão sendo o fator quantitativo da energia pulsional que caracterizaria o grau e tipo do afeto mani festo Na atualidade mais do que o fator quantitativo os analistas valorizam o aspec to qualitativo isto é na prática analítica procuram desvendar quais são os afetos que afetam o paciente Outro registro fun damental do destino da pulsão é o de sua representação no ego Para LACAN o que determina a qualidade do afeto são os significantes que estão amarrados às pulsões reprimidas Por exemplo um acidente qualquer sofrido por uma criança pode ter sido reprimido com naturalidade enquanto um mesmo aciden te em outra criança pode ter sido reprimi do no inconsciente com um significante de que ela quase morreu de modo que em situações semelhantes embora banais o afeto desse sujeito será o de angústia de morte iminente Agressividade e agressão Entendi ser útil juntar esses dois termos porquanto comumente são confundidos entre si não só na mente dos pacientes como também em muitos psicanalistas Por isso é importante na prática clínica estabe lecer a diferença entre ambos os conceitos Destarte agressão alude mais diretamente à pulsão sádicodestrutiva nos termos des critos por MKLEIN tão profunda e exausti vamente Agressividade por sua vez tal como revela sua etimologia ad gradior representa um movimento gradior para a frente ad uma saudável forma de prote gerse contra os predadores externos além de também indicar uma ambição sadia com metas possíveis de alcançar Em resumo na agressão predomina a pul são de morte enquanto na agressividade prevalece a pulsão de vida Se o analisan do não as discriminar corre o risco de blo quear seu pleno direito de liberar sua ener gia agressiva positiva por temer que seja perigosa e condicionar um revide persecu tório igualmente perigoso Agressão FREUD Embora FREUD sempre tenha entendido que as tendências agressivas de toda índole re presentam uma parte considerável das pul sões humanas a evolução do conceito de agressão sofreu sensíveis transformações ao longo de sua obra Inicialmente achava que as manifestações agressivas tinham um ca ráter reativo isto é constituíam uma res 24 DAVID E ZIMERMAN posta às frustrações e tinham como objeti vo a superação das frustrações Segundo o entendimento de FREUD de então essas re ações estavam intimamente vinculadas a certas pulsões sexuais especialmente pul sões sexuais predominantes nos níveis pré genitais da organização da libido Ademais dizia ele existem outras agressões que parecem surgir num terreno completa mente apartado da sexualidade Além dis so existe o enigma do masoquismo o fato de que em determinadas circunstâncias o princípio que habitualmente rege a condu ta humana o princípio do prazer parece ser posto de lado para deixar aflorar num primeiro plano tendências autodestrutivas Também do ponto de vista clínico sem que se confundam o masoquismo e o sadismo se acham intimamente ligados entre si são concomitantes e muitas vezes alternantes Finalmente FREUD integrou as diversas for mas pulsionais numa teoria que estabelece a existência de duas qualidades no psiquis mo uma autodestrutiva é a pulsão de morte a qual pode voltarse para o mundo externo e transformarse em uma pulsão destrutiva a segunda é Eros que se volta à busca de objetos e está empenhada em conseguir a integração em unidades cada vez mais elevadas À objeção de que na realidade não existe uma conduta puramen te autodestrutiva nem puramente busca dora de objetos Freud contestava com a hipótese de que os fenômenos psíquicos reais se compõem de diferentes mesclas das duas qualidades pulsionais Aichorn August Psicanalista austríaco nascido em 1878 e falecido em 1949 merece figurar como destaque na psicanálise por ter sido pionei ro nos estudos sob o ponto de vista psica nalítico da delinqüência infantil e juvenil estudos esses que aparecem no seu clássi co Juventude Abandonada 1925 AI CHORN que tinha a peculiaridade de ser um homem corpulento e que sempre es tava de preto afirmou que a pedagogia poderia funcionar para a criança como uma figura do pai mercê de uma transfe rência positiva Além do Princípio do Prazer FREUD 1920 Esse livro consta do volume XVIII p 17 e é considerado um dos mais importantes de FREUD A partir de um aprofundado estudo metapsicológico do fenômeno da compul são à repetição que então faz equivaler a uma pulsão FREUD nele introduz de forma definitiva o conceito de pulsão de morte e classificou as pulsões como sendo de vida e de morte A introdução da concepção de pulsão de morte foi retomada por MKLEIN com esse mesmo nome embo ra com uma concepção algo distinta de modo que esse escrito de FREUD se cons titui o introdutor de um novo paradigma da psicanálise Alexander Franz VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 25 ALEXANDER nasceu em Budapeste em 1891 e morreu em Nova York em 1964 Estudou e formouse em medicina na Hungria e emi grou para a Alemanha onde fez sua análi se didática e sua formação de psicanalista Aos 32 anos radicouse nos Estados Uni dos onde tornouse professor de Psiquia tria Clínica e em 1931 fundou o Instituto de Psicanálise de Chicago Seu grupo ficou sendo reconhecido como Escola de Chica go ALEXANDER fez alguns desvios em rela ção aos princípios clássicos da psicanálise vigente e instituiu os fundamentos da psi coterapia psicanalítica breve Esse fato lhe custou sérios atritos com a Associação Psi canalítica Americana e fez com que seu método passasse à história da psicanálise com o nome de psicanálise alexandrina Essa proposição técnica está fundamenta da na conhecida expressão de ALEXANDER experiência emocional corretiva a qual consiste essencialmente na tarefa de o ana lista mercê de uma atitude mais compre ensiva e afetiva ajudar no abrandamento do superego exigente e punitivo de deter minado paciente Comentário Embora haja uma parcial e significativa validade nessa postulação de ALEXANDER o termo corretiva sugere uma ação superegóica por parte do analista de modo que inspirado nos estudos de BION acerca de transformações penso que men cionada frase de ALEXANDER ganharia impor tante validação atual se a formulássemos como uma experiência emocional transfor madora ALEXANDER participou de muitos debates com os psicanalistas de sua época em aca loradas discussões quanto à aceitação ou não de suas idéias e sua prática como me recedoras de serem consideradas como in cluídas na verdadeira psicanálise A balan ça pendeu para o lado negativo ALEXANDER também se dedicou profunda mente a estudos relativos à medicina psi cossomática Descreveu as sete doenças psicossomáticas asma brônquica úlcera gástrica artrite reumatóide retocolite ulce rativa neurodermatose tireotoxicose e hi pertensão essencial atribuindo a cada uma delas uma especificidade do conflito psico gênico responsável pela somatização Seu livro essencial é o que aparece traduzi do como Psicoterapia analítica princípios e aplicação 1946 Alexitimia SIFNEOS e NEMIAH Concepção estabelecida pelas investigações dos norteamericanos SIFNEOS e NEMIAH em seus estudos sobre doenças psicossomáti cas Conforme sua etimologia a palavra alexitimia é composta dos étimos a priva ção lex leitura thimos glândula que era considerada responsável pelo humor alude à dificuldade de os pacientes somati zadores conseguirem ler suas emoções e por isso se expressam pelo corpo Para os pesquisadores mencionados na causa da alexitimia existe um substrato neurofisioló gico às dificuldades de simbolização das vivências emocionais a qual resultaria de uma falha das conexões neuronais entre o sistema límbico do cérebro responsável pe las emoções e o córtex cerebral responsável pela capacidade de síntese das percepções julgamento e antecipação das ações Alfa α BION Para evitar que seus leitores praticassem um reducionismo de seus conceitos originais para outros conceitos já conhecidos e con sagrados BION costumava empregar uma terminologia inédita impregnada de varia das simbologias Assim com essa primeira letra do alfabeto grego ao longo de sua obra BION designou três fenômenos psíqui cos 1 Elementos α 2 Função α 3 Trans formação α Todos estão descritos nos res pectivos verbetes específicos deste livro BION emprestou à função um papel de gran 26 DAVID E ZIMERMAN de relevância para possibilitar o funciona mento amadurecido do ego como a capa cidade de pensar fazer síntese abstrair sim bolizar sonhar etc Aliança terapêutica ELISABETH ZETZEL Denominação criada por EZETZEL psicana lista norteamericana Em um trabalho de 1956 concebeu um aspecto importante em relação ao vínculo transferencial ou seja o fato de determinado paciente apresentar uma condição mental tanto de forma cons ciente como inconsciente que lhe permite manterse verdadeiramente aliado à tarefa do psicanalista Com significados equivalentes essa concep ção aparece na literatura psicanalítica sob outras denominações como por exemplo aliança de trabalho de RGREENSON Comentário Cremos que cabe acrescen tar que uma aliança terapêutica não deve ser tomada simplesmente como um desejo consciente do paciente em colaborar e me lhorar tampouco como sinônimo de trans ferência positiva e muito menos como an tônimo de transferência negativa Pelo con trário cremos que o importante surgimento da última em sua plenitude aparentemente negativa muitas vezes se torna possível gra ças ao respaldo de uma aliança terapêutica Essa aliança deve provir pelo menos de uma parte do paciente comprometida e envolvida em assumir e colaborar verdadeiramente com a profundeza da análise enfrentando assim as inevitáveis dificuldades e dores Alienação LACAN Freqüente na obra de LACAN esse termo designa o fenômeno que consiste em o su jeito sentirse aprisionado no desejo no dis curso ou no corpo do outro Esse fenôme no radica numa primitiva etapa do espe lho em que a criança tem a imagem de si mesma confundida com a de sua mãe Etimologicamente o vocábulo alienação deriva do étimo latino alienu que significa aquilo que não é nosso que pertence a al guém De sorte que além do significado psicanalítico tal como foi definido acima também é empregado no vocabulário po pular para referir alguém que está distante apartado de si mesmo Alter ego Durante longas décadas em desuso na lite ratura psicanalítica essa expressão está voltando a ganhar reconhecimento pelo fato de caracterizar o fenômeno do duplo aná logo ao da especularidade Esses conceitos vêm adquirindo expressiva relevância na teoria e na prática psicanalítica especial mente para os pacientes com transtornos narcisistas A conceituação de alter ego apa rece mais explicitada no verbete específico Ego alter Alucinose BION Concepção de BION que a descreveu como um estado psíquico presente na parte psi cótica da personalidade e que consiste em um tipo de transformação resultante de ex cessivas identificações projetivas que dis torcem a percepção da realidade Não deve ser confundida com o conceito clássico de alucinação tal como ensina a psiquiatria embora eventualmente quando num grau excessivo a alucinose pode atingir a um estado de alucinação Nesse caso diferen temente da alucinose o sujeito não conse gue ter um juízo crítico da realidade em confronto com as suas distorções percepti vas psicóticas Para uma compreensão mais aprofundada do fenômeno da alucinação do ponto de vista analítico impõese a lei tura do artigo Sobre a alucinação On allucination de BION 1967 Do ponto de vista da etimologia um equí voco muito comum é julgar que o verbo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 27 alucinar derive de a privação lucinare do latim lux lucis isto é luz logo com a significação de uma percepção com falta de luz Na verdade a etimologia de alucinose resulta dos étimos gregos hallos outro gnosis conhecimento Na prática clínica essa concepção adquire importância se o analista estiver atento para as fugazes e pouco perceptíveis alucinoses como pode ser a impressão que algum pa ciente tenha durante a sessão de julgar que ouve ruídos de gravador por exemplo odores fumaça de incêndio etc e que podem permitir um acesso a importantes regiões do inconsciente Ambiente e os Processos de Matura ção O WINNICOTT 1965 É o título da tradução para o português edi ção Artmed 1983 de um importante livro de WINNICOTT na versão original em in glês The Maturacional Processes and the Facilitating Environment Studies in the Theory of Emotional Development Lon dres 1965 Tratase de uma coletânea de principais artigos escritos por esse autor entre 1957 e 1963 entre os quais cabe des tacar A capacidade para estar só 1958 Teoria do relacionamento paternoinfan til 1960 e Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self 1960 Ambiente facilitador Winnicott No início de sua obra fiel a suas raízes kleini anas WINNICOTT dava decisiva importância às fantasias inconscientes do bebê a ponto de considerálo o maior responsável pela cria ção do seu meio ambiente Isso pode ser evi denciado pela afirmativa que esse autor fez em 1936 em relação a um menino de dezoi to meses Observem de que maneira este pequeno cria para si um ambiente anormal No entanto aos poucos WINNICOTT foi dife renciandose de MKLEIN atribuindo uma progressiva e crescente importância ao ambiente exterior sobretudo a mãe real e as respectivas falhas ambientais Destarte WINNICOTT postula a necessidade de a mãe facilitar o desabrochar das potencialidades inatas do bebê e que acima de tudo não cometa sérias e sucessivas falhas no aten dimento de suas necessidades básicas Para sustentar a ênfase nesse aspecto WINNICOTT emprega uma terminologia ori ginal como ambiente facilitador mãe su ficientemente boa e holding e associa as falhas maternas e ambientais ligadas às pulsões sádicodestrutivas com transtor nos no desenvolvimento da personalida de como a do falso self tendência anti social etc Ambigüidade J BLEGER Esse termo ganhou maior relevância como conceito psicanalítico a partir dos estudos descritos pelo psicanalista argentino JBLE GER que destacou o fato de que esse esta do mental pertence a uma indiscriminação entre o eu e o outro devido a uma persis tência de núcleos fusionaisaglutinados com a mãe primitiva Assim para usar uma linguagem popular creio que podese dizer que o sujeito ambí guo simultaneamente acende uma vela a Deus e outra ao diabo Para ele as coi sas funcionam na base da máxima de que no escuro todos os gatos são pardos e a sua atitude predominante na vida cotidia na segue o mandamento do nem que sim nem que não antes até muito pelo contrá rio Dessa forma passa sua confusão a todos os circunstantes Muitos confundem o conceito de ambi güidade com o de ambivalência no en tanto não significam a mesma coisa En quanto a ambivalência resulta de um jogo de dissociações a ambigüidade tem raí zes muito mais primitivas de fusão narci sística 28 DAVID E ZIMERMAN Ambivalência BLEULER FREUD O conceito de ambivalência foi introduzido por E BLEULER em 1910 nos seus traba lhos sobre as características da esquizofre nia Consiste numa condição do psiquismo pela qual o sujeito tem concomitantemen te sentimentos idéias ou condutas neste caso alguns autores preferem o termo am bitendência opostas em relação a uma mesma pessoa ou situação como é o caso por exemplo de uma simultaneidade de amor e ódio aproximação e afastamento afirmação e negação FREUD destacou como aspecto principal o dualismo das pulsões de vida e de morte em oposição recíproca Em MKLEIN a am bivalência aparece enfaticamente evidenci ada nas relações simultâneas do sujeito com um mesmo objeto dissociado em objeto bom e mau idealizado e perseguidor Na obra de BION a ambivalência pode ser especialmente depreendida de seus estudos sobre vínculos de amor ódio e conheci mento nos quais destaca a permanente in teração das emoções versus antiemoções Para exemplificar um conflito ambivalente entre K e K significa que o sujeito pode querer conhecer K certas verdades peno sas e ao mesmo tempo desejar negar e repudiálas K American Psychoanalitic Association APsaA Fundada por EJONES em 1911 sofreu al gumas dissidências e foi robustecida por psicanalistas europeus que emigraram para os Estados Unidos como HARTMANN KRIS LOEWENSTEIN EERIKSON E JACOBSON MMAHLER entre outros Na atualidade a APsaA é composta por cerca de 40 socie dades filiadas além de inúmeros grupos distribuídos pelas cidades mais importan tes Calculase em torno de quase 4000 o número de psicanalistas filiados a essa As sociação além de aproximadamente outros 9000 que não são filiados à IPA Nos últi mos anos a psicanálise vem perdendo pres tígio nos Estados Unidos O número de can didatos para a formação exigida pela IPA tem decaído consideravelmente e ela sofre uma forte concorrência por parte de terapêuti cas alternativas especialmente por parte da psicofarmacologia Amor FREUD LACAN O sentimento de amor o mais cantado e decantado em todas as épocas tem sido estudado maciçamente dentro e fora da psi canálise sob todos os ângulos dimensões e inúmeros vértices de entendimento pos síveis No campo psicanalítico a qualidade do amor sempre está ligada a algum tipo de arranjo entre as pulsões de vida e de morte de que podem resultar as diversas formas de o sujeito amar e ser amado Comentário Cremos que na situação ana lítica não basta o paciente referir que ama fulano compete ao analista discriminar jun to com o paciente se é o caso de um amor suficientemente maduro e sadio tecido com doses de ternura sexo respeito recíproco companheirismo etc ou se o vínculo amoroso é predominantemente de nature za sadomasoquista ou simbiótico narcisis ta alienado no outro se é o caso de apo deramento ou paixão Tratandose de paixão também cabe verificar se prevalece o lado bonito da paixão como prelúdio do amor sadio ou o lado cego e burro de mui tas paixões e assim por diante FREUD em seus primeiros estudos deu uma relevân cia quase que exclusiva aos aspectos libidi nais inerentes ao amor A partir de Além do princípio do prazer de 1920 onde in troduziu a concepção da pulsão de morte FREUD passou a empregar a palavra grega Eros para designar as pulsões de vida que se opõem às de morte as quais ele deno minou Tânatos FREUD também abordou VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 29 vários outros aspectos do amor Vale referir os seguintes 1 A partir da afirmação de que muitos homens não podem desejar a mulher que amam e nem amar aquelas que desejam lançou as sementes teóricas que diferenciam o conceito de amor do de de sejo 2 No trabalho Uma introdução ao narcisismo de 1914 na parte que aborda a escolha de objeto por parte do homosse xual descreve dois tipos de opção a de tipo anaclítica na qual essa pessoa busca um necessário apoio ou ancoragem materno ou de tipo narcisístico caso em que o ho mossexual procura no outro aquilo que é ele próprio tanto no presente como no que foi no passado como também busca aqui lo que ambiciona vir a ser no futuro 3 No artigo Os instintos e suas vicissitudes de 1915 FREUD estuda o destino das pulsões sexuais destacando a freqüente possibili dade de o amor transformarse em ódio ou mesclarse ambivalentemente com o ódio Em seus estudos técnicos notadamente o de 1915 Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise FREUD prioriza a importância do que ele chamou amor de transferência BION destacou o aspecto vincular do amor em especial no que tange à emoção versus antiemoção do amor tal como aparece mais explicitado no verbete vínculo LACAN por sua vez ocupouse de forma original com os três aspectos que seguem 1O narcisismo do amor humano resultan te da etapa do espelho na qual a criança está alienada no corpo e na imagem que a mãe lhe reflete dela Assim está sempre no próprio sujeito aquilo que ele está amando no outro 2 A demanda alude a um dese jo insaciável oriunda de uma necessidade vital de o sujeito preencher o vazio de um objeto faltante promove um tipo de amor em que o sujeito ama no outro sobretudo aquilo que lhe falta 3 A falta resulta da castração Logo como o pai é o responsá vel pela lei da interdição resulta que o tipo de amor de alguma pessoa pode represen tar uma constante e às vezes desesperada procura inconsciente de um pai que por uma compulsão à repetição acaba sendo um pai castrador como é tão freqüente aparecer na clínica psicanalítica WINNICOTT dedicouse mais aprofundada mente às diversas facetas do recíproco amor da mãe com o seu bebê KOHUT ressaltou o aspecto de que muitas formas de amar resultam da busca de al guém que preencha as primitivas falhas empáticas BION estudou os múltiplos aspectos que es tão contidos no vínculo do amor Ver esse verbete Anáclise ou apoio ou ancoragem FREUD O étimo grego anaclisis origem de anácli se significa deitarse sobre apoiarse Em FREUD a noção de anáclise aparece mais claramente em 1915 na terceira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualida de Em alemão a palavra original empre gada é Anlehnung em francês é etayage em espanhol aparece como apuntalamien to e em português costuma ser traduzido como apoio No referido texto FREUD afirma que as pul sões sexuais só conseguem atingir a condi ção de independentes se estiverem apoia das nas pulsões de autoconservação base adas nas funções orgânicas Ele ilustra isso com a situação do lactante mamando no seio materno num primeiro momento com fome ele satisfaz sua necessidade enquanto num segundo momento da mamada ele se satisfaz com a erogenização do seio o que se repete com outras zonas erógenas Comentário Entendo que a palavra apoio em termos psicanalíticos está muito impreg nada com a significação contida na expres são psicoterapia de apoio razão por que 30 DAVID E ZIMERMAN me parece mais adequada a palavra anco ragem que define melhor um apoiarse agarrandose firmemente como FREUD queria conceituar Anaclítica depressão R SPITZ Com esse termo RSPITZ 1945 descreveu um estado depressivo que surge no primei ro ano de vida da criança devido a um afas tamento súbito e prolongado da mãe de pois de ter se estabelecido um bom vínculo com ela As características dessa depressão anaclítica são uma apatia generalizada Na maioria das vezes a situação volta ao normal quando a mãe retorna ou em caso contrá rio a depressão pode ficar muito agravada Essa última situação pode ser exemplifica da com a depressão anaclítica de caracte rísticas bem mais graves que Spitz deno minou hospitalismo porquanto tratase de criancinhas que ficam por longo tempo in ternadas em creches e hospitais sem a pre sença física da mãe As estatísticas mostram que essas crianças embora bem tratadas adoecem e morrem com mais facilidade do que as crianças em condições normais Isso devese ao fato de que a depressão abala o sistema imunológico o que torna o organis mo presa fácil para as doenças infecciosas Anaclítica escolha de objeto FREUD Tomando como base a ilustração dos dois momentos da mamada do bebê no seio da mãe tal como está referido no verbete aná clise podese deduzir que nessas condi ções o tipo de escolha do objeto vai recair nas pessoas que prioritariamente propici am cuidados maternais sob a forma de ali mentação higiene e proteção O conceito de escolha de objeto anaclítico aparece melhor descrito no verbete amor na parte em que são referidos os estudos de FREUD em relação à escolha de parceiros homossexuais Anagógica interpretação Esse termo provém do étimo grego anágos que significa elevar para o alto de modo que é uma expressão que pertence à lin guagem teológica Aplicada à psicanálise a palavra anagógica embora pouco utiliza da designa um importante e contemporâ neo modo de interpretação que se eleva do sentido literal e sensorial dos símbolos so nhos sentidos etc para o universal senti do espiritual Anal fase FREUD ABRAHAM Denominação de FREUD para o período evo lutivo situado entre os 2 e os 4 anos isto é entre a fase oral e a fálica Embora o termo anal se refira especificamente àquilo que é relativo ou pertencente ao ânus na psi canálise as manifestações da fase anal abrangem as que ocorrem em outras zonas corporais como por exemplo as proveni entes da musculatura e da ação motora Na criança esse período coincide com a a aquisição da linguagem e da capacidade de engatinhar e andar b o despertar da curi osidade que a leva a explorar o mundo ex terior c o progressivo aprendizado do con trole esfincteriano e da motricidade d os ensaios de individuação e separação e a comunicação verbal f o uso de brinque dos as brincadeiras e os jogos g a aquisi ção da condição de dizer não etc ABRAHAM em Un breve estudio de la evo lución de la libido a la luz de los transtornos mentales 1924 ampliou significativamen te os estudos relativos à analidade em es pecial os aspectos das pulsões agressivas Sintetizando as colaborações de FREUD e de ABRAHAM podemos destacar os seguintes aspectos principais 1 A fase anal é carac terizada pela predominância das pulsões tanto as sádicas como as eróticas que refe rem ao ânus uretra motricidade etc 2 Existe uma oposição entre atividade que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 31 gera uma atitude de dominação e uma passividade resultante do fato de que a zona anal funciona prevalentemente como fonte erógena receptiva 3 Existe na criança uma equivalência simbólica entre fezes filho pênis presentes e dinheiro 4 O ato da eva cuação pode ser usado como um recurso analexpulsivo como forma de a criança presentear ou agredir aos pais educado res ou ser utilizada de forma analreten tiva que freqüentemente expressa um es tado de autoerotismo ou de uma obsti nação 5 Esta última condição constitui se em importante matériaprima para a formação da neurose obsessiva Assim os traços obsessivos normais como os as pectos referentes à ordem à economia e a uma saudável disciplina se excessivos transformamse em compulsões avareza e tirania Analisabilidade conceito de técnica Antes de comprometerse a assumir o tra tamento de determinado paciente um ana lista deve ter critérios bem definidos quan to ao fato de que sua indicação de psicaná lise é a mais acertada possível para mini mizar o risco de possíveis futuras decepções para ambos Alguns dos elementos que compõem os cri térios para uma analisibilidade são 1 Uma motivação suficientemente boa para que rer fazer verdadeiras mudanças psíquicas 2 Uma avaliação do diagnóstico e do prog nóstico relativos não somente ao grau de patologia do paciente com os respectivos prováveis riscos além de levar em conta a reserva de capacidades positivas 3 A po tencialidade de contrair uma relação vin cular onde se instale uma aliança terapêu tica 4 Os fatores de ordem prática quanto às condições econômicas e equivalentes 5 A acessibilidade que o paciente demonstra para entrar em contato com as suas regiões inconscientes o que implica a necessidade de o analista avaliar o grau de amor às ver dades que demonstra a pessoa que busca um tratamento psicanalítico À medida que os psicanalistas contempo râneos foram melhorando seu equipamen to teórico e técnico os critérios de analisi bilidade tornamse mais flexíveis e descon tando os eventuais indícios óbvios de uma contraindicação para análise eles preferem observar as reais possibilidades ou impossi bilidades durante o curso da própria análise Análise com crianças Ver o verbete crianças Análise de uma fobia em um menino de cinco anos FREUD 1909 Esse trabalho mais conhecido com o nome do Caso do Pequeno Hans aparece no vo lume X p15 da edição Standard brasilei ra Ver o verbete Historiais clínicos Análise do Self KOHUT 1971 Em 1971 KOHUT publicou seu primeiro livro intitulado no original inglês The Analysis of the Self Análise do Self na edição brasileira Até então as proposições kohutianas estavam restritas aos conceitos de empatia de introspecção tal como apa rece no seu trabalho de 1959 Introspecti on empathy and psychoanalysis que mar ca o começo de sua divergência com a ideo logia psicanalítica da Associação Psicanalí tica Americana e da IPA e à patologia con cernente aos transtornos narcisistas Em Análise do Self KOHUT propõe para esses pacientes um tratamento especial baseado exatamente na interpretação e ela boração das transferências narcisistas Com isso procurase fortalecer o self desses pa cientes dando origem a um desenvolvimen to normal da libido narcisista Ver o verbe te transferências tipos de 32 DAVID E ZIMERMAN Análise didática Preocupados com uma expansão do núme ro de pessoas que se denominavam e se consideravam psicanalistas e que nem sem pre tinham condições técnicas e tampouco éticas ou morais para o exercício de uma tarefa de tamanha responsabilidade os ana listas pioneiros mais direta e intimamente ligados a FREUD propuseram a adoção de critérios minimamente rígidos para assegu rar um bom padrão de qualidade de for mação Ademais à medida que os analis tas responsáveis pela seriedade do movi mento psicanalítico no mundo foram per cebendo a importância das nuanças con tratransferenciais começaram a surgir as primeiras dúvidas a respeito de uma praxe que era relativamente comum qual seja a da permissão natural de que muitos desses pioneiros analisassem pessoas íntimas como amigos amantes concubinas e até mesmo familiares muito próximos A expressão análise didática foi criada em 1922 e a partir de 1925 durante a realiza ção do Congresso Internacional MAX EITING TON propõe que juntamente com as super visões de casos clínicos a prática da análi se didática fosse tornada obrigatória para todos os candidatos em formação no mun do todo Essa proposta foi plenamente apro vada e sua execução adotada pela IPA com a instauração de regras padronizadas e que com pequenas variações se mantêm vigen tes na atualidade Nos primeiros tempos alcançar a condição de fazer uma análise didática era cercada por uma auréola de idolatria o que não acontece nos dias atuais Embora haja um reconhecimento geral da eficiência da for mação analítica as regras impostas pela IPA vêm sofrendo muitas contestações quanto a um possível excesso de rigidez na sua aplicação tendo em vista algumas profun das transformações pelas quais o mundo está passando Tal fato vem merecendo por parte da IPA sérios estudos quanto a uma possível reavaliação de certos aspectos Análise leiga FREUD Essa expressão ou sua equivalente análi se profana era usada com bastante fre qüência para referir a análise clínica prati cada por nãomédicos fato que gerou for tes polêmicas entre os psicanalistas princi palmente após uma maciça emigração para a América do Norte de analistas europeus nãomédicos devido à ameaça da perse guição nazista FREUD publicou a respeito A questão da análise leiga 1926 que motivou fortes reações dos psicanalistas norteamericanos que eram unicamente médicos Por fim prevaleceu a posição ini cial de FREUD tal como é na atualidade com uma sólida e maciça participação de psicó logos clínicos em todas as sociedades psi canalíticas Análise Terminável e Interminável FREUD 1937 O trabalho está publicado no volume XXIII páginas 247 a 287 da edição Standard bra sileira subdividido em oito partes Tratase de um verdadeiro clássico que juntamente com Construções em Análise do mesmo ano foram os últimos escritos estritamente psicanalíticos de FREUD publicados em vida Nesse livro após quase 20 anos FREUD re toma a abordagem centrada nas questões técnicas da psicanálise O artigo como um todo dá impressão de pessimismo quanto à eficácia terapêutica da psicanálise de modo que dá uma constante ênfase a suas limitações às dificuldades do processo e aos obstáculos que se erguem no seu caminho Entre outros aspectos interessantes e insti gantes desse trabalho vale destacar que FREUD assinalou 1 Que existem três fato res decisivos para o sucesso ou fracasso do tratamento analítico a influência dos trau VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 33 mas a força constitucional das pulsões e as alterações do ego 2 Na psicanálise os mecanismos de defesa dirigidos contra a angústia da emergência daquilo que está recalcado ressurgem no processo analítico sob a forma de resistências contra a cura de modo que o resultado de um tratamen to analítico depende essencialmente da for ça e profundidade das resistências que acar retam uma alteração do ego 3 Fundamen tado num artigo que FERENCZI leu em 1927 FREUD afirma que entre os fatores que in fluenciam as perspectivas do tratamento analítico e se somam a suas dificuldades da mesma maneira que as resistências deve se levar em conta não apenas a natureza do ego do paciente mas também a indivi dualidade do analista Não devemos esquecer que o relacionamento analítico se baseia no amor à verdade e que isso exclui qualquer tipo de impostura ou engano 4 Consubstanciando seu pessimismo em re lação ao pleno êxito de um tratamento psi canalítico especialmente com mulheres volta a enfatizar o seu conceito de inveja do pênis ao afirmar que Nas mulheres também o esforço por ser masculino é egos sintônico em determinado período O desejo apaziguado de possuir um pênis des tinase a ser convertido no desejo de um bebê e de um marido que possui um pênis Freqüentemente temos a impressão de que o desejo de um pênis e o protesto masculino penetraram através de todos os estratos psicológicos e alcançaram uma base rochosa e que assim nossas atividades encontram um fim Análise transacional E BERNE ERIC BERNE 19101970 nascido no Cana dá radicouse em San Francisco Estados Unidos onde desenvolveu o método tera pêutico que denominou análise transacio nal e que o tornou célebre Afastandose do freudianismo clássico BERNE criou e de senvolveu essa modalidade de terapia que está próxima de uma terapia com a famí lia Consiste em restabelecer a comunica ção ou seja uma transação entre os mem bros de uma família ou de um grupo social sempre partindo das relações do ego do sujeito com o ambiente exterior levando em conta as transações entre as diferentes par tes que habitam o eu do indivíduo Analítica psicologia JUNG Ver verbetes Jung e psicologia analítica Angústia ansiedade FREUD MKLEIN M MAHLER WINNICOTT LACAN BION Esses dois termos estão juntos pelo fato de em geral aparecerem indistintamente na literatura psicanalítica como se fossem si nônimos embora muitos autores prefiram estabelecer uma diferença entre ambos Alguns definem ansiedade como um afeto profundo que nem sempre se manifesta clinicamente como que se referindo a al guma ânsia não reconhecida Essa defini ção está de acordo com a etimologia de ansiedade a qual provém do latim anxia anseio ânsia Angústia por sua vez indi caria a condição de sempre existir uma sin tomatologia de angústia livre medo de morrer enlouquecer taquicardia dispnéia suspirosa etc Outros autores estabelecem a mesma diferença porém de forma con trária Etimológicamente o termo angústia deriva do latim angor estreitamento Da mesma palavra derivam angina angustu ra etc que refletem bem a sensação de estreitamento de opressão precordial que acompanha os sintomas da angústia livre Embora a palavra ansiedade preencha me lhor uma noção mais ampla e profunda desse sentimento a expressão angústia fi cou mais popularizada e corrente possivel mente porque as descrições pioneiras de FREUD incidiram especialmente nas mani 34 DAVID E ZIMERMAN festações clínicas de angústia livre que acom panham as neuroses traumáticas atuais Na situação analítica a angústia é o afeto por excelência e é aquele que mais interes sa aos psicanalistas tanto pela sua polisse mia como também pelos inúmeros vértices de entendimento e de manifestações clíni cas As principais concepções de autores de diferentes escolas listados junto ao título deste verbete são apresentadas a seguir FREUD descreveu inicialmente a angústia automática que consiste no represamento de um excesso de estímulos e de excitações pulsionais que o ego do sujeito não conse guiu processar Isso funciona como uma si tuação traumática a ameaça do reprimido irromper na consciência determinaria a angústia Mais tarde mais precisamente em Inibições Sintomas e Angústia de 1926 FREUD descreveu a angústia sinal com a concepção de que contra eventuais peri gos o sujeito cria um sinal de alarme que faz com que situações banais pareçam alta mente ameaçadoras de forma muito des proporcional ao risco real Um exemplo de uma situação desse tipo seria o de um pequeno acidente sofrido por uma criança ir a significar dentro dela uma quase morte Em conseqüência todas as vezes que já adulto sofrer uma situação análoga e o alarme soar o sujeito a viven ciará como uma terrível angústia de morte iminente Assim a pessoa tornase ao mes mo tempo alarmada e alarmista Além da angústia automática e a sinal Freud tam bém referiu a angústia realista para estabe lecer uma diferença entre um sinal anteci patório exagerado e uma angústia natural e proporcional diante de um perigo real É interessante mencionar a modalidade da angústia de não ter angústia a qual resulta do fato de muitas pessoas sofrendo embora com os sinais exagerados de seu sistema de alarme sentem angústia só de imaginar que não têm angústia como se esta fosse a ga rantia de uma alerta contra perigos trágicos Num outro registro FREUD também descre veu a angústia de desamparo Hilflosigkeit no original alemão a angústia da perda de amor a de separação a do superego e sobretudo a angústia de castração que tornouse o eixo principal de seu edifício teórico MKLEIN descreveu a angústia de aniquila mento em outros momentos aparece em sua obra com o nome de angústia de de sintegração a qual corresponde à ação da pulsão de morte agindo do interior do psi quismo ameaçando a sobrevivência do sujeito Em outro registro a autora consig na as angústias de tipo persecutório repre senta uma ameaça de objetos maus e per seguidores que ameaçam os bons objetos internos angústia de tipo depressivo os objetos maus ameaçam a sobrevivência do ego e uma ansiedade confusional um misto ou um estado de transição entre as duas anteriores A partir dos estudos de MMAHLER e cola boradores os psicanalistas seguidores da Psicologia do Ego Contemporânea acres centaram a angústia que acompanha as fa ses evolutivas de simbiose e de diferencia ção com as subetapas desta última de in dividuação e separação ou seja descrevem a angústia de engolfamento quando pre domina o receio de o sujeito vir a ser en golfado ou vir a engolfar o outro tal como foi durante a díade simbiótica que ele teve com a mãe e a angústia de separação no caso em que um afastamento representa o antigo pânico de perder o contato com a mãe Em pacientes fóbicos é freqüente observar se a distância fóbica isto é não podendo aproximarse demasiadamente se afastam mas não suportam uma distância maior e duradoura e voltam a aproximarse num vaivém às vezes eterno WINNICOTT estudou a angústia própria de um estado de nãointegração não é a mesma coisa que desintegração a qual correspon de ao retorno a uma etapa evolutiva em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 35 que o ego do infante ainda não tinha con dições de discriminar seus diversos compo nentes corporais e seus aspectos psicológi cos ainda não integrados num todo único A esse tipo de angústia Winnicott denomi nou breackdown que significa uma sensa ção de catástrofe Na clínica o sintoma mais manifesto que o paciente evidencia é o de uma angustiante sensação de estar caindo no espaço Em outros momentos de sua obra o autor denomina esse tipo de angústia como de aniquilamento ou angústias inimagináveis ou ainda de agonias impensáveis ou seja o paciente não consegue pensálas Na obra de LACAN surge com relativa fre qüência o termo despedaçamento no fran cês original corps morcelé Como a pala vra diz alude a uma sensação de pedaços corporais próprios de um período da etapa do espelho e que por razões de imaturida de neurobiológica ainda não se juntaram BION além de conservar as angústias des critas por MKLEIN acrescentou sua concep ção de angústia catastrófica No caso o adje tivo catastrófica não deve ser tomado com o significado de tragédia mas sim como uma turbulência emocional que acompanha o pa ciente em fase de importantes mudanças psí quicas Por exemplo a mudança de um esta do psíquico típico da posição esquizoparanói de para um estado próprio da posição de pressiva é um excelente indicador da marcha exitosa da análise porém costuma vir acom panhada de uma intensa dor mental Angústia neurose de FREUD Nos tempos pioneiros FREUD deu realce especial a esse tipo de neurose e o diferen ciava da neurastenia Tanto a neurastenia como a neurose de angústia faziam parte do que ele denominava neuroses atuais ou seja as que resultariam de um acúmulo de libido sexual resultante de sua nãogratificação como aconteceria nos caso de coito interrom pido virgens insatisfeitas e abstenção sexual A neurastenia se caracterizaria por uma fra queza e adinamia generalizada geralmen te atribuída a um excesso de masturbação enquanto a neurose de angústia se manifes taria por sintomas de angústia livre no plano corporal como cefaléia opressão précordi al sensação de dificuldade respiratória FREUD também usava a expressão histeria de angústia que foi sua primeira forma de referirse aos quadros clínicos de fobias Na atualidade muitas dessas neuroses de angústia são entendidas e tratadas como quadros de síndrome do pânico Aniquilamento angústia de Ver angústia Anna O Historial clínico de FREUD Nome que entrou para a história da psicaná lise por ser a primeira paciente tratada graças ao acesso a regiões inconscientes Com 22 anos Anna O foi paciente de BREUER e não de FREUD como muitos equivocadamente imaginam porque BREUER fazia relatos por menorizados a FREUD que de 1880 a 1882 36 DAVID E ZIMERMAN tratoua pelo método hipnótico Seus sinto mas histéricos desapareciam após cada ses são de hipnose catártica porém reapareciam sob a forma de outros sintomas corporais Os biógrafos relatam que Anna O desenvol veu a fantasia de estar grávida de BREUER tra tase da conhecida gravidez fantasma dei xandoo apavorado ainda não conheciam o fenômeno da transferência e influindo deci sivamente no seu abandono da psicanálise Outro aspecto que celebrou a Anna O cujo verdadeiro nome era Bertha Pappen heim foi o fato de terem partido dela as expressões cura pela palavra e limpeza pela chaminé que caracterizam o método catár tico ou abreativo A versão em inglês des sas expressões talking cure e chimney sweeping tornaramse clássicas Além disso Anna O veio a ser importante figura do movimento feminista europeu que se insurgia contra a exploração da mulher Anorexia nervosa Transtorno alimentar que incide principal mente em mulheres bastante jovens e com freqüência vem acompanhada de amenor réia persistente Existem muitos graus de anorexia nervosa desde as pouco percep tíveis até as que representam extrema gra vidade com perda substancial de peso num estado caquético que requer internação hospitalar alimentação por sonda e sérios cuidados quanto a um real risco de vida No curso do tratamento psicanalítico des sas pacientes observase virtualmente que junto com um grave transtorno da imagem corporal sempre existe uma intensa confli tiva com a mãe internalizada representada como inimiga do desabrochar da sua sexu alidade Como conseqüência a jovem anorética evita comer como forma de não permitir qualquer proeminência abdomi nal que sequer remotamente possa lem brar a concretização de alguma fantasia de gravidez Anulação FREUD Mecanismo defensivo do ego que consiste em desfazer um pensamento fantasia ou ato que é inaceitável mediante o recurso de contra por num segundo momento imediato um pensamento neste caso tratase de situações obsessivas ou um ato resulta em compul são opostos ao primeiro de sorte a anulálo Um claro exemplo disso está contido numa passagem do historial clínico de Freud O homem dos ratos 1909 Esse paciente tira uma pedra da estrada por onde deveria pas sar uma carreta que transportava sua ama da para protegêla de um possível aciden te Em seguida recriminandose pelo ab surdo de seu ato sentese compelido a re colocar a pedra volta a retirála e volta a recolocála num interminável número de ve zes A situação constitui uma clara caracterís tica das neuroses obsessivocompulsivas Antianalisando O JOYCE MCDOUGALL O prefixo anti aqui não significa contra mas sim tem o significante equivalente ao de antimatéria isto é revelase pela ausência pelo contrário Com essa denominação JMCDOUGALL no seu livro Em Defesa de uma Certa Anormalidade 1987 descreve os pacientes que têm características peculiares dão a impressão inicial de serem casos bons aceitam bem o protocolo analítico e não aban donam o analista Porém o passar do tempo da análise no geral linear e fria revela que não se produziu mudança significativa Esses pacientes colaboram com o analista falam de coisas e pessoas mas não estabe lecem as relações e ligações entre elas pois lhes falta o senso de curiosidade e indaga ção Parece que não fazem regressões ma ciças mas sim que perderam o contato consigo mesmos Apesar disso tudo man têm uma estabilidade em suas relações ob jetais e recusam qualquer idéia de separa ção de seus objetos de rancor Apegamse à VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 37 análise como um náufrago à uma bóia sem esperança de alcançar terra firme e prosse gue MCDOUGALL mantêmse fiéis ao provér bio espanhol antes morrer do que mudar Aparelho psíquico FREUD O termo aparelho foi utilizado por FREUD porque na época pioneira da psicanálise ele estava impregnado pela visão mecanicista da medicina A primeira menção de Freud ao aparelho psíquico aparece em 1900 no consagrado A Interpretação dos Sonhos onde ele compara o aparelho psíquico com aparelhos ópticos Resumidamente FREUD conceituou que a função do aparelho psíquico consistiria em 1 O trabalho de transformar uma determi nada energia pulsional 2 Promover inscri ções e traduções das primitivas impressões psíquicas com as respectivas e distintas sig nificações de cada uma delas porém todas entrelaçadas entre si numa rede de signifi cantes 3 Processar sua transmissão de acordo com o modelo de um arco reflexo de caráter neurológico 4 Manter no me nor nível possível a energia interna do psi quismo conforme o princípio da constân cia 5 Efetuar uma diferenciação em siste mas ou instâncias psíquicas obedecendo a uma organização estrutural ou seja uma disposição de elementos psicológicos que ocupam um lugar definido na mente com uma certa ordem e com recíprocas in fluências FREUD pretendeu deixar claro que sua con cepção de uma coexistência de sistemas ocupando lugares na mente não deve ser entendida no sentido anatômico de locali zações cerebrais mas sim como uma for ma de definir que as excitações pulsionais transitam em lugares topos em grego daí teoria topográfica como o das vias do in consciente do préconsciente e do cons ciente A partir do seu trabalho de 1923 O ego e o id Freud deu nova dimensão ao aparelho psíquico elaborando de forma mais categórica sua teoria estrutural des crevendo a dinâmica do psiquismo em ter mos da importância do ego como media dora entre o id o superego e a realidade externa Aparelho para pensar os pensamen tos BION Em suas concepções originais sobre origem desenvolvimento e utilizações da capacida de para pensar BION com essa expressão defende a idéia de que os pensamentos melhor seria dizer os protopensamentos os quais equivalem aos elementos b pre cedem o pensador Assim as primitivas sen sações e emoções protopensamentos necessitam de um mínimo de condições mentais uma espécie de um aparelho para que o sujeito efetivamente possa pensálas com símbolos imagens e palavras Apego JBOWLBY 1969 JBOWLBY psicanalista britânico estudou durante mais de 40 anos o que descreveu como um vínculo afetivo primário do bebê com a mãe que se processa por meio do fenômeno do apego attachment no origi nal inglês Esse autor numa linha análoga à de SPITZ comprovou que as crianças pri vadas precocemente das mães passam por três fases que são denominadas protesto desesperança e retraimento 1 Na fase de protesto o bebê chora esperneia e volta se para qualquer ruído ou som que possa indicar a mãe ausente 2 A etimologia da palavra desesperança des sem esperan ça indica que a criança cansou de esperar sente tudo como perda loss em inglês Essa fase é análoga ao sofrimento com apatia do adulto 3 A fase de retraimento indica o de sapego emocional e corresponde à indiferen ça e desvalia da depressão adulta com o sé rio risco de entrar num estado de desistência 38 DAVID E ZIMERMAN Apoio ancoragem FREUD O conceito de apoio com o significado de agarramento a uma âncora representado num objeto protetor e provedor está des crito no verbete anáclise Aprender com a experiência BION 1962 Título de um dos mais importantes livros de BION em inglês Learning from experience Entre muitas outras contribuições originais acerca dos processos de conhecimento e do pensamento ele enfatiza quanto é fundamen tal para o crescimento individual do sujeito sua capacidade para aprender com as expe riências as boas e principalmente as más Segundo BION diante de uma situação difícil algumas pessoas se evadem mediante uma série de recursos defensivos de fuga enquan to outras enfrentam a dificuldade sofrendo uma dor mental porém desenvolvendo uma capacidade para modificar a realidade frus tradora Nas pessoas que não conseguem aprender com as experiências e isso depende dire tamente de um acesso à posição depressi va essa capacidade fica substituída pela omnisciência de omni tudo em grego ciência ou seja o sujeito racionaliza que não precisa aprender porque já sabe tudo Área ou zona livre ou sem conflito do ego Psicólogos do Ego Expressão psicanalítica é própria da escola da Psicologia do Ego e refere o fato de que nem tudo no psiquismo deve necessaria mente estar conflituado desde o início do funcionamento do ego Por exemplo no caso de uma tartamudez gagueira inici almente as mucosas labiais e bucais do su jeito seu aparelho de fonação em geral estavam unicamente a serviço da dicção É possível porém que posteriormente uma libidinização ou agressivização dessa zona corporal tenha conflituado esse aparelho de tal modo que antes de emitir uma palavra inconscientemente temeroso de que suas pa lavras representem carícias verbais ou projé teis destrutivos o sujeito tropeça nas palavras Dessa mesma forma inúmeras outras funções egóicas começam livres de conflitos e nada impede que possam vir a ficar conflituadas Essas áreas do ego livres de conflitos consti tuem o que HARTMANN denominou autonomia primária ou secundária Ver esse verbete Arco de tensão bipolar KOHUT Um dos pontos fundamentais da obra de KOHUT é de que o self se forma a partir da internalização dos arcaicos selfobjetos que podem ser de dois tipos um objeto do self grandioso o qual proporciona as ambi ções e metas e o outro pólo chamado por KOHUT de imago parental idealizada de cuja internalização surgem os ideais do self Isso tem como resultado um simesmo com estrutura bipolar Assim há a possibilida de segundo o tipo de relações objetais pri mitivas de que um sujeito tenha altamente investida a representação grandiosa de si mesmo e contrariamente o pólo dos ideais seja debilitado ou viceversa Entre ambos os pólos estabelecese um arco de tensão que determina as atividades bá sicas de uma pessoa para as quais se vê impelida por suas ambições e guiada por seus ideais A esses dois pólos o grandio so e o idealizado KOHUT acrescentou uma área intermediária descrita como o espaço das aptidões e dos talentos Arquétipos JUNG Com esse termo JUNG afirmava que todo indivíduo carrega uma herança de valores aspirações e metas que representam um atavismo de nossos ancestrais que estão aparentemente ocultos mas que de algu ma forma se manifestam no plano da espiri tualidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 39 Arrogância BION BION deu muita ênfase a esse aspecto do psiquismo que considerava inerente ao que denominou parte psicótica da personalida de Fazia questão de estabelecer diferença entre orgulho que é um sentimento natural e sadio e arrogância caso em que há pre dominância de onipotência omnisciência e prepotência Uma leitura mais aprofundada sobre este tema aparece no artigo de BION Sobre ar rogância On arrogance 1967 Associação livre de idéias regra da FREUD Essa regra técnica legada por FREUD com ponente maior da regra fundamental con sistia no compromisso assumido pelo ana lisando de associar livremente as idéias que lhe surgissem espontaneamente na mente e verbalizálas ao analista independente mente de suas inibições para julgálas im portantes ou não De certa forma FREUD aplicou essa regra nos primórdios da psicanálise desde 1894 quando usou consigo mesmo o mé todo da livre associação em sua autoaná lise especialmente na decifração dos seus sonhos através das descobertas propicia das pelas cadeias associativas No entan to ele somente instituiu categoricamente esse método associativo em 1896 quan do sua paciente Emmy von N cansada de ser pressionada para associar livre mente pediu a Freud que ele a deixasse falar livremente Por ocasião das cinco conferências que pro nunciou em 1909 nos Estados Unidos para onde viajou acompanhado por FERENCZI e JUNG FREUD reconheceu publicamente os méritos da Escola de Zurique e particular mente de JUNG por terem desenvolvido o teste da associação verbal que em parte lhe serviu como inspiração para sua técnica da associação livre de idéias aspecto que ele considerou da mesma importância que a atribuída aos sonhos e aos atos falhos Embora seu qualificativo essa regra técni ca na verdade nos tempos pioneiros não era propriamente livre O próprio FREUD usava como recurso a tática de exercer uma pressão manual na fronte do paciente dei tado no divã para instálo a falar FERENCZI também criticou em parte a aplicação obri gatória dessa regra tendo em conta que muitos analisandos os obsessivos principal mente podiam fazer um uso abusivo e es téril de seu livre discurso Comentário Cremos que na atualidade os analistas não mais consideram o discur so associativo do paciente uma condição sine qua non para uma análise e isso por três razões 1 É impossível que o paciente siga rigorosamente à risca essa combina ção o que pode gerar um acréscimo de culpas por não se sentir um bom cumpri dor de compromissos assumidos 2 Muitas livres associações favoreciam uma longa narrativa discursiva obsessiva ou vazia na forma ou no conteúdo 3 Na psicanálise con temporânea os analistas não só valorizam o silêncio como uma forma de linguagem como estão treinados para reconhecer as múltiplas formas da comunicação nãoverbal Esta última razão nos parece a mais impor tante Ataques a α BION BION deu importância extraordinária ao que denominou função α ver esse verbete Em Cogitações 1992 p145 assim se refere aos ataques a α O paciente tem a capacidade de exigir uma experiência emocional do ana lista e rejeitála Produzse um estado em que não se consegue lembrar do que aconteceu na sessão Alguns pontos ficam claros 1 O paciente recusa informações ao analista 2 O paciente desperta emoções inevitáveis e recusa qualquer material que permita a a ope rar e que portanto permita ao analista tirar 40 DAVID E ZIMERMAN proveito da experiência em benefício do pa ciente Será que isso não é elaborado demais Por que não simplesmente recusar informa ções Porque isso é essencial para que haja uma experiência da qual não se pode extrair nenhum benefício 3 O paciente tem a expe riência vivida ocasional por exemplo de ser abominado pela família 4 O paciente recu sa a e assim perde o senso de realidade Por exemplo não é capaz de ver a irresponsabili dade de continuar a análise Ao impedir a for mação de imagens visuais torna a experiên cia não armazenável ou utilizável tanto para o pensamento consciente de vigília quanto para o pensamento inconsciente de vigília ou para o pensamento onírico Ataques ao Vínculo BION 1959 Esse trabalho publicado originalmente em 1959 com o título de Attacks on Linking é considerado por muitos autores um dos mais originais e criativos da literatura psi canalítica Nele BION afirma que a parte psicótica da personalidade de um paciente faz ataques destrutivos a qualquer coisa que ele sinta como tendo a função de vincular um objeto ou uma idéia um conhecimen to com outro Considera especialmente os ataques destrutivos ao pensamento verbal propriamente dito BION criou essa termi nologia que às vezes aparece traduzido como ataque aos elos de ligação para refe rir a importância desse fenômeno psíquico que comumente aparece no processo psi canalítico e que consiste no fato de o paci ente não querer tomar conhecimento tra tase de um K de certas verdades peno sas externas e internas Essa situação pode mobilizar um ataque inconsciente aos elos de ligação entre por exemplo uma idéia e outra um sentimento e outro uma idéia e um sentimento a parte infantil e a adulta etc Igualmente afirma BION o paciente que necessita evitar o contato com verdades pode conseguilo atacando a capacidade de per cepção do seu analista por exemplo deixan doo confuso irritado entediado etc ou des vitalizando suas interpretações tal como acon tece na reversão da perspectiva O artigo Ataques aos elos de ligação está publicado no livro Estudos psicanalíticos revisados 1967 Atenção BION Importante função do ego consciente BION utiliza esse termo na sua Grade onde a aten ção ocupa um lugar na quarta coluna do eixo horizontal portanto indica um nível de evo lução e de utilização dos pensamentos Para BION a atenção àquilo que se passa no meio ambiente vai além da mera sensorialidade ela se institui como uma atividade indispen sável à importante função de discriminação Atenção e Interpretação BION 1970 Importante livro publicado em 1970 no qual dando um novo desenvolvimento às concepções já estudadas em dois livros an teriores Elementos em Psicanálise 1963 e Transformações 1965 BION tentou mos trar uma analogia e uma conjunção entre alguns conceitos psicanalíticos os dogmas religiosos e a matemática moderna Pode se dizer que com esse texto BION inaugura a fase mística de sua obra Alguns dos mais significativos aspectos abordados nesse li vro são 1 A valorização da intuição do psicanalista para captar as experiências emocionais que estão sendo vividas no vín culo analítico 2 A valorização de que o psicanalista consiga realizar o que ele cha ma de ato de fé 3 Volta ao estudo em maior profundidade da relação do místico com o establishment 4 Estudos sobre a os proble mas relativos à mentira e ao mentiroso b a capacidade para suportar a dor e a incerteza c a mudança catastrófica d a relação conti nenteconteúdo e a cegueira artificial do analista para poder ver melhor os estudos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 41 acerca dos estados de paciência e de segu rança f a linguagem de êxito g os mitos O livro conclui com uma pergunta muito instigante e atual Que tipo de psicanálise é necessária para o consciente Atenção flutuante regra da FREUD BION FREUD estabeleceu essa regra em Reco mendações aos médicos que exercem a psicanálise de 1912 com a seguinte afir mativa Não devemos atribuir uma impor tância particular a nada daquilo que escu tamos sendo conveniente que prestemos a tudo a mesma atenção flutuante Com essa frase ele pretendeu enfatizar a importância de o analista não estar na ses são com préjulgamentos e com uma escu ta selecionada para os assuntos que mais lhe interessam Somente nessa condição FREUD completava é que o analista pode atingir a uma verdadeira comunicação de inconscien te para inconsciente e que o ideal seria que o analista pudesse cegarse artificialmente BION embora reconheça que a denomina ção de atenção livremente flutuante de Freud seja a melhor de todas propõe a ex pressão sem memória e sem desejo Muitos analistas levaram essa recomendação de BION ao pé da letra o que é um equívoco devido à impossibilidade e à inadequação de abolir totalmente a memória e os even tuais desejos inevitáveis O que realmente BION enfatizava era que o analista na situa ção analítica não pode deixar que a memó ria como por exemplo algo que ele ouviu recentemente numa supervisão ou certo de sejo de que o seu paciente melhore por exemplo estejam saturando sua mente Um dos argumentos de BION a respeito do sem memória sem desejo e sem ânsia de compreensão consiste no fato de que essa condição do analista possibilita que surja em sua mente uma importante capacidade que em geral está latente em todos nós que é a intuição dos étimos latinos in tuere ou seja olhar para dentro uma espécie de terceiro olho a qual costuma ficar ofusca da quando a percepção do analista é feita unicamente pelos órgãos dos sentidos Ato de fé BION Conceito um tanto místico de BION No en tanto alude a um ato que se realiza no domí nio da ciência e que deve ser diferenciado do significado habitual de conotação religiosa Sobretudo não deve ser confundido com crendices mágicas Referese à necessidade de o sujeito acreditar que há uma realidade que não sabe o que é e que não está a seu alcance O ato de fé pode ser considerado uma con ceituação pertinente à prática analítica por quanto consiste numa atitude que requer a amálgama de ver e crer ver não com os olhos orgânicos mas sim com os olhos espirituais Ato falho FREUD Em Psicopatologia da vida cotidiana de 1901 FREUD descreveu os atos falhos como ações que saíam diferentemente daquelas que o sujeito pretendia conscientemente o que evidenciava uma formação de compro misso entre a intenção consciente e o que está reprimido no inconsciente FREUD estendeu a abrangência da expres são ato falho a outros tipos de erros análo gos como lapsos de língua erros de leitu ra de escrita perda de objetos etc e os considerou equivalentes a sintomas levan do em conta o fato comum do compromis so entre a intenção consciente e o desejo inconsciente Para LACAN todo ato falho é um discurso bem sucedido Atonement BION A expressão inglesa atonement diferen te de atonement que se traduz por expia ção sacrifício reparação foi utilizada por BION durante o período místico de sua obra para designar algumas pessoas que treina 42 DAVID E ZIMERMAN das segundo certas religiões crêem que duas pessoas se tornam uma é possível que atonement signifique para uma única mente Em um outro nível no campo analítico esse termo corresponde a uma intuição contem plativa em direção à verdade incognoscí vel e constitui ao mesmo tempo uma união mística e uma admiração silenciosa Atuação Ver o verbete Acting Aulagnier Piera Reconhecida e importante psicanalista nas cida em Milão na Itália em 1923 Viveu no Egito durante a II Guerra Mundial es tudou medicina em Roma e radicouse em Paris Analisouse com LACAN de quem veio a ser uma das discípulas prediletas tendo atingido o cargo de chefe do De partamento de Ensino da Escola Freudi ana de Paris fundada por LACAN em 1964 Entre outras atividades nessa época AU LAGNIER notabilizouse por realizar traba lhos abertos ao público em geral especi almente sobre os temas da feminilidade e das perversões Em 1968 surgiu um sério conflito na Esco la Freudiana em razão dos critérios dita dos por LACAN quanto à aceitação de can didatos ver o verbete passe AULAGNIER po sicionouse contra LACAN do que resultou sua saída dessa escola e a fundação no ano seguinte com outros analistas dissidentes como ela do chamado Quarto Grupo na atualidade é denominado OPLF Organiza ção Psicanalítica da Língua Francesa Esse grupo não é filiado à IPA nem segue a orto doxia lacaniana Seu enfoque prioritário está dirigido para a valorização do plano sociológico e para a tradição culturalista com ênfase nos movimentos que visam à libertação da mulher e da prevalência do grupal sobre o individual Dentre as contribuições originais de AULAG NIER cabe destacar 1 Seu conceito de pro cesso originário que ela considera anterior ao processo primário e que clinicamente se apresenta sob a forma de pictogramas 2 A descrição da existência nos indivíduos de uma potencialidade psicótica que pode vir ou não a manifestarse através de sinto mas 3 A proposição de uma Teorização Flutuante ou seja a valorização da escuta do analista assim destacando a priorização do vínculo analistaanalisando em lugar da tendência de muitos analistas de preferir o campo da literatura ou da filosofia 4 A idéia de que a pulsão de morte deve ser entendida mais como um desejo de não ter desejo o que ocasiona desinvestimentos e logo os torna vazios 5 A formulação da Teoria do Encontro a qual alude ao encon tro que se dá entre três elementos o corpo do bebê o corpo da mãe e o inconsciente materno Essa situação de encontro mãe criança possibilitará as três produções psí quicas processo originário processo primá rio e processo secundário 6 Os conceitos de violência primária que é inevitável pois alude às frustrações impostas à criança e necessárias para a constituição do ser e o de violência secundária que refere os ex cessos da violência anterior e a permanên cia do desejo materno de controlar o pen samento não respeitar a privacidade e a subjetividade da criança Dentre os muitos livros que publicou vale res saltar A Violência da Interpretação de 1975 Os Destinos do Prazer 1979 Em busca do sentido 1980 e o último O aprendiz de his toriador e o mestre bruxo 1984 Neste ao realizar suas construções e investimentos a autora classifica o eu como eterno aprendiz contrapondose de forma permanente ao mestre bruxo que é o id Até a sua morte diri giu a revista Topique PIERA AULAGNIER casou com o conhecido ideólogo Cornelius Casto riadis vindo a falecer em 1991 com 68 anos deixando uma grande legião de seguidores VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 43 Autismo Expressão inicialmente utilizada por BLEU LER para caracterizar um dos sintomas mais típicos de certos quadros de esquizofrenia Habitualmente o termo alude a uma grave atenção do psiquismo de certas crianças que ficam voltadas unicamente para si mes mas auto assim desligandose do mundo exterior de modo a transmitir a impressão de que elas olham não para as pessoas porém através delas É importante distinguir os dois tipos de au tismo o que é conhecido como doença de Leo Kanner e o chamado autismo secundá rio ou psicogênico O primeiro leva o nome do primeiro psiquiatra que descreveu a doen ça e que hoje sabemos tem origem orgâni ca por um defeito genético já tendo sido lo calizado o cromossomo responsável No se gundo tipo de autismo o secundário ou psi cógeno o ensimesmamento decorre de im portantes falhas no desenvolvimento emoci onal primitivo como está descrito no verbete apego Nesse caso o prognóstico é bem mais animador caso seja providenciado a tempo um tratamento psicoterápico adequado Muitos autores preferem usar a denomina ção de síndrome da privação emocional para os casos de autismo psicogênico jus tamente para não criar confusão que o sim ples nome autismo pode ocasionar Nem sempre é fácil fazer uma distinção diagnóstica entre o autismo orgânico e o psicógeno sendo que uma característica marcante consiste no fato de que freqüente mente a doença de Leo Kanner vem acom panhada de sintomas neurológicos que se manifestam através de um movimento ondu latório das mãos que lembram o bater de asa de uma borboleta daí o nome flapping Autística barreira ou cápsula FRANCIS TUSTIN A psicanalista britânica FRANSCIS TUSTIN em seus estudos com crianças que apresenta vam algum grau de autismo psicogênico descreveu o quanto elas diante das falhas dos cuidados maternos primários sentiram se impelidas a construir uma barreira ou concha manta ou ainda uma cápsula au tística uma espécie de escudo protetor contra os traumas externos Segundo TUSTIN essa cápsula autística além do provável fator de uma hipersensibilida de constitucional formase como conse qüência de excessivas defesas ou compen sações o que é diferente de defesas con tra para enfrentar os traumas relacionados à separação corporal da mãe Se o nasci mento psicológico tiver sido complicado especialmente por falha do útero mental da mãe não se formará o sentimento de uni dade com ela daí resultando um bebê de samparado e abandonado de modo a criar um buraco negro black hole São crianças que na prática clínica eviden ciam uma profunda necessidade de encon trar uma espécie de incubadora psicológi ca na pessoa do terapeuta que deverá pro piciarlhes algum tipo de experiência de li gação Isso muitas vezes é conseguido indo de encontro à criança com sucessivos estí mulos de modo a sacudir sacudir e sacu dir as emoções que estão escondidas atrás da barreira que funciona como um escudo protetor Além do livro de TUSTIN Barreiras Autistas em Pacientes Neuróticos Artmed 1990 cabe sugerir mais duas leituras o livro Com panhia Viva de ANNE ALVAREZ uma segui dora de TUSTIN e a transcrição de uma bela supervisão que MELTZER fez em São Paulo a respeito de um menino com características autistas publicado na Revista Brasileira de Psicanálise volume 24 de abril de 1990 Autoanálise FREUD foi o primeiro e provavelmente o único psicanalista a realizar uma autoanálise considerada completa o 44 DAVID E ZIMERMAN que ele fez através da análise sistemáti ca de seus sonhos com as respectivas cadeias associativas especialmente com o fito de elaborar a morte de seu pai Essa análise se processou mais intensiva e concretamente no período de junho a novembro de 1907 Tratase pois de uma análise atípica em que a fala foi substituída pela escrita se levarmos em conta que FREUD partilhava seus proble mas com FLIESS através de abundante troca de cartas A seguinte frase de FREUD que consta de seu trabalho de 1910 acerca da contra transferência permite medir a importân cia que ele atribuía à autoanálise ne nhum psicanalista pode ir mais longe do que aquilo que lhe permitem os seus pró prios complexos e as suas resistências in teriores Por isso exigimos que ele co mece a sua atividade por uma autoana lise e que continue a aprofundála en quanto aprende pela prática com os seus pacientes Quanto àquele que não reali zar tal autoanálise será melhor que re nuncie sem hesitar a tratar doentes ana liticamente Comentário Cremos que a questão le vantada por FREUD contida no trabalho de 1937 Análise terminável e ou inter minável pode ser respondida se disser mos que uma análise tornase terminável quando fica interminável ou seja quan do a figura do psicanalista fica introjeta da no sujeito in com a obtenção de uma suficientemente boa função psicanalítica da personalidade Nesse caso uma auto analise acompanha o exanalisando de uma psicanálise formal durante toda a vida Além disso é unicamente através do exer cício da autoanálise durante a sessão analítica que o analista terá condições de utilizar suas sensações contratransferen ciais a serviço de uma empatia com o ana lisando Autoconservação pulsões de FREUD Em Três ensaios sobre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD mostra que no início da vida as pulsões são unicamente de autoconservação que à moda de uma escolha anaclítica de objeto visa fundamen talmente a assegurar a vida do lactante im pulsionandoo à busca de um objeto mãe que lhe proporcione a satisfação de suas necessidades essenciais como são os cui dados com seu corpo amparo calor amor e um leite nutridor Como essas pulsões antes de qualquer outra coisa atingem exclusiva e diretamen te a sobrevivência do ego Freud também as chamava pulsões do ego ou interesses do ego Posteriormente a partir de Além do princípio do prazer 1920 Freud en globou as pulsões sexuais com as de auto conservação sob o nome comum de pul sões de vida Eros em oposição a pulsões de morte Autoerotismo FREUD Expressão de FREUD para estabelecer a opo sição do investimento libidinal em objetos exteriores em relação à gratificação eróge na que o bebê encontra no próprio corpo Nada melhor do que passar a palavra ao próprio FREUD neste trecho de Três ensai os sobre a teoria da sexualidade um clás sico de 1905 para definir autoerotismo O instinto não é dirigido para outras pessoas mas encontra satisfação no corpo do próprio indivíduo Os lábios da crian ça a nosso ver comportamse como uma zona erógena e sem dúvida o estímulo do morno fluxo do leite é a causa da sensa ção de prazer De início a atividade sexu al ligase às funções que atendem à finalida de de autopreservação nutrição e não se torna independente dela senão mais tarde Embora na atualidade seja muito difícil diferenciar exatamente autoerotismo de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 45 narcisismo nos primeiros tempos FREUD estabelecia uma distinção entre ambos atribuindo ao autoerotismo um surgimen to anterior ao do narcisismo Assim sem pre definiu o autoerotismo como a ativi dade dos diversos componentes parciais no nível de cada zona erógena tomada isoladamente em que as pulsões se satis fazem cada uma por conta própria O modelo disso que ele mais utilizou é o dos lábios que beijam a si mesmos Em relação ao narcisismo Freud considerava que ele ocorria quando já existia uma imagem unificada do corpo caso em que o ego seria tomado como objeto do in vestimento libidinal Automática angústia Ver angústia Autonomia primária e secundária Psi cólogos do Ego Essa expressão é utilizada pelos autores da Psicologia do Ego referindo a existência de áreas livres do ego sem conflitos que po dem funcionar com autonomia tanto de forma primária como secundária Considerase primária a autonomia relati va às capacidades inatas do ego que não conflituadas somente estão à espera de uma maturação neurobiológica e de um adequado desenvolvimento emocional Na autonomia secundária determinada área de funcionamento egóico já esteve confli tuada porém num segundo tempo a pró pria organização defensiva contra o confli to assumiu uma adequada autonomia de função psíquica Para exemplificar um su jeito pode erigir defesas obsessivas contra determinadas pulsões libidinais ou agressi vas podendo num segundo tempo essa mesma organização de natureza obsessiva solidificar uma sadia caractereologia com seus componentes típicos de ordem disci plina seriedade etc A Movie Title Plot Two sentenced to death find themselves trapped together in a crazy building The mad prison warden puts a number of devices into play devices designed to make them cooperate and hopefully kill each other Each day gives a new assignment and a new challenge and puzzles the protagonists into digging into their personal pasts B BION Essa letra na Grade de BION designa a se gunda fileira correspondente aos elemen tos α que são a matériaprima para possi bilitar o prosseguimento da formação dos pensamentos propriamente ditos Vide Fi gura 1 Balint Michael faleceu em Londres em 1970 Em 1926 com 30 anos organizou a Policlínica e o Instituto de Psicanálise de Budapeste Em 1938 emigrou para a Inglaterra onde tra balhou mais particularmente na Tavistock Clinic da qual foi um dos fundadores Ao tratar de pacientes com graves proble mas emocionais Balint deduziu que o prin cipal fator etiológico deste tipo de pacien tes bastante regressivos não seria tanto a clássica conflitiva entre pulsões e defesas mas muito mais um problema gerado pelo fato de que lhes faltava algo desde o iní cio do desenvolvimento emocional Para esse algo que faltava deu o nome de falta básica destacando a diferença com a conflitiva edípica Assinalou ainda a pre dominância de relações objetais de nature za diádica enfatizou o prejuízo da comuni cação em vista da linguagem prevalente mente de natureza préverbal Também aler tou os psicanalistas para o fato de que es ses pacientes têm um baixíssimo limiar de tolerância às frustrações e que reagem às interpretações não tanto pela sua adequa ção mas sim pelo fato de lhes causarem gratificação ou frustração BALINT também introduziu os conceitos de filobatismo e de ocnofilia Com o termo ocnofilia ele se referia à tendência de o su B Foi um importante médico psiquiatra e psi canalista considerado um dos sucessores das idéias de FERENCZI com quem ele se analisou Nasceu na Hungria em 1896 e 48 DAVID E ZIMERMAN jeito se ligar e se unir aos objetos primários num tipo de ligação de engolfamento que pos teriormente vai gerar estados fóbicos Com filobatismo ele conceitua o contrário isto é a tendência do ser humano de bus car grandes espaços de forma solitária Assim as pessoas filobáticas serão os futu ros alpinistas pilotos de asa delta esqui aqu ático etc numa demonstração de que desa fiam e vencem os perigos e fazemno sozi nhos BALINT assinala que o filobatismo cons titui uma negação uma formação reativa à ocnofilia isto é ao seu receio de ficar aprisio nado numa eterna dependência de alguém Uma área que mereceu especial atenção de BALINT é a que se refere aos problemas das relações do médico com o doente e com a doença Como decorrência dessa sua dedi cação BALINT criou os conhecidos Grupos Balint nos quais ele reunia uma média de 10 médicos de clínica geral e de forma sistemá tica propiciava o intercâmbio de experiências emocionais ligadas ao ato médico Visava com isso a aprimorar as condições dos clínicos no conhecimento e no manejo dos processos psíquicos inconscientes que cercam a relação com as doenças e com os pacientes Dentre muitos livros e inúmeros artigos vale mencionar as principais obras de BALINT Amor Primário e Técnica Psicanalítica 1952 O Médico seu Paciente e a Doença 1957 em colaboração com ENID BALINT sua esposa Técnicas Psicoterápicas em Medicina 1961 A Falta Básica 1968 Baluarte W BARANGER Termo criado por BARANGER para designar que para o analisando o baluarte repre senta um refúgio inconsciente de podero sas fantasias de onipotência Os tipos de baluartes são enormemente diferentes de um sujeito para outro porém nunca dei xam de existir É justamente o uso de balu artes que o o analisando não quer pôr em jogo porque o risco de perder o poria num estado de extrema desvalia vulnerabilida de e desesperança Em certas pessoas o baluarte pode ser a sua superioridade inte lectual ou moral sua relação com um obje to de amor idealizado sua ideologia sua fantasia de aristocracia social seus bens ma teriais sua profissão etc A conduta mais freqüente dos pacientes em defesa de seu baluarte consiste em evitar mencionar sua presença de modo que o analisando pode ser sincero na apresentação da maior parte de seus problemas e dos aspectos de sua vida porém se torna esquivo dissimulado e até mentiroso quando o analista se apro xima do baluarte Um segundo aspecto do baluarte consiste na possibilidade de que no campo analíti co se forme um conluio inconsciente uma cumplicidade que engloba tanto a resistên cia do analisando como a contra resistên cia do analista devido a uma colusão de aspectos inconscientes de um deles que correspondem ao do outro Baranger Willy VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 49 Esse notável psicanalista nasceu em 1922 em Bône Argélia colônia francesa naque les tempos e desde cedo viveu em Paris tendo realizado seus estudos na Universi dade de Toulouse de onde saiu gradua do em filosofia em 1945 Sua formação filosófica e humanista exerceu nele no futuro uma maneira particular e criativa de pensar a psicanálise Muito precoce mente aos 20 anos publicou em francês O Pensamento de Nietzsche Em 1946 juntamente com a sua esposa Madeleine emigrou para Buenos Aires onde come çou sua atividade como professor no Ins tituto Francês de Estudos Superiores Ini ciou sua formação psicanalítica em 1947 em análise com ENRIQUE PICHONRIVIÈRE Posteriormente veio a exercer a função de professor no Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Argentina APA até o ano de 1955 Nesse ano a convite de analistas uruguaios se radicou com a família no Uruguai Foi um dos fundado res da Associação Psicoanalítica do Uru guai e também da Revista Uruguaya de Psicoanálisis Em 1966 BARANGER retor nou com a família a Buenos Aires onde destacouse como um dos mais brilhan tes analistas didatas e autor de importan tes trabalhos e concepções psicanalíticas originais Profundo conhecedor de FREUD MKLEIN e LACAN BARANGER deixa um legado de mais de 50 trabalhos e cinco livros publicados que fora de qualquer dúvida definiram sua posição de verdadeiro mestre e exer ceram uma significativa influência inova dora na psicanálise latinoamericana Os livros escritos juntamente com colabora dores são Problemas do Campo Analíti co 1969 Posição e Objeto na Obra de M Klein 1977 O Conceito de Objeto em Psicanálise A Situação Psicoanalítica como Campo Bipessoal e Artesanias Psi coanalíticas o último publicado em 1994 ano de sua morte Barreira de contato FREUD E BION Expressão empregada pela primeira vez por FREUD para caracterizar sua concepção de que deveria haver uma espécie de barreira mental fazendo uma delimitação entre a consciência e os derivados pulsionais pro vindos das repressões inconscientes Caso contrário seríamos todos psicóticos e os sonhos não se manifestariam com os devi dos disfarces tal como acontece nos sonhos manifestos Ademais a hipótese da existência das bar reiras de contacto Kontaktschranke no ori ginal alemão é fundamental para a expli cação de uma das funções mais importan tes do aparelho neuronal concebido por Freud nos seus primeiros escritos a memó ria Sem a capacidade de armazenar infor mações o aparelho neuronal mental se quer seria um aparelho porquanto ficaria reduzido a um mero condutor semelhante a um fio que conduz energia elétrica mas que não é capaz de armazenála BION retomou a idéia de FREUD que nunca mais a desenvolveu e a descreveu sob uma nova perspectiva Afirmou que a barreira de contato seria composta de elementos α que se interpõem de forma permeável en tre o consciente e o inconsciente permitin do trânsito entre ambos os planos e favore cendo um trabalho de simbolização Quan do predomina a parte psicótica da personali dade do sujeito diz BION ao invés da barreira de contato com elementos α esse lugar ima ginário seria ocupado por um aglomerado de elementos β assim constituindo o que ele denominou como pantalha β a qual não tem condições de estabelecer interrelações entre si e que por isso não conseguem delimitar o consciente do inconsciente Bateson Gregory Maior figura da Escola de Palo Alto Cali fórnia BATESON foi um antropólogo nasci 50 DAVID E ZIMERMAN do em 1904 numa família de universitári os ingleses Referida escola é notabilizada especialmente por seus originais e aprofun dados estudos sobre as diversas facetas dos problemas da comunicação A contribuição mais importante de BATESON à psicanálise consiste na aplicação do seu conceito de duplo vínculo ou dupla men sagem ao fato de o filho receber conco mitantemente mensagens opostas que o deixam confuso Um prolongamento exces sivo disso poderia se constituir segundo BATESON num importante fator na etiologia da esquizofrenia Um exemplo de duplo vínculo pode ser o de uma mãe que ao nível manifesto pró prio da comunicação verbal expressa amor pelo filho enquanto num nível mais pro fundo provindo do inconsciente o rejeita É fácil imaginar os prejuízos que essa dissoci ação materna provoca na mente da criança deixandoa sem saber se tenta a aproxima ção ou se afasta se é amada ou repelida etc Bebês FREUD deu um significativo destaque aos bebês centralizando suas concepções na equivalência que existe na mente das cri ancinhas entre bebês pênis fezes e pre sentes MKLEIN enfatizou sobretudo a fantasia do infante de que o interior da mãe está cheio de tesouros concedidos pelo pai dos quais os mais valiosos são os bebês Por essa ra zão afirma KLEIN a criança nutre o desejo inconsciente de penetrar dentro da mãe e se apossar dos referidos tesouros com todo o cortejo de fantasias inconscientes daí de correntes EBICK uma seguidora kleiniana traba lhando na Clínica Tavistock desenvolveu e divulgou seu método de observação di reta de bebês em suas próprias casas des de o nascimento o que lhe possibilitou fazer descobertas originais como o da pele psíquica Seu método persiste até hoje como um excelente meio de aprimo ramento na formação de terapeutas de crianças WINNICOT e também BION dedicaram grande parte de suas obras aos estudos das primitivas relações reais e objetivas da mãe com seu bebê destacando sobre modo respectivamente a função holding e o continente materno com a capacida de de rêverie Behaviorismo FREDERICK SKINNER Refere um movimento psicoterapêutico considerado desviacionista da psicanálise que teve um lugar importante nos Estados Unidos Sob inspiração em especial de SKIN NER consiste fundamentalmente numa não valorização da localização consciente ou inconsciente da problemática psicológica do indivíduo Bastaria a simples observação da conduta do homem a exemplo do que se passa no reino animal para revelar como são aprendidas as condutas como respos tas a estímulos condicionadas conserva das e por um caminho inverso possíveis de serem revertidas sem necessidade de grandes especulações e procedimentos psi canalíticos A teoria behaviorista duramente castigada pelos próprios lingüistas e etólogos caiu num relativo descrédito De certa forma res surge hoje com muitas transformações e com um respaldo mais científico com a denominação de corrente cognitivocom portamentalista Nela é bastante valoriza da a necessidade de o paciente fazer bom uso de suas capacidades conscientes de modo a tomar contato com os transtor nos de sua conduta assumir a responsa bilidade por eles e aprender táticas de como manejálas Seria o caso para ficar numa situação única do tratamento de obesos e a sua conduta em relação à co mida VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 51 Bela indiferença dos histéricos A atitude do paciente de ignorar seus sinto mas foi denominada por CHARCOT segun do testemunho de FREUD de la belle indif férence des histeriques FREUD explicou que nesses casos por um lado o ego tenta pros seguir em seu esforço de reprimir os sinto mas como um derivado da sexualidade in fantil tal como antes havia reprimido a se xualidade infantil em si mesma Ao proce der desse modo o ego está se esforçando por separar os sintomas do resto da perso nalidade por ignorálos com uma atitude de total indiferença Por outro lado dizia FREUD já que os sinto mas são inevitáveis o ego desses pacientes se esforça para pôlos a serviço de seus pró prios fins de modo a poder extrair todas as vantagens do seu sofrimento Esse aspecto constitui o benefício secundário Benefício ou ganho primário e bene fício secundário Proveito que tiram os pacientes quase sem pre com forte caracterologia histérica de sua doença emocional Dizse ganho pri mário quando o transtorno psíquico repre senta uma forma de compensar sérios con flitos inconscientes não reconhecidos pelo sujeito e que geralmente se expressam atra vés de sintomas corporais O benefício tornase secundário quando o paciente percebe que a sua doença pode lhe render férias prolongadas do trabalho que detesta ou alimenta a fantasia de que está se beneficiando sem ter que dar nada assim ganhando um encosto uma mama ta palavras que bastam para esclarecer no que consiste o ilusório ganho Essas situações constituem uma dor de ca beça para os técnicos da perícia médica pois quanto mais tempo durar a concessão do benefício da licença maior tornase a cronificação da doença a ponto de ficar irreversível Esses pacientes mostramse mui to pouco acessíveis ao método psicanalítico Beta β elementos BION BION afirma que quando não conseguem ser transformadas em elementos α as pri mitivas impressões sensoriais e experiências emocionais permanecem como elementos β não passando de protopensamentos que assim não alcançam a condição de pensa mentos propriamente ditos de sorte que os elementos β devem ser evacuados para fora como nos actings por exemplo ou evacuados para dentro como em certas somatizações Por isso não se prestam para a função de pensamento e são vivenciadas como coisas concretas Comentário Tendo em vista sua condi ção de meros elementos a serem evacua dos Bion entende que não cabe utilizar a expressão função β No entanto é viável pensarmos que na situação analítica a maciça expulsão de elementos β que o pa ciente regredido faz dentro da mente do analista pode causar neste uma dificílima contratransferência perturbadora Também pode servir como a importante função de através da linguagem dos efeitos contra transferenciais o paciente fazer uma útil comunicação primitiva préverbal que não tem condições de verbalizar Bettelheim Bruno Nascido em Viena em 1903 BETTELHEIM era de origem judia razão porque na época da II Grande Guerra foi aprisionado nos cam pos de concentração nazistas de Dachau e Buchenwald de onde foi libertado graças aos insistentes apelos da comunidade internacio nal Após sua libertação vai para os Estados Unidos onde chega a assumir em Chicago a condição de professor de psiquiatria As reflexões que BETTELHEIM fez durante seu encarceramento deixaramlhe a convicção 52 DAVID E ZIMERMAN de que um ambiente inteiramente persegui dor e destruidor consegue provocar em qualquer ser humano um efeito psíquico devastador com uma profunda sensação de desamparo conduta robotizada e um estado psíquico de desistência da vida A partir daí pregou uma operação inversa no seu trabalho com crianças autistas a ne cessidade de lhes proporcionar um ambien te favorável acolhedor e respeitoso uma recusa de qualquer forma de violência e cla usura juntamente com uma severa restri ção medicamentosa quando esta for abu siva O método de BETTELHEIM chamado de ortogênico o étimo grego orthós quer dizer direito reto lhe assegurou um expressivo sucesso no tratamento de crianças psicóticas Suicidouse em meados da década de 90 O livro mais conhecido e divulgado de BET TELHEIM é Psicanálise dos Contos de Fadas onde aparece mais claramente seu interes se pelos mitos e contos de fadas Outro li vro seu reconhecido como muito útil e im portante é Freud e a alma humana 1982 onde BETTELHEIM demonstra que as tradu ções inglesas não só distorcem alguns dos conceitos centrais da psicanálise como tam bém impossibilitam ao leitor reconhecer que a preocupação principal de FREUD era a alma humana o que ela é e como se manifesta em tudo que fazemos ou sonhamos Bilógica IMATTEBLANCO Ao descrever o princípio da simetria MATTE BLANCO afirma que no desenvolvimento psíquico da criancinha há uma equivalên cia entre seu mundo interno e o externo Postula que a permanência desse estado mental resultaria numa lógica simétrica em que tudo é nivelado e o pensamento fun ciona concretamente em vez de uma ló gica assimétrica Esta seria própria de quem atingiu um desenvolvimento psíqui co normal no qual há discriminação das diferenças e também capacidade de abs tração Essas duas formas de lógica cons tituem a bilógica Para exemplificar vamos supor a situação de um bebê que está sendo amamentado pela lógica adulta assimétrica a mãe está alimentando enquanto a criança está sen do alimentada por ela No entanto pela ló gica simétrica o bebê julga que reciproca mente ele também está alimentando sua mãe Outro exemplo João é pai de Pedro Pela lógica assimétrica Pedro é filho de João enquanto pela simétrica Pedro tam bém é pai de João De forma equivalente se estiver agredindo seu terapeuta mediante um desprezo um paciente psicótico pela sua forma de pensar com lógica simétrica terá absoluta crença que o terapeuta também o está desprezando Os exemplos poderiam se multiplicar compro vando a importância dessa forma reversiva da utilização do pensamento o que confere uma significativa importância na clínica psi canalítica a essa concepção de bilógica Bion Wilfred Ruprecht Nasceu em 1897 na Índia pela circunstân cia de que seu pai lá executava então um serviço de engenharia de irrigação a man VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 53 do do governo inglês onde viveu até os sete anos Foi sozinho para Londres a fim de iniciar sua formação escolar Comple tou a sua titulação acadêmica na capital britânica se formando em medicina aos 33 anos e obtendo uma medalha de ouro em cirurgia Posteriormente fez sua formação psiquiátrica e psicanalítica tendo sua aná lise didática sido feita com MKLEIN BION descreveu as dificuldades que encon trou no seu meio familiar reconhecendo que o fato de ter vivido a infância na Índia deve ter contribuído para a formação de um modo seu de pensar com matizes algo místicas Teve uma impressionante forma ção humanística cabendo mencionar que estudou História Moderna em profundida de obteve licenciatura em Letras com dis tinção e fez estudos avançados em Filoso fia e Teologia Tinha conhecimentos de Lin güística e das línguas grega e latina além de ser leitor apaixonado dos clássicos Shakespeare em especial Foi um destaca do atleta em esportes universitários tendo ganho várias medalhas de campeão Exer ceu a psiquiatria na Tavistock Clinic e no exército britânico onde se alistou volunta riamente tendo participado ativamente de operações militares no campo de combate e ganho uma importante medalha por atos de bravura Galgou todos os postos da So ciedade Britânica de Psicanálise Em 1968 a convite radicouse em Los Angeles onde viveu e trabalhou o resto da vida tendo feito visitas científicas a Buenos Aires e por quatro vezes ao Brasil onde plantou sementes que continuam germinan do e fecundando com muita vitalidade Embora na atualidade tenha um reconhe cimento quase que generalizado nos pri meiros tempos sua obra despertou uma profunda dissociação entre adoradores e detratores Em novembro de 1979 em meio a uma viagem de saudosismo à Inglaterra de onde estava afastado há 11 anos BION veio a falecer após algumas poucas sema nas de evolução de uma leucemia mielóide aguda em Oxford aos 82 anos de idade Como esquema didático a obra de BION pode ser dividida em quatro décadas dis tintas 40 50 60 e 70 Na de 40 dedicou se a experimentos com grupos Na de 50 inspirado pelas observações dos mecanis mos psicóticos tal como postulava MKLEIN e que estavam subjacentes na dinâmica gru pal trabalhou intensamente com pacientes em estados psicóticos interessandose so bretudo pelos transtornos da linguagem do pensamento do conhecimento e da comu nicação Nos anos 60 aprofundou estes últimos estudos de modo que essa déca da reconhecida como sendo a mais rica ori ginal e frutífera pode ser chamada como a epistemológica A década de 70 por sua vez é considerada a de predominância mística Nesses 40 anos BION produziu em torno de 40 títulos importantes além de participa ções em conferências caracterizadas por um continuado diálogo com o auditório e a coordenação de seminários clínicos ou seja de supervisões coletivas sendo que todas essas contribuições foram reunidas e publicadas 1973 1992 1995 Conquan to uma primeira leitura dos textos de BION possa transmitir uma impressão de herme tismo por demais abstrato em grande par te porque deliberadamente empregou uma linguagem psicanalítica incomum a verda de é que sua obra é coerente e nunca se afasta das vivências emocionais experimen tadas na prática clínica Suas contribuições são tantas tão originais e com uma tal aplicabilidade na prática clí nica do diaadia de cada psicanalista que não cabe hesitar em reconhecêlo como um verdadeiro inovador das concepções psica nalíticas contemporâneas constituindo uma escola própria Devido à natural limitação de espaço deste Vocabulário seguem mencionadas somen te algumas das principais contribuições ori ginais de BION A nomeação de cada uma 54 DAVID E ZIMERMAN delas remete para um verbete específico Destarte cabe referir seus estudos sobre a dinâmica de grupos os elementos de psi canálise as psicoses a formação e função dos pensamentos e da capacidade para pensar os pensamentos a parte psicótica e a nãopsicótica da personalidade a função continente e a relação continenteconteú do as condições necessárias mínimas que um psicanalista deve ter como por exem plo a capacidade negativa a intuição a continência a paciência e a empatia os vínculos de amor ódio e conhecimento os problemas relativos ao uso ou não das ver dades a angústia denominada terror sem nome o fenômeno das transformações principalmente o das alucinoses os proble mas relativos à gênese e utilização dos pen samentos cujo registro gráfico aparece em sua famosa grade os problemas relativos aos transtornos da linguagem e da comu nicação a abertura de novos vértices de percepção recomendando para o analista uma visão binocular a importância da dor psíquica na consecução de um crescimen to mental as especulações sobre o psiquis mo fetal Embora não tenha escrito nenhum texto especificamente sobre técnica analítica transparecem na obra de BION importantes contribuições relativas à reciprocidade en tre os fenômenos que surgem no campo analítico e à dialética que se estabelece en tre o par analítico Bion W R 1985 Livro póstumo editado por sua esposa Fran cesca a partir de apontamentos esparsos do próprio BION que ela completou com notas cartas fotografias reprodução de pinturas de BION etc O volume I The Long WeekEnd traduzi do por PCSandler por Um Fim de Sema na Esticado tem como subtítulo Part of Life18971919 Esse tomo tem em torno de 300 páginas e é considerado uma legíti ma autobiografia de BION do período que se estende de seu nascimento até o fim da I Grande Guerra Está dividido em três par tes muito distintas entre si a primeira inti tulada A Índia a segunda A Inglaterra e a terceira A guerra O volume II que FRANCESCA BION publicou em 1985 está dividido em duas partes A primeira é All my sins remembered que Sandler traduziu por Todos os meus peca dos rememorados título inspirado no per sonagem Hamlet de SCHAKESPEARE relati vo ao famoso monólogo referente ao mo mento que intercala a decisão de Hamlet de partir para a ação justiceira com seu encontro com Ofélia Podese dizer que esse conflito homicidasuicida aludia ao trauma sofrido e nunca bem elaborado das circuns tâncias trágicas da morte de sua primeira esposa FRANCESCA reconheceu que este testemu nho triste em busca de si mesmo poderia dar uma falsa imagem do verdadeiro BION e por isso ela decidiu mostrar na segunda parte desse volume o O outro lado do gênio Cartas à família Bissexualidade Designa dois registros o biológico e o psi cológico A característica comum é a de que toda pessoa apresenta simultaneamente atributos masculinos e femininos Biologi camente a determinação do sexo é basea da na origem embrionária de como os cro mossomos X se desenvolveram a presen ça de uma única célula X no embrião de termina o sexo masculino e a de duas X o feminino Do ponto de vista psicológico devido à forma de resolução se positiva ou negativa da conflitiva edípica e ao jogo de identificações principalmente com as figu ras parentais vão resultar em cada sujeito características consideradas masculinas e ou predominantemente femininas Em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 55 muitas pessoas isso se processa indepen dentemente de seu sexo biológico consti tuindo aquilo que na atualidade é denomi nado identidade de gênero sexual É útil esclarecer um equívoco muito comum de modo a deixar bem claro que a bissexua lidade tanto a biológica quanto a psicológi ca até um determinado grau é uma caracte rística normal e universal O termo bissexua lidade também costuma ser empregado para as pessoas que concomitantemente exercem atividades tanto hetero como homossexuais Bleuler Eugen BLEULER 18571939 importante psiquia tra suíço foi diretor do famoso Hospital de Burghölzi onde sob a influência de seu colaborador JUNG incentivou um grande número de jovens psiquiatras a interessar se pelas polêmicas idéias de FREUD e ingres sar no campo da psicanálise BLEULER também é bastante conhecido pe los seus trabalhos sobre a demência preco ce que era o nome que davam ao que hoje denominamos esquizofrenias Bloco mágico Uma Nota sobre o FREUD 1925 Em um artigo com esse título FREUD visa a explicar o funcionamento da memória hu mana através de uma analogia com o blo co mágico uma espécie de brinquedo que surgiu naquela época Era um retângulo com uma capa de celulóide transparente e uma folha recoberta de cera Com um esti lete escreviase sobre a capa que aparen temente não ficava marcada ficando a es crita na folha recoberta de cera Para voltar a usar o bloco era necessário apagar sepa rando suavemente a capa de celulóide que examinada cuidadosamente ainda mostra va as inscrições da folha de cera e assim o bloco aparecia outra vez limpo e pronto para recolher novas impressões FREUD traçou um paralelo do bloco mágico com o aparelho psíquico sustentando que a folha transparente de celulóide que não fica marcada se comporta como o nosso aparelho de percepção que transmite sem reter recobre e protege as folhas internas diminuindo com sua intermediação a in tensidade dos estímulos externos A folha interna depois de apagada e limpa ainda fica marcada sedimentandose sobre ela as sucessivas inscrições Isso é análogo a nos sos sistemas mnêmicos inconscientes Esse trabalho aparece no volume XIX p 285 da Standard Edition brasileira Bollas Christopher É considerado um dos mais importantes membros da Sociedade Britânica de Psica nálise mais particularmente de seu Grupo Independente em razão da originalidade de muitos de seus conceitos escritos em lin guagem de alta qualidade literária embora muito acessível autêntica e independente BOLLAS bacharelouse em História na Uni versidade da Califórnia em Berkeley e 56 DAVID E ZIMERMAN depois conquistou o título de PhD em Lite ratura na Universidade de Buffalo Na Ca lifórnia logo após sua graduação em His tória passou dois anos trabalhando com crianças autistas e crianças esquizofrênicas o que o levou a interessarse pelos traba lhos de FTUSTIN MKLEIN e WINNICOTT os quais juntamente com BION cuja obra co nheceu posteriormente foram seus princi pais inspiradores psicanalíticos Em 1973 BOLLAS foi para Londres onde fez sua formação de psicanalista integran do o Grupo Independente em 1980 voltou aos Estados Unidos Alguns dos conceitos psicanalíticos desen volvidos por BOLLAS estão contidos nas ex pressões objeto transformacional o conhe cido nãopensado a dialética da diferença entre muitos outros mais Sua bibliografia consta de A Sombra do Objeto 1987 seu primeiro e notável livro seguido de Forças do Destino 1989 e mais recentemente Being a Character Psycho analysis and Self Experience Borderline OTTO KERNBERG Psicopatologia clínica também conhecida com os nomes de paciente fronteiriço bor der quer dizer fronteira em inglês ou de casos limites entre outros Até há pouco tempo essa denominação designava o es tado do psiquismo de um paciente que cli nicamente estivesse na fronteira limítrofe entre a neurose e a psicose Embora haja evidências clínicas que confirmem essa afir mativa na atualidade os estudiosos desses casos borderline dentre os quais é justo destacar OTTO KERNBERG preferem conside rar tal condição psíquica uma estrutura com características específicas e peculiares Esse autor desde 1975 em sucessivos trabalhos vem estudando essa psicopatologia com ines timáveis contribuições e reivindicando classi ficação dos borderline como pacientes de uma entidade clínica específica e singular KERNBERG destaca os seguintes aspectos dessa entida de prejuízo do juízo crítico e do sentimento de realidade permanente sensação de ansie dade difusa de sensação de vazio e de mani festações neuróticas polissintomáticas forte presença daquilo que BION chamaria de par te psicótica da personalidade actings freqüen tes muitas vezes sob a forma de uma sexua lidade perversa sadomasoquista O mérito maior desse autor foi a descrição da síndro me da difusão da identidade Do ponto de vista do tratamento com o método psicanalítico os autores mais ex perimentados nesses casos concordam que os pacientes borderline podem não ser apenas os mais frustrantes mas também os mais gratificantes de tratarse Bowlby John Nascido em 1907 e falecido em 1990 foi um eminente psiquiatra e psicanalista e uma das maiores figuras do movimento psica nalítico britânico Era especialista em psi quiatria infantil tendo sido diretor da Ta vistock Clinic de Londres Como psicana lista pertencia ao Grupo dos Independen tes da Sociedade Britânica de Psicanálise Foi analisado por JOAN RIVIÈRE e fez a sua primeira análise de crianças com MKLEIN Em 1940 começou a publicar trabalhos sobre a criança enfatizando a mãe real e o ambiente a realidade social e a forma de educação que a criança tivera assim diver gindo e opondose à doutrina puramente kleiniana que colocava a tônica nas fanta sias inconscientes Três aspectos marcaram a obra de BOWLBY o apego a perda e a separação Depois de 1950 foi emprestando crescente importân cia aos aspectos biológicos de modo a com parar o comportamento humano ao das espécies animais bastante fundamentado na etologia e nos conceitos darwinianos da biologia Isso lhe custou severas acusações de que ignorava o inconsciente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 57 No fim da década 40 dirigiu pesquisas so bre crianças abandonadas ou privadas de lar cujos resultados tiveram repercussão mundial o tratamento psicanalítico do hos pitalismo da depressão anaclítica das ca rências maternas a prevenção das psico ses Em 1950 foi nomeado assessor da ONU onde suas teses tiveram papel consi derável na adoção de uma carta dos direi tos da infância No fim da vida como uma forma de reco nhecimento a seu inspirador escreveu uma biografia de Charles Darwin Os principais livros de BOWLBY são Cuida dos Maternos e Saúde Mental 1951 e Apego Perda Separação em 3 volumes 1969 1973 1980 Breuer Josef No entanto foi no campo da psicanálise que ele passou à história ao usar com a paci ente Anna O o que denominou método catártico e ter sido o autor da observa ção fundamental relativa à descoberta de uma relação dos sintomas com os acon tecimentos traumáticos psíquicos Esse fato levou FREUD num certo momento de sua obra a atribuir a BREUER a condição de paternidade da psicanálise equívoco que o próprio FREUD posteriormente veio a desfazer Foi BREUER quem iniciou FREUD no interesse pelo recurso da hipnose e lhe falava de Anna O antes da ida deste a Paris para es tudar com CHARCOT Por iniciativa de FREUD publicaram conjuntamente em 1895 Es tudos sobre a Histeria No mesmo ano BREUER afastase de FREUD e da psicanálise por duas razões o susto que tomou com a transferência erótica de Anna O que cul minou com uma gravidez fantasma dela e radicais diferenças com FREUD em relação à etiologia sexual das neuroses na qual não acreditava preferindo a teoria dos estados hipnóides como determinantes dos sinto mas histéricos Brincar brinquedos e brincadeiras M KLEIN e DWINNICOTT KLEIN e WINNICOTT foram os autores que mais se dedicaram ao estudo dos brinque dos destacando seu papel estruturante no desenvolvimento emocional da criança MKLEIN foi a mais importante pioneira a elaborar uma técnica psicanalítica para crianças utilizando a observação de como brincavam e as respectivas fantasias in conscientes Apontou uma equivalência entre a forma de brincar e as associações livres na análise dos adultos Essa técnica de MKLEIN foi duramente cri ticada por ANNA FREUD que também utili zava os brinquedos porém de forma pre cipuamente pedagógica A polêmica en Foi um notável clínico austríaco nascido em 1842 e falecido em 1925 No campo da medicina é reconhecido por importantes trabalhos relativos à autoregulação da res piração ainda hoje os médicos estudam o conhecido reflexo de HeringBreuer além de seus estudos sobre a participação do la birinto no controle do equilíbrio postural 58 DAVID E ZIMERMAN tre as duas eminentes psicanalistas acom panhadas pelos respectivos seguidores causaram as célebres controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanáli se tal como está descrito no verbete cor respondente Brincar e a Realidade O WINNICOTT 1971 Em 1971 Winnicott publicou Playing and Reality O Brincar e a Realidade no qual dando continuidade a suas idéias relati vas ao brincar aos brinquedos às brin cadeiras e aos jogos das crianças em di versos capítulos enfatiza que o brincar 1 representa um portão de entrada para o inconsciente 2 é essencialmen te criativo 3 através do fazdeconta fun ciona como um estímulo para elaborar a fase de transição das fantasias do mundo subjetivo para a realidade do mundo ob jetivo 4 representa uma forma de desfa zer a fase em que ainda está fundida com a mãe e sente que esta está se afastan do 5 é uma forma de a criança elaborar as suas fantasias inconscientes É útil ressaltar que o aspecto sadio de saber brincar acompanha os adultos a vida intei ra e pode representar um excelente atribu to para o psicanalista O livro O Brincar e a Realidade consiste numa coletânea de diversos artigos impor tantes publicados anteriormente A título de exemplificação vale destacar Objetos e fenômenos transicionais 1951 e o Pa pel de espelho da mãe e da família no de senvolvimento infantil1967 Bulimia Quadro clínico de transtorno alimentar que somente a partir de 1979 adquiriu a condição de entidade clínica própria e que está ficando cada vez mais freqüente na clínica psicanalítica Acomete princi palmente moças jovens Pesquisas em uni versidades americanas apontam um per centual de 5 a 20 de alunas bulímicas Ao mesmo tempo cerca de 30 das pes soas que buscam tratamento para a obe sidade sofrem de bulimia A palavra vem do grego bou prefixo de intensidade derivado de bous boi lim fome sufixo ia Bulimia significa por tanto fome de boi o que bem traduz as principais características dessa psicopato logia que segundo Zuckerfeld 1992 são as seguintes 1 Episódios recorrentes de voracidade com um consumo de grande quantidade de alimentos geralmente muito calóricos num curto período de tempo os próprios pacientes costumam chamar esse impulso irrefreável de ata que 2 O ataque costuma vir seguido de uma purga através de um vômito auto provocado 3 O vômito por sua vez ha bitualmente provoca um estado de âni mo depressivo com pensamentos auto destrutivos 4 Tentativas repetidas de per der peso em grande parte pela influên cia da mídia na sua exaltação da beleza com dietas exageradamente restritivas provocação de vômitos uso de diuréti cos e laxantes assim alternando banque tes e jejuns de modo a também apresen tar grandes oscilações de peso Esses ci clos quando muito freqüentes podem produzir sérias conseqüências físicas como desidratação desequilíbrio hidrele trolítico arritmias cardíacas contraturas musculares perda do esmalte dental transtornos menstruais etc 5 O grupo de risco mais propenso a sofrer dessa psico patologia é constituído por mulheres jo vens inteligentes com o espírito de lide rança porém com uma necessidade cons tante de reasseguramento de sua auto estima que no fundo é muito baixa 6 Clinicamente é comum observarmos na mesma pessoa uma alternância entre a bulimia e a anorexia nervosa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 59 Buracos negros FRANCIS TUSTIN Expressão de FTUSTIN para designar os vazios e uma aparente ausência quase que absoluta de emoções de que sofrem as crianças autistas Certamente a auto ra deve terse inspirado na terminologia própria da moderna física cósmica na qual buraco negro referese a uma espé cie de autofagia da luminosidade das estrelas que ficam escuras e opacas embora continuem conservando uma energia potencial Ver o verbete vazio patologia do I want one of those for my birthday Hey Friends Look at this fabulous product Its a candle and its a mermaid Isnt she adorable She smells like ocean breeze and more Its 100 soy wax clean burning and ecofriendly Perfect gift for your loved ones or yourself from Amazon check link in the Bio Candle Mermaid SoWax UniqueGift C BION Essa letra na Grade de BION ocupa a ter ceira fileira a que designa a etapa evolu tiva dos pensamentos que estão no regis tro onírico sob a forma de sonhos deva neios e mitos Dessa forma a função de rêverie do analista também pode ser en quadrada na fileira C A letra C também aparece nas traduções em português da obra de BION designan do a inicial da palavra conhecimento do original knowledge e da correspondente letra K Cadeia rede de significantes LACAN Uma das mais importantes concepções de LACAN segundo a qual desde que nasce através do discurso dos educadores o su jeito passa a formar parte de uma cadeia de significantes na qual deverá estruturar se sendo justamente o inconsciente essa cadeia articulada Assim tal qual se passa nas conexões dos fios de uma rede também os diversos sig nificantes pelo fenômeno psíquico do des lizamento se interconectam Ver os verbe tes deslizamento e significante Calma do desespero conceito de prá tica clínica BION BION atribuiu grande relevância à dor psí quica que o analisando sofre no processo analítico quando está fazendo mudanças profundas e verdadeiras no seu psiquismo a ponto de poder atingir um estado de um sofrimento turbulento A esse sofrimento Bion denominou mudança catastrófica O contrário seria um estado de excessiva cal ma sem o mínimo de angústia na situação analítica e isso pode estar indicando que pode estar havendo um conluio de acomo dação e resignação Para comprovar sua afirmação de que o fato de um paciente estar melhor do ponto de vista psicanalítico equivale a estar pior do ponto de vista sintomático e de sofrimento do analisando BION contrasta essa situa ção com a que ele chama de calma do de sespero que consiste em que aparentemen te tudo está bem na vida mas na análise do paciente isso não passa de resignação A perspectiva de que esteja surgindo uma possibilidade de mudança de um resgate do crescimento pode produzir muitas per turbações de sentimentos catastróficos BION ilustra essa idéia num seminário clíni co com a seguinte imagem metafórica C 62 DAVID E ZIMERMAN Imaginemos sobreviventes de um naufrá gio eles estão flutuando à deriva em cima de um escombro Não estão assustados apenas desesperançados e famintos No momento em que outro navio surgir o medo a angústia o terror tudo vai apare cer Desaparece a calma do desespero e eclode o pavor o medo e a ansiedade Em princípio sua situação melhorou estão mais perto de serem resgatados e fora de perigo É de se supor que estariam se sentindo melhor Mas não é o que acontece ficam piorClinical Seminars and Four Papers 1987 p 4 Campo analítico BARANGER Expressão cunhada pelo casal BARANGER psicanalistas argentinos que no livro Pro blemas del Campo Psicoanalítico 1962 enfatizam os aspectos transferenciaiscon tratransferenciais que permeiam toda situa ção da análise de modo que de alguma forma o analista e o paciente estão sempre interagindo e se influenciando reciproca mente BARANGER afirma Quando estive traba lhando no Hospício com PICHONRIVIÈRE me dei conta claramente de algo que já sabia desde MERLEUPONTY que o objeto não é objeto e o sujeito não é o sujeito e que o objeto e o sujeito se dão como cam po e se definem um pelo outro Quan do falamos do campo analítico entende mos que está se dando uma estrutura produto dos integrantes da relação mas que por sua vez estão involucrados num processo dinâmico e eventualmente cria tivo O campo é uma estrutura distin ta da soma dos seus componentes assim como uma melodia é distinta da soma das notas musicais BION foi o autor que mais consistentemente apontou múltiplas modalidades resisten ciais transferenciais comunicacionais es pirituais e vinculares em geral que confi guram o campo analítico e que tornaram o exercício da psicanálise mais complexo porém bastante mais fascinante Capacidades Psicólogos do Ego WINNICOTT BION Diversos autores empregam esse termo no sentido psicanalítico com significados espe cíficos tal como na amostragem que segue A escola da Psicologia do Ego destaca so bremaneira as capacidades do ego as ina tas e as adquiridas as detidas no desenvol vimento e as que potencialmente estão com possibilidade de serem desenvolvidas e as que sofrem influência do inconsciente e as do ego consciente Dentre outras tantas mais cabe destacar a capacidade para fazer uma adequada adaptação à realidade e a de síntese como uma função nobre do ego WINNICOTT descreveu seu conceito original de uma capacidade para ficar só a qual consiste na aquisição por parte da criança de uma confiabilidade na mãe de sorte que ela pode inicialmente estando junto com a mãe ficar voltada para seus brinquedos enquanto a mãe está voltada para seus afa zeres particulares sem que uma interfira com o espaço da outra às vezes sem se comunicarem verbalmente durante um longo tempo porém uma confia na dis ponibilidade da outra Essa situação equi vale à progressiva formação dos indispen sáveis e estruturantes núcleos básicos de confiança BION estudou outras muitas capacidades Cabe destacar algumas como a capaci dade de rêverie por parte da mãe como fator primordial no desenvolvimento da criança No terreno da prática analítica ele descreveu a capacidade de o anali sando desenvolver a função psicanalíti ca da personalidade como requisito bá sico para vir a prosseguir sua autoanáli se Também descreveu a capacidade ne gativa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 63 Capacidade negativa conceito de prá tica analítica BION Expressão alusiva à condição necessária mínima que o analista deve conter dentro de si no curso da situação analítica a emer gência de sentimentos muito difíceis como a de não entender o que está se passando com o paciente e com ele próprio as dúvi das incertezas e principalmente aos an gustiantes sentimentos contratransferenciais nele despertados Dessa forma podese dizer que a capaci dade negativa do analista é altamente po sitiva para o êxito da análise Caráter FREUD Do grego charassein e charakter que signi ficam aquilo que imprime Esse termo per mite duas observações iniciais 1 A influ ência do meio ambiente circundante da criança promovendo impressões psíquicas 2 O termo denota que os aspectos grava dos no indivíduo ficam indeléveis e com um núcleo básico não modificável FREUD o primeiro a estudar psicanaliticamen te a formação e a conceituação de caráter o fez em dois momentos distintos de sua obra Em 1905 ele atribuiu uma importância es pecial ao desenvolvimento psicossexual da criança com as respectivas fixações proveni entes das fases oral anal e fálica Em Caráter e erotismo anal 1908 FREUD privilegia o id definindo que o caráter em sua configuração geral se forma a partir dos instintos constituintes Num segundo momento mais precisamen te a partir de O Ego e o Id 1923 FREUD estuda o caráter segundo um modelo es trutural atribuindo uma participação prio ritária ao ego no que tange às representa ções às identificações e aos tipos de meca nismos defensivos Em A dissecção da per sonalidade psíquica 1933 FREUD faz uma bela metáfora utilizando a imagem do cris tal que quando atirado no chão podese partir mas não em pedaços ao acaso Ele se desfaz seguindo linhas de clivagem em fragmentos cujos limites embora fos sem invisíveis estavam predeterminados pela estrutura do cristal Na atualidade considerase a formação do caráter um precipitado de múltiplas e dis tintas influências tanto as que FREUD assi nalou como também as provindas das ameaças do superego herdeiro direto da conflitiva edípica os ideais e expectativas próprios do ego ideal herdeiro direto do narcisismo do ideal do ego ambições e predições do narcisismo dos pais das re lações objetais em geral da formação da autoimagem do falso self etc sempre se guindo o princípio de uma obediência do ego à uma formação de compromisso Como resultante disso tudo podese falar em caráter do tipo obsessivo histérico nar cisista fóbico perverso etc Outro ponto a considerar é que na situação analítica o caráter revelase em grande parte pela sua forma de comunicação o estilo de suas narrativas de acordo com o que Liberman 1976 chama de pautas estilísticas Caráter e erotismo anal FREUD 1908 Nesse trabalho que consta do volume IX p 175 da Standard Edition brasileira FREUD considera o erotismo anal um dos componen tes da pulsão sexual que no decorrer do de senvolvimento e de acordo com a educação que a civilização exige tornouse inútil para a finalidade sexual podendo vir a se transfor mar em formações reativas ou ser sublima das FREUD postula que essas pessoas se ca racterizam pelo fato de serem especialmente ordeiras parcimoniosas e obstinadas Caractereológica couraça WREICH Cabe a REICH tal como aparece em seu clás sico Análise do Caráter 1933 o grande 64 DAVID E ZIMERMAN mérito de conceber que uma análise não poderia ficar restrita unicamente à resolu ção de sintomas um a um como era habi tual até então Postulou que como prote ção contra os ameaçadores estímulos exte riores e interiores o ego estruturase defen sivamente de forma tão organizada que na situação analítica ela pode adquirir a dimensão de uma verdadeira couraça re sistencial Em razão disso REICH propôs al guns recursos técnicos para penetrar nas repressões inconscientes Caractereopatias O KERNBERG Em Object Relations Theory and Clinic Psychoanalysis 1977 KERNBERG propôs uma classificação dos transtornos do cará ter ou caractereopatias baseada na teoria das relações de objeto Distinguiu três gru pos de perturbações às quais chamou res pectivamente de nível inferior nível inter mediário e nível superior No nível superior embora exista um su perego sádico e punitivo e um uso excessi vo de recalcamentos como principal meca nismo de defesa o que perturba o contato dessas pessoas com seu meio ambiente ainda assim predomina a presença de rela ções objetais estáveis o que permite que os pacientes sintam preocupação e culpa No nível intermediário as relações objetais internalizadas são estáveis embora clara mente ambivalentes e conflitivas O supe rego está parcialmente integrado e portan to a capacidade de sentir culpas está dimi nuída em comparação com os transtornos de nível superior Neste grupo KERNBERG incluiu as personalidades sadomasoquistas as personalidades infantis alguns tipos de transtornos narcisistas e certos desvios se xuais estruturados que permitem vínculos relativamente estáveis Nas caractereopatias de nível inferior KER NBERG coloca os pacientes que internaliza ram relações objetais pouco integradas de tal forma que percebem seus objetos como inteiramente bons ou ao contrário com pletamente maus Para manter essa cliva gem recorrem aos mais primitivos meca nismos de defesa Estão incluídos neste gru po as personalidades com sérios transtor nos narcisistas as personalidades como se assim denominados por HELEN DEUTSCH 1942 os caracteres caóticos e impulsivos os caracteres psicóticos e os pacientes bor derline nos quais se evidencia uma nítida perda do sentido de realidade e uma difu são dos limites do ego Caractereopatias WINNICOTT Ao estudar os transtornos psíquicos resul tantes das falhas ambientais WINNICOTT mostrou que elas têm um importante papel patogênico na determinação do que deno minou uma tendência antisocial ou psico patia As palavras textuais de WINNICOTT explicam melhor a sua concepção O de linqüente é um menino ou menina antiso cial que não se curou há lógica na ati tude implícita de que o meio ambiente deveme algo a qual é adotada pelo psi copata delinqüente e pela criança antiso cial Neste sentido minha principal tese é que essencialmente a inadaptação e os demais derivados deste tipo de transtorno consistem em uma inadaptação originária no meio ambiente da criança no entanto produzida em uma fase não tão precoce que fosse suficiente para dar origem a uma psi cose Em seu trabalho Psicoterapia dos Transtor nos de Caráter 1963 WINNICOTT define a caracteropatia como Uma deformação da estrutura do ego embora a integração não desapareça por isso esse termo cor responde especificamente a uma descri ção da deformação da personalidade que foi produzida quando a criança necessita dar abrigo a um certo grau de tendência antisocial VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 65 Carretel jogo ou brincadeira do FREUD FREUD descreveu uma brincadeira de um neto seu de um ano e meio que tornouse clássica na literatura psicanalítica O jogo da criança consistia em um carretel amar rado a um barbante por meio do qual ele fazia com que o carretel desaparecesse de seu campo visual e que voltasse a aparecer repe tindo a operação infindáveis vezes e sempre saudando o desaparecimento e o aparecimen to com as expressões fort e da Na verdade o menino estava elaborando simbolicamente a angústia de separação com a mãe Comentário Vale complementar que esse mesmo neto com a mesma finalidade de elaborar a angústia de separação fazia ou tra brincadeira que consta em Além do princípio do prazer1920 que podemos chamar de jogo do espelho e que consistia em que ele havia encontrado um modo de fazer desaparecer a si próprio Descobrira seu reflexo num espelho de cor po inteiro que não chegava inteiramente ao chão de maneira que agachandose po dia fazer a sua imagem no espelho ir emborap 27 Cartas de Freud a Fliess FREUD FREUD costumava manter uma intensa e continuada correspondência com familia res amigos e colaboradores Assim só para exemplificar o número de cartas enviadas a JUNG foi em torno de 360 com FERENCZI também foi volumosa Porém dentre os seus correspondentes nenhum foi tão sig nificativo como WFLIESS com quem FREUD manteve uma viva troca de cartas nas quais tanto escrevia confidências pessoais quan to rascunhos de idéias psicanalíticas assim como submetia a sua apreciação trabalhos já prontos mas ainda não publicados A soma de toda correspondência com FLIESS entre 1887 e 1902 sobe a uma cifra de mais de 2000 documentos muitas delas cons tantes da autoanálise de FREUD É sabido que após a violenta ruptura entre ambos FREUD destruiu todas as cartas que recebeu de FLIESS enquanto as que ele ex pediu foram vendidas após a morte deste num pacote único para um empresário de Berlim sob o compromisso de não entre gar os documentos a FREUD porque tinha se certeza que ele as destruiria Esse em presário berlinense por sua vez os reven deu para a princesa MARIE BONAPARTE que teve a extraordinária coragem de resistir aos intentos de FREUD de destruílas porém as sumiu o compromisso de não publicar as cartas mesmo as já conhecidas Em 1950 com a ajuda de ANNA FREUD e de ERNST KRIS MARIE publicou algumas sob o título de O Nascimento da Psicanálise So mente em 1958 foi enfim publicada uma edição completa depois de um escândalo nos Arquivos Freud Os Extratos dos documentos dirigidos a Fliess com os principais Rascunhos or denados em ordem alfabética e Cartas numerados com algarismos arábicos es tão publicadas no Volume I da Standard Edition Dentre inúmeras preciosidades que trans parecem nesses documentos destacase o extenso documento que veio a constituir o Projeto para uma Psicologia Científica e a famosa Carta 52 onde FREUD estuda os processos de inscrições e de transcrições na composição dos traços mnésicos Castigo necessidade de FREUD Aspecto fundamental da teoria e da prática psicanalítica Em linhas esquemáticas pode proceder de quatro fontes 1 A pulsão de morte agindo de dentro e para dentro ocasionado um masoquismo primário 2 As culpas inconscientes ou conscientes devidas a danos destrutivos que na reali 66 DAVID E ZIMERMAN dade ou na fantasia o sujeito teria cometi do contra outras pessoas significativas 3 As culpas indevidas decorrentes de um discurso permanentemente culpígeno por parte dos educadores que significam qual quer ato da criança fazer artes por exem plo com sendo sempre deletério mesmo quando na sua essência poderia ter sido significado como positivamente criativo 4 O discurso dos pais pode ter configura do na criança um determinado papel a ser seguido por toda a vida e toda vez que o transgride por exemplo melhora na aná lise e quer emanciparse de um vínculo al tamente simbiotizado com a mãe o sujeito sente a necessidade inconsciente de ser cas tigado o que no processo analítico pode acontecer sob a forma de uma reação tera pêutica negativa Castração angústia de FREUD FREUD considerava o pênis como o órgão sexual autoerótico primordial tal como descreve em As teorias sexuais infantis 1908 Segundo sustenta o menino não pode conceber qualquer ser humano sem pênis sendo que a visão da mãe ou da irmã desprovida desse órgão gera imediatamen te a fantasia de que de fato existe uma cas tração a qual imagina ter sido cometida pelo pai Essa concepção de FREUD tornouse duran te longas décadas o eixo central em torno do qual orbitavam as teorias e técnicas psi canalíticas Fundamenta essas idéias mais decisivamente historial clínico do Menino Hans 1909 Posteriormente FREUD fazia questão de assinalar dois aspectos 1 A angústia de castração é extensiva às meni nas 2 Enquanto muitos autores propu nham que a angústia de castração remon tava a fases prévias como seria a da perda do seio ou a das fezes FREUD afirmava que só se deveria falar de complexo de castra ção a partir do momento em que esta re presentação de uma perda estiver relacio nada ao órgão genital masculino Castração LACAN Utilizando o termo com uma significação distinta de FREUD para LACAN tratase de uma operação simbólica que se refere ao falo enquanto um objeto imaginário e não o real O temor de castração é normatizan te e estruturante para a criança porquanto proíbe o incesto e faz a necessária cunha interditora na díade fusional que a criança estiver mantendo com a mãe Além disso afirma LACAN a assunção da castração sim bólica por parte da criança promove a fal ta que cria o desejo então não mais ne cessitando esse desejo de estar subordina do aos da mãe ou submetido aos do pai Catarse método da Proposto por BREUER nos primórdios da psi canálise tal como está descrito no verbete abreação Catástrofe ou medo do colapso WINNICOTT Estado de breackdown catástrofe para designar um estado de nãointegração ou de uma angústia de desintegração Seus sin tomas mais marcantes consistem numa ater radora sensação de o sujeito estar perden do seus referenciais de que vai cair e preci pitarse no espaço No trabalho The Fear of Breakdown de 1974 WINNICOTT afirma que o medo de um colapso futuro sempre tem origem num sen timento equivalente intensamente expe rimentado no passado que não consegue ser pensado pelo paciente devido à pri mitividade das experiências emocionais dolorosas na formação da agonia Daí WINNICOTT introduz a expressão agonias impensáveis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 67 Catastrófica mudança BION Para BION que tem um trabalho intitulado Catastrophic Change 1966 essa expres são designa o fato de que uma verdadeira mudança psicanalítica no paciente costu ma provocar um intenso sofrimento no ana lisando portanto de alguma forma também no analista sob a forma de um estado con fusional ou de ansiedade depressiva Es sas sensações penosas que o levam a acu sar o analista de estar provocando sua pi ora sentindose ameaçado pelo medo de que esteja ficando louco ou que só lhe res ta o suicídio Além disso é comum que essa sensação catastrófica venha acompanhada de actings preocupantes e de sensações corporais como o sintoma de despersona lização e o surgimento de somatizações É importante que o analista tenha boa capa cidade de continente baseado na convic ção de a aparente piora possa estar signifi cando um importante movimento de me lhora analítica Comentário Tudo o que foi dito por WINNICOTT e por BION está de acordo com a etimologia da palavra catástrofe a qual se origina dos étimos gregos kata abaixo de strophein revolta subversão even to calamidade Contudo é interessante registrar que em inglês antigo catastro phy significava uma evolução uma mu dança de um estado a outro tal como sugere a palavra estrofe que o coro do antigo teatro grego cantava como uma forma de anunciar a passagem para um novo cenário Catéxis FREUD Em seus estudos sobre as características das pulsões FREUD enfatizou o fato de que certa quantidade de energia psíquica fica ligada a objetos externos investindoos Para descrever esse investimento ele empregou a expressão original Bezetzung Energie traduzido para o inglês como ca thexis e para o português como catéxis ou catexia Bezetzen no original alemão significa ocu par guarnecer FREUD fazia a comparação com uma força militar de ocupação que pode ser deslocada para uma ou outra po sição segundo as necessidades Na vigên cia da teoria econômica da psicanálise FREUD atribuía grande importância à quan tidade da catéxis investida nos objetos Cena primária FREUD Expressão que também aparece traduzida como cena originária primitiva ou primor dial a palavra original em alemão é Ur szene Alude à observação real ou fanta siada que a criança faz do coito dos pais Nos primeiros tempos FREUD deu uma im portância extraordinária a esse fato afir mando que a cena primária raramente falta no tesouro das fantasias inconscientes que se podem descobrir em todos os neuróti cos e provavelmente em todos os filhos dos homens No seu célebre trabalho O Homem dos Lobos 1918 FREUD estuda mais profun damente a importância da cena primária descrevendo o caso de um menino que te ria observado um coito dos pais com as respectivas fantasias provavelmente de ori gem a posteriori Nessa fantasias imagina que o coito foi anal que o pai estaria agre dindo a mãe numa relação sadomasoquis ta Toda essa situação poderia reforçar a angústia de castração do menino Freud afirmava que mesmo nos casos que não tenha havido uma observação direta indícios indiretos como ruídos provindos do quarto dos pais poderiam funcionar como fator determinante da cena primária Outro aspecto interessante é que numa polêmica com JUNG a respeito da cena pri mária FREUD não descartou a hipótese de uma herança filogenética 68 DAVID E ZIMERMAN Censura Aparece freqüentemente na literatura psi canalítica sempre ligada aos mandamen tos e às proibições do superego tal como está descrito no verbete específico Cesura BION Freud usou esse termo em Inibições sin tomas e angústia 1926 no qual afirma que há muito mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância do que a impressionante cesura que o ato do nascimento nos permite acreditar Inspirado nessa afirmativa de FREUD que alu de ao corte do cordão umbilical BION empre gou o termo nos seus estudos sobre a conti nuidade que existe entre a vida prénatal e a pósnatal A palavra cesura também designa na obra de BION uma espécie de ponte que na situação analítica possibilita a passagem de um estado mental para outro muitas ve zes acompanhada de sintomas ruidosos tal como acontece na mudança catastrófica O emprego da palavra passagem adquire o mesmo significado que o da Páscoa cristã ou do Pessach judeu onde houve a passa gem pela abertura que Deus fez nas águas revoltas do Mar Vermelho Em ambas as fés os termos aludem a uma ressurreição O conceito de cesura pode ser considerado como um conceitolimite isto é como um ponto de decisão de onde se procura pen sar naquilo que nunca tinha sido pensado antes Assim BION fez a seguinte metáfora Picasso pintou um quadro em um pedaço de vidro de modo a poder ser visto de am bos os lados Sugiro que o mesmo podese dizer da cesura depende de que lado se mira para que lado se está indo Cesura A BION 1977 Título de um artigo de BION no original in glês é Caesura e publicado em Two pa pers The Grid and Caesura 1977 A tra dução em português desse artigo apareceu na Revista Brasileira de Psicanálise núme ro 15 de 1981 Os temas centrais se referem a 1 Necessi dade de o analista ser livre e verdadeiro 2 Problemas relativos à interpretação 3 Es peculações de natureza psicoembrionária 4 Algumas reflexões acerca da conceitua ção de crescimento mental Ao abordar a necessidade referida no item 1 BION tece reflexões sobre o que é a verdade Chistes e sua relação com o inconsci ente Freud 1905 Trabalho clássico de FREUD publicado pela primeira vez em 1905 consta no volume VIII da Standard Edition Compõese de sete par tes e um apêndice Nele aparece este impor tante trecho Os chistes tornam possível a satisfação da pulsão quer essa seja do desejo sexual ou da hostilidade em face de um obs táculo que se lhe depara no caminho O chiste se caracteriza por ser espirituoso ser um julgamento jocoso ter um sentido de non sense emprego do absurdo uso de trocadi lhos e de palavras de duplo sentido ironia representação pelo oposto ou pelo exagero como nas caricaturas etc FREUD destaca que os chistes tanto podem ser agradáveis quan to hostis obscenos tendenciosos ou seduto res Refere que um chiste nos permite explo rar algo de ridículo em nossos inimigos algo que por causa de certos obstáculos não po deríamos revelar aberta os conscientemente FREUD considera que os mecanismos de con densação deslocamento e o de modifica do envolvidos nos chistes guardam a mes ma natureza do que acontece na elabora ção dos sonhos Cinco Lições de Psicanálise FREUD 1910 Esse artigo está no volume XI p 13 da Standart Edition Em 1909 a Clark Univer VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 69 sity de Massachusetts por seu presidente STANLEY HALL convidou FREUD para as co memorações do vigésimo ano de sua fun dação Estava acompanhado de JUNG e FE RENCZI a quem FREUD na ocasião bem hu morado disse que os americanos mal sabi am que estavam trazendo a peste Pro nunciou cinco conferências ao sabor do improviso durante quatro dias sucessivos A primeira versou sobre o significado psi cológico dos sintomas histéricos Afirmou que os pacientes histéricos sofrem de re miniscências e seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de determinadas ex periências traumáticas A segunda enfocou o recalcamento no cur so dos eventos psíquicos da histeria como uma forma de resistência e por conseguin te aludiu à formação de sintomas quando o recalcamento da idéia à qual se liga o desejo intolerável fracassou A terceira girou em torno do determinismo psíquico dos sonhos e dos atos falhos Na quarta conferência Freud abordou a sexualidade infantil e a neurose A quinta foi dedicada à parte técnica com uma dissertação sobre a transferência e a resistência Cisão Fenômeno psíquico que aparece freqüen temente com outras traduções como dis sociação splitting e clivagem O termo ori ginal alemão é Spaltung Ciúme Sentimento intimamente ligado à inveja porém compreende uma relação de pelo menos mais outras duas pessoas envolvi das O indivíduo com ciúme sente que o amor que lhe é devido foi roubado ou está em perigo de sêlo pelo seu rival tal como está descrito por FREUD em relação ao ciú me edípico O ciumento teme perder o que julga per tencerlhe enquanto a pessoa invejosa so fre ao ver que o outro tem aquilo que ela quer exclusivamente para si sendolhe pe nosa a satisfação alheia No caso em que é resultante de um uso excessivo de identifi cações projetivas o ciúme pode adquirir características delirantes Claustro D MELTZER No trabalho Claustrum Una investigación sobre los fenómenos calaustrofóbicos 1992 MELTZER alude às identificações pro jetivas intrusivas às vezes violentas Por meio dessas identificações a parte infantil do self do sujeito passa a habitar um dos compartimentos da mãe interna correndo o risco de nela ficar aprisionado assim ge rando temores claustrofóbicos além das identificações patogênicas que determinam uma visão particular do mundo Clivagem Referese tanto ao ego como aos objetos Em relação à clivagem do ego é importan te referir que conforme for sua extensão e modo de utilização pode 1 Representar uma dissociação útil do ego na forma de um recurso estruturante no desenvolvimen to da criança ou na vida cotidiana do adul to 2 Assumir matizes de uma forte forma de negação levando a estados patológicos como é o caso da perversão fetichista ou bastante mais gravemente a estados de negação psicótica MKLEIN foi quem melhor estudou o fenô meno da clivagem de objetos demonstran do como um mesmo objeto parcial pode ficar dissociado simultaneamente em qua tro formas como objeto bom mau perse guidor e idealizado BION prosseguiu nos estudos das dissocia ções detendose particularmente na cliva gem que existe em toda pessoa entre uma 70 DAVID E ZIMERMAN parte psicótica da personalidade e uma parte não psicótica Clivagem do Ego no Processo de De fesa FREUD 1940 Artigo que aparece no volume XXIII p 309 da Standard Edition redigido em 1938 e publicado postumamente em 1940 Tem significativa importância nas concepções contemporâneas da psicanálise FREUD le vanta a hipótese de que uma criança dian te de uma exigência pulsional inaceitável sentirá o prosseguimento dessa experiência como um trauma psíquico que lhe repre senta um perigo real quase intolerável Nes se caso o ego precisa decidir entre reco nhecer o perigo real cedendo ante ele e renunciando à satisfação pulsional ou ne gar a realidade convencendose que não existe motivo para medo a fim de conse guir manter a satisfação As duas reações contraditórias ante o con flito constituem o ponto central da clivagem do ego Para ilustrar relata o caso de um menino que criou um substituto fetiche para o pênis que não encontrava nas mu lheres Simplesmente por meio de uma cli vagem do ego não contradisse suas per cepções e alucinou um pênis onde este não existia Cogitações BION 1990 Título da edição em português tradução de Ester H Sandler e P C Sandler de Cogitations livro de BION publicado post mortem Resultou do labor de FRANCESCA BION sua esposa que coletou e reuniu ano tações esparsas de Bion algumas datadas e outras não sob a forma de frases idéias reflexões O livro contém em torno de 400 páginas nas quais transparece um BION tratando de estabelecer interrelações da psicanálise com a evolução das demais ciências e a discussão do método científico Para tanto utiliza a citação de literatos poetas mate máticos POINCARÉ historiadores e filóso fos DESCARTES RUSSEL HUME As anotações de BION cobrem presumivel mente o período de 1958 a 1979 e se es tendem em especulações reflexivas acerca dos mais diversos temas Algumas reflexões aludem a trabalhos seus anteriores e ou tros fundamentam concepções desenvolvi das posteriormente além de outras cogita ções que nunca foram suficientemente de senvolvidas e publicadas Particularmente fascinante neste livro é o fato de os apontamentos de BION permitirem cons tatar como suas idéias em conjunção com as de outros pensadores foram germinando em sua mente até ganharem a forma de concep ções originais É útil esclarecer que etimolo gicamente a palavra cogitação deriva do ver bo latino cogitare pensamento meditativo que alude ao que tem peso daí sopesar ou ponderar derivado de pondus peso Coisa em si mesmo BION Conceito extraído literalmente por BION de KANT Consiste no fenômeno de que a rea lidade psicanalítica não pode ser conheci da pelos órgãos dos sentidos mas somente pelos fenômenos secundários observáveis podendo se expressar clinicamente através da evacuação de elementos β BION utiliza seguidamente como sinônimos outros nomes como a letra O e o vocábulo Númeno cujos verbetes específicos podem ser consultados Colapso medo do WINNICOTT Tradução do título do trabalho de WINNICOTT The Fear of Breackdown 1974 no qual o autor diz que o medo do colapso é uma fa lha importantíssima para muitos de nossos pacientes mas não para todos A tese cen tral desenvolvida nesse artigo é a de que o VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 71 temor de uma catástrofe fundamentase em um colapso acontecido no passado Refere se pois ao colapso das defesas originalmen te organizadas contra agonias impensáveis ou seja contra angústias que não puderam e não estão podendo ser pensadas Ver o verbete catástrofe Comensal BION Uma das modalidades da relação continen teconteúdo descritas por BION As outras são a parasitária e a simbiótica O que ca racteriza o modo comensal é o fato de que o hospedeiro continente e o hóspede con teúdo convivem em uma adaptação har mônica embora não haja crescimento nem prejuízo em nenhum dos dois Isso está de acordo com a etimologia dessa palavra porquanto ela se forma dos étimos latinos cum com junto mensa mesa dando a idéia de pessoas reunidas em tor no de uma mesa Comitê Secreto círculo de seguido res imediatos de Freud Dáse o nome de Comitê Secreto ou sim plesmente Comitê ao círculo formado em 1912 por iniciativa de ERNEST JONES pelos discípulos mais fiéis de FREUD especialmen te convidados para integrálo Além de JO NES inicialmente participaram desse círcu lo ABRAHAM H SACHS O RANK e S FERENC ZI MAX EITINGON mereceu juntarse ao gru po em 1919 por ter financiado a editora do movimento psicanalítico de então O Comitê foi formado em função das dissi dências de ADLER STECKEL e JUNG com o objetivo de determinar de que maneira se poderia preservar a doutrina psicanalítica de qualquer forma de desvirtuamento da psicanálise Para selar a união entre os guar diões do templo FREUD entregou a cada um deles um entalhe grego que eles manda ram engastar em anéis de ouro Ainda assim o Comitê passou por inúme ros conflitos internos como um malestar entre os outros analistas e JONES o único dentre todos eles que não era judeu bem como entre os analistas alemães e os aus tríacos Também houve desentendimentos pessoais entre FERENCZI e JONES entre FE 72 DAVID E ZIMERMAN RENCZI e FREUD entre FREUD e RANK entre os partidários de uma renovação da técnica psicanalítica e os ortodoxos conservadores entre os que propugnavam por uma expan são da psicanálise para os Estados Unidos e os que defendiam um fechamento restri to ao mundo europeu etc O Comitê foi dissolvido em 1927 época em que Rank um dos esteios que mantinha a integração do círculo abandonou definiti vamente em condições dramáticas o mo vimento freudiano Ver o Verbete Histórico da psicanálise Como a Análise Cura KOHUT 1984 Livro póstumo de KOHUT no original How Does Analysis Cure 1984 editado três anos depois de sua morte Diferentemente da maioria dos autores o autor defende nessa obra que a análise cura não pelo conhecimento do conflito mas sim pelas vivências que se adquirem com um objeto do self empático Segundo KOHUT essa ex periência soluciona as feridas que foram deixadas abertas pelos objetos da infância No capítulo 2 esse autor acentua a idéia de que a resolução dos conflitos edípicos depende de como se estruturaram primiti vamente os objetos do self O autor valori za sobretudo a influência dos aspectos do narcisismo no desenvolvimento da criança de que o complexo de Édipo seria simples conseqüência Como Tornar Proveitoso um Mau Ne gócio BION 1979 Título de artigo cujo original é Making the best of a bad job Nele BION afirma que quando duas personalidades se encontram criase uma tempestade emocional mas tendo ocorrido o encontro e a conseqüente tempestade emocional as duas partes de vem decidir como tornar proveitoso um mau negócio Ilustra a proposição com uma situação clínica na qual o paciente queria que BION se amoldasse a seu estado mental procurando despertar no analista sensações como medo desapontamento e frustração para impedilo de pensar livre mente A partir daí e baseado em citações de poe tas artistas e filósofos BION faz interessan tes considerações de natureza existencialis ta Mostra como a onipotência e o desam paro estão associados inseparavelmente faz uma distinção entre a existência e a quali dade da existência diz que prefere enten der que a glândula suprarenal não provo ca luta nem fuga mas sim provoca inici ativa afirma que o analista necessita estar apto a ouvir não apenas as palavras mas também a música e assinala o contraste entre o processo de realização com o de desidealização Na situação analítica a postulação de Bion de que diante do surgimento de uma tur bulência emocional ao invés de fugir dela o analista possa aproveitála para promo ver um crescimento mental do seu pacien te pode ser comparada ao conhecido bro cardo fazer do limão uma limonada Esse trabalho consta do livro Seminários clínicos e quatro artigos Clinical seminars and four papers Também apareceu na Re vista Brasileira de Psicanálise volume 13 1979 Na versão castelhana o título é Se minarios clínicos y cuatro textos e o artigo em pauta está traduzido como Hay que pasar el mal trago Complacência somática FREUD Expressão empregada por FREUD no famo so Caso Dora 1905 para se referir à es colha do órgão ou do sistema orgânico so bre o qual se dá a conversão histérica FREUD considerava que o investimento libidinal de uma zona erógena pode deslocarse para outras regiões corporais o que exige certa complacência uma espécie de conluio que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 73 possibilita aos órgãos que simbolizam o conflito reprimido tentar satisfazer o desejo proibido de forma disfarçada Na atualidade na medida em que o corpo foi ganhando uma extraordinária importân cia nas concepções psicanalíticas esse con ceito de complacência somática extrapola a localização única em pacientes histéricos e fica extensiva a todas as entidades clíni cas especialmente as mais regressivas Ver o verbete psicossomática Completude narcisista Expressão muito freqüente na literatura psi canalítica contemporânea Referese a in divíduos ou grupos que usam os mais va riados recursos na tentativa de preencher os vazios que se formaram na estruturação do psiquismo de modo a negar o reconhe cimento da incompletude do ser humano como é sua condição ter falhas faltas li mites limitações e finitude de vida Quan to maior o sentimento de incompletude maior será a busca do paraíso perdido ou seja a condição nirvânica de Sua Majesta de o bebê Para manter a ilusão de com pletude são utilizados recursos defensivos primitivos próprios da posição narcisista como são a da contração de vínculos exage radamente simbióticos a da construção de uma cápsula ou de uma barreira autística con forme Tustin a de uma parte psicótica da personalidade conforme BION Nesse caso a onipotência substitui a capacidade de pen sar ocupa o lugar de um aprendizado com as experiências substitui a tomada de contato com a fragilidade A ambigüidade por sua vez é utilizada como forma de negar as ver dades que desafiam o mundo das ilusões Um instrumento fundamental para a obten ção ilusória da completude consiste no emprego de distintos fetiches como a en tronização das aparências típicas das per sonalidades falso self a fome por poder prestígio beleza e riqueza o emprego de múltiplas formas de estandartes e grifes narcisistas que conferem uma sensação de potência e imortalidade A cultura narcisis ta reinante em grande parte do mundo for temente estimulada pela pressão da mídia provoca uma busca de completude através de produtos mágicos e cirurgias múltiplas em busca da estética da potência sexual e da juventude eterna Complexo JUNG Inventado por JUNG esse termo veio a al cançar um enorme sucesso não só nos meios psicanalíticos mas também na cul tura popular notadamente após FREUD ter divulgado a sua concepção de complexo de Édipo A palavra complexo designa um con junto de sentimentos representações e re lações objetais internalizadas predominan temente inconscientes que formam uma constelação estruturada com uma determi nada configuração afetiva Foi tão grande a aceitação da noção de complexo que os autores multiplicaram os diferentes nomes de novos complexos de superioridade de inferioridade de grande za de Eletra etc de tal sorte que a pró pria linguagem popular corrente adotou expressões como ter complexos com sig nificação pejorativa Complexo de Édipo FREUD Inspirada pela história grega de Édipo Rei a expressão designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que a criança experimen ta com relação a seus pais FREUD situou esse complexo por volta dos três anos postulando que o complexo de Édipo comporta duas formas uma positi va e outra negativa A positiva genericamen te consiste num desejo sexual pelo genitor do sexo oposto bem como de um desejo de morte do mesmo sexo Na forma nega tiva há um desejo amoroso pelo genitor do 74 DAVID E ZIMERMAN mesmo sexo e um ciúme ou desejo de de saparecimento do outro Na clínica é mais freqüente a coexistência nos indivíduos de ambas as formas embora uma delas pre domine nitidamente Freud apontou uma distinção quanto ao desdobramento edípico do processo no menino e na menina No menino ocorrem três fases 1 Ao entrar na fase fálica da evolução libi dinal sentese apaixonado pela mãe e estimulado pelas manipulações maternas procura seduzila e sente orgulho em exi birlhe seu pênis muitas vezes ereto 2 O romance edípico é destruído pelo com plexo de castração resultante da interdição por parte da figura paterna 3 Por isso o menino precisa abandonar o investimento libidinal no objetomãe que se transformará em uma identificação A identificação com a figura materna conjun tamente com as ambivalentemente amadas e odiadas do pai cuja autoridade ele intro jeta constituem os núcleos fundamentais do superego Durante muito tempo Freud considerou que havia uma igualdade total entre o com plexo edípico do menino e o da menina Posteriormente concebeu a diferença es tabelecendo que na menina se processaria da seguinte maneira 1 A menina também toma a mãe como seu primeiro objeto de investimento amoroso 2 Para orientarse libidinalmente para o pai precisa antes se desapegar da mãe Passa portanto por um processo mais longo e complicado que o do menino 3 Considerase castrada quando constata sua inferioridade anatômica em relação ao menino 4 Devido à influência da inveja do pênis desapegase da mãe ressentida com ela por têla desfavorecido 5 Logo substitui a falta do pênis pelo dese jo de possuir um filho do pai tomandoo então como objeto de amor 6 Simultaneamente identificase com a mãe colocase em seu lugar e querendo substituíla junto ao pai passa a desenvol ver um ciúme edípico com ódio pela mãe Como fica evidente para Freud o comple xo de castração põe fim ao complexo de Édipo no menino enquanto na menina abre o caminho da conflitiva edípica No trabalho A Dissolução do Complexo de Édipo 1924 FREUD adverte que nem sem pre é nítida a fronteira entre o normal e o pa tológico da resolução edípica Nos casos em que persistir conflituada a resolução continu ará a exercer desde o inconsciente uma ação persistente ao longo de toda vida constituin do um complexo central de cada neurose Complexo de Édipo MKLEIN MKLEIN descreve o complexo de Édipo de forma distinta da de FREUD embora con serve a mesma essência Para ela a situa ção edípica surge por volta dos seis ou oito meses de idade Esse complexo de Édipo precoce está repleto de fantasias inconsci entes as mais diversas como a de devora mento por exemplo Essas fantasias levam a criança a criar imagens às vezes terrorífi cas como expressão da fantasia dos pais combinados etc Muitos psicanalistas criti cam MKLEIN por conceber o complexo edí pico de modo a desfigurar substancialmen te a original concepção freudiana com pre juízos para a análise Complexo de Édipo LACAN Segundo LACAN na terceira fase da etapa do espelho dos 12 aos 18 meses em situa ções normais a criança assume a castra ção paterna Aqui diferentemente de FREUD o conceito de castração não significa uma privação ou corte do pênis mas sim refe rese à função do pai como o portador da lei que interdita e normatiza os limites da re lação diáticosimbiótica da mãe com o filho VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 75 A aceitação por parte do filho dessa cas tração paterna constitui o registro simbóli co o ingresso no triângulo edípico propria mente dito além de representar o grande desafio às ilusões narcisistas que foram for jadas no registro imaginário das fases ante riores Para LACAN também não existe um período préedípico absoluto porquanto o pai do bebê já está presente no mínimo no psiquismo da mãe tal como é a repre sentação que ela tem de seu próprio pai Complexo de Édipo KOHUT Vários outros autores KOHUT entre eles não dão ao complexo de Édipo a dimensão apre goada por FREUD Essa posição de KOHUT é de tal forma criticada que seus acusadores chegam a sustentar que ele não deveria ser considerado um psicanalista de verdade Esse autor afirma que Édipo não é mais do que uma fase embora bastante importante do desenvolvimento do narcisismo e que a par tir de certo ponto da evolução ambos Narci so e Édipo seguem linhas paralelas com pon tos de contato e de influência recíproca Complexo de Édipo na atualidade Durante muito tempo o complexo edípico foi considerado como o núcleo central na estruturação de toda e qualquer neurose mas a psicanálise contemporânea enfoca outros aspectos mais De forma sintética os seguintes pontos re sumem a importância do complexo de Édi po 1 As coisas não se passam tão simples mente como o amor da criança pelo pro genitor do sexo oposto e de ódio pelo do mesmo sexo na verdade os sentimentos de amor e hostilidade são alternantes de um genitor para o outro 2 O complexo de Édipo abre o caminho para a triangulação permitindo a inclusão do pai assim estabe lecendo a diferença de gerações potência e outras diferenças indispensáveis para uma evolução exitosa da criança 3 O com plexo de Édipo determina a formação de identificações 4 A exclusão da criança da cena primária gera fantasias e sentimentos que desembocam na angústia de castração que não suficientemente bem resolvida pode acompanhar a pessoa pela vida toda 5 É unicamente por meio de uma exitosa resolução da conflitiva edípica que se torna possível o ingresso em uma genitalidade adulta Caso contrário as fixações parciais nas fases préedípicas ou uma má resolu ção do complexo de Édipo resultarão em distintas formas de pseudogenitalidade Complexo de Eletra JUNG Seguindo os passos de FREUD JUNG tomou emprestado da mitologia grega o nome da personagem Eletra que matou a mãe por que esta tinha assassinado seu pai Agame non quando retornava da guerra de Tróia como a contrapartida para o sexo feminino do complexo de Édipo que FREUD descre veu inicialmente para o masculino JUNG considerouos sinônimos e simétricos do que FREUD discordou radicalmente A partir dessa posição de FREUD a expressão com plexo de Eletra praticamente desapareceu do jargão psicanalítico Complexo de inferioridade ADLER Baseado em sua experiência pessoal de criança que sentiase inferior por sofrer de raquitismo ADLER descreveu um complexo de sentimentos que o ser humano necessi ta desenvolver para fugir do doloroso sen timento de inferioridade Quando isso acon tece num grau excessivo gera segundo ele o complexo de superioridade Complexo do semelhante FREUD Em seu clássico Projeto1895 subtítulo 17 primeira parte Memória e Juízo 76 DAVID E ZIMERMAN FREUD descreve o que denominou comple xo do semelhante Daí que seja em seus semelhantes donde o ser humano aprende pela primeira vez a reconhecerse Essa afirmativa é relevante na psicanálise atual na medida em que atesta que outra pessoa aparece como a que permite ao ego incipiente da criança estabelecer confron tos e por seus próprios movimentos ela busca seus pontos de vinculação suas se melhanças e sobretudo a reconhecer as diferenças Compromisso formação de FREUD Condição psíquica pela qual os derivados das pulsões inaceitáveis para o ego consci ente fazem uma espécie de negócio um compromisso com as defesas do ego de tal sorte que os desejos possam ser satisfei tos desde que não reconhecidos pela cons ciência Um bom exemplo é o que aconte ce nos sonhos nos quais a censura onírica somente permite a passagem dos desejos reprimidos do inconsciente que compõem o conteúdo latente do sonho ao conscien te depois que este estiver suficientemente bem disfarçado no conteúdo manifesto Compulsão à repetição FREUD FREUD não se sentia à vontade com sua postulação do princípio do prazer que não conseguia explicar satisfatoriamente os fe nômenos psíquicos repetitivos de natureza nãoprazerosa que ele observava com gran de freqüência Esses fenômenos ocorriam nos casos de repetitivos sonhos angustio sos nos atos que revelam sintomas maso quistas nas neuroses traumáticas principal mente nestas últimas com o volumoso sur gimento das neuroses de guerra advindas no decurso da I Guerra Mundial FREUD constatou que essa compulsão repe titiva procedia de uma força pulsional o termo alemão original é Zwang A partir do consagrado trabalho Além do princípio do prazer1920 ele definiu essa força in consciente como pulsão de morte De forma análoga é possível perceber que as crianças repetem compulsivamente jo gos brincadeiras e relatos de estórias como tentativa de elaborar ativamente o que so freram passivamente como pode ser algum forte susto traumático a perda de alguma pessoa importante etc FREUD igualmente descreveu outros fenômenos repetitivos como a neurose do destino a neurose trau mática e o fenômeno da transferência Cor relacionando todos os aspectos assinalados é possível afirmar que existem dois tipos de compulsão à repetição Uma provinda das manifestações irrefreáveis das pulsões não é por nada que existe uma íntima conexão entre a palavra compulsão e com pul são Outra função da compulsão à repeti ção seria uma tentativa de o ego dominar e elaborar através da repetição os excessos de estímulos traumáticos Na atualidade especialmente em relação ao fenômeno transferencial cabe uma im portante questão a transferência e outros fenômenos análogos consiste numa ne cessidade de repetição pulsional ou numa repetição de necessidades não satisfeitas no passado Compulsivo neurose do tipo obsessivo Os transtornos obsessivocompulsivos abreviadamente TOC consistem na tenta tiva do ego de anular pensamentos e senti mentos inaceitáveis pelo consciente Essa inaceitação se manifesta 1 Pela anulação por meio de outros pensamentos recurso obsessivo 2 Através de ações anulatórias que o sujeito sentese compelido a proce der intermináveis vezes compulsão É útil distinguir um ato compulsivo de um impulsivo O primeiro é acompanhado de sofrimento e resulta de uma falha na luta que o sujeito mantém contra a compulsão VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 77 Etimologicamente compulsivo deriva do verbo latino compellere que significa com pelir aquilo que impele que constrange Já o termo impulso designa uma ação súbita de surgimento ocasional acompanhada de forte estado emocional Comunicação A normalidade e a patologia da comunica ção representam um dos aspectos mais re levantes da psicanálise contemporânea Bion é o autor que mais contribuiu com concepções originais acerca dos processos de pensamento linguagem e conhecimen to que influenciam diretamente a natureza e o estilo da comunicação Esse autor de monstrou que o discurso verbal nem sem pre tem o propósito de realmente comuni car algo a alguém BION mostra que pelo contrário na situação analítica o psicana lista deve estar muito atento para as diver sas formas de distorções falsificações men tiras e ambigüidade confusional que o pa ciente inconscientemente utiliza para jus tamente não comunicar as verdades e para impedir que o analista tenha acesso a elas O fenômeno da comunicação implica a conjugação de três fatores a transmissão o conteúdo e a forma de como o sujeito emite suas informações a recepção os sig nificados que o sujeito atribui àquilo que ouve e os canais de comunicação tanto verbais como nãoverbais por onde as men sagens transitam Em relação à comunicação préverbal cabe assinalar as seguintes modalidades 1 Para verbal ou seja os aspectos que estão ao lado para do verbo muito especialmente as nuanças da voz 2 Gestual certos ges tos e atitudes dizem muito 3 Corporal de diversas formas desde a condição de bebê o corpo fala como acontece nas somatiza ções 4 Oniróide desperta imagens visu ais que às vezes na situação analítica po dem ser muito mais profundas do que o conteúdo manifesto das palavras 5 A con duta por exemplo se bem entendidos pelo analista os actings podem constituir impor tante fonte de comunicação primitiva 6 Efeitos contratransferenciais despertados na pessoa do analista podem funcionar como excelente via de acesso a aspectos incons cientes que o paciente não consegue pen sar e muito menos verbalizar Cabe acrescentar que o próprio silêncio por si só tanto do paciente como do analista pode representar uma forma de comunicar algo A propósito BION traça uma metáfora com a música ao dizer que toda peça mu sical é formada por elementos de notas intervalos notas A ausência do som isto é a presença do intervalo pode ter mais vigor e expressividade do que a nota musi cal em si Ainda em relação a BION quando descreve sua prática analítica com pacientes psicóti cos ele emprega esta frase tão bonita quan to profunda O que devemos dizer a um paciente que quer um contato físico não entendo todo esse ruído de suas palavras em meu ouvido deixeme tocálo e minha mão entenderá o que o senhor diz Ou então algum paciente pode dizer Não entendo e não me faço entender mas se você tivesse um piano aqui eu poderia to car e o senhor me compreenderia Conceito BION Esse nível de capacidade para pensar na Grade ocupa a fileira F onde designa que já existe uma condição de estabelecer cor relações entre as concepções de modo a desenvolver pensamentos abstratos que possibiltam a passagem para os níveis G e H Esses que seguem na grade e que designam respectivamente Sistema De dutivo Científico e Cálculo Algébrico já representam um alto grau de abstração Com a finalidade de não atribuir ao vo cábulo conceito uma idéia ligada unica 78 DAVID E ZIMERMAN mente a intelectualização BION sempre fez questão de aliar a noção psicanalítica de conceito à de intuição de sorte a repisar a seguinte e profunda frase Intuição sem conceito é cega conceito sem intui ção é vazio Concepção BION Na Grade de BION ocupa a fileira E desig nando que houve uma evolução do pensa mento da condição anterior de uma pré concepção Podese dizer que os pensamen tos propriamente ditos começam a partir da concepção a qual resulta de uma fecunda ção da préconcepção por uma realização tanto positiva como negativa Ver os ver betes préconcepção e realização A con quista da concepção permite a passagem para o nível seguinte da formação do pen samento a de conceito Condensação FREUD Processo mental descrito por FREUD origi nalmente em seus trabalhos sobre os so nhos Consiste numa operação psíquica pela qual muitas imagens e representações são fundidas numa única de modo que serve para driblar a censura e ao mesmo tempo permite um acesso ao simbolismo expresso no que aparece condensado se guindo as leis do processo primário Sabe se que esse processo caracterizase por um fácil deslocamento e descarga da libido As várias cadeias associativas de representa ções com os respectivos significados incons cientes produzem o que se denomina con densação ou seja numa única representa ção como pode ser determinado sintoma podem confluir todos os significados de uma cadeia associativa Essa cadeia por sua vez pode produzir novos deslocamen tos e assim sucessivamente tal como é possível observar nitidamente nos sinto mas fóbicos Conferências Brasileiras BION 1990 Traduzido para o inglês como Brazilian Lec tures é uma nova edição englobando dois anteriores Conferências Brasileiras I e Con ferências Brasileiras II de 1973 e 1974 res pectivamente É a transcrição devidamen te revista por BION dos debates que ele es tabeleceu com psicanalistas brasileiros quando de suas vindas ao Brasil De modo geral os capítulos começam com a introdução de determinado tema por par te de BION à qual seguemse as perguntas do auditório prontamente respondidas às vezes de forma bem curta outras bem lon gas Essas Conferências além de fornecer rico manancial de extensão com novas aberturas e propósitos de conceitos conhe cidos de suas obras anteriores ainda possi bilitam ao leitor um contato mais íntimo com o estilo de pensamento e de comuni cação de BION Conferência introdutória à psicanálise FREUD 19161917 Livro de FREUD que reúne a transcrição de conferências pronunciadas em 1916 e 1917 para um auditório médico algo desconhe cido e descrente das concepção freudianas da época As Conferências podem ser con sideradas um inventário simplificado das opiniões de FREUD e um retrato da situação da psicanálise na época da I Guerra Mun dial São 28 conferências no total que se distribuem no volume XV da Standard Edi tion como mostra o Quadro 1 As Confe rências introdutórias tiveram maior circula ção que quaisquer outras obras de FREUD com exceção da Psicopatologia da vida co tidiana 1901 Confiança básica ERIK ERIKSON Bastante conhecida e utilizada na literatura psicanalítica a expressão foi concebida por VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 79 ERIKSON psicanalista alemão que emigrou para os Estados Unidos filiandose à esco la da Psicologia do Ego Ensinou e praticou a psicanálise com crianças em Boston Aproximandose bastante da corrente dos psicanalistas culturalistas ERIKSON dedicou se aos problemas da adolescência tendo publicado em 1950 Infância e Sociedade que o tornaria célebre Nessa obra ERIKSON distinguiuse do freudismo clássico mostran do que o ego longe de ser uma mera ins tância psíquica ou um departamento deri vado do id podia ser receptivo a todas as mudanças sociais Daí sua tese segundo a qual a cada etapa de sua evolução o su jeito podia fazer uma escolha baseada na confiança ou na desconfiança Apesar de ter o conceito confiança básica sido formu lado mais conectado com a dimensão dos interrelacionamentos do sujeito com a so ciedade a expressão costuma ser utilizada pelos analistas em geral com o significado do desenvolvimento de núcleos internos logo no próprio self Conflito psíquico FREUD Forças e exigências internas opostas exis tentes na mente que não se harmonizam entre si Podem por exemplo ser de uma oposição entre dois sentimentos conflitan tes ou de dois desejos simultâneos e con traditórios ou ainda um desejo id que não recebe a aprovação da censura moral su perego etc Segundo FREUD os conflitos psíquicos podem ser latentes ou manifes tos Um conflito latente pode se manifestar por derivados como o do surgimento de sin tomas psicóticos somatizações etc ou por algum transtorno de conduta como actings excessivos psicopatia atos perversos etc Num primeiro momento sua concepção de conflito incidia na oposição do ego e do superego aos desejos libidinais e o conflito se desenrolava entre o sistema consciente préconsciente versus inconsciente Quadro 1 Conferências Introdutórias à Psicanálise Vol XV XVI Conf I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII XXIV XXV XXVI XXVII XXVIII Título Atos falhos Atos falhos Atos falhos Atos falhos Sonhos Dificuldades e abordagens iniciais As premissas e a técnica da interpretação O conteúdo manifesto e os pensamentos latentes do so nho Sonhos infantis A censura dos sonhos Simbolismo nos sonhos A elaboração dos sonhos Algumas análises de exem plos de sonhos As características arcaicas e o infantilismo dos sonhos Satisfação dos desejos Incertezas e críticas Teoria geral das neuroses Psicanálise e psiquiatria O sentido dos sintomas Fixação aos traumas O in consciente Resistência e recalcamento A vida sexual dos seres hu manos O desenvolvimento da libi do e das organizações geni tais Algumas considerações so bre desenvolvimento e re gressão Os caminhos para a forma ção de sintomas O estado neurótico comum Angústia A teoria da libido e o narci sismo Transferência Terapia analítica 80 DAVID E ZIMERMAN Em resumo o conflito psíquico pode ter distintas abordagens como a usada na teoria topográfica ou na teoria estrutu ral São exemplos do primeiro caso o consciente opondose ao inconsciente o processo primário ao secundário etc Do segundo podese mencionar pulsões do id em conflito ora contra defesas do ego ora contra as ameaças do superego e outras vezes alguma pulsão do id como a de vida está em conflito com outra pulsão como a de morte o princípio do prazer contra o princípio de realida de e viceversa Na atualidade a noção de conflito psíqui co estrutural deve incluir a noção das ex pectativas provindas do ideal do ego e do ego ideal assim como os autoboicotes oriundos de uma organização patológica que age de dentro do self e contra ele Da mesma forma é importante considerar os conflitos intrapsíquicos que se estabelecem entre diferentes partes do self que habitam um mesmo self como pode ser o de uma parte psicótica da personalidade contra a parte nãopsicótica conforme BION o da parte infantil contra a parte adulta o de uma parte sadia em confronto com outra per versa etc Além desses conflitos interpessoais a psi canálise contemporânea está valorizando sobremaneira os conflitos intrapessoais e os transpessoais levando em conta o fato de que o excesso de exigências no ritmo acelerado imposto pela cultura do exi tismo requerido pela sociedade moder na entra em conflito com os inevitáveis limites do ego de qualquer indivíduo ou grupo A partir de Além do princípio do prazer 1920 FREUD incluiu a pulsão de morte ampliando bastante o espectro dos confli tos psíquicos especialmente quando a pul são de morte fica desfundida da fusão na tural que deve ter em situações normais com a pulsão de vida Confusão de Linguagens entre o Adul to e a Criança FERENCZI 1933 Título de um de seus mais importantes tra balhos em que FERENCZI estuda o proble ma dos traumas sofridos pelas crianças nos inícios do desenvolvimento emocional FE RENCZI elaborou a sua teoria do trauma a partir da situação da violência sexual co metida por parte de um adulto Ao brincar com um adulto normalmente a criança o faz dentro de um jogo lúdico em que suas fantasias estão presentes inclusi ve as eróticas ligadas à conflitiva edípica A genitália porém está ausente de sorte que se estabelece uma linguagem da criança com o adulto com o qual ela brinca que FERENCZI chamou de linguagem da ternura No entanto pode acontecer que a essa lin guagem de sedução sadia por parte da criança algum adulto pode responder com outra linguagem a da paixão genital As sim fazendo uma confusão de linguagens o adulto cria uma desestruturação no psi quismo da criança porquanto empresta um significado de perversão genital àquilo que era uma perversão prégenital da criança Uma conseqüência daninha comum de si tuações como a descrita consiste no fato de que submetida a violências sexuais recor rentes não faz com que essa criança se oponha ao agressor Pelo contrário costu ma identificarse com ele revertendo a pas sividade em atividade caracterizando uma identificação com o agressor conforme des crito por ANNA FREUD Confusional estado Aparece com bastante freqüência quer na situação analítica quer fora dela Descon tando os casos em que a confusão mental se deve a causas orgânicas ou a uma psico se franca podese apontar quatro situações que determinam um estado confusional prejudicial para o sujeito Há uma quinta VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 81 que do ponto de vista da situação analíti ca pode ser considerada um sinal de pro gresso Assim 1 A confusão do sujeito pode estar expressando uma forte predominân cia da posição narcisista com a permanên cia de uma simbiose nas interrelações logo uma indiscriminação entre o eu e o outro de acordo com a formação da palavra con fusão que atesta a prevalência de uma recíproca fusão no lugar do que deveria ser uma adequada capacidade do ego de dis criminação 2 O ego do sujeito não conse gue processar uma exitosa dissociação en tre as pulsões amorosas e as destrutivas e ou entre os objetos bons e os persegui dores 3 Existe um uso excessivo por parte do ego da defesa da identificação projeti va seguida de reintrojeções de sorte que fica difícil distinguir quem é quem 4 Na situação analítica pode acontecer que o dis curso confuso do paciente esteja não só de notando sua confusão interna como pode estar a serviço de uma inconsciente tentativa de deixar seu analista confuso através de um ataque a sua capacidade perceptiva logo in terpretativa 5 A situação indicadora de um progresso analítico embora em meio a um penoso estado confusional do paciente ocorre quando essa confusão esteja expressando a transição de um estado mental para outro mais desenvolvido Por exemplo de uma po sição esquizoparanóide para uma depressi va de uma posição de falso self para uma de verdadeiro self e assim por diante Cognitivocomportamental Corrente psicoterapêutica comportamenta lista behaviorista de expressiva aceitação em muitos meios Visa a três objetivos prin cipais 1 Reeducação em nível conscien te das concepções errôneas do paciente 2 Treinamento de habilidades comportamentais por exemplo um obeso desenvolver táticas para evitar o consumo exagerado de alimen tos 3 Modificação no estilo de viver Confusões geográficas e zonais MELTZER Estado primitivo da mente que MELTZER 1967 num outro registro denomina con fusão geográfica a qual resulta de um ex cesso de identificações projetivas que gera uma confusão não só entre o interior e o exterior do objeto mas também entre reali dade externa e realidade psíquica Em seu primeiro livro O Processo Psicanalítico 1967 MELTZER descreve a evolução gra dativa da transferência em uma análise como um processo e com uma história pró pria que transita por quatro etapas A primeira seria a coleta da transferência A segunda a de confusões geográficas na qual o paciente utiliza o analista para nele depositar por meio de identificações pro jetivas as angústias e emoções intoleráveis Aí MELTZER introduz o termo seio latrina como metáfora do processo que durante esse período rege a forma de deposição e o destino das fantasias inconscientes do analisando A terceira etapa é a de confusões zonais na qual podem ser analisadas as angústias e os conflitos que participam dos processos edípicos e préedípicos em especial os relaci onados com as funções atributos e usos que são conferidos na fantasia às zonas eróge nas como o seio boca ânus pênis etc Se essa terceira etapa for exitosamente ana lisada passase para a quarta que MELTZER denomina umbral da posição depressiva Congelamento da situação de fracas so WINNICOTT Segundo WINNICOTT a repetição das falhas ambientais precoces resulta num congela mento da situação de fracasso no qual tudo ocorre como se nesse momento tivesse ocorrido um acúmulo de idéias recorda ções e sentimentos relacionados entre si Esse acúmulo segundo o autor expressa ria a esperança de que no futuro possa 82 DAVID E ZIMERMAN surgir um meio favorável para que todas essas sensações de experiências emocionais mal resolvidas possam ser reexperimenta das e superadas Nas palavras textuais do próprio WINNICOTT 1954 Na teoria do desenvolvimento do ser humano deve in cluirse a idéia do que é normal e sadio que o indivíduo possa defender o self contra um fracasso específico do meio ambiente me diante o congelamento da situação de fra casso Com isso irá a suposição inconsci ente suscetível de se converter em uma esperança consciente de que mais adian te terá a oportunidade de uma experiência renovada na qual a situação de fracasso possa ser descongelada e reexperimentada com o indivíduo em estado de regressão em um meio que esteja realizando uma adaptação adequada Portanto confirmo a teoria de que a regressão é parte de um processo curativo Conhecimento BION Designa ao mesmo tempo uma importan te função do ego e um tipo de vínculo BION foi o autor que mais estudou esse aspecto da vida psíquica com o enfoque de víncu lo sempre presente nas relações do sujeito com os outros e consigo mesmo ao lado dos outros dois vínculos o do amor e o do ódio Em algum grau os três vínculos são indissociados ora predominando um ora outro conforme as circunstâncias BION de signa esse vínculo com a letra K inicial do termo inglês knowledge Nos textos em português ou espanhol costuma aparecer com as letras C ou S respectivamente ini ciais de conhecer e saber Como fez com os outros dois vínculos fundamentalmente BION valorizou sobretudo o aspecto K ou seja a antiemoção a oposição à função de querer conhecer Logo o sinal negativo de K indica um estado mental do sujeito em não querer conhecer as verdades penosas tanto as externas como as internas Essa abordagem de BION introduziu os analistas no importantíssimo problema relativo ao uso que as pessoas fazem da verdade ou das suas diversas formas de distorções fal sificações e graus de negação Conjectura BION BION utiliza a expressão conjectura imagina tiva para designar o exercício de uma ima ginação especulativa sem compromisso com o rigor científico isto é deixar livre a imagememação como as que ele fez acerca do psiquismo fetal enquanto o conceito de conjectura racional exige uma fundamentação em fatos de comprovação científica Conjunção constante BION Configuração de fatos que estão sempre presentes no psiquismo e interagindo em toda relação que seja do tipo continente conteúdo Inspirado no matemático D HUME BION utilizou esse termo para con ceituar as suas hipóteses acerca do desen volvimento dos pensamentos Conluio inconsciente conceito de prática clínica O estado resistencialcontraresistencial mais sério e esterilizante de uma análise é o que se manifesta sob a forma de conluios inconscientes aos conscientes é mais apro priado chamar de pactos corruptos Tais conluios podem adquirir muitas modalida des como é o caso dos que seguem 1 Uma muda combinação inconsciente entre paci ente e analista no sentido de evitarem a abordagem de certos assuntos difíceis para ambos 2 Uma recíproca fascinação narci sista que às vezes atinge um estado de encantamento mútuo impossibilitando a análise de aspectos agressivos 3 Uma re lação de poder sob uma forma sadomaso quística disfarçada 4 Uma aliança simbió VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 83 tica quando buscando novasvelhas ilu sões ambos se empenham em promover recíprocas e inesgotáveis gratificações re forçando a eterna fantasia de que o im possível um dia se concretizará 5 BION cha ma a atenção para outra forma de conluio resistencialcontraresistencial muito dani nha devido a sua natureza silenciosa e de teriorante um conformismo com a estag nação da análise portanto em um estado de apatia entre ambos 6 MELTZER alerta para o risco de um conluio perverso que consis te num enredamento do analista num jogo de seduções por parte de pacientes com características perversas 7 Entre as possi bilidades de um conluio perverso sobressai a de natureza erotizada não é a mesma coisa que transferência erótica Consciente FREUD Ao formular a teoria topográfica palavra derivada do étimo grego topos lugar FREUD descreveu o aparelho psíquico como com posto por três sistemas o inconsciente Ics o préconsciente Pcs e o consciente Cs Algumas vezes denomina o último sistema percepçãoconsciência O sistema consciente tem a função de rece ber informações relativas às excitações pro vindas do exterior e do interior que ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer eou desprazer que causam cujas representações processamse no sistema inconsciente Assim em sua maior parte as funções perceptivocognitivomotoras do ego como as de percepção pensamento juízo crítico evocação antecipação conhe cimento atividade motora etc operam no sistema consciente embora intimamen te conjugadas com o sistema inconsciente com o qual comumente estão em oposição Na prática psicanalítica contemporânea indo além do paradigma estabelecido por FREUD de tornar consciente aquilo que for inconsciente ampliase essa afirmativa com a noção introduzida por BION de que mais importante é a maneira de como o consciente e o inconsciente do paciente comunicamse entre si Consideração WINNICOTT O termo concern traduzido em português tanto por consideração quanto por preocu pação foi usado por WINNICOTT para desta car os sentimentos positivos do bebê em relação à mãe não necessariamente ligados ao sentimento de culpa E muito menos sem que os possíveis sentimentos culposos ligados a uma consideração e preocupação pela mãe sejam devido às pulsões sádico destrutivas ligadas a uma inveja primária tal como foi postulado por M KLEIN Dessa maneira esse conceito de Winnicott ganha importância na prática clínica por que estabelece importante diferença entre o conceito kleiniano de reparação e o de uma natural consideração pelo outro Constância princípio da FREUD Como decorrência direta da necessidade de livrarse dos estímulos desprazerosos quan do está dominado pelo princípio do prazer o psiquismo tende a reproduzir o mesmo recurso que a medicina estuda sob o nome de princípio da homeostase biológica Isto é existe a necessidade da busca de um per feito equilíbrio das tensões provenientes de distintas partes do próprio organismo hu mano De forma análoga o princípio da constância visa à obtenção da menor tensão psíquica possível tanto pelo recurso de evitação e afas tamento da fonte de estímulos desprazerosos como por via de uma descarga que possibili te uma nivelamento equilibrador O princípio da constância também é conhe cido como princípio de Nirvana mas é útil estabelecer uma diferença entre ambos tal como aparece no verbete Nirvana 84 DAVID E ZIMERMAN Constância objetal M MAHLER Expressão bastante utilizada por MARGARE TH MAHLER na descrição das sucessivas eta pas e subetapas do desenvolvimento de uma criança A constância objetal seria a quarta etapa que surge entre os dois e três anos e se carateriza pelo fato de durante esse período a criança aprender a expressarse verbalmente e a começar a desenvolver a noção de tempo conferindolhe uma crescen te capacidade de tolerar a demora da gratifi cação e de suportar a separação Fundamentalmente a constância objetal consiste em obter que o estabelecimento de representações mentais do self da criança fiquem distintamente separadas das repre sentações dos objetos pois estes por esta rem introjetados de forma estável e serem de suficiente confiabilidade constante per mitem que a presença real da mãe não seja mais tão imperativa Construções em Análise FREUD 1937 Artigo de FREUD constituído de três partes I Ajuda do analista para livrar os recalcamen tos II Formas diretas e indiretas de confir mar a interpretação III Diferenciação entre verdade histórica e a subjetiva do paciente A parte I parte de historiais clínicos a do Homem dos Ratos a do Homem dos Lobos e a história do caso de uma moça homossexual para destacar a importância da ajuda do analista para livrar o analisan do dos recalcamentos Nessa parte consta a célebre frase o tra balho de construção ou reconstrução do analista em muito se assemelha à tarefa de escavação de um arqueólogo numa habi tação ou edifício antigo que tenha sido des truído e soterrado Só através da técnica analítica é possível trazer à luz o que está completamente oculto Ainda nessa primeira parte FREUD adverte os analistas para não incorrerem na crítica que então muitos faziam à atividade de o analista interpretar sempre querendo ter a razão na base de se der cara ganho eu se der coroa você perde Na parte II o enfoque é na avaliação das reações do paciente à construção interpre tativa do analista O autor enfatiza especi almente as formas diretas e indiretas de o paciente confirmar ou não a validade da interpretação A parte III é dedicada a estabelecer uma diferenciação entre a verdade histórica e a que é própria da subjetividade do pacien te como acontece nos delírios O trabalho em causa está publicado no vo lume XXIII da Standard Edition Brasileira Conteúdo manifesto conteúdo latente FREUD Ver o verbete sonho Continente BION Na psicanálise contemporânea a noção de continente adquire uma relevância ex traordinária Cunhada por BION o nome original inglês é container a palavra de signa a capacidade da mãe ou do tera peuta na situação analítica de conter as necessidades angústias e demandas do seu bebê ou do paciente por parte do analista De acordo com sua etimologia continente vem do verbo latino contine re que significa conter na situação ana lítica essa função consiste mais precisa mente nos seguintes passos 1 Acolher seu paciente venha ele como vier BION chama a esse estado mental receptivo in condicional como revêrie 2 Aceitar e conter a carga de identificações projeti vas que o paciente deposita na mente do analista 3 Descodificar seu conteúdo 4 Reconhecerlhes o significado e o senti do 5 Dar um nome àquilo que o pacien te projeta e que ainda não tem para defi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 85 nir o que ele sente e o que faz 6 Devol ver ao paciente o conteúdo daquilo que ele projetou no continente do analista em doses parceladas devidamente desinto xicadas e nomeadas através da ativida de interpretativa Comentário Creio útil propor mais qua tro aspectos relativos ao conceito de conti nente do analista 1 O analista não deve confundir sua função de continente que é um processo ativo com o papel de recipi ente situação em que serviria unicamente como depositário de evacuações mentais do paciente 2 Um aspecto particularmen te importante na prática analítica inerente ao continente é sua função de custódia Isto é a de o analista guardar dentro de si du rante um tempo às vezes bastante prolon gado aquilo que o paciente projeta nele até existirem condições de o paciente rece ber de volta o que deixou em custódia ago ra devidamente elaborado e nomeado 3 Cabe incluir a noção de subcontinentes ou seja um analista pode servir como um ex celente continente para determinados aspectos do paciente digamos agressivos ou eróticos enquanto é possível que falhe na contenção de outros tipos de afeto nele projetados como por exemplo os de na tureza depressiva 4 Quando se fala em continente logo se pensa na capacidade de conter o que vem dos outros No en tanto a condição de autocontinência por parte do analista é única forma de possi biltar ao paciente uma exitosa aquisição dessa capacidade Continenteconteúdo relação BION Coerente com sua concepção de que toda análise é sempre um processo vincular BION postulou que o continente é o lugar do psi quismo do analista ou da mãe com o seu filho onde o paciente vai colocar o conteúdo muitos chamam de contido um conjunto de necessidades angústias e objetos Essa relação continenteconteúdo é repre sentada graficamente por BION com signos do masculino e do feminino numa maneira de dizer que algo penetra ativa mente em um lugar que ou permite e acolhe a penetração ou não permite re chaçandoa Ao descrever os vínculos humanos BION descreve três modalidades 1 Parasitária termo tirado da biologia que designa a condição em que somente um dos dois vin culados se beneficia enquanto o outro cor re o risco de vir a ser destruído 2 Comen sal de acordo com a etimologia partilhar a mesma mesa alude a uma relação har mônica porém morna entre hóspede e hospedeiro 3 Simbiótica termo também emprestado da biologia indica que o vín culo interpessoal é harmônico com recí proca troca de benefícios Continuidade existencial ou continui dade do ser WINNICOTT WINNICOTT enfatiza textualmente que A mãe que desenvolve o estado a que denominei preocupação materna primária fornece um setting para que a constituição do bebê possa aparecer as tendências do desenvol vimento se revelem e para que o bebê ex perimente movimentos espontâneos domi nando as sensações apropriadas a essa fase precoce da vida De acordo com essa tese uma provisão ambiental suficiente mente boa na fase inicial possibilita ao bebê dar início a uma existência a experimen tar a constituir um ego pessoal a dominar as pulsões e enfrentar todas as dificuldades inerentes à vida Todas essas coisas são sen tidas como reais pelo bebê que é capaz de possuir um self que finalmente podese dar ao luxo de sacrificar a espontaneidade e até morrer WINNICOTT faz questão de realçar que a pre ocupação materna primária constituise como o primeiro ambiente facilitador no 86 DAVID E ZIMERMAN qual o bebê consegue ser e crescer transi tando de forma exitosa de um estado de dependência absoluta para o de uma de pendência relativa e daí o de um rumo à independência Contra Na literatura psicanalítica esse vocábulo comparece com grande freqüência como prefixo de inúmeras expressões psicanalíti cas ora com o significado de oposição como em contrafobia por exemplo ora significando uma contrapartida como por exemplo em contratransferência Seguem algumas das expressões mais correntes Contraacting ou contraatuação Fenômeno pelo qual os actings do pacien te ou seu discurso provocador conseguem mobilizar o analista a de forma análoga à do paciente igualmente cometer atuações Contracatéxis ou contrainvestimento FREUD Expressão utilizada por FREUD para defi nir que o aparelho psíquico a fim de man ter as repressões inacessíveis ao consci ente mobiliza uma energia contrária e de igual força à que foi gasta para a repres são no inconsciente O contrainvestimen to não é exclusivo para a manutenção da repressão aparecendo em inúmeros ou tros mecanismos defensivos como isola mento anulação e nos processos de ne gação em geral Contraego Embora não exista na literatura psicanalíti ca entendi ser útil incluir essa expressão porque ela vem obtendo uma boa resposta dos leitores dos textos em que a tenho em pregado Como sua composição sugere contraego designa a condição na qual parte do próprio ego sabota e impede o cresci mento do restante da personalidade do su jeito Essa expressão pretende sintetizar muitas das distintas formas que têm sido des critas por diferentes autores relativamente a esse fenômeno de especial importância para a técnica e a prática psicanalítica e das quais damos a seguir alguns exemplos FAIRBAIRN 1941 referia o fenômeno como ego sabotador ROSENFELD 1971 descreveu a gangue nar cisista um conjunto de objetos que sob a forma de ameaças e falsas promessas qual uma máfia impede que o paciente reco nheça e assuma um lado seu de criança frágil mas que movido pela pulsão de vida pugna por se libertar e crescer STEINER 1981 dá o nome muito apropria do de organização patológica aludindo a um conluio perverso entre partes distintas do self BOLLAS 1997 refere o estado fachista uma organização interna que promete o paraí so se o sujeito comportarse de determina da maneira porém o ameaça com o infer no se de alguma forma desobedecer aos ditames impostos Outras formas de contraego poderiam ser acrescentadas Citamos o caso de uma obe diência a determinado papel conferido ao sujeito pelos pais por exemplo o de ser um eterno companheiro da mãe em que ocorre um protesto de seu próprio ego quando ele quer se emancipar Isso acon tece em algumas reações terapêuticas ne gativas diante de um êxito analítico Contrafobia É bastante freqüente que o psiquismo de um fóbico como um recurso extremo de espantar seu medo ordene que ele não evite a situação fobígena mas que pelo contrário a enfrente com uma aparência de destemor e intrepidez VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 87 Contraidentificação projetiva GRIN BERG Cunhada pelo psicanalista argentino L GRIN BERG a expressão designa o fato de o ana lista ficar impregnado com as cargas maci ças das identificações projetivas do pacien te Fica assim sendo dirigido passivamen te a sentir e a executar determinados pa péis Esse fenômeno constituise como o fator fundamental à formação da contra transferência Contraresistência conceito de técnica Caída num certo desuso com a crescente ênfase na psicanálise vincular a expressão está voltando a aparecer com maior regu laridade nos textos psicanalíticos concernen tes à técnica O aspecto mais importante do movimento resistencial do analista em ressonância com as resistências do pacien te diz respeito ao risco da formação de di versos tipos de conluios resistenciaiscon traresistenciais tal como está descrito no verbete conluio inconsciente Contratransferência conceito de técnica FREUD foi o primeiro autor a utilizar essa ex pressão em 1911 num congresso de psi canálise realizado em Nürenberg porém conceituoua como um fenômeno que atra palharia a análise e afirmou que estes sen timentos provindos de um analista seriam uma prova de que ele estaria necessitado de mais análise Talvez por essa razão salvo raras exceções esporádicas o fenômeno contratransferen cial durante quatro décadas não aparecia manifesto nos trabalhos dos analistas Uma dessas exceções foi o corajoso texto de WIN NICOTT 1947 intitulado O ódio na con tratransferência onde ele encara com na turalidade a emergência desse sentimento no analista diante de certos pacientes ex tremamente regressivos Alguns poucos anos após por volta de 1950 trabalhando separadamente tanto PHEIMANN na Inglaterra como RACKER na Argentina trouxeram a valiosíssima contri buição à possibilidade de o sentimento con tratransferencial constituir um excelente ins trumento de empatia do analista com o que se passa no mundo interno do paciente Uma polêmica entre autores psicanalíticos gira em torno da questão da contratransfe rência deve ficar restrita unicamente à rea ção do analista frente ao que o paciente mobiliza nos seus núcleos inconscientes ou toda resposta emocional do analista duran te a situação analítica deve ser considera da como um processo contratransferencial Comentário Alguns aspectos merecem ser destacados 1 Existe o risco de se con fundir o que é contratransferência com o que não é mais do que uma transferência do próprio analista 2 O sentimento con tratransferencial pode adquirir uma dimen são patogênica com o analista perdido e envolvido na situação criada ou pode ser uma excelente bússola empática 3 É im portante que o analista possa conviver com naturalidade com os seus sentimentos con tratransferenciais dificílimos por exemplo de medo tédio paralisia impotência ero tização raiva etc sem sentir vergonha e culpas de modo a poder assumir e refletir sobre o que eles representam no vínculo 4 Assim podese dizer que a contratransfe rência apresenta uma perspectiva tríplice como um possível obstáculo como instrumen to e como integrante do campo analítico Contribuições à Psicanálise MKLEIN 1947 Com o título original Contributions to PsychoAnalysis é uma coletânea de arti gos escritos no período de 1921 O desen volvimento de uma criança até 1945 O complexo de Édipo à luz das ansiedades primitivas 88 DAVID E ZIMERMAN No prefácio da edição castelhana Contri buciones al Psicoanálisis 1964 a autora esclarece que este livro complementa meu Psicanálise de Crianças 1934 Mostra que minha obra se desenvolveu gradualmente e que as conclusões teóricas foram o resul tado de observações clínicas Nesse mes mo prefácio M KLEIN enaltece a introdução que fez em 1920 da técnica dos jogos e brinquedos como meio substituto da li vre associação de idéias preconizada por FREUD e reconhece a decisiva importância e influência de FERENCZI e de ABRAHAM Nessa obra aparecem os 18 trabalhos fun damentais da obra de M KLEIN entre eles O papel da escola no desenvolvimento li bidinal da criança 1923 Estágios pre coces do conflito edípico 1928 A impor tância da formação de símbolos no desen volvimento do ego1930 Uma contribui ção à psicogênese dos estados maníacode pressivos1934 O luto e sua relação com os estados maníacodepressivos 1940 Contribuições à Psicologia do Amor Freud 1910 Reunindoos sob essa denominação FREUD agrupou um conjunto de trabalhos seus tra tando do amor escritos em diferentes épo cas Neles também é possível perceber como o gênio de Viena encarava a sexuali dade masculina O primeiro desses trabalhos é Sobre um tipo particular de eleição de objeto no ho mem 1910 que estuda a forte preferên cia por mulheres de caráter duvidoso de certos indivíduos que tendem mesmo a enamorarse das assim chamadas mulhe res fáceis que lhes provocam intensos ci úmes FREUD destaca que ante o naufrágio da relação amorosa geralmente inevitável os indivíduos tendem a envolverse em ou tras relações de características muito pare cidas Ademais ante essas mulheres levia nas o enamorado exalta sua própria auto exigência de fidelidade que a rigor rara mente cumpre Observase também a fan tasia de resgatar a amada das condições indignas em que vive Segundo FREUD os ciúmes reproduzem o padecimento do me nino ignorado e excluído ante a intimida de do casal parental Um trabalho posterior do autor Sobre a mais generalizada degradação da vida amo rosa 1912 tenta mostrar que a impotên cia psíquica do homem com algumas mu lheres e não com outras se deve a uma fixação incestuosa à mãe e à irmã A terceira das Contribuições à psicologia do amor é O tabu da virgindade 1917 onde FREUD estuda a atitude de diferentes culturas primitivas ante o defloramento da mulher Descobre o surpreendente fato de que em muitas delas a tarefa não é do marido sendo delegada a alguma autori dade que a realiza através de instrumen tos ou simplesmente através do coito Daí FREUD conclui que em certos povos pri mitivos a mulher constitui um tabu e que desperta horror porque ativa o complexo de castração do varão Na nossa cultura pelo contrário o homem costuma pavonearse quando executa um desvirginamento o que pode sugerir que nesse ato o sujeito visa a afirmar sua masculinidade e evitar o horror à castração tentando convencerse que castra do é algum outro e não ele Ainda em relação à patologia amorosa por parte do homem FREUD produziu os arti gos Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 em que estuda o problema da homossexualidade O feti chismo 1927 no qual aborda o quanto o ego do sujeito se cinde numa parte que reconhece a castração e noutra que a repu dia assim mantendo a convicção de que a mulher possui pênis logo não está castra da No historial clínico do Homem dos lo bos 1918 volta a estudar o complexo de castração do menino e o horror ante a falta de pênis na mulher VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 89 Controle diversos tipos de Muito freqüente na literatura psicanalítica o termo controle é usado com quatro acep ções distintas como as que seguem enu meradas 1 Controle de caso de análise O vocábulo era empregado para definir o que hoje é correntemente denominado supervisão sis temática de acompanhamento de casos em análise geralmente por parte dos analistas candidatos em formação nos institutos de psicanálise Embora ainda algo utilizado o termo controle nessa acepção está prati camente abolido em vista do caráter supe regóico que sugere 2 Controle onipotente Expressão introdu zida por M KLEIN para designar um recurso primitivo do bebê o qual pode manterse fixado em muitas personalidades adultas Essa onipotência se sustenta com as fanta sias inconscientes do bebê de que ele tem a posse absoluta da mãe que pode invadir seu interior se apossando dos seus tesou ros isto é do pênis do pai das fezes e principalmente dos outros bebezinhos de que no seu imaginário a mãe estaria re pleta Visto de outros ângulos podese dizer que a o controle onipotente é uma característi ca dos sujeitos que funcionam predominan temente numa posição narcisista isto é adultos que ainda mantêm a crença mági ca de que o mundo é que gira em torno deles b BION aponta que o controle onipo tente está sempre presente na parte psicóti ca da personalidade e se forma por meio do uso exagerado do que ele chama de identificações projetivas excessivas 3 Controle maníaco Também é um con ceito introduzido por M KLEIN que ao estu dar as defesas maníacas descreveu três mecanismos básicos o controle o triunfo e o desprezo Essa tríade maníaca se organi za defensivamente como negação maciça contra o sentimento de inveja o reconhe cimento da dependência e sobretudo con tra a tomada de contato com sua depres são subjacente Nessa situação de controle maníaco quando o sujeito pretende con trolar tudo e todos na verdade está se de fendendo contra as angústias persecutó rias e depressivas 4 Controle obsessivo Esse aspecto apare ce mais nitidamente nas relações vincula res interpessoais como na de um casal por exemplo em que um dos cônjuges exerce um controle tirânico e sufocante sobre o outro Isso pode deverse a diversas razões ciúme patológico medo ou inveja do cres cimento do outro forte angústia de separa ção uma forma perversa de manter um vín culo de apoderamento etc Controvérsias na Sociedade Psicana lítica Britânica No período de 1943 a 1944 agudizaramse as divergências entre as concepções teóri cotécnicas de M KLEIN e A FREUD acerca da análise com crianças A primeira postu lava que o uso de brinquedos deveria per mitir um acesso do analista ao inconsciente das criancinhas e que tal como na análise de adultos deveria trabalhar com as ansie dades decorrentes das primitivas fantasias inconscientes ANNA FREUD que também utilizava brinque dos e jogos criticava acerbamente o modo de M KLEIN analisar crianças Advogava que deveria ser dado um enfoque pedagógico à análise com crianças o que por sua vez igualmente mereceu duras críticas de KLEIN Com o envolvimento dos seguidores e par tidários de uma ou da outra delas a situa ção chegou a um ponto tal que represen tou uma séria ameaça de uma cisão defini tiva na Sociedade Britânica de Psicanálise A situação somente foi contornada através do que ficou sendo conhecido como um acordo de cavalheiros embora tivesse sido subscrito por três mulheres A FREUD 90 DAVID E ZIMERMAN M KLEIN E S PAYNE então presidente da Sociedade Desse acordo resultou a formação de três grupos o kleiniano o anafreudiano hoje chamado de Freudianos Contemporâneos e um grupo intermediário inicialmente deno minado Middle Group que na atualidade é conhecido como Grupo Independente Conversando com Bion Conferênci as de Bion 1992 Livro que reúne conferências na verdade debates em torno de questões levantadas pelo auditório pronunciadas em São Pau lo Brasília Los Angeles e Nova York Para quem quiser se familiarizar mais inti mamente com as idéias de BION é de leitu ra obrigatória pelas ininterruptas indaga ções surpresas e instigantes reflexões que desperta no leitor Corpo Antes de todos FREUD atribuiu um papel fundamental à representação do corpo no psiquismo desde a condição de criancinha como pode ser comprovado com o seu clás sico aforismo de que o ego antes de tudo é corporal Autores de todas as correntes analíticas têm se detido nos aspectos do de senvolvimento emocional primitivo direta mente ligado às funções corporais É justo dar um destaque ao Instituto de Psicosso mática de Paris com os avançados estudos sobre a relação mentecorpo e também às contribuições de LACAN que se deteve na imagem que a criança faz de seu corpo durante a etapa do espelho A prática clínica com pacientes bastante regredidos atesta através de sintomas e si nais os mais diversos o quanto o corpo tem representação no ego primitivo e pode manifestarse de múltiplas maneiras como conversões somatizações angústia de des pedaçamento alucinoses ditorção perma nente da imagem corporal etc Conversão FREUD FREUD estudou o fenômeno conversivo em suas pacientes marcadamente histéricas Como diz o nome conversão consiste no fato de que afetos reprimidos e proibidos de emergirem no consciente tal como acon tece com a deformação simbólica dos so nhos aparecem disfarçados convertendo se em sintomas corporais sob duas vias a através dos órgãos dos sentidos caso da ce gueira histérica surdez perda de tacto etc b por manifestações no sistema nervoso vo luntário contraturas musculares paralisias motoras hipo ou hiperestesias etc Correntes psicanalíticas Ver o verbete escolas de psicanálise Couraça caractereológica W REICH Expressão criada por WREICH cujo concei to está descrito no verbete caracterológica couraça Crescimento mental BION Por achar necessário estabelecer nítidas di ferenças filosóficas e técnicas com o que se passa no campo da medicina como tam bém porque nunca existe uma resolução completa do que se passa no abstrato mun do do psiquismo BION evita o uso do clás sico termo cura para o tratamento psicana lítico Prefere a expressão crescimento men tal que empresta uma noção mais dinâmi ca e nunca terminável dentro do sujeito O modelo clássico de cura pode ser repre sentado com a metáfora de um funil aber to cheio de conflitos quando se inicia a análise e que quando termina chegam à extremidade fina terminal do funil Pode se dizer que BION inverte o funil de modo que à medida que progride a análise o paciente expande mais o funil qual um universo em expansão porquanto mais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 91 aumentam sua curiosidade e suas indaga ções acerca do mundo e de si mesmo Para melhor esclarecer o seu conceito de crescimento mental BION utiliza o esclare cedor modelo de uma espiral uma helicoi dal num continuado movimento ascenden te e expansivo de sorte que o paciente pode trazer o mesmo assunto centenas de vezes Importante é que o analista discrimine se o relato é circular isto é repetese da mes míssima forma ou tratase de um movimen to espiralar no qual os assuntos voltam ao mesmo ponto porém num plano um pou co acima Criança é espancada Uma FREUD 1919 O título completo desse conhecidíssimo tra balho de FREUD é Uma criança é espanca da uma contribuição para o estudo das perversões sexuais Publicado no volume XVII p225 da Standard Edition Brasileira sua maior parte consiste de uma investigação clínica muito detalhada a respeito do proble ma do masoquismo correlacionandoo com as fantasias inerentes à sexualidade O artigo dividese em seis partes Além do masoquismo FREUD faz considerações acer ca do sadismo da masturbação e das per versões em geral Crianças sábias FERENCZI Termo que aparece no trabalho Confusão de Língua entre os Adultos e a Criança 1933 em que FERENCZI prossegue um es tudo anterior acerca do que ele denominou bebê sábio no qual refere que uma criança ainda no berço põese subitamente a falar e até a mostrar sabedoria a toda a família Afirma que o medo diante de adultos en furecidos de certo modo loucos transfor ma por assim dizer a criança em psiquia tra para protegerse do perigo que repre sentam os adultos sem controle ela deve em primeiro lugar saber identificarse por completo com eles É incrível o que pode mos realmente aprender com as nossas crianças sábias os neuróticos Prossegue FERENCZI Existe um terceiro meio de se prender uma criança é o terro rismo do sofrimento As crianças são obri gadas a resolver toda espécie de conflitos familiares e carregam sobre seus frágeis ombros o fardo de todos os outros mem bros da família Uma mãe que se queixa continuamente de seus padecimentos pode transformar seu filho pequeno num auxili ar para cuidar dela ou seja fazer dele um verdadeiro substituto materno sem levar em conta os interesses próprios da criança Crianças psicanálise de Indiretamente a psicanálise de crianças des lanchou no início do século XX quando FREUD evidenciou o papel fundamental da sexualidade infantil no destino humano Propôs a seu amigo e discípulo MAX GRAF que sob a sua orientação analisasse seu filho Herbert Graf do que resultou o céle bre Caso clínico do Pequeno Hans Aliás FREUD sempre foi um grande incenti vador da prática da análise com crianças o que pode ser medido não só pelo incentivo que deu a sua filha ANNA como pode ser evidenciado nessa frase que faz parte do seu prefácio para o livro de AUGUST AICHORN 1925 Juventude abandonada A criança se tornou o objeto principal da pesquisa psicanalítica Tomou assim o lugar do neu rótico primeiro objeto dessa pesquisa Na história da psicanálise o papel de ana listas de crianças coube inicialmente às mulheres que se constituíram como as prin cipais pesquisadoras criadoras e pratican tes da psicanálise infantil Não obstante depois de A AICHORN outros homens dedi caramse a esse ramo da psicanálise como EERIKSON RSPITZ WINNICOTT J BOWLBY e MELTZER Na atualidade grande número de 92 DAVID E ZIMERMAN analistas homens que praticam a psicanáli se de crianças A idéia de estender à criança o tratamento psicanalítico partindo da noção de que a pobreza lingüística da criança poderia ser compensada pelo emprego de brinquedos e jogos foi da DRA HERMINE VON HUGHELL MUTH que acabou sendo vítima de assassi nato cometido por um sobrinho No entanto a psicanálise de crianças ga nhou notável aprofundamento e reconhe cimento psicanalítico a partir dos trabalhos sistemáticos de ANNA FREUD e M KLEIN Tra balhando separadamente e usando méto dos distintos centralizaram sobre si o mo vimento da psicanálise infantil Suas diver gências geraram debates acirrados entre ambas e seus seguidores situação que veio a provocar as célebres Controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanálise Assim a escola vienense liderada por A FREUD radicalizou a posição de que a aná lise de uma criança não deveria começar antes dos quatro anos de idade nem ser conduzida diretamente com ela mas sim por intermédio da autoridade dos pais res ponsáveis O próprio SFREUD sustentava essa opinião como aparece na sua corres pondência com JOAN RIVIÈRE de 1927 Pos tulamos como consideração prévia que a criança é um ser pulsional com um ego frá gil e um superego justamente em vias de formação No adulto trabalhamos com a ajuda de um ego já firmado Portanto não é ser infiel à análise levar em conta em nossa técnica a especificidade da criança na qual durante a análise o ego deve ser apoia do contra um id pulsional onipotente MKLEIN ao contrário postulava convicta mente que era preciso abolir todas as bar reiras que impediam o analista de ter aces so diretamente às fantasias inconscientes que povoam o inconsciente da criança partindo da sua prática de análise com crianças de 2 a 3 anos através da técnica dos brinquedos e jogos que lhe permitia afirmar que o infante palavra derivada do latim in não fans particípio presente de fari falar ainda não fala mas já não é um bebê uma vez que reprimiu o bebê dentro de si HANNA SEGAL assim resumiu a técnica de MKLEIN com crianças Ela fornece à crian ça um enquadre analítico apropriado ou seja os horários das sessões são rigorosa mente fixados 55 minutos cinco vezes por semana O aposento é especialmente adaptado para receber crianças Contém apenas móveis simples e robustos uma mesinha e uma cadeira para a criança uma cadeira para o analista e um pequeno divã As paredes são laváveis Cada criança deve ter a sua caixa de brinquedos reservada unicamente para o tratamento Os brinque dos são cuidadosamente escolhidos Há casinhas pequenos bonecos homens e mulheres de preferência de tamanhos di ferentes animais de fazenda e animais sel vagens cubos bolas bolas de gude e ma terial tesoura barbante lápis papel e mas sa de modelar Além disso o cômodo deve ser provido de uma pia posto que a água desempenha um importante papel em cer ta fase da análise No desafio entre a técnica de orientação nitidamente pedagógica de AFREUD e a de natureza rigorosamente psicanalítica de M KLEIN a passagem do tempo veio dar razão à segunda pois a técnica por ela preconi zada embora sofrendo naturais modifica ções veio a vingar na sua essência em todo o mundo psicanalítico Não obstante o mé todo pedagógico postulado pela escola vi enense foi acolhido e adotado pelos analis tas defensores das experiências sociais e edu cativas Além disso cabe destacar que atual mente os analistas de crianças trabalham muito mais próximos dos pais da criança São muitos os psicanalistas infantis das úl timas gerações que pesquisaram trabalha ram e publicaram trabalhos concernentes ao entendimento de crianças autistas En tre muitos outros nomes importantes me VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 93 recem citação FRANCIS TUSTIN ANNE ALVAREZ E MELTZER além de SLEBOVICI FRANÇOISE DOLTO e MAUD MANNONI Criatividade primária WINNICOTT No texto Desenvolvimento emocional pri mitivo 1945 WINNICOTT assim conceitua essa expressão É importante que a mãe e a criança vivam uma experiência jun tos O bebê vem ao seio e quando com fome alucinando um seio Neste momento o mamilo real aparece e ele é capaz de sen tir e acreditar que se trata do mamilo que ele alucinou e que criou Assim suas idéias são enriquecidas por experiências reais de visão sensações táteis de cheiro e da pró xima vez essas impressões serão usadas na alucinação que antecipa o ato de mamar Deste modo o bebê começa a criar uma capacidade de antecipar de evocar aquilo que é realmente disponível para ele Posteriormente esse autor enfatizou que a mãe durante algum tempo deve continu ar proporcionando ao filho esse tipo de ex periência fomentando a onipotência do recémnascido de que é ele quem criou o seio A isso WINNICOTT 1971 chama de criatividade primária Crise Essa palavra aparece com bastante freqüên cia no jargão psicanalítico tanto para indi car momentos culminantes na vida como na situação analítica de um determinado paciente Em termos institucionais existe uma questão que nos últimos anos vem ron dando e preocupando os analistas e a IPA a atual crise é da psicanálise dos psicanalistas ou de ambos Ela é inevitável e sadia ou re presenta uma ameaça à essência da ciência psicanalítica Tudo leva a crer que assim como já enfrentou outras crises similares tam bém na atual a psicanálise sairá fortalecida porém com sensíveis transformações acom panhando as mudanças socioeconomicocul turais do mundo contemporâneo De acordo com sua raiz o vocábulo crise deriva do grego krinen separar decidir Sig nifica que em determinado processo um casamento busca da identidade pessoal movimento social política institucional si tuação analítica foi atingido um ponto cul minante A partir desse ponto o processo terá um destes dois destinos possíveis a pode deteriorar progressivamente até a ex tinção b a prazo curto ou longo haverá uma modificação importante a qual pode representar ser um crescimento de nature za muito saudável e progressista embora quase sempre bastante dolorosa Crueldade primitiva da criança WINNICOTT Referese a uma concepção de WINNICOTT que assevera o fato de que no desenvolvi mento emocional primitivo a criança apre senta uma agressividade contra a mãe que exige desta boa capacidade de sobrevivên cia O autor frisa que essa crueldade não tem o mesmo significado que a agressão sádicodestrutiva ligada à inveja primária tal como foi descrita por M KLEIN Por outro lado o conceito de crueldade pri mitiva também alude ao fato de que a crian ça pequena tem uma cota inata de agressi vidade que se exprime em determinadas condutas autodestrutivas como o chupar o polegar até causarlhe algum dano etc O bebê volta sua agressividade sobre si mesmo para preservar o objeto externo Porém como essa manobra não é suficien te porque o bebê fantasia que danificou a mãe WINNICOTT enfatiza a importância de ter esta e o analista na situação psicanalítica a capacidade de sobrevivência aos ataques Culpa sentimento de FREUD M KLEIN É inerente ao ser humano Basta o estudo dos mitos ou a leitura da Bíblia para uma 94 DAVID E ZIMERMAN fácil comprovação do quanto a conduta dos homens está impregnada de culpas as mais distintas Em termos psicanalíticos FREUD descreveu mais claramente a importante presença do sentimento de culpa a partir de seus estudos sobre a neurose obsessiva ligandoa sempre a uma manifestação de reação do ego contra uma recriminação e ameaça punitiva do superego Como para FREUD o superego constitui o herdeiro dire to do complexo de Édipo uma das tarefas mais importantes do analista seria trabalhar com as culpas edípicas inconscientes de modo a tornálas conscientes Posteriormente ao estudar os problemas do masoquismo FREUD deu nova dimensão à concepção do sentimento de culpa ligando o também à pulsão de morte Coube igual mente a FREUD destacar o quanto os sentimen tos de culpa podem obstruir uma boa evolu ção da análise tal como ele descreveu no fe nômeno da reação terapêutica negativa MKLEIN descreveu a formação do sentimen to de culpa como conseqüência direta das pulsões sádicodestrutivas acompanhadas das fantasias inconscientes de ter atacado e danificado objetos necessitados Um dos requisitos da cura analítica consiste no de senvolvimento no paciente de uma capaci dade de fazer reparações o que caracteriza a entrada exitosa na posição depressiva GRIN BERG sintetizou admiravelmente as idéias de MKLEIN a respeito dos sentimentos de culpa propondo uma terminologia diferenciadora culpa persecutória e culpa depressiva Culturalismo corrente do Muitos psicanalistas começaram a discor dar das idéias fundamentais de FREUD e abriram dissidências Vários se uniram e organizaram outra linha teórica e de práti ca clínica Assim na década de 30 HSSULLIVAN K HORNEY E EFROMM alegan do que Freud dedicava muito mais interes se às biológicas pulsões instintivas nature do que aos fatores socioculturais nurture desligaramse da vertente vienense e funda ram a corrente do culturalismo a qual atingiu enorme aceitação nos Estados Unidos Cura O conceito psicanalítico de cura vai muito além do significado latente que o vocábulo sugere como é o de uma prestação de cuidados tal como aparece em cura de uma paróquia curador de menores procura dor curativo descurar etc Da mesma forma vai além do seu habitual significado manifesto como é habitualmen te empregado na medicina designando a resolução completa de alguma doença Em psicanálise o conceito de cura deve aludir mais diretamente ao terceiro signifi cado que o termo adquire qual seja o de um amadurecimento tal como é empre gado para caracterizar um queijo que está maturado sazonado o que equivale ao tra balho de uma lenta elaboração psíquica que permita a obtenção de mudanças caracte rológicas estáveis e definitivas Alguns autores ao mesmo tempo que apon tam uma série de aspectos que sofreram sensíveis transformações durante o proces so analítico que justificariam um critério de cura também alertam para as análises que aparentando estar tudo evoluindo muito bem possam não ser mais do que a construção de um falso self como enfatiza WINNICOTT ou cu ras cosméticas como as denomina BION Este último autor evita o termo cura preferindo a expressão crescimento mental pelas razões expostas no verbete respectivo Os principais critérios que indicam a obtenção de uma sempre relativa cura analítica estão descritos no verbete término da análise Curiosidade FREUD M KLEIN BION Fenômeno mental que aparece nos textos psicanalíticos sob distintos registros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 95 FREUD abordou a curiosidade de duas for mas Num primeiro momento aventou a hipótese de que o ser humano seria dotado de uma pulsão inata dirigida a querer co nhecer as verdades tanto que a criancinha já especula curiosamente quanto a querer saber como e de onde se formou e veio ao mundo Num segundo momento FREUD enfocou a curiosidade mais do ponto de vista da ânsia da criança em querer conhe cer o que se passa na cena primária com as respectivas fantasias o que exercerá uma forte influência na forma de evolução da conflitiva edípica MKLEIN como FREUD inicialmente também propôs a existência de uma pulsão episte mofílica tendo ambos abandonado essa teoria ao longo das respectivas obras O enfoque de MKLEIN incidiu principalmente na curiosidade da criancinha a respeito do interior do corpo da mãe acompanhada com a fantasia inconsciente de nela pene trar para conhecer controlar e se apossar dos tesouros escondidos em seu ventre como o pênis do pai e muitos bebês BION retomou a importância da curiosida de sob o vértice do vínculo K isto é se o sujeito tem vontade de querer conhecer as verdades por mais penosas que sejam ou se as evita a todo custo assim assassinan do a sua curiosidade Quando descreve a parte psicótica da personalidade entre ou tros elementos mais BION inclui o tripé com posto pela arrogância a estupidez e a curi osidade É necessário deixar claro que nes se contexto ele alude à curiosidade intrusi va agressiva BION esclarece melhor esse aspecto quando aborda três mitos o do Éden o de Babel e o de Édipo Segundo o primeiro Deus puniu Adão e Eva porque transgrediram suas ordens ao comer do fruto da árvore da ciência que lhes abriria a porta para saber das coisas do mundo De acordo com o segundo mito Deus puniu os homens criando uma confusão de línguas porque eles ousaram construir uma torre para chegar até Ele No clássico mito de Édipo este foi castigado com a cegueira por que mostrou a arrogante curiosidade de que rer conhecer a verdade a qualquer preço Embora a maioria dos autores tenham abor dado a curiosidade predominantemente do viés da patogenia deve ficar claro que uma curiosidade sadia é uma excelente função do ego e deve ser permitida e desenvolvi da na análise WEBSTERS NEW WORLD DICTIONARY D D BION Letra da Grade de BION onde ocupa a quar ta fileira que corresponde ao estágio evo lutivo da capacidade de pensar das pré concepçõesVide o verbete Grade e a Figu ra 1 Defesas mecanismos de FREUD M KLEIN LACAN BION Designação dos distintos tipos de operações mentais que têm por finalidade reduzir as tensões psíquicas internas ou seja das an gústias Os mecanismos de defesa proces samse pelo ego e praticamente sempre são inconscientes Admitindo a hipótese de que a angústia está presente desde o nascimen to como muitos autores postulam impõe se a convicção de que o ego do recémnas cido está pugnando para livrarse dessas ansiedades penosas e obscuras É óbvio que quanto mais imaturo e menos desenvolvi do estiver o ego mais primitivas e carrega das de magia serão as defesas FREUD no início de sua obra assinalou as defesas mais evidentes no tipo de pacien tes que então atendia Assim nas histéricas ele descobriu o mecanismo defensivo da re pressão também nomeado recalcamento que durante um longo tempo tornouse eixo central de toda e qualquer neurose À medida que foi conhecendo a intimida de das neuroses obsessivocompulsivas caso do Homem dos ratos das fóbicas caso do menino Hans e os casos de para nóia caso Schreber FREUD foi respectiva mente descrevendo as defesas de desloca mento anulação isolamento condensação racionalização transformação ao contrário formação reativa projeção sublimação Posteriormente estudou defesas mais pri mitivas utilizadas por psicóticos sujeitos perversos e outros nos quais postulou a existência de mecanismos de clivagem do ego assim como destacou sobremaneira o uso defensivo de diversas formas de nega ção no original alemão Verneinung que na atualidade são estudadas com os nomes de desmentida Verleugnung forclusão Verwerfung etc ANA FREUD em seu clássico O ego e os me canismos de defesa 1936 ampliou consi deravelmente a compreensão e descrição de distintos tipos de defesa que até essa época ainda estavam pouco sistematizadas por FREUD MKLEIN coerente com suas concepções da existência de um inato ego rudimentar com a finalidade de fazer face às incipien 98 DAVID E ZIMERMAN tes angústias decorrentes da ação da pul são de morte propôs a noção de defesas primitivas e de natureza mágica como a negação onipotente dissociação identifica ção projetiva e introjetiva idealização e denegrimento LACAN e BION aprofundaram os estudos das defesas referentes à negação LACAN cunhou o termo forclusão grau máximo de nega ção BION sinaliza com K uma defesa con tra o reconhecimento de verdades intolerá veis É útil deixar bem claro que todos os mecanismos defensivos são estruturantes para a época de seu surgimento No entan to qualquer deles utilizado pelo ego de for ma indevida ou excessiva pode vir a funci onar de modo desestruturante Serve como exemplo a utilização da identificação pro jetiva ela tanto pode servir como um sadio meio de o bebê libertarse de angústias in toleráveis ou de o adulto colocarse no lu gar do outro empatia como também essa defesa pode ser responsável pelas distorções psicóticas das percepções Por outro lado a importância dos mecanismos de defesa pode ser medida pelo fato de que a moda lidade e o grau do seu emprego diante das angústias é que vai determinar a natureza da formação a normalidade ou a patolo gia das distintas estruturações psíquicas Todas as defesas acima mencionadas estão explicitadas nos respectivos verbetes Demanda LACAN LACAN estabeleceu uma distinção entre ne cessidade o mínimo necessário para a so brevivência física e psíquica como é o ali mento para saciar a fome desejo uma necessidade que foi satisfeita com um plus de prazer e gozo que o sujeito quer voltar a experimentar e demanda Esta é caracterizada pelo fato de a necessi dade da satisfação dos desejos ser insaciá vel porquanto o verdadeiro significado da demanda é um pedido desesperado por reconhecimento e por amor como forma de preencher um antigo e profundo vazio de origem narcisista Isso pode ser facilmen te evidenciável na criança cujas interminá veis demandas não têm por finalidade a obtenção dos objetos que está manifesta mente reclamando em seu registro imagi nário seu pronto atendimento é prova de que é amada Na demanda há o desejo de ser o único objeto do outro No entanto afirma LACAN esse objeto ideal é eternamente faltante não podendo o desejo do sujeito jamais ser no meado e circulará sob a forma de metoní mias de um significante para outro Esse fato tem grande importância na prática ana lítica e explica os freqüentes casos de con sumismo compulsivo por jóias ou roupas novas a ânsia por ganhar presentes a de manda por juras de amor etc que podem estar conectados com a busca desesperada de preencher um outro significante aquele que alude aos antigos vazios existenciais Denegação ou renegação recusa desmentida FREUD A grafia deste termo com o prefixo de entre parênteses foi proposta por LAPLANCHE e PONTALIS porque nem sempre é fácil tradu zir determinada palavra especialmente quando ela permite mais de um significa do Assim dizem esses autores que no im portante trabalho de FREUD Die Verneinung 1925 tornase impossível optar em cada passagem se a melhor tradução de Vernei nung seria negação ou denegação sendo esta última tradução mais direta do termo Verleugnen que significa renegar denegar retratar desmentir Por isso propuseram resolver a dificuldade com a forma especial de escrita denegação Tratase de um mecanismo defensivo do ego que consiste no fato de o sujeito re cusar a percepção de uma evidência que se impõe no mundo exterior da mesma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 99 forma que na situação psicanalítica nega as evidências do que está reprimido Por exemplo quando uma pessoa recusa di zendo não nunca desejei tal coisa é muito possível que esteja querendo con firmar sim meu inconsciente deseja tal coisa No citado artigo FREUD afirma Não há prova mais forte do que conseguirmos des cobrir o inconsciente do que vermos reagir o analisando com estas palavras não pen sei isso ou não nunca pensei nisso No entanto o próprio FREUD alerta em 1937 quanto ao risco de o analista diante de qualquer contestação ou discordância do paciente a sua fala interpretar sistemati camente esse fato como sendo uma de negação do paciente Nesse caso diz Freud jocosamente o jogo do analista é se der cara ganho eu se der coroa per de você No artigo O fetichismo 1927 FREUD elabora de uma forma mais definida a es sência desse fenômeno de recusa mos trando como o fetichista perpetua uma atitude infantil ao fazer coexistirem duas posições que pela lógica seriam incon ciliáveis ao mesmo tempo o sujeito nega e reconhece a existência da castração fe minina Nas traduções para o idioma português o termo denegação também aparece como renegação supressão recusa e desmentida Denegrimento M KLEIN Notadamente nos seus trabalhos sobre a inveja M KLEIN descreveu esse recurso de fensivo do ego como uma forma de o su jeito pelo recurso da identificação proje tiva excessiva lançar merda no outro por ele invejado de sorte a ilusoriamente li vrarse de um sentimento tão penoso já que não tem porque invejar aquilo que está denegrido lembra a fábula da Ra posa e as uvas Dependência Estado mental inerente ao ser humano que se desenvolve num estado de neotenia Variável quanto à forma e à intensidade podendo ser boa ou má a dependência acompanha qualquer pessoa pela vida toda Todos os autores psicanalíticos importantes com distintas abordagens enfocaram o pro blema e sua importância Seguem alguns exemplos FREUD assinalou o grau extremo de depen dência nos seus estudos sobre o estado de desamparo em alemão Hilflosigkeit M KLEIN faz referências mais explícitas à de pendência ao estudar a inveja ROSENFELD baseia as suas concepções de narcisismo 1965 1971 como uma forma defensiva de o sujeito fugir de uma depen dência de outra pessoa que para ele signi fica vir a mais cedo ou mais tarde sofrer dor e humilhação WINNICOTT destacou que toda pessoa apre senta algum grau e tipo de dependência cabendo ao analista ajudar o paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o processo de dependência as quais deno mina absoluta relativa e em rumo à inde pendência BION em seus estudos sobre grupos des creveu o suposto básico da dependência Comentário No cotidiano da prática psi canalítica sempre aparece o temor do pa ciente de vir a contrair uma dependência em relação ao analista Creio ser importan te que o terapeuta ajude o paciente a dis criminar a diferença que existe entre seu sentimento que proponho denominar de pendência má porquanto lhe representa o risco de como no passado vir a sofrer novas humilhações traições etc e a de pendência boa inerente à natureza hu mana onde as pessoas sempre estão numa interdependência que pode ser pra zerosa e propiciadora de um autêntico crescimento 100 DAVID E ZIMERMAN Dependência suposto básico de BION Suposto ou pressuposto básico de depen dência é a denominação de BION para o fato de que como uma herança atávica o fun cionamento do nível mais primitivo do todo grupal necessita e elege um líder de características carismáticas em razão da busca de proteção segurança e de alimen tação material e espiritual Os vínculos com o líder tendem a adquirir natureza parasitária ou exageradamente simbiotizada mais voltados para um mun do ilusório tal como transparece nos gru pos fanatizados Depressão O tema relativo às depressões tem mereci do por parte dos psicanalistas desde os pioneiros até os autores modernos uma aprofundada e crescente valorização e in vestigação a partir de múltiplos vértices de abordagem desde as inúmeras e variadas causas emocionais às de origem orgânica Segue uma breve síntese dos principais as pectos relativos às depressões Em Luto e melancolia1917 p281 FREUD numa frase famosa diz que na melancolia a sombra do objeto cai sobre o ego com isso caracterizando o quadro depressivo resultante de uma identificação do ego com o objeto perdido Quando o luto não é suficientemente elaborado re sulta que o objeto e o ego num processo que lembra o fenômeno da osmose con fundemse entre si de tal sorte que o desti no de um passa a ser o destino do outro As depressões psicógenas podem ser resul tantes de 1 Perdas perdas de objetos ne cessitados e ambivalentemente amados e odiados ou perdas de capacidades do ego 2 Culpas devidas a um superego demasi adamente rígido e punitivo obtenção de êxitos que mobilizam uma necessidade de castigo culpas imputadas pelos outros 3 De um fracasso narcisista 4 Ruptura de determinados papéis impostos à criança e que o adulto repete estereotipadamente Comentário É importante discriminar depressão de causa emocional de causa endógena uma vez que esta última costu ma responder muito bem aos medicamen tos antidepressivos da moderna psicofarma cologia Os analistas contemporâneos pelo menos em sua maioria não consideram inconveniente para a evolução exitosa da análise um eventual uso concomitante de medicação por parte do paciente Depressão anaclítica SPITZ Veja verbete anaclítica Depressão pósparto Embora esse quadro de psicopatologia per tença mais à área da psiquiatria a sua in clusão aqui justificase pela alta incidência e pelas repercussões nos filhos recémna tos Estudos epidemiológicos feitos em todo mundo apontam que a doença atinge de 10 a 15 das mulheres PHILIPE MAZET Professor de psiquiatria infan til e diretorgeral do hospital Saint Salpe trière em Paris assim define depressão pós parto A depressão pósparto é uma doen ça psíquica que afeta a mãe nas primeiras semanas após o nascimento e coloca em risco o desenvolvimento psicológico do bebê deixando seqüelas que podem ser acompanhadas até a vida adulta As prin cipais características da enfermidade são a tristeza a falta de motivação e principal mente a falta de prazer da mãe em relação a tudo que se refere ao bebê A mãe depri mida não quer se ocupar do filho Ela não interage com a criança e se reporta a ela de forma mecânica sem externar prazer ou alegria pelo nascimento do filho Algumas mães chegam a negligenciar seus bebês A depressão potencializa dentro da mulher um VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 101 sentimento de agressividade em relação à criança gerando inclusive situações de maustratos As mães que sofrem dessa de pressão geralmente são mulheres que já durante a gravidez apresentaram dificulda des psicológicas As causas são muitas desde as exteriores reais dificuldades econômicas casamento em crise total falta de apoio de familiares gravidez indesejada por um dos cônjuges etc até as eminentemente psicológicas Entre estas os psicanalistas destacam o fato de que o nascimento do bebê pode reati var na mãe através de um jogo de identifi cações projetivas o receio inconsciente de que vá se reproduzir o mesmo tipo de rela ção conflituada que ela teve com sua mãe ou seja há uma dupla identificação a mãe adulta fica identificada introjetivamente com sua sofrida mãe do passado e ao mesmo tempo sua parte criança que imagina ser ávida e cruel se identifica projetivamente no seu bebê Há uma diferença entre a depressão pós parto e o estado de tristeza pósparto Esta última é normal e geralmente acontece no terceiro ou quarto dia de vida da criança quando a mãe está cansada e até um pou co irritada com essa nova situação de vida Passa em dois ou três dias enquanto a de pressão pósparto instalase progressiva mente com um estado mental de apatia e de falta de prazer em se ocupar do bebê podendo culminar em negligência e agres sões várias MAZET acima mencionado respaldado na sua longa experiência clínica afirma que o filho de uma mãe deprimida acusa essa experiência emocional traumatizante Ela deixa de experimentar as atividades cotidi anas com a mãe o que é muito prejudicial para o seu desenvolvimento pois um bebê precisa partilhar sentimentos Se isso não acontece ele sentese só e essa sensação prejudica o desenvolvimento normal Tris te e sem estímulo materno o bebê fica sem vontade de descobrir o mundo e as pesso as Um estudo que fizemos na cidade de Bobigny na França na qual analisamos um grupo de filhos de mães deprimidas em comparação com um grupo de crianças estáveis do ponto de vista psicológico am bos em idade escolar mostrou que os fi lhos das mães deprimidas após o parto ti nham mais tendência a desenvolver déficit de atençãohiperatividade e mais dificulda des cognitivas e de aprendizado do que os filhos das mães que não tiveram esse pro blema Outro dado interessante essas difi culdades foram mais percebidas em meni nos do que em meninas É possível evitar essa situação realizando um trabalho de acompanhamento psicológico desde o iní cio da gravidez Comentário Tal como foi descrito esse quadro de psicopatologia da relação mãe bebê lembra bastante aquilo que AGREEN descreve com a denominação de mãe mor ta ver esse verbete embora esteja viva Depressiva posição MKLEIN Importantíssima concepção de MKLEIN que a formulou mais precisamente a partir do trabalho Uma contribuição à psicogêne se dos estados maníacodepressivos de 1934 Diferentemente do que ela postu lou em relação à posição esquizopara nóide a qual caracterizase pela dissoci ação do todo em partes a posição de pressiva bem pelo contrário consiste na unificação e na integração das partes do sujeito que estão esplitadas e dispersas devido às projeções A obtenção dessa posição depressiva por parte da criancinha deve darse por volta do sexto mês sendo fundamental para seu crescimento psíquico Isso implica uma sé rie de condições notadamente como afir ma M KLEIN a capacidade para integrar numa só mãe total os dissociados aspectos de seio bom e de seio mau dela 102 DAVID E ZIMERMAN Na situação analítica especialmente para os pacientes bastante regredidos os se guintes aspectos atestam a obtenção da posição depressiva 1 Aceitar perdas ma tériaprima fundamental para a formação de símbolos 2 Reconhecer e assumir o seu quinhão de responsabilidades e de eventuais culpas pelos ataques que fez ou que imagina ter feito 3 Conceder auto nomia aos seus objetos necessitados e su portar uma separação parcial deles 4 Fazer reparações verdadeiras 5 Ser ca paz de reconhecer uma possível gratidão por quem o ajudou e desenvolver uma sadia preocupação pelo outro 6 Ser ca paz de integrar aspectos dissociados e ambivalentes 7 Desenvolver apego ao conhecimento das verdades 8 Formar símbolos e adquirir a capacidade de pen sar possível mediante a obtenção da con dição anterior Desamparo estado de FREUD No clássico Inibições Sintomas e Angús tia 1926 FREUD faz essa importante as sertiva O ego se sente desamparado ator doado e abandonado a sua sorte diante de um aluvião de excitações demasiado po derosas para que os processos mentais do ego possamnas manejar Esse estado mental de desamparo que gera uma das angústias mais terríveis ele chamava no original alemão de Hilflosigkeit hilflos sig nifica desamparado Esta situação que está intimamente ligada ao conceito de trauma e acompanha o ser humano desde o nascimento devido à con dição de neotenia também denominada prematuração Essa condição decorre do fato de o bebê nascer prematuramente em relação a qualquer espécie do reino animal apresentando uma prolongada de ficiência de maturação neurológica e mo tora que o deixa em estado de absoluta dependência e desamparo Esse estado de desamparo aparece sob outros vértices e com outras denominações em praticamente todos os autores e cada vez mais ganha uma relevância na psica nálise contemporânea Desejo FREUD LACAN A palavra desejo formase a partir dos éti mos latino de privação sidus estrela o que alude à impossibilidade de alcançar e possuir uma estrela do firmamento ou seja a vontade do sujeito de obter algo que lhe está faltando mas que está muito longe Em toda a sua obra FREUD exalta a impor tância do desejo que sempre ligava às pul sões libidinais e que ficam reprimidas no inconsciente à espera de algum tipo de gra tificação tal como acontece com os sonhos os quais concebeu como uma forma disfar çada da realização de desejos FREUD ligava a formação do desejo com uma impressão mnêmica de alguma necessidade primitiva que foi gratificada de forma prazerosa As sim a memória da gratificação prazerosa está intimamente ligada à etapa vigente do princípio do prazer O melhor exemplo dis so pode ser dado pelo fenômeno que FREUD descreveu como gratificação alucinatória dos desejos pela qual o bebê substitui o seio faltante pela sucção do seu próprio polegar LACAN partindo das idéias de FREUD am pliou e valorizou a noção de desejo concei tuandoa como conseqüência direta das faltas e falhas Igualmente LACAN desenvol ve uma importante distinção entre necessida de desejo e demanda ver estes verbetes Outra importante contribuição de LACAN diz respeito à etapa em que a criança deseja ser aquilo que preencha o desejo da mãe BION valoriza o aspecto do desejo precipu amente a partir do aspecto da situação ana lítica isto é ele alerta para o risco de a mente do analista estar saturada de memó rias e desejos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 103 Desenvolvimento do Pensamento Es quizofrênico O BION 1956 Neste trabalho cujo título original é Deve lopment of Schizophrenic Thought BION se propõe a discutir até que ponto a perso nalidade psicótica difere da nãopsicótica e a natureza da divergência entre ambas Para tanto se fundamenta em KLEIN dando des taque aos seguintes aspectos presentes nas psicoses 1 Predomínio das pulsões destrutivas o ódio à realidade externa e interna o medo a uma aniquilação iminente relações de objetos frágeis 2 A transferência desses pacientes se ca racteriza pelo fato de serem as relações com o analista prematuras precipitadas e de muita dependência Há um excesso de iden tificações projetivas e é freqüente a presen ça de uma sensação de mutilação e a de um estado confusional 3 A presença ativa de ataques contra a percepção consciente da realidade provo cando um estado mental no qual este paci ente não se sente nem vivo nem morto 4 As crescentes e múltiplas clivagens segui das de identificações projetivas se consti tuem como objetos bizarros 5 Formase uma confusão entre o que é símbolo e o que deve ser simbolizado equi vale ao conceito de equação simbólica de H SEGAL 6 Devido a esse estado de confusão e de onipotência o paciente esquizofrênico fica perplexo quando os objetos reais obedecem às leis da ciência natural e não as de seu funcionamento mental 7 O uso excessivo de identificações proje tivas impede a capacidade de integração dos objetos e por isso mesmo esses paci entes somente podem aglomerar e compri milos podem fundir mas não articular 8 Da mesma forma experimentam as re introjeções como se fossem uma intrusão violenta e invasiva vindas de fora 9 Diferentemente da personalidade neuró tica na qual há prevalência dos recalcamen tos na personalidade psicótica predominam intensas dissociações seguidas de identifi cações projetivas dos pedaços esplitados 10 O pensamento verbal depende da re solução da posição depressiva 11 Como também as impressões sensori ais são projetadas acontece que devido às projeções e reintrojeções agudas o pacien te fica dominado por alucinações táteis auditivas e visuais intensamente dolorosas 12 BION conclui o artigo considerando que também o paciente neurótico tem uma par te psicótica e viceversa e que um trata mento psicanalítico visa à elaboração de todos os aspectos mencionados Este trabalho está publicado no livro Estu dos Psicanalíticos Revisados 1967 Desenvolvimentos em Psicanálise KLEIN HEIMANN ISAACS RIVIÈRE 1936 Publicado em 1936 sob o título original de Developments in PsychoAnalysis este livro reúne as contribuições mais importantes de MKLEIN e de sua escola até aquela data A obra contém artigos dela Algumas con clusões teóricas sobre a vida emocional do lactante Observando a conduta dos be bês Sobre a teoria da ansiedade e a cul pa e trabalhos de PAULA HEIMANN que pos teriormente veio a separarse do grupo klei niano Algumas funções de introjeção e projeção na infância precoce Notas so bre a teoria dos instintos de vida e de mor te de SUSAN ISAACS Natureza e função da fantasia A regressão escrito junta mente com PHEIMANN e de JOAN RIVIÈRE Introdução geral Sobre a gênese do conflito psíquico na primeira infância Desenvolvimento emocional primitivo Todos os autores psicanalíticos importantes de uma forma ou outra especulam sobre 104 DAVID E ZIMERMAN os múltiplos fatores que determinam o de senvolvimento da personalidade De modo geral existe um consenso de que sempre estão em jogo fatores heredoconstitucionais e as primitivas experiências emocionais de acordo com a equação etiológica ou série complementar tal como formulada por FREUD ABRAHAM complementando e siste matizando os estudos de FREUD ajudou a descrever as fases oral anal fálica de la tência e genital adulta MKLEIN enfocou os aspectos muito mais pri mitivos do bebê notadamente as fantasias inconscientes como derivados diretos em especial da pulsão de morte Podese dizer que se Freud foi falocêntrico M KLEIN pri vilegiou o enfoque seiocêntrico SPITZ nos Estados Unidos e BOWLBY na In glaterra em épocas diferentes estudaram a reação de criancinhas com privação emo cional prolongada física eou emocional com uma descrição particularizada de cada uma que podemos resumir em três etapas a fase do protesto b desesperança c re traimento libidinal com um progressivo des ligamento do mundo exterior BION diferenciandose de MKLEIN empres tou significativa importância à figura real da mãe à capacidade ou incapacidade desta de funcionar como um adequado continen te para as necessidades básicas de seu filhi nho Além disso fez conjecturas imaginati vas o termo é dele acerca do psiquismo fetal como um fator importante LACAN em Etapa do Espelho como Forma dora do Ego 1949 descreveu alguns as pectos importantes do desenvolvimento emocional primitivo concernentes à forma ção da imagem corporal Também desta cou sobremodo o papel do discurso dos pais e da cultura a ponto de cunhar a conheci da frase o inconsciente é o discurso dos outros WINNICOTT deu entre outras uma extraordinária contribuição para o melhor entendimento da díade mãefilho através de sua original concepção dos fenômenos transicionais do papel de espelho que a mãe representa para o filho da função materna de holding e de fazer uma progres siva desilusão das ilusões Desenvolvimento emocional primitivo é um importante trabalho de WINNICOTT pu blicado no livro Textos Selecionados Da pediatria à Psicanálise 1945 MMAHLER representante da Psicologia do Ego Contemporânea contribuiu com os seus estudos provenientes da observação direta de criancinhas que lhe possibilitaram descrever as etapas evolutivas de simbiose diferenciação com as subetapas de sepa raçãoindividuação treinamento até a aquisição da constância objetal KOHUT valorizou sobretudo o que denomi nou falha empática da mãe como fator de terminante de patologias regressivas TUSTIN mais recentemente descreveu a for mação de buracos negros no psiquismo do bebê que se defende das frustrações do mundo exterior construindo uma barreira autística Desidentificação De grande importância na prática psicana lítica atual o termo designa o fato de o cres cimento de um analisando implica livrar se de determinadas identificações patóge nas com as figuras parentais embora con serve muitas outras facetas saudáveis de seus pais com as quais ele quer continuar identificado de forma harmônica Uma vez desidentificado de certos aspectos que lhe eram desarmônicos e opressores o pacien te abre um espaço psíquico para processar neoidentificações Desinvestimento FREUD Retirada do investimento afetivo que esta va ligado a uma representação objeto ins tância psíquica etc A noção de desinvesti mento está diretamente ligada à teoria eco VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 105 nômica da distribuição quantitativa da libi do postulada por FREUD Esse autor descreveu a retirada do investi mento especialmente nos processos defen sivos de recalcamento O desinvestimento libera uma energia que se torna disponível para ser usada no investimento de outra formação defensiva Por exemplo um de sinvestimento pode possibilitar um contra investimento tal como acontece nas forma ções reativas Da mesma forma nos esta dos narcísicos o investimento do ego au menta na proporção direta do desinvesti mento dos objetos Desistência estado de Proponho este termo porquanto na práti ca clínica deparamos freqüentemente com pacientes que mais do que estarem em es tado de resistência enquanto houver resis tência há sinal de vida estão numa atitu de de desistência Seu único desejo é nada desejar havendo um preocupante namoro com a morte Pacientes nessas condições de desistência podem até dar continuidade à análise porém o fazem de forma roboti zada automática e apática do grego a pri vação pathos paixão O analista não deve deixarse contagiar contratransferen cialmente com essa apatia Deslizamento LACAN Processo mental que resulta da conjunção de mecanismos de deslocamento conden sação e simbolização que de forma análo ga à dos sonhos estão integrados em uma cadeia ou rede de significantes mediante os quais funciona o inconsciente Esses mecanismos remetem um significante a outro de uma maneira que pode compa rarse à decifração de uma carta enigmáti ca ou à busca no dicionário de um termo que remete a outro e este a um terceiro até ser conceitualizado com algum significado Esse fenômeno está explicitado no verbete significantesignificado Deslocamento FREUD LACAN Mecanismo pelo qual a energia psíquica pode deslizar de uma representação inconsciente para outra à qual esteja ligada por algum vín culo associativo No inconsciente reina o pro cesso primário onde não há a noção de lógi ca espaço tempo e causalidade mas sim predomina um livre deslocamento FREUD estudou o fenômeno do deslocamen to nos seguintes registros 1 Nos sonhos a passagem do conteúdo latente do sonho para o conteúdo manifesto é decisivamen te possibilitado pelos deslocamentos 2 Como mecanismo defensivo do ego nas conversões histéricas por exemplo o des locamento de um desejo ou prazer genital para outra zona corporal 3 Nas neuroses obsessivas e fóbicas onde determinada pulsão proibida fica deslocada numa outra representação respectivamente em certos pensamentos obsessivos ou num determi nado objeto fobígeno Ao valorizar os fenômenos de metonímia ver esse verbete LACAN emprestou grande importância ao processo de deslocamento Despersonalização Fenômeno bastante freqüente em que o sujeito estranha seu sentimento de si mes mo ou seja o seu self No caso em que a pessoa estranha o meio ambiente exterior o sintoma é descrito na psiquiatria clássica como estranheza Comumente os sintomas de despersonalização se manifestam por meio de sensações de o indivíduo estar se fragmentando de algum espírito estar sain do de dentro dele o corpo se transforman do se confundindo com outras pessoas etc Esse quadro clínico tanto pode evidenciar um grave transtorno de natureza psicótica quanto pode ser a expressão de uma situa 106 DAVID E ZIMERMAN ção normal transitória no decorrer do de senvolvimento pessoal Também pode es tar presente no trânsito das transformações que caracterizam a adolescência ou as transformações que o analisando passa no decurso do processo analítico Essa última situação foi assinalada por BION nas descrições pertinentes à mudança catas trófica ver o verbete catastrófica mudança MKLEIN e seguidores explicaram o surgi mento da despersonalização como decor rente de um uso excessivo de identificações projetivas Nestas em fantasia o self foi ex tremamente localizado em outros objetos enquanto pelas identificações introjetivas aspectos de outras pessoas ficaram coloca dos dentro do seu self MKLEIN melhor ilus tra esse fenômeno psíquico no trabalho Sobre a identificação1955 baseado no romance de Julian Green Se eu fosse você no qual o personagem principal adquire múltiplas identidades distintas Desprezo H SEGAL Sentimento que se processa através do que KLEIN definiu como denegrimento do obje to com o qual o sujeito visa especificamen te defenderse do sentimento de inveja Ao descrever as defesas maníacas HANNA SE GAL fundamentada na obra de MKLEIN postulou a existência de uma tríade que compõe as referidas defesas o controle o triunfo e o desprezo Com o desprezo o sujeito também se defende de sentir grati dão a um objeto porquanto se a sentisse teria que reconhecer seus sentimentos de dependência Isso o angustia pois determi naria um desmantelamento de sua onipo tência e o faria entrar em contato com a sua fragilidade e depressão subjacente Dessignificação Proponho os termos dessignificação e neo significação para designar novas significa ções de significados patogênicos de modo a abrir espaço psíquico para permitir ao paciente processar novos significados psí quicos para as significações de que sofre Segundo muitos autores além de conflitos pulsionais e de fantasias inconscientes esse sofrimento seria conseqüência de certos fatos que lhe foram significados na infância de determinada maneira que tanto pode ter sido adequada à realidade como pode ter sido impregnada através da identifica ção projetiva dos pais de maneira terrorífi ca desqualificadora culpígena etc Comentário Dessa forma adquire impor tância na prática analítica o trabalho com os significados que o analisando atribui a determinadas palavras pensamentos ou afetos que ele expressa na situação analíti ca que podem estar carregados de distorções indevidas e que influenciam sua conduta de forma estereotipada como acontece por exemplo em muitos temores fóbicos Dessimbiotização Nos pacientes em cujo relacionamento in terpessoal predomina um estado mental centrado numa busca de vinculação exa geradamente simbiotizada as frustrações especialmente as que decorrem de separa ções costumam ser de escassa tolerância e freqüentemente desencadeiam uma an gústia muito intensa A simbiose se usarmos o referencial de M MAHLER é uma fase evolutiva indispen sável e estruturante do psiquismo do bebê durante um certo tempo Porém na situa ção analítica pode ocorrer que perdure o sentimento do paciente de restaurar e ins taurar com o seu analista a díade fusional primitiva com a mãe Nesse caso tornase fundamental que o analista trabalhe com a finalidade de o paciente solucionar o aspec to patogênico da simbiose exagerada tal como ela vai transparecer na transferência isto é ajudálo a dessimbiotizar da mesma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 107 forma como o pai deve interferir na díade simbiótica do filho com a mãe a fim de pos sibilitar o ingresso da criança no triângulo edípico Dessexualização FREUD Estudando conjuntamente os fenômenos da dessexualização com o da sublimação FREUD concebeu que as sublimações se dis tinguem das gratificações substitutivas de caráter neurótico por meio de sua dessexu alização isto é a gratificação do ego já não é abertamente de caráter pulsional Para FREUD as pulsões prégenitais constituem o objeto da sublimação porém se foram re calcadas e se mantêm no inconsciente numa disputa com a primazia genital não podem ser sublimadas Assim a capacidade de or gasmo genital torna possível a sublimação dessexualização das pulsões prégenitais FREUD exemplifica o fenômeno comparan do a condição de um artista legítimo com o pseudoartista O primeiro já sublimou su ficientemente seu impulso de sujar mediante uma espécie de identificação com a ativi dade própria da fase anal de brincar com as fezes ou sejam com as tintas Já o pseu doartista está novamente buscando um prazer sexual direto na ação de fazer sujei ras prejudicando sua capacidade artística Ver o verbete neutralização Desviacionistas teorias Teorias que negam expressamente ou que minimizam os princípios fundamentais da psicanálise postulados por FREUD Formula das de diversas maneiras sempre conser vam os invariantes de 1 A existência de processos mentais inconscientes como é o caso da repressão da sexualidade infantil complexo de Édipo 2 Na técnica psicana lítica a obrigatoriedade do tripé constituí do pela resistência transferência e interpre tação Na história da psicanálise como exemplos de teorias desviacionistas destacamse as formulações de ADLER JUNG e RANK FEREN CZI durante certo tempo permaneceu no limbo Existe o risco de cometerse injusti ças mais recentemente e ainda hoje por muitos também KOHUT foi rotulado desvia cionista o mesmo ocorrendo durante al gum tempo e em alguns lugares com BION e LACAN Os partidários das teorias desviacionistas costumam chamar os freudianos de reacio nários e dogmáticos enquanto estes denun ciam os desviacionistas como psicanalistas que se desviaram da essência da psicanáli se na ânsia narcisista de quererem ser origi nais a todo custo Os freudianos também os acusam de que muitas vezes não pas sam de tautólogos isto é dizem a mesma coisa com outras formulações É possível como pensam alguns autores que exista algo de verdade nas acusações mútuas Determinismo princípio do FREUD Princípio segundo o qual na mente nada acontece ao acaso ou de modo fortuito sendo cada acontecimento psíquico deter minado por outros que o precederam de tal sorte que não há descontinuidade na vida mental Fica melhor compreendido e complemen tado com o modelo da multicausalidade com o qual FREUD indo além das causas line ares responsáveis pela determinação de um dado sintoma postula a idéia de que várias causas produzem um mesmo efeito Posteriormente a partir da Intepretação dos Sonhos1900 Freud considerou que além de muitas causas produzirem o efeito do fe nômeno do sonho há um sistema diferencia do processo primário inconsciente que irá gerar efeitos conscientes de modo a por meio de cada elemento do conteúdo latente ser possível reconstruir uma rede de conexões que determinam o sonho manifesto 108 DAVID E ZIMERMAN Diferenciação MAHLER Etapa evolutiva que segue a da simbiose e que consiste no fato de que a criancinha começa a fazer uma discriminação entre as diferenças que ela tem com a mãe Essa fase evolutiva consta de duas subfases a de se paração e a de individuação Termo cunha do por M MAHLER 1986 Deus e Deidade BION Fundamentado na concepção filosófica do Mestre ECKART BION postula em seus escri tos mais propriamente os publicados em seu período considerado místico década 70 que a Deidade é a essência ou seja o que ele conceitua como O enquanto Deus é sua criação sua manifestação atra vés da Santíssima Trindade Pai Filho e Espírito Santo Diferenciação entre as personalidades psicóticas e as nãopsicóticas BION 1957 Trabalho de 1957 de BION dos mais co nhecidos e citados de toda sua obra é pra ticamente uma repetição embora de forma mais elaborada de um de 1956 O desenvolvimento do pensamento esquizo frênico onde ele enfatiza as mesmas ca racterísticas essenciais do pensamento psi cótico BION fundamentou este artigo nas concep ções originais de MKLEIN e de FREUD de cujos trabalhos extrai longas citações Den tre elas são dignas de nota as que se refe rem a às funções conscientes da mente b a conexão dos pensamentos com o re gistro mnêmico das palavras c a relação da imagem verbal com o préconsciente O trabalho é ilustrado com um esclarece dor caso clínico no qual é possível consta tar como BION entende e maneja a lingua gem préverbal da personalidade psicótica Esse artigo está publicado em Estudos Psi calíticos Revisados 1988 Difusão da identidade síndrome da O KERNBERG Sério transtorno do sentimento de identi dade descrito por KERNBERG nos seus apro fundados estudos sobre os pacientes bor derline e por ele denominado síndrome da difusão da identidade Consiste na dificul dade do paciente de transmitir uma ima gem integrada coerente e consistente de si próprio assim deixando os outros confu sos em relação a ele Dinâmica da transferência A FREUD 1912 Artigo técnico de FREUD abordando o fato de que se sua necessidade de amor não for suficientemente satisfeita pela realida de a pessoa tenderá a se aproximar de cada novo indivíduo que conheça o psicanalis ta com idéias de expectativa libidinosa Nesse trabalho FREUD estabelece a interre lação entre transferência e resistência e con clui dizendo que no tratamento psicanalí tico a transferência invariavelmente apare ce em primeira instância como a arma mais forte da resistência e podemos con cluir que a intensidade e a persistência da transferência são efeito e expressão da re sistência Esse artigo está publicado no volume XII p 133 da Standard Edition brasileira Dinâmico ponto de vista FREUD FREUD percebeu que unicamente do ponto de vista topográfico podia parecer que o sistema consciente e o inconsciente consti tuíam uma simples continuidade linear quando na verdade estavam em jogo for ças dinâmicas como as que despendiam energia psíquica para reprimir desejos proi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 109 bidos e para manter essa repressão Daí a psicanálise ganhou uma nova dimensão enfocando os fatores dinâmicos que ope ram no fenômeno da resistência à emergên cia no consciente do que está recalcado no inconsciente Ver os verbetes estrutural teo ria ego id e superego Discurso dos pais LACAN BATESON BION No mínimo três aspectos decorrentes do dis curso dos pais em relação ao filho são singu larmente importantes 1 O das significações que eles emprestam a atos ou fantasias das crianças 2 A construção de um exigente ide al do ego por meio de predições quando tu cresceres vais ser e expectativas a serem cumpridas pelo sujeito pelo resto da vida 3 O duplo vínculo composto por duplas men sagens que a criança recebe Este último as pecto foi introduzido por GBATESON A extraordinária importância que LACAN deu ao discurso dos pais aparece sintetizada em sua frase o inconsciente é o discurso dos outros Também ficou demarcada por seu aprofundamento nos conceitos relativos aos significantes e significados BION valorizou o discurso dos pais e da cul tura a respeito do que e como o sujeito deve vir a ser igualzinho a eles Ademais esse au tor também enfatizou que o discurso de de terminados pacientes pode ter a finalidade de não comunicar o que representa um aspecto fundamental na situação analítica Discurso de Roma LACAN Segundo LACAN a psicanálise distingue fun cionamentos do sujeito em número restri to Além das singularidades próprias de cada indivíduo esses funcionamentos dependem das estruturas nas quais cada um se acha preso e essas por sua vez dependem fun damentalmente da linguagem Assim por ocasião do primeiro congresso da SFP que se realizou em 1953 em Roma LACAN fez uma marcante apresentação Fun ção e campo da fala e da linguagem na psi canálise conhecido como Discurso de Roma na qual expôs os principais elemen tos de seu sistema de pensamento proveni entes da lingüística estrutural e de influências diversas oriundas da filosofia e das ciências Elaborou então vários conceitos como o de sujeito imaginário simbólico real sig nificante aos quais com o evoluir de sua obra acresceu com novas formulações clí nicas e lógicomatemáticas como foraclu são NomedoPai Outro e outro matema nó borromeano e sexuação Além disso no seminário do ano 19691970 O avesso da psicanálise ele construiu a Teoria dos quatro discursos onde ele dis crimina separadamente o que denominou discurso do mestre discurso universitário dis curso histérico e discurso psicanalítico Esses quatro discursos cada um com particularida des específicas são considerados pelos segui dores de LACAN um dos instrumentos mais ativos para a psicanálise pelo fato de que essa a psicanálise se interessa pelo que produz o sujeito ao mesmo tempo que também ele pro duz a ordem social na qual se inscreve Dissociação ou clivagem divisão ci são splitting O termo dissociação aparece na literatura psicanalítica em vários registros com sig nificados distintos FREUD relatou inicialmente a dissociação observada na mente dos pacientes que se processava durante o transe hipnótico daí formulando sua concepção de histeria de tipo dissociativa cegueira histérica estados de sonambulismo personalidade múltipla etc A partir do trabalho Fetichismo 1927 e de forma mais consistente em Clivagem do ego no processo de defesa 1940 Freud estudou a cisão ativa que ocorre no seio do próprio ego e não unica mente entre as instâncias psíquicas 110 DAVID E ZIMERMAN FAIRBAIRN tem o mérito de ter sido um dos pioneiros na descrição de uma dissociação do ego em diversas áreas que se especi alizam em determinadas tarefas ego cen tral ego sabotador etc MKLEIN foi a autora que mais enfaticamente escreveu sobre os processos de dissociação seguidos de identificações projetivas tanto das pulsões quanto dos objetos e partes do ego BION referiu a importante dissociação da mente na parte psicótica e na parte não psicótica da personalidade Uma leitura mais atenta de sua obra permite verificar que BION concebe uma múltipla dissocia ção da mente em zonas que creio podese denominar mapamúndi do psiquismo ver esse verbete Outro registro alude à dissociação útil do ego que diz respeito tanto ao analisando como ao analista No analisando por exem plo quando na situação analítica regride e deixa aparecer a parte psicótica da sua personalidade O analista de sua parte deve ter condições de dissociar sua mente na sua função e papel de psicanalista da do ser hu mano que ocasionalmente possa estar sen do fustigada com problemas particulares Nos textos psicanalíticos aparece superposi ção dos termos dissociação clivagem divisão cisão e splitting eml alemão Spaltung Doença ou síndrome do pânico Quadro clínico até há poucas décadas con fundido com as crises manifestas nas neu roses fóbicas surgidas quando o paciente defrontase com a situação fobígena a qual a um grau máximo ele permanentemente evita enfrentar Tais crises fóbicas da mes ma forma como acontece na doença do pânico também são caracterizadas pelos sintomas típicos da neurose de angústia como o medo de morrer enlouquecer pres são précordial dispnéia etc É importante estabelecer o diagnóstico di ferencial entre as fobias propriamente di tas que vêm acompanhadas por intensa angústiapânico e os quadros clínicos simi lares que se manifestam na doença do pâ nico Nem sempre é fácil a distinção entre ambas No entanto um critério útil consiste no fato de que na fobia há a presença de uma circunstância objeto local pessoas alguma cena bem determinada bastan do evitála para que a angústia cesse en quanto no transtorno do pânico é mais difícil correlacionar a origem desencadeante da angústia com alguma clara causa definida Há uma razão importante para que seja estabelecido um diagnóstico diferencial en tre esses dois quadros clínicos A doença do pânico costuma dar uma resposta po sitiva às vezes dramática ao uso da mo derna psicofarmacologia nada impedin do o prosseguimento normal da análise com o eventual uso concomitante de psi cofármacos Donjuanismo Um bom exemplo de uma configuração narcisística que aparece camuflada com uma aparência edípica é a situação de uma pseudogenitalidade tal como ela aparece manifestamente nos casos de donjuanismo Em tais casos esses sujeitos unicamente amam aqueles que o fazem sentirse ama dos ou seja a intensa atividade genital que exige uma contínua e ininterrupta troca de parceiros obedece a uma irrefreável e vital necessidade primitiva de obter o reconhe cimento ver o verbete do quanto são ca pazes de serem amados e desejados Dor mental BION Um dos seis elementos de psicanálise se gundo BION Sua importância no transcur so de uma análise foi especialmente exalta da por esse autor que enfocou dois pontos relativos a esse aspecto 1 A sensível dife rença entre sentir uma dor pain em inglês VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 111 e sofrer suffering a dor no sentido de ela borála 2 O fato de que alguns pacientes não enfrentam a dor e usam as mais distin tas técnicas defensivas para se evadirem dela enquanto outras pessoas a enfrentam Esta última é a única maneira de ingressar na posição depressiva que pode possibili tar as transformações das fontes geradoras do sofrimento psíquico e promover um cres cimento mental Dora FREUD Pseudônimo de uma jovem paciente his térica de 18 anos cujo caso FREUD des creveu no historial clínico ver esse ver bete Fragmento da Análise de um Caso de Histeria 1905 no qual narra como a neurose de Dora organizouse em tor no do problema da função traumática da sexualidade edípica A paciente abandonou a análise após três semanas de tratamento o que levou FREUD a fazer uma autocrítica e chegar à conclusão de que ele falhou por não ter reconhecido a existência de uma transfe rência alusiva à homossexualidade femi nina de Dora Duplo RANK FREUD LACAN KOHUT BION Termo empregado pela primeira vez em psicanálise por ORANK em O duplo de 1914 donde podese depreender que ele estuda o que hoje conceituaríamos como o fenômeno de que o duplo se organiza como uma forma de negação contra o sepulta mento do self diante da existência da pul são de morte tanto que ele usou essa bo nita frase a alma imortal foi o primeiro duplo do corpo A esse trabalho de RANK seguiuse o artigo de FREUD de 1919 O sobrenatural tam bém traduzido por O sinistro onde são abordados aspectos do sujeito que está co locado em outras pessoas O fenômeno do duplo especialmente a partir de LACAN que na etapa do espelho descreveu a própria imagem da criança vista por ela mesma no espelho confundida com a da mãe está recebendo uma significativa atenção nos textos de muitos autores con temporâneos Essa temática está intimamente ligada ao fenômeno da especularidade de modo que nas situações em que não está solucionada a fase de diferenciação o sujeito sentese espelhado no outro Essa situação analítica é descrita por KOHUT como transferência narci sística de tipo gemelar como se o analista devesse ser uma alma gêmea do paciente A noção de duplo corresponde à de alter ego em grande voga em certa época da psicanálise e designa que uma outra pes soa é portadora de aspectos que o indiví duo não diferencia ou não quer reconhe cer e os projeta daqueles outros aspectos que são exclusivamente seus próprios BION em seu trabalho O gêmeo imaginá rio 1967 estuda o paciente muito regres sivo que mercê de um uso excessivo de mecanismos de dissociações e identificações projetivas e introjetivas torna o gêmeo ima ginário uma espécie de duplo seu visando a dois objetivos inconscientes 1 Manter sob controle no exterior os objetos do seu mun do interior 2 Manter a negação de que existe uma realidade diferente do seu próprio eu Duplo vínculo GREGORY BATESON BATESON e colaboradores 1950 trabalhan do em Palo Alto Califórnia no tratamento e na observação de famílias de esquizofrê nicos do ponto de vista antropológico e da comunicação utilizam a expressão duplo vínculo em inglês double bind para refe riremse a situações pelas quais mensagens contraditórias e paradoxais emitidas pelos pais invariavelmente deixam a criança no papel de perdedora e num estado de con fusão e de desqualificação 112 DAVID E ZIMERMAN Pode servir como exemplo banal a sen tença da mãe que diz ao filho Eu te orde no que não aceites ordens de ninguém ou que grita a altos brados para que a crian ça nunca grite etc Dessa forma a criança fica presa nas malhas de um duplo vínculo receia ser castigada se ela interpretar as mensagens da mãe tanto acertada como equivocadamente Aliás o termo bind originalmente alude a uma condição de prisioneiro tal como é o cabresto de ani mais E BION Letra que na Grade de BION ocupa a fileira que designa o nível concepção na gênese da função de pensar A concepção segue na grade à letra D que designa as précon cepções e permite a passagem para a letra E que refere a formação de conceitos Econômico ponto de vista FREUD FREUD definiu a metapsicologia pela síntese de três pontos de vista o tópico o dinâmi co e o econômico Este último seguindo as tendências das ciências da época deveria levar em conta a quantidade de energia psíquica Também deveria considerar nas oposições a ela a possibilidade de avaliar seu destino através de variações de intensi dade como acontece nos contrainvesti mentos ou nas suas transformações como sucede com a energia livre própria do pro cesso primário quando é transformada em energia ligada mais característica do pro cesso secundário Igualmente FREUD descreveu as perturba ções da descarga libidinal que promovem as neuroses atuais Também referiu que levando em conta a tolerância de cada su jeito em particular um afluxo excessivo de estímulos pode promover o surgimento de neuroses traumáticas tal como a neurose de guerra Da mesma forma o alívio pro duzido pelo método da descarga abreati va seria uma prova de que a energia psí quica poderia ser quantificada O ponto de vista econômico é um dos as pectos mais questionáveis na obra de FREUD embora tenha voltado à pauta como uma das melhores teorias para explicar o fre qüente surgimento das neuroses atuais ver este verbete Édipo mito de FREUD FAIRBAIRN BION Na mitologia grega um oráculo profetizara ao rei Laio que seu filho que ia nascer ma taria o pai e casaria com a mãe Jocasta Para fugir desse destino o rei confia a um servo a missão de matar o recémnato po rém o servo decidiu abandonar a criança ao invés de matála O desdobramento da história confirma a profecia de modo que Édipo mata Laio numa encruzilhada casa com Jocasta e mais tarde com a revela ção da terrível verdade do incesto involun tariamente cometido como autopunição fura seus olhos assim ficando cego FREUD inspirouse nesse mito que trata da relação do triunfo do filho sobre o pai para E 114 DAVID E ZIMERMAN postular seu famosíssimo complexo de Édi po ver este verbete que com as necessá rias ampliações de entendimento tornou se um conceito medular da psicanálise FAIRBAIRN preferiu ver no mito de Édipo o aspecto mais primitivo do abandono tal como aparece nessa passagem É notável que o interesse psicanalítico sobre a clássi ca história de Édipo tenha se concentrado sobre os atos finais do drama No entanto como uma unidade é importante reconhe cer que o Édipo que mata seu pai e despo sa sua mãe começou sua vida exposto em uma montanha e assim esteve privado de cuidados maternais em todos os seus as pectos durante uma etapa na qual sua mãe deveria constituirse no seu objeto essenci al e exclusivo BION reestudou o mito edípico através de um outro vértice de abordagem privilegi ando as diversas formas de cada um dos personagens envolvidos na trama edípica relacionarse ou não com as verdades Par ticularmente quanto a Édipo considerou que o castigo divino foi contra sua curiosi dade arrogante de querer conhecer a ver dade a qualquer preço Ego ou Eu ou Ich FREUD O significado do termo ego aparece na lite ratura psicanalítica de uma forma algo am bígua e pouco uniforme entre os distintos autores podendo por isso causar alguma confusão conceitual Esse clima algo con fusional pode ser exemplificado com três situações 1 Alguns autores utilizam inicial minúscula ego para designar essa fundamental ins tância psíquica e reservam a grafia com ini cial maiúscula Ego para indicar o que atualmente se entende por self 2 Os psicanalistas da Escola Francesa de Psicanálise que têm uma larga produção e divulgação no mundo psicanalítico com uma notória fidelidade a FREUD costumam empregar dois termos em relação ao ego um é je traduzido por eu que designa mais especificamente o ego como uma instância psíquica encarregada de funções o outro é moi que se refere mais precisamente a uma representação da imagem que o sujeito tem de si mesmo logo do seu sentimento de identidade 3 O próprio FREUD ao longo de sua obra empregava no original alemão tanto a ex pressão das Ich geralmente com o acima mencionado conceito de je como também selbst com o significado de si mesmo O fato de usar essas expressões indistintamen te veio a aumentar a imprecisão conceitual É útil estabelecer uma diferença conceitual e semântica entre ego e self ver este último verbete Ego tipos de formação do FREUD Do ponto de vista evolutivo cabe discrimi nar as seguintes transformações que o ego sofre segundo FREUD 1 Não haveria ego no recémnascido porquanto para ele no início tudo era id 2 A existência de um Ego arcaico ou incipiente também deno minado por FREUD ego do prazer puro ou ego do prazer purificado Esse nome está justificado pelo fato de que nessa fase o ego do bebê purificase ao expelir proje tar tudo o que for desagradável Igualmen te FREUD descreveu a existência nessa fase de um estado mental que chamava às ve zes de sentimento oceânico e estado de Nir vana em outras 3 Ego da realidade primi tiva 4 Ego da realidade definitiva no qual começa a haver a transição do princípio do prazer para o princípio da realidade e do processo primário para o processo secun dário Resumindo FREUD definiu o ego como um conjunto de funções e de representações Embora ele não tenha usado especificamen te essas denominações os autores atuais costumam sintetizar tudo que ele conceituou VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 115 descrevendo dois tipos o egofunção e o egorepresentação O egofunção alude tanto às funções mais ligadas ao consciente percepção pensa mento juízo crítico capacidade de síntese conhecimento linguagem comunicação ação como também refere a funções que se processam no inconsciente formação das angústias dos mecanismos de defesa dos símbolos das identificações com o con seqüente sentimento de identidade Ego alter Termo que já esteve muito em voga no jar gão psicanalítico depois praticamente de sapareceu Volta a aparecer com alguma regularidade na literatura especializada com o significado de duplo do sujeito Ou seja por meio de identificações projetivas maciças dos seus superegóicos objetos internos em alguém o sujeito constrói uma duplicação dele uma espécie de gêmeo imaginário Vale acrescentar que o fenômeno do duplo especialmente a partir de LACAN que descre veu a imagem da criança vista por ela mes ma no espelho está merecendo significativo destaque nos textos de muitos autores con temporâneos O tema foi inicialmente estu dado por ORANK em O duplo 1914 e por FREUD em O sobrenatural também traduzi do por O sinistro 1919 Ego auxiliar Expressão não muito utilizada porém mui to útil na medida em que ajuda a esclare cer que nem sempre os objetos superegói cos são introjetados de forma tirânica e ameaçadora Pelo contrário quando os objetos internalizados se organizam como aliados do ego no sentido de auxiliar a es tabelecer os necessários limites e a imposi ção de valores morais e éticos cabe consi derar a denominação de ego auxiliar como equivalente ao que seria um superego amis toso benevolente e útil Ego contra Ver contraego Ego ideal FREUD utilizou ego ideal ideal do ego e superego de forma superposta e algo in distinta Na atualidade os autores costu mam fazer distinção entre os respectivos significados Assim ego ideal uma subestrutura do apa relho psíquico aparentada com o superego é considerado herdeiro direto do narcisismo original Em outras palavras os mandamen tos internos obrigam o sujeito a correspon der na vida real às demandas provindas de seus próprios ideais geralmente impregnados de ilusões narcisistas inalcançáveis Essas ilu sões por isso mesmo determinam no indiví duo um estado mental que se caracteriza por uma facilidade para sentir depressão e humi lhação diante dos inevitáveis fracassos delas Ego ideal do Subestrutura diretamente conectada com o conceito da estrutura do superego Re sulta dos ideais do próprio ego ideal da criança projetados e altamente idealiza dos nos pais e que se somam aos origi nais mandamentos provindos do ego ideal de cada um deles Dessa forma o sujeito fica submetido às aspirações dos outros sobre o que deve ser e ter e daí decorre que seu estado mental prevalente é de permanente sobressalto sendo facilmente acometido de sentimento de vergonha quando ele não consegue cor responder às expectativas dos outros que passam a ser também suas Ego prazer ego realidade FREUD Termos indicadores de etapas evolutivas do ego incipiente descritos no verbete Ego ti pos de formação do 116 DAVID E ZIMERMAN Ego supra Proponho o termo supraego o prefixo su pra significa acima de tudo para designar a conceituação de BION relativa à existên cia do que ele denomina como um super superego Alude a uma subestrutura cons tante da parte psicótica da personalidade pela qual o sujeito cria leis e uma moral própria e onipotentemente quer impôlas à natureza e aos demais Ego e o Id O FREUD 1923 Considerado o último dos grandes trabalhos teóricos de FREUD aparece no volume XIX p23 da Standard Edition brasileira Composto de cinco partes e dois apêndices suas duas idéias principais referemse a 1 Tríplice divi são da mente com ênfase na importância do ego 2 Gênese do superego A parte I Consciente e Inconsciente abor da a força dos recalcamentos do conscien te para o inconsciente o que gera as resis tências durante a análise Na parte II O ego e o id FREUD afirma que o ego é a parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo exterior através do sistema perceptivoconsciente Também aí faz a célebre afirmativa de que o ego é em primeiro lugar e acima de tudo um ego corporal Na parte III O ego e o superego Ideal do ego FREUD assevera que o superego não é um mero resíduo das primeiras escolhas objetais do id representa também uma enérgica formação de reação contra tais escolhas O ideal do ego é o herdeiro dire to do complexo de Édipo A parte IV As duas classes de pulsões trata do problema da ambivalência e a possibilidade de sublimação através da dessexualização ou seja da renúncia da libido erótica que então fica transformada em libido do ego A parte V As relações dependentes do ego aborda o fato de que o ego é formado a partir de identificações que substituem in vestimentos abandonados pelo id A primei ra dessas identificações é o superego Nessa parte há um destaque para o papel repre sentado pelo sentimento de culpa O apêndice A trata de O inconsciente des critivo e o inconsciente dinâmico e o B en foca O grande reservatório de libido Egossintonia e egodistonia Estado mental que o analisando tem a res peito de sua própria neurose Freqüente mente os analistas encontram uma forte forma de resistência do paciente a uma boa evolução da análise Embora sejam eviden tes seus conflitos inibições e estereotipias o sujeito está harmonizado com a sua deficitá ria qualidade de vida e sempre consegue en contrar racionalizações que lhe justificam a tese de que não tem o que mudar Nesses casos antes de tudo é necessário que o analista consiga transformar em egodistô nico o que está egossintônico no analisando Eitingon Max EITINGON passou à história da psicanálise não em razão de alguma importante obra psicanalítica mas sim por ter sido um dos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 117 mais íntimos colaboradores fiéis a FREUD e por ter prestado uma importante contribui ção à história da organização do movimen to psicanalítico internacional Nascido na BieloRússia em 1893 MAX EI TINGON era o segundo filho de uma abasta da família judia ortodoxa Aos 12 anos acompanhando a família emigrou para a Alemanha onde como ouvinte fez estu dos superiores sobre história da arte e filo sofia e posteriormente graduouse em me dicina Partiu para a Suíça onde se li gou à Clínica Burghölzi fazendo aproxima ção com BLEULER e JUNG e conhecendo ABRAHAM Desses contatos surgiu a motiva ção para visitar FREUD em Viena em 1907 começando a participar das reuniões da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Por volta de 1908 fez uma curta análise didática com FREUD a qual se desenrolou no cenário de passeios vespertinos Homem tímido apresentando problemas de gagueira cativou a FREUD que indicou seu nome para pertencer ao Comitê Secreto Gradualmente e sempre mostrando uma total e irrestrita solidariedade a FREUD EI TINGON foi galgando posições a ponto de tornarse responsável pela organização de muitos congressos Presidiu a IPA de 1927 a 1932 criou e financiou a Policlínica de Berlim assim emprestando um caráter so cial à psicanálise um velho sonho de FREUD EITINGON não só contribuiu financeiramen te nos momentos difíceis que a psicanálise atravessava foi também um dos maiores incentivadores do tripé da formação psica nalítica análise pessoal seminários teóri cos e igualmente a obrigatoriedade de su pervisão dos casos clínicos No final de 1933 EITINGON deixou a Ale manha para sempre e partiu para a Palesti na instalandose em Jerusalém onde fun dou o Instituto de Psicanálise de Jerusalém MAX EITINGON morreu em 1943 e foi sepul tado no cemitério do Monte das Oliveiras em Jerusalém Elaboração ou perlaboração Na terminologia original alemã FREUD em pregou tanto Verarbeitung como Durchar beiten Ambos derivados de Arbeit traba lho literalmente significam trabalho esme rado substantivo e trabalhar continuada mente verbo Esses termos costumam ser traduzidos para o português como elabo ração e perlaboração Na língua inglesa durcharbeiten foi traduzido por working through que quer dizer trabalhar através de Essas expressões indicam que o aparelho psíquico através de um trabalho consegue transformar o volume da energia pulsional derivandoa para outro lugar do psiquismo ou ligandoa a alguma representação Nos casos em que houver incapacidade de ela borar um excesso de estímulos pode resul tar uma neurose atual ou uma histeria na qual a tensão sexual não trabalhada fica derivada em sintomas somáticos Para FREUD de um modo geral a ausência ou a deficiência da elaboração das pulsões nas suas diversas formas estaria na base de todas neuroses e psicoses Elaboração secundária FREUD Trabalho efetuado pelo psiquismo em rela ção ao sonho que num segundo tempo procura dar uma certa coerência lógica ao enredo do sonho caso contrário ele apa receria caótico e totalmente incoerente Elasticidade na Técnica Analítica FE RENCZI 1928 Título do livro de FERENCZI um psicanalista de extraordinário talento clínico onde ele proclama que não mais recomenda e até contraindica a prática da técnica ativa ver esse verbete Em seu lugar propõe novos métodos como o da neocatarse o qual através de regressões propiciaria ao paci ente a revivescência dos traumas sofridos 118 DAVID E ZIMERMAN no passado dentro da situação analítica presente Tal como aconteceu com a técni ca ativa também o método da neocatarse embora de inspiração interessante não vin gou por falta de uma consistente fundamen tação teóricoconceitual No entanto essa obra de FERENCZI pode ser considerada precursora da psicanálise con temporânea porque nela transparece a intui ção do clínico que não se contentou em ficar restrito ao papel de descodificar e interpretar os conflitos inconscientes contidos na narrati va do analisando Pelo contrário FERENCZI se preocupava sobretudo com a qualidade da relação recíproca entre o par analítico dando ênfase à necessidade de o analista sentir com o que hoje chamamos de empatia Assim ele enfoca aspectos como a o de o analista se abster de frustrar desnecessaria mente b o de possuir o que Ferenczi cha mava de tato psicológico especialmente quanto ao momento e à forma de interpre tar c as condições de paciência indulgên cia compreensão e especialmente a de uma certa flexibilidade elasticidade que todo terapeuta necessariamente deveria ter para eventualmente poder ceder às neces sidades do paciente Além disso lançou as primeiras sementes da utilização dos sentimentos contratrans ferenciais como um importante instrumen to de técnica analítica Elementos em Psicanálise BION 1963 Obra em que BION tenta simplificar as teorias psicanalíticas demasiadas na opinião desse autor introduzindo a noção da existência de alguns elementos fundamentais que a exemplo do que se passa com os poucos al garismos aritméticos letras do alfabeto e no tas musicais permitem infinitas combinações A palavra elemento vem do étimo latino ele mentum o qual designa as letras do alfabeto que em distintos arranjos formarão palavras as quais formarão frases discursos etc BION propôs os seguintes seis elementos de psicanálise que ele considerou essen ciais 1 A relação continenteconteúdo 2 A contínua e recíproca interação entre a posição esquizoparanóide e a posição depressiva 3 A presença constante nas experiências emocionais dos vínculos L H e K 4 A relação entre a razão R e a idéia I 5 As emoções particularmente a da dor psíquica 6 O fenômeno das transformações nos acontecimentos psí quicos Elementos em Psicanálise 1963 é um dos mais importantes livros de BION não somen te pelo conteúdo de suas concepções origi nais como pelo fato de que pode por sua clareza ser recomendado aos que iniciam uma familiarização mais íntima com as idéias desse autor Além dos aspectos aci ma enumerados nesse livro BION também enfoca a origem e a natureza dos pensa mentos e da capacidade para pensar a teo ria das funções os mitos o conceito de in tuição e de premonição a utilização de modelos a introdução do conceito do fe nômeno da reversão da perspectiva Alude também ao crescimento mental como sen do um processo diferente do conceito clás sico de cura médica Elementos ααααα BION Primitivas impressões sensoriais e experiên cias emocionais elementos β que foram adequadamente transformadas pela função α da mãe Dessa maneira se constituem elementos que predominantemente adqui rem a forma de imagens visuais que são utilizadas pela mente para a formação de sonhos recordações formação de símbo los e para a capacidade para pensar Elementos βββββ BION As arcaicas impressões sensoriais e expe riências emocionais que não conseguem VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 119 ser transformadas em alfa devem ser ex pulsas e evacuadas como acontece por exemplo nos actings e em muitas soma tizações Elisabeth von R Caso clínico de FREUD O nome dessa paciente passou à história da psicanálise por ter sido ela quem se opôs ao método coercitivo Na época desiludi do com a hipnose FREUD usava o recurso de pressionar a fronte das pacientes deita das a fim de forçálas a associar livremente e garantiu à paciente que ela associaria es pontaneamente de forma mais livre e me lhor o que de fato aconteceu Esse fato constituiuse uma marcante rup tura epistemológica porquanto FREUD co meçou a cogitar que as resistências cor respondiam a repressões daquilo que es tava proibido de ser lembrado não só dos traumas sexuais realmente acontecidos mas também dos frutos de fantasias re primidas Enquadre Tradução portuguesa do termo psicanalíti co setting em cujo verbete específico está descrita sua importância na técnica e na prática analítica Entrevista inicial técnica É útil estabelecer uma diferença conceitual entre entrevista inicial e a primeira sessão de análise As entrevistas inicialais antecedem o contrato analítico enquan to primeira sessão indica que a análise já começou formalmente A entrevista inicial pode se desenvolver numa única ou mais entrevistas Visa fun damentalmente a a recíproca tomada de contato para avaliação da empatia esta belecida b a indicação ou contraindi cação para o método analítico c o grau de motivação d a teoria de cura que o pretendente tem em relação à análise e o grau de patologia f mais importante ainda a reserva de capacidades positivas as mútuas disponibilidades de órdem prá tica etc Uma explanação mais ampla sobre esse verbete pode ser encontrada no capítulo Entrevista inicial indicações e contraindi cações O contrato do livro Fundamentos psicanalíticos Teoria Técnica e Clínica Zi merman 1999 Elos de ligação BION Uma das traduções de link termo original mente usado e conceituado por BION e que mais comumente aparece traduzido como vínculo ver esse verbete Emoção A palavra emoção deriva de emovere ou seja formase a partir de uma certa ação pulsional um movimento na mente Para M KLEIN o representante mental da pulsão ligada ao objeto é a fantasia incons ciente e o impacto da pulsão sobre o obje to gera a experiência emocional no incons ciente A partir daí BION propõe que a emoção busca uma forma de expressão e uma re presentação simbólica para ser pensada BION também descreve os vínculos como uma ligação das emoções com as corres pondentes antiemoções ou da vivência emocional versus alheamento emocional e discrimina os distintos tipos e graus das emoções como a de um estado de paixão por exemplo Empatia FREUD KOHUT Empatia designa a capacidade de o analis ta sentir em si Parece ser essa a tradução mais apropriada de Einfühlung termo em pregado por FREUD no capítulo VII de Psi cologia das massas e análise do ego 1921 120 DAVID E ZIMERMAN para referir o poder de sentirse dentro do outro por meio de adequadas identificações projetivas e introjetivas A palavra empatia deriva do grego e for mase de em ou en dentro de pathos sofrimento dor O prefixo sym ou sin por sua vez indica estar ao lado de Fica clara assim a importante distinção entre empatia e simpatia Também é útil distinguir empatia de intuição a primeira é mais própria da área afetiva enquanto a segunda referese mais ao terreno ideativo e précognitivo Embora não tenha sido o primeiro autor a enfatizar o conceito de empatia KOHUT cer tamente foi quem lhe deu maior importân cia na técnica e prática analítica KOHUT 1971 preconiza que a relação analítica deve ser a de uma ressonância empática entre o self do analisando e a função de selfobjeto do analista Isso acontece quan do o paciente sentese compreendido pelo analista e demonstra que o compreende Comentário Embora reconheçamos a ex traordinária importância da empatia na práti ca clínica é necessário concordar com os au tores que advertem contra o risco de sua su pervalorização Quando for resultante de ex cessivas identificações projetivas e introjetivas a empatia pode borrar os necessários limites e a ocupação de lugares e papéis de ambos bem como pode gerar a formação de conlui os inconscientes indo até a possibilidade ex trema de degenerar numa folie a deux Energia de catéxis ou de investimento FREUD Dimensão quantitativa dos investimentos pulsionais determinando o ponto de vista econômico ver este último verbete do psi quismo Energia livre e energia ligada FREUD Segundo FREUD a energia pulsional livre ou móvel é própria do processo primário isto é ela é descarregada de forma rápida to tal e direta de uma representação para outra de um objeto para outro A energia ligada por sua vez é característi ca do processo secundário ou seja se for ma posteriormente a uma forma livre seu movimento para a descarga é controlado e retardado pelo ego caracterizando um ní vel mais estruturado do aparelho psíquico Enunciado identificatório PIERA AU LAGNIER De acordo com definição de PAULAGNIER 1975 importante psicanalista da Escola Francesa de Psicanálise enunciado identi ficatório é a imagem acústica significada e ressignificada pelo discurso dos pais e da cultura As predições veiculadas pelo dis curso dos educadores tipo essa criança é terrível e vai se dar mal na vida vão converterse em imagens identificatórias ou seja a criança identificase com a represen tação e o afeto com que o adulto celebra ou desqualifica algum traço valor ou ativi dade do filho Epistemofilia Epistemologia deriva do grego epistéme ciência logos estudo e referese ao estu do da teoria do conhecimento Em termos psicanalíticos epistemofilia alude mais es pecificamente a uma tendência inata da criança em querer conhecer filos amigo de as verdades dos fatos que a cercam e para os quais não encontra explicações FREUD 1917 considerou a epistemofilia como pulsão componente da libido e des creveu casos de psicopatologia ligados à má resolução da indagação epistemológica da criança como acontece nos casos de esco pofilia voyeurismo exibicionismo M KLEIN 1930 estabeleceu uma estreita ligação entre as pulsões sádicas e o desejo de conhecer demonstrando os distúrbios de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 121 aprendizagem da simbolização e do desen volvimento intelectual em geral que podem ocorrer com as inibições da epistemofilia quando essa se torna excessivamente inun dada pelo sadismo BION retomou o estudo da tendência epis temofílica do ser humano e o ligou à nor malidade e patologia da função de conhe cimento K ou K Um aspecto interessante ligado à epistemo filia é que FREUD nunca acreditou que a meninazinha já tivesse um precoce conhe cimento da existência da vagina a qual na percepção da criança não passaria de um pênis castrado enquanto nos dias atuais a grande maioria dos autores se inclinam pela convicção de que esse conhecimento da vagina já existe muito precocemente Equação etiológica FREUD Expressão de FREUD com o mesmo signifi cado de outra empregada por ele séries complementares Ambas referem o fato de que são três os fatores que formam a per sonalidade da criança 1 Os heredocons titucionais Anlage em alemão 2 As anti gas experiências emocionais com os pais 3 As experiências traumáticas da realida de da vida adulta Na atualidade os autores costumam redu zir essa equação a um simples assinalamen to de que existe uma permanente intera ção entre nature fatores biológicos e nur ture fatores ambientais Equação 8 C Como uma tentativa de sintetizar os fatores essenciais que em algum grau e tipo de arranjo combinatório estão presentes com configurações distintas em qualquer situa ção psicopatológica proponho um esque ma mnemônico constituído de oito fatores cujos termos têm C como inicial e que es tão em permanente interação completude carência culpa castigo compulsão à re petição código de valores introjetado ca pacidade de atingir a posição depressiva 1 Completude Todo indivíduo nasce num estado subjetivo de total completude por estar fundido com a mãe num estado de nirvana Enquanto dura a fase de indi ferenciação entre o eu e o outro o bebê ou o futuro adulto anela a eternização desse estado paradisíaco 2 Carência Como esse desejo de total completude é impossível de ser alcançado diante das inevitáveis e necessárias frus trações por parte dos objetos provedores sua majestade o bebê entra num estado de carência afetiva 3 Cólera crime Conforme o grau e a qualidade dessas frustrações a criança de senvolve um estado raivoso de cólera que pode atingir o nível de fantasias de cruel dade e de crime homicida contra os obje tos frustradores e privadores 4 Culpa Como decorrência direta dos ata ques reais ou fantasiados instalase na criança um estado de culpa pelos eventu ais danos que tenha infligido tanto a seus objetos quanto a seu próprio ego 5 Castigo A conseqüência direta desse estado culposo é a necessidade de castigo que se reveste das mais diversas formas de masoquismo desde as inaparentes até as de mais alta gravidade 6 Compulsão à repetição É fácil obser var que após serem castigados pelos pais pelo cometimento de uma arte delituosa as crianças sintamse liberadas para uma nova transgressão São movidas por uma forma de compulsão à repetição até conse guirem provocar um novo castigo e assim por diante 7 Código de valores introjetados Uma mesma arte praticada por duas crianças em diferentes ambientes familiares ou em uma mesma família que funcione muito dissoci ada pode resultar em significados totalmen te opostos Assim uma dessas crianças pode 122 DAVID E ZIMERMAN ter sido entendida e valorizada na sua arte o que faria crescer seu núcleo de confiança básica enquanto a outra pode ter sido ro tulada de criança má desobediente e cau sadora de sérios estragos Nesse último caso é a culpa imputada que precede o senti mento de culpa 8 Capacidade para atingir a posição depressiva Segundo a concepção da es cola kleiniana o círculo vicioso dessa com pulsividade à repetição somente será des feito se a criança adquirir a capacidade de atingir a posição depressiva Desse modo assumirá sua parcela de responsabilidades e poderá vir a fazer reparações verdadei ras abrindo o penoso caminho para fazer transformações no sentido de um cresci mento mental Cada uma dessas oito etapas tem uma cons telação particular e apesar de todas esta rem em permanente interação a ênfase da fixação em uma ou outra pode servir como uma espécie de roteiro dos aspectos que prioritariamente devam ser analisados Equação simbólica HANNA SEGAL Conceito original de HSEGAL 1954 relativo ao fato de pacientes psicóticos não consegui rem desenvolver boa capacidade para formar símbolos substituindoos por equações sim bólicas Nesses casos resulta uma confusão entre o que é o objeto real e o que está sendo simbolizado por meio de fantasias SEGAL esclarece com um exemplo um paci ente psicótico convidado para tocar violino numa festinha do hospital recriminoua se veramente porquanto ele dera um significa do concreto ao violino como se fora de fato um pênis e imaginou que estava sendo con vidado para masturbarse publicamente Erikson Erik Nascido na Alemanha originário de uma família judaica de classe média e posterior mente convertido ao protestantismo ERIK SON 19021994 fez sua formação psica nalítica em Viena com AFREUD Nos anos que precederam a II Guerra Mundial radi couse nos Estados Unidos onde em Bos ton dedicouse à análise com crianças e adolescentes ERIKSON é considerado como sendo o primeiro discípulo de AFREUD e o primeiro homem a se especializar nessa ati vidade até então exercida unicamente por mulheres Filiado à Escola da Psicologia do Ego aos poucos ERIKSON foi se aproximando das concepções do culturalismo o que o incen tivou a escrever o clássico Infância e Socie dade 1950 Nessa obra enfatiza a impor tância que as influências das mudanças so ciais com as respectivas crises existenciais exercem na formação do sentimento de identidade notadamente dos adolescentes ERIKSON também descreveu a formação dos núcleos básicos de confiança ou de descon fiança que determinam o tipo de escolha de objetos Eros Inicialmente FREUD descrevia as zonas eró genas no corpo da criança e diferenciava o que era de Eros num sentido mais platôni co daquilo que era sexualidade embora diferentemente do que muitos pensam tam bém diferenciava sexualidade de genitali dade A partir de Além do princípio do pra zer1920 FREUD introduziu o termo Eros significando o conjunto de pulsões de vida em oposição a Tanatos ligado à pulsão de morte Nessa oportunidade Freud definiu que a toda energia de Eros passaremos a chamar libido Na psicanálise contemporânea predomina a expressão as múltiplas faces de Eros o que está de acordo com a mitologia grega que enfoca esse personagem Eros desper tou o amor da bela Psique mas desde o início o romance entre ambos foi marcado VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 123 pelo desígnio do ódio Sua mãe Afrodite Vênus mordida pela inveja da beleza de Psique tentou servirse do filho para exe cutar seu terrível plano de vingança contra quem ousava ser mais linda do que ela Esse mito permite reconhecer o entrecru zamento de múltiplas faces do ser humano como o amor a inveja os castigos vingati vos as tramas sórdidas enfim a fusão das múltiplas faces de Eros fundidas e intera gindo com outras tantas faces de Tânatos Erótica e erotizada transferência O analista deve estabelecer a diferença en tre o surgimento de uma transferência eró tica e uma transferência erotizada na situa ção analítica A primeira é de surgimento freqüente e re presenta um movimento sadio do pacien te porquanto ele está possibilitando a aná lise de um aspecto evolutivo de importân cia essencial Já a transferência erotizada quando exa gerada pode impossibilitar o andamento da análise porquanto o analisando mais comumente uma paciente de característi cas marcadamente histéricas ou perver sas sente uma intensa atração sexual peloa analista Essa atração se converte em um desejo sexual obcecado de natu reza delirante que permanece inarredá vel consciente egossintônico e freqüen temente resistente a qualquer tentativa de análise além de representar um risco nada desprezível de um enredamento do analista Esboço ou Esquema de Psicanálise FREUD 1940 Sendo o Esboço um trabalho inacabado é intrigante especular quais seriam os ca minhos que FREUD tomaria se o completas se definitivamente Consta de nove capítu los distribuídos em três partes Na parte I denominada A mente e seu funcionamento o capítulo I aborda O apa relho psíquico O capítulo II estuda A teoria das pulsões O III enfoca O desenvolvimento da função sexual No IV FREUD aborda As qualidades psíquicas O capítulo V é intitu lado A interpretação de sonhos como ilus tração A parte II intitulada O trabalho prático consta do capítulo VI que aborda A técni ca da psicanálise e do capítulo VII Um exemplo de trabalho psicanalítico Na parte III intitulada Rendimento teóri co o capítulo VIII aborda O aparelho psí quico e o mundo interno e o IX estuda O mundo interno Este trabalho de FREUD considerado muito importante porque é uma espécie de inven tário da sua obra com as suas posições fi nais aparece na Standard Edition no vo lume XXIII Escolas de psicanálise A ciência psicanalítica criada por FREUD há mais de um século é na atualidade uma frondosa árvore de raízes profundas e bem nutridas com um tronco espesso e sólido dando bons frutos germinando novas se mentes e produzindo muitas ramificações Nessa metáfora podese dizer que muitos dos ramos fertilizaram e produziram novos arbustos conservando a essência da árvo remãe enquanto outras não tiveram o mesmo fim Assim entre algumas dissidên cias e muitos desviacionismos predominou um maior número de seguidores fiéis tan to ampliadores como refutadores Alguns desses psicanalistas mercê de contribuições originais que conseguiram atravessar suces sivas gerações de praticantes da psicanáli se e ganharam novas ramificações aliadas a uma liderança carismática fundaram no vas escolas de psicanálise O conceito de escola como aqui entendi do deve atender às seguintes cinco condi 124 DAVID E ZIMERMAN ções básicas 1 O autor que a criou ou seus seguidores devem ter aportado conceitos originais 2 Que esses conceitos não se afas tem dos princípios que constituem a essên cia do legado metapsicológicoteóricotéc nico de FREUD 3 Que essas concepções originais tenham aplicabilidade na prática psicanalítica clínica 4 Que sejam concei tos que atravessem gerações de psicanalis tas 5 Que sucessivamente inspirem e dêem novos frutos e ramos Dentre as correntes psicanalíticas que pre enchem as condições arroladas acima há sete escolas especificadas adiante que merecem ser destacadas Cumpre ressaltar que até há pouco os psicanalistas costu mavam se filiar a uma escola sem querer saber muito das outras enquanto a cres cente tendência atual é a de uma formação pluralista isto é prevalece o consenso de que a verdade analítica não está nos auto res mas sim nos nexos entre eles As sete escolas referidas são 1 Escola Freudiana Iniciada por FREUD e os pioneiros seus seguidores imediatos após ficou centralizada em AFREUD e seus seguidores da Sociedade Britânica de Psi canálise 2 Teóricos das Relações Objetais Os prin cipais representantes são FAIRBAIRN e princi palmente MKLEIN com uma plêiade de im portantes seguidores 3 Escola da Psicologia do Ego Fundada nos Estados Unidos por HARTMANN seguida por outros psicanalistas inovadores Na atualidade em especial após os trabalhos de MMAHLER e colaboradores essa corren te é conhecida como Psicologia do Ego Contemporânea 4 Psicologia do Self Foi fundada por H KOHUT também nos Estados Unidos 5 Escola Francesa de Psicanálise ou como muitos preferem denominála Escola La caniana levando em conta que o grande inspirador foi a figura controvertida de J LACAN 6 Escola dos seguidores de WINNICOTT 7 Escola dos seguidores de BION Essas sete escolas aparecem descritas nos verbetes específicos Escola Freudiana de Psicanálise ou Escola Estruturalista LACAN Em junho de 1964 JLACAN fundou a Es cola Freudiana de Psicanálise EFP O ter mo Escola foi adotado em lugar de Socie dade ou Associação como é praxe justa mente com o propósito de propor uma mo dificação nos padrões clássicos da IPA que seguem uma hierarquia com um escalona mento gradual de postos e posições LACAN pretendia seguir a transmissão do saber conforme a tradição das escolas gregas Dessa forma cercado de brilhantes psica nalistas como S LECLAIRE PAULAGNIER JLAPLANCHE B PONTALIS entre outros LA CAN entre 1964 e 1967 propôs quatro modificações essencialmente diferentes da quelas tradicionalmente adotadas pela IPA 1 Abolição da distinção entre análise didá tica e análise terapêutica 2 Desobrigação dos candidatos à formação analítica de se rem compelidos a escolher seu analista den tro de uma lista de didatas ungidos pela ins tituição de modo que podiam fazer a aná lise com qualquer analista da EFP ou de uma outra Sociedade 3 Abolição da obri gatoriedade de manter um tempo fixo de duração da sessão de análise podia ser mais ou bastante menos do que os clássicos 50 minutos 4 Aceitação de pessoas nãopsica nalistas como pertencentes à Escola Essa última concessão atraiu um enorme número de jovens tanto terapeutas que não aceitavam a psicanálise clássica como tam bém pertencentes da juventude altamente intelectualizada especialmente os provin dos da École Normale Superieure Em 1967 LACAN propôs o sistema de ad missão de candidatos para a formação co nhecido como passe ver o verbete o qual VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 125 sofreu a desaprovação de muitos impor tantes analistas da EFP entre os quais PAULAGNIER Esses analistas alertaram LACAN quanto aos riscos de uma excessiva permis sividade mas perderam na votação para a grande maioria dos jovens analistas que fi caram exultantes com a facilitação propicia da pelo passe Os dissidentes abandonaram a Escola e fundaram a Organisation Pycha nalytique de Langue Française OPLF tam bém conhecida como o Quarto Grupo Em 1978 Lacan reconheceu que o sistema de passe entrou num impasse e que sua utopia de evitar um sistema burocrático es clerosado fracassou Daí em diante acome tido por distúrbios cerebrais que gradativa mente foram complicando um processo de afasia e uma incapacidade para escrever LACAN foi se desligando e delegando a total liderança da EFP para o seu genro JALLAIN MILLER Em 1980 Lacan anunciou a dissolução da Escola que então num processo de gigan tismo difícil de controlar contava com mais de 600 membros e passou a sofrer sucessi vas dissidências com a formação de inú meras outras escolas lacanianas Escopofilia voyeurismo FREUD A escopofilia desde há muito tempo foi considerada uma forma de perversão pela qual o sujeito só consegue encontrar satis fação sexual quando consegue flagrar uma nudez total ou parcial de um ou de vá rios outros FREUD estudou esse desvio se xual juntamente com o exibicionismo caso no qual o sujeito deseja mostrarse nu mais precisamente a exibir as suas partes genitais Na atualidade considerase que as crian ças e muitos adultos que não são perver sas podem ser tentadas pelo desejo de olhar pessoas nuas e de serem olhadas em esta do de nudez e mais especificamente mos trando sua genitália Escritos LACAN 1966 O título original desse importante livro é Écrits Consiste no conjunto dos principais trabalhos de LACAN escritos no período de 1949 a 1960 que foram reunidos e publi cados em 1966 constituindo a coluna mes tra de toda sua longa obra Em 1988 foi lançada sua tradução para o português Escuta analítica conceito de técnica Antes de tudo é necessário estabelecer uma distinção entre ouvir função fisiológica de audição e escutar implica envolvimento emocional A conceituação de escuta no campo analítico abarca no mínimo dois planos o da comunicação primitiva e o da escuta das narrativas do paciente e das in terpretações do analista Comunicação primitiva Cada vez mais os psicanalistas estão valorizando a escuta daquilo que o analisando está transmitin do inconscientemente através de uma co municação primitiva não verbal expressa pela via de canais como 1 A linguagem corporal de distintas ma neiras o corpo fala e tal como uma mãe que descodifica as necessidades que o bebê manifesta através do corpo sob a forma de rictos de dor ou sorrisos de prazer diarréia vômitos etc também o analista deve com preender e escutar a linguagem dos gestos atitudes formas de o paciente se vestir e tratar seu corpo as somatizações etc 2 A escuta da linguagem oniróide imagens vi suais devaneios narrativas místicas aluci noses sonhos etc 3 A escuta da condu ta do paciente muito especialmente a dos actings 4 A escuta dos efeitos contratrans ferenciais aspecto de relevante importância na prática clínica porquanto o analista que souber escutar os sentimentos contratransfe renciais que o paciente despertou nele estará apto a transformálos em empatia 126 DAVID E ZIMERMAN Escuta das interpretações do analista Na situação analítica não basta o analista interpretar corretamente o importante é que mais do que exata a interpretação seja eficaz e para tanto é fundamental o desti no que a interpretação tomou na mente do paciente isto é como é sua escuta daquilo que lhe é dito Igualmente importante é que o analista esteja atento para a escuta da escu ta isto é de como o analisando escutou a escuta do terapeuta e viceversa Também é relevante no campo analítico a escuta dos silêncios os quais representam uma linguagem própria muitas vezes ne cessária e bastante significativa A esse res peito vale mencionar uma metáfora em pregada por BION segundo a qual a música está formada por elementos de notasinter valosnotas podendo a ausência de som isto é a presença do intervalo representar mais vigor e expressividade que a nota musical por si só Igualmente importantes são mais dois as pectos Um consiste naquilo que TREICK chamou de terceiro ouvido que corres ponde a uma escuta baseada na intuição ver esse verbete tal como BION descre veu Um segundo aspecto é o que se re fere à necessidade de na situação analí tica o terapeuta ter a capacidade para fazer uma escuta simultânea dos diferen tes níveis sígnicos e simbólicos contidos e transmitidos num mesmo momento pela narrativa do paciente Espaço mental FREUD MELTZER BION É desnecessário frisar que os espaços que as diversas facetas do psiquismo ocupam na mente humana não são concretos mas sim virtuais Já FREUD quando formulou sua Teoria To pográfica topos em grego significa lugar transmitia a noção de que o consciente o préconsciente e o inconsciente estariam separados ocupando instâncias o mesmo que foros na mente Da mesma forma na sua segunda tópica a teoria estrutural FREUD concedeu espaços ocupados respectivamente pelo Id pelo Ego e pelo Superego chegando a ilustrar todas essas noções com um modelo gráfico Em registros distintos todos os principais autores também aludiram à divisão do es paço mental porém cabe destacar as con cepções de MELTZER e de BION MELTZER em seu livro Exploración del au tismo 1975 ao tratar do problema da ade sividade descreve quatro tipos de espaço mental que ele denomina dimensionalida de da mente e que são 1 Espaço unidimensional aquele no qual o espaço e o tempo se fundem numa di mensão linear não se distinguem entre si e não permitem a formação da memória e muito menos do pensamento Esse tipo de espaço primitivo característico dos esta dos autísticos é comparado por MELTZER a uma ameba que se comunica com o mun do somente através da emissão de pseudó podos ou seja no caso dos autistas vale dizer pseudópodos mentais 2 O espaço bidimensional característico da identificação adesiva não vai além de um contato de superfície do ego do sujeito com outras superfícies de pessoas necessi tadas que são valorizadas somente pelo que elas gratificam ou frustram 3 O espaço tridimensional é aquele no qual predominam as identificações projetivas as quais diz MELTZER quando usadas exage radamente impedem a emancipação da pessoa e determinam os quadros de pseu domaturidade 4 O espaço tetradimensional é concebido por MELTZER como aquele no qual saindo do narcisismo e passando satisfatoriamen te pela posição depressiva o sujeito adqui re uma discriminação do espaço e do tem po reconhece a existência e a autonomia do outro de modo que a mente encontra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 127 um espaço que lhe permite perceber co nhecer e pensar BION empresta especial importância principal mente para a prática analítica ao reconheci mento de diferentes espaços virtuais na men te de qualquer pessoa o que está bem tradu zido na sua concepção de parte psicótica e parte não psicótica da personalidade BION vai mais longe e numa breve passagem de sua obra chega a comparar o psiquismo a um mapa múndi com distintas regiões do psiquis mo bem delimitadas e diferençadas entre si Comentário Inspirado nessa metáfora de BION penso que da mesma forma como acontece com o mapa que representa o mun do também a geografia do psiquismo de cada sujeito vai sofrendo transformações com o correr do tempo Igualmente penso que exis tem pontos cardeais psíquicos que apontam para uma direção ou outra zonas pacíficas com outras turbulentas superfícies amenas e montanhas íngremes regiões polares onde tudo é frio branco desértico numa alternân cia com zonas equatoriais tórridas tempera mentais vulcões inativos com a possibilida de de voltar à atividade emitindo lavas des trutivas Além desses na mente há fenôme nos climáticos iguais aos do El niño no duplo sentido da expressão tanto com a parte crian ça de qualquer pessoa como no sentido de uma forte turbulência do clima emocional Completo a imagem metafórica propondo o termo Bússola Empática como um ins trumento imprescindível para melhor poder navegar primeiro o analista e conseqüen temente aos poucos o analisando nessa geografia mental tão cheia de acidentes mistérios e imprevistos ao mesmo tempo em que se constitui numa viagem fascinan te cheia de descobertas Espaço transicional WINNICOTT Com esse trabalho WINNICOTT 1951 co meça seus estudos relativos aos fenômenos e objetos transicionais Essa concepção ori ginal alude ao fato de que a passagem do subjetivo mundo interno e imaginário do bebê para o mundo real e objetivo proces sase inicialmente por meio de uma espé cie de ponte de transição entre ambos As sim criase um espaço virtual que WINNI COTT denomina às vezes espaço transicio nal outras vezes espaço potencial área da ilusão ou área da criatividade porquanto o trânsito entre a fantasia e a realidade pos sibilita alto potencial e riqueza de criativi dade inclusive artística WINNICOTT assinala que uma característica essencial relativa a esse espaço potencial é a existência de um paradoxo e a aceitação do paradoxo pois o bebê cria o objeto mas o objeto estava lá esperando para ser cria do no entanto pelas regras do jogo da edu cação o bebê nunca será desafiado a obter uma resposta para a pergunta você criou isso ou você o encontrou O espaço transicional ou seja a área da ilusão de onipotência do bebê consiste no fato de ele vivenciar o seio da mãe como fazendo parte do seu próprio corpo No iní cio a mãe ou o analista na situação analí tica deve aceitar essa ilusão porém aos poucos deve processar uma progressiva de silusão das ilusões até que a criança perce ba que tem a possessão do objeto seio mas que ela não é o seio Espátula jogo da WINNICOTT WINNICOTT descreveu esse jogo que na dé cada de 30 ele praticava com as crianças que atendia A espátula consistia em obje tos metálicos reluzentes prateados e brilhan tes que eram dispostos em sua mesa de trabalho em ângulo reto facilmente acessí veis de sorte que ele observava como as crianças entre cinco e treze meses se relaci onavam com essa espátula Ele aponta para três tipos de reações 1 A criança vê e busca a espátula só se desin teressando dela quando observa que está 128 DAVID E ZIMERMAN sendo observado por um adulto 2 Pega a espátula e a leva à boca 3 Deixa a espátu la cair WINNICOTT considerava que essas etapas sempre surgiam e na hipótese de não ocorrerem ele acreditava que algo não ia bem com a criança de sorte que ele empregava este jogo como um instrumen to diagnóstico Espelho FREUD LACAN WINNICOTT KOHUT Pesquisadores que se dedicam à observa ção direta de crianças mostram a importân cia do espelho físico e da função especular desde as mais precoces etapas evolutivas Isso encontra respaldo nas distintas concep ções teóricas e técnicas de importantes autores FREUD mencionou sem se aprofundar o jogo do espelho tal como está descrito no verbete carretel jogo do LACAN em 1936 em Écrits 1970 des creveu o estágio ou etapa do espelho afirmando que a partir dos seis meses a criança começa a conquistar a imagem da totalidade de seu corpo que até então está toda despedaçada corps morcelê no original francês Essa etapa do espelho segundo LACAN prolongase dos 6 aos 18 meses e processase em três fases funda mentais Em um primeiro momento a criancinha percebe o seu reflexo no espelho como se fosse de um outro ser real do qual procura aproximarse ou apoderarse Em uma se gunda fase a criança percebe que o outro do espelho não é um ser real que não passa de uma imagem e por isso ela não vai mais procurálo atrás do espelho A terceira fase consiste em que a criança já sabe que o refletido é apenas uma ima gem dela própria Nessa ocasião ela ma nifesta um intenso júbilo e gosta de brin car com os movimentos do seu próprio corpo no espelho LACAN também entende o espelho como uma metáfora do vínculo entre a mãe e o filho que progride desde a dimensão visual e ima ginária a qual permite a ilusão de uma com pletude onipotente da primeira fase até o da dimensão simbólica coincidente com a aquisição da linguagem verbal WINNICOTT em seu trabalho de 1967 O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento da criança1975 con cebeu uma de suas mais originais e frutí feras contribuições numa concepção di versa a de LACAN embora admitindo que se baseou na etapa do espelho deste últi mo Assim textualmente no trabalho aci ma aludido WINNICOTT afirma que O precursor do espelho é o rosto da mãe O trabalho de JACQUES LACAN Le Stade du Miroir 1949 por certo me influenciou Entretanto LACAN não pensa no es pelho em termos do rosto da mãe da maneira como desejo fazer aqui o que o bebê vê quando olha para o rosto da mãe Sugiro que normalmente o bebê vê é ele mesmo Numa frase poética WINNICOTT afirma que o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe sobretudo o seu olhar Ao olharse no espelho do rosto materno o bebê vêse a si mesmo Quando olho sou visto logo existo Posso agora me per mitir olhar e ver Nesse contexto cresce muito a responsabi lidade da mãe real pois sendo um espelho do seu filho ela tanto pode refletir o que ele realmente é ou qual um espelho que distorce imagens típico dos parques de di versão a mãe pode refletir o que ela pró pria é ou imagina ser KOHUT utiliza a expressão objetos do self 1971 para referirse a dois tipos de obje tos primordiais especulares 1 Os que fun cionam como um espelho da criança e que mediante incessantes elogios e admiração a este outorgamlhe uma imagem de self grandioso 2 O objeto parental que reflete VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 129 para o filho uma imagem grandiosa que os pais têm de si próprios constituindo a ima go parental idealizada Além disso KOHUT contribuiu para a téc nica analítica ao trazer a sua noção de transferência narcisista nas suas três mo dalidades a fusional a gemelar e a espe cular conforme aparecem no verbete transferência Esquizofrenia Termo cunhado pelo psiquiatra suíço BLEU LER Até então a esquizofrenia era conheci da como demência precoce FREUD não gostava de nenhum desses dois nomes utilizava a terminologia de neurose narci sista e chegou a propor a denominação de parafrenia para caracterizar essa for ma de psicose Mais precisamente a partir do Caso Schre ber1911 FREUD considerava que a carac terística principal dessa psicopatologia psi cótica consistia num desapego da libido do mundo exterior e sua regressão para o ego diferentemente das neuroses nas quais a libido é investida em objetos substitutos FREUD também dedicouse a estabelecer di ferenças entre a esquizofrenia e a paranóia sempre dentro de uma perspectiva da con flitiva edípica porém na verdade ele nun ca se aprofundou no estudo dos transtor nos esquizofrênicos Ademais manifestava abertamente sua descrença quanto à indicação do trata mento psicanalítico para esses pacientes sob a alegação principal de que se eles retiram a libido do exterior não se for maria a transferência e como essa é a condição sine qua non para a análise essa ficaria impossibilitada M KLEIN com os seus estudos relativos ao desenvolvimento emocional primitivo do bebê trouxe uma inestimável contribuição para uma melhor compreensão dos psi cóticos de sorte que alguns importantes psicanalistas pacientes e seguidores dela como HSEGAL ROSENFELD BION e poste riormente MELTZER praticaram tratamen to psicanalítico com pacientes esquizofrê nicos com brilhantes resultados acadêmi cos ainda que com duvidosos resultados terapêuticos Comentário É útil lembrar que a palavra esquizofrenia resulta dos étimos gregos schi zos corte cisão phrenes mente O últi mo também quer dizer diafragma A rela ção entre diafragma e mente decorre do fato de que o poeta Homero observara que quando uma pessoa pensa e se expressa o seu diafragma sobe e desce Esquizóide personalidade FAIRBAIRN Trabalhando na Escócia o renomado psi canalista RFAIRBAIRN descreveu uma posi ção esquizóide pela qual o ego fica cindi do esquizos em grego quer dizer cisão em diferentes aspectos como são o ego cen tral os distintos egos sabotadores etc Do ponto de vista clínico os pacientes es quizóides apresentam uma cisão na perso nalidade de sorte que por exemplo po dem manter uma vida profissional bem su cedida com talentos e capacidades autên ticas ao mesmo tempo em que mostram uma frieza afetiva e uma incapacidade para amar e deixarse ser amado A causa mais comum reside na primitiva falha da função continente da mãe que não pôde acolher conter e processar as deman das e angústias do bebê de modo que este se tornou temeroso de que suas exi gências amorosas tenham ficado cruéis e destrutivas e que seu amor seja desprezí vel ou maligno O risco disto acontecer aumenta nos casos em que a falha do con tinente materno provém de uma mãe de primida Nestes casos as pessoas esquizóides têm dificuldade de odiar e de amar e vivenci am o enamoramento como um extravasa 130 DAVID E ZIMERMAN mento da libido represada o que pode oca sionar uma sensação de fusão com a pes soa amada Para fugir do receio de uma regressão com extrema dependência apri sionamento e perda de identidade o su jeito esquizóide lança mão de mecanis mos defensivos como os de isolamento afetivo um rígido controle obsessivo e es pecialmente de defesas esquizóides ou seja uma clivagem de aspectos do ego pul sões e de objetos os quais de acordo com MKLEIN são colocados dentro de outras pessoas através de identificações projetivas Esquizoparanóide posição M KLEIN Como a etimologia desse termo designa os mecanismos defensivos predominantes nessa posição são os de dissociação o éti mo grego esquizo significa cisão corte di visão tal como aparece em esquizofrenia ou seja divisão da mente e os de proje ção implícitos no termo paranóide o qual indica que se trata de uma paragnose ou seja de um distúrbio da percepção e do conhecimento do sujeito A necessidade de preservar a experiência prazerosa e de rechaçar a dolorosa leva à primeira dissociação ou clivagem ou split ting de modo que segundo MKLEIN toda a qualidade da formação do psiquismo gira em torno do estruturante seio bom ou do desestruturante seio mau A ênfase de MKLEIN nos processos dissociativos de terminou uma profunda modificação na teoria e técnica da psicanálise tendo em vista que o interesse maior de FREUD era para os processos de repressão Referidas clivagens não dizem respeito uni camente aos objetos mas também às pul sões ansiedades e aspectos do ego Os pe daços resultantes das sucessivas dissocia ções necessitam ser expelidas o que é rea lizado por meio do mecanismo de proje ções mais exatamente para MKLEIN por meio de identificações projetivas Na clínica psicanalítica de adultos a ma nutenção predominante da posição esqui zoparanóide quer por detenção do pro cesso evolutivo quer por regressão aos primitivos pontos de fixação transpare ce na maioria das vezes nas manifesta ções sintomáticas ou caracterológicas nas quais o sujeito mercê do uso abusivo de clivagens e identificações projetivas exces sivas expressão de BION desenvolve sin tomas como alucinações ideação perse cutória etc Estilos de narrativa e de interpretação D LIBERMAN AFERRO Uma frase do pensador BUFFON O estilo é o homem define bem a importância que mais restritamente na situação analíti ca o estilo de comunicação tanto de parte das narrativas do paciente como da ativi dade interpretativa do analista representam para a evolução do processo de transfor mações analíticas Em relação ao estilo do analisando impõe se mencionar o psicanalista argentino D LIBERMAN 1971 que estabeleceu uma in teressante ligação entre a caractereologia predominante num determinado paciente e seu estilo narrativo O autor descreveu seis modalidades de estilos que ele denominou reflexivo lírico épico narrativo suspense e estético Num outro registro ANTONINO FERRO 1996 faz uma enriquecedora contribuição à psi canálise contemporânea com sua descrição dos gêneros ou derivados narrativos que se processam em diferentes dimensões do psiquismo como são os que ele enumera 1 Lúdico o brincar da criança 2 Gráfico o desenho feito na sessão 3 Sensorial alude ao corpo sob a forma de borborig mos intestinais espirros tosse etc 4 Motor remete aos actings 5 Onírico o qual Ferro considera como sendo o funda mental porque remete à possibilidade de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 131 se utilizar o sonho como narração do aqui agora isto é como relato que exprime a qualidade do elemento a ativado naquele momento Comentário Relativamente ao estilo de o analista interpretar é interessante regis trar que a palavra estilo deriva de stilus que em latim designa um estilete com duas pontas uma aguda que serve para cortar e a outra romba que serve para aparar e dar forma É importante consi derar que devem ser preservados e res peitados ao máximo os modos genuínos e autênticos do estilo de cada um em par ticular No entanto é necessário alertar que determinados estilos interpretativos podem exercer um efeito nocivo ao êxito da análise e se constituírem erros técni cos patogênicos Dentre esses cabe registrar os estilos de natureza 1 Superegóica as interpreta ções disfarçadamente estão veiculando acusações cobranças e expectativas a se rem cumpridas 2 Pedagógica às vezes elas constituemse verdadeiras aulinhas 3 Doutrinária pelo uso de uma retórica a arte de convencer os outros e com um possível vício de o analista querer con firmar ou demonstrar que sua interpre tação é a correta 4 Deslumbradora de ocorrência freqüente nas formulações por parte de analistas excessivamente narci sistas com um provável risco de o analis ta deslumbrar etimologicamente do cas telhano des tirar lumbre luz seu ana lisando 5 Pinguepongue o analista mantém com seu paciente um batereba te de tal sorte que não se formam espa ços para silêncios os quais muitas vezes são muito necessários 6 Intelectualiza dor as interpretações podem ser brilhan tes e até corretas porém resultam inefi cazes porque não vêm acompanhadas de um contato emocional e corre o risco de fortificar as defesas obsessivas de certos pacientes Estranho O FREUD O termo estranho é uma das traduções para idioma português as outras duas mais cos tumeiras são o sinistro e o sobrenatural da expressão original de FREUD Unheimlich na versão da Standard Edition inglesa The uncanny Nesse artigo de 1919 que na Standard Edition brasileira aparece com o nome de O sobrenatural Freud defi ne o estranho como tudo que já foi fami liar para a vida psíquica mas que foi re calcado É tudo que deveria ter perma necido oculto e secreto mas que veio à luz de modo que as entranhas psíquicas se tornam estranhas É comum no curso das análise que o con tato com o estranho produza uma sensa ção de confusão loucura e morte tanto no paciente por se defrontar com o que sem pre o aterrorizou quanto é possível esse sentimento ser despertado no analista Isso ocorre porque as projeções transferenciais que hoje chamaríamos de identificações projetivas do paciente provocando contra identificações projetivas no analista podem transitoriamente fazer com que ele funcio ne como uma espécie de duplo do anali sando Estrutural teoria FREUD Estrutura é um conjunto de elementos que separadamente têm funções específicas porém que são indissociadas entre si inte ragem permanentemente e influenciamse reciprocamente Ou seja diferentemente da primeira tópica de FREUD teoria topográfi ca a segunda tópica teoria estrutural é eminentemente ativa dinâmica ver o ver bete dinâmico Essa concepção estruturalista de Freud fi cou cristalizada a partir de O Ego e o Id 1923 e consiste em uma divisão tri partite da mente em três instâncias O id o ego e o superego 132 DAVID E ZIMERMAN Estudo autobiográfico Um FREUD 1925 Trabalho composto de seis partes A par te I é intitulada O período préanalítico a II aborda a Hipnose histeria neuro ses atuais a III trata das Teorias bási cas da psicanálise a IV enfoca a Técni ca da psicanálise a parte V é intitulada Colaboradores desertores e nova teoria das pulsões e a parte VI é História da análise aplicada Ao final há um Pósescrito o qual refere que a obra aborda dois temas a história da vida de FREUD embora não seja uma auto biografia e a história da psicanálise Am bos estão intimamente ligados Nesse estu do autobiográfico transparece seu otimismo em relação à psicanálise como ciência e o pósescrito destaca que nos últimos tem pos de sua vida FREUD voltou a pesquisar interesses que prenderam sua atenção na juventude a cultura Esse trabalho está publicado no volume XX na página 17 da Standard Edition brasileira Estudos Psicanalíticos Revisados BION 1967 O título original desse livro é Second Thou hts na edição castelhana Volviendo a Pen sar É considerado um dos mais conheci dos e vendidos da obra de BION Consiste numa coletânea de trabalhos escritos no período de 1950 a 1962 logo no apogeu de seus estudos sobre as psicoses e os psi cóticos São oito os artigos que compõem o livro O gêmeo imaginário 1950 Notas so bre a teoria da esquizofrenia 1954 O desenvolvimento do pensamento esquizo frênico 1956 Diferenciação entre as personalidades psicóticas e as não psicóti cas 1957 Sobre a alucinação 1958 Sobre a arrogância 1958 Ataques ao vínculo 1959 e Uma teoria do pensa mento 1962 A obra completase com Comentários uma interessante abordagem que BION faz acerca desses seus trabalhos revistos a partir de uma perspectiva de muitos anos após têlos escrito Estudos sobre a Histeria FREUD BREUER 1895 Verdadeiro marco na história da psicaná lise esse livro foi escrito conjuntamente por FREUD e BREUER e com aproximada mente 300 páginas consta de quatro ca pítulos e mais dois apêndices A publica ção das Comunicações preliminares foi feita através do estudo do caso de Frau Cecile M No capítulo 2 denominado Relatos de casos são relatados os de Fräulein Anna O BREUER e também os clínicos de FREUD como o de Emmy von No primeiro a ser tratado pelo método catártico Miss Lucy R Katharina Fräulein Elisabeth von R Rosália H Cecile todas elas apresentando sintomas conversivos O capítulo 3 intitulado Seção teórica conta com seis abordagens diferentes feitas por BREUER quais sejam Serão os fenô menos histéricos todos eles ideogênicos Excitações tônicas intracerebrais Afe tos Conversão histérica Estados hip nóides Idéias inconscientes e idéias inadmissíveis à consciência Divisão da mente Disposição inata Desenvolvi mento da histeria O capítulo 4 é ocupado pelo trabalho de FREUD A psicoterapia da histeria O apêndice A aborda A cronologia do caso de Frau Emmy von N e o B consta da Relação dos trabalhos de Freud que tratam principalmente da histeria de con versão Os Estudos sobre a Histeria estão no volu me II da Standard Edition brasileira VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 133 Etchegoyen Horacio aproximação da psicanálise à etologia pode ser medida por alguns estudos como os dois seguintes 1 Os etólogos descrevem o fenômeno de nominado imprinting o qual consiste na observação experimental de que em algu mas espécies animais as influências ambi entais durante um certo tempo geralmen te curto da vida evolutiva ficam impressas de forma definitiva e indelével assim de terminando todo o futuro comportamento dos filhotes A especulação da possibilida de de que o mesmo fenômeno se processe na espécie humana no período que cor responde ao da identificação primária talvez possa abrir um enorme horizonte de possibi lidades para a compreensão de aspectos pri mitivos da estruturação do psiquismo 2 LACAN para embasar os seus estudos so bre a especularidade utilizou as pesquisas dos etólogos que comprovam o fato de que uma pomba não ovula enquanto está só mas sim que a ovulação se dará em deter minado momento de seu ciclo se ela for co locada junto a outra pomba ou frente à sua própria imagem refletida por um espelho 3 A etologia demonstra que existe o que cabe chamarse de instinto da territoriali dade ou seja os animais procuram demar car seu espaço territorial e o defendem com unhas e dentes Da mesma forma inspira dos nessa observação da etologia é possí vel afirmar que também o ser humano con sidera o território que ele ocupa como sen do uma expansão do seu próprio corpo Assim se levarmos em conta a equação assinalada por FREUD de que Ser se con funde com Ter e viceversa podese enten der que no plano social a construção do sentimento de identidade se estende ao pla no econômico porquanto a expansão das posses se superpõe com o de um aumento da territorialidade O importante disso é que o desejo de se apossar da posse dos outros é que leva à violência de sorte que a exemplo do que Eminente psicanalista argentino que deu uma riquíssima contribuição à psicanálise através de inúmeras publicações de parti cipações em congressos internacionais e de atividades administrativas associativas Merece ser especialmente destacado por dois aspectos um por ser o autor do con sagrado livro Fundamentos da Técnica Psi canalítica 1987 outro por ter sido o pri meiro psicanalista sulamericano eleito Pre sidente da IPA fato que se deu em 1991 em Buenos Aires quando pela primeira vez essa entidade realizou seu congresso internacional num país da América do Sul ETCHEGOYEN foi analisado por HRACKER e tem uma formação de raízes predominan temente kleinianas Porém demonstra fami liaridade com as concepções de todas as correntes psicanalíticas É filiado à APdeBA Associação Psicanalítica de Buenos Aires Etologia O termo etologia designa o estudo dos hábitos dos animais e da acomodação dos seres vivos às condições do ambiente A 134 DAVID E ZIMERMAN se passa no reino animal o maior caminho para a violência é o desejo do poder Evacuação FREUD ABRAHAM BION Termo utilizado na psicanálise em dois re gistros distintos FREUD descreveu as carac terísticas do período anal destacando não somente as fantasias ligadas às fezes mas também em relação ao próprio ato da eva cuação ABRAHAM aprofundou esses estudos descrevendo as duas etapas do ato evacu atório a anal retentiva e a expulsiva Todos esses aspectos manifestamse cinicamente nas neuroses especialmente as obsessivas BION Por sua vez emprega a palavra eva cuação para designar o fenômeno psíquico que consiste numa expulsão que a mente faz dos elementos β que são impressões sensoriais e experiências emocionais que não foram transformadas em elementos α Essa evacuação se processa através do uso excessivo de identificações projetivas para dentro por exemplo em algumas somati zações ou para fora como pode ser em actings ou na mente do analista provocan do efeitos contratransferenciais Evidência BION1976 Artigo que consta do livro Seminários clíni cos e quatro artigos 1987 e que também foi publicado na Revista Brasileira de Psi canálise 1911985 com tradução e no tas de P C Sandler É a versão final edita da por FRANCESCA BION de uma palestra proferida na Sociedade Psicanalítica Britâ nica em 1976 Nesse trabalho baseado na afirmação de FREUD de que os indivíduos sofrem de amnésias e por isso inventam as paramnésias para preencher os vazios BION aventa a hipótese de que a própria teo ria psicanalítica poderia estar funcionando nos moldes de uma enorme paramnésia para ocupar o vazio da ignorância dos psi canalistas Completa BION com a frase seria tão bom se apenas os pacientes o fizessem E tão afortunado seria se nós não o fizéssemos e o fazemos para preencher o vazio de nossa aterradora ignorância Também é neste trabalho que BION faz consi derações acerca dos problemas da prática da psicanálise especialmente dos que se referem à comunicação à linguagem utilizada pelo psicanalista à importância do estado de tur bulência à citação da frase de KANT de que intuições sem conceitos são cegos e concei tos sem intuições são vazios BION conclui o artigo fazendo algumas es peculações sobre a existência do psiquis mo no embrião fetal Evolução BION Quando postula a necessidade de o analis ta estar na sessão num estado de sem me mória deve ficar claro que BION se refere à memória que possa estar saturando a men te do terapeuta ou a do paciente Transpa rece na sua obra que BION é favorável ao surgimento da memória no analista ou no analisando desde que ela brote esponta neamente às vezes surgindo de uma intui ção ou da captação do fato selecionado assim significando que houve uma evolu ção no psiquismo Exibicionismo FREUD FREUD caracterizou o exibicionismo como a contraparte da escopofilia voyeurismo As sinalou que o fato de ambas costumeira mente aparecerem juntas pode ser devido a terem um precursor comum a finalidade sexual de mirarse a si mesmo Devido a essa origem considera que o exibicionis mo conserva um caráter mais narcisista do que qualquer outra pulsão parcial Seu pra zer erógeno se vincula sempre a um incre mento na autoestima imaginado ou efeti vamente conseguido pelo fato de que é mi rado pelos outros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 135 Na perversão do exibicionismo esse êxito é utilizado como um reasseguramento con tra os temores de castração Por exemplo quando exibe seu pênis o perverso procu ra influir os que o olham geralmente moci nhas colegiais para assustálas com a ilu são de é forte e poderoso enquanto seu lado frágil e castrado fica projetado nas mocinhas que fogem atemorizadas Devido a sua relação estreita com o com plexo de Édipo o exibicionismo evolui de forma distinta num sexo e no outro Como o homem consegue acalmar sua angústia de castração exibindo seus genitais o exi bicionismo masculino permanece fixado nos genitais em que desempenha um pa pel nas preliminares do prazer sexual Já na mulher pela razão de que sua idéia de es tar de fato castrada inibe o exibicionismo genital há um deslocamento do exibicio nismo à totalidade do corpo Não existe uma perversão feminina de exibicionismo genital porém o extragenital desempenha um importante papel tanto dentro quanto fora da esfera sexual Exibicionista pólo KOHUT Ao descrever a sua concepção de self gran dioso KOHUT enfatizou a importância de que as pessoas que acompanham os passos ini ciais da evolução da criança respondam positivamente a sua conduta exibicionista que para a criança tem a finalidade de ser aprovada e admirada de modo que os adultos educadores confirmem para a criança seu sentimento inato de grandeza vigor e perfeição É neste pólo exibicionista do self onde a criança é olhada empiricamente pela mãe que KOHUT situa aquilo que está relaciona do com as ambições Assim as respostas adequadas do ambiente ao exibicionismo da criança são muito diferentes das vincu ladas a outras necessidades de sobrevivên cia física como por exemplo as de alimen to e calor No entanto KOHUT afirma que a necessidade de aprovação do exibicionis mo inicial é tão vital quanto as anteriores Destaca especialmente nessa resposta da mãe o brilho do olhar o sorriso a voz a expressão jubilosa delas de modo que o ambiente tanto pode facilitar formar quanto interferir ou deformar deformar o desenvolvimento do self Existência BION WINNICOTT O verbo existir deriva dos étimos latinos ex para fora sistere direito a ser o que está de acordo com a conceituação de impulso para existir seguidamente empregada por BION Para alertar o psicanalista quanto à impor tância de captar os sinais de vida do paci ente por mais regressivo que ele seja e entrar em comunhão com esse lado que quer existir BION em Seminários Clínicos 1987 formula a seguinte bela frase Em algum lugar da situação analítica sepulta da sob massas de neuroses psicoses e de mais existe uma pessoa que pugna por nascer O analista está comprometido com a tentativa de ajudar a criança a encontrar a pessoa adulta que palpita nele e por sua vez também mostrar que a pessoa adulta ainda é uma criança WINNICOTT enfatizou bastante a necessida de de a pessoa sentir que está existindo vi vendo e não unicamente sobrevivendo Experiência emocional BION Expressãochave na obra de BION que destaca enfaticamente a diferença que há na situação analítica entre o aprender acerca das coisas e o aprender emocio nalmente com a experiência das coisas De forma análoga na abertura do livro Aprendendo com a experiência 1962 esse autor afirma que este livro terá fra cassado se a própria leitura não for uma 136 DAVID E ZIMERMAN experiência emocional Minha esperança é que seja uma experiência que conduza a uma ampliação da capacidade do ana lista para mobilizar os próprios recursos de conhecimento observação clínica construção teórica Experiência emocional corretiva ALEXANDER F Cunhada por FRANZ ALEXANDER Essa expres são tornouse clássica na literatura psica nalítica Tem o propósito de enfatizar a im portância que representa a figura do ana lista como um novo modelo de superego Assim contrariamente às figuras parentais superegóicas que estejam internalizadas no analisando como rígidas e punitivas a ati tude analítica do terapeuta deve possibili tar um abrandamento desse superego ame açador e castrador mercê de seu modelo de acolhimento tolerância flexibilidade e liberdade Comentário Reitero a minha opinião que na atualidade a expressão mais adequada seria a de experiência emocional transfor madora tendo em vista que o vocábulo corretiva está muito ligado a uma concep ção superegóica moralística Experiências em Grupos BION1948 1961 Os primeiros escritos de BION sobre grupos datam de 1943 Tensões intragrupo nas terapias e passam por 1946 Projeto de um grupo sem líder Esses artigos e ou tros mais foram reunidos em 1948 no livro Experiências em Grupos Em 1952 BION publicou Dinâmica de gru po uma revisão e em 1961 sob a moti vação de que estes artigos despertaram um interesse maior do que eu esperava tor nou a reunir todos esses textos e os publi cou em um livro também intitulado Expe riências em grupos Extratransferência conceito de técnica É incontestável a importância de que o ana lista formule as suas interpretações ao ru bro da situação transferencial todas as ve zes em que isso for adequado e possível No entanto existe uma tendência na psica nálise contemporânea de evitar o nada in comum uso abusivo sistemático e unica mente formulado em termos de reduzir tudo o que o analisando disser à clássica fórmula isso é aquiagoracomigocomo lá e então Para muitos pacientes essas interpretações não funcionam porquanto há a possibili dade de que ainda não tenha se formado uma transferência embora haja transferên cia em tudo nem tudo é transferência a ser interpretada e essa precisa ser construída aos poucos no curso da análise Nesses casos a interpretação dos sentimentos que o paciente traz embutidos nas narrativas de fatos exteriores e é isso que constitui a extratransferência podem ser perfeitamen te úteis F BION Essa letra na Grade de BION designa a sexta fileira alusiva ao nível da capacidade de formação de conceitos Facho de escuridão conceito de téc nica BION Para BION o cerne da psicanálise se consti tui na busca de O inicial de origem ou seja da verdade absoluta da realidade úl tima e essa busca fica prejudicada caso a sensorialidade prevaleça sobre a sensibili dade intuitiva Assim ele afirma que o de sejo é uma intrusão no estado mental do analista que esconde disfarça e obscurece aquele aspecto do O que se mantém des conhecido e desconhecível Este é o ponto escuro que precisa ser iluminado pela ce gueira BION 1970 p 76 completa essa concepção com a seguinte frase Memó ria e desejo são iluminações que destroem o valor da capacidade do analista para ob servação como a penetração da luz numa câmara destrói o valor do filme exposto Aliás essa iluminação pela cegueira que veio a ser denominada por BION como um penetrante facho de escuridão uma réplica do holofote ele a concebeu baseado em FREUD que numa correspondência com LOU ANDREASSALOMÉ escreveu que é preciso cegarse artificialmente para se ver melhor Essa analogia fica ainda mais clara com a metáfora de que as estrelas somente são visíveis no escuro Fairbairn Ronald Eminente psicanalista da Sociedade Britâ nica de Psicanálise FAIRBAIRN morava e tra balhava em Edimburgo Escócia onde es tudou e graduouse em Filosofia Mental Empreendeu a seguir estudos extensivos de grego de temas religiosos filosóficos e psi cológicos tanto na GrãBretanha como na Alemanha Fez o curso de medicina volta do para o objetivo específico de especializar se em medicina psicológica Sua forma ção humanística facilitoulhe a percepção das proposições de MKLEIN acerca da pri orização do enfoque das relações objetais indo além do paradigma freudiano vigen te que sobremodo enfatizava as pulsões do indivíduo De início fortemente inspirado pelos traba lhos de MKLEIN FAIRBAIRN formou suas pró prias concepções a partir de 1940 com seu trabalho sobre fenômenos esquizóides De uma forma bastante esquemática podese F 138 DAVID E ZIMERMAN enumerar as seguintes contribuições impor tantes de FAIRBAIRN 1 A libido é uma energia que busca objetos e não o prazer como postulava Freud 2 Descartou o conceito de pulsão de morte 3 Conserva a noção de energia instintiva libidinal libido e a considera como pro veniente do ego 4 Atualizou e enfatizou a valorização do objeto real exterior 5 As zonas erógenas não são por si mes mas determinantes primárias dos fins libi dinais mas sim canais que veiculam os fins primários do ego em busca de objetos que os satisfaçam 6 O desenvolvimento do ego se forma atra vés de relações objetais que se processam desde o início da vida e seguem sob a pres são das privações e frustrações 7 As chamadas fases oral anal e fálica são na verdade técnicas empregadas pelo ego para regular as relações objetais sobretudo com os objetos internalizados em parte FAIRBAIRN excetua a fase oral 8 O desenvolvimento do ego está intima mente ligado ao da dependência infantil a qual deve ir sendo gradualmente substituí da por uma dependência adulta ou madu ra baseada na diferenciação entre o objeto e o self 9 Entre a época da dependência infantil e a da dependência adulta existe uma está gio transacional no qual o ego utiliza técni cas transicionais que conforme a configu ração determinará os quadros obsessivos fóbicos paranóides ou histéricos 10 A repressão não está dirigida contra pulsões mas sim contra objetos maus in ternalizados 11 O superego representa nada mais do que uma defesa adicional ao que ele cha ma de defesa moral 12 Os objetos maus funcionam como per seguidores internos e se apresentam como o que FAIRBAIRN denominou objetos excitan tes ou objetos frustrantes 13 FAIRBAIRN enfatizou o fenômeno da múl tipla dissociação do ego postulando um ego central e egos subsidiários Num esquema comparativo podese dizer que o que FREUD conceitua como ego id superego FAIRBAIRN denomina ego central ego libidinal ligado com os objetos exci tantes e sabotador interno ou seja a par te do ego que está ligada aos objetos re chaçantes frustrantes e ameaçadores res pectivamente A obra de Fairbairn foi interrompida algo prematuramente por ter sido acometido pela doença de Parkinson com intermitên cia de um episódio de trombose cerebral Falhas ambientais WINNICOTT Com essa expressão que permeia quase toda sua obra WINNICOTT fazia questão de enfatizar a importância do meio ambiente que circunda o recémnascido e a criança em diversas fases de sua infância Referin dose muito especialmente aos cuidados maternos WINNICOTT destaca que qualquer falha na provisão materna daquilo que é essencial ao bebê é sentida como um ata que ao núcleo do self No caso de falhas ambientais continuadas podem originarse diversos quadros pato gênicos como uma falta de continuidade existencial a construção de um falso self e a formação de uma tendência antisocial etc Fálica fase FREUD Embora a palavra falo pouco apareça na obra de FREUD a adjetivação de fase fálica sim ocupa um espaço considerável O ter mo alude a uma fase evolutiva da sexuali dade situada entre os 3 e os 6 anos na qual tanto no menino como na menina as pul sões se organizam em torno do falo ou mais precisamente em FREUD do pênis intima mente conectadas com as fantasias ineren tes à angústia de castração VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 139 FREUD considerou que o falo é concebido pela criança como sendo descartável do corpo e transformável através do que hoje chamaríamos de equações simbólicas de modo que o que fica inscrito no ego é uma equivalência de pênis filho fezes presentes Ademais o indivíduo como pes soa total pode ser identificado ao falo Fálica mulher ou mãe Essa expressão adquire dois significados um mais rigorosamente psicanalítico e ou tro mais popular O primeiro referese à fan tasia inconsciente de que a mulher teria um pênis crença que deriva da negação da criança da possibilidade de que possa de fato ter havido uma castração O segundo significado de mulher fálica mais difundi do e popularizado alude a uma mulher que tenha características consideradas masculi nas especialmente as de mandonismo Na verdade também podese depreender que FREUD no seu trabalho sobre Leonar do da Vinci e uma lembrança de sua infân cia 1910 lançou as primeiras sementes do seu conceito de mãe fálica ao mostrar que Leonardo havia sido privado muito precocemente de seu pai tendo sido até os cinco anos criado exclusivamente por mulheres com a mãe exercendo funções fálicas Ou seja a mãe fálica não é neces sariamente uma mulher enérgica ou mas culina é sobretudo uma mulher sem um homem a seu lado uma mulher cujas aspi rações libidinais se centram na figura de seu filho de modo a poder absorvêlo e a re forçar a fantasia de que todas mulheres podem dispensar os homens porque tam bém elas seriam possuidoras de um pênis Falo LACAN É importante estabelecer distinção entre falo e pênis Este último designa concretamente o órgão anatômico masculino enquanto o termo falo tem um significado de natureza simbólica isto é de poder Falo e pênis muitas vezes se superpõem tal como acon tecia com regularidade na Antigüidade Ain da hoje podese ver uma grande quantida de de desenhos esculturas e pinturas nos quais aparece um pênis túrgido represen tando significados alusivos ao poder à sa bedoria e à fecundidade LACAN emprega exaustivamente na sua obra a noção de falo que com ele adquiriu a condição de um conceito fundamental da teoria psicanalítica em quatro aspectos 1 O falo é o significante do desejo ou seja representa o objeto do desejo da mãe proi bido ao filho 2 A função fálica do pai estabelece o que LACAN chama de o nome ou lei do pai com o que ele estabelece uma delimitação e hierarquia entre as gerações 3 O conceito de falo para LACAN só ad quire significação psicanalítica importante se for concebido simultaneamente nas três dimensões que ele denomina do real do imaginário e do simbólico 4 Na teoria lacaniana o falo é o represen tante da falta O vocábulo falo deriva de phal que em sâns crito significa abrirse como vida semente luz Phala derivado de phal significa fruto e em sentido figurado recompensa triunfo Falsidade BION BION nos seus estudos sobre o vínculo do conhecimento destacou que o sujeito tan to pode estar voltado para o conhecimento das verdades caso em que é K como pode usar predominantemente o K ou seja al guma forma de negação das verdades atra vés de distorções e de falsificações as mais variadas podendo atingir o nível de menti ras quando houver uma intencionalidade consciente na falsificação 140 DAVID E ZIMERMAN Na representação gráfica de sua Grade a falsidade aparece na coluna 2 com o signo da letra grega Y psi Falso self Winnicott Denominação de WINNICOTT que a partir do trabalho Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self 1960 descre veu as pessoas que desde crianças desen volvem o recurso inconsciente de adivinhar o que ela deseja como uma forma imperi osa de adaptação e preenchimento das ex pectativas dela para assim garantir o re conhecimento do amor da mãe O sujeito portador de um falso self utiliza esse mesmo recurso ao longo de sua vida também para obter o reconhecimento do seu meio familiar e social O importante a registrar é que o conceito de falso self não deve ser confundido com algum preconceito de ordem moral do tipo pessoa falsa ou mau caráter Muitas vezes tratase de pessoas que podem ser talento sas e bem sucedidas pelos seus reais méri tos mas que assim mesmo carregam per manentemente uma desconfortável sensa ção de futilidade e falsidade porquanto a construção precoce de um falso self faz com que o sujeito não consiga discriminar aquilo que é seu rosto e o que é uma máscara Na situação analítica nesses casos o analista está comprometido com a tarefa de propiciar ao analisando que ele possa reconhecer e ter acesso a seu oculto verdadeiro self Comentário Creio ser útil lembrar tal como ensina a prática analítica que nem sempre o falso self é construído unicamen te como forma de aparentar aspectos positi vos para os outros Muitas vezes no afã de ser reconhecido pelo grupo social extensão do seu grupo familiar interiorizado e teme roso da inveja dos outros o sujeito pode fun cionar com um falso self negativo isto é apre senta mazelas autodesqualificação e desva lia encobridoras de reais valores positivos Falta LACAN LACAN estabelece uma distinção entre falta e perda Falta constituiria a fundadora do desejo subjetivo porquanto só se pode de sejar aquilo que falta O conceito de perda estaria mais ligado à noção de que ela faz vacilar o desejo pois dá ao sujeito o senti mento de que o objeto perdido é justamente o que verdadeiramente desejava isto é ele dá um caráter de presença ao objeto perdido Dessa forma tal como ocorre nos estados melancólicos o sujeito preenche seu vazio com o objeto faltante e assim obtura sua função de desejar Nesses casos o sujeito deixa de pugnar por um desejo de vir a ser e entra num estado psíquico que LACAN cha ma de desser Falta básica MICHAEL BALINT Expressão cunhada por BALINT que em A Falta Básica1979 afirma que este con ceito deve ser entendido unicamente como uma falta e não como uma situação ou po sição ou conflito ou complexo Mais adian te textualmente p29 BALINT assim descre ve as características clínicas da falta básica 1 Todos os fatos que ocorrem nessa situa ção pertencem exclusivamente a uma rela ção de duas pessoas aqui não está presen te uma terceira pessoa 2 Esta relação de duas pessoas é de uma natureza particular totalmente diferente das bem conhecidas relações humanas do ní vel edípico 3 A natureza da força dinâmica que age neste nível não é a de um conflito 4 A linguagem adulta como a utilizada pelo analista freqüentemente é inútil ou equi vocada para descrever os fatos deste nível porque as palavras nem sempre têm uma significação convencional reconhecida 5 O tipo de apego nessa situação pode ser considerado como uma instância de rela ção objetal primária ou amor primário VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 141 6 Qualquer terceiro elemento que interfira com esta relação é experimentado pelo su jeito como uma pesada carga ou uma ten são intolerável 7 Outra qualidade importante desta rela ção é a imensa diferença entre os fenôme nos de satisfação e frustração 8 Os pacientes têm a sensação de que a causa desta falta está em que alguém co meteu falhas ou se descuidou deles Completa BALINT o termo equivalente falha se emprega em algumas ciências exatas por exemplo em geologia e crista lografia onde essa palavra designa uma súbita irregularidade que em circunstânci as normais poderia passar inadvertida po rém que mediante certas tensões ou pres sões pode determinar uma ruptura que afe te profundamente a estrutura geral Esses dois termos derivam do verbo latino fallere falir falecer falhar Família terapia da Nos últimos anos tem havido um imenso crescimento e aceitação da aplicação de terapias de família A terapia do grupo fa miliar comporta muitas variações teórico técnicas provindas principalmente da teo ria geral dos sistemas e das correntes da Psicanálise A complexidade aumenta em virtude de que há diferentes linhas de pen samento dentro de cada uma delas Do ponto de vista da teoria sistêmica a di nâmica da família consiste essencialmente em uma compreensão abrangente entre as várias partes subsistemas componentes de uma totalidade maior e interdependente Dentro do próprio corpo da terapia de fa mília de orientação sistêmica há múltiplas tendências divergentes mas todas destacam a importância da distribuição de papéis entre os familiares especialmente o do pa ciente identificado o depositário assim como todos concordam com o fato de que o sistema familiar se comporta como um conjunto integrado uma estrutura ou seja qualquer modificação de um elemento do sistema vai afetar necessariamente o siste ma como um todo É comum que haja nas famílias uma com pulsão à repetição de geração a geração de um mesmo código de valores estratifi cados e que constituem mitos familiares di fíceis de serem desfeitos Os terapeutas da linha sistêmica também enfatizam o fato de que no atendimento conjunto de um paci ente com a família devese procurar o des mascaramento da farsa de que há um úni co paciente e do outro lado uma família vítima e desesperançada Pelo contrário o que deve ser enfocado é a interação entre o depositário e os depositantes Do ponto de vista psicanalítico os terapeu tas de família devem valorizar sobretudo a importância do jogo de identificações pro jetivas assim como a necessidade de estar atento para perceber se essas identificações projetivas estão servindo como um meio de comunicação empática ou para uma finali dade de controle e intrusão Ademais o te rapeuta deve encarar a família como sen do ao mesmo tempo uma produção cole tiva e um aspecto do mundo interno de cada membro em separado A tendência atual na terapia de família é a de uma corrente integradora entre as con cepções psicanalíticas sistêmicas da teo ria comunicacional e cognitivocomporta mental assim como a eventual utilização de técnicas psicodramáticas Fantasia FREUD O termo fantasia de modo genérico signi fica imaginação Psicanaliticamente concei tua um elemento fundamental na estrutu ração do psiquismo de qualquer ser huma no e constitui um fator primacial na etiolo gia das neuroses Em psicanálise tem um emprego muito extenso e diversificado en globando tanto as fantasias conscientes de 142 DAVID E ZIMERMAN vaneios ou sonhos noturnos como as fan tasias inconscientes e também as que Freud chamou de fantasias originárias Nos primeiros tempos FREUD admitia como realmente acontecidas as cenas de sedução que suas pacientes histéricas contavam Aos poucos foi abandonando essa crença e reconhecendo seu equívoco passou a sus tentar que a realidade aparentemente con creta dessas cenas não passava de uma rea lidade psíquica A partir daí FREUD centrou seu interesse nas encenações fantasiosas como por exemplo as que descreve no ro mance familiar Partindo da convicção de que há uma ínti ma relação entre a fantasia e o desejo FREUD descreveu as fantasias conscientes dos per versos as que são inconscientes como os delírios paranóicos as fantasias libidinais dos histéricos e também enfatizou que o psicanalista deve aprender as fantasias sub jacentes às produções do inconsciente como os sonhos sintomas actings com pulsão à repetição lapsos etc Fantasia inconsciente M KLEIN MKLEIN respaldada pelo mundo de fanta sias que apareciam nos jogos e brinquedos no curso da análise com crianças deu uma valorização extraordinária às fantasias na estruturação do psiquismo da criança e na determinação dos distintos quadros da psico patologia Os seguintes enfoques dela e dos seus seguidores especialmente SUSAN ISAACS 1948 merecem ser enumerados 1 As fantasias representam ser a expressão mental das pulsões e também dos meca nismos de defesa contra essas demandas pulsionais 2 As fantasias são inatas pulsi onalmente derivadas e primariamente in conscientes 3 Já no nascimento as fan tasias do bebê incluem o conhecimento do mamilo e da boca às quais se seguem as demais fantasias prégenitais como M KLEIN constatava na produção fantástica das crian ças que analisava em relação à oralidade e à analidade colorindo imaginariamente a relação sexual 4 Daí podem resultar as mais incríveis configurações fantásticas como por exemplo a dos pais combina dos que pode atingir uma forma de casais se entredevorando monstros etc 5 Uma fantasia inconsciente é uma crença na ati vidade de objetos internos sentidos como se fossem concretos como por exemplo uma sensação desagradável podendo ser mentalmente representada como um rela cionamento com um objeto mau A escola kleiniana propôs a terminologia de fantasia com f para designar os devaneios conscientes enquanto phantasiacom ph designaria a fantasia inconsciente propriamen te dita Nem todos os autores aceitam essa distinção terminológica Os da escola france sa preferem usar o termo que na tradução para o idioma português é fantasma Fantasias originárias FREUD FREUD em 1915 em artigo dedicado a um caso de paranóia emprega pela primeira vez o termo alemão Urphantasien que significa fantasia primitiva ou originária Nesse traba lho afirma que A essas formações fan tásticas à da observação da relação sexual dos pais conhecida como cena primária à da sedução à da castração e a outras eu dou o nome de fantasias originárias Na verdade FREUD voltava a procurar uma origem para a história individual do sujeito tal como tentara nos primórdios da psica nálise com a teoria da sedução ou do trau ma Assim a cena primária remonta a uma busca de resposta da criança a sua indaga ção de onde se originou nas fantasias rela tivas à sedução a busca é a das origens da sexualidade enquanto as fantasias ineren tes à castração resultam da busca da ori gem da diferença dos sexos Nos trabalhos Totem e Tabu 1912 e Moi sés e o Monoteísmo 1939 FREUD retoma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 143 sua especulação sobre uma origem da his tória global da espécie humana o que o leva a formular a hipótese de uma herança filogenética das fantasias que são univer sais mesmo quando e onde nunca tenham tido conexão com cenas realmente aconte cidas Assim FREUD afirma que É possível que todas as fantasias que hoje nos con tam na análise tenham sido uma reali dade outrora nos tempos primitivos da fa mília humana e que ao criar fantasias a criança apenas preencha valendose da verdade préhistórica as lacunas da verda de individual ou seja o que na pré história foi realidade de fato terseia torna do realidade psíquica Para exemplificar a fantasia de castração do indivíduo resultaria atavicamente de uma castração efetivamente praticada pelo pai no passado arcaico da humanidade Fases O termo fase costuma aparecer em textos de distintos autores com outras denomina ções como etapa estádio estágio perío do etc Durante muitas décadas da evolu ção da psicanálise essa concepção de fa ses foi a única vigente e o seu emprego ex trapolou o campo restrito da psicanálise ab sorvida que foi pelos diversos setores cultu rais onde ainda permanece com a conceitu ação original provinda da psicanálise De há muito é consensual que as etapas evolutivas na formação da personalidade da criança não são estanques e nem de pro gressão absolutamente linear antes elas se transformam superpõem interagem per manentemente e de alguma forma perma necem durante toda a vida Essas últimas condições definem a condição de posição sendo útil portanto diferenciar os concei tos de fase e de posição FREUD na terceira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade em 1915 apresentou a noção de fases de forma mais sistematizada Com as complementações de ABRAHAM as diferentes fases foram defini das como graus de organização pulsional do desenvolvimento do ser humano as quais possuem um caráter topográfico re ferente à zona erógena e um caráter obje tal referente ao tipo de escolha do objeto O que de importante FREUD destacou em relação às fases evolutivas principalmente para a prática clínica é que os diferentes momentos evolutivos deixam impressos no psiquismo aquilo que ele denominou pon tos de fixação em direção aos quais even tualmente qualquer sujeito pode fazer um movimento de regressão Termos como fase libidinal fase prégeni tal fase genital fase oral fase anal fase sádicoanal fase fálica fase de latência fase perversopolimorfa fase do espelho cons tituem verbetes específicos Fato selecionado BION Expressão de BION que a conceitua como a busca de um fato que dê coerência signi ficado e nomeação a fatos já conhecidos isoladamente mas cuja interrelação ainda não foi percebida e estão em um estado algo caótico Num trecho do livro Cogitações 1991 p 241 BION compara fato selecio nado com o conceito de conteúdo mani festo do sonho de sorte que ambos são análogos uma vez que a função do fato selecionado é exibir a conjunção constante de elementos característicos da posição es quizoparanóide possuindo a propriedade de mostrar que alguns desses elementos estão relacionados Na prática analítica creio que essa impor tante conceituação de BION referese à ne cessidade de o analista conseguir traçar uma espécie de mínimo denominador comum de todos os aparentemente diferentes as suntos relatados pelo paciente que às ve zes podem transmitir uma sensação de caos de molde a que o analista possa eleger o 144 DAVID E ZIMERMAN tema emocional dominante daquele mo mento da sessão Fatores BION Inspirado na conceituação da matemática BION introduziu na psicanálise o termo fa tor definindoo como um elemento de psi canálise isolado que combinado com ou tros concorre para a construção de uma função Por exemplo os elementos α possi bilitam a função α a qual por sua vez será um fator da função de sonhar pensar etc Fé ato de BION Com esse termo BION designa sua concep ção original que embora algo mística alu de a um ato que se realiza no domínio da ciência e que deve ser diferenciado do sig nificado de conotação religiosa e muito menos não deve ser confundido com cren dices Antes referese a uma necessidade de o sujeito acreditar que existe uma reali dade incognoscível no fundo daquilo que não sabemos que não é perceptível pelos nossos órgãos sensoriais e que não está ao nosso alcance Feminilidade FREUD Os estudos de FREUD sobre a sexualidade feminina e o feminismo desde os tempos pioneiros até os últimos escritos de sua imensa obra embora tenham sofrido trans formações dele mesmo ao longo do tem po sempre foram muito polêmicos De modo consensual é considerada como a parte mais frágil e equivocada de suas con cepções psicanalíticas Aliás ainda nos fins do século XIX os es critos e discursos de virtualmente todos os autores ligados à psicologia convergiam no denegrimento das mulheres que eram en tão rotuladas de histéricas loucas inferio res hipnotizadas quaisquer que fossem suas origens sociais Nesse clima da histó ria da humanidade FREUD a partir de Três ensaios sobre a teoria da sexualida de1905 inspirado no modelo da biolo gia de Darwin propôs a tese da existência de um monismo sexual defendendo a es sência masculina da libido humana Enten dia que nas etapas infantis a menina des conhece a existência da vagina e o clitóris desempenha o papel de um homólogo do pênis Isso geraria tanto uma permanente inveja do pênis como a convicção das crianças de que as mulheres são portado ras de um órgão masculino castrado Na verdade em sua essência FREUD manteve imutável esse seu ponto de vista acerca da sexualidade feminina no que foi seguido inclusive pelas analistas mulheres da épo ca pelo menos até 1920 Fundamentado nessas teses e centrado na idéia da existência de uma libido única e num falicismo segundo o qual toda meni na queria ser um menino FREUD descreveu o complexo de Edipo com a respectiva an gústia de castração como tendo um tipo de desenvolvimento bastante distinto nos meninos e nas meninas O destino da sexu alidade de cada um deles estaria ligado não somente às diferenças anatômicas e fisioló gicas mas também às representações no ego da anatomia dos órgãos genitais FREUD deixou claro que a concepção de um monismo sexual de uma libido única não exclui a existência de uma bissexualidade A partir de 1920 acompanhando as pro fundas transformações advindas do pós guerra as mulheres começaram a emanci parse e a libertarse da alienação religiosa política direito ao voto jurídica social e sexual que lhes tinha sido imposta pela cul tura até então vigente Da mesma forma muitos psicanalistas como MKLEIN KAREN HORNEY e EJONES ousaram contestar as idéias de FREUD JO NES em 1927 durante um congresso inter nacional da IPA realizado em Innsbruck VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 145 apresentou o trabalho A fase precoce do desenvolvimento da sexualidade feminina onde discordou abertamente de FREUD quanto à extravagância da tese de que a menina não teria o sentimento de possuir uma vagina Reconhecendo que a figura da mãe exer cia uma influência muito maior na deter minação da sexualidade das crianças do que inicialmente supusera FREUD voltou a abordar essa temática no artigo A sexuali dade feminina 1931 e num artigo sobre A feminilidade que aparece em Novas conferências introdutórias à psicanálise 1933 nos quais ele admitiu que era im possível compreender a mulher se não le varmos em consideração a fase do apego préedipiano à mãe e que de fato tudo o que há na relação com o pai provém por transferência desse apego primário A psicanálise contemporânea tem uma vi são consensualmente aceita de que a me nina tem um conhecimento inato da exis tência de uma vagina como um órgão au tenticamente próprio e de que em condi ções normais o desenvolvimento da sexu alidade feminina não está subordinado à idéia de ser uma castrada fálica A favor de FREUD resta a hipótese que a sua postulação de uma igualdade entre homens e mulheres nas origens da sexua lidade estaria revelando a sua genialidade de antecipar o fato de que o campo do fe minino deveria ser pensado como parte in tegrante do universal humano ou seja den tro das modernas concepções de um uni versalismo que tende a integrar tudo Fenichel Otto Nasceu em 1897 em Viena originário de uma família judaica e faleceu em 1946 nos Estados Unidos Embora muito pouco co nhecido fora do círculo psicanalítico é um personagem importante no movimento da psicanálise muito especialmente pela enor me divulgação e aceitação do seu livro A teoria psicanalítica das neuroses 1945 que se tornou uma verdadeira Bíblia para su cessivas gerações de psicanalistas em forma ção sendo adotado como leitura oficial do pensamento freudiano pela imensa maioria dos institutos de psicanálise em todo mundo notadamente para os norteamericanos Por ocasião dos movimentos que prenun ciavam a II Grande Guerra emigrou para os Estados Unidos radicandose definitiva mente em Los Angeles Embora fosse mé dico e advogasse a causa da análise leiga FENICHEL teve que sujeitarse às leis ameri canas submetendose aos 47 anos a um ano obrigatório de residência médica in clusive os plantões noturnos Além disso foi obrigado a renunciar oficialmente a seus pronunciamentos marxistas Sempre de monstrou ser um freudiano ortodoxo Bas tante desgastado com o que ele considera va como sendo uma banalização e degra dação da psicanálise especialmente por parte da psiquiatria FENICHEL veio a falecer prematuramente com apenas 49 anos Fenômenos transicionais Winnicott Dentre as inúmeras contribuições importan tes de WINNICOTT a dos fenômenos transici onais incluindo as noções de objeto tran sicional e de espaço transicional certamen te é das mais originais e férteis da psicaná lise contemporânea WINNICOTT não concordava com a ênfase excessiva que MKLEIN emprestava às fan tasias inconscientes e ao mundo interior do bebê em detrimento segundo ele da im portância da influência dos fatos do mun do exterior A partir do seu trabalho Obje tos transicionais e fenômenos transicionais 1951 WINNICOTT percebeu que deveria existir um espaço de transição que o bebê faz do mundo imaginário para o mundo da realidade ou no referencial de Freud en tre os princípios do prazer e o da realidade 146 DAVID E ZIMERMAN Para essa concepção da existência de uma terceira área WINNICOTT inspirouse nas suas observações como expediatra com bebês recémnascidos que faziam uso do polegar dedos e punho enquanto as crianças maio rezinhas a partir dos 3 aos 12 meses fazi am uso como posse sua de brinquedos macios ursinho boneca etc e muitas ve zes o próprio polegar além de certas ativi dades bucais como o balbuceio por exem plo tudo isso assinalando também uma transição entre uma dependência absoluta para uma dependência relativa Os fenômenos transicionais estão intima mente conectados com a noção de espaço transicional e a de objeto transicional tal como aparecem nos respectivos verbetes FEPAL Federação Psicanalítica da América Latina A primeira federação psicanalítica da Amé rica Latina foi criada em 1960 com o nome de Conselho Coordenador das Organiza ções Psicanalíticas da América Latina COPAL tendo por objetivo a defesa dos interesses de todas sociedades psicanalíti cas latinoamericanas filiadas à IPA além de promover a integração e o intercâmbio de experiências psicanalíticas entre elas Em 1979 a COPAL foi dissolvida sendo substituída em novembro de 1980 pela atual FEPAL que foi reconhecida pela IPA e passou a constituir juntamente com a As sociação Psicanalítica Americana APSAA e a Federação Européia de Psicanálise FEP a terceira potência psicanalítica do mundo A FEPAL é composta por diversas sociedadesmembros e de sociedades pro visórias além de grupos de estudos distri buídos em vários países como Argentina Brasil Chile Colômbia México Peru Uru guai e Venezuela abrangendo um total em torno de 3500 psicanalistas ou seja um terço da cifra total da IPA sendo que a Ar gentina e o Brasil são os centros onde rela tivamente se concentra a maior densidade de psicanalistas No ano de 1999 durante o Congresso In ternacional realizado no Chile a FEPAL aprovou significativas mudanças na sua es trutura sendo que os novos estatutos con sistem em criação de um conselho de pre sidentes o fim da rotatividade das diretori as a proibição de os presidentes em exercí cio das sociedades componentes da FEPAL poderem fazer parte da diretoria dessa en tidade Ademais ficou decidida a aquisi ção de uma nova sede administrativa uma modernização da Revista LatinoAmerica na de Psicanálise o prosseguimento de in tercâmbios científicos entre as sociedades ou grupos de estudos a abertura de cres centes espaços para encontros oficiais de didatas de crianças e adolescentes a conti nuidade de congressos bianuais que con greguem os psicanalistas latinoamericanos Ferenczi Sándor Nascido na Hungria em 1873 originário de uma família de judeus poloneses formado em medicina praticante da psiquiatria e considerado o mais brilhante psicanalista VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 147 clínico de seu tempo FERENCZI foi um dos primeiros e mais importantes colaborado res diretos de FREUD com quem trocou mais de 1200 cartas Não obstante nos últimos anos o convívio entre os dois ficou algo es tremecido devido a suas críticas contra o dogmatismo psicanalítico e às posições psi canalíticas diferentes que FERENCZI adotava conquanto não tenha havido uma dissidên cia formal por parte dele Na atualidade está ressurgindo um vigoro so interesse por sua obra mercê de um re conhecimento de que ele postulara de for ma original alguns princípios que estão encontrando plena ressonância na contem porânea psicanálise vincular Em 1908 FERENCZI tornouse analista de sua amante Gisele e posteriormente apaixo nouse pela filha dela Elma com quem queria casar mas acabou acedendo às pon derações de FREUD para que desistisse des se intento Aliás durante o período de 1914 a 1916 FERENCZI foi analisado por FREUD em três ocasiões Muito tempo após ele veio a acusar FREUD de ter falhado com ele na aná lise da transferência negativa FERENCZI sempre mostrouse corajoso e ori ginal Em 1906 na Associação Médica de Budapeste apresentou um texto em que contrariando os valores da época fazia uma vigorosa defesa dos homossexuais FEREN CZI teve desentendimentos com muitos ana listas seus contemporâneos como JONES por se mostrar muito mais aberto que seus opositores a experiências julgadas como desviacionistas ou extravagantes como por exemplo o grande interesse que ele de monstrou pelo fenômeno da telepatia De forma muito abreviada cabe acentuar as seguintes contribuições de Ferenczi 1 Lançou as primeiras sementes para a teo ria das relações objetais e do conceito de introjeção convém lembrar que foi o pri meiro analista de MKLEIN 2 Antecipouse 15 anos aos estudos DE R SPITZ afirmando que as crianças que são recebidas com aspereza e falta de amor morrem fácil e voluntariamente 3 Em seu trabalho Confusão de línguas entre o adulto e a criança 1933 ele reto ma a teoria do trauma da sedução real afir mando que isso acontece quando os adul tos confundem os jogos da criança com os desejos das pessoas sexualmente adultas 4 Foi o primeiro analista a dar uma signifi cativa importância à pessoa real do analis ta quer quanto a uma possível hipocrisia e inadequações deste quer como uma rara oportunidade propiciada ao paciente de poder reelaborar os primitivos problemas por meio de uma nova figura parental re presentada pelo analista o qual o respeita estima é coerente e tem outras formas de enfrentar e solucionar os problemas Em resumo FERENCZI considerou a personalida de do analista como um instrumento de cura analítica 5 Não acreditava em nenhum critério defi nitivo de analisabilidade pelo contrário advogava a idéia de que todo paciente que solicitasse uma ajuda psicanalítica deveria recebêla 6 Foi um precursor da postulação de mui tos autores WINNICOTT KOHUT BALINT de que o estado de regressão do paciente pro picia que o analista complemente as primi tivas falhas parentais 7 Embora seja muito discutível a adequa ção analítica de sua técnica inovadora que ele chamava de técnica ativa a verdade é que FERENCZI foi o primeiro discípulo de FREUD a mostrar que a técnica concebida pelo mestre não era a única que podia be neficiar o paciente em análise 8 FERENCZI sempre demonstrou um interes se muito maior pelas questões técnicas da psicanálise do que pelos aspectos metapsico lógicos sendo considerado o clínico mais ta lentoso da história da psicanálise pioneira 9 Publicou em 1924 Thalassa Ensaio so bre a teoria da genitalidade onde afirmava que a vida intrauterina reproduzia a exis 148 DAVID E ZIMERMAN tência dos organismos primitivos que vivi am nos oceanos Ao mesmo tempo em detrimento à tese vigente da prioridade do pai FERENCZI se interessou pela pesquisa sobre as origens do vínculo arcaico da crian ça com a mãe tema que começava a ser trabalhado por MKLEIN 10 Em 1908 lançou as primeiras semen tes sobre a descoberta e a importância do fenômeno da contratransferência que FREUD veio a desenvolver dois anos após Da mesma forma em Elasticidade da téc nica analítica 1928 descreveu o tato psi cológico necessário ao analista como a fa culdade de sentir com o que corresponde ao que FREUD chamou de Einfühlung que hoje conhecemos como empatia 11 Seus inúmeros trabalhos estão reuni dos em quatro volumes com o título de Obras Completas 1992 No livro Vida e Obra de Sigmund Freud 1959 o autor EJONES descreve que no final da vida FERENCZI mostrouse psicótico e que inclusive apresentou delírios para nóides contra FREUD Pesquisas posteriores comprovaram que JONES estava equivoca do os sintomas de FERENCZI eram devidos ao surgimento de uma anemia perniciosa doença que o levou à morte em 1933 Em seu necrológio FREUD fez um vibrante dis curso de homenagem ao amigo Resta dizer que FERENCZI foi eleito presiden te da IPA em 1918 no Quinto Congresso realizado em Budapeste mas renunciou após alguns meses e o seu retrato é o úni co que não figura na galeria dos presiden tes tampouco constando no roster da IPA sua condição de expresidente Ferro Antonino Considerado um dos mais importantes au tores da psicanálise contemporânea ANTO NINO FERRO fez sua formação na Societá Psi coanalitica Italiana instituto de Milão onde é analista didata É membro da IPA parti cipante assíduo de eventos psicanalíticos in ternacionais e autor de diversos artigos so bre clínica teoria e técnica de psicanálise publicados em revistas de psicanálise na Itá lia e em todo mundo FERRO define sua orientação como sendo basicamente kleiniana com fortes influên cias do casal BARANGER com os trabalhos referentes ao campo analítico Muito espe cialmente é influenciado pela obra de BION notadamente no que se refere à função rê verie e à valorização da linguagem expressa em ideogramas ou pictogramas que no seu dizer correspondem a imagens poéticas Dentre seus livros publicados e que já me receram traduções em diversas línguas vale destacar A técnica na psicanálise infantil 1992 Antonino Ferro em São Paulo 1996 e Na sala de análise 1998 todos muito instigantes com propostas de novos modelos de entender e praticar a psicanálise Fetal psiquismo BION BION foi o primeiro psicanalista a conjetu rar mais profundamente quanto à existên cia de uma vida emocional não só no feto como também no embrião Inicialmente inspirouse em FREUD que na epígrafe de uma edição de Inibições Sintomas e An gústia 1926 afirma A vida extrauterina e a primeira infância apresentam uma con tinuidade bem maior do que a impressio nante cesura do ato do nascimento permi te supor Lamentando que FREUD não te nha investigado mais exaustivamente o que está contido nessa sua frase BION partiu da perspectiva de que o impressionante seria o fato de que deveria haver alguma coisa es piritual ou uma vida psíquica intrauterina BION sustentava essa especulação a partir dos estudos científicos dos embriologistas que encontraram no corpo adulto vestígios daquilo que primordialmente eram os ór gãos sensoriais e fisiológicos do feto como as cavidades auditivas e ópticas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 149 Assim muito antes dos atuais avanços tec nológicos BION afirmava não ter a menor dúvida de que o feto pode ouvir e responder a sons musicais tanto os de dentro como os borborigmos intestinais da mãe como os de fora será que o feto quase a termo registra uma discussão irada dos pais sendo certo que o feto movese no útero em resposta a determinados ritmos e responde à pressão dos dedos no ventre da mãe Na situação da clínica psicanalítica BION apontava que situações nas quais um paci ente mostra grande sinais de medo inexpli cável embora possa ter aprendido a não demonstrálo e a tentar ignorálo de sorte que ele acha conveniente que o analista pense na possibilidade de um medo de ori gem subtalâmica Ademais na prática clí nica em alguns pacientes ocorrem às ve zes certas manifestações somatoformes que despertam sentimentos intensos e aparen temente sem explicação lógica e que a in tuição clínica do psicanalista percebe que têm origem muito rudimentar prévia ao nascimento Aliás DMELTZER 1986 afirma que os es tudos de BION acerca do psiquismo fetal abrem uma importante porta para uma compreensão dos fenômenos psicossomá ticos Comentário Impõese que os psicanalis tas reconheçam que muitas das especula ções imaginativas de BION estão encontran do convincente confirmação nas modernas investigações levadas a cabo por importan tes psicanalistas e pesquisadores notada mente ALESSANDRA PIONTELLI na Itália que pesquisam e tratam de crianças PIONTELLI relata o estudo que fez através de ultrasonografia durante a gestação de uma dupla de gêmeos na qual ao longo de toda a gravidez Marco hostilizou a irmã Delia recusando as tentativas de aproximação empurrandoa vigorosamente e refugiando se no fundo de uma zona de quietude do útero materno O interessante desse relato é que decorridos alguns anos os irmãos repetiram na vida real esse mesmo padrão de relacionamento Isso dá mais razão à instigante pergunta que à moda de um puxão de orelhas e de um desafio à nossa escuta psicanalítica BION lançou na sua terceira conferência em Los Angeles quando abordava a hipótese de que o feto seja capaz de ver ouvir e sentir Eu queria saber quando os psiquiatras e os psicanalistas vão alcançar o feto Quan do é que eles vão ser capazes de ouvir e ver essas coisas Fetiche Fetichismo FREUD 1927 O termo fetiche que em português tem li gação com a crença de feitiço é emprega do de longa data em diversos campos do saber humano A psicanálise o tomou em prestado da antropologia onde significa um objeto material venerado como sendo um ídolo Muito antes de FREUD a palavra feti chismo vinha sendo utilizada pelos sexolo gistas da época para designar uma aberra ção patológica da sexualidade FREUD em Três teorias sobre a sexualidade 1905 atualizou o termo e concebeuo do ponto de vista psicanalítico inicialmente para designar uma perversão sexual caracteriza da pelo fato de uma parte do corpo pé boca seio cabelo sentido da visão ou de cheiro etc ou um objeto exterior sapatos chapé us gravatas calcinhas tecidos etc serem tomados como objetos exclusivos de uma excitação ou prática perversa de atos sexuais Posteriormente mais precisamente a partir do trabalho Fetichismo 1927 FREUD co meçou a compreender o fetichismo como uma organização patológica resultante de uma denegação ou recusa renegação desmentida da percepção de que falta um pênis na mulher cujo reconhecimento re meteria o menino para a temível angústia de castração O termo original de FREUD em alemão é verleugnen O fetiche portanto 150 DAVID E ZIMERMAN para FREUD é um substituto mágico do falo faltante à mulher e se constitui um sinal de triunfo sobre a ameaça de castração e ao mesmo tempo como uma proteção con tra essa ameaça Assim o fetichismo segundo FREUD se ca racteriza por dois aspectos 1 Seria exclusi vo dos homens porquanto ele acreditava que na mulher normalmente é a totalida de do seu corpo e não um objeto parcial como nos homens que está fetichizado 2 Representaria uma espécie de paradig ma para as perversões em geral O trabalho Fetichismo está no volume XXI p179 da Standard Edition brasileira e é considerado embrião dos importantes trabalhos publicados após sua morte e que ocupam lugar nuclear A clivagem do Ego no processo de defesa e Esboço de psi canálise A psicanálise contemporânea fundamen tada nos estudos de MKLEIN acerca das ar caicas relações do bebê com a sua mãe juntamente com a descrição da sexualida de primitiva e os escritos de RSTOLLER a respeito do gênero sexual modificaram as concepções mais restritas de FREUD de modo que hoje ninguém contesta a exis tência do fetichismo também nas mulheres Filobatismo MBALINT BALINT criou esse termo para designar de forma oposta ao seu conceito de ocnofi lia a tendência que a pessoa apresenta para a solidão e para a busca dos gran des espaços abertos Assim os filobáticos têm uma propensão para dirigir aviões praticar alpinismo etc de modo que gos tam da solidão e de enfrentar desafios como uma reafirmação de que não de pendem de ninguém Na verdade é uma espécie de fuga dos riscos de ficar encla usurado no outro tal como acontece nas ocnofilias Ver o verbete Balint Fixação FREUD Fixação de modo geral tem duas signifi cações 1 Uma concepção evolutiva que se refere à ligação primitiva da libido nas diversas fases da evolução assim determinando pelo fenômeno da regressão os traços predomi nantes da caracterologia ou o quadro sinto matológico de alguma psicopatologia Por exemplo uma forte fixação na fase anal pode vir a determinar uma caractereologia obses siva ou uma neurose obsessivocompulsiva 2 Alusão ao modo de inscrição de certos conteúdos como podem ser certas expe riências emocionais fantasias inconscientes e relações objetais com as respectivas re presentações que persistem de forma inal terada e intimamente ligadas às pulsões FREUD inicialmente descreveu a fixação li gada aos traumas e a partir de Três ensai os 1905 conceituou esse fenômeno psíquico como o ligado à teoria da libido de modo que as perversões eram explica das por uma permanente persistência das pulsões prégenitais em busca de uma desrepressão Assim a fixação está na origem das repressões ou recalques e se manifestam mais claramente durante as regressões Na atualidade predomina a noção de que todos os afetos primitivos sofrem sucessi vas transformações psíquicas que ficam presentes ou representados no inconscien te constituindo pontos de fixação os quais funcionam como um pólo imantado e tal como um eletroímã atraem a representa ção de novas repressões de fantasias e de experiências emocionais Os pontos de fixação se formariam com mais facilidade a partir de uma exagerada gratificação ou frustração de uma determi nada necessidade ou de uma zona eróge na e conforme o predomínio de uma das duas formas a manifestação clínica terá características específicas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 151 Fliess Wilhelm nariz e os órgãos sexuais Da mesma for ma pensava que a vida estava condiciona da por fenômenos periódicos que dependi am da natureza da bissexualidade do ser hu mano Aliás em 1896 FLIESS mandou impri mir e enviou a FREUD um texto intitulado Relações entre o Nariz e os Órgãos Genitais Femininos do Ponto de Vista Biológico FLIESS foi importante para FREUD não só porque lhe serviu de esteio na época em que no seu esplêndido isolamento traba lhando sózinho combatido até mesmo pe los seus mestres se empenhava na difícil tarefa de interpretação dos sonhos os de seus pacientes e os seus próprios Também o interesse de FLIESS pela sexualidade cer tamente encorajou FREUD a prosseguir e aprofundar seus estudos A ruptura entre ambos deuse em 1902 de forma algo violenta com FLIESS sentindo se perseguido e acusando FREUD de plagiar suas idéias Esse desenlace fez com que FREUD destruísse todas as cartas recebidas de FLIESS enquanto que este guardou as remetidas por FREUD as quais posteriormen te foram compradas por MARIA BONAPARTE que as conservou mesmo contra a oposi ção cerrada de FREUD Em 1950 com a autorização de ANNA FREUD foram publica das algumas das cartas as não comprome tedoras Em 1985 foi publicada uma edi ção completa em meio a um clima de es cândalo nos Arquivos Freud Fobias O termo fobia deriva do étimo grego pho bos pavor Na verdade na antiga Grécia para afastar o medo nos combates os gregos divinizaram a figura de Fobos e os guerreiros o honravam antes partir para a guerra Conceitualmente uma fobia alude ao pavor irracional que um sujeito demonstra perante um objeto um ser vivo ou alguma situação os quais por si mesmos não apresentam ne nhum perigo real Assim acompanhando FLIESS entrou para a história da psicanáli se pelos seus laços íntimos de amizade com FREUD desde 1885 e especialmente porque ambos mantiveram uma abundante corres pondência de 1887 a 1902 Algumas das cartas enviadas por FREUD a FLIESS contêm verdadeiras preciosidades do pensamento psicanalítico FLIESS 18581928 originário de uma fa mília de judeus sefardins vivia em Berlim onde exercia as funções de biólogo e médi co otorrinolaringologista tendo sido apre sentado a FREUD por BREUER por ocasião de uma estadia em Viena Formouse logo uma forte empatia recíproca com uma tônica transferencialidealizadora a ponto de FREUD não perceber que FLIESS não tinha um pensamento organizado e adequado à reali dade com fundamentação científica mas sim que pelo contrário ele propunha teses místicas e organicistas da sexualidade mistu rando suas teorias de forma extravagante Assim FLIESS acreditava que poderia supri mir toda uma série de sintomas através de uma cocainização da mucosa nasal porque segundo ele existiria uma analogia entre o 152 DAVID E ZIMERMAN dezenas de tipos de medos existe uma gran de diversidade terminológica com os nomes de agorafobia do grego agora espaço aber to praça medo de espaços abertos claus trofobia medo de espaços fechados ou seja de claustros hidrofobia medo da água acro fobia medo de alturas ou seja de acros em grego extremidade ponta etc A estrutura fóbica costuma ser multidetermi nada e varia intensamente de um indivíduo para outro tanto em intensidade como em qualidade Configurase clinicamente com uma ampla gama de possibilidades desde as mais simples e facilmente contornáveis até as mais mais completas a ponto de serem inca pacitantes e paralisantes Assim desde uma situação em que estão presentes alguns tra ços fóbicos na personalidade sob a forma de inibições por exemplo passando pela pos sibilidade de uma caracterologia fóbica por uma modalidade de conduta defensiva e evi tativa podese atingir uma configuração clí nica de uma típica neurose fóbica sendo em alguns casos tal o grau de comprometimen to do sujeito que não é exagero designála como psicose fóbica FREUD inicialmente utilizava a expressão his teria de angústia para designar as fobias as sim estabelecendo uma conexão central com sua tese de fazer incidir a responsabilidade pela etiologia da fobia aos distúrbios da sexu alidade tal como ele descreveu na fobia que o menino Hans 1909 manifestava por ca valos Muitos sucessores de FREUD dedicaram se ao estudo das zoofobias infantis ou seja aos terrores que freqüentemente certos ani mais despertam nas crianças Alguns autores atribuíam esses medos a um atavismo ligado ao evolucionismo darwiniano Na atualidade além dos conflitos ligados à conflitiva edípica como FREUD enfatizava também são bastante valorizadas as contri buições da escola de MKLEIN acerca da fi xação da fobia na etapa evolutiva do sadis mo oral canibalístico com a respectiva an gústia de aniquilamento assim como tam bém as concepções de MMAHLER a respei to do estágio evolutivo que corresponde aos processos de separação e individuação ge ram a angústia de engolfamento e a de se paração e as de LACAN no que se refere aos significantes que as situações fobígenas adquiriram através principalmente do dis curso fobigênico dos pais Clinicamente os analistas invariavelmente observam que os pacientes marcadamente fóbicos sempre apresentam uma má ela boração das pulsões agressivas técnicas de evitação e de dissimulação manifestações simultâneas de algum grau de obsessão e de paranóia e freqüentemente de somati zações Muitas vezes o paciente tenta resol ver seus pavores por meio de atitudes con trafóbicas Há uma regulação da distância afetiva com as pessoas em geral e com o analista em particular de tal sorte que o paciente fóbico não permite uma aproxi mação mais profunda devido a seu pavor de ficar engolfado e tampouco tolera um afas tamento excessivo pelo receio de perder o vínculo com a pessoa necessitada Uma for ma de fobia bastante comum que seguida mente passa desapercebida é a fobia social pela qual em meio a um sistema bem estru turado de racionalizações o sujeito evita ao máximo fazer aproximações sociais É importante que o analista leve em conta o diagnóstico diferencial entre as fobias propri amente ditas que vêm acompanhadas por uma intensa angústiapânico e os quadros clínicos similares que se manifestam na doen ça do pânico A Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quarta edição DSM IV situa as fobias dentre os Transtornos de Ansiedade Foraclusão LACAN A grafia foraclusão se justifica pelo fato de que no idioma português de textos psi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 153 canalíticos esse fenômeno psíquico ora aparece traduzido como forclusão ora como foraclusão além de outras formas como desestima repúdio e rejeição O termo foraclusão foi cunhado por LA CAN em 1956 durante um seminário que fazia sobre o caso Schreber como tradu ção do original alemão Verwerfung em pregado por FREUD LACAN inspirouse to mando emprestado ao discurso jurídico o adjetivo francês forclusif que significa a exclusão do uso de um direito que não foi exercido no momento oportuno De fato na análise do Homem dos Lo bos redigido em 1914 e publicado em 1918 FREUD assinalou que esse paciente só imaginava a relação sexual dos seus pais pela via anal assim excluindo rejei tando Verwerfung a possibilidade de re conhecer a existência de uma castração fálica da mãe ou seja rejeita uma reali dade que é apresentada como sendo ine xistente LACAN empregava essa terminologia para definir um mecanismo específico das pis coses mais precisamente dos estados pa ranóides Tanto FREUD como LACAN esta beleceram uma distinção entre forclusão e repressão baseados na noção de que neste último caso diferentemente da for clusão aquilo que está excluído jaz no in consciente e pode voltar à consciência de uma forma simbólica De forma equivalente BION utiliza K para designar as formas de como a parte psicó tica da personalidade rejeita fazer um reco nhecimento das verdades penosas as ex ternas e as internas Formação de compromisso FREUD Espécie de compromisso egossintônico que as instâncias psíquicas assumem entre si de sorte a autorizar o surgimento no consciente do que está reprimido no inconsciente desde que venha suficien temente disfarçado para não ser reconhe cido tal como acontece nos sonhos e na formação dos sintomas quase que em geral Nos primeiros tempos FREUD em prestava uma especificidade desse fenô meno às neuroses obsessivas Formação reativa Mecanismo de defesa pelo qual o ego mo biliza uma estrutura caractereológica a mais oposta possível quanto ao risco do surgimento das pulsões libidinais ou agressivas reprimidas no inconsciente Esse processo a diferencia da formação de compromisso porque neste último caso não há propriamente uma oposição fron tal mas sim um acordo de paz que sa tisfaz as partes conflitantes Em termos da teoria econômica podese dizer que a for mação reativa consiste num contrainves timento de energia psíquica de força igual e de direção oposta ao investimento pul sional inaceitável que está agindo desde o inconsciente FREUD desde as primeiras descrições acerca das neuroses obsessivas e do ca ráter anal deixou claro o quanto premi do pelas ameaças de um superego rígi do o ego desenvolve defesas manten dose permanentemente em estado de alerta contra um suposto perigo como se esse estivesse sempre presente Assim para exemplificar um pudor exagerado pode estar opondose a tendências exi bicionistas uma bondade exagerada e despropositada pode decorrer de ímpe tos invejosos e agressivos uma obsessão por limpeza e ordem pode estar camu flando uma sensação de sujeira interna e assim por diante Formação de símbolos Ver o verbete símbolo 154 DAVID E ZIMERMAN Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental FREUD 1911 Artigo que tem como tema principal a dis tinção entre o princípio do prazer e o prin cípio da realidade que dominam respec tivamente os processos mentais primário e secundário FREUD assinala que a substituição do prin cípio do prazer pelo princípio da reali dade não se realiza de repente e assim como o egoprazer nada mais pode fa zer a não ser desejar lutar por um pra zer e evitar o desprazer ao egorealida de basta lutar pelo que é útil e resguar darse contra danos A educação é des crita como um incentivo ao controle do princípio do prazer Já a arte produz uma reconciliação entre os dois princípios A sexualidade sofre mudanças que consis tem numa gradual passagem das pulsões sexuais por fases intermediárias do auto erotismo ao amor objetal que serve à procriação Esse trabalho está no volume XII p277 da edição brasileira da Standard Edition Fortda FREUD Expressão incorporada à terminologia psicanalítica a partir de Além do princí pio do prazer 1920 onde FREUD relata a experiência de um seu neto de um ano e meio que através da brincadeira do carretel pronunciava alternadamente os gritos de fort e de da Freud relata que o seu netinho mantinha um carretel preso a um barbante e quando o jogava para longe fora do alcance de sua visão ele emitia um prolongado som de oooo que supôs FREUD constituía um esboço da palavra fort que em alemão signifi ca longe e quando puxava o carretel para perto de si o menino emitia um sonoro da que em alemão quer dizer aqui FREUD emprestou importância psicanalí tica a esse fato porque logo compreen deu que o menino estava elaborando a ausência de sua mãe ao mesmo tempo em que expressava sua confiança de que ela logo voltaria Igualmente Freud de duziu que as crianças agem ativamente em relação àquilo que sofrem passiva mente LACAN complementando os estudos de FREUD asseverou que esse jogo do carretel serve de protótipo para o entendimento da raiz da formação de símbolos tendo em vista que na elaboração de uma perda de uma separação através de atos repetitivos a ausência é evocada na presença e a pre sença na ausência Fragmentação angústia de M KLEIN MKLEIN descreveu esse tipo de angústia de origem primitiva também chamada por ela em outros momentos como angústia de desintegração ou de aniquilamento como resultante de uma profunda e se vera dissociação cisão do ego que acompanha a predominância da posição esquizoparanóide e que provoca uma an siedade com o sentimento de estar haven do uma fragmentação um despedaça mento psíquico e corporal Conquanto em grau moderado seja uma experiência normal quando se está num es tado de exaustão ou de estresse essa forma de angústia é extremamente grave e central na patologia dos quadros esquizofrênicos Fragmento da análise de um caso de histeria FREUD 1905 Título do historial clínico que é muito mais conhecido pela denominação de O Caso Dora Está publicado no volume VII p5 da Standard Edition brasileira Ver os verbetes Dora e historiais clínicos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 155 Freud Anna como também foi em torno de sua pes soa que a corrente freudiana da Socieda de Psicanalítica Britânica se moldou es truturou e ganhou respeitabilidade Outro mérito seu foi o de ter sido uma das pioneiras da psicanálise com crianças Não obstante terlhe imprimido uma ori entação de natureza pedagógica critica va M KLEIN a qual na mesma época por volta de 1927 preconizava e praticava a psicanálise infantil dentro do mais puro rigor psicanalítico abstendose de qual quer medida reeducativa ou de apoio Ambas travaram sérias polêmicas entre si o mesmo ocorrendo entre seus respectivos se guidores o que gerou as célebres Controvér sias na Sociedade Britânica de Psicanálise nos idos da década de 40 por pouco não sofren do essa entidade uma grave cisão oficial Freud Sigmund Nascida em Viena em 1895 ANNA foi a sexta e última filha de SIGMUND e MARTHA FREUD Nunca casou e permaneceu intimamente ligada ao pai até seus últimos dias Foi pre sidente do Instituto de Formação Psicanalí tica de Viena de 1925 a 1938 ano em que acompanhando seu pai refugiouse em Londres Na capital inglesa fundou em 1951 a Clínica Hampstead um prestigioso centro de tratamento pesquisa e formação em psicoterapia infantil Muitos discutem se a notória importância que AFREUD representa para o crescimen to e difusão da psicanálise devese aos seus próprios méritos ou a sua condição de filha de SFREUD É indiscutível que seu livro O ego e os mecanismos de defesa 1936 representa um enorme avanço porquanto nele indo além das pulsões do Id ela enaltece as funções defensivas do ego que FREUD esboçou mas não apro fundou Dessa forma ANNA FREUD pode ser considerada como uma importante formadora de discípulos psicanalistas que mais tarde viriam a fundar a escola nor teamericana da Psicologia do Ego assim Criador da psicanálise autor que mais con tribuiu com profundas e originais concep ções que ainda na atualidade continuam 156 DAVID E ZIMERMAN servindo como fonte de inesgotáveis estu dos e pesquisas e o maior divulgador da ciência psicanalítica Na entrada do ano 2000 na maioria dos órgãos da mídia in ternacional FREUD foi escolhido como a personalidade mais importante do mundo científico do milênio que passou Centenas de obras foram escritas sobre FREUD no mundo inteiro Seus livros foram traduzidos em cerca de 30 idiomas tendo sido publi cados no mínimo 10 biografias sobre a sua vida e obra Deixou um legado de mais de 300 títulos sendo 24 livros 123 artigos e uma correspondência avaliada em 15000 cartas Formou por meio da análise didáti ca da época mais de 60 praticantes Nasceu em Freiberg hoje Pribor na Repú blica Tcheca em 6 de maio de 1856 e rece beu o nome de Schlomo Sigismund Pres sionada por uma ruína econômica devida ao desenvolvimento da industrialização sua família mudouse para Viena quando ele tinha quatro anos onde FREUD viveu quase toda a sua vida Seu pai comerciante de lã e têxteis contava 41 anos e já tinha dois filhos de um primeiro casamento quando se casou com Amália então com 21 anos Dessa união nasceram mais sete filhos sen do Sigismund nome mais tarde trocado para Sigmund o mais velho deles Era de longe o filho preferido da mãe que o cha mava Mein goldene Sig Meu Sig de ouro Em Viena ao completar os seus estudos secundários Sigmund já sabia latim gre go hebraico alemão francês inglês e ti nha noções de italiano e espanhol FREUD renunciou aos estudos jurídicos porquan to decidira estudar medicina e a partir de sua condição de médico criou a psicanáli se Só abandonou Viena perseguido pelo nazismo migrando para Londres onde vi veu seus últimos anos Seu pai Jacob sem ser um religioso prati cante era um profundo estudioso do Tal mude livro da sabedoria judaica e por ocasião do ritual da circuncisão ritual ju daico que sucede ao nascimento registrou esse fato na Bíblia da família a mesma que presenteou a FREUD quando este comple tou 35 anos de idade com uma dedicató ria que preconizava que o filho atingiria a condição de futuro gênio O nome Schlomo Salomão foilhe dado em homenagem a seu avô paterno rabino que falecera dois meses antes do seu nasci mento O próprio FREUD em muitos depoi mentos públicos admitiu que sua condição de judeu forjou seu caráter com a coragem própria de uma minoria perseguida contri buindo bastante para caber justamente a ele a sublime função de verdadeiro criador da psicanálise Da mesma forma ele reco nheceu sua gratidão à Bnei Brith secular instituição judaica voltada para a defesa dos direitos humanos que o recebeu no perío do do esplêndido isolamento durante o qual sentiase sozinho desamparado cer cado da descrença geral relativamente a seus estudos sobre a sexualidade infantil Durante mais de 30 anos FREUD participou ativamente desse grupo judaico porém nunca escondeu que sua identidade de ju deu passava por três planos 1 O religioso que ele não aceitava da mesma forma que não aceitava como saudável qualquer fé religiosa 2 Uma clara ambigüidade quan to à sua condição de sionista voltado para a causa da criação de um estado nacional judeu o atual Estado de Israel 3 Uma consistente aceitação de que ele possuía um espírito judeuCabe transcrever o seguinte trecho de uma entrevista concedida por FREUD a um jornal americano em 1926 que aparece na revista Ide 1988 p56 sob o título de Entrevista rara Minha língua é o alemão Minha cultura minha realização é alemã Eu me considerava um intelectual ale mão até perceber o crescimento do precon ceito antisemita na Alemanha e na Áustria Desde então prefiro me considerar judeu Vale ainda consignar na vida de FREUD que casouse com Martha também judia ten VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 157 do alguns seus familiares sido importantes autoridades religiosas e com ela teve seis filhos A caçula ANA foi a única que se tor nou psicanalista e a sua mais importante se guidora e sucessora Em setembro de 1891 FREUD mudouse para um apartamento situ ado na rua Berggasse onde hoje está locali zado o Museu Freud e aí morou até seu exí lio em 1938 cercado por Martha a cunhada Minna e seus seis filhos Mathilde Martin Oliver Ernst Sophie e Anna FREUD concluiu com brilhantismo seu curso médico aos 25 anos na Universidade de Viena tendo feito um longo aprendizado em neurologia dedicandose a pesquisas passava horas dissecando nervos de pei xes raros fez importantes investigações so bre a cocaína Publicou inúmeros traba lhos nessa área que obtiveram expressivo reconhecimento científico Por razões finan ceiras renunciou à carreira de pesquisador e tornouse clínico Embora tenha enfrentado uma forte corren te antisemita então vigente na Universi dade de Viena FREUD logrou a distinção de ser nomeado professor de Neuropatologia e vir a obter o Prêmio Goethe de Literatu ra Muito cedo demonstrou méritos que lhe possibilitaram ganhar uma bolsa de estu dos para acompanhar em Paris os traba lhos de mestre Charcot que já pontificava com a aplicação de técnicas hipnóticas Posteriormente FREUD voltou à França des ta vez para Nancy também para aprofun darse nos mistérios do hipnotismo através das demonstrações de Bernheim De volta a Viena além dos recursos médicos habi tuais da época para o tratamento dos dis túrbios neuropsicológicos como era o em prego de banhos mornos massagens cli noterapia repouso no leito pequenos es tímulos elétricos e medicamentos barbitúri cos passou a empregar a técnica da hipno se na sua clínica privada Muito cedo FREUD deuse conta de que era um mau hipnotizador e substituiu esse re curso por técnicas que promovessem uma livre associação de idéias que possibilitas sem um acesso às repressões inconscientes das suas pacientes histéricas O edifício psicanalítico construído por FREUD pode ser esquematicamente desdobrado em 5 áreas 1 Historiais clínicos 2 Metap sicologia 3 Teoria 4 Técnica 5 Psicaná lise Aplicada Casos clínicos Em relação aos casos que descrevia de forma magistral vale registrar os que apresentou em Estudos sobre a his teria 1893 livro escrito juntamente com BREUER onde ele relata uma série de aten dimentos de curto prazo com pacientes portadoras de sintomas histéricos como foram Emmy von N Lucy R Katherina Entre outras mais cabe destacar Elisabeth von R pelo fato de não se ter deixado hip notizar e também por recusarse a ceder às pressões exercidas por FREUD para que ela associasse livremente Essa situação obri gouo a investigar e descobrir o fenômeno das resistências inconscientes No entanto os casos clínicos mais famosos de FREUD com os quais ele sempre de monstrava alguma tese centrada no pa pel da sexualidade na determinação das neuroses são o caso Dora 1905 O pe queno Hans 1909 O Homem dos ratos 1909 O caso Schreber 1911 O Ho mem dos lobos 1918 Esses casos aparecem melhor detalhados no verbete Historiais clínicos Teoria e metapsicologia Como uma pálida idéia da imensa obra de FREUD cabe destacar os seguintes trabalhos listados em ordem cronológica Em 1895 FREUD redigiu o seu importantís simo e vigente trabalho Projeto de uma psi cologia científica para neurólogos somen te descoberto muitos anos mais tarde entre os seus escritos abandonados e que veio a ser publicado em 1950 Em 1900 surgiu o seu livro mais conheci do especialmente entre o público leigo A 158 DAVID E ZIMERMAN interpretação dos sonhos onde no sétimo capítulo FREUD apresenta um esboço bas tante desenvolvido do psiquismo a hipó tese topográfica constante de três sistemas o consciente o préconsciente e o inconsci ente Nesse mesmo capítulo entre tantos outros aspectos importantes postulou a exis tência de um processo primário uma primiti va forma de funcionamento da mente No ano de 1905 aparece o clássico Três ensaios sobre a teoria da sexualidade no qual estuda a normalidade e a patologia que acompanham a sexualidade na infância como é o caso das diversas formas de aber rações sexuais Nesse mesmo artigo FREUD também alude aos inatos componentes pulsionais sexuais às zonas erógenas ao autoerotismo à organização oral e à anal sádica aos instintos de escopofilia de exi bicionismo e de crueldade ao impulso de conhecimento e à pesquisa da criança ao processo de sublimação entre outras con cepções mais É interessante registrar que esse trabalho e o da Interpretação dos so nhos foram os únicos dentre a imensidade dos trabalhos de Freud que mereceram constantes acréscimos conceituais em suas reedições Em 1911 surge a publicação de Formula ções sobre os dois princípios do funciona mento mental Nessa obra FREUD postula a existência dos princípios do prazer e da rea lidade A partir das interrelações especial mente quanto à descarga das excitações li bidinais ele lança as primeiras formula ções psicanalíticas sobre a gênese e a fun ção dos pensamentos Foi baseado nesse trabalho que BION construiu suas fundamen tais concepções sobre os pensamentos e a capacidade para pensar Em torno do ano 1915 Freud gestou qua tro dos seus mais importantes trabalhos metapsicológicos Sobre o narcisismo uma introdução As pulsões e suas vicissitudes Repressão O inconsciente Neste mesmo conjunto de trabalhos de 1915 também aparece publicado o importante Luto e Melancolia no qual FREUD estabelece a des coberta e a descrição do mundo dos obje tos internalizados pela introjeção tal como está contido na sua famosa frase a som bra do objeto recai sobre o ego Em 1920 FREUD lança um trabalho revolu cionário Tratase de Além do princípio do prazer no qual postula a existência da pul são de morte tese que acarretou profun das transformações na psicanálise Em 1923 vem à luz outro notável trabalho O ego e o id que trouxe marcantes reper cussões na teoria e na prática da psicanáli se promovendo uma fundamental mudan ça epistemológica ou seja a teoria topo gráfica cede o lugar de importância para a nova concepção de uma teoria estrutural da mente com as forças dinâmicas oriun das das três instâncias psíquicas id ego e superego O trabalho A negação publicado em 1925 é de uma importância essencial para a com preensão das múltiplas e protéicas formas de como o ego usa os distintos mecanis mos negatórios para evadir as angústias dos conflitos neuróticos O ano de 1926 também é marcante na his tória da psicanálise porque o trabalho Ini bições sintomas e angústia representa uma significativa mudança na concepção do es sencial fenômeno da formação da angús tia tal como aparece descrito neste verbete específico Nesse mesmo trabalho FREUD faz sua mais completa abordagem sobre o fe nômeno das resistências descrevendo suas distintas fontes e formas de funcionamen to Em 1927 aparece um trabalho que veio a ser um importantíssimo filão de inspira ção para a psicanálise atual tratase de Fe tichismo onde FREUD complementando um artigo de 1924 Neurose e psicose evi dencia a importante concepção relativa à dissociação do ego Em 1940 é publicado Clivagem do ego no processo de defesa que dá continuidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 159 aos aludidos trabalhos anteriores e que se constituem na psicanálise contemporânea subsídios indispensáveis para a compreen são do psiquismo de qualquer ser humano Trabalhos de técnica FREUD nunca dei xou de fazer uma integração entre a teoria e a técnica Pelo contrário sempre procu rou respaldar uma na outra de modo a que se fertilizassem reciprocamente Dessa for ma ele escreveu inúmeros artigos específi cos sobre técnica psicanalítica além dos que aludem indiretamente à técnica e à prática como são os historiais clínicos Em muitos trabalhos teóricos aparecem comentários sobre aspectos técnicos Já em 1905 no trabalho Sobre a psicote rapia que resultou de uma conferência pro nunciada numa escola de medicina FREUD apontava alguns aspectos técnicos da nova ciência que privilegiava a dinâmica do in consciente absoluta novidade para os mé dicos da época Nesse artigo aparece a bela metáfora que ele tomou emprestada de Leonardo da Vinci referente aos métodos analíticos da via di porre e da via di levare ver esses verbetes O período que vai dos anos de 1912 a 1915 coincidente com algumas dissidências no então incipiente movimento psicanalítico justamente quando aparecem os principais textos de FREUD relativos às recomendações básicas para todos que pretendessem em pregar o método psicanalítico Assim é necessário destacar trabalhos como A dinâmica da transferência no qual ele discrimina formas diferentes de transferên cia e explica algumas relações entre a trans ferência e a resistência Nesse mesmo ano aparece Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise onde postula a re gra da neutralidade com a famosa metáfo ra de que o analista deveria comportarse como um espelho quever os verbetes espelho e neutralidade Em 19131914 sob o título geral de Novas recomendações sobre a técnica da psicaná lise FREUD brindanos com dois textos im portantes um é Sobre o início do tratamen to no qual ele traz a metáfora de que tal como no jogo de xadrez as aberturas são conhecidas e previsíveis enquanto o desen rolar e o término do jogo analítico é impre visível e cheio de surpresas o outro artigo é Recordar repetir e elaborar que adquiriu importância por representar um primeiro esclarecimento profundo acerca do fenôme no do acting como substituto da resistên cia a lembrar aquilo que foi reprimido Em 1915 FREUD publica Observações so bre o amor transferencial que representa um sério alerta quanto aos riscos de envol vimento mais especificamente o de o ana lista ficar enredado nas malhas de uma con tratransferência erotizada FREUD volta a ela borar suas idéias a respeito dos principais fenômenos que cercam a técnica e a práti ca da psicanálise em conferências realmen te pronunciadas como em Conferências introdutórias 1916 ou em textos que si mulam conferências com um auditório ima ginário como em Novas conferências intro dutórias à psicanálise 1933 além de tex tos posteriores como os magníficos traba lhos de 1937 Análise terminável e intermi nável e Construções em análise Trabalhos de psicanálise aplicada Vir tualmente FREUD cobriu todas as áreas do conhecimento humano procurando expli cações de causas inconscientes para o com portamento humano na religião na arte na ciência na telepatia nos rituais mágicos nos clássicos da literatura nas figuras his tóricas na mitologia na demonologia nos relatos bíblicos na lingüística na antropo logia na psicologia e nos aspectos culturais dos grupos massas e sociedades Dentre os últimos é útil mencionar os seguintes seis artigos As perspectivas futuras da terapia psicanalítica 1910 Totem e tabu 1913 Psicologia das massas e análise do ego 1921 O futuro de uma ilusão 1927 Mal estar na civilização 1930 160 DAVID E ZIMERMAN Entre os colaboradores imediatos de FREUD aconteceram dissidências as mais importantes foram a de ADLER em 1910 a de STECKEL e especialmente a de JUNG que abandonou o grupo analítico freudi ano em 1913 OTTO RANK juntamente com FERENCZi e mais tarde WREICH fo ram os líderes em busca de novas técni cas diferentes até certo ponto divergen tes das recomendadas por FREUD como essenciais Após longos anos de sofrimento atroz pro vocado por um câncer do maxilar supe rior quando percebeu que não tinha mais condições de manter a continuidade da vida FREUD pediu a seu médico assisten te SCHUR que induzisse sua morte no que foi atendido em respeito a um acordo que previamente haviam acertado Assim após dois dias de um tranqüilo estado de coma FREUD veio a falecer em 23 de se tembro de 1939 em Londres onde as suas cinzas repousam no crematório de Golders Green Fromm Erich E FROMM nasceu em Frankfurt Alemanha em 1900 originário de uma família de judeus ortodoxos Antes de dedicarse às ciências sociais direito filosofia psiquiatria e psicaná lise estudou a Bíblia e o Talmude Já aos 15 anos militava num movimento da juventude judaica sionista e posteriormente integrou se a um grupo de filósofos da Escola de Frank furt de que participava Marcuse Esse grupo era conhecido como a esquerda freudiana que deu origem ao freudomarxismo Assim Fromm tentava conciliar as doutri nas de KMARX e de FREUD buscando uma integração dos fatores socioeconômicos com a explicação das neuroses No referi do grupo de esquerda FROMM conheceu FRIEDA REICHMANN que veio a ser sua quarta analista antes de tornarse sua esposa sob o nome bastante conhecido de FRIEDA FROMM REICHMANN Em 1934 após a ascensão de Hitler ao poder FROMM emigrou para os Estados Uni dos onde juntamente com KAREN HORNEY de cuja filha foi analista e HSSULLIVAN deu um grande vigor à corrente psicanalíti ca americana conhecida como culturalista tendo sido nomeado professor de psiquia tria em Nova York cidade onde praticou a psicanálise clínica porém renunciando à maioria das regras técnicas ditadas pela IPA como o uso do divã por exemplo FROMM dedicouse com afinco ao estudo das diferentes tradições religiosas como judaismo cristianismo e zenbudismo buscando um sin cretismo messiânico entre todas elas Sempre demonstrando um vigoroso pro testo contra as mais diferentes formas de totalitarismo e de alienação social publi cou muitos livros sendo os mais conhe cidos O medo da liberdade 1941 Psi canálise e religião 1950 Sociedade ali enada Sociedade sadia1955 A arte de amar 1956 Ensaios sobre Freud Marx e a psicologia 1971 e Paixão de des truir1975 ERICH FROMM faleceu em 1980 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 161 Frustração O termo frustração adquire na psicanálise duas significações opostas porém complementa res 1 A frustração sob a forma de privação e de momentos de ausência é não só inevitá vel como também necessária para exercer uma importantíssima função estruturante no desenvolvimento emocional da criança quan do efetivada adequadamente 2 A frustração repetitivamente inadequada funciona como fator fortemente desestruturante Virtualmente todas correntes psicanalíticas com uma abordagem ou outra enfatizam a importância das frustrações no psiquis mo da criança de sorte que esquematica mente podese falar na normalidade e na patogenia das frustrações FREUD empregou o termo frustração Ver sagung no original alemão para desig nar um desequilíbrio entre um desejo que busca satisfação e seu grau insuficiente de realização No entanto esse desequilíbrio não provém necessariamente de frustra ções externas pode acontecer que uma tendência interna do próprio sujeito por exemplo o superego mecanismos de defe sa etc oponhase ao seu desejo Uma pro va disso dizia FREUD é a situação freqüente e paradoxal em que o sujeito fica doente nas situações em que atinge o sucesso Em O futuro de uma ilusão 1927 FREUD estabelece uma distinção entre frustração a insatisfação de uma pulsão libidinal a proibição o meio pelo qual a frustração acontece e a privação o estado emocio nal resultante da frustração Assim assina la que a frustração também é produzida pelas leis da cultura de modo que é ine rente à condição humana LACAN por sua vez estuda as diferenças entre frustração privação e castração en fatizando a natureza da falta constituída por exemplo o pênis objeto de frustração da menina constituindo o modelo de um ob jeto impossível de ser alcançado para distinguir esses três processos Isso está bem sintetizado nessa frase de A Green Em virtude da frustração existe algo que não se realiza em virtude da privação há algo que falta em virtude da castração existe algo que poderia chegar a faltar Comentário A capacidade de tolerância às frustrações depende das condições he redoconstitucionais do bebê e da forma como se processou determinada frustração por parte do ambiente que provê as neces sidades físicas e psíquicas da criança As sim resultam quatro tipos 1 A frustração adequada que promove o crescimento porquanto leva a criança a achar soluções para o problema das falhas e das faltas criadas pela frustração e vai portanto propiciar uma gradativa capaci dade para pensar simbolizar e criar 2 As frustrações por demais escassas e tí midas o que dá um resultado inverso ao anterior além de estimular o prolongamen to da dependência e o incremento de uma onipotência 3 As que continuadamente são incoeren tes eou injustas e levam a criança a um estado de confusão e ambigüidade 4 As demasiadamente excessivas na quan tidade e na qualidade e que como forma de reação promovem a exacerbação dos sentimentos agressivodestrutivos BION foi o autor que mais trabalhou com essa última hipótese de modo a mostrar que uma frustração excessiva comumente resultante de uma prolongada ausência ou privação do seio materno nutridor desper ta no bebê sensações altamente despraze rosas devido ao incremento do ódio Essas sensações intoleráveis que BION denomi na elementos β precisam ser descarrega das para o exterior em busca de um ade quado continente que possa contêlas sen do que no adulto essa descarga fazse co mumente por meio de actings enquanto no bebê transparece sob a forma de uma agi tação corporal como esperneios etc 162 DAVID E ZIMERMAN Fuga luta e BION Expressão utilizada por BION para designar um dos presupostos básicos que sempre existem na dinâmica do campo grupal Esse tipo de suposto básico alude a uma condi ção em que o inconsciente grupal está do minado por ansiedades paranóides Por essa razão ou a totalidade grupal mos trase altamente defensiva e por isso entra em estado de luta contra o suposto inimi go com uma franca rejeição contra qual quer situação nova de dificuldade psicoló gica ou os integrantes do grupo fogem des sa situação desconhecida e temida Neste caso criando um inimigo externo ao qual atribuem todos os males e por isso ficam unidos contra ele sendo muito freqüente a criação de bodes expiatórios O líder reque rido para esse tipo de suposto básico gru pal deverá preferencialmente ter caracte rísticas paranóides e tirânicas Função BION Inspirado na matemática embora sem o mes mo sentido que o termo tem nela BION 1962 conceitua psicanaliticamente a função como uma atividade mental própria de certos fato res que atuam conjugados com outros Tal como no campo da matemática também no do psiquismo a relação das variáveis psíqui cas cria uma lei obedecendo a uma estrutura na qual a mudança de qualquer elemento influi decisivamente no conjunto Um exemplo banal é a função sexual que resulta de um conjunto de fatores um esta do psíquico de motivação para o ato sexu al a excitação provinda de órgãos sensori ais como visão cheiro tato e um possível estado de higidez física ou de estresse can saço doença etc Por sua vez essa mesma função sexual além da função de obter um prazer erógeno poderá servir como fator de outra função por exemplo a de repro dução da espécie e assim por diante Função e fatores estão de tal maneira inti mamente conjugados que BION por vezes emprega o temo functores como aparece em O aprender com a experiência 1991 p124 Função α BION Essa expressão designa um dos aspectos mais originais e importantes da obra de BION Referese diretamente à capacidade da criança de desenvolver a capacidade e a função de pensar os elementos β ou seja os protopensamentos que resultam das primitivas sensações e experiências emocio nais já inscritas mas que ainda não pude ram ser pensadas BION deu grande ênfase ao fato de que é a função a que possibilita o armazenamento mental das experiências emocionais trans formadas e por conseguinte a transforma ção das impressões sensoriais e emocionais em imagens visuais Daí a importância da comunicação do paciente sob a forma de ideogramas tipo hieróglifos A possibilidade de os elementos β essa cate goria ocupa a fileira A na Grade virem a ser transformados em elementos α ocupa a filei ra B depende diretamente da função α da mãe isto é das condições dessa de ser um continente adequado de modo a acolher conter descodificar e devolver para o filho aquilo que ele projetou nela agora devida mente desintoxicado significado e nomeado Função analítica eficaz conceito de técnica BION Com essa expressão BION quis precisar que um psicanalista na situação analítica deve aliar três estados da mente Ser 1 Um cien tista líder em busca da verdade 2 Um mís tico em permanente estado de fusão com a verdade incognoscível 3 Um artista para captar o sentido estético das comunicações e saber comunicálas eficazmente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 163 Além disso BION destaca ser indispensável o analista possuir o que ele chama de condições necessárias mínimas para o exercício eficaz da difícil porém fascinante tarefa de analisar Função psicanalítica da personalida de Bion Um dos conceitos mais significativos de BION referese ao fato de a busca episte mológica ser inata em qualquer indivíduo e que essa pulsão de conhecer as verdades deve ser desenvolvida no analisando atra vés da análise e da introjeção da função de analisar do seu analista Em suma a FPP designa uma atitude mental profunda em face da verdade e do conhecimento de si mesmo e é a única que permite uma conti nuidade da função autoanalítica Functores BION Seguidamente BION emprega esse vocábulo que é uma contração dos conceitos de função e de fator O termo pertence à sintaxe das ca tegorias matemáticas e BION o utiliza quando pretende designar conceitos psicanalíticos que operam segundo uma lógica matemática Fúria ou injúria narcisista KOHUT Expressão usada freqüentemente por KO HUT para designar o fato de as pessoas por tadoras de algum transtorno narcisista por mais amáveis e tranqüilas que aparentam ser em condições normais reagirem de maneira furiosa diante de algum tipo de frustração que lhes represente uma afronta a sua ilusão de grandiosidade um questio namento hostil à sua onipotência e uma injúria a sua autoestima Fusão Termo bastante freqüente nos textos psica nalíticos de vários autores que abordam o desenvolvimento emocional primitivo Cos tuma designar a etapa evolutiva em que o bebê ainda não tem condições neurobioló gicas de estabelecer distinção entre o eu e o outro Em outras palavras usando a terminologia de MMAHLER o bebê não ingressou na eta pa de diferenciação que possibilitaria evo luir para as subetapas de separação e in dividuação e não discrimina a mãe como pessoa separada dele de tal sorte que mantém a crença onipotente que está fun dido com a mãe que é uma mera exten são dele Fusãodesfusão das pulsões FREUD Designação de FREUD para a maneira quan titativa e qualitativa de como estão combi nadas entre si as pulsões de vida e as de morte A partir de Além do princípio do pra zer 1920 FREUD passou a conferir às pul sões destrutivas o mesmo grau de importân cia que sempre atribuiu às libidinais ressal tando que ambas enfrentamse de forma an tagônica nos mesmos campos do psiquismo Assim a libido constitui um fator de liga ção de fusão Bindung em alemão en quanto a agressividade tende a dissolver as relações FREUD descreve a desfusão para conceituar o fato de que as pulsões agressivas rompe ram todos os laços que em alguma pro porção os mantinham fundidos com a se xualidade e as pulsões de vida em geral O melhor exemplo encontrado por FREUD para demonstrar a conceituação de desfusão consiste no fenômeno da ambivalência tal como se manifesta claramente nas neuro ses obsessivas Fusional transferência narcisística do tipo KOHUT KOHUT estudou as transferências narcisísti cas e as classificou em três tipos idealiza 164 DAVID E ZIMERMAN doras gemelares e especulares Dessas úl timas descreveu dois tipos as fusionais e as especulares propriamente ditas A transferência fusional corresponde ao conceito de Freud de ego do prazer purifi cado e manifestase pelo fato de o pacien te crer que o analista não é mais do que um prolongamento seu pois ambos esta riam numa fusão arcaica Assim na práti ca analítica esperam que o analista adi vinhe seus pensamentos e necessidades e quando isso não acontece significam no como frieza e desinteresse do terapeu ta o que pode leválos a um estado de decepção ou não raramente a um esta do de fúria narcisista Futuro de uma ilusão FREUD 1927 Título de importante livro de FREUD publi cado em 1927 no qual estuda particular mente como a psicanálise entende a reli gião assim complementando as idéias que já tinha esboçado no artigo Atos obsessi vos e práticas religiosas1907 onde equi parou a religião a uma neurose obsessiva Esse trabalho de 1927 está escrito na for ma de diálogo fictício de FREUD com um in terlocutor que na verdade era o seu ami go pastor OSKAR PFISTER O enfoque principal do livro consiste nas influências recíprocas que existem entre as forças opostas provindas da natureza e as da cultura estas tendendo a sufocar a gra tificação pulsional Como asseverou FREUD é impossível uma plena e permanente har monia entre as forças referidas o fato de se desejar o contrário não passa de uma ilu são ilusão de que se possa atingir o senti mento oceânico forma primária da neces sidade do religioso em todos seres huma nos daí o título escolhido para o livro Esse trabalho aparece na Standard Edition brasileira no volume XXI p15 G BION Na Grade de BION G ocupa a sé tima fileira onde designa o sistema deduti vo científico o qual se forma de uma com binação lógica de conceitos de hipóteses e de teorias que já foram alcançadas e que estão representadas na fileira anterior a F Essa fileira G está preenchida unicamente na casela G2 porquanto a Grade visa a fazer uma representação gráfica unicamen te daquilo que se passa na experiência emo cional da situação do par analítico pois um sistema dedutivo científico tem pouco a ver com a finalidade de uma análise Um exemplo do enunciado de G2 a colu na 2 representada pela letra grega Y de signa as falsificações e mentiras consiste no entendimento segundo um modelo que mostra quanto uma alta abstração científi ca por exemplo a teoria geocêntrica de Ptolomeu que durou vários séculos pode estar a serviço de uma mentira para cuja manutenção foi necessária uma cruel per seguição a Galileu e a Giordano Bruno que ousaram desafiar a falsidade Gangue narcisista ROSENFELD Com essa denominação ROSENFELD 1971 alude a uma espécie de organização intra psíquica composta por objetos internos que G movidos pela necessidade de negar a fra gilidade e dependência que esse indivíduo tem em relação aos outros idealizam a sua onipotência e prepotência próprias do narcisismo Dessa maneira sabotam seu próprio lado infantil que está fazendo força para crescer Essa gangue narcisista da mesma forma como se passa nas gangues deliqüenciais amedronta corrompe e se duz com falsas promessas a seu lado que quer fraquejar de tal sorte que pode se constituir uma forte barreira resistencial às mudanças no processo analítico Ganho primário e secundário FREUD Expressão que designa o mesmo exposto nos verbetes benefício primário e benefício secundário Garma Angel Importante psiquiatra e psicanalista radica do na Argentina nasceu em Bilbao Espa nha em 1904 e faleceu em 1993 cercado pelo carinho e reconhecimento por suas contribuições psicanalíticas Quando tinha quatro anos seus pais migraram para a Ar gentina Seu pai foi assassinado com dois tiros em circunstâncias misteriosas e sua 166 DAVID E ZIMERMAN mãe veio a casar com um irmão do marido morto Aos 17 anos GARMA voltou à Espa nha onde graduouse como psiquiatra indo a seguir para a Alemanha onde analisou se com THEODOR REIK e completou a sua for mação psicanalítica Voltou a Berlim onde ficou cinco anos exercendo atividades como psicanalista clí nico e como didata sendo considerado o primeiro psicanalista espanhol Devido à guerra civil espanhola em 1936 GARMA vol ta à Argentina onde alguns anos após com outros psicanalistas funda a Associação Psi canalítica Argentina APA As maiores contribuições de GARMA referem se à clínica das psicoses ao estudo e divul gação em livros da medicina psicossomáti ca de concepções próprias a respeito da formação dos sonhos e do masoquismo Gêmeo imaginário O BION 1950 Título do primeiro trabalho rigorosamente psicanalítico que BION apresentou à Socie dade Britânica de Psicanálise assim obten do a condição de Membro Aderente A tese central recai sobre o uso maciço de identifi cações projetivas que um paciente pode fazer na mente de outra pessoa de modo a tornar esta última idêntica a ele como se fosse um verdadeiro gêmeo BION aborda as dificuldades de se lidar com pacientes esquizóides e esquizofrênicos Para tanto parte do estudo de três pacien tes em um caso tratavase de um gêmeo real e nos outros dois eram gêmeos imagi nários e baseado na teoria de MKLEIN aventa a hipótese de que um gêmeo repre sentaria uma espécie de duplo Seria pois uma personificação cuja finalidade visaria a negar a incapacidade de um controle ab soluto sobre outro indivíduo e ao mesmo tempo a negar que esse outro é uma pes soa autônoma e diferente dele Esse artigo constitui o primeiro capítulo de Estudos psicanalíticos revisados 1967 Gemelar transferência KOHUT KOHUT propôs uma visualização especial da transferência na situação analítica princi palmente com os pacientes bastante regres sivos Nesses casos asseverava KOHUT a transferência não deveria ficar tão centra da na repetição dos conflitos que a criança tivera com os seus pais mas sim nas fa lhas evolutivas nos primórdios narcisísticos da relação que a criancinha tivera com as figuras parentais notadamente com a mãe Assim a transferência gemelar consiste no fato de o paciente perceber o analista como um prolongamento seu parcial Caso essa distorção da percepção transferencial for total KOHUT denominaa transferência nar cisística fusional Na prática clínica esses pacientes demons tram necessidade de encontrar nas outras pessoas um gêmeo um alter ego ou seja alguém suficientemente parecido com ele que comungue dos mesmos valores de modo a confirmar a existência e a aceita ção do seu próprio self Gênero sexual R STOLLER Na atualidade graças principalmente aos trabalhos de RSTOLLER 1968 psicanalista americano 19241991 atribuise expres siva importância não somente ao sexo bio lógico com que a criança nasce mas tam bém à formação do seu gênero sexual o qual vai depender fundamentalmente dos desejos inconscientes que os pais alimen tam quanto a suas expectativas e deman das em relação à conduta e ao comporta mento do filho ou da filha Assim enquanto o termo sexo define a or ganização anatômica que estabelece a di ferença entre o homem e a mulher gênero sexual designa o sentimento psicológico e social da identidade sexual A indução por parte dos pais na determi nação do gênero sexual dos filhos costu VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 167 ma ser feita através de aspectos como atri buição de nomes próprios ambíguos no mes que tanto servem para meninos como para meninas o uso de roupas que provo cam confusões e indefinições no contexto social em que a criança está inserida o tipo de brinquedos e brincadeiras que os pais estimulam o tipo de esporte que incentivam a idealização ou denegrimento de certos atri butos masculinos ou femininos etc Na construção de uma homossexualidade do filho costuma ser comum a formação de um conluio inconsciente na base de um fazdeconta que ninguém está vendo nada assim negando uma evidente cumplicida de entre duas ou mais pessoas da mesma família Muitas vezes os pais não só deter minam decisivamente o gênero sexual dos filhos como também pode acontecer que eles atuem sua possível homossexualidade latente por meio do filho ou da filha Aliás não é nada raro que certas famílias culti vem um conluio múltiplo que se manifesta indiretamente em um determinado segre do familiar Comentário Relativamente à ligação da homossexualidade com o gênero sexual entendo que a estruturação de um gênero sexual diferente do sexo biológico está lon ge de necessariamente significar uma ho mossexualidade atuante porém pode ser um fator propiciador Por outro lado creio que se pode dizer que em alguns casos um casal com sexos biológicos diferentes porém com certa combinação entre os res pectivos gêneros sexuais pode estar confi gurando uma disfarçada relação de nature za homossexual Gênio BION BION usa indistintamente os termos gênio místico messias ou herói para designar o indivíduo excepcional por exemplo Jesus no campo da religião ou Newton no da física etc que por ser possuidor e trans missor de idéias novas constitui uma ame aça ao establishment no qual está inserido e por isso sofre uma série de distintas ati tudes hostis Comentário A palavra gênio não deve ser entendida como referente a uma pessoa portadora de um altíssimo quociente de in teligência QI mas sim como designando o sujeito que foi capaz de transformar pro fundamente determinado paradigma vigen te em determinada época até então con sensualmente aceito Assim para exempli ficar em diferentes áreas da cultura huma na FREUD rompeu com o paradigma de que a criança seria totalmente inocente sem fantasias sexuais BEETHOVEN introduziu a música romântica desafiando uma rígida obediência dos seus contemporâneos ao paradigma da música clássica EINSTEIN re volucionou a física mecanicista ao provar cientificamente a sua lei da relatividade No campo psicanalítico FREUD MKLEIN e BION são considerados gênios justamente porque propuseram novos paradigmas que foram ganhando crescente aceitação atra vessando sucessivas gerações e conquistan do novos seguidores LACAN divide as opi niões muitos consideram que merece ser considerado o quarto gênio da psicanálise enquanto muitos outros reconhecem nele alguns lampejos geniais que teriam ficado desmerecidos em vista de exagerados des mandos psicanalíticos Gênioestablishment relação BION Segundo BION 1965 a relação do estab lishment com o indivíduo místico ou seja com o sujeito sentido como ameaça por ser portador de idéias novas adquire uma des sas formas como é possível encontrar freqüen temente nas mais distintas instituições 1 Simplesmente vetam sua entrada 2 Expulsamno geralmente em função do papel que lhe é imputado de bode expiató rio das mazelas da instituição 168 DAVID E ZIMERMAN 3 Ignoram sua presença 4 Desqualificam as suas idéias e atividades 5 Há uma manifesta aceitação desse indi víduo porém no fundo se processa um latente esvaziamento de suas idéias de sorte que ele é cooptado por meio de uma atri buição de funções administrativas muitas vezes de aparência honrosa 6 Outras vezes decorrido algum tempo alguém do establishment adota suas idéias porém divulgamnas como se tivessem par tido dos próhomens da cúpula diretiva Essas idéias de BION aparecem bastante desenvolvidas no seu livro Atenção e Inter pretação 1967 Genital amor FREUD Expressão empregada para designar a for ma de amor que o sujeito alcançaria num exitoso desenvolvimento psicossexual ou seja quando supera o complexo de Édipo de forma bem sucedida e tem acesso à fase genital de modo que como afirmou FREUD a pulsão sexual põese agora a serviço da função de reprodução Embora não tenha usado diretamente a ex pressão amor genital FREUD consignou que uma atitude completamente normal de amor consiste numa união das correntes da sensualidade e da ternura Na puber dade afirma FREUD todas as zonas eróge nas e as pulsões parciais se subordinam ao primado da zona genital Na atualidade o termo amor genital ganhou certa relevância pelo fato de distinguir as cada vez mais descritas formas de amor prégenital Genital fase FREUD A fase genital do desenvolvimento psicos sexual caracterizada pela organização das pulsões parciais e das diversas zonas eró genas sob o primado das zonas genitais processase em dois tempos 1 A fase fáli ca alude à organização genital infantil na qual ainda não há a síntese das pulsões parciais e tampouco o primado total da zona genital 2 A organização genital propria mente dita que se institui na puberdade Esses dois momentos evolutivos são sepa rados pelo período de latência A organiza ção genital que se forma na puberdade se diferencia das modalidades libidinais do autoerotismo e da sexualidade polimorfo perversa que são características de fases pré genitais da sexualidade infantil Gestaltterapia FREDERICO PERLS Comumente denominada apenas por Ges talt designa uma forma de psicoterapia cri ada pelo psicanalista alemão FREDERICO PERLS Propõese a mais do que uma tera pia ser uma filosofia e uma forma de vida A partir do início da década de 60 encon trou forte aceitação nos Estados Unidos principalmente na Califórnia A gestalt ou teoria da forma considera o indivíduo um organismo vivendo num meio simultaneamente físico e social no qual deve satisfazer todas as suas necessidades A cada momento o organismo tem consci ência global de suas necessidades e a per cepção mais ou menos exata da situação e das possibilidades de satisfação que ela lhe oferece O conjunto dessa percepção cons titui uma gestalt No entanto na maioria das vezes essa auto e heteropercepção é incom pleta e distorcida devido ao imaginário das crianças e aos mecanismos de defesa A técnica gestáltica originalmente empre gada por PERLS consistia num cenário de terapia de grupo onde à semelhança do coro e do protagonista do antigo teatro gre go ele só trabalhava com uma pessoa de cada vez sentada ao seu lado e em frente ao grupo Nessas condições PERLS traba lhava com três aspectos fundamentais 1 A reprodução de experiências emocio nais do indivíduo as mais diversas no aqui agora da sessão grupal VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 169 2 A tomada de consciência dos conflitos inconscientes e da maneira de ser do su jeito 3 A tomada de uma responsabili dade do sujeito pelos seus atos e que sua modificação depende essencialmente dele mesmo Gozo LACAN LACAN conferiu importante significação psi canalítica ao termo gozo diferenciandoo de prazer opõese a este porque o prazer abaixaria as tensões psíquicas ao mais bai xo nível possível e de demanda estando mais próximo deste Embora FREUD muito raramente tenha usa do o termo gozo é nele que LACAN se inspi ra mais precisamente naquela constatação de FREUD de que o bebê que é amamenta do mesmo depois de saciar sua necessida de orgânica demorase no seio da mãe fa zendo atos de sucção agora movido por uma sensação de gratificação erógena LACAN conclui que é o outro a mãe ou seu substituto quem confere um sentido à ne cessidade orgânica do bebê de modo a fi car preso numa relação de comunicação onde é remetido ao discurso do Outro Grade BION BION se propôs a criar um sistema de nota ção científica a partir dos elementos de psi canálise os quais englobam vários níveis evolutivos e usos dos pensamentos além das emoções correlatas A escolha do ter mo elemento não foi casual deve ter raízes na matemática como são os elementos do matemático grego Euclides e na química como é a postulação de que os elementos simples como os átomos se combinam para formar as moléculas E foi justamente inspirado na matemática através do uso do sistema cartesiano de coordenadas e na química por meio da aplicação da tabela periódica dos elemen tos químicos de MENDELAIEV que BION criou o modelo da Grade A Grade é composta por uma coordenada vertical e outra horizontal as fileiras e colu nas formando caselas que são ocupadas pelos distintos enunciados No modelo grá fico da Grade como aparece na figura que ilustra este verbete o eixo vertical é com posto por oito fileiras da letra A à letra H Tendo em vista que cada fileira enuncia um estágio do desenvolvimento da capacidade para pensar é denominado eixo genético O eixo horizontal é formado por seis colu nas embora BION para não vir a ser acusa do de dogmático tenha acrescentado após a sexta coluna a da ação a designação n para assim caracterizar a Grade como um sistema aberto e permitir que cada ana lista fizesse os seus próprios acréscimos e modificações Esse eixo horizontal costuma ser denominado como eixo da utilização porque cada uma das seis colunas designa uma forma de como o estágio indicado pelas 8 letras das fileiras atingido pelo pen samento está sendo utilizado pelo ego Como veremos a seguir a Grade resultante do cruzamento das oito fileiras com as seis colunas forma 48 caselas quase todas pre enchidas com enunciados categóricos Po rém algumas caselas ficam em aberto como na tabela periódica de MENDELAIEV à espera de um possível futuro preenchi mento Da mesma forma existe uma fileira em branco correspondente à letra H a fim de manter o espírito de um sistema aberto não saturado Para dar um único exemplo a designação A6 sugere que o pensamento propriamen te dito ainda não se formou pois tratase de protopensamentos ou seja elementos β pertencem à fileira A que somente ser vem para ter uma ação coluna 6 de eva cuação como a que ocorre por exemplo em muitas formas de actings No entanto se a leitura da Grade designar F6 permite que o analista entenda que um pensamen 170 DAVID E ZIMERMAN to atingiu a condição de um conceito filei ra F que está possibilitando uma ação co luna 6 exitosa e não mais evacuatória como é a dos elementos β da fileira A É útil esclarecer que BION criou a Grade para o uso exclusivo do psicanalista com a con dição de ser usada unicamente fora da ses são com os seguintes propósitos 1 Ter um método de anotação gráfica co dificada que seguindo o modelo de anota ção dos músicos pudesse ser lida por qual quer psicanalista de qualquer época e qua drante do mundo 2 Dispor de um método científico de nota ção dos fenômenos que se passaram na sessão substituindo as trabalhosas anota ções escritas que logo perdem sentido por um pensamento criativo 3 Possibilitar uma comunicação semântica mais precisa dos psicanalistas entre si ou de um autor com os seus leitores como BION empregou com freqüência 4 Propiciar ao analista ser supervisor de si mesmo estimulando o exercício da refle xão psicanalítica no sentido de ter uma avaliação mais clara sobre se está havendo crescimento estagnação ou involução do seu paciente 5 Visualizar o nível e a qualidade de utili zação dos pensamentos tanto da parte do paciente como do próprio analista e prin cipalmente da comunicação entre ambos 6 A Grade permite situar qualquer tipo de manifestação clínica desde o mais simples ao mais complexo tanto os que se expres sam em linguagem verbal ou a nãoverbal A elementos β B elementos α C Pensamentos oníricos sonhos mitos D Préconcepção E Concepção F Conceito G Sistema dedutivo científico H Cálculo algébrico Hipóteses definidoras 1 A1 B1 C1 D1 E1 F1 Ψ 2 A2 B2 C2 D2 E2 F2 G2 Notação 3 B3 C3 D3 E3 F3 Atenção 4 B4 C4 D4 E4 F4 Investigação 5 B5 C5 D5 E5 F5 Ação 6 A6 B6 C6 D6 E6 F6 n Bn Cn Dn En Fn Figura 1 Grade de BION VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 171 7 Facilitar o entendimento epistemológi co de certos modelos psicanalíticos como o das narrativas dos mitos BION utilizou bastante a Grade para reestudar aprofun dadamente o mito de Édipo a partir de vértices diferentes dos que conhecemos em FREUD ou seja BION privilegiou o en foque de como cada personagem da tra ma edípica se posiciona diante dos pro blemas relativos ao Conhecimento K ou à atitude de não querer conhecer as ver dades penosas K Gradiva FREUD Em 1907 FREUD publicou Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen texto fundamental mente baseado na novela Gradiva escrita em 1903 por Jensen É considerada a pri meira análise completa de uma obra literá ria feita por FREUD Foi JUNG quem lhe des pertou a atenção para esse livro que parti cularmente o encantou pelo cenário onde se desenrola pois era antigo seu interesse por Pompéia e suas ruínas arqueológicas FREUD assim resume a história Um jovem arqueólogo Norbert Hanold descobre num museu de Roma uma escultura que representa uma jovem caminhando cujo vestido esvoaçante um pouco puxado para cima revela pés calçados com san dálias Essa figura ganha tanta vida na sua imaginação principalmente seu passo que Norbert decide cognominála Gradi va que etimologicamente significa a que avança A seguir Norbert sonha que se encontrava na antiga Pompéia no dia da erupção do Vesúvio testemunha a des truição da cidade e aflitivamente procura Gradiva que desaparecera Quando des perta se dirige à janela olha para a rua e crê ter visto uma figura feminina que pa recia a própria Gradiva Em função dis so o protagonista resolve empreender uma viagem à Itália de modo que a fan tasia adquire um caráter concreto No desfecho dessa fantasia romanceada Nor bert descobre que a pessoa que reconhe ceu como sendo Gradiva era sua vizinha Zoé Bertrang que nos idos tempos da in fância o amara FREUD entende que o delírio de Norbert re sulta de uma antigo recalcamento atribui o surgimento do sonho ao estímulo de um resto diurno e evidencia a ligação da sua incipiente teoria com a arte o que também possibilita que um artista como Jensen possa realizar uma leitura intrapsíquica de seus personagens Figura 2 Gradiva 172 DAVID E ZIMERMAN Gratidão M KLEIN O sentimento de gratidão foi particularmen te estudado por MKLEIN que destacou sua importância como condição essencial para o sujeito atingir exitosamente a posição depressiva a qual por sua vez é a que possibilita a capacidade de formação de símbolos e da capacidade para pensar Aliás essa estreita relação entre a gratidão e o pensar está expressa por Heidegger que faz uma aproximação entre os termos no idioma alemão danken agradecer e denken pensar Isso está intimamente co nectado com a capacidade de o sujeito após ter atacado na realidade ou na fanta sia um objeto efetivamente importante encontrar condições de fazer uma repara ção começando por uma integração das partes que estão dissociadas o que permi te fazer o reconhecimento de que a pessoa que ele tanto atacou também o ajudou e portanto é merecedora de sua gratidão KLEIN 1957 estudou o sentimento de gra tidão como o oposto do sentimento de in veja ou seja como uma permanente rela ção interacional e dialética entre as pulsões de amor e de ódio Gratificação ou satisfação alucinató ria do seio FREUD Expressão criada por FREUD para designar o estado psíquico do bebê que diante da ausência temporária do leite materno que vai saciar sua fome apela para o recurso de utilizar uma defesa de natureza mágico onipotente equivale ao mecanismo defen sivo de uma extrema negação da realidade exterior substituindoa pela criação de ou tra realidade ficcional como fazem os psi cóticos Mecanismo semelhante a este tal como está descrito no verbete foraclusão é utilizado pelo bebê normal que ao sugar o polegar como se fosse um seio nutridor está realizando sob os auspícios do princípio do prazer purificado uma gratificação alu cinatória do seio a qual é claro é de cur ta duração porque sucumbe ao princípio da realidade Green André Figura exponencial da psicanálise contem porânea AGREEN nasceu no Cairo em março de 1927 no seio de uma comunida de judaica com pai de ascendência espa nhola e a mãe portuguesa A recordação mais marcante de GREEN relativa à infância foi o fato de ter sua mãe perdido uma irmã mais nova queimada viva o que a deixou com uma depressão importante Segundo GREEN para ele próprio conforme aparece no livro Um psicanalista engajado conver sas com Manuel Macias 1999 essa recor dação está na raiz do seu conhecido texto A mãe morta Aos 19 anos deixou o Egito e radicouse na França onde dedicouse aos estudos de ciências biológicas e de filosofia que lhe serviram de inspiração para formarse em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 173 medicina e seguir a carreira psiquiátrica Posteriormente fez sua formação psicana lítica e ficou filiado à Sociedade Psicanalíti ca de Paris GREEN considera que os autores fundamen talmente importantes na sua forma de con ceber divulgar e praticar a psicanálise são 1 FREUD que mais profundamente o influ enciou especialmente no que se refere à descoberta das pulsões 2 KKLEIN no que se refere a suas concep ções relativas aos afetos fantasias símbolos 3 LACAN de quem GREEN destaca algumas contribuições originais como a do signifi cante da linguagem o Nome do Pai etc Em relação a LACAN GREEN deixa transpa recer certa ambigüidade porquanto ao mesmo tempo que demonstra grande ad miração pelo talento e interesse pela obra tece duras críticas e uma total desaprovação à prática psicanalítica de LACAN e chega a um ponto de afirmar que Lacan certamente conseguiu introduzir na psicanálise um fer mento destruidor e autodestruidor 4 WINNICOTT de quem GREEN valoriza o jogo do rabisco a lógica do paradoxo na qual era mestre além de muitas outras concep ções originais que GREEN emprega na teo ria e na prática Também frisa o quanto sem pre ficou impressionado com a concomitân cia de simplicidade e profundidade dos es critos de WINNICOTT 5 BION cujo pensamento original inteira mente diferente do modelo francês fasci nou GREEN facilitando o estabelecimento de forte empatia entre ambos Quanto à influ ência da obra de BION sobre ele GREEN so bretudo destaca as concepções referentes à função α É extensa a obra de GREEN inúmeros livros incontáveis artigos participações especiais em congressos internacionais e visitas a to das as sociedades do mundo psicanalítico Vale destacar que um aspecto essencial dos seus trabalhos consiste na dialética que mantém entre a representação e o afeto o trabalho do negativo o narcisismo de vida narcisismo de morte entre tantos outros Dentre os principais trabalhos de GREEN publicados em português cabe destacar os seguintes Concepções sobre o afeto O discurso vivo e a concepção psicanalítica do afeto onde ele resgata a importância do afeto do aparelho psíquico no que diz res peito às representações e também ao inte rior da linguagem que na prática analítica se comporta como um discurso vivo para o analista O trabalho do negativo Narci sismo de vida e narcisismo de morte onde consta o importante artigo A mãe morta Sobre a loucura pessoal aqui GREEN desen volve as conseqüências técnicas de sua con cepção do negativo particularmente com os pacientes borderline Conferências bra sileiras de André Green metapsicologia dos limites O complexo de castração Sexua lidade tem algo a ver com a psicanálise Um psicanalista engajado conversa com Manuel Macias Grinberg Leon Notável psicanalista argentino GRINBERG merece ser destacado por algumas signifi cativas contribuições que prestou à psica nálise 1 A descrição da culpa persecutória própria do predomínio da posição esquizoparanóide para distinguila da culpa depressiva 2 O conceito de contraidentificação pro jetiva 1962 que facilitou uma melhor compreensão do fenômeno da contratrans ferência 3 Sua conceituação de sonho evacuativo eliminação de elementos β para diferen ciálo do sonho elaborativo 4 Estudos sobre actings e somatizações baseados nas idéias de BION sobre a função evacuativa dos elementos β respectivamen te na conduta exterior ou no próprio corpo 5 Conceito de que o acting é um sonho dramatizado e atuado durante a vigília um 174 DAVID E ZIMERMAN sonho que conseguiu ser sonhado elabora tivamente 6 Descrição 1971 do sentimento de iden tidade que leva em conta a integração dos vínculos não somente os espaciais e tem porais mas também os sociais 7 Estudo e divulgação psicoterapia analíti ca de grupo 8 Um dos primeiros a estudar a obra origi nal de BION e juntamente com alguns cola boradores autor do livro Introdução às idéias de Bion 1973 roteiro para centros psicanalíticos do mundo todo tendo sido traduzido para inúmeros idiomas Sentindose acuado pelo movimento polí tico reacionário e ditatorial que reinava na Argentina na década de 70 GRINBERG jun tamente com toda sua família emigrou para a Espanha onde continua radicado Grupo A inauguração do recurso grupoterápico co meçou com J PRATT tisiologista americano que a partir de 1905 em uma enfermaria com mais de 50 pacientes tuberculosos criou intuitivamente o sistema de classes coletivas no qual os pacientes recebiam aulas e debati am seus problemas relativos à doença com prometendose a seguir um programa de medidas higiênicodietéticasmedicamentosas de recuperação PRATT conseguia bons resul tados mercê de seu carisma pessoal que gra tificava o lado dependente dos pacientes e através de um sistema de estimular a solidari edade entre os pacientes instituindo uma pre miação simbólica para os que cumprissem as tarefas combinadas Embora realizado em bases empíricas esse método serviu como modelo para organi zações similares como por exemplo a pres tigiosa Alcoolistas Anônimos iniciada em 1935 e que ainda hoje se mantém com popularidade crescente Muitos autores importantes contribuíram decisivamente para a construção do edifí cio teóricotécnicoprático das grupotera pias do qual apresentamos uma resumi díssima resenha Embora nunca tenha trabalhado direta mente com grupoterapias FREUD trouxe valiosas contribuições específicas à psico logia dos grupos humanos tanto através de manifestações de incentivo e de elogi os a uma visão unificada e indissociada entre indivíduo e grupo como também de forma explícita pelos seus cinco co nhecidos trabalhos As perspectivas fu turas da terapêutica psicanalítica1910 Totem e Tabu 1913 Psicologia das massas e análise do ego 1921 O fu turo de uma ilusão 1927 e Malestar na civilização 1930 sendo o de 1921 o mais importante deles como contribui ção ao entendimento da dinâmica grupal e às psicoterapias de grupo J MORENO médico romeno em 1930 intro duziu as técnicas psicodramáticas KLEWIN desde 1936 utilizou as vertentes da sociologia e introduziu a noção de campo grupal tendo se dedicado ao estudo das minorias raciais SHFOULKES psicanalista britânico des de 1948 introduziu conceitos eminente mente psicanalíticos à dinâmica de gru po os quais serviram como principal re ferencial de aprendizagem a sucessivas gerações de grupoterapeutas sendo con siderado líder mundial da psicoterapia analítica de grupo PICHON RIVIÈRE psicanalista argentino al tamente conceituado aprofundou o en tendimento do campo grupal com algu mas concepções originais além de ser criador da teoria e prática dos grupos operativos Psicanalistas franceses como DANZIEU e RKÄES abriram novos vértices de com preensão do aparelho psíquico grupal ao mesmo tempo que estão procurando de finir uma identidade própria à dinâmica de grupo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 175 Importantes contribuições de BION con forme verbete seguinte Grupo contribuições de BION Durante a década de 40 fortemente influ enciado pelas idéias de MKLEIN com quem se analisava na época especialmente as relativas ao desenvolvimento emocional pri mitivo e ao fenômeno das identificações projetivas BION partindo de suas experiên cias com grupos realizadas em um hospital militar durante a II Guerra Mundial criou e difundiu conceitos totalmente originais acer ca da dinâmica grupal Entre essas contribui ções vale destacar as suas concepções de que 1 Qualquer grupo movimentase em dois planos o primeiro que ele denominou gru po de trabalho opera no plano do consci ente Subjacente a esse existe o grupo de pressupostos básicos inconscientes que são de três tipos o de dependência o de luta e fuga e o de acasalamento ou apareamen to Ver os respectivos verbetes 2 Existe um conflito entre um indivíduo portador de idéias novas que BION cha ma de gênio e o establishment no qual está inserido Esta última concepção tem se revelado de imprescindível importância para a compreensão dos problemas que cercam as instituições 3 O grupo precede o indivíduo isto é as origens da formação espontânea de grupos têm suas raízes no grupo primordial tipo horda selvagem tal como FREUD a estudou 4 Os supostos básicos antes aludidos re presentam um atavismo dos grupos primi tivos incluídos os do reino animal depen dência durante certo tempo luta e fuga contra os predadores acasalamento para a sobrevivência da espécie que no curso de séculos acabam inscritos na mentalidade e na cultura grupal 5 A cultura grupal consiste em uma perma nente interação entre o indivíduo e o seu gru po ou seja entre o narcisismo e o socialismo 6 No plano transubjetivo esse atavismo grupal aparece sob a forma de mitos gru pais como são por exemplo os mitos de Eden Babel e Édipo 7 A cultura exige uma organização proces sada por meio da instituição de normas leis dogmas convenções e um código de valo res morais religiosos éticos e estéticos 8 O modelo proposto para a relação que o indivíduo tem com o grupo é o da relação continenteconteúdo a qual comporta três tipos parasitário comensal e simbiótico 9 A estruturação de qualquer indivíduo ne cessariamente requer sua participação em diferentes grupos onde sempre sofre a influ ência dos outros ao mesmo tempo em que também é agente ativo de transformações Grupos classificação dos A dinâmica do campo grupal potencialmen te é a mesma para qualquer tipo de grupo Na prática o critério que fundamentalmente os diferencia são as respostas do terapeuta às seguintes questões que espécie de obje tivos ele tem com um determinado grupo que mudanças pretende atingir com que tipo de técnicas aplicadas para qual tipo de paciente por qual tipo e por qual for mação e sob quais condições de trabalho Assim um dos critérios classificatórios ZI MERMAN 2000 consiste em uma divisão em dois grandes ramos genéricos grupos ope rativos e grupos terapêuticos Os grupos operativos que como o nome designa são os que operam numa deter minada tarefa de interesse direto de todos se subdividem em grupos operativos de ensinoaprendizagem principalmente atra vés da técnica dos grupos de reflexão gru pos institucionais empresas escolas igre ja exército instituições diversas grupos comunitários particularmente os voltados para programas de saúde mental Os grupos terapêuticos se subdividem em 1 Grupos de autoajuda de crescente apli 176 DAVID E ZIMERMAN cação na área médica em geral com dia béticos reumáticos idosos colostomizados etc e na área psiquiátrica alcoolistas anô nimos pacientes borderline etc 2 Grupos psicoterápicos os quais podem seguir os fundamentos de base psicanalíti ca do psicodrama da teoria sistêmica da cognitivocomportamental e uma aborda gem múltipla Cada um dos respectivos tipos de grupos específicos guardam características próprias de funcionamento e manejo técnico Grupo psicoterapia analítica de Existe uma longa polêmica entre os analis tas a grupoterapia inspirada e processada em fundamentos psicanalíticos pode ser considerada uma psicanálise verdadeira Pode ser chamada de grupoanálise Os autores se dividem nas respostas mui tos a maioria são francamente contra enquanto alguns importantes autores têm manifestado sua posição de que não se jus tifica a existência de uma concepção psica nalítica que faça uma separação entre os problemas que se passam nos indivíduos e nos grupos Vale citar a posição de J MCDOUGALL que em entrevista concedida à revista Gradiva n41 p16 1988 fez esta surpreendente declaração E tive o prazer de descobrir que as terapias de grupo toca vam em aspectos da personalidade que não eram notados na psicanálise individual Existem muitas variações na forma no ní vel e no objetivo grupoterápico os quais dependem fundamentalmente dos referen ciais teóricotécnicos adotados pelos respec tivos grupoterapeutas Na América Latina e em círculos psicanalíticos de alguns ou tros países que sofreram uma nítida influ ência kleiniana estes últimos referenciais fundamentaram toda a prática grupoana lítica de sucessivas gerações de grupotera peutas e isso prevalece até a atualidade embora venha se observando uma tendên cia à adoção de novos modelos de teoria e técnica De forma muito esquemática cabe consig nar as particularidades mais específicas que uma grupoterapia analítica possibilita ob servar 1 Visualização mais clara da interrelação íntima indissociada e continuada que exis te entre os indivíduos e os grupos 2 Todo indivíduo é portador de um grupo interno composto pelas representações e internalizações de aspectos das figuras de mãe do pai dos irmãos etc em perma nente interação entre si no interior do seu psiquismo e o quanto esse grupo interno extrapola para o mundo exterior modelan do e determinando suas escolhas objetais e seu padrão de interrelacionamentos 3 O grupo comportase como uma galeria de espelhos onde cada sujeito se reflete e é refletido pelos demais possibilitando per ceber com mais acuidade e nitidez os fenô menos dessa especularidade resultantes dos fundamentais processos de identificações projetivas e introjetivas que ocorrem per manentemente nos grupos 4 A distribuição de lugares posições fun ções e papéis que cada um assume em re lação aos demais o que possibilita o im portante trabalho analítico de ressignificar e transformar a estereotipia de certos papéis que um indivíduo pode estar programado para desempenhar durante a sua vida inteira 5 O grupo mais do que qualquer outra modalidade psicanalítica favorece a obser vação da normalidade e da patologia da comunicação verbal ou não verbal lógica ou primitiva que permeia a vida de todos nós a ponto de ser legítima a afirmativa de que o grande mal da humanidade é o pro blema do malentendido da comunicação 6 O grupo por si próprio comportase como função continente sendo que esse fato viabiliza um atendimento mais adequa do para pacientes muito regressivos como são os psicóticos egressos de hospitalizações VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 177 psiquiátricas borderline somatizadores crô nicos depressivos graves e os portadores de distintas modalidades do que atualmen te os autores chamam de patologias do va zio os quais muitas vezes não suportam as angústias de uma psicanálise individual 7 A terapia grupal favorece o assinalamen to de como os indivíduos e a totalidade do grupo estão executando suas capacidades potencialidades e funções nas quais o Ego consciente tem grande participação ativa como são as que se referem à percepção juízo crítico pensamento conhecimento criatividade comunicação discriminação responsabilidade cuidados corporais ação motora etc 8 Outro ponto de especial relevância que surge muito claramente no campo grupal é o que diz respeito aos quatro aspectos do vínculo do reconhecimento ver este verbete 9 Mais do que na terapia individual a gru poterapia possibilita evidenciar três aspectos singulares a o fenômeno que FREUD descre veu como identificação coletiva que exem plificou com a possibilidade de uma propa gação em cadeia de uma manifestação histé rica b a ocorrência do complexo fraterno que sabidamente representa um aspecto de rele vante importância relativamente à conflitiva de raízes primitivas entre irmãos c a existên cia de fantasias compartilhadas entre as pes soas um aspecto que está merecendo espe cial atenção da psicanálise contemporânea 10 Em muitos aspectos a terapia analítica grupal apresenta características singulares em outros a análise individual atinge abor dagens e um nível de profundidade que a grupal não alcança e em muitos outros aspectos ambas as terapias se sobrepõem Sugestão de leitura Fundamentos básicos das grupoterapias ZIMERMAN 2000 MESH ANALYSIS VERSION WITH CURRENT SOURCE n H BION A letra H aparece com freqüência nos tex tos de BION com dois significados distintos 1 Na Grade ocupa a oitava fileira desig nando a etapa evolutiva da capacidade para pensar que atingiu um alto grau de abstra ção ou seja a condição de realização de cálculos algébricos 2 Um segundo significado referese ao uso que BION faz para designar o vínculo do ódio a letra H é a inicial da palavra inglesa hate ódio Handling WINNICOTT Expressão de WINNICOTT para destacar a im portância da maneira com que a mãe dis pensa ao bebê os cuidados que executa com as suas mãos handling ou seja como ela manipula e maneja os movimentos perti nentes à higiene corporal da criança além dos demais contatos físicos WINNICOTT dá grande realce ao aspecto da identificação da mãe com o recémnascido e também confere especial importância ao fato de o handling juntamente com o holding cons tituírem fatores básicos na construção do processo de personalização outro conceito original de WINNICOTT Hans O menino ou O pequeno FREUD Ver o verbete Historiais clínicos Hartmann Heinz Nascido em Viena originário de uma refi nada elite burguesa HHARTMANN 1894 1970 é um nome importante na história da psicanálise por ser o fundador da Escola da Psicologia do Ego e um expoente entre os psicanalistas norteamericanos HART MANN era médico psiquiatra e fez a sua se gunda análise com FREUD que o considera va um de seus melhores discípulos dentre aqueles que se convencionou chamar de psicanalistas da segunda geração De Viena foi a Paris onde viuse involunta riamente envolvido em querelas políticas da Sociedade Psicanalítica de Paris tendo como centro a figura de LACAN o que os tornou inconciliáveis desafetos com troca de recíprocos insultos públicos Em 1939 acompanhado de LOEWENSTEIN analista de LACAN com o qual teve um sério desenten dimento HARTMANN foi forçado a se evadir da França Com uma passagem pela Suí ça emigrou para os Estados Unidos em 1941 radicandose em Nova York onde tornouse o principal continuador da orto H 180 DAVID E ZIMERMAN doxia freudiana ao lado de ANNA FREUD Chegou à condição de presidente da IPA cargo que exerceu de 1953 a 1959 HARTMANN legou uma obra considerável sendo seu livro mais destacado A psicolo gia do ego e o problema da adaptação Heimann Paula Nascida na Polônia de pais russos PHEIMANN 18891982 mudouse para a Alemanha onde fez a sua análise com THE ODOR REIK e tornouse membro da Socieda de Psicanalítica Alemã Em 1932 foi obri gada a emigrar e a convite de EJONES ra dicouse em Londres integrandose à So ciedade Britânica de Psicanálise Contraiu grande e íntima amizade com MKLEIN de quem foi confidente e discípula e com quem fez uma segunda análise Mostrouse total mente leal a MKLEIN por ocasião das Contro vérsias entre os grupos kleiniano e anafreudi ano e tornouse uma das analistas didatas mais importantes da sua Sociedade No en tanto em 1949 entrou num sério conflito com MKLEIN que se opunha à apresenta ção e publicação de seu trabalho sobre con tratransferência hoje consagrado Houve uma ruptura definitiva entre ambas HEI MANN fazia queixas de que se sentia tratada por KLEIN como escrava custandolhe a rebeldia e forte rejeição do grupo kleinia no o que a levou a integrarse no Grupo Independente da Sociedade Britânica Dentre os inúmeros trabalhos publicados cabe destacar On countertransference 1950 que juntamente com um trabalho similar de HRACKER na mesma época abriu as portas para a utilização da contratrans ferência como um importante instrumento da técnica psicanalítica Heredoconstitucionais fatores FREUD FREUD sempre deu um destaque especial ao que ele chamava de equação etiológica que de forma similar também denomina va série complementar designando ambas as expressões a série de três fatores essen ciais na formação do psiquismo normal ou na etiologia das psicopatologias 1 Os heredoconstitucionais Anlage é a denominação alemã 2 As antigas experiências emocionais vivi das com os pais 3 As experiências traumáticas da realida de da vida adulta O padrão de atividade dos recémnascidos revela acentuadas diferenças individuais o que pode ser observado é evidente quan do se trata de irmãos Assim um mesmo estímulo exterior que dificilmente possa ti rar um bebê de sua fleuma é capaz de pro vocar noutro bebê uma forte reação de agi tação Igualmente são significativamente muito variáveis as formas e a duração das mamadas o funcionamento do aparelho digestivo o ritmo do sono ou despertar a maneira de chorar etc A fome e a dor são as sensações corporais que mais freqüente mente provocam o pranto do bebê que é um sinal de linguagem primitiva para que a mãe se ocupe dele Talvez a demonstração mais evidente no campo da psicopatologia da existência e influência dos fatores heredoconstitucionais consiste nas indiscutíveis pesquisas no cam po da psiquiatria que comprovam uma ní tida transmissão hereditária de síndromes como a da depressão entre outras mais Não obstante os modernos estudos gené ticos rejeitam como nãocientíficas as hipó teses de que haja uma transmissão heredi tária de características adquiridas de gera ções anteriores como LAMARK postulava e FREUD tendia a acreditar assim como tam bém descartam a noção de que para deter minado gene corresponderia uma caracte rística comportamental especificamente definida Por outro lado o mesmo rigor científico dessas investigações tem demonstrado que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 181 existe de fato uma predisposição constitu cional inata porém passível de mudanças pelas influências ambientais Dizendo com outras palavras a dimensão da potenciali dade da criança não é totalmente preesta belecida geneticamente antes tratase de uma dimensão potencial ou seja os po tenciais da criança a serem desenvolvidos dependerão em grande parte da responsi vidade da mãe e do ambiente Hermafroditismo A conceituação psicanalítica desse termo está diretamente ligada a sua formação eti mológica a qual alude ao personagem da mitologia grega Hermafrodito que recebeu esse nome por ser filho dos deuses Hermes e Afrodite Segundo o mito ele foi amado por uma ninfa que rogou aos deuses que o unissem num só corpo de forma que o ra paz ficou assim dotado de um pênis e dois seios Assim hermafroditismo designa o estado físico ou mental pelo qual o sujeito seria portador dos dois sexos simultaneamente A bissexualidade real é muito rara na esca la zoológica limitada a poucos animais das espécies menores como os caracóis e as minhocas Na espécie humana embora embriologicamente haja uma origem co mum a ocorrência real de alguém nascer com uma dupla genitália é de extrema rari dade sendo os casos descritos explicados pela aberração anatômica conhecida na medicina como hipospadia No entanto a protofantasia do ser humano de possuir os dois sexos aparece em muitas narrativas mitológicas e contos fantásticos É possível que o próprio FREUD ao postular que o clitóris da menina seria um pênis cas trado também estaria inconscientemente expressando a fantasia universal de unifi car os dois sexos Levando em conta o de sejo contido nessa fantasia os textos psica nalíticos comumente empregavam os ter mos hermafroditismo e bissexualidade pra ticamente como sinônimos No entanto a psicanálise contemporânea se inclina por estabelecer uma distinção entre hermafroditismo ou intersexualidade bisse xualidade defeito genético transexualidade travestismo homossexualismo e um transtor no de identidade de gênero sexual De forma genérica a fantasia predominante é que a posse do sexo duplo garantiria ao sujeito o eterno desejo tanto do pai como da mãe sem ter que renunciar a nada e a ninguém O transexualismo caracterizase principal mente pela firme convicção do sujeito de que pertence ao sexo oposto ao que lhe é realmente o biológico Isso cria um grave problema inclusive de natureza ética pela demanda dessas pessoas de apelar para a cirurgia de emasculação ou de implante de genitália masculina Hermenêutica Expressão bastante freqüente na literatura psicanalítica onde alude à interpretação do sentido das palavras e dos textos A herme nêutica sempre esteve relacionada com a interpretação das Escrituras O termo her menêutica também está ligado ao filósofo HEIDEGGER que o concebeu sob a perspec tiva dos múltiplos sentidos do ser das coi sas intramundanas e da diferença entre es tas e o sentido do ser da criatura humana tal como é enfatizado por alguns autores como WINNICOTT e BION O vocábulo hermenêutica deriva de Her mes o deus grego representado com asas no chapéu ou nas sandálias encarregado da mobilidade e de levar mensagens Como mensageiro dos deuses Hermes procurou transmitir aquilo que estava além da com preensão humana A definição de hermenêutica é regida por alguns princípios básicos como 1 Os conhecimentos novos derivam dos anteriores 182 DAVID E ZIMERMAN 2 Mesmo que o intérprete de determinado texto tenha pontos de vista particulares deve deixálos de lado para entender o que realmente os outros pensam e querem trans mitir 3 Todo conhecimento permite diferentes perspectivas 4 É essencial a harmonia das partes com o todo 5 O conhecimento está aberto em ambas as pontas de forma que por mais comple to que seja sempre permite transformações e melhorias 6 Através do intérprete podese saber mais de um texto do que o próprio autor sabia 7 Recusarse a ir além do que explicitamen te um texto diz é na verdade uma forma de idolatria 8 Os textos devem ser interpretados e com preendidos no contexto de uma dimensão histórica 9 As diferenças culturais entre o texto e aquele que o interpreta exigem uma rigo rosa aplicação do método hermenêutico A psicanálise do ponto de vista da herme nêutica está situada entre as ciências hu manas embora alguns autores partindo de pontos de vista diferentes discordem dessa última afirmativa Hesitação WINNICOTT Ao descrever o jogo da espátula que quan do pediatra praticava com as crianças que atendia WINNICOTT observou que havia um período de hesitação isto é o bebê inicial mente mantinha o corpo imóvel mas não rígido e aos poucos ia tomando coragem até se descontrair e brincar com o objeto reluzente Partindo daí formulou o conceito de que na situação analítica também deve existir um período de hesitação por parte do ana lisando diante da situação nova e desco nhecida Essa conceituação de WINNICOTT ganha importância na técnica e na prática analítica porquanto acrescenta algo de novo ao clássico conceito de resistência Hipérbole movimento de BION BION emprega este termo que nos dicioná rios significa figura que engrandece ou di minui exageradamente para designar um tipo de transformação na qual há uma in tensa deformação dos fatos originais Na situação clínica a hipérbole pode se manifestar como tentativa desesperada de o paciente se fazer entender pelo seu ana lista através do exagero dos sintomas do uso superlativo da linguagem e por meio de identificações projetivas excessivas Isso costuma acontecer mais freqüentemente com pacientes que não estão se sentindo escutados tampouco compreendidos pelo seu terapeuta BION destaca que nesses casos o raciocí nio do sujeito é algo como se não consi go a qualidade posso tentar a quantidade se não consigo ser claro ou não me fazer compreender verbalmente ainda me resta o recurso de me apoiar sobre as ações que falam mais alto do que as palavras Hipnose hipnotismo Essas palavras derivam do termo grego hip nos que significa sono de sorte que hipno se designa um estado alterado de consci ência provocado pela sugestão de uma pes soa em outra enquanto sonambulismo alu de mais diretamente a um conjunto de téc nicas que permitam provocar um estado de hipnose com finalidades terapêuticas Aproximadamente um século antes do ad vento da prática do hipnotismo estava em grande prestígio o mesmerismo do nome de seu introdutor o médico austríaco An ton Mesmer Esse método consistia em através de uma ritualística de clima de ma gia aproveitar os fluidos do magnetismo animal que naturalmente emanaria das VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 183 pessoas Ao mesmo tempo em que as socie dades médicas da França passaram a conde nar esse método começou a florescer o em prego da indução hipnótica inicialmente para fins de proporcionar espetáculos públicos e num segundo momento como um método científico de pesquisa e tratamento Assim em Paris pontificava o mestre Char cot que na Escola de Salpetrière chamava a atenção do mundo científico para seus experimentos hipnóticos enquanto em Nancy brilhavam LIÉBAULT e BERNHEIM que formaram a Escola de Nancy Estabeleceu se uma intensa rivalidade e polêmica entre os dois grupos FREUD em dois momentos distintos visitou ambos os serviços e obser vou detidamente a prática e a fundamen tação teórica de cada um Na verdade FREUD estava mais interessado em obter subsídios sobre os mistérios do psi quismo inconsciente que os experimentos hip nóticos lhe propiciavam do que propriamen te na aplicação desse recurso em sua prática clínica até mesmo porque ele se reconheceu como sendo um mau hipnotizador Por isso muito cedo abandonou o método do hipno tismo e o substituiu pela catarse ou abrea ção por meio da técnica da livre associação de idéias o que lhe abriu as portas para a busca da decifração dos sonhos Em Estudos sobre a histeria 1895 escrito juntamente com FREUD BREUER relata a ex periência do uso terapêutico do hipnotis mo com sua paciente ANNA O a qual como os fatos posteriores vieram a confirmar não foi bem sucedida porquanto os resultados são temporários Além disso o uso conti nuado da sugestão ativa apresenta o incon veniente de hipertrofiar no paciente um estado de passividade e de uma crescente dependência do outro Hipocondria Essa palavra provém dos étimos gregos hipo abaixo de condros costela numa clara alusão à localização do fígado órgão ao qual os antigos e ainda hoje por parte de muitos costumavam imputar a responsabili dade pela maioria dos males orgânicos Hipocondria refere uma condição imaginá ria na qual o sujeito cronicamente sofre dores ou outros desconfortos atribuídos a determinados órgãos geralmente de loca lização vaga e errática Comumente as sen sações corporais vêm acompanhadas por um subjacente temor de uma ameaça de doença mortal Pelos referenciais kleinianos a etiologia da hipocondria reside no fato de os obje tos persecutórios ficarem instalados nos órgãos de onde emanam as aludidas ameaças de morte contra o sujeito Do ponto de vista dos postulados freudianos a explicação fundamentase na forma de como certos órgãos estão representados no ego do sujeito Hipótese definitória BION Essa expressão ocupa a coluna 1 da Gra de de BION e consiste em indicar que o sujeito usa o pensamento formulando hi póteses que constituem uma definição da sua verdade naquele momento da sessão analí tica Por exemplo o analisando sem motivo aparente começa a sessão dizendo tenho certeza que o senhor não gosta de mim O verbo definir provém de de finis ou seja refere que foi dado um fim de sorte que nos casos mais regressivos em que o indivíduo funciona com protopensamentos ou seja com elementos β na Grade a intersecção das respectivas fileira e coluna seria A1 suas afirmativas adquirem a na tureza de uma verdade dogmática satura da que não permite contestação Isso representa um desafio para o analista no sentido de conseguir com sua atividade interpretativa que o paciente entre em es tado de dúvida sobre a sua saturada hipó tese definitória no que o senhor se baseia 184 DAVID E ZIMERMAN para afirmar com tanta convicção que eu não gosto de si Histerias A grafia desse termo no plural se justifica pelo fato de que histeria costuma aparecer nos textos psicanalíticos com formas e sig nificados bastante distintos Sua conceitua ção abrange muitas modalidades e graus tanto de traços caracterológicos como de quadros clínicos De fato a histeria é o campo mais amplo da psicanálise como também o mais pró ximo do que convencionalmente se consi dera normalidade Desde épocas primitivas esteve sempre cercada de mistérios e tabus O próprio nome histeria etimologicamente derivado de hysteros útero em grego já dá uma idéia clara de que os antigos atribuí am unicamente às mulheres a condição de portadoras desse transtorno psicológico Mais ainda havia a crença de que estariam sendo presas de maus espíritos e por isso deveriam ser banidas da comunidade ou submetidas a rituais de exorcismo por meio de torturas Para exemplificar a influência que o grau quantitativo exerce na determinação do tipo da histeria clínica cabe mencionar a conhe cida subdivisão de EZETZEL 1968 que pro põe quatro subtipos de pacientes histéricas as quais assim denominou 1 As verdadeiras ou boas histéricas que atingem a condição de casar ter filhos bom desempenho profissional e que se benefici am com a psicanálise 2 Outras pacientes também verdadeiras histéricas porém já num nível mais regres sivo com casamentos complicados geral mente de natureza sadomasoquista que não conseguem manter por muito tempo um satisfatório compromisso com o trata mento psicanalítico 3 Pacientes que manifestam sintomas his téricos que lhes conferem uma fachada de pessoa histérica que na verdade encobre uma subjacente condição bastante depres siva sendo que essas pessoas não se com pletam em nenhuma área da vida 4 As pseudohisterias presentes em perso nalidades muito mais regressivas cuja ex trema instabilidade emocional justifica a antiga denominação de psicose histérica Segundo ZETZEL a indicação de psicanálise para as duas últimas formas de personali dade histérica especialmente a última se ria muito discutível Cabe acrescentar que a compreensão di nâmica dos autores quanto à etiologia da histeria também varia bastante Há os que priorizam pólo fálico edípico ou até lhe conferem caráter de exclusividade enquan to outros valorizam mais enfaticamente o pólo oral narcisístico Juntamente com BREUER FREUD publicou Estudos sobre Histeria 1895 numa épo ca em que recém estava esboçando suas idéias psicológicas ligadas ao dinamismo da sexualidade reprimida no inconsciente idéias essas que chocaram a comunidade médica de então que considerava a histe ria uma doença degenerativa que seria causada principalmente pela sífilis No referido livro além do caso de Anna O de BREUER FREUD descreve quatro pacien tes histéricas Emmy von N Lucy R Ka therina e Elisabeth oportunidade em que começa verdadeiramente a encontrar o berço da psicanálise e assim abrir as por tas para novos descobrimentos em sucessi vos trabalhos Seu estudo mais notável acer ca da histeria publicado em 1905 é co nhecido como caso Dora ver o verbete Historiais clínicos A partir desse caso as sim como de outros tantos trabalhos FREUD traz novos aportes teóricos e técnicos sobre a histeria Sobremodo valorizou a sexualidade reprimida gravitando em torno da conflitiva edípica além de sempre destacar a existên cia de uma inveja do pênis de onde se origi naria um complexo de masculinidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 185 Nos primeiros tempos FREUD também es tabeleceu uma diferença entre a etiologia da histeria e a da neurose obsessiva na his teria o trauma sexual ocorre por volta dos quatro anos e é experimentado passivamen te pela criança enquanto na neurose ob sessiva a participação da criança no abuso sexual seria ativa e por isso ela vem a so frer de futuras autorecriminações ABRAHAM seguindo os passos de FREUD trou xe uma significativa contribuição ao subdi vidir as histerias em passivas e ativas Con siderou de tipo passivo as das mulheres manifestamente dependentes e de tipo ati vo as que manifestam características fáli cas e que são extremamente competitivas com os homens REICH 1933 descreveu a personalidade fáliconarcisista que considerava como constituindo uma categoria psicopatológi ca própria situada em algum lugar inter mediário entre a personalidade obsessivo compulsiva e a histeria Na atualidade essa denominação de fáliconarcisista que ca racterizava sobretudo uma forte agressivida de viril caiu em desuso tendo sido suas ca racterísticas clínicas absorvidas dentro da ca tegoria mais ampla de caráter histérico MKLEIN esvaziou a importância da geni talidade na histeria ao sustentar enfati camente a arcaica etiologia oral dos con flitos a ela inerentes assim valorizando as angústias paranóides e depressivas da criança em relação à mãe Para a escola kleiniana em grande parte a histeria se ria uma organização defensiva contra uma psicose subjacente FAIRBAIRN foi um dos autores que enfatizou a importância decisiva do desenvolvimen to emocional primitivo na etiologia das his terias Correlacionou a oralidade com a genitalidade que existe nesses casos como sintetiza nessa bonita frase nas histerias a genitalidade se expressa pela oralidade enquanto a oralidade procura satisfação pela via da genitalidade GREEN 1974 também destaca o aspecto defensivo da histeria Considera porém que o escudo protetor representado pelo caráter exibicionista e histriônico típicos do histérico visam sobretudo a protegêlo contra seus núcleos depressivos com vis tas a equilibrar sua autoestima sempre ameaçada porquanto no fundo a pessoa histérica é extremamente frágil e instável LACAN ao estudar as histerias retorna a FREUD mas o faz postulando que não é o pênis como órgão anatômico que a his térica busca de forma afanosa mas sim o falo símbolo do poder que comumente mas não exclusivamente a criança atri bui ao pênis do pai No imaginário da criança o falo designa justamente o que falta à mãe e que vem a ficar representa do no seu ego como uma ausência uma falha uma falta e por essa razão ela pode passar a vida inteira acossada por desejos e demandas para preencher esse vazio imaginário Em resumo na atualidade à medida que escasseiam cada vez mais as histerias com os sintomas dramáticos dos primeiros tempos de FREUD em proporção inversa abundam os escritos sobre os transtornos da personaliade histérica No entanto os autores não rejeitam as descobertas an teriores e tampouco deixam de lado o desejo edípico com toda sua constelação de conseqüências embora esteja haven do uma crescente ênfase na organização narcisista da estrutura histérica Histerias tipos de A histeria é tão plástica que a rigor pode se dizer que de alguma forma ela está pre sente em todas as psicopatologias No en tanto o termo histeria deve ficar restrito aos quadros sintomatológicos e caracterológi cos que obedecem a uma estruturação pró pria e conservam uma série de pontos em comum Dentre estes cabe destacar os se 186 DAVID E ZIMERMAN guintes aspectos que virtualmente estão sempre presentes 1 Um limiar de tolerância às frustrações bastante baixo 2 O mecanismo defensivo por excelência consiste no uso de repressões 3 O uso consistente de forma manifesta ou dissimulada de alguma forma de sedução 4 Uma supervalorização do corpo tanto nos exagerados cuidados estéticos como na possibilidade de surgimento de soma tizações 5 Discurso em geral entremeado de quei xas demandas insaciáveis e o estilo da comunicação caracterizado por uma for ma superlativa algo dramática na forma de expor os fatos Na situação analítica nos casos mais marcantes de histerias em todas as sessões surge o que se pode cha mar de o drama do dia 6 A ânsia para obter alguma forma de reconhecimento dos outros domina a maior parte do psiquismo 7 Grande habilidade no uso de uma técni ca de provocação a qual consiste em indu zir as pessoas com quem convivem a mal tratálas de alguma forma assim confirman do a sua arraigada tese de que são eternas vítimas de injustiças e abandonos A própria classificação nosológica das do enças mentais DSM não fica restrita a um único eixo assim partindo do eixo I indica os sintomas a psicopatologia as histerias mantêm a velha divisão nos dois tipos denominados como conversivas e dissociativas enquanto que visto do eixo II designa a caracterologia transtornos de personalidade o conceito é mais abrangente e inclui as denominações de transtornos de personalidade histérica personalidade infantildependente perso nalidade fáliconarcisista traços histéricos em outras personalidades transtornos de personalidade histriônica Os termos acima mencionados aparecem mais explicitados nos verbetes específicos Histeria de angústia FREUD Termo bastante empregado nos primeiros tempos da psicanálise e na atualidade em desuso foi introduzido por FREUD para defi nir uma neurose cujo sintoma principal é o de fobia porquanto ele queria acentuar a semelhança estrutural que essa neurose guarda com o da histeria conversiva Histerias conversivas Expressão referente ao fato de que os con flitos psíquicos sofrem uma conversão nos órgãos dos sentidos sob a forma de sinto mas de cegueira surdez perda de tato alu cinoses etc e no sistema nervoso volun tário sintomas de contraturas musculares paralisias motoras etc A conversão segue a mesma deformação sim bólica dos sonhos muitas vezes os sintomas conversivos deixando transparecer com rela tiva facilidade o conflito subjacente Um determinado sintoma conversivo pode conter muitos significados como acontecia com a tosse que acometia a célebre paci ente Dora a qual representava três aspec tos 1 um simbolismo de sentimentos se xuais agressivos narcisistas e melancólicos 2 uma identificação com a tosse da senho ra K sua rival sexual 3 a aquisição de um ganho secundário Por outro lado cabe consignar mais três as pectos da conversão 1 Não é específica exclusivamente das histerias 2 O diagnós tico diferencial com doenças orgânicas hi pocondria ou manifestações psicossomáti cas nem sempre é fácil 3 A psiquiatria moderna inclinase acentuadamente para a postulação de que não há uma relação clínica ou dinâmica direta entre os sintomas histéricos conversivos e os transtornos de personalidade histérica Histerias dissociativas Os sintomas clínicos mais comuns que ca racterizam esses quadros dissociativos con VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 187 sistem numa espécie de dissociação da mente consciente sob a forma de desmai os desligamentos tipo ausências ataques que representam um simulacro de crises epilépticas estados de belle indiference sensações de despersonalização e de estra nheza estados crepusculares e mais tipi camente os conhecidos casos de persona lidade múltipla como aparece nas Três faces de Eva escrita automática etc Esses últimos casos devemse ao fato de que diversas representações distintas coexistem dentro do ego dissociadas entre si e que emergem separadamente na consciência de acordo com determinadas necessidades e circunstâncias O termo dissociação aqui empregado não deve ser confundido com o mecanismo de defesa primitivo e inconsciente dissocia ção tal como definido por MKLEIN Histérica transtornos de personalidade Baseados na classificação do DSM alguns autores consideram útil diferenciar personali dade histérica de personalidade histriônica embora às vezes elas se superponham As sim GABBARD 1992 considera que a forma histérica é a mais sadia delas porquanto seus pontos de fixação estão radicados na fase fá licoedipiana enquanto a forma histriônica está mais fixada nos primórdios orais Os transtornos de personalidade histérica constituem o protótipo atual dentro do uni verso das histerias e manifestamse por um conjunto de características como as que estão mencionadas no verbete histeria Também é bastante útil estabelecer uma diferença entre os tipos de personalidade histérica denominadas caráter fáliconarci sista e a personalidade infantil Histérica personalidade infantil Nos transtornos de personalidade do tipo histérico do DSM III os termos personali dade histérica histriônica ou psicoinfantil aparecem intimamente conectadas o que permite deduzir que as pessoas portadoras de um caráter infantildependente sejam aparentadas com a histeria embora guar dem algumas características específicas como 1 A transparência de uma labilida de emocional difusa e generalizada 2 Contrariamente ao tipo fáliconarcisista essas personalidades infantis imaturas cos tumam ser dependentes e submissas 3 Apresentam demandas regressivas infan tis oralagressivas 4 Uma conduta social inapropriada com prejuízo do senso crítico 5 Os desejos exibicionistas têm um caráter sexual menor do que nas marcadamente histéricas mas podem descambar para os extremos de uma pseudohipersexualidade ou o de uma inibição sexual 6 A imitação prevalece sobre a verdadeira identificação Histérico caráter fáliconarcisista EMIILCE BLEICHMAR Embora tenha caído em desuso alguns autores como EBLEICHMAR 1988 fazem questão de conservar esse termo porque designa uma configuração típica de mulhe res histéricas caracterizadas sobretudo por ocupar uma posição de poder de privilé gio e de superioridade que lhes garanta se rem admiradas reconhecidas como valio sas e possuidoras de atributos que as ele vem a um nível de perfeição Uma fixação das meninas nessa etapa fálico edípica gera uma rivalidade com os homens freqüentemente com desejos de castração e de morte deles Essa autora faz o interessante assinalamento de que o caráter fáliconarci sista não deve ser visto unicamente como ori ginário de conflitos edipianos mas também deve ser levado em conta que essa mulher briga porque reivindica ter os mesmos direi tos que a cultura concedeu aos homens 188 DAVID E ZIMERMAN Comentário Cabe acrescentar que existe um risco nada raro de rotular uma mulher de fálica unicamente com base nos crité rios antigos porquanto o papel da mulher na sociedade moderna mudou completa mente e seria lamentável classificar uma mulher dinâmica forte emancipada e de terminada como fáliconarcisista Histriônica transtornos da persona lidade Forma mais regressiva da histeria sendo suas manifestações muito mais floridas que a das histéricas a ponto de alguns autores apontarem para um íntimo parentesco en tre o histrionismo e os estados borderline Destarte a menina estabelece uma equa ção de igualdade sincrética entre o seio e o pênis de tal sorte que quando crescer vai envolverse em comportamentos sexuais promíscuos e insatisfatórios pois o pênis masculino que ela tanto almeja não passa de um fetiche do materno seio feminino em uma busca interminável e sempre in completa O termo histrião na Roma antiga designa va os atores que representavam farsas bu fonas ou grosseiras de modo que nas his terias essa palavra alude às pessoas que representam ser aquilo que de fato não são fingem são falsas e teatrais inclusive são impostoras na sexualidade por meio da aparência de uma hiperfeminilidade ou no caso dos homens de uma hipermasculini dade História do movimento psicanalítico Sobre a FREUD 1914 Este trabalho constante do volume XIV da Standard Edition foi redigido em 1914 e está composto por três partes A finalidade precípua do artigo foi estabelecer com cla reza os postulados e hipóteses fundamen tais da psicanálise mostrar que as teorias dos dissidentes ADLER e JUNG eram totalmen te incompatíveis com eles e daí deduzir que chegaríamos a uma confusão generalizada se todas estas diferentes concepções rece bessem o mesmo nome A fim de tornar os princípios essenciais da psicanálise perfei tamente simples FREUD descreveu a histó ria do desenvolvimento desde seu início pré analítico História de uma neurose infantil da FREUD 1918 Muito mais conhecido como o caso do Ho mem dos Lobos é considerado o mais mi nucioso e importante de todos os casos re latados por FREUD Tratase de um jovem russo na ocasião muito rico que iniciou sua análise com FREUD em 1910 a 1914 por sentirse completamente incapacitado e in teiramente dependente dos outros sintomas que surgiram após uma infecção gonocóci ca aos 18 anos Esse trabalho teve um significado especial para FREUD porquanto conseguiu compro var a etiologia fundamental da sexualidade na determinação da psicopatologia do pa ciente assim respondendo de forma cabal às duras contestações do dissidente e desa feto JUNG além de lhe possibilitar lançar luz sobre a organização inicial oral da libido Da história abrange nove partes que vão especificadas a seguir Parte I Comentários introdutórios a res peito do Homem dos Lobos Nessa parte aparece a famosa posição de FREUD que anunciou a seu paciente que o tratamento precisava terminar numa data prefixada A pressão do limite estabelecido fez a resis tência do paciente e sua fixação à doença ceder segundo FREUD Parte II Levantamento geral do meio am biente do paciente e da história do caso Aí aparece nitidamente um abandono real por parte tanto de um pai deprimido quan to de uma mãe negligente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 189 Parte III A sedução e suas conseqüências imediatas Quando era um menino de três anos e pouco foi induzido a práticas sexu ais pela irmã mais velha Parte IV O sonho e a cena primitiva O nome de Homem dos Lobos deriva de um sonho no qual lobos empoleirados numa nogueira de fronte a sua janela observavam uma cena pri mária A interpretação desse sonho por parte de Freud durou vários anos da análise Parte V Algumas questões Parte VI A neurose obsessiva Parte VII O erotismo anal e o complexo de castração Parte VIII Novo material do período da cena primitiva Solução Parte IX Recapitulação e problemas Esse caso aparece no volume XVII da Stan dard Edition brasileira p19 e ss Ver o verbete seguinte historiais clínicos Historiais clínicos Ninguém contesta que a psicanálise repre senta uma continuada e recíproca troca entre a teoria e a técnica uma levando a transformações e avanços da outra inter mediadas tanto quanto possível pela prá tica clínica dos seus principais autores As sim a história da psicanálise registra alguns historiais clínicos que se tornaram verda deiros clássicos por permitir uma leitura atu alizada que leve a reflexões as mais varia das que contestam concordam ou modifi cam as concepções teóricas e o manejo téc nico contidos nos relatos originais Dentre os mais importantes cabe destacar aos his toriais que seguem BREUER descreveu no livro Estudos sobre a histeria 1895 sua experiência com Anna O uma inteligente paciente judia de 21 anos cujo verdadeiro nome era Bertha Pappenheim Sofria de sintomas histéricos múltiplos como transtornos da sensoriali dade distúrbios da visão da motricidade contraturas musculares e queixas de para lisias da linguagem misturava diversas lín guas e durante um tempo esqueceu seu original idioma alemão e trocouo pelo in glês além de uma tosse persistente BREUER após internála num sanatório utilizou na maioria das entrevistas o hipnotismo Se gundo seu relato de então graças à abreação de suas lembranças traumáticas Anna O teria se reencontrado consigo mesma voltou a fa lar o idioma alemão e curouse da paralisia A outra face da verdade só foi revelada muitos anos após por E JONES ao publicar que Anna contraiu uma gravidez imaginária cuja pater nidade atribuía a Breuer que então interrom peu o tratamento com ela FREUD no mencionado Estudos sobre a his teria publicou alguns casos de moças his téricas como os de Emmy von N Lucy R Katharina Elisabeth von R além de rela tos muito breves de Mathilde H Rosália H e Cecília M Dentre os casos acima o de Elisabeth von R é o mais conhecido e importante Trata se de uma moça de 24 anos que em 1892 foi consultar com FREUD devido aos sinto mas de dor nas pernas e dificuldade para caminhar Em pouco tempo FREUD atribuiu esses sintomas a uma etiologia de sexuali dade reprimida o que lhe pareceu compro vado quando ao pressionar a coxa da paci ente ela experimentou um prazer erótico que estava sonegado no consciente Percebeu que Elisabeth estava apaixonada pelo cunhado e que rechaçava de sua consciência os desejos de morte que ela sentira em relação à irmã que falecera de uma doença orgânica O reconhecimento desse desejo segundo FREUD possibilitou a cessação dos sintomas e ele a considerou curada EROUDINESCO 1994 relata que muito tempo após Ilona Weiss esse era o verdadeiro nome dessa paciente afirmou que o médico barbudo de Viena a quem a tinham encaminhado havia tentado contrariando sua vontade convencêla de que estava apaixonada pelo cunhado 190 DAVID E ZIMERMAN O importante desse historial é que FREUD atendendo ao pedido da paciente quase nada utilizou do método hipnótico com ela Considerou esse caso como o primeiro a ser tratado e curado pelo método da psica nálise através da livre associação de idéias Outro aspecto importante é que esse caso propiciou que FREUD começasse a investi gar o fenômeno da resistência que o incons ciente opõe ao acesso do reprimido ao cons ciente Miss Lucy uma governanta inglesa con tratada por uma família vienense consul tou FREUD em 1892 devido a uma alucina ção olfativa na qual ela sentiase persegui da pelo cheiro de pudim queimado Utili zando o método empregado com Elisabe th FREUD fêla reconhecer o amor inconsci ente que ela sentia pelo patrão e que manti nha fortemente recalcado no inconsciente Rosália H uma jovem de 23 anos sen tiase tomada por uma sensação de sufo camento quando quis tornarse cantora Esse sintoma ficou resolvido depois que a paciente fez a catarse da lembrança de uma sedução por parte de um tio que tentou abu sar sexualmente dela quando era menina Mathilde H era uma moça de 23 anos deprimida e com queixa de paralisia par cial numa perna FREUD expôs esse caso em poucas linhas e atribuiu a cura conseguida ao método da abreação No entanto FREUD publicou cinco grandes e famosos casos clínicos até hoje ampla mente debatidos e fonte de uma continui dade de estudos os mais diversos 1 O caso Dora 2 O pequeno Hans 3 O homem dos ratos 4 O caso Schreber e 5 O homem dos lobos Caso Dora O título original desse histori al clínico é Fragmentos da análise de um caso de histeria Escrito em 1901 foi pu blicado somente em 1905 Com ele FREUD pretendeu estudar as causas etiológicas da histeria a valorização dos sonhos como via de acesso ao inconsciente e a importância das interpretações para o sucesso ou o fra casso como foi no caso para vencer as resistências dos conflitos reprimidos de qualquer análise Dora cujo nome verdadeiro era Ida Bauer era uma adolescente judia virgem de 18 anos portadora de acessos de tosse nervo sa enxaqueca períodos de afonia e algu ma tendência suicida que foi encaminha da pelo seu pai para tratarse psicanalitica mente com FREUD A história com complicados novelos edípi cos lembrando o enredo de alguma tele novela atual pode ser assim resumida o pai de Dora um homem bem sucedido porém hipócrita engana sua mulher uma dona de casa ignorante com a senhora K esposa de um de seus amigos O marido enganado dizse apaixonado por Dora e tenta seduzila à beira de um lago até que essa ao perceber que ele tenta beijála desferelhe uma violenta bofetada no ros to Dora conta a cena à mãe e lhe pede que questione o marido quanto a ele ser aman te da senhora K O pai de Dora não só nega enfaticamente essas acusações como pas sa a acusar Dora de ser uma mentirosa o que a deixa num desespero maior e justifi ca a busca de tratamento A análise durou exatamente 11 meses e nesse período Dora apresentou dois sonhos um referente a um incêndio na residência da família que FREUD interpretou como in dicador de que Dora se masturbava e que secretamente estaria apaixonada pelo se nhor K e o outro girava em torno da morte de seu pai que FREUD ligou à sua sexuali dade reprimida FREUD reconheceu que a interrupção pre coce da análise foi devida a sua incapaci dade de analisar os múltiplos aspectos trans ferenciais que estavam subjacentes nos re latos de Dora e que aludiam aos triângulos edípicos com os pais dela e com o casal K inclusive os desejos homossexuais referen tes à senhora K VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 191 O menino ou o pequeno Hans O títu lo original desse trabalho é Análise de uma fobia em um menino de cinco anos e o nome verdadeiro do menino era Herbert Graf Na época para comprovar as suas teses FREUD solicitava a seus discípulos que ficassem atentos às situações clínicas que surgissem para que se possível os enca minhassem a ele Foi justamente o que fez o pai de Hans quando este começou a apresentar sintomas fóbicos notadamente uma fobia de cavalos No curso do relato clínico FREUD enfatiza o quanto a mãe de Hans o ameaçava de cor tar o seu pipi se ele continuasse a se mas turbar e a enorme surpresa que a criança demonstrava diante da constatação de que as mulheres não tinham pênis Esse historial publicado em 1909 apresenta três aspectos interessantes 1 O fato de tratar se do primeiro tratamento de fundamentação psicanalítica realizada com uma criança 2 FREUD funcionou como supervisor tendo em vista que o menino foi tratado por seu pró prio pai orientado por FREUD 3 A partir de uma esmiuçada análise da fobia de Hans por cavalos FREUD conseguiu demonstrar sua postulação da existência de uma angústia de castração e de que ela estava em ligação di reta com um conflitivo complexo de Édipo Igualmente FREUD comprovou a existência de teorias existentes na mente das crianças com as quais elas tentam decifrar o misté rio do nascimento Também conseguiu evi denciar como na criança as fontes de ex citação são múltiplas e variadas o que o levou a afirmar que normalmente a crian ça é um perversopolimorfo Homem dos Ratos Nesse mesmo ano de 1909 e também com o propósito de com provar sua teoria da existência da sexuali dade infantil FREUD publica esse fascinante historial clínico com o título de Notas so bre um caso de neurose obsessiva Tratase da análise de um advogado de 29 anos que apresentava graves sintomas ob sessivos desde a infância Paul Lorenz esse era o nome do paciente segundo alguns autores o nome verdadeiro seria Ernest Lanzer procurou análise com FREUD por que vinha sendo atormentado pela idéia obsessiva de que ratos poderiam ser intro duzidos pelo seu ânus além de uma cons tante angústia de que poderia provocar tra gédias a suas pessoas queridas A análise durou nove meses e nela FREUD faz um magistral estudo de como o pacien te defendiase dessas idéias aterradoras por meio de rituais de fazer e desfazer coisas assim como também fazia um uso ambiva lentemente patológico do pensamento e da ação deixandoos esterilizados pelo uso maciço da anulação e pela utilização de gestos e palavras de conteúdo mágico É interessante o fato de que a forte ambi valência do paciente pode estar ligada a uma lembrança reprimida da infância na qual o pai lhe aplicara uma surra como cas tigo por ele ter mordido alguém Diante da reação colérica do menino o pai exclamou ou esse menino vai ser um grande homem ou será um grande criminoso O homem dos ratos ficou curado do sinto ma casouse com sua amada Gisele po rém veio a morrer em 1914 num campo de batalha da I Grande Guerra Caso Schreber Em 1911 surgiu a publi cação desse célebre historial cujo título ori ginal é Notas psicanalíticas sobre um rela to autobiográfico de um caso de paranóia FREUD nunca viu Daniel Paul Schreber na realidade um jurista renomado presidente da corte de apelação da Saxônia e posteri ormente presidente do Supremo Tribunal de Dresden que começou a dar sinais de delírio paranóide após ter sido derrotado numa eleição que disputava O próprio Schreber que teve muitas inter nações em sanatórios psiquiátricos e teve seus bens interditados escreveu a sua bio grafia com o título de Memórias de um doente dos nervos 192 DAVID E ZIMERMAN FREUD fez a compreensão do discurso deli rante das idéias megalomaníacas e paranói des encobridoras do conflito homossexual latente de Schreber da mesma forma como fazia com a interpretação do simbolismo dos sonhos A base do delírio de Schreber con sistia em transformarse numa mulher em obediência a ordens superiores a fim de engendrar um novo mundo Esse trabalho de Freud tornouse importan te para um melhor conhecimento dos di namismos inconscientes responsáveis pela paranóia Nesse texto estabelece as diver sas transformações psíquicas possíveis a partir do inaceitável homossexualismo de Schreber contido no eu amo você com as negatórias transformações em eu não o amo Pelo contrário eu o odeio ou é ele que me odeia ou ainda é ela que o ama etc Homem dos Lobos FREUD publicou esse famoso caso cujo título original é Da his tória de uma neurose infantil em 1918 embora tenha tratado esse paciente cujo nome verdadeiro era Sergei Pankejeff no período de 1910 a 1914 Tratavase de um jovem russo de 18 anos com graves sintomas fóbicos obsessivos e paranóides com psicossomatizações é pro vável que hoje ele seria diagnosticado como borderline Sua análise sofreu várias incidên cias e recaídas até que finalmente FREUD o encaminhou a uma análise parece que exi tosa com a sua discípula RUTH M BRUNSWICK Através de uma minuciosa e prolongadíssi ma análise de um único sonho no qual apareciam sete lobos daí o apelido desse paciente empoleirados numa janela FREUD visa a reconstruir a neurose adulta a partir dos problemas surgidos na infância com um destaque especial aos conflitos oriun dos do do fato de o paciente quando crian ça pequena ter testemunhado uma cena primária dos pais um coito a tergo Todos esses historiais clínicos grandes de FREUD têm em comum o fato de estarem escritos num estilo literário de alta qualidade e beleza e continuarem a constituir ainda na atualida de como uma instigativa fonte de estudos MKLEIN também construiu o seu edifício teórico fundamentada na prática clínica com a análise de crianças algumas de ten ra idade através da técnica do emprego de brinquedos e jogos Em grande parte pu blicou sua experiência sob a forma de rela tos clínicos dos quais segue uma breve sínte se dos historiais das crianças que analisou Fritz Em 1921 surgiu o livro de MKLEIN intitulado Desenvolvimento de uma crian ça no qual ela relata o tratamento com o jovem Fritz o qual ainda não considerava uma análise propriamente dita tanto que preferiu chamálo como um caso de edu cação de caráter analítico Esse relato clínico é particularmente impor tante porque revela a grande ênfase que M KLEIN começava a atribuir à existência de fantasias inconscientes nas crianças com a respectiva tradução que fazia de seus sig nificados simbólicos Assim em muitos momentos da análise em seus brinquedos e em suas histórias o menino Fritz mani festava uma nítida tonalidade edipiana Segundo KLEIN ainda muito influenciada pelas idéias de FREUD a hostilidade que Fritz demonstrava em relação ao diabo ao ofici al inimigo ao rei deixa transparecer clara mente uma forte agressividade ao pai en quanto seus desejos pela mãe se revelam de forma bastante nítida Foi a propósito de um conto de Grimm evocado por Fritz que MKLEIN veio a ter sua primeira intuição do papel primordial representado pela projeção e pelo splitting dissociação ou cisão Nesse conto de Grimm aparece uma bruxa que oferece alimento envenenado a um homem e a partir deste momento Fritz começa a sentir um grande medo das bruxas evocando ao mesmo tempo rainhas muito belas e que contudo também eram bruxas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 193 MKLEIN relata a clareza com que o menino Fritz manifesta através de fantasias incons cientes sua dissociação numa mãe boa ra inhas belas e mãe má bruxa que pode envenenálo Erna uma menina de seis anos apresen tava uma conflitiva em face do aprendiza do dos hábitos higiênicos e de limpeza do que decorria uma forte angústia de perder o amor dos pais Nos brinquedos durante a análise diz MKLEIN Erna queria que eu fosse um bebê que se sujava enquanto ela era a mãe e seguidamente ela tinha aces sos de ira e representava o papel de uma se vera governanta que batia na criança Esse historial relatado em Contribuições à psicanálise propiciou a KLEIN demons trar com clareza que os brinquedos além de uma abreação afetiva também propi ciam uma elaboração das fantasias incons cientes Félix é um menino cuja análise Klein des creve no trabalho Uma contribuição à psi cogênese dos tiques onde mostra que as fantasias inconscientes do menino relativas às posições homossexuais ativa e passiva com relação ao pai alternadose com uma posi ção heterossexual em face da mãe estavam diretamente ligadas à cena primária Rita é uma menina de pouco mais de dois anos cuja análise propiciou a MKLEIN des cobrir a existência de um precoce superego infantil que confirma o fato de que numa idade muito tenra as tendências edipianas já estão em ação e influem profundamente no comportamento das crianças A fim de ilustrar a forma de como MKLEIN entendia e trabalhava com as fantasias da criança vale transcrever o seguinte trecho na íntegra que aparece em Contribuições à psicanálise Quando tinha dois anos e três meses Rita declarava repetidamente quando brincava com a sua boneca brin quedo do qual não desfrutava muito que não era a bonecabebê da sua mãe A aná lise revelou que ela não ousava ou não se atrevia brincar de ser a mãe porque a bo necabebê representava para ela entre ou tras coisas seu irmão que desejava arre batar da mãe inclusive durante a gestação Porém aqui a proibição do desejo infantil já não provinha da mãe real mas sim da mãe introjetada cujo papel representava para mim de diversas formas e que exercia uma influência mais severa e cruel sobre ela o que sua mãe real nunca havia feito Dick um menino de estrutura psicótica de quatro anos que dava provas de conside rável inibição do desenvolvimento especi almente quanto à formação simbólica e à atenção na realidade externa aparece des crito no trabalho A importância da forma ção de símbolos de 1930 Dick mostra vase indiferente a tudo e a todos Somen te alguns objetos como portas fechadu ras e o ato de abrir e fechar portas lhe despertavam alguma atenção e interesse Isso levou MKLEIN a fazer o seguinte en tendimento psicanalítico que serve como mais uma ilustração do nível em que ela trabalhava com as fantasias inconscien tes O interesse de Dick por esses obje tos e essas ações tinha uma fonte comum referiase na realidade à penetração do pênis no corpo da mãe As portas e fe chaduras representavam as entradas e sa ídas do corpo materno enquanto as ma çanetas da porta significavam o pênis do pai e o seu A defesa frente às tendên cias sádicas dirigidas contra o corpo ma terno e seus conteúdos conduziram à sus pensão da atividade de fantasias incons cientes e à interrupção da formação sim bólica Richard é um menino analisado por MKLEIN durante a II Grande Guerra numa época em que os aviões alemães bombar deavam duramente Londres Tratase de uma análise exaustiva minuciosamente re latada com a reprodução dos desenhos de Richard no livro Narrativa de uma análi se infantil 1961 194 DAVID E ZIMERMAN LACAN também tem um célebre historial clí nico tratase do conhecido Caso Aimée cuja descrição analítica ele relata detalha damente em sua tese de doutoramento em medicina Da psicose paranóide em suas relações com a personalidade apresenta da em 1932 Aimée cujo verdadeiro nome era Margue rite Anzieu sentindose perseguida por Hughette Duflos uma célebre atriz do tea tro parisiense dos anos 30 tentou em 1931 matála com uma facada mas a atriz con seguiu esquivarse do golpe Margarite foi internada no Hospital Sainte Anne onde ficou aos cuidados de JACQUES LACAN que consideroua um caso de erotomania e de paranóia de autopunição Segundo LACAN ao atacar a atriz na reali dade Aimée estava atacando a si mesma uma vez que a atriz representava uma mu lher livre e de grande prestígio social exa tamente o que Aimée aspirava ser Em suas idéias persecutórias via na atriz famosa a origem do perigo para ela e seu pequeno filho Didier Desse modo essa imagem ideal era ao mesmo tempo objeto de idealização de aspiração e de seu ódio Para LACAN a prisão e a reclusão hospitalar de Aimée re presentou um ato de autopunição A análise desse caso por LACAN revela mui tos elementos que mais tarde viriam a ser centrais na sua obra o narcisismo a rela ção entre a imagem e a identidade que se dava na paranóia o ideal de ego e a alie nação da identidade a identidade de Ai mée estava na atriz fora dela portanto No Dicionário de Psicanálise de EROUDINESCO 1997 há um verbete que inclui o seguinte relato que vale a pena transcrever A continuação da história de Margarite Anzieu é um verdadeiro roman ce Em 1949 seu filho Didier havendo con cluído seus estudos de filosofia resolveu tornarse analista Fez sua formação didáti ca no divã de LACAN enquanto preparava sua tese sobre a autoanálise de FREUD sob a orientação de Daniel Lagache sem saber que sua mãe tinha sido o famoso caso Ai mée LACAN não reconheceu nesse homem o filho de sua expaciente e Anzieu soube da verdade pela boca de sua mãe quando esta por um acaso extraordinário empre gouse como governanta na casa de Alfred Lacan pai de JACQUES LACAN Os conflitos entre Didier Anzieu e seu ana lista foram tão violentos quanto os que opu seram Margarite e seu psiquiatra de então De fato ela acusava LACAN de havêla tra tado como um caso e não como um ser humano mas censuravao sobretudo por nunca lhe ter devolvido os manuscritos que ela lhe confiara no passado quando da in ternação no Hospital Sainte Anne KOHUT tornou célebre o Caso do senhor Z ao publicar nos Estados Unidos em 1979 o relato de As duas análises do SrZ o qual provocou grande turbulência clínica entre os psicanalistas e que apresentava uma nítida semelhança do seu paciente Z com sua própria história pessoal O SrZ era um homem de 25 anos filho único órfão de pai morando com a mãe Foi analisado pela primeira vez para tratar se de angústias de fantasias masturbatóri as masoquistas e de acessos de raiva e de pressão Durante o primeiro tratamento KOHUT interpretou nos clássicos termos edi pianos a fixação regressiva do paciente Z a uma mãe onipotente e possessiva Quatro anos após o fim desse tratamento o mesmo paciente retornou num período em que sua mãe estava apresentando delí rios alucinatórios No entanto nessa época KOHUT já mudara seus referenciais teóricos e técnicos atribuindo uma relevância aos seus conceitos relativos à formação do Self grandioso às falhas empáticas aos distin tos aspectos do narcisismo e à transferên cia especular Municiado com esses referenciais KOHUT favoreceu o surgimento da transferência VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 195 idealizadora imago parental idealizada e da grandiosidade narcisista self grandioso do SrZ o que segundo KOHUT produziu resultados muito melhores e mais profun dos do que a primeira análise Histórico da psicanálise Os primeiros trabalhos históricos sobre a psicanálise foram escritos pelo próprio FREUD através de dois livros A história do movimento psicanalítico 1915 e Um estu do autobiográfico 1925 Na atualidade muitos o criticam porque consideram que não conseguiu manterse neutro e fiel aos fa tos reais e inclinouse exageradamente a que rer tornarse pai e diretor de toda psicanálise Uma história mais completa e reveladora de muitas verdades ocultas começou com a biografia que EJONES fez da vida e obra de FREUD Publicada em três volumes de 1952 a 1957 alcançou enorme êxito em bora seus depoimentos procedentes de arquivos aos quais lhe permitiram um aces so não mais que parcial também tenham se revelado comprometidos pelos laços afe tivos com FREUD e pela rivalidade com co legas contemporâneos que também priva vam de intimidade com FREUD Em linhas genéricas podese dizer que FREUD criou a psicanálise praticamente so zinho Somente a partir de 1906 concluiu seu período de esplêndido isolamento e passou a reunirse em sua sala de espera com um seleto grupo de brilhantes colabo radores ABRAHAM FERENCZI RANK STECKEL SACHS JUNG ADLER e assim começaram as famosas reuniões das quartasfeiras às quais chamavam de Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Delas há pormenoriza dos registros históricos nas Minutas organi zadas por ORANK Mais tarde essas reuniões sistemáticas viri am a instituir a Sociedade Psicanalítica de Viena Em Salzburg em 1908 houve a Reunião de Médicos Freudianos posterior mente rebatizada como o Primeiro Congres so Psicanalítico Internacional No segundo Congresso realizado em Nürenberg foi cri ada a IPA cuja presidência por indicação de FREUD coube a JUNG A seguir aconteceram as dissidências de ADLER e de STECKEL e em 1914 a do pró prio JUNG Para proteger FREUD dos detrato res da psicanálise e de sua pessoa por su gestão de JONES que veio a incorporarse ao grupo original foi criado o Comitê concebido pelo modelo de uma sociedade secreta que lembra a dos paladinos de Carlos Magno FREUD ofereceu um entalhe grego a cada um dos colaboradores íntimos que lhe permaneceram fiéis que acopla ram o entalhe a seus anéis usandoos como insígnia Assim FREUD JONES FERENCZI RANK ABRAHAM SACHS e mais tarde EITIN GON compuseram o Círculo dos Sete Anéis do Comitê sob um implícito juramento de total fidelidade e sob um acordo explícito de que não questionariam publicamente nenhum tema fundamental da psicanálise como o da sexualidade infantil sem antes o fazerem entre eles dessa forma garantin do a continuidade do movimento psicana lítico Decorridos muitos anos coube especial mente a sua filha e discípula ANNA FREUD além da liderança do já consolidado movi mento psicanalítico a continuação da obra do pai feita por meio de suas importantes publicações a respeito dos múltiplos e varia dos mecanismos de defesa do ego 1936 Os ensinamentos freudianos eram então compartilhados por um sólido grupo de psicanalistas em Viena até que fugindo da perseguição hitlerista muitos deles emigra ram para outros países onde deram conti nuidade ao movimento da psicanálise Dentre esses últimos sobressai o nome de H HARTMANN que emigrou para os Esta dos Unidos e onde com o reforço de ou tros psicanalistas seguidores e igualmente refugiados como KRIS e LOEWENSTEIN fun 196 DAVID E ZIMERMAN dou a Escola da Psicologia do Ego forte mente fundamentada em SIGMUND e em ANNA FREUD porém com desdobramentos próprios e concepções originais Com o passar dos anos essa Escola passou a sofrer transformações a partir de colaborações ori ginais em tempos distintos como foram as de EDITH JACOBSON MMAHLER e O KERNBERG Entrementes ao final da década 20 a par tir de Londres começam a surgir as revolu cionárias concepções de MKLEIN as quais amparadas na sua prática de análise com crianças de muito pouca idade convergem essencialmente para uma posição essenci almente seiocêntrica como uma contrapar tida inicial à falocêntrica vigente entre os freudianos Da mesma forma como ocor reu com FREUD também as concepções de MKLEIN foram seguidas e ampliadas por muitos discípulos contemporâneos e conti nuadores fiéis como por exemplo JOAN RIVIÈRE e SISAACS Psicanalistas póskleinia nos como HSEGAL ROSENFELD MELTZER BION e outros não só ampliaram como tam bém produziram muitas transformações à obra original da mestra Autores neoklei nianos como BJOSEPH e JSTEINER sucessi vamente vêm propondo novas modifica ções na teoria e técnica da psicanálise Cabe consignar que as Controvérsias que nos anos de 1943 e 1944 se estabeleceram entre os grupos kleiniano e annafreudiano representam um importante momento evo lutivo da história da psicanálise Também oriundo de Viena seguindo os mesmos passos de HARTMANN emigrou para os Estados Unidos onde se radicou o psi canalista H KOHUT que lá fundou a escola da Psicologia do Self com contribuições bastante originais e polêmicas Na mesma época orquestrada pelo caris ma de JLACAN floresceu na França a Es cola Estruturalista que surgiu como uma reação de LACAN ao que ele considerava um excessivo pragmatismo da psicanálise nor teamericana Assim ele propôs um retor no a Freud isto é um movimento para resgatar os princípios básicos legados pelo fundador da psicanálise e a partir desses construir novos desenvolvimentos metap sicológicos A Escola Francesa de Psicanálise na atua lidade embora diluída em várias correntes de pensamento psicanalítico é altamente conceituada em todo o universo da psica nálise e conta com autores originais e mui to férteis como AGREEN para ficar num único exemplo WINNICOTT de origem kleiniana nos fins da década 50 admitiu publicamente sua dissi dência com MKLEIN precipitada pela não aceitação da postulação do conceito dela relativo à inveja primária em 1957 Assim WINNICOTT filiouse formalmente ao Gru po Independente da Sociedade Britânica de Psicanálise e aos poucos foi construin do um corpo teórico e prático inteiramente original Sua principal contribuição é a va lorização do precoce vínculo real mãebebê no desenvolvimento emocional primitivo BION também da Sociedade Britânica de Psicanálise discípulo e analisando de M KLEIN conquanto sempre declarasse não ser mais do que um simples seguidor dela trou xe um enorme acervo de contribuições ori ginalíssimas a ponto de muitos considera remno como um verdadeiro inovador da psicanálise atual É claro que muitos e muitos outros nomes passados e atuais e as respectivas contri buições poderiam ser mencionados como por exemplo os movimentos liderados pe los dissidentes de FREUD como os de ADLER e JUNG ou ainda analistas como HSSUL LIVAN KHORNEY e EFROMM desligaramse de FREUD e fundaram a corrente do Cultu ralismo a qual atingiu enorme aceitação nos Estados Unidos As transformações que se vêm processan do continuamente nos paradigmas da psi canálise não estão nitidamente delineadas Pelo contrário freqüentemente se sobre VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 197 põem entre si sendo importante a necessi dade de que os autores tenham a liberdade de criar novas concepções da psicanálise discordando de muitas antigas sem que haja radicalização dogmática e a destrui ção de tudo aquilo que foi construído nes se pouco mais de um século da história da psicanálise Isso pode ser exemplificado com muitas das conceituações postuladas originalmente por FREUD e que hoje estão comprovadamente equivocadas e descartadas como as de um pansexualismo todo e qualquer fenômeno psíquico necessariamente encontrava al gum tipo de explicação na sexualidade a subestimação da condição da mulher que para ele seria sempre inferior e invejosa dos privilégios do homem decorrente de um outro equívoco seu o de tomar Viena da época como protótipo único dos valores culturais uma ênfase exagerada na inveja do pênis sua crença na ignorância da exis tência da vagina por parte das meninas até a puberdade a indiferença desdenhosa às incipientes contribuições de MKLEIN e as sim por diante No entanto nenhum desses muitos equí vocos anula a extraordinária importância das concepções passadas de FREUD que persistem no presente e continuam servindo de base frutífera por muito tempo futuro Na atualidade a psicanálise e os psicana listas estão em crise como tantas outras que já sucederam porquanto estão no cume de uma série de transformações As mudan ças vão muito além do campo restrito da psicanálise como ciência e confundemse com as transformações que também acon tecem no mundo todo relativamente aos aspectos sociais culturais e sobretudo econômicos Por conseguinte também mudou o perfil do paciente que procura tratamento psicanalítico da mesma for ma como também está mudando o perfil do psicanalista na sua maneira de ser e de analisar assim como também inevi tavelmente deverão ocorrer mudanças por parte da IPA inclusive no que diz res peito aos critérios e normas da análise didática Holding WINNICOTT WINNICOTT usou esse termo inglês que se traduz por sustentar segurar com o qual ele significava literalmente a função de como a mãe sustentava fisicamente seu bebê de como o segurava e como o encai xava no seu corpo Posteriormente dando se conta da enorme importância desse as pecto da relação mãebebê WINNICOTT am pliou a noção de holding incluindo os as pectos de como a mãe sustenta emocional mente as necessidades e angústias de seu filho especialmente nos primórdios do desen volvimento emocional primitivo o que adqui re uma enorme importância na determina ção da estruturação do psiquismo da criança Comentário Embora a maioria dos ana listas equiparem a função holding de WIN NICOTT com a de continente de BION cabe estabelecer uma diferença porque em BION essa capacidade materna assume uma di mensão centrada no modelo continente conteúdo o que amplia as variáveis dos modos dos vínculos interrelacionais mãe bebê pressupõe a noção de um estado de rêverie da mãe e implica uma condição de função a dela Homem dos Lobos FREUD Ver o verbete historiais clínicos Homem dos Ratos FREUD Ver o verbete historiais clínicos Homem trágico KOHUT Expressão de KOHUT para oporse à concei tuação vigente na obra de FREUD e de M KLEIN de homem culpado KOHUT emprega 198 DAVID E ZIMERMAN va esse termo como forma de enfatizar que o grande drama da criancinha não resulta das conflitivas pulsionais quer as libidi nais ou as destrutivas Mas sim que de fato se constitui uma tragédia para a crian ça logo para o futuro adulto é não en contrar uma empatia por parte dos pri mitivos e fundamentalmente importantes personagens parentais A esses persona gens KOHUT denomina selfobjetos ou seja aqueles que formam ou deformam o self do sujeito Homossexualidade Palavra formada do grego homo igual se melhante e do latim sexus aparentado com secus do verbo secare cortar dividir A conceituação de conduta homossexu al ou mais simplesmente a de homos sexualismo alude tanto aos ímpetos irre freáveis e não pensáveis pelo sujeito como também aos apegos emocionais que implicam atração sexual em relações sexuais declaradas entre indivíduos de um mesmo sexo biológico A psicanálise contemporânea considera que antes de ser enquadrada em uma úni ca categoria nosológica como perversão por exemplo a homossexualidade deve ser compreendida como síndrome isto é diversas causas etiológicas podem expres sarse por meio de uma mesma manifesta ção sintomática de homossexualidade Cabe uma analogia com o surgimento de uma febre a qual por si só de forma ne nhuma pode ser um quadro clínico espe cífico mas sim uma síndrome febril que tanto pode ser devida a um resfriado ba nal como pode traduzir uma pneumonia ou outro processo infeccioso indo até a possibilidade extrema de uma gravíssima septicemia Além disso muitas correntes psiquiátricas consideram a homossexualidade não como uma patologia mas antes como um legítimo direito de o sujeito optar li vremente pelo exercício da modalidade sexual que mais lhe convier Essa posi ção fica implícito no último DSM norte americano o que não afasta a possibili dade de aparecer como parte de psico patologias graves Em termos socioculturais dados estatísti cos deixam claro que a homossexualida de não é um fenômeno inusitado e que pelo contrário é bastante freqüente em qualquer sociedade Os homens manifes tamente efeminados ou as mulheres de aspecto chamativamente viril constituem somente uma pequena porcentagem da população homossexual Além disso nem todo efeminado é homossexual e a recí proca é verdadeira Cada vez mais os ho mossexuais vêm tomando uma atitude corajosa de assumir publicamente a sua condição organizamse em fortes movi mentos gay e estão ganhando um cres cente espaço como por exemplo o di reito a uma ligação conjugal legal ou a aceitação em forças militares em muitos países avançados Psicanaliticamente o enfoque etiológico já não incide unicamente sobre a conflitiva edípica Também está havendo uma cres cente valorização das fases evolutivas pré genitais mais especificamente as que re montam às particularidades próprias do narcisismo O tratamento psicanalítico não visa prioritariamente a resolver a homosse xualidade como a tarefa maior da análise mas sim capacitar o sujeito a ter uma me lhor qualidade de vida e a adquirir uma paz e liberdade interior Do ponto de vista da técnica psicanalíti ca é útil transcrever a seguinte frase de BION No amor de uma pessoa por outra do mesmo sexo qualquer sugestão por parte do analista de comportamento ho mossexual mata a pequena planta que está nascendo pois ser capaz de amar a alguém que é igual a si mesmo pode ser VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 199 um passo no caminho para amar alguém distinto 1992bp 153 Horda primitiva FREUD FREUD partindo de autores de textos dedica dos à antropologia evolucionista como DA RWIN LAMARK WROBERTSON SMITH e FRAZER hoje altamente contestados escreveu mui tos trabalhos onde aventou uma teoria cul turalista Essa teoria consistia em entender a instauração do totem pelo homem primitivo como a prefiguração da religião e na do tabu a passagem da condição de horda selvagem para a de uma organização em clãs Assim inspirado em JFRAZER autor da fa mosa epopéia O ramo de ouro que conta a história de um rei homicida da antigüida de que foi assassinado pelo seu sucessor FREUD propôs a teoria de que também na horda primitiva os filhos matavam o pai para ocupar seu lugar As conseqüências disso foram a instalação da cultura através de certas leis e costumes Dessa forma principalmente na parte IV de Totem e Tabu 19121913 FREUD descreve o mito da horda primitiva ou selvagem afir mando que originalmente havia uma hor da cujo chefe macho reinava sobre seus filhos e tinha o monopólio de todas as fê meas Os machos jovens teriam se revolta do e matado o velho e após comido seu corpo baseados no princípio mágico de que os membros do clã adquirem santidade comendo o totem Foi só depois que o re morso e o temor teriam investido esse ve lho chefe com o nome de pai e correlativa mente os jovens com o nome de filhos A partir desse modelo supostamente acon tecido na horda primitiva FREUD construiu sua teoria fazendo remontar àquelas as origens de quase todas as instituições cul turais e sociais posteriores A antropologia moderna não confirma a concepção freu diana da horda primitiva Hospitalismo RENÉ SPITZ Criado por R SPITZ esse termo refere o fato de que crianças até os 18 meses de vida quando submetidos a uma alguma forma de abandono prolongado ou a uma longa hospitalização que as privam dos cuidados maternos entram num estado de profunda alteração física e psíquica Essas alterações são progressivamente crescentes e se ma nifestam por sintomas clínicos como atraso do desenvolvimeto corporal prejuízo da motricidade fina dificuldade de adaptação ao meio atraso da linguagem menor resis tência às doenças e nos casos mais graves podem entrar num estado de marasmo e de morte Alguns autores consideram o hospitalismo como uma das modalidades da depressão anaclítica também descrita por SPITZ Ou tros porém preferem manter uma distin ção entre ambas Destacam que nas de pressões anaclíticas as crianças sofreram uma privação afetiva parcial e por isso essa depressão pode ser revertida às condições nor mais anteriores da criança quando a mãe volta a encontrála O hospitalismo implicaria uma situação mais grave porque a privação materna é total e as conseqüências se torna riam duradouras e mesmo irreversíveis MESH ANALYSIS VERSION WITH CURRENT SOURCE 1 I BION A letra I é utilizada por BION como inicial do termo idéia o qual representa o que ele conceitua como idéias isto é objetos psi canalíticos compostos por elementos α A essência dessa conceituação reside na no ção de que a idéia preenche o hiato entre o impulso e sua satisfação Na Grade equivale à coluna 5 isto é o da Investigação Id ou das Es FREUD FREUD tomou o termo id emprestado de uma concepção de GRODDECK para caracterizar a instância psíquica que sedia as pulsões inconscientes Fez essa escolha porque id que no original alemão é das Es e que em português ultimamente vem sendo traduzi do pelo termo isso designa um pronome da terceira pessoa do singular es neutro sem gênero nem número assim caracteri zando a maneira impessoal biológica de como as desconhecidas pulsões instintivas agem sobre o ego FREUD introduziu esse termo a partir do tra balho O ego e o id 1923 assim inauguran do sua segunda tópica que já vinha em gesta ção ou seja a teoria estrutural da mente na qual as três instâncias psíquicas id ego e superego estão em íntima interrelação e em relação com a realidade externa É nesse clássico trabalho que aparece a sua famosa frase onde estiver o id o ego deve ficar frase essa que permite diversas leitu ras de sorte que os freudianos e kleinianos privilegiaram a importância das pulsões enquanto os psicólogos do ego priorizaram a hegemonia do ego e os lacanianos enfo cam sobretudo pela teoria da linguagem É útil lembrar que há uma equivalência na literatura psicanalítica entre os termos ins tintos impulsos impulsos instintivos pul sões instintivas e pulsões Isto devese ao fato de que as primeiras traduções dos tex tos de Freud notadamente a da Standard Edition realizada por STRACHEY não leva ram em conta que FREUD utilizou as pala vras Instinkt e Trieb no original alemão com significados bem distintos entre si e não como sinônimos De modo geral hoje é consensual que quando referia Instinkt FREUD aludia aos instintos biológicos que caracterizam o rei no animal enquanto Trieb significa uma força oculta mais profunda abrangente e imanente ao ser humano e aparece nos textos em português na atualidade como pulsão ver esse verbete I 202 DAVID E ZIMERMAN Ideal ego FREUD Nos textos de FREUD as expressões ego ide al idealich ideal do ego ichideal e supe rego aparecem na maioria das vezes de forma indistinta e com uma conceituação superposta Porém a tendência da psica nálise contemporânea é a de estabelecer algumas diferenças entre elas Da mesma forma como FREUD conceituali zou o superego como sendo o herdeiro direto do complexo de Édipo a subestru tura ego ideal é hoje considerada como sen do uma herdeira direta do narcisismo ori ginal ou seja os mandamentos internos obrigam o sujeito a corresponder na vida real às demandas provindas de seus pró prios ideais Esses ideais estão impregna dos de ilusões narcisistas inalcançáveis e por isso mesmo determinam no indivíduo um estado mental que se caracteriza por uma facilidade para sentir depressão e hu milhação diante dos inevitáveis fracassos daquelas ilusões Ideal do ego FREUD Também essa subestrutura idealich no ori ginal alemão está diretamente conectada com o conceito mais genérico de supere go Resulta dos ideais do próprio ego ideal da criança os quais altamente idealizados são projetados nos pais onde se somam aos originais mandamentos provindos do ego ide al de cada um deles de modo que o ideal do ego pode ser considerado um herdeiro dire to do ego ideal Dessa forma o sujeito fica submetido às aspirações dos outros em rela ção ao que ele deve ser e ter Daí resulta que seu estado mental prevalente é o de um per manente sobressalto e o fácil acometimento do sentimento de vergonha quando não con segue corresponder às expectativas dos ou tros que passam a ser também suas Isso pode ser exemplificado com uma afir mação que FREUD faz em Sobre o narcisis mo uma introdução1914 onde diz que o fanatismo a hipnose ou o estado amoro so representam três casos nos quais um objeto exterior respectivamente o chefe o hipnotizador e a pessoa amada vão ocupar o lugar do ideal do ego no próprio ponto onde o sujeito projeta seu ego ideal Idealização MKLEIN MKLEIN ao estudar os mecanismos defen sivos primitivos do ego incluiu o da ideali zação juntamente com os da negação dis sociação identificação projetiva e introjeti va e a sua contrapartida o denegrimento todos eles nos primeiros tempos sempre relacionados a objetos parciais de sorte que descreveu quatro tipos de objetos o bom o mau o persecutório e o idealizado os quais de alguma forma e em certo grau estão sempre em interação Dessa forma nos primórdios do desenvol vimento emocional primitivo assim como também nos primórdios de muitas análises a presença da idealização é necessária e estruturante principalmente para fazer face às pulsões sádicodestrutivas Porém sua permanência excessiva tornase deletéria para a personalidade do sujeito porque a idealização requer o uso constante de iden tificações projetivas na pessoa idealizada de seus próprios aspectos positivos o que lhe vai custar o alto preço de um autoes vaziamento Outro custo elevado consiste no fato de que subjacente a toda idealização excessiva existe no sujeito uma camada de sentimen tos e de objetos persecutórios A idealiza ção tanto pode se processar no domínio do ego como no das relações objetais Idealizada imago parental KOHUT KOHUT em seus estudos relativos à forma ção do self fez uma original proposição de duas novas estruturas ambas de natureza VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 203 arcaica o self grandioso ver esse verbete e a imago parental idealizada Essa última diz respeito à imagem primitiva toda pode rosa e perfeita que a criança tem dos pais e que de alguma maneira é sentida como fazendo parte do sujeito Essa imago parental idealizada transforma se nos valores ideais que podem acompa nhar o indivíduo pelo resto da vida tanto no sentido positivo como negativo O im portante destaca KOHUT é que para certas situações analíticas o psicanalista tenha condições de propiciar ao paciente mais regredido reexperimentar com ele essa pri mitiva vivência emocional Idealizadora transferência KOHUT KOHUT introduziu sua concepção de trans ferências narcisistas nas quais o analista é sentido pelo paciente portador de al gum transtorno narcisista da personalida de como fazendo parte dele paciente Assim essa modalidade transferencial é diferente da que se dá na clássica neuro se de transferência edipiana A transferên cia narcisista pode assumir três formas a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular propriamente dita Na transferência idealizadora o paciente não discrimina entre seu self e as do seu analista e como toda a sua felicidade resi de no objeto idealizado o sujeito sentese vazio e impotente com enormes dificulda des para as separações Identidade sentimento de A aquisição de um sentimento de identida de coeso e harmônico resulta do reconhe cimento e da elaboração das distintas iden tificações parciais que desde os primórdi os de seu desenvolvimento foram se incor porando ao sujeito pela introjeção do códi go de valores dos pais e da sociedade Esse processo complicase na medida em que cada um dos pais modeladores das identi ficações do filho por sua vez também está identificado com os aspectos parciais ou totais dos seus respectivos pais num impor tante movimento transgeracional que mui tas vezes atravessa sucessivas gerações na transmissão dos mesmos valores formado res da identidade nos seus três níveis inse paráveis a identidade individual a grupal e a social Assim por meio de sucessivas experiências suficientemente boas com os pais se esta belece na criança a crença de que se é vis ta como um objeto de amor então ela exis te é um ente ou seja está nascendo uma entidade A passagem do estado de entida de para o de identidade começa a partir da instalação da confiança básica a qual per mite uma progressiva dessimbiotização se guida de uma constância objetal e de coe são do self A etimologia da palavra identidade idem entidade comprova que ela consiste em uma entidade que se mantém basicamen te a mesma idem apesar das variações temporais espaciais e sociais Essas três úl timas dimensões como inerentes à forma ção e conceito do sentimento de identida de foram descritas por GRINBERG em Iden tidad y Cambio 1971 Nos casos em que os modelos de identifi cação não foram suficientemente bons es táveis coerentes consistentes e com capa cidade de continente o sujeito terá dificul dade de formar um sentimento de identi dade estável tal como acontece com os pacientes borderline que apresentam aqui lo que KERNBERG chama como síndrome da difusão da identidade Essa última consiste na dificuldade que esse tipo de paciente tem de transmitir uma imagem integrada e coe rente de si próprio e assim deixa os outros confusos em relação a ele É inerente ao sentimento de identidade o constante questionamento do sujeito 204 DAVID E ZIMERMAN quanto a quem ele realmente é como se autorepresenta quais são os papéis e os lugares que ele ocupa nos vínculos gru pais e sociais o que e quem ele quer vir a ser e de como se sente visto pelos de mais Identidade sexual RSTOLLER Condição de o sujeito se reconhecer e de ser reconhecido como pertencente a um determinado sexo Os estudos de STOL LER 1968 visam a estabelecer uma dis tinção entre os aspectos biológicos que objetivamente determinam se um sujei to é homem ou mulher e os aspectos psi cológicos e sociais que promovem sua convicção e comportamento de homem ou mulher Assim com o emprego da terminologia ori ginal de gender identity STOLLER pretendeu delimitar uma diferença entre sexo bioló gico e gênero Conquanto exista em todos seres humanos certa bissexualidade devi do à indiferenciação original do embrião a determinação do sexo depende de um cer to número de fatores físicos reais objetivos e mensuráveis como 1 O genótipo XX na mulher e XY no ho mem 2 As dosagens hormonais como a testos terona progesteronaembora em diferen tes proporções sempre exista a presença de hormônios masculinos e femininos tanto no homem como na mulher 3 A constituição dos órgãos genitais exter nos e internos 4 Os caracteres sexuais secundários Em certos casos encontramse anomalias ana tômicas casos de hipospadia por exemplo fisiológicas e alterações genéticas que po dem levar a situações chamadas de herma froditismo ver o verbete Em relação ao gênero sexual a melhor exemplificação é a do transexualismo ver o verbete Identificação Conceito de especial importância na psi canálise esse termo designa um processo psicológico central realizado ativamente pela parte inconsciente do ego pelo qual o sujeito se constitui e se transforma assimi lando ou se apropriando parcial ou total mente dos aspectos atributos ou traços das pessoas mais íntimas que o cercam Isso está de acordo com a morfologia da palavra identificar é o mesmo que tornar idem ou seja igual A personalidade constituise e diferenciase por uma série de identifica ções havendo muitas formas de processar se a identificação FREUD no capítulo VII de A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 estuda três modalidades 1 A identificação primária postulada como a forma mais primária originária de uma ligação afetiva com uma outra pessoa logo a mãe Segundo FREUD essa identificação primária desempenharia um papel na pré história do complexo de Édipo e se forma segundo o modelo de uma incorporação oralcanibalística 2 A identificação se torna de modo regres sivo um substituto de uma ligação afetiva abandonada como acontece no sintoma histérico tal como FREUD exemplifica com a tosse histérica da paciente Dora que imi ta a tosse do pai assim incorporandoo Nesse tipo de identificação o sujeito pode tomar emprestado apenas um único traço da pessoaobjeto tratase do famoso tra ço unário ou único einziger Zug que serviu para desenvolvimentos teóricos pos teriores de LACAN 3 A terceira modalidade consiste no fato de que a identificação se efetua na ausên cia de qualquer investimento sexual O fa tor que leva um sujeito a identificarse com outro é o desejo de ter algo em comum com um outro FREUD ilustra isso com a identifi cação que se processa nas situações de hip VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 205 nose da paixão e da psicologia dos gru pos em que uma pessoa respectivamente o hipnotizador a pessoa amada ou o líder ocupa o lugar do ideal do ego Identificação proto EBICK e D MELTZER Na psicanálise contemporânea é útil fa zer distinção entre protoidentificação e identificação propriamente dita As pri meiras são de natureza mais arcaica e configuramse por uma das quatro mo dalidades seguintes 1 Adesiva como foi descrita por EBICK na sua concepção de pele psíquica 1968 e por MELTZER quando alude aos pseudó podos mentais 1975 sendo que essa modalidade adesiva consiste no fato de que a criança ainda não se desgrudou da mãe e nesse caso ter a mãe é o mes mo que ser a mãe portanto há uma fu são mais próxima de uma confusão e não se forma uma real identificação que viria acompanhada por uma necessária individuação 2 Especular caso em que a criança com portase como se fosse uma mera imagem que somente reflete os desejos da mãe ou viceversa de modo que o sujeito encara os outros como se fossem um simples pro longamento de si próprio 3 Adictiva que decorre do modelo anterior e consiste em que devido à falta de figuras solidamente introjetadas o indivíduo fica sem um sentimento de identidade próprio e por isso fica adicto a certas pessoas que o com pletam reasseguram e complementam 4 Imitativa Na evolução normal essa for ma é um primeiro passo para a construção de uma identidade sadia No entanto mui tas vezes pode constituirse como forma permanente de personalidade que cabe chamar de camaleônica porquanto esse sujeito não faz mais do que se adaptar na verdade submeterse aos diferentes am bientes Identificações tipos de As identificações propriamente ditas resul tam de um processo de introjeção de figu ras parentais dentro do ego sob a forma de representações objetais e no superego quando então assume uma das seguintes formas 1 Com a figura amada e admirada é a forma que constitui as identificações mais sadias estáveis e harmônicas 2 Com a figura idealizada costuma ser frágil custa ao sujeito o preço de um esva ziamento de suas capacidades e uma pe quena tolerância às frustrações 3 Com a figura odiada configura o que se conhece como identificação com o agressor 4 Com a figura perdida é a base dos pro cessos depressivos inclusive nos quadros melancólicos segundo o mecanismo iden tificatório que está contido na célebre afir mativa de FREUD feita em Luto e melanco lia 1917 de que a sombra do objeto re cai sobre o ego 5 Com a figura atacada 6 Com os valores que lhe foram impostos pelos pais Comentário Creio ser justificável e útil a proposição de duas denominações uma já referida acima é a de forma camaleôni ca nas protoidentificações imitativas pelo fato de que se trata de pessoas que adqui rem a cor do ambiente em que estão A outra é a de identificação com a vítima seguindo o modelo da identificação com o perseguidor caso em que o sujeito identi ficase com a figura que na realidade ou na fantasia ele julga ter atacado e danifi cado gravemente Nesses casos é comum que persista a presença de um mesmo aspecto que a vítima tinha como pode ser um sintoma valor maneirismo ou mesmo uma forte sensação que ocupa o lugar e o papel de uma pessoa morta como pode ser por exemplo o de um feto que foi abortado 206 DAVID E ZIMERMAN Identificação adesiva E BICK E D MELTZER Ver no verbete identificação proto Identificação com o agressor ANNA FREUD Mecanismo defensivo do ego primeiramen te descrito por ANNA FREUD 1936 que alu de ao fato de que o sujeito quando con frontado com algum perigo diante de uma figura temida identificase com seu agres sor assim podendo exercer um melhor con trole e sentindose igual a essa pessoa que ao mesmo tempo teme e admira Em outras palavras numa inversão de pa péis o sujeito age ativamente com os ou tros aquilo que sofreu passivamente das fi guras que o agridem ou agrediram Segun do A FREUD esse mecanismo de a criança internalizar o objeto perseguidor constitui ria uma fase preliminar na construção do superego Identificação projetiva M KLEIN Expressão cunhada por MKLEIN designa um mecanismo psíquico fundamental em todo ser humano Sua importância para a teoria técnica e clínica da psicanálise é re conhecida com algumas variações concei tuais por todas as correntes psicanalíticas da atualidade Todos reconhecem que inicialmente foi FREUD quem descreveu aprofundadamente o mecanismo defensivo de projeção como por exemplo no caso Schreber ou nos seus trabalhos sobre as paranóias Embora nun ca tenha utilizado a terminologia de identi ficação projetiva a essencialidade que ca racteriza a concepção desse fundamental fenômeno psíquico aparece em alguns im portantes textos de sua obra Assim em A psicologia de grupo e a aná lise do ego 1921 FREUD deixa entrever claramente a identificação projetiva que os integrantes das massas efetivam com seus líderes tal como acontece ele exemplifica numa tropa de exército entre os soldados com o seu comandante No outro exemplo de liderança nesse seu trabalho Freud traz o modelo da igreja na qual todos os súdi tos religiosos estão unidos porque encarnam um mesmo ideal de ego Jesus Cristo na igreja cristã e isso corresponde ao fenô meno da identificação introjetiva O que fundamentalmente diferencia a con cepção de FREUD da de MKLEIN é que FREUD pensava a projeção em termos de objetos totais projetados sobre os objetos enquan to KLEIN postulou a identificação projetiva com objetos parciais projetados dentro de outras figuras objetais MKLEIN em Notas sobre alguns mecanis mos esquizóides1946 utilizou pela pri meira vez a denominação de identificação projetiva cuja conceituação foi ampliando progressivamente em pelo menos três di mensões psíquicas distintas 1 Como uma necessária e estruturante defesa primitiva do ego incipiente através de uma expulsão que desde sempre o su jeito faz de seus aspectos intoleráveis den tro da mente de outra pessoa a mãe no caso do bebê o analista no caso do pa ciente 2 Como uma forma de penetrar no inte rior do corpo da mãe com a fantasia de controlar e apossarse dos tesouros que em sua imaginação a mãe possui sob a forma de fezes pênis e principalmente os bebês imaginários 3 No trabalho Sobre a identificação 1955 inspirada na novela Se eu fosse você de JULIAN GREEN MKLEIN ensaia as primeiras concepções das identificações projetivas a serviço da empatia Notáveis seguidores kleinianos ampliaram a compreensão e utilização do fenômeno da identificação projetiva Dentre eles cabe destacar ROSENFELD que descreveu os es tados confusionais e os de despersonaliza ção dos psicóticos resultantes de um ex VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 207 cessivo uso de identificações projetivas e in trojetivas PHEIMANN e HRACKER que sepa radamente descreveram a possibilidade de os analistas utilizarem seus sentimentos con tratransferenciais como um importante ins trumento técnico LGRINBERG com os seus importantes estudos sobre a contraidenti ficação projetiva MELTZER que assinalou o fato de a identificação projetiva poder cons tituirse para o paciente como seu melhor recurso para protegerse contra a angústia de separação Identificação projetiva BION Sem dúvidas BION foi o autor que mais con sideravelmente ampliou a concepção origi nal de KLEIN e acrescentou outros aspectos com absoluta originalidade das quais as seguintes podem ser mencionadas 1 Criou o modelo continenteconteúdo para virtualmente todos os fenômenos da vida psíquica A transação entre os conteú dos que são projetados e o continente que os acolhe e contém é processada através de identificações projetivas 2 Considera dois tipos de identificações projetivas uma que denomina realista es truturante e indispensável para enfrentar a realidade e outra denominada excessiva que se caracteriza tanto por um excesso quantitativo como pelo excesso qualitatvo devido às características da ilusória força mágica da onipotência e de uma fragmen tação dos aspectos do self que são projeta dos 3 Introduziu a importantíssima noção de que a emissão do conteúdo dos protopen samentos elementos β objetiva encontrar um continente adequado que descodifique os significados emitidos e veiculados pela evacuação através de identificações proje tivas 4 Assim essas últimas adquirem a função de uma comunicação primitiva daquilo que o paciente não consegue verbalizar por quanto tratase de uma angústia inomina da que BION chama terror sem nome 5 Caso não encontrem um continente adequado essas projeções podem alojar se em objetos do espaço externo consti tuindo o fenômeno que ele chama de objetos bizarros e configurando a flora ção de alucinoses 6 Embora BION não empregue a denomi nação de empatia fica transparente o quan to ele valoriza a função estruturante possi bilitada pela utilização adequada das iden tificações projetivas que permitam que o sujeito possa colocarse no lugar de um outro e sentir o que este sente e não conse gue transmitir Identificação introjetiva FREUD M KLEIN Em Luto e Melancolia 1917 FREUD fez a clássica afirmativa de que a sombra do objeto recai sobre o ego assim estabele cendo a primeira noção de que num pro cesso de luto é normal ou de melancolia é psicopatológico o objeto perdido vai fazer parte integrante de um núcleo do pró prio ego Pode resultar daí que o objeto perdido e o ego em um processo que lem bra o fenômeno da osmose confundamse entre si de tal sorte que o destino de um passa ser o destino do outro Com essa concepção FREUD está definindo o fenômeno da identificação com o objeto perdido e ao mesmo tempo está lançan do as primeiras sementes para um proces so identificatório mais amplo o da identi ficação projetiva que veio a ser descrito mais profundamente por MKLEIN Essa autora estudou principalmente o in terjogo permanente entre as identificações projetivas e as introjetivas isto é existe uma reintrojeção modificada dos aspectos que previamente haviam sido projetados As identificações projetivas de aspectos disso ciados predominam nos processos ineren tes à posição esquizoparanóide enquanto 208 DAVID E ZIMERMAN as identificações introjetivas caracterizam a posição depressiva A diferença principal entre as concepções de FREUD e MKLEIN consiste no fato de que o primeiro formulou o objeto introjetado como sendo total enquanto KLEIN enfo cou enfaticamente a introjeção dos obje tos parciais Identificação patógena Essa expressão vem aparecendo com bas tante regularidade nos textos psicanalíticos Designa o fato de os objetos internalizados exercerem continuamente uma ação sabo tadora e enlouquecedora contra o sujeito que essa ação acaba ficando identificada de forma patógena com esses objetos Na prática clínica esse aspecto assume relevân cia porque implica a necessidade de a aná lise promover uma gradual desidentificação seguida de neoidentificações Ideograma BION A FERRO BION emprega essa expressão para se refe rir aos pensamentos primitivos de nature za préverbal que estão mais ligados à cons trução de imagens visuais do que propria mente às palavras e à audição Assim as construções ideogramáticas seguem o mes mo princípio que rege a escrita dos chine ses baseada em múltiplas combinações de símbolos visuais BION 1962 ilustra isso com a afirmativa de que Se a experiência emocional é um sen timento de dor a psique deve ter uma ima gem visual de alguém que massageia o co tovelo ou de um rosto banhado em lágri mas ou algo parecido Na psicanálise contemporânea o concei to aparece com outros nomes como pic tograma fotograma holograma e imagem onírica Inspirado em BION ANTONINO FERRO um au tor moderno tem dado expressiva impor tância à narrativa dos pacientes na situa ção analítica sob a forma de ideogramas Em Antonino Ferro em São Paulo Semi nários 1996 assim definiu esse conceito em relação à prática analítica Quando o paciente é capaz de evocar em nós analis tas imagens visuais já nos está fornecen do algo rico em elementos α É como se o paciente fosse o diretor de um filme e a nós coubesse a parte mais simples de fazer a montagem dele Reciprocamente FERRO completa se a in terpretação provocou um pictograma de elementos α que remete à dor à violência à submissão etc o derivado narrativo po derá ser assim lembro de uma vez quan do eu era pequeno e meu pai me aplicou uma injeção muito dolorosa humilhando me depois diante de todos porque eu cho rei ou então vi um filme na televisão no qual uma moça que confiara em dar caro na a um mochileiro foi assaltada e violen tada Assim por diante Ferro exemplifica com outras possibilidades de ideogramas imagens visuais que foram despertados e que determinam distintas formas de gêne ros narrativos lúdico gráfico sensorial motor onírico por parte do paciente Ilusão área de WINNICOTT A partir de 1951 WINNICOTT começa a estu dar os fenômenos e os objetos transicionais Essa concepção original referese ao fato de a passagem do subjetivo mundo interno e imaginário do bebê para o objetivo e real mundo externo processarse inicialmente por meio de uma espécie de ponte de tran sição entre ambos os mundos Assim criase um espaço virtual que WINNI COTT denomina às vezes espaço transicional e outras de espaço potencial área de ilusão experiência cultural ou área da criatividade porquanto o trânsito entre a fantasia e a reali dade possibilita um alto potencial e riqueza de criatividade inclusive artística VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 209 Ilusãodesilusão WINNICOTT A área de ilusão de onipotência consiste no fato de o bebê vivenciar o seio da mãe como parte do seu próprio corpo no início a mãe ou o analista na situação analítica deve aceitar essa ilusão porém aos poucos deve processar o que WINNICOTT denomina uma progressiva desilusão das ilusões até que a criança perceba que ela tem a possessão do objeto seio mas que não é o seio Imaginário registro LACAN O adjetivo imaginário é formado do subs tantivo imagem que por sua vez deriva do étimo latino imago É empregado na psicanálise para designar aquilo que pode ser representado em pensamento inde pendentemente da realidade Esse termo do ponto de vista psicanalítico foi popula rizado por LACAN a partir do seu trabalho O estádio do espelho como formador da função do eu escrito em 1936 Nele con ceitua a noção do imaginário como corre lata da etapa do espelho que se caracteriza por uma relação dual com a imagem do semelhante a mãe LACAN descreve a pas sagem do especular o ego da criança so bretudo em virtude de sua prematuração neurobiológica constituise a partir da ima gem do seu semelhante como um espelho que reflete para o imaginário LACAN utiliza um conjunto de termos e con ceitos no qual ele destaca três planos o simbólico o imaginário e o real Como pri orizava a importância do simbólico a sigla utilizada para esse conjunto era SIR que Lacan representava por três círculos de bar bante ligados por um nó borromeu isto é de tal maneira que quando um dos círcu los é desfeito os outros dois também se desfazem Posteriormente ao aprofundar os estudos com as psicoses LACAN passou a centrar a primazia no registro real de modo que a sigla representativa passou a ser RIS O registro simbólico foi definido por LACAN como o lugar do significante e da função paterna e permite a capacidade para fazer abstrações e formar símbolos O registro imaginário designa o campo das ilusões da alienação e da fusão com o corpo da mãe e deve ser entendido a partir da imagem que sempre é algum grau de distorção do semelhante que o refletiu superpondo e confundindo a figura e o fundo Por isso o imaginário é considerado o registro do en godo Segundo LACAN qualquer comporta mento qualquer relação imaginária está essencialmente votada ao malogro O registro real é considerado um resto im possível de simbolizar Os registros do ima ginário e do simbólico são considerados instrumentos indispensáveis para o analis ta se orientar no seu trabalho analítico Imago JUNG Termo introduzido por JUNG em 1912 para designar uma representação inconsciente que o sujeito tem de seus pais e irmãos in ternalizados que resultam de fixações das primeiras experiências infantis e que de terminam a posterior conduta do sujeito e a sua forma de percepção em relação às outras pessoas O conceito de imago deve ser entendido não tanto como uma imagem mas como um esquema imaginário de sorte que ele não representa ser um reflexo da situação real mesmo que mais ou menos deforma do Assim a imagem de um pai terrível pode muito bem corresponder a um pai que na realidade foi apagado Imago parental idealizada KOHUT KOHUT concebeu um arco de tensão na criança Um dos pólos constituído pelas ambições chamou de self grandioso o outro pólo onde residem os ideais ele denominou imago parental idealizada 210 DAVID E ZIMERMAN Entre esses pólos estão as capacidades e talentos do ego KOHUT destaca a importância de os pais ou o analista na situação psicanalítica permi tirem que a criança os idealize porque isso constitui nos primórdios do desenvolvimen to emocional um importante fator estrutu rante da personalidade Impasse A palavra impasse deriva do idioma fran cês e significa beco sem saída embora na psicanálise atual o mais adequado seria di zer situação que parece não oferecer saída favorável Assim impasse pode ser concei tuado como toda situação suficientemente duradoura na qual os objetivos do traba lho psicanalítico pareçam não ser atingíveis embora se mantenha conservada a situa ção analítica standard De modo geral os impasses manifestamse por uma dessas três razões que ocorrem no curso do processo analítico 1 Estagnação Aparentemente a situação está tranqüila analista e analisando supõem que a análise está se desenvolvendo bem porém ela está dando voltas em torno do mesmo lugar e nada de mais acontece nem de mau nem de bom 2 Paralisação O analisando não sabe mais o que dizer e o analista sentese manietado em uma desconfortável sensação contra transferencial de impotência e paralisia enquanto no par analítico vai crescendo um sentimento de esterilidade 3 Reação terapêutica negativa RTN En quanto as duas anteriores costumam ser impasses silenciosos esse último habitual mente é ruidoso por vezes dramático Todas as análises especialmente as bem sucedidas atravessam alguns transitórios períodos difíceis que sugerem um impas se mas que bem compreendidos e inter pretados são relativamente fáceis de supe ração com a aquisição de um importante insight Destarte os impasses não devem ser confundidos com os inevitáveis momen tos de transferência negativa até porque o surgimento desta no campo analítico dife rentemente do que o termo negativo suge re pode ser altamente positiva desde que seja bem acolhida compreendida e mane jada pelo analista Caso contrário a trans ferência negativa pode vir a se configurar como um impasse Os impasses devem ser compreendidos em três dimensões possíveis os que procedem unicamente do paciente os que se devem unicamente ao analista e os que se formam a partir de ambos resultantes de conluios resistenciaiscontraresistenciais não desfei tos e que por isso mesmo cronificam em uma estagnação que constitui uma das for mas de impasse Podese dizer resumidamente que os im passes resultam de diversas causas e fon tes adquirem diversas formas comportam distintos significados e além disso na prá tica clínica requerem diferentes manejos técnicos Assim os motivos preponderan tes podem ser de natureza narcisista em um ou em ambos do par analítico uma forma de fuga de sentimentos ligados à depressão ao medo de um apego de muita dependência a uma enorme resistência às verdadeiras mudanças etc Em relação às causas que procedem unica mente dos pacientes as mais freqüentes consistem em a os falsos colaboradores b a desonestidade c os actings excessi vos d o antianalisando e a psicose de transferência f a reação terapêutica nega tiva Cada uma dessas causas podem ser con sultadas nos seus respectivos verbetes Impingement Esse termo que pode ser entendido como traumas invasivos vem sendo usado com relativa freqüência na literatura psicanalíti VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 211 ca atual Diz respeito às falhas grosseiras da função materna que condicionam uma in vasão de estímulos ambientais sob a forma de impingir na mente da criança sentimen tos como os de culpa vergonha medo confusão expectativas exageradas rótulos desqualificatórios etc os quais de algu ma forma ficam impressos na sua mente Esses traumas ultrapassam a capacidade do ego incipiente da criança assim dificultan do a absorção e a harmonização das pul sões provindas do id fato que ao mesmo tempo que produz uma intensa ansiedade impotência e desvalia na criança também provoca uma descontinuidade no sentimen to de ser Imprinting KLORENZ Alguns estudos etológicos estudo dos com portamentos espontâneos dos animais pre ferentemente em seu habitat natural ser vem para mostrar a influência recíproca e complementar entre os fatores genéticos e os ambientais O fenômeno do imprinting é um deles com esse nome talvez a me lhor tradução para o português dessas mar cas que ficam impressas na mente seja a palavra moldagem em 1935 o etólogo austríaco KONRAD LORENZ por meio de es tudos com aves observou que na ausên cia da mãe as patas nascidas em choca deiras apegamse e ficam fixadas para sem pre no primeiro objeto móvel que encon tram e que isso se dá num período parti cularmente sensível que dura cerca de 36 horas Uma vez instalada a marca dessa fixação fica irreversível Esse fenômeno repetese de forma variável para cada espécie po rém conserva a constância de que fora do período sensível o imprinting não mais acontece É bem cabível a especulação de que desde a condição de feto o ser huma no também esteja registrando uma molda gem de certos estímulos que ficam eterna mente gravados e representados em algum canto do ego incipiente Incerteza princípio da A psicanálise contemporânea confere ex pressiva importância ao princípio da in certeza uma concepção de HEISENBERG que postulou o fato de o observador mu dar a realidade observada conforme seu estado mental durante determinada situa ção a exemplo do que se passa na física subatômica na qual uma mesma energia em um dado momento é onda e em ou tro é partícula Nesse contexto analista e analisando fazem parte da realidade psíquica que está sendo observada e portanto ambos são agentes da modificação da realidade exterior à me dida que se modificam as respectivas reali dades interiores Comentário O destaque que esse princí pio adquire na análise atual é justificado na medida em que vem corrigir o velho equívoco de atribuir ao analista no setting analítico a posição de um privilegiado ob servador neutro atento unicamente para entender descodificar e interpretar o mate rial trazido pelo paciente Pelo contrário hoje parece ser consensual que a estrutura psíquica do analista sua ideologia psicana lítica sua empatia e não só o conteúdo mas também a forma das interpretações en fim de como reciprocamente é influenci ado pelo analisando e o influencia con tribuem decisivamente nos significados e rumos da análise Incesto FREUD LACAN Prática de relações sexuais entre parentes próximos consangüíneos cujo casamento é proibido por lei como por exemplo en tre pai e filha mãe e filho irmão e irmã Por extensão o sentimento de proibição moral e cultural pode estenderse às rela 212 DAVID E ZIMERMAN ções sexuais entre tio e sobrinha tia e so brinho padrasto e enteada madrasta e en teado sogra e genro sogro e nora Virtualmente essa proibição é universal embora possam variar as formas de sua aplicação Em algumas sociedades primiti vas são consideradas incestuosas as rela ções extensivas a grupos maiores de paren tes afins além da família nuclear em ou tras ainda persiste uma prática antiga de submeter os transgressores a severos casti gos inclusive corporais A psicopatologia forense atesta o grande número de transgressões incestuosas de pais com filhas sendo que o incesto totalmente consumado entre mãe e filho é em número muitíssimo menor sendo quase uma exce ção Embora persista legalmente a proibi ção de casamentos incestuosos as leis mo dernas não intervêm diretamente na vida sexual dos adultos maiores de idade Pu nem apenas a pedofilia incestuosa ou não o estupro e o exibicionismo FREUD estudou detidamente o problema do incesto principalmente em Totem e Tabu 191213 Segundo ele a relação incestu osa é sempre desejada inconscientemente Sua proibição impede ao ser humano a efe tivação de duas tendências pulsionais que constituem a essência do complexo de Édi po matar o pai e desposar a mãe tal como FREUD descreve em relação ao mito original da horda primitiva na qual o assassinato do pai é seguido pela expiação dos filhos A interiorização desse conflito teria dado origem aos primórdios da moral da ética e da cultura LACAN seguindo os passos de antropólogos como LSTRAUSS que contestam essa teoria de FREUD assevera que a origem do pro blema do incesto não reside unicamente numa demanda pulsional o que é certo e está comprovado pela universalidade de sua existência mas também que se funda na cultura na qual é estruturada pela lin guagem Portanto a proibição do incesto não se restringe sempre aos graus reais do parentesco mas também à relação social que atribui a certas pessoas a representa ção de pai mãe irmãos etc LACAN enfati za que uma criança só pode ter acesso ao registro simbólico se funcionou exitosamen te a lei do pai referente à atitude do pai que age como uma cunha interditora para desfazer a díade mãefilho Assim em mui tos casos a análise visa sobretudo a trans formar a lei do desejo edípicoincestuoso num desejo da lei Podese dizer que um prolongamento exa gerado dessa díade fusional funciona como um caldo de cultura para futuras relações incestuosas de acordo com a provável eti mologia da palavra incesto que parece de rivar de in não castus corte No idioma inglês aparece uncut isto é incesto esta ria indicando que ainda não houve uma separação um necessário corte na referida díade simbiótica Inconsciente O FREUD 1915 Dentre os importantes Trabalhos sobre me tapsicologia publicados em 1915 sobres sai O inconsciente o qual consta de sete capítulos intitulados Justificação do con ceito de inconsciente Vários significados de o inconsciente O ponto de vista topo gráfico Emoções inconscientes Topo grafia e dinâmica do recalcamento As ca racterísticas especiais do sistema inconsci ente Comunicação entre os dois siste mas e Avaliação do inconsciente Esse artigo está no volume XIV p191 da Standard Edition brasileira Inconsciente FREUD Antes de FREUD os cientistas e filósofos já admitiam a existência de um inconsciente no sentido da presença de algo que não pertence ao consciente mas recusavam lhe um caráter psíquico atribuindo tudo que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 213 se passava no plano desconhecido da men te aos mistérios do corpo da alma e do es pírito O inconsciente como região do psiquis mo com leis próprias de funcionamento é uma descoberta estritamente freudiana Assim a partir de FREUD o inconsciente palavra que não criou passa a ganhar tal relevância a ponto de ser uma síntese da própria psicanálise sendo que ele a estu dou e a conceituou de forma distinta em dois momentos de sua obra Na primeira tópica também chamada como teoria to pográfica do étimo grego topos lugar FREUD postulou que o inconsciente seria um lugar onde os afetos representações e deri vados das pulsões em geral se manteriam fortemente reprimidos proibidos de ganhar um acesso ao consciente Na segunda tópica também conhecida como teoria estrutural ou dinâmica o in consciente encontrase distribuído entre os referidos derivados das pulsões provindos do id mas também com grandes partes do ego e do superego os três juntos constitu indo o aparelho psíquico e mantendose como instâncias separadas porém numa permanente interação De forma esquemática cabe assinalar os seguintes aspectos que FREUD postulou nos seus escritos sobre o inconsciente 1 É um reservatório de conteúdos repri midos 2 Esses conteúdos são compostos por pul sões e respectivos derivados FREUD consi derou a pulsão a fronteira entre o somático e o psíquico 3 No artigo O inconsciente 1915 FREUD conceituou esse conteúdo reprimido como composto por representantes da pulsão já que a pulsão em estado bruto nunca pode se tornar objeto da consciência 4 Existem duas espécies de repressões uma a repressão secundária consiste naquilo que já foi consciente ou précons ciente e foi recalcado para o inconscien te a outra forma de material reprimido seria o que é chamado repressão primá ria ou originária isto é aspectos pulsio nais filogenéticos que nunca chegaram a ser exteriorizados 5 No aparelho psíquico o sistema incons ciente é representado pela sigla Ics o pré consciente pela sigla Pcs enquanto PcCs representa o sistema percepçãoconsciência 6 O sistema inconsciente além dos con teúdos possui mecanismos e talvez uma energia específica própria 7 Os mecanismos específicos que regem os conteúdos do inconsciente consistem no processo primário principalmente no que diz respeito ao uso dos mecanismos de con densação e deslocamento assim como tam bém pela ausência no inconsciente das leis da lógica da noção de espaço tempo e causalidade pela mobilidade da energia li vre e pela predominância do princípio do prazerdesprazer 8 Assim o sonho foi para FREUD a via ré gia de acesso ao inconsciente Ele também destacou os caminhos reveladores do in consciente que são propiciados pelos sin tomas lapsos e atos falhos 9 Os conteúdos reprimidos no inconscien te estão fortemente investidos catectizados pela energia pulsional e procuram retornar à consciência e à ação o que constitui o que ele denominava como a busca de um retorno do reprimido Mas esses conteú dos só podem ter acesso ao sistema Pcs Cs depois de passar pelo crivo das defor mações e disfarces impostos pela censura tal como é a censura onírica no caso dos sonhos 10 Na situação analítica os conteúdos re primidos do inconsciente só podem ter aces so ao consciente se forem vencidas as bar reiras das resistências LACAN desenvolveu uma concepção radical mente diferente da noção do inconsciente concebida por FREUD Para LACAN baseado na sua teoria do significante o inconscien te é definido como o discurso do outro as 214 DAVID E ZIMERMAN sim como também enfatizou que o incons ciente é estruturado como uma linguagem Inconsciente coletivo JUNG JUNG tem uma concepção de inconsciente profundamente distinta da de Freud Ele não valoriza muito o aspecto conflitual com a respectiva repressão de desejos pulsionais que constituem fixações de situações pas sadas Antes JUNG enfoca prioritariamente os núcleos herdados que guardam germes de potencialidades psíquicas a serem de senvolvidas no futuro Os assim denominados arquétipos jungue anos referem que para esse autor a incons ciência faz parte da herança comum da humanidade que atingiu gradual e labori osamente o estágio da consciência numa evolução que ainda não terminou uma vez que há vastas regiões do espírito humano ainda envoltas em trevas a psique está lon ge de ser totalmente conhecida Incorporação FREUD Expressão introduzida por FREUD ao elabo rar a noção de fase oral 1915 Alude a um processo pelo qual o sujeito de uma forma predominantemente mágicofantasi osa faz penetrar e conservar um objeto no interior do corpo Tratase de uma for ma de relação objetal por parte da criança de caráter nítidamente oralcanibalística que visa à obtenção de um prazer fazendo um objeto penetrar dentro de si Como isso não pode ocorrer sem destruição a incor poração fica ligada a fantasias sádicas de aniquilamento Essa relação também visa à assimilação das qualidades desse objeto incorporado con servandoo dentro de si Esse último aspecto constitui o protótipo dos processos da in trojeção e da identificação Na incorporação misturamse intimamen te diversas metas pulsionais FREUD as exemplifica com as duas atividades a ali mentar e a sexual que estão concomitan temente presentes no ato de o bebê ma mar porquanto a criança não se limita a saciar a fome também tira um prazer li bidinal com o ato da sucção do seio ma terno e ainda mais deseja a absorção total do objeto que a gratifica Conquanto seja predominante a incorpo ração não é uma atividade que se faz pura mente pela boca Outras zonas erógenas e outras funções podem assumir essa finali dade incorporativa podendo ser pela pele respiração visão e audição Também existe uma incorporação anal na medida em que a cavidade retal guarda uma analo gia com a boca e uma incorporação ge nital manifestada principalmente na fan tasia de pênis cativo isto é na fantasia da retenção do pênis no interior de uma vagina dentada ABRAHAM e posteriormente MKLEIN des tacaram dois fatos a forte presença das pulsões sádicas no processo incorporati vo e o fato de que a incorporação tam bém deve ser entendida em termos de objetos parciais Indiferenciação M MAHLER No estudo das primeiras fases do desenvol vimento infantil muitos autores têm acen tuado a importância para o processo ana lítico contemporâneo do entendimento da etapa na qual em condições normais o bebê por falta de maturação neurobiológi ca ainda não diferencia o eu do nãoeu ou seja entre ele e o outro Assim sob nomes diferentes e com peque nas variações conceituais distintos autores modernos têm dado ênfase à situação em que o bebê constitui com a mãe uma día de fusional e indiscriminada Dessa forma MMAHLER 1975 denomina esse estado au tismo normal e de simbiose LACAN situao evolutivamente no estágio do espelho WIN VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 215 NICOTT igualmente destaca o estado de ilu são de onipotência em que o bebê num estado de real dependência absoluta tem a ilusão de ter absoluta independência Desse modo cabe à mãe com a coopera ção do pai não prolongar demasiadamen te esse apego simbiótico sob o risco de com prometer a evolução para aquilo que MAH LER denomina como uma etapa de diferen ciação a qual é desdobrada em duas sube tapas a da separação e a da individuação as quais abrem o caminho evolutivo nor mal até a etapa da construção de uma cons tância objetal Inércia princípio da FREUD Ver o verbete Nirvana Infidelidade conjugal tipo de vínculo Situação bastante freqüente e que tem me recido a atenção de muitos autores psica nalíticos EJONES descreveu a dependência narcisística da pessoa ciumenta em relação a seu cônjuge enfatizando o fato de que em pessoas deste tipo o intenso desejo de se apossar do outro tropeça na maior parte das vezes com um concomitante temor de que esse desejo se realize e assim ele tam bém ficaria engolfado e prisioneiro Esse temor provoca uma fuga inquieta de um objeto para outro Diz JONES a infidelida de conjugal tem mais do que se acredita uma origem neurótica Não é sinal de li berdade e potência senão o contrário Alguns autores apontam que certas pesso as buscam estabilidade mantendo uma re lação medianamente terna e escassamente sexual com ao legítimao esposao Po rém dada a impossibilidade estrutural de satisfazerse plenamente com o cônjuge desenvolvem a fantasia que pode ou não concretizarse de que uma terceira pessoa lhes traria a completa felicidade espiritual e sexual Para certos homens existe uma dis sociação da figura feminina entre uma san ta e uma puta decorrente de uma clivagem que fizeram da figura materna de sorte que se realizam com a esposa na obtenção de um lar familiar e necessitam de uma amante para completar uma plena liberdade sexual Muitas vezes se dá o paradoxo de que o vínculo ilegítimo torna possível a extensão no tempo da relação conjugal a ponto de existirem casos que uma vez dissolvida a relação de amasiamento se deteriora o matrimônio As variações do tipo de infidelidade são in finitas alguns homens desenvolvem um donjuanismo o equivalente na mulher consiste numa ninfomania outros buscam um desafogo na busca de prostitutas ou tros casais estão inconscientemente conlui ados na partilha com terceiros amantes como uma forma de resgatar uma perdida relação triangular ainda outros induzem a parceira a práticas sexuais perversas ou necessitam de uma amante para poder praticar atos sexuais perversos que o supe rego proíbe num casamento formal Assim não é raro certos homens inconsci entemente induzirem suas mulheres a esta belecer relações sexuais com algum homem particularmente excitante para um seu pos sível lado homossexual oculto Também não se pode descartar a possibilidade de que a infidelidade possa representar um passo para ingressar numa relação amorosa mais completa e sadia Inibição FREUD FREUD em Inibições sintomas e angústia 1926 afirma que se pode dar o nome de inibição a uma considerável limitação de uma função quando causada por fatores psíquicos FREUD considera que determina da função do ego fica inibida na mesma proporção que adquire uma significação sexual Ele exemplifica essa situação dizen do que quando a escrita que consiste em 216 DAVID E ZIMERMAN fazer correr um líquido numa folha de pa pel em branco adquiriu a significação sim bólica de coito ou quando a marcha se tor nou um substituto de calcar a mãe terra a escrita e a marcha são ambas abandona das porque voltariam a executar o ato se xual proibido Outras vezes um determinado sintoma neu rótico a evitação fóbica por exemplo pode adquirir um grau tão elevado que provoca outras inibições correlatas como para o tra balho convívio social etc Na atualidade dáse uma valorização bas tante mais expressiva às pulsões agressivas mal elaboradas como responsáveis por inú meras inibições Inibições sintomas e angústia FREUD 1926 Um dos mais importantes livros de FREUD compõese de dez partes além de adendas e apêndices As partes têm os seguintes títulos 1 As inibições refletem restrições às fun ções do ego 2 Os sintomas refletem con flitos intersistêmicos 3 Relação do ego quanto ao id e aos sintomas 4 A angús tia produz recalque aí FREUD compara as angústias do Pequeno Hans e a do Homem dos lobos 5 Outras defesas além do re calque 6 Anulação retroativa e isola mento 7 A angústia é sinal de perigosa clivagem 8 A angústia reproduz senti mentos de desamparo 9 Relação entre formação de sintomas e angústia 10 A repetição é conseqüência do recalque Apêndices A modificação de opiniões an teriores Comentários suplementares so bre a angústia Recalque e defesa Aden da Angústia sofrimento e luto Esse trabalho foi publicado em 1926 cons ta do volume XX da Standard Edition p107 e na Introdução do Editor afirma se que os tópicos que este livro aborda abrangem um vasto campo e há indicações de que FREUD encontrou uma dificuldade incomum para unificar o trabalho A des peito de importantes assuntos paralelos tais como as diferentes classes de resistências a distinção entre recalque e defesa bem como as relações existentes entre angústia sofrimento e luto o tema principal é o pro blema da angústia Este inclui os seguintes aspectos angústia sob a forma de transfor mação da libido angústia realista e neuró tica a situação traumática e a situações de perigo a angústia como um sinal a angús tia e o nascimento FREUD também faz sig nificativa referência ao livro de ORANK Trauma do nascimento 1924 Inscrição de memória ou traços ves tígios mnésicos FREUD Expressão de alta relevância na obra de FREUD porque designa as impressões mné sicas ou mnêmicas ou seja os traços de memória que acompanhavam importantes experiências sensoriais e emocionais e que de alguma forma ficaram como que impres sas gravadas no ego rudimentar Em FREUD o conceito de inscrição também traduzido por traço mnésico ou vestígio mnésico às vezes aparece como sinônimo de representação coisa termo originalmente grafado por ele como Objektvorstellung No entanto há uma diferença entre ambos porque mais do que uma simples inscri ção a representação reinveste e reaviva o traço mnésico Também é útil observar que o vocábulo mnésico o qual equivale à pa lavra memória deriva etimologicamente de Mnemósine uma deusa grega ligada à me mória Bulfinch T 1998 p15 O conceito de traços mnésicos aparece em muitos textos de FREUD como no Projeto de uma psicologia científica 1895 na Carta 52 da correspondência com Fliess no capítulo VII da Interpretação dos so nhos 1900 e no Estudos sobre a Histe ria 1895 onde Freud compara a organi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 217 zação da memória a arquivos complexos em que as recordações se arranjam de for mas distintas Segundo a concepção freudiana se não nos recordamos dos acontecimentos dos primei ros anos não é por uma falta de fixação mas devido ao recalcamento De um modo geral todas os acontecimentos de certa forma estão inscritos na mente dependen do da evocação das recordações da forma como são investidas desinvestidas e con trainvestidas Para esclarecer o conceito de inscrições FREUD utilizou uma analogia com o funcionamento do bloco mágico ver esse verbete As inscrições ficam representadas no ego e estão sujeitas ao fenômeno dos desloca mentos e das condensações no dizer de LACAN podem constituir uma rede de sig nificantes com mútuos deslizamentos As primitivas inscrições podem vir posterior mente a sofrer transcrições que no proces so analítico devem ser descodificadas Insight A morfologia dessa palavra composta dos étimos ingleses in dentro de sight visão dá uma clara idéia de que a conceituação de insight está diretamente ligada a alguma luz que o analisando venha a adquirir por meio de uma atividade interpretativa do analista A lenta e continuada elaboração dos insights parciais vão possibilitar a ob tenção de mudanças psíquicas objetivo maior de qualquer análise No entanto o termo insight não é unívoco pois permite várias significações de acordo com o destino que a interpretação do analis ta toma na sua mente Como forma esque mática é útil discriminar os seguintes tipos 1 Insight intelectivo Neste caso talvez não se justifique o uso do termo insight tendo em vista que enquanto intelectivo ele não só é inócuo como pode ser prejudicial em alguns casos Como é por exemplo a pos sibilidade de vir unicamente a reforçar o arsenal defensivo de pacientes que são marcadamente intelectualizadores como por exemplo os obsessivos ou narcisistas 2 Insight cognitivo Cognição não é o mes mo que intelectualização antes referese a uma clara tomada de conhecimento por parte do paciente de atitudes e caracterís ticas suas que até então estavam egossin tônicas podendo o insight cognitivo pro mover uma egodistonia e é essa que vai pro piciar o passo seguinte 3 Insight afetivo Podese dizer que aí co meça o insight propriamente dito tendo em vista que a cognição muito mais do que uma mera intelectualização passa a ser acompanhada por vivências afetivas tanto as atuais como as evocativas de experiên cias emocionais do passado assim possibi litando o estabelecimento de correlações e de novas significações entre ambas 4 Insight reflexivo Representa um impor tante e decisivo passo adiante Esse insight instituise a partir das inquietações que fo ram promovidas pelos insights afetivos que levam o analisando a refletir pensar a fazer se indagações e a estabelecer correlações en tre os paradoxos e as contradições de seus sentimentos pensamentos atitudes e valores entre o que diz o que faz e o que de fato é Assim esse insight é de natureza binocular ver esse verbete ou multifocal 5 Insight pragmático Vale a afirmativa de que uma bem sucedida elaboração dos in sights obtidos pelo paciente ou seja suas mudanças psíquicas devem necessariamen te ser traduzidas na praxis de sua vida real exterior e que ela esteja sob o controle do seu ego consciente com a respectiva assun ção da responsabilidade pelos seus atos Instância psíquica FREUD Expressão introduzida por FREUD em A in terpretação dos sonhos 1900 por com paração com o significado que ele tem nos 218 DAVID E ZIMERMAN tribunais ou com as autoridades que julgam as diversas fases de um processo Embora os termos instância e sistema apa reçam algumas vezes de forma algo indis tinta na obra de FREUD é evidente que ele estabeleceu uma diferença entre ambos assim a palavra sistema é mais empregada quando ele se refere às concepções perti nentes à teoria topográfica por exemplo sistemas PcCs Pcs e Ics enquanto ins tância termo que ele manteve até o fim de sua obra é mais utilizado para descre ver os aspectos referentes à segunda tópi ca essencialmente mais dinâmica isto é a teoria estrutural por exemplo as instânci as id ego e superego Instintos FREUD É necessário desfazer um equívoco que fre qüentemente aparece na literatura psicana lítica que consiste no emprego indistinto dos termos instintos e pulsões como se fos sem sinônimos ou equivalentes mas não o são Isso se deve ao fato de que as primei ras traduções dos textos de FREUD nota damente a mais divulgada delas a da Stan dard Edition realizada por Strachey não levaram em conta que FREUD utilizou as palavras Instinkt e Trieb no original alemão com significados bem distintos e delimita dos Assim de uns tempos para cá os autores estabeleceram a diferença significativa de que quando Freud empregava Instinkt es tava se referindo aos instintos biológicos que seguem um comportamento filogenético hereditário que quase não varia de um in divíduo para o outro e que é próprio das espécies do reino animal Quando Freud referiase a Trieb estava alu dindo a algo muito mais abrangente e ima nente proveniente das profundezas inatas do ser humano sob a forma de impulsões aquilo que agrilhoa e propulsiona Essas impulsões em grande parte são passíveis de modificação como evidenciam as pesqui sas contemporâneas que incluem outras variáveis como as noções de padrões de comportamento de mecanismos inatos de desencadeamento de estímulos sinais es pecíficos etc O termo Trieb na atualida de está sendo traduzido por drive no idio ma inglês e por pulsão no português ver esse verbete Impõese reiterar que o uso do termo ins tinto como equivalente ao original Trieb mais do que erro de tradução é um risco de promover uma confusão conceitual e desvirtuar a originalidade da concepção de FREUD Integração e nãointegração WINNICOTT WINNICOTT introduziu o conceito de que nos primeiros tempos do desenvolvimento emo cional devido à imaturidade neurobiológi ca a corporalidade do bebê consiste num estado de nãointegração isso é diferente de dissociação e de angústia de desintegra ção entre as diferentes partes do corpo e a mente A angústia que em situações futuras acom panha os estados de nãointegração foi definida por WINNICOTT como breackdown ou seja uma angústia catastrófica que às vezes ele denomina agonias impensáveis Em 1945 WINNICOTT publica o clássico De senvolvimento emocional primitivo no qual propõe que a maturação e o desenvolvi mento emocional da criança processase através das etapas de integração que leva a criança à obtenção de um esquema cor poral integrado que ele chama unidade psiquesoma de personalização definida como o sentimento que a pessoa adquire de que habita o seu próprio corpo e a eta pa de adaptação à realidade O termo integração também aparece fre qüentemente na obra de MKLEIN com sig nificado distinto do empregado por WINNICOTT Ela o utiliza para enfatizar uma das carac VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 219 terísticas mais importantes da posição de pressiva que justamente consiste na capa cidade do sujeito de conseguir integrar os aspectos que estão dissociados e projeta dos Um exemplo é a criança conseguir representar e se relacionar com a mãe como um objeto total a partir da integra ção dos aspectos parciais da mãe seio boa e má Intelectualização mecanismo de de fesa ANNA FREUD Em psicanálise esse termo costuma ser empregado com o significado de mecanis mo de defesa uma forma de resistência ao tratamento analítico que consiste no fato de o paciente priorizar o uso do pensamento e de elucubrações abstratas teóricas e filosófi cas no lugar de fazer um contato com os afe tos e com as suas fantasias inconscientes FREUD nunca empregou a expressão inte lectualização mas sua filha ANNA descreveu a importância e freqüência de surgimento desse processo defensivo A intelectualização é utilizada mais substan cialmente por pacientes obsessivos que assim controlam isolam e anulam os senti mentos e por pacientes narcisistas que mais se preocupam com o bien dire dizer bonito do que pelo vrai dire dizer as ver dades Três aspectos merecem ser mencionados relativamente à intelectualização 1 Existe um risco de se confundir um ade quado exercício que o paciente faz de pen sar as suas experiências emocionais como parte do seu processo de elaboração com o que tem o significado de intelectualiza ção como foi antes referido 2 Um exagerado menosprezo à intelectua lização pode induzir a uma valorização ex cessiva e única da vivência afetiva 3 É útil não confundir intelectualização com racionalização A primeira visa a manter os afetos à distância e neutralizá los enquanto a racionalização não impli ca a evitação sistemática dos afetos mas atribui a estes razões mais plausíveis com convincentes construções racionais tal como está expressa na conhecida fábula da Raposa e as Uvas Intensidade de uma reação psíquica Embora não conste da literatura psicanalí tica corrente a inclusão dessa expressão no presente Vocabulário se justifica pela freqüência com que se manifesta nas si tuações analíticas Intensidade é diferen te de quantidade Assim um sujeito pode reagir intensamen te diante de uma excitação quantitativamen te pequena ou sua reação emocional pode ser discreta ante um estímulo que objeti vamente é de grande quantidade As res pectivas respostas desproporcionais depen dem da área do psiquismo mais ou menos sensível que foi atingida pelo estímulo o que está diretamente ligado ao conceito que aparece no verbete investimento Uma metáfora pode clarear essa conceitu ação se pincelarmos uma grande quanti dade de tintura de iodo numa pele sadia o sujeito nada sentirá de dor no entanto se passarmos a mesma tintura de iodo mes mo em quantidade insignificante numa pele que está tomada por uma cicatriz ain da aberta de um ferimento é provável que ele possa urrar de dor Inter e intrarelação Os vínculos de relacionamentos processam se em três planos 1 Os intrasubjetivos ou intrapessoais que aludem aos elos de ligação que se proces sam no interior do psiquismo do sujeito como podem ser as relações tópicas do consciente com o préconsciente e o in consciente ou entre as instâncias do id ego superego ideal do ego etc ou ainda da 220 DAVID E ZIMERMAN parte infantil do indivíduo com a sua par te adulta da parte psicótica da personali dade com a parte não psicótica da perso nalidade etc 2 Os intersubjetivos ou interpessoais que conforme diz o prefixo inter significa en tre designa as distintas configurações vin culares que caracterizam os relacionamen tos entre indivíduos e grupos 3 Os transubjetivos ou transpessoais que adquirem uma dimensão que extrapola a dos indivíduos e designa mais especifica mente os relacionamentos no nível das na ções inseridas na aldeia global assim como também o que está contido de forma mais abstrata na cultura nas narrativas dos mi tos folclore Bíblia etc Interesses do ego FREUD As pulsões do ego ou pulsões de autocon servação como FREUD as denominava numa época em que ainda não tinha con cebido a teoria estrutural do psiquismo re presentavam para ele o conjunto de neces sidades e exigências ligadas às funções or gânicas indispensáveis à conservação de senvolvimento crescimento e aos autointe resses do ego Por essa última razão Freud também costumava referirse a essas pul sões do ego com a terminologia interesses do ego Etimologicamente a palavra interesse for mase a partir dos étimos latinos inter en tre est ser ou seja alude à convivência do sujeito com as outras pessoas de modo a proteger seu direito de ser existir portan to a serviço da pulsão de vida Internalização ou interiorização Ambos os termos aparecem indistintamen te nos textos psicanalíticos muitas vezes confundidos com o conceito de introjeção tal como pode ser evidenciado principal mente nos escritos kleinianos De forma mais estrita cabe definir a internalização como um processo pelo qual determinadas relações intersubjetivas são transformadas em relações intrasubjetivas tal como pode ser a interiorização de um conflito uma proi bição uma relação objetal etc De modo geral a introjeção está ligada a um objeto isolado bom ou mau parcial ou total que passa a habitar o interior do psi quismo do sujeito enquanto o vocábulo interiorização designa mais especificamen te a internalização de relações pessoais como pode ser exemplificado com a rela ção de autoridade entre pai e filho que pas sa a ser interiorizada como uma relação in trasubjetiva entre o superego com o ego Internalização transmutadora KOHUT KOHUT cunhou essa expressão destacando a sua especial importância na prática analí tica e conceituandoa como consistindo por parte do paciente na introjeção da figura do analista como pessoa e como modelo de função psicanalítica especialmente para os pacientes cujas falhas empáticas dos pais no início do seu desenvolvimento não ha viam possibilitado identificações satisfató rias nem com a mãe nem com o pai e tam pouco com substitutos destes Interpretação A palavra interpretação não é a tradução fiel ao termo original alemão empregado por FREUD que é Deutung cujo significado alude mais diretamente a um esclarecimen to a uma explicação FREUD também em prega especialmente o termo Bedeutung que se refere à descoberta de uma signifi cação Assim nos trabalhos de FREUD sobre técni ca psicanalítica interpretar aparece como uma forma de o analista explicar o signifi cado de um desejo pulsão inconsciente que surja através de sonhos lapsos atos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 221 falhos alguma resistência e na associação de idéias contidas no discurso do analisan do Surgida em A interpretação dos sonhos embora com uma conceituação ainda em brionária a interpretação adquiriu e man tém até a atualidade a condição de estar no centro da doutrina e da técnica psi canalítica Visto de um vértice contemporâneo o ter mo interpretação está bem adequado le vandose em conta que o prefixo inter de signa uma relação de vincularidade entre o analisando e o analista o que é muito dife rente daquela idéia clássica de que caberia ao paciente o papel de trazer seu material e ao psicanalista a tarefa única de descodi ficar e traduzilas para o analisando Em sua essência a interpretação é enten dida hoje como o resultado final da comu nicação entre as mensagens geralmente transferenciais emitidas pelo analisando e a repercussão contratransferencial que des pertam na mente do psicanalista em três tempos o de um acolhimento seguida de um de transformações em seu psiquismo e finalmente o de devolução sob a forma de formulações verbais Em relação à técnica psicanalítica propria mente dita a interpretação deve ser abor dada por muitos vértices alguns ainda po lêmicos como os que estão contidos no entendimento aplicação e confronto das seguintes dualidades conceituais da inter pretação que aqui não cabe esmiuçar a interpretação deve ser superficial eou pro funda do conteúdo eou das defesas atra vés da via di por ou da via di levare ver esses verbetes vale a inclusão de parâme tros deve ser efetivada pelo analista siste maticamente no aquiagoracomigocomo lá e então ou pode incluir a extratransfe rência e outros recursos cognitivos vale a utilização de metáforas e imagens visuais tem relevância a pessoa real do analista importa o estilo pessoal de o psicanalista interpretar a interpretação é a única via da análise que promove um êxito analítico ou seja o crescimento mental do analisan do ou existem outros fatores concomitan tes cabe distinguir interpretação em seu modelo clássico de atividade interpretati va como se forma a interpretação dentro da mente do analista quais são os elemen tos que constituem uma interpretação com pleta quais são as modalidades de inter pretação Comentário Em relação às duas últimas perguntas formuladas creio que seja útil propor as seguintes reflexões Em relação aos elementos constituintes de uma inter pretação cabe discriminar sete elementos essenciais na sua composição 1 O conteúdo 2 A forma muito particularmente o tom de voz do analista 3 A oportunidade isto é o timing 4 A finalidade para o quê o analista está interpretando 5 Para quem é dirigida a interpretação isto é para qual personagem que está dentro do paciente e que num dado momento está mais à tona 6 A significação que determinada lembran ça sentimento ou fantasia representa para o paciente assim como também a significação que ele empresta às palavras do analista 7 Finalmente um aspecto que pouco apa rece nos textos de técnica psicanalítica e que tem uma importância fundamental consis te no destino que a interpretação vai tomar dentro da mente do paciente As modalidades de interpretação podem ser discriminadas conforme sua finalidade nos 6 seguintes tipos 1 Compreensiva acima de tudo o pacien te sentiuse compreendido pelo analista 2 Integradora juntar os aspectos do paci ente dissociados dentro e fora dele 3 Instigadora instigar o analisando a sa ber pensar suas experiências emocionais 4 Disruptora tornar egodistônico o que está egossintônico no paciente como pode 222 DAVID E ZIMERMAN ser um sintoma um falso self uma ilusão narcisista etc 5 Nomeadora através de sua função a o analista dará nomes às experiências emo cionais primitivas representadas no sujeito ainda sem nome ou seja como um terror sem nome conforme diz BION 6 Reconstrutora uma espécie de costura de reconstrução dos sentimentos e signifi cados contidos nos fatos passados com os presentes Interpretação dos sonhos A FREUD 1900 A interpretação dos sonhos era considera da por FREUD seu trabalho mais importan te ao qual ele dedicou um interesse espe cial de sorte que as sucessivas reedições sofreram significativas transformações Essa obra é composta por sete capítulos e dois apêndices que na Standard Edition ocu pam os volumes IV e V da página 1 até a 668 na edição brasileira Os capítulos e apêndices respectivamente são intitulados e abordam os seguintes temas Capítulo I A literatura científica que tra ta dos problemas dos sonhos O material dos sonhos A memória nos sonhosOs estímulos e as fontes dos sonhosPor que nos esquecemos dos sonhos após o despertar O sentido moral nos sonhos Teorias do sonhar e sua função As re lações entre os sonhos e as doenças men tais Capítulo II O método de interpretar so nhos a análise de um sonho modelo Capítulo III Um sonho é a realização de um desejo Capítulo IV A deformação nos sonhos Capítulo V O material e as fontes dos so nhos A Material recente e indiferente B O material infantil como fonte dos so nhos C As fontes somáticas dos sonhos D Sonhos típicos Sonhos embaraçosos de estar despido Sonhos sobre a morte de pessoas queridas Outros sonhos típicos Sonhos de exame Capítulo VI A elaboração dos sonhos A O trabalho de condensação B O tra balho de deslocamento C Os meios de representação nos sonhos D Conside rações de representabilidade E Repre sentação nos sonhos por símbolos Alguns outros sonhos típicos F Alguns exemplos Cálculos e falas nos sonhos G Sonhos absurdos Atividade intelectual nos sonhos H Os afetos nos sonhos I Elaboração secundária Capítulo VII A psicologia dos processos oníricos A O esquecimento de sonhos B Regressão C Realização de desejos D O despertar pelos sonhos A função dos sonhos Sonhos de angústia E Os processos primário e secundário Recalque F O inconsciente e a consciência Reali dade Apêndice A Um sonho premonitório reali zado Apêndice B Lista de escritos de FREUD que tratam predominantemente ou em grande parte de sonhos Fora de qualquer dúvida todos autores consideram o Capítulo VII como o mais importante de todos Constituise um ver dadeiro clássico e além de fundar a Teoria Topográfica da mente também abre as portas para conceitos fundamentais da en campou essa proposição de FERENCZI e em metapsicologia como os fenômenos da re gressão recalcamento inconsciente proces sos primário e secundário etc que viriam a ser desenvolvidos mais profundamente em trabalhos posteriores Intervenção vincular conceito de técnica Expressão de emprego recente na prática analítica mas que vem sendo usada na prá tica clínica de forma crescente Alude às si tuações nas quais o analista acredita que seria benéfico estabelecer uma reunião VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 223 conjunta do seu paciente com algum fa miliar significativo ou até mesmo um gru po familiar Muitas vezes um encontro dessa natureza que consiste naquilo que a psicanálise de nomina como a introdução de um parâme tro ver esse verbete técnico Pode propor cionar uma experiência muito rica e pro veitosa para pacientes ainda dependentes e que sofrem um assédio hostil de quem lhes patrocina a análise Além disso espe cialmente favorece bastante o analista a perceber e sentir de forma mais plena o sério problema dos transtornos da comunicação que afetam os vínculos do seu paciente com as pessoas significativas de seu entorno Uma eventual intervenção vincular só deve acontecer de forma esporádica não siste mática e muito prolongada não devendo ser confundida com uma terapia de família ou algo análogo Também é fundamental que o analista tenha o controle da situação não saia do seu papel costumeiro e que te nha a segurança de que o setting anterior possa ser facilmente restabelecido Introjeção S FERENCZI FREUD S FERENCZI foi quem introduziu o termo in trojeção como uma simetria em direção contrária à da projeçãoa partir de seu tra balho Introjeção e transferência1909 com as seguintes palavras Enquanto o paranóico expulsa do seu ego as tendênci as que se tornaram desagradáveis o neu rótico procura a solução fazendo entrar no seu ego a maior parte possível do mundo exterior fazendo dele objeto de fantasias inconscientes Podemos pois dar a este pro cesso em contraste com a projeção o nome de introjeção FREUD encampou essa proposição de FE RENCZI e em seu trabalho Pulsões e desti nos das pulsões1915 ao se referir à oposi ção contida no princípio do prazerdesprazer afirma que o ego do prazer purificado constitui uma introjeção de tudo que é fon te de prazer e por uma projeção para fora de tudo o que é ocasião de desprazer FREUD evidenciou e destacou sobremodo o fenô meno da introjeção na determinação da melancolia e posteriormente o reconheceu como um processo mais geral e amplo Tanto em FREUD como nos textos de muitos outros autores seguidamente o conceito de introjeção aparece como sinônimo de in corporação mas cabe uma distinção entre ambos Embora a origem oralcanibalística seja a mesma a incorporação referese estritamente a alguma localização corporal enquanto introjeção é mais abrangente de modo que também alude ao interior do aparelho psíquico como a localização em alguma instância por exemplo O processo de introjeção está intimamente conectado com o da identificação o que foi destacado por ABRAHAM e sobretudo por M KLEIN que enfatizou o jogo das identifi cações projetivas e introjetivas especial mente de objetos parciais dissociados em bons e maus Introspecção Termo recuperado por KOHUT introspecção é por ele empregado para designar um con ceito equivalente ao de insight o que está de acordo com a sua etimologia ou seja intro dentro de spicere olhar o que de signa claramente que a introspecção se re fere a uma mirada meditativa de dentro e para dentro Introversão JUNG Termo introduzido por JUNG em 1910 para designar um desligamento da libido dos objetos do mundo externo e a sua retirada para o mundo interno do sujeito Esse con ceito foi largamente difundido e deu mar gem a estudos posteriores referentes às ti pologias pósjungueanas relativas à oposi 224 DAVID E ZIMERMAN ção entre os dois tipos de personalidades introvertidos e extrovertidos FREUD admitiu seu uso mas lhe conferiu um significado diferente do de JUNG conceben do que a introversão consistiria na retirada da libido para objetos ou produções imagi nárias e fantásticas de sorte que a introver são constitui um mecanismo de formação de sintomas neuróticos conseqüentes a se veras frustrações Assim enquanto Jung denominava a psi cose como neurose de introversão FREUD especialmente fundamentado em seu clás sico Sobre o narcisismo uma introdução 1914 designava a psicose como neurose narcisista Introvertido tipo caractereológico JUNG JUNG descreveu os tipos caractereológicos dentre os quais particularizou especialmen te os tipos introvertido os que usam pre dominantemente o mecanismo de introver são e os extrovertidos o oposto disso Intuição BION BION deu significação psicanalítica ao ter mo intuição concebendoo como a capa cidade necessária ao psicanalista para po der entrar em um profundo estado de sin tonia com o analisando Portanto a intui ção analítica não tem nada de transcenden tal como muitas vezes se pensa A etimologia da palavra intuição compos ta dos étimos latinos in dentro de tuere olhar denota que essa capacidade do ana lista de olhar para dentro consiste numa espécie de um terceiro olho que lhe permi te enxergar além daquilo que nossos órgãos dos sentidos captam Assim segundo BION a intuição é um elemento muito relevante na construção da interpretação surgindo quando a mente do analista não estiver sa turada pelo uso exclusivo da percepção sen sorial visão audição nem pela sua me mória ativa e tampouco pelos seus desejos e ânsia de compreensão imediata Aliás a favor do surgimento da intuição BION recomendava aos analistas que dei xassem livre a imaginação a fim de pro mover a sua imagememação Uma metá fora de BION esclarece melhor ele recomen da que o analista lance sobre a sua própria visão um facho de escuridão para que pos sa ver melhor Da mesma forma outra metáfora mencionada por AM REZENDE também esclarece que a visualização do analista fica aguçada quando ele não fica preso somente a sua visão concreta de modo que as estrelas ficam mais visíveis na escuridão da noite Invariante Bion Em seus importantes estudos sobre o fenô meno das Transformações 1965 BION uti liza a palavra invariante para designar o fato de que por mais profundas e aparentemen te irreconhecíveis que tenham sido as trans formações sempre restam vestígios origi nais imutáveis Uma analogia pode clarear melhor esse re levante conceito a água líquida um bloco de gelo e uma nuvem podem aparentar serem totalmente diferentes entre si mas esses três estados são transformações que conservam um mesmo invariante no caso H2O Assim cabe ao analista detectar os invariantes de sentimentos fantasias e an siedades que aparecem em meio às nar rativas as mais distorcidas e camufladas possíveis Inveja A etimologia da palavra inveja formada pelos étimos latinos in dentro de videre olhar indica claramente o quanto este sen timento alude a um olhar mau que entra dentro do outro Isso encontra confirmação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 225 nos conhecidos jargões do tipo mau olha do olho grande ou uma torcida que com o olhar seca o adversário etc Outra signi ficação etimológica possível decorre de quando o prefixo in designa uma negativa uma exclusão de modo que in videre significa que a inveja está a serviço do su jeito que fortemente fixado na posição nar cisista recusase a ver a reconhecer as di ferenças entre ele e o outro que possui as qualidades de que ele necessita e que inveja O sentimento de inveja é seguramente um dos fenômenos que mais tem merecido da literatura psicanalítica um minucioso e apro fundado estudo quanto às suas causas e conseqüências Uma revisão dos autores em relação ao estudo da inveja permite verifi car o quão importante múltipla e contro vertida é a sua conceituação tanto do pon to de vista da metapsicologia como da teo ria e a prática psicanalítica FREUD Os primeiros estudos com sistemati zação psicanalítica acerca do sentimento de inveja procederam dos ensaios de FREUD em relação ao seu clássico conceito de in veja do pênis ver o verbete MKLEIN Seus primeiros conceitos originais sobre o sentimento de inveja foram ditados juntamente com JOAN RIVIÈRE 1937 nos quais ela definiu as linhasmestras que viri am a consolidarse em seu importante tra balho Inveja e gratidão1957 Nesse ar tigo MKLEIN postula a sua polêmica con cepção de inveja primária como um deri vado direto da pulsão de morte Tratase portanto de uma pulsão inata a serviço da destrutividade e é a determinante da for mação de fantasias inconscientes com a respectiva formação da primitiva angústia de aniquilamento Para KLEIN o ataque invejoso por meio das identificações projetivas ao seio nutridor da mãe e ao corpo materno na fantasia da criancinha é um abrigo de tesouros como o pênis e os bebês e as respectivas rein trojeções configuram um duplo prejuízo qual seja o incremento de ansiedades pa ranóides com a ameaça de retaliação con tra o ego e as depressivas ataque aos objetos bons internalizados com o conse qüente sentimento de desvalia Muitos dos notáveis seguidores kleinianos prosseguiram na abordagem da inveja com algumas con cepções originais algo distintas das de M KLEIN PSICÓLOGOS DO EGO Em relação à gênese da inveja os analistas dessa escola norte americana de psicanálise constituem a cor rente frustracionista isto é eles conside ram a inveja como uma reação secundá ria de destrutividade e avidez como uma decorrência das frustrações impostas pela realidade exterior LACAN deixa transparecer em seus escritos que a inveja é um sentimento inerente à condição humana e que sem ser inata como preconiza MKLEIN formase muito precocemente à medida que vai desfazen dose o paraíso simbiótico e vai se instalan do a necessidade de depender de pessoas do ambiente exterior real Essa perspectiva é portanto essencial mente baseada no narcisismo original com as respectivas injúrias e feridas nar císicas A partir da diferenciação entre o eu e o outro o que leva ao reconheci mento da necessidade do outro surge a inveja que só pode existir quando exis tem dois elementos diferentes Inversa mente a inveja pode originar uma defe sa de regressão em nível fusional para que o ego ideal do sujeito não sinta a se paração e suas diferenças do outro Inveja do pênis FREUD FREUD empregou a expressão inveja do pê nis a primeira vez no trabalho Sobre as teorias sexuais da criança 1908 onde começa a esboçar a teoria de que na me nina a inveja do pênis se origina na sua descoberta da diferença anatômica entre os 226 DAVID E ZIMERMAN sexos de modo a sentirse lesada em rela ção ao menino e deseja possuir um pênis como ele Partindo da convicção de que a menina não tem conhecimento de que possui uma vagina FREUD concluiu que a ausência do pênis condiciona nela fantasias que são inerentes ao complexo de castração No decorrer do Édipo a evolução psicosse xual para a feminilidade implica uma mu dança de zona erógena do clitóris para a vagina e uma mudança de objeto da mãe para o pai A inveja do pênis somada ao complexo de castração e à passagem do apego préedí pico à mãe para o amor edipiano ao pai promove na menina as seguintes mudan ças em condições normais 1 Ressentimento com a mãe que não a proveu de um pênis 2 Depreciação da mãe a quem imagina ser uma pessoa castrada logo deficiente 3 Renúncia à atividade fálica ativa por meio da masturbação clitórica que cede lugar à uma predominante passividade 4 Estabelecimento de uma equivalência simbólica entre pênis e filhocriança de sor te que a menina desloca seu desejo de pos suir um pênis dentro de si pelo de ter um filho do papai FREUD também asseverou que os resquí cios da inveja do pênis na mulher adulta podem condicionar certos sintomas neu róticos ou permanecer no caráter sob a forma do complexo de masculinidade ou seja da assim chamada mulher fálica Na verdade mantevese fiel à essência de sua teoria acerca da inveja do pênis até o fi nal de sua imensa obra como pode ser evidenciado em Análise terminável e in terminável 1937 onde reitera sua des crença quanto à remoção na análise com mulheres dessa irreversível inveja que tal qual uma base de rocha comportase como uma resistência irreversível ao tra balho analítico Essa concepção falocêntrica de FREUD le vada ao extremo podese dizer que sua for mulação seria a de que mulher é um ho mem castrado vem sofrendo pesadas crí ticas e refutações sendo que hoje não en contra respaldo científico de modo que é considerada como um dos pontos mais frá geis de sua obra No entanto essa postulação de FREUD me rece uma revalidação a partir de um ponto de vista semântico em que o pênis seja um designativo do falo o qual por sua vez é um claro símbolo do poder Assim o con ceito de inveja do pênis como falo conti nua sendo muito importante desde que também seja extensivo aos próprios ho mens e que se leve em conta a importante participação dos valores da cultura vigente Inveja e gratidão M KLEIN 1957 Um dos mais importantes da obra de M KLEIN porquanto representa um marco que estabeleceu novo parâmetro teóricotécni co na psicanálise o qual tanto mereceu uma acolhida entusiástica por parte de muitos analistas como um rechaço de outros como foi o de WINNICOTT Já no prefácio MKLEIN afirma que Consi dero que a inveja sendo expressão oral sádica e analsádica de pulsões destrutivas opera desde o começo da vida e tem base constitucional Partindo dessa equivalên cia da inveja primária com a pulsão de morte KLEIN desenvolve as noções correla tas de surgimento de uma voracidade ten dência tanto ao denegrimento quanto à ide alização ansiedade persecutória a luta en tre as pulsões de vida contra as de morte e por conseguinte a ameaça de aniquilamen to de si mesmo e do objeto nutridor o sur gimento do sentimento de ciúme quando a relação fica triangular Tratase de um trabalho extenso que abar ca sete capítulos substanciosos com vinhe tas clínicas além de uma parte final dedi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 227 cada a Conclusões Além de fundamen tar sua concepção dos ataques invejosos que o bebê faz contra o seio alimentador da mãe que tem a posse daquilo que a crian ça necessita e não possui MKLEIN valoriza outros aspectos dos quais no mínimo cabe citar os quatro seguintes 1 Valorização dos fatores constitucionais que são diferentes de uma criança para outra 2 Valorização do ambiente real exterior principalmente a conduta da mãe 3 As culpas e conseqüentes ansiedades que assolam a criança devido aos ataques pro feridos contra o objeto ambivalentemente amado e odiado 4 A possibilidade de o indivíduo poder sen tir gratidão pela mesma pessoa que ele tan to pode ter atacado e mais poder vir a fa zer reparações verdadeiras Esse trabalho está publicado no volume III das Obras completas de Melanie Klein Investigação BION Na Grade de BION a Investigação ocupa a coluna 5 designando a utilização da fun ção de pensar no que se refere à capacida de de o sujeito investigar etimologicamen te esse verbo alude a ir atrás de vestígios aquilo que o paciente traz nas suas narrati vas na situação analítica Para tanto BION propõe o emprego de indagações tanto por parte do analista quanto do paciente O protótipo dessa coluna 5 está contido no mito de Édipo tanto por aludir à insistên cia com que este levou a cabo a sua inves tigação como pelo fato de que foi através da investigacão do mito edípico que FREUD extraiu a teoria psicanalítica Investimento catéxis FREUD A energia psíquica procedente das pulsões necessita estar ligada investida em algum objeto tanto externo como na sua repre sentação interna ou a um grupo de repre sentações como também no próprio corpo como no caso do autoerotismo ou a al guma parte do corpo numa forma de saci ar as necessidades básicas como a fome numa tentativa de reencontrar as experiên cias de satisfação Para descrever esse investimento específi co da energia mental FREUD empregou o termo original Besetzung Energie que nos primeiros tempos foi traduzido para o in glês como cathexis e para o português como catéxis ou catexia O verbo alemão beset zen significa ocupar guarnecer FREUD fazia a comparação com uma força militar de ocupação que pode ser dirigida para uma ou outra posição segundo as necessidades Na verdade na linguagem militar propri amente dita a palavra investimento an tes de ocupação alude mais a um assé dio de uma praça por exemplo enquan to na linguagem financeira referese à colocação de capital em algum negócio ou empresa Essa concepção de FREUD originalmente estava inspirada nos modelos energéticos da física dominante na época de modo que ela guarda um cunho de nítida natu reza econômica onde pesa sobretudo o aspecto quantitativo da demanda pulsio nal Por exemplo num estado psíquico como o luto o empobrecimento manifes to da vida de relações do sujeito tem sua explicação no fato de que está fazendo um superinvestimento de suas energias psíquicas no objeto perdido em detrimen to temporário de investimentos em outras áreas de sua pessoa e vida Hoje é incontestável que existe um interin fluencionamento entre a quantidade e a qualidade pulsional tanto a quantidade pode mudar a qualidade fenômeno que encon tra comprovação na Física como também a qualidade dos estímulos pulsionais ou do continente receptor deles pode modi ficar a intensidade da resposta aos referi dos estímulos ver o verbete intensidade 228 DAVID E ZIMERMAN IPA International Psychoanalytical Association Em 1908 em Salzburgo houve a primei ra grande reunião dos então chamados psicólogos freudianos com a participação de quarenta e duas pessoas procedentes de seis países ou seja dos Estados Uni dos e de cinco da Europa Dois anos de pois em 1910 em Nürenberg com a pre sença de sessenta psicanalistas sob a li derança de FREUD e FERENCZI decidiuse criar uma associação que viesse a con gregar os distintos grupos freudianos dis persos Por sugestão de FREUD temeroso de que a psicanálise fosse julgada uma ciência judaica a presidência da novel ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE foi confiada a JUNG que pouco tempo após renunciou e afastouse definitivamente do movimento freudiano Entre 1910 e 1925 essa associação não foi mais do que um organismo de coor denação dos diferentes grupos regionalis tas que gozavam de grande autonomia quanto aos critérios de formação de no vos psicanalistas Entre 1925 e 1933 essa situação mudou radicalmente ao ser ins taurada a obrigatoriedade da análise di dática e da supervisão oficial Para penei rar os analistas ditos selvagens a associ ação passou a ser centralizadora das nor mas e regras das análises de candidatos em formação Por volta de 1936 a quase totalidade dos psicanalistas europeus exilouse na Grã Bretanha o que propiciou uma hegemo nia ao idioma inglês de sorte que a par tir desse ano oficializouse o nome de IN TERNATIONAL PSYCHOANALYTICAL ASSOCIATION com a sigla IPA e com sede em Londres Entre 1933 e 1965 a IPA teve de enfren tar duas sérias crises uma a do advento do nazismo e a outra pelas acirradas batalhas entre os centros europeus e os norteamericanos em torno da questão da análise leiga Como resultado das suces sivas crises especialmente a partir dos anos sessenta a IPA deixou de ser a úni ca potência institucional do freudismo no mundo além de ter que competir com a enorme expansão das escolas de psicote rapia no mundo todo com orientações teóricotécnicas distintas A IPA nesse início de século XXI se man tém fiel à essência dos princípios freudia nos porém dentro dessa última condi ção admite em seu seio correntes que ma nifestem algumas divergências doutriná rias desde que essas correntes nãoorto doxas se comprometam a não transgre dir as regras técnicas de uma análise di dática Esta deve seguir uma padronização universal como a de que o número de ses sões semanais seja de quatro no momento algumas sociedades psicanalíticas como a francesa a uruguaia e a canadense já estão admitindo que sejam três a duração da ses são é fixada em torno de 50 minutos e o nú mero de supervisões não pode ser inferior a duas com um determinado tempo mínimo de duração Desde 1908 a IPA realiza congressos in ternacionais de dois em dois anos Até 1975 foram realizadas somente em cida des da Europa e a partir dessa data rea lizamse alternadamente no continente americano do norte e do sul e no conti nente europeu A freqüência média nos últimos congressos foi de mais de 3000 participantes dentre de um total de psi canalistas no mundo estimados em torno de mais de 10000 Nesse início de milênio a IPA conserva ba sicamente uma organização composta por quatro tipos de grupos de acordo com uma hierarquia funcional 1 Os grupos de estudos study groups 2 As sociedades provisórias provisional societies 3 As sociedadesmembro component so cieties VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 229 4 As associações regionais regional asso ciations Cada um desses grupos conta com uma série de subgrupos encarregados de tarefas específicas A IPA comporta três tipos de membros os titulares members os asso ciados associate members e os membros individuais direct associate members É necessário destacar a importância do mo vimento de integração das múltiplas socie dades dispersas pelo mundo todo que está sendo realizado a partir da instalação da Câmara de Delegados criada na gestão de JOSEPH SANDLER enriquecida na de HORÁCIO HETCHEGOYEN foi o primeiro presidente sul americano da IPA e consolidada na ges tão de OTTO KERNBERG Na atualidade sob a presidência de DANIEL WILDLÖCHER a IPA continua firmemente vol tada para o enfrentamento de uma séria crise representada pelas profundas mudan ças socioculturais e principalmente econô micas que assola o mundo todo com ine gáveis e diretas repercussões no exercício da psicanálise clássica Além desses fato res devese considerar os efeitos de uma desigual competição com métodos alter nativos de tratamento dos transtornos psi cológicos como dentre outros o da mo derna psicofarmacologia eficiente para certos casos e não mais do que uma mer cadora de ilusões para tantos outros ca sos de psicopatologia Assim ainda na gestão de KERNBERG foram criados novos comitês que sob a égide do Comitê Executivo estão encarregados de importantes tarefas prioritárias para enfrentar as diversas faces da atual crise como são os 1 Comitê de Psicanálise e Sociedade com o encargo de desenvolver estratégias para reforçar sua posição nos departamentos lo cais de psiquiatria e psicologia clínica nas ciências humanísticas no mundo acadêmi co em geral e ajudar as sociedades psica nalíticas a sair do seu isolamento relativo ao seu entorno social e cultural 2 Comitê de Conferências InterRegionais que visa a proporcionar aos membros da IPA a possibilidade de uma interação com os teóricos e clínicos líderes da comunida de psicanalítica internacional 3 Comitê Internacional de Grupos Novos destinado a reforçar o desenvolvimento de sociedades e grupos de estudos e a criar outros como está acontecendo em regiões como o Oriente Próximo e a China 4 Comitê sobre Educação Psicanalítica encarregado de zelar pelo controle de qua lidade quanto aos critérios e métodos de seleção e formação dos candidatos levan do em conta o risco de que a atual meto dologia embora comprovadamente eficien te evidencia um sério risco de induzir a uma persistente infantilização dos candidatos Esse comitê está reavaliando a freqüência mínima de sessões da análise didática e também a das supervisões 5 Comitê de Ética o nome diz tudo 6 Comitê de Psicanálise e Terapias Afins que visa basicamente a adequar as relações entre a psicanálise e a psicoterapia analíti ca especialmente quanto à propriedade de ensinar psicoterapia nos institutos das res pectivas sociedades de psicanálise 7 Comitê de Investigação KERNBERG enal tece a importância de continuar investin do nessa área reconhece que muitos re nomados analistas estão contra os custos e a metodologia das atuais investigações ele advoga uma colaboração autêntica entre teóricos clínicos e investigadores psi canalíticos hermeneutas empíricos e apli cados 8 Comitê de Orçamento e Finanças que está reavaliando o delicado problema de capta ção e aplicação de recursos financeiros Irmãos papel dos A literatura psicanalítica de modo geral não costuma valorizar o complexo frater no isto é a influência recíproca entre os 230 DAVID E ZIMERMAN irmãos e as conseqüentes marcas psíqui cas que ficam no psiquismo de ambos No entanto essa interação é de significativa importância na estruturação dos indiví duos e do grupo familiar Podese dizer que os irmãos funcionam como objetos de um duplo investimento 1 O que diz respeito às conhecidas reações ambivalentes de amor e amizade mescla das com sentimentos de inveja ciúme ri validade etc 2 Um defensivo deslocamento nos ir mãos de pulsões libidinosas ou agressi vas que primariamente seriam dirigidas aos pais Assim é comum observar situações nas quais os irmãos criam camufladas brin cadeiras eróticas entre si ou quando um irmão tornase um zeloso e enciumado de sua irmã mais velha ou quando adota uma postura maternal em relação a um irmão ou irmã mais moço ou na situa ção em que se manifesta uma acentuada regressão a níveis de necessidades que estão sendo gratificadas pela mãe para um irmãozinho caçula ou doente e assim por diante Por outro lado não é raro observar que a um irmão é dado às vezes desde o nasci mento o papel de substituir outro já fale cido ou abortado de quem deve herdar tudo o que os pais esperavam do filho perdido como por exemplo nome gê nero sexual expectativas etc Da mesma forma podese observar o fato de que um dentre os irmãos desempenha junto a outro o papel de duplo assim complemen tando para este irmão e viceversa tudo o que o outro não consegue fazer ou ter como é o caso da diferença dos sexos por exemplo Outra situação bastante comum é a encon trada nos indivíduos que se sabotam ou se deprimem diante de seus sucessos na vida adulta nos casos em que tenham tido ir mãos precocemente falecidos ou com séri as limitações orgânicas e psíquicas ou mal sucedidos de uma forma geral Essa autosabotagem devese 1 A culpas inconscientes por terem concre tizado o triunfo numa velha e acirrada com petição com os irmãos 2 Ao fato de que para não humilhar e fa zer sofrer aqueles que não conseguiram acompanhar seu sucesso o sujeito através de um movimento inconsciente de solida riedade faça uma identificação com a víti ma ver esse verbete de forma a boico tar seu próprio crescimento enquanto não conseguir fazer uma reparação de seus imaginários danos e culpas Geralmente é impossível esperar que os demais irmãos eou os pais acompanhem o seu suces so para ele se sentir no direito de prosse guir no seu São muitos os mitos bíblicos que referem diretamente aos conflitos entre irmãos entre outros os de Caim e Abel de Esaú e Jacó de José e seus irmãos Todos consti tuem rico manancial para o entendimento da importância da patologia entre irmãos dentro do contexto do grupo familiar Isolamento FREUD Mecanismo de defesa descrito por FREUD que consiste fundamentalmente em isolar um pensamento do outro ou um compor tamento de outro ou isolar o afeto do pen samento e situações afins Principalmente em Inibições sintomas e angústia 1926 FREUD descreve o isola mento como um mecanismo típico da neurose obsessiva Ele assinala que o pa ciente obsessivo para defenderse contra uma idéia um sentimento uma ação costuma lançar mão de um procedimen to de natureza mágica que consiste em fazer outro movimento como uma pausa durante a qual nada mais tem direito a produzirse nada é percebido nenhuma ação é realizada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 231 Para ilustrar como um movimento preten de magicamente anular outro movimento ou pensamento cabe citar aquela situação bastante comum do sujeito preconceituoso que bate por três vezes num móvel com a articulação das falanges da mão ao mesmo tempo que exclama isola ante o imaginário risco de um azar ou coisa equivalente O pro cedimento de isolamento segundo FREUD guarda um efeito comparável ao que a re pressão representa para a histeria O isolamento freqüentemente remete à fo bia do toque constituindo como escreve FREUD uma supressão da possibilidade de contato um meio de subtrair uma coi sa ao contato do mesmo modo quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por uma pausa dános simbo licamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhe dizem res peito entrem em contato associativo com outros FINISHED VEHICLE COLOUR SYSTEMS Jacobson Edith Renomada médica e psicanalista pertencen te à escola da Psicologia do Ego nasceu em 1897 na Alta Silésia Em 1933 come çou a lutar clandestinamente contra o na zismo até ser detida pela Gestapo em 1935 Acusada de alta traição foi condenada a dois anos e meio de prisão Aproveitando uma permissão para submeterse a uma ci rurgia fugiu para Praga de onde foi para os Estados Unidos integrandose ao grupo psicanalítico de Nova York E JACOBSON fez importantes contribuições principalmente para a psicanálise norte americana acerca das primitivas relações objetais tomando como base seus estudos centrados nas depressões e em estados bor derline Faleceu em 1978 e as suas contri buições mais originais à psicanálise estão contidas no livro O self e o mundo objetal 1954 onde ela enfoca entre outros o conceito de self psicofisiológico Podese dizer que as concepções de EJACOBSON acerca do desenvolvimento emocional primitivo conseguiram aproxi mar um pouco os Psicólogos do Ego da psicanálise kleiniana aproximação essa que veio a ser reforçada com as contribuições de O KERNBERG Jogo da espátula Modalidade de jogo que WINNICOTT utiliza va com crianças que aparece descrita no verbete Espátula Jogo dos rabiscos WINNICOTT introduziu o jogo dos rabiscos squiggle game em inglês para proceder a uma consulta terapêutica com crianças Geralmente era realizado na entrevista ini cial como forma básica de estabelecer uma comunicação mais livre O jogo começava com um rabisco feito por WINNICOTT sobre um pedaço de papel em branco A criança era estimulada a partir desse rabisco ini cial a fazer o seu Seguiase novo traço do terapeuta e assim sucessivamente Era mui to comum que daí resultassem desenhos No curso de uma sessão a dupla produzia uma média de 30 desenhos WINNICOTT ressaltava que o método visava a três finalidades básicas a de um instrumento diagnóstico a de facilitar a comunicação in teracional e a de funcionar como um recurso terapêutico Nesse último caso ele conferia a essa produção de linguagem gráfica o mes mo valor que os sonhos representam como uma via de acesso ao inconsciente J 234 DAVID E ZIMERMAN Na psicanálise contemporânea o jogo do rabisco adquiriu um significado muito es pecial porquanto traduz o modelo de como deve decorrer uma análise vincular ou seja a recíproca influência que se processa con tinuamente entre analista e analisando Jones Ernest muitas complicações na sua vida amorosa a ponto de sofrer hostilidade por parte das ligas puritanas da época além de ser consi derado pelos seus colegas uma pessoa de comportamento ambíguo Assim embora posteriormente absolvido chegou a ser acusado de ter colaborado com o inimigo durante a I Guerra Mundial Também mostrou posição vacilante em re lação ao problema da aceitação ou não da análise por leigos e mostrou ser uma pes soa radical na sua hostilidade contra ana listas que fossem da esquerda política ou homossexuais JONES também sofre pesadas críticas quan to ao fato de que teria sido deliberadamen te injusto com ORANK WREICH e FERENCZI nas apreciações pejorativas que deles fez na sua A Vida e a obra de Sigmund Freud Em relação a FERENCZi em 1913 a conselho de FREUD JONES passou dois meses em Buda peste fazendo uma análise didática com FERENCZI a qual redundou numa confusão transferencial que teria sido a causa dos ataques invejosos por parte de JONES Aliás FREUD também mostrava sentimentos ambivalentes em relação a JONES Tanto sentia gratidão pelo muito que ele fez par ticularmente por sua pessoa e pela causa da psicanálise freudiana em geral quanto não gostava de JONES Isso pode ser evidenciado em especial em duas situações que envolviam sua filha ANNA Uma referese à tentativa de JONES de envolvêla amorosamente o que mere ceu uma dura intervenção de oposição de FREUD como atestam cartas dirigidas para ANNA e para JONES O romance foi interrom pido no seu início não obstante os protes tos de JONES que numa carta enviada a ANNA quase 50 anos após ter declarado que Eu a achei e ainda acho muito atraente e de qualquer forma sempre amei você e de uma maneira bastante honrosa O segundo episódio foi a ajuda que em 1926 JONES deu a MKLEIN facilitando a Nascido no País de Gales em 1879 único filho de um engenheiro de minas extrema mente autoritário JONES veio a formarse em medicina inicialmente na especialida de de neurologia Depois a convite de JUNG trabalhou no Hospital Burghölzli dirigido por EBLEULER e finalmente conheceu FREUD no congresso da IPA realizado em Salzburg em 1908 tornandose a partir de então devotado à causa freudiana JONES é considerado uma pessoa muito con traditória na sua vida pessoal e na sua par ticipação no mundo da psicanálise alter nando aspectos bastante criticáveis com outros altamente positivos Entre os critica dos negativamente podem ser apontados era uma personalidade muito difícil com VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 235 definitiva instalação dela em Londres e a aceitação dos seus métodos teóricos e téc nicos em relação à análise com crianças fato que irritou profundamente ANNA FREUD saiu em defesa de sua filha provocando uma áspera troca de correspondência en tre os dois Dentre os aspectos considerados positivos todos reconhecem que JONES foi um impor tante divulgador do movimento psicanalíti co além das suas fronteiras habituais As sim ele passou cinco anos em Toronto tam bém aí ele sofreu acusações relativas à sua sexualidade onde lecionou psiquiatria e di vulgou a psicanálise freudiana no Canadá e nos Estados Unidos tendo criado a Ameri can Psychoanalytical Association APsaA Retornou a Londres em 1913 onde criou o Comitê Secreto que reuniu alguns pio neiros analistas que se comprometeram a uma total lealdade e defesa de FREUD Em 1919 fundou a Sociedade Britânica de Psi canálise e no ano seguinte criou o Inter national Journal of PsychoAnalysis Foi pre sidente da IPA durante dois períodos de 1920 a 1924 e o de longa duração de 1934 1949 tendose revelado um excelente po lítico e negociador durante as Grandes Controvérsias ocorridas no seio da Socie dade britânica No plano científico JONES dedicouse a trabalhos sobre o sonho as lendas o sim bolismo e a arte tendo promovido impor tantes debates sobre antropologia e so bre a sexualidade feminina No entanto sua grande contribuição à psicanálise con siste no seu clássico A vida e a obra de Sigmund Freud editado em três volumes Essa obra foi escrita no período de 1953 a 1958 e exigiu um enorme esforço de seu autor não só porque teve delicados problemas de saúde nesse ínterim dois episódios de crise coronariana e uma ci rurgia de retirada de um tumor vesical como também pela necessidade de con sultar uma quantidade impressionante de documentos só das cartas relativas a FREUD ele teve acesso a mais de 5000 Esse livro já traduzido para o mundo in teiro é considerado como o ponto de partida para todos os trabalhos posterio res da história da psicanálise JONES faleceu em 1958 e suas cinzas foram depositadas no crematório de Goldens Gre en próximas às de FREUD Jung Carl Gustav Nascido em 1875 em uma cidade próxima a Zurique descendente de uma longa linha gem de pastores protestantes suíços JUNG veio a tornarse médico exercendo a psiqui atria na Burghölzli hospital da universidade como assistente de BLEULER que lhe apre sentou os incipientes trabalhos de FREUD JUNG possuidor de uma notável inteligên cia e espírito de curiosidade conheceu FREUD em Viena em 1907 de quem se tor nou importante discípulo Ambos mantive ram uma forte ligação chegaram a trocar quase 400 cartas entre si até 1913 ano em que romperam definitivamente de forma beligerante 236 DAVID E ZIMERMAN FREUD mostrouse particularmente entusias mado com o Teste da associação verbal que JUNG juntamente com colegas da Es cola de Zurique criaram e desenvolveram a partir de 1906 com a finalidade de detec tar os complexos O teste consistia em pro nunciar para um sujeito uma série de pala vras especialmente escolhidas pedindolhe que respondesse ao estímulo verbal com a primeira palavra que lhe viesse à mente ao mesmo tempo que mediam o seu tempo de reação Já em 1908 JUNG participou do primeiro congresso internacional em Salzburg No ano seguinte juntamente com FRERENCZI acompanhou FREUD em sua viagem de cin co conferências aos Estados Unidos de onde JUNG voltou sozinho em 1912 obten do um expressivo sucesso Em 1910 no congresso de Nürenberg por desejo de FREUD foi eleito o primeiro presidente da IPA Aliás FREUD dispensava atenções es peciais a JUNG a ponto de considerálo como o delfim da psicanálise principalmen te em razão de assim afastar o risco de o movimento psicanalítico correr o risco de ser acusado de ser uma ciência judaica e um gueto de psicanalistas judeus Na verdade CARL JUNG tinha bases científi cas muito diferentes das de Freud e da maio ria de seus discípulos dos quais se distin guia mercê de sua experiência muito mais ampla com psicóticos e seu vasto conheci mento de mitos simbolismo literatura e filosofia de muitas culturas Ele nunca acei tara por completo a teoria sexual de FREUD mas durante muitos anos não houve con trovérsias abertas sobre o assunto Pelo con trário as observações de JUNG progrediam paralelamente às de FREUD Em suas con cepções nunca usou a teoria sexual mas ao mesmo tempo não a contradizia osten sivamente Não obstante FREUD pressentisse que JUNG nutria sentimentos antisemitas o que veio a confirmarse no futuro em nome da cau sa da psicanálise determinouse a apazi guar os judeus e os antisemitas tal como transparece nesse trecho de uma carta diri gida a ABRAHAM em 1908 Presumo que o antisemitismo contido dos suíços se refe re um pouco a você Nós devemos como judeus admitir um certo maso quismo estar dispostos a que nos prejudi quem um pouco Decorrido algum tempo JUNG deu claras mostras de que discordava da concepção freudiana da sexualidade infantil do com plexo de Édipo e da libido e que a sua aproximação íntima com FREUD foi mais devida à admiração que ele votava pelo carisma pessoal e pela coragem demons trada por FREUD no seu enfrentamento à ortodoxia dos médicos e da medicina da época O rompimento entre eles começou a tomar uma forma definida e irreversí vel a partir da publicação de JUNG Meta morfoses da alma e seus símbolos livro que teve muitas reedições e onde discor dava totalmente da teoria da libido con cebendoa não mais como unicamente de origem sexual mas sim como a expres são psíquica de uma energia vital A partir de 1914 JUNG afastouse totalmente das funções diretivas junto à IPA e do movi mento freudiano vindo a fundar o movimen to Psicologia Analítica nome que escolheu para definir que o psiquismo não tinha ne nhum substrato biológico pulsional Em 1958 JUNG juntamente com demais praticantes de seu método fundou a Sociedade Internacio nal de Psicologia Analítica Dentre as concepções de JUNG as seguin tes costumam ser destacadas 1 Trouxe para o primeiro plano o exame da importância da mãe realçando assim uma influência na vida da criança anteri or ao complexo de Édipo 2 Em virtude de sua ênfase no papel da mãe sublinhou a regressão como um im portante anseio neurótico de um retorno à mãe primitiva VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 237 3 Promoveu uma interpretação dos sím bolos bem mais extensa do que a de FREUD e contradizendoo afirmou que em vez de concluirmos que todos os símbolos têm um significado sexual de vemos aceitar que o próprio sexo é al gumas vezes usado como símbolo de qualquer outra coisa 4 Em A psicologia do inconsciente JUNG sugeriu que a libido sexual era apenas uma forma de libido primordial por ele definida como sinônimo de energia indi ferenciada e indo mais além negou que a sexualidade fosse um fator importante na primeira infância 5 Em termos do objetivo da análise pôs em dúvida se a recordação do passado e a explicação da presente situação com base no passado seria um método adequado Acreditava que deveria haver além disso algum planejamento construtivo do futuro da vida do paciente 6 Introduziu através do modelo dos arqué tipos a noção de inconsciente coletivo a qual foi parcialmente utilizada por FREUD na sua teoria da evolução da sociedade a par tir da horda primitiva JUNG considerava que o inconsciente coletivo contém tendências superiores às do indivíduo e se as asso ciações do indivíduo forem levadas mais além atingirseá finalmente o significado inconsciente coletivo 7 Gradativamente o pensamento de JUNG tornavase mais místico Ele postulou na sua teoria dos arquétipos formulada em 1919 que sempre existe um lado feminino recalcado do homem por ele denominado anima e um lado masculino recalcado da mulher deno minado animus e que o objetivo da terapia analítica seria a de integrar ambos os lados de forma equilibrada 8 Postulou uma teoria de tipos caractereo lógicos sendo os dois principais tipos de caráter o extrovertido e o introvertido As maiores críticas a JUNG de modo gené rico são três 1 Ele tendia a afastar o paciente da reali dade substituindoa por uma vida de fan tasia mística e semireligiosa 2 O método de Jung faria uma verdadeira doutrinação do paciente 3 Como fundamentou suas hipóteses dou trinárias sobre uma tipologia psicológica foi inevitável que seu discurso assumisse tons racistas e antisemitas de sorte que embo ra nunca tenha se engajado como militante racista sua doutrina foi utilizada pela polí tica de nazificação da psicoterapia alemã Seus adversários tratavamno como cola boracionista do nazismo conforme consta no Dicionário de Psicanálise de E ROUDI NESCO 1998 p 424 CARL GUSTAV JUNG faleceu em junho de 1961 Order Advice 1 ELECTRICAL Every vehicle is supplied with a colour coding label indicating the main vehicle colours used in the particular vehicle Colour codes given apply to vehicles on actual production see options page 13 for special colours and colours for economy versions The colour codes must be used in all order confirmations for body colour paint and moulded plastic parts in all spare parts orders and in service manuals Before ordering repairs or replacement parts always check the colour code on the vehicle label or on the spare parts order form to make sure that the colour code has been stated correctly in the order The control number on the colour label should be stated to ensure that the parts are painted in the correct colour Paint parts except for touchup further up in the paint process and moulded plastic parts can be ordered in one of three quality classes Full paint Touchup Spray repair and Repair Colour codes for basic or special colours in current production Paint Class R Repair T Touchup and spray repair service paint sometimes also for body repair paint F Full paint higher quality paint than R and T are standard paint parts Body colourcolour codes Options metallic colours special colours plastics Changes often occur with colour codes during product life which means that the codes in the catalogue could be out of date For uptodate colour codes see the current spare parts catalogue and if necessary contact responsible staff at spare parts or quality control The price group for colours and plastic parts is given in the order form and on the spare parts order form eg price group 1 Price group 2 Price groups are determined by the price of the part in the paint or plastic quality concerned and are dependent on colour Paint parts with metallic effect are in price group 2 or 3 Plastic parts are in price group 1 or 2 Colours are normally given in the colour code list for basic colours The order form states the price group in the price Bidirectional arrows denote options that can also be combined K e K BION BION utiliza essa letra inicial da palavra in glesa knowledge ou seja conhecimento na tradução portuguesa para designar uma forma de vínculo tanto positiva que signi fica a atitude do sujeito de querer conhecer as verdades ou de uma negativa em cujo caso a grafia é K e sinaliza uma forma de negação e ataque às verdades intoleráveis Em muitos textos traduzidos para o português ou espanhol no lugar da letra K aparecem as letras C de conhecimento ou S de saber Ver o verbete vínculo Kernberg Otto Nascido em Viena Áustria em 1928 KER NBERG estudou medicina na Universidade de Santiago do Chile onde se especializou em psiquiatria de fundamentação clássica Trabalhou como residente de 1954 a 1957 chegando a atingir a condição de professor assistente do departamento de psiquiatria daquela Universidade que era então dirigida pelo notável psicanalista IGNÁCIO MATTE BLANCO assim vindo aos poucos a se interessar pelo campo das psicoterapias O encontro com MATTE BLANCO foi marcan te na carreira psicanalítica de KERNBERG pois o influenciou a ingressar na Sociedade Chi lena de Psicanálise de cujo Instituto MATTE BLANCO foi o criador Inicialmente a forma ção psicanalítica de KERNBERG estava forte mente fundamentada na Psicologia do Ego porém gradativamente ele foi adotando uma linha kleiniana Em 1959 com uma bolsa da Fundação Ro ckfeller KERNBERG viajou para os Estados Unidos com o propósito de fazer investiga ções sobre psicoterapias no John Hopkins Hospital em Baltimore onde empolgouse particularmente com a prática da psicote rapia com pacientes esquizofrênicos KERN BERG permaneceu algum tempo em Wa shington onde conheceu muitos psicana listas importantes da época e recebeu uma K 240 DAVID E ZIMERMAN expressiva influência das concepções de SULLIVAN centradas nos interrelacionamen tos pessoais até ser convidado pela Fun dação Menninger para participar de um gru po de investigações sobre psicoterapias KERNBERG é o renomado autor de um sem número de artigos e de diversos livros de psicanálise nos quais aborda temas poli formes principalmente referentes aos trans tornos narcisistas da personalidade e a as suntos que dizem respeito diretamente à formação de psicanalistas Exerceu a presidência da IPA no período de 19992000 Sua gestão caracterizouse por atitudes corajosas e medidas inovado ras para fazer com que a psicanálise acom panhe as profundas modificações que o mundo vem sofrendo em todos os campos Dentre sua extensa obra vale destacar A teo ria das relações objetais e a psicanálise 1979 Desórdenes fronterizos y narcisismo patológi co 1979 Trastornos graves de la personali dad Estrategias psicoterapéuticas1987 Mundo interior e realidade exterior1989 Klein Melanie Considerada um dos três gênios que a psi canálise já produziu MKLEIN nasceu em Viena em 1882 em uma família judia po bre como quarta filha de um pai que então já tinha mais de 50 anos e de uma mãe com quem ela viria a ter sérios atritos Seu pai era médico um judeu polonês ortodo xo que a exemplo do pai de FREUD tam bém era um estudioso do Talmude A mãe de Melanie chamada Libussa era uma judia de origem eslovaca de família cul ta e erudita e embora ela fosse uma pes soa difícil e muito intrujona era uma mulher bonita e corajosa tendo aberto uma loja para ajudar no provento da fa mília MKLEIN sofreu uma sucessão de severas e traumáticas perdas ao longo da vida Quan do tinha 5 anos falece sua irmã Sidonie que lhe ensinava aritmética e sempre foi carinhosamente lembrada por MELANIE Chegou a tomar a decisão de vir a ser mé dica talvez influenciada pela vontade de ajudar seu irmão Emmanuel que sofria de uma grave cardiopatia Porém ao comple tar 17 anos tendo em vista seu projeto de casamento desistiu do curso prémédico que começara e estudou Arte e História em Viena Quando tinha 20 anos morre com 25 anos seu irmão Emmanuel que era pianista e dedicavase às artes Foi sob a influência desse irmão que MELANIE desenvolveu ver dadeira paixão por literatura e música Com 21 anos casouse com Artur Klein um quí mico com quem teve três filhos e de quem veio a separarse Em 1934 morre o seu filho Hans vitimado por um acidente de alpinismo Outra perda importante foi a de uma ruptura pública que se manteve até o fim da vida com sua filha Mellita que estimulada por seu analis ta Glover um assumido inimigo de MKLEIN moveu ataques violentos contra a mãe as sim repetindo a história que MELANIE tivera com sua mãe VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 241 Quando residia em Budapeste MKLEIN teve um primeiro contato com a psicanálise pela leitura de um texto de SFREUD com o qual se sentira identificada e ficara impressionada Daí por diante nunca abandonou sua devoção por FREUD com quem jamais conseguiu ter um contato direto porque ele a evitava devido às querelas entre KLEIN e sua filha ANNA Ainda na Hungria MELANIE passou a fazer análise com FERENCZI interrompida devido aos incidentes decorrentes da I Grande Guerra Mundial No entanto entusiasma da pela obra de FREUD e incentivada por FERENCZI ela inicia em 1916 sua carreira de psicanalista de crianças numa policlíni ca de Budapeste Em 1919 ela escreve O desenvolvimento de uma criança que lhe serviu como o tra balho que a titulou como membro da So ciedade Psicanalítica da Hungria Em 1920 KLEIN conhece KABRAHAM que impressionado com seu talento convidaa para residir em Berlim onde ela fez análise com ele no período de 1924 a 1925 e que foi interrompida devido ao inesperado fa lecimento de ABRAHAM Nesse ano de 1925 ela aceita um convite DE EJONES ela veio a ser a analista de um filho e de uma filha dele para pronunciar algumas conferênci as em Londres Causou tal impacto e entu siasmo entre muitos dos psicanalistas britâ nicos que acabou aí fixando residência definitiva e onde trabalhou em psicanálise pelo resto da vida organizando em torno de si uma verdadeira escola de psicanálise Com a chegada de ANNA FREUD a Londres são desencadeadas divergências em torno da análise com crianças estabelecendose um clima de intensa rivalidade entre am bas Essa animosidade estendeuse aos res pectivos grupos de seguidores annafreudi anos e kleinianos e acabou por se consti tuir nas famosas Grandes Controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanálise Uma resenha de seus principais escritos per mite fazer os destaques que seguem Em seu artigo Os princípios psicológicos da análise infantil de 1926 MKLEIN expôs pela primeira vez de forma sistemática suas concepções sobre os brinquedos como ins trumentos de análise postulando uma ana logia entre brinquedo e sonho Brincando a criança expressaria de forma simbólica suas fantasias inconscientes Em 1930 aparece o trabalho Notas sobre a formação de símbolos no qual ela ins pirase na análise do paciente Dick filho de um psicanalista colega de KLEIN Era uma criança que tinha sérios transtornos de aprendizagem e de relacionamento decor rentes de suas fantasias de um ataque sádi co contra o corpo da mãe Em 1932 MKLEIN reúne seus historiais clí nicos com crianças Erna Rita e numa síntese dos mesmos ela publica Psicanálise das crianças No ano de 1934 aparece Psi cogênese dos estados maníacodepressivos onde pela primeira vez é concebida a no ção de posição depressiva Em 1946 ela publica Notas sobre alguns mecanismos esquizóides onde também pela primeira vez aparecem as medulares concepções de posição esquizoparanóide e o fenômeno hoje universalmente aceito de identificação projetiva Outros três livros importantes são Contri buições à psicanálise 1948 que reúne ar tigos escritos desde 1921 Desenvolvimen tos em psicanálise 1952 e Novos desen volvimentos em psicanálise 1955 no qual aparece o importante artigo Sobre a iden tificação Nos dois últimos livros mencio nados constam inúmeras colaborações de outros autores seguidores de sua ideologia psicanalítica Outros trabalhos de especial relevância na obra de MKLEIN são Inveja e gratidão 1957 Sobre o sentimento de so lidão 1959 e Narrativa de uma análise infantil 1961 Sem levar em conta a ordem cronológica de aparecimento podese dizer que ela foi pioneira nas seguintes concepções originais 242 DAVID E ZIMERMAN 1 Criou uma técnica própria de psicanáli se com crianças e introduziu o entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos 2 Postulou a existência de um inato ego rudimentar já no recémnascido 3 A pulsão de morte também é inata e pre sente desde o início da vida sob a forma de ataques invejosos e sádicodestrutivos con tra o seio alimentador da mãe 4 Essas pulsões de morte agindo dentro da mente promovem uma terrível angús tia de aniquilamento 5 Para contraarrestar tais angústias terrí veis o incipiente ego do bebê lança mão de mecanismos de defesa primitivos como são a negação onipotente dissociação identificação projetiva identificação intro jetiva idealização e denegrimento 6 Concebeu a mente como um universo de objetos internos relacionados entre si através de fantasias inconscientes consti tuindo a realidade psíquica 7 Além dos objetos totais ela concebeu os objetos parciais figuras parentais represen tadas unicamente por um mamilo seio pênis etc 8 Postulou uma constante clivagem entre os objetos bons x maus idealizados x per secutórios e entre as pulsões as construti vas de vida versus as destrutivas de mor te etc 9 Concebeu a noção de posição concei tualmente diferente de fase evolutiva e descreveu as agora clássicas posições esqui zoparanóide e a depressiva 10 Suas concepções acerca dos mecanis mos arcaicos do desenvolvimento emocio nal primitivo permitiram a análise com crianças com psicóticos e com pacientes muito regressivos em geral 11 Para não ficar descompassada com os princípios ditados por Freud conservou as concepções relativas ao complexo de Édi po e ao superego porém as situou em eta pas bastante mais primitivas do desenvol vimento da criança 12 Juntamente com os ataques sádicodes trutivos da criança com as respectivas cul pas e conseqüentes medos de retaliadores ataques persecutórios postulou a necessi dade de a criança ou o paciente adulto na situação analítica desenvolver uma impres cindível capacidade para fazer reparações 13 Deu extraordinária ênfase à importân cia da inveja primária como expressão di reta da pulsão de morte 14 Como decorrência dessas concepções promoveu uma significativa mudança na prática analítica no sentido de que as inter pretações fossem sistematicamente transfe renciais mais dirigidas aos objetos parciais aos sentimentos e defesas arcaicas do paci ente e com uma ênfase na prioridade de o analista trabalhar na transferência negativa Ao mesmo tempo bastante louvada e bas tante criticada MKLEIN deixou além de sua obra o legado de uma plêiade de impor tantes analistas que foram seus pacientes e um sem número de discípulos seguidores e continuadores Vítima de um câncer de có lon faleceu no dia 22 de setembro de 1960 em Londres Kleinismo As contribuições de MKLEIN encontraram ressonância em psicanalistas contemporâ neos dela como JRIVIÈRE SISAACS PHEIMANN a eles seguindose os póskleini anos compostos por exanalisandos e dis cípulos dela como HSEGAL HROSENFELD DMELTZER WBION e OS neokleinianos re presentados na atualidade por BJOSEPH e JSTEINER entre muitos outros conceituados autores psicanalíticos principalmente na GrãBretanha e na América Latina onde o movimento kleiniano chegou a alcançar extraordinária relevância É útil lembrar que da mesma forma como muitas dissidências caracterizaram o grupo original de FREUD também importantes ana listas kleinianos dissentiram dela PAULA VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 243 HEIMANN cuja principal contribuição foi a apresentação e publicação do trabalho so bre a contratransferência contrariando MKLEIN Essa divergência provocou o rom pimento de relações entre elas e levou HEI MANN a se incorporar ao grupo independente da sociedade britânica Outros seguidores de KLEIN se afastaram por divergências ide ológicas e seguiram uma linha independen te como D WINNICOTT enquanto outros mantiveramse fiéis a ela porém com mo dificações bastante profundas como é o caso de WBION As inestimáveis contribuições teóricas e clí nicas dos autores pós e neokleinianos por meio de uma vigorosa e fértil produção de artigos e livros têm provocado marcantes ampliações e modificações em muitos da queles aspectos principalmente os de or dem técnica que têm sido duramente atacados por analistas de outras corren tes especialmente por parte dos norte americanos Kohut Heinz Psiquiatra e psicanalista criador e grande divulgador da escola psicanalítica da Psi cologia do Self HKOHUT nasceu em Viena em 1913 filho único de uma família judia culta e amante da música Foi uma criança precoce e desde cedo demonstrou possuir talentos especiais como uma paixão por música teatro e arte além de um expressi vo conhecimento de latim e grego No en tanto teve uma infância triste e solitária por não sentir o apego dos pais princi palmente o da mãe que mais tarde veio a apresentar transtornos psicóticos deli rantes Obrigado a fugir do nazismo KOHUT emi grou para os Estados Unidos radicandose em Chicago Formouse em medicina em 1938 tornandose neurologista em 1944 e psiquiatra três anos após Mais tarde inte grouse ao prestigioso Instituto de Chicago fundado por FALEXANDER Posteriormente chegou a atingir a condição de presidente da Associação Psicanalítica Americana em 1964 e a de vicepresidente da IPA entre 1965 e 1973 vindo após a renunciar a to das funções administrativas associativas No começo de sua atividade KOHUT foi muito influenciado pela teoria de HARTMANN Porém aos poucos afastouse dos postula dos dessa escola inclusive de muitos prin cípios básicos de FREUD e construiu seu pró prio corpo teóricotécnico com uma ênfa se quase exclusivamente fundada na nor malidade e na patologia dos transtornos narcisistas compondo o que ele veio a de nominar Psicologia do Self De forma sintética impõese mencionar os seguintes aspectos de sua obra 1 Ele situa como principal instrumento da psicanálise não o lugar da livre associação de idéias do analisando mas sim o da in trospecção olhar para dentro de si mesmo e o da empatia enxergar e sintonizar com o outro 2 Da mesma forma retira o lugar hegemô nico do complexo edípico de FREUD e colo 244 DAVID E ZIMERMAN ca no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos Em outras palavras ele subs titui o homem culpado de FREUD e MKLEIN pelo que ele considera ser o homem trá gico 3 Outro enfoque enaltecido por KOHUT é a importância na prática clínica de processar se no paciente uma internalização transmu tadora através da introjeção da figura do analista para os pacientes nos quais as fa lhas empáticas não possibilitaram identifi cações satisfatórias 4 Nesses casos formase um transtorno no sentimento de identidade que sucede a uma anterior dificuldade na estruturação de self 5 Os dois conceitos medulares na obra de KOHUT consistem em seus estudos so bre o self termo queem português vem sendo traduzido por si mesmo e sobre o narcisismo 6 Em relação ao narcisismo antes de pen sar em desenvolvimento patológico sua concepção é de que o narcisismo durante o desenvolvimento do ser humano segue uma evolução paralela e independente da libido objetal embora depois ambas man tenham conexões íntimas entre si de for ma que esse narcisismo adquire uma fun ção estruturante e pode posteriormente vir a sofrer transformações úteis como empa tia sabedoria humor aceitação da finitu de da vida 7 A maior parte de sua obra é dedicada ao estudo dos desenvolvimentos patológicos que conduzem aos transtornos narcisísticos da personalidade 8 Em relação ao self ele postulou duas novas estruturas ambas de formação arcai ca o self grandioso e a imago parental idea lizada 9 Na prática analítica adquire uma gran de utilidade sua conceituação de transfe rências narcisistas nas suas três diferentes modalidades a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular pro priamente dita 10 KOHUT também alude à necessidade de encontrar uma necessária frustração ótima tendo em vista o fato de que os pacientes com transtornos narcisistas quando frustra dos com facilidade entram em um estado mental que ele denomina fúria narcisista 11 Como forma de ilustrar a distinção en tre a análise praticada nos moldes clássicos e a análise segundo suas concepções KO HUT escreveu As duas análises do Sr Z tal como aparece no verbete relativo aos historiais clínicos 12 Os mais importantes livros publicados por KOHUT são Introspecção empatia e psi canálise 1959 A análise do self 1971 A restauração do self 1977 e a publicação póstuma Como cura a psicanálise 1984 As maiores críticas que costumam ser feitas às postulações dessa escola residem no fato de que KOHUT não se restringiu à compre ensão e ao manejo dos transtornos narci sistas de modo que tentou explicar toda psicanálise sob sua ótica e isso representou uma evidente mutilação conceitual Destar te muitos críticos dizem que no seu corpo teórico desaparece a teoria das pulsões especialmente a da agressão destrutiva e o complexo de Édipo sendo que o papel do inconsciente teria ficado excessivamente diminuído Outra crítica que seus biógrafos apontam referese ao fato de que não teria havido uma coerência entre o que dizia e o que fazia porquanto teria sido uma pessoa por demais narcisista de sorte que não supor tava as críticas que lhe dirigiam e construiu em torno de si um grupo de fiéis apegados a sua imagem a sua pessoa e a sua obra KOHUT também sofreu os ataques da orto doxia freudiana reinante nos Estados Uni dos principalmente os desferidos por ANNA FREUD que depois de inicialmente ter acei to suas inovações passou a considerálas como antianalíticas KOHUT faleceu em 1981 em Chicago aos 68 anos vítima de leucemia L e L BION BION emprega a letra L inicial da palavra inglesa love como signo que designa o vín culo do amor Em textos espanhóis e por tugueses por vezes aparece como A ini cial da palavra amor Ver o verbete vínculo Lacan Jacques Jacques Marie Emile LACAN nasceu na Fran ça em 1901 e faleceu em 1984 Provindo de uma família de classe média sempre foi um aluno brilhante tendose destacado nas disciplinas de filosofia teologia e latim Ini ciou seus estudos de medicina em 1920 e a partir de 1926 especializouse em psiqui atria na qual se interessou particularmente pelo estudo das paranóias Por essa época Lacan integrou o movimento surrealista juntamente com outros famosos artistas escritores e intelectuais como ABRETON SDALI e PICASSO Em 1933 complementando seus estudos sobre as paranóias com vistas à obtenção de seu título de membro efetivo LACAN apre sentou a tese intitulada Da psicose paranói ca em suas relações com a personalidade que serviu como ponto de partida para as suas concepções originalíssimas Esse tra balho foi fundamentado no seu famoso caso Aimée como está descrito no verbete his toriais clínicos Lacan esse genial polêmico e altamente controvertido autor psicanalítico revoltado com o crescimento da escola norteameri cana da Psicologia do Ego alegava que essa escola estaria deturpando o verdadeiro es pírito da psicanálise Muitos acreditam que o verdadeiro motivo de seus duros ataques L 246 DAVID E ZIMERMAN seria o prolongamento de uma transferência muito mal resolvida com LOEWENSTEIN que quando morava na França antes de emigrar para os Estados Unidos tinha sido seu ana lista De qualquer forma LACAN decidiu dirigir seus estudos psicanalíticos a partir de um re torno a ou sobre FREUD Formouse em medicina com especializa ção em psiquiatria e psicanálise sempre demonstrando inteligência invulgar e cres cente aquisição de sólida cultura e erudi ção as quais muitas vezes ele utilizava de forma arrogante Por essas razões LACAN tanto foi cercado por uma imensa corte de admiradores como também formou um grande contingente de desafetos detrato res e críticos severos Outra característica de LACAN além de uma vida afetiva muito complicada foi sua gran de facilidade de promover e ficar envolvi do em sérios conflitos com seus pares Dis sentiu da IPA e em 1963 sozinho ele criou a sua própria Escola Freudiana de Paris que com os desenvolvimentos posteriores adquiriu reconhecida pujança porém aos poucos foi sofrendo a dissidência de mui tos membros ilustres alguns dos quais cria ram novas escolas Além disso em 1980 poucos anos antes de sua morte LACAN dis solveu sua própria escola e o número de novas correntes psicanalíticas formadas pelos seus excolaboradores foi num enor me crescente a ponto de que alguns críti cos preferem dizer que mais do que disso ciada a escola lacaniana está pulverizada Além de publicar a revista Scicilet palavra que quer dizer tu podes saber durante dez anos duas vezes por mês no anfiteatro do Hospital SaintAnne LACAN realizava os seus famosos seminários com uma freqüência altamente disputada por uma elite intelec tual com a predominância de jovens Nesses seminários ele comentava sistematicamente todos os grandes textos da obra freudiana Esses seminários coletados deram origem à publicação em 1966 dos Escritos Em relação a sua obra os seguintes aspec tos merecem ser destacados 1 Quatro foram as vertentes que influenci aram decisivamente o pensamento e a obra psicanalítica de Lacan a Lingüística inspi rada nos trabalhos do famoso lingüista Saussure de onde ele extraiu sua concep ção de significante e de um inconsciente estruturado como uma linguagem a ver tente antropológica apoiada no enfoque estruturalista de LeviStrauss que serviu de base para a sua noção do simbólico a filo sófica através da forte influência que so freu de Heidegger e da obra Fenomenolo gia do espírito de Hegel a quarta vertente naturalmente é psicanalítica fundamenta da unicamente numa releitura da obra de FREUD 2 Também são quatro as principais áreas que LACAN estudou mais profundamente a etapa do espelho com a respectiva forma ção da imagem do corpo a linguagem por ocasião de um congresso realizado em Roma em 1953 LACAN apresentou o notá vel trabalho Função e campo da fala e da linguagem na psicanálise também conhe cido como Discurso de Roma no qual expôs os principais elementos de seu siste ma de pensamento provenientes da lingüís tica estrutural e de influências diversas oriundas da filosofia e das ciências o de sejo numa relação direta com as faltas e falhas e as relações entre Narciso e Édipo Ver os verbetes específicos Em relação à prática clínica e à técnica cabe enumerar os seguintes aspectos mais mar cantes 1 A inveja e a agressão em geral não seri am inatas e primárias mas sim surgiriam quando o registro imaginário é frustrado e desafiado na crença onipotente da criança de que ela tem uma fusão com a mãe e a posse dela 2 Para LACAN a análise não deve ficar re duzida à mesquinharia exclusiva do mun do interno pelo contrário o analista deve VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 247 dar uma importância muito especial à pa lavra do paciente que pode ser cheia ou vazia de significados de modo que o ana lista também deve rastrear a cadeia de sig nificantes que está contida no conteúdo forma e estrutura da linguagem 3 A forclusão forma extrema de negação impede a ruptura de fusão narcisista no registro imaginário com o outro e portan to não se produz a capacidade para for mar símbolos e nem o ingresso no registro simbólico 4 A ausência do pai no psiquismo da criança comumente devida ao discurso denegridor da mãe pode propiciar a for mação de psicoses e perversões 5 Em relação à técnica propriamente dita LACAN propôs algumas modificações que dizem respeito ao setting transferência con tratransferência e interpretação Relativamente ao setting foi abolido o clás sico tempo cronológico de uma sessão em torno de 50 minutos substituído pelo tem po lógico sem tempo fixo de duração sen do que a sessão termina quando o anali sando atinge o corte simbólico isto é sai do registro imaginário e sua palavra vazia passa a ser cheia Em relação à transferência LACAN alerta para o risco de o analista poder reforçar e até eternizar uma dependência transferen cial quando ele for muito preconceituoso constituindo aquilo que LACAN designa com a sigla SSS ou seja Sujeito Suposto Sa ber Como o nome indica refere que a du pla parte de um pressuposto de que o ana lista sabe tudo que o paciente ignora Ao se referir à contratransferência LACAN evidencia que não aceita a possibilidade de que ela possa constituirse um importante instrumento técnico Relativamente à interpretação LACAN adver te que o uso sistemático da interpretação reducionista ao aquiagora pode contribuir para uma fixação do paciente no registro imaginário narcisista com o risco de iden tificarse com os desejos do analista Na verdade LACAN valoriza muito mais as in terrupções que representam a castração isto é o corte simbólico do que propriamente as interpretações clássicas Nos últimos tempos além de uma acentu ação de sua conduta com matizes paranói des era notório que LACAN demonstrava algumas ausências em suas apresentações públicas que muito mais do que uma sim ples exacerbação de suas costumeiras bi zarrices já estavam indicando um declínio orgânico com manifestações neurológi cas como de uma afasia parcial surgi das depois de uma cirurgia de um tumor maligno do cólon Ele morreu em 1984 nessas condições Lapso FREUD No conhecidíssimo trabalho A psicopato logia da vida cotidiana 1901 é descrito o fenômeno dos lapsos que juntamente com demais erros equivalentes e atos sintomáti cos constituem os melhores exemplos de conflitos entre as tendências à descarga e as forças que se lhe opõem Assim quando uma pessoa comete um lapsus linguae in conscientemente está resistindo de algum modo ao que conscientemente tinha se pro posto a dizer Juntamente com os atos falhos e a forma ção de sintomas FREUD concedia aos lap sos de fala e aos lapsos de escrita o mesmo valor que ele atribuía aos sonhos como uma importante via indireta de acesso ao inconsciente Ele ilustra o fenômeno com a narrativa de que numa peça teatral um personagem gabavase de suas relações com o milionário barão de Rothschild e terminava sua fala com essas palavras O barão tratavame exatamente de igual para igual de forma completamente fa milionária FREUD considerou que esse lapso revelava o desejo inconsciente do personagem 248 DAVID E ZIMERMAN Latência período de FREUD FREUD utilizou a expressão período de la tência e não fase de latência para caracteri zar que diferentemente do que ocorre na fase oral e na anal não há a rigor uma nova organização da personalidade Na ver dade esse período permeia entre o declí nio da sexualidade infantil por volta dos seis anos até a entrada na puberdade ou seja em torno dos 12 anos Nesse período há na evolução da sexualidade uma dimi nuição não uma completa abolição das atividades e de investimento de natureza se xual que são substituídas pela predominân cia da ternura sobre os desejos sexuais o aparecimento de sentimentos como o pu dor ou a repugnância e o surgimento de aspirações morais e éticas Ao articular o período de latência com o declínio do complexo de Édipo FREUD em prega a seguinte metáfora elucidativa o complexo de Édipo deve desaparecer porque chegou para ele o momento de se dissolver tal como caem os dentes de leite quando aparece a segunda dentição O período de latência apresenta duas ca racterísticas 1 Vai acontecer uma repressão da sexuali dade infantil com uma amnésia relativa às experiências anteriores 2 Formase um reforço das aquisições afe tivas e mentais do ego Em condições nor mais a combinação de ambas segundo FREUD propicia a sublimação das pulsões comumente manifestada na escolarização e em atividades esportivas assim como também na formação de aspirações morais estéticas e sociais de modo tal que esse período é considerado como sendo aquele que consolida a formação do caráter Latente conteúdo FREUD FREUD ao se referir à formação dos sonhos exalta a importância da diferença entre o conteúdo manifesto como o sonho apare ce no consciente do sonhante e o conteú do latente Este corresponde ao conjunto de desejos pensamentos sentimentos re presentações e angústias que estão repre sados no inconsciente e que somente terão acesso ao préconsciente e ao consciente após o disfarce realizado pela elaboração secundária do sonho que é realizada com a intervenção do censor onírico Ver o verbete sonho Lembrança encobridora FREUD FREUD definiu o conceito de lembrança en cobridora também chamada de recorda ção encobridora como uma lembrança in fantil que se caracteriza por um contraste ao mesmo tempo em que guarda uma es pecial nitidez a lembrança aparentemente é insignificante Assim Freud considera que a exemplo do que se passa com o mecanis mo de formação de sintomas e de sonhos também as lembranças encobridoras são resultantes de uma formação de compro misso entre as pulsões sexuais reprimidas e os mecanismos de defesa do ego Da mesma forma FREUD assevera que os mecanismos mais presentes na formação das lembranças encobridoras são o de des locamento e o de condensação Neste últi mo caso há uma expressiva condensação de elementos infantis tanto os realmente acontecidos como os fantasiados Por isso na prática analítica a análise das lembran ças encobridoras se revela como uma sig nificativa via de acesso ao que está recalca do no inconsciente Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância FREUD 1910 A Nota do editor da Standard Edition re ferente a esse trabalho de FREUD nos dá con ta que O interesse que Freud demonstra va por Da Vinci era antigo A parte princi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 249 pal do estudo de Freud consiste na recons trução detalhada da vida emocional de Leonardo da Vinci desde os primeiros anos na descrição do conflito entre seus impul sos artísticos e científicos e na análise pro funda de sua história psicossexual Além desse tópico principal o estudo nos apre senta uma quantidade de temas colaterais não menos importantes uma discussão mais geral da natureza e do trabalho da mente de um artista criador um esboço da gênese de um tipo especial de homossexu alidade e a primeira aparição integral do conceito de narcisismo Essa obra é composta de seis partes as sim intituladas Parte I Material biográ fico Parte II A lembrança infantil de Leonardo Parte III Interpretação sexual da lembrança infantil de Leonardo Par te IV Os sorrisos beatíficos nas pinturas de Leonardo Parte V Efeitos da perda do pai em Leonardo Parte VI Justifi cativa da abordagem patológica da bio grafia Esse trabalho está inserido no Volume XI na p59 da edição brasileira Lesbianismo O termo lesbianismo que define a homos sexualidade feminina originase de Lesbos nome da ilha grega onde residia Safo poe tisa da Grécia Clássica que se notabilizou por suas relações homoeróticas A questão relativa ao lesbianismo em parti cular assim como o da homossexualidade em geral está sendo alvo de grandes polê micas e vem ganhando uma gradativa rea valiação tanto do ponto de vista cultural como científico Do ponto de vista psicana lítico indo além da conflitiva unicamente edípica os mais adiantados conhecimen tos relativos ao desenvolvimento emocio nal primitivo vêm permitindo uma expec tativa mais otimista por parte dos psicana listas contemporâneos Letargia FÍDIAS CESIO O psicanalista argentino F CESIO descreveu um estado de letargia que surge em alguns pacientes no curso da situação analítica e que tem uma característica essencial e im portante na prática clínica é a que se refe re ao fato de que essa letargia do paciente desperta uma contratransferência que con siste em o analista ser invadido por um sono invencível Quase todos analistas mais ex perimentados já devem ter passado por essa difícil experiência em que as pálpebras pesam como chumbo o tempo não passa a capacidade de raciocínio fica algo embo tada etc CESIO aventa a hipótese de que esse tipo de paciente geralmente um depressivo em grau forte tem o interior do seu psiquismo habitado por objetos aletargados isto é objetos que são como que moribundos por quanto costumam corresponder à introjeção de pessoas mortas cujo luto não foi elabora do e por isso não foram sepultados e se mantém como se estivessem parcialmente vivos comandando a vida do sujeito É justamente a identificação projetiva des sa depressão subjacente com os respecti vos objetos mortosvivos que provoca um estado de letargia no analista Letergização A FERRO1997 Em seu livro Na Sala de Análise 1997 p 163 o psicanalista italiano A FERRO in troduz o termo letargização com o qual ele designa um estado intermediário en tre o sono e a vigilia Afirma que Outro mecanismo de defesa muito primitivo é o adormecer a agressividade e com ela zonas inteiras da mente e muitas vezes toda potencialidade criativa São de fesas autistas por muito tempo necessá rias contra turbulências emocionais mui to primitivas 250 DAVID E ZIMERMAN Libido FREUD Essa expressão aparece de forma maciça na obra de FREUD e de modo geral em toda a literatura psicanalítica do passado e do presente Ainda assim na verdade tratase de um conceito difícil de definir com exati dão porquanto seu significado não é uní voco O próprio FREUD à medida que ia modificando suas concepções relativas à natureza e tipos das pulsões igualmente foi conceituando a libido com significações di ferentes Aliás a polêmica vem de longa data na his tória da psicanálise tanto que foi um dos pontos mais fortes da discordância entre FREUD e JUNG Enquanto o primeiro conec tava a libido com a pulsão sexual JUNG fi xou sua definição de libido genericamente como uma energia psíquica e reservou o termo sexualidade para o que é exclusiva mente sexual no sentido habitual do termo De fato FREUD inicialmente empregou o ter mo libido que em latim quer dizer desejo vontade para designar uma energia pró pria da pulsão sexual manifesta na vida psíquica Ele partia da sua postulação de que toda pulsão como a sexual situase no limite entre o soma e o psiquismo Todo prazer que não era devido à satisfação di reta das pulsões do ego com a finalidade de autoconservação tais como a satisfação da fome sede e necessidades excretórias FREUD considerou sexuais ou eróticas Ele enfatizava então que a libido tanto po dia ser investida no próprio ego e corpo caso do autoerotismo do narcisismo primário como nos objetos da realidade exterior Com a introdução em 1920 de sua teoria da pulsão de morte a libido começou a aparecer como a energia própria de Eros ou seja da pulsão de vida em oposição a Tânatos isto é contra as tendências des trutivas inerentes à pulsão de morte Assim em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD reafirmou essa última concepção referente à libido ao dizer que a libido em termos genéricos referese a todas as pulsões responsáveis por tudo o que compreendemos sob o nome de amor Lideranças FREUD BION Em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD dedicouse a estudar o caminho que vai da análise individual para a compreensão da sociedade partindo da sua convicção de que era impossível sepa rar uma abordagem psicológica de uma abordagem sociológica dos fatos humanos Para tanto ele se propôs a responder às perguntas o que é uma massa multidão de onde e como ela retira sua capacidade de modificar o comportamento dos indiví duos e em que consistem essas mudanças Embora FREUD tenha fundamentado esses estudos relativos à psicologia das multidões em trabalhos de GUSTAVE LE BON e de W MCDOUGALL ele se diferenciou deles por ter enfatizado a importância do líder na mas sa aspecto que tinha sido negligenciado por aqueles autores Assim retomando as idéias que já tinha exposto em Sobre o Narcisismo uma in trodução 1914 FREUD estabeleceu uma analogia entre o que se passa com uma multidão em relação a seu líder e o que se passa num estado de fascinação típico da relação entre o hipnotizado e o hipnotiza dor ou num enamoramento entre os apai xonados O que existe de comum nessas três situações é a presença em cada uma delas de um ideal do ego colocado numa outra pessoa o que acena com a possibili dade do preenchimento dos desejos e das necessidades mais primitivas FREUD completou suas concepções estudan do esse fenômeno a partir das massas arti ficiais constituídas pela Igreja caso em que o ideal do ego é representado pela figura de Deus Cristo nas religiões cristãs que está introjetado em cada um dos fiéis e VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 251 pelo Exército onde o ideal do ego por projeção é colocado na pessoa do coman dante Em caso do desaparecimento do lí der a massa corre o risco de ficar desagre gada com a possibilidade tanto maior quanto mais regressiva for a multidão de surgir o fenômeno do pânico no qual se misturam sentimentos de solidão abando no e debilitação dos vínculos BION estudou a função dos líderes com um enfoque diferente do descrito por FREUD Postulava que não era o líder que consti tuía e determinava o destino das massas mas sim o contrário ou seja que são cer tas necessidades emergentes de um grupo social que determinam o tipo de liderança que seja adequada para satisfazêlas As sim partindo dos seus estudos com grupos ele descreveu três tipos de líderes básicos 1 O de características carismáticas que surge nas massas que estão sob o domínio do suposto básico de dependência 2 O tipo caudilho que preenche o suposto básico de luta e fuga 3 O líder com o perfil de algum misticismo que satisfaça o suposto básico de acasala mento Freqüentemente essas três características podem estar fundidas numa única pessoa como pode ser exemplificado com a lide rança de Hitler para aquele momento so ciológico da Alemanha Ligação FREUD FREUD empregou esse termo no original ale mão é Bindung para designar tanto no nível biológico como no psíquico um pro cesso que visa a três finalidades 1 Limitar o livre escoamento das excitações pulsionais ou seja permitir a passagem do processo primário para o processo secun dário 2 Ligar as representações entre si 3 Assim manter uma relativa estabilidade do funcionamento psíquico Desta forma já no Projeto1895 FREUD utilizou essa expressão para referir o fato de a energia do aparelho neurônico passar do estado de energia livre para o estado de energia ligada Ele retoma essa hipótese em Além do princípio do prazer 1920 ao estudar as ligações entre as pulsões de vida de construção e as de morte de destrui ção No mesmo passo modifica sua con cepção original de que a ligação serviria primordialmente para descarregar a ener gia livre porque acrescentava essa não consiste unicamente numa descarga maci ça de excitação mas também numa livre circulação ao longo de cadeias de represen tações assim cumprindo uma importante função para o estabelecimento de laços as sociativos FREUD conjetura que essa última concepção possa estar na base de uma explicação para o fenômeno da compulsão à repetição Com a evolução da psicanálise o termo li gação foi sendo empregado com significa dos distintos Pode ser a noção de vários termos ou significantes ligados numa cadeia associativa ou a idéia de um conjunto em que é conservada certa coesão definida por limites entre as partes constituintes Também pode ser uma forma de definir a possibilida de de que certa quantidade de energia fixada em algum lugar já não pode escoarse livre mente Ultimamente também vem sendo empregado como sinônimo de vínculo Ligação elos de BION Essa expressão aparece freqüentemente nas traduções dos textos de BION muitas vezes para se referir ao fenômeno do ataque aos vínculos ou aos elos de ligação Ver o verbete vínculos Linguagem FREUD BION LACAN A linguagem nas suas diversas formas e estilos é o veículo da comunicação as 252 DAVID E ZIMERMAN pecto fundamental no relacionamento en tre as pessoas estudado por diversos au tores As investigações que aparecem em FREUD ainda persistem vigentes e como uma viva fonte inspiradora na atualidade Já em 1895 no seu Projeto ele teve conside rações acerca dos aspectos formativos e es truturantes dos sons imagens memória sensorialidade e desenvolvimento verbal motor Uma contribuição igualmente importante de FREUD aparece no seu trabalho O incons ciente 1915 no qual ele postula que o ego representa as sensações que estimulam a criança de duas formas como represen taçãocoisa e como representaçãopalavra Como esses termos indicam é somente na segunda dessas modalidades que a repre sentação tem acesso ao préconsciente sob a forma de palavras simbolizadoras BION estudou particularmente a patologia da linguagem utilizada pelos esquizofrêni cos e em Notas sobre a teoria da esquizo frenia 1954 descreve três maneiras de como esses pacientes a utilizam 1 Como um modo de atuar 2 Como método de comunicação primitiva 3 Como uma for ma de pensamento BION destaca então o fato de que às vezes o atuar substitui o pensar e viceversa sen do que esses pacientes podem utilizar as palavras como se fossem coisas ou como partes cindidas deles mesmos as quais tra tam de colocar dentro do analista Igualmente BION valorizou a importância de o analista distinguir quando seu pacien te faz comunicações com uma linguagem simbólica ou através daquilo que HSEGAL conceitua como equação simbólica caso em que se estabelece uma confusão entre o que é o símbolo abstrato e o que está sendo simbolizado concreto LACAN deu extraordinária importância à lin guagem como fator desestruturante do psiquismo de toda criança o que pode ser medido por essas duas conhecidas afirma ções dele O inconsciente é o discurso do outro e a de que o inconsciente estrutura se como uma linguagem LACAN ainda assinalou outros aspectos singu larmente importantes em relação à linguagem os conceitos de significante e significado a metáfora e a metonímia e na prática analíti ca a distinção a ser feita entre a comunica ção do paciente com palavra vazia e a com palavra cheia plena de significados Como uma forma de resumir podese dizer que na situação analítica além da linguagem simbólica o analista deve saber descodificar a linguagem sígnica que se processa por meio de sinais ainda não propriamente verbais Cabe exemplificar com a manifestação mais comum do bebê o choro Os gritos que o bebê emite são fonemas ou seja sons que servem para descarregar a tensão Porém ain da não há discriminação entre o grito e o fa tor que o provocou somente as palavras de signariam discriminadamente o que estaria se passando de doloroso com ele Nesse exem plo é necessário que mãe ou o analista in terprete os gritos de seu filho paciente São muitas as formas de comunicação não verbal as quais exigem um tipo de escuta especial por parte do analista Essas co municações assumem diferentes formas de linguagem como a paraverbal alude às mensagens que estão ao lado como por exemplo são as nuanças e alternânci as da intensidade amplitude e timbre da voz tanto do paciente como do analis ta a metaverbal a linguagem dos gestos e atitudes a linguagem do corpo a oni róide a da conduta e na situação analí tica a linguagem que se processa através da provocação no analista de sentimen tos contratransferenciais Linguagem de êxito BION Expressão de BION também traduzida como linguagem de consecução baseada na cren VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 253 ça de que as emoções falam mais alto do que as palavras para designar uma con dição que a linguagem do analista deve possuir para ser mais exitosa em alcan çar a realidade incognoscível do paciente o que ele chama de O e assim conse guir modificações verdadeiras nele Para tanto diz BION essa linguagem deve par tir mais da intuição do analista e menos do que ele capta através dos seus órgãos dos sentidos Linguagem e esquizofrenia BION 1955 Apoiado na experiência de análise com seis pacientes BION se propõe a mostrar o uso que o paciente esquizofrênico faz da lingua gem Os aspectos mais destacados são 1 A utilização dos conceitos de MKLEIN acerca dos ataques sádicodestrutivos as dissociações identificações projetivas a posição esquizoparanóide e a depressiva etc 2 Os três tipos de linguagem como um modo de atuar como método de comuni cação primitiva e como forma de pensa mento 3 As falhas das funções egóicas notada mente o processo de simbolização o pen samento verbal e os transtornos da capaci dade para pensar Esse trabalho consta do livro Estudos psi canalíticos revisados 1967 Livre associação de idéias Ver o verbete Associação livre de idéias Logoterapia VICTOR FRANKL Na década de 20 na França na Suíça e na Áustria tiveram grande desenvolvimento e expansão a chamada psicoterapia existen cial e a análise existencial esta última cha mada Daseinanalyse Dasein significa ser existir A essas veio juntarse a logotera pia ou seja uma terapia que visa mais ao lado espiritual ou existencial do que ao clássico conflito pulsional preconizado por FREUD de modo que ela se dirige mais ao consciente com a participação ativa do paciente através de um estímulo à sua von tade de realmente ser A logoterapia foi criada por VICTOR FRANKL psiquiatra suíço Juntamente com HERBERT MARCUSE e CARL ROGERS criou no fim da década de 60 na Universidade de San Di ego na Califórnia uma cadeira e um insti tuto de logoterapia que lhe foi confiada Na GrãBretanha RONALD LAING trabalha va a temática existencial com um modelo equivalente ao da logoterapia de FRANKL Luta e fuga BION BION descreveu três tipos do que ele deno mina como supostos básicos o de depen dência o de luta e fuga e o de acasalamen to O suposto básico de luta e fuga alude a uma condição em que o inconsciente gru pal está dominado por ansiedades paranói des e por essa razão ou a totalidade mos trase altamente defensiva e luta com fran ca rejeição a qualquer situação nova de di ficuldade psicológica ou ele foge dela cri ando um inimigo externo Dessa forma os participantes do grupo fi cam unidos contra esse inimigo comum ao qual atribuem todos os males O tipo de lí der requerido para essa modalidade de su posto grupal deverá ter características pa ranóides e tirânicas Luto FREUD M KLEIN Estado psíquico resultante da perda de al guém muito querido que pode provocar dor e angústia num quadro geral de rea ção depressiva que para ser superado ne cessita daquilo que FREUD concebeu como trabalho de luto Em Luto e Melancolia 1917 FREUD se aprofundou num estudo comparativo en 254 DAVID E ZIMERMAN tre os processos que caracterizam o luto e a melancolia estabelecendo as diferenças entre ambos Dessa forma na melancolia o objeto perdido fica introjetado e retido crônica e patologicamente no ego do sujei to No luto é um período de tempo necessá rio para a elaboração progressiva da perda do ente querido que então fica introjetado sem maiores conflitos e a pessoa enlutada consegue desligarse normalmente dele Isso está de acordo com o fato de que o trabalho de luto consiste no fato de que a libido investida no objeto perdido necessi ta ser desligada das lembranças fantasias e esperanças que cercavam a ligação Só de pois disso num tempo não excessivamente longo o ego do sujeito volta a ser livre para levar uma vida normal MKLEIN enriqueceu essa temática com o seu importante trabalho O luto e suas relações com os estados maníacodepressivos 1940 onde relaciona os objetos externos com os internos como também e princi palmente consolida a sua concepção de posição depressiva A última fundamental para o crescimento psíquico da criança exige um doloroso tra balho de luto porque a criança vai integrar os objetos parciais numa totalidade e as sim vai tomar consciência de que a mes ma pessoa no início é a mãe que ela tan to atacou na fantasia ou na realidade e a mãe que ela ama e de que necessita são a mesma pessoa A criança passa então por uma fase de luto com manifestos sinais depressivos e aos poucos num trabalho de elaboração dessa ambivalência e luto ela restaura o objeto bom e estruturante den tro de si Embora FREUD e KLEIN coincidam no aspecto básico que consiste numa boa ou má intro jeção do objeto perdido respectivamente no caso do luto ou da melancolia existe uma clara diferença entre ambos enquanto FREUD se referia mais propriamente ao objeto total MKLEIN construiu sua teoria de luto e melan colia em torno de objetos parciais Luto e melancolia FREUD 1917 Trabalho redigido em 1914 e publicado em 1917 que pode ser considerado uma ex tensão do artigo sobre narcisismo que FREUD publicou em 1914 FREUD assinala a identificação como uma fase preliminar da escolha objetal a primei ra maneira pela qual o ego escolhe um ob jeto A melancolia assume várias formas clí nicas algumas sugerindo afecções somáti cas e não psicogênicas Um dos traços mais característicos é o da perda da autoestima Segundo FREUD a correlação entre melan colia e luto parece justificada pelo quadro geral de ambas as condições O luto é nor malmente a reação à perda de uma pessoa amada Em algumas pessoas as mesmas influências produzem melancolia em lugar do luto e conseqüentemente desconfiamos que possuem uma disposição patológica A melancolia absorve algumas características do luto e outras do processo de regressão da escolha narcísica de objeto até o narcisis mo FREUD enfatiza o quanto a característica mais notável da melancolia é sua tendência para transformarse em mania o que ele liga à regressão da libido até o narcisismo Esse trabalho está publicado no volume XIV p 275 da Sandard Edition brasileira Mãe normalidade e patogenia da De uma forma ou de outra o papel da mãe aparece em todos os autores da psicanáli se embora com abordagens muitas vezes distintas e partindo de distintos vértices de observação e de estudo Mas invariavelmen te ocupa um papel central no desenvolvi mento emocional da criança e no psiquis mo do futuro adulto FREUD deixa transparecer em muitos mo mentos de sua obra uma especial valoriza ção do papel da mãe na estruturação do psiquismo da criança o ensaio psicanalíti co que ele faz de Leonardo da Vinci 1910 é um bom exemplo disso especialmente no que diz respeito à normalidade e à pa tologia da formação e resolução do univer sal complexo de Édipo No entanto no con junto de sua obra nitidamente falocêntri ca FREUD deu à mãe um papel significati vamente menor do que o atribuído ao pai MKLEIN em contrapartida ao longo de toda sua obra deu um papel central e fundamen tal à mãe em relação ao desenvolvimento emocional primitivo do bebê num detri mento quase total à figura do pai Por isso sua teoria psicanalítica é considerada de masiadamente seiocêntrica MKLEIN desta cou sobretudo a relação objetal mãebebê desde o recémnascido enfatizando que do ponto de vista da criança a mãe é vi venciada como um objeto parcial inicial mente ela é reduzida unicamente a um seio nutridor Esse seio está dissociado espli tado num objeto parcial seio bom ideali zado e concomitantemente num seio mau frustrador e perseguidor Só por volta do sexto mês o bebê começa a completar a integração dos objetos parciais da mãe seio bom e seio mau num objeto total a mãe única MKLEIN deu tanta ênfase à presença fun damental dos objetos parciais introjetados com as respectivas fantasias inconscientes de que estão revestidos que deixou a im pressão de não ter valorizado suficientemen te a importância eterna real Vários outros autores como SPITZ BOWL BY BALINT BION WINNICOTT KOHUT MAH LER se encarregaram de restaurar de for mas diferentes a importância do vínculo mãe realcriança Assim de modo gené rico usando a terminologia de WINNICOTT uma mãe suficientemente boa deve pre encher as seguintes funções indispensá veis para a normalidade do desenvolvi mento da criança 1 Ser provedora das necessidades básicas do filho de sobrevivência física e psíquica M 256 DAVID E ZIMERMAN 2 Exercer a função de paraexitação dos estímulos que o ego incipiente da criança não consegue processar devido a sua na tural imaturidade neurofisiológica 3 Possibilitar uma simbiose adequada de modo a não haver um desapego por de mais precoce e tampouco por demais ex cessivo e prolongado 4 Compreender e descodificar a arcaica linguagem corporal do bebê 5 Frustrar adequadamente de sorte a permitir as ilusões da criança para aos poucos ir procedendo à desilusão das ilu sões 6 Fundamentalmente conter as angústi as e necessidades da criança o que na terminologia de BION aparece com o nome de continente ou de réverie enquanto WINNICOTT a denomina holding 7 Acompanhar as contenções referidas acima por uma capacidade de empatia 8 Sobreviver aos ataques destrutivos e às demandas vorazes do filho 9 Permitir o exercício de a criança deva near imaginar e fantasiar construindo aquilo que KOHUT chama de self grandio so e de imago parental idealizada A mãe deve conhecer a importância das signifi cações que estão embutidas no seu dis curso dirigido à criança 10 Funcionar como um espelho como está expresso nessa bela frase de WINNI COTT o primeiro espelho da criatura hu mana é o rosto da mãe seu olhar sorri so expressões faciais 11 Ficar atenta para reconhecer não só as angústias mas também as capacida des positivas do seu filho 12 Servir como um importante modelo de identificação para a criança 13 Ser verdadeira A patogenia da mãe consiste exatamente na má aplicação de alguns desses requi sitos minimamente necessários para um desenvolvimento sadio da criança Mãe morta A GREEN Dentre os possíveis aspectos patogênicos da mãe sobressai a possibilidade de que te nha havido a continuada presença de uma real depressão na mãe ou no pai o que re força as fantasias da criança de que tenha sido sua maldade que provocou todas as desgraças É útil acrescentar a existência daquilo que GREEN 1976 denomina complexo da mãe morta que consiste nas palavras dele em um assassinato psíquico do objeto mãe que a criança perpetua sem ódio e do qual resulta uma depressão branca que é dife rente da depressão negra na qual há luto e dor pela perda Assim a expressão mãe morta não signifi ca que a mãe tenha realmente falecido mas sim que se formou um vazio de mãe Por tanto a introjeção é de uma figura materna sem vitalidade o que resulta em crianças deprimidas às vezes com a depressão en coberta por uma hiperatividade reativa McDougall Joyce VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 257 Importante psicanalista autora de cinco li vros diversos artigos traduzida em dez lin guas inclusive japonês e hebraico convi dada para fazer conferências no mundo in teiro até no Tibete JMCDOUGALL nasceu na Nova Zelândia fez formação analítica na Inglaterra e radicouse na França onde mora e trabalha até hoje Aos dezessete anos leu com paixão a Psi copatologia da vida cotidiana de FREUD e decidiu estudar psicologia em vez de medicina como a família desejava Em 1950 já com dois filhos foi a Londres para analisarse o que fez com um mem bro do Middle Group o atual Grupo dos Independentes Ao concluir sua formação psicanalítica foi fortemente impressiona da com WINNICOTT e ANNA FREUD que a influenciaram ANNA conseguiulhe uma colocação no Hospital Maudsley como psicóloga de crianças Motivada por um convite para assumir um posto interessante na UNESCO em Paris JOYCE aí chegou em 1953 apresentandose ao Instituto de Psicanálise Antes tinha sido calorosamente recebida por MARIE BONAPAR TE graças à recomendação de ANNA FREUD Os analistas que mais a influenciaram fo ram LACAN embora gradativamente tenha discordado dele e PIERA AULAGNIER com quem contraiu sólida e forte amizade que perdurou por 30 anos até a morte de MARIE Tratou Sammy um menino psicótico que lhe foi encaminhado Ela dominava o in glês A elaboração desse tratamento frutifi cou com a publicação em 160 do livro Um caso de psicose infantil título alterado em 1966 para Dialogue with Sammy Assim paralelamente a MKLEIN elaborou o uni verso da psicose o reconhecimento do nú cleo psicótico que está no cerne de todo tratamento analítico A experiência que tivera no meio teatral propicioulhe a criação de metáforas que estão na essência de toda sua obra mais especificamente em dois livros Teatro do Eu e Teatro do corpo A idéia central de ambos é que o psicanalista deve traduzir o drama que se desenrola no teatro do anali sando em verbalizações analisáveis desde que ele tente observar também seu próprio teatro interior e interpretálo antes de inter pretar o de seu paciente MCDOUGALL dedicouse igualmente ao es tudo das psicossomatoses As publicações em português mais notáveis são Conferências brasileiras Identifica ções neonecessidades e neosexualida des Um corpo para dois A homosse xualidade feminina Entrevista com Joyce McDougall Teatros do Eu Em defesa de ua certa anormalidade imperdível Tea tros do corpo o psicossoma em psicanáli se Corpo elinguagem da linguagem do soma às palavras da mente As múltiplas faces de Eros que em 1966 a fez receber o Gradiva Award Mahler Margareth Maiúscula representante da escola Psicolo gia do Ego MMAHLER nasceu em 1897 na Hungria em uma família da burguesia ju daica intelectual Formouse em medicina primeiramente se dedicando à pediatria em Budapeste onde encontrou FERENCZI Tal vez estimulada por ele foi a Viena anali souse com HDEUTSCH e completou sua formação como psicanalista Iniciouse na psicanálise com crianças acompanhando com dedicação os seminá rios de ANNA FREUD até que fugindo do nazismo emigrou primeiro para a GrãBre tanha e após para os Estados Unidos Fi xouse em Nova York onde após ficar cho cada ao saber que a sua mãe tinha sido deportada para o campo de concentração de Auschwitz fez outra análise agora com EDITH JACOBSON A partir de 1949 MAHLER dedicase ao es tudo da etiologia das psicoses infantis ten do criado um centro de atendimento para 258 DAVID E ZIMERMAN crianças psicóticas em 1957 Nesse centro fez estudos experimentais de observação de crianças inicialmente psicóticas na déca da de 50 e depois com criancinhas nor mais na década 60 através de um espelho unidirecional As observações colhidas propiciaramlhe e a seus colaboradores fundamentar uma teoria dos mecanismos de espelhamento mútuo que delimitam a demarcação do eu e do outro A teoria foi desenvolvida atra vés da descrição de distintas fases evoluti vas de crianças de 4 a 36 meses de vida constante de etapas e subetapas cada uma com características específicas que se repe tem em todas as crianças normais A primeira etapa é a de uma simbiose fusi onal com a mãe A seguir a criança ingressa na etapa de uma diferenciação com a mãe num processo de duas subetapas a de se paração e a de individuação a qual coinci de com o início da marcha da criança jun tamente com o reconhecimento de suas características individuais Seguese uma etapa de treinamento na qual a criança faz ensaios de explorar o mundo a seu redor a formação de uma constância objetal que abre as portas para o caminho de uma fu tura aquisição de uma sadia autonomia MMAHLER faleceu em Nova York em 1985 Seus trabalhos continuam merecendo um reconhecimento que ultrapassa as frontei ras norteamericanas e servem como fonte de inspiração para analistas de todas as correntes Maiêutica método de terapia analítica Processo dialético de natureza pedagógi ca no melhor estilo socrático em que se multiplicam as perguntas a fim de obter por indução dos casos particulares e concre tos um conceito geral do objeto em questão como se fosse a gestação de uma idéia leva da a termo Por essa razão o termo é utiliza do de forma análoga na obstetrícia Em relação à psicanálise BION definiu esse processo com essa frase Sócrates disse que às vezes ele fazia o papel de uma par teira atendia o nascimento de uma idéia O mesmo se aplica a nós podemos ajudar a que um paciente nasça a que emerja do ventre do pensamento Malestar da civilização O FREUD 1930 Título de um muito conhecido trabalho de FREUD às vezes aparece traduzido como O malestar na cultura publicado em 1930 Fundamentalmente desenvolve a tese de que o malestar da civilização resulta de um anta gonismo irremediável entre as exigências pul sionais tanto as libidinais quanto as agressi vas e as restrições impostas pela cultura A obra abrange as seguintes oito partes I A necessidade de religião do homem nasce de sentimentos de desamparo Nela FREUD reitera que as pessoas costumam uti lizar falsos padrões de medida de valoriza ção tanto que buscam poder sucesso e ri queza e admiram os que vencem ao mesmo tempo em que subestimam aquilo que às vezes eles têm de realmente valioso Muitos levantaram objeções à tese de FREUD de que a religião seria uma ilusão alegan do que ele não apreciou adequadamente a verdadeira origem dos sentimentos religio sos que estaria numa sensação oceânica FREUD contesta que essa sensação existen te em muitas pessoas não é a origem da atitude religiosa cuja fonte pode ser encon trada na sensação de desamparo infantil II O homem enfrenta a infelicidade por meio de diversão substituição e intoxica ção Neste texto FREUD afirma que a bus ca da felicidade tem duas facetas a primei ra evitar a dor e o desprazer pelo método químico da intoxicação ou por um substitu tivo deslocamento da libido a segunda consiste em experimentar fortes sensações de prazer que podem ser obtidas através da procura de ilusões VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 259 III O conflito do homem com a civiliza ção liberdade versus igualdade Aí é dito que o sofrimento tem três origens a força superior da natureza a fragilidade de nos sos organismos e a inadequação das nor mas que regulam as relações mútuas dos seres humanos na família no estado e na sociedade É nessa parte que FREUD afirma que a experiência psicanalítica testemunha regularmente a conexão existente entre ambição humana fogo e erotismo uretral IV Dois pilares da civilização Eros e Ananke O texto diz que a tendência da civilização de restringir a vida sexual não é menos evidente que sua tendência para expandir o âmbito cultural V Segurança à custa da restrição da sexu alidade e da agressão A tese é a de que devido aos grandes sacrifícios impostos pela civilização à sexualidade e à agressão hu manas o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança VI Argumentos em favor de uma pulsão de agressão e de destruição FREUD asse vera que a civilização é um processo a ser viço de Eros no embate permanente en tre a pulsão de vida e a de morte cujo objetivo é combinar entre si primeiro os in divíduos humanos e em seguida famílias lugares povos e nações numa grande uni dade a unidade da espécie humana VII O desenvolvimento do superego e sua severidade FREUD trata da formação dos sentimentos de culpa provindos do medo das autoridades que impõem uma necessi dade de renúncia às satisfações pulsionais e num segundo tempo à ação de ameaça punitiva por parte do superego diante da continuação dos desejos proibidos VIII Conclusões sobre os efeitos da civili zação sobre a psique Nesse texto a tese é de que o impulso que visa à busca da felici dade pessoal é geralmente chamado de egoísta enquanto o impulso da união com os outros da comunidade é geralmente cha mado de altruísta Ademais diz FREUD podese afirmar que a comunidade dá ori gem a um superego sob cuja influência se processa o desenvolvimento cultural O malestar da civilização aparece no volu me XXI p81 da Standard Edition brasileira Maníacas defesas Em muitas estruturas psíquicas mais par ticularmente nas de natureza melancóli ca em que o ego do sujeito está submeti do a uma opressão tirânica por parte de um superego rígido e por vezescruel o ego inconsciente lança mão de mecanis mos defensivos com os quais o sujeito sentese liberto das tiranias procurando inverter os papéis de quem submete e quem é submetido Assim as defesas maníacas se estruturam no conhecido tripé controle triunfo e des prezo Pelo controle pretende controlar a tudo e a todos exercendo de forma onipo tente um domínio e apoderamento Pelo triunfo o sujeito nega sua baixa autoesti ma e desvalia resultante do seu estado de pressivo essencialmente dominante embo ra subjacente e nem sempre manifesto O desprezo é uma decorrência e uma condi ção do triunfo e implica que o sujeito em prega maciçamente a defesa do denegri mento de todos aqueles que inveja ou ima gina que o oprimem e humilham Maníacodepressiva psicose Desde a Antigüidade existem comprovações da existência dessa psicopatologia Um exem plo é o relato bíblico das bruscas violentas e profundas oscilações de humor do rei Saul Coube a um médico inglês há quase qua tro séculos ser o primeiro a ligar numa mesma doença mental a mania e a melan colia Posteriormente EKRAEPELIN o gran de sitematizador da nosologia psiquiátrica denominou essa doença circular loucura maníacodepresssiva Na nosografia geral 260 DAVID E ZIMERMAN das psicoses passou a ser chamada psico se maníacodepressiva denominação que perdurou por um longo tempo Na atuali dade com variações nas manifestações sin tomáticas consta qualificada na categoria das doenças afetivas Clinicamente essa psicopatologia dos afetos pode apresentarse como unipolar através de crises espaçadas ou só da exaltação maníaca ou só da depressão melancólica ou de forma bipolar caso em que as crises de mania e de melancolia podem surgir alternadamente Do ponto de vista psicanalítico até há pou co tempo a mania era compreendida atra vés do enfoque de que seria a contraparti da da melancolia isto é para fugir da de pressão o sujeito mobilizaria recursos in conscientes de se rebelar contra um supe rego tirânico e assim conseguir plena li berdade e autonomia em relação a todos Tratadas psicanaliticamente de modo ge ral as doenças afetivas não evoluíam exito samente Não eram raras as análises des ses casos que pareciam evoluir muito bem até que alguma eventual crise importante desfazia todo entusiasmo do par analítico fazendo com que freqüentemente o analis ta creditasse o fracasso a uma possível rea ção terapêutica negativa Na atualidade são poucos os que contes tam uma inegável participação de causas orgânicas endógenas de origem heredo constitucional na determinação dessa doença A experiência da prática analítica vem demonstrando que ao contrário do que era preconizado até há algum tempo o uso simultâneo de medicamentos da moderna psicofarmacologia com o prosse guimento natural da análise ou de alguma outra modalidade de terapia analítica tem se mostrado bastante eficaz Mapa da mente humana BION BION estabelece uma analogia entre o mapa múndi e o mapa da mente humana afir mando que o último se comporta como uma espécie de rosadosventos apontan do para diversas direções como pode ser a de uma progressão ou a de uma regressão ou ainda uma progressão em direção oposta menos progresso como é o cres cimento de células cancerosas ou como o crescimento de um rabo de cavalo De forma análoga compara o funciona mento do psiquismo com uma orquestra no qual estão presentes concomitantemen te diferentes instrumentos executando uma partitura musical cada um com funções específicas e diferenciadas porém insepa ráveis No mapa psicótico convivem a par te bebê de cada um juntamente com a parte criança a adolescente a adulta a psicótica com a não psicótica e assim por diante Tendo em vista a prática psicanalíti ca BION formula esta importante pergun ta De que zona do mapa do self o pacien te não quer saber absolutamente nada Marcondes Durval Na impossibilidade de fazer constar nesse Vocabulário os nomes de muitos importan tes psicanalistas brasileiros vamos nos res tringir ao de DURVAL MARCONDES porquanto ele pode ser considerado o fundador do movimento psicanalítico brasileiro Nascido em São Paulo em 1899 MARCON DES era um talentoso médico psiquiatra que muito cedo se interessou pela psicanálise Com 27 anos publicou um livro sobre o simbolismo que abriu caminho para um enfoque psicanalítico da crítica literária no Brasil No ano seguinte juntamente com FRANCISCO FRANCO DA ROCHA fundou a pri meira sociedade freudiana do continente sulamericano Embora dissolvida ressur giu em 1944 como Grupo Psicanalítico de São Paulo até que em 1951 durante o congresso da IPA realizado em Amsterdã foi reconhecida como a Sociedade Brasi leira de Psicanálise SBPSP nome que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 261 persiste até a atualidade com uma enorme pujança e vitalidade Foi DMARCONDES quem promoveu a vinda da psicanalista alemã ADELHEID KOCH a São Paulo em 1936 com o propósito de anali sar e formar didatas segundo os critérios da IPA o que de fato aconteceu Os nomes de VIRGINIA BICUDO FLAVIO RDIAS e o do pró prio DURVAL MARCONDES são o melhor teste munho do acerto da vinda ao Brasil da pri meira psicanalista européia a se instalar no continente latinoamericano Também foi MARCONDEs quem em 1928 criou a Revista Brasileira de Psicanálise acolhida de forma entusiástica por FREUD que enviou uma breve mensagem de sau dação transcrita no primeiro número pu blicado Além disso publicou muitos traba lhos de introdução à psicanálise foi pionei ro da higiene mental nas instituições esco lares inaugurou a primeira cátedra de psi cologia na Universidade de São Paulo e se manteve até o final da vida faleceu em 1981 um permanente participante ativo e incentivador do movimento psicanalítico com repercussões por todo o Brasil Masoquismo Termo empregado pela primeira vez pelo sexólogo KRAFTEBBING com o significado de perversão sexual Deriva do nome do es critor austríaco LEOPOLD VON SACHERMASO CH que descrevia em seus romances uma ati tude de submissão e humilhação masculina em relação à mulher amada numa busca de sofrimento Assim durante muito tempo o significado de masoquismo ficou conectado com a noção de adultos que não podem en contrar uma satisfação sexual a menos que simultaneamente se lhes inflija alguma forma de dor física e humilhação física e moral FREUD reestudou o problema do masoquis mo principalmente em dois trabalhos Em Uma criança é espancada 1919 a partir de quatro casos de mulheres Freud investiga três fases com distintas fantasias que acompanham a criança ao ser castiga da fisicamente sendo que numa delas o prazer de ser espancado se deve à expia ção da culpa edípica O segundo trabalho é O problema econô mico do masoquismo 1924 no qual já respaldado na noção de pulsão de morte formulado em 1920 FREUD dando uma dimensão maior do que a de cinco anos atrás distinguiu três tipos de masoquismo o erógeno o moral e o feminino 1 O masoquismo erógeno referese à ob tenção do prazer sexual sempre ligada à dor 2 Pela denominação o masoquismo femini no pode dar a impressão de que seja exclusi vo e específico das mulheres o que não é o caso FREUD levando em conta sua convic ção quanto à existência de uma bissexualida de descreveu esse masoquismo feminino em homens que apresentam fantasias de serem castrados de sofrer passivamente o coito a dor do parto Esse tipo de masoquismo sem pre foi muito contestado pelos analistas 3 O masoquismo moral alude à situação na qual o sujeito masoquista não necessita de parceiros porquanto ele se autoinflige dores não unicamente sexuais devido a seus sen timentos de culpa com a respectiva necessi dade inconsciente de castigo Essa modalida de de masoquismo parece que deve ser mais creditada à ação da pulsão de morte Em prosseguimento FREUD completou com suas clássicas concepções de masoquismo primário e masoquismo secundário O masoquismo primário referese à pul são de morte dirigida ao próprio sujeito porém ligada pela libido e unida a ela É denominada primária porque ainda não está investida em objeto exterior e tam bém porque se opõe ao masoquismo se cundário O masoquismo secundário instalase em um segundo momento e é definido como um re tomo do sadismo sobre a própria pessoa que se acrescenta ao masoquismo primário 262 DAVID E ZIMERMAN Conquanto o termo masoquismo continue pertencendo essencialmente ao campo da sexologia do ponto de vista psicanalítico o próprio FREUD e seguidores estudaram sua conceituação além da perversão sexual englobando muitos outros atos e tipos de relacionamento Deram assim origem a um novo e relevante vocábulo o sadomasoquis mo levando em conta que o sadismo e o masoquismo coexistem tanto intra como intersubjetivamente Match J KANTROWITZ É útil estabelecer uma distinção entre as conceituações de aliança terapêutica trans ferência positiva ver os verbetes e match Este último cuja melhor tradução parece ser encontro é um interessante conceito que aparece em trabalhos dos Psicólogos do Ego norteamericanos de pesquisa da prática psicanalítica KANTROWITZ 1986 Fundamentalmente diz respeito ao fato de que indo além dos fenômenos transferen ciaiscontratransferenciais as características reais de cada um do par analítico quer de afinidade de rejeição e principalmente da presença de possíveis pontos cegos no ana lista segundo pesquisas de longa duração podem determinar uma decisiva influência no curso de qualquer análise Assim segundo esses autores um mesmo paciente analisado por dois psicanalistas de uma mesma competência e seguidores de uma mesma corrente psicanalítica pode evoluir muito mal com um deles e muito exitosamente com o outro e viceversa Também determinados níveis de sua estru turação psíquica por exemplo a sexuali dade podem evoluir muito bem com um analista e estagnar com o mesmo analista em outro nível por exemplo a área do nar cisismo e o inverso ocorrer em uma análi se feita com o outro psicanalista ou seja muito depende das peculiaridades do en contro analítico Matema LACAN LACAN criou esse termo em 1971 para de signar um conjunto de escritas de aspecto algébrico que têm por finalidade explicar conceitoschave da teoria psicanalítica em termos estruturais que transcendem ao emprego das palavras comumente usadas de modo que matema se constitui como a escrita do que não pode ser dito mas que pode ser transmitido LACAN inspirouse no termo grego mathema que significa conhe cimento Embora haja uma semelhança de escrita o conceito lacaniano de matema não pertence ao campo da matemática LACAN inventou ao mesmo tempo os con ceitos de matema e de nó borromeu ver esse verbete O primeiro matema ele to mou emprestado da lingüística que dispõe numa forma de equação algébrica as rela ções entre significantes e significados LA CAN formulou outros matemas referentes à metáfora e à metonímia ao estádio do es pelho ao desejo ao Outro às fórmulas da sexuação dos quatro discursos etc Material clínico Expressão que desde os tempos pioneiros até a atualidade é usada rotineiramente pelos analistas para referir o conjunto de relatos verbais trazidos pelo paciente sob a forma de lembranças fantasias sonhos lapsos fatos do cotidiano e de certos comportamentos à espera de serem com preendidos e interpretados pelo analista Seguidamente FREUD comparava o traba lho analítico com o do arqueólogo que a partir dos fragmentos que paulatinamente vão sendo descobertos pelas escavações conseguem reconstituir uma edificação de saparecida Destarte podese dizer que a expressão material apresenta duas facetas uma posi tiva e outra negativa A positiva alude ao fato de que se trata de uma matériaprima VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 263 que uma vez escavada e descodificada permite a interpretação que leva ao insi ght A correlação e elaboração de um con junto de insights permitirão uma verdadei ra construção ou reconstrução da persona lidade do sujeito através do material por ele trazido que metaforicamente são as esta cas os tijolos a argamassa O aspecto negativo do termo material é o inconveniente de reforçar a falsa idéia de que basta ao paciente ficar no papel de aportar material e a partir daí ao analista fazer as construções interpretativas e não como é consensual na psicanálise contem porânea uma construção a dois levando em conta que o analista também fornece material a ser refletido logo construído pelo paciente Comentário Outro inconveniente é que a palavra material além do significado po sitivo de matériaprima para construção também é bastante empregada com o sen tido de material fezes urina sangue pus etc coletado para laboratório de análises da clínica médica o que dá uma dimensão por demais materialista ao processo analí tico quando sabemos que ele também se nutre de aspectos espirituais intuitivos ide ogramas angústias sem nome etc Se fosse necessária uma mudança de ter minologia entendo que o termo narrati va alusivo à expressão gênero narrativo empregada por AFERRO 1998 seria bas tante mais adequada do que simplesmente material clínico Maternagem função de Nos referenciais psicanalíticos a pessoa da mãe adquire um significado genérico isto é não se refere unicamente à mãe biológi ca mas também a alguma figura substituta pai avó encarregada de prestar os cui dados primários essenciais Em psicanáli se o termo maternagem aparece emprega do com duas acepções distintas como uma técnica de tratamento analítico e como uma função básica do analista no desenvolvi mento normal de qualquer análise 1 Com a acepção de técnica Alguns auto res preconizaram uma modalidade técnica de tratamento analítico quando dirigido a pacientes psicóticos mais particularmen te nos casos de esquizofrenias em que a relação terapeutapaciente fosse ao mesmo tempo num nível simbólico mas também real de sorte que viesse a ser análoga àque la que deveria ter existido mas não existiu suficientemente bem entre a criança e uma mãe boa A maior crítica que pode ser feita a essa terapia consiste na impossibilidade concreta além dos inconvenientes de po der reforçar uma infantilização do paciente de o analista vir a funcionar como uma mãe susbtituta com o compromisso de ter uma ampla disponibilidade e de vir a pre encher todas as necessidades desejos e demandas decorrentes de todas faltas fa lhas e vazios que se formaram nos primei ros anos de vida 2 Como acepção de função o termo ad quire uma relevância especial porque dife rentemente de funcionar como uma pessoa substituta da mãe o terapeuta deve pos suir uma autêntica atitude interna que per mita propiciar ao sujeito a internalização de um novo modelo de figura materna dife rente da sua que lhe falhou eou faltou Esse novo modelo para identificação a expres são que KOHUT USa é internalização trans mutadora implica a necessidade de o ana lista gostar verdadeiramente de seu paci ente fortemente regredido de funcionar como adequado continente e espelho de reconhecer e valorizar os aspectos positivos ocultos no paciente Ademais o terapeuta deve possuir uma série de atributos afins de molde a que mais do que atender às demandas con cretas a grande função de maternagem do analista consiste em entender as profun das necessidades que se expressam por di 264 DAVID E ZIMERMAN ferentes meios particularmente nas situa ções psicóticas Matte Blanco lgnacio Eminente psicanalista nascido em Santi ago do Chile em 1908 e falecido em 1995 MATTE BLANCO fez sua formação psi canalítica em Londres mais afinado e próximo dos analistas que futuramente com o episódio das Grandes Controvér sias vieram a constituir o Grupo Indepen dente da Sociedade Britânica de Psica nálise Em 1943 voltou ao Chile onde ficou morando e trabalhando até 1966 tendo lá fundado um grupo de estudos que veio a ser reconhecido pela IPA De pois emigrou para a Itália e radicouse em Roma onde continuou suas ativida des de ensino e de clínica analítica inte ressandose especialmente pelo tratamen to da esquizofrenia pelos transtornos nar císicos e pelas questões pertinentes ao self A fim de definir uma lógica da psicose MATTE BLANCO desenvolveu teorias originais que consistem em estudos sobre a bilógi ca ou seja a lógica simétrica e assimétrica se João é pai de Pedro pela lógica simétri ca Pedro acha que é o pai de João e sobre os conjuntos infinitos os quais estão ganhando uma gradativa relevância por todos aqueles que se interessam pela com preensão da lógica psicótica Mecanismos de defesa Ver o verbete Defesas Melancolia FREUD A etimologia da palavra melancolia deri vada dos étimos gregos melanos negro e kholé bile expressa com clareza que se trata de uma doença conhecida desde a Anti güidade que se caracteriza por um hu mor sombrio isto é uma tristeza e um de sânimo profundos um estado depressivo capaz de conduzir ao suicídio com ou sem a presença de idéias delirantes de ruína A analogia com bile negra tem origem nos ensinamentos de Hipócrates que atribuiu a responsabilidade pelos misteriosos fe nômenos orgânicos à presença de quatro humores o sangue responsável pela ale gria e o riso a bile amarela imita o fu ror do fogo a bile negra imita a terra e a fleuma responsável pela inércia Es ses quatro humores se misturariam daí resultando a alternância da melancolia com a mania Essa teoria perdurou por séculos durante os quais a melancolia ocupou o interesse de filósofos literatos médicos psiquiatras e mais a partir de FREUD dos psicanalistas Depois de alguns comentários esparsos foi a partir de Luto e Melancolia 1917 que FREUD estudou aprofundadamente essa te mática e estabeleceu uma importante di ferença entre o luto e a melancolia As sim considerou que a melancolia é a for ma patológica do luto No trabalho de luto o sujeito consegue desligarse pro gressivamente do objeto perdido Na me lancolia pelo contrário ele se julga cul pado pela morte da pessoa perdida e se identifica de tal modo com ela que sente os mesmos sofrimentos que imagina que o morto tenha sofrido ou esteja sofrendo situação essa que pode cronificar indefi nidamente Embora os quadros clínicos da melancolia variem bastante qualitativa e quantitativa mente existe uma invariante na estrutura melancólica Consiste no fato já assinala do por FREUD de que há uma impossibili dade permanente de o sujeito fazer o luto pelo objeto perdido Essa falta de elabora ção representa uma permanente confusão entre o seu eu e o objeto perdido logo seu eu também fica perdido e esvaziado e tudo isso conduz à constante ameaça de risco de suicídio VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 265 Essa fusão e confusão entre o sujeito enlu tado e o objeto perdido promove uma con fusão à fase do narcisismo primário de sor te que melancolia também era conhecida como psiconeurose narcisista LACAN compara a melancolia com a situa ção extrema do enamoramento um esta do em que o sujeito não é nada compa rado ao tudo que é atribuído ao objeto amado e extremamente idealizado de forma que ele considera o quadro melan cólico uma doença do desejo porque nes sa situação a pessoa enlutada renuncia a desejar a ser entra num estado de des ser e contrai um forte namoro com a morte Meltzer Donald Durante um longo período motivado por profundas e quase irreconciliáveis divergên cias quanto ao sistema de ensinoaprendi zagem dos candidatos à formação psicana lítica MELTZER se opôs de forma ostensiva à sociedade britânica e dela foi expulso ten do havido uma futura reconciliação São inúmeras as contribuições originais de Meltzer descritas em muitos livros dos quais referimos os que seguem Processo analíti co 1967 Estados sexuais da mente 1973 Explorações em autismo 1975 Desenvol vimentos kleinianos que consta de três vo lumes um dedicado a estudar alguns as pectos da obra de FREUD outro a de M KLEIN e o terceiro a de BION 1978 Dream life 1984 Estudos em metapsicologia 1984 Sinceridad y otros trabajos que consiste numa seleção de trabalhos escri tos por BION nos últimos 40 anos 1997 Além desses também participou da elabo ração de livros com colaboradores Memória FREUD MKLEIN BION A memória na psicanálise aparece em vá rias dimensões estudadas por distintos psi canalistas FREUD ocupouse do tema tanto do ponto de vista teórico no que diz respeito a sua importante função do ego como também da importância que representa para a prá tica analítica Esta última condição fica cla ramente ilustrada com o primeiro critério de cura postulado por FREUD quando na vigência da sua teoria traumática das neu roses asseverava que os neuróticos his téricos sofriam de reminiscências e que a cura analítica consistiria em fazêlos se recordarem daquilo que estava esquecido reprimido Comentário Preferi usar o verbo recor dar no lugar de lembrar porque etimologi camente ele provém de re uma volta ao passado cor cordis em latim coração o que dá a dimensão de que mais do que Eminente psicanalista pertencente à Socie dade Britânica de Psicanálise americano de nascimento formouse em medicina espe cializandose em psiquiatria infantil nos Es tados Unidos Emigrou para Londres em 1954 especificamente para fazer formação psicanalítica tendose analisado com MKLEIN até a morte dela em 1960 Junta mente com Martha Harris sua segunda es posa MELTZER juntouse a EBICK na Clínica Tavistock assim exercendo grande influên cia no desenvolvimento da psicoterapia in fantil lá praticada 266 DAVID E ZIMERMAN uma simples lembrança abreativa desig na o fato de que antigas experiências emo cionais estão sendo revividas conscientiza das e resignificadas na situação analítica Essa postulação de FREUD continua a ter sig nificativa importância na prática analítica tendo em vista que a melhor maneira de esquecer é recordar MKLEIN fez uma interessante observação que denominou memória de sentimentos memory in feelings no original Tratase de um fenômeno psíquico que ela descre ve em seu trabalho Inveja e gratidão 1957 Embora pouco conhecida e divul gada essa obra é muito significativa para elucidar certas manifestações de difícil en tendimento porquanto permite inferir que arcaicos sentimentos e pensamentos que não conseguem ser recordados como fatos acontecidos possam vir a ser recordados através de outras vias entre elas as das somatizações BION estuda o fenômeno da memória em dois registros 1 Na Grade ocupando a terceira coluna chamada notação BION destaca a impor tância para a formação e utilização dos pensamentos que eles sejam como que arquivados na memória da mesma forma com que são guardados documentos im portantes num cartório de notas daí o ter mo notação 2 Na prática analítica BION deu especial importância ao que ele formulou como a necessidade de o analista estar na sessão analítica num estado mental de sem me mória de desejo e ânsia de compreensão Deve ficar claro que com essa frase Bion quer frisar que a mente do analista não pode estar saturada por aqueles aspectos mas nunca que ele seja contra o exercício da memória Tanto que a memória que espon taneamente brota no curso da sessão seja na mente do analista seja na do paciente estado mental que BION denomina evolu ção ele considera bastante útil Memória do futuro uma BION 1975 1977 1979 Nos últimos anos de vida caracterizados por aquilo que costuma ser chamado como a fase mística da obra de BION ele escreveu três livros que constituem sua famosa trilo gia O que é inusitado nessa trilogia é que ela não tem finalidade de natureza formal e es tritamente de natureza científica Antes tra tase de uma literatura na qual podese dizer predomina um estilo de scienceficcion não obstante existam verdadeiras preciosidades que instigam reflexões psicanalíticas no leitor Ao mesmo tempo seu estilo narrativo ad quire um clima poético em que se alternam passagens sérias e documentais com ou tras comovedoras Inclusive não faltam tre chos divertidos Esses relatos guardam um cunho autobiográfico embora camuflado nos relatos surrealistas entre os personagens Entretanto isso só fica mais claro quando a leitura dessa trilogia é completada com a de A long weekend livro publicado após a sua morte e que em dois volumes consti tuem a sua autobiografia propriamente dita Uma memória do futuro não é de leitura fácil tanto que em um primeiro momento as editoras se negaram a publicálo BION fez a edição a suas expensas porque tinha uma predileção por essa trilogia por acre ditar que estava lançando as sementes da construção do futuro da psicanálise No primeiro volume da trilogia O sonho The dream 1975 BION adverte o leitor de que este é um relatório fictício de uma psicanálise que inclui um sonho artificial mente construído Nesse livro BION apare ce duplicado como A autor e Q questio nador Dntre todos os personagens é Ro land quem o representa em diversas fases da vida No segundo volume O passado presente The past presented 1977 persiste uma mesma linha de exposição dissociada como é a do livro anterior isto é cada capítulo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 267 recebe como título apenas o número da página onde cada um começa Os capítu los são longos numerosos Os personagens são muitos e às vezes com neologismos e à moda de parábolas tratam de problemas como o da purgação das penas e o da mor te BION já estava com 80 anos e permitem que o personagem denominado psicanalista doutrine os seus pontos de vista acerca da verdade última O terceiro volume A aurora do esquecimen to The dawn of oblivion 1979 adota uma carpintaria de teatro e num estilo francamente surrealista visa a uma espécie de reconstru ção do passado se abrindo para o futuro Podese dizer que este volume é um ensaio psicoembrionário por exemplo um persona gem relata o encontro entre um espermato zóide e um óvulo como uma tentativa de dar uma forma artística e estética à experiên cia prénatal Essa experiência aparece sob a forma de uma viagem dele próprio que se processa desde antes do nascimento até sua morte Isso nos permite dizer utilizando os termos do próprio BION uma viagem da ce sura da vida para a cesura da morte Menos K K BION BION foi o autor que mais se dedicou ao es tudo principalmente para a prática analíti ca do relevante problema concernente às verdades falsificações e mentiras que es tão contidas no discurso que o paciente emprega na sua comunicação com o ana lista Deu especial atenção à atitude do pa ciente de querer ou não querer tomar co nhecimento das verdades que consciente ou inconscientemente considera penosas tanto as externas como as internas No caso em que predomina um nãoamor às verdades em que preponderância do uso da negação segundo BION sempre presen te na parte psicótica da personalidade ele emprega a sigla K ou seja instalase um ataque aos vínculos daí o sinal negativo que permitiriam um acesso ao conhecimen to knowledge em inglês daí a inicial K Os casos em que a negação do conheci mento das verdades atinge um grau extre mo equivalem ao estado mental que LACAN chama de foraclusão Metáfora LACAN Baseado em Fundamentos da linguagem do lingüista ROMAN JAKOBSON LACAN intro duziu uma importante concepção psicana lítica relativamente aos termos metáfora e metonímia Metáfora consiste na substituição simbólica de um significante por um outro Um exem plo pode esclarecer melhor e permite estabe lecer a necessária distinção entre os conceitos de signo metonímia e metáfora a palavra fogo permite três significados conforme as associações que o sujeito lhe der 1 Quando o vocábulo fogo está direta mente ligado à fumaça estamos diante de uma linguagem sígnica porque estabele ce uma presença imediata visível e con creta sem haver discriminação conceitual entre ambos 2 Quando fogo for substituído por calor tratase de metonímia porque os dois con ceitos estão ligados por uma continuidade sem simbolismo 3 Se a palavra fogo for utilizada para transmitir uma paixão ardente podemos dizer que se trata de uma metáfora por que houve uma relação de semelhança simbólica e sobretudo a criação de um novo sentido Assim a metáfora está relacionada com a similaridade tendo LACAN associado a for mação da metáfora com a noção freudiana de condensação Metapsicologia FREUD Termo empregado pela primeira vez por FREUD em carta a FLIESS provavelmente ins 268 DAVID E ZIMERMAN pirado na expressão metafísica bastante corrente na época para referir a todos os fenômenos físicos incapazes de serem com provados cientificamente Na verdade FREUD confessava a FLIESS que a sua passa gem da medicina para a psicanálise estava lhe possibilitando exercer sua grande pai xão de se dedicar aos conhecimentos filo sóficos através de especulações teóricas acerca daquela área do psiquismo que leve ao outro lado do consciente Embora os termos teoria e metapsicologia sejam empregados quase como sinônimos é útil estabelecer uma distinção entre eles Teo ria alude a um conjunto de idéias que objeti vam explicar determinados fenômenos clíni cos que podem ou não ser comprovados pela experiência clínica metapsicologia em cuja etimologia o prefixo grego meta quer dizer algo muito elevado tem uma natureza mais trans cendental serve como ponto de partida para conjecturas imaginativas as quais dificilmen te poderão ser comprovadas na realidade como por exemplo a pulsão de morte FREUD formulou explicitamente apenas três pontos de vista característicos da metapsi cologia que ele carinhosamente chama va de a bruxa o topográfico o dinâmico e o econômico Autores da Psicologia do Ego acrescentaram o ponto de vista genético e o de adaptação Os trabalhos metapsicológicos de FREUD não são sistemáticos nem completos tampou co de aparecimento seqüencial Por vezes contrapõemse e aparecem espalhados ao longo de sua obra com sucessivas trans formações Na verdade sabese que FREUD projetara escrever em 1915 Elementos para uma metapsicologia através de doze ensaios que constituiriam uma espécie de testamento dos fundamentos essenciais de sua obra Concluiu cinco e esboçou outros sete que nunca vieram a ser publicados e provavelmente destruídos por ele próprio A metapsicologia consiste na elaboração de modelos teóricos que não estão diretamen te ligados à prática analítica ou a experiên cias clínicas vivenciadas sempre levando em conta as hipóteses fundamentais acer ca da existência do inconsciente das ins tâncias psíquicas das pulsões das repres sões etc De forma mais clara nos primei ros tempos mas de certa forma até o fim de sua obra os trabalhos metapsicológicos de FREUD visavam a conseguir fazer uma ar ticulação do psiquismo com o substrato bi ológico como pode ser evidenciado nos en saios de metapsicologia que ele produziu dos quais segue uma síntese Em 1895 FREUD redigiu o seu importantís simo e vigente trabalho Projeto de uma psicologia científica para neurólogos onde aparece claramente a tentativa de ligar o psíquico com o orgânico Em 1900 no capítulo VII de A interpreta ção dos sonhos ele descreve seu modelo to pográfico da mente além de postular a exis tência de um processo primário uma primiti va forma de funcionamento da mente No ano de 1905 aparece o clássico Três ensaios sobre a teoria da sexualidade onde FREUD estuda a normalidade e a patologia que acompanham a sexualidade na infân cia Em 1911 surge a publicação de For mulações sobre os dois princípios do fun cionamento mental no qual ele propõe a existência dos princípios do prazer e o da realidade Em 1915 FREUD lançou quatro dos seus mais importantes trabalhos metapsicológi cos Sobre o narcisismo uma introdução As pulsões e suas vicissitudes O inconsci ente e Luto e melancolia Em 1920 é editado seu mais revolucioná rio trabalho metapsicológico Além do prin cípio do prazer onde ele postula a existên cia da pulsão de morte Em 1923 vem à luz um outro notável tra balho metapsicológico O ego e o id no qual ele formula seu modelo de teoria estrutural da mente Seguemse ainda os trabalhos A negação 1925 Inibições sintomas e an VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 269 gústia 1926 Neurose e psicose 1924 Fetichismo 1927 Clivagem do ego no pro cesso de defesa Metonímia LACAN Enquanto a metáfora se fundamenta no fenômeno da similaridade do simbolismo e do mecanismo de condensação a meto nímia se caracteriza pela contigüidade a falta de criação de um novo significado sim bólico e a presença do mecanismo de des locamento Na prática analítica o conceito de metoní mia adquire grande importância pela ex pressiva freqüência com que muitos paci entes tomam uma parte do todo pode ser ele próprio um outro um acontecimento como se fosse a totalidade Por exemplo um nariz feio pela metonímia adquire para o sujeito o significado de uma pessoa total mente feia uma nota baixa de rendimento escolar de um aluno pode significar para o sujeito que o aluno é um burro ou um fracassado Igualmente o fenômeno da demanda fica mais facilmente compreensível utilizando se o exemplo de uma criança que troca os vários objetos que demanda de forma in saciável bala doce brinquedos por que o desejo essencial amor atenção está metonimicamente deslocado em diver sos fragmentos contíguos que conservam um mesmo significado mas que emergem na linguagem de forma aparentemente di ferente Místico BION Quando quer referir que indivíduos porta dores de idéias novas representam uma ameaça para determinado establishment BION os chama ora de místicos ora de gê nios ou ainda de heróis Numa dimensão exagerada os místicos são pessoas que pro clamam conseguir um contato direto com aquilo que os outros não alcançam Quan do esses indivíduos excepcionais fazem par te da ciência são gênios Quando partici pam de ações relevantes para as nações são heróis Mitologia A mitologia o estudo dos mitos sempre representou para a psicanálise uma fonte inesgotável da sabedoria milenar contida nas dobras de seus relatos justamente por que a exemplo dos sonhos os mitos tra zem embutidas as fantasias universais sub jacentes nos indivíduos e na coletividade Como comprovação disso basta mencio nar os mitos de Édipo e o de Narciso e o mundo de concepções psicanalíticas que deles foram extraídos A importância da mitologia cresce ainda mais para a psica nálise à medida que os mitos representam uma intersecção entre o mundo das fanta sias e o da realidade Na verdade o mito é a narrativa imaginá ria e metafórica de uma crença coletiva que procura explicar alguma coisa desconheci da e transcendental como são as questões fundamentais como foi criado o universo de onde viemos por que e para que vive mos para onde vamos após a morte quais são as forças sobrenaturais que comandam as leis deste mundo Assim por exemplo a maioria das religiões tem seus mitos de cri ação que procuram explicar a origem do mundo e o surgimento de deuses e heróis que salvam a humanidade das hecatombes Os mitos quase sempre vêm acompanha dos de ritos e rituais Do ponto de vista etimológico mito deri va do grego mythos que significa pala vra relato Mystes é o iniciado e mysteri on é mistério que tem a ver com cerimo niais e rituais de iniciação Iniciado é aquele que se prepara para participar de um mistério logo mito e mistério estão intimamente conectados 270 DAVID E ZIMERMAN Muitos autores têm estudado mais profun damente a mitologia em geral ou mais par ticularmente os mitos regionais Nesse últi mo caso impõese mencionar no mínimo alguns importantes psicanalistas sulameri canos como o peruano MOISÉS LEMLIJ que presidiu o Simpósio Internacional Multidis ciplinar sobre Mitos realizado por iniciati va da Sociedade Peruana de Psicanálise na cidade de Cuzco em abril de 1989 Nesse simpósio foram apresentados trabalhos ri quíssimos que compilados pelo próprio LEMLIJ estão publicados em três volumes com o título de Mitos universais america nos e contemporâneos Um enfoque multi disciplinar uma leitura obrigatória para quem se interessa por essa temática Também cabe citar o psicanalista peruano Max Hernandes autor de estudos sobre os mitos andinos cor relacionados com a perspectiva psicanalítica Também merece destaque DAVID AZOUBEL NETO psicanalista brasileiro radicado na ci dade de Ribeirão Preto que respaldado em uma experiência pessoal de convívio com a tribo dos índios Carajá ilha do Bananal em Goiás faz uma abordagem psicanalítica e antropológica de diferentes mitos regionais que estão reunidos no seu excelente livro Mito e Psicanálise Estudos psicanalíticos sobre for mas primitivas de pensamento 1993 Como comprovação da fertilidade e beleza psicanalítica que os mitos inspiram serve assi nalar o crescente espaço que os congressos de psicanálise além de outros eventos especiais estão reservando ao campo da mitologia Mitos Do ponto de vista psicanalítico cada mito pode ser estudado através de vértices dis tintos Para exemplificar vejamos como dois eminentes psicanalistas abordaram o mito de Édipo FREUD o utilizou como eixo cen tral para construir a teoria do complexo de Édipo com todas as conhecidas implicações psíquicas como as fantasias sexuais a an gústia de castração o processo dos recal ques os fenômenos identificatórios etc BION privilegiou enfocar a maneira como os diferentes personagens e situações que com põem a tragédia edípica se comportam dian te das verdades de sorte que BION tentou enquadrar esses aspectos na sua Grade Os mitos na Grade ocupam a fileira C juntamente com os sonhos e devaneios assim expressando que os mitos já contam com os elementos α da fileira B e vão ser vir de suporte para serem transformados na fileira D que consiste na etapa das pré concepções na gênese da capacidade para pensar São tantos e tão importantes os mitos que percorrem a existência humana desde a mais remota Antigüidade até os dias atu ais que seria impossível aqui relatálos Além do mito de Édipo já referido que ser viu de base para os fundamentos da doutrina freudiana um dos primeiros mitos estudados em psicanálise foi o estudado por OTTO RANK em seu livro O mito do nascimento do herói publicado em 1909 Nele RANK apresenta seus estudos sobre as lendas típicas das grandes mitologias ocidentais a respeito do nascimen to de reis e dos fundadores das religiões Assim observou que Rômulo cuja ama deleite foi uma loba Moisés abandona do e adotado pela realeza Édipo aban donado e adotado por uma família nobre Rén alimentado por uma ursa e adotado por um pastor que lhe deu o nome de Pa ris filho de ursa têm em comum o fato de terem sido abandonados em razão de al guma previsão sombria após são achados adotados e na idade adulta recuperam sua identidade original e surgem como heróis Posteriormente apareceram aplicações psi canalíticas extraídas de mitos como os de Narciso Eros Tântalo etc Para exemplifi car somente com BION cabe consignar que para a fundamentação de seus estudos so bre a normalidade e a patologia do conhe cimento além do mito de Édipo também VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 271 se baseou nos elementos contidos nos mi tos do Éden de Babel dos funerais do rei de Ur e da morte de Palinuro FREUD sinteti zou a importância dos mitos com a seguin te frase o mito é o sonho da humanida de O sonho é o mito do indivíduo Modelos BION BION sempre revelou uma preocupação bási ca em relação à comunicação dos seus escri tos qual seja a necessidade de que os ter mos transcendessem o plano de uma mera sensorialidade e que ao mesmo tempo pu dessem transmitir uma compreensão emoci onalizada Para tanto propunha a utilização de distintos tipos de modelos que possibilitas sem variados vértices de observação e de entendimento Da mesma forma fundamen tou as razões porque considerava convenien te o uso de modelos destacando sua flexibili dade em contraste com a rigidez das teorias Ao longo de sua obra podese verificar quanto BION utiliza modelos e os mais dis tintos como biológicos místicos matemá ticos musicais estórias mitos imagens metáforas etc com a finalidade de situar uma intersecção e uma ponte entre os pro cessos de abstração e os de concretização sensorial Assim em O aprender com a ex periência 1962 BION afirma que o mo delo é a abstração da experiência emocio nal ou a concretização de uma abstração Para exemplificar BION utiliza o modelo di gestivo para explicar a introjeção a absor ção e a expulsão evacuação dos elemen tos psicanalíticos Da mesma forma os clás sicos rébolos do gênero sexual feminino e masculino foram utilizados por ele para de signar respectivamente as originais concep ções de continente e de conteúdo o que se constitui provavelmente no seu modelo mais conhecido e mais importante Outro modelo que cabe mencionar porquanto se refere à prática analítica é o que ele denomina espi ral helicoidal da qual diz que nas sessões voltamos constantemente aos mesmos pon tos só que em diferentes níveis da hélice Moisés e o monoteísmo três ensaios FREUD 1939 Livro considerado como um dos mais polê micos da obra de FREUD Os críticos argumen tam que para desenvolver sua tese principal a de que Moisés o grande líder dos judeus seria de fato um egípcio de uma linhagem aristocrática FREUD partiu de premissas equi vocadas não confirmadas pelos antropólogos nem pelos historiadores O próprio FREUD mostrouse ambíguo quanto a sua publica ção tanto que embora esperasse que o livro viria a alcançar enorme importância e reper cussão levou um pouco mais de quatro anos para ser completado e durante esse tempo sofreu constantes revisões Moisés e o monoteísmo consiste de três ensaios de extensão muito diferente os quais resenhamos a seguir Ensaio I Moisés um egípcio Nesse texto FREUD diz que é difícil afirmar se Moisés foi um personagem histórico ou uma figura lendária Baseiase no trabalho O mito do nascimento do herói que OTTO RANK publicara em 1909 o qual aborda as origens fantásticas que cer cam o nascimento de muitos heróis como a lenda de Moisés FREUD também acentua que o nome Moisés era egípcio derivado da pala vra egípcia mose que significa criança No Ensaio II denominado Se Moisés fos se egípcio o trabalho é desdobrado em 7 partes nas quais são abordados os temas referentes a a se Moisés fosse egípcio b Moisés apresentou uma religião exclusiva c comparação das religiões judaica e de Áton a qual exclui tudo o que tenha rela ção com mitos mágica e bruxaria d dois deuses e dois Moisés e os levitas eram se guidores de Moisés os levitas são conside rados uma das doze tribos de Israel a de Levi f supressão de cem anos de história g o assassinato de Moisés 272 DAVID E ZIMERMAN O Ensaio III Moisés o seu povo e a reli gião monoteísta enfoca 14 temas a a pre missa histórica b o período de latência e a tradição c analogia da saga judaica com os traumas causadores das neuroses d aplicação o totemismo é encarado como a primeira forma pela qual a religião se ma nifestou na história humana e dificulda des surgidas na transferência da psicologia individual para a de grupo f sumário e re capitulação g o povo de Israel h o gran de homem i o avanço em intelectualida de j a renúncia à pulsão k o que é verda deiro na religião l o retorno do recalcado m a verdade histórica n o desenvolvimen to histórico Esse trabalho naturalmente deve ser enca rado como continuação dos primeiros es tudos de FREUD sobre as origens da organi zação social humana em Totem e Tabu 19121913 e em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 Um exame bem elaborado e informativo do livro poderá ser encontrado no capítulo XIII do terceiro vo lume da biografia escrita por ERNEST JONES 1957 Moisés e o monoteísmo está publicado no volume XXIII páginas 13 a 161 da Stan dard Edition brasileira Moreno Jacobo Levy JMORENO inventor do Psicodrama nasceu em Bucareste na Romênia em 1889 Es tudou e graduouse em medicina em Vie na tendo feito especialização em psiquia tria Desde criança mostrou grande inclina ção por tudo que lhe permitisse brincar de fazer teatro Em 1921 ele criou o que cha mava de teatro de improvisação no qual durante três anos experimentou com ato res a idéia da interpretação espontânea so bre os acontecimentos do dia aquilo que gostava de chamar de jornal vivo Em 1925 emigrou para os Estados Unidos morando na Filadélfia onde fez carreira internacional popularizando o psicodrama e a sociometria a última visando o estudo das reações de rejeição em organizações grupais No fim da vida sofrendo de distúrbios car díacos Moreno fiel aos seus princípios encenou sua própria morte segundo os prin cípios do psicodrama parou de comer só falava alemão e romeno e recebeu duran te três semanas à sua cabeceira todos os seus fiéis seguidores vindos do mundo in teiro Ver o verbete Psicodrama Morte pulsão de FREUD e MKLEIN FREUD a partir de Além do princípio do pra zer 1920 introduziu a concepção da pul são de morte a qual concebeu como ten do a finalidade de manter uma redução de toda carga de tensão orgânica e psíquica logo uma volta ao estado inorgânico Essa pulsão pode permanecer dentro do sujeito sob uma forma de fortes angústias e uma tendência para a autodestruição ou para fora pulsões destrutivas A partir da pulsão de morte FREUD formu lou o princípio da compulsão à repetição o qual designa a tendência dos psiquismo humano em repetir situações penosas e traumatizantes anteriores Isso tanto pode ser comprovado nos fenômenos da trans ferência nas neuroses traumáticas que percebeu nas neuroses de guerra em muitos jogos infantis ou em certas formas psicopatológicas como na melancolia nos casos de suicídio e no enigma do ma soquismo FREUD explicou seu conceito de pulsão de morte com a seguinte metáfora Assim como amor e ódio por um pessoa habitam nosso peito ao mesmo tempo assim também toda vida conjuga o desejo de manterse e o dese jo da própria destruição Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original assim também toda VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 273 matéria viva consciente ou inconscientemen te busca readquirir a completa a absoluta inércia da existência inorgânica O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós MKLEIN por sua vez adotou a designação de pulsão de morte cunhada por Freud po rém deulhe uma concepção significativa mente diferente Enquanto para FREUD a expressão pulsão de morte designava uma origem fundamentada em uma necessida de biológica de retorno à condição inorgâ nica na base do preceito bíblico viestes do pó e ao pó voltarás para MKLEIN essa pulsão de morte conceituava uma inata destrutividade sádica dirigida ao seio mau A manifestação clínica dessa destrutivida de ela considerou a partir de 1957 como inveja primária A obra de MKLEIN está essencialmente fun damentada na ação da pulsão de morte uma vez que essa agindo por dentro acar reta a terrível angústia de aniquilamento Esta por sua vez mobiliza os mais primiti vos mecanismos defensivos do ego enquan to a pulsão de morte agindo para fora car regada com fantasias sádicodestrutivas contra objetos necessitados e ambivalente mente amados produz culpas com as con seqüentes angústias persecutórias e a ne cessidade de fazer reparações Mudança catastrófica BION 1966 Título de importante artigo publicado em 1966 onde utilizando o modelo continen teconteúdo BION mostra como em contex tos diferentes na mente nos grupos na sociedade na sessão psicanalítica etc sempre há uma conjunção constante de fatos específicos Sempre que essa conjun ção estável enfrenta uma situação de mu dança e de crescimento a situação se alte ra e se instala um clima de catástrofe Essa mudança catastrófica abriga três ca racterísticas às quais BION denomina vio lência invariância e subversão do sistema Nessa obra Bion também descreve três ti pos básicos da relação continenteconteeú do a comensal a simbiótica e a parasitá ria Partindo desse modelo faz considera ções muito interessantes relativas à intera ção das palavras com os seus significados Ainda neste texto BION estuda a relação entre o gênio ou místico aquele que é portador de uma idéia nova e o establish ment Também enfoca a relação entre o pensador e os pensamentos sob o prisma da verdade da falsidade e da mentira Em termos clínicos BION utiliza essa expres são muitas vezes o original catastrophic chan ge aparece traduzido como câmbio catastró fico para designar que toda evolução impli ca sucessivos processos de transformações Numa análise o analista deve estar atento à possibilidade de que uma mudança significa tiva de estado mental do paciente por exem plo passar da posição esquizoparanóide para a depressiva ou fazer renúncias às ilusões do mundo narcisista venha acompanhada de uma dor psíquica muito intensa que BION denomina mudança catastrófica Esta última clinicamente consiste na possibi lidade de o analisando mostrarse confuso deprimido desesperançado dizendo ao ana lista de que está muito pior do que antes de ter começado a análise não sendo rara a possibilidade de surgir uma ideação suicida Apesar da eventual dramaticidade do qua dro clínico é bem provável que ela seja tem porária e represente o preço a ser pago por uma significativa melhora e um expressivo crescimento mental Mutativa interpretação J STRACHEY Em 1934 JSTRACHEY psicanalista que per tencia à Sociedade Britânica de Psicanáli se publicou A natureza da ação terapêuti ca da psicanálise Esse trabalho veio a tor narse célebre e é ainda nos dias atuais em quase todos institutos de psicanálise ob 274 DAVID E ZIMERMAN jeto de seminário de técnica psicanalítica Ele continua promovendo polêmicas e in dagações acerca de alguns aspectos e ob jetivos da interpretação De forma sintética podese dizer que a pa lavra mutativa comporta dois significados que correm juntos Um consiste na mudan ça durante a sessão de um momento atu al vivido na transferência com o analista para um outro momento do passado vivi do com os pais de modo a promover um encontro entre esses dois planos O segun do significado alude a que por meio da ação terapêutica da interpretação transfe rencial o paciente vai mudando a natureza do seu superego Mutismo Na situação da prática analítica é útil es tabelecer uma diferença entre silêncio e mutismo O primeiro pode acontecer sob distintas modalidades graus e circunstân cias muitas vezes com uma significação bastante positiva O termo mutismo por sua vez alude a uma forma mais prolon gada e com uma determinação mais de finida do paciente em manterse silencio so na análise às vezes de forma absolu ta ou com esporádicos e lacônicos comu nicados verbais Comentário O próprio mutismo também deve ser distinguido quanto à possibilidade de decorrer de uma timidez expressiva de uma proteção ao self ameaçado portanto a serviço da pulsão de vida ou se o mutis mo adquire uma forma arrogante consti tuinte de uma conduta própria de um ne gativismo mais amplo e arraigado logo sob a égide da pulsão de morte Em resumo o paciente silencioso não deve ser sistematicamente encarado como resis tente à análise embora muitas vezes o si lêncio excessivo possa constituir um obstá culo intransponível a seu livre curso Pelo contrário é mais eficaz que o psicanalista compreenda o silêncio como um desconhe cido idioma de comunicação à espera de uma descodificação e de uma tradução em palavras simples e compreensíveis Mutualidade a experiência de WINNICOTT Com essa expressão WINNICOTT em A ex periência da mutualidade mãefilho 1969 procurou demonstrar que na relação mãe bebê no ato da amamentação mais do que a alimentação em si o fundamental para a estruturação da criança é como se proces sa a comunicação préverbal entre eles Destarte tanto a comunicação inconscien te quanto os estados afetivos referentes à mãe estão intrinsecamente ligados à habili dade da mãe em identificarse de forma fundida com seu bebê como podese de preender dessa frase textual de WINNICOTT É desta forma que testemunhamos con cretamente a mutualidade que é o início da comunicação entre duas pessoas isto é no caso do bebê uma conquista do desen volvimento que depende dos processos herdados por ele e que conduzem ao cres cimento emocional dependendo da mes ma forma da mãe de sua atitude e capaci dade de tornar real aquilo que o bebê já está prestes a alcançar descobrir criar Não O termo não aparece com bastante regula ridade na literatura psicanalítica com sig nificações distintas a partir de diversos au tores como pode ser evidenciado nas con ceituações que seguem 1 Não e Sim SPITZ Essa terminologia foi empregada por R SPITZ em seu livro No y Si 1957 no qual descreve a função estruturante que resulta de a criança poder dizer não numa fase evolutiva correlata à da analidade porquan to serve de subsídio para ela começar a construir sua noção de direito à proprieda de e uma abertura para o caminho da emancipação 2 Não analisabilidade conceito de técnica Na prática clínica o critério de admitir pa cientes para a análise clássica sempre foi uma fonte de controvérsias polêmicas e de muitas transformações ocorridas paralela mente com os avanços da teoria e das téc nicas psicanalíticas Assim durante muito tempo predominou um critério de indica ções e de contraindicações levando em conta principalmente os aspectos relativos ao diagnóstico e ao prognóstico Destarte nos primeiros tempos a análise era preliminarmente contraindicada para pa cientes de estrutura psicótica ou que pu dessem representar risco de apresentar re gressão psicótica Também deveriam ser recusados crianças pacientes considerados idosos pacientes com algum risco mais sé rio e outros afins Na atualidade os analistas sentemse mui to mais confiantes em atender pacientes borderline ou mesmo psicóticos e perver sos desde que preencham os critérios de acessibilidade que não levam tanto em conta o diagnóstico o prognóstico e o grau de patologia Valorizamse muito mais as pectos como o da motivação para fazer mudanças verdadeiras a maior ou menor resistência do paciente para permitir aces so a seu inconsciente e a sua reserva de capacidades positivas Quanto à análise com crianças ninguém mais contesta sua plena validade e eficá cia Em relação à análise com idosos hoje ganha reconhecimento a frase que já na época pioneira que ABRAHAM usou no seu livro Psicanálise clínica 1919 a idade da neurose é mais importante do que a idade N 276 DAVID E ZIMERMAN do paciente De fato os idosos que ob viamente preencham algumas condições mínimas já saíram da lista dos não anali sáveis e a experiência clínica tem atestado resultados analíticos muito bons O fato de que aumenta o espectro dos pa cientes que eram recusados para análise e hoje são considerados analisáveis de for ma nenhuma exclui que o analista deva ser criterioso embora com maior elasticidade 3 Não integração WINNICOTT WINNICOTT cunhou essa expressão para de signar o fato de que nos primeiros tempos devido à imaturidade bioneurológica a corporalidade do bebê consiste num esta do de não integração não é a mesma coi sa que desintegração entre as diferentes partes de seu corpo e entre seu corpo e sua mente A angústia que em situações futu ras acompanha uma regressão para um estado de não integração foi definida por WINNICOTT como breackdown ou seja uma angústia catastrófica na qual o paciente tem a impressão de que seu corpo não lhe per tence de que vai despencar no espaço e experimenta sensações afins 4 Não seio Bion BION freqüentemente emprega o sinal menos para designar uma antiemoção por exemplo L H K como pode ser visto no verbete vínculos Conforme o grau de negatividade o menos pode atingir o significado de não ou seja de desaparecimento Assim o signo K pode designar um afas tamento total do conhecimento das verda des um nãoconhecimento ou seja uma foraclusão se usarmos o referencial de LA CAN Da mesma forma BION refere o não seio ou não coisa Pior do que introjetar um seio mau que está interiorizado e represen tado dentro dela como a presença de uma mãe ausente é a criança não ter represen tação nenhuma de seiomãe tratase se gundo BION de um não seio A formação de uma não coisa pode ficar mais clara se utilizarmos um exemplo do próprio BION Esse autor diz que diante da ausência prolongada de algo ou de alguém processase uma não no em inglês coisa thing ou seja no thing forma nothing nada Narcisismo uma introdução sobre o FREUD 1914 Trabalho considerado como um dos mais importantes de FREUD e um significativo marco na evolução de seu pensamento psi canalítico Um forte motivo para Freud ter concebido e redigido esse artigo foi sem dúvida responder às fortes contestações do recémdissidente JUNG para demonstrar que o conceito de narcisismo permite uma al ternativa para as noções de libido nãose xual de JUNG e para o protesto masculino de ADLER Em Sobre o narcisismo FREUD resume seus trabalhos anteriores sobre o tema do narcisismo e leva em consideração sua po sição no desenvolvimento sexual Também aborda os problemas mais profundos das relações entre o ego e os objetos externos estabelece a nova distinção entre a libido do ego e a libido objetal e apresenta os con ceitos de ideal do ego e da instância auto vigilante com ele relacionada que é a base do que posteriormente veio a ser definido como superego O artigo se compõe de três partes A parte I trata do Estudo do narcisismo em diversas condições em que FREUD es tabelece certa correspondência entre a vida mental dos esquizofrênicos a das crianças e a dos povos primitivos Na parte II O narcisismo na doença orgâ nica na hipocondria e na vida erótica FREUD mostra as diversas maneiras de como VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 277 a libido pode ser retirada do mundo objetal exterior e ficar reinvestida no próprio ego A parte III denominada Ideal do ego her deiro do narcisismo aborda a noção de idealização e os problemas da autoestima Esse trabalho aparece no volume XIV p 89 da Standard Edition brasileira Narcisismo FREUD ROSENFELD LACAN KOHUT O termo narcisismo remete ao mito de Nar ciso portanto designa essencialmente um amor pela imagem de si mesmo Há um verdadeiro leque de acepções de narcisis mo desde as distintas abordagens pionei ras e originais de Freud até as atuais pro vindas de autores de diferentes correntes psicanalíticas em diferentes épocas e lati tudes De forma simplificada podese di zer que a evolução do conceito de narcisis mo tem transitado pelos seguintes enfoques e autores 1 Como uma forma de perversão confor me o sexologista HELLIS que em 1899 empregou o termo narcisismo pela primei ra vez 2 Um tipo de escolha objetal Assim a pri meira vez que FREUD utilizou narcisismo foi em 1910 numa nota acrescentada aos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade onde refere que os invertidos Freud ainda evita va empregar a palavra homossexual to mam a si mesmos como objetos sexuais e partindo do narcisismo procuram rapa zes semelhantes à sua própria pessoa a quem querem amar tal como sua mãe os amou Essa concepção de FREUD aparece mais claramente evidenciada em Leonar do da Vinci também publicado em 1910 3 Uma fase evolutiva como FREUD descre veu no trabalho Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia muitíssimo mais conhecido como o Caso Schreber de 1911 Essa con ceituação de narcisismo como uma etapa evolutiva da psicossexualidade tem sido desenvolvida na ataulidade por muitas cor rentes psicanalíticas as quais enfatizam a etapa primitiva da fusão simbiótica do bebê com a mãe em um estado de indiscrimina ção e de especularidade 4 Um ponto de fixação das psicoses como também transparece em Schreber 5 Um narcisismo do tipo libidinal ou seja um processo de investimento da libido so bre o próprio ego conceito essencial de FREUD descrito em seu magistral Sobre o narcisismo uma introdução de 1914 6 Um tipo de identificação no qual diante da perda de um objeto o self transforma se à imagem e semelhança desse objeto perdido como aparece no trabalho de FREUD Luto e melancolia de 1917 7 Um narcisismo normal e estruturante que ao longo da vida pode sofrer transforma ções sublimatórias sob a forma de sabedo ria criatividade etc como postula KOHUT 1971 8 Um narcisismo destrutivo como o deno mina ROSENFELD 1971 que também apa rece com outras denominações como a de narcisismo negativo que consiste no dire cionamento para o self da destrutividade a qual fica idealizada ou como a de GREEN 1976 narcisismo de morte 9 Um narcisismo de origem prénatal como preconiza GRUMBERGER 1979 o qual se constitui como uma permanente busca de um estado paradisíaco 10 Uma forma de identificação primária sob o registro do imaginário quando a criança se identifica especularmente com um duplo de si mesmo tal como LACAN pos tula em seus originais estudos sobre a eta pa do espelho 11 Um estado narcísico uma forma defen sivoregressiva de o sujeito enfrentar sua sensação de pequenez e desvalia diante de determinadas situações de desamparo 12 Uma personalidade narcisista constitu ída por um conjunto de traços característi 278 DAVID E ZIMERMAN cas e atitudes como entre outros uma megalomania que determina uma forma de ser e de viver 13 Uma forma de transferência na situa ção analítica nos termos descritos particu larmente por KOHUT 14 Uma organização narcisista resultante de possíveis combinações e arranjos pecu liares dos elementos próprios do narcisis mo original que podem ficar enquistados no ego do sujeito como uma organização patológica como a gangue narcisista nos termos descritos por ROSENFELD 1971 Comentário Creio ser útil propor a con ceituação de posição narcisista a qual pode ser concebida como um vértice de visualização do mundo das relações huma nas a partir da condição fundamental de que ainda não se tenha processado a dife rença entre o eu e os outros As característi cas da posição narcisista são a na sua origem ela precede à posição esquizoparanóide porque é a fase em que o bebê ainda confunde o mundo como sen do uma extensão dele b existe uma condição de indiferenciação c uma negação das diferenças a presen ça no sujeito da assim chamada parte psi cótica da personalidade d a persistência de núcleos de simbiose e ambigüidade uma lógica do tipo binária o sujeito é o melhor ou o pior e uma escala de valores centralizada no ego ideal e no ideal do ego uma afanosa busca por fetiches e objetos reasseguradores f um permanente jogo de comparações com os outros g a freqüente presença de uma gangue narcisista A noção de narcisismo ocupa um espaço de crescente importância na psicanálise contemporânea notadamente em dois as pectos um é o relativo às interações e a intersecção do narcisismo com a sexualida de edípica e o segundo o cada vez maior entendimento do narcisismo primitivo alar gou as portas para a análise de pacientes intensamente fixados ou regredidos às pri mitivas etapas do narcisismo original Narcisismo primário e secundário FREUD A partir de Sobre o narcisismo uma intro dução 1914 FREUD estabeleceu de forma consistente e categórica os fundamentos me tapsicológicos dessa então revolucionária con cepção psicanalítica de narcisismo O interessante é que esse clássico trabalho foi elaborado por FREUD como uma réplica a JUNG que acabara de assumir total dissi dência do círculo freudiano Contestava a teoria da sexualidade com o argumento de que ela não poderia explicar as psicoses tendo em vista que tais pacientes não de monstravam interagir libidinalmente Para contestar esse desafio do desafeto JUNG FREUD teve a genial centelha de conceber que o sujeito tomava seu próprio corpo como sendo ao mesmo tempo fonte e ob jeto da libido sexual Essa última concepção caracteriza o que Freud veio a conceituar como narcisismo primário que inicialmente postulou como sendo uma etapa evolutiva sucedendo a uma anterior que denominara de autoero tismo Posteriormente no entanto as de nominações e conceitos ficaram superpos tos e igualados entre si A maioria dos autores considera que o pro tótipo mais fiel do narcisismo primário é o da vida intrauterina O narcisismo secundário como o nome indica alude a uma espécie de refluxo da energia pulsional a qual depois de ter in vestido e ocupado os objetos externos so fre um desinvestimento libidinal quase sem pre devido a fortes decepções com os objetos externos provedores das necessidades e re tornam ao seu lugar original o próprio ego A maioria dos autores posteriores a FREUD não encontra vantagem alguma em man VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 279 terse a divisão entre narcisismo primário e secundário pois na prática analítica am bas são indissociáveis e confundemse en tre si MKLEIN partindo da sua postulação da existência primária já desde o recém nato de relações objetais foi levada a re jeitar tanto a noção de narcisismo primá rio ou secundário quanto a de um estado narcísico em toda a sua obra a palavra narcisismo não aparece mais do que duas vezes Para ela o fenômeno do narcisismo encon tra explicação na sua teoria relativa ao re torno da libido para os objetos internaliza dos Do ponto de vista da psicanálise con temporânea poucos contestam que restrin gir o conceito de narcisismo unicamente a essa posição de MKLEIN representaria um empobrecimento da psicanálise Narcisismo transtornos do KOHUT KOHUT é o autor que mais intensamente de dicouse aos estudos pertinentes ao narci sismo sobretudo em três aspectos o narci sismo normal as transferências narcisísticas e a patologia do narcisismo No último caso sustenta que os pacientes que sofrem de algum transtorno do narcisismo mostram se como personalidades famintas em uma dessas quatro possibilidades as quais na turalmente serão repetidas na transferên cia na prática analítica 1 Famintas por uma fusão pelo fato de que vivenciam o terapeuta como uma extensão do seu próprio self Esses pacientes apre sentam uma enorme dificuldade com as separações 2 Famintas por espelho que sentem ne cessidade de encontrar no analista um es pelho inicialmente estruturante que reco nheça e aceite seu exibicionismo assim re fletindo a grandiosidade de seu self 3 Famintas por ideal caracterizadas por uma busca constante de uma imago paren tal idealizada ou seja de pessoas como o analista a quem possam admirar pelo seu prestígio poder beleza inteligência ou vir tudes morais 4 Famintas por gemelaridade consistente da necessidade de encontrar um gêmeo um alter ego isto é alguém suficientemente parecido com ele para confirmar a existên cia e aceitação do seu próprio self Em resumo podese dizer que da mesma forma como Copérnico demonstrou que o planeta Terra não passa de um corpo opa co que gira em torno do Sol do qual rece be luz e calor também na psicanálise con temporânea o sujeito narcisista deve sofrer a dor de renunciar a sua ilusão de ser o cen tro em torno de quem tudo e todos se mo vem Na verdade ele é que gira em torno de suas carências básicas mascaradas por uma pretensão de autonomia ilusão de indepen dência e presunção de autosuficiência Narciso mito de A clássica e simplista versão de que Narci so miravase nas águas da fonte porque estaria apaixonado por si mesmo pode ser ampliada na atualidade por um entendi mento bem mais complexo e rico A partir da versão de Ovídio que na terceira parte de suas Metamorfoses celebrizou o mito e o personagem acreditase que o elemento essencial do mito consiste na busca de Nar ciso por uma fusão especular no reflexo das águas da fonte mãe fonte da vida ele busca a si mesmo No entanto está condenado a nunca en contrar a sua real imagem refletida pelo fato de que ela corresponde a uma etapa evo lutiva em que está indiscriminada e confun dida com a da mãe como está descrito no estágio do espelho de LACAN Numa outra versão desse mito a de Pausâ nias Narciso miravase no espelho para acalmar a pena pela perda de sua irmã gê mea que como ele era belíssima Também aí se pode reconhecer a busca gemelar a 280 DAVID E ZIMERMAN sombra o duplo ou seja a parte que falta va a Narciso para compor a totalidade de sua imagem corporal A etimologia de Narciso é interessante Se gundo Brandão 1987 provém da flor co nhecida como narciso que como o perso nagem a quem emprestou o nome é des crita como sendo bela inútil decorativa estéril venenosa dá junto às águas Ainda mais é estupefaciante de acordo com sua raiz grega narke de onde vem narcótico é de vida breve e simboliza a morte e a res surreição Tirésias o personagem articulador entre Narciso e Édipo pelo fato de ter uma pre sença relevante em ambos os mitos pro fetizara a Líriope que seu filho Narciso vi veria enquanto não conhecesse a si próprio Essa profecia pode ser entendida como um atestado de que há uma incompatibilidade entre a indiscriminação e a indiferenciação inerentes a Narciso O vir a conhecerse já implica um reconhecimento de uma diferen ça do outro caso em que já estamos no terre no de Édipo A transição do espelho da ilu são para o mundo da realidade exige que como acontece com a flor e no mito Narciso morra e metamorfoseiese em Édipo Nascimento o trauma do ORANK Expressão criada por OTTO RANK em 1924 Nessa época ele começava a se afastar da doutrina freudiana clássica publicando seu livro iconoclasta que o tornaria célebre O trauma do nascimento Nessa obra RANK defende a idéia de que no nascimento todo ser humano sofre um trauma maior que pro curava superar depois aspirando inconscien temente a voltar ao útero materno Em outras palavras fazia da primeira sepa ração biológica da mãe o protótipo das angústias psíquicas Essa tese como se vê aproximase das idéias que nessa época M KLEIN começava a esboçar e que mostram o quanto RANK se distanciava da concep ção clássica do complexo edípico e valori zava muito mais a relação precoce logo préedípica da criança com a mãe FREUD inicialmente em Inibições sintomas e angústia 1926 se opôs às teses de RANK Porém posteriormente nas Novas confe rências introdutórias sobre a psicanálise 1933 revisou sua posição e enfatizou que RANK tivera o mérito de ressaltar a impor tância da primeira separação do bebê com a mãe Nascimento psicológico da criança MARGARETH MAHLER Expressão bastante freqüente nos textos psicanalíticos concernentes ao desenvolvi mento emocional primitivo Foi cunhado por M MAHLER que no livro O nascimento psicológico da criança simbiose e individu ação 1971 descreve as observações dire tas de crianças interagindo com a mãe e com outras crianças Essa observação era feita através de um espelho que ficava numa sala coletiva o que lhe permitiu estudar as diversas fases evolutivas desde a simbiose até a aquisi ção de uma constância objetal com uma consolidação do self MAHLER e colaboradores situam o nascimen to psicológico no período em que a crian ça começa a fazer uma diferenciação com a mãe e a seguir adquire uma gradativa separação e individuação processo que adquire especial importância na prática analítica particularmente com pacientes bastante regredidos Necessidade LACAN Em psicanálise necessidade alude à deman da pulsional que visa a satisfazer o mínimo necessário para manter a sobrevivência fí sica e psíquica sempre levando em conta que isso implica um indispensável tipo de vínculo com outra pessoa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 281 LACAN ajudou a estabelecer uma útil dife rença entre necessidade desejo e deman da Assim a necessidade é como foi defini da acima o desejo alude a uma necessida de satisfeita com um plus de prazer e gozo que o sujeito quer voltar a experimentar enquanto demanda refere que a satisfação dos desejos é insaciável O verdadeiro sig nificado de demanda é um pedido deses perado por reconhecimento e amor como forma de preencher uma antiga e profunda cratera de origem narcisista Necessidade de castigo FREUD FREUD preferia essa expressão à mais co mum de sentimento de culpa inconsciente porque percebeu que se tratava de um fe nômeno mais abrangente e complexo Sem pre demonstrou um interesse especial pe las situações psíquicas que evidenciam uma autopunição como observava nos sonhos punitivos que representavam como que um preço a ser pago à censura onírica para obter a realizaçào do desejo nas autore criminações do obsessivo que faz dele um carrasco de si mesmo na melancolia na qual existe uma compulsão à autopunição que pode chegar até o extremo de suicídio nos casos de criminosos por autopunição ou seja nos comportamentos agressivos e delituosos que visam no fundo a uma pu nição do sujeito nos casos de masoquismo moral que induz o sujeito a se comprazer na busca de situações penosas e humilhan tes e finalmente na prática analítica no surgimento de uma reação terapêutica ne gativa Do ponto de vista da teoria topográfica FREUD considerava a necessidade de o su jeito ser castigado pela pressão punitiva que um superego exigente e tirânico exerce so bre o ego Porém enfatizou que essa não é a única fonte já que segundo ele deve ser levada bastante em conta a ação da pulsão de morte determinando um masoquismo Assim o sadismo do superego e o maso quismo do ego não devem ser considera dos como unicamente a cara e a coroa simétricas de uma mesma moeda por quanto elas também têm sua área especí fica de ação Negação FREUD LACAN Em sentido genérico podese dizer que negação Verneunung foi a palavra utiliza da por FREUD no original alemão referese a um processo pelo qual o sujeito de algu ma forma inconscientemente não quer tomar conhecimento de algum desejo fan tasia pensamento ou sentimento O fenô meno da negação pode ser realizado de formas distintas para finalidades específi cas do ego do sujeito O emprego dos res pectivos termos tanto no original alemão como nas diferentes traduções é algo con fuso No entanto fazendo a ressalva acima apon tada podese dizer em linhas gerais que as seguintes modalidades de negação fo ram descritas por FREUD em diferentes mo mentos de sua obra 1 Repressão ou recalcamento O termo ori ginal é Verdrängung Mecanismo que mais aparece nas neuroses comuns muito espe cialmente nas histerias casos em que o ego se nega a reconhecer como seus e a admi tir que o recalcado emerja no consciente 2 Renegação também denominada fre qüentemente como denegação desmenti da recusa ou desestima corresponde ao termo Verleugnung e refere o fenômeno pelo qual o sujeito sabe que os desejos pensamentos e sentimentos negados são mesmo dele porém continua a defender se categoricamente negando que lhe per tençam Essa modalidade de negação é tí pica dos pacientes com perversão O pró prio FREUD diz em Fetichismo1927 que essa perversão decorre da negação da cas tração o que leva o sujeito a substituir o 282 DAVID E ZIMERMAN pênis por algum fetiche como sapatos por exemplo para manter a ilusão de um faz deconta que não me sinto castrado 3 Foraclusão também traduzido por for clusão ou rejeição ou repúdio cujo origi nal é Verwerfung é um termo introduzido por LACAN que designa uma negação ex tensiva à realidade exterior e o sujeito a substitui pela criação de outra realidade fic cional Um bom modelo está contido no que FREUD descreveu como gratificação alucina tória do seio quando por algum tempo possível a criança substitui o seio ausente da mãe pelo seu próprio polegar Esse tipo de negação mais extremada é mais típica de pacientes psicóticos No trabalho A negação 1925 FREUD faz a importante observação de que na prática analítica a negação pode representar uma confirmação de modo que ele afirma Não há prova mais forte de que conseguimos descobrir o inconsciente do que vermos o analisando reagir com estas palavras não pensei isso ou não nunca pensei nisso Negatividade princípio da Dentro do entendimento contemporâneo de que o psiquismo comporta muito mais do que uma dimensão única e de que os fatos psí quicos não seguem uma ordem linear e que tampouco obedecem ao determinismo de causaefeito é importante consignar que existe no funcionamento mental o fenômeno da negatividade Consiste no fato de que os opos tos e contraditórios não são excludentes entre si pelo contrário são includentes O arranjo dos contrários é que propicia a formação da unidade de um todo integrado Isso seria importante na prática analítica se em nossa atividade interpretativa no lugar do costumeiro emprego da conjunção al ternativa ou os analistas empregassem pri oritariamente a conjunção copulativa e Em outras palavras no conceito de negati vidade uma coisa não pode existir sem que haja ao mesmo tempo uma nãocoisa como nos mostra a física moderna de que a toda matéria corresponde uma antimaté ria O bonito só existe porque contrasta com o feio o branco com o preto etc A propó sito do jogo dos contrários exemplificado com o branco e o preto simbolicamente podem ser os brancos e pretos do psiquis mo humano vale a singela metáfora de que tomados isoladamente o branco ou o preto não nos diriam nada e provocariam uma monotonia entediante No entanto podem ser arranjados de forma a compor um tabuleiro de xadrez que pode ter uma excelente utilização Assim muitos autores contemporâneos des tacam o aspecto positivo do uso da negati vidade na situação analítica porque quan do o analisando ou o analista nega uma determinada verdade definida acabada saturada estará reconhecendo que existe um espaço fora de seus limites e que está abrindo um espaço para ver o outro lado de uma mesma coisa Aliás BION sempre enfatizou que o verda deiro crescimento se completa na negação não no sentido de negativismo mas sim no de uma contestação sadia pela qual o sujeito quer ir cada vez mais longe Partin do de sua concepção de que a ausência do seio nothing tanto é capaz de possibilitar a representação presente de um seio ausen te como também é possível não se formar a representação do seio ficando no seu lu gar o vazio do nada nothing BION descre ve uma espécie de jogo dos contrários Nesse caso à moda de um jogo dialético teses permitindo antíteses das quais resul tam sínteses que por sua vez funcionam como novas teses ao longo de toda nossa vida os contrários convivem íntima e reci procamente como é o caso do presente com o ausente da afirmação com a nega ção o bom com o mau etc BION 1992b p156 ilustra a noção de negatividade com estas frases muito significativas Cada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 283 demônio tem um santo que o acompanha o conjunto de santos forma um panteão cada santo tem um demônio o conjunto dos demônios redunda num pandemônio Do mesmo modo cada cura tem um mal que a acompanha É importante que haja um casamento entre o paciente e ele mesmo Negativismo prática analítica Forma nada rara de na prática analítica o paciente adotar uma atitude niilista que constitui uma forma resistencial muito difí cil Nesses casos o paciente descrê de tudo age como um autômato só vê defeitos e perspectivas pessimistas e derrotistas Um grau extremo ocorre quando o paciente apresenta um mutismo permanente Comentário Embora se trate de uma re sistência que se pode mostrar irreversivel mente obstrutiva ao andamento da análi se o analista deve atentar para um aspecto importante enquanto esse paciente estiver comparecendo às sessões é bem provável que esteja transmitindo uma mensagem que pode ser mais ou menos assim eu estou em estado de negativismo porque aprendi a não confiar em ninguém porque nada vai adiantar já que nunca fui entendido logo eu preciso de um tempo muito longo de observação para ter a certeza que vale a pena voltar a ter novas esperanças sem cor rer o risco de vir novamente a ser fraudado Por favor doutor tenha muita paciência co migo Negativo trabalho do ANDRÉ GREEN Como essa conceituação original de GREEN adquiriu intensa relevância na psicanálise nada melhor do que lhe passar a palavra Eu procedo a uma espécie de classificação das defesas em defesas primárias e secundá rias Considero defesas primárias tudo que diz respeito ao trabalho do negativo isto é as di ferentes maneiras de dizer não de recusar podemos expulsar podemos cindir podemos recalcar podemos dizer não verbalmente podemos descarregar E depois há o que cha mo de mecanismos de defesa secundária o isolamento a anulação a formação reativa projeção e mesmo a introjeção Chamo a es tas de secundárias porque para mim o tra balho do negativo é a coisa mais importante Revista IDE 1986 Também na terceira conferência pronunci ada em 1986 em São Paulo que aparece publicada em Conferências Brasileiras de André Green Metapsicologia dos limites 1990 GREEN prossegue textualmente O artigo de FREUD sobre a Negação é de lon ge no que me diz respeito o artigo que mais me faz refletir em minha prática analítica e em minha elaboração teórica Freud dis se que quando o paciente tem dificuldade de continuar associando basta perguntarlhe o que está mais distante de seu espírito qual a coisa mais impossível e inacreditável em que você pensaria neste momento Já que você não pode dizer o seu sim mais próximo digame o seu não mais distante e o seu não mais distante tornarseá o sim mais próximo que você não pode dizer GREEN completa seus esclarecimentos sobre o trabalho do negativo afirmando que Quanto à negação em si ela se estende ao conjunto do campo da pulsão à lingua gem enquanto que as outras categorias do trabalho do negativo incidem no caso da forclusão sobre o próprio representante psíquico eu nem ligo ou sobre o objeto de percepção na recusa da diferença dos sexos ou sobre o afeto na repressão ou ainda sobre a linguagem mais especifica mente na negação mas sendo essa suscetí vel de abranger todo o conjunto Neo ou reidentificações Expressão que está aparecendo em muitos textos psicanalíticos contemporâneos e de 284 DAVID E ZIMERMAN signa o importante fato de que em algum grau todo paciente porta no interior de seu psiquismo algumas identificações parciais ou totais com figuras patogênicas como pode ser a de uma mãe enlouquecedora ou a de um pai que representa um modelo de pessoa fracassada etc Na prática analítica é indispensável que gra dativamente o paciente consiga fazer desi dentificações ou seja após ter adquirido a condição de enxergar seus pais como obje tos totais não só os pais reais como tam bém e principalmente como eles estão in trojetados e representados dentro dele A partir dessa visualização integrada de cada um dos genitores ou outras figuras impor tantes que lhe serviram de modelo de iden tificação o paciente pode darse o direito de discriminar e decidir quais os aspectos parciais de cada um daqueles que ele quer conservar consigo e quais os de que quer se desfazer ou seja se desidentificar Simultaneamente com as desidentificações vai se abrindo um espaço psíquico que vai sendo preenchido pelo novo modelo uma neoidentificação que o paciente tem à sua frente o seu analista o qual além da ati vidade interpretativa tem uma maneira pes soal de conter angústias de como pensa co munica encara as verdades difíceis acredita nas capacidades latentes do paciente etc Neo ou resignificações De forma análoga à do verbete anterior também é importante que sejam dessignifi cadas determinadas significações patógenas que o paciente carrega ao longo da vida Como exemplos podemos citar os casos de um paciente que tem fobia por tempesta des porque durante toda a infância ele ou viu repetidamente sua mãe em pânico pro nunciar mensagens terroristas quanto ao risco de um raio vir a incendiar matar de outro que era classificado como desajeita do toda vez que não fazia alguma coisa com perfeição de mais outro cuja agressivida de poderia ter matado o irmãozinho En fim os exemplos poderiam se multiplicar por milhares Concomitantemente com as dessignifica ções abrese um espaço mental não só através da imprescindível atividade interpre tativa mas também pelo modelo da ma neira autêntica de o analista ser Esse espa ço será substituído por novas neosignifi cações menos terríficas denegridoras mais tranqüilas e estruturadoras Neotenia O bebê nasce num estado de neotenia isto é nasce prematuramente no sentido de que apresenta em relação a qualquer espécie do reino animal uma prolongada deficiên cia de maturação neurológica motora que o deixa num estado de absoluta dependên cia e desamparo Em contraste com a lentidão da maturação motora o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos da criança é relativamente preco ce e rápido ela começa a sentir calor e frio desde o nascimento a ouvir a partir das primeiras semanas a olhar por volta do primeiro mês e assim por diante A importância do conceito psicanalítico de neotenia consiste no fato de que esse esta do mental de desamparo acompanhado de uma sensação de impotência pode ficar inscrito e representado no ego da criança acompanhandoo vida afora de sorte a for çar o adulto a adotar defesas típicas do nar cisismo tal como aparece descrito nesse verbete Neurastenia FREUD A formação etimológica do termo indica que neurastenia alude a uma fraqueza as tenia nervosa o que se justifica porquanto seus sintomas se manifestam sob a forma de uma grande e permanente sensação de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 285 fadiga física além de cefaléia transtornos digestivos empobrecimento da vida sexual e outros afins sem que os exames clínicos detectem causas orgânicas FREUD inicialmente descreveu dois tipos de neurose atual a neurose de angústia e a neurastenia Neste último caso ele atribuía a causa a uma excessiva descarga de subs tâncias sexuais como aconteceria no exa gero da prática da masturbação FREUD pros segue afirmando que como conseqüência dessa hemorragia de substâncias sexuais é que surgem os sintomas de astenia e de adinamia Embora Freud tenha incluído a neuraste nia como uma das formas de neurose atu al posteriormente veio a considerála como uma entidade clínica específica Neurose No início de sua obra FREUD dividiu os transtornos emocionais que então denomi nava psiconeuroses em três categorias psi copatológicas a as neuroses atuais b as neuroses de transferência também conhe cidas como psiconeuroses de defesa que eram as histerias as fobias e as obsessivas c as neuroses narcisistas que constituem os atuais quadros psicóticos De lá para cá muita coisa mudou substan cialmente na ciência da psicanálise e da psiquiatria as síndromes da psicopatologia foram ganhando uma crescente compreen são genéticodinâmica e paralelamente os autores foram ampliando subdividindo di versificando construindo novos modelos e portanto aumentando a complexidade no sológica tal como aparece nas modernas classificações diagnósticas como o DSM ou CID As estruturas caractereológicas os sin tomas as inibições e os estereótipos que configuram as diversas síndromes psico patológicas resultam de um jogo dialéti co entre as relações objetais as ansieda des e para contraarrestálas os tipos de mecanismos defensivos que são utilizados pelo ego Os pacientes portadores de estruturas neu róticas caracterizamse pelo fato de apre sentarem algum grau de sofrimento e de desadaptação em alguma ou mais de uma área importante de sua vida sexual fami liar profissional ou social incluído também é evidente seu particular e permanente mente predominante estado mental de bem ou de malestar consigo próprio No entanto apesar de que o sofrimento e o prejuízo em alguns casos possa alcançar níveis de gravidade os indivíduos neuróti cos sempre conservam uma razoável inte gração do self além de uma boa capacida de de juízo crítico e de adaptação à realida de Outra característica dos estados neuró ticos é a de que os mecanismos defensivos utilizados pelo ego não são tão primitivos como por exemplo os apresentados nos estados psicóticos embora sempre esteja subjacente o que BION chama como parte psicótica da personalidade Neurose atual FREUD O qualificativo atual devese ao fato de que essa neurose segundo FREUD que a des creveu pela primeira vez em 1898 não se ria produzida por conflitos passados mas sim por motivos atuais de modo que ela não dependeria estritamente de fatores psi cológicos Assim a neurose de angústia se ria resultante de fatores biológicos ligados à sexualidade que agiriam através de subs tâncias químicas O acúmulo dessas toxi nas sexuais produzidas pelas excitações frus tradas manifestase diretamente por sinto mas de angústia livre como taquicardia palpitações respiração ofegante etc que diz FREUD são aquelas mesmas que estão presentes no ato sexual Inicialmente FREUD descreveu dois tipos de neurose atual a neurose de angústia re sultante da libido estancada como no caso 286 DAVID E ZIMERMAN do coito interrompido da angústia das vir gens e a neurastenia por excesso de eli minação como no caso da masturbação excessiva Posteriormente em 1911 ao estudar o Caso Schreber FREUD descreveu um terceiro tipo de neurose atual a hipo condria a qual poderia estar representan do um núcleo atual de uma psiconeurose ou de uma psicose subjacente O conceito de neurose atual foi perdendo seu emprego na psicanálise à medida que foi se evidenciando que seja qual for o va lor precipitante dos fatores atuais sempre existe a presença de contíguos conflitos mais antigos Além disso FREUD valorizou unica mente a não satisfação das pulsões sexu ais e nos dias de hoje é inconcebível não incluir o represamento ou a má distribui ção das pulsões agressivas No entanto mais modernamente o concei to de neurose atual volta a ganhar credibili dade a partir dos grandes avanços nas teo rias sobre as somatizações com as noções pertinentes à égide de um conflito unica mente atual que pela quantidade de ex cesso de estímulos o ego não consegue processar e que por isso se escoarão por outras vias como são as diversas possibili dades da fisiologia orgânica Neurose de angústia FREUD FREUD estudou a angústia em dois momen tos diferentes de sua obra Na primeira for mulação a angústia seria conseqüência da repressão recalcamento que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma maneira tóxica no organismo A partir de Inibições sintomas e angústia 1926 ele conceituou de forma inversa ou seja a repressão não é a causa da angústia mas uma conseqüência isto é o recalca mento se processa como forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angús tia mais especificamente a angústia de castração A neurose de angústia consiste em um trans torno clínico que se manifesta por meio de uma angústia livre quer de forma perma nente quer pelo surgimento de momentos de crise Em outras palavras a ansiedade do paciente expressase tanto por equiva lentes somáticos como uma opressão pré cordial taquicardia dispnéia suspirosa sen sação de uma bola no peito etc como também por uma indefinida e angustiante sensação do medo do sujeito de que possa vir a morrer enlouquecer ou da iminência de alguma tragédia Na maioria das vezes esses sintomas indi cam que está havendo uma falha do me canismo de repressão diante de um trau mático excesso de estímulos externos e ou internos A expressão neurose de angústia caiu em certo desuso visto se confundir ora com a doença do pânico ora com a neurose atu al ora com a angústia dos fóbicos diante de situações especificamente ansiogênicas Aliás nos primeiros tempos FREUD desig nava as fobias como histerias de angústia o que evidencia sua percepção de que a neurose de angústia e a fobia são parentes íntimos Neurose de caráter Tipo de neurose em que o conflito psíquico não se expressa pela formação de claros sintomas específicos mas através de traços de caráter e por comportamentos que acar retam alguma forma de constantes dificul dades na sua vida exterior do sujeito Em grande parte a psicanálise deve a in trodução da expressão neurose de caráter e de sua aplicação na prática analítica a WREICH No livro Análise do caráter 1933 ele abordou o que chamou de couraça caractereológica que muitos pa cientes apresentam como uma esclerose das defesas que não removida tornaria a análise inviável VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 287 A caractereologia pode ser abordada por três vértices 1 Os traços de caráter que correspondem aos sintomas das neuroses como seriam então os caracteres obsessivo fóbico his térico paranóide etc 2 As diferentes fases da evolução libidinal como é o caso de um caráter oral anal fá liconarcisista prégenital genital etc 3 Em termos estruturais o que mais im porta é o modo de como se organizam os desejos com as respectivas defesas das quais as mais freqüentes são a formação reativa e a sublimação Neurose de destino FREUD Essa denominação não tem valor nosográ fico pois não designa propriamente um quadro clínico com características específi cas e bem definidas No entanto tem valor descritivo porque enfatiza uma compulsão à repetição mesmo de aspectos que cau sem sofrimento No fim do capítulo III de Além do princípio do prazer 1920 FREUD descreve as pes soas que dão a impressão de que um destino as persegue de que há uma orien tação demoníaca de sua existência como é o caso de benfeitores pagos com ingrati dão amigos traídos etc Neurose de fracasso RENÉ LAFORGUE psiquiatra e psicanalista francês introduziu essa expressão que a exemplo da neurose de destino também não determina um quadro específico na nosografia psicanalítica porém tem um útil valor descritivo uma vez que designa as pessoas que inconscientemente engen dram sua própria infelicidade A neurose de fracasso é correlata à neuro se de destino e como ela também obede ce ao princípio de uma compulsão à repeti ção apresentando as seguintes características 1 O fator desencadeante não é o de trans torno emocional decorrente de algum fra casso real mas sim é o inverso disso 2 O fracasso também não é conseqüente a um acréscimo feito numa perturbação pré via como pode ser por exemplo o de um sintoma fóbico muito limitante Na verda de o que acontece é que o fracasso se cons titui como o próprio sintoma e tem etiolo gia específica 3 É bastante comum que o fracasso se siga aos êxitos situação que pode repetirse com uma freqüência regular ao longo da vida e atesta que existem proibições internas que impedem o sujeito de sentirse merecedor de sucesso Neurose de transferência FREUD Essa expressão comporta dois significados em psicanálise 1 Como designativa de uma forma de neu rose que possibilita o surgimento da trans ferência com o analista Logo são neuro ses mais acessíveis à análise como é o caso das neuroses histéricas obsessivas e fóbi cas às últimas durante muito tempo FREUD chamava de histeria de angústia Assim a neurose de transferência se distingue das outras duas que Freud classificava respec tivamente como neurose atual cujo me canismo seria essencialmente somático e como neurose narcisista nesse caso a libi do estaria investida no próprio ego portan to impossibilitaria o surgimento do fenôme no da transferência e como decorrência a inviabilidade da própria análise 2 O segundo sentido da expressão neuro se de transferência que Freud introduziu em Recordar repetir elaborar 1914 re fere especificamente a prática analítica re lacionandoa com a postulação de que o paciente repete na transferência com o analista os passados conflitos infantis As sim a técnica psicanalítica passou a ficar centrada em substituir a neurose clínica por 288 DAVID E ZIMERMAN uma neurose de transferência com o ana lista a qual sendo exitosamente analisa da leva à descoberta da neurose infantil FREUD que nos primeiros tempos supunha que a neurose de transferência seria uma interferência prejudicial à análise e que de pois passou a considerála como um fator bastante positivo também alertava contra alguns inconvenientes de uma neurose de transferência exagerada Ao mesmo tempo recomendava que os analistas deveriam estimular ativamente essa transferência e não poupar os pacientes de analisar essa situação transferencial por mais difícil que pudesse aparentar Neurose e psicose FREUD 1924 Nesse trabalho FREUD afirma que a etiolo gia comum ao início da psiconeurose e da psicose é sempre a mesma O que as dife rencia é que a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id enquanto a psi cose é o resultado de um conflito semelhan te entre o ego e o mundo exterior O efeito patogênico depende de o ego manterse fiel à sua dependência quanto ao mundo exte rior e tentar silenciar o id como nas neuro ses de transferência ou de deixarse ven cer pelo id e ser arrancado da realidade como nas psicoses No mesmo ano de 1924 Freud apresentou o artigo A perda da realidade na neurose e na psicose no qual afirma que na neu rose o ego em sua dependência da reali dade suprime uma parte do id enquanto na psicose esse mesmo ego a serviço do id se afasta de uma parte da realidade O fator decisivo para uma neurose seria a predominância da influência da realidade enquanto para a psicose tal fator seria a predominância do id A neurose não nega a realidade simplesmente a ignora a psi cose nega a realidade e tenta substituíla Ambos os trabalhos foram de grande im portância na época porque introduziram as fundamentais noções de outros tipos de negação além dos do recalcamento então bastante conhecidos como são a denega ção e a forclusão Os dois textos estão publicados no volume XIX da Standard Edition Neurose fóbica Ver o verbete Fóbica neurose Neurose mista Expressão proposta por FREUD sobretudo nos primeiros trabalhos com a finalidade de esclarecer que os sintomas psiconeuró ticos muitas vezes podem estar combina dos com os da neurose atual e mais que as neuroses raramente se apresentam em es tado puro apesar de haver quase sempre preponderância de um ou de outro tipo de manifestação que caracterize uma neurose específica Neurose obsessiva Ver o verbete Obsessiva neurose Neurose narcísica FREUD empregava esse termo para referir uma doença mental que em oposição às neuroses de transferência caracterizava se pela retirada da libido investida no mundo exterior seguida pelo investimen to no seu próprio ego Do ponto de vista clínico o grupo das neuroses narcisistas abrangeria o conjunto de psicoses às quais também chamava de parafreniais cujos sintomas não tenham sido efeitos de alguma lesão orgânica Posteriormen te em especial no artigo Neurose e psi cose 1924 FREUD passou a restringir o termo neurose de transferência para as situações de tipo melancólico diferenci andoa assim tanto das neuroses de trans ferência quanto das psicoses VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 289 Com os avançados conhecimentos atuais sobre o narcisismo a expressão neurose de narcisismo está virtualmente abandonada Neurose traumática A conceituação dessa neurose está direta mente ligada à ocorrência real de algum acontecimento que tenha provocado forte choque emotivo no sujeito muito particu larmente em situações nas quais ele sentiu de perto uma ameaça à vida ou à de suas pessoas queridas O termo traumatismo era utilizado para designar lesões orgânicas conseqüentes de fortes impactos produzidos acidentalmen te de maneira instantânea por agentes me cânicos Metaforicamente a psicanálise a adaptou para os impactos psicológicos os quais determinam uma série de sintomas va riáveis desde um estado de entorpecimento até o de uma agitação psicomotora É necessário fazer uma distinção entre dois tipos de neurose traumática 1 Aquela em que a reação é muito despro porcional ao acontecimento desencadean te caso em que é indispensável fazer a in vestigação da neurose subjacente que es tava latente e foi despertada 2 O traumatismo é por si só o desenca deante de uma forte reação emocional que pode perdurar por muito tempo no míni mo por um estado de permanente sobres salto quanto ao risco do mesmo aconteci mento se repetir Cabe assinalar dois aspectos relativos à neurose traumática Um é o fato de que o sujeito traumatizado necessita fazer uma elaboração do fato trau matizante Isso é feito através de repetições seja através de sonhos repetitivos de con tar a mesma história incontáveis vezes ou de desenhar as cenas como acontece co mumente com as crianças O segundo aspecto a ser destacado consis te naquilo que KABRAHAM chamou de trau matofilia que como a etimologia sugere em grego trauma quer dizer ferida e phi los designa amigo de referese a uma bus ca inconsciente de um mesmo tipo de trau matismo como por exemplo pessoas que se acidentam repetitivamente nesses casos é comum o emprego da palavra acidentofi lia ou sofrem estupros sucessivos etc Em sua época FREUD assinalava como acontecimentos traumáticos acidentes combates explosões etc No entanto para os dias atuais cabe acrescentar a violência urbana nas suas múltiplas faces como as saltos seqüestros etc Neutralidade regra da FREUD A abordagem mais conhecida de FREUD a essa regra é a que consta em Recomen dações aos médicos que exercem a psica nálise 1913 onde apresenta a famosa metáfora do espelho Nela afirma que O psicanalista deve ser opaco aos seus paci entes e como um espelho não lhes mos trar nada exceto o que lhe for mostrado Um ano antes em O início do tratamen to 1912 FREUD já fazia outra metáfora com o mesmo sentido de enfatizar a neces sidade de neutralidade do analista reco mendando que O analista à semelhança do cirurgião deve ter apenas um objetivo levar a bom termo a sua cirurgia com o máximo de habilidade possível A etimologia mostra que neutralidade deri va do étimo latino neuter que significa nem um nem outro Embora designe um con junto de medidas técnicas propostas por FREUD no curso de vários textos e em dife rentes épocas essa expressão não figura diretamente em nenhum deles Nas pou cas vezes em que esse termo aparece nos escritos de FREUD a palavra original em ale mão é Indifferenz cuja tradução mais pró xima é imparcialidade Classicamente essa regra referese mais estrita e diretamente à necessidade de o 290 DAVID E ZIMERMAN analista ser neutro quanto aos valores mo rais sociais éticos e religiosos e que não se envolva afetivamente com os problemas do paciente conforme a metáfora do espe lho antes mencionada Na atualidade pen sase que o analista deve funcionar como um espelho porém no sentido de ser um espelho que possibilite ao paciente mirar se de corpo inteiro por fora e por dentro como realmente ele é ou que não é ou como ele pode vir a ser Comentário Creio que o analista deve envolverse afetivamente com seu analisan do desde que não fique envolvido nas malhas da patologia contratransferencial Essa última condição de estado mental do analista é fundamental para possibilitar o desenvolvimento do analisando tal como nos sugere a formação etimológica da pa lavra desenvolvimento alude à retirada des de um envolvimento patogênico A neutralidade no sentido absoluto do ter mo é uma utopia impossível de ser plena mente alcançada até mesmo porque o psicanalista é um ser humano como qual quer outro e portanto tem sua ideologia e seu próprio sistema de valores os quais quer ele queira ou não são captados pelo paciente Além disso as palavras e atitudes do ana lista também funcionam com certo poder de sugestionamento isso é bem diferente de uma sugestão ativa Como exemplo podese mencionar o simples fato de que a escolha que o analista faz do que julga me recer ser interpretado em meio a outras possibilidades de enfoque interpretativo propiciadas pelo discurso do analisando além do seu modo e estilo de interpretar fazem transparecer a sua personalidade e exercem certa influência no destino do pro cesso analítico Cabe acrescentar mais dois fatores que são inerentes à neutralidade do analista um é uma indispensável bagagem de conheci mentos teóricos que lhe possibilitem pisar em chão firme o outro aspecto referese à importância de o analista não ficar perdido em suas reações contratransferenciais e se possível reconhecer esses sentimentos que o paciente despertou nele de modo a apro veitálos a serviço de uma empatia Neutralização da energia psíquica PSICÓLOGOS DO EGO As catéxias do ego conforme postulou FREUD podem ser livres ou fixadas As pri meiras são mais características da fase ini cial da vida e dos primeiros anos da infân cia A partir dessa noção HARTMANN KRIS e LOEWENSTEIN 1949 afirmaram que a capa cidade de reprimir a energia psíquica au menta paralelamente ao amadurecimento da criança atingindo o máximo na vida adulta e isso apresentase intimamente li gada à neutralização ou desinstintualiza ção da energia psíquica Assim o termo neutralização alude ao des vio da energia de seus objetivos originais pulsionais orientados para o prazer e sua utilização para as funções do ego que não possuem uma qualidade diretamente pul sional Dentre as formas pelas quais a energia pro vinda das pulsões por meio da dessexuali zação e de uma desagressivização pode ser neutralizada e colocada à disposição das atividades do ego a sublimação e a identi ficação ocupam posições de destaque Nirvana princípio de FREUD O termo nirvana é próprio da religião bu dista na qual designa a extinção do de sejo humano o aniquilamento da indivi dualidade que se funde na alma coleti va um estado de quietude e de felicida de perfeita Foi a psicanalista inglesa BARBARA LOW quem introduziu esse termo em psicanálise defi nindoo como Uma tendência para a re VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 291 dução para a constância para a supressão da tensão de excitação interna FREUD em Além do princípio do prazer 1920 utiliza essa expressão como forma si nônima do princípio da constância porém conectando a ressonância filosófica e mística do nirvana hinduísta que alude a uma redu ção a zero de qualquer excitação com a exis tência da pulsão de morte tal como ele espe culava nesse seu clássico trabalho Freqüentemente as expressões princípio da constância princípio da inércia e princípio de nirvana são empregadas como se fos sem sinônimos Embora sejam análogas convém estabelecer uma diferença O princípio da constância designa mais apropriadamente um estado de equilíbrio uma homeostase sem que necessariamen te exija uma redução a um estado de zero O princípio de inércia foi formulado por FREUD no seu Projeto para uma psicologia científica 1895 para referir sua noção de que os neurônios tendem a descarregar completamente as quantidades de energia que recebem O princípio de nirvana equi vale ao da inércia quanto à redução da ex citação a zero porém no lugar do enfoque biológico neuronal FREUD privilegiou a ação da pulsão de morte Nó borromeu LACAN LACAN introduziu esse termo em psicanálise em 1972 com o propósito de designar atra vés de uma imagem pictórica o entrelaça mento dos três registros o do real o do imaginário e o do simbólico Para tanto utilizou o modelo que consiste em três anéis absolutamente livres no sentido de estarem livres embora ligados mas não encadea dos O nó estabelece o vínculo entre essas três dimensões de forma que o corte de uma libera as duas outras Na clínica com esse modelo do nó borro meu Lacan ilustra os diferentes modos de enlace desse nó isto é a forma singular de como cada sujeito mantém juntas aquelas três dimensões do psiquismo com o auxílio eventual de um quarto círculo o do sintoma É interessante a origem do termo borromeu ou borromeneano Ela remete à ilustre família Borromeu residente em Milão cu jas armas compunhamse de três anéis em forma de trevo simbolizando uma tríplice aliança Se um dos anéis se retirasse os outros dois ficariam soltos e cada um re metia ao poder de um dos três ramos da família Nomedopai ou leidopai LACAN LACAN introduziu essa expressão em 1953 a fim de designar o significante da função paterna Dizendo com outras palavras LA CAN mostrou que o Édipo freudiano podia ser pensado como uma passagem da natu reza para a cultura De acordo com essa perspectiva o pai exer ce uma função essencialmente simbólica ou seja ele nomeia dá o seu nome e atra vés desse ato encarna a lei daí que Nome doPai também é conhecida como Leido Pai essencialmente pela linguagem a qual estabelece uma ponte com a cultura Assim inicialmente LACAN definiu essa função com o nome de função do pai depois como função do pai simbólico mais tarde metáfo Figura 3 Nó borromeu 292 DAVID E ZIMERMAN ra paterna e finalmente a partir do seu estu do do Caso Schreber deu o nome definitivo de NomedoPai grafado com hífens Nesse caso segundo Lacan como o filho porta o sobrenome do pai ele o incorpora com o significante de um representante da lei de modo que o pai se interpõe como figura privadora da díade com a mãe No caso da psicose como com Schreber essa estruturação não se dá e o significante do pai fica foracluído e se manifesta como uma forma de idéias delirantes contra Deus Notação BION BION incluiu o conceito de notação na sua Grade onde ocupa a coluna 3 e designa as categorias empregadas para registrar determinado fato e que cumpra a função de notação dos elementos psicanalíticos surgidos na sessão Tratase pois de uma forma de utiliza ção dos pensamentos que implica uma memorização uma espécie de arquivo tal como num cartório de notas Ver o ver bete Memória Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia FREUD 1911 O título completo desse artigo é Notas psi canalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia Dementia para noides Foi escrito por FREUD em 1911 tomando como ponto de referência as Me mórias de DSCHREBER renomado jurista da época que ele próprio publicou em 1903 e nas quais conta detalhadamente suas pro duções delirantes Esse trabalho de FREUD é importante por que aborda uma variedade de temas que viria a ampliar posteriormente e que per sistem como fonte de debates e constantes referências na literatura psicanalítica Den tre os temas discutidos estão as observa ções sobre o narcisismo que antecedem o trabalho específico de 1914 a descrição do mecanismo do recalcamento a gênese da formação da paranóia e a sua relação com a homossexualidade O artigo consta de três partes 1 História clínica de Schreber 2 Tentativas de interpretação 3 Sobre o mecanismo da paranóia Seguese um pósescrito Está publicado no volume XII p 23 da Standard Edition brasileira Para maiores detalhes ver Caso Schreber inserido no verbete Historiais clínicos Notas sobre a memória e o desejo BION 1967 Com o nome original de Notes on Memory and Desire esse artigo foi publicado na re vista PsychoAnal Forum II 3 e também na Revista de Psicoanálisis de Buenos Ai res v 26 1969 Nele BION parte da posi ção de que o início importante em qual quer sessão é o desconhecido e nada deve impedir que a psicanálise o intua Os aspectos mais destacados são 1 O uso por parte do analista dos seus órgãos sensoriais constituise como um obstáculo para a intuição da realidade psí quica Da mesma forma o uso da memória a qual é muito próxima da experiência sen sorial é buscado de forma ativa pelo indiví duo e isso também obstrui a intuição e o aces so à realidade subjetiva do paciente 2 O analista deve suprimir ao máximo sua memória e seus desejos ativos e isso pode ser conseguido através de um treinamento e de exercícios voluntários Ver o verbete Sem memória e sem desejo Notas sobre a teoria da esquizofrenia BION 1954 Nesse trabalho inserido no livro Estudos psicanalíticos revisados 1967 BION escla VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 293 rece que utilizou com seus pacientes esqui zofrênicos a mesma técnica analítica que empregava para os neuróticos comuns des tacando os aspectos a seguir 1 A patologia da linguagem utilizada pelos esquizofrênicos 2 As três maneiras desses pacientes de empregar a linguagem como um modo de atuar como um método de comunicação primitiva e como uma forma de pensamen to Assim às vezes o atuar substitui o pen sar e viceversa 3 A presença do ódio e da voracidade pro voca splittings que destroem a capacidade para pensar e para unir as palavras e os objetos 4 Dessa forma esses pacientes utilizam as palavras como se fossem coisas ou como partes cindidas deles mesmos e que tratam de colocar dentro do analista 5 Há uma marcante dificuldade na utiliza ção dos símbolos e portanto dos substan tivos e verbos Notas sobre um caso de neurose ob sessiva FREUD 1909 Esse trabalho publicado em 1909 é mais conhecido como O caso do Homem dos Ratos e versa sobre um paciente fortemen te obsessivocompulsivo que FREUD anali sou durante um ano e que apresentou um notável restabelecimento dos sintomas O artigo consta de duas partes sendo cada uma delas subdividida por títulos que refe rem abordagens específicas Assim a parte I intitulada Extratos do caso comporta sete subtítulos 1 a O iní cio do tratamento b Sexualidade infantil 2 O grande medo obsessivo 3 Iniciação na natureza do tratamento 4 Algumas idéias obsessivas e sua explicação 5 A cau sa precipitante da doença 6 O complexo paterno e a solução da idéia do rato A parte II denominada Secção teórica consta de três temas 1 Algumas caracte rísticas gerais das estruturas obsessivas 2 Algumas peculiaridades psicológicas dos neuróticos obsessivos sua atitude perante a realidade a superstição e a morte 3 A vida instintiva dos neuróticos obsessivos e as origens da compulsão e da dúvida Seguese um adendo intitulado Registro original do casoContrariamente a seu há bito de destruir os originais dos trabalhos já publicados esse manuscrito como notável exceção foi conservado praticamente na íntegra Foi encontrado misturado com ou tros papéis em Londres após sua morte O trabalho está publicado no volume X das páginas 153 a 317 da Standard Edition bra sileira Ver Homem dos Ratos que está inserido no verbete Historiais clínicos Novas conferências introdutórias à psicanálise FREUD 1933 Enquanto as Conferências Introdutórias 19161917 foram realmente pronunciadas num auditório da Clínica Psiquiátrica de Viena perante uma platéia que reunia membros de todas as Faculdades da Uni versidade as Novas Conferências Introdu tórias jamais foram pronunciadas Na ver dade FREUD as redigiu como se estivesse conversando com um auditório imaginário de modo a dar uma continuação e suplemen tação às conferências anteriores São sete as novas conferências numeradas de XXIX a XXXV onde sucessivamente ele aborda os temas 1 Revisão da teoria dos sonhos 2 Sonho e ocultismo 3 A disse cação da personalidade psíquica 4 Angús tia e vida pulsional 5 Feminilidade 6 Explicações aplicações e orientações 7 A questão de uma Weltanschaung Dentre essas conferências a terceira a quar ta e a quinta abordam os temas da estrutura da mente a angústia a teoria das pulsões e o da psicologia feminina apresentando mate riais e teorias inteiramente novas 294 DAVID E ZIMERMAN Esse trabalho está publicado no volume XXII p 17 da Standard Edition brasileira Novas recomendações sobre a técni ca da psicanálise FREUD 1913 Em seus Artigos sobre Técnica seguin dose às Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise 1912 FREUD prosseguiu complementando os artigos inseridos nesse trabalho com três novos artigos publicados em 1913 sob o nome geral de Novas Recomendações Esses ar tigos são 1 Sobre o início do tratamen to 2 Recordar repetir e elaborar 3 Observações sobre o amor transferen cial Essa obra está no volume XII da Standard Edition brasileira Novela familiar Ver o verbete Romance familiar Númeno BION BION emprega a palavra númeno que alu de a uma divindade mitológica a qual to mou emprestada do filósofo KANT para de signar a coisa em si mesmo por oposição à observação dos fenômenos ou das coisas tais como aparecem e são conhecidos pela nossa percepção Assim númeno também aparece na obra de BION como coisa em si verdade absolu ta O referese a um fato percebido pela consciência mas não confirmado pela ex periência porquanto a sua existência é abs trata e problemática O BION Na obra de BION levando em conta os tex tos no idioma original e os traduzidos a le tra O aparece de duas maneiras 1 Designa o ponto de origem de uma ver dade à qual não se consegue chegar e co nhecer a não ser através do produto de suas transformações Na terminologia emprega da por BION esse termo guarda uma sino nímia com coisa em si mesmo realidade última verdade absoluta divindade núme no Para caracterizar a perspectiva mística desse termo BION gostava de mencionar a frase do poeta Milton O infinito informe sem nome O signo O tanto pode ser lido como letra inicial de origem ou como zero com o significado de ponto de partida BION mos trou preferir que O fosse lido como letra Dessa forma na situação analítica se fizer mos uma metáfora cabe dizer que BION valorizou sobretudo uma linha imaginária onde num pólo consta a origem desconhe cida dos fatos e sentimentos representada por O enquanto no outro pólo está K ou seja o conhecimento dos aludidos senti mentos Assim tratase de uma via de trânsito de duas mãos pavimentada por sucessivas transformações tal como aparecem no modelo da Grade tanto na direção de K para O do conhecimento manifesto para as origens desconhecidas as quais segun do BION talvez estejam radicadas no psi quismo fetal e de O para K ou seja a partir das sensações inonimadas de protopensa mentos que caracterizam O a dupla analí tica poder vir a chegar a K 2 Em muitas traduções latinoamericanas o vínculo H inicial de hate ódio aparece grafado com a letra O inicial de ódio Objetal relação KLEIN A expressão empregada na atualidade pela maioria das correntes psicanalíticas Come çou a aparecer a partir de MKLEIN que pos tulava o fato de que existem relações ob jetais desde o nascimento FREUD descre via a introjeção de objetos totais a partir de uma identificação com o objeto perdi do como em Luto e melancolia de 1917 ou como uma resolução da confliti va edípica sob a forma de um superego Indo além MKLEIN acreditava que a origem das relações objetais interiorizadas deriva vam da capacidade inata que o bebê tem de interpretar suas sensações corporais sob a forma de objetos bons os que o gratifi O 296 DAVID E ZIMERMAN cam com sensações prazerosas ou maus os que provocam dor e sofrimento KLEIN descreveu o polimorfismo que as re lações objetais assumem na mente da crian ça baseada na sua análise com crianças que através dos brinquedos evidenciavam o quanto a criança pode num determina do momento identificarse com uma das partes do relacionamento o superego por exemplo e em outro ser acusada por esse mesmo superego que então vai impreg nar a relação objetal com culpas e medos Essa disposição maleável das identificações promove um repertório variado de identi dades atitudes papéis etc Objeto M KLEIN Talvez seja o termo mais mencionado nos textos psicanalíticos Já aparece em FREUD a sombra do objeto recai sobre o ego 1917 porém ganhou grande relevância a partir dos trabalhos de MKLEIN Por outro lado o termo também freqüenta a obra de FREUD com outros significados como por exemplo o de representaçãoobjeto e tam bém na sua teoria das pulsões onde objeto significa o alvo das cargas pulsionais Muitos analistas se insurjem contra a expres são objeto pelo fato de estar muito ligada à idéia de objeto como coisa materialIsso lhe emprestaria um valor de muita frieza para um aspecto de tanto calor como é o de uma relação humana com alguém quer vivo e do mundo exterior quer do mundo interi or por isso sugerem que o termo imago seria mais apropriado No entanto o prefixo ob é de origem latina e significa diante dos olhos ou seja desig na uma aproximação uma relação mais ín tima e pessoal com alguém que está à nos sa frente diante dos olhos embora também tenha o significado de estar diante de numa atitude de oposição M KLEIN descreveu uma variedade qualita tiva da natureza dos objetos especialmen te os introjetados sendo indispensável dis criminar os que seguem 1 Objeto bom Referese àquele que sa tisfez as sensações do bebê numa fase evo lutiva em que ele sob a égide do princípio do prazerdesprazer de forma maniqueís ta introjeta como bons os que promovem prazer e como maus os que provocam des prazer 2 Objeto externo Embora muito critica da pelo fato de que teria negligenciado a importância dos objetos externos reais e supervalorizado quase de forma absoluta os objetos internos a verdade é que nos primeiros tempos MKLEIN atribuiu grande valor à relação da criança com a mãe Nos seus últimos escritos talvez por julgar que era óbvia a importância da mãe como ob jeto externo ou porque estava fascinada por suas especulações sobre o mundo das rela ções objetais internas acompanhadas pe las respectivas fantasias inconscientes ela pouco se referia aos objetos externos Quando o fazia dava a impressão que o objeto externo era um prolongamento dos internos um produto das identificações projetivas 3 Objeto idealizado Na dissociação ou cisão ou splitting que a criança faz entre os objetos introjetados como bons e maus como uma maneira de defenderse da ima ginária perseguição que seria movida pelo mau o ego inconsciente lança mão do re curso da idealização Na prática analítica é importante que o analista consiga discrimi nar quando no curso da transferência po sitiva e no processo de identificação ele está sendo visualizado e incorporado pelo ana lisando como bom ou como idealizado 4 Objeto interno É o que está incorpo rado em alguma instância psíquica como o ego o superego ou o ideal do ego cuja internalização resulta de um continuado jogo de identificações projetivas seguidas de identificaçõess introjetivas com novas reprojeções e assim por diante VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 297 5Objeto parcial Diferentemente de FREUD que concebia os objetos como sen do introjetados como uma totalidade as concepções de MKLEIN priorizaram a rela ção e a introjeção com partes do objeto como pode ser a parte boa ou má do seio do pênis etc 6 Objeto persecutório A predominân cia dos objetos maus representa uma cons tante ameaça para o sujeito de um ataque vindo de fora caso das paranóias que ameaça os objetos bons que habitam seu mundo interior O ataque imaginado tam bém pode partir dos objetos maus intro jetados que ameaçam o próprio self do sujeito 7 Objeto total Segundo M KLEIN na po sição esquizoparanóide predominam os objetos parciais com características perse cutórias Porém o objeto total é uma con quista adquirida numa exitosa passagem para a posição depressiva onde a crianci nha ou o sujeito adulto na situação analíti ca vai conseguir integrar numa única pes soa mãe ou analista os aspectos que es tavam ambivalentemente dissociados em duas ou mais mães boas e más idealiza das ou persecutórias Objeto a ou pequeno a LACAN LACAN introduziu esse termo em 1960 para designar o objeto desejado pelo sujeito virtualmente sempre a mãe que se fur ta a lhe pertencer totalmente de modo que esse objeto tal como é desejado no plano imaginário não existe no mundo da realidade Como decorrência esse objeto não é re presentável como tal e só pode ser identifi cado sob a forma de fragmentos parciais do corpo que Lacan reduz a quatro o seio como objeto de sucção as fezes como objeto de excreção a voz e o olhar como objetos do próprio desejo Ver o verbete pequeno outro Objeto bizarro BION BION nas décadas 40 e 50 quando se de dicou de modo especial respectivamente ao estudo das psicoses e dos distúrbios da capacidade para pensar descreveu o que denominou como bizarros os objetos par ciais submetidos a tantas clivagens que fica ram reduzidos a partículas quer dizer parte zinhas minúsculas seguidas de maciças iden tificações projetivas Essas identificações não encontraram um continente materno adequa do que as acolhesse e transformasse de sorte que os fragmentos dissociados ficam flutuan do em torno do sujeito ameaçandoo no caso das paranóias de diversas formas vindas de lugar incerto e de modo imprevisível Segundo BION os objetos bizarros cujo nome deve ser creditado à imprevisibilida de desses objetos que escapam do controle consciente do sujeito podem ficar alojados em objetos materiais do mundo exterior de forma a emprestarlhes características da natureza humana BION exemplifica com a situação de um paciente psicótico que ima ginou que o gramofone que havia na sala de trabalho fosse um pavilhão auditivo que estaria escutando toda conversa deles Objeto psicanalítico BION Esse termo cunhado por BION não tem o mesmo significado que conhecemos da teo ria das relações objetais Antes alude a uma atitude a um estado mental que leva em conta uma série de fatores ligados ao cres cimento mental O objeto psicanalítico está mais associado ao que no campo da situa ção analítica não é capturado pelos órgãos sensoriais é de natureza intuitiva e empáti ca e aponta numa direção de progressão ou regressão de ser e de vir a ser Podese dizer portanto que essa concep ção também se refere às associações e in terpretações com uma extensão no domí nio dos sentidos do mito e da paixão 298 DAVID E ZIMERMAN Como o objeto psicanalítico traduz uma in tersecção de elementos psicanalíticos pro vindos concomitantemente do analisando e do analista parece que BION criou sua Gra de como tentativa de categorizar concreta mente a abstração do objeto psicanalítico Objeto transformacional CBOLLAS Partindo da concepção de WINNICOTT relati va à mãe ambiental ou seja a mãe real que para o infante representa o ambiente exterior em sua totalidade BOLLAS cunhou a expressão objeto transformacional para designar o fato de que a mãe somandose às transformações naturais próprias das capacidades emergentes do ego da criança principalmente as motoras e a da lingua gem também transforma constantemen te o meio do infante para satisfazer as ne cessidades dele BOLLAS em A sombra do objeto 1992 descreve que existe uma busca coletiva e de grande amplidão de um objeto identifi cado com a metamorfose do self Segun do ele isso se manifesta em muitas crenças religiosas em estruturas míticas como nas seitas fanáticas na esperança investida em vários objetos e circunstâncias um novo trabalho uma mudança para outro país umas férias uma troca de relacionamento Também se manifesta no mundo da propa ganda que vive desse tipo de objeto já que o produto anunciado promete geralmen te alterar o meio externo do sujeito e con seqüentemente transformar o seu humor interno Objeto transicional WINNICOTT WINNICOTT incluiu sua concepção de objeto transicional nos seus originais estudos rela tivos aos fenômenos transicionais e ao do espaço transicional ver esses verbetes Mais especificamente o objeto que está re presentando uma transição entre o mundo do imaginário e o da realidade comumente consiste num bico travesseiro ursinho de pano algum brinquedo e ocupa um lugar e uma função no espaço transicional ou espaço de ilusão Sobretudo caracteriza se pelo fato de que deve ser de posse ex clusiva da criança ser amado conservado por um longo período de tempo e sobrevi ver aos ataques mutilatórios que a criança lhe inflige O objeto transicional representa um mo mento evolutivo estruturante Porém segun do WINNICOTT esse tipo de objeto é suscetí vel de uma evolução patológica que ele exemplifica com os quadros de adições roubos e fetichismo quando no lugar de ser transitório como é a característica es sencial do objeto transicional ele se torna de uso definitivo e permanente Obra completa de Freud com comen tários e notas de JSTRACHEY A edição original alemã que coligiu a maio ria dos trabalhos de FREUD publicada du rante sua vida era titulada Gesammelte Schriften Após sua morte apareceu outra edição Gesammelte Werke a única edi ção alemã quase completa com pratica mente todos trabalhos Em 1966 baseado nessa última publicação alemã JAMES STRA CHEY com o auxílio de AFREUD de sua es posa ALIX e outros colaboradores deu a lume à edição inglesa The Complete Psychological Works of Sigmund Freud Standard Edition No prefácio STRACHEY esclarece que o maior pecado da edição alemã foi o de não ter feito as correções e acréscimos que FREUD adicionou a muitos dos artigos originais Igualmente diz que não incluiu nessa cole ção os trabalhos que precederam a abor dagem de temas propriamente psicológicos Também não conseguiu publicar toda a lon ga correspondência de FREUD especialmen te as importantes cartas a FLIESS Entre op VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 299 tar por um critério de seguir a ordem de publicação por temas específicos ou de privilegiar a ordem cronológica STRACHEY diz que ficou num meio termo A Editora Imago traduziu e publicou a pri meira edição brasileira em 1977 com o nome de Edição Standard Brasileira das Obras Com pletas de Sigmund Freud A mesma consta de 24 volumes sendo cada trabalho em qual quer volume precedido por notas introdutó rias de J STRACHEY meticulosas e sintéticas Comentário Para facilitar uma consulta rápida e sintética dos trabalhos que cons tam nos 24 volumes da Edição Standard o leitor pode se valer do livro Sinopses da Standard Edition da Obra Psicológica Com pleta de Sigmund Freud 1979 As referências dos verbetes deste Vocabu lário quanto à localização no volume e pá gina inicial de alguns dos mais importantes trabalhos de FREUD sempre são relativas à edição brasileira Obras completas de Melanie Klein Tendo como editor original ROGER MONEY KYRLE em colaboração com BETTY JOSEPH EDNA OSHAUGHNESSY e HANNA SEGAL a ins tituição The Melanie Klein Trust reuniu to dos os trabalhos de MKLEIN e os publicou em 1975 A editora brasileira Imago proce deu à tradução para o português e fez a publicação em quatro volumes O volume I reúne os trabalhos que MKLEIN publicara entre 1921 e 1945 dentre os quais se destaca Amor Culpa e Reparação 1937 cuja leitura permite ao leitor perce ber a evolução das idéias e do trabalho dela Além deste trabalho constam mais outros 20 artigos a maioria dos quais já tinham sido publicados originalmente em Contri buições à Psicanálise Os progressos da Psi canálise e Novos Rumos da Psicanálise O volume II consta da Psicanálise de Crian ças 1932 trabalho fundamental na obra completa de M KLEIN O volume III contém todos seus últimos tra balhos a partir de 1946 com exceção de Narrativa da Análise de Uma Criança que é publicado separadamente como vo lume IV até 1963 Este terceiro volume abar ca 16 capítulos e dentre eles alguns que se destacam Notas sobre alguns mecanismos esquizóides 1946 Sobre a teoria da ansiedade e culpa 1948 As origens da transferência 1952 Sobre a identifica ção 1955 Sobre o sentimento de soli dão 1963 e sobretudo o clássico Inve ja e gratidão 1957 O volume IV é dedicado exclusivamente ao texto de Narrativa da Análise de Uma Criança 1961 no qual MKLEIN descreve minuciosamente a análise com o menino Richard Na edição brasileira antecedendo cada ar tigo há notas explicativas destinadas a in dicar a posição de cada tema principal na evolução do pensamento de MKLEIN São úteis para orientar o leitor sobre a finalida de de cada trabalho indicando inclusive as alterações que a autora introduziu em al guns textos possibilitando assim uma visão evolutiva das implicações dessas alterações conceituais no sistema de pensamento klei niano Também consta uma introdução a dois prefácios escritos por EJONES para edi ções anteriores que foram preservados por seu interesse histórico Obras completas de Sándor Ferenczi FERENCZI considerado um dos pioneiros da psicanálise talvez seu mais brilhante clíni co é autor de um volumoso número de tra balhos Sua obra não obstante ainda pou co conhecida vem merecendo nos últimos anos uma crescente valorização principal mente pelo fato de que muitos conceitos e posições originais estão encontrando eco na psicanálise contemporânea que privilegia o campo analítico e os vínculos que unem a dupla analítica 300 DAVID E ZIMERMAN A Editora Martins Fontes de São Paulo baseada na edição francesa publicou em 1991 traduzidas para o português as Obras Completas de Sándor Ferenczi em quatro volumes O volume I consta de 25 trabalhos que fo ram escritos entre 1908 e 1912 abrangen do alguns clássicos da literatura psicanalíti ca como Transferência e introjeção Pa lavras obscenas O papel da homossexu alidade na patogenia da paranóia Sin tomas transitórios O volume II abrange os textos de 1913 a 1919 Esse período foi o das controvérsias entre FREUD e JUNG assim como também o da I Grande Guerra e o da sua curta análi se com FREUD Esse segundo volume é com posto por 83 textos entre os quais estão algumas de suas mais importantes contri buições como O desenvolvimento do sen tido da realidade e seus estágios Um pequeno HomemGalo Sintomas transi tórios no decorrer de uma análise e A téc nica psicanalítica O volume III engloba os artigos escritos entre 1919 e 1926 período que corresponde a uma das experiências técnicas mais contro vertidas de FERENCZI qual seja a chamada técnica ativa Este tomo alcança 51 artigos e inclui também o famoso trabalho Thala sas ver esse verbete que consiste num ensaio sobre a teoria da genitalidade Essa teoria foi considerada por FREUD como o mais brilhante e o mais profundo pensa mento de FERENCZI e que lhe serviu de ins piração para trabalhos posteriores O volume IV reúne cerca de 21 textos e abrange os artigos escritos por volta de 1927 até a morte de FERENCZI em 1933 Nesse tomo o primeiro artigo A adaptação da família à criança marca uma mudança radical no estilo das publicações de FEREN CZI que passa a abordar temas técnicos como ocorre também no importante traba lho Elasticidade da técnica psicanalítica assim abrindo as perspectivas para a futura evolução da psicanálise Igualmente nesse quarto volume aparece seu conhecido e muito citado trabalho Confusão de língua entre os adultos e a criança Observação da relação mãebebê ORMB ESTHER BICK FREUD construiu seu edifício psicanalítico do inconsciente a partir da observação de paci entes adultos através de uma comunicação verbal simbólica com eles partindo daí para as conjecturas acerca do passado deles Coincidindo com os trabalhos de MKLEIN baseados nas análises com crianças a par tir de dois anos e meio que ela também fazia retroagir para os primeiros meses de vida alguns analistas decidiram observar be bês desde recémnatos para ver se as con cepções de MKLEIN acerca das fantasias pre coces dos bebês se confirmavam ou não A primeira psicanalista a dedicarse à ob servação direta de bebês interagindo com as suas respectivas mães foi ESTHER BICK Conjeturam alguns autores que talvez ela tenha sido motivada pela circunstância de ter perdido toda sua família e amigos nos campos de concentração nazistas Mudan dose para Londres para fugir desse horror estaria buscando uma relação viva de um bebê evoluindo numa família para contra por às suas terríveis vivências de morte e de famílias dissolvidas EBICK iniciou esse trabalho em 1948 como um exercício de formação para estudantes de psicoterapia e psicanálise de crianças fazendo observações sistemáticas dos be bês com suas mães na casa delas numa visita semanal durante um ano inteiro As observações de BICK confirmaram as idéias de M KLEIN porém ela acrescentou o fenô meno de certas crianças buscarem o que de nominou como segunda pele ou seja um contato epidérmico com a mãe como forma de continente tal como acontece manifesta mente nos casos de identificação adesiva VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 301 Esse método de observação direta e de ensino psicanalítico provocou fortes polê micas na Sociedade Britânica de Psicanáli se Os opositores argumentavam que o bebê não consegue simbolizar verbalmente e a simbolização por brinquedos seria muito discutível porque já atinge uma idade su perior à de bebê que só sente as coisas re lacionadas ao seu corpo de prazer ou des prazer A partir de um melhor entendimento do fenômeno da identificação projetiva normal funcionando como uma primitiva forma de comunicação concepção que a psicanáli se deve em grande parte a BION os analis tas começaram a acreditar nas formas que o bebê tinha de se comunicar como o choro movimentos reações físicas etc o que passou gradualmente a conferir uma credibilidade a esse método de pes quisa e ensino Na atualidade um grande número de insti tutos formadores de psicanalistas recomen da o método de ensino da Observação da relação mãebebê ORMB destacando os seguintes aspectos favoráveis 1 Mais do que observar o bebê isolada mente o importante é o que se passa no vínculo interacional entre a dupla mãebebê nos seus múltiplos níveis 2 Há uma valorização especial da obser vação de como se processam as recíprocas identificações projetivas e introjetivas e a correlata função de continente 3 Todos analistas se referem constantemen te à parte bebê ou infantil de seu paciente sem muitos terem tido uma experiência mais forte de como essa de fato é 4 Há uma vantagem que ao mesmo tem po pode representar um risco para o candi dato inexperiente o fato de não poder in terpretar e se envolver porquanto tem o dever de conter suas ansiedades em rela ção ao que está observando 5 A observação direta de bebês possibilita de alguma forma esclarecer a contratrans ferência do observador e assim ele cresce como analista no sentido de enfrentar as transferências difíceis que vão surgir no seu trabalho analítico Existem muitas variantes em relação ao método de observação de bebês Os norte americanos preferem fazer pesquisas mais diretas observandoos durante horas segui das numa situação que não é a do lar fa zendo apontamentos de observações de aspectos particularizados gravando e fil mando levantando estatísticas etc mui tas vezes distanciandose do padrão psica nalítico Algumas sociedades impõem para os can didatos do primeiro ano esse método de aprendizagem analítica preconizado por E BICK tal como está descrito em Notas so bre observação de lactantes 1964 ou tras utilizamno como teste de seleção para aceitação de aspirantes a candidatos en quanto outras ainda estão debatendo o as sunto A tendência atual é de fazer a obser vação de bebês se possível interagindo não só com a mãe mas com a família o pai incluído Recomendação bibliográfica Além dos textos que estão explicitados nesse verbe te o leitor pode ter uma visão completa do método no livro organizado pela psicana lista Nara Caron recentemente lançado intitulado Relação paisbebê A observação pode abranger múltiplos enfoques como por exemplo o acompanhamento da rela ção da mãe com o bebê desde a vida intra uterina por meio de estudos ecográficos e de outros modernos recursos tecnológicos com a colaboração de obstetras Obsessivacompulsiva neurose No DSMIV essa entidade clínica está en quadrada como transtorno obsessivocom pulsivo TOC Como acontece em outras estruturações da personalidade também a de natureza obsessiva diz respeito à forma 302 DAVID E ZIMERMAN e ao grau de como se organizam os meca nismos defensivos do ego diante das fortes ansiedades subjacentes Assim é útil dis tinguir quando se trata da presença de tra ços obsessivos em uma pessoa normal ou quando há traços acompanhantes de uma neurose mista psicose perversão etc de caráter marcadamente obsessivo ou quan do se trata de uma neurose obsessivocom pulsiva No último caso estará presente um grau de sofrimento que o sujeito inflige a si mesmo e aos demais e também algum prejuízo no seu funcionamento na vida familiar e so cial Em certos casos os sintomas compos tos por dúvidas ruminativas pensamentos cavilatórios controle onipotente frugalida de obstinação rituais e cerimoniais atos que compulsiva e repetidamente são feitos e desfeitos num nunca acabar podem atingir um alto grau de incapacitação total do sujeito para uma vida livre configurando uma gra víssima neurose beirando à psicose Vale lembrar que o termo obsessão refere se aos pensamentos que como corpos es tranhos infiltramse na mente e atormen tam o sujeito Por sua vez o termo compul são designa os atos motores que esse tipo de neurótico executa como forma de con traarrestar a pressão dos referidos pensa mentos Também é útil esclarecer que o diagnóstico de obsessivo não define uma forma única de caractereologia porquanto ela pode manifestarse de formas opostas Tanto são obsessivos aqueles nos quais predomina uma tendência à passividade e que tomam inúmeros cuidados antes de qualquer inici ativa e deixamse subjugar como também são obsessivos aqueles nos quais prevalece uma atividade agressiva que se tornam lí deres com um perfil de mandonismo into lerância a erros falhas ou limitações dos outros assim adotando uma postura des pótica e tirânica ainda que sejam pessoas sérias bem sucedidas e bem intencionadas FREUD fez as primeiras descrições psicanalí ticas sobre essas neuroses numa seqüência com sucessivas modificações de vários tra balhos como As psiconeuroses de defe sa 1894 Obsessões e fobias 1895 Novos comentários sobre as psiconeuro ses de defesa 1896 Atos obsessivos e práticas religiosas 1907 no qual ele for mula a famosa sentença de que a religião é uma neurose obsessiva universal enquan to a neurose obsessiva é uma religião parti cular Caráter e erotismo anal 1908 Notas sobre um caso de neurose obsessi va mais conhecido como o caso do Ho mem dos ratos 1909 Totem e Tabu 1912 A disposição à neurose obsessiva 1913 O sentido dos sintomas que constitui o capítulo 17 de Conferências introdutórias à psicanálise 1916 Da história de uma neurose infantil mais conhecido como o famoso caso do Ho mem dos lobos 1918 Inibições sinto mas e angústia 1926 Muitos outros autores contemporâneos e posteriores a FREUD partindo de vértices distintos fizeram aprofundados estudos acerca das neuroses obsessivocompulsivas O termo obsessivo deriva dos étimos lati nos ob contra a despeito de stinere uma posição própria tal como aparece em des tino Basta isso para definir o quanto existe de ambigüidade e de ambivalência no su jeito obsessivo resultante do fato de que por um lado ele sente seu ego submetido a um superego tirânico é obrigado a fazer a pensar ou omitir sob a pena de ao mes mo tempo em que quer tomar uma posi ção contra esse superego e dar vazão ao id Os mecanismos defensivos mais utilizados pelo ego para poder sobreviver à carga das ameaças punitivas são as de anula ção isolamento formações reativas ra cionalização e intelectualização As duas últimas são especialmente utilizadas pelo paciente na situação analítica a serviço de suas resistências VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 303 Comentário Na prática analítica o maior cuidado que o analista deve ter consiste na possibilidade de se equivocar pela colabo ração manifestamente irretocável desse paciente que costuma ser obsessivamente correto assíduo pontual além de associar livremente ser bom pagador ter boa apre sentação e uma vida profissional geralmente bem resolvida Porém existe a possibilida de de que este analisando mais esteja cum prindo a tarefa de ser um bom paciente do que propriamente alguém disposto a fazer mudanças verdadeiras Nesse caso não basta que as interpretações do analista estejam corretas é necessário observar o destino que elas tomam na men te do obsessivo se elas lá germinam ou se ficam desvitalizadas Um bom recurso téc nico é o de por vezes fazer um confronto para o paciente entre o que ele diz pensa sente e de fato faz Oceânico sentimento FREUD Seguidamente FREUD empregava a expres são sentimento oceânico ou estado de nir vana ou sentimento de universalidade para designar o que preferentemente definia como ego do prazer puro Ver o verbete Ego tipos de formação do FREUD correlaci ona esse sentimento com o restabelecimento do narcisismo primário a fantasia originá ria ou mito de retorno ao ventre materno como forma de abolir toda separação O êxtase religioso o exagerado patriotismo o fanatismo em geral a paixão desmedida e outros sentimentos similares se caracteri zam pela participação do ego em expectati vas inalcançavelmente elevadas A nostalgia do sentimento oceânico do narcisismo primá rio pode ser denominada necessidade narci sística que também se caracteriza pelo desa parecimento das fronteiras do próprio ego Essa situação é facilmente perceptível em muitos vínculos amorosos cuja caracterís tica mais marcante é que pelo menos um dos dois do casal desloca o centro de gravi dade do seu próprio ego e o desloca para o outro Segundo FREUD nesses casos as coi sas se passam assim na mente de pelo menos um deles Eu não sou ninguém o meu partenaire é o tudo e ainda mais Eu volto a ser tudo ao me ser permitido parti cipar da grandeza do partenaire Em Psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD alerta que o estado de ena moramento exagerado representa um gru po de dois porém existe uma transição gradual entre o estado de apaixonamento e a perversão de submissão extrema Pode se acrescentar que nesse último caso além de uma extrema idealização do outro sob o alto preço de um intenso esvaziamento do si mesmo também é regra o tipo de re lacionamneto vincular do casal adquirir uma configuração sádicomasoquista Ocnofilia M BALINT Cunhado por BALINT esse termo designa a ten dência do ser humano de se ligar e se unir aos objetos primários mãe num tipo de liga ção tão forte de natureza fusional que pos teriormente vai gerar os estados fóbicos por medo do enclausuramento dentro do outro Ver o verbete Balint Ódio BION E WINNICOTT Termo bastante freqüente nos textos psica nalíticos De modo geral é descrito como derivado da pulsão de morte e como si nônimo dela Dois autores estudam espe cificamente o sentimento de ódio BION e WINNICOTT BION descreve o ódio H como um dos vín culos juntamente com os outros dois o do amor L e o do conhecimento K Ele es tuda mais particularmente o ódio como for ma de emoção intimamente ligada em al gum grau com as outras duas e centraliza seu interesse no jogo dialético das emoções 304 DAVID E ZIMERMAN versus as antiemoções Assim o ódio é bas tante enfocado sob o vértice de um ódio à tomada de conhecimento de verdades ina ceitáveis pelo sujeito Ao mesmo tempo BION esclarece que o estado de menos ódio H não deve ser entendido como a mes ma coisa que amor Para um melhor escla recimento consultar o verbete Vínculos WINNICOTT dedicou um estudo aprofunda do aos conceitos psicanalíticos que devem ser entendidos na palavra ódio que na sua obra estão particularmente descritos em O ódio na contratransferência 1944 Os seguintes aspectos constituem a essência de suas concepções acerca do ódio 1 Ele jamais reconheceu a teoria de MKLEIN segundo a qual o ódio do bebê é entendi do como inato e como manifestação da in veja primária logo da pulsão de morte 2 Juntamente com o desenvolvimento da capacidade para amar o bebê também deve desenvolver uma capacidade para odiar tendo em vista que essa ambivalên cia é inevitável e que o bebê pode vir a fazer um bom uso da agressividade arma zenada 3 WINNICOTT compara o direito da mãe sen tir momentos de ódio como resposta à crueldade do bebê com o mesmo direito de um analista de ter sentimentos contra transferenciais de ódio notadamente os despertados por pacientes psicóticos que utilizam maciças identificações projetivas de aspectos muito difíceis de serem contidos juntamente com muitos actings alguns de graves riscos Por essa razão WINNICOTT en fatiza a necessidade de o analista que tratar pacientes de estrutura psicótica estar muito bem analisado para conseguir conter es ses difíceis sentimentos ao mesmo tempo em que deve conhecer muito bem os seus limites e limitações Comentário É especialmente importante que os pais e educadores em geral tenham a capacidade de não temer promover as frustrações inevitáveis e necessárias que le vam às manifestações de ódio da criança contra eles Os pais excessivamente dispo níveis que tentam encobrir toda sensação de falta que o filho manifeste e que além disso sufocam o ódio necessário e a ambi valência que acompanham o processo de desligamento dos objetos através de um subministro exagerado de provisão e pro teção abolem os limites espaciais entre o si mesmo da criança e o objeto amado assim gerando relações objetais aditivas Olhar O olhar desde a Antigüidade tem sido can tado em prosa e verso das mais distintas formas e abordagens por poetas filósofos cientistas etc A mitologia e a Bíblia mos tram a freqüência com que o ato de olhar foi significado de forma persecutória como aparece nos exemplos que seguem As filhas e a mulher de Lot foram transfor madas em estátuas de sal por terem deso bedecido à proibição de Deus de não mi rar os pecados de Sodoma e Gomorra Narciso perdeuse no olhar especular des lumbrado de si próprio Édipo cegouse como castigo pelo crime edípico Orfeu voltou a cabeça para olhar a sombra da formosa Eurídice e perdeua para sempre O herói Perseu defendeuse da Medusa uma das três Górgonas cuja cabeça mes mo arrancada conservava o poder de pe trificar a quem a olhasse forçandoa a mi rarse Outros mitos além de folclóricas crendices populares poderiam constar aqui de forma abundante Do ponto de vista psicanalítico FREUD es creveu Perturbações psicogênicas da visão 1910 e ABRAHAM complementou esse tra balho com outro que intitulou Modifica ções e perturbação da pulsão visual nos neuróticos 1913 ambos muito ricos mas não cabe aqui comentálos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 305 WINNICOTT provavelmente é o autor que mais ênfase dedicou à importância do olhar desde a incipiente relação mãebebê enfo cando a natureza da recíproca troca de olha res entre os dois Aliás esse aspecto é con firmado por GREEN um estudioso de WIN NICOTT que afirma Sabemos que o bebê que se alimenta no seio enquanto mama olha não para o peito ou mamadeira mas para o rosto da mãe 1976 Voltando a WINNICOTT vale mencionar que ele também considerou o olhar funcionan do como espelho tal como descreve em O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil 1971 Nes se artigo aparece esta bela frase o pri meiro espelho da criatura humana é a face da mãe o seu sorriso o seu tom de voz o seu olhar A essa seguiuse essa ou tra frase como se a criança estivesse re fletindo olho e sou visto logo existo WINNICOTT também destaca que para a criança ocultarse é um prazer mas não ser encontrado é uma tragédia e que não há experiência mais penosa e terrí vel do que a de ver e não ser visto de não ser refletido no espelho do olhar da mãe porque este é embaçado distorcio nador opaco ou pior que tudo simples mente nada responde ao filho Em sínte se para WINNICOTT a criança olha a ma neira de como a mãe a olha Outros autores também valorizaram sobre modo esse olhar reconhecedor da mãe e o vínculo que viceversa se estabelece con comitantemente com o olhar da criança para ela BION compara essa troca recíproca de olha res com o vínculo que sucede na relação bocaseio ambas as situações encerrando fantasias e ansiedades análogas Comentário Tendo em vista o consenso analítico em torno da importância do olhar da mãe podendo ser estruturante ou de sestruturante no psiquismo da criança creio ser cabível parafraseando MKLEIN acerca de sua concepção de seio bom e seio mau propor uma terminologia equivalente de olhar bom e olhar mau da mãe Onipotência e onisciência FERENCZI M KLEIN BION MKLEIN foi a autora que mais consistente mente usava o termo onipotência para des crever as primitivas defesas do ego arcaico do bebê num período evolutivo em que ele imagina ter um controle onipotente so bre o seio da mãe Sem usar diretamente de forma seguida a palavra onipotência FREUD deixou clara essa noção quando se refere ao princípio do ego do prazer puro ao princípio da constância também conhe cido como princípio de nirvana ou ainda quando por exemplo em Sobre o narci sismo uma introdução 1914 usa a ex pressão Sua Majestade o Bebê Também FERENCZI no seu clássico Estádi os no desenvolvimento do sentido da reali dade assinala as fases em que a criança usa um pensamento mágico e onipotente Igualmente a maioria dos autores que tra balharam com psicóticos ou estudaram o desenvolvimento emocional primitivo de uma forma ou outra também enfocam a onipotência BION no entanto deu um enfoque original ao conceito de onipotência ligandoo dire tamente a outros fenômenos como o da identificação projetiva excessiva tanto na quantidade como também excessiva na qualidade onipotente assinalando o quan to a onipotência é característica típica da parte psicótica da personalidade e ele a li gou diretamente com a formação e utiliza ção da capacidade para pensar Assim diz BION o paciente com caraterísti cas psicóticas troca a utilização da capaci dade para pensar os problemas o que se ria penoso por uma forma mágica o que lhe dá uma ilusória sensação de bemestar de resolvêlos através da onipotência Ali 306 DAVID E ZIMERMAN ás isso está de acordo com a etimologia dessa palavra Oni deriva do étimo latino omni tudo Onipotência portanto signifi ca poder tudo ou seja se o sujeito imagina ter a potência o poder sobre tudo para que pensar BION igualmente enfatizou que a parte psi cótica da personalidade substitui uma ne cessária capacidade para aprender com as experiências por uma ilusão mágica que sabe ciência tudo omni Logo não tem o que aprender e está convicto de que sen do onisciente os outros é que devem apren der com ele Oral fase FREUD ABRAHAM A primeira etapa da organização da libido foi denominada fase oral Oral procede do latim os que significa boca a qual consti tuise como zona erógena por excelência como é no ato da amamentação A finali dade da libido oral além da gratificação pulsional também visa à incorporação que por sua vez está a serviço do fenômeno da identificação Deve ficar claro no entanto que a boca não é o único órgão importante dessa fase evo lutiva mas é um modelo de incorporação e de expulsão ou seja como um protótipo que intermedeia o mundo interno com o externo Também devem ser consideradas nessa fase oral outras zonas corporais que cumprem a mesma função como o com plexo sistema respiratóriodigestivo sobre tudo o trato gastrintestinal os órgãos da fonação e da linguagem as sensações ci nestésicas relativas ao equilíbrio corporal as enteroceptivas que provêm de órgãos internos e as proprioceptivas derivam das camadas profundas da pele A pele tem um importante papel na fase oral porque além das sensações profundas também propicia a sensação de tato e a essencial aproximação pelepele com a mãe Além disso todos os demais órgãos sensoriais como olfato paladar audição e visão ocu pam uma função relevante na fase oral A fase oral do desenvolvimento de um modo geral alude ao primeiro ano de vida ABRAHAM 1924 trouxe uma importante contribuição à compreensão dessa forma evolutiva ao distinguir duas subetapas den tro da fase oral a fase oral passivorecepti va e a fase oral ativoincorporativa Preceden do a MKLEIN destacou a importância da últi ma pela possibilidade de vir carregada de pulsões agressivas dirigidas contra a mãe É útil acrescentar que ao longo da obra de FREUD aparecem postulações fundamentais hoje clássicas que acontecem no curso da fase oral com são uma especial valoriza ção do corpo o ego antes de tudo é cor poral a identificação primária com a mãe a concepção da bissexualidade como qua lidade primordial da herança biológica a vigência do princípio prazerdesprazer o predomínio do processo primário do pen samento a primitiva formação de represen taçãocoisa as incipientes formas de lingua gem e comunicação dentre outros conceitos Organização da libido FREUD Com essa denominação FREUD conceituou as formas de como se definem as fases da evolução psicossexual infantil levando em conta as zonas erógenas e o modo específi co de como as pulsões se relacionam com os objetos Assim FREUD transitou desde o autoerotismo até a heterossexualidade passando pelo narcisismo e pela escolha de objeto homossexual Na sucessão das fases e zonas erógenas inicialmente descreveu a organização anal em À disposição à neurose obsessiva 1913 A organização oral foi descrita so mente dois anos após na edição de 1915 de Três ensaios sobre a teoria da sexuali dade A fase fálica somente apareceu em A organização genital infantil 1923 FREUD afirmou posteriormente que a ple VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 307 na organização só será atingida na puber dade numa quarta fase a fase genital Organização patológica JOHN STEINER A denominação organização patológica é de JSTEINER 1981 que em diversos tra balhos destacou a existência de uma orga nização perversa entre as instâncias psíqui cas agindo dentro do sujeito como por exemplo o superego conluiado com o ego ou o superego faz um perverso acerto de acomodação Embora a essência dessa organização pato lógica já tenha sido descrita por ROSENFELD 1971 com o nome de gangue narcisista ver esse verbete a contribuição de STEINER en tre outros aspectos ganha especial impor tância na prática clínica porque o analisan do no lugar de colocarse como vítima pas siva de uma organização mafiosa terá de reconhecer sua participação ativa no pro cesso de boicote a seu crescimento na vida Em resumo esse tipo de organização pato lógica que aparece mais nitidamente nos pacientes difíceis foi considerado por RO SENFELD diretamente ligado ao que chama va de narcisismo negativo com a respecti va idealização das partes más do self enquanto STEINER tirou essa organização da clássica clivagem entre objetos bons e maus e enfatizou um interiorizado conluio perver so entre ambos Organizadores SPITZ R SPITZ ao estudar os fatores constitucio nais da maturação e do desenvolvimento da criança tomou esse termo emprestado da embriologia na qual a palavra organi zador designa o fato de que determinado grupo de células diferenciase de outras por serem portadoras de uma informação ge nética que induzirá um desenvolvimento es pecífico Isso ocorre a partir de certo mo mento da evolução o modelo clássico con siste no transplante no olho de células epi dérmicas que a partir de certa idade da rão origem às células diferenciadas para a função de olhar Utilizando esse modelo SPITZ postulou a teoria de que o desenvolvimento da crian ça passa por três organizadores que fun cionam como pontos nodais das transfor mações que são o sorriso espontâneo por volta do terceiro mês a angústia do oitavo mês e a capacidade de dizer não em tor no do segundo ano Orgasmo do ego WINNICOTT Ao descrever a aquisição por parte da crian ça da capacidade de estar só WINNICOTT afirma que É somente quando só que a criança pode descobrir a sua vida própria é capaz de fazer o equivalente ao que no adulto chamamos de relaxar ad quirir a capacidade de se tornar não inte grada de devanear de ter uma experiên cia que é sentida como real Baseado nisso WINNICOTT utiliza a expres são orgasmo do ego ao afirmar que na pessoa normal uma experiência altamente satisfatória como essa pode ser conseguida em um concerto ou num teatro ou em uma amizade ou no brincar o que pode mere cer um termo tal como o orgasmo do ego Orgonoterapia W REICH Em 1936 REICH afastouse definitivamente da análise à qual emprestara o então ino vador e importantíssimo conceito de cou raça caractereológica e dedicouse a um novo método que inventou a orgonotera pia pela qual ligava o tratamento pela pa lavra à intervenção do corpo através de substâncias consideradas como partículas de energia vital que ele chamava de orgo nes ou bions REICH considerava que a neurose seria con seqüência de uma rigidez ou retração do 308 DAVID E ZIMERMAN organismo a qual era necessário tratar por exercícios de descontração muscular a fim de fazer surgir o reflexo orgástico À medida que REICH mais ia ficando fasci nado e se aprofundando nas suas teorias físicobiológicas mais a comunidade psica nalítica foi rotulandoo de psicótico Seu método de orgonoterapia não encontrou ressonância no meio psicanalítico e hoje está totalmente esquecido Originário processo PIERA AULAGNIER P AULAGNIER postulou a existência de uma ca tegoria ainda anterior ao do processo primá rio que ela chama de processo originário Para a autora a atividade psíquica é regida por três modos de funcionamento ou processo de metabolização o processo originário o processo primário e o processo secundário Cada um desses processos tem uma forma específica de inscrever suas representações o processo originário inscreverá as repre sentações sob a forma de pictogramas o processo primário utilizará as fantasias para essa inscrição enquanto o processo secun dário possibilita as representações sob a forma de idéias O processo originário tem como ponto de partida o encontro entre a boca e o seio que AULAGNIER considera o momento inau gural da atividade psíquica A boca e o seio constituiriam uma unidade indissociada que forma uma zona sensorial que ela chama de imagem do objetosoma complementá ria Essa imagem organiza o pictograma Uma das características do processo origi nário é o que ela chama de autoengendra mento o qual designa o fato de o psiquis mo do bebê não registrar que o estímulo que gerou a representação tenha provindo do mundo externo mas sim que foi ele que as engendrou AULAGNIER destaca que o processo originá rio o primário e o secundário não estão todos presentes desde o início mas sim que eles se sucedem temporalmente a se guir se superpõem e coexistem durante toda a vida Todos esses conceitos adquirem importân cia para o entendimento e manejo dos pro cessos psicóticos Outro e outro LACAN LACAN cunhou uma terminologia específi ca grafada de duas maneiras Outrooutro cada uma com um significado específico sempre ligado ao lugar e à função daque les em relação aos quais é formulado o desejo da criança Assim ele emprega a palavra outro vem do francês autre com a minúsculo a qual chama de pequeno outro que alude mais diretamente à alte ridade ou seja a relação do sujeito com seu meio com seu desejo e com os obje tos mãe pai irmãos através dos meca nismos de identificação imaginária com esses outros Dessa forma uma mãe definida por LACAN como pequeno outro inalcançável em ra zão do tipo de desejo da criança que im plica um risco de incesto fica assim repre sentada no registro do imaginário Um pai por exemplo pode ser representado no re gistro imaginário de diversas formas como pai complacente ameaçador ou feito à ima gem e semelhança dele filho Em oposição a isso Lacan descreve o gran de Outro para designar um lugar simbólico que tanto pode ser um significante a lei o nome a linguagem o inconsciente ou ain da Deus que determina o sujeito tanto inter como intrasubjetivamente em sua relação com o desejo O grande Outro quando evocado pela criança impede que se perpetue a ligação diádica com a mãe e estabelecendo os li mites e as diferenças entre as gerações do filho e a dos pais P Paciência BION A psicanálise contemporânea valoriza sobre modo o que BION denomina condições ne cessárias mínimas do analista Ter paciên cia com seu paciente consigo mesmo e com a evolução da análise ganha uma alta rele vância Deve ficar esclarecido no entanto que a conceituação do termo paciência do ponto de vista psicanalítico não deve ser confundida com um estado de resignação e muito menos de uma espera passiva e conformada Pelo contrário a paciência consiste numa atitude psicanalítica interna do analista per tinente à sua função de capacidade negati va ver esse verbete a ser desenvolvida no analisando no sentido de poder conter dúvidas angústias e sobretudo respeitar o ritmo do paciente Em síntese o termo paciência sugere signi ficados de sofrimento e de tolerância à frus tração especialmente em relação à dimen são do tempo condições inerentes à capa cidade de pensar FREUD ao descrever o caso Dora 1905 p14 menciona a seguinte expressão do poeta Goethe Nem só a Arte e a Ciência servem no trabalho deve ser mostrada a Paciência Essa frase é plenamente válida para a situação analítica especialmente se for levada em conta a composição etimoló gica dessa palavra Paciência deriva do étimo grego pathos sofrimento o que mostra o quanto exige do analista suportar o sofrimen to O vocábulo paixão também derivado de pathos permite igualar metaforicamente a paciência do analista com a Paixão de Cristo Na prática analítica BION insiste que antes de formular uma interpretação o psicana lista deve ter paciência diante de um estado psíquico próprio de uma posição esquizo paranóide até atingir um estado de segu rança o qual equivale à passagem para um estado de posição depressiva Paciente de difícil acesso BETTY JOSEPH Expressão introduzida por B JOSEPH em seu trabalho O paciente de difícil acesso 1975 vem sendo bastante empregada pelos psicanalistas designando mais parti cularmente os pacientes que dificilmente concedem a si mesmos e ao analista aces so a seu inconsciente de modo a dificultar extremamente o objetivo maior de qualquer análise a obtenção de mudanças verdadei ras no psiquismo Costumeiramente são pacientes portado res de organização borderline da persona 310 DAVID E ZIMERMAN lidade organização perversa personalida de exageradamente narcisista sérias dificul dades na representação de si mesmos con duta antisocial drogadição depressão crô nica Além desses incluemse nessa situa ção os pacientes definidos por MacDougall como antianalisandos e os analisandos por tadores de uma organização patológica que sabota o crescimento mental do sujeito Comentário Podese dizer que hoje mui tos pacientes rotulados como de difícil aces so por um determinado analista possam não o ser para outro e viceversa Da mes ma forma muitos outros analisandos que parecem ser de fácil acesso na verdade podem estar conluiados com seu analista em uma análise inócua Em razão disso tal vez o melhor critério seja não prejulgar o paciente mas experimentar tratálo dentro de requisitos analíticos mínimos levando em conta que a acessibilidade só poderá ser estabelecida com a própria marcha da aná lise e a definição de quem será o analista Pai funções do A figura do pai tem um relevo extraordiná rio na obra de FREUD falocentrismo en quanto na teoria kleiniana ficou muito ofus cada pela hegemonia que MKLEIN atribuiu à mãe seiocentrismo Na atualidade prin cipalmente a partir de LACAN a psicanálise está resgatando a importância do lugar pa péis e funções pertinentes ao pai Dentre as funções fundamentais que devem ser exer cidas pelo pai as seguintes merecem ser des tacadas 1 A segurança e a estabilidade que ele dá ou não dá à mãe na tarefa por vezes ár dua e estafante de bem educar e promo ver o crescimento dos filhos 2 Dentro da concepção de transgeraciona lidade é útil saber como foi seu vínculo com seu pai e até que ponto ele o está repetindo com seu filho Também importa conhecer a representação interna que ele tem da espo sa mãe da criança que influirá bastante na que o filho terá da mãe e também qual o lugar que o pai ocupa no desejo e na re presentação que a esposa tem dele 3 A ênfase que merece ser dada ao papel do pai decorre do fato de que sua presença física e afetiva é de fundamental importân cia no processo de separaçãoindividuação referente à díade mãefilho MAHLER 1986 4 Sua essencial participação na resolução exitosa ou patológica do complexo de Édi po tal como descrito por FREUD 5 As funções englobadas no que LACAN denomina LeidoPai ou NomedoPai Pai leido ou nomedo LACAN Expressão introduzida em 1953 por LACAN enfatiza a função que através da linguagem o pai tanto o concreto como o simbólico transmite ao filho os valores socioculturais nos quais eles estão inscritos De forma sim plificada as seguintes funções podem ser acrescidas às que estão descritas no verbe te anterior 1 O pai no papel de terceiro interpondose como uma cunha normatizadora e delimita dora entre a mãe e a criança irá propiciar a necessária passagem de Narciso a Édipo 2 As adequadas frustrações impostas pela função paterna pela colocação de limites reconhecimento das limitações e aceitação das diferenças normas e leis promovem a necessária embora dolorosa passagem do princípio do prazerdesprazer para o princí pio da realidade se usarmos a terminolo gia de FREUD ou a passagem dos níveis real e imaginário para o registro simbólico se gundo o dizer de LACAN Ver os verbetes NomedoPai e Outro Pais combinados fantasia da figura de M KLEIN MKLEIN sempre enfatizou a fantasia que o bebê tem de penetrar no corpo da mãe para VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 311 se apossar dos tesouros que sob a forma de pênis e de bebês ele fantasia que a mãe abriga dentro dela A frustração a esse de sejo leva a criança a desenvolver fantasias sádicoagressivas contra mãe e contra a re lação sexual dos pais Por um jogo de identificações projetivas e introjetivas a criança vai misturando a ima gem dela com a dos pais unidos num coito que segundo suas fantasias pode ser terrorí fico A figura combinada e perseguidora dos pais unidos pode adquirir formas horrendas A figura dos pais combinados constitui um dos perseguidores mais terríveis nos dramas infantis e manifestamse não só nos sonhos e pesadelos como também surgem simbo licamente descritas em diversas narrativas folclóricas e da mitologia Paixão BION BION afirmava que os elementos do proces so psicanalítico se estendem em três dimen sões no domínio dos sentidos no do mito e no da paixão A presença desta última não é revelada pelos sentidos sensoriais somen te se revela quando duas mentes estão em ligação através da emoção A dimensão da paixão segundo BION abar ca tudo o que é derivado e está compreen dido entre os vínculos do amor do ódio e do conhecimento Ele afirma que a noção psicanalítica do termo paixão representa uma emoção experimentada com intensi dade e calidez ainda que sem nenhuma sugestão de violência O sentido de violên cia não deve ser expressado pelo termo paixão a menos que esteja associada com o sentimento de voracidade A evidência da presença da paixão que pode ser proporcionada pelos sentidos não deve ser tomada como sua dimensão psi canalítica porquanto esta pertence ao do mínio da extrasensorialidade e mais ain da a paixão do analista deve ser claramen te distinguida da contratransferência Na verdade o significado da palavra pai xão como é concebida por BION adquire uma significação de ordem mais mística e está mais próximo do que está contido na sua etimologia paixão como também com paixão deriva de pathos Portanto alude a um estado de sofrimento profundo e que transcende a sensorialidade como é no sig nificado atribuído à Paixão de Cristo BION em Cogitações p136 define com paixão com paixão como um sentimen to que tal como a verdade a pessoa neces sita possuir e expressar é um impulso que precisa experimentar em seus sentimentos pelos outros MELTZER 1994 p214 ao se referir ao esta do de paixão tal como descrito por BION faz a interessante ressalva de que as pai xões representam estados de turbulência que surgem do impacto paradoxal de uma emoção intensa sobre a outra e que pro duzem uma turbulência em razão do confli to com as idéias previamente estabelecidas acerca do significado de ditas emoções Pânico doença do Ver o verbete Doença do pânico Papéis conceito de dinâmica grupal A psicanálise contemporânea está conferin do expressiva importância aos papéis que na maioria das vezes inconscientemente o sujeito desempenha nas diversas áreas de sua vida com freqüência de forma repetiti va e estereotipada e que podem acompa nhálo ao longo de toda vida O importante é que esses papéis costumam ser designados pelo discurso dos pais e da cultura através de enunciados categóricos Modelam assim um ideal de ego que agin do sob a forma de mandamentos internos obriga o sujeito a cumprir expectativas de si e dos outros e para tanto cumpre compulsoria mente os papéis que lhe foram implantados 312 DAVID E ZIMERMAN A dinâmica do campo das grupoterapias possibilita observar com mais clareza o pro cesso de como os indivíduos desempenham um determinado tipo de papel que pode variar de um para o outro e que comumente aparecem sob a forma de líder bode expi atório portavoz agressivo masoquista bonzinho atuador apaziguador etc Na prática analítica o cumprimento de pa péis inscritos no inconsciente ganha relevân cia a ponto de poder explicar algumas das ocorrências de reação terapêutica negativa É o que acontece quando o paciente está fazendo substanciais mudanças na sua per sonalidade que podem colidir com um pa pel para o qual foi programado desde sem pre Por exemplo ser o filhinho querido da mamãe e nunca se afastar muito dela e nem se diferenciar muito dos irmãos Par analítico conceito de técnica Na psicanálise contemporânea é consensual que no processo analítico não existe um paciente fazendo as suas narrativas e um analista descodificando e interpretandoas mas sim existe um par que está perma nentemente interagindo e se influenciando reciprocamente Isso está consubstanciado nessa frase de BION Em análise a coisa mais importante não é aquilo que o analista e o paciente podem fazer mas o que a dupla pode fazer onde a unidade biológica é dois e não umo ser humano é um animal que de pende de um par 1992 p46 A polêmica que persiste decorre do fato de que muitos autores respeitáveis consideram que a pessoa real do analista por si só em nada vai modificar substancialmente o cur so da análise O que importa é que o ana lista esteja suficientemente capacitado para interpretar a neurose de transferên cia nas suas múltiplas facetas que certa mente se repetiriam com qualquer outro analista Por outro lado muitos outros autores igual mente respeitáveis opinam de forma cate górica que a pessoa real do analista exerce uma decisiva influência no destino da aná lise ver o verbete Pessoa real do analista Paradigma O termo paradigma deriva do grego e sig nifica padrão Ganhou importância a partir do trabalho de THOMAS KUHN sobre A es trutura das revoluções científicas no qual ele mostra que a ciência normal desenvol vese em um contexto que inclui uma cons telação de crenças valores e técnicas com partilhadas pelos membros de uma deter minada comunidade científica Uma característica de um paradigma é que ele se mantém por longo tempo de modo que os cientistas em suas investigações ten dem a manter os cânones estabelecidos Qualquer proposição mais revolucionária costuma provocar uma forte oposição por parte dos fiéis seguidores do paradigma vigente de sorte que as transformações acabam acontecendo porém de forma lenta em meio a muitas lutas e radicali zações Um exemplo mais extremo disso é o da teo ria ptolomaica que durou séculos de que a terra seria o centro de universo Quando Copérnico e mais tarde Giordano Bruno tentaram contestar essa teoria com provas de que a Terra não passava de um peque no planeta girando em torno do Sol uma das bilhões de estrelas entre outras da galá xia Via Láctea foram cruelmente persegui dos e condenados à morte pelos represen tantes do clero e da ciência da época pelo crime de ousarem contestar um paradigma que satisfazia ao narcisimo humano Aliás FREUD sofreu toda sorte de ataques quando teve a ousadia de proclamar a existência da sexualidade nas inocentes criancinhas da mesma forma que MKLEIN foi duramente criticada quando abriu li VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 313 nhas de concepções psicanalíticas distin tas das de FREUD Paradigmas da psicanálise tipos de Nesse pouco mais de um século de existên cia a psicanálise tem sofrido transformações muito importantes que sempre estacionam durante algum tempo em certos paradig mas De forma genérica e com inevitáveis mutilações acredito que podemos sinteti zar em quatro períodos com uma termino logia específica para cada um deles 1 PulsionalRecalcamento Durante longas décadas predominou de forma praticamen te exclusiva o paradigma criado por FREUD com absoluta ênfase no embate entre os desejos pulsionais e as respectivas defesas do ego notadamente o recalcamento As sim nesse período pioneiro e ortodoxo da psicanálise freudiana vigia de forma pre dominante uma convicção positivista e ab solutista que considerava o analista um ob servador neutro e objetivo para não dizer o senhor absoluto perfeitamente sadio do ponto de vista emocional e dono das ver dades acerca do paciente Por conseguinte ao paciente caberia o papel único de trazer seu material e ao psicanalista a função de fazer um levantamento arqueológico das ruínas do passado do paciente resultantes das pulsões inaceitáveis recalcadas e soter radas no inconsciente 2 ObjetalFantasmático Essa denominação alude ao fato de que os teóricos das rela ções objetais notadamente MKLEIN fizeram o pêndulo da psicanálise inclinarse para a importância das relações objetais internali zadas resultantes das pulsões especialmen te as sádicodestrutivas ligadas aos objetos parciais acompanhadas de fantasias incons cientes ansiedade de aniquilamento e o emprego de arcaicas defesas do ego O pa radigma kleiniano embora tenha alavanca do a psicanálise e aberto a porta para paci entes psicóticos continuou persistindo na visão do analista como um privilegiado ob servador objetivo que conseguiria manter plena neutralidade e que qual um juiz su premo sabia perfeitamente o que era o cor reto e o mais apropriado para o paciente 3 VincularDialético Especialmente a par tir de BION começou a predominar entre os analistas a crença de que o analisando e o analista são duas pessoas reais e adultas com as suas inevitáveis limitações e angús tias Desse modo tornouse consensual que é impossível continuar concebendo o mo delo unipessoal do processo analítico e tam pouco que esse seja linear e seqüencial mas sim que a análise consiste numa íntima re lação vincular entre eles cada um influen ciando e sendo influenciado pelo outro se guindo um modelo dialético Ou seja as teses a narrativa das fantasias apresen tadas pelo analisando são confrontadas com as antíteses atividade interpretativa do analista Dessa maneira resultam sínteses os insights que funcionam como novas teses num sucessivo movimento helicoidal espiralar ascendente em planos gradual mente mais amadurecidos na mente do analisando nos casos exitosos 4 DéficitVazios Um aspecto da psicanáli se que vem adquirindo estatuto de paradig ma é a psicanálise voltada para crianças portadoras de um autismo psicogênico re sultante da formação de uma rígida cara paça protetora ou concha autistaEsses pacientes necessitam de outra abordagem técnica para serem encontrados e desperta dos pelo analista visto estarem realmente perdidos como mostram F TUSTIN 1986 e A ALVAREZ 1992 e que estão à espera de que seus buracos negros existenciais ve nham a ser percebidos e preenchidos pelo terapeuta Esses últimos aspectos quero crer estão presentes e exigem as mesmas mudanças técnicas nos pacientes adultos que estão num estado de desistência Nes se caso estão defendidos e desesperança dos de modo que o seu único desejo con 314 DAVID E ZIMERMAN siste em nada desejar tal como está des crito no verbete Vazio patologia do Esse vértice de entendimento psicanalítico para determinados pacientes cada vez mais numerosos enfocados prioritariamente não tanto nos conflitos mais nos vazios resul tantes das primitivas carências e déficits justificam o nome proposto para esse para digma Deve ficar claro que o surgimento de novos paradigmas de modo algum deve significar a caducidade dos anteriores mas sim que cada um deles continua válido para deter minadas situações e que a psicanálise fica ria muito enriquecida se houvesse uma conjugação e complementação dos distin tos paradigmas Igualmente lenta e de forma gradativa os autores estão superando a convicção dog mática de que a verdade só pode ser en contrada numa leitura ou releitura de FREUD ou que de alguma forma a verdade em psicanálise deva necessariamente estar liga da a FREUD embora ninguém discorde que ele lançou as sementes essenciais que con tinuam vigentes Houve época em que qual quer discordância de FREUD ou mais tarde de MKLEIN era considerada uma heresia uma posição antianalítica O desprendimen to gradual desse radicalismo está possibili tando maior liberdade e criatividade com reflexos imediatos na técnica e na prática Parâmetro conceito de técnica KURT EISSLER Palavra usada por K EISSLER 1953 para reafirmar sua posição de que tudo aquilo que transgrida o enquadre deve ser consi derado um parâmetro Ao mesmo tempo aventou a possibilidade de o psicanalista poder se afastar parcialmente das recomen dações técnicas preconizadas pela psicanáli se clássica e assim introduzir alguns outros aspectos desde que nada disso interfira na evolução normal da análise Aliás o termo parâmetro aparece nos dicionários com a sig nificação de que é todo elemento cuja varia ção de valor altera a solução de um proble ma sem alterarlhe a natureza essencial Assim na atualidade cabem alguns ques tionamentos É permissível que de forma transitória ou até definitiva uma análise comum se pro cesse com menos de quatro sessões sema nais ou com uma periodicidade que inclui a realização de duas sessões num mesmo dia É válida a análise que se efetua por longos períodos sem que o analisando use o divã Perguntas equivalentes poderiam ser formu ladas como por exemplo quanto a a ade quação de o analista interpretar na extra transferência b conveniência de responder a algumas perguntas pessoais ou a de aten der a solicitações como a de fornecer indi cações de profissionais c adequação de concordar com o uso simultâneo de quimio terápicos etc As opiniões não são uniformes mas mes mo os que advogam uma maior flexibilida de na utilização dos parâmetros não abrem mão de um requisito essencial é a de que o par analítico tenha condições de retornar se for necessário e possível às condições prévias Paranóia Quadro clínico existente desde a Antigüi dade que consiste num conjunto de pro duções delirantes geralmente persecutórias que distorcem a realidade objetiva Isso aliás está de acordo com a provável etimologia tanto do termo delírio como de paranóia como a seguir vai exposto O verbo delirar pode ser decomposto em de indica um movimento para fora lira re lira significa o sulco retilíneo do arado de modo que delírio designa o sentido do que saiu do previsto Paranóia por sua vez deriva dos étimos gregos para ao lado de gnose conheci VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 315 mento ou seja a paranóia alude a uma percepção distorcida dos fatos Durante muito tempo a psiquiatria clássica enquadrou a paranóia como uma das for mas de esquizofrenia No entanto posterior mente fezse uma distinção entre ambas porquanto a paranóia não altera fundamen talmente a personalidade do sujeito não evolui obrigatoriamente para uma deterio ração psíquica FREUD acompanhando o psiquiatra KRAEPELIN grande sistematizador da patologia mental considerou a paranóia um conjunto de delírios sistematizados não somente o de perseguição como também a erotomania o delírio de ciúme e o delírio de grandeza FREUD sempre correlacionou os delírios a um estado de homossexualida de subjacente tal como descreveu no fa moso Caso Schreber 1911 Dentre inúmeros trabalhos de distintos au tores versando sobre múltiplos enfoques relativos à paranóia e estados paranóides em geral é necessário destacar o primeiro traba lho rigorosamente psicanalítico de LACAN Da psicose paranóica em sua relação com a per sonalidade 1933 com o qual ele obteve a condição de membro efetivo O trabalho foi inspirado no Caso Aimée e serviu de ponto de partida para suas originalíssimas concep ções Ver o verbete Historiais clínicos Parasitária relação continente conteúdo Bion Na sua descrição relativa às três modalida des de relação continenteconteúdo a sim biótica a comensal e a parasitária BION conceituou essa última inspirado no mode lo da biologia Tratase de um tipo de vín culo em que somente um dos dois se bene ficia enquanto o outro pode ser tão suga do sem nada receber que corre o risco de vir a ser destruído BION exemplifica com a situação de uma mãe invejosa que priva a criança de todas suas qualidades positivas sendo que a recí proca é verdadeira Esse tipo de vínculo pode se reproduzir durante toda a vida em circunstâncias e com personagens diferen tes como a de um casal ou até mesmo na situaçào analítica etc Parte psicótica da personalidade BION Expressão introduzida por BION em seus tra balhos da década de 50 onde ela aparece virtualmente como sinônimo de personali dade psicótica Fundamentalmente parte psicótica da personalidade refere o fato de que toda pessoa neurótica tem enquistada dentro de si essa parte psicótica não con fundir com a psicose clínica como essa é conhecida em psiquiatria e de que toda per sonalidade psicótica mesmo no grau de franca psicose clínica abriga uma parte não psicótica ou parte neurótica Segundo BION os seguintes elementos compõem essa parte psicótica da perso nalidade 1 Fortes pulsões agressivodestrutivas com predomínio da inveja e da voracidade 2 Baixíssimo limiar de tolerância às frustra ções 3 As relações mais íntimas com pessoas próximas são predominantemente de natu reza sadomasoquista 4 Uso excessivo de splittings e de identifi cações projetivas 5 Grande ódio às verdades tanto as inter nas quanto as da realidade externa haven do conseqüentemente preferência pelo mundo das ilsuões 6 Ataque contra os vínculos de percepção e aos do juízo crítico como resultado do ódio às verdades 7 Sensível prejuízo da capacidade das fun ções do pensamento verbal do conheci mento e do uso da linguagem como forma de comunicação 8 Substituição das capacidades de pensar e a de aprender com as experiências res pectivamente pela onipotência e pela onis 316 DAVID E ZIMERMAN ciência enquanto a arrogância ocupa o lu gar do orgulho sadio e um estado de confu são fica a serviço de impedir uma discrimi nação entre o verdadeiro e o falso 9 Um supersuperego Ver esse verbete Parte não psicótica da personalidade BION No livro Cogitações 1992 quando afir ma que a capacidade de impor causalida de e temporalidade a certos eventos referi dos num discurso verbal depende da exis tência de uma personalidade nãopsicótica BION diz literalmente que a última precisa ser capaz de tolerar 1 Frustração e portanto consciência da temporalidade da espera 2 Culpa e depressão e portanto capacida de de considerar a possibilidade de haver causalidade Nessa hipótese o indivíduo tem que considerar a própria responsabili dade por certos eventos na cadeia das cau sas A capacidade para a verbalização é como já mostrei uma função da posição depressiva Passe Lacan Termo empregado em 1967 por LACAN para designar um processo de passagem de um candidato em formação analítica para a condição de analista da escola AE que o autorizava a praticar a clínica psicanalítica de forma autônoma Como é sabido a IPA desde 1918 reco mendava a análise didática instituída ofi cial e obrigatoriamente em 1925 sob a pre sidência de MAX EITIGON LACAN nunca se conformou com os critérios da IPA segun do os quais a análise de um candidato só poderia ser feita por um analista didata es colhido por ele dentre os membros de um restrito e privilegiado grupo seguindo um prolongado ritual bastante conhecido por todos LACAN reprovava esse sistema porque aceitálo seria conceder a uma ou poucas pessoas uma condição análoga à de Deus a que ele se referia com a sigla SSS ou seja Sujeito Suposto Saber Assim ele propôs um sistema de ritual de passagem denominado passe no qual o passante o candidato ao passe tinha de fazer um depoimento sobre o que fora sua análise pessoal perante os assim intitulados passadores que são analisandos que estão em sua própria análise pessoal em um momento em que são capazes de ouvir al guma coisa Após os passadores transmi tem a um júri composto por dois analistas o que ouviram do candidato cabendo a esse júri fornecer o credenciamentro da condi ção de AE LACAN criou o sistema do passe para sair do impasse com a IPA mas em 1978 ele pró prio reconheceu que o passe caiu num im passe Embora LACAN tenha admitido o fra casso do método esse continua sendo apli cado por muitos dos ramos que se origina ram da Escola Freudiana de Paris criada por ele Pavor ou terror sem nome BION Expressão que designa uma importante con tribuição de BION na prática da psicanálise Tratase de um tipo de angústia de aniquila mento que o paciente não consegue descre ver com palavras Muitas vezes de forma equi vocada o terapeuta fica insistindo para que o analisando o faça quando este está à espera que alguém descodifique e esclareça o que não sabe o que é e de onde veio Quando falha a função rêverie da mãe vai acontecer que as pulsões e angústias que a criancinha projeta dentro dela não serão devidamente contidas e elaboradas Por essa razão as angústias do filho serão reintroje tadas por ele sob a forma de um terror que o ego ainda não tem condições de signifi car e nomeálo daí pavor ou terror sem nome VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 317 Comentário Embora BION não mencione FREUD no que tange aos conceitos de repre sentaçãocoisa e de representaçãopalavra creio que essa relação se impõe pelo fato de essa angústia ainda não ter nome por que ela deve ter ficado inscrita numa época primitiva em que o bebê ainda não tinha condições de representar os sentimentos com o pensamento verbal Um segundo comentário acredito que as sim como existe um terror ou pavor sem nome também deve existir um prazer sem nome tal como está descrito nesse último verbete grifado Pele segunda ESTHER BICK Durante sua observação de bebês segun do método que instituiu como parte da for mação de estudantes de psicoterapia e psi canálise com crianças EBICK percebeu que o contato da mãe com a pele corporal da criança e viceversa adquiria uma importân cia fundamental na estruturação da criança Uma razão relevante é que o contato epi dérmico serve para a criança sentir uma delimitação com o espaço exterior Desse modo vai formando sua imagem corporal e criando uma fronteira que a possibilite dife renciarse do mundo de fora Em caso con trário a criança é invadida por um senti mento de dissolução descoordenação ani quilamento Assim afirma BICK o bebê ao receber o mamilo na boca tem a experiência de um contato epidérmico que lhe garante a con quista do conceito de que existe um espaço exterior um objeto de fora que pode cobrir suas necessidades um objeto que pode con ter aspectos de sua pessoa tanto quanto o mamilo na sua boquinha o faz Isso pode ser sintetizado na sua bonita fra se Quando o bebê nasce ele se vê na posição de um astronauta que foi lançado para o espaço exterior sem um traje espa cial O terror predominante do bebê é despedaçarse ou liquefazerse Podese perceber isso no tremor do bebê quando o mamilo lhe é tirado da boca mas também quando suas roupas são tiradas Quando essa primeira pele da mãe falha a criança procura substitutos do mamilo uma busca frenética por um objetoluz som voz cheiro Como isso não é suficiente a criança cria uma segunda pele ou seja atra vés de fantasias onipotentes ela cria uma pseudoindependência Esse contexto lem bra bastante as concepções de WINNICOTT em relação ao estado do bebê que está num estado de absoluta dependência mas ima gina estar na posse de uma independência absoluta o que pode contribuir para a construção de um falso self Essas noções de BICK forneceram a MELTZER e colaboradores no seu trabalho com crian ças autistas subsídios para desenvolver uma teoria relativa à ausência de um espaço mental e os levou à descoberta do fenôme no da identificação adesiva ver esses dois últimos verbetes Pele fina e de pele grossa narcisismo de HERBERT ROSENFELD ROSENFELD o autor kleiniano que mais se dedicou ao estudo do narcisismo propôs 1987 uma classificação em dois tipos de pacientes narcisistas os que ele denomina de pele fina pessoas supersensíveis que exigem um tato especial do analista e os de pele grossa Os últimos pelo contrário são arrogantes procuram trocar de lugar com o analista e demonstram um espesso escudo protetor contra sua atividade inter pretativa Por isso mesmo o analista preci sa manterse firme com intervenções dire tas e objetivas sem medo embora com res peito de que o paciente se melindre e aban done a análise Comentário A prática analítica ensinanos que a pele grossa sempre encobre e prote ge uma subjacente pele fina Desse modo 318 DAVID E ZIMERMAN a recomendação acima destacada de que o analista deve manter uma atitude de mui ta firmeza com os pele grossa de forma al guma deve impedir que ele aceite as de monstrações do exibicionismo grandioso de seu paciente desde que isso seja temporário Pênis inveja do FREUD A primeira referência de FREUD à inveja do pênis surgiu no artigo Sobre as teorias se xuais das crianças publicado em 1908 embora ele já manifestasse essa concepção anteriormente Posteriormente em Sobre o narcisismo uma introdução 1914 ele alu de ao complexo de castração da menina A inveja do pênis nasce da descoberta da diferença anatômica entre os sexos a me nina sentese lesada em relação ao menino FREUD não acreditava que a menina pudes se ter um conhecimento precoce da exis tência da vagina fato que hoje poucos con testam e deseja possuir um pênis como ele Posteriormente no decurso do complexo de Édipo diz FREUD a menina abriga dois de sejos relativos a essa inveja 1 De adquirir um pênis dentro de si princi palmente sob a forma de desejo de ter um filho 2 De participar dos prazeres que o pênis do pai propicia à mãe A inveja do pênis durante muito tempo ocu pou um lugar central na concepção freudia na da sexualidade feminina acarretando no mínimo cinco mudanças importantes 1 Da zona erógena do clitóris para a vagi na 2 De objeto o apego préedipiano à mãe cede lugar ao amor edipiano pelo pai 3 Renúncia à atividade fálica que se ma nifestava pela masturbação clitoriana e que dá lugar ao predomínio de uma pas sividade 4 De atitude em relação à mãe a quem a menina começa a votar um ressentimento por não lhe ter brindado com um pênis e faz com que a deprecie fortemente vendo a como uma pessoa castrada 5 De equivalência simbólica entre pênis criança e fezes Comentário Essa concepção falocêntrica de FREUD que poderia ser formulada assim a mulher é um homem que não deu cer to vem sofrendo pesadas críticas Hoje não encontra respaldo científico sendo conside rada como um dos poucos pontos frágeis de sua obra embora se possa relevála em razão da influência da cultura machista da época No entanto essa postulação de FREUD relativa à inveja do pênis merece uma rea valiação do ponto de vista semântico sen do o pênis um designativo de falo é como este um claro símbolo de poder Dessa for ma o conceito de inveja do pênis como falo continua sendo muito importante des de que essa inveja também seja extensiva aos homens e que se leve em conta a im portante participação do fator cultural Pênis como objeto parcial M KLEIN M KLEIN deu grande relevância à forma como o pênis é percebido fantasiado e re presentado no psiquismo da criancinha Assim da mesma maneira como postulou a existência de uma clivagem seio bom e seio mau também a criança estabelece uma dissociação pênis bom e pênis mau Inicialmente para KLEIN o pênis é um obje to parcial concebido na fantasia inconsci ente como parte da figura combinada dos pais assim o bebê acredita que o pênis faz parte do corpo situado no abdome ou no seio da mãe Pelas identificações projetivas primitivas mais centralizadas nas fantasias inconscien tes ligada ao coito dos pais o pênis pode adquirir para o bebê um caráter bastante persecutório pênis mau Seu ingresso exi toso na posição depressiva vai possibilitar que o menino sinta uma grande tranqüili zação com seu pênis e se orgulhe dele Vai VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 319 identificálo como um pênis criador e res taurador do pai enquanto a menina desen volverá numa evolução sadia a passagem que será bemvinda do pênis parcial para um pênis total Pensamentos FREUD FREUD foi o primeiro cientista a estudar e descrever os fenômenos inerentes à forma ção e à evolução dos pensamentos com uma abordagem eminentemente psicanalítica a partir dos primitivos dinamismos psíquicos do bebê Cabe destacar os seguintes aspec tos que ele concebeu e que mais notavel mente aparecem em seu clássico Formu lações sobre os dois princípios do funciona mento mental 1911 1 O lactante desde recémnascido sente suas necessidades fome etc como um incremento de tensão psíquica 2 Ele reage a esse aumento de tensão com o choro ríctus de dor e esperneio muscular que são as manifestações motoras de sua necessidade de fazer uma descarga da refe rida tensão 3 FREUD deixa entrever que em condições normais a mãe compreende essa descarga do lactante como uma forma de linguagem primitiva como um sinal de alguma neces sidade que ela satisfaz por exemplo ama mentando trocando as fraldas etc O bebê por sua vez logo perceberá que cada vez que chora e esperneia faz aparecer a mãe 4 Assim juntamente com a tensão da ne cessidade surge a percepção do objeto que promove a satisfação 5 Nos primeiros tempos na hipótese de a mãe não estar presente para satisfazer sua necessidade o bebê substitui o mamilo do seio alimentador pelo sugar do seu próprio polegar num movimento psíquico onipo tente que FREUD denominou satisfação ou gratificação alucinatória do desejo 6 Como esse recurso mágico do bebê fra cassa porque a realidade comprova que ele continua com fome e necessita do seio real externo para sobreviver é obrigado a dar os primeiros passos para fazer a transição do princípio do prazer para o da realidade 7 Como o princípio do prazerdesprazer não é suficiente para enfrentar as tensões provin das da realidade exterior o bebê é levado a utilizar seus órgãos sensoriais que estão em crescente maturação e desenvolvimento Des se modo ele desenvolve capacidades perten centes à área do consciente como memória percepção atenção e outras equivalentes 8 Para conseguir passar do princípio do prazer para o da realidade o ego incipiente do lactante deve atender a três condições a conter a tensão psíquica sem a necessi dade de descarregála imediatamente de forma motora b postergar sua satisfação c antecipar a previsão de que o objeto sa ciador mãe aparecerá 9 As primitivas representaçõescoisa vão se ligando mais fixamente a restos verbais as sim constituindo as representaçõespalavra portanto o início do pensamento verbal 10 Juntando todas essas concepções FREUD descreveu as características diferentes que o pensamento adquire no processo primá rio ou no secundário Seguindose a FREUD inúmeros importan tes autores dedicaramse ao estudo dos pen samentos como FERENCZI através do seu notável trabalho de 1913 Estádios no desenvolvimento do sentido da realidade MKLEIN com seus estudos relativos às fan tasias inconscientes e aos mecanismos pri mitivos defensivos sobretudo a identifica ção projetiva PIAGET autor suíço que embora não fosse psicanalista mas epistemólogo aborda esse assunto de acordo com um entendimento neurobiológico descreve períodos normais de evolução previamente determinados pela natureza orgânica MATTEBLANCO a partir de suas concepções originais do que ele chama de bilógica 320 DAVID E ZIMERMAN pois segundo ele existe uma lógica simé trica primitiva que nivela tudo e uma lógica assimétrica desenvolvida porque mantém as diferenças SIFNEOS e NEMIAH pesquisadores americanos que introduziram o conceito de alexitimia PIERRE MARTY juntamente com outros cola boradores da Escola Psicossomática de Pa ris que criaram o importante conceito de pensamento operatório BION que trouxe concepções originais e im portantes as quais aparecem detalhadas no verbete específico sobre a Capacidade de pensar Pensamento operatório Escola Psicos somática de Paris Expressão cunhada pelos psicanalistas perten centes à Escola Psicossomática de Paris para designar o estado mental de certos pacientes como os somatizadores Neles a exemplo do que FREUD postulou acerca do que se passa nas neuroses de angústia o ego não conse gue conter e processar uma carga excessiva ou penosa de sentimentos e pensamentos o que os leva a agir no lugar de pensar Para esses pesquisadores o que acima de tudo caracteriza esses pacientes é o fato de o in consciente deles não ter condições de expres sarse pelas representações Desse modo no lugar de reprimir as pulsões do id como acon tece nas neuroses ou de denegar e forcluir como acontece respectivamente nas perver sões e nas psicoses os pacientes somatizado res utilizam o pensamento operatório isto é superinvestem libidinalmente tudo que existe de concreto como e principalmente seus sin tomas corporais como que fazendo um cur tocircuito direto entre a angústia e o sintoma corporal sem passar pelo pensamento Pensamento do psicótico BION BION foi o autor que mais profunda e origi nalmente descreveu a influência das pulsões fantasias inconscientes ansiedades primiti vas e funções do ego na gênese na evolu ção no conteúdo e nas formas dos pensa mentos e da formação de um aparelho psí quico capaz de pensálos Bion faz questão de reconhecer que partiu das concepções originais de FREUD e de M KLEIN as quais ele conservou na íntegra Inspirado nelas e em conceitos provindos de filósofos e matemáticos através de am pliações e transformações trouxe contribui ções inestimáveis e originalíssimas Não obstante terem adquirido uma dimensão bastante abstrata sempre foram prioritaria mente voltadas para aplicação na prática clínica Na década de 50 BION dedicavase à análi se de pacientes em estado de regressão psi cótica nos quais observava à luz dos pos tulados kleinianos sérios problemas relati vos à linguagem à percepção à comunica ção ao conhecimento e sobretudo à fun ção de pensar os pensamentos Em seu livro Estudos psicanalíticos revisa dos Second thoughts no original publica do em 1967 BION reúne nove importantes artigos produzidos nessa década em que ele trabalhava com psicóticos Aí encontramos o início de suas formulações a respeito da patologia do pensamento piscótico Ele des tacou aspectos importantes como 1 A linguagem na qual as palavras podem ser vivenciadas pelos psicóticos como se fos sem objetos concretos a serem colocados den tro do outro é empregada pelo esquizofrêni co de três maneiras como um modo de atu ar como um método de comunicação primi tiva e como um modo de pensamento 2 A ligação direta entre as pulsões sádico destrutivas e a conseqüente intolerância à posição depressiva com prejuízo da capa cidade de formação de símbolos e portanto do pensamento verbal 3 Como decorrência do último aspecto BION concebeu que o psicótico não reúne condições para fazer sínteses e no lugar VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 321 delas pode comprimir os pensamentos mas não juntálos assim como pode fundilos mas não articulálos Pensar capacidade para BION No livro Elementos de psicanálise 1963 BION apresentou pela primeira vez sua Gra de elaborada mediante a utilização de um modelo cartesiano com o cruzamento de um eixo vertical o da gênese evolutiva dos pensamentos e de um eixo horizontal o da utilização dos pensamentos Com a Grade BION demonstrou que em condições normais o psiquismo da criança através de sucessivas transformações evolui desde os elementos β fileira A até a construção de um cálculo al gébrico fileira H de alta abstração Antes de atingir esse alto grau de complexi dade os elementos β precisam ser transfor mados em elementos α fileira B os quais sofrendo uma provável influência atávica do inconsciente coletivo possibilitam a forma ção de pensamentos oníricos Estes ocupam a fileira C da Grade sob a forma de sonhos devaneios mitos daí se transformando em préconcepções fileira D Estas préconcep ções por sua vez sofrendo adequadas realizações negativas e positivas se trans formarão em concepções fileira E que correlacionadas entre si evoluem para a condição de conceitos fileira FAdquirindo crescente complexidade os conceitos evo luirão para um sistema dedutivo científico fileira G o qual de sua parte possibilita a referida condição ultrasofisticada de reali zar cálculos algébricos fileira H Para BION os pensamentos são indissocia dos das funções do conhecimento se o su jeito deseja ou não conhecer as verdades e da formação de símbolos exige a passa gem para a posição depressiva Assim a função de pensar não é o mesmo que sa ber ou seja possuir pensamentos ou conhe cimentos mas sim ela resulta de uma dis posição do sujeito para saber o seu não sa ber BION completa com esta frase pensar consiste em ter problemas a solucionar e não em ter soluções para os problemas Comentário Fundamentado no que está acima resenhado é necessário enfatizar que a função de pensar de qualquer pessoa abrange sua capacidade para fazer juízos críticos sendo útil acrescentar que etimo logicamente a palavra crítica deriva de kri nê que em grego significa separação dife rença Portanto a função de pensar exige a condição de o sujeito estabelecer uma dife renciação com o outro e admitir as inevitá veis diferenças em relação a ele Percepção FREUD BION FREUD segundo sua teoria metapsicológica afirma que a consciência seria função de um sistema percepçãoconsciência PCCs Na atualidade a normalidade e a patologia da função perceptiva do ego adquirem uma extraordinária importância na prática ana lítica especialmente por se referir não só como o indivíduo percebe o mundo exteri or e a possível intenção dos outros em rela ção a ele mas também abarca uma visua lização de como o paciente percebe a si pró prio a sua imagem corporal as suas repre sentações e o seu sentimento de identidade Não resta dúvida de que a patologia da percepção decorre de raízes inconscientes notadamente as que dizem respeito às ina dequadas e excessivas identificações pro jetivas e introjetivas responsáveis por exemplo pelos fenômenos alucinatórios Porém a participação do ego consciente é igualmente importante como é o caso do vértice termo de BION a partir do qual o observador no campo analítico esse papel cabe concomitantemente ao paciente e ao analista percebe e interpreta um determi nado fato clínico Ver o verbete Vértice Assim a função de percepção não pode ser entendida unicamente como um registro sensorial como uma cópia uma fotografia 322 DAVID E ZIMERMAN de objetos externos reais Antes disso a per cepção diz respeito ao registro das signifi cações atribuídas aos objetos e fatos exter nos Os distúrbios de percepção implicam distúrbios do pensamento e da linguagem porquanto estes três elementos compõem uma estrutura de modo que sempre estão vinculados entre si Para ilustrar essa importante noção de que na prática analítica um mesmo aconteci mento pode ser percebido de múltiplos vér tices às vezes completamente diferentes BION utiliza um desenho o conhecido Vaso de Rubin que conforme for a perspectiva do observador tanto pode expressar um vaso branco num fundo negro como pode ser visto como dois perfis pretos num fun do branco ver figura 4 construção de um modo de ser de como o sujeito será percebido pelos outros o que está de acordo com a etimologia dessa pa lavra pois personalidade deriva de perso na que refere à máscara usada pelos ato res do antigo teatro grego Assim nos textos psicanalíticos aparecem com regularidade expressões como perso nalidade madura personalidade imatura personalidade infantil personalidade passi vodependente além é claro de personali dade obsessiva histérica etc as quais de signam determinadas formas de ser do in divíduo em razão dos tipos de defesas pre dominantemente empregadas pelo seu ego A construção da personalidade resulta da combinação da influência de fatores que FREUD descreveu na sua equação etiológica ou série complementar na qual ele desta ca os heredoconstitucionais as antigas ex periências emocionais com os pais e as ex periências traumáticas da realidade da vida adulta Na atualidade os autores costumam reduzir essa equação a um simples assina lamento de uma permanente interação en tre nature fatores biológicos e nurture fa tores ambientais Personalidade múltipla Expressão que designa uma das formas da histeria dissociativa que consiste no fato de o sujeito assumir diversas personalidades à semelhança da história do conhecido fil me As três faces de Eva Isso se deve à coe xistência de diversas representações distin tas dentro do ego dissociadas entre si e que emergem separadamente na consciência de acordo com determinadas necessidades e circunstâncias Personalização WINNICOTT Segundo WINNICOTT nos primeiros tempos a corporalidade do bebê consiste num esta do de nãointegração entre as diferentes Figura 4 Vaso de Rubin Perlaboração Ver o verbete Elaboração Personalidade Em psicanálise esse termo tem um sentido genérico aludindo mais especificamente à VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 323 partes de seu corpo e entre seu corpo e sua mente Gradualmente a criança vai saindo desse estado mercê de três conquistas uma integração dessas partes dispersas uma realização entra definitivamente no mun do da realidade e uma personalização O último termo referese à aquisição da ca pacidade de a criança poder habitar seu pró prio corpo o que implica renunciar à ilusão de que seu corpo está fundido com o da mãe Perversão FREUD Antes de FREUD alguns autores como KRAFT EBBING e HELLIS haviam estudado e divul gado quadros clínicos referentes às perver sões entre as quais incluíam o narcisismo Porém o fizeram enfocando tão somente a descrição das manifestações clínicas sem pre sob o prisma de uma concepção mora lística e denegridora A partir do clássico Três ensaios sobre uma teoria sexual FREUD dedica um es tudo mais sistemático e consistente sobre a existência da normalidade e dos desvi os da sexualidade infantil assim definin do o que se conhece como a sua primei ra teoria sobre as perversões sexuais Em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 ele faz algumas especu lações psicanalíticas sobre a origem da forma particular da homossexualidade de Leonar do situandoa na primitiva relação com a mãe desde a amamentação o que vem a determinar uma identificação do menino com a mãe tudo isso marcando o início de sua segunda teoria sobre as perversões Após uma série de trabalhos abordando narcisismo homossexualidade e masoquis mo no artigo O fetichismo 1927 FREUD estabelece a sua terceira teoria sobre a gê nese dos mecanismos psíquicos da per versão com o aporte de novas concep ções referidas sobretudo às defesas de de negação da angústia de castração com a conseqüente criação compensatória de fetiches caracterizando uma forma de perversão Duas formulações de FREUD acerca do con ceito de perversão se tornaram clássicas A primeira é a de que a neurose é o nega tivo da perversão ou seja o que uma pes soa neurótica reprime e pode gratificar so mente simbolicamente através de sintomas o paciente com perversão a expressa dire tamente por meio de sua conduta sexual Esse conceito não é mais aceito pela psica nálise moderna pois acreditam os autores a perversão tem uma estrutura própria Em uma segunda afirmativa FREUD diz que a perversão sexual resulta de uma decomposi ção da totalidade da pulsão sexual em seus primitivos componentes parciais quer por fixações na detenção da evolução da sexuali dade quer por regressão da pulsão a etapas prévias à organização genital da sexualidade FREUD também concebeu que é necessário levar em conta dois elementos que influem decisivamente na gênese forma e fins das perversões a qualidade das pulsões sexu ais como acontece nos casos de sadismo masoquismo exibicionismo escopofilia e tra vestismo e o objeto para o qual aquelas pul sões são dirigidas como nos casos de homos sexualidade pedofilia zoofilia necrofilia nos quais segundo ele o objeto normal seria subs tituído por outro antinatural Etimologicamente a palavra perversão re sulta de per vertere ou seja pôr às aves sas desviar designando o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das coisas Logo de acordo com esse significa do o conceito de perversão foi estendido por alguns autores dentro e fora da psica nálise para uma abrangência que inclui outros desvios que não unicamente os se xuais como seriam os caso de perversões morais por exemplo os proxenetas as sociais caso em que o conceito de perver são fica muito confundido com a de psico patia as perversões alimentares anorexia bulimia as institucionais algum desvio da 324 DAVID E ZIMERMAN finalidade para a qual a instituição foi cria da as do setting psicanalítico etc No entanto em sentido mais estrito a maio ria dos autores mesmo na atualidade man tém fidelidade a FREUD e defende a posição de que em psicanálise o termo perversão deve designar unicamente os desvios ou aberrações das pulsões sexuais mesmo re conhecendo a existência de outros impul sos como os ligados à pulsão de morte tão exaltada pela escola kleiniana Outro ponto que deve ser bem enfatizado é o que se refere à necessidade de estabele cer uma distinção entre perversão e perver sidade A esse respeito LAPLANCHE e PONTA LIS 1967 assinalam que existe uma ambi güidade no adjetivo perverso que corres ponde àqueles dois substantivos No entan to enquanto perversão alude a uma es trutura que se organiza como defesa contra angústias perversidade referese a um ca ráter de crueldade e malignidade Assim o perverso no sentido de perversão não busca primariamente a sensualidade antes essa comportase como uma triunfante vál vula de escape maníaca contra as ansiedades paranóides especialmente as depressivas Comentário Em relação à prática da clí nica analítica dois aspectos merecem aten ção especial O primeiro é o fato de que um sujeito com perversão idealiza a sexualidade prégeni tal as zonas erógenas e os objetos parciais especialmente os anais de sorte que tem uma compulsão a idealizar pretendendo impor essas ilusões aos outros e procuran do manter a sua denegação a todo custo Isso podese constituir numa difícil forma de resistência embora os avanços da psicanáli se contemporânea permitam uma perspecti va de análise bem mais otimista do que já foi O segundo aspecto a assinalar consiste na possibilidade de o analista deixarse desvi ar num sutil envolvimento com as proposi ções do paciente para que não aconteçam mudanças verdadeiras na análise ou seja existe o risco do que MELTZER chama de per versão da transferência Perversopolimorfa fase FREUD FREUD postulou a existência de uma fase evo lutiva normal que denominou disposição per versopolimorfa da sexualidade infantil com posta por pulsões sexuais parciais conceito esse que por um lado provocou mais confu são mas por outro veio a esclarecer bastan te a sexualidade incipiente na criança Assim essa fase consiste no fato de que par tes do corpo do lactante vão adquirindo um lugar privilegiado como fontes de prazer se xual primeiro a boca depois o ânus com suas funções excretoras numa etapa que precede ao controle esfincteriano e de todo sistema muscular que acompanha a loco moção motora Por volta dos 3 a 4 anos começa o estabelecimento da primazia das zonas genitais Cabe acrescentar que essa fase normal na constituição do ego da criança quando se manifesta no adulto pode aparecer como um necessário elo que conduza o sujeito de sua neurose à normalidade genital Esse aspecto é importante porquanto alarga o espectro da genitalidade normal no que concerne à prática de recursos aparentemen te prégenitais sob a forma de polimorfas carícias orais e anais como meios sadios de gozo antecipado de um pleno coito genital Isso é muito diferente de o sujeito empre gar os meios prégenitais exclusivamente com uma predominância de perversão quando predominam as pulsões destrutivas a falta de consideração peloa outroa e a prégenitalidade passa a ser não um meio mas um fim em si mesma Pessoa real do analista Há entre os psicanalistas uma antiga e per sistente controvérsia relativa à importância que deve ser creditada ou não à pessoa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 325 real do analista na construção do vínculo transferencialcontratransferencial e por conseguinte no destino da análise Embo ra as opiniões estejam muito divididas pa rece que aos poucos o pêndulo está se in clinando para a crença de que a percepção que o analisando capta das características reais da personalidade e da ideologia da pessoa de seu psicanalista mais do que unicamente uma pantalha transferencial de fato ele é inclusive um modelo de identifi cação para o paciente e tem uma significa tiva influência no campo analítico até mes mo na determinação do tipo de transferên cia manifesta pelo analisando BION entre outros tantos autores é dos que mais destacam o fato de que a sim ples presença do psicanalista promove al terações no campo analítico Isso está de acordo com o princípio da incerteza uma concepção de HEISENBERG que BION fre qüentemente mencionava e que consis te no fato de que o observador muda a realidade do fenômeno observado de acordo com seu estado mental durante a observação Da mesma forma vem sendo bastante en fatizada a necessidade de desmistificar a grandiosidade e infalibilidade que durante muito tempo foram atribuídas à figura do psicanalista não só pela idealização por parte dos analisandos mas também por uma falsa crença alimentada pelos própri os analistas Pelo contrário está ficando consensual que para bem exercer sua tarefa o analista ne cessita conhecer suas inevitáveis limitações e ser possuidor do que BION denomina con dições necessárias mínimas entre as quais são destacados atributos como continen te empatia intuição paciência capacida de negativa humildade visão binocular es tado de fé ser verdadeiro Uma leitura complementar aparece nos ver betes Match Incerteza princípio da Par analítico e Sujeito Suposto Saber Piaget Jean Embora não tenha sido psicanalista mas um importante epistemólogo suíço JPIAGET merece um verbete especial por suas rele vantes contribuições ao campo do desen volvimento das funções de conhecimento e de pensamento A partir de um enfoque de maturação neu robiológica orgânica PIAGET classifica a nor mal evolução cognitiva em quatro estágios que sempre seguem uma ordem linear e seqüencial a sensóriomotor b pensamen to préoperatório c pensamento précon ceitual concreto d pensamento abstrato hipotéticodedutivo O entendimento neurobiológico especial mente das duas primeiras etapas é funda mental para compreender a estruturação do pensamento do psicótico Basta isso para justificar uma explanação mais detalhada dos quatro estágios mencionados 1 Estágio sensóriomotor Caracterizase por a uma absoluta indiferenciação entre o eu e o outro b uma incapacidade para fazer quaisquer discriminações c uma não integração corporal d uma falta de delimi tação com o meio ambiente exterior a mão do bebê por exemplo é por ele confundi da com a de qualquer outro corpo em mo vimento Só ao final desse estágio é que começam a formarse as noções de oposi ções de eu e nãoeu dentro e fora etc 2 Estágio do pensamento préoperacional Estendese dos 16 meses aos 6 a 7 anos e algumas de suas características são a a criança começa a ter algumas alternativas b o pensamento ainda é préconceitual ou seja tudo deve ter uma realidade física os pensamentos estão na boca os sonhos no quarto etc c tudo deve ter uma causa identificável e um propósito definido é a fase dos por quês que dá origem às teorias fantásticas da criança como por exemplo as relativas ao mistério do nascimento e da morte e às diferenças dos sexos etc 326 DAVID E ZIMERMAN Outra característica dessa etapa é o egocen trismo Pelo fato de ainda não ter condições neurológicas para a capacidade de indução e nem para a de dedução a criança não consegue colocarse no lugar do outro Isso ajuda a explicar os aspectos da patologia da linguagem e da comunicação em que o sujeito parte do princípio de que os outros adivinham seu pensamento e entendemno sempre devido à sua crença de que todos vivem unicamente em função dele Pela mesma falta de maturação neuronal a importante função de julgamento nesse está gio não é de ordem moral ou legal mas sim está baseada em seus valores unicamente ego cêntricos É importante diferenciar esse ego centrismo de origem neurobiológica do que é típico da organização defensiva narcisística 3 Estágio do pensamento operatório con creto Só ao final do segundo estágio e co meço do terceiro se constitui o pensamento operatório concreto pelo qual a criança começa a fazer relações causais temporais e lógicas configuradas pelos vocábulos porque antes depois então logo etc organizado res da importante função de sintaxe do ego 4 Estágio do pensamento abstrato hipotético dedutivo Essa quarta etapa de um desenvol vimento normal que possibilita a capacidade de fazer abstrações e generalizações somente evoluirá satisfatoriamente se as etapas anterio res forem suficientemente bem resolvidas ComentárioEmbora partindo de concep ções profundamente distintas podemos encontrar muitos pontos de encontro entre os estudos de PIAGET e os de BION tal como aparece na Grade deste último Pictograma Ver o verbete Ideograma Poder desejo de Embora não tenha sido introduzido na psi canálise formalmente por um determinado autor e não tenha uma significação concei tual específica o termo poder é bastante empregado nos textos de psicanálise tanto como um traço inerente à condição huma na quanto como uma forma psicopatoló gica na qual o desejo de poder tornase excessivo A palavra poder deriva do étimo latino pos potis sendo que potis designa aquele que exerce o poder Daí deriva o verbo posside re formado dos étimos potis sedere que significa sentar Portanto possidere alude ao exercício do poder sentado Isso lembra o período anal no qual o sujeito sentado no vaso sanitário popularmente conhecido como trono sentese um rei devaneando grandezas e poder sobre os súditos São distintas as raízes e as configurações da ambição exagerada pelo poder como pode ser exemplificado com essas possibilidades bastante freqüentes 1 Uma inveja com uma ânsia voraz de se apossar daquilo que os outros possuem 2 Uma forma narcisista de camuflar e se proteger da fragilidade subjacente 3 Um controle sobre os outros tal como a criança que exerce um poder tirânico sobre os pais numa espécie de seguro contra a angústia de separação 4 Esse último caso pode evoluir para um vínculo de apoderamento pelo qual um sujeito escraviza e se apodera literalmente do outro 5 Uma espécie de fetiche isto é o poder juntamente com a obsessão por riqueza beleza prestígio podem constituir fetiches substitutos de pobreza e vazios interiores Existe uma evidência de que os grandes ti ranos da história foram pessoas carentes de afeto e por conseguinte com traços mar cadamente paranóides Posição M KLEIN O conceito de posição termo introduzido na psicanálise por M KLEIN não é o mes VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 327 mo que o de fase etapa ou estágio que de signam uma transitória linearidade evoluti va Na psicanálise o conceito de posição indica uma estrutura definitiva em evolu ção constante e permanentemente ativa na organização da personalidade Portanto indo além de um estágio stage o conceito de posição referese a um estado state men tal Definindo de forma mais completa o con ceito de posição na obra de M KLEIN reme te a uma constelação de fenômenos inter relacionados como a o tipo de angústia predominante b os mecanismos de defesa utilizados para dominála c as pulsões em jogo d as características dos objetos que estão involucrados nessa constelação e as fantasias inconscientes f as instâncias psí quicas g os pensamentos e os sentimentos do sujeito Todos esses fenômenos configu ram uma totalidade em movimento na qual nenhum fator pode ser considerado de for ma independente dos demais MKLEIN inicialmente descreveu três tipos de posições a esquizoparanóide a depressiva e entre elas situou a posição maníaca Po rém ao longo de sua obra desconsiderou a última e adotou sua concepção definitiva das duas primeiras posições Ver os verbetes Esquizoparanóide posição e Depressiva posição Posição narcisista O termo posição designa um ponto de vis ta uma perspectiva uma forma de o sujei to visualizar a si mesmo aos outros e ao mundo que o cerca Esse vértice de visuali zação que varia com as diferentes posi ções que a pessoa adota diante do que está sendo observado pensado e sentido de termina a maneira de o sujeito ser e de com portarse na vida A posição narcisista não é apenas uma im portante etapa no desenvolvimento de todo ser humano antes comportase como uma estrutura um modelo de relacionamento e de vínculo que opera ao longo de toda a vida e por isso é de especial importância seu reconhecimento na prática clínica De acordo com o vértice conceitual que aqui estou propondo podese dizer que a posi ção narcisista PN em sua forma original caracterizase por uma total indiferenciação tanto entre o eu e o outro como também entre os diferentes estímulos procedentes de distintas partes do seu próprio self Sobre tudo é fundamental destacar a PN prece de a posição esquizoparanóide PEP na qual já existe alguma diferenciação não obstante o uso maciço de identificações pro jetivas portanto um relacionamento objetal Um importante fator diferenciador entre PEP e PN é o fato de que na primeira se gundo MKLEIN já existe um rudimento de ego a defenderse ativamente contra a vi gência das pulsões destrutivas e do pavor de aniquilamento decorrentes da inveja primária ou pulsão de morte enquanto que a PN não se constitui originalmente a partir da agressão mas sim como uma for ma de assegurar e perpetuar a unidade sim biótica indiscriminada e fusionada com a mãe Na sua evolução gradativamente o indiví duo vai adquirindo uma relativa diferencia ção e autonomia embora nunca exista uma independência absoluta em relação aos de mais Assim podese imaginar um eixo re lacional no qual em uma extremidade há uma relação diádica de natureza fusional e indiferenciada enquanto a outra extremi dade é constituída por uma triangularida de na qual os indivíduos estão discrimina dos entre si Quanto mais próximo estiver o sujeito do primeiro pólo mais enrijecida es tará sendo a sua PN e nesses casos na si tuação analítica sobressaem as seguintes ca racterísticas 1 Uma condição de indiferenciação 2 Um permanente estado de ilusão em busca de uma completude imaginária 328 DAVID E ZIMERMAN 3 Uma negação das diferenças 4 A presença da assim chamada parte psi cótica da personalidade 5 A persistência de núcleos de simbiose e ambigüidade 6 Uma lógica do tipo binário ou seja é o melhor ou o pior etc 7 Uma escala de valores centrada no ego ideal e no ideal do ego 8 A existência de identificações defeituosas 9 Uma afanosa busca por fetiches e obje tos reasseguradores 10 Um permanente jogo de comparações com os outros 11 A freqüente presença de uma organiza ção patológica do tipo gangue narcisista Prazer e da realidade princípio do FREUD Ver os verbetes Prazer princípio de e Reali dade princípio de Prazer princípio de FREUD Originalmente o princípio do prazer era denominado por FREUD princípio do prazer desprazer por significar que o incipiente aparelho psíquico tendia a livrarse descar regando a todo e qualquer estímulo que vi esse a provocar desprazer visando a redu zir ao mínimo a tensão energética este as pecto alude ao princípio da constância Posteriormente FREUD esclareceu que os aumentos da tensão psíquica poderiam ser prazerosos como seria o caso de acúmulo e retenção temporária da excitação sexual O princípio do prazer referese essencial mente ao significado que a catéxis pulsio nal demanda gratificação imediata sem minimamente levar em conta a realidade exterior O melhor exemplo disso é a for mulação de FREUD sobre a gratificação ou satisfação alucinatória do desejo pelo qual o bebê substitui o seio faltante pela sucção do próprio polegar Outros exem plos equivalentes nos estados adultos po dem ser os devaneios e fantasias incons cientes de completude as crenças ilusóri as de onipotência e onisciência produ ções delirantes etc No entanto essa satisfação mágica e ilusó ria sempre acabará frustrante e decepcio nante porque não suporta as exigências e as necessidades da realidade É o caso por exemplo de uma fome real que fatalmente não se satisfará com a substituta sucção do polegar o que vem a determinar a instau ração do princípio da realidade Ver o verbete Realidade princípio da Prazer sem nome Como foi conceituado por BION existe um terror ou pavor sem nome que provavel mente resulta de primitivas experiências emo cionais muito angustiantes que ficaram ins critas no ego da criança sob a forma de repre sentações de coisa portanto numa etapa an terior à formação de palavras Da mesma for ma acredito que também exista uma inscri ção de experiências prazerosas que estão re presentadas em alguma parte do ego ainda sem o nome com as palavras que possam definilas Assim as experiências sensoriais como por exemplo um som uma visão ou uma luz agradável não são captados pelo cérebro unicamente como sensação biológica mas também ficam impressos no psiquismo in consciente O mesmo acontece com os sen timentos prazerosos que acompanham o prazer dos órgãos dos sentidos Um bom exemplo é a percepção do bebê relativa à música da voz da mãe ao brilho de seu olhar à dança de seus gestos tudo sendo englobado no ato da mamada Não estará aí uma explicação para o fato de as crianças felizes quase intuitivamente cos tumarem desenhar um sol emitindo raios lu minosos Ou que nos extasiamos diante de determinados estímulos estéticos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 329 Préconcepção BION Termo introduzido na psicanálise por BION que na sua Grade o situa na fileira D de signando uma etapa evolutiva na formação da capacidade de pensar os pensamentos Como o nome sugere BION afirma que todo ser humano nasce com uma prévia concep ção atávica de que há algo que vai preen cher determinada necessidade como por exemplo o seio que vai saciar sua fome ou uma também universal préconcepção edípica Partindo daí BION afirma que a préconcep ção está à espera de uma realização a qual pode ser positiva ou negativa No primeiro caso uma préconcepção do seio materno alimentador a real presença amamentado ra da mãe concretiza a realização O segun do ocorre quando a mãe naquele momen to não está presente É necessário esclare cer porém que essa realização negativa quando efetivada adequadamente é indis pensável para a passagem à etapa seguinte do pensamento o da concepção que ocu pa a fileira E Ver o verbete Realização Préconsciente FREUD Termo empregado por FREUD como parte de sua teoria topográfica ou primeira tópi ca mas cujo conceito já aparece esboçado em seu Projeto para uma psicologia cien tífica 1895 no qual esse sistema précons ciente a clássica sigla utilizada por FREUD é Pcs está descrito de forma análoga com o nome de barreira de contato funcionando como uma espécie de peneira que selecio na aquilo que pode ou não passar para o consciente Cs Segundo FREUD o que distingue o sistema Pcs do sistema Inconsciente Ics são esses três aspectos 1 A energia psíquica já está mais ligada aos objetos 2 O processo predominante de utilização do psiquismo é o secundário 3 A representação préconsciente está mais ligada à linguagem verbal ou seja às re presentações de palavras Visto por um outro vértice podese dizer que o préconsciente é o que possibilita no neurótico certo processamento da fantasia de acordo com a instauração do sujeito den tro do marco da realidade da cultura na qual está inserido Isso se estabelece segundo LACAN através da aquisição da ordem sim bólica Esta última possibilita estabelecer uma distância ótima entre o desejo incons ciente e os objetos primitivos deslocando dito desejo para outros objetos mais admis síveis para sua gratificação e aceitação dos valores culturais Préedipiano FREUD M KLEIN Termo que aparece muito tardiamente na obra de FREUD designando o período do desenvolvimento psicossexual anterior à instauração do complexo de Édipo Nesse período o que predomina é o apego à mãe FREUD refere que essa fase é mais prolon gada na menina do que no menino e pos teriormente dá a entender que então embora presente no campo psicológico o pai ainda não é visto como rival As sim FREUD procura descrever mais enfa ticamente nessa fase préedipiana a pre dominância da oposição atividade pas sividade Nesse particular a posição de FREUD foi con cebida de forma fundamentalmente distin ta por M KLEIN que partindo da análise das fantasias inconscientes mais arcaicas da criança chegou à concepção de que o pai intervém precocemente na relação do bebê com a mãe Isso pode ser demonstrado se gundo ela pela fantasia do pênis paterno conservado no corpo da mãe e por outras configurações fantásticas que aparecem na figura dos pais combinados 330 DAVID E ZIMERMAN Prégenital FREUD LACAN Expressão introduzida por FREUD em A dis posição à neurose obsessiva 1913 para designar a noção de uma organização libi dinal anterior à organização feita sob o pri mado dos órgãos genitais Aliás bem antes disso sem empregar o termo prégenitali dade em Três ensaios sobre uma teoria da sexulidade 1905 FREUD já descrevia o funcionamento originariamente anárquico das pulsões parciais não genitais que cons tituíam a fase perversopolimorfa Os termos préedipiano e prégenital apa recem freqüentemente confundidos pelos analistas Por isso convém estabelecer uma distinção entre ambos o primeiro referese à situação interpessoal na qual ainda há uma ausência do triângulo edipiano tal como foi concebido por FREUD O segundo designa que o tipo de atividade sexual está aquém da genitalidade mas o triângulo edípico já está claramente definido LACAN como que integrando os dois con ceitos acima mencionados refere um triân gulo préedipiano para designar a relação mãecriançafalo intervindo o último termo como objeto fantástico do desejo da mãe Preocupação ou devoção materna primária WINNICOTT WINNICOTT usava freqüentemente essa ex pressão para aludir a um estado especial do psiquismo da mãe no início da vida do bebê quando este ainda está numa fase de de pendência absoluta O próprio WIINNICOTT esclarece melhor com estas palavras que aparecem no artigo Pre ocupação materna primária 1956 Mi nha tese é que na fase mais precoce nos deparamos com um estado bastante espe cial da mãe uma condição psicológica que merece um nome tal como preocupação materna primária Entendo que o tributo devido não foi pago satisfatoriamente por nossa literatura nem em qualquer outra parte a uma tão especial condição psiquiá trica da mãe da qual direi o seguinte seu desenvolvimento é gradual transformando se em um estado de intensa sensibilidade no decorrer e em especial quando se apro xima o término da gestação Prolongase por algumas semanas após o nascimento do bebê Não é facilmente lembrada pela mãe uma vez que tenha se recuperado irei adi ante dizendo que as lembranças desse esta do tidas pela mãe tendem a tornarse repri midas Não creio ser possível uma com preensão do funcionamento da mãe nos primórdios da vida do bebê sem o enten dimento de que ela deve ser capaz de atin gir esse estado de intensa sensibilidade quase uma doença e recuperarse dele Refirome à palavra doença porque a mu lher deve ser saudável a fim de que possa desenvolver esse estado e recuperarse dele quando o bebê permitirlhe Preservação da espécie pulsão de FREUD Desde o início de sua obra FREUD ligou pulsão à sexualidade e isso fora de qual quer dúvida constituiuse como o centro das descobertas da psicanálise Da mes ma forma ele sempre considerou a exis tência de uma dualidade pulsional Assim em sua primeira formulação de um con ceito dualista das pulsões essenciais FREUD distinguiu entre pulsões do ego ou pulsões de autopreservação e pulsões sexuais ou pulsões de preservação da espécie Todo o prazer corporal não devido à satis fação direta das pulsões do ego tais como a satisfação da fome da sede e das necessi dades excretoras ele considerou sexual com vistas futuras à preservação da espé cie humana As zonas corporais suscetíveis à estimulação erótica foram denominadas zonas erógenas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 331 Princípios FREUD Termo bastante utilizado nas ciências em geral designando um ponto de partida para a construção de um sistema ideativocogni tivo que mantenha uma certa lógica Pode se depreender a existência de vários e dis tintos princípios que estejam agindo simul taneamente e interagindo entre si embora cada um mantenha uma autonomia con ceitual com regras e leis específicas No campo da psicologia e da psicopatolo gia rastreando as então revolucionárias concepções de FREUD podemos enumerar os seguintes princípios do psiquismo 1Existência das pulsões 2Princípios de prazer e de realidade 3Princípio da constância ou de Nirvana 4Princípio da inércia 5Princípio da compulsão à repetição 6Princípio do determinismo psíquico 7Princípio das séries complementares ou equação etiológica Além desses princípios formulados por FREUD está merecendo atenção dos psica nalistas contemporâneos o princípio da in certeza tal como foi formulado pelo cien tista EISENBERG e passou a ser bastante em pregado por BION Os princípios mencionados estão explicita dos separadamente no respectivo verbete Problema econômico do masoquismo O FREUD 1924 Nesse trabalho publicado em 1924 FREUD aborda o masoquismo sob três formas como uma condição imposta à excitação sexual como uma expressão da natureza feminina e como uma norma de compor tamento Por conseguinte distinguemse três tipos de masoquismo o erógeno o femini no e o moral Ao descrever os três tipos de masoquismo FREUD enfoca aspectos como o da organiza ção oral primitiva o temor de ser devorado pelo animaltotem o pai a fase analsádi ca o desejo de ser espancado pelo pai a organização fálica fantasia de castração a organização genital final as situações de ser copulado ou dar à luz uma criança o sentimento inconsciente de culpa Conclui o artigo dizendo que o sadismo do superego e o masoquismo do ego se com plementam e se unem para produzir os mesmos efeitos Este texto está no volume XIX p199 da Standard Edition Brasileira Ver o verbete Masoquismo Processos primário e secundário FREUD FREUD postulava que o inconsciente é cons tituído por uma energia psíquica proveni ente das pulsões as quais operando con juntamente com as representações que se for mam no ego caracterizam especificamente esses dois tipos de processamento psíquico O processo primário caracterizase por um fácil deslocamento e descarga da libido As várias cadeias de representações com os respectivos significados inconscientes pro duzem aquilo que se chama condensação ver esse verbete Assim já no Projeto para uma psicologia científica 1895 FREUD des crevia um funcionamento primário do apa relho neurônico no qual a energia psíquica circula de forma livre de modo que ela ten de a descarregarse imediata e totalmente tal como acontece no princípio do prazer A partir da Interpretação dos sonhos 1900 ele começa a elaborar com maior consistência a noção de processo primário com uma energia livre deslocável e con densada com a inscrição de significações as quais alguns anos mais tarde ele veio a conceituar como representação de coisa Tais significações seguem as leis do incons ciente ou seja onde não há lógica referen te à noção de tempo espaço contradições relações causaefeito etc 332 DAVID E ZIMERMAN No processo secundário a energia psíquica está presa ligada e circula de forma mais compacta sempre ligada à uma represen tação psíquica mais precisamente às situa das no sistema préconscienteconsciente logo com o que FREUD denomina represen tação de palavra Comentário Ambos os processos foram descritos por FREUD numa seqüência de sur gimento linear e temporal o secundário sucedendo o primário Na atualidade a partir de BION é possível considerar que os dois processos estão sempre presentes na mente de qualquer sujeito de forma con comitante e numa conjunção constante en tre si A predominância do funcionamento mental do processo primário de alguma forma corresponde no adulto ao que BION denomina parte psicótica da personalidade que se manifesta clara e prevalentemente nos psicóticos francos enquanto a predo minância do processo secundário é perti nente à parte nãopsicótica ou neurótica da personalidade Processo originário PAULAGNIER Ver o verbete Originário processo Projetiva identificação Ver o verbete Identificação projetiva Projeto para uma psicologia científica FREUD 1895 Em 1895 FREUD redigiu seu importantíssi mo e cada vez mais vigente Projeto de uma psicologia científica para neurólogos o qual somente veio a ser descoberto muitos anos mais tarde entre escritos abandonados por ele de modo que esse notável trabalho só veio a ser publicado em 1950 Na verdade FREUD começou a rascunhar esse trabalho no trem que o levava de Berlim a Viena por ocasião de uma visita que fazia a FLI ESS seu amigo e confidente Após remeter os esboços a FLIESS FREUD ficou em dúvida quanto ao valor das idéias que expunha nesse trabalho original e decidiu não publi cálo Após a morte de FLIESS sua viúva o vendeu a um livreiro que o repassou para Marie Bonaparte expaciente de FREUD e princesa da Grécia e da Dinamarca FREUD tentou destruir os manuscritos mas MBonaparte contrariando o mestre con seguiu conserválos para a posteridade É interessante assinalar que no mesmo ano de 1895 o cientista WAELDER descobriu o neurônio cuja existência se ajustava exata mente ao que FREUD estava cogitando so bre as catéxis ativadas por estímulos endó genos Essas catéxis são conduzidas por células diferenciadas dos neurônios como seriam as perceptivosensoriais as percep tivas do consciente e as encarregadas do registro da memória Esse trabalho de FREUD representa a tentati va mais radical de entendimento dos fatos psicológicos em termos de neurologia cir cuitos neuronais e de física quantidades energéticas que se regem pelas leis do mo vimento neurônios carregados ou descar regados de energia barreiras que se opõem ou não à circulação energética etc Muitas das idéias expostas no Projeto re aparecem ulteriormente em muitos outros trabalhos como o capítulo VII da Interpre tação dos sonhos 1900 e Além do princí pio do prazer 1920 Projeto está publicado no volume I da página 381 onde consta a introdução do editor inglês seguido da Explicação das Abreviaturas Usadas no Projeto na pági na 394 e segue com o trabalho propria mente dito até a página 533 Essa magnífica obra de FREUD está dividida em três partes denominadas respectivamen te I Esquema Geral o qual abrange 21 títulos II Psicopatologia que consta de seis textos e parte III denominada Tenta tiva de representar os processos normais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 333 onde aparece um trecho da Carta 39 escri ta por FREUD a FLIESS em 1896 Protofantasias FREUD Em 1915 FREUD introduziu o termo alemão Urphantasien que costuma ser traduzido tanto por protofantasias quanto por fantasi as originárias Ver este último verbete Protopensamentos BION A etimologia dessa expressão proto em gre go significa o primeiro o original o mais primitivo por si só define a concepção de BION segundo a qual ela designa as primiti vas impressões sensoriais e as experiências emocionais Como elementos β esse últi mo termo pode ser tomado como sinôni mo de protopensamento essas impressões e experiências não se prestam ainda para serem utilizadas como pensamentos propri amente ditos ou seja a partir de concei tos Servem para serem evacuadas tanto para fora como nos actings como para dentro do organismo como nas psicosso matizações Os protopensamentos que às vezes BION chama de estado protomental ocupam na Grade a fileira A Caso houver uma ade quada função a da mãe os protopensamen tos evoluirão para a condição de elementos α matériaprima para a formação dos pen samentos Psi Y BION Na Grade BION emprega essa letra grega na coluna 2 para designar os enunciados mentirosos ou falsos separadamente por parte do paciente como do psicanalista ou como é muito freqüente pode referirse a um conluio de falsidade existente entre ambos na situação analítica As falsidades são utilizadas para fugir das verdades pe nosas e do risco de uma mudança catastró fica Portanto essa coluna 2 também signi fica o uso de resistências Psicanálise FREUD criou esse termo e fundou essa disci plina que já ultrapassou um século de exis tência e se mantém com bastante vitalida de fiel a seus princípios básicos porém so frendo profundas transformações em seus fundamentos metapsicológicos teóricos técnicos e clínicos A primeira vez que Freud empregou psicoanálise foi em 1896 num artigo redigido em francês intitulado A hereditariedade e a etiologia das neuroses Essa expressão veio substituir definitiva mente as denominações até então vigen tes de método catártico e de abreação procedimentos que eram realizados sob hipnose e pela sugestão centralizando a atividade psicanalítica na livre associação de idéias Na criação desse termo FREUD certamente inspirouse na química como comprova esse trecho apontamos ao doente nos seus sintomas os motivos pulsionais até então ignorados como o químico separa a subs tância fundamental o elemento químico do sal que em composição com outros elemen tos se tornara irreconhecível Aliás isso está bem de acordo com a eti mologia da palavra análise que deriva dos étimos gregos aná partes lysis decom posição dissolução Posteriormente o pró prio FREUD fez questão de estabelecer uma diferença entre análise química e psíquica A comparação com a análise química en contra o seu limite no fato de que na vida psíquica lidamos com tendências submeti das a uma compulsão à unificação e à com binação Mal conseguimos decompor um sintoma liberar uma moção pulsional de um conjunto de relações e logo esta não se conserva isolada mas entra imediatamen te num novo conjunto 334 DAVID E ZIMERMAN Em 1922 em Dois verbetes de enciclopé dia FREUD deu sua definição mais precisa do contexto da análise sublinhando que seus pilares teóricos eram o inconsciente o complexo de Édipo a resistência a repres são e a sexualidade Completa afirmando que Quem não os aceita não deve incluir se entre os psicanalistas Entre muitas ou tras que até então ensaiara nesse artigo FREUD dá a sua definição mais clara de psi canálise afirmando que é o nome de 1 Um procedimento para a investigação de processos mentais que de outra forma são praticamente inacessíveis 2 Um método baseado nessa investigação para o tratamento de transtornos neuróti cos 3 Uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que se somam umas às outras para formar progressivamen te uma nova disciplina científica Psicanálise aplicada De início foi na Sociedade Psicológica das QuartasFeiras que os seguidores de FREUD notadamente O RANK traziam temas para discussões quase sempre apaixonadas que versavam sobre a aplicação da psicanálise aos campos literário artístico mitológico religioso e histórico FREUD sempre revelou certa ambigüidade quanto à análise aplicada Por um lado acompanhava o temor de alguns psicana listas de seu círculo mais íntimo que alerta vam quanto ao risco de a psicanálise per der a sua essência e ser mal interpretada pelo público em geral Por outro afirmava que os ensinamentos da psicanálise não po dem restringirse ao campo médico mas são suscetíveis de se aplicar a outras ciências do espírito Além disso FREUD incentivou e co laborou ativamente para a criação da revista Imago fundada em 1912 por RANK e SAACHS Nessa revista FREUD publicou as primeiras versões sobre Totem e Tabu bem como seu estudo sobre O Moisés de Michelan gelo Na verdade FREUD enfocou seguida mente temas das áreas humanísticas em geral porém os usava mais como fonte de inspiração e comprovação de seu edifício te órico como por exemplo o Caso Schreber Psicanálise com crianças Ver o verbete Crianças psicanálise com Psicanálise selvagem FREUD FREUD empregou essa terminologia com dois sentidos que ele expõe em Psicanálise sel vagem 1910 1 Podemos dizer assim que todos aqueles que têm alguma noção das descobertas da psicanálise mas não receberam a formação teórica e técnica necessária fazem análise selvagem 2 Num sentido mais de ordem técnica FREUD considerou análise selvagem às ve zes o termo original wilde aparece equivo cadamente traduzido como silvestre todo procedimento no qual o analista embora possa estar correto no seu entendimento a respeito do paciente faz interpretações di retas sem levar em conta outros fatores como a sensibilidade específica de cada paciente e de como se apresentam os fenô menos resistenciais e transferenciais Psicologia analítica CARL GJUNG Em 1913 JUNG consumou sua definitiva dis sidência do movimento freudiano a qual já vinha se desenhando há muitos anos A partir de então deu o nome de Psicologia Analítica à sua concepção da prática psico terápica que não levaria maiormente em conta o substrato orgânico pulsional do psi quismo No lugar disso JUNG privilegiou a noção de arquétipos que definiam uma forma pree xistente de um inconsciente coletivo que determina o psiquismo e provoca uma re VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 335 presentação nos sonhos nas manifestações artísticas ou nas religiões Ver o verbete Jung Psicologia de grupo e a análise do ego A FREUD 1921 Nesse trabalho considerado um dos mais importantes de sua obra as linhas de pen samento adotadas por FREUD derivamse mais especificamente do quarto ensaio so bre totem e tabu bem como de seus traba lhos sobre narcisismo e o de luto e melanco lia O texto é importante sob dois aspectos 1 Por um lado explica a psicologia de gru pos na base de alterações na psicologia da mente individual 2 Por outro leva a um estágio mais adian tado a pesquisa de FREUD sobre a estrutura da mente O livro consta de doze partes assim distri buídas A parte I consiste em uma Introdução onde ele afirma que o contraste entre os atos mentais sociais e narcísicos enquadrase totalmente no campo da psicologia indivi dual e não está suficientemente bem calcu lado para diferenciála de uma psicologia social ou de grupo A parte II trata da Descrição feita por Le Bon da mente coletiva de grupo onde enfatiza que num grupo o indivíduo é le vado a condições que lhe permitam descar tarse dos recalcamentos de seus impulsos pulsionais inconscientes A parte III é intitulada Outras descrições da vida mental coletiva e enumera cinco con dições principais para elevar o nível da vida mental coletiva A parte IV aborda Sugestão e libido A parte V denominada Dois grupos artifici ais o exército e a igreja é uma das contri buições mais férteis de FREUD porquanto aí ao estudar os tipos de lideranças lança as sementes dos modelos projetivo exército e introjetivo igreja das identificações A parte VI Outros problemas e linhas de trabalho está baseada no fato de que uma simples coleção de pessoas não constitui um grupo A parte VII intitulada Identificação trata mais especificamente desse importantíssimo fenômeno psíquico A parte VIII tem por título Amar e a hipno se que enfatiza o aspecto da idealização A parte IX trata de A pulsão gregária na qual FREUD conclui que o homem não é um animal de rebanho mas de horda uma criatura individual numa horda comanda da por um chefe A parte XI aborda Uma gradação diferenci adora no ego onde destaca que cada in divíduo é parte integrante de numerosos grupos é ligado por laços de identificação em muitas direções e constrói seu ideal do ego com base nos mais variados modelos A parte XII consiste num Pósescrito Esse trabalho está publicado no volume XVIII da Standard Edition ocupando cerca de 70 páginas Psicologia do Ego Escola da Como muitos outros psicanalistas europeus perseguidos pelo nazismo também o aus tríaco HEINZ HARTMANN ver o verbete Hart mann emigrou para os Estados Unidos onde juntamente com KRIS LOEWENSTEIN RAPPAPORT e ERIKSON fundou a corrente psi canalítica denominada Psicologia do Ego Esses autores fundamentaramse nos últi mos trabalhos de FREUD particularmente a partir da formulação da estrutura tripartite da menteid ego e superegoe também se alicerçaram nos trabalhos de ANNA FREUD referentes às funções do ego Em boa parte devido ao espírito pragmáti co dos norteamericanos os postulados dessa escola germinaram com muito vigor e frutificaram com os estudos de gerações posteriores Entre os seguidores dessa corren te pontificou o nome de EDITH JACOBSON ver 336 DAVID E ZIMERMAN esse verbete com os trabalhos 1954 que descrevem a existência de um self psicofi siológico Nesses trabalhos ela se aprofun da numa abordagem das primitivas relações objetais estabelecendo uma significativa aproximação com os teóricos das relações objetais Baseados nas idéias de JACOBSON e a partir das pesquisas mais recentes de MARGARETH MAHLER ver esse verbete e colaboradores os Psicólogos do Ego deram um passo de cisivo na estruturação da ideologia dessa escola Essa autora estabeleceu os suces sivos passos na evolução neurofisiológi ca da criança acompanhando as respec tivas etapas do crescimento mental e emo cional Assim ela descreveu as fases de autismo normal seguida da simbiose normal pas sando pela progressiva saída de uma indi ferenciação com a mãe através da etapa da individuação e da separação com as res pectivas subetapas até chegar à quarta eta pa que consiste na obtenção de uma cons tância objetal com uma consolidação do self e da individuação Também é necessário destacar na psicaná lise norteamericana o nome de OTTO KER NBERG cujo pensamento psicanalítico repre senta uma verdadeira ponte entre os Psicó logos do Ego e os teóricos das relações ob jetais Esse autor vemse notabilizando por importantes trabalhos notadamente os que concernem às organizações narcisistas da personalidade mais particularmente os estados borderline De forma esquemática cabe assinalar as seguintes contribuições provindas da Esco la da Psicologia do Ego principalmente dos trabalhos de HARTMANN 1937 e de seus seguidores imediatos 1 Uma valorização das funções do ego in cluídas as do ego consciente 2 Uma aproximação com outras discipli nas como medicina biologia educação antropologia e psicologia em geral 3 Uma ênfase nos processos defensivos do ego em particular os que se referem à neu tralização das energias pulsionais sexuais e agressivas assim valorizando um enfoque econômico da psicanálise 4 Até HARTMANN as noções de ego e de self estavam muito confusas Devemos a esse autor uma clara distinção entre ego como instância psíquica enquanto self é definido como um conjunto de representações que determinam o sentimento de si mesmo 5 O conceito de adaptação os conceitos de autonomia primária e secundária do ego 6 O ego sendo concebido como uma es trutura que contém subestruturas 7 O conceito de regressão a serviço do ego 8 As contribuições já mencionadas de JA COBSON MAHLER e KERNBERG 9 Mais especificamente em relação à técni ca e à prática da psicanálise devem ser mencionadas mais algumas contribuições por parte de diversos representantes dessa escola Estão neste caso a noção de RSTERBA 1934 a respeito de uma dissoci ação útil do ego as reconhecidas postula ções de EZETZEL 1956 acerca dos critérios de analisibilidade bem como os seus escri tos sobre aliança terapêutica os trabalhos de importantes autores como WALLERSTEIN H BLUM L RANGEL R SCHAEFER M GILL entre muitos outros 10 Os americanos Psicólogos do Ego le vam muito a sério a sua forte dedicação a trabalhos de pesquisa experimental como foram os trabalhos de SPITZ MAH LER J KANTROWITZ somente para citar alguns que constam em verbetes específicos do pre sente vocabulário Psicologia do Self Escola da KOHUT A Escola da Psicologia do Self foi criada desenvolvida e divulgada por HEINZ KOHUT ver o verbete psicanalista austríaco que fugindo do nazismo instalouse em Chica go Inicialmente filiado à Psicologia do Ego VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 337 aos poucos foi criando suas próprias con cepções e fundou a sua própria escola for temente vigente na atualidade e que numa forma muito sintetizada apresenta os se guintes pontos marcantes 1 KOHUT contrariando a ortodoxia psica nalítica não situa a livre associação de idéias como o principal instrumento da psicanáli se lugar que ele cede à introspecção por parte do paciente e o da empatia por parte do analista 2 Da mesma forma ele retira a hegemonia do complexo de Édipo e coloca no seu lu gar as falhas dos primitivos selfobjetos Em outras palavras substitui o homem culpa do de FREUD e MKLEIN pelo que considera ser o homem trágico 3 Enaltece a importância de na prática ana lítica se processar uma internalização trans mutadora 4 Favorece o entendimento e o manejo técnico bastante regredidos por terem muito precocemente sofrido sérias falhas empáticas 5 Os dois conceitos medulares na obra de KOHUT são os seus estudos sobre o self e o narcisismo 6 Em relação ao narcisismo ele descreveu a normalidadeestruturante do narcisismo bem como seus transtornos 7 Descreveu importantes conceitos sobre o que denomina self grandioso e imago parental idealizada 8 Na prática analítica contribuiu com a descrição das diversas formas de transferên cia narcisista 9 A necessidade de o analista encontrar com os pacientes que apresentam transtornos nar cisistas uma frustração ótima tendo em vista o fato de que quando frustrados com facili dade entram num estado de fúria narcisista Psicodrama JACOB MORENO Refere um método de psicoterapia inventa do por JACOB LEVY MORENO ver o verbete Moreno J que consiste em o sujeito en cenar com objetivo terapêutico determina da situação conflitiva ou seja representá la num palco de teatro improvisado com atores coadjuvantes denominados como egos auxiliares sob a coordenação do tera peuta psicodramatista Moreno criou o psicodrama depois de sua emigração para os Estados Unidos em 1925 com o propósito de reviver e revelar teatralmente a verdade do conflito do paci ente em suas relações com outrem A sessão psicodramática dividese em três partes o encaminhamento no qual o paci ente é solicitado a explicar como vai viven ciar seu papel a ação durante a qual ele representa seu conflito sob a forma de um enredo dramático e o retorno no qual deve relatar como se encontrou na dramatização A sessão utiliza uma série de recursos de técnicas teatrais mas o psicodrama ainda conserva o mesmo eixo fundamental cons tituído pelos seguintes elementos cenário protagonista diretor ego auxiliar público e cena a ser apresentada A dramatização pode possibilitar a recons tituição dos primitivos estágios evolutivos do sujeito Assim uma primeira etapa chama da técnica da dupla visa ao reconhecimen to da indiferenciação eu x outro Numa segunda etapa técnica do espelho o pro tagonista sai do palco e da platéia assiste à representação que outra pessoa no papel de ego auxiliar faz dele Dessa maneira o sujeito pode reconhecer a si próprio assim como na infância reconheceu sua imagem no espelho A terceira etapa técnica da in versão de papéis vai permitir que o sujeito se coloque no lugar do outro desenvolven do assim o sentimento de consideração pe los demais No curso do tratamento essas etapas não são estanques Moreno inventou também o sociodrama o qual consiste numa representação de gru po para grupo e põe em cena conflitos co letivos como o drama das minorias raciais dos prisioneiros dos marginais etc 338 DAVID E ZIMERMAN Existe uma corrente intitulada psicodrama psicanalítico que às técnicas psicodramáti cas alia alguns dos conceitos freudianos fun damentais como a transferência projeção fantasias o que é diferente do emprego de recursos psicodramáticos por parte de al guns psicanalistas como técnica de eleição no tratamento das psicoses e dos transtor nos narcisistas infantis Psicopatia Muitos autores consideram que a psicopa tia pode ser vista como um defeito moral porquanto esse termo designa um transtor no psíquico que se manifesta no plano de uma conduta antisocial Os exemplos mais comuns são os de sujeitos que roubam e assaltam mentem enganam e são impos tores seduzem e corrompem usam drogas e cometem delitos transgridem as leis so ciais e envolvem os outros etc A estruturação psicopática se manifesta por meio de três características básicas 1 A impulsividade 2 A repetitividade compulsiva 3 O uso predominante de actings de natu reza maligna acompanhados por uma to tal falta de responsabilidade e uma aparen te ausência de culpas pelo que fazem Algum traço de psicopatia latente e oculta é inerente à natureza humana No entanto o que define a doença psicopática é o fato de que as três características apontadas vão além de um uso eventual mas sim se tor nam um fim em si mesmas Além disso são egossintônicas muitas vezes idealizadas pelo sujeito sendo acompanhas por uma total falta de consideração pelas pessoas que se tornam alvo e cúmplices do seu jogo psico pático É bem provável que as manifestações psi copáticas não estejam dirigidas primaria mente contra a culpa e a ansiedade mas parecem ter o propósito de manter a ideali zação e a crença no superior poder do nar cisismo destrutivo Assim é possível dizer que a atuação psicopática se caracteriza mais pela perversidade manifesta do que a que aparece no caso da perversão Na prática psicanalítica são pacientes que dificilmente entram espontaneamente em análise Quando o fazem mostram uma forte propensão para atuações e para o abandono do tratamento se este é levado a sério pelo analista Tal ocorre não só em razão de uma enorme dificuldade de ingres sarem numa posição depressiva como tam bém por causa de uma arraigada predomi nância da pulsão de morte e seus deriva dos que os obrigam a uma conduta hetero e autodestrutiva Psicopatologia da vida cotidiana A FREUD 1901 A Introdução do Editor deste trabalho refe re que dentre todas as obras de FREUD ape nas uma Conferências introdutórias 19161917 compete com A psicopatolo gia da vida cotidiana em termos de quan tidade de edições alemãs e de traduções estrangeiras O livro detémse sobretudo nas múltiplas modalidades de atos falhos que cometemos cotidianamente FREUD menci onou o entendimento inconsciente dos atos falhos pela primeira vez numa carta a FLI ESS de agosto de 1898 A atenção especial que FREUD dedicava aos atos falhos deve se fora de qualquer dúvida ao fato de que estes juntamente com os sonhos lhe per mitiram estender a vida mental normal às descobertas em relação às neuroses Esse trabalho estendese por 12 capítu los ocupando cerca de 300 páginas e se encerra com um Índice de atos falhos Nele à guisa de resumo são agrupados da seguinte maneira atos descuidados erros esquecimento das impressões e in tenções esquecimento de nomes e de palavras objetos perdidos e extraviados lapsos de leitura lapsos de escrita e erros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 339 de imprensa lapsos de língua e atos ca suais e sintomáticos Essa obra está publicada no volume VI da Standard Edition Psicose O termo psicose foi criado em meados do século XIX como uma forma de substituir o depreciativo vocábulo loucura então mui to em voga e tentar definir essa doença numa perspectiva psiquiátrica em lugar das hipóteses demoníacas e outras equivalen tes vigentes na Antigüidade Em 1911 o grande psiquiatra suíço BLEULER lançou sua clássica obra sobre a Demência precoce era um tratado sobre as esquizofrenias No mesmo ano FREUD publicou suas Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfi co de um caso de paranóia é o famoso Caso Schreber obra que lhe serviu para definir a psicose como um transtorno entre o eu e o mundo exterior Seguiuse uma série de outros trabalhos com sucessivas abordagens sobre a produção do fenôme no da psicose Genericamente o termo psicose designa um processo deteriorante das funções do ego a ponto de haver em graus variáveis al gum sério prejuízo do contato com a reali dade É o caso por exemplo das diversas formas de esquizofrenias crônicas se ficar mos num pólo extremo de psicoses propri amente ditas No entanto a complexidade semântica do vocábulo psicose pode levar a confusões na comunicação científica en tre os psicanalistas O fato acontece sempre que estiverem em discussão os critérios quanto à analisabilidade ao prognóstico clínico e à apreciação casuística de traba lhos publicados acerca da análise de psicó ticos Assim na literatura psicanalítica pode se perceber que a avaliação da eficácia ana lítica dos pacientes psicóticos varia em fun ção do critério diagnóstico adotado pelos investigadores Nos Estados Unidos a dis tinção entre esquizofrenias processuais e psicoses esquizofrenóides costuma ser algo frouxo resultando em estatísticas mais oti mistas o contrário ocorrendo nos trabalhos europeus Clinicamente talvez seja útil estabelecer uma diferença entre estados psicóticos e psicoses propriamente ditas Os estados psi cóticos abarcam um largo espectro de qua dros clínicos mas sempre pressupõem a preservação de áreas do ego assim aten dendo a duas condições Uma é a de que eles permitem uma relativa adaptação ao mundo exterior como é o caso de pacien tes borderline personalidades excessiva mente paranóides ou narcisistas algumas formas de perversão psicopatias e neuro ses graves A segunda condição consiste no fato de que esses quadros clínicos possibili tam uma recuperação sem seqüelas após a irrupção de surtos francamente psicóticos reações esquizofrênicas agudas ou episó dios de psicose maníacodepressiva por exemplo Em relação às psicoses propriamente ditas tal como são descritas na psiquiatria é con sensual que há uma evidente lacuna entre os profundos avanços da metapsicologia e a teoria e os limitados alcances da prática clínica psicanalítica Os poucos relatos de tratamentos realizados exclusivamente pelo método analítico clássico em pacientes com esquizofrenias processuais por parte de re nomados psicanalistas como ROSENFELD SEGAL MELTZER e BION são de brilhantes re sultados de investigação teórica mas de du vidosa eficácia clínica Na atualidade a grande maioria dos psica nalistas está aceitando para tais pacientes a utilização de métodos alternativos em um arranjo combinatório de múltiplos recursos Cabe levar em conta os seguintes aspectos que cercam a psicanálise contemporânea em relação com os pacientes psicóticos 1 Recentes avanços teóricos Os que vêm merecendo maior relevância são os referen 340 DAVID E ZIMERMAN tes à indiferenciação entre o eu e o não eu ao fenômeno da especularidade ao regis tro somático com a enorme importância que tem a representação do corpo ao alar gamento das atribuições das identificações projetivas nos processos perceptivocogni tivos tanto do ponto de vista de autores psicanalistas como da neurobiologia con temporânea 2 Valorização da realidade externa Diferen temente do que a técnica kleiniana classica mente recomendava de priorizar quase ex clusivamente a interpretação dos conflitos do mundo interno referentes às primitivas fanta sias inconscientes e aos objetos parciais os analistas contemporâneos hierarquizam a importância dos objetos externos reais 3 Relações familiares No mínimo dois as pectos merecem registro Um é o discurso dos pais como um dos modeladores do in consciente do sujeito O segundo é a desig nação de papéis fixos a serem cumpridos no contexto da dinâmica familiar Esses pa péis são variáveis mas cabe consignar a possibilidade de que o papel designado para um paciente psicótico tenha sido justamen te o de ele funcionar como psicótico isto é como portador das partes psicóticas de cada um e de todos do seu grupo familiar 4 Colaboração multidisciplinar Cada vez mais os psicanalistas estão permeáveis às contribuições dos epistemólogos neurólo gos lingüistas educadores geneticistas e em especial à moderna psicofarmacoterapia 5 Tratamento múltiplo Como decorrência dos itens anteriores a tendência dos psica nalistas contemporâneos que tratam paci entes psicóticos pelo método analítico é combinálo com métodos alternativos como as diversas formas de psicoterapia os grupos de autoajuda a medicação psi cotrópica instituição que proporcione os benefícios da ambientoterapia o concurso dos assim chamados auxiliares terapêuticos ou amigos qualificados atendimento do gru po familiar etc 6 Particularidades da técnica psicanalítica Sabese que os objetivos básicos da análise com pacientes psicóticos são a promover a constância objetal interna e a constância da percepção da realidade externa b a in tegração das dissociações c o desenvolvi mento das capacidade de domínio sobre os estímulos resultantes das frustrações tendo em vista que esses pacientes desorganizam se diante de situações novas não estrutu rantes d a transição do imaginário para o simbólico e o desenvolvimento da capaci dade de pensar f a formação de um defi nido sentimento de identidade Muitos aspectos técnicos mereceriam ser destacados mas cabe registrar que com o paciente psicótico acima de tudo é a at mosfera analítica que acredita a maioria dos psicanalistas contemporâneos constitui o mais importante fator terapêutico Cabe ao analista ter uma série de atributos básicos dos quais é necessário ressaltar aqueles que correspondem aos que certamente faltaram na maternagem original do paciente Ape sar da ressalva de que o vínculo analista paciente psicótico não reproduz de forma rigorosamente igual a relação mãebebê é evidente que existem profundas similitudes entre ambos Psicose de transferência conceito de técnica HERBERT ROSENFELD Denominação proposta por ROSENFELD no trabalho A psicose de transferência no pa ciente fronteiriço 1978 com a qual ele descreve uma importantíssima e nada in freqüente ocorrência na situação psicanalí tica Consiste no fato de que eventualmen te analisandos nãopsicóticos ingressam em um estado transferencial de tamanho nega tivismo e distorção dos fatos reais em rela ção ao analista que chega a dar a impres são de uma situação realmente psicótica No entanto a grande característica dessa psi cose transferencial reside no fato de que fica VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 341 restrita à situação da sessão analítica finda a qual o analisando retoma a sua vida de forma completamente normal Vamos passar a palavra ao próprio autor para melhor esclarecer o analista costuma ser percebido de uma forma distorcida como um superego onipotente sádico mas a forma erótica da transferência psicótica na qual o paciente acredita que o analista está apaixonado por ele ou ela pode tam bém dominar a situação analítica por algum tempo Tais pacientes freqüentemente formam alguma aliança terapêutica com o analista mesmo tendo presente uma par te psicótica da sua personalidade enquan to simultaneamente mantém a aliança tera pêutica com a parte nãopsicótica de si mesmos diminuindo assim o perigo de apa recerem delírios transitórios Essa psicose de transferência que ROSENFELD também chama de psicose transitória pode perdurar dias semanas ou meses Se per manecer por um período demasiadamente longo e ininterrupto sem dar mostras de reversibilidade constituise um sério indica dor de um impasse irreversível Em tais si tuações de psicose transferencial as reações contratransferenciais são extremamente di fíceis para o analista Por tudo isso esse quadro transferencial merece particular atenção de modo a ser bem conhecida por todo analista praticante Comentário Reações dessa natureza sur gem com relativa freqüência no campo ana lítico nem sempre sendo fácil discriminar se corresponde a uma reação contra uma possível inadequação por parte da atitude e do manejo do analista ou se traduz um impasse prenunciador de uma ruptura com a análise ou ainda se está representando um difícil porém necessário momento ana lítico como uma forma de progresso e cons trução da confiança básica Isso se dá caso o analista sobreviva aos ataques e para tan to uma das condições é que não fique po lemizando com o paciente forçando as in terpretações Pelo contrário deve demons trar boa condição de continência e sobre tudo de paciência Psicossomática O termo psicosomático exatamente com essa grafia com um hífen separando psi que de soma apareceu na literatura médi ca em 1818 em um texto de HEINROTH clí nico e psiquiatra alemão Embora na épo ca com discordância de muitos outras vo zes como a de WILLIAM MOTSLOY aponta ram para a mesma direção Esse autor com uma notável intuição escreveu há mais de cem anos em Fisiologia da mente Quan do o sofrimento não pode expressarse pelo pranto ele faz chorarem outros órgãos Desde o final da década de 1940 o termo psicossomático adquiriu essa grafia unifica dora e passou a ser empregado como subs tantivo para designar no campo analítico a decisiva influência dos fatores psicológi cos na determinação das doenças orgâni cas embora já admitindo uma inseparabili dade entre elas FREUD também estudou os fenômenos psi cossomáticos Em 1891 em um trabalho sobre afasias e em 1905 no famoso Caso Dora empregou a expressão complacência somática para referir que podem existir al gumas áreas orgânicas de extrema sensibi lidade que condicionam facilitam descar regam e cenarizam determinados estados emocionais Em 1910 aparece seu artigo Uma alteração psicogênica da visão onde transparece o modelo da conversão histéri ca Além disso FREUD descreveu as mani festações somáticas presentes na neurose atual postulou a concepção de que o ego antes de tudo é corporal além de outras contribuições indiretas Seguindose a FREUD e tendo à frente a fi gura do psicanalista F ALEXANDER criouse a Escola de Chicago que estudou e descre veu as sete doenças psicossomáticas asma 342 DAVID E ZIMERMAN brônquica úlcera gástrica artrite reumatói de retocolite ulcerativa tireotoxicose e hi pertensào essencial atribuindo a cada uma delas uma especificidade psicogênica Outros importantes autores dedicaramse ao estudo dos fenômenos psicossomáticos atra vés de distintas abordagens cada vez mais correlacionadoas com as primeiras etapas do desenvolvimento emocional primitivo inclusive do psiquismo fetal como se de preende de BION No entanto é necessário ressaltar as pes quisas contemporâneas que psicanalistas pertencentes ao Instituto de Psicossomática de Paris estão procedendo com enfoques originais como por exemplo o conceito de pensamento operatório Psicoterapia psicanalítica As semelhanças e diferenças entre o que se costuma denominar psicanálise e psicote rapia psicanalítica assim como suas conver gências divergências tangências e super posições têm sido muito estudadas e dis cutidas principalmente a partir da década de 40 Na atualidade tais questionamentos entre os psicanalistas continuam plenamente vigentes controvertidos e polêmicos mas certamente sofrendo algumas transformações Psicoterapia é um termo genérico que cos tuma ser empregado para designar qualquer tratamento realizado com métodos e pro pósitos psicológicos Inicialmente FREUD não fazia distinção entre os termos psicoterapia e psicanálise e empregavaos indistintinta mente para caracterizar o método de trata mento psicológico que criara Freqüente mente empregava a expressão terapia psi canalítica como que estabelecendo uma conexão entre ambos Posteriormente no entanto no congresso realizado em Buda peste em 1918 fez sua famosa afirmação referente à necessidade de separar o ouro puro da psicanálise do cobre da sugestão direta É evidente que existem muitas formas de psicoterapia porém as de fundamentação psicanalítica não tem mais nada a ver com a aludida sugestão direta Pelo contrário ela vem adquirindo uma gradativa e crescente respeitabilidade como uma modalidade te rapêutica capaz de proporcionar resultados verdadeiramente psicanalíticos de sorte que a distância que separa a psicanálise da psi coterapia que já foi enorme aos poucos vai ficando reduzida Cabe citar algumas afirmativas de impor tantes autores a respeito dessa temática Assim é interessante a seguinte postulação de LRANGELL segundo uma citação de R WALLERSTEIN 1989 p310 A psicanálise propriamente dita e a psicoterapia psica nalítica ao final de um espectro são qua litativamente diferentes uma da outra se bem que existe um terreno fronteiriço de casos entre elas Uma comparação análoga pode realizarse entre o fato de que a cons ciência é distinta do inconsciente mesmo quando existe um préconsciente e diferen tes graus de consciência O dia é diferente da noite mesmo quando existe o crepúscu lo e o preto é diferente do branco não obs tante exista o cinza WALLERSTEIN e colaboradores após uma pes quisa iniciada por volta de 1950 de cinco anos de duração com todo rigor científico e sob os auspícios da Associação Psicanalí tica Americana conclui com a significativa observação de que Os resultados alcan çáveis e alcançados pelas psicoterapias de orientação analítica e pela psicanálise são muito mais próximos do que o originalmen te imaginado e que são bem menores as distinções claras entre os métodos técni cos e os mecanismos operativos na nature za e na permanência entre a psicanálise e as psicoterapias psicanalíticas do que habi tualmente se pensava 1989 p324 JOYCE MCDOUGALL 1991 p73 por sua vez afirma O grande diferenciador entre psi coterapia e psicanálise consistia no fato de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 343 que somente o aprofundamento possibili tado pelas peculiaridades dessa última é que permitiria uma reconstrução do passado como uma explicação para o comportamen to do presente do analisando No entanto esse aspecto na atualidade embora con serve a sua importância já não é mais con siderado um instrumento terapêutico tão mágico e exclusivo como se considerava até há algumas décadas Muitos outros fatores concorrem e que estão igualmente presen tes na prática das terapias analíticas Essa temática adquiriu tal relevância que está sendo seriamente enfrentada pelos atuais dirigentes da IPA tal como está ex plicitado neste último verbete Psiquismo fetal BION BION durante o período em que produziu sua obra com uma visão algo mística na década de 70 inspirouse numa frase que consta no trabalho Inibições sintomas e angústia 1926 onde FREUD afirma que A vida extrauterina e a primeira infância apresentam uma continuidade bem maior do que a impressionante cesura do ato do nascimento nos permite supor Lamentan do que FREUD não tenha investigado mais profundamente o contido nessa sua frase BION partiu da perspectiva de que impres sionante seria o fato de que deveria haver alguma coisa espiritual ou uma vida psí quica intrauterina BION sustentava essa especulação imagina tiva a partir dos estudos científicos dos em briologistas que encontraram no corpo adulto vestígios daquilo que primordialmen te eram os órgãos sensoriais e fisiológicos do feto Da mesma forma afirma não ter a menor dúvida de que o feto pode ouvir e responder a sons musicais tanto os provin dos de dentro como os borborigmos intes tinais da mãe como os de fora será que o feto a termo registra uma discussão irada entre os pais Assim como dizia BION é certo que o feto movese no útero em res posta a determinados ritmos e responde à pressão dos dedos no ventre da mãe Transportando para a prática psicanalítica BION assevera que existem situações nas quais um paciente mostra grandes sinais de medo inexplicável embora possa ter apren dido a não demonstrálo e a tentar ignorá lo Ele achava conveniente pensar esse fato em termos de medo talâmico Assim na prática clínica em alguns pacientes ocorrem às vezes certas manifestações somatiformes que despertam sentimentos intensos e apa rentemente sem uma explicação lógica e que a intuição clínica do psicanalista perce be que elas têm uma origem muito rudimen tar BION exemplificava a existência de sen timentos subtalâmicos ou parassimpáticos es tabelecendo uma analogia com o fato de o sujeito ver estrelas e ter a impressão de luz caso o globo ocular for pressionado de modo brusco ou violento Essa é uma resposta anô mala que clinicamente pode aparecer sob uma forma de escotomas ou de enxaqueca mas que pode ser um remanescente das res postas embrionárias da cavidade óptica ante as pressões do meio aquoso intrauterino Aliás esse aprofundamento que BION fez em relação às impressões sensoriais e neurofi siológicas decorrentes de um protopsiquis mo embrionário e fetal está começando a ter reconhecimento psicanalítico O eminen te autor MELTZER 1986 afirma que os estu dos de BION acerca do psiquismo fetal abrem uma importante porta para a compreensão dos fenômenos psicossomáticos Por outro lado também impõese registrar que essas conjecturas imaginativas a expressão é dele de BION feitas numa época em que não existia a atual tecnologia médica têm sido amplamente comprovadas por recentes tra balhos de pesquisa como os de ALESSAN DRA PIONTELLI tal como aparece em seus li vros e no artigo Observações de crianças desde antes do nascimento 1996 Ver o verbete Fetal psiquismo 344 DAVID E ZIMERMAN Publicação BION Na obra de BION o termo publicação refe rese à capacidade de o indivíduo tornar os dados sensoriais e emocionais acessíveis à sua consciência de sorte que isso pode ad quirir um cunho privativo ou estar em con dições de ser tornado público Nesse último caso BION dá o nome mais específico de comunicação porque alude ao fato de que determinado enunciado adquiriu um grau de abstração que possibilita vir a ser conce bido como uma forma de publicação pu blic action ou seja tornar público um tex to ou uma idéia que favoreça estabelecer uma correlação com o senso comum ver esse verbete Pulsões FREUD Inicialmente convém lembrar que há uma equivalência na literatura psicanalítica en tre os termos instintos impulsos impulsos instintivos e pulsões Isto se deve ao fato de que as primeiras traduções dos textos de FREUD notadamente a da Standard Editi on realizada por Strachey não levaram em conta que FREUD utilizou as palavras Instinkt e Trieb no original alemão com significa dos bem distintos entre si e não como sinô nimos Ver o verbete Instintos Em muitos dos seus textos como em Três teorias sobre a sexualidade 1905 FREUD afirmou que a pulsão representa o conceito de algo que é limite entre o somático e o psíquico Ele também definiu que toda pul são implica a existência de quatro fatores que lhe são inerentes uma fonte uma for ça uma finalidade e um objeto A discrimi nação conceitual de cada um desses quatro termos segue abaixo 1 A fonte Quelle no original alemão das pulsões provém das excitações corporais ditadas pela necessidade de sobrevivência 2 A força Drang determina o aspecto quantitativo da energia pulsional ou seja representa o importante aspecto econômi co do psiquismo Pode ser comparado ao conceito de um quantum de excitação que tende à descarga 3 A finalidade Ziel primariamente é a descarga da excitação para conseguir o retorno a um estado de equilíbrio psíqui co segundo o princípio da constância também conhecido como princípio da homeostasia Ambos os termos são equi valentes à busca do princípio de Nirva na o qual alude ao fato de o organismo tentar reproduzir o idílico estado intraute rino 4 O objeto Objekt bastante variável e mutável é o capaz de satisfazer e apazi guar o estado de tensão interna oriundo das excitações do corpo ou que no mínimo sirvalhe como um mero depósito de des carga Além destes fatores podese depreender dos trabalhos de FREUD mais estas característi cas que acompanham as pulsões o deslo camento da pulsão de uma zona corporal para outra o intercâmbio entre as pulsões a compulsão à repetição e as transforma ções das pulsões A cada finalidade pulsional corresponde um determinado objeto Um exemplo simples é a fome cuja finalidade é sua satisfação e cujo objeto é o alimento No caso em que o objeto do investimento pulsional seja o próprio sujeito já estamos falando de nar cisismo Inicialmente FREUD postulou a existência de duas pulsões 1 As pulsões do ego também chamadas de autopreservação ou de interesses do ego 2 As pulsões sexuais também co nhecidas como de preservação da espé cie às quais ele denominou libido em latim designa desejo que em termos genéricos designa todas as pulsões res ponsáveis por tudo aquilo que compre endemos sob o nome de amor FREUD 1921 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 345 A partir de Além do princípio do prazer 1920 a dualidade inicial que diferencia va as pulsões do ego e as pulsões sexuais cedeu lugar a uma nova dualidade 1 As pulsões de vida Eros 2 As pulsões de morte Tânatos concep ção pulsional que ele conservou definiti vamente em sua obra Igualmente FREUD concluiu que o ego ti nha uma energia própria independente da sexualidade provinda do id As pulsões de vida passaram então a abranger as pulsões sexuais e as de auto conservação de modo que a libido passou a a ser conceituada como energia não mais da pulsão sexual unicamente mas sim pro vinda da pulsão de vida assim unificando ambas Ver os verbetes Autoconservação Interes ses do ego Instintos e Morte pulsão de Pulsões e suas vicissitudes As FREUD 1915 Entre 15 de março e 4 de maio de 1915 FREUD escreveu os Cinco trabalhos sobre metapsi cologia sendo um deles As pulsões e suas vicissitudes Nessa obra ele define pulsão como um conceito na fronteira entre o men tal e o somático ou seja o representante psí quico dos estímulos que se originam no inte rior do organismo e chegam à mente Para FREUD em qualquer situação a meta de uma pulsão é a satisfação que só pode ser obtida através da eliminação do estado de estimulação na fonte da pulsão Ademais ele afirma que a característica essencial das vicis situdes sofridas pelas pulsões reside na sujei ção delas à influência das três grandes polari dades que dominam a vida mental 1 A de atividadepassividade como bio lógica 2 A do egomundo exterior como real 3 A de prazerdesprazer como econômica As pulsões e suas vicissitudes aparece no volume XIV p137 da Standard Edition Brasileira VVM EUROPE Car Parts Group BV infovvmeuropacom wwwvvmeuropacom Part of VVME Car Parts Internationals Your Volvo Parts Specialist Q FREUD Em seu trabalho Projeto para uma psico logia científica para neurólogos 1895 FREUD emprega a letra Q para designar a quantidade ou seja a energia que circula pelos neurônios capaz de deslocamento e descarga No entanto essa noção de quan tum apresenta alguma dificuldade nos tex tos de FREUD pelo fato de ele representála de forma algo ambígua tanto por Q quan to por Qn GARCIAROZA um profundo estudioso de FREUD em seu livro Introdução à Metapsi cologia Freudiana I sugere a conveniência de se considerar Q como designando a quantidade de excitação ligada à estimula ção sensorial externa e Qn como designan do a quantidade de excitação interna de ordem intercelular Ou ainda Qn como sen do de ordem psíquica e Q indicando uma quantidade externa Quantidade de investimento libidinal FREUD Essa terminologia corresponde ao ponto de vista econômico de FREUD Assim a pulsão é postulada por ele como um elemento quantitativo da economia psíquica segun do sua hipótese que explicaria o funciona mento do aparelho psíquico a partir dos modelos científicos da física mecanicista de sua época Desse modo os processos mentais consisti riam na circulação e repetição de uma ener gia pulsional catéxis de grandeza variável e que sofre a ação de uma contracatéxis ou seja de um contrainvestimento Esse último conceito de contracarga aparece no trabalho O inconsciente1915 e nele FREUD mostra que essas energias contrainvestidas pela ação mecanismos de defesa são per manentes e criam resistências A maior crítica que se faz a esse ponto de vista econômico decorre justamente do fato de ter sido elaborado por FREUD a partir das concepções fisicalistas que surgiram no fi nal do século XIX quando além dos prin cípios e leis da hidráulica também ocorre ram as descobertas da eletricidade e do neurônio Desse modo FREUD estabeleceu a concep ção de que uma energia física percorria as vias nervosas neuronais tal como a ener gia elétrica percorre os fios Em algum mo mento de sua obra ele chegou a evidenciar a esperança de que no futuro a energia psí quica poderia vir a ser quantificada O modelo mecânico quantitativo emprega do por FREUD embora esteja ressurgindo Q 348 DAVID E ZIMERMAN para explicar situações como o das neuro ses atuais está amplamente superado na atualidade por outros modelos como o da cibernética pelo qual uma energia mínima e não específica pode desencadear despro porcionais reações em cadeia e de efeitos retroativos ou o da moderna física quânti ca que desvenda os segredos subatômicos num campo onde uma mesma matéria conforme as condições do observador tan to pode manifestarse como onda ou como partícula Comentário Cabe acrescentar creio mais dois aspectos 1 O conceito de intensidade ver esse ver bete o qual é diferente de quantidade 2 O que talvez possa ser chamado poten cialidade para uma transformacilidade da energia psíquica tal como acontece por exemplo com a metáfora de uma queda dágua que tanto pode arrasar uma lavou ra próxima como pode darlhe vida e cres cimento se a água for adequadamente dre nada Alem disso a queda podese trans formar em energia elétrica etc Quantum de afeto FREUD Expressão que exprime a hipótese econô mica de FREUD Também aparece sob os nomes de energia de investimento força pulsional pressão da pulsão ou libido quan do a pulsão sexual é a única que está em causa Na maioria das vezes FREUD emprega quan tum de afeto quando trata do destino do afeto e da sua independência em relação à representação tal como aparece nessa afir mativa de 1984 Nas funções psíquicas há razão para distinguir alguma coisa quan tum de afeto soma de excitação que pos sui todas as propriedades de uma quanti dade ainda que não estejamos habilita dos a medila alguma coisa que pode ser aumentada diminuída deslocada descar regada e se espalha sobre os traços mnési cos das representações mais ou menos como uma carga elétrica sobre a superfície dos corpos O conceito de quantum de afeto não é des critivo mas metapsicológico Assim em seu artigo sobre metapsicologia Recalcamen to 1915 FREUD afirma que O quantum de afeto corresponde à pulsão na medida em que esta se destacou da representação e encontra expressão adequada à sua quan tidade nos processos que se tornam sensí veis para nós como afetos Questão da análise leiga A FREUD 1926 Título de um livro de FREUD publicado em 1926 com o subtítulo Conversas com um interlocutor parcial Nesse livro ele abor da os problemas pertinentes ao direito ou não de a psicanálise poder ser exercida por nãomédicos Também faz um aprofunda mento sobre o próprio movimento piscana lítico internacional e a ideologia que deve ria reger a formação de novos psicanalis tas A motivação para escrever esse livro come çou com uma denúncia que uma expaci ente apresentou contra OTTO RANK com uma séria ameaça de um processo com base em antiga lei austríaca que proibia o charlata nismo FREUD saiu em defesa do amigo e discípulo tentando demover as autoridades com o argumento de que o leigo ou profa no não era o analista nãomédico mas qual quer um que não tinha adquirido uma for mação tanto teórica quanto técnica em psicanálise possuísse ou não um diploma de medicina A firme posição tomada por FREUD em de fesa da análise leiga dividiu os analistas de todo mundo filiados à IPA O bloco estado unidense moveu uma feroz reação a ponto de ABRAHAM BRILL então presidente da Sociedade de Psicanálise de Nova York ter ameaçado romper com FREUD Além dis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 349 so e coincidindo com a publicação do alu dido livro de FREUD o Estado de Nova York declarou ilegal a prática da análise por não médicos Enquanto isso os psicanalistas europeus fi caram divididos em duas facções alguns FERENCZI GLOVER propondo que a psica nálise se tornasse totalmente autônoma em relação à medicina ao mesmo tempo que outros EITIGON JONES pugnavam para que ela continuasse sendo uma profissão médica Por fim RANK se beneficiou com o veredic to de improcedência da acusação mas a questão prolongouse por muito tempo notadamente com os americanos que só muito recentemente aderiram à aceitação de psicanalistas nãomédicos O fato serviu para demonstrar que FREUD mantinha uma total coerência com as suas posições que não se deixava intimidar por pressões Prova disso é que sabedor em 1938 de que corria um boato nos Estados Unidos que te ria mudado sua opinião em relação à análise leiga FREUD reafirmou energicamente Não consigo imaginar de onde possa ter vindo esse boato estúpido com respeito à minha mudan ça de opinião sobre a questão da análise pra ticada por nãomédicos A verdade é que nunca repudiei minhas colocações e que as defendo com vigor ainda maior do que an tes diante da evidente tendência dos norte americanos de transformarem a psicanálise numa criada da psiquiatria O trabalho A questão da análise leiga composto de sete partes e um pósescrito está publicado na Standard Edition no volume XX p209 ocu pando cerca de 75 páginas End conversations quickly by combining closing statements R BION Dentre os seis elementos de psicanálise pro postos por BION consta o da relação I R ou seja da Idéia ver esse verbete com a Razão No capítulo oitavo de Elementos em Psica nálise 1963 BION afirma que a razão tem a função de administrar as pulsões de vida e de morte que em sua forma rudimentar servem de escravas da paixão As pulsões são forçadas a submeterse à razão que assim se torna senhora das paixões e ge nitora da lógica Desse modo conclui BION a busca de sa tisfação de desejos incompatíveis conduz à frustração e o predomínio do princípio da realidade estimula o desenvolvimento do pensamento e do pensar da razão e a da percepção da realidade psíquica e ambien tal Rabisco jogo do WINNICOTT Ver o verbete Jogo do rabisco Racionalização Termo freqüentemente empregado dentro e fora da psicanálise foi introduzido por E R JONES em 1908 no artigo A racionaliza ção na vida cotidiana Como o nome su gere está ligado ao uso da razão por parte do sujeito para apresentar uma explicação coerente do ponto de vista da lógica ou para encontrar uma justificativa do ponto de vista moral para uma atitude uma con duta uma idéia um sentimento etc cujos motivos verdadeiros de alguma forma ele nega Um bom exemplo metafórico está na co nhecida fábula da raposa que não conse guindo ter acesso às apetitosas uvas que cobiçava racionalizou que elas não interes savam porque estavam verdes De forma análoga a racionalização encon tra sólidos apoios nas ideologias constituí das na moral comum na doutrina religio sa nas convicções políticas nos fundamen tos científicos etc Diferentemente de sua conceituação por muitos analistas a racionalização não deve ser classificada como uma modalidade de mecanismo de defesa apesar de sua mani festa função defensiva porque não é dirigi da diretamente contra a satisfação pulsio nal antes ela disfarça os diversos elemen tos do conflito defensivo Assim é possível que certas defesas sintomas resistências e outras situações equivalentes que se pas 352 DAVID E ZIMERMAN sam no campo analítico sejam racionaliza das pelo paciente às vezes com argumen tação frágil que deve ser trabalhada na aná lise Porém às vezes a argumentação raci onalizada está fortemente ancorada em fa tos reais e torna o trabalho analítico mais difícil Embora a intelectualização possa estar a serviço da racionalização e sejam aproxi mados são no entanto conceitos diferen tes e devem ser bem distinguidos Racker Henrique Nascido na Polônia em 1910 Racker estu dou em Viena onde também exerceu a arte da música Formado em medicina fez aná lise com LAMPLDE GROT Em 1939 emigrou para a Argentina e instalouse em Buenos Aires onde retomou sua formação didática com AGARMA e depois com MLANGER Em 1947 tornouse membro da Associação Psicoanalítica Argentina APA da qual veio a ser um dos mais proeminentes membros Além da psicanálise RACKER interessouse por antropologia filosofia estética e histó ria das religiões No campo da psicanálise RACKER de formação fundamentamente klei niana celebrizouse pelos mesmos estudos que simultaneamente P HEIMANN fazia em Londres sem um saber do outro sobre con tratransferência sob o vértice de que ela poderia servir como um excelente instru mento técnico para o analista Esses estu dos aparecem no livro Estudos sobre a téc nica psicanalítica 1968 Depois de sua morte prematura ocorrida em 1961 seu nome foi dado a um Centro de Pesquisas e de Formação para Análise Didática Rank Otto Nascido em 1908 nos arredores de Viena filho de uma família judia de classe média O RANK cujo verdadeiro sobrenome era Rosenfeld teve uma infância e adolescên cia tristes como descreve em seu Diário de um adolescente Foi assim que eu cresci entregue a mim mesmo sem educação sem amigos e sem livros Na verdade ele so fria muito por um reumatismo articular agu do por uma feiúra física e pelas constantes brigas violentas com o pai alcoolista invete rado e dado a graves crises de cólera Além disso dizem seus biógrafos apresen tava sintomas obsessivos e fóbicos temero so de contágio por micróbios e evitando relações sexuais Mais ainda RANK sofria de crises de depressão intercaladas com esta dos de exaltação o que lhe valeu por parte de alguns analistas do círculo freudiano como o seu desafeto EJONES o rótulo de psicóticomaníacodepressivo Em 1905 depois de ter lido A interpretação dos sonhos aproximouse de FREUD e foi admitido no estreito círculo da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Demonstrou um apaixonado interesse pela psicanálise o que sensibilizou FREUD que logo o consi derou como seu filho adotivo Em 1909 RANK publica seu grande livro O mito do nascimento do herói Com a idade de 28 anos já tinha publicado quatro livros versando sobre literatura mitos e incesto Em 1924 começa a se afastar da doutrina freudiana clássica e publica seu célebre li vro O trauma do nascimento Nele longe de se ater à concepção clássica do comple xo de Édipo considera que essa primeira separação do bebê da mãe constitui o pro tótipo da angústia psíquica Nesse mesmo ano juntamente com FERENCZI publica Pers pectivas da psicanálise onde é criticada a rigidez das regras psicanalíticas Dois anos depois em 1926 ele propôs a chamada terapia ativa preconizando tratamentos cur tos e limitados previamente no tempo Como RANK não era médico e não tinha sido analisado foi alvo do ataque de muitos co legas europeus e sobretudo americanos Tornouse pivô da crise da Questão da aná VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 353 lise leiga ver esse verbete sendo posterior mente em 1930 quando começava uma fulgurante carreira nos Estados Unidos ex cluído da IPA e seus analisandos america nos foram intimados a fazer nova análise RANK instalado definitivamente nos Estados Unidos vivendo ao lado de sua segunda esposa veio a falecer em 1939 algumas semanas após a morte de FREUD vitimado por uma agranulocitose causada pelos efei tos secundários das sulfamidas com as quais se tratava Reação terapêutica negativa FREUD M KLEIN J RIVIÈRE A expressão reação terapêutica negativa aparece pela primeira vez no capítulo V As servidões do ego do trabalho O ego e o id 1923 onde Freud afirma textualmente Há pessoas que se conduzem muito sin gularmente no tratamento psicanalítico Quando lhes damos esperanças e mostra monos satisfeitos com a marcha do trata mento mostramse descontentes e pioram acentuadamente Descobrimos com efeito que tais pessoas reagem num sentido inver so aos progressos da cura Cada uma das soluções parciais que haveria de trazer con sigo um alívio ou um desaparecimento tem porário dos sintomas provoca ao contrá rio uma intensidade momentânea da doen ça e durante o tratamento pioram no lu gar de melhorar Mostramnos pois a cha mada reação terapêutica negativa É indubi tável que nestes doentes há algo que se opõe à cura a qual é considerada por eles como um perigo e que neles predomina a necessi dade de doença e não a vontade de cura Não raramente impasse e reação terapêu tica negativa aparecem como sinônimos mas prevalece a idéia de que não o são Assim convém registrar a esclarecedora posição assumida pela psicanalista argenti na M BARANGER que em uma participação na MesaRedonda sobre Resistências 1979 afirmou que o impasse referese a uma forma de resistência que ocorre como estagnação de um processo que vinha em pro gresso às vezes é possível superálo e outras vezes termina com uma interrupção da análi se em que o paciente leva os benefícios con seguidos Isso o diferencia da RTN em que tudo volta à estaca zero e o epílogo da análi se pode adquirir características trágicas Quanto às causas geradoras da RTN cabe assinalar de forma altamente resumida as três clássicas 1 FREUD destacou o masoquismo moral e os sentimentos de culpa ligados a uma ne cessidade de castigo diretamente devidos à obtenção de um triunfo edípico tal como é representado na mente do paciente dian te do êxito analítico Posteriormente em 1937 FREUD incluiu na etiologia da RTN a pulsão de morte e a compulsão à repetição 2 JOAN RIVIÈRE no trabalho Contribuición al análisis de la reacción terapéutica negati va 1936 estabeleceu uma relação entre a RTN e um sistema fortemente organizado de defesas maníacas contra um subjacente estado depressivo do analisando que ele teme o levaria à loucura ou ao suicídio RI VIÈRE acima de tudo destaca a necessidade de a análise propiciar reparações verdadei ras a suas vítimas reais ou imaginárias que jazem no seu cemitério interior 3 M KLEIN enfocou a importância da inve ja na determinação da RTN como está evi denciado nesta frase de seu trabalho Inveja e Gratidão 1957 Além dos fatores assi nalados por Freud e desenvolvidos por J Rivière a inveja e as defesas contra ela de sempenham um papel importante na RTN Comentário A esses três clássicos fatores na determinação da RTN o triunfo edípi co a depressão subjacente e a inveja na atualidade cabe acrescentar mais dois ou tros igualmente freqüentes e relevantes 1 A presença de uma organização patoló gica sob a forma de uma gangue narcisis ta agindo contra dentro do próprio ego 354 DAVID E ZIMERMAN 2 A presença de um conflito entre o ideal do ego do analisando por exemplo ele pode ter sido programado para nunca su perar os irmãos e o êxito analítico Real registro do LACAN O termo real foi cunhado por LACAN inspi rado em conceitos da filosofia e por ele in troduzido na psicanálise em 1953 Não tem a acepção habitual pelo contrário LACAN o define como aquilo que é impossível de ser completamente simbolizado na palavra ou na escrita de modo que o real só pode ser definido em relação ao simbólico e ao ima ginário com os quais forma uma estrutura Para LACAN aquilo que não veio à luz no simbólico reaparece no real Assim liga o fenômeno das alucinações e o das idéias delirantes dos psicóticos a sua concepção do real na medida em que esse está pre sente desde o início da vida nem que seja através de percepções primordiais e é com posto pelos significantes que foram foraclu ídos recusados pelo registro simbólico Realidade princípio de FREUD Em Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental 1911 FREUD mostrou que o bebê na vigência do princí pio de prazer diante da ausência da mãe utiliza o recurso de uma satisfação aluci natória do desejo Porém à medida que a alucinação do seio não satisfaz sua fome ele vai sendo obrigado a aceitar o princípio de realidade de modo a desenvolver as capacidades de espera postergação da sa tisfação antecipação da mãe que aparece rá mais tarde bem como ele utilizará com mais maturidade seus órgãos sensoriais para fazer uma aproximação com a realidade no lugar do imaginário Assim o princípio de realidade pode ser encarado psicanaliticamente a partir de três enfoques 1 Do ponto de vista econômico correspon de a uma transformação de energia livre em energia ligada 2 Do ponto de vista topográfico o princí pio de realidade vai conectandose primor dialmente com o sistema conscientepré consciente CsPcs 3 Do ponto de vista dinâmico estrutural esse princípio confere ao ego um papel fun damental quanto ao destino das pulsões O princípio do prazer e o princípio de reali dade foram valorizados tanto por FREUD como por BION pelo vértice da satisfação ou da frustração das necessidades e dos dese jos A frustração leva à necessidade de mu dar a realidadeo que dá início ao processo do pensamento Realidade psíquica FREUD Bastante empregado na psicanálise desde os primórdios até a atualidade o termo rea lidade psíquica foi introduzido por FREUD Ao abandonar sua teoria da sedução pela qual tentava explicar as neuroses pelas re miniscências de traumas infantis realmente acontecidos ele passou a considerar que as fantasias têm o mesmo valor patogênico que as reminiscências e ao mesmo tempo atri buiu ao inconsciente o primado do apare lho psíquico Assim ele afirma que As fan tasias possuem uma realidade psíquica oposta à realidade material no mundo das neuroses é a realidade psíquica que desempenha o papel dominante Ao longo da história da psicanálise a noção de realidade psíquica sofreu várias reinterpre tações especialmente por parte de M KLEIN e de todos autores que se dedicaram ao estudo do desenvolvimento emocional primitivo e ao tratamento com psicóticos Essa temática con tinua em plena vigência sendo motivo de debates como tema oficial em congressos de psicanálise da IPA o que tem permitido uma rica visualização a partir de distintas aborda gens teóricas e clínicas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 355 Realização BION Na terminologia empregada por BION o con ceito de realização tal como a palavra mos tra se refere ao fato de que uma précon cepção por exemplo o conhecimento ina to do seio necessita de um seio real logo realização para satisfazer a necessidade do bebê A realização pode ser positiva caso o seio tornarse de fato real e presente ou negativa caso o seio necessitado está au sente e será introjetado como um presente seio ausente ou um nãoseio É possível depreender das descrições de BION que não devemos confundir realiza ção com concretização A primeira abre as portas para o caminho de uma simboliza ção enquanto a segunda implica uma mera satisfação concreta das demandas A préconcepção quando fecundada por uma realização positiva produz uma con cepção enquanto a préconcepção subme tida a uma realização negativa abre o ca minho para a produção da capacidade para pensar os pensamentos É útil frisar que a realização está diretamen te ligada ao problema das frustrações ou seja tanto é necessário que aconteçam rea lizações positivas quanto negativas desde que as duas existam concomitantemente e que nenhuma delas seja excessiva Ver verbetes Frustração Préconcepção Pensar Realização WINNICOTT Em seu livro Desenvolvimento emocional primitivo 1944 WINNICOTT especifica três processos que constituem os primórdios da realidade interna e que começa muito cedo integração personalização e depois destes a apreciação das noções de tempo e do es paço e de outras propriedades que põem o bebê em contacto com a realidade em suma uma realização ou uma adaptação à realidade estruturante Reativa formação Ver o verbete Formação reativa Recalcamento O FREUD 1915 Recalcamento no original alemão Die Verdrängung constitui um dos cinco li vros dos Trabalhos sobre metapsicologia escritos em 1915 Nele FREUD considera que uma das vicissitudes que uma pulsão pode sofrer é encontrar resistências que procurem tornála inoperante Sob certas condições a pulsão passa então para o estado de recalqueTornouse uma con dição para o recalcamento que a força do desprazer adquira uma força superior ao do prazer obtido com a satisfação FREUD também afirma que há motivos para supor que exista um recalcamento primitivo corresponde ao conceito de repressão primária uma primeira fase do recalque que consiste no fato de o repre sentante psíquico da pulsão ter barrada sua entrada no consciente desde o iní cio Esse artigo aparece no volume XIV p169 da Standard Edition Brasileira Recalque ou recalcamento FREUD O termo original alemão empregado por FREUD Verdrängung habitualmente apa rece traduzido como recalque ou recalca mento ou ainda como repressão embo ra a adequação da última tradução seja discutível Fundamentalmente o concei to de recalque está ligado a um processo pelo qual o sujeito procura repelir ou manter oculto no inconsciente as repre sentações de pensamentos imagens fan tasias e recordações que estejam ligadas a algum desejo pulsional proibido de sur gir no consciente Portanto o recalcamento não se dá direta mente contra as pulsões porque essas são 356 DAVID E ZIMERMAN biologicamente determinadas nem direta mente contra os afetos mas sim contra suas representações e seus derivados O mecanismo de recalque foi especialmen te estudado e descrito por FREUD ao tratar suas pacientes histéricas porém aos pou cos foi dando uma relevância nuclear a sua presença em todas as situações neuróticas e inclusive na psicologia normal conforme a sua afirmativa de 1914 A teoria do re calque é a pedra angular em que assenta todo o edifício da psicanálise Em O recalcamento 1915 FREUD distin gue três modalidades do movimento do re calque 1 O que denomina recalque originário ou primário que consiste num primeiro mo mento em que os representantes pulsionais nunca chegam a ter acesso ao sistema cons cientepréconsciente CsPcs e se mantêm fixados no inconsciente funcionando como um modelo e um pólo de atração para os demais recalques 2 O recalque propriamente dito ou se cundário como é conhecido o qual já im plica a ação de uma repulsa por parte de uma instância superior tanto do supere go inconsciente como da pressão da mo ral consciente 3 O terceiro momento se refere ao retorno do recalcado sob a forma de sintomas so nhos lapsos atos falhos etc Recomendações aos médicos que exer cem a psicanálise FREUD1912 Título de um dos mais importantes artigos sobre técnica no qual FREUD faz algumas recomendações ao analista tais como 1 Não fazer confusão quanto a nomes da tas lembranças material de outros pacien tes 2 Dar atenção a tudo que lhe é comunica do 3 Não tomar notas durante a sessão por que cerceiam a atividade mental do analis ta e causam uma impressão desfavorável para o paciente 4 Nunca trazer à baila seus próprios senti mentos ou seja o médico deve ser opaco para os seus pacientes e não deve mos trarlhes nada além do que for mostrado como um espelho 5 A capacidade intelectual do paciente não deve ser computada como fator favorável para a análise 6 Não é bom trabalhar cientificamente so bre um caso enquanto a análise estiver em andamento 7 O sentimento mais perigoso para um psicanalista é a sua ambição terapêutica de alcançar por intermédio desse méto do novo e muito discutido algo que pro duza um efeito convincente sobre outra pessoa O trabalho está publicado no volume XII p 149 da Standard Edition Brasileira Reconhecimento vínculo do Embora essa expressão não conste da ter minologia psicanalítica creio que cabe propor incluíla como acréscimo aos ou tros três vínculos clássicos o do amor o do ódio e o do conhecimento em razão de que durante a vida inteira todo e qualquer indivíduo vive permanentemen te em interação com os demais necessi tando vitalmente de obter alguma forma de reconhecimento O vínculo do reconhecimento se dá em qua tro dimensões 1 Fazer um reconhecimento voltar a co nhecer aquilo que já preexiste dentro dele 2 O reconhecimento do outro como pes soa autônoma e diferente dele 3 Ser reconhecido aos outros gratidão 4 Ser reconhecido pelos outros a come çar pelo bebê recémnascido que já ne cessita do olhar reconhecedor da mãe e essa necessidade prossegue com diversas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 357 variantes pela vida toda de qualquer pes soa Ver o verbete Vínculos Recordação encobridora FREUD Ver o verbete Lembrança encobridora Recordar repetir e elaborar FREUD 1914 Um dos três artigos sobre técnica os ou tros são Sobre o início do tratamento e Observações sobre o amor transferencial que constituem as Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise Nesse texto FREUD faz importantes obser vações sobre o fenômeno do acting Assi nalou que o paciente não se lembra de coi sa alguma que ele esqueceu e recalcou mas age acting out Ele reproduz a experiên cia não como lembrança e sim como ação repetea sem saber que está repetindo A própria transferência é apenas um fragmen to de repetição a repetição é uma transfe rência do passado esquecido FREUD destaca a importância de o analista lidar com a transferência e a resistência dos pacientes nessa situação e diz que na práti ca o primeiro passo do analista é o de re velar a resistência para o paciente A elabo ração das resistências pode constituir uma tarefa árdua para o paciente e um teste de paciência para o analista O artigo está no volume XII p193 da Stan dard Edition Brasileira Recusa da realidade FREUD LACAN Ver o verbete Denegação Regra fundamental técnica FREUD Técnica psicanalítica legada por FREUD tam bém conhecida como regra da livre associ ação de idéias Embora a regra fundamen tal justamente com essa denominação apa reça clara e explicitamente formulada por FREUD em Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise 1913 ela já apare ce bem delineada no seu trabalho Sobre a psicoterapia 1905 Essa regra consistia fundamentalmente no compromisso assumido pelo analisando de associar livremente as idéias que lhe surgis sem espontaneamente na mente e de ver balizálas ao analista independentemente de suas inibições ou do fato de ele julgálas importantes ou não O termo fundamental era apropriado pois seria impossível con ceber uma análise sem que o paciente trou xesse um aporte contínuo de verbalizações que permitissem ao psicanalista proceder a um levantamento de natureza arqueológica dos recalques acumulados no inconsciente de acordo com o paradigma vigente à época Nos primeiros tempos na busca do ouro puro da psicanálise1915 contido na lembrança dos traumas psíquicos FREUD instruía seus pacientes para contar tudo que lhes viesse à cabeça Para tanto ele forçava a livre asso ciação de idéias por meio de uma pressão ma nual na fronte do analisando Posteriormen te deixou de pressionar fisicamente porém continuava impondo essa regra através de uma condição obrigatória estabelecida na combinação inicial do contrato analítico bem como por um constante incentivo às associa ções de idéias no curso das sessões Foi no trabalho Dois artigos para enciclo pédia 1923 que FREUD definiu com pre cisão as três recomendações fundamentais que no início de qualquer análise o paci ente deve necessariamente cumprir 1 Colocarse numa posição de uma aten ta e desapaixonada autoobservação 2 Comprometerse a agir com a mais ab soluta honestidade 3 Não reter qualquer idéia a ser comuni cada mesmo quando sente que ela é de sagradável quando julga que é ridícula ou não tão importante ou irrelevante para o que se procura 358 DAVID E ZIMERMAN A regra fundamental nesses primeiros tem pos não se restringia apenas à imperiosa obrigação de o analisando cumprir a exi gência da livre associação dos pensamen tos e das idéias Antes ela se comportava como caudatária de uma série de outras tantas recomendações complementares que os analistas impunham desde a formaliza ção do contrato analítico como a de que o paciente usasse o divã se comprometesse com seis ou no mínimo cinco sessões se manais não assumisse nenhum compromis so importante sem antes examinálo exaus tivamente o rígido emprego de definidas fórmulas quanto ao modo de pagamento de faltas etc De lá para cá muita coisa mudou acompa nhando as mudanças ocorridas no próprio perfil do paciente do analista e do processo psicanalítico em si Porém em sua essência a regra fundamental continua vigente Regras técnicas FREUD Por meio de seus trabalhos sobre técnica psicanalítica mais consistentemente estuda dos e publicados no período de 1912 a 1915 FREUD deixou um importante e fun damental legado a todos os psicanalistas das gerações vindouras as regras mínimas que devem reger a técnica de qualquer proces so psicanalítico e que se referem mais dire tamente ora ao analisando ora ao analista Muito embora FREUD as tenha formulado como recomendações são habitualmente conhecidas como regras talvez pelo tom pedagógico e algo superegóico com que ele as incluiu nos seus textos Classicamente são quatro essas regras que não estão descritas num único bloco mas que facilmente podem ser garimpa das nesses escritos técnicos a regra fun damental a da abstinência a da neutra lidade e a da atenção flutuante Cada uma dessas aparece explicitada nos respecti vos verbetes Comentário Creio que é legítimo acres centar uma quinta regra a do amor à ver dade em razão da ênfase que FREUD em diversos textos deu à verdade e à honesti dade tanto para o paciente quanto para o analista como condição sine qua non para a prática da psicanálise Regressão como mecanismo de defesa FREUD Na edição de 1914 de A interpretação dos sonhos 1900 FREUD mais claramente de fine seu conceito de regressão com estas pa lavras textuais Distinguimos três espécies de regressões 1 Tópica no sentido do es quema do aparelho psíquico 2 Temporal em que são retomadas formações psíqui cas mais antigas 3 Formal quando os métodos de expressão e de figuração habi tuais são substituídos por modos primitivos Essas três formas de regressão na sua base são apenas uma e na maioria dos casos coincidem porque o que é mais antigo no tempo é igualmente primitivo na forma e na tópica psíquica situase mais perto da extremidade perceptiva Assim cabe dizer que a regressão tópica alude mais diretamente à noção de uma regressão da libido a um modo anterior de organização psíquica aparece mais mani festamente nos sonhos e nos fenômenos alucinatórios ou mesmo em processos nor mais em que usamos a memória e a imagi nação A regressão formal referese ao re torno do funcionamento psíquico do pro cesso secundário para o do processo pri mário levando em conta a hierarquia das funções e das estruturas Em relação à re gressão temporal FREUD distingue uma re gressão quanto ao objeto quanto à fase li bidinal e quanto a uma regressão que se dá na evolução do ego FREUD acreditava que o passado infantil do indivíduo e mesmo da humanidade permanece sempre em nós como aparece VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 359 nessa afirmativa de 1915 Os estados pri mitivos podem sempre ser reinstaurados O psíquico primitivo é no seu pleno sentido imperecível Comentário Mais três aspectos devem ser mencionados Um é que a etimologia do verbo regredir composta dos étimos latinos re uma volta para trás mais uma vez gradior movimento para alude claramen te a um movimento que se processa numa direção para trás na organização do psi quismo O segundo aspecto é que esse re cuo para trás busca pontos de fixação os quais podem ser compreendidos como trincheiras que foram seguras e protetoras e também como inscrições no ego de modo que a re gressão pode ser interpretada como uma for ma de expressão daquilo que foi inscrito nem sempre sob a forma de palavras e que pode assumir a modalidade de uma compulsão à repetição Por último cabe destacar que a regressão se manifesta em distintas dimensões além daquela que ocorre na prática analítica como transparece na manifestação de qua dros da psicopatologia sintomas sonhos história das civilizações somatizações etc Regressão a serviço do ego Psicólogos do Ego O conceito de regressão a serviço do ego foi apresentado pelo psicanalista ERNEST KRIS 1952 pertencente à Escola da Psicologia do Ego Com ele enfatiza que a regressão não é necessariamente permanente e que a maio ria das regressões particularmente as das fun ções do ego são provisórias e reversíveis Existem por outro lado inúmeros fenô menos regressivos que são particularmente impressionantes em especial pela forma de atuar a serviço do ego como são os casos por exemplo do analisando na situação ana lítica de um pai que regride ao nível da idade do seu filhinho quando brinca parelho com ele e da criação artística etc Reich Wilhelm Nascido na Galícia em 1897 de uma famí lia judia assimilada REICH fez seus estudos de medicina em Viena orientandose para a psiquiatria e a psicanálise Aos 14 anos sofreu um sério traumatismo emocional por sentirse responsável pelo suicídio de sua mãe ao revelar ao pai a ligação amorosa dela com um de seus preceptores A partir de 1924 REICH se interessou pelas obras de Marx e Engels para tentar mostrar a origem social das doenças mentais e ner vosas Em 1928 aderiu ao Partido Comu nista e um ano após publicou numa revis ta moscovita o manifesto Materialismo di alético e psicanálise que se constituiu o fundador do freudomarxismo De Viena passando por uma temporada em Moscou foi a Berlim onde fez análise com SANDOR RADO e integrouse à Sociedade Psi canalítica Devido a suas características de permanente crítico revoltado e iconoclasta REICH conseguiu se indispor tanto com os comunistas quanto com os psicanalistas e foi expulso de ambas entidades representa tivas Assim foi realmente em razão de sua adesão ao comunismo e não por uma dis cordância técnica e doutrinária que REICH 360 DAVID E ZIMERMAN foi perseguido pelo movimento freudiano hostilizado pelo próprio FREUD e por JONES que no início tinham lhe demonstrado sim patia Também foi expulso do Partido ale mão em 1933 no exato momento da to mada do poder por Hitler e exilouse na Dinamarca No mesmo ano de seu exílio REICH decidiu criticar a psicanálise clássica publicando A análise do caráter hoje considerado um importante clássico no qual adotava posi ções idênticas às de FERENCZI a respeito da técnica ativa Após a sua dupla exclusão da IPA e do movimento comunista REICH se sentiu terrivelmente perseguido separouse da sua mulher ANNIE REICH uma impor tante psicanalista e começou a dedicarse ao estudo da orgonoterapia ver esse ver bete que foi repudiado tanto pelos psiqui atras como pelos psicanalistas Por volta de 1942 começou a dar sérios si nais de descompensação psicótica com idéias delirantes de perseguição Em 1957 acusado de estelionato por ter comercializa do seus acumuladores de orgônio atmos férico que curariam os pacientes de sua impotência orgástica REICH foi recolhido preso à penitenciária da Pensilvânia onde morreu vítima de um ataque cardíaco Nos anos de 1965 a 1975 as teses de REICH reapareceram como bandeira da contestação libertária na maioria dos grandes países Reik Theodor Nascido em 1888 proveniente de uma modesta família judia de origem húngara REICK sofreu com a depressão da mãe e com a morte prematura do pai que ocorreu quando tinha 18 anos REICK era um erudi to em música apaixonado pelas melodias de GMAHLER literatura e antropologia Tornouse um eminente praticante da psi canálise aplicada Tinha tal veneração por FREUD que passou a usar uma mesma bar ba e a fumar os mesmos charutos do seu mestre a ponto de ter recebido no círculo vienense o apelido de símileFreud Da mesma forma FREUD gostava muito dele tendoo adotado como um filho espiritual Não sendo médico e não tendo recursos econômicos foi auxiliado financeiramente por FREUD para fazer sua análise com ABRAHAM Foi em 1925 que denunciado por uma ex paciente estourou o caso do processo por exercício ilegal da medicina que provocou uma verdadeira tempestade no seio do movimento psicanalítico internacional ten do FREUD se posicionado firmemente a seu favor o que deu origem à acirrada questão da análise leiga Perseguido pelo nazismo REICK emigrou para os Estados Unidos instalandose em 1938 em Nova York Apesar de sua notori edade pelo fato de não ter a titulação de médico não foi admitido na Sociedade Psi canalítica e veio a sofrer forte hostilidade Além de autor de trabalhos brilhantes como o Como chegar a ser psicólogo REICK unido a outros psicanalistas emigrados como W STECKEL e FALEXANDER contestou os princípios ortodoxos do tratamento e pre gou a humanização da técnica desenvol vendo a tese de escutar com um terceiro ouvido segundo a qual o analista deveria usar sua intuição na relação contratransfe rencial com o paciente Vítima de uma crise cardíaca REICK morreu em 1969 aos 81 anos Relação objetal M KLEIN Expressão bastante freqüente em toda lite ratura psicanalítica Tanto designa as formas de como se configuram as interrelações do sujeito com o seu mundo exterior quanto de como os objetos se organizam e se rela cionam no mundo interno Embora FREUD tenha deixado implícita a noção de relações objetais tendo inclusive VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 361 expressado que a sombra do objeto recai sobre o ego 1917 ele nunca deu ênfase especial à abordagem das relações objetais como são entendidas na atualidade e mui to menos fazia parte do seu corpo doutri nário Quando FREUD se referia a objetos era mais para acentuálos como sendo o alvo da pulsão Ao mesmo tempo sempre re feria a noção de objeto como sendo uma totalidade M BALINT foi na década de 30 um dos au tores que mais destaque deram às relações objetais Porém não cabem dúvidas de que M KLEIN foi quem mais aprofundou os es tudos relativos às relações objetais sobre tudo em relação aos seguintes aspectos 1 Não considerar mais o sujeito num esta do isolado fazendo investimentos nos ob jetos e escolhas de objetos como uma for ma de obedecer às pulsões Antes qualquer ser humano está desde o nascimento numa permanente interação com o meio 2 Os objetos inicialmente são parciais so frem uma forte influência das fantasias in conscientes e através de um constante jogo de identificações projetivas e introjetivas constituem objetos bons ou maus determi nando uma ação tranqüilizadora ou perse cutória sobre o sujeito em todas as suas re lações com o mundo Sempre devese le var em conta que a percepção do mundo exterior está diretamente ligada e tingida pela realidade interior Em razão disso cabe dizer que muitas vezes o tipo e a escolha dos objetos exteriores não são mais do que um prolongamento da configuração obje tal interiorizada LACAN por sua vez mais do que as fantasi as inconscientes valorizou nas relações ob jetais a importância da linguagem a que a criança foi submetida Portanto de FREUD para cá o termo fase que sugere uma forma mais fixa e predeter minada da relação objetal cedeu lugar à expressão relação objetal a qual permite uma maior plasticidade para conceber que em determinado sujeito se combinam ou al ternam diversos tipos de relação de objetos Reparação M KLEIN Termo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar um de seus conceitos mais fundamentais qual seja o de o sujei to desde a condição de criança poder re parar no sentido de consertar os danos que teria causado tanto na realidade como no seu mundo de fantasias por meio de um sadismo destrutivo contra os objetos ne cessitados e ambivalentemente amados É no artigo O luto e suas relações com os estados maníacodepressivos 1940 que MKLEIN distingue as falsas reparações das reparações verdadeiras Em relação às primeiras diz que as repara ções maníacas trazem em si uma nota de triunfo na qual o sujeito sentese poderoso invertendo a relação de submissão que ti nha em relação aos pais a ponto de mui tas vezes desenvolver uma ideação deliran te de encontrar fórmulas mágicas para ma les como a cura do câncer etc Refere tam bém a falsa reparação obsessiva que con siste de uma repetição compulsiva de atos de tipo anulatório e de formações reativas destinada a aplacar sua vítima agora per seguidor sem que haja nos seus intentos reparatórios um elemento criativo realmen te objetivo As reparações verdadeiras por sua vez re presentam ser para a criança igualmente para o adulto como fica bem evidenciado no processo analítico altamente estruturan tes porque possibilitam a transformação dos objetos maus em bons Além disso acentua MKLEIN representam a vitória das pulsões de vida no seu embate contra as pulsões de morte assim possibilitando uma reparação baseada no amor e de respeito pelo objeto e que resulta em realizações verdadeiramen te criativas 362 DAVID E ZIMERMAN Acima de tudo MKLEIN considera a capaci dade de fazer reparações como condição intimamente ligada à posição depressiva o que implica uma capacidade de reconhe cer uma gratidão por quem o ajudou de modo a desenvolver uma preocupação sa dia pelo outro e a capacidade de integrar os aspectos ambivalentemente dissociados do objeto Repetição compulsão à FREUD Ver o verbete Compulsão à repetição Representação FREUD O termo Vorstellung empregado no origi nal por FREUD e traduzido por representa ção faz parte do vocabulário clássico da fi losofia alemã onde designa aquilo que se representa como sendo o conteúdo concre to de um ato de pensamento FREUD po rém concebeuo psicanaliticamente de for ma distinta De fato desde a redescoberta dos trabalhos referentes ao Projeto 1895 e a Afasias 1896 a expressão representação ocupa lugar de alta relevân cia na literatura psicanalítica Assim nos primeiros tempos FREUD expli cava as neuroses com um enfoque na dis tinção que deveria ser feita entre a quanti dade de afeto teoria econômica despen dida e a representação patogênica Para ilus trar na neurose obsessiva a quantidade de afeto mobilizada é deslocada da represen tação diretamente ligada ao acontecimento traumatizante por exemplo a proibição superegóica da prática ou fantasia de mas turbação para outra representação que parece ser insignificante para o sujeito no caso uma lavagem compulsiva das mãos De forma análoga na histeria conversiva a quantidade de afeto é convertida em ener gia somática e a representação recalcada é simbolizada por alguma zona ou atividade corporal por exemplo o sintoma de uma cegueira histérica como simbolização de uma recalcada cena primária traumatizante De fato nessa oposição entre afeto e repre sentação o que é recalcado é a representa ção originária a qual se inscreve no incons ciente sob a forma de traços mnésicos sen do que FREUD distingue entre a representa ção de coisa e a representação de palavra Nos textos metapsicológicos FREUD faz uma distinção entre a representação que deriva da coisa a qual é essencialmente visual e que ainda não atingiu a condição de ser sim bolizada por palavras e aquela outra re presentação que deriva da palavra essen cialmente acústica À primeira ele denominou representação de coisa Dingvorstellung no original alemão cuja inscrição está basicamente no incons ciente A segunda foi denominada represen tação de palavra Wortvorstellung e está mais ligada ao sistema préconscientecons ciente A ligação entre esses dois tipos de representação é fundamental para o enten dimento da passagem do processo primá rio para o processo secundário Nos primeiros escritos tal como aparece no trabalho Para uma concepção das afasias um estudo crítico 1896 FREUD utiliza a expressão representaçãoobjeto Ob jektvorstellung com o mesmo significado que nos trabalhos metapsicológicos de 1915 aparece com o nome de representaçãocoi sa A rigor no artigo O inconsciente 1915 o conceito de representaçãoobjeto é mais abrangente porque não designa unicamente a coisa mas sua relação com a palavra dessa forma designando um signi ficado FREUD também mostrou que pode haver uma interposição entre a representação coisa também costuma ser grafada como representação de coisa e a representação palavra ou representação de palavra Isso acontece na esquizofrenia em que as re presentações de palavra são tratadas como se fossem coisas concretas segundo as leis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 363 do processo primário ou como acontece nos sonhos em que as representações de palavras pertencentes aos restos diurnos são tratadas como representações de coi sas devido ao fato de que as frases pro nunciadas na vigília da véspera do sonho mercê dos processos de deslocamento e de condensação próprios da formação dos so nhos são tratadas como representação de coisa O que FREUD denominou representação palavra e representaçãoobjeto correspon de ao que posteriormente o lingüista SAUS SURE o grande inspirador de LACAN veio a conceituar com as respectivas denomina ções de significante e de significado Representaçãocoisa FREUD Para explicar o que entende por represen taçãocoisa no original alemão aparece como Sachevorstellung ou como Dingvors tellung FREUD se refere ao funcionamento psicótico no qual a palavra em vez de re presentar a coisa é tomada como uma coi sa em simesma O esquizofrênico trata as palavras como uma coisa e regendose pelas leis do processo primário joga com ela pres cindindo completamente do significado As representaçõescoisa próprias do incons ciente não podem equipararse a alguma modalidade de cópia de um objeto ou a uma imagem dele FREUD dizia que a repre sentaçãocoisa consiste num investimento se não da imagem mnêmica direta da coi sa pelo menos de restos mnêmicos mais distanciados derivados dela Em resumo a representaçãocoisa não é a representação de um objeto que seria o representado An tes disso designa a matéria a qualidade do texto da representação Representaçãopalavra FREUD Numa importante passagem do capítulo VI de Afasias 1896 FREUD afirma que Para a psicologia a palavra é a unidade de base da função de linguagem que evidencia ser uma representação complexa composta de elementos acústicos visuais e cinestésicos Geralmente são mencionados quatro componentes da representaçãopalavra a imagem acústica a imagem visual da letra a imagem motora da linguagem e a ima gem motora da escritura Assim diferentemente das representações coisa sediadas no inconsciente as repre sentaçõespalavra têm por sede o précons ciente e estão vinculadas à verbalização e a uma possível tomada de consciência Se gundo FREUD 1915 A representação cons ciente engloba a representaçãocoisa mais a representaçãopalavra correspondente enquanto a representação inconsciente é a representaçãocoisa só FREUD cunhou o termo parafasia para refe rir uma perturbação da linguagem na qual uma determinada palavra adequada é subs tituída por uma outra que é menos apropri ada mas que mantém uma certa relação com a palavra exata FREUD exemplifica va dizer lápis no lugar de caneta etc Esse fenômeno não está necessariamente ligado a lesão cerebral tanto que pode acontecer com qualquer pessoa em estado de pertur bação emocional mais forte ou em situa ções de cansaço Repressão Em psicanálise o termo repressão Ver drän gung abriga certa confusão semântica Grande número de autores e tradutores con sideramno como sinônimo de recalque ou recalcamento enquanto muitos outros es pecialmente da escola francesa como JLAPLANCHE e PONTALIS mostram no seu Vo cabulário de psicanálise 1982 preferem fazer distinção entre ambos os termos Assim os autores acima mencionados con sideram que o recalque é um processo que consiste essencialmente na participação do 364 DAVID E ZIMERMAN inconsciente enquanto a repressão estaria mais ligada a um mecanismo de exclusão para fora do campo da consciência atuan do no nível da segunda censura FREUD si tua essa censura entre o consciente e o pré consciente e não como acontece no recal camento na passagem de um sistema o préconscienteconsciente para outro siste ma o inconsciente Do ponto de vista di nâmico as motivações morais desempe nham na repressão um papel importante A confusão semântica aumenta porque alguns autores denominam supressão o mecanis mo defensivo que LAPLANCHE e PONTALIS des crevem como repressão Ver o verbete Recalque ou recalcamento Resistência Abordagem de FREUD FREUD empregou o termo resistência pela primeira vez ao se referir à paciente Elisa beth von R 1893 usando a palavra origi nal Widerstand Em alemão wider significa contra como uma oposição ativa Até en tão a resistência era considerada exclusiva mente um obstáculo à análise com uma força correspondente à da quantidade de energia com que as idéias e os sentimentos tinham sido recalcados e expulsos de suas associações Assim por longo tempo o conceito de re sistência em psicanálise foi empregado com um significado depreciativo tal como FREUD afirmou em A interpretação dos sonhos 1900 após dizer que as conceituações de resistência e de censura estavam intimamen te relacionadas Uma das regras da psica nálise é que tudo o que interrompe o pro gresso do trabalho psicanalítico é uma re sistência Aos poucos FREUD foi concluindo que aquilo que está recalcado mais do que um indesejável corpo estranho compor tavase como um infiltrado de modo que o fenômeno resistencial não era algo que surgia de tempos em tempos mas sim que de alguma forma está permanente mente presente FREUD aprofundou bastante o estudo sobre as resistências em Inibições sintomas e angústia 1926 quando utilizando a hi pótese estrutural ele descreveu cinco tipos e três fontes delas Os tipos derivados da fonte eram 1 Resistência de repressão que consiste na repressão que o ego faz de toda percepção que cause algum sofrimento 2 Resistência de transferência em que o paciente manifesta em relação a seu ana lista resistência contra a emergência de uma transferência negativa ou sexual 3 Resistência de ganho secundário que ocorre em razão do fato de a própria doen ça conceder um benefício a certos pacien tes como os histéricos os de personalida des imaturas e as que estão pleiteando al guma forma de aposentadoria por motivo de doença Essas resistências são muito di fíceis de abordar eis que são egossintôni cas 4 As resistências provindas do id que FREUD considerava ligadas à compulsão à repeti ção e que juntamente com uma adesivida de da libido promovem uma resistência contra mudanças 5 Resistência oriunda do superego a mais difícil de ser trabalhada segundo FREUD por causa dos sentimentos de culpa que exigem punição Comentário No clássico Análise termi nável e interminável 1937 FREUD intro duz alguns novos postulados teóricotécni cos Creio que neles ele formula um sexto tipo de resistência a que é provinda do ego contra o próprio ego em certos casos o ego considera a própria cura como um novo perigo A meu juízo FREUD está aqui intuindo e renunciando aquilo que ROSENFELD 1965 veio a chamar de gangue narcisista e STEINER 1981 de organização patológica No referido trabalho de 1937 FREUD aporta outras importantes contribuições sobre as VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 365 resistências como são as seguintes o con ceito de reação terapêutica negativa como sendo aderido à pulsão de morte a valori zação do papel da contratransferência sen do que ele aponta que a resistência do ana lisando pode ser causada pelos erros do analista a observação de que supunha que a resistência no homem se deveria ao medo dos desejos passivofemininos em relação a outros homens e nas mulheres seria de vido em grande parte à inveja do pênis FREUD também aludiu ao surgimento de uma resistência contra a revelação das re sistências Resistência tipos de Abordagem clínica A evolução do conceito de resistência na prática analítica sofreu uma profunda trans formação Nos tempos pioneiros era consi derada unicamente como um obstáculo de surgimento inconveniente Nos dias de hoje embora se reconheça a existência de resis tências que obstruem totalmente o curso exitoso de uma análise na grande maioria das vezes o aparecimento das resistências no processo analítico é muito bemvindo porquanto representam com fidelidade a forma como o indivíduo defendese e resis te no cotidiano da vida Assim cabe fazer a seguinte paráfrase Dizeme como resistes e dirteei quem és Não é possível uma clara classificação ou sistematização das resistências devido às diferenças semânticas entre os autores os múltiplos vértices de abordagem sua mul tideterminação e na situação analítica o fato de que cada sujeito tem uma pletora de recursos resistenciais os quais variam com os distintos momentos do processo analítico No entanto de forma genérica é cabível traçar o esquema que segue 1 A partir da teoria estrutural continua válido o que FREUD postulou em 1926 a res peito dos cinco tipos e três fontes das resis tências No entanto na atualidade é impor tante estabelecer as interrelações dentro das respectivas instâncias psíquicas de onde se originam as resistências inconscientes não só do id do ego e do superego mas tam bém do ego ideal do ideal do ego e das organizações patológicas que sabotam o ego Também devem ser estabelecidas as interrelações entre essas instâncias e as delas com a realidade exterior 2 A classificação pode ser 21 Pelo critério das manifestações clínicas tais como faltas atrasos intelectualizações silêncio exagerado ou prolixidade segredos sonolência ataque às funções do ego per ceber sentir pensar discriminar em si pró prio ou no analista fuga para a extratrans ferência etc 22 Pelo critério das finalidades das resis tências de sorte que além das descritas por FREUD vale acrescentar resistência contra a regressão medo da psicose a progressão cujo grau extremo é o surgimento de uma reação terapêutica negativa a renúncia às ilusões narcisísticas as mudanças verdadei ras medo de uma catástrofe psíquica a vergonha culpa e humilhação de não cor responder às expectativas do ego ideal e do ideal do ego a dor da elaboração da posi ção depressiva Também deve ser incluída a resistência que se manifesta como um sa dio movimento do paciente contra as pos síveis inadequações do seu analista 23 Pelo critério de relacionar as modalida des de resistências ao tipo grau e função das defesas mobilizadas sintomas traços caractereológicos actings excessivos falso self etc 24 Pela relação com os pontos de fixação patológicos que correspondem às etapas evolutivas do desenvolvimento emocional que deram origem às resistências as de natureza narcisista são particularmente im portantes pelo fato de constituírem o crisol da formação da personalidade e da identi dade Assim a maioria das pessoas que hoje procura análise apresenta importantes 366 DAVID E ZIMERMAN problemas caractereológicos de baixa auto estima e de prejuízo do sentimento de iden tidade derivados da permanência de um estado depressivo subjacente muitas vezes resultante das primitivas feridas narcisísticas 25 Dentro da concepção da contemporâ nea psicanálise vincular não é possível dis sociar completamente a resistência do pa ciente e a contraresistência No campo ana lítico resistencialcontraresistencial ambas embora algo encobertas podem estar pre sentes pela contração de conluios resisten ciaiscontraresistenciais 26 Na situação analítica as resistências po dem se manifestar contra o setting instituí do o qual na sua essência deve ser pre servado ao máximo Em relação às inter pretações por exemplo o fenômeno que BION descreveu como reversão da perspec tiva e em relação à elaboração exemplo dos pseudocolaboradores que bem no fun do não querem fazer mudanças verdadei ras É freqüente que muitos pacientes bastante regressivos oponham sérias resistências às mudanças e desejem manter as coisas como estão não porque não desejem curarse mas não acreditam nas melhoras ou acham que não as merecem ou que correm o sé rio risco de voltar a sentir as dolorosas ex periências passadas de traição e humilha ção Assim o seu objetivo de vida é sobre viver e não viver ResistênciaExistênciaDesistência A etimologia respalda a última afirmativa do verbete anterior a palavra resistência é composta de re sistere O prefixo re sig nifica mais uma vez um retorno para co meçar de novo como em regredir revo gar reformar enquanto o verbo latino sis tere tem o significado de continuar a exis tir Aliás o prefixo ex ou ec indica um movimento para fora de modo que no pro cesso analítico pode ser entendido como expressando uma volta à utilização de re cursos defensivos e ofensivos contra o que ou quem lhes representa alguma ameaça Revela a luta que o paciente está fazendo para reexperimentar seu direito de voltarse para fora voltar a existir O contrário de re sistir ou seja desistir o prefixo de significa privação é que seria funesto Comentário Penso que a forma resisten cial mais grave é justamente a de um esta do mental do analisando de desistência Nesse caso ele procede de uma forma uni camente formal e mecânica sendo que o seu único desejo pode ficar reduzido a um nada desejar assim esterilizando a eficá cia analítica Isso se deve ao fato de que nos pacientes seriamente regredidos antes de desejos existe um estado de profundas necessidades que se não forem satisfeitas pelo analista reforçarão um estado anterior de suas vidas Por esse estado muito mais do que ódio eles geram um sentimento de decepção pelo novo fracasso do meio am biente Isso interrompe o crescimento do self e prejudica a capacidade de desejar o que conduz a uma sensação de futilidade e a uma desistência de desejar e de ser Assim a desistência vem acompanhada de um estado afetivo de indiferença provavel mente nos mesmos moldes da indiferença que o sujeito acredita ter sofrido por parte de todas as pessoas mais significativas de sua vida Em resumo na situação psicana lítica enquanto houver resistências que pug nam pela existência ainda persiste a cha ma da esperança A pior forma de resistên cia é a de um estado mental de desistência a qual cronifica a desesperança ou seja o paciente nada mais espera da análise e da vida Restauração do simesmo A KOHUT 1977 Em 1977 KOHUT publicou seu segundo li vro The restoration cuja edição brasileira VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 367 tem o título de A restauração do simesmo Nessa obra ele manifesta claramente sua ruptura com os postulados freudianos Segundo KOHUT os transtornos não podem ser tratados com a análise clássica que en fatiza sobretudo a interpretação do conflito neurótico porquanto para esse tipo de pa ciente o método é insuficiente e estéril quan to aos resultados terapêuticos Afirma que nesses casos como conseqüência das res postas empáticas perturbadas dos self obje tos o simesmo está debilitado e sujeito à fragmentação Assim como tentativa de bombear car gas narcisistas para restaurar esse self que está se esvaindo de libido o simesmo lan ça mão de um destes dois recursos 1 Através da satisfação de demandas insa ciáveis do pólo exibicionista do self gran dioso 2 Uma tentativa de restabelecer a autoes tima avariada o equilíbrio narcisista feri do é um meio de satisfazer as demandas do pólo dos ideais Ambas as tentativas podem coexistir ou se alternar No entanto há o risco de haver uma overdose narcisista que diante dos ine vitáveis fracassos exige uma renovada dose de narcisismo o que pode levar o sujeito a ingressar num círculo vicioso maligno Restos diurnos FREUD Um dos elementos que participa na forma ção dos sonhos é o que FREUD chamou res tos diurnos para designar que acontecimen tos ocorridos na véspera do sonho incidem em áreas latentes no inconsciente do psi quismo e através dos mecanismos de des locamento condensação e simbolização participam da configuração dos sonhos manifestos Isso fica melhor esclarecido com a célebre metáfora na qual FREUD diz que os restos diurnos se comportam como sendo o em presário do sonho funcionando como inci tamento As sensações corporais ocorridas durante o sonho podem executar um papel análogo a esse Na prática analítica o fenômeno do incita mento produzido pelos restos diurnos da vigília ganha importância à medida que o analista puder ligar o conteúdo de determi nado sonho com o resto que ficou da ses são anterior na mente do paciente Retorno do recalcado ou do reprimido FREUD Expressão bastante freqüente que designa o fato de os elementos recalcados no incons ciente não desaparecerem nem tampouco ficarem aniquilados Pelo contrário eles ten dem a reaparecer e isso é conseguido atra vés de diferentes maneiras de formação de compromissos feitas entre as representações que estão recalcadas proibidas de apare cer e os agentes encarregados de fazer o recalcamento tanto o recalcado quanto o recalcante seguindo os mesmos caminhos associativos FREUD esclarece isso com uma convincente metáfora a do asceta que na vida marca da pela prática da devoção e da penitência tentando expulsar a proibida tentação por meio da imagem do crucifixo vê aparecer em seu lugar a imagem de uma mulher nua Diz FREUD que justamente é no recalcante crucifixo e por detrás dele que o recalcado mulher nua obtém finalmente a vitória Rêverie BION Denominação cunhada por BION 1962 e tal como a sua raiz francesa mostra rêve sonho designa uma condição pela qual a mãe ou o analista estão em um estado de sonho isto é está captando o que se passa com o seu filho não tanto através da aten ção provinda dos órgãos dos sentidos mas muito mais pela intuição de modo que uma menor concentração no plano sensorial 368 DAVID E ZIMERMAN possibilita um maior afloramento da sensi bilidade Em suma diz BION a rêverie é um com ponente da função α capaz de colher as identificações projetivas da criança indepen dentemente de serem percebidas por esta como sendo boas ou más ou seja é a ca pacidade de fazer uma identificação intro jetiva das identificações projetivas da crian ça ou paciente de modo a permitir uma ressonância com o que é projetado dentro dela De forma análoga na situação psica nalítica o estado de sonho próprio da fun ção rêverie do analista lhe possibilita dar livre curso a suas fantasias devaneios e emoções em um estado mental equivalen te ao da atenção flutuante preconizada por FREUD e que serviu de inspiração ao que BION veio a postular como uma condição de o analista se vincular com o analisando sem memória desejo ou compreensão Podese dizer que o conceito de rêverie na prática clínica é uma complementação da atenção flutuante de modo que para BION o que precipuamente caracteriza o rêverie é a retomada de uma unidade funcional com a mãe unidade essa que vai além de um plano simplesmente físico e fisiológico Ou seja não basta o leite materno concre to mas sim a forma de como ele é dado tendo em vista que o leite concreto não im pede uma sensação da presença de um seio mau ausente ou perdido Fazendo jus ao nome este conceito tam bém guarda uma semelhança com o da formação dos sonhos tal como é a pas sagem do processo primário para o da formação das imagens oníricas e dessas para a formação dos símbolos do sonho Em outras palavras a função rêverie de signa a capacidade de sonhar isto é para pensar noutro registro assim como tam bém alude à importância de uma liber dade para sonhar devanear imaginar e para simbolizar abstratamente aquilo que é concreto Como há certa superposição conceitual entre rêverie e continente função a ambos também de BION e holding de WINNICOTT é útil consultar esses três verbetes Reversão da função ααααα BION Em certos sujeitos já se formou a função simbólica resultante da transformação dos elementos β em elementos α e daí poden do evoluir para a formação de conceitos conforme os degraus da Grade de BION No entanto é possível que essa função simbó lica sofra tamanha dor psíquica que ela re cua e produz elementos β agora mistura dos com traços de ego e de superego que já tinham se formado Como resultante disso a reversão da fun ção α produz alucinações delírios fenôme nos psicossomáticos e a mentalidade carac terística dos supostos básicos dos grupos Reversão da perspectiva BION Expressão introduzida por BION para desig nar o fenômeno presente no campo analíti co pelo qual o paciente que o utiliza man tém com o analista um acordo manifesto e um desacordo latente tendo em vista o fato de que formalmente pode tratarse de um paciente assíduo colaborador gentil que assente com a cabeça confirmando que está aceitando as interpretações porém no fun do ele as desvitaliza revertendo o signifi cado delas para suas próprias premissas que lhe são familiares e lhe servem como defe sas logo como resistências Na prática analítica esse tipo de resistência mais presente na parte psicótica da perso nalidade dos analisandos especialmente os portadores de algum transtorno narcisista tem grande importância porquanto pode determinar uma inconsciente esterilização quanto ao destino da interpretação na men te do paciente embora possa ter sido for mulada corretamente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 369 Convém alertar que muitos confundem a expressão reversão da perspectiva com a perspectiva reversível ambas cunhadas por BION A primeira é a descrita acima enquan to a segunda de forma totalmente distinta designa a capacidade de o analista a ser desenvolvida no analisando vir a abrir no vos vértices de observação e reflexão sobre um determinado acontecimento psíquico de modo a possibilitar uma às vezes necessária reversão do significado inicial que o paciente estava atribuindo desconfiança por parte de um paranóide grandiosidade de um narcisis ta desvalia de um depressivo etc Revisão da dinâmica de grupo Uma BION 1952 Neste trabalho os estudos sobre grupos são baseados em experiências vividas por BION em distintos locais e épocas e com diferen tes propósitos Assim no Hospital Militar durante a II Guerra Mundial descreveu as tensões intragrupais com grupos de mili tares formados com a finalidade de reabili tálos Também descreve um método origi nal criação sua de proceder a uma sele ção de candidatos a oficial da armada atra vés da proposição de atividades em grupo sem líder A experiência grupal de BION fi cou muito enriquecida por seus posteriores experimentos de finalidade psicoterapêuti ca na Tavistock Clinic Esse trabalho consta do livro Experiências em grupos publicado em 1961 o qual reú ne todos os artigos que escrevera sobre gru pos Muitos dos originais conceitos acerca dos fenômenos grupais que BION observou criou e descreveu aparecem resenhados no verbete Grupo contribuições de Bion Romance ou novela familiar FREUD OTTO RANK Expressão criada por FREUD e RANK para de signar a maneira como um sujeito modifica seus laços com os pais imaginando para si através de um relato ou uma fantasia uma outra família que não sua verdadeira Num artigo escrito especialmente para o li vro de OTTO RANK O nascimento do herói 1909 FREUD utilizou a expressão romance familiar para expressar uma construção in consciente na qual a família inventada pelo sujeito é modificada de acordo com suas fantasias tanto adornandoa com todos os elementos pertencentes aos pais idealizados da infância quanto também desqualifican doa e criando um romance de que foi aban donado pelos pais Apoiandose nessa idéia RANK estudou as lendas típicas das grandes mitologias sobre o nascimento de heróis Rômulo Moisés Jesus Paris como pode ser lido no verbete Mitos FREUD por sua vez mostrou que os relatos míticos podem ser lidos como fanta sias em que as situações entre os persona gens se invertem FREUD utilizou a noção de romance familiar nas suas principais obras referentes à psica nálise aplicada como em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 Totem e tabu 1912 e Moisés e o monoteísmo1939 Ademais à medida que evidenciou uma analogia entre os mitos os romances da literatura os sistemas delirantes ou religiosos e os romances familiares FREUD facilitou um amplo debate da psicanálise com a antropologia a literatura e a religião Rosenfeld Herbert HERBERT ALEXANDER ROSENFELD nasceu em 1910 em Munique Alemanha originário de uma família judia Havia ingressado na escola de medicina porém com a chegada de Hitler ao poder foi decretada a proibi ção de que estudantes judeus pudessem ter contato direto com os pacientes Por isso ROSENFELD em 1935 emigrou para a Ingla terra onde concluiu seus estudos de medi cina dedicandose à psiquiatria Foi aceito 370 DAVID E ZIMERMAN na Tavistock Clinic onde destacouse pela eficiência e pelo amor com que tratava os pacientes esquizofrênicos Fez análise didática com MKLEIN e veio a tornarse um dos mais proeminentes psica nalistas da escola kleiniana tendo produzi do muitas obras com algumas importantes concepções psicanalíticas originais notada mente no que se refere às psicoses Assim utilizando as noções de MKLEIN re ferentes ao uso das identificações projetivas e ao das dissociações ROSENFELD descreveu situações como estados de despersonaliza ção estados confusionais transtornos na lin guagem comunicação e pensamento dos esquizofrênicos os conflitos com o supere go a interrelação analistaanalisando a psicose de transferência Sobretudo fez im portantes contribuições acerca dos proble mas ligados ao narcisismo Em 1964 ROSENFELD descreveu o narcisis mo como resultante de um sistema defensi vo contra a inveja e o sentimento de sepa ração Posteriormente em um trabalho de 1971 conceituou o que chamou de narcisis mo negativo que resulta de uma idealização dos aspectos onipotentes e destrutivos do self do sujeito aspectos esses que podem organi zarse como uma gangue narcisista No ano de 1978 aparece o importante tra balho A psicose de transferência no paci ente fronteiriço publicado na Revista Bra sileira de Psicanálise v23 1989 no qual ROSENFELD aborda de maneira magistral as causas e o manejo técnico recomendável para as situações nada incomuns na clíni ca cotidiana de todos psicanalistas do de senvolvimento de uma transitória psicose de transferência não confundir com trans ferência psicótica Igualmente coube a ROSENFELD ser um dos primeiros senão o primeiro analistas klei nianos a propor um manejo diferente do sentimento de inveja existente nos pacien tes no sentido de não interpretála direta mente mas sim que a interpretação du rante algum tempo deveria ser dirigida uni camente aos derivados da inveja ROSENFELD tinha uma enorme capacidade de trabalho tanto que com a idade de 76 anos ainda atendia uma média de 10 paci entes por dia mantinha inúmeras supervi sões coordenava grupos de pósgraduação em Londres em Paris e na Alemanha mi nistrava um seminário clínico no Instituto Britânico Em pleno decurso de um semi nário clínico em novembro de 1986 teve um derrame cerebral fatal Sádicoanal fase FREUD ABRAHAM Termo referente à segunda fase da evolu ção libidinal que FREUD situou aproxima damente entre os dois e os quatro anos Inicialmente destacou as seguintes carac terísticas principais 1 A zona erógena é por excelência a anal 2 As relações de objeto estão impregnadas de significações ligadas tanto ao ato da eva cuação retenção ou expulsão quanto às fantasias e ao valor simbólico que a criança atribui às fezes 3 Em trabalhos posteriores ele incluiu o desenvolvimento da musculatura como fon te do sadismo da fase anal No artigo Caráter e erotismo anal 1908 FREUD relaciona os traços caractereológicos obsessivos assentados na tríade ordem parcimônia e teimosia com o erotismo anal da criança ligado às fezes e à evacuação No trabalho A disposição à neurose obses siva 1913 ele já destaca a predominân cia dos aspectos sádicos da analidade cons tituindo o que veio a chamar pela primeira vez uma organização prégenital Nas su cessivas reformulações em 1915 e 1924 que Freud fez do trabalho Três ensaios so bre a teoria da sexualidade ele considerou a fase anal como uma das organizações pré genitais e a situou entre as organizações oral e a fálica Da mesma forma FREUD situou na fase anal uma dualidade atividadepassividade A primeira corresponde ao sadismo cuja fon te predominante é a musculatura enquan to a passividade está ligada ao erotismo anal cuja fonte libidinal é a mucosa do ânus Em As transformações do instinto exem plificadas no erotismo anal 1917 FREUD estabeleceu a célebre equivalência simbóli ca de fezes dinheiro e presentes destacan do a relevância que isso adquire no proces so de o sujeito dar e receber K ABRAHAM em Um breve estudo da evo lução da libido considerada à luz dos trans tornos mentais 1924 considerou dois estágios dentro da fase sádicoanal No pri meiro a fase anal expulsiva o erotismo anal está ligado à evacuação enquanto a pulsão sádica está ligada à destruição do objeto No segundo estágio a fase anal re tentiva o erotismo anal está ligado à reten ção das fezes enquanto a pulsão sádica refe rese ao controle possessivo e ao domínio Sádicooral fase ABRAHAM MKLEIN K ABRAHAM em 1924 estabeleceu dentro da fase oral a existência de duas subfases S 372 DAVID E ZIMERMAN a oral passivoincorporativa às vezes cha mada oralcanibalística que alude a uma fase precoce de sucção de natureza préam bivalente e a ativoincorporativa a qual co incide com o aparecimento dos dentes A atividade de morder e de devorar implica destruição do objeto e faz surgir a ambiva lência pulsional de libido e agressão volta das para um mesmo objeto MKLEIN partindo dessas noções de seu ana lista ABRAHAM deu uma profundidade e im portância ao sadismo oral que atingiria nessa fase a culminância do sadismo infan til o que a levou a cunhar a expressão fase do sadismo máximo Textualmente KLEIN afirma que a agressividade faz parte da re lação mais precoce da criança com o seio embora nessa fase ela se exprima habitual mente pela mordedura Prosseguindo ela expressava a idéia de que o desejo libidi nal de sugar ou chupar é acompanhado do objetivo destrutivo de aspirar de se apos sar de esvaziar de esgotar sugando Sadismo FREUD Termo criado pelo sexólogo RICHARD VON KRAFTEBING em 1886 inspirado no escri tor francês Donatien AFrançois mais co nhecido como marquês de Sade para de signar formas de perversão sexual tal como apareciam nos personagens dos escritos de Sade Neles apareciam predominantemen te agressões físicas um domínio sufocante flagelações e humilhações físicas e morais constituindo um modo de obter satisfação da pulsão sexual ligado ao sofrimento infli gido ao outro A ligação do prazer à dor tanto de forma ativa como passiva é co nhecida como algolagnia Para diferenciar o que descreveu com o nome de fase perversopolimorfa na qual está incluído o sadismo do sadismo propri amente dito FREUD afirma em Os instintos e suas vicissitudes 1915 que esse último objetiva acima de tudo submeter o parceiro a seu domínio total o que na atualidade é conhecido como vínculo de apoderamen to Assim ele ampliou a noção do sadismo não restringindoo unicamente às práticas sexuais intimamente ligadas à agressão mas considerandoo sobretudo uma pulsão de dominação A ligação entre dor e excitação sexual surge com mais evidência no masoquismo que por ser considerado uma inversão do sadis mo voltado à própria pessoa levou FREUD a associálos de modo a criar um novo ter mo psicanalítico o sadomasoquismo Sadomasoquismo FREUD Termo forjado por FREUD a partir de sadis mo e masoquismo para designar a existên cia concomitante das duas vertentes de uma mesma perversão havendo entre ambas uma complementaridade simétrica e recí proca entre um sofrimento vivido passiva mente e um sofrimento infligido ativamen te ao outro Assim em Três ensaios sobre uma teoria da sexualidade 1905 FREUD afirma que um sádico é sempre ao mesmo tempo um masoquista o que não impede que o lado ativo ou o lado passivo da perversão possa predominar e caracterizar a atividade sexu al que prevalece No prosseguimento des sas idéias FREUD ressalta dois aspectos 1 Sadismo e masoquismo não podem ser estudados separadamente 2 As características fundamentais de ativi dade e de passividade que são as mani festações do sadismo e do masoquismo não se limitam às perversões sexuais mas sim são em algum grau constituintes da vida sexual em geral Em As pulsões e suas vicissitudes 1915 FREUD faz os seguintes assinalamentos o sadismo é anterior ao masoquismo de modo que o masoquismo é um sadismo voltado contra a própria pessoa o sadis mo é o exercício da pulsão de dominação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 373 o sadismo no sentido estrito da perversão sexual é decorrente de um novo retorno à condição masoquista porque na fantasia o sádico identificase com o sofrimento do outro o masoquista No entanto a partir de Além do princípio do prazer 1920 FREUD retifica a postula ção anterior e passa a considerar o maso quismo anterior ao sadismo e conclui afir mando que uma parte dessa pulsão de morte é posta diretamente a serviço da pul são sexual onde o seu papel é importante é isso o sadismo propriamente dito Outra parte não acompanha esse desvio para o exterior permanece no organismo onde é ligada libidinalmente com o auxílio da exci tação sexual que a acompanha reco nhecemos aqui o masoquismo originário exógeno e o sadismo pode por sua vez voltarse contra o sujeito num maso quismo secundário que vem acrescentarse ao masoquismo originário Em outros tra balhos FREUD ligou o sadismo com as dife rentes fases libidinais como a sádicooral a sádicoanal a fusão e a desfusão pulsional Comentário Na contemporânea psicaná lise vincular com base na prática clínica podese afirmar que o sadismo e o maso quismo coexistem não só nos vínculos in terpessoais como também nos intrapesso ais Nesse último caso tanto pode ser um conflito sadomasoquista entre as instâncias psíquicas superego contra o ego por exem plo como pode aludir ao tipo doentio de arranjo relacional dos objetos dentro do sujeito Assim são freqüentíssimas as inter relações que se configuram de maneira ni tidamente sadomasoquista às vezes de for ma acintosa outras vezes de modo muito dissimulado Como exemplo ilustrativo suponhamos um casal que estabelece entre si um convívio sadomasoquista no qual tanto pode acon tecer que a cada um deles caiba de forma fixa e estereotipada um desses dois papéis como também pode suceder que eles alter nemse em momentos diferentes qual uma gangorra nos papéis de quem será o sádi co e a quem caberá a função de masoquis ta com alta possibilidade de nunca saírem desse círculo vicioso interminável Schreber caso FREUD A expressão O caso Schreber é como ficou conhecido o trabalho de FREUD intitulado Notas psicanalíticas sobre um relato au tobiográfico de um caso de paranóia 1911 no qual faz uma análise pormeno rizada dos mecanismos psíquicos próprios das paranóias FREUD nunca conheceu Schreber pessoal mente Seu trabalho foi baseado unicamen te na leitura que fez das Memórias de um doente dos nervos publicado em 1903 pelo próprio Daniel Paul Schreber um renoma do jurista e presidente da corte de apelação da Saxônia que descompensou psicotica mente depois de derrotado numa eleição para um cargo Veio a morrer em 1910 in ternado num manicômio de Leipzig As idéias delirantes de Schreber tomaram a forma de sentirse um homem perseguido por Deus que o fim do mundo estava pró ximo e que ele seria o único sobrevivente e que Deus lhe confiara a missão de trans mudarse em mulher para gerar uma nova raça Enquanto esperava ser metamorfose ado em mulher e engravidado por Deus Schreber enfrentava o sol vociferava con tra ele ao mesmo tempo em que acusava seu psiquiatra FLESCHING de ser um assas sino de alma que teria abusado sexual mente dele para após abandonálo à pu trefação e armar complôs contra ele FREUD enfocou os delírios de Schreber à luz das teorias que professava na época isto é uma revolta contra o pai associada a uma homossexualidade latente Posteriormente a partir de 1955 no trans curso de seus seminários sobre as psicoses LACAN retomou os estudos sobre o caso 374 DAVID E ZIMERMAN Schreber enfocando os aspectos originais que viriam a constituir a essência de sua obra Sedução teoria da FREUD Impressionado com a freqüência dos rela tos clínicos de suas pacientes histéricas que responsabilizavam adultos por abusos sexu ais cometidos na infância FREUD formulou sua teoria da sedução principalmente em trabalhos elaborados entre os anos 1895 e 1897 atribuindo a essa situação traumáti ca se de fato teria acontecido um valor de extraordinária importância na determinação das neuroses Com o interesse voltado para explicar o mecanismo do recalque com base na teoria da sedução FREUD estabeleceu que nas neuroses obsessivas teria havido experiên cias sexuais precoces vividas pela criança ativamente e com prazer enquanto nas neu roses histéricas o abuso sexual teria sido praticado com a sua passividade Posteriormente FREUD percebeu que os re latos das cenas de sedução não encontra vam apoio na realidade objetiva daí abrin do caminho para novas postulações teóri cas priorizando as fantasias dessa forma inaugurando a psicanálise propriamente dita Ao mesmo tempo sem nunca aban donar totalmente a teoria da sedução FREUD aportou dois elementos novos 1 A participação da mãe que através da manipulação do corpo do bebê poderia estar fazendo uma sedução real através de carícias dissimuladas 2 As fantasias de sedução seriam conse qüência da persistência na criança de atá vicos restos mnésicos transmitidos pela he reditariedade de experiências vividas na his tória da espécie humana Sedução como conceito clínico A sedução sempre ocupou uma importân cia significativa na psicanálise muito espe cialmente a que tange àquela exercida pe los pais em relação à criança No entanto a contemporânea psicanálise vincular dedica especial atenção à forma de como se estru turam determinadas ligações de casais que se manifestam tanto na relação transferen cial quanto na vida exterior do sujeito De fato é impressionante o número de pa cientes que ficam prisioneiros de um tipo de ligação amorosa que não ata e nem desata podendo prolongarse virtualmen te de forma eterna sempre com alguns re quintes de sadomasoquismo por meio de um sutil jogo que envolve reciprocamente o sedutor e o seduzido Sedutorseduzido vínculo do tipo Do ponto de vista psicanalítico as princi pais características desse patogênico víncu lo sedutorseduzido são 1 Um sujeito exerce um vínculo de apode ramento sobre o outro às vezes os papéis são alternantes ou recíprocos isto é exer ce um poder tirânico impingindo toda sor te de humilhações quase sempre bem dis simuladas 2 A maior arma é a sedução exercida por meio de sortilégios que alimentam no outro um permanente estado de ilusão no qual este ficará perdido alternando momentos de total desilusão e derrocada vital com outros em que renascem as esperanças ja mais completadas 3 A relação adquire uma configuração per versa na qual vítima e verdugo se comple mentam numa relação dual especular 4 A origem desse vínculo escravizante re monta a uma precoce intensa e sistemática apropriaçãodominação que caracterizou a existência de uma unidade primitiva com a mãe numa fase em que por falta de recur sos do ego a criança foi obrigada a mimeti zar e a ficar numa constante espera de que finalmente mamãe eou papai venham a amála de fatoou de virem a cumprir a ve VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 375 lada promessa de restaurar um estado de completude idílica Comentário A natureza do sadomasoquis ta vínculo do apoderamento tal como foi descrito está de acordo com a etimologia da palavra sedução que deriva de sed em latim caminho errado ductor em la tim aquele que dirige Além disso creio que podemos afirmar que a grande característi ca perversa do sedutor reside numa forma tantalizadora de se apossar e dominar o se duzido possivelmente reproduzindo alguma figura parental tantalizadora A palavra tantalizadora procede do mito do suplício de Tântalo que teria sido conde nado por Júpiter a ser atormentado nos In fernos por uma fome e sede eternas Ficava no meio de um lago de águas frescas e cris talinas morrendo de sede pois a água lhe escapa sempre que seus lábios a tocam e sob árvores carregadas de apetitosos frutos que dele se afastam sempre que Tântalo louco de fome estende as mãos para apa nhálos Isso também está de acordo com o outro significado etimológico do étimo sed que em latim também significa sede que é justamente o estado a que de forma eter na fica reduzido o seduzido Segal Hanna Considerada uma das figuras exponenciais do grupo kleiniano HANNA SEGAL nasceu na Polônia e fez formação médica e psicanalí tica na Grã Bretanha Juntamente com BION e ROSENFELD teve relevante participação no pioneirismo do tratamento psicanalítico com pacientes esquizofrênicos nas décadas de 40 e 50 Creditaselhe a primeira análise de um esquizofrênico com uma técnica essen cialmente psicanalítica sem modificações Sua experiência com esquizofrênicos permi tiulhe aprofundarse particularmente no problema da formação de símbolos o que a levou a descrever o importantíssimo con ceito a que ela denominou equação simbó lica ver esse verbete que é bastante dis tinto do de símbolo Seguiramse trabalhos sobre a investigação da estética sobre cria tividade artística além da elaboração de resumos definitivos da obra de MKLEIN de aspectos da relação analítica De forma co rajosa e enérgica pronunciouse contra os armamentos nucleares Assídua participante dos congressos inter nacionais de psicanálise HSEGAL é autora de inúmeros artigos cuja maioria está reu nida no livro A obra de Hanna Segal 1982 Seio M KLEIN Vocábulo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar o fato de o seio ser a parte da mãe com a qual o bebê tem o pri meiro contacto No início em razão de sua imaturidade neurobiológica o bebê somen te tem percepções parciais da mãe e dos demais objetos do seu mundo exterior Por esse motivo KLEIN descreveu o objeto par cial primordial do qual o bebê depende vi talmente como sendo o seio termo esse que também delimita a mãe como objeto ma terno específico contrastandoo com outros objetos parciais como o pênis paterno e com bebês rivais Na condição de objeto parcial o seio nutri dor da mãe é concebido como bom quan do gratifica suas necessidades enquanto as experiências sentidas como más levamno à concepção de seio mau Convém esclare cer que na doutrina kleiniana o seio parcial não significa necessariamente um seio con creto fisicamente presente e separado do resto da mãe Seio bom pensante BION Com alguma freqüência BION utiliza essa expressão para designar o importante fato de que no desenvolvimento da capacida de de pensar a criança ou o paciente in trojetou a figura da mãe ou do psicanalis 376 DAVID E ZIMERMAN ta possuidora de uma boa capacidade para pensar os pensamentos Seiolatrina MELTZER Partindo do modelo de BION referente à in terrelação continenteconteúdo MELTZER destacou o fato de que o analista é utilizado pelo paciente para nele depositar por meio de identificações projetivas as angústias e emoções intoleráveis Cunhou então a ex pressão seiolatrina como metáfora de um processo evacuatório que durante esse pe ríodo rege o destino das fantasias incons cientes Comentário Esse modelo de MELTZER im põe a necessidade de estabelecer a impor tante diferença que deve haver entre conti nente da mãe ou do analista e recipiente O primeiro é um processo ativo de acolhi mento recepção transformação e uma sa dia devolução desintoxicada significada e nomeada Por sua vez a noção de recipi ente alude mais especificamente à possibi lidade de o paciente usar o analista apenas como depositário passivo de seus dejetos mentais O uso da palavra latrina implica o risco de sugerir este último aspecto inclusi ve na situação analítica embora MELTZER tenha enfatizado a necessidade de a mãe funcionar transitoriamente como latrina sem mostrar repugnância pelo manejo das fraldas sujas etc Self HARTMANN Até algum tempo as palavras ego e self eram utilizadas de forma indistinta Se bem que ainda exista alguma superposição e indis criminação conceitual entre ambas agrava das por eventuais falhas de tradução dos textos originais foi a partir de HARTMANN 1947 que se tornou possível estabelecer uma distinção Com esse renomado psicanalista criador da Escola da Psicologia do Ego o vocábulo ego passa a designar uma das instâncias psíqui cas sendo portanto apenas uma importan te subestrutura da personalidade tal como foi descrita por FREUD O termo self de sua parte foi conceituado como a imagem de simesmo sendo composto de estruturas entre as quais consta não somente o ego mas também o id o superego e inclusive a imagem do corpo ou seja a personalida de total Com outras palavras podese dizer que HARTMANN postulou uma diferenciação en tre egofunção um conjunto de funções tanto as conscientes como as provindas do inconsciente e egorepresentação que alu de à imagem de si mesmo ou seja do self Ambos os aspectos são indissociados e cri am um paradoxo intelectual embora seja mais abrangente e amplo do que o ego é o self que está representado como que conti do e fotografado dentro do primeiro Na obra de HARTMANN a ênfase predominan te recai no egofunção enquanto na de LA CAN a prioridade cabe ao egorepresentação Self falso e verdadeiro WINNICOTT Apesar de WINNICOT afirmar que existe uma diferença entre ego e self essa distinção não fica clara ao longo de sua obra e seguida mente os termos aparecem superpostos No entanto ele sempre valorizou a formação de um self total o qual implica uma di ferenciação entre eu e o nãoeu numa crescente integração até permitir uma imagem unificada de si mesmo e do mun do exterior Isso acontece a partir de um ambiente su ficientemente bom que possibilite o desen volvimento das potencialidades de um self rudimentar que já existe desde o nascimen to embora de forma extremamente frágil Nos casos em que falha a função materna de integrar as sensações corporais do bebê os estímulos ambientais e o despertar de suas capacidades motoras a criança sente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 377 sua continuidade existencial ser ameaça da e procura substituir a proteção que lhe falta por outra fabricada por ela Esse fenômeno WINNICOTT expressa com as se guintes palavras ao comparar a formação do self com uma casca de árvore às custas da qual cresce e se desenvolve o self do su jeito Então o indivíduo se desenvolve mais como uma extensão da casca do que do núcleo O self verdadeiro permanece escondido e o que temos que enfrentar cli nicamente é o self falso cuja missão se es triba em ocultar o self verdadeiro Foi no célebre trabalho A deformação do ego em termos de um self verdadeiro ou falso 1960 que WINNICOTT deu uma con ceituação mais completa e definitiva do ver dadeiro e do faso self Nessa obra ele con sidera que o verdadeiro self seria o que re sulta de a mãe ter aceitado os gestos espon tâneos da criança Reciprocamente nos casos em que a mãe que não tenha capaci dade para entender e satisfazer as necessi dades do filho coloca seu próprio gesto assim submetendo a criança a ela o que começa a gerar um falso self A princípio WINNICOTT considerou o falso self como uma formação presente apenas nos pacientes graves provocada por uma falta de cuidados maternos Tempos depois po rém ele propôs uma gradação de matizes na qual o falso self estaria sempre presente em qualquer pessoa embora com diferen tes níveis de implicação patológica Nos casos mais próximos da saúde o self falso agiria como uma forma de defender e pro teger o verdadeiro que se mantém oculto enquanto nos caso mais graves o falso self substitui o verdadeiro Desse modo a visão que o sujeito tem de si e a que as pessoas que o rodeiam têm dele na verdade é da casca espessa que ele criou WINNICOTT assevera que o falso self especi almente quando se encontra no extremo mais patológico da escala é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de vazio de futilidade e de irrealidade Como se constitui às expensas do núcleo autênti co do self obriga este a renunciar a suas pulsões que constituem sua essência em favor de uma adaptação bemsucedida Talvez o grau mais extremado de um falso self seja o da figura do impostor que impõe aos outros uma personalidade totalmente falsa como é o caso bastante comum de alguém sem formação fazerse passar como médico Comentário Partindo do ponto de vista de que o falso self resulta de um continua do esforço da criança para assegurar o amor dos pais nem que seja às custas de renun ciar à espontaneidade e sujeitarse às ex pectativas daqueles dois aspectos devem ser destacados 1 Os portadores de um falso self não de vem necessariamente ser considerados como pessoas falsas É freqüentemente pos sível que os êxitos conseguidos pelo sujeito sejam devidos a suas reais capacidades embora persista nele uma sensação de fal sidade devido à dificuldade que se estabe leceu nele de distinguir o que é falso daqui lo que é verdadeiro 2 O falso self nem sempre é construído como forma de aparentar aspectos consi derados como positivos muitas vezes no afã de ser reconhecido pelo grupo social extensão do seu grupo familiar internaliza do como estando em oposição ao seu su cesso o sujeito pode funcionar com um falso self negativo aparentando mazelas e desvalia encobridoras de reais valores posi tivos Self grandioso KOHUT KOHUT concebeu um arco de tensão na crian ça Um dos pólos constituído pelas ambi ções ele denominou self grandioso o ou tro pólo onde residem os ideais está a ima go parental idealizada no meio dos dois estão as capacidades e talentos do ego 378 DAVID E ZIMERMAN O self grandioso como fase evolutiva refere se à imagem onipotente e perfeita que a crian ça tem de si mesma o que durante certo tem po é necessário como um importante fator estruturante do self Nos casos de evolução normal contando com a solidariedade tem porária dos pais o self grandioso gradativa mente vai se transformando em autoestima autoconfiança e ambições próprias Nos ca sos em que houver a persistência do self gran dioso o sujeito vai apresentar algum grau de transtorno narcisista da personalidade Selfobjeto KOHUT KOHUT não aceitou a primazia do conflito edípico na determinação das neuroses de modo que dirigiu todas suas concepções psicanalíticas referentes à evolução das crianças para o fato de que são as primiti vas falhas empáticas da mãe com o seu bebê as causadoras dos vazios existenciais res ponsáveis pelos futuros quadros da psico patologia clínica Assim privilegiando o foco ambientalista mais do que o foco pulsional KOHUT 1971 utilizou a expressão original selfobjects tra duzida tanto por selfobjetos quanto por ob jetos do self para designar as pessoas do meio ambiente a mãe principalmente responsáveis pela estruturação do self da crian ça A propósito a grafia inicial desse termo era com um hífen separador ou seja self objeto Porém em 1978 o próprio KOHUT afir ma que pronunciando a palavra sem um hífen sentimos que exprimimos o aspecto só lido deste conceito que encontrará um lugar duradouro no pensamento psicanalítico Nas traduções dos textos de KOHUT para o idioma português o termo self aparece fre qüentemente como si mesmo Self Escola da Psicologia do No começo de sua atividade KOHUT cria dor dessa escola foi muito influenciado pela teoria de HARTMANN porém aos pou cos afastouse dos postulados dessa esco la inclusive de muitos princípios básicos de FREUD e construiu o seu próprio corpo teó ricotécnico com uma ênfase quase que exclusiva no que veio a denominar de psi cologia do self De forma sintética os se guintes aspectos devem ser mencionados Ele situa como principal instrumento da psicanálise não a livre associação de idéias do analisando mas sim a introspecção e a recíproca empatia da mesma forma KOHUT retira o lugar hegemônico do complexo de Édipo de FREUD e coloca no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos em outras palavras ele substitui o homem culpado de FREUD e de MKLEIN pelo que ele considera ser o homem trágico A maior conseqüência das precoces fa lhas empáticas é uma forma de prejuízo na formação da estruturação do self e portan to do sentimento de identidade Assim os dois conceitos medulares da obra de KOHUT são seus estudos sobre o self e sobre o narcisismo tanto o normal quan to o patológico Em relação ao narcisismo antes de se pensar em um desenvolvimento patológi co sua concepção é a de considerar que o narcisismo durante o desenvolvimento do ser humano segue uma evolução paralela e independente da libidinal Dessa forma esse narcisismo adquire uma função estru turante e pode vir posteriormente a sofrer transformações úteis como empatia sabe doria criatividade humor e aceitação da finitude Em relação ao self KOHUT postulou duas novas estruturas ambas de formação pri mitiva o self grandioso e a imago parental idealizada ver esses verbetes Na prática analítica é de grande utilida de seu conceito de transferências narcisis tas nas quais em algum grau o analista é sentido pelo paciente como fazendo parte VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 379 do sujeito como uma extensão dele KOHUT descreveu três tipos de transferência narci sista a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular propriamente dita KOHUT e seguidores enfatizam o fato de que na situação analítica embora os paci entes portadores de transtornos narcisistas sejam extremamente vulneráveis às frustra ções e entrem com facilidade num estado de fúria narcisista as frustrações impostas pelo analista são inevitáveis e necessárias Porém é necessário encontrar uma frustra ção ótima Outro enfoque enaltecido pela Escola da Psicologia do Self é a importância na práti ca analítica que se processe no analisando através de uma boa introjeção do seu ana lista aquilo que seus seguidores denominam internalização transmutadora As maiores críticas que costumam ser feitas contra as postulações dessa escola residem no fato de KOHUT não ter restringido sua teo ria e técnica à compreensão e manejo dos transtornos narcisistas mas tentou explicar toda a psicanálise sob sua ótica o que re presenta uma evidente mutilação conceitual Self psicofisiológico primário EDITH JACOBSON Fundamentada nos princípios de FREUD de narcisismo primário e de narcisismo secun dário E JACOBSON importante representante da norteamericana Psicologia do Ego Em seu livro El Self y el Mundo Objetal 1969 e no decurso de seus estudos sobre depres sões psicóticas desenvolveu conceitos que se referem parcialmente somente à presen ça simultânea de forças libidinais e agressi vas na indiferenciada matriz psicossomáti ca que chamarei de self psicofisiológico primário Nesse mesmo livro p25 ela afirma que Com efeito durante os primeiros estágios infantis a expressão predominante da vida emocional e das fantasias da criança é ain da psicofisiológica a assim chamada lingua gem organoafetiva que abarca não obstan te não só os processos silenciosos senão também fenômenos vasomotores e secre tórios visíveis no terreno das funções bucal e excretória Eu gostaria de ressaltar que essa linguagem organoafetiva está presente em certa proporção também na vida emocio nal dos adultos normais em estado de ansi edade e em outras manifestações de resso matização de afetos A partir dessas concepções JACOBSON dedi couse aos estudos de pacientes com de pressões graves psicóticos borderline e os portadores de transtornos narcisísticos em geral Segurança BION BION descreve dois tipos de estado da mente do analista durante a sessão psi canalítica o de paciência que tanto o pa ciente como o terapeuta devem ter no processo às vezes muito demorado da passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva e o de segu rança Esse último termo caracteriza mais precisamente o estado mental do psica nalista depois da descoberta do fato sele cionado em meio ao aparente caos das comunicações do paciente Esse estado mental que equivale à passa gem para a posição depressiva passa a ser o de uma menor ansiedade livre dos peri gos da incerteza e prepara o analista para o ato da interpretação Sem memória e sem desejo BION Essa terminologia é seguramente das mais polêmicas e controvertidas de todas as de BION O que realmente ele pretendeu carac terizar é que o psicanalista deve evitar ao máximo que sua mente esteja saturada pela memória de situações anteriores pelos seus 380 DAVID E ZIMERMAN desejos pessoais e por uma ânsia compul sória de compreender de imediato e em sua totalidade aquilo que está se passando du rante a sessão Esse conceito equivale ao da regra da aten ção flutuante de Freud Seminário clínico Termo cada vez mais usado no lugar do que todos psicanalistas conhecem como super visão coletiva Na verdade a última expres são alude mais diretamente a uma supervi são nos moldes em que é realizada em ca ráter individual Isso implicaria alguma in terferência dos aspectos contratransferenci ais coletivo nessa situação além do livre curso das impressões que o caso clínico em foco desperta de forma diferente nos diver sos participantes Em situações exageradas o processo pode descambar para um exer cício intelectualizado de múltiplos enfoques de entendimento e de interpretação o que poderia induzir o supervisor a realmente funcionar como tendo uma supervisão O termo seminário de acordo com sua eti mologia provém do latim semen ou seja alude à capacidade de se colocar sementes na mentalidade do outro com possibilida des de germinarem e frutificarem Seminá rio clínico portanto designa a abertura de portas para correlacionar a narrativa clíni ca com o manejo técnico e com as concep ções teóricas que o embasam e sobretudo inseminar instigar a novas reflexões e vérti ces de observação Comentário Creio que o verdadeiro espí rito de um seminário clínico está sintetizado nessa frase de BION Não importa muito se o analista participante de um painel foi brilhante ou não se concordaram ou não com os seus pensamentos o que importa é se ele conseguiu produzir novos brotos de pensamento que podem germinar e se transformar em árvores ou até mesmo em bosques Segundo BION essas idéias po dem ser suprimidas antes de terem tido oportunidade de se desenvolver Seminários clínicos e quatro artigos BION O título original deste livro publicado em 1987 pela editora Fleetqwood de Oxford é Clinical Seminars and Four Papers Nele além da transcrição de 24 supervisões cole tivas que BION preferia chamar de seminá rios clínicos realizadas em Brasília 1957 e de 28 em São Paulo 1978 também cons tam quatro importantes artigos Turbulên cia emocional Sobre uma citação de Freud Evidência e Tirando proveito de um mau negócio Cada um desses artigos aparece neste Vocabulário em verbete es pecífico Senso sentido comum BION Enquanto FREUD restringiu o universo da compreensão do discurso do paciente às interrelações do consciente com o incons ciente BION alargou esse universo para as interrelações do infinito com o finito Portanto sem perder de vista a necessida de de o analista não ficar restringido ao que é percebido pelos órgãos sensoriais ao mesmo tempo em que há necessidade de estabelecer conexões com o finito e senso rial BION postulava que os enunciados ana líticos só se tornam válidos quando forem confirmados por diversos sentidos de uma mesma pessoa ou por um ou mais sentidos de pessoas diferentes para che gar a um sentimento de verdade Ademais no seu livro póstumo Cogitações 1992 p42 BION afirma que o senso co mum é uma função da relação do paciente com o seu grupo e em sua relação com o grupo o bemestar do indivíduo é secundá rio à sobrevivência do grupo A teoria de Darwin da sobrevivência dos mais aptos ne cessita ser substituída por uma teoria da so VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 381 brevivência dos mais aptos a sobreviver no grupo até onde a sobrevivência do indivíduo possa interessar Isto é ele precisa ser dotado de um alto grau de senso comum a habilida de de ver que o que todos outros vêem quan do submetidos ao mesmo estímulo Sentimento de culpa Ver o verbete Culpa Sentimento de identidade Ver o verbete Identidade Sentimento de inferioridade Ver o verbete Inferioridade complexo de Separação M MAHLER M MAHLER juntamente com colaboradores trouxe importantes concepções relativas às etapas do desenvolvimento infantil Come çam com um autismo normal seguem por uma fase de simbiose à qual sucede uma de diferenciação resultante de duas sube tapas a de separação e a de individuação Essas fases são seguidas de um período de treinamento até atingir um estado psíquico de constância objetal nos casos bemsucedidos Por volta dos cinco meses de idade a crian ça começa a perceber não só o mundo que a rodeia mas seus próprios limites corpo rais O elemento organizador desse proces so é a pressão maturacional que é inata orgânica e que possui grande força como fator possibilitador da necessária separação gradativa da mãe com a individuação que coincide com o início da marcha Separação angústia de Tipo de angústia mais referida nos relatos de situações clínicas Do ponto de vista teó rico está ligada a muitos fatores e descrita a partir de diferentes abordagens Praticamen te todos convergem para o elemento co mum que consiste no medo de o sujeito perder o controle da pessoa necessitada reeditando o seu antigo temor de vir a per der o amor da mãe acompanhado do pâ nico de cair num estado de desamparo ver esse verbete Na situação da clínica psicanalítica sobre tudo nos casos em que não estiver suficien temente desenvolvido o núcleo básico de confiança ou a capacidade para ficar só se utilizarmos a terminologia de WINNICOTT A perda do olhar materno reproduzse quan do o paciente projeta maciçamente no ana lista essa mãe sem um olhar reconhecedor ou quando o analista mal olha para o paci ente ou olha mas não o vê Nesses ca sos as manifestações clínicas mais comuns aparecem como fobia ao divã um freqüen te e recorrente sentimento de solidão uma absoluta intolerância aos silêncios do ana lista o medo de separação e abandono Comentário Na prática analítica a angús tia de separação do paciente em relação ao analista é freqüente especialmente em pa cientes muito regredidos sendo importan tíssima sua análise No entanto creio haver certo abuso nas interpretações que de for ma sistemática e reducionista batem demais nessa tecla à vezes de forma forçada e até contraproducente Há casos em que qual quer sinal de angústia do paciente é auto maticamente considerada decorrente da separação que vai haver ou houve no fim de semana ou da aproximação das férias Assim há o risco de o terapeuta confundir a separação física real com o fato de que a angústia se deve à significação pode ser de abandono descaso troca por outros inte resses e pessoas doença e morte que o analisando confere a determinadas separa ções Além disso se houver insistência na interpretação de que o paciente não pode viver longe do analista poderá ocorrer um reforço da infantilização e da dependência 382 DAVID E ZIMERMAN do paciente e um acréscimo de idealização do analista É muito comum que um paci ente suporte tranqüilamente uma longa se paração de um mês de férias porque está sob seu controle já que havia uma combi nação prévia e desmorone se ocorrer uma separação curtíssima porém imprevista Ser a continuidade de WINNICOTT WINNICOTT seguidamente afirmava que o bebê que é sadio estabelece um sentimento de self e de continuidade de ser o que pode se dar unicamente em um ambiente apro priado aquele em que a mãe que ingres sou no estado de preocupação ou devo ção primária é capaz de prover durante o período de algumas semanas após o nasci mento do bebê quando ele e a mãe ainda constituem uma entidade única A aquisição do ser tem origem na experiên cia de um ambiente de holding propiciado por uma mãe suficientemente boa e está relacionado com a passagem de um estado de nãointegração para o de integração e com o desenvolvimento das capacidades de viver criativamente de brincar e de ter um self verdadeiro Série complementar FREUD Ver o verbete Equação etiológica Setting Comumente traduzido como enquadre o setting pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam normatizam e possibilitam o processo psica nalítico Assim ele resulta de uma conjunção de regras atitudes e combinações tanto as contidas no contrato analítico como também as que vão se definindo durante a evolução da análise como os dias e horários das ses sões os honorários com a respectiva modali dade de pagamento o plano de férias O setting analítico costuma sofrer uma car ga de pressão por parte de certos pacientes no sentido de se fazer sucessivas modifica ções Na prática analítica a instituição do setting e a preservação ao máximo daqui lo que foi combinado com as correspon dentes frustrações visa as seguintes funções 1 Estabelecer o aporte da realidade exte rior com as suas inevitáveis frustrações e privações 2 Ajudar a definir a predominância do prin cípio da realidade sobre o do prazer 3 Prover a delimitação entre o eu e os ou tros por meio da função de desfazer a espe cularidade e a gemelaridade típica dos pa cientes que desenvolvem algum tipo de transferência narcisista 4 Auxiliar a partir daí no caso de pacien tes bastante regredidos a obtenção das ca pacidades de diferenciação separação e individuação 5 Definir as noções dos limites das limita ções e desfazer as fantasias de uma ilusória simetria funcional que o paciente imagina ter com o analista Comentário Podese dizer que o setting por si mesmo funciona como um impor tante fator terapêutico psicanalítico pela criação de um espaço que possibilita ao analisando trazer seus aspectos infantis no vínculo transferencial e ao mesmo tempo poder usar a sua parte adulta para ajudar o crescimento daquelas partes infantis Igualmente o enquadre também age pelo modelo de um provável novo funcionamen to parental que consiste na criação por parte do terapeuta de uma atmosfera de traba lho ao mesmo tempo de muita firmeza di ferente de rigidez no indispensável cumpri mento e preservação das combinações fei tas juntamente com uma atitude de acolhi mento respeito e empatia É importante ressaltar a capacidade de sobrevivência que deve ter o analista em face dos mais diferentes tipos de ataques do analisando Assim é perfeitamente aceitável que dian VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 383 te de certas circunstâncias o analista aceite a inclusão de certos parâmetros ver esse verbete desde que tenha a segurança de que a análise pode retornar à situação do setting anterior se assim for necessário Sexuação fórmulas da LACAN Entendendo que houve muita indefinição e limitação por parte de FREUD relativamente à sexualidade LACAN considerou necessário criar outros nomes e conceitos que alargas sem o espectro dos fenômenos ligados à se xualidade Assim introduziu o conceito de sexuação para designar que além da sexuali dade biológica esse termo procura enfocar a forma como são reconhecidos e diferencia dos os dois sexos pelo inconsciente especial mente no que diz respeito ao complexo de castração à sexualidade da mulher à diferen ça entre os sexos e a importância da noção de falo Na perspectiva lacaniana tentando superar o falicismo freudiano o símbolo fálico não re presenta o pênis antes seria o pênis que por suas propriedades de intumescer e enrijecer é que poderia representar a forma pela qual é ordenado o desejo a partir da castração Como uma tentativa de dar um entendimento lógico a suas idéias LACAN enunciou o que denomi nou fórmulas da sexuação São quatro propo sições lógicas que vão transcritas a seguir que serviriam para mostrar o equívoco da posição freudiana da libido masculina única 1 Todos os homens têm falo 2 Nenhuma mulher tem falo 3 Todos os homens menos um estão sub metidos à castração 4 Não existe ninguém que constitua uma exceção à função fálica A exceção menos um da terceira fórmula é uma alusão ao pai da horda primitiva A quarta fórmula leva a concluir que todas as mulheres têm um acesso ilimitado à fun ção fálica ficando estabelecida uma assi metria entre os dois sexos A partir das duas últimas fórmulas LACAN definiu as formas masculina e feminina do seu conceito de gozo Sexual gênero ROBERT STOLLER Atualmente graças principalmente aos tra balhos de R STOLLER 1968 psicanalista americano 19241991 atribuise uma ex pressiva importância não somente ao sexo biológico com que a criança nasce mas tam bém à formação do seu gênero sexual o qual vai depender fundamentalmente dos desejos inconscientes que os pais alimen tam quanto a suas expectativas e deman das em relação à conduta e ao comporta mento do filho ou da filha Essa indução por parte dos pais na deter minação do gênero sexual das crianças cos tuma ser feita a partir de uma combinação de fatores influenciadores como pode ser o uso de roupas que provocam confusões e indefinições o tipo de brinquedos e brinca deiras que eles incentivaram a idealização ou denegrimento de certos atributos mas culinos ou femininos etc Assim costuma ser comum a formação de um conluio inconsciente na base de um faz deconta que ninguém está vendo nada de sorte a negar uma evidente cumplicidade entre duas ou mais pessoas de uma mesma família Muitas vezes os pais não só deter minam decisivamente o gênero sexual dos filhos como também pode acontecer que atuem uma possível homossexualidade la tente por meio de seu filho ou filha Comentário A estruturação de um gêne ro sexual diferente do sexo biológico está longe de necessariamente significar uma homossexualidade atuante porém pode ser um fator propiciador Assim creio que se pode dizer que em alguns casos um casal com sexos biológicos diferentes mas com um certo arranjo dos respectivos gêneros sexuais pode estar configurando uma rela ção de natureza homossexual 384 DAVID E ZIMERMAN Sexualidade feminina A FREUD 1931 A sexualidade feminina consiste numa rea firmação das constatações anunciadas por FREUD pela primeira vez seis anos antes em seu trabalho Algumas conseqüências psí quicas da distinção anatômica entre os se xos com a diferença de que no presente trabalho ele dá maior ênfase à intensidade e à longa duração do apego préedipiano da menina à mãe Esse ensaio está dividido em quatro partes a parte I é intitulada O complexo de Édipo feminino difere do masculino a parte II estuda Os motivos préedipianos da meni na para afastarse da mãe a parte III tem o título As metas sexuais préedipianas da menina dirigidas à mãe e na parte IV FREUD faz uma Crítica da literatura analíti ca sobre a sexualidade feminina A sexualidade feminina está no volume XXI p259 da edição brasileira da Stan dard Edition Sexualidade infantil FREUD Introduzida por FREUD a expressão sexuali dade infantil desde o início gerou grandes po lêmicas e uma confusão conceitual tanto den tro como fora da comunidade psicanalítica internacional O próprio FREUD foi ambíguo quanto ao significado do termo sexual inici almente definindoo como uma pulsão por tanto inato que visava à preservação da es pécie diferentemente da pulsão de autocon servação tendo posteriormente unificado as duas sob o nome de pulsões de vida Assim FREUD dava certa superposição conceitual entre sexualidade e genitalidade Ao longo da evolução de sua obra FREUD foi utilizando o termo libido em latim de signa desejo para referir que em termos genéricos ele alude a todas as pulsões res ponsáveis por tudo o que compreendemos sob o nome de amor Assim na atualidade prevalece o enten dimento de que sexualidade não designa apenas as atividades e o prazer que de pendem do funcionamento do aparelho genital mas também toda uma série de excitações e de atividades presentes des de a remota infância que proporcionam uma satisfação de alguma necessidade fi siológica fundamental Pode ser o ato da alimentação da excreção etc de modo que o sexual não fica reduzido ao genital da mesma forma que o psiquismo não é redutível unicamente ao consciente Ainda segundo FREUD a pulsão sexual estaria fragmentada em pulsões parciais de satisfa ção localizada em certas zonas erógenas e que só progressivamente é que tenderão a unifi carse em uma mesma organização libidinal sob o primado da genitalidade FREUD tam bém ligou a sexualidade infantil prégenital com uma dimensão perversa tanto no que se refere à fase evolutiva normal perverso polimorfa quanto no caso em que as pulsões parciais não se integrassem em um genitali dade adulta mas sim persistissem como pon tos de fixação e de regressão As pulsões esta riam propiciando dessa maneira a formação de quadros clínicos de perversões como es copofilia exibicionismo certas formas de sa domasoquismo etc É interessante assinalar que segundo A GRE EN 1990 a palavra sexo deriva do latim se xion que significa cisão corte Isso está de acordo com o mito que aparece no Banquete de Platão no qual um personagem afirma que no início existiam três gêneros humanos um masculino um feminino e um outro compos to por ambos os sexos Segundo o mito Zeus ordenou que a figura que juntava os dois se xos fosse seccionada ao meio de sorte que as duas metades separadas passaram a ansiar ardorosamente uma pela outra tal como acontece numa relação sexual Significantesignificado LACAN O termo significante foi introduzido pelo lin güista FERDINAND DE SAUSSURE 18571913 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 385 que em seu Curso de Lingüística Geral di vide o signo lingüístico em duas partes de nomina de significante a imagem acústica de um conceito e chama de significado o conceito em si Inspirado nisso LACAN construiu a noção de estruturalismo da linguagem expressão que se refere às relações estabelecidas entre a estrutura lingüística e a social vistas como sistemas em comunicação recíproca e deu uma extraordinária importância ao aspecto da linguagem como uma estrutura a ponto de declarar que o ser humano está inseri do em um universo de linguagem Assim para LACAN a linguagem determina o sentido e gera as estruturas da mente de forma que afirma ele o inconsciente não é uma coisa nem um lugar e ao mesmo tempo em que a linguagem é estruturante do inconsciente este também é estrutura do como uma linguagem Dessa maneira de forma igual à estrutura gramatical do sonho também a linguagem primordial mente não está constituída por palavras mas sim por imagens como se fossem hi eróglifos a serem decifrados O exemplo clássico que costuma ser utiliza do é o da palavra árvore a qual não reme te do ponto de vista lingüístico à árvore real mas à idéia de árvore o significado e a um som o significante que é pronuncia do por intermédio de seis fonemas elemen tares arvore O signo lingüístico portan to une um conceito a uma imagem acústi ca e não uma coisa a um nome O importante na estrutura lingüística é o lugar que cada signo ocupa nela bem como a relação de cada um dos signos com os demais Assim o que sobremodo importa para LACAN fundamentado em FREUD é que o psiquismo inconsciente funciona como uma cadeia de significantes de tal sorte que por meio de deslizamentos através dos mecanismos de deslocamento condensação e simbolização de forma análoga ao que ocorre com os sonhos um significante é remetido a outro de modo a permitir com parar esse processo com o de decifração de uma carta enigmática ou o de uma consul ta de um termo num dicionário que vai re meter a outro termo que remete a um ter ceiro e assim por diante até ser concei tualizado com algum significado A ilus tração que LACAN emprega em 1955 é extraída do conto A carta roubada de Edgar Allan Poe Um exemplo clínico do que acima está re ferido em FREUD o Homem dos ratos foi tomado por um impulso de querer emagre cer mas não conseguia executar esse inten to porquanto o impulso se manteria incom preensível enquanto não fosse revelado que a palavra gordo no idioma alemão que fa lava é dick sendo também Dick o nome de um rival de quem gostaria de se desfa zer Pelo mecanismo de deslizamento de um significante para outro emagrecer teria o significado de matar o rival Dick Comentário Por meio desse viés para exemplificar numa outra dimensão pode mos entender a articulação do narcisismo com o complexo de castração edípica por quanto a ameaça de castração e tudo que a simboliza como doença cirurgia separa ção etc remete o sujeito por deslizamen to a uma primitiva sensação de desamparo e coloca em perigo sua autoestima seu sentimento de identidade e portanto a so brevivência de seu próprio ego Por exem plo uma situação cirúrgica qualquer pode remeter através da cadeia de significantes a uma significação de mutilação que por sua vez remete a uma castração própria do período edípico o qual pode remeter a prévias fantasias com primitivos significan tes de perdas e abandonos etc Em suma é tamanha a importância que LACAN atribui à linguagem com as signifi cações provindas do discurso dos pais e dos valores culturais que ele chega a afirmar a sua famosa frase de que o inconsciente é o discurso dos outros 386 DAVID E ZIMERMAN Silêncio na situação analítica Situação bastante freqüente no processo analítico refere tanto o paciente exagera damente silencioso quanto estilo do analis ta também excessivamente silencioso no curso das sessões Inicialmente é útil esta belecer uma diferença entre silêncio e mu tismo O primeiro pode acontecer sob dis tintas modalidades graus e circunstâncias enquanto mutismo alude a uma forma mais prolongada e a uma determinação mais definida de o paciente de manterse silenci oso na análise às vezes de forma absoluta ou com esporádicos e lacônicos comunica dos verbais A partir da experiência clínica em relação às causas mais comuns que determinam os silêncios do analisando na situação analíti ca as seguintes se evidenciam com mais freqüência 1 Simbiótica que ocorre no caso de paci entes que se julgam no pleno direito de es perar que o analista adivinhe magicamente suas demandas não satisfeitas 2 Bloqueio da capacidade de pensar 3 Inibição fóbica medo de decepcionar 4 Protesto que geralmente acontece quan do os anseios narcisistas do analisando não estão sendo gratificados 5 Controle que é uma das formas de tes tar o continente do analista ou de manter as rédeas da situação 6 Desafio narcisista quando o paciente fan tasia que permanecendo silencioso ele tri unfa e derrota o seu analista e inverte os papéis 7 Negativismo que pode estar expressan do um revide ou uma identificação com os objetos frustradores que não lhe respondi am ou pode estar representando aquele necessário e estruturante uso do não tal como foi descrito por SPITZ 8 Comunicação primitiva despertando efei tos contratransferenciais Cabe ao analista descodificar uma vez que um nada pode dizer muito acerca de um tudo não mani festado 9 Regressivo que ocorre quando o pacien te chega a adormecer no divã como se es tivesse vivenciando a experiência de dor mir sendo velado pela mamãe 10 Elaborativo situação em que o silêncio se constitui como um espaço e um tempo necessários para o paciente fazer reflexões e a integração dos insights parciais para um insight total Em relação ao silêncio continuado do ana lista tanto pode decorrer de suas idiossin crasias como também do cumprimento de uma orientação da corrente psicanalítica da qual é seguidor Em certa época vingava a recomendação de TREICK 1945 que apa rece no seu livro La significación psicológi ca del silencio no sentido de o psicanalista manterse nas sessões o máximo possível silencioso com a finalidade de despertar um contínuo estado de ansiedade no paciente e dessa forma impelilo a procurar que brar o mutismo do analista e a verbalizar de forma mais sentida e verdadeira suas expe riências emocionais presentes e passadas Dificilmente nos dias atuais algum analis ta siga essa recomendação ao pé da letra Num outro extremo pode acontecer que o analista seja por demais loquaz a ponto de nunca se formar algum silêncio no campo analítico o que representa desvantagens É importante a metáfora de BION de que a música está formada por elementos de no tasintervalosnotas sendo que a ausência de som isto é a presença do intervalo pode representar mais vigor e expressividade que a nota musical por si só Simbiose M MAHLER BION Termo muito freqüente na literatura psi canalítica na grande maioria das vezes para designar uma fase evolutiva normal ou uma detenção patogênica em um adul to portador de transtorno narcisista na VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 387 qual a criança ainda sentese fundida com a mãe Assim por exemplo na descrição de MMAHLER simbiose designa uma fase evolutiva que antecede à da diferencia ção ou seja a criança ou no caso de patologia um sujeito adulto ainda não atingiu a capacidade de fazer discrimina ções entre o eu e o outro e tampouco adquiriu as capacidades de uma exitosa separação e individuação Entretanto o termo simbiose na obra de BION adquire um significado diferente mais precisamente referese ao vínculo continenteconteúdo que ele descreveu com três modalidades a parasitária a comensal e a simbiótica Essa última pro vém do vocábulo simbiose que se origina dos étimos gregos sym junto de bios vida e designa da mesma forma como na biologia um convívio harmônico e produtivo entre os dois seres que estão em convívio Simbólica equação H SEGAL A palavra plena de significado é uma for mação simbólica resultante da sinergia de dois fatores o neurobiológico e o emoci onal Nos casos em que este último tenha falhado no referencial kleiniano a falha alude ao fato de não ter sido atingida a posição depressiva as palavras não ad quirem a dimensão da conceituação e da abstração Esse fato em seu grau máxi mo é observado nitidamente em esqui zofrênicos que utilizam as palavras e fra ses não como símbolos mas como equa ções simbólicas tal como é descrito por H SEGAL 1954 Nesses casos resulta uma confusão entre o símbolo e o que está sendo simbolizado tal como SEGAL exemplifica com um paciente dela psicótico que convidado para tocar violino deu ao convite o significado de que estaria sendo convidado a masturbarse publicamente Simbólico registro LACAN LACAN introduziu na psicanálise três regis tros essenciais sempre entrelaçados o real o imaginário e o simbólico Esse último de signa a ordem dos fenômenos de que trata a psicanálise na medida em que são estru turados como uma linguagem Enquanto FREUD conceitua o símbolo como o que de fato representa LACAN considera primordial a estrutura do sistema simbólico que for ma um modelo lingüístico baseado na ca deia de significantes que procedem de fora e estão em oposição Assim para designar a instituição da lei pa terna que coloca limites para o filho LACAN emprega a terminologia de LeidoPai ou pai simbólico ou NomedoPai ver esses verbetesEm resumo para LACAN o simbóli co tem dois registros um é como organiza ção uma designação de lugares e funções o outro é como uma lei daquilo que deve ser Símbolo O conceito de símbolo é comum a muitas disciplinas psicologia lingüística episte mologia religião e naturalmente a psica nálise de maneira que é difícil delimitar um conceito puramente psicanalítico A palavra símbolo cujo radical grego sym significa junto segundo Laplanche e Pon talis 1967 era para os gregos um sinal de reconhecimento entre membros de uma mesma seita por exemplo formado pelas duas metades de um objeto partido que se aproximavam Símbolo é pois a unidade perdida e refei ta podendo essa junção de duas metades ser entendida se usarmos um referencial lacaniano como equivalente ao jubiloso encontro da criança com a totalidade de sua imagem refletida no espelho No referencial kleiniano é fundamental a passagem exito sa pela posição depressiva para a aquisição da capacidade de simbolizar 388 DAVID E ZIMERMAN É importante destacar que na conceitua ção de símbolo a reunião das duas partes perdidas não visa a uma exata reconstitui ção da primitiva perda como poderia ser a da antiga unidade simbiótica filhomãe Pelo contrário ela supõe uma junção sintética dos elementos que promovam um significado distinto do primitivo A progressiva aceita ção das perdas é matériaprima para a for mação de símbolos cuja função maior é a de substituir os objetos perdidos ou afastados É o progressivo processo da capacidade sim bólica que vai possibilitar a formação da lin guagem verbal a palavra é um símbolo talvez o mais nobre de todos dos jogos e brinquedos criativos assim como a forma ção de sonhos em uma escalada crescen te até atingir a capacidade do pensamento abstrato Sinal de angústia ou angústiasinal FREUD Expressão introduzida por FREUD no traba lho Inibições sintomas e angústia 1926 com o propósito de diferenciála do que até então ele descrevia com o nome de angús tia automática a qual surgiria como resul tante da pressão de um excesso de recalca mentos que o ego não teria condições de processar Pelo contrário a angústiasinal surge como preventiva dos perigos e pro move os recalques Assim enquanto a angústia automática tem uma concepção essencialmente econômica a angústiasinal também chamada segun da teoria da angústia alude mais direta mente a uma forma defensiva do ego dian te de certas situações que acionam as an gustiantes experiências traumáticas primiti vas que foram vividas pela criança e que estão inscritas e representadas como peri gosas no seu ego adulto Comentário Podese dizer que o sinal de angústia representa vantagens para o sujei to porque o deixa mais preparado diante de perigos reais e que ao mesmo tempo pode trazer sérias desvantagens quando o ego fica hiperalerta hiperreativo tal como acontece nas reações fóbicas A metáfora que me ocorre é a do sistema imunológico do organismo humano é ele quem sadia mente protege contra o perigo de uma in vasão de corpos estranhos porém pode ter uma reação tão exagerada e desproporcio nal ao agente estressante a ponto de pro vocar sérias reações alérgicas ou até um choque anafilático Sintoma FREUD Até FREUD os manifestos sintomas histéri cos conversivos e dissociativos os mais ruidosos de todos na época eram consi derados como simulação A partir do enfo que psicanalítico o sintoma neurótico pas sou a ser entendido como a expressão de um conflito inconsciente geralmente a de um desejo proibido sofrendo um recalca mento de uma instância repressora que só permite a manifestação indireta do desejo camuflado e disfarçado sob a forma do sin toma de forma análoga ao que se passa no fenômeno do sonho Assim embora o entendimento do sintoma psíquico tenha sofrido progressivo desenvol vimento sua formação depende essencial mente do que FREUD denominou formação de compromisso entre pulsões e defesas adquirindo o sintoma uma configuração decorrente da natureza das defesas predo minantemente utilizadas pelo ego Si mesmo ou si próprio KOHUT Tradução em português do termo self tal como conceituado por KOHUT Ver o verbete Self Simetria princípio da IMATTE BLANCO Ver o verbete Matte Blanco VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 389 Sincrético pensamento Forma de pensamento de natureza psi cótica porquanto o sujeito faz uma amál gama e não uma síntese de concepções heterogêneas Da mesma forma o sin cretismo é próprio de povos primitivos que fazem a fusão de dois ou mais ele mentos culturais ou religiosos antagôni cos num só elemento continuando po rém perceptíveis alguns sinais de suas origens diversas Síntese A capacidade de fazer sínteses é considera da como uma das funções mais nobres do ego de uma pessoa O termo síntese não deve ser confundido com resumo pelo con trário síntese alude a uma capacidade de juntar aspectos dissociados às vezes con traditórios de modo a extrair uma abstra ção com novos significados BION concebeu que o psicótico não reúne condições de fazer sínteses isso exige uma entrada exitosa na posição depressi va No lugar das sínteses pode compri mir os pensamentos mas não juntálos assim como pode fundir mas não articu lálos Sistema dedutivo científico BION No eixo vertical da Grade cuja função consiste em dar uma idéia da evolução ge nética da capacidade de pensar o sistema dedutivo científico ocupa a fileira G BION em Cogitações 1992 p165 afirma que Por essa expressão sistema dedutivo cien tífico entendo qualquer sistema de hipóte ses no qual certas hipóteses ocupem um nível superior em um sistema particular e sejam usadas como premissas das quais se deduzem as hipóteses de nível inferior As hipóteses de nível inferior são de generali zação decrescente até a mais inferior pos suidora de um grau de particularização que a torna adequada para verificar por expe riência empírica ou no caso da psicanálise pela experiência clínica Sistêmica teoria TERAPEUTAS DE FAMÍLIA Base predominante da terapia de família a teoria sistêmica como o nome sugere con cebe a família como um sistema em que seus diversos componentes ficam dispostos numa combinação e hierarquização dos papéis que visa sobretudo a manter o equilíbrio do grupo familiar Dentro do próprio corpo da terapia de fa mília de orientação sistêmica existem múltiplas tendências divergentes mas to das destacam a importância da distribui ção de papéis entre os familiares especi almente o do paciente identificado o de positário dos conflitos dos demais To das concordam também que o sistema familiar se comporta como um conjunto integrado numa estrutura ou seja qual quer modificação em um elemento do sis tema necessariamente vai afetar o siste ma como um todo É comum que haja nas famílias uma com pulsão à repetição de geração a geração de um mesmo código de valores estratifi cados e que constituem nos chamados mitos familiares muito difíceis de desfa zer Os terapeutas da linha sistêmica tam bém enfatizam o fato de que no atendi mento conjunto de um paciente com a família devese procurar o desmascara mento da farsa de que há um único pa ciente e uma família vítima e desesperan çada A tendência atual na terapia de família é a de uma corrente integradora entre as concepções psicanalíticas sistêmicas e da teoria comunicacional assim como a eventual utilização de técnicas psicodra máticas 390 DAVID E ZIMERMAN Só capacidade de estar WINNICOTT No artigo intitulado A capacidade para es tar só aparece publicado em O ambiente e os processos de maturação 1982 WINNI COTT conceitua essa capacidade como um paradoxo visto que designa a capacidade para ficar só na presença de alguém O autor descreve como exemplo a situação em que após um coito satisfatório cada parceiro se sente só porém satisfeito por estar só de modo que ser capaz de apreci ar estar só estando junto com outra pessoa que também esta só é uma experiência normal Seguindo esse raciocínio WINNI COTT afirma que se trata de uma solidão compartilhada ou seja uma solidão que não é acompanhada de um retraimento e da sensação de abandono e desamparo porque predomina a certeza que o outro está junto e disponível tal como acontece numa relação sadia entre a mãe e seu filhinho WINNICOTT também menciona MKLEIN que postulou que a capacidade para ficar só depende da existência de um objeto bom na realidade psíquica do indivíduo Ver o verbete Capacidades Sobre alucinação BION 1958 Este trabalho cujo título original é On Hallu nation é um dos que compõem o livro Es tudos psicanalíticos revisados Second thou ghts Nele partindo da análise de um paci ente esquizóide BION aborda uma série de aspectos importantes como 1 A necessária distinção a ser feita entre o fenômeno da dissociação mais benig na com objetos totais presente nas his terias e o da clivagem mais primitiva com objetos parciais mais própria das psicoses O autor estendese em con siderações acerca das diferenças entre his teria e psicose 2 O paciente fazia uso evacuatório de seus sentidos e as alucinações eram empregadas a serviço do desejo de curar e portanto podem ser consideradas atividades criativas 3 É particularmente interessante a descri ção de como o uso excessivo de identifica ções projetivas provoca confusão e indis criminação entre os órgãos sensoriais da visão e o da audição de sorte que esse uso era feito como se fossem órgãos digestivos pra satisfazer o apetite 4 É igualmente interessante constatar como o paciente associava fortes sentimentos per secutórios a qualquer aparelho elétrico como um gramofone que BION tinha no con sultório O próprio BION era tratado pelo paciente não como uma pessoa indepen dente mas com uma alucinação de tal modo que cada sílaba proferida por mim era experimentada como uma punhalada 5 BION também mostra que para o psicóti co o sonho é a evacuação de um material que foi ingerido durante as horas de vigília 6 O artigo conclui com a afirmação de que é necessário que o psicanalista saiba que alucinações durante sessões analíticas são mais freqüentes do que se pensa Sobre arrogância BION 1958 Trabalho cujo título original é On arrogan ce consta do livro Estudos psicanalíticos revisados É baseado na experiência clínica de BION com um paciente que evidenciava todas as manifestações descritas de perso nalidade psicótica inclusive episódios de confusão e despersonalização embora não fosse um psicótico propriamente dito No curso da análise formouse uma reação te rapêutica negativa manifestada sob a for ma do tripé atitude de arrogância de estu pidez e de curiosidade intrusiva BION se es tende em considerasções sobre a RTN do paciente afirmando que quando interpre tava a inveja edípica o quadro não melho rava pelo contrário piorava A situação de impasse somente reverteu quando BION per cebeu que o paciente estava se expressan VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 391 do através de uma forma muito primitiva de comunicação e que necessitava de um continente para a projeção de seus aspec tos bons e de seus ataques mutiladores Também é nesse artigo que BION estuda o mito edípico sob um vértice ampliado e diferente do que conhecemos em FREUD ou seja ele destaca a presença do mito na tríade arro gânciaestupidezcuriosidade nos personagens que participam da tragédia Sobre a psicoterapia FREUD 1905 Esse trabalho publicado no volume VII da Standard Edition reúne três conferências pro nunciados por FREUD na Sociedade Médica de Viena em 1904 Após afirmar que a maio ria dos métodos da antiga medicina e da me dicina primitiva pode ser classificada sob o título de psicoterapia e que as neuroses não são curadas pelo medicamento porém pelo médico isto é pela personalidade do médi co FREUD apresenta várias idéias relativas a psicoterapias 1 Este método é freqüentemente confun dido com o tratamento hipnótico pela su gestão Na realidade existe a maior antítese possível entre essas duas técnicas A suges tão contrariamente à psicoterapia não se interessa pela origem pela força e pelo sig nificado dos transtornos emocionais 2 A técnica de procurar as origens de uma doença não é fácil e não pode ser praticada sem o devido treinamento 3 A investigação e a exploração psicanalí ticas não indicam resultados rápidos e a re sistência pode provocar muitas decepções 4 O método que lida com o inconsciente tem indicações e contraindicações 5 O tratamento psicanalítico pode ser conce bido de maneira geral como uma reeduca ção na superação das resistências internas 6 Nesse trabalho mencionando o grande Leonardo da Vinci FREUD estabelece uma distinção entre o modelo per via di porre e o per via di levare Ver o verbete Via di porre e via di levare Sobre uma citação de Freud BION 1976 Artigo cujo original é intitulado On a quo tation from Freud e integra os quatro traba lhos incluídos no livro Seminários clínicos e quatro artigos Nele partindo da afirma tiva de FREUD de 1926 de que existe mui to mais continuidade com a vida intraute rina do que a importante cesura do ato de nascer poderia nos fazer crer BION aporta uma série de concepções muitas delas re lativas ao psiquismo fetal que são impor tantes para a prática analítica contemporâ nea como as frases a seguir transcritas 1 Picasso pintou um quadro em um pe daço de vidro de maneira que pudesse ser visto de ambos lados Sugiro que o mesmo pode dizerse da cesura depende de que lado se a olhe para que lado se está indo 2 O mito de Palinuro mostra que pode haver a crença de que se pode abandonar o curso da viajada enquanto se conduz as naves sobre a calma e formosa superfície do Mediterrâneo Isto é algo que não deve ríamos esquecer não deveríamos deixar que nos desorientemos pela formosa e su perficial calma que atravessa nossos distin tos consultórios e instituições 3 Creio que seria muito útil considerar que certos estados de medo de intenso medo são mais fáceis de visualizar e de imaginar se pensarmos neles como um medo de ori gem talâmica ou como alguma espécie de manifestação glandular do tipo de algo re lacionado com o renal ou daquilo que mais tarde se converte nos órgãos genitais 4 Certamente não vejo porque não poderia ter ficado um resto de uma mui to primitiva sensibilidade o feto poderia ser um objeto são e normal e ainda assim ser submetido a pressões comunicadas muito antes da etapa em que nós pensa mos que já existe algo assim como uma personalidade e muito depois 392 DAVID E ZIMERMAN Sobredeterminação FREUD Termo da filosofia foi introduzido por FREUD na psicanálise para designar a pluralidade de determinados fatores que geram um dado efeito final como ele considerou par ticularmente no fenômeno que se passa na formação dos sonhos A sobredeterminação é o efeito do trabalho de dois mecanismos o da condensação que agrupa os diversos fatores como se fossem um só e o do deslocamento que pode dar um aparente relevo maior a um fator insignificante devido a que o fator mais relevante ficou deslocado naquele Na literatura psicanalítica a sobredetermi nação também costuma aparecer nas tra duções como superdeterminação multide terminação e determinação múltipla Sobreinvestimento ou superinvestimento FREUD Termo utilizado por FREUD especialmente com um significado relativo a sua teoria econômi ca Enfocou a existência de um superinvesti mento libidinal em situações como a que é exigida no processo da função egóica da aten ção e na preparação para o enfrentamento de situações de perigo FREUD assinalou que para a solução de grande número de trau matismos o fator decisivo seria a diferença entre sistemas não preparados e sistemas pre parados por sobreinvestimentos Sobrenatural O FREUD 1919 Esse trabalho está no volume XVII da Stan dard Edition Ver o verbete Estranho O Sobrevivência do objeto WINNICOTT WINNICOTT deu especial importância à ca pacidade da mãe de poder sobreviver aos ataques destrutivos e às demandas vorazes do filho constituindo o que denominou a crueldade da criança não é o mesmo que ter ódio sem retaliar sem sucumbir a um estado de depressão que viria a exacerbar as fantasias do filho a respeito de sua mal dade e destrutividade Esse aspecto ganha relevância na situação psicanalítica especialmente com pacientes bastante regredidos que submetem o tera peuta a toda sorte de ataques similares No fundo ficam à espera que o analista sobre viva a eles sem revidar sem se deprimir sem ficar apático e desinteressado sem en chêlos de medicamentos sem apelar para uma internação hospitalar e sem encami nhar para outros colegas Somática complacência FREUD Ver o verbete Complacência somática Sonho FREUD Até antes das descobertas de FREUD a bus ca de entendimento dos sonhos que desde sempre acompanham os seres humanos estava entregue aos demiurgos e charlatões em geral que procuravam extrair deles anúncios proféticos premonitórios mensa gens de espíritos ou interpretações fantásti cas Posteriormente quando a ciência co meçava a dar passos mais firmes filósofos e alguns médicos neuropsiquiatras esboçaram algumas especulações mas insistiam em em prestar a cada fragmento simbólico de qual quer sonho determinado significado especí fico o qual valeria para todas as pessoas A partir de FREUD mais exatamente em 1900 com a elaboração e publicação do seu mais famoso livro A interpretação dos sonhos os sonhos não só ganharam nova dimensão científica como também o apro fundamento do seu estudo abriu as portas para a consolidação da teoria da psicanáli se pelas seguintes razões 1 Representa a primeira análise levada a efeito no caso uma autoanálise motivada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 393 pela necessidade que FREUD sentiu de ela borar a morte recente de seu pai 2 Possibilitou a FREUD construir um modelo do aparelho psíquico tal como aparece no célebre capítulo VII desse livro 3 Nesse mesmo capítulo ele formula o modelo de um aparelho óptico 4 Esse modelo permitiu que ele estabele cesse uma teoria puramente psicológica que veio a denominar topográfica palavra que deriva dos étimos gregos topos lugar graphein descrever 5 O fenômeno do sonho permitiu conce ber que não existia uma plena delimitação entre o normal e o patológico 6 Igualmente permitiu estabelecer uma integração entre experiências recentes res tos diurnos e as antigas que constituem o conteúdo latente do sonho 7 Propiciou a FREUD fazer as primeiras des crições de Édipo e da sexualidade infantil e estabelecer uma equivalência entre a estru tura dos sonhos e a das neuroses 8 A interpretação dos sonhos serviu a FREUD como modelo para colocar a atividade in terpretativa do analista como eixo de gravi tação da técnica da psicanálise Em relação à formação dos sonhos FREUD assinalou que são três os fatores indispen sáveis 1 Estímulos sensoriais internos ou exter nos como ruídos odores luz vontade de urinar etc 2 Restos diurnos 3 A existência prévia de sentimentos pen samentos e desejos recalcados no inconsci ente Partindo desses fatores genéricos FREUD descreveu os seguintes fenômenos psíqui cos que estão presentes na formação de qualquer sonho 1 Conteúdo manifesto designa aquilo que aparece no consciente daquele que sonhou quase sempre sob a forma de imagens vi suais que ele pode ou não recordar depois de despertar 2 Elaboração onírica secundária também conhecida como atividade do sonho e que consiste numa atividade durante o sono do ego que se encarrega de disfarçar e dissi mular o que está recalcado no inconsciente e proibido de aparecer no consciente em estado bruto 3 Conteúdo latente aquilo que de fato está recalcado no aludido estado bruto 4 Censor onírico FREUD comparou essa parte onírica do ego inconsciente ao de um censor de notícias com amplos poderes para suprimir qualquer trecho que ele jul gue inconveniente 5 Mecanismos defensivos do ego principal mente os de deslocamento condensação e simbolização cuja tarefa maior é a de dis farçar o conteúdo latente em manifesto 6 Formação de compromisso Da mesma forma como ocorre na formação de um sintoma neurótico FREUD 1933 conce beu que também o sonho resulta de uma formação de compromisso entre as pul sões do id e as defesas do ego que permi tem somente uma gratificação parcial e tolerável daquelas pulsões FREUD fez algumas modificações concei tuais porém nunca abriu mão do seu prin cípio básico de que os sonhos são sem pre uma forma de satisfação de desejos recalcados As seguintes clássicas frases de Freud podem dar uma noção pano râmica de como encarava o entendimen to e a importância do surgimento do so nho na prática analítica uma descober ta e uma intuição como estas o destino pode deparálas somente uma vez na vida de um homem o sonho é a via régia do inconsciente o sonho é o guardião do sono o sonho é a realização de al gum desejo Fica implícito que FREUD comungava com o Talmude livro da sabedoria judaica que há séculos já sentenciava que todo sonho que não se interpreta é uma carta que fica sem ser aberta 394 DAVID E ZIMERMAN Sonhos pósFreud Após as postulações de FREUD muitos pes quisadores e psicanalistas têm trazido im portantes contribuições e novas formas de conceber a formação função e aplicação psicanalítica dos sonhos Cabe mencionar os seguintes aportes Contribuições da Psicofisiologia Nos anos 50 apareceu o livro do pesquisador R FLI ESS sobre a descoberta psicofisiológica dos movimentos oculares durante o sonhar e da forma como aparecem os traçados ele troencefalográficos no curso de certas fases do sono Em especial foi verificado que du rante certo período o sonho é acompanha do por um movimento rápido dos olhos Esse período pela sigla REM em inglês Rapid Eyes Movements As diversas fases do sono com as respectivas mudanças no ritmo do REM permitem estudos mais apro fundados sobre os sonhos Tais descobertas causaram um grande en tusiasmo entre os pesquisadores da área instalandose laboratórios que prosseguem ativamente nos dias de hoje no estudo dos fenômenos que acompanham o dormir o sonhar e a atividade onírica durante toda a noite Um aspecto interessante a ser con signado é que os fenômenos que ocorrem na fase REM de modo genérico estão con firmando as hipóteses de FREUD Escola Kleiniana Para MKLEIN o sonho consiste em uma dramatização de algum conflito com as respectivas fantasias incons cientes e angústias da qual participariam todos os elementos componentes do self Entre outros os autores kleinianos que mais se aprofundaram no estudo dos sonhos fo ram HSEGAL e D MELTZER tendo este ata cado duramente as concepções originais de FREUD Assim em um dos seus últimos livros Dream Life1984 MELTZER concebe que o sonho traduz sobretudo as representações simbó licas dos estados da mente daquele que so nha além de a atividade do inconsciente geradora de símbolos estar presente indi retamente no diaadia da vida de vigília Desse modo transparece uma atividade permanente que corresponde às fantasias inconscientes Ademais discordando radi calmente de FREUD MELTZER acredita que o sonho é um processo ativo que tem uma capacidade criativa e é gerador de símbo los Em resumo para MELTZER Dream Life significa que o script do sonho é o mesmo da vida consciente de modo que na ver dade a pessoa vive nos sonhos Psicólogos do Ego Os autores dessa cor rente psicanalítica também se afastaram bas tante de FREUD Alguns deles jocosamente costumavam dizer que a via régia de FREUD já estava gasta e algo inutilizada de tanto ter sido transitada e enfocaram os sonhos do ponto de vista da estrutura da mente WINNICOTT Para ficar em um único as pecto que relaciona a obra de WINNICOTT e seus seguidores com os sonhos cabe destacar a noção de espaçosonho que corresponde ao espaço transicional isto é o espaço que existe no sonho pode re presentar uma transição entre o mundo imaginário e o da realidade assim como também representa a possibilidade de pensamentos e atos criativos BION Juntamente com os mitos e pensa mentos oníricos BION situa os sonhos na filei ra C de sua Grade Partindo do modelo con tinenteconteúdo ele descreveu três tipos de sonhos o elaborativo nos moldes descritos por FREUD o evacuativo são impressões psí quicas que agem como elementos β portan to não conseguem ser pensados e elabora dos tal como acontece com os psicóticos e o tipo misto que reúne os dois anteriores Em relação ao manejo técnico do sonho na prática clínica muita coisa mudou desde os tempos pioneiros de FREUD e seguidores imediatos Já não se despende um tempo enorme analisando detalhe por detalhe de cada sonho com se fazia exigindo as cor VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 395 respondentes livres associações de cada um deles até surgir a interpretação final formu lada pelo analista de forma brilhante Na época faziam uma reconstrução histórica através do simbolismo dos sonhos Na atualidade o relato do sonho continua sen do muito importante porque mostra que a mente do paciente está tentando elaborar algo provavelmente ligado ao trabalho analítico Porém no lugar de simplesmente o paciente relatar o sonho à espera de uma interpreta ção os analistas estimulam o paciente a con juntamente com o terapeuta buscar um signi ficado dentro de um contexto mais geral como seria o sujeito narrar desde a sua ótica um filme um livro um acontecimento juntamen te com os sentimentos nele despertados Splitting forçado e splitting estático BION BION descreveu duas modalidades de split ting do psiquismo do paciente o estático e o forçado O primeiro consiste em uma forma de prote gerse da dor psíquica decorrente do insight de alguma verdade penosa através de um ativo ver mal ouvir mal entender mal como acontece na reversão da perspectiva O splitting forçado por sua vez referese ao fato de que o paciente pode relacionarse bem com o analista enquanto esse fornece segu rança e alimento de forma análoga à como foi na infância com sua mãe Porém ao mesmo tempo ele bloqueia toda a aproxima ção afetiva com o analista como foi com os pais Spitz René RENÉ A SPITZ nasceu em Viena em 1887 originário de uma família húngara tendo passado grande parte da sua vida em Bu dapeste onde se formou em medicina e onde conheceu SFERENCZI que o encami nhou em 1911 para uma análise didática com FREUD Tornouse membro da Socie dade Psicanalítica Alemã em 1930 Em 1938 emigrou para os Estados Unidos ra dicandose no Colorado onde exerceu suas atividades clínicas e mais notoriamente as pesquisas que o tornaram célebre As principais pesquisas e trabalhos de SPITZ dizem respeito ao estudo do hospitalismo de crianças da correlata depressão anaclí tica dos distúrbios de linguagem das crian ças que tiveram abandonos prematuros Também realizou observações através de filmes sobre as etapas evolutivas de crian ças como a sua noção de organizadores a reação de medo aos estranhos por volta do sexto mês de vida bem como a função es truturante do não da criança Squiggle WINNICOTT Ver o verbete Jogo do rabisco Standard Edition obras completas de FREUD A chamada edição Standard das obras psico lógicas completas de FREUD contendo a tra dução de todos seus textos originais foi pu blicada na Inglaterra entre 1955 e 1974 É reconhecida como um dos mais notáveis empreendimentos intelectuais de todos os tempos O mais notável é que este trabalho gigantesco foi realizado praticamente por um único homem JAMES STRACHEY com a aju da de dois ou três auxiliares com escassos recursos materiais porém com o decisivo apoio de ANNA FREUD A Standard é conside rada a mais influente edição das obras de FREUD para sucessivas gerações de estudiosos da psicanálise a ponto de ser mais utilizada no mundo inteiro do que a edição original alemã a Gesammelte Werke Obras reuni das Esta foi publicada em 18 volumes e a Standard em 24 Além disso a edição inglesa serviu de base para traduções em inúmeros idiomas 396 DAVID E ZIMERMAN Na atualidade todas as traduções das obras completas de FREUD escritas originalmente em alemão têm sido severamente critica das mais precisamente a partir do livro Freud e a alma humana Freud Mans Soul de BRUNO BETTELHEIM publicado em 1982 Mercê do domínio que este psicana lista tinha da língua alemã lhe foi possível demonstrar que as traduções inglesas não só distorcem o significado de alguns con ceitos nucleares de FREUD como impossibi litam o leitor de reconhecer que sua princi pal preocupação era a alma humana Especificamente em relação às traduções em português é curioso e lamentável cons tatar que o Brasil é provavelmente o único país em que as obras de FREUD foram tradu zidas duas vezes mas nunca do original a primeira nos anos 40 do espanhol e do francês a segunda na década de 70 do inglês por SOUZA 1998 Assim o portugu ês é o único idioma neolatino que ainda usa ego id e superego em vez de Ich Es Ou tros termos psicanalíticos cathexis por exemplo também foram traduzidos com o desnecessário auxílio de étimos latinos e gre gos Mas foi sem dúvida a utilização da pa lavra instinct para verter Trieb que provo cou a maior reação Hoje Trieb é traduzido como pulsão Além dos mencionados inúmeros outros termos estão merecendo novas traduções como é o caso de Angst Besetzung na chträglich Verdrängung Vorstellung Zwang Sublimação FREUD O conceito que aparece com freqüência na literatura psicanalítica de todos os tempos porém ainda não adquiriu uma definição precisa e uniforme Assim nas suas primei ras formulações FREUD utilizou esse termo para designar alguma atividade humana bemsucedida principalmente no campo artístico no trabalho intelectual e de obten ção de reconhecimento público em geral que aparentemente não teria nenhuma re lação direta com a sexualidade Essas pes soas porém retiram a energia e capacida de criativa de trabalho da pulsão sexual dessa forma sublimandoa Essa definição de FREUD encontra respaldo no duplo significado da palavra sublimação no mundo artístico a palavra sublime alu de a uma produção que sugira grandeza elevação no campo da química o termo referese a um processo de transformação pelo qual um corpo pode passar diretamente do estado sólido para um gasoso Posteriormente FREUD destacou que a ener gia posta à disposição para a sublimação provinha de uma dessexualização e inclusi ve chegou a referir um conceito equivalen te ao de uma desagressivização Do ponto de vista da escola kleiniana o processo de sublimação consiste numa tendência a res taurar o objeto bom destruído pelas pulsões agressivas A imprecisão conceitual que perdura até os dias de hoje reside no fato de que muitas vezes não é fácil avaliar a diferença entre sublimação e formações reativas idealiza ções e outros sistemas defensivos análogos É igualmente difícil levar em conta as dife renças culturais que valorizam ou desvalori zam determinado comportamento humano Sujeito LACAN Termo usado correntemente em psicologia filosofia e lógica para definir aquele que é sujeito do conhecimento do direito ou da consciência nas suas diversas dimensões Em psicanálise FREUD o empregou porém foi somente com LACAN que a palavra sujei to foi introduzida de forma mais definida na literatura psicanalítica LACAN a enunciou segundo a concepção do sujeito no âmbito da sua teoria do significante ou seja da relação do sujeito com o significante como aparece nessa sua afirmativa de 1960 Um VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 397 significante é aquilo que representa o sujei to para outro significante Em resumo o sujeito a pessoa sujeitase à cultura e atinge a ordem simbólica se ele vier a a aceitar e reconhecer a castração conforme LACAN conceituou Sujeito ideal PIERA AULAGNIER Expressão usada por AULAGNIER para deno minar uma estruturação da personalidade do sujeito mais ligada às demandas expec tantes do ego ideal e do ideal do ego do que propriamente as advindas do supere go de modo que o sujeito ideal funciona subordinado aos valores predominantemen te procedentes do contexto sociocultural As sim numa constante e compulsória busca de completude narcisista o sujeito ideal con funde facilidade com falicidade ou seja ele procura o poder falo em substitutos em fetiches que promovem um estado ou sen sação de poder riqueza prestígio beleza e eterna juventude Daí podese entender mais claramente por que cada vez mais as pessoas premidas pelas insaciáveis demandas da atual socie dade pósmoderna bastante reforçadas pela mídia dedicamse de forma exagerada a toda a sorte de exercícios contratam per sonal trainers ingerem medicamentos que prometem soluções mágicas viagra xeni cal prozac submetemse a rigorosas di etas de emagrecimento e a múltiplas cirur gias estéticas etc Sujeito suposto saber SSS LACAN LACAN criticava a técnica analítica que enfo cava primordial e insistentemente as inter pretações sistemáticas na transferência com o argumento de que em lugar de resolver a neurose transferencial essa técnica só fazia aprofundála porque o analista estaria se colocando no centro do universo do anali sando Descontando os exageros dessa afirmativa é importante levar em conta sua advertên cia de que não se estabeleça no analisando e no analista a crença de que este último é um Sujeito Suposto Saber SSS ou seja como o nome sugere que o psicanalista sabe tudo que o paciente ignora Caso o analista tenha exagerados núcleos narcisistas não percebidos por ele pode assumir esse papel assim se colocando no lugar do imaginário do analisando ofere cendose a ele como quem conhece a ver dade e abastecendoo com os seus conhe cimentos em lugar de deixálo revelar sua verdade pela palavra Dizendo com a terminologia lacaniana o analista como o pai do complexo de Édi po pode crer e fazer seu paciente crer que é o falo desconhecendo que haja uma Lei um Outro ao qual ambos paciente e ana lista devem se remeter Superego FREUD Termo introduzido por FREUD com o nome original em alemão de UberIch e apare ce pela primeira vez na literatura psicanalí tica no seu clássico O ego e o Id 1923 integrando a segunda teoria do aparelho psíquico ou seja a teoria estrutural ou a segunda tópica Nessa publicação FREUD descreve o supe rego como uma instância psíquica que se separou do ego encarregouse das fun ções de um juiz representante da moral le gislador de leis e proibidor das transgres sões dessas leis e passou à condição de poder dominar o próprio ego que lhe deu origem como demonstram os estudos da melancolia em que o indivíduo é criticado por uma parte sua que emite mandamen tos que provêm de dentro de si mesmo Antes disso no mínimo em dois trabalhos aparecem alusões ao conceito de superego Em Atos obsessivos e práticas religiosas 1907 ao tratar das autorecriminações dos 398 DAVID E ZIMERMAN neuróticos obsessivos FREUD diz que O sujeito que sofre de compulsões e interdi ções comportase como se estivesse domi nado por um sentimento de culpa inconsci ente Por outro lado no seu célebre Sobre o nar cisismo uma introdução 1914 FREUD empregou tanto a expressão Ego ideal Ide alich quanto Ideal do ego Ichideal Em sua obra juntamente com superego esses termos aparecem superpostos virtualmen te como sinônimos Não obstante a tendên cia dos psicanalistas contemporâneos é a de estabelecer uma distinção conceitual entre esses três termos tal como está referi do nos verbetes específicos FREUD correlacionou a origem do superego à dissolução do complexo de Édipo o que ficou substanciado na sua famosa frase o superego é o herdeiro direto do complexo de Édipo Ele apontou a diferença a esse respeito na evolução masculina e feminina ver o verbete Complexo de Édipo Segundo FREUD isso acontece porque quan do a criança supera com mais ou menos êxito sua conflitiva edípica encontra uma solução para as angústias acompanhantes desse conflito pela interiorização dos seus pais Isto é a criança identificase com eles e assim internaliza as proibições e interdi ções deles No entanto essa identificação não é completa porquanto a criança pode identificarse com certos aspectos dos pais e não com outros Pode atender ao manda mento interno deves ser assim como teu pai mas também pode abarcar a proibi ção não deves ser assim não podes fa zer tudo que teu pai faz muitas coisas são prerrogativas exclusivas dele Ai de ti se de sobedeceres No quinto capitulo de O ego e o id 1923 FREUD estuda detidamente a importância dos sentimentos de culpa na teoria na psico patologia e na técnica da psicanálise como por exemplo na relação direta que ele esta belece entre as culpas determinadas pelo superego e o importantíssimo problema do eventual surgimento da temível reação te rapêutica negativa Uma crítica que costuma ser feita à forma como FREUD concebeu e divulgou a noção de superego é relativa à ênfase que deu ao termo superego atribuindolhe quase exclu sivamente um caráter persecutório e sádi co sem levar muito em conta a existência de outros aspectos positivos protetores e estruturantes para o desenvolvimento men tal do sujeito Aliás uma das poucas vezes em que FREUD se refere ao superego com características positivas e bondosas aparece em seu traba lho O humor O aspecto positivo e estru turante do superego consistiria no fato que ele se alia ao ego daí o nome de ego auxi liar para ajudar o sujeito a conviver har monicamente com as necessárias normas costumes e leis da família e da cultura atra vés do estabelecimento do senso de reali dade crítica Conquanto o início da formação do supe rego seja fundamentalmente devido à re núncia aos desejos edipianos amorosos e hostis FREUD também destacou as posterio res influências e exigências sociais morais educativas religiosas e culturais Da mes ma forma assinalou que o superego da criança não se forma à imagem dos pais reais mas sim à imagem do superego de les Assim o superego do sujeito torna se o veículo da tradição porém pode ser diferente do superego parental ou até mes mo o contrário e nem sempre corresponde à severidade da educação Finalmente cabe dizer que FREUD em O ego e o id 1923 valorizou o superego como sendo a voz da consciência ou seja enfatizou que o superego está diretamente ligado às origens acústicas das percepções auditivas além dos ensinamentos e leitu ras Esse aspecto dos significantes acústicos serviu de fundamentação das postulações de LACAN acerca dessa temática VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 399 Superego PÓSFREUD Muitos autores aventaram a hipótese de que o começo da existência do superego devida à internalização das interdições precede o declínio do complexo de Édi po Servem como exemplo as postulações de FERENCZI em Psicanálise dos hábitos sexuais 1925 referentes à moral dos esfíncteres onde é enfatizado o fato de que os preceitos da educação esfincteria na são adotados desde muito antes da conflitiva edípica assim diferenciandose de FREUD ABRAHAM por sua vez estudou a interna lização dos primitivos objetos parciais o que serviu como base principal para os trabalhos de M KLEIN sobre a formação precoce do superego ANNA FREUD também trouxe uma contribuição importante com sua conceituação do mecanismo defensi vo constituinte de uma modalidade intro jetivoidentificatória que ela chamou de identificação com o agressor Igualmente R SPITZ a partir de suas obser vações diretas com crianças também des creveu algumas características de um supe rego anterior à conflitiva edípica No entanto foi M KLEIN quem estudou mais profundamente a formação de um supere go precoce a partir da sua prática clínica com crianças de tenra idade que demons travam intensos sentimentos de remorsos que ela atribuía à existência e à ação de um superego primitivo préedípico As principais concepções de MKLEIN diver gentes das de FREUD em relação ao supere go são 1 A origem do superego é muito anterior à sugerida por FREUD enquanto ele a fazia co incidir com a resolução edípica por volta dos quatro anos M KLEIN em 1923 apre sentava sua observação da presença de um superego rígido na menina Rita de dois anos e nove meses que ela analisava na época o qual também seria o responsável pelo terror noturno que a menina apre sentara aos 18 meses 2 Os constituintes do superego não se limi tam à introjeção dos pais edípicos antes os fatores são múltiplos e variados 3 Dentre esses fatores KLEIN dá uma va lorização especial à influência das fanta sias inconscientes decorrentes da pulsão de morte especialmente na fase do sa dismo máximo o que promove um jogo de identificações projetivas nas figuras dos pais reais seguidas de identificações in trojetivas deles como objetos parciais distorcidos pelas fantasias sádicodestru tivas Superego ou supersuperego BION Embora conservando os princípios essen ciais de FREUD e de MKLEIN acerca do su perego BION 1962 distinguiuse deles em parte ao evoluir para uma aborda gem original contida no seu conceito de superego às vezes aparece com a gra fia de supersuperego Esse superego faz parte do que BION cha ma de parte psicótica da personalidade ou seja indo além das proibições e das adver tências do que é certo e o que é errado do bem e do mal aprovação ou condenação etc que são inerentes ao conceito clássico do superego Essa concepção de BION con siste em uma forma psicótica de pensar a qual se opõe a todo desenvolvimento em bases científicas e às leis inevitáveis da natureza humana Assim ele gerese por uma moralidade sem moral criada pelo próprio sujeito que insiste em impor aos outros Igualmente quer reger o mundo com nor mas e valores unicamente seus firmados a partir da afirmação de sua superioridade destrutiva O superego tal como foi concebido por BION mostrase como um objeto superior Ofusca as funções do seu ego e afirma sua 400 DAVID E ZIMERMAN superioridade pelo denegrimento dos ou tros achando falhas em tudo que não co incidir com o que ele crê opondose tenaz mente a qualquer aprendizado com a ex periência e devotando um ódio a toda ver dade diferente da dele Resumindo o sujeito com essas caracterís ticas psicóticas do superego crente de que tudo sabe pode controla e condena substitui a capacidade de pensar pela oni potência o aprendizado pela experiência cede lugar à onisciência o reconhecimen to da fragilidade e dependência é substitu ído pela prepotência a capacidade de dis criminação entre o verdadeiro e falso fica borrada por um radicalismo arrogante e assim por diante Supervisão na formação psicanalítica A supervisão de casos de análise dos can didatos à formação oficial e curricular dos institutos de psicanálise com vistas à ob tenção do título de psicanalista é obriga tória É um dos pilares fundamentais do tripé essencial de uma adequada forma ção psicanalítica os outros dois são a análise didática e os seminários teóricos A supervisão obrigatória foi introduzida por MAX EITIGON no Instituto de Berlim na década de 20 com o nome de análise de controle Aliás tanto o termo controle sugere uma in tervenção superegóica quanto supervisão pode sugerir uma supervisão narcisista do supervisor têm sido bastante criticados Ambos os termos porém em especial o se gundo já estão completamente arraigados na terminologia psicanalítica Basicamente a finalidade de uma supervisão sistemática consiste em desenvolver no can didato no mínimo os seguintes aspectos 1 Estabelecer os fundamentos da natureza do processo de análise 2 Conhecer e aplicar as técnicas consa gradas 3 Ter flexibilidade variável de caso para caso para utilização de recursos táticos que permitam um acesso ao inconsciente do paciente e por conseguinte a obtenção de mudanças psíquicas 4 Ter conhecimentos teóricos principal mente visando a uma integração da teoria com a técnica e a prática clínica 5 Desenvolver as capacidades do ego do can didato minimamente essenciais para a subli me função de psicanalisar como a de empa tia de amor ao conhecimento das verdades de saber pensar clinicamente de saber escu tar e ter a indispensável habilidade de comu nicação de recepção e transmissão daquilo que é verbal e da comunicação primitiva pré verbal Não restam dúvidas que um paciente só desenvolverá essas capacidades se o seu analista as possuir autenticamente Comentário É claro que também existe a possibilidade de o processo de supervisão que visa a uma formação sofrer desvios nessa finalidade e tornarse patogênica Isso pode ocorrer quando o supervisor 1 Confundir formação com adaptar o can didato a uma fôrma préfabricada 2 Coibir a espontaneidade e criatividade do candidato assim promovendo uma de formação 3 Aceitar integralmente tudo que vem da maneira e estilo de o candidato trabalhar o que pode acarretar uma estagnação um conformismo isto é uma conformação 4 Exercer um fascínio narcisista sobre o can didato a ponto de deslumbrálo Vale lembrar que o verbo deslumbrar deriva de des privar de lumbre luz ou seja qual um carro que vindo à noite em direção contrária à nossa com os faróis altos incidindo diretamen te nos olhos nos deslumbram nos cegam 4 Além disso existem os riscos de o su pervisor concorrer para a infantilização do candidato caso venha a negar que todos nós por mais experientes que sejamos sempre continuaremos sendo analistas em formação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 401 5 Igualmente existe o risco não tão raro de o supervisor entrar inadvertidamente num clima de rivalidade com o candida to ou pior através deste com seu ana lista Algumas sociedades psicanalíticas como a da França emprestam um valor extra ordinário às supervisões a ponto de ni velálas ou até superar à análise pessoal do candidato 1 pm 2 pm Meeting 2 T BION A letra T na obra de BION é a inicial do termo transformações um conceito original dele A letra T pode vir seguida de algum signo para situar onde e como está se pro cessando alguma transformação Por exem plo Tp designa que a transformação se ope ra no paciente Ta no analista O T com o signo α indica o mecanismo de ação que está produzindo a transformação enquan to o signo β que acompanha o T designa o produto final da transformação Tânatos FREUD Embora mudando as denominações e a essência da sua concepção FREUD sempre manteve a postulação da existência de uma dualidade pulsional Assim em sua primei ra formulação distinguiu as pulsões do ego ou de autoconservação ou de interesses do ego e as pulsões sexuais ou de preserva ção da espécie A partir de Além do princípio do prazer 1920 essa dualidade pulsional cedeu lu gar a uma nova dualidade as pulsões de vida Eros que então passaram a abran ger as pulsões sexuais e as de autoconser vação e as pulsões de morte Tânatos Essa concepção pulsional FREUD conservou definitivamente em sua obra Na mitologia grega Tânatos é a significa ção da morte O termo é às vezes utilizado para designar a pulsão de morte por sime tria com o termo Eros que adquire um sig nificado de vida Na verdade nos escritos de FREUD não aparece explicitamente o ter mo Tânatos porém segundo JONES ele o utilizava em conversas No texto Análise ter minável e interminável 1937 ele cita o fi lósofo grego Empédocles que opunha o amor construtivo à destrutividade da discórdia Tantalizador objeto Não obstante esse termo não conste da lite ratura psicanalítica o conceito de objeto tantalizador como aqui segue exposto sur ge com tanta freqüência na clínica psicana lítica que justifica sua inclusão neste Voca bulário De acordo com a mitologia grega Tântalo foi submetido ao suplício que consistia em lhe oferecerem alimentos para mitigar sua intensa fome e sede equando ele chegava bem perto os alimentos desapareciam Quando nos referimos a uma mãe tantali zadora ou a um namorado tantalizador estamos designando um vínculo entre duas T 404 DAVID E ZIMERMAN pessoas que se caracteriza pelo fato de uma delas o sedutor por meio de promessas de uma próxima felicidade paradisíaca sub mete o outro o seduzido a um verdadeiro suplício na base do dá e tira que pode pro longarse pela vida inteira Ver o verbete Sedução Tausk Vicktor pode ser evidenciado tanto por episódios de profunda depressão quanto por repeti das complicações nos seus múltiplos casos amorosos que costumavam terminar em rupturas violentas Sua perturbação ficou ainda mais evidente por sua ligação extre mamente ambivalente a FREUD a quem acu sava de roubarlhe as idéias assim repetin do a relação altamente conflituada que ti vera com seu pai tirânico Ainda assim TAUSK pediu insistentemente a FREUD que o analisasse porém ele recusou e o encaminhou a sua analisanda H DEUTS CHE Essa análise de TAUSK foi um desastre pois ele ocupava o tempo todo das sessões atacando duramente a FREUD Três meses depois de iniciada essa malogra da análise TAUSK se suicidou em julho de 1919 com 42 anos tentando estrangularse com um cordão de cortina e dando um tiro na têmpora Justamente nessa época ele ti nha acabado de redigir o trabalho Da gêne se do aparelho de influenciar no curso da es quizofrenia onde aborda com muita propri edade o problema da despersonalização Essa obra veio a tornarse um clássico Coube a FREUD redigir o seu necrológio Técnica psicanalítica A palavra técnica deriva do grego tekhne que alude à arte de bem fazer as coisas A expressão técnica psicanalítica designa um conjunto de procedimentos que incluem a instalação de um setting apropriado uma obediência à essência do que está recomen dado nas regras técnicas legadas por FREUD o emprego fundamental da arte de interpre tar principalmente tudo que disser respeito às resistências e às transferências Todos esses procedimentos devem levar em conta uma relação íntima da técnica com os cor relatos desenvolvimentos teóricos um ali mentando e sendo alimentado pelo outro Na verdade a psicanálise nasceu com a téc nica com a afanosa busca de FREUD de so Nascido na Eslováquia em 1879 originário de uma família judia TAUSK formouse em Direito e instalouse em Berlim onde tentou fazer carreira na literatura e no jornalismo Posteriormente veio a aproximarse de FREUD sendo aceito como membro da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras na qual des tacouse como um dos mais brilhantes freu dianos da primeira geração A partir de 1908 começou a fazer o curso de medicina parci almente financiado pelos colegas da aludida sociedade Com a eclosão da I Guerra Mun dial TAUSK foi convocado para o serviço ati vo e logo promovido a oficial superior Intelectualmente brilhante reconhecido como orador impressionante TAUSK era muito perturbado emocionalmente o que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 405 luções práticas para seus pacientes que ele não estava encontrando nos métodos tra dicionais da época Assim a história da evo lução da psicanálise embora com o respal do da metapsicologia e da teoria corres ponde à evolução das transformações dos paradigmas da técnica Os escritos essenciais de FREUD sobre técni ca psicanalítica foram publicados entre 1912 e 1915 Nos seus historiais clínicos o que mais nitidamente transparece é seu desejo de encontrar uma confirmação das teorias que a partir também da experiência clínica começava a formular sobre a sexualidade De lá para cá muita coisa relativa à técnica vem gradativamente sendo modificada em alguns pontos até mesmo porque a psica nálise abriu as portas para a psicanálise de crianças e de pacientes regredidos em ge ral inclusive psicóticos Além disso as diferentes correntes psicana líticas conservam suas próprias diretrizes técnicas quanto ao número de sessões se manais a obediência ou não às regras téc nicas clássicas a forma de interpretar etc O melhor exemplo de discrepância do mo delo tradicional da técnica psicanalítica é o de LACAN e seguidores que aboliram o tem po cronometrado da duração da sessão que habitualmente é de 50 ou 45 minutos e ins tituíram o tempo necessário para que se processe a castração simbólica o que pode durar um tempo mais longo que o habitual ou não durar mais que alguns minutos Os próprios contemporâneos de FREUD ten taram abreviar o tempo de duração da aná lise como exemplificam os métodos adian te citados 1 O de STECKEL chamado de ativo segun do o qual propunha um tempo máximo de 50 e 150 sessões 2 O da terapia ativa de ORANK a qual pre conizava que as análises não deveriam pas sar de alguns meses o que já seria combi nado no contrato inicial Além disso pro punha que a ênfase do trabalho analítico não deveria ser no conflito edípico incons ciente mas sim nos aspectos da vontade consciente de se curar 3 O da técnica ativa proposto por FERENC ZI que é explicitada no verbete seguinte Mais tarde apareceram as inovações de W REICH FALEXANDER e MBALINT inspi rados em FERENCZI além das modificações técnicas assumidas pelos dissidentes de FREUD Técnica ativa FERENCZI S FERENCZI em 1919 inventou o método da técnica ativa segundo o qual em vez de o analista limitar sua atividade às interpre tações do inconsciente também deveria in tervir durante as sessões através de ordens proibições e estímulos como por exemplo o de o paciente enfrentar uma situação fo bígena Mais tarde foi ao extremo de per mitir que alguns pacientes o abraçassem ou beijassem a fim de permitir uma identifica ção com uma figura parental amorosa que tivesse faltado ou falhado na infância do pa ciente Em 1932 FERENCZI foi ainda mais longe com a idéia de análise mútua segundo a qual o analista poderia inverter os papéis com o paciente como por exemplo fa zer a sessão de análise na casa dele dei xar o paciente dirigir o andamento da análise concordar em deitarse no divã tudo isso tendo em vista conseguir devol ver uma boa maternagem faltante no pa ciente Esse método encontrou manifesta oposição de FREUD que denunciou o furor curandi de FERENCZI que o estaria levando a um desviacionismo Nos últimos tempos FEREN CZI considerado por muitos o mais brilhan te clínico da história da psicanálise recuou nos exageros ativistas dizendo que o uso dessa técnica seria só para situações espe ciais de emprego muito eventual e com li mitações bemdefinidas 406 DAVID E ZIMERMAN Término da análise Desde FREUD 1937 existe uma velha polê mica a análise é terminável ou é sempre interminável Muitos pensam que deve ser terminável do ponto de vista formalístico porém nunca é totalmente terminável levan do em conta que a cura analítica é bem di ferente da cura ou alta em clínica médica Comentário Se tomarmos o prefixo lati no in no sentido de uma interiorização e não de uma negativa que é seu outro significa do habitual podemos dizer que uma análi se tornase terminável quando ela fica in terminável Em outras palavras um tratamento analíti co termina formalmente quando o analisan do mercê de uma introjeção in da função psicanalítica do seu analista está equipado para prosseguir sua eterna função autoana lítica e dessa forma continuar fazendo re novadas mudanças psíquicas Os critérios que indicam a adequação do término formal da análise são muito variá veis e dependem de uma série de fatores multideterminados Em termos ideais os seguintes resultados deveriam ser obtidos ao final da análise 1 Modificação da qualidade das relações objetais 2 Menor uso de mecanismos defensivos primitivos 3 Renúncia às ilusões de natureza simbióti conarcisista 4 Capacidade de fazer desidentificações patogênicas e a partir daí fazer neoiden tificações 5 Reintegração de partes que estavam es plitadas e projetadas 6 Capacidade de suportar frustrações ab sorver perdas e fazer um luto pelas mesmas assumindo o seu quinhão de responsabili dade e de eventuais culpas 7 Capacidade de consideração pelas ou tras pessoas e capacidade de fazer repa rações 8 Diminuição das expectativas exigidas pelo ego ideal e pelo ideal do ego impos síveis de alcançar 9 Abrandamento do superego 10 Libertação das áreas autônomas do ego 11 Aceitação da condição de alguma for ma de dependência 12 Utilização plena da linguagem verbal 13 Ruptura com os papéis estereotipados e com um possível falso self 14 Aquisição de um definido sentimento de identidade 15 Autenticidade e autonomia 16 Reconhecimento dos outros como pes soas livres diferentes e separadas dele pa ciente embora possam amálo muito 17 Aquisição de uma função psicanalítica da personalidade 18 Um critério de resultado analítico exito so segundo BION não é o de o analisando estar curado e vir a ficar igualzinho a seu analista mas sim o de vir a tornarse al guém que está se tornando alguém 19 O término de uma análise embora não comporte regra fixa deve atentar para dois aspectos que podem ser igual mente prejudiciais e que têm muito a ver com sentimentos contratransferenciais um é o de uma prematuridade que cor responderia a um desligamento prematu ro que a mãe faz em relação ao bebê que ainda não atingiu a condição de separa ção e individuação ou a de um adoles cente que subitamente deve sair de casa e funcionar como um adulto sem ainda estar preparado para tanto Outro risco é o de uma situação oposta com um prolongamento excessivo na hipótese de que a análise já não esteja promovendo um significativo crescimento mental o que pode reforçar e perpetuar um estado de dependência prejudicial Terror ou pavor sem nome BION Ver o verbete Pavor sem nome VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 407 Textos selecionados da pediatria à psicanálise WINNICOTT 1958 Originalmente publicado com o título de Collected Papers Through paediatrics to psychoanalysis esse livro reunia as diver sas e variadas contribuições de WINNICOTT destinadas a um público especializado Posteriormente foi reeditado com uma ex tensa e excelente introdução de seu mais notório seguidor MASUD KAHN que relacio na os textos do livro original com publica ções posteriores de WINNICOTT o que dá uma dimensão mais ampla e aberta não ape nas a psicanalistas como também para ou tros profissionais das áreas humanísticas em geral Um aspecto interessante desse livro é que dentro de uma visão binocular WINNICOTT que durante longos anos exerceu a pedia tria possibilita ao leitor constatar o quanto a psicanálise esclarece a pediatria e vice versa Textos Selecionados consta de três partes A primeira com apenas dois textos mostra as atitudes de WINNICOTT como pediatra antes de sua formação psicanalítica deixan do claro o quanto uma abordagem pediá trica puramente clínica requer a compreen são mais profunda dos problemas emocio nais do desenvolvimento infantil A segunda parte com oito textos demons tra o impacto dos conceitos psicanalíticos sobre a pediatria A terceira parte a mais importante consta de 16 textos alguns plenamente vigentes e reconhecidos como muito relevantes tais como Desenvolvimento emocional primitivo 1945 O ódio na contratrans ferência 1947 Objetos transicionais e fenômenos transicionais 1951 Preo cupação materna primária 1956 A tendência antisocial 1956 dentre ou tros mais A primeira edição brasileira foi publicada em 1978 com cerca de 500 páginas Thalassa FERENCZI Em 1924 FERENCZI produziu o texto Tha lassa psicanálise das origens da vida sexu al o qual foi resultante de uma troca de idéias com FREUD durante o ano de 1915 a propósito da ontogênese referese ao de senvolvimento do indivíduo e da filogêne se alude ao desenvolvimento da espécie A discussão entre ambos tinha por finalida de tentar responder às questões que se pro puseram sobre o problema da memória das espécies e da transmissão das experiências arcaicas da humanidade Nessa época FREUD em plena especulação darwinlamarckiana e biogenética da qual FERENCZI compartilhava entusiasticamente formulou a hipótese de que a humanidade teria sofrido um traumatismo generalizado uma catástrofe com a ocorrência da era gla cial Esse período teria sido a origem da la tência da sexualidade humana cuja ener gia teria sido conservada para ser dirigida à necessidade de sobrevivência As privações resultantes do degelo glacial segundo uma carta de FREUD a FERENCZI em julho de 1915 teriam transformado a libido em angústia Com a desistência de FREUD da combina ção de ambos escreverem um aprofunda do estudo relativo à tese de que a sexuali dade da espécie humana conserva o traço mnésico hereditário e inconsciente de uma série de catástrofes geológicas que levaram o ser humano a vida animal e vegetal a adaptarem a vida ao mundo aquático dos oceanos a palavra grega Thalassa signifi ca mundo marinho FERENCZI desenvolveu e publicou sozinho essas suas especulações De alguma forma FREUD retornou à tese central dessa conjectura em seu clássico Além do princípio do prazer 1920 onde postula que a pulsão de morte corresponde à natureza conservadora das pulsões que buscam a restauração de um estado anteri or no qual estava abandonado em razão de uma perturbação exterior 408 DAVID E ZIMERMAN Em seus escritos FERENCZI chegou à conclu são que do ponto de vista ontogenético a sexualidade corresponderia ao desejo de um retorno ao seio maternal um retorno sim bólico alucinatório e real ao corpo da mãe Quanto ao nível filogenético corresponde ria à realização do desejo de um feliz retor no a um originário thalassal mundo marinho de onde a espécie humana foi excluída Referência bibliográfica Maiores escla recimentos podem ser encontrados em dois artigos de FERENCZI Thalassa Ensaio sobre a teoria da genitalidade 1924 volume III da obra completa de FERENCZI e Masculino e Feminino Considerações psicanalíticas sobre a teoria genital e suas diferenças se xuais secundárias e terciárias 1929 vo lume IV Tópicas FREUD O termo tópica deriva do grego topos lu gar O modelo tópico designa portanto uma teoria de lugares Para criar esse modelo FREUD inspirouse em aspectos como 1 Os princípios científicos da neurofisiolo gia da época privilegiavam sobremaneira a anatomia e a fisiologia das localizações ce rebrais 2 Os fenômenos clínicos observados em pacientes histéricas como o de estados cre pusculares e o da personalidade múltipla falavam a favor de áreas distintas de fun cionamento psíquico 3 O estudo dos sonhos evidenciava de for ma incontestável que existia um plano in consciente da mente com um funcionamen to segundo suas próprias leis específicas FREUD empregou a palavra aparelho para caracterizar uma organização psíquica divi dida em sistemas ou instâncias psíquicas com funções específicas para cada uma que estão ligadas entre si ocupando um certo lugar na mente Embora já tivesse feito alu sões à existência de lugares psíquicos como aparece no Projeto 1895 a noção de aparelho psíquico como um conjunto arti culado de lugares virtuais surge mais cla ramente na obra A interpretação dos sonhos 1900 no qual no célebre Capítulo 7 ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico de como se processa a ori gem a transformação e o objetivo final da energia luminosa FREUD descreveu dois modelos tópicos a primeira tópica também chamada topográ fica e a segunda tópica também conhecida como estrutural ou dinâmica Tópica primeira FREUD Nesse modelo topográfico o aparelho psí quico é composto por três sistemas o in consciente Ics o préconsciente Pcs e o consciente Cs Algumas vezes FREUD de nomina este último de sistema percepção consciência O sistema consciente tem a função de rece ber informações provenientes das excitações provindas do exterior e do interior que fi cam registradas qualitativamente de acor do com o prazer ou desprazer que causam Porém o consciente não retém esses regis tros e representações como depósito ou ar quivo Assim a maior parte das funções perceptivocognitivasmotoras do ego como as de percepção pensamento juízo crítico evocação antecipação atividade motora etc processamse no sistema consciente embora este funcione intimamente conju gado com o sistema inconsciente com o qual quase sempre está em oposição O sistema préconsciente foi concebido como articulado com o consciente e tal como surge no Projeto onde ele apa rece esboçado com o nome de barreira de contato funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente Ademais o préconsciente também funcio na como um pequeno arquivo de registros cabendolhe sediar a fundamental função VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 409 de conter as representações de palavra con forme foi conceituado por FREUD 1915 O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico Por herança genética existem pulsões acrescidas das respectivas energias e protofantasias como FREUD denominava as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por fantasias primitivas primárias ou originais As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secun dária Uma função que opera no sistema incons ciente e que representa uma importante re percussão na prática clínica é que ela con tém as representações de coisa Portanto numa época em que as representações fi caram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeálas Funci onalmente o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e além das pulsões do id tem também muitas fun ções do ego bem como do superego Tópica segunda FREUD FREUD estava insatisfeito com o modelo to pográfico por duas razões 1 Essa teoria não conseguia explicar mui tos fenômenos psíquicos em especial os que emergiam na prática clínica 2 Uma das principais descobertas que tor nou necessário ampliar a teoria tópica foi a do papel desempenhado pelas diversas identificações na constituição do sujeito e na determinação dos valores e expectativas de qualquer pessoa Assim gradativamente Freud vinha elabo rando uma nova concepção até que em 1920 ele estabeleceu de forma definitiva sua clássica concepção do aparelho psíqui co conhecida como modelo estrutural ou dinâmico ou segunda tópica tendo em vista que a palavra estrutura significa um con junto de elementos que separadamente tem funções específicas Diferentemente da pri meira tópica que sugere certa passividade a segunda tópica é eminentemente ativa dinâmica Essa concepção estruturalista ficou cris talizada em O ego e o id 1923 e con siste em uma divisão tripartite da mente o id o ego e o superego cujas descrições aparecem separadamente nos respecti vos verbetes Totem e tabu FREUD 1913 Título de um célebre livro publicado por FREUD em 1913 considerado juntamente com Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 e Moisés e o mo noteísmo1939 como um dos mais po lêmicos e criticáveis de toda sua extensa obra A maior crítica consiste no fato de que FREUD fez um pretensioso ensaio psicanalíti co entrando no campo da antropologia ciência que ele não conhecia se fundamen tando em concepções antigas já totalmen te superadas pelos modernos antropólogos de sua época O eixo conceitual fundamental deste livro é o propósito de FREUD de dar uma significa ção universal ao complexo de Édipo assim demonstrando que a história individual de cada sujeito se constitui a repetição da pró pria história da humanidade O livro é com posto de quatro partes 1 O horror ao in cesto 2 O tabu e a ambivalência dos senti mentos 3 Animismo magia e onipotência dos pensamentos 4 O retorno infantil do totemismo Em sua essência FREUD parte da idéia de que num tempo primitivo os homens vi viam no seio de pequenas hordas selva gens cada qual submetida ao poder des pótico de um macho que se apropriava das fêmeas até que num certo dia os filhos num ato de violência coletiva ma taram e comeram o pai Depois do assas sinato sentiram remorso e instauraram uma nova ordem social pela qual foi ins 410 DAVID E ZIMERMAN tituída a exogamia proibição da posse das mulheres do clã do totem A palavra to tem alude a algum animal para o qual houve um deslocamento da representa ção do pai morto Igualmente foi instaurado o totemismo isto é a proibição de matar o animal totem A palavra tabu que os etnólogos encon traram na Polinésia designa as proibições referidas à posse das mulheres do chefe do clã pai e ao assassinato do totem pai Do ponto de vista mais estritamente psica nalítico esse livro traz uma importante con tribuição no que diz respeito às três fases que FREUD postula na terceira parte 1 A animista em que predomina a onipo tência das idéias e corresponde no plano individual ao estado em que a criança nar cisisticamente ama apenas a si mesma 2 A míticoreligiosa na qual a onipotência já não está mais centrada no sujeito mas nos deuses de modo análogo à idealização que a criança faz dos pais 3 A científica na qual já não há mais lugar para a magia onipotente e o sujeito aceita suas limitações em face da ordem univer sal o que com base em conhecimentos posteriores corresponde à passagem a do princípio do prazer para o da realida de b do processo primário para o secun dário c do narcisismo para o enfrenta mento do complexo de castração ineren te ao conflito edípico Esse trabalho está publicado no volume XIII p17 da Standard Edition Brasileira Transacional análise ERIC BERNE Método psicoterápico inventado por ERIC BERNE 19101970 psicanalista nascido em Montreal que emigrou para os Esta dos Unidos Instalouse em San Francis co lá aperfeiçoando seu método que ga nhou grande expansão no mundo e o tor nou célebre Essencialmente a análise transacional como o nome indica consiste em enfocar as múltiplas maneiras de como se proces sam as transações do sujeito com os demais membros de um mesmo grupo familiar ou social partindo de como se processam e configuram as relações do seu ego com as figuras parentais internalizadas Transexualismo ROBERT STOLLER Termo introduzido pela psiquiatria ameri cana em 1953 para designar um transtor no da identidade de gênero sexual causado unicamente por razões psíquicas e caracte rizado pela arraigada e inabalável convic ção do sujeito de que pertence ao sexo opos to ao seu O desejo de mudar de sexo é bastante antigo como pode ser comprova do em relatos da mitologia e da literatura antiga Assim nos fins do século XIX foram coligi dos inúmeros casos de transformação de identidade sexual aos quais se deu o nome de travestismo ou hermafroditismo ou in terssexualidade Aliás a etimologia do ter mo hermafroditismo esclarece a essência desse transtorno sexual filho de Hermes e de Afrodite o formoso adolescente Herma frodito foi amado por uma ninfa que tran sida pelo desejo de seu corpo rogou aos deuses que os unissem num só corpo de modo que o rapaz foi assim dotado de um pênis e dois seios Foi somente com o advento dos progressos da cirurgia e da medicina sobretudo das descobertas da genética que permitiram em 1953 identificar geneticamente a fórmula cromossômica do homem XY e da mu lher XX para que se estabelecessem dis tinções claras entre hermafroditismo traves tismo homossexualismo e transexualismo 1 O hermafroditismo consiste num defeito genético que resulta em que a pessoa apre senta ao mesmo tempo características mas culinas e femininas geralmente um pênis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 411 pequeno uma uretra com uma fenda e lá bios Esse quadro clínico na medicina é cha mado de hipospadia cuja resolução depen de de uma cirurgia 2 O travestismo é um transtorno nos quais o sujeito vestese com roupas do sexo opos to disfarce que pode conduzir a uma per versão ou a um fetichismo 3 O homossexualismo tem características próprias conforme consta no verbete espe cífico 4 O transexualismo leva o sujeito que ana tomicamente tem os órgãos genitais nor mais a mudar de estado civil e em muitos casos a querer submeterse a uma cirurgia para transformar seu órgão sexual normal num órgão artificial do sexo oposto ROBERT STOLLER foi o primeiro psicanalista em seu livro Sex and gender 1968 a pro por uma distinção radical entre o transexu alismo o travestismo a homossexualidade e o hermafroditismo Considerou o primei ro um transtorno da identidade e não da sexualidade Assim ele enfatizou a necessi dade de se diferenciar o gênero gender como um sentimento social de identidade masculina ou feminina de sexo como or ganização anatômica de genitália masculi na ou feminina Partindo do estudo de numerosos casos STOLLER traçou um perfil típico da mãe do transexual geralmente uma mulher depres siva passiva sem apego à vida sexual e nem ao pai da criança que investe exagerada mente a afetividade no filho com quem busca uma simbiose perfeita O pai por sua vez costuma ser uma figura ausente e que por vezes estimula disfarça damente atividades do filho contrárias às costumeiras para determinado sexo bioló gico levando o menino a se feminizar e a menina a se masculinizar A experiência clí nica mostrou que o transtorno da identida de sexual é de longe mais freqüente nos homens nos quais é mais psicotizante na medida em que a simbiose original se deu com uma pessoa do sexo oposto a mãe Da mesma forma a experiência mostrou que antes da cirurgia os resultados de um tratamento psicanalítico são praticamente nulos salvo se a análise tiver sido feita na infância e depois da cirurgia o transexual nunca fica satisfeito com a mudança de sexo não obstante o fato de que lhe seja impos sível renunciar a ela Transferência conceito de Em psicanálise a clássica expressão trans ferência é consensualmente entendida como substantivo coletivo isto é está no singular porém engloba uma pluralidade de signifi cados e de manifestações tão diversificadas que talvez se justifique uma preferência pelo termo transferências no plural O vocábulo transferência não é específico do vocabulário psicanalítico porquanto é utilizado em inúmeros outros campos mas sempre indica uma idéia de deslocamento de transporte de substituição de um lugar por outro ou de uma pessoa por outra sem que isso afete a integridade do objeto A propósito essa conceituação está de acor do com a etimologia da palavra a qual se forma dos étimos latinos trans passar atra vés de como em transparente ou passar para outro nível como em trânsito feros conduzir Embora para a comunidade psicanalítica o termo transferência deva ficar restrito ao que se passa no presente da situação analítica daquilo que o analisando está revivendo e sentindo com o seu analista é inegável que não há como desconhecer que essa expres são já ganhou grande extensão e uma ana logia conceitual com aquilo que se passa na relação médicopaciente professoralu no etc Aliás em 1909 FERENCZI já aponta va esse aspecto Igualmente o conceito de transferência vem sofrendo sucessivas transformações e reno vados questionamentos como por exem 412 DAVID E ZIMERMAN plo o de se a figura do analista é uma mera pantalha transferencial para a repetição de antigas relações objetais que estão introje tadas no paciente ou se ele também se com porta como uma nova pessoa real A transferência juntamente com a resistên cia e a interpretação continua sendo um pilar fundamental da psicanálise No entan to conforme as escolas as divergências são múltiplas quanto a seu lugar e função na análise a seu manejo técnico e a suas ori gens Transferência em FREUD Em Estudos sobre a histeria 1895 FREUD empregou pela primeira vez o termo trans ferência Übertragung no original no sen tido de uma forma de resistência isto é como um obstáculo à análise por parte do paciente para evitar o acesso ao resíduo da sexualidade infantil que persistia ligada às zonas erógenas Assim no capítulo A psi coterapia das histerias desse livro ele afir ma textualmente que a transferência é o pior obstáculo que podemos encontrar e conclui conceituandoa como uma forma de falso enlace ou falsas conexões como veio a usar posteriormente do paciente com o terapeuta Num pósescrito acrescentado ao seu clás sico historial clínico do caso Dora FREUD conceitua as transferências como novas edições revistas ou facsímiles de impulsos e fantasias passando a encarálas como uma inevitável necessidade Chega a ad mitir que seu fracasso na análise da jovem Dora deveuse a seu insuficiente trabalho com a transferência dela Em 1909 no historial do Homem dos ra tos a transferência foi vista como um cami nho penoso porém necessário Nesse his torial FREUD faz a primeira referência da transferência como um agente terapêutico A seguir em seus trabalhos específicos so bre técnica da psicanálise publicados no período de 1910 a 1915 FREUD vai gradati vamente valorizando a transferência Em 1910 Cinco leituras sobre psicanáli se afirmou que os sintomas só po dem dissolverse à elevada temperatura da transferência no trabalho A dinâmica da transferência 1912 afirma que não é possível vencer o inimigo in absentia ou in effigie em 1915 Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise introduz o conceito de neurose de transferência Em Observações sobre o amor de transfe rência 1915 FREUD classifica as transfe rências em positivas as amorosas e nega tivas as sexuais as últimas ligadas às resis tências Aliás nessa época ele referiase à íntima interrelação existente entre transfe rência e resistência de modo que tanto des creve uma resistência ao surgimento da transferência como também a possibilida de de que a transferência funcione como uma forma de resistência Em Conferências introdutórias 1916 FREUD faz uma distinção entre neuroses transferenciais e narcísicas deixando aí sua clássica afirmativa de que as narcísicas como então se referia às psicoses não poderiam ser tratadas psicanaliticamente por não haver libido disponível para a for mação da transferência No trabalho Além do princípio do prazer 1920 dáse um importante acréscimo con ceitual porquanto FREUD lança seu postula do da existência de uma pulsão de morte e inclui o fenômeno da transferência como um exemplo da compulsão à repetição penosa e infantil Em O ego e o id 1923 com a sua for mulação da segunda tópica FREUD ampliou bastante o conceito de transferência de for ma a abarcar nele não unicamente a re petição das lembranças e pulsões recalcadas mas também a participação de figuras supe regóicas e dos mecanismos de defesa do ego Não obstante toda sua evolução conceitual FREUD sempre se mostrou algo ambíguo a VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 413 respeito da utilização da transferência Suas opiniões variaram desde a afirmativa de que a transferência é o mais poderoso instru mento da psicanálise até a opinião expres sa em Esquema de psicanálise 1938 onde ele referese à transferência como am bivalente e pode ser uma fonte de sé rios perigos Transferência pósFREUD Escola Kleiniana Durante toda sua prática analítica desde o início da década de 20 com o pioneirismo da análise com crianças por meio da intro dução da técnica de jogos e brinquedos M KLEIN sempre trabalhou de forma sistemá tica na transferência muito especialmente na negativa decorrente das pulsões sádico destrutivas Entendia o fenômeno transfe rencial com uma reprodução na figura do analista de todos os primitivos objetos e relações objetais internalizadas no psiquis mo do paciente acompanhadas das respec tivas pulsões fantasias inconscientes e an siedades Essa noção de MKLEIN ficou muito robuste cida com sua concepção relativa ao fenô meno da identificação projetiva hoje con sensualmente aceita por todos os psicana listas Em seu importante trabalho de 1952 As origens da transferência o único que escreveu especificamente sobre o tema ela deixa claro e desenvolve bastante essa sua forma de entender o fenômeno transferen cial que a escola kleiniana veio a chamar de transferência primitiva As postulações originais de MKLEIN acerca da teoria e do manejo técnico do fenôme no transferencial sofreram e continuam sofrendo sensíveis modificações por parte de seus seguidores mais eminentes ROSEN FELD fez estudos da transferência enfocados nos aspectos do narcisismo onde ressalta a importância da organização patológica que ele denomina gangue ou máfia narcisista 1971 Também deve receber um registro especial sua descrição da psicose de trans ferência 1978 MELTZER 1979 descreveu a natureza e as formas da perversão na transferência B JOSEPH além de estudar a transferência como uma situação total 1985 também contribuiu para os conhecimentos da trans ferência que se manifesta nos pacientes de difícil acesso 1975 STEINER 1981 descreveu a organização pa tológica da personalidade na qual há uma relação perversa entre partes diferentes da mente que tendem a se reproduzir na trans ferência BION se distinguiu tanto que mere ce um registro à parte Bion Embora não tenha escrito nenhum texto es pecífico sobre o fenômeno transferencial BION deixou muitas contribuições que podem ser depreendidas ao longo de sua obra tais como 1 A noção de transformações na pessoa do analisando na do analista e no vínculo entre ambos que permeiam toda análise 2 A existência permanente na transferên cia dos três vínculos o do amor o do ódio e o do conhecimento 3 A importância de o analista distinguir a transferência provinda da parte neurótica da originada na parte psicótica da persona lidade 4 A introdução da noção de que a transfe rência no campo analítico não deve ser vista unicamente com a pessoa do analista mas também de uma parte do paciente em relação à pessoa mais importante com quem jamais poderá lidar que é uma outra parte dele mesmo 5 Fundamentalmente BION encara o fenô meno transferencial a partir do modelo de uma relação continenteconteúdo toman do como paradigma dessa relação a origi nal mãefilho 414 DAVID E ZIMERMAN 6 Em muitas passagens de seus escritos trans parece que BION também considerou como condição relevante no analista sua pessoa real e não unicamente como um objeto na fun ção de uma mera pantalha transferencial Kohut Fundador da Escola da Psicologia do Self KOHUT dedicouse à compreensão e ao ma nejo da normalidade e da patologia do nar cisismo Assim estudou as transferências narcisísti cas as descreveu e classificou em três tipos idealizadoras gemelares e especulares As últimas ele subdividiu em duas escalas de acordo com o grau de como esses pacien tes mais regredidos se imaginam ligados ao analista a fusional e a especular propria mente dita 1 Fusional Caracterizase pelo fato de o paciente crer que seu analista não passa de uma mera extensão sua e que portanto adivinhe os seus pensamentos comungue dos mesmos ideais valores etc 2 Especular propriamente dita A transfe rência consiste em que esse tipo de anali sando necessita que o analista tal como a mãe no passado reconheça confirme e es pelhe o self grandioso que o paciente lhe exibe o que durante algum tempo de aná lise o analista deve pautar Winnicott Considera que a transferência deve ser com preendida como uma nova relação um novo espaço que o paciente conquista para poder relacionarse com seu analista cuja imagem inicialmente estará distorcida pe las projeções e prováveis sentimentos de posse que o analisando tenha em relação a ele para que aos poucos o analisando venha a poder usar o analista primeiro como um objeto transacional e após de forma objetiva como um objeto real A relação analistaanalisando passa a ser um processo mútuo no qual cada um está descobrindo e criando ao outro porquanto as descobertas levam às criações Entre outros aspectos relativos à transferên cia que WINNICOTT descreve merecem men ção a função de holding do analista sua capacidade de sobreviver aos ataques des trutivos do paciente o risco de que alguma análise aparentemente bem sucedida pos sa estar construindo não mais do que um falso self Além disso embora WINNICOTT não descurasse dos aspectos sádicodestrutivos contrariamente à ênfase de M KLEIN ele pri orizava na transferência os aspectos cons trutivos e o dos vazios existenciais Lacan Esse eminente e controvertido autor con cebe a utilização da transferência na situa ção analítica de forma frontalmente diversa daquela em que todos os analistas das de mais escolas crêem e habitualmente a pra ticam Ele parte do princípio de que a fixa ção oral à mãe expressa o estágio do espe lho no qual o sujeito reconhece o seu ego no outro ou que a primeira noção do ego provém do outro Assim LACAN acredita que a ênfase do ana lista na interpretação sistemática da trans ferência não faz mais do que reforçar um vínculo de natureza diádica especular Pelo contrário prossegue LACAN o analista deve romper essa díade imaginária por meio da castração simbólica como um recurso de propiciar a transição do nível imaginário para o simbólico próprio da triangularida de edípica Todos esses aspectos constituem o que LACAN configura como teoria simbóli ca da transferência Para LACAN a psicanálise consiste em um processo dialético pelo qual o paciente traz sua tese o analista propõe a antítese e daí surge uma síntese insight que leva a no vas teses A transferência somente surge VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 415 quando por alguma razão esse processo dialético é inoperante Ele exemplifica isso reestudando o caso Dora sob o enfoque de uma seqüência de inversões dialéticas que passaram despercebidas por FREUD Igualmente LACAN introduz a influência do desejo do analista no processo transferen cial do paciente recorrendo ao exemplo ex traído de O banquete de Platão onde seis personagens expressam uma concepção diferente do amor Transferência tipos de técnica Na prática clínica a transferência apresen ta diversas modalidades conforme as ca racterísticas próprias de cada analisando ou o momento analítico diferente de um mes mo paciente De modo sintético cabe apon tar as seguintes formas que seguidamente se manifestam no campo transferencialcon tratransferencial Transferência positiva Classicamente essa denominação costuma referirse a todas as pulsões e derivados re lativos à libido especialmente os sentimen tos carinhosos e amistosos incluídos os de sejos eróticos desde que tenham sido subli mados sob a forma de amor nãosexual e não persistam como um vínculo erotizado No entanto é importante destacar que o que muitas vezes parece ser uma transferência positiva pode estar sendo negativa do pon to de vista de um processo analítico por quanto pode estar representando não mais que uma extrema e permanente idealização e isso representa um entrave para um ver dadeiro crescimento Assim pode acontecer que uma aparên cia de positividade possa estar significan do unicamente um inconsciente conluio transferencialcontratransferencial sob a forma de uma recíproca e estéril fascina ção narcisística Igualmente é necessário que o analista dis tinga a transferência verdadeiramente posi tiva da que encobre o lado doente dos pa cientes pseudocolaboradores Transferência negativa Com esse nome FREUD referia as transferên cias nas quais predominavam pulsões agres sivas com os seus inúmeros derivados sob a forma de inveja ciúme rivalidade vo racidade ambição desmedida algumas formas de destrutividade as eróticas in cluídas etc Na atualidade é importante o analista le var em conta que uma transferência de apa rência negativa pode estar sendo altamente positiva na hipótese de que esteja repre sentando alguns movimentos que o paci ente está ensaiando para reviver com seu analista a agressividade que seus pais do passado não souberam conter e muito menos conseguiram entender que a agres sividade poderia ter a finalidade positiva de conquistar espaço próprio e experimentar uma autonomia Transferência especular Muitas vezes o movimento transferencial representa a busca na pessoa do analista de um espelho que o reflita reconheça e devolva sua imagem de autoidealização vitalmente necessária para que o paciente muito inseguro sinta que de fato existe e é valorizado Transferência idealizadora Essa forma de transferência corresponde segundo KOHUT 1971 a uma etapa do de senvolvimento emocional primitivo na qual a criança tem necessidade de estruturar o seu self por meio da idealização dos pais que esse autor denomina imago parental idealizada 416 DAVID E ZIMERMAN Como nas modalidades anteriores é neces sário que o analista aceite funcionar transi toriamente como um ego auxiliar do paci ente ao mesmo tempo em que gradativa mente vai construindo o processo de dife renciação que possibilite ao paciente ad quirir uma separação uma individuação e uma posterior autonomia Transferência erótica e erotizada A transferência de características eróticas adquire um largo espectro de possibilida des desde os sentimentos afetuosos e cari nhosos em relação ao analista até o outro pólo de uma intensa atração sexual por ele ou ela atração essa que se converte em um desejo sexual obcecado permanente consciente egossintônico e resistente à qual quer tentativa de análise O primeiro caso alude à transferência eróti ca na qual existe a predominância da pul são de vida ou seja está vinculada à ne cessidade que qualquer pessoa tem de ser amada enquanto a segunda situação refe rese à transferência erotizada mais ligada às pulsões agressivas que visam um contro le sobre o analista e uma posse voraz dele Transferência perversa MELTZER 1973 foi o autor que mais consis tentemente estudou a perversão da transfe rência apontando para o risco da forma ção de um conluio perverso entre o par analítico Esse conluio consiste no envolvi mento de um jogo de distintas formas de sedução do paciente que encontra ressonân cia no analista e que conflui num desvio das combinações previamente estabelecidas em relação ao setting do trabalho analítico Transferência psicótica Nos primeiros tempos da psicanálise FREUD e seguidores descartavam a possibilidade de análise com psicóticos com o argumento que esses pacientes investiam toda libido em si mesmos Logo não haveria transferência e daí a impossibilidade de análise Na atua lidade ninguém mais contesta que os psi cóticos desenvolvem sim uma nítida trans ferência embora ela assuma características específicas Para exemplificar vale mencionar BION que destaca algumas características da transferên cia psicótica o fato de instalarse de forma precoce com muita dependência comumente bastante tenaz porém muito frágil e instável Diz BION que é muito comum uma oscila ção transferencial de muita idealização al ternada com denegrimento Nesse caso o paciente acusa o analista como único res ponsável por todos seus males Nessas con dições tudo será motivo para acusações a tranqüilidade do analista será tomada por esse tipo de paciente como uma indiferen ça hostil e assim por diante Psicose de transferência Ver esse verbete Comentário Creio útil acrescentar a ex pressão transferência de impasse em bora não exista literalmente na literatura psicanalítica porquanto são bastante fre qüentes no curso das análises certos perí odos transferenciais típicos de situações de impasses analíticos que podem culminar com a temível reação terapêutica negativa A transferência de impasse adquire diver sas configurações tanto por uma possível transferência erotizada quanto por uma in tensa oposição à renúncia das ilusões nar cisistas ou por uma excessiva carga de an siedade paranóide Nesse caso todo o dis curso do paciente pode ficar concentrado em queixas e acusações a seu analista e ao mesmo tempo fica em um estado de tama nha defensividade que não consegue escu tar o que seu analista diz Em casos mais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 417 extremos a transferência de impasse pode assumir a forma do que ROSENFELD concei tuou como psicose de transferência Transferência na prática clínica A psicanálise contemporânea em relação ao fenômeno transferencial na prática coti diana do analista leva em conta aspectos como os que se seguem 1 A análise não cria a transferência 2 Há transferência em tudo porém nem tudo é transferência a ser analisada e inter pretada 3 Persiste uma polêmica entre os autores a respeito da pessoa do analista É unicamente um objeto transferencial no qual o paciente reedita suas experiências passadas ou na transferência ele também representa e fun ciona como um novo objeto real 4 A transferência consiste em uma necessi dade de repetição tal como postulava FREUD que incluía o fenômeno transferen cial como um exemplo do seu princípio de compulsão à repetição ou antes a trans ferência representa uma repetição das ne cessidades não satisfeitas no passado e que agora estão à espera de uma nova chance com o analista 5 Toda transferência implica alguma forma de contratransferência assim estabelecen do um vínculo transferencialcontratransfe rencial 6 A transferência não é unívoca ou seja o mesmo paciente apresenta diversas faces transferenciais Pode ser uma transferência paterna materna ou fraterna cada uma delas também comporta diversas facetas É freqüente que o paciente possa estar fa zendo em relação ao analista uma transfe rência concomitantemente materna a bus ca de um continente e paterna a necessi dade da colocação de limites 7 Importante é que o analista esteja atento para a observação das transformações que as transferências possam estar sofrendo no curso da análise nas suas formas e signifi cações 8 Em relação às interpretações é relevante assinalar o risco de um transferencialismo por parte do analista ou seja que ele pro mova um sistemático reducionismo para o aquiagoracomigo para tudo o que o paci ente falar sem levar em conta as particula ridades específicas de cada situação analíti ca e criando uma atmosfera de transferên cia artificial 9 Inúmeras vezes o transferencialismo do aquiagoracomigo redunda em esterilida de porquanto o paciente ainda nem está aí De fato freqüentemente há ausência de uma transferência manifesta por estar pre valecendo uma ausência de vínculo Isso acontece com pacientes nos quais haja pre dominância de sentimentos de vazio incre dulidade e desesperança Nesses casos gra dualmente deve haver um processo de cons trução da transferência Transformações BION 1965 Título de um dos mais importantes livros de BION publicado em 1965 O termo transformaçãoões referese ao fenômeno que consoante com sua etimologia trans formar ou seja formar para além de consiste na aquisição de novas formas no paciente no analista no vínculo entre am bos e no processo psicanalítico BION descreve três tipos de transformações 1 A de movimento rígido quando é fácil reconhecer a essência do fato original 2 A das transformações projetivas na qual há um intenso exagero e deformação das distâncias e das épocas dos fatos originais O paciente pode estar fazendo o relato de um acontecimento antigo como se fosse atu al a ponto de seguidamente haver uma superposição confusional do passado com o presente 3 As que se apresentam sob a forma de alucinoses Nesses casos o fato original fica 418 DAVID E ZIMERMAN tão distorcido como por exemplo o de o paciente entender mal escutar mal mani festar ilusões ou até alucinações visuais auditivas táteis etc a ponto de às vezes ficar dificílimo descodificar tal como ocor re em muitos sonhos e chegar à verdadei ra origem do que está acontecendo Como exemplos de transformações que ocorrem na situação analítica podese men cionar os fenômenos formadores dos so nhos os sintomas a passagem do pensa mento para uma verbalização ou para um acting a transferência a interpretação Da mesma maneira a Grade pode ser encara da tanto seu vertical eixo genético quanto seu horizontal eixo da utilização dos pensa mentos como um grupo de sucessivas trans formações de uma categoria à outra BION enfatizava que nenhuma transformação pode ocorrer sem a concomitância de uma experiência emocional Toda transformação segundo BION implica a existência de um estado inicial uma ver dade original que ele designa com a letra O Por maiores que tenham sido as trans formações do fato original sempre haverá a presença de um invariante isto é algum indício tal como acontece no exemplo que ele dá de uma mesma paisagem campes tre pintada por vários artistas de distintas correntes artísticas As pinturas podem ser de formas totalmente diferentes e até irre conhecíveis porém todas terão alguma to nalidade do verde e algum outro detalhe da paisagem original Outra metáfora que pode ser usada para cla rear o conceito de invariância consiste na subs tância água que tanto pode estar no estado líquido quanto no gasoso como vapor dágua ou sólido com gelo No entanto todas as formas por mais transformadas que estejam conservam o H2O original BION também assinala a importância no tra balho analítico do caminho a percorrer de O origem em direção a K conhecimento e viceversa de K em direção a O Em Atenção e Interpretação 1970 p15 BION dá um belo e esclarecedor exemplo clínico Um paciente seu começa manifestando um desejo por ice cream porém à medida que os sorvetes equivalente à busca de leite amor e paz desde sua infância não apa reciam e não satisfaziam suas necessidades desejos e demandas foi entrando num es tado de desamparo de sorte que o ice cre am transformouse em I scream ou seja eu grito de dor Esse grito está ligado ao O dos traumas originais Transgeracionalidade Termo bastante empregado na psicanálise contemporânea designa o fato de que cada um dos genitores da criança mantém a in ternalização de suas respectivas famílias ori ginais com os correspondentes valores es tereótipos e conflitos Há uma forte tendên cia no sentido de afirmar que os conflitos não resolvidos dos pais da criança com os respectivos pais originais interiorizados como por exemplo os conflitos edípicos de cada um deles sejam reeditados nas pessoas dos filhos Em situações mais ex tremadas isso pode se manter inalterado em sucessivas gerações e gerações Assim é relativamente comum que uma mãe fixada edipicamente em seu pai me nospreze seu marido enquanto repete com o filho o mesmo enredo incestuoso malre solvido Dessa forma ela delega ao filho o papel de tomar o avô o pai dela como um modelo admirado para identificação com a exclusão da figura do pai real que fica desvalorizado É claro que existem inúme ros variantes desse fenômeno no seio da família sendo particularmente relevante a delegação para o filho do papel de assumir uma homossexualidade que estava recalca da em um ou nos dois genitores Não são somente os conflitos neuróticos ou psicóticos piscopáticos perversos somati zadores etc das gerações precedentes da VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 419 família nuclear que se reeditam nos própri os pais e dentre eles e daí para os filhos em uma combinação que envolve no mí nimo três gerações num continuado jogo de mútuas reprojeções Também há a trans missão de valores e de significados tanto os de natureza pulsional por exemplo o estímulo excessivo ou o bloqueio da sexua lidade ou da agressão como também os egóicos identificação com certos atributos e capacidades por exemplo os provindos do superego mandamentos e proibições e do ideal do ego ambições e expectativas Transicionais fenômenos WINNICOTT Expressão introduzida na psicanálise por WINNICOTT alude a uma de suas mais bri lhantes e originais concepções que dizem respeito aos fenômenos psíquicos que acom panham a transição que o bebê faz do mun do imaginário para o mundo da realidade Essa transição é enfocada por WINNICOTT no seu tríplice aspecto o que aborda os fenô menos o espaço e os objetos transicionais cujos conceitos aparecem separadamente nos respectivos verbetes Transtornos afetivos bipolares O transtorno afetivo bipolar TAB antiga mente denominado psicose maníacode pressiva PMD é uma doença de fundo heredoconstitucional crônica comumente de início precoce de características recor rentes bastante recidivante Tanto pode ser bem controlada pela combinação de tera pia e psicofármacos como também é ca paz de produzir intensa e extensa incapaci tação em algumas áreas da vida As estatís ticas comprovam que o risco de suicídio das pessoas portadoras dessa doença é 30 ve zes maior do que na população normal Embora nem todos os casos de TAB se be neficiem coma moderna psicofarmacolo gia ora porque são refratários à medicação ou não aderem à disciplina do seu uso ou porque não suportam os efeitos colaterais é incontestável que o prognóstico da evolu ção da doença melhorou significativamen te A própria terapia psicanalítica quando associada com os medicamentos estabiliza dores do humor como o lítio ou com anti convulsionantes como o ácido valpróico ou a carbazepina tem dado mostras claras que evolui de forma mais exitosa Ver o verbete Psicose maníacodepressiva Trauma FREUD Na obra de FREUD a palavra trauma apare ce pela primeira vez em 1895 nos seus es tudos com pacientes histéricas como sen do relacionada com uma primitiva sedução sexual realmente perpetrada pelo pai con tra a menina indefesa Em sucessivos arti gos FREUD reconheceu outras formas de traumas como do nascimento nos termos concebidos por RANK do impacto da cena primária da angústia de castração do me nino em face da percepção de que as me ninas não tinham pênis Em 1926 ele deu um passo importante ao reconhecer o trauma representado pelas perdas precoces incluídas a da perda do amor da mãe ou de outras pessoas signifi cativas Nesse mesmo trabalho FREUD ligou a ocorrência desses traumas psicológicos a um estado de desamparo O conceito de trauma está mais diretamen te ligado a acontecimentos externos reais que sobrepujaram a capacidade do ego de poder processar a angústia e a dor psíquica que eles provocaram A repercussão dos traumas no psiquismo da criança é propor cional à precocidade de seu estado de iner mia Assim em seu Esboço de psicanáli se 1940 FREUD utilizando uma importan te e bela metáfora compara o efeito de um trauma psicológico ao de uma agulha no embrião humano Uma agulhada num or ganismo desenvolvido é inofensivo porém 420 DAVID E ZIMERMAN se for numa massa de células no ato da di visão celular promoverá uma profunda al teração no desenvolvimento daquele ser humano em formação A noção de trauma conserva a idéia de que se trata de um conceito essencialmente eco nômico da energia psíquica uma frustração em face da qual o ego sofre uma injúria psí quica não consegue processála e recai num estado no qual sentese desamparado e ator doado A angústia excedente também pode escoarse através de sintomas corporais que caracterizam a neurose atual São múltiplos os traumas precocemente impingidos às crianças tanto sob a forma de separações traumáticas quanto de im pingements traumas invasivos ou de vio lências traumáticas de várias naturezas To dos eles porém repercutem seriamente no psiquismo da criança onde ficam impres sos sob a forma de vazios vivência de de samparo e de feridas abertas Essas últimas estão de acordo com a etimologia da pala vra trauma em grego quer dizer ferida Trauma segundo FERENCZI FERENCZI elaborou a sua teoria sobre o trau ma a partir da situação de violência sexual a que uma criança pode ser submetida por um adulto Na verdade segundo mostra em seu artigo A confusão de linguagens entre os adultos e a criança 1933 FERENCZI mostra que a criança ao brincar com um adulto tem um propósito lúdico com suas fantasias presentes sendo um movimento prazeroso no qual a genitalidade está au sente Esse movimento prazeroso para a criança é estabelecido dentro de uma lin guagem própria dela diferente da dos adul tos à qual FERENCZi denominou como lin guagem da ternura O trauma consiste no fato de o adulto po der responder genitalmente àquilo que na criança é prégenital assim estabelecendo uma séria confusão que o ego da criança ainda não tem condições para processar de forma satisfatória Trauma do nascimento O RANK Conceito formulado por ORANK em seu livro O trauma do nascimento de 1924 Designa um estado de angústia a que fica submetido o bebê por ocasião de seu nascimento não só pelas pressões de natureza física inerentes ao parto mas especialmente devido às mo dificações do novo ambiente exterior que lhe impõe a necessidade de adaptação a uma nova forma de se alimentar etc RANK enfati zou sobretudo sua concepção de que a an gústia do bebê resultante da separação da mãe constitui o protótipo da angústia psíquica Inicialmente FREUD acolheu com muito en tusiasmo essa concepção de RANK chegan do a considerála como um protótipo de ulteriores estados de angústia como as que acontecem nas neuroses traumáticas e nas neuroses atuais No entanto mais tarde especialmente em Inibições sintomas e angústia 1926 FREUD foi se opondo ao conceito de RANK e desvitalizando sua im portância Em Novas conferências intro dutórias 1933 FREUD volta a revisar sua posição e reconhece que RANK tivera o gran de mérito de ressaltar a importância da pri meira separação da criatura humana da mãe Traumatofilia Como mostra sua etimologia essa palavra é derivada das raízes gregas trauma feri da philos amigo de e designa o fenô meno bastante freqüente de pessoas que de forma compulsivamente repetitiva aci dentamse daí também ser empregado o termo acidentofilia Podem ser incluídos os sujeitos que de forma inconsciente for çam a repetição de cirurgias algumas mu tiladoras de certas zonas corporais A traumatofilia guarda uma relação íntima com sentimentos sadomasoquistas e lembra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 421 a situação muito conhecida de crianças que sofrem pequenos acidentes quando os pais se afastam por um tempo mais prolongado Três ensaios sobre a teoria da sexualidade FREUD 1905 Este trabalho e Interpretação dos sonhos fi guram como as mais importantes e origi nais contribuições de FREUD para a constru ção do edifício teórico da psicanálise sendo os mais citados na literatura psicanalítica Três ensaios sobre a teoria da sexualidade cons ta de três capítulos cada um abrangendo sub títulos além de no final um resumo e um apêndice perfazendo cerca de 120 páginas O capítulo I é intitulado As aberrações se xuais Desvios relativos ao objeto sexual e comporta os seguintes subtítulos a Inver são b Pessoas sexualmente imaturas e ani mais como objetos sexuais c Extensões anatômicas d Fixação dos objetivos sexuais preliminares e As perversões em geral f A pulsão sexual dos neuróticos g Com ponentes pulsionais e zonas erógenas h Razões para a aparente preponderância da sexualidade perversa nas psiconeuroses i Sinal do caráter infantil da sexualidade O capítulo II intitulado Sexualidade infan til aborda os temas Manifestações da se xualidade infantil O objetivo sexual da sexualidade infantil Manifestações sexu ais masturbatórias As pesquisas sexuais da infância As fases de desenvolvimento da organização sexual As fontes da se xualidade infantil O capítulo III tem por título As transfor mações da puberdade e engloba os te mas O primado das zonas genitais e o préprazer O problema da excitação sexual A teoria da libido A diferenci ação entre homens e mulheres O en contro de um objeto O apêndice é muito útil porquanto con forme seu título Lista das obras de Freud que tratam predominantemente ou em grande parte da sexualidade traz uma listagem de 33 textos que tratam mais dire tamente da sexualidade publicados no pe ríodo de 1898 a 1940 Este trabalho aparece no volume VII a par tir da página 135 na edição brasileira da Standard Edition Turbulência emocional BION 1997 Título de um trabalho de BION de 1977 A expressão turbulência designa o fato de que o progresso psicanalítico requer uma volta ao estado anterior ou um confronto entre partes distintas da personalidade do sujeito e isso vem acompanhado por um estado de turbu lência emocional tanto no analisando como possivelmente no psicanalista A turbulência é desencadeada na análise pelo encontro de duas personalidades diferentes ou de duas partes diferentes de uma mesma personali dade BION contrapõe o estado de turbulência ao da calma do desespero a qual consiste num estado psíquico de excessiva acalmia sem um mínimo de angústia na situação analítica o que pode estar indicando que talvez haja um con luio de acomodação e de estagnação Assim BION propõe que quando essa situa ção está de fato refletindo uma estagnação da análise cabe ao analista promover algu ma forma de turbulência conforme a me táfora que ele utiliza a de se jogar uma pe drinha num lago de águas tão calmas que elas passam despercebidas até que a pedri nha nelas lançada provoque as marolas Na prática clínica a melhor forma de provo car uma turbulência consiste em o analista transformar em egodistônico o que embora patológico está arraigadamente egossintôni co na mente e na conduta do analisando Esse artigo publicado originalmente em Borderline Personality Disorders se refere a uma palestra de BION sobre pacientes bor derline e aparece na Revista Brasileira de Psicanálise volume 21 1 1987 com tra dução de P C SANDLER Cost of Production Cost per unit of output Umbral da posição depressiva MELTZER No clássico O processo psicanalítico 1967 DMELTZER propõe estudar a evolução da transferência como um processo com histó ria própria Para tanto ele subdivide esse processo em cinco etapas 1 A coleta da transferência 2 Confusões geográficas 3 Confusões zonais 4 Umbral da posição depressiva 5 O desmame A quarta etapa é atingida quando as ante riores estiverem suficientemente bem resol vidas O uso do termo umbral evidencia a cautela de MELTZER quanto à capacidade de o ser humano alcançar níveis de integração dos aspectos que estão dissociados e proje tados o que constitui a posição esquizo paranóide e assim vir a assumir a respon sabilidade e as culpas pelos eventuais da nos reais ou fantasiados que o sujeito pos sa ter infligido a outros ou a si próprio Unidade psiquesoma WINNICOTT Ao estabelecer seu conceito de personaliza ção que WINNICOTT definiu como o senti mento de que a pessoa de alguém se en contra no próprio corpo parece evidente que surgiu do fenômeno da despersonali zação observada freqüentemente em psi cóticos e que corresponde uma regressão a estágios precoces do desenvolvimento Partindo dessa idéia WINNICOTt construiu uma teoria pela qual propõe que o desen volvimento normal abrange um esquema corporal indissociado do psicológico cha mandoo de Unidade psiquesoma Nessa unidade a integração e a personalização se complementam e requerem na normalida de uma exitosa confluência de cuidados maternos e experiências pulsionais satisfa tórias Universo em expansão BION Com essa expressão BION asseverava que um processo psicanalítico não deve procu rar as verdades acabadas nem conclusões definitivas Pelo contrário deve se consti tuir de novas e progressivas aberturas numa constante interrelação entre o sensorial e o abstrato entre o finito e o infinito entre K e O Afirma BION o finito não deixa espaço para o desenvolvimento estamos aqui pre ocupados com algo que requer espaço para o crescimento Dessa forma o crescimento mental vai mui to além do alívio de uma dor de angústia de remoção de sintomas ou de uma adap U 424 DAVID E ZIMERMAN tação socioprofissional pelo contrário no lugar de um fechamento tranqüilizador e estabilizador BION propõe que a análise propicie novas e progressivas aberturas em um processo interminável tal qual um universo em expansão o do paciente e o do analista O modelo utilizado por BION para esclare cer a noção de universo em expansão na prática clínica na evolução do analisando é o de um movimento helicoidal represen tado por uma espiral ascendente Em ou tras palavras em toda análise o analisan do faz variações em torno dos mesmos te mas Essa volta aos mesmos pontos pode adquirir duas configurações fundamental mente diferentes embora possam ser pare cidas Uma é um movimento em círculo na qual o paciente volta ao mesmo assunto no mesmo plano que das vezes anteriores portanto nada mudou Uma segunda pos sibilidade é que ele volte ao mesmo as sunto ao mesmo ponto de partida po rém num plano ligeiramente superior de sorte que vai havendo uma espiral ascen dente e expansiva ou seja um crescimen to do espaço mental A distinção entre um movimento circular e um helicoidal tem extraordinária importân cia na atitude psicanalítica do terapeuta di ante dos relatos do paciente Uso de um objeto WINNICOTT 1969 Em 1969 WINNICOTT publicou o artigo O uso de um objeto in Revista Brasileira de Psicanálise 1971 no qual estabelece uma diferença entre o relacionamento com um objeto e o uso de um objeto Ele afirma textualmente que A relação de objeto é uma experiência do sujeito que pode ser descrita em termos deste como ser isola do Quando falo do uso de um objeto entre tanto tomo a relação de objeto como eviden te e acrescento novas características que en volvem a natureza e o comportamento do objeto Por exemplo o objeto se é que tem de ser usado deve ser necessariamente real no sentido de fazer parte da realidade com partilhada e não um feixe de projeções Isto faz parte da mudança para o princípio da realidade Constitui outro exemplo do pro cesso de amadurecimento como algo que depende de um meio ambiente propício No mesmo artigo WINNICOTT destaca a im portância dessa conceituação na prática analítica de sorte que a atuação do analis ta vai além de unicamente interpretar Tam bém visa a propiciar que o analisando sai ba usálo inclusive para atingir sozinho a obtenção de insights e para dirigir ataques agressivos contra o analista que deve pos suir a capacidade de sobrevivência V Vazio WINNICOTT Em seu trabalho Fear of Breackdown Medo do Colapso publicado postuma mente por sua esposa Clare em 1974 WINNICOTT assim se expressa Em alguns pa cientes o vazio necessita ser experimentado e esse vazio pertence ao passado a época antes que o grau de maturidade tivesse fei to possível esse vazio ser experimentado Para compreender isso é necessário pensar que é mais fácil para um paciente lembrar de um trauma do que se lembrar que nada aconteceu quando poderia ter acontecido Na prática a dificuldade é que o paci ente tem horror do vazio e em defesa pode organizar um vazio controlado não comen do uma alusão ao problema da anorexia nervosa ou não aprendendo ou então ele pode impiedosamente prenchêlo por uma voracidade compulsiva e que se sente como louca Provavelmente corresponda ao es tado de bulimia Vazio patologia do FRANCIS TUSTIN Os recentes e aprofundados conhecimen tos teóricos e técnicos relativos ao desen volvimento emocional primitivo dos bebês permitem afirmar com convicção que nem toda a psicopatologia deriva unicamente dos conflitos entre pulsões do id defesas do ego e ameaças do superego Pelo contrário cada vez fica mais evidente que há um crescente contingente de pessoas que antes de con flitos sofrem de primitivas carências afeti vas básicas pelo fato de suas mais preco ces necessidades vitais leite calor amor e paz não terem sido suficientemente pre enchidas resultando daí a formação de ver dadeiros buracos negros Assim cada vez mais as investigações da psicanálise inclinamse para as situações clí nicas que resultam das fixações ou regres sões concernentes às etapas mais primiti vas do desenvolvimento emocional Den tre as referidas situações clínicas existe uma que há mais de 50 anos vem preocupando os analistas pesquisadores dos transtornos autísticos de certas crianças não as de na tureza genéticoneurológica mas os quadros de autismo psicogênico ou autismo secun dário nos quais essas crianças parecem desligadas do mundo exterior e transmitem nos a impressão de que não olham para as pessoas mas através delas A esse respeito a psicanálise contemporâ nea principalmente a partir de FTUSTIN 1986 fez duas revelações muito importan tes a primeira é a comprovação de que es 426 DAVID E ZIMERMAN sas crianças sofrem de vazios de uma au sência quase absoluta de emoções ou seja elas estão cheias daquilo que TUSTIN chama de buracos negros nome tirado da física cósmica que designa uma espécie de auto fagia da luminosidade das estrelas os quais são resultantes da formação de um rígida carapaça uma concha autística contra a ameaça de um sofrimento provindo das frus trações impostas pela realidade exterior A segunda revelação relativa à existência des ses vazios na constelação psicológica é a de que esses estados autísticos não são exclu sivos das crianças sendo também encon trados em certos estados neuróticos de adul tos e mais notadamente em situações piscopatológicas mais regressivas como picoses borderline perversões drogadi ções etc A importância dessas constatações reside no fato de que tais pacientes requerem uma outra abordagem técnica que consiste em o terapeuta sair ativamente em busca desse paciente criança ou adulto Mais do que escondido ou fugindo ele está realmente perdido e necessitado de ser encontrado e sacudido para despertálo de um estado de desistência de viver a vida conformado que está em unicamente sobreviver qual um vegetal nas situações mais extremas Em outras palavras o fundamental é que o ana lista possa propiciar a esse paciente algum tipo de experiência de ligação As interpre tações do analista por mais corretas que sejam não adiantam porque esse pacien te escudado em sua cápsula autística não se liga a elas Tampouco adianta unicamente uma boa função continente do terapeuta porquanto o paciente não está nem aí e não fica sensibilizado pela continência que lhe é oferecida Por isso TUSTIN faz a metá fora de que para esses casos o setting analí tico seja uma espécie de útero psicológico funcionando como uma incubadora para que o self em estado prematuro possa ob ter as provisões essenciais para seu desen volvimento que não se realizaram na sua infância Assim a proposta analítica contem porânea é a de de alguma forma ir ao en contro e sacudir as emoções escondidas atrás do escudo protetor até obter a respos ta que sirva de escada para novas sacudi das com vistas a transformar um estado mental de desistência num outro de exis tência Verdade BION BION sempre deu especial relevância à ver dade considerandoa essencial para o cres cimento mental e que sem ela o aparelho psíquico não se desenvolve morre de ina nição A busca da verdade impõe a neces sidade de o sujeito estabelecer confrontos e correlações entre fatos passados e presen tes realidade e fantasia verdades e menti ras o que o sujeito diz faz e o que real mente ele é etc Juntamente com o vínculo do amor L e o do ódio H BION descreveu o vínculo do conhecimento K Nesse último ele contri buiu com concepções originais acerca do não conhecimento que ele designa com a sigla K O ego processa esse automutilató rio ataque ao vínculo do conhecimento quando o sujeito não pode ou não quer to mar conhecimento e ciência da existência de verdades penosas tanto as externas quanto as internas assim impedindo o des mascaramento a percepção e a correlação dessas verdades intoleráveis Assim diz BION numa bonita frase que o indivíduo pode sentir que lhe falta uma ca pacidade para verdade seja para ouvila seja para procurála seja para encontrála seja para comunicála seja para desejá laEssa função egóica relativa ao conheci mento ou ao nãoconhecimento ganha es pecial relevância na atual prática analítica pelo fato de que está intimamente ligada aos problemas que dizem respeito às verdades falsidades e mentiras inconscientes ou cons VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 427 cientes levandose em conta que conhecer ou saber as verdades é o caminho para o sujeito vir a ser A mentira é considerada o oposto à verda de porém não é a mesma coisa que falsi dade porque implica certa intencionalida de Segundo BION em algum grau todos somos mentirosos BION também destacou bastante a forma como o analista deve transmitir a verdade atra vés das interpretações o que ele sintetiza nessa bela e profunda frase amor sem verdade não é mais do que uma paixão e verdade sem amor não passa de uma crueldade Vértice BION Termo cunhado por BION para designar um ponto de vista um ângulo ou uma perspec tiva a partir dos quais tanto o analisando quanto o analista observam e comunicam determinada experiência analítica que por si mesma pode ser sentida e descrita de muitas maneiras BION preferiu usar o ter mo vértice ao invés dos outros com o pro pósito deliberado de criar uma dimensão além da sensorial Quando muda o vértice qual um caleidoscópio também muda a configuração do processo embora perma neçam os mesmos elementos A conceituação de vértice psicanalítico de BION pode ser ilustrada pelo fato de que diante de um mesmo desenho Figura 4 em preto e branco uma pessoa perceba um vaso se ele ficar fixado na cor branca en quanto outra vai perceber dois rostos hu manos frente à frente se o observador esti ver concentrado no preto Como tentativa de trazer ordem a toda má ou incompleta compreensão BION tentou gerar uma teoria de pontos de vista diferen tes míticos científicos etc o que con duz a vértices religiosos individuais socio lógicos etc os quais ele tinha a esperança de poderem ser mutuamente complemen tares e reconciliados Na prática psicanalítica o importante é que esses vértices recíprocos entre analista e analisando mantenham uma distância útil e adequada que não sejam tão distantes a ponto de impedir a correlação entre os res pectivos vértices nem tão próximos entre si de modo a impedir uma diferenciação e dis criminação entre paciente e analista com uma conseqüente estagnação no processo de novas perspectivas e aberturas de conhe cimentos da realidade psíquica Comentário A conceituação de vértice permite uma melhor compreensão do que pode ser considerado como o maior mal da humanidade que é o problema dos mal entendidos da comunicação entre as pes soas Em tais casos cada sujeito adota um vértice particular de percepção e pretende que a mesma seja verdade absoluta Assim a relatividade da verdade está intimamente conectada com os distintos vértices pelos quais uma mesma verdade é percebida o que está bem expressado nesse verso do poeta Campoamor Nem tudo é verdade nem tudo é mentira tudo depende do cris tal com que se mira Via di porre e via di levare conceito de técnica FREUD No seu trabalho Sobre a psicoterapia 1905 ao estudar a antítese entre a técnica sugestiva e a analítica FREUD utiliza as se guintes palavras transcritas textualmente p 270 a mesma antítese que com rela ção às belas artes o grande Leonardo da Vinci resumiu nas fórmulas per via di porre e per via di levare A pintura afirma Leo nardo opera per via di porre pois explica uma substância partículas de cor onde nada existia antes na tela incolor a escultu ra contudo processase per via di levare vis to que retira do bloco de pedra tudo o que oculta a superfície da estátua nele contida De modo semelhante a técnica da suges tão visa a processarse per via di porre 428 DAVID E ZIMERMAN não se interessa pela origem força e sig nificado dos sintomas mórbidos mas ao revés supõe algo uma sugestão na expectativa de que será bastante vigoro sa para impedir que a idéia patogênica venha a expressarse A terapia analítica por outro lado não procura acrescentar nem introduzir nada de novo mas a reti rar algo a fazer aflorar alguma coisa sen do que para esse fim se preocupa com a gênese dos sintomas mórbidos e o con texto psíquico da idéia patogênica que procura remover Comentário A tendência atual dos psi canalistas é dar uma valorização muito su perior à via di levare com o que todos concordam No entanto deve ficar claro que nem sempre pôr algo é o mesmo que sugestionabilidade ativa ou alguma forma de imposição na mente do paciente As sim em inúmeras situações especialmen te com pacientes muito regressivos tor nase indispensável que o analista ponha ou reponha no psiquismo do paciente algo que preencha seus vazios existen ciais da mesma forma vindo a suplemen tar funções do ego que não foram sufici entemente desenvolvidas na infância do paciente A propósito da sugestionabilidade antes re ferida não é possível ignorar o fato de que por mais que o analista cumpra a regra da abstinência quer queira quer não sempre seu discurso veicula algo de sua ideologia particular Vida pulsão de FREUD Em Além do princípio do prazer 1920 FREUD como oposição a Tânatos introdu ziu a noção de Eros como princípio funda mental das pulsões de vida ou seja uma tendência dos organismos de manter a co esão da substância viva e para criar novas unidades vivas Ver os verbetes Autoconservação e Pulsões Vínculos conceituação de BION A psicanálise contemporânea inclinase cada vez mais para o paradigma da vincu laridade isto é para o fato de que o pro cesso psicanalítico consiste sempre em uma interação entre analisando e analista a partir dos vínculos que se estabelecem entre am bos e que constituem o campo analítico Etimologicamente o termo vínculo tem ori gem no étimo latino vinculum o qual signi fica uma união uma atadura de caracterís ticas duradouras Da mesma forma víncu lo provém da mesma raiz que a palavra vin co com o mesmo significado que aparece por exemplo em vinco das calças ou de rugas etc ou seja ela alude a alguma for ma de ligação entre as partes que estão unidas e inseparadas embora permaneçam claramente delimitadas entre si Assim BION conceituou vínculo como uma estrutura relacionalemocional entre duas ou mais pessoas ou entre duas ou mais partes separadas de uma mesma pessoa Ele es tendeu essa conceituação a qualquer fun ção ou órgão que desde a condição de bebê esteja encarregado de vincular obje tos sentimentos e idéias uns aos outros Do ponto de vista psicanalítico a conceitu ação de vínculo necessariamente requer as seguintes características 1 São elos de ligação interpessoais ou in trapessoais permanentemente presentes e interativos 2 Esses elos são sempre de natureza emo cional 3 São imanentes isto é são inatos exis tem sempre como essenciais em um dado indivíduo e são inseparáveis dele 4 Comportamse como uma estrutura vá rios elementos em combinações variáveis onde a mudança de um deles certamente influirá no conjunto todo 5 São polissêmicos isto é permitem vá rios poli significados semos 6 São potencialmente transformáveis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 429 7 Conforme BION devem ser entendidos por meio do modelo da interrelação conti nenteconteúdo Vínculos tipos de BION Durante muitas décadas todos os psicana listas basearam seus esquemas referenciais virtualmente em torno dos dois vínculos o do amor e o do ódio Coube a BION propor uma terceira natureza de vínculo a do co nhecimento diretamente ligada à aceitação ou não das verdades particularmente as penosas tanto as externas quanto as inter nas e que dizem respeito mais diretamente aos problemas da autoestima dos sujeitos Assim ele descreveu três tipos de vínculos o de Amor L inicial de love de Ódio H inicial de hate e o do Conhecimento K inicial de knowledge Os três podem ser sinalizados de forma positiva com o signo ou negativa com o signo BION deteve se mais particularmente no vínculo K Des sa forma no lugar do clássico conflito entre o amor e o ódio propôs ressaltar o conflito entre as emoções e as antiemoções presen tes em um mesmo vínculo BION postulou que menos amor L não é o mesmo que sentir ódio e que tampouco menos ódio H significa amor O vínculo do menos amor alude a uma oposição à emoção do amor Isso pode ser ilustrado com a situação de puritanismo e a de sa maritanismo ou seja em nome do amor o sujeito opõese à obtenção da emoção do prazer Nesse caso a manifestação externa adquire a aparência de amor que no en tanto é falsa o que não significa que esteja havendo ódio Um possível exemplo de L seria o caso de uma mãe que pode amar intensamente seu filho porém o faz de forma simbiótica pos sessiva e sufocante Embora sem ódio seu amor samaritânico cheio de sacrifícios pes soais e de renúncia ao prazer próprio é de resultados negativos porquanto funciona como culpígeno e infantilizador Essa mãe por isso não reconhece e impede o neces sário processo de diferenciação separação e individuação do seu filho O vínculo do menos ódio pode ser ilustra do com a situação de farisaísmo ou seja com o estado emocional e conduta hipócri ta qual um fariseu No caso o sujeito está tendo uma atitude manifestamente amoro sa por alguém ao mesmo tempo que existe um ódio latente quando o ódio predomi na tratase de cinismo Portanto podese dizer que no menos ódio qual uma ima gem negativa que o espelho reflete está presente uma forma de amar baseada no ódio embora o sujeito não se dê conta dele Por outro lado o simples fato de o vínculo do conhecimento K estar ligado ao mun do das verdades ou falsidades e mentiras no caso de K permite depreender a enor me importância que isso representa para a psicopatologia levando em conta que seus diversos tipos e graus dependem justa e di retamente dos tipos e graus de defesa que o ego utiliza para a negação do sofrimento mental Como exemplo de menos conheci mento pode servir o ataque às verdades que comumente é empregado pela parte psicó tica da personalidade Nos casos mais exa gerados o sujeito constrói sua própria ver dade que contraria as leis da lógica e da natureza e que a todo custo quer impor aos outros como a verdade definitiva Vínculo do reconhecimento Acredito que juntamente com os três víncu los Amor Ódio e Conhecimento descri tos por BION cabe acrescentar devido à importância e freqüência com que se apre senta na prática analítica um quarto tipo de vínculo o do Reconhecimento nas quatro seguintes acepções que esse termo permite 1 Reconhecimento Designa a importân cia de o sujeito voltar re a conhecer aqui lo que preexiste dentro dele mas cujo co 430 DAVID E ZIMERMAN nhecimento lhe está oculto como podem ser fatos recalcados ou negados de alguma forma ou préconcepções tal como Bion as estudou 2 Reconhecimento do outro No início da vida o bebê não discrimina entre o que é eu e o que é nãoeu de modo que existe um estado caótico composto unicamente por sensações que são agradáveis ou desa gradáveis Um adulto que esteja fixado nes se estado psíquico de posição narcisista vê as outras pessoas como sendo uma exten são e posse dele próprio e que devem estar permanentemente à sua disposição para prover suas necessidades É indispensável para o crescimento mental que o sujeito desenvolva com as demais pessoas um tipo de vínculo no qual reco nheça que o outro não é um mero espelho seu que é autônomo e tem idéias valores e condutas diferentes das dele que há dife rença de sexo geração e capacidades entre eles sendo que é fundamental para o cres cimento psíquico que se desenvolva o reco nhecimento das diferenças 3 Ser reconhecido aos outros Este aspec to da vincularidade afetiva do sujeito diz respeito ao desenvolvimento de sua capa cidade de consideração e de gratidão em relação ao outro No referencial kleiniano a aquisição dessa capacidade está diretamen te ligada à passagem da predominância da posição esquizoparanóide para a posição depressiva 4 Ser reconhecido pelos outros Dentre as quatro modalidades de reconhecimento esta é a mais importante e a que mais apa rece evidenciada no campo analítico e na vida privada de todo ser humano Não é possível conceber qualquer relação huma na em que não esteja presente a necessida de de algum tipo de um mútuo reconheci mento o qual é vital para a manutenção da autoestima e a construção de um definido sentimento de identidade Assim até mes mo qualquer pensamento conhecimento ou sentimento requer ser reconhecido pelos outros de forma análoga à que acontece na relação bebêmãe e isso se torna fator fundamental para o sujeito adquirir o senti mento de existência Muitas situações da psicopatologia como a angústia de separação a construção de um falso self a formação de uma caractereolo gia narcisística os transtornos de convívio com grupos etc podem ser mais bem com preendidos e manejados através do vértice das carências de reconhecimento e dos mecanismos defensivos compensatórios Vínculos ataque aos BION BION conceituou o ataque aos vínculos ou ataque aos elos de ligação outra tradução do termo original linking nos seus estudos sobre os transtornos de pensamento conhe cimento e linguagem dos psicóticos Assim o ataque aos vínculos consiste em uma ten tativa inconsciente a partir da parte psicó tica da personalidade do paciente muitas vezes movida por uma inveja excessiva de impedir que o psicanalista e ele próprio possa se vincular e ter acesso à intimidade de sua pessoa de forma a obstruir que se estabeleçam conexões entre as partes dife rentes do próprio analisando ou ainda a de negar verdades penosas Dessa forma a parte psicótica da personali dade que ataca toda a atividade de ligação da parte nãopsicótica da personalidade im pede a formação de símbolos Logo bloqueia o desenvolvimento do pensamento verbal Na situação analítica o analista deve fazer um ataque aos vínculos perversos que pos sam existir entre as partes diferentes e con traditórias do paciente os quais ele tenta reproduzir com o seu analista Violência O termo violência aparece com bastante fre qüência na literatura psicanalítica aborda VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 431 do de vértices distintos e com significados diferentes Assim na obra de M KLEIN está intimamente conectado com as pulsões sá dicodestrutivas P AULAGNIER utiliza a expressão violência da interpretação para caracterizar o importan te fato de que é necessário distinguir quan do o paciente sente a atividade interpretati va como uma violência primária no caso embora seja necessária e adequada daquela outra violência pela qual o analista quer im por seus valores de qualquer jeito sem uma sensibilidade e empatia com o analisando BION quando estuda o fenômeno clínico da mudança catastrófica descreve suas três ca racterísticas a invariância referese ao que fica inalterado no processo de transformação e que permite reconhecer no produto final o original que foi transformado a subversão do sistema toda transformação implica a al teração de toda estrutura previamente exis tente e a violência porquanto na prática clí nica a mudança catastrófica do analisando por mais producente que seja sempre vem acompanhada de muito sofrimento mental Além disso a psicanálise não pode se omi tir em relação às diversas formas de violên cia que cotidianamente assolam o mundo todo Por isso está permanentemente pro curando estabelecer conexões entre os fa tores sociológicos e o entendimento psica nalítico É útil assinalar que a palavra vio lência deriva do étimo latino vis que signi fica força Esse étimo tanto dá origem aos vocábulos vigor vida vitalidade como tam bém origina o termo violência Podese di zer que a transição de um estado de vigor para o de uma violência é a mesma que se processa entre o de uma agressividade sa dia para o de uma agressão destrutiva Violência primária e violência secundária P AULAGNIER PIERA AULAGNIER define a violência primária como a exercida pelo discurso materno na medida em que esse se antecipa a todo possível entendimento por parte da crian ça Essa violência é necessária para permi tir o acesso do infans etimologicamente de in não fans linguagem ao mundo da realidade dando um sentido tanto ao pra zer quanto ao sofrimento que são vivencia dos pelo bebê no seu corpo Assim é a voz materna que promove no filho o encontro da relação do corpo com o psi quismo É através do seu discurso a autora usa o termo portavoz que o psiquismo da mãe age organizando o psiquismo da crian ça ao mesmo tempo em que ela se constitui representante de uma ordem exterior dando conta das suas leis de funcionamento A violência secundária consiste no fato de que persiste o desejo da mãe em seguir sub ministrando para a criança seus valores de forma continuada e imodificada manten dose como a única capaz de dispensar amor e sabedoria O que caracteriza a vio lência é o fato de que essa atitude apostóli ca da mãe se processa desde a época em que a criança ainda carece de meios de defesa adequados Caso a mãe não renuncie a esse seu dese jo que não leva muito em conta as reais necessidades e desejos de seu filho às ve zes apelando para o uso de mentiras por tanto cometendo um excesso de violências secundárias estará aberto o caminho para uma série de prejuízos de futuras psicopa tologias principalmente as que se referem ao embotamento da capacidade para pen sar criar e ser autêntico Visão binocular BION Expressão introduzida por BION na psicaná lise em seu trabalho apresentado em 1950 O gêmeo imaginário 1967 Ao contrá rio da reversão da perspectiva que só per mite uma única visualização a das premis sas do analisando a visão binocular alude à capacidade de estabelecer confrontos e 432 DAVID E ZIMERMAN correlações entre distintos vértices e assim capacitar o sujeito a passar de um ponto de vista a outro a respeito do que sucede em determinada experiência emocional Por exemplo um psicanalista que somente interpreta o lado infantil ou a parte psicóti ca do paciente ou pelo contrário unicamen te o lado adulto não está tendo a necessá ria visão binocular que outras vezes BION denomina visão multifocal novos vértices como outra forma de autovisualização Comentário A técnica de abrir novos vér tices tem uma extraordinária importância na psicanálise atual por estar baseada no fato de que assim como a criança forma a ima gem de si mesma nos moldes de como a mãe a vê também o paciente está em gran de parte influenciado pela visão que o ana lista tem de seus potenciais Viscosidade da libido FREUD Em Três ensaios obre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD introduz a noção de fixação da libido pressupondo a existên cia de um fator psíquico de origem desco nhecida que explicaria a intensidade da fixa ção uma adesividade ou uma fixabilidade A partir dessa concepção FREUD dedicou se a estudar sua importância na teoria do tratamento analítico Seus estudos o leva ram a formular algumas postulações como a de que em determinados pacientes os processos que o tratamento provoca evolu em muito mais lentamente do que em ou tros porque ao que parece esses pacien tes não são capazes de se decidir a desligar os investimentos libidinais de um objeto e a deslocálos para um novo objeto Outra observação de FREUD é a de que uma mobili dade excessiva da libido pode constituir um obstáculo inverso pois os resultados analíti cos permanecem então extremamente frágeis Por vezes FREUD utiliza a expressão inércia psíquica para designar o fato de que a vis cosidade da libido nas transformações da energia psíquica se comportaria como fe nômeno da entropia num sistema físico A etimologia da palavra entropia indica uma combinação de energia e de tropos trans formação ou evolução em grego Assim entropia em física é uma quantidade de energia que mede o grau de evolução de um sistema físico tal como aparece nas duas leis da termodinâmica 1 A energia total se transforma mas se conserva 2 Nas trocas há uma certa dissipação da energia A com paração com o psiquismo consiste no fato de que nunca haveria a possibilidade de mobilizar toda a quantidade de energia mental que foi fixada num dado momento Voracidade M KLEIN Termo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar uma forma de introje ção executada com ódio de modo que a violência da incorporação oral que impli ca um mastigar e morder raivoso conduz na fantasia à destruição do objeto O esta do final fica sendo o de que não houve sa tisfação oral de vez que o objeto introjetado resultou desvitalizado e sem valor Isso pro move as identificações com objetos depressi vos ou pior o objeto introjetado transformou se em um perseguidor retaliatório como é ca racterístico da posição esquizoparanóide Quanto mais a criança sentirse inundada por objetos maus ameaçadores e destruidores mais fome voraz às vezes de uma avidez insaciável ela tem na busca de uma incor poração de objetos bons o que pode estabe lecer um progressivo círculo vicioso maligno O resultado final pode ser a inibição dos im pulsos ligados à oralidade e uma restrição da introjeção com o fim de poupar os objetos pelos quais sente fome voraz fato que pode conduzir a um estado de anorexia afanisia e a sensação de um mundo interno esvaziado Voyeurismo Ver o verbete Escopofilia Weltanschauung A questão de uma FREUD Artigo que consta como capítulo XXXV das Novas conferências introdutórias à psicaná lise Nele FREUD afirma que a psicanálise não pretende ser uma Weltanschauung isto é não deve ser uma construção intelectual que resolva todos os problemas de nossa exis tência de maneira uniforme ou tenha res postas para eles Essa visão tem base numa hipótese predominante de que a psicanáli se não deixa nenhuma pergunta sem res posta nenhum problema sem solução e na qual tudo que nos interessa encontra um lugar fixo FREUD estabelece uma comparação com a Weltanschauung religiosa e conclui que a psicanálise é incapaz de criar uma Weltanschauung própria não tem neces sidade dela e é muito mais ligada ao pen samento científico ainda à espera de mui tas respostas O termo Weltanschauung aparece com freqüência nos textos psicanalíticos qua se sempre no original alemão Nas tradu ções para o português não foi encontra da a palavra adequada a mais próxima das ensaiadas é cosmovisão que não vin gou W Winnicott Donald Woods Uma das maiores figuras da psicanálise de todos os tempos WINNICOTT nasceu em 1896 em Plymouth Inglaterra onde viveu num lar bem estruturado econômica e afe tivamente sendo o filho caçula entre mais duas irmãs Muito cedo demonstrou incli nação para a música e inegáveis dotes de criatividade artística a par de ser um desta 434 DAVID E ZIMERMAN cado atleta universitário e ter construído uma sólida erudição geral Formouse em medicina iniciando como pediatra bemsucedido especialidade que exerceu durante quarenta anos tendo tra tado mais de 60 mil casos Nesse período já evidenciava sua preocupação com os as pectos emocionais dos seus pequenos paci entes na interação com as respectivas mães Prova disso é que foi então que WINNICOTT criou os conhecidos jogos da espátula e do rabisco squiggle que ele praticava com as crianças Participou da I Guerra Mundial como oficial médico da marinha No mesmo ano de sua formatura em medi cina 1923 WINNICOTT iniciou sua análise com JSTRACHEY a qual se prolongou por 10 anos No período de 1933 a 1938 fez sua análise didática com JOAN RIVIÈRE no seio do grupo kleiniano Sua supervisão psicanalítica foi com MKLEIN durante alguns anos WINNICOTT tinha verdadeira paixão pela in fância como mostra o relatório da Peque na Piggle publicado depois de sua morte Essa menina tinha dois anos quando foi paciente de WINNICOTT e ele a viu durante três anos tendo feito sessões consideradas como memoráveis Foi o fundador da psica nálise de crianças na GrãBretanha antes da chegada a Londres de MKLEIN numa época em que praticamente só terapeutas mulheres dedicavamse ao tratamento com crianças Divorciado da primeira mulher Alice uma artista ceramista WINNICOTT veio a casarse com Clare uma assistente social que veio a tornarse psicanalista tendo feito a sua aná lise com MKLEIN Por ocasião das Contro vérsias acontecidas no seio da Sociedade Psicanalítica Britânica no período de 1943 a 1944 WINNICOTT escolheu ficar com o Grupo dos Independentes Por duas vezes num total de seis anos foi presidente da Sociedade Psicanalítica Britânica As maiores fontes inspiradoras de WINNICOTT foram FREUD KLEIN e o biólogo DARWIN cuja teoria da seleção natural induziuo à con cepção de que um bebê depende funda mentalmente de um ambiente facilitador para sua sobrevivência e estruturação psí quica Publicou seu primeiro trabalho em 1936 no qual estudou a relação entre os conflitos emocionais e os transtornos da ali mentação Aos poucos foi revelando uma predileção pelo atendimento de pacientes psicóticos borderline e adolescentes com conduta antisocial A obra total de WINNICOTT consta de mais de 200 títulos contidos em quatro livros cujos principais conceitos originais estão na resenha que segue Em 1945 ainda fortemente influenciado por MKLEIN WINNICOTT publica o seu clássico Desenvolvimento emocional primitivo no qual propõe que a maturação e o desen volvimento emocional da criança proces samse em três etapas 1 Integração e personalização O bebê nas ce num estado de nãointegração não é o mesmo que desintegração nem dissocia ção na qual está numa condição de de pendência absoluta apesar da sua crença mágica de possuir uma absoluta indepen dência Os cuidados suficientemente bons da mãe promovem uma integração comple ta da unidade psiquesoma WINNICOTT de fine a personalização como o sentimento que o sujeito tem de que ele habita o seu próprio corpo 2 Adaptação à realidade A mãe tem o pa pel fundamental de ajudar a criança a sair da subjetividade total e provêla com os ele mentos da realidade objetiva de modo que ela comece a evocar aquilo que realmente está à sua disposição 3 Crueldade primitiva Nessa época WIN NICOTT afirmava que todo bebê tem uma carga genética com certa cota de agressivi dade que muitas vezes voltase contra ela mesma e que também vem acompanhada da fantasia de ter danificado a mãe No entanto diferentemente de MKLEIN ele não VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 435 prioriza a inveja primária com as pulsões sádicodestrutivas antes enfatiza os aspectos construtivos da agressividade e a esperança da criança de que a mãe a compreenda ame e sobretudo sobreviva aos seus ataques Em 1951 surgem os estudos de WINNICOTT relativos aos fenômenos espaços e objetos transicionais tal como estão descritos nos respectivos verbetes Em 1958 WINNICOTT publica o seu artigo A capacidade para estar só no qual reve la seu gosto pelo emprego de conceituações paradoxais Essa importante concepção re ferese originalmente à capacidade da crian ça de ficar só quando mais a mãe está pre sente de tal modo que cada uma delas está ocupada nos seus afazeres particulares e privativos porém uma invisível e recíproca confiança básica mantémnas unidas O ano de 1960 representa um marco bas tante significativo na obra de WINNICOTT que então publicou dois dos seus mais impor tantes trabalhos um é A teoria da relação paternofilial onde mais claramente defi ne o papel da mãe no desenvolvimento emocional do filho descreve o estado psi cológico da preocupação ou devoção ma terna primária desenvolve as funções da mãe como ego auxiliar como uma função holding O segundo é Deformação do ego em termos de um verdadeiro e um falso self no qual WINNICOTT refere que quan do as falhas ambientais ameaçam sua con tinuidade existencial a criança vêse obri gada a deformar o seu verdadeiro self em prol de uma submissão às exigências ambi entais notadamente dos pais o que leva à construção de um falso self Em 1971 aparece o livro O brincar e a rea lidade que dedica a seus pacientes que pagaram para me ensinar no qual so bressai o importante artigo O papel de es pelho da mãe e da família no qual WINNI COTT tece interessantíssimas considerações acerca do olhar da mãe na estruturação ou desestruturação do self do filho Entre tantos aspectos da técnica e da práti ca analítica os seguintes merecem ser des tacados Quando as falhas ambientais precoces são repetitivas formase no sujeito um conge lamento da situação do fracasso de modo que o setting analítico possibilita uma regres são útil com vistas a um descongelamento A admissão do analista da possibilidade que se desenvolva um ódio na contratransferên cia título de um artigo de 1947 parece ser um importante instrumento técnico A importância de que o analista saiba dis tinguir a diferença entre o que o paciente manifesta como sendo necessidades do id e as necessidades do ego Como acontece nos primórdios do desen volvimento emocional de uma criança tam bém nos analisandos há um período de hesitação que não deve ser confundida com o clássico conceito de resistência O uso que o analisando pode fazer do ana lista como objeto transicional tal como está descrito em seu artigo O uso de um obje to 1969 empresta outra dimensão à trans ferência e à interpretação A concepção de que de forma análoga ao que se passa entre a mãe e a criança tam bém o analista e o analisando cada um está sendo criado e descoberto pelo outro O destaque ao valor positivo e estruturante das pulsões agressivas desde que haja a sobrevivência do objeto ao mesmo tempo amado e atacado A noção de que a nãosatisfação de uma necessidade pode provocar não o ódio mas uma decepção uma reprodução do fracas so ambiental A convicção de que com pacientes bastan te regressivos mais vale o manejo do ana lista do que as suas interpretações Toda a pessoa apresenta algum grau de de pendência e cabe ao analista ajudar o paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o processo de dependência a absoluta a rela tiva e a que vai rumo à independência 436 DAVID E ZIMERMAN A transferência é considerada por WINNI COTT uma réplica do laço materno de modo que ele não respeitava muito nem a neutra lidade nem a duração das sessões e não he sitava em manter relações de amizade calo rosa com seus pacientes Sofrendo de problemas cardíacos desde 1948 WINNICOTT morreu subitamente em 1971 com a idade de 74 anos sem ter dei xado filhos que não os representados pelo legado de uma magnífica obra e de uma legião cada vez maior de seguidores Z Zonas erógenas Em Três ensaios sobre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD evidencia que a teoria da libido era originariamente um con ceito anatômico inicialmente descrito por ele como restrito à qualquer região do re vestimento cutâneomucoso podendo fun cionar como zona erógena Assim os ór gãos produtores da libido eram denomina dos zonas erógenas como os lábios a boca a pele o movimento muscular a mucosa anal o pênis e o clitóris Em cada idade específica predomina determinada zona erógena Posteriormente FREUD estendeu a erogenei dade a todos órgãos internos ao afirmar que todo corpo é uma zona erógena propria mente dita Igualmente considerou que as zonas erógenas são fontes de diversas pul sões parciais como no autoerotismo e determinam com maior ou menor especifi cidade certo tipo de finalidade libidinal se xual FREUD também levou em conta o fato de que as zonas erógenas se constituíram na psicossexualidade das crianças como pontos de eleição das trocas com o meio ambiente e ao mesmo tempo serem fato res determinantes de solicitarem o máximo de atenção de cuidados corporais e por tanto de excitações provindas do manuseio da mãe Zonas ou áreas livres de conflito PSICÓLOGOS DO EGO Ver o verbete Áreas livres de conflito David E Zimerman Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise O Vocabulário contemporâneo de psicanálise reúne cerca de 900 verbetes sobre teoria técnica além de biografias sumarizadas dos principais autores psicanalíticos Esta obra é indispensável e de consulta obrigatória aos estudantes e profissionais de saúde mental ISBN 9788536314143 artmed EDITORA RESPEITO PELO CONHECIMENTO wwwartmedcombr Referências bibliográficas ABRAHAM K 1909 Sonho e Mito In ABRAHAM KARL Oeuvres complètes Paris Payot 1989 1919 Uma forma particular de resistên cia contra el método psicanalítico In ABRAHM KARL Psicoanálisis clínico Buenos Aires Pai dós 1959a 1924 Un breve estudio de la evolución de la libido considerada a la luz de los transtornos mentales In ABRAHAM KARL Psicoanálisis clí nico Buenos Aires Paidós 1959b 1959 Psicoanálisis clínico Buenos Ai res Paidós 1959c ABRAM JAN 1996 A Linguagem de Winnicott Dicionário das palavras e expressões utiliza das por Donald W Winnicott Rio de Janeiro Revinter 2000 ADLER ALFRED 1912 El carácter neurótico Bu enos Aires Paidós 1954 1918 Prática y teoria del indivíduo Buenos Aires Paidós 1958 1937 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que exercem a psicanálise v XII 1912 Totem e Tabu v XIII 1913 Sobre o início do tratamento Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise 1914 Sobre o narcisismo uma introdu ção v XIV 1914 Recordar repetir e elaborar No vas recomendações sobre a técnica da p s i canálise v XII 1915 Observações sobre o amor trans ferencial Novas recomendações sobre a téc nica da psicanálise v XII 1915 As pulsões e suas vicissitudes v XIV 1915 Recalcamento v XIV 1915 O inconsciente v XIV 1916 Conferências introdutórias à psi canálise v XVI 1917 As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal v XVII 1917 Luto e melancolia v XIV 1919 Linhas de progresso na terapia psi canalítica v XVII 1919 Uma criança é espancada v XVII 1919 O sobrenatural v XVII 1920 Além do princípio do prazer v XVIII 1921 A psicologia do grupo e a análise do ego v XVIII 1923 O ego e o id v XIX 1924 A dissolução do complexo de Édi po v XIX 1924 Neurose e psicose v XIX 1924 O problema econômico do maso quismo v XIX 1925 Uma nota sobre o bloco mágico v XIX 1925 Um estudo autobiográfico v XIX 1925 A negação v XIX 1926 Inibições sintomas e angústia v XX 1926 A questão da análise leiga v XX 1926 Uma entrevista rara de Freud conce dida ao jornalista americano George Sykvester Viereck Revista IDE SÃO PAULO V 15 1998 1927 O futuro de uma ilusão v XXI 1927 Fetichismo v XXI 1930 O malestar da civilização v XXI 1931 A sexualidade feminina v XXI 1933 Novas conferências introdutórias à psicanálise v XXII 1937 Análise terminável e interminável v XXIII 1937 Construções em análise v XXIII 1939 Moisés e o monoteísmo v XXIII 1940 Esboço de psicanálise v XXIII 1940 Clivagem do ego no processo de defesa v XXIII 1941 Achados idéias problemas v XXIII FROMM E 1941 O medo da liberdade Rio de Janeiro Guanabara 1986 442 DAVID E ZIMERMAN 1967 A arte de amar Belo Horizonte Itatiaia 1964 1975 A linguagem esquecida Rio de Janeiro Guanabara 1986 GARCIAROZA L A 19911996 Introdução à me tapsicologia freudiana Rio de Janeiro Zahar 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pro cessos de maturação Porto Alegre Artes Mé dicas 1988 1967 O papel de espelho da mãe e da fa mília no desenvolvimento infantil In O brin car e a realidade Rio de Janeiro Imago 1975 1969 O uso de um objeto In Revista Bra sileira de Psicanálise 1971 1971 O brincar e a realidade Rio de Ja neiro Imago 1975 ZETZEL E 1956 The current conceepts of trans ference Int J Psychoanalysis v 37 p 369 376 1968 The so called good hysteric Int J Psychoanal v 49 p 256260 1968 ZIMERMAN D 1993 Fundamentos básicos das grupoterapias 2 ed Porto Alegre Artes Mé dicas 2000 1995 Bion da teoria à prática Porto Ale gre Artes Médicas 1995 1999 Fundamentos psicanalíticos teoria técnica e clínica Porto Alegre Artes Médi cas 1999 A A inicial de Amor 1ª fileira da grade de Bion 15 A a inicial de Autre Outro e de autre outro Lacan 15 A posteriori Freud 15 Abraham Karl 16 71 88 104 117 134 145 185 195 214 223 236 241 275 289 304 306 348 360 371 399 Abreação Freud Breuer 16 17 66 189 190 193 333 Abstinência regra da Freud 17 20 358 428 Abstração Bion 17 77 165 271 298 321 344 387 Ação Bion 18 119 169 170 269 403 428 Acessibilidade conceito de Técnica 18 31 310 Acesso pacientes de difícil Betty Joseph 18 Achados Idéias Problemas Freud 18 19 Acting ou Atuação Freud Lacan 19 Acting na prática clínica 19 Adaptação Psicólogos do Ego 19 20 Adaptação à Realidade ou Realização Winni cott 20 62 218 434 Adicção 20 21 Adler Alfred 21 71 75 107 160 188 195 196 276 Adolescência e Puberdade 21 22 Afânise E Jones 22 Afasia Freud 22 23 125 247 Afeto 17 23 33 34 85 90 106 120 150 173 213 219 222 230 260 273 326 348 356 362 379 Agressividade e Agressão 23 Aichorn August 24 91 Além do princípio do prazer Freud 24 80 251 291 345 373 403 407 412 428 Alexander Franz 24 25 136 243 341 405 Alexitimia Sifneos e Nemiah 25 26 320 Alfa elementos Bion 25 119 Aliança terapêutica Elisabeth Zetzel 26 262 336 341 Alienação Lacan 26 209 Alter ego 26 Alucinose Bion 26 27 Ambiente e os processos de maturação O Win nicott 27 Ambiente facilitador Winnicott 27 85 434 Ambigüidade J Bleuler 27 324 Ambivalência J Bleuler 27 28 American Psychoanalitic Association APsaA 28 Amor vínculo do amor Bion 15 Anaclítica depressão R Spitz 30 100 199 Anáclise ou Apoio ou Ancoragem Freud 29 30 38 Anaclítica escolha de objeto Freud 30 44 Anagógica interpretação conceito de técnica 30 Anal fase Freud Abraham 30 31 107 143 150 331 371 Analisabilidade conceito de técnica 31 147 339 Análise com crianças 31 89 91 122 142 235 241 275 296 317 413 Análise de uma fobia em um menino de cinco anos Freud 31 Análise do Self Kohut 31 244 Índice remissivo 446 DAVID E ZIMERMAN Análise didática 25 32 197 229 234 316 370 395 401 434 Análise leiga Freud 32 145 228 348 349 360 Análise terminável e interminável Freud 32 33 Análise Transacional E Berne 33 410 Analítica Psicologia Jung 33 236 334 Angústia Freud M Klein M Mahler Winnicott Lacan Bion 3335 Angústia neurose de Freud 35 110 285 286 Aniquilamento angústia de M Klein 35 152 154 214 225 242 273 290 313 327 Anna O Freud 17 35 36 57 132 183 184 189 Anorexia nervosa 36 58 323 426 433 Ansiedade ver Angústia 18 3335 62 67 88 97 103 130 153 162 211 225 226 253 286 290 302 303 339 Anulação Freud 36 77 86 97 191 216 283 Antianalisando o J McDougall 36 310 Aparelho psíquico Freud 37 55 84 87 120 173 174 213 223 328 347 358 393 408 409 Aparelho para pensar os pensamentos Bion 37 Apego J Bowlby 37 43 56 57 102 141 145 199 210 215 226 243 319 329 383 411 Apoio ou Ancoragem Freud 29 30 38 101 155 373 Aprender com a experiência Bion 38 102 271 306 315 Área ou Zona livre ou Sem conflito do Ego Psicólogos do Ego 38 45 Arquétipos Jung 38 214 237 335 Arrogância Bion 39 95 132 316 391 Associação livre de idéias regra da Freud 39 Ataques aos vínculos Bion 40 132 Atenção Bion 40 83 168 215 267 270 332 418 Atenção e Interpretação Bion 40 41 418 Atenção flutuante regra da Freud 41 358 368 Ato de fé Bion 40 41 Ato falho Freud 41 Atonement Bion 41 42 Atuação 42 338 424 Aulagnier Piera 42 120 124 257 308 331 332 397 431 Autismo 43 265 313 336 381 425 Autística barreira ou cápsula F Tustin 43 73 104 426 Autoanálise 43 44 65 194 392 Autoconservação pulsões de Freud 29 44 250 345 403 428 Autoerotismo Freud 17 31 44 45 158 168 227 250 306 437 Automática angústia Freud 34 45 105 187 388 Autonomia primária e secundária Psicólogos do Ego 45 336 B B 2ª fileira da grade de Bion 47 Balint Michael 47 48 140 141 147 150 255 303 361 405 Baluarte Baranger 48 Baranger Willy 48 49 62 148 353 Barreira de contato Freud Bion 49 329 Bateson Gregory 49 50 109 111 Bebês 50 95 100 146 206 225 300 301 311 317 375 425 Behaviorismo F Skinner 50 Bela indiferença Freud 51 Beta elementos Bion 51 Bettelheim Bruno 51 52 396 Bilógica MatteBlanco 52 Bion Wilfred Ruprecht 15 17 18 25 26 28 29 33 35 3739 52 Bion W R 1985 54 Bissexualidade 54 55 144 151 181 204 306 Bleuler Eugen 55 117 234 235 339 Bloco Mágico uma nota sobre o Freud 55 217 Bollas Christopher 55 56 86 298 Borderline Otto Kernberg 56 173 176 177 188 193 203 309 336 339 379 421 426 434 Bowlby John 37 56 57 91 101 104 Breuer Josef 16 35 57 66 132 151 157 183 184 189 Brincar Brinquedos e Brincadeiras M Klein D Winnicott 57 58 80 107 130 182 193 272 307 382 420 435 Brincar e a Realidade O Winnicott 58 Bulimia 58 323 425 Buracos negros F Tustin 59 104 313 425 426 C C 3ª fileira da grade de Bion 61 Cadeia ou Rede de significantes Lacan 61 Calma do desespero Bion 61 62 421 ÍNDICE REMISSIVO 447 Campo analítico Baranger 62 Capacidades Psicólogos do Ego Winnicott Bion 62 Capacidade negativa Bion 63 Caráter Freud 63 Caráter e Erotismo Anal Freud 63 Caracterológica couraça W Reich 63 64 90 130 Caractereopatias O Kernberg 64 Caractereopatias Winnicott 64 Carretel jogo do Freud 65 Cartas de Freud a Fliess Freud 65 Castigo necessidade de Freud 65 66 121 281 Castração angústia de Freud 34 66 67 75 138 323 419 Castração Lacan 66 Catarse método da Freud 66 Catástrofe ou medo do colapso Winnicott 66 71 Catastrófica mudança Bion 40 62 67 68 273 432 Catéxis Freud 67 120 227 328 332 347 Cena primária Freud 15 67 75 95 143 193 362 Censura 68 76 78 79 213 281 364 Cesura Bion 68 148 267 343 391 Cesura A Bion 68 148 267 343 391 Cinco lições de Psicanálise Freud 68 69 Cisão 69 Ciúme 69 74 88 89 226 315 415 Claustro D Meltzer 69 152 Clivagem 63 69 70 97 109 110 130 150 158 215 216 242 296 308 318 390 Clivagem do Ego no Processo de Defesa Freud 70 109 Cogitações Bion 39 70 143 311 316 380 389 CognitivoComportamental Corrente 81 176 Coisa em si mesmo Bion 70 294 295 Colapso medo do Winnicott 66 70 71 425 Comensal Bion 71 175 273 315 387 Comitê secreto Círculo de seguidores de Freud 71 117 235 Como a análise cura Kohut 1984 72 Como tornar proveitoso um mau negócio Bion 72 Completude narcisista 73 397 Complexo Jung 73 Complexo de Édipo Freud 74 94 107 116 168 191 202 204 248 255 329 334 337 384 398 409 Complexo de Édipo M Klein 74 87 329 Complexo de Édipo Lacan 74 Complexo de Édipo Kohut 72 75 244 378 Complexo de Eletra Jung 75 Complexo de inferioridade Adler 75 Complexo do semelhante Freud 75 76 Compromisso formação de Freud 63 76 153 393 Compulsão à repetição Freud 29 76 121 251 272 331 344 353 359 362 412 417 Compulsiva neurose do tipo obsessivo 36 76 97 150 185 301 302 361 Comunicação 77 Conceito Bion 77 78 Concepção Bion 78 Condensação Freud 78 97 222 248 267 269 331 362 367 385 392 393 Conferências Brasileiras Bion 78 257 283 Conferência Introdutória à Psicanálise Freud 78 Confiança Básica Erik Erikson 78 79 203 341 435 Conflito psíquico 79 80 103 286 Confusão de Linguagens entre o Adulto e a Crian ça Ferenczi 80 420 Confusional estado 34 80 81 103 417 Confusões geográficas e zonais Meltzer 81 424 Congelamento da situação de fracasso Winni cott 81 82 Conhecimento vínculo do Bion 82 427 Conjectura Bion 82 104 268 300 343 407 Conjunção constante Bion 82 143 273 332 Conluio inconsciente conceito de prática clíni ca 48 82 83 87 167 383 Consciente Freud 83 Consideração Winnicott 83 Constância princípio da Freud 83 291 305 329 331 344 Constância objetal M Mahler 84 104 203 258 280 340 381 Construções em Análise Freud 32 84 159 Conteúdo manifesto e conteúdo latente Freud 84 Continente Bion 84 85 Continenteconteúdo relação Bion 54 85 118 175 208 315 376 387 413 Continuidade existencial ou continuidade do ser Winnicott 85 377 Contra 86 Contraacting ou contraatuação Técnica 86 Contra catéxis ou contrainvestimento Freud 86 Contraego 86 Contrafobia 86 448 DAVID E ZIMERMAN Contraidentificação projetiva L Grinberg 87 Contraresistência 87 Contratransferência 87 Contribuições à Psicanálise M Klein1947 87 88 Contribuições à psicologia do amor Freud 88 Controle 89 106 111 130 141 154 217 223 229 259 297 302 305 324 326 371 381 382 386 400 Controvérsias na Sociedade Psicanalítica Britâ nica 58 89 92 196 235 241 275 300 Conversando com Bion Conferências de Bion 90 Corpo 90 Correntes psicanalíticas 90 124 133 161 206 246 295 Couraça caractereológica W Reich 90 286 Crescimento mental Bion 68 72 90 91 94 118 221 273 310 336 406 423 430 Criança é espancada Uma Freud 91 261 Crianças sábias Ferenczi 91 Crianças psicanálise de 88 91 92 300 Criatividade primária Winnicott 93 Crise 21 23 93 101 110 122 187 197 228 229 235 260 286 352 360 Crueldade primitiva da criança Winnicott 93 Culpa sentimento de Freud M Klein 83 93 94 116 281 381 398 Culturalismo corrente do 94 Cura 17 33 36 72 90 94 118 119 147 190 244 265 283 353 361 364 406 Curiosidade 36 91 9495 96 235 390 D D 4ª fileira da grade de Bion 97 Defesas mecanismos de Freud M Klein Lacan Bion 33 97 98 115 155 168 195 242 248 264 283 327 348 412 Demanda Lacan 17 29 84 98 102 115 142 169 181 185 186 187 202 212 227 256 263 269 281 328 355 367 386 392 397 418 Denegação ou renegação recusa desmentida Freud 98 Denegrimento M Klein 99 106 144 167 202 226 242 383 400 416 Dependência 99 Dependência suposto básico de Bion 100 251 Depressão anaclítica R Spitz 100 Depressão pósparto 100 101 Depressiva posição M Klein 81 94 101103 111 121 122 126 208 241 254 297 309 318 320 321 338 362 379 387 423 Desamparo estado de Freud 102 381 419 Desejo Freud Lacan 102 Desenvolvimentos em psicanálise M Klein Heimann Isaacs Rivière 103 Desenvolvimento emocional primitivo 103 129 163 196 305 342 354 Desidentificação 104 208 Desinvestimento Freud 104 105 278 Desistência estado de 37 105 313 Deslizamento Lacan 61 105 385 Deslocamento Freud Lacan 23 68 78 105 135 213 230 258 331 347 363 385 392 393 410 411 Despersonalização 105 106 187 390 404 Desprezo H Segal 52 89 106 259 Dessignificação 106 Dessimbiotização 106 107 203 Desviacionistas teorias 107 Determinismo princípio do Freud 107 Deus e Deidade Bion 108 Diferenciação M Mahler 108 111 138 163 225 258 280 327 376 381 382 427 429 Difusão da identidade síndrome da O Kernberg 56 108 203 Dinâmica da Transferência A Freud1912 108 159 Dinâmico ponto de vista Freud 108 109 354 Discurso dos pais Lacan Bateson Bion 66 104 109 120 311 385 Discurso de Roma Lacan 109 Dissociação ou clivagem divisão cisão split ting 109 110 130 138 154 158 187 193 218 242 296 390 Doença ou síndrome do pânico 110 Donjuanismo 110 215 Dor mental Bion 35 38 110 111 Dora caso Freud 72 111 158 184 190 309 412 415 Duplo Rank Freud Lacan Kohut Bion 26 50 68 109 111 112 115 127 131 166 181 225 230 277 280 396 Duplo vínculo G Bateson 50 109 111 112 E E 5ª fileira da grade de Bion 113 ÍNDICE REMISSIVO 449 Econômico ponto de vista Freud 113 120 133 268 331 336 347 354 360 Édipo mito de Freud Fairbairn Bion 7275 87 94 95 107 113114 116 135 168 171 175 191 202 204 206 227 236 244 246 248 255 269 270 280 291 304 310 318 329 334 337 352 378 384 393 398 409 Ego ou Eu ou Ich 114 Ego tipos de formação do Freud 114 Ego alter 26 111 115 166 203 229 244 279 437 Ego auxiliar 115 337 416 435 Ego contra 86 115 Ego ideal Freud 63 80 115 202 219 225 365 397 398 406 Ego ideal do Freud 63 86 115 116 202 205 219 250 251 276278 296 328 365 397 398 406 419 Ego prazer ego realidade Freud 115 154 Ego e o Id O Freud 37 63 116 158 201 268 288 353 397 398 409 412 Egossintonia e egodistonia 116 Eitigon Max 32 71 91 116 117 270 316 Elaboração ou perlaboração Técnica 15 79 94 103 117 154 193 203 217 219 222 248 254 257 263 268 283 289 322 365 366 375 392 393 Elaboração Secundária Freud 15 117 Elasticidade na Técnica Analítica Ferenczi 117 118 Elementos em Psicanálise Bion 40 118 Elementos α Bion 25 49 51 118 134 144 162 201 208 270 321 368 Elementos β Bion 19 49 51 70 118119 134 161 162 169 173 183 207 321 333 368 Elisabeth von R Freud 119 132 157 184 189 Enquadre ou setting técnica 92 119 314 382 Entrevista inicial técnica 119 Elos de ligação Bion 40 119 219 251 428 430 Emoção 29 119 303 311 429 Empatia Freud Kohut 31 44 54 87 118 119 120 125 148 151 173 198 206 207 211 243 244 256 290 325 327 378 382 431 Energia de Catéxis ou de Investimento Freud 120 Energia livre e energia ligada Freud 113 120 256 331 354 Enunciado identificatório P Aulagnier 120 Equação etiológica Freud 104 121 180 322 336 382 Equação 8 C 103 104 121 122 133 180 252 262 322 331 375 382 387 Epistemofilia 120 121 Equação simbólica H Segal 103 122 252 Erikson Erik 78 79 122 335 Esboço ou Esquema de Psicanálise Freud 23 123 155 158 249 Escolas de psicanálise 90 123 Espaço mental Freud Meltzer Bion 126 127 254 424 Espaço transicional Winnicott 127 145 208 298 394 Espátula jogo da Winnicott 127 128 182 233 434 Espelho Freud Lacan Bion Kohut 29 35 58 65 74 90 104 111 115 128 129 133 143 159 Eros 24 28 122 123 250 257 259 270 403 428 Erótica e erotizada transferência Técnica 123 416 Escola Freudiana de Psicanálise ou Escola Estru turalista Lacan 124125 246 316 Escopofilia voyeurismo Freud 125 134 158 323 432 Escritos Lacan 16 27 32 49 55 87 88 125 132 136 144 150 157 185 192 195 213 220 222 225 241 246 289 296 299 300 332 355 358 362 372 403 405 408 414 Escuta analítica técnica 125 Esquizóide personalidade 129 130 390 Esquizofrenia 129 130 253 264 292 315 362 Esquizoparanóide posição M Klein 118 130 154 253 273 278 297 379 430 432 Estilos de narrativa e de interpretação D Liber man A Ferro 130 Estranho O Freud 131 Estrutural teoria Freud 37 126 131 158 201 213 218 220 268 365 397 Estudo autobiográfico Um Freud 132 Estudos Psicanalíticos Revisados Bion 132 166 183 Estudos sobre a histeria Freud Breuer 132 Etchegoyen Horacio 133 Etologia 56 133 134 Evacuação Freud Abraham Bion 70 134 207 371 390 Evidência Bion 134 Evolução Bion 134 Existência Bion Winnicott 135 Experiência emocional corretiva Alexander 136 Experiência emocional Bion 25 39 101 119 135 136 208 418 432 450 DAVID E ZIMERMAN Experiências em Grupos Bion 136 369 Extratransferência 136 F F 6ª fileira da grade de Bion 137 Facho de escuridão Bion 137 224 Faibairn Ronald 86 110 113 114 124 137 138 185 Falhas ambientais Winnicott 27 64 138 435 Fálica fase Freud 74 138 139 143 306 Fálica mulher ou mãe 139 226 Falo Lacan 66 138 139 150 185 227 318 383 396 424 Falsidade Bion 139 140 165 273 333 Falso self Winnicott 140 222 317 377 406 414 430 435 Falta Lacan 140 Falta básica M Balint 47 48 140141 Família terapia da 141 225 389 Fantasia Freud 36 48 50 52 66 74 81 83 93 95 106 119 127 139 141143 171 172 181 205 206 208 214 215 221 225 254 303 311 318 329 362 369 373 426 432 434 Fantasia inconsciente M Klein 95 142 Fantasias originárias Freud 142143 Fases 63 66 74 75 104 138 143 150 154 168 198 287 305 306 336 373 381 394 421 435 Fato selecionado Bion 134 143144 Fatores Bion 144 162 215 285 341 353 Fé ato de Bion 40 41 144 Feminilidade Freud 42 144145 226 Fenichel Otto 145 Fenômenos transicionais Winnicott 145 146 298 Fepal Federação Psicanalítica da América La tina 146 Ferenczi Sándor 33 39 47 65 71 80 88 91 117 118 146148 160 195 222 223 228 234 241 257 299 300 305 319 352 360 399 405 407 408 411 420 Ferro Antonino 130 148 208 249 Fetal psiquismo Bion 54 82 104 134 148 149 295 342 343 391 Fetiche 20 149 188 282 326 Fetichismo O Freud 149 150 269 298 411 Filobatismo Balint 47 48 150 Fixação Freud 79 88 122 130 143 150 187 188 194 211 207 247 277 Fliess Wilhelm 23 44 65 151 216 267 268 298 332 333 Fobias 35 110 151 152 285 286 Foraclusão Lacan 152 153 172 267 Formação de compromisso Freud 63 153 393 Formação reativa 48 97 153 289 355 Formação de símbolos 88 153 320 321 375 430 Formulações sobre os dois princípios do funcio namento mental Freud 154 FortDa Freud 155 Fragmentação angústia de M Klein 154 367 Fragmento da análise de um caso de histeria Freud 154 392 Freud Anna 57 65 80 89 92 151 155 180 195 196 206 235 241 244 257 335 395 399 Freud Sigmund 155160 Fromm Erich 160 Frustração 161 Fuga e Luta suposto básico de Bion 17 47 72 141 150 162 163 244 311 316 337 351 354 355 420 Função Bion 25 40 44 45 50 51 54 61 71 74 76 82 8385 95 103 104 111 113 120 121 123 128 129 139 140 144 148 162 163 167 168 171 173 176 197 207 209 211 220 222 251 256 263 265 276 Função α Bion 25 39 118 144 162 173 197 222 Função analítica eficaz Bion 162163 Função psicanalítica da personalidade Bion 44 163 406 Functores Bion 162 163 Fusão 27 80 81 123 130 162164 209 246 247 265 277 279 373 389 FusãoDesfusão das pulsões Freud 163 Fusional transferência do tipo Kohut 163 164 166 203 225 244 379 414 Futuro de uma Ilusão Freud 159 161 164 Fúria ou Injúria narcisista Kohut 163 164 244 337 379 G G 7ª fileira da grade de Bion 165 Gangue narcisista Rosenfeld 86 165 278 307 328 353 364 370 413 Ganho primário e secundário Freud 51 165 364 ÍNDICE REMISSIVO 451 Garma Angel 165 166 Gêmeo Imaginário O Bion 111 116 132 166 279 431 Gemelar transferência Kohut 111 129 166 203 244 279 Gênero sexual R Stoller 55 150 166 167 181 204 271 383 410 Gênio Bion 88 156 167 175 273 Gênio establishment relação do tipo Bion 167 168 Genital amor Freud 168 Genital fase Freud 143 168 307 Gestaltterapia F Perls 168 Gozo Lacan 98 169 281 324 383 Grade Bion 15 17 18 40 47 54 61 77 78 97 113 137 140 162 165 169171 179 201 227 265 270 292 295 321 326 329 333 368 389 394 418 Gradiva Freud 171 176 257 Gratidão M Klein 102 156 172 225 226 231 241 353 362 430 Gratificação alucinatória do seio Freud 172 319 Green André 106 160 161 172 173 185 206 256 277 283 304 Grinberg Leon 173 174 203 Grupo 21 33 42 55 56 58 90 101 103 136 140 141 156 160 174 175 177 180 195 204 206 230 233 242244 250 251 257 260 264 272 288 303 307 335 340 375 377 380 389 410 418 434 Grupo contribuições de Bion 175 369 Grupos classificação dos 175176 Grupo psicoterapia analítica de 174 176177 229 340 H H 8ª letra da grade de Bion 179 Handling Winnicott 179 Hans O pequeno Freud 179 190 191 Hartmann Heinz 19 20 28 38 124 179 180 195 196 243 290 335 336 376 378 Heimann Paula 103 180 243 352 Heredoconstitucionais fatores Freud 180 Hermafroditismo 181 410 Hermenêutica 181182 Hesitação Winnicott 182 435 Hipérbole movimento de Bion 182 Hipnose Hipnotismo 156 182 189 Hipocondria 183 276 Hipótese definitória Bion 183184 Histerias 184187 281 285 286 Histerias tipos de 185 Histeria de angústia Freud 186 287 306308 317 323 332 335 368 386 398 399 413 418 419 Histerias conversivas 186 Histerias dissociativas 186187 Histérica transtorno de personalidade 186 187 Histérica personalidade infantil 186 187 322 Histérico caráter fáliconarcisista Emilce Blei chmar 187188 História do movimento psicanalítico Sobre a Freud 188 História de uma neurose infantil da 188189 Historiais clínicos de Freud Klein Lacan Ko hut 31 84 154 157 159 179 184 189 192 197 244 292 293 405 Histórico da psicanálise 195197 Histriônica transtorno da personalidade 186188 Holding Winnicott 27 50 104 179 197 256 368 382 414 435 Homem dos Lobos Freud 188 189 192 197 Homem dos Ratos Freud 36 84 97 157 191 197 393 385 Homem Trágico Kohut 197198 337 378 Homossexualidade 88 111 167 198199 249 292 315 323 373 383 411 418 Horda primitiva Freud 199 212 383 Hospitalismo Spitz 30 199 395 I I letra inicial do termo idéia Bion 201 Id ou das Es Freud 201 Ideal ego Freud 41 63 80 98 115 116 194 202 205 206 219 225 250 251 276 278 279 296 298 311 328 335 354 365 397 398 406 419 Ideal do ego Freud 63 80 115 202 205 219 250 251 277 278 296 328 365 397 406 419 Idealização M Klein 98 167 194 202 242 277 296 303 307 Idealizada imago parental Kohut 38 195 202 203 209 244 256 378 415 Idealizadora transferência Kohut 151 195 203 244 379 414 415 Identidade sentimento de 21 55 56 93 106 108 114 115 122 130 133 156 166 174 181 452 DAVID E ZIMERMAN 194 203205 243 270 321 340 378 381 385 406 410 411 430 Identidade sexual R Stoller 166 204 410 Identificação 19 74 81 98 99 100 101 106 107 126 133 177 179 186 187 202 204 208 214 223 230 241 242 249 254 256 263 277 295 300 301 305 Identificação proto E Bick Meltzer 205 Identificações tipos de 26 54 63 69 75 81 84 87 89 103 104 106 110 112 115 116 120 130 131 134 141 175 176 182 205208 220 225 253 296 297 301 305 311 318 320 327 328 335 340 361 368 370 376 399 409 432 Identificação adesiva Meltzer 126 206 300 307 Identificação com o agressor Anna Freud 80 205 206 399 Identificação projetiva M Klein 202 206 207 242 249 332 414 Identificação projetiva Bion 207 332 Identificação introjetiva Freud M Klein 206 207 Identificação patógena 208 Ideograma Bion A Ferro 148 162 208 326 Ilusão área de Winnicott 127 208 209 258 279 282 298 306 325 328 374 IlusãoDesilusão Winnicott 209 Imaginário registro Lacan 66 75 89 209 246 247 Imago Jung 38 202 203 209 244 256 279 296 299 334 337 378 415 Imago parental idealizada Kohut 38 202 203 209210 244 256 378 415 Impasse Técnica 125 210 316 341 353 390 416 417 Impingement 210211 Imprinting 133 211 Incerteza princípio da Bion 211 325 379 Incesto 66 113 211 212 308 352 Inconsciente O Freud 23 42 50 56 61 74 83 92 99 105 108 116 126 153 158 162 212 213 253 282 308 331 334 347 335 391 Inconsciente Freud 212214 237 321 334 Inconsciente coletivo Jung 212 214 237 321 334 Incorporação 204 214 223 306 432 Indiferenciação 204 214215 278 280 325 327 337 340 Inércia princípio da Freud 215 264 273 291 331 432 Infidelidade conjugal tipo de vínculo 215 Inibição Freud 19 187 193 215216 386 432 Inibições Sintomas e angústia Freud 39 116 121 148 152 216 268 285 286 357 Inscrição de memória ou traços mnésicos Freud 216 Insight Técnica 210 217 223 386 Instância psíquica Freud 201 217218 296 336 397 Instintos Freud 29 63 104 158 201 218 344 345 372 Integração e nãointegração Winnicott 20 24 64 72 101 103 146 159 160 172 174 218 219 229 256 277 323 325 356 376 382 386 393 400 423 434 Intelectualização Anna Freud 78 217 219 302 352 Intensidade de uma reação psíquica 58 99 108 152 219 227 252 348 352 384 432 Inter e Intrarelação 49 70 79 81 108 143 158 176 197 201 219 220 221 229 Interesses do ego Freud 220 Internalização ou Interiorização 38 220 243 263 269 337 379 399 Internalização transmutadora Kohut 220 379 Interpretação Técnica 23 30 31 37 40 42 68 79 84 123 126 130 136 151 158 181 189 192 217 220222 224 237 247 263 272 274 309 340 352 358 364 367 368 370 379 380 381 392395 408 412 415 418 421 431 436 Interpretação dos Sonhos A Freud 37 151 158 221 222 364 392 393 408 421 Intervenção vincular técnica 222 223 Introjeção Ferenczi Freud 103 147 158 163 223 205 208 220 223 243 249 256 271 283 295 297 379 399 406 432 Introspecção 31 223 244 337 378 Introversão Jung 223 224 Introvertido tipo caractereológico Jung 224 237 Intuição Bion 40 42 54 78 120 126 192 224 253 292 325 341 343 360 367 393 Invariante Bion 224 264 418 Inveja 32 70 74 83 89 93 99 106 123 140 144 184 196 197 224227 230 241 242 246 259 273 305 315 318 326 353 365 370 390 415 430 435 Inveja do pênis Freud 74 144 184 225 227 318 365 Inveja e gratidão M Klein 226 Investigação Bion 91 170 201 227 229 334 339 375 391 ÍNDICE REMISSIVO 453 Investimento catéxis Freud 44 67 73 74 104 105 120 153 204 219 227 230 248 277 344 347 348 363 IPA 28 31 32 42 93 117 124 133 144 146 148 160 180 195 197 228 229 234236 240 243 246 260 261 264 316 343 348 353 355 360 Irmãos papel dos 149 176 177 180 209 212 229230 308 312 354 Isolamento 97 130 151 195 229231 283 302 J Jacobson Edith 28 96 233 257 335 336 379 Jogo da espátula Winnicott 182 233 Jogo dos rabiscos Winnicott 233 Jones Ernest 22 28 71 144 147 148 180 189 195 215 234 235 241 272 279 349 351 352 360 403 Jung Carl Gustav 16 33 38 39 55 65 67 69 71 73 75 107 117 160 171 188 195 196 209 214 223 224 228 235 236237 238 250 276 278 300 334 335 K K e K Bion 239 Kernberg Otto 56 64 108 196 203 229 233 239 240 336 Klein Melanie 16 23 24 27 28 3335 49 50 53 56 57 69 74 83 8790 9295 97 99 101 103 104 106 108 110 119 120 122 124 129 130 137 142 144 145 147 148 150 152 154 155 166 167 172 175 180 185 187 192 193 196 198 202 206208 214 218 223 225 226 234 240243 253 254 257 265 266 272 273 279 295297 299 300 304306 310 312314 318 319 326 327 329 337 353 354 360362 370 372 375 378 390 394 399 413 414 431 432 434 Kleinismo 242243 Kohut Heinz 29 31 38 72 75 104 107 111 119 120 124 128 129 135 147 163 166 194198 202 203 209 210 220 223 243 244 255 256 263 277279 336 337 366 367 377379 388 414 415 L L e L Bion 245 Lacan Jacques 245247 Lapso Freud 41 247 Latência período de Freud 143 168 248 272 Latente conteúdo Freud 76 84 105 107 248 393 Lembrança encobridora Freud 248 357 Leonardo Da Vinci e uma lembrança de sua in fância Freud 159 248 249 255 Lesbianismo 249 Letargia F Cesio 249 Letargização A Ferro 249 Libido Freud 24 35 78 116 120 129 144 150 163 188 216 250 255 258 261 278 279 285 286 288 306 331 335 344 345 348 358 364 367 371 372 383 384 407 412 415 432 437 Lideranças Freud Bion 250251 335 Ligação Freud 40 48 119 120 150 167 191 198 204 219 235 251 254 362 372 374 428 Ligação elos de Bion 40 119 219 251 428 430 Linguagem Freud Bion Lacan 22 27 30 39 41 51 5254 73 77 80 109 115 125 128 134 140 142 148 169 173 180 182 189 201 202 227 233 246 247 251253 256 267 269 283 291 293 306 307 310 315 319 320 326 329 361 363 379 385 387 395 406 430 431 Linguagem de êxito Bion 41 252 Linguagem e Esquizofrenia Bion 253 Livre associação de idéias 157 190 253 337 378 Logoterapia V Frankl 253 Luta e fuga Bion 175 251 253 Luto Freud M Klein 16 88 100 158 207 216 227 249 253 254 264 268 335 361 406 Luto e Melancolia Freud 254 268 M Mãe normalidade e patogenia da 255 Mãe morta A Green 256 McDougall Joyce 36 37 256 257 342 Mahler Margareth 33 84 76 108 214 257258 280 336 381 386 454 DAVID E ZIMERMAN Maiêutica método de terapia analítica 258 Malestar da civilização O Freud 258 259 Maníacas defesas 89 106 259 353 Maníacodepressiva psicose 259 260 339 419 Mapa da mente humana Bion 260 Marcondes Durval 260 261 Masoquismo 24 65 91 94 121 166 261 262 281 323 331 353 372 373 Match 262 325 Matema Lacan 109 262 Material clínico 262 263264 Maternagem função de 263 Matte Blanco Ignacio 239 264 319 388 Mecanismos de defesa 33 97 98 115 155 168 195 242 248 264 283 327 347 412 Melancolia 100 158 207 223 254 260 264 265 268 272 281 397 Meltzer Donald 43 69 81 83 91 93 126 129 196 205207 265 311 317 324 339 343 376 394 413 416 423 Memória FREUD M KLEIN BION 22 41 55 102 126 134 216 217 222 252 265 266 292 319 332 358 368 379 407 Memória do futuro uma Bion 266267 Menos K K Bion 267 Metáfora Lacan 63 68 77 81 90 123 126 128 137 159 219 224 248 252 262 267 269 272 282 289 290 295 348 367 376 386 388 418 419 426 Metapsicologia Freud 113 157 173 222 225 265 267269 283 339 348 355 405 Metonímia Lacan 105 252 262 267 269 Místico Bion 40 41 108 167 237 269 273 Mitologia 75 113 122 159 181 169 270 304 311 403 410 Mitos 16 41 52 61 93 95 118 141 170 171 175 230 236 269271 280 304 321 352 369 389 394 Modelos Bion 118 148 171 176 203 227 268 271 285 335 347 348 408 Moisés e o monoteismo três ensaios Freud 271 272 Moreno Jacobo Levy 174 272 337 Morte pulsão de Freud M Klein 24 28 34 42 65 76 80 94 104 138 225 242 250 261 268 272274 291 303 305 324 327 338 353 365 403 407 412 Mudança catastrófica Bion 40 61 68 273 431 Mutativa interpretação J Strachey 273274 Mutismo 274 283 386 Mutualidade a experiência de Winnicott 274 N Não 275 Não e Sim Spitz 275 Não analisabilidade conceito de técnica 275 Não integração Winnicott 276 Não seio Bion 276 Narcisismo uma introdução sobre o Freud 276 Narcisismo Freud Rosenfeld Lacan Kohut 29 45 63 75 99 115 126 156 165 173 175 194 198 202 224 225 240 243 244 250 254 265 269 276279 289 292 303 306 307 317 318 323 335 337 367 370 378 379 385 410 414 Narcisismo primário e secundário Freud 278 Narcisismo transtornos do Kohut 279 Narciso mito de 279 Nascimento o trauma do O Rank 280 352 420 Nascimento psicológico da criança M Mahler 280 Necessidade Lacan 280281 Necessidade de castigo Freud 121 281 Negação Freud Lacan 28 48 69 82 89 98 99 111 139 158 202 268 278 281283 288 Negatividade princípio da 282283 Negativismo prática analítica 275 282 283 286 Negativo trabalho do André Green 173 283 Neo ou reidentificações 283284 Neo ou resignificações 284 Neotenia 99 102 284285 Neurastenia Freud 35 284286 Neurose 17 19 21 31 35 56 69 7476 94 97 110 111 113 116 117 129 150 152 158 164 185 186 188 189 191 192 224 230 269 275 285289 293 301 302 306 307 312 323 324 330 341 362 371 397 412 420 Neurose atual Freud 117 285288 420 Neurose de angústia Freud 286 Neurose de caráter 286287 Neurose de destino Freud 287 Neurose de fracasso 287 Neurose de transferência Freud 17 287 288 412 Neurose e Psicose Freud 158 269 288 Neurose fóbica 152 288 ÍNDICE REMISSIVO 455 Neurose mista 288 302 Neurose obsessiva 31 94 164 185 230 288 302 330 362 Neurose narcísica 288289 Neurose traumática 289 Neutralidade regra da Freud 59 289 290 313 Neutralização da energia psíquica Psicólogos do Ego 290 Nirvana princípio de Freud 83 121 290 291 292 305 331 Nó borromeu Lacan 209 261 291 Nomedopai ou leidopai Lacan 109 291 292 Notação Bion 170 267 292 Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfi co de um caso de paranóia Freud 292 293 Notas sobre a memória e o desejo Bion 292 Notas sobre a Teoria da Esquizofrenia Bion 292293 Notas sobre um caso de neurose obsessiva Freud 293 Novas conferências introdutórias à psicanálise Freud 293 433 Novas recomendações sobre a técnica da psica nálise Freud 294 357 Novela familiar 294 369 Númeno Bion 201 204 212 228 240 242 246 261 267 294 300 301 364 374 392 405 O O Bion 295 Objetal relação M Klein 214 220 256 295 296 360 361 Objeto M Klein 296 Objeto a ou pequeno a Lacan 297298 Objeto bizarro Bion 297 Objeto psicanalítico Bion 297 Objeto transformacional C Bollas 96 298 Objeto transicional Winnicott 146 298 435 Obra completa de Freud 132 299 408 Obras completas de Melanie Klein 227 299 Obras completas de Sándor Ferenczi 299300 Observação da relação mãebebê ORMB E Bick 300301 Obsessivacompulsiva neurose 301 Oceânico sentimento 303 Ocnofilia Balint 47 48 150 303 Ódio Bion Winnicott 29 54 75 82 87 103 123 161 179 293 303305 315 407 413 426 429 435 Olhar 41 125 128 135 223225 243 256 284 297 304 305 307 328 356 380 435 Onipotência e onisciência Ferenczi M Klein Bion 305306 328 Oral fase Freud Abraham 30 138 143 214 248 306 371 Organização da libido Freud 24 306307 Organização patológica J Steiner 80 86 149 307 310 364 413 Organizadores Spitz 307 395 Orgasmo do ego Winnicott 307 Orgonoterapia W Reich 307 308 360 Originário processo P Aulagnier 42 308 332 Outro e outro Lacan 109 308 P Paciência Bion 54 118 283 309 325 341 357 Paciente de difícil acesso B Joseph 309310 Pai funções do 310 Pai leido ou nomedo Lacan 310 Pais combinados fantasia da figura de M Klein 310 311 329 Paixão Bion 28 105 119 160 205 240 243 257 267 297 303 309 311 351 427 434 Pânico doença do 286 311 Papéis conceito de dinâmica grupal 311 312 340 Par analítico conceito de técnica 54 118 165 210 260 262 302 312 314 Paradigma 24 83 137 167 196 312314 357 405 413 428 Paradigma da psicanálise tipos de 313314 Parâmetro conceito de técnica K Eissler 225 314 383 Paranóia 129 142 152 191 192 194 206 245 277 292 297 300 314 315 339 373 Parasitária relação continenteconteúdo de tipo Bion 315 Parte psicótica da personalidade Bion 49 54 70 73 80 95 110 116 127 220 267 305 315316 332 368 399 413 430 Parte não psicótica da personalidade Bion 70 80 127 220 316 333 341 430 Passe Lacan 124 125 316 Pavor ou terror sem nome Bion 316317 Pele segunda E Bick 300 317 Pele fina e de pele grossa narcisismo de H Ro senfeld 317318 Pênis inveja do Freud 54 144 318 365 456 DAVID E ZIMERMAN Pênis como objeto parcial M Klein 318319 Pensamento Freud 17 20 22 36 37 40 47 70 76 145 208 219 230 231 237 248 252 276 281 317 319322 325 326 355 362 408 409 Pensamento operatório Escola Psicossomática de Paris 320 326 342 Pensamento do psicótico Bion 320321 325 Pensar capacidade para Bion 17 77 118 158 172 179 297 305 321 Percepção Freud Bion 26 27 41 54 55 83 98 103 115 121 130 137 149 166 168 177 224 283 286 294 315 320322 325 328 340 351 361 364 408 419 426 427 Perlaboração 322 Personalidade 21 26 40 44 54 56 62 64 70 72 73 80 86 89 95 103 104 108110 116 127 129 143 152 153 156 176 185 186 187 194 202 204 205 210 224 234 240 244 245 248 267 277279 285 290 293 301 305 306 315 316 322 323 327 328 332 336 339 341 365 376378 391 397 399 406 408 413 421 429 430 Personalidade múltipla 109 322 408 Personalização Winnicott 20 179 322 323 355 423 434 Perversão Freud 69 80 125 135 149 198 261 262 277 281 302 303 323 324 338 339 372 373 413 416 Perversopolimorfa fase Freud 143 324 330 373 Pessoa real do analista 221 312 324 Piaget Jean 319 325 326 Pictograma 42 148 208 308 326 Poder desejo de 326 Posição M Klein 49 94 101103 111 118 121 130 154 172174 176 219 241 253 254 273 278 279 297 299 309 314 318 320 321 326 327 338 362 432 Posição narcisista 73 81 89 278 327328 430 Prazer e da realidade princípio do Freud 154 319 328 354 410 Prazer princípio de Freud 328 Prazer sem nome 328 Préconcepção Bion 78 170 329 355 Préconsciente Freud 37 79 83 108 126 158 248 252 329 332 362 364 408 Préedipiano Freud M Klein 145 318 329 330 384 Prégenital Freud Lacan 80 168 287 330 371 384 420 Preocupação ou devoção materna primária Winnicott 330 Preservação da espécie pulsão de Freud 330 Princípios Freud 107 124 145 154 188 196 244 268 319 331 333 354 378 379 399 408 Problema econômico do masoquismo O Freud 331 Processos primário e secundário Freud 222 331 Processo originário P Aulagnier 42 308 332 Projetiva identificação M Klein 202 206 207 242 249 301 332 403 Projeto para uma psicologia científica Freud 65 291 329 332 Protofantasias Freud 333 409 Protopensamentos Bion 15 37 51 169 183 333 Psi Bion 333 Psicanálise 333 Psicanálise aplicada 159 334 Psicanálise com crianças 79 155 257 334 Psicanálise selvagem Freud 334 Psicologia analítica Jung 133 236 334 Psicologia de grupo e a análise do ego A Freud 206 250 272 303 335 Psicologia do Ego Escola da 19 34 38 45 62 79 122 124 155 179 196 233 239 245 268 335 336 376 379 Psicologia do Self Escola da Kohut 124 196 243 336 379 414 Psicodrama J Moreno 141 174 176 272 337 338 Psicopatia 79 338 339 Psicopatologia da vida cotidiana A Freud 41 78 338 Psicose 54 56 103 117 129 132 135 152 158 166 184 185 194 209 210 224 245 247 257 259 260 264 269 277 278 286 288 292 297 302 315 320 338341 365 370 373 390 402 413 416 417 419 Psicose de transferência Conceito de técnica H Rosenfeld 340 341 370 417 Psicossomática 25 341 Psicoterapia psicanalítica 25 342 Psiquismo fetal Bion 82 149 342 343 391 Publicação Bion 344 Pulsões Freud 24 2830 33 44 45 67 76 80 81 107 110 116 117 119 122 123 132 137 138 142 150 154 155 158 163 168 173 201203 214 216 208 220 223 226 227 ÍNDICE REMISSIVO 457 230 242 248 250 251 268 272 286 290 293 306 313 323 324 327 330 331 344 345 354 355 361 372 384 388 393 396 403 407 409 412 415 425 428 435 Pulsões e suas vicissitudes As Freud 158 268 345 372 Q Q Freud 347 Quantidade de investimento libidinal Freud 347 Quantum de afeto Freud 348 Questão da análise leiga A Freud 32 348 349 R R Bion 351 Rabisco jogo do Winnicott 351 395 Racionalização 97 219 351 352 Racker Henrique 87 133 180 207 352 Rank Otto 71 72 107 111 115 160 195 216 234 270 271 280 334 348 349 352 353 369 405 419 420 Reação terapêutica negativa Freud M Klein J Rivière 94 210 312 353 365 416 Real registro do Lacan 354 Realidade princípio de Freud 354 Realidade psíquica Freud 81 143 211 242 351 354 390 427 Realização Bion 72 73 179 329 355 Realização Winnicott 20 323 355 393 Reativa formação 48 97 153 283 355 Recalcamento O Freud 69 84 97 105 116 171 202 217 281 287 288 292 335 355 356 363 364 367 Recalque ou recalcamento Freud 355 364 Recomendações aos médicos que exercem a psi canálise Freud 159 294 356 Reconhecimento vínculo do 177 356 429 Recordação encobridora Freud 357 Recordar repetir e elaborar Freud 159 287 294 357 Recusa da realidade Freud Lacan 357 Regra fundamental técnica Freud 39 357 358 Regras técnicas Freud 17 160 288 358 404 Regressão como mecanismo de defesa Freud 358 Regressão a serviço do ego Psicólogos do Ego 336 359 Reich Wilhelm 63 64 90 160 185 234 286 307 308 359 360 405 Reik Theodor 166 180 360 Relação objetal M Klein 255 296 360 361 Reparação M Klein 83 172 299 361 Repetição compulsão à Freud 29 76 121 251 272 331 351 353 359 362 412 417 Representação Freud 23 90 104 105 114 117 120 140 216 222 252 282 362 363 Representaçãocoisa Freud 363 Representaçãopalavra Freud 363 Repressão 86 99 107 109 130 150 158 213 214 249 281 286 355 363 364 409 Resistência Abordagem de Freud 19 33 107 109 119 157159 182 190 210 213 216 219 225 227 334 347 353 355 357 364 366 368 391 412 435 Resistência tipos de Abordagem clínica 365 ResistênciaExistênciaDesistência 366 Restauração do simesmo A Kohut 366 367 Restos diurnos Freud 363 367 Retorno do recalcado ou do reprimido Freud 272 367 Rêverie Bion 50 61 62 197 316 367 368 Reversão da função α Bion 368 Reversão da perspectiva Bion 40 118 368 369 395 431 Revisão da dinâmica de grupo Uma Bion 369 Romance ou novela familiar Freud Rank 294 369 Rosenfeld Herbert 99 129 165 196 206 242 272 277 307 317 339 340 341 352 364 369 370 375 413 417 S Sádicoanal fase Freud Abraham 143 371 373 Sádicooral fase Abraham M Klein 371 373 Sadismo Freud 24 91 121 261 262 281 321 331 361 371 372 373 Sadomasoquismo Freud 372 374 Schreber caso Freud 97 153 157 190 191 192 206 277 286 292 315 334 339 373 374 Sedução teoria da Freud 142 354 374 Sedução como conceito clínico 80 142 147 186 189 190 354 374 375 404 416 417 Sedutorseduzido vínculo do tipo 374 375 404 Segal Hanna 92 103 106 122 129 196 242 252 299 339 375 387 394 458 DAVID E ZIMERMAN Seio M Klein 58 92 101 130 172 226 242 255 273 297 304 305 318 375 434 Seio bom pensante Bion 375 Seiolatrina Meltzer 376 Self Hartmann 376 Self falso e verdadeiro Winnicott 27 56 63 82 85 94 138 140 376 377 435 Self grandioso Kohut 38 194 195 203 209 244 256 264 337 367 377 378 414 Selfobjeto Kohut 38 378 Self Escola da Psicologia do 366 378 414 Self psicofisiológico primário Edith Jacobson 379 Segurança Bion 22 100 223 259 310 379 383 Sem memória e sem desejo Bion 41 292 368 379 Seminário clínico 53 61 72 109 134 135 371 380 391 Seminários clínicos e quatro artigos Bion 380 Senso sentido comum Bion 344 380 381 Sentimento de culpa 83 94 116 281 381 398 Sentimento de identidade 115 133 203 205 243 321 340 378 381 385 430 Sentimento de inferioridade 381 Separação M Mahler 84 154 163 280 310 381 382 387 Separação angústia de 34 65 326 381 430 Ser a continuidade de Winnicott 382 Série complementar Freud 180 322 382 Setting 85 119 211 223 247 324 366 382 383 404 416 426 435 Sexuação fórmulas da Lacan 109 262 383 Sexual gênero Stoller 55 150 166 167 181 204 271 383 410 Sexualidade feminina A Freud 144 145 235 249 318 384 Sexualidade infantil Freud 69 91 168 236 248 293 323 324 384 393 412 Significantesignificado Lacan 105 384 Silêncio na situação analítica 39 77 126 131 274 365 381 386 Simbiose Mahler Bion 34 81 104 106 108 214 256 258 278 280 328 336 381 386 387 Simbólica equação H Segal 103 122 252 387 Simbólico registro Lacan 209 212 310 354 387 Símbolo 17 30 69 88 102 115 122 153 154 172 173 185 193 208 209 222 227 236 237 241 247 252 293 318 320 321 368 375 387 388 430 Sinal de angústia ou angústia sinal Freud 381 388 Sintoma Freud 23 78 105 107 186 216 222 287 291 362 388 393 Si mesmo Kahut 114 128 134 277 281 382 388 397 Simetria princípio da Matte Blanco 52 388 Sincrético pensamento 389 Síntese 389 Sistema dedutivo científico Bion 389 Sistêmica teoria 141 176 389 Só capacidade de estar Winnicott 307 390 Sobre alucinação Bion 390 Sobre arrogância Bion 390 Sobre a psicoterapia Freud 391 427 Sobre uma citação de Freud Bion 391 Sobredeterminação Freud 392 Sobreinvestimento ou superinvestimento Freud 392 Sobrenatural O Freud 392 Sobrevivência do objeto Winnicott 392 435 Somática complacência Freud 72 73 392 Sonho Freud 37 39 44 76 84 105 107 117 131 173 174 189 213 222 248 363 367 368 385 388 392395 Sonhos pósFreud 394 Splitting forçado e splitting estático Bion 395 Spitz René 30 37 91 100 104 147 199 255 275 307 336 386 395 399 Squigge Winnicott 395 Standard Edition Obras completas de Freud 39 55 63 68 70 84 91 108 116 123 131 132 150 154 164 188 212 216 222 248 259 277 288 292294 298 299 331 335 338 346 349 355 356 391 395 410 421 Sublimação Freud 97 107 116 158 248 287 396 Sujeito Lacan 396 Sujeito ideal P Aulagnier 397 Sujeito suposto saber Lacan 306 325 397 Superego Freud 25 34 37 63 68 74 79 80 92 94 100 109 115 116 126 138 158 161 201 202 218220 242 259 276 281 296 302 331 335 341 358 364 365 396399 409 Superego pósFreud 399 Superego ou supersuperego Bion 399 Supervisão na formação psicanalítica 400 T T Bion 403 Tânatos Freud 28 123 250 345 403 428 ÍNDICE REMISSIVO 459 Tantalizador objeto 375 403 Tausk Vicktor 404 Técnica psicanalítica 48 57 159 180 221 274 287 300 340 404 405 Técnica ativa Ferenczi 117 147 360 405 Término da análise 94 406 Terror ou pavor sem nome Bion 54 317 406 Textos selecionados da pediatria à psicanálise Winnicott 104 107 407 Thalassa Ferenczi 147 407 408 Tópicas Freud 219 408 Tópica primeira Freud 131 408 Tópica segunda Freud 126 131 201 213 397 408 409 Totem e tabu Freud 142 159 174 212 272 302 334 335 369 409 410 Transacional análise E Berne 33 410 Transexualismo Stoller 181 410 Transferência conceito de 378 411 412 Transferência em Freud 17 19 26 29 31 44 57 69 76 83 108 111 123 145 164 210 223 242 272 274 279 285 287 288 296 299 300 370 411417 436 Transferência pósFreud 412417 436 Transferência tipos de técnica 379 415 Transferência na prática clínica 417 Transformações Bion 40 224 403 413 417 418 Transgeracionalidade 418 Transicionais fenômenos Winnicott 58 145 146 298 407 419 Transtornos afetivos bipolares 419 Trauma Freud 54 70 102 185 352 419 Trauma segundo Ferenczi 80 420 Trauma do nascimento O Rank 280 352 420 Traumatofilia 420 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Freud 143 158 268 278 420 421 Turbulência emocional Bion 35 421 U Umbral da posição depressiva Meltzer 81 423 Unidade psiquesoma Winnicott 423 434 Universo em expansão Bion 90 423 Uso de um objeto Winnicott 424 V Vazio Winnicott 425 Vazio patologia do F Tustin 20 425 Verdade Bion 137 162 163 183 294 295 311 314 380 395 426 427 429 Vértice Bion 94 114 221 278 304 314 321 327 329 352 354 391 427 430 Via di porre e via di levare Freud 427 Vida pulsão de Freud 19 23 80 220 250 345 428 Vínculos conceituação de Bion 428 Vínculos tipos de Bion 429 Vínculo do reconhecimento 429 Vínculos ataques aos Bion 177 356 430 Violência 21 42 52 80 133 134 208 289 311 409 420 430432 Violência primária e violência secundária P Au lagnier 431 Visão binocular Bion 431 Viscosidade da libido Freud 432 Voracidade M Klein 58 226 293 311 315 425 432 Voyeurismo 120 134 432 W Weltanschauung A questão de uma Freud 433 Winnicott Donald W 20 27 29 3335 5658 62 64 66 67 70 8183 85 91 93 94 99 104 124 127 128 135 138 140 145147 173 179 181 182 196 197 208 209 218 225 2333 243 254257 274 276 298 303 307 317 322 330 351 355 368 376 377 381 382 390 392 394 395 407 414 419 423425 433436 Z Zonas erógenas 29 138 158 168 306 324 330 384 412 421 437 Zonas ou áreas livres de conflito Psicólogos do Ego 437
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David E Zimerman Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise O Vocabulário contemporâneo de psicanálise reúne cerca de 900 verbetes sobre teoria técnica além de biografias sumarizadas dos principais autores psicanalíticos Esta obra é indispensável e de consulta obrigatória aos estudantes e profissionais de saúde mental ISBN 9788536314143 artmed EDITORA RESPEITO PELO CONHECIMENTO wwwartmedcombr Z71v Zimerman David Vocabulário contemporâneo de psicanálise recurso eletrônico David Zimerman Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2008 Editado também como livro impresso em 2001 ISBN 9788536314143 1 Psicanálise Vocabulário I Título CDU 159964203 Catalogação na publicação Mônica Ballejo Canto CRB 101023 DAVID E ZIMERMAN Médico psiquiatra Membro efetivo e psicanalista didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre SPPA Psicoterapeuta de Grupo Expresidente da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise ARTMED Editora SA 2001 Capa Joaquim da Fonseca Preparação do original Henry Saatkamp Ilustrações Kundry Lyra Klippel desenhos modificados de fotos Leitura final Solange Canto Loguercio Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Editoração eletrônica Art Layout Assessoria e Produção Gráfica Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação fotocópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Angélica 1091 Higienópolis 01227100 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Agradecimentos À querida Guite pelo apoio total e incondi cional aos meus amados filhos nora gen ro e netos pela constante provisão de ale gria e orgulho ao Bernardo meu carinho so prefaciador aos meus amigos colegas alunos e editores pelo estímulo e permanen te incentivo às inúmeras instituições que têm me prestigiado com honrosos convites que me obrigam a manter atualizado e di versificado e aos meus pacientes de to dos os tempos minha profunda e eterna gratidão David e eu somos amigos de longa data Nosso conhecimento profissional passa pela formação psiquiátrica e psicanalítica Co nhecendo a sua pessoa vemos o profissio nal sério estudioso amigo da verdade afe tuosamente infatigável na busca de soluções para quem necessita de sua ajuda Ao fazer uma apreciação do Vocabu lário Contemporâneo de Psicanálise não posso dissociar a pessoa do autor Neste li vro David procura traduzir em linguagem simples e acessível a complexidade do sig nificado dos termos e conceitos psicanalíti cos evitando a linguagem hermética incom preensível para grande parte dos leitores da língua portuguesa Numa visão contempo rânea ele nos mostra a capacidade de arti cular os conceitos de vários autores partin do de Freud indo a M Klein Hartmann Winnicott Bion Kohut Lacan e outros Entre estes últimos constam autores segui dores de Freud como Abraham Ferenczi Anna Freud ou seguidores de M Klein como Rosenfeld H Segall Meltzer alguns dissidentes e desviacionistas da psicanálise clássica como Adler Jung Reich alguns outros que sem serem psicanalistas fizeram indiretamente importantes contribuições como o epistemólogo Piaget além de auto res representativos da psicanálise contempo rânea de formação mais eclética e autôno ma como Tustin Green Kernberg Bollas Prefácio A Ferro etc Ademais o livro fica enrique cido com a inclusão de inúmeras biografias relativas aos mais notáveis psicanalistas de todos tempos de verbetes alusivos a rese nhas de alguns artigos e livros considera dos como clássicos da psicanálise de alguns aspectos polêmicos que cercam o meio psi canalítico como o das Controvérsias acontecidas na Sociedade Psicanalítica Bri tânica e assim por diante Também cabe registrar que muitos verbetes são acompa nhados com ilustrações O autor consegue captar o pensamento desses autores no que eles têm de particular e o que lhes é comum acrescido de alguns dados bio gráficos e históricos o que não é uma ta refa fácil O trabalho de David Zimerman está alicerçado no mérito da divulgação da psi canálise através dos seus livros artigos pu blicados conferências participação ativa em congressos atividade didática e da prá tica clínica Sempre procurou transmitir os conhecimentos psicanalíticos de forma a desmistificar a psicanálise apresentandoa como uma ciência que trata da alma hu mana e não como um conjunto de seitas em busca de adeptos Assim vejo em sua obra atual a clareza de quem não prioriza esta ou aquela corrente psicanalítica o que não o impede de comprometerse em seu trabalho com idéias originais incluindo ver 8 DAVID E ZIMERMAN betes conceitos e comentários pessoais Par ticularmente entre outros mais creio que cabe destacar como úteis para a teoria e a prática da psicanálise a originalidade das concepções de Posição Narcisista Vín culo do Reconhecimento Estado Psíqui co de Desistência Prazer sem Nome Objeto Tantalizador Contraego etc Quando falamos de psicanálise não estamos nos referindo a um sistema fecha do acabado Cada nova descoberta exige novos termos e conceitos Correções sem pre serão necessárias para que possamos acompanhar a expansão dos conhecimen tos psicanalíticos Também a complexidade dos fenômenos psíquicos exige leituras re petidas para a compreensão e assimilação dos termos e conceitos sempre em um con tinuado processo de renovação Nesta nova obra de David podemos facilmente perceber que ele segue a mesma linha dos seus quatro livros anteriores isto é existe uma clara tendência para priorizar uma abordagem didática sistemática e de integração de sorte a contemplar tanto os analistas veteranos e experientes que neces sitam uma rápida consulta para relembrar ou esclarecer algum determinado tema quanto para os leitores que estão iniciando a sua formação e poderão dispor de uma nova fonte de estudos e aquisição de co nhecimentos nãoisolados mas sim inte grados Desta forma os 900 verbetes que com põem este vocabulário estão sinalizados de uma maneira que possibilita ao leitor ras trear determinado assunto porquanto se guidamente um verbete remete a outros que lhe complementam ao mesmo tempo que sugere fontes bibliográficas onde o tema que interessa possa ser estudado com mais profundidade nos trabalhos originais dos distintos autores mencionados Ao mesmo tempo cada título de verbete vem acompa nhado num parêntesis por uma referência que esclarece e situa o leitor relativamente a qual corrente psicanalítica ou nível con ceitual está fundamentado o vocábulo que está sendo consultado David também de monstra uma preocupação em manter im parcialidade e a maior fidelidade possível ao pensamento do autor que embasa o res pectivo verbete de modo que quando quer emitir algum acréscimo ou opinião pessoal ele os antecede com a palavra comentá rio Igualmente quando o verbete alude a alguma terminologia ou concepção original sua ele alerta o leitor com a colocação de um asterisco no final do título O res peito pelo leitor tem continuidade com a inclusão de um índice remissivo que além de facilitar a consulta também propicia uma visão sinóptica do vocabulário e de uma bibliografia a mais completa possí vel que visa a uma desejável complemen tação da leitura dos verbetes nas fontes originais É possível no entanto que al guns verbetes estejam faltando outros podem estar sendo breves ou longos de mais ou que eventualmente possam ser revistos Mas sem dúvida em seu conjunto o Vocabulário Contemporâneo de Psicanáli se além de um guia estimulante e facilita dor é uma fonte de estudo e de pesquisas que remete os interessados diretamente às fontes de origem para uma leitura crítica um estudo e uma pesquisa mais aprofun dados Até onde sei não existe nenhum vo cabulário da natureza deste na literatura psi canalítica e conhecendo a disposição do David os psicanalistas e todos interessados nesta área podem esperar que no futuro esta obra terá continuidade Bernardo Brunstein Psicanalista da SPPA Introdução Existem muitos e excelentes dicionários e vocabulários de psicanálise então por que mais este A essa pergunta que me faço de forma algo obsessiva respondo que os me lhores desses dicionários estão mais direta mente especializados em um determinado autor e na respectiva corrente psicanalítica Assim ninguém pode contestar o valor ines timável desse verdadeiro clássico que é o Vocabulário da Psicanálise de Laplanche e Pontalis cuja primeira edição é de 1982 e é de consulta obrigatória para dirimir qualquer dúvida e fazer definitivos esclarecimentos sobre os conceitos plantados por Freud ao longo de toda sua imensa obra Esse mag nífico vocabulário reúne em torno de 420 verbetes alguns são curtos e outros ocupam uma extensão de 15 páginas longos como artigos completos No entanto ficou virtu almente restrito às contribuições freudianas entremeadas de alguns poucos conceitos de outros autores O mesmo se pode dizer do Dicionário Freudiano surgido em 1995 de autoria do psicanalista argentino José Luis Valls Outro clássico imprescindível na biblio teca de todo psicanalista é o Dicionário do Pensamento Kleiniano surgido no início da década 90 de autoria de Robert Hinshe lwood Faz uma cobertura completa dos con ceitos kleinianos e póskleinianos porém per manece restrito exclusivamente a eles Outra obra excelente essa mais recen te surgida em 1994 é o Dicionário de Psi canálise de Elisabeth Roudinesco que ocu pa mais de 800 páginas apresenta uma maior variação de abordagens traz uma inestimável contribuição para o leitor inte ressado na história da psicanálise porém vir tualmente desconhece importantes idéias da psicanálise contemporânea como são as contidas nas concepções teóricas e técnicas de autores como Bion Kohut Winnicott Igualmente cabe destacar a publicação de dicionários de termos dirigidos quase que exclusivamente às contribuições originais de Lacan e de seus seguidores Para ficar num único exemplo pode ser mencionado o Dici onário de Psicanálise Artmed cujos verbe tes específicos elaborados por inúmeros au tores foram organizados pelo francês Roland Chemama A primeira edição é de 1993 Também cabe mencionar um livrodi cionário surgido em 1996 de autoria da psi canalista inglesa Jan Abram cujo título na edição brasileira é A Linguagem de Winni cott Seu subtítulo esclarece seu conteúdo Dicionário das Palavras e Expressões Utili zadas por Donald W Winnicott Destarte após fazer uma ampla con sulta em todos dicionários análogos existen tes na literatura psicanalítica entendi que estava faltando um compêndio que fizesse uma integração das escolas psicanalíticas 10 DAVID E ZIMERMAN mais importantes de sorte a oferecer uma visão sinóptica dos conceitos da psicanáli se desde a época pioneira atravessando sucessivas gerações de autores seguidores de Freud mas também dissidentes e ampli adores de seus conceitos até chegar às con tribuições da psicanálise contemporânea Além disso é inegável que diante da vasta e cada vez mais volumosa e diversifi cada literatura acontece um certo clima de confusão conceitual na psicanálise devido ao fato de que muitas vezes um mesmo ter mo empregado por autores distintos às vezes pelo mesmo autor pode adquirir sig nificados diferentes Também ocorre o con trário isto é o mesmo significado psicanalí tico recebe múltiplos rótulos e denominações bastante diferenciadas entre si Tudo isso pode concorrer para o risco de uma certa babeli zação da psicanálise embora existam inegá veis vantagens na proliferação de idéias e conceitos provindos de diversas fontes Após trocar idéias com meus editores aceitei o desafio ancorado em duas razões muito fortes A primeira é que percebia a grande freqüência com que alunos partici pantes de meus distintos grupos de estudo me dirigiam perguntas como Esse concei to ainda vale Isso já não tinha sido dito por Freud É a mesma coisa e assim por diante o que me fez sentir uma real neces sidade de tentar fazer esclarecimentos e si tuar muitos interessados A segunda razão é que após ter publicado quatro livros ter um continuado exercício de magistério ori entar grupos de estudos privados supervisio nar atividades na área da psicanálise atuar como conferencista em distintos eventos em uma variada geografia manter constantemen te atualizada a leitura e sobretudo ter a ex periência de mais de 40 anos de prática psi canalítica fundamentada numa formação plu ralista me davam condições de enfrentálo Na verdade acreditei que a tarefa de redigir este vocabulário poderia ficar facilitada o que de fato em boa parte sucedeu porque o úl timo livro que publiquei sobre psicanálise Fundamentos Psicanalíticos Teoria Técnica e Clínica em 1999 tinha me obrigado a pro ceder a uma exaustiva consulta e revisão de uma imensidade de textos publicados em re vistas e livros antigos e recentes provindos de autores de todas as órbitas Ao me atirar à estafante e demorada embora altamente gratificante tarefa de ten tar cumprir o projeto escolhi o caminho mais difícil e quem sabe o menos eficien te decidi realizálo sozinho mesmo saben do que poderia contar com a irrestrita cola boração de brilhantes amigos e colegas lo cais e internacionais que dominam profun damente determinadas áreas específicas da psicanálise Minha opção por essa linha de trabalho mais árduo é justificada pela crença de que o projeto de intenção integradora do presente vocabulário impõe a necessidade de conservar o mesmo estilo certa coerência na visão global de todas as múltiplas faces da psicanálise A autoria única também enseja inserir eventuais comentários pessoais e so bretudo manter a liberdade de fazer cone xões e remissões entre os distintos verbetes além de mencionar as manifestações de dife rentes autores sobre determinado conceito Até aqui estou discorrendo sobre as pretensões mais otimistas daquilo que esse livro visa a alcançar No entanto impõese a tarefa de definir esse vocabulário por alguns aspectos do que ele não é nem nunca pre tendeu ser A seguir enumero alguns deles Esse vocabulário sequer remotamen te pretende funcionar como uma espécie de enciclopédia que abarque tudo que diga respeito à psicanálise embora durante sua feitura diversas vezes me ocorreu que a IPA poderia assumir a gigantesca tarefa de no mear uma comissão de ilustres psicanalis tas para produzir uma verdadeira e tão quanto possível completa enciclopédia de psicanálise em diversos tomos é claro Assim o leitor vai se deparar com muitas omissões algumas intencionais e VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 11 outras não Perceberá que algumas obras importantes estão nominadas e resenhadas enquanto outras não alguns termos estão explicitados mais longamente enquanto outros não vão além de breves citações e assim por diante Também é óbvio que de forma algu ma o vocabulário pode dispensar a leitura dos textos originais dos autores cujos con ceitos são referidos Pelo contrário a inten ção é a de estimular essa leitura na fonte original razão porque seguidamente o verbete vem acompanhado de referências bibliográficas Intencionalmente para não tornar a leitura por demais enfadonha não me senti obrigado a proceder minuciosas e sistemáticas citações das fontes e de auto res que descreveram determinadas concep ções mesmo que eventualmente alguns tre chos curtos delas possam ter sido transcri tas literalmente É possível que no afã de fazer a maior integração possível este vocabulário tenha ficado por demais diluído e mesclado pois os verbetes atingem concepções oriundas das mais distintas fontes com conceituali zações tanto metapsicológicas quanto teó ricas técnicas e oriundas da prática clínica além de referências biográficas e históricas Ademais me permiti incluir alguns ver betes contendo conceitos pessoais que ve nho propondo Também inseri em certos verbetes comentários de minha lavra É evi dente que esses conceitos e comentários são de minha inteira responsabilidade Em am bos os casos essa condição está devidamen te ressaltada graficamente conforme itens 4 e 5 das Instruções de Uso Assim adverti do o leitor pode discordar deles ou até mesmo saltar sua leitura Estão incluídas informações sobre a etimologia de determinados termos porque creio que a descoberta da origem de certas palavras vai muito além de um dilentatismo ou do exercício de simples curiosidade É cer to que a etimologia pode dar uma idéia da gênese e da evolução de uma idéia às vezes de origem arcaica outras provinda de pensa dores e até mesmo da sabedoria popular Por acreditar que uma imagem pode trazer mais autenticidade a determinado conhecimento alguns verbetes especial mente os que se referem a autores pode rão vir acompanhados de ilustrações Ao final da obra há um índice que visa a facilitar as consultas Antes desse índice vão listadas as obras referenciadas neste vocabulário A fim de facilitar as consultas além de per mitir ao leitor atentar para as necessárias discriminações entre os termos e estabele cer complementações e correlações entre os verbetes que remetem a outros foi dado um tratamento tipográfico especial a deter minados termos e expressões As diferentes formas de grafia estão enumeradas adiante 1 Os verbetes estão ordenados alfa beticamente O título de cada verbete apa rece em negrito 2 Sempre que for indicado após o tí tulo do verbete consta entre colchetes o nome do autor do conceito ou alguma ou tra referência explicativa para situar o lei tor Por exemplo Transformações Bion 3 Quando indicar o de um livro o tí tulo do verbete é grafado em negrito itáli co seguido do nome do autor e a data do surgimento do texto Por exemplo Além do Princípio do Prazer Freud 1920 4 O asterisco colocado junto ao ver bete como por exemplo reconhecimen to vínculo do indica que se trata da pro posição de um conceito de caráter pessoal 5 A palavra Comentário grafada em negrito itálico precede uma nota de minha inteira responsabilidade 6 As palavras ou expressões sublinha das indicam remissão para verbete com esse Instruções de Uso título por exemplo Nesses casos de im passes a resistência é do tipo indica re missão para o verbete resistência de modo a permitir uma leitura complemen tar do conceito em causa e estabelecer cor relações 7 As demais palavras ou expressões em itálico marcam a a relevância do con ceito no contexto do verbete como no exemplo anterior impasse b os títulos de livros A Interpretação dos Sonhos c pa lavras em línguas estrangeiras em geral na chträglich 8 Quando a hipótese da alínea a su pra ocorrer em palavra ou expressão que for título de verbete será empregado itá lico sublinhado Por exemplo o su jeito passa a formar parte de uma cadeia de significantes na qual deverá estrutu rarse 9 A palavra frase em negrito itálico indica que se lhe seguirá a citação de texto especialmente elegante ou profundo de de terminado autor 10 Os títulos dos verbetes relativos à resenha de livros e artigos especialmente importantes aparecem em negrito itálico se guido do nome do autor e da data da pri meira edição entre colchetes Por exemplo Chistes e sua relação com o incons ciente Freud 1905 Option B 11 and 16 Option C 7 and 12 Option E 13 and 14 Option F 3 and 14 Option A 3 and 14 Option E 11 and 15 A abreviatura do Vínculo do Amor primeira fileira da Grade BION Em muitas traduções latinoamericanas da obra de BION a letra A designa a inicial de Amor vínculo do Em muitos outros escri tos a inicial utilizada para designar esse tipo de vínculo é a letra L inicial do original in glês Love Por outro lado BION emprega a letra A como constituindo a primeira fileira da sua Gra de mais exatamente a que designa o está dio da função de pensar que ainda está no nível dos protopensamentos ou seja dos elementos β Ver figura 1 que acompanha o verbete Grade A a abreviatura de Autre e autre LACAN Em LACAN a letra A maiúscula é a inicial do vocábulo francês Autre que LACAN chama de grande outro termo com o qual ele refere mais propriamente a figura do pai interditor como representante exterior da lei opondose à díade imaginária com a mãe Como letra minúscula é inicial de autre ou pequeno outro e refere mais ge ralmente mas não unicamente a mãe tal como está situada no plano do imaginário Ver os verbetes Outro outro A A posteriori ou après coup FREUD É a tradução preferida para o termo Nach träglich que FREUD empregou no original alemão Esse conceito também é bastante mencionado com a versão francesa après coup No Brasil por vezes aparece traduzi da como só depois A expressão a posteriori designa a con cepção original de FREUD introduzida em 1896 de que determinada impressão psí quica primitiva na mente da criança pode vir a ser organizada e reinscrita poste riormente no psiquismo do sujeito com um significado diferente do primitivo ini cial de modo que por exemplo algum acontecimento banal pode posterior mente sofrer algum tipo de elaboração secundária e adquirir configuração trau mática Assim no seu historial clínico O homem dos lobos Freud descreveu que este pa ciente quando tinha um ano e meio tes temunhou um coito a tergo entre os pais porém só veio a compreendêlo aos 4 anos e a partir disso já imiscuído com fantasias posteriores veio a elaborar sua vivência de cena primária Outro exem plo está contido na conceituação de lem brança encobridora 16 DAVID E ZIMERMAN Abraham Karl Foi um dos primeiros e mais importantes seguidores e ampliadores da obra de Freud Nasceu em 1877 em Bremen Alemanha originário de uma família de comerciantes judeus e faleceu em 1925 em Berlim Sua morte precoce com 48 anos foi devido a uma infecção pulmonar advinda do engas go com uma espinha de peixe que pene trou pela laringe no lugar da faringe Médico psiquiatra e psicanalista poliglota que se comunicava em oito idiomas ABRA HAM trabalhava no hospital Burghölzli em Zurique onde conheceu JUNG que desper tou seu interesse pelas idéias de Freud Po rém posteriormente tornaramse rivais e ti veram sérias divergências e desentendimen tos ABRAHAM fundou em 1910 a Associa ção Psicanalítica de Berlim em 1924 foi eleito como presidente da Associação Psi canalítica Internacional IPA International Psychiatric Association Na sua obra caracterizada por um estilo li terário simples e acessível além de seus escritos preliminares sobre mitos esquizo frenia autoerotismo e luto os seguintes as pectos merecem ser destacados 1 Seus estudos aprofundados e sistematizados so bre as etapas prégenitais da libido 2 A con ceituação original a respeito de objetos par ciais 3 A definição dos processos de intro jeção absorção oral e projeção expulsos por pulsões canibalísticas agressivas e sá dicodestrutivas orais e anais 5 Seu estu do clínico a respeito dos pacientes pseudo colaboradores como acontece naqueles que são portadores de uma caracterologia marcadamente narcisista tal como está ma gistralmente descrito no ainda atual artigo de 1919 Uma forma particular de resistên cia neurótica contra o método psicanalíti co onde aparece claramente a importân cia que ABRAHAM já conferia às pulsões sá dicas ocultas em certos pacientes É fácil perceber a nítida influência que ABRAHAM exerceu na obra de MKLEIN que foi paci ente dele A análise foi por um curto perío do e precocemente interrompida pela doença e morte de ABRAHAM Além de sua obra e da sua influência na pessoa e na obra de MKLEIN ABRAHAM também deixou o pre cioso legado de ter sido o analista didata de importantes psicanalistas como HELEN DEUTSCH EGLOVER KAREN HORNEY SANDOR RADO ERNEST SIMMEL Os estudos de ABRAHAM sobre mitos apare cem no trabalho Sonho e Mito de 1909 O artigo acima mencionado sobre resistên cia narcisística dentre muitos outros cons ta no capítulo 15 do livro que reúne interes santes contribuições de ABRAHAM Psicoanáli sis clínico editado pela Paidós em 1959 O mesmo livro no capítulo 17 p418501 traz um trabalho clássico de 1924 intitulado Um breve estudo da libido visto à luz dos trans tornos mentais que também aparece no li vro Selected papers on psychoanalysis Abreação FREUD BREUER Termo introduzido por FREUD e BREUER ao estudarem em Comunicação preliminar 1893 o mecanismo psíquico agindo no VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 17 fenômeno histérico Abreação designa uma descarga emocional de afetos ligados a fan tasias desejos proibidos e lembranças pe nosas de fatos traumáticos que estão repri midos no inconsciente ou no préconscien te através de uma irrupção no consciente provocada pela recordação e verbalização desses acontecimentos Referido trabalho permite destacar dois as pectos 1 O agente dos transtornos histéri cos é o afeto ligado à reminiscência e não ao acontecimento traumático em si 2 O termo abreação reflete a conexão existen te entre a psicanálise incipiente da época com a fisiologia dos mecanismos cerebrais como então eram entendidos O fenômeno da verbalização abreativa acon tece no processo psicanalítico porém já era constatado na época da utilização do recurso da hipnose Um exemplo ilustrativo da ab reação está contido nas expressões cura pela palavra e descarga pela chaminé proferidas pela paciente Anna O As versões em inglês dessas expressões talking cure e chimney sweeping tornaramse clássicas Uma sino nímia de abreação está nos termos catarse ou método catártico Ver esses verbetes Abstinência regra da FREUD Uma das regras técnicas legadas por FREUD a qual basicamente consiste na recomen dação de que tanto o analista como o paci ente devem fazer algumas abstenções du rante o curso da análise Assim o analista como um princípio técnico deve absterse de fazer gratificações externas mais parti cularmente as que se referem ao amor de transferência Freud sustentava que uma gratificação a algum pedido do paciente pertinente à neurose de transferência re duziria demasiadamente o surgimento de certo grau de ansiedade a qual é indispen sável para o método analítico O paciente por sua vez deveria abster se de efetivar qualquer ação importante em sua vida exterior sem antes analisála exaustivamente com a finalidade de ob ter o consentimento do psicanalista Freud utilizou a expressão abstinência pela pri meira vez em seu trabalho Recomenda ções sobre o amor de transferência 1915 Em 1918 por ocasião do V Con gresso em Budapeste ele reitera que o tratamento psicanalítico deve tanto quanto possível efetuarse num estado de frustração e abstinência Comentário Penso que embora esta re gra esteja implícita em qualquer análise os analistas contemporâneos não mais a in cluem nas combinações prévias que cons tituem o necessário contrato analítico ado tam uma postura igualmente firme com a colocação dos devidos limites porém com uma margem de elasticidade bem maior sem a necessidade de apelar para o recur so de proibições Como forma de sinteti zar a regra da abstinência ocorreme a seguinte frase a melhor forma de o ana lista atender às demandas do paciente é a de entender e interpretar o porquê e o para quê delas Abstração BION Consiste numa importante capacidade do ego adquirida fundamentalmente a par tir da capacidade de formação de símbo los a qual o sujeito adquire unicamente se ele atingiu exitosamente a posição de pressiva No eixo vertical da Grade de BION o chamado eixo genético da forma ção da capacidade para pensar os pensa mentos essa capacitação corresponde ao nível F Caso não tenha adquirido essa capacidade de abstração o sujeito não terá condições de fazer generalizações e síntese de fatos isolados e no lugar disso seu pensamento será concreto e sincrético ao mesmo tem po que os símbolos são substituídos por equações simbólicas 18 DAVID E ZIMERMAN Ação BION Refere à função do ego que possibilita ao sujeito agir no plano motor de sua vida o que pode suceder de forma exitosa ou pa tológica conforme o estado evolutivo das condições psíquicas Na Grade de BION a ação aparece no eixo horizontal o da uti lização das funções mentais ocupando o lugar reservado ao algarismo 6 Acasalamento ou apareamento BION Na parte de sua obra dedicada aos seus estudos sobre Grupos BION define acasala mento o termo original em inglês é pai ring como um suposto ou pressuposto básico consistente no fato de que atavica mente os indivíduos componentes de um grupo qualquer têm a tendência de formar casais ou pares como forma de proteção e diz BION como esperança mágica do casal de procriar novo messias que será o redentor do grupo e garantidor de sua pre servação Acessibilidade conceito de técnica Na psicanálise contemporânea o critério de acessibilidade está sendo mais valorizado do que o clássico de analisibilidade em re lação aos aspectos que recomendam ou não que o analista assuma o compromis so de analisar determinada pessoa que o procura para tanto Mais do que uma pre cisão diagnóstica e do que uma previsão prognóstica o analista levará em conta a reserva de capacidades positivas que es tão obstruídas e ocultas cuja libertação o paciente espera Da mesma forma o analista avaliará a maior ou menor permissividade que o pa ciente confere ao acesso analítico às regi ões desconhecidas do seu inconsciente seu compromisso em ser verdadeiro consigo mesmo e sua capacidade de contrair um vínculo analítico Acesso pacientes de difícil BETTY JOSEPH É de BETTY JOSEPH psicanalista britânica a expressão paciente de difícil acesso título de um clássico artigo seu de 1975 com que designa um tipo de analisando que usa maciçamente o recurso da dissociação pelo qual a parte realmente paciente do pacien te ou seja a criancinha frágil dependente e cheia de angústias e necessidades fica esplitada dissociada no campo analítico e por isso mesmo tornase de acesso mui to difícil às interpretações do analista No referido artigo a autora considera que es sas partes dissociadas devem ser procura das nos diferentes esconderijos apontan do os principais modos de ocultamento Esses pacientes de difícil acesso ao método psicanalítico também são conhecidos como pacientes difíceis Seu maior contingente é constituído por pessoas que erigiram uma couraça caracterológica composta por de fesas fortemente obsessivas e em especial narcisistas Essas defesas por sua vez se formaram como proteção contra antigos sentimentos de humilhação abandono trai ção etc de sorte que de forma inconsci ente tais pacientes estão fortemente prote gidos defensivamente contra qualquer ape go afetivo que desperte o temor de retorno das referidas frustrações Achados idéias problemas FREUD 1941 Escrito em 1938 com publicação póstuma em 1941 esse texto de FREUD consiste de série de curtos parágrafos sem relação en tre si datados em ordem cronológica em dias diferentes como uma espécie de apon tamentos de idéias originais a serem desen volvidas sem relação umas com as outras Dentre elas pela sua importância na atua lidade cabe destacar a idéia esboçada em 12 de julho com o cabeçalho Ter e Ser nas crianças Aí ele mostra que as crian VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 19 ças gostam de expressar uma relação de objeto por identificação Eu sou o objeto Segundo FREUD ter é mais tardio após a perda do objeto ele recai para ser Exem plo o seio O seio é uma parte de mim eu sou o seio e mais tarde Eu o tenho isto é eu não sou ele Esse escrito consta da edição brasileira da Standard Edition no volume XXIII p 335 Acting ou atuação FREUD E LACAN O termo original empregado por Freud em alemão é agieren que alude ao fato de que no lugar de lembrar e verbalizar determi nados sentimentos reprimidos o paciente os substitui por atos e ações motoras que funcionam como sintomas Assim em Re cordar repetir e elaborar 1914 FREUD afir ma que o automatismo da repetição subs titui a compulsão à recordação Como ten tativa de solução do problema da atuação na análise ele preconiza duas possibilida des uma a de fazer o paciente prometer não tomar nenhuma decisão séria sem an tes compartila com o analista a segunda consiste em transformar a transferência neu rótica num estado de neurose de transfe rência LACAN estabelece uma diferença entre ato sempre é um significante acting é uma conduta assumida por um sujeito que tem uma mensagem para ser decifrada por aquele a quem ela é dirigida e passagem ao ato que representa ser uma demanda de amor por parte de um sujeito que só consegue vivenciar seu desespero através de uma forma evacuativa Acting na prática clínica Até há pouco tempo os autores considera vam qualquer modalidade de acting como uma forma de resistência inconveniente à evolução da análise A psicanálise contem porânea contempla três aspectos que con ferem uma nova visualização e manejo téc nico das atuações dos pacientes Os actin gs 1 Processamse quando o paciente não consegue recordar pensar ou verbalizar seus conflitos ocultos ou quando não foi compreendido pelo seu analista 2 Podem constituir uma importante forma de comu nicação primitiva não verbal à espera de que o analista saiba descodificar e nomear a dramatização oriunda do libreto incons ciente 3 Podem ser malignos decorren tes de uma forte predominância da pulsão de morte ou benignos em cujo caso pre valece a pulsão de vida Assim o surgimen to de uma atuação tanto pode resultar como sendo negativa para a evolução da análi se ou positiva quando propicia uma via de comunicação ao desconhecido ou quan do traduz algum significativo movimento de um paciente no sentido de ele estar experi mentando vencer alguma inibição Em relação à terminologia que diferencia actingout atuação fora da situação analí tica de actingindentro e durante a sessão na atualidade ela pouco está sendo leva da em conta porquanto não representa maior vantagem do ponto de vista da prá tica clínica Adaptação Psicólogos do Ego O conceito de adaptação é original e fun damental da Escola da Psicologia do Ego a qual valoriza substancialmente a importân cia da realidade como algo objetivo exter no e essencial a qualquer sujeito HARTMANN o autor mais importante dessa corrente psi canalítica considerou o grau de adaptação como sendo o alcance que cada sujeito tem da função sintética e integradora do ego as quais podemos acrescentar implicam em demais funções do ego tais como a capaci dade para associar confrontar correlacionar indagar discriminar e exercer o juízo crítico O ponto de partida teórico para o conceito de adaptação é a biologia que estuda a constante interação entre o organismo ani 20 DAVID E ZIMERMAN mal e a natureza sendo que no homem essa relação recíproca entre a natureza nature e a cultura nurture adquire uma dimen são bastante complexa e está ocupando um lugar de grande relevância na psicanálise contemporânea Para não cometer uma injustiça contra os psicólogos do ego como é bastante corren te é necessário esclarecer que HARTMANN e colaboradores não preconizavam uma sim ples adaptação ao american way of lifeou seja uma submissão passiva à ordem so cial mas sim que a adaptação é um pro cesso ativo visando a uma harmonia do subjetivo mundo interno com o objetivo mundo externo incluindo o propósito de transformar metas e objetivos sociais Entre os muitos livros publicados o eixo central do pensamento teórico de HARTMANN está contido em Ego Psychology and the Problem of Adaptation 1939 Adaptação à realidade ou realização WINNICOTT WINNICOTT propôs que o desenvolvimento emocional se processa em três etapas su cessivas a de integração a de personaliza ção e a de adaptação à realidade A última também chamada realização consiste em que a criança após adquirir uma integração da quilo que estava em estado de nãointegra ção seguida da aquisição do sentimento de personalização isto é de que ela habita o seu próprio corpo deve dar o passo seguinte que é de fazer uma relação ótima com o seu mun do exterior ou seja deve fazer uma adapta ção à realidade com a ajuda inicial da mãe Assim quando o bebê tiver fome poderá alucinar algo que sacie sua necessidade Nesse momento a mãe oferece o seio um objeto real o que se constitui a primeira contribuição da mãe para aproximar a criança da objetividade ao que se acresce o contato dos órgãos sensoriais do bebê com a realidade exterior Segundo as palavras textuais de WINNICOTT em Desenvolvimento emocional primitivo 1945 o bebê alucina algo que pode ser atacado e então a mãe aproximao do seio real A criança percebe que isso é o que acaba de alucinar e suas idéias ficam enriquecidas pelos dados reais da visão tato olfatoDesta maneira a criança co meça a construir a sua capacidade para evocar o que está realmente à sua dispo sição Adicção Os pacientes drogadictos estão incluídos entre os que sofrem da patologia do vazio Assim as adicções estão sempre ligadas a uma tentativa de o sujeito preencher vazios existenciais decorrentes da primitiva angús tia de desamparo e para tanto lança mão do uso ilusório de drogas tóxicas e eufori zantes ou bebidas alcoólicas o que secun dariamente pode acarretar problemas so ciopáticos No entanto também existe adicção a ali mentos consumismo de roupas jóias etc A adicção também ocorre sob a forma de busca compulsória de relações pseudoge nitais com pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo sempre como uma busca de sentirse vivo porquanto a abstinência re mete o drogadicto ao vazio e gera nele a terrível sensação de desamparo de não existir Um fator complicador para o tratamento consiste no fato de que as adicções incidem numa estruturação psíquica idealizadora isto é construída com um excesso de idea lizações numa busca da magia ilusória por parte do viciado como proteção contra o seu receio de uma descompensação psicó tica Deste modo parece ser válido consi derar a adicção como sendo uma forma de perversão e viceversa na qual a droga funciona como um fetiche de sorte que também cabe referir a existência nos casos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 21 mais extremos de uma adicção às perver sões Adler Alfred ADLER nasceu num subúrbio de Viena em 1870 originário de uma família judia pos teriormente renegou sua condição de judeu e converteuse e faleceu em 1937 Era uma criança débil que sofria de um acentuado raquitismo Esse fato segundo seus biógra fos o deixava em estado de inferioridade em relação ao seu irmão mais velho que significativamente chamavase Sigmund ao qual ele tentava superar com outros re cursos A inferioridade orgânica veio a tor narse uma noção básica da doutrina adle riana Médico e psicólogo ADLER incorporouse ao grupo pioneiro de FREUD em 1902 e foi o primeiro discípulo a abandonar em 1911 o grupo do incipiente movimento psicana lítico devido a sua radical discordância e rejeição da etiologia sexual da neurose o que provocou um crescente estado de ten são com os demais do grupo Nessa oca sião ADLER afastase totalmente do círculo freudiano e funda sua própria escola a qual ele denominou inicialmente Psicanálise Li vre e posteriormente deulhe o nome defi nitivo de Psicologia individual comparada Essa escola consiste fundamentalmente nos seguintes elementos 1 Todo indivíduo é portador de estado de dependência orgâ nica e psicológica 2 Esse estado promove na criança um sentimento complexo de inferioridade 3 Esse sentimento é compen sado por uma vontade de poder 4 Essa vontade leva o indivíduo a querer ser e mostrarse superior aos outros Além do destaque dado ao complexo de inferioridade como o eixo central da origem das neuroses ADLER fez significativas con tribuições pioneiras como a instituição de consultas psicopedagógicas num trabalho com grupos de professores dirigido à edu cação de crianças uma abordagem da psi cologia social e da patologia dos desvios sociais tendo se interessado bastante pela situação psicossocial da mulher foi dos pri meiros a postular a aplicação da psicanáli se à personalidade total e a descrever uma parte do papel do ego na produção de neu roses Após ter sido bem sucedido numa série de conferências pronunciadas nos Es tados Unidos ADLER abandonou definitiva mente a Áustria e foi instalarse com a fa mília em Nova York É considerado um des viacionista de Freud porquanto desviouse da essência teórica e técnica freudiana as sumindo seu trabalho clínico uma orien tação de natureza pedagógica A ruptura entre FREUD e ADLER adquiriu um grau de violência extremada Decorridos 35 anos como atestam as publicações dessa época os dois continuavam a trocar insultos de baixo nível Seus principais livros são Teo ria e prática da psicologia individual 1918 Psicologia da criança difícil 1928 e O sen tido da vida 1933 O último pode ser con siderado como seu maior testamento em relação ao seu pensamento psicológico psicoterápico e educacional Adolescência e puberdade Os dicionários apontam para uma dupla origem da palavra adolescência Uma indi ca que procede dos étimos latinos ad para frente olesco crescer arder inflamarse A outra alude a adolescentia derivada de adolescent raiz de adolecens particípio de adolescere adol esc ent Tratase de um período de transformações portanto de crise especialmente no que refere à construção de um sentimento de identidade De modo geral considerase que a adoles cência abrange três níveis de maturação e desenvolvimento a puberdade ou préado lescência no período dos 12 aos 14 anos a adolescência propriamente dita dos 15 22 DAVID E ZIMERMAN aos 17 e a adolescência tardia dos 18 aos 21 anos Cada uma delas apresenta carac terísticas próprias e específicas que exigem abordagem psicanalítica com aspectos es pecíficos para cada uma delas Em relação à puberdade a etimologia mos tra que o termo deriva de púbis mais espe cificamente alude aos pêlos pubianos que começam a aparecer no menino ou na menina Esse fato mostra que a préadoles cência é uma etapa do desenvolvimento no qual começa a maturação fisiológica do aparelho sexual simultaneamente acompa nhada por inquietações emocionais Até há algumas décadas atrás os psicana listas consideravam muito difícil o tratamen to psicanalítico de púberes e adolescentes devido ao grande número de abandonos da análise em sua maior parte atribuídos ao fato de se considerar que levavam os sentimentos transferenciais não num pla no de um como se mas sim como se de fato estivessem realmente apaixonados pelo analista o que os levava a fugar À medida que os terapeutas psicanalíticos fo ram entendendo melhor a dinâmica do psi quismo adolescente e conseqüentemente posicionandose com uma postura de maior segurança e com um melhor manejo técni co a psicanálise de adolescentes ganhou um crescente crédito e relevância Afânise E JONES Até certa época muito em voga na termi nologia psicanalítica esse termo foi intro duzido por EJONES Significa uma aboli ção do desejo ou da capacidade de dese jar e deriva de aphanisis que em grego quer dizer fazer desaparecer JONES afir mou que o medo de castração no homem corresponde na mulher ao medo de aban dono Como conseqüência desses temores todo homem como toda mulher podem de senvolver em comum um estado de afani sia ou seja um congelamento dos desejos Afasia FREUD 1891 Em 1891 como médico neurologista FREUD produziu o trabalho Para uma concepção das afasias um estudo crítico no qual já esboçava algumas idéias que depois pros seguiram no Projeto para uma neurologia científica 1895 Nesse texto Freud opõe se à doutrina neurológica dominante na época segundo a qual a etiologia dos trans tornos da linguagem provindas do sistema nervoso ficava reduzida a regiões anatomi camente determinadas o que então era conhecido como teoria das localizações cerebrais É útil lembrar que o termo afa sia designa num sentido mais amplo um transtorno da memória e num sentido mais restrito alude à uma perturbação da lingua gem São descritos dois tipos de afasias a sensorial há uma perda da compreensão da linguagem embora as palavras sejam pronunciadas e a afasia motora nesse caso fica mantida a compreensão daquilo que os outros dizem enquanto desaparece a capacidade de articulação das palavras No lugar de explicar as afasias por uma sim ples relação de causaefeito como ocorria na teoria das localizações cerebrais e neuronais FREUD traçou um paralelismo entre três pro cessos 1 O fisiológico sensorial são as im pressões 2 O sistema nervoso no nível cor tical constituem as inscrições 3 O processo psicológico por meio das representações Assim segundo FREUD cada estímulo pro veniente do mundo exterior causa uma impressão sensorial e produz uma excita ção a qual vai provocar uma inscrição per manente no córtex cerebral As inscrições ficam aí armazenadas a confundirse entre si O armazenamento estratificado dessas inscrições constitui o que Freud denominou imagem mnêmica e quatro grupos de ima gens mnêmicas a acústica a cinestésica a de leitura e a de escrita O conjunto dessas quatro categorias de imagens formam a re presentação da palavra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 23 Essas especulações de FREUD sobre afasias especialmente no que se refere à escritura psíquica vão ressurgir na carta 52 dirigida a FLIESS Mas notável é o fato de que há mais de um século a título de estudar um problema de neurologia Freud construiu o esboço do primeiro modelo do aparelho mental que virá a ser desenvolvido no fa moso capítulo VII de Interpretação dos so nhos 1900 Afeto FREUD LACAN A etimologia da palavra afeto evidencia que ela alude a sentimentos que afetam tanto no sentido de afeições como de afeccões o psiquismo do sujeito Em sua formulação original FREUD postulou que a pulsão sexu al se manifesta pelo afeto da angústia a qual pode sofrer três tipos de transformações 1 Como sintoma histérico vertigem dispnéia suspirosa desmaio etc 2 Deslocamento em outro objeto temores fóbicos ou obses sivos como por exemplo de surgimento de uma tragédia iminente 3 Sua conver são em crises de angústia catastrófica de pânico Em seu trabalho O inconsciente 1915 FREUD afirma que se a pulsão não aparecesse sob a forma de afeto nada po deríamos fazer sobre ela O que de mais relevante destacou em relação à concep ção psicanalítica do afeto é que este é um dos registros de qualquer pulsão sendo o fator quantitativo da energia pulsional que caracterizaria o grau e tipo do afeto mani festo Na atualidade mais do que o fator quantitativo os analistas valorizam o aspec to qualitativo isto é na prática analítica procuram desvendar quais são os afetos que afetam o paciente Outro registro fun damental do destino da pulsão é o de sua representação no ego Para LACAN o que determina a qualidade do afeto são os significantes que estão amarrados às pulsões reprimidas Por exemplo um acidente qualquer sofrido por uma criança pode ter sido reprimido com naturalidade enquanto um mesmo aciden te em outra criança pode ter sido reprimi do no inconsciente com um significante de que ela quase morreu de modo que em situações semelhantes embora banais o afeto desse sujeito será o de angústia de morte iminente Agressividade e agressão Entendi ser útil juntar esses dois termos porquanto comumente são confundidos entre si não só na mente dos pacientes como também em muitos psicanalistas Por isso é importante na prática clínica estabe lecer a diferença entre ambos os conceitos Destarte agressão alude mais diretamente à pulsão sádicodestrutiva nos termos des critos por MKLEIN tão profunda e exausti vamente Agressividade por sua vez tal como revela sua etimologia ad gradior representa um movimento gradior para a frente ad uma saudável forma de prote gerse contra os predadores externos além de também indicar uma ambição sadia com metas possíveis de alcançar Em resumo na agressão predomina a pul são de morte enquanto na agressividade prevalece a pulsão de vida Se o analisan do não as discriminar corre o risco de blo quear seu pleno direito de liberar sua ener gia agressiva positiva por temer que seja perigosa e condicionar um revide persecu tório igualmente perigoso Agressão FREUD Embora FREUD sempre tenha entendido que as tendências agressivas de toda índole re presentam uma parte considerável das pul sões humanas a evolução do conceito de agressão sofreu sensíveis transformações ao longo de sua obra Inicialmente achava que as manifestações agressivas tinham um ca ráter reativo isto é constituíam uma res 24 DAVID E ZIMERMAN posta às frustrações e tinham como objeti vo a superação das frustrações Segundo o entendimento de FREUD de então essas re ações estavam intimamente vinculadas a certas pulsões sexuais especialmente pul sões sexuais predominantes nos níveis pré genitais da organização da libido Ademais dizia ele existem outras agressões que parecem surgir num terreno completa mente apartado da sexualidade Além dis so existe o enigma do masoquismo o fato de que em determinadas circunstâncias o princípio que habitualmente rege a condu ta humana o princípio do prazer parece ser posto de lado para deixar aflorar num primeiro plano tendências autodestrutivas Também do ponto de vista clínico sem que se confundam o masoquismo e o sadismo se acham intimamente ligados entre si são concomitantes e muitas vezes alternantes Finalmente FREUD integrou as diversas for mas pulsionais numa teoria que estabelece a existência de duas qualidades no psiquis mo uma autodestrutiva é a pulsão de morte a qual pode voltarse para o mundo externo e transformarse em uma pulsão destrutiva a segunda é Eros que se volta à busca de objetos e está empenhada em conseguir a integração em unidades cada vez mais elevadas À objeção de que na realidade não existe uma conduta puramen te autodestrutiva nem puramente busca dora de objetos Freud contestava com a hipótese de que os fenômenos psíquicos reais se compõem de diferentes mesclas das duas qualidades pulsionais Aichorn August Psicanalista austríaco nascido em 1878 e falecido em 1949 merece figurar como destaque na psicanálise por ter sido pionei ro nos estudos sob o ponto de vista psica nalítico da delinqüência infantil e juvenil estudos esses que aparecem no seu clássi co Juventude Abandonada 1925 AI CHORN que tinha a peculiaridade de ser um homem corpulento e que sempre es tava de preto afirmou que a pedagogia poderia funcionar para a criança como uma figura do pai mercê de uma transfe rência positiva Além do Princípio do Prazer FREUD 1920 Esse livro consta do volume XVIII p 17 e é considerado um dos mais importantes de FREUD A partir de um aprofundado estudo metapsicológico do fenômeno da compul são à repetição que então faz equivaler a uma pulsão FREUD nele introduz de forma definitiva o conceito de pulsão de morte e classificou as pulsões como sendo de vida e de morte A introdução da concepção de pulsão de morte foi retomada por MKLEIN com esse mesmo nome embo ra com uma concepção algo distinta de modo que esse escrito de FREUD se cons titui o introdutor de um novo paradigma da psicanálise Alexander Franz VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 25 ALEXANDER nasceu em Budapeste em 1891 e morreu em Nova York em 1964 Estudou e formouse em medicina na Hungria e emi grou para a Alemanha onde fez sua análi se didática e sua formação de psicanalista Aos 32 anos radicouse nos Estados Uni dos onde tornouse professor de Psiquia tria Clínica e em 1931 fundou o Instituto de Psicanálise de Chicago Seu grupo ficou sendo reconhecido como Escola de Chica go ALEXANDER fez alguns desvios em rela ção aos princípios clássicos da psicanálise vigente e instituiu os fundamentos da psi coterapia psicanalítica breve Esse fato lhe custou sérios atritos com a Associação Psi canalítica Americana e fez com que seu método passasse à história da psicanálise com o nome de psicanálise alexandrina Essa proposição técnica está fundamenta da na conhecida expressão de ALEXANDER experiência emocional corretiva a qual consiste essencialmente na tarefa de o ana lista mercê de uma atitude mais compre ensiva e afetiva ajudar no abrandamento do superego exigente e punitivo de deter minado paciente Comentário Embora haja uma parcial e significativa validade nessa postulação de ALEXANDER o termo corretiva sugere uma ação superegóica por parte do analista de modo que inspirado nos estudos de BION acerca de transformações penso que men cionada frase de ALEXANDER ganharia impor tante validação atual se a formulássemos como uma experiência emocional transfor madora ALEXANDER participou de muitos debates com os psicanalistas de sua época em aca loradas discussões quanto à aceitação ou não de suas idéias e sua prática como me recedoras de serem consideradas como in cluídas na verdadeira psicanálise A balan ça pendeu para o lado negativo ALEXANDER também se dedicou profunda mente a estudos relativos à medicina psi cossomática Descreveu as sete doenças psicossomáticas asma brônquica úlcera gástrica artrite reumatóide retocolite ulce rativa neurodermatose tireotoxicose e hi pertensão essencial atribuindo a cada uma delas uma especificidade do conflito psico gênico responsável pela somatização Seu livro essencial é o que aparece traduzi do como Psicoterapia analítica princípios e aplicação 1946 Alexitimia SIFNEOS e NEMIAH Concepção estabelecida pelas investigações dos norteamericanos SIFNEOS e NEMIAH em seus estudos sobre doenças psicossomáti cas Conforme sua etimologia a palavra alexitimia é composta dos étimos a priva ção lex leitura thimos glândula que era considerada responsável pelo humor alude à dificuldade de os pacientes somati zadores conseguirem ler suas emoções e por isso se expressam pelo corpo Para os pesquisadores mencionados na causa da alexitimia existe um substrato neurofisioló gico às dificuldades de simbolização das vivências emocionais a qual resultaria de uma falha das conexões neuronais entre o sistema límbico do cérebro responsável pe las emoções e o córtex cerebral responsável pela capacidade de síntese das percepções julgamento e antecipação das ações Alfa α BION Para evitar que seus leitores praticassem um reducionismo de seus conceitos originais para outros conceitos já conhecidos e con sagrados BION costumava empregar uma terminologia inédita impregnada de varia das simbologias Assim com essa primeira letra do alfabeto grego ao longo de sua obra BION designou três fenômenos psíqui cos 1 Elementos α 2 Função α 3 Trans formação α Todos estão descritos nos res pectivos verbetes específicos deste livro BION emprestou à função um papel de gran 26 DAVID E ZIMERMAN de relevância para possibilitar o funciona mento amadurecido do ego como a capa cidade de pensar fazer síntese abstrair sim bolizar sonhar etc Aliança terapêutica ELISABETH ZETZEL Denominação criada por EZETZEL psicana lista norteamericana Em um trabalho de 1956 concebeu um aspecto importante em relação ao vínculo transferencial ou seja o fato de determinado paciente apresentar uma condição mental tanto de forma cons ciente como inconsciente que lhe permite manterse verdadeiramente aliado à tarefa do psicanalista Com significados equivalentes essa concep ção aparece na literatura psicanalítica sob outras denominações como por exemplo aliança de trabalho de RGREENSON Comentário Cremos que cabe acrescen tar que uma aliança terapêutica não deve ser tomada simplesmente como um desejo consciente do paciente em colaborar e me lhorar tampouco como sinônimo de trans ferência positiva e muito menos como an tônimo de transferência negativa Pelo con trário cremos que o importante surgimento da última em sua plenitude aparentemente negativa muitas vezes se torna possível gra ças ao respaldo de uma aliança terapêutica Essa aliança deve provir pelo menos de uma parte do paciente comprometida e envolvida em assumir e colaborar verdadeiramente com a profundeza da análise enfrentando assim as inevitáveis dificuldades e dores Alienação LACAN Freqüente na obra de LACAN esse termo designa o fenômeno que consiste em o su jeito sentirse aprisionado no desejo no dis curso ou no corpo do outro Esse fenôme no radica numa primitiva etapa do espe lho em que a criança tem a imagem de si mesma confundida com a de sua mãe Etimologicamente o vocábulo alienação deriva do étimo latino alienu que significa aquilo que não é nosso que pertence a al guém De sorte que além do significado psicanalítico tal como foi definido acima também é empregado no vocabulário po pular para referir alguém que está distante apartado de si mesmo Alter ego Durante longas décadas em desuso na lite ratura psicanalítica essa expressão está voltando a ganhar reconhecimento pelo fato de caracterizar o fenômeno do duplo aná logo ao da especularidade Esses conceitos vêm adquirindo expressiva relevância na teoria e na prática psicanalítica especial mente para os pacientes com transtornos narcisistas A conceituação de alter ego apa rece mais explicitada no verbete específico Ego alter Alucinose BION Concepção de BION que a descreveu como um estado psíquico presente na parte psi cótica da personalidade e que consiste em um tipo de transformação resultante de ex cessivas identificações projetivas que dis torcem a percepção da realidade Não deve ser confundida com o conceito clássico de alucinação tal como ensina a psiquiatria embora eventualmente quando num grau excessivo a alucinose pode atingir a um estado de alucinação Nesse caso diferen temente da alucinose o sujeito não conse gue ter um juízo crítico da realidade em confronto com as suas distorções percepti vas psicóticas Para uma compreensão mais aprofundada do fenômeno da alucinação do ponto de vista analítico impõese a lei tura do artigo Sobre a alucinação On allucination de BION 1967 Do ponto de vista da etimologia um equí voco muito comum é julgar que o verbo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 27 alucinar derive de a privação lucinare do latim lux lucis isto é luz logo com a significação de uma percepção com falta de luz Na verdade a etimologia de alucinose resulta dos étimos gregos hallos outro gnosis conhecimento Na prática clínica essa concepção adquire importância se o analista estiver atento para as fugazes e pouco perceptíveis alucinoses como pode ser a impressão que algum pa ciente tenha durante a sessão de julgar que ouve ruídos de gravador por exemplo odores fumaça de incêndio etc e que podem permitir um acesso a importantes regiões do inconsciente Ambiente e os Processos de Matura ção O WINNICOTT 1965 É o título da tradução para o português edi ção Artmed 1983 de um importante livro de WINNICOTT na versão original em in glês The Maturacional Processes and the Facilitating Environment Studies in the Theory of Emotional Development Lon dres 1965 Tratase de uma coletânea de principais artigos escritos por esse autor entre 1957 e 1963 entre os quais cabe des tacar A capacidade para estar só 1958 Teoria do relacionamento paternoinfan til 1960 e Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self 1960 Ambiente facilitador Winnicott No início de sua obra fiel a suas raízes kleini anas WINNICOTT dava decisiva importância às fantasias inconscientes do bebê a ponto de considerálo o maior responsável pela cria ção do seu meio ambiente Isso pode ser evi denciado pela afirmativa que esse autor fez em 1936 em relação a um menino de dezoi to meses Observem de que maneira este pequeno cria para si um ambiente anormal No entanto aos poucos WINNICOTT foi dife renciandose de MKLEIN atribuindo uma progressiva e crescente importância ao ambiente exterior sobretudo a mãe real e as respectivas falhas ambientais Destarte WINNICOTT postula a necessidade de a mãe facilitar o desabrochar das potencialidades inatas do bebê e que acima de tudo não cometa sérias e sucessivas falhas no aten dimento de suas necessidades básicas Para sustentar a ênfase nesse aspecto WINNICOTT emprega uma terminologia ori ginal como ambiente facilitador mãe su ficientemente boa e holding e associa as falhas maternas e ambientais ligadas às pulsões sádicodestrutivas com transtor nos no desenvolvimento da personalida de como a do falso self tendência anti social etc Ambigüidade J BLEGER Esse termo ganhou maior relevância como conceito psicanalítico a partir dos estudos descritos pelo psicanalista argentino JBLE GER que destacou o fato de que esse esta do mental pertence a uma indiscriminação entre o eu e o outro devido a uma persis tência de núcleos fusionaisaglutinados com a mãe primitiva Assim para usar uma linguagem popular creio que podese dizer que o sujeito ambí guo simultaneamente acende uma vela a Deus e outra ao diabo Para ele as coi sas funcionam na base da máxima de que no escuro todos os gatos são pardos e a sua atitude predominante na vida cotidia na segue o mandamento do nem que sim nem que não antes até muito pelo contrá rio Dessa forma passa sua confusão a todos os circunstantes Muitos confundem o conceito de ambi güidade com o de ambivalência no en tanto não significam a mesma coisa En quanto a ambivalência resulta de um jogo de dissociações a ambigüidade tem raí zes muito mais primitivas de fusão narci sística 28 DAVID E ZIMERMAN Ambivalência BLEULER FREUD O conceito de ambivalência foi introduzido por E BLEULER em 1910 nos seus traba lhos sobre as características da esquizofre nia Consiste numa condição do psiquismo pela qual o sujeito tem concomitantemen te sentimentos idéias ou condutas neste caso alguns autores preferem o termo am bitendência opostas em relação a uma mesma pessoa ou situação como é o caso por exemplo de uma simultaneidade de amor e ódio aproximação e afastamento afirmação e negação FREUD destacou como aspecto principal o dualismo das pulsões de vida e de morte em oposição recíproca Em MKLEIN a am bivalência aparece enfaticamente evidenci ada nas relações simultâneas do sujeito com um mesmo objeto dissociado em objeto bom e mau idealizado e perseguidor Na obra de BION a ambivalência pode ser especialmente depreendida de seus estudos sobre vínculos de amor ódio e conheci mento nos quais destaca a permanente in teração das emoções versus antiemoções Para exemplificar um conflito ambivalente entre K e K significa que o sujeito pode querer conhecer K certas verdades peno sas e ao mesmo tempo desejar negar e repudiálas K American Psychoanalitic Association APsaA Fundada por EJONES em 1911 sofreu al gumas dissidências e foi robustecida por psicanalistas europeus que emigraram para os Estados Unidos como HARTMANN KRIS LOEWENSTEIN EERIKSON E JACOBSON MMAHLER entre outros Na atualidade a APsaA é composta por cerca de 40 socie dades filiadas além de inúmeros grupos distribuídos pelas cidades mais importan tes Calculase em torno de quase 4000 o número de psicanalistas filiados a essa As sociação além de aproximadamente outros 9000 que não são filiados à IPA Nos últi mos anos a psicanálise vem perdendo pres tígio nos Estados Unidos O número de can didatos para a formação exigida pela IPA tem decaído consideravelmente e ela sofre uma forte concorrência por parte de terapêuti cas alternativas especialmente por parte da psicofarmacologia Amor FREUD LACAN O sentimento de amor o mais cantado e decantado em todas as épocas tem sido estudado maciçamente dentro e fora da psi canálise sob todos os ângulos dimensões e inúmeros vértices de entendimento pos síveis No campo psicanalítico a qualidade do amor sempre está ligada a algum tipo de arranjo entre as pulsões de vida e de morte de que podem resultar as diversas formas de o sujeito amar e ser amado Comentário Cremos que na situação ana lítica não basta o paciente referir que ama fulano compete ao analista discriminar jun to com o paciente se é o caso de um amor suficientemente maduro e sadio tecido com doses de ternura sexo respeito recíproco companheirismo etc ou se o vínculo amoroso é predominantemente de nature za sadomasoquista ou simbiótico narcisis ta alienado no outro se é o caso de apo deramento ou paixão Tratandose de paixão também cabe verificar se prevalece o lado bonito da paixão como prelúdio do amor sadio ou o lado cego e burro de mui tas paixões e assim por diante FREUD em seus primeiros estudos deu uma relevân cia quase que exclusiva aos aspectos libidi nais inerentes ao amor A partir de Além do princípio do prazer de 1920 onde in troduziu a concepção da pulsão de morte FREUD passou a empregar a palavra grega Eros para designar as pulsões de vida que se opõem às de morte as quais ele deno minou Tânatos FREUD também abordou VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 29 vários outros aspectos do amor Vale referir os seguintes 1 A partir da afirmação de que muitos homens não podem desejar a mulher que amam e nem amar aquelas que desejam lançou as sementes teóricas que diferenciam o conceito de amor do de de sejo 2 No trabalho Uma introdução ao narcisismo de 1914 na parte que aborda a escolha de objeto por parte do homosse xual descreve dois tipos de opção a de tipo anaclítica na qual essa pessoa busca um necessário apoio ou ancoragem materno ou de tipo narcisístico caso em que o ho mossexual procura no outro aquilo que é ele próprio tanto no presente como no que foi no passado como também busca aqui lo que ambiciona vir a ser no futuro 3 No artigo Os instintos e suas vicissitudes de 1915 FREUD estuda o destino das pulsões sexuais destacando a freqüente possibili dade de o amor transformarse em ódio ou mesclarse ambivalentemente com o ódio Em seus estudos técnicos notadamente o de 1915 Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise FREUD prioriza a importância do que ele chamou amor de transferência BION destacou o aspecto vincular do amor em especial no que tange à emoção versus antiemoção do amor tal como aparece mais explicitado no verbete vínculo LACAN por sua vez ocupouse de forma original com os três aspectos que seguem 1O narcisismo do amor humano resultan te da etapa do espelho na qual a criança está alienada no corpo e na imagem que a mãe lhe reflete dela Assim está sempre no próprio sujeito aquilo que ele está amando no outro 2 A demanda alude a um dese jo insaciável oriunda de uma necessidade vital de o sujeito preencher o vazio de um objeto faltante promove um tipo de amor em que o sujeito ama no outro sobretudo aquilo que lhe falta 3 A falta resulta da castração Logo como o pai é o responsá vel pela lei da interdição resulta que o tipo de amor de alguma pessoa pode represen tar uma constante e às vezes desesperada procura inconsciente de um pai que por uma compulsão à repetição acaba sendo um pai castrador como é tão freqüente aparecer na clínica psicanalítica WINNICOTT dedicouse mais aprofundada mente às diversas facetas do recíproco amor da mãe com o seu bebê KOHUT ressaltou o aspecto de que muitas formas de amar resultam da busca de al guém que preencha as primitivas falhas empáticas BION estudou os múltiplos aspectos que es tão contidos no vínculo do amor Ver esse verbete Anáclise ou apoio ou ancoragem FREUD O étimo grego anaclisis origem de anácli se significa deitarse sobre apoiarse Em FREUD a noção de anáclise aparece mais claramente em 1915 na terceira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualida de Em alemão a palavra original empre gada é Anlehnung em francês é etayage em espanhol aparece como apuntalamien to e em português costuma ser traduzido como apoio No referido texto FREUD afirma que as pul sões sexuais só conseguem atingir a condi ção de independentes se estiverem apoia das nas pulsões de autoconservação base adas nas funções orgânicas Ele ilustra isso com a situação do lactante mamando no seio materno num primeiro momento com fome ele satisfaz sua necessidade enquanto num segundo momento da mamada ele se satisfaz com a erogenização do seio o que se repete com outras zonas erógenas Comentário Entendo que a palavra apoio em termos psicanalíticos está muito impreg nada com a significação contida na expres são psicoterapia de apoio razão por que 30 DAVID E ZIMERMAN me parece mais adequada a palavra anco ragem que define melhor um apoiarse agarrandose firmemente como FREUD queria conceituar Anaclítica depressão R SPITZ Com esse termo RSPITZ 1945 descreveu um estado depressivo que surge no primei ro ano de vida da criança devido a um afas tamento súbito e prolongado da mãe de pois de ter se estabelecido um bom vínculo com ela As características dessa depressão anaclítica são uma apatia generalizada Na maioria das vezes a situação volta ao normal quando a mãe retorna ou em caso contrá rio a depressão pode ficar muito agravada Essa última situação pode ser exemplifica da com a depressão anaclítica de caracte rísticas bem mais graves que Spitz deno minou hospitalismo porquanto tratase de criancinhas que ficam por longo tempo in ternadas em creches e hospitais sem a pre sença física da mãe As estatísticas mostram que essas crianças embora bem tratadas adoecem e morrem com mais facilidade do que as crianças em condições normais Isso devese ao fato de que a depressão abala o sistema imunológico o que torna o organis mo presa fácil para as doenças infecciosas Anaclítica escolha de objeto FREUD Tomando como base a ilustração dos dois momentos da mamada do bebê no seio da mãe tal como está referido no verbete aná clise podese deduzir que nessas condi ções o tipo de escolha do objeto vai recair nas pessoas que prioritariamente propici am cuidados maternais sob a forma de ali mentação higiene e proteção O conceito de escolha de objeto anaclítico aparece melhor descrito no verbete amor na parte em que são referidos os estudos de FREUD em relação à escolha de parceiros homossexuais Anagógica interpretação Esse termo provém do étimo grego anágos que significa elevar para o alto de modo que é uma expressão que pertence à lin guagem teológica Aplicada à psicanálise a palavra anagógica embora pouco utiliza da designa um importante e contemporâ neo modo de interpretação que se eleva do sentido literal e sensorial dos símbolos so nhos sentidos etc para o universal senti do espiritual Anal fase FREUD ABRAHAM Denominação de FREUD para o período evo lutivo situado entre os 2 e os 4 anos isto é entre a fase oral e a fálica Embora o termo anal se refira especificamente àquilo que é relativo ou pertencente ao ânus na psi canálise as manifestações da fase anal abrangem as que ocorrem em outras zonas corporais como por exemplo as proveni entes da musculatura e da ação motora Na criança esse período coincide com a a aquisição da linguagem e da capacidade de engatinhar e andar b o despertar da curi osidade que a leva a explorar o mundo ex terior c o progressivo aprendizado do con trole esfincteriano e da motricidade d os ensaios de individuação e separação e a comunicação verbal f o uso de brinque dos as brincadeiras e os jogos g a aquisi ção da condição de dizer não etc ABRAHAM em Un breve estudio de la evo lución de la libido a la luz de los transtornos mentales 1924 ampliou significativamen te os estudos relativos à analidade em es pecial os aspectos das pulsões agressivas Sintetizando as colaborações de FREUD e de ABRAHAM podemos destacar os seguintes aspectos principais 1 A fase anal é carac terizada pela predominância das pulsões tanto as sádicas como as eróticas que refe rem ao ânus uretra motricidade etc 2 Existe uma oposição entre atividade que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 31 gera uma atitude de dominação e uma passividade resultante do fato de que a zona anal funciona prevalentemente como fonte erógena receptiva 3 Existe na criança uma equivalência simbólica entre fezes filho pênis presentes e dinheiro 4 O ato da eva cuação pode ser usado como um recurso analexpulsivo como forma de a criança presentear ou agredir aos pais educado res ou ser utilizada de forma analreten tiva que freqüentemente expressa um es tado de autoerotismo ou de uma obsti nação 5 Esta última condição constitui se em importante matériaprima para a formação da neurose obsessiva Assim os traços obsessivos normais como os as pectos referentes à ordem à economia e a uma saudável disciplina se excessivos transformamse em compulsões avareza e tirania Analisabilidade conceito de técnica Antes de comprometerse a assumir o tra tamento de determinado paciente um ana lista deve ter critérios bem definidos quan to ao fato de que sua indicação de psicaná lise é a mais acertada possível para mini mizar o risco de possíveis futuras decepções para ambos Alguns dos elementos que compõem os cri térios para uma analisibilidade são 1 Uma motivação suficientemente boa para que rer fazer verdadeiras mudanças psíquicas 2 Uma avaliação do diagnóstico e do prog nóstico relativos não somente ao grau de patologia do paciente com os respectivos prováveis riscos além de levar em conta a reserva de capacidades positivas 3 A po tencialidade de contrair uma relação vin cular onde se instale uma aliança terapêu tica 4 Os fatores de ordem prática quanto às condições econômicas e equivalentes 5 A acessibilidade que o paciente demonstra para entrar em contato com as suas regiões inconscientes o que implica a necessidade de o analista avaliar o grau de amor às ver dades que demonstra a pessoa que busca um tratamento psicanalítico À medida que os psicanalistas contempo râneos foram melhorando seu equipamen to teórico e técnico os critérios de analisi bilidade tornamse mais flexíveis e descon tando os eventuais indícios óbvios de uma contraindicação para análise eles preferem observar as reais possibilidades ou impossi bilidades durante o curso da própria análise Análise com crianças Ver o verbete crianças Análise de uma fobia em um menino de cinco anos FREUD 1909 Esse trabalho mais conhecido com o nome do Caso do Pequeno Hans aparece no vo lume X p15 da edição Standard brasilei ra Ver o verbete Historiais clínicos Análise do Self KOHUT 1971 Em 1971 KOHUT publicou seu primeiro livro intitulado no original inglês The Analysis of the Self Análise do Self na edição brasileira Até então as proposições kohutianas estavam restritas aos conceitos de empatia de introspecção tal como apa rece no seu trabalho de 1959 Introspecti on empathy and psychoanalysis que mar ca o começo de sua divergência com a ideo logia psicanalítica da Associação Psicanalí tica Americana e da IPA e à patologia con cernente aos transtornos narcisistas Em Análise do Self KOHUT propõe para esses pacientes um tratamento especial baseado exatamente na interpretação e ela boração das transferências narcisistas Com isso procurase fortalecer o self desses pa cientes dando origem a um desenvolvimen to normal da libido narcisista Ver o verbe te transferências tipos de 32 DAVID E ZIMERMAN Análise didática Preocupados com uma expansão do núme ro de pessoas que se denominavam e se consideravam psicanalistas e que nem sem pre tinham condições técnicas e tampouco éticas ou morais para o exercício de uma tarefa de tamanha responsabilidade os ana listas pioneiros mais direta e intimamente ligados a FREUD propuseram a adoção de critérios minimamente rígidos para assegu rar um bom padrão de qualidade de for mação Ademais à medida que os analis tas responsáveis pela seriedade do movi mento psicanalítico no mundo foram per cebendo a importância das nuanças con tratransferenciais começaram a surgir as primeiras dúvidas a respeito de uma praxe que era relativamente comum qual seja a da permissão natural de que muitos desses pioneiros analisassem pessoas íntimas como amigos amantes concubinas e até mesmo familiares muito próximos A expressão análise didática foi criada em 1922 e a partir de 1925 durante a realiza ção do Congresso Internacional MAX EITING TON propõe que juntamente com as super visões de casos clínicos a prática da análi se didática fosse tornada obrigatória para todos os candidatos em formação no mun do todo Essa proposta foi plenamente apro vada e sua execução adotada pela IPA com a instauração de regras padronizadas e que com pequenas variações se mantêm vigen tes na atualidade Nos primeiros tempos alcançar a condição de fazer uma análise didática era cercada por uma auréola de idolatria o que não acontece nos dias atuais Embora haja um reconhecimento geral da eficiência da for mação analítica as regras impostas pela IPA vêm sofrendo muitas contestações quanto a um possível excesso de rigidez na sua aplicação tendo em vista algumas profun das transformações pelas quais o mundo está passando Tal fato vem merecendo por parte da IPA sérios estudos quanto a uma possível reavaliação de certos aspectos Análise leiga FREUD Essa expressão ou sua equivalente análi se profana era usada com bastante fre qüência para referir a análise clínica prati cada por nãomédicos fato que gerou for tes polêmicas entre os psicanalistas princi palmente após uma maciça emigração para a América do Norte de analistas europeus nãomédicos devido à ameaça da perse guição nazista FREUD publicou a respeito A questão da análise leiga 1926 que motivou fortes reações dos psicanalistas norteamericanos que eram unicamente médicos Por fim prevaleceu a posição ini cial de FREUD tal como é na atualidade com uma sólida e maciça participação de psicó logos clínicos em todas as sociedades psi canalíticas Análise Terminável e Interminável FREUD 1937 O trabalho está publicado no volume XXIII páginas 247 a 287 da edição Standard bra sileira subdividido em oito partes Tratase de um verdadeiro clássico que juntamente com Construções em Análise do mesmo ano foram os últimos escritos estritamente psicanalíticos de FREUD publicados em vida Nesse livro após quase 20 anos FREUD re toma a abordagem centrada nas questões técnicas da psicanálise O artigo como um todo dá impressão de pessimismo quanto à eficácia terapêutica da psicanálise de modo que dá uma constante ênfase a suas limitações às dificuldades do processo e aos obstáculos que se erguem no seu caminho Entre outros aspectos interessantes e insti gantes desse trabalho vale destacar que FREUD assinalou 1 Que existem três fato res decisivos para o sucesso ou fracasso do tratamento analítico a influência dos trau VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 33 mas a força constitucional das pulsões e as alterações do ego 2 Na psicanálise os mecanismos de defesa dirigidos contra a angústia da emergência daquilo que está recalcado ressurgem no processo analítico sob a forma de resistências contra a cura de modo que o resultado de um tratamen to analítico depende essencialmente da for ça e profundidade das resistências que acar retam uma alteração do ego 3 Fundamen tado num artigo que FERENCZI leu em 1927 FREUD afirma que entre os fatores que in fluenciam as perspectivas do tratamento analítico e se somam a suas dificuldades da mesma maneira que as resistências deve se levar em conta não apenas a natureza do ego do paciente mas também a indivi dualidade do analista Não devemos esquecer que o relacionamento analítico se baseia no amor à verdade e que isso exclui qualquer tipo de impostura ou engano 4 Consubstanciando seu pessimismo em re lação ao pleno êxito de um tratamento psi canalítico especialmente com mulheres volta a enfatizar o seu conceito de inveja do pênis ao afirmar que Nas mulheres também o esforço por ser masculino é egos sintônico em determinado período O desejo apaziguado de possuir um pênis des tinase a ser convertido no desejo de um bebê e de um marido que possui um pênis Freqüentemente temos a impressão de que o desejo de um pênis e o protesto masculino penetraram através de todos os estratos psicológicos e alcançaram uma base rochosa e que assim nossas atividades encontram um fim Análise transacional E BERNE ERIC BERNE 19101970 nascido no Cana dá radicouse em San Francisco Estados Unidos onde desenvolveu o método tera pêutico que denominou análise transacio nal e que o tornou célebre Afastandose do freudianismo clássico BERNE criou e de senvolveu essa modalidade de terapia que está próxima de uma terapia com a famí lia Consiste em restabelecer a comunica ção ou seja uma transação entre os mem bros de uma família ou de um grupo social sempre partindo das relações do ego do sujeito com o ambiente exterior levando em conta as transações entre as diferentes par tes que habitam o eu do indivíduo Analítica psicologia JUNG Ver verbetes Jung e psicologia analítica Angústia ansiedade FREUD MKLEIN M MAHLER WINNICOTT LACAN BION Esses dois termos estão juntos pelo fato de em geral aparecerem indistintamente na literatura psicanalítica como se fossem si nônimos embora muitos autores prefiram estabelecer uma diferença entre ambos Alguns definem ansiedade como um afeto profundo que nem sempre se manifesta clinicamente como que se referindo a al guma ânsia não reconhecida Essa defini ção está de acordo com a etimologia de ansiedade a qual provém do latim anxia anseio ânsia Angústia por sua vez indi caria a condição de sempre existir uma sin tomatologia de angústia livre medo de morrer enlouquecer taquicardia dispnéia suspirosa etc Outros autores estabelecem a mesma diferença porém de forma con trária Etimológicamente o termo angústia deriva do latim angor estreitamento Da mesma palavra derivam angina angustu ra etc que refletem bem a sensação de estreitamento de opressão precordial que acompanha os sintomas da angústia livre Embora a palavra ansiedade preencha me lhor uma noção mais ampla e profunda desse sentimento a expressão angústia fi cou mais popularizada e corrente possivel mente porque as descrições pioneiras de FREUD incidiram especialmente nas mani 34 DAVID E ZIMERMAN festações clínicas de angústia livre que acom panham as neuroses traumáticas atuais Na situação analítica a angústia é o afeto por excelência e é aquele que mais interes sa aos psicanalistas tanto pela sua polisse mia como também pelos inúmeros vértices de entendimento e de manifestações clíni cas As principais concepções de autores de diferentes escolas listados junto ao título deste verbete são apresentadas a seguir FREUD descreveu inicialmente a angústia automática que consiste no represamento de um excesso de estímulos e de excitações pulsionais que o ego do sujeito não conse guiu processar Isso funciona como uma si tuação traumática a ameaça do reprimido irromper na consciência determinaria a angústia Mais tarde mais precisamente em Inibições Sintomas e Angústia de 1926 FREUD descreveu a angústia sinal com a concepção de que contra eventuais peri gos o sujeito cria um sinal de alarme que faz com que situações banais pareçam alta mente ameaçadoras de forma muito des proporcional ao risco real Um exemplo de uma situação desse tipo seria o de um pequeno acidente sofrido por uma criança ir a significar dentro dela uma quase morte Em conseqüência todas as vezes que já adulto sofrer uma situação análoga e o alarme soar o sujeito a viven ciará como uma terrível angústia de morte iminente Assim a pessoa tornase ao mes mo tempo alarmada e alarmista Além da angústia automática e a sinal Freud tam bém referiu a angústia realista para estabe lecer uma diferença entre um sinal anteci patório exagerado e uma angústia natural e proporcional diante de um perigo real É interessante mencionar a modalidade da angústia de não ter angústia a qual resulta do fato de muitas pessoas sofrendo embora com os sinais exagerados de seu sistema de alarme sentem angústia só de imaginar que não têm angústia como se esta fosse a ga rantia de uma alerta contra perigos trágicos Num outro registro FREUD também descre veu a angústia de desamparo Hilflosigkeit no original alemão a angústia da perda de amor a de separação a do superego e sobretudo a angústia de castração que tornouse o eixo principal de seu edifício teórico MKLEIN descreveu a angústia de aniquila mento em outros momentos aparece em sua obra com o nome de angústia de de sintegração a qual corresponde à ação da pulsão de morte agindo do interior do psi quismo ameaçando a sobrevivência do sujeito Em outro registro a autora consig na as angústias de tipo persecutório repre senta uma ameaça de objetos maus e per seguidores que ameaçam os bons objetos internos angústia de tipo depressivo os objetos maus ameaçam a sobrevivência do ego e uma ansiedade confusional um misto ou um estado de transição entre as duas anteriores A partir dos estudos de MMAHLER e cola boradores os psicanalistas seguidores da Psicologia do Ego Contemporânea acres centaram a angústia que acompanha as fa ses evolutivas de simbiose e de diferencia ção com as subetapas desta última de in dividuação e separação ou seja descrevem a angústia de engolfamento quando pre domina o receio de o sujeito vir a ser en golfado ou vir a engolfar o outro tal como foi durante a díade simbiótica que ele teve com a mãe e a angústia de separação no caso em que um afastamento representa o antigo pânico de perder o contato com a mãe Em pacientes fóbicos é freqüente observar se a distância fóbica isto é não podendo aproximarse demasiadamente se afastam mas não suportam uma distância maior e duradoura e voltam a aproximarse num vaivém às vezes eterno WINNICOTT estudou a angústia própria de um estado de nãointegração não é a mesma coisa que desintegração a qual correspon de ao retorno a uma etapa evolutiva em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 35 que o ego do infante ainda não tinha con dições de discriminar seus diversos compo nentes corporais e seus aspectos psicológi cos ainda não integrados num todo único A esse tipo de angústia Winnicott denomi nou breackdown que significa uma sensa ção de catástrofe Na clínica o sintoma mais manifesto que o paciente evidencia é o de uma angustiante sensação de estar caindo no espaço Em outros momentos de sua obra o autor denomina esse tipo de angústia como de aniquilamento ou angústias inimagináveis ou ainda de agonias impensáveis ou seja o paciente não consegue pensálas Na obra de LACAN surge com relativa fre qüência o termo despedaçamento no fran cês original corps morcelé Como a pala vra diz alude a uma sensação de pedaços corporais próprios de um período da etapa do espelho e que por razões de imaturida de neurobiológica ainda não se juntaram BION além de conservar as angústias des critas por MKLEIN acrescentou sua concep ção de angústia catastrófica No caso o adje tivo catastrófica não deve ser tomado com o significado de tragédia mas sim como uma turbulência emocional que acompanha o pa ciente em fase de importantes mudanças psí quicas Por exemplo a mudança de um esta do psíquico típico da posição esquizoparanói de para um estado próprio da posição de pressiva é um excelente indicador da marcha exitosa da análise porém costuma vir acom panhada de uma intensa dor mental Angústia neurose de FREUD Nos tempos pioneiros FREUD deu realce especial a esse tipo de neurose e o diferen ciava da neurastenia Tanto a neurastenia como a neurose de angústia faziam parte do que ele denominava neuroses atuais ou seja as que resultariam de um acúmulo de libido sexual resultante de sua nãogratificação como aconteceria nos caso de coito interrom pido virgens insatisfeitas e abstenção sexual A neurastenia se caracterizaria por uma fra queza e adinamia generalizada geralmen te atribuída a um excesso de masturbação enquanto a neurose de angústia se manifes taria por sintomas de angústia livre no plano corporal como cefaléia opressão précordi al sensação de dificuldade respiratória FREUD também usava a expressão histeria de angústia que foi sua primeira forma de referirse aos quadros clínicos de fobias Na atualidade muitas dessas neuroses de angústia são entendidas e tratadas como quadros de síndrome do pânico Aniquilamento angústia de Ver angústia Anna O Historial clínico de FREUD Nome que entrou para a história da psicaná lise por ser a primeira paciente tratada graças ao acesso a regiões inconscientes Com 22 anos Anna O foi paciente de BREUER e não de FREUD como muitos equivocadamente imaginam porque BREUER fazia relatos por menorizados a FREUD que de 1880 a 1882 36 DAVID E ZIMERMAN tratoua pelo método hipnótico Seus sinto mas histéricos desapareciam após cada ses são de hipnose catártica porém reapareciam sob a forma de outros sintomas corporais Os biógrafos relatam que Anna O desenvol veu a fantasia de estar grávida de BREUER tra tase da conhecida gravidez fantasma dei xandoo apavorado ainda não conheciam o fenômeno da transferência e influindo deci sivamente no seu abandono da psicanálise Outro aspecto que celebrou a Anna O cujo verdadeiro nome era Bertha Pappen heim foi o fato de terem partido dela as expressões cura pela palavra e limpeza pela chaminé que caracterizam o método catár tico ou abreativo A versão em inglês des sas expressões talking cure e chimney sweeping tornaramse clássicas Além disso Anna O veio a ser importante figura do movimento feminista europeu que se insurgia contra a exploração da mulher Anorexia nervosa Transtorno alimentar que incide principal mente em mulheres bastante jovens e com freqüência vem acompanhada de amenor réia persistente Existem muitos graus de anorexia nervosa desde as pouco percep tíveis até as que representam extrema gra vidade com perda substancial de peso num estado caquético que requer internação hospitalar alimentação por sonda e sérios cuidados quanto a um real risco de vida No curso do tratamento psicanalítico des sas pacientes observase virtualmente que junto com um grave transtorno da imagem corporal sempre existe uma intensa confli tiva com a mãe internalizada representada como inimiga do desabrochar da sua sexu alidade Como conseqüência a jovem anorética evita comer como forma de não permitir qualquer proeminência abdomi nal que sequer remotamente possa lem brar a concretização de alguma fantasia de gravidez Anulação FREUD Mecanismo defensivo do ego que consiste em desfazer um pensamento fantasia ou ato que é inaceitável mediante o recurso de contra por num segundo momento imediato um pensamento neste caso tratase de situações obsessivas ou um ato resulta em compul são opostos ao primeiro de sorte a anulálo Um claro exemplo disso está contido numa passagem do historial clínico de Freud O homem dos ratos 1909 Esse paciente tira uma pedra da estrada por onde deveria pas sar uma carreta que transportava sua ama da para protegêla de um possível aciden te Em seguida recriminandose pelo ab surdo de seu ato sentese compelido a re colocar a pedra volta a retirála e volta a recolocála num interminável número de ve zes A situação constitui uma clara caracterís tica das neuroses obsessivocompulsivas Antianalisando O JOYCE MCDOUGALL O prefixo anti aqui não significa contra mas sim tem o significante equivalente ao de antimatéria isto é revelase pela ausência pelo contrário Com essa denominação JMCDOUGALL no seu livro Em Defesa de uma Certa Anormalidade 1987 descreve os pacientes que têm características peculiares dão a impressão inicial de serem casos bons aceitam bem o protocolo analítico e não aban donam o analista Porém o passar do tempo da análise no geral linear e fria revela que não se produziu mudança significativa Esses pacientes colaboram com o analista falam de coisas e pessoas mas não estabe lecem as relações e ligações entre elas pois lhes falta o senso de curiosidade e indaga ção Parece que não fazem regressões ma ciças mas sim que perderam o contato consigo mesmos Apesar disso tudo man têm uma estabilidade em suas relações ob jetais e recusam qualquer idéia de separa ção de seus objetos de rancor Apegamse à VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 37 análise como um náufrago à uma bóia sem esperança de alcançar terra firme e prosse gue MCDOUGALL mantêmse fiéis ao provér bio espanhol antes morrer do que mudar Aparelho psíquico FREUD O termo aparelho foi utilizado por FREUD porque na época pioneira da psicanálise ele estava impregnado pela visão mecanicista da medicina A primeira menção de Freud ao aparelho psíquico aparece em 1900 no consagrado A Interpretação dos Sonhos onde ele compara o aparelho psíquico com aparelhos ópticos Resumidamente FREUD conceituou que a função do aparelho psíquico consistiria em 1 O trabalho de transformar uma determi nada energia pulsional 2 Promover inscri ções e traduções das primitivas impressões psíquicas com as respectivas e distintas sig nificações de cada uma delas porém todas entrelaçadas entre si numa rede de signifi cantes 3 Processar sua transmissão de acordo com o modelo de um arco reflexo de caráter neurológico 4 Manter no me nor nível possível a energia interna do psi quismo conforme o princípio da constân cia 5 Efetuar uma diferenciação em siste mas ou instâncias psíquicas obedecendo a uma organização estrutural ou seja uma disposição de elementos psicológicos que ocupam um lugar definido na mente com uma certa ordem e com recíprocas in fluências FREUD pretendeu deixar claro que sua con cepção de uma coexistência de sistemas ocupando lugares na mente não deve ser entendida no sentido anatômico de locali zações cerebrais mas sim como uma for ma de definir que as excitações pulsionais transitam em lugares topos em grego daí teoria topográfica como o das vias do in consciente do préconsciente e do cons ciente A partir do seu trabalho de 1923 O ego e o id Freud deu nova dimensão ao aparelho psíquico elaborando de forma mais categórica sua teoria estrutural des crevendo a dinâmica do psiquismo em ter mos da importância do ego como media dora entre o id o superego e a realidade externa Aparelho para pensar os pensamen tos BION Em suas concepções originais sobre origem desenvolvimento e utilizações da capacida de para pensar BION com essa expressão defende a idéia de que os pensamentos melhor seria dizer os protopensamentos os quais equivalem aos elementos b pre cedem o pensador Assim as primitivas sen sações e emoções protopensamentos necessitam de um mínimo de condições mentais uma espécie de um aparelho para que o sujeito efetivamente possa pensálas com símbolos imagens e palavras Apego JBOWLBY 1969 JBOWLBY psicanalista britânico estudou durante mais de 40 anos o que descreveu como um vínculo afetivo primário do bebê com a mãe que se processa por meio do fenômeno do apego attachment no origi nal inglês Esse autor numa linha análoga à de SPITZ comprovou que as crianças pri vadas precocemente das mães passam por três fases que são denominadas protesto desesperança e retraimento 1 Na fase de protesto o bebê chora esperneia e volta se para qualquer ruído ou som que possa indicar a mãe ausente 2 A etimologia da palavra desesperança des sem esperan ça indica que a criança cansou de esperar sente tudo como perda loss em inglês Essa fase é análoga ao sofrimento com apatia do adulto 3 A fase de retraimento indica o de sapego emocional e corresponde à indiferen ça e desvalia da depressão adulta com o sé rio risco de entrar num estado de desistência 38 DAVID E ZIMERMAN Apoio ancoragem FREUD O conceito de apoio com o significado de agarramento a uma âncora representado num objeto protetor e provedor está des crito no verbete anáclise Aprender com a experiência BION 1962 Título de um dos mais importantes livros de BION em inglês Learning from experience Entre muitas outras contribuições originais acerca dos processos de conhecimento e do pensamento ele enfatiza quanto é fundamen tal para o crescimento individual do sujeito sua capacidade para aprender com as expe riências as boas e principalmente as más Segundo BION diante de uma situação difícil algumas pessoas se evadem mediante uma série de recursos defensivos de fuga enquan to outras enfrentam a dificuldade sofrendo uma dor mental porém desenvolvendo uma capacidade para modificar a realidade frus tradora Nas pessoas que não conseguem aprender com as experiências e isso depende dire tamente de um acesso à posição depressi va essa capacidade fica substituída pela omnisciência de omni tudo em grego ciência ou seja o sujeito racionaliza que não precisa aprender porque já sabe tudo Área ou zona livre ou sem conflito do ego Psicólogos do Ego Expressão psicanalítica é própria da escola da Psicologia do Ego e refere o fato de que nem tudo no psiquismo deve necessaria mente estar conflituado desde o início do funcionamento do ego Por exemplo no caso de uma tartamudez gagueira inici almente as mucosas labiais e bucais do su jeito seu aparelho de fonação em geral estavam unicamente a serviço da dicção É possível porém que posteriormente uma libidinização ou agressivização dessa zona corporal tenha conflituado esse aparelho de tal modo que antes de emitir uma palavra inconscientemente temeroso de que suas pa lavras representem carícias verbais ou projé teis destrutivos o sujeito tropeça nas palavras Dessa mesma forma inúmeras outras funções egóicas começam livres de conflitos e nada impede que possam vir a ficar conflituadas Essas áreas do ego livres de conflitos consti tuem o que HARTMANN denominou autonomia primária ou secundária Ver esse verbete Arco de tensão bipolar KOHUT Um dos pontos fundamentais da obra de KOHUT é de que o self se forma a partir da internalização dos arcaicos selfobjetos que podem ser de dois tipos um objeto do self grandioso o qual proporciona as ambi ções e metas e o outro pólo chamado por KOHUT de imago parental idealizada de cuja internalização surgem os ideais do self Isso tem como resultado um simesmo com estrutura bipolar Assim há a possibilida de segundo o tipo de relações objetais pri mitivas de que um sujeito tenha altamente investida a representação grandiosa de si mesmo e contrariamente o pólo dos ideais seja debilitado ou viceversa Entre ambos os pólos estabelecese um arco de tensão que determina as atividades bá sicas de uma pessoa para as quais se vê impelida por suas ambições e guiada por seus ideais A esses dois pólos o grandio so e o idealizado KOHUT acrescentou uma área intermediária descrita como o espaço das aptidões e dos talentos Arquétipos JUNG Com esse termo JUNG afirmava que todo indivíduo carrega uma herança de valores aspirações e metas que representam um atavismo de nossos ancestrais que estão aparentemente ocultos mas que de algu ma forma se manifestam no plano da espiri tualidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 39 Arrogância BION BION deu muita ênfase a esse aspecto do psiquismo que considerava inerente ao que denominou parte psicótica da personalida de Fazia questão de estabelecer diferença entre orgulho que é um sentimento natural e sadio e arrogância caso em que há pre dominância de onipotência omnisciência e prepotência Uma leitura mais aprofundada sobre este tema aparece no artigo de BION Sobre ar rogância On arrogance 1967 Associação livre de idéias regra da FREUD Essa regra técnica legada por FREUD com ponente maior da regra fundamental con sistia no compromisso assumido pelo ana lisando de associar livremente as idéias que lhe surgissem espontaneamente na mente e verbalizálas ao analista independente mente de suas inibições para julgálas im portantes ou não De certa forma FREUD aplicou essa regra nos primórdios da psicanálise desde 1894 quando usou consigo mesmo o mé todo da livre associação em sua autoaná lise especialmente na decifração dos seus sonhos através das descobertas propicia das pelas cadeias associativas No entan to ele somente instituiu categoricamente esse método associativo em 1896 quan do sua paciente Emmy von N cansada de ser pressionada para associar livre mente pediu a Freud que ele a deixasse falar livremente Por ocasião das cinco conferências que pro nunciou em 1909 nos Estados Unidos para onde viajou acompanhado por FERENCZI e JUNG FREUD reconheceu publicamente os méritos da Escola de Zurique e particular mente de JUNG por terem desenvolvido o teste da associação verbal que em parte lhe serviu como inspiração para sua técnica da associação livre de idéias aspecto que ele considerou da mesma importância que a atribuída aos sonhos e aos atos falhos Embora seu qualificativo essa regra técni ca na verdade nos tempos pioneiros não era propriamente livre O próprio FREUD usava como recurso a tática de exercer uma pressão manual na fronte do paciente dei tado no divã para instálo a falar FERENCZI também criticou em parte a aplicação obri gatória dessa regra tendo em conta que muitos analisandos os obsessivos principal mente podiam fazer um uso abusivo e es téril de seu livre discurso Comentário Cremos que na atualidade os analistas não mais consideram o discur so associativo do paciente uma condição sine qua non para uma análise e isso por três razões 1 É impossível que o paciente siga rigorosamente à risca essa combina ção o que pode gerar um acréscimo de culpas por não se sentir um bom cumpri dor de compromissos assumidos 2 Muitas livres associações favoreciam uma longa narrativa discursiva obsessiva ou vazia na forma ou no conteúdo 3 Na psicanálise con temporânea os analistas não só valorizam o silêncio como uma forma de linguagem como estão treinados para reconhecer as múltiplas formas da comunicação nãoverbal Esta última razão nos parece a mais impor tante Ataques a α BION BION deu importância extraordinária ao que denominou função α ver esse verbete Em Cogitações 1992 p145 assim se refere aos ataques a α O paciente tem a capacidade de exigir uma experiência emocional do ana lista e rejeitála Produzse um estado em que não se consegue lembrar do que aconteceu na sessão Alguns pontos ficam claros 1 O paciente recusa informações ao analista 2 O paciente desperta emoções inevitáveis e recusa qualquer material que permita a a ope rar e que portanto permita ao analista tirar 40 DAVID E ZIMERMAN proveito da experiência em benefício do pa ciente Será que isso não é elaborado demais Por que não simplesmente recusar informa ções Porque isso é essencial para que haja uma experiência da qual não se pode extrair nenhum benefício 3 O paciente tem a expe riência vivida ocasional por exemplo de ser abominado pela família 4 O paciente recu sa a e assim perde o senso de realidade Por exemplo não é capaz de ver a irresponsabili dade de continuar a análise Ao impedir a for mação de imagens visuais torna a experiên cia não armazenável ou utilizável tanto para o pensamento consciente de vigília quanto para o pensamento inconsciente de vigília ou para o pensamento onírico Ataques ao Vínculo BION 1959 Esse trabalho publicado originalmente em 1959 com o título de Attacks on Linking é considerado por muitos autores um dos mais originais e criativos da literatura psi canalítica Nele BION afirma que a parte psicótica da personalidade de um paciente faz ataques destrutivos a qualquer coisa que ele sinta como tendo a função de vincular um objeto ou uma idéia um conhecimen to com outro Considera especialmente os ataques destrutivos ao pensamento verbal propriamente dito BION criou essa termi nologia que às vezes aparece traduzido como ataque aos elos de ligação para refe rir a importância desse fenômeno psíquico que comumente aparece no processo psi canalítico e que consiste no fato de o paci ente não querer tomar conhecimento tra tase de um K de certas verdades peno sas externas e internas Essa situação pode mobilizar um ataque inconsciente aos elos de ligação entre por exemplo uma idéia e outra um sentimento e outro uma idéia e um sentimento a parte infantil e a adulta etc Igualmente afirma BION o paciente que necessita evitar o contato com verdades pode conseguilo atacando a capacidade de per cepção do seu analista por exemplo deixan doo confuso irritado entediado etc ou des vitalizando suas interpretações tal como acon tece na reversão da perspectiva O artigo Ataques aos elos de ligação está publicado no livro Estudos psicanalíticos revisados 1967 Atenção BION Importante função do ego consciente BION utiliza esse termo na sua Grade onde a aten ção ocupa um lugar na quarta coluna do eixo horizontal portanto indica um nível de evo lução e de utilização dos pensamentos Para BION a atenção àquilo que se passa no meio ambiente vai além da mera sensorialidade ela se institui como uma atividade indispen sável à importante função de discriminação Atenção e Interpretação BION 1970 Importante livro publicado em 1970 no qual dando um novo desenvolvimento às concepções já estudadas em dois livros an teriores Elementos em Psicanálise 1963 e Transformações 1965 BION tentou mos trar uma analogia e uma conjunção entre alguns conceitos psicanalíticos os dogmas religiosos e a matemática moderna Pode se dizer que com esse texto BION inaugura a fase mística de sua obra Alguns dos mais significativos aspectos abordados nesse li vro são 1 A valorização da intuição do psicanalista para captar as experiências emocionais que estão sendo vividas no vín culo analítico 2 A valorização de que o psicanalista consiga realizar o que ele cha ma de ato de fé 3 Volta ao estudo em maior profundidade da relação do místico com o establishment 4 Estudos sobre a os proble mas relativos à mentira e ao mentiroso b a capacidade para suportar a dor e a incerteza c a mudança catastrófica d a relação conti nenteconteúdo e a cegueira artificial do analista para poder ver melhor os estudos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 41 acerca dos estados de paciência e de segu rança f a linguagem de êxito g os mitos O livro conclui com uma pergunta muito instigante e atual Que tipo de psicanálise é necessária para o consciente Atenção flutuante regra da FREUD BION FREUD estabeleceu essa regra em Reco mendações aos médicos que exercem a psicanálise de 1912 com a seguinte afir mativa Não devemos atribuir uma impor tância particular a nada daquilo que escu tamos sendo conveniente que prestemos a tudo a mesma atenção flutuante Com essa frase ele pretendeu enfatizar a importância de o analista não estar na ses são com préjulgamentos e com uma escu ta selecionada para os assuntos que mais lhe interessam Somente nessa condição FREUD completava é que o analista pode atingir a uma verdadeira comunicação de inconscien te para inconsciente e que o ideal seria que o analista pudesse cegarse artificialmente BION embora reconheça que a denomina ção de atenção livremente flutuante de Freud seja a melhor de todas propõe a ex pressão sem memória e sem desejo Muitos analistas levaram essa recomendação de BION ao pé da letra o que é um equívoco devido à impossibilidade e à inadequação de abolir totalmente a memória e os even tuais desejos inevitáveis O que realmente BION enfatizava era que o analista na situa ção analítica não pode deixar que a memó ria como por exemplo algo que ele ouviu recentemente numa supervisão ou certo de sejo de que o seu paciente melhore por exemplo estejam saturando sua mente Um dos argumentos de BION a respeito do sem memória sem desejo e sem ânsia de compreensão consiste no fato de que essa condição do analista possibilita que surja em sua mente uma importante capacidade que em geral está latente em todos nós que é a intuição dos étimos latinos in tuere ou seja olhar para dentro uma espécie de terceiro olho a qual costuma ficar ofusca da quando a percepção do analista é feita unicamente pelos órgãos dos sentidos Ato de fé BION Conceito um tanto místico de BION No en tanto alude a um ato que se realiza no domí nio da ciência e que deve ser diferenciado do significado habitual de conotação religiosa Sobretudo não deve ser confundido com crendices mágicas Referese à necessidade de o sujeito acreditar que há uma realidade que não sabe o que é e que não está a seu alcance O ato de fé pode ser considerado uma con ceituação pertinente à prática analítica por quanto consiste numa atitude que requer a amálgama de ver e crer ver não com os olhos orgânicos mas sim com os olhos espirituais Ato falho FREUD Em Psicopatologia da vida cotidiana de 1901 FREUD descreveu os atos falhos como ações que saíam diferentemente daquelas que o sujeito pretendia conscientemente o que evidenciava uma formação de compro misso entre a intenção consciente e o que está reprimido no inconsciente FREUD estendeu a abrangência da expres são ato falho a outros tipos de erros análo gos como lapsos de língua erros de leitu ra de escrita perda de objetos etc e os considerou equivalentes a sintomas levan do em conta o fato comum do compromis so entre a intenção consciente e o desejo inconsciente Para LACAN todo ato falho é um discurso bem sucedido Atonement BION A expressão inglesa atonement diferen te de atonement que se traduz por expia ção sacrifício reparação foi utilizada por BION durante o período místico de sua obra para designar algumas pessoas que treina 42 DAVID E ZIMERMAN das segundo certas religiões crêem que duas pessoas se tornam uma é possível que atonement signifique para uma única mente Em um outro nível no campo analítico esse termo corresponde a uma intuição contem plativa em direção à verdade incognoscí vel e constitui ao mesmo tempo uma união mística e uma admiração silenciosa Atuação Ver o verbete Acting Aulagnier Piera Reconhecida e importante psicanalista nas cida em Milão na Itália em 1923 Viveu no Egito durante a II Guerra Mundial es tudou medicina em Roma e radicouse em Paris Analisouse com LACAN de quem veio a ser uma das discípulas prediletas tendo atingido o cargo de chefe do De partamento de Ensino da Escola Freudi ana de Paris fundada por LACAN em 1964 Entre outras atividades nessa época AU LAGNIER notabilizouse por realizar traba lhos abertos ao público em geral especi almente sobre os temas da feminilidade e das perversões Em 1968 surgiu um sério conflito na Esco la Freudiana em razão dos critérios dita dos por LACAN quanto à aceitação de can didatos ver o verbete passe AULAGNIER po sicionouse contra LACAN do que resultou sua saída dessa escola e a fundação no ano seguinte com outros analistas dissidentes como ela do chamado Quarto Grupo na atualidade é denominado OPLF Organiza ção Psicanalítica da Língua Francesa Esse grupo não é filiado à IPA nem segue a orto doxia lacaniana Seu enfoque prioritário está dirigido para a valorização do plano sociológico e para a tradição culturalista com ênfase nos movimentos que visam à libertação da mulher e da prevalência do grupal sobre o individual Dentre as contribuições originais de AULAG NIER cabe destacar 1 Seu conceito de pro cesso originário que ela considera anterior ao processo primário e que clinicamente se apresenta sob a forma de pictogramas 2 A descrição da existência nos indivíduos de uma potencialidade psicótica que pode vir ou não a manifestarse através de sinto mas 3 A proposição de uma Teorização Flutuante ou seja a valorização da escuta do analista assim destacando a priorização do vínculo analistaanalisando em lugar da tendência de muitos analistas de preferir o campo da literatura ou da filosofia 4 A idéia de que a pulsão de morte deve ser entendida mais como um desejo de não ter desejo o que ocasiona desinvestimentos e logo os torna vazios 5 A formulação da Teoria do Encontro a qual alude ao encon tro que se dá entre três elementos o corpo do bebê o corpo da mãe e o inconsciente materno Essa situação de encontro mãe criança possibilitará as três produções psí quicas processo originário processo primá rio e processo secundário 6 Os conceitos de violência primária que é inevitável pois alude às frustrações impostas à criança e necessárias para a constituição do ser e o de violência secundária que refere os ex cessos da violência anterior e a permanên cia do desejo materno de controlar o pen samento não respeitar a privacidade e a subjetividade da criança Dentre os muitos livros que publicou vale res saltar A Violência da Interpretação de 1975 Os Destinos do Prazer 1979 Em busca do sentido 1980 e o último O aprendiz de his toriador e o mestre bruxo 1984 Neste ao realizar suas construções e investimentos a autora classifica o eu como eterno aprendiz contrapondose de forma permanente ao mestre bruxo que é o id Até a sua morte diri giu a revista Topique PIERA AULAGNIER casou com o conhecido ideólogo Cornelius Casto riadis vindo a falecer em 1991 com 68 anos deixando uma grande legião de seguidores VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 43 Autismo Expressão inicialmente utilizada por BLEU LER para caracterizar um dos sintomas mais típicos de certos quadros de esquizofrenia Habitualmente o termo alude a uma grave atenção do psiquismo de certas crianças que ficam voltadas unicamente para si mes mas auto assim desligandose do mundo exterior de modo a transmitir a impressão de que elas olham não para as pessoas porém através delas É importante distinguir os dois tipos de au tismo o que é conhecido como doença de Leo Kanner e o chamado autismo secundá rio ou psicogênico O primeiro leva o nome do primeiro psiquiatra que descreveu a doen ça e que hoje sabemos tem origem orgâni ca por um defeito genético já tendo sido lo calizado o cromossomo responsável No se gundo tipo de autismo o secundário ou psi cógeno o ensimesmamento decorre de im portantes falhas no desenvolvimento emoci onal primitivo como está descrito no verbete apego Nesse caso o prognóstico é bem mais animador caso seja providenciado a tempo um tratamento psicoterápico adequado Muitos autores preferem usar a denomina ção de síndrome da privação emocional para os casos de autismo psicogênico jus tamente para não criar confusão que o sim ples nome autismo pode ocasionar Nem sempre é fácil fazer uma distinção diagnóstica entre o autismo orgânico e o psicógeno sendo que uma característica marcante consiste no fato de que freqüente mente a doença de Leo Kanner vem acom panhada de sintomas neurológicos que se manifestam através de um movimento ondu latório das mãos que lembram o bater de asa de uma borboleta daí o nome flapping Autística barreira ou cápsula FRANCIS TUSTIN A psicanalista britânica FRANSCIS TUSTIN em seus estudos com crianças que apresenta vam algum grau de autismo psicogênico descreveu o quanto elas diante das falhas dos cuidados maternos primários sentiram se impelidas a construir uma barreira ou concha manta ou ainda uma cápsula au tística uma espécie de escudo protetor contra os traumas externos Segundo TUSTIN essa cápsula autística além do provável fator de uma hipersensibilida de constitucional formase como conse qüência de excessivas defesas ou compen sações o que é diferente de defesas con tra para enfrentar os traumas relacionados à separação corporal da mãe Se o nasci mento psicológico tiver sido complicado especialmente por falha do útero mental da mãe não se formará o sentimento de uni dade com ela daí resultando um bebê de samparado e abandonado de modo a criar um buraco negro black hole São crianças que na prática clínica eviden ciam uma profunda necessidade de encon trar uma espécie de incubadora psicológi ca na pessoa do terapeuta que deverá pro piciarlhes algum tipo de experiência de li gação Isso muitas vezes é conseguido indo de encontro à criança com sucessivos estí mulos de modo a sacudir sacudir e sacu dir as emoções que estão escondidas atrás da barreira que funciona como um escudo protetor Além do livro de TUSTIN Barreiras Autistas em Pacientes Neuróticos Artmed 1990 cabe sugerir mais duas leituras o livro Com panhia Viva de ANNE ALVAREZ uma segui dora de TUSTIN e a transcrição de uma bela supervisão que MELTZER fez em São Paulo a respeito de um menino com características autistas publicado na Revista Brasileira de Psicanálise volume 24 de abril de 1990 Autoanálise FREUD foi o primeiro e provavelmente o único psicanalista a realizar uma autoanálise considerada completa o 44 DAVID E ZIMERMAN que ele fez através da análise sistemáti ca de seus sonhos com as respectivas cadeias associativas especialmente com o fito de elaborar a morte de seu pai Essa análise se processou mais intensiva e concretamente no período de junho a novembro de 1907 Tratase pois de uma análise atípica em que a fala foi substituída pela escrita se levarmos em conta que FREUD partilhava seus proble mas com FLIESS através de abundante troca de cartas A seguinte frase de FREUD que consta de seu trabalho de 1910 acerca da contra transferência permite medir a importân cia que ele atribuía à autoanálise ne nhum psicanalista pode ir mais longe do que aquilo que lhe permitem os seus pró prios complexos e as suas resistências in teriores Por isso exigimos que ele co mece a sua atividade por uma autoana lise e que continue a aprofundála en quanto aprende pela prática com os seus pacientes Quanto àquele que não reali zar tal autoanálise será melhor que re nuncie sem hesitar a tratar doentes ana liticamente Comentário Cremos que a questão le vantada por FREUD contida no trabalho de 1937 Análise terminável e ou inter minável pode ser respondida se disser mos que uma análise tornase terminável quando fica interminável ou seja quan do a figura do psicanalista fica introjeta da no sujeito in com a obtenção de uma suficientemente boa função psicanalítica da personalidade Nesse caso uma auto analise acompanha o exanalisando de uma psicanálise formal durante toda a vida Além disso é unicamente através do exer cício da autoanálise durante a sessão analítica que o analista terá condições de utilizar suas sensações contratransferen ciais a serviço de uma empatia com o ana lisando Autoconservação pulsões de FREUD Em Três ensaios sobre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD mostra que no início da vida as pulsões são unicamente de autoconservação que à moda de uma escolha anaclítica de objeto visa fundamen talmente a assegurar a vida do lactante im pulsionandoo à busca de um objeto mãe que lhe proporcione a satisfação de suas necessidades essenciais como são os cui dados com seu corpo amparo calor amor e um leite nutridor Como essas pulsões antes de qualquer outra coisa atingem exclusiva e diretamen te a sobrevivência do ego Freud também as chamava pulsões do ego ou interesses do ego Posteriormente a partir de Além do princípio do prazer 1920 Freud en globou as pulsões sexuais com as de auto conservação sob o nome comum de pul sões de vida Eros em oposição a pulsões de morte Autoerotismo FREUD Expressão de FREUD para estabelecer a opo sição do investimento libidinal em objetos exteriores em relação à gratificação eróge na que o bebê encontra no próprio corpo Nada melhor do que passar a palavra ao próprio FREUD neste trecho de Três ensai os sobre a teoria da sexualidade um clás sico de 1905 para definir autoerotismo O instinto não é dirigido para outras pessoas mas encontra satisfação no corpo do próprio indivíduo Os lábios da crian ça a nosso ver comportamse como uma zona erógena e sem dúvida o estímulo do morno fluxo do leite é a causa da sensa ção de prazer De início a atividade sexu al ligase às funções que atendem à finalida de de autopreservação nutrição e não se torna independente dela senão mais tarde Embora na atualidade seja muito difícil diferenciar exatamente autoerotismo de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 45 narcisismo nos primeiros tempos FREUD estabelecia uma distinção entre ambos atribuindo ao autoerotismo um surgimen to anterior ao do narcisismo Assim sem pre definiu o autoerotismo como a ativi dade dos diversos componentes parciais no nível de cada zona erógena tomada isoladamente em que as pulsões se satis fazem cada uma por conta própria O modelo disso que ele mais utilizou é o dos lábios que beijam a si mesmos Em relação ao narcisismo Freud considerava que ele ocorria quando já existia uma imagem unificada do corpo caso em que o ego seria tomado como objeto do in vestimento libidinal Automática angústia Ver angústia Autonomia primária e secundária Psi cólogos do Ego Essa expressão é utilizada pelos autores da Psicologia do Ego referindo a existência de áreas livres do ego sem conflitos que po dem funcionar com autonomia tanto de forma primária como secundária Considerase primária a autonomia relati va às capacidades inatas do ego que não conflituadas somente estão à espera de uma maturação neurobiológica e de um adequado desenvolvimento emocional Na autonomia secundária determinada área de funcionamento egóico já esteve confli tuada porém num segundo tempo a pró pria organização defensiva contra o confli to assumiu uma adequada autonomia de função psíquica Para exemplificar um su jeito pode erigir defesas obsessivas contra determinadas pulsões libidinais ou agressi vas podendo num segundo tempo essa mesma organização de natureza obsessiva solidificar uma sadia caractereologia com seus componentes típicos de ordem disci plina seriedade etc A Movie Title Plot Two sentenced to death find themselves trapped together in a crazy building The mad prison warden puts a number of devices into play devices designed to make them cooperate and hopefully kill each other Each day gives a new assignment and a new challenge and puzzles the protagonists into digging into their personal pasts B BION Essa letra na Grade de BION designa a se gunda fileira correspondente aos elemen tos α que são a matériaprima para possi bilitar o prosseguimento da formação dos pensamentos propriamente ditos Vide Fi gura 1 Balint Michael faleceu em Londres em 1970 Em 1926 com 30 anos organizou a Policlínica e o Instituto de Psicanálise de Budapeste Em 1938 emigrou para a Inglaterra onde tra balhou mais particularmente na Tavistock Clinic da qual foi um dos fundadores Ao tratar de pacientes com graves proble mas emocionais Balint deduziu que o prin cipal fator etiológico deste tipo de pacien tes bastante regressivos não seria tanto a clássica conflitiva entre pulsões e defesas mas muito mais um problema gerado pelo fato de que lhes faltava algo desde o iní cio do desenvolvimento emocional Para esse algo que faltava deu o nome de falta básica destacando a diferença com a conflitiva edípica Assinalou ainda a pre dominância de relações objetais de nature za diádica enfatizou o prejuízo da comuni cação em vista da linguagem prevalente mente de natureza préverbal Também aler tou os psicanalistas para o fato de que es ses pacientes têm um baixíssimo limiar de tolerância às frustrações e que reagem às interpretações não tanto pela sua adequa ção mas sim pelo fato de lhes causarem gratificação ou frustração BALINT também introduziu os conceitos de filobatismo e de ocnofilia Com o termo ocnofilia ele se referia à tendência de o su B Foi um importante médico psiquiatra e psi canalista considerado um dos sucessores das idéias de FERENCZI com quem ele se analisou Nasceu na Hungria em 1896 e 48 DAVID E ZIMERMAN jeito se ligar e se unir aos objetos primários num tipo de ligação de engolfamento que pos teriormente vai gerar estados fóbicos Com filobatismo ele conceitua o contrário isto é a tendência do ser humano de bus car grandes espaços de forma solitária Assim as pessoas filobáticas serão os futu ros alpinistas pilotos de asa delta esqui aqu ático etc numa demonstração de que desa fiam e vencem os perigos e fazemno sozi nhos BALINT assinala que o filobatismo cons titui uma negação uma formação reativa à ocnofilia isto é ao seu receio de ficar aprisio nado numa eterna dependência de alguém Uma área que mereceu especial atenção de BALINT é a que se refere aos problemas das relações do médico com o doente e com a doença Como decorrência dessa sua dedi cação BALINT criou os conhecidos Grupos Balint nos quais ele reunia uma média de 10 médicos de clínica geral e de forma sistemá tica propiciava o intercâmbio de experiências emocionais ligadas ao ato médico Visava com isso a aprimorar as condições dos clínicos no conhecimento e no manejo dos processos psíquicos inconscientes que cercam a relação com as doenças e com os pacientes Dentre muitos livros e inúmeros artigos vale mencionar as principais obras de BALINT Amor Primário e Técnica Psicanalítica 1952 O Médico seu Paciente e a Doença 1957 em colaboração com ENID BALINT sua esposa Técnicas Psicoterápicas em Medicina 1961 A Falta Básica 1968 Baluarte W BARANGER Termo criado por BARANGER para designar que para o analisando o baluarte repre senta um refúgio inconsciente de podero sas fantasias de onipotência Os tipos de baluartes são enormemente diferentes de um sujeito para outro porém nunca dei xam de existir É justamente o uso de balu artes que o o analisando não quer pôr em jogo porque o risco de perder o poria num estado de extrema desvalia vulnerabilida de e desesperança Em certas pessoas o baluarte pode ser a sua superioridade inte lectual ou moral sua relação com um obje to de amor idealizado sua ideologia sua fantasia de aristocracia social seus bens ma teriais sua profissão etc A conduta mais freqüente dos pacientes em defesa de seu baluarte consiste em evitar mencionar sua presença de modo que o analisando pode ser sincero na apresentação da maior parte de seus problemas e dos aspectos de sua vida porém se torna esquivo dissimulado e até mentiroso quando o analista se apro xima do baluarte Um segundo aspecto do baluarte consiste na possibilidade de que no campo analíti co se forme um conluio inconsciente uma cumplicidade que engloba tanto a resistên cia do analisando como a contra resistên cia do analista devido a uma colusão de aspectos inconscientes de um deles que correspondem ao do outro Baranger Willy VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 49 Esse notável psicanalista nasceu em 1922 em Bône Argélia colônia francesa naque les tempos e desde cedo viveu em Paris tendo realizado seus estudos na Universi dade de Toulouse de onde saiu gradua do em filosofia em 1945 Sua formação filosófica e humanista exerceu nele no futuro uma maneira particular e criativa de pensar a psicanálise Muito precoce mente aos 20 anos publicou em francês O Pensamento de Nietzsche Em 1946 juntamente com a sua esposa Madeleine emigrou para Buenos Aires onde come çou sua atividade como professor no Ins tituto Francês de Estudos Superiores Ini ciou sua formação psicanalítica em 1947 em análise com ENRIQUE PICHONRIVIÈRE Posteriormente veio a exercer a função de professor no Instituto de Psicanálise da Associação Psicanalítica Argentina APA até o ano de 1955 Nesse ano a convite de analistas uruguaios se radicou com a família no Uruguai Foi um dos fundado res da Associação Psicoanalítica do Uru guai e também da Revista Uruguaya de Psicoanálisis Em 1966 BARANGER retor nou com a família a Buenos Aires onde destacouse como um dos mais brilhan tes analistas didatas e autor de importan tes trabalhos e concepções psicanalíticas originais Profundo conhecedor de FREUD MKLEIN e LACAN BARANGER deixa um legado de mais de 50 trabalhos e cinco livros publicados que fora de qualquer dúvida definiram sua posição de verdadeiro mestre e exer ceram uma significativa influência inova dora na psicanálise latinoamericana Os livros escritos juntamente com colabora dores são Problemas do Campo Analíti co 1969 Posição e Objeto na Obra de M Klein 1977 O Conceito de Objeto em Psicanálise A Situação Psicoanalítica como Campo Bipessoal e Artesanias Psi coanalíticas o último publicado em 1994 ano de sua morte Barreira de contato FREUD E BION Expressão empregada pela primeira vez por FREUD para caracterizar sua concepção de que deveria haver uma espécie de barreira mental fazendo uma delimitação entre a consciência e os derivados pulsionais pro vindos das repressões inconscientes Caso contrário seríamos todos psicóticos e os sonhos não se manifestariam com os devi dos disfarces tal como acontece nos sonhos manifestos Ademais a hipótese da existência das bar reiras de contacto Kontaktschranke no ori ginal alemão é fundamental para a expli cação de uma das funções mais importan tes do aparelho neuronal concebido por Freud nos seus primeiros escritos a memó ria Sem a capacidade de armazenar infor mações o aparelho neuronal mental se quer seria um aparelho porquanto ficaria reduzido a um mero condutor semelhante a um fio que conduz energia elétrica mas que não é capaz de armazenála BION retomou a idéia de FREUD que nunca mais a desenvolveu e a descreveu sob uma nova perspectiva Afirmou que a barreira de contato seria composta de elementos α que se interpõem de forma permeável en tre o consciente e o inconsciente permitin do trânsito entre ambos os planos e favore cendo um trabalho de simbolização Quan do predomina a parte psicótica da personali dade do sujeito diz BION ao invés da barreira de contato com elementos α esse lugar ima ginário seria ocupado por um aglomerado de elementos β assim constituindo o que ele denominou como pantalha β a qual não tem condições de estabelecer interrelações entre si e que por isso não conseguem delimitar o consciente do inconsciente Bateson Gregory Maior figura da Escola de Palo Alto Cali fórnia BATESON foi um antropólogo nasci 50 DAVID E ZIMERMAN do em 1904 numa família de universitári os ingleses Referida escola é notabilizada especialmente por seus originais e aprofun dados estudos sobre as diversas facetas dos problemas da comunicação A contribuição mais importante de BATESON à psicanálise consiste na aplicação do seu conceito de duplo vínculo ou dupla men sagem ao fato de o filho receber conco mitantemente mensagens opostas que o deixam confuso Um prolongamento exces sivo disso poderia se constituir segundo BATESON num importante fator na etiologia da esquizofrenia Um exemplo de duplo vínculo pode ser o de uma mãe que ao nível manifesto pró prio da comunicação verbal expressa amor pelo filho enquanto num nível mais pro fundo provindo do inconsciente o rejeita É fácil imaginar os prejuízos que essa dissoci ação materna provoca na mente da criança deixandoa sem saber se tenta a aproxima ção ou se afasta se é amada ou repelida etc Bebês FREUD deu um significativo destaque aos bebês centralizando suas concepções na equivalência que existe na mente das cri ancinhas entre bebês pênis fezes e pre sentes MKLEIN enfatizou sobretudo a fantasia do infante de que o interior da mãe está cheio de tesouros concedidos pelo pai dos quais os mais valiosos são os bebês Por essa ra zão afirma KLEIN a criança nutre o desejo inconsciente de penetrar dentro da mãe e se apossar dos referidos tesouros com todo o cortejo de fantasias inconscientes daí de correntes EBICK uma seguidora kleiniana traba lhando na Clínica Tavistock desenvolveu e divulgou seu método de observação di reta de bebês em suas próprias casas des de o nascimento o que lhe possibilitou fazer descobertas originais como o da pele psíquica Seu método persiste até hoje como um excelente meio de aprimo ramento na formação de terapeutas de crianças WINNICOT e também BION dedicaram grande parte de suas obras aos estudos das primitivas relações reais e objetivas da mãe com seu bebê destacando sobre modo respectivamente a função holding e o continente materno com a capacida de de rêverie Behaviorismo FREDERICK SKINNER Refere um movimento psicoterapêutico considerado desviacionista da psicanálise que teve um lugar importante nos Estados Unidos Sob inspiração em especial de SKIN NER consiste fundamentalmente numa não valorização da localização consciente ou inconsciente da problemática psicológica do indivíduo Bastaria a simples observação da conduta do homem a exemplo do que se passa no reino animal para revelar como são aprendidas as condutas como respos tas a estímulos condicionadas conserva das e por um caminho inverso possíveis de serem revertidas sem necessidade de grandes especulações e procedimentos psi canalíticos A teoria behaviorista duramente castigada pelos próprios lingüistas e etólogos caiu num relativo descrédito De certa forma res surge hoje com muitas transformações e com um respaldo mais científico com a denominação de corrente cognitivocom portamentalista Nela é bastante valoriza da a necessidade de o paciente fazer bom uso de suas capacidades conscientes de modo a tomar contato com os transtor nos de sua conduta assumir a responsa bilidade por eles e aprender táticas de como manejálas Seria o caso para ficar numa situação única do tratamento de obesos e a sua conduta em relação à co mida VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 51 Bela indiferença dos histéricos A atitude do paciente de ignorar seus sinto mas foi denominada por CHARCOT segun do testemunho de FREUD de la belle indif férence des histeriques FREUD explicou que nesses casos por um lado o ego tenta pros seguir em seu esforço de reprimir os sinto mas como um derivado da sexualidade in fantil tal como antes havia reprimido a se xualidade infantil em si mesma Ao proce der desse modo o ego está se esforçando por separar os sintomas do resto da perso nalidade por ignorálos com uma atitude de total indiferença Por outro lado dizia FREUD já que os sinto mas são inevitáveis o ego desses pacientes se esforça para pôlos a serviço de seus pró prios fins de modo a poder extrair todas as vantagens do seu sofrimento Esse aspecto constitui o benefício secundário Benefício ou ganho primário e bene fício secundário Proveito que tiram os pacientes quase sem pre com forte caracterologia histérica de sua doença emocional Dizse ganho pri mário quando o transtorno psíquico repre senta uma forma de compensar sérios con flitos inconscientes não reconhecidos pelo sujeito e que geralmente se expressam atra vés de sintomas corporais O benefício tornase secundário quando o paciente percebe que a sua doença pode lhe render férias prolongadas do trabalho que detesta ou alimenta a fantasia de que está se beneficiando sem ter que dar nada assim ganhando um encosto uma mama ta palavras que bastam para esclarecer no que consiste o ilusório ganho Essas situações constituem uma dor de ca beça para os técnicos da perícia médica pois quanto mais tempo durar a concessão do benefício da licença maior tornase a cronificação da doença a ponto de ficar irreversível Esses pacientes mostramse mui to pouco acessíveis ao método psicanalítico Beta β elementos BION BION afirma que quando não conseguem ser transformadas em elementos α as pri mitivas impressões sensoriais e experiências emocionais permanecem como elementos β não passando de protopensamentos que assim não alcançam a condição de pensa mentos propriamente ditos de sorte que os elementos β devem ser evacuados para fora como nos actings por exemplo ou evacuados para dentro como em certas somatizações Por isso não se prestam para a função de pensamento e são vivenciadas como coisas concretas Comentário Tendo em vista sua condi ção de meros elementos a serem evacua dos Bion entende que não cabe utilizar a expressão função β No entanto é viável pensarmos que na situação analítica a maciça expulsão de elementos β que o pa ciente regredido faz dentro da mente do analista pode causar neste uma dificílima contratransferência perturbadora Também pode servir como a importante função de através da linguagem dos efeitos contra transferenciais o paciente fazer uma útil comunicação primitiva préverbal que não tem condições de verbalizar Bettelheim Bruno Nascido em Viena em 1903 BETTELHEIM era de origem judia razão porque na época da II Grande Guerra foi aprisionado nos cam pos de concentração nazistas de Dachau e Buchenwald de onde foi libertado graças aos insistentes apelos da comunidade internacio nal Após sua libertação vai para os Estados Unidos onde chega a assumir em Chicago a condição de professor de psiquiatria As reflexões que BETTELHEIM fez durante seu encarceramento deixaramlhe a convicção 52 DAVID E ZIMERMAN de que um ambiente inteiramente persegui dor e destruidor consegue provocar em qualquer ser humano um efeito psíquico devastador com uma profunda sensação de desamparo conduta robotizada e um estado psíquico de desistência da vida A partir daí pregou uma operação inversa no seu trabalho com crianças autistas a ne cessidade de lhes proporcionar um ambien te favorável acolhedor e respeitoso uma recusa de qualquer forma de violência e cla usura juntamente com uma severa restri ção medicamentosa quando esta for abu siva O método de BETTELHEIM chamado de ortogênico o étimo grego orthós quer dizer direito reto lhe assegurou um expressivo sucesso no tratamento de crianças psicóticas Suicidouse em meados da década de 90 O livro mais conhecido e divulgado de BET TELHEIM é Psicanálise dos Contos de Fadas onde aparece mais claramente seu interes se pelos mitos e contos de fadas Outro li vro seu reconhecido como muito útil e im portante é Freud e a alma humana 1982 onde BETTELHEIM demonstra que as tradu ções inglesas não só distorcem alguns dos conceitos centrais da psicanálise como tam bém impossibilitam ao leitor reconhecer que a preocupação principal de FREUD era a alma humana o que ela é e como se manifesta em tudo que fazemos ou sonhamos Bilógica IMATTEBLANCO Ao descrever o princípio da simetria MATTE BLANCO afirma que no desenvolvimento psíquico da criancinha há uma equivalên cia entre seu mundo interno e o externo Postula que a permanência desse estado mental resultaria numa lógica simétrica em que tudo é nivelado e o pensamento fun ciona concretamente em vez de uma ló gica assimétrica Esta seria própria de quem atingiu um desenvolvimento psíqui co normal no qual há discriminação das diferenças e também capacidade de abs tração Essas duas formas de lógica cons tituem a bilógica Para exemplificar vamos supor a situação de um bebê que está sendo amamentado pela lógica adulta assimétrica a mãe está alimentando enquanto a criança está sen do alimentada por ela No entanto pela ló gica simétrica o bebê julga que reciproca mente ele também está alimentando sua mãe Outro exemplo João é pai de Pedro Pela lógica assimétrica Pedro é filho de João enquanto pela simétrica Pedro tam bém é pai de João De forma equivalente se estiver agredindo seu terapeuta mediante um desprezo um paciente psicótico pela sua forma de pensar com lógica simétrica terá absoluta crença que o terapeuta também o está desprezando Os exemplos poderiam se multiplicar compro vando a importância dessa forma reversiva da utilização do pensamento o que confere uma significativa importância na clínica psi canalítica a essa concepção de bilógica Bion Wilfred Ruprecht Nasceu em 1897 na Índia pela circunstân cia de que seu pai lá executava então um serviço de engenharia de irrigação a man VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 53 do do governo inglês onde viveu até os sete anos Foi sozinho para Londres a fim de iniciar sua formação escolar Comple tou a sua titulação acadêmica na capital britânica se formando em medicina aos 33 anos e obtendo uma medalha de ouro em cirurgia Posteriormente fez sua formação psiquiátrica e psicanalítica tendo sua aná lise didática sido feita com MKLEIN BION descreveu as dificuldades que encon trou no seu meio familiar reconhecendo que o fato de ter vivido a infância na Índia deve ter contribuído para a formação de um modo seu de pensar com matizes algo místicas Teve uma impressionante forma ção humanística cabendo mencionar que estudou História Moderna em profundida de obteve licenciatura em Letras com dis tinção e fez estudos avançados em Filoso fia e Teologia Tinha conhecimentos de Lin güística e das línguas grega e latina além de ser leitor apaixonado dos clássicos Shakespeare em especial Foi um destaca do atleta em esportes universitários tendo ganho várias medalhas de campeão Exer ceu a psiquiatria na Tavistock Clinic e no exército britânico onde se alistou volunta riamente tendo participado ativamente de operações militares no campo de combate e ganho uma importante medalha por atos de bravura Galgou todos os postos da So ciedade Britânica de Psicanálise Em 1968 a convite radicouse em Los Angeles onde viveu e trabalhou o resto da vida tendo feito visitas científicas a Buenos Aires e por quatro vezes ao Brasil onde plantou sementes que continuam germinan do e fecundando com muita vitalidade Embora na atualidade tenha um reconhe cimento quase que generalizado nos pri meiros tempos sua obra despertou uma profunda dissociação entre adoradores e detratores Em novembro de 1979 em meio a uma viagem de saudosismo à Inglaterra de onde estava afastado há 11 anos BION veio a falecer após algumas poucas sema nas de evolução de uma leucemia mielóide aguda em Oxford aos 82 anos de idade Como esquema didático a obra de BION pode ser dividida em quatro décadas dis tintas 40 50 60 e 70 Na de 40 dedicou se a experimentos com grupos Na de 50 inspirado pelas observações dos mecanis mos psicóticos tal como postulava MKLEIN e que estavam subjacentes na dinâmica gru pal trabalhou intensamente com pacientes em estados psicóticos interessandose so bretudo pelos transtornos da linguagem do pensamento do conhecimento e da comu nicação Nos anos 60 aprofundou estes últimos estudos de modo que essa déca da reconhecida como sendo a mais rica ori ginal e frutífera pode ser chamada como a epistemológica A década de 70 por sua vez é considerada a de predominância mística Nesses 40 anos BION produziu em torno de 40 títulos importantes além de participa ções em conferências caracterizadas por um continuado diálogo com o auditório e a coordenação de seminários clínicos ou seja de supervisões coletivas sendo que todas essas contribuições foram reunidas e publicadas 1973 1992 1995 Conquan to uma primeira leitura dos textos de BION possa transmitir uma impressão de herme tismo por demais abstrato em grande par te porque deliberadamente empregou uma linguagem psicanalítica incomum a verda de é que sua obra é coerente e nunca se afasta das vivências emocionais experimen tadas na prática clínica Suas contribuições são tantas tão originais e com uma tal aplicabilidade na prática clí nica do diaadia de cada psicanalista que não cabe hesitar em reconhecêlo como um verdadeiro inovador das concepções psica nalíticas contemporâneas constituindo uma escola própria Devido à natural limitação de espaço deste Vocabulário seguem mencionadas somen te algumas das principais contribuições ori ginais de BION A nomeação de cada uma 54 DAVID E ZIMERMAN delas remete para um verbete específico Destarte cabe referir seus estudos sobre a dinâmica de grupos os elementos de psi canálise as psicoses a formação e função dos pensamentos e da capacidade para pensar os pensamentos a parte psicótica e a nãopsicótica da personalidade a função continente e a relação continenteconteú do as condições necessárias mínimas que um psicanalista deve ter como por exem plo a capacidade negativa a intuição a continência a paciência e a empatia os vínculos de amor ódio e conhecimento os problemas relativos ao uso ou não das ver dades a angústia denominada terror sem nome o fenômeno das transformações principalmente o das alucinoses os proble mas relativos à gênese e utilização dos pen samentos cujo registro gráfico aparece em sua famosa grade os problemas relativos aos transtornos da linguagem e da comu nicação a abertura de novos vértices de percepção recomendando para o analista uma visão binocular a importância da dor psíquica na consecução de um crescimen to mental as especulações sobre o psiquis mo fetal Embora não tenha escrito nenhum texto especificamente sobre técnica analítica transparecem na obra de BION importantes contribuições relativas à reciprocidade en tre os fenômenos que surgem no campo analítico e à dialética que se estabelece en tre o par analítico Bion W R 1985 Livro póstumo editado por sua esposa Fran cesca a partir de apontamentos esparsos do próprio BION que ela completou com notas cartas fotografias reprodução de pinturas de BION etc O volume I The Long WeekEnd traduzi do por PCSandler por Um Fim de Sema na Esticado tem como subtítulo Part of Life18971919 Esse tomo tem em torno de 300 páginas e é considerado uma legíti ma autobiografia de BION do período que se estende de seu nascimento até o fim da I Grande Guerra Está dividido em três par tes muito distintas entre si a primeira inti tulada A Índia a segunda A Inglaterra e a terceira A guerra O volume II que FRANCESCA BION publicou em 1985 está dividido em duas partes A primeira é All my sins remembered que Sandler traduziu por Todos os meus peca dos rememorados título inspirado no per sonagem Hamlet de SCHAKESPEARE relati vo ao famoso monólogo referente ao mo mento que intercala a decisão de Hamlet de partir para a ação justiceira com seu encontro com Ofélia Podese dizer que esse conflito homicidasuicida aludia ao trauma sofrido e nunca bem elaborado das circuns tâncias trágicas da morte de sua primeira esposa FRANCESCA reconheceu que este testemu nho triste em busca de si mesmo poderia dar uma falsa imagem do verdadeiro BION e por isso ela decidiu mostrar na segunda parte desse volume o O outro lado do gênio Cartas à família Bissexualidade Designa dois registros o biológico e o psi cológico A característica comum é a de que toda pessoa apresenta simultaneamente atributos masculinos e femininos Biologi camente a determinação do sexo é basea da na origem embrionária de como os cro mossomos X se desenvolveram a presen ça de uma única célula X no embrião de termina o sexo masculino e a de duas X o feminino Do ponto de vista psicológico devido à forma de resolução se positiva ou negativa da conflitiva edípica e ao jogo de identificações principalmente com as figu ras parentais vão resultar em cada sujeito características consideradas masculinas e ou predominantemente femininas Em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 55 muitas pessoas isso se processa indepen dentemente de seu sexo biológico consti tuindo aquilo que na atualidade é denomi nado identidade de gênero sexual É útil esclarecer um equívoco muito comum de modo a deixar bem claro que a bissexua lidade tanto a biológica quanto a psicológi ca até um determinado grau é uma caracte rística normal e universal O termo bissexua lidade também costuma ser empregado para as pessoas que concomitantemente exercem atividades tanto hetero como homossexuais Bleuler Eugen BLEULER 18571939 importante psiquia tra suíço foi diretor do famoso Hospital de Burghölzi onde sob a influência de seu colaborador JUNG incentivou um grande número de jovens psiquiatras a interessar se pelas polêmicas idéias de FREUD e ingres sar no campo da psicanálise BLEULER também é bastante conhecido pe los seus trabalhos sobre a demência preco ce que era o nome que davam ao que hoje denominamos esquizofrenias Bloco mágico Uma Nota sobre o FREUD 1925 Em um artigo com esse título FREUD visa a explicar o funcionamento da memória hu mana através de uma analogia com o blo co mágico uma espécie de brinquedo que surgiu naquela época Era um retângulo com uma capa de celulóide transparente e uma folha recoberta de cera Com um esti lete escreviase sobre a capa que aparen temente não ficava marcada ficando a es crita na folha recoberta de cera Para voltar a usar o bloco era necessário apagar sepa rando suavemente a capa de celulóide que examinada cuidadosamente ainda mostra va as inscrições da folha de cera e assim o bloco aparecia outra vez limpo e pronto para recolher novas impressões FREUD traçou um paralelo do bloco mágico com o aparelho psíquico sustentando que a folha transparente de celulóide que não fica marcada se comporta como o nosso aparelho de percepção que transmite sem reter recobre e protege as folhas internas diminuindo com sua intermediação a in tensidade dos estímulos externos A folha interna depois de apagada e limpa ainda fica marcada sedimentandose sobre ela as sucessivas inscrições Isso é análogo a nos sos sistemas mnêmicos inconscientes Esse trabalho aparece no volume XIX p 285 da Standard Edition brasileira Bollas Christopher É considerado um dos mais importantes membros da Sociedade Britânica de Psica nálise mais particularmente de seu Grupo Independente em razão da originalidade de muitos de seus conceitos escritos em lin guagem de alta qualidade literária embora muito acessível autêntica e independente BOLLAS bacharelouse em História na Uni versidade da Califórnia em Berkeley e 56 DAVID E ZIMERMAN depois conquistou o título de PhD em Lite ratura na Universidade de Buffalo Na Ca lifórnia logo após sua graduação em His tória passou dois anos trabalhando com crianças autistas e crianças esquizofrênicas o que o levou a interessarse pelos traba lhos de FTUSTIN MKLEIN e WINNICOTT os quais juntamente com BION cuja obra co nheceu posteriormente foram seus princi pais inspiradores psicanalíticos Em 1973 BOLLAS foi para Londres onde fez sua formação de psicanalista integran do o Grupo Independente em 1980 voltou aos Estados Unidos Alguns dos conceitos psicanalíticos desen volvidos por BOLLAS estão contidos nas ex pressões objeto transformacional o conhe cido nãopensado a dialética da diferença entre muitos outros mais Sua bibliografia consta de A Sombra do Objeto 1987 seu primeiro e notável livro seguido de Forças do Destino 1989 e mais recentemente Being a Character Psycho analysis and Self Experience Borderline OTTO KERNBERG Psicopatologia clínica também conhecida com os nomes de paciente fronteiriço bor der quer dizer fronteira em inglês ou de casos limites entre outros Até há pouco tempo essa denominação designava o es tado do psiquismo de um paciente que cli nicamente estivesse na fronteira limítrofe entre a neurose e a psicose Embora haja evidências clínicas que confirmem essa afir mativa na atualidade os estudiosos desses casos borderline dentre os quais é justo destacar OTTO KERNBERG preferem conside rar tal condição psíquica uma estrutura com características específicas e peculiares Esse autor desde 1975 em sucessivos trabalhos vem estudando essa psicopatologia com ines timáveis contribuições e reivindicando classi ficação dos borderline como pacientes de uma entidade clínica específica e singular KERNBERG destaca os seguintes aspectos dessa entida de prejuízo do juízo crítico e do sentimento de realidade permanente sensação de ansie dade difusa de sensação de vazio e de mani festações neuróticas polissintomáticas forte presença daquilo que BION chamaria de par te psicótica da personalidade actings freqüen tes muitas vezes sob a forma de uma sexua lidade perversa sadomasoquista O mérito maior desse autor foi a descrição da síndro me da difusão da identidade Do ponto de vista do tratamento com o método psicanalítico os autores mais ex perimentados nesses casos concordam que os pacientes borderline podem não ser apenas os mais frustrantes mas também os mais gratificantes de tratarse Bowlby John Nascido em 1907 e falecido em 1990 foi um eminente psiquiatra e psicanalista e uma das maiores figuras do movimento psica nalítico britânico Era especialista em psi quiatria infantil tendo sido diretor da Ta vistock Clinic de Londres Como psicana lista pertencia ao Grupo dos Independen tes da Sociedade Britânica de Psicanálise Foi analisado por JOAN RIVIÈRE e fez a sua primeira análise de crianças com MKLEIN Em 1940 começou a publicar trabalhos sobre a criança enfatizando a mãe real e o ambiente a realidade social e a forma de educação que a criança tivera assim diver gindo e opondose à doutrina puramente kleiniana que colocava a tônica nas fanta sias inconscientes Três aspectos marcaram a obra de BOWLBY o apego a perda e a separação Depois de 1950 foi emprestando crescente importân cia aos aspectos biológicos de modo a com parar o comportamento humano ao das espécies animais bastante fundamentado na etologia e nos conceitos darwinianos da biologia Isso lhe custou severas acusações de que ignorava o inconsciente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 57 No fim da década 40 dirigiu pesquisas so bre crianças abandonadas ou privadas de lar cujos resultados tiveram repercussão mundial o tratamento psicanalítico do hos pitalismo da depressão anaclítica das ca rências maternas a prevenção das psico ses Em 1950 foi nomeado assessor da ONU onde suas teses tiveram papel consi derável na adoção de uma carta dos direi tos da infância No fim da vida como uma forma de reco nhecimento a seu inspirador escreveu uma biografia de Charles Darwin Os principais livros de BOWLBY são Cuida dos Maternos e Saúde Mental 1951 e Apego Perda Separação em 3 volumes 1969 1973 1980 Breuer Josef No entanto foi no campo da psicanálise que ele passou à história ao usar com a paci ente Anna O o que denominou método catártico e ter sido o autor da observa ção fundamental relativa à descoberta de uma relação dos sintomas com os acon tecimentos traumáticos psíquicos Esse fato levou FREUD num certo momento de sua obra a atribuir a BREUER a condição de paternidade da psicanálise equívoco que o próprio FREUD posteriormente veio a desfazer Foi BREUER quem iniciou FREUD no interesse pelo recurso da hipnose e lhe falava de Anna O antes da ida deste a Paris para es tudar com CHARCOT Por iniciativa de FREUD publicaram conjuntamente em 1895 Es tudos sobre a Histeria No mesmo ano BREUER afastase de FREUD e da psicanálise por duas razões o susto que tomou com a transferência erótica de Anna O que cul minou com uma gravidez fantasma dela e radicais diferenças com FREUD em relação à etiologia sexual das neuroses na qual não acreditava preferindo a teoria dos estados hipnóides como determinantes dos sinto mas histéricos Brincar brinquedos e brincadeiras M KLEIN e DWINNICOTT KLEIN e WINNICOTT foram os autores que mais se dedicaram ao estudo dos brinque dos destacando seu papel estruturante no desenvolvimento emocional da criança MKLEIN foi a mais importante pioneira a elaborar uma técnica psicanalítica para crianças utilizando a observação de como brincavam e as respectivas fantasias in conscientes Apontou uma equivalência entre a forma de brincar e as associações livres na análise dos adultos Essa técnica de MKLEIN foi duramente cri ticada por ANNA FREUD que também utili zava os brinquedos porém de forma pre cipuamente pedagógica A polêmica en Foi um notável clínico austríaco nascido em 1842 e falecido em 1925 No campo da medicina é reconhecido por importantes trabalhos relativos à autoregulação da res piração ainda hoje os médicos estudam o conhecido reflexo de HeringBreuer além de seus estudos sobre a participação do la birinto no controle do equilíbrio postural 58 DAVID E ZIMERMAN tre as duas eminentes psicanalistas acom panhadas pelos respectivos seguidores causaram as célebres controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanáli se tal como está descrito no verbete cor respondente Brincar e a Realidade O WINNICOTT 1971 Em 1971 Winnicott publicou Playing and Reality O Brincar e a Realidade no qual dando continuidade a suas idéias relati vas ao brincar aos brinquedos às brin cadeiras e aos jogos das crianças em di versos capítulos enfatiza que o brincar 1 representa um portão de entrada para o inconsciente 2 é essencialmen te criativo 3 através do fazdeconta fun ciona como um estímulo para elaborar a fase de transição das fantasias do mundo subjetivo para a realidade do mundo ob jetivo 4 representa uma forma de desfa zer a fase em que ainda está fundida com a mãe e sente que esta está se afastan do 5 é uma forma de a criança elaborar as suas fantasias inconscientes É útil ressaltar que o aspecto sadio de saber brincar acompanha os adultos a vida intei ra e pode representar um excelente atribu to para o psicanalista O livro O Brincar e a Realidade consiste numa coletânea de diversos artigos impor tantes publicados anteriormente A título de exemplificação vale destacar Objetos e fenômenos transicionais 1951 e o Pa pel de espelho da mãe e da família no de senvolvimento infantil1967 Bulimia Quadro clínico de transtorno alimentar que somente a partir de 1979 adquiriu a condição de entidade clínica própria e que está ficando cada vez mais freqüente na clínica psicanalítica Acomete princi palmente moças jovens Pesquisas em uni versidades americanas apontam um per centual de 5 a 20 de alunas bulímicas Ao mesmo tempo cerca de 30 das pes soas que buscam tratamento para a obe sidade sofrem de bulimia A palavra vem do grego bou prefixo de intensidade derivado de bous boi lim fome sufixo ia Bulimia significa por tanto fome de boi o que bem traduz as principais características dessa psicopato logia que segundo Zuckerfeld 1992 são as seguintes 1 Episódios recorrentes de voracidade com um consumo de grande quantidade de alimentos geralmente muito calóricos num curto período de tempo os próprios pacientes costumam chamar esse impulso irrefreável de ata que 2 O ataque costuma vir seguido de uma purga através de um vômito auto provocado 3 O vômito por sua vez ha bitualmente provoca um estado de âni mo depressivo com pensamentos auto destrutivos 4 Tentativas repetidas de per der peso em grande parte pela influên cia da mídia na sua exaltação da beleza com dietas exageradamente restritivas provocação de vômitos uso de diuréti cos e laxantes assim alternando banque tes e jejuns de modo a também apresen tar grandes oscilações de peso Esses ci clos quando muito freqüentes podem produzir sérias conseqüências físicas como desidratação desequilíbrio hidrele trolítico arritmias cardíacas contraturas musculares perda do esmalte dental transtornos menstruais etc 5 O grupo de risco mais propenso a sofrer dessa psico patologia é constituído por mulheres jo vens inteligentes com o espírito de lide rança porém com uma necessidade cons tante de reasseguramento de sua auto estima que no fundo é muito baixa 6 Clinicamente é comum observarmos na mesma pessoa uma alternância entre a bulimia e a anorexia nervosa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 59 Buracos negros FRANCIS TUSTIN Expressão de FTUSTIN para designar os vazios e uma aparente ausência quase que absoluta de emoções de que sofrem as crianças autistas Certamente a auto ra deve terse inspirado na terminologia própria da moderna física cósmica na qual buraco negro referese a uma espé cie de autofagia da luminosidade das estrelas que ficam escuras e opacas embora continuem conservando uma energia potencial Ver o verbete vazio patologia do I want one of those for my birthday Hey Friends Look at this fabulous product Its a candle and its a mermaid Isnt she adorable She smells like ocean breeze and more Its 100 soy wax clean burning and ecofriendly Perfect gift for your loved ones or yourself from Amazon check link in the Bio Candle Mermaid SoWax UniqueGift C BION Essa letra na Grade de BION ocupa a ter ceira fileira a que designa a etapa evolu tiva dos pensamentos que estão no regis tro onírico sob a forma de sonhos deva neios e mitos Dessa forma a função de rêverie do analista também pode ser en quadrada na fileira C A letra C também aparece nas traduções em português da obra de BION designan do a inicial da palavra conhecimento do original knowledge e da correspondente letra K Cadeia rede de significantes LACAN Uma das mais importantes concepções de LACAN segundo a qual desde que nasce através do discurso dos educadores o su jeito passa a formar parte de uma cadeia de significantes na qual deverá estruturar se sendo justamente o inconsciente essa cadeia articulada Assim tal qual se passa nas conexões dos fios de uma rede também os diversos sig nificantes pelo fenômeno psíquico do des lizamento se interconectam Ver os verbe tes deslizamento e significante Calma do desespero conceito de prá tica clínica BION BION atribuiu grande relevância à dor psí quica que o analisando sofre no processo analítico quando está fazendo mudanças profundas e verdadeiras no seu psiquismo a ponto de poder atingir um estado de um sofrimento turbulento A esse sofrimento Bion denominou mudança catastrófica O contrário seria um estado de excessiva cal ma sem o mínimo de angústia na situação analítica e isso pode estar indicando que pode estar havendo um conluio de acomo dação e resignação Para comprovar sua afirmação de que o fato de um paciente estar melhor do ponto de vista psicanalítico equivale a estar pior do ponto de vista sintomático e de sofrimento do analisando BION contrasta essa situa ção com a que ele chama de calma do de sespero que consiste em que aparentemen te tudo está bem na vida mas na análise do paciente isso não passa de resignação A perspectiva de que esteja surgindo uma possibilidade de mudança de um resgate do crescimento pode produzir muitas per turbações de sentimentos catastróficos BION ilustra essa idéia num seminário clíni co com a seguinte imagem metafórica C 62 DAVID E ZIMERMAN Imaginemos sobreviventes de um naufrá gio eles estão flutuando à deriva em cima de um escombro Não estão assustados apenas desesperançados e famintos No momento em que outro navio surgir o medo a angústia o terror tudo vai apare cer Desaparece a calma do desespero e eclode o pavor o medo e a ansiedade Em princípio sua situação melhorou estão mais perto de serem resgatados e fora de perigo É de se supor que estariam se sentindo melhor Mas não é o que acontece ficam piorClinical Seminars and Four Papers 1987 p 4 Campo analítico BARANGER Expressão cunhada pelo casal BARANGER psicanalistas argentinos que no livro Pro blemas del Campo Psicoanalítico 1962 enfatizam os aspectos transferenciaiscon tratransferenciais que permeiam toda situa ção da análise de modo que de alguma forma o analista e o paciente estão sempre interagindo e se influenciando reciproca mente BARANGER afirma Quando estive traba lhando no Hospício com PICHONRIVIÈRE me dei conta claramente de algo que já sabia desde MERLEUPONTY que o objeto não é objeto e o sujeito não é o sujeito e que o objeto e o sujeito se dão como cam po e se definem um pelo outro Quan do falamos do campo analítico entende mos que está se dando uma estrutura produto dos integrantes da relação mas que por sua vez estão involucrados num processo dinâmico e eventualmente cria tivo O campo é uma estrutura distin ta da soma dos seus componentes assim como uma melodia é distinta da soma das notas musicais BION foi o autor que mais consistentemente apontou múltiplas modalidades resisten ciais transferenciais comunicacionais es pirituais e vinculares em geral que confi guram o campo analítico e que tornaram o exercício da psicanálise mais complexo porém bastante mais fascinante Capacidades Psicólogos do Ego WINNICOTT BION Diversos autores empregam esse termo no sentido psicanalítico com significados espe cíficos tal como na amostragem que segue A escola da Psicologia do Ego destaca so bremaneira as capacidades do ego as ina tas e as adquiridas as detidas no desenvol vimento e as que potencialmente estão com possibilidade de serem desenvolvidas e as que sofrem influência do inconsciente e as do ego consciente Dentre outras tantas mais cabe destacar a capacidade para fazer uma adequada adaptação à realidade e a de síntese como uma função nobre do ego WINNICOTT descreveu seu conceito original de uma capacidade para ficar só a qual consiste na aquisição por parte da criança de uma confiabilidade na mãe de sorte que ela pode inicialmente estando junto com a mãe ficar voltada para seus brinquedos enquanto a mãe está voltada para seus afa zeres particulares sem que uma interfira com o espaço da outra às vezes sem se comunicarem verbalmente durante um longo tempo porém uma confia na dis ponibilidade da outra Essa situação equi vale à progressiva formação dos indispen sáveis e estruturantes núcleos básicos de confiança BION estudou outras muitas capacidades Cabe destacar algumas como a capaci dade de rêverie por parte da mãe como fator primordial no desenvolvimento da criança No terreno da prática analítica ele descreveu a capacidade de o anali sando desenvolver a função psicanalíti ca da personalidade como requisito bá sico para vir a prosseguir sua autoanáli se Também descreveu a capacidade ne gativa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 63 Capacidade negativa conceito de prá tica analítica BION Expressão alusiva à condição necessária mínima que o analista deve conter dentro de si no curso da situação analítica a emer gência de sentimentos muito difíceis como a de não entender o que está se passando com o paciente e com ele próprio as dúvi das incertezas e principalmente aos an gustiantes sentimentos contratransferenciais nele despertados Dessa forma podese dizer que a capaci dade negativa do analista é altamente po sitiva para o êxito da análise Caráter FREUD Do grego charassein e charakter que signi ficam aquilo que imprime Esse termo per mite duas observações iniciais 1 A influ ência do meio ambiente circundante da criança promovendo impressões psíquicas 2 O termo denota que os aspectos grava dos no indivíduo ficam indeléveis e com um núcleo básico não modificável FREUD o primeiro a estudar psicanaliticamen te a formação e a conceituação de caráter o fez em dois momentos distintos de sua obra Em 1905 ele atribuiu uma importância es pecial ao desenvolvimento psicossexual da criança com as respectivas fixações proveni entes das fases oral anal e fálica Em Caráter e erotismo anal 1908 FREUD privilegia o id definindo que o caráter em sua configuração geral se forma a partir dos instintos constituintes Num segundo momento mais precisamen te a partir de O Ego e o Id 1923 FREUD estuda o caráter segundo um modelo es trutural atribuindo uma participação prio ritária ao ego no que tange às representa ções às identificações e aos tipos de meca nismos defensivos Em A dissecção da per sonalidade psíquica 1933 FREUD faz uma bela metáfora utilizando a imagem do cris tal que quando atirado no chão podese partir mas não em pedaços ao acaso Ele se desfaz seguindo linhas de clivagem em fragmentos cujos limites embora fos sem invisíveis estavam predeterminados pela estrutura do cristal Na atualidade considerase a formação do caráter um precipitado de múltiplas e dis tintas influências tanto as que FREUD assi nalou como também as provindas das ameaças do superego herdeiro direto da conflitiva edípica os ideais e expectativas próprios do ego ideal herdeiro direto do narcisismo do ideal do ego ambições e predições do narcisismo dos pais das re lações objetais em geral da formação da autoimagem do falso self etc sempre se guindo o princípio de uma obediência do ego à uma formação de compromisso Como resultante disso tudo podese falar em caráter do tipo obsessivo histérico nar cisista fóbico perverso etc Outro ponto a considerar é que na situação analítica o caráter revelase em grande parte pela sua forma de comunicação o estilo de suas narrativas de acordo com o que Liberman 1976 chama de pautas estilísticas Caráter e erotismo anal FREUD 1908 Nesse trabalho que consta do volume IX p 175 da Standard Edition brasileira FREUD considera o erotismo anal um dos componen tes da pulsão sexual que no decorrer do de senvolvimento e de acordo com a educação que a civilização exige tornouse inútil para a finalidade sexual podendo vir a se transfor mar em formações reativas ou ser sublima das FREUD postula que essas pessoas se ca racterizam pelo fato de serem especialmente ordeiras parcimoniosas e obstinadas Caractereológica couraça WREICH Cabe a REICH tal como aparece em seu clás sico Análise do Caráter 1933 o grande 64 DAVID E ZIMERMAN mérito de conceber que uma análise não poderia ficar restrita unicamente à resolu ção de sintomas um a um como era habi tual até então Postulou que como prote ção contra os ameaçadores estímulos exte riores e interiores o ego estruturase defen sivamente de forma tão organizada que na situação analítica ela pode adquirir a dimensão de uma verdadeira couraça re sistencial Em razão disso REICH propôs al guns recursos técnicos para penetrar nas repressões inconscientes Caractereopatias O KERNBERG Em Object Relations Theory and Clinic Psychoanalysis 1977 KERNBERG propôs uma classificação dos transtornos do cará ter ou caractereopatias baseada na teoria das relações de objeto Distinguiu três gru pos de perturbações às quais chamou res pectivamente de nível inferior nível inter mediário e nível superior No nível superior embora exista um su perego sádico e punitivo e um uso excessi vo de recalcamentos como principal meca nismo de defesa o que perturba o contato dessas pessoas com seu meio ambiente ainda assim predomina a presença de rela ções objetais estáveis o que permite que os pacientes sintam preocupação e culpa No nível intermediário as relações objetais internalizadas são estáveis embora clara mente ambivalentes e conflitivas O supe rego está parcialmente integrado e portan to a capacidade de sentir culpas está dimi nuída em comparação com os transtornos de nível superior Neste grupo KERNBERG incluiu as personalidades sadomasoquistas as personalidades infantis alguns tipos de transtornos narcisistas e certos desvios se xuais estruturados que permitem vínculos relativamente estáveis Nas caractereopatias de nível inferior KER NBERG coloca os pacientes que internaliza ram relações objetais pouco integradas de tal forma que percebem seus objetos como inteiramente bons ou ao contrário com pletamente maus Para manter essa cliva gem recorrem aos mais primitivos meca nismos de defesa Estão incluídos neste gru po as personalidades com sérios transtor nos narcisistas as personalidades como se assim denominados por HELEN DEUTSCH 1942 os caracteres caóticos e impulsivos os caracteres psicóticos e os pacientes bor derline nos quais se evidencia uma nítida perda do sentido de realidade e uma difu são dos limites do ego Caractereopatias WINNICOTT Ao estudar os transtornos psíquicos resul tantes das falhas ambientais WINNICOTT mostrou que elas têm um importante papel patogênico na determinação do que deno minou uma tendência antisocial ou psico patia As palavras textuais de WINNICOTT explicam melhor a sua concepção O de linqüente é um menino ou menina antiso cial que não se curou há lógica na ati tude implícita de que o meio ambiente deveme algo a qual é adotada pelo psi copata delinqüente e pela criança antiso cial Neste sentido minha principal tese é que essencialmente a inadaptação e os demais derivados deste tipo de transtorno consistem em uma inadaptação originária no meio ambiente da criança no entanto produzida em uma fase não tão precoce que fosse suficiente para dar origem a uma psi cose Em seu trabalho Psicoterapia dos Transtor nos de Caráter 1963 WINNICOTT define a caracteropatia como Uma deformação da estrutura do ego embora a integração não desapareça por isso esse termo cor responde especificamente a uma descri ção da deformação da personalidade que foi produzida quando a criança necessita dar abrigo a um certo grau de tendência antisocial VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 65 Carretel jogo ou brincadeira do FREUD FREUD descreveu uma brincadeira de um neto seu de um ano e meio que tornouse clássica na literatura psicanalítica O jogo da criança consistia em um carretel amar rado a um barbante por meio do qual ele fazia com que o carretel desaparecesse de seu campo visual e que voltasse a aparecer repe tindo a operação infindáveis vezes e sempre saudando o desaparecimento e o aparecimen to com as expressões fort e da Na verdade o menino estava elaborando simbolicamente a angústia de separação com a mãe Comentário Vale complementar que esse mesmo neto com a mesma finalidade de elaborar a angústia de separação fazia ou tra brincadeira que consta em Além do princípio do prazer1920 que podemos chamar de jogo do espelho e que consistia em que ele havia encontrado um modo de fazer desaparecer a si próprio Descobrira seu reflexo num espelho de cor po inteiro que não chegava inteiramente ao chão de maneira que agachandose po dia fazer a sua imagem no espelho ir emborap 27 Cartas de Freud a Fliess FREUD FREUD costumava manter uma intensa e continuada correspondência com familia res amigos e colaboradores Assim só para exemplificar o número de cartas enviadas a JUNG foi em torno de 360 com FERENCZI também foi volumosa Porém dentre os seus correspondentes nenhum foi tão sig nificativo como WFLIESS com quem FREUD manteve uma viva troca de cartas nas quais tanto escrevia confidências pessoais quan to rascunhos de idéias psicanalíticas assim como submetia a sua apreciação trabalhos já prontos mas ainda não publicados A soma de toda correspondência com FLIESS entre 1887 e 1902 sobe a uma cifra de mais de 2000 documentos muitas delas cons tantes da autoanálise de FREUD É sabido que após a violenta ruptura entre ambos FREUD destruiu todas as cartas que recebeu de FLIESS enquanto as que ele ex pediu foram vendidas após a morte deste num pacote único para um empresário de Berlim sob o compromisso de não entre gar os documentos a FREUD porque tinha se certeza que ele as destruiria Esse em presário berlinense por sua vez os reven deu para a princesa MARIE BONAPARTE que teve a extraordinária coragem de resistir aos intentos de FREUD de destruílas porém as sumiu o compromisso de não publicar as cartas mesmo as já conhecidas Em 1950 com a ajuda de ANNA FREUD e de ERNST KRIS MARIE publicou algumas sob o título de O Nascimento da Psicanálise So mente em 1958 foi enfim publicada uma edição completa depois de um escândalo nos Arquivos Freud Os Extratos dos documentos dirigidos a Fliess com os principais Rascunhos or denados em ordem alfabética e Cartas numerados com algarismos arábicos es tão publicadas no Volume I da Standard Edition Dentre inúmeras preciosidades que trans parecem nesses documentos destacase o extenso documento que veio a constituir o Projeto para uma Psicologia Científica e a famosa Carta 52 onde FREUD estuda os processos de inscrições e de transcrições na composição dos traços mnésicos Castigo necessidade de FREUD Aspecto fundamental da teoria e da prática psicanalítica Em linhas esquemáticas pode proceder de quatro fontes 1 A pulsão de morte agindo de dentro e para dentro ocasionado um masoquismo primário 2 As culpas inconscientes ou conscientes devidas a danos destrutivos que na reali 66 DAVID E ZIMERMAN dade ou na fantasia o sujeito teria cometi do contra outras pessoas significativas 3 As culpas indevidas decorrentes de um discurso permanentemente culpígeno por parte dos educadores que significam qual quer ato da criança fazer artes por exem plo com sendo sempre deletério mesmo quando na sua essência poderia ter sido significado como positivamente criativo 4 O discurso dos pais pode ter configura do na criança um determinado papel a ser seguido por toda a vida e toda vez que o transgride por exemplo melhora na aná lise e quer emanciparse de um vínculo al tamente simbiotizado com a mãe o sujeito sente a necessidade inconsciente de ser cas tigado o que no processo analítico pode acontecer sob a forma de uma reação tera pêutica negativa Castração angústia de FREUD FREUD considerava o pênis como o órgão sexual autoerótico primordial tal como descreve em As teorias sexuais infantis 1908 Segundo sustenta o menino não pode conceber qualquer ser humano sem pênis sendo que a visão da mãe ou da irmã desprovida desse órgão gera imediatamen te a fantasia de que de fato existe uma cas tração a qual imagina ter sido cometida pelo pai Essa concepção de FREUD tornouse duran te longas décadas o eixo central em torno do qual orbitavam as teorias e técnicas psi canalíticas Fundamenta essas idéias mais decisivamente historial clínico do Menino Hans 1909 Posteriormente FREUD fazia questão de assinalar dois aspectos 1 A angústia de castração é extensiva às meni nas 2 Enquanto muitos autores propu nham que a angústia de castração remon tava a fases prévias como seria a da perda do seio ou a das fezes FREUD afirmava que só se deveria falar de complexo de castra ção a partir do momento em que esta re presentação de uma perda estiver relacio nada ao órgão genital masculino Castração LACAN Utilizando o termo com uma significação distinta de FREUD para LACAN tratase de uma operação simbólica que se refere ao falo enquanto um objeto imaginário e não o real O temor de castração é normatizan te e estruturante para a criança porquanto proíbe o incesto e faz a necessária cunha interditora na díade fusional que a criança estiver mantendo com a mãe Além disso afirma LACAN a assunção da castração sim bólica por parte da criança promove a fal ta que cria o desejo então não mais ne cessitando esse desejo de estar subordina do aos da mãe ou submetido aos do pai Catarse método da Proposto por BREUER nos primórdios da psi canálise tal como está descrito no verbete abreação Catástrofe ou medo do colapso WINNICOTT Estado de breackdown catástrofe para designar um estado de nãointegração ou de uma angústia de desintegração Seus sin tomas mais marcantes consistem numa ater radora sensação de o sujeito estar perden do seus referenciais de que vai cair e preci pitarse no espaço No trabalho The Fear of Breakdown de 1974 WINNICOTT afirma que o medo de um colapso futuro sempre tem origem num sen timento equivalente intensamente expe rimentado no passado que não consegue ser pensado pelo paciente devido à pri mitividade das experiências emocionais dolorosas na formação da agonia Daí WINNICOTT introduz a expressão agonias impensáveis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 67 Catastrófica mudança BION Para BION que tem um trabalho intitulado Catastrophic Change 1966 essa expres são designa o fato de que uma verdadeira mudança psicanalítica no paciente costu ma provocar um intenso sofrimento no ana lisando portanto de alguma forma também no analista sob a forma de um estado con fusional ou de ansiedade depressiva Es sas sensações penosas que o levam a acu sar o analista de estar provocando sua pi ora sentindose ameaçado pelo medo de que esteja ficando louco ou que só lhe res ta o suicídio Além disso é comum que essa sensação catastrófica venha acompanhada de actings preocupantes e de sensações corporais como o sintoma de despersona lização e o surgimento de somatizações É importante que o analista tenha boa capa cidade de continente baseado na convic ção de a aparente piora possa estar signifi cando um importante movimento de me lhora analítica Comentário Tudo o que foi dito por WINNICOTT e por BION está de acordo com a etimologia da palavra catástrofe a qual se origina dos étimos gregos kata abaixo de strophein revolta subversão even to calamidade Contudo é interessante registrar que em inglês antigo catastro phy significava uma evolução uma mu dança de um estado a outro tal como sugere a palavra estrofe que o coro do antigo teatro grego cantava como uma forma de anunciar a passagem para um novo cenário Catéxis FREUD Em seus estudos sobre as características das pulsões FREUD enfatizou o fato de que certa quantidade de energia psíquica fica ligada a objetos externos investindoos Para descrever esse investimento ele empregou a expressão original Bezetzung Energie traduzido para o inglês como ca thexis e para o português como catéxis ou catexia Bezetzen no original alemão significa ocu par guarnecer FREUD fazia a comparação com uma força militar de ocupação que pode ser deslocada para uma ou outra po sição segundo as necessidades Na vigên cia da teoria econômica da psicanálise FREUD atribuía grande importância à quan tidade da catéxis investida nos objetos Cena primária FREUD Expressão que também aparece traduzida como cena originária primitiva ou primor dial a palavra original em alemão é Ur szene Alude à observação real ou fanta siada que a criança faz do coito dos pais Nos primeiros tempos FREUD deu uma im portância extraordinária a esse fato afir mando que a cena primária raramente falta no tesouro das fantasias inconscientes que se podem descobrir em todos os neuróti cos e provavelmente em todos os filhos dos homens No seu célebre trabalho O Homem dos Lobos 1918 FREUD estuda mais profun damente a importância da cena primária descrevendo o caso de um menino que te ria observado um coito dos pais com as respectivas fantasias provavelmente de ori gem a posteriori Nessa fantasias imagina que o coito foi anal que o pai estaria agre dindo a mãe numa relação sadomasoquis ta Toda essa situação poderia reforçar a angústia de castração do menino Freud afirmava que mesmo nos casos que não tenha havido uma observação direta indícios indiretos como ruídos provindos do quarto dos pais poderiam funcionar como fator determinante da cena primária Outro aspecto interessante é que numa polêmica com JUNG a respeito da cena pri mária FREUD não descartou a hipótese de uma herança filogenética 68 DAVID E ZIMERMAN Censura Aparece freqüentemente na literatura psi canalítica sempre ligada aos mandamen tos e às proibições do superego tal como está descrito no verbete específico Cesura BION Freud usou esse termo em Inibições sin tomas e angústia 1926 no qual afirma que há muito mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância do que a impressionante cesura que o ato do nascimento nos permite acreditar Inspirado nessa afirmativa de FREUD que alu de ao corte do cordão umbilical BION empre gou o termo nos seus estudos sobre a conti nuidade que existe entre a vida prénatal e a pósnatal A palavra cesura também designa na obra de BION uma espécie de ponte que na situação analítica possibilita a passagem de um estado mental para outro muitas ve zes acompanhada de sintomas ruidosos tal como acontece na mudança catastrófica O emprego da palavra passagem adquire o mesmo significado que o da Páscoa cristã ou do Pessach judeu onde houve a passa gem pela abertura que Deus fez nas águas revoltas do Mar Vermelho Em ambas as fés os termos aludem a uma ressurreição O conceito de cesura pode ser considerado como um conceitolimite isto é como um ponto de decisão de onde se procura pen sar naquilo que nunca tinha sido pensado antes Assim BION fez a seguinte metáfora Picasso pintou um quadro em um pedaço de vidro de modo a poder ser visto de am bos os lados Sugiro que o mesmo podese dizer da cesura depende de que lado se mira para que lado se está indo Cesura A BION 1977 Título de um artigo de BION no original in glês é Caesura e publicado em Two pa pers The Grid and Caesura 1977 A tra dução em português desse artigo apareceu na Revista Brasileira de Psicanálise núme ro 15 de 1981 Os temas centrais se referem a 1 Necessi dade de o analista ser livre e verdadeiro 2 Problemas relativos à interpretação 3 Es peculações de natureza psicoembrionária 4 Algumas reflexões acerca da conceitua ção de crescimento mental Ao abordar a necessidade referida no item 1 BION tece reflexões sobre o que é a verdade Chistes e sua relação com o inconsci ente Freud 1905 Trabalho clássico de FREUD publicado pela primeira vez em 1905 consta no volume VIII da Standard Edition Compõese de sete par tes e um apêndice Nele aparece este impor tante trecho Os chistes tornam possível a satisfação da pulsão quer essa seja do desejo sexual ou da hostilidade em face de um obs táculo que se lhe depara no caminho O chiste se caracteriza por ser espirituoso ser um julgamento jocoso ter um sentido de non sense emprego do absurdo uso de trocadi lhos e de palavras de duplo sentido ironia representação pelo oposto ou pelo exagero como nas caricaturas etc FREUD destaca que os chistes tanto podem ser agradáveis quan to hostis obscenos tendenciosos ou seduto res Refere que um chiste nos permite explo rar algo de ridículo em nossos inimigos algo que por causa de certos obstáculos não po deríamos revelar aberta os conscientemente FREUD considera que os mecanismos de con densação deslocamento e o de modifica do envolvidos nos chistes guardam a mes ma natureza do que acontece na elabora ção dos sonhos Cinco Lições de Psicanálise FREUD 1910 Esse artigo está no volume XI p 13 da Standart Edition Em 1909 a Clark Univer VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 69 sity de Massachusetts por seu presidente STANLEY HALL convidou FREUD para as co memorações do vigésimo ano de sua fun dação Estava acompanhado de JUNG e FE RENCZI a quem FREUD na ocasião bem hu morado disse que os americanos mal sabi am que estavam trazendo a peste Pro nunciou cinco conferências ao sabor do improviso durante quatro dias sucessivos A primeira versou sobre o significado psi cológico dos sintomas histéricos Afirmou que os pacientes histéricos sofrem de re miniscências e seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de determinadas ex periências traumáticas A segunda enfocou o recalcamento no cur so dos eventos psíquicos da histeria como uma forma de resistência e por conseguin te aludiu à formação de sintomas quando o recalcamento da idéia à qual se liga o desejo intolerável fracassou A terceira girou em torno do determinismo psíquico dos sonhos e dos atos falhos Na quarta conferência Freud abordou a sexualidade infantil e a neurose A quinta foi dedicada à parte técnica com uma dissertação sobre a transferência e a resistência Cisão Fenômeno psíquico que aparece freqüen temente com outras traduções como dis sociação splitting e clivagem O termo ori ginal alemão é Spaltung Ciúme Sentimento intimamente ligado à inveja porém compreende uma relação de pelo menos mais outras duas pessoas envolvi das O indivíduo com ciúme sente que o amor que lhe é devido foi roubado ou está em perigo de sêlo pelo seu rival tal como está descrito por FREUD em relação ao ciú me edípico O ciumento teme perder o que julga per tencerlhe enquanto a pessoa invejosa so fre ao ver que o outro tem aquilo que ela quer exclusivamente para si sendolhe pe nosa a satisfação alheia No caso em que é resultante de um uso excessivo de identifi cações projetivas o ciúme pode adquirir características delirantes Claustro D MELTZER No trabalho Claustrum Una investigación sobre los fenómenos calaustrofóbicos 1992 MELTZER alude às identificações pro jetivas intrusivas às vezes violentas Por meio dessas identificações a parte infantil do self do sujeito passa a habitar um dos compartimentos da mãe interna correndo o risco de nela ficar aprisionado assim ge rando temores claustrofóbicos além das identificações patogênicas que determinam uma visão particular do mundo Clivagem Referese tanto ao ego como aos objetos Em relação à clivagem do ego é importan te referir que conforme for sua extensão e modo de utilização pode 1 Representar uma dissociação útil do ego na forma de um recurso estruturante no desenvolvimen to da criança ou na vida cotidiana do adul to 2 Assumir matizes de uma forte forma de negação levando a estados patológicos como é o caso da perversão fetichista ou bastante mais gravemente a estados de negação psicótica MKLEIN foi quem melhor estudou o fenô meno da clivagem de objetos demonstran do como um mesmo objeto parcial pode ficar dissociado simultaneamente em qua tro formas como objeto bom mau perse guidor e idealizado BION prosseguiu nos estudos das dissocia ções detendose particularmente na cliva gem que existe em toda pessoa entre uma 70 DAVID E ZIMERMAN parte psicótica da personalidade e uma parte não psicótica Clivagem do Ego no Processo de De fesa FREUD 1940 Artigo que aparece no volume XXIII p 309 da Standard Edition redigido em 1938 e publicado postumamente em 1940 Tem significativa importância nas concepções contemporâneas da psicanálise FREUD le vanta a hipótese de que uma criança dian te de uma exigência pulsional inaceitável sentirá o prosseguimento dessa experiência como um trauma psíquico que lhe repre senta um perigo real quase intolerável Nes se caso o ego precisa decidir entre reco nhecer o perigo real cedendo ante ele e renunciando à satisfação pulsional ou ne gar a realidade convencendose que não existe motivo para medo a fim de conse guir manter a satisfação As duas reações contraditórias ante o con flito constituem o ponto central da clivagem do ego Para ilustrar relata o caso de um menino que criou um substituto fetiche para o pênis que não encontrava nas mu lheres Simplesmente por meio de uma cli vagem do ego não contradisse suas per cepções e alucinou um pênis onde este não existia Cogitações BION 1990 Título da edição em português tradução de Ester H Sandler e P C Sandler de Cogitations livro de BION publicado post mortem Resultou do labor de FRANCESCA BION sua esposa que coletou e reuniu ano tações esparsas de Bion algumas datadas e outras não sob a forma de frases idéias reflexões O livro contém em torno de 400 páginas nas quais transparece um BION tratando de estabelecer interrelações da psicanálise com a evolução das demais ciências e a discussão do método científico Para tanto utiliza a citação de literatos poetas mate máticos POINCARÉ historiadores e filóso fos DESCARTES RUSSEL HUME As anotações de BION cobrem presumivel mente o período de 1958 a 1979 e se es tendem em especulações reflexivas acerca dos mais diversos temas Algumas reflexões aludem a trabalhos seus anteriores e ou tros fundamentam concepções desenvolvi das posteriormente além de outras cogita ções que nunca foram suficientemente de senvolvidas e publicadas Particularmente fascinante neste livro é o fato de os apontamentos de BION permitirem cons tatar como suas idéias em conjunção com as de outros pensadores foram germinando em sua mente até ganharem a forma de concep ções originais É útil esclarecer que etimolo gicamente a palavra cogitação deriva do ver bo latino cogitare pensamento meditativo que alude ao que tem peso daí sopesar ou ponderar derivado de pondus peso Coisa em si mesmo BION Conceito extraído literalmente por BION de KANT Consiste no fenômeno de que a rea lidade psicanalítica não pode ser conheci da pelos órgãos dos sentidos mas somente pelos fenômenos secundários observáveis podendo se expressar clinicamente através da evacuação de elementos β BION utiliza seguidamente como sinônimos outros nomes como a letra O e o vocábulo Númeno cujos verbetes específicos podem ser consultados Colapso medo do WINNICOTT Tradução do título do trabalho de WINNICOTT The Fear of Breackdown 1974 no qual o autor diz que o medo do colapso é uma fa lha importantíssima para muitos de nossos pacientes mas não para todos A tese cen tral desenvolvida nesse artigo é a de que o VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 71 temor de uma catástrofe fundamentase em um colapso acontecido no passado Refere se pois ao colapso das defesas originalmen te organizadas contra agonias impensáveis ou seja contra angústias que não puderam e não estão podendo ser pensadas Ver o verbete catástrofe Comensal BION Uma das modalidades da relação continen teconteúdo descritas por BION As outras são a parasitária e a simbiótica O que ca racteriza o modo comensal é o fato de que o hospedeiro continente e o hóspede con teúdo convivem em uma adaptação har mônica embora não haja crescimento nem prejuízo em nenhum dos dois Isso está de acordo com a etimologia dessa palavra porquanto ela se forma dos étimos latinos cum com junto mensa mesa dando a idéia de pessoas reunidas em tor no de uma mesa Comitê Secreto círculo de seguido res imediatos de Freud Dáse o nome de Comitê Secreto ou sim plesmente Comitê ao círculo formado em 1912 por iniciativa de ERNEST JONES pelos discípulos mais fiéis de FREUD especialmen te convidados para integrálo Além de JO NES inicialmente participaram desse círcu lo ABRAHAM H SACHS O RANK e S FERENC ZI MAX EITINGON mereceu juntarse ao gru po em 1919 por ter financiado a editora do movimento psicanalítico de então O Comitê foi formado em função das dissi dências de ADLER STECKEL e JUNG com o objetivo de determinar de que maneira se poderia preservar a doutrina psicanalítica de qualquer forma de desvirtuamento da psicanálise Para selar a união entre os guar diões do templo FREUD entregou a cada um deles um entalhe grego que eles manda ram engastar em anéis de ouro Ainda assim o Comitê passou por inúme ros conflitos internos como um malestar entre os outros analistas e JONES o único dentre todos eles que não era judeu bem como entre os analistas alemães e os aus tríacos Também houve desentendimentos pessoais entre FERENCZI e JONES entre FE 72 DAVID E ZIMERMAN RENCZI e FREUD entre FREUD e RANK entre os partidários de uma renovação da técnica psicanalítica e os ortodoxos conservadores entre os que propugnavam por uma expan são da psicanálise para os Estados Unidos e os que defendiam um fechamento restri to ao mundo europeu etc O Comitê foi dissolvido em 1927 época em que Rank um dos esteios que mantinha a integração do círculo abandonou definiti vamente em condições dramáticas o mo vimento freudiano Ver o Verbete Histórico da psicanálise Como a Análise Cura KOHUT 1984 Livro póstumo de KOHUT no original How Does Analysis Cure 1984 editado três anos depois de sua morte Diferentemente da maioria dos autores o autor defende nessa obra que a análise cura não pelo conhecimento do conflito mas sim pelas vivências que se adquirem com um objeto do self empático Segundo KOHUT essa ex periência soluciona as feridas que foram deixadas abertas pelos objetos da infância No capítulo 2 esse autor acentua a idéia de que a resolução dos conflitos edípicos depende de como se estruturaram primiti vamente os objetos do self O autor valori za sobretudo a influência dos aspectos do narcisismo no desenvolvimento da criança de que o complexo de Édipo seria simples conseqüência Como Tornar Proveitoso um Mau Ne gócio BION 1979 Título de artigo cujo original é Making the best of a bad job Nele BION afirma que quando duas personalidades se encontram criase uma tempestade emocional mas tendo ocorrido o encontro e a conseqüente tempestade emocional as duas partes de vem decidir como tornar proveitoso um mau negócio Ilustra a proposição com uma situação clínica na qual o paciente queria que BION se amoldasse a seu estado mental procurando despertar no analista sensações como medo desapontamento e frustração para impedilo de pensar livre mente A partir daí e baseado em citações de poe tas artistas e filósofos BION faz interessan tes considerações de natureza existencialis ta Mostra como a onipotência e o desam paro estão associados inseparavelmente faz uma distinção entre a existência e a quali dade da existência diz que prefere enten der que a glândula suprarenal não provo ca luta nem fuga mas sim provoca inici ativa afirma que o analista necessita estar apto a ouvir não apenas as palavras mas também a música e assinala o contraste entre o processo de realização com o de desidealização Na situação analítica a postulação de Bion de que diante do surgimento de uma tur bulência emocional ao invés de fugir dela o analista possa aproveitála para promo ver um crescimento mental do seu pacien te pode ser comparada ao conhecido bro cardo fazer do limão uma limonada Esse trabalho consta do livro Seminários clínicos e quatro artigos Clinical seminars and four papers Também apareceu na Re vista Brasileira de Psicanálise volume 13 1979 Na versão castelhana o título é Se minarios clínicos y cuatro textos e o artigo em pauta está traduzido como Hay que pasar el mal trago Complacência somática FREUD Expressão empregada por FREUD no famo so Caso Dora 1905 para se referir à es colha do órgão ou do sistema orgânico so bre o qual se dá a conversão histérica FREUD considerava que o investimento libidinal de uma zona erógena pode deslocarse para outras regiões corporais o que exige certa complacência uma espécie de conluio que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 73 possibilita aos órgãos que simbolizam o conflito reprimido tentar satisfazer o desejo proibido de forma disfarçada Na atualidade na medida em que o corpo foi ganhando uma extraordinária importân cia nas concepções psicanalíticas esse con ceito de complacência somática extrapola a localização única em pacientes histéricos e fica extensiva a todas as entidades clíni cas especialmente as mais regressivas Ver o verbete psicossomática Completude narcisista Expressão muito freqüente na literatura psi canalítica contemporânea Referese a in divíduos ou grupos que usam os mais va riados recursos na tentativa de preencher os vazios que se formaram na estruturação do psiquismo de modo a negar o reconhe cimento da incompletude do ser humano como é sua condição ter falhas faltas li mites limitações e finitude de vida Quan to maior o sentimento de incompletude maior será a busca do paraíso perdido ou seja a condição nirvânica de Sua Majesta de o bebê Para manter a ilusão de com pletude são utilizados recursos defensivos primitivos próprios da posição narcisista como são a da contração de vínculos exage radamente simbióticos a da construção de uma cápsula ou de uma barreira autística con forme Tustin a de uma parte psicótica da personalidade conforme BION Nesse caso a onipotência substitui a capacidade de pen sar ocupa o lugar de um aprendizado com as experiências substitui a tomada de contato com a fragilidade A ambigüidade por sua vez é utilizada como forma de negar as ver dades que desafiam o mundo das ilusões Um instrumento fundamental para a obten ção ilusória da completude consiste no emprego de distintos fetiches como a en tronização das aparências típicas das per sonalidades falso self a fome por poder prestígio beleza e riqueza o emprego de múltiplas formas de estandartes e grifes narcisistas que conferem uma sensação de potência e imortalidade A cultura narcisis ta reinante em grande parte do mundo for temente estimulada pela pressão da mídia provoca uma busca de completude através de produtos mágicos e cirurgias múltiplas em busca da estética da potência sexual e da juventude eterna Complexo JUNG Inventado por JUNG esse termo veio a al cançar um enorme sucesso não só nos meios psicanalíticos mas também na cul tura popular notadamente após FREUD ter divulgado a sua concepção de complexo de Édipo A palavra complexo designa um con junto de sentimentos representações e re lações objetais internalizadas predominan temente inconscientes que formam uma constelação estruturada com uma determi nada configuração afetiva Foi tão grande a aceitação da noção de complexo que os autores multiplicaram os diferentes nomes de novos complexos de superioridade de inferioridade de grande za de Eletra etc de tal sorte que a pró pria linguagem popular corrente adotou expressões como ter complexos com sig nificação pejorativa Complexo de Édipo FREUD Inspirada pela história grega de Édipo Rei a expressão designa o conjunto de desejos amorosos e hostis que a criança experimen ta com relação a seus pais FREUD situou esse complexo por volta dos três anos postulando que o complexo de Édipo comporta duas formas uma positi va e outra negativa A positiva genericamen te consiste num desejo sexual pelo genitor do sexo oposto bem como de um desejo de morte do mesmo sexo Na forma nega tiva há um desejo amoroso pelo genitor do 74 DAVID E ZIMERMAN mesmo sexo e um ciúme ou desejo de de saparecimento do outro Na clínica é mais freqüente a coexistência nos indivíduos de ambas as formas embora uma delas pre domine nitidamente Freud apontou uma distinção quanto ao desdobramento edípico do processo no menino e na menina No menino ocorrem três fases 1 Ao entrar na fase fálica da evolução libi dinal sentese apaixonado pela mãe e estimulado pelas manipulações maternas procura seduzila e sente orgulho em exi birlhe seu pênis muitas vezes ereto 2 O romance edípico é destruído pelo com plexo de castração resultante da interdição por parte da figura paterna 3 Por isso o menino precisa abandonar o investimento libidinal no objetomãe que se transformará em uma identificação A identificação com a figura materna conjun tamente com as ambivalentemente amadas e odiadas do pai cuja autoridade ele intro jeta constituem os núcleos fundamentais do superego Durante muito tempo Freud considerou que havia uma igualdade total entre o com plexo edípico do menino e o da menina Posteriormente concebeu a diferença es tabelecendo que na menina se processaria da seguinte maneira 1 A menina também toma a mãe como seu primeiro objeto de investimento amoroso 2 Para orientarse libidinalmente para o pai precisa antes se desapegar da mãe Passa portanto por um processo mais longo e complicado que o do menino 3 Considerase castrada quando constata sua inferioridade anatômica em relação ao menino 4 Devido à influência da inveja do pênis desapegase da mãe ressentida com ela por têla desfavorecido 5 Logo substitui a falta do pênis pelo dese jo de possuir um filho do pai tomandoo então como objeto de amor 6 Simultaneamente identificase com a mãe colocase em seu lugar e querendo substituíla junto ao pai passa a desenvol ver um ciúme edípico com ódio pela mãe Como fica evidente para Freud o comple xo de castração põe fim ao complexo de Édipo no menino enquanto na menina abre o caminho da conflitiva edípica No trabalho A Dissolução do Complexo de Édipo 1924 FREUD adverte que nem sem pre é nítida a fronteira entre o normal e o pa tológico da resolução edípica Nos casos em que persistir conflituada a resolução continu ará a exercer desde o inconsciente uma ação persistente ao longo de toda vida constituin do um complexo central de cada neurose Complexo de Édipo MKLEIN MKLEIN descreve o complexo de Édipo de forma distinta da de FREUD embora con serve a mesma essência Para ela a situa ção edípica surge por volta dos seis ou oito meses de idade Esse complexo de Édipo precoce está repleto de fantasias inconsci entes as mais diversas como a de devora mento por exemplo Essas fantasias levam a criança a criar imagens às vezes terrorífi cas como expressão da fantasia dos pais combinados etc Muitos psicanalistas criti cam MKLEIN por conceber o complexo edí pico de modo a desfigurar substancialmen te a original concepção freudiana com pre juízos para a análise Complexo de Édipo LACAN Segundo LACAN na terceira fase da etapa do espelho dos 12 aos 18 meses em situa ções normais a criança assume a castra ção paterna Aqui diferentemente de FREUD o conceito de castração não significa uma privação ou corte do pênis mas sim refe rese à função do pai como o portador da lei que interdita e normatiza os limites da re lação diáticosimbiótica da mãe com o filho VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 75 A aceitação por parte do filho dessa cas tração paterna constitui o registro simbóli co o ingresso no triângulo edípico propria mente dito além de representar o grande desafio às ilusões narcisistas que foram for jadas no registro imaginário das fases ante riores Para LACAN também não existe um período préedípico absoluto porquanto o pai do bebê já está presente no mínimo no psiquismo da mãe tal como é a repre sentação que ela tem de seu próprio pai Complexo de Édipo KOHUT Vários outros autores KOHUT entre eles não dão ao complexo de Édipo a dimensão apre goada por FREUD Essa posição de KOHUT é de tal forma criticada que seus acusadores chegam a sustentar que ele não deveria ser considerado um psicanalista de verdade Esse autor afirma que Édipo não é mais do que uma fase embora bastante importante do desenvolvimento do narcisismo e que a par tir de certo ponto da evolução ambos Narci so e Édipo seguem linhas paralelas com pon tos de contato e de influência recíproca Complexo de Édipo na atualidade Durante muito tempo o complexo edípico foi considerado como o núcleo central na estruturação de toda e qualquer neurose mas a psicanálise contemporânea enfoca outros aspectos mais De forma sintética os seguintes pontos re sumem a importância do complexo de Édi po 1 As coisas não se passam tão simples mente como o amor da criança pelo pro genitor do sexo oposto e de ódio pelo do mesmo sexo na verdade os sentimentos de amor e hostilidade são alternantes de um genitor para o outro 2 O complexo de Édipo abre o caminho para a triangulação permitindo a inclusão do pai assim estabe lecendo a diferença de gerações potência e outras diferenças indispensáveis para uma evolução exitosa da criança 3 O com plexo de Édipo determina a formação de identificações 4 A exclusão da criança da cena primária gera fantasias e sentimentos que desembocam na angústia de castração que não suficientemente bem resolvida pode acompanhar a pessoa pela vida toda 5 É unicamente por meio de uma exitosa resolução da conflitiva edípica que se torna possível o ingresso em uma genitalidade adulta Caso contrário as fixações parciais nas fases préedípicas ou uma má resolu ção do complexo de Édipo resultarão em distintas formas de pseudogenitalidade Complexo de Eletra JUNG Seguindo os passos de FREUD JUNG tomou emprestado da mitologia grega o nome da personagem Eletra que matou a mãe por que esta tinha assassinado seu pai Agame non quando retornava da guerra de Tróia como a contrapartida para o sexo feminino do complexo de Édipo que FREUD descre veu inicialmente para o masculino JUNG considerouos sinônimos e simétricos do que FREUD discordou radicalmente A partir dessa posição de FREUD a expressão com plexo de Eletra praticamente desapareceu do jargão psicanalítico Complexo de inferioridade ADLER Baseado em sua experiência pessoal de criança que sentiase inferior por sofrer de raquitismo ADLER descreveu um complexo de sentimentos que o ser humano necessi ta desenvolver para fugir do doloroso sen timento de inferioridade Quando isso acon tece num grau excessivo gera segundo ele o complexo de superioridade Complexo do semelhante FREUD Em seu clássico Projeto1895 subtítulo 17 primeira parte Memória e Juízo 76 DAVID E ZIMERMAN FREUD descreve o que denominou comple xo do semelhante Daí que seja em seus semelhantes donde o ser humano aprende pela primeira vez a reconhecerse Essa afirmativa é relevante na psicanálise atual na medida em que atesta que outra pessoa aparece como a que permite ao ego incipiente da criança estabelecer confron tos e por seus próprios movimentos ela busca seus pontos de vinculação suas se melhanças e sobretudo a reconhecer as diferenças Compromisso formação de FREUD Condição psíquica pela qual os derivados das pulsões inaceitáveis para o ego consci ente fazem uma espécie de negócio um compromisso com as defesas do ego de tal sorte que os desejos possam ser satisfei tos desde que não reconhecidos pela cons ciência Um bom exemplo é o que aconte ce nos sonhos nos quais a censura onírica somente permite a passagem dos desejos reprimidos do inconsciente que compõem o conteúdo latente do sonho ao conscien te depois que este estiver suficientemente bem disfarçado no conteúdo manifesto Compulsão à repetição FREUD FREUD não se sentia à vontade com sua postulação do princípio do prazer que não conseguia explicar satisfatoriamente os fe nômenos psíquicos repetitivos de natureza nãoprazerosa que ele observava com gran de freqüência Esses fenômenos ocorriam nos casos de repetitivos sonhos angustio sos nos atos que revelam sintomas maso quistas nas neuroses traumáticas principal mente nestas últimas com o volumoso sur gimento das neuroses de guerra advindas no decurso da I Guerra Mundial FREUD constatou que essa compulsão repe titiva procedia de uma força pulsional o termo alemão original é Zwang A partir do consagrado trabalho Além do princípio do prazer1920 ele definiu essa força in consciente como pulsão de morte De forma análoga é possível perceber que as crianças repetem compulsivamente jo gos brincadeiras e relatos de estórias como tentativa de elaborar ativamente o que so freram passivamente como pode ser algum forte susto traumático a perda de alguma pessoa importante etc FREUD igualmente descreveu outros fenômenos repetitivos como a neurose do destino a neurose trau mática e o fenômeno da transferência Cor relacionando todos os aspectos assinalados é possível afirmar que existem dois tipos de compulsão à repetição Uma provinda das manifestações irrefreáveis das pulsões não é por nada que existe uma íntima conexão entre a palavra compulsão e com pul são Outra função da compulsão à repeti ção seria uma tentativa de o ego dominar e elaborar através da repetição os excessos de estímulos traumáticos Na atualidade especialmente em relação ao fenômeno transferencial cabe uma im portante questão a transferência e outros fenômenos análogos consiste numa ne cessidade de repetição pulsional ou numa repetição de necessidades não satisfeitas no passado Compulsivo neurose do tipo obsessivo Os transtornos obsessivocompulsivos abreviadamente TOC consistem na tenta tiva do ego de anular pensamentos e senti mentos inaceitáveis pelo consciente Essa inaceitação se manifesta 1 Pela anulação por meio de outros pensamentos recurso obsessivo 2 Através de ações anulatórias que o sujeito sentese compelido a proce der intermináveis vezes compulsão É útil distinguir um ato compulsivo de um impulsivo O primeiro é acompanhado de sofrimento e resulta de uma falha na luta que o sujeito mantém contra a compulsão VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 77 Etimologicamente compulsivo deriva do verbo latino compellere que significa com pelir aquilo que impele que constrange Já o termo impulso designa uma ação súbita de surgimento ocasional acompanhada de forte estado emocional Comunicação A normalidade e a patologia da comunica ção representam um dos aspectos mais re levantes da psicanálise contemporânea Bion é o autor que mais contribuiu com concepções originais acerca dos processos de pensamento linguagem e conhecimen to que influenciam diretamente a natureza e o estilo da comunicação Esse autor de monstrou que o discurso verbal nem sem pre tem o propósito de realmente comuni car algo a alguém BION mostra que pelo contrário na situação analítica o psicana lista deve estar muito atento para as diver sas formas de distorções falsificações men tiras e ambigüidade confusional que o pa ciente inconscientemente utiliza para jus tamente não comunicar as verdades e para impedir que o analista tenha acesso a elas O fenômeno da comunicação implica a conjugação de três fatores a transmissão o conteúdo e a forma de como o sujeito emite suas informações a recepção os sig nificados que o sujeito atribui àquilo que ouve e os canais de comunicação tanto verbais como nãoverbais por onde as men sagens transitam Em relação à comunicação préverbal cabe assinalar as seguintes modalidades 1 Para verbal ou seja os aspectos que estão ao lado para do verbo muito especialmente as nuanças da voz 2 Gestual certos ges tos e atitudes dizem muito 3 Corporal de diversas formas desde a condição de bebê o corpo fala como acontece nas somatiza ções 4 Oniróide desperta imagens visu ais que às vezes na situação analítica po dem ser muito mais profundas do que o conteúdo manifesto das palavras 5 A con duta por exemplo se bem entendidos pelo analista os actings podem constituir impor tante fonte de comunicação primitiva 6 Efeitos contratransferenciais despertados na pessoa do analista podem funcionar como excelente via de acesso a aspectos incons cientes que o paciente não consegue pen sar e muito menos verbalizar Cabe acrescentar que o próprio silêncio por si só tanto do paciente como do analista pode representar uma forma de comunicar algo A propósito BION traça uma metáfora com a música ao dizer que toda peça mu sical é formada por elementos de notas intervalos notas A ausência do som isto é a presença do intervalo pode ter mais vigor e expressividade do que a nota musi cal em si Ainda em relação a BION quando descreve sua prática analítica com pacientes psicóti cos ele emprega esta frase tão bonita quan to profunda O que devemos dizer a um paciente que quer um contato físico não entendo todo esse ruído de suas palavras em meu ouvido deixeme tocálo e minha mão entenderá o que o senhor diz Ou então algum paciente pode dizer Não entendo e não me faço entender mas se você tivesse um piano aqui eu poderia to car e o senhor me compreenderia Conceito BION Esse nível de capacidade para pensar na Grade ocupa a fileira F onde designa que já existe uma condição de estabelecer cor relações entre as concepções de modo a desenvolver pensamentos abstratos que possibiltam a passagem para os níveis G e H Esses que seguem na grade e que designam respectivamente Sistema De dutivo Científico e Cálculo Algébrico já representam um alto grau de abstração Com a finalidade de não atribuir ao vo cábulo conceito uma idéia ligada unica 78 DAVID E ZIMERMAN mente a intelectualização BION sempre fez questão de aliar a noção psicanalítica de conceito à de intuição de sorte a repisar a seguinte e profunda frase Intuição sem conceito é cega conceito sem intui ção é vazio Concepção BION Na Grade de BION ocupa a fileira E desig nando que houve uma evolução do pensa mento da condição anterior de uma pré concepção Podese dizer que os pensamen tos propriamente ditos começam a partir da concepção a qual resulta de uma fecunda ção da préconcepção por uma realização tanto positiva como negativa Ver os ver betes préconcepção e realização A con quista da concepção permite a passagem para o nível seguinte da formação do pen samento a de conceito Condensação FREUD Processo mental descrito por FREUD origi nalmente em seus trabalhos sobre os so nhos Consiste numa operação psíquica pela qual muitas imagens e representações são fundidas numa única de modo que serve para driblar a censura e ao mesmo tempo permite um acesso ao simbolismo expresso no que aparece condensado se guindo as leis do processo primário Sabe se que esse processo caracterizase por um fácil deslocamento e descarga da libido As várias cadeias associativas de representa ções com os respectivos significados incons cientes produzem o que se denomina con densação ou seja numa única representa ção como pode ser determinado sintoma podem confluir todos os significados de uma cadeia associativa Essa cadeia por sua vez pode produzir novos deslocamen tos e assim sucessivamente tal como é possível observar nitidamente nos sinto mas fóbicos Conferências Brasileiras BION 1990 Traduzido para o inglês como Brazilian Lec tures é uma nova edição englobando dois anteriores Conferências Brasileiras I e Con ferências Brasileiras II de 1973 e 1974 res pectivamente É a transcrição devidamen te revista por BION dos debates que ele es tabeleceu com psicanalistas brasileiros quando de suas vindas ao Brasil De modo geral os capítulos começam com a introdução de determinado tema por par te de BION à qual seguemse as perguntas do auditório prontamente respondidas às vezes de forma bem curta outras bem lon gas Essas Conferências além de fornecer rico manancial de extensão com novas aberturas e propósitos de conceitos conhe cidos de suas obras anteriores ainda possi bilitam ao leitor um contato mais íntimo com o estilo de pensamento e de comuni cação de BION Conferência introdutória à psicanálise FREUD 19161917 Livro de FREUD que reúne a transcrição de conferências pronunciadas em 1916 e 1917 para um auditório médico algo desconhe cido e descrente das concepção freudianas da época As Conferências podem ser con sideradas um inventário simplificado das opiniões de FREUD e um retrato da situação da psicanálise na época da I Guerra Mun dial São 28 conferências no total que se distribuem no volume XV da Standard Edi tion como mostra o Quadro 1 As Confe rências introdutórias tiveram maior circula ção que quaisquer outras obras de FREUD com exceção da Psicopatologia da vida co tidiana 1901 Confiança básica ERIK ERIKSON Bastante conhecida e utilizada na literatura psicanalítica a expressão foi concebida por VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 79 ERIKSON psicanalista alemão que emigrou para os Estados Unidos filiandose à esco la da Psicologia do Ego Ensinou e praticou a psicanálise com crianças em Boston Aproximandose bastante da corrente dos psicanalistas culturalistas ERIKSON dedicou se aos problemas da adolescência tendo publicado em 1950 Infância e Sociedade que o tornaria célebre Nessa obra ERIKSON distinguiuse do freudismo clássico mostran do que o ego longe de ser uma mera ins tância psíquica ou um departamento deri vado do id podia ser receptivo a todas as mudanças sociais Daí sua tese segundo a qual a cada etapa de sua evolução o su jeito podia fazer uma escolha baseada na confiança ou na desconfiança Apesar de ter o conceito confiança básica sido formu lado mais conectado com a dimensão dos interrelacionamentos do sujeito com a so ciedade a expressão costuma ser utilizada pelos analistas em geral com o significado do desenvolvimento de núcleos internos logo no próprio self Conflito psíquico FREUD Forças e exigências internas opostas exis tentes na mente que não se harmonizam entre si Podem por exemplo ser de uma oposição entre dois sentimentos conflitan tes ou de dois desejos simultâneos e con traditórios ou ainda um desejo id que não recebe a aprovação da censura moral su perego etc Segundo FREUD os conflitos psíquicos podem ser latentes ou manifes tos Um conflito latente pode se manifestar por derivados como o do surgimento de sin tomas psicóticos somatizações etc ou por algum transtorno de conduta como actings excessivos psicopatia atos perversos etc Num primeiro momento sua concepção de conflito incidia na oposição do ego e do superego aos desejos libidinais e o conflito se desenrolava entre o sistema consciente préconsciente versus inconsciente Quadro 1 Conferências Introdutórias à Psicanálise Vol XV XVI Conf I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII XXIV XXV XXVI XXVII XXVIII Título Atos falhos Atos falhos Atos falhos Atos falhos Sonhos Dificuldades e abordagens iniciais As premissas e a técnica da interpretação O conteúdo manifesto e os pensamentos latentes do so nho Sonhos infantis A censura dos sonhos Simbolismo nos sonhos A elaboração dos sonhos Algumas análises de exem plos de sonhos As características arcaicas e o infantilismo dos sonhos Satisfação dos desejos Incertezas e críticas Teoria geral das neuroses Psicanálise e psiquiatria O sentido dos sintomas Fixação aos traumas O in consciente Resistência e recalcamento A vida sexual dos seres hu manos O desenvolvimento da libi do e das organizações geni tais Algumas considerações so bre desenvolvimento e re gressão Os caminhos para a forma ção de sintomas O estado neurótico comum Angústia A teoria da libido e o narci sismo Transferência Terapia analítica 80 DAVID E ZIMERMAN Em resumo o conflito psíquico pode ter distintas abordagens como a usada na teoria topográfica ou na teoria estrutu ral São exemplos do primeiro caso o consciente opondose ao inconsciente o processo primário ao secundário etc Do segundo podese mencionar pulsões do id em conflito ora contra defesas do ego ora contra as ameaças do superego e outras vezes alguma pulsão do id como a de vida está em conflito com outra pulsão como a de morte o princípio do prazer contra o princípio de realida de e viceversa Na atualidade a noção de conflito psíqui co estrutural deve incluir a noção das ex pectativas provindas do ideal do ego e do ego ideal assim como os autoboicotes oriundos de uma organização patológica que age de dentro do self e contra ele Da mesma forma é importante considerar os conflitos intrapsíquicos que se estabelecem entre diferentes partes do self que habitam um mesmo self como pode ser o de uma parte psicótica da personalidade contra a parte nãopsicótica conforme BION o da parte infantil contra a parte adulta o de uma parte sadia em confronto com outra per versa etc Além desses conflitos interpessoais a psi canálise contemporânea está valorizando sobremaneira os conflitos intrapessoais e os transpessoais levando em conta o fato de que o excesso de exigências no ritmo acelerado imposto pela cultura do exi tismo requerido pela sociedade moder na entra em conflito com os inevitáveis limites do ego de qualquer indivíduo ou grupo A partir de Além do princípio do prazer 1920 FREUD incluiu a pulsão de morte ampliando bastante o espectro dos confli tos psíquicos especialmente quando a pul são de morte fica desfundida da fusão na tural que deve ter em situações normais com a pulsão de vida Confusão de Linguagens entre o Adul to e a Criança FERENCZI 1933 Título de um de seus mais importantes tra balhos em que FERENCZI estuda o proble ma dos traumas sofridos pelas crianças nos inícios do desenvolvimento emocional FE RENCZI elaborou a sua teoria do trauma a partir da situação da violência sexual co metida por parte de um adulto Ao brincar com um adulto normalmente a criança o faz dentro de um jogo lúdico em que suas fantasias estão presentes inclusi ve as eróticas ligadas à conflitiva edípica A genitália porém está ausente de sorte que se estabelece uma linguagem da criança com o adulto com o qual ela brinca que FERENCZI chamou de linguagem da ternura No entanto pode acontecer que a essa lin guagem de sedução sadia por parte da criança algum adulto pode responder com outra linguagem a da paixão genital As sim fazendo uma confusão de linguagens o adulto cria uma desestruturação no psi quismo da criança porquanto empresta um significado de perversão genital àquilo que era uma perversão prégenital da criança Uma conseqüência daninha comum de si tuações como a descrita consiste no fato de que submetida a violências sexuais recor rentes não faz com que essa criança se oponha ao agressor Pelo contrário costu ma identificarse com ele revertendo a pas sividade em atividade caracterizando uma identificação com o agressor conforme des crito por ANNA FREUD Confusional estado Aparece com bastante freqüência quer na situação analítica quer fora dela Descon tando os casos em que a confusão mental se deve a causas orgânicas ou a uma psico se franca podese apontar quatro situações que determinam um estado confusional prejudicial para o sujeito Há uma quinta VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 81 que do ponto de vista da situação analíti ca pode ser considerada um sinal de pro gresso Assim 1 A confusão do sujeito pode estar expressando uma forte predominân cia da posição narcisista com a permanên cia de uma simbiose nas interrelações logo uma indiscriminação entre o eu e o outro de acordo com a formação da palavra con fusão que atesta a prevalência de uma recíproca fusão no lugar do que deveria ser uma adequada capacidade do ego de dis criminação 2 O ego do sujeito não conse gue processar uma exitosa dissociação en tre as pulsões amorosas e as destrutivas e ou entre os objetos bons e os persegui dores 3 Existe um uso excessivo por parte do ego da defesa da identificação projeti va seguida de reintrojeções de sorte que fica difícil distinguir quem é quem 4 Na situação analítica pode acontecer que o dis curso confuso do paciente esteja não só de notando sua confusão interna como pode estar a serviço de uma inconsciente tentativa de deixar seu analista confuso através de um ataque a sua capacidade perceptiva logo in terpretativa 5 A situação indicadora de um progresso analítico embora em meio a um penoso estado confusional do paciente ocorre quando essa confusão esteja expressando a transição de um estado mental para outro mais desenvolvido Por exemplo de uma po sição esquizoparanóide para uma depressi va de uma posição de falso self para uma de verdadeiro self e assim por diante Cognitivocomportamental Corrente psicoterapêutica comportamenta lista behaviorista de expressiva aceitação em muitos meios Visa a três objetivos prin cipais 1 Reeducação em nível conscien te das concepções errôneas do paciente 2 Treinamento de habilidades comportamentais por exemplo um obeso desenvolver táticas para evitar o consumo exagerado de alimen tos 3 Modificação no estilo de viver Confusões geográficas e zonais MELTZER Estado primitivo da mente que MELTZER 1967 num outro registro denomina con fusão geográfica a qual resulta de um ex cesso de identificações projetivas que gera uma confusão não só entre o interior e o exterior do objeto mas também entre reali dade externa e realidade psíquica Em seu primeiro livro O Processo Psicanalítico 1967 MELTZER descreve a evolução gra dativa da transferência em uma análise como um processo e com uma história pró pria que transita por quatro etapas A primeira seria a coleta da transferência A segunda a de confusões geográficas na qual o paciente utiliza o analista para nele depositar por meio de identificações pro jetivas as angústias e emoções intoleráveis Aí MELTZER introduz o termo seio latrina como metáfora do processo que durante esse período rege a forma de deposição e o destino das fantasias inconscientes do analisando A terceira etapa é a de confusões zonais na qual podem ser analisadas as angústias e os conflitos que participam dos processos edípicos e préedípicos em especial os relaci onados com as funções atributos e usos que são conferidos na fantasia às zonas eróge nas como o seio boca ânus pênis etc Se essa terceira etapa for exitosamente ana lisada passase para a quarta que MELTZER denomina umbral da posição depressiva Congelamento da situação de fracas so WINNICOTT Segundo WINNICOTT a repetição das falhas ambientais precoces resulta num congela mento da situação de fracasso no qual tudo ocorre como se nesse momento tivesse ocorrido um acúmulo de idéias recorda ções e sentimentos relacionados entre si Esse acúmulo segundo o autor expressa ria a esperança de que no futuro possa 82 DAVID E ZIMERMAN surgir um meio favorável para que todas essas sensações de experiências emocionais mal resolvidas possam ser reexperimenta das e superadas Nas palavras textuais do próprio WINNICOTT 1954 Na teoria do desenvolvimento do ser humano deve in cluirse a idéia do que é normal e sadio que o indivíduo possa defender o self contra um fracasso específico do meio ambiente me diante o congelamento da situação de fra casso Com isso irá a suposição inconsci ente suscetível de se converter em uma esperança consciente de que mais adian te terá a oportunidade de uma experiência renovada na qual a situação de fracasso possa ser descongelada e reexperimentada com o indivíduo em estado de regressão em um meio que esteja realizando uma adaptação adequada Portanto confirmo a teoria de que a regressão é parte de um processo curativo Conhecimento BION Designa ao mesmo tempo uma importan te função do ego e um tipo de vínculo BION foi o autor que mais estudou esse aspecto da vida psíquica com o enfoque de víncu lo sempre presente nas relações do sujeito com os outros e consigo mesmo ao lado dos outros dois vínculos o do amor e o do ódio Em algum grau os três vínculos são indissociados ora predominando um ora outro conforme as circunstâncias BION de signa esse vínculo com a letra K inicial do termo inglês knowledge Nos textos em português ou espanhol costuma aparecer com as letras C ou S respectivamente ini ciais de conhecer e saber Como fez com os outros dois vínculos fundamentalmente BION valorizou sobretudo o aspecto K ou seja a antiemoção a oposição à função de querer conhecer Logo o sinal negativo de K indica um estado mental do sujeito em não querer conhecer as verdades penosas tanto as externas como as internas Essa abordagem de BION introduziu os analistas no importantíssimo problema relativo ao uso que as pessoas fazem da verdade ou das suas diversas formas de distorções fal sificações e graus de negação Conjectura BION BION utiliza a expressão conjectura imagina tiva para designar o exercício de uma ima ginação especulativa sem compromisso com o rigor científico isto é deixar livre a imagememação como as que ele fez acerca do psiquismo fetal enquanto o conceito de conjectura racional exige uma fundamentação em fatos de comprovação científica Conjunção constante BION Configuração de fatos que estão sempre presentes no psiquismo e interagindo em toda relação que seja do tipo continente conteúdo Inspirado no matemático D HUME BION utilizou esse termo para con ceituar as suas hipóteses acerca do desen volvimento dos pensamentos Conluio inconsciente conceito de prática clínica O estado resistencialcontraresistencial mais sério e esterilizante de uma análise é o que se manifesta sob a forma de conluios inconscientes aos conscientes é mais apro priado chamar de pactos corruptos Tais conluios podem adquirir muitas modalida des como é o caso dos que seguem 1 Uma muda combinação inconsciente entre paci ente e analista no sentido de evitarem a abordagem de certos assuntos difíceis para ambos 2 Uma recíproca fascinação narci sista que às vezes atinge um estado de encantamento mútuo impossibilitando a análise de aspectos agressivos 3 Uma re lação de poder sob uma forma sadomaso quística disfarçada 4 Uma aliança simbió VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 83 tica quando buscando novasvelhas ilu sões ambos se empenham em promover recíprocas e inesgotáveis gratificações re forçando a eterna fantasia de que o im possível um dia se concretizará 5 BION cha ma a atenção para outra forma de conluio resistencialcontraresistencial muito dani nha devido a sua natureza silenciosa e de teriorante um conformismo com a estag nação da análise portanto em um estado de apatia entre ambos 6 MELTZER alerta para o risco de um conluio perverso que consis te num enredamento do analista num jogo de seduções por parte de pacientes com características perversas 7 Entre as possi bilidades de um conluio perverso sobressai a de natureza erotizada não é a mesma coisa que transferência erótica Consciente FREUD Ao formular a teoria topográfica palavra derivada do étimo grego topos lugar FREUD descreveu o aparelho psíquico como com posto por três sistemas o inconsciente Ics o préconsciente Pcs e o consciente Cs Algumas vezes denomina o último sistema percepçãoconsciência O sistema consciente tem a função de rece ber informações relativas às excitações pro vindas do exterior e do interior que ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer eou desprazer que causam cujas representações processamse no sistema inconsciente Assim em sua maior parte as funções perceptivocognitivomotoras do ego como as de percepção pensamento juízo crítico evocação antecipação conhe cimento atividade motora etc operam no sistema consciente embora intimamen te conjugadas com o sistema inconsciente com o qual comumente estão em oposição Na prática psicanalítica contemporânea indo além do paradigma estabelecido por FREUD de tornar consciente aquilo que for inconsciente ampliase essa afirmativa com a noção introduzida por BION de que mais importante é a maneira de como o consciente e o inconsciente do paciente comunicamse entre si Consideração WINNICOTT O termo concern traduzido em português tanto por consideração quanto por preocu pação foi usado por WINNICOTT para desta car os sentimentos positivos do bebê em relação à mãe não necessariamente ligados ao sentimento de culpa E muito menos sem que os possíveis sentimentos culposos ligados a uma consideração e preocupação pela mãe sejam devido às pulsões sádico destrutivas ligadas a uma inveja primária tal como foi postulado por M KLEIN Dessa maneira esse conceito de Winnicott ganha importância na prática clínica por que estabelece importante diferença entre o conceito kleiniano de reparação e o de uma natural consideração pelo outro Constância princípio da FREUD Como decorrência direta da necessidade de livrarse dos estímulos desprazerosos quan do está dominado pelo princípio do prazer o psiquismo tende a reproduzir o mesmo recurso que a medicina estuda sob o nome de princípio da homeostase biológica Isto é existe a necessidade da busca de um per feito equilíbrio das tensões provenientes de distintas partes do próprio organismo hu mano De forma análoga o princípio da constância visa à obtenção da menor tensão psíquica possível tanto pelo recurso de evitação e afas tamento da fonte de estímulos desprazerosos como por via de uma descarga que possibili te uma nivelamento equilibrador O princípio da constância também é conhe cido como princípio de Nirvana mas é útil estabelecer uma diferença entre ambos tal como aparece no verbete Nirvana 84 DAVID E ZIMERMAN Constância objetal M MAHLER Expressão bastante utilizada por MARGARE TH MAHLER na descrição das sucessivas eta pas e subetapas do desenvolvimento de uma criança A constância objetal seria a quarta etapa que surge entre os dois e três anos e se carateriza pelo fato de durante esse período a criança aprender a expressarse verbalmente e a começar a desenvolver a noção de tempo conferindolhe uma crescen te capacidade de tolerar a demora da gratifi cação e de suportar a separação Fundamentalmente a constância objetal consiste em obter que o estabelecimento de representações mentais do self da criança fiquem distintamente separadas das repre sentações dos objetos pois estes por esta rem introjetados de forma estável e serem de suficiente confiabilidade constante per mitem que a presença real da mãe não seja mais tão imperativa Construções em Análise FREUD 1937 Artigo de FREUD constituído de três partes I Ajuda do analista para livrar os recalcamen tos II Formas diretas e indiretas de confir mar a interpretação III Diferenciação entre verdade histórica e a subjetiva do paciente A parte I parte de historiais clínicos a do Homem dos Ratos a do Homem dos Lobos e a história do caso de uma moça homossexual para destacar a importância da ajuda do analista para livrar o analisan do dos recalcamentos Nessa parte consta a célebre frase o tra balho de construção ou reconstrução do analista em muito se assemelha à tarefa de escavação de um arqueólogo numa habi tação ou edifício antigo que tenha sido des truído e soterrado Só através da técnica analítica é possível trazer à luz o que está completamente oculto Ainda nessa primeira parte FREUD adverte os analistas para não incorrerem na crítica que então muitos faziam à atividade de o analista interpretar sempre querendo ter a razão na base de se der cara ganho eu se der coroa você perde Na parte II o enfoque é na avaliação das reações do paciente à construção interpre tativa do analista O autor enfatiza especi almente as formas diretas e indiretas de o paciente confirmar ou não a validade da interpretação A parte III é dedicada a estabelecer uma diferenciação entre a verdade histórica e a que é própria da subjetividade do pacien te como acontece nos delírios O trabalho em causa está publicado no vo lume XXIII da Standard Edition Brasileira Conteúdo manifesto conteúdo latente FREUD Ver o verbete sonho Continente BION Na psicanálise contemporânea a noção de continente adquire uma relevância ex traordinária Cunhada por BION o nome original inglês é container a palavra de signa a capacidade da mãe ou do tera peuta na situação analítica de conter as necessidades angústias e demandas do seu bebê ou do paciente por parte do analista De acordo com sua etimologia continente vem do verbo latino contine re que significa conter na situação ana lítica essa função consiste mais precisa mente nos seguintes passos 1 Acolher seu paciente venha ele como vier BION chama a esse estado mental receptivo in condicional como revêrie 2 Aceitar e conter a carga de identificações projeti vas que o paciente deposita na mente do analista 3 Descodificar seu conteúdo 4 Reconhecerlhes o significado e o senti do 5 Dar um nome àquilo que o pacien te projeta e que ainda não tem para defi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 85 nir o que ele sente e o que faz 6 Devol ver ao paciente o conteúdo daquilo que ele projetou no continente do analista em doses parceladas devidamente desinto xicadas e nomeadas através da ativida de interpretativa Comentário Creio útil propor mais qua tro aspectos relativos ao conceito de conti nente do analista 1 O analista não deve confundir sua função de continente que é um processo ativo com o papel de recipi ente situação em que serviria unicamente como depositário de evacuações mentais do paciente 2 Um aspecto particularmen te importante na prática analítica inerente ao continente é sua função de custódia Isto é a de o analista guardar dentro de si du rante um tempo às vezes bastante prolon gado aquilo que o paciente projeta nele até existirem condições de o paciente rece ber de volta o que deixou em custódia ago ra devidamente elaborado e nomeado 3 Cabe incluir a noção de subcontinentes ou seja um analista pode servir como um ex celente continente para determinados aspectos do paciente digamos agressivos ou eróticos enquanto é possível que falhe na contenção de outros tipos de afeto nele projetados como por exemplo os de na tureza depressiva 4 Quando se fala em continente logo se pensa na capacidade de conter o que vem dos outros No en tanto a condição de autocontinência por parte do analista é única forma de possi biltar ao paciente uma exitosa aquisição dessa capacidade Continenteconteúdo relação BION Coerente com sua concepção de que toda análise é sempre um processo vincular BION postulou que o continente é o lugar do psi quismo do analista ou da mãe com o seu filho onde o paciente vai colocar o conteúdo muitos chamam de contido um conjunto de necessidades angústias e objetos Essa relação continenteconteúdo é repre sentada graficamente por BION com signos do masculino e do feminino numa maneira de dizer que algo penetra ativa mente em um lugar que ou permite e acolhe a penetração ou não permite re chaçandoa Ao descrever os vínculos humanos BION descreve três modalidades 1 Parasitária termo tirado da biologia que designa a condição em que somente um dos dois vin culados se beneficia enquanto o outro cor re o risco de vir a ser destruído 2 Comen sal de acordo com a etimologia partilhar a mesma mesa alude a uma relação har mônica porém morna entre hóspede e hospedeiro 3 Simbiótica termo também emprestado da biologia indica que o vín culo interpessoal é harmônico com recí proca troca de benefícios Continuidade existencial ou continui dade do ser WINNICOTT WINNICOTT enfatiza textualmente que A mãe que desenvolve o estado a que denominei preocupação materna primária fornece um setting para que a constituição do bebê possa aparecer as tendências do desenvol vimento se revelem e para que o bebê ex perimente movimentos espontâneos domi nando as sensações apropriadas a essa fase precoce da vida De acordo com essa tese uma provisão ambiental suficiente mente boa na fase inicial possibilita ao bebê dar início a uma existência a experimen tar a constituir um ego pessoal a dominar as pulsões e enfrentar todas as dificuldades inerentes à vida Todas essas coisas são sen tidas como reais pelo bebê que é capaz de possuir um self que finalmente podese dar ao luxo de sacrificar a espontaneidade e até morrer WINNICOTT faz questão de realçar que a pre ocupação materna primária constituise como o primeiro ambiente facilitador no 86 DAVID E ZIMERMAN qual o bebê consegue ser e crescer transi tando de forma exitosa de um estado de dependência absoluta para o de uma de pendência relativa e daí o de um rumo à independência Contra Na literatura psicanalítica esse vocábulo comparece com grande freqüência como prefixo de inúmeras expressões psicanalíti cas ora com o significado de oposição como em contrafobia por exemplo ora significando uma contrapartida como por exemplo em contratransferência Seguem algumas das expressões mais correntes Contraacting ou contraatuação Fenômeno pelo qual os actings do pacien te ou seu discurso provocador conseguem mobilizar o analista a de forma análoga à do paciente igualmente cometer atuações Contracatéxis ou contrainvestimento FREUD Expressão utilizada por FREUD para defi nir que o aparelho psíquico a fim de man ter as repressões inacessíveis ao consci ente mobiliza uma energia contrária e de igual força à que foi gasta para a repres são no inconsciente O contrainvestimen to não é exclusivo para a manutenção da repressão aparecendo em inúmeros ou tros mecanismos defensivos como isola mento anulação e nos processos de ne gação em geral Contraego Embora não exista na literatura psicanalíti ca entendi ser útil incluir essa expressão porque ela vem obtendo uma boa resposta dos leitores dos textos em que a tenho em pregado Como sua composição sugere contraego designa a condição na qual parte do próprio ego sabota e impede o cresci mento do restante da personalidade do su jeito Essa expressão pretende sintetizar muitas das distintas formas que têm sido des critas por diferentes autores relativamente a esse fenômeno de especial importância para a técnica e a prática psicanalítica e das quais damos a seguir alguns exemplos FAIRBAIRN 1941 referia o fenômeno como ego sabotador ROSENFELD 1971 descreveu a gangue nar cisista um conjunto de objetos que sob a forma de ameaças e falsas promessas qual uma máfia impede que o paciente reco nheça e assuma um lado seu de criança frágil mas que movido pela pulsão de vida pugna por se libertar e crescer STEINER 1981 dá o nome muito apropria do de organização patológica aludindo a um conluio perverso entre partes distintas do self BOLLAS 1997 refere o estado fachista uma organização interna que promete o paraí so se o sujeito comportarse de determina da maneira porém o ameaça com o infer no se de alguma forma desobedecer aos ditames impostos Outras formas de contraego poderiam ser acrescentadas Citamos o caso de uma obe diência a determinado papel conferido ao sujeito pelos pais por exemplo o de ser um eterno companheiro da mãe em que ocorre um protesto de seu próprio ego quando ele quer se emancipar Isso acon tece em algumas reações terapêuticas ne gativas diante de um êxito analítico Contrafobia É bastante freqüente que o psiquismo de um fóbico como um recurso extremo de espantar seu medo ordene que ele não evite a situação fobígena mas que pelo contrário a enfrente com uma aparência de destemor e intrepidez VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 87 Contraidentificação projetiva GRIN BERG Cunhada pelo psicanalista argentino L GRIN BERG a expressão designa o fato de o ana lista ficar impregnado com as cargas maci ças das identificações projetivas do pacien te Fica assim sendo dirigido passivamen te a sentir e a executar determinados pa péis Esse fenômeno constituise como o fator fundamental à formação da contra transferência Contraresistência conceito de técnica Caída num certo desuso com a crescente ênfase na psicanálise vincular a expressão está voltando a aparecer com maior regu laridade nos textos psicanalíticos concernen tes à técnica O aspecto mais importante do movimento resistencial do analista em ressonância com as resistências do pacien te diz respeito ao risco da formação de di versos tipos de conluios resistenciaiscon traresistenciais tal como está descrito no verbete conluio inconsciente Contratransferência conceito de técnica FREUD foi o primeiro autor a utilizar essa ex pressão em 1911 num congresso de psi canálise realizado em Nürenberg porém conceituoua como um fenômeno que atra palharia a análise e afirmou que estes sen timentos provindos de um analista seriam uma prova de que ele estaria necessitado de mais análise Talvez por essa razão salvo raras exceções esporádicas o fenômeno contratransferen cial durante quatro décadas não aparecia manifesto nos trabalhos dos analistas Uma dessas exceções foi o corajoso texto de WIN NICOTT 1947 intitulado O ódio na con tratransferência onde ele encara com na turalidade a emergência desse sentimento no analista diante de certos pacientes ex tremamente regressivos Alguns poucos anos após por volta de 1950 trabalhando separadamente tanto PHEIMANN na Inglaterra como RACKER na Argentina trouxeram a valiosíssima contri buição à possibilidade de o sentimento con tratransferencial constituir um excelente ins trumento de empatia do analista com o que se passa no mundo interno do paciente Uma polêmica entre autores psicanalíticos gira em torno da questão da contratransfe rência deve ficar restrita unicamente à rea ção do analista frente ao que o paciente mobiliza nos seus núcleos inconscientes ou toda resposta emocional do analista duran te a situação analítica deve ser considera da como um processo contratransferencial Comentário Alguns aspectos merecem ser destacados 1 Existe o risco de se con fundir o que é contratransferência com o que não é mais do que uma transferência do próprio analista 2 O sentimento con tratransferencial pode adquirir uma dimen são patogênica com o analista perdido e envolvido na situação criada ou pode ser uma excelente bússola empática 3 É im portante que o analista possa conviver com naturalidade com os seus sentimentos con tratransferenciais dificílimos por exemplo de medo tédio paralisia impotência ero tização raiva etc sem sentir vergonha e culpas de modo a poder assumir e refletir sobre o que eles representam no vínculo 4 Assim podese dizer que a contratransfe rência apresenta uma perspectiva tríplice como um possível obstáculo como instrumen to e como integrante do campo analítico Contribuições à Psicanálise MKLEIN 1947 Com o título original Contributions to PsychoAnalysis é uma coletânea de arti gos escritos no período de 1921 O desen volvimento de uma criança até 1945 O complexo de Édipo à luz das ansiedades primitivas 88 DAVID E ZIMERMAN No prefácio da edição castelhana Contri buciones al Psicoanálisis 1964 a autora esclarece que este livro complementa meu Psicanálise de Crianças 1934 Mostra que minha obra se desenvolveu gradualmente e que as conclusões teóricas foram o resul tado de observações clínicas Nesse mes mo prefácio M KLEIN enaltece a introdução que fez em 1920 da técnica dos jogos e brinquedos como meio substituto da li vre associação de idéias preconizada por FREUD e reconhece a decisiva importância e influência de FERENCZI e de ABRAHAM Nessa obra aparecem os 18 trabalhos fun damentais da obra de M KLEIN entre eles O papel da escola no desenvolvimento li bidinal da criança 1923 Estágios pre coces do conflito edípico 1928 A impor tância da formação de símbolos no desen volvimento do ego1930 Uma contribui ção à psicogênese dos estados maníacode pressivos1934 O luto e sua relação com os estados maníacodepressivos 1940 Contribuições à Psicologia do Amor Freud 1910 Reunindoos sob essa denominação FREUD agrupou um conjunto de trabalhos seus tra tando do amor escritos em diferentes épo cas Neles também é possível perceber como o gênio de Viena encarava a sexuali dade masculina O primeiro desses trabalhos é Sobre um tipo particular de eleição de objeto no ho mem 1910 que estuda a forte preferên cia por mulheres de caráter duvidoso de certos indivíduos que tendem mesmo a enamorarse das assim chamadas mulhe res fáceis que lhes provocam intensos ci úmes FREUD destaca que ante o naufrágio da relação amorosa geralmente inevitável os indivíduos tendem a envolverse em ou tras relações de características muito pare cidas Ademais ante essas mulheres levia nas o enamorado exalta sua própria auto exigência de fidelidade que a rigor rara mente cumpre Observase também a fan tasia de resgatar a amada das condições indignas em que vive Segundo FREUD os ciúmes reproduzem o padecimento do me nino ignorado e excluído ante a intimida de do casal parental Um trabalho posterior do autor Sobre a mais generalizada degradação da vida amo rosa 1912 tenta mostrar que a impotên cia psíquica do homem com algumas mu lheres e não com outras se deve a uma fixação incestuosa à mãe e à irmã A terceira das Contribuições à psicologia do amor é O tabu da virgindade 1917 onde FREUD estuda a atitude de diferentes culturas primitivas ante o defloramento da mulher Descobre o surpreendente fato de que em muitas delas a tarefa não é do marido sendo delegada a alguma autori dade que a realiza através de instrumen tos ou simplesmente através do coito Daí FREUD conclui que em certos povos pri mitivos a mulher constitui um tabu e que desperta horror porque ativa o complexo de castração do varão Na nossa cultura pelo contrário o homem costuma pavonearse quando executa um desvirginamento o que pode sugerir que nesse ato o sujeito visa a afirmar sua masculinidade e evitar o horror à castração tentando convencerse que castra do é algum outro e não ele Ainda em relação à patologia amorosa por parte do homem FREUD produziu os arti gos Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 em que estuda o problema da homossexualidade O feti chismo 1927 no qual aborda o quanto o ego do sujeito se cinde numa parte que reconhece a castração e noutra que a repu dia assim mantendo a convicção de que a mulher possui pênis logo não está castra da No historial clínico do Homem dos lo bos 1918 volta a estudar o complexo de castração do menino e o horror ante a falta de pênis na mulher VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 89 Controle diversos tipos de Muito freqüente na literatura psicanalítica o termo controle é usado com quatro acep ções distintas como as que seguem enu meradas 1 Controle de caso de análise O vocábulo era empregado para definir o que hoje é correntemente denominado supervisão sis temática de acompanhamento de casos em análise geralmente por parte dos analistas candidatos em formação nos institutos de psicanálise Embora ainda algo utilizado o termo controle nessa acepção está prati camente abolido em vista do caráter supe regóico que sugere 2 Controle onipotente Expressão introdu zida por M KLEIN para designar um recurso primitivo do bebê o qual pode manterse fixado em muitas personalidades adultas Essa onipotência se sustenta com as fanta sias inconscientes do bebê de que ele tem a posse absoluta da mãe que pode invadir seu interior se apossando dos seus tesou ros isto é do pênis do pai das fezes e principalmente dos outros bebezinhos de que no seu imaginário a mãe estaria re pleta Visto de outros ângulos podese dizer que a o controle onipotente é uma característi ca dos sujeitos que funcionam predominan temente numa posição narcisista isto é adultos que ainda mantêm a crença mági ca de que o mundo é que gira em torno deles b BION aponta que o controle onipo tente está sempre presente na parte psicóti ca da personalidade e se forma por meio do uso exagerado do que ele chama de identificações projetivas excessivas 3 Controle maníaco Também é um con ceito introduzido por M KLEIN que ao estu dar as defesas maníacas descreveu três mecanismos básicos o controle o triunfo e o desprezo Essa tríade maníaca se organi za defensivamente como negação maciça contra o sentimento de inveja o reconhe cimento da dependência e sobretudo con tra a tomada de contato com sua depres são subjacente Nessa situação de controle maníaco quando o sujeito pretende con trolar tudo e todos na verdade está se de fendendo contra as angústias persecutó rias e depressivas 4 Controle obsessivo Esse aspecto apare ce mais nitidamente nas relações vincula res interpessoais como na de um casal por exemplo em que um dos cônjuges exerce um controle tirânico e sufocante sobre o outro Isso pode deverse a diversas razões ciúme patológico medo ou inveja do cres cimento do outro forte angústia de separa ção uma forma perversa de manter um vín culo de apoderamento etc Controvérsias na Sociedade Psicana lítica Britânica No período de 1943 a 1944 agudizaramse as divergências entre as concepções teóri cotécnicas de M KLEIN e A FREUD acerca da análise com crianças A primeira postu lava que o uso de brinquedos deveria per mitir um acesso do analista ao inconsciente das criancinhas e que tal como na análise de adultos deveria trabalhar com as ansie dades decorrentes das primitivas fantasias inconscientes ANNA FREUD que também utilizava brinque dos e jogos criticava acerbamente o modo de M KLEIN analisar crianças Advogava que deveria ser dado um enfoque pedagógico à análise com crianças o que por sua vez igualmente mereceu duras críticas de KLEIN Com o envolvimento dos seguidores e par tidários de uma ou da outra delas a situa ção chegou a um ponto tal que represen tou uma séria ameaça de uma cisão defini tiva na Sociedade Britânica de Psicanálise A situação somente foi contornada através do que ficou sendo conhecido como um acordo de cavalheiros embora tivesse sido subscrito por três mulheres A FREUD 90 DAVID E ZIMERMAN M KLEIN E S PAYNE então presidente da Sociedade Desse acordo resultou a formação de três grupos o kleiniano o anafreudiano hoje chamado de Freudianos Contemporâneos e um grupo intermediário inicialmente deno minado Middle Group que na atualidade é conhecido como Grupo Independente Conversando com Bion Conferênci as de Bion 1992 Livro que reúne conferências na verdade debates em torno de questões levantadas pelo auditório pronunciadas em São Pau lo Brasília Los Angeles e Nova York Para quem quiser se familiarizar mais inti mamente com as idéias de BION é de leitu ra obrigatória pelas ininterruptas indaga ções surpresas e instigantes reflexões que desperta no leitor Corpo Antes de todos FREUD atribuiu um papel fundamental à representação do corpo no psiquismo desde a condição de criancinha como pode ser comprovado com o seu clás sico aforismo de que o ego antes de tudo é corporal Autores de todas as correntes analíticas têm se detido nos aspectos do de senvolvimento emocional primitivo direta mente ligado às funções corporais É justo dar um destaque ao Instituto de Psicosso mática de Paris com os avançados estudos sobre a relação mentecorpo e também às contribuições de LACAN que se deteve na imagem que a criança faz de seu corpo durante a etapa do espelho A prática clínica com pacientes bastante regredidos atesta através de sintomas e si nais os mais diversos o quanto o corpo tem representação no ego primitivo e pode manifestarse de múltiplas maneiras como conversões somatizações angústia de des pedaçamento alucinoses ditorção perma nente da imagem corporal etc Conversão FREUD FREUD estudou o fenômeno conversivo em suas pacientes marcadamente histéricas Como diz o nome conversão consiste no fato de que afetos reprimidos e proibidos de emergirem no consciente tal como acon tece com a deformação simbólica dos so nhos aparecem disfarçados convertendo se em sintomas corporais sob duas vias a através dos órgãos dos sentidos caso da ce gueira histérica surdez perda de tacto etc b por manifestações no sistema nervoso vo luntário contraturas musculares paralisias motoras hipo ou hiperestesias etc Correntes psicanalíticas Ver o verbete escolas de psicanálise Couraça caractereológica W REICH Expressão criada por WREICH cujo concei to está descrito no verbete caracterológica couraça Crescimento mental BION Por achar necessário estabelecer nítidas di ferenças filosóficas e técnicas com o que se passa no campo da medicina como tam bém porque nunca existe uma resolução completa do que se passa no abstrato mun do do psiquismo BION evita o uso do clás sico termo cura para o tratamento psicana lítico Prefere a expressão crescimento men tal que empresta uma noção mais dinâmi ca e nunca terminável dentro do sujeito O modelo clássico de cura pode ser repre sentado com a metáfora de um funil aber to cheio de conflitos quando se inicia a análise e que quando termina chegam à extremidade fina terminal do funil Pode se dizer que BION inverte o funil de modo que à medida que progride a análise o paciente expande mais o funil qual um universo em expansão porquanto mais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 91 aumentam sua curiosidade e suas indaga ções acerca do mundo e de si mesmo Para melhor esclarecer o seu conceito de crescimento mental BION utiliza o esclare cedor modelo de uma espiral uma helicoi dal num continuado movimento ascenden te e expansivo de sorte que o paciente pode trazer o mesmo assunto centenas de vezes Importante é que o analista discrimine se o relato é circular isto é repetese da mes míssima forma ou tratase de um movimen to espiralar no qual os assuntos voltam ao mesmo ponto porém num plano um pou co acima Criança é espancada Uma FREUD 1919 O título completo desse conhecidíssimo tra balho de FREUD é Uma criança é espanca da uma contribuição para o estudo das perversões sexuais Publicado no volume XVII p225 da Standard Edition Brasileira sua maior parte consiste de uma investigação clínica muito detalhada a respeito do proble ma do masoquismo correlacionandoo com as fantasias inerentes à sexualidade O artigo dividese em seis partes Além do masoquismo FREUD faz considerações acer ca do sadismo da masturbação e das per versões em geral Crianças sábias FERENCZI Termo que aparece no trabalho Confusão de Língua entre os Adultos e a Criança 1933 em que FERENCZI prossegue um es tudo anterior acerca do que ele denominou bebê sábio no qual refere que uma criança ainda no berço põese subitamente a falar e até a mostrar sabedoria a toda a família Afirma que o medo diante de adultos en furecidos de certo modo loucos transfor ma por assim dizer a criança em psiquia tra para protegerse do perigo que repre sentam os adultos sem controle ela deve em primeiro lugar saber identificarse por completo com eles É incrível o que pode mos realmente aprender com as nossas crianças sábias os neuróticos Prossegue FERENCZI Existe um terceiro meio de se prender uma criança é o terro rismo do sofrimento As crianças são obri gadas a resolver toda espécie de conflitos familiares e carregam sobre seus frágeis ombros o fardo de todos os outros mem bros da família Uma mãe que se queixa continuamente de seus padecimentos pode transformar seu filho pequeno num auxili ar para cuidar dela ou seja fazer dele um verdadeiro substituto materno sem levar em conta os interesses próprios da criança Crianças psicanálise de Indiretamente a psicanálise de crianças des lanchou no início do século XX quando FREUD evidenciou o papel fundamental da sexualidade infantil no destino humano Propôs a seu amigo e discípulo MAX GRAF que sob a sua orientação analisasse seu filho Herbert Graf do que resultou o céle bre Caso clínico do Pequeno Hans Aliás FREUD sempre foi um grande incenti vador da prática da análise com crianças o que pode ser medido não só pelo incentivo que deu a sua filha ANNA como pode ser evidenciado nessa frase que faz parte do seu prefácio para o livro de AUGUST AICHORN 1925 Juventude abandonada A criança se tornou o objeto principal da pesquisa psicanalítica Tomou assim o lugar do neu rótico primeiro objeto dessa pesquisa Na história da psicanálise o papel de ana listas de crianças coube inicialmente às mulheres que se constituíram como as prin cipais pesquisadoras criadoras e pratican tes da psicanálise infantil Não obstante depois de A AICHORN outros homens dedi caramse a esse ramo da psicanálise como EERIKSON RSPITZ WINNICOTT J BOWLBY e MELTZER Na atualidade grande número de 92 DAVID E ZIMERMAN analistas homens que praticam a psicanáli se de crianças A idéia de estender à criança o tratamento psicanalítico partindo da noção de que a pobreza lingüística da criança poderia ser compensada pelo emprego de brinquedos e jogos foi da DRA HERMINE VON HUGHELL MUTH que acabou sendo vítima de assassi nato cometido por um sobrinho No entanto a psicanálise de crianças ga nhou notável aprofundamento e reconhe cimento psicanalítico a partir dos trabalhos sistemáticos de ANNA FREUD e M KLEIN Tra balhando separadamente e usando méto dos distintos centralizaram sobre si o mo vimento da psicanálise infantil Suas diver gências geraram debates acirrados entre ambas e seus seguidores situação que veio a provocar as célebres Controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanálise Assim a escola vienense liderada por A FREUD radicalizou a posição de que a aná lise de uma criança não deveria começar antes dos quatro anos de idade nem ser conduzida diretamente com ela mas sim por intermédio da autoridade dos pais res ponsáveis O próprio SFREUD sustentava essa opinião como aparece na sua corres pondência com JOAN RIVIÈRE de 1927 Pos tulamos como consideração prévia que a criança é um ser pulsional com um ego frá gil e um superego justamente em vias de formação No adulto trabalhamos com a ajuda de um ego já firmado Portanto não é ser infiel à análise levar em conta em nossa técnica a especificidade da criança na qual durante a análise o ego deve ser apoia do contra um id pulsional onipotente MKLEIN ao contrário postulava convicta mente que era preciso abolir todas as bar reiras que impediam o analista de ter aces so diretamente às fantasias inconscientes que povoam o inconsciente da criança partindo da sua prática de análise com crianças de 2 a 3 anos através da técnica dos brinquedos e jogos que lhe permitia afirmar que o infante palavra derivada do latim in não fans particípio presente de fari falar ainda não fala mas já não é um bebê uma vez que reprimiu o bebê dentro de si HANNA SEGAL assim resumiu a técnica de MKLEIN com crianças Ela fornece à crian ça um enquadre analítico apropriado ou seja os horários das sessões são rigorosa mente fixados 55 minutos cinco vezes por semana O aposento é especialmente adaptado para receber crianças Contém apenas móveis simples e robustos uma mesinha e uma cadeira para a criança uma cadeira para o analista e um pequeno divã As paredes são laváveis Cada criança deve ter a sua caixa de brinquedos reservada unicamente para o tratamento Os brinque dos são cuidadosamente escolhidos Há casinhas pequenos bonecos homens e mulheres de preferência de tamanhos di ferentes animais de fazenda e animais sel vagens cubos bolas bolas de gude e ma terial tesoura barbante lápis papel e mas sa de modelar Além disso o cômodo deve ser provido de uma pia posto que a água desempenha um importante papel em cer ta fase da análise No desafio entre a técnica de orientação nitidamente pedagógica de AFREUD e a de natureza rigorosamente psicanalítica de M KLEIN a passagem do tempo veio dar razão à segunda pois a técnica por ela preconi zada embora sofrendo naturais modifica ções veio a vingar na sua essência em todo o mundo psicanalítico Não obstante o mé todo pedagógico postulado pela escola vi enense foi acolhido e adotado pelos analis tas defensores das experiências sociais e edu cativas Além disso cabe destacar que atual mente os analistas de crianças trabalham muito mais próximos dos pais da criança São muitos os psicanalistas infantis das úl timas gerações que pesquisaram trabalha ram e publicaram trabalhos concernentes ao entendimento de crianças autistas En tre muitos outros nomes importantes me VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 93 recem citação FRANCIS TUSTIN ANNE ALVAREZ E MELTZER além de SLEBOVICI FRANÇOISE DOLTO e MAUD MANNONI Criatividade primária WINNICOTT No texto Desenvolvimento emocional pri mitivo 1945 WINNICOTT assim conceitua essa expressão É importante que a mãe e a criança vivam uma experiência jun tos O bebê vem ao seio e quando com fome alucinando um seio Neste momento o mamilo real aparece e ele é capaz de sen tir e acreditar que se trata do mamilo que ele alucinou e que criou Assim suas idéias são enriquecidas por experiências reais de visão sensações táteis de cheiro e da pró xima vez essas impressões serão usadas na alucinação que antecipa o ato de mamar Deste modo o bebê começa a criar uma capacidade de antecipar de evocar aquilo que é realmente disponível para ele Posteriormente esse autor enfatizou que a mãe durante algum tempo deve continu ar proporcionando ao filho esse tipo de ex periência fomentando a onipotência do recémnascido de que é ele quem criou o seio A isso WINNICOTT 1971 chama de criatividade primária Crise Essa palavra aparece com bastante freqüên cia no jargão psicanalítico tanto para indi car momentos culminantes na vida como na situação analítica de um determinado paciente Em termos institucionais existe uma questão que nos últimos anos vem ron dando e preocupando os analistas e a IPA a atual crise é da psicanálise dos psicanalistas ou de ambos Ela é inevitável e sadia ou re presenta uma ameaça à essência da ciência psicanalítica Tudo leva a crer que assim como já enfrentou outras crises similares tam bém na atual a psicanálise sairá fortalecida porém com sensíveis transformações acom panhando as mudanças socioeconomicocul turais do mundo contemporâneo De acordo com sua raiz o vocábulo crise deriva do grego krinen separar decidir Sig nifica que em determinado processo um casamento busca da identidade pessoal movimento social política institucional si tuação analítica foi atingido um ponto cul minante A partir desse ponto o processo terá um destes dois destinos possíveis a pode deteriorar progressivamente até a ex tinção b a prazo curto ou longo haverá uma modificação importante a qual pode representar ser um crescimento de nature za muito saudável e progressista embora quase sempre bastante dolorosa Crueldade primitiva da criança WINNICOTT Referese a uma concepção de WINNICOTT que assevera o fato de que no desenvolvi mento emocional primitivo a criança apre senta uma agressividade contra a mãe que exige desta boa capacidade de sobrevivên cia O autor frisa que essa crueldade não tem o mesmo significado que a agressão sádicodestrutiva ligada à inveja primária tal como foi descrita por M KLEIN Por outro lado o conceito de crueldade pri mitiva também alude ao fato de que a crian ça pequena tem uma cota inata de agressi vidade que se exprime em determinadas condutas autodestrutivas como o chupar o polegar até causarlhe algum dano etc O bebê volta sua agressividade sobre si mesmo para preservar o objeto externo Porém como essa manobra não é suficien te porque o bebê fantasia que danificou a mãe WINNICOTT enfatiza a importância de ter esta e o analista na situação psicanalítica a capacidade de sobrevivência aos ataques Culpa sentimento de FREUD M KLEIN É inerente ao ser humano Basta o estudo dos mitos ou a leitura da Bíblia para uma 94 DAVID E ZIMERMAN fácil comprovação do quanto a conduta dos homens está impregnada de culpas as mais distintas Em termos psicanalíticos FREUD descreveu mais claramente a importante presença do sentimento de culpa a partir de seus estudos sobre a neurose obsessiva ligandoa sempre a uma manifestação de reação do ego contra uma recriminação e ameaça punitiva do superego Como para FREUD o superego constitui o herdeiro dire to do complexo de Édipo uma das tarefas mais importantes do analista seria trabalhar com as culpas edípicas inconscientes de modo a tornálas conscientes Posteriormente ao estudar os problemas do masoquismo FREUD deu nova dimensão à concepção do sentimento de culpa ligando o também à pulsão de morte Coube igual mente a FREUD destacar o quanto os sentimen tos de culpa podem obstruir uma boa evolu ção da análise tal como ele descreveu no fe nômeno da reação terapêutica negativa MKLEIN descreveu a formação do sentimen to de culpa como conseqüência direta das pulsões sádicodestrutivas acompanhadas das fantasias inconscientes de ter atacado e danificado objetos necessitados Um dos requisitos da cura analítica consiste no de senvolvimento no paciente de uma capaci dade de fazer reparações o que caracteriza a entrada exitosa na posição depressiva GRIN BERG sintetizou admiravelmente as idéias de MKLEIN a respeito dos sentimentos de culpa propondo uma terminologia diferenciadora culpa persecutória e culpa depressiva Culturalismo corrente do Muitos psicanalistas começaram a discor dar das idéias fundamentais de FREUD e abriram dissidências Vários se uniram e organizaram outra linha teórica e de práti ca clínica Assim na década de 30 HSSULLIVAN K HORNEY E EFROMM alegan do que Freud dedicava muito mais interes se às biológicas pulsões instintivas nature do que aos fatores socioculturais nurture desligaramse da vertente vienense e funda ram a corrente do culturalismo a qual atingiu enorme aceitação nos Estados Unidos Cura O conceito psicanalítico de cura vai muito além do significado latente que o vocábulo sugere como é o de uma prestação de cuidados tal como aparece em cura de uma paróquia curador de menores procura dor curativo descurar etc Da mesma forma vai além do seu habitual significado manifesto como é habitualmen te empregado na medicina designando a resolução completa de alguma doença Em psicanálise o conceito de cura deve aludir mais diretamente ao terceiro signifi cado que o termo adquire qual seja o de um amadurecimento tal como é empre gado para caracterizar um queijo que está maturado sazonado o que equivale ao tra balho de uma lenta elaboração psíquica que permita a obtenção de mudanças caracte rológicas estáveis e definitivas Alguns autores ao mesmo tempo que apon tam uma série de aspectos que sofreram sensíveis transformações durante o proces so analítico que justificariam um critério de cura também alertam para as análises que aparentando estar tudo evoluindo muito bem possam não ser mais do que a construção de um falso self como enfatiza WINNICOTT ou cu ras cosméticas como as denomina BION Este último autor evita o termo cura preferindo a expressão crescimento mental pelas razões expostas no verbete respectivo Os principais critérios que indicam a obtenção de uma sempre relativa cura analítica estão descritos no verbete término da análise Curiosidade FREUD M KLEIN BION Fenômeno mental que aparece nos textos psicanalíticos sob distintos registros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 95 FREUD abordou a curiosidade de duas for mas Num primeiro momento aventou a hipótese de que o ser humano seria dotado de uma pulsão inata dirigida a querer co nhecer as verdades tanto que a criancinha já especula curiosamente quanto a querer saber como e de onde se formou e veio ao mundo Num segundo momento FREUD enfocou a curiosidade mais do ponto de vista da ânsia da criança em querer conhe cer o que se passa na cena primária com as respectivas fantasias o que exercerá uma forte influência na forma de evolução da conflitiva edípica MKLEIN como FREUD inicialmente também propôs a existência de uma pulsão episte mofílica tendo ambos abandonado essa teoria ao longo das respectivas obras O enfoque de MKLEIN incidiu principalmente na curiosidade da criancinha a respeito do interior do corpo da mãe acompanhada com a fantasia inconsciente de nela pene trar para conhecer controlar e se apossar dos tesouros escondidos em seu ventre como o pênis do pai e muitos bebês BION retomou a importância da curiosida de sob o vértice do vínculo K isto é se o sujeito tem vontade de querer conhecer as verdades por mais penosas que sejam ou se as evita a todo custo assim assassinan do a sua curiosidade Quando descreve a parte psicótica da personalidade entre ou tros elementos mais BION inclui o tripé com posto pela arrogância a estupidez e a curi osidade É necessário deixar claro que nes se contexto ele alude à curiosidade intrusi va agressiva BION esclarece melhor esse aspecto quando aborda três mitos o do Éden o de Babel e o de Édipo Segundo o primeiro Deus puniu Adão e Eva porque transgrediram suas ordens ao comer do fruto da árvore da ciência que lhes abriria a porta para saber das coisas do mundo De acordo com o segundo mito Deus puniu os homens criando uma confusão de línguas porque eles ousaram construir uma torre para chegar até Ele No clássico mito de Édipo este foi castigado com a cegueira por que mostrou a arrogante curiosidade de que rer conhecer a verdade a qualquer preço Embora a maioria dos autores tenham abor dado a curiosidade predominantemente do viés da patogenia deve ficar claro que uma curiosidade sadia é uma excelente função do ego e deve ser permitida e desenvolvi da na análise WEBSTERS NEW WORLD DICTIONARY D D BION Letra da Grade de BION onde ocupa a quar ta fileira que corresponde ao estágio evo lutivo da capacidade de pensar das pré concepçõesVide o verbete Grade e a Figu ra 1 Defesas mecanismos de FREUD M KLEIN LACAN BION Designação dos distintos tipos de operações mentais que têm por finalidade reduzir as tensões psíquicas internas ou seja das an gústias Os mecanismos de defesa proces samse pelo ego e praticamente sempre são inconscientes Admitindo a hipótese de que a angústia está presente desde o nascimen to como muitos autores postulam impõe se a convicção de que o ego do recémnas cido está pugnando para livrarse dessas ansiedades penosas e obscuras É óbvio que quanto mais imaturo e menos desenvolvi do estiver o ego mais primitivas e carrega das de magia serão as defesas FREUD no início de sua obra assinalou as defesas mais evidentes no tipo de pacien tes que então atendia Assim nas histéricas ele descobriu o mecanismo defensivo da re pressão também nomeado recalcamento que durante um longo tempo tornouse eixo central de toda e qualquer neurose À medida que foi conhecendo a intimida de das neuroses obsessivocompulsivas caso do Homem dos ratos das fóbicas caso do menino Hans e os casos de para nóia caso Schreber FREUD foi respectiva mente descrevendo as defesas de desloca mento anulação isolamento condensação racionalização transformação ao contrário formação reativa projeção sublimação Posteriormente estudou defesas mais pri mitivas utilizadas por psicóticos sujeitos perversos e outros nos quais postulou a existência de mecanismos de clivagem do ego assim como destacou sobremaneira o uso defensivo de diversas formas de nega ção no original alemão Verneinung que na atualidade são estudadas com os nomes de desmentida Verleugnung forclusão Verwerfung etc ANA FREUD em seu clássico O ego e os me canismos de defesa 1936 ampliou consi deravelmente a compreensão e descrição de distintos tipos de defesa que até essa época ainda estavam pouco sistematizadas por FREUD MKLEIN coerente com suas concepções da existência de um inato ego rudimentar com a finalidade de fazer face às incipien 98 DAVID E ZIMERMAN tes angústias decorrentes da ação da pul são de morte propôs a noção de defesas primitivas e de natureza mágica como a negação onipotente dissociação identifica ção projetiva e introjetiva idealização e denegrimento LACAN e BION aprofundaram os estudos das defesas referentes à negação LACAN cunhou o termo forclusão grau máximo de nega ção BION sinaliza com K uma defesa con tra o reconhecimento de verdades intolerá veis É útil deixar bem claro que todos os mecanismos defensivos são estruturantes para a época de seu surgimento No entan to qualquer deles utilizado pelo ego de for ma indevida ou excessiva pode vir a funci onar de modo desestruturante Serve como exemplo a utilização da identificação pro jetiva ela tanto pode servir como um sadio meio de o bebê libertarse de angústias in toleráveis ou de o adulto colocarse no lu gar do outro empatia como também essa defesa pode ser responsável pelas distorções psicóticas das percepções Por outro lado a importância dos mecanismos de defesa pode ser medida pelo fato de que a moda lidade e o grau do seu emprego diante das angústias é que vai determinar a natureza da formação a normalidade ou a patolo gia das distintas estruturações psíquicas Todas as defesas acima mencionadas estão explicitadas nos respectivos verbetes Demanda LACAN LACAN estabeleceu uma distinção entre ne cessidade o mínimo necessário para a so brevivência física e psíquica como é o ali mento para saciar a fome desejo uma necessidade que foi satisfeita com um plus de prazer e gozo que o sujeito quer voltar a experimentar e demanda Esta é caracterizada pelo fato de a necessi dade da satisfação dos desejos ser insaciá vel porquanto o verdadeiro significado da demanda é um pedido desesperado por reconhecimento e por amor como forma de preencher um antigo e profundo vazio de origem narcisista Isso pode ser facilmen te evidenciável na criança cujas interminá veis demandas não têm por finalidade a obtenção dos objetos que está manifesta mente reclamando em seu registro imagi nário seu pronto atendimento é prova de que é amada Na demanda há o desejo de ser o único objeto do outro No entanto afirma LACAN esse objeto ideal é eternamente faltante não podendo o desejo do sujeito jamais ser no meado e circulará sob a forma de metoní mias de um significante para outro Esse fato tem grande importância na prática ana lítica e explica os freqüentes casos de con sumismo compulsivo por jóias ou roupas novas a ânsia por ganhar presentes a de manda por juras de amor etc que podem estar conectados com a busca desesperada de preencher um outro significante aquele que alude aos antigos vazios existenciais Denegação ou renegação recusa desmentida FREUD A grafia deste termo com o prefixo de entre parênteses foi proposta por LAPLANCHE e PONTALIS porque nem sempre é fácil tradu zir determinada palavra especialmente quando ela permite mais de um significa do Assim dizem esses autores que no im portante trabalho de FREUD Die Verneinung 1925 tornase impossível optar em cada passagem se a melhor tradução de Vernei nung seria negação ou denegação sendo esta última tradução mais direta do termo Verleugnen que significa renegar denegar retratar desmentir Por isso propuseram resolver a dificuldade com a forma especial de escrita denegação Tratase de um mecanismo defensivo do ego que consiste no fato de o sujeito re cusar a percepção de uma evidência que se impõe no mundo exterior da mesma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 99 forma que na situação psicanalítica nega as evidências do que está reprimido Por exemplo quando uma pessoa recusa di zendo não nunca desejei tal coisa é muito possível que esteja querendo con firmar sim meu inconsciente deseja tal coisa No citado artigo FREUD afirma Não há prova mais forte do que conseguirmos des cobrir o inconsciente do que vermos reagir o analisando com estas palavras não pen sei isso ou não nunca pensei nisso No entanto o próprio FREUD alerta em 1937 quanto ao risco de o analista diante de qualquer contestação ou discordância do paciente a sua fala interpretar sistemati camente esse fato como sendo uma de negação do paciente Nesse caso diz Freud jocosamente o jogo do analista é se der cara ganho eu se der coroa per de você No artigo O fetichismo 1927 FREUD elabora de uma forma mais definida a es sência desse fenômeno de recusa mos trando como o fetichista perpetua uma atitude infantil ao fazer coexistirem duas posições que pela lógica seriam incon ciliáveis ao mesmo tempo o sujeito nega e reconhece a existência da castração fe minina Nas traduções para o idioma português o termo denegação também aparece como renegação supressão recusa e desmentida Denegrimento M KLEIN Notadamente nos seus trabalhos sobre a inveja M KLEIN descreveu esse recurso de fensivo do ego como uma forma de o su jeito pelo recurso da identificação proje tiva excessiva lançar merda no outro por ele invejado de sorte a ilusoriamente li vrarse de um sentimento tão penoso já que não tem porque invejar aquilo que está denegrido lembra a fábula da Ra posa e as uvas Dependência Estado mental inerente ao ser humano que se desenvolve num estado de neotenia Variável quanto à forma e à intensidade podendo ser boa ou má a dependência acompanha qualquer pessoa pela vida toda Todos os autores psicanalíticos importantes com distintas abordagens enfocaram o pro blema e sua importância Seguem alguns exemplos FREUD assinalou o grau extremo de depen dência nos seus estudos sobre o estado de desamparo em alemão Hilflosigkeit M KLEIN faz referências mais explícitas à de pendência ao estudar a inveja ROSENFELD baseia as suas concepções de narcisismo 1965 1971 como uma forma defensiva de o sujeito fugir de uma depen dência de outra pessoa que para ele signi fica vir a mais cedo ou mais tarde sofrer dor e humilhação WINNICOTT destacou que toda pessoa apre senta algum grau e tipo de dependência cabendo ao analista ajudar o paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o processo de dependência as quais deno mina absoluta relativa e em rumo à inde pendência BION em seus estudos sobre grupos des creveu o suposto básico da dependência Comentário No cotidiano da prática psi canalítica sempre aparece o temor do pa ciente de vir a contrair uma dependência em relação ao analista Creio ser importan te que o terapeuta ajude o paciente a dis criminar a diferença que existe entre seu sentimento que proponho denominar de pendência má porquanto lhe representa o risco de como no passado vir a sofrer novas humilhações traições etc e a de pendência boa inerente à natureza hu mana onde as pessoas sempre estão numa interdependência que pode ser pra zerosa e propiciadora de um autêntico crescimento 100 DAVID E ZIMERMAN Dependência suposto básico de BION Suposto ou pressuposto básico de depen dência é a denominação de BION para o fato de que como uma herança atávica o fun cionamento do nível mais primitivo do todo grupal necessita e elege um líder de características carismáticas em razão da busca de proteção segurança e de alimen tação material e espiritual Os vínculos com o líder tendem a adquirir natureza parasitária ou exageradamente simbiotizada mais voltados para um mun do ilusório tal como transparece nos gru pos fanatizados Depressão O tema relativo às depressões tem mereci do por parte dos psicanalistas desde os pioneiros até os autores modernos uma aprofundada e crescente valorização e in vestigação a partir de múltiplos vértices de abordagem desde as inúmeras e variadas causas emocionais às de origem orgânica Segue uma breve síntese dos principais as pectos relativos às depressões Em Luto e melancolia1917 p281 FREUD numa frase famosa diz que na melancolia a sombra do objeto cai sobre o ego com isso caracterizando o quadro depressivo resultante de uma identificação do ego com o objeto perdido Quando o luto não é suficientemente elaborado re sulta que o objeto e o ego num processo que lembra o fenômeno da osmose con fundemse entre si de tal sorte que o desti no de um passa a ser o destino do outro As depressões psicógenas podem ser resul tantes de 1 Perdas perdas de objetos ne cessitados e ambivalentemente amados e odiados ou perdas de capacidades do ego 2 Culpas devidas a um superego demasi adamente rígido e punitivo obtenção de êxitos que mobilizam uma necessidade de castigo culpas imputadas pelos outros 3 De um fracasso narcisista 4 Ruptura de determinados papéis impostos à criança e que o adulto repete estereotipadamente Comentário É importante discriminar depressão de causa emocional de causa endógena uma vez que esta última costu ma responder muito bem aos medicamen tos antidepressivos da moderna psicofarma cologia Os analistas contemporâneos pelo menos em sua maioria não consideram inconveniente para a evolução exitosa da análise um eventual uso concomitante de medicação por parte do paciente Depressão anaclítica SPITZ Veja verbete anaclítica Depressão pósparto Embora esse quadro de psicopatologia per tença mais à área da psiquiatria a sua in clusão aqui justificase pela alta incidência e pelas repercussões nos filhos recémna tos Estudos epidemiológicos feitos em todo mundo apontam que a doença atinge de 10 a 15 das mulheres PHILIPE MAZET Professor de psiquiatria infan til e diretorgeral do hospital Saint Salpe trière em Paris assim define depressão pós parto A depressão pósparto é uma doen ça psíquica que afeta a mãe nas primeiras semanas após o nascimento e coloca em risco o desenvolvimento psicológico do bebê deixando seqüelas que podem ser acompanhadas até a vida adulta As prin cipais características da enfermidade são a tristeza a falta de motivação e principal mente a falta de prazer da mãe em relação a tudo que se refere ao bebê A mãe depri mida não quer se ocupar do filho Ela não interage com a criança e se reporta a ela de forma mecânica sem externar prazer ou alegria pelo nascimento do filho Algumas mães chegam a negligenciar seus bebês A depressão potencializa dentro da mulher um VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 101 sentimento de agressividade em relação à criança gerando inclusive situações de maustratos As mães que sofrem dessa de pressão geralmente são mulheres que já durante a gravidez apresentaram dificulda des psicológicas As causas são muitas desde as exteriores reais dificuldades econômicas casamento em crise total falta de apoio de familiares gravidez indesejada por um dos cônjuges etc até as eminentemente psicológicas Entre estas os psicanalistas destacam o fato de que o nascimento do bebê pode reati var na mãe através de um jogo de identifi cações projetivas o receio inconsciente de que vá se reproduzir o mesmo tipo de rela ção conflituada que ela teve com sua mãe ou seja há uma dupla identificação a mãe adulta fica identificada introjetivamente com sua sofrida mãe do passado e ao mesmo tempo sua parte criança que imagina ser ávida e cruel se identifica projetivamente no seu bebê Há uma diferença entre a depressão pós parto e o estado de tristeza pósparto Esta última é normal e geralmente acontece no terceiro ou quarto dia de vida da criança quando a mãe está cansada e até um pou co irritada com essa nova situação de vida Passa em dois ou três dias enquanto a de pressão pósparto instalase progressiva mente com um estado mental de apatia e de falta de prazer em se ocupar do bebê podendo culminar em negligência e agres sões várias MAZET acima mencionado respaldado na sua longa experiência clínica afirma que o filho de uma mãe deprimida acusa essa experiência emocional traumatizante Ela deixa de experimentar as atividades cotidi anas com a mãe o que é muito prejudicial para o seu desenvolvimento pois um bebê precisa partilhar sentimentos Se isso não acontece ele sentese só e essa sensação prejudica o desenvolvimento normal Tris te e sem estímulo materno o bebê fica sem vontade de descobrir o mundo e as pesso as Um estudo que fizemos na cidade de Bobigny na França na qual analisamos um grupo de filhos de mães deprimidas em comparação com um grupo de crianças estáveis do ponto de vista psicológico am bos em idade escolar mostrou que os fi lhos das mães deprimidas após o parto ti nham mais tendência a desenvolver déficit de atençãohiperatividade e mais dificulda des cognitivas e de aprendizado do que os filhos das mães que não tiveram esse pro blema Outro dado interessante essas difi culdades foram mais percebidas em meni nos do que em meninas É possível evitar essa situação realizando um trabalho de acompanhamento psicológico desde o iní cio da gravidez Comentário Tal como foi descrito esse quadro de psicopatologia da relação mãe bebê lembra bastante aquilo que AGREEN descreve com a denominação de mãe mor ta ver esse verbete embora esteja viva Depressiva posição MKLEIN Importantíssima concepção de MKLEIN que a formulou mais precisamente a partir do trabalho Uma contribuição à psicogêne se dos estados maníacodepressivos de 1934 Diferentemente do que ela postu lou em relação à posição esquizopara nóide a qual caracterizase pela dissoci ação do todo em partes a posição de pressiva bem pelo contrário consiste na unificação e na integração das partes do sujeito que estão esplitadas e dispersas devido às projeções A obtenção dessa posição depressiva por parte da criancinha deve darse por volta do sexto mês sendo fundamental para seu crescimento psíquico Isso implica uma sé rie de condições notadamente como afir ma M KLEIN a capacidade para integrar numa só mãe total os dissociados aspectos de seio bom e de seio mau dela 102 DAVID E ZIMERMAN Na situação analítica especialmente para os pacientes bastante regredidos os se guintes aspectos atestam a obtenção da posição depressiva 1 Aceitar perdas ma tériaprima fundamental para a formação de símbolos 2 Reconhecer e assumir o seu quinhão de responsabilidades e de eventuais culpas pelos ataques que fez ou que imagina ter feito 3 Conceder auto nomia aos seus objetos necessitados e su portar uma separação parcial deles 4 Fazer reparações verdadeiras 5 Ser ca paz de reconhecer uma possível gratidão por quem o ajudou e desenvolver uma sadia preocupação pelo outro 6 Ser ca paz de integrar aspectos dissociados e ambivalentes 7 Desenvolver apego ao conhecimento das verdades 8 Formar símbolos e adquirir a capacidade de pen sar possível mediante a obtenção da con dição anterior Desamparo estado de FREUD No clássico Inibições Sintomas e Angús tia 1926 FREUD faz essa importante as sertiva O ego se sente desamparado ator doado e abandonado a sua sorte diante de um aluvião de excitações demasiado po derosas para que os processos mentais do ego possamnas manejar Esse estado mental de desamparo que gera uma das angústias mais terríveis ele chamava no original alemão de Hilflosigkeit hilflos sig nifica desamparado Esta situação que está intimamente ligada ao conceito de trauma e acompanha o ser humano desde o nascimento devido à con dição de neotenia também denominada prematuração Essa condição decorre do fato de o bebê nascer prematuramente em relação a qualquer espécie do reino animal apresentando uma prolongada de ficiência de maturação neurológica e mo tora que o deixa em estado de absoluta dependência e desamparo Esse estado de desamparo aparece sob outros vértices e com outras denominações em praticamente todos os autores e cada vez mais ganha uma relevância na psica nálise contemporânea Desejo FREUD LACAN A palavra desejo formase a partir dos éti mos latino de privação sidus estrela o que alude à impossibilidade de alcançar e possuir uma estrela do firmamento ou seja a vontade do sujeito de obter algo que lhe está faltando mas que está muito longe Em toda a sua obra FREUD exalta a impor tância do desejo que sempre ligava às pul sões libidinais e que ficam reprimidas no inconsciente à espera de algum tipo de gra tificação tal como acontece com os sonhos os quais concebeu como uma forma disfar çada da realização de desejos FREUD ligava a formação do desejo com uma impressão mnêmica de alguma necessidade primitiva que foi gratificada de forma prazerosa As sim a memória da gratificação prazerosa está intimamente ligada à etapa vigente do princípio do prazer O melhor exemplo dis so pode ser dado pelo fenômeno que FREUD descreveu como gratificação alucinatória dos desejos pela qual o bebê substitui o seio faltante pela sucção do seu próprio polegar LACAN partindo das idéias de FREUD am pliou e valorizou a noção de desejo concei tuandoa como conseqüência direta das faltas e falhas Igualmente LACAN desenvol ve uma importante distinção entre necessida de desejo e demanda ver estes verbetes Outra importante contribuição de LACAN diz respeito à etapa em que a criança deseja ser aquilo que preencha o desejo da mãe BION valoriza o aspecto do desejo precipu amente a partir do aspecto da situação ana lítica isto é ele alerta para o risco de a mente do analista estar saturada de memó rias e desejos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 103 Desenvolvimento do Pensamento Es quizofrênico O BION 1956 Neste trabalho cujo título original é Deve lopment of Schizophrenic Thought BION se propõe a discutir até que ponto a perso nalidade psicótica difere da nãopsicótica e a natureza da divergência entre ambas Para tanto se fundamenta em KLEIN dando des taque aos seguintes aspectos presentes nas psicoses 1 Predomínio das pulsões destrutivas o ódio à realidade externa e interna o medo a uma aniquilação iminente relações de objetos frágeis 2 A transferência desses pacientes se ca racteriza pelo fato de serem as relações com o analista prematuras precipitadas e de muita dependência Há um excesso de iden tificações projetivas e é freqüente a presen ça de uma sensação de mutilação e a de um estado confusional 3 A presença ativa de ataques contra a percepção consciente da realidade provo cando um estado mental no qual este paci ente não se sente nem vivo nem morto 4 As crescentes e múltiplas clivagens segui das de identificações projetivas se consti tuem como objetos bizarros 5 Formase uma confusão entre o que é símbolo e o que deve ser simbolizado equi vale ao conceito de equação simbólica de H SEGAL 6 Devido a esse estado de confusão e de onipotência o paciente esquizofrênico fica perplexo quando os objetos reais obedecem às leis da ciência natural e não as de seu funcionamento mental 7 O uso excessivo de identificações proje tivas impede a capacidade de integração dos objetos e por isso mesmo esses paci entes somente podem aglomerar e compri milos podem fundir mas não articular 8 Da mesma forma experimentam as re introjeções como se fossem uma intrusão violenta e invasiva vindas de fora 9 Diferentemente da personalidade neuró tica na qual há prevalência dos recalcamen tos na personalidade psicótica predominam intensas dissociações seguidas de identifi cações projetivas dos pedaços esplitados 10 O pensamento verbal depende da re solução da posição depressiva 11 Como também as impressões sensori ais são projetadas acontece que devido às projeções e reintrojeções agudas o pacien te fica dominado por alucinações táteis auditivas e visuais intensamente dolorosas 12 BION conclui o artigo considerando que também o paciente neurótico tem uma par te psicótica e viceversa e que um trata mento psicanalítico visa à elaboração de todos os aspectos mencionados Este trabalho está publicado no livro Estu dos Psicanalíticos Revisados 1967 Desenvolvimentos em Psicanálise KLEIN HEIMANN ISAACS RIVIÈRE 1936 Publicado em 1936 sob o título original de Developments in PsychoAnalysis este livro reúne as contribuições mais importantes de MKLEIN e de sua escola até aquela data A obra contém artigos dela Algumas con clusões teóricas sobre a vida emocional do lactante Observando a conduta dos be bês Sobre a teoria da ansiedade e a cul pa e trabalhos de PAULA HEIMANN que pos teriormente veio a separarse do grupo klei niano Algumas funções de introjeção e projeção na infância precoce Notas so bre a teoria dos instintos de vida e de mor te de SUSAN ISAACS Natureza e função da fantasia A regressão escrito junta mente com PHEIMANN e de JOAN RIVIÈRE Introdução geral Sobre a gênese do conflito psíquico na primeira infância Desenvolvimento emocional primitivo Todos os autores psicanalíticos importantes de uma forma ou outra especulam sobre 104 DAVID E ZIMERMAN os múltiplos fatores que determinam o de senvolvimento da personalidade De modo geral existe um consenso de que sempre estão em jogo fatores heredoconstitucionais e as primitivas experiências emocionais de acordo com a equação etiológica ou série complementar tal como formulada por FREUD ABRAHAM complementando e siste matizando os estudos de FREUD ajudou a descrever as fases oral anal fálica de la tência e genital adulta MKLEIN enfocou os aspectos muito mais pri mitivos do bebê notadamente as fantasias inconscientes como derivados diretos em especial da pulsão de morte Podese dizer que se Freud foi falocêntrico M KLEIN pri vilegiou o enfoque seiocêntrico SPITZ nos Estados Unidos e BOWLBY na In glaterra em épocas diferentes estudaram a reação de criancinhas com privação emo cional prolongada física eou emocional com uma descrição particularizada de cada uma que podemos resumir em três etapas a fase do protesto b desesperança c re traimento libidinal com um progressivo des ligamento do mundo exterior BION diferenciandose de MKLEIN empres tou significativa importância à figura real da mãe à capacidade ou incapacidade desta de funcionar como um adequado continen te para as necessidades básicas de seu filhi nho Além disso fez conjecturas imaginati vas o termo é dele acerca do psiquismo fetal como um fator importante LACAN em Etapa do Espelho como Forma dora do Ego 1949 descreveu alguns as pectos importantes do desenvolvimento emocional primitivo concernentes à forma ção da imagem corporal Também desta cou sobremodo o papel do discurso dos pais e da cultura a ponto de cunhar a conheci da frase o inconsciente é o discurso dos outros WINNICOTT deu entre outras uma extraordinária contribuição para o melhor entendimento da díade mãefilho através de sua original concepção dos fenômenos transicionais do papel de espelho que a mãe representa para o filho da função materna de holding e de fazer uma progres siva desilusão das ilusões Desenvolvimento emocional primitivo é um importante trabalho de WINNICOTT pu blicado no livro Textos Selecionados Da pediatria à Psicanálise 1945 MMAHLER representante da Psicologia do Ego Contemporânea contribuiu com os seus estudos provenientes da observação direta de criancinhas que lhe possibilitaram descrever as etapas evolutivas de simbiose diferenciação com as subetapas de sepa raçãoindividuação treinamento até a aquisição da constância objetal KOHUT valorizou sobretudo o que denomi nou falha empática da mãe como fator de terminante de patologias regressivas TUSTIN mais recentemente descreveu a for mação de buracos negros no psiquismo do bebê que se defende das frustrações do mundo exterior construindo uma barreira autística Desidentificação De grande importância na prática psicana lítica atual o termo designa o fato de o cres cimento de um analisando implica livrar se de determinadas identificações patóge nas com as figuras parentais embora con serve muitas outras facetas saudáveis de seus pais com as quais ele quer continuar identificado de forma harmônica Uma vez desidentificado de certos aspectos que lhe eram desarmônicos e opressores o pacien te abre um espaço psíquico para processar neoidentificações Desinvestimento FREUD Retirada do investimento afetivo que esta va ligado a uma representação objeto ins tância psíquica etc A noção de desinvesti mento está diretamente ligada à teoria eco VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 105 nômica da distribuição quantitativa da libi do postulada por FREUD Esse autor descreveu a retirada do investi mento especialmente nos processos defen sivos de recalcamento O desinvestimento libera uma energia que se torna disponível para ser usada no investimento de outra formação defensiva Por exemplo um de sinvestimento pode possibilitar um contra investimento tal como acontece nas forma ções reativas Da mesma forma nos esta dos narcísicos o investimento do ego au menta na proporção direta do desinvesti mento dos objetos Desistência estado de Proponho este termo porquanto na práti ca clínica deparamos freqüentemente com pacientes que mais do que estarem em es tado de resistência enquanto houver resis tência há sinal de vida estão numa atitu de de desistência Seu único desejo é nada desejar havendo um preocupante namoro com a morte Pacientes nessas condições de desistência podem até dar continuidade à análise porém o fazem de forma roboti zada automática e apática do grego a pri vação pathos paixão O analista não deve deixarse contagiar contratransferen cialmente com essa apatia Deslizamento LACAN Processo mental que resulta da conjunção de mecanismos de deslocamento conden sação e simbolização que de forma análo ga à dos sonhos estão integrados em uma cadeia ou rede de significantes mediante os quais funciona o inconsciente Esses mecanismos remetem um significante a outro de uma maneira que pode compa rarse à decifração de uma carta enigmáti ca ou à busca no dicionário de um termo que remete a outro e este a um terceiro até ser conceitualizado com algum significado Esse fenômeno está explicitado no verbete significantesignificado Deslocamento FREUD LACAN Mecanismo pelo qual a energia psíquica pode deslizar de uma representação inconsciente para outra à qual esteja ligada por algum vín culo associativo No inconsciente reina o pro cesso primário onde não há a noção de lógi ca espaço tempo e causalidade mas sim predomina um livre deslocamento FREUD estudou o fenômeno do deslocamen to nos seguintes registros 1 Nos sonhos a passagem do conteúdo latente do sonho para o conteúdo manifesto é decisivamen te possibilitado pelos deslocamentos 2 Como mecanismo defensivo do ego nas conversões histéricas por exemplo o des locamento de um desejo ou prazer genital para outra zona corporal 3 Nas neuroses obsessivas e fóbicas onde determinada pulsão proibida fica deslocada numa outra representação respectivamente em certos pensamentos obsessivos ou num determi nado objeto fobígeno Ao valorizar os fenômenos de metonímia ver esse verbete LACAN emprestou grande importância ao processo de deslocamento Despersonalização Fenômeno bastante freqüente em que o sujeito estranha seu sentimento de si mes mo ou seja o seu self No caso em que a pessoa estranha o meio ambiente exterior o sintoma é descrito na psiquiatria clássica como estranheza Comumente os sintomas de despersonalização se manifestam por meio de sensações de o indivíduo estar se fragmentando de algum espírito estar sain do de dentro dele o corpo se transforman do se confundindo com outras pessoas etc Esse quadro clínico tanto pode evidenciar um grave transtorno de natureza psicótica quanto pode ser a expressão de uma situa 106 DAVID E ZIMERMAN ção normal transitória no decorrer do de senvolvimento pessoal Também pode es tar presente no trânsito das transformações que caracterizam a adolescência ou as transformações que o analisando passa no decurso do processo analítico Essa última situação foi assinalada por BION nas descrições pertinentes à mudança catas trófica ver o verbete catastrófica mudança MKLEIN e seguidores explicaram o surgi mento da despersonalização como decor rente de um uso excessivo de identificações projetivas Nestas em fantasia o self foi ex tremamente localizado em outros objetos enquanto pelas identificações introjetivas aspectos de outras pessoas ficaram coloca dos dentro do seu self MKLEIN melhor ilus tra esse fenômeno psíquico no trabalho Sobre a identificação1955 baseado no romance de Julian Green Se eu fosse você no qual o personagem principal adquire múltiplas identidades distintas Desprezo H SEGAL Sentimento que se processa através do que KLEIN definiu como denegrimento do obje to com o qual o sujeito visa especificamen te defenderse do sentimento de inveja Ao descrever as defesas maníacas HANNA SE GAL fundamentada na obra de MKLEIN postulou a existência de uma tríade que compõe as referidas defesas o controle o triunfo e o desprezo Com o desprezo o sujeito também se defende de sentir grati dão a um objeto porquanto se a sentisse teria que reconhecer seus sentimentos de dependência Isso o angustia pois determi naria um desmantelamento de sua onipo tência e o faria entrar em contato com a sua fragilidade e depressão subjacente Dessignificação Proponho os termos dessignificação e neo significação para designar novas significa ções de significados patogênicos de modo a abrir espaço psíquico para permitir ao paciente processar novos significados psí quicos para as significações de que sofre Segundo muitos autores além de conflitos pulsionais e de fantasias inconscientes esse sofrimento seria conseqüência de certos fatos que lhe foram significados na infância de determinada maneira que tanto pode ter sido adequada à realidade como pode ter sido impregnada através da identifica ção projetiva dos pais de maneira terrorífi ca desqualificadora culpígena etc Comentário Dessa forma adquire impor tância na prática analítica o trabalho com os significados que o analisando atribui a determinadas palavras pensamentos ou afetos que ele expressa na situação analíti ca que podem estar carregados de distorções indevidas e que influenciam sua conduta de forma estereotipada como acontece por exemplo em muitos temores fóbicos Dessimbiotização Nos pacientes em cujo relacionamento in terpessoal predomina um estado mental centrado numa busca de vinculação exa geradamente simbiotizada as frustrações especialmente as que decorrem de separa ções costumam ser de escassa tolerância e freqüentemente desencadeiam uma an gústia muito intensa A simbiose se usarmos o referencial de M MAHLER é uma fase evolutiva indispen sável e estruturante do psiquismo do bebê durante um certo tempo Porém na situa ção analítica pode ocorrer que perdure o sentimento do paciente de restaurar e ins taurar com o seu analista a díade fusional primitiva com a mãe Nesse caso tornase fundamental que o analista trabalhe com a finalidade de o paciente solucionar o aspec to patogênico da simbiose exagerada tal como ela vai transparecer na transferência isto é ajudálo a dessimbiotizar da mesma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 107 forma como o pai deve interferir na díade simbiótica do filho com a mãe a fim de pos sibilitar o ingresso da criança no triângulo edípico Dessexualização FREUD Estudando conjuntamente os fenômenos da dessexualização com o da sublimação FREUD concebeu que as sublimações se dis tinguem das gratificações substitutivas de caráter neurótico por meio de sua dessexu alização isto é a gratificação do ego já não é abertamente de caráter pulsional Para FREUD as pulsões prégenitais constituem o objeto da sublimação porém se foram re calcadas e se mantêm no inconsciente numa disputa com a primazia genital não podem ser sublimadas Assim a capacidade de or gasmo genital torna possível a sublimação dessexualização das pulsões prégenitais FREUD exemplifica o fenômeno comparan do a condição de um artista legítimo com o pseudoartista O primeiro já sublimou su ficientemente seu impulso de sujar mediante uma espécie de identificação com a ativi dade própria da fase anal de brincar com as fezes ou sejam com as tintas Já o pseu doartista está novamente buscando um prazer sexual direto na ação de fazer sujei ras prejudicando sua capacidade artística Ver o verbete neutralização Desviacionistas teorias Teorias que negam expressamente ou que minimizam os princípios fundamentais da psicanálise postulados por FREUD Formula das de diversas maneiras sempre conser vam os invariantes de 1 A existência de processos mentais inconscientes como é o caso da repressão da sexualidade infantil complexo de Édipo 2 Na técnica psicana lítica a obrigatoriedade do tripé constituí do pela resistência transferência e interpre tação Na história da psicanálise como exemplos de teorias desviacionistas destacamse as formulações de ADLER JUNG e RANK FEREN CZI durante certo tempo permaneceu no limbo Existe o risco de cometerse injusti ças mais recentemente e ainda hoje por muitos também KOHUT foi rotulado desvia cionista o mesmo ocorrendo durante al gum tempo e em alguns lugares com BION e LACAN Os partidários das teorias desviacionistas costumam chamar os freudianos de reacio nários e dogmáticos enquanto estes denun ciam os desviacionistas como psicanalistas que se desviaram da essência da psicanáli se na ânsia narcisista de quererem ser origi nais a todo custo Os freudianos também os acusam de que muitas vezes não pas sam de tautólogos isto é dizem a mesma coisa com outras formulações É possível como pensam alguns autores que exista algo de verdade nas acusações mútuas Determinismo princípio do FREUD Princípio segundo o qual na mente nada acontece ao acaso ou de modo fortuito sendo cada acontecimento psíquico deter minado por outros que o precederam de tal sorte que não há descontinuidade na vida mental Fica melhor compreendido e complemen tado com o modelo da multicausalidade com o qual FREUD indo além das causas line ares responsáveis pela determinação de um dado sintoma postula a idéia de que várias causas produzem um mesmo efeito Posteriormente a partir da Intepretação dos Sonhos1900 Freud considerou que além de muitas causas produzirem o efeito do fe nômeno do sonho há um sistema diferencia do processo primário inconsciente que irá gerar efeitos conscientes de modo a por meio de cada elemento do conteúdo latente ser possível reconstruir uma rede de conexões que determinam o sonho manifesto 108 DAVID E ZIMERMAN Diferenciação MAHLER Etapa evolutiva que segue a da simbiose e que consiste no fato de que a criancinha começa a fazer uma discriminação entre as diferenças que ela tem com a mãe Essa fase evolutiva consta de duas subfases a de se paração e a de individuação Termo cunha do por M MAHLER 1986 Deus e Deidade BION Fundamentado na concepção filosófica do Mestre ECKART BION postula em seus escri tos mais propriamente os publicados em seu período considerado místico década 70 que a Deidade é a essência ou seja o que ele conceitua como O enquanto Deus é sua criação sua manifestação atra vés da Santíssima Trindade Pai Filho e Espírito Santo Diferenciação entre as personalidades psicóticas e as nãopsicóticas BION 1957 Trabalho de 1957 de BION dos mais co nhecidos e citados de toda sua obra é pra ticamente uma repetição embora de forma mais elaborada de um de 1956 O desenvolvimento do pensamento esquizo frênico onde ele enfatiza as mesmas ca racterísticas essenciais do pensamento psi cótico BION fundamentou este artigo nas concep ções originais de MKLEIN e de FREUD de cujos trabalhos extrai longas citações Den tre elas são dignas de nota as que se refe rem a às funções conscientes da mente b a conexão dos pensamentos com o re gistro mnêmico das palavras c a relação da imagem verbal com o préconsciente O trabalho é ilustrado com um esclarece dor caso clínico no qual é possível consta tar como BION entende e maneja a lingua gem préverbal da personalidade psicótica Esse artigo está publicado em Estudos Psi calíticos Revisados 1988 Difusão da identidade síndrome da O KERNBERG Sério transtorno do sentimento de identi dade descrito por KERNBERG nos seus apro fundados estudos sobre os pacientes bor derline e por ele denominado síndrome da difusão da identidade Consiste na dificul dade do paciente de transmitir uma ima gem integrada coerente e consistente de si próprio assim deixando os outros confu sos em relação a ele Dinâmica da transferência A FREUD 1912 Artigo técnico de FREUD abordando o fato de que se sua necessidade de amor não for suficientemente satisfeita pela realida de a pessoa tenderá a se aproximar de cada novo indivíduo que conheça o psicanalis ta com idéias de expectativa libidinosa Nesse trabalho FREUD estabelece a interre lação entre transferência e resistência e con clui dizendo que no tratamento psicanalí tico a transferência invariavelmente apare ce em primeira instância como a arma mais forte da resistência e podemos con cluir que a intensidade e a persistência da transferência são efeito e expressão da re sistência Esse artigo está publicado no volume XII p 133 da Standard Edition brasileira Dinâmico ponto de vista FREUD FREUD percebeu que unicamente do ponto de vista topográfico podia parecer que o sistema consciente e o inconsciente consti tuíam uma simples continuidade linear quando na verdade estavam em jogo for ças dinâmicas como as que despendiam energia psíquica para reprimir desejos proi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 109 bidos e para manter essa repressão Daí a psicanálise ganhou uma nova dimensão enfocando os fatores dinâmicos que ope ram no fenômeno da resistência à emergên cia no consciente do que está recalcado no inconsciente Ver os verbetes estrutural teo ria ego id e superego Discurso dos pais LACAN BATESON BION No mínimo três aspectos decorrentes do dis curso dos pais em relação ao filho são singu larmente importantes 1 O das significações que eles emprestam a atos ou fantasias das crianças 2 A construção de um exigente ide al do ego por meio de predições quando tu cresceres vais ser e expectativas a serem cumpridas pelo sujeito pelo resto da vida 3 O duplo vínculo composto por duplas men sagens que a criança recebe Este último as pecto foi introduzido por GBATESON A extraordinária importância que LACAN deu ao discurso dos pais aparece sintetizada em sua frase o inconsciente é o discurso dos outros Também ficou demarcada por seu aprofundamento nos conceitos relativos aos significantes e significados BION valorizou o discurso dos pais e da cul tura a respeito do que e como o sujeito deve vir a ser igualzinho a eles Ademais esse au tor também enfatizou que o discurso de de terminados pacientes pode ter a finalidade de não comunicar o que representa um aspecto fundamental na situação analítica Discurso de Roma LACAN Segundo LACAN a psicanálise distingue fun cionamentos do sujeito em número restri to Além das singularidades próprias de cada indivíduo esses funcionamentos dependem das estruturas nas quais cada um se acha preso e essas por sua vez dependem fun damentalmente da linguagem Assim por ocasião do primeiro congresso da SFP que se realizou em 1953 em Roma LACAN fez uma marcante apresentação Fun ção e campo da fala e da linguagem na psi canálise conhecido como Discurso de Roma na qual expôs os principais elemen tos de seu sistema de pensamento proveni entes da lingüística estrutural e de influências diversas oriundas da filosofia e das ciências Elaborou então vários conceitos como o de sujeito imaginário simbólico real sig nificante aos quais com o evoluir de sua obra acresceu com novas formulações clí nicas e lógicomatemáticas como foraclu são NomedoPai Outro e outro matema nó borromeano e sexuação Além disso no seminário do ano 19691970 O avesso da psicanálise ele construiu a Teoria dos quatro discursos onde ele dis crimina separadamente o que denominou discurso do mestre discurso universitário dis curso histérico e discurso psicanalítico Esses quatro discursos cada um com particularida des específicas são considerados pelos segui dores de LACAN um dos instrumentos mais ativos para a psicanálise pelo fato de que essa a psicanálise se interessa pelo que produz o sujeito ao mesmo tempo que também ele pro duz a ordem social na qual se inscreve Dissociação ou clivagem divisão ci são splitting O termo dissociação aparece na literatura psicanalítica em vários registros com sig nificados distintos FREUD relatou inicialmente a dissociação observada na mente dos pacientes que se processava durante o transe hipnótico daí formulando sua concepção de histeria de tipo dissociativa cegueira histérica estados de sonambulismo personalidade múltipla etc A partir do trabalho Fetichismo 1927 e de forma mais consistente em Clivagem do ego no processo de defesa 1940 Freud estudou a cisão ativa que ocorre no seio do próprio ego e não unica mente entre as instâncias psíquicas 110 DAVID E ZIMERMAN FAIRBAIRN tem o mérito de ter sido um dos pioneiros na descrição de uma dissociação do ego em diversas áreas que se especi alizam em determinadas tarefas ego cen tral ego sabotador etc MKLEIN foi a autora que mais enfaticamente escreveu sobre os processos de dissociação seguidos de identificações projetivas tanto das pulsões quanto dos objetos e partes do ego BION referiu a importante dissociação da mente na parte psicótica e na parte não psicótica da personalidade Uma leitura mais atenta de sua obra permite verificar que BION concebe uma múltipla dissocia ção da mente em zonas que creio podese denominar mapamúndi do psiquismo ver esse verbete Outro registro alude à dissociação útil do ego que diz respeito tanto ao analisando como ao analista No analisando por exem plo quando na situação analítica regride e deixa aparecer a parte psicótica da sua personalidade O analista de sua parte deve ter condições de dissociar sua mente na sua função e papel de psicanalista da do ser hu mano que ocasionalmente possa estar sen do fustigada com problemas particulares Nos textos psicanalíticos aparece superposi ção dos termos dissociação clivagem divisão cisão e splitting eml alemão Spaltung Doença ou síndrome do pânico Quadro clínico até há poucas décadas con fundido com as crises manifestas nas neu roses fóbicas surgidas quando o paciente defrontase com a situação fobígena a qual a um grau máximo ele permanentemente evita enfrentar Tais crises fóbicas da mes ma forma como acontece na doença do pânico também são caracterizadas pelos sintomas típicos da neurose de angústia como o medo de morrer enlouquecer pres são précordial dispnéia etc É importante estabelecer o diagnóstico di ferencial entre as fobias propriamente di tas que vêm acompanhadas por intensa angústiapânico e os quadros clínicos simi lares que se manifestam na doença do pâ nico Nem sempre é fácil a distinção entre ambas No entanto um critério útil consiste no fato de que na fobia há a presença de uma circunstância objeto local pessoas alguma cena bem determinada bastan do evitála para que a angústia cesse en quanto no transtorno do pânico é mais difícil correlacionar a origem desencadeante da angústia com alguma clara causa definida Há uma razão importante para que seja estabelecido um diagnóstico diferencial en tre esses dois quadros clínicos A doença do pânico costuma dar uma resposta po sitiva às vezes dramática ao uso da mo derna psicofarmacologia nada impedin do o prosseguimento normal da análise com o eventual uso concomitante de psi cofármacos Donjuanismo Um bom exemplo de uma configuração narcisística que aparece camuflada com uma aparência edípica é a situação de uma pseudogenitalidade tal como ela aparece manifestamente nos casos de donjuanismo Em tais casos esses sujeitos unicamente amam aqueles que o fazem sentirse ama dos ou seja a intensa atividade genital que exige uma contínua e ininterrupta troca de parceiros obedece a uma irrefreável e vital necessidade primitiva de obter o reconhe cimento ver o verbete do quanto são ca pazes de serem amados e desejados Dor mental BION Um dos seis elementos de psicanálise se gundo BION Sua importância no transcur so de uma análise foi especialmente exalta da por esse autor que enfocou dois pontos relativos a esse aspecto 1 A sensível dife rença entre sentir uma dor pain em inglês VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 111 e sofrer suffering a dor no sentido de ela borála 2 O fato de que alguns pacientes não enfrentam a dor e usam as mais distin tas técnicas defensivas para se evadirem dela enquanto outras pessoas a enfrentam Esta última é a única maneira de ingressar na posição depressiva que pode possibili tar as transformações das fontes geradoras do sofrimento psíquico e promover um cres cimento mental Dora FREUD Pseudônimo de uma jovem paciente his térica de 18 anos cujo caso FREUD des creveu no historial clínico ver esse ver bete Fragmento da Análise de um Caso de Histeria 1905 no qual narra como a neurose de Dora organizouse em tor no do problema da função traumática da sexualidade edípica A paciente abandonou a análise após três semanas de tratamento o que levou FREUD a fazer uma autocrítica e chegar à conclusão de que ele falhou por não ter reconhecido a existência de uma transfe rência alusiva à homossexualidade femi nina de Dora Duplo RANK FREUD LACAN KOHUT BION Termo empregado pela primeira vez em psicanálise por ORANK em O duplo de 1914 donde podese depreender que ele estuda o que hoje conceituaríamos como o fenômeno de que o duplo se organiza como uma forma de negação contra o sepulta mento do self diante da existência da pul são de morte tanto que ele usou essa bo nita frase a alma imortal foi o primeiro duplo do corpo A esse trabalho de RANK seguiuse o artigo de FREUD de 1919 O sobrenatural tam bém traduzido por O sinistro onde são abordados aspectos do sujeito que está co locado em outras pessoas O fenômeno do duplo especialmente a partir de LACAN que na etapa do espelho descreveu a própria imagem da criança vista por ela mesma no espelho confundida com a da mãe está recebendo uma significativa atenção nos textos de muitos autores con temporâneos Essa temática está intimamente ligada ao fenômeno da especularidade de modo que nas situações em que não está solucionada a fase de diferenciação o sujeito sentese espelhado no outro Essa situação analítica é descrita por KOHUT como transferência narci sística de tipo gemelar como se o analista devesse ser uma alma gêmea do paciente A noção de duplo corresponde à de alter ego em grande voga em certa época da psicanálise e designa que uma outra pes soa é portadora de aspectos que o indiví duo não diferencia ou não quer reconhe cer e os projeta daqueles outros aspectos que são exclusivamente seus próprios BION em seu trabalho O gêmeo imaginá rio 1967 estuda o paciente muito regres sivo que mercê de um uso excessivo de mecanismos de dissociações e identificações projetivas e introjetivas torna o gêmeo ima ginário uma espécie de duplo seu visando a dois objetivos inconscientes 1 Manter sob controle no exterior os objetos do seu mun do interior 2 Manter a negação de que existe uma realidade diferente do seu próprio eu Duplo vínculo GREGORY BATESON BATESON e colaboradores 1950 trabalhan do em Palo Alto Califórnia no tratamento e na observação de famílias de esquizofrê nicos do ponto de vista antropológico e da comunicação utilizam a expressão duplo vínculo em inglês double bind para refe riremse a situações pelas quais mensagens contraditórias e paradoxais emitidas pelos pais invariavelmente deixam a criança no papel de perdedora e num estado de con fusão e de desqualificação 112 DAVID E ZIMERMAN Pode servir como exemplo banal a sen tença da mãe que diz ao filho Eu te orde no que não aceites ordens de ninguém ou que grita a altos brados para que a crian ça nunca grite etc Dessa forma a criança fica presa nas malhas de um duplo vínculo receia ser castigada se ela interpretar as mensagens da mãe tanto acertada como equivocadamente Aliás o termo bind originalmente alude a uma condição de prisioneiro tal como é o cabresto de ani mais E BION Letra que na Grade de BION ocupa a fileira que designa o nível concepção na gênese da função de pensar A concepção segue na grade à letra D que designa as précon cepções e permite a passagem para a letra E que refere a formação de conceitos Econômico ponto de vista FREUD FREUD definiu a metapsicologia pela síntese de três pontos de vista o tópico o dinâmi co e o econômico Este último seguindo as tendências das ciências da época deveria levar em conta a quantidade de energia psíquica Também deveria considerar nas oposições a ela a possibilidade de avaliar seu destino através de variações de intensi dade como acontece nos contrainvesti mentos ou nas suas transformações como sucede com a energia livre própria do pro cesso primário quando é transformada em energia ligada mais característica do pro cesso secundário Igualmente FREUD descreveu as perturba ções da descarga libidinal que promovem as neuroses atuais Também referiu que levando em conta a tolerância de cada su jeito em particular um afluxo excessivo de estímulos pode promover o surgimento de neuroses traumáticas tal como a neurose de guerra Da mesma forma o alívio pro duzido pelo método da descarga abreati va seria uma prova de que a energia psí quica poderia ser quantificada O ponto de vista econômico é um dos as pectos mais questionáveis na obra de FREUD embora tenha voltado à pauta como uma das melhores teorias para explicar o fre qüente surgimento das neuroses atuais ver este verbete Édipo mito de FREUD FAIRBAIRN BION Na mitologia grega um oráculo profetizara ao rei Laio que seu filho que ia nascer ma taria o pai e casaria com a mãe Jocasta Para fugir desse destino o rei confia a um servo a missão de matar o recémnato po rém o servo decidiu abandonar a criança ao invés de matála O desdobramento da história confirma a profecia de modo que Édipo mata Laio numa encruzilhada casa com Jocasta e mais tarde com a revela ção da terrível verdade do incesto involun tariamente cometido como autopunição fura seus olhos assim ficando cego FREUD inspirouse nesse mito que trata da relação do triunfo do filho sobre o pai para E 114 DAVID E ZIMERMAN postular seu famosíssimo complexo de Édi po ver este verbete que com as necessá rias ampliações de entendimento tornou se um conceito medular da psicanálise FAIRBAIRN preferiu ver no mito de Édipo o aspecto mais primitivo do abandono tal como aparece nessa passagem É notável que o interesse psicanalítico sobre a clássi ca história de Édipo tenha se concentrado sobre os atos finais do drama No entanto como uma unidade é importante reconhe cer que o Édipo que mata seu pai e despo sa sua mãe começou sua vida exposto em uma montanha e assim esteve privado de cuidados maternais em todos os seus as pectos durante uma etapa na qual sua mãe deveria constituirse no seu objeto essenci al e exclusivo BION reestudou o mito edípico através de um outro vértice de abordagem privilegi ando as diversas formas de cada um dos personagens envolvidos na trama edípica relacionarse ou não com as verdades Par ticularmente quanto a Édipo considerou que o castigo divino foi contra sua curiosi dade arrogante de querer conhecer a ver dade a qualquer preço Ego ou Eu ou Ich FREUD O significado do termo ego aparece na lite ratura psicanalítica de uma forma algo am bígua e pouco uniforme entre os distintos autores podendo por isso causar alguma confusão conceitual Esse clima algo con fusional pode ser exemplificado com três situações 1 Alguns autores utilizam inicial minúscula ego para designar essa fundamental ins tância psíquica e reservam a grafia com ini cial maiúscula Ego para indicar o que atualmente se entende por self 2 Os psicanalistas da Escola Francesa de Psicanálise que têm uma larga produção e divulgação no mundo psicanalítico com uma notória fidelidade a FREUD costumam empregar dois termos em relação ao ego um é je traduzido por eu que designa mais especificamente o ego como uma instância psíquica encarregada de funções o outro é moi que se refere mais precisamente a uma representação da imagem que o sujeito tem de si mesmo logo do seu sentimento de identidade 3 O próprio FREUD ao longo de sua obra empregava no original alemão tanto a ex pressão das Ich geralmente com o acima mencionado conceito de je como também selbst com o significado de si mesmo O fato de usar essas expressões indistintamen te veio a aumentar a imprecisão conceitual É útil estabelecer uma diferença conceitual e semântica entre ego e self ver este último verbete Ego tipos de formação do FREUD Do ponto de vista evolutivo cabe discrimi nar as seguintes transformações que o ego sofre segundo FREUD 1 Não haveria ego no recémnascido porquanto para ele no início tudo era id 2 A existência de um Ego arcaico ou incipiente também deno minado por FREUD ego do prazer puro ou ego do prazer purificado Esse nome está justificado pelo fato de que nessa fase o ego do bebê purificase ao expelir proje tar tudo o que for desagradável Igualmen te FREUD descreveu a existência nessa fase de um estado mental que chamava às ve zes de sentimento oceânico e estado de Nir vana em outras 3 Ego da realidade primi tiva 4 Ego da realidade definitiva no qual começa a haver a transição do princípio do prazer para o princípio da realidade e do processo primário para o processo secun dário Resumindo FREUD definiu o ego como um conjunto de funções e de representações Embora ele não tenha usado especificamen te essas denominações os autores atuais costumam sintetizar tudo que ele conceituou VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 115 descrevendo dois tipos o egofunção e o egorepresentação O egofunção alude tanto às funções mais ligadas ao consciente percepção pensa mento juízo crítico capacidade de síntese conhecimento linguagem comunicação ação como também refere a funções que se processam no inconsciente formação das angústias dos mecanismos de defesa dos símbolos das identificações com o con seqüente sentimento de identidade Ego alter Termo que já esteve muito em voga no jar gão psicanalítico depois praticamente de sapareceu Volta a aparecer com alguma regularidade na literatura especializada com o significado de duplo do sujeito Ou seja por meio de identificações projetivas maciças dos seus superegóicos objetos internos em alguém o sujeito constrói uma duplicação dele uma espécie de gêmeo imaginário Vale acrescentar que o fenômeno do duplo especialmente a partir de LACAN que descre veu a imagem da criança vista por ela mes ma no espelho está merecendo significativo destaque nos textos de muitos autores con temporâneos O tema foi inicialmente estu dado por ORANK em O duplo 1914 e por FREUD em O sobrenatural também traduzi do por O sinistro 1919 Ego auxiliar Expressão não muito utilizada porém mui to útil na medida em que ajuda a esclare cer que nem sempre os objetos superegói cos são introjetados de forma tirânica e ameaçadora Pelo contrário quando os objetos internalizados se organizam como aliados do ego no sentido de auxiliar a es tabelecer os necessários limites e a imposi ção de valores morais e éticos cabe consi derar a denominação de ego auxiliar como equivalente ao que seria um superego amis toso benevolente e útil Ego contra Ver contraego Ego ideal FREUD utilizou ego ideal ideal do ego e superego de forma superposta e algo in distinta Na atualidade os autores costu mam fazer distinção entre os respectivos significados Assim ego ideal uma subestrutura do apa relho psíquico aparentada com o superego é considerado herdeiro direto do narcisismo original Em outras palavras os mandamen tos internos obrigam o sujeito a correspon der na vida real às demandas provindas de seus próprios ideais geralmente impregnados de ilusões narcisistas inalcançáveis Essas ilu sões por isso mesmo determinam no indiví duo um estado mental que se caracteriza por uma facilidade para sentir depressão e humi lhação diante dos inevitáveis fracassos delas Ego ideal do Subestrutura diretamente conectada com o conceito da estrutura do superego Re sulta dos ideais do próprio ego ideal da criança projetados e altamente idealiza dos nos pais e que se somam aos origi nais mandamentos provindos do ego ideal de cada um deles Dessa forma o sujeito fica submetido às aspirações dos outros sobre o que deve ser e ter e daí decorre que seu estado mental prevalente é de permanente sobressalto sendo facilmente acometido de sentimento de vergonha quando ele não consegue cor responder às expectativas dos outros que passam a ser também suas Ego prazer ego realidade FREUD Termos indicadores de etapas evolutivas do ego incipiente descritos no verbete Ego ti pos de formação do 116 DAVID E ZIMERMAN Ego supra Proponho o termo supraego o prefixo su pra significa acima de tudo para designar a conceituação de BION relativa à existên cia do que ele denomina como um super superego Alude a uma subestrutura cons tante da parte psicótica da personalidade pela qual o sujeito cria leis e uma moral própria e onipotentemente quer impôlas à natureza e aos demais Ego e o Id O FREUD 1923 Considerado o último dos grandes trabalhos teóricos de FREUD aparece no volume XIX p23 da Standard Edition brasileira Composto de cinco partes e dois apêndices suas duas idéias principais referemse a 1 Tríplice divi são da mente com ênfase na importância do ego 2 Gênese do superego A parte I Consciente e Inconsciente abor da a força dos recalcamentos do conscien te para o inconsciente o que gera as resis tências durante a análise Na parte II O ego e o id FREUD afirma que o ego é a parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo exterior através do sistema perceptivoconsciente Também aí faz a célebre afirmativa de que o ego é em primeiro lugar e acima de tudo um ego corporal Na parte III O ego e o superego Ideal do ego FREUD assevera que o superego não é um mero resíduo das primeiras escolhas objetais do id representa também uma enérgica formação de reação contra tais escolhas O ideal do ego é o herdeiro dire to do complexo de Édipo A parte IV As duas classes de pulsões trata do problema da ambivalência e a possibilidade de sublimação através da dessexualização ou seja da renúncia da libido erótica que então fica transformada em libido do ego A parte V As relações dependentes do ego aborda o fato de que o ego é formado a partir de identificações que substituem in vestimentos abandonados pelo id A primei ra dessas identificações é o superego Nessa parte há um destaque para o papel repre sentado pelo sentimento de culpa O apêndice A trata de O inconsciente des critivo e o inconsciente dinâmico e o B en foca O grande reservatório de libido Egossintonia e egodistonia Estado mental que o analisando tem a res peito de sua própria neurose Freqüente mente os analistas encontram uma forte forma de resistência do paciente a uma boa evolução da análise Embora sejam eviden tes seus conflitos inibições e estereotipias o sujeito está harmonizado com a sua deficitá ria qualidade de vida e sempre consegue en contrar racionalizações que lhe justificam a tese de que não tem o que mudar Nesses casos antes de tudo é necessário que o analista consiga transformar em egodistô nico o que está egossintônico no analisando Eitingon Max EITINGON passou à história da psicanálise não em razão de alguma importante obra psicanalítica mas sim por ter sido um dos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 117 mais íntimos colaboradores fiéis a FREUD e por ter prestado uma importante contribui ção à história da organização do movimen to psicanalítico internacional Nascido na BieloRússia em 1893 MAX EI TINGON era o segundo filho de uma abasta da família judia ortodoxa Aos 12 anos acompanhando a família emigrou para a Alemanha onde como ouvinte fez estu dos superiores sobre história da arte e filo sofia e posteriormente graduouse em me dicina Partiu para a Suíça onde se li gou à Clínica Burghölzi fazendo aproxima ção com BLEULER e JUNG e conhecendo ABRAHAM Desses contatos surgiu a motiva ção para visitar FREUD em Viena em 1907 começando a participar das reuniões da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Por volta de 1908 fez uma curta análise didática com FREUD a qual se desenrolou no cenário de passeios vespertinos Homem tímido apresentando problemas de gagueira cativou a FREUD que indicou seu nome para pertencer ao Comitê Secreto Gradualmente e sempre mostrando uma total e irrestrita solidariedade a FREUD EI TINGON foi galgando posições a ponto de tornarse responsável pela organização de muitos congressos Presidiu a IPA de 1927 a 1932 criou e financiou a Policlínica de Berlim assim emprestando um caráter so cial à psicanálise um velho sonho de FREUD EITINGON não só contribuiu financeiramen te nos momentos difíceis que a psicanálise atravessava foi também um dos maiores incentivadores do tripé da formação psica nalítica análise pessoal seminários teóri cos e igualmente a obrigatoriedade de su pervisão dos casos clínicos No final de 1933 EITINGON deixou a Ale manha para sempre e partiu para a Palesti na instalandose em Jerusalém onde fun dou o Instituto de Psicanálise de Jerusalém MAX EITINGON morreu em 1943 e foi sepul tado no cemitério do Monte das Oliveiras em Jerusalém Elaboração ou perlaboração Na terminologia original alemã FREUD em pregou tanto Verarbeitung como Durchar beiten Ambos derivados de Arbeit traba lho literalmente significam trabalho esme rado substantivo e trabalhar continuada mente verbo Esses termos costumam ser traduzidos para o português como elabo ração e perlaboração Na língua inglesa durcharbeiten foi traduzido por working through que quer dizer trabalhar através de Essas expressões indicam que o aparelho psíquico através de um trabalho consegue transformar o volume da energia pulsional derivandoa para outro lugar do psiquismo ou ligandoa a alguma representação Nos casos em que houver incapacidade de ela borar um excesso de estímulos pode resul tar uma neurose atual ou uma histeria na qual a tensão sexual não trabalhada fica derivada em sintomas somáticos Para FREUD de um modo geral a ausência ou a deficiência da elaboração das pulsões nas suas diversas formas estaria na base de todas neuroses e psicoses Elaboração secundária FREUD Trabalho efetuado pelo psiquismo em rela ção ao sonho que num segundo tempo procura dar uma certa coerência lógica ao enredo do sonho caso contrário ele apa receria caótico e totalmente incoerente Elasticidade na Técnica Analítica FE RENCZI 1928 Título do livro de FERENCZI um psicanalista de extraordinário talento clínico onde ele proclama que não mais recomenda e até contraindica a prática da técnica ativa ver esse verbete Em seu lugar propõe novos métodos como o da neocatarse o qual através de regressões propiciaria ao paci ente a revivescência dos traumas sofridos 118 DAVID E ZIMERMAN no passado dentro da situação analítica presente Tal como aconteceu com a técni ca ativa também o método da neocatarse embora de inspiração interessante não vin gou por falta de uma consistente fundamen tação teóricoconceitual No entanto essa obra de FERENCZI pode ser considerada precursora da psicanálise con temporânea porque nela transparece a intui ção do clínico que não se contentou em ficar restrito ao papel de descodificar e interpretar os conflitos inconscientes contidos na narrati va do analisando Pelo contrário FERENCZI se preocupava sobretudo com a qualidade da relação recíproca entre o par analítico dando ênfase à necessidade de o analista sentir com o que hoje chamamos de empatia Assim ele enfoca aspectos como a o de o analista se abster de frustrar desnecessaria mente b o de possuir o que Ferenczi cha mava de tato psicológico especialmente quanto ao momento e à forma de interpre tar c as condições de paciência indulgên cia compreensão e especialmente a de uma certa flexibilidade elasticidade que todo terapeuta necessariamente deveria ter para eventualmente poder ceder às neces sidades do paciente Além disso lançou as primeiras sementes da utilização dos sentimentos contratrans ferenciais como um importante instrumen to de técnica analítica Elementos em Psicanálise BION 1963 Obra em que BION tenta simplificar as teorias psicanalíticas demasiadas na opinião desse autor introduzindo a noção da existência de alguns elementos fundamentais que a exemplo do que se passa com os poucos al garismos aritméticos letras do alfabeto e no tas musicais permitem infinitas combinações A palavra elemento vem do étimo latino ele mentum o qual designa as letras do alfabeto que em distintos arranjos formarão palavras as quais formarão frases discursos etc BION propôs os seguintes seis elementos de psicanálise que ele considerou essen ciais 1 A relação continenteconteúdo 2 A contínua e recíproca interação entre a posição esquizoparanóide e a posição depressiva 3 A presença constante nas experiências emocionais dos vínculos L H e K 4 A relação entre a razão R e a idéia I 5 As emoções particularmente a da dor psíquica 6 O fenômeno das transformações nos acontecimentos psí quicos Elementos em Psicanálise 1963 é um dos mais importantes livros de BION não somen te pelo conteúdo de suas concepções origi nais como pelo fato de que pode por sua clareza ser recomendado aos que iniciam uma familiarização mais íntima com as idéias desse autor Além dos aspectos aci ma enumerados nesse livro BION também enfoca a origem e a natureza dos pensa mentos e da capacidade para pensar a teo ria das funções os mitos o conceito de in tuição e de premonição a utilização de modelos a introdução do conceito do fe nômeno da reversão da perspectiva Alude também ao crescimento mental como sen do um processo diferente do conceito clás sico de cura médica Elementos ααααα BION Primitivas impressões sensoriais e experiên cias emocionais elementos β que foram adequadamente transformadas pela função α da mãe Dessa maneira se constituem elementos que predominantemente adqui rem a forma de imagens visuais que são utilizadas pela mente para a formação de sonhos recordações formação de símbo los e para a capacidade para pensar Elementos βββββ BION As arcaicas impressões sensoriais e expe riências emocionais que não conseguem VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 119 ser transformadas em alfa devem ser ex pulsas e evacuadas como acontece por exemplo nos actings e em muitas soma tizações Elisabeth von R Caso clínico de FREUD O nome dessa paciente passou à história da psicanálise por ter sido ela quem se opôs ao método coercitivo Na época desiludi do com a hipnose FREUD usava o recurso de pressionar a fronte das pacientes deita das a fim de forçálas a associar livremente e garantiu à paciente que ela associaria es pontaneamente de forma mais livre e me lhor o que de fato aconteceu Esse fato constituiuse uma marcante rup tura epistemológica porquanto FREUD co meçou a cogitar que as resistências cor respondiam a repressões daquilo que es tava proibido de ser lembrado não só dos traumas sexuais realmente acontecidos mas também dos frutos de fantasias re primidas Enquadre Tradução portuguesa do termo psicanalíti co setting em cujo verbete específico está descrita sua importância na técnica e na prática analítica Entrevista inicial técnica É útil estabelecer uma diferença conceitual entre entrevista inicial e a primeira sessão de análise As entrevistas inicialais antecedem o contrato analítico enquan to primeira sessão indica que a análise já começou formalmente A entrevista inicial pode se desenvolver numa única ou mais entrevistas Visa fun damentalmente a a recíproca tomada de contato para avaliação da empatia esta belecida b a indicação ou contraindi cação para o método analítico c o grau de motivação d a teoria de cura que o pretendente tem em relação à análise e o grau de patologia f mais importante ainda a reserva de capacidades positivas as mútuas disponibilidades de órdem prá tica etc Uma explanação mais ampla sobre esse verbete pode ser encontrada no capítulo Entrevista inicial indicações e contraindi cações O contrato do livro Fundamentos psicanalíticos Teoria Técnica e Clínica Zi merman 1999 Elos de ligação BION Uma das traduções de link termo original mente usado e conceituado por BION e que mais comumente aparece traduzido como vínculo ver esse verbete Emoção A palavra emoção deriva de emovere ou seja formase a partir de uma certa ação pulsional um movimento na mente Para M KLEIN o representante mental da pulsão ligada ao objeto é a fantasia incons ciente e o impacto da pulsão sobre o obje to gera a experiência emocional no incons ciente A partir daí BION propõe que a emoção busca uma forma de expressão e uma re presentação simbólica para ser pensada BION também descreve os vínculos como uma ligação das emoções com as corres pondentes antiemoções ou da vivência emocional versus alheamento emocional e discrimina os distintos tipos e graus das emoções como a de um estado de paixão por exemplo Empatia FREUD KOHUT Empatia designa a capacidade de o analis ta sentir em si Parece ser essa a tradução mais apropriada de Einfühlung termo em pregado por FREUD no capítulo VII de Psi cologia das massas e análise do ego 1921 120 DAVID E ZIMERMAN para referir o poder de sentirse dentro do outro por meio de adequadas identificações projetivas e introjetivas A palavra empatia deriva do grego e for mase de em ou en dentro de pathos sofrimento dor O prefixo sym ou sin por sua vez indica estar ao lado de Fica clara assim a importante distinção entre empatia e simpatia Também é útil distinguir empatia de intuição a primeira é mais própria da área afetiva enquanto a segunda referese mais ao terreno ideativo e précognitivo Embora não tenha sido o primeiro autor a enfatizar o conceito de empatia KOHUT cer tamente foi quem lhe deu maior importân cia na técnica e prática analítica KOHUT 1971 preconiza que a relação analítica deve ser a de uma ressonância empática entre o self do analisando e a função de selfobjeto do analista Isso acontece quan do o paciente sentese compreendido pelo analista e demonstra que o compreende Comentário Embora reconheçamos a ex traordinária importância da empatia na práti ca clínica é necessário concordar com os au tores que advertem contra o risco de sua su pervalorização Quando for resultante de ex cessivas identificações projetivas e introjetivas a empatia pode borrar os necessários limites e a ocupação de lugares e papéis de ambos bem como pode gerar a formação de conlui os inconscientes indo até a possibilidade ex trema de degenerar numa folie a deux Energia de catéxis ou de investimento FREUD Dimensão quantitativa dos investimentos pulsionais determinando o ponto de vista econômico ver este último verbete do psi quismo Energia livre e energia ligada FREUD Segundo FREUD a energia pulsional livre ou móvel é própria do processo primário isto é ela é descarregada de forma rápida to tal e direta de uma representação para outra de um objeto para outro A energia ligada por sua vez é característi ca do processo secundário ou seja se for ma posteriormente a uma forma livre seu movimento para a descarga é controlado e retardado pelo ego caracterizando um ní vel mais estruturado do aparelho psíquico Enunciado identificatório PIERA AU LAGNIER De acordo com definição de PAULAGNIER 1975 importante psicanalista da Escola Francesa de Psicanálise enunciado identi ficatório é a imagem acústica significada e ressignificada pelo discurso dos pais e da cultura As predições veiculadas pelo dis curso dos educadores tipo essa criança é terrível e vai se dar mal na vida vão converterse em imagens identificatórias ou seja a criança identificase com a represen tação e o afeto com que o adulto celebra ou desqualifica algum traço valor ou ativi dade do filho Epistemofilia Epistemologia deriva do grego epistéme ciência logos estudo e referese ao estu do da teoria do conhecimento Em termos psicanalíticos epistemofilia alude mais es pecificamente a uma tendência inata da criança em querer conhecer filos amigo de as verdades dos fatos que a cercam e para os quais não encontra explicações FREUD 1917 considerou a epistemofilia como pulsão componente da libido e des creveu casos de psicopatologia ligados à má resolução da indagação epistemológica da criança como acontece nos casos de esco pofilia voyeurismo exibicionismo M KLEIN 1930 estabeleceu uma estreita ligação entre as pulsões sádicas e o desejo de conhecer demonstrando os distúrbios de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 121 aprendizagem da simbolização e do desen volvimento intelectual em geral que podem ocorrer com as inibições da epistemofilia quando essa se torna excessivamente inun dada pelo sadismo BION retomou o estudo da tendência epis temofílica do ser humano e o ligou à nor malidade e patologia da função de conhe cimento K ou K Um aspecto interessante ligado à epistemo filia é que FREUD nunca acreditou que a meninazinha já tivesse um precoce conhe cimento da existência da vagina a qual na percepção da criança não passaria de um pênis castrado enquanto nos dias atuais a grande maioria dos autores se inclinam pela convicção de que esse conhecimento da vagina já existe muito precocemente Equação etiológica FREUD Expressão de FREUD com o mesmo signifi cado de outra empregada por ele séries complementares Ambas referem o fato de que são três os fatores que formam a per sonalidade da criança 1 Os heredocons titucionais Anlage em alemão 2 As anti gas experiências emocionais com os pais 3 As experiências traumáticas da realida de da vida adulta Na atualidade os autores costumam redu zir essa equação a um simples assinalamen to de que existe uma permanente intera ção entre nature fatores biológicos e nur ture fatores ambientais Equação 8 C Como uma tentativa de sintetizar os fatores essenciais que em algum grau e tipo de arranjo combinatório estão presentes com configurações distintas em qualquer situa ção psicopatológica proponho um esque ma mnemônico constituído de oito fatores cujos termos têm C como inicial e que es tão em permanente interação completude carência culpa castigo compulsão à re petição código de valores introjetado ca pacidade de atingir a posição depressiva 1 Completude Todo indivíduo nasce num estado subjetivo de total completude por estar fundido com a mãe num estado de nirvana Enquanto dura a fase de indi ferenciação entre o eu e o outro o bebê ou o futuro adulto anela a eternização desse estado paradisíaco 2 Carência Como esse desejo de total completude é impossível de ser alcançado diante das inevitáveis e necessárias frus trações por parte dos objetos provedores sua majestade o bebê entra num estado de carência afetiva 3 Cólera crime Conforme o grau e a qualidade dessas frustrações a criança de senvolve um estado raivoso de cólera que pode atingir o nível de fantasias de cruel dade e de crime homicida contra os obje tos frustradores e privadores 4 Culpa Como decorrência direta dos ata ques reais ou fantasiados instalase na criança um estado de culpa pelos eventu ais danos que tenha infligido tanto a seus objetos quanto a seu próprio ego 5 Castigo A conseqüência direta desse estado culposo é a necessidade de castigo que se reveste das mais diversas formas de masoquismo desde as inaparentes até as de mais alta gravidade 6 Compulsão à repetição É fácil obser var que após serem castigados pelos pais pelo cometimento de uma arte delituosa as crianças sintamse liberadas para uma nova transgressão São movidas por uma forma de compulsão à repetição até conse guirem provocar um novo castigo e assim por diante 7 Código de valores introjetados Uma mesma arte praticada por duas crianças em diferentes ambientes familiares ou em uma mesma família que funcione muito dissoci ada pode resultar em significados totalmen te opostos Assim uma dessas crianças pode 122 DAVID E ZIMERMAN ter sido entendida e valorizada na sua arte o que faria crescer seu núcleo de confiança básica enquanto a outra pode ter sido ro tulada de criança má desobediente e cau sadora de sérios estragos Nesse último caso é a culpa imputada que precede o senti mento de culpa 8 Capacidade para atingir a posição depressiva Segundo a concepção da es cola kleiniana o círculo vicioso dessa com pulsividade à repetição somente será des feito se a criança adquirir a capacidade de atingir a posição depressiva Desse modo assumirá sua parcela de responsabilidades e poderá vir a fazer reparações verdadei ras abrindo o penoso caminho para fazer transformações no sentido de um cresci mento mental Cada uma dessas oito etapas tem uma cons telação particular e apesar de todas esta rem em permanente interação a ênfase da fixação em uma ou outra pode servir como uma espécie de roteiro dos aspectos que prioritariamente devam ser analisados Equação simbólica HANNA SEGAL Conceito original de HSEGAL 1954 relativo ao fato de pacientes psicóticos não consegui rem desenvolver boa capacidade para formar símbolos substituindoos por equações sim bólicas Nesses casos resulta uma confusão entre o que é o objeto real e o que está sendo simbolizado por meio de fantasias SEGAL esclarece com um exemplo um paci ente psicótico convidado para tocar violino numa festinha do hospital recriminoua se veramente porquanto ele dera um significa do concreto ao violino como se fora de fato um pênis e imaginou que estava sendo con vidado para masturbarse publicamente Erikson Erik Nascido na Alemanha originário de uma família judaica de classe média e posterior mente convertido ao protestantismo ERIK SON 19021994 fez sua formação psica nalítica em Viena com AFREUD Nos anos que precederam a II Guerra Mundial radi couse nos Estados Unidos onde em Bos ton dedicouse à análise com crianças e adolescentes ERIKSON é considerado como sendo o primeiro discípulo de AFREUD e o primeiro homem a se especializar nessa ati vidade até então exercida unicamente por mulheres Filiado à Escola da Psicologia do Ego aos poucos ERIKSON foi se aproximando das concepções do culturalismo o que o incen tivou a escrever o clássico Infância e Socie dade 1950 Nessa obra enfatiza a impor tância que as influências das mudanças so ciais com as respectivas crises existenciais exercem na formação do sentimento de identidade notadamente dos adolescentes ERIKSON também descreveu a formação dos núcleos básicos de confiança ou de descon fiança que determinam o tipo de escolha de objetos Eros Inicialmente FREUD descrevia as zonas eró genas no corpo da criança e diferenciava o que era de Eros num sentido mais platôni co daquilo que era sexualidade embora diferentemente do que muitos pensam tam bém diferenciava sexualidade de genitali dade A partir de Além do princípio do pra zer1920 FREUD introduziu o termo Eros significando o conjunto de pulsões de vida em oposição a Tanatos ligado à pulsão de morte Nessa oportunidade Freud definiu que a toda energia de Eros passaremos a chamar libido Na psicanálise contemporânea predomina a expressão as múltiplas faces de Eros o que está de acordo com a mitologia grega que enfoca esse personagem Eros desper tou o amor da bela Psique mas desde o início o romance entre ambos foi marcado VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 123 pelo desígnio do ódio Sua mãe Afrodite Vênus mordida pela inveja da beleza de Psique tentou servirse do filho para exe cutar seu terrível plano de vingança contra quem ousava ser mais linda do que ela Esse mito permite reconhecer o entrecru zamento de múltiplas faces do ser humano como o amor a inveja os castigos vingati vos as tramas sórdidas enfim a fusão das múltiplas faces de Eros fundidas e intera gindo com outras tantas faces de Tânatos Erótica e erotizada transferência O analista deve estabelecer a diferença en tre o surgimento de uma transferência eró tica e uma transferência erotizada na situa ção analítica A primeira é de surgimento freqüente e re presenta um movimento sadio do pacien te porquanto ele está possibilitando a aná lise de um aspecto evolutivo de importân cia essencial Já a transferência erotizada quando exa gerada pode impossibilitar o andamento da análise porquanto o analisando mais comumente uma paciente de característi cas marcadamente histéricas ou perver sas sente uma intensa atração sexual peloa analista Essa atração se converte em um desejo sexual obcecado de natu reza delirante que permanece inarredá vel consciente egossintônico e freqüen temente resistente a qualquer tentativa de análise além de representar um risco nada desprezível de um enredamento do analista Esboço ou Esquema de Psicanálise FREUD 1940 Sendo o Esboço um trabalho inacabado é intrigante especular quais seriam os ca minhos que FREUD tomaria se o completas se definitivamente Consta de nove capítu los distribuídos em três partes Na parte I denominada A mente e seu funcionamento o capítulo I aborda O apa relho psíquico O capítulo II estuda A teoria das pulsões O III enfoca O desenvolvimento da função sexual No IV FREUD aborda As qualidades psíquicas O capítulo V é intitu lado A interpretação de sonhos como ilus tração A parte II intitulada O trabalho prático consta do capítulo VI que aborda A técni ca da psicanálise e do capítulo VII Um exemplo de trabalho psicanalítico Na parte III intitulada Rendimento teóri co o capítulo VIII aborda O aparelho psí quico e o mundo interno e o IX estuda O mundo interno Este trabalho de FREUD considerado muito importante porque é uma espécie de inven tário da sua obra com as suas posições fi nais aparece na Standard Edition no vo lume XXIII Escolas de psicanálise A ciência psicanalítica criada por FREUD há mais de um século é na atualidade uma frondosa árvore de raízes profundas e bem nutridas com um tronco espesso e sólido dando bons frutos germinando novas se mentes e produzindo muitas ramificações Nessa metáfora podese dizer que muitos dos ramos fertilizaram e produziram novos arbustos conservando a essência da árvo remãe enquanto outras não tiveram o mesmo fim Assim entre algumas dissidên cias e muitos desviacionismos predominou um maior número de seguidores fiéis tan to ampliadores como refutadores Alguns desses psicanalistas mercê de contribuições originais que conseguiram atravessar suces sivas gerações de praticantes da psicanáli se e ganharam novas ramificações aliadas a uma liderança carismática fundaram no vas escolas de psicanálise O conceito de escola como aqui entendi do deve atender às seguintes cinco condi 124 DAVID E ZIMERMAN ções básicas 1 O autor que a criou ou seus seguidores devem ter aportado conceitos originais 2 Que esses conceitos não se afas tem dos princípios que constituem a essên cia do legado metapsicológicoteóricotéc nico de FREUD 3 Que essas concepções originais tenham aplicabilidade na prática psicanalítica clínica 4 Que sejam concei tos que atravessem gerações de psicanalis tas 5 Que sucessivamente inspirem e dêem novos frutos e ramos Dentre as correntes psicanalíticas que pre enchem as condições arroladas acima há sete escolas especificadas adiante que merecem ser destacadas Cumpre ressaltar que até há pouco os psicanalistas costu mavam se filiar a uma escola sem querer saber muito das outras enquanto a cres cente tendência atual é a de uma formação pluralista isto é prevalece o consenso de que a verdade analítica não está nos auto res mas sim nos nexos entre eles As sete escolas referidas são 1 Escola Freudiana Iniciada por FREUD e os pioneiros seus seguidores imediatos após ficou centralizada em AFREUD e seus seguidores da Sociedade Britânica de Psi canálise 2 Teóricos das Relações Objetais Os prin cipais representantes são FAIRBAIRN e princi palmente MKLEIN com uma plêiade de im portantes seguidores 3 Escola da Psicologia do Ego Fundada nos Estados Unidos por HARTMANN seguida por outros psicanalistas inovadores Na atualidade em especial após os trabalhos de MMAHLER e colaboradores essa corren te é conhecida como Psicologia do Ego Contemporânea 4 Psicologia do Self Foi fundada por H KOHUT também nos Estados Unidos 5 Escola Francesa de Psicanálise ou como muitos preferem denominála Escola La caniana levando em conta que o grande inspirador foi a figura controvertida de J LACAN 6 Escola dos seguidores de WINNICOTT 7 Escola dos seguidores de BION Essas sete escolas aparecem descritas nos verbetes específicos Escola Freudiana de Psicanálise ou Escola Estruturalista LACAN Em junho de 1964 JLACAN fundou a Es cola Freudiana de Psicanálise EFP O ter mo Escola foi adotado em lugar de Socie dade ou Associação como é praxe justa mente com o propósito de propor uma mo dificação nos padrões clássicos da IPA que seguem uma hierarquia com um escalona mento gradual de postos e posições LACAN pretendia seguir a transmissão do saber conforme a tradição das escolas gregas Dessa forma cercado de brilhantes psica nalistas como S LECLAIRE PAULAGNIER JLAPLANCHE B PONTALIS entre outros LA CAN entre 1964 e 1967 propôs quatro modificações essencialmente diferentes da quelas tradicionalmente adotadas pela IPA 1 Abolição da distinção entre análise didá tica e análise terapêutica 2 Desobrigação dos candidatos à formação analítica de se rem compelidos a escolher seu analista den tro de uma lista de didatas ungidos pela ins tituição de modo que podiam fazer a aná lise com qualquer analista da EFP ou de uma outra Sociedade 3 Abolição da obri gatoriedade de manter um tempo fixo de duração da sessão de análise podia ser mais ou bastante menos do que os clássicos 50 minutos 4 Aceitação de pessoas nãopsica nalistas como pertencentes à Escola Essa última concessão atraiu um enorme número de jovens tanto terapeutas que não aceitavam a psicanálise clássica como tam bém pertencentes da juventude altamente intelectualizada especialmente os provin dos da École Normale Superieure Em 1967 LACAN propôs o sistema de ad missão de candidatos para a formação co nhecido como passe ver o verbete o qual VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 125 sofreu a desaprovação de muitos impor tantes analistas da EFP entre os quais PAULAGNIER Esses analistas alertaram LACAN quanto aos riscos de uma excessiva permis sividade mas perderam na votação para a grande maioria dos jovens analistas que fi caram exultantes com a facilitação propicia da pelo passe Os dissidentes abandonaram a Escola e fundaram a Organisation Pycha nalytique de Langue Française OPLF tam bém conhecida como o Quarto Grupo Em 1978 Lacan reconheceu que o sistema de passe entrou num impasse e que sua utopia de evitar um sistema burocrático es clerosado fracassou Daí em diante acome tido por distúrbios cerebrais que gradativa mente foram complicando um processo de afasia e uma incapacidade para escrever LACAN foi se desligando e delegando a total liderança da EFP para o seu genro JALLAIN MILLER Em 1980 Lacan anunciou a dissolução da Escola que então num processo de gigan tismo difícil de controlar contava com mais de 600 membros e passou a sofrer sucessi vas dissidências com a formação de inú meras outras escolas lacanianas Escopofilia voyeurismo FREUD A escopofilia desde há muito tempo foi considerada uma forma de perversão pela qual o sujeito só consegue encontrar satis fação sexual quando consegue flagrar uma nudez total ou parcial de um ou de vá rios outros FREUD estudou esse desvio se xual juntamente com o exibicionismo caso no qual o sujeito deseja mostrarse nu mais precisamente a exibir as suas partes genitais Na atualidade considerase que as crian ças e muitos adultos que não são perver sas podem ser tentadas pelo desejo de olhar pessoas nuas e de serem olhadas em esta do de nudez e mais especificamente mos trando sua genitália Escritos LACAN 1966 O título original desse importante livro é Écrits Consiste no conjunto dos principais trabalhos de LACAN escritos no período de 1949 a 1960 que foram reunidos e publi cados em 1966 constituindo a coluna mes tra de toda sua longa obra Em 1988 foi lançada sua tradução para o português Escuta analítica conceito de técnica Antes de tudo é necessário estabelecer uma distinção entre ouvir função fisiológica de audição e escutar implica envolvimento emocional A conceituação de escuta no campo analítico abarca no mínimo dois planos o da comunicação primitiva e o da escuta das narrativas do paciente e das in terpretações do analista Comunicação primitiva Cada vez mais os psicanalistas estão valorizando a escuta daquilo que o analisando está transmitin do inconscientemente através de uma co municação primitiva não verbal expressa pela via de canais como 1 A linguagem corporal de distintas ma neiras o corpo fala e tal como uma mãe que descodifica as necessidades que o bebê manifesta através do corpo sob a forma de rictos de dor ou sorrisos de prazer diarréia vômitos etc também o analista deve com preender e escutar a linguagem dos gestos atitudes formas de o paciente se vestir e tratar seu corpo as somatizações etc 2 A escuta da linguagem oniróide imagens vi suais devaneios narrativas místicas aluci noses sonhos etc 3 A escuta da condu ta do paciente muito especialmente a dos actings 4 A escuta dos efeitos contratrans ferenciais aspecto de relevante importância na prática clínica porquanto o analista que souber escutar os sentimentos contratransfe renciais que o paciente despertou nele estará apto a transformálos em empatia 126 DAVID E ZIMERMAN Escuta das interpretações do analista Na situação analítica não basta o analista interpretar corretamente o importante é que mais do que exata a interpretação seja eficaz e para tanto é fundamental o desti no que a interpretação tomou na mente do paciente isto é como é sua escuta daquilo que lhe é dito Igualmente importante é que o analista esteja atento para a escuta da escu ta isto é de como o analisando escutou a escuta do terapeuta e viceversa Também é relevante no campo analítico a escuta dos silêncios os quais representam uma linguagem própria muitas vezes ne cessária e bastante significativa A esse res peito vale mencionar uma metáfora em pregada por BION segundo a qual a música está formada por elementos de notasinter valosnotas podendo a ausência de som isto é a presença do intervalo representar mais vigor e expressividade que a nota musical por si só Igualmente importantes são mais dois as pectos Um consiste naquilo que TREICK chamou de terceiro ouvido que corres ponde a uma escuta baseada na intuição ver esse verbete tal como BION descre veu Um segundo aspecto é o que se re fere à necessidade de na situação analí tica o terapeuta ter a capacidade para fazer uma escuta simultânea dos diferen tes níveis sígnicos e simbólicos contidos e transmitidos num mesmo momento pela narrativa do paciente Espaço mental FREUD MELTZER BION É desnecessário frisar que os espaços que as diversas facetas do psiquismo ocupam na mente humana não são concretos mas sim virtuais Já FREUD quando formulou sua Teoria To pográfica topos em grego significa lugar transmitia a noção de que o consciente o préconsciente e o inconsciente estariam separados ocupando instâncias o mesmo que foros na mente Da mesma forma na sua segunda tópica a teoria estrutural FREUD concedeu espaços ocupados respectivamente pelo Id pelo Ego e pelo Superego chegando a ilustrar todas essas noções com um modelo gráfico Em registros distintos todos os principais autores também aludiram à divisão do es paço mental porém cabe destacar as con cepções de MELTZER e de BION MELTZER em seu livro Exploración del au tismo 1975 ao tratar do problema da ade sividade descreve quatro tipos de espaço mental que ele denomina dimensionalida de da mente e que são 1 Espaço unidimensional aquele no qual o espaço e o tempo se fundem numa di mensão linear não se distinguem entre si e não permitem a formação da memória e muito menos do pensamento Esse tipo de espaço primitivo característico dos esta dos autísticos é comparado por MELTZER a uma ameba que se comunica com o mun do somente através da emissão de pseudó podos ou seja no caso dos autistas vale dizer pseudópodos mentais 2 O espaço bidimensional característico da identificação adesiva não vai além de um contato de superfície do ego do sujeito com outras superfícies de pessoas necessi tadas que são valorizadas somente pelo que elas gratificam ou frustram 3 O espaço tridimensional é aquele no qual predominam as identificações projetivas as quais diz MELTZER quando usadas exage radamente impedem a emancipação da pessoa e determinam os quadros de pseu domaturidade 4 O espaço tetradimensional é concebido por MELTZER como aquele no qual saindo do narcisismo e passando satisfatoriamen te pela posição depressiva o sujeito adqui re uma discriminação do espaço e do tem po reconhece a existência e a autonomia do outro de modo que a mente encontra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 127 um espaço que lhe permite perceber co nhecer e pensar BION empresta especial importância principal mente para a prática analítica ao reconheci mento de diferentes espaços virtuais na men te de qualquer pessoa o que está bem tradu zido na sua concepção de parte psicótica e parte não psicótica da personalidade BION vai mais longe e numa breve passagem de sua obra chega a comparar o psiquismo a um mapa múndi com distintas regiões do psiquis mo bem delimitadas e diferençadas entre si Comentário Inspirado nessa metáfora de BION penso que da mesma forma como acontece com o mapa que representa o mun do também a geografia do psiquismo de cada sujeito vai sofrendo transformações com o correr do tempo Igualmente penso que exis tem pontos cardeais psíquicos que apontam para uma direção ou outra zonas pacíficas com outras turbulentas superfícies amenas e montanhas íngremes regiões polares onde tudo é frio branco desértico numa alternân cia com zonas equatoriais tórridas tempera mentais vulcões inativos com a possibilida de de voltar à atividade emitindo lavas des trutivas Além desses na mente há fenôme nos climáticos iguais aos do El niño no duplo sentido da expressão tanto com a parte crian ça de qualquer pessoa como no sentido de uma forte turbulência do clima emocional Completo a imagem metafórica propondo o termo Bússola Empática como um ins trumento imprescindível para melhor poder navegar primeiro o analista e conseqüen temente aos poucos o analisando nessa geografia mental tão cheia de acidentes mistérios e imprevistos ao mesmo tempo em que se constitui numa viagem fascinan te cheia de descobertas Espaço transicional WINNICOTT Com esse trabalho WINNICOTT 1951 co meça seus estudos relativos aos fenômenos e objetos transicionais Essa concepção ori ginal alude ao fato de que a passagem do subjetivo mundo interno e imaginário do bebê para o mundo real e objetivo proces sase inicialmente por meio de uma espé cie de ponte de transição entre ambos As sim criase um espaço virtual que WINNI COTT denomina às vezes espaço transicio nal outras vezes espaço potencial área da ilusão ou área da criatividade porquanto o trânsito entre a fantasia e a realidade pos sibilita alto potencial e riqueza de criativi dade inclusive artística WINNICOTT assinala que uma característica essencial relativa a esse espaço potencial é a existência de um paradoxo e a aceitação do paradoxo pois o bebê cria o objeto mas o objeto estava lá esperando para ser cria do no entanto pelas regras do jogo da edu cação o bebê nunca será desafiado a obter uma resposta para a pergunta você criou isso ou você o encontrou O espaço transicional ou seja a área da ilusão de onipotência do bebê consiste no fato de ele vivenciar o seio da mãe como fazendo parte do seu próprio corpo No iní cio a mãe ou o analista na situação analí tica deve aceitar essa ilusão porém aos poucos deve processar uma progressiva de silusão das ilusões até que a criança perce ba que tem a possessão do objeto seio mas que ela não é o seio Espátula jogo da WINNICOTT WINNICOTT descreveu esse jogo que na dé cada de 30 ele praticava com as crianças que atendia A espátula consistia em obje tos metálicos reluzentes prateados e brilhan tes que eram dispostos em sua mesa de trabalho em ângulo reto facilmente acessí veis de sorte que ele observava como as crianças entre cinco e treze meses se relaci onavam com essa espátula Ele aponta para três tipos de reações 1 A criança vê e busca a espátula só se desin teressando dela quando observa que está 128 DAVID E ZIMERMAN sendo observado por um adulto 2 Pega a espátula e a leva à boca 3 Deixa a espátu la cair WINNICOTT considerava que essas etapas sempre surgiam e na hipótese de não ocorrerem ele acreditava que algo não ia bem com a criança de sorte que ele empregava este jogo como um instrumen to diagnóstico Espelho FREUD LACAN WINNICOTT KOHUT Pesquisadores que se dedicam à observa ção direta de crianças mostram a importân cia do espelho físico e da função especular desde as mais precoces etapas evolutivas Isso encontra respaldo nas distintas concep ções teóricas e técnicas de importantes autores FREUD mencionou sem se aprofundar o jogo do espelho tal como está descrito no verbete carretel jogo do LACAN em 1936 em Écrits 1970 des creveu o estágio ou etapa do espelho afirmando que a partir dos seis meses a criança começa a conquistar a imagem da totalidade de seu corpo que até então está toda despedaçada corps morcelê no original francês Essa etapa do espelho segundo LACAN prolongase dos 6 aos 18 meses e processase em três fases funda mentais Em um primeiro momento a criancinha percebe o seu reflexo no espelho como se fosse de um outro ser real do qual procura aproximarse ou apoderarse Em uma se gunda fase a criança percebe que o outro do espelho não é um ser real que não passa de uma imagem e por isso ela não vai mais procurálo atrás do espelho A terceira fase consiste em que a criança já sabe que o refletido é apenas uma ima gem dela própria Nessa ocasião ela ma nifesta um intenso júbilo e gosta de brin car com os movimentos do seu próprio corpo no espelho LACAN também entende o espelho como uma metáfora do vínculo entre a mãe e o filho que progride desde a dimensão visual e ima ginária a qual permite a ilusão de uma com pletude onipotente da primeira fase até o da dimensão simbólica coincidente com a aquisição da linguagem verbal WINNICOTT em seu trabalho de 1967 O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento da criança1975 con cebeu uma de suas mais originais e frutí feras contribuições numa concepção di versa a de LACAN embora admitindo que se baseou na etapa do espelho deste últi mo Assim textualmente no trabalho aci ma aludido WINNICOTT afirma que O precursor do espelho é o rosto da mãe O trabalho de JACQUES LACAN Le Stade du Miroir 1949 por certo me influenciou Entretanto LACAN não pensa no es pelho em termos do rosto da mãe da maneira como desejo fazer aqui o que o bebê vê quando olha para o rosto da mãe Sugiro que normalmente o bebê vê é ele mesmo Numa frase poética WINNICOTT afirma que o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe sobretudo o seu olhar Ao olharse no espelho do rosto materno o bebê vêse a si mesmo Quando olho sou visto logo existo Posso agora me per mitir olhar e ver Nesse contexto cresce muito a responsabi lidade da mãe real pois sendo um espelho do seu filho ela tanto pode refletir o que ele realmente é ou qual um espelho que distorce imagens típico dos parques de di versão a mãe pode refletir o que ela pró pria é ou imagina ser KOHUT utiliza a expressão objetos do self 1971 para referirse a dois tipos de obje tos primordiais especulares 1 Os que fun cionam como um espelho da criança e que mediante incessantes elogios e admiração a este outorgamlhe uma imagem de self grandioso 2 O objeto parental que reflete VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 129 para o filho uma imagem grandiosa que os pais têm de si próprios constituindo a ima go parental idealizada Além disso KOHUT contribuiu para a téc nica analítica ao trazer a sua noção de transferência narcisista nas suas três mo dalidades a fusional a gemelar e a espe cular conforme aparecem no verbete transferência Esquizofrenia Termo cunhado pelo psiquiatra suíço BLEU LER Até então a esquizofrenia era conheci da como demência precoce FREUD não gostava de nenhum desses dois nomes utilizava a terminologia de neurose narci sista e chegou a propor a denominação de parafrenia para caracterizar essa for ma de psicose Mais precisamente a partir do Caso Schre ber1911 FREUD considerava que a carac terística principal dessa psicopatologia psi cótica consistia num desapego da libido do mundo exterior e sua regressão para o ego diferentemente das neuroses nas quais a libido é investida em objetos substitutos FREUD também dedicouse a estabelecer di ferenças entre a esquizofrenia e a paranóia sempre dentro de uma perspectiva da con flitiva edípica porém na verdade ele nun ca se aprofundou no estudo dos transtor nos esquizofrênicos Ademais manifestava abertamente sua descrença quanto à indicação do trata mento psicanalítico para esses pacientes sob a alegação principal de que se eles retiram a libido do exterior não se for maria a transferência e como essa é a condição sine qua non para a análise essa ficaria impossibilitada M KLEIN com os seus estudos relativos ao desenvolvimento emocional primitivo do bebê trouxe uma inestimável contribuição para uma melhor compreensão dos psi cóticos de sorte que alguns importantes psicanalistas pacientes e seguidores dela como HSEGAL ROSENFELD BION e poste riormente MELTZER praticaram tratamen to psicanalítico com pacientes esquizofrê nicos com brilhantes resultados acadêmi cos ainda que com duvidosos resultados terapêuticos Comentário É útil lembrar que a palavra esquizofrenia resulta dos étimos gregos schi zos corte cisão phrenes mente O últi mo também quer dizer diafragma A rela ção entre diafragma e mente decorre do fato de que o poeta Homero observara que quando uma pessoa pensa e se expressa o seu diafragma sobe e desce Esquizóide personalidade FAIRBAIRN Trabalhando na Escócia o renomado psi canalista RFAIRBAIRN descreveu uma posi ção esquizóide pela qual o ego fica cindi do esquizos em grego quer dizer cisão em diferentes aspectos como são o ego cen tral os distintos egos sabotadores etc Do ponto de vista clínico os pacientes es quizóides apresentam uma cisão na perso nalidade de sorte que por exemplo po dem manter uma vida profissional bem su cedida com talentos e capacidades autên ticas ao mesmo tempo em que mostram uma frieza afetiva e uma incapacidade para amar e deixarse ser amado A causa mais comum reside na primitiva falha da função continente da mãe que não pôde acolher conter e processar as deman das e angústias do bebê de modo que este se tornou temeroso de que suas exi gências amorosas tenham ficado cruéis e destrutivas e que seu amor seja desprezí vel ou maligno O risco disto acontecer aumenta nos casos em que a falha do con tinente materno provém de uma mãe de primida Nestes casos as pessoas esquizóides têm dificuldade de odiar e de amar e vivenci am o enamoramento como um extravasa 130 DAVID E ZIMERMAN mento da libido represada o que pode oca sionar uma sensação de fusão com a pes soa amada Para fugir do receio de uma regressão com extrema dependência apri sionamento e perda de identidade o su jeito esquizóide lança mão de mecanis mos defensivos como os de isolamento afetivo um rígido controle obsessivo e es pecialmente de defesas esquizóides ou seja uma clivagem de aspectos do ego pul sões e de objetos os quais de acordo com MKLEIN são colocados dentro de outras pessoas através de identificações projetivas Esquizoparanóide posição M KLEIN Como a etimologia desse termo designa os mecanismos defensivos predominantes nessa posição são os de dissociação o éti mo grego esquizo significa cisão corte di visão tal como aparece em esquizofrenia ou seja divisão da mente e os de proje ção implícitos no termo paranóide o qual indica que se trata de uma paragnose ou seja de um distúrbio da percepção e do conhecimento do sujeito A necessidade de preservar a experiência prazerosa e de rechaçar a dolorosa leva à primeira dissociação ou clivagem ou split ting de modo que segundo MKLEIN toda a qualidade da formação do psiquismo gira em torno do estruturante seio bom ou do desestruturante seio mau A ênfase de MKLEIN nos processos dissociativos de terminou uma profunda modificação na teoria e técnica da psicanálise tendo em vista que o interesse maior de FREUD era para os processos de repressão Referidas clivagens não dizem respeito uni camente aos objetos mas também às pul sões ansiedades e aspectos do ego Os pe daços resultantes das sucessivas dissocia ções necessitam ser expelidas o que é rea lizado por meio do mecanismo de proje ções mais exatamente para MKLEIN por meio de identificações projetivas Na clínica psicanalítica de adultos a ma nutenção predominante da posição esqui zoparanóide quer por detenção do pro cesso evolutivo quer por regressão aos primitivos pontos de fixação transpare ce na maioria das vezes nas manifesta ções sintomáticas ou caracterológicas nas quais o sujeito mercê do uso abusivo de clivagens e identificações projetivas exces sivas expressão de BION desenvolve sin tomas como alucinações ideação perse cutória etc Estilos de narrativa e de interpretação D LIBERMAN AFERRO Uma frase do pensador BUFFON O estilo é o homem define bem a importância que mais restritamente na situação analíti ca o estilo de comunicação tanto de parte das narrativas do paciente como da ativi dade interpretativa do analista representam para a evolução do processo de transfor mações analíticas Em relação ao estilo do analisando impõe se mencionar o psicanalista argentino D LIBERMAN 1971 que estabeleceu uma in teressante ligação entre a caractereologia predominante num determinado paciente e seu estilo narrativo O autor descreveu seis modalidades de estilos que ele denominou reflexivo lírico épico narrativo suspense e estético Num outro registro ANTONINO FERRO 1996 faz uma enriquecedora contribuição à psi canálise contemporânea com sua descrição dos gêneros ou derivados narrativos que se processam em diferentes dimensões do psiquismo como são os que ele enumera 1 Lúdico o brincar da criança 2 Gráfico o desenho feito na sessão 3 Sensorial alude ao corpo sob a forma de borborig mos intestinais espirros tosse etc 4 Motor remete aos actings 5 Onírico o qual Ferro considera como sendo o funda mental porque remete à possibilidade de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 131 se utilizar o sonho como narração do aqui agora isto é como relato que exprime a qualidade do elemento a ativado naquele momento Comentário Relativamente ao estilo de o analista interpretar é interessante regis trar que a palavra estilo deriva de stilus que em latim designa um estilete com duas pontas uma aguda que serve para cortar e a outra romba que serve para aparar e dar forma É importante consi derar que devem ser preservados e res peitados ao máximo os modos genuínos e autênticos do estilo de cada um em par ticular No entanto é necessário alertar que determinados estilos interpretativos podem exercer um efeito nocivo ao êxito da análise e se constituírem erros técni cos patogênicos Dentre esses cabe registrar os estilos de natureza 1 Superegóica as interpreta ções disfarçadamente estão veiculando acusações cobranças e expectativas a se rem cumpridas 2 Pedagógica às vezes elas constituemse verdadeiras aulinhas 3 Doutrinária pelo uso de uma retórica a arte de convencer os outros e com um possível vício de o analista querer con firmar ou demonstrar que sua interpre tação é a correta 4 Deslumbradora de ocorrência freqüente nas formulações por parte de analistas excessivamente narci sistas com um provável risco de o analis ta deslumbrar etimologicamente do cas telhano des tirar lumbre luz seu ana lisando 5 Pinguepongue o analista mantém com seu paciente um batereba te de tal sorte que não se formam espa ços para silêncios os quais muitas vezes são muito necessários 6 Intelectualiza dor as interpretações podem ser brilhan tes e até corretas porém resultam inefi cazes porque não vêm acompanhadas de um contato emocional e corre o risco de fortificar as defesas obsessivas de certos pacientes Estranho O FREUD O termo estranho é uma das traduções para idioma português as outras duas mais cos tumeiras são o sinistro e o sobrenatural da expressão original de FREUD Unheimlich na versão da Standard Edition inglesa The uncanny Nesse artigo de 1919 que na Standard Edition brasileira aparece com o nome de O sobrenatural Freud defi ne o estranho como tudo que já foi fami liar para a vida psíquica mas que foi re calcado É tudo que deveria ter perma necido oculto e secreto mas que veio à luz de modo que as entranhas psíquicas se tornam estranhas É comum no curso das análise que o con tato com o estranho produza uma sensa ção de confusão loucura e morte tanto no paciente por se defrontar com o que sem pre o aterrorizou quanto é possível esse sentimento ser despertado no analista Isso ocorre porque as projeções transferenciais que hoje chamaríamos de identificações projetivas do paciente provocando contra identificações projetivas no analista podem transitoriamente fazer com que ele funcio ne como uma espécie de duplo do anali sando Estrutural teoria FREUD Estrutura é um conjunto de elementos que separadamente têm funções específicas porém que são indissociadas entre si inte ragem permanentemente e influenciamse reciprocamente Ou seja diferentemente da primeira tópica de FREUD teoria topográfi ca a segunda tópica teoria estrutural é eminentemente ativa dinâmica ver o ver bete dinâmico Essa concepção estruturalista de Freud fi cou cristalizada a partir de O Ego e o Id 1923 e consiste em uma divisão tri partite da mente em três instâncias O id o ego e o superego 132 DAVID E ZIMERMAN Estudo autobiográfico Um FREUD 1925 Trabalho composto de seis partes A par te I é intitulada O período préanalítico a II aborda a Hipnose histeria neuro ses atuais a III trata das Teorias bási cas da psicanálise a IV enfoca a Técni ca da psicanálise a parte V é intitulada Colaboradores desertores e nova teoria das pulsões e a parte VI é História da análise aplicada Ao final há um Pósescrito o qual refere que a obra aborda dois temas a história da vida de FREUD embora não seja uma auto biografia e a história da psicanálise Am bos estão intimamente ligados Nesse estu do autobiográfico transparece seu otimismo em relação à psicanálise como ciência e o pósescrito destaca que nos últimos tem pos de sua vida FREUD voltou a pesquisar interesses que prenderam sua atenção na juventude a cultura Esse trabalho está publicado no volume XX na página 17 da Standard Edition brasileira Estudos Psicanalíticos Revisados BION 1967 O título original desse livro é Second Thou hts na edição castelhana Volviendo a Pen sar É considerado um dos mais conheci dos e vendidos da obra de BION Consiste numa coletânea de trabalhos escritos no período de 1950 a 1962 logo no apogeu de seus estudos sobre as psicoses e os psi cóticos São oito os artigos que compõem o livro O gêmeo imaginário 1950 Notas so bre a teoria da esquizofrenia 1954 O desenvolvimento do pensamento esquizo frênico 1956 Diferenciação entre as personalidades psicóticas e as não psicóti cas 1957 Sobre a alucinação 1958 Sobre a arrogância 1958 Ataques ao vínculo 1959 e Uma teoria do pensa mento 1962 A obra completase com Comentários uma interessante abordagem que BION faz acerca desses seus trabalhos revistos a partir de uma perspectiva de muitos anos após têlos escrito Estudos sobre a Histeria FREUD BREUER 1895 Verdadeiro marco na história da psicaná lise esse livro foi escrito conjuntamente por FREUD e BREUER e com aproximada mente 300 páginas consta de quatro ca pítulos e mais dois apêndices A publica ção das Comunicações preliminares foi feita através do estudo do caso de Frau Cecile M No capítulo 2 denominado Relatos de casos são relatados os de Fräulein Anna O BREUER e também os clínicos de FREUD como o de Emmy von No primeiro a ser tratado pelo método catártico Miss Lucy R Katharina Fräulein Elisabeth von R Rosália H Cecile todas elas apresentando sintomas conversivos O capítulo 3 intitulado Seção teórica conta com seis abordagens diferentes feitas por BREUER quais sejam Serão os fenô menos histéricos todos eles ideogênicos Excitações tônicas intracerebrais Afe tos Conversão histérica Estados hip nóides Idéias inconscientes e idéias inadmissíveis à consciência Divisão da mente Disposição inata Desenvolvi mento da histeria O capítulo 4 é ocupado pelo trabalho de FREUD A psicoterapia da histeria O apêndice A aborda A cronologia do caso de Frau Emmy von N e o B consta da Relação dos trabalhos de Freud que tratam principalmente da histeria de con versão Os Estudos sobre a Histeria estão no volu me II da Standard Edition brasileira VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 133 Etchegoyen Horacio aproximação da psicanálise à etologia pode ser medida por alguns estudos como os dois seguintes 1 Os etólogos descrevem o fenômeno de nominado imprinting o qual consiste na observação experimental de que em algu mas espécies animais as influências ambi entais durante um certo tempo geralmen te curto da vida evolutiva ficam impressas de forma definitiva e indelével assim de terminando todo o futuro comportamento dos filhotes A especulação da possibilida de de que o mesmo fenômeno se processe na espécie humana no período que cor responde ao da identificação primária talvez possa abrir um enorme horizonte de possibi lidades para a compreensão de aspectos pri mitivos da estruturação do psiquismo 2 LACAN para embasar os seus estudos so bre a especularidade utilizou as pesquisas dos etólogos que comprovam o fato de que uma pomba não ovula enquanto está só mas sim que a ovulação se dará em deter minado momento de seu ciclo se ela for co locada junto a outra pomba ou frente à sua própria imagem refletida por um espelho 3 A etologia demonstra que existe o que cabe chamarse de instinto da territoriali dade ou seja os animais procuram demar car seu espaço territorial e o defendem com unhas e dentes Da mesma forma inspira dos nessa observação da etologia é possí vel afirmar que também o ser humano con sidera o território que ele ocupa como sen do uma expansão do seu próprio corpo Assim se levarmos em conta a equação assinalada por FREUD de que Ser se con funde com Ter e viceversa podese enten der que no plano social a construção do sentimento de identidade se estende ao pla no econômico porquanto a expansão das posses se superpõe com o de um aumento da territorialidade O importante disso é que o desejo de se apossar da posse dos outros é que leva à violência de sorte que a exemplo do que Eminente psicanalista argentino que deu uma riquíssima contribuição à psicanálise através de inúmeras publicações de parti cipações em congressos internacionais e de atividades administrativas associativas Merece ser especialmente destacado por dois aspectos um por ser o autor do con sagrado livro Fundamentos da Técnica Psi canalítica 1987 outro por ter sido o pri meiro psicanalista sulamericano eleito Pre sidente da IPA fato que se deu em 1991 em Buenos Aires quando pela primeira vez essa entidade realizou seu congresso internacional num país da América do Sul ETCHEGOYEN foi analisado por HRACKER e tem uma formação de raízes predominan temente kleinianas Porém demonstra fami liaridade com as concepções de todas as correntes psicanalíticas É filiado à APdeBA Associação Psicanalítica de Buenos Aires Etologia O termo etologia designa o estudo dos hábitos dos animais e da acomodação dos seres vivos às condições do ambiente A 134 DAVID E ZIMERMAN se passa no reino animal o maior caminho para a violência é o desejo do poder Evacuação FREUD ABRAHAM BION Termo utilizado na psicanálise em dois re gistros distintos FREUD descreveu as carac terísticas do período anal destacando não somente as fantasias ligadas às fezes mas também em relação ao próprio ato da eva cuação ABRAHAM aprofundou esses estudos descrevendo as duas etapas do ato evacu atório a anal retentiva e a expulsiva Todos esses aspectos manifestamse cinicamente nas neuroses especialmente as obsessivas BION Por sua vez emprega a palavra eva cuação para designar o fenômeno psíquico que consiste numa expulsão que a mente faz dos elementos β que são impressões sensoriais e experiências emocionais que não foram transformadas em elementos α Essa evacuação se processa através do uso excessivo de identificações projetivas para dentro por exemplo em algumas somati zações ou para fora como pode ser em actings ou na mente do analista provocan do efeitos contratransferenciais Evidência BION1976 Artigo que consta do livro Seminários clíni cos e quatro artigos 1987 e que também foi publicado na Revista Brasileira de Psi canálise 1911985 com tradução e no tas de P C Sandler É a versão final edita da por FRANCESCA BION de uma palestra proferida na Sociedade Psicanalítica Britâ nica em 1976 Nesse trabalho baseado na afirmação de FREUD de que os indivíduos sofrem de amnésias e por isso inventam as paramnésias para preencher os vazios BION aventa a hipótese de que a própria teo ria psicanalítica poderia estar funcionando nos moldes de uma enorme paramnésia para ocupar o vazio da ignorância dos psi canalistas Completa BION com a frase seria tão bom se apenas os pacientes o fizessem E tão afortunado seria se nós não o fizéssemos e o fazemos para preencher o vazio de nossa aterradora ignorância Também é neste trabalho que BION faz consi derações acerca dos problemas da prática da psicanálise especialmente dos que se referem à comunicação à linguagem utilizada pelo psicanalista à importância do estado de tur bulência à citação da frase de KANT de que intuições sem conceitos são cegos e concei tos sem intuições são vazios BION conclui o artigo fazendo algumas es peculações sobre a existência do psiquis mo no embrião fetal Evolução BION Quando postula a necessidade de o analis ta estar na sessão num estado de sem me mória deve ficar claro que BION se refere à memória que possa estar saturando a men te do terapeuta ou a do paciente Transpa rece na sua obra que BION é favorável ao surgimento da memória no analista ou no analisando desde que ela brote esponta neamente às vezes surgindo de uma intui ção ou da captação do fato selecionado assim significando que houve uma evolu ção no psiquismo Exibicionismo FREUD FREUD caracterizou o exibicionismo como a contraparte da escopofilia voyeurismo As sinalou que o fato de ambas costumeira mente aparecerem juntas pode ser devido a terem um precursor comum a finalidade sexual de mirarse a si mesmo Devido a essa origem considera que o exibicionis mo conserva um caráter mais narcisista do que qualquer outra pulsão parcial Seu pra zer erógeno se vincula sempre a um incre mento na autoestima imaginado ou efeti vamente conseguido pelo fato de que é mi rado pelos outros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 135 Na perversão do exibicionismo esse êxito é utilizado como um reasseguramento con tra os temores de castração Por exemplo quando exibe seu pênis o perverso procu ra influir os que o olham geralmente moci nhas colegiais para assustálas com a ilu são de é forte e poderoso enquanto seu lado frágil e castrado fica projetado nas mocinhas que fogem atemorizadas Devido a sua relação estreita com o com plexo de Édipo o exibicionismo evolui de forma distinta num sexo e no outro Como o homem consegue acalmar sua angústia de castração exibindo seus genitais o exi bicionismo masculino permanece fixado nos genitais em que desempenha um pa pel nas preliminares do prazer sexual Já na mulher pela razão de que sua idéia de es tar de fato castrada inibe o exibicionismo genital há um deslocamento do exibicio nismo à totalidade do corpo Não existe uma perversão feminina de exibicionismo genital porém o extragenital desempenha um importante papel tanto dentro quanto fora da esfera sexual Exibicionista pólo KOHUT Ao descrever a sua concepção de self gran dioso KOHUT enfatizou a importância de que as pessoas que acompanham os passos ini ciais da evolução da criança respondam positivamente a sua conduta exibicionista que para a criança tem a finalidade de ser aprovada e admirada de modo que os adultos educadores confirmem para a criança seu sentimento inato de grandeza vigor e perfeição É neste pólo exibicionista do self onde a criança é olhada empiricamente pela mãe que KOHUT situa aquilo que está relaciona do com as ambições Assim as respostas adequadas do ambiente ao exibicionismo da criança são muito diferentes das vincu ladas a outras necessidades de sobrevivên cia física como por exemplo as de alimen to e calor No entanto KOHUT afirma que a necessidade de aprovação do exibicionis mo inicial é tão vital quanto as anteriores Destaca especialmente nessa resposta da mãe o brilho do olhar o sorriso a voz a expressão jubilosa delas de modo que o ambiente tanto pode facilitar formar quanto interferir ou deformar deformar o desenvolvimento do self Existência BION WINNICOTT O verbo existir deriva dos étimos latinos ex para fora sistere direito a ser o que está de acordo com a conceituação de impulso para existir seguidamente empregada por BION Para alertar o psicanalista quanto à impor tância de captar os sinais de vida do paci ente por mais regressivo que ele seja e entrar em comunhão com esse lado que quer existir BION em Seminários Clínicos 1987 formula a seguinte bela frase Em algum lugar da situação analítica sepulta da sob massas de neuroses psicoses e de mais existe uma pessoa que pugna por nascer O analista está comprometido com a tentativa de ajudar a criança a encontrar a pessoa adulta que palpita nele e por sua vez também mostrar que a pessoa adulta ainda é uma criança WINNICOTT enfatizou bastante a necessida de de a pessoa sentir que está existindo vi vendo e não unicamente sobrevivendo Experiência emocional BION Expressãochave na obra de BION que destaca enfaticamente a diferença que há na situação analítica entre o aprender acerca das coisas e o aprender emocio nalmente com a experiência das coisas De forma análoga na abertura do livro Aprendendo com a experiência 1962 esse autor afirma que este livro terá fra cassado se a própria leitura não for uma 136 DAVID E ZIMERMAN experiência emocional Minha esperança é que seja uma experiência que conduza a uma ampliação da capacidade do ana lista para mobilizar os próprios recursos de conhecimento observação clínica construção teórica Experiência emocional corretiva ALEXANDER F Cunhada por FRANZ ALEXANDER Essa expres são tornouse clássica na literatura psica nalítica Tem o propósito de enfatizar a im portância que representa a figura do ana lista como um novo modelo de superego Assim contrariamente às figuras parentais superegóicas que estejam internalizadas no analisando como rígidas e punitivas a ati tude analítica do terapeuta deve possibili tar um abrandamento desse superego ame açador e castrador mercê de seu modelo de acolhimento tolerância flexibilidade e liberdade Comentário Reitero a minha opinião que na atualidade a expressão mais adequada seria a de experiência emocional transfor madora tendo em vista que o vocábulo corretiva está muito ligado a uma concep ção superegóica moralística Experiências em Grupos BION1948 1961 Os primeiros escritos de BION sobre grupos datam de 1943 Tensões intragrupo nas terapias e passam por 1946 Projeto de um grupo sem líder Esses artigos e ou tros mais foram reunidos em 1948 no livro Experiências em Grupos Em 1952 BION publicou Dinâmica de gru po uma revisão e em 1961 sob a moti vação de que estes artigos despertaram um interesse maior do que eu esperava tor nou a reunir todos esses textos e os publi cou em um livro também intitulado Expe riências em grupos Extratransferência conceito de técnica É incontestável a importância de que o ana lista formule as suas interpretações ao ru bro da situação transferencial todas as ve zes em que isso for adequado e possível No entanto existe uma tendência na psica nálise contemporânea de evitar o nada in comum uso abusivo sistemático e unica mente formulado em termos de reduzir tudo o que o analisando disser à clássica fórmula isso é aquiagoracomigocomo lá e então Para muitos pacientes essas interpretações não funcionam porquanto há a possibili dade de que ainda não tenha se formado uma transferência embora haja transferên cia em tudo nem tudo é transferência a ser interpretada e essa precisa ser construída aos poucos no curso da análise Nesses casos a interpretação dos sentimentos que o paciente traz embutidos nas narrativas de fatos exteriores e é isso que constitui a extratransferência podem ser perfeitamen te úteis F BION Essa letra na Grade de BION designa a sexta fileira alusiva ao nível da capacidade de formação de conceitos Facho de escuridão conceito de téc nica BION Para BION o cerne da psicanálise se consti tui na busca de O inicial de origem ou seja da verdade absoluta da realidade úl tima e essa busca fica prejudicada caso a sensorialidade prevaleça sobre a sensibili dade intuitiva Assim ele afirma que o de sejo é uma intrusão no estado mental do analista que esconde disfarça e obscurece aquele aspecto do O que se mantém des conhecido e desconhecível Este é o ponto escuro que precisa ser iluminado pela ce gueira BION 1970 p 76 completa essa concepção com a seguinte frase Memó ria e desejo são iluminações que destroem o valor da capacidade do analista para ob servação como a penetração da luz numa câmara destrói o valor do filme exposto Aliás essa iluminação pela cegueira que veio a ser denominada por BION como um penetrante facho de escuridão uma réplica do holofote ele a concebeu baseado em FREUD que numa correspondência com LOU ANDREASSALOMÉ escreveu que é preciso cegarse artificialmente para se ver melhor Essa analogia fica ainda mais clara com a metáfora de que as estrelas somente são visíveis no escuro Fairbairn Ronald Eminente psicanalista da Sociedade Britâ nica de Psicanálise FAIRBAIRN morava e tra balhava em Edimburgo Escócia onde es tudou e graduouse em Filosofia Mental Empreendeu a seguir estudos extensivos de grego de temas religiosos filosóficos e psi cológicos tanto na GrãBretanha como na Alemanha Fez o curso de medicina volta do para o objetivo específico de especializar se em medicina psicológica Sua forma ção humanística facilitoulhe a percepção das proposições de MKLEIN acerca da pri orização do enfoque das relações objetais indo além do paradigma freudiano vigen te que sobremodo enfatizava as pulsões do indivíduo De início fortemente inspirado pelos traba lhos de MKLEIN FAIRBAIRN formou suas pró prias concepções a partir de 1940 com seu trabalho sobre fenômenos esquizóides De uma forma bastante esquemática podese F 138 DAVID E ZIMERMAN enumerar as seguintes contribuições impor tantes de FAIRBAIRN 1 A libido é uma energia que busca objetos e não o prazer como postulava Freud 2 Descartou o conceito de pulsão de morte 3 Conserva a noção de energia instintiva libidinal libido e a considera como pro veniente do ego 4 Atualizou e enfatizou a valorização do objeto real exterior 5 As zonas erógenas não são por si mes mas determinantes primárias dos fins libi dinais mas sim canais que veiculam os fins primários do ego em busca de objetos que os satisfaçam 6 O desenvolvimento do ego se forma atra vés de relações objetais que se processam desde o início da vida e seguem sob a pres são das privações e frustrações 7 As chamadas fases oral anal e fálica são na verdade técnicas empregadas pelo ego para regular as relações objetais sobretudo com os objetos internalizados em parte FAIRBAIRN excetua a fase oral 8 O desenvolvimento do ego está intima mente ligado ao da dependência infantil a qual deve ir sendo gradualmente substituí da por uma dependência adulta ou madu ra baseada na diferenciação entre o objeto e o self 9 Entre a época da dependência infantil e a da dependência adulta existe uma está gio transacional no qual o ego utiliza técni cas transicionais que conforme a configu ração determinará os quadros obsessivos fóbicos paranóides ou histéricos 10 A repressão não está dirigida contra pulsões mas sim contra objetos maus in ternalizados 11 O superego representa nada mais do que uma defesa adicional ao que ele cha ma de defesa moral 12 Os objetos maus funcionam como per seguidores internos e se apresentam como o que FAIRBAIRN denominou objetos excitan tes ou objetos frustrantes 13 FAIRBAIRN enfatizou o fenômeno da múl tipla dissociação do ego postulando um ego central e egos subsidiários Num esquema comparativo podese dizer que o que FREUD conceitua como ego id superego FAIRBAIRN denomina ego central ego libidinal ligado com os objetos exci tantes e sabotador interno ou seja a par te do ego que está ligada aos objetos re chaçantes frustrantes e ameaçadores res pectivamente A obra de Fairbairn foi interrompida algo prematuramente por ter sido acometido pela doença de Parkinson com intermitên cia de um episódio de trombose cerebral Falhas ambientais WINNICOTT Com essa expressão que permeia quase toda sua obra WINNICOTT fazia questão de enfatizar a importância do meio ambiente que circunda o recémnascido e a criança em diversas fases de sua infância Referin dose muito especialmente aos cuidados maternos WINNICOTT destaca que qualquer falha na provisão materna daquilo que é essencial ao bebê é sentida como um ata que ao núcleo do self No caso de falhas ambientais continuadas podem originarse diversos quadros pato gênicos como uma falta de continuidade existencial a construção de um falso self e a formação de uma tendência antisocial etc Fálica fase FREUD Embora a palavra falo pouco apareça na obra de FREUD a adjetivação de fase fálica sim ocupa um espaço considerável O ter mo alude a uma fase evolutiva da sexuali dade situada entre os 3 e os 6 anos na qual tanto no menino como na menina as pul sões se organizam em torno do falo ou mais precisamente em FREUD do pênis intima mente conectadas com as fantasias ineren tes à angústia de castração VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 139 FREUD considerou que o falo é concebido pela criança como sendo descartável do corpo e transformável através do que hoje chamaríamos de equações simbólicas de modo que o que fica inscrito no ego é uma equivalência de pênis filho fezes presentes Ademais o indivíduo como pes soa total pode ser identificado ao falo Fálica mulher ou mãe Essa expressão adquire dois significados um mais rigorosamente psicanalítico e ou tro mais popular O primeiro referese à fan tasia inconsciente de que a mulher teria um pênis crença que deriva da negação da criança da possibilidade de que possa de fato ter havido uma castração O segundo significado de mulher fálica mais difundi do e popularizado alude a uma mulher que tenha características consideradas masculi nas especialmente as de mandonismo Na verdade também podese depreender que FREUD no seu trabalho sobre Leonar do da Vinci e uma lembrança de sua infân cia 1910 lançou as primeiras sementes do seu conceito de mãe fálica ao mostrar que Leonardo havia sido privado muito precocemente de seu pai tendo sido até os cinco anos criado exclusivamente por mulheres com a mãe exercendo funções fálicas Ou seja a mãe fálica não é neces sariamente uma mulher enérgica ou mas culina é sobretudo uma mulher sem um homem a seu lado uma mulher cujas aspi rações libidinais se centram na figura de seu filho de modo a poder absorvêlo e a re forçar a fantasia de que todas mulheres podem dispensar os homens porque tam bém elas seriam possuidoras de um pênis Falo LACAN É importante estabelecer distinção entre falo e pênis Este último designa concretamente o órgão anatômico masculino enquanto o termo falo tem um significado de natureza simbólica isto é de poder Falo e pênis muitas vezes se superpõem tal como acon tecia com regularidade na Antigüidade Ain da hoje podese ver uma grande quantida de de desenhos esculturas e pinturas nos quais aparece um pênis túrgido represen tando significados alusivos ao poder à sa bedoria e à fecundidade LACAN emprega exaustivamente na sua obra a noção de falo que com ele adquiriu a condição de um conceito fundamental da teoria psicanalítica em quatro aspectos 1 O falo é o significante do desejo ou seja representa o objeto do desejo da mãe proi bido ao filho 2 A função fálica do pai estabelece o que LACAN chama de o nome ou lei do pai com o que ele estabelece uma delimitação e hierarquia entre as gerações 3 O conceito de falo para LACAN só ad quire significação psicanalítica importante se for concebido simultaneamente nas três dimensões que ele denomina do real do imaginário e do simbólico 4 Na teoria lacaniana o falo é o represen tante da falta O vocábulo falo deriva de phal que em sâns crito significa abrirse como vida semente luz Phala derivado de phal significa fruto e em sentido figurado recompensa triunfo Falsidade BION BION nos seus estudos sobre o vínculo do conhecimento destacou que o sujeito tan to pode estar voltado para o conhecimento das verdades caso em que é K como pode usar predominantemente o K ou seja al guma forma de negação das verdades atra vés de distorções e de falsificações as mais variadas podendo atingir o nível de menti ras quando houver uma intencionalidade consciente na falsificação 140 DAVID E ZIMERMAN Na representação gráfica de sua Grade a falsidade aparece na coluna 2 com o signo da letra grega Y psi Falso self Winnicott Denominação de WINNICOTT que a partir do trabalho Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self 1960 descre veu as pessoas que desde crianças desen volvem o recurso inconsciente de adivinhar o que ela deseja como uma forma imperi osa de adaptação e preenchimento das ex pectativas dela para assim garantir o re conhecimento do amor da mãe O sujeito portador de um falso self utiliza esse mesmo recurso ao longo de sua vida também para obter o reconhecimento do seu meio familiar e social O importante a registrar é que o conceito de falso self não deve ser confundido com algum preconceito de ordem moral do tipo pessoa falsa ou mau caráter Muitas vezes tratase de pessoas que podem ser talento sas e bem sucedidas pelos seus reais méri tos mas que assim mesmo carregam per manentemente uma desconfortável sensa ção de futilidade e falsidade porquanto a construção precoce de um falso self faz com que o sujeito não consiga discriminar aquilo que é seu rosto e o que é uma máscara Na situação analítica nesses casos o analista está comprometido com a tarefa de propiciar ao analisando que ele possa reconhecer e ter acesso a seu oculto verdadeiro self Comentário Creio ser útil lembrar tal como ensina a prática analítica que nem sempre o falso self é construído unicamen te como forma de aparentar aspectos positi vos para os outros Muitas vezes no afã de ser reconhecido pelo grupo social extensão do seu grupo familiar interiorizado e teme roso da inveja dos outros o sujeito pode fun cionar com um falso self negativo isto é apre senta mazelas autodesqualificação e desva lia encobridoras de reais valores positivos Falta LACAN LACAN estabelece uma distinção entre falta e perda Falta constituiria a fundadora do desejo subjetivo porquanto só se pode de sejar aquilo que falta O conceito de perda estaria mais ligado à noção de que ela faz vacilar o desejo pois dá ao sujeito o senti mento de que o objeto perdido é justamente o que verdadeiramente desejava isto é ele dá um caráter de presença ao objeto perdido Dessa forma tal como ocorre nos estados melancólicos o sujeito preenche seu vazio com o objeto faltante e assim obtura sua função de desejar Nesses casos o sujeito deixa de pugnar por um desejo de vir a ser e entra num estado psíquico que LACAN cha ma de desser Falta básica MICHAEL BALINT Expressão cunhada por BALINT que em A Falta Básica1979 afirma que este con ceito deve ser entendido unicamente como uma falta e não como uma situação ou po sição ou conflito ou complexo Mais adian te textualmente p29 BALINT assim descre ve as características clínicas da falta básica 1 Todos os fatos que ocorrem nessa situa ção pertencem exclusivamente a uma rela ção de duas pessoas aqui não está presen te uma terceira pessoa 2 Esta relação de duas pessoas é de uma natureza particular totalmente diferente das bem conhecidas relações humanas do ní vel edípico 3 A natureza da força dinâmica que age neste nível não é a de um conflito 4 A linguagem adulta como a utilizada pelo analista freqüentemente é inútil ou equi vocada para descrever os fatos deste nível porque as palavras nem sempre têm uma significação convencional reconhecida 5 O tipo de apego nessa situação pode ser considerado como uma instância de rela ção objetal primária ou amor primário VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 141 6 Qualquer terceiro elemento que interfira com esta relação é experimentado pelo su jeito como uma pesada carga ou uma ten são intolerável 7 Outra qualidade importante desta rela ção é a imensa diferença entre os fenôme nos de satisfação e frustração 8 Os pacientes têm a sensação de que a causa desta falta está em que alguém co meteu falhas ou se descuidou deles Completa BALINT o termo equivalente falha se emprega em algumas ciências exatas por exemplo em geologia e crista lografia onde essa palavra designa uma súbita irregularidade que em circunstânci as normais poderia passar inadvertida po rém que mediante certas tensões ou pres sões pode determinar uma ruptura que afe te profundamente a estrutura geral Esses dois termos derivam do verbo latino fallere falir falecer falhar Família terapia da Nos últimos anos tem havido um imenso crescimento e aceitação da aplicação de terapias de família A terapia do grupo fa miliar comporta muitas variações teórico técnicas provindas principalmente da teo ria geral dos sistemas e das correntes da Psicanálise A complexidade aumenta em virtude de que há diferentes linhas de pen samento dentro de cada uma delas Do ponto de vista da teoria sistêmica a di nâmica da família consiste essencialmente em uma compreensão abrangente entre as várias partes subsistemas componentes de uma totalidade maior e interdependente Dentro do próprio corpo da terapia de fa mília de orientação sistêmica há múltiplas tendências divergentes mas todas destacam a importância da distribuição de papéis entre os familiares especialmente o do pa ciente identificado o depositário assim como todos concordam com o fato de que o sistema familiar se comporta como um conjunto integrado uma estrutura ou seja qualquer modificação de um elemento do sistema vai afetar necessariamente o siste ma como um todo É comum que haja nas famílias uma com pulsão à repetição de geração a geração de um mesmo código de valores estratifi cados e que constituem mitos familiares di fíceis de serem desfeitos Os terapeutas da linha sistêmica também enfatizam o fato de que no atendimento conjunto de um paci ente com a família devese procurar o des mascaramento da farsa de que há um úni co paciente e do outro lado uma família vítima e desesperançada Pelo contrário o que deve ser enfocado é a interação entre o depositário e os depositantes Do ponto de vista psicanalítico os terapeu tas de família devem valorizar sobretudo a importância do jogo de identificações pro jetivas assim como a necessidade de estar atento para perceber se essas identificações projetivas estão servindo como um meio de comunicação empática ou para uma finali dade de controle e intrusão Ademais o te rapeuta deve encarar a família como sen do ao mesmo tempo uma produção cole tiva e um aspecto do mundo interno de cada membro em separado A tendência atual na terapia de família é a de uma corrente integradora entre as con cepções psicanalíticas sistêmicas da teo ria comunicacional e cognitivocomporta mental assim como a eventual utilização de técnicas psicodramáticas Fantasia FREUD O termo fantasia de modo genérico signi fica imaginação Psicanaliticamente concei tua um elemento fundamental na estrutu ração do psiquismo de qualquer ser huma no e constitui um fator primacial na etiolo gia das neuroses Em psicanálise tem um emprego muito extenso e diversificado en globando tanto as fantasias conscientes de 142 DAVID E ZIMERMAN vaneios ou sonhos noturnos como as fan tasias inconscientes e também as que Freud chamou de fantasias originárias Nos primeiros tempos FREUD admitia como realmente acontecidas as cenas de sedução que suas pacientes histéricas contavam Aos poucos foi abandonando essa crença e reconhecendo seu equívoco passou a sus tentar que a realidade aparentemente con creta dessas cenas não passava de uma rea lidade psíquica A partir daí FREUD centrou seu interesse nas encenações fantasiosas como por exemplo as que descreve no ro mance familiar Partindo da convicção de que há uma ínti ma relação entre a fantasia e o desejo FREUD descreveu as fantasias conscientes dos per versos as que são inconscientes como os delírios paranóicos as fantasias libidinais dos histéricos e também enfatizou que o psicanalista deve aprender as fantasias sub jacentes às produções do inconsciente como os sonhos sintomas actings com pulsão à repetição lapsos etc Fantasia inconsciente M KLEIN MKLEIN respaldada pelo mundo de fanta sias que apareciam nos jogos e brinquedos no curso da análise com crianças deu uma valorização extraordinária às fantasias na estruturação do psiquismo da criança e na determinação dos distintos quadros da psico patologia Os seguintes enfoques dela e dos seus seguidores especialmente SUSAN ISAACS 1948 merecem ser enumerados 1 As fantasias representam ser a expressão mental das pulsões e também dos meca nismos de defesa contra essas demandas pulsionais 2 As fantasias são inatas pulsi onalmente derivadas e primariamente in conscientes 3 Já no nascimento as fan tasias do bebê incluem o conhecimento do mamilo e da boca às quais se seguem as demais fantasias prégenitais como M KLEIN constatava na produção fantástica das crian ças que analisava em relação à oralidade e à analidade colorindo imaginariamente a relação sexual 4 Daí podem resultar as mais incríveis configurações fantásticas como por exemplo a dos pais combina dos que pode atingir uma forma de casais se entredevorando monstros etc 5 Uma fantasia inconsciente é uma crença na ati vidade de objetos internos sentidos como se fossem concretos como por exemplo uma sensação desagradável podendo ser mentalmente representada como um rela cionamento com um objeto mau A escola kleiniana propôs a terminologia de fantasia com f para designar os devaneios conscientes enquanto phantasiacom ph designaria a fantasia inconsciente propriamen te dita Nem todos os autores aceitam essa distinção terminológica Os da escola france sa preferem usar o termo que na tradução para o idioma português é fantasma Fantasias originárias FREUD FREUD em 1915 em artigo dedicado a um caso de paranóia emprega pela primeira vez o termo alemão Urphantasien que significa fantasia primitiva ou originária Nesse traba lho afirma que A essas formações fan tásticas à da observação da relação sexual dos pais conhecida como cena primária à da sedução à da castração e a outras eu dou o nome de fantasias originárias Na verdade FREUD voltava a procurar uma origem para a história individual do sujeito tal como tentara nos primórdios da psica nálise com a teoria da sedução ou do trau ma Assim a cena primária remonta a uma busca de resposta da criança a sua indaga ção de onde se originou nas fantasias rela tivas à sedução a busca é a das origens da sexualidade enquanto as fantasias ineren tes à castração resultam da busca da ori gem da diferença dos sexos Nos trabalhos Totem e Tabu 1912 e Moi sés e o Monoteísmo 1939 FREUD retoma VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 143 sua especulação sobre uma origem da his tória global da espécie humana o que o leva a formular a hipótese de uma herança filogenética das fantasias que são univer sais mesmo quando e onde nunca tenham tido conexão com cenas realmente aconte cidas Assim FREUD afirma que É possível que todas as fantasias que hoje nos con tam na análise tenham sido uma reali dade outrora nos tempos primitivos da fa mília humana e que ao criar fantasias a criança apenas preencha valendose da verdade préhistórica as lacunas da verda de individual ou seja o que na pré história foi realidade de fato terseia torna do realidade psíquica Para exemplificar a fantasia de castração do indivíduo resultaria atavicamente de uma castração efetivamente praticada pelo pai no passado arcaico da humanidade Fases O termo fase costuma aparecer em textos de distintos autores com outras denomina ções como etapa estádio estágio perío do etc Durante muitas décadas da evolu ção da psicanálise essa concepção de fa ses foi a única vigente e o seu emprego ex trapolou o campo restrito da psicanálise ab sorvida que foi pelos diversos setores cultu rais onde ainda permanece com a conceitu ação original provinda da psicanálise De há muito é consensual que as etapas evolutivas na formação da personalidade da criança não são estanques e nem de pro gressão absolutamente linear antes elas se transformam superpõem interagem per manentemente e de alguma forma perma necem durante toda a vida Essas últimas condições definem a condição de posição sendo útil portanto diferenciar os concei tos de fase e de posição FREUD na terceira edição de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade em 1915 apresentou a noção de fases de forma mais sistematizada Com as complementações de ABRAHAM as diferentes fases foram defini das como graus de organização pulsional do desenvolvimento do ser humano as quais possuem um caráter topográfico re ferente à zona erógena e um caráter obje tal referente ao tipo de escolha do objeto O que de importante FREUD destacou em relação às fases evolutivas principalmente para a prática clínica é que os diferentes momentos evolutivos deixam impressos no psiquismo aquilo que ele denominou pon tos de fixação em direção aos quais even tualmente qualquer sujeito pode fazer um movimento de regressão Termos como fase libidinal fase prégeni tal fase genital fase oral fase anal fase sádicoanal fase fálica fase de latência fase perversopolimorfa fase do espelho cons tituem verbetes específicos Fato selecionado BION Expressão de BION que a conceitua como a busca de um fato que dê coerência signi ficado e nomeação a fatos já conhecidos isoladamente mas cuja interrelação ainda não foi percebida e estão em um estado algo caótico Num trecho do livro Cogitações 1991 p 241 BION compara fato selecio nado com o conceito de conteúdo mani festo do sonho de sorte que ambos são análogos uma vez que a função do fato selecionado é exibir a conjunção constante de elementos característicos da posição es quizoparanóide possuindo a propriedade de mostrar que alguns desses elementos estão relacionados Na prática analítica creio que essa impor tante conceituação de BION referese à ne cessidade de o analista conseguir traçar uma espécie de mínimo denominador comum de todos os aparentemente diferentes as suntos relatados pelo paciente que às ve zes podem transmitir uma sensação de caos de molde a que o analista possa eleger o 144 DAVID E ZIMERMAN tema emocional dominante daquele mo mento da sessão Fatores BION Inspirado na conceituação da matemática BION introduziu na psicanálise o termo fa tor definindoo como um elemento de psi canálise isolado que combinado com ou tros concorre para a construção de uma função Por exemplo os elementos α possi bilitam a função α a qual por sua vez será um fator da função de sonhar pensar etc Fé ato de BION Com esse termo BION designa sua concep ção original que embora algo mística alu de a um ato que se realiza no domínio da ciência e que deve ser diferenciado do sig nificado de conotação religiosa e muito menos não deve ser confundido com cren dices Antes referese a uma necessidade de o sujeito acreditar que existe uma reali dade incognoscível no fundo daquilo que não sabemos que não é perceptível pelos nossos órgãos sensoriais e que não está ao nosso alcance Feminilidade FREUD Os estudos de FREUD sobre a sexualidade feminina e o feminismo desde os tempos pioneiros até os últimos escritos de sua imensa obra embora tenham sofrido trans formações dele mesmo ao longo do tem po sempre foram muito polêmicos De modo consensual é considerada como a parte mais frágil e equivocada de suas con cepções psicanalíticas Aliás ainda nos fins do século XIX os es critos e discursos de virtualmente todos os autores ligados à psicologia convergiam no denegrimento das mulheres que eram en tão rotuladas de histéricas loucas inferio res hipnotizadas quaisquer que fossem suas origens sociais Nesse clima da histó ria da humanidade FREUD a partir de Três ensaios sobre a teoria da sexualida de1905 inspirado no modelo da biolo gia de Darwin propôs a tese da existência de um monismo sexual defendendo a es sência masculina da libido humana Enten dia que nas etapas infantis a menina des conhece a existência da vagina e o clitóris desempenha o papel de um homólogo do pênis Isso geraria tanto uma permanente inveja do pênis como a convicção das crianças de que as mulheres são portado ras de um órgão masculino castrado Na verdade em sua essência FREUD manteve imutável esse seu ponto de vista acerca da sexualidade feminina no que foi seguido inclusive pelas analistas mulheres da épo ca pelo menos até 1920 Fundamentado nessas teses e centrado na idéia da existência de uma libido única e num falicismo segundo o qual toda meni na queria ser um menino FREUD descreveu o complexo de Edipo com a respectiva an gústia de castração como tendo um tipo de desenvolvimento bastante distinto nos meninos e nas meninas O destino da sexu alidade de cada um deles estaria ligado não somente às diferenças anatômicas e fisioló gicas mas também às representações no ego da anatomia dos órgãos genitais FREUD deixou claro que a concepção de um monismo sexual de uma libido única não exclui a existência de uma bissexualidade A partir de 1920 acompanhando as pro fundas transformações advindas do pós guerra as mulheres começaram a emanci parse e a libertarse da alienação religiosa política direito ao voto jurídica social e sexual que lhes tinha sido imposta pela cul tura até então vigente Da mesma forma muitos psicanalistas como MKLEIN KAREN HORNEY e EJONES ousaram contestar as idéias de FREUD JO NES em 1927 durante um congresso inter nacional da IPA realizado em Innsbruck VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 145 apresentou o trabalho A fase precoce do desenvolvimento da sexualidade feminina onde discordou abertamente de FREUD quanto à extravagância da tese de que a menina não teria o sentimento de possuir uma vagina Reconhecendo que a figura da mãe exer cia uma influência muito maior na deter minação da sexualidade das crianças do que inicialmente supusera FREUD voltou a abordar essa temática no artigo A sexuali dade feminina 1931 e num artigo sobre A feminilidade que aparece em Novas conferências introdutórias à psicanálise 1933 nos quais ele admitiu que era im possível compreender a mulher se não le varmos em consideração a fase do apego préedipiano à mãe e que de fato tudo o que há na relação com o pai provém por transferência desse apego primário A psicanálise contemporânea tem uma vi são consensualmente aceita de que a me nina tem um conhecimento inato da exis tência de uma vagina como um órgão au tenticamente próprio e de que em condi ções normais o desenvolvimento da sexu alidade feminina não está subordinado à idéia de ser uma castrada fálica A favor de FREUD resta a hipótese que a sua postulação de uma igualdade entre homens e mulheres nas origens da sexua lidade estaria revelando a sua genialidade de antecipar o fato de que o campo do fe minino deveria ser pensado como parte in tegrante do universal humano ou seja den tro das modernas concepções de um uni versalismo que tende a integrar tudo Fenichel Otto Nasceu em 1897 em Viena originário de uma família judaica e faleceu em 1946 nos Estados Unidos Embora muito pouco co nhecido fora do círculo psicanalítico é um personagem importante no movimento da psicanálise muito especialmente pela enor me divulgação e aceitação do seu livro A teoria psicanalítica das neuroses 1945 que se tornou uma verdadeira Bíblia para su cessivas gerações de psicanalistas em forma ção sendo adotado como leitura oficial do pensamento freudiano pela imensa maioria dos institutos de psicanálise em todo mundo notadamente para os norteamericanos Por ocasião dos movimentos que prenun ciavam a II Grande Guerra emigrou para os Estados Unidos radicandose definitiva mente em Los Angeles Embora fosse mé dico e advogasse a causa da análise leiga FENICHEL teve que sujeitarse às leis ameri canas submetendose aos 47 anos a um ano obrigatório de residência médica in clusive os plantões noturnos Além disso foi obrigado a renunciar oficialmente a seus pronunciamentos marxistas Sempre de monstrou ser um freudiano ortodoxo Bas tante desgastado com o que ele considera va como sendo uma banalização e degra dação da psicanálise especialmente por parte da psiquiatria FENICHEL veio a falecer prematuramente com apenas 49 anos Fenômenos transicionais Winnicott Dentre as inúmeras contribuições importan tes de WINNICOTT a dos fenômenos transici onais incluindo as noções de objeto tran sicional e de espaço transicional certamen te é das mais originais e férteis da psicaná lise contemporânea WINNICOTT não concordava com a ênfase excessiva que MKLEIN emprestava às fan tasias inconscientes e ao mundo interior do bebê em detrimento segundo ele da im portância da influência dos fatos do mun do exterior A partir do seu trabalho Obje tos transicionais e fenômenos transicionais 1951 WINNICOTT percebeu que deveria existir um espaço de transição que o bebê faz do mundo imaginário para o mundo da realidade ou no referencial de Freud en tre os princípios do prazer e o da realidade 146 DAVID E ZIMERMAN Para essa concepção da existência de uma terceira área WINNICOTT inspirouse nas suas observações como expediatra com bebês recémnascidos que faziam uso do polegar dedos e punho enquanto as crianças maio rezinhas a partir dos 3 aos 12 meses fazi am uso como posse sua de brinquedos macios ursinho boneca etc e muitas ve zes o próprio polegar além de certas ativi dades bucais como o balbuceio por exem plo tudo isso assinalando também uma transição entre uma dependência absoluta para uma dependência relativa Os fenômenos transicionais estão intima mente conectados com a noção de espaço transicional e a de objeto transicional tal como aparecem nos respectivos verbetes FEPAL Federação Psicanalítica da América Latina A primeira federação psicanalítica da Amé rica Latina foi criada em 1960 com o nome de Conselho Coordenador das Organiza ções Psicanalíticas da América Latina COPAL tendo por objetivo a defesa dos interesses de todas sociedades psicanalíti cas latinoamericanas filiadas à IPA além de promover a integração e o intercâmbio de experiências psicanalíticas entre elas Em 1979 a COPAL foi dissolvida sendo substituída em novembro de 1980 pela atual FEPAL que foi reconhecida pela IPA e passou a constituir juntamente com a As sociação Psicanalítica Americana APSAA e a Federação Européia de Psicanálise FEP a terceira potência psicanalítica do mundo A FEPAL é composta por diversas sociedadesmembros e de sociedades pro visórias além de grupos de estudos distri buídos em vários países como Argentina Brasil Chile Colômbia México Peru Uru guai e Venezuela abrangendo um total em torno de 3500 psicanalistas ou seja um terço da cifra total da IPA sendo que a Ar gentina e o Brasil são os centros onde rela tivamente se concentra a maior densidade de psicanalistas No ano de 1999 durante o Congresso In ternacional realizado no Chile a FEPAL aprovou significativas mudanças na sua es trutura sendo que os novos estatutos con sistem em criação de um conselho de pre sidentes o fim da rotatividade das diretori as a proibição de os presidentes em exercí cio das sociedades componentes da FEPAL poderem fazer parte da diretoria dessa en tidade Ademais ficou decidida a aquisi ção de uma nova sede administrativa uma modernização da Revista LatinoAmerica na de Psicanálise o prosseguimento de in tercâmbios científicos entre as sociedades ou grupos de estudos a abertura de cres centes espaços para encontros oficiais de didatas de crianças e adolescentes a conti nuidade de congressos bianuais que con greguem os psicanalistas latinoamericanos Ferenczi Sándor Nascido na Hungria em 1873 originário de uma família de judeus poloneses formado em medicina praticante da psiquiatria e considerado o mais brilhante psicanalista VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 147 clínico de seu tempo FERENCZI foi um dos primeiros e mais importantes colaborado res diretos de FREUD com quem trocou mais de 1200 cartas Não obstante nos últimos anos o convívio entre os dois ficou algo es tremecido devido a suas críticas contra o dogmatismo psicanalítico e às posições psi canalíticas diferentes que FERENCZI adotava conquanto não tenha havido uma dissidên cia formal por parte dele Na atualidade está ressurgindo um vigoro so interesse por sua obra mercê de um re conhecimento de que ele postulara de for ma original alguns princípios que estão encontrando plena ressonância na contem porânea psicanálise vincular Em 1908 FERENCZI tornouse analista de sua amante Gisele e posteriormente apaixo nouse pela filha dela Elma com quem queria casar mas acabou acedendo às pon derações de FREUD para que desistisse des se intento Aliás durante o período de 1914 a 1916 FERENCZI foi analisado por FREUD em três ocasiões Muito tempo após ele veio a acusar FREUD de ter falhado com ele na aná lise da transferência negativa FERENCZI sempre mostrouse corajoso e ori ginal Em 1906 na Associação Médica de Budapeste apresentou um texto em que contrariando os valores da época fazia uma vigorosa defesa dos homossexuais FEREN CZI teve desentendimentos com muitos ana listas seus contemporâneos como JONES por se mostrar muito mais aberto que seus opositores a experiências julgadas como desviacionistas ou extravagantes como por exemplo o grande interesse que ele de monstrou pelo fenômeno da telepatia De forma muito abreviada cabe acentuar as seguintes contribuições de Ferenczi 1 Lançou as primeiras sementes para a teo ria das relações objetais e do conceito de introjeção convém lembrar que foi o pri meiro analista de MKLEIN 2 Antecipouse 15 anos aos estudos DE R SPITZ afirmando que as crianças que são recebidas com aspereza e falta de amor morrem fácil e voluntariamente 3 Em seu trabalho Confusão de línguas entre o adulto e a criança 1933 ele reto ma a teoria do trauma da sedução real afir mando que isso acontece quando os adul tos confundem os jogos da criança com os desejos das pessoas sexualmente adultas 4 Foi o primeiro analista a dar uma signifi cativa importância à pessoa real do analis ta quer quanto a uma possível hipocrisia e inadequações deste quer como uma rara oportunidade propiciada ao paciente de poder reelaborar os primitivos problemas por meio de uma nova figura parental re presentada pelo analista o qual o respeita estima é coerente e tem outras formas de enfrentar e solucionar os problemas Em resumo FERENCZI considerou a personalida de do analista como um instrumento de cura analítica 5 Não acreditava em nenhum critério defi nitivo de analisabilidade pelo contrário advogava a idéia de que todo paciente que solicitasse uma ajuda psicanalítica deveria recebêla 6 Foi um precursor da postulação de mui tos autores WINNICOTT KOHUT BALINT de que o estado de regressão do paciente pro picia que o analista complemente as primi tivas falhas parentais 7 Embora seja muito discutível a adequa ção analítica de sua técnica inovadora que ele chamava de técnica ativa a verdade é que FERENCZI foi o primeiro discípulo de FREUD a mostrar que a técnica concebida pelo mestre não era a única que podia be neficiar o paciente em análise 8 FERENCZI sempre demonstrou um interes se muito maior pelas questões técnicas da psicanálise do que pelos aspectos metapsico lógicos sendo considerado o clínico mais ta lentoso da história da psicanálise pioneira 9 Publicou em 1924 Thalassa Ensaio so bre a teoria da genitalidade onde afirmava que a vida intrauterina reproduzia a exis 148 DAVID E ZIMERMAN tência dos organismos primitivos que vivi am nos oceanos Ao mesmo tempo em detrimento à tese vigente da prioridade do pai FERENCZI se interessou pela pesquisa sobre as origens do vínculo arcaico da crian ça com a mãe tema que começava a ser trabalhado por MKLEIN 10 Em 1908 lançou as primeiras semen tes sobre a descoberta e a importância do fenômeno da contratransferência que FREUD veio a desenvolver dois anos após Da mesma forma em Elasticidade da téc nica analítica 1928 descreveu o tato psi cológico necessário ao analista como a fa culdade de sentir com o que corresponde ao que FREUD chamou de Einfühlung que hoje conhecemos como empatia 11 Seus inúmeros trabalhos estão reuni dos em quatro volumes com o título de Obras Completas 1992 No livro Vida e Obra de Sigmund Freud 1959 o autor EJONES descreve que no final da vida FERENCZI mostrouse psicótico e que inclusive apresentou delírios para nóides contra FREUD Pesquisas posteriores comprovaram que JONES estava equivoca do os sintomas de FERENCZI eram devidos ao surgimento de uma anemia perniciosa doença que o levou à morte em 1933 Em seu necrológio FREUD fez um vibrante dis curso de homenagem ao amigo Resta dizer que FERENCZI foi eleito presiden te da IPA em 1918 no Quinto Congresso realizado em Budapeste mas renunciou após alguns meses e o seu retrato é o úni co que não figura na galeria dos presiden tes tampouco constando no roster da IPA sua condição de expresidente Ferro Antonino Considerado um dos mais importantes au tores da psicanálise contemporânea ANTO NINO FERRO fez sua formação na Societá Psi coanalitica Italiana instituto de Milão onde é analista didata É membro da IPA parti cipante assíduo de eventos psicanalíticos in ternacionais e autor de diversos artigos so bre clínica teoria e técnica de psicanálise publicados em revistas de psicanálise na Itá lia e em todo mundo FERRO define sua orientação como sendo basicamente kleiniana com fortes influên cias do casal BARANGER com os trabalhos referentes ao campo analítico Muito espe cialmente é influenciado pela obra de BION notadamente no que se refere à função rê verie e à valorização da linguagem expressa em ideogramas ou pictogramas que no seu dizer correspondem a imagens poéticas Dentre seus livros publicados e que já me receram traduções em diversas línguas vale destacar A técnica na psicanálise infantil 1992 Antonino Ferro em São Paulo 1996 e Na sala de análise 1998 todos muito instigantes com propostas de novos modelos de entender e praticar a psicanálise Fetal psiquismo BION BION foi o primeiro psicanalista a conjetu rar mais profundamente quanto à existên cia de uma vida emocional não só no feto como também no embrião Inicialmente inspirouse em FREUD que na epígrafe de uma edição de Inibições Sintomas e An gústia 1926 afirma A vida extrauterina e a primeira infância apresentam uma con tinuidade bem maior do que a impressio nante cesura do ato do nascimento permi te supor Lamentando que FREUD não te nha investigado mais exaustivamente o que está contido nessa sua frase BION partiu da perspectiva de que o impressionante seria o fato de que deveria haver alguma coisa es piritual ou uma vida psíquica intrauterina BION sustentava essa especulação a partir dos estudos científicos dos embriologistas que encontraram no corpo adulto vestígios daquilo que primordialmente eram os ór gãos sensoriais e fisiológicos do feto como as cavidades auditivas e ópticas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 149 Assim muito antes dos atuais avanços tec nológicos BION afirmava não ter a menor dúvida de que o feto pode ouvir e responder a sons musicais tanto os de dentro como os borborigmos intestinais da mãe como os de fora será que o feto quase a termo registra uma discussão irada dos pais sendo certo que o feto movese no útero em resposta a determinados ritmos e responde à pressão dos dedos no ventre da mãe Na situação da clínica psicanalítica BION apontava que situações nas quais um paci ente mostra grande sinais de medo inexpli cável embora possa ter aprendido a não demonstrálo e a tentar ignorálo de sorte que ele acha conveniente que o analista pense na possibilidade de um medo de ori gem subtalâmica Ademais na prática clí nica em alguns pacientes ocorrem às ve zes certas manifestações somatoformes que despertam sentimentos intensos e aparen temente sem explicação lógica e que a in tuição clínica do psicanalista percebe que têm origem muito rudimentar prévia ao nascimento Aliás DMELTZER 1986 afirma que os es tudos de BION acerca do psiquismo fetal abrem uma importante porta para uma compreensão dos fenômenos psicossomá ticos Comentário Impõese que os psicanalis tas reconheçam que muitas das especula ções imaginativas de BION estão encontran do convincente confirmação nas modernas investigações levadas a cabo por importan tes psicanalistas e pesquisadores notada mente ALESSANDRA PIONTELLI na Itália que pesquisam e tratam de crianças PIONTELLI relata o estudo que fez através de ultrasonografia durante a gestação de uma dupla de gêmeos na qual ao longo de toda a gravidez Marco hostilizou a irmã Delia recusando as tentativas de aproximação empurrandoa vigorosamente e refugiando se no fundo de uma zona de quietude do útero materno O interessante desse relato é que decorridos alguns anos os irmãos repetiram na vida real esse mesmo padrão de relacionamento Isso dá mais razão à instigante pergunta que à moda de um puxão de orelhas e de um desafio à nossa escuta psicanalítica BION lançou na sua terceira conferência em Los Angeles quando abordava a hipótese de que o feto seja capaz de ver ouvir e sentir Eu queria saber quando os psiquiatras e os psicanalistas vão alcançar o feto Quan do é que eles vão ser capazes de ouvir e ver essas coisas Fetiche Fetichismo FREUD 1927 O termo fetiche que em português tem li gação com a crença de feitiço é emprega do de longa data em diversos campos do saber humano A psicanálise o tomou em prestado da antropologia onde significa um objeto material venerado como sendo um ídolo Muito antes de FREUD a palavra feti chismo vinha sendo utilizada pelos sexolo gistas da época para designar uma aberra ção patológica da sexualidade FREUD em Três teorias sobre a sexualidade 1905 atualizou o termo e concebeuo do ponto de vista psicanalítico inicialmente para designar uma perversão sexual caracteriza da pelo fato de uma parte do corpo pé boca seio cabelo sentido da visão ou de cheiro etc ou um objeto exterior sapatos chapé us gravatas calcinhas tecidos etc serem tomados como objetos exclusivos de uma excitação ou prática perversa de atos sexuais Posteriormente mais precisamente a partir do trabalho Fetichismo 1927 FREUD co meçou a compreender o fetichismo como uma organização patológica resultante de uma denegação ou recusa renegação desmentida da percepção de que falta um pênis na mulher cujo reconhecimento re meteria o menino para a temível angústia de castração O termo original de FREUD em alemão é verleugnen O fetiche portanto 150 DAVID E ZIMERMAN para FREUD é um substituto mágico do falo faltante à mulher e se constitui um sinal de triunfo sobre a ameaça de castração e ao mesmo tempo como uma proteção con tra essa ameaça Assim o fetichismo segundo FREUD se ca racteriza por dois aspectos 1 Seria exclusi vo dos homens porquanto ele acreditava que na mulher normalmente é a totalida de do seu corpo e não um objeto parcial como nos homens que está fetichizado 2 Representaria uma espécie de paradig ma para as perversões em geral O trabalho Fetichismo está no volume XXI p179 da Standard Edition brasileira e é considerado embrião dos importantes trabalhos publicados após sua morte e que ocupam lugar nuclear A clivagem do Ego no processo de defesa e Esboço de psi canálise A psicanálise contemporânea fundamen tada nos estudos de MKLEIN acerca das ar caicas relações do bebê com a sua mãe juntamente com a descrição da sexualida de primitiva e os escritos de RSTOLLER a respeito do gênero sexual modificaram as concepções mais restritas de FREUD de modo que hoje ninguém contesta a exis tência do fetichismo também nas mulheres Filobatismo MBALINT BALINT criou esse termo para designar de forma oposta ao seu conceito de ocnofi lia a tendência que a pessoa apresenta para a solidão e para a busca dos gran des espaços abertos Assim os filobáticos têm uma propensão para dirigir aviões praticar alpinismo etc de modo que gos tam da solidão e de enfrentar desafios como uma reafirmação de que não de pendem de ninguém Na verdade é uma espécie de fuga dos riscos de ficar encla usurado no outro tal como acontece nas ocnofilias Ver o verbete Balint Fixação FREUD Fixação de modo geral tem duas signifi cações 1 Uma concepção evolutiva que se refere à ligação primitiva da libido nas diversas fases da evolução assim determinando pelo fenômeno da regressão os traços predomi nantes da caracterologia ou o quadro sinto matológico de alguma psicopatologia Por exemplo uma forte fixação na fase anal pode vir a determinar uma caractereologia obses siva ou uma neurose obsessivocompulsiva 2 Alusão ao modo de inscrição de certos conteúdos como podem ser certas expe riências emocionais fantasias inconscientes e relações objetais com as respectivas re presentações que persistem de forma inal terada e intimamente ligadas às pulsões FREUD inicialmente descreveu a fixação li gada aos traumas e a partir de Três ensai os 1905 conceituou esse fenômeno psíquico como o ligado à teoria da libido de modo que as perversões eram explica das por uma permanente persistência das pulsões prégenitais em busca de uma desrepressão Assim a fixação está na origem das repressões ou recalques e se manifestam mais claramente durante as regressões Na atualidade predomina a noção de que todos os afetos primitivos sofrem sucessi vas transformações psíquicas que ficam presentes ou representados no inconscien te constituindo pontos de fixação os quais funcionam como um pólo imantado e tal como um eletroímã atraem a representa ção de novas repressões de fantasias e de experiências emocionais Os pontos de fixação se formariam com mais facilidade a partir de uma exagerada gratificação ou frustração de uma determi nada necessidade ou de uma zona eróge na e conforme o predomínio de uma das duas formas a manifestação clínica terá características específicas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 151 Fliess Wilhelm nariz e os órgãos sexuais Da mesma for ma pensava que a vida estava condiciona da por fenômenos periódicos que dependi am da natureza da bissexualidade do ser hu mano Aliás em 1896 FLIESS mandou impri mir e enviou a FREUD um texto intitulado Relações entre o Nariz e os Órgãos Genitais Femininos do Ponto de Vista Biológico FLIESS foi importante para FREUD não só porque lhe serviu de esteio na época em que no seu esplêndido isolamento traba lhando sózinho combatido até mesmo pe los seus mestres se empenhava na difícil tarefa de interpretação dos sonhos os de seus pacientes e os seus próprios Também o interesse de FLIESS pela sexualidade cer tamente encorajou FREUD a prosseguir e aprofundar seus estudos A ruptura entre ambos deuse em 1902 de forma algo violenta com FLIESS sentindo se perseguido e acusando FREUD de plagiar suas idéias Esse desenlace fez com que FREUD destruísse todas as cartas recebidas de FLIESS enquanto que este guardou as remetidas por FREUD as quais posteriormen te foram compradas por MARIA BONAPARTE que as conservou mesmo contra a oposi ção cerrada de FREUD Em 1950 com a autorização de ANNA FREUD foram publica das algumas das cartas as não comprome tedoras Em 1985 foi publicada uma edi ção completa em meio a um clima de es cândalo nos Arquivos Freud Fobias O termo fobia deriva do étimo grego pho bos pavor Na verdade na antiga Grécia para afastar o medo nos combates os gregos divinizaram a figura de Fobos e os guerreiros o honravam antes partir para a guerra Conceitualmente uma fobia alude ao pavor irracional que um sujeito demonstra perante um objeto um ser vivo ou alguma situação os quais por si mesmos não apresentam ne nhum perigo real Assim acompanhando FLIESS entrou para a história da psicanáli se pelos seus laços íntimos de amizade com FREUD desde 1885 e especialmente porque ambos mantiveram uma abundante corres pondência de 1887 a 1902 Algumas das cartas enviadas por FREUD a FLIESS contêm verdadeiras preciosidades do pensamento psicanalítico FLIESS 18581928 originário de uma fa mília de judeus sefardins vivia em Berlim onde exercia as funções de biólogo e médi co otorrinolaringologista tendo sido apre sentado a FREUD por BREUER por ocasião de uma estadia em Viena Formouse logo uma forte empatia recíproca com uma tônica transferencialidealizadora a ponto de FREUD não perceber que FLIESS não tinha um pensamento organizado e adequado à reali dade com fundamentação científica mas sim que pelo contrário ele propunha teses místicas e organicistas da sexualidade mistu rando suas teorias de forma extravagante Assim FLIESS acreditava que poderia supri mir toda uma série de sintomas através de uma cocainização da mucosa nasal porque segundo ele existiria uma analogia entre o 152 DAVID E ZIMERMAN dezenas de tipos de medos existe uma gran de diversidade terminológica com os nomes de agorafobia do grego agora espaço aber to praça medo de espaços abertos claus trofobia medo de espaços fechados ou seja de claustros hidrofobia medo da água acro fobia medo de alturas ou seja de acros em grego extremidade ponta etc A estrutura fóbica costuma ser multidetermi nada e varia intensamente de um indivíduo para outro tanto em intensidade como em qualidade Configurase clinicamente com uma ampla gama de possibilidades desde as mais simples e facilmente contornáveis até as mais mais completas a ponto de serem inca pacitantes e paralisantes Assim desde uma situação em que estão presentes alguns tra ços fóbicos na personalidade sob a forma de inibições por exemplo passando pela pos sibilidade de uma caracterologia fóbica por uma modalidade de conduta defensiva e evi tativa podese atingir uma configuração clí nica de uma típica neurose fóbica sendo em alguns casos tal o grau de comprometimen to do sujeito que não é exagero designála como psicose fóbica FREUD inicialmente utilizava a expressão his teria de angústia para designar as fobias as sim estabelecendo uma conexão central com sua tese de fazer incidir a responsabilidade pela etiologia da fobia aos distúrbios da sexu alidade tal como ele descreveu na fobia que o menino Hans 1909 manifestava por ca valos Muitos sucessores de FREUD dedicaram se ao estudo das zoofobias infantis ou seja aos terrores que freqüentemente certos ani mais despertam nas crianças Alguns autores atribuíam esses medos a um atavismo ligado ao evolucionismo darwiniano Na atualidade além dos conflitos ligados à conflitiva edípica como FREUD enfatizava também são bastante valorizadas as contri buições da escola de MKLEIN acerca da fi xação da fobia na etapa evolutiva do sadis mo oral canibalístico com a respectiva an gústia de aniquilamento assim como tam bém as concepções de MMAHLER a respei to do estágio evolutivo que corresponde aos processos de separação e individuação ge ram a angústia de engolfamento e a de se paração e as de LACAN no que se refere aos significantes que as situações fobígenas adquiriram através principalmente do dis curso fobigênico dos pais Clinicamente os analistas invariavelmente observam que os pacientes marcadamente fóbicos sempre apresentam uma má ela boração das pulsões agressivas técnicas de evitação e de dissimulação manifestações simultâneas de algum grau de obsessão e de paranóia e freqüentemente de somati zações Muitas vezes o paciente tenta resol ver seus pavores por meio de atitudes con trafóbicas Há uma regulação da distância afetiva com as pessoas em geral e com o analista em particular de tal sorte que o paciente fóbico não permite uma aproxi mação mais profunda devido a seu pavor de ficar engolfado e tampouco tolera um afas tamento excessivo pelo receio de perder o vínculo com a pessoa necessitada Uma for ma de fobia bastante comum que seguida mente passa desapercebida é a fobia social pela qual em meio a um sistema bem estru turado de racionalizações o sujeito evita ao máximo fazer aproximações sociais É importante que o analista leve em conta o diagnóstico diferencial entre as fobias propri amente ditas que vêm acompanhadas por uma intensa angústiapânico e os quadros clínicos similares que se manifestam na doen ça do pânico A Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quarta edição DSM IV situa as fobias dentre os Transtornos de Ansiedade Foraclusão LACAN A grafia foraclusão se justifica pelo fato de que no idioma português de textos psi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 153 canalíticos esse fenômeno psíquico ora aparece traduzido como forclusão ora como foraclusão além de outras formas como desestima repúdio e rejeição O termo foraclusão foi cunhado por LA CAN em 1956 durante um seminário que fazia sobre o caso Schreber como tradu ção do original alemão Verwerfung em pregado por FREUD LACAN inspirouse to mando emprestado ao discurso jurídico o adjetivo francês forclusif que significa a exclusão do uso de um direito que não foi exercido no momento oportuno De fato na análise do Homem dos Lo bos redigido em 1914 e publicado em 1918 FREUD assinalou que esse paciente só imaginava a relação sexual dos seus pais pela via anal assim excluindo rejei tando Verwerfung a possibilidade de re conhecer a existência de uma castração fálica da mãe ou seja rejeita uma reali dade que é apresentada como sendo ine xistente LACAN empregava essa terminologia para definir um mecanismo específico das pis coses mais precisamente dos estados pa ranóides Tanto FREUD como LACAN esta beleceram uma distinção entre forclusão e repressão baseados na noção de que neste último caso diferentemente da for clusão aquilo que está excluído jaz no in consciente e pode voltar à consciência de uma forma simbólica De forma equivalente BION utiliza K para designar as formas de como a parte psicó tica da personalidade rejeita fazer um reco nhecimento das verdades penosas as ex ternas e as internas Formação de compromisso FREUD Espécie de compromisso egossintônico que as instâncias psíquicas assumem entre si de sorte a autorizar o surgimento no consciente do que está reprimido no inconsciente desde que venha suficien temente disfarçado para não ser reconhe cido tal como acontece nos sonhos e na formação dos sintomas quase que em geral Nos primeiros tempos FREUD em prestava uma especificidade desse fenô meno às neuroses obsessivas Formação reativa Mecanismo de defesa pelo qual o ego mo biliza uma estrutura caractereológica a mais oposta possível quanto ao risco do surgimento das pulsões libidinais ou agressivas reprimidas no inconsciente Esse processo a diferencia da formação de compromisso porque neste último caso não há propriamente uma oposição fron tal mas sim um acordo de paz que sa tisfaz as partes conflitantes Em termos da teoria econômica podese dizer que a for mação reativa consiste num contrainves timento de energia psíquica de força igual e de direção oposta ao investimento pul sional inaceitável que está agindo desde o inconsciente FREUD desde as primeiras descrições acerca das neuroses obsessivas e do ca ráter anal deixou claro o quanto premi do pelas ameaças de um superego rígi do o ego desenvolve defesas manten dose permanentemente em estado de alerta contra um suposto perigo como se esse estivesse sempre presente Assim para exemplificar um pudor exagerado pode estar opondose a tendências exi bicionistas uma bondade exagerada e despropositada pode decorrer de ímpe tos invejosos e agressivos uma obsessão por limpeza e ordem pode estar camu flando uma sensação de sujeira interna e assim por diante Formação de símbolos Ver o verbete símbolo 154 DAVID E ZIMERMAN Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental FREUD 1911 Artigo que tem como tema principal a dis tinção entre o princípio do prazer e o prin cípio da realidade que dominam respec tivamente os processos mentais primário e secundário FREUD assinala que a substituição do prin cípio do prazer pelo princípio da reali dade não se realiza de repente e assim como o egoprazer nada mais pode fa zer a não ser desejar lutar por um pra zer e evitar o desprazer ao egorealida de basta lutar pelo que é útil e resguar darse contra danos A educação é des crita como um incentivo ao controle do princípio do prazer Já a arte produz uma reconciliação entre os dois princípios A sexualidade sofre mudanças que consis tem numa gradual passagem das pulsões sexuais por fases intermediárias do auto erotismo ao amor objetal que serve à procriação Esse trabalho está no volume XII p277 da edição brasileira da Standard Edition Fortda FREUD Expressão incorporada à terminologia psicanalítica a partir de Além do princí pio do prazer 1920 onde FREUD relata a experiência de um seu neto de um ano e meio que através da brincadeira do carretel pronunciava alternadamente os gritos de fort e de da Freud relata que o seu netinho mantinha um carretel preso a um barbante e quando o jogava para longe fora do alcance de sua visão ele emitia um prolongado som de oooo que supôs FREUD constituía um esboço da palavra fort que em alemão signifi ca longe e quando puxava o carretel para perto de si o menino emitia um sonoro da que em alemão quer dizer aqui FREUD emprestou importância psicanalí tica a esse fato porque logo compreen deu que o menino estava elaborando a ausência de sua mãe ao mesmo tempo em que expressava sua confiança de que ela logo voltaria Igualmente Freud de duziu que as crianças agem ativamente em relação àquilo que sofrem passiva mente LACAN complementando os estudos de FREUD asseverou que esse jogo do carretel serve de protótipo para o entendimento da raiz da formação de símbolos tendo em vista que na elaboração de uma perda de uma separação através de atos repetitivos a ausência é evocada na presença e a pre sença na ausência Fragmentação angústia de M KLEIN MKLEIN descreveu esse tipo de angústia de origem primitiva também chamada por ela em outros momentos como angústia de desintegração ou de aniquilamento como resultante de uma profunda e se vera dissociação cisão do ego que acompanha a predominância da posição esquizoparanóide e que provoca uma an siedade com o sentimento de estar haven do uma fragmentação um despedaça mento psíquico e corporal Conquanto em grau moderado seja uma experiência normal quando se está num es tado de exaustão ou de estresse essa forma de angústia é extremamente grave e central na patologia dos quadros esquizofrênicos Fragmento da análise de um caso de histeria FREUD 1905 Título do historial clínico que é muito mais conhecido pela denominação de O Caso Dora Está publicado no volume VII p5 da Standard Edition brasileira Ver os verbetes Dora e historiais clínicos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 155 Freud Anna como também foi em torno de sua pes soa que a corrente freudiana da Socieda de Psicanalítica Britânica se moldou es truturou e ganhou respeitabilidade Outro mérito seu foi o de ter sido uma das pioneiras da psicanálise com crianças Não obstante terlhe imprimido uma ori entação de natureza pedagógica critica va M KLEIN a qual na mesma época por volta de 1927 preconizava e praticava a psicanálise infantil dentro do mais puro rigor psicanalítico abstendose de qual quer medida reeducativa ou de apoio Ambas travaram sérias polêmicas entre si o mesmo ocorrendo entre seus respectivos se guidores o que gerou as célebres Controvér sias na Sociedade Britânica de Psicanálise nos idos da década de 40 por pouco não sofren do essa entidade uma grave cisão oficial Freud Sigmund Nascida em Viena em 1895 ANNA foi a sexta e última filha de SIGMUND e MARTHA FREUD Nunca casou e permaneceu intimamente ligada ao pai até seus últimos dias Foi pre sidente do Instituto de Formação Psicanalí tica de Viena de 1925 a 1938 ano em que acompanhando seu pai refugiouse em Londres Na capital inglesa fundou em 1951 a Clínica Hampstead um prestigioso centro de tratamento pesquisa e formação em psicoterapia infantil Muitos discutem se a notória importância que AFREUD representa para o crescimen to e difusão da psicanálise devese aos seus próprios méritos ou a sua condição de filha de SFREUD É indiscutível que seu livro O ego e os mecanismos de defesa 1936 representa um enorme avanço porquanto nele indo além das pulsões do Id ela enaltece as funções defensivas do ego que FREUD esboçou mas não apro fundou Dessa forma ANNA FREUD pode ser considerada como uma importante formadora de discípulos psicanalistas que mais tarde viriam a fundar a escola nor teamericana da Psicologia do Ego assim Criador da psicanálise autor que mais con tribuiu com profundas e originais concep ções que ainda na atualidade continuam 156 DAVID E ZIMERMAN servindo como fonte de inesgotáveis estu dos e pesquisas e o maior divulgador da ciência psicanalítica Na entrada do ano 2000 na maioria dos órgãos da mídia in ternacional FREUD foi escolhido como a personalidade mais importante do mundo científico do milênio que passou Centenas de obras foram escritas sobre FREUD no mundo inteiro Seus livros foram traduzidos em cerca de 30 idiomas tendo sido publi cados no mínimo 10 biografias sobre a sua vida e obra Deixou um legado de mais de 300 títulos sendo 24 livros 123 artigos e uma correspondência avaliada em 15000 cartas Formou por meio da análise didáti ca da época mais de 60 praticantes Nasceu em Freiberg hoje Pribor na Repú blica Tcheca em 6 de maio de 1856 e rece beu o nome de Schlomo Sigismund Pres sionada por uma ruína econômica devida ao desenvolvimento da industrialização sua família mudouse para Viena quando ele tinha quatro anos onde FREUD viveu quase toda a sua vida Seu pai comerciante de lã e têxteis contava 41 anos e já tinha dois filhos de um primeiro casamento quando se casou com Amália então com 21 anos Dessa união nasceram mais sete filhos sen do Sigismund nome mais tarde trocado para Sigmund o mais velho deles Era de longe o filho preferido da mãe que o cha mava Mein goldene Sig Meu Sig de ouro Em Viena ao completar os seus estudos secundários Sigmund já sabia latim gre go hebraico alemão francês inglês e ti nha noções de italiano e espanhol FREUD renunciou aos estudos jurídicos porquan to decidira estudar medicina e a partir de sua condição de médico criou a psicanáli se Só abandonou Viena perseguido pelo nazismo migrando para Londres onde vi veu seus últimos anos Seu pai Jacob sem ser um religioso prati cante era um profundo estudioso do Tal mude livro da sabedoria judaica e por ocasião do ritual da circuncisão ritual ju daico que sucede ao nascimento registrou esse fato na Bíblia da família a mesma que presenteou a FREUD quando este comple tou 35 anos de idade com uma dedicató ria que preconizava que o filho atingiria a condição de futuro gênio O nome Schlomo Salomão foilhe dado em homenagem a seu avô paterno rabino que falecera dois meses antes do seu nasci mento O próprio FREUD em muitos depoi mentos públicos admitiu que sua condição de judeu forjou seu caráter com a coragem própria de uma minoria perseguida contri buindo bastante para caber justamente a ele a sublime função de verdadeiro criador da psicanálise Da mesma forma ele reco nheceu sua gratidão à Bnei Brith secular instituição judaica voltada para a defesa dos direitos humanos que o recebeu no perío do do esplêndido isolamento durante o qual sentiase sozinho desamparado cer cado da descrença geral relativamente a seus estudos sobre a sexualidade infantil Durante mais de 30 anos FREUD participou ativamente desse grupo judaico porém nunca escondeu que sua identidade de ju deu passava por três planos 1 O religioso que ele não aceitava da mesma forma que não aceitava como saudável qualquer fé religiosa 2 Uma clara ambigüidade quan to à sua condição de sionista voltado para a causa da criação de um estado nacional judeu o atual Estado de Israel 3 Uma consistente aceitação de que ele possuía um espírito judeuCabe transcrever o seguinte trecho de uma entrevista concedida por FREUD a um jornal americano em 1926 que aparece na revista Ide 1988 p56 sob o título de Entrevista rara Minha língua é o alemão Minha cultura minha realização é alemã Eu me considerava um intelectual ale mão até perceber o crescimento do precon ceito antisemita na Alemanha e na Áustria Desde então prefiro me considerar judeu Vale ainda consignar na vida de FREUD que casouse com Martha também judia ten VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 157 do alguns seus familiares sido importantes autoridades religiosas e com ela teve seis filhos A caçula ANA foi a única que se tor nou psicanalista e a sua mais importante se guidora e sucessora Em setembro de 1891 FREUD mudouse para um apartamento situ ado na rua Berggasse onde hoje está locali zado o Museu Freud e aí morou até seu exí lio em 1938 cercado por Martha a cunhada Minna e seus seis filhos Mathilde Martin Oliver Ernst Sophie e Anna FREUD concluiu com brilhantismo seu curso médico aos 25 anos na Universidade de Viena tendo feito um longo aprendizado em neurologia dedicandose a pesquisas passava horas dissecando nervos de pei xes raros fez importantes investigações so bre a cocaína Publicou inúmeros traba lhos nessa área que obtiveram expressivo reconhecimento científico Por razões finan ceiras renunciou à carreira de pesquisador e tornouse clínico Embora tenha enfrentado uma forte corren te antisemita então vigente na Universi dade de Viena FREUD logrou a distinção de ser nomeado professor de Neuropatologia e vir a obter o Prêmio Goethe de Literatu ra Muito cedo demonstrou méritos que lhe possibilitaram ganhar uma bolsa de estu dos para acompanhar em Paris os traba lhos de mestre Charcot que já pontificava com a aplicação de técnicas hipnóticas Posteriormente FREUD voltou à França des ta vez para Nancy também para aprofun darse nos mistérios do hipnotismo através das demonstrações de Bernheim De volta a Viena além dos recursos médicos habi tuais da época para o tratamento dos dis túrbios neuropsicológicos como era o em prego de banhos mornos massagens cli noterapia repouso no leito pequenos es tímulos elétricos e medicamentos barbitúri cos passou a empregar a técnica da hipno se na sua clínica privada Muito cedo FREUD deuse conta de que era um mau hipnotizador e substituiu esse re curso por técnicas que promovessem uma livre associação de idéias que possibilitas sem um acesso às repressões inconscientes das suas pacientes histéricas O edifício psicanalítico construído por FREUD pode ser esquematicamente desdobrado em 5 áreas 1 Historiais clínicos 2 Metap sicologia 3 Teoria 4 Técnica 5 Psicaná lise Aplicada Casos clínicos Em relação aos casos que descrevia de forma magistral vale registrar os que apresentou em Estudos sobre a his teria 1893 livro escrito juntamente com BREUER onde ele relata uma série de aten dimentos de curto prazo com pacientes portadoras de sintomas histéricos como foram Emmy von N Lucy R Katherina Entre outras mais cabe destacar Elisabeth von R pelo fato de não se ter deixado hip notizar e também por recusarse a ceder às pressões exercidas por FREUD para que ela associasse livremente Essa situação obri gouo a investigar e descobrir o fenômeno das resistências inconscientes No entanto os casos clínicos mais famosos de FREUD com os quais ele sempre de monstrava alguma tese centrada no pa pel da sexualidade na determinação das neuroses são o caso Dora 1905 O pe queno Hans 1909 O Homem dos ratos 1909 O caso Schreber 1911 O Ho mem dos lobos 1918 Esses casos aparecem melhor detalhados no verbete Historiais clínicos Teoria e metapsicologia Como uma pálida idéia da imensa obra de FREUD cabe destacar os seguintes trabalhos listados em ordem cronológica Em 1895 FREUD redigiu o seu importantís simo e vigente trabalho Projeto de uma psi cologia científica para neurólogos somen te descoberto muitos anos mais tarde entre os seus escritos abandonados e que veio a ser publicado em 1950 Em 1900 surgiu o seu livro mais conheci do especialmente entre o público leigo A 158 DAVID E ZIMERMAN interpretação dos sonhos onde no sétimo capítulo FREUD apresenta um esboço bas tante desenvolvido do psiquismo a hipó tese topográfica constante de três sistemas o consciente o préconsciente e o inconsci ente Nesse mesmo capítulo entre tantos outros aspectos importantes postulou a exis tência de um processo primário uma primiti va forma de funcionamento da mente No ano de 1905 aparece o clássico Três ensaios sobre a teoria da sexualidade no qual estuda a normalidade e a patologia que acompanham a sexualidade na infância como é o caso das diversas formas de aber rações sexuais Nesse mesmo artigo FREUD também alude aos inatos componentes pulsionais sexuais às zonas erógenas ao autoerotismo à organização oral e à anal sádica aos instintos de escopofilia de exi bicionismo e de crueldade ao impulso de conhecimento e à pesquisa da criança ao processo de sublimação entre outras con cepções mais É interessante registrar que esse trabalho e o da Interpretação dos so nhos foram os únicos dentre a imensidade dos trabalhos de Freud que mereceram constantes acréscimos conceituais em suas reedições Em 1911 surge a publicação de Formula ções sobre os dois princípios do funciona mento mental Nessa obra FREUD postula a existência dos princípios do prazer e da rea lidade A partir das interrelações especial mente quanto à descarga das excitações li bidinais ele lança as primeiras formula ções psicanalíticas sobre a gênese e a fun ção dos pensamentos Foi baseado nesse trabalho que BION construiu suas fundamen tais concepções sobre os pensamentos e a capacidade para pensar Em torno do ano 1915 Freud gestou qua tro dos seus mais importantes trabalhos metapsicológicos Sobre o narcisismo uma introdução As pulsões e suas vicissitudes Repressão O inconsciente Neste mesmo conjunto de trabalhos de 1915 também aparece publicado o importante Luto e Melancolia no qual FREUD estabelece a des coberta e a descrição do mundo dos obje tos internalizados pela introjeção tal como está contido na sua famosa frase a som bra do objeto recai sobre o ego Em 1920 FREUD lança um trabalho revolu cionário Tratase de Além do princípio do prazer no qual postula a existência da pul são de morte tese que acarretou profun das transformações na psicanálise Em 1923 vem à luz outro notável trabalho O ego e o id que trouxe marcantes reper cussões na teoria e na prática da psicanáli se promovendo uma fundamental mudan ça epistemológica ou seja a teoria topo gráfica cede o lugar de importância para a nova concepção de uma teoria estrutural da mente com as forças dinâmicas oriun das das três instâncias psíquicas id ego e superego O trabalho A negação publicado em 1925 é de uma importância essencial para a com preensão das múltiplas e protéicas formas de como o ego usa os distintos mecanis mos negatórios para evadir as angústias dos conflitos neuróticos O ano de 1926 também é marcante na his tória da psicanálise porque o trabalho Ini bições sintomas e angústia representa uma significativa mudança na concepção do es sencial fenômeno da formação da angús tia tal como aparece descrito neste verbete específico Nesse mesmo trabalho FREUD faz sua mais completa abordagem sobre o fe nômeno das resistências descrevendo suas distintas fontes e formas de funcionamen to Em 1927 aparece um trabalho que veio a ser um importantíssimo filão de inspira ção para a psicanálise atual tratase de Fe tichismo onde FREUD complementando um artigo de 1924 Neurose e psicose evi dencia a importante concepção relativa à dissociação do ego Em 1940 é publicado Clivagem do ego no processo de defesa que dá continuidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 159 aos aludidos trabalhos anteriores e que se constituem na psicanálise contemporânea subsídios indispensáveis para a compreen são do psiquismo de qualquer ser humano Trabalhos de técnica FREUD nunca dei xou de fazer uma integração entre a teoria e a técnica Pelo contrário sempre procu rou respaldar uma na outra de modo a que se fertilizassem reciprocamente Dessa for ma ele escreveu inúmeros artigos específi cos sobre técnica psicanalítica além dos que aludem indiretamente à técnica e à prática como são os historiais clínicos Em muitos trabalhos teóricos aparecem comentários sobre aspectos técnicos Já em 1905 no trabalho Sobre a psicote rapia que resultou de uma conferência pro nunciada numa escola de medicina FREUD apontava alguns aspectos técnicos da nova ciência que privilegiava a dinâmica do in consciente absoluta novidade para os mé dicos da época Nesse artigo aparece a bela metáfora que ele tomou emprestada de Leonardo da Vinci referente aos métodos analíticos da via di porre e da via di levare ver esses verbetes O período que vai dos anos de 1912 a 1915 coincidente com algumas dissidências no então incipiente movimento psicanalítico justamente quando aparecem os principais textos de FREUD relativos às recomendações básicas para todos que pretendessem em pregar o método psicanalítico Assim é necessário destacar trabalhos como A dinâmica da transferência no qual ele discrimina formas diferentes de transferên cia e explica algumas relações entre a trans ferência e a resistência Nesse mesmo ano aparece Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise onde postula a re gra da neutralidade com a famosa metáfo ra de que o analista deveria comportarse como um espelho quever os verbetes espelho e neutralidade Em 19131914 sob o título geral de Novas recomendações sobre a técnica da psicaná lise FREUD brindanos com dois textos im portantes um é Sobre o início do tratamen to no qual ele traz a metáfora de que tal como no jogo de xadrez as aberturas são conhecidas e previsíveis enquanto o desen rolar e o término do jogo analítico é impre visível e cheio de surpresas o outro artigo é Recordar repetir e elaborar que adquiriu importância por representar um primeiro esclarecimento profundo acerca do fenôme no do acting como substituto da resistên cia a lembrar aquilo que foi reprimido Em 1915 FREUD publica Observações so bre o amor transferencial que representa um sério alerta quanto aos riscos de envol vimento mais especificamente o de o ana lista ficar enredado nas malhas de uma con tratransferência erotizada FREUD volta a ela borar suas idéias a respeito dos principais fenômenos que cercam a técnica e a práti ca da psicanálise em conferências realmen te pronunciadas como em Conferências introdutórias 1916 ou em textos que si mulam conferências com um auditório ima ginário como em Novas conferências intro dutórias à psicanálise 1933 além de tex tos posteriores como os magníficos traba lhos de 1937 Análise terminável e intermi nável e Construções em análise Trabalhos de psicanálise aplicada Vir tualmente FREUD cobriu todas as áreas do conhecimento humano procurando expli cações de causas inconscientes para o com portamento humano na religião na arte na ciência na telepatia nos rituais mágicos nos clássicos da literatura nas figuras his tóricas na mitologia na demonologia nos relatos bíblicos na lingüística na antropo logia na psicologia e nos aspectos culturais dos grupos massas e sociedades Dentre os últimos é útil mencionar os seguintes seis artigos As perspectivas futuras da terapia psicanalítica 1910 Totem e tabu 1913 Psicologia das massas e análise do ego 1921 O futuro de uma ilusão 1927 Mal estar na civilização 1930 160 DAVID E ZIMERMAN Entre os colaboradores imediatos de FREUD aconteceram dissidências as mais importantes foram a de ADLER em 1910 a de STECKEL e especialmente a de JUNG que abandonou o grupo analítico freudi ano em 1913 OTTO RANK juntamente com FERENCZi e mais tarde WREICH fo ram os líderes em busca de novas técni cas diferentes até certo ponto divergen tes das recomendadas por FREUD como essenciais Após longos anos de sofrimento atroz pro vocado por um câncer do maxilar supe rior quando percebeu que não tinha mais condições de manter a continuidade da vida FREUD pediu a seu médico assisten te SCHUR que induzisse sua morte no que foi atendido em respeito a um acordo que previamente haviam acertado Assim após dois dias de um tranqüilo estado de coma FREUD veio a falecer em 23 de se tembro de 1939 em Londres onde as suas cinzas repousam no crematório de Golders Green Fromm Erich E FROMM nasceu em Frankfurt Alemanha em 1900 originário de uma família de judeus ortodoxos Antes de dedicarse às ciências sociais direito filosofia psiquiatria e psicaná lise estudou a Bíblia e o Talmude Já aos 15 anos militava num movimento da juventude judaica sionista e posteriormente integrou se a um grupo de filósofos da Escola de Frank furt de que participava Marcuse Esse grupo era conhecido como a esquerda freudiana que deu origem ao freudomarxismo Assim Fromm tentava conciliar as doutri nas de KMARX e de FREUD buscando uma integração dos fatores socioeconômicos com a explicação das neuroses No referi do grupo de esquerda FROMM conheceu FRIEDA REICHMANN que veio a ser sua quarta analista antes de tornarse sua esposa sob o nome bastante conhecido de FRIEDA FROMM REICHMANN Em 1934 após a ascensão de Hitler ao poder FROMM emigrou para os Estados Uni dos onde juntamente com KAREN HORNEY de cuja filha foi analista e HSSULLIVAN deu um grande vigor à corrente psicanalíti ca americana conhecida como culturalista tendo sido nomeado professor de psiquia tria em Nova York cidade onde praticou a psicanálise clínica porém renunciando à maioria das regras técnicas ditadas pela IPA como o uso do divã por exemplo FROMM dedicouse com afinco ao estudo das diferentes tradições religiosas como judaismo cristianismo e zenbudismo buscando um sin cretismo messiânico entre todas elas Sempre demonstrando um vigoroso pro testo contra as mais diferentes formas de totalitarismo e de alienação social publi cou muitos livros sendo os mais conhe cidos O medo da liberdade 1941 Psi canálise e religião 1950 Sociedade ali enada Sociedade sadia1955 A arte de amar 1956 Ensaios sobre Freud Marx e a psicologia 1971 e Paixão de des truir1975 ERICH FROMM faleceu em 1980 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 161 Frustração O termo frustração adquire na psicanálise duas significações opostas porém complementa res 1 A frustração sob a forma de privação e de momentos de ausência é não só inevitá vel como também necessária para exercer uma importantíssima função estruturante no desenvolvimento emocional da criança quan do efetivada adequadamente 2 A frustração repetitivamente inadequada funciona como fator fortemente desestruturante Virtualmente todas correntes psicanalíticas com uma abordagem ou outra enfatizam a importância das frustrações no psiquis mo da criança de sorte que esquematica mente podese falar na normalidade e na patogenia das frustrações FREUD empregou o termo frustração Ver sagung no original alemão para desig nar um desequilíbrio entre um desejo que busca satisfação e seu grau insuficiente de realização No entanto esse desequilíbrio não provém necessariamente de frustra ções externas pode acontecer que uma tendência interna do próprio sujeito por exemplo o superego mecanismos de defe sa etc oponhase ao seu desejo Uma pro va disso dizia FREUD é a situação freqüente e paradoxal em que o sujeito fica doente nas situações em que atinge o sucesso Em O futuro de uma ilusão 1927 FREUD estabelece uma distinção entre frustração a insatisfação de uma pulsão libidinal a proibição o meio pelo qual a frustração acontece e a privação o estado emocio nal resultante da frustração Assim assina la que a frustração também é produzida pelas leis da cultura de modo que é ine rente à condição humana LACAN por sua vez estuda as diferenças entre frustração privação e castração en fatizando a natureza da falta constituída por exemplo o pênis objeto de frustração da menina constituindo o modelo de um ob jeto impossível de ser alcançado para distinguir esses três processos Isso está bem sintetizado nessa frase de A Green Em virtude da frustração existe algo que não se realiza em virtude da privação há algo que falta em virtude da castração existe algo que poderia chegar a faltar Comentário A capacidade de tolerância às frustrações depende das condições he redoconstitucionais do bebê e da forma como se processou determinada frustração por parte do ambiente que provê as neces sidades físicas e psíquicas da criança As sim resultam quatro tipos 1 A frustração adequada que promove o crescimento porquanto leva a criança a achar soluções para o problema das falhas e das faltas criadas pela frustração e vai portanto propiciar uma gradativa capaci dade para pensar simbolizar e criar 2 As frustrações por demais escassas e tí midas o que dá um resultado inverso ao anterior além de estimular o prolongamen to da dependência e o incremento de uma onipotência 3 As que continuadamente são incoeren tes eou injustas e levam a criança a um estado de confusão e ambigüidade 4 As demasiadamente excessivas na quan tidade e na qualidade e que como forma de reação promovem a exacerbação dos sentimentos agressivodestrutivos BION foi o autor que mais trabalhou com essa última hipótese de modo a mostrar que uma frustração excessiva comumente resultante de uma prolongada ausência ou privação do seio materno nutridor desper ta no bebê sensações altamente despraze rosas devido ao incremento do ódio Essas sensações intoleráveis que BION denomi na elementos β precisam ser descarrega das para o exterior em busca de um ade quado continente que possa contêlas sen do que no adulto essa descarga fazse co mumente por meio de actings enquanto no bebê transparece sob a forma de uma agi tação corporal como esperneios etc 162 DAVID E ZIMERMAN Fuga luta e BION Expressão utilizada por BION para designar um dos presupostos básicos que sempre existem na dinâmica do campo grupal Esse tipo de suposto básico alude a uma condi ção em que o inconsciente grupal está do minado por ansiedades paranóides Por essa razão ou a totalidade grupal mos trase altamente defensiva e por isso entra em estado de luta contra o suposto inimi go com uma franca rejeição contra qual quer situação nova de dificuldade psicoló gica ou os integrantes do grupo fogem des sa situação desconhecida e temida Neste caso criando um inimigo externo ao qual atribuem todos os males e por isso ficam unidos contra ele sendo muito freqüente a criação de bodes expiatórios O líder reque rido para esse tipo de suposto básico gru pal deverá preferencialmente ter caracte rísticas paranóides e tirânicas Função BION Inspirado na matemática embora sem o mes mo sentido que o termo tem nela BION 1962 conceitua psicanaliticamente a função como uma atividade mental própria de certos fato res que atuam conjugados com outros Tal como no campo da matemática também no do psiquismo a relação das variáveis psíqui cas cria uma lei obedecendo a uma estrutura na qual a mudança de qualquer elemento influi decisivamente no conjunto Um exemplo banal é a função sexual que resulta de um conjunto de fatores um esta do psíquico de motivação para o ato sexu al a excitação provinda de órgãos sensori ais como visão cheiro tato e um possível estado de higidez física ou de estresse can saço doença etc Por sua vez essa mesma função sexual além da função de obter um prazer erógeno poderá servir como fator de outra função por exemplo a de repro dução da espécie e assim por diante Função e fatores estão de tal maneira inti mamente conjugados que BION por vezes emprega o temo functores como aparece em O aprender com a experiência 1991 p124 Função α BION Essa expressão designa um dos aspectos mais originais e importantes da obra de BION Referese diretamente à capacidade da criança de desenvolver a capacidade e a função de pensar os elementos β ou seja os protopensamentos que resultam das primitivas sensações e experiências emocio nais já inscritas mas que ainda não pude ram ser pensadas BION deu grande ênfase ao fato de que é a função a que possibilita o armazenamento mental das experiências emocionais trans formadas e por conseguinte a transforma ção das impressões sensoriais e emocionais em imagens visuais Daí a importância da comunicação do paciente sob a forma de ideogramas tipo hieróglifos A possibilidade de os elementos β essa cate goria ocupa a fileira A na Grade virem a ser transformados em elementos α ocupa a filei ra B depende diretamente da função α da mãe isto é das condições dessa de ser um continente adequado de modo a acolher conter descodificar e devolver para o filho aquilo que ele projetou nela agora devida mente desintoxicado significado e nomeado Função analítica eficaz conceito de técnica BION Com essa expressão BION quis precisar que um psicanalista na situação analítica deve aliar três estados da mente Ser 1 Um cien tista líder em busca da verdade 2 Um mís tico em permanente estado de fusão com a verdade incognoscível 3 Um artista para captar o sentido estético das comunicações e saber comunicálas eficazmente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 163 Além disso BION destaca ser indispensável o analista possuir o que ele chama de condições necessárias mínimas para o exercício eficaz da difícil porém fascinante tarefa de analisar Função psicanalítica da personalida de Bion Um dos conceitos mais significativos de BION referese ao fato de a busca episte mológica ser inata em qualquer indivíduo e que essa pulsão de conhecer as verdades deve ser desenvolvida no analisando atra vés da análise e da introjeção da função de analisar do seu analista Em suma a FPP designa uma atitude mental profunda em face da verdade e do conhecimento de si mesmo e é a única que permite uma conti nuidade da função autoanalítica Functores BION Seguidamente BION emprega esse vocábulo que é uma contração dos conceitos de função e de fator O termo pertence à sintaxe das ca tegorias matemáticas e BION o utiliza quando pretende designar conceitos psicanalíticos que operam segundo uma lógica matemática Fúria ou injúria narcisista KOHUT Expressão usada freqüentemente por KO HUT para designar o fato de as pessoas por tadoras de algum transtorno narcisista por mais amáveis e tranqüilas que aparentam ser em condições normais reagirem de maneira furiosa diante de algum tipo de frustração que lhes represente uma afronta a sua ilusão de grandiosidade um questio namento hostil à sua onipotência e uma injúria a sua autoestima Fusão Termo bastante freqüente nos textos psica nalíticos de vários autores que abordam o desenvolvimento emocional primitivo Cos tuma designar a etapa evolutiva em que o bebê ainda não tem condições neurobioló gicas de estabelecer distinção entre o eu e o outro Em outras palavras usando a terminologia de MMAHLER o bebê não ingressou na eta pa de diferenciação que possibilitaria evo luir para as subetapas de separação e in dividuação e não discrimina a mãe como pessoa separada dele de tal sorte que mantém a crença onipotente que está fun dido com a mãe que é uma mera exten são dele Fusãodesfusão das pulsões FREUD Designação de FREUD para a maneira quan titativa e qualitativa de como estão combi nadas entre si as pulsões de vida e as de morte A partir de Além do princípio do pra zer 1920 FREUD passou a conferir às pul sões destrutivas o mesmo grau de importân cia que sempre atribuiu às libidinais ressal tando que ambas enfrentamse de forma an tagônica nos mesmos campos do psiquismo Assim a libido constitui um fator de liga ção de fusão Bindung em alemão en quanto a agressividade tende a dissolver as relações FREUD descreve a desfusão para conceituar o fato de que as pulsões agressivas rompe ram todos os laços que em alguma pro porção os mantinham fundidos com a se xualidade e as pulsões de vida em geral O melhor exemplo encontrado por FREUD para demonstrar a conceituação de desfusão consiste no fenômeno da ambivalência tal como se manifesta claramente nas neuro ses obsessivas Fusional transferência narcisística do tipo KOHUT KOHUT estudou as transferências narcisísti cas e as classificou em três tipos idealiza 164 DAVID E ZIMERMAN doras gemelares e especulares Dessas úl timas descreveu dois tipos as fusionais e as especulares propriamente ditas A transferência fusional corresponde ao conceito de Freud de ego do prazer purifi cado e manifestase pelo fato de o pacien te crer que o analista não é mais do que um prolongamento seu pois ambos esta riam numa fusão arcaica Assim na práti ca analítica esperam que o analista adi vinhe seus pensamentos e necessidades e quando isso não acontece significam no como frieza e desinteresse do terapeu ta o que pode leválos a um estado de decepção ou não raramente a um esta do de fúria narcisista Futuro de uma ilusão FREUD 1927 Título de importante livro de FREUD publi cado em 1927 no qual estuda particular mente como a psicanálise entende a reli gião assim complementando as idéias que já tinha esboçado no artigo Atos obsessi vos e práticas religiosas1907 onde equi parou a religião a uma neurose obsessiva Esse trabalho de 1927 está escrito na for ma de diálogo fictício de FREUD com um in terlocutor que na verdade era o seu ami go pastor OSKAR PFISTER O enfoque principal do livro consiste nas influências recíprocas que existem entre as forças opostas provindas da natureza e as da cultura estas tendendo a sufocar a gra tificação pulsional Como asseverou FREUD é impossível uma plena e permanente har monia entre as forças referidas o fato de se desejar o contrário não passa de uma ilu são ilusão de que se possa atingir o senti mento oceânico forma primária da neces sidade do religioso em todos seres huma nos daí o título escolhido para o livro Esse trabalho aparece na Standard Edition brasileira no volume XXI p15 G BION Na Grade de BION G ocupa a sé tima fileira onde designa o sistema deduti vo científico o qual se forma de uma com binação lógica de conceitos de hipóteses e de teorias que já foram alcançadas e que estão representadas na fileira anterior a F Essa fileira G está preenchida unicamente na casela G2 porquanto a Grade visa a fazer uma representação gráfica unicamen te daquilo que se passa na experiência emo cional da situação do par analítico pois um sistema dedutivo científico tem pouco a ver com a finalidade de uma análise Um exemplo do enunciado de G2 a colu na 2 representada pela letra grega Y de signa as falsificações e mentiras consiste no entendimento segundo um modelo que mostra quanto uma alta abstração científi ca por exemplo a teoria geocêntrica de Ptolomeu que durou vários séculos pode estar a serviço de uma mentira para cuja manutenção foi necessária uma cruel per seguição a Galileu e a Giordano Bruno que ousaram desafiar a falsidade Gangue narcisista ROSENFELD Com essa denominação ROSENFELD 1971 alude a uma espécie de organização intra psíquica composta por objetos internos que G movidos pela necessidade de negar a fra gilidade e dependência que esse indivíduo tem em relação aos outros idealizam a sua onipotência e prepotência próprias do narcisismo Dessa maneira sabotam seu próprio lado infantil que está fazendo força para crescer Essa gangue narcisista da mesma forma como se passa nas gangues deliqüenciais amedronta corrompe e se duz com falsas promessas a seu lado que quer fraquejar de tal sorte que pode se constituir uma forte barreira resistencial às mudanças no processo analítico Ganho primário e secundário FREUD Expressão que designa o mesmo exposto nos verbetes benefício primário e benefício secundário Garma Angel Importante psiquiatra e psicanalista radica do na Argentina nasceu em Bilbao Espa nha em 1904 e faleceu em 1993 cercado pelo carinho e reconhecimento por suas contribuições psicanalíticas Quando tinha quatro anos seus pais migraram para a Ar gentina Seu pai foi assassinado com dois tiros em circunstâncias misteriosas e sua 166 DAVID E ZIMERMAN mãe veio a casar com um irmão do marido morto Aos 17 anos GARMA voltou à Espa nha onde graduouse como psiquiatra indo a seguir para a Alemanha onde analisou se com THEODOR REIK e completou a sua for mação psicanalítica Voltou a Berlim onde ficou cinco anos exercendo atividades como psicanalista clí nico e como didata sendo considerado o primeiro psicanalista espanhol Devido à guerra civil espanhola em 1936 GARMA vol ta à Argentina onde alguns anos após com outros psicanalistas funda a Associação Psi canalítica Argentina APA As maiores contribuições de GARMA referem se à clínica das psicoses ao estudo e divul gação em livros da medicina psicossomáti ca de concepções próprias a respeito da formação dos sonhos e do masoquismo Gêmeo imaginário O BION 1950 Título do primeiro trabalho rigorosamente psicanalítico que BION apresentou à Socie dade Britânica de Psicanálise assim obten do a condição de Membro Aderente A tese central recai sobre o uso maciço de identifi cações projetivas que um paciente pode fazer na mente de outra pessoa de modo a tornar esta última idêntica a ele como se fosse um verdadeiro gêmeo BION aborda as dificuldades de se lidar com pacientes esquizóides e esquizofrênicos Para tanto parte do estudo de três pacien tes em um caso tratavase de um gêmeo real e nos outros dois eram gêmeos imagi nários e baseado na teoria de MKLEIN aventa a hipótese de que um gêmeo repre sentaria uma espécie de duplo Seria pois uma personificação cuja finalidade visaria a negar a incapacidade de um controle ab soluto sobre outro indivíduo e ao mesmo tempo a negar que esse outro é uma pes soa autônoma e diferente dele Esse artigo constitui o primeiro capítulo de Estudos psicanalíticos revisados 1967 Gemelar transferência KOHUT KOHUT propôs uma visualização especial da transferência na situação analítica princi palmente com os pacientes bastante regres sivos Nesses casos asseverava KOHUT a transferência não deveria ficar tão centra da na repetição dos conflitos que a criança tivera com os seus pais mas sim nas fa lhas evolutivas nos primórdios narcisísticos da relação que a criancinha tivera com as figuras parentais notadamente com a mãe Assim a transferência gemelar consiste no fato de o paciente perceber o analista como um prolongamento seu parcial Caso essa distorção da percepção transferencial for total KOHUT denominaa transferência nar cisística fusional Na prática clínica esses pacientes demons tram necessidade de encontrar nas outras pessoas um gêmeo um alter ego ou seja alguém suficientemente parecido com ele que comungue dos mesmos valores de modo a confirmar a existência e a aceita ção do seu próprio self Gênero sexual R STOLLER Na atualidade graças principalmente aos trabalhos de RSTOLLER 1968 psicanalista americano 19241991 atribuise expres siva importância não somente ao sexo bio lógico com que a criança nasce mas tam bém à formação do seu gênero sexual o qual vai depender fundamentalmente dos desejos inconscientes que os pais alimen tam quanto a suas expectativas e deman das em relação à conduta e ao comporta mento do filho ou da filha Assim enquanto o termo sexo define a or ganização anatômica que estabelece a di ferença entre o homem e a mulher gênero sexual designa o sentimento psicológico e social da identidade sexual A indução por parte dos pais na determi nação do gênero sexual dos filhos costu VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 167 ma ser feita através de aspectos como atri buição de nomes próprios ambíguos no mes que tanto servem para meninos como para meninas o uso de roupas que provo cam confusões e indefinições no contexto social em que a criança está inserida o tipo de brinquedos e brincadeiras que os pais estimulam o tipo de esporte que incentivam a idealização ou denegrimento de certos atri butos masculinos ou femininos etc Na construção de uma homossexualidade do filho costuma ser comum a formação de um conluio inconsciente na base de um fazdeconta que ninguém está vendo nada assim negando uma evidente cumplicida de entre duas ou mais pessoas da mesma família Muitas vezes os pais não só deter minam decisivamente o gênero sexual dos filhos como também pode acontecer que eles atuem sua possível homossexualidade latente por meio do filho ou da filha Aliás não é nada raro que certas famílias culti vem um conluio múltiplo que se manifesta indiretamente em um determinado segre do familiar Comentário Relativamente à ligação da homossexualidade com o gênero sexual entendo que a estruturação de um gênero sexual diferente do sexo biológico está lon ge de necessariamente significar uma ho mossexualidade atuante porém pode ser um fator propiciador Por outro lado creio que se pode dizer que em alguns casos um casal com sexos biológicos diferentes porém com certa combinação entre os res pectivos gêneros sexuais pode estar confi gurando uma disfarçada relação de nature za homossexual Gênio BION BION usa indistintamente os termos gênio místico messias ou herói para designar o indivíduo excepcional por exemplo Jesus no campo da religião ou Newton no da física etc que por ser possuidor e trans missor de idéias novas constitui uma ame aça ao establishment no qual está inserido e por isso sofre uma série de distintas ati tudes hostis Comentário A palavra gênio não deve ser entendida como referente a uma pessoa portadora de um altíssimo quociente de in teligência QI mas sim como designando o sujeito que foi capaz de transformar pro fundamente determinado paradigma vigen te em determinada época até então con sensualmente aceito Assim para exempli ficar em diferentes áreas da cultura huma na FREUD rompeu com o paradigma de que a criança seria totalmente inocente sem fantasias sexuais BEETHOVEN introduziu a música romântica desafiando uma rígida obediência dos seus contemporâneos ao paradigma da música clássica EINSTEIN re volucionou a física mecanicista ao provar cientificamente a sua lei da relatividade No campo psicanalítico FREUD MKLEIN e BION são considerados gênios justamente porque propuseram novos paradigmas que foram ganhando crescente aceitação atra vessando sucessivas gerações e conquistan do novos seguidores LACAN divide as opi niões muitos consideram que merece ser considerado o quarto gênio da psicanálise enquanto muitos outros reconhecem nele alguns lampejos geniais que teriam ficado desmerecidos em vista de exagerados des mandos psicanalíticos Gênioestablishment relação BION Segundo BION 1965 a relação do estab lishment com o indivíduo místico ou seja com o sujeito sentido como ameaça por ser portador de idéias novas adquire uma des sas formas como é possível encontrar freqüen temente nas mais distintas instituições 1 Simplesmente vetam sua entrada 2 Expulsamno geralmente em função do papel que lhe é imputado de bode expiató rio das mazelas da instituição 168 DAVID E ZIMERMAN 3 Ignoram sua presença 4 Desqualificam as suas idéias e atividades 5 Há uma manifesta aceitação desse indi víduo porém no fundo se processa um latente esvaziamento de suas idéias de sorte que ele é cooptado por meio de uma atri buição de funções administrativas muitas vezes de aparência honrosa 6 Outras vezes decorrido algum tempo alguém do establishment adota suas idéias porém divulgamnas como se tivessem par tido dos próhomens da cúpula diretiva Essas idéias de BION aparecem bastante desenvolvidas no seu livro Atenção e Inter pretação 1967 Genital amor FREUD Expressão empregada para designar a for ma de amor que o sujeito alcançaria num exitoso desenvolvimento psicossexual ou seja quando supera o complexo de Édipo de forma bem sucedida e tem acesso à fase genital de modo que como afirmou FREUD a pulsão sexual põese agora a serviço da função de reprodução Embora não tenha usado diretamente a ex pressão amor genital FREUD consignou que uma atitude completamente normal de amor consiste numa união das correntes da sensualidade e da ternura Na puber dade afirma FREUD todas as zonas eróge nas e as pulsões parciais se subordinam ao primado da zona genital Na atualidade o termo amor genital ganhou certa relevância pelo fato de distinguir as cada vez mais descritas formas de amor prégenital Genital fase FREUD A fase genital do desenvolvimento psicos sexual caracterizada pela organização das pulsões parciais e das diversas zonas eró genas sob o primado das zonas genitais processase em dois tempos 1 A fase fáli ca alude à organização genital infantil na qual ainda não há a síntese das pulsões parciais e tampouco o primado total da zona genital 2 A organização genital propria mente dita que se institui na puberdade Esses dois momentos evolutivos são sepa rados pelo período de latência A organiza ção genital que se forma na puberdade se diferencia das modalidades libidinais do autoerotismo e da sexualidade polimorfo perversa que são características de fases pré genitais da sexualidade infantil Gestaltterapia FREDERICO PERLS Comumente denominada apenas por Ges talt designa uma forma de psicoterapia cri ada pelo psicanalista alemão FREDERICO PERLS Propõese a mais do que uma tera pia ser uma filosofia e uma forma de vida A partir do início da década de 60 encon trou forte aceitação nos Estados Unidos principalmente na Califórnia A gestalt ou teoria da forma considera o indivíduo um organismo vivendo num meio simultaneamente físico e social no qual deve satisfazer todas as suas necessidades A cada momento o organismo tem consci ência global de suas necessidades e a per cepção mais ou menos exata da situação e das possibilidades de satisfação que ela lhe oferece O conjunto dessa percepção cons titui uma gestalt No entanto na maioria das vezes essa auto e heteropercepção é incom pleta e distorcida devido ao imaginário das crianças e aos mecanismos de defesa A técnica gestáltica originalmente empre gada por PERLS consistia num cenário de terapia de grupo onde à semelhança do coro e do protagonista do antigo teatro gre go ele só trabalhava com uma pessoa de cada vez sentada ao seu lado e em frente ao grupo Nessas condições PERLS traba lhava com três aspectos fundamentais 1 A reprodução de experiências emocio nais do indivíduo as mais diversas no aqui agora da sessão grupal VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 169 2 A tomada de consciência dos conflitos inconscientes e da maneira de ser do su jeito 3 A tomada de uma responsabili dade do sujeito pelos seus atos e que sua modificação depende essencialmente dele mesmo Gozo LACAN LACAN conferiu importante significação psi canalítica ao termo gozo diferenciandoo de prazer opõese a este porque o prazer abaixaria as tensões psíquicas ao mais bai xo nível possível e de demanda estando mais próximo deste Embora FREUD muito raramente tenha usa do o termo gozo é nele que LACAN se inspi ra mais precisamente naquela constatação de FREUD de que o bebê que é amamenta do mesmo depois de saciar sua necessida de orgânica demorase no seio da mãe fa zendo atos de sucção agora movido por uma sensação de gratificação erógena LACAN conclui que é o outro a mãe ou seu substituto quem confere um sentido à ne cessidade orgânica do bebê de modo a fi car preso numa relação de comunicação onde é remetido ao discurso do Outro Grade BION BION se propôs a criar um sistema de nota ção científica a partir dos elementos de psi canálise os quais englobam vários níveis evolutivos e usos dos pensamentos além das emoções correlatas A escolha do ter mo elemento não foi casual deve ter raízes na matemática como são os elementos do matemático grego Euclides e na química como é a postulação de que os elementos simples como os átomos se combinam para formar as moléculas E foi justamente inspirado na matemática através do uso do sistema cartesiano de coordenadas e na química por meio da aplicação da tabela periódica dos elemen tos químicos de MENDELAIEV que BION criou o modelo da Grade A Grade é composta por uma coordenada vertical e outra horizontal as fileiras e colu nas formando caselas que são ocupadas pelos distintos enunciados No modelo grá fico da Grade como aparece na figura que ilustra este verbete o eixo vertical é com posto por oito fileiras da letra A à letra H Tendo em vista que cada fileira enuncia um estágio do desenvolvimento da capacidade para pensar é denominado eixo genético O eixo horizontal é formado por seis colu nas embora BION para não vir a ser acusa do de dogmático tenha acrescentado após a sexta coluna a da ação a designação n para assim caracterizar a Grade como um sistema aberto e permitir que cada ana lista fizesse os seus próprios acréscimos e modificações Esse eixo horizontal costuma ser denominado como eixo da utilização porque cada uma das seis colunas designa uma forma de como o estágio indicado pelas 8 letras das fileiras atingido pelo pen samento está sendo utilizado pelo ego Como veremos a seguir a Grade resultante do cruzamento das oito fileiras com as seis colunas forma 48 caselas quase todas pre enchidas com enunciados categóricos Po rém algumas caselas ficam em aberto como na tabela periódica de MENDELAIEV à espera de um possível futuro preenchi mento Da mesma forma existe uma fileira em branco correspondente à letra H a fim de manter o espírito de um sistema aberto não saturado Para dar um único exemplo a designação A6 sugere que o pensamento propriamen te dito ainda não se formou pois tratase de protopensamentos ou seja elementos β pertencem à fileira A que somente ser vem para ter uma ação coluna 6 de eva cuação como a que ocorre por exemplo em muitas formas de actings No entanto se a leitura da Grade designar F6 permite que o analista entenda que um pensamen 170 DAVID E ZIMERMAN to atingiu a condição de um conceito filei ra F que está possibilitando uma ação co luna 6 exitosa e não mais evacuatória como é a dos elementos β da fileira A É útil esclarecer que BION criou a Grade para o uso exclusivo do psicanalista com a con dição de ser usada unicamente fora da ses são com os seguintes propósitos 1 Ter um método de anotação gráfica co dificada que seguindo o modelo de anota ção dos músicos pudesse ser lida por qual quer psicanalista de qualquer época e qua drante do mundo 2 Dispor de um método científico de nota ção dos fenômenos que se passaram na sessão substituindo as trabalhosas anota ções escritas que logo perdem sentido por um pensamento criativo 3 Possibilitar uma comunicação semântica mais precisa dos psicanalistas entre si ou de um autor com os seus leitores como BION empregou com freqüência 4 Propiciar ao analista ser supervisor de si mesmo estimulando o exercício da refle xão psicanalítica no sentido de ter uma avaliação mais clara sobre se está havendo crescimento estagnação ou involução do seu paciente 5 Visualizar o nível e a qualidade de utili zação dos pensamentos tanto da parte do paciente como do próprio analista e prin cipalmente da comunicação entre ambos 6 A Grade permite situar qualquer tipo de manifestação clínica desde o mais simples ao mais complexo tanto os que se expres sam em linguagem verbal ou a nãoverbal A elementos β B elementos α C Pensamentos oníricos sonhos mitos D Préconcepção E Concepção F Conceito G Sistema dedutivo científico H Cálculo algébrico Hipóteses definidoras 1 A1 B1 C1 D1 E1 F1 Ψ 2 A2 B2 C2 D2 E2 F2 G2 Notação 3 B3 C3 D3 E3 F3 Atenção 4 B4 C4 D4 E4 F4 Investigação 5 B5 C5 D5 E5 F5 Ação 6 A6 B6 C6 D6 E6 F6 n Bn Cn Dn En Fn Figura 1 Grade de BION VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 171 7 Facilitar o entendimento epistemológi co de certos modelos psicanalíticos como o das narrativas dos mitos BION utilizou bastante a Grade para reestudar aprofun dadamente o mito de Édipo a partir de vértices diferentes dos que conhecemos em FREUD ou seja BION privilegiou o en foque de como cada personagem da tra ma edípica se posiciona diante dos pro blemas relativos ao Conhecimento K ou à atitude de não querer conhecer as ver dades penosas K Gradiva FREUD Em 1907 FREUD publicou Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen texto fundamental mente baseado na novela Gradiva escrita em 1903 por Jensen É considerada a pri meira análise completa de uma obra literá ria feita por FREUD Foi JUNG quem lhe des pertou a atenção para esse livro que parti cularmente o encantou pelo cenário onde se desenrola pois era antigo seu interesse por Pompéia e suas ruínas arqueológicas FREUD assim resume a história Um jovem arqueólogo Norbert Hanold descobre num museu de Roma uma escultura que representa uma jovem caminhando cujo vestido esvoaçante um pouco puxado para cima revela pés calçados com san dálias Essa figura ganha tanta vida na sua imaginação principalmente seu passo que Norbert decide cognominála Gradi va que etimologicamente significa a que avança A seguir Norbert sonha que se encontrava na antiga Pompéia no dia da erupção do Vesúvio testemunha a des truição da cidade e aflitivamente procura Gradiva que desaparecera Quando des perta se dirige à janela olha para a rua e crê ter visto uma figura feminina que pa recia a própria Gradiva Em função dis so o protagonista resolve empreender uma viagem à Itália de modo que a fan tasia adquire um caráter concreto No desfecho dessa fantasia romanceada Nor bert descobre que a pessoa que reconhe ceu como sendo Gradiva era sua vizinha Zoé Bertrang que nos idos tempos da in fância o amara FREUD entende que o delírio de Norbert re sulta de uma antigo recalcamento atribui o surgimento do sonho ao estímulo de um resto diurno e evidencia a ligação da sua incipiente teoria com a arte o que também possibilita que um artista como Jensen possa realizar uma leitura intrapsíquica de seus personagens Figura 2 Gradiva 172 DAVID E ZIMERMAN Gratidão M KLEIN O sentimento de gratidão foi particularmen te estudado por MKLEIN que destacou sua importância como condição essencial para o sujeito atingir exitosamente a posição depressiva a qual por sua vez é a que possibilita a capacidade de formação de símbolos e da capacidade para pensar Aliás essa estreita relação entre a gratidão e o pensar está expressa por Heidegger que faz uma aproximação entre os termos no idioma alemão danken agradecer e denken pensar Isso está intimamente co nectado com a capacidade de o sujeito após ter atacado na realidade ou na fanta sia um objeto efetivamente importante encontrar condições de fazer uma repara ção começando por uma integração das partes que estão dissociadas o que permi te fazer o reconhecimento de que a pessoa que ele tanto atacou também o ajudou e portanto é merecedora de sua gratidão KLEIN 1957 estudou o sentimento de gra tidão como o oposto do sentimento de in veja ou seja como uma permanente rela ção interacional e dialética entre as pulsões de amor e de ódio Gratificação ou satisfação alucinató ria do seio FREUD Expressão criada por FREUD para designar o estado psíquico do bebê que diante da ausência temporária do leite materno que vai saciar sua fome apela para o recurso de utilizar uma defesa de natureza mágico onipotente equivale ao mecanismo defen sivo de uma extrema negação da realidade exterior substituindoa pela criação de ou tra realidade ficcional como fazem os psi cóticos Mecanismo semelhante a este tal como está descrito no verbete foraclusão é utilizado pelo bebê normal que ao sugar o polegar como se fosse um seio nutridor está realizando sob os auspícios do princípio do prazer purificado uma gratificação alu cinatória do seio a qual é claro é de cur ta duração porque sucumbe ao princípio da realidade Green André Figura exponencial da psicanálise contem porânea AGREEN nasceu no Cairo em março de 1927 no seio de uma comunida de judaica com pai de ascendência espa nhola e a mãe portuguesa A recordação mais marcante de GREEN relativa à infância foi o fato de ter sua mãe perdido uma irmã mais nova queimada viva o que a deixou com uma depressão importante Segundo GREEN para ele próprio conforme aparece no livro Um psicanalista engajado conver sas com Manuel Macias 1999 essa recor dação está na raiz do seu conhecido texto A mãe morta Aos 19 anos deixou o Egito e radicouse na França onde dedicouse aos estudos de ciências biológicas e de filosofia que lhe serviram de inspiração para formarse em VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 173 medicina e seguir a carreira psiquiátrica Posteriormente fez sua formação psicana lítica e ficou filiado à Sociedade Psicanalíti ca de Paris GREEN considera que os autores fundamen talmente importantes na sua forma de con ceber divulgar e praticar a psicanálise são 1 FREUD que mais profundamente o influ enciou especialmente no que se refere à descoberta das pulsões 2 KKLEIN no que se refere a suas concep ções relativas aos afetos fantasias símbolos 3 LACAN de quem GREEN destaca algumas contribuições originais como a do signifi cante da linguagem o Nome do Pai etc Em relação a LACAN GREEN deixa transpa recer certa ambigüidade porquanto ao mesmo tempo que demonstra grande ad miração pelo talento e interesse pela obra tece duras críticas e uma total desaprovação à prática psicanalítica de LACAN e chega a um ponto de afirmar que Lacan certamente conseguiu introduzir na psicanálise um fer mento destruidor e autodestruidor 4 WINNICOTT de quem GREEN valoriza o jogo do rabisco a lógica do paradoxo na qual era mestre além de muitas outras concep ções originais que GREEN emprega na teo ria e na prática Também frisa o quanto sem pre ficou impressionado com a concomitân cia de simplicidade e profundidade dos es critos de WINNICOTT 5 BION cujo pensamento original inteira mente diferente do modelo francês fasci nou GREEN facilitando o estabelecimento de forte empatia entre ambos Quanto à influ ência da obra de BION sobre ele GREEN so bretudo destaca as concepções referentes à função α É extensa a obra de GREEN inúmeros livros incontáveis artigos participações especiais em congressos internacionais e visitas a to das as sociedades do mundo psicanalítico Vale destacar que um aspecto essencial dos seus trabalhos consiste na dialética que mantém entre a representação e o afeto o trabalho do negativo o narcisismo de vida narcisismo de morte entre tantos outros Dentre os principais trabalhos de GREEN publicados em português cabe destacar os seguintes Concepções sobre o afeto O discurso vivo e a concepção psicanalítica do afeto onde ele resgata a importância do afeto do aparelho psíquico no que diz res peito às representações e também ao inte rior da linguagem que na prática analítica se comporta como um discurso vivo para o analista O trabalho do negativo Narci sismo de vida e narcisismo de morte onde consta o importante artigo A mãe morta Sobre a loucura pessoal aqui GREEN desen volve as conseqüências técnicas de sua con cepção do negativo particularmente com os pacientes borderline Conferências bra sileiras de André Green metapsicologia dos limites O complexo de castração Sexua lidade tem algo a ver com a psicanálise Um psicanalista engajado conversa com Manuel Macias Grinberg Leon Notável psicanalista argentino GRINBERG merece ser destacado por algumas signifi cativas contribuições que prestou à psica nálise 1 A descrição da culpa persecutória própria do predomínio da posição esquizoparanóide para distinguila da culpa depressiva 2 O conceito de contraidentificação pro jetiva 1962 que facilitou uma melhor compreensão do fenômeno da contratrans ferência 3 Sua conceituação de sonho evacuativo eliminação de elementos β para diferen ciálo do sonho elaborativo 4 Estudos sobre actings e somatizações baseados nas idéias de BION sobre a função evacuativa dos elementos β respectivamen te na conduta exterior ou no próprio corpo 5 Conceito de que o acting é um sonho dramatizado e atuado durante a vigília um 174 DAVID E ZIMERMAN sonho que conseguiu ser sonhado elabora tivamente 6 Descrição 1971 do sentimento de iden tidade que leva em conta a integração dos vínculos não somente os espaciais e tem porais mas também os sociais 7 Estudo e divulgação psicoterapia analíti ca de grupo 8 Um dos primeiros a estudar a obra origi nal de BION e juntamente com alguns cola boradores autor do livro Introdução às idéias de Bion 1973 roteiro para centros psicanalíticos do mundo todo tendo sido traduzido para inúmeros idiomas Sentindose acuado pelo movimento polí tico reacionário e ditatorial que reinava na Argentina na década de 70 GRINBERG jun tamente com toda sua família emigrou para a Espanha onde continua radicado Grupo A inauguração do recurso grupoterápico co meçou com J PRATT tisiologista americano que a partir de 1905 em uma enfermaria com mais de 50 pacientes tuberculosos criou intuitivamente o sistema de classes coletivas no qual os pacientes recebiam aulas e debati am seus problemas relativos à doença com prometendose a seguir um programa de medidas higiênicodietéticasmedicamentosas de recuperação PRATT conseguia bons resul tados mercê de seu carisma pessoal que gra tificava o lado dependente dos pacientes e através de um sistema de estimular a solidari edade entre os pacientes instituindo uma pre miação simbólica para os que cumprissem as tarefas combinadas Embora realizado em bases empíricas esse método serviu como modelo para organi zações similares como por exemplo a pres tigiosa Alcoolistas Anônimos iniciada em 1935 e que ainda hoje se mantém com popularidade crescente Muitos autores importantes contribuíram decisivamente para a construção do edifí cio teóricotécnicoprático das grupotera pias do qual apresentamos uma resumi díssima resenha Embora nunca tenha trabalhado direta mente com grupoterapias FREUD trouxe valiosas contribuições específicas à psico logia dos grupos humanos tanto através de manifestações de incentivo e de elogi os a uma visão unificada e indissociada entre indivíduo e grupo como também de forma explícita pelos seus cinco co nhecidos trabalhos As perspectivas fu turas da terapêutica psicanalítica1910 Totem e Tabu 1913 Psicologia das massas e análise do ego 1921 O fu turo de uma ilusão 1927 e Malestar na civilização 1930 sendo o de 1921 o mais importante deles como contribui ção ao entendimento da dinâmica grupal e às psicoterapias de grupo J MORENO médico romeno em 1930 intro duziu as técnicas psicodramáticas KLEWIN desde 1936 utilizou as vertentes da sociologia e introduziu a noção de campo grupal tendo se dedicado ao estudo das minorias raciais SHFOULKES psicanalista britânico des de 1948 introduziu conceitos eminente mente psicanalíticos à dinâmica de gru po os quais serviram como principal re ferencial de aprendizagem a sucessivas gerações de grupoterapeutas sendo con siderado líder mundial da psicoterapia analítica de grupo PICHON RIVIÈRE psicanalista argentino al tamente conceituado aprofundou o en tendimento do campo grupal com algu mas concepções originais além de ser criador da teoria e prática dos grupos operativos Psicanalistas franceses como DANZIEU e RKÄES abriram novos vértices de com preensão do aparelho psíquico grupal ao mesmo tempo que estão procurando de finir uma identidade própria à dinâmica de grupo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 175 Importantes contribuições de BION con forme verbete seguinte Grupo contribuições de BION Durante a década de 40 fortemente influ enciado pelas idéias de MKLEIN com quem se analisava na época especialmente as relativas ao desenvolvimento emocional pri mitivo e ao fenômeno das identificações projetivas BION partindo de suas experiên cias com grupos realizadas em um hospital militar durante a II Guerra Mundial criou e difundiu conceitos totalmente originais acer ca da dinâmica grupal Entre essas contribui ções vale destacar as suas concepções de que 1 Qualquer grupo movimentase em dois planos o primeiro que ele denominou gru po de trabalho opera no plano do consci ente Subjacente a esse existe o grupo de pressupostos básicos inconscientes que são de três tipos o de dependência o de luta e fuga e o de acasalamento ou apareamen to Ver os respectivos verbetes 2 Existe um conflito entre um indivíduo portador de idéias novas que BION cha ma de gênio e o establishment no qual está inserido Esta última concepção tem se revelado de imprescindível importância para a compreensão dos problemas que cercam as instituições 3 O grupo precede o indivíduo isto é as origens da formação espontânea de grupos têm suas raízes no grupo primordial tipo horda selvagem tal como FREUD a estudou 4 Os supostos básicos antes aludidos re presentam um atavismo dos grupos primi tivos incluídos os do reino animal depen dência durante certo tempo luta e fuga contra os predadores acasalamento para a sobrevivência da espécie que no curso de séculos acabam inscritos na mentalidade e na cultura grupal 5 A cultura grupal consiste em uma perma nente interação entre o indivíduo e o seu gru po ou seja entre o narcisismo e o socialismo 6 No plano transubjetivo esse atavismo grupal aparece sob a forma de mitos gru pais como são por exemplo os mitos de Eden Babel e Édipo 7 A cultura exige uma organização proces sada por meio da instituição de normas leis dogmas convenções e um código de valo res morais religiosos éticos e estéticos 8 O modelo proposto para a relação que o indivíduo tem com o grupo é o da relação continenteconteúdo a qual comporta três tipos parasitário comensal e simbiótico 9 A estruturação de qualquer indivíduo ne cessariamente requer sua participação em diferentes grupos onde sempre sofre a influ ência dos outros ao mesmo tempo em que também é agente ativo de transformações Grupos classificação dos A dinâmica do campo grupal potencialmen te é a mesma para qualquer tipo de grupo Na prática o critério que fundamentalmente os diferencia são as respostas do terapeuta às seguintes questões que espécie de obje tivos ele tem com um determinado grupo que mudanças pretende atingir com que tipo de técnicas aplicadas para qual tipo de paciente por qual tipo e por qual for mação e sob quais condições de trabalho Assim um dos critérios classificatórios ZI MERMAN 2000 consiste em uma divisão em dois grandes ramos genéricos grupos ope rativos e grupos terapêuticos Os grupos operativos que como o nome designa são os que operam numa deter minada tarefa de interesse direto de todos se subdividem em grupos operativos de ensinoaprendizagem principalmente atra vés da técnica dos grupos de reflexão gru pos institucionais empresas escolas igre ja exército instituições diversas grupos comunitários particularmente os voltados para programas de saúde mental Os grupos terapêuticos se subdividem em 1 Grupos de autoajuda de crescente apli 176 DAVID E ZIMERMAN cação na área médica em geral com dia béticos reumáticos idosos colostomizados etc e na área psiquiátrica alcoolistas anô nimos pacientes borderline etc 2 Grupos psicoterápicos os quais podem seguir os fundamentos de base psicanalíti ca do psicodrama da teoria sistêmica da cognitivocomportamental e uma aborda gem múltipla Cada um dos respectivos tipos de grupos específicos guardam características próprias de funcionamento e manejo técnico Grupo psicoterapia analítica de Existe uma longa polêmica entre os analis tas a grupoterapia inspirada e processada em fundamentos psicanalíticos pode ser considerada uma psicanálise verdadeira Pode ser chamada de grupoanálise Os autores se dividem nas respostas mui tos a maioria são francamente contra enquanto alguns importantes autores têm manifestado sua posição de que não se jus tifica a existência de uma concepção psica nalítica que faça uma separação entre os problemas que se passam nos indivíduos e nos grupos Vale citar a posição de J MCDOUGALL que em entrevista concedida à revista Gradiva n41 p16 1988 fez esta surpreendente declaração E tive o prazer de descobrir que as terapias de grupo toca vam em aspectos da personalidade que não eram notados na psicanálise individual Existem muitas variações na forma no ní vel e no objetivo grupoterápico os quais dependem fundamentalmente dos referen ciais teóricotécnicos adotados pelos respec tivos grupoterapeutas Na América Latina e em círculos psicanalíticos de alguns ou tros países que sofreram uma nítida influ ência kleiniana estes últimos referenciais fundamentaram toda a prática grupoana lítica de sucessivas gerações de grupotera peutas e isso prevalece até a atualidade embora venha se observando uma tendên cia à adoção de novos modelos de teoria e técnica De forma muito esquemática cabe consig nar as particularidades mais específicas que uma grupoterapia analítica possibilita ob servar 1 Visualização mais clara da interrelação íntima indissociada e continuada que exis te entre os indivíduos e os grupos 2 Todo indivíduo é portador de um grupo interno composto pelas representações e internalizações de aspectos das figuras de mãe do pai dos irmãos etc em perma nente interação entre si no interior do seu psiquismo e o quanto esse grupo interno extrapola para o mundo exterior modelan do e determinando suas escolhas objetais e seu padrão de interrelacionamentos 3 O grupo comportase como uma galeria de espelhos onde cada sujeito se reflete e é refletido pelos demais possibilitando per ceber com mais acuidade e nitidez os fenô menos dessa especularidade resultantes dos fundamentais processos de identificações projetivas e introjetivas que ocorrem per manentemente nos grupos 4 A distribuição de lugares posições fun ções e papéis que cada um assume em re lação aos demais o que possibilita o im portante trabalho analítico de ressignificar e transformar a estereotipia de certos papéis que um indivíduo pode estar programado para desempenhar durante a sua vida inteira 5 O grupo mais do que qualquer outra modalidade psicanalítica favorece a obser vação da normalidade e da patologia da comunicação verbal ou não verbal lógica ou primitiva que permeia a vida de todos nós a ponto de ser legítima a afirmativa de que o grande mal da humanidade é o pro blema do malentendido da comunicação 6 O grupo por si próprio comportase como função continente sendo que esse fato viabiliza um atendimento mais adequa do para pacientes muito regressivos como são os psicóticos egressos de hospitalizações VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 177 psiquiátricas borderline somatizadores crô nicos depressivos graves e os portadores de distintas modalidades do que atualmen te os autores chamam de patologias do va zio os quais muitas vezes não suportam as angústias de uma psicanálise individual 7 A terapia grupal favorece o assinalamen to de como os indivíduos e a totalidade do grupo estão executando suas capacidades potencialidades e funções nas quais o Ego consciente tem grande participação ativa como são as que se referem à percepção juízo crítico pensamento conhecimento criatividade comunicação discriminação responsabilidade cuidados corporais ação motora etc 8 Outro ponto de especial relevância que surge muito claramente no campo grupal é o que diz respeito aos quatro aspectos do vínculo do reconhecimento ver este verbete 9 Mais do que na terapia individual a gru poterapia possibilita evidenciar três aspectos singulares a o fenômeno que FREUD descre veu como identificação coletiva que exem plificou com a possibilidade de uma propa gação em cadeia de uma manifestação histé rica b a ocorrência do complexo fraterno que sabidamente representa um aspecto de rele vante importância relativamente à conflitiva de raízes primitivas entre irmãos c a existên cia de fantasias compartilhadas entre as pes soas um aspecto que está merecendo espe cial atenção da psicanálise contemporânea 10 Em muitos aspectos a terapia analítica grupal apresenta características singulares em outros a análise individual atinge abor dagens e um nível de profundidade que a grupal não alcança e em muitos outros aspectos ambas as terapias se sobrepõem Sugestão de leitura Fundamentos básicos das grupoterapias ZIMERMAN 2000 MESH ANALYSIS VERSION WITH CURRENT SOURCE n H BION A letra H aparece com freqüência nos tex tos de BION com dois significados distintos 1 Na Grade ocupa a oitava fileira desig nando a etapa evolutiva da capacidade para pensar que atingiu um alto grau de abstra ção ou seja a condição de realização de cálculos algébricos 2 Um segundo significado referese ao uso que BION faz para designar o vínculo do ódio a letra H é a inicial da palavra inglesa hate ódio Handling WINNICOTT Expressão de WINNICOTT para destacar a im portância da maneira com que a mãe dis pensa ao bebê os cuidados que executa com as suas mãos handling ou seja como ela manipula e maneja os movimentos perti nentes à higiene corporal da criança além dos demais contatos físicos WINNICOTT dá grande realce ao aspecto da identificação da mãe com o recémnascido e também confere especial importância ao fato de o handling juntamente com o holding cons tituírem fatores básicos na construção do processo de personalização outro conceito original de WINNICOTT Hans O menino ou O pequeno FREUD Ver o verbete Historiais clínicos Hartmann Heinz Nascido em Viena originário de uma refi nada elite burguesa HHARTMANN 1894 1970 é um nome importante na história da psicanálise por ser o fundador da Escola da Psicologia do Ego e um expoente entre os psicanalistas norteamericanos HART MANN era médico psiquiatra e fez a sua se gunda análise com FREUD que o considera va um de seus melhores discípulos dentre aqueles que se convencionou chamar de psicanalistas da segunda geração De Viena foi a Paris onde viuse involunta riamente envolvido em querelas políticas da Sociedade Psicanalítica de Paris tendo como centro a figura de LACAN o que os tornou inconciliáveis desafetos com troca de recíprocos insultos públicos Em 1939 acompanhado de LOEWENSTEIN analista de LACAN com o qual teve um sério desenten dimento HARTMANN foi forçado a se evadir da França Com uma passagem pela Suí ça emigrou para os Estados Unidos em 1941 radicandose em Nova York onde tornouse o principal continuador da orto H 180 DAVID E ZIMERMAN doxia freudiana ao lado de ANNA FREUD Chegou à condição de presidente da IPA cargo que exerceu de 1953 a 1959 HARTMANN legou uma obra considerável sendo seu livro mais destacado A psicolo gia do ego e o problema da adaptação Heimann Paula Nascida na Polônia de pais russos PHEIMANN 18891982 mudouse para a Alemanha onde fez a sua análise com THE ODOR REIK e tornouse membro da Socieda de Psicanalítica Alemã Em 1932 foi obri gada a emigrar e a convite de EJONES ra dicouse em Londres integrandose à So ciedade Britânica de Psicanálise Contraiu grande e íntima amizade com MKLEIN de quem foi confidente e discípula e com quem fez uma segunda análise Mostrouse total mente leal a MKLEIN por ocasião das Contro vérsias entre os grupos kleiniano e anafreudi ano e tornouse uma das analistas didatas mais importantes da sua Sociedade No en tanto em 1949 entrou num sério conflito com MKLEIN que se opunha à apresenta ção e publicação de seu trabalho sobre con tratransferência hoje consagrado Houve uma ruptura definitiva entre ambas HEI MANN fazia queixas de que se sentia tratada por KLEIN como escrava custandolhe a rebeldia e forte rejeição do grupo kleinia no o que a levou a integrarse no Grupo Independente da Sociedade Britânica Dentre os inúmeros trabalhos publicados cabe destacar On countertransference 1950 que juntamente com um trabalho similar de HRACKER na mesma época abriu as portas para a utilização da contratrans ferência como um importante instrumento da técnica psicanalítica Heredoconstitucionais fatores FREUD FREUD sempre deu um destaque especial ao que ele chamava de equação etiológica que de forma similar também denomina va série complementar designando ambas as expressões a série de três fatores essen ciais na formação do psiquismo normal ou na etiologia das psicopatologias 1 Os heredoconstitucionais Anlage é a denominação alemã 2 As antigas experiências emocionais vivi das com os pais 3 As experiências traumáticas da realida de da vida adulta O padrão de atividade dos recémnascidos revela acentuadas diferenças individuais o que pode ser observado é evidente quan do se trata de irmãos Assim um mesmo estímulo exterior que dificilmente possa ti rar um bebê de sua fleuma é capaz de pro vocar noutro bebê uma forte reação de agi tação Igualmente são significativamente muito variáveis as formas e a duração das mamadas o funcionamento do aparelho digestivo o ritmo do sono ou despertar a maneira de chorar etc A fome e a dor são as sensações corporais que mais freqüente mente provocam o pranto do bebê que é um sinal de linguagem primitiva para que a mãe se ocupe dele Talvez a demonstração mais evidente no campo da psicopatologia da existência e influência dos fatores heredoconstitucionais consiste nas indiscutíveis pesquisas no cam po da psiquiatria que comprovam uma ní tida transmissão hereditária de síndromes como a da depressão entre outras mais Não obstante os modernos estudos gené ticos rejeitam como nãocientíficas as hipó teses de que haja uma transmissão heredi tária de características adquiridas de gera ções anteriores como LAMARK postulava e FREUD tendia a acreditar assim como tam bém descartam a noção de que para deter minado gene corresponderia uma caracte rística comportamental especificamente definida Por outro lado o mesmo rigor científico dessas investigações tem demonstrado que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 181 existe de fato uma predisposição constitu cional inata porém passível de mudanças pelas influências ambientais Dizendo com outras palavras a dimensão da potenciali dade da criança não é totalmente preesta belecida geneticamente antes tratase de uma dimensão potencial ou seja os po tenciais da criança a serem desenvolvidos dependerão em grande parte da responsi vidade da mãe e do ambiente Hermafroditismo A conceituação psicanalítica desse termo está diretamente ligada a sua formação eti mológica a qual alude ao personagem da mitologia grega Hermafrodito que recebeu esse nome por ser filho dos deuses Hermes e Afrodite Segundo o mito ele foi amado por uma ninfa que rogou aos deuses que o unissem num só corpo de forma que o ra paz ficou assim dotado de um pênis e dois seios Assim hermafroditismo designa o estado físico ou mental pelo qual o sujeito seria portador dos dois sexos simultaneamente A bissexualidade real é muito rara na esca la zoológica limitada a poucos animais das espécies menores como os caracóis e as minhocas Na espécie humana embora embriologicamente haja uma origem co mum a ocorrência real de alguém nascer com uma dupla genitália é de extrema rari dade sendo os casos descritos explicados pela aberração anatômica conhecida na medicina como hipospadia No entanto a protofantasia do ser humano de possuir os dois sexos aparece em muitas narrativas mitológicas e contos fantásticos É possível que o próprio FREUD ao postular que o clitóris da menina seria um pênis cas trado também estaria inconscientemente expressando a fantasia universal de unifi car os dois sexos Levando em conta o de sejo contido nessa fantasia os textos psica nalíticos comumente empregavam os ter mos hermafroditismo e bissexualidade pra ticamente como sinônimos No entanto a psicanálise contemporânea se inclina por estabelecer uma distinção entre hermafroditismo ou intersexualidade bisse xualidade defeito genético transexualidade travestismo homossexualismo e um transtor no de identidade de gênero sexual De forma genérica a fantasia predominante é que a posse do sexo duplo garantiria ao sujeito o eterno desejo tanto do pai como da mãe sem ter que renunciar a nada e a ninguém O transexualismo caracterizase principal mente pela firme convicção do sujeito de que pertence ao sexo oposto ao que lhe é realmente o biológico Isso cria um grave problema inclusive de natureza ética pela demanda dessas pessoas de apelar para a cirurgia de emasculação ou de implante de genitália masculina Hermenêutica Expressão bastante freqüente na literatura psicanalítica onde alude à interpretação do sentido das palavras e dos textos A herme nêutica sempre esteve relacionada com a interpretação das Escrituras O termo her menêutica também está ligado ao filósofo HEIDEGGER que o concebeu sob a perspec tiva dos múltiplos sentidos do ser das coi sas intramundanas e da diferença entre es tas e o sentido do ser da criatura humana tal como é enfatizado por alguns autores como WINNICOTT e BION O vocábulo hermenêutica deriva de Her mes o deus grego representado com asas no chapéu ou nas sandálias encarregado da mobilidade e de levar mensagens Como mensageiro dos deuses Hermes procurou transmitir aquilo que estava além da com preensão humana A definição de hermenêutica é regida por alguns princípios básicos como 1 Os conhecimentos novos derivam dos anteriores 182 DAVID E ZIMERMAN 2 Mesmo que o intérprete de determinado texto tenha pontos de vista particulares deve deixálos de lado para entender o que realmente os outros pensam e querem trans mitir 3 Todo conhecimento permite diferentes perspectivas 4 É essencial a harmonia das partes com o todo 5 O conhecimento está aberto em ambas as pontas de forma que por mais comple to que seja sempre permite transformações e melhorias 6 Através do intérprete podese saber mais de um texto do que o próprio autor sabia 7 Recusarse a ir além do que explicitamen te um texto diz é na verdade uma forma de idolatria 8 Os textos devem ser interpretados e com preendidos no contexto de uma dimensão histórica 9 As diferenças culturais entre o texto e aquele que o interpreta exigem uma rigo rosa aplicação do método hermenêutico A psicanálise do ponto de vista da herme nêutica está situada entre as ciências hu manas embora alguns autores partindo de pontos de vista diferentes discordem dessa última afirmativa Hesitação WINNICOTT Ao descrever o jogo da espátula que quan do pediatra praticava com as crianças que atendia WINNICOTT observou que havia um período de hesitação isto é o bebê inicial mente mantinha o corpo imóvel mas não rígido e aos poucos ia tomando coragem até se descontrair e brincar com o objeto reluzente Partindo daí formulou o conceito de que na situação analítica também deve existir um período de hesitação por parte do ana lisando diante da situação nova e desco nhecida Essa conceituação de WINNICOTT ganha importância na técnica e na prática analítica porquanto acrescenta algo de novo ao clássico conceito de resistência Hipérbole movimento de BION BION emprega este termo que nos dicioná rios significa figura que engrandece ou di minui exageradamente para designar um tipo de transformação na qual há uma in tensa deformação dos fatos originais Na situação clínica a hipérbole pode se manifestar como tentativa desesperada de o paciente se fazer entender pelo seu ana lista através do exagero dos sintomas do uso superlativo da linguagem e por meio de identificações projetivas excessivas Isso costuma acontecer mais freqüentemente com pacientes que não estão se sentindo escutados tampouco compreendidos pelo seu terapeuta BION destaca que nesses casos o raciocí nio do sujeito é algo como se não consi go a qualidade posso tentar a quantidade se não consigo ser claro ou não me fazer compreender verbalmente ainda me resta o recurso de me apoiar sobre as ações que falam mais alto do que as palavras Hipnose hipnotismo Essas palavras derivam do termo grego hip nos que significa sono de sorte que hipno se designa um estado alterado de consci ência provocado pela sugestão de uma pes soa em outra enquanto sonambulismo alu de mais diretamente a um conjunto de téc nicas que permitam provocar um estado de hipnose com finalidades terapêuticas Aproximadamente um século antes do ad vento da prática do hipnotismo estava em grande prestígio o mesmerismo do nome de seu introdutor o médico austríaco An ton Mesmer Esse método consistia em através de uma ritualística de clima de ma gia aproveitar os fluidos do magnetismo animal que naturalmente emanaria das VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 183 pessoas Ao mesmo tempo em que as socie dades médicas da França passaram a conde nar esse método começou a florescer o em prego da indução hipnótica inicialmente para fins de proporcionar espetáculos públicos e num segundo momento como um método científico de pesquisa e tratamento Assim em Paris pontificava o mestre Char cot que na Escola de Salpetrière chamava a atenção do mundo científico para seus experimentos hipnóticos enquanto em Nancy brilhavam LIÉBAULT e BERNHEIM que formaram a Escola de Nancy Estabeleceu se uma intensa rivalidade e polêmica entre os dois grupos FREUD em dois momentos distintos visitou ambos os serviços e obser vou detidamente a prática e a fundamen tação teórica de cada um Na verdade FREUD estava mais interessado em obter subsídios sobre os mistérios do psi quismo inconsciente que os experimentos hip nóticos lhe propiciavam do que propriamen te na aplicação desse recurso em sua prática clínica até mesmo porque ele se reconheceu como sendo um mau hipnotizador Por isso muito cedo abandonou o método do hipno tismo e o substituiu pela catarse ou abrea ção por meio da técnica da livre associação de idéias o que lhe abriu as portas para a busca da decifração dos sonhos Em Estudos sobre a histeria 1895 escrito juntamente com FREUD BREUER relata a ex periência do uso terapêutico do hipnotis mo com sua paciente ANNA O a qual como os fatos posteriores vieram a confirmar não foi bem sucedida porquanto os resultados são temporários Além disso o uso conti nuado da sugestão ativa apresenta o incon veniente de hipertrofiar no paciente um estado de passividade e de uma crescente dependência do outro Hipocondria Essa palavra provém dos étimos gregos hipo abaixo de condros costela numa clara alusão à localização do fígado órgão ao qual os antigos e ainda hoje por parte de muitos costumavam imputar a responsabili dade pela maioria dos males orgânicos Hipocondria refere uma condição imaginá ria na qual o sujeito cronicamente sofre dores ou outros desconfortos atribuídos a determinados órgãos geralmente de loca lização vaga e errática Comumente as sen sações corporais vêm acompanhadas por um subjacente temor de uma ameaça de doença mortal Pelos referenciais kleinianos a etiologia da hipocondria reside no fato de os obje tos persecutórios ficarem instalados nos órgãos de onde emanam as aludidas ameaças de morte contra o sujeito Do ponto de vista dos postulados freudianos a explicação fundamentase na forma de como certos órgãos estão representados no ego do sujeito Hipótese definitória BION Essa expressão ocupa a coluna 1 da Gra de de BION e consiste em indicar que o sujeito usa o pensamento formulando hi póteses que constituem uma definição da sua verdade naquele momento da sessão analí tica Por exemplo o analisando sem motivo aparente começa a sessão dizendo tenho certeza que o senhor não gosta de mim O verbo definir provém de de finis ou seja refere que foi dado um fim de sorte que nos casos mais regressivos em que o indivíduo funciona com protopensamentos ou seja com elementos β na Grade a intersecção das respectivas fileira e coluna seria A1 suas afirmativas adquirem a na tureza de uma verdade dogmática satura da que não permite contestação Isso representa um desafio para o analista no sentido de conseguir com sua atividade interpretativa que o paciente entre em es tado de dúvida sobre a sua saturada hipó tese definitória no que o senhor se baseia 184 DAVID E ZIMERMAN para afirmar com tanta convicção que eu não gosto de si Histerias A grafia desse termo no plural se justifica pelo fato de que histeria costuma aparecer nos textos psicanalíticos com formas e sig nificados bastante distintos Sua conceitua ção abrange muitas modalidades e graus tanto de traços caracterológicos como de quadros clínicos De fato a histeria é o campo mais amplo da psicanálise como também o mais pró ximo do que convencionalmente se consi dera normalidade Desde épocas primitivas esteve sempre cercada de mistérios e tabus O próprio nome histeria etimologicamente derivado de hysteros útero em grego já dá uma idéia clara de que os antigos atribuí am unicamente às mulheres a condição de portadoras desse transtorno psicológico Mais ainda havia a crença de que estariam sendo presas de maus espíritos e por isso deveriam ser banidas da comunidade ou submetidas a rituais de exorcismo por meio de torturas Para exemplificar a influência que o grau quantitativo exerce na determinação do tipo da histeria clínica cabe mencionar a conhe cida subdivisão de EZETZEL 1968 que pro põe quatro subtipos de pacientes histéricas as quais assim denominou 1 As verdadeiras ou boas histéricas que atingem a condição de casar ter filhos bom desempenho profissional e que se benefici am com a psicanálise 2 Outras pacientes também verdadeiras histéricas porém já num nível mais regres sivo com casamentos complicados geral mente de natureza sadomasoquista que não conseguem manter por muito tempo um satisfatório compromisso com o trata mento psicanalítico 3 Pacientes que manifestam sintomas his téricos que lhes conferem uma fachada de pessoa histérica que na verdade encobre uma subjacente condição bastante depres siva sendo que essas pessoas não se com pletam em nenhuma área da vida 4 As pseudohisterias presentes em perso nalidades muito mais regressivas cuja ex trema instabilidade emocional justifica a antiga denominação de psicose histérica Segundo ZETZEL a indicação de psicanálise para as duas últimas formas de personali dade histérica especialmente a última se ria muito discutível Cabe acrescentar que a compreensão di nâmica dos autores quanto à etiologia da histeria também varia bastante Há os que priorizam pólo fálico edípico ou até lhe conferem caráter de exclusividade enquan to outros valorizam mais enfaticamente o pólo oral narcisístico Juntamente com BREUER FREUD publicou Estudos sobre Histeria 1895 numa épo ca em que recém estava esboçando suas idéias psicológicas ligadas ao dinamismo da sexualidade reprimida no inconsciente idéias essas que chocaram a comunidade médica de então que considerava a histe ria uma doença degenerativa que seria causada principalmente pela sífilis No referido livro além do caso de Anna O de BREUER FREUD descreve quatro pacien tes histéricas Emmy von N Lucy R Ka therina e Elisabeth oportunidade em que começa verdadeiramente a encontrar o berço da psicanálise e assim abrir as por tas para novos descobrimentos em sucessi vos trabalhos Seu estudo mais notável acer ca da histeria publicado em 1905 é co nhecido como caso Dora ver o verbete Historiais clínicos A partir desse caso as sim como de outros tantos trabalhos FREUD traz novos aportes teóricos e técnicos sobre a histeria Sobremodo valorizou a sexualidade reprimida gravitando em torno da conflitiva edípica além de sempre destacar a existên cia de uma inveja do pênis de onde se origi naria um complexo de masculinidade VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 185 Nos primeiros tempos FREUD também es tabeleceu uma diferença entre a etiologia da histeria e a da neurose obsessiva na his teria o trauma sexual ocorre por volta dos quatro anos e é experimentado passivamen te pela criança enquanto na neurose ob sessiva a participação da criança no abuso sexual seria ativa e por isso ela vem a so frer de futuras autorecriminações ABRAHAM seguindo os passos de FREUD trou xe uma significativa contribuição ao subdi vidir as histerias em passivas e ativas Con siderou de tipo passivo as das mulheres manifestamente dependentes e de tipo ati vo as que manifestam características fáli cas e que são extremamente competitivas com os homens REICH 1933 descreveu a personalidade fáliconarcisista que considerava como constituindo uma categoria psicopatológi ca própria situada em algum lugar inter mediário entre a personalidade obsessivo compulsiva e a histeria Na atualidade essa denominação de fáliconarcisista que ca racterizava sobretudo uma forte agressivida de viril caiu em desuso tendo sido suas ca racterísticas clínicas absorvidas dentro da ca tegoria mais ampla de caráter histérico MKLEIN esvaziou a importância da geni talidade na histeria ao sustentar enfati camente a arcaica etiologia oral dos con flitos a ela inerentes assim valorizando as angústias paranóides e depressivas da criança em relação à mãe Para a escola kleiniana em grande parte a histeria se ria uma organização defensiva contra uma psicose subjacente FAIRBAIRN foi um dos autores que enfatizou a importância decisiva do desenvolvimen to emocional primitivo na etiologia das his terias Correlacionou a oralidade com a genitalidade que existe nesses casos como sintetiza nessa bonita frase nas histerias a genitalidade se expressa pela oralidade enquanto a oralidade procura satisfação pela via da genitalidade GREEN 1974 também destaca o aspecto defensivo da histeria Considera porém que o escudo protetor representado pelo caráter exibicionista e histriônico típicos do histérico visam sobretudo a protegêlo contra seus núcleos depressivos com vis tas a equilibrar sua autoestima sempre ameaçada porquanto no fundo a pessoa histérica é extremamente frágil e instável LACAN ao estudar as histerias retorna a FREUD mas o faz postulando que não é o pênis como órgão anatômico que a his térica busca de forma afanosa mas sim o falo símbolo do poder que comumente mas não exclusivamente a criança atri bui ao pênis do pai No imaginário da criança o falo designa justamente o que falta à mãe e que vem a ficar representa do no seu ego como uma ausência uma falha uma falta e por essa razão ela pode passar a vida inteira acossada por desejos e demandas para preencher esse vazio imaginário Em resumo na atualidade à medida que escasseiam cada vez mais as histerias com os sintomas dramáticos dos primeiros tempos de FREUD em proporção inversa abundam os escritos sobre os transtornos da personaliade histérica No entanto os autores não rejeitam as descobertas an teriores e tampouco deixam de lado o desejo edípico com toda sua constelação de conseqüências embora esteja haven do uma crescente ênfase na organização narcisista da estrutura histérica Histerias tipos de A histeria é tão plástica que a rigor pode se dizer que de alguma forma ela está pre sente em todas as psicopatologias No en tanto o termo histeria deve ficar restrito aos quadros sintomatológicos e caracterológi cos que obedecem a uma estruturação pró pria e conservam uma série de pontos em comum Dentre estes cabe destacar os se 186 DAVID E ZIMERMAN guintes aspectos que virtualmente estão sempre presentes 1 Um limiar de tolerância às frustrações bastante baixo 2 O mecanismo defensivo por excelência consiste no uso de repressões 3 O uso consistente de forma manifesta ou dissimulada de alguma forma de sedução 4 Uma supervalorização do corpo tanto nos exagerados cuidados estéticos como na possibilidade de surgimento de soma tizações 5 Discurso em geral entremeado de quei xas demandas insaciáveis e o estilo da comunicação caracterizado por uma for ma superlativa algo dramática na forma de expor os fatos Na situação analítica nos casos mais marcantes de histerias em todas as sessões surge o que se pode cha mar de o drama do dia 6 A ânsia para obter alguma forma de reconhecimento dos outros domina a maior parte do psiquismo 7 Grande habilidade no uso de uma técni ca de provocação a qual consiste em indu zir as pessoas com quem convivem a mal tratálas de alguma forma assim confirman do a sua arraigada tese de que são eternas vítimas de injustiças e abandonos A própria classificação nosológica das do enças mentais DSM não fica restrita a um único eixo assim partindo do eixo I indica os sintomas a psicopatologia as histerias mantêm a velha divisão nos dois tipos denominados como conversivas e dissociativas enquanto que visto do eixo II designa a caracterologia transtornos de personalidade o conceito é mais abrangente e inclui as denominações de transtornos de personalidade histérica personalidade infantildependente perso nalidade fáliconarcisista traços histéricos em outras personalidades transtornos de personalidade histriônica Os termos acima mencionados aparecem mais explicitados nos verbetes específicos Histeria de angústia FREUD Termo bastante empregado nos primeiros tempos da psicanálise e na atualidade em desuso foi introduzido por FREUD para defi nir uma neurose cujo sintoma principal é o de fobia porquanto ele queria acentuar a semelhança estrutural que essa neurose guarda com o da histeria conversiva Histerias conversivas Expressão referente ao fato de que os con flitos psíquicos sofrem uma conversão nos órgãos dos sentidos sob a forma de sinto mas de cegueira surdez perda de tato alu cinoses etc e no sistema nervoso volun tário sintomas de contraturas musculares paralisias motoras etc A conversão segue a mesma deformação sim bólica dos sonhos muitas vezes os sintomas conversivos deixando transparecer com rela tiva facilidade o conflito subjacente Um determinado sintoma conversivo pode conter muitos significados como acontecia com a tosse que acometia a célebre paci ente Dora a qual representava três aspec tos 1 um simbolismo de sentimentos se xuais agressivos narcisistas e melancólicos 2 uma identificação com a tosse da senho ra K sua rival sexual 3 a aquisição de um ganho secundário Por outro lado cabe consignar mais três as pectos da conversão 1 Não é específica exclusivamente das histerias 2 O diagnós tico diferencial com doenças orgânicas hi pocondria ou manifestações psicossomáti cas nem sempre é fácil 3 A psiquiatria moderna inclinase acentuadamente para a postulação de que não há uma relação clínica ou dinâmica direta entre os sintomas histéricos conversivos e os transtornos de personalidade histérica Histerias dissociativas Os sintomas clínicos mais comuns que ca racterizam esses quadros dissociativos con VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 187 sistem numa espécie de dissociação da mente consciente sob a forma de desmai os desligamentos tipo ausências ataques que representam um simulacro de crises epilépticas estados de belle indiference sensações de despersonalização e de estra nheza estados crepusculares e mais tipi camente os conhecidos casos de persona lidade múltipla como aparece nas Três faces de Eva escrita automática etc Esses últimos casos devemse ao fato de que diversas representações distintas coexistem dentro do ego dissociadas entre si e que emergem separadamente na consciência de acordo com determinadas necessidades e circunstâncias O termo dissociação aqui empregado não deve ser confundido com o mecanismo de defesa primitivo e inconsciente dissocia ção tal como definido por MKLEIN Histérica transtornos de personalidade Baseados na classificação do DSM alguns autores consideram útil diferenciar personali dade histérica de personalidade histriônica embora às vezes elas se superponham As sim GABBARD 1992 considera que a forma histérica é a mais sadia delas porquanto seus pontos de fixação estão radicados na fase fá licoedipiana enquanto a forma histriônica está mais fixada nos primórdios orais Os transtornos de personalidade histérica constituem o protótipo atual dentro do uni verso das histerias e manifestamse por um conjunto de características como as que estão mencionadas no verbete histeria Também é bastante útil estabelecer uma diferença entre os tipos de personalidade histérica denominadas caráter fáliconarci sista e a personalidade infantil Histérica personalidade infantil Nos transtornos de personalidade do tipo histérico do DSM III os termos personali dade histérica histriônica ou psicoinfantil aparecem intimamente conectadas o que permite deduzir que as pessoas portadoras de um caráter infantildependente sejam aparentadas com a histeria embora guar dem algumas características específicas como 1 A transparência de uma labilida de emocional difusa e generalizada 2 Contrariamente ao tipo fáliconarcisista essas personalidades infantis imaturas cos tumam ser dependentes e submissas 3 Apresentam demandas regressivas infan tis oralagressivas 4 Uma conduta social inapropriada com prejuízo do senso crítico 5 Os desejos exibicionistas têm um caráter sexual menor do que nas marcadamente histéricas mas podem descambar para os extremos de uma pseudohipersexualidade ou o de uma inibição sexual 6 A imitação prevalece sobre a verdadeira identificação Histérico caráter fáliconarcisista EMIILCE BLEICHMAR Embora tenha caído em desuso alguns autores como EBLEICHMAR 1988 fazem questão de conservar esse termo porque designa uma configuração típica de mulhe res histéricas caracterizadas sobretudo por ocupar uma posição de poder de privilé gio e de superioridade que lhes garanta se rem admiradas reconhecidas como valio sas e possuidoras de atributos que as ele vem a um nível de perfeição Uma fixação das meninas nessa etapa fálico edípica gera uma rivalidade com os homens freqüentemente com desejos de castração e de morte deles Essa autora faz o interessante assinalamento de que o caráter fáliconarci sista não deve ser visto unicamente como ori ginário de conflitos edipianos mas também deve ser levado em conta que essa mulher briga porque reivindica ter os mesmos direi tos que a cultura concedeu aos homens 188 DAVID E ZIMERMAN Comentário Cabe acrescentar que existe um risco nada raro de rotular uma mulher de fálica unicamente com base nos crité rios antigos porquanto o papel da mulher na sociedade moderna mudou completa mente e seria lamentável classificar uma mulher dinâmica forte emancipada e de terminada como fáliconarcisista Histriônica transtornos da persona lidade Forma mais regressiva da histeria sendo suas manifestações muito mais floridas que a das histéricas a ponto de alguns autores apontarem para um íntimo parentesco en tre o histrionismo e os estados borderline Destarte a menina estabelece uma equa ção de igualdade sincrética entre o seio e o pênis de tal sorte que quando crescer vai envolverse em comportamentos sexuais promíscuos e insatisfatórios pois o pênis masculino que ela tanto almeja não passa de um fetiche do materno seio feminino em uma busca interminável e sempre in completa O termo histrião na Roma antiga designa va os atores que representavam farsas bu fonas ou grosseiras de modo que nas his terias essa palavra alude às pessoas que representam ser aquilo que de fato não são fingem são falsas e teatrais inclusive são impostoras na sexualidade por meio da aparência de uma hiperfeminilidade ou no caso dos homens de uma hipermasculini dade História do movimento psicanalítico Sobre a FREUD 1914 Este trabalho constante do volume XIV da Standard Edition foi redigido em 1914 e está composto por três partes A finalidade precípua do artigo foi estabelecer com cla reza os postulados e hipóteses fundamen tais da psicanálise mostrar que as teorias dos dissidentes ADLER e JUNG eram totalmen te incompatíveis com eles e daí deduzir que chegaríamos a uma confusão generalizada se todas estas diferentes concepções rece bessem o mesmo nome A fim de tornar os princípios essenciais da psicanálise perfei tamente simples FREUD descreveu a histó ria do desenvolvimento desde seu início pré analítico História de uma neurose infantil da FREUD 1918 Muito mais conhecido como o caso do Ho mem dos Lobos é considerado o mais mi nucioso e importante de todos os casos re latados por FREUD Tratase de um jovem russo na ocasião muito rico que iniciou sua análise com FREUD em 1910 a 1914 por sentirse completamente incapacitado e in teiramente dependente dos outros sintomas que surgiram após uma infecção gonocóci ca aos 18 anos Esse trabalho teve um significado especial para FREUD porquanto conseguiu compro var a etiologia fundamental da sexualidade na determinação da psicopatologia do pa ciente assim respondendo de forma cabal às duras contestações do dissidente e desa feto JUNG além de lhe possibilitar lançar luz sobre a organização inicial oral da libido Da história abrange nove partes que vão especificadas a seguir Parte I Comentários introdutórios a res peito do Homem dos Lobos Nessa parte aparece a famosa posição de FREUD que anunciou a seu paciente que o tratamento precisava terminar numa data prefixada A pressão do limite estabelecido fez a resis tência do paciente e sua fixação à doença ceder segundo FREUD Parte II Levantamento geral do meio am biente do paciente e da história do caso Aí aparece nitidamente um abandono real por parte tanto de um pai deprimido quan to de uma mãe negligente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 189 Parte III A sedução e suas conseqüências imediatas Quando era um menino de três anos e pouco foi induzido a práticas sexu ais pela irmã mais velha Parte IV O sonho e a cena primitiva O nome de Homem dos Lobos deriva de um sonho no qual lobos empoleirados numa nogueira de fronte a sua janela observavam uma cena pri mária A interpretação desse sonho por parte de Freud durou vários anos da análise Parte V Algumas questões Parte VI A neurose obsessiva Parte VII O erotismo anal e o complexo de castração Parte VIII Novo material do período da cena primitiva Solução Parte IX Recapitulação e problemas Esse caso aparece no volume XVII da Stan dard Edition brasileira p19 e ss Ver o verbete seguinte historiais clínicos Historiais clínicos Ninguém contesta que a psicanálise repre senta uma continuada e recíproca troca entre a teoria e a técnica uma levando a transformações e avanços da outra inter mediadas tanto quanto possível pela prá tica clínica dos seus principais autores As sim a história da psicanálise registra alguns historiais clínicos que se tornaram verda deiros clássicos por permitir uma leitura atu alizada que leve a reflexões as mais varia das que contestam concordam ou modifi cam as concepções teóricas e o manejo téc nico contidos nos relatos originais Dentre os mais importantes cabe destacar aos his toriais que seguem BREUER descreveu no livro Estudos sobre a histeria 1895 sua experiência com Anna O uma inteligente paciente judia de 21 anos cujo verdadeiro nome era Bertha Pappenheim Sofria de sintomas histéricos múltiplos como transtornos da sensoriali dade distúrbios da visão da motricidade contraturas musculares e queixas de para lisias da linguagem misturava diversas lín guas e durante um tempo esqueceu seu original idioma alemão e trocouo pelo in glês além de uma tosse persistente BREUER após internála num sanatório utilizou na maioria das entrevistas o hipnotismo Se gundo seu relato de então graças à abreação de suas lembranças traumáticas Anna O teria se reencontrado consigo mesma voltou a fa lar o idioma alemão e curouse da paralisia A outra face da verdade só foi revelada muitos anos após por E JONES ao publicar que Anna contraiu uma gravidez imaginária cuja pater nidade atribuía a Breuer que então interrom peu o tratamento com ela FREUD no mencionado Estudos sobre a his teria publicou alguns casos de moças his téricas como os de Emmy von N Lucy R Katharina Elisabeth von R além de rela tos muito breves de Mathilde H Rosália H e Cecília M Dentre os casos acima o de Elisabeth von R é o mais conhecido e importante Trata se de uma moça de 24 anos que em 1892 foi consultar com FREUD devido aos sinto mas de dor nas pernas e dificuldade para caminhar Em pouco tempo FREUD atribuiu esses sintomas a uma etiologia de sexuali dade reprimida o que lhe pareceu compro vado quando ao pressionar a coxa da paci ente ela experimentou um prazer erótico que estava sonegado no consciente Percebeu que Elisabeth estava apaixonada pelo cunhado e que rechaçava de sua consciência os desejos de morte que ela sentira em relação à irmã que falecera de uma doença orgânica O reconhecimento desse desejo segundo FREUD possibilitou a cessação dos sintomas e ele a considerou curada EROUDINESCO 1994 relata que muito tempo após Ilona Weiss esse era o verdadeiro nome dessa paciente afirmou que o médico barbudo de Viena a quem a tinham encaminhado havia tentado contrariando sua vontade convencêla de que estava apaixonada pelo cunhado 190 DAVID E ZIMERMAN O importante desse historial é que FREUD atendendo ao pedido da paciente quase nada utilizou do método hipnótico com ela Considerou esse caso como o primeiro a ser tratado e curado pelo método da psica nálise através da livre associação de idéias Outro aspecto importante é que esse caso propiciou que FREUD começasse a investi gar o fenômeno da resistência que o incons ciente opõe ao acesso do reprimido ao cons ciente Miss Lucy uma governanta inglesa con tratada por uma família vienense consul tou FREUD em 1892 devido a uma alucina ção olfativa na qual ela sentiase persegui da pelo cheiro de pudim queimado Utili zando o método empregado com Elisabe th FREUD fêla reconhecer o amor inconsci ente que ela sentia pelo patrão e que manti nha fortemente recalcado no inconsciente Rosália H uma jovem de 23 anos sen tiase tomada por uma sensação de sufo camento quando quis tornarse cantora Esse sintoma ficou resolvido depois que a paciente fez a catarse da lembrança de uma sedução por parte de um tio que tentou abu sar sexualmente dela quando era menina Mathilde H era uma moça de 23 anos deprimida e com queixa de paralisia par cial numa perna FREUD expôs esse caso em poucas linhas e atribuiu a cura conseguida ao método da abreação No entanto FREUD publicou cinco grandes e famosos casos clínicos até hoje ampla mente debatidos e fonte de uma continui dade de estudos os mais diversos 1 O caso Dora 2 O pequeno Hans 3 O homem dos ratos 4 O caso Schreber e 5 O homem dos lobos Caso Dora O título original desse histori al clínico é Fragmentos da análise de um caso de histeria Escrito em 1901 foi pu blicado somente em 1905 Com ele FREUD pretendeu estudar as causas etiológicas da histeria a valorização dos sonhos como via de acesso ao inconsciente e a importância das interpretações para o sucesso ou o fra casso como foi no caso para vencer as resistências dos conflitos reprimidos de qualquer análise Dora cujo nome verdadeiro era Ida Bauer era uma adolescente judia virgem de 18 anos portadora de acessos de tosse nervo sa enxaqueca períodos de afonia e algu ma tendência suicida que foi encaminha da pelo seu pai para tratarse psicanalitica mente com FREUD A história com complicados novelos edípi cos lembrando o enredo de alguma tele novela atual pode ser assim resumida o pai de Dora um homem bem sucedido porém hipócrita engana sua mulher uma dona de casa ignorante com a senhora K esposa de um de seus amigos O marido enganado dizse apaixonado por Dora e tenta seduzila à beira de um lago até que essa ao perceber que ele tenta beijála desferelhe uma violenta bofetada no ros to Dora conta a cena à mãe e lhe pede que questione o marido quanto a ele ser aman te da senhora K O pai de Dora não só nega enfaticamente essas acusações como pas sa a acusar Dora de ser uma mentirosa o que a deixa num desespero maior e justifi ca a busca de tratamento A análise durou exatamente 11 meses e nesse período Dora apresentou dois sonhos um referente a um incêndio na residência da família que FREUD interpretou como in dicador de que Dora se masturbava e que secretamente estaria apaixonada pelo se nhor K e o outro girava em torno da morte de seu pai que FREUD ligou à sua sexuali dade reprimida FREUD reconheceu que a interrupção pre coce da análise foi devida a sua incapaci dade de analisar os múltiplos aspectos trans ferenciais que estavam subjacentes nos re latos de Dora e que aludiam aos triângulos edípicos com os pais dela e com o casal K inclusive os desejos homossexuais referen tes à senhora K VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 191 O menino ou o pequeno Hans O títu lo original desse trabalho é Análise de uma fobia em um menino de cinco anos e o nome verdadeiro do menino era Herbert Graf Na época para comprovar as suas teses FREUD solicitava a seus discípulos que ficassem atentos às situações clínicas que surgissem para que se possível os enca minhassem a ele Foi justamente o que fez o pai de Hans quando este começou a apresentar sintomas fóbicos notadamente uma fobia de cavalos No curso do relato clínico FREUD enfatiza o quanto a mãe de Hans o ameaçava de cor tar o seu pipi se ele continuasse a se mas turbar e a enorme surpresa que a criança demonstrava diante da constatação de que as mulheres não tinham pênis Esse historial publicado em 1909 apresenta três aspectos interessantes 1 O fato de tratar se do primeiro tratamento de fundamentação psicanalítica realizada com uma criança 2 FREUD funcionou como supervisor tendo em vista que o menino foi tratado por seu pró prio pai orientado por FREUD 3 A partir de uma esmiuçada análise da fobia de Hans por cavalos FREUD conseguiu demonstrar sua postulação da existência de uma angústia de castração e de que ela estava em ligação di reta com um conflitivo complexo de Édipo Igualmente FREUD comprovou a existência de teorias existentes na mente das crianças com as quais elas tentam decifrar o misté rio do nascimento Também conseguiu evi denciar como na criança as fontes de ex citação são múltiplas e variadas o que o levou a afirmar que normalmente a crian ça é um perversopolimorfo Homem dos Ratos Nesse mesmo ano de 1909 e também com o propósito de com provar sua teoria da existência da sexuali dade infantil FREUD publica esse fascinante historial clínico com o título de Notas so bre um caso de neurose obsessiva Tratase da análise de um advogado de 29 anos que apresentava graves sintomas ob sessivos desde a infância Paul Lorenz esse era o nome do paciente segundo alguns autores o nome verdadeiro seria Ernest Lanzer procurou análise com FREUD por que vinha sendo atormentado pela idéia obsessiva de que ratos poderiam ser intro duzidos pelo seu ânus além de uma cons tante angústia de que poderia provocar tra gédias a suas pessoas queridas A análise durou nove meses e nela FREUD faz um magistral estudo de como o pacien te defendiase dessas idéias aterradoras por meio de rituais de fazer e desfazer coisas assim como também fazia um uso ambiva lentemente patológico do pensamento e da ação deixandoos esterilizados pelo uso maciço da anulação e pela utilização de gestos e palavras de conteúdo mágico É interessante o fato de que a forte ambi valência do paciente pode estar ligada a uma lembrança reprimida da infância na qual o pai lhe aplicara uma surra como cas tigo por ele ter mordido alguém Diante da reação colérica do menino o pai exclamou ou esse menino vai ser um grande homem ou será um grande criminoso O homem dos ratos ficou curado do sinto ma casouse com sua amada Gisele po rém veio a morrer em 1914 num campo de batalha da I Grande Guerra Caso Schreber Em 1911 surgiu a publi cação desse célebre historial cujo título ori ginal é Notas psicanalíticas sobre um rela to autobiográfico de um caso de paranóia FREUD nunca viu Daniel Paul Schreber na realidade um jurista renomado presidente da corte de apelação da Saxônia e posteri ormente presidente do Supremo Tribunal de Dresden que começou a dar sinais de delírio paranóide após ter sido derrotado numa eleição que disputava O próprio Schreber que teve muitas inter nações em sanatórios psiquiátricos e teve seus bens interditados escreveu a sua bio grafia com o título de Memórias de um doente dos nervos 192 DAVID E ZIMERMAN FREUD fez a compreensão do discurso deli rante das idéias megalomaníacas e paranói des encobridoras do conflito homossexual latente de Schreber da mesma forma como fazia com a interpretação do simbolismo dos sonhos A base do delírio de Schreber con sistia em transformarse numa mulher em obediência a ordens superiores a fim de engendrar um novo mundo Esse trabalho de Freud tornouse importan te para um melhor conhecimento dos di namismos inconscientes responsáveis pela paranóia Nesse texto estabelece as diver sas transformações psíquicas possíveis a partir do inaceitável homossexualismo de Schreber contido no eu amo você com as negatórias transformações em eu não o amo Pelo contrário eu o odeio ou é ele que me odeia ou ainda é ela que o ama etc Homem dos Lobos FREUD publicou esse famoso caso cujo título original é Da his tória de uma neurose infantil em 1918 embora tenha tratado esse paciente cujo nome verdadeiro era Sergei Pankejeff no período de 1910 a 1914 Tratavase de um jovem russo de 18 anos com graves sintomas fóbicos obsessivos e paranóides com psicossomatizações é pro vável que hoje ele seria diagnosticado como borderline Sua análise sofreu várias incidên cias e recaídas até que finalmente FREUD o encaminhou a uma análise parece que exi tosa com a sua discípula RUTH M BRUNSWICK Através de uma minuciosa e prolongadíssi ma análise de um único sonho no qual apareciam sete lobos daí o apelido desse paciente empoleirados numa janela FREUD visa a reconstruir a neurose adulta a partir dos problemas surgidos na infância com um destaque especial aos conflitos oriun dos do do fato de o paciente quando crian ça pequena ter testemunhado uma cena primária dos pais um coito a tergo Todos esses historiais clínicos grandes de FREUD têm em comum o fato de estarem escritos num estilo literário de alta qualidade e beleza e continuarem a constituir ainda na atualida de como uma instigativa fonte de estudos MKLEIN também construiu o seu edifício teórico fundamentada na prática clínica com a análise de crianças algumas de ten ra idade através da técnica do emprego de brinquedos e jogos Em grande parte pu blicou sua experiência sob a forma de rela tos clínicos dos quais segue uma breve sínte se dos historiais das crianças que analisou Fritz Em 1921 surgiu o livro de MKLEIN intitulado Desenvolvimento de uma crian ça no qual ela relata o tratamento com o jovem Fritz o qual ainda não considerava uma análise propriamente dita tanto que preferiu chamálo como um caso de edu cação de caráter analítico Esse relato clínico é particularmente impor tante porque revela a grande ênfase que M KLEIN começava a atribuir à existência de fantasias inconscientes nas crianças com a respectiva tradução que fazia de seus sig nificados simbólicos Assim em muitos momentos da análise em seus brinquedos e em suas histórias o menino Fritz mani festava uma nítida tonalidade edipiana Segundo KLEIN ainda muito influenciada pelas idéias de FREUD a hostilidade que Fritz demonstrava em relação ao diabo ao ofici al inimigo ao rei deixa transparecer clara mente uma forte agressividade ao pai en quanto seus desejos pela mãe se revelam de forma bastante nítida Foi a propósito de um conto de Grimm evocado por Fritz que MKLEIN veio a ter sua primeira intuição do papel primordial representado pela projeção e pelo splitting dissociação ou cisão Nesse conto de Grimm aparece uma bruxa que oferece alimento envenenado a um homem e a partir deste momento Fritz começa a sentir um grande medo das bruxas evocando ao mesmo tempo rainhas muito belas e que contudo também eram bruxas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 193 MKLEIN relata a clareza com que o menino Fritz manifesta através de fantasias incons cientes sua dissociação numa mãe boa ra inhas belas e mãe má bruxa que pode envenenálo Erna uma menina de seis anos apresen tava uma conflitiva em face do aprendiza do dos hábitos higiênicos e de limpeza do que decorria uma forte angústia de perder o amor dos pais Nos brinquedos durante a análise diz MKLEIN Erna queria que eu fosse um bebê que se sujava enquanto ela era a mãe e seguidamente ela tinha aces sos de ira e representava o papel de uma se vera governanta que batia na criança Esse historial relatado em Contribuições à psicanálise propiciou a KLEIN demons trar com clareza que os brinquedos além de uma abreação afetiva também propi ciam uma elaboração das fantasias incons cientes Félix é um menino cuja análise Klein des creve no trabalho Uma contribuição à psi cogênese dos tiques onde mostra que as fantasias inconscientes do menino relativas às posições homossexuais ativa e passiva com relação ao pai alternadose com uma posi ção heterossexual em face da mãe estavam diretamente ligadas à cena primária Rita é uma menina de pouco mais de dois anos cuja análise propiciou a MKLEIN des cobrir a existência de um precoce superego infantil que confirma o fato de que numa idade muito tenra as tendências edipianas já estão em ação e influem profundamente no comportamento das crianças A fim de ilustrar a forma de como MKLEIN entendia e trabalhava com as fantasias da criança vale transcrever o seguinte trecho na íntegra que aparece em Contribuições à psicanálise Quando tinha dois anos e três meses Rita declarava repetidamente quando brincava com a sua boneca brin quedo do qual não desfrutava muito que não era a bonecabebê da sua mãe A aná lise revelou que ela não ousava ou não se atrevia brincar de ser a mãe porque a bo necabebê representava para ela entre ou tras coisas seu irmão que desejava arre batar da mãe inclusive durante a gestação Porém aqui a proibição do desejo infantil já não provinha da mãe real mas sim da mãe introjetada cujo papel representava para mim de diversas formas e que exercia uma influência mais severa e cruel sobre ela o que sua mãe real nunca havia feito Dick um menino de estrutura psicótica de quatro anos que dava provas de conside rável inibição do desenvolvimento especi almente quanto à formação simbólica e à atenção na realidade externa aparece des crito no trabalho A importância da forma ção de símbolos de 1930 Dick mostra vase indiferente a tudo e a todos Somen te alguns objetos como portas fechadu ras e o ato de abrir e fechar portas lhe despertavam alguma atenção e interesse Isso levou MKLEIN a fazer o seguinte en tendimento psicanalítico que serve como mais uma ilustração do nível em que ela trabalhava com as fantasias inconscien tes O interesse de Dick por esses obje tos e essas ações tinha uma fonte comum referiase na realidade à penetração do pênis no corpo da mãe As portas e fe chaduras representavam as entradas e sa ídas do corpo materno enquanto as ma çanetas da porta significavam o pênis do pai e o seu A defesa frente às tendên cias sádicas dirigidas contra o corpo ma terno e seus conteúdos conduziram à sus pensão da atividade de fantasias incons cientes e à interrupção da formação sim bólica Richard é um menino analisado por MKLEIN durante a II Grande Guerra numa época em que os aviões alemães bombar deavam duramente Londres Tratase de uma análise exaustiva minuciosamente re latada com a reprodução dos desenhos de Richard no livro Narrativa de uma análi se infantil 1961 194 DAVID E ZIMERMAN LACAN também tem um célebre historial clí nico tratase do conhecido Caso Aimée cuja descrição analítica ele relata detalha damente em sua tese de doutoramento em medicina Da psicose paranóide em suas relações com a personalidade apresenta da em 1932 Aimée cujo verdadeiro nome era Margue rite Anzieu sentindose perseguida por Hughette Duflos uma célebre atriz do tea tro parisiense dos anos 30 tentou em 1931 matála com uma facada mas a atriz con seguiu esquivarse do golpe Margarite foi internada no Hospital Sainte Anne onde ficou aos cuidados de JACQUES LACAN que consideroua um caso de erotomania e de paranóia de autopunição Segundo LACAN ao atacar a atriz na reali dade Aimée estava atacando a si mesma uma vez que a atriz representava uma mu lher livre e de grande prestígio social exa tamente o que Aimée aspirava ser Em suas idéias persecutórias via na atriz famosa a origem do perigo para ela e seu pequeno filho Didier Desse modo essa imagem ideal era ao mesmo tempo objeto de idealização de aspiração e de seu ódio Para LACAN a prisão e a reclusão hospitalar de Aimée re presentou um ato de autopunição A análise desse caso por LACAN revela mui tos elementos que mais tarde viriam a ser centrais na sua obra o narcisismo a rela ção entre a imagem e a identidade que se dava na paranóia o ideal de ego e a alie nação da identidade a identidade de Ai mée estava na atriz fora dela portanto No Dicionário de Psicanálise de EROUDINESCO 1997 há um verbete que inclui o seguinte relato que vale a pena transcrever A continuação da história de Margarite Anzieu é um verdadeiro roman ce Em 1949 seu filho Didier havendo con cluído seus estudos de filosofia resolveu tornarse analista Fez sua formação didáti ca no divã de LACAN enquanto preparava sua tese sobre a autoanálise de FREUD sob a orientação de Daniel Lagache sem saber que sua mãe tinha sido o famoso caso Ai mée LACAN não reconheceu nesse homem o filho de sua expaciente e Anzieu soube da verdade pela boca de sua mãe quando esta por um acaso extraordinário empre gouse como governanta na casa de Alfred Lacan pai de JACQUES LACAN Os conflitos entre Didier Anzieu e seu ana lista foram tão violentos quanto os que opu seram Margarite e seu psiquiatra de então De fato ela acusava LACAN de havêla tra tado como um caso e não como um ser humano mas censuravao sobretudo por nunca lhe ter devolvido os manuscritos que ela lhe confiara no passado quando da in ternação no Hospital Sainte Anne KOHUT tornou célebre o Caso do senhor Z ao publicar nos Estados Unidos em 1979 o relato de As duas análises do SrZ o qual provocou grande turbulência clínica entre os psicanalistas e que apresentava uma nítida semelhança do seu paciente Z com sua própria história pessoal O SrZ era um homem de 25 anos filho único órfão de pai morando com a mãe Foi analisado pela primeira vez para tratar se de angústias de fantasias masturbatóri as masoquistas e de acessos de raiva e de pressão Durante o primeiro tratamento KOHUT interpretou nos clássicos termos edi pianos a fixação regressiva do paciente Z a uma mãe onipotente e possessiva Quatro anos após o fim desse tratamento o mesmo paciente retornou num período em que sua mãe estava apresentando delí rios alucinatórios No entanto nessa época KOHUT já mudara seus referenciais teóricos e técnicos atribuindo uma relevância aos seus conceitos relativos à formação do Self grandioso às falhas empáticas aos distin tos aspectos do narcisismo e à transferên cia especular Municiado com esses referenciais KOHUT favoreceu o surgimento da transferência VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 195 idealizadora imago parental idealizada e da grandiosidade narcisista self grandioso do SrZ o que segundo KOHUT produziu resultados muito melhores e mais profun dos do que a primeira análise Histórico da psicanálise Os primeiros trabalhos históricos sobre a psicanálise foram escritos pelo próprio FREUD através de dois livros A história do movimento psicanalítico 1915 e Um estu do autobiográfico 1925 Na atualidade muitos o criticam porque consideram que não conseguiu manterse neutro e fiel aos fa tos reais e inclinouse exageradamente a que rer tornarse pai e diretor de toda psicanálise Uma história mais completa e reveladora de muitas verdades ocultas começou com a biografia que EJONES fez da vida e obra de FREUD Publicada em três volumes de 1952 a 1957 alcançou enorme êxito em bora seus depoimentos procedentes de arquivos aos quais lhe permitiram um aces so não mais que parcial também tenham se revelado comprometidos pelos laços afe tivos com FREUD e pela rivalidade com co legas contemporâneos que também priva vam de intimidade com FREUD Em linhas genéricas podese dizer que FREUD criou a psicanálise praticamente so zinho Somente a partir de 1906 concluiu seu período de esplêndido isolamento e passou a reunirse em sua sala de espera com um seleto grupo de brilhantes colabo radores ABRAHAM FERENCZI RANK STECKEL SACHS JUNG ADLER e assim começaram as famosas reuniões das quartasfeiras às quais chamavam de Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Delas há pormenoriza dos registros históricos nas Minutas organi zadas por ORANK Mais tarde essas reuniões sistemáticas viri am a instituir a Sociedade Psicanalítica de Viena Em Salzburg em 1908 houve a Reunião de Médicos Freudianos posterior mente rebatizada como o Primeiro Congres so Psicanalítico Internacional No segundo Congresso realizado em Nürenberg foi cri ada a IPA cuja presidência por indicação de FREUD coube a JUNG A seguir aconteceram as dissidências de ADLER e de STECKEL e em 1914 a do pró prio JUNG Para proteger FREUD dos detrato res da psicanálise e de sua pessoa por su gestão de JONES que veio a incorporarse ao grupo original foi criado o Comitê concebido pelo modelo de uma sociedade secreta que lembra a dos paladinos de Carlos Magno FREUD ofereceu um entalhe grego a cada um dos colaboradores íntimos que lhe permaneceram fiéis que acopla ram o entalhe a seus anéis usandoos como insígnia Assim FREUD JONES FERENCZI RANK ABRAHAM SACHS e mais tarde EITIN GON compuseram o Círculo dos Sete Anéis do Comitê sob um implícito juramento de total fidelidade e sob um acordo explícito de que não questionariam publicamente nenhum tema fundamental da psicanálise como o da sexualidade infantil sem antes o fazerem entre eles dessa forma garantin do a continuidade do movimento psicana lítico Decorridos muitos anos coube especial mente a sua filha e discípula ANNA FREUD além da liderança do já consolidado movi mento psicanalítico a continuação da obra do pai feita por meio de suas importantes publicações a respeito dos múltiplos e varia dos mecanismos de defesa do ego 1936 Os ensinamentos freudianos eram então compartilhados por um sólido grupo de psicanalistas em Viena até que fugindo da perseguição hitlerista muitos deles emigra ram para outros países onde deram conti nuidade ao movimento da psicanálise Dentre esses últimos sobressai o nome de H HARTMANN que emigrou para os Esta dos Unidos e onde com o reforço de ou tros psicanalistas seguidores e igualmente refugiados como KRIS e LOEWENSTEIN fun 196 DAVID E ZIMERMAN dou a Escola da Psicologia do Ego forte mente fundamentada em SIGMUND e em ANNA FREUD porém com desdobramentos próprios e concepções originais Com o passar dos anos essa Escola passou a sofrer transformações a partir de colaborações ori ginais em tempos distintos como foram as de EDITH JACOBSON MMAHLER e O KERNBERG Entrementes ao final da década 20 a par tir de Londres começam a surgir as revolu cionárias concepções de MKLEIN as quais amparadas na sua prática de análise com crianças de muito pouca idade convergem essencialmente para uma posição essenci almente seiocêntrica como uma contrapar tida inicial à falocêntrica vigente entre os freudianos Da mesma forma como ocor reu com FREUD também as concepções de MKLEIN foram seguidas e ampliadas por muitos discípulos contemporâneos e conti nuadores fiéis como por exemplo JOAN RIVIÈRE e SISAACS Psicanalistas póskleinia nos como HSEGAL ROSENFELD MELTZER BION e outros não só ampliaram como tam bém produziram muitas transformações à obra original da mestra Autores neoklei nianos como BJOSEPH e JSTEINER sucessi vamente vêm propondo novas modifica ções na teoria e técnica da psicanálise Cabe consignar que as Controvérsias que nos anos de 1943 e 1944 se estabeleceram entre os grupos kleiniano e annafreudiano representam um importante momento evo lutivo da história da psicanálise Também oriundo de Viena seguindo os mesmos passos de HARTMANN emigrou para os Estados Unidos onde se radicou o psi canalista H KOHUT que lá fundou a escola da Psicologia do Self com contribuições bastante originais e polêmicas Na mesma época orquestrada pelo caris ma de JLACAN floresceu na França a Es cola Estruturalista que surgiu como uma reação de LACAN ao que ele considerava um excessivo pragmatismo da psicanálise nor teamericana Assim ele propôs um retor no a Freud isto é um movimento para resgatar os princípios básicos legados pelo fundador da psicanálise e a partir desses construir novos desenvolvimentos metap sicológicos A Escola Francesa de Psicanálise na atua lidade embora diluída em várias correntes de pensamento psicanalítico é altamente conceituada em todo o universo da psica nálise e conta com autores originais e mui to férteis como AGREEN para ficar num único exemplo WINNICOTT de origem kleiniana nos fins da década 50 admitiu publicamente sua dissi dência com MKLEIN precipitada pela não aceitação da postulação do conceito dela relativo à inveja primária em 1957 Assim WINNICOTT filiouse formalmente ao Gru po Independente da Sociedade Britânica de Psicanálise e aos poucos foi construin do um corpo teórico e prático inteiramente original Sua principal contribuição é a va lorização do precoce vínculo real mãebebê no desenvolvimento emocional primitivo BION também da Sociedade Britânica de Psicanálise discípulo e analisando de M KLEIN conquanto sempre declarasse não ser mais do que um simples seguidor dela trou xe um enorme acervo de contribuições ori ginalíssimas a ponto de muitos considera remno como um verdadeiro inovador da psicanálise atual É claro que muitos e muitos outros nomes passados e atuais e as respectivas contri buições poderiam ser mencionados como por exemplo os movimentos liderados pe los dissidentes de FREUD como os de ADLER e JUNG ou ainda analistas como HSSUL LIVAN KHORNEY e EFROMM desligaramse de FREUD e fundaram a corrente do Cultu ralismo a qual atingiu enorme aceitação nos Estados Unidos As transformações que se vêm processan do continuamente nos paradigmas da psi canálise não estão nitidamente delineadas Pelo contrário freqüentemente se sobre VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 197 põem entre si sendo importante a necessi dade de que os autores tenham a liberdade de criar novas concepções da psicanálise discordando de muitas antigas sem que haja radicalização dogmática e a destrui ção de tudo aquilo que foi construído nes se pouco mais de um século da história da psicanálise Isso pode ser exemplificado com muitas das conceituações postuladas originalmente por FREUD e que hoje estão comprovadamente equivocadas e descartadas como as de um pansexualismo todo e qualquer fenômeno psíquico necessariamente encontrava al gum tipo de explicação na sexualidade a subestimação da condição da mulher que para ele seria sempre inferior e invejosa dos privilégios do homem decorrente de um outro equívoco seu o de tomar Viena da época como protótipo único dos valores culturais uma ênfase exagerada na inveja do pênis sua crença na ignorância da exis tência da vagina por parte das meninas até a puberdade a indiferença desdenhosa às incipientes contribuições de MKLEIN e as sim por diante No entanto nenhum desses muitos equí vocos anula a extraordinária importância das concepções passadas de FREUD que persistem no presente e continuam servindo de base frutífera por muito tempo futuro Na atualidade a psicanálise e os psicana listas estão em crise como tantas outras que já sucederam porquanto estão no cume de uma série de transformações As mudan ças vão muito além do campo restrito da psicanálise como ciência e confundemse com as transformações que também acon tecem no mundo todo relativamente aos aspectos sociais culturais e sobretudo econômicos Por conseguinte também mudou o perfil do paciente que procura tratamento psicanalítico da mesma for ma como também está mudando o perfil do psicanalista na sua maneira de ser e de analisar assim como também inevi tavelmente deverão ocorrer mudanças por parte da IPA inclusive no que diz res peito aos critérios e normas da análise didática Holding WINNICOTT WINNICOTT usou esse termo inglês que se traduz por sustentar segurar com o qual ele significava literalmente a função de como a mãe sustentava fisicamente seu bebê de como o segurava e como o encai xava no seu corpo Posteriormente dando se conta da enorme importância desse as pecto da relação mãebebê WINNICOTT am pliou a noção de holding incluindo os as pectos de como a mãe sustenta emocional mente as necessidades e angústias de seu filho especialmente nos primórdios do desen volvimento emocional primitivo o que adqui re uma enorme importância na determina ção da estruturação do psiquismo da criança Comentário Embora a maioria dos ana listas equiparem a função holding de WIN NICOTT com a de continente de BION cabe estabelecer uma diferença porque em BION essa capacidade materna assume uma di mensão centrada no modelo continente conteúdo o que amplia as variáveis dos modos dos vínculos interrelacionais mãe bebê pressupõe a noção de um estado de rêverie da mãe e implica uma condição de função a dela Homem dos Lobos FREUD Ver o verbete historiais clínicos Homem dos Ratos FREUD Ver o verbete historiais clínicos Homem trágico KOHUT Expressão de KOHUT para oporse à concei tuação vigente na obra de FREUD e de M KLEIN de homem culpado KOHUT emprega 198 DAVID E ZIMERMAN va esse termo como forma de enfatizar que o grande drama da criancinha não resulta das conflitivas pulsionais quer as libidi nais ou as destrutivas Mas sim que de fato se constitui uma tragédia para a crian ça logo para o futuro adulto é não en contrar uma empatia por parte dos pri mitivos e fundamentalmente importantes personagens parentais A esses persona gens KOHUT denomina selfobjetos ou seja aqueles que formam ou deformam o self do sujeito Homossexualidade Palavra formada do grego homo igual se melhante e do latim sexus aparentado com secus do verbo secare cortar dividir A conceituação de conduta homossexu al ou mais simplesmente a de homos sexualismo alude tanto aos ímpetos irre freáveis e não pensáveis pelo sujeito como também aos apegos emocionais que implicam atração sexual em relações sexuais declaradas entre indivíduos de um mesmo sexo biológico A psicanálise contemporânea considera que antes de ser enquadrada em uma úni ca categoria nosológica como perversão por exemplo a homossexualidade deve ser compreendida como síndrome isto é diversas causas etiológicas podem expres sarse por meio de uma mesma manifesta ção sintomática de homossexualidade Cabe uma analogia com o surgimento de uma febre a qual por si só de forma ne nhuma pode ser um quadro clínico espe cífico mas sim uma síndrome febril que tanto pode ser devida a um resfriado ba nal como pode traduzir uma pneumonia ou outro processo infeccioso indo até a possibilidade extrema de uma gravíssima septicemia Além disso muitas correntes psiquiátricas consideram a homossexualidade não como uma patologia mas antes como um legítimo direito de o sujeito optar li vremente pelo exercício da modalidade sexual que mais lhe convier Essa posi ção fica implícito no último DSM norte americano o que não afasta a possibili dade de aparecer como parte de psico patologias graves Em termos socioculturais dados estatísti cos deixam claro que a homossexualida de não é um fenômeno inusitado e que pelo contrário é bastante freqüente em qualquer sociedade Os homens manifes tamente efeminados ou as mulheres de aspecto chamativamente viril constituem somente uma pequena porcentagem da população homossexual Além disso nem todo efeminado é homossexual e a recí proca é verdadeira Cada vez mais os ho mossexuais vêm tomando uma atitude corajosa de assumir publicamente a sua condição organizamse em fortes movi mentos gay e estão ganhando um cres cente espaço como por exemplo o di reito a uma ligação conjugal legal ou a aceitação em forças militares em muitos países avançados Psicanaliticamente o enfoque etiológico já não incide unicamente sobre a conflitiva edípica Também está havendo uma cres cente valorização das fases evolutivas pré genitais mais especificamente as que re montam às particularidades próprias do narcisismo O tratamento psicanalítico não visa prioritariamente a resolver a homosse xualidade como a tarefa maior da análise mas sim capacitar o sujeito a ter uma me lhor qualidade de vida e a adquirir uma paz e liberdade interior Do ponto de vista da técnica psicanalíti ca é útil transcrever a seguinte frase de BION No amor de uma pessoa por outra do mesmo sexo qualquer sugestão por parte do analista de comportamento ho mossexual mata a pequena planta que está nascendo pois ser capaz de amar a alguém que é igual a si mesmo pode ser VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 199 um passo no caminho para amar alguém distinto 1992bp 153 Horda primitiva FREUD FREUD partindo de autores de textos dedica dos à antropologia evolucionista como DA RWIN LAMARK WROBERTSON SMITH e FRAZER hoje altamente contestados escreveu mui tos trabalhos onde aventou uma teoria cul turalista Essa teoria consistia em entender a instauração do totem pelo homem primitivo como a prefiguração da religião e na do tabu a passagem da condição de horda selvagem para a de uma organização em clãs Assim inspirado em JFRAZER autor da fa mosa epopéia O ramo de ouro que conta a história de um rei homicida da antigüida de que foi assassinado pelo seu sucessor FREUD propôs a teoria de que também na horda primitiva os filhos matavam o pai para ocupar seu lugar As conseqüências disso foram a instalação da cultura através de certas leis e costumes Dessa forma principalmente na parte IV de Totem e Tabu 19121913 FREUD descreve o mito da horda primitiva ou selvagem afir mando que originalmente havia uma hor da cujo chefe macho reinava sobre seus filhos e tinha o monopólio de todas as fê meas Os machos jovens teriam se revolta do e matado o velho e após comido seu corpo baseados no princípio mágico de que os membros do clã adquirem santidade comendo o totem Foi só depois que o re morso e o temor teriam investido esse ve lho chefe com o nome de pai e correlativa mente os jovens com o nome de filhos A partir desse modelo supostamente acon tecido na horda primitiva FREUD construiu sua teoria fazendo remontar àquelas as origens de quase todas as instituições cul turais e sociais posteriores A antropologia moderna não confirma a concepção freu diana da horda primitiva Hospitalismo RENÉ SPITZ Criado por R SPITZ esse termo refere o fato de que crianças até os 18 meses de vida quando submetidos a uma alguma forma de abandono prolongado ou a uma longa hospitalização que as privam dos cuidados maternos entram num estado de profunda alteração física e psíquica Essas alterações são progressivamente crescentes e se ma nifestam por sintomas clínicos como atraso do desenvolvimeto corporal prejuízo da motricidade fina dificuldade de adaptação ao meio atraso da linguagem menor resis tência às doenças e nos casos mais graves podem entrar num estado de marasmo e de morte Alguns autores consideram o hospitalismo como uma das modalidades da depressão anaclítica também descrita por SPITZ Ou tros porém preferem manter uma distin ção entre ambas Destacam que nas de pressões anaclíticas as crianças sofreram uma privação afetiva parcial e por isso essa depressão pode ser revertida às condições nor mais anteriores da criança quando a mãe volta a encontrála O hospitalismo implicaria uma situação mais grave porque a privação materna é total e as conseqüências se torna riam duradouras e mesmo irreversíveis MESH ANALYSIS VERSION WITH CURRENT SOURCE 1 I BION A letra I é utilizada por BION como inicial do termo idéia o qual representa o que ele conceitua como idéias isto é objetos psi canalíticos compostos por elementos α A essência dessa conceituação reside na no ção de que a idéia preenche o hiato entre o impulso e sua satisfação Na Grade equivale à coluna 5 isto é o da Investigação Id ou das Es FREUD FREUD tomou o termo id emprestado de uma concepção de GRODDECK para caracterizar a instância psíquica que sedia as pulsões inconscientes Fez essa escolha porque id que no original alemão é das Es e que em português ultimamente vem sendo traduzi do pelo termo isso designa um pronome da terceira pessoa do singular es neutro sem gênero nem número assim caracteri zando a maneira impessoal biológica de como as desconhecidas pulsões instintivas agem sobre o ego FREUD introduziu esse termo a partir do tra balho O ego e o id 1923 assim inauguran do sua segunda tópica que já vinha em gesta ção ou seja a teoria estrutural da mente na qual as três instâncias psíquicas id ego e superego estão em íntima interrelação e em relação com a realidade externa É nesse clássico trabalho que aparece a sua famosa frase onde estiver o id o ego deve ficar frase essa que permite diversas leitu ras de sorte que os freudianos e kleinianos privilegiaram a importância das pulsões enquanto os psicólogos do ego priorizaram a hegemonia do ego e os lacanianos enfo cam sobretudo pela teoria da linguagem É útil lembrar que há uma equivalência na literatura psicanalítica entre os termos ins tintos impulsos impulsos instintivos pul sões instintivas e pulsões Isto devese ao fato de que as primeiras traduções dos tex tos de Freud notadamente a da Standard Edition realizada por STRACHEY não leva ram em conta que FREUD utilizou as pala vras Instinkt e Trieb no original alemão com significados bem distintos entre si e não como sinônimos De modo geral hoje é consensual que quando referia Instinkt FREUD aludia aos instintos biológicos que caracterizam o rei no animal enquanto Trieb significa uma força oculta mais profunda abrangente e imanente ao ser humano e aparece nos textos em português na atualidade como pulsão ver esse verbete I 202 DAVID E ZIMERMAN Ideal ego FREUD Nos textos de FREUD as expressões ego ide al idealich ideal do ego ichideal e supe rego aparecem na maioria das vezes de forma indistinta e com uma conceituação superposta Porém a tendência da psica nálise contemporânea é a de estabelecer algumas diferenças entre elas Da mesma forma como FREUD conceituali zou o superego como sendo o herdeiro direto do complexo de Édipo a subestru tura ego ideal é hoje considerada como sen do uma herdeira direta do narcisismo ori ginal ou seja os mandamentos internos obrigam o sujeito a corresponder na vida real às demandas provindas de seus pró prios ideais Esses ideais estão impregna dos de ilusões narcisistas inalcançáveis e por isso mesmo determinam no indivíduo um estado mental que se caracteriza por uma facilidade para sentir depressão e hu milhação diante dos inevitáveis fracassos daquelas ilusões Ideal do ego FREUD Também essa subestrutura idealich no ori ginal alemão está diretamente conectada com o conceito mais genérico de supere go Resulta dos ideais do próprio ego ideal da criança os quais altamente idealizados são projetados nos pais onde se somam aos originais mandamentos provindos do ego ide al de cada um deles de modo que o ideal do ego pode ser considerado um herdeiro dire to do ego ideal Dessa forma o sujeito fica submetido às aspirações dos outros em rela ção ao que ele deve ser e ter Daí resulta que seu estado mental prevalente é o de um per manente sobressalto e o fácil acometimento do sentimento de vergonha quando não con segue corresponder às expectativas dos ou tros que passam a ser também suas Isso pode ser exemplificado com uma afir mação que FREUD faz em Sobre o narcisis mo uma introdução1914 onde diz que o fanatismo a hipnose ou o estado amoro so representam três casos nos quais um objeto exterior respectivamente o chefe o hipnotizador e a pessoa amada vão ocupar o lugar do ideal do ego no próprio ponto onde o sujeito projeta seu ego ideal Idealização MKLEIN MKLEIN ao estudar os mecanismos defen sivos primitivos do ego incluiu o da ideali zação juntamente com os da negação dis sociação identificação projetiva e introjeti va e a sua contrapartida o denegrimento todos eles nos primeiros tempos sempre relacionados a objetos parciais de sorte que descreveu quatro tipos de objetos o bom o mau o persecutório e o idealizado os quais de alguma forma e em certo grau estão sempre em interação Dessa forma nos primórdios do desenvol vimento emocional primitivo assim como também nos primórdios de muitas análises a presença da idealização é necessária e estruturante principalmente para fazer face às pulsões sádicodestrutivas Porém sua permanência excessiva tornase deletéria para a personalidade do sujeito porque a idealização requer o uso constante de iden tificações projetivas na pessoa idealizada de seus próprios aspectos positivos o que lhe vai custar o alto preço de um autoes vaziamento Outro custo elevado consiste no fato de que subjacente a toda idealização excessiva existe no sujeito uma camada de sentimen tos e de objetos persecutórios A idealiza ção tanto pode se processar no domínio do ego como no das relações objetais Idealizada imago parental KOHUT KOHUT em seus estudos relativos à forma ção do self fez uma original proposição de duas novas estruturas ambas de natureza VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 203 arcaica o self grandioso ver esse verbete e a imago parental idealizada Essa última diz respeito à imagem primitiva toda pode rosa e perfeita que a criança tem dos pais e que de alguma maneira é sentida como fazendo parte do sujeito Essa imago parental idealizada transforma se nos valores ideais que podem acompa nhar o indivíduo pelo resto da vida tanto no sentido positivo como negativo O im portante destaca KOHUT é que para certas situações analíticas o psicanalista tenha condições de propiciar ao paciente mais regredido reexperimentar com ele essa pri mitiva vivência emocional Idealizadora transferência KOHUT KOHUT introduziu sua concepção de trans ferências narcisistas nas quais o analista é sentido pelo paciente portador de al gum transtorno narcisista da personalida de como fazendo parte dele paciente Assim essa modalidade transferencial é diferente da que se dá na clássica neuro se de transferência edipiana A transferên cia narcisista pode assumir três formas a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular propriamente dita Na transferência idealizadora o paciente não discrimina entre seu self e as do seu analista e como toda a sua felicidade resi de no objeto idealizado o sujeito sentese vazio e impotente com enormes dificulda des para as separações Identidade sentimento de A aquisição de um sentimento de identida de coeso e harmônico resulta do reconhe cimento e da elaboração das distintas iden tificações parciais que desde os primórdi os de seu desenvolvimento foram se incor porando ao sujeito pela introjeção do códi go de valores dos pais e da sociedade Esse processo complicase na medida em que cada um dos pais modeladores das identi ficações do filho por sua vez também está identificado com os aspectos parciais ou totais dos seus respectivos pais num impor tante movimento transgeracional que mui tas vezes atravessa sucessivas gerações na transmissão dos mesmos valores formado res da identidade nos seus três níveis inse paráveis a identidade individual a grupal e a social Assim por meio de sucessivas experiências suficientemente boas com os pais se esta belece na criança a crença de que se é vis ta como um objeto de amor então ela exis te é um ente ou seja está nascendo uma entidade A passagem do estado de entida de para o de identidade começa a partir da instalação da confiança básica a qual per mite uma progressiva dessimbiotização se guida de uma constância objetal e de coe são do self A etimologia da palavra identidade idem entidade comprova que ela consiste em uma entidade que se mantém basicamen te a mesma idem apesar das variações temporais espaciais e sociais Essas três úl timas dimensões como inerentes à forma ção e conceito do sentimento de identida de foram descritas por GRINBERG em Iden tidad y Cambio 1971 Nos casos em que os modelos de identifi cação não foram suficientemente bons es táveis coerentes consistentes e com capa cidade de continente o sujeito terá dificul dade de formar um sentimento de identi dade estável tal como acontece com os pacientes borderline que apresentam aqui lo que KERNBERG chama como síndrome da difusão da identidade Essa última consiste na dificuldade que esse tipo de paciente tem de transmitir uma imagem integrada e coe rente de si próprio e assim deixa os outros confusos em relação a ele É inerente ao sentimento de identidade o constante questionamento do sujeito 204 DAVID E ZIMERMAN quanto a quem ele realmente é como se autorepresenta quais são os papéis e os lugares que ele ocupa nos vínculos gru pais e sociais o que e quem ele quer vir a ser e de como se sente visto pelos de mais Identidade sexual RSTOLLER Condição de o sujeito se reconhecer e de ser reconhecido como pertencente a um determinado sexo Os estudos de STOL LER 1968 visam a estabelecer uma dis tinção entre os aspectos biológicos que objetivamente determinam se um sujei to é homem ou mulher e os aspectos psi cológicos e sociais que promovem sua convicção e comportamento de homem ou mulher Assim com o emprego da terminologia ori ginal de gender identity STOLLER pretendeu delimitar uma diferença entre sexo bioló gico e gênero Conquanto exista em todos seres humanos certa bissexualidade devi do à indiferenciação original do embrião a determinação do sexo depende de um cer to número de fatores físicos reais objetivos e mensuráveis como 1 O genótipo XX na mulher e XY no ho mem 2 As dosagens hormonais como a testos terona progesteronaembora em diferen tes proporções sempre exista a presença de hormônios masculinos e femininos tanto no homem como na mulher 3 A constituição dos órgãos genitais exter nos e internos 4 Os caracteres sexuais secundários Em certos casos encontramse anomalias ana tômicas casos de hipospadia por exemplo fisiológicas e alterações genéticas que po dem levar a situações chamadas de herma froditismo ver o verbete Em relação ao gênero sexual a melhor exemplificação é a do transexualismo ver o verbete Identificação Conceito de especial importância na psi canálise esse termo designa um processo psicológico central realizado ativamente pela parte inconsciente do ego pelo qual o sujeito se constitui e se transforma assimi lando ou se apropriando parcial ou total mente dos aspectos atributos ou traços das pessoas mais íntimas que o cercam Isso está de acordo com a morfologia da palavra identificar é o mesmo que tornar idem ou seja igual A personalidade constituise e diferenciase por uma série de identifica ções havendo muitas formas de processar se a identificação FREUD no capítulo VII de A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 estuda três modalidades 1 A identificação primária postulada como a forma mais primária originária de uma ligação afetiva com uma outra pessoa logo a mãe Segundo FREUD essa identificação primária desempenharia um papel na pré história do complexo de Édipo e se forma segundo o modelo de uma incorporação oralcanibalística 2 A identificação se torna de modo regres sivo um substituto de uma ligação afetiva abandonada como acontece no sintoma histérico tal como FREUD exemplifica com a tosse histérica da paciente Dora que imi ta a tosse do pai assim incorporandoo Nesse tipo de identificação o sujeito pode tomar emprestado apenas um único traço da pessoaobjeto tratase do famoso tra ço unário ou único einziger Zug que serviu para desenvolvimentos teóricos pos teriores de LACAN 3 A terceira modalidade consiste no fato de que a identificação se efetua na ausên cia de qualquer investimento sexual O fa tor que leva um sujeito a identificarse com outro é o desejo de ter algo em comum com um outro FREUD ilustra isso com a identifi cação que se processa nas situações de hip VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 205 nose da paixão e da psicologia dos gru pos em que uma pessoa respectivamente o hipnotizador a pessoa amada ou o líder ocupa o lugar do ideal do ego Identificação proto EBICK e D MELTZER Na psicanálise contemporânea é útil fa zer distinção entre protoidentificação e identificação propriamente dita As pri meiras são de natureza mais arcaica e configuramse por uma das quatro mo dalidades seguintes 1 Adesiva como foi descrita por EBICK na sua concepção de pele psíquica 1968 e por MELTZER quando alude aos pseudó podos mentais 1975 sendo que essa modalidade adesiva consiste no fato de que a criança ainda não se desgrudou da mãe e nesse caso ter a mãe é o mes mo que ser a mãe portanto há uma fu são mais próxima de uma confusão e não se forma uma real identificação que viria acompanhada por uma necessária individuação 2 Especular caso em que a criança com portase como se fosse uma mera imagem que somente reflete os desejos da mãe ou viceversa de modo que o sujeito encara os outros como se fossem um simples pro longamento de si próprio 3 Adictiva que decorre do modelo anterior e consiste em que devido à falta de figuras solidamente introjetadas o indivíduo fica sem um sentimento de identidade próprio e por isso fica adicto a certas pessoas que o com pletam reasseguram e complementam 4 Imitativa Na evolução normal essa for ma é um primeiro passo para a construção de uma identidade sadia No entanto mui tas vezes pode constituirse como forma permanente de personalidade que cabe chamar de camaleônica porquanto esse sujeito não faz mais do que se adaptar na verdade submeterse aos diferentes am bientes Identificações tipos de As identificações propriamente ditas resul tam de um processo de introjeção de figu ras parentais dentro do ego sob a forma de representações objetais e no superego quando então assume uma das seguintes formas 1 Com a figura amada e admirada é a forma que constitui as identificações mais sadias estáveis e harmônicas 2 Com a figura idealizada costuma ser frágil custa ao sujeito o preço de um esva ziamento de suas capacidades e uma pe quena tolerância às frustrações 3 Com a figura odiada configura o que se conhece como identificação com o agressor 4 Com a figura perdida é a base dos pro cessos depressivos inclusive nos quadros melancólicos segundo o mecanismo iden tificatório que está contido na célebre afir mativa de FREUD feita em Luto e melanco lia 1917 de que a sombra do objeto re cai sobre o ego 5 Com a figura atacada 6 Com os valores que lhe foram impostos pelos pais Comentário Creio ser justificável e útil a proposição de duas denominações uma já referida acima é a de forma camaleôni ca nas protoidentificações imitativas pelo fato de que se trata de pessoas que adqui rem a cor do ambiente em que estão A outra é a de identificação com a vítima seguindo o modelo da identificação com o perseguidor caso em que o sujeito identi ficase com a figura que na realidade ou na fantasia ele julga ter atacado e danifi cado gravemente Nesses casos é comum que persista a presença de um mesmo aspecto que a vítima tinha como pode ser um sintoma valor maneirismo ou mesmo uma forte sensação que ocupa o lugar e o papel de uma pessoa morta como pode ser por exemplo o de um feto que foi abortado 206 DAVID E ZIMERMAN Identificação adesiva E BICK E D MELTZER Ver no verbete identificação proto Identificação com o agressor ANNA FREUD Mecanismo defensivo do ego primeiramen te descrito por ANNA FREUD 1936 que alu de ao fato de que o sujeito quando con frontado com algum perigo diante de uma figura temida identificase com seu agres sor assim podendo exercer um melhor con trole e sentindose igual a essa pessoa que ao mesmo tempo teme e admira Em outras palavras numa inversão de pa péis o sujeito age ativamente com os ou tros aquilo que sofreu passivamente das fi guras que o agridem ou agrediram Segun do A FREUD esse mecanismo de a criança internalizar o objeto perseguidor constitui ria uma fase preliminar na construção do superego Identificação projetiva M KLEIN Expressão cunhada por MKLEIN designa um mecanismo psíquico fundamental em todo ser humano Sua importância para a teoria técnica e clínica da psicanálise é re conhecida com algumas variações concei tuais por todas as correntes psicanalíticas da atualidade Todos reconhecem que inicialmente foi FREUD quem descreveu aprofundadamente o mecanismo defensivo de projeção como por exemplo no caso Schreber ou nos seus trabalhos sobre as paranóias Embora nun ca tenha utilizado a terminologia de identi ficação projetiva a essencialidade que ca racteriza a concepção desse fundamental fenômeno psíquico aparece em alguns im portantes textos de sua obra Assim em A psicologia de grupo e a aná lise do ego 1921 FREUD deixa entrever claramente a identificação projetiva que os integrantes das massas efetivam com seus líderes tal como acontece ele exemplifica numa tropa de exército entre os soldados com o seu comandante No outro exemplo de liderança nesse seu trabalho Freud traz o modelo da igreja na qual todos os súdi tos religiosos estão unidos porque encarnam um mesmo ideal de ego Jesus Cristo na igreja cristã e isso corresponde ao fenô meno da identificação introjetiva O que fundamentalmente diferencia a con cepção de FREUD da de MKLEIN é que FREUD pensava a projeção em termos de objetos totais projetados sobre os objetos enquan to KLEIN postulou a identificação projetiva com objetos parciais projetados dentro de outras figuras objetais MKLEIN em Notas sobre alguns mecanis mos esquizóides1946 utilizou pela pri meira vez a denominação de identificação projetiva cuja conceituação foi ampliando progressivamente em pelo menos três di mensões psíquicas distintas 1 Como uma necessária e estruturante defesa primitiva do ego incipiente através de uma expulsão que desde sempre o su jeito faz de seus aspectos intoleráveis den tro da mente de outra pessoa a mãe no caso do bebê o analista no caso do pa ciente 2 Como uma forma de penetrar no inte rior do corpo da mãe com a fantasia de controlar e apossarse dos tesouros que em sua imaginação a mãe possui sob a forma de fezes pênis e principalmente os bebês imaginários 3 No trabalho Sobre a identificação 1955 inspirada na novela Se eu fosse você de JULIAN GREEN MKLEIN ensaia as primeiras concepções das identificações projetivas a serviço da empatia Notáveis seguidores kleinianos ampliaram a compreensão e utilização do fenômeno da identificação projetiva Dentre eles cabe destacar ROSENFELD que descreveu os es tados confusionais e os de despersonaliza ção dos psicóticos resultantes de um ex VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 207 cessivo uso de identificações projetivas e in trojetivas PHEIMANN e HRACKER que sepa radamente descreveram a possibilidade de os analistas utilizarem seus sentimentos con tratransferenciais como um importante ins trumento técnico LGRINBERG com os seus importantes estudos sobre a contraidenti ficação projetiva MELTZER que assinalou o fato de a identificação projetiva poder cons tituirse para o paciente como seu melhor recurso para protegerse contra a angústia de separação Identificação projetiva BION Sem dúvidas BION foi o autor que mais con sideravelmente ampliou a concepção origi nal de KLEIN e acrescentou outros aspectos com absoluta originalidade das quais as seguintes podem ser mencionadas 1 Criou o modelo continenteconteúdo para virtualmente todos os fenômenos da vida psíquica A transação entre os conteú dos que são projetados e o continente que os acolhe e contém é processada através de identificações projetivas 2 Considera dois tipos de identificações projetivas uma que denomina realista es truturante e indispensável para enfrentar a realidade e outra denominada excessiva que se caracteriza tanto por um excesso quantitativo como pelo excesso qualitatvo devido às características da ilusória força mágica da onipotência e de uma fragmen tação dos aspectos do self que são projeta dos 3 Introduziu a importantíssima noção de que a emissão do conteúdo dos protopen samentos elementos β objetiva encontrar um continente adequado que descodifique os significados emitidos e veiculados pela evacuação através de identificações proje tivas 4 Assim essas últimas adquirem a função de uma comunicação primitiva daquilo que o paciente não consegue verbalizar por quanto tratase de uma angústia inomina da que BION chama terror sem nome 5 Caso não encontrem um continente adequado essas projeções podem alojar se em objetos do espaço externo consti tuindo o fenômeno que ele chama de objetos bizarros e configurando a flora ção de alucinoses 6 Embora BION não empregue a denomi nação de empatia fica transparente o quan to ele valoriza a função estruturante possi bilitada pela utilização adequada das iden tificações projetivas que permitam que o sujeito possa colocarse no lugar de um outro e sentir o que este sente e não conse gue transmitir Identificação introjetiva FREUD M KLEIN Em Luto e Melancolia 1917 FREUD fez a clássica afirmativa de que a sombra do objeto recai sobre o ego assim estabele cendo a primeira noção de que num pro cesso de luto é normal ou de melancolia é psicopatológico o objeto perdido vai fazer parte integrante de um núcleo do pró prio ego Pode resultar daí que o objeto perdido e o ego em um processo que lem bra o fenômeno da osmose confundamse entre si de tal sorte que o destino de um passa ser o destino do outro Com essa concepção FREUD está definindo o fenômeno da identificação com o objeto perdido e ao mesmo tempo está lançan do as primeiras sementes para um proces so identificatório mais amplo o da identi ficação projetiva que veio a ser descrito mais profundamente por MKLEIN Essa autora estudou principalmente o in terjogo permanente entre as identificações projetivas e as introjetivas isto é existe uma reintrojeção modificada dos aspectos que previamente haviam sido projetados As identificações projetivas de aspectos disso ciados predominam nos processos ineren tes à posição esquizoparanóide enquanto 208 DAVID E ZIMERMAN as identificações introjetivas caracterizam a posição depressiva A diferença principal entre as concepções de FREUD e MKLEIN consiste no fato de que o primeiro formulou o objeto introjetado como sendo total enquanto KLEIN enfo cou enfaticamente a introjeção dos obje tos parciais Identificação patógena Essa expressão vem aparecendo com bas tante regularidade nos textos psicanalíticos Designa o fato de os objetos internalizados exercerem continuamente uma ação sabo tadora e enlouquecedora contra o sujeito que essa ação acaba ficando identificada de forma patógena com esses objetos Na prática clínica esse aspecto assume relevân cia porque implica a necessidade de a aná lise promover uma gradual desidentificação seguida de neoidentificações Ideograma BION A FERRO BION emprega essa expressão para se refe rir aos pensamentos primitivos de nature za préverbal que estão mais ligados à cons trução de imagens visuais do que propria mente às palavras e à audição Assim as construções ideogramáticas seguem o mes mo princípio que rege a escrita dos chine ses baseada em múltiplas combinações de símbolos visuais BION 1962 ilustra isso com a afirmativa de que Se a experiência emocional é um sen timento de dor a psique deve ter uma ima gem visual de alguém que massageia o co tovelo ou de um rosto banhado em lágri mas ou algo parecido Na psicanálise contemporânea o concei to aparece com outros nomes como pic tograma fotograma holograma e imagem onírica Inspirado em BION ANTONINO FERRO um au tor moderno tem dado expressiva impor tância à narrativa dos pacientes na situa ção analítica sob a forma de ideogramas Em Antonino Ferro em São Paulo Semi nários 1996 assim definiu esse conceito em relação à prática analítica Quando o paciente é capaz de evocar em nós analis tas imagens visuais já nos está fornecen do algo rico em elementos α É como se o paciente fosse o diretor de um filme e a nós coubesse a parte mais simples de fazer a montagem dele Reciprocamente FERRO completa se a in terpretação provocou um pictograma de elementos α que remete à dor à violência à submissão etc o derivado narrativo po derá ser assim lembro de uma vez quan do eu era pequeno e meu pai me aplicou uma injeção muito dolorosa humilhando me depois diante de todos porque eu cho rei ou então vi um filme na televisão no qual uma moça que confiara em dar caro na a um mochileiro foi assaltada e violen tada Assim por diante Ferro exemplifica com outras possibilidades de ideogramas imagens visuais que foram despertados e que determinam distintas formas de gêne ros narrativos lúdico gráfico sensorial motor onírico por parte do paciente Ilusão área de WINNICOTT A partir de 1951 WINNICOTT começa a estu dar os fenômenos e os objetos transicionais Essa concepção original referese ao fato de a passagem do subjetivo mundo interno e imaginário do bebê para o objetivo e real mundo externo processarse inicialmente por meio de uma espécie de ponte de tran sição entre ambos os mundos Assim criase um espaço virtual que WINNI COTT denomina às vezes espaço transicional e outras de espaço potencial área de ilusão experiência cultural ou área da criatividade porquanto o trânsito entre a fantasia e a reali dade possibilita um alto potencial e riqueza de criatividade inclusive artística VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 209 Ilusãodesilusão WINNICOTT A área de ilusão de onipotência consiste no fato de o bebê vivenciar o seio da mãe como parte do seu próprio corpo no início a mãe ou o analista na situação analítica deve aceitar essa ilusão porém aos poucos deve processar o que WINNICOTT denomina uma progressiva desilusão das ilusões até que a criança perceba que ela tem a possessão do objeto seio mas que não é o seio Imaginário registro LACAN O adjetivo imaginário é formado do subs tantivo imagem que por sua vez deriva do étimo latino imago É empregado na psicanálise para designar aquilo que pode ser representado em pensamento inde pendentemente da realidade Esse termo do ponto de vista psicanalítico foi popula rizado por LACAN a partir do seu trabalho O estádio do espelho como formador da função do eu escrito em 1936 Nele con ceitua a noção do imaginário como corre lata da etapa do espelho que se caracteriza por uma relação dual com a imagem do semelhante a mãe LACAN descreve a pas sagem do especular o ego da criança so bretudo em virtude de sua prematuração neurobiológica constituise a partir da ima gem do seu semelhante como um espelho que reflete para o imaginário LACAN utiliza um conjunto de termos e con ceitos no qual ele destaca três planos o simbólico o imaginário e o real Como pri orizava a importância do simbólico a sigla utilizada para esse conjunto era SIR que Lacan representava por três círculos de bar bante ligados por um nó borromeu isto é de tal maneira que quando um dos círcu los é desfeito os outros dois também se desfazem Posteriormente ao aprofundar os estudos com as psicoses LACAN passou a centrar a primazia no registro real de modo que a sigla representativa passou a ser RIS O registro simbólico foi definido por LACAN como o lugar do significante e da função paterna e permite a capacidade para fazer abstrações e formar símbolos O registro imaginário designa o campo das ilusões da alienação e da fusão com o corpo da mãe e deve ser entendido a partir da imagem que sempre é algum grau de distorção do semelhante que o refletiu superpondo e confundindo a figura e o fundo Por isso o imaginário é considerado o registro do en godo Segundo LACAN qualquer comporta mento qualquer relação imaginária está essencialmente votada ao malogro O registro real é considerado um resto im possível de simbolizar Os registros do ima ginário e do simbólico são considerados instrumentos indispensáveis para o analis ta se orientar no seu trabalho analítico Imago JUNG Termo introduzido por JUNG em 1912 para designar uma representação inconsciente que o sujeito tem de seus pais e irmãos in ternalizados que resultam de fixações das primeiras experiências infantis e que de terminam a posterior conduta do sujeito e a sua forma de percepção em relação às outras pessoas O conceito de imago deve ser entendido não tanto como uma imagem mas como um esquema imaginário de sorte que ele não representa ser um reflexo da situação real mesmo que mais ou menos deforma do Assim a imagem de um pai terrível pode muito bem corresponder a um pai que na realidade foi apagado Imago parental idealizada KOHUT KOHUT concebeu um arco de tensão na criança Um dos pólos constituído pelas ambições chamou de self grandioso o outro pólo onde residem os ideais ele denominou imago parental idealizada 210 DAVID E ZIMERMAN Entre esses pólos estão as capacidades e talentos do ego KOHUT destaca a importância de os pais ou o analista na situação psicanalítica permi tirem que a criança os idealize porque isso constitui nos primórdios do desenvolvimen to emocional um importante fator estrutu rante da personalidade Impasse A palavra impasse deriva do idioma fran cês e significa beco sem saída embora na psicanálise atual o mais adequado seria di zer situação que parece não oferecer saída favorável Assim impasse pode ser concei tuado como toda situação suficientemente duradoura na qual os objetivos do traba lho psicanalítico pareçam não ser atingíveis embora se mantenha conservada a situa ção analítica standard De modo geral os impasses manifestamse por uma dessas três razões que ocorrem no curso do processo analítico 1 Estagnação Aparentemente a situação está tranqüila analista e analisando supõem que a análise está se desenvolvendo bem porém ela está dando voltas em torno do mesmo lugar e nada de mais acontece nem de mau nem de bom 2 Paralisação O analisando não sabe mais o que dizer e o analista sentese manietado em uma desconfortável sensação contra transferencial de impotência e paralisia enquanto no par analítico vai crescendo um sentimento de esterilidade 3 Reação terapêutica negativa RTN En quanto as duas anteriores costumam ser impasses silenciosos esse último habitual mente é ruidoso por vezes dramático Todas as análises especialmente as bem sucedidas atravessam alguns transitórios períodos difíceis que sugerem um impas se mas que bem compreendidos e inter pretados são relativamente fáceis de supe ração com a aquisição de um importante insight Destarte os impasses não devem ser confundidos com os inevitáveis momen tos de transferência negativa até porque o surgimento desta no campo analítico dife rentemente do que o termo negativo suge re pode ser altamente positiva desde que seja bem acolhida compreendida e mane jada pelo analista Caso contrário a trans ferência negativa pode vir a se configurar como um impasse Os impasses devem ser compreendidos em três dimensões possíveis os que procedem unicamente do paciente os que se devem unicamente ao analista e os que se formam a partir de ambos resultantes de conluios resistenciaiscontraresistenciais não desfei tos e que por isso mesmo cronificam em uma estagnação que constitui uma das for mas de impasse Podese dizer resumidamente que os im passes resultam de diversas causas e fon tes adquirem diversas formas comportam distintos significados e além disso na prá tica clínica requerem diferentes manejos técnicos Assim os motivos preponderan tes podem ser de natureza narcisista em um ou em ambos do par analítico uma forma de fuga de sentimentos ligados à depressão ao medo de um apego de muita dependência a uma enorme resistência às verdadeiras mudanças etc Em relação às causas que procedem unica mente dos pacientes as mais freqüentes consistem em a os falsos colaboradores b a desonestidade c os actings excessi vos d o antianalisando e a psicose de transferência f a reação terapêutica nega tiva Cada uma dessas causas podem ser con sultadas nos seus respectivos verbetes Impingement Esse termo que pode ser entendido como traumas invasivos vem sendo usado com relativa freqüência na literatura psicanalíti VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 211 ca atual Diz respeito às falhas grosseiras da função materna que condicionam uma in vasão de estímulos ambientais sob a forma de impingir na mente da criança sentimen tos como os de culpa vergonha medo confusão expectativas exageradas rótulos desqualificatórios etc os quais de algu ma forma ficam impressos na sua mente Esses traumas ultrapassam a capacidade do ego incipiente da criança assim dificultan do a absorção e a harmonização das pul sões provindas do id fato que ao mesmo tempo que produz uma intensa ansiedade impotência e desvalia na criança também provoca uma descontinuidade no sentimen to de ser Imprinting KLORENZ Alguns estudos etológicos estudo dos com portamentos espontâneos dos animais pre ferentemente em seu habitat natural ser vem para mostrar a influência recíproca e complementar entre os fatores genéticos e os ambientais O fenômeno do imprinting é um deles com esse nome talvez a me lhor tradução para o português dessas mar cas que ficam impressas na mente seja a palavra moldagem em 1935 o etólogo austríaco KONRAD LORENZ por meio de es tudos com aves observou que na ausên cia da mãe as patas nascidas em choca deiras apegamse e ficam fixadas para sem pre no primeiro objeto móvel que encon tram e que isso se dá num período parti cularmente sensível que dura cerca de 36 horas Uma vez instalada a marca dessa fixação fica irreversível Esse fenômeno repetese de forma variável para cada espécie po rém conserva a constância de que fora do período sensível o imprinting não mais acontece É bem cabível a especulação de que desde a condição de feto o ser huma no também esteja registrando uma molda gem de certos estímulos que ficam eterna mente gravados e representados em algum canto do ego incipiente Incerteza princípio da A psicanálise contemporânea confere ex pressiva importância ao princípio da in certeza uma concepção de HEISENBERG que postulou o fato de o observador mu dar a realidade observada conforme seu estado mental durante determinada situa ção a exemplo do que se passa na física subatômica na qual uma mesma energia em um dado momento é onda e em ou tro é partícula Nesse contexto analista e analisando fazem parte da realidade psíquica que está sendo observada e portanto ambos são agentes da modificação da realidade exterior à me dida que se modificam as respectivas reali dades interiores Comentário O destaque que esse princí pio adquire na análise atual é justificado na medida em que vem corrigir o velho equívoco de atribuir ao analista no setting analítico a posição de um privilegiado ob servador neutro atento unicamente para entender descodificar e interpretar o mate rial trazido pelo paciente Pelo contrário hoje parece ser consensual que a estrutura psíquica do analista sua ideologia psicana lítica sua empatia e não só o conteúdo mas também a forma das interpretações en fim de como reciprocamente é influenci ado pelo analisando e o influencia con tribuem decisivamente nos significados e rumos da análise Incesto FREUD LACAN Prática de relações sexuais entre parentes próximos consangüíneos cujo casamento é proibido por lei como por exemplo en tre pai e filha mãe e filho irmão e irmã Por extensão o sentimento de proibição moral e cultural pode estenderse às rela 212 DAVID E ZIMERMAN ções sexuais entre tio e sobrinha tia e so brinho padrasto e enteada madrasta e en teado sogra e genro sogro e nora Virtualmente essa proibição é universal embora possam variar as formas de sua aplicação Em algumas sociedades primiti vas são consideradas incestuosas as rela ções extensivas a grupos maiores de paren tes afins além da família nuclear em ou tras ainda persiste uma prática antiga de submeter os transgressores a severos casti gos inclusive corporais A psicopatologia forense atesta o grande número de transgressões incestuosas de pais com filhas sendo que o incesto totalmente consumado entre mãe e filho é em número muitíssimo menor sendo quase uma exce ção Embora persista legalmente a proibi ção de casamentos incestuosos as leis mo dernas não intervêm diretamente na vida sexual dos adultos maiores de idade Pu nem apenas a pedofilia incestuosa ou não o estupro e o exibicionismo FREUD estudou detidamente o problema do incesto principalmente em Totem e Tabu 191213 Segundo ele a relação incestu osa é sempre desejada inconscientemente Sua proibição impede ao ser humano a efe tivação de duas tendências pulsionais que constituem a essência do complexo de Édi po matar o pai e desposar a mãe tal como FREUD descreve em relação ao mito original da horda primitiva na qual o assassinato do pai é seguido pela expiação dos filhos A interiorização desse conflito teria dado origem aos primórdios da moral da ética e da cultura LACAN seguindo os passos de antropólogos como LSTRAUSS que contestam essa teoria de FREUD assevera que a origem do pro blema do incesto não reside unicamente numa demanda pulsional o que é certo e está comprovado pela universalidade de sua existência mas também que se funda na cultura na qual é estruturada pela lin guagem Portanto a proibição do incesto não se restringe sempre aos graus reais do parentesco mas também à relação social que atribui a certas pessoas a representa ção de pai mãe irmãos etc LACAN enfati za que uma criança só pode ter acesso ao registro simbólico se funcionou exitosamen te a lei do pai referente à atitude do pai que age como uma cunha interditora para desfazer a díade mãefilho Assim em mui tos casos a análise visa sobretudo a trans formar a lei do desejo edípicoincestuoso num desejo da lei Podese dizer que um prolongamento exa gerado dessa díade fusional funciona como um caldo de cultura para futuras relações incestuosas de acordo com a provável eti mologia da palavra incesto que parece de rivar de in não castus corte No idioma inglês aparece uncut isto é incesto esta ria indicando que ainda não houve uma separação um necessário corte na referida díade simbiótica Inconsciente O FREUD 1915 Dentre os importantes Trabalhos sobre me tapsicologia publicados em 1915 sobres sai O inconsciente o qual consta de sete capítulos intitulados Justificação do con ceito de inconsciente Vários significados de o inconsciente O ponto de vista topo gráfico Emoções inconscientes Topo grafia e dinâmica do recalcamento As ca racterísticas especiais do sistema inconsci ente Comunicação entre os dois siste mas e Avaliação do inconsciente Esse artigo está no volume XIV p191 da Standard Edition brasileira Inconsciente FREUD Antes de FREUD os cientistas e filósofos já admitiam a existência de um inconsciente no sentido da presença de algo que não pertence ao consciente mas recusavam lhe um caráter psíquico atribuindo tudo que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 213 se passava no plano desconhecido da men te aos mistérios do corpo da alma e do es pírito O inconsciente como região do psiquis mo com leis próprias de funcionamento é uma descoberta estritamente freudiana Assim a partir de FREUD o inconsciente palavra que não criou passa a ganhar tal relevância a ponto de ser uma síntese da própria psicanálise sendo que ele a estu dou e a conceituou de forma distinta em dois momentos de sua obra Na primeira tópica também chamada como teoria to pográfica do étimo grego topos lugar FREUD postulou que o inconsciente seria um lugar onde os afetos representações e deri vados das pulsões em geral se manteriam fortemente reprimidos proibidos de ganhar um acesso ao consciente Na segunda tópica também conhecida como teoria estrutural ou dinâmica o in consciente encontrase distribuído entre os referidos derivados das pulsões provindos do id mas também com grandes partes do ego e do superego os três juntos constitu indo o aparelho psíquico e mantendose como instâncias separadas porém numa permanente interação De forma esquemática cabe assinalar os seguintes aspectos que FREUD postulou nos seus escritos sobre o inconsciente 1 É um reservatório de conteúdos repri midos 2 Esses conteúdos são compostos por pul sões e respectivos derivados FREUD consi derou a pulsão a fronteira entre o somático e o psíquico 3 No artigo O inconsciente 1915 FREUD conceituou esse conteúdo reprimido como composto por representantes da pulsão já que a pulsão em estado bruto nunca pode se tornar objeto da consciência 4 Existem duas espécies de repressões uma a repressão secundária consiste naquilo que já foi consciente ou précons ciente e foi recalcado para o inconscien te a outra forma de material reprimido seria o que é chamado repressão primá ria ou originária isto é aspectos pulsio nais filogenéticos que nunca chegaram a ser exteriorizados 5 No aparelho psíquico o sistema incons ciente é representado pela sigla Ics o pré consciente pela sigla Pcs enquanto PcCs representa o sistema percepçãoconsciência 6 O sistema inconsciente além dos con teúdos possui mecanismos e talvez uma energia específica própria 7 Os mecanismos específicos que regem os conteúdos do inconsciente consistem no processo primário principalmente no que diz respeito ao uso dos mecanismos de con densação e deslocamento assim como tam bém pela ausência no inconsciente das leis da lógica da noção de espaço tempo e causalidade pela mobilidade da energia li vre e pela predominância do princípio do prazerdesprazer 8 Assim o sonho foi para FREUD a via ré gia de acesso ao inconsciente Ele também destacou os caminhos reveladores do in consciente que são propiciados pelos sin tomas lapsos e atos falhos 9 Os conteúdos reprimidos no inconscien te estão fortemente investidos catectizados pela energia pulsional e procuram retornar à consciência e à ação o que constitui o que ele denominava como a busca de um retorno do reprimido Mas esses conteú dos só podem ter acesso ao sistema Pcs Cs depois de passar pelo crivo das defor mações e disfarces impostos pela censura tal como é a censura onírica no caso dos sonhos 10 Na situação analítica os conteúdos re primidos do inconsciente só podem ter aces so ao consciente se forem vencidas as bar reiras das resistências LACAN desenvolveu uma concepção radical mente diferente da noção do inconsciente concebida por FREUD Para LACAN baseado na sua teoria do significante o inconscien te é definido como o discurso do outro as 214 DAVID E ZIMERMAN sim como também enfatizou que o incons ciente é estruturado como uma linguagem Inconsciente coletivo JUNG JUNG tem uma concepção de inconsciente profundamente distinta da de Freud Ele não valoriza muito o aspecto conflitual com a respectiva repressão de desejos pulsionais que constituem fixações de situações pas sadas Antes JUNG enfoca prioritariamente os núcleos herdados que guardam germes de potencialidades psíquicas a serem de senvolvidas no futuro Os assim denominados arquétipos jungue anos referem que para esse autor a incons ciência faz parte da herança comum da humanidade que atingiu gradual e labori osamente o estágio da consciência numa evolução que ainda não terminou uma vez que há vastas regiões do espírito humano ainda envoltas em trevas a psique está lon ge de ser totalmente conhecida Incorporação FREUD Expressão introduzida por FREUD ao elabo rar a noção de fase oral 1915 Alude a um processo pelo qual o sujeito de uma forma predominantemente mágicofantasi osa faz penetrar e conservar um objeto no interior do corpo Tratase de uma for ma de relação objetal por parte da criança de caráter nítidamente oralcanibalística que visa à obtenção de um prazer fazendo um objeto penetrar dentro de si Como isso não pode ocorrer sem destruição a incor poração fica ligada a fantasias sádicas de aniquilamento Essa relação também visa à assimilação das qualidades desse objeto incorporado con servandoo dentro de si Esse último aspecto constitui o protótipo dos processos da in trojeção e da identificação Na incorporação misturamse intimamen te diversas metas pulsionais FREUD as exemplifica com as duas atividades a ali mentar e a sexual que estão concomitan temente presentes no ato de o bebê ma mar porquanto a criança não se limita a saciar a fome também tira um prazer li bidinal com o ato da sucção do seio ma terno e ainda mais deseja a absorção total do objeto que a gratifica Conquanto seja predominante a incorpo ração não é uma atividade que se faz pura mente pela boca Outras zonas erógenas e outras funções podem assumir essa finali dade incorporativa podendo ser pela pele respiração visão e audição Também existe uma incorporação anal na medida em que a cavidade retal guarda uma analo gia com a boca e uma incorporação ge nital manifestada principalmente na fan tasia de pênis cativo isto é na fantasia da retenção do pênis no interior de uma vagina dentada ABRAHAM e posteriormente MKLEIN des tacaram dois fatos a forte presença das pulsões sádicas no processo incorporati vo e o fato de que a incorporação tam bém deve ser entendida em termos de objetos parciais Indiferenciação M MAHLER No estudo das primeiras fases do desenvol vimento infantil muitos autores têm acen tuado a importância para o processo ana lítico contemporâneo do entendimento da etapa na qual em condições normais o bebê por falta de maturação neurobiológi ca ainda não diferencia o eu do nãoeu ou seja entre ele e o outro Assim sob nomes diferentes e com peque nas variações conceituais distintos autores modernos têm dado ênfase à situação em que o bebê constitui com a mãe uma día de fusional e indiscriminada Dessa forma MMAHLER 1975 denomina esse estado au tismo normal e de simbiose LACAN situao evolutivamente no estágio do espelho WIN VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 215 NICOTT igualmente destaca o estado de ilu são de onipotência em que o bebê num estado de real dependência absoluta tem a ilusão de ter absoluta independência Desse modo cabe à mãe com a coopera ção do pai não prolongar demasiadamen te esse apego simbiótico sob o risco de com prometer a evolução para aquilo que MAH LER denomina como uma etapa de diferen ciação a qual é desdobrada em duas sube tapas a da separação e a da individuação as quais abrem o caminho evolutivo nor mal até a etapa da construção de uma cons tância objetal Inércia princípio da FREUD Ver o verbete Nirvana Infidelidade conjugal tipo de vínculo Situação bastante freqüente e que tem me recido a atenção de muitos autores psica nalíticos EJONES descreveu a dependência narcisística da pessoa ciumenta em relação a seu cônjuge enfatizando o fato de que em pessoas deste tipo o intenso desejo de se apossar do outro tropeça na maior parte das vezes com um concomitante temor de que esse desejo se realize e assim ele tam bém ficaria engolfado e prisioneiro Esse temor provoca uma fuga inquieta de um objeto para outro Diz JONES a infidelida de conjugal tem mais do que se acredita uma origem neurótica Não é sinal de li berdade e potência senão o contrário Alguns autores apontam que certas pesso as buscam estabilidade mantendo uma re lação medianamente terna e escassamente sexual com ao legítimao esposao Po rém dada a impossibilidade estrutural de satisfazerse plenamente com o cônjuge desenvolvem a fantasia que pode ou não concretizarse de que uma terceira pessoa lhes traria a completa felicidade espiritual e sexual Para certos homens existe uma dis sociação da figura feminina entre uma san ta e uma puta decorrente de uma clivagem que fizeram da figura materna de sorte que se realizam com a esposa na obtenção de um lar familiar e necessitam de uma amante para completar uma plena liberdade sexual Muitas vezes se dá o paradoxo de que o vínculo ilegítimo torna possível a extensão no tempo da relação conjugal a ponto de existirem casos que uma vez dissolvida a relação de amasiamento se deteriora o matrimônio As variações do tipo de infidelidade são in finitas alguns homens desenvolvem um donjuanismo o equivalente na mulher consiste numa ninfomania outros buscam um desafogo na busca de prostitutas ou tros casais estão inconscientemente conlui ados na partilha com terceiros amantes como uma forma de resgatar uma perdida relação triangular ainda outros induzem a parceira a práticas sexuais perversas ou necessitam de uma amante para poder praticar atos sexuais perversos que o supe rego proíbe num casamento formal Assim não é raro certos homens inconsci entemente induzirem suas mulheres a esta belecer relações sexuais com algum homem particularmente excitante para um seu pos sível lado homossexual oculto Também não se pode descartar a possibilidade de que a infidelidade possa representar um passo para ingressar numa relação amorosa mais completa e sadia Inibição FREUD FREUD em Inibições sintomas e angústia 1926 afirma que se pode dar o nome de inibição a uma considerável limitação de uma função quando causada por fatores psíquicos FREUD considera que determina da função do ego fica inibida na mesma proporção que adquire uma significação sexual Ele exemplifica essa situação dizen do que quando a escrita que consiste em 216 DAVID E ZIMERMAN fazer correr um líquido numa folha de pa pel em branco adquiriu a significação sim bólica de coito ou quando a marcha se tor nou um substituto de calcar a mãe terra a escrita e a marcha são ambas abandona das porque voltariam a executar o ato se xual proibido Outras vezes um determinado sintoma neu rótico a evitação fóbica por exemplo pode adquirir um grau tão elevado que provoca outras inibições correlatas como para o tra balho convívio social etc Na atualidade dáse uma valorização bas tante mais expressiva às pulsões agressivas mal elaboradas como responsáveis por inú meras inibições Inibições sintomas e angústia FREUD 1926 Um dos mais importantes livros de FREUD compõese de dez partes além de adendas e apêndices As partes têm os seguintes títulos 1 As inibições refletem restrições às fun ções do ego 2 Os sintomas refletem con flitos intersistêmicos 3 Relação do ego quanto ao id e aos sintomas 4 A angús tia produz recalque aí FREUD compara as angústias do Pequeno Hans e a do Homem dos lobos 5 Outras defesas além do re calque 6 Anulação retroativa e isola mento 7 A angústia é sinal de perigosa clivagem 8 A angústia reproduz senti mentos de desamparo 9 Relação entre formação de sintomas e angústia 10 A repetição é conseqüência do recalque Apêndices A modificação de opiniões an teriores Comentários suplementares so bre a angústia Recalque e defesa Aden da Angústia sofrimento e luto Esse trabalho foi publicado em 1926 cons ta do volume XX da Standard Edition p107 e na Introdução do Editor afirma se que os tópicos que este livro aborda abrangem um vasto campo e há indicações de que FREUD encontrou uma dificuldade incomum para unificar o trabalho A des peito de importantes assuntos paralelos tais como as diferentes classes de resistências a distinção entre recalque e defesa bem como as relações existentes entre angústia sofrimento e luto o tema principal é o pro blema da angústia Este inclui os seguintes aspectos angústia sob a forma de transfor mação da libido angústia realista e neuró tica a situação traumática e a situações de perigo a angústia como um sinal a angús tia e o nascimento FREUD também faz sig nificativa referência ao livro de ORANK Trauma do nascimento 1924 Inscrição de memória ou traços ves tígios mnésicos FREUD Expressão de alta relevância na obra de FREUD porque designa as impressões mné sicas ou mnêmicas ou seja os traços de memória que acompanhavam importantes experiências sensoriais e emocionais e que de alguma forma ficaram como que impres sas gravadas no ego rudimentar Em FREUD o conceito de inscrição também traduzido por traço mnésico ou vestígio mnésico às vezes aparece como sinônimo de representação coisa termo originalmente grafado por ele como Objektvorstellung No entanto há uma diferença entre ambos porque mais do que uma simples inscri ção a representação reinveste e reaviva o traço mnésico Também é útil observar que o vocábulo mnésico o qual equivale à pa lavra memória deriva etimologicamente de Mnemósine uma deusa grega ligada à me mória Bulfinch T 1998 p15 O conceito de traços mnésicos aparece em muitos textos de FREUD como no Projeto de uma psicologia científica 1895 na Carta 52 da correspondência com Fliess no capítulo VII da Interpretação dos so nhos 1900 e no Estudos sobre a Histe ria 1895 onde Freud compara a organi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 217 zação da memória a arquivos complexos em que as recordações se arranjam de for mas distintas Segundo a concepção freudiana se não nos recordamos dos acontecimentos dos primei ros anos não é por uma falta de fixação mas devido ao recalcamento De um modo geral todas os acontecimentos de certa forma estão inscritos na mente dependen do da evocação das recordações da forma como são investidas desinvestidas e con trainvestidas Para esclarecer o conceito de inscrições FREUD utilizou uma analogia com o funcionamento do bloco mágico ver esse verbete As inscrições ficam representadas no ego e estão sujeitas ao fenômeno dos desloca mentos e das condensações no dizer de LACAN podem constituir uma rede de sig nificantes com mútuos deslizamentos As primitivas inscrições podem vir posterior mente a sofrer transcrições que no proces so analítico devem ser descodificadas Insight A morfologia dessa palavra composta dos étimos ingleses in dentro de sight visão dá uma clara idéia de que a conceituação de insight está diretamente ligada a alguma luz que o analisando venha a adquirir por meio de uma atividade interpretativa do analista A lenta e continuada elaboração dos insights parciais vão possibilitar a ob tenção de mudanças psíquicas objetivo maior de qualquer análise No entanto o termo insight não é unívoco pois permite várias significações de acordo com o destino que a interpretação do analis ta toma na sua mente Como forma esque mática é útil discriminar os seguintes tipos 1 Insight intelectivo Neste caso talvez não se justifique o uso do termo insight tendo em vista que enquanto intelectivo ele não só é inócuo como pode ser prejudicial em alguns casos Como é por exemplo a pos sibilidade de vir unicamente a reforçar o arsenal defensivo de pacientes que são marcadamente intelectualizadores como por exemplo os obsessivos ou narcisistas 2 Insight cognitivo Cognição não é o mes mo que intelectualização antes referese a uma clara tomada de conhecimento por parte do paciente de atitudes e caracterís ticas suas que até então estavam egossin tônicas podendo o insight cognitivo pro mover uma egodistonia e é essa que vai pro piciar o passo seguinte 3 Insight afetivo Podese dizer que aí co meça o insight propriamente dito tendo em vista que a cognição muito mais do que uma mera intelectualização passa a ser acompanhada por vivências afetivas tanto as atuais como as evocativas de experiên cias emocionais do passado assim possibi litando o estabelecimento de correlações e de novas significações entre ambas 4 Insight reflexivo Representa um impor tante e decisivo passo adiante Esse insight instituise a partir das inquietações que fo ram promovidas pelos insights afetivos que levam o analisando a refletir pensar a fazer se indagações e a estabelecer correlações en tre os paradoxos e as contradições de seus sentimentos pensamentos atitudes e valores entre o que diz o que faz e o que de fato é Assim esse insight é de natureza binocular ver esse verbete ou multifocal 5 Insight pragmático Vale a afirmativa de que uma bem sucedida elaboração dos in sights obtidos pelo paciente ou seja suas mudanças psíquicas devem necessariamen te ser traduzidas na praxis de sua vida real exterior e que ela esteja sob o controle do seu ego consciente com a respectiva assun ção da responsabilidade pelos seus atos Instância psíquica FREUD Expressão introduzida por FREUD em A in terpretação dos sonhos 1900 por com paração com o significado que ele tem nos 218 DAVID E ZIMERMAN tribunais ou com as autoridades que julgam as diversas fases de um processo Embora os termos instância e sistema apa reçam algumas vezes de forma algo indis tinta na obra de FREUD é evidente que ele estabeleceu uma diferença entre ambos assim a palavra sistema é mais empregada quando ele se refere às concepções perti nentes à teoria topográfica por exemplo sistemas PcCs Pcs e Ics enquanto ins tância termo que ele manteve até o fim de sua obra é mais utilizado para descre ver os aspectos referentes à segunda tópi ca essencialmente mais dinâmica isto é a teoria estrutural por exemplo as instânci as id ego e superego Instintos FREUD É necessário desfazer um equívoco que fre qüentemente aparece na literatura psicana lítica que consiste no emprego indistinto dos termos instintos e pulsões como se fos sem sinônimos ou equivalentes mas não o são Isso se deve ao fato de que as primei ras traduções dos textos de FREUD nota damente a mais divulgada delas a da Stan dard Edition realizada por Strachey não levaram em conta que FREUD utilizou as palavras Instinkt e Trieb no original alemão com significados bem distintos e delimita dos Assim de uns tempos para cá os autores estabeleceram a diferença significativa de que quando Freud empregava Instinkt es tava se referindo aos instintos biológicos que seguem um comportamento filogenético hereditário que quase não varia de um in divíduo para o outro e que é próprio das espécies do reino animal Quando Freud referiase a Trieb estava alu dindo a algo muito mais abrangente e ima nente proveniente das profundezas inatas do ser humano sob a forma de impulsões aquilo que agrilhoa e propulsiona Essas impulsões em grande parte são passíveis de modificação como evidenciam as pesqui sas contemporâneas que incluem outras variáveis como as noções de padrões de comportamento de mecanismos inatos de desencadeamento de estímulos sinais es pecíficos etc O termo Trieb na atualida de está sendo traduzido por drive no idio ma inglês e por pulsão no português ver esse verbete Impõese reiterar que o uso do termo ins tinto como equivalente ao original Trieb mais do que erro de tradução é um risco de promover uma confusão conceitual e desvirtuar a originalidade da concepção de FREUD Integração e nãointegração WINNICOTT WINNICOTT introduziu o conceito de que nos primeiros tempos do desenvolvimento emo cional devido à imaturidade neurobiológi ca a corporalidade do bebê consiste num estado de nãointegração isso é diferente de dissociação e de angústia de desintegra ção entre as diferentes partes do corpo e a mente A angústia que em situações futuras acom panha os estados de nãointegração foi definida por WINNICOTT como breackdown ou seja uma angústia catastrófica que às vezes ele denomina agonias impensáveis Em 1945 WINNICOTT publica o clássico De senvolvimento emocional primitivo no qual propõe que a maturação e o desenvolvi mento emocional da criança processase através das etapas de integração que leva a criança à obtenção de um esquema cor poral integrado que ele chama unidade psiquesoma de personalização definida como o sentimento que a pessoa adquire de que habita o seu próprio corpo e a eta pa de adaptação à realidade O termo integração também aparece fre qüentemente na obra de MKLEIN com sig nificado distinto do empregado por WINNICOTT Ela o utiliza para enfatizar uma das carac VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 219 terísticas mais importantes da posição de pressiva que justamente consiste na capa cidade do sujeito de conseguir integrar os aspectos que estão dissociados e projeta dos Um exemplo é a criança conseguir representar e se relacionar com a mãe como um objeto total a partir da integra ção dos aspectos parciais da mãe seio boa e má Intelectualização mecanismo de de fesa ANNA FREUD Em psicanálise esse termo costuma ser empregado com o significado de mecanis mo de defesa uma forma de resistência ao tratamento analítico que consiste no fato de o paciente priorizar o uso do pensamento e de elucubrações abstratas teóricas e filosófi cas no lugar de fazer um contato com os afe tos e com as suas fantasias inconscientes FREUD nunca empregou a expressão inte lectualização mas sua filha ANNA descreveu a importância e freqüência de surgimento desse processo defensivo A intelectualização é utilizada mais substan cialmente por pacientes obsessivos que assim controlam isolam e anulam os senti mentos e por pacientes narcisistas que mais se preocupam com o bien dire dizer bonito do que pelo vrai dire dizer as ver dades Três aspectos merecem ser mencionados relativamente à intelectualização 1 Existe um risco de se confundir um ade quado exercício que o paciente faz de pen sar as suas experiências emocionais como parte do seu processo de elaboração com o que tem o significado de intelectualiza ção como foi antes referido 2 Um exagerado menosprezo à intelectua lização pode induzir a uma valorização ex cessiva e única da vivência afetiva 3 É útil não confundir intelectualização com racionalização A primeira visa a manter os afetos à distância e neutralizá los enquanto a racionalização não impli ca a evitação sistemática dos afetos mas atribui a estes razões mais plausíveis com convincentes construções racionais tal como está expressa na conhecida fábula da Raposa e as Uvas Intensidade de uma reação psíquica Embora não conste da literatura psicanalí tica corrente a inclusão dessa expressão no presente Vocabulário se justifica pela freqüência com que se manifesta nas si tuações analíticas Intensidade é diferen te de quantidade Assim um sujeito pode reagir intensamen te diante de uma excitação quantitativamen te pequena ou sua reação emocional pode ser discreta ante um estímulo que objeti vamente é de grande quantidade As res pectivas respostas desproporcionais depen dem da área do psiquismo mais ou menos sensível que foi atingida pelo estímulo o que está diretamente ligado ao conceito que aparece no verbete investimento Uma metáfora pode clarear essa conceitu ação se pincelarmos uma grande quanti dade de tintura de iodo numa pele sadia o sujeito nada sentirá de dor no entanto se passarmos a mesma tintura de iodo mes mo em quantidade insignificante numa pele que está tomada por uma cicatriz ain da aberta de um ferimento é provável que ele possa urrar de dor Inter e intrarelação Os vínculos de relacionamentos processam se em três planos 1 Os intrasubjetivos ou intrapessoais que aludem aos elos de ligação que se proces sam no interior do psiquismo do sujeito como podem ser as relações tópicas do consciente com o préconsciente e o in consciente ou entre as instâncias do id ego superego ideal do ego etc ou ainda da 220 DAVID E ZIMERMAN parte infantil do indivíduo com a sua par te adulta da parte psicótica da personali dade com a parte não psicótica da perso nalidade etc 2 Os intersubjetivos ou interpessoais que conforme diz o prefixo inter significa en tre designa as distintas configurações vin culares que caracterizam os relacionamen tos entre indivíduos e grupos 3 Os transubjetivos ou transpessoais que adquirem uma dimensão que extrapola a dos indivíduos e designa mais especifica mente os relacionamentos no nível das na ções inseridas na aldeia global assim como também o que está contido de forma mais abstrata na cultura nas narrativas dos mi tos folclore Bíblia etc Interesses do ego FREUD As pulsões do ego ou pulsões de autocon servação como FREUD as denominava numa época em que ainda não tinha con cebido a teoria estrutural do psiquismo re presentavam para ele o conjunto de neces sidades e exigências ligadas às funções or gânicas indispensáveis à conservação de senvolvimento crescimento e aos autointe resses do ego Por essa última razão Freud também costumava referirse a essas pul sões do ego com a terminologia interesses do ego Etimologicamente a palavra interesse for mase a partir dos étimos latinos inter en tre est ser ou seja alude à convivência do sujeito com as outras pessoas de modo a proteger seu direito de ser existir portan to a serviço da pulsão de vida Internalização ou interiorização Ambos os termos aparecem indistintamen te nos textos psicanalíticos muitas vezes confundidos com o conceito de introjeção tal como pode ser evidenciado principal mente nos escritos kleinianos De forma mais estrita cabe definir a internalização como um processo pelo qual determinadas relações intersubjetivas são transformadas em relações intrasubjetivas tal como pode ser a interiorização de um conflito uma proi bição uma relação objetal etc De modo geral a introjeção está ligada a um objeto isolado bom ou mau parcial ou total que passa a habitar o interior do psi quismo do sujeito enquanto o vocábulo interiorização designa mais especificamen te a internalização de relações pessoais como pode ser exemplificado com a rela ção de autoridade entre pai e filho que pas sa a ser interiorizada como uma relação in trasubjetiva entre o superego com o ego Internalização transmutadora KOHUT KOHUT cunhou essa expressão destacando a sua especial importância na prática analí tica e conceituandoa como consistindo por parte do paciente na introjeção da figura do analista como pessoa e como modelo de função psicanalítica especialmente para os pacientes cujas falhas empáticas dos pais no início do seu desenvolvimento não ha viam possibilitado identificações satisfató rias nem com a mãe nem com o pai e tam pouco com substitutos destes Interpretação A palavra interpretação não é a tradução fiel ao termo original alemão empregado por FREUD que é Deutung cujo significado alude mais diretamente a um esclarecimen to a uma explicação FREUD também em prega especialmente o termo Bedeutung que se refere à descoberta de uma signifi cação Assim nos trabalhos de FREUD sobre técni ca psicanalítica interpretar aparece como uma forma de o analista explicar o signifi cado de um desejo pulsão inconsciente que surja através de sonhos lapsos atos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 221 falhos alguma resistência e na associação de idéias contidas no discurso do analisan do Surgida em A interpretação dos sonhos embora com uma conceituação ainda em brionária a interpretação adquiriu e man tém até a atualidade a condição de estar no centro da doutrina e da técnica psi canalítica Visto de um vértice contemporâneo o ter mo interpretação está bem adequado le vandose em conta que o prefixo inter de signa uma relação de vincularidade entre o analisando e o analista o que é muito dife rente daquela idéia clássica de que caberia ao paciente o papel de trazer seu material e ao psicanalista a tarefa única de descodi ficar e traduzilas para o analisando Em sua essência a interpretação é enten dida hoje como o resultado final da comu nicação entre as mensagens geralmente transferenciais emitidas pelo analisando e a repercussão contratransferencial que des pertam na mente do psicanalista em três tempos o de um acolhimento seguida de um de transformações em seu psiquismo e finalmente o de devolução sob a forma de formulações verbais Em relação à técnica psicanalítica propria mente dita a interpretação deve ser abor dada por muitos vértices alguns ainda po lêmicos como os que estão contidos no entendimento aplicação e confronto das seguintes dualidades conceituais da inter pretação que aqui não cabe esmiuçar a interpretação deve ser superficial eou pro funda do conteúdo eou das defesas atra vés da via di por ou da via di levare ver esses verbetes vale a inclusão de parâme tros deve ser efetivada pelo analista siste maticamente no aquiagoracomigocomo lá e então ou pode incluir a extratransfe rência e outros recursos cognitivos vale a utilização de metáforas e imagens visuais tem relevância a pessoa real do analista importa o estilo pessoal de o psicanalista interpretar a interpretação é a única via da análise que promove um êxito analítico ou seja o crescimento mental do analisan do ou existem outros fatores concomitan tes cabe distinguir interpretação em seu modelo clássico de atividade interpretati va como se forma a interpretação dentro da mente do analista quais são os elemen tos que constituem uma interpretação com pleta quais são as modalidades de inter pretação Comentário Em relação às duas últimas perguntas formuladas creio que seja útil propor as seguintes reflexões Em relação aos elementos constituintes de uma inter pretação cabe discriminar sete elementos essenciais na sua composição 1 O conteúdo 2 A forma muito particularmente o tom de voz do analista 3 A oportunidade isto é o timing 4 A finalidade para o quê o analista está interpretando 5 Para quem é dirigida a interpretação isto é para qual personagem que está dentro do paciente e que num dado momento está mais à tona 6 A significação que determinada lembran ça sentimento ou fantasia representa para o paciente assim como também a significação que ele empresta às palavras do analista 7 Finalmente um aspecto que pouco apa rece nos textos de técnica psicanalítica e que tem uma importância fundamental consis te no destino que a interpretação vai tomar dentro da mente do paciente As modalidades de interpretação podem ser discriminadas conforme sua finalidade nos 6 seguintes tipos 1 Compreensiva acima de tudo o pacien te sentiuse compreendido pelo analista 2 Integradora juntar os aspectos do paci ente dissociados dentro e fora dele 3 Instigadora instigar o analisando a sa ber pensar suas experiências emocionais 4 Disruptora tornar egodistônico o que está egossintônico no paciente como pode 222 DAVID E ZIMERMAN ser um sintoma um falso self uma ilusão narcisista etc 5 Nomeadora através de sua função a o analista dará nomes às experiências emo cionais primitivas representadas no sujeito ainda sem nome ou seja como um terror sem nome conforme diz BION 6 Reconstrutora uma espécie de costura de reconstrução dos sentimentos e signifi cados contidos nos fatos passados com os presentes Interpretação dos sonhos A FREUD 1900 A interpretação dos sonhos era considera da por FREUD seu trabalho mais importan te ao qual ele dedicou um interesse espe cial de sorte que as sucessivas reedições sofreram significativas transformações Essa obra é composta por sete capítulos e dois apêndices que na Standard Edition ocu pam os volumes IV e V da página 1 até a 668 na edição brasileira Os capítulos e apêndices respectivamente são intitulados e abordam os seguintes temas Capítulo I A literatura científica que tra ta dos problemas dos sonhos O material dos sonhos A memória nos sonhosOs estímulos e as fontes dos sonhosPor que nos esquecemos dos sonhos após o despertar O sentido moral nos sonhos Teorias do sonhar e sua função As re lações entre os sonhos e as doenças men tais Capítulo II O método de interpretar so nhos a análise de um sonho modelo Capítulo III Um sonho é a realização de um desejo Capítulo IV A deformação nos sonhos Capítulo V O material e as fontes dos so nhos A Material recente e indiferente B O material infantil como fonte dos so nhos C As fontes somáticas dos sonhos D Sonhos típicos Sonhos embaraçosos de estar despido Sonhos sobre a morte de pessoas queridas Outros sonhos típicos Sonhos de exame Capítulo VI A elaboração dos sonhos A O trabalho de condensação B O tra balho de deslocamento C Os meios de representação nos sonhos D Conside rações de representabilidade E Repre sentação nos sonhos por símbolos Alguns outros sonhos típicos F Alguns exemplos Cálculos e falas nos sonhos G Sonhos absurdos Atividade intelectual nos sonhos H Os afetos nos sonhos I Elaboração secundária Capítulo VII A psicologia dos processos oníricos A O esquecimento de sonhos B Regressão C Realização de desejos D O despertar pelos sonhos A função dos sonhos Sonhos de angústia E Os processos primário e secundário Recalque F O inconsciente e a consciência Reali dade Apêndice A Um sonho premonitório reali zado Apêndice B Lista de escritos de FREUD que tratam predominantemente ou em grande parte de sonhos Fora de qualquer dúvida todos autores consideram o Capítulo VII como o mais importante de todos Constituise um ver dadeiro clássico e além de fundar a Teoria Topográfica da mente também abre as portas para conceitos fundamentais da en campou essa proposição de FERENCZI e em metapsicologia como os fenômenos da re gressão recalcamento inconsciente proces sos primário e secundário etc que viriam a ser desenvolvidos mais profundamente em trabalhos posteriores Intervenção vincular conceito de técnica Expressão de emprego recente na prática analítica mas que vem sendo usada na prá tica clínica de forma crescente Alude às si tuações nas quais o analista acredita que seria benéfico estabelecer uma reunião VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 223 conjunta do seu paciente com algum fa miliar significativo ou até mesmo um gru po familiar Muitas vezes um encontro dessa natureza que consiste naquilo que a psicanálise de nomina como a introdução de um parâme tro ver esse verbete técnico Pode propor cionar uma experiência muito rica e pro veitosa para pacientes ainda dependentes e que sofrem um assédio hostil de quem lhes patrocina a análise Além disso espe cialmente favorece bastante o analista a perceber e sentir de forma mais plena o sério problema dos transtornos da comunicação que afetam os vínculos do seu paciente com as pessoas significativas de seu entorno Uma eventual intervenção vincular só deve acontecer de forma esporádica não siste mática e muito prolongada não devendo ser confundida com uma terapia de família ou algo análogo Também é fundamental que o analista tenha o controle da situação não saia do seu papel costumeiro e que te nha a segurança de que o setting anterior possa ser facilmente restabelecido Introjeção S FERENCZI FREUD S FERENCZI foi quem introduziu o termo in trojeção como uma simetria em direção contrária à da projeçãoa partir de seu tra balho Introjeção e transferência1909 com as seguintes palavras Enquanto o paranóico expulsa do seu ego as tendênci as que se tornaram desagradáveis o neu rótico procura a solução fazendo entrar no seu ego a maior parte possível do mundo exterior fazendo dele objeto de fantasias inconscientes Podemos pois dar a este pro cesso em contraste com a projeção o nome de introjeção FREUD encampou essa proposição de FE RENCZI e em seu trabalho Pulsões e desti nos das pulsões1915 ao se referir à oposi ção contida no princípio do prazerdesprazer afirma que o ego do prazer purificado constitui uma introjeção de tudo que é fon te de prazer e por uma projeção para fora de tudo o que é ocasião de desprazer FREUD evidenciou e destacou sobremodo o fenô meno da introjeção na determinação da melancolia e posteriormente o reconheceu como um processo mais geral e amplo Tanto em FREUD como nos textos de muitos outros autores seguidamente o conceito de introjeção aparece como sinônimo de in corporação mas cabe uma distinção entre ambos Embora a origem oralcanibalística seja a mesma a incorporação referese estritamente a alguma localização corporal enquanto introjeção é mais abrangente de modo que também alude ao interior do aparelho psíquico como a localização em alguma instância por exemplo O processo de introjeção está intimamente conectado com o da identificação o que foi destacado por ABRAHAM e sobretudo por M KLEIN que enfatizou o jogo das identifi cações projetivas e introjetivas especial mente de objetos parciais dissociados em bons e maus Introspecção Termo recuperado por KOHUT introspecção é por ele empregado para designar um con ceito equivalente ao de insight o que está de acordo com a sua etimologia ou seja intro dentro de spicere olhar o que de signa claramente que a introspecção se re fere a uma mirada meditativa de dentro e para dentro Introversão JUNG Termo introduzido por JUNG em 1910 para designar um desligamento da libido dos objetos do mundo externo e a sua retirada para o mundo interno do sujeito Esse con ceito foi largamente difundido e deu mar gem a estudos posteriores referentes às ti pologias pósjungueanas relativas à oposi 224 DAVID E ZIMERMAN ção entre os dois tipos de personalidades introvertidos e extrovertidos FREUD admitiu seu uso mas lhe conferiu um significado diferente do de JUNG conceben do que a introversão consistiria na retirada da libido para objetos ou produções imagi nárias e fantásticas de sorte que a introver são constitui um mecanismo de formação de sintomas neuróticos conseqüentes a se veras frustrações Assim enquanto Jung denominava a psi cose como neurose de introversão FREUD especialmente fundamentado em seu clás sico Sobre o narcisismo uma introdução 1914 designava a psicose como neurose narcisista Introvertido tipo caractereológico JUNG JUNG descreveu os tipos caractereológicos dentre os quais particularizou especialmen te os tipos introvertido os que usam pre dominantemente o mecanismo de introver são e os extrovertidos o oposto disso Intuição BION BION deu significação psicanalítica ao ter mo intuição concebendoo como a capa cidade necessária ao psicanalista para po der entrar em um profundo estado de sin tonia com o analisando Portanto a intui ção analítica não tem nada de transcenden tal como muitas vezes se pensa A etimologia da palavra intuição compos ta dos étimos latinos in dentro de tuere olhar denota que essa capacidade do ana lista de olhar para dentro consiste numa espécie de um terceiro olho que lhe permi te enxergar além daquilo que nossos órgãos dos sentidos captam Assim segundo BION a intuição é um elemento muito relevante na construção da interpretação surgindo quando a mente do analista não estiver sa turada pelo uso exclusivo da percepção sen sorial visão audição nem pela sua me mória ativa e tampouco pelos seus desejos e ânsia de compreensão imediata Aliás a favor do surgimento da intuição BION recomendava aos analistas que dei xassem livre a imaginação a fim de pro mover a sua imagememação Uma metá fora de BION esclarece melhor ele recomen da que o analista lance sobre a sua própria visão um facho de escuridão para que pos sa ver melhor Da mesma forma outra metáfora mencionada por AM REZENDE também esclarece que a visualização do analista fica aguçada quando ele não fica preso somente a sua visão concreta de modo que as estrelas ficam mais visíveis na escuridão da noite Invariante Bion Em seus importantes estudos sobre o fenô meno das Transformações 1965 BION uti liza a palavra invariante para designar o fato de que por mais profundas e aparentemen te irreconhecíveis que tenham sido as trans formações sempre restam vestígios origi nais imutáveis Uma analogia pode clarear melhor esse re levante conceito a água líquida um bloco de gelo e uma nuvem podem aparentar serem totalmente diferentes entre si mas esses três estados são transformações que conservam um mesmo invariante no caso H2O Assim cabe ao analista detectar os invariantes de sentimentos fantasias e an siedades que aparecem em meio às nar rativas as mais distorcidas e camufladas possíveis Inveja A etimologia da palavra inveja formada pelos étimos latinos in dentro de videre olhar indica claramente o quanto este sen timento alude a um olhar mau que entra dentro do outro Isso encontra confirmação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 225 nos conhecidos jargões do tipo mau olha do olho grande ou uma torcida que com o olhar seca o adversário etc Outra signi ficação etimológica possível decorre de quando o prefixo in designa uma negativa uma exclusão de modo que in videre significa que a inveja está a serviço do su jeito que fortemente fixado na posição nar cisista recusase a ver a reconhecer as di ferenças entre ele e o outro que possui as qualidades de que ele necessita e que inveja O sentimento de inveja é seguramente um dos fenômenos que mais tem merecido da literatura psicanalítica um minucioso e apro fundado estudo quanto às suas causas e conseqüências Uma revisão dos autores em relação ao estudo da inveja permite verifi car o quão importante múltipla e contro vertida é a sua conceituação tanto do pon to de vista da metapsicologia como da teo ria e a prática psicanalítica FREUD Os primeiros estudos com sistemati zação psicanalítica acerca do sentimento de inveja procederam dos ensaios de FREUD em relação ao seu clássico conceito de in veja do pênis ver o verbete MKLEIN Seus primeiros conceitos originais sobre o sentimento de inveja foram ditados juntamente com JOAN RIVIÈRE 1937 nos quais ela definiu as linhasmestras que viri am a consolidarse em seu importante tra balho Inveja e gratidão1957 Nesse ar tigo MKLEIN postula a sua polêmica con cepção de inveja primária como um deri vado direto da pulsão de morte Tratase portanto de uma pulsão inata a serviço da destrutividade e é a determinante da for mação de fantasias inconscientes com a respectiva formação da primitiva angústia de aniquilamento Para KLEIN o ataque invejoso por meio das identificações projetivas ao seio nutridor da mãe e ao corpo materno na fantasia da criancinha é um abrigo de tesouros como o pênis e os bebês e as respectivas rein trojeções configuram um duplo prejuízo qual seja o incremento de ansiedades pa ranóides com a ameaça de retaliação con tra o ego e as depressivas ataque aos objetos bons internalizados com o conse qüente sentimento de desvalia Muitos dos notáveis seguidores kleinianos prosseguiram na abordagem da inveja com algumas con cepções originais algo distintas das de M KLEIN PSICÓLOGOS DO EGO Em relação à gênese da inveja os analistas dessa escola norte americana de psicanálise constituem a cor rente frustracionista isto é eles conside ram a inveja como uma reação secundá ria de destrutividade e avidez como uma decorrência das frustrações impostas pela realidade exterior LACAN deixa transparecer em seus escritos que a inveja é um sentimento inerente à condição humana e que sem ser inata como preconiza MKLEIN formase muito precocemente à medida que vai desfazen dose o paraíso simbiótico e vai se instalan do a necessidade de depender de pessoas do ambiente exterior real Essa perspectiva é portanto essencial mente baseada no narcisismo original com as respectivas injúrias e feridas nar císicas A partir da diferenciação entre o eu e o outro o que leva ao reconheci mento da necessidade do outro surge a inveja que só pode existir quando exis tem dois elementos diferentes Inversa mente a inveja pode originar uma defe sa de regressão em nível fusional para que o ego ideal do sujeito não sinta a se paração e suas diferenças do outro Inveja do pênis FREUD FREUD empregou a expressão inveja do pê nis a primeira vez no trabalho Sobre as teorias sexuais da criança 1908 onde começa a esboçar a teoria de que na me nina a inveja do pênis se origina na sua descoberta da diferença anatômica entre os 226 DAVID E ZIMERMAN sexos de modo a sentirse lesada em rela ção ao menino e deseja possuir um pênis como ele Partindo da convicção de que a menina não tem conhecimento de que possui uma vagina FREUD concluiu que a ausência do pênis condiciona nela fantasias que são inerentes ao complexo de castração No decorrer do Édipo a evolução psicosse xual para a feminilidade implica uma mu dança de zona erógena do clitóris para a vagina e uma mudança de objeto da mãe para o pai A inveja do pênis somada ao complexo de castração e à passagem do apego préedí pico à mãe para o amor edipiano ao pai promove na menina as seguintes mudan ças em condições normais 1 Ressentimento com a mãe que não a proveu de um pênis 2 Depreciação da mãe a quem imagina ser uma pessoa castrada logo deficiente 3 Renúncia à atividade fálica ativa por meio da masturbação clitórica que cede lugar à uma predominante passividade 4 Estabelecimento de uma equivalência simbólica entre pênis e filhocriança de sor te que a menina desloca seu desejo de pos suir um pênis dentro de si pelo de ter um filho do papai FREUD também asseverou que os resquí cios da inveja do pênis na mulher adulta podem condicionar certos sintomas neu róticos ou permanecer no caráter sob a forma do complexo de masculinidade ou seja da assim chamada mulher fálica Na verdade mantevese fiel à essência de sua teoria acerca da inveja do pênis até o fi nal de sua imensa obra como pode ser evidenciado em Análise terminável e in terminável 1937 onde reitera sua des crença quanto à remoção na análise com mulheres dessa irreversível inveja que tal qual uma base de rocha comportase como uma resistência irreversível ao tra balho analítico Essa concepção falocêntrica de FREUD le vada ao extremo podese dizer que sua for mulação seria a de que mulher é um ho mem castrado vem sofrendo pesadas crí ticas e refutações sendo que hoje não en contra respaldo científico de modo que é considerada como um dos pontos mais frá geis de sua obra No entanto essa postulação de FREUD me rece uma revalidação a partir de um ponto de vista semântico em que o pênis seja um designativo do falo o qual por sua vez é um claro símbolo do poder Assim o con ceito de inveja do pênis como falo conti nua sendo muito importante desde que também seja extensivo aos próprios ho mens e que se leve em conta a importante participação dos valores da cultura vigente Inveja e gratidão M KLEIN 1957 Um dos mais importantes da obra de M KLEIN porquanto representa um marco que estabeleceu novo parâmetro teóricotécni co na psicanálise o qual tanto mereceu uma acolhida entusiástica por parte de muitos analistas como um rechaço de outros como foi o de WINNICOTT Já no prefácio MKLEIN afirma que Consi dero que a inveja sendo expressão oral sádica e analsádica de pulsões destrutivas opera desde o começo da vida e tem base constitucional Partindo dessa equivalên cia da inveja primária com a pulsão de morte KLEIN desenvolve as noções correla tas de surgimento de uma voracidade ten dência tanto ao denegrimento quanto à ide alização ansiedade persecutória a luta en tre as pulsões de vida contra as de morte e por conseguinte a ameaça de aniquilamen to de si mesmo e do objeto nutridor o sur gimento do sentimento de ciúme quando a relação fica triangular Tratase de um trabalho extenso que abar ca sete capítulos substanciosos com vinhe tas clínicas além de uma parte final dedi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 227 cada a Conclusões Além de fundamen tar sua concepção dos ataques invejosos que o bebê faz contra o seio alimentador da mãe que tem a posse daquilo que a crian ça necessita e não possui MKLEIN valoriza outros aspectos dos quais no mínimo cabe citar os quatro seguintes 1 Valorização dos fatores constitucionais que são diferentes de uma criança para outra 2 Valorização do ambiente real exterior principalmente a conduta da mãe 3 As culpas e conseqüentes ansiedades que assolam a criança devido aos ataques pro feridos contra o objeto ambivalentemente amado e odiado 4 A possibilidade de o indivíduo poder sen tir gratidão pela mesma pessoa que ele tan to pode ter atacado e mais poder vir a fa zer reparações verdadeiras Esse trabalho está publicado no volume III das Obras completas de Melanie Klein Investigação BION Na Grade de BION a Investigação ocupa a coluna 5 designando a utilização da fun ção de pensar no que se refere à capacida de de o sujeito investigar etimologicamen te esse verbo alude a ir atrás de vestígios aquilo que o paciente traz nas suas narrati vas na situação analítica Para tanto BION propõe o emprego de indagações tanto por parte do analista quanto do paciente O protótipo dessa coluna 5 está contido no mito de Édipo tanto por aludir à insistên cia com que este levou a cabo a sua inves tigação como pelo fato de que foi através da investigacão do mito edípico que FREUD extraiu a teoria psicanalítica Investimento catéxis FREUD A energia psíquica procedente das pulsões necessita estar ligada investida em algum objeto tanto externo como na sua repre sentação interna ou a um grupo de repre sentações como também no próprio corpo como no caso do autoerotismo ou a al guma parte do corpo numa forma de saci ar as necessidades básicas como a fome numa tentativa de reencontrar as experiên cias de satisfação Para descrever esse investimento específi co da energia mental FREUD empregou o termo original Besetzung Energie que nos primeiros tempos foi traduzido para o in glês como cathexis e para o português como catéxis ou catexia O verbo alemão beset zen significa ocupar guarnecer FREUD fazia a comparação com uma força militar de ocupação que pode ser dirigida para uma ou outra posição segundo as necessidades Na verdade na linguagem militar propri amente dita a palavra investimento an tes de ocupação alude mais a um assé dio de uma praça por exemplo enquan to na linguagem financeira referese à colocação de capital em algum negócio ou empresa Essa concepção de FREUD originalmente estava inspirada nos modelos energéticos da física dominante na época de modo que ela guarda um cunho de nítida natu reza econômica onde pesa sobretudo o aspecto quantitativo da demanda pulsio nal Por exemplo num estado psíquico como o luto o empobrecimento manifes to da vida de relações do sujeito tem sua explicação no fato de que está fazendo um superinvestimento de suas energias psíquicas no objeto perdido em detrimen to temporário de investimentos em outras áreas de sua pessoa e vida Hoje é incontestável que existe um interin fluencionamento entre a quantidade e a qualidade pulsional tanto a quantidade pode mudar a qualidade fenômeno que encon tra comprovação na Física como também a qualidade dos estímulos pulsionais ou do continente receptor deles pode modi ficar a intensidade da resposta aos referi dos estímulos ver o verbete intensidade 228 DAVID E ZIMERMAN IPA International Psychoanalytical Association Em 1908 em Salzburgo houve a primei ra grande reunião dos então chamados psicólogos freudianos com a participação de quarenta e duas pessoas procedentes de seis países ou seja dos Estados Uni dos e de cinco da Europa Dois anos de pois em 1910 em Nürenberg com a pre sença de sessenta psicanalistas sob a li derança de FREUD e FERENCZI decidiuse criar uma associação que viesse a con gregar os distintos grupos freudianos dis persos Por sugestão de FREUD temeroso de que a psicanálise fosse julgada uma ciência judaica a presidência da novel ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE foi confiada a JUNG que pouco tempo após renunciou e afastouse definitivamente do movimento freudiano Entre 1910 e 1925 essa associação não foi mais do que um organismo de coor denação dos diferentes grupos regionalis tas que gozavam de grande autonomia quanto aos critérios de formação de no vos psicanalistas Entre 1925 e 1933 essa situação mudou radicalmente ao ser ins taurada a obrigatoriedade da análise di dática e da supervisão oficial Para penei rar os analistas ditos selvagens a associ ação passou a ser centralizadora das nor mas e regras das análises de candidatos em formação Por volta de 1936 a quase totalidade dos psicanalistas europeus exilouse na Grã Bretanha o que propiciou uma hegemo nia ao idioma inglês de sorte que a par tir desse ano oficializouse o nome de IN TERNATIONAL PSYCHOANALYTICAL ASSOCIATION com a sigla IPA e com sede em Londres Entre 1933 e 1965 a IPA teve de enfren tar duas sérias crises uma a do advento do nazismo e a outra pelas acirradas batalhas entre os centros europeus e os norteamericanos em torno da questão da análise leiga Como resultado das suces sivas crises especialmente a partir dos anos sessenta a IPA deixou de ser a úni ca potência institucional do freudismo no mundo além de ter que competir com a enorme expansão das escolas de psicote rapia no mundo todo com orientações teóricotécnicas distintas A IPA nesse início de século XXI se man tém fiel à essência dos princípios freudia nos porém dentro dessa última condi ção admite em seu seio correntes que ma nifestem algumas divergências doutriná rias desde que essas correntes nãoorto doxas se comprometam a não transgre dir as regras técnicas de uma análise di dática Esta deve seguir uma padronização universal como a de que o número de ses sões semanais seja de quatro no momento algumas sociedades psicanalíticas como a francesa a uruguaia e a canadense já estão admitindo que sejam três a duração da ses são é fixada em torno de 50 minutos e o nú mero de supervisões não pode ser inferior a duas com um determinado tempo mínimo de duração Desde 1908 a IPA realiza congressos in ternacionais de dois em dois anos Até 1975 foram realizadas somente em cida des da Europa e a partir dessa data rea lizamse alternadamente no continente americano do norte e do sul e no conti nente europeu A freqüência média nos últimos congressos foi de mais de 3000 participantes dentre de um total de psi canalistas no mundo estimados em torno de mais de 10000 Nesse início de milênio a IPA conserva ba sicamente uma organização composta por quatro tipos de grupos de acordo com uma hierarquia funcional 1 Os grupos de estudos study groups 2 As sociedades provisórias provisional societies 3 As sociedadesmembro component so cieties VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 229 4 As associações regionais regional asso ciations Cada um desses grupos conta com uma série de subgrupos encarregados de tarefas específicas A IPA comporta três tipos de membros os titulares members os asso ciados associate members e os membros individuais direct associate members É necessário destacar a importância do mo vimento de integração das múltiplas socie dades dispersas pelo mundo todo que está sendo realizado a partir da instalação da Câmara de Delegados criada na gestão de JOSEPH SANDLER enriquecida na de HORÁCIO HETCHEGOYEN foi o primeiro presidente sul americano da IPA e consolidada na ges tão de OTTO KERNBERG Na atualidade sob a presidência de DANIEL WILDLÖCHER a IPA continua firmemente vol tada para o enfrentamento de uma séria crise representada pelas profundas mudan ças socioculturais e principalmente econô micas que assola o mundo todo com ine gáveis e diretas repercussões no exercício da psicanálise clássica Além desses fato res devese considerar os efeitos de uma desigual competição com métodos alter nativos de tratamento dos transtornos psi cológicos como dentre outros o da mo derna psicofarmacologia eficiente para certos casos e não mais do que uma mer cadora de ilusões para tantos outros ca sos de psicopatologia Assim ainda na gestão de KERNBERG foram criados novos comitês que sob a égide do Comitê Executivo estão encarregados de importantes tarefas prioritárias para enfrentar as diversas faces da atual crise como são os 1 Comitê de Psicanálise e Sociedade com o encargo de desenvolver estratégias para reforçar sua posição nos departamentos lo cais de psiquiatria e psicologia clínica nas ciências humanísticas no mundo acadêmi co em geral e ajudar as sociedades psica nalíticas a sair do seu isolamento relativo ao seu entorno social e cultural 2 Comitê de Conferências InterRegionais que visa a proporcionar aos membros da IPA a possibilidade de uma interação com os teóricos e clínicos líderes da comunida de psicanalítica internacional 3 Comitê Internacional de Grupos Novos destinado a reforçar o desenvolvimento de sociedades e grupos de estudos e a criar outros como está acontecendo em regiões como o Oriente Próximo e a China 4 Comitê sobre Educação Psicanalítica encarregado de zelar pelo controle de qua lidade quanto aos critérios e métodos de seleção e formação dos candidatos levan do em conta o risco de que a atual meto dologia embora comprovadamente eficien te evidencia um sério risco de induzir a uma persistente infantilização dos candidatos Esse comitê está reavaliando a freqüência mínima de sessões da análise didática e também a das supervisões 5 Comitê de Ética o nome diz tudo 6 Comitê de Psicanálise e Terapias Afins que visa basicamente a adequar as relações entre a psicanálise e a psicoterapia analíti ca especialmente quanto à propriedade de ensinar psicoterapia nos institutos das res pectivas sociedades de psicanálise 7 Comitê de Investigação KERNBERG enal tece a importância de continuar investin do nessa área reconhece que muitos re nomados analistas estão contra os custos e a metodologia das atuais investigações ele advoga uma colaboração autêntica entre teóricos clínicos e investigadores psi canalíticos hermeneutas empíricos e apli cados 8 Comitê de Orçamento e Finanças que está reavaliando o delicado problema de capta ção e aplicação de recursos financeiros Irmãos papel dos A literatura psicanalítica de modo geral não costuma valorizar o complexo frater no isto é a influência recíproca entre os 230 DAVID E ZIMERMAN irmãos e as conseqüentes marcas psíqui cas que ficam no psiquismo de ambos No entanto essa interação é de significativa importância na estruturação dos indiví duos e do grupo familiar Podese dizer que os irmãos funcionam como objetos de um duplo investimento 1 O que diz respeito às conhecidas reações ambivalentes de amor e amizade mescla das com sentimentos de inveja ciúme ri validade etc 2 Um defensivo deslocamento nos ir mãos de pulsões libidinosas ou agressi vas que primariamente seriam dirigidas aos pais Assim é comum observar situações nas quais os irmãos criam camufladas brin cadeiras eróticas entre si ou quando um irmão tornase um zeloso e enciumado de sua irmã mais velha ou quando adota uma postura maternal em relação a um irmão ou irmã mais moço ou na situa ção em que se manifesta uma acentuada regressão a níveis de necessidades que estão sendo gratificadas pela mãe para um irmãozinho caçula ou doente e assim por diante Por outro lado não é raro observar que a um irmão é dado às vezes desde o nasci mento o papel de substituir outro já fale cido ou abortado de quem deve herdar tudo o que os pais esperavam do filho perdido como por exemplo nome gê nero sexual expectativas etc Da mesma forma podese observar o fato de que um dentre os irmãos desempenha junto a outro o papel de duplo assim complemen tando para este irmão e viceversa tudo o que o outro não consegue fazer ou ter como é o caso da diferença dos sexos por exemplo Outra situação bastante comum é a encon trada nos indivíduos que se sabotam ou se deprimem diante de seus sucessos na vida adulta nos casos em que tenham tido ir mãos precocemente falecidos ou com séri as limitações orgânicas e psíquicas ou mal sucedidos de uma forma geral Essa autosabotagem devese 1 A culpas inconscientes por terem concre tizado o triunfo numa velha e acirrada com petição com os irmãos 2 Ao fato de que para não humilhar e fa zer sofrer aqueles que não conseguiram acompanhar seu sucesso o sujeito através de um movimento inconsciente de solida riedade faça uma identificação com a víti ma ver esse verbete de forma a boico tar seu próprio crescimento enquanto não conseguir fazer uma reparação de seus imaginários danos e culpas Geralmente é impossível esperar que os demais irmãos eou os pais acompanhem o seu suces so para ele se sentir no direito de prosse guir no seu São muitos os mitos bíblicos que referem diretamente aos conflitos entre irmãos entre outros os de Caim e Abel de Esaú e Jacó de José e seus irmãos Todos consti tuem rico manancial para o entendimento da importância da patologia entre irmãos dentro do contexto do grupo familiar Isolamento FREUD Mecanismo de defesa descrito por FREUD que consiste fundamentalmente em isolar um pensamento do outro ou um compor tamento de outro ou isolar o afeto do pen samento e situações afins Principalmente em Inibições sintomas e angústia 1926 FREUD descreve o isola mento como um mecanismo típico da neurose obsessiva Ele assinala que o pa ciente obsessivo para defenderse contra uma idéia um sentimento uma ação costuma lançar mão de um procedimen to de natureza mágica que consiste em fazer outro movimento como uma pausa durante a qual nada mais tem direito a produzirse nada é percebido nenhuma ação é realizada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 231 Para ilustrar como um movimento preten de magicamente anular outro movimento ou pensamento cabe citar aquela situação bastante comum do sujeito preconceituoso que bate por três vezes num móvel com a articulação das falanges da mão ao mesmo tempo que exclama isola ante o imaginário risco de um azar ou coisa equivalente O pro cedimento de isolamento segundo FREUD guarda um efeito comparável ao que a re pressão representa para a histeria O isolamento freqüentemente remete à fo bia do toque constituindo como escreve FREUD uma supressão da possibilidade de contato um meio de subtrair uma coi sa ao contato do mesmo modo quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por uma pausa dános simbo licamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhe dizem res peito entrem em contato associativo com outros FINISHED VEHICLE COLOUR SYSTEMS Jacobson Edith Renomada médica e psicanalista pertencen te à escola da Psicologia do Ego nasceu em 1897 na Alta Silésia Em 1933 come çou a lutar clandestinamente contra o na zismo até ser detida pela Gestapo em 1935 Acusada de alta traição foi condenada a dois anos e meio de prisão Aproveitando uma permissão para submeterse a uma ci rurgia fugiu para Praga de onde foi para os Estados Unidos integrandose ao grupo psicanalítico de Nova York E JACOBSON fez importantes contribuições principalmente para a psicanálise norte americana acerca das primitivas relações objetais tomando como base seus estudos centrados nas depressões e em estados bor derline Faleceu em 1978 e as suas contri buições mais originais à psicanálise estão contidas no livro O self e o mundo objetal 1954 onde ela enfoca entre outros o conceito de self psicofisiológico Podese dizer que as concepções de EJACOBSON acerca do desenvolvimento emocional primitivo conseguiram aproxi mar um pouco os Psicólogos do Ego da psicanálise kleiniana aproximação essa que veio a ser reforçada com as contribuições de O KERNBERG Jogo da espátula Modalidade de jogo que WINNICOTT utiliza va com crianças que aparece descrita no verbete Espátula Jogo dos rabiscos WINNICOTT introduziu o jogo dos rabiscos squiggle game em inglês para proceder a uma consulta terapêutica com crianças Geralmente era realizado na entrevista ini cial como forma básica de estabelecer uma comunicação mais livre O jogo começava com um rabisco feito por WINNICOTT sobre um pedaço de papel em branco A criança era estimulada a partir desse rabisco ini cial a fazer o seu Seguiase novo traço do terapeuta e assim sucessivamente Era mui to comum que daí resultassem desenhos No curso de uma sessão a dupla produzia uma média de 30 desenhos WINNICOTT ressaltava que o método visava a três finalidades básicas a de um instrumento diagnóstico a de facilitar a comunicação in teracional e a de funcionar como um recurso terapêutico Nesse último caso ele conferia a essa produção de linguagem gráfica o mes mo valor que os sonhos representam como uma via de acesso ao inconsciente J 234 DAVID E ZIMERMAN Na psicanálise contemporânea o jogo do rabisco adquiriu um significado muito es pecial porquanto traduz o modelo de como deve decorrer uma análise vincular ou seja a recíproca influência que se processa con tinuamente entre analista e analisando Jones Ernest muitas complicações na sua vida amorosa a ponto de sofrer hostilidade por parte das ligas puritanas da época além de ser consi derado pelos seus colegas uma pessoa de comportamento ambíguo Assim embora posteriormente absolvido chegou a ser acusado de ter colaborado com o inimigo durante a I Guerra Mundial Também mostrou posição vacilante em re lação ao problema da aceitação ou não da análise por leigos e mostrou ser uma pes soa radical na sua hostilidade contra ana listas que fossem da esquerda política ou homossexuais JONES também sofre pesadas críticas quan to ao fato de que teria sido deliberadamen te injusto com ORANK WREICH e FERENCZI nas apreciações pejorativas que deles fez na sua A Vida e a obra de Sigmund Freud Em relação a FERENCZi em 1913 a conselho de FREUD JONES passou dois meses em Buda peste fazendo uma análise didática com FERENCZI a qual redundou numa confusão transferencial que teria sido a causa dos ataques invejosos por parte de JONES Aliás FREUD também mostrava sentimentos ambivalentes em relação a JONES Tanto sentia gratidão pelo muito que ele fez par ticularmente por sua pessoa e pela causa da psicanálise freudiana em geral quanto não gostava de JONES Isso pode ser evidenciado em especial em duas situações que envolviam sua filha ANNA Uma referese à tentativa de JONES de envolvêla amorosamente o que mere ceu uma dura intervenção de oposição de FREUD como atestam cartas dirigidas para ANNA e para JONES O romance foi interrom pido no seu início não obstante os protes tos de JONES que numa carta enviada a ANNA quase 50 anos após ter declarado que Eu a achei e ainda acho muito atraente e de qualquer forma sempre amei você e de uma maneira bastante honrosa O segundo episódio foi a ajuda que em 1926 JONES deu a MKLEIN facilitando a Nascido no País de Gales em 1879 único filho de um engenheiro de minas extrema mente autoritário JONES veio a formarse em medicina inicialmente na especialida de de neurologia Depois a convite de JUNG trabalhou no Hospital Burghölzli dirigido por EBLEULER e finalmente conheceu FREUD no congresso da IPA realizado em Salzburg em 1908 tornandose a partir de então devotado à causa freudiana JONES é considerado uma pessoa muito con traditória na sua vida pessoal e na sua par ticipação no mundo da psicanálise alter nando aspectos bastante criticáveis com outros altamente positivos Entre os critica dos negativamente podem ser apontados era uma personalidade muito difícil com VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 235 definitiva instalação dela em Londres e a aceitação dos seus métodos teóricos e téc nicos em relação à análise com crianças fato que irritou profundamente ANNA FREUD saiu em defesa de sua filha provocando uma áspera troca de correspondência en tre os dois Dentre os aspectos considerados positivos todos reconhecem que JONES foi um impor tante divulgador do movimento psicanalíti co além das suas fronteiras habituais As sim ele passou cinco anos em Toronto tam bém aí ele sofreu acusações relativas à sua sexualidade onde lecionou psiquiatria e di vulgou a psicanálise freudiana no Canadá e nos Estados Unidos tendo criado a Ameri can Psychoanalytical Association APsaA Retornou a Londres em 1913 onde criou o Comitê Secreto que reuniu alguns pio neiros analistas que se comprometeram a uma total lealdade e defesa de FREUD Em 1919 fundou a Sociedade Britânica de Psi canálise e no ano seguinte criou o Inter national Journal of PsychoAnalysis Foi pre sidente da IPA durante dois períodos de 1920 a 1924 e o de longa duração de 1934 1949 tendose revelado um excelente po lítico e negociador durante as Grandes Controvérsias ocorridas no seio da Socie dade britânica No plano científico JONES dedicouse a trabalhos sobre o sonho as lendas o sim bolismo e a arte tendo promovido impor tantes debates sobre antropologia e so bre a sexualidade feminina No entanto sua grande contribuição à psicanálise con siste no seu clássico A vida e a obra de Sigmund Freud editado em três volumes Essa obra foi escrita no período de 1953 a 1958 e exigiu um enorme esforço de seu autor não só porque teve delicados problemas de saúde nesse ínterim dois episódios de crise coronariana e uma ci rurgia de retirada de um tumor vesical como também pela necessidade de con sultar uma quantidade impressionante de documentos só das cartas relativas a FREUD ele teve acesso a mais de 5000 Esse livro já traduzido para o mundo in teiro é considerado como o ponto de partida para todos os trabalhos posterio res da história da psicanálise JONES faleceu em 1958 e suas cinzas foram depositadas no crematório de Goldens Gre en próximas às de FREUD Jung Carl Gustav Nascido em 1875 em uma cidade próxima a Zurique descendente de uma longa linha gem de pastores protestantes suíços JUNG veio a tornarse médico exercendo a psiqui atria na Burghölzli hospital da universidade como assistente de BLEULER que lhe apre sentou os incipientes trabalhos de FREUD JUNG possuidor de uma notável inteligên cia e espírito de curiosidade conheceu FREUD em Viena em 1907 de quem se tor nou importante discípulo Ambos mantive ram uma forte ligação chegaram a trocar quase 400 cartas entre si até 1913 ano em que romperam definitivamente de forma beligerante 236 DAVID E ZIMERMAN FREUD mostrouse particularmente entusias mado com o Teste da associação verbal que JUNG juntamente com colegas da Es cola de Zurique criaram e desenvolveram a partir de 1906 com a finalidade de detec tar os complexos O teste consistia em pro nunciar para um sujeito uma série de pala vras especialmente escolhidas pedindolhe que respondesse ao estímulo verbal com a primeira palavra que lhe viesse à mente ao mesmo tempo que mediam o seu tempo de reação Já em 1908 JUNG participou do primeiro congresso internacional em Salzburg No ano seguinte juntamente com FRERENCZI acompanhou FREUD em sua viagem de cin co conferências aos Estados Unidos de onde JUNG voltou sozinho em 1912 obten do um expressivo sucesso Em 1910 no congresso de Nürenberg por desejo de FREUD foi eleito o primeiro presidente da IPA Aliás FREUD dispensava atenções es peciais a JUNG a ponto de considerálo como o delfim da psicanálise principalmen te em razão de assim afastar o risco de o movimento psicanalítico correr o risco de ser acusado de ser uma ciência judaica e um gueto de psicanalistas judeus Na verdade CARL JUNG tinha bases científi cas muito diferentes das de Freud e da maio ria de seus discípulos dos quais se distin guia mercê de sua experiência muito mais ampla com psicóticos e seu vasto conheci mento de mitos simbolismo literatura e filosofia de muitas culturas Ele nunca acei tara por completo a teoria sexual de FREUD mas durante muitos anos não houve con trovérsias abertas sobre o assunto Pelo con trário as observações de JUNG progrediam paralelamente às de FREUD Em suas con cepções nunca usou a teoria sexual mas ao mesmo tempo não a contradizia osten sivamente Não obstante FREUD pressentisse que JUNG nutria sentimentos antisemitas o que veio a confirmarse no futuro em nome da cau sa da psicanálise determinouse a apazi guar os judeus e os antisemitas tal como transparece nesse trecho de uma carta diri gida a ABRAHAM em 1908 Presumo que o antisemitismo contido dos suíços se refe re um pouco a você Nós devemos como judeus admitir um certo maso quismo estar dispostos a que nos prejudi quem um pouco Decorrido algum tempo JUNG deu claras mostras de que discordava da concepção freudiana da sexualidade infantil do com plexo de Édipo e da libido e que a sua aproximação íntima com FREUD foi mais devida à admiração que ele votava pelo carisma pessoal e pela coragem demons trada por FREUD no seu enfrentamento à ortodoxia dos médicos e da medicina da época O rompimento entre eles começou a tomar uma forma definida e irreversí vel a partir da publicação de JUNG Meta morfoses da alma e seus símbolos livro que teve muitas reedições e onde discor dava totalmente da teoria da libido con cebendoa não mais como unicamente de origem sexual mas sim como a expres são psíquica de uma energia vital A partir de 1914 JUNG afastouse totalmente das funções diretivas junto à IPA e do movi mento freudiano vindo a fundar o movimen to Psicologia Analítica nome que escolheu para definir que o psiquismo não tinha ne nhum substrato biológico pulsional Em 1958 JUNG juntamente com demais praticantes de seu método fundou a Sociedade Internacio nal de Psicologia Analítica Dentre as concepções de JUNG as seguin tes costumam ser destacadas 1 Trouxe para o primeiro plano o exame da importância da mãe realçando assim uma influência na vida da criança anteri or ao complexo de Édipo 2 Em virtude de sua ênfase no papel da mãe sublinhou a regressão como um im portante anseio neurótico de um retorno à mãe primitiva VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 237 3 Promoveu uma interpretação dos sím bolos bem mais extensa do que a de FREUD e contradizendoo afirmou que em vez de concluirmos que todos os símbolos têm um significado sexual de vemos aceitar que o próprio sexo é al gumas vezes usado como símbolo de qualquer outra coisa 4 Em A psicologia do inconsciente JUNG sugeriu que a libido sexual era apenas uma forma de libido primordial por ele definida como sinônimo de energia indi ferenciada e indo mais além negou que a sexualidade fosse um fator importante na primeira infância 5 Em termos do objetivo da análise pôs em dúvida se a recordação do passado e a explicação da presente situação com base no passado seria um método adequado Acreditava que deveria haver além disso algum planejamento construtivo do futuro da vida do paciente 6 Introduziu através do modelo dos arqué tipos a noção de inconsciente coletivo a qual foi parcialmente utilizada por FREUD na sua teoria da evolução da sociedade a par tir da horda primitiva JUNG considerava que o inconsciente coletivo contém tendências superiores às do indivíduo e se as asso ciações do indivíduo forem levadas mais além atingirseá finalmente o significado inconsciente coletivo 7 Gradativamente o pensamento de JUNG tornavase mais místico Ele postulou na sua teoria dos arquétipos formulada em 1919 que sempre existe um lado feminino recalcado do homem por ele denominado anima e um lado masculino recalcado da mulher deno minado animus e que o objetivo da terapia analítica seria a de integrar ambos os lados de forma equilibrada 8 Postulou uma teoria de tipos caractereo lógicos sendo os dois principais tipos de caráter o extrovertido e o introvertido As maiores críticas a JUNG de modo gené rico são três 1 Ele tendia a afastar o paciente da reali dade substituindoa por uma vida de fan tasia mística e semireligiosa 2 O método de Jung faria uma verdadeira doutrinação do paciente 3 Como fundamentou suas hipóteses dou trinárias sobre uma tipologia psicológica foi inevitável que seu discurso assumisse tons racistas e antisemitas de sorte que embo ra nunca tenha se engajado como militante racista sua doutrina foi utilizada pela polí tica de nazificação da psicoterapia alemã Seus adversários tratavamno como cola boracionista do nazismo conforme consta no Dicionário de Psicanálise de E ROUDI NESCO 1998 p 424 CARL GUSTAV JUNG faleceu em junho de 1961 Order Advice 1 ELECTRICAL Every vehicle is supplied with a colour coding label indicating the main vehicle colours used in the particular vehicle Colour codes given apply to vehicles on actual production see options page 13 for special colours and colours for economy versions The colour codes must be used in all order confirmations for body colour paint and moulded plastic parts in all spare parts orders and in service manuals Before ordering repairs or replacement parts always check the colour code on the vehicle label or on the spare parts order form to make sure that the colour code has been stated correctly in the order The control number on the colour label should be stated to ensure that the parts are painted in the correct colour Paint parts except for touchup further up in the paint process and moulded plastic parts can be ordered in one of three quality classes Full paint Touchup Spray repair and Repair Colour codes for basic or special colours in current production Paint Class R Repair T Touchup and spray repair service paint sometimes also for body repair paint F Full paint higher quality paint than R and T are standard paint parts Body colourcolour codes Options metallic colours special colours plastics Changes often occur with colour codes during product life which means that the codes in the catalogue could be out of date For uptodate colour codes see the current spare parts catalogue and if necessary contact responsible staff at spare parts or quality control The price group for colours and plastic parts is given in the order form and on the spare parts order form eg price group 1 Price group 2 Price groups are determined by the price of the part in the paint or plastic quality concerned and are dependent on colour Paint parts with metallic effect are in price group 2 or 3 Plastic parts are in price group 1 or 2 Colours are normally given in the colour code list for basic colours The order form states the price group in the price Bidirectional arrows denote options that can also be combined K e K BION BION utiliza essa letra inicial da palavra in glesa knowledge ou seja conhecimento na tradução portuguesa para designar uma forma de vínculo tanto positiva que signi fica a atitude do sujeito de querer conhecer as verdades ou de uma negativa em cujo caso a grafia é K e sinaliza uma forma de negação e ataque às verdades intoleráveis Em muitos textos traduzidos para o português ou espanhol no lugar da letra K aparecem as letras C de conhecimento ou S de saber Ver o verbete vínculo Kernberg Otto Nascido em Viena Áustria em 1928 KER NBERG estudou medicina na Universidade de Santiago do Chile onde se especializou em psiquiatria de fundamentação clássica Trabalhou como residente de 1954 a 1957 chegando a atingir a condição de professor assistente do departamento de psiquiatria daquela Universidade que era então dirigida pelo notável psicanalista IGNÁCIO MATTE BLANCO assim vindo aos poucos a se interessar pelo campo das psicoterapias O encontro com MATTE BLANCO foi marcan te na carreira psicanalítica de KERNBERG pois o influenciou a ingressar na Sociedade Chi lena de Psicanálise de cujo Instituto MATTE BLANCO foi o criador Inicialmente a forma ção psicanalítica de KERNBERG estava forte mente fundamentada na Psicologia do Ego porém gradativamente ele foi adotando uma linha kleiniana Em 1959 com uma bolsa da Fundação Ro ckfeller KERNBERG viajou para os Estados Unidos com o propósito de fazer investiga ções sobre psicoterapias no John Hopkins Hospital em Baltimore onde empolgouse particularmente com a prática da psicote rapia com pacientes esquizofrênicos KERN BERG permaneceu algum tempo em Wa shington onde conheceu muitos psicana listas importantes da época e recebeu uma K 240 DAVID E ZIMERMAN expressiva influência das concepções de SULLIVAN centradas nos interrelacionamen tos pessoais até ser convidado pela Fun dação Menninger para participar de um gru po de investigações sobre psicoterapias KERNBERG é o renomado autor de um sem número de artigos e de diversos livros de psicanálise nos quais aborda temas poli formes principalmente referentes aos trans tornos narcisistas da personalidade e a as suntos que dizem respeito diretamente à formação de psicanalistas Exerceu a presidência da IPA no período de 19992000 Sua gestão caracterizouse por atitudes corajosas e medidas inovado ras para fazer com que a psicanálise acom panhe as profundas modificações que o mundo vem sofrendo em todos os campos Dentre sua extensa obra vale destacar A teo ria das relações objetais e a psicanálise 1979 Desórdenes fronterizos y narcisismo patológi co 1979 Trastornos graves de la personali dad Estrategias psicoterapéuticas1987 Mundo interior e realidade exterior1989 Klein Melanie Considerada um dos três gênios que a psi canálise já produziu MKLEIN nasceu em Viena em 1882 em uma família judia po bre como quarta filha de um pai que então já tinha mais de 50 anos e de uma mãe com quem ela viria a ter sérios atritos Seu pai era médico um judeu polonês ortodo xo que a exemplo do pai de FREUD tam bém era um estudioso do Talmude A mãe de Melanie chamada Libussa era uma judia de origem eslovaca de família cul ta e erudita e embora ela fosse uma pes soa difícil e muito intrujona era uma mulher bonita e corajosa tendo aberto uma loja para ajudar no provento da fa mília MKLEIN sofreu uma sucessão de severas e traumáticas perdas ao longo da vida Quan do tinha 5 anos falece sua irmã Sidonie que lhe ensinava aritmética e sempre foi carinhosamente lembrada por MELANIE Chegou a tomar a decisão de vir a ser mé dica talvez influenciada pela vontade de ajudar seu irmão Emmanuel que sofria de uma grave cardiopatia Porém ao comple tar 17 anos tendo em vista seu projeto de casamento desistiu do curso prémédico que começara e estudou Arte e História em Viena Quando tinha 20 anos morre com 25 anos seu irmão Emmanuel que era pianista e dedicavase às artes Foi sob a influência desse irmão que MELANIE desenvolveu ver dadeira paixão por literatura e música Com 21 anos casouse com Artur Klein um quí mico com quem teve três filhos e de quem veio a separarse Em 1934 morre o seu filho Hans vitimado por um acidente de alpinismo Outra perda importante foi a de uma ruptura pública que se manteve até o fim da vida com sua filha Mellita que estimulada por seu analis ta Glover um assumido inimigo de MKLEIN moveu ataques violentos contra a mãe as sim repetindo a história que MELANIE tivera com sua mãe VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 241 Quando residia em Budapeste MKLEIN teve um primeiro contato com a psicanálise pela leitura de um texto de SFREUD com o qual se sentira identificada e ficara impressionada Daí por diante nunca abandonou sua devoção por FREUD com quem jamais conseguiu ter um contato direto porque ele a evitava devido às querelas entre KLEIN e sua filha ANNA Ainda na Hungria MELANIE passou a fazer análise com FERENCZI interrompida devido aos incidentes decorrentes da I Grande Guerra Mundial No entanto entusiasma da pela obra de FREUD e incentivada por FERENCZI ela inicia em 1916 sua carreira de psicanalista de crianças numa policlíni ca de Budapeste Em 1919 ela escreve O desenvolvimento de uma criança que lhe serviu como o tra balho que a titulou como membro da So ciedade Psicanalítica da Hungria Em 1920 KLEIN conhece KABRAHAM que impressionado com seu talento convidaa para residir em Berlim onde ela fez análise com ele no período de 1924 a 1925 e que foi interrompida devido ao inesperado fa lecimento de ABRAHAM Nesse ano de 1925 ela aceita um convite DE EJONES ela veio a ser a analista de um filho e de uma filha dele para pronunciar algumas conferênci as em Londres Causou tal impacto e entu siasmo entre muitos dos psicanalistas britâ nicos que acabou aí fixando residência definitiva e onde trabalhou em psicanálise pelo resto da vida organizando em torno de si uma verdadeira escola de psicanálise Com a chegada de ANNA FREUD a Londres são desencadeadas divergências em torno da análise com crianças estabelecendose um clima de intensa rivalidade entre am bas Essa animosidade estendeuse aos res pectivos grupos de seguidores annafreudi anos e kleinianos e acabou por se consti tuir nas famosas Grandes Controvérsias no seio da Sociedade Britânica de Psicanálise Uma resenha de seus principais escritos per mite fazer os destaques que seguem Em seu artigo Os princípios psicológicos da análise infantil de 1926 MKLEIN expôs pela primeira vez de forma sistemática suas concepções sobre os brinquedos como ins trumentos de análise postulando uma ana logia entre brinquedo e sonho Brincando a criança expressaria de forma simbólica suas fantasias inconscientes Em 1930 aparece o trabalho Notas sobre a formação de símbolos no qual ela ins pirase na análise do paciente Dick filho de um psicanalista colega de KLEIN Era uma criança que tinha sérios transtornos de aprendizagem e de relacionamento decor rentes de suas fantasias de um ataque sádi co contra o corpo da mãe Em 1932 MKLEIN reúne seus historiais clí nicos com crianças Erna Rita e numa síntese dos mesmos ela publica Psicanálise das crianças No ano de 1934 aparece Psi cogênese dos estados maníacodepressivos onde pela primeira vez é concebida a no ção de posição depressiva Em 1946 ela publica Notas sobre alguns mecanismos esquizóides onde também pela primeira vez aparecem as medulares concepções de posição esquizoparanóide e o fenômeno hoje universalmente aceito de identificação projetiva Outros três livros importantes são Contri buições à psicanálise 1948 que reúne ar tigos escritos desde 1921 Desenvolvimen tos em psicanálise 1952 e Novos desen volvimentos em psicanálise 1955 no qual aparece o importante artigo Sobre a iden tificação Nos dois últimos livros mencio nados constam inúmeras colaborações de outros autores seguidores de sua ideologia psicanalítica Outros trabalhos de especial relevância na obra de MKLEIN são Inveja e gratidão 1957 Sobre o sentimento de so lidão 1959 e Narrativa de uma análise infantil 1961 Sem levar em conta a ordem cronológica de aparecimento podese dizer que ela foi pioneira nas seguintes concepções originais 242 DAVID E ZIMERMAN 1 Criou uma técnica própria de psicanáli se com crianças e introduziu o entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos 2 Postulou a existência de um inato ego rudimentar já no recémnascido 3 A pulsão de morte também é inata e pre sente desde o início da vida sob a forma de ataques invejosos e sádicodestrutivos con tra o seio alimentador da mãe 4 Essas pulsões de morte agindo dentro da mente promovem uma terrível angús tia de aniquilamento 5 Para contraarrestar tais angústias terrí veis o incipiente ego do bebê lança mão de mecanismos de defesa primitivos como são a negação onipotente dissociação identificação projetiva identificação intro jetiva idealização e denegrimento 6 Concebeu a mente como um universo de objetos internos relacionados entre si através de fantasias inconscientes consti tuindo a realidade psíquica 7 Além dos objetos totais ela concebeu os objetos parciais figuras parentais represen tadas unicamente por um mamilo seio pênis etc 8 Postulou uma constante clivagem entre os objetos bons x maus idealizados x per secutórios e entre as pulsões as construti vas de vida versus as destrutivas de mor te etc 9 Concebeu a noção de posição concei tualmente diferente de fase evolutiva e descreveu as agora clássicas posições esqui zoparanóide e a depressiva 10 Suas concepções acerca dos mecanis mos arcaicos do desenvolvimento emocio nal primitivo permitiram a análise com crianças com psicóticos e com pacientes muito regressivos em geral 11 Para não ficar descompassada com os princípios ditados por Freud conservou as concepções relativas ao complexo de Édi po e ao superego porém as situou em eta pas bastante mais primitivas do desenvol vimento da criança 12 Juntamente com os ataques sádicodes trutivos da criança com as respectivas cul pas e conseqüentes medos de retaliadores ataques persecutórios postulou a necessi dade de a criança ou o paciente adulto na situação analítica desenvolver uma impres cindível capacidade para fazer reparações 13 Deu extraordinária ênfase à importân cia da inveja primária como expressão di reta da pulsão de morte 14 Como decorrência dessas concepções promoveu uma significativa mudança na prática analítica no sentido de que as inter pretações fossem sistematicamente transfe renciais mais dirigidas aos objetos parciais aos sentimentos e defesas arcaicas do paci ente e com uma ênfase na prioridade de o analista trabalhar na transferência negativa Ao mesmo tempo bastante louvada e bas tante criticada MKLEIN deixou além de sua obra o legado de uma plêiade de impor tantes analistas que foram seus pacientes e um sem número de discípulos seguidores e continuadores Vítima de um câncer de có lon faleceu no dia 22 de setembro de 1960 em Londres Kleinismo As contribuições de MKLEIN encontraram ressonância em psicanalistas contemporâ neos dela como JRIVIÈRE SISAACS PHEIMANN a eles seguindose os póskleini anos compostos por exanalisandos e dis cípulos dela como HSEGAL HROSENFELD DMELTZER WBION e OS neokleinianos re presentados na atualidade por BJOSEPH e JSTEINER entre muitos outros conceituados autores psicanalíticos principalmente na GrãBretanha e na América Latina onde o movimento kleiniano chegou a alcançar extraordinária relevância É útil lembrar que da mesma forma como muitas dissidências caracterizaram o grupo original de FREUD também importantes ana listas kleinianos dissentiram dela PAULA VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 243 HEIMANN cuja principal contribuição foi a apresentação e publicação do trabalho so bre a contratransferência contrariando MKLEIN Essa divergência provocou o rom pimento de relações entre elas e levou HEI MANN a se incorporar ao grupo independente da sociedade britânica Outros seguidores de KLEIN se afastaram por divergências ide ológicas e seguiram uma linha independen te como D WINNICOTT enquanto outros mantiveramse fiéis a ela porém com mo dificações bastante profundas como é o caso de WBION As inestimáveis contribuições teóricas e clí nicas dos autores pós e neokleinianos por meio de uma vigorosa e fértil produção de artigos e livros têm provocado marcantes ampliações e modificações em muitos da queles aspectos principalmente os de or dem técnica que têm sido duramente atacados por analistas de outras corren tes especialmente por parte dos norte americanos Kohut Heinz Psiquiatra e psicanalista criador e grande divulgador da escola psicanalítica da Psi cologia do Self HKOHUT nasceu em Viena em 1913 filho único de uma família judia culta e amante da música Foi uma criança precoce e desde cedo demonstrou possuir talentos especiais como uma paixão por música teatro e arte além de um expressi vo conhecimento de latim e grego No en tanto teve uma infância triste e solitária por não sentir o apego dos pais princi palmente o da mãe que mais tarde veio a apresentar transtornos psicóticos deli rantes Obrigado a fugir do nazismo KOHUT emi grou para os Estados Unidos radicandose em Chicago Formouse em medicina em 1938 tornandose neurologista em 1944 e psiquiatra três anos após Mais tarde inte grouse ao prestigioso Instituto de Chicago fundado por FALEXANDER Posteriormente chegou a atingir a condição de presidente da Associação Psicanalítica Americana em 1964 e a de vicepresidente da IPA entre 1965 e 1973 vindo após a renunciar a to das funções administrativas associativas No começo de sua atividade KOHUT foi muito influenciado pela teoria de HARTMANN Porém aos poucos afastouse dos postula dos dessa escola inclusive de muitos prin cípios básicos de FREUD e construiu seu pró prio corpo teóricotécnico com uma ênfa se quase exclusivamente fundada na nor malidade e na patologia dos transtornos narcisistas compondo o que ele veio a de nominar Psicologia do Self De forma sintética impõese mencionar os seguintes aspectos de sua obra 1 Ele situa como principal instrumento da psicanálise não o lugar da livre associação de idéias do analisando mas sim o da in trospecção olhar para dentro de si mesmo e o da empatia enxergar e sintonizar com o outro 2 Da mesma forma retira o lugar hegemô nico do complexo edípico de FREUD e colo 244 DAVID E ZIMERMAN ca no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos Em outras palavras ele subs titui o homem culpado de FREUD e MKLEIN pelo que ele considera ser o homem trá gico 3 Outro enfoque enaltecido por KOHUT é a importância na prática clínica de processar se no paciente uma internalização transmu tadora através da introjeção da figura do analista para os pacientes nos quais as fa lhas empáticas não possibilitaram identifi cações satisfatórias 4 Nesses casos formase um transtorno no sentimento de identidade que sucede a uma anterior dificuldade na estruturação de self 5 Os dois conceitos medulares na obra de KOHUT consistem em seus estudos so bre o self termo queem português vem sendo traduzido por si mesmo e sobre o narcisismo 6 Em relação ao narcisismo antes de pen sar em desenvolvimento patológico sua concepção é de que o narcisismo durante o desenvolvimento do ser humano segue uma evolução paralela e independente da libido objetal embora depois ambas man tenham conexões íntimas entre si de for ma que esse narcisismo adquire uma fun ção estruturante e pode posteriormente vir a sofrer transformações úteis como empa tia sabedoria humor aceitação da finitu de da vida 7 A maior parte de sua obra é dedicada ao estudo dos desenvolvimentos patológicos que conduzem aos transtornos narcisísticos da personalidade 8 Em relação ao self ele postulou duas novas estruturas ambas de formação arcai ca o self grandioso e a imago parental idea lizada 9 Na prática analítica adquire uma gran de utilidade sua conceituação de transfe rências narcisistas nas suas três diferentes modalidades a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular pro priamente dita 10 KOHUT também alude à necessidade de encontrar uma necessária frustração ótima tendo em vista o fato de que os pacientes com transtornos narcisistas quando frustra dos com facilidade entram em um estado mental que ele denomina fúria narcisista 11 Como forma de ilustrar a distinção en tre a análise praticada nos moldes clássicos e a análise segundo suas concepções KO HUT escreveu As duas análises do Sr Z tal como aparece no verbete relativo aos historiais clínicos 12 Os mais importantes livros publicados por KOHUT são Introspecção empatia e psi canálise 1959 A análise do self 1971 A restauração do self 1977 e a publicação póstuma Como cura a psicanálise 1984 As maiores críticas que costumam ser feitas às postulações dessa escola residem no fato de que KOHUT não se restringiu à compre ensão e ao manejo dos transtornos narci sistas de modo que tentou explicar toda psicanálise sob sua ótica e isso representou uma evidente mutilação conceitual Destar te muitos críticos dizem que no seu corpo teórico desaparece a teoria das pulsões especialmente a da agressão destrutiva e o complexo de Édipo sendo que o papel do inconsciente teria ficado excessivamente diminuído Outra crítica que seus biógrafos apontam referese ao fato de que não teria havido uma coerência entre o que dizia e o que fazia porquanto teria sido uma pessoa por demais narcisista de sorte que não supor tava as críticas que lhe dirigiam e construiu em torno de si um grupo de fiéis apegados a sua imagem a sua pessoa e a sua obra KOHUT também sofreu os ataques da orto doxia freudiana reinante nos Estados Uni dos principalmente os desferidos por ANNA FREUD que depois de inicialmente ter acei to suas inovações passou a considerálas como antianalíticas KOHUT faleceu em 1981 em Chicago aos 68 anos vítima de leucemia L e L BION BION emprega a letra L inicial da palavra inglesa love como signo que designa o vín culo do amor Em textos espanhóis e por tugueses por vezes aparece como A ini cial da palavra amor Ver o verbete vínculo Lacan Jacques Jacques Marie Emile LACAN nasceu na Fran ça em 1901 e faleceu em 1984 Provindo de uma família de classe média sempre foi um aluno brilhante tendose destacado nas disciplinas de filosofia teologia e latim Ini ciou seus estudos de medicina em 1920 e a partir de 1926 especializouse em psiqui atria na qual se interessou particularmente pelo estudo das paranóias Por essa época Lacan integrou o movimento surrealista juntamente com outros famosos artistas escritores e intelectuais como ABRETON SDALI e PICASSO Em 1933 complementando seus estudos sobre as paranóias com vistas à obtenção de seu título de membro efetivo LACAN apre sentou a tese intitulada Da psicose paranói ca em suas relações com a personalidade que serviu como ponto de partida para as suas concepções originalíssimas Esse tra balho foi fundamentado no seu famoso caso Aimée como está descrito no verbete his toriais clínicos Lacan esse genial polêmico e altamente controvertido autor psicanalítico revoltado com o crescimento da escola norteameri cana da Psicologia do Ego alegava que essa escola estaria deturpando o verdadeiro es pírito da psicanálise Muitos acreditam que o verdadeiro motivo de seus duros ataques L 246 DAVID E ZIMERMAN seria o prolongamento de uma transferência muito mal resolvida com LOEWENSTEIN que quando morava na França antes de emigrar para os Estados Unidos tinha sido seu ana lista De qualquer forma LACAN decidiu dirigir seus estudos psicanalíticos a partir de um re torno a ou sobre FREUD Formouse em medicina com especializa ção em psiquiatria e psicanálise sempre demonstrando inteligência invulgar e cres cente aquisição de sólida cultura e erudi ção as quais muitas vezes ele utilizava de forma arrogante Por essas razões LACAN tanto foi cercado por uma imensa corte de admiradores como também formou um grande contingente de desafetos detrato res e críticos severos Outra característica de LACAN além de uma vida afetiva muito complicada foi sua gran de facilidade de promover e ficar envolvi do em sérios conflitos com seus pares Dis sentiu da IPA e em 1963 sozinho ele criou a sua própria Escola Freudiana de Paris que com os desenvolvimentos posteriores adquiriu reconhecida pujança porém aos poucos foi sofrendo a dissidência de mui tos membros ilustres alguns dos quais cria ram novas escolas Além disso em 1980 poucos anos antes de sua morte LACAN dis solveu sua própria escola e o número de novas correntes psicanalíticas formadas pelos seus excolaboradores foi num enor me crescente a ponto de que alguns críti cos preferem dizer que mais do que disso ciada a escola lacaniana está pulverizada Além de publicar a revista Scicilet palavra que quer dizer tu podes saber durante dez anos duas vezes por mês no anfiteatro do Hospital SaintAnne LACAN realizava os seus famosos seminários com uma freqüência altamente disputada por uma elite intelec tual com a predominância de jovens Nesses seminários ele comentava sistematicamente todos os grandes textos da obra freudiana Esses seminários coletados deram origem à publicação em 1966 dos Escritos Em relação a sua obra os seguintes aspec tos merecem ser destacados 1 Quatro foram as vertentes que influenci aram decisivamente o pensamento e a obra psicanalítica de Lacan a Lingüística inspi rada nos trabalhos do famoso lingüista Saussure de onde ele extraiu sua concep ção de significante e de um inconsciente estruturado como uma linguagem a ver tente antropológica apoiada no enfoque estruturalista de LeviStrauss que serviu de base para a sua noção do simbólico a filo sófica através da forte influência que so freu de Heidegger e da obra Fenomenolo gia do espírito de Hegel a quarta vertente naturalmente é psicanalítica fundamenta da unicamente numa releitura da obra de FREUD 2 Também são quatro as principais áreas que LACAN estudou mais profundamente a etapa do espelho com a respectiva forma ção da imagem do corpo a linguagem por ocasião de um congresso realizado em Roma em 1953 LACAN apresentou o notá vel trabalho Função e campo da fala e da linguagem na psicanálise também conhe cido como Discurso de Roma no qual expôs os principais elementos de seu siste ma de pensamento provenientes da lingüís tica estrutural e de influências diversas oriundas da filosofia e das ciências o de sejo numa relação direta com as faltas e falhas e as relações entre Narciso e Édipo Ver os verbetes específicos Em relação à prática clínica e à técnica cabe enumerar os seguintes aspectos mais mar cantes 1 A inveja e a agressão em geral não seri am inatas e primárias mas sim surgiriam quando o registro imaginário é frustrado e desafiado na crença onipotente da criança de que ela tem uma fusão com a mãe e a posse dela 2 Para LACAN a análise não deve ficar re duzida à mesquinharia exclusiva do mun do interno pelo contrário o analista deve VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 247 dar uma importância muito especial à pa lavra do paciente que pode ser cheia ou vazia de significados de modo que o ana lista também deve rastrear a cadeia de sig nificantes que está contida no conteúdo forma e estrutura da linguagem 3 A forclusão forma extrema de negação impede a ruptura de fusão narcisista no registro imaginário com o outro e portan to não se produz a capacidade para for mar símbolos e nem o ingresso no registro simbólico 4 A ausência do pai no psiquismo da criança comumente devida ao discurso denegridor da mãe pode propiciar a for mação de psicoses e perversões 5 Em relação à técnica propriamente dita LACAN propôs algumas modificações que dizem respeito ao setting transferência con tratransferência e interpretação Relativamente ao setting foi abolido o clás sico tempo cronológico de uma sessão em torno de 50 minutos substituído pelo tem po lógico sem tempo fixo de duração sen do que a sessão termina quando o anali sando atinge o corte simbólico isto é sai do registro imaginário e sua palavra vazia passa a ser cheia Em relação à transferência LACAN alerta para o risco de o analista poder reforçar e até eternizar uma dependência transferen cial quando ele for muito preconceituoso constituindo aquilo que LACAN designa com a sigla SSS ou seja Sujeito Suposto Sa ber Como o nome indica refere que a du pla parte de um pressuposto de que o ana lista sabe tudo que o paciente ignora Ao se referir à contratransferência LACAN evidencia que não aceita a possibilidade de que ela possa constituirse um importante instrumento técnico Relativamente à interpretação LACAN adver te que o uso sistemático da interpretação reducionista ao aquiagora pode contribuir para uma fixação do paciente no registro imaginário narcisista com o risco de iden tificarse com os desejos do analista Na verdade LACAN valoriza muito mais as in terrupções que representam a castração isto é o corte simbólico do que propriamente as interpretações clássicas Nos últimos tempos além de uma acentu ação de sua conduta com matizes paranói des era notório que LACAN demonstrava algumas ausências em suas apresentações públicas que muito mais do que uma sim ples exacerbação de suas costumeiras bi zarrices já estavam indicando um declínio orgânico com manifestações neurológi cas como de uma afasia parcial surgi das depois de uma cirurgia de um tumor maligno do cólon Ele morreu em 1984 nessas condições Lapso FREUD No conhecidíssimo trabalho A psicopato logia da vida cotidiana 1901 é descrito o fenômeno dos lapsos que juntamente com demais erros equivalentes e atos sintomáti cos constituem os melhores exemplos de conflitos entre as tendências à descarga e as forças que se lhe opõem Assim quando uma pessoa comete um lapsus linguae in conscientemente está resistindo de algum modo ao que conscientemente tinha se pro posto a dizer Juntamente com os atos falhos e a forma ção de sintomas FREUD concedia aos lap sos de fala e aos lapsos de escrita o mesmo valor que ele atribuía aos sonhos como uma importante via indireta de acesso ao inconsciente Ele ilustra o fenômeno com a narrativa de que numa peça teatral um personagem gabavase de suas relações com o milionário barão de Rothschild e terminava sua fala com essas palavras O barão tratavame exatamente de igual para igual de forma completamente fa milionária FREUD considerou que esse lapso revelava o desejo inconsciente do personagem 248 DAVID E ZIMERMAN Latência período de FREUD FREUD utilizou a expressão período de la tência e não fase de latência para caracteri zar que diferentemente do que ocorre na fase oral e na anal não há a rigor uma nova organização da personalidade Na ver dade esse período permeia entre o declí nio da sexualidade infantil por volta dos seis anos até a entrada na puberdade ou seja em torno dos 12 anos Nesse período há na evolução da sexualidade uma dimi nuição não uma completa abolição das atividades e de investimento de natureza se xual que são substituídas pela predominân cia da ternura sobre os desejos sexuais o aparecimento de sentimentos como o pu dor ou a repugnância e o surgimento de aspirações morais e éticas Ao articular o período de latência com o declínio do complexo de Édipo FREUD em prega a seguinte metáfora elucidativa o complexo de Édipo deve desaparecer porque chegou para ele o momento de se dissolver tal como caem os dentes de leite quando aparece a segunda dentição O período de latência apresenta duas ca racterísticas 1 Vai acontecer uma repressão da sexuali dade infantil com uma amnésia relativa às experiências anteriores 2 Formase um reforço das aquisições afe tivas e mentais do ego Em condições nor mais a combinação de ambas segundo FREUD propicia a sublimação das pulsões comumente manifestada na escolarização e em atividades esportivas assim como também na formação de aspirações morais estéticas e sociais de modo tal que esse período é considerado como sendo aquele que consolida a formação do caráter Latente conteúdo FREUD FREUD ao se referir à formação dos sonhos exalta a importância da diferença entre o conteúdo manifesto como o sonho apare ce no consciente do sonhante e o conteú do latente Este corresponde ao conjunto de desejos pensamentos sentimentos re presentações e angústias que estão repre sados no inconsciente e que somente terão acesso ao préconsciente e ao consciente após o disfarce realizado pela elaboração secundária do sonho que é realizada com a intervenção do censor onírico Ver o verbete sonho Lembrança encobridora FREUD FREUD definiu o conceito de lembrança en cobridora também chamada de recorda ção encobridora como uma lembrança in fantil que se caracteriza por um contraste ao mesmo tempo em que guarda uma es pecial nitidez a lembrança aparentemente é insignificante Assim Freud considera que a exemplo do que se passa com o mecanis mo de formação de sintomas e de sonhos também as lembranças encobridoras são resultantes de uma formação de compro misso entre as pulsões sexuais reprimidas e os mecanismos de defesa do ego Da mesma forma FREUD assevera que os mecanismos mais presentes na formação das lembranças encobridoras são o de des locamento e o de condensação Neste últi mo caso há uma expressiva condensação de elementos infantis tanto os realmente acontecidos como os fantasiados Por isso na prática analítica a análise das lembran ças encobridoras se revela como uma sig nificativa via de acesso ao que está recalca do no inconsciente Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância FREUD 1910 A Nota do editor da Standard Edition re ferente a esse trabalho de FREUD nos dá con ta que O interesse que Freud demonstra va por Da Vinci era antigo A parte princi VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 249 pal do estudo de Freud consiste na recons trução detalhada da vida emocional de Leonardo da Vinci desde os primeiros anos na descrição do conflito entre seus impul sos artísticos e científicos e na análise pro funda de sua história psicossexual Além desse tópico principal o estudo nos apre senta uma quantidade de temas colaterais não menos importantes uma discussão mais geral da natureza e do trabalho da mente de um artista criador um esboço da gênese de um tipo especial de homossexu alidade e a primeira aparição integral do conceito de narcisismo Essa obra é composta de seis partes as sim intituladas Parte I Material biográ fico Parte II A lembrança infantil de Leonardo Parte III Interpretação sexual da lembrança infantil de Leonardo Par te IV Os sorrisos beatíficos nas pinturas de Leonardo Parte V Efeitos da perda do pai em Leonardo Parte VI Justifi cativa da abordagem patológica da bio grafia Esse trabalho está inserido no Volume XI na p59 da edição brasileira Lesbianismo O termo lesbianismo que define a homos sexualidade feminina originase de Lesbos nome da ilha grega onde residia Safo poe tisa da Grécia Clássica que se notabilizou por suas relações homoeróticas A questão relativa ao lesbianismo em parti cular assim como o da homossexualidade em geral está sendo alvo de grandes polê micas e vem ganhando uma gradativa rea valiação tanto do ponto de vista cultural como científico Do ponto de vista psicana lítico indo além da conflitiva unicamente edípica os mais adiantados conhecimen tos relativos ao desenvolvimento emocio nal primitivo vêm permitindo uma expec tativa mais otimista por parte dos psicana listas contemporâneos Letargia FÍDIAS CESIO O psicanalista argentino F CESIO descreveu um estado de letargia que surge em alguns pacientes no curso da situação analítica e que tem uma característica essencial e im portante na prática clínica é a que se refe re ao fato de que essa letargia do paciente desperta uma contratransferência que con siste em o analista ser invadido por um sono invencível Quase todos analistas mais ex perimentados já devem ter passado por essa difícil experiência em que as pálpebras pesam como chumbo o tempo não passa a capacidade de raciocínio fica algo embo tada etc CESIO aventa a hipótese de que esse tipo de paciente geralmente um depressivo em grau forte tem o interior do seu psiquismo habitado por objetos aletargados isto é objetos que são como que moribundos por quanto costumam corresponder à introjeção de pessoas mortas cujo luto não foi elabora do e por isso não foram sepultados e se mantém como se estivessem parcialmente vivos comandando a vida do sujeito É justamente a identificação projetiva des sa depressão subjacente com os respecti vos objetos mortosvivos que provoca um estado de letargia no analista Letergização A FERRO1997 Em seu livro Na Sala de Análise 1997 p 163 o psicanalista italiano A FERRO in troduz o termo letargização com o qual ele designa um estado intermediário en tre o sono e a vigilia Afirma que Outro mecanismo de defesa muito primitivo é o adormecer a agressividade e com ela zonas inteiras da mente e muitas vezes toda potencialidade criativa São de fesas autistas por muito tempo necessá rias contra turbulências emocionais mui to primitivas 250 DAVID E ZIMERMAN Libido FREUD Essa expressão aparece de forma maciça na obra de FREUD e de modo geral em toda a literatura psicanalítica do passado e do presente Ainda assim na verdade tratase de um conceito difícil de definir com exati dão porquanto seu significado não é uní voco O próprio FREUD à medida que ia modificando suas concepções relativas à natureza e tipos das pulsões igualmente foi conceituando a libido com significações di ferentes Aliás a polêmica vem de longa data na his tória da psicanálise tanto que foi um dos pontos mais fortes da discordância entre FREUD e JUNG Enquanto o primeiro conec tava a libido com a pulsão sexual JUNG fi xou sua definição de libido genericamente como uma energia psíquica e reservou o termo sexualidade para o que é exclusiva mente sexual no sentido habitual do termo De fato FREUD inicialmente empregou o ter mo libido que em latim quer dizer desejo vontade para designar uma energia pró pria da pulsão sexual manifesta na vida psíquica Ele partia da sua postulação de que toda pulsão como a sexual situase no limite entre o soma e o psiquismo Todo prazer que não era devido à satisfação di reta das pulsões do ego com a finalidade de autoconservação tais como a satisfação da fome sede e necessidades excretórias FREUD considerou sexuais ou eróticas Ele enfatizava então que a libido tanto po dia ser investida no próprio ego e corpo caso do autoerotismo do narcisismo primário como nos objetos da realidade exterior Com a introdução em 1920 de sua teoria da pulsão de morte a libido começou a aparecer como a energia própria de Eros ou seja da pulsão de vida em oposição a Tânatos isto é contra as tendências des trutivas inerentes à pulsão de morte Assim em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD reafirmou essa última concepção referente à libido ao dizer que a libido em termos genéricos referese a todas as pulsões responsáveis por tudo o que compreendemos sob o nome de amor Lideranças FREUD BION Em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD dedicouse a estudar o caminho que vai da análise individual para a compreensão da sociedade partindo da sua convicção de que era impossível sepa rar uma abordagem psicológica de uma abordagem sociológica dos fatos humanos Para tanto ele se propôs a responder às perguntas o que é uma massa multidão de onde e como ela retira sua capacidade de modificar o comportamento dos indiví duos e em que consistem essas mudanças Embora FREUD tenha fundamentado esses estudos relativos à psicologia das multidões em trabalhos de GUSTAVE LE BON e de W MCDOUGALL ele se diferenciou deles por ter enfatizado a importância do líder na mas sa aspecto que tinha sido negligenciado por aqueles autores Assim retomando as idéias que já tinha exposto em Sobre o Narcisismo uma in trodução 1914 FREUD estabeleceu uma analogia entre o que se passa com uma multidão em relação a seu líder e o que se passa num estado de fascinação típico da relação entre o hipnotizado e o hipnotiza dor ou num enamoramento entre os apai xonados O que existe de comum nessas três situações é a presença em cada uma delas de um ideal do ego colocado numa outra pessoa o que acena com a possibili dade do preenchimento dos desejos e das necessidades mais primitivas FREUD completou suas concepções estudan do esse fenômeno a partir das massas arti ficiais constituídas pela Igreja caso em que o ideal do ego é representado pela figura de Deus Cristo nas religiões cristãs que está introjetado em cada um dos fiéis e VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 251 pelo Exército onde o ideal do ego por projeção é colocado na pessoa do coman dante Em caso do desaparecimento do lí der a massa corre o risco de ficar desagre gada com a possibilidade tanto maior quanto mais regressiva for a multidão de surgir o fenômeno do pânico no qual se misturam sentimentos de solidão abando no e debilitação dos vínculos BION estudou a função dos líderes com um enfoque diferente do descrito por FREUD Postulava que não era o líder que consti tuía e determinava o destino das massas mas sim o contrário ou seja que são cer tas necessidades emergentes de um grupo social que determinam o tipo de liderança que seja adequada para satisfazêlas As sim partindo dos seus estudos com grupos ele descreveu três tipos de líderes básicos 1 O de características carismáticas que surge nas massas que estão sob o domínio do suposto básico de dependência 2 O tipo caudilho que preenche o suposto básico de luta e fuga 3 O líder com o perfil de algum misticismo que satisfaça o suposto básico de acasala mento Freqüentemente essas três características podem estar fundidas numa única pessoa como pode ser exemplificado com a lide rança de Hitler para aquele momento so ciológico da Alemanha Ligação FREUD FREUD empregou esse termo no original ale mão é Bindung para designar tanto no nível biológico como no psíquico um pro cesso que visa a três finalidades 1 Limitar o livre escoamento das excitações pulsionais ou seja permitir a passagem do processo primário para o processo secun dário 2 Ligar as representações entre si 3 Assim manter uma relativa estabilidade do funcionamento psíquico Desta forma já no Projeto1895 FREUD utilizou essa expressão para referir o fato de a energia do aparelho neurônico passar do estado de energia livre para o estado de energia ligada Ele retoma essa hipótese em Além do princípio do prazer 1920 ao estudar as ligações entre as pulsões de vida de construção e as de morte de destrui ção No mesmo passo modifica sua con cepção original de que a ligação serviria primordialmente para descarregar a ener gia livre porque acrescentava essa não consiste unicamente numa descarga maci ça de excitação mas também numa livre circulação ao longo de cadeias de represen tações assim cumprindo uma importante função para o estabelecimento de laços as sociativos FREUD conjetura que essa última concepção possa estar na base de uma explicação para o fenômeno da compulsão à repetição Com a evolução da psicanálise o termo li gação foi sendo empregado com significa dos distintos Pode ser a noção de vários termos ou significantes ligados numa cadeia associativa ou a idéia de um conjunto em que é conservada certa coesão definida por limites entre as partes constituintes Também pode ser uma forma de definir a possibilida de de que certa quantidade de energia fixada em algum lugar já não pode escoarse livre mente Ultimamente também vem sendo empregado como sinônimo de vínculo Ligação elos de BION Essa expressão aparece freqüentemente nas traduções dos textos de BION muitas vezes para se referir ao fenômeno do ataque aos vínculos ou aos elos de ligação Ver o verbete vínculos Linguagem FREUD BION LACAN A linguagem nas suas diversas formas e estilos é o veículo da comunicação as 252 DAVID E ZIMERMAN pecto fundamental no relacionamento en tre as pessoas estudado por diversos au tores As investigações que aparecem em FREUD ainda persistem vigentes e como uma viva fonte inspiradora na atualidade Já em 1895 no seu Projeto ele teve conside rações acerca dos aspectos formativos e es truturantes dos sons imagens memória sensorialidade e desenvolvimento verbal motor Uma contribuição igualmente importante de FREUD aparece no seu trabalho O incons ciente 1915 no qual ele postula que o ego representa as sensações que estimulam a criança de duas formas como represen taçãocoisa e como representaçãopalavra Como esses termos indicam é somente na segunda dessas modalidades que a repre sentação tem acesso ao préconsciente sob a forma de palavras simbolizadoras BION estudou particularmente a patologia da linguagem utilizada pelos esquizofrêni cos e em Notas sobre a teoria da esquizo frenia 1954 descreve três maneiras de como esses pacientes a utilizam 1 Como um modo de atuar 2 Como método de comunicação primitiva 3 Como uma for ma de pensamento BION destaca então o fato de que às vezes o atuar substitui o pensar e viceversa sen do que esses pacientes podem utilizar as palavras como se fossem coisas ou como partes cindidas deles mesmos as quais tra tam de colocar dentro do analista Igualmente BION valorizou a importância de o analista distinguir quando seu pacien te faz comunicações com uma linguagem simbólica ou através daquilo que HSEGAL conceitua como equação simbólica caso em que se estabelece uma confusão entre o que é o símbolo abstrato e o que está sendo simbolizado concreto LACAN deu extraordinária importância à lin guagem como fator desestruturante do psiquismo de toda criança o que pode ser medido por essas duas conhecidas afirma ções dele O inconsciente é o discurso do outro e a de que o inconsciente estrutura se como uma linguagem LACAN ainda assinalou outros aspectos singu larmente importantes em relação à linguagem os conceitos de significante e significado a metáfora e a metonímia e na prática analíti ca a distinção a ser feita entre a comunica ção do paciente com palavra vazia e a com palavra cheia plena de significados Como uma forma de resumir podese dizer que na situação analítica além da linguagem simbólica o analista deve saber descodificar a linguagem sígnica que se processa por meio de sinais ainda não propriamente verbais Cabe exemplificar com a manifestação mais comum do bebê o choro Os gritos que o bebê emite são fonemas ou seja sons que servem para descarregar a tensão Porém ain da não há discriminação entre o grito e o fa tor que o provocou somente as palavras de signariam discriminadamente o que estaria se passando de doloroso com ele Nesse exem plo é necessário que mãe ou o analista in terprete os gritos de seu filho paciente São muitas as formas de comunicação não verbal as quais exigem um tipo de escuta especial por parte do analista Essas co municações assumem diferentes formas de linguagem como a paraverbal alude às mensagens que estão ao lado como por exemplo são as nuanças e alternânci as da intensidade amplitude e timbre da voz tanto do paciente como do analis ta a metaverbal a linguagem dos gestos e atitudes a linguagem do corpo a oni róide a da conduta e na situação analí tica a linguagem que se processa através da provocação no analista de sentimen tos contratransferenciais Linguagem de êxito BION Expressão de BION também traduzida como linguagem de consecução baseada na cren VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 253 ça de que as emoções falam mais alto do que as palavras para designar uma con dição que a linguagem do analista deve possuir para ser mais exitosa em alcan çar a realidade incognoscível do paciente o que ele chama de O e assim conse guir modificações verdadeiras nele Para tanto diz BION essa linguagem deve par tir mais da intuição do analista e menos do que ele capta através dos seus órgãos dos sentidos Linguagem e esquizofrenia BION 1955 Apoiado na experiência de análise com seis pacientes BION se propõe a mostrar o uso que o paciente esquizofrênico faz da lingua gem Os aspectos mais destacados são 1 A utilização dos conceitos de MKLEIN acerca dos ataques sádicodestrutivos as dissociações identificações projetivas a posição esquizoparanóide e a depressiva etc 2 Os três tipos de linguagem como um modo de atuar como método de comuni cação primitiva e como forma de pensa mento 3 As falhas das funções egóicas notada mente o processo de simbolização o pen samento verbal e os transtornos da capaci dade para pensar Esse trabalho consta do livro Estudos psi canalíticos revisados 1967 Livre associação de idéias Ver o verbete Associação livre de idéias Logoterapia VICTOR FRANKL Na década de 20 na França na Suíça e na Áustria tiveram grande desenvolvimento e expansão a chamada psicoterapia existen cial e a análise existencial esta última cha mada Daseinanalyse Dasein significa ser existir A essas veio juntarse a logotera pia ou seja uma terapia que visa mais ao lado espiritual ou existencial do que ao clássico conflito pulsional preconizado por FREUD de modo que ela se dirige mais ao consciente com a participação ativa do paciente através de um estímulo à sua von tade de realmente ser A logoterapia foi criada por VICTOR FRANKL psiquiatra suíço Juntamente com HERBERT MARCUSE e CARL ROGERS criou no fim da década de 60 na Universidade de San Di ego na Califórnia uma cadeira e um insti tuto de logoterapia que lhe foi confiada Na GrãBretanha RONALD LAING trabalha va a temática existencial com um modelo equivalente ao da logoterapia de FRANKL Luta e fuga BION BION descreveu três tipos do que ele deno mina como supostos básicos o de depen dência o de luta e fuga e o de acasalamen to O suposto básico de luta e fuga alude a uma condição em que o inconsciente gru pal está dominado por ansiedades paranói des e por essa razão ou a totalidade mos trase altamente defensiva e luta com fran ca rejeição a qualquer situação nova de di ficuldade psicológica ou ele foge dela cri ando um inimigo externo Dessa forma os participantes do grupo fi cam unidos contra esse inimigo comum ao qual atribuem todos os males O tipo de lí der requerido para essa modalidade de su posto grupal deverá ter características pa ranóides e tirânicas Luto FREUD M KLEIN Estado psíquico resultante da perda de al guém muito querido que pode provocar dor e angústia num quadro geral de rea ção depressiva que para ser superado ne cessita daquilo que FREUD concebeu como trabalho de luto Em Luto e Melancolia 1917 FREUD se aprofundou num estudo comparativo en 254 DAVID E ZIMERMAN tre os processos que caracterizam o luto e a melancolia estabelecendo as diferenças entre ambos Dessa forma na melancolia o objeto perdido fica introjetado e retido crônica e patologicamente no ego do sujei to No luto é um período de tempo necessá rio para a elaboração progressiva da perda do ente querido que então fica introjetado sem maiores conflitos e a pessoa enlutada consegue desligarse normalmente dele Isso está de acordo com o fato de que o trabalho de luto consiste no fato de que a libido investida no objeto perdido necessi ta ser desligada das lembranças fantasias e esperanças que cercavam a ligação Só de pois disso num tempo não excessivamente longo o ego do sujeito volta a ser livre para levar uma vida normal MKLEIN enriqueceu essa temática com o seu importante trabalho O luto e suas relações com os estados maníacodepressivos 1940 onde relaciona os objetos externos com os internos como também e princi palmente consolida a sua concepção de posição depressiva A última fundamental para o crescimento psíquico da criança exige um doloroso tra balho de luto porque a criança vai integrar os objetos parciais numa totalidade e as sim vai tomar consciência de que a mes ma pessoa no início é a mãe que ela tan to atacou na fantasia ou na realidade e a mãe que ela ama e de que necessita são a mesma pessoa A criança passa então por uma fase de luto com manifestos sinais depressivos e aos poucos num trabalho de elaboração dessa ambivalência e luto ela restaura o objeto bom e estruturante den tro de si Embora FREUD e KLEIN coincidam no aspecto básico que consiste numa boa ou má intro jeção do objeto perdido respectivamente no caso do luto ou da melancolia existe uma clara diferença entre ambos enquanto FREUD se referia mais propriamente ao objeto total MKLEIN construiu sua teoria de luto e melan colia em torno de objetos parciais Luto e melancolia FREUD 1917 Trabalho redigido em 1914 e publicado em 1917 que pode ser considerado uma ex tensão do artigo sobre narcisismo que FREUD publicou em 1914 FREUD assinala a identificação como uma fase preliminar da escolha objetal a primei ra maneira pela qual o ego escolhe um ob jeto A melancolia assume várias formas clí nicas algumas sugerindo afecções somáti cas e não psicogênicas Um dos traços mais característicos é o da perda da autoestima Segundo FREUD a correlação entre melan colia e luto parece justificada pelo quadro geral de ambas as condições O luto é nor malmente a reação à perda de uma pessoa amada Em algumas pessoas as mesmas influências produzem melancolia em lugar do luto e conseqüentemente desconfiamos que possuem uma disposição patológica A melancolia absorve algumas características do luto e outras do processo de regressão da escolha narcísica de objeto até o narcisis mo FREUD enfatiza o quanto a característica mais notável da melancolia é sua tendência para transformarse em mania o que ele liga à regressão da libido até o narcisismo Esse trabalho está publicado no volume XIV p 275 da Sandard Edition brasileira Mãe normalidade e patogenia da De uma forma ou de outra o papel da mãe aparece em todos os autores da psicanáli se embora com abordagens muitas vezes distintas e partindo de distintos vértices de observação e de estudo Mas invariavelmen te ocupa um papel central no desenvolvi mento emocional da criança e no psiquis mo do futuro adulto FREUD deixa transparecer em muitos mo mentos de sua obra uma especial valoriza ção do papel da mãe na estruturação do psiquismo da criança o ensaio psicanalíti co que ele faz de Leonardo da Vinci 1910 é um bom exemplo disso especialmente no que diz respeito à normalidade e à pa tologia da formação e resolução do univer sal complexo de Édipo No entanto no con junto de sua obra nitidamente falocêntri ca FREUD deu à mãe um papel significati vamente menor do que o atribuído ao pai MKLEIN em contrapartida ao longo de toda sua obra deu um papel central e fundamen tal à mãe em relação ao desenvolvimento emocional primitivo do bebê num detri mento quase total à figura do pai Por isso sua teoria psicanalítica é considerada de masiadamente seiocêntrica MKLEIN desta cou sobretudo a relação objetal mãebebê desde o recémnascido enfatizando que do ponto de vista da criança a mãe é vi venciada como um objeto parcial inicial mente ela é reduzida unicamente a um seio nutridor Esse seio está dissociado espli tado num objeto parcial seio bom ideali zado e concomitantemente num seio mau frustrador e perseguidor Só por volta do sexto mês o bebê começa a completar a integração dos objetos parciais da mãe seio bom e seio mau num objeto total a mãe única MKLEIN deu tanta ênfase à presença fun damental dos objetos parciais introjetados com as respectivas fantasias inconscientes de que estão revestidos que deixou a im pressão de não ter valorizado suficientemen te a importância eterna real Vários outros autores como SPITZ BOWL BY BALINT BION WINNICOTT KOHUT MAH LER se encarregaram de restaurar de for mas diferentes a importância do vínculo mãe realcriança Assim de modo gené rico usando a terminologia de WINNICOTT uma mãe suficientemente boa deve pre encher as seguintes funções indispensá veis para a normalidade do desenvolvi mento da criança 1 Ser provedora das necessidades básicas do filho de sobrevivência física e psíquica M 256 DAVID E ZIMERMAN 2 Exercer a função de paraexitação dos estímulos que o ego incipiente da criança não consegue processar devido a sua na tural imaturidade neurofisiológica 3 Possibilitar uma simbiose adequada de modo a não haver um desapego por de mais precoce e tampouco por demais ex cessivo e prolongado 4 Compreender e descodificar a arcaica linguagem corporal do bebê 5 Frustrar adequadamente de sorte a permitir as ilusões da criança para aos poucos ir procedendo à desilusão das ilu sões 6 Fundamentalmente conter as angústi as e necessidades da criança o que na terminologia de BION aparece com o nome de continente ou de réverie enquanto WINNICOTT a denomina holding 7 Acompanhar as contenções referidas acima por uma capacidade de empatia 8 Sobreviver aos ataques destrutivos e às demandas vorazes do filho 9 Permitir o exercício de a criança deva near imaginar e fantasiar construindo aquilo que KOHUT chama de self grandio so e de imago parental idealizada A mãe deve conhecer a importância das signifi cações que estão embutidas no seu dis curso dirigido à criança 10 Funcionar como um espelho como está expresso nessa bela frase de WINNI COTT o primeiro espelho da criatura hu mana é o rosto da mãe seu olhar sorri so expressões faciais 11 Ficar atenta para reconhecer não só as angústias mas também as capacida des positivas do seu filho 12 Servir como um importante modelo de identificação para a criança 13 Ser verdadeira A patogenia da mãe consiste exatamente na má aplicação de alguns desses requi sitos minimamente necessários para um desenvolvimento sadio da criança Mãe morta A GREEN Dentre os possíveis aspectos patogênicos da mãe sobressai a possibilidade de que te nha havido a continuada presença de uma real depressão na mãe ou no pai o que re força as fantasias da criança de que tenha sido sua maldade que provocou todas as desgraças É útil acrescentar a existência daquilo que GREEN 1976 denomina complexo da mãe morta que consiste nas palavras dele em um assassinato psíquico do objeto mãe que a criança perpetua sem ódio e do qual resulta uma depressão branca que é dife rente da depressão negra na qual há luto e dor pela perda Assim a expressão mãe morta não signifi ca que a mãe tenha realmente falecido mas sim que se formou um vazio de mãe Por tanto a introjeção é de uma figura materna sem vitalidade o que resulta em crianças deprimidas às vezes com a depressão en coberta por uma hiperatividade reativa McDougall Joyce VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 257 Importante psicanalista autora de cinco li vros diversos artigos traduzida em dez lin guas inclusive japonês e hebraico convi dada para fazer conferências no mundo in teiro até no Tibete JMCDOUGALL nasceu na Nova Zelândia fez formação analítica na Inglaterra e radicouse na França onde mora e trabalha até hoje Aos dezessete anos leu com paixão a Psi copatologia da vida cotidiana de FREUD e decidiu estudar psicologia em vez de medicina como a família desejava Em 1950 já com dois filhos foi a Londres para analisarse o que fez com um mem bro do Middle Group o atual Grupo dos Independentes Ao concluir sua formação psicanalítica foi fortemente impressiona da com WINNICOTT e ANNA FREUD que a influenciaram ANNA conseguiulhe uma colocação no Hospital Maudsley como psicóloga de crianças Motivada por um convite para assumir um posto interessante na UNESCO em Paris JOYCE aí chegou em 1953 apresentandose ao Instituto de Psicanálise Antes tinha sido calorosamente recebida por MARIE BONAPAR TE graças à recomendação de ANNA FREUD Os analistas que mais a influenciaram fo ram LACAN embora gradativamente tenha discordado dele e PIERA AULAGNIER com quem contraiu sólida e forte amizade que perdurou por 30 anos até a morte de MARIE Tratou Sammy um menino psicótico que lhe foi encaminhado Ela dominava o in glês A elaboração desse tratamento frutifi cou com a publicação em 160 do livro Um caso de psicose infantil título alterado em 1966 para Dialogue with Sammy Assim paralelamente a MKLEIN elaborou o uni verso da psicose o reconhecimento do nú cleo psicótico que está no cerne de todo tratamento analítico A experiência que tivera no meio teatral propicioulhe a criação de metáforas que estão na essência de toda sua obra mais especificamente em dois livros Teatro do Eu e Teatro do corpo A idéia central de ambos é que o psicanalista deve traduzir o drama que se desenrola no teatro do anali sando em verbalizações analisáveis desde que ele tente observar também seu próprio teatro interior e interpretálo antes de inter pretar o de seu paciente MCDOUGALL dedicouse igualmente ao es tudo das psicossomatoses As publicações em português mais notáveis são Conferências brasileiras Identifica ções neonecessidades e neosexualida des Um corpo para dois A homosse xualidade feminina Entrevista com Joyce McDougall Teatros do Eu Em defesa de ua certa anormalidade imperdível Tea tros do corpo o psicossoma em psicanáli se Corpo elinguagem da linguagem do soma às palavras da mente As múltiplas faces de Eros que em 1966 a fez receber o Gradiva Award Mahler Margareth Maiúscula representante da escola Psicolo gia do Ego MMAHLER nasceu em 1897 na Hungria em uma família da burguesia ju daica intelectual Formouse em medicina primeiramente se dedicando à pediatria em Budapeste onde encontrou FERENCZI Tal vez estimulada por ele foi a Viena anali souse com HDEUTSCH e completou sua formação como psicanalista Iniciouse na psicanálise com crianças acompanhando com dedicação os seminá rios de ANNA FREUD até que fugindo do nazismo emigrou primeiro para a GrãBre tanha e após para os Estados Unidos Fi xouse em Nova York onde após ficar cho cada ao saber que a sua mãe tinha sido deportada para o campo de concentração de Auschwitz fez outra análise agora com EDITH JACOBSON A partir de 1949 MAHLER dedicase ao es tudo da etiologia das psicoses infantis ten do criado um centro de atendimento para 258 DAVID E ZIMERMAN crianças psicóticas em 1957 Nesse centro fez estudos experimentais de observação de crianças inicialmente psicóticas na déca da de 50 e depois com criancinhas nor mais na década 60 através de um espelho unidirecional As observações colhidas propiciaramlhe e a seus colaboradores fundamentar uma teoria dos mecanismos de espelhamento mútuo que delimitam a demarcação do eu e do outro A teoria foi desenvolvida atra vés da descrição de distintas fases evoluti vas de crianças de 4 a 36 meses de vida constante de etapas e subetapas cada uma com características específicas que se repe tem em todas as crianças normais A primeira etapa é a de uma simbiose fusi onal com a mãe A seguir a criança ingressa na etapa de uma diferenciação com a mãe num processo de duas subetapas a de se paração e a de individuação a qual coinci de com o início da marcha da criança jun tamente com o reconhecimento de suas características individuais Seguese uma etapa de treinamento na qual a criança faz ensaios de explorar o mundo a seu redor a formação de uma constância objetal que abre as portas para o caminho de uma fu tura aquisição de uma sadia autonomia MMAHLER faleceu em Nova York em 1985 Seus trabalhos continuam merecendo um reconhecimento que ultrapassa as frontei ras norteamericanas e servem como fonte de inspiração para analistas de todas as correntes Maiêutica método de terapia analítica Processo dialético de natureza pedagógi ca no melhor estilo socrático em que se multiplicam as perguntas a fim de obter por indução dos casos particulares e concre tos um conceito geral do objeto em questão como se fosse a gestação de uma idéia leva da a termo Por essa razão o termo é utiliza do de forma análoga na obstetrícia Em relação à psicanálise BION definiu esse processo com essa frase Sócrates disse que às vezes ele fazia o papel de uma par teira atendia o nascimento de uma idéia O mesmo se aplica a nós podemos ajudar a que um paciente nasça a que emerja do ventre do pensamento Malestar da civilização O FREUD 1930 Título de um muito conhecido trabalho de FREUD às vezes aparece traduzido como O malestar na cultura publicado em 1930 Fundamentalmente desenvolve a tese de que o malestar da civilização resulta de um anta gonismo irremediável entre as exigências pul sionais tanto as libidinais quanto as agressi vas e as restrições impostas pela cultura A obra abrange as seguintes oito partes I A necessidade de religião do homem nasce de sentimentos de desamparo Nela FREUD reitera que as pessoas costumam uti lizar falsos padrões de medida de valoriza ção tanto que buscam poder sucesso e ri queza e admiram os que vencem ao mesmo tempo em que subestimam aquilo que às vezes eles têm de realmente valioso Muitos levantaram objeções à tese de FREUD de que a religião seria uma ilusão alegan do que ele não apreciou adequadamente a verdadeira origem dos sentimentos religio sos que estaria numa sensação oceânica FREUD contesta que essa sensação existen te em muitas pessoas não é a origem da atitude religiosa cuja fonte pode ser encon trada na sensação de desamparo infantil II O homem enfrenta a infelicidade por meio de diversão substituição e intoxica ção Neste texto FREUD afirma que a bus ca da felicidade tem duas facetas a primei ra evitar a dor e o desprazer pelo método químico da intoxicação ou por um substitu tivo deslocamento da libido a segunda consiste em experimentar fortes sensações de prazer que podem ser obtidas através da procura de ilusões VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 259 III O conflito do homem com a civiliza ção liberdade versus igualdade Aí é dito que o sofrimento tem três origens a força superior da natureza a fragilidade de nos sos organismos e a inadequação das nor mas que regulam as relações mútuas dos seres humanos na família no estado e na sociedade É nessa parte que FREUD afirma que a experiência psicanalítica testemunha regularmente a conexão existente entre ambição humana fogo e erotismo uretral IV Dois pilares da civilização Eros e Ananke O texto diz que a tendência da civilização de restringir a vida sexual não é menos evidente que sua tendência para expandir o âmbito cultural V Segurança à custa da restrição da sexu alidade e da agressão A tese é a de que devido aos grandes sacrifícios impostos pela civilização à sexualidade e à agressão hu manas o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança VI Argumentos em favor de uma pulsão de agressão e de destruição FREUD asse vera que a civilização é um processo a ser viço de Eros no embate permanente en tre a pulsão de vida e a de morte cujo objetivo é combinar entre si primeiro os in divíduos humanos e em seguida famílias lugares povos e nações numa grande uni dade a unidade da espécie humana VII O desenvolvimento do superego e sua severidade FREUD trata da formação dos sentimentos de culpa provindos do medo das autoridades que impõem uma necessi dade de renúncia às satisfações pulsionais e num segundo tempo à ação de ameaça punitiva por parte do superego diante da continuação dos desejos proibidos VIII Conclusões sobre os efeitos da civili zação sobre a psique Nesse texto a tese é de que o impulso que visa à busca da felici dade pessoal é geralmente chamado de egoísta enquanto o impulso da união com os outros da comunidade é geralmente cha mado de altruísta Ademais diz FREUD podese afirmar que a comunidade dá ori gem a um superego sob cuja influência se processa o desenvolvimento cultural O malestar da civilização aparece no volu me XXI p81 da Standard Edition brasileira Maníacas defesas Em muitas estruturas psíquicas mais par ticularmente nas de natureza melancóli ca em que o ego do sujeito está submeti do a uma opressão tirânica por parte de um superego rígido e por vezescruel o ego inconsciente lança mão de mecanis mos defensivos com os quais o sujeito sentese liberto das tiranias procurando inverter os papéis de quem submete e quem é submetido Assim as defesas maníacas se estruturam no conhecido tripé controle triunfo e des prezo Pelo controle pretende controlar a tudo e a todos exercendo de forma onipo tente um domínio e apoderamento Pelo triunfo o sujeito nega sua baixa autoesti ma e desvalia resultante do seu estado de pressivo essencialmente dominante embo ra subjacente e nem sempre manifesto O desprezo é uma decorrência e uma condi ção do triunfo e implica que o sujeito em prega maciçamente a defesa do denegri mento de todos aqueles que inveja ou ima gina que o oprimem e humilham Maníacodepressiva psicose Desde a Antigüidade existem comprovações da existência dessa psicopatologia Um exem plo é o relato bíblico das bruscas violentas e profundas oscilações de humor do rei Saul Coube a um médico inglês há quase qua tro séculos ser o primeiro a ligar numa mesma doença mental a mania e a melan colia Posteriormente EKRAEPELIN o gran de sitematizador da nosologia psiquiátrica denominou essa doença circular loucura maníacodepresssiva Na nosografia geral 260 DAVID E ZIMERMAN das psicoses passou a ser chamada psico se maníacodepressiva denominação que perdurou por um longo tempo Na atuali dade com variações nas manifestações sin tomáticas consta qualificada na categoria das doenças afetivas Clinicamente essa psicopatologia dos afetos pode apresentarse como unipolar através de crises espaçadas ou só da exaltação maníaca ou só da depressão melancólica ou de forma bipolar caso em que as crises de mania e de melancolia podem surgir alternadamente Do ponto de vista psicanalítico até há pou co tempo a mania era compreendida atra vés do enfoque de que seria a contraparti da da melancolia isto é para fugir da de pressão o sujeito mobilizaria recursos in conscientes de se rebelar contra um supe rego tirânico e assim conseguir plena li berdade e autonomia em relação a todos Tratadas psicanaliticamente de modo ge ral as doenças afetivas não evoluíam exito samente Não eram raras as análises des ses casos que pareciam evoluir muito bem até que alguma eventual crise importante desfazia todo entusiasmo do par analítico fazendo com que freqüentemente o analis ta creditasse o fracasso a uma possível rea ção terapêutica negativa Na atualidade são poucos os que contes tam uma inegável participação de causas orgânicas endógenas de origem heredo constitucional na determinação dessa doença A experiência da prática analítica vem demonstrando que ao contrário do que era preconizado até há algum tempo o uso simultâneo de medicamentos da moderna psicofarmacologia com o prosse guimento natural da análise ou de alguma outra modalidade de terapia analítica tem se mostrado bastante eficaz Mapa da mente humana BION BION estabelece uma analogia entre o mapa múndi e o mapa da mente humana afir mando que o último se comporta como uma espécie de rosadosventos apontan do para diversas direções como pode ser a de uma progressão ou a de uma regressão ou ainda uma progressão em direção oposta menos progresso como é o cres cimento de células cancerosas ou como o crescimento de um rabo de cavalo De forma análoga compara o funciona mento do psiquismo com uma orquestra no qual estão presentes concomitantemen te diferentes instrumentos executando uma partitura musical cada um com funções específicas e diferenciadas porém insepa ráveis No mapa psicótico convivem a par te bebê de cada um juntamente com a parte criança a adolescente a adulta a psicótica com a não psicótica e assim por diante Tendo em vista a prática psicanalíti ca BION formula esta importante pergun ta De que zona do mapa do self o pacien te não quer saber absolutamente nada Marcondes Durval Na impossibilidade de fazer constar nesse Vocabulário os nomes de muitos importan tes psicanalistas brasileiros vamos nos res tringir ao de DURVAL MARCONDES porquanto ele pode ser considerado o fundador do movimento psicanalítico brasileiro Nascido em São Paulo em 1899 MARCON DES era um talentoso médico psiquiatra que muito cedo se interessou pela psicanálise Com 27 anos publicou um livro sobre o simbolismo que abriu caminho para um enfoque psicanalítico da crítica literária no Brasil No ano seguinte juntamente com FRANCISCO FRANCO DA ROCHA fundou a pri meira sociedade freudiana do continente sulamericano Embora dissolvida ressur giu em 1944 como Grupo Psicanalítico de São Paulo até que em 1951 durante o congresso da IPA realizado em Amsterdã foi reconhecida como a Sociedade Brasi leira de Psicanálise SBPSP nome que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 261 persiste até a atualidade com uma enorme pujança e vitalidade Foi DMARCONDES quem promoveu a vinda da psicanalista alemã ADELHEID KOCH a São Paulo em 1936 com o propósito de anali sar e formar didatas segundo os critérios da IPA o que de fato aconteceu Os nomes de VIRGINIA BICUDO FLAVIO RDIAS e o do pró prio DURVAL MARCONDES são o melhor teste munho do acerto da vinda ao Brasil da pri meira psicanalista européia a se instalar no continente latinoamericano Também foi MARCONDEs quem em 1928 criou a Revista Brasileira de Psicanálise acolhida de forma entusiástica por FREUD que enviou uma breve mensagem de sau dação transcrita no primeiro número pu blicado Além disso publicou muitos traba lhos de introdução à psicanálise foi pionei ro da higiene mental nas instituições esco lares inaugurou a primeira cátedra de psi cologia na Universidade de São Paulo e se manteve até o final da vida faleceu em 1981 um permanente participante ativo e incentivador do movimento psicanalítico com repercussões por todo o Brasil Masoquismo Termo empregado pela primeira vez pelo sexólogo KRAFTEBBING com o significado de perversão sexual Deriva do nome do es critor austríaco LEOPOLD VON SACHERMASO CH que descrevia em seus romances uma ati tude de submissão e humilhação masculina em relação à mulher amada numa busca de sofrimento Assim durante muito tempo o significado de masoquismo ficou conectado com a noção de adultos que não podem en contrar uma satisfação sexual a menos que simultaneamente se lhes inflija alguma forma de dor física e humilhação física e moral FREUD reestudou o problema do masoquis mo principalmente em dois trabalhos Em Uma criança é espancada 1919 a partir de quatro casos de mulheres Freud investiga três fases com distintas fantasias que acompanham a criança ao ser castiga da fisicamente sendo que numa delas o prazer de ser espancado se deve à expia ção da culpa edípica O segundo trabalho é O problema econô mico do masoquismo 1924 no qual já respaldado na noção de pulsão de morte formulado em 1920 FREUD dando uma dimensão maior do que a de cinco anos atrás distinguiu três tipos de masoquismo o erógeno o moral e o feminino 1 O masoquismo erógeno referese à ob tenção do prazer sexual sempre ligada à dor 2 Pela denominação o masoquismo femini no pode dar a impressão de que seja exclusi vo e específico das mulheres o que não é o caso FREUD levando em conta sua convic ção quanto à existência de uma bissexualida de descreveu esse masoquismo feminino em homens que apresentam fantasias de serem castrados de sofrer passivamente o coito a dor do parto Esse tipo de masoquismo sem pre foi muito contestado pelos analistas 3 O masoquismo moral alude à situação na qual o sujeito masoquista não necessita de parceiros porquanto ele se autoinflige dores não unicamente sexuais devido a seus sen timentos de culpa com a respectiva necessi dade inconsciente de castigo Essa modalida de de masoquismo parece que deve ser mais creditada à ação da pulsão de morte Em prosseguimento FREUD completou com suas clássicas concepções de masoquismo primário e masoquismo secundário O masoquismo primário referese à pul são de morte dirigida ao próprio sujeito porém ligada pela libido e unida a ela É denominada primária porque ainda não está investida em objeto exterior e tam bém porque se opõe ao masoquismo se cundário O masoquismo secundário instalase em um segundo momento e é definido como um re tomo do sadismo sobre a própria pessoa que se acrescenta ao masoquismo primário 262 DAVID E ZIMERMAN Conquanto o termo masoquismo continue pertencendo essencialmente ao campo da sexologia do ponto de vista psicanalítico o próprio FREUD e seguidores estudaram sua conceituação além da perversão sexual englobando muitos outros atos e tipos de relacionamento Deram assim origem a um novo e relevante vocábulo o sadomasoquis mo levando em conta que o sadismo e o masoquismo coexistem tanto intra como intersubjetivamente Match J KANTROWITZ É útil estabelecer uma distinção entre as conceituações de aliança terapêutica trans ferência positiva ver os verbetes e match Este último cuja melhor tradução parece ser encontro é um interessante conceito que aparece em trabalhos dos Psicólogos do Ego norteamericanos de pesquisa da prática psicanalítica KANTROWITZ 1986 Fundamentalmente diz respeito ao fato de que indo além dos fenômenos transferen ciaiscontratransferenciais as características reais de cada um do par analítico quer de afinidade de rejeição e principalmente da presença de possíveis pontos cegos no ana lista segundo pesquisas de longa duração podem determinar uma decisiva influência no curso de qualquer análise Assim segundo esses autores um mesmo paciente analisado por dois psicanalistas de uma mesma competência e seguidores de uma mesma corrente psicanalítica pode evoluir muito mal com um deles e muito exitosamente com o outro e viceversa Também determinados níveis de sua estru turação psíquica por exemplo a sexuali dade podem evoluir muito bem com um analista e estagnar com o mesmo analista em outro nível por exemplo a área do nar cisismo e o inverso ocorrer em uma análi se feita com o outro psicanalista ou seja muito depende das peculiaridades do en contro analítico Matema LACAN LACAN criou esse termo em 1971 para de signar um conjunto de escritas de aspecto algébrico que têm por finalidade explicar conceitoschave da teoria psicanalítica em termos estruturais que transcendem ao emprego das palavras comumente usadas de modo que matema se constitui como a escrita do que não pode ser dito mas que pode ser transmitido LACAN inspirouse no termo grego mathema que significa conhe cimento Embora haja uma semelhança de escrita o conceito lacaniano de matema não pertence ao campo da matemática LACAN inventou ao mesmo tempo os con ceitos de matema e de nó borromeu ver esse verbete O primeiro matema ele to mou emprestado da lingüística que dispõe numa forma de equação algébrica as rela ções entre significantes e significados LA CAN formulou outros matemas referentes à metáfora e à metonímia ao estádio do es pelho ao desejo ao Outro às fórmulas da sexuação dos quatro discursos etc Material clínico Expressão que desde os tempos pioneiros até a atualidade é usada rotineiramente pelos analistas para referir o conjunto de relatos verbais trazidos pelo paciente sob a forma de lembranças fantasias sonhos lapsos fatos do cotidiano e de certos comportamentos à espera de serem com preendidos e interpretados pelo analista Seguidamente FREUD comparava o traba lho analítico com o do arqueólogo que a partir dos fragmentos que paulatinamente vão sendo descobertos pelas escavações conseguem reconstituir uma edificação de saparecida Destarte podese dizer que a expressão material apresenta duas facetas uma posi tiva e outra negativa A positiva alude ao fato de que se trata de uma matériaprima VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 263 que uma vez escavada e descodificada permite a interpretação que leva ao insi ght A correlação e elaboração de um con junto de insights permitirão uma verdadei ra construção ou reconstrução da persona lidade do sujeito através do material por ele trazido que metaforicamente são as esta cas os tijolos a argamassa O aspecto negativo do termo material é o inconveniente de reforçar a falsa idéia de que basta ao paciente ficar no papel de aportar material e a partir daí ao analista fazer as construções interpretativas e não como é consensual na psicanálise contem porânea uma construção a dois levando em conta que o analista também fornece material a ser refletido logo construído pelo paciente Comentário Outro inconveniente é que a palavra material além do significado po sitivo de matériaprima para construção também é bastante empregada com o sen tido de material fezes urina sangue pus etc coletado para laboratório de análises da clínica médica o que dá uma dimensão por demais materialista ao processo analí tico quando sabemos que ele também se nutre de aspectos espirituais intuitivos ide ogramas angústias sem nome etc Se fosse necessária uma mudança de ter minologia entendo que o termo narrati va alusivo à expressão gênero narrativo empregada por AFERRO 1998 seria bas tante mais adequada do que simplesmente material clínico Maternagem função de Nos referenciais psicanalíticos a pessoa da mãe adquire um significado genérico isto é não se refere unicamente à mãe biológi ca mas também a alguma figura substituta pai avó encarregada de prestar os cui dados primários essenciais Em psicanáli se o termo maternagem aparece emprega do com duas acepções distintas como uma técnica de tratamento analítico e como uma função básica do analista no desenvolvi mento normal de qualquer análise 1 Com a acepção de técnica Alguns auto res preconizaram uma modalidade técnica de tratamento analítico quando dirigido a pacientes psicóticos mais particularmen te nos casos de esquizofrenias em que a relação terapeutapaciente fosse ao mesmo tempo num nível simbólico mas também real de sorte que viesse a ser análoga àque la que deveria ter existido mas não existiu suficientemente bem entre a criança e uma mãe boa A maior crítica que pode ser feita a essa terapia consiste na impossibilidade concreta além dos inconvenientes de po der reforçar uma infantilização do paciente de o analista vir a funcionar como uma mãe susbtituta com o compromisso de ter uma ampla disponibilidade e de vir a pre encher todas as necessidades desejos e demandas decorrentes de todas faltas fa lhas e vazios que se formaram nos primei ros anos de vida 2 Como acepção de função o termo ad quire uma relevância especial porque dife rentemente de funcionar como uma pessoa substituta da mãe o terapeuta deve pos suir uma autêntica atitude interna que per mita propiciar ao sujeito a internalização de um novo modelo de figura materna dife rente da sua que lhe falhou eou faltou Esse novo modelo para identificação a expres são que KOHUT USa é internalização trans mutadora implica a necessidade de o ana lista gostar verdadeiramente de seu paci ente fortemente regredido de funcionar como adequado continente e espelho de reconhecer e valorizar os aspectos positivos ocultos no paciente Ademais o terapeuta deve possuir uma série de atributos afins de molde a que mais do que atender às demandas con cretas a grande função de maternagem do analista consiste em entender as profun das necessidades que se expressam por di 264 DAVID E ZIMERMAN ferentes meios particularmente nas situa ções psicóticas Matte Blanco lgnacio Eminente psicanalista nascido em Santi ago do Chile em 1908 e falecido em 1995 MATTE BLANCO fez sua formação psi canalítica em Londres mais afinado e próximo dos analistas que futuramente com o episódio das Grandes Controvér sias vieram a constituir o Grupo Indepen dente da Sociedade Britânica de Psica nálise Em 1943 voltou ao Chile onde ficou morando e trabalhando até 1966 tendo lá fundado um grupo de estudos que veio a ser reconhecido pela IPA De pois emigrou para a Itália e radicouse em Roma onde continuou suas ativida des de ensino e de clínica analítica inte ressandose especialmente pelo tratamen to da esquizofrenia pelos transtornos nar císicos e pelas questões pertinentes ao self A fim de definir uma lógica da psicose MATTE BLANCO desenvolveu teorias originais que consistem em estudos sobre a bilógi ca ou seja a lógica simétrica e assimétrica se João é pai de Pedro pela lógica simétri ca Pedro acha que é o pai de João e sobre os conjuntos infinitos os quais estão ganhando uma gradativa relevância por todos aqueles que se interessam pela com preensão da lógica psicótica Mecanismos de defesa Ver o verbete Defesas Melancolia FREUD A etimologia da palavra melancolia deri vada dos étimos gregos melanos negro e kholé bile expressa com clareza que se trata de uma doença conhecida desde a Anti güidade que se caracteriza por um hu mor sombrio isto é uma tristeza e um de sânimo profundos um estado depressivo capaz de conduzir ao suicídio com ou sem a presença de idéias delirantes de ruína A analogia com bile negra tem origem nos ensinamentos de Hipócrates que atribuiu a responsabilidade pelos misteriosos fe nômenos orgânicos à presença de quatro humores o sangue responsável pela ale gria e o riso a bile amarela imita o fu ror do fogo a bile negra imita a terra e a fleuma responsável pela inércia Es ses quatro humores se misturariam daí resultando a alternância da melancolia com a mania Essa teoria perdurou por séculos durante os quais a melancolia ocupou o interesse de filósofos literatos médicos psiquiatras e mais a partir de FREUD dos psicanalistas Depois de alguns comentários esparsos foi a partir de Luto e Melancolia 1917 que FREUD estudou aprofundadamente essa te mática e estabeleceu uma importante di ferença entre o luto e a melancolia As sim considerou que a melancolia é a for ma patológica do luto No trabalho de luto o sujeito consegue desligarse pro gressivamente do objeto perdido Na me lancolia pelo contrário ele se julga cul pado pela morte da pessoa perdida e se identifica de tal modo com ela que sente os mesmos sofrimentos que imagina que o morto tenha sofrido ou esteja sofrendo situação essa que pode cronificar indefi nidamente Embora os quadros clínicos da melancolia variem bastante qualitativa e quantitativa mente existe uma invariante na estrutura melancólica Consiste no fato já assinala do por FREUD de que há uma impossibili dade permanente de o sujeito fazer o luto pelo objeto perdido Essa falta de elabora ção representa uma permanente confusão entre o seu eu e o objeto perdido logo seu eu também fica perdido e esvaziado e tudo isso conduz à constante ameaça de risco de suicídio VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 265 Essa fusão e confusão entre o sujeito enlu tado e o objeto perdido promove uma con fusão à fase do narcisismo primário de sor te que melancolia também era conhecida como psiconeurose narcisista LACAN compara a melancolia com a situa ção extrema do enamoramento um esta do em que o sujeito não é nada compa rado ao tudo que é atribuído ao objeto amado e extremamente idealizado de forma que ele considera o quadro melan cólico uma doença do desejo porque nes sa situação a pessoa enlutada renuncia a desejar a ser entra num estado de des ser e contrai um forte namoro com a morte Meltzer Donald Durante um longo período motivado por profundas e quase irreconciliáveis divergên cias quanto ao sistema de ensinoaprendi zagem dos candidatos à formação psicana lítica MELTZER se opôs de forma ostensiva à sociedade britânica e dela foi expulso ten do havido uma futura reconciliação São inúmeras as contribuições originais de Meltzer descritas em muitos livros dos quais referimos os que seguem Processo analíti co 1967 Estados sexuais da mente 1973 Explorações em autismo 1975 Desenvol vimentos kleinianos que consta de três vo lumes um dedicado a estudar alguns as pectos da obra de FREUD outro a de M KLEIN e o terceiro a de BION 1978 Dream life 1984 Estudos em metapsicologia 1984 Sinceridad y otros trabajos que consiste numa seleção de trabalhos escri tos por BION nos últimos 40 anos 1997 Além desses também participou da elabo ração de livros com colaboradores Memória FREUD MKLEIN BION A memória na psicanálise aparece em vá rias dimensões estudadas por distintos psi canalistas FREUD ocupouse do tema tanto do ponto de vista teórico no que diz respeito a sua importante função do ego como também da importância que representa para a prá tica analítica Esta última condição fica cla ramente ilustrada com o primeiro critério de cura postulado por FREUD quando na vigência da sua teoria traumática das neu roses asseverava que os neuróticos his téricos sofriam de reminiscências e que a cura analítica consistiria em fazêlos se recordarem daquilo que estava esquecido reprimido Comentário Preferi usar o verbo recor dar no lugar de lembrar porque etimologi camente ele provém de re uma volta ao passado cor cordis em latim coração o que dá a dimensão de que mais do que Eminente psicanalista pertencente à Socie dade Britânica de Psicanálise americano de nascimento formouse em medicina espe cializandose em psiquiatria infantil nos Es tados Unidos Emigrou para Londres em 1954 especificamente para fazer formação psicanalítica tendose analisado com MKLEIN até a morte dela em 1960 Junta mente com Martha Harris sua segunda es posa MELTZER juntouse a EBICK na Clínica Tavistock assim exercendo grande influên cia no desenvolvimento da psicoterapia in fantil lá praticada 266 DAVID E ZIMERMAN uma simples lembrança abreativa desig na o fato de que antigas experiências emo cionais estão sendo revividas conscientiza das e resignificadas na situação analítica Essa postulação de FREUD continua a ter sig nificativa importância na prática analítica tendo em vista que a melhor maneira de esquecer é recordar MKLEIN fez uma interessante observação que denominou memória de sentimentos memory in feelings no original Tratase de um fenômeno psíquico que ela descre ve em seu trabalho Inveja e gratidão 1957 Embora pouco conhecida e divul gada essa obra é muito significativa para elucidar certas manifestações de difícil en tendimento porquanto permite inferir que arcaicos sentimentos e pensamentos que não conseguem ser recordados como fatos acontecidos possam vir a ser recordados através de outras vias entre elas as das somatizações BION estuda o fenômeno da memória em dois registros 1 Na Grade ocupando a terceira coluna chamada notação BION destaca a impor tância para a formação e utilização dos pensamentos que eles sejam como que arquivados na memória da mesma forma com que são guardados documentos im portantes num cartório de notas daí o ter mo notação 2 Na prática analítica BION deu especial importância ao que ele formulou como a necessidade de o analista estar na sessão analítica num estado mental de sem me mória de desejo e ânsia de compreensão Deve ficar claro que com essa frase Bion quer frisar que a mente do analista não pode estar saturada por aqueles aspectos mas nunca que ele seja contra o exercício da memória Tanto que a memória que espon taneamente brota no curso da sessão seja na mente do analista seja na do paciente estado mental que BION denomina evolu ção ele considera bastante útil Memória do futuro uma BION 1975 1977 1979 Nos últimos anos de vida caracterizados por aquilo que costuma ser chamado como a fase mística da obra de BION ele escreveu três livros que constituem sua famosa trilo gia O que é inusitado nessa trilogia é que ela não tem finalidade de natureza formal e es tritamente de natureza científica Antes tra tase de uma literatura na qual podese dizer predomina um estilo de scienceficcion não obstante existam verdadeiras preciosidades que instigam reflexões psicanalíticas no leitor Ao mesmo tempo seu estilo narrativo ad quire um clima poético em que se alternam passagens sérias e documentais com ou tras comovedoras Inclusive não faltam tre chos divertidos Esses relatos guardam um cunho autobiográfico embora camuflado nos relatos surrealistas entre os personagens Entretanto isso só fica mais claro quando a leitura dessa trilogia é completada com a de A long weekend livro publicado após a sua morte e que em dois volumes consti tuem a sua autobiografia propriamente dita Uma memória do futuro não é de leitura fácil tanto que em um primeiro momento as editoras se negaram a publicálo BION fez a edição a suas expensas porque tinha uma predileção por essa trilogia por acre ditar que estava lançando as sementes da construção do futuro da psicanálise No primeiro volume da trilogia O sonho The dream 1975 BION adverte o leitor de que este é um relatório fictício de uma psicanálise que inclui um sonho artificial mente construído Nesse livro BION apare ce duplicado como A autor e Q questio nador Dntre todos os personagens é Ro land quem o representa em diversas fases da vida No segundo volume O passado presente The past presented 1977 persiste uma mesma linha de exposição dissociada como é a do livro anterior isto é cada capítulo VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 267 recebe como título apenas o número da página onde cada um começa Os capítu los são longos numerosos Os personagens são muitos e às vezes com neologismos e à moda de parábolas tratam de problemas como o da purgação das penas e o da mor te BION já estava com 80 anos e permitem que o personagem denominado psicanalista doutrine os seus pontos de vista acerca da verdade última O terceiro volume A aurora do esquecimen to The dawn of oblivion 1979 adota uma carpintaria de teatro e num estilo francamente surrealista visa a uma espécie de reconstru ção do passado se abrindo para o futuro Podese dizer que este volume é um ensaio psicoembrionário por exemplo um persona gem relata o encontro entre um espermato zóide e um óvulo como uma tentativa de dar uma forma artística e estética à experiên cia prénatal Essa experiência aparece sob a forma de uma viagem dele próprio que se processa desde antes do nascimento até sua morte Isso nos permite dizer utilizando os termos do próprio BION uma viagem da ce sura da vida para a cesura da morte Menos K K BION BION foi o autor que mais se dedicou ao es tudo principalmente para a prática analíti ca do relevante problema concernente às verdades falsificações e mentiras que es tão contidas no discurso que o paciente emprega na sua comunicação com o ana lista Deu especial atenção à atitude do pa ciente de querer ou não querer tomar co nhecimento das verdades que consciente ou inconscientemente considera penosas tanto as externas como as internas No caso em que predomina um nãoamor às verdades em que preponderância do uso da negação segundo BION sempre presen te na parte psicótica da personalidade ele emprega a sigla K ou seja instalase um ataque aos vínculos daí o sinal negativo que permitiriam um acesso ao conhecimen to knowledge em inglês daí a inicial K Os casos em que a negação do conheci mento das verdades atinge um grau extre mo equivalem ao estado mental que LACAN chama de foraclusão Metáfora LACAN Baseado em Fundamentos da linguagem do lingüista ROMAN JAKOBSON LACAN intro duziu uma importante concepção psicana lítica relativamente aos termos metáfora e metonímia Metáfora consiste na substituição simbólica de um significante por um outro Um exem plo pode esclarecer melhor e permite estabe lecer a necessária distinção entre os conceitos de signo metonímia e metáfora a palavra fogo permite três significados conforme as associações que o sujeito lhe der 1 Quando o vocábulo fogo está direta mente ligado à fumaça estamos diante de uma linguagem sígnica porque estabele ce uma presença imediata visível e con creta sem haver discriminação conceitual entre ambos 2 Quando fogo for substituído por calor tratase de metonímia porque os dois con ceitos estão ligados por uma continuidade sem simbolismo 3 Se a palavra fogo for utilizada para transmitir uma paixão ardente podemos dizer que se trata de uma metáfora por que houve uma relação de semelhança simbólica e sobretudo a criação de um novo sentido Assim a metáfora está relacionada com a similaridade tendo LACAN associado a for mação da metáfora com a noção freudiana de condensação Metapsicologia FREUD Termo empregado pela primeira vez por FREUD em carta a FLIESS provavelmente ins 268 DAVID E ZIMERMAN pirado na expressão metafísica bastante corrente na época para referir a todos os fenômenos físicos incapazes de serem com provados cientificamente Na verdade FREUD confessava a FLIESS que a sua passa gem da medicina para a psicanálise estava lhe possibilitando exercer sua grande pai xão de se dedicar aos conhecimentos filo sóficos através de especulações teóricas acerca daquela área do psiquismo que leve ao outro lado do consciente Embora os termos teoria e metapsicologia sejam empregados quase como sinônimos é útil estabelecer uma distinção entre eles Teo ria alude a um conjunto de idéias que objeti vam explicar determinados fenômenos clíni cos que podem ou não ser comprovados pela experiência clínica metapsicologia em cuja etimologia o prefixo grego meta quer dizer algo muito elevado tem uma natureza mais trans cendental serve como ponto de partida para conjecturas imaginativas as quais dificilmen te poderão ser comprovadas na realidade como por exemplo a pulsão de morte FREUD formulou explicitamente apenas três pontos de vista característicos da metapsi cologia que ele carinhosamente chama va de a bruxa o topográfico o dinâmico e o econômico Autores da Psicologia do Ego acrescentaram o ponto de vista genético e o de adaptação Os trabalhos metapsicológicos de FREUD não são sistemáticos nem completos tampou co de aparecimento seqüencial Por vezes contrapõemse e aparecem espalhados ao longo de sua obra com sucessivas trans formações Na verdade sabese que FREUD projetara escrever em 1915 Elementos para uma metapsicologia através de doze ensaios que constituiriam uma espécie de testamento dos fundamentos essenciais de sua obra Concluiu cinco e esboçou outros sete que nunca vieram a ser publicados e provavelmente destruídos por ele próprio A metapsicologia consiste na elaboração de modelos teóricos que não estão diretamen te ligados à prática analítica ou a experiên cias clínicas vivenciadas sempre levando em conta as hipóteses fundamentais acer ca da existência do inconsciente das ins tâncias psíquicas das pulsões das repres sões etc De forma mais clara nos primei ros tempos mas de certa forma até o fim de sua obra os trabalhos metapsicológicos de FREUD visavam a conseguir fazer uma ar ticulação do psiquismo com o substrato bi ológico como pode ser evidenciado nos en saios de metapsicologia que ele produziu dos quais segue uma síntese Em 1895 FREUD redigiu o seu importantís simo e vigente trabalho Projeto de uma psicologia científica para neurólogos onde aparece claramente a tentativa de ligar o psíquico com o orgânico Em 1900 no capítulo VII de A interpreta ção dos sonhos ele descreve seu modelo to pográfico da mente além de postular a exis tência de um processo primário uma primiti va forma de funcionamento da mente No ano de 1905 aparece o clássico Três ensaios sobre a teoria da sexualidade onde FREUD estuda a normalidade e a patologia que acompanham a sexualidade na infân cia Em 1911 surge a publicação de For mulações sobre os dois princípios do fun cionamento mental no qual ele propõe a existência dos princípios do prazer e o da realidade Em 1915 FREUD lançou quatro dos seus mais importantes trabalhos metapsicológi cos Sobre o narcisismo uma introdução As pulsões e suas vicissitudes O inconsci ente e Luto e melancolia Em 1920 é editado seu mais revolucioná rio trabalho metapsicológico Além do prin cípio do prazer onde ele postula a existên cia da pulsão de morte Em 1923 vem à luz um outro notável tra balho metapsicológico O ego e o id no qual ele formula seu modelo de teoria estrutural da mente Seguemse ainda os trabalhos A negação 1925 Inibições sintomas e an VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 269 gústia 1926 Neurose e psicose 1924 Fetichismo 1927 Clivagem do ego no pro cesso de defesa Metonímia LACAN Enquanto a metáfora se fundamenta no fenômeno da similaridade do simbolismo e do mecanismo de condensação a meto nímia se caracteriza pela contigüidade a falta de criação de um novo significado sim bólico e a presença do mecanismo de des locamento Na prática analítica o conceito de metoní mia adquire grande importância pela ex pressiva freqüência com que muitos paci entes tomam uma parte do todo pode ser ele próprio um outro um acontecimento como se fosse a totalidade Por exemplo um nariz feio pela metonímia adquire para o sujeito o significado de uma pessoa total mente feia uma nota baixa de rendimento escolar de um aluno pode significar para o sujeito que o aluno é um burro ou um fracassado Igualmente o fenômeno da demanda fica mais facilmente compreensível utilizando se o exemplo de uma criança que troca os vários objetos que demanda de forma in saciável bala doce brinquedos por que o desejo essencial amor atenção está metonimicamente deslocado em diver sos fragmentos contíguos que conservam um mesmo significado mas que emergem na linguagem de forma aparentemente di ferente Místico BION Quando quer referir que indivíduos porta dores de idéias novas representam uma ameaça para determinado establishment BION os chama ora de místicos ora de gê nios ou ainda de heróis Numa dimensão exagerada os místicos são pessoas que pro clamam conseguir um contato direto com aquilo que os outros não alcançam Quan do esses indivíduos excepcionais fazem par te da ciência são gênios Quando partici pam de ações relevantes para as nações são heróis Mitologia A mitologia o estudo dos mitos sempre representou para a psicanálise uma fonte inesgotável da sabedoria milenar contida nas dobras de seus relatos justamente por que a exemplo dos sonhos os mitos tra zem embutidas as fantasias universais sub jacentes nos indivíduos e na coletividade Como comprovação disso basta mencio nar os mitos de Édipo e o de Narciso e o mundo de concepções psicanalíticas que deles foram extraídos A importância da mitologia cresce ainda mais para a psica nálise à medida que os mitos representam uma intersecção entre o mundo das fanta sias e o da realidade Na verdade o mito é a narrativa imaginá ria e metafórica de uma crença coletiva que procura explicar alguma coisa desconheci da e transcendental como são as questões fundamentais como foi criado o universo de onde viemos por que e para que vive mos para onde vamos após a morte quais são as forças sobrenaturais que comandam as leis deste mundo Assim por exemplo a maioria das religiões tem seus mitos de cri ação que procuram explicar a origem do mundo e o surgimento de deuses e heróis que salvam a humanidade das hecatombes Os mitos quase sempre vêm acompanha dos de ritos e rituais Do ponto de vista etimológico mito deri va do grego mythos que significa pala vra relato Mystes é o iniciado e mysteri on é mistério que tem a ver com cerimo niais e rituais de iniciação Iniciado é aquele que se prepara para participar de um mistério logo mito e mistério estão intimamente conectados 270 DAVID E ZIMERMAN Muitos autores têm estudado mais profun damente a mitologia em geral ou mais par ticularmente os mitos regionais Nesse últi mo caso impõese mencionar no mínimo alguns importantes psicanalistas sulameri canos como o peruano MOISÉS LEMLIJ que presidiu o Simpósio Internacional Multidis ciplinar sobre Mitos realizado por iniciati va da Sociedade Peruana de Psicanálise na cidade de Cuzco em abril de 1989 Nesse simpósio foram apresentados trabalhos ri quíssimos que compilados pelo próprio LEMLIJ estão publicados em três volumes com o título de Mitos universais america nos e contemporâneos Um enfoque multi disciplinar uma leitura obrigatória para quem se interessa por essa temática Também cabe citar o psicanalista peruano Max Hernandes autor de estudos sobre os mitos andinos cor relacionados com a perspectiva psicanalítica Também merece destaque DAVID AZOUBEL NETO psicanalista brasileiro radicado na ci dade de Ribeirão Preto que respaldado em uma experiência pessoal de convívio com a tribo dos índios Carajá ilha do Bananal em Goiás faz uma abordagem psicanalítica e antropológica de diferentes mitos regionais que estão reunidos no seu excelente livro Mito e Psicanálise Estudos psicanalíticos sobre for mas primitivas de pensamento 1993 Como comprovação da fertilidade e beleza psicanalítica que os mitos inspiram serve assi nalar o crescente espaço que os congressos de psicanálise além de outros eventos especiais estão reservando ao campo da mitologia Mitos Do ponto de vista psicanalítico cada mito pode ser estudado através de vértices dis tintos Para exemplificar vejamos como dois eminentes psicanalistas abordaram o mito de Édipo FREUD o utilizou como eixo cen tral para construir a teoria do complexo de Édipo com todas as conhecidas implicações psíquicas como as fantasias sexuais a an gústia de castração o processo dos recal ques os fenômenos identificatórios etc BION privilegiou enfocar a maneira como os diferentes personagens e situações que com põem a tragédia edípica se comportam dian te das verdades de sorte que BION tentou enquadrar esses aspectos na sua Grade Os mitos na Grade ocupam a fileira C juntamente com os sonhos e devaneios assim expressando que os mitos já contam com os elementos α da fileira B e vão ser vir de suporte para serem transformados na fileira D que consiste na etapa das pré concepções na gênese da capacidade para pensar São tantos e tão importantes os mitos que percorrem a existência humana desde a mais remota Antigüidade até os dias atu ais que seria impossível aqui relatálos Além do mito de Édipo já referido que ser viu de base para os fundamentos da doutrina freudiana um dos primeiros mitos estudados em psicanálise foi o estudado por OTTO RANK em seu livro O mito do nascimento do herói publicado em 1909 Nele RANK apresenta seus estudos sobre as lendas típicas das grandes mitologias ocidentais a respeito do nascimen to de reis e dos fundadores das religiões Assim observou que Rômulo cuja ama deleite foi uma loba Moisés abandona do e adotado pela realeza Édipo aban donado e adotado por uma família nobre Rén alimentado por uma ursa e adotado por um pastor que lhe deu o nome de Pa ris filho de ursa têm em comum o fato de terem sido abandonados em razão de al guma previsão sombria após são achados adotados e na idade adulta recuperam sua identidade original e surgem como heróis Posteriormente apareceram aplicações psi canalíticas extraídas de mitos como os de Narciso Eros Tântalo etc Para exemplifi car somente com BION cabe consignar que para a fundamentação de seus estudos so bre a normalidade e a patologia do conhe cimento além do mito de Édipo também VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 271 se baseou nos elementos contidos nos mi tos do Éden de Babel dos funerais do rei de Ur e da morte de Palinuro FREUD sinteti zou a importância dos mitos com a seguin te frase o mito é o sonho da humanida de O sonho é o mito do indivíduo Modelos BION BION sempre revelou uma preocupação bási ca em relação à comunicação dos seus escri tos qual seja a necessidade de que os ter mos transcendessem o plano de uma mera sensorialidade e que ao mesmo tempo pu dessem transmitir uma compreensão emoci onalizada Para tanto propunha a utilização de distintos tipos de modelos que possibilitas sem variados vértices de observação e de entendimento Da mesma forma fundamen tou as razões porque considerava convenien te o uso de modelos destacando sua flexibili dade em contraste com a rigidez das teorias Ao longo de sua obra podese verificar quanto BION utiliza modelos e os mais dis tintos como biológicos místicos matemá ticos musicais estórias mitos imagens metáforas etc com a finalidade de situar uma intersecção e uma ponte entre os pro cessos de abstração e os de concretização sensorial Assim em O aprender com a ex periência 1962 BION afirma que o mo delo é a abstração da experiência emocio nal ou a concretização de uma abstração Para exemplificar BION utiliza o modelo di gestivo para explicar a introjeção a absor ção e a expulsão evacuação dos elemen tos psicanalíticos Da mesma forma os clás sicos rébolos do gênero sexual feminino e masculino foram utilizados por ele para de signar respectivamente as originais concep ções de continente e de conteúdo o que se constitui provavelmente no seu modelo mais conhecido e mais importante Outro modelo que cabe mencionar porquanto se refere à prática analítica é o que ele denomina espi ral helicoidal da qual diz que nas sessões voltamos constantemente aos mesmos pon tos só que em diferentes níveis da hélice Moisés e o monoteísmo três ensaios FREUD 1939 Livro considerado como um dos mais polê micos da obra de FREUD Os críticos argumen tam que para desenvolver sua tese principal a de que Moisés o grande líder dos judeus seria de fato um egípcio de uma linhagem aristocrática FREUD partiu de premissas equi vocadas não confirmadas pelos antropólogos nem pelos historiadores O próprio FREUD mostrouse ambíguo quanto a sua publica ção tanto que embora esperasse que o livro viria a alcançar enorme importância e reper cussão levou um pouco mais de quatro anos para ser completado e durante esse tempo sofreu constantes revisões Moisés e o monoteísmo consiste de três ensaios de extensão muito diferente os quais resenhamos a seguir Ensaio I Moisés um egípcio Nesse texto FREUD diz que é difícil afirmar se Moisés foi um personagem histórico ou uma figura lendária Baseiase no trabalho O mito do nascimento do herói que OTTO RANK publicara em 1909 o qual aborda as origens fantásticas que cer cam o nascimento de muitos heróis como a lenda de Moisés FREUD também acentua que o nome Moisés era egípcio derivado da pala vra egípcia mose que significa criança No Ensaio II denominado Se Moisés fos se egípcio o trabalho é desdobrado em 7 partes nas quais são abordados os temas referentes a a se Moisés fosse egípcio b Moisés apresentou uma religião exclusiva c comparação das religiões judaica e de Áton a qual exclui tudo o que tenha rela ção com mitos mágica e bruxaria d dois deuses e dois Moisés e os levitas eram se guidores de Moisés os levitas são conside rados uma das doze tribos de Israel a de Levi f supressão de cem anos de história g o assassinato de Moisés 272 DAVID E ZIMERMAN O Ensaio III Moisés o seu povo e a reli gião monoteísta enfoca 14 temas a a pre missa histórica b o período de latência e a tradição c analogia da saga judaica com os traumas causadores das neuroses d aplicação o totemismo é encarado como a primeira forma pela qual a religião se ma nifestou na história humana e dificulda des surgidas na transferência da psicologia individual para a de grupo f sumário e re capitulação g o povo de Israel h o gran de homem i o avanço em intelectualida de j a renúncia à pulsão k o que é verda deiro na religião l o retorno do recalcado m a verdade histórica n o desenvolvimen to histórico Esse trabalho naturalmente deve ser enca rado como continuação dos primeiros es tudos de FREUD sobre as origens da organi zação social humana em Totem e Tabu 19121913 e em A psicologia de grupo e a análise do ego 1921 Um exame bem elaborado e informativo do livro poderá ser encontrado no capítulo XIII do terceiro vo lume da biografia escrita por ERNEST JONES 1957 Moisés e o monoteísmo está publicado no volume XXIII páginas 13 a 161 da Stan dard Edition brasileira Moreno Jacobo Levy JMORENO inventor do Psicodrama nasceu em Bucareste na Romênia em 1889 Es tudou e graduouse em medicina em Vie na tendo feito especialização em psiquia tria Desde criança mostrou grande inclina ção por tudo que lhe permitisse brincar de fazer teatro Em 1921 ele criou o que cha mava de teatro de improvisação no qual durante três anos experimentou com ato res a idéia da interpretação espontânea so bre os acontecimentos do dia aquilo que gostava de chamar de jornal vivo Em 1925 emigrou para os Estados Unidos morando na Filadélfia onde fez carreira internacional popularizando o psicodrama e a sociometria a última visando o estudo das reações de rejeição em organizações grupais No fim da vida sofrendo de distúrbios car díacos Moreno fiel aos seus princípios encenou sua própria morte segundo os prin cípios do psicodrama parou de comer só falava alemão e romeno e recebeu duran te três semanas à sua cabeceira todos os seus fiéis seguidores vindos do mundo in teiro Ver o verbete Psicodrama Morte pulsão de FREUD e MKLEIN FREUD a partir de Além do princípio do pra zer 1920 introduziu a concepção da pul são de morte a qual concebeu como ten do a finalidade de manter uma redução de toda carga de tensão orgânica e psíquica logo uma volta ao estado inorgânico Essa pulsão pode permanecer dentro do sujeito sob uma forma de fortes angústias e uma tendência para a autodestruição ou para fora pulsões destrutivas A partir da pulsão de morte FREUD formu lou o princípio da compulsão à repetição o qual designa a tendência dos psiquismo humano em repetir situações penosas e traumatizantes anteriores Isso tanto pode ser comprovado nos fenômenos da trans ferência nas neuroses traumáticas que percebeu nas neuroses de guerra em muitos jogos infantis ou em certas formas psicopatológicas como na melancolia nos casos de suicídio e no enigma do ma soquismo FREUD explicou seu conceito de pulsão de morte com a seguinte metáfora Assim como amor e ódio por um pessoa habitam nosso peito ao mesmo tempo assim também toda vida conjuga o desejo de manterse e o dese jo da própria destruição Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original assim também toda VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 273 matéria viva consciente ou inconscientemen te busca readquirir a completa a absoluta inércia da existência inorgânica O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós MKLEIN por sua vez adotou a designação de pulsão de morte cunhada por Freud po rém deulhe uma concepção significativa mente diferente Enquanto para FREUD a expressão pulsão de morte designava uma origem fundamentada em uma necessida de biológica de retorno à condição inorgâ nica na base do preceito bíblico viestes do pó e ao pó voltarás para MKLEIN essa pulsão de morte conceituava uma inata destrutividade sádica dirigida ao seio mau A manifestação clínica dessa destrutivida de ela considerou a partir de 1957 como inveja primária A obra de MKLEIN está essencialmente fun damentada na ação da pulsão de morte uma vez que essa agindo por dentro acar reta a terrível angústia de aniquilamento Esta por sua vez mobiliza os mais primiti vos mecanismos defensivos do ego enquan to a pulsão de morte agindo para fora car regada com fantasias sádicodestrutivas contra objetos necessitados e ambivalente mente amados produz culpas com as con seqüentes angústias persecutórias e a ne cessidade de fazer reparações Mudança catastrófica BION 1966 Título de importante artigo publicado em 1966 onde utilizando o modelo continen teconteúdo BION mostra como em contex tos diferentes na mente nos grupos na sociedade na sessão psicanalítica etc sempre há uma conjunção constante de fatos específicos Sempre que essa conjun ção estável enfrenta uma situação de mu dança e de crescimento a situação se alte ra e se instala um clima de catástrofe Essa mudança catastrófica abriga três ca racterísticas às quais BION denomina vio lência invariância e subversão do sistema Nessa obra Bion também descreve três ti pos básicos da relação continenteconteeú do a comensal a simbiótica e a parasitá ria Partindo desse modelo faz considera ções muito interessantes relativas à intera ção das palavras com os seus significados Ainda neste texto BION estuda a relação entre o gênio ou místico aquele que é portador de uma idéia nova e o establish ment Também enfoca a relação entre o pensador e os pensamentos sob o prisma da verdade da falsidade e da mentira Em termos clínicos BION utiliza essa expres são muitas vezes o original catastrophic chan ge aparece traduzido como câmbio catastró fico para designar que toda evolução impli ca sucessivos processos de transformações Numa análise o analista deve estar atento à possibilidade de que uma mudança significa tiva de estado mental do paciente por exem plo passar da posição esquizoparanóide para a depressiva ou fazer renúncias às ilusões do mundo narcisista venha acompanhada de uma dor psíquica muito intensa que BION denomina mudança catastrófica Esta última clinicamente consiste na possibi lidade de o analisando mostrarse confuso deprimido desesperançado dizendo ao ana lista de que está muito pior do que antes de ter começado a análise não sendo rara a possibilidade de surgir uma ideação suicida Apesar da eventual dramaticidade do qua dro clínico é bem provável que ela seja tem porária e represente o preço a ser pago por uma significativa melhora e um expressivo crescimento mental Mutativa interpretação J STRACHEY Em 1934 JSTRACHEY psicanalista que per tencia à Sociedade Britânica de Psicanáli se publicou A natureza da ação terapêuti ca da psicanálise Esse trabalho veio a tor narse célebre e é ainda nos dias atuais em quase todos institutos de psicanálise ob 274 DAVID E ZIMERMAN jeto de seminário de técnica psicanalítica Ele continua promovendo polêmicas e in dagações acerca de alguns aspectos e ob jetivos da interpretação De forma sintética podese dizer que a pa lavra mutativa comporta dois significados que correm juntos Um consiste na mudan ça durante a sessão de um momento atu al vivido na transferência com o analista para um outro momento do passado vivi do com os pais de modo a promover um encontro entre esses dois planos O segun do significado alude a que por meio da ação terapêutica da interpretação transfe rencial o paciente vai mudando a natureza do seu superego Mutismo Na situação da prática analítica é útil es tabelecer uma diferença entre silêncio e mutismo O primeiro pode acontecer sob distintas modalidades graus e circunstân cias muitas vezes com uma significação bastante positiva O termo mutismo por sua vez alude a uma forma mais prolon gada e com uma determinação mais de finida do paciente em manterse silencio so na análise às vezes de forma absolu ta ou com esporádicos e lacônicos comu nicados verbais Comentário O próprio mutismo também deve ser distinguido quanto à possibilidade de decorrer de uma timidez expressiva de uma proteção ao self ameaçado portanto a serviço da pulsão de vida ou se o mutis mo adquire uma forma arrogante consti tuinte de uma conduta própria de um ne gativismo mais amplo e arraigado logo sob a égide da pulsão de morte Em resumo o paciente silencioso não deve ser sistematicamente encarado como resis tente à análise embora muitas vezes o si lêncio excessivo possa constituir um obstá culo intransponível a seu livre curso Pelo contrário é mais eficaz que o psicanalista compreenda o silêncio como um desconhe cido idioma de comunicação à espera de uma descodificação e de uma tradução em palavras simples e compreensíveis Mutualidade a experiência de WINNICOTT Com essa expressão WINNICOTT em A ex periência da mutualidade mãefilho 1969 procurou demonstrar que na relação mãe bebê no ato da amamentação mais do que a alimentação em si o fundamental para a estruturação da criança é como se proces sa a comunicação préverbal entre eles Destarte tanto a comunicação inconscien te quanto os estados afetivos referentes à mãe estão intrinsecamente ligados à habili dade da mãe em identificarse de forma fundida com seu bebê como podese de preender dessa frase textual de WINNICOTT É desta forma que testemunhamos con cretamente a mutualidade que é o início da comunicação entre duas pessoas isto é no caso do bebê uma conquista do desen volvimento que depende dos processos herdados por ele e que conduzem ao cres cimento emocional dependendo da mes ma forma da mãe de sua atitude e capaci dade de tornar real aquilo que o bebê já está prestes a alcançar descobrir criar Não O termo não aparece com bastante regula ridade na literatura psicanalítica com sig nificações distintas a partir de diversos au tores como pode ser evidenciado nas con ceituações que seguem 1 Não e Sim SPITZ Essa terminologia foi empregada por R SPITZ em seu livro No y Si 1957 no qual descreve a função estruturante que resulta de a criança poder dizer não numa fase evolutiva correlata à da analidade porquan to serve de subsídio para ela começar a construir sua noção de direito à proprieda de e uma abertura para o caminho da emancipação 2 Não analisabilidade conceito de técnica Na prática clínica o critério de admitir pa cientes para a análise clássica sempre foi uma fonte de controvérsias polêmicas e de muitas transformações ocorridas paralela mente com os avanços da teoria e das téc nicas psicanalíticas Assim durante muito tempo predominou um critério de indica ções e de contraindicações levando em conta principalmente os aspectos relativos ao diagnóstico e ao prognóstico Destarte nos primeiros tempos a análise era preliminarmente contraindicada para pa cientes de estrutura psicótica ou que pu dessem representar risco de apresentar re gressão psicótica Também deveriam ser recusados crianças pacientes considerados idosos pacientes com algum risco mais sé rio e outros afins Na atualidade os analistas sentemse mui to mais confiantes em atender pacientes borderline ou mesmo psicóticos e perver sos desde que preencham os critérios de acessibilidade que não levam tanto em conta o diagnóstico o prognóstico e o grau de patologia Valorizamse muito mais as pectos como o da motivação para fazer mudanças verdadeiras a maior ou menor resistência do paciente para permitir aces so a seu inconsciente e a sua reserva de capacidades positivas Quanto à análise com crianças ninguém mais contesta sua plena validade e eficá cia Em relação à análise com idosos hoje ganha reconhecimento a frase que já na época pioneira que ABRAHAM usou no seu livro Psicanálise clínica 1919 a idade da neurose é mais importante do que a idade N 276 DAVID E ZIMERMAN do paciente De fato os idosos que ob viamente preencham algumas condições mínimas já saíram da lista dos não anali sáveis e a experiência clínica tem atestado resultados analíticos muito bons O fato de que aumenta o espectro dos pa cientes que eram recusados para análise e hoje são considerados analisáveis de for ma nenhuma exclui que o analista deva ser criterioso embora com maior elasticidade 3 Não integração WINNICOTT WINNICOTT cunhou essa expressão para de signar o fato de que nos primeiros tempos devido à imaturidade bioneurológica a corporalidade do bebê consiste num esta do de não integração não é a mesma coi sa que desintegração entre as diferentes partes de seu corpo e entre seu corpo e sua mente A angústia que em situações futu ras acompanha uma regressão para um estado de não integração foi definida por WINNICOTT como breackdown ou seja uma angústia catastrófica na qual o paciente tem a impressão de que seu corpo não lhe per tence de que vai despencar no espaço e experimenta sensações afins 4 Não seio Bion BION freqüentemente emprega o sinal menos para designar uma antiemoção por exemplo L H K como pode ser visto no verbete vínculos Conforme o grau de negatividade o menos pode atingir o significado de não ou seja de desaparecimento Assim o signo K pode designar um afas tamento total do conhecimento das verda des um nãoconhecimento ou seja uma foraclusão se usarmos o referencial de LA CAN Da mesma forma BION refere o não seio ou não coisa Pior do que introjetar um seio mau que está interiorizado e represen tado dentro dela como a presença de uma mãe ausente é a criança não ter represen tação nenhuma de seiomãe tratase se gundo BION de um não seio A formação de uma não coisa pode ficar mais clara se utilizarmos um exemplo do próprio BION Esse autor diz que diante da ausência prolongada de algo ou de alguém processase uma não no em inglês coisa thing ou seja no thing forma nothing nada Narcisismo uma introdução sobre o FREUD 1914 Trabalho considerado como um dos mais importantes de FREUD e um significativo marco na evolução de seu pensamento psi canalítico Um forte motivo para Freud ter concebido e redigido esse artigo foi sem dúvida responder às fortes contestações do recémdissidente JUNG para demonstrar que o conceito de narcisismo permite uma al ternativa para as noções de libido nãose xual de JUNG e para o protesto masculino de ADLER Em Sobre o narcisismo FREUD resume seus trabalhos anteriores sobre o tema do narcisismo e leva em consideração sua po sição no desenvolvimento sexual Também aborda os problemas mais profundos das relações entre o ego e os objetos externos estabelece a nova distinção entre a libido do ego e a libido objetal e apresenta os con ceitos de ideal do ego e da instância auto vigilante com ele relacionada que é a base do que posteriormente veio a ser definido como superego O artigo se compõe de três partes A parte I trata do Estudo do narcisismo em diversas condições em que FREUD es tabelece certa correspondência entre a vida mental dos esquizofrênicos a das crianças e a dos povos primitivos Na parte II O narcisismo na doença orgâ nica na hipocondria e na vida erótica FREUD mostra as diversas maneiras de como VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 277 a libido pode ser retirada do mundo objetal exterior e ficar reinvestida no próprio ego A parte III denominada Ideal do ego her deiro do narcisismo aborda a noção de idealização e os problemas da autoestima Esse trabalho aparece no volume XIV p 89 da Standard Edition brasileira Narcisismo FREUD ROSENFELD LACAN KOHUT O termo narcisismo remete ao mito de Nar ciso portanto designa essencialmente um amor pela imagem de si mesmo Há um verdadeiro leque de acepções de narcisis mo desde as distintas abordagens pionei ras e originais de Freud até as atuais pro vindas de autores de diferentes correntes psicanalíticas em diferentes épocas e lati tudes De forma simplificada podese di zer que a evolução do conceito de narcisis mo tem transitado pelos seguintes enfoques e autores 1 Como uma forma de perversão confor me o sexologista HELLIS que em 1899 empregou o termo narcisismo pela primei ra vez 2 Um tipo de escolha objetal Assim a pri meira vez que FREUD utilizou narcisismo foi em 1910 numa nota acrescentada aos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade onde refere que os invertidos Freud ainda evita va empregar a palavra homossexual to mam a si mesmos como objetos sexuais e partindo do narcisismo procuram rapa zes semelhantes à sua própria pessoa a quem querem amar tal como sua mãe os amou Essa concepção de FREUD aparece mais claramente evidenciada em Leonar do da Vinci também publicado em 1910 3 Uma fase evolutiva como FREUD descre veu no trabalho Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia muitíssimo mais conhecido como o Caso Schreber de 1911 Essa con ceituação de narcisismo como uma etapa evolutiva da psicossexualidade tem sido desenvolvida na ataulidade por muitas cor rentes psicanalíticas as quais enfatizam a etapa primitiva da fusão simbiótica do bebê com a mãe em um estado de indiscrimina ção e de especularidade 4 Um ponto de fixação das psicoses como também transparece em Schreber 5 Um narcisismo do tipo libidinal ou seja um processo de investimento da libido so bre o próprio ego conceito essencial de FREUD descrito em seu magistral Sobre o narcisismo uma introdução de 1914 6 Um tipo de identificação no qual diante da perda de um objeto o self transforma se à imagem e semelhança desse objeto perdido como aparece no trabalho de FREUD Luto e melancolia de 1917 7 Um narcisismo normal e estruturante que ao longo da vida pode sofrer transforma ções sublimatórias sob a forma de sabedo ria criatividade etc como postula KOHUT 1971 8 Um narcisismo destrutivo como o deno mina ROSENFELD 1971 que também apa rece com outras denominações como a de narcisismo negativo que consiste no dire cionamento para o self da destrutividade a qual fica idealizada ou como a de GREEN 1976 narcisismo de morte 9 Um narcisismo de origem prénatal como preconiza GRUMBERGER 1979 o qual se constitui como uma permanente busca de um estado paradisíaco 10 Uma forma de identificação primária sob o registro do imaginário quando a criança se identifica especularmente com um duplo de si mesmo tal como LACAN pos tula em seus originais estudos sobre a eta pa do espelho 11 Um estado narcísico uma forma defen sivoregressiva de o sujeito enfrentar sua sensação de pequenez e desvalia diante de determinadas situações de desamparo 12 Uma personalidade narcisista constitu ída por um conjunto de traços característi 278 DAVID E ZIMERMAN cas e atitudes como entre outros uma megalomania que determina uma forma de ser e de viver 13 Uma forma de transferência na situa ção analítica nos termos descritos particu larmente por KOHUT 14 Uma organização narcisista resultante de possíveis combinações e arranjos pecu liares dos elementos próprios do narcisis mo original que podem ficar enquistados no ego do sujeito como uma organização patológica como a gangue narcisista nos termos descritos por ROSENFELD 1971 Comentário Creio ser útil propor a con ceituação de posição narcisista a qual pode ser concebida como um vértice de visualização do mundo das relações huma nas a partir da condição fundamental de que ainda não se tenha processado a dife rença entre o eu e os outros As característi cas da posição narcisista são a na sua origem ela precede à posição esquizoparanóide porque é a fase em que o bebê ainda confunde o mundo como sen do uma extensão dele b existe uma condição de indiferenciação c uma negação das diferenças a presen ça no sujeito da assim chamada parte psi cótica da personalidade d a persistência de núcleos de simbiose e ambigüidade uma lógica do tipo binária o sujeito é o melhor ou o pior e uma escala de valores centralizada no ego ideal e no ideal do ego uma afanosa busca por fetiches e objetos reasseguradores f um permanente jogo de comparações com os outros g a freqüente presença de uma gangue narcisista A noção de narcisismo ocupa um espaço de crescente importância na psicanálise contemporânea notadamente em dois as pectos um é o relativo às interações e a intersecção do narcisismo com a sexualida de edípica e o segundo o cada vez maior entendimento do narcisismo primitivo alar gou as portas para a análise de pacientes intensamente fixados ou regredidos às pri mitivas etapas do narcisismo original Narcisismo primário e secundário FREUD A partir de Sobre o narcisismo uma intro dução 1914 FREUD estabeleceu de forma consistente e categórica os fundamentos me tapsicológicos dessa então revolucionária con cepção psicanalítica de narcisismo O interessante é que esse clássico trabalho foi elaborado por FREUD como uma réplica a JUNG que acabara de assumir total dissi dência do círculo freudiano Contestava a teoria da sexualidade com o argumento de que ela não poderia explicar as psicoses tendo em vista que tais pacientes não de monstravam interagir libidinalmente Para contestar esse desafio do desafeto JUNG FREUD teve a genial centelha de conceber que o sujeito tomava seu próprio corpo como sendo ao mesmo tempo fonte e ob jeto da libido sexual Essa última concepção caracteriza o que Freud veio a conceituar como narcisismo primário que inicialmente postulou como sendo uma etapa evolutiva sucedendo a uma anterior que denominara de autoero tismo Posteriormente no entanto as de nominações e conceitos ficaram superpos tos e igualados entre si A maioria dos autores considera que o pro tótipo mais fiel do narcisismo primário é o da vida intrauterina O narcisismo secundário como o nome indica alude a uma espécie de refluxo da energia pulsional a qual depois de ter in vestido e ocupado os objetos externos so fre um desinvestimento libidinal quase sem pre devido a fortes decepções com os objetos externos provedores das necessidades e re tornam ao seu lugar original o próprio ego A maioria dos autores posteriores a FREUD não encontra vantagem alguma em man VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 279 terse a divisão entre narcisismo primário e secundário pois na prática analítica am bas são indissociáveis e confundemse en tre si MKLEIN partindo da sua postulação da existência primária já desde o recém nato de relações objetais foi levada a re jeitar tanto a noção de narcisismo primá rio ou secundário quanto a de um estado narcísico em toda a sua obra a palavra narcisismo não aparece mais do que duas vezes Para ela o fenômeno do narcisismo encon tra explicação na sua teoria relativa ao re torno da libido para os objetos internaliza dos Do ponto de vista da psicanálise con temporânea poucos contestam que restrin gir o conceito de narcisismo unicamente a essa posição de MKLEIN representaria um empobrecimento da psicanálise Narcisismo transtornos do KOHUT KOHUT é o autor que mais intensamente de dicouse aos estudos pertinentes ao narci sismo sobretudo em três aspectos o narci sismo normal as transferências narcisísticas e a patologia do narcisismo No último caso sustenta que os pacientes que sofrem de algum transtorno do narcisismo mostram se como personalidades famintas em uma dessas quatro possibilidades as quais na turalmente serão repetidas na transferên cia na prática analítica 1 Famintas por uma fusão pelo fato de que vivenciam o terapeuta como uma extensão do seu próprio self Esses pacientes apre sentam uma enorme dificuldade com as separações 2 Famintas por espelho que sentem ne cessidade de encontrar no analista um es pelho inicialmente estruturante que reco nheça e aceite seu exibicionismo assim re fletindo a grandiosidade de seu self 3 Famintas por ideal caracterizadas por uma busca constante de uma imago paren tal idealizada ou seja de pessoas como o analista a quem possam admirar pelo seu prestígio poder beleza inteligência ou vir tudes morais 4 Famintas por gemelaridade consistente da necessidade de encontrar um gêmeo um alter ego isto é alguém suficientemente parecido com ele para confirmar a existên cia e aceitação do seu próprio self Em resumo podese dizer que da mesma forma como Copérnico demonstrou que o planeta Terra não passa de um corpo opa co que gira em torno do Sol do qual rece be luz e calor também na psicanálise con temporânea o sujeito narcisista deve sofrer a dor de renunciar a sua ilusão de ser o cen tro em torno de quem tudo e todos se mo vem Na verdade ele é que gira em torno de suas carências básicas mascaradas por uma pretensão de autonomia ilusão de indepen dência e presunção de autosuficiência Narciso mito de A clássica e simplista versão de que Narci so miravase nas águas da fonte porque estaria apaixonado por si mesmo pode ser ampliada na atualidade por um entendi mento bem mais complexo e rico A partir da versão de Ovídio que na terceira parte de suas Metamorfoses celebrizou o mito e o personagem acreditase que o elemento essencial do mito consiste na busca de Nar ciso por uma fusão especular no reflexo das águas da fonte mãe fonte da vida ele busca a si mesmo No entanto está condenado a nunca en contrar a sua real imagem refletida pelo fato de que ela corresponde a uma etapa evo lutiva em que está indiscriminada e confun dida com a da mãe como está descrito no estágio do espelho de LACAN Numa outra versão desse mito a de Pausâ nias Narciso miravase no espelho para acalmar a pena pela perda de sua irmã gê mea que como ele era belíssima Também aí se pode reconhecer a busca gemelar a 280 DAVID E ZIMERMAN sombra o duplo ou seja a parte que falta va a Narciso para compor a totalidade de sua imagem corporal A etimologia de Narciso é interessante Se gundo Brandão 1987 provém da flor co nhecida como narciso que como o perso nagem a quem emprestou o nome é des crita como sendo bela inútil decorativa estéril venenosa dá junto às águas Ainda mais é estupefaciante de acordo com sua raiz grega narke de onde vem narcótico é de vida breve e simboliza a morte e a res surreição Tirésias o personagem articulador entre Narciso e Édipo pelo fato de ter uma pre sença relevante em ambos os mitos pro fetizara a Líriope que seu filho Narciso vi veria enquanto não conhecesse a si próprio Essa profecia pode ser entendida como um atestado de que há uma incompatibilidade entre a indiscriminação e a indiferenciação inerentes a Narciso O vir a conhecerse já implica um reconhecimento de uma diferen ça do outro caso em que já estamos no terre no de Édipo A transição do espelho da ilu são para o mundo da realidade exige que como acontece com a flor e no mito Narciso morra e metamorfoseiese em Édipo Nascimento o trauma do ORANK Expressão criada por OTTO RANK em 1924 Nessa época ele começava a se afastar da doutrina freudiana clássica publicando seu livro iconoclasta que o tornaria célebre O trauma do nascimento Nessa obra RANK defende a idéia de que no nascimento todo ser humano sofre um trauma maior que pro curava superar depois aspirando inconscien temente a voltar ao útero materno Em outras palavras fazia da primeira sepa ração biológica da mãe o protótipo das angústias psíquicas Essa tese como se vê aproximase das idéias que nessa época M KLEIN começava a esboçar e que mostram o quanto RANK se distanciava da concep ção clássica do complexo edípico e valori zava muito mais a relação precoce logo préedípica da criança com a mãe FREUD inicialmente em Inibições sintomas e angústia 1926 se opôs às teses de RANK Porém posteriormente nas Novas confe rências introdutórias sobre a psicanálise 1933 revisou sua posição e enfatizou que RANK tivera o mérito de ressaltar a impor tância da primeira separação do bebê com a mãe Nascimento psicológico da criança MARGARETH MAHLER Expressão bastante freqüente nos textos psicanalíticos concernentes ao desenvolvi mento emocional primitivo Foi cunhado por M MAHLER que no livro O nascimento psicológico da criança simbiose e individu ação 1971 descreve as observações dire tas de crianças interagindo com a mãe e com outras crianças Essa observação era feita através de um espelho que ficava numa sala coletiva o que lhe permitiu estudar as diversas fases evolutivas desde a simbiose até a aquisi ção de uma constância objetal com uma consolidação do self MAHLER e colaboradores situam o nascimen to psicológico no período em que a crian ça começa a fazer uma diferenciação com a mãe e a seguir adquire uma gradativa separação e individuação processo que adquire especial importância na prática analítica particularmente com pacientes bastante regredidos Necessidade LACAN Em psicanálise necessidade alude à deman da pulsional que visa a satisfazer o mínimo necessário para manter a sobrevivência fí sica e psíquica sempre levando em conta que isso implica um indispensável tipo de vínculo com outra pessoa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 281 LACAN ajudou a estabelecer uma útil dife rença entre necessidade desejo e deman da Assim a necessidade é como foi defini da acima o desejo alude a uma necessida de satisfeita com um plus de prazer e gozo que o sujeito quer voltar a experimentar enquanto demanda refere que a satisfação dos desejos é insaciável O verdadeiro sig nificado de demanda é um pedido deses perado por reconhecimento e amor como forma de preencher uma antiga e profunda cratera de origem narcisista Necessidade de castigo FREUD FREUD preferia essa expressão à mais co mum de sentimento de culpa inconsciente porque percebeu que se tratava de um fe nômeno mais abrangente e complexo Sem pre demonstrou um interesse especial pe las situações psíquicas que evidenciam uma autopunição como observava nos sonhos punitivos que representavam como que um preço a ser pago à censura onírica para obter a realizaçào do desejo nas autore criminações do obsessivo que faz dele um carrasco de si mesmo na melancolia na qual existe uma compulsão à autopunição que pode chegar até o extremo de suicídio nos casos de criminosos por autopunição ou seja nos comportamentos agressivos e delituosos que visam no fundo a uma pu nição do sujeito nos casos de masoquismo moral que induz o sujeito a se comprazer na busca de situações penosas e humilhan tes e finalmente na prática analítica no surgimento de uma reação terapêutica ne gativa Do ponto de vista da teoria topográfica FREUD considerava a necessidade de o su jeito ser castigado pela pressão punitiva que um superego exigente e tirânico exerce so bre o ego Porém enfatizou que essa não é a única fonte já que segundo ele deve ser levada bastante em conta a ação da pulsão de morte determinando um masoquismo Assim o sadismo do superego e o maso quismo do ego não devem ser considera dos como unicamente a cara e a coroa simétricas de uma mesma moeda por quanto elas também têm sua área especí fica de ação Negação FREUD LACAN Em sentido genérico podese dizer que negação Verneunung foi a palavra utiliza da por FREUD no original alemão referese a um processo pelo qual o sujeito de algu ma forma inconscientemente não quer tomar conhecimento de algum desejo fan tasia pensamento ou sentimento O fenô meno da negação pode ser realizado de formas distintas para finalidades específi cas do ego do sujeito O emprego dos res pectivos termos tanto no original alemão como nas diferentes traduções é algo con fuso No entanto fazendo a ressalva acima apon tada podese dizer em linhas gerais que as seguintes modalidades de negação fo ram descritas por FREUD em diferentes mo mentos de sua obra 1 Repressão ou recalcamento O termo ori ginal é Verdrängung Mecanismo que mais aparece nas neuroses comuns muito espe cialmente nas histerias casos em que o ego se nega a reconhecer como seus e a admi tir que o recalcado emerja no consciente 2 Renegação também denominada fre qüentemente como denegação desmenti da recusa ou desestima corresponde ao termo Verleugnung e refere o fenômeno pelo qual o sujeito sabe que os desejos pensamentos e sentimentos negados são mesmo dele porém continua a defender se categoricamente negando que lhe per tençam Essa modalidade de negação é tí pica dos pacientes com perversão O pró prio FREUD diz em Fetichismo1927 que essa perversão decorre da negação da cas tração o que leva o sujeito a substituir o 282 DAVID E ZIMERMAN pênis por algum fetiche como sapatos por exemplo para manter a ilusão de um faz deconta que não me sinto castrado 3 Foraclusão também traduzido por for clusão ou rejeição ou repúdio cujo origi nal é Verwerfung é um termo introduzido por LACAN que designa uma negação ex tensiva à realidade exterior e o sujeito a substitui pela criação de outra realidade fic cional Um bom modelo está contido no que FREUD descreveu como gratificação alucina tória do seio quando por algum tempo possível a criança substitui o seio ausente da mãe pelo seu próprio polegar Esse tipo de negação mais extremada é mais típica de pacientes psicóticos No trabalho A negação 1925 FREUD faz a importante observação de que na prática analítica a negação pode representar uma confirmação de modo que ele afirma Não há prova mais forte de que conseguimos descobrir o inconsciente do que vermos o analisando reagir com estas palavras não pensei isso ou não nunca pensei nisso Negatividade princípio da Dentro do entendimento contemporâneo de que o psiquismo comporta muito mais do que uma dimensão única e de que os fatos psí quicos não seguem uma ordem linear e que tampouco obedecem ao determinismo de causaefeito é importante consignar que existe no funcionamento mental o fenômeno da negatividade Consiste no fato de que os opos tos e contraditórios não são excludentes entre si pelo contrário são includentes O arranjo dos contrários é que propicia a formação da unidade de um todo integrado Isso seria importante na prática analítica se em nossa atividade interpretativa no lugar do costumeiro emprego da conjunção al ternativa ou os analistas empregassem pri oritariamente a conjunção copulativa e Em outras palavras no conceito de negati vidade uma coisa não pode existir sem que haja ao mesmo tempo uma nãocoisa como nos mostra a física moderna de que a toda matéria corresponde uma antimaté ria O bonito só existe porque contrasta com o feio o branco com o preto etc A propó sito do jogo dos contrários exemplificado com o branco e o preto simbolicamente podem ser os brancos e pretos do psiquis mo humano vale a singela metáfora de que tomados isoladamente o branco ou o preto não nos diriam nada e provocariam uma monotonia entediante No entanto podem ser arranjados de forma a compor um tabuleiro de xadrez que pode ter uma excelente utilização Assim muitos autores contemporâneos des tacam o aspecto positivo do uso da negati vidade na situação analítica porque quan do o analisando ou o analista nega uma determinada verdade definida acabada saturada estará reconhecendo que existe um espaço fora de seus limites e que está abrindo um espaço para ver o outro lado de uma mesma coisa Aliás BION sempre enfatizou que o verda deiro crescimento se completa na negação não no sentido de negativismo mas sim no de uma contestação sadia pela qual o sujeito quer ir cada vez mais longe Partin do de sua concepção de que a ausência do seio nothing tanto é capaz de possibilitar a representação presente de um seio ausen te como também é possível não se formar a representação do seio ficando no seu lu gar o vazio do nada nothing BION descre ve uma espécie de jogo dos contrários Nesse caso à moda de um jogo dialético teses permitindo antíteses das quais resul tam sínteses que por sua vez funcionam como novas teses ao longo de toda nossa vida os contrários convivem íntima e reci procamente como é o caso do presente com o ausente da afirmação com a nega ção o bom com o mau etc BION 1992b p156 ilustra a noção de negatividade com estas frases muito significativas Cada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 283 demônio tem um santo que o acompanha o conjunto de santos forma um panteão cada santo tem um demônio o conjunto dos demônios redunda num pandemônio Do mesmo modo cada cura tem um mal que a acompanha É importante que haja um casamento entre o paciente e ele mesmo Negativismo prática analítica Forma nada rara de na prática analítica o paciente adotar uma atitude niilista que constitui uma forma resistencial muito difí cil Nesses casos o paciente descrê de tudo age como um autômato só vê defeitos e perspectivas pessimistas e derrotistas Um grau extremo ocorre quando o paciente apresenta um mutismo permanente Comentário Embora se trate de uma re sistência que se pode mostrar irreversivel mente obstrutiva ao andamento da análi se o analista deve atentar para um aspecto importante enquanto esse paciente estiver comparecendo às sessões é bem provável que esteja transmitindo uma mensagem que pode ser mais ou menos assim eu estou em estado de negativismo porque aprendi a não confiar em ninguém porque nada vai adiantar já que nunca fui entendido logo eu preciso de um tempo muito longo de observação para ter a certeza que vale a pena voltar a ter novas esperanças sem cor rer o risco de vir novamente a ser fraudado Por favor doutor tenha muita paciência co migo Negativo trabalho do ANDRÉ GREEN Como essa conceituação original de GREEN adquiriu intensa relevância na psicanálise nada melhor do que lhe passar a palavra Eu procedo a uma espécie de classificação das defesas em defesas primárias e secundá rias Considero defesas primárias tudo que diz respeito ao trabalho do negativo isto é as di ferentes maneiras de dizer não de recusar podemos expulsar podemos cindir podemos recalcar podemos dizer não verbalmente podemos descarregar E depois há o que cha mo de mecanismos de defesa secundária o isolamento a anulação a formação reativa projeção e mesmo a introjeção Chamo a es tas de secundárias porque para mim o tra balho do negativo é a coisa mais importante Revista IDE 1986 Também na terceira conferência pronunci ada em 1986 em São Paulo que aparece publicada em Conferências Brasileiras de André Green Metapsicologia dos limites 1990 GREEN prossegue textualmente O artigo de FREUD sobre a Negação é de lon ge no que me diz respeito o artigo que mais me faz refletir em minha prática analítica e em minha elaboração teórica Freud dis se que quando o paciente tem dificuldade de continuar associando basta perguntarlhe o que está mais distante de seu espírito qual a coisa mais impossível e inacreditável em que você pensaria neste momento Já que você não pode dizer o seu sim mais próximo digame o seu não mais distante e o seu não mais distante tornarseá o sim mais próximo que você não pode dizer GREEN completa seus esclarecimentos sobre o trabalho do negativo afirmando que Quanto à negação em si ela se estende ao conjunto do campo da pulsão à lingua gem enquanto que as outras categorias do trabalho do negativo incidem no caso da forclusão sobre o próprio representante psíquico eu nem ligo ou sobre o objeto de percepção na recusa da diferença dos sexos ou sobre o afeto na repressão ou ainda sobre a linguagem mais especifica mente na negação mas sendo essa suscetí vel de abranger todo o conjunto Neo ou reidentificações Expressão que está aparecendo em muitos textos psicanalíticos contemporâneos e de 284 DAVID E ZIMERMAN signa o importante fato de que em algum grau todo paciente porta no interior de seu psiquismo algumas identificações parciais ou totais com figuras patogênicas como pode ser a de uma mãe enlouquecedora ou a de um pai que representa um modelo de pessoa fracassada etc Na prática analítica é indispensável que gra dativamente o paciente consiga fazer desi dentificações ou seja após ter adquirido a condição de enxergar seus pais como obje tos totais não só os pais reais como tam bém e principalmente como eles estão in trojetados e representados dentro dele A partir dessa visualização integrada de cada um dos genitores ou outras figuras impor tantes que lhe serviram de modelo de iden tificação o paciente pode darse o direito de discriminar e decidir quais os aspectos parciais de cada um daqueles que ele quer conservar consigo e quais os de que quer se desfazer ou seja se desidentificar Simultaneamente com as desidentificações vai se abrindo um espaço psíquico que vai sendo preenchido pelo novo modelo uma neoidentificação que o paciente tem à sua frente o seu analista o qual além da ati vidade interpretativa tem uma maneira pes soal de conter angústias de como pensa co munica encara as verdades difíceis acredita nas capacidades latentes do paciente etc Neo ou resignificações De forma análoga à do verbete anterior também é importante que sejam dessignifi cadas determinadas significações patógenas que o paciente carrega ao longo da vida Como exemplos podemos citar os casos de um paciente que tem fobia por tempesta des porque durante toda a infância ele ou viu repetidamente sua mãe em pânico pro nunciar mensagens terroristas quanto ao risco de um raio vir a incendiar matar de outro que era classificado como desajeita do toda vez que não fazia alguma coisa com perfeição de mais outro cuja agressivida de poderia ter matado o irmãozinho En fim os exemplos poderiam se multiplicar por milhares Concomitantemente com as dessignifica ções abrese um espaço mental não só através da imprescindível atividade interpre tativa mas também pelo modelo da ma neira autêntica de o analista ser Esse espa ço será substituído por novas neosignifi cações menos terríficas denegridoras mais tranqüilas e estruturadoras Neotenia O bebê nasce num estado de neotenia isto é nasce prematuramente no sentido de que apresenta em relação a qualquer espécie do reino animal uma prolongada deficiên cia de maturação neurológica motora que o deixa num estado de absoluta dependên cia e desamparo Em contraste com a lentidão da maturação motora o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos da criança é relativamente preco ce e rápido ela começa a sentir calor e frio desde o nascimento a ouvir a partir das primeiras semanas a olhar por volta do primeiro mês e assim por diante A importância do conceito psicanalítico de neotenia consiste no fato de que esse esta do mental de desamparo acompanhado de uma sensação de impotência pode ficar inscrito e representado no ego da criança acompanhandoo vida afora de sorte a for çar o adulto a adotar defesas típicas do nar cisismo tal como aparece descrito nesse verbete Neurastenia FREUD A formação etimológica do termo indica que neurastenia alude a uma fraqueza as tenia nervosa o que se justifica porquanto seus sintomas se manifestam sob a forma de uma grande e permanente sensação de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 285 fadiga física além de cefaléia transtornos digestivos empobrecimento da vida sexual e outros afins sem que os exames clínicos detectem causas orgânicas FREUD inicialmente descreveu dois tipos de neurose atual a neurose de angústia e a neurastenia Neste último caso ele atribuía a causa a uma excessiva descarga de subs tâncias sexuais como aconteceria no exa gero da prática da masturbação FREUD pros segue afirmando que como conseqüência dessa hemorragia de substâncias sexuais é que surgem os sintomas de astenia e de adinamia Embora Freud tenha incluído a neuraste nia como uma das formas de neurose atu al posteriormente veio a considerála como uma entidade clínica específica Neurose No início de sua obra FREUD dividiu os transtornos emocionais que então denomi nava psiconeuroses em três categorias psi copatológicas a as neuroses atuais b as neuroses de transferência também conhe cidas como psiconeuroses de defesa que eram as histerias as fobias e as obsessivas c as neuroses narcisistas que constituem os atuais quadros psicóticos De lá para cá muita coisa mudou substan cialmente na ciência da psicanálise e da psiquiatria as síndromes da psicopatologia foram ganhando uma crescente compreen são genéticodinâmica e paralelamente os autores foram ampliando subdividindo di versificando construindo novos modelos e portanto aumentando a complexidade no sológica tal como aparece nas modernas classificações diagnósticas como o DSM ou CID As estruturas caractereológicas os sin tomas as inibições e os estereótipos que configuram as diversas síndromes psico patológicas resultam de um jogo dialéti co entre as relações objetais as ansieda des e para contraarrestálas os tipos de mecanismos defensivos que são utilizados pelo ego Os pacientes portadores de estruturas neu róticas caracterizamse pelo fato de apre sentarem algum grau de sofrimento e de desadaptação em alguma ou mais de uma área importante de sua vida sexual fami liar profissional ou social incluído também é evidente seu particular e permanente mente predominante estado mental de bem ou de malestar consigo próprio No entanto apesar de que o sofrimento e o prejuízo em alguns casos possa alcançar níveis de gravidade os indivíduos neuróti cos sempre conservam uma razoável inte gração do self além de uma boa capacida de de juízo crítico e de adaptação à realida de Outra característica dos estados neuró ticos é a de que os mecanismos defensivos utilizados pelo ego não são tão primitivos como por exemplo os apresentados nos estados psicóticos embora sempre esteja subjacente o que BION chama como parte psicótica da personalidade Neurose atual FREUD O qualificativo atual devese ao fato de que essa neurose segundo FREUD que a des creveu pela primeira vez em 1898 não se ria produzida por conflitos passados mas sim por motivos atuais de modo que ela não dependeria estritamente de fatores psi cológicos Assim a neurose de angústia se ria resultante de fatores biológicos ligados à sexualidade que agiriam através de subs tâncias químicas O acúmulo dessas toxi nas sexuais produzidas pelas excitações frus tradas manifestase diretamente por sinto mas de angústia livre como taquicardia palpitações respiração ofegante etc que diz FREUD são aquelas mesmas que estão presentes no ato sexual Inicialmente FREUD descreveu dois tipos de neurose atual a neurose de angústia re sultante da libido estancada como no caso 286 DAVID E ZIMERMAN do coito interrompido da angústia das vir gens e a neurastenia por excesso de eli minação como no caso da masturbação excessiva Posteriormente em 1911 ao estudar o Caso Schreber FREUD descreveu um terceiro tipo de neurose atual a hipo condria a qual poderia estar representan do um núcleo atual de uma psiconeurose ou de uma psicose subjacente O conceito de neurose atual foi perdendo seu emprego na psicanálise à medida que foi se evidenciando que seja qual for o va lor precipitante dos fatores atuais sempre existe a presença de contíguos conflitos mais antigos Além disso FREUD valorizou unica mente a não satisfação das pulsões sexu ais e nos dias de hoje é inconcebível não incluir o represamento ou a má distribui ção das pulsões agressivas No entanto mais modernamente o concei to de neurose atual volta a ganhar credibili dade a partir dos grandes avanços nas teo rias sobre as somatizações com as noções pertinentes à égide de um conflito unica mente atual que pela quantidade de ex cesso de estímulos o ego não consegue processar e que por isso se escoarão por outras vias como são as diversas possibili dades da fisiologia orgânica Neurose de angústia FREUD FREUD estudou a angústia em dois momen tos diferentes de sua obra Na primeira for mulação a angústia seria conseqüência da repressão recalcamento que provocaria uma libido acumulada que funcionaria de uma maneira tóxica no organismo A partir de Inibições sintomas e angústia 1926 ele conceituou de forma inversa ou seja a repressão não é a causa da angústia mas uma conseqüência isto é o recalca mento se processa como forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angús tia mais especificamente a angústia de castração A neurose de angústia consiste em um trans torno clínico que se manifesta por meio de uma angústia livre quer de forma perma nente quer pelo surgimento de momentos de crise Em outras palavras a ansiedade do paciente expressase tanto por equiva lentes somáticos como uma opressão pré cordial taquicardia dispnéia suspirosa sen sação de uma bola no peito etc como também por uma indefinida e angustiante sensação do medo do sujeito de que possa vir a morrer enlouquecer ou da iminência de alguma tragédia Na maioria das vezes esses sintomas indi cam que está havendo uma falha do me canismo de repressão diante de um trau mático excesso de estímulos externos e ou internos A expressão neurose de angústia caiu em certo desuso visto se confundir ora com a doença do pânico ora com a neurose atu al ora com a angústia dos fóbicos diante de situações especificamente ansiogênicas Aliás nos primeiros tempos FREUD desig nava as fobias como histerias de angústia o que evidencia sua percepção de que a neurose de angústia e a fobia são parentes íntimos Neurose de caráter Tipo de neurose em que o conflito psíquico não se expressa pela formação de claros sintomas específicos mas através de traços de caráter e por comportamentos que acar retam alguma forma de constantes dificul dades na sua vida exterior do sujeito Em grande parte a psicanálise deve a in trodução da expressão neurose de caráter e de sua aplicação na prática analítica a WREICH No livro Análise do caráter 1933 ele abordou o que chamou de couraça caractereológica que muitos pa cientes apresentam como uma esclerose das defesas que não removida tornaria a análise inviável VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 287 A caractereologia pode ser abordada por três vértices 1 Os traços de caráter que correspondem aos sintomas das neuroses como seriam então os caracteres obsessivo fóbico his térico paranóide etc 2 As diferentes fases da evolução libidinal como é o caso de um caráter oral anal fá liconarcisista prégenital genital etc 3 Em termos estruturais o que mais im porta é o modo de como se organizam os desejos com as respectivas defesas das quais as mais freqüentes são a formação reativa e a sublimação Neurose de destino FREUD Essa denominação não tem valor nosográ fico pois não designa propriamente um quadro clínico com características específi cas e bem definidas No entanto tem valor descritivo porque enfatiza uma compulsão à repetição mesmo de aspectos que cau sem sofrimento No fim do capítulo III de Além do princípio do prazer 1920 FREUD descreve as pes soas que dão a impressão de que um destino as persegue de que há uma orien tação demoníaca de sua existência como é o caso de benfeitores pagos com ingrati dão amigos traídos etc Neurose de fracasso RENÉ LAFORGUE psiquiatra e psicanalista francês introduziu essa expressão que a exemplo da neurose de destino também não determina um quadro específico na nosografia psicanalítica porém tem um útil valor descritivo uma vez que designa as pessoas que inconscientemente engen dram sua própria infelicidade A neurose de fracasso é correlata à neuro se de destino e como ela também obede ce ao princípio de uma compulsão à repeti ção apresentando as seguintes características 1 O fator desencadeante não é o de trans torno emocional decorrente de algum fra casso real mas sim é o inverso disso 2 O fracasso também não é conseqüente a um acréscimo feito numa perturbação pré via como pode ser por exemplo o de um sintoma fóbico muito limitante Na verda de o que acontece é que o fracasso se cons titui como o próprio sintoma e tem etiolo gia específica 3 É bastante comum que o fracasso se siga aos êxitos situação que pode repetirse com uma freqüência regular ao longo da vida e atesta que existem proibições internas que impedem o sujeito de sentirse merecedor de sucesso Neurose de transferência FREUD Essa expressão comporta dois significados em psicanálise 1 Como designativa de uma forma de neu rose que possibilita o surgimento da trans ferência com o analista Logo são neuro ses mais acessíveis à análise como é o caso das neuroses histéricas obsessivas e fóbi cas às últimas durante muito tempo FREUD chamava de histeria de angústia Assim a neurose de transferência se distingue das outras duas que Freud classificava respec tivamente como neurose atual cujo me canismo seria essencialmente somático e como neurose narcisista nesse caso a libi do estaria investida no próprio ego portan to impossibilitaria o surgimento do fenôme no da transferência e como decorrência a inviabilidade da própria análise 2 O segundo sentido da expressão neuro se de transferência que Freud introduziu em Recordar repetir elaborar 1914 re fere especificamente a prática analítica re lacionandoa com a postulação de que o paciente repete na transferência com o analista os passados conflitos infantis As sim a técnica psicanalítica passou a ficar centrada em substituir a neurose clínica por 288 DAVID E ZIMERMAN uma neurose de transferência com o ana lista a qual sendo exitosamente analisa da leva à descoberta da neurose infantil FREUD que nos primeiros tempos supunha que a neurose de transferência seria uma interferência prejudicial à análise e que de pois passou a considerála como um fator bastante positivo também alertava contra alguns inconvenientes de uma neurose de transferência exagerada Ao mesmo tempo recomendava que os analistas deveriam estimular ativamente essa transferência e não poupar os pacientes de analisar essa situação transferencial por mais difícil que pudesse aparentar Neurose e psicose FREUD 1924 Nesse trabalho FREUD afirma que a etiolo gia comum ao início da psiconeurose e da psicose é sempre a mesma O que as dife rencia é que a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id enquanto a psi cose é o resultado de um conflito semelhan te entre o ego e o mundo exterior O efeito patogênico depende de o ego manterse fiel à sua dependência quanto ao mundo exte rior e tentar silenciar o id como nas neuro ses de transferência ou de deixarse ven cer pelo id e ser arrancado da realidade como nas psicoses No mesmo ano de 1924 Freud apresentou o artigo A perda da realidade na neurose e na psicose no qual afirma que na neu rose o ego em sua dependência da reali dade suprime uma parte do id enquanto na psicose esse mesmo ego a serviço do id se afasta de uma parte da realidade O fator decisivo para uma neurose seria a predominância da influência da realidade enquanto para a psicose tal fator seria a predominância do id A neurose não nega a realidade simplesmente a ignora a psi cose nega a realidade e tenta substituíla Ambos os trabalhos foram de grande im portância na época porque introduziram as fundamentais noções de outros tipos de negação além dos do recalcamento então bastante conhecidos como são a denega ção e a forclusão Os dois textos estão publicados no volume XIX da Standard Edition Neurose fóbica Ver o verbete Fóbica neurose Neurose mista Expressão proposta por FREUD sobretudo nos primeiros trabalhos com a finalidade de esclarecer que os sintomas psiconeuró ticos muitas vezes podem estar combina dos com os da neurose atual e mais que as neuroses raramente se apresentam em es tado puro apesar de haver quase sempre preponderância de um ou de outro tipo de manifestação que caracterize uma neurose específica Neurose obsessiva Ver o verbete Obsessiva neurose Neurose narcísica FREUD empregava esse termo para referir uma doença mental que em oposição às neuroses de transferência caracterizava se pela retirada da libido investida no mundo exterior seguida pelo investimen to no seu próprio ego Do ponto de vista clínico o grupo das neuroses narcisistas abrangeria o conjunto de psicoses às quais também chamava de parafreniais cujos sintomas não tenham sido efeitos de alguma lesão orgânica Posteriormen te em especial no artigo Neurose e psi cose 1924 FREUD passou a restringir o termo neurose de transferência para as situações de tipo melancólico diferenci andoa assim tanto das neuroses de trans ferência quanto das psicoses VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 289 Com os avançados conhecimentos atuais sobre o narcisismo a expressão neurose de narcisismo está virtualmente abandonada Neurose traumática A conceituação dessa neurose está direta mente ligada à ocorrência real de algum acontecimento que tenha provocado forte choque emotivo no sujeito muito particu larmente em situações nas quais ele sentiu de perto uma ameaça à vida ou à de suas pessoas queridas O termo traumatismo era utilizado para designar lesões orgânicas conseqüentes de fortes impactos produzidos acidentalmen te de maneira instantânea por agentes me cânicos Metaforicamente a psicanálise a adaptou para os impactos psicológicos os quais determinam uma série de sintomas va riáveis desde um estado de entorpecimento até o de uma agitação psicomotora É necessário fazer uma distinção entre dois tipos de neurose traumática 1 Aquela em que a reação é muito despro porcional ao acontecimento desencadean te caso em que é indispensável fazer a in vestigação da neurose subjacente que es tava latente e foi despertada 2 O traumatismo é por si só o desenca deante de uma forte reação emocional que pode perdurar por muito tempo no míni mo por um estado de permanente sobres salto quanto ao risco do mesmo aconteci mento se repetir Cabe assinalar dois aspectos relativos à neurose traumática Um é o fato de que o sujeito traumatizado necessita fazer uma elaboração do fato trau matizante Isso é feito através de repetições seja através de sonhos repetitivos de con tar a mesma história incontáveis vezes ou de desenhar as cenas como acontece co mumente com as crianças O segundo aspecto a ser destacado consis te naquilo que KABRAHAM chamou de trau matofilia que como a etimologia sugere em grego trauma quer dizer ferida e phi los designa amigo de referese a uma bus ca inconsciente de um mesmo tipo de trau matismo como por exemplo pessoas que se acidentam repetitivamente nesses casos é comum o emprego da palavra acidentofi lia ou sofrem estupros sucessivos etc Em sua época FREUD assinalava como acontecimentos traumáticos acidentes combates explosões etc No entanto para os dias atuais cabe acrescentar a violência urbana nas suas múltiplas faces como as saltos seqüestros etc Neutralidade regra da FREUD A abordagem mais conhecida de FREUD a essa regra é a que consta em Recomen dações aos médicos que exercem a psica nálise 1913 onde apresenta a famosa metáfora do espelho Nela afirma que O psicanalista deve ser opaco aos seus paci entes e como um espelho não lhes mos trar nada exceto o que lhe for mostrado Um ano antes em O início do tratamen to 1912 FREUD já fazia outra metáfora com o mesmo sentido de enfatizar a neces sidade de neutralidade do analista reco mendando que O analista à semelhança do cirurgião deve ter apenas um objetivo levar a bom termo a sua cirurgia com o máximo de habilidade possível A etimologia mostra que neutralidade deri va do étimo latino neuter que significa nem um nem outro Embora designe um con junto de medidas técnicas propostas por FREUD no curso de vários textos e em dife rentes épocas essa expressão não figura diretamente em nenhum deles Nas pou cas vezes em que esse termo aparece nos escritos de FREUD a palavra original em ale mão é Indifferenz cuja tradução mais pró xima é imparcialidade Classicamente essa regra referese mais estrita e diretamente à necessidade de o 290 DAVID E ZIMERMAN analista ser neutro quanto aos valores mo rais sociais éticos e religiosos e que não se envolva afetivamente com os problemas do paciente conforme a metáfora do espe lho antes mencionada Na atualidade pen sase que o analista deve funcionar como um espelho porém no sentido de ser um espelho que possibilite ao paciente mirar se de corpo inteiro por fora e por dentro como realmente ele é ou que não é ou como ele pode vir a ser Comentário Creio que o analista deve envolverse afetivamente com seu analisan do desde que não fique envolvido nas malhas da patologia contratransferencial Essa última condição de estado mental do analista é fundamental para possibilitar o desenvolvimento do analisando tal como nos sugere a formação etimológica da pa lavra desenvolvimento alude à retirada des de um envolvimento patogênico A neutralidade no sentido absoluto do ter mo é uma utopia impossível de ser plena mente alcançada até mesmo porque o psicanalista é um ser humano como qual quer outro e portanto tem sua ideologia e seu próprio sistema de valores os quais quer ele queira ou não são captados pelo paciente Além disso as palavras e atitudes do ana lista também funcionam com certo poder de sugestionamento isso é bem diferente de uma sugestão ativa Como exemplo podese mencionar o simples fato de que a escolha que o analista faz do que julga me recer ser interpretado em meio a outras possibilidades de enfoque interpretativo propiciadas pelo discurso do analisando além do seu modo e estilo de interpretar fazem transparecer a sua personalidade e exercem certa influência no destino do pro cesso analítico Cabe acrescentar mais dois fatores que são inerentes à neutralidade do analista um é uma indispensável bagagem de conheci mentos teóricos que lhe possibilitem pisar em chão firme o outro aspecto referese à importância de o analista não ficar perdido em suas reações contratransferenciais e se possível reconhecer esses sentimentos que o paciente despertou nele de modo a apro veitálos a serviço de uma empatia Neutralização da energia psíquica PSICÓLOGOS DO EGO As catéxias do ego conforme postulou FREUD podem ser livres ou fixadas As pri meiras são mais características da fase ini cial da vida e dos primeiros anos da infân cia A partir dessa noção HARTMANN KRIS e LOEWENSTEIN 1949 afirmaram que a capa cidade de reprimir a energia psíquica au menta paralelamente ao amadurecimento da criança atingindo o máximo na vida adulta e isso apresentase intimamente li gada à neutralização ou desinstintualiza ção da energia psíquica Assim o termo neutralização alude ao des vio da energia de seus objetivos originais pulsionais orientados para o prazer e sua utilização para as funções do ego que não possuem uma qualidade diretamente pul sional Dentre as formas pelas quais a energia pro vinda das pulsões por meio da dessexuali zação e de uma desagressivização pode ser neutralizada e colocada à disposição das atividades do ego a sublimação e a identi ficação ocupam posições de destaque Nirvana princípio de FREUD O termo nirvana é próprio da religião bu dista na qual designa a extinção do de sejo humano o aniquilamento da indivi dualidade que se funde na alma coleti va um estado de quietude e de felicida de perfeita Foi a psicanalista inglesa BARBARA LOW quem introduziu esse termo em psicanálise defi nindoo como Uma tendência para a re VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 291 dução para a constância para a supressão da tensão de excitação interna FREUD em Além do princípio do prazer 1920 utiliza essa expressão como forma si nônima do princípio da constância porém conectando a ressonância filosófica e mística do nirvana hinduísta que alude a uma redu ção a zero de qualquer excitação com a exis tência da pulsão de morte tal como ele espe culava nesse seu clássico trabalho Freqüentemente as expressões princípio da constância princípio da inércia e princípio de nirvana são empregadas como se fos sem sinônimos Embora sejam análogas convém estabelecer uma diferença O princípio da constância designa mais apropriadamente um estado de equilíbrio uma homeostase sem que necessariamen te exija uma redução a um estado de zero O princípio de inércia foi formulado por FREUD no seu Projeto para uma psicologia científica 1895 para referir sua noção de que os neurônios tendem a descarregar completamente as quantidades de energia que recebem O princípio de nirvana equi vale ao da inércia quanto à redução da ex citação a zero porém no lugar do enfoque biológico neuronal FREUD privilegiou a ação da pulsão de morte Nó borromeu LACAN LACAN introduziu esse termo em psicanálise em 1972 com o propósito de designar atra vés de uma imagem pictórica o entrelaça mento dos três registros o do real o do imaginário e o do simbólico Para tanto utilizou o modelo que consiste em três anéis absolutamente livres no sentido de estarem livres embora ligados mas não encadea dos O nó estabelece o vínculo entre essas três dimensões de forma que o corte de uma libera as duas outras Na clínica com esse modelo do nó borro meu Lacan ilustra os diferentes modos de enlace desse nó isto é a forma singular de como cada sujeito mantém juntas aquelas três dimensões do psiquismo com o auxílio eventual de um quarto círculo o do sintoma É interessante a origem do termo borromeu ou borromeneano Ela remete à ilustre família Borromeu residente em Milão cu jas armas compunhamse de três anéis em forma de trevo simbolizando uma tríplice aliança Se um dos anéis se retirasse os outros dois ficariam soltos e cada um re metia ao poder de um dos três ramos da família Nomedopai ou leidopai LACAN LACAN introduziu essa expressão em 1953 a fim de designar o significante da função paterna Dizendo com outras palavras LA CAN mostrou que o Édipo freudiano podia ser pensado como uma passagem da natu reza para a cultura De acordo com essa perspectiva o pai exer ce uma função essencialmente simbólica ou seja ele nomeia dá o seu nome e atra vés desse ato encarna a lei daí que Nome doPai também é conhecida como Leido Pai essencialmente pela linguagem a qual estabelece uma ponte com a cultura Assim inicialmente LACAN definiu essa função com o nome de função do pai depois como função do pai simbólico mais tarde metáfo Figura 3 Nó borromeu 292 DAVID E ZIMERMAN ra paterna e finalmente a partir do seu estu do do Caso Schreber deu o nome definitivo de NomedoPai grafado com hífens Nesse caso segundo Lacan como o filho porta o sobrenome do pai ele o incorpora com o significante de um representante da lei de modo que o pai se interpõe como figura privadora da díade com a mãe No caso da psicose como com Schreber essa estruturação não se dá e o significante do pai fica foracluído e se manifesta como uma forma de idéias delirantes contra Deus Notação BION BION incluiu o conceito de notação na sua Grade onde ocupa a coluna 3 e designa as categorias empregadas para registrar determinado fato e que cumpra a função de notação dos elementos psicanalíticos surgidos na sessão Tratase pois de uma forma de utiliza ção dos pensamentos que implica uma memorização uma espécie de arquivo tal como num cartório de notas Ver o ver bete Memória Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia FREUD 1911 O título completo desse artigo é Notas psi canalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia Dementia para noides Foi escrito por FREUD em 1911 tomando como ponto de referência as Me mórias de DSCHREBER renomado jurista da época que ele próprio publicou em 1903 e nas quais conta detalhadamente suas pro duções delirantes Esse trabalho de FREUD é importante por que aborda uma variedade de temas que viria a ampliar posteriormente e que per sistem como fonte de debates e constantes referências na literatura psicanalítica Den tre os temas discutidos estão as observa ções sobre o narcisismo que antecedem o trabalho específico de 1914 a descrição do mecanismo do recalcamento a gênese da formação da paranóia e a sua relação com a homossexualidade O artigo consta de três partes 1 História clínica de Schreber 2 Tentativas de interpretação 3 Sobre o mecanismo da paranóia Seguese um pósescrito Está publicado no volume XII p 23 da Standard Edition brasileira Para maiores detalhes ver Caso Schreber inserido no verbete Historiais clínicos Notas sobre a memória e o desejo BION 1967 Com o nome original de Notes on Memory and Desire esse artigo foi publicado na re vista PsychoAnal Forum II 3 e também na Revista de Psicoanálisis de Buenos Ai res v 26 1969 Nele BION parte da posi ção de que o início importante em qual quer sessão é o desconhecido e nada deve impedir que a psicanálise o intua Os aspectos mais destacados são 1 O uso por parte do analista dos seus órgãos sensoriais constituise como um obstáculo para a intuição da realidade psí quica Da mesma forma o uso da memória a qual é muito próxima da experiência sen sorial é buscado de forma ativa pelo indiví duo e isso também obstrui a intuição e o aces so à realidade subjetiva do paciente 2 O analista deve suprimir ao máximo sua memória e seus desejos ativos e isso pode ser conseguido através de um treinamento e de exercícios voluntários Ver o verbete Sem memória e sem desejo Notas sobre a teoria da esquizofrenia BION 1954 Nesse trabalho inserido no livro Estudos psicanalíticos revisados 1967 BION escla VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 293 rece que utilizou com seus pacientes esqui zofrênicos a mesma técnica analítica que empregava para os neuróticos comuns des tacando os aspectos a seguir 1 A patologia da linguagem utilizada pelos esquizofrênicos 2 As três maneiras desses pacientes de empregar a linguagem como um modo de atuar como um método de comunicação primitiva e como uma forma de pensamen to Assim às vezes o atuar substitui o pen sar e viceversa 3 A presença do ódio e da voracidade pro voca splittings que destroem a capacidade para pensar e para unir as palavras e os objetos 4 Dessa forma esses pacientes utilizam as palavras como se fossem coisas ou como partes cindidas deles mesmos e que tratam de colocar dentro do analista 5 Há uma marcante dificuldade na utiliza ção dos símbolos e portanto dos substan tivos e verbos Notas sobre um caso de neurose ob sessiva FREUD 1909 Esse trabalho publicado em 1909 é mais conhecido como O caso do Homem dos Ratos e versa sobre um paciente fortemen te obsessivocompulsivo que FREUD anali sou durante um ano e que apresentou um notável restabelecimento dos sintomas O artigo consta de duas partes sendo cada uma delas subdividida por títulos que refe rem abordagens específicas Assim a parte I intitulada Extratos do caso comporta sete subtítulos 1 a O iní cio do tratamento b Sexualidade infantil 2 O grande medo obsessivo 3 Iniciação na natureza do tratamento 4 Algumas idéias obsessivas e sua explicação 5 A cau sa precipitante da doença 6 O complexo paterno e a solução da idéia do rato A parte II denominada Secção teórica consta de três temas 1 Algumas caracte rísticas gerais das estruturas obsessivas 2 Algumas peculiaridades psicológicas dos neuróticos obsessivos sua atitude perante a realidade a superstição e a morte 3 A vida instintiva dos neuróticos obsessivos e as origens da compulsão e da dúvida Seguese um adendo intitulado Registro original do casoContrariamente a seu há bito de destruir os originais dos trabalhos já publicados esse manuscrito como notável exceção foi conservado praticamente na íntegra Foi encontrado misturado com ou tros papéis em Londres após sua morte O trabalho está publicado no volume X das páginas 153 a 317 da Standard Edition bra sileira Ver Homem dos Ratos que está inserido no verbete Historiais clínicos Novas conferências introdutórias à psicanálise FREUD 1933 Enquanto as Conferências Introdutórias 19161917 foram realmente pronunciadas num auditório da Clínica Psiquiátrica de Viena perante uma platéia que reunia membros de todas as Faculdades da Uni versidade as Novas Conferências Introdu tórias jamais foram pronunciadas Na ver dade FREUD as redigiu como se estivesse conversando com um auditório imaginário de modo a dar uma continuação e suplemen tação às conferências anteriores São sete as novas conferências numeradas de XXIX a XXXV onde sucessivamente ele aborda os temas 1 Revisão da teoria dos sonhos 2 Sonho e ocultismo 3 A disse cação da personalidade psíquica 4 Angús tia e vida pulsional 5 Feminilidade 6 Explicações aplicações e orientações 7 A questão de uma Weltanschaung Dentre essas conferências a terceira a quar ta e a quinta abordam os temas da estrutura da mente a angústia a teoria das pulsões e o da psicologia feminina apresentando mate riais e teorias inteiramente novas 294 DAVID E ZIMERMAN Esse trabalho está publicado no volume XXII p 17 da Standard Edition brasileira Novas recomendações sobre a técni ca da psicanálise FREUD 1913 Em seus Artigos sobre Técnica seguin dose às Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise 1912 FREUD prosseguiu complementando os artigos inseridos nesse trabalho com três novos artigos publicados em 1913 sob o nome geral de Novas Recomendações Esses ar tigos são 1 Sobre o início do tratamen to 2 Recordar repetir e elaborar 3 Observações sobre o amor transferen cial Essa obra está no volume XII da Standard Edition brasileira Novela familiar Ver o verbete Romance familiar Númeno BION BION emprega a palavra númeno que alu de a uma divindade mitológica a qual to mou emprestada do filósofo KANT para de signar a coisa em si mesmo por oposição à observação dos fenômenos ou das coisas tais como aparecem e são conhecidos pela nossa percepção Assim númeno também aparece na obra de BION como coisa em si verdade absolu ta O referese a um fato percebido pela consciência mas não confirmado pela ex periência porquanto a sua existência é abs trata e problemática O BION Na obra de BION levando em conta os tex tos no idioma original e os traduzidos a le tra O aparece de duas maneiras 1 Designa o ponto de origem de uma ver dade à qual não se consegue chegar e co nhecer a não ser através do produto de suas transformações Na terminologia emprega da por BION esse termo guarda uma sino nímia com coisa em si mesmo realidade última verdade absoluta divindade núme no Para caracterizar a perspectiva mística desse termo BION gostava de mencionar a frase do poeta Milton O infinito informe sem nome O signo O tanto pode ser lido como letra inicial de origem ou como zero com o significado de ponto de partida BION mos trou preferir que O fosse lido como letra Dessa forma na situação analítica se fizer mos uma metáfora cabe dizer que BION valorizou sobretudo uma linha imaginária onde num pólo consta a origem desconhe cida dos fatos e sentimentos representada por O enquanto no outro pólo está K ou seja o conhecimento dos aludidos senti mentos Assim tratase de uma via de trânsito de duas mãos pavimentada por sucessivas transformações tal como aparecem no modelo da Grade tanto na direção de K para O do conhecimento manifesto para as origens desconhecidas as quais segun do BION talvez estejam radicadas no psi quismo fetal e de O para K ou seja a partir das sensações inonimadas de protopensa mentos que caracterizam O a dupla analí tica poder vir a chegar a K 2 Em muitas traduções latinoamericanas o vínculo H inicial de hate ódio aparece grafado com a letra O inicial de ódio Objetal relação KLEIN A expressão empregada na atualidade pela maioria das correntes psicanalíticas Come çou a aparecer a partir de MKLEIN que pos tulava o fato de que existem relações ob jetais desde o nascimento FREUD descre via a introjeção de objetos totais a partir de uma identificação com o objeto perdi do como em Luto e melancolia de 1917 ou como uma resolução da confliti va edípica sob a forma de um superego Indo além MKLEIN acreditava que a origem das relações objetais interiorizadas deriva vam da capacidade inata que o bebê tem de interpretar suas sensações corporais sob a forma de objetos bons os que o gratifi O 296 DAVID E ZIMERMAN cam com sensações prazerosas ou maus os que provocam dor e sofrimento KLEIN descreveu o polimorfismo que as re lações objetais assumem na mente da crian ça baseada na sua análise com crianças que através dos brinquedos evidenciavam o quanto a criança pode num determina do momento identificarse com uma das partes do relacionamento o superego por exemplo e em outro ser acusada por esse mesmo superego que então vai impreg nar a relação objetal com culpas e medos Essa disposição maleável das identificações promove um repertório variado de identi dades atitudes papéis etc Objeto M KLEIN Talvez seja o termo mais mencionado nos textos psicanalíticos Já aparece em FREUD a sombra do objeto recai sobre o ego 1917 porém ganhou grande relevância a partir dos trabalhos de MKLEIN Por outro lado o termo também freqüenta a obra de FREUD com outros significados como por exemplo o de representaçãoobjeto e tam bém na sua teoria das pulsões onde objeto significa o alvo das cargas pulsionais Muitos analistas se insurjem contra a expres são objeto pelo fato de estar muito ligada à idéia de objeto como coisa materialIsso lhe emprestaria um valor de muita frieza para um aspecto de tanto calor como é o de uma relação humana com alguém quer vivo e do mundo exterior quer do mundo interi or por isso sugerem que o termo imago seria mais apropriado No entanto o prefixo ob é de origem latina e significa diante dos olhos ou seja desig na uma aproximação uma relação mais ín tima e pessoal com alguém que está à nos sa frente diante dos olhos embora também tenha o significado de estar diante de numa atitude de oposição M KLEIN descreveu uma variedade qualita tiva da natureza dos objetos especialmen te os introjetados sendo indispensável dis criminar os que seguem 1 Objeto bom Referese àquele que sa tisfez as sensações do bebê numa fase evo lutiva em que ele sob a égide do princípio do prazerdesprazer de forma maniqueís ta introjeta como bons os que promovem prazer e como maus os que provocam des prazer 2 Objeto externo Embora muito critica da pelo fato de que teria negligenciado a importância dos objetos externos reais e supervalorizado quase de forma absoluta os objetos internos a verdade é que nos primeiros tempos MKLEIN atribuiu grande valor à relação da criança com a mãe Nos seus últimos escritos talvez por julgar que era óbvia a importância da mãe como ob jeto externo ou porque estava fascinada por suas especulações sobre o mundo das rela ções objetais internas acompanhadas pe las respectivas fantasias inconscientes ela pouco se referia aos objetos externos Quando o fazia dava a impressão que o objeto externo era um prolongamento dos internos um produto das identificações projetivas 3 Objeto idealizado Na dissociação ou cisão ou splitting que a criança faz entre os objetos introjetados como bons e maus como uma maneira de defenderse da ima ginária perseguição que seria movida pelo mau o ego inconsciente lança mão do re curso da idealização Na prática analítica é importante que o analista consiga discrimi nar quando no curso da transferência po sitiva e no processo de identificação ele está sendo visualizado e incorporado pelo ana lisando como bom ou como idealizado 4 Objeto interno É o que está incorpo rado em alguma instância psíquica como o ego o superego ou o ideal do ego cuja internalização resulta de um continuado jogo de identificações projetivas seguidas de identificaçõess introjetivas com novas reprojeções e assim por diante VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 297 5Objeto parcial Diferentemente de FREUD que concebia os objetos como sen do introjetados como uma totalidade as concepções de MKLEIN priorizaram a rela ção e a introjeção com partes do objeto como pode ser a parte boa ou má do seio do pênis etc 6 Objeto persecutório A predominân cia dos objetos maus representa uma cons tante ameaça para o sujeito de um ataque vindo de fora caso das paranóias que ameaça os objetos bons que habitam seu mundo interior O ataque imaginado tam bém pode partir dos objetos maus intro jetados que ameaçam o próprio self do sujeito 7 Objeto total Segundo M KLEIN na po sição esquizoparanóide predominam os objetos parciais com características perse cutórias Porém o objeto total é uma con quista adquirida numa exitosa passagem para a posição depressiva onde a crianci nha ou o sujeito adulto na situação analíti ca vai conseguir integrar numa única pes soa mãe ou analista os aspectos que es tavam ambivalentemente dissociados em duas ou mais mães boas e más idealiza das ou persecutórias Objeto a ou pequeno a LACAN LACAN introduziu esse termo em 1960 para designar o objeto desejado pelo sujeito virtualmente sempre a mãe que se fur ta a lhe pertencer totalmente de modo que esse objeto tal como é desejado no plano imaginário não existe no mundo da realidade Como decorrência esse objeto não é re presentável como tal e só pode ser identifi cado sob a forma de fragmentos parciais do corpo que Lacan reduz a quatro o seio como objeto de sucção as fezes como objeto de excreção a voz e o olhar como objetos do próprio desejo Ver o verbete pequeno outro Objeto bizarro BION BION nas décadas 40 e 50 quando se de dicou de modo especial respectivamente ao estudo das psicoses e dos distúrbios da capacidade para pensar descreveu o que denominou como bizarros os objetos par ciais submetidos a tantas clivagens que fica ram reduzidos a partículas quer dizer parte zinhas minúsculas seguidas de maciças iden tificações projetivas Essas identificações não encontraram um continente materno adequa do que as acolhesse e transformasse de sorte que os fragmentos dissociados ficam flutuan do em torno do sujeito ameaçandoo no caso das paranóias de diversas formas vindas de lugar incerto e de modo imprevisível Segundo BION os objetos bizarros cujo nome deve ser creditado à imprevisibilida de desses objetos que escapam do controle consciente do sujeito podem ficar alojados em objetos materiais do mundo exterior de forma a emprestarlhes características da natureza humana BION exemplifica com a situação de um paciente psicótico que ima ginou que o gramofone que havia na sala de trabalho fosse um pavilhão auditivo que estaria escutando toda conversa deles Objeto psicanalítico BION Esse termo cunhado por BION não tem o mesmo significado que conhecemos da teo ria das relações objetais Antes alude a uma atitude a um estado mental que leva em conta uma série de fatores ligados ao cres cimento mental O objeto psicanalítico está mais associado ao que no campo da situa ção analítica não é capturado pelos órgãos sensoriais é de natureza intuitiva e empáti ca e aponta numa direção de progressão ou regressão de ser e de vir a ser Podese dizer portanto que essa concep ção também se refere às associações e in terpretações com uma extensão no domí nio dos sentidos do mito e da paixão 298 DAVID E ZIMERMAN Como o objeto psicanalítico traduz uma in tersecção de elementos psicanalíticos pro vindos concomitantemente do analisando e do analista parece que BION criou sua Gra de como tentativa de categorizar concreta mente a abstração do objeto psicanalítico Objeto transformacional CBOLLAS Partindo da concepção de WINNICOTT relati va à mãe ambiental ou seja a mãe real que para o infante representa o ambiente exterior em sua totalidade BOLLAS cunhou a expressão objeto transformacional para designar o fato de que a mãe somandose às transformações naturais próprias das capacidades emergentes do ego da criança principalmente as motoras e a da lingua gem também transforma constantemen te o meio do infante para satisfazer as ne cessidades dele BOLLAS em A sombra do objeto 1992 descreve que existe uma busca coletiva e de grande amplidão de um objeto identifi cado com a metamorfose do self Segun do ele isso se manifesta em muitas crenças religiosas em estruturas míticas como nas seitas fanáticas na esperança investida em vários objetos e circunstâncias um novo trabalho uma mudança para outro país umas férias uma troca de relacionamento Também se manifesta no mundo da propa ganda que vive desse tipo de objeto já que o produto anunciado promete geralmen te alterar o meio externo do sujeito e con seqüentemente transformar o seu humor interno Objeto transicional WINNICOTT WINNICOTT incluiu sua concepção de objeto transicional nos seus originais estudos rela tivos aos fenômenos transicionais e ao do espaço transicional ver esses verbetes Mais especificamente o objeto que está re presentando uma transição entre o mundo do imaginário e o da realidade comumente consiste num bico travesseiro ursinho de pano algum brinquedo e ocupa um lugar e uma função no espaço transicional ou espaço de ilusão Sobretudo caracteriza se pelo fato de que deve ser de posse ex clusiva da criança ser amado conservado por um longo período de tempo e sobrevi ver aos ataques mutilatórios que a criança lhe inflige O objeto transicional representa um mo mento evolutivo estruturante Porém segun do WINNICOTT esse tipo de objeto é suscetí vel de uma evolução patológica que ele exemplifica com os quadros de adições roubos e fetichismo quando no lugar de ser transitório como é a característica es sencial do objeto transicional ele se torna de uso definitivo e permanente Obra completa de Freud com comen tários e notas de JSTRACHEY A edição original alemã que coligiu a maio ria dos trabalhos de FREUD publicada du rante sua vida era titulada Gesammelte Schriften Após sua morte apareceu outra edição Gesammelte Werke a única edi ção alemã quase completa com pratica mente todos trabalhos Em 1966 baseado nessa última publicação alemã JAMES STRA CHEY com o auxílio de AFREUD de sua es posa ALIX e outros colaboradores deu a lume à edição inglesa The Complete Psychological Works of Sigmund Freud Standard Edition No prefácio STRACHEY esclarece que o maior pecado da edição alemã foi o de não ter feito as correções e acréscimos que FREUD adicionou a muitos dos artigos originais Igualmente diz que não incluiu nessa cole ção os trabalhos que precederam a abor dagem de temas propriamente psicológicos Também não conseguiu publicar toda a lon ga correspondência de FREUD especialmen te as importantes cartas a FLIESS Entre op VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 299 tar por um critério de seguir a ordem de publicação por temas específicos ou de privilegiar a ordem cronológica STRACHEY diz que ficou num meio termo A Editora Imago traduziu e publicou a pri meira edição brasileira em 1977 com o nome de Edição Standard Brasileira das Obras Com pletas de Sigmund Freud A mesma consta de 24 volumes sendo cada trabalho em qual quer volume precedido por notas introdutó rias de J STRACHEY meticulosas e sintéticas Comentário Para facilitar uma consulta rápida e sintética dos trabalhos que cons tam nos 24 volumes da Edição Standard o leitor pode se valer do livro Sinopses da Standard Edition da Obra Psicológica Com pleta de Sigmund Freud 1979 As referências dos verbetes deste Vocabu lário quanto à localização no volume e pá gina inicial de alguns dos mais importantes trabalhos de FREUD sempre são relativas à edição brasileira Obras completas de Melanie Klein Tendo como editor original ROGER MONEY KYRLE em colaboração com BETTY JOSEPH EDNA OSHAUGHNESSY e HANNA SEGAL a ins tituição The Melanie Klein Trust reuniu to dos os trabalhos de MKLEIN e os publicou em 1975 A editora brasileira Imago proce deu à tradução para o português e fez a publicação em quatro volumes O volume I reúne os trabalhos que MKLEIN publicara entre 1921 e 1945 dentre os quais se destaca Amor Culpa e Reparação 1937 cuja leitura permite ao leitor perce ber a evolução das idéias e do trabalho dela Além deste trabalho constam mais outros 20 artigos a maioria dos quais já tinham sido publicados originalmente em Contri buições à Psicanálise Os progressos da Psi canálise e Novos Rumos da Psicanálise O volume II consta da Psicanálise de Crian ças 1932 trabalho fundamental na obra completa de M KLEIN O volume III contém todos seus últimos tra balhos a partir de 1946 com exceção de Narrativa da Análise de Uma Criança que é publicado separadamente como vo lume IV até 1963 Este terceiro volume abar ca 16 capítulos e dentre eles alguns que se destacam Notas sobre alguns mecanismos esquizóides 1946 Sobre a teoria da ansiedade e culpa 1948 As origens da transferência 1952 Sobre a identifica ção 1955 Sobre o sentimento de soli dão 1963 e sobretudo o clássico Inve ja e gratidão 1957 O volume IV é dedicado exclusivamente ao texto de Narrativa da Análise de Uma Criança 1961 no qual MKLEIN descreve minuciosamente a análise com o menino Richard Na edição brasileira antecedendo cada ar tigo há notas explicativas destinadas a in dicar a posição de cada tema principal na evolução do pensamento de MKLEIN São úteis para orientar o leitor sobre a finalida de de cada trabalho indicando inclusive as alterações que a autora introduziu em al guns textos possibilitando assim uma visão evolutiva das implicações dessas alterações conceituais no sistema de pensamento klei niano Também consta uma introdução a dois prefácios escritos por EJONES para edi ções anteriores que foram preservados por seu interesse histórico Obras completas de Sándor Ferenczi FERENCZI considerado um dos pioneiros da psicanálise talvez seu mais brilhante clíni co é autor de um volumoso número de tra balhos Sua obra não obstante ainda pou co conhecida vem merecendo nos últimos anos uma crescente valorização principal mente pelo fato de que muitos conceitos e posições originais estão encontrando eco na psicanálise contemporânea que privilegia o campo analítico e os vínculos que unem a dupla analítica 300 DAVID E ZIMERMAN A Editora Martins Fontes de São Paulo baseada na edição francesa publicou em 1991 traduzidas para o português as Obras Completas de Sándor Ferenczi em quatro volumes O volume I consta de 25 trabalhos que fo ram escritos entre 1908 e 1912 abrangen do alguns clássicos da literatura psicanalíti ca como Transferência e introjeção Pa lavras obscenas O papel da homossexu alidade na patogenia da paranóia Sin tomas transitórios O volume II abrange os textos de 1913 a 1919 Esse período foi o das controvérsias entre FREUD e JUNG assim como também o da I Grande Guerra e o da sua curta análi se com FREUD Esse segundo volume é com posto por 83 textos entre os quais estão algumas de suas mais importantes contri buições como O desenvolvimento do sen tido da realidade e seus estágios Um pequeno HomemGalo Sintomas transi tórios no decorrer de uma análise e A téc nica psicanalítica O volume III engloba os artigos escritos entre 1919 e 1926 período que corresponde a uma das experiências técnicas mais contro vertidas de FERENCZI qual seja a chamada técnica ativa Este tomo alcança 51 artigos e inclui também o famoso trabalho Thala sas ver esse verbete que consiste num ensaio sobre a teoria da genitalidade Essa teoria foi considerada por FREUD como o mais brilhante e o mais profundo pensa mento de FERENCZI e que lhe serviu de ins piração para trabalhos posteriores O volume IV reúne cerca de 21 textos e abrange os artigos escritos por volta de 1927 até a morte de FERENCZI em 1933 Nesse tomo o primeiro artigo A adaptação da família à criança marca uma mudança radical no estilo das publicações de FEREN CZI que passa a abordar temas técnicos como ocorre também no importante traba lho Elasticidade da técnica psicanalítica assim abrindo as perspectivas para a futura evolução da psicanálise Igualmente nesse quarto volume aparece seu conhecido e muito citado trabalho Confusão de língua entre os adultos e a criança Observação da relação mãebebê ORMB ESTHER BICK FREUD construiu seu edifício psicanalítico do inconsciente a partir da observação de paci entes adultos através de uma comunicação verbal simbólica com eles partindo daí para as conjecturas acerca do passado deles Coincidindo com os trabalhos de MKLEIN baseados nas análises com crianças a par tir de dois anos e meio que ela também fazia retroagir para os primeiros meses de vida alguns analistas decidiram observar be bês desde recémnatos para ver se as con cepções de MKLEIN acerca das fantasias pre coces dos bebês se confirmavam ou não A primeira psicanalista a dedicarse à ob servação direta de bebês interagindo com as suas respectivas mães foi ESTHER BICK Conjeturam alguns autores que talvez ela tenha sido motivada pela circunstância de ter perdido toda sua família e amigos nos campos de concentração nazistas Mudan dose para Londres para fugir desse horror estaria buscando uma relação viva de um bebê evoluindo numa família para contra por às suas terríveis vivências de morte e de famílias dissolvidas EBICK iniciou esse trabalho em 1948 como um exercício de formação para estudantes de psicoterapia e psicanálise de crianças fazendo observações sistemáticas dos be bês com suas mães na casa delas numa visita semanal durante um ano inteiro As observações de BICK confirmaram as idéias de M KLEIN porém ela acrescentou o fenô meno de certas crianças buscarem o que de nominou como segunda pele ou seja um contato epidérmico com a mãe como forma de continente tal como acontece manifesta mente nos casos de identificação adesiva VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 301 Esse método de observação direta e de ensino psicanalítico provocou fortes polê micas na Sociedade Britânica de Psicanáli se Os opositores argumentavam que o bebê não consegue simbolizar verbalmente e a simbolização por brinquedos seria muito discutível porque já atinge uma idade su perior à de bebê que só sente as coisas re lacionadas ao seu corpo de prazer ou des prazer A partir de um melhor entendimento do fenômeno da identificação projetiva normal funcionando como uma primitiva forma de comunicação concepção que a psicanáli se deve em grande parte a BION os analis tas começaram a acreditar nas formas que o bebê tinha de se comunicar como o choro movimentos reações físicas etc o que passou gradualmente a conferir uma credibilidade a esse método de pes quisa e ensino Na atualidade um grande número de insti tutos formadores de psicanalistas recomen da o método de ensino da Observação da relação mãebebê ORMB destacando os seguintes aspectos favoráveis 1 Mais do que observar o bebê isolada mente o importante é o que se passa no vínculo interacional entre a dupla mãebebê nos seus múltiplos níveis 2 Há uma valorização especial da obser vação de como se processam as recíprocas identificações projetivas e introjetivas e a correlata função de continente 3 Todos analistas se referem constantemen te à parte bebê ou infantil de seu paciente sem muitos terem tido uma experiência mais forte de como essa de fato é 4 Há uma vantagem que ao mesmo tem po pode representar um risco para o candi dato inexperiente o fato de não poder in terpretar e se envolver porquanto tem o dever de conter suas ansiedades em rela ção ao que está observando 5 A observação direta de bebês possibilita de alguma forma esclarecer a contratrans ferência do observador e assim ele cresce como analista no sentido de enfrentar as transferências difíceis que vão surgir no seu trabalho analítico Existem muitas variantes em relação ao método de observação de bebês Os norte americanos preferem fazer pesquisas mais diretas observandoos durante horas segui das numa situação que não é a do lar fa zendo apontamentos de observações de aspectos particularizados gravando e fil mando levantando estatísticas etc mui tas vezes distanciandose do padrão psica nalítico Algumas sociedades impõem para os can didatos do primeiro ano esse método de aprendizagem analítica preconizado por E BICK tal como está descrito em Notas so bre observação de lactantes 1964 ou tras utilizamno como teste de seleção para aceitação de aspirantes a candidatos en quanto outras ainda estão debatendo o as sunto A tendência atual é de fazer a obser vação de bebês se possível interagindo não só com a mãe mas com a família o pai incluído Recomendação bibliográfica Além dos textos que estão explicitados nesse verbe te o leitor pode ter uma visão completa do método no livro organizado pela psicana lista Nara Caron recentemente lançado intitulado Relação paisbebê A observação pode abranger múltiplos enfoques como por exemplo o acompanhamento da rela ção da mãe com o bebê desde a vida intra uterina por meio de estudos ecográficos e de outros modernos recursos tecnológicos com a colaboração de obstetras Obsessivacompulsiva neurose No DSMIV essa entidade clínica está en quadrada como transtorno obsessivocom pulsivo TOC Como acontece em outras estruturações da personalidade também a de natureza obsessiva diz respeito à forma 302 DAVID E ZIMERMAN e ao grau de como se organizam os meca nismos defensivos do ego diante das fortes ansiedades subjacentes Assim é útil dis tinguir quando se trata da presença de tra ços obsessivos em uma pessoa normal ou quando há traços acompanhantes de uma neurose mista psicose perversão etc de caráter marcadamente obsessivo ou quan do se trata de uma neurose obsessivocom pulsiva No último caso estará presente um grau de sofrimento que o sujeito inflige a si mesmo e aos demais e também algum prejuízo no seu funcionamento na vida familiar e so cial Em certos casos os sintomas compos tos por dúvidas ruminativas pensamentos cavilatórios controle onipotente frugalida de obstinação rituais e cerimoniais atos que compulsiva e repetidamente são feitos e desfeitos num nunca acabar podem atingir um alto grau de incapacitação total do sujeito para uma vida livre configurando uma gra víssima neurose beirando à psicose Vale lembrar que o termo obsessão refere se aos pensamentos que como corpos es tranhos infiltramse na mente e atormen tam o sujeito Por sua vez o termo compul são designa os atos motores que esse tipo de neurótico executa como forma de con traarrestar a pressão dos referidos pensa mentos Também é útil esclarecer que o diagnóstico de obsessivo não define uma forma única de caractereologia porquanto ela pode manifestarse de formas opostas Tanto são obsessivos aqueles nos quais predomina uma tendência à passividade e que tomam inúmeros cuidados antes de qualquer inici ativa e deixamse subjugar como também são obsessivos aqueles nos quais prevalece uma atividade agressiva que se tornam lí deres com um perfil de mandonismo into lerância a erros falhas ou limitações dos outros assim adotando uma postura des pótica e tirânica ainda que sejam pessoas sérias bem sucedidas e bem intencionadas FREUD fez as primeiras descrições psicanalí ticas sobre essas neuroses numa seqüência com sucessivas modificações de vários tra balhos como As psiconeuroses de defe sa 1894 Obsessões e fobias 1895 Novos comentários sobre as psiconeuro ses de defesa 1896 Atos obsessivos e práticas religiosas 1907 no qual ele for mula a famosa sentença de que a religião é uma neurose obsessiva universal enquan to a neurose obsessiva é uma religião parti cular Caráter e erotismo anal 1908 Notas sobre um caso de neurose obsessi va mais conhecido como o caso do Ho mem dos ratos 1909 Totem e Tabu 1912 A disposição à neurose obsessiva 1913 O sentido dos sintomas que constitui o capítulo 17 de Conferências introdutórias à psicanálise 1916 Da história de uma neurose infantil mais conhecido como o famoso caso do Ho mem dos lobos 1918 Inibições sinto mas e angústia 1926 Muitos outros autores contemporâneos e posteriores a FREUD partindo de vértices distintos fizeram aprofundados estudos acerca das neuroses obsessivocompulsivas O termo obsessivo deriva dos étimos lati nos ob contra a despeito de stinere uma posição própria tal como aparece em des tino Basta isso para definir o quanto existe de ambigüidade e de ambivalência no su jeito obsessivo resultante do fato de que por um lado ele sente seu ego submetido a um superego tirânico é obrigado a fazer a pensar ou omitir sob a pena de ao mes mo tempo em que quer tomar uma posi ção contra esse superego e dar vazão ao id Os mecanismos defensivos mais utilizados pelo ego para poder sobreviver à carga das ameaças punitivas são as de anula ção isolamento formações reativas ra cionalização e intelectualização As duas últimas são especialmente utilizadas pelo paciente na situação analítica a serviço de suas resistências VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 303 Comentário Na prática analítica o maior cuidado que o analista deve ter consiste na possibilidade de se equivocar pela colabo ração manifestamente irretocável desse paciente que costuma ser obsessivamente correto assíduo pontual além de associar livremente ser bom pagador ter boa apre sentação e uma vida profissional geralmente bem resolvida Porém existe a possibilida de de que este analisando mais esteja cum prindo a tarefa de ser um bom paciente do que propriamente alguém disposto a fazer mudanças verdadeiras Nesse caso não basta que as interpretações do analista estejam corretas é necessário observar o destino que elas tomam na men te do obsessivo se elas lá germinam ou se ficam desvitalizadas Um bom recurso téc nico é o de por vezes fazer um confronto para o paciente entre o que ele diz pensa sente e de fato faz Oceânico sentimento FREUD Seguidamente FREUD empregava a expres são sentimento oceânico ou estado de nir vana ou sentimento de universalidade para designar o que preferentemente definia como ego do prazer puro Ver o verbete Ego tipos de formação do FREUD correlaci ona esse sentimento com o restabelecimento do narcisismo primário a fantasia originá ria ou mito de retorno ao ventre materno como forma de abolir toda separação O êxtase religioso o exagerado patriotismo o fanatismo em geral a paixão desmedida e outros sentimentos similares se caracteri zam pela participação do ego em expectati vas inalcançavelmente elevadas A nostalgia do sentimento oceânico do narcisismo primá rio pode ser denominada necessidade narci sística que também se caracteriza pelo desa parecimento das fronteiras do próprio ego Essa situação é facilmente perceptível em muitos vínculos amorosos cuja caracterís tica mais marcante é que pelo menos um dos dois do casal desloca o centro de gravi dade do seu próprio ego e o desloca para o outro Segundo FREUD nesses casos as coi sas se passam assim na mente de pelo menos um deles Eu não sou ninguém o meu partenaire é o tudo e ainda mais Eu volto a ser tudo ao me ser permitido parti cipar da grandeza do partenaire Em Psicologia de grupo e a análise do ego 1921 FREUD alerta que o estado de ena moramento exagerado representa um gru po de dois porém existe uma transição gradual entre o estado de apaixonamento e a perversão de submissão extrema Pode se acrescentar que nesse último caso além de uma extrema idealização do outro sob o alto preço de um intenso esvaziamento do si mesmo também é regra o tipo de re lacionamneto vincular do casal adquirir uma configuração sádicomasoquista Ocnofilia M BALINT Cunhado por BALINT esse termo designa a ten dência do ser humano de se ligar e se unir aos objetos primários mãe num tipo de liga ção tão forte de natureza fusional que pos teriormente vai gerar os estados fóbicos por medo do enclausuramento dentro do outro Ver o verbete Balint Ódio BION E WINNICOTT Termo bastante freqüente nos textos psica nalíticos De modo geral é descrito como derivado da pulsão de morte e como si nônimo dela Dois autores estudam espe cificamente o sentimento de ódio BION e WINNICOTT BION descreve o ódio H como um dos vín culos juntamente com os outros dois o do amor L e o do conhecimento K Ele es tuda mais particularmente o ódio como for ma de emoção intimamente ligada em al gum grau com as outras duas e centraliza seu interesse no jogo dialético das emoções 304 DAVID E ZIMERMAN versus as antiemoções Assim o ódio é bas tante enfocado sob o vértice de um ódio à tomada de conhecimento de verdades ina ceitáveis pelo sujeito Ao mesmo tempo BION esclarece que o estado de menos ódio H não deve ser entendido como a mes ma coisa que amor Para um melhor escla recimento consultar o verbete Vínculos WINNICOTT dedicou um estudo aprofunda do aos conceitos psicanalíticos que devem ser entendidos na palavra ódio que na sua obra estão particularmente descritos em O ódio na contratransferência 1944 Os seguintes aspectos constituem a essência de suas concepções acerca do ódio 1 Ele jamais reconheceu a teoria de MKLEIN segundo a qual o ódio do bebê é entendi do como inato e como manifestação da in veja primária logo da pulsão de morte 2 Juntamente com o desenvolvimento da capacidade para amar o bebê também deve desenvolver uma capacidade para odiar tendo em vista que essa ambivalên cia é inevitável e que o bebê pode vir a fazer um bom uso da agressividade arma zenada 3 WINNICOTT compara o direito da mãe sen tir momentos de ódio como resposta à crueldade do bebê com o mesmo direito de um analista de ter sentimentos contra transferenciais de ódio notadamente os despertados por pacientes psicóticos que utilizam maciças identificações projetivas de aspectos muito difíceis de serem contidos juntamente com muitos actings alguns de graves riscos Por essa razão WINNICOTT en fatiza a necessidade de o analista que tratar pacientes de estrutura psicótica estar muito bem analisado para conseguir conter es ses difíceis sentimentos ao mesmo tempo em que deve conhecer muito bem os seus limites e limitações Comentário É especialmente importante que os pais e educadores em geral tenham a capacidade de não temer promover as frustrações inevitáveis e necessárias que le vam às manifestações de ódio da criança contra eles Os pais excessivamente dispo níveis que tentam encobrir toda sensação de falta que o filho manifeste e que além disso sufocam o ódio necessário e a ambi valência que acompanham o processo de desligamento dos objetos através de um subministro exagerado de provisão e pro teção abolem os limites espaciais entre o si mesmo da criança e o objeto amado assim gerando relações objetais aditivas Olhar O olhar desde a Antigüidade tem sido can tado em prosa e verso das mais distintas formas e abordagens por poetas filósofos cientistas etc A mitologia e a Bíblia mos tram a freqüência com que o ato de olhar foi significado de forma persecutória como aparece nos exemplos que seguem As filhas e a mulher de Lot foram transfor madas em estátuas de sal por terem deso bedecido à proibição de Deus de não mi rar os pecados de Sodoma e Gomorra Narciso perdeuse no olhar especular des lumbrado de si próprio Édipo cegouse como castigo pelo crime edípico Orfeu voltou a cabeça para olhar a sombra da formosa Eurídice e perdeua para sempre O herói Perseu defendeuse da Medusa uma das três Górgonas cuja cabeça mes mo arrancada conservava o poder de pe trificar a quem a olhasse forçandoa a mi rarse Outros mitos além de folclóricas crendices populares poderiam constar aqui de forma abundante Do ponto de vista psicanalítico FREUD es creveu Perturbações psicogênicas da visão 1910 e ABRAHAM complementou esse tra balho com outro que intitulou Modifica ções e perturbação da pulsão visual nos neuróticos 1913 ambos muito ricos mas não cabe aqui comentálos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 305 WINNICOTT provavelmente é o autor que mais ênfase dedicou à importância do olhar desde a incipiente relação mãebebê enfo cando a natureza da recíproca troca de olha res entre os dois Aliás esse aspecto é con firmado por GREEN um estudioso de WIN NICOTT que afirma Sabemos que o bebê que se alimenta no seio enquanto mama olha não para o peito ou mamadeira mas para o rosto da mãe 1976 Voltando a WINNICOTT vale mencionar que ele também considerou o olhar funcionan do como espelho tal como descreve em O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil 1971 Nes se artigo aparece esta bela frase o pri meiro espelho da criatura humana é a face da mãe o seu sorriso o seu tom de voz o seu olhar A essa seguiuse essa ou tra frase como se a criança estivesse re fletindo olho e sou visto logo existo WINNICOTT também destaca que para a criança ocultarse é um prazer mas não ser encontrado é uma tragédia e que não há experiência mais penosa e terrí vel do que a de ver e não ser visto de não ser refletido no espelho do olhar da mãe porque este é embaçado distorcio nador opaco ou pior que tudo simples mente nada responde ao filho Em sínte se para WINNICOTT a criança olha a ma neira de como a mãe a olha Outros autores também valorizaram sobre modo esse olhar reconhecedor da mãe e o vínculo que viceversa se estabelece con comitantemente com o olhar da criança para ela BION compara essa troca recíproca de olha res com o vínculo que sucede na relação bocaseio ambas as situações encerrando fantasias e ansiedades análogas Comentário Tendo em vista o consenso analítico em torno da importância do olhar da mãe podendo ser estruturante ou de sestruturante no psiquismo da criança creio ser cabível parafraseando MKLEIN acerca de sua concepção de seio bom e seio mau propor uma terminologia equivalente de olhar bom e olhar mau da mãe Onipotência e onisciência FERENCZI M KLEIN BION MKLEIN foi a autora que mais consistente mente usava o termo onipotência para des crever as primitivas defesas do ego arcaico do bebê num período evolutivo em que ele imagina ter um controle onipotente so bre o seio da mãe Sem usar diretamente de forma seguida a palavra onipotência FREUD deixou clara essa noção quando se refere ao princípio do ego do prazer puro ao princípio da constância também conhe cido como princípio de nirvana ou ainda quando por exemplo em Sobre o narci sismo uma introdução 1914 usa a ex pressão Sua Majestade o Bebê Também FERENCZI no seu clássico Estádi os no desenvolvimento do sentido da reali dade assinala as fases em que a criança usa um pensamento mágico e onipotente Igualmente a maioria dos autores que tra balharam com psicóticos ou estudaram o desenvolvimento emocional primitivo de uma forma ou outra também enfocam a onipotência BION no entanto deu um enfoque original ao conceito de onipotência ligandoo dire tamente a outros fenômenos como o da identificação projetiva excessiva tanto na quantidade como também excessiva na qualidade onipotente assinalando o quan to a onipotência é característica típica da parte psicótica da personalidade e ele a li gou diretamente com a formação e utiliza ção da capacidade para pensar Assim diz BION o paciente com caraterísti cas psicóticas troca a utilização da capaci dade para pensar os problemas o que se ria penoso por uma forma mágica o que lhe dá uma ilusória sensação de bemestar de resolvêlos através da onipotência Ali 306 DAVID E ZIMERMAN ás isso está de acordo com a etimologia dessa palavra Oni deriva do étimo latino omni tudo Onipotência portanto signifi ca poder tudo ou seja se o sujeito imagina ter a potência o poder sobre tudo para que pensar BION igualmente enfatizou que a parte psi cótica da personalidade substitui uma ne cessária capacidade para aprender com as experiências por uma ilusão mágica que sabe ciência tudo omni Logo não tem o que aprender e está convicto de que sen do onisciente os outros é que devem apren der com ele Oral fase FREUD ABRAHAM A primeira etapa da organização da libido foi denominada fase oral Oral procede do latim os que significa boca a qual consti tuise como zona erógena por excelência como é no ato da amamentação A finali dade da libido oral além da gratificação pulsional também visa à incorporação que por sua vez está a serviço do fenômeno da identificação Deve ficar claro no entanto que a boca não é o único órgão importante dessa fase evo lutiva mas é um modelo de incorporação e de expulsão ou seja como um protótipo que intermedeia o mundo interno com o externo Também devem ser consideradas nessa fase oral outras zonas corporais que cumprem a mesma função como o com plexo sistema respiratóriodigestivo sobre tudo o trato gastrintestinal os órgãos da fonação e da linguagem as sensações ci nestésicas relativas ao equilíbrio corporal as enteroceptivas que provêm de órgãos internos e as proprioceptivas derivam das camadas profundas da pele A pele tem um importante papel na fase oral porque além das sensações profundas também propicia a sensação de tato e a essencial aproximação pelepele com a mãe Além disso todos os demais órgãos sensoriais como olfato paladar audição e visão ocu pam uma função relevante na fase oral A fase oral do desenvolvimento de um modo geral alude ao primeiro ano de vida ABRAHAM 1924 trouxe uma importante contribuição à compreensão dessa forma evolutiva ao distinguir duas subetapas den tro da fase oral a fase oral passivorecepti va e a fase oral ativoincorporativa Preceden do a MKLEIN destacou a importância da últi ma pela possibilidade de vir carregada de pulsões agressivas dirigidas contra a mãe É útil acrescentar que ao longo da obra de FREUD aparecem postulações fundamentais hoje clássicas que acontecem no curso da fase oral com são uma especial valoriza ção do corpo o ego antes de tudo é cor poral a identificação primária com a mãe a concepção da bissexualidade como qua lidade primordial da herança biológica a vigência do princípio prazerdesprazer o predomínio do processo primário do pen samento a primitiva formação de represen taçãocoisa as incipientes formas de lingua gem e comunicação dentre outros conceitos Organização da libido FREUD Com essa denominação FREUD conceituou as formas de como se definem as fases da evolução psicossexual infantil levando em conta as zonas erógenas e o modo específi co de como as pulsões se relacionam com os objetos Assim FREUD transitou desde o autoerotismo até a heterossexualidade passando pelo narcisismo e pela escolha de objeto homossexual Na sucessão das fases e zonas erógenas inicialmente descreveu a organização anal em À disposição à neurose obsessiva 1913 A organização oral foi descrita so mente dois anos após na edição de 1915 de Três ensaios sobre a teoria da sexuali dade A fase fálica somente apareceu em A organização genital infantil 1923 FREUD afirmou posteriormente que a ple VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 307 na organização só será atingida na puber dade numa quarta fase a fase genital Organização patológica JOHN STEINER A denominação organização patológica é de JSTEINER 1981 que em diversos tra balhos destacou a existência de uma orga nização perversa entre as instâncias psíqui cas agindo dentro do sujeito como por exemplo o superego conluiado com o ego ou o superego faz um perverso acerto de acomodação Embora a essência dessa organização pato lógica já tenha sido descrita por ROSENFELD 1971 com o nome de gangue narcisista ver esse verbete a contribuição de STEINER en tre outros aspectos ganha especial impor tância na prática clínica porque o analisan do no lugar de colocarse como vítima pas siva de uma organização mafiosa terá de reconhecer sua participação ativa no pro cesso de boicote a seu crescimento na vida Em resumo esse tipo de organização pato lógica que aparece mais nitidamente nos pacientes difíceis foi considerado por RO SENFELD diretamente ligado ao que chama va de narcisismo negativo com a respecti va idealização das partes más do self enquanto STEINER tirou essa organização da clássica clivagem entre objetos bons e maus e enfatizou um interiorizado conluio perver so entre ambos Organizadores SPITZ R SPITZ ao estudar os fatores constitucio nais da maturação e do desenvolvimento da criança tomou esse termo emprestado da embriologia na qual a palavra organi zador designa o fato de que determinado grupo de células diferenciase de outras por serem portadoras de uma informação ge nética que induzirá um desenvolvimento es pecífico Isso ocorre a partir de certo mo mento da evolução o modelo clássico con siste no transplante no olho de células epi dérmicas que a partir de certa idade da rão origem às células diferenciadas para a função de olhar Utilizando esse modelo SPITZ postulou a teoria de que o desenvolvimento da crian ça passa por três organizadores que fun cionam como pontos nodais das transfor mações que são o sorriso espontâneo por volta do terceiro mês a angústia do oitavo mês e a capacidade de dizer não em tor no do segundo ano Orgasmo do ego WINNICOTT Ao descrever a aquisição por parte da crian ça da capacidade de estar só WINNICOTT afirma que É somente quando só que a criança pode descobrir a sua vida própria é capaz de fazer o equivalente ao que no adulto chamamos de relaxar ad quirir a capacidade de se tornar não inte grada de devanear de ter uma experiên cia que é sentida como real Baseado nisso WINNICOTT utiliza a expres são orgasmo do ego ao afirmar que na pessoa normal uma experiência altamente satisfatória como essa pode ser conseguida em um concerto ou num teatro ou em uma amizade ou no brincar o que pode mere cer um termo tal como o orgasmo do ego Orgonoterapia W REICH Em 1936 REICH afastouse definitivamente da análise à qual emprestara o então ino vador e importantíssimo conceito de cou raça caractereológica e dedicouse a um novo método que inventou a orgonotera pia pela qual ligava o tratamento pela pa lavra à intervenção do corpo através de substâncias consideradas como partículas de energia vital que ele chamava de orgo nes ou bions REICH considerava que a neurose seria con seqüência de uma rigidez ou retração do 308 DAVID E ZIMERMAN organismo a qual era necessário tratar por exercícios de descontração muscular a fim de fazer surgir o reflexo orgástico À medida que REICH mais ia ficando fasci nado e se aprofundando nas suas teorias físicobiológicas mais a comunidade psica nalítica foi rotulandoo de psicótico Seu método de orgonoterapia não encontrou ressonância no meio psicanalítico e hoje está totalmente esquecido Originário processo PIERA AULAGNIER P AULAGNIER postulou a existência de uma ca tegoria ainda anterior ao do processo primá rio que ela chama de processo originário Para a autora a atividade psíquica é regida por três modos de funcionamento ou processo de metabolização o processo originário o processo primário e o processo secundário Cada um desses processos tem uma forma específica de inscrever suas representações o processo originário inscreverá as repre sentações sob a forma de pictogramas o processo primário utilizará as fantasias para essa inscrição enquanto o processo secun dário possibilita as representações sob a forma de idéias O processo originário tem como ponto de partida o encontro entre a boca e o seio que AULAGNIER considera o momento inau gural da atividade psíquica A boca e o seio constituiriam uma unidade indissociada que forma uma zona sensorial que ela chama de imagem do objetosoma complementá ria Essa imagem organiza o pictograma Uma das características do processo origi nário é o que ela chama de autoengendra mento o qual designa o fato de o psiquis mo do bebê não registrar que o estímulo que gerou a representação tenha provindo do mundo externo mas sim que foi ele que as engendrou AULAGNIER destaca que o processo originá rio o primário e o secundário não estão todos presentes desde o início mas sim que eles se sucedem temporalmente a se guir se superpõem e coexistem durante toda a vida Todos esses conceitos adquirem importân cia para o entendimento e manejo dos pro cessos psicóticos Outro e outro LACAN LACAN cunhou uma terminologia específi ca grafada de duas maneiras Outrooutro cada uma com um significado específico sempre ligado ao lugar e à função daque les em relação aos quais é formulado o desejo da criança Assim ele emprega a palavra outro vem do francês autre com a minúsculo a qual chama de pequeno outro que alude mais diretamente à alte ridade ou seja a relação do sujeito com seu meio com seu desejo e com os obje tos mãe pai irmãos através dos meca nismos de identificação imaginária com esses outros Dessa forma uma mãe definida por LACAN como pequeno outro inalcançável em ra zão do tipo de desejo da criança que im plica um risco de incesto fica assim repre sentada no registro do imaginário Um pai por exemplo pode ser representado no re gistro imaginário de diversas formas como pai complacente ameaçador ou feito à ima gem e semelhança dele filho Em oposição a isso Lacan descreve o gran de Outro para designar um lugar simbólico que tanto pode ser um significante a lei o nome a linguagem o inconsciente ou ain da Deus que determina o sujeito tanto inter como intrasubjetivamente em sua relação com o desejo O grande Outro quando evocado pela criança impede que se perpetue a ligação diádica com a mãe e estabelecendo os li mites e as diferenças entre as gerações do filho e a dos pais P Paciência BION A psicanálise contemporânea valoriza sobre modo o que BION denomina condições ne cessárias mínimas do analista Ter paciên cia com seu paciente consigo mesmo e com a evolução da análise ganha uma alta rele vância Deve ficar esclarecido no entanto que a conceituação do termo paciência do ponto de vista psicanalítico não deve ser confundida com um estado de resignação e muito menos de uma espera passiva e conformada Pelo contrário a paciência consiste numa atitude psicanalítica interna do analista per tinente à sua função de capacidade negati va ver esse verbete a ser desenvolvida no analisando no sentido de poder conter dúvidas angústias e sobretudo respeitar o ritmo do paciente Em síntese o termo paciência sugere signi ficados de sofrimento e de tolerância à frus tração especialmente em relação à dimen são do tempo condições inerentes à capa cidade de pensar FREUD ao descrever o caso Dora 1905 p14 menciona a seguinte expressão do poeta Goethe Nem só a Arte e a Ciência servem no trabalho deve ser mostrada a Paciência Essa frase é plenamente válida para a situação analítica especialmente se for levada em conta a composição etimoló gica dessa palavra Paciência deriva do étimo grego pathos sofrimento o que mostra o quanto exige do analista suportar o sofrimen to O vocábulo paixão também derivado de pathos permite igualar metaforicamente a paciência do analista com a Paixão de Cristo Na prática analítica BION insiste que antes de formular uma interpretação o psicana lista deve ter paciência diante de um estado psíquico próprio de uma posição esquizo paranóide até atingir um estado de segu rança o qual equivale à passagem para um estado de posição depressiva Paciente de difícil acesso BETTY JOSEPH Expressão introduzida por B JOSEPH em seu trabalho O paciente de difícil acesso 1975 vem sendo bastante empregada pelos psicanalistas designando mais parti cularmente os pacientes que dificilmente concedem a si mesmos e ao analista aces so a seu inconsciente de modo a dificultar extremamente o objetivo maior de qualquer análise a obtenção de mudanças verdadei ras no psiquismo Costumeiramente são pacientes portado res de organização borderline da persona 310 DAVID E ZIMERMAN lidade organização perversa personalida de exageradamente narcisista sérias dificul dades na representação de si mesmos con duta antisocial drogadição depressão crô nica Além desses incluemse nessa situa ção os pacientes definidos por MacDougall como antianalisandos e os analisandos por tadores de uma organização patológica que sabota o crescimento mental do sujeito Comentário Podese dizer que hoje mui tos pacientes rotulados como de difícil aces so por um determinado analista possam não o ser para outro e viceversa Da mes ma forma muitos outros analisandos que parecem ser de fácil acesso na verdade podem estar conluiados com seu analista em uma análise inócua Em razão disso tal vez o melhor critério seja não prejulgar o paciente mas experimentar tratálo dentro de requisitos analíticos mínimos levando em conta que a acessibilidade só poderá ser estabelecida com a própria marcha da aná lise e a definição de quem será o analista Pai funções do A figura do pai tem um relevo extraordiná rio na obra de FREUD falocentrismo en quanto na teoria kleiniana ficou muito ofus cada pela hegemonia que MKLEIN atribuiu à mãe seiocentrismo Na atualidade prin cipalmente a partir de LACAN a psicanálise está resgatando a importância do lugar pa péis e funções pertinentes ao pai Dentre as funções fundamentais que devem ser exer cidas pelo pai as seguintes merecem ser des tacadas 1 A segurança e a estabilidade que ele dá ou não dá à mãe na tarefa por vezes ár dua e estafante de bem educar e promo ver o crescimento dos filhos 2 Dentro da concepção de transgeraciona lidade é útil saber como foi seu vínculo com seu pai e até que ponto ele o está repetindo com seu filho Também importa conhecer a representação interna que ele tem da espo sa mãe da criança que influirá bastante na que o filho terá da mãe e também qual o lugar que o pai ocupa no desejo e na re presentação que a esposa tem dele 3 A ênfase que merece ser dada ao papel do pai decorre do fato de que sua presença física e afetiva é de fundamental importân cia no processo de separaçãoindividuação referente à díade mãefilho MAHLER 1986 4 Sua essencial participação na resolução exitosa ou patológica do complexo de Édi po tal como descrito por FREUD 5 As funções englobadas no que LACAN denomina LeidoPai ou NomedoPai Pai leido ou nomedo LACAN Expressão introduzida em 1953 por LACAN enfatiza a função que através da linguagem o pai tanto o concreto como o simbólico transmite ao filho os valores socioculturais nos quais eles estão inscritos De forma sim plificada as seguintes funções podem ser acrescidas às que estão descritas no verbe te anterior 1 O pai no papel de terceiro interpondose como uma cunha normatizadora e delimita dora entre a mãe e a criança irá propiciar a necessária passagem de Narciso a Édipo 2 As adequadas frustrações impostas pela função paterna pela colocação de limites reconhecimento das limitações e aceitação das diferenças normas e leis promovem a necessária embora dolorosa passagem do princípio do prazerdesprazer para o princí pio da realidade se usarmos a terminolo gia de FREUD ou a passagem dos níveis real e imaginário para o registro simbólico se gundo o dizer de LACAN Ver os verbetes NomedoPai e Outro Pais combinados fantasia da figura de M KLEIN MKLEIN sempre enfatizou a fantasia que o bebê tem de penetrar no corpo da mãe para VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 311 se apossar dos tesouros que sob a forma de pênis e de bebês ele fantasia que a mãe abriga dentro dela A frustração a esse de sejo leva a criança a desenvolver fantasias sádicoagressivas contra mãe e contra a re lação sexual dos pais Por um jogo de identificações projetivas e introjetivas a criança vai misturando a ima gem dela com a dos pais unidos num coito que segundo suas fantasias pode ser terrorí fico A figura combinada e perseguidora dos pais unidos pode adquirir formas horrendas A figura dos pais combinados constitui um dos perseguidores mais terríveis nos dramas infantis e manifestamse não só nos sonhos e pesadelos como também surgem simbo licamente descritas em diversas narrativas folclóricas e da mitologia Paixão BION BION afirmava que os elementos do proces so psicanalítico se estendem em três dimen sões no domínio dos sentidos no do mito e no da paixão A presença desta última não é revelada pelos sentidos sensoriais somen te se revela quando duas mentes estão em ligação através da emoção A dimensão da paixão segundo BION abar ca tudo o que é derivado e está compreen dido entre os vínculos do amor do ódio e do conhecimento Ele afirma que a noção psicanalítica do termo paixão representa uma emoção experimentada com intensi dade e calidez ainda que sem nenhuma sugestão de violência O sentido de violên cia não deve ser expressado pelo termo paixão a menos que esteja associada com o sentimento de voracidade A evidência da presença da paixão que pode ser proporcionada pelos sentidos não deve ser tomada como sua dimensão psi canalítica porquanto esta pertence ao do mínio da extrasensorialidade e mais ain da a paixão do analista deve ser claramen te distinguida da contratransferência Na verdade o significado da palavra pai xão como é concebida por BION adquire uma significação de ordem mais mística e está mais próximo do que está contido na sua etimologia paixão como também com paixão deriva de pathos Portanto alude a um estado de sofrimento profundo e que transcende a sensorialidade como é no sig nificado atribuído à Paixão de Cristo BION em Cogitações p136 define com paixão com paixão como um sentimen to que tal como a verdade a pessoa neces sita possuir e expressar é um impulso que precisa experimentar em seus sentimentos pelos outros MELTZER 1994 p214 ao se referir ao esta do de paixão tal como descrito por BION faz a interessante ressalva de que as pai xões representam estados de turbulência que surgem do impacto paradoxal de uma emoção intensa sobre a outra e que pro duzem uma turbulência em razão do confli to com as idéias previamente estabelecidas acerca do significado de ditas emoções Pânico doença do Ver o verbete Doença do pânico Papéis conceito de dinâmica grupal A psicanálise contemporânea está conferin do expressiva importância aos papéis que na maioria das vezes inconscientemente o sujeito desempenha nas diversas áreas de sua vida com freqüência de forma repetiti va e estereotipada e que podem acompa nhálo ao longo de toda vida O importante é que esses papéis costumam ser designados pelo discurso dos pais e da cultura através de enunciados categóricos Modelam assim um ideal de ego que agin do sob a forma de mandamentos internos obriga o sujeito a cumprir expectativas de si e dos outros e para tanto cumpre compulsoria mente os papéis que lhe foram implantados 312 DAVID E ZIMERMAN A dinâmica do campo das grupoterapias possibilita observar com mais clareza o pro cesso de como os indivíduos desempenham um determinado tipo de papel que pode variar de um para o outro e que comumente aparecem sob a forma de líder bode expi atório portavoz agressivo masoquista bonzinho atuador apaziguador etc Na prática analítica o cumprimento de pa péis inscritos no inconsciente ganha relevân cia a ponto de poder explicar algumas das ocorrências de reação terapêutica negativa É o que acontece quando o paciente está fazendo substanciais mudanças na sua per sonalidade que podem colidir com um pa pel para o qual foi programado desde sem pre Por exemplo ser o filhinho querido da mamãe e nunca se afastar muito dela e nem se diferenciar muito dos irmãos Par analítico conceito de técnica Na psicanálise contemporânea é consensual que no processo analítico não existe um paciente fazendo as suas narrativas e um analista descodificando e interpretandoas mas sim existe um par que está perma nentemente interagindo e se influenciando reciprocamente Isso está consubstanciado nessa frase de BION Em análise a coisa mais importante não é aquilo que o analista e o paciente podem fazer mas o que a dupla pode fazer onde a unidade biológica é dois e não umo ser humano é um animal que de pende de um par 1992 p46 A polêmica que persiste decorre do fato de que muitos autores respeitáveis consideram que a pessoa real do analista por si só em nada vai modificar substancialmente o cur so da análise O que importa é que o ana lista esteja suficientemente capacitado para interpretar a neurose de transferên cia nas suas múltiplas facetas que certa mente se repetiriam com qualquer outro analista Por outro lado muitos outros autores igual mente respeitáveis opinam de forma cate górica que a pessoa real do analista exerce uma decisiva influência no destino da aná lise ver o verbete Pessoa real do analista Paradigma O termo paradigma deriva do grego e sig nifica padrão Ganhou importância a partir do trabalho de THOMAS KUHN sobre A es trutura das revoluções científicas no qual ele mostra que a ciência normal desenvol vese em um contexto que inclui uma cons telação de crenças valores e técnicas com partilhadas pelos membros de uma deter minada comunidade científica Uma característica de um paradigma é que ele se mantém por longo tempo de modo que os cientistas em suas investigações ten dem a manter os cânones estabelecidos Qualquer proposição mais revolucionária costuma provocar uma forte oposição por parte dos fiéis seguidores do paradigma vigente de sorte que as transformações acabam acontecendo porém de forma lenta em meio a muitas lutas e radicali zações Um exemplo mais extremo disso é o da teo ria ptolomaica que durou séculos de que a terra seria o centro de universo Quando Copérnico e mais tarde Giordano Bruno tentaram contestar essa teoria com provas de que a Terra não passava de um peque no planeta girando em torno do Sol uma das bilhões de estrelas entre outras da galá xia Via Láctea foram cruelmente persegui dos e condenados à morte pelos represen tantes do clero e da ciência da época pelo crime de ousarem contestar um paradigma que satisfazia ao narcisimo humano Aliás FREUD sofreu toda sorte de ataques quando teve a ousadia de proclamar a existência da sexualidade nas inocentes criancinhas da mesma forma que MKLEIN foi duramente criticada quando abriu li VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 313 nhas de concepções psicanalíticas distin tas das de FREUD Paradigmas da psicanálise tipos de Nesse pouco mais de um século de existên cia a psicanálise tem sofrido transformações muito importantes que sempre estacionam durante algum tempo em certos paradig mas De forma genérica e com inevitáveis mutilações acredito que podemos sinteti zar em quatro períodos com uma termino logia específica para cada um deles 1 PulsionalRecalcamento Durante longas décadas predominou de forma praticamen te exclusiva o paradigma criado por FREUD com absoluta ênfase no embate entre os desejos pulsionais e as respectivas defesas do ego notadamente o recalcamento As sim nesse período pioneiro e ortodoxo da psicanálise freudiana vigia de forma pre dominante uma convicção positivista e ab solutista que considerava o analista um ob servador neutro e objetivo para não dizer o senhor absoluto perfeitamente sadio do ponto de vista emocional e dono das ver dades acerca do paciente Por conseguinte ao paciente caberia o papel único de trazer seu material e ao psicanalista a função de fazer um levantamento arqueológico das ruínas do passado do paciente resultantes das pulsões inaceitáveis recalcadas e soter radas no inconsciente 2 ObjetalFantasmático Essa denominação alude ao fato de que os teóricos das rela ções objetais notadamente MKLEIN fizeram o pêndulo da psicanálise inclinarse para a importância das relações objetais internali zadas resultantes das pulsões especialmen te as sádicodestrutivas ligadas aos objetos parciais acompanhadas de fantasias incons cientes ansiedade de aniquilamento e o emprego de arcaicas defesas do ego O pa radigma kleiniano embora tenha alavanca do a psicanálise e aberto a porta para paci entes psicóticos continuou persistindo na visão do analista como um privilegiado ob servador objetivo que conseguiria manter plena neutralidade e que qual um juiz su premo sabia perfeitamente o que era o cor reto e o mais apropriado para o paciente 3 VincularDialético Especialmente a par tir de BION começou a predominar entre os analistas a crença de que o analisando e o analista são duas pessoas reais e adultas com as suas inevitáveis limitações e angús tias Desse modo tornouse consensual que é impossível continuar concebendo o mo delo unipessoal do processo analítico e tam pouco que esse seja linear e seqüencial mas sim que a análise consiste numa íntima re lação vincular entre eles cada um influen ciando e sendo influenciado pelo outro se guindo um modelo dialético Ou seja as teses a narrativa das fantasias apresen tadas pelo analisando são confrontadas com as antíteses atividade interpretativa do analista Dessa maneira resultam sínteses os insights que funcionam como novas teses num sucessivo movimento helicoidal espiralar ascendente em planos gradual mente mais amadurecidos na mente do analisando nos casos exitosos 4 DéficitVazios Um aspecto da psicanáli se que vem adquirindo estatuto de paradig ma é a psicanálise voltada para crianças portadoras de um autismo psicogênico re sultante da formação de uma rígida cara paça protetora ou concha autistaEsses pacientes necessitam de outra abordagem técnica para serem encontrados e desperta dos pelo analista visto estarem realmente perdidos como mostram F TUSTIN 1986 e A ALVAREZ 1992 e que estão à espera de que seus buracos negros existenciais ve nham a ser percebidos e preenchidos pelo terapeuta Esses últimos aspectos quero crer estão presentes e exigem as mesmas mudanças técnicas nos pacientes adultos que estão num estado de desistência Nes se caso estão defendidos e desesperança dos de modo que o seu único desejo con 314 DAVID E ZIMERMAN siste em nada desejar tal como está des crito no verbete Vazio patologia do Esse vértice de entendimento psicanalítico para determinados pacientes cada vez mais numerosos enfocados prioritariamente não tanto nos conflitos mais nos vazios resul tantes das primitivas carências e déficits justificam o nome proposto para esse para digma Deve ficar claro que o surgimento de novos paradigmas de modo algum deve significar a caducidade dos anteriores mas sim que cada um deles continua válido para deter minadas situações e que a psicanálise fica ria muito enriquecida se houvesse uma conjugação e complementação dos distin tos paradigmas Igualmente lenta e de forma gradativa os autores estão superando a convicção dog mática de que a verdade só pode ser en contrada numa leitura ou releitura de FREUD ou que de alguma forma a verdade em psicanálise deva necessariamente estar liga da a FREUD embora ninguém discorde que ele lançou as sementes essenciais que con tinuam vigentes Houve época em que qual quer discordância de FREUD ou mais tarde de MKLEIN era considerada uma heresia uma posição antianalítica O desprendimen to gradual desse radicalismo está possibili tando maior liberdade e criatividade com reflexos imediatos na técnica e na prática Parâmetro conceito de técnica KURT EISSLER Palavra usada por K EISSLER 1953 para reafirmar sua posição de que tudo aquilo que transgrida o enquadre deve ser consi derado um parâmetro Ao mesmo tempo aventou a possibilidade de o psicanalista poder se afastar parcialmente das recomen dações técnicas preconizadas pela psicanáli se clássica e assim introduzir alguns outros aspectos desde que nada disso interfira na evolução normal da análise Aliás o termo parâmetro aparece nos dicionários com a sig nificação de que é todo elemento cuja varia ção de valor altera a solução de um proble ma sem alterarlhe a natureza essencial Assim na atualidade cabem alguns ques tionamentos É permissível que de forma transitória ou até definitiva uma análise comum se pro cesse com menos de quatro sessões sema nais ou com uma periodicidade que inclui a realização de duas sessões num mesmo dia É válida a análise que se efetua por longos períodos sem que o analisando use o divã Perguntas equivalentes poderiam ser formu ladas como por exemplo quanto a a ade quação de o analista interpretar na extra transferência b conveniência de responder a algumas perguntas pessoais ou a de aten der a solicitações como a de fornecer indi cações de profissionais c adequação de concordar com o uso simultâneo de quimio terápicos etc As opiniões não são uniformes mas mes mo os que advogam uma maior flexibilida de na utilização dos parâmetros não abrem mão de um requisito essencial é a de que o par analítico tenha condições de retornar se for necessário e possível às condições prévias Paranóia Quadro clínico existente desde a Antigüi dade que consiste num conjunto de pro duções delirantes geralmente persecutórias que distorcem a realidade objetiva Isso aliás está de acordo com a provável etimologia tanto do termo delírio como de paranóia como a seguir vai exposto O verbo delirar pode ser decomposto em de indica um movimento para fora lira re lira significa o sulco retilíneo do arado de modo que delírio designa o sentido do que saiu do previsto Paranóia por sua vez deriva dos étimos gregos para ao lado de gnose conheci VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 315 mento ou seja a paranóia alude a uma percepção distorcida dos fatos Durante muito tempo a psiquiatria clássica enquadrou a paranóia como uma das for mas de esquizofrenia No entanto posterior mente fezse uma distinção entre ambas porquanto a paranóia não altera fundamen talmente a personalidade do sujeito não evolui obrigatoriamente para uma deterio ração psíquica FREUD acompanhando o psiquiatra KRAEPELIN grande sistematizador da patologia mental considerou a paranóia um conjunto de delírios sistematizados não somente o de perseguição como também a erotomania o delírio de ciúme e o delírio de grandeza FREUD sempre correlacionou os delírios a um estado de homossexualida de subjacente tal como descreveu no fa moso Caso Schreber 1911 Dentre inúmeros trabalhos de distintos au tores versando sobre múltiplos enfoques relativos à paranóia e estados paranóides em geral é necessário destacar o primeiro traba lho rigorosamente psicanalítico de LACAN Da psicose paranóica em sua relação com a per sonalidade 1933 com o qual ele obteve a condição de membro efetivo O trabalho foi inspirado no Caso Aimée e serviu de ponto de partida para suas originalíssimas concep ções Ver o verbete Historiais clínicos Parasitária relação continente conteúdo Bion Na sua descrição relativa às três modalida des de relação continenteconteúdo a sim biótica a comensal e a parasitária BION conceituou essa última inspirado no mode lo da biologia Tratase de um tipo de vín culo em que somente um dos dois se bene ficia enquanto o outro pode ser tão suga do sem nada receber que corre o risco de vir a ser destruído BION exemplifica com a situação de uma mãe invejosa que priva a criança de todas suas qualidades positivas sendo que a recí proca é verdadeira Esse tipo de vínculo pode se reproduzir durante toda a vida em circunstâncias e com personagens diferen tes como a de um casal ou até mesmo na situaçào analítica etc Parte psicótica da personalidade BION Expressão introduzida por BION em seus tra balhos da década de 50 onde ela aparece virtualmente como sinônimo de personali dade psicótica Fundamentalmente parte psicótica da personalidade refere o fato de que toda pessoa neurótica tem enquistada dentro de si essa parte psicótica não con fundir com a psicose clínica como essa é conhecida em psiquiatria e de que toda per sonalidade psicótica mesmo no grau de franca psicose clínica abriga uma parte não psicótica ou parte neurótica Segundo BION os seguintes elementos compõem essa parte psicótica da perso nalidade 1 Fortes pulsões agressivodestrutivas com predomínio da inveja e da voracidade 2 Baixíssimo limiar de tolerância às frustra ções 3 As relações mais íntimas com pessoas próximas são predominantemente de natu reza sadomasoquista 4 Uso excessivo de splittings e de identifi cações projetivas 5 Grande ódio às verdades tanto as inter nas quanto as da realidade externa haven do conseqüentemente preferência pelo mundo das ilsuões 6 Ataque contra os vínculos de percepção e aos do juízo crítico como resultado do ódio às verdades 7 Sensível prejuízo da capacidade das fun ções do pensamento verbal do conheci mento e do uso da linguagem como forma de comunicação 8 Substituição das capacidades de pensar e a de aprender com as experiências res pectivamente pela onipotência e pela onis 316 DAVID E ZIMERMAN ciência enquanto a arrogância ocupa o lu gar do orgulho sadio e um estado de confu são fica a serviço de impedir uma discrimi nação entre o verdadeiro e o falso 9 Um supersuperego Ver esse verbete Parte não psicótica da personalidade BION No livro Cogitações 1992 quando afir ma que a capacidade de impor causalida de e temporalidade a certos eventos referi dos num discurso verbal depende da exis tência de uma personalidade nãopsicótica BION diz literalmente que a última precisa ser capaz de tolerar 1 Frustração e portanto consciência da temporalidade da espera 2 Culpa e depressão e portanto capacida de de considerar a possibilidade de haver causalidade Nessa hipótese o indivíduo tem que considerar a própria responsabili dade por certos eventos na cadeia das cau sas A capacidade para a verbalização é como já mostrei uma função da posição depressiva Passe Lacan Termo empregado em 1967 por LACAN para designar um processo de passagem de um candidato em formação analítica para a condição de analista da escola AE que o autorizava a praticar a clínica psicanalítica de forma autônoma Como é sabido a IPA desde 1918 reco mendava a análise didática instituída ofi cial e obrigatoriamente em 1925 sob a pre sidência de MAX EITIGON LACAN nunca se conformou com os critérios da IPA segun do os quais a análise de um candidato só poderia ser feita por um analista didata es colhido por ele dentre os membros de um restrito e privilegiado grupo seguindo um prolongado ritual bastante conhecido por todos LACAN reprovava esse sistema porque aceitálo seria conceder a uma ou poucas pessoas uma condição análoga à de Deus a que ele se referia com a sigla SSS ou seja Sujeito Suposto Saber Assim ele propôs um sistema de ritual de passagem denominado passe no qual o passante o candidato ao passe tinha de fazer um depoimento sobre o que fora sua análise pessoal perante os assim intitulados passadores que são analisandos que estão em sua própria análise pessoal em um momento em que são capazes de ouvir al guma coisa Após os passadores transmi tem a um júri composto por dois analistas o que ouviram do candidato cabendo a esse júri fornecer o credenciamentro da condi ção de AE LACAN criou o sistema do passe para sair do impasse com a IPA mas em 1978 ele pró prio reconheceu que o passe caiu num im passe Embora LACAN tenha admitido o fra casso do método esse continua sendo apli cado por muitos dos ramos que se origina ram da Escola Freudiana de Paris criada por ele Pavor ou terror sem nome BION Expressão que designa uma importante con tribuição de BION na prática da psicanálise Tratase de um tipo de angústia de aniquila mento que o paciente não consegue descre ver com palavras Muitas vezes de forma equi vocada o terapeuta fica insistindo para que o analisando o faça quando este está à espera que alguém descodifique e esclareça o que não sabe o que é e de onde veio Quando falha a função rêverie da mãe vai acontecer que as pulsões e angústias que a criancinha projeta dentro dela não serão devidamente contidas e elaboradas Por essa razão as angústias do filho serão reintroje tadas por ele sob a forma de um terror que o ego ainda não tem condições de signifi car e nomeálo daí pavor ou terror sem nome VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 317 Comentário Embora BION não mencione FREUD no que tange aos conceitos de repre sentaçãocoisa e de representaçãopalavra creio que essa relação se impõe pelo fato de essa angústia ainda não ter nome por que ela deve ter ficado inscrita numa época primitiva em que o bebê ainda não tinha condições de representar os sentimentos com o pensamento verbal Um segundo comentário acredito que as sim como existe um terror ou pavor sem nome também deve existir um prazer sem nome tal como está descrito nesse último verbete grifado Pele segunda ESTHER BICK Durante sua observação de bebês segun do método que instituiu como parte da for mação de estudantes de psicoterapia e psi canálise com crianças EBICK percebeu que o contato da mãe com a pele corporal da criança e viceversa adquiria uma importân cia fundamental na estruturação da criança Uma razão relevante é que o contato epi dérmico serve para a criança sentir uma delimitação com o espaço exterior Desse modo vai formando sua imagem corporal e criando uma fronteira que a possibilite dife renciarse do mundo de fora Em caso con trário a criança é invadida por um senti mento de dissolução descoordenação ani quilamento Assim afirma BICK o bebê ao receber o mamilo na boca tem a experiência de um contato epidérmico que lhe garante a con quista do conceito de que existe um espaço exterior um objeto de fora que pode cobrir suas necessidades um objeto que pode con ter aspectos de sua pessoa tanto quanto o mamilo na sua boquinha o faz Isso pode ser sintetizado na sua bonita fra se Quando o bebê nasce ele se vê na posição de um astronauta que foi lançado para o espaço exterior sem um traje espa cial O terror predominante do bebê é despedaçarse ou liquefazerse Podese perceber isso no tremor do bebê quando o mamilo lhe é tirado da boca mas também quando suas roupas são tiradas Quando essa primeira pele da mãe falha a criança procura substitutos do mamilo uma busca frenética por um objetoluz som voz cheiro Como isso não é suficiente a criança cria uma segunda pele ou seja atra vés de fantasias onipotentes ela cria uma pseudoindependência Esse contexto lem bra bastante as concepções de WINNICOTT em relação ao estado do bebê que está num estado de absoluta dependência mas ima gina estar na posse de uma independência absoluta o que pode contribuir para a construção de um falso self Essas noções de BICK forneceram a MELTZER e colaboradores no seu trabalho com crian ças autistas subsídios para desenvolver uma teoria relativa à ausência de um espaço mental e os levou à descoberta do fenôme no da identificação adesiva ver esses dois últimos verbetes Pele fina e de pele grossa narcisismo de HERBERT ROSENFELD ROSENFELD o autor kleiniano que mais se dedicou ao estudo do narcisismo propôs 1987 uma classificação em dois tipos de pacientes narcisistas os que ele denomina de pele fina pessoas supersensíveis que exigem um tato especial do analista e os de pele grossa Os últimos pelo contrário são arrogantes procuram trocar de lugar com o analista e demonstram um espesso escudo protetor contra sua atividade inter pretativa Por isso mesmo o analista preci sa manterse firme com intervenções dire tas e objetivas sem medo embora com res peito de que o paciente se melindre e aban done a análise Comentário A prática analítica ensinanos que a pele grossa sempre encobre e prote ge uma subjacente pele fina Desse modo 318 DAVID E ZIMERMAN a recomendação acima destacada de que o analista deve manter uma atitude de mui ta firmeza com os pele grossa de forma al guma deve impedir que ele aceite as de monstrações do exibicionismo grandioso de seu paciente desde que isso seja temporário Pênis inveja do FREUD A primeira referência de FREUD à inveja do pênis surgiu no artigo Sobre as teorias se xuais das crianças publicado em 1908 embora ele já manifestasse essa concepção anteriormente Posteriormente em Sobre o narcisismo uma introdução 1914 ele alu de ao complexo de castração da menina A inveja do pênis nasce da descoberta da diferença anatômica entre os sexos a me nina sentese lesada em relação ao menino FREUD não acreditava que a menina pudes se ter um conhecimento precoce da exis tência da vagina fato que hoje poucos con testam e deseja possuir um pênis como ele Posteriormente no decurso do complexo de Édipo diz FREUD a menina abriga dois de sejos relativos a essa inveja 1 De adquirir um pênis dentro de si princi palmente sob a forma de desejo de ter um filho 2 De participar dos prazeres que o pênis do pai propicia à mãe A inveja do pênis durante muito tempo ocu pou um lugar central na concepção freudia na da sexualidade feminina acarretando no mínimo cinco mudanças importantes 1 Da zona erógena do clitóris para a vagi na 2 De objeto o apego préedipiano à mãe cede lugar ao amor edipiano pelo pai 3 Renúncia à atividade fálica que se ma nifestava pela masturbação clitoriana e que dá lugar ao predomínio de uma pas sividade 4 De atitude em relação à mãe a quem a menina começa a votar um ressentimento por não lhe ter brindado com um pênis e faz com que a deprecie fortemente vendo a como uma pessoa castrada 5 De equivalência simbólica entre pênis criança e fezes Comentário Essa concepção falocêntrica de FREUD que poderia ser formulada assim a mulher é um homem que não deu cer to vem sofrendo pesadas críticas Hoje não encontra respaldo científico sendo conside rada como um dos poucos pontos frágeis de sua obra embora se possa relevála em razão da influência da cultura machista da época No entanto essa postulação de FREUD relativa à inveja do pênis merece uma rea valiação do ponto de vista semântico sen do o pênis um designativo de falo é como este um claro símbolo de poder Dessa for ma o conceito de inveja do pênis como falo continua sendo muito importante des de que essa inveja também seja extensiva aos homens e que se leve em conta a im portante participação do fator cultural Pênis como objeto parcial M KLEIN M KLEIN deu grande relevância à forma como o pênis é percebido fantasiado e re presentado no psiquismo da criancinha Assim da mesma maneira como postulou a existência de uma clivagem seio bom e seio mau também a criança estabelece uma dissociação pênis bom e pênis mau Inicialmente para KLEIN o pênis é um obje to parcial concebido na fantasia inconsci ente como parte da figura combinada dos pais assim o bebê acredita que o pênis faz parte do corpo situado no abdome ou no seio da mãe Pelas identificações projetivas primitivas mais centralizadas nas fantasias inconscien tes ligada ao coito dos pais o pênis pode adquirir para o bebê um caráter bastante persecutório pênis mau Seu ingresso exi toso na posição depressiva vai possibilitar que o menino sinta uma grande tranqüili zação com seu pênis e se orgulhe dele Vai VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 319 identificálo como um pênis criador e res taurador do pai enquanto a menina desen volverá numa evolução sadia a passagem que será bemvinda do pênis parcial para um pênis total Pensamentos FREUD FREUD foi o primeiro cientista a estudar e descrever os fenômenos inerentes à forma ção e à evolução dos pensamentos com uma abordagem eminentemente psicanalítica a partir dos primitivos dinamismos psíquicos do bebê Cabe destacar os seguintes aspec tos que ele concebeu e que mais notavel mente aparecem em seu clássico Formu lações sobre os dois princípios do funciona mento mental 1911 1 O lactante desde recémnascido sente suas necessidades fome etc como um incremento de tensão psíquica 2 Ele reage a esse aumento de tensão com o choro ríctus de dor e esperneio muscular que são as manifestações motoras de sua necessidade de fazer uma descarga da refe rida tensão 3 FREUD deixa entrever que em condições normais a mãe compreende essa descarga do lactante como uma forma de linguagem primitiva como um sinal de alguma neces sidade que ela satisfaz por exemplo ama mentando trocando as fraldas etc O bebê por sua vez logo perceberá que cada vez que chora e esperneia faz aparecer a mãe 4 Assim juntamente com a tensão da ne cessidade surge a percepção do objeto que promove a satisfação 5 Nos primeiros tempos na hipótese de a mãe não estar presente para satisfazer sua necessidade o bebê substitui o mamilo do seio alimentador pelo sugar do seu próprio polegar num movimento psíquico onipo tente que FREUD denominou satisfação ou gratificação alucinatória do desejo 6 Como esse recurso mágico do bebê fra cassa porque a realidade comprova que ele continua com fome e necessita do seio real externo para sobreviver é obrigado a dar os primeiros passos para fazer a transição do princípio do prazer para o da realidade 7 Como o princípio do prazerdesprazer não é suficiente para enfrentar as tensões provin das da realidade exterior o bebê é levado a utilizar seus órgãos sensoriais que estão em crescente maturação e desenvolvimento Des se modo ele desenvolve capacidades perten centes à área do consciente como memória percepção atenção e outras equivalentes 8 Para conseguir passar do princípio do prazer para o da realidade o ego incipiente do lactante deve atender a três condições a conter a tensão psíquica sem a necessi dade de descarregála imediatamente de forma motora b postergar sua satisfação c antecipar a previsão de que o objeto sa ciador mãe aparecerá 9 As primitivas representaçõescoisa vão se ligando mais fixamente a restos verbais as sim constituindo as representaçõespalavra portanto o início do pensamento verbal 10 Juntando todas essas concepções FREUD descreveu as características diferentes que o pensamento adquire no processo primá rio ou no secundário Seguindose a FREUD inúmeros importan tes autores dedicaramse ao estudo dos pen samentos como FERENCZI através do seu notável trabalho de 1913 Estádios no desenvolvimento do sentido da realidade MKLEIN com seus estudos relativos às fan tasias inconscientes e aos mecanismos pri mitivos defensivos sobretudo a identifica ção projetiva PIAGET autor suíço que embora não fosse psicanalista mas epistemólogo aborda esse assunto de acordo com um entendimento neurobiológico descreve períodos normais de evolução previamente determinados pela natureza orgânica MATTEBLANCO a partir de suas concepções originais do que ele chama de bilógica 320 DAVID E ZIMERMAN pois segundo ele existe uma lógica simé trica primitiva que nivela tudo e uma lógica assimétrica desenvolvida porque mantém as diferenças SIFNEOS e NEMIAH pesquisadores americanos que introduziram o conceito de alexitimia PIERRE MARTY juntamente com outros cola boradores da Escola Psicossomática de Pa ris que criaram o importante conceito de pensamento operatório BION que trouxe concepções originais e im portantes as quais aparecem detalhadas no verbete específico sobre a Capacidade de pensar Pensamento operatório Escola Psicos somática de Paris Expressão cunhada pelos psicanalistas perten centes à Escola Psicossomática de Paris para designar o estado mental de certos pacientes como os somatizadores Neles a exemplo do que FREUD postulou acerca do que se passa nas neuroses de angústia o ego não conse gue conter e processar uma carga excessiva ou penosa de sentimentos e pensamentos o que os leva a agir no lugar de pensar Para esses pesquisadores o que acima de tudo caracteriza esses pacientes é o fato de o in consciente deles não ter condições de expres sarse pelas representações Desse modo no lugar de reprimir as pulsões do id como acon tece nas neuroses ou de denegar e forcluir como acontece respectivamente nas perver sões e nas psicoses os pacientes somatizado res utilizam o pensamento operatório isto é superinvestem libidinalmente tudo que existe de concreto como e principalmente seus sin tomas corporais como que fazendo um cur tocircuito direto entre a angústia e o sintoma corporal sem passar pelo pensamento Pensamento do psicótico BION BION foi o autor que mais profunda e origi nalmente descreveu a influência das pulsões fantasias inconscientes ansiedades primiti vas e funções do ego na gênese na evolu ção no conteúdo e nas formas dos pensa mentos e da formação de um aparelho psí quico capaz de pensálos Bion faz questão de reconhecer que partiu das concepções originais de FREUD e de M KLEIN as quais ele conservou na íntegra Inspirado nelas e em conceitos provindos de filósofos e matemáticos através de am pliações e transformações trouxe contribui ções inestimáveis e originalíssimas Não obstante terem adquirido uma dimensão bastante abstrata sempre foram prioritaria mente voltadas para aplicação na prática clínica Na década de 50 BION dedicavase à análi se de pacientes em estado de regressão psi cótica nos quais observava à luz dos pos tulados kleinianos sérios problemas relati vos à linguagem à percepção à comunica ção ao conhecimento e sobretudo à fun ção de pensar os pensamentos Em seu livro Estudos psicanalíticos revisa dos Second thoughts no original publica do em 1967 BION reúne nove importantes artigos produzidos nessa década em que ele trabalhava com psicóticos Aí encontramos o início de suas formulações a respeito da patologia do pensamento piscótico Ele des tacou aspectos importantes como 1 A linguagem na qual as palavras podem ser vivenciadas pelos psicóticos como se fos sem objetos concretos a serem colocados den tro do outro é empregada pelo esquizofrêni co de três maneiras como um modo de atu ar como um método de comunicação primi tiva e como um modo de pensamento 2 A ligação direta entre as pulsões sádico destrutivas e a conseqüente intolerância à posição depressiva com prejuízo da capa cidade de formação de símbolos e portanto do pensamento verbal 3 Como decorrência do último aspecto BION concebeu que o psicótico não reúne condições para fazer sínteses e no lugar VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 321 delas pode comprimir os pensamentos mas não juntálos assim como pode fundilos mas não articulálos Pensar capacidade para BION No livro Elementos de psicanálise 1963 BION apresentou pela primeira vez sua Gra de elaborada mediante a utilização de um modelo cartesiano com o cruzamento de um eixo vertical o da gênese evolutiva dos pensamentos e de um eixo horizontal o da utilização dos pensamentos Com a Grade BION demonstrou que em condições normais o psiquismo da criança através de sucessivas transformações evolui desde os elementos β fileira A até a construção de um cálculo al gébrico fileira H de alta abstração Antes de atingir esse alto grau de complexi dade os elementos β precisam ser transfor mados em elementos α fileira B os quais sofrendo uma provável influência atávica do inconsciente coletivo possibilitam a forma ção de pensamentos oníricos Estes ocupam a fileira C da Grade sob a forma de sonhos devaneios mitos daí se transformando em préconcepções fileira D Estas préconcep ções por sua vez sofrendo adequadas realizações negativas e positivas se trans formarão em concepções fileira E que correlacionadas entre si evoluem para a condição de conceitos fileira FAdquirindo crescente complexidade os conceitos evo luirão para um sistema dedutivo científico fileira G o qual de sua parte possibilita a referida condição ultrasofisticada de reali zar cálculos algébricos fileira H Para BION os pensamentos são indissocia dos das funções do conhecimento se o su jeito deseja ou não conhecer as verdades e da formação de símbolos exige a passa gem para a posição depressiva Assim a função de pensar não é o mesmo que sa ber ou seja possuir pensamentos ou conhe cimentos mas sim ela resulta de uma dis posição do sujeito para saber o seu não sa ber BION completa com esta frase pensar consiste em ter problemas a solucionar e não em ter soluções para os problemas Comentário Fundamentado no que está acima resenhado é necessário enfatizar que a função de pensar de qualquer pessoa abrange sua capacidade para fazer juízos críticos sendo útil acrescentar que etimo logicamente a palavra crítica deriva de kri nê que em grego significa separação dife rença Portanto a função de pensar exige a condição de o sujeito estabelecer uma dife renciação com o outro e admitir as inevitá veis diferenças em relação a ele Percepção FREUD BION FREUD segundo sua teoria metapsicológica afirma que a consciência seria função de um sistema percepçãoconsciência PCCs Na atualidade a normalidade e a patologia da função perceptiva do ego adquirem uma extraordinária importância na prática ana lítica especialmente por se referir não só como o indivíduo percebe o mundo exteri or e a possível intenção dos outros em rela ção a ele mas também abarca uma visua lização de como o paciente percebe a si pró prio a sua imagem corporal as suas repre sentações e o seu sentimento de identidade Não resta dúvida de que a patologia da percepção decorre de raízes inconscientes notadamente as que dizem respeito às ina dequadas e excessivas identificações pro jetivas e introjetivas responsáveis por exemplo pelos fenômenos alucinatórios Porém a participação do ego consciente é igualmente importante como é o caso do vértice termo de BION a partir do qual o observador no campo analítico esse papel cabe concomitantemente ao paciente e ao analista percebe e interpreta um determi nado fato clínico Ver o verbete Vértice Assim a função de percepção não pode ser entendida unicamente como um registro sensorial como uma cópia uma fotografia 322 DAVID E ZIMERMAN de objetos externos reais Antes disso a per cepção diz respeito ao registro das signifi cações atribuídas aos objetos e fatos exter nos Os distúrbios de percepção implicam distúrbios do pensamento e da linguagem porquanto estes três elementos compõem uma estrutura de modo que sempre estão vinculados entre si Para ilustrar essa importante noção de que na prática analítica um mesmo aconteci mento pode ser percebido de múltiplos vér tices às vezes completamente diferentes BION utiliza um desenho o conhecido Vaso de Rubin que conforme for a perspectiva do observador tanto pode expressar um vaso branco num fundo negro como pode ser visto como dois perfis pretos num fun do branco ver figura 4 construção de um modo de ser de como o sujeito será percebido pelos outros o que está de acordo com a etimologia dessa pa lavra pois personalidade deriva de perso na que refere à máscara usada pelos ato res do antigo teatro grego Assim nos textos psicanalíticos aparecem com regularidade expressões como perso nalidade madura personalidade imatura personalidade infantil personalidade passi vodependente além é claro de personali dade obsessiva histérica etc as quais de signam determinadas formas de ser do in divíduo em razão dos tipos de defesas pre dominantemente empregadas pelo seu ego A construção da personalidade resulta da combinação da influência de fatores que FREUD descreveu na sua equação etiológica ou série complementar na qual ele desta ca os heredoconstitucionais as antigas ex periências emocionais com os pais e as ex periências traumáticas da realidade da vida adulta Na atualidade os autores costumam reduzir essa equação a um simples assina lamento de uma permanente interação en tre nature fatores biológicos e nurture fa tores ambientais Personalidade múltipla Expressão que designa uma das formas da histeria dissociativa que consiste no fato de o sujeito assumir diversas personalidades à semelhança da história do conhecido fil me As três faces de Eva Isso se deve à coe xistência de diversas representações distin tas dentro do ego dissociadas entre si e que emergem separadamente na consciência de acordo com determinadas necessidades e circunstâncias Personalização WINNICOTT Segundo WINNICOTT nos primeiros tempos a corporalidade do bebê consiste num esta do de nãointegração entre as diferentes Figura 4 Vaso de Rubin Perlaboração Ver o verbete Elaboração Personalidade Em psicanálise esse termo tem um sentido genérico aludindo mais especificamente à VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 323 partes de seu corpo e entre seu corpo e sua mente Gradualmente a criança vai saindo desse estado mercê de três conquistas uma integração dessas partes dispersas uma realização entra definitivamente no mun do da realidade e uma personalização O último termo referese à aquisição da ca pacidade de a criança poder habitar seu pró prio corpo o que implica renunciar à ilusão de que seu corpo está fundido com o da mãe Perversão FREUD Antes de FREUD alguns autores como KRAFT EBBING e HELLIS haviam estudado e divul gado quadros clínicos referentes às perver sões entre as quais incluíam o narcisismo Porém o fizeram enfocando tão somente a descrição das manifestações clínicas sem pre sob o prisma de uma concepção mora lística e denegridora A partir do clássico Três ensaios sobre uma teoria sexual FREUD dedica um es tudo mais sistemático e consistente sobre a existência da normalidade e dos desvi os da sexualidade infantil assim definin do o que se conhece como a sua primei ra teoria sobre as perversões sexuais Em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 ele faz algumas especu lações psicanalíticas sobre a origem da forma particular da homossexualidade de Leonar do situandoa na primitiva relação com a mãe desde a amamentação o que vem a determinar uma identificação do menino com a mãe tudo isso marcando o início de sua segunda teoria sobre as perversões Após uma série de trabalhos abordando narcisismo homossexualidade e masoquis mo no artigo O fetichismo 1927 FREUD estabelece a sua terceira teoria sobre a gê nese dos mecanismos psíquicos da per versão com o aporte de novas concep ções referidas sobretudo às defesas de de negação da angústia de castração com a conseqüente criação compensatória de fetiches caracterizando uma forma de perversão Duas formulações de FREUD acerca do con ceito de perversão se tornaram clássicas A primeira é a de que a neurose é o nega tivo da perversão ou seja o que uma pes soa neurótica reprime e pode gratificar so mente simbolicamente através de sintomas o paciente com perversão a expressa dire tamente por meio de sua conduta sexual Esse conceito não é mais aceito pela psica nálise moderna pois acreditam os autores a perversão tem uma estrutura própria Em uma segunda afirmativa FREUD diz que a perversão sexual resulta de uma decomposi ção da totalidade da pulsão sexual em seus primitivos componentes parciais quer por fixações na detenção da evolução da sexuali dade quer por regressão da pulsão a etapas prévias à organização genital da sexualidade FREUD também concebeu que é necessário levar em conta dois elementos que influem decisivamente na gênese forma e fins das perversões a qualidade das pulsões sexu ais como acontece nos casos de sadismo masoquismo exibicionismo escopofilia e tra vestismo e o objeto para o qual aquelas pul sões são dirigidas como nos casos de homos sexualidade pedofilia zoofilia necrofilia nos quais segundo ele o objeto normal seria subs tituído por outro antinatural Etimologicamente a palavra perversão re sulta de per vertere ou seja pôr às aves sas desviar designando o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das coisas Logo de acordo com esse significa do o conceito de perversão foi estendido por alguns autores dentro e fora da psica nálise para uma abrangência que inclui outros desvios que não unicamente os se xuais como seriam os caso de perversões morais por exemplo os proxenetas as sociais caso em que o conceito de perver são fica muito confundido com a de psico patia as perversões alimentares anorexia bulimia as institucionais algum desvio da 324 DAVID E ZIMERMAN finalidade para a qual a instituição foi cria da as do setting psicanalítico etc No entanto em sentido mais estrito a maio ria dos autores mesmo na atualidade man tém fidelidade a FREUD e defende a posição de que em psicanálise o termo perversão deve designar unicamente os desvios ou aberrações das pulsões sexuais mesmo re conhecendo a existência de outros impul sos como os ligados à pulsão de morte tão exaltada pela escola kleiniana Outro ponto que deve ser bem enfatizado é o que se refere à necessidade de estabele cer uma distinção entre perversão e perver sidade A esse respeito LAPLANCHE e PONTA LIS 1967 assinalam que existe uma ambi güidade no adjetivo perverso que corres ponde àqueles dois substantivos No entan to enquanto perversão alude a uma es trutura que se organiza como defesa contra angústias perversidade referese a um ca ráter de crueldade e malignidade Assim o perverso no sentido de perversão não busca primariamente a sensualidade antes essa comportase como uma triunfante vál vula de escape maníaca contra as ansiedades paranóides especialmente as depressivas Comentário Em relação à prática da clí nica analítica dois aspectos merecem aten ção especial O primeiro é o fato de que um sujeito com perversão idealiza a sexualidade prégeni tal as zonas erógenas e os objetos parciais especialmente os anais de sorte que tem uma compulsão a idealizar pretendendo impor essas ilusões aos outros e procuran do manter a sua denegação a todo custo Isso podese constituir numa difícil forma de resistência embora os avanços da psicanáli se contemporânea permitam uma perspecti va de análise bem mais otimista do que já foi O segundo aspecto a assinalar consiste na possibilidade de o analista deixarse desvi ar num sutil envolvimento com as proposi ções do paciente para que não aconteçam mudanças verdadeiras na análise ou seja existe o risco do que MELTZER chama de per versão da transferência Perversopolimorfa fase FREUD FREUD postulou a existência de uma fase evo lutiva normal que denominou disposição per versopolimorfa da sexualidade infantil com posta por pulsões sexuais parciais conceito esse que por um lado provocou mais confu são mas por outro veio a esclarecer bastan te a sexualidade incipiente na criança Assim essa fase consiste no fato de que par tes do corpo do lactante vão adquirindo um lugar privilegiado como fontes de prazer se xual primeiro a boca depois o ânus com suas funções excretoras numa etapa que precede ao controle esfincteriano e de todo sistema muscular que acompanha a loco moção motora Por volta dos 3 a 4 anos começa o estabelecimento da primazia das zonas genitais Cabe acrescentar que essa fase normal na constituição do ego da criança quando se manifesta no adulto pode aparecer como um necessário elo que conduza o sujeito de sua neurose à normalidade genital Esse aspecto é importante porquanto alarga o espectro da genitalidade normal no que concerne à prática de recursos aparentemen te prégenitais sob a forma de polimorfas carícias orais e anais como meios sadios de gozo antecipado de um pleno coito genital Isso é muito diferente de o sujeito empre gar os meios prégenitais exclusivamente com uma predominância de perversão quando predominam as pulsões destrutivas a falta de consideração peloa outroa e a prégenitalidade passa a ser não um meio mas um fim em si mesma Pessoa real do analista Há entre os psicanalistas uma antiga e per sistente controvérsia relativa à importância que deve ser creditada ou não à pessoa VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 325 real do analista na construção do vínculo transferencialcontratransferencial e por conseguinte no destino da análise Embo ra as opiniões estejam muito divididas pa rece que aos poucos o pêndulo está se in clinando para a crença de que a percepção que o analisando capta das características reais da personalidade e da ideologia da pessoa de seu psicanalista mais do que unicamente uma pantalha transferencial de fato ele é inclusive um modelo de identifi cação para o paciente e tem uma significa tiva influência no campo analítico até mes mo na determinação do tipo de transferên cia manifesta pelo analisando BION entre outros tantos autores é dos que mais destacam o fato de que a sim ples presença do psicanalista promove al terações no campo analítico Isso está de acordo com o princípio da incerteza uma concepção de HEISENBERG que BION fre qüentemente mencionava e que consis te no fato de que o observador muda a realidade do fenômeno observado de acordo com seu estado mental durante a observação Da mesma forma vem sendo bastante en fatizada a necessidade de desmistificar a grandiosidade e infalibilidade que durante muito tempo foram atribuídas à figura do psicanalista não só pela idealização por parte dos analisandos mas também por uma falsa crença alimentada pelos própri os analistas Pelo contrário está ficando consensual que para bem exercer sua tarefa o analista ne cessita conhecer suas inevitáveis limitações e ser possuidor do que BION denomina con dições necessárias mínimas entre as quais são destacados atributos como continen te empatia intuição paciência capacida de negativa humildade visão binocular es tado de fé ser verdadeiro Uma leitura complementar aparece nos ver betes Match Incerteza princípio da Par analítico e Sujeito Suposto Saber Piaget Jean Embora não tenha sido psicanalista mas um importante epistemólogo suíço JPIAGET merece um verbete especial por suas rele vantes contribuições ao campo do desen volvimento das funções de conhecimento e de pensamento A partir de um enfoque de maturação neu robiológica orgânica PIAGET classifica a nor mal evolução cognitiva em quatro estágios que sempre seguem uma ordem linear e seqüencial a sensóriomotor b pensamen to préoperatório c pensamento précon ceitual concreto d pensamento abstrato hipotéticodedutivo O entendimento neurobiológico especial mente das duas primeiras etapas é funda mental para compreender a estruturação do pensamento do psicótico Basta isso para justificar uma explanação mais detalhada dos quatro estágios mencionados 1 Estágio sensóriomotor Caracterizase por a uma absoluta indiferenciação entre o eu e o outro b uma incapacidade para fazer quaisquer discriminações c uma não integração corporal d uma falta de delimi tação com o meio ambiente exterior a mão do bebê por exemplo é por ele confundi da com a de qualquer outro corpo em mo vimento Só ao final desse estágio é que começam a formarse as noções de oposi ções de eu e nãoeu dentro e fora etc 2 Estágio do pensamento préoperacional Estendese dos 16 meses aos 6 a 7 anos e algumas de suas características são a a criança começa a ter algumas alternativas b o pensamento ainda é préconceitual ou seja tudo deve ter uma realidade física os pensamentos estão na boca os sonhos no quarto etc c tudo deve ter uma causa identificável e um propósito definido é a fase dos por quês que dá origem às teorias fantásticas da criança como por exemplo as relativas ao mistério do nascimento e da morte e às diferenças dos sexos etc 326 DAVID E ZIMERMAN Outra característica dessa etapa é o egocen trismo Pelo fato de ainda não ter condições neurológicas para a capacidade de indução e nem para a de dedução a criança não consegue colocarse no lugar do outro Isso ajuda a explicar os aspectos da patologia da linguagem e da comunicação em que o sujeito parte do princípio de que os outros adivinham seu pensamento e entendemno sempre devido à sua crença de que todos vivem unicamente em função dele Pela mesma falta de maturação neuronal a importante função de julgamento nesse está gio não é de ordem moral ou legal mas sim está baseada em seus valores unicamente ego cêntricos É importante diferenciar esse ego centrismo de origem neurobiológica do que é típico da organização defensiva narcisística 3 Estágio do pensamento operatório con creto Só ao final do segundo estágio e co meço do terceiro se constitui o pensamento operatório concreto pelo qual a criança começa a fazer relações causais temporais e lógicas configuradas pelos vocábulos porque antes depois então logo etc organizado res da importante função de sintaxe do ego 4 Estágio do pensamento abstrato hipotético dedutivo Essa quarta etapa de um desenvol vimento normal que possibilita a capacidade de fazer abstrações e generalizações somente evoluirá satisfatoriamente se as etapas anterio res forem suficientemente bem resolvidas ComentárioEmbora partindo de concep ções profundamente distintas podemos encontrar muitos pontos de encontro entre os estudos de PIAGET e os de BION tal como aparece na Grade deste último Pictograma Ver o verbete Ideograma Poder desejo de Embora não tenha sido introduzido na psi canálise formalmente por um determinado autor e não tenha uma significação concei tual específica o termo poder é bastante empregado nos textos de psicanálise tanto como um traço inerente à condição huma na quanto como uma forma psicopatoló gica na qual o desejo de poder tornase excessivo A palavra poder deriva do étimo latino pos potis sendo que potis designa aquele que exerce o poder Daí deriva o verbo posside re formado dos étimos potis sedere que significa sentar Portanto possidere alude ao exercício do poder sentado Isso lembra o período anal no qual o sujeito sentado no vaso sanitário popularmente conhecido como trono sentese um rei devaneando grandezas e poder sobre os súditos São distintas as raízes e as configurações da ambição exagerada pelo poder como pode ser exemplificado com essas possibilidades bastante freqüentes 1 Uma inveja com uma ânsia voraz de se apossar daquilo que os outros possuem 2 Uma forma narcisista de camuflar e se proteger da fragilidade subjacente 3 Um controle sobre os outros tal como a criança que exerce um poder tirânico sobre os pais numa espécie de seguro contra a angústia de separação 4 Esse último caso pode evoluir para um vínculo de apoderamento pelo qual um sujeito escraviza e se apodera literalmente do outro 5 Uma espécie de fetiche isto é o poder juntamente com a obsessão por riqueza beleza prestígio podem constituir fetiches substitutos de pobreza e vazios interiores Existe uma evidência de que os grandes ti ranos da história foram pessoas carentes de afeto e por conseguinte com traços mar cadamente paranóides Posição M KLEIN O conceito de posição termo introduzido na psicanálise por M KLEIN não é o mes VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 327 mo que o de fase etapa ou estágio que de signam uma transitória linearidade evoluti va Na psicanálise o conceito de posição indica uma estrutura definitiva em evolu ção constante e permanentemente ativa na organização da personalidade Portanto indo além de um estágio stage o conceito de posição referese a um estado state men tal Definindo de forma mais completa o con ceito de posição na obra de M KLEIN reme te a uma constelação de fenômenos inter relacionados como a o tipo de angústia predominante b os mecanismos de defesa utilizados para dominála c as pulsões em jogo d as características dos objetos que estão involucrados nessa constelação e as fantasias inconscientes f as instâncias psí quicas g os pensamentos e os sentimentos do sujeito Todos esses fenômenos configu ram uma totalidade em movimento na qual nenhum fator pode ser considerado de for ma independente dos demais MKLEIN inicialmente descreveu três tipos de posições a esquizoparanóide a depressiva e entre elas situou a posição maníaca Po rém ao longo de sua obra desconsiderou a última e adotou sua concepção definitiva das duas primeiras posições Ver os verbetes Esquizoparanóide posição e Depressiva posição Posição narcisista O termo posição designa um ponto de vis ta uma perspectiva uma forma de o sujei to visualizar a si mesmo aos outros e ao mundo que o cerca Esse vértice de visuali zação que varia com as diferentes posi ções que a pessoa adota diante do que está sendo observado pensado e sentido de termina a maneira de o sujeito ser e de com portarse na vida A posição narcisista não é apenas uma im portante etapa no desenvolvimento de todo ser humano antes comportase como uma estrutura um modelo de relacionamento e de vínculo que opera ao longo de toda a vida e por isso é de especial importância seu reconhecimento na prática clínica De acordo com o vértice conceitual que aqui estou propondo podese dizer que a posi ção narcisista PN em sua forma original caracterizase por uma total indiferenciação tanto entre o eu e o outro como também entre os diferentes estímulos procedentes de distintas partes do seu próprio self Sobre tudo é fundamental destacar a PN prece de a posição esquizoparanóide PEP na qual já existe alguma diferenciação não obstante o uso maciço de identificações pro jetivas portanto um relacionamento objetal Um importante fator diferenciador entre PEP e PN é o fato de que na primeira se gundo MKLEIN já existe um rudimento de ego a defenderse ativamente contra a vi gência das pulsões destrutivas e do pavor de aniquilamento decorrentes da inveja primária ou pulsão de morte enquanto que a PN não se constitui originalmente a partir da agressão mas sim como uma for ma de assegurar e perpetuar a unidade sim biótica indiscriminada e fusionada com a mãe Na sua evolução gradativamente o indiví duo vai adquirindo uma relativa diferencia ção e autonomia embora nunca exista uma independência absoluta em relação aos de mais Assim podese imaginar um eixo re lacional no qual em uma extremidade há uma relação diádica de natureza fusional e indiferenciada enquanto a outra extremi dade é constituída por uma triangularida de na qual os indivíduos estão discrimina dos entre si Quanto mais próximo estiver o sujeito do primeiro pólo mais enrijecida es tará sendo a sua PN e nesses casos na si tuação analítica sobressaem as seguintes ca racterísticas 1 Uma condição de indiferenciação 2 Um permanente estado de ilusão em busca de uma completude imaginária 328 DAVID E ZIMERMAN 3 Uma negação das diferenças 4 A presença da assim chamada parte psi cótica da personalidade 5 A persistência de núcleos de simbiose e ambigüidade 6 Uma lógica do tipo binário ou seja é o melhor ou o pior etc 7 Uma escala de valores centrada no ego ideal e no ideal do ego 8 A existência de identificações defeituosas 9 Uma afanosa busca por fetiches e obje tos reasseguradores 10 Um permanente jogo de comparações com os outros 11 A freqüente presença de uma organiza ção patológica do tipo gangue narcisista Prazer e da realidade princípio do FREUD Ver os verbetes Prazer princípio de e Reali dade princípio de Prazer princípio de FREUD Originalmente o princípio do prazer era denominado por FREUD princípio do prazer desprazer por significar que o incipiente aparelho psíquico tendia a livrarse descar regando a todo e qualquer estímulo que vi esse a provocar desprazer visando a redu zir ao mínimo a tensão energética este as pecto alude ao princípio da constância Posteriormente FREUD esclareceu que os aumentos da tensão psíquica poderiam ser prazerosos como seria o caso de acúmulo e retenção temporária da excitação sexual O princípio do prazer referese essencial mente ao significado que a catéxis pulsio nal demanda gratificação imediata sem minimamente levar em conta a realidade exterior O melhor exemplo disso é a for mulação de FREUD sobre a gratificação ou satisfação alucinatória do desejo pelo qual o bebê substitui o seio faltante pela sucção do próprio polegar Outros exem plos equivalentes nos estados adultos po dem ser os devaneios e fantasias incons cientes de completude as crenças ilusóri as de onipotência e onisciência produ ções delirantes etc No entanto essa satisfação mágica e ilusó ria sempre acabará frustrante e decepcio nante porque não suporta as exigências e as necessidades da realidade É o caso por exemplo de uma fome real que fatalmente não se satisfará com a substituta sucção do polegar o que vem a determinar a instau ração do princípio da realidade Ver o verbete Realidade princípio da Prazer sem nome Como foi conceituado por BION existe um terror ou pavor sem nome que provavel mente resulta de primitivas experiências emo cionais muito angustiantes que ficaram ins critas no ego da criança sob a forma de repre sentações de coisa portanto numa etapa an terior à formação de palavras Da mesma for ma acredito que também exista uma inscri ção de experiências prazerosas que estão re presentadas em alguma parte do ego ainda sem o nome com as palavras que possam definilas Assim as experiências sensoriais como por exemplo um som uma visão ou uma luz agradável não são captados pelo cérebro unicamente como sensação biológica mas também ficam impressos no psiquismo in consciente O mesmo acontece com os sen timentos prazerosos que acompanham o prazer dos órgãos dos sentidos Um bom exemplo é a percepção do bebê relativa à música da voz da mãe ao brilho de seu olhar à dança de seus gestos tudo sendo englobado no ato da mamada Não estará aí uma explicação para o fato de as crianças felizes quase intuitivamente cos tumarem desenhar um sol emitindo raios lu minosos Ou que nos extasiamos diante de determinados estímulos estéticos VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 329 Préconcepção BION Termo introduzido na psicanálise por BION que na sua Grade o situa na fileira D de signando uma etapa evolutiva na formação da capacidade de pensar os pensamentos Como o nome sugere BION afirma que todo ser humano nasce com uma prévia concep ção atávica de que há algo que vai preen cher determinada necessidade como por exemplo o seio que vai saciar sua fome ou uma também universal préconcepção edípica Partindo daí BION afirma que a préconcep ção está à espera de uma realização a qual pode ser positiva ou negativa No primeiro caso uma préconcepção do seio materno alimentador a real presença amamentado ra da mãe concretiza a realização O segun do ocorre quando a mãe naquele momen to não está presente É necessário esclare cer porém que essa realização negativa quando efetivada adequadamente é indis pensável para a passagem à etapa seguinte do pensamento o da concepção que ocu pa a fileira E Ver o verbete Realização Préconsciente FREUD Termo empregado por FREUD como parte de sua teoria topográfica ou primeira tópi ca mas cujo conceito já aparece esboçado em seu Projeto para uma psicologia cien tífica 1895 no qual esse sistema précons ciente a clássica sigla utilizada por FREUD é Pcs está descrito de forma análoga com o nome de barreira de contato funcionando como uma espécie de peneira que selecio na aquilo que pode ou não passar para o consciente Cs Segundo FREUD o que distingue o sistema Pcs do sistema Inconsciente Ics são esses três aspectos 1 A energia psíquica já está mais ligada aos objetos 2 O processo predominante de utilização do psiquismo é o secundário 3 A representação préconsciente está mais ligada à linguagem verbal ou seja às re presentações de palavras Visto por um outro vértice podese dizer que o préconsciente é o que possibilita no neurótico certo processamento da fantasia de acordo com a instauração do sujeito den tro do marco da realidade da cultura na qual está inserido Isso se estabelece segundo LACAN através da aquisição da ordem sim bólica Esta última possibilita estabelecer uma distância ótima entre o desejo incons ciente e os objetos primitivos deslocando dito desejo para outros objetos mais admis síveis para sua gratificação e aceitação dos valores culturais Préedipiano FREUD M KLEIN Termo que aparece muito tardiamente na obra de FREUD designando o período do desenvolvimento psicossexual anterior à instauração do complexo de Édipo Nesse período o que predomina é o apego à mãe FREUD refere que essa fase é mais prolon gada na menina do que no menino e pos teriormente dá a entender que então embora presente no campo psicológico o pai ainda não é visto como rival As sim FREUD procura descrever mais enfa ticamente nessa fase préedipiana a pre dominância da oposição atividade pas sividade Nesse particular a posição de FREUD foi con cebida de forma fundamentalmente distin ta por M KLEIN que partindo da análise das fantasias inconscientes mais arcaicas da criança chegou à concepção de que o pai intervém precocemente na relação do bebê com a mãe Isso pode ser demonstrado se gundo ela pela fantasia do pênis paterno conservado no corpo da mãe e por outras configurações fantásticas que aparecem na figura dos pais combinados 330 DAVID E ZIMERMAN Prégenital FREUD LACAN Expressão introduzida por FREUD em A dis posição à neurose obsessiva 1913 para designar a noção de uma organização libi dinal anterior à organização feita sob o pri mado dos órgãos genitais Aliás bem antes disso sem empregar o termo prégenitali dade em Três ensaios sobre uma teoria da sexulidade 1905 FREUD já descrevia o funcionamento originariamente anárquico das pulsões parciais não genitais que cons tituíam a fase perversopolimorfa Os termos préedipiano e prégenital apa recem freqüentemente confundidos pelos analistas Por isso convém estabelecer uma distinção entre ambos o primeiro referese à situação interpessoal na qual ainda há uma ausência do triângulo edipiano tal como foi concebido por FREUD O segundo designa que o tipo de atividade sexual está aquém da genitalidade mas o triângulo edípico já está claramente definido LACAN como que integrando os dois con ceitos acima mencionados refere um triân gulo préedipiano para designar a relação mãecriançafalo intervindo o último termo como objeto fantástico do desejo da mãe Preocupação ou devoção materna primária WINNICOTT WINNICOTT usava freqüentemente essa ex pressão para aludir a um estado especial do psiquismo da mãe no início da vida do bebê quando este ainda está numa fase de de pendência absoluta O próprio WIINNICOTT esclarece melhor com estas palavras que aparecem no artigo Pre ocupação materna primária 1956 Mi nha tese é que na fase mais precoce nos deparamos com um estado bastante espe cial da mãe uma condição psicológica que merece um nome tal como preocupação materna primária Entendo que o tributo devido não foi pago satisfatoriamente por nossa literatura nem em qualquer outra parte a uma tão especial condição psiquiá trica da mãe da qual direi o seguinte seu desenvolvimento é gradual transformando se em um estado de intensa sensibilidade no decorrer e em especial quando se apro xima o término da gestação Prolongase por algumas semanas após o nascimento do bebê Não é facilmente lembrada pela mãe uma vez que tenha se recuperado irei adi ante dizendo que as lembranças desse esta do tidas pela mãe tendem a tornarse repri midas Não creio ser possível uma com preensão do funcionamento da mãe nos primórdios da vida do bebê sem o enten dimento de que ela deve ser capaz de atin gir esse estado de intensa sensibilidade quase uma doença e recuperarse dele Refirome à palavra doença porque a mu lher deve ser saudável a fim de que possa desenvolver esse estado e recuperarse dele quando o bebê permitirlhe Preservação da espécie pulsão de FREUD Desde o início de sua obra FREUD ligou pulsão à sexualidade e isso fora de qual quer dúvida constituiuse como o centro das descobertas da psicanálise Da mes ma forma ele sempre considerou a exis tência de uma dualidade pulsional Assim em sua primeira formulação de um con ceito dualista das pulsões essenciais FREUD distinguiu entre pulsões do ego ou pulsões de autopreservação e pulsões sexuais ou pulsões de preservação da espécie Todo o prazer corporal não devido à satis fação direta das pulsões do ego tais como a satisfação da fome da sede e das necessi dades excretoras ele considerou sexual com vistas futuras à preservação da espé cie humana As zonas corporais suscetíveis à estimulação erótica foram denominadas zonas erógenas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 331 Princípios FREUD Termo bastante utilizado nas ciências em geral designando um ponto de partida para a construção de um sistema ideativocogni tivo que mantenha uma certa lógica Pode se depreender a existência de vários e dis tintos princípios que estejam agindo simul taneamente e interagindo entre si embora cada um mantenha uma autonomia con ceitual com regras e leis específicas No campo da psicologia e da psicopatolo gia rastreando as então revolucionárias concepções de FREUD podemos enumerar os seguintes princípios do psiquismo 1Existência das pulsões 2Princípios de prazer e de realidade 3Princípio da constância ou de Nirvana 4Princípio da inércia 5Princípio da compulsão à repetição 6Princípio do determinismo psíquico 7Princípio das séries complementares ou equação etiológica Além desses princípios formulados por FREUD está merecendo atenção dos psica nalistas contemporâneos o princípio da in certeza tal como foi formulado pelo cien tista EISENBERG e passou a ser bastante em pregado por BION Os princípios mencionados estão explicita dos separadamente no respectivo verbete Problema econômico do masoquismo O FREUD 1924 Nesse trabalho publicado em 1924 FREUD aborda o masoquismo sob três formas como uma condição imposta à excitação sexual como uma expressão da natureza feminina e como uma norma de compor tamento Por conseguinte distinguemse três tipos de masoquismo o erógeno o femini no e o moral Ao descrever os três tipos de masoquismo FREUD enfoca aspectos como o da organiza ção oral primitiva o temor de ser devorado pelo animaltotem o pai a fase analsádi ca o desejo de ser espancado pelo pai a organização fálica fantasia de castração a organização genital final as situações de ser copulado ou dar à luz uma criança o sentimento inconsciente de culpa Conclui o artigo dizendo que o sadismo do superego e o masoquismo do ego se com plementam e se unem para produzir os mesmos efeitos Este texto está no volume XIX p199 da Standard Edition Brasileira Ver o verbete Masoquismo Processos primário e secundário FREUD FREUD postulava que o inconsciente é cons tituído por uma energia psíquica proveni ente das pulsões as quais operando con juntamente com as representações que se for mam no ego caracterizam especificamente esses dois tipos de processamento psíquico O processo primário caracterizase por um fácil deslocamento e descarga da libido As várias cadeias de representações com os respectivos significados inconscientes pro duzem aquilo que se chama condensação ver esse verbete Assim já no Projeto para uma psicologia científica 1895 FREUD des crevia um funcionamento primário do apa relho neurônico no qual a energia psíquica circula de forma livre de modo que ela ten de a descarregarse imediata e totalmente tal como acontece no princípio do prazer A partir da Interpretação dos sonhos 1900 ele começa a elaborar com maior consistência a noção de processo primário com uma energia livre deslocável e con densada com a inscrição de significações as quais alguns anos mais tarde ele veio a conceituar como representação de coisa Tais significações seguem as leis do incons ciente ou seja onde não há lógica referen te à noção de tempo espaço contradições relações causaefeito etc 332 DAVID E ZIMERMAN No processo secundário a energia psíquica está presa ligada e circula de forma mais compacta sempre ligada à uma represen tação psíquica mais precisamente às situa das no sistema préconscienteconsciente logo com o que FREUD denomina represen tação de palavra Comentário Ambos os processos foram descritos por FREUD numa seqüência de sur gimento linear e temporal o secundário sucedendo o primário Na atualidade a partir de BION é possível considerar que os dois processos estão sempre presentes na mente de qualquer sujeito de forma con comitante e numa conjunção constante en tre si A predominância do funcionamento mental do processo primário de alguma forma corresponde no adulto ao que BION denomina parte psicótica da personalidade que se manifesta clara e prevalentemente nos psicóticos francos enquanto a predo minância do processo secundário é perti nente à parte nãopsicótica ou neurótica da personalidade Processo originário PAULAGNIER Ver o verbete Originário processo Projetiva identificação Ver o verbete Identificação projetiva Projeto para uma psicologia científica FREUD 1895 Em 1895 FREUD redigiu seu importantíssi mo e cada vez mais vigente Projeto de uma psicologia científica para neurólogos o qual somente veio a ser descoberto muitos anos mais tarde entre escritos abandonados por ele de modo que esse notável trabalho só veio a ser publicado em 1950 Na verdade FREUD começou a rascunhar esse trabalho no trem que o levava de Berlim a Viena por ocasião de uma visita que fazia a FLI ESS seu amigo e confidente Após remeter os esboços a FLIESS FREUD ficou em dúvida quanto ao valor das idéias que expunha nesse trabalho original e decidiu não publi cálo Após a morte de FLIESS sua viúva o vendeu a um livreiro que o repassou para Marie Bonaparte expaciente de FREUD e princesa da Grécia e da Dinamarca FREUD tentou destruir os manuscritos mas MBonaparte contrariando o mestre con seguiu conserválos para a posteridade É interessante assinalar que no mesmo ano de 1895 o cientista WAELDER descobriu o neurônio cuja existência se ajustava exata mente ao que FREUD estava cogitando so bre as catéxis ativadas por estímulos endó genos Essas catéxis são conduzidas por células diferenciadas dos neurônios como seriam as perceptivosensoriais as percep tivas do consciente e as encarregadas do registro da memória Esse trabalho de FREUD representa a tentati va mais radical de entendimento dos fatos psicológicos em termos de neurologia cir cuitos neuronais e de física quantidades energéticas que se regem pelas leis do mo vimento neurônios carregados ou descar regados de energia barreiras que se opõem ou não à circulação energética etc Muitas das idéias expostas no Projeto re aparecem ulteriormente em muitos outros trabalhos como o capítulo VII da Interpre tação dos sonhos 1900 e Além do princí pio do prazer 1920 Projeto está publicado no volume I da página 381 onde consta a introdução do editor inglês seguido da Explicação das Abreviaturas Usadas no Projeto na pági na 394 e segue com o trabalho propria mente dito até a página 533 Essa magnífica obra de FREUD está dividida em três partes denominadas respectivamen te I Esquema Geral o qual abrange 21 títulos II Psicopatologia que consta de seis textos e parte III denominada Tenta tiva de representar os processos normais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 333 onde aparece um trecho da Carta 39 escri ta por FREUD a FLIESS em 1896 Protofantasias FREUD Em 1915 FREUD introduziu o termo alemão Urphantasien que costuma ser traduzido tanto por protofantasias quanto por fantasi as originárias Ver este último verbete Protopensamentos BION A etimologia dessa expressão proto em gre go significa o primeiro o original o mais primitivo por si só define a concepção de BION segundo a qual ela designa as primiti vas impressões sensoriais e as experiências emocionais Como elementos β esse últi mo termo pode ser tomado como sinôni mo de protopensamento essas impressões e experiências não se prestam ainda para serem utilizadas como pensamentos propri amente ditos ou seja a partir de concei tos Servem para serem evacuadas tanto para fora como nos actings como para dentro do organismo como nas psicosso matizações Os protopensamentos que às vezes BION chama de estado protomental ocupam na Grade a fileira A Caso houver uma ade quada função a da mãe os protopensamen tos evoluirão para a condição de elementos α matériaprima para a formação dos pen samentos Psi Y BION Na Grade BION emprega essa letra grega na coluna 2 para designar os enunciados mentirosos ou falsos separadamente por parte do paciente como do psicanalista ou como é muito freqüente pode referirse a um conluio de falsidade existente entre ambos na situação analítica As falsidades são utilizadas para fugir das verdades pe nosas e do risco de uma mudança catastró fica Portanto essa coluna 2 também signi fica o uso de resistências Psicanálise FREUD criou esse termo e fundou essa disci plina que já ultrapassou um século de exis tência e se mantém com bastante vitalida de fiel a seus princípios básicos porém so frendo profundas transformações em seus fundamentos metapsicológicos teóricos técnicos e clínicos A primeira vez que Freud empregou psicoanálise foi em 1896 num artigo redigido em francês intitulado A hereditariedade e a etiologia das neuroses Essa expressão veio substituir definitiva mente as denominações até então vigen tes de método catártico e de abreação procedimentos que eram realizados sob hipnose e pela sugestão centralizando a atividade psicanalítica na livre associação de idéias Na criação desse termo FREUD certamente inspirouse na química como comprova esse trecho apontamos ao doente nos seus sintomas os motivos pulsionais até então ignorados como o químico separa a subs tância fundamental o elemento químico do sal que em composição com outros elemen tos se tornara irreconhecível Aliás isso está bem de acordo com a eti mologia da palavra análise que deriva dos étimos gregos aná partes lysis decom posição dissolução Posteriormente o pró prio FREUD fez questão de estabelecer uma diferença entre análise química e psíquica A comparação com a análise química en contra o seu limite no fato de que na vida psíquica lidamos com tendências submeti das a uma compulsão à unificação e à com binação Mal conseguimos decompor um sintoma liberar uma moção pulsional de um conjunto de relações e logo esta não se conserva isolada mas entra imediatamen te num novo conjunto 334 DAVID E ZIMERMAN Em 1922 em Dois verbetes de enciclopé dia FREUD deu sua definição mais precisa do contexto da análise sublinhando que seus pilares teóricos eram o inconsciente o complexo de Édipo a resistência a repres são e a sexualidade Completa afirmando que Quem não os aceita não deve incluir se entre os psicanalistas Entre muitas ou tras que até então ensaiara nesse artigo FREUD dá a sua definição mais clara de psi canálise afirmando que é o nome de 1 Um procedimento para a investigação de processos mentais que de outra forma são praticamente inacessíveis 2 Um método baseado nessa investigação para o tratamento de transtornos neuróti cos 3 Uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que se somam umas às outras para formar progressivamen te uma nova disciplina científica Psicanálise aplicada De início foi na Sociedade Psicológica das QuartasFeiras que os seguidores de FREUD notadamente O RANK traziam temas para discussões quase sempre apaixonadas que versavam sobre a aplicação da psicanálise aos campos literário artístico mitológico religioso e histórico FREUD sempre revelou certa ambigüidade quanto à análise aplicada Por um lado acompanhava o temor de alguns psicana listas de seu círculo mais íntimo que alerta vam quanto ao risco de a psicanálise per der a sua essência e ser mal interpretada pelo público em geral Por outro afirmava que os ensinamentos da psicanálise não po dem restringirse ao campo médico mas são suscetíveis de se aplicar a outras ciências do espírito Além disso FREUD incentivou e co laborou ativamente para a criação da revista Imago fundada em 1912 por RANK e SAACHS Nessa revista FREUD publicou as primeiras versões sobre Totem e Tabu bem como seu estudo sobre O Moisés de Michelan gelo Na verdade FREUD enfocou seguida mente temas das áreas humanísticas em geral porém os usava mais como fonte de inspiração e comprovação de seu edifício te órico como por exemplo o Caso Schreber Psicanálise com crianças Ver o verbete Crianças psicanálise com Psicanálise selvagem FREUD FREUD empregou essa terminologia com dois sentidos que ele expõe em Psicanálise sel vagem 1910 1 Podemos dizer assim que todos aqueles que têm alguma noção das descobertas da psicanálise mas não receberam a formação teórica e técnica necessária fazem análise selvagem 2 Num sentido mais de ordem técnica FREUD considerou análise selvagem às ve zes o termo original wilde aparece equivo cadamente traduzido como silvestre todo procedimento no qual o analista embora possa estar correto no seu entendimento a respeito do paciente faz interpretações di retas sem levar em conta outros fatores como a sensibilidade específica de cada paciente e de como se apresentam os fenô menos resistenciais e transferenciais Psicologia analítica CARL GJUNG Em 1913 JUNG consumou sua definitiva dis sidência do movimento freudiano a qual já vinha se desenhando há muitos anos A partir de então deu o nome de Psicologia Analítica à sua concepção da prática psico terápica que não levaria maiormente em conta o substrato orgânico pulsional do psi quismo No lugar disso JUNG privilegiou a noção de arquétipos que definiam uma forma pree xistente de um inconsciente coletivo que determina o psiquismo e provoca uma re VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 335 presentação nos sonhos nas manifestações artísticas ou nas religiões Ver o verbete Jung Psicologia de grupo e a análise do ego A FREUD 1921 Nesse trabalho considerado um dos mais importantes de sua obra as linhas de pen samento adotadas por FREUD derivamse mais especificamente do quarto ensaio so bre totem e tabu bem como de seus traba lhos sobre narcisismo e o de luto e melanco lia O texto é importante sob dois aspectos 1 Por um lado explica a psicologia de gru pos na base de alterações na psicologia da mente individual 2 Por outro leva a um estágio mais adian tado a pesquisa de FREUD sobre a estrutura da mente O livro consta de doze partes assim distri buídas A parte I consiste em uma Introdução onde ele afirma que o contraste entre os atos mentais sociais e narcísicos enquadrase totalmente no campo da psicologia indivi dual e não está suficientemente bem calcu lado para diferenciála de uma psicologia social ou de grupo A parte II trata da Descrição feita por Le Bon da mente coletiva de grupo onde enfatiza que num grupo o indivíduo é le vado a condições que lhe permitam descar tarse dos recalcamentos de seus impulsos pulsionais inconscientes A parte III é intitulada Outras descrições da vida mental coletiva e enumera cinco con dições principais para elevar o nível da vida mental coletiva A parte IV aborda Sugestão e libido A parte V denominada Dois grupos artifici ais o exército e a igreja é uma das contri buições mais férteis de FREUD porquanto aí ao estudar os tipos de lideranças lança as sementes dos modelos projetivo exército e introjetivo igreja das identificações A parte VI Outros problemas e linhas de trabalho está baseada no fato de que uma simples coleção de pessoas não constitui um grupo A parte VII intitulada Identificação trata mais especificamente desse importantíssimo fenômeno psíquico A parte VIII tem por título Amar e a hipno se que enfatiza o aspecto da idealização A parte IX trata de A pulsão gregária na qual FREUD conclui que o homem não é um animal de rebanho mas de horda uma criatura individual numa horda comanda da por um chefe A parte XI aborda Uma gradação diferenci adora no ego onde destaca que cada in divíduo é parte integrante de numerosos grupos é ligado por laços de identificação em muitas direções e constrói seu ideal do ego com base nos mais variados modelos A parte XII consiste num Pósescrito Esse trabalho está publicado no volume XVIII da Standard Edition ocupando cerca de 70 páginas Psicologia do Ego Escola da Como muitos outros psicanalistas europeus perseguidos pelo nazismo também o aus tríaco HEINZ HARTMANN ver o verbete Hart mann emigrou para os Estados Unidos onde juntamente com KRIS LOEWENSTEIN RAPPAPORT e ERIKSON fundou a corrente psi canalítica denominada Psicologia do Ego Esses autores fundamentaramse nos últi mos trabalhos de FREUD particularmente a partir da formulação da estrutura tripartite da menteid ego e superegoe também se alicerçaram nos trabalhos de ANNA FREUD referentes às funções do ego Em boa parte devido ao espírito pragmáti co dos norteamericanos os postulados dessa escola germinaram com muito vigor e frutificaram com os estudos de gerações posteriores Entre os seguidores dessa corren te pontificou o nome de EDITH JACOBSON ver 336 DAVID E ZIMERMAN esse verbete com os trabalhos 1954 que descrevem a existência de um self psicofi siológico Nesses trabalhos ela se aprofun da numa abordagem das primitivas relações objetais estabelecendo uma significativa aproximação com os teóricos das relações objetais Baseados nas idéias de JACOBSON e a partir das pesquisas mais recentes de MARGARETH MAHLER ver esse verbete e colaboradores os Psicólogos do Ego deram um passo de cisivo na estruturação da ideologia dessa escola Essa autora estabeleceu os suces sivos passos na evolução neurofisiológi ca da criança acompanhando as respec tivas etapas do crescimento mental e emo cional Assim ela descreveu as fases de autismo normal seguida da simbiose normal pas sando pela progressiva saída de uma indi ferenciação com a mãe através da etapa da individuação e da separação com as res pectivas subetapas até chegar à quarta eta pa que consiste na obtenção de uma cons tância objetal com uma consolidação do self e da individuação Também é necessário destacar na psicaná lise norteamericana o nome de OTTO KER NBERG cujo pensamento psicanalítico repre senta uma verdadeira ponte entre os Psicó logos do Ego e os teóricos das relações ob jetais Esse autor vemse notabilizando por importantes trabalhos notadamente os que concernem às organizações narcisistas da personalidade mais particularmente os estados borderline De forma esquemática cabe assinalar as seguintes contribuições provindas da Esco la da Psicologia do Ego principalmente dos trabalhos de HARTMANN 1937 e de seus seguidores imediatos 1 Uma valorização das funções do ego in cluídas as do ego consciente 2 Uma aproximação com outras discipli nas como medicina biologia educação antropologia e psicologia em geral 3 Uma ênfase nos processos defensivos do ego em particular os que se referem à neu tralização das energias pulsionais sexuais e agressivas assim valorizando um enfoque econômico da psicanálise 4 Até HARTMANN as noções de ego e de self estavam muito confusas Devemos a esse autor uma clara distinção entre ego como instância psíquica enquanto self é definido como um conjunto de representações que determinam o sentimento de si mesmo 5 O conceito de adaptação os conceitos de autonomia primária e secundária do ego 6 O ego sendo concebido como uma es trutura que contém subestruturas 7 O conceito de regressão a serviço do ego 8 As contribuições já mencionadas de JA COBSON MAHLER e KERNBERG 9 Mais especificamente em relação à técni ca e à prática da psicanálise devem ser mencionadas mais algumas contribuições por parte de diversos representantes dessa escola Estão neste caso a noção de RSTERBA 1934 a respeito de uma dissoci ação útil do ego as reconhecidas postula ções de EZETZEL 1956 acerca dos critérios de analisibilidade bem como os seus escri tos sobre aliança terapêutica os trabalhos de importantes autores como WALLERSTEIN H BLUM L RANGEL R SCHAEFER M GILL entre muitos outros 10 Os americanos Psicólogos do Ego le vam muito a sério a sua forte dedicação a trabalhos de pesquisa experimental como foram os trabalhos de SPITZ MAH LER J KANTROWITZ somente para citar alguns que constam em verbetes específicos do pre sente vocabulário Psicologia do Self Escola da KOHUT A Escola da Psicologia do Self foi criada desenvolvida e divulgada por HEINZ KOHUT ver o verbete psicanalista austríaco que fugindo do nazismo instalouse em Chica go Inicialmente filiado à Psicologia do Ego VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 337 aos poucos foi criando suas próprias con cepções e fundou a sua própria escola for temente vigente na atualidade e que numa forma muito sintetizada apresenta os se guintes pontos marcantes 1 KOHUT contrariando a ortodoxia psica nalítica não situa a livre associação de idéias como o principal instrumento da psicanáli se lugar que ele cede à introspecção por parte do paciente e o da empatia por parte do analista 2 Da mesma forma ele retira a hegemonia do complexo de Édipo e coloca no seu lu gar as falhas dos primitivos selfobjetos Em outras palavras substitui o homem culpa do de FREUD e MKLEIN pelo que considera ser o homem trágico 3 Enaltece a importância de na prática ana lítica se processar uma internalização trans mutadora 4 Favorece o entendimento e o manejo técnico bastante regredidos por terem muito precocemente sofrido sérias falhas empáticas 5 Os dois conceitos medulares na obra de KOHUT são os seus estudos sobre o self e o narcisismo 6 Em relação ao narcisismo ele descreveu a normalidadeestruturante do narcisismo bem como seus transtornos 7 Descreveu importantes conceitos sobre o que denomina self grandioso e imago parental idealizada 8 Na prática analítica contribuiu com a descrição das diversas formas de transferên cia narcisista 9 A necessidade de o analista encontrar com os pacientes que apresentam transtornos nar cisistas uma frustração ótima tendo em vista o fato de que quando frustrados com facili dade entram num estado de fúria narcisista Psicodrama JACOB MORENO Refere um método de psicoterapia inventa do por JACOB LEVY MORENO ver o verbete Moreno J que consiste em o sujeito en cenar com objetivo terapêutico determina da situação conflitiva ou seja representá la num palco de teatro improvisado com atores coadjuvantes denominados como egos auxiliares sob a coordenação do tera peuta psicodramatista Moreno criou o psicodrama depois de sua emigração para os Estados Unidos em 1925 com o propósito de reviver e revelar teatralmente a verdade do conflito do paci ente em suas relações com outrem A sessão psicodramática dividese em três partes o encaminhamento no qual o paci ente é solicitado a explicar como vai viven ciar seu papel a ação durante a qual ele representa seu conflito sob a forma de um enredo dramático e o retorno no qual deve relatar como se encontrou na dramatização A sessão utiliza uma série de recursos de técnicas teatrais mas o psicodrama ainda conserva o mesmo eixo fundamental cons tituído pelos seguintes elementos cenário protagonista diretor ego auxiliar público e cena a ser apresentada A dramatização pode possibilitar a recons tituição dos primitivos estágios evolutivos do sujeito Assim uma primeira etapa chama da técnica da dupla visa ao reconhecimen to da indiferenciação eu x outro Numa segunda etapa técnica do espelho o pro tagonista sai do palco e da platéia assiste à representação que outra pessoa no papel de ego auxiliar faz dele Dessa maneira o sujeito pode reconhecer a si próprio assim como na infância reconheceu sua imagem no espelho A terceira etapa técnica da in versão de papéis vai permitir que o sujeito se coloque no lugar do outro desenvolven do assim o sentimento de consideração pe los demais No curso do tratamento essas etapas não são estanques Moreno inventou também o sociodrama o qual consiste numa representação de gru po para grupo e põe em cena conflitos co letivos como o drama das minorias raciais dos prisioneiros dos marginais etc 338 DAVID E ZIMERMAN Existe uma corrente intitulada psicodrama psicanalítico que às técnicas psicodramáti cas alia alguns dos conceitos freudianos fun damentais como a transferência projeção fantasias o que é diferente do emprego de recursos psicodramáticos por parte de al guns psicanalistas como técnica de eleição no tratamento das psicoses e dos transtor nos narcisistas infantis Psicopatia Muitos autores consideram que a psicopa tia pode ser vista como um defeito moral porquanto esse termo designa um transtor no psíquico que se manifesta no plano de uma conduta antisocial Os exemplos mais comuns são os de sujeitos que roubam e assaltam mentem enganam e são impos tores seduzem e corrompem usam drogas e cometem delitos transgridem as leis so ciais e envolvem os outros etc A estruturação psicopática se manifesta por meio de três características básicas 1 A impulsividade 2 A repetitividade compulsiva 3 O uso predominante de actings de natu reza maligna acompanhados por uma to tal falta de responsabilidade e uma aparen te ausência de culpas pelo que fazem Algum traço de psicopatia latente e oculta é inerente à natureza humana No entanto o que define a doença psicopática é o fato de que as três características apontadas vão além de um uso eventual mas sim se tor nam um fim em si mesmas Além disso são egossintônicas muitas vezes idealizadas pelo sujeito sendo acompanhas por uma total falta de consideração pelas pessoas que se tornam alvo e cúmplices do seu jogo psico pático É bem provável que as manifestações psi copáticas não estejam dirigidas primaria mente contra a culpa e a ansiedade mas parecem ter o propósito de manter a ideali zação e a crença no superior poder do nar cisismo destrutivo Assim é possível dizer que a atuação psicopática se caracteriza mais pela perversidade manifesta do que a que aparece no caso da perversão Na prática psicanalítica são pacientes que dificilmente entram espontaneamente em análise Quando o fazem mostram uma forte propensão para atuações e para o abandono do tratamento se este é levado a sério pelo analista Tal ocorre não só em razão de uma enorme dificuldade de ingres sarem numa posição depressiva como tam bém por causa de uma arraigada predomi nância da pulsão de morte e seus deriva dos que os obrigam a uma conduta hetero e autodestrutiva Psicopatologia da vida cotidiana A FREUD 1901 A Introdução do Editor deste trabalho refe re que dentre todas as obras de FREUD ape nas uma Conferências introdutórias 19161917 compete com A psicopatolo gia da vida cotidiana em termos de quan tidade de edições alemãs e de traduções estrangeiras O livro detémse sobretudo nas múltiplas modalidades de atos falhos que cometemos cotidianamente FREUD menci onou o entendimento inconsciente dos atos falhos pela primeira vez numa carta a FLI ESS de agosto de 1898 A atenção especial que FREUD dedicava aos atos falhos deve se fora de qualquer dúvida ao fato de que estes juntamente com os sonhos lhe per mitiram estender a vida mental normal às descobertas em relação às neuroses Esse trabalho estendese por 12 capítu los ocupando cerca de 300 páginas e se encerra com um Índice de atos falhos Nele à guisa de resumo são agrupados da seguinte maneira atos descuidados erros esquecimento das impressões e in tenções esquecimento de nomes e de palavras objetos perdidos e extraviados lapsos de leitura lapsos de escrita e erros VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 339 de imprensa lapsos de língua e atos ca suais e sintomáticos Essa obra está publicada no volume VI da Standard Edition Psicose O termo psicose foi criado em meados do século XIX como uma forma de substituir o depreciativo vocábulo loucura então mui to em voga e tentar definir essa doença numa perspectiva psiquiátrica em lugar das hipóteses demoníacas e outras equivalen tes vigentes na Antigüidade Em 1911 o grande psiquiatra suíço BLEULER lançou sua clássica obra sobre a Demência precoce era um tratado sobre as esquizofrenias No mesmo ano FREUD publicou suas Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfi co de um caso de paranóia é o famoso Caso Schreber obra que lhe serviu para definir a psicose como um transtorno entre o eu e o mundo exterior Seguiuse uma série de outros trabalhos com sucessivas abordagens sobre a produção do fenôme no da psicose Genericamente o termo psicose designa um processo deteriorante das funções do ego a ponto de haver em graus variáveis al gum sério prejuízo do contato com a reali dade É o caso por exemplo das diversas formas de esquizofrenias crônicas se ficar mos num pólo extremo de psicoses propri amente ditas No entanto a complexidade semântica do vocábulo psicose pode levar a confusões na comunicação científica en tre os psicanalistas O fato acontece sempre que estiverem em discussão os critérios quanto à analisabilidade ao prognóstico clínico e à apreciação casuística de traba lhos publicados acerca da análise de psicó ticos Assim na literatura psicanalítica pode se perceber que a avaliação da eficácia ana lítica dos pacientes psicóticos varia em fun ção do critério diagnóstico adotado pelos investigadores Nos Estados Unidos a dis tinção entre esquizofrenias processuais e psicoses esquizofrenóides costuma ser algo frouxo resultando em estatísticas mais oti mistas o contrário ocorrendo nos trabalhos europeus Clinicamente talvez seja útil estabelecer uma diferença entre estados psicóticos e psicoses propriamente ditas Os estados psi cóticos abarcam um largo espectro de qua dros clínicos mas sempre pressupõem a preservação de áreas do ego assim aten dendo a duas condições Uma é a de que eles permitem uma relativa adaptação ao mundo exterior como é o caso de pacien tes borderline personalidades excessiva mente paranóides ou narcisistas algumas formas de perversão psicopatias e neuro ses graves A segunda condição consiste no fato de que esses quadros clínicos possibili tam uma recuperação sem seqüelas após a irrupção de surtos francamente psicóticos reações esquizofrênicas agudas ou episó dios de psicose maníacodepressiva por exemplo Em relação às psicoses propriamente ditas tal como são descritas na psiquiatria é con sensual que há uma evidente lacuna entre os profundos avanços da metapsicologia e a teoria e os limitados alcances da prática clínica psicanalítica Os poucos relatos de tratamentos realizados exclusivamente pelo método analítico clássico em pacientes com esquizofrenias processuais por parte de re nomados psicanalistas como ROSENFELD SEGAL MELTZER e BION são de brilhantes re sultados de investigação teórica mas de du vidosa eficácia clínica Na atualidade a grande maioria dos psica nalistas está aceitando para tais pacientes a utilização de métodos alternativos em um arranjo combinatório de múltiplos recursos Cabe levar em conta os seguintes aspectos que cercam a psicanálise contemporânea em relação com os pacientes psicóticos 1 Recentes avanços teóricos Os que vêm merecendo maior relevância são os referen 340 DAVID E ZIMERMAN tes à indiferenciação entre o eu e o não eu ao fenômeno da especularidade ao regis tro somático com a enorme importância que tem a representação do corpo ao alar gamento das atribuições das identificações projetivas nos processos perceptivocogni tivos tanto do ponto de vista de autores psicanalistas como da neurobiologia con temporânea 2 Valorização da realidade externa Diferen temente do que a técnica kleiniana classica mente recomendava de priorizar quase ex clusivamente a interpretação dos conflitos do mundo interno referentes às primitivas fanta sias inconscientes e aos objetos parciais os analistas contemporâneos hierarquizam a importância dos objetos externos reais 3 Relações familiares No mínimo dois as pectos merecem registro Um é o discurso dos pais como um dos modeladores do in consciente do sujeito O segundo é a desig nação de papéis fixos a serem cumpridos no contexto da dinâmica familiar Esses pa péis são variáveis mas cabe consignar a possibilidade de que o papel designado para um paciente psicótico tenha sido justamen te o de ele funcionar como psicótico isto é como portador das partes psicóticas de cada um e de todos do seu grupo familiar 4 Colaboração multidisciplinar Cada vez mais os psicanalistas estão permeáveis às contribuições dos epistemólogos neurólo gos lingüistas educadores geneticistas e em especial à moderna psicofarmacoterapia 5 Tratamento múltiplo Como decorrência dos itens anteriores a tendência dos psica nalistas contemporâneos que tratam paci entes psicóticos pelo método analítico é combinálo com métodos alternativos como as diversas formas de psicoterapia os grupos de autoajuda a medicação psi cotrópica instituição que proporcione os benefícios da ambientoterapia o concurso dos assim chamados auxiliares terapêuticos ou amigos qualificados atendimento do gru po familiar etc 6 Particularidades da técnica psicanalítica Sabese que os objetivos básicos da análise com pacientes psicóticos são a promover a constância objetal interna e a constância da percepção da realidade externa b a in tegração das dissociações c o desenvolvi mento das capacidade de domínio sobre os estímulos resultantes das frustrações tendo em vista que esses pacientes desorganizam se diante de situações novas não estrutu rantes d a transição do imaginário para o simbólico e o desenvolvimento da capaci dade de pensar f a formação de um defi nido sentimento de identidade Muitos aspectos técnicos mereceriam ser destacados mas cabe registrar que com o paciente psicótico acima de tudo é a at mosfera analítica que acredita a maioria dos psicanalistas contemporâneos constitui o mais importante fator terapêutico Cabe ao analista ter uma série de atributos básicos dos quais é necessário ressaltar aqueles que correspondem aos que certamente faltaram na maternagem original do paciente Ape sar da ressalva de que o vínculo analista paciente psicótico não reproduz de forma rigorosamente igual a relação mãebebê é evidente que existem profundas similitudes entre ambos Psicose de transferência conceito de técnica HERBERT ROSENFELD Denominação proposta por ROSENFELD no trabalho A psicose de transferência no pa ciente fronteiriço 1978 com a qual ele descreve uma importantíssima e nada in freqüente ocorrência na situação psicanalí tica Consiste no fato de que eventualmen te analisandos nãopsicóticos ingressam em um estado transferencial de tamanho nega tivismo e distorção dos fatos reais em rela ção ao analista que chega a dar a impres são de uma situação realmente psicótica No entanto a grande característica dessa psi cose transferencial reside no fato de que fica VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 341 restrita à situação da sessão analítica finda a qual o analisando retoma a sua vida de forma completamente normal Vamos passar a palavra ao próprio autor para melhor esclarecer o analista costuma ser percebido de uma forma distorcida como um superego onipotente sádico mas a forma erótica da transferência psicótica na qual o paciente acredita que o analista está apaixonado por ele ou ela pode tam bém dominar a situação analítica por algum tempo Tais pacientes freqüentemente formam alguma aliança terapêutica com o analista mesmo tendo presente uma par te psicótica da sua personalidade enquan to simultaneamente mantém a aliança tera pêutica com a parte nãopsicótica de si mesmos diminuindo assim o perigo de apa recerem delírios transitórios Essa psicose de transferência que ROSENFELD também chama de psicose transitória pode perdurar dias semanas ou meses Se per manecer por um período demasiadamente longo e ininterrupto sem dar mostras de reversibilidade constituise um sério indica dor de um impasse irreversível Em tais si tuações de psicose transferencial as reações contratransferenciais são extremamente di fíceis para o analista Por tudo isso esse quadro transferencial merece particular atenção de modo a ser bem conhecida por todo analista praticante Comentário Reações dessa natureza sur gem com relativa freqüência no campo ana lítico nem sempre sendo fácil discriminar se corresponde a uma reação contra uma possível inadequação por parte da atitude e do manejo do analista ou se traduz um impasse prenunciador de uma ruptura com a análise ou ainda se está representando um difícil porém necessário momento ana lítico como uma forma de progresso e cons trução da confiança básica Isso se dá caso o analista sobreviva aos ataques e para tan to uma das condições é que não fique po lemizando com o paciente forçando as in terpretações Pelo contrário deve demons trar boa condição de continência e sobre tudo de paciência Psicossomática O termo psicosomático exatamente com essa grafia com um hífen separando psi que de soma apareceu na literatura médi ca em 1818 em um texto de HEINROTH clí nico e psiquiatra alemão Embora na épo ca com discordância de muitos outras vo zes como a de WILLIAM MOTSLOY aponta ram para a mesma direção Esse autor com uma notável intuição escreveu há mais de cem anos em Fisiologia da mente Quan do o sofrimento não pode expressarse pelo pranto ele faz chorarem outros órgãos Desde o final da década de 1940 o termo psicossomático adquiriu essa grafia unifica dora e passou a ser empregado como subs tantivo para designar no campo analítico a decisiva influência dos fatores psicológi cos na determinação das doenças orgâni cas embora já admitindo uma inseparabili dade entre elas FREUD também estudou os fenômenos psi cossomáticos Em 1891 em um trabalho sobre afasias e em 1905 no famoso Caso Dora empregou a expressão complacência somática para referir que podem existir al gumas áreas orgânicas de extrema sensibi lidade que condicionam facilitam descar regam e cenarizam determinados estados emocionais Em 1910 aparece seu artigo Uma alteração psicogênica da visão onde transparece o modelo da conversão histéri ca Além disso FREUD descreveu as mani festações somáticas presentes na neurose atual postulou a concepção de que o ego antes de tudo é corporal além de outras contribuições indiretas Seguindose a FREUD e tendo à frente a fi gura do psicanalista F ALEXANDER criouse a Escola de Chicago que estudou e descre veu as sete doenças psicossomáticas asma 342 DAVID E ZIMERMAN brônquica úlcera gástrica artrite reumatói de retocolite ulcerativa tireotoxicose e hi pertensào essencial atribuindo a cada uma delas uma especificidade psicogênica Outros importantes autores dedicaramse ao estudo dos fenômenos psicossomáticos atra vés de distintas abordagens cada vez mais correlacionadoas com as primeiras etapas do desenvolvimento emocional primitivo inclusive do psiquismo fetal como se de preende de BION No entanto é necessário ressaltar as pes quisas contemporâneas que psicanalistas pertencentes ao Instituto de Psicossomática de Paris estão procedendo com enfoques originais como por exemplo o conceito de pensamento operatório Psicoterapia psicanalítica As semelhanças e diferenças entre o que se costuma denominar psicanálise e psicote rapia psicanalítica assim como suas conver gências divergências tangências e super posições têm sido muito estudadas e dis cutidas principalmente a partir da década de 40 Na atualidade tais questionamentos entre os psicanalistas continuam plenamente vigentes controvertidos e polêmicos mas certamente sofrendo algumas transformações Psicoterapia é um termo genérico que cos tuma ser empregado para designar qualquer tratamento realizado com métodos e pro pósitos psicológicos Inicialmente FREUD não fazia distinção entre os termos psicoterapia e psicanálise e empregavaos indistintinta mente para caracterizar o método de trata mento psicológico que criara Freqüente mente empregava a expressão terapia psi canalítica como que estabelecendo uma conexão entre ambos Posteriormente no entanto no congresso realizado em Buda peste em 1918 fez sua famosa afirmação referente à necessidade de separar o ouro puro da psicanálise do cobre da sugestão direta É evidente que existem muitas formas de psicoterapia porém as de fundamentação psicanalítica não tem mais nada a ver com a aludida sugestão direta Pelo contrário ela vem adquirindo uma gradativa e crescente respeitabilidade como uma modalidade te rapêutica capaz de proporcionar resultados verdadeiramente psicanalíticos de sorte que a distância que separa a psicanálise da psi coterapia que já foi enorme aos poucos vai ficando reduzida Cabe citar algumas afirmativas de impor tantes autores a respeito dessa temática Assim é interessante a seguinte postulação de LRANGELL segundo uma citação de R WALLERSTEIN 1989 p310 A psicanálise propriamente dita e a psicoterapia psica nalítica ao final de um espectro são qua litativamente diferentes uma da outra se bem que existe um terreno fronteiriço de casos entre elas Uma comparação análoga pode realizarse entre o fato de que a cons ciência é distinta do inconsciente mesmo quando existe um préconsciente e diferen tes graus de consciência O dia é diferente da noite mesmo quando existe o crepúscu lo e o preto é diferente do branco não obs tante exista o cinza WALLERSTEIN e colaboradores após uma pes quisa iniciada por volta de 1950 de cinco anos de duração com todo rigor científico e sob os auspícios da Associação Psicanalí tica Americana conclui com a significativa observação de que Os resultados alcan çáveis e alcançados pelas psicoterapias de orientação analítica e pela psicanálise são muito mais próximos do que o originalmen te imaginado e que são bem menores as distinções claras entre os métodos técni cos e os mecanismos operativos na nature za e na permanência entre a psicanálise e as psicoterapias psicanalíticas do que habi tualmente se pensava 1989 p324 JOYCE MCDOUGALL 1991 p73 por sua vez afirma O grande diferenciador entre psi coterapia e psicanálise consistia no fato de VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 343 que somente o aprofundamento possibili tado pelas peculiaridades dessa última é que permitiria uma reconstrução do passado como uma explicação para o comportamen to do presente do analisando No entanto esse aspecto na atualidade embora con serve a sua importância já não é mais con siderado um instrumento terapêutico tão mágico e exclusivo como se considerava até há algumas décadas Muitos outros fatores concorrem e que estão igualmente presen tes na prática das terapias analíticas Essa temática adquiriu tal relevância que está sendo seriamente enfrentada pelos atuais dirigentes da IPA tal como está ex plicitado neste último verbete Psiquismo fetal BION BION durante o período em que produziu sua obra com uma visão algo mística na década de 70 inspirouse numa frase que consta no trabalho Inibições sintomas e angústia 1926 onde FREUD afirma que A vida extrauterina e a primeira infância apresentam uma continuidade bem maior do que a impressionante cesura do ato do nascimento nos permite supor Lamentan do que FREUD não tenha investigado mais profundamente o contido nessa sua frase BION partiu da perspectiva de que impres sionante seria o fato de que deveria haver alguma coisa espiritual ou uma vida psí quica intrauterina BION sustentava essa especulação imagina tiva a partir dos estudos científicos dos em briologistas que encontraram no corpo adulto vestígios daquilo que primordialmen te eram os órgãos sensoriais e fisiológicos do feto Da mesma forma afirma não ter a menor dúvida de que o feto pode ouvir e responder a sons musicais tanto os provin dos de dentro como os borborigmos intes tinais da mãe como os de fora será que o feto a termo registra uma discussão irada entre os pais Assim como dizia BION é certo que o feto movese no útero em res posta a determinados ritmos e responde à pressão dos dedos no ventre da mãe Transportando para a prática psicanalítica BION assevera que existem situações nas quais um paciente mostra grandes sinais de medo inexplicável embora possa ter apren dido a não demonstrálo e a tentar ignorá lo Ele achava conveniente pensar esse fato em termos de medo talâmico Assim na prática clínica em alguns pacientes ocorrem às vezes certas manifestações somatiformes que despertam sentimentos intensos e apa rentemente sem uma explicação lógica e que a intuição clínica do psicanalista perce be que elas têm uma origem muito rudimen tar BION exemplificava a existência de sen timentos subtalâmicos ou parassimpáticos es tabelecendo uma analogia com o fato de o sujeito ver estrelas e ter a impressão de luz caso o globo ocular for pressionado de modo brusco ou violento Essa é uma resposta anô mala que clinicamente pode aparecer sob uma forma de escotomas ou de enxaqueca mas que pode ser um remanescente das res postas embrionárias da cavidade óptica ante as pressões do meio aquoso intrauterino Aliás esse aprofundamento que BION fez em relação às impressões sensoriais e neurofi siológicas decorrentes de um protopsiquis mo embrionário e fetal está começando a ter reconhecimento psicanalítico O eminen te autor MELTZER 1986 afirma que os estu dos de BION acerca do psiquismo fetal abrem uma importante porta para a compreensão dos fenômenos psicossomáticos Por outro lado também impõese registrar que essas conjecturas imaginativas a expressão é dele de BION feitas numa época em que não existia a atual tecnologia médica têm sido amplamente comprovadas por recentes tra balhos de pesquisa como os de ALESSAN DRA PIONTELLI tal como aparece em seus li vros e no artigo Observações de crianças desde antes do nascimento 1996 Ver o verbete Fetal psiquismo 344 DAVID E ZIMERMAN Publicação BION Na obra de BION o termo publicação refe rese à capacidade de o indivíduo tornar os dados sensoriais e emocionais acessíveis à sua consciência de sorte que isso pode ad quirir um cunho privativo ou estar em con dições de ser tornado público Nesse último caso BION dá o nome mais específico de comunicação porque alude ao fato de que determinado enunciado adquiriu um grau de abstração que possibilita vir a ser conce bido como uma forma de publicação pu blic action ou seja tornar público um tex to ou uma idéia que favoreça estabelecer uma correlação com o senso comum ver esse verbete Pulsões FREUD Inicialmente convém lembrar que há uma equivalência na literatura psicanalítica en tre os termos instintos impulsos impulsos instintivos e pulsões Isto se deve ao fato de que as primeiras traduções dos textos de FREUD notadamente a da Standard Editi on realizada por Strachey não levaram em conta que FREUD utilizou as palavras Instinkt e Trieb no original alemão com significa dos bem distintos entre si e não como sinô nimos Ver o verbete Instintos Em muitos dos seus textos como em Três teorias sobre a sexualidade 1905 FREUD afirmou que a pulsão representa o conceito de algo que é limite entre o somático e o psíquico Ele também definiu que toda pul são implica a existência de quatro fatores que lhe são inerentes uma fonte uma for ça uma finalidade e um objeto A discrimi nação conceitual de cada um desses quatro termos segue abaixo 1 A fonte Quelle no original alemão das pulsões provém das excitações corporais ditadas pela necessidade de sobrevivência 2 A força Drang determina o aspecto quantitativo da energia pulsional ou seja representa o importante aspecto econômi co do psiquismo Pode ser comparado ao conceito de um quantum de excitação que tende à descarga 3 A finalidade Ziel primariamente é a descarga da excitação para conseguir o retorno a um estado de equilíbrio psíqui co segundo o princípio da constância também conhecido como princípio da homeostasia Ambos os termos são equi valentes à busca do princípio de Nirva na o qual alude ao fato de o organismo tentar reproduzir o idílico estado intraute rino 4 O objeto Objekt bastante variável e mutável é o capaz de satisfazer e apazi guar o estado de tensão interna oriundo das excitações do corpo ou que no mínimo sirvalhe como um mero depósito de des carga Além destes fatores podese depreender dos trabalhos de FREUD mais estas característi cas que acompanham as pulsões o deslo camento da pulsão de uma zona corporal para outra o intercâmbio entre as pulsões a compulsão à repetição e as transforma ções das pulsões A cada finalidade pulsional corresponde um determinado objeto Um exemplo simples é a fome cuja finalidade é sua satisfação e cujo objeto é o alimento No caso em que o objeto do investimento pulsional seja o próprio sujeito já estamos falando de nar cisismo Inicialmente FREUD postulou a existência de duas pulsões 1 As pulsões do ego também chamadas de autopreservação ou de interesses do ego 2 As pulsões sexuais também co nhecidas como de preservação da espé cie às quais ele denominou libido em latim designa desejo que em termos genéricos designa todas as pulsões res ponsáveis por tudo aquilo que compre endemos sob o nome de amor FREUD 1921 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 345 A partir de Além do princípio do prazer 1920 a dualidade inicial que diferencia va as pulsões do ego e as pulsões sexuais cedeu lugar a uma nova dualidade 1 As pulsões de vida Eros 2 As pulsões de morte Tânatos concep ção pulsional que ele conservou definiti vamente em sua obra Igualmente FREUD concluiu que o ego ti nha uma energia própria independente da sexualidade provinda do id As pulsões de vida passaram então a abranger as pulsões sexuais e as de auto conservação de modo que a libido passou a a ser conceituada como energia não mais da pulsão sexual unicamente mas sim pro vinda da pulsão de vida assim unificando ambas Ver os verbetes Autoconservação Interes ses do ego Instintos e Morte pulsão de Pulsões e suas vicissitudes As FREUD 1915 Entre 15 de março e 4 de maio de 1915 FREUD escreveu os Cinco trabalhos sobre metapsi cologia sendo um deles As pulsões e suas vicissitudes Nessa obra ele define pulsão como um conceito na fronteira entre o men tal e o somático ou seja o representante psí quico dos estímulos que se originam no inte rior do organismo e chegam à mente Para FREUD em qualquer situação a meta de uma pulsão é a satisfação que só pode ser obtida através da eliminação do estado de estimulação na fonte da pulsão Ademais ele afirma que a característica essencial das vicis situdes sofridas pelas pulsões reside na sujei ção delas à influência das três grandes polari dades que dominam a vida mental 1 A de atividadepassividade como bio lógica 2 A do egomundo exterior como real 3 A de prazerdesprazer como econômica As pulsões e suas vicissitudes aparece no volume XIV p137 da Standard Edition Brasileira VVM EUROPE Car Parts Group BV infovvmeuropacom wwwvvmeuropacom Part of VVME Car Parts Internationals Your Volvo Parts Specialist Q FREUD Em seu trabalho Projeto para uma psico logia científica para neurólogos 1895 FREUD emprega a letra Q para designar a quantidade ou seja a energia que circula pelos neurônios capaz de deslocamento e descarga No entanto essa noção de quan tum apresenta alguma dificuldade nos tex tos de FREUD pelo fato de ele representála de forma algo ambígua tanto por Q quan to por Qn GARCIAROZA um profundo estudioso de FREUD em seu livro Introdução à Metapsi cologia Freudiana I sugere a conveniência de se considerar Q como designando a quantidade de excitação ligada à estimula ção sensorial externa e Qn como designan do a quantidade de excitação interna de ordem intercelular Ou ainda Qn como sen do de ordem psíquica e Q indicando uma quantidade externa Quantidade de investimento libidinal FREUD Essa terminologia corresponde ao ponto de vista econômico de FREUD Assim a pulsão é postulada por ele como um elemento quantitativo da economia psíquica segun do sua hipótese que explicaria o funciona mento do aparelho psíquico a partir dos modelos científicos da física mecanicista de sua época Desse modo os processos mentais consisti riam na circulação e repetição de uma ener gia pulsional catéxis de grandeza variável e que sofre a ação de uma contracatéxis ou seja de um contrainvestimento Esse último conceito de contracarga aparece no trabalho O inconsciente1915 e nele FREUD mostra que essas energias contrainvestidas pela ação mecanismos de defesa são per manentes e criam resistências A maior crítica que se faz a esse ponto de vista econômico decorre justamente do fato de ter sido elaborado por FREUD a partir das concepções fisicalistas que surgiram no fi nal do século XIX quando além dos prin cípios e leis da hidráulica também ocorre ram as descobertas da eletricidade e do neurônio Desse modo FREUD estabeleceu a concep ção de que uma energia física percorria as vias nervosas neuronais tal como a ener gia elétrica percorre os fios Em algum mo mento de sua obra ele chegou a evidenciar a esperança de que no futuro a energia psí quica poderia vir a ser quantificada O modelo mecânico quantitativo emprega do por FREUD embora esteja ressurgindo Q 348 DAVID E ZIMERMAN para explicar situações como o das neuro ses atuais está amplamente superado na atualidade por outros modelos como o da cibernética pelo qual uma energia mínima e não específica pode desencadear despro porcionais reações em cadeia e de efeitos retroativos ou o da moderna física quânti ca que desvenda os segredos subatômicos num campo onde uma mesma matéria conforme as condições do observador tan to pode manifestarse como onda ou como partícula Comentário Cabe acrescentar creio mais dois aspectos 1 O conceito de intensidade ver esse ver bete o qual é diferente de quantidade 2 O que talvez possa ser chamado poten cialidade para uma transformacilidade da energia psíquica tal como acontece por exemplo com a metáfora de uma queda dágua que tanto pode arrasar uma lavou ra próxima como pode darlhe vida e cres cimento se a água for adequadamente dre nada Alem disso a queda podese trans formar em energia elétrica etc Quantum de afeto FREUD Expressão que exprime a hipótese econô mica de FREUD Também aparece sob os nomes de energia de investimento força pulsional pressão da pulsão ou libido quan do a pulsão sexual é a única que está em causa Na maioria das vezes FREUD emprega quan tum de afeto quando trata do destino do afeto e da sua independência em relação à representação tal como aparece nessa afir mativa de 1984 Nas funções psíquicas há razão para distinguir alguma coisa quan tum de afeto soma de excitação que pos sui todas as propriedades de uma quanti dade ainda que não estejamos habilita dos a medila alguma coisa que pode ser aumentada diminuída deslocada descar regada e se espalha sobre os traços mnési cos das representações mais ou menos como uma carga elétrica sobre a superfície dos corpos O conceito de quantum de afeto não é des critivo mas metapsicológico Assim em seu artigo sobre metapsicologia Recalcamen to 1915 FREUD afirma que O quantum de afeto corresponde à pulsão na medida em que esta se destacou da representação e encontra expressão adequada à sua quan tidade nos processos que se tornam sensí veis para nós como afetos Questão da análise leiga A FREUD 1926 Título de um livro de FREUD publicado em 1926 com o subtítulo Conversas com um interlocutor parcial Nesse livro ele abor da os problemas pertinentes ao direito ou não de a psicanálise poder ser exercida por nãomédicos Também faz um aprofunda mento sobre o próprio movimento piscana lítico internacional e a ideologia que deve ria reger a formação de novos psicanalis tas A motivação para escrever esse livro come çou com uma denúncia que uma expaci ente apresentou contra OTTO RANK com uma séria ameaça de um processo com base em antiga lei austríaca que proibia o charlata nismo FREUD saiu em defesa do amigo e discípulo tentando demover as autoridades com o argumento de que o leigo ou profa no não era o analista nãomédico mas qual quer um que não tinha adquirido uma for mação tanto teórica quanto técnica em psicanálise possuísse ou não um diploma de medicina A firme posição tomada por FREUD em de fesa da análise leiga dividiu os analistas de todo mundo filiados à IPA O bloco estado unidense moveu uma feroz reação a ponto de ABRAHAM BRILL então presidente da Sociedade de Psicanálise de Nova York ter ameaçado romper com FREUD Além dis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 349 so e coincidindo com a publicação do alu dido livro de FREUD o Estado de Nova York declarou ilegal a prática da análise por não médicos Enquanto isso os psicanalistas europeus fi caram divididos em duas facções alguns FERENCZI GLOVER propondo que a psica nálise se tornasse totalmente autônoma em relação à medicina ao mesmo tempo que outros EITIGON JONES pugnavam para que ela continuasse sendo uma profissão médica Por fim RANK se beneficiou com o veredic to de improcedência da acusação mas a questão prolongouse por muito tempo notadamente com os americanos que só muito recentemente aderiram à aceitação de psicanalistas nãomédicos O fato serviu para demonstrar que FREUD mantinha uma total coerência com as suas posições que não se deixava intimidar por pressões Prova disso é que sabedor em 1938 de que corria um boato nos Estados Unidos que te ria mudado sua opinião em relação à análise leiga FREUD reafirmou energicamente Não consigo imaginar de onde possa ter vindo esse boato estúpido com respeito à minha mudan ça de opinião sobre a questão da análise pra ticada por nãomédicos A verdade é que nunca repudiei minhas colocações e que as defendo com vigor ainda maior do que an tes diante da evidente tendência dos norte americanos de transformarem a psicanálise numa criada da psiquiatria O trabalho A questão da análise leiga composto de sete partes e um pósescrito está publicado na Standard Edition no volume XX p209 ocu pando cerca de 75 páginas End conversations quickly by combining closing statements R BION Dentre os seis elementos de psicanálise pro postos por BION consta o da relação I R ou seja da Idéia ver esse verbete com a Razão No capítulo oitavo de Elementos em Psica nálise 1963 BION afirma que a razão tem a função de administrar as pulsões de vida e de morte que em sua forma rudimentar servem de escravas da paixão As pulsões são forçadas a submeterse à razão que assim se torna senhora das paixões e ge nitora da lógica Desse modo conclui BION a busca de sa tisfação de desejos incompatíveis conduz à frustração e o predomínio do princípio da realidade estimula o desenvolvimento do pensamento e do pensar da razão e a da percepção da realidade psíquica e ambien tal Rabisco jogo do WINNICOTT Ver o verbete Jogo do rabisco Racionalização Termo freqüentemente empregado dentro e fora da psicanálise foi introduzido por E R JONES em 1908 no artigo A racionaliza ção na vida cotidiana Como o nome su gere está ligado ao uso da razão por parte do sujeito para apresentar uma explicação coerente do ponto de vista da lógica ou para encontrar uma justificativa do ponto de vista moral para uma atitude uma con duta uma idéia um sentimento etc cujos motivos verdadeiros de alguma forma ele nega Um bom exemplo metafórico está na co nhecida fábula da raposa que não conse guindo ter acesso às apetitosas uvas que cobiçava racionalizou que elas não interes savam porque estavam verdes De forma análoga a racionalização encon tra sólidos apoios nas ideologias constituí das na moral comum na doutrina religio sa nas convicções políticas nos fundamen tos científicos etc Diferentemente de sua conceituação por muitos analistas a racionalização não deve ser classificada como uma modalidade de mecanismo de defesa apesar de sua mani festa função defensiva porque não é dirigi da diretamente contra a satisfação pulsio nal antes ela disfarça os diversos elemen tos do conflito defensivo Assim é possível que certas defesas sintomas resistências e outras situações equivalentes que se pas 352 DAVID E ZIMERMAN sam no campo analítico sejam racionaliza das pelo paciente às vezes com argumen tação frágil que deve ser trabalhada na aná lise Porém às vezes a argumentação raci onalizada está fortemente ancorada em fa tos reais e torna o trabalho analítico mais difícil Embora a intelectualização possa estar a serviço da racionalização e sejam aproxi mados são no entanto conceitos diferen tes e devem ser bem distinguidos Racker Henrique Nascido na Polônia em 1910 Racker estu dou em Viena onde também exerceu a arte da música Formado em medicina fez aná lise com LAMPLDE GROT Em 1939 emigrou para a Argentina e instalouse em Buenos Aires onde retomou sua formação didática com AGARMA e depois com MLANGER Em 1947 tornouse membro da Associação Psicoanalítica Argentina APA da qual veio a ser um dos mais proeminentes membros Além da psicanálise RACKER interessouse por antropologia filosofia estética e histó ria das religiões No campo da psicanálise RACKER de formação fundamentamente klei niana celebrizouse pelos mesmos estudos que simultaneamente P HEIMANN fazia em Londres sem um saber do outro sobre con tratransferência sob o vértice de que ela poderia servir como um excelente instru mento técnico para o analista Esses estu dos aparecem no livro Estudos sobre a téc nica psicanalítica 1968 Depois de sua morte prematura ocorrida em 1961 seu nome foi dado a um Centro de Pesquisas e de Formação para Análise Didática Rank Otto Nascido em 1908 nos arredores de Viena filho de uma família judia de classe média O RANK cujo verdadeiro sobrenome era Rosenfeld teve uma infância e adolescên cia tristes como descreve em seu Diário de um adolescente Foi assim que eu cresci entregue a mim mesmo sem educação sem amigos e sem livros Na verdade ele so fria muito por um reumatismo articular agu do por uma feiúra física e pelas constantes brigas violentas com o pai alcoolista invete rado e dado a graves crises de cólera Além disso dizem seus biógrafos apresen tava sintomas obsessivos e fóbicos temero so de contágio por micróbios e evitando relações sexuais Mais ainda RANK sofria de crises de depressão intercaladas com esta dos de exaltação o que lhe valeu por parte de alguns analistas do círculo freudiano como o seu desafeto EJONES o rótulo de psicóticomaníacodepressivo Em 1905 depois de ter lido A interpretação dos sonhos aproximouse de FREUD e foi admitido no estreito círculo da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras Demonstrou um apaixonado interesse pela psicanálise o que sensibilizou FREUD que logo o consi derou como seu filho adotivo Em 1909 RANK publica seu grande livro O mito do nascimento do herói Com a idade de 28 anos já tinha publicado quatro livros versando sobre literatura mitos e incesto Em 1924 começa a se afastar da doutrina freudiana clássica e publica seu célebre li vro O trauma do nascimento Nele longe de se ater à concepção clássica do comple xo de Édipo considera que essa primeira separação do bebê da mãe constitui o pro tótipo da angústia psíquica Nesse mesmo ano juntamente com FERENCZI publica Pers pectivas da psicanálise onde é criticada a rigidez das regras psicanalíticas Dois anos depois em 1926 ele propôs a chamada terapia ativa preconizando tratamentos cur tos e limitados previamente no tempo Como RANK não era médico e não tinha sido analisado foi alvo do ataque de muitos co legas europeus e sobretudo americanos Tornouse pivô da crise da Questão da aná VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 353 lise leiga ver esse verbete sendo posterior mente em 1930 quando começava uma fulgurante carreira nos Estados Unidos ex cluído da IPA e seus analisandos america nos foram intimados a fazer nova análise RANK instalado definitivamente nos Estados Unidos vivendo ao lado de sua segunda esposa veio a falecer em 1939 algumas semanas após a morte de FREUD vitimado por uma agranulocitose causada pelos efei tos secundários das sulfamidas com as quais se tratava Reação terapêutica negativa FREUD M KLEIN J RIVIÈRE A expressão reação terapêutica negativa aparece pela primeira vez no capítulo V As servidões do ego do trabalho O ego e o id 1923 onde Freud afirma textualmente Há pessoas que se conduzem muito sin gularmente no tratamento psicanalítico Quando lhes damos esperanças e mostra monos satisfeitos com a marcha do trata mento mostramse descontentes e pioram acentuadamente Descobrimos com efeito que tais pessoas reagem num sentido inver so aos progressos da cura Cada uma das soluções parciais que haveria de trazer con sigo um alívio ou um desaparecimento tem porário dos sintomas provoca ao contrá rio uma intensidade momentânea da doen ça e durante o tratamento pioram no lu gar de melhorar Mostramnos pois a cha mada reação terapêutica negativa É indubi tável que nestes doentes há algo que se opõe à cura a qual é considerada por eles como um perigo e que neles predomina a necessi dade de doença e não a vontade de cura Não raramente impasse e reação terapêu tica negativa aparecem como sinônimos mas prevalece a idéia de que não o são Assim convém registrar a esclarecedora posição assumida pela psicanalista argenti na M BARANGER que em uma participação na MesaRedonda sobre Resistências 1979 afirmou que o impasse referese a uma forma de resistência que ocorre como estagnação de um processo que vinha em pro gresso às vezes é possível superálo e outras vezes termina com uma interrupção da análi se em que o paciente leva os benefícios con seguidos Isso o diferencia da RTN em que tudo volta à estaca zero e o epílogo da análi se pode adquirir características trágicas Quanto às causas geradoras da RTN cabe assinalar de forma altamente resumida as três clássicas 1 FREUD destacou o masoquismo moral e os sentimentos de culpa ligados a uma ne cessidade de castigo diretamente devidos à obtenção de um triunfo edípico tal como é representado na mente do paciente dian te do êxito analítico Posteriormente em 1937 FREUD incluiu na etiologia da RTN a pulsão de morte e a compulsão à repetição 2 JOAN RIVIÈRE no trabalho Contribuición al análisis de la reacción terapéutica negati va 1936 estabeleceu uma relação entre a RTN e um sistema fortemente organizado de defesas maníacas contra um subjacente estado depressivo do analisando que ele teme o levaria à loucura ou ao suicídio RI VIÈRE acima de tudo destaca a necessidade de a análise propiciar reparações verdadei ras a suas vítimas reais ou imaginárias que jazem no seu cemitério interior 3 M KLEIN enfocou a importância da inve ja na determinação da RTN como está evi denciado nesta frase de seu trabalho Inveja e Gratidão 1957 Além dos fatores assi nalados por Freud e desenvolvidos por J Rivière a inveja e as defesas contra ela de sempenham um papel importante na RTN Comentário A esses três clássicos fatores na determinação da RTN o triunfo edípi co a depressão subjacente e a inveja na atualidade cabe acrescentar mais dois ou tros igualmente freqüentes e relevantes 1 A presença de uma organização patoló gica sob a forma de uma gangue narcisis ta agindo contra dentro do próprio ego 354 DAVID E ZIMERMAN 2 A presença de um conflito entre o ideal do ego do analisando por exemplo ele pode ter sido programado para nunca su perar os irmãos e o êxito analítico Real registro do LACAN O termo real foi cunhado por LACAN inspi rado em conceitos da filosofia e por ele in troduzido na psicanálise em 1953 Não tem a acepção habitual pelo contrário LACAN o define como aquilo que é impossível de ser completamente simbolizado na palavra ou na escrita de modo que o real só pode ser definido em relação ao simbólico e ao ima ginário com os quais forma uma estrutura Para LACAN aquilo que não veio à luz no simbólico reaparece no real Assim liga o fenômeno das alucinações e o das idéias delirantes dos psicóticos a sua concepção do real na medida em que esse está pre sente desde o início da vida nem que seja através de percepções primordiais e é com posto pelos significantes que foram foraclu ídos recusados pelo registro simbólico Realidade princípio de FREUD Em Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental 1911 FREUD mostrou que o bebê na vigência do princí pio de prazer diante da ausência da mãe utiliza o recurso de uma satisfação aluci natória do desejo Porém à medida que a alucinação do seio não satisfaz sua fome ele vai sendo obrigado a aceitar o princípio de realidade de modo a desenvolver as capacidades de espera postergação da sa tisfação antecipação da mãe que aparece rá mais tarde bem como ele utilizará com mais maturidade seus órgãos sensoriais para fazer uma aproximação com a realidade no lugar do imaginário Assim o princípio de realidade pode ser encarado psicanaliticamente a partir de três enfoques 1 Do ponto de vista econômico correspon de a uma transformação de energia livre em energia ligada 2 Do ponto de vista topográfico o princí pio de realidade vai conectandose primor dialmente com o sistema conscientepré consciente CsPcs 3 Do ponto de vista dinâmico estrutural esse princípio confere ao ego um papel fun damental quanto ao destino das pulsões O princípio do prazer e o princípio de reali dade foram valorizados tanto por FREUD como por BION pelo vértice da satisfação ou da frustração das necessidades e dos dese jos A frustração leva à necessidade de mu dar a realidadeo que dá início ao processo do pensamento Realidade psíquica FREUD Bastante empregado na psicanálise desde os primórdios até a atualidade o termo rea lidade psíquica foi introduzido por FREUD Ao abandonar sua teoria da sedução pela qual tentava explicar as neuroses pelas re miniscências de traumas infantis realmente acontecidos ele passou a considerar que as fantasias têm o mesmo valor patogênico que as reminiscências e ao mesmo tempo atri buiu ao inconsciente o primado do apare lho psíquico Assim ele afirma que As fan tasias possuem uma realidade psíquica oposta à realidade material no mundo das neuroses é a realidade psíquica que desempenha o papel dominante Ao longo da história da psicanálise a noção de realidade psíquica sofreu várias reinterpre tações especialmente por parte de M KLEIN e de todos autores que se dedicaram ao estudo do desenvolvimento emocional primitivo e ao tratamento com psicóticos Essa temática con tinua em plena vigência sendo motivo de debates como tema oficial em congressos de psicanálise da IPA o que tem permitido uma rica visualização a partir de distintas aborda gens teóricas e clínicas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 355 Realização BION Na terminologia empregada por BION o con ceito de realização tal como a palavra mos tra se refere ao fato de que uma précon cepção por exemplo o conhecimento ina to do seio necessita de um seio real logo realização para satisfazer a necessidade do bebê A realização pode ser positiva caso o seio tornarse de fato real e presente ou negativa caso o seio necessitado está au sente e será introjetado como um presente seio ausente ou um nãoseio É possível depreender das descrições de BION que não devemos confundir realiza ção com concretização A primeira abre as portas para o caminho de uma simboliza ção enquanto a segunda implica uma mera satisfação concreta das demandas A préconcepção quando fecundada por uma realização positiva produz uma con cepção enquanto a préconcepção subme tida a uma realização negativa abre o ca minho para a produção da capacidade para pensar os pensamentos É útil frisar que a realização está diretamen te ligada ao problema das frustrações ou seja tanto é necessário que aconteçam rea lizações positivas quanto negativas desde que as duas existam concomitantemente e que nenhuma delas seja excessiva Ver verbetes Frustração Préconcepção Pensar Realização WINNICOTT Em seu livro Desenvolvimento emocional primitivo 1944 WINNICOTT especifica três processos que constituem os primórdios da realidade interna e que começa muito cedo integração personalização e depois destes a apreciação das noções de tempo e do es paço e de outras propriedades que põem o bebê em contacto com a realidade em suma uma realização ou uma adaptação à realidade estruturante Reativa formação Ver o verbete Formação reativa Recalcamento O FREUD 1915 Recalcamento no original alemão Die Verdrängung constitui um dos cinco li vros dos Trabalhos sobre metapsicologia escritos em 1915 Nele FREUD considera que uma das vicissitudes que uma pulsão pode sofrer é encontrar resistências que procurem tornála inoperante Sob certas condições a pulsão passa então para o estado de recalqueTornouse uma con dição para o recalcamento que a força do desprazer adquira uma força superior ao do prazer obtido com a satisfação FREUD também afirma que há motivos para supor que exista um recalcamento primitivo corresponde ao conceito de repressão primária uma primeira fase do recalque que consiste no fato de o repre sentante psíquico da pulsão ter barrada sua entrada no consciente desde o iní cio Esse artigo aparece no volume XIV p169 da Standard Edition Brasileira Recalque ou recalcamento FREUD O termo original alemão empregado por FREUD Verdrängung habitualmente apa rece traduzido como recalque ou recalca mento ou ainda como repressão embo ra a adequação da última tradução seja discutível Fundamentalmente o concei to de recalque está ligado a um processo pelo qual o sujeito procura repelir ou manter oculto no inconsciente as repre sentações de pensamentos imagens fan tasias e recordações que estejam ligadas a algum desejo pulsional proibido de sur gir no consciente Portanto o recalcamento não se dá direta mente contra as pulsões porque essas são 356 DAVID E ZIMERMAN biologicamente determinadas nem direta mente contra os afetos mas sim contra suas representações e seus derivados O mecanismo de recalque foi especialmen te estudado e descrito por FREUD ao tratar suas pacientes histéricas porém aos pou cos foi dando uma relevância nuclear a sua presença em todas as situações neuróticas e inclusive na psicologia normal conforme a sua afirmativa de 1914 A teoria do re calque é a pedra angular em que assenta todo o edifício da psicanálise Em O recalcamento 1915 FREUD distin gue três modalidades do movimento do re calque 1 O que denomina recalque originário ou primário que consiste num primeiro mo mento em que os representantes pulsionais nunca chegam a ter acesso ao sistema cons cientepréconsciente CsPcs e se mantêm fixados no inconsciente funcionando como um modelo e um pólo de atração para os demais recalques 2 O recalque propriamente dito ou se cundário como é conhecido o qual já im plica a ação de uma repulsa por parte de uma instância superior tanto do supere go inconsciente como da pressão da mo ral consciente 3 O terceiro momento se refere ao retorno do recalcado sob a forma de sintomas so nhos lapsos atos falhos etc Recomendações aos médicos que exer cem a psicanálise FREUD1912 Título de um dos mais importantes artigos sobre técnica no qual FREUD faz algumas recomendações ao analista tais como 1 Não fazer confusão quanto a nomes da tas lembranças material de outros pacien tes 2 Dar atenção a tudo que lhe é comunica do 3 Não tomar notas durante a sessão por que cerceiam a atividade mental do analis ta e causam uma impressão desfavorável para o paciente 4 Nunca trazer à baila seus próprios senti mentos ou seja o médico deve ser opaco para os seus pacientes e não deve mos trarlhes nada além do que for mostrado como um espelho 5 A capacidade intelectual do paciente não deve ser computada como fator favorável para a análise 6 Não é bom trabalhar cientificamente so bre um caso enquanto a análise estiver em andamento 7 O sentimento mais perigoso para um psicanalista é a sua ambição terapêutica de alcançar por intermédio desse méto do novo e muito discutido algo que pro duza um efeito convincente sobre outra pessoa O trabalho está publicado no volume XII p 149 da Standard Edition Brasileira Reconhecimento vínculo do Embora essa expressão não conste da ter minologia psicanalítica creio que cabe propor incluíla como acréscimo aos ou tros três vínculos clássicos o do amor o do ódio e o do conhecimento em razão de que durante a vida inteira todo e qualquer indivíduo vive permanentemen te em interação com os demais necessi tando vitalmente de obter alguma forma de reconhecimento O vínculo do reconhecimento se dá em qua tro dimensões 1 Fazer um reconhecimento voltar a co nhecer aquilo que já preexiste dentro dele 2 O reconhecimento do outro como pes soa autônoma e diferente dele 3 Ser reconhecido aos outros gratidão 4 Ser reconhecido pelos outros a come çar pelo bebê recémnascido que já ne cessita do olhar reconhecedor da mãe e essa necessidade prossegue com diversas VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 357 variantes pela vida toda de qualquer pes soa Ver o verbete Vínculos Recordação encobridora FREUD Ver o verbete Lembrança encobridora Recordar repetir e elaborar FREUD 1914 Um dos três artigos sobre técnica os ou tros são Sobre o início do tratamento e Observações sobre o amor transferencial que constituem as Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise Nesse texto FREUD faz importantes obser vações sobre o fenômeno do acting Assi nalou que o paciente não se lembra de coi sa alguma que ele esqueceu e recalcou mas age acting out Ele reproduz a experiên cia não como lembrança e sim como ação repetea sem saber que está repetindo A própria transferência é apenas um fragmen to de repetição a repetição é uma transfe rência do passado esquecido FREUD destaca a importância de o analista lidar com a transferência e a resistência dos pacientes nessa situação e diz que na práti ca o primeiro passo do analista é o de re velar a resistência para o paciente A elabo ração das resistências pode constituir uma tarefa árdua para o paciente e um teste de paciência para o analista O artigo está no volume XII p193 da Stan dard Edition Brasileira Recusa da realidade FREUD LACAN Ver o verbete Denegação Regra fundamental técnica FREUD Técnica psicanalítica legada por FREUD tam bém conhecida como regra da livre associ ação de idéias Embora a regra fundamen tal justamente com essa denominação apa reça clara e explicitamente formulada por FREUD em Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise 1913 ela já apare ce bem delineada no seu trabalho Sobre a psicoterapia 1905 Essa regra consistia fundamentalmente no compromisso assumido pelo analisando de associar livremente as idéias que lhe surgis sem espontaneamente na mente e de ver balizálas ao analista independentemente de suas inibições ou do fato de ele julgálas importantes ou não O termo fundamental era apropriado pois seria impossível con ceber uma análise sem que o paciente trou xesse um aporte contínuo de verbalizações que permitissem ao psicanalista proceder a um levantamento de natureza arqueológica dos recalques acumulados no inconsciente de acordo com o paradigma vigente à época Nos primeiros tempos na busca do ouro puro da psicanálise1915 contido na lembrança dos traumas psíquicos FREUD instruía seus pacientes para contar tudo que lhes viesse à cabeça Para tanto ele forçava a livre asso ciação de idéias por meio de uma pressão ma nual na fronte do analisando Posteriormen te deixou de pressionar fisicamente porém continuava impondo essa regra através de uma condição obrigatória estabelecida na combinação inicial do contrato analítico bem como por um constante incentivo às associa ções de idéias no curso das sessões Foi no trabalho Dois artigos para enciclo pédia 1923 que FREUD definiu com pre cisão as três recomendações fundamentais que no início de qualquer análise o paci ente deve necessariamente cumprir 1 Colocarse numa posição de uma aten ta e desapaixonada autoobservação 2 Comprometerse a agir com a mais ab soluta honestidade 3 Não reter qualquer idéia a ser comuni cada mesmo quando sente que ela é de sagradável quando julga que é ridícula ou não tão importante ou irrelevante para o que se procura 358 DAVID E ZIMERMAN A regra fundamental nesses primeiros tem pos não se restringia apenas à imperiosa obrigação de o analisando cumprir a exi gência da livre associação dos pensamen tos e das idéias Antes ela se comportava como caudatária de uma série de outras tantas recomendações complementares que os analistas impunham desde a formaliza ção do contrato analítico como a de que o paciente usasse o divã se comprometesse com seis ou no mínimo cinco sessões se manais não assumisse nenhum compromis so importante sem antes examinálo exaus tivamente o rígido emprego de definidas fórmulas quanto ao modo de pagamento de faltas etc De lá para cá muita coisa mudou acompa nhando as mudanças ocorridas no próprio perfil do paciente do analista e do processo psicanalítico em si Porém em sua essência a regra fundamental continua vigente Regras técnicas FREUD Por meio de seus trabalhos sobre técnica psicanalítica mais consistentemente estuda dos e publicados no período de 1912 a 1915 FREUD deixou um importante e fun damental legado a todos os psicanalistas das gerações vindouras as regras mínimas que devem reger a técnica de qualquer proces so psicanalítico e que se referem mais dire tamente ora ao analisando ora ao analista Muito embora FREUD as tenha formulado como recomendações são habitualmente conhecidas como regras talvez pelo tom pedagógico e algo superegóico com que ele as incluiu nos seus textos Classicamente são quatro essas regras que não estão descritas num único bloco mas que facilmente podem ser garimpa das nesses escritos técnicos a regra fun damental a da abstinência a da neutra lidade e a da atenção flutuante Cada uma dessas aparece explicitada nos respecti vos verbetes Comentário Creio que é legítimo acres centar uma quinta regra a do amor à ver dade em razão da ênfase que FREUD em diversos textos deu à verdade e à honesti dade tanto para o paciente quanto para o analista como condição sine qua non para a prática da psicanálise Regressão como mecanismo de defesa FREUD Na edição de 1914 de A interpretação dos sonhos 1900 FREUD mais claramente de fine seu conceito de regressão com estas pa lavras textuais Distinguimos três espécies de regressões 1 Tópica no sentido do es quema do aparelho psíquico 2 Temporal em que são retomadas formações psíqui cas mais antigas 3 Formal quando os métodos de expressão e de figuração habi tuais são substituídos por modos primitivos Essas três formas de regressão na sua base são apenas uma e na maioria dos casos coincidem porque o que é mais antigo no tempo é igualmente primitivo na forma e na tópica psíquica situase mais perto da extremidade perceptiva Assim cabe dizer que a regressão tópica alude mais diretamente à noção de uma regressão da libido a um modo anterior de organização psíquica aparece mais mani festamente nos sonhos e nos fenômenos alucinatórios ou mesmo em processos nor mais em que usamos a memória e a imagi nação A regressão formal referese ao re torno do funcionamento psíquico do pro cesso secundário para o do processo pri mário levando em conta a hierarquia das funções e das estruturas Em relação à re gressão temporal FREUD distingue uma re gressão quanto ao objeto quanto à fase li bidinal e quanto a uma regressão que se dá na evolução do ego FREUD acreditava que o passado infantil do indivíduo e mesmo da humanidade permanece sempre em nós como aparece VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 359 nessa afirmativa de 1915 Os estados pri mitivos podem sempre ser reinstaurados O psíquico primitivo é no seu pleno sentido imperecível Comentário Mais três aspectos devem ser mencionados Um é que a etimologia do verbo regredir composta dos étimos latinos re uma volta para trás mais uma vez gradior movimento para alude claramen te a um movimento que se processa numa direção para trás na organização do psi quismo O segundo aspecto é que esse re cuo para trás busca pontos de fixação os quais podem ser compreendidos como trincheiras que foram seguras e protetoras e também como inscrições no ego de modo que a re gressão pode ser interpretada como uma for ma de expressão daquilo que foi inscrito nem sempre sob a forma de palavras e que pode assumir a modalidade de uma compulsão à repetição Por último cabe destacar que a regressão se manifesta em distintas dimensões além daquela que ocorre na prática analítica como transparece na manifestação de qua dros da psicopatologia sintomas sonhos história das civilizações somatizações etc Regressão a serviço do ego Psicólogos do Ego O conceito de regressão a serviço do ego foi apresentado pelo psicanalista ERNEST KRIS 1952 pertencente à Escola da Psicologia do Ego Com ele enfatiza que a regressão não é necessariamente permanente e que a maio ria das regressões particularmente as das fun ções do ego são provisórias e reversíveis Existem por outro lado inúmeros fenô menos regressivos que são particularmente impressionantes em especial pela forma de atuar a serviço do ego como são os casos por exemplo do analisando na situação ana lítica de um pai que regride ao nível da idade do seu filhinho quando brinca parelho com ele e da criação artística etc Reich Wilhelm Nascido na Galícia em 1897 de uma famí lia judia assimilada REICH fez seus estudos de medicina em Viena orientandose para a psiquiatria e a psicanálise Aos 14 anos sofreu um sério traumatismo emocional por sentirse responsável pelo suicídio de sua mãe ao revelar ao pai a ligação amorosa dela com um de seus preceptores A partir de 1924 REICH se interessou pelas obras de Marx e Engels para tentar mostrar a origem social das doenças mentais e ner vosas Em 1928 aderiu ao Partido Comu nista e um ano após publicou numa revis ta moscovita o manifesto Materialismo di alético e psicanálise que se constituiu o fundador do freudomarxismo De Viena passando por uma temporada em Moscou foi a Berlim onde fez análise com SANDOR RADO e integrouse à Sociedade Psi canalítica Devido a suas características de permanente crítico revoltado e iconoclasta REICH conseguiu se indispor tanto com os comunistas quanto com os psicanalistas e foi expulso de ambas entidades representa tivas Assim foi realmente em razão de sua adesão ao comunismo e não por uma dis cordância técnica e doutrinária que REICH 360 DAVID E ZIMERMAN foi perseguido pelo movimento freudiano hostilizado pelo próprio FREUD e por JONES que no início tinham lhe demonstrado sim patia Também foi expulso do Partido ale mão em 1933 no exato momento da to mada do poder por Hitler e exilouse na Dinamarca No mesmo ano de seu exílio REICH decidiu criticar a psicanálise clássica publicando A análise do caráter hoje considerado um importante clássico no qual adotava posi ções idênticas às de FERENCZI a respeito da técnica ativa Após a sua dupla exclusão da IPA e do movimento comunista REICH se sentiu terrivelmente perseguido separouse da sua mulher ANNIE REICH uma impor tante psicanalista e começou a dedicarse ao estudo da orgonoterapia ver esse ver bete que foi repudiado tanto pelos psiqui atras como pelos psicanalistas Por volta de 1942 começou a dar sérios si nais de descompensação psicótica com idéias delirantes de perseguição Em 1957 acusado de estelionato por ter comercializa do seus acumuladores de orgônio atmos férico que curariam os pacientes de sua impotência orgástica REICH foi recolhido preso à penitenciária da Pensilvânia onde morreu vítima de um ataque cardíaco Nos anos de 1965 a 1975 as teses de REICH reapareceram como bandeira da contestação libertária na maioria dos grandes países Reik Theodor Nascido em 1888 proveniente de uma modesta família judia de origem húngara REICK sofreu com a depressão da mãe e com a morte prematura do pai que ocorreu quando tinha 18 anos REICK era um erudi to em música apaixonado pelas melodias de GMAHLER literatura e antropologia Tornouse um eminente praticante da psi canálise aplicada Tinha tal veneração por FREUD que passou a usar uma mesma bar ba e a fumar os mesmos charutos do seu mestre a ponto de ter recebido no círculo vienense o apelido de símileFreud Da mesma forma FREUD gostava muito dele tendoo adotado como um filho espiritual Não sendo médico e não tendo recursos econômicos foi auxiliado financeiramente por FREUD para fazer sua análise com ABRAHAM Foi em 1925 que denunciado por uma ex paciente estourou o caso do processo por exercício ilegal da medicina que provocou uma verdadeira tempestade no seio do movimento psicanalítico internacional ten do FREUD se posicionado firmemente a seu favor o que deu origem à acirrada questão da análise leiga Perseguido pelo nazismo REICK emigrou para os Estados Unidos instalandose em 1938 em Nova York Apesar de sua notori edade pelo fato de não ter a titulação de médico não foi admitido na Sociedade Psi canalítica e veio a sofrer forte hostilidade Além de autor de trabalhos brilhantes como o Como chegar a ser psicólogo REICK unido a outros psicanalistas emigrados como W STECKEL e FALEXANDER contestou os princípios ortodoxos do tratamento e pre gou a humanização da técnica desenvol vendo a tese de escutar com um terceiro ouvido segundo a qual o analista deveria usar sua intuição na relação contratransfe rencial com o paciente Vítima de uma crise cardíaca REICK morreu em 1969 aos 81 anos Relação objetal M KLEIN Expressão bastante freqüente em toda lite ratura psicanalítica Tanto designa as formas de como se configuram as interrelações do sujeito com o seu mundo exterior quanto de como os objetos se organizam e se rela cionam no mundo interno Embora FREUD tenha deixado implícita a noção de relações objetais tendo inclusive VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 361 expressado que a sombra do objeto recai sobre o ego 1917 ele nunca deu ênfase especial à abordagem das relações objetais como são entendidas na atualidade e mui to menos fazia parte do seu corpo doutri nário Quando FREUD se referia a objetos era mais para acentuálos como sendo o alvo da pulsão Ao mesmo tempo sempre re feria a noção de objeto como sendo uma totalidade M BALINT foi na década de 30 um dos au tores que mais destaque deram às relações objetais Porém não cabem dúvidas de que M KLEIN foi quem mais aprofundou os es tudos relativos às relações objetais sobre tudo em relação aos seguintes aspectos 1 Não considerar mais o sujeito num esta do isolado fazendo investimentos nos ob jetos e escolhas de objetos como uma for ma de obedecer às pulsões Antes qualquer ser humano está desde o nascimento numa permanente interação com o meio 2 Os objetos inicialmente são parciais so frem uma forte influência das fantasias in conscientes e através de um constante jogo de identificações projetivas e introjetivas constituem objetos bons ou maus determi nando uma ação tranqüilizadora ou perse cutória sobre o sujeito em todas as suas re lações com o mundo Sempre devese le var em conta que a percepção do mundo exterior está diretamente ligada e tingida pela realidade interior Em razão disso cabe dizer que muitas vezes o tipo e a escolha dos objetos exteriores não são mais do que um prolongamento da configuração obje tal interiorizada LACAN por sua vez mais do que as fantasi as inconscientes valorizou nas relações ob jetais a importância da linguagem a que a criança foi submetida Portanto de FREUD para cá o termo fase que sugere uma forma mais fixa e predeter minada da relação objetal cedeu lugar à expressão relação objetal a qual permite uma maior plasticidade para conceber que em determinado sujeito se combinam ou al ternam diversos tipos de relação de objetos Reparação M KLEIN Termo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar um de seus conceitos mais fundamentais qual seja o de o sujei to desde a condição de criança poder re parar no sentido de consertar os danos que teria causado tanto na realidade como no seu mundo de fantasias por meio de um sadismo destrutivo contra os objetos ne cessitados e ambivalentemente amados É no artigo O luto e suas relações com os estados maníacodepressivos 1940 que MKLEIN distingue as falsas reparações das reparações verdadeiras Em relação às primeiras diz que as repara ções maníacas trazem em si uma nota de triunfo na qual o sujeito sentese poderoso invertendo a relação de submissão que ti nha em relação aos pais a ponto de mui tas vezes desenvolver uma ideação deliran te de encontrar fórmulas mágicas para ma les como a cura do câncer etc Refere tam bém a falsa reparação obsessiva que con siste de uma repetição compulsiva de atos de tipo anulatório e de formações reativas destinada a aplacar sua vítima agora per seguidor sem que haja nos seus intentos reparatórios um elemento criativo realmen te objetivo As reparações verdadeiras por sua vez re presentam ser para a criança igualmente para o adulto como fica bem evidenciado no processo analítico altamente estruturan tes porque possibilitam a transformação dos objetos maus em bons Além disso acentua MKLEIN representam a vitória das pulsões de vida no seu embate contra as pulsões de morte assim possibilitando uma reparação baseada no amor e de respeito pelo objeto e que resulta em realizações verdadeiramen te criativas 362 DAVID E ZIMERMAN Acima de tudo MKLEIN considera a capaci dade de fazer reparações como condição intimamente ligada à posição depressiva o que implica uma capacidade de reconhe cer uma gratidão por quem o ajudou de modo a desenvolver uma preocupação sa dia pelo outro e a capacidade de integrar os aspectos ambivalentemente dissociados do objeto Repetição compulsão à FREUD Ver o verbete Compulsão à repetição Representação FREUD O termo Vorstellung empregado no origi nal por FREUD e traduzido por representa ção faz parte do vocabulário clássico da fi losofia alemã onde designa aquilo que se representa como sendo o conteúdo concre to de um ato de pensamento FREUD po rém concebeuo psicanaliticamente de for ma distinta De fato desde a redescoberta dos trabalhos referentes ao Projeto 1895 e a Afasias 1896 a expressão representação ocupa lugar de alta relevân cia na literatura psicanalítica Assim nos primeiros tempos FREUD expli cava as neuroses com um enfoque na dis tinção que deveria ser feita entre a quanti dade de afeto teoria econômica despen dida e a representação patogênica Para ilus trar na neurose obsessiva a quantidade de afeto mobilizada é deslocada da represen tação diretamente ligada ao acontecimento traumatizante por exemplo a proibição superegóica da prática ou fantasia de mas turbação para outra representação que parece ser insignificante para o sujeito no caso uma lavagem compulsiva das mãos De forma análoga na histeria conversiva a quantidade de afeto é convertida em ener gia somática e a representação recalcada é simbolizada por alguma zona ou atividade corporal por exemplo o sintoma de uma cegueira histérica como simbolização de uma recalcada cena primária traumatizante De fato nessa oposição entre afeto e repre sentação o que é recalcado é a representa ção originária a qual se inscreve no incons ciente sob a forma de traços mnésicos sen do que FREUD distingue entre a representa ção de coisa e a representação de palavra Nos textos metapsicológicos FREUD faz uma distinção entre a representação que deriva da coisa a qual é essencialmente visual e que ainda não atingiu a condição de ser sim bolizada por palavras e aquela outra re presentação que deriva da palavra essen cialmente acústica À primeira ele denominou representação de coisa Dingvorstellung no original alemão cuja inscrição está basicamente no incons ciente A segunda foi denominada represen tação de palavra Wortvorstellung e está mais ligada ao sistema préconscientecons ciente A ligação entre esses dois tipos de representação é fundamental para o enten dimento da passagem do processo primá rio para o processo secundário Nos primeiros escritos tal como aparece no trabalho Para uma concepção das afasias um estudo crítico 1896 FREUD utiliza a expressão representaçãoobjeto Ob jektvorstellung com o mesmo significado que nos trabalhos metapsicológicos de 1915 aparece com o nome de representaçãocoi sa A rigor no artigo O inconsciente 1915 o conceito de representaçãoobjeto é mais abrangente porque não designa unicamente a coisa mas sua relação com a palavra dessa forma designando um signi ficado FREUD também mostrou que pode haver uma interposição entre a representação coisa também costuma ser grafada como representação de coisa e a representação palavra ou representação de palavra Isso acontece na esquizofrenia em que as re presentações de palavra são tratadas como se fossem coisas concretas segundo as leis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 363 do processo primário ou como acontece nos sonhos em que as representações de palavras pertencentes aos restos diurnos são tratadas como representações de coi sas devido ao fato de que as frases pro nunciadas na vigília da véspera do sonho mercê dos processos de deslocamento e de condensação próprios da formação dos so nhos são tratadas como representação de coisa O que FREUD denominou representação palavra e representaçãoobjeto correspon de ao que posteriormente o lingüista SAUS SURE o grande inspirador de LACAN veio a conceituar com as respectivas denomina ções de significante e de significado Representaçãocoisa FREUD Para explicar o que entende por represen taçãocoisa no original alemão aparece como Sachevorstellung ou como Dingvors tellung FREUD se refere ao funcionamento psicótico no qual a palavra em vez de re presentar a coisa é tomada como uma coi sa em simesma O esquizofrênico trata as palavras como uma coisa e regendose pelas leis do processo primário joga com ela pres cindindo completamente do significado As representaçõescoisa próprias do incons ciente não podem equipararse a alguma modalidade de cópia de um objeto ou a uma imagem dele FREUD dizia que a repre sentaçãocoisa consiste num investimento se não da imagem mnêmica direta da coi sa pelo menos de restos mnêmicos mais distanciados derivados dela Em resumo a representaçãocoisa não é a representação de um objeto que seria o representado An tes disso designa a matéria a qualidade do texto da representação Representaçãopalavra FREUD Numa importante passagem do capítulo VI de Afasias 1896 FREUD afirma que Para a psicologia a palavra é a unidade de base da função de linguagem que evidencia ser uma representação complexa composta de elementos acústicos visuais e cinestésicos Geralmente são mencionados quatro componentes da representaçãopalavra a imagem acústica a imagem visual da letra a imagem motora da linguagem e a ima gem motora da escritura Assim diferentemente das representações coisa sediadas no inconsciente as repre sentaçõespalavra têm por sede o précons ciente e estão vinculadas à verbalização e a uma possível tomada de consciência Se gundo FREUD 1915 A representação cons ciente engloba a representaçãocoisa mais a representaçãopalavra correspondente enquanto a representação inconsciente é a representaçãocoisa só FREUD cunhou o termo parafasia para refe rir uma perturbação da linguagem na qual uma determinada palavra adequada é subs tituída por uma outra que é menos apropri ada mas que mantém uma certa relação com a palavra exata FREUD exemplifica va dizer lápis no lugar de caneta etc Esse fenômeno não está necessariamente ligado a lesão cerebral tanto que pode acontecer com qualquer pessoa em estado de pertur bação emocional mais forte ou em situa ções de cansaço Repressão Em psicanálise o termo repressão Ver drän gung abriga certa confusão semântica Grande número de autores e tradutores con sideramno como sinônimo de recalque ou recalcamento enquanto muitos outros es pecialmente da escola francesa como JLAPLANCHE e PONTALIS mostram no seu Vo cabulário de psicanálise 1982 preferem fazer distinção entre ambos os termos Assim os autores acima mencionados con sideram que o recalque é um processo que consiste essencialmente na participação do 364 DAVID E ZIMERMAN inconsciente enquanto a repressão estaria mais ligada a um mecanismo de exclusão para fora do campo da consciência atuan do no nível da segunda censura FREUD si tua essa censura entre o consciente e o pré consciente e não como acontece no recal camento na passagem de um sistema o préconscienteconsciente para outro siste ma o inconsciente Do ponto de vista di nâmico as motivações morais desempe nham na repressão um papel importante A confusão semântica aumenta porque alguns autores denominam supressão o mecanis mo defensivo que LAPLANCHE e PONTALIS des crevem como repressão Ver o verbete Recalque ou recalcamento Resistência Abordagem de FREUD FREUD empregou o termo resistência pela primeira vez ao se referir à paciente Elisa beth von R 1893 usando a palavra origi nal Widerstand Em alemão wider significa contra como uma oposição ativa Até en tão a resistência era considerada exclusiva mente um obstáculo à análise com uma força correspondente à da quantidade de energia com que as idéias e os sentimentos tinham sido recalcados e expulsos de suas associações Assim por longo tempo o conceito de re sistência em psicanálise foi empregado com um significado depreciativo tal como FREUD afirmou em A interpretação dos sonhos 1900 após dizer que as conceituações de resistência e de censura estavam intimamen te relacionadas Uma das regras da psica nálise é que tudo o que interrompe o pro gresso do trabalho psicanalítico é uma re sistência Aos poucos FREUD foi concluindo que aquilo que está recalcado mais do que um indesejável corpo estranho compor tavase como um infiltrado de modo que o fenômeno resistencial não era algo que surgia de tempos em tempos mas sim que de alguma forma está permanente mente presente FREUD aprofundou bastante o estudo sobre as resistências em Inibições sintomas e angústia 1926 quando utilizando a hi pótese estrutural ele descreveu cinco tipos e três fontes delas Os tipos derivados da fonte eram 1 Resistência de repressão que consiste na repressão que o ego faz de toda percepção que cause algum sofrimento 2 Resistência de transferência em que o paciente manifesta em relação a seu ana lista resistência contra a emergência de uma transferência negativa ou sexual 3 Resistência de ganho secundário que ocorre em razão do fato de a própria doen ça conceder um benefício a certos pacien tes como os histéricos os de personalida des imaturas e as que estão pleiteando al guma forma de aposentadoria por motivo de doença Essas resistências são muito di fíceis de abordar eis que são egossintôni cas 4 As resistências provindas do id que FREUD considerava ligadas à compulsão à repeti ção e que juntamente com uma adesivida de da libido promovem uma resistência contra mudanças 5 Resistência oriunda do superego a mais difícil de ser trabalhada segundo FREUD por causa dos sentimentos de culpa que exigem punição Comentário No clássico Análise termi nável e interminável 1937 FREUD intro duz alguns novos postulados teóricotécni cos Creio que neles ele formula um sexto tipo de resistência a que é provinda do ego contra o próprio ego em certos casos o ego considera a própria cura como um novo perigo A meu juízo FREUD está aqui intuindo e renunciando aquilo que ROSENFELD 1965 veio a chamar de gangue narcisista e STEINER 1981 de organização patológica No referido trabalho de 1937 FREUD aporta outras importantes contribuições sobre as VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 365 resistências como são as seguintes o con ceito de reação terapêutica negativa como sendo aderido à pulsão de morte a valori zação do papel da contratransferência sen do que ele aponta que a resistência do ana lisando pode ser causada pelos erros do analista a observação de que supunha que a resistência no homem se deveria ao medo dos desejos passivofemininos em relação a outros homens e nas mulheres seria de vido em grande parte à inveja do pênis FREUD também aludiu ao surgimento de uma resistência contra a revelação das re sistências Resistência tipos de Abordagem clínica A evolução do conceito de resistência na prática analítica sofreu uma profunda trans formação Nos tempos pioneiros era consi derada unicamente como um obstáculo de surgimento inconveniente Nos dias de hoje embora se reconheça a existência de resis tências que obstruem totalmente o curso exitoso de uma análise na grande maioria das vezes o aparecimento das resistências no processo analítico é muito bemvindo porquanto representam com fidelidade a forma como o indivíduo defendese e resis te no cotidiano da vida Assim cabe fazer a seguinte paráfrase Dizeme como resistes e dirteei quem és Não é possível uma clara classificação ou sistematização das resistências devido às diferenças semânticas entre os autores os múltiplos vértices de abordagem sua mul tideterminação e na situação analítica o fato de que cada sujeito tem uma pletora de recursos resistenciais os quais variam com os distintos momentos do processo analítico No entanto de forma genérica é cabível traçar o esquema que segue 1 A partir da teoria estrutural continua válido o que FREUD postulou em 1926 a res peito dos cinco tipos e três fontes das resis tências No entanto na atualidade é impor tante estabelecer as interrelações dentro das respectivas instâncias psíquicas de onde se originam as resistências inconscientes não só do id do ego e do superego mas tam bém do ego ideal do ideal do ego e das organizações patológicas que sabotam o ego Também devem ser estabelecidas as interrelações entre essas instâncias e as delas com a realidade exterior 2 A classificação pode ser 21 Pelo critério das manifestações clínicas tais como faltas atrasos intelectualizações silêncio exagerado ou prolixidade segredos sonolência ataque às funções do ego per ceber sentir pensar discriminar em si pró prio ou no analista fuga para a extratrans ferência etc 22 Pelo critério das finalidades das resis tências de sorte que além das descritas por FREUD vale acrescentar resistência contra a regressão medo da psicose a progressão cujo grau extremo é o surgimento de uma reação terapêutica negativa a renúncia às ilusões narcisísticas as mudanças verdadei ras medo de uma catástrofe psíquica a vergonha culpa e humilhação de não cor responder às expectativas do ego ideal e do ideal do ego a dor da elaboração da posi ção depressiva Também deve ser incluída a resistência que se manifesta como um sa dio movimento do paciente contra as pos síveis inadequações do seu analista 23 Pelo critério de relacionar as modalida des de resistências ao tipo grau e função das defesas mobilizadas sintomas traços caractereológicos actings excessivos falso self etc 24 Pela relação com os pontos de fixação patológicos que correspondem às etapas evolutivas do desenvolvimento emocional que deram origem às resistências as de natureza narcisista são particularmente im portantes pelo fato de constituírem o crisol da formação da personalidade e da identi dade Assim a maioria das pessoas que hoje procura análise apresenta importantes 366 DAVID E ZIMERMAN problemas caractereológicos de baixa auto estima e de prejuízo do sentimento de iden tidade derivados da permanência de um estado depressivo subjacente muitas vezes resultante das primitivas feridas narcisísticas 25 Dentro da concepção da contemporâ nea psicanálise vincular não é possível dis sociar completamente a resistência do pa ciente e a contraresistência No campo ana lítico resistencialcontraresistencial ambas embora algo encobertas podem estar pre sentes pela contração de conluios resisten ciaiscontraresistenciais 26 Na situação analítica as resistências po dem se manifestar contra o setting instituí do o qual na sua essência deve ser pre servado ao máximo Em relação às inter pretações por exemplo o fenômeno que BION descreveu como reversão da perspec tiva e em relação à elaboração exemplo dos pseudocolaboradores que bem no fun do não querem fazer mudanças verdadei ras É freqüente que muitos pacientes bastante regressivos oponham sérias resistências às mudanças e desejem manter as coisas como estão não porque não desejem curarse mas não acreditam nas melhoras ou acham que não as merecem ou que correm o sé rio risco de voltar a sentir as dolorosas ex periências passadas de traição e humilha ção Assim o seu objetivo de vida é sobre viver e não viver ResistênciaExistênciaDesistência A etimologia respalda a última afirmativa do verbete anterior a palavra resistência é composta de re sistere O prefixo re sig nifica mais uma vez um retorno para co meçar de novo como em regredir revo gar reformar enquanto o verbo latino sis tere tem o significado de continuar a exis tir Aliás o prefixo ex ou ec indica um movimento para fora de modo que no pro cesso analítico pode ser entendido como expressando uma volta à utilização de re cursos defensivos e ofensivos contra o que ou quem lhes representa alguma ameaça Revela a luta que o paciente está fazendo para reexperimentar seu direito de voltarse para fora voltar a existir O contrário de re sistir ou seja desistir o prefixo de significa privação é que seria funesto Comentário Penso que a forma resisten cial mais grave é justamente a de um esta do mental do analisando de desistência Nesse caso ele procede de uma forma uni camente formal e mecânica sendo que o seu único desejo pode ficar reduzido a um nada desejar assim esterilizando a eficá cia analítica Isso se deve ao fato de que nos pacientes seriamente regredidos antes de desejos existe um estado de profundas necessidades que se não forem satisfeitas pelo analista reforçarão um estado anterior de suas vidas Por esse estado muito mais do que ódio eles geram um sentimento de decepção pelo novo fracasso do meio am biente Isso interrompe o crescimento do self e prejudica a capacidade de desejar o que conduz a uma sensação de futilidade e a uma desistência de desejar e de ser Assim a desistência vem acompanhada de um estado afetivo de indiferença provavel mente nos mesmos moldes da indiferença que o sujeito acredita ter sofrido por parte de todas as pessoas mais significativas de sua vida Em resumo na situação psicana lítica enquanto houver resistências que pug nam pela existência ainda persiste a cha ma da esperança A pior forma de resistên cia é a de um estado mental de desistência a qual cronifica a desesperança ou seja o paciente nada mais espera da análise e da vida Restauração do simesmo A KOHUT 1977 Em 1977 KOHUT publicou seu segundo li vro The restoration cuja edição brasileira VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 367 tem o título de A restauração do simesmo Nessa obra ele manifesta claramente sua ruptura com os postulados freudianos Segundo KOHUT os transtornos não podem ser tratados com a análise clássica que en fatiza sobretudo a interpretação do conflito neurótico porquanto para esse tipo de pa ciente o método é insuficiente e estéril quan to aos resultados terapêuticos Afirma que nesses casos como conseqüência das res postas empáticas perturbadas dos self obje tos o simesmo está debilitado e sujeito à fragmentação Assim como tentativa de bombear car gas narcisistas para restaurar esse self que está se esvaindo de libido o simesmo lan ça mão de um destes dois recursos 1 Através da satisfação de demandas insa ciáveis do pólo exibicionista do self gran dioso 2 Uma tentativa de restabelecer a autoes tima avariada o equilíbrio narcisista feri do é um meio de satisfazer as demandas do pólo dos ideais Ambas as tentativas podem coexistir ou se alternar No entanto há o risco de haver uma overdose narcisista que diante dos ine vitáveis fracassos exige uma renovada dose de narcisismo o que pode levar o sujeito a ingressar num círculo vicioso maligno Restos diurnos FREUD Um dos elementos que participa na forma ção dos sonhos é o que FREUD chamou res tos diurnos para designar que acontecimen tos ocorridos na véspera do sonho incidem em áreas latentes no inconsciente do psi quismo e através dos mecanismos de des locamento condensação e simbolização participam da configuração dos sonhos manifestos Isso fica melhor esclarecido com a célebre metáfora na qual FREUD diz que os restos diurnos se comportam como sendo o em presário do sonho funcionando como inci tamento As sensações corporais ocorridas durante o sonho podem executar um papel análogo a esse Na prática analítica o fenômeno do incita mento produzido pelos restos diurnos da vigília ganha importância à medida que o analista puder ligar o conteúdo de determi nado sonho com o resto que ficou da ses são anterior na mente do paciente Retorno do recalcado ou do reprimido FREUD Expressão bastante freqüente que designa o fato de os elementos recalcados no incons ciente não desaparecerem nem tampouco ficarem aniquilados Pelo contrário eles ten dem a reaparecer e isso é conseguido atra vés de diferentes maneiras de formação de compromissos feitas entre as representações que estão recalcadas proibidas de apare cer e os agentes encarregados de fazer o recalcamento tanto o recalcado quanto o recalcante seguindo os mesmos caminhos associativos FREUD esclarece isso com uma convincente metáfora a do asceta que na vida marca da pela prática da devoção e da penitência tentando expulsar a proibida tentação por meio da imagem do crucifixo vê aparecer em seu lugar a imagem de uma mulher nua Diz FREUD que justamente é no recalcante crucifixo e por detrás dele que o recalcado mulher nua obtém finalmente a vitória Rêverie BION Denominação cunhada por BION 1962 e tal como a sua raiz francesa mostra rêve sonho designa uma condição pela qual a mãe ou o analista estão em um estado de sonho isto é está captando o que se passa com o seu filho não tanto através da aten ção provinda dos órgãos dos sentidos mas muito mais pela intuição de modo que uma menor concentração no plano sensorial 368 DAVID E ZIMERMAN possibilita um maior afloramento da sensi bilidade Em suma diz BION a rêverie é um com ponente da função α capaz de colher as identificações projetivas da criança indepen dentemente de serem percebidas por esta como sendo boas ou más ou seja é a ca pacidade de fazer uma identificação intro jetiva das identificações projetivas da crian ça ou paciente de modo a permitir uma ressonância com o que é projetado dentro dela De forma análoga na situação psica nalítica o estado de sonho próprio da fun ção rêverie do analista lhe possibilita dar livre curso a suas fantasias devaneios e emoções em um estado mental equivalen te ao da atenção flutuante preconizada por FREUD e que serviu de inspiração ao que BION veio a postular como uma condição de o analista se vincular com o analisando sem memória desejo ou compreensão Podese dizer que o conceito de rêverie na prática clínica é uma complementação da atenção flutuante de modo que para BION o que precipuamente caracteriza o rêverie é a retomada de uma unidade funcional com a mãe unidade essa que vai além de um plano simplesmente físico e fisiológico Ou seja não basta o leite materno concre to mas sim a forma de como ele é dado tendo em vista que o leite concreto não im pede uma sensação da presença de um seio mau ausente ou perdido Fazendo jus ao nome este conceito tam bém guarda uma semelhança com o da formação dos sonhos tal como é a pas sagem do processo primário para o da formação das imagens oníricas e dessas para a formação dos símbolos do sonho Em outras palavras a função rêverie de signa a capacidade de sonhar isto é para pensar noutro registro assim como tam bém alude à importância de uma liber dade para sonhar devanear imaginar e para simbolizar abstratamente aquilo que é concreto Como há certa superposição conceitual entre rêverie e continente função a ambos também de BION e holding de WINNICOTT é útil consultar esses três verbetes Reversão da função ααααα BION Em certos sujeitos já se formou a função simbólica resultante da transformação dos elementos β em elementos α e daí poden do evoluir para a formação de conceitos conforme os degraus da Grade de BION No entanto é possível que essa função simbó lica sofra tamanha dor psíquica que ela re cua e produz elementos β agora mistura dos com traços de ego e de superego que já tinham se formado Como resultante disso a reversão da fun ção α produz alucinações delírios fenôme nos psicossomáticos e a mentalidade carac terística dos supostos básicos dos grupos Reversão da perspectiva BION Expressão introduzida por BION para desig nar o fenômeno presente no campo analíti co pelo qual o paciente que o utiliza man tém com o analista um acordo manifesto e um desacordo latente tendo em vista o fato de que formalmente pode tratarse de um paciente assíduo colaborador gentil que assente com a cabeça confirmando que está aceitando as interpretações porém no fun do ele as desvitaliza revertendo o signifi cado delas para suas próprias premissas que lhe são familiares e lhe servem como defe sas logo como resistências Na prática analítica esse tipo de resistência mais presente na parte psicótica da perso nalidade dos analisandos especialmente os portadores de algum transtorno narcisista tem grande importância porquanto pode determinar uma inconsciente esterilização quanto ao destino da interpretação na men te do paciente embora possa ter sido for mulada corretamente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 369 Convém alertar que muitos confundem a expressão reversão da perspectiva com a perspectiva reversível ambas cunhadas por BION A primeira é a descrita acima enquan to a segunda de forma totalmente distinta designa a capacidade de o analista a ser desenvolvida no analisando vir a abrir no vos vértices de observação e reflexão sobre um determinado acontecimento psíquico de modo a possibilitar uma às vezes necessária reversão do significado inicial que o paciente estava atribuindo desconfiança por parte de um paranóide grandiosidade de um narcisis ta desvalia de um depressivo etc Revisão da dinâmica de grupo Uma BION 1952 Neste trabalho os estudos sobre grupos são baseados em experiências vividas por BION em distintos locais e épocas e com diferen tes propósitos Assim no Hospital Militar durante a II Guerra Mundial descreveu as tensões intragrupais com grupos de mili tares formados com a finalidade de reabili tálos Também descreve um método origi nal criação sua de proceder a uma sele ção de candidatos a oficial da armada atra vés da proposição de atividades em grupo sem líder A experiência grupal de BION fi cou muito enriquecida por seus posteriores experimentos de finalidade psicoterapêuti ca na Tavistock Clinic Esse trabalho consta do livro Experiências em grupos publicado em 1961 o qual reú ne todos os artigos que escrevera sobre gru pos Muitos dos originais conceitos acerca dos fenômenos grupais que BION observou criou e descreveu aparecem resenhados no verbete Grupo contribuições de Bion Romance ou novela familiar FREUD OTTO RANK Expressão criada por FREUD e RANK para de signar a maneira como um sujeito modifica seus laços com os pais imaginando para si através de um relato ou uma fantasia uma outra família que não sua verdadeira Num artigo escrito especialmente para o li vro de OTTO RANK O nascimento do herói 1909 FREUD utilizou a expressão romance familiar para expressar uma construção in consciente na qual a família inventada pelo sujeito é modificada de acordo com suas fantasias tanto adornandoa com todos os elementos pertencentes aos pais idealizados da infância quanto também desqualifican doa e criando um romance de que foi aban donado pelos pais Apoiandose nessa idéia RANK estudou as lendas típicas das grandes mitologias sobre o nascimento de heróis Rômulo Moisés Jesus Paris como pode ser lido no verbete Mitos FREUD por sua vez mostrou que os relatos míticos podem ser lidos como fanta sias em que as situações entre os persona gens se invertem FREUD utilizou a noção de romance familiar nas suas principais obras referentes à psica nálise aplicada como em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 Totem e tabu 1912 e Moisés e o monoteísmo1939 Ademais à medida que evidenciou uma analogia entre os mitos os romances da literatura os sistemas delirantes ou religiosos e os romances familiares FREUD facilitou um amplo debate da psicanálise com a antropologia a literatura e a religião Rosenfeld Herbert HERBERT ALEXANDER ROSENFELD nasceu em 1910 em Munique Alemanha originário de uma família judia Havia ingressado na escola de medicina porém com a chegada de Hitler ao poder foi decretada a proibi ção de que estudantes judeus pudessem ter contato direto com os pacientes Por isso ROSENFELD em 1935 emigrou para a Ingla terra onde concluiu seus estudos de medi cina dedicandose à psiquiatria Foi aceito 370 DAVID E ZIMERMAN na Tavistock Clinic onde destacouse pela eficiência e pelo amor com que tratava os pacientes esquizofrênicos Fez análise didática com MKLEIN e veio a tornarse um dos mais proeminentes psica nalistas da escola kleiniana tendo produzi do muitas obras com algumas importantes concepções psicanalíticas originais notada mente no que se refere às psicoses Assim utilizando as noções de MKLEIN re ferentes ao uso das identificações projetivas e ao das dissociações ROSENFELD descreveu situações como estados de despersonaliza ção estados confusionais transtornos na lin guagem comunicação e pensamento dos esquizofrênicos os conflitos com o supere go a interrelação analistaanalisando a psicose de transferência Sobretudo fez im portantes contribuições acerca dos proble mas ligados ao narcisismo Em 1964 ROSENFELD descreveu o narcisis mo como resultante de um sistema defensi vo contra a inveja e o sentimento de sepa ração Posteriormente em um trabalho de 1971 conceituou o que chamou de narcisis mo negativo que resulta de uma idealização dos aspectos onipotentes e destrutivos do self do sujeito aspectos esses que podem organi zarse como uma gangue narcisista No ano de 1978 aparece o importante tra balho A psicose de transferência no paci ente fronteiriço publicado na Revista Bra sileira de Psicanálise v23 1989 no qual ROSENFELD aborda de maneira magistral as causas e o manejo técnico recomendável para as situações nada incomuns na clíni ca cotidiana de todos psicanalistas do de senvolvimento de uma transitória psicose de transferência não confundir com trans ferência psicótica Igualmente coube a ROSENFELD ser um dos primeiros senão o primeiro analistas klei nianos a propor um manejo diferente do sentimento de inveja existente nos pacien tes no sentido de não interpretála direta mente mas sim que a interpretação du rante algum tempo deveria ser dirigida uni camente aos derivados da inveja ROSENFELD tinha uma enorme capacidade de trabalho tanto que com a idade de 76 anos ainda atendia uma média de 10 paci entes por dia mantinha inúmeras supervi sões coordenava grupos de pósgraduação em Londres em Paris e na Alemanha mi nistrava um seminário clínico no Instituto Britânico Em pleno decurso de um semi nário clínico em novembro de 1986 teve um derrame cerebral fatal Sádicoanal fase FREUD ABRAHAM Termo referente à segunda fase da evolu ção libidinal que FREUD situou aproxima damente entre os dois e os quatro anos Inicialmente destacou as seguintes carac terísticas principais 1 A zona erógena é por excelência a anal 2 As relações de objeto estão impregnadas de significações ligadas tanto ao ato da eva cuação retenção ou expulsão quanto às fantasias e ao valor simbólico que a criança atribui às fezes 3 Em trabalhos posteriores ele incluiu o desenvolvimento da musculatura como fon te do sadismo da fase anal No artigo Caráter e erotismo anal 1908 FREUD relaciona os traços caractereológicos obsessivos assentados na tríade ordem parcimônia e teimosia com o erotismo anal da criança ligado às fezes e à evacuação No trabalho A disposição à neurose obses siva 1913 ele já destaca a predominân cia dos aspectos sádicos da analidade cons tituindo o que veio a chamar pela primeira vez uma organização prégenital Nas su cessivas reformulações em 1915 e 1924 que Freud fez do trabalho Três ensaios so bre a teoria da sexualidade ele considerou a fase anal como uma das organizações pré genitais e a situou entre as organizações oral e a fálica Da mesma forma FREUD situou na fase anal uma dualidade atividadepassividade A primeira corresponde ao sadismo cuja fon te predominante é a musculatura enquan to a passividade está ligada ao erotismo anal cuja fonte libidinal é a mucosa do ânus Em As transformações do instinto exem plificadas no erotismo anal 1917 FREUD estabeleceu a célebre equivalência simbóli ca de fezes dinheiro e presentes destacan do a relevância que isso adquire no proces so de o sujeito dar e receber K ABRAHAM em Um breve estudo da evo lução da libido considerada à luz dos trans tornos mentais 1924 considerou dois estágios dentro da fase sádicoanal No pri meiro a fase anal expulsiva o erotismo anal está ligado à evacuação enquanto a pulsão sádica está ligada à destruição do objeto No segundo estágio a fase anal re tentiva o erotismo anal está ligado à reten ção das fezes enquanto a pulsão sádica refe rese ao controle possessivo e ao domínio Sádicooral fase ABRAHAM MKLEIN K ABRAHAM em 1924 estabeleceu dentro da fase oral a existência de duas subfases S 372 DAVID E ZIMERMAN a oral passivoincorporativa às vezes cha mada oralcanibalística que alude a uma fase precoce de sucção de natureza préam bivalente e a ativoincorporativa a qual co incide com o aparecimento dos dentes A atividade de morder e de devorar implica destruição do objeto e faz surgir a ambiva lência pulsional de libido e agressão volta das para um mesmo objeto MKLEIN partindo dessas noções de seu ana lista ABRAHAM deu uma profundidade e im portância ao sadismo oral que atingiria nessa fase a culminância do sadismo infan til o que a levou a cunhar a expressão fase do sadismo máximo Textualmente KLEIN afirma que a agressividade faz parte da re lação mais precoce da criança com o seio embora nessa fase ela se exprima habitual mente pela mordedura Prosseguindo ela expressava a idéia de que o desejo libidi nal de sugar ou chupar é acompanhado do objetivo destrutivo de aspirar de se apos sar de esvaziar de esgotar sugando Sadismo FREUD Termo criado pelo sexólogo RICHARD VON KRAFTEBING em 1886 inspirado no escri tor francês Donatien AFrançois mais co nhecido como marquês de Sade para de signar formas de perversão sexual tal como apareciam nos personagens dos escritos de Sade Neles apareciam predominantemen te agressões físicas um domínio sufocante flagelações e humilhações físicas e morais constituindo um modo de obter satisfação da pulsão sexual ligado ao sofrimento infli gido ao outro A ligação do prazer à dor tanto de forma ativa como passiva é co nhecida como algolagnia Para diferenciar o que descreveu com o nome de fase perversopolimorfa na qual está incluído o sadismo do sadismo propri amente dito FREUD afirma em Os instintos e suas vicissitudes 1915 que esse último objetiva acima de tudo submeter o parceiro a seu domínio total o que na atualidade é conhecido como vínculo de apoderamen to Assim ele ampliou a noção do sadismo não restringindoo unicamente às práticas sexuais intimamente ligadas à agressão mas considerandoo sobretudo uma pulsão de dominação A ligação entre dor e excitação sexual surge com mais evidência no masoquismo que por ser considerado uma inversão do sadis mo voltado à própria pessoa levou FREUD a associálos de modo a criar um novo ter mo psicanalítico o sadomasoquismo Sadomasoquismo FREUD Termo forjado por FREUD a partir de sadis mo e masoquismo para designar a existên cia concomitante das duas vertentes de uma mesma perversão havendo entre ambas uma complementaridade simétrica e recí proca entre um sofrimento vivido passiva mente e um sofrimento infligido ativamen te ao outro Assim em Três ensaios sobre uma teoria da sexualidade 1905 FREUD afirma que um sádico é sempre ao mesmo tempo um masoquista o que não impede que o lado ativo ou o lado passivo da perversão possa predominar e caracterizar a atividade sexu al que prevalece No prosseguimento des sas idéias FREUD ressalta dois aspectos 1 Sadismo e masoquismo não podem ser estudados separadamente 2 As características fundamentais de ativi dade e de passividade que são as mani festações do sadismo e do masoquismo não se limitam às perversões sexuais mas sim são em algum grau constituintes da vida sexual em geral Em As pulsões e suas vicissitudes 1915 FREUD faz os seguintes assinalamentos o sadismo é anterior ao masoquismo de modo que o masoquismo é um sadismo voltado contra a própria pessoa o sadis mo é o exercício da pulsão de dominação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 373 o sadismo no sentido estrito da perversão sexual é decorrente de um novo retorno à condição masoquista porque na fantasia o sádico identificase com o sofrimento do outro o masoquista No entanto a partir de Além do princípio do prazer 1920 FREUD retifica a postula ção anterior e passa a considerar o maso quismo anterior ao sadismo e conclui afir mando que uma parte dessa pulsão de morte é posta diretamente a serviço da pul são sexual onde o seu papel é importante é isso o sadismo propriamente dito Outra parte não acompanha esse desvio para o exterior permanece no organismo onde é ligada libidinalmente com o auxílio da exci tação sexual que a acompanha reco nhecemos aqui o masoquismo originário exógeno e o sadismo pode por sua vez voltarse contra o sujeito num maso quismo secundário que vem acrescentarse ao masoquismo originário Em outros tra balhos FREUD ligou o sadismo com as dife rentes fases libidinais como a sádicooral a sádicoanal a fusão e a desfusão pulsional Comentário Na contemporânea psicaná lise vincular com base na prática clínica podese afirmar que o sadismo e o maso quismo coexistem não só nos vínculos in terpessoais como também nos intrapesso ais Nesse último caso tanto pode ser um conflito sadomasoquista entre as instâncias psíquicas superego contra o ego por exem plo como pode aludir ao tipo doentio de arranjo relacional dos objetos dentro do sujeito Assim são freqüentíssimas as inter relações que se configuram de maneira ni tidamente sadomasoquista às vezes de for ma acintosa outras vezes de modo muito dissimulado Como exemplo ilustrativo suponhamos um casal que estabelece entre si um convívio sadomasoquista no qual tanto pode acon tecer que a cada um deles caiba de forma fixa e estereotipada um desses dois papéis como também pode suceder que eles alter nemse em momentos diferentes qual uma gangorra nos papéis de quem será o sádi co e a quem caberá a função de masoquis ta com alta possibilidade de nunca saírem desse círculo vicioso interminável Schreber caso FREUD A expressão O caso Schreber é como ficou conhecido o trabalho de FREUD intitulado Notas psicanalíticas sobre um relato au tobiográfico de um caso de paranóia 1911 no qual faz uma análise pormeno rizada dos mecanismos psíquicos próprios das paranóias FREUD nunca conheceu Schreber pessoal mente Seu trabalho foi baseado unicamen te na leitura que fez das Memórias de um doente dos nervos publicado em 1903 pelo próprio Daniel Paul Schreber um renoma do jurista e presidente da corte de apelação da Saxônia que descompensou psicotica mente depois de derrotado numa eleição para um cargo Veio a morrer em 1910 in ternado num manicômio de Leipzig As idéias delirantes de Schreber tomaram a forma de sentirse um homem perseguido por Deus que o fim do mundo estava pró ximo e que ele seria o único sobrevivente e que Deus lhe confiara a missão de trans mudarse em mulher para gerar uma nova raça Enquanto esperava ser metamorfose ado em mulher e engravidado por Deus Schreber enfrentava o sol vociferava con tra ele ao mesmo tempo em que acusava seu psiquiatra FLESCHING de ser um assas sino de alma que teria abusado sexual mente dele para após abandonálo à pu trefação e armar complôs contra ele FREUD enfocou os delírios de Schreber à luz das teorias que professava na época isto é uma revolta contra o pai associada a uma homossexualidade latente Posteriormente a partir de 1955 no trans curso de seus seminários sobre as psicoses LACAN retomou os estudos sobre o caso 374 DAVID E ZIMERMAN Schreber enfocando os aspectos originais que viriam a constituir a essência de sua obra Sedução teoria da FREUD Impressionado com a freqüência dos rela tos clínicos de suas pacientes histéricas que responsabilizavam adultos por abusos sexu ais cometidos na infância FREUD formulou sua teoria da sedução principalmente em trabalhos elaborados entre os anos 1895 e 1897 atribuindo a essa situação traumáti ca se de fato teria acontecido um valor de extraordinária importância na determinação das neuroses Com o interesse voltado para explicar o mecanismo do recalque com base na teoria da sedução FREUD estabeleceu que nas neuroses obsessivas teria havido experiên cias sexuais precoces vividas pela criança ativamente e com prazer enquanto nas neu roses histéricas o abuso sexual teria sido praticado com a sua passividade Posteriormente FREUD percebeu que os re latos das cenas de sedução não encontra vam apoio na realidade objetiva daí abrin do caminho para novas postulações teóri cas priorizando as fantasias dessa forma inaugurando a psicanálise propriamente dita Ao mesmo tempo sem nunca aban donar totalmente a teoria da sedução FREUD aportou dois elementos novos 1 A participação da mãe que através da manipulação do corpo do bebê poderia estar fazendo uma sedução real através de carícias dissimuladas 2 As fantasias de sedução seriam conse qüência da persistência na criança de atá vicos restos mnésicos transmitidos pela he reditariedade de experiências vividas na his tória da espécie humana Sedução como conceito clínico A sedução sempre ocupou uma importân cia significativa na psicanálise muito espe cialmente a que tange àquela exercida pe los pais em relação à criança No entanto a contemporânea psicanálise vincular dedica especial atenção à forma de como se estru turam determinadas ligações de casais que se manifestam tanto na relação transferen cial quanto na vida exterior do sujeito De fato é impressionante o número de pa cientes que ficam prisioneiros de um tipo de ligação amorosa que não ata e nem desata podendo prolongarse virtualmen te de forma eterna sempre com alguns re quintes de sadomasoquismo por meio de um sutil jogo que envolve reciprocamente o sedutor e o seduzido Sedutorseduzido vínculo do tipo Do ponto de vista psicanalítico as princi pais características desse patogênico víncu lo sedutorseduzido são 1 Um sujeito exerce um vínculo de apode ramento sobre o outro às vezes os papéis são alternantes ou recíprocos isto é exer ce um poder tirânico impingindo toda sor te de humilhações quase sempre bem dis simuladas 2 A maior arma é a sedução exercida por meio de sortilégios que alimentam no outro um permanente estado de ilusão no qual este ficará perdido alternando momentos de total desilusão e derrocada vital com outros em que renascem as esperanças ja mais completadas 3 A relação adquire uma configuração per versa na qual vítima e verdugo se comple mentam numa relação dual especular 4 A origem desse vínculo escravizante re monta a uma precoce intensa e sistemática apropriaçãodominação que caracterizou a existência de uma unidade primitiva com a mãe numa fase em que por falta de recur sos do ego a criança foi obrigada a mimeti zar e a ficar numa constante espera de que finalmente mamãe eou papai venham a amála de fatoou de virem a cumprir a ve VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 375 lada promessa de restaurar um estado de completude idílica Comentário A natureza do sadomasoquis ta vínculo do apoderamento tal como foi descrito está de acordo com a etimologia da palavra sedução que deriva de sed em latim caminho errado ductor em la tim aquele que dirige Além disso creio que podemos afirmar que a grande característi ca perversa do sedutor reside numa forma tantalizadora de se apossar e dominar o se duzido possivelmente reproduzindo alguma figura parental tantalizadora A palavra tantalizadora procede do mito do suplício de Tântalo que teria sido conde nado por Júpiter a ser atormentado nos In fernos por uma fome e sede eternas Ficava no meio de um lago de águas frescas e cris talinas morrendo de sede pois a água lhe escapa sempre que seus lábios a tocam e sob árvores carregadas de apetitosos frutos que dele se afastam sempre que Tântalo louco de fome estende as mãos para apa nhálos Isso também está de acordo com o outro significado etimológico do étimo sed que em latim também significa sede que é justamente o estado a que de forma eter na fica reduzido o seduzido Segal Hanna Considerada uma das figuras exponenciais do grupo kleiniano HANNA SEGAL nasceu na Polônia e fez formação médica e psicanalí tica na Grã Bretanha Juntamente com BION e ROSENFELD teve relevante participação no pioneirismo do tratamento psicanalítico com pacientes esquizofrênicos nas décadas de 40 e 50 Creditaselhe a primeira análise de um esquizofrênico com uma técnica essen cialmente psicanalítica sem modificações Sua experiência com esquizofrênicos permi tiulhe aprofundarse particularmente no problema da formação de símbolos o que a levou a descrever o importantíssimo con ceito a que ela denominou equação simbó lica ver esse verbete que é bastante dis tinto do de símbolo Seguiramse trabalhos sobre a investigação da estética sobre cria tividade artística além da elaboração de resumos definitivos da obra de MKLEIN de aspectos da relação analítica De forma co rajosa e enérgica pronunciouse contra os armamentos nucleares Assídua participante dos congressos inter nacionais de psicanálise HSEGAL é autora de inúmeros artigos cuja maioria está reu nida no livro A obra de Hanna Segal 1982 Seio M KLEIN Vocábulo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar o fato de o seio ser a parte da mãe com a qual o bebê tem o pri meiro contacto No início em razão de sua imaturidade neurobiológica o bebê somen te tem percepções parciais da mãe e dos demais objetos do seu mundo exterior Por esse motivo KLEIN descreveu o objeto par cial primordial do qual o bebê depende vi talmente como sendo o seio termo esse que também delimita a mãe como objeto ma terno específico contrastandoo com outros objetos parciais como o pênis paterno e com bebês rivais Na condição de objeto parcial o seio nutri dor da mãe é concebido como bom quan do gratifica suas necessidades enquanto as experiências sentidas como más levamno à concepção de seio mau Convém esclare cer que na doutrina kleiniana o seio parcial não significa necessariamente um seio con creto fisicamente presente e separado do resto da mãe Seio bom pensante BION Com alguma freqüência BION utiliza essa expressão para designar o importante fato de que no desenvolvimento da capacida de de pensar a criança ou o paciente in trojetou a figura da mãe ou do psicanalis 376 DAVID E ZIMERMAN ta possuidora de uma boa capacidade para pensar os pensamentos Seiolatrina MELTZER Partindo do modelo de BION referente à in terrelação continenteconteúdo MELTZER destacou o fato de que o analista é utilizado pelo paciente para nele depositar por meio de identificações projetivas as angústias e emoções intoleráveis Cunhou então a ex pressão seiolatrina como metáfora de um processo evacuatório que durante esse pe ríodo rege o destino das fantasias incons cientes Comentário Esse modelo de MELTZER im põe a necessidade de estabelecer a impor tante diferença que deve haver entre conti nente da mãe ou do analista e recipiente O primeiro é um processo ativo de acolhi mento recepção transformação e uma sa dia devolução desintoxicada significada e nomeada Por sua vez a noção de recipi ente alude mais especificamente à possibi lidade de o paciente usar o analista apenas como depositário passivo de seus dejetos mentais O uso da palavra latrina implica o risco de sugerir este último aspecto inclusi ve na situação analítica embora MELTZER tenha enfatizado a necessidade de a mãe funcionar transitoriamente como latrina sem mostrar repugnância pelo manejo das fraldas sujas etc Self HARTMANN Até algum tempo as palavras ego e self eram utilizadas de forma indistinta Se bem que ainda exista alguma superposição e indis criminação conceitual entre ambas agrava das por eventuais falhas de tradução dos textos originais foi a partir de HARTMANN 1947 que se tornou possível estabelecer uma distinção Com esse renomado psicanalista criador da Escola da Psicologia do Ego o vocábulo ego passa a designar uma das instâncias psíqui cas sendo portanto apenas uma importan te subestrutura da personalidade tal como foi descrita por FREUD O termo self de sua parte foi conceituado como a imagem de simesmo sendo composto de estruturas entre as quais consta não somente o ego mas também o id o superego e inclusive a imagem do corpo ou seja a personalida de total Com outras palavras podese dizer que HARTMANN postulou uma diferenciação en tre egofunção um conjunto de funções tanto as conscientes como as provindas do inconsciente e egorepresentação que alu de à imagem de si mesmo ou seja do self Ambos os aspectos são indissociados e cri am um paradoxo intelectual embora seja mais abrangente e amplo do que o ego é o self que está representado como que conti do e fotografado dentro do primeiro Na obra de HARTMANN a ênfase predominan te recai no egofunção enquanto na de LA CAN a prioridade cabe ao egorepresentação Self falso e verdadeiro WINNICOTT Apesar de WINNICOT afirmar que existe uma diferença entre ego e self essa distinção não fica clara ao longo de sua obra e seguida mente os termos aparecem superpostos No entanto ele sempre valorizou a formação de um self total o qual implica uma di ferenciação entre eu e o nãoeu numa crescente integração até permitir uma imagem unificada de si mesmo e do mun do exterior Isso acontece a partir de um ambiente su ficientemente bom que possibilite o desen volvimento das potencialidades de um self rudimentar que já existe desde o nascimen to embora de forma extremamente frágil Nos casos em que falha a função materna de integrar as sensações corporais do bebê os estímulos ambientais e o despertar de suas capacidades motoras a criança sente VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 377 sua continuidade existencial ser ameaça da e procura substituir a proteção que lhe falta por outra fabricada por ela Esse fenômeno WINNICOTT expressa com as se guintes palavras ao comparar a formação do self com uma casca de árvore às custas da qual cresce e se desenvolve o self do su jeito Então o indivíduo se desenvolve mais como uma extensão da casca do que do núcleo O self verdadeiro permanece escondido e o que temos que enfrentar cli nicamente é o self falso cuja missão se es triba em ocultar o self verdadeiro Foi no célebre trabalho A deformação do ego em termos de um self verdadeiro ou falso 1960 que WINNICOTT deu uma con ceituação mais completa e definitiva do ver dadeiro e do faso self Nessa obra ele con sidera que o verdadeiro self seria o que re sulta de a mãe ter aceitado os gestos espon tâneos da criança Reciprocamente nos casos em que a mãe que não tenha capaci dade para entender e satisfazer as necessi dades do filho coloca seu próprio gesto assim submetendo a criança a ela o que começa a gerar um falso self A princípio WINNICOTT considerou o falso self como uma formação presente apenas nos pacientes graves provocada por uma falta de cuidados maternos Tempos depois po rém ele propôs uma gradação de matizes na qual o falso self estaria sempre presente em qualquer pessoa embora com diferen tes níveis de implicação patológica Nos casos mais próximos da saúde o self falso agiria como uma forma de defender e pro teger o verdadeiro que se mantém oculto enquanto nos caso mais graves o falso self substitui o verdadeiro Desse modo a visão que o sujeito tem de si e a que as pessoas que o rodeiam têm dele na verdade é da casca espessa que ele criou WINNICOTT assevera que o falso self especi almente quando se encontra no extremo mais patológico da escala é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de vazio de futilidade e de irrealidade Como se constitui às expensas do núcleo autênti co do self obriga este a renunciar a suas pulsões que constituem sua essência em favor de uma adaptação bemsucedida Talvez o grau mais extremado de um falso self seja o da figura do impostor que impõe aos outros uma personalidade totalmente falsa como é o caso bastante comum de alguém sem formação fazerse passar como médico Comentário Partindo do ponto de vista de que o falso self resulta de um continua do esforço da criança para assegurar o amor dos pais nem que seja às custas de renun ciar à espontaneidade e sujeitarse às ex pectativas daqueles dois aspectos devem ser destacados 1 Os portadores de um falso self não de vem necessariamente ser considerados como pessoas falsas É freqüentemente pos sível que os êxitos conseguidos pelo sujeito sejam devidos a suas reais capacidades embora persista nele uma sensação de fal sidade devido à dificuldade que se estabe leceu nele de distinguir o que é falso daqui lo que é verdadeiro 2 O falso self nem sempre é construído como forma de aparentar aspectos consi derados como positivos muitas vezes no afã de ser reconhecido pelo grupo social extensão do seu grupo familiar internaliza do como estando em oposição ao seu su cesso o sujeito pode funcionar com um falso self negativo aparentando mazelas e desvalia encobridoras de reais valores posi tivos Self grandioso KOHUT KOHUT concebeu um arco de tensão na crian ça Um dos pólos constituído pelas ambi ções ele denominou self grandioso o ou tro pólo onde residem os ideais está a ima go parental idealizada no meio dos dois estão as capacidades e talentos do ego 378 DAVID E ZIMERMAN O self grandioso como fase evolutiva refere se à imagem onipotente e perfeita que a crian ça tem de si mesma o que durante certo tem po é necessário como um importante fator estruturante do self Nos casos de evolução normal contando com a solidariedade tem porária dos pais o self grandioso gradativa mente vai se transformando em autoestima autoconfiança e ambições próprias Nos ca sos em que houver a persistência do self gran dioso o sujeito vai apresentar algum grau de transtorno narcisista da personalidade Selfobjeto KOHUT KOHUT não aceitou a primazia do conflito edípico na determinação das neuroses de modo que dirigiu todas suas concepções psicanalíticas referentes à evolução das crianças para o fato de que são as primiti vas falhas empáticas da mãe com o seu bebê as causadoras dos vazios existenciais res ponsáveis pelos futuros quadros da psico patologia clínica Assim privilegiando o foco ambientalista mais do que o foco pulsional KOHUT 1971 utilizou a expressão original selfobjects tra duzida tanto por selfobjetos quanto por ob jetos do self para designar as pessoas do meio ambiente a mãe principalmente responsáveis pela estruturação do self da crian ça A propósito a grafia inicial desse termo era com um hífen separador ou seja self objeto Porém em 1978 o próprio KOHUT afir ma que pronunciando a palavra sem um hífen sentimos que exprimimos o aspecto só lido deste conceito que encontrará um lugar duradouro no pensamento psicanalítico Nas traduções dos textos de KOHUT para o idioma português o termo self aparece fre qüentemente como si mesmo Self Escola da Psicologia do No começo de sua atividade KOHUT cria dor dessa escola foi muito influenciado pela teoria de HARTMANN porém aos pou cos afastouse dos postulados dessa esco la inclusive de muitos princípios básicos de FREUD e construiu o seu próprio corpo teó ricotécnico com uma ênfase quase que exclusiva no que veio a denominar de psi cologia do self De forma sintética os se guintes aspectos devem ser mencionados Ele situa como principal instrumento da psicanálise não a livre associação de idéias do analisando mas sim a introspecção e a recíproca empatia da mesma forma KOHUT retira o lugar hegemônico do complexo de Édipo de FREUD e coloca no seu lugar as falhas dos selfobjetos primitivos em outras palavras ele substitui o homem culpado de FREUD e de MKLEIN pelo que ele considera ser o homem trágico A maior conseqüência das precoces fa lhas empáticas é uma forma de prejuízo na formação da estruturação do self e portan to do sentimento de identidade Assim os dois conceitos medulares da obra de KOHUT são seus estudos sobre o self e sobre o narcisismo tanto o normal quan to o patológico Em relação ao narcisismo antes de se pensar em um desenvolvimento patológi co sua concepção é a de considerar que o narcisismo durante o desenvolvimento do ser humano segue uma evolução paralela e independente da libidinal Dessa forma esse narcisismo adquire uma função estru turante e pode vir posteriormente a sofrer transformações úteis como empatia sabe doria criatividade humor e aceitação da finitude Em relação ao self KOHUT postulou duas novas estruturas ambas de formação pri mitiva o self grandioso e a imago parental idealizada ver esses verbetes Na prática analítica é de grande utilida de seu conceito de transferências narcisis tas nas quais em algum grau o analista é sentido pelo paciente como fazendo parte VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 379 do sujeito como uma extensão dele KOHUT descreveu três tipos de transferência narci sista a fusional ou idealizadora a gemelar ou de alter ego e a especular propriamente dita KOHUT e seguidores enfatizam o fato de que na situação analítica embora os paci entes portadores de transtornos narcisistas sejam extremamente vulneráveis às frustra ções e entrem com facilidade num estado de fúria narcisista as frustrações impostas pelo analista são inevitáveis e necessárias Porém é necessário encontrar uma frustra ção ótima Outro enfoque enaltecido pela Escola da Psicologia do Self é a importância na práti ca analítica que se processe no analisando através de uma boa introjeção do seu ana lista aquilo que seus seguidores denominam internalização transmutadora As maiores críticas que costumam ser feitas contra as postulações dessa escola residem no fato de KOHUT não ter restringido sua teo ria e técnica à compreensão e manejo dos transtornos narcisistas mas tentou explicar toda a psicanálise sob sua ótica o que re presenta uma evidente mutilação conceitual Self psicofisiológico primário EDITH JACOBSON Fundamentada nos princípios de FREUD de narcisismo primário e de narcisismo secun dário E JACOBSON importante representante da norteamericana Psicologia do Ego Em seu livro El Self y el Mundo Objetal 1969 e no decurso de seus estudos sobre depres sões psicóticas desenvolveu conceitos que se referem parcialmente somente à presen ça simultânea de forças libidinais e agressi vas na indiferenciada matriz psicossomáti ca que chamarei de self psicofisiológico primário Nesse mesmo livro p25 ela afirma que Com efeito durante os primeiros estágios infantis a expressão predominante da vida emocional e das fantasias da criança é ain da psicofisiológica a assim chamada lingua gem organoafetiva que abarca não obstan te não só os processos silenciosos senão também fenômenos vasomotores e secre tórios visíveis no terreno das funções bucal e excretória Eu gostaria de ressaltar que essa linguagem organoafetiva está presente em certa proporção também na vida emocio nal dos adultos normais em estado de ansi edade e em outras manifestações de resso matização de afetos A partir dessas concepções JACOBSON dedi couse aos estudos de pacientes com de pressões graves psicóticos borderline e os portadores de transtornos narcisísticos em geral Segurança BION BION descreve dois tipos de estado da mente do analista durante a sessão psi canalítica o de paciência que tanto o pa ciente como o terapeuta devem ter no processo às vezes muito demorado da passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva e o de segu rança Esse último termo caracteriza mais precisamente o estado mental do psica nalista depois da descoberta do fato sele cionado em meio ao aparente caos das comunicações do paciente Esse estado mental que equivale à passa gem para a posição depressiva passa a ser o de uma menor ansiedade livre dos peri gos da incerteza e prepara o analista para o ato da interpretação Sem memória e sem desejo BION Essa terminologia é seguramente das mais polêmicas e controvertidas de todas as de BION O que realmente ele pretendeu carac terizar é que o psicanalista deve evitar ao máximo que sua mente esteja saturada pela memória de situações anteriores pelos seus 380 DAVID E ZIMERMAN desejos pessoais e por uma ânsia compul sória de compreender de imediato e em sua totalidade aquilo que está se passando du rante a sessão Esse conceito equivale ao da regra da aten ção flutuante de Freud Seminário clínico Termo cada vez mais usado no lugar do que todos psicanalistas conhecem como super visão coletiva Na verdade a última expres são alude mais diretamente a uma supervi são nos moldes em que é realizada em ca ráter individual Isso implicaria alguma in terferência dos aspectos contratransferenci ais coletivo nessa situação além do livre curso das impressões que o caso clínico em foco desperta de forma diferente nos diver sos participantes Em situações exageradas o processo pode descambar para um exer cício intelectualizado de múltiplos enfoques de entendimento e de interpretação o que poderia induzir o supervisor a realmente funcionar como tendo uma supervisão O termo seminário de acordo com sua eti mologia provém do latim semen ou seja alude à capacidade de se colocar sementes na mentalidade do outro com possibilida des de germinarem e frutificarem Seminá rio clínico portanto designa a abertura de portas para correlacionar a narrativa clíni ca com o manejo técnico e com as concep ções teóricas que o embasam e sobretudo inseminar instigar a novas reflexões e vérti ces de observação Comentário Creio que o verdadeiro espí rito de um seminário clínico está sintetizado nessa frase de BION Não importa muito se o analista participante de um painel foi brilhante ou não se concordaram ou não com os seus pensamentos o que importa é se ele conseguiu produzir novos brotos de pensamento que podem germinar e se transformar em árvores ou até mesmo em bosques Segundo BION essas idéias po dem ser suprimidas antes de terem tido oportunidade de se desenvolver Seminários clínicos e quatro artigos BION O título original deste livro publicado em 1987 pela editora Fleetqwood de Oxford é Clinical Seminars and Four Papers Nele além da transcrição de 24 supervisões cole tivas que BION preferia chamar de seminá rios clínicos realizadas em Brasília 1957 e de 28 em São Paulo 1978 também cons tam quatro importantes artigos Turbulên cia emocional Sobre uma citação de Freud Evidência e Tirando proveito de um mau negócio Cada um desses artigos aparece neste Vocabulário em verbete es pecífico Senso sentido comum BION Enquanto FREUD restringiu o universo da compreensão do discurso do paciente às interrelações do consciente com o incons ciente BION alargou esse universo para as interrelações do infinito com o finito Portanto sem perder de vista a necessida de de o analista não ficar restringido ao que é percebido pelos órgãos sensoriais ao mesmo tempo em que há necessidade de estabelecer conexões com o finito e senso rial BION postulava que os enunciados ana líticos só se tornam válidos quando forem confirmados por diversos sentidos de uma mesma pessoa ou por um ou mais sentidos de pessoas diferentes para che gar a um sentimento de verdade Ademais no seu livro póstumo Cogitações 1992 p42 BION afirma que o senso co mum é uma função da relação do paciente com o seu grupo e em sua relação com o grupo o bemestar do indivíduo é secundá rio à sobrevivência do grupo A teoria de Darwin da sobrevivência dos mais aptos ne cessita ser substituída por uma teoria da so VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 381 brevivência dos mais aptos a sobreviver no grupo até onde a sobrevivência do indivíduo possa interessar Isto é ele precisa ser dotado de um alto grau de senso comum a habilida de de ver que o que todos outros vêem quan do submetidos ao mesmo estímulo Sentimento de culpa Ver o verbete Culpa Sentimento de identidade Ver o verbete Identidade Sentimento de inferioridade Ver o verbete Inferioridade complexo de Separação M MAHLER M MAHLER juntamente com colaboradores trouxe importantes concepções relativas às etapas do desenvolvimento infantil Come çam com um autismo normal seguem por uma fase de simbiose à qual sucede uma de diferenciação resultante de duas sube tapas a de separação e a de individuação Essas fases são seguidas de um período de treinamento até atingir um estado psíquico de constância objetal nos casos bemsucedidos Por volta dos cinco meses de idade a crian ça começa a perceber não só o mundo que a rodeia mas seus próprios limites corpo rais O elemento organizador desse proces so é a pressão maturacional que é inata orgânica e que possui grande força como fator possibilitador da necessária separação gradativa da mãe com a individuação que coincide com o início da marcha Separação angústia de Tipo de angústia mais referida nos relatos de situações clínicas Do ponto de vista teó rico está ligada a muitos fatores e descrita a partir de diferentes abordagens Praticamen te todos convergem para o elemento co mum que consiste no medo de o sujeito perder o controle da pessoa necessitada reeditando o seu antigo temor de vir a per der o amor da mãe acompanhado do pâ nico de cair num estado de desamparo ver esse verbete Na situação da clínica psicanalítica sobre tudo nos casos em que não estiver suficien temente desenvolvido o núcleo básico de confiança ou a capacidade para ficar só se utilizarmos a terminologia de WINNICOTT A perda do olhar materno reproduzse quan do o paciente projeta maciçamente no ana lista essa mãe sem um olhar reconhecedor ou quando o analista mal olha para o paci ente ou olha mas não o vê Nesses ca sos as manifestações clínicas mais comuns aparecem como fobia ao divã um freqüen te e recorrente sentimento de solidão uma absoluta intolerância aos silêncios do ana lista o medo de separação e abandono Comentário Na prática analítica a angús tia de separação do paciente em relação ao analista é freqüente especialmente em pa cientes muito regredidos sendo importan tíssima sua análise No entanto creio haver certo abuso nas interpretações que de for ma sistemática e reducionista batem demais nessa tecla à vezes de forma forçada e até contraproducente Há casos em que qual quer sinal de angústia do paciente é auto maticamente considerada decorrente da separação que vai haver ou houve no fim de semana ou da aproximação das férias Assim há o risco de o terapeuta confundir a separação física real com o fato de que a angústia se deve à significação pode ser de abandono descaso troca por outros inte resses e pessoas doença e morte que o analisando confere a determinadas separa ções Além disso se houver insistência na interpretação de que o paciente não pode viver longe do analista poderá ocorrer um reforço da infantilização e da dependência 382 DAVID E ZIMERMAN do paciente e um acréscimo de idealização do analista É muito comum que um paci ente suporte tranqüilamente uma longa se paração de um mês de férias porque está sob seu controle já que havia uma combi nação prévia e desmorone se ocorrer uma separação curtíssima porém imprevista Ser a continuidade de WINNICOTT WINNICOTT seguidamente afirmava que o bebê que é sadio estabelece um sentimento de self e de continuidade de ser o que pode se dar unicamente em um ambiente apro priado aquele em que a mãe que ingres sou no estado de preocupação ou devo ção primária é capaz de prover durante o período de algumas semanas após o nasci mento do bebê quando ele e a mãe ainda constituem uma entidade única A aquisição do ser tem origem na experiên cia de um ambiente de holding propiciado por uma mãe suficientemente boa e está relacionado com a passagem de um estado de nãointegração para o de integração e com o desenvolvimento das capacidades de viver criativamente de brincar e de ter um self verdadeiro Série complementar FREUD Ver o verbete Equação etiológica Setting Comumente traduzido como enquadre o setting pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam normatizam e possibilitam o processo psica nalítico Assim ele resulta de uma conjunção de regras atitudes e combinações tanto as contidas no contrato analítico como também as que vão se definindo durante a evolução da análise como os dias e horários das ses sões os honorários com a respectiva modali dade de pagamento o plano de férias O setting analítico costuma sofrer uma car ga de pressão por parte de certos pacientes no sentido de se fazer sucessivas modifica ções Na prática analítica a instituição do setting e a preservação ao máximo daqui lo que foi combinado com as correspon dentes frustrações visa as seguintes funções 1 Estabelecer o aporte da realidade exte rior com as suas inevitáveis frustrações e privações 2 Ajudar a definir a predominância do prin cípio da realidade sobre o do prazer 3 Prover a delimitação entre o eu e os ou tros por meio da função de desfazer a espe cularidade e a gemelaridade típica dos pa cientes que desenvolvem algum tipo de transferência narcisista 4 Auxiliar a partir daí no caso de pacien tes bastante regredidos a obtenção das ca pacidades de diferenciação separação e individuação 5 Definir as noções dos limites das limita ções e desfazer as fantasias de uma ilusória simetria funcional que o paciente imagina ter com o analista Comentário Podese dizer que o setting por si mesmo funciona como um impor tante fator terapêutico psicanalítico pela criação de um espaço que possibilita ao analisando trazer seus aspectos infantis no vínculo transferencial e ao mesmo tempo poder usar a sua parte adulta para ajudar o crescimento daquelas partes infantis Igualmente o enquadre também age pelo modelo de um provável novo funcionamen to parental que consiste na criação por parte do terapeuta de uma atmosfera de traba lho ao mesmo tempo de muita firmeza di ferente de rigidez no indispensável cumpri mento e preservação das combinações fei tas juntamente com uma atitude de acolhi mento respeito e empatia É importante ressaltar a capacidade de sobrevivência que deve ter o analista em face dos mais diferentes tipos de ataques do analisando Assim é perfeitamente aceitável que dian VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 383 te de certas circunstâncias o analista aceite a inclusão de certos parâmetros ver esse verbete desde que tenha a segurança de que a análise pode retornar à situação do setting anterior se assim for necessário Sexuação fórmulas da LACAN Entendendo que houve muita indefinição e limitação por parte de FREUD relativamente à sexualidade LACAN considerou necessário criar outros nomes e conceitos que alargas sem o espectro dos fenômenos ligados à se xualidade Assim introduziu o conceito de sexuação para designar que além da sexuali dade biológica esse termo procura enfocar a forma como são reconhecidos e diferencia dos os dois sexos pelo inconsciente especial mente no que diz respeito ao complexo de castração à sexualidade da mulher à diferen ça entre os sexos e a importância da noção de falo Na perspectiva lacaniana tentando superar o falicismo freudiano o símbolo fálico não re presenta o pênis antes seria o pênis que por suas propriedades de intumescer e enrijecer é que poderia representar a forma pela qual é ordenado o desejo a partir da castração Como uma tentativa de dar um entendimento lógico a suas idéias LACAN enunciou o que denomi nou fórmulas da sexuação São quatro propo sições lógicas que vão transcritas a seguir que serviriam para mostrar o equívoco da posição freudiana da libido masculina única 1 Todos os homens têm falo 2 Nenhuma mulher tem falo 3 Todos os homens menos um estão sub metidos à castração 4 Não existe ninguém que constitua uma exceção à função fálica A exceção menos um da terceira fórmula é uma alusão ao pai da horda primitiva A quarta fórmula leva a concluir que todas as mulheres têm um acesso ilimitado à fun ção fálica ficando estabelecida uma assi metria entre os dois sexos A partir das duas últimas fórmulas LACAN definiu as formas masculina e feminina do seu conceito de gozo Sexual gênero ROBERT STOLLER Atualmente graças principalmente aos tra balhos de R STOLLER 1968 psicanalista americano 19241991 atribuise uma ex pressiva importância não somente ao sexo biológico com que a criança nasce mas tam bém à formação do seu gênero sexual o qual vai depender fundamentalmente dos desejos inconscientes que os pais alimen tam quanto a suas expectativas e deman das em relação à conduta e ao comporta mento do filho ou da filha Essa indução por parte dos pais na deter minação do gênero sexual das crianças cos tuma ser feita a partir de uma combinação de fatores influenciadores como pode ser o uso de roupas que provocam confusões e indefinições o tipo de brinquedos e brinca deiras que eles incentivaram a idealização ou denegrimento de certos atributos mas culinos ou femininos etc Assim costuma ser comum a formação de um conluio inconsciente na base de um faz deconta que ninguém está vendo nada de sorte a negar uma evidente cumplicidade entre duas ou mais pessoas de uma mesma família Muitas vezes os pais não só deter minam decisivamente o gênero sexual dos filhos como também pode acontecer que atuem uma possível homossexualidade la tente por meio de seu filho ou filha Comentário A estruturação de um gêne ro sexual diferente do sexo biológico está longe de necessariamente significar uma homossexualidade atuante porém pode ser um fator propiciador Assim creio que se pode dizer que em alguns casos um casal com sexos biológicos diferentes mas com um certo arranjo dos respectivos gêneros sexuais pode estar configurando uma rela ção de natureza homossexual 384 DAVID E ZIMERMAN Sexualidade feminina A FREUD 1931 A sexualidade feminina consiste numa rea firmação das constatações anunciadas por FREUD pela primeira vez seis anos antes em seu trabalho Algumas conseqüências psí quicas da distinção anatômica entre os se xos com a diferença de que no presente trabalho ele dá maior ênfase à intensidade e à longa duração do apego préedipiano da menina à mãe Esse ensaio está dividido em quatro partes a parte I é intitulada O complexo de Édipo feminino difere do masculino a parte II estuda Os motivos préedipianos da meni na para afastarse da mãe a parte III tem o título As metas sexuais préedipianas da menina dirigidas à mãe e na parte IV FREUD faz uma Crítica da literatura analíti ca sobre a sexualidade feminina A sexualidade feminina está no volume XXI p259 da edição brasileira da Stan dard Edition Sexualidade infantil FREUD Introduzida por FREUD a expressão sexuali dade infantil desde o início gerou grandes po lêmicas e uma confusão conceitual tanto den tro como fora da comunidade psicanalítica internacional O próprio FREUD foi ambíguo quanto ao significado do termo sexual inici almente definindoo como uma pulsão por tanto inato que visava à preservação da es pécie diferentemente da pulsão de autocon servação tendo posteriormente unificado as duas sob o nome de pulsões de vida Assim FREUD dava certa superposição conceitual entre sexualidade e genitalidade Ao longo da evolução de sua obra FREUD foi utilizando o termo libido em latim de signa desejo para referir que em termos genéricos ele alude a todas as pulsões res ponsáveis por tudo o que compreendemos sob o nome de amor Assim na atualidade prevalece o enten dimento de que sexualidade não designa apenas as atividades e o prazer que de pendem do funcionamento do aparelho genital mas também toda uma série de excitações e de atividades presentes des de a remota infância que proporcionam uma satisfação de alguma necessidade fi siológica fundamental Pode ser o ato da alimentação da excreção etc de modo que o sexual não fica reduzido ao genital da mesma forma que o psiquismo não é redutível unicamente ao consciente Ainda segundo FREUD a pulsão sexual estaria fragmentada em pulsões parciais de satisfa ção localizada em certas zonas erógenas e que só progressivamente é que tenderão a unifi carse em uma mesma organização libidinal sob o primado da genitalidade FREUD tam bém ligou a sexualidade infantil prégenital com uma dimensão perversa tanto no que se refere à fase evolutiva normal perverso polimorfa quanto no caso em que as pulsões parciais não se integrassem em um genitali dade adulta mas sim persistissem como pon tos de fixação e de regressão As pulsões esta riam propiciando dessa maneira a formação de quadros clínicos de perversões como es copofilia exibicionismo certas formas de sa domasoquismo etc É interessante assinalar que segundo A GRE EN 1990 a palavra sexo deriva do latim se xion que significa cisão corte Isso está de acordo com o mito que aparece no Banquete de Platão no qual um personagem afirma que no início existiam três gêneros humanos um masculino um feminino e um outro compos to por ambos os sexos Segundo o mito Zeus ordenou que a figura que juntava os dois se xos fosse seccionada ao meio de sorte que as duas metades separadas passaram a ansiar ardorosamente uma pela outra tal como acontece numa relação sexual Significantesignificado LACAN O termo significante foi introduzido pelo lin güista FERDINAND DE SAUSSURE 18571913 VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 385 que em seu Curso de Lingüística Geral di vide o signo lingüístico em duas partes de nomina de significante a imagem acústica de um conceito e chama de significado o conceito em si Inspirado nisso LACAN construiu a noção de estruturalismo da linguagem expressão que se refere às relações estabelecidas entre a estrutura lingüística e a social vistas como sistemas em comunicação recíproca e deu uma extraordinária importância ao aspecto da linguagem como uma estrutura a ponto de declarar que o ser humano está inseri do em um universo de linguagem Assim para LACAN a linguagem determina o sentido e gera as estruturas da mente de forma que afirma ele o inconsciente não é uma coisa nem um lugar e ao mesmo tempo em que a linguagem é estruturante do inconsciente este também é estrutura do como uma linguagem Dessa maneira de forma igual à estrutura gramatical do sonho também a linguagem primordial mente não está constituída por palavras mas sim por imagens como se fossem hi eróglifos a serem decifrados O exemplo clássico que costuma ser utiliza do é o da palavra árvore a qual não reme te do ponto de vista lingüístico à árvore real mas à idéia de árvore o significado e a um som o significante que é pronuncia do por intermédio de seis fonemas elemen tares arvore O signo lingüístico portan to une um conceito a uma imagem acústi ca e não uma coisa a um nome O importante na estrutura lingüística é o lugar que cada signo ocupa nela bem como a relação de cada um dos signos com os demais Assim o que sobremodo importa para LACAN fundamentado em FREUD é que o psiquismo inconsciente funciona como uma cadeia de significantes de tal sorte que por meio de deslizamentos através dos mecanismos de deslocamento condensação e simbolização de forma análoga ao que ocorre com os sonhos um significante é remetido a outro de modo a permitir com parar esse processo com o de decifração de uma carta enigmática ou o de uma consul ta de um termo num dicionário que vai re meter a outro termo que remete a um ter ceiro e assim por diante até ser concei tualizado com algum significado A ilus tração que LACAN emprega em 1955 é extraída do conto A carta roubada de Edgar Allan Poe Um exemplo clínico do que acima está re ferido em FREUD o Homem dos ratos foi tomado por um impulso de querer emagre cer mas não conseguia executar esse inten to porquanto o impulso se manteria incom preensível enquanto não fosse revelado que a palavra gordo no idioma alemão que fa lava é dick sendo também Dick o nome de um rival de quem gostaria de se desfa zer Pelo mecanismo de deslizamento de um significante para outro emagrecer teria o significado de matar o rival Dick Comentário Por meio desse viés para exemplificar numa outra dimensão pode mos entender a articulação do narcisismo com o complexo de castração edípica por quanto a ameaça de castração e tudo que a simboliza como doença cirurgia separa ção etc remete o sujeito por deslizamen to a uma primitiva sensação de desamparo e coloca em perigo sua autoestima seu sentimento de identidade e portanto a so brevivência de seu próprio ego Por exem plo uma situação cirúrgica qualquer pode remeter através da cadeia de significantes a uma significação de mutilação que por sua vez remete a uma castração própria do período edípico o qual pode remeter a prévias fantasias com primitivos significan tes de perdas e abandonos etc Em suma é tamanha a importância que LACAN atribui à linguagem com as signifi cações provindas do discurso dos pais e dos valores culturais que ele chega a afirmar a sua famosa frase de que o inconsciente é o discurso dos outros 386 DAVID E ZIMERMAN Silêncio na situação analítica Situação bastante freqüente no processo analítico refere tanto o paciente exagera damente silencioso quanto estilo do analis ta também excessivamente silencioso no curso das sessões Inicialmente é útil esta belecer uma diferença entre silêncio e mu tismo O primeiro pode acontecer sob dis tintas modalidades graus e circunstâncias enquanto mutismo alude a uma forma mais prolongada e a uma determinação mais definida de o paciente de manterse silenci oso na análise às vezes de forma absoluta ou com esporádicos e lacônicos comunica dos verbais A partir da experiência clínica em relação às causas mais comuns que determinam os silêncios do analisando na situação analíti ca as seguintes se evidenciam com mais freqüência 1 Simbiótica que ocorre no caso de paci entes que se julgam no pleno direito de es perar que o analista adivinhe magicamente suas demandas não satisfeitas 2 Bloqueio da capacidade de pensar 3 Inibição fóbica medo de decepcionar 4 Protesto que geralmente acontece quan do os anseios narcisistas do analisando não estão sendo gratificados 5 Controle que é uma das formas de tes tar o continente do analista ou de manter as rédeas da situação 6 Desafio narcisista quando o paciente fan tasia que permanecendo silencioso ele tri unfa e derrota o seu analista e inverte os papéis 7 Negativismo que pode estar expressan do um revide ou uma identificação com os objetos frustradores que não lhe respondi am ou pode estar representando aquele necessário e estruturante uso do não tal como foi descrito por SPITZ 8 Comunicação primitiva despertando efei tos contratransferenciais Cabe ao analista descodificar uma vez que um nada pode dizer muito acerca de um tudo não mani festado 9 Regressivo que ocorre quando o pacien te chega a adormecer no divã como se es tivesse vivenciando a experiência de dor mir sendo velado pela mamãe 10 Elaborativo situação em que o silêncio se constitui como um espaço e um tempo necessários para o paciente fazer reflexões e a integração dos insights parciais para um insight total Em relação ao silêncio continuado do ana lista tanto pode decorrer de suas idiossin crasias como também do cumprimento de uma orientação da corrente psicanalítica da qual é seguidor Em certa época vingava a recomendação de TREICK 1945 que apa rece no seu livro La significación psicológi ca del silencio no sentido de o psicanalista manterse nas sessões o máximo possível silencioso com a finalidade de despertar um contínuo estado de ansiedade no paciente e dessa forma impelilo a procurar que brar o mutismo do analista e a verbalizar de forma mais sentida e verdadeira suas expe riências emocionais presentes e passadas Dificilmente nos dias atuais algum analis ta siga essa recomendação ao pé da letra Num outro extremo pode acontecer que o analista seja por demais loquaz a ponto de nunca se formar algum silêncio no campo analítico o que representa desvantagens É importante a metáfora de BION de que a música está formada por elementos de no tasintervalosnotas sendo que a ausência de som isto é a presença do intervalo pode representar mais vigor e expressividade que a nota musical por si só Simbiose M MAHLER BION Termo muito freqüente na literatura psi canalítica na grande maioria das vezes para designar uma fase evolutiva normal ou uma detenção patogênica em um adul to portador de transtorno narcisista na VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 387 qual a criança ainda sentese fundida com a mãe Assim por exemplo na descrição de MMAHLER simbiose designa uma fase evolutiva que antecede à da diferencia ção ou seja a criança ou no caso de patologia um sujeito adulto ainda não atingiu a capacidade de fazer discrimina ções entre o eu e o outro e tampouco adquiriu as capacidades de uma exitosa separação e individuação Entretanto o termo simbiose na obra de BION adquire um significado diferente mais precisamente referese ao vínculo continenteconteúdo que ele descreveu com três modalidades a parasitária a comensal e a simbiótica Essa última pro vém do vocábulo simbiose que se origina dos étimos gregos sym junto de bios vida e designa da mesma forma como na biologia um convívio harmônico e produtivo entre os dois seres que estão em convívio Simbólica equação H SEGAL A palavra plena de significado é uma for mação simbólica resultante da sinergia de dois fatores o neurobiológico e o emoci onal Nos casos em que este último tenha falhado no referencial kleiniano a falha alude ao fato de não ter sido atingida a posição depressiva as palavras não ad quirem a dimensão da conceituação e da abstração Esse fato em seu grau máxi mo é observado nitidamente em esqui zofrênicos que utilizam as palavras e fra ses não como símbolos mas como equa ções simbólicas tal como é descrito por H SEGAL 1954 Nesses casos resulta uma confusão entre o símbolo e o que está sendo simbolizado tal como SEGAL exemplifica com um paciente dela psicótico que convidado para tocar violino deu ao convite o significado de que estaria sendo convidado a masturbarse publicamente Simbólico registro LACAN LACAN introduziu na psicanálise três regis tros essenciais sempre entrelaçados o real o imaginário e o simbólico Esse último de signa a ordem dos fenômenos de que trata a psicanálise na medida em que são estru turados como uma linguagem Enquanto FREUD conceitua o símbolo como o que de fato representa LACAN considera primordial a estrutura do sistema simbólico que for ma um modelo lingüístico baseado na ca deia de significantes que procedem de fora e estão em oposição Assim para designar a instituição da lei pa terna que coloca limites para o filho LACAN emprega a terminologia de LeidoPai ou pai simbólico ou NomedoPai ver esses verbetesEm resumo para LACAN o simbóli co tem dois registros um é como organiza ção uma designação de lugares e funções o outro é como uma lei daquilo que deve ser Símbolo O conceito de símbolo é comum a muitas disciplinas psicologia lingüística episte mologia religião e naturalmente a psica nálise de maneira que é difícil delimitar um conceito puramente psicanalítico A palavra símbolo cujo radical grego sym significa junto segundo Laplanche e Pon talis 1967 era para os gregos um sinal de reconhecimento entre membros de uma mesma seita por exemplo formado pelas duas metades de um objeto partido que se aproximavam Símbolo é pois a unidade perdida e refei ta podendo essa junção de duas metades ser entendida se usarmos um referencial lacaniano como equivalente ao jubiloso encontro da criança com a totalidade de sua imagem refletida no espelho No referencial kleiniano é fundamental a passagem exito sa pela posição depressiva para a aquisição da capacidade de simbolizar 388 DAVID E ZIMERMAN É importante destacar que na conceitua ção de símbolo a reunião das duas partes perdidas não visa a uma exata reconstitui ção da primitiva perda como poderia ser a da antiga unidade simbiótica filhomãe Pelo contrário ela supõe uma junção sintética dos elementos que promovam um significado distinto do primitivo A progressiva aceita ção das perdas é matériaprima para a for mação de símbolos cuja função maior é a de substituir os objetos perdidos ou afastados É o progressivo processo da capacidade sim bólica que vai possibilitar a formação da lin guagem verbal a palavra é um símbolo talvez o mais nobre de todos dos jogos e brinquedos criativos assim como a forma ção de sonhos em uma escalada crescen te até atingir a capacidade do pensamento abstrato Sinal de angústia ou angústiasinal FREUD Expressão introduzida por FREUD no traba lho Inibições sintomas e angústia 1926 com o propósito de diferenciála do que até então ele descrevia com o nome de angús tia automática a qual surgiria como resul tante da pressão de um excesso de recalca mentos que o ego não teria condições de processar Pelo contrário a angústiasinal surge como preventiva dos perigos e pro move os recalques Assim enquanto a angústia automática tem uma concepção essencialmente econômica a angústiasinal também chamada segun da teoria da angústia alude mais direta mente a uma forma defensiva do ego dian te de certas situações que acionam as an gustiantes experiências traumáticas primiti vas que foram vividas pela criança e que estão inscritas e representadas como peri gosas no seu ego adulto Comentário Podese dizer que o sinal de angústia representa vantagens para o sujei to porque o deixa mais preparado diante de perigos reais e que ao mesmo tempo pode trazer sérias desvantagens quando o ego fica hiperalerta hiperreativo tal como acontece nas reações fóbicas A metáfora que me ocorre é a do sistema imunológico do organismo humano é ele quem sadia mente protege contra o perigo de uma in vasão de corpos estranhos porém pode ter uma reação tão exagerada e desproporcio nal ao agente estressante a ponto de pro vocar sérias reações alérgicas ou até um choque anafilático Sintoma FREUD Até FREUD os manifestos sintomas histéri cos conversivos e dissociativos os mais ruidosos de todos na época eram consi derados como simulação A partir do enfo que psicanalítico o sintoma neurótico pas sou a ser entendido como a expressão de um conflito inconsciente geralmente a de um desejo proibido sofrendo um recalca mento de uma instância repressora que só permite a manifestação indireta do desejo camuflado e disfarçado sob a forma do sin toma de forma análoga ao que se passa no fenômeno do sonho Assim embora o entendimento do sintoma psíquico tenha sofrido progressivo desenvol vimento sua formação depende essencial mente do que FREUD denominou formação de compromisso entre pulsões e defesas adquirindo o sintoma uma configuração decorrente da natureza das defesas predo minantemente utilizadas pelo ego Si mesmo ou si próprio KOHUT Tradução em português do termo self tal como conceituado por KOHUT Ver o verbete Self Simetria princípio da IMATTE BLANCO Ver o verbete Matte Blanco VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 389 Sincrético pensamento Forma de pensamento de natureza psi cótica porquanto o sujeito faz uma amál gama e não uma síntese de concepções heterogêneas Da mesma forma o sin cretismo é próprio de povos primitivos que fazem a fusão de dois ou mais ele mentos culturais ou religiosos antagôni cos num só elemento continuando po rém perceptíveis alguns sinais de suas origens diversas Síntese A capacidade de fazer sínteses é considera da como uma das funções mais nobres do ego de uma pessoa O termo síntese não deve ser confundido com resumo pelo con trário síntese alude a uma capacidade de juntar aspectos dissociados às vezes con traditórios de modo a extrair uma abstra ção com novos significados BION concebeu que o psicótico não reúne condições de fazer sínteses isso exige uma entrada exitosa na posição depressi va No lugar das sínteses pode compri mir os pensamentos mas não juntálos assim como pode fundir mas não articu lálos Sistema dedutivo científico BION No eixo vertical da Grade cuja função consiste em dar uma idéia da evolução ge nética da capacidade de pensar o sistema dedutivo científico ocupa a fileira G BION em Cogitações 1992 p165 afirma que Por essa expressão sistema dedutivo cien tífico entendo qualquer sistema de hipóte ses no qual certas hipóteses ocupem um nível superior em um sistema particular e sejam usadas como premissas das quais se deduzem as hipóteses de nível inferior As hipóteses de nível inferior são de generali zação decrescente até a mais inferior pos suidora de um grau de particularização que a torna adequada para verificar por expe riência empírica ou no caso da psicanálise pela experiência clínica Sistêmica teoria TERAPEUTAS DE FAMÍLIA Base predominante da terapia de família a teoria sistêmica como o nome sugere con cebe a família como um sistema em que seus diversos componentes ficam dispostos numa combinação e hierarquização dos papéis que visa sobretudo a manter o equilíbrio do grupo familiar Dentro do próprio corpo da terapia de fa mília de orientação sistêmica existem múltiplas tendências divergentes mas to das destacam a importância da distribui ção de papéis entre os familiares especi almente o do paciente identificado o de positário dos conflitos dos demais To das concordam também que o sistema familiar se comporta como um conjunto integrado numa estrutura ou seja qual quer modificação em um elemento do sis tema necessariamente vai afetar o siste ma como um todo É comum que haja nas famílias uma com pulsão à repetição de geração a geração de um mesmo código de valores estratifi cados e que constituem nos chamados mitos familiares muito difíceis de desfa zer Os terapeutas da linha sistêmica tam bém enfatizam o fato de que no atendi mento conjunto de um paciente com a família devese procurar o desmascara mento da farsa de que há um único pa ciente e uma família vítima e desesperan çada A tendência atual na terapia de família é a de uma corrente integradora entre as concepções psicanalíticas sistêmicas e da teoria comunicacional assim como a eventual utilização de técnicas psicodra máticas 390 DAVID E ZIMERMAN Só capacidade de estar WINNICOTT No artigo intitulado A capacidade para es tar só aparece publicado em O ambiente e os processos de maturação 1982 WINNI COTT conceitua essa capacidade como um paradoxo visto que designa a capacidade para ficar só na presença de alguém O autor descreve como exemplo a situação em que após um coito satisfatório cada parceiro se sente só porém satisfeito por estar só de modo que ser capaz de apreci ar estar só estando junto com outra pessoa que também esta só é uma experiência normal Seguindo esse raciocínio WINNI COTT afirma que se trata de uma solidão compartilhada ou seja uma solidão que não é acompanhada de um retraimento e da sensação de abandono e desamparo porque predomina a certeza que o outro está junto e disponível tal como acontece numa relação sadia entre a mãe e seu filhinho WINNICOTT também menciona MKLEIN que postulou que a capacidade para ficar só depende da existência de um objeto bom na realidade psíquica do indivíduo Ver o verbete Capacidades Sobre alucinação BION 1958 Este trabalho cujo título original é On Hallu nation é um dos que compõem o livro Es tudos psicanalíticos revisados Second thou ghts Nele partindo da análise de um paci ente esquizóide BION aborda uma série de aspectos importantes como 1 A necessária distinção a ser feita entre o fenômeno da dissociação mais benig na com objetos totais presente nas his terias e o da clivagem mais primitiva com objetos parciais mais própria das psicoses O autor estendese em con siderações acerca das diferenças entre his teria e psicose 2 O paciente fazia uso evacuatório de seus sentidos e as alucinações eram empregadas a serviço do desejo de curar e portanto podem ser consideradas atividades criativas 3 É particularmente interessante a descri ção de como o uso excessivo de identifica ções projetivas provoca confusão e indis criminação entre os órgãos sensoriais da visão e o da audição de sorte que esse uso era feito como se fossem órgãos digestivos pra satisfazer o apetite 4 É igualmente interessante constatar como o paciente associava fortes sentimentos per secutórios a qualquer aparelho elétrico como um gramofone que BION tinha no con sultório O próprio BION era tratado pelo paciente não como uma pessoa indepen dente mas com uma alucinação de tal modo que cada sílaba proferida por mim era experimentada como uma punhalada 5 BION também mostra que para o psicóti co o sonho é a evacuação de um material que foi ingerido durante as horas de vigília 6 O artigo conclui com a afirmação de que é necessário que o psicanalista saiba que alucinações durante sessões analíticas são mais freqüentes do que se pensa Sobre arrogância BION 1958 Trabalho cujo título original é On arrogan ce consta do livro Estudos psicanalíticos revisados É baseado na experiência clínica de BION com um paciente que evidenciava todas as manifestações descritas de perso nalidade psicótica inclusive episódios de confusão e despersonalização embora não fosse um psicótico propriamente dito No curso da análise formouse uma reação te rapêutica negativa manifestada sob a for ma do tripé atitude de arrogância de estu pidez e de curiosidade intrusiva BION se es tende em considerasções sobre a RTN do paciente afirmando que quando interpre tava a inveja edípica o quadro não melho rava pelo contrário piorava A situação de impasse somente reverteu quando BION per cebeu que o paciente estava se expressan VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 391 do através de uma forma muito primitiva de comunicação e que necessitava de um continente para a projeção de seus aspec tos bons e de seus ataques mutiladores Também é nesse artigo que BION estuda o mito edípico sob um vértice ampliado e diferente do que conhecemos em FREUD ou seja ele destaca a presença do mito na tríade arro gânciaestupidezcuriosidade nos personagens que participam da tragédia Sobre a psicoterapia FREUD 1905 Esse trabalho publicado no volume VII da Standard Edition reúne três conferências pro nunciados por FREUD na Sociedade Médica de Viena em 1904 Após afirmar que a maio ria dos métodos da antiga medicina e da me dicina primitiva pode ser classificada sob o título de psicoterapia e que as neuroses não são curadas pelo medicamento porém pelo médico isto é pela personalidade do médi co FREUD apresenta várias idéias relativas a psicoterapias 1 Este método é freqüentemente confun dido com o tratamento hipnótico pela su gestão Na realidade existe a maior antítese possível entre essas duas técnicas A suges tão contrariamente à psicoterapia não se interessa pela origem pela força e pelo sig nificado dos transtornos emocionais 2 A técnica de procurar as origens de uma doença não é fácil e não pode ser praticada sem o devido treinamento 3 A investigação e a exploração psicanalí ticas não indicam resultados rápidos e a re sistência pode provocar muitas decepções 4 O método que lida com o inconsciente tem indicações e contraindicações 5 O tratamento psicanalítico pode ser conce bido de maneira geral como uma reeduca ção na superação das resistências internas 6 Nesse trabalho mencionando o grande Leonardo da Vinci FREUD estabelece uma distinção entre o modelo per via di porre e o per via di levare Ver o verbete Via di porre e via di levare Sobre uma citação de Freud BION 1976 Artigo cujo original é intitulado On a quo tation from Freud e integra os quatro traba lhos incluídos no livro Seminários clínicos e quatro artigos Nele partindo da afirma tiva de FREUD de 1926 de que existe mui to mais continuidade com a vida intraute rina do que a importante cesura do ato de nascer poderia nos fazer crer BION aporta uma série de concepções muitas delas re lativas ao psiquismo fetal que são impor tantes para a prática analítica contemporâ nea como as frases a seguir transcritas 1 Picasso pintou um quadro em um pe daço de vidro de maneira que pudesse ser visto de ambos lados Sugiro que o mesmo pode dizerse da cesura depende de que lado se a olhe para que lado se está indo 2 O mito de Palinuro mostra que pode haver a crença de que se pode abandonar o curso da viajada enquanto se conduz as naves sobre a calma e formosa superfície do Mediterrâneo Isto é algo que não deve ríamos esquecer não deveríamos deixar que nos desorientemos pela formosa e su perficial calma que atravessa nossos distin tos consultórios e instituições 3 Creio que seria muito útil considerar que certos estados de medo de intenso medo são mais fáceis de visualizar e de imaginar se pensarmos neles como um medo de ori gem talâmica ou como alguma espécie de manifestação glandular do tipo de algo re lacionado com o renal ou daquilo que mais tarde se converte nos órgãos genitais 4 Certamente não vejo porque não poderia ter ficado um resto de uma mui to primitiva sensibilidade o feto poderia ser um objeto são e normal e ainda assim ser submetido a pressões comunicadas muito antes da etapa em que nós pensa mos que já existe algo assim como uma personalidade e muito depois 392 DAVID E ZIMERMAN Sobredeterminação FREUD Termo da filosofia foi introduzido por FREUD na psicanálise para designar a pluralidade de determinados fatores que geram um dado efeito final como ele considerou par ticularmente no fenômeno que se passa na formação dos sonhos A sobredeterminação é o efeito do trabalho de dois mecanismos o da condensação que agrupa os diversos fatores como se fossem um só e o do deslocamento que pode dar um aparente relevo maior a um fator insignificante devido a que o fator mais relevante ficou deslocado naquele Na literatura psicanalítica a sobredetermi nação também costuma aparecer nas tra duções como superdeterminação multide terminação e determinação múltipla Sobreinvestimento ou superinvestimento FREUD Termo utilizado por FREUD especialmente com um significado relativo a sua teoria econômi ca Enfocou a existência de um superinvesti mento libidinal em situações como a que é exigida no processo da função egóica da aten ção e na preparação para o enfrentamento de situações de perigo FREUD assinalou que para a solução de grande número de trau matismos o fator decisivo seria a diferença entre sistemas não preparados e sistemas pre parados por sobreinvestimentos Sobrenatural O FREUD 1919 Esse trabalho está no volume XVII da Stan dard Edition Ver o verbete Estranho O Sobrevivência do objeto WINNICOTT WINNICOTT deu especial importância à ca pacidade da mãe de poder sobreviver aos ataques destrutivos e às demandas vorazes do filho constituindo o que denominou a crueldade da criança não é o mesmo que ter ódio sem retaliar sem sucumbir a um estado de depressão que viria a exacerbar as fantasias do filho a respeito de sua mal dade e destrutividade Esse aspecto ganha relevância na situação psicanalítica especialmente com pacientes bastante regredidos que submetem o tera peuta a toda sorte de ataques similares No fundo ficam à espera que o analista sobre viva a eles sem revidar sem se deprimir sem ficar apático e desinteressado sem en chêlos de medicamentos sem apelar para uma internação hospitalar e sem encami nhar para outros colegas Somática complacência FREUD Ver o verbete Complacência somática Sonho FREUD Até antes das descobertas de FREUD a bus ca de entendimento dos sonhos que desde sempre acompanham os seres humanos estava entregue aos demiurgos e charlatões em geral que procuravam extrair deles anúncios proféticos premonitórios mensa gens de espíritos ou interpretações fantásti cas Posteriormente quando a ciência co meçava a dar passos mais firmes filósofos e alguns médicos neuropsiquiatras esboçaram algumas especulações mas insistiam em em prestar a cada fragmento simbólico de qual quer sonho determinado significado especí fico o qual valeria para todas as pessoas A partir de FREUD mais exatamente em 1900 com a elaboração e publicação do seu mais famoso livro A interpretação dos sonhos os sonhos não só ganharam nova dimensão científica como também o apro fundamento do seu estudo abriu as portas para a consolidação da teoria da psicanáli se pelas seguintes razões 1 Representa a primeira análise levada a efeito no caso uma autoanálise motivada VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 393 pela necessidade que FREUD sentiu de ela borar a morte recente de seu pai 2 Possibilitou a FREUD construir um modelo do aparelho psíquico tal como aparece no célebre capítulo VII desse livro 3 Nesse mesmo capítulo ele formula o modelo de um aparelho óptico 4 Esse modelo permitiu que ele estabele cesse uma teoria puramente psicológica que veio a denominar topográfica palavra que deriva dos étimos gregos topos lugar graphein descrever 5 O fenômeno do sonho permitiu conce ber que não existia uma plena delimitação entre o normal e o patológico 6 Igualmente permitiu estabelecer uma integração entre experiências recentes res tos diurnos e as antigas que constituem o conteúdo latente do sonho 7 Propiciou a FREUD fazer as primeiras des crições de Édipo e da sexualidade infantil e estabelecer uma equivalência entre a estru tura dos sonhos e a das neuroses 8 A interpretação dos sonhos serviu a FREUD como modelo para colocar a atividade in terpretativa do analista como eixo de gravi tação da técnica da psicanálise Em relação à formação dos sonhos FREUD assinalou que são três os fatores indispen sáveis 1 Estímulos sensoriais internos ou exter nos como ruídos odores luz vontade de urinar etc 2 Restos diurnos 3 A existência prévia de sentimentos pen samentos e desejos recalcados no inconsci ente Partindo desses fatores genéricos FREUD descreveu os seguintes fenômenos psíqui cos que estão presentes na formação de qualquer sonho 1 Conteúdo manifesto designa aquilo que aparece no consciente daquele que sonhou quase sempre sob a forma de imagens vi suais que ele pode ou não recordar depois de despertar 2 Elaboração onírica secundária também conhecida como atividade do sonho e que consiste numa atividade durante o sono do ego que se encarrega de disfarçar e dissi mular o que está recalcado no inconsciente e proibido de aparecer no consciente em estado bruto 3 Conteúdo latente aquilo que de fato está recalcado no aludido estado bruto 4 Censor onírico FREUD comparou essa parte onírica do ego inconsciente ao de um censor de notícias com amplos poderes para suprimir qualquer trecho que ele jul gue inconveniente 5 Mecanismos defensivos do ego principal mente os de deslocamento condensação e simbolização cuja tarefa maior é a de dis farçar o conteúdo latente em manifesto 6 Formação de compromisso Da mesma forma como ocorre na formação de um sintoma neurótico FREUD 1933 conce beu que também o sonho resulta de uma formação de compromisso entre as pul sões do id e as defesas do ego que permi tem somente uma gratificação parcial e tolerável daquelas pulsões FREUD fez algumas modificações concei tuais porém nunca abriu mão do seu prin cípio básico de que os sonhos são sem pre uma forma de satisfação de desejos recalcados As seguintes clássicas frases de Freud podem dar uma noção pano râmica de como encarava o entendimen to e a importância do surgimento do so nho na prática analítica uma descober ta e uma intuição como estas o destino pode deparálas somente uma vez na vida de um homem o sonho é a via régia do inconsciente o sonho é o guardião do sono o sonho é a realização de al gum desejo Fica implícito que FREUD comungava com o Talmude livro da sabedoria judaica que há séculos já sentenciava que todo sonho que não se interpreta é uma carta que fica sem ser aberta 394 DAVID E ZIMERMAN Sonhos pósFreud Após as postulações de FREUD muitos pes quisadores e psicanalistas têm trazido im portantes contribuições e novas formas de conceber a formação função e aplicação psicanalítica dos sonhos Cabe mencionar os seguintes aportes Contribuições da Psicofisiologia Nos anos 50 apareceu o livro do pesquisador R FLI ESS sobre a descoberta psicofisiológica dos movimentos oculares durante o sonhar e da forma como aparecem os traçados ele troencefalográficos no curso de certas fases do sono Em especial foi verificado que du rante certo período o sonho é acompanha do por um movimento rápido dos olhos Esse período pela sigla REM em inglês Rapid Eyes Movements As diversas fases do sono com as respectivas mudanças no ritmo do REM permitem estudos mais apro fundados sobre os sonhos Tais descobertas causaram um grande en tusiasmo entre os pesquisadores da área instalandose laboratórios que prosseguem ativamente nos dias de hoje no estudo dos fenômenos que acompanham o dormir o sonhar e a atividade onírica durante toda a noite Um aspecto interessante a ser con signado é que os fenômenos que ocorrem na fase REM de modo genérico estão con firmando as hipóteses de FREUD Escola Kleiniana Para MKLEIN o sonho consiste em uma dramatização de algum conflito com as respectivas fantasias incons cientes e angústias da qual participariam todos os elementos componentes do self Entre outros os autores kleinianos que mais se aprofundaram no estudo dos sonhos fo ram HSEGAL e D MELTZER tendo este ata cado duramente as concepções originais de FREUD Assim em um dos seus últimos livros Dream Life1984 MELTZER concebe que o sonho traduz sobretudo as representações simbó licas dos estados da mente daquele que so nha além de a atividade do inconsciente geradora de símbolos estar presente indi retamente no diaadia da vida de vigília Desse modo transparece uma atividade permanente que corresponde às fantasias inconscientes Ademais discordando radi calmente de FREUD MELTZER acredita que o sonho é um processo ativo que tem uma capacidade criativa e é gerador de símbo los Em resumo para MELTZER Dream Life significa que o script do sonho é o mesmo da vida consciente de modo que na ver dade a pessoa vive nos sonhos Psicólogos do Ego Os autores dessa cor rente psicanalítica também se afastaram bas tante de FREUD Alguns deles jocosamente costumavam dizer que a via régia de FREUD já estava gasta e algo inutilizada de tanto ter sido transitada e enfocaram os sonhos do ponto de vista da estrutura da mente WINNICOTT Para ficar em um único as pecto que relaciona a obra de WINNICOTT e seus seguidores com os sonhos cabe destacar a noção de espaçosonho que corresponde ao espaço transicional isto é o espaço que existe no sonho pode re presentar uma transição entre o mundo imaginário e o da realidade assim como também representa a possibilidade de pensamentos e atos criativos BION Juntamente com os mitos e pensa mentos oníricos BION situa os sonhos na filei ra C de sua Grade Partindo do modelo con tinenteconteúdo ele descreveu três tipos de sonhos o elaborativo nos moldes descritos por FREUD o evacuativo são impressões psí quicas que agem como elementos β portan to não conseguem ser pensados e elabora dos tal como acontece com os psicóticos e o tipo misto que reúne os dois anteriores Em relação ao manejo técnico do sonho na prática clínica muita coisa mudou desde os tempos pioneiros de FREUD e seguidores imediatos Já não se despende um tempo enorme analisando detalhe por detalhe de cada sonho com se fazia exigindo as cor VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 395 respondentes livres associações de cada um deles até surgir a interpretação final formu lada pelo analista de forma brilhante Na época faziam uma reconstrução histórica através do simbolismo dos sonhos Na atualidade o relato do sonho continua sen do muito importante porque mostra que a mente do paciente está tentando elaborar algo provavelmente ligado ao trabalho analítico Porém no lugar de simplesmente o paciente relatar o sonho à espera de uma interpreta ção os analistas estimulam o paciente a con juntamente com o terapeuta buscar um signi ficado dentro de um contexto mais geral como seria o sujeito narrar desde a sua ótica um filme um livro um acontecimento juntamen te com os sentimentos nele despertados Splitting forçado e splitting estático BION BION descreveu duas modalidades de split ting do psiquismo do paciente o estático e o forçado O primeiro consiste em uma forma de prote gerse da dor psíquica decorrente do insight de alguma verdade penosa através de um ativo ver mal ouvir mal entender mal como acontece na reversão da perspectiva O splitting forçado por sua vez referese ao fato de que o paciente pode relacionarse bem com o analista enquanto esse fornece segu rança e alimento de forma análoga à como foi na infância com sua mãe Porém ao mesmo tempo ele bloqueia toda a aproxima ção afetiva com o analista como foi com os pais Spitz René RENÉ A SPITZ nasceu em Viena em 1887 originário de uma família húngara tendo passado grande parte da sua vida em Bu dapeste onde se formou em medicina e onde conheceu SFERENCZI que o encami nhou em 1911 para uma análise didática com FREUD Tornouse membro da Socie dade Psicanalítica Alemã em 1930 Em 1938 emigrou para os Estados Unidos ra dicandose no Colorado onde exerceu suas atividades clínicas e mais notoriamente as pesquisas que o tornaram célebre As principais pesquisas e trabalhos de SPITZ dizem respeito ao estudo do hospitalismo de crianças da correlata depressão anaclí tica dos distúrbios de linguagem das crian ças que tiveram abandonos prematuros Também realizou observações através de filmes sobre as etapas evolutivas de crian ças como a sua noção de organizadores a reação de medo aos estranhos por volta do sexto mês de vida bem como a função es truturante do não da criança Squiggle WINNICOTT Ver o verbete Jogo do rabisco Standard Edition obras completas de FREUD A chamada edição Standard das obras psico lógicas completas de FREUD contendo a tra dução de todos seus textos originais foi pu blicada na Inglaterra entre 1955 e 1974 É reconhecida como um dos mais notáveis empreendimentos intelectuais de todos os tempos O mais notável é que este trabalho gigantesco foi realizado praticamente por um único homem JAMES STRACHEY com a aju da de dois ou três auxiliares com escassos recursos materiais porém com o decisivo apoio de ANNA FREUD A Standard é conside rada a mais influente edição das obras de FREUD para sucessivas gerações de estudiosos da psicanálise a ponto de ser mais utilizada no mundo inteiro do que a edição original alemã a Gesammelte Werke Obras reuni das Esta foi publicada em 18 volumes e a Standard em 24 Além disso a edição inglesa serviu de base para traduções em inúmeros idiomas 396 DAVID E ZIMERMAN Na atualidade todas as traduções das obras completas de FREUD escritas originalmente em alemão têm sido severamente critica das mais precisamente a partir do livro Freud e a alma humana Freud Mans Soul de BRUNO BETTELHEIM publicado em 1982 Mercê do domínio que este psicana lista tinha da língua alemã lhe foi possível demonstrar que as traduções inglesas não só distorcem o significado de alguns con ceitos nucleares de FREUD como impossibi litam o leitor de reconhecer que sua princi pal preocupação era a alma humana Especificamente em relação às traduções em português é curioso e lamentável cons tatar que o Brasil é provavelmente o único país em que as obras de FREUD foram tradu zidas duas vezes mas nunca do original a primeira nos anos 40 do espanhol e do francês a segunda na década de 70 do inglês por SOUZA 1998 Assim o portugu ês é o único idioma neolatino que ainda usa ego id e superego em vez de Ich Es Ou tros termos psicanalíticos cathexis por exemplo também foram traduzidos com o desnecessário auxílio de étimos latinos e gre gos Mas foi sem dúvida a utilização da pa lavra instinct para verter Trieb que provo cou a maior reação Hoje Trieb é traduzido como pulsão Além dos mencionados inúmeros outros termos estão merecendo novas traduções como é o caso de Angst Besetzung na chträglich Verdrängung Vorstellung Zwang Sublimação FREUD O conceito que aparece com freqüência na literatura psicanalítica de todos os tempos porém ainda não adquiriu uma definição precisa e uniforme Assim nas suas primei ras formulações FREUD utilizou esse termo para designar alguma atividade humana bemsucedida principalmente no campo artístico no trabalho intelectual e de obten ção de reconhecimento público em geral que aparentemente não teria nenhuma re lação direta com a sexualidade Essas pes soas porém retiram a energia e capacida de criativa de trabalho da pulsão sexual dessa forma sublimandoa Essa definição de FREUD encontra respaldo no duplo significado da palavra sublimação no mundo artístico a palavra sublime alu de a uma produção que sugira grandeza elevação no campo da química o termo referese a um processo de transformação pelo qual um corpo pode passar diretamente do estado sólido para um gasoso Posteriormente FREUD destacou que a ener gia posta à disposição para a sublimação provinha de uma dessexualização e inclusi ve chegou a referir um conceito equivalen te ao de uma desagressivização Do ponto de vista da escola kleiniana o processo de sublimação consiste numa tendência a res taurar o objeto bom destruído pelas pulsões agressivas A imprecisão conceitual que perdura até os dias de hoje reside no fato de que muitas vezes não é fácil avaliar a diferença entre sublimação e formações reativas idealiza ções e outros sistemas defensivos análogos É igualmente difícil levar em conta as dife renças culturais que valorizam ou desvalori zam determinado comportamento humano Sujeito LACAN Termo usado correntemente em psicologia filosofia e lógica para definir aquele que é sujeito do conhecimento do direito ou da consciência nas suas diversas dimensões Em psicanálise FREUD o empregou porém foi somente com LACAN que a palavra sujei to foi introduzida de forma mais definida na literatura psicanalítica LACAN a enunciou segundo a concepção do sujeito no âmbito da sua teoria do significante ou seja da relação do sujeito com o significante como aparece nessa sua afirmativa de 1960 Um VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 397 significante é aquilo que representa o sujei to para outro significante Em resumo o sujeito a pessoa sujeitase à cultura e atinge a ordem simbólica se ele vier a a aceitar e reconhecer a castração conforme LACAN conceituou Sujeito ideal PIERA AULAGNIER Expressão usada por AULAGNIER para deno minar uma estruturação da personalidade do sujeito mais ligada às demandas expec tantes do ego ideal e do ideal do ego do que propriamente as advindas do supere go de modo que o sujeito ideal funciona subordinado aos valores predominantemen te procedentes do contexto sociocultural As sim numa constante e compulsória busca de completude narcisista o sujeito ideal con funde facilidade com falicidade ou seja ele procura o poder falo em substitutos em fetiches que promovem um estado ou sen sação de poder riqueza prestígio beleza e eterna juventude Daí podese entender mais claramente por que cada vez mais as pessoas premidas pelas insaciáveis demandas da atual socie dade pósmoderna bastante reforçadas pela mídia dedicamse de forma exagerada a toda a sorte de exercícios contratam per sonal trainers ingerem medicamentos que prometem soluções mágicas viagra xeni cal prozac submetemse a rigorosas di etas de emagrecimento e a múltiplas cirur gias estéticas etc Sujeito suposto saber SSS LACAN LACAN criticava a técnica analítica que enfo cava primordial e insistentemente as inter pretações sistemáticas na transferência com o argumento de que em lugar de resolver a neurose transferencial essa técnica só fazia aprofundála porque o analista estaria se colocando no centro do universo do anali sando Descontando os exageros dessa afirmativa é importante levar em conta sua advertên cia de que não se estabeleça no analisando e no analista a crença de que este último é um Sujeito Suposto Saber SSS ou seja como o nome sugere que o psicanalista sabe tudo que o paciente ignora Caso o analista tenha exagerados núcleos narcisistas não percebidos por ele pode assumir esse papel assim se colocando no lugar do imaginário do analisando ofere cendose a ele como quem conhece a ver dade e abastecendoo com os seus conhe cimentos em lugar de deixálo revelar sua verdade pela palavra Dizendo com a terminologia lacaniana o analista como o pai do complexo de Édi po pode crer e fazer seu paciente crer que é o falo desconhecendo que haja uma Lei um Outro ao qual ambos paciente e ana lista devem se remeter Superego FREUD Termo introduzido por FREUD com o nome original em alemão de UberIch e apare ce pela primeira vez na literatura psicanalí tica no seu clássico O ego e o Id 1923 integrando a segunda teoria do aparelho psíquico ou seja a teoria estrutural ou a segunda tópica Nessa publicação FREUD descreve o supe rego como uma instância psíquica que se separou do ego encarregouse das fun ções de um juiz representante da moral le gislador de leis e proibidor das transgres sões dessas leis e passou à condição de poder dominar o próprio ego que lhe deu origem como demonstram os estudos da melancolia em que o indivíduo é criticado por uma parte sua que emite mandamen tos que provêm de dentro de si mesmo Antes disso no mínimo em dois trabalhos aparecem alusões ao conceito de superego Em Atos obsessivos e práticas religiosas 1907 ao tratar das autorecriminações dos 398 DAVID E ZIMERMAN neuróticos obsessivos FREUD diz que O sujeito que sofre de compulsões e interdi ções comportase como se estivesse domi nado por um sentimento de culpa inconsci ente Por outro lado no seu célebre Sobre o nar cisismo uma introdução 1914 FREUD empregou tanto a expressão Ego ideal Ide alich quanto Ideal do ego Ichideal Em sua obra juntamente com superego esses termos aparecem superpostos virtualmen te como sinônimos Não obstante a tendên cia dos psicanalistas contemporâneos é a de estabelecer uma distinção conceitual entre esses três termos tal como está referi do nos verbetes específicos FREUD correlacionou a origem do superego à dissolução do complexo de Édipo o que ficou substanciado na sua famosa frase o superego é o herdeiro direto do complexo de Édipo Ele apontou a diferença a esse respeito na evolução masculina e feminina ver o verbete Complexo de Édipo Segundo FREUD isso acontece porque quan do a criança supera com mais ou menos êxito sua conflitiva edípica encontra uma solução para as angústias acompanhantes desse conflito pela interiorização dos seus pais Isto é a criança identificase com eles e assim internaliza as proibições e interdi ções deles No entanto essa identificação não é completa porquanto a criança pode identificarse com certos aspectos dos pais e não com outros Pode atender ao manda mento interno deves ser assim como teu pai mas também pode abarcar a proibi ção não deves ser assim não podes fa zer tudo que teu pai faz muitas coisas são prerrogativas exclusivas dele Ai de ti se de sobedeceres No quinto capitulo de O ego e o id 1923 FREUD estuda detidamente a importância dos sentimentos de culpa na teoria na psico patologia e na técnica da psicanálise como por exemplo na relação direta que ele esta belece entre as culpas determinadas pelo superego e o importantíssimo problema do eventual surgimento da temível reação te rapêutica negativa Uma crítica que costuma ser feita à forma como FREUD concebeu e divulgou a noção de superego é relativa à ênfase que deu ao termo superego atribuindolhe quase exclu sivamente um caráter persecutório e sádi co sem levar muito em conta a existência de outros aspectos positivos protetores e estruturantes para o desenvolvimento men tal do sujeito Aliás uma das poucas vezes em que FREUD se refere ao superego com características positivas e bondosas aparece em seu traba lho O humor O aspecto positivo e estru turante do superego consistiria no fato que ele se alia ao ego daí o nome de ego auxi liar para ajudar o sujeito a conviver har monicamente com as necessárias normas costumes e leis da família e da cultura atra vés do estabelecimento do senso de reali dade crítica Conquanto o início da formação do supe rego seja fundamentalmente devido à re núncia aos desejos edipianos amorosos e hostis FREUD também destacou as posterio res influências e exigências sociais morais educativas religiosas e culturais Da mes ma forma assinalou que o superego da criança não se forma à imagem dos pais reais mas sim à imagem do superego de les Assim o superego do sujeito torna se o veículo da tradição porém pode ser diferente do superego parental ou até mes mo o contrário e nem sempre corresponde à severidade da educação Finalmente cabe dizer que FREUD em O ego e o id 1923 valorizou o superego como sendo a voz da consciência ou seja enfatizou que o superego está diretamente ligado às origens acústicas das percepções auditivas além dos ensinamentos e leitu ras Esse aspecto dos significantes acústicos serviu de fundamentação das postulações de LACAN acerca dessa temática VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 399 Superego PÓSFREUD Muitos autores aventaram a hipótese de que o começo da existência do superego devida à internalização das interdições precede o declínio do complexo de Édi po Servem como exemplo as postulações de FERENCZI em Psicanálise dos hábitos sexuais 1925 referentes à moral dos esfíncteres onde é enfatizado o fato de que os preceitos da educação esfincteria na são adotados desde muito antes da conflitiva edípica assim diferenciandose de FREUD ABRAHAM por sua vez estudou a interna lização dos primitivos objetos parciais o que serviu como base principal para os trabalhos de M KLEIN sobre a formação precoce do superego ANNA FREUD também trouxe uma contribuição importante com sua conceituação do mecanismo defensi vo constituinte de uma modalidade intro jetivoidentificatória que ela chamou de identificação com o agressor Igualmente R SPITZ a partir de suas obser vações diretas com crianças também des creveu algumas características de um supe rego anterior à conflitiva edípica No entanto foi M KLEIN quem estudou mais profundamente a formação de um supere go precoce a partir da sua prática clínica com crianças de tenra idade que demons travam intensos sentimentos de remorsos que ela atribuía à existência e à ação de um superego primitivo préedípico As principais concepções de MKLEIN diver gentes das de FREUD em relação ao supere go são 1 A origem do superego é muito anterior à sugerida por FREUD enquanto ele a fazia co incidir com a resolução edípica por volta dos quatro anos M KLEIN em 1923 apre sentava sua observação da presença de um superego rígido na menina Rita de dois anos e nove meses que ela analisava na época o qual também seria o responsável pelo terror noturno que a menina apre sentara aos 18 meses 2 Os constituintes do superego não se limi tam à introjeção dos pais edípicos antes os fatores são múltiplos e variados 3 Dentre esses fatores KLEIN dá uma va lorização especial à influência das fanta sias inconscientes decorrentes da pulsão de morte especialmente na fase do sa dismo máximo o que promove um jogo de identificações projetivas nas figuras dos pais reais seguidas de identificações in trojetivas deles como objetos parciais distorcidos pelas fantasias sádicodestru tivas Superego ou supersuperego BION Embora conservando os princípios essen ciais de FREUD e de MKLEIN acerca do su perego BION 1962 distinguiuse deles em parte ao evoluir para uma aborda gem original contida no seu conceito de superego às vezes aparece com a gra fia de supersuperego Esse superego faz parte do que BION cha ma de parte psicótica da personalidade ou seja indo além das proibições e das adver tências do que é certo e o que é errado do bem e do mal aprovação ou condenação etc que são inerentes ao conceito clássico do superego Essa concepção de BION con siste em uma forma psicótica de pensar a qual se opõe a todo desenvolvimento em bases científicas e às leis inevitáveis da natureza humana Assim ele gerese por uma moralidade sem moral criada pelo próprio sujeito que insiste em impor aos outros Igualmente quer reger o mundo com nor mas e valores unicamente seus firmados a partir da afirmação de sua superioridade destrutiva O superego tal como foi concebido por BION mostrase como um objeto superior Ofusca as funções do seu ego e afirma sua 400 DAVID E ZIMERMAN superioridade pelo denegrimento dos ou tros achando falhas em tudo que não co incidir com o que ele crê opondose tenaz mente a qualquer aprendizado com a ex periência e devotando um ódio a toda ver dade diferente da dele Resumindo o sujeito com essas caracterís ticas psicóticas do superego crente de que tudo sabe pode controla e condena substitui a capacidade de pensar pela oni potência o aprendizado pela experiência cede lugar à onisciência o reconhecimen to da fragilidade e dependência é substitu ído pela prepotência a capacidade de dis criminação entre o verdadeiro e falso fica borrada por um radicalismo arrogante e assim por diante Supervisão na formação psicanalítica A supervisão de casos de análise dos can didatos à formação oficial e curricular dos institutos de psicanálise com vistas à ob tenção do título de psicanalista é obriga tória É um dos pilares fundamentais do tripé essencial de uma adequada forma ção psicanalítica os outros dois são a análise didática e os seminários teóricos A supervisão obrigatória foi introduzida por MAX EITIGON no Instituto de Berlim na década de 20 com o nome de análise de controle Aliás tanto o termo controle sugere uma in tervenção superegóica quanto supervisão pode sugerir uma supervisão narcisista do supervisor têm sido bastante criticados Ambos os termos porém em especial o se gundo já estão completamente arraigados na terminologia psicanalítica Basicamente a finalidade de uma supervisão sistemática consiste em desenvolver no can didato no mínimo os seguintes aspectos 1 Estabelecer os fundamentos da natureza do processo de análise 2 Conhecer e aplicar as técnicas consa gradas 3 Ter flexibilidade variável de caso para caso para utilização de recursos táticos que permitam um acesso ao inconsciente do paciente e por conseguinte a obtenção de mudanças psíquicas 4 Ter conhecimentos teóricos principal mente visando a uma integração da teoria com a técnica e a prática clínica 5 Desenvolver as capacidades do ego do can didato minimamente essenciais para a subli me função de psicanalisar como a de empa tia de amor ao conhecimento das verdades de saber pensar clinicamente de saber escu tar e ter a indispensável habilidade de comu nicação de recepção e transmissão daquilo que é verbal e da comunicação primitiva pré verbal Não restam dúvidas que um paciente só desenvolverá essas capacidades se o seu analista as possuir autenticamente Comentário É claro que também existe a possibilidade de o processo de supervisão que visa a uma formação sofrer desvios nessa finalidade e tornarse patogênica Isso pode ocorrer quando o supervisor 1 Confundir formação com adaptar o can didato a uma fôrma préfabricada 2 Coibir a espontaneidade e criatividade do candidato assim promovendo uma de formação 3 Aceitar integralmente tudo que vem da maneira e estilo de o candidato trabalhar o que pode acarretar uma estagnação um conformismo isto é uma conformação 4 Exercer um fascínio narcisista sobre o can didato a ponto de deslumbrálo Vale lembrar que o verbo deslumbrar deriva de des privar de lumbre luz ou seja qual um carro que vindo à noite em direção contrária à nossa com os faróis altos incidindo diretamen te nos olhos nos deslumbram nos cegam 4 Além disso existem os riscos de o su pervisor concorrer para a infantilização do candidato caso venha a negar que todos nós por mais experientes que sejamos sempre continuaremos sendo analistas em formação VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 401 5 Igualmente existe o risco não tão raro de o supervisor entrar inadvertidamente num clima de rivalidade com o candida to ou pior através deste com seu ana lista Algumas sociedades psicanalíticas como a da França emprestam um valor extra ordinário às supervisões a ponto de ni velálas ou até superar à análise pessoal do candidato 1 pm 2 pm Meeting 2 T BION A letra T na obra de BION é a inicial do termo transformações um conceito original dele A letra T pode vir seguida de algum signo para situar onde e como está se pro cessando alguma transformação Por exem plo Tp designa que a transformação se ope ra no paciente Ta no analista O T com o signo α indica o mecanismo de ação que está produzindo a transformação enquan to o signo β que acompanha o T designa o produto final da transformação Tânatos FREUD Embora mudando as denominações e a essência da sua concepção FREUD sempre manteve a postulação da existência de uma dualidade pulsional Assim em sua primei ra formulação distinguiu as pulsões do ego ou de autoconservação ou de interesses do ego e as pulsões sexuais ou de preserva ção da espécie A partir de Além do princípio do prazer 1920 essa dualidade pulsional cedeu lu gar a uma nova dualidade as pulsões de vida Eros que então passaram a abran ger as pulsões sexuais e as de autoconser vação e as pulsões de morte Tânatos Essa concepção pulsional FREUD conservou definitivamente em sua obra Na mitologia grega Tânatos é a significa ção da morte O termo é às vezes utilizado para designar a pulsão de morte por sime tria com o termo Eros que adquire um sig nificado de vida Na verdade nos escritos de FREUD não aparece explicitamente o ter mo Tânatos porém segundo JONES ele o utilizava em conversas No texto Análise ter minável e interminável 1937 ele cita o fi lósofo grego Empédocles que opunha o amor construtivo à destrutividade da discórdia Tantalizador objeto Não obstante esse termo não conste da lite ratura psicanalítica o conceito de objeto tantalizador como aqui segue exposto sur ge com tanta freqüência na clínica psicana lítica que justifica sua inclusão neste Voca bulário De acordo com a mitologia grega Tântalo foi submetido ao suplício que consistia em lhe oferecerem alimentos para mitigar sua intensa fome e sede equando ele chegava bem perto os alimentos desapareciam Quando nos referimos a uma mãe tantali zadora ou a um namorado tantalizador estamos designando um vínculo entre duas T 404 DAVID E ZIMERMAN pessoas que se caracteriza pelo fato de uma delas o sedutor por meio de promessas de uma próxima felicidade paradisíaca sub mete o outro o seduzido a um verdadeiro suplício na base do dá e tira que pode pro longarse pela vida inteira Ver o verbete Sedução Tausk Vicktor pode ser evidenciado tanto por episódios de profunda depressão quanto por repeti das complicações nos seus múltiplos casos amorosos que costumavam terminar em rupturas violentas Sua perturbação ficou ainda mais evidente por sua ligação extre mamente ambivalente a FREUD a quem acu sava de roubarlhe as idéias assim repetin do a relação altamente conflituada que ti vera com seu pai tirânico Ainda assim TAUSK pediu insistentemente a FREUD que o analisasse porém ele recusou e o encaminhou a sua analisanda H DEUTS CHE Essa análise de TAUSK foi um desastre pois ele ocupava o tempo todo das sessões atacando duramente a FREUD Três meses depois de iniciada essa malogra da análise TAUSK se suicidou em julho de 1919 com 42 anos tentando estrangularse com um cordão de cortina e dando um tiro na têmpora Justamente nessa época ele ti nha acabado de redigir o trabalho Da gêne se do aparelho de influenciar no curso da es quizofrenia onde aborda com muita propri edade o problema da despersonalização Essa obra veio a tornarse um clássico Coube a FREUD redigir o seu necrológio Técnica psicanalítica A palavra técnica deriva do grego tekhne que alude à arte de bem fazer as coisas A expressão técnica psicanalítica designa um conjunto de procedimentos que incluem a instalação de um setting apropriado uma obediência à essência do que está recomen dado nas regras técnicas legadas por FREUD o emprego fundamental da arte de interpre tar principalmente tudo que disser respeito às resistências e às transferências Todos esses procedimentos devem levar em conta uma relação íntima da técnica com os cor relatos desenvolvimentos teóricos um ali mentando e sendo alimentado pelo outro Na verdade a psicanálise nasceu com a téc nica com a afanosa busca de FREUD de so Nascido na Eslováquia em 1879 originário de uma família judia TAUSK formouse em Direito e instalouse em Berlim onde tentou fazer carreira na literatura e no jornalismo Posteriormente veio a aproximarse de FREUD sendo aceito como membro da Sociedade Psicológica das QuartasFeiras na qual des tacouse como um dos mais brilhantes freu dianos da primeira geração A partir de 1908 começou a fazer o curso de medicina parci almente financiado pelos colegas da aludida sociedade Com a eclosão da I Guerra Mun dial TAUSK foi convocado para o serviço ati vo e logo promovido a oficial superior Intelectualmente brilhante reconhecido como orador impressionante TAUSK era muito perturbado emocionalmente o que VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 405 luções práticas para seus pacientes que ele não estava encontrando nos métodos tra dicionais da época Assim a história da evo lução da psicanálise embora com o respal do da metapsicologia e da teoria corres ponde à evolução das transformações dos paradigmas da técnica Os escritos essenciais de FREUD sobre técni ca psicanalítica foram publicados entre 1912 e 1915 Nos seus historiais clínicos o que mais nitidamente transparece é seu desejo de encontrar uma confirmação das teorias que a partir também da experiência clínica começava a formular sobre a sexualidade De lá para cá muita coisa relativa à técnica vem gradativamente sendo modificada em alguns pontos até mesmo porque a psica nálise abriu as portas para a psicanálise de crianças e de pacientes regredidos em ge ral inclusive psicóticos Além disso as diferentes correntes psicana líticas conservam suas próprias diretrizes técnicas quanto ao número de sessões se manais a obediência ou não às regras téc nicas clássicas a forma de interpretar etc O melhor exemplo de discrepância do mo delo tradicional da técnica psicanalítica é o de LACAN e seguidores que aboliram o tem po cronometrado da duração da sessão que habitualmente é de 50 ou 45 minutos e ins tituíram o tempo necessário para que se processe a castração simbólica o que pode durar um tempo mais longo que o habitual ou não durar mais que alguns minutos Os próprios contemporâneos de FREUD ten taram abreviar o tempo de duração da aná lise como exemplificam os métodos adian te citados 1 O de STECKEL chamado de ativo segun do o qual propunha um tempo máximo de 50 e 150 sessões 2 O da terapia ativa de ORANK a qual pre conizava que as análises não deveriam pas sar de alguns meses o que já seria combi nado no contrato inicial Além disso pro punha que a ênfase do trabalho analítico não deveria ser no conflito edípico incons ciente mas sim nos aspectos da vontade consciente de se curar 3 O da técnica ativa proposto por FERENC ZI que é explicitada no verbete seguinte Mais tarde apareceram as inovações de W REICH FALEXANDER e MBALINT inspi rados em FERENCZI além das modificações técnicas assumidas pelos dissidentes de FREUD Técnica ativa FERENCZI S FERENCZI em 1919 inventou o método da técnica ativa segundo o qual em vez de o analista limitar sua atividade às interpre tações do inconsciente também deveria in tervir durante as sessões através de ordens proibições e estímulos como por exemplo o de o paciente enfrentar uma situação fo bígena Mais tarde foi ao extremo de per mitir que alguns pacientes o abraçassem ou beijassem a fim de permitir uma identifica ção com uma figura parental amorosa que tivesse faltado ou falhado na infância do pa ciente Em 1932 FERENCZI foi ainda mais longe com a idéia de análise mútua segundo a qual o analista poderia inverter os papéis com o paciente como por exemplo fa zer a sessão de análise na casa dele dei xar o paciente dirigir o andamento da análise concordar em deitarse no divã tudo isso tendo em vista conseguir devol ver uma boa maternagem faltante no pa ciente Esse método encontrou manifesta oposição de FREUD que denunciou o furor curandi de FERENCZI que o estaria levando a um desviacionismo Nos últimos tempos FEREN CZI considerado por muitos o mais brilhan te clínico da história da psicanálise recuou nos exageros ativistas dizendo que o uso dessa técnica seria só para situações espe ciais de emprego muito eventual e com li mitações bemdefinidas 406 DAVID E ZIMERMAN Término da análise Desde FREUD 1937 existe uma velha polê mica a análise é terminável ou é sempre interminável Muitos pensam que deve ser terminável do ponto de vista formalístico porém nunca é totalmente terminável levan do em conta que a cura analítica é bem di ferente da cura ou alta em clínica médica Comentário Se tomarmos o prefixo lati no in no sentido de uma interiorização e não de uma negativa que é seu outro significa do habitual podemos dizer que uma análi se tornase terminável quando ela fica in terminável Em outras palavras um tratamento analíti co termina formalmente quando o analisan do mercê de uma introjeção in da função psicanalítica do seu analista está equipado para prosseguir sua eterna função autoana lítica e dessa forma continuar fazendo re novadas mudanças psíquicas Os critérios que indicam a adequação do término formal da análise são muito variá veis e dependem de uma série de fatores multideterminados Em termos ideais os seguintes resultados deveriam ser obtidos ao final da análise 1 Modificação da qualidade das relações objetais 2 Menor uso de mecanismos defensivos primitivos 3 Renúncia às ilusões de natureza simbióti conarcisista 4 Capacidade de fazer desidentificações patogênicas e a partir daí fazer neoiden tificações 5 Reintegração de partes que estavam es plitadas e projetadas 6 Capacidade de suportar frustrações ab sorver perdas e fazer um luto pelas mesmas assumindo o seu quinhão de responsabili dade e de eventuais culpas 7 Capacidade de consideração pelas ou tras pessoas e capacidade de fazer repa rações 8 Diminuição das expectativas exigidas pelo ego ideal e pelo ideal do ego impos síveis de alcançar 9 Abrandamento do superego 10 Libertação das áreas autônomas do ego 11 Aceitação da condição de alguma for ma de dependência 12 Utilização plena da linguagem verbal 13 Ruptura com os papéis estereotipados e com um possível falso self 14 Aquisição de um definido sentimento de identidade 15 Autenticidade e autonomia 16 Reconhecimento dos outros como pes soas livres diferentes e separadas dele pa ciente embora possam amálo muito 17 Aquisição de uma função psicanalítica da personalidade 18 Um critério de resultado analítico exito so segundo BION não é o de o analisando estar curado e vir a ficar igualzinho a seu analista mas sim o de vir a tornarse al guém que está se tornando alguém 19 O término de uma análise embora não comporte regra fixa deve atentar para dois aspectos que podem ser igual mente prejudiciais e que têm muito a ver com sentimentos contratransferenciais um é o de uma prematuridade que cor responderia a um desligamento prematu ro que a mãe faz em relação ao bebê que ainda não atingiu a condição de separa ção e individuação ou a de um adoles cente que subitamente deve sair de casa e funcionar como um adulto sem ainda estar preparado para tanto Outro risco é o de uma situação oposta com um prolongamento excessivo na hipótese de que a análise já não esteja promovendo um significativo crescimento mental o que pode reforçar e perpetuar um estado de dependência prejudicial Terror ou pavor sem nome BION Ver o verbete Pavor sem nome VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 407 Textos selecionados da pediatria à psicanálise WINNICOTT 1958 Originalmente publicado com o título de Collected Papers Through paediatrics to psychoanalysis esse livro reunia as diver sas e variadas contribuições de WINNICOTT destinadas a um público especializado Posteriormente foi reeditado com uma ex tensa e excelente introdução de seu mais notório seguidor MASUD KAHN que relacio na os textos do livro original com publica ções posteriores de WINNICOTT o que dá uma dimensão mais ampla e aberta não ape nas a psicanalistas como também para ou tros profissionais das áreas humanísticas em geral Um aspecto interessante desse livro é que dentro de uma visão binocular WINNICOTT que durante longos anos exerceu a pedia tria possibilita ao leitor constatar o quanto a psicanálise esclarece a pediatria e vice versa Textos Selecionados consta de três partes A primeira com apenas dois textos mostra as atitudes de WINNICOTT como pediatra antes de sua formação psicanalítica deixan do claro o quanto uma abordagem pediá trica puramente clínica requer a compreen são mais profunda dos problemas emocio nais do desenvolvimento infantil A segunda parte com oito textos demons tra o impacto dos conceitos psicanalíticos sobre a pediatria A terceira parte a mais importante consta de 16 textos alguns plenamente vigentes e reconhecidos como muito relevantes tais como Desenvolvimento emocional primitivo 1945 O ódio na contratrans ferência 1947 Objetos transicionais e fenômenos transicionais 1951 Preo cupação materna primária 1956 A tendência antisocial 1956 dentre ou tros mais A primeira edição brasileira foi publicada em 1978 com cerca de 500 páginas Thalassa FERENCZI Em 1924 FERENCZI produziu o texto Tha lassa psicanálise das origens da vida sexu al o qual foi resultante de uma troca de idéias com FREUD durante o ano de 1915 a propósito da ontogênese referese ao de senvolvimento do indivíduo e da filogêne se alude ao desenvolvimento da espécie A discussão entre ambos tinha por finalida de tentar responder às questões que se pro puseram sobre o problema da memória das espécies e da transmissão das experiências arcaicas da humanidade Nessa época FREUD em plena especulação darwinlamarckiana e biogenética da qual FERENCZI compartilhava entusiasticamente formulou a hipótese de que a humanidade teria sofrido um traumatismo generalizado uma catástrofe com a ocorrência da era gla cial Esse período teria sido a origem da la tência da sexualidade humana cuja ener gia teria sido conservada para ser dirigida à necessidade de sobrevivência As privações resultantes do degelo glacial segundo uma carta de FREUD a FERENCZI em julho de 1915 teriam transformado a libido em angústia Com a desistência de FREUD da combina ção de ambos escreverem um aprofunda do estudo relativo à tese de que a sexuali dade da espécie humana conserva o traço mnésico hereditário e inconsciente de uma série de catástrofes geológicas que levaram o ser humano a vida animal e vegetal a adaptarem a vida ao mundo aquático dos oceanos a palavra grega Thalassa signifi ca mundo marinho FERENCZI desenvolveu e publicou sozinho essas suas especulações De alguma forma FREUD retornou à tese central dessa conjectura em seu clássico Além do princípio do prazer 1920 onde postula que a pulsão de morte corresponde à natureza conservadora das pulsões que buscam a restauração de um estado anteri or no qual estava abandonado em razão de uma perturbação exterior 408 DAVID E ZIMERMAN Em seus escritos FERENCZI chegou à conclu são que do ponto de vista ontogenético a sexualidade corresponderia ao desejo de um retorno ao seio maternal um retorno sim bólico alucinatório e real ao corpo da mãe Quanto ao nível filogenético corresponde ria à realização do desejo de um feliz retor no a um originário thalassal mundo marinho de onde a espécie humana foi excluída Referência bibliográfica Maiores escla recimentos podem ser encontrados em dois artigos de FERENCZI Thalassa Ensaio sobre a teoria da genitalidade 1924 volume III da obra completa de FERENCZI e Masculino e Feminino Considerações psicanalíticas sobre a teoria genital e suas diferenças se xuais secundárias e terciárias 1929 vo lume IV Tópicas FREUD O termo tópica deriva do grego topos lu gar O modelo tópico designa portanto uma teoria de lugares Para criar esse modelo FREUD inspirouse em aspectos como 1 Os princípios científicos da neurofisiolo gia da época privilegiavam sobremaneira a anatomia e a fisiologia das localizações ce rebrais 2 Os fenômenos clínicos observados em pacientes histéricas como o de estados cre pusculares e o da personalidade múltipla falavam a favor de áreas distintas de fun cionamento psíquico 3 O estudo dos sonhos evidenciava de for ma incontestável que existia um plano in consciente da mente com um funcionamen to segundo suas próprias leis específicas FREUD empregou a palavra aparelho para caracterizar uma organização psíquica divi dida em sistemas ou instâncias psíquicas com funções específicas para cada uma que estão ligadas entre si ocupando um certo lugar na mente Embora já tivesse feito alu sões à existência de lugares psíquicos como aparece no Projeto 1895 a noção de aparelho psíquico como um conjunto arti culado de lugares virtuais surge mais cla ramente na obra A interpretação dos sonhos 1900 no qual no célebre Capítulo 7 ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico de como se processa a ori gem a transformação e o objetivo final da energia luminosa FREUD descreveu dois modelos tópicos a primeira tópica também chamada topográ fica e a segunda tópica também conhecida como estrutural ou dinâmica Tópica primeira FREUD Nesse modelo topográfico o aparelho psí quico é composto por três sistemas o in consciente Ics o préconsciente Pcs e o consciente Cs Algumas vezes FREUD de nomina este último de sistema percepção consciência O sistema consciente tem a função de rece ber informações provenientes das excitações provindas do exterior e do interior que fi cam registradas qualitativamente de acor do com o prazer ou desprazer que causam Porém o consciente não retém esses regis tros e representações como depósito ou ar quivo Assim a maior parte das funções perceptivocognitivasmotoras do ego como as de percepção pensamento juízo crítico evocação antecipação atividade motora etc processamse no sistema consciente embora este funcione intimamente conju gado com o sistema inconsciente com o qual quase sempre está em oposição O sistema préconsciente foi concebido como articulado com o consciente e tal como surge no Projeto onde ele apa rece esboçado com o nome de barreira de contato funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente Ademais o préconsciente também funcio na como um pequeno arquivo de registros cabendolhe sediar a fundamental função VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 409 de conter as representações de palavra con forme foi conceituado por FREUD 1915 O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico Por herança genética existem pulsões acrescidas das respectivas energias e protofantasias como FREUD denominava as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por fantasias primitivas primárias ou originais As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secun dária Uma função que opera no sistema incons ciente e que representa uma importante re percussão na prática clínica é que ela con tém as representações de coisa Portanto numa época em que as representações fi caram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeálas Funci onalmente o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e além das pulsões do id tem também muitas fun ções do ego bem como do superego Tópica segunda FREUD FREUD estava insatisfeito com o modelo to pográfico por duas razões 1 Essa teoria não conseguia explicar mui tos fenômenos psíquicos em especial os que emergiam na prática clínica 2 Uma das principais descobertas que tor nou necessário ampliar a teoria tópica foi a do papel desempenhado pelas diversas identificações na constituição do sujeito e na determinação dos valores e expectativas de qualquer pessoa Assim gradativamente Freud vinha elabo rando uma nova concepção até que em 1920 ele estabeleceu de forma definitiva sua clássica concepção do aparelho psíqui co conhecida como modelo estrutural ou dinâmico ou segunda tópica tendo em vista que a palavra estrutura significa um con junto de elementos que separadamente tem funções específicas Diferentemente da pri meira tópica que sugere certa passividade a segunda tópica é eminentemente ativa dinâmica Essa concepção estruturalista ficou cris talizada em O ego e o id 1923 e con siste em uma divisão tripartite da mente o id o ego e o superego cujas descrições aparecem separadamente nos respecti vos verbetes Totem e tabu FREUD 1913 Título de um célebre livro publicado por FREUD em 1913 considerado juntamente com Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância 1910 e Moisés e o mo noteísmo1939 como um dos mais po lêmicos e criticáveis de toda sua extensa obra A maior crítica consiste no fato de que FREUD fez um pretensioso ensaio psicanalíti co entrando no campo da antropologia ciência que ele não conhecia se fundamen tando em concepções antigas já totalmen te superadas pelos modernos antropólogos de sua época O eixo conceitual fundamental deste livro é o propósito de FREUD de dar uma significa ção universal ao complexo de Édipo assim demonstrando que a história individual de cada sujeito se constitui a repetição da pró pria história da humanidade O livro é com posto de quatro partes 1 O horror ao in cesto 2 O tabu e a ambivalência dos senti mentos 3 Animismo magia e onipotência dos pensamentos 4 O retorno infantil do totemismo Em sua essência FREUD parte da idéia de que num tempo primitivo os homens vi viam no seio de pequenas hordas selva gens cada qual submetida ao poder des pótico de um macho que se apropriava das fêmeas até que num certo dia os filhos num ato de violência coletiva ma taram e comeram o pai Depois do assas sinato sentiram remorso e instauraram uma nova ordem social pela qual foi ins 410 DAVID E ZIMERMAN tituída a exogamia proibição da posse das mulheres do clã do totem A palavra to tem alude a algum animal para o qual houve um deslocamento da representa ção do pai morto Igualmente foi instaurado o totemismo isto é a proibição de matar o animal totem A palavra tabu que os etnólogos encon traram na Polinésia designa as proibições referidas à posse das mulheres do chefe do clã pai e ao assassinato do totem pai Do ponto de vista mais estritamente psica nalítico esse livro traz uma importante con tribuição no que diz respeito às três fases que FREUD postula na terceira parte 1 A animista em que predomina a onipo tência das idéias e corresponde no plano individual ao estado em que a criança nar cisisticamente ama apenas a si mesma 2 A míticoreligiosa na qual a onipotência já não está mais centrada no sujeito mas nos deuses de modo análogo à idealização que a criança faz dos pais 3 A científica na qual já não há mais lugar para a magia onipotente e o sujeito aceita suas limitações em face da ordem univer sal o que com base em conhecimentos posteriores corresponde à passagem a do princípio do prazer para o da realida de b do processo primário para o secun dário c do narcisismo para o enfrenta mento do complexo de castração ineren te ao conflito edípico Esse trabalho está publicado no volume XIII p17 da Standard Edition Brasileira Transacional análise ERIC BERNE Método psicoterápico inventado por ERIC BERNE 19101970 psicanalista nascido em Montreal que emigrou para os Esta dos Unidos Instalouse em San Francis co lá aperfeiçoando seu método que ga nhou grande expansão no mundo e o tor nou célebre Essencialmente a análise transacional como o nome indica consiste em enfocar as múltiplas maneiras de como se proces sam as transações do sujeito com os demais membros de um mesmo grupo familiar ou social partindo de como se processam e configuram as relações do seu ego com as figuras parentais internalizadas Transexualismo ROBERT STOLLER Termo introduzido pela psiquiatria ameri cana em 1953 para designar um transtor no da identidade de gênero sexual causado unicamente por razões psíquicas e caracte rizado pela arraigada e inabalável convic ção do sujeito de que pertence ao sexo opos to ao seu O desejo de mudar de sexo é bastante antigo como pode ser comprova do em relatos da mitologia e da literatura antiga Assim nos fins do século XIX foram coligi dos inúmeros casos de transformação de identidade sexual aos quais se deu o nome de travestismo ou hermafroditismo ou in terssexualidade Aliás a etimologia do ter mo hermafroditismo esclarece a essência desse transtorno sexual filho de Hermes e de Afrodite o formoso adolescente Herma frodito foi amado por uma ninfa que tran sida pelo desejo de seu corpo rogou aos deuses que os unissem num só corpo de modo que o rapaz foi assim dotado de um pênis e dois seios Foi somente com o advento dos progressos da cirurgia e da medicina sobretudo das descobertas da genética que permitiram em 1953 identificar geneticamente a fórmula cromossômica do homem XY e da mu lher XX para que se estabelecessem dis tinções claras entre hermafroditismo traves tismo homossexualismo e transexualismo 1 O hermafroditismo consiste num defeito genético que resulta em que a pessoa apre senta ao mesmo tempo características mas culinas e femininas geralmente um pênis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 411 pequeno uma uretra com uma fenda e lá bios Esse quadro clínico na medicina é cha mado de hipospadia cuja resolução depen de de uma cirurgia 2 O travestismo é um transtorno nos quais o sujeito vestese com roupas do sexo opos to disfarce que pode conduzir a uma per versão ou a um fetichismo 3 O homossexualismo tem características próprias conforme consta no verbete espe cífico 4 O transexualismo leva o sujeito que ana tomicamente tem os órgãos genitais nor mais a mudar de estado civil e em muitos casos a querer submeterse a uma cirurgia para transformar seu órgão sexual normal num órgão artificial do sexo oposto ROBERT STOLLER foi o primeiro psicanalista em seu livro Sex and gender 1968 a pro por uma distinção radical entre o transexu alismo o travestismo a homossexualidade e o hermafroditismo Considerou o primei ro um transtorno da identidade e não da sexualidade Assim ele enfatizou a necessi dade de se diferenciar o gênero gender como um sentimento social de identidade masculina ou feminina de sexo como or ganização anatômica de genitália masculi na ou feminina Partindo do estudo de numerosos casos STOLLER traçou um perfil típico da mãe do transexual geralmente uma mulher depres siva passiva sem apego à vida sexual e nem ao pai da criança que investe exagerada mente a afetividade no filho com quem busca uma simbiose perfeita O pai por sua vez costuma ser uma figura ausente e que por vezes estimula disfarça damente atividades do filho contrárias às costumeiras para determinado sexo bioló gico levando o menino a se feminizar e a menina a se masculinizar A experiência clí nica mostrou que o transtorno da identida de sexual é de longe mais freqüente nos homens nos quais é mais psicotizante na medida em que a simbiose original se deu com uma pessoa do sexo oposto a mãe Da mesma forma a experiência mostrou que antes da cirurgia os resultados de um tratamento psicanalítico são praticamente nulos salvo se a análise tiver sido feita na infância e depois da cirurgia o transexual nunca fica satisfeito com a mudança de sexo não obstante o fato de que lhe seja impos sível renunciar a ela Transferência conceito de Em psicanálise a clássica expressão trans ferência é consensualmente entendida como substantivo coletivo isto é está no singular porém engloba uma pluralidade de signifi cados e de manifestações tão diversificadas que talvez se justifique uma preferência pelo termo transferências no plural O vocábulo transferência não é específico do vocabulário psicanalítico porquanto é utilizado em inúmeros outros campos mas sempre indica uma idéia de deslocamento de transporte de substituição de um lugar por outro ou de uma pessoa por outra sem que isso afete a integridade do objeto A propósito essa conceituação está de acor do com a etimologia da palavra a qual se forma dos étimos latinos trans passar atra vés de como em transparente ou passar para outro nível como em trânsito feros conduzir Embora para a comunidade psicanalítica o termo transferência deva ficar restrito ao que se passa no presente da situação analítica daquilo que o analisando está revivendo e sentindo com o seu analista é inegável que não há como desconhecer que essa expres são já ganhou grande extensão e uma ana logia conceitual com aquilo que se passa na relação médicopaciente professoralu no etc Aliás em 1909 FERENCZI já aponta va esse aspecto Igualmente o conceito de transferência vem sofrendo sucessivas transformações e reno vados questionamentos como por exem 412 DAVID E ZIMERMAN plo o de se a figura do analista é uma mera pantalha transferencial para a repetição de antigas relações objetais que estão introje tadas no paciente ou se ele também se com porta como uma nova pessoa real A transferência juntamente com a resistên cia e a interpretação continua sendo um pilar fundamental da psicanálise No entan to conforme as escolas as divergências são múltiplas quanto a seu lugar e função na análise a seu manejo técnico e a suas ori gens Transferência em FREUD Em Estudos sobre a histeria 1895 FREUD empregou pela primeira vez o termo trans ferência Übertragung no original no sen tido de uma forma de resistência isto é como um obstáculo à análise por parte do paciente para evitar o acesso ao resíduo da sexualidade infantil que persistia ligada às zonas erógenas Assim no capítulo A psi coterapia das histerias desse livro ele afir ma textualmente que a transferência é o pior obstáculo que podemos encontrar e conclui conceituandoa como uma forma de falso enlace ou falsas conexões como veio a usar posteriormente do paciente com o terapeuta Num pósescrito acrescentado ao seu clás sico historial clínico do caso Dora FREUD conceitua as transferências como novas edições revistas ou facsímiles de impulsos e fantasias passando a encarálas como uma inevitável necessidade Chega a ad mitir que seu fracasso na análise da jovem Dora deveuse a seu insuficiente trabalho com a transferência dela Em 1909 no historial do Homem dos ra tos a transferência foi vista como um cami nho penoso porém necessário Nesse his torial FREUD faz a primeira referência da transferência como um agente terapêutico A seguir em seus trabalhos específicos so bre técnica da psicanálise publicados no período de 1910 a 1915 FREUD vai gradati vamente valorizando a transferência Em 1910 Cinco leituras sobre psicanáli se afirmou que os sintomas só po dem dissolverse à elevada temperatura da transferência no trabalho A dinâmica da transferência 1912 afirma que não é possível vencer o inimigo in absentia ou in effigie em 1915 Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise introduz o conceito de neurose de transferência Em Observações sobre o amor de transfe rência 1915 FREUD classifica as transfe rências em positivas as amorosas e nega tivas as sexuais as últimas ligadas às resis tências Aliás nessa época ele referiase à íntima interrelação existente entre transfe rência e resistência de modo que tanto des creve uma resistência ao surgimento da transferência como também a possibilida de de que a transferência funcione como uma forma de resistência Em Conferências introdutórias 1916 FREUD faz uma distinção entre neuroses transferenciais e narcísicas deixando aí sua clássica afirmativa de que as narcísicas como então se referia às psicoses não poderiam ser tratadas psicanaliticamente por não haver libido disponível para a for mação da transferência No trabalho Além do princípio do prazer 1920 dáse um importante acréscimo con ceitual porquanto FREUD lança seu postula do da existência de uma pulsão de morte e inclui o fenômeno da transferência como um exemplo da compulsão à repetição penosa e infantil Em O ego e o id 1923 com a sua for mulação da segunda tópica FREUD ampliou bastante o conceito de transferência de for ma a abarcar nele não unicamente a re petição das lembranças e pulsões recalcadas mas também a participação de figuras supe regóicas e dos mecanismos de defesa do ego Não obstante toda sua evolução conceitual FREUD sempre se mostrou algo ambíguo a VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 413 respeito da utilização da transferência Suas opiniões variaram desde a afirmativa de que a transferência é o mais poderoso instru mento da psicanálise até a opinião expres sa em Esquema de psicanálise 1938 onde ele referese à transferência como am bivalente e pode ser uma fonte de sé rios perigos Transferência pósFREUD Escola Kleiniana Durante toda sua prática analítica desde o início da década de 20 com o pioneirismo da análise com crianças por meio da intro dução da técnica de jogos e brinquedos M KLEIN sempre trabalhou de forma sistemá tica na transferência muito especialmente na negativa decorrente das pulsões sádico destrutivas Entendia o fenômeno transfe rencial com uma reprodução na figura do analista de todos os primitivos objetos e relações objetais internalizadas no psiquis mo do paciente acompanhadas das respec tivas pulsões fantasias inconscientes e an siedades Essa noção de MKLEIN ficou muito robuste cida com sua concepção relativa ao fenô meno da identificação projetiva hoje con sensualmente aceita por todos os psicana listas Em seu importante trabalho de 1952 As origens da transferência o único que escreveu especificamente sobre o tema ela deixa claro e desenvolve bastante essa sua forma de entender o fenômeno transferen cial que a escola kleiniana veio a chamar de transferência primitiva As postulações originais de MKLEIN acerca da teoria e do manejo técnico do fenôme no transferencial sofreram e continuam sofrendo sensíveis modificações por parte de seus seguidores mais eminentes ROSEN FELD fez estudos da transferência enfocados nos aspectos do narcisismo onde ressalta a importância da organização patológica que ele denomina gangue ou máfia narcisista 1971 Também deve receber um registro especial sua descrição da psicose de trans ferência 1978 MELTZER 1979 descreveu a natureza e as formas da perversão na transferência B JOSEPH além de estudar a transferência como uma situação total 1985 também contribuiu para os conhecimentos da trans ferência que se manifesta nos pacientes de difícil acesso 1975 STEINER 1981 descreveu a organização pa tológica da personalidade na qual há uma relação perversa entre partes diferentes da mente que tendem a se reproduzir na trans ferência BION se distinguiu tanto que mere ce um registro à parte Bion Embora não tenha escrito nenhum texto es pecífico sobre o fenômeno transferencial BION deixou muitas contribuições que podem ser depreendidas ao longo de sua obra tais como 1 A noção de transformações na pessoa do analisando na do analista e no vínculo entre ambos que permeiam toda análise 2 A existência permanente na transferên cia dos três vínculos o do amor o do ódio e o do conhecimento 3 A importância de o analista distinguir a transferência provinda da parte neurótica da originada na parte psicótica da persona lidade 4 A introdução da noção de que a transfe rência no campo analítico não deve ser vista unicamente com a pessoa do analista mas também de uma parte do paciente em relação à pessoa mais importante com quem jamais poderá lidar que é uma outra parte dele mesmo 5 Fundamentalmente BION encara o fenô meno transferencial a partir do modelo de uma relação continenteconteúdo toman do como paradigma dessa relação a origi nal mãefilho 414 DAVID E ZIMERMAN 6 Em muitas passagens de seus escritos trans parece que BION também considerou como condição relevante no analista sua pessoa real e não unicamente como um objeto na fun ção de uma mera pantalha transferencial Kohut Fundador da Escola da Psicologia do Self KOHUT dedicouse à compreensão e ao ma nejo da normalidade e da patologia do nar cisismo Assim estudou as transferências narcisísti cas as descreveu e classificou em três tipos idealizadoras gemelares e especulares As últimas ele subdividiu em duas escalas de acordo com o grau de como esses pacien tes mais regredidos se imaginam ligados ao analista a fusional e a especular propria mente dita 1 Fusional Caracterizase pelo fato de o paciente crer que seu analista não passa de uma mera extensão sua e que portanto adivinhe os seus pensamentos comungue dos mesmos ideais valores etc 2 Especular propriamente dita A transfe rência consiste em que esse tipo de anali sando necessita que o analista tal como a mãe no passado reconheça confirme e es pelhe o self grandioso que o paciente lhe exibe o que durante algum tempo de aná lise o analista deve pautar Winnicott Considera que a transferência deve ser com preendida como uma nova relação um novo espaço que o paciente conquista para poder relacionarse com seu analista cuja imagem inicialmente estará distorcida pe las projeções e prováveis sentimentos de posse que o analisando tenha em relação a ele para que aos poucos o analisando venha a poder usar o analista primeiro como um objeto transacional e após de forma objetiva como um objeto real A relação analistaanalisando passa a ser um processo mútuo no qual cada um está descobrindo e criando ao outro porquanto as descobertas levam às criações Entre outros aspectos relativos à transferên cia que WINNICOTT descreve merecem men ção a função de holding do analista sua capacidade de sobreviver aos ataques des trutivos do paciente o risco de que alguma análise aparentemente bem sucedida pos sa estar construindo não mais do que um falso self Além disso embora WINNICOTT não descurasse dos aspectos sádicodestrutivos contrariamente à ênfase de M KLEIN ele pri orizava na transferência os aspectos cons trutivos e o dos vazios existenciais Lacan Esse eminente e controvertido autor con cebe a utilização da transferência na situa ção analítica de forma frontalmente diversa daquela em que todos os analistas das de mais escolas crêem e habitualmente a pra ticam Ele parte do princípio de que a fixa ção oral à mãe expressa o estágio do espe lho no qual o sujeito reconhece o seu ego no outro ou que a primeira noção do ego provém do outro Assim LACAN acredita que a ênfase do ana lista na interpretação sistemática da trans ferência não faz mais do que reforçar um vínculo de natureza diádica especular Pelo contrário prossegue LACAN o analista deve romper essa díade imaginária por meio da castração simbólica como um recurso de propiciar a transição do nível imaginário para o simbólico próprio da triangularida de edípica Todos esses aspectos constituem o que LACAN configura como teoria simbóli ca da transferência Para LACAN a psicanálise consiste em um processo dialético pelo qual o paciente traz sua tese o analista propõe a antítese e daí surge uma síntese insight que leva a no vas teses A transferência somente surge VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 415 quando por alguma razão esse processo dialético é inoperante Ele exemplifica isso reestudando o caso Dora sob o enfoque de uma seqüência de inversões dialéticas que passaram despercebidas por FREUD Igualmente LACAN introduz a influência do desejo do analista no processo transferen cial do paciente recorrendo ao exemplo ex traído de O banquete de Platão onde seis personagens expressam uma concepção diferente do amor Transferência tipos de técnica Na prática clínica a transferência apresen ta diversas modalidades conforme as ca racterísticas próprias de cada analisando ou o momento analítico diferente de um mes mo paciente De modo sintético cabe apon tar as seguintes formas que seguidamente se manifestam no campo transferencialcon tratransferencial Transferência positiva Classicamente essa denominação costuma referirse a todas as pulsões e derivados re lativos à libido especialmente os sentimen tos carinhosos e amistosos incluídos os de sejos eróticos desde que tenham sido subli mados sob a forma de amor nãosexual e não persistam como um vínculo erotizado No entanto é importante destacar que o que muitas vezes parece ser uma transferência positiva pode estar sendo negativa do pon to de vista de um processo analítico por quanto pode estar representando não mais que uma extrema e permanente idealização e isso representa um entrave para um ver dadeiro crescimento Assim pode acontecer que uma aparên cia de positividade possa estar significan do unicamente um inconsciente conluio transferencialcontratransferencial sob a forma de uma recíproca e estéril fascina ção narcisística Igualmente é necessário que o analista dis tinga a transferência verdadeiramente posi tiva da que encobre o lado doente dos pa cientes pseudocolaboradores Transferência negativa Com esse nome FREUD referia as transferên cias nas quais predominavam pulsões agres sivas com os seus inúmeros derivados sob a forma de inveja ciúme rivalidade vo racidade ambição desmedida algumas formas de destrutividade as eróticas in cluídas etc Na atualidade é importante o analista le var em conta que uma transferência de apa rência negativa pode estar sendo altamente positiva na hipótese de que esteja repre sentando alguns movimentos que o paci ente está ensaiando para reviver com seu analista a agressividade que seus pais do passado não souberam conter e muito menos conseguiram entender que a agres sividade poderia ter a finalidade positiva de conquistar espaço próprio e experimentar uma autonomia Transferência especular Muitas vezes o movimento transferencial representa a busca na pessoa do analista de um espelho que o reflita reconheça e devolva sua imagem de autoidealização vitalmente necessária para que o paciente muito inseguro sinta que de fato existe e é valorizado Transferência idealizadora Essa forma de transferência corresponde segundo KOHUT 1971 a uma etapa do de senvolvimento emocional primitivo na qual a criança tem necessidade de estruturar o seu self por meio da idealização dos pais que esse autor denomina imago parental idealizada 416 DAVID E ZIMERMAN Como nas modalidades anteriores é neces sário que o analista aceite funcionar transi toriamente como um ego auxiliar do paci ente ao mesmo tempo em que gradativa mente vai construindo o processo de dife renciação que possibilite ao paciente ad quirir uma separação uma individuação e uma posterior autonomia Transferência erótica e erotizada A transferência de características eróticas adquire um largo espectro de possibilida des desde os sentimentos afetuosos e cari nhosos em relação ao analista até o outro pólo de uma intensa atração sexual por ele ou ela atração essa que se converte em um desejo sexual obcecado permanente consciente egossintônico e resistente à qual quer tentativa de análise O primeiro caso alude à transferência eróti ca na qual existe a predominância da pul são de vida ou seja está vinculada à ne cessidade que qualquer pessoa tem de ser amada enquanto a segunda situação refe rese à transferência erotizada mais ligada às pulsões agressivas que visam um contro le sobre o analista e uma posse voraz dele Transferência perversa MELTZER 1973 foi o autor que mais consis tentemente estudou a perversão da transfe rência apontando para o risco da forma ção de um conluio perverso entre o par analítico Esse conluio consiste no envolvi mento de um jogo de distintas formas de sedução do paciente que encontra ressonân cia no analista e que conflui num desvio das combinações previamente estabelecidas em relação ao setting do trabalho analítico Transferência psicótica Nos primeiros tempos da psicanálise FREUD e seguidores descartavam a possibilidade de análise com psicóticos com o argumento que esses pacientes investiam toda libido em si mesmos Logo não haveria transferência e daí a impossibilidade de análise Na atua lidade ninguém mais contesta que os psi cóticos desenvolvem sim uma nítida trans ferência embora ela assuma características específicas Para exemplificar vale mencionar BION que destaca algumas características da transferên cia psicótica o fato de instalarse de forma precoce com muita dependência comumente bastante tenaz porém muito frágil e instável Diz BION que é muito comum uma oscila ção transferencial de muita idealização al ternada com denegrimento Nesse caso o paciente acusa o analista como único res ponsável por todos seus males Nessas con dições tudo será motivo para acusações a tranqüilidade do analista será tomada por esse tipo de paciente como uma indiferen ça hostil e assim por diante Psicose de transferência Ver esse verbete Comentário Creio útil acrescentar a ex pressão transferência de impasse em bora não exista literalmente na literatura psicanalítica porquanto são bastante fre qüentes no curso das análises certos perí odos transferenciais típicos de situações de impasses analíticos que podem culminar com a temível reação terapêutica negativa A transferência de impasse adquire diver sas configurações tanto por uma possível transferência erotizada quanto por uma in tensa oposição à renúncia das ilusões nar cisistas ou por uma excessiva carga de an siedade paranóide Nesse caso todo o dis curso do paciente pode ficar concentrado em queixas e acusações a seu analista e ao mesmo tempo fica em um estado de tama nha defensividade que não consegue escu tar o que seu analista diz Em casos mais VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 417 extremos a transferência de impasse pode assumir a forma do que ROSENFELD concei tuou como psicose de transferência Transferência na prática clínica A psicanálise contemporânea em relação ao fenômeno transferencial na prática coti diana do analista leva em conta aspectos como os que se seguem 1 A análise não cria a transferência 2 Há transferência em tudo porém nem tudo é transferência a ser analisada e inter pretada 3 Persiste uma polêmica entre os autores a respeito da pessoa do analista É unicamente um objeto transferencial no qual o paciente reedita suas experiências passadas ou na transferência ele também representa e fun ciona como um novo objeto real 4 A transferência consiste em uma necessi dade de repetição tal como postulava FREUD que incluía o fenômeno transferen cial como um exemplo do seu princípio de compulsão à repetição ou antes a trans ferência representa uma repetição das ne cessidades não satisfeitas no passado e que agora estão à espera de uma nova chance com o analista 5 Toda transferência implica alguma forma de contratransferência assim estabelecen do um vínculo transferencialcontratransfe rencial 6 A transferência não é unívoca ou seja o mesmo paciente apresenta diversas faces transferenciais Pode ser uma transferência paterna materna ou fraterna cada uma delas também comporta diversas facetas É freqüente que o paciente possa estar fa zendo em relação ao analista uma transfe rência concomitantemente materna a bus ca de um continente e paterna a necessi dade da colocação de limites 7 Importante é que o analista esteja atento para a observação das transformações que as transferências possam estar sofrendo no curso da análise nas suas formas e signifi cações 8 Em relação às interpretações é relevante assinalar o risco de um transferencialismo por parte do analista ou seja que ele pro mova um sistemático reducionismo para o aquiagoracomigo para tudo o que o paci ente falar sem levar em conta as particula ridades específicas de cada situação analíti ca e criando uma atmosfera de transferên cia artificial 9 Inúmeras vezes o transferencialismo do aquiagoracomigo redunda em esterilida de porquanto o paciente ainda nem está aí De fato freqüentemente há ausência de uma transferência manifesta por estar pre valecendo uma ausência de vínculo Isso acontece com pacientes nos quais haja pre dominância de sentimentos de vazio incre dulidade e desesperança Nesses casos gra dualmente deve haver um processo de cons trução da transferência Transformações BION 1965 Título de um dos mais importantes livros de BION publicado em 1965 O termo transformaçãoões referese ao fenômeno que consoante com sua etimologia trans formar ou seja formar para além de consiste na aquisição de novas formas no paciente no analista no vínculo entre am bos e no processo psicanalítico BION descreve três tipos de transformações 1 A de movimento rígido quando é fácil reconhecer a essência do fato original 2 A das transformações projetivas na qual há um intenso exagero e deformação das distâncias e das épocas dos fatos originais O paciente pode estar fazendo o relato de um acontecimento antigo como se fosse atu al a ponto de seguidamente haver uma superposição confusional do passado com o presente 3 As que se apresentam sob a forma de alucinoses Nesses casos o fato original fica 418 DAVID E ZIMERMAN tão distorcido como por exemplo o de o paciente entender mal escutar mal mani festar ilusões ou até alucinações visuais auditivas táteis etc a ponto de às vezes ficar dificílimo descodificar tal como ocor re em muitos sonhos e chegar à verdadei ra origem do que está acontecendo Como exemplos de transformações que ocorrem na situação analítica podese men cionar os fenômenos formadores dos so nhos os sintomas a passagem do pensa mento para uma verbalização ou para um acting a transferência a interpretação Da mesma maneira a Grade pode ser encara da tanto seu vertical eixo genético quanto seu horizontal eixo da utilização dos pensa mentos como um grupo de sucessivas trans formações de uma categoria à outra BION enfatizava que nenhuma transformação pode ocorrer sem a concomitância de uma experiência emocional Toda transformação segundo BION implica a existência de um estado inicial uma ver dade original que ele designa com a letra O Por maiores que tenham sido as trans formações do fato original sempre haverá a presença de um invariante isto é algum indício tal como acontece no exemplo que ele dá de uma mesma paisagem campes tre pintada por vários artistas de distintas correntes artísticas As pinturas podem ser de formas totalmente diferentes e até irre conhecíveis porém todas terão alguma to nalidade do verde e algum outro detalhe da paisagem original Outra metáfora que pode ser usada para cla rear o conceito de invariância consiste na subs tância água que tanto pode estar no estado líquido quanto no gasoso como vapor dágua ou sólido com gelo No entanto todas as formas por mais transformadas que estejam conservam o H2O original BION também assinala a importância no tra balho analítico do caminho a percorrer de O origem em direção a K conhecimento e viceversa de K em direção a O Em Atenção e Interpretação 1970 p15 BION dá um belo e esclarecedor exemplo clínico Um paciente seu começa manifestando um desejo por ice cream porém à medida que os sorvetes equivalente à busca de leite amor e paz desde sua infância não apa reciam e não satisfaziam suas necessidades desejos e demandas foi entrando num es tado de desamparo de sorte que o ice cre am transformouse em I scream ou seja eu grito de dor Esse grito está ligado ao O dos traumas originais Transgeracionalidade Termo bastante empregado na psicanálise contemporânea designa o fato de que cada um dos genitores da criança mantém a in ternalização de suas respectivas famílias ori ginais com os correspondentes valores es tereótipos e conflitos Há uma forte tendên cia no sentido de afirmar que os conflitos não resolvidos dos pais da criança com os respectivos pais originais interiorizados como por exemplo os conflitos edípicos de cada um deles sejam reeditados nas pessoas dos filhos Em situações mais ex tremadas isso pode se manter inalterado em sucessivas gerações e gerações Assim é relativamente comum que uma mãe fixada edipicamente em seu pai me nospreze seu marido enquanto repete com o filho o mesmo enredo incestuoso malre solvido Dessa forma ela delega ao filho o papel de tomar o avô o pai dela como um modelo admirado para identificação com a exclusão da figura do pai real que fica desvalorizado É claro que existem inúme ros variantes desse fenômeno no seio da família sendo particularmente relevante a delegação para o filho do papel de assumir uma homossexualidade que estava recalca da em um ou nos dois genitores Não são somente os conflitos neuróticos ou psicóticos piscopáticos perversos somati zadores etc das gerações precedentes da VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 419 família nuclear que se reeditam nos própri os pais e dentre eles e daí para os filhos em uma combinação que envolve no mí nimo três gerações num continuado jogo de mútuas reprojeções Também há a trans missão de valores e de significados tanto os de natureza pulsional por exemplo o estímulo excessivo ou o bloqueio da sexua lidade ou da agressão como também os egóicos identificação com certos atributos e capacidades por exemplo os provindos do superego mandamentos e proibições e do ideal do ego ambições e expectativas Transicionais fenômenos WINNICOTT Expressão introduzida na psicanálise por WINNICOTT alude a uma de suas mais bri lhantes e originais concepções que dizem respeito aos fenômenos psíquicos que acom panham a transição que o bebê faz do mun do imaginário para o mundo da realidade Essa transição é enfocada por WINNICOTT no seu tríplice aspecto o que aborda os fenô menos o espaço e os objetos transicionais cujos conceitos aparecem separadamente nos respectivos verbetes Transtornos afetivos bipolares O transtorno afetivo bipolar TAB antiga mente denominado psicose maníacode pressiva PMD é uma doença de fundo heredoconstitucional crônica comumente de início precoce de características recor rentes bastante recidivante Tanto pode ser bem controlada pela combinação de tera pia e psicofármacos como também é ca paz de produzir intensa e extensa incapaci tação em algumas áreas da vida As estatís ticas comprovam que o risco de suicídio das pessoas portadoras dessa doença é 30 ve zes maior do que na população normal Embora nem todos os casos de TAB se be neficiem coma moderna psicofarmacolo gia ora porque são refratários à medicação ou não aderem à disciplina do seu uso ou porque não suportam os efeitos colaterais é incontestável que o prognóstico da evolu ção da doença melhorou significativamen te A própria terapia psicanalítica quando associada com os medicamentos estabiliza dores do humor como o lítio ou com anti convulsionantes como o ácido valpróico ou a carbazepina tem dado mostras claras que evolui de forma mais exitosa Ver o verbete Psicose maníacodepressiva Trauma FREUD Na obra de FREUD a palavra trauma apare ce pela primeira vez em 1895 nos seus es tudos com pacientes histéricas como sen do relacionada com uma primitiva sedução sexual realmente perpetrada pelo pai con tra a menina indefesa Em sucessivos arti gos FREUD reconheceu outras formas de traumas como do nascimento nos termos concebidos por RANK do impacto da cena primária da angústia de castração do me nino em face da percepção de que as me ninas não tinham pênis Em 1926 ele deu um passo importante ao reconhecer o trauma representado pelas perdas precoces incluídas a da perda do amor da mãe ou de outras pessoas signifi cativas Nesse mesmo trabalho FREUD ligou a ocorrência desses traumas psicológicos a um estado de desamparo O conceito de trauma está mais diretamen te ligado a acontecimentos externos reais que sobrepujaram a capacidade do ego de poder processar a angústia e a dor psíquica que eles provocaram A repercussão dos traumas no psiquismo da criança é propor cional à precocidade de seu estado de iner mia Assim em seu Esboço de psicanáli se 1940 FREUD utilizando uma importan te e bela metáfora compara o efeito de um trauma psicológico ao de uma agulha no embrião humano Uma agulhada num or ganismo desenvolvido é inofensivo porém 420 DAVID E ZIMERMAN se for numa massa de células no ato da di visão celular promoverá uma profunda al teração no desenvolvimento daquele ser humano em formação A noção de trauma conserva a idéia de que se trata de um conceito essencialmente eco nômico da energia psíquica uma frustração em face da qual o ego sofre uma injúria psí quica não consegue processála e recai num estado no qual sentese desamparado e ator doado A angústia excedente também pode escoarse através de sintomas corporais que caracterizam a neurose atual São múltiplos os traumas precocemente impingidos às crianças tanto sob a forma de separações traumáticas quanto de im pingements traumas invasivos ou de vio lências traumáticas de várias naturezas To dos eles porém repercutem seriamente no psiquismo da criança onde ficam impres sos sob a forma de vazios vivência de de samparo e de feridas abertas Essas últimas estão de acordo com a etimologia da pala vra trauma em grego quer dizer ferida Trauma segundo FERENCZI FERENCZI elaborou a sua teoria sobre o trau ma a partir da situação de violência sexual a que uma criança pode ser submetida por um adulto Na verdade segundo mostra em seu artigo A confusão de linguagens entre os adultos e a criança 1933 FERENCZI mostra que a criança ao brincar com um adulto tem um propósito lúdico com suas fantasias presentes sendo um movimento prazeroso no qual a genitalidade está au sente Esse movimento prazeroso para a criança é estabelecido dentro de uma lin guagem própria dela diferente da dos adul tos à qual FERENCZi denominou como lin guagem da ternura O trauma consiste no fato de o adulto po der responder genitalmente àquilo que na criança é prégenital assim estabelecendo uma séria confusão que o ego da criança ainda não tem condições para processar de forma satisfatória Trauma do nascimento O RANK Conceito formulado por ORANK em seu livro O trauma do nascimento de 1924 Designa um estado de angústia a que fica submetido o bebê por ocasião de seu nascimento não só pelas pressões de natureza física inerentes ao parto mas especialmente devido às mo dificações do novo ambiente exterior que lhe impõe a necessidade de adaptação a uma nova forma de se alimentar etc RANK enfati zou sobretudo sua concepção de que a an gústia do bebê resultante da separação da mãe constitui o protótipo da angústia psíquica Inicialmente FREUD acolheu com muito en tusiasmo essa concepção de RANK chegan do a considerála como um protótipo de ulteriores estados de angústia como as que acontecem nas neuroses traumáticas e nas neuroses atuais No entanto mais tarde especialmente em Inibições sintomas e angústia 1926 FREUD foi se opondo ao conceito de RANK e desvitalizando sua im portância Em Novas conferências intro dutórias 1933 FREUD volta a revisar sua posição e reconhece que RANK tivera o gran de mérito de ressaltar a importância da pri meira separação da criatura humana da mãe Traumatofilia Como mostra sua etimologia essa palavra é derivada das raízes gregas trauma feri da philos amigo de e designa o fenô meno bastante freqüente de pessoas que de forma compulsivamente repetitiva aci dentamse daí também ser empregado o termo acidentofilia Podem ser incluídos os sujeitos que de forma inconsciente for çam a repetição de cirurgias algumas mu tiladoras de certas zonas corporais A traumatofilia guarda uma relação íntima com sentimentos sadomasoquistas e lembra VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 421 a situação muito conhecida de crianças que sofrem pequenos acidentes quando os pais se afastam por um tempo mais prolongado Três ensaios sobre a teoria da sexualidade FREUD 1905 Este trabalho e Interpretação dos sonhos fi guram como as mais importantes e origi nais contribuições de FREUD para a constru ção do edifício teórico da psicanálise sendo os mais citados na literatura psicanalítica Três ensaios sobre a teoria da sexualidade cons ta de três capítulos cada um abrangendo sub títulos além de no final um resumo e um apêndice perfazendo cerca de 120 páginas O capítulo I é intitulado As aberrações se xuais Desvios relativos ao objeto sexual e comporta os seguintes subtítulos a Inver são b Pessoas sexualmente imaturas e ani mais como objetos sexuais c Extensões anatômicas d Fixação dos objetivos sexuais preliminares e As perversões em geral f A pulsão sexual dos neuróticos g Com ponentes pulsionais e zonas erógenas h Razões para a aparente preponderância da sexualidade perversa nas psiconeuroses i Sinal do caráter infantil da sexualidade O capítulo II intitulado Sexualidade infan til aborda os temas Manifestações da se xualidade infantil O objetivo sexual da sexualidade infantil Manifestações sexu ais masturbatórias As pesquisas sexuais da infância As fases de desenvolvimento da organização sexual As fontes da se xualidade infantil O capítulo III tem por título As transfor mações da puberdade e engloba os te mas O primado das zonas genitais e o préprazer O problema da excitação sexual A teoria da libido A diferenci ação entre homens e mulheres O en contro de um objeto O apêndice é muito útil porquanto con forme seu título Lista das obras de Freud que tratam predominantemente ou em grande parte da sexualidade traz uma listagem de 33 textos que tratam mais dire tamente da sexualidade publicados no pe ríodo de 1898 a 1940 Este trabalho aparece no volume VII a par tir da página 135 na edição brasileira da Standard Edition Turbulência emocional BION 1997 Título de um trabalho de BION de 1977 A expressão turbulência designa o fato de que o progresso psicanalítico requer uma volta ao estado anterior ou um confronto entre partes distintas da personalidade do sujeito e isso vem acompanhado por um estado de turbu lência emocional tanto no analisando como possivelmente no psicanalista A turbulência é desencadeada na análise pelo encontro de duas personalidades diferentes ou de duas partes diferentes de uma mesma personali dade BION contrapõe o estado de turbulência ao da calma do desespero a qual consiste num estado psíquico de excessiva acalmia sem um mínimo de angústia na situação analítica o que pode estar indicando que talvez haja um con luio de acomodação e de estagnação Assim BION propõe que quando essa situa ção está de fato refletindo uma estagnação da análise cabe ao analista promover algu ma forma de turbulência conforme a me táfora que ele utiliza a de se jogar uma pe drinha num lago de águas tão calmas que elas passam despercebidas até que a pedri nha nelas lançada provoque as marolas Na prática clínica a melhor forma de provo car uma turbulência consiste em o analista transformar em egodistônico o que embora patológico está arraigadamente egossintôni co na mente e na conduta do analisando Esse artigo publicado originalmente em Borderline Personality Disorders se refere a uma palestra de BION sobre pacientes bor derline e aparece na Revista Brasileira de Psicanálise volume 21 1 1987 com tra dução de P C SANDLER Cost of Production Cost per unit of output Umbral da posição depressiva MELTZER No clássico O processo psicanalítico 1967 DMELTZER propõe estudar a evolução da transferência como um processo com histó ria própria Para tanto ele subdivide esse processo em cinco etapas 1 A coleta da transferência 2 Confusões geográficas 3 Confusões zonais 4 Umbral da posição depressiva 5 O desmame A quarta etapa é atingida quando as ante riores estiverem suficientemente bem resol vidas O uso do termo umbral evidencia a cautela de MELTZER quanto à capacidade de o ser humano alcançar níveis de integração dos aspectos que estão dissociados e proje tados o que constitui a posição esquizo paranóide e assim vir a assumir a respon sabilidade e as culpas pelos eventuais da nos reais ou fantasiados que o sujeito pos sa ter infligido a outros ou a si próprio Unidade psiquesoma WINNICOTT Ao estabelecer seu conceito de personaliza ção que WINNICOTT definiu como o senti mento de que a pessoa de alguém se en contra no próprio corpo parece evidente que surgiu do fenômeno da despersonali zação observada freqüentemente em psi cóticos e que corresponde uma regressão a estágios precoces do desenvolvimento Partindo dessa idéia WINNICOTt construiu uma teoria pela qual propõe que o desen volvimento normal abrange um esquema corporal indissociado do psicológico cha mandoo de Unidade psiquesoma Nessa unidade a integração e a personalização se complementam e requerem na normalida de uma exitosa confluência de cuidados maternos e experiências pulsionais satisfa tórias Universo em expansão BION Com essa expressão BION asseverava que um processo psicanalítico não deve procu rar as verdades acabadas nem conclusões definitivas Pelo contrário deve se consti tuir de novas e progressivas aberturas numa constante interrelação entre o sensorial e o abstrato entre o finito e o infinito entre K e O Afirma BION o finito não deixa espaço para o desenvolvimento estamos aqui pre ocupados com algo que requer espaço para o crescimento Dessa forma o crescimento mental vai mui to além do alívio de uma dor de angústia de remoção de sintomas ou de uma adap U 424 DAVID E ZIMERMAN tação socioprofissional pelo contrário no lugar de um fechamento tranqüilizador e estabilizador BION propõe que a análise propicie novas e progressivas aberturas em um processo interminável tal qual um universo em expansão o do paciente e o do analista O modelo utilizado por BION para esclare cer a noção de universo em expansão na prática clínica na evolução do analisando é o de um movimento helicoidal represen tado por uma espiral ascendente Em ou tras palavras em toda análise o analisan do faz variações em torno dos mesmos te mas Essa volta aos mesmos pontos pode adquirir duas configurações fundamental mente diferentes embora possam ser pare cidas Uma é um movimento em círculo na qual o paciente volta ao mesmo assunto no mesmo plano que das vezes anteriores portanto nada mudou Uma segunda pos sibilidade é que ele volte ao mesmo as sunto ao mesmo ponto de partida po rém num plano ligeiramente superior de sorte que vai havendo uma espiral ascen dente e expansiva ou seja um crescimen to do espaço mental A distinção entre um movimento circular e um helicoidal tem extraordinária importân cia na atitude psicanalítica do terapeuta di ante dos relatos do paciente Uso de um objeto WINNICOTT 1969 Em 1969 WINNICOTT publicou o artigo O uso de um objeto in Revista Brasileira de Psicanálise 1971 no qual estabelece uma diferença entre o relacionamento com um objeto e o uso de um objeto Ele afirma textualmente que A relação de objeto é uma experiência do sujeito que pode ser descrita em termos deste como ser isola do Quando falo do uso de um objeto entre tanto tomo a relação de objeto como eviden te e acrescento novas características que en volvem a natureza e o comportamento do objeto Por exemplo o objeto se é que tem de ser usado deve ser necessariamente real no sentido de fazer parte da realidade com partilhada e não um feixe de projeções Isto faz parte da mudança para o princípio da realidade Constitui outro exemplo do pro cesso de amadurecimento como algo que depende de um meio ambiente propício No mesmo artigo WINNICOTT destaca a im portância dessa conceituação na prática analítica de sorte que a atuação do analis ta vai além de unicamente interpretar Tam bém visa a propiciar que o analisando sai ba usálo inclusive para atingir sozinho a obtenção de insights e para dirigir ataques agressivos contra o analista que deve pos suir a capacidade de sobrevivência V Vazio WINNICOTT Em seu trabalho Fear of Breackdown Medo do Colapso publicado postuma mente por sua esposa Clare em 1974 WINNICOTT assim se expressa Em alguns pa cientes o vazio necessita ser experimentado e esse vazio pertence ao passado a época antes que o grau de maturidade tivesse fei to possível esse vazio ser experimentado Para compreender isso é necessário pensar que é mais fácil para um paciente lembrar de um trauma do que se lembrar que nada aconteceu quando poderia ter acontecido Na prática a dificuldade é que o paci ente tem horror do vazio e em defesa pode organizar um vazio controlado não comen do uma alusão ao problema da anorexia nervosa ou não aprendendo ou então ele pode impiedosamente prenchêlo por uma voracidade compulsiva e que se sente como louca Provavelmente corresponda ao es tado de bulimia Vazio patologia do FRANCIS TUSTIN Os recentes e aprofundados conhecimen tos teóricos e técnicos relativos ao desen volvimento emocional primitivo dos bebês permitem afirmar com convicção que nem toda a psicopatologia deriva unicamente dos conflitos entre pulsões do id defesas do ego e ameaças do superego Pelo contrário cada vez fica mais evidente que há um crescente contingente de pessoas que antes de con flitos sofrem de primitivas carências afeti vas básicas pelo fato de suas mais preco ces necessidades vitais leite calor amor e paz não terem sido suficientemente pre enchidas resultando daí a formação de ver dadeiros buracos negros Assim cada vez mais as investigações da psicanálise inclinamse para as situações clí nicas que resultam das fixações ou regres sões concernentes às etapas mais primiti vas do desenvolvimento emocional Den tre as referidas situações clínicas existe uma que há mais de 50 anos vem preocupando os analistas pesquisadores dos transtornos autísticos de certas crianças não as de na tureza genéticoneurológica mas os quadros de autismo psicogênico ou autismo secun dário nos quais essas crianças parecem desligadas do mundo exterior e transmitem nos a impressão de que não olham para as pessoas mas através delas A esse respeito a psicanálise contemporâ nea principalmente a partir de FTUSTIN 1986 fez duas revelações muito importan tes a primeira é a comprovação de que es 426 DAVID E ZIMERMAN sas crianças sofrem de vazios de uma au sência quase absoluta de emoções ou seja elas estão cheias daquilo que TUSTIN chama de buracos negros nome tirado da física cósmica que designa uma espécie de auto fagia da luminosidade das estrelas os quais são resultantes da formação de um rígida carapaça uma concha autística contra a ameaça de um sofrimento provindo das frus trações impostas pela realidade exterior A segunda revelação relativa à existência des ses vazios na constelação psicológica é a de que esses estados autísticos não são exclu sivos das crianças sendo também encon trados em certos estados neuróticos de adul tos e mais notadamente em situações piscopatológicas mais regressivas como picoses borderline perversões drogadi ções etc A importância dessas constatações reside no fato de que tais pacientes requerem uma outra abordagem técnica que consiste em o terapeuta sair ativamente em busca desse paciente criança ou adulto Mais do que escondido ou fugindo ele está realmente perdido e necessitado de ser encontrado e sacudido para despertálo de um estado de desistência de viver a vida conformado que está em unicamente sobreviver qual um vegetal nas situações mais extremas Em outras palavras o fundamental é que o ana lista possa propiciar a esse paciente algum tipo de experiência de ligação As interpre tações do analista por mais corretas que sejam não adiantam porque esse pacien te escudado em sua cápsula autística não se liga a elas Tampouco adianta unicamente uma boa função continente do terapeuta porquanto o paciente não está nem aí e não fica sensibilizado pela continência que lhe é oferecida Por isso TUSTIN faz a metá fora de que para esses casos o setting analí tico seja uma espécie de útero psicológico funcionando como uma incubadora para que o self em estado prematuro possa ob ter as provisões essenciais para seu desen volvimento que não se realizaram na sua infância Assim a proposta analítica contem porânea é a de de alguma forma ir ao en contro e sacudir as emoções escondidas atrás do escudo protetor até obter a respos ta que sirva de escada para novas sacudi das com vistas a transformar um estado mental de desistência num outro de exis tência Verdade BION BION sempre deu especial relevância à ver dade considerandoa essencial para o cres cimento mental e que sem ela o aparelho psíquico não se desenvolve morre de ina nição A busca da verdade impõe a neces sidade de o sujeito estabelecer confrontos e correlações entre fatos passados e presen tes realidade e fantasia verdades e menti ras o que o sujeito diz faz e o que real mente ele é etc Juntamente com o vínculo do amor L e o do ódio H BION descreveu o vínculo do conhecimento K Nesse último ele contri buiu com concepções originais acerca do não conhecimento que ele designa com a sigla K O ego processa esse automutilató rio ataque ao vínculo do conhecimento quando o sujeito não pode ou não quer to mar conhecimento e ciência da existência de verdades penosas tanto as externas quanto as internas assim impedindo o des mascaramento a percepção e a correlação dessas verdades intoleráveis Assim diz BION numa bonita frase que o indivíduo pode sentir que lhe falta uma ca pacidade para verdade seja para ouvila seja para procurála seja para encontrála seja para comunicála seja para desejá laEssa função egóica relativa ao conheci mento ou ao nãoconhecimento ganha es pecial relevância na atual prática analítica pelo fato de que está intimamente ligada aos problemas que dizem respeito às verdades falsidades e mentiras inconscientes ou cons VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 427 cientes levandose em conta que conhecer ou saber as verdades é o caminho para o sujeito vir a ser A mentira é considerada o oposto à verda de porém não é a mesma coisa que falsi dade porque implica certa intencionalida de Segundo BION em algum grau todos somos mentirosos BION também destacou bastante a forma como o analista deve transmitir a verdade atra vés das interpretações o que ele sintetiza nessa bela e profunda frase amor sem verdade não é mais do que uma paixão e verdade sem amor não passa de uma crueldade Vértice BION Termo cunhado por BION para designar um ponto de vista um ângulo ou uma perspec tiva a partir dos quais tanto o analisando quanto o analista observam e comunicam determinada experiência analítica que por si mesma pode ser sentida e descrita de muitas maneiras BION preferiu usar o ter mo vértice ao invés dos outros com o pro pósito deliberado de criar uma dimensão além da sensorial Quando muda o vértice qual um caleidoscópio também muda a configuração do processo embora perma neçam os mesmos elementos A conceituação de vértice psicanalítico de BION pode ser ilustrada pelo fato de que diante de um mesmo desenho Figura 4 em preto e branco uma pessoa perceba um vaso se ele ficar fixado na cor branca en quanto outra vai perceber dois rostos hu manos frente à frente se o observador esti ver concentrado no preto Como tentativa de trazer ordem a toda má ou incompleta compreensão BION tentou gerar uma teoria de pontos de vista diferen tes míticos científicos etc o que con duz a vértices religiosos individuais socio lógicos etc os quais ele tinha a esperança de poderem ser mutuamente complemen tares e reconciliados Na prática psicanalítica o importante é que esses vértices recíprocos entre analista e analisando mantenham uma distância útil e adequada que não sejam tão distantes a ponto de impedir a correlação entre os res pectivos vértices nem tão próximos entre si de modo a impedir uma diferenciação e dis criminação entre paciente e analista com uma conseqüente estagnação no processo de novas perspectivas e aberturas de conhe cimentos da realidade psíquica Comentário A conceituação de vértice permite uma melhor compreensão do que pode ser considerado como o maior mal da humanidade que é o problema dos mal entendidos da comunicação entre as pes soas Em tais casos cada sujeito adota um vértice particular de percepção e pretende que a mesma seja verdade absoluta Assim a relatividade da verdade está intimamente conectada com os distintos vértices pelos quais uma mesma verdade é percebida o que está bem expressado nesse verso do poeta Campoamor Nem tudo é verdade nem tudo é mentira tudo depende do cris tal com que se mira Via di porre e via di levare conceito de técnica FREUD No seu trabalho Sobre a psicoterapia 1905 ao estudar a antítese entre a técnica sugestiva e a analítica FREUD utiliza as se guintes palavras transcritas textualmente p 270 a mesma antítese que com rela ção às belas artes o grande Leonardo da Vinci resumiu nas fórmulas per via di porre e per via di levare A pintura afirma Leo nardo opera per via di porre pois explica uma substância partículas de cor onde nada existia antes na tela incolor a escultu ra contudo processase per via di levare vis to que retira do bloco de pedra tudo o que oculta a superfície da estátua nele contida De modo semelhante a técnica da suges tão visa a processarse per via di porre 428 DAVID E ZIMERMAN não se interessa pela origem força e sig nificado dos sintomas mórbidos mas ao revés supõe algo uma sugestão na expectativa de que será bastante vigoro sa para impedir que a idéia patogênica venha a expressarse A terapia analítica por outro lado não procura acrescentar nem introduzir nada de novo mas a reti rar algo a fazer aflorar alguma coisa sen do que para esse fim se preocupa com a gênese dos sintomas mórbidos e o con texto psíquico da idéia patogênica que procura remover Comentário A tendência atual dos psi canalistas é dar uma valorização muito su perior à via di levare com o que todos concordam No entanto deve ficar claro que nem sempre pôr algo é o mesmo que sugestionabilidade ativa ou alguma forma de imposição na mente do paciente As sim em inúmeras situações especialmen te com pacientes muito regressivos tor nase indispensável que o analista ponha ou reponha no psiquismo do paciente algo que preencha seus vazios existen ciais da mesma forma vindo a suplemen tar funções do ego que não foram sufici entemente desenvolvidas na infância do paciente A propósito da sugestionabilidade antes re ferida não é possível ignorar o fato de que por mais que o analista cumpra a regra da abstinência quer queira quer não sempre seu discurso veicula algo de sua ideologia particular Vida pulsão de FREUD Em Além do princípio do prazer 1920 FREUD como oposição a Tânatos introdu ziu a noção de Eros como princípio funda mental das pulsões de vida ou seja uma tendência dos organismos de manter a co esão da substância viva e para criar novas unidades vivas Ver os verbetes Autoconservação e Pulsões Vínculos conceituação de BION A psicanálise contemporânea inclinase cada vez mais para o paradigma da vincu laridade isto é para o fato de que o pro cesso psicanalítico consiste sempre em uma interação entre analisando e analista a partir dos vínculos que se estabelecem entre am bos e que constituem o campo analítico Etimologicamente o termo vínculo tem ori gem no étimo latino vinculum o qual signi fica uma união uma atadura de caracterís ticas duradouras Da mesma forma víncu lo provém da mesma raiz que a palavra vin co com o mesmo significado que aparece por exemplo em vinco das calças ou de rugas etc ou seja ela alude a alguma for ma de ligação entre as partes que estão unidas e inseparadas embora permaneçam claramente delimitadas entre si Assim BION conceituou vínculo como uma estrutura relacionalemocional entre duas ou mais pessoas ou entre duas ou mais partes separadas de uma mesma pessoa Ele es tendeu essa conceituação a qualquer fun ção ou órgão que desde a condição de bebê esteja encarregado de vincular obje tos sentimentos e idéias uns aos outros Do ponto de vista psicanalítico a conceitu ação de vínculo necessariamente requer as seguintes características 1 São elos de ligação interpessoais ou in trapessoais permanentemente presentes e interativos 2 Esses elos são sempre de natureza emo cional 3 São imanentes isto é são inatos exis tem sempre como essenciais em um dado indivíduo e são inseparáveis dele 4 Comportamse como uma estrutura vá rios elementos em combinações variáveis onde a mudança de um deles certamente influirá no conjunto todo 5 São polissêmicos isto é permitem vá rios poli significados semos 6 São potencialmente transformáveis VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 429 7 Conforme BION devem ser entendidos por meio do modelo da interrelação conti nenteconteúdo Vínculos tipos de BION Durante muitas décadas todos os psicana listas basearam seus esquemas referenciais virtualmente em torno dos dois vínculos o do amor e o do ódio Coube a BION propor uma terceira natureza de vínculo a do co nhecimento diretamente ligada à aceitação ou não das verdades particularmente as penosas tanto as externas quanto as inter nas e que dizem respeito mais diretamente aos problemas da autoestima dos sujeitos Assim ele descreveu três tipos de vínculos o de Amor L inicial de love de Ódio H inicial de hate e o do Conhecimento K inicial de knowledge Os três podem ser sinalizados de forma positiva com o signo ou negativa com o signo BION deteve se mais particularmente no vínculo K Des sa forma no lugar do clássico conflito entre o amor e o ódio propôs ressaltar o conflito entre as emoções e as antiemoções presen tes em um mesmo vínculo BION postulou que menos amor L não é o mesmo que sentir ódio e que tampouco menos ódio H significa amor O vínculo do menos amor alude a uma oposição à emoção do amor Isso pode ser ilustrado com a situação de puritanismo e a de sa maritanismo ou seja em nome do amor o sujeito opõese à obtenção da emoção do prazer Nesse caso a manifestação externa adquire a aparência de amor que no en tanto é falsa o que não significa que esteja havendo ódio Um possível exemplo de L seria o caso de uma mãe que pode amar intensamente seu filho porém o faz de forma simbiótica pos sessiva e sufocante Embora sem ódio seu amor samaritânico cheio de sacrifícios pes soais e de renúncia ao prazer próprio é de resultados negativos porquanto funciona como culpígeno e infantilizador Essa mãe por isso não reconhece e impede o neces sário processo de diferenciação separação e individuação do seu filho O vínculo do menos ódio pode ser ilustra do com a situação de farisaísmo ou seja com o estado emocional e conduta hipócri ta qual um fariseu No caso o sujeito está tendo uma atitude manifestamente amoro sa por alguém ao mesmo tempo que existe um ódio latente quando o ódio predomi na tratase de cinismo Portanto podese dizer que no menos ódio qual uma ima gem negativa que o espelho reflete está presente uma forma de amar baseada no ódio embora o sujeito não se dê conta dele Por outro lado o simples fato de o vínculo do conhecimento K estar ligado ao mun do das verdades ou falsidades e mentiras no caso de K permite depreender a enor me importância que isso representa para a psicopatologia levando em conta que seus diversos tipos e graus dependem justa e di retamente dos tipos e graus de defesa que o ego utiliza para a negação do sofrimento mental Como exemplo de menos conheci mento pode servir o ataque às verdades que comumente é empregado pela parte psicó tica da personalidade Nos casos mais exa gerados o sujeito constrói sua própria ver dade que contraria as leis da lógica e da natureza e que a todo custo quer impor aos outros como a verdade definitiva Vínculo do reconhecimento Acredito que juntamente com os três víncu los Amor Ódio e Conhecimento descri tos por BION cabe acrescentar devido à importância e freqüência com que se apre senta na prática analítica um quarto tipo de vínculo o do Reconhecimento nas quatro seguintes acepções que esse termo permite 1 Reconhecimento Designa a importân cia de o sujeito voltar re a conhecer aqui lo que preexiste dentro dele mas cujo co 430 DAVID E ZIMERMAN nhecimento lhe está oculto como podem ser fatos recalcados ou negados de alguma forma ou préconcepções tal como Bion as estudou 2 Reconhecimento do outro No início da vida o bebê não discrimina entre o que é eu e o que é nãoeu de modo que existe um estado caótico composto unicamente por sensações que são agradáveis ou desa gradáveis Um adulto que esteja fixado nes se estado psíquico de posição narcisista vê as outras pessoas como sendo uma exten são e posse dele próprio e que devem estar permanentemente à sua disposição para prover suas necessidades É indispensável para o crescimento mental que o sujeito desenvolva com as demais pessoas um tipo de vínculo no qual reco nheça que o outro não é um mero espelho seu que é autônomo e tem idéias valores e condutas diferentes das dele que há dife rença de sexo geração e capacidades entre eles sendo que é fundamental para o cres cimento psíquico que se desenvolva o reco nhecimento das diferenças 3 Ser reconhecido aos outros Este aspec to da vincularidade afetiva do sujeito diz respeito ao desenvolvimento de sua capa cidade de consideração e de gratidão em relação ao outro No referencial kleiniano a aquisição dessa capacidade está diretamen te ligada à passagem da predominância da posição esquizoparanóide para a posição depressiva 4 Ser reconhecido pelos outros Dentre as quatro modalidades de reconhecimento esta é a mais importante e a que mais apa rece evidenciada no campo analítico e na vida privada de todo ser humano Não é possível conceber qualquer relação huma na em que não esteja presente a necessida de de algum tipo de um mútuo reconheci mento o qual é vital para a manutenção da autoestima e a construção de um definido sentimento de identidade Assim até mes mo qualquer pensamento conhecimento ou sentimento requer ser reconhecido pelos outros de forma análoga à que acontece na relação bebêmãe e isso se torna fator fundamental para o sujeito adquirir o senti mento de existência Muitas situações da psicopatologia como a angústia de separação a construção de um falso self a formação de uma caractereolo gia narcisística os transtornos de convívio com grupos etc podem ser mais bem com preendidos e manejados através do vértice das carências de reconhecimento e dos mecanismos defensivos compensatórios Vínculos ataque aos BION BION conceituou o ataque aos vínculos ou ataque aos elos de ligação outra tradução do termo original linking nos seus estudos sobre os transtornos de pensamento conhe cimento e linguagem dos psicóticos Assim o ataque aos vínculos consiste em uma ten tativa inconsciente a partir da parte psicó tica da personalidade do paciente muitas vezes movida por uma inveja excessiva de impedir que o psicanalista e ele próprio possa se vincular e ter acesso à intimidade de sua pessoa de forma a obstruir que se estabeleçam conexões entre as partes dife rentes do próprio analisando ou ainda a de negar verdades penosas Dessa forma a parte psicótica da personali dade que ataca toda a atividade de ligação da parte nãopsicótica da personalidade im pede a formação de símbolos Logo bloqueia o desenvolvimento do pensamento verbal Na situação analítica o analista deve fazer um ataque aos vínculos perversos que pos sam existir entre as partes diferentes e con traditórias do paciente os quais ele tenta reproduzir com o seu analista Violência O termo violência aparece com bastante fre qüência na literatura psicanalítica aborda VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 431 do de vértices distintos e com significados diferentes Assim na obra de M KLEIN está intimamente conectado com as pulsões sá dicodestrutivas P AULAGNIER utiliza a expressão violência da interpretação para caracterizar o importan te fato de que é necessário distinguir quan do o paciente sente a atividade interpretati va como uma violência primária no caso embora seja necessária e adequada daquela outra violência pela qual o analista quer im por seus valores de qualquer jeito sem uma sensibilidade e empatia com o analisando BION quando estuda o fenômeno clínico da mudança catastrófica descreve suas três ca racterísticas a invariância referese ao que fica inalterado no processo de transformação e que permite reconhecer no produto final o original que foi transformado a subversão do sistema toda transformação implica a al teração de toda estrutura previamente exis tente e a violência porquanto na prática clí nica a mudança catastrófica do analisando por mais producente que seja sempre vem acompanhada de muito sofrimento mental Além disso a psicanálise não pode se omi tir em relação às diversas formas de violên cia que cotidianamente assolam o mundo todo Por isso está permanentemente pro curando estabelecer conexões entre os fa tores sociológicos e o entendimento psica nalítico É útil assinalar que a palavra vio lência deriva do étimo latino vis que signi fica força Esse étimo tanto dá origem aos vocábulos vigor vida vitalidade como tam bém origina o termo violência Podese di zer que a transição de um estado de vigor para o de uma violência é a mesma que se processa entre o de uma agressividade sa dia para o de uma agressão destrutiva Violência primária e violência secundária P AULAGNIER PIERA AULAGNIER define a violência primária como a exercida pelo discurso materno na medida em que esse se antecipa a todo possível entendimento por parte da crian ça Essa violência é necessária para permi tir o acesso do infans etimologicamente de in não fans linguagem ao mundo da realidade dando um sentido tanto ao pra zer quanto ao sofrimento que são vivencia dos pelo bebê no seu corpo Assim é a voz materna que promove no filho o encontro da relação do corpo com o psi quismo É através do seu discurso a autora usa o termo portavoz que o psiquismo da mãe age organizando o psiquismo da crian ça ao mesmo tempo em que ela se constitui representante de uma ordem exterior dando conta das suas leis de funcionamento A violência secundária consiste no fato de que persiste o desejo da mãe em seguir sub ministrando para a criança seus valores de forma continuada e imodificada manten dose como a única capaz de dispensar amor e sabedoria O que caracteriza a vio lência é o fato de que essa atitude apostóli ca da mãe se processa desde a época em que a criança ainda carece de meios de defesa adequados Caso a mãe não renuncie a esse seu dese jo que não leva muito em conta as reais necessidades e desejos de seu filho às ve zes apelando para o uso de mentiras por tanto cometendo um excesso de violências secundárias estará aberto o caminho para uma série de prejuízos de futuras psicopa tologias principalmente as que se referem ao embotamento da capacidade para pen sar criar e ser autêntico Visão binocular BION Expressão introduzida por BION na psicaná lise em seu trabalho apresentado em 1950 O gêmeo imaginário 1967 Ao contrá rio da reversão da perspectiva que só per mite uma única visualização a das premis sas do analisando a visão binocular alude à capacidade de estabelecer confrontos e 432 DAVID E ZIMERMAN correlações entre distintos vértices e assim capacitar o sujeito a passar de um ponto de vista a outro a respeito do que sucede em determinada experiência emocional Por exemplo um psicanalista que somente interpreta o lado infantil ou a parte psicóti ca do paciente ou pelo contrário unicamen te o lado adulto não está tendo a necessá ria visão binocular que outras vezes BION denomina visão multifocal novos vértices como outra forma de autovisualização Comentário A técnica de abrir novos vér tices tem uma extraordinária importância na psicanálise atual por estar baseada no fato de que assim como a criança forma a ima gem de si mesma nos moldes de como a mãe a vê também o paciente está em gran de parte influenciado pela visão que o ana lista tem de seus potenciais Viscosidade da libido FREUD Em Três ensaios obre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD introduz a noção de fixação da libido pressupondo a existên cia de um fator psíquico de origem desco nhecida que explicaria a intensidade da fixa ção uma adesividade ou uma fixabilidade A partir dessa concepção FREUD dedicou se a estudar sua importância na teoria do tratamento analítico Seus estudos o leva ram a formular algumas postulações como a de que em determinados pacientes os processos que o tratamento provoca evolu em muito mais lentamente do que em ou tros porque ao que parece esses pacien tes não são capazes de se decidir a desligar os investimentos libidinais de um objeto e a deslocálos para um novo objeto Outra observação de FREUD é a de que uma mobili dade excessiva da libido pode constituir um obstáculo inverso pois os resultados analíti cos permanecem então extremamente frágeis Por vezes FREUD utiliza a expressão inércia psíquica para designar o fato de que a vis cosidade da libido nas transformações da energia psíquica se comportaria como fe nômeno da entropia num sistema físico A etimologia da palavra entropia indica uma combinação de energia e de tropos trans formação ou evolução em grego Assim entropia em física é uma quantidade de energia que mede o grau de evolução de um sistema físico tal como aparece nas duas leis da termodinâmica 1 A energia total se transforma mas se conserva 2 Nas trocas há uma certa dissipação da energia A com paração com o psiquismo consiste no fato de que nunca haveria a possibilidade de mobilizar toda a quantidade de energia mental que foi fixada num dado momento Voracidade M KLEIN Termo introduzido na psicanálise por M KLEIN para designar uma forma de introje ção executada com ódio de modo que a violência da incorporação oral que impli ca um mastigar e morder raivoso conduz na fantasia à destruição do objeto O esta do final fica sendo o de que não houve sa tisfação oral de vez que o objeto introjetado resultou desvitalizado e sem valor Isso pro move as identificações com objetos depressi vos ou pior o objeto introjetado transformou se em um perseguidor retaliatório como é ca racterístico da posição esquizoparanóide Quanto mais a criança sentirse inundada por objetos maus ameaçadores e destruidores mais fome voraz às vezes de uma avidez insaciável ela tem na busca de uma incor poração de objetos bons o que pode estabe lecer um progressivo círculo vicioso maligno O resultado final pode ser a inibição dos im pulsos ligados à oralidade e uma restrição da introjeção com o fim de poupar os objetos pelos quais sente fome voraz fato que pode conduzir a um estado de anorexia afanisia e a sensação de um mundo interno esvaziado Voyeurismo Ver o verbete Escopofilia Weltanschauung A questão de uma FREUD Artigo que consta como capítulo XXXV das Novas conferências introdutórias à psicaná lise Nele FREUD afirma que a psicanálise não pretende ser uma Weltanschauung isto é não deve ser uma construção intelectual que resolva todos os problemas de nossa exis tência de maneira uniforme ou tenha res postas para eles Essa visão tem base numa hipótese predominante de que a psicanáli se não deixa nenhuma pergunta sem res posta nenhum problema sem solução e na qual tudo que nos interessa encontra um lugar fixo FREUD estabelece uma comparação com a Weltanschauung religiosa e conclui que a psicanálise é incapaz de criar uma Weltanschauung própria não tem neces sidade dela e é muito mais ligada ao pen samento científico ainda à espera de mui tas respostas O termo Weltanschauung aparece com freqüência nos textos psicanalíticos qua se sempre no original alemão Nas tradu ções para o português não foi encontra da a palavra adequada a mais próxima das ensaiadas é cosmovisão que não vin gou W Winnicott Donald Woods Uma das maiores figuras da psicanálise de todos os tempos WINNICOTT nasceu em 1896 em Plymouth Inglaterra onde viveu num lar bem estruturado econômica e afe tivamente sendo o filho caçula entre mais duas irmãs Muito cedo demonstrou incli nação para a música e inegáveis dotes de criatividade artística a par de ser um desta 434 DAVID E ZIMERMAN cado atleta universitário e ter construído uma sólida erudição geral Formouse em medicina iniciando como pediatra bemsucedido especialidade que exerceu durante quarenta anos tendo tra tado mais de 60 mil casos Nesse período já evidenciava sua preocupação com os as pectos emocionais dos seus pequenos paci entes na interação com as respectivas mães Prova disso é que foi então que WINNICOTT criou os conhecidos jogos da espátula e do rabisco squiggle que ele praticava com as crianças Participou da I Guerra Mundial como oficial médico da marinha No mesmo ano de sua formatura em medi cina 1923 WINNICOTT iniciou sua análise com JSTRACHEY a qual se prolongou por 10 anos No período de 1933 a 1938 fez sua análise didática com JOAN RIVIÈRE no seio do grupo kleiniano Sua supervisão psicanalítica foi com MKLEIN durante alguns anos WINNICOTT tinha verdadeira paixão pela in fância como mostra o relatório da Peque na Piggle publicado depois de sua morte Essa menina tinha dois anos quando foi paciente de WINNICOTT e ele a viu durante três anos tendo feito sessões consideradas como memoráveis Foi o fundador da psica nálise de crianças na GrãBretanha antes da chegada a Londres de MKLEIN numa época em que praticamente só terapeutas mulheres dedicavamse ao tratamento com crianças Divorciado da primeira mulher Alice uma artista ceramista WINNICOTT veio a casarse com Clare uma assistente social que veio a tornarse psicanalista tendo feito a sua aná lise com MKLEIN Por ocasião das Contro vérsias acontecidas no seio da Sociedade Psicanalítica Britânica no período de 1943 a 1944 WINNICOTT escolheu ficar com o Grupo dos Independentes Por duas vezes num total de seis anos foi presidente da Sociedade Psicanalítica Britânica As maiores fontes inspiradoras de WINNICOTT foram FREUD KLEIN e o biólogo DARWIN cuja teoria da seleção natural induziuo à con cepção de que um bebê depende funda mentalmente de um ambiente facilitador para sua sobrevivência e estruturação psí quica Publicou seu primeiro trabalho em 1936 no qual estudou a relação entre os conflitos emocionais e os transtornos da ali mentação Aos poucos foi revelando uma predileção pelo atendimento de pacientes psicóticos borderline e adolescentes com conduta antisocial A obra total de WINNICOTT consta de mais de 200 títulos contidos em quatro livros cujos principais conceitos originais estão na resenha que segue Em 1945 ainda fortemente influenciado por MKLEIN WINNICOTT publica o seu clássico Desenvolvimento emocional primitivo no qual propõe que a maturação e o desen volvimento emocional da criança proces samse em três etapas 1 Integração e personalização O bebê nas ce num estado de nãointegração não é o mesmo que desintegração nem dissocia ção na qual está numa condição de de pendência absoluta apesar da sua crença mágica de possuir uma absoluta indepen dência Os cuidados suficientemente bons da mãe promovem uma integração comple ta da unidade psiquesoma WINNICOTT de fine a personalização como o sentimento que o sujeito tem de que ele habita o seu próprio corpo 2 Adaptação à realidade A mãe tem o pa pel fundamental de ajudar a criança a sair da subjetividade total e provêla com os ele mentos da realidade objetiva de modo que ela comece a evocar aquilo que realmente está à sua disposição 3 Crueldade primitiva Nessa época WIN NICOTT afirmava que todo bebê tem uma carga genética com certa cota de agressivi dade que muitas vezes voltase contra ela mesma e que também vem acompanhada da fantasia de ter danificado a mãe No entanto diferentemente de MKLEIN ele não VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE PSICANÁLISE 435 prioriza a inveja primária com as pulsões sádicodestrutivas antes enfatiza os aspectos construtivos da agressividade e a esperança da criança de que a mãe a compreenda ame e sobretudo sobreviva aos seus ataques Em 1951 surgem os estudos de WINNICOTT relativos aos fenômenos espaços e objetos transicionais tal como estão descritos nos respectivos verbetes Em 1958 WINNICOTT publica o seu artigo A capacidade para estar só no qual reve la seu gosto pelo emprego de conceituações paradoxais Essa importante concepção re ferese originalmente à capacidade da crian ça de ficar só quando mais a mãe está pre sente de tal modo que cada uma delas está ocupada nos seus afazeres particulares e privativos porém uma invisível e recíproca confiança básica mantémnas unidas O ano de 1960 representa um marco bas tante significativo na obra de WINNICOTT que então publicou dois dos seus mais impor tantes trabalhos um é A teoria da relação paternofilial onde mais claramente defi ne o papel da mãe no desenvolvimento emocional do filho descreve o estado psi cológico da preocupação ou devoção ma terna primária desenvolve as funções da mãe como ego auxiliar como uma função holding O segundo é Deformação do ego em termos de um verdadeiro e um falso self no qual WINNICOTT refere que quan do as falhas ambientais ameaçam sua con tinuidade existencial a criança vêse obri gada a deformar o seu verdadeiro self em prol de uma submissão às exigências ambi entais notadamente dos pais o que leva à construção de um falso self Em 1971 aparece o livro O brincar e a rea lidade que dedica a seus pacientes que pagaram para me ensinar no qual so bressai o importante artigo O papel de es pelho da mãe e da família no qual WINNI COTT tece interessantíssimas considerações acerca do olhar da mãe na estruturação ou desestruturação do self do filho Entre tantos aspectos da técnica e da práti ca analítica os seguintes merecem ser des tacados Quando as falhas ambientais precoces são repetitivas formase no sujeito um conge lamento da situação do fracasso de modo que o setting analítico possibilita uma regres são útil com vistas a um descongelamento A admissão do analista da possibilidade que se desenvolva um ódio na contratransferên cia título de um artigo de 1947 parece ser um importante instrumento técnico A importância de que o analista saiba dis tinguir a diferença entre o que o paciente manifesta como sendo necessidades do id e as necessidades do ego Como acontece nos primórdios do desen volvimento emocional de uma criança tam bém nos analisandos há um período de hesitação que não deve ser confundida com o clássico conceito de resistência O uso que o analisando pode fazer do ana lista como objeto transicional tal como está descrito em seu artigo O uso de um obje to 1969 empresta outra dimensão à trans ferência e à interpretação A concepção de que de forma análoga ao que se passa entre a mãe e a criança tam bém o analista e o analisando cada um está sendo criado e descoberto pelo outro O destaque ao valor positivo e estruturante das pulsões agressivas desde que haja a sobrevivência do objeto ao mesmo tempo amado e atacado A noção de que a nãosatisfação de uma necessidade pode provocar não o ódio mas uma decepção uma reprodução do fracas so ambiental A convicção de que com pacientes bastan te regressivos mais vale o manejo do ana lista do que as suas interpretações Toda a pessoa apresenta algum grau de de pendência e cabe ao analista ajudar o paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o processo de dependência a absoluta a rela tiva e a que vai rumo à independência 436 DAVID E ZIMERMAN A transferência é considerada por WINNI COTT uma réplica do laço materno de modo que ele não respeitava muito nem a neutra lidade nem a duração das sessões e não he sitava em manter relações de amizade calo rosa com seus pacientes Sofrendo de problemas cardíacos desde 1948 WINNICOTT morreu subitamente em 1971 com a idade de 74 anos sem ter dei xado filhos que não os representados pelo legado de uma magnífica obra e de uma legião cada vez maior de seguidores Z Zonas erógenas Em Três ensaios sobre uma teoria da se xualidade 1905 FREUD evidencia que a teoria da libido era originariamente um con ceito anatômico inicialmente descrito por ele como restrito à qualquer região do re vestimento cutâneomucoso podendo fun cionar como zona erógena Assim os ór gãos produtores da libido eram denomina dos zonas erógenas como os lábios a boca a pele o movimento muscular a mucosa anal o pênis e o clitóris Em cada idade específica predomina determinada zona erógena Posteriormente FREUD estendeu a erogenei dade a todos órgãos internos ao afirmar que todo corpo é uma zona erógena propria mente dita Igualmente considerou que as zonas erógenas são fontes de diversas pul sões parciais como no autoerotismo e determinam com maior ou menor especifi cidade certo tipo de finalidade libidinal se xual FREUD também levou em conta o fato de que as zonas erógenas se constituíram na psicossexualidade das crianças como pontos de eleição das trocas com o meio ambiente e ao mesmo tempo serem fato res determinantes de solicitarem o máximo de atenção de cuidados corporais e por tanto de excitações provindas do manuseio da mãe Zonas ou áreas livres de conflito PSICÓLOGOS DO EGO Ver o verbete Áreas livres de conflito David E Zimerman Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise O Vocabulário contemporâneo de psicanálise reúne cerca de 900 verbetes sobre teoria técnica além de biografias sumarizadas dos principais autores psicanalíticos Esta obra é indispensável e de consulta obrigatória aos estudantes e profissionais de saúde mental ISBN 9788536314143 artmed EDITORA RESPEITO PELO CONHECIMENTO wwwartmedcombr Referências bibliográficas ABRAHAM K 1909 Sonho e Mito In ABRAHAM KARL Oeuvres complètes Paris Payot 1989 1919 Uma forma particular de resistên cia contra el método psicanalítico In ABRAHM KARL Psicoanálisis clínico Buenos Aires Pai dós 1959a 1924 Un breve estudio de la evolución de la libido considerada a la luz de los transtornos mentales In ABRAHAM KARL Psicoanálisis clí nico Buenos Aires Paidós 1959b 1959 Psicoanálisis clínico Buenos Ai res Paidós 1959c ABRAM JAN 1996 A Linguagem de Winnicott Dicionário das palavras e expressões utiliza das por Donald W Winnicott Rio de Janeiro Revinter 2000 ADLER ALFRED 1912 El carácter neurótico Bu enos Aires Paidós 1954 1918 Prática y teoria del indivíduo Buenos Aires Paidós 1958 1937 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que exercem a psicanálise v XII 1912 Totem e Tabu v XIII 1913 Sobre o início do tratamento Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise 1914 Sobre o narcisismo uma introdu ção v XIV 1914 Recordar repetir e elaborar No vas recomendações sobre a técnica da p s i canálise v XII 1915 Observações sobre o amor trans ferencial Novas recomendações sobre a téc nica da psicanálise v XII 1915 As pulsões e suas vicissitudes v XIV 1915 Recalcamento v XIV 1915 O inconsciente v XIV 1916 Conferências introdutórias à psi canálise v XVI 1917 As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal v XVII 1917 Luto e melancolia v XIV 1919 Linhas de progresso na terapia psi canalítica v XVII 1919 Uma criança é espancada v XVII 1919 O sobrenatural v XVII 1920 Além do princípio do prazer v XVIII 1921 A psicologia do grupo e a análise do ego v XVIII 1923 O ego e o id v XIX 1924 A dissolução do complexo de Édi po v XIX 1924 Neurose e psicose v XIX 1924 O problema econômico do maso quismo v XIX 1925 Uma nota sobre o bloco mágico v XIX 1925 Um estudo autobiográfico v XIX 1925 A negação v XIX 1926 Inibições sintomas e angústia v XX 1926 A questão da análise leiga v XX 1926 Uma entrevista rara de Freud conce dida ao jornalista americano George Sykvester Viereck Revista IDE SÃO PAULO V 15 1998 1927 O futuro de uma ilusão v XXI 1927 Fetichismo v XXI 1930 O malestar da civilização v XXI 1931 A sexualidade feminina v XXI 1933 Novas conferências introdutórias à psicanálise v XXII 1937 Análise terminável e interminável v XXIII 1937 Construções em análise v XXIII 1939 Moisés e o monoteísmo v XXIII 1940 Esboço de psicanálise v XXIII 1940 Clivagem do ego no processo de defesa v XXIII 1941 Achados idéias problemas v XXIII FROMM E 1941 O medo da liberdade Rio de Janeiro Guanabara 1986 442 DAVID E ZIMERMAN 1967 A arte de amar Belo Horizonte Itatiaia 1964 1975 A linguagem esquecida Rio de Janeiro Guanabara 1986 GARCIAROZA L A 19911996 Introdução à me tapsicologia freudiana Rio de Janeiro Zahar 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Freud 17 20 358 428 Abstração Bion 17 77 165 271 298 321 344 387 Ação Bion 18 119 169 170 269 403 428 Acessibilidade conceito de Técnica 18 31 310 Acesso pacientes de difícil Betty Joseph 18 Achados Idéias Problemas Freud 18 19 Acting ou Atuação Freud Lacan 19 Acting na prática clínica 19 Adaptação Psicólogos do Ego 19 20 Adaptação à Realidade ou Realização Winni cott 20 62 218 434 Adicção 20 21 Adler Alfred 21 71 75 107 160 188 195 196 276 Adolescência e Puberdade 21 22 Afânise E Jones 22 Afasia Freud 22 23 125 247 Afeto 17 23 33 34 85 90 106 120 150 173 213 219 222 230 260 273 326 348 356 362 379 Agressividade e Agressão 23 Aichorn August 24 91 Além do princípio do prazer Freud 24 80 251 291 345 373 403 407 412 428 Alexander Franz 24 25 136 243 341 405 Alexitimia Sifneos e Nemiah 25 26 320 Alfa elementos Bion 25 119 Aliança terapêutica Elisabeth Zetzel 26 262 336 341 Alienação Lacan 26 209 Alter ego 26 Alucinose Bion 26 27 Ambiente e os processos de maturação O Win nicott 27 Ambiente facilitador Winnicott 27 85 434 Ambigüidade J Bleuler 27 324 Ambivalência J Bleuler 27 28 American Psychoanalitic Association APsaA 28 Amor vínculo do amor Bion 15 Anaclítica depressão R Spitz 30 100 199 Anáclise ou Apoio ou Ancoragem Freud 29 30 38 Anaclítica escolha de objeto Freud 30 44 Anagógica interpretação conceito de técnica 30 Anal fase Freud Abraham 30 31 107 143 150 331 371 Analisabilidade conceito de técnica 31 147 339 Análise com crianças 31 89 91 122 142 235 241 275 296 317 413 Análise de uma fobia em um menino de cinco anos Freud 31 Análise do Self Kohut 31 244 Índice remissivo 446 DAVID E ZIMERMAN Análise didática 25 32 197 229 234 316 370 395 401 434 Análise leiga Freud 32 145 228 348 349 360 Análise terminável e interminável Freud 32 33 Análise Transacional E Berne 33 410 Analítica Psicologia Jung 33 236 334 Angústia Freud M Klein M Mahler Winnicott Lacan Bion 3335 Angústia neurose de Freud 35 110 285 286 Aniquilamento angústia de M Klein 35 152 154 214 225 242 273 290 313 327 Anna O Freud 17 35 36 57 132 183 184 189 Anorexia nervosa 36 58 323 426 433 Ansiedade ver Angústia 18 3335 62 67 88 97 103 130 153 162 211 225 226 253 286 290 302 303 339 Anulação Freud 36 77 86 97 191 216 283 Antianalisando o J McDougall 36 310 Aparelho psíquico Freud 37 55 84 87 120 173 174 213 223 328 347 358 393 408 409 Aparelho para pensar os pensamentos Bion 37 Apego J Bowlby 37 43 56 57 102 141 145 199 210 215 226 243 319 329 383 411 Apoio ou Ancoragem Freud 29 30 38 101 155 373 Aprender com a experiência Bion 38 102 271 306 315 Área ou Zona livre ou Sem conflito do Ego Psicólogos do Ego 38 45 Arquétipos Jung 38 214 237 335 Arrogância Bion 39 95 132 316 391 Associação livre de idéias regra da Freud 39 Ataques aos vínculos Bion 40 132 Atenção Bion 40 83 168 215 267 270 332 418 Atenção e Interpretação Bion 40 41 418 Atenção flutuante regra da Freud 41 358 368 Ato de fé Bion 40 41 Ato falho Freud 41 Atonement Bion 41 42 Atuação 42 338 424 Aulagnier Piera 42 120 124 257 308 331 332 397 431 Autismo 43 265 313 336 381 425 Autística barreira ou cápsula F Tustin 43 73 104 426 Autoanálise 43 44 65 194 392 Autoconservação pulsões de Freud 29 44 250 345 403 428 Autoerotismo Freud 17 31 44 45 158 168 227 250 306 437 Automática angústia Freud 34 45 105 187 388 Autonomia primária e secundária Psicólogos do Ego 45 336 B B 2ª fileira da grade de Bion 47 Balint Michael 47 48 140 141 147 150 255 303 361 405 Baluarte Baranger 48 Baranger Willy 48 49 62 148 353 Barreira de contato Freud Bion 49 329 Bateson Gregory 49 50 109 111 Bebês 50 95 100 146 206 225 300 301 311 317 375 425 Behaviorismo F Skinner 50 Bela indiferença Freud 51 Beta elementos Bion 51 Bettelheim Bruno 51 52 396 Bilógica MatteBlanco 52 Bion Wilfred Ruprecht 15 17 18 25 26 28 29 33 35 3739 52 Bion W R 1985 54 Bissexualidade 54 55 144 151 181 204 306 Bleuler Eugen 55 117 234 235 339 Bloco Mágico uma nota sobre o Freud 55 217 Bollas Christopher 55 56 86 298 Borderline Otto Kernberg 56 173 176 177 188 193 203 309 336 339 379 421 426 434 Bowlby John 37 56 57 91 101 104 Breuer Josef 16 35 57 66 132 151 157 183 184 189 Brincar Brinquedos e Brincadeiras M Klein D Winnicott 57 58 80 107 130 182 193 272 307 382 420 435 Brincar e a Realidade O Winnicott 58 Bulimia 58 323 425 Buracos negros F Tustin 59 104 313 425 426 C C 3ª fileira da grade de Bion 61 Cadeia ou Rede de significantes Lacan 61 Calma do desespero Bion 61 62 421 ÍNDICE REMISSIVO 447 Campo analítico Baranger 62 Capacidades Psicólogos do Ego Winnicott Bion 62 Capacidade negativa Bion 63 Caráter Freud 63 Caráter e Erotismo Anal Freud 63 Caracterológica couraça W Reich 63 64 90 130 Caractereopatias O Kernberg 64 Caractereopatias Winnicott 64 Carretel jogo do Freud 65 Cartas de Freud a Fliess Freud 65 Castigo necessidade de Freud 65 66 121 281 Castração angústia de Freud 34 66 67 75 138 323 419 Castração Lacan 66 Catarse método da Freud 66 Catástrofe ou medo do colapso Winnicott 66 71 Catastrófica mudança Bion 40 62 67 68 273 432 Catéxis Freud 67 120 227 328 332 347 Cena primária Freud 15 67 75 95 143 193 362 Censura 68 76 78 79 213 281 364 Cesura Bion 68 148 267 343 391 Cesura A Bion 68 148 267 343 391 Cinco lições de Psicanálise Freud 68 69 Cisão 69 Ciúme 69 74 88 89 226 315 415 Claustro D Meltzer 69 152 Clivagem 63 69 70 97 109 110 130 150 158 215 216 242 296 308 318 390 Clivagem do Ego no Processo de Defesa Freud 70 109 Cogitações Bion 39 70 143 311 316 380 389 CognitivoComportamental Corrente 81 176 Coisa em si mesmo Bion 70 294 295 Colapso medo do Winnicott 66 70 71 425 Comensal Bion 71 175 273 315 387 Comitê secreto Círculo de seguidores de Freud 71 117 235 Como a análise cura Kohut 1984 72 Como tornar proveitoso um mau negócio Bion 72 Completude narcisista 73 397 Complexo Jung 73 Complexo de Édipo Freud 74 94 107 116 168 191 202 204 248 255 329 334 337 384 398 409 Complexo de Édipo M Klein 74 87 329 Complexo de Édipo Lacan 74 Complexo de Édipo Kohut 72 75 244 378 Complexo de Eletra Jung 75 Complexo de inferioridade Adler 75 Complexo do semelhante Freud 75 76 Compromisso formação de Freud 63 76 153 393 Compulsão à repetição Freud 29 76 121 251 272 331 344 353 359 362 412 417 Compulsiva neurose do tipo obsessivo 36 76 97 150 185 301 302 361 Comunicação 77 Conceito Bion 77 78 Concepção Bion 78 Condensação Freud 78 97 222 248 267 269 331 362 367 385 392 393 Conferências Brasileiras Bion 78 257 283 Conferência Introdutória à Psicanálise Freud 78 Confiança Básica Erik Erikson 78 79 203 341 435 Conflito psíquico 79 80 103 286 Confusão de Linguagens entre o Adulto e a Crian ça Ferenczi 80 420 Confusional estado 34 80 81 103 417 Confusões geográficas e zonais Meltzer 81 424 Congelamento da situação de fracasso Winni cott 81 82 Conhecimento vínculo do Bion 82 427 Conjectura Bion 82 104 268 300 343 407 Conjunção constante Bion 82 143 273 332 Conluio inconsciente conceito de prática clíni ca 48 82 83 87 167 383 Consciente Freud 83 Consideração Winnicott 83 Constância princípio da Freud 83 291 305 329 331 344 Constância objetal M Mahler 84 104 203 258 280 340 381 Construções em Análise Freud 32 84 159 Conteúdo manifesto e conteúdo latente Freud 84 Continente Bion 84 85 Continenteconteúdo relação Bion 54 85 118 175 208 315 376 387 413 Continuidade existencial ou continuidade do ser Winnicott 85 377 Contra 86 Contraacting ou contraatuação Técnica 86 Contra catéxis ou contrainvestimento Freud 86 Contraego 86 Contrafobia 86 448 DAVID E ZIMERMAN Contraidentificação projetiva L Grinberg 87 Contraresistência 87 Contratransferência 87 Contribuições à Psicanálise M Klein1947 87 88 Contribuições à psicologia do amor Freud 88 Controle 89 106 111 130 141 154 217 223 229 259 297 302 305 324 326 371 381 382 386 400 Controvérsias na Sociedade Psicanalítica Britâ nica 58 89 92 196 235 241 275 300 Conversando com Bion Conferências de Bion 90 Corpo 90 Correntes psicanalíticas 90 124 133 161 206 246 295 Couraça caractereológica W Reich 90 286 Crescimento mental Bion 68 72 90 91 94 118 221 273 310 336 406 423 430 Criança é espancada Uma Freud 91 261 Crianças sábias Ferenczi 91 Crianças psicanálise de 88 91 92 300 Criatividade primária Winnicott 93 Crise 21 23 93 101 110 122 187 197 228 229 235 260 286 352 360 Crueldade primitiva da criança Winnicott 93 Culpa sentimento de Freud M Klein 83 93 94 116 281 381 398 Culturalismo corrente do 94 Cura 17 33 36 72 90 94 118 119 147 190 244 265 283 353 361 364 406 Curiosidade 36 91 9495 96 235 390 D D 4ª fileira da grade de Bion 97 Defesas mecanismos de Freud M Klein Lacan Bion 33 97 98 115 155 168 195 242 248 264 283 327 348 412 Demanda Lacan 17 29 84 98 102 115 142 169 181 185 186 187 202 212 227 256 263 269 281 328 355 367 386 392 397 418 Denegação ou renegação recusa desmentida Freud 98 Denegrimento M Klein 99 106 144 167 202 226 242 383 400 416 Dependência 99 Dependência suposto básico de Bion 100 251 Depressão anaclítica R Spitz 100 Depressão pósparto 100 101 Depressiva posição M Klein 81 94 101103 111 121 122 126 208 241 254 297 309 318 320 321 338 362 379 387 423 Desamparo estado de Freud 102 381 419 Desejo Freud Lacan 102 Desenvolvimentos em psicanálise M Klein Heimann Isaacs Rivière 103 Desenvolvimento emocional primitivo 103 129 163 196 305 342 354 Desidentificação 104 208 Desinvestimento Freud 104 105 278 Desistência estado de 37 105 313 Deslizamento Lacan 61 105 385 Deslocamento Freud Lacan 23 68 78 105 135 213 230 258 331 347 363 385 392 393 410 411 Despersonalização 105 106 187 390 404 Desprezo H Segal 52 89 106 259 Dessignificação 106 Dessimbiotização 106 107 203 Desviacionistas teorias 107 Determinismo princípio do Freud 107 Deus e Deidade Bion 108 Diferenciação M Mahler 108 111 138 163 225 258 280 327 376 381 382 427 429 Difusão da identidade síndrome da O Kernberg 56 108 203 Dinâmica da Transferência A Freud1912 108 159 Dinâmico ponto de vista Freud 108 109 354 Discurso dos pais Lacan Bateson Bion 66 104 109 120 311 385 Discurso de Roma Lacan 109 Dissociação ou clivagem divisão cisão split ting 109 110 130 138 154 158 187 193 218 242 296 390 Doença ou síndrome do pânico 110 Donjuanismo 110 215 Dor mental Bion 35 38 110 111 Dora caso Freud 72 111 158 184 190 309 412 415 Duplo Rank Freud Lacan Kohut Bion 26 50 68 109 111 112 115 127 131 166 181 225 230 277 280 396 Duplo vínculo G Bateson 50 109 111 112 E E 5ª fileira da grade de Bion 113 ÍNDICE REMISSIVO 449 Econômico ponto de vista Freud 113 120 133 268 331 336 347 354 360 Édipo mito de Freud Fairbairn Bion 7275 87 94 95 107 113114 116 135 168 171 175 191 202 204 206 227 236 244 246 248 255 269 270 280 291 304 310 318 329 334 337 352 378 384 393 398 409 Ego ou Eu ou Ich 114 Ego tipos de formação do Freud 114 Ego alter 26 111 115 166 203 229 244 279 437 Ego auxiliar 115 337 416 435 Ego contra 86 115 Ego ideal Freud 63 80 115 202 219 225 365 397 398 406 Ego ideal do Freud 63 86 115 116 202 205 219 250 251 276278 296 328 365 397 398 406 419 Ego prazer ego realidade Freud 115 154 Ego e o Id O Freud 37 63 116 158 201 268 288 353 397 398 409 412 Egossintonia e egodistonia 116 Eitigon Max 32 71 91 116 117 270 316 Elaboração ou perlaboração Técnica 15 79 94 103 117 154 193 203 217 219 222 248 254 257 263 268 283 289 322 365 366 375 392 393 Elaboração Secundária Freud 15 117 Elasticidade na Técnica Analítica Ferenczi 117 118 Elementos em Psicanálise Bion 40 118 Elementos α Bion 25 49 51 118 134 144 162 201 208 270 321 368 Elementos β Bion 19 49 51 70 118119 134 161 162 169 173 183 207 321 333 368 Elisabeth von R Freud 119 132 157 184 189 Enquadre ou setting técnica 92 119 314 382 Entrevista inicial técnica 119 Elos de ligação Bion 40 119 219 251 428 430 Emoção 29 119 303 311 429 Empatia Freud Kohut 31 44 54 87 118 119 120 125 148 151 173 198 206 207 211 243 244 256 290 325 327 378 382 431 Energia de Catéxis ou de Investimento Freud 120 Energia livre e energia ligada Freud 113 120 256 331 354 Enunciado identificatório P Aulagnier 120 Equação etiológica Freud 104 121 180 322 336 382 Equação 8 C 103 104 121 122 133 180 252 262 322 331 375 382 387 Epistemofilia 120 121 Equação simbólica H Segal 103 122 252 Erikson Erik 78 79 122 335 Esboço ou Esquema de Psicanálise Freud 23 123 155 158 249 Escolas de psicanálise 90 123 Espaço mental Freud Meltzer Bion 126 127 254 424 Espaço transicional Winnicott 127 145 208 298 394 Espátula jogo da Winnicott 127 128 182 233 434 Espelho Freud Lacan Bion Kohut 29 35 58 65 74 90 104 111 115 128 129 133 143 159 Eros 24 28 122 123 250 257 259 270 403 428 Erótica e erotizada transferência Técnica 123 416 Escola Freudiana de Psicanálise ou Escola Estru turalista Lacan 124125 246 316 Escopofilia voyeurismo Freud 125 134 158 323 432 Escritos Lacan 16 27 32 49 55 87 88 125 132 136 144 150 157 185 192 195 213 220 222 225 241 246 289 296 299 300 332 355 358 362 372 403 405 408 414 Escuta analítica técnica 125 Esquizóide personalidade 129 130 390 Esquizofrenia 129 130 253 264 292 315 362 Esquizoparanóide posição M Klein 118 130 154 253 273 278 297 379 430 432 Estilos de narrativa e de interpretação D Liber man A Ferro 130 Estranho O Freud 131 Estrutural teoria Freud 37 126 131 158 201 213 218 220 268 365 397 Estudo autobiográfico Um Freud 132 Estudos Psicanalíticos Revisados Bion 132 166 183 Estudos sobre a histeria Freud Breuer 132 Etchegoyen Horacio 133 Etologia 56 133 134 Evacuação Freud Abraham Bion 70 134 207 371 390 Evidência Bion 134 Evolução Bion 134 Existência Bion Winnicott 135 Experiência emocional corretiva Alexander 136 Experiência emocional Bion 25 39 101 119 135 136 208 418 432 450 DAVID E ZIMERMAN Experiências em Grupos Bion 136 369 Extratransferência 136 F F 6ª fileira da grade de Bion 137 Facho de escuridão Bion 137 224 Faibairn Ronald 86 110 113 114 124 137 138 185 Falhas ambientais Winnicott 27 64 138 435 Fálica fase Freud 74 138 139 143 306 Fálica mulher ou mãe 139 226 Falo Lacan 66 138 139 150 185 227 318 383 396 424 Falsidade Bion 139 140 165 273 333 Falso self Winnicott 140 222 317 377 406 414 430 435 Falta Lacan 140 Falta básica M Balint 47 48 140141 Família terapia da 141 225 389 Fantasia Freud 36 48 50 52 66 74 81 83 93 95 106 119 127 139 141143 171 172 181 205 206 208 214 215 221 225 254 303 311 318 329 362 369 373 426 432 434 Fantasia inconsciente M Klein 95 142 Fantasias originárias Freud 142143 Fases 63 66 74 75 104 138 143 150 154 168 198 287 305 306 336 373 381 394 421 435 Fato selecionado Bion 134 143144 Fatores Bion 144 162 215 285 341 353 Fé ato de Bion 40 41 144 Feminilidade Freud 42 144145 226 Fenichel Otto 145 Fenômenos transicionais Winnicott 145 146 298 Fepal Federação Psicanalítica da América La tina 146 Ferenczi Sándor 33 39 47 65 71 80 88 91 117 118 146148 160 195 222 223 228 234 241 257 299 300 305 319 352 360 399 405 407 408 411 420 Ferro Antonino 130 148 208 249 Fetal psiquismo Bion 54 82 104 134 148 149 295 342 343 391 Fetiche 20 149 188 282 326 Fetichismo O Freud 149 150 269 298 411 Filobatismo Balint 47 48 150 Fixação Freud 79 88 122 130 143 150 187 188 194 211 207 247 277 Fliess Wilhelm 23 44 65 151 216 267 268 298 332 333 Fobias 35 110 151 152 285 286 Foraclusão Lacan 152 153 172 267 Formação de compromisso Freud 63 153 393 Formação reativa 48 97 153 289 355 Formação de símbolos 88 153 320 321 375 430 Formulações sobre os dois princípios do funcio namento mental Freud 154 FortDa Freud 155 Fragmentação angústia de M Klein 154 367 Fragmento da análise de um caso de histeria Freud 154 392 Freud Anna 57 65 80 89 92 151 155 180 195 196 206 235 241 244 257 335 395 399 Freud Sigmund 155160 Fromm Erich 160 Frustração 161 Fuga e Luta suposto básico de Bion 17 47 72 141 150 162 163 244 311 316 337 351 354 355 420 Função Bion 25 40 44 45 50 51 54 61 71 74 76 82 8385 95 103 104 111 113 120 121 123 128 129 139 140 144 148 162 163 167 168 171 173 176 197 207 209 211 220 222 251 256 263 265 276 Função α Bion 25 39 118 144 162 173 197 222 Função analítica eficaz Bion 162163 Função psicanalítica da personalidade Bion 44 163 406 Functores Bion 162 163 Fusão 27 80 81 123 130 162164 209 246 247 265 277 279 373 389 FusãoDesfusão das pulsões Freud 163 Fusional transferência do tipo Kohut 163 164 166 203 225 244 379 414 Futuro de uma Ilusão Freud 159 161 164 Fúria ou Injúria narcisista Kohut 163 164 244 337 379 G G 7ª fileira da grade de Bion 165 Gangue narcisista Rosenfeld 86 165 278 307 328 353 364 370 413 Ganho primário e secundário Freud 51 165 364 ÍNDICE REMISSIVO 451 Garma Angel 165 166 Gêmeo Imaginário O Bion 111 116 132 166 279 431 Gemelar transferência Kohut 111 129 166 203 244 279 Gênero sexual R Stoller 55 150 166 167 181 204 271 383 410 Gênio Bion 88 156 167 175 273 Gênio establishment relação do tipo Bion 167 168 Genital amor Freud 168 Genital fase Freud 143 168 307 Gestaltterapia F Perls 168 Gozo Lacan 98 169 281 324 383 Grade Bion 15 17 18 40 47 54 61 77 78 97 113 137 140 162 165 169171 179 201 227 265 270 292 295 321 326 329 333 368 389 394 418 Gradiva Freud 171 176 257 Gratidão M Klein 102 156 172 225 226 231 241 353 362 430 Gratificação alucinatória do seio Freud 172 319 Green André 106 160 161 172 173 185 206 256 277 283 304 Grinberg Leon 173 174 203 Grupo 21 33 42 55 56 58 90 101 103 136 140 141 156 160 174 175 177 180 195 204 206 230 233 242244 250 251 257 260 264 272 288 303 307 335 340 375 377 380 389 410 418 434 Grupo contribuições de Bion 175 369 Grupos classificação dos 175176 Grupo psicoterapia analítica de 174 176177 229 340 H H 8ª letra da grade de Bion 179 Handling Winnicott 179 Hans O pequeno Freud 179 190 191 Hartmann Heinz 19 20 28 38 124 179 180 195 196 243 290 335 336 376 378 Heimann Paula 103 180 243 352 Heredoconstitucionais fatores Freud 180 Hermafroditismo 181 410 Hermenêutica 181182 Hesitação Winnicott 182 435 Hipérbole movimento de Bion 182 Hipnose Hipnotismo 156 182 189 Hipocondria 183 276 Hipótese definitória Bion 183184 Histerias 184187 281 285 286 Histerias tipos de 185 Histeria de angústia Freud 186 287 306308 317 323 332 335 368 386 398 399 413 418 419 Histerias conversivas 186 Histerias dissociativas 186187 Histérica transtorno de personalidade 186 187 Histérica personalidade infantil 186 187 322 Histérico caráter fáliconarcisista Emilce Blei chmar 187188 História do movimento psicanalítico Sobre a Freud 188 História de uma neurose infantil da 188189 Historiais clínicos de Freud Klein Lacan Ko hut 31 84 154 157 159 179 184 189 192 197 244 292 293 405 Histórico da psicanálise 195197 Histriônica transtorno da personalidade 186188 Holding Winnicott 27 50 104 179 197 256 368 382 414 435 Homem dos Lobos Freud 188 189 192 197 Homem dos Ratos Freud 36 84 97 157 191 197 393 385 Homem Trágico Kohut 197198 337 378 Homossexualidade 88 111 167 198199 249 292 315 323 373 383 411 418 Horda primitiva Freud 199 212 383 Hospitalismo Spitz 30 199 395 I I letra inicial do termo idéia Bion 201 Id ou das Es Freud 201 Ideal ego Freud 41 63 80 98 115 116 194 202 205 206 219 225 250 251 276 278 279 296 298 311 328 335 354 365 397 398 406 419 Ideal do ego Freud 63 80 115 202 205 219 250 251 277 278 296 328 365 397 406 419 Idealização M Klein 98 167 194 202 242 277 296 303 307 Idealizada imago parental Kohut 38 195 202 203 209 244 256 378 415 Idealizadora transferência Kohut 151 195 203 244 379 414 415 Identidade sentimento de 21 55 56 93 106 108 114 115 122 130 133 156 166 174 181 452 DAVID E ZIMERMAN 194 203205 243 270 321 340 378 381 385 406 410 411 430 Identidade sexual R Stoller 166 204 410 Identificação 19 74 81 98 99 100 101 106 107 126 133 177 179 186 187 202 204 208 214 223 230 241 242 249 254 256 263 277 295 300 301 305 Identificação proto E Bick Meltzer 205 Identificações tipos de 26 54 63 69 75 81 84 87 89 103 104 106 110 112 115 116 120 130 131 134 141 175 176 182 205208 220 225 253 296 297 301 305 311 318 320 327 328 335 340 361 368 370 376 399 409 432 Identificação adesiva Meltzer 126 206 300 307 Identificação com o agressor Anna Freud 80 205 206 399 Identificação projetiva M Klein 202 206 207 242 249 332 414 Identificação projetiva Bion 207 332 Identificação introjetiva Freud M Klein 206 207 Identificação patógena 208 Ideograma Bion A Ferro 148 162 208 326 Ilusão área de Winnicott 127 208 209 258 279 282 298 306 325 328 374 IlusãoDesilusão Winnicott 209 Imaginário registro Lacan 66 75 89 209 246 247 Imago Jung 38 202 203 209 244 256 279 296 299 334 337 378 415 Imago parental idealizada Kohut 38 202 203 209210 244 256 378 415 Impasse Técnica 125 210 316 341 353 390 416 417 Impingement 210211 Imprinting 133 211 Incerteza princípio da Bion 211 325 379 Incesto 66 113 211 212 308 352 Inconsciente O Freud 23 42 50 56 61 74 83 92 99 105 108 116 126 153 158 162 212 213 253 282 308 331 334 347 335 391 Inconsciente Freud 212214 237 321 334 Inconsciente coletivo Jung 212 214 237 321 334 Incorporação 204 214 223 306 432 Indiferenciação 204 214215 278 280 325 327 337 340 Inércia princípio da Freud 215 264 273 291 331 432 Infidelidade conjugal tipo de vínculo 215 Inibição Freud 19 187 193 215216 386 432 Inibições Sintomas e angústia Freud 39 116 121 148 152 216 268 285 286 357 Inscrição de memória ou traços mnésicos Freud 216 Insight Técnica 210 217 223 386 Instância psíquica Freud 201 217218 296 336 397 Instintos Freud 29 63 104 158 201 218 344 345 372 Integração e nãointegração Winnicott 20 24 64 72 101 103 146 159 160 172 174 218 219 229 256 277 323 325 356 376 382 386 393 400 423 434 Intelectualização Anna Freud 78 217 219 302 352 Intensidade de uma reação psíquica 58 99 108 152 219 227 252 348 352 384 432 Inter e Intrarelação 49 70 79 81 108 143 158 176 197 201 219 220 221 229 Interesses do ego Freud 220 Internalização ou Interiorização 38 220 243 263 269 337 379 399 Internalização transmutadora Kohut 220 379 Interpretação Técnica 23 30 31 37 40 42 68 79 84 123 126 130 136 151 158 181 189 192 217 220222 224 237 247 263 272 274 309 340 352 358 364 367 368 370 379 380 381 392395 408 412 415 418 421 431 436 Interpretação dos Sonhos A Freud 37 151 158 221 222 364 392 393 408 421 Intervenção vincular técnica 222 223 Introjeção Ferenczi Freud 103 147 158 163 223 205 208 220 223 243 249 256 271 283 295 297 379 399 406 432 Introspecção 31 223 244 337 378 Introversão Jung 223 224 Introvertido tipo caractereológico Jung 224 237 Intuição Bion 40 42 54 78 120 126 192 224 253 292 325 341 343 360 367 393 Invariante Bion 224 264 418 Inveja 32 70 74 83 89 93 99 106 123 140 144 184 196 197 224227 230 241 242 246 259 273 305 315 318 326 353 365 370 390 415 430 435 Inveja do pênis Freud 74 144 184 225 227 318 365 Inveja e gratidão M Klein 226 Investigação Bion 91 170 201 227 229 334 339 375 391 ÍNDICE REMISSIVO 453 Investimento catéxis Freud 44 67 73 74 104 105 120 153 204 219 227 230 248 277 344 347 348 363 IPA 28 31 32 42 93 117 124 133 144 146 148 160 180 195 197 228 229 234236 240 243 246 260 261 264 316 343 348 353 355 360 Irmãos papel dos 149 176 177 180 209 212 229230 308 312 354 Isolamento 97 130 151 195 229231 283 302 J Jacobson Edith 28 96 233 257 335 336 379 Jogo da espátula Winnicott 182 233 Jogo dos rabiscos Winnicott 233 Jones Ernest 22 28 71 144 147 148 180 189 195 215 234 235 241 272 279 349 351 352 360 403 Jung Carl Gustav 16 33 38 39 55 65 67 69 71 73 75 107 117 160 171 188 195 196 209 214 223 224 228 235 236237 238 250 276 278 300 334 335 K K e K Bion 239 Kernberg Otto 56 64 108 196 203 229 233 239 240 336 Klein Melanie 16 23 24 27 28 3335 49 50 53 56 57 69 74 83 8790 9295 97 99 101 103 104 106 108 110 119 120 122 124 129 130 137 142 144 145 147 148 150 152 154 155 166 167 172 175 180 185 187 192 193 196 198 202 206208 214 218 223 225 226 234 240243 253 254 257 265 266 272 273 279 295297 299 300 304306 310 312314 318 319 326 327 329 337 353 354 360362 370 372 375 378 390 394 399 413 414 431 432 434 Kleinismo 242243 Kohut Heinz 29 31 38 72 75 104 107 111 119 120 124 128 129 135 147 163 166 194198 202 203 209 210 220 223 243 244 255 256 263 277279 336 337 366 367 377379 388 414 415 L L e L Bion 245 Lacan Jacques 245247 Lapso Freud 41 247 Latência período de Freud 143 168 248 272 Latente conteúdo Freud 76 84 105 107 248 393 Lembrança encobridora Freud 248 357 Leonardo Da Vinci e uma lembrança de sua in fância Freud 159 248 249 255 Lesbianismo 249 Letargia F Cesio 249 Letargização A Ferro 249 Libido Freud 24 35 78 116 120 129 144 150 163 188 216 250 255 258 261 278 279 285 286 288 306 331 335 344 345 348 358 364 367 371 372 383 384 407 412 415 432 437 Lideranças Freud Bion 250251 335 Ligação Freud 40 48 119 120 150 167 191 198 204 219 235 251 254 362 372 374 428 Ligação elos de Bion 40 119 219 251 428 430 Linguagem Freud Bion Lacan 22 27 30 39 41 51 5254 73 77 80 109 115 125 128 134 140 142 148 169 173 180 182 189 201 202 227 233 246 247 251253 256 267 269 283 291 293 306 307 310 315 319 320 326 329 361 363 379 385 387 395 406 430 431 Linguagem de êxito Bion 41 252 Linguagem e Esquizofrenia Bion 253 Livre associação de idéias 157 190 253 337 378 Logoterapia V Frankl 253 Luta e fuga Bion 175 251 253 Luto Freud M Klein 16 88 100 158 207 216 227 249 253 254 264 268 335 361 406 Luto e Melancolia Freud 254 268 M Mãe normalidade e patogenia da 255 Mãe morta A Green 256 McDougall Joyce 36 37 256 257 342 Mahler Margareth 33 84 76 108 214 257258 280 336 381 386 454 DAVID E ZIMERMAN Maiêutica método de terapia analítica 258 Malestar da civilização O Freud 258 259 Maníacas defesas 89 106 259 353 Maníacodepressiva psicose 259 260 339 419 Mapa da mente humana Bion 260 Marcondes Durval 260 261 Masoquismo 24 65 91 94 121 166 261 262 281 323 331 353 372 373 Match 262 325 Matema Lacan 109 262 Material clínico 262 263264 Maternagem função de 263 Matte Blanco Ignacio 239 264 319 388 Mecanismos de defesa 33 97 98 115 155 168 195 242 248 264 283 327 347 412 Melancolia 100 158 207 223 254 260 264 265 268 272 281 397 Meltzer Donald 43 69 81 83 91 93 126 129 196 205207 265 311 317 324 339 343 376 394 413 416 423 Memória FREUD M KLEIN BION 22 41 55 102 126 134 216 217 222 252 265 266 292 319 332 358 368 379 407 Memória do futuro uma Bion 266267 Menos K K Bion 267 Metáfora Lacan 63 68 77 81 90 123 126 128 137 159 219 224 248 252 262 267 269 272 282 289 290 295 348 367 376 386 388 418 419 426 Metapsicologia Freud 113 157 173 222 225 265 267269 283 339 348 355 405 Metonímia Lacan 105 252 262 267 269 Místico Bion 40 41 108 167 237 269 273 Mitologia 75 113 122 159 181 169 270 304 311 403 410 Mitos 16 41 52 61 93 95 118 141 170 171 175 230 236 269271 280 304 321 352 369 389 394 Modelos Bion 118 148 171 176 203 227 268 271 285 335 347 348 408 Moisés e o monoteismo três ensaios Freud 271 272 Moreno Jacobo Levy 174 272 337 Morte pulsão de Freud M Klein 24 28 34 42 65 76 80 94 104 138 225 242 250 261 268 272274 291 303 305 324 327 338 353 365 403 407 412 Mudança catastrófica Bion 40 61 68 273 431 Mutativa interpretação J Strachey 273274 Mutismo 274 283 386 Mutualidade a experiência de Winnicott 274 N Não 275 Não e Sim Spitz 275 Não analisabilidade conceito de técnica 275 Não integração Winnicott 276 Não seio Bion 276 Narcisismo uma introdução sobre o Freud 276 Narcisismo Freud Rosenfeld Lacan Kohut 29 45 63 75 99 115 126 156 165 173 175 194 198 202 224 225 240 243 244 250 254 265 269 276279 289 292 303 306 307 317 318 323 335 337 367 370 378 379 385 410 414 Narcisismo primário e secundário Freud 278 Narcisismo transtornos do Kohut 279 Narciso mito de 279 Nascimento o trauma do O Rank 280 352 420 Nascimento psicológico da criança M Mahler 280 Necessidade Lacan 280281 Necessidade de castigo Freud 121 281 Negação Freud Lacan 28 48 69 82 89 98 99 111 139 158 202 268 278 281283 288 Negatividade princípio da 282283 Negativismo prática analítica 275 282 283 286 Negativo trabalho do André Green 173 283 Neo ou reidentificações 283284 Neo ou resignificações 284 Neotenia 99 102 284285 Neurastenia Freud 35 284286 Neurose 17 19 21 31 35 56 69 7476 94 97 110 111 113 116 117 129 150 152 158 164 185 186 188 189 191 192 224 230 269 275 285289 293 301 302 306 307 312 323 324 330 341 362 371 397 412 420 Neurose atual Freud 117 285288 420 Neurose de angústia Freud 286 Neurose de caráter 286287 Neurose de destino Freud 287 Neurose de fracasso 287 Neurose de transferência Freud 17 287 288 412 Neurose e Psicose Freud 158 269 288 Neurose fóbica 152 288 ÍNDICE REMISSIVO 455 Neurose mista 288 302 Neurose obsessiva 31 94 164 185 230 288 302 330 362 Neurose narcísica 288289 Neurose traumática 289 Neutralidade regra da Freud 59 289 290 313 Neutralização da energia psíquica Psicólogos do Ego 290 Nirvana princípio de Freud 83 121 290 291 292 305 331 Nó borromeu Lacan 209 261 291 Nomedopai ou leidopai Lacan 109 291 292 Notação Bion 170 267 292 Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfi co de um caso de paranóia Freud 292 293 Notas sobre a memória e o desejo Bion 292 Notas sobre a Teoria da Esquizofrenia Bion 292293 Notas sobre um caso de neurose obsessiva Freud 293 Novas conferências introdutórias à psicanálise Freud 293 433 Novas recomendações sobre a técnica da psica nálise Freud 294 357 Novela familiar 294 369 Númeno Bion 201 204 212 228 240 242 246 261 267 294 300 301 364 374 392 405 O O Bion 295 Objetal relação M Klein 214 220 256 295 296 360 361 Objeto M Klein 296 Objeto a ou pequeno a Lacan 297298 Objeto bizarro Bion 297 Objeto psicanalítico Bion 297 Objeto transformacional C Bollas 96 298 Objeto transicional Winnicott 146 298 435 Obra completa de Freud 132 299 408 Obras completas de Melanie Klein 227 299 Obras completas de Sándor Ferenczi 299300 Observação da relação mãebebê ORMB E Bick 300301 Obsessivacompulsiva neurose 301 Oceânico sentimento 303 Ocnofilia Balint 47 48 150 303 Ódio Bion Winnicott 29 54 75 82 87 103 123 161 179 293 303305 315 407 413 426 429 435 Olhar 41 125 128 135 223225 243 256 284 297 304 305 307 328 356 380 435 Onipotência e onisciência Ferenczi M Klein Bion 305306 328 Oral fase Freud Abraham 30 138 143 214 248 306 371 Organização da libido Freud 24 306307 Organização patológica J Steiner 80 86 149 307 310 364 413 Organizadores Spitz 307 395 Orgasmo do ego Winnicott 307 Orgonoterapia W Reich 307 308 360 Originário processo P Aulagnier 42 308 332 Outro e outro Lacan 109 308 P Paciência Bion 54 118 283 309 325 341 357 Paciente de difícil acesso B Joseph 309310 Pai funções do 310 Pai leido ou nomedo Lacan 310 Pais combinados fantasia da figura de M Klein 310 311 329 Paixão Bion 28 105 119 160 205 240 243 257 267 297 303 309 311 351 427 434 Pânico doença do 286 311 Papéis conceito de dinâmica grupal 311 312 340 Par analítico conceito de técnica 54 118 165 210 260 262 302 312 314 Paradigma 24 83 137 167 196 312314 357 405 413 428 Paradigma da psicanálise tipos de 313314 Parâmetro conceito de técnica K Eissler 225 314 383 Paranóia 129 142 152 191 192 194 206 245 277 292 297 300 314 315 339 373 Parasitária relação continenteconteúdo de tipo Bion 315 Parte psicótica da personalidade Bion 49 54 70 73 80 95 110 116 127 220 267 305 315316 332 368 399 413 430 Parte não psicótica da personalidade Bion 70 80 127 220 316 333 341 430 Passe Lacan 124 125 316 Pavor ou terror sem nome Bion 316317 Pele segunda E Bick 300 317 Pele fina e de pele grossa narcisismo de H Ro senfeld 317318 Pênis inveja do Freud 54 144 318 365 456 DAVID E ZIMERMAN Pênis como objeto parcial M Klein 318319 Pensamento Freud 17 20 22 36 37 40 47 70 76 145 208 219 230 231 237 248 252 276 281 317 319322 325 326 355 362 408 409 Pensamento operatório Escola Psicossomática de Paris 320 326 342 Pensamento do psicótico Bion 320321 325 Pensar capacidade para Bion 17 77 118 158 172 179 297 305 321 Percepção Freud Bion 26 27 41 54 55 83 98 103 115 121 130 137 149 166 168 177 224 283 286 294 315 320322 325 328 340 351 361 364 408 419 426 427 Perlaboração 322 Personalidade 21 26 40 44 54 56 62 64 70 72 73 80 86 89 95 103 104 108110 116 127 129 143 152 153 156 176 185 186 187 194 202 204 205 210 224 234 240 244 245 248 267 277279 285 290 293 301 305 306 315 316 322 323 327 328 332 336 339 341 365 376378 391 397 399 406 408 413 421 429 430 Personalidade múltipla 109 322 408 Personalização Winnicott 20 179 322 323 355 423 434 Perversão Freud 69 80 125 135 149 198 261 262 277 281 302 303 323 324 338 339 372 373 413 416 Perversopolimorfa fase Freud 143 324 330 373 Pessoa real do analista 221 312 324 Piaget Jean 319 325 326 Pictograma 42 148 208 308 326 Poder desejo de 326 Posição M Klein 49 94 101103 111 118 121 130 154 172174 176 219 241 253 254 273 278 279 297 299 309 314 318 320 321 326 327 338 362 432 Posição narcisista 73 81 89 278 327328 430 Prazer e da realidade princípio do Freud 154 319 328 354 410 Prazer princípio de Freud 328 Prazer sem nome 328 Préconcepção Bion 78 170 329 355 Préconsciente Freud 37 79 83 108 126 158 248 252 329 332 362 364 408 Préedipiano Freud M Klein 145 318 329 330 384 Prégenital Freud Lacan 80 168 287 330 371 384 420 Preocupação ou devoção materna primária Winnicott 330 Preservação da espécie pulsão de Freud 330 Princípios Freud 107 124 145 154 188 196 244 268 319 331 333 354 378 379 399 408 Problema econômico do masoquismo O Freud 331 Processos primário e secundário Freud 222 331 Processo originário P Aulagnier 42 308 332 Projetiva identificação M Klein 202 206 207 242 249 301 332 403 Projeto para uma psicologia científica Freud 65 291 329 332 Protofantasias Freud 333 409 Protopensamentos Bion 15 37 51 169 183 333 Psi Bion 333 Psicanálise 333 Psicanálise aplicada 159 334 Psicanálise com crianças 79 155 257 334 Psicanálise selvagem Freud 334 Psicologia analítica Jung 133 236 334 Psicologia de grupo e a análise do ego A Freud 206 250 272 303 335 Psicologia do Ego Escola da 19 34 38 45 62 79 122 124 155 179 196 233 239 245 268 335 336 376 379 Psicologia do Self Escola da Kohut 124 196 243 336 379 414 Psicodrama J Moreno 141 174 176 272 337 338 Psicopatia 79 338 339 Psicopatologia da vida cotidiana A Freud 41 78 338 Psicose 54 56 103 117 129 132 135 152 158 166 184 185 194 209 210 224 245 247 257 259 260 264 269 277 278 286 288 292 297 302 315 320 338341 365 370 373 390 402 413 416 417 419 Psicose de transferência Conceito de técnica H Rosenfeld 340 341 370 417 Psicossomática 25 341 Psicoterapia psicanalítica 25 342 Psiquismo fetal Bion 82 149 342 343 391 Publicação Bion 344 Pulsões Freud 24 2830 33 44 45 67 76 80 81 107 110 116 117 119 122 123 132 137 138 142 150 154 155 158 163 168 173 201203 214 216 208 220 223 226 227 ÍNDICE REMISSIVO 457 230 242 248 250 251 268 272 286 290 293 306 313 323 324 327 330 331 344 345 354 355 361 372 384 388 393 396 403 407 409 412 415 425 428 435 Pulsões e suas vicissitudes As Freud 158 268 345 372 Q Q Freud 347 Quantidade de investimento libidinal Freud 347 Quantum de afeto Freud 348 Questão da análise leiga A Freud 32 348 349 R R Bion 351 Rabisco jogo do Winnicott 351 395 Racionalização 97 219 351 352 Racker Henrique 87 133 180 207 352 Rank Otto 71 72 107 111 115 160 195 216 234 270 271 280 334 348 349 352 353 369 405 419 420 Reação terapêutica negativa Freud M Klein J Rivière 94 210 312 353 365 416 Real registro do Lacan 354 Realidade princípio de Freud 354 Realidade psíquica Freud 81 143 211 242 351 354 390 427 Realização Bion 72 73 179 329 355 Realização Winnicott 20 323 355 393 Reativa formação 48 97 153 283 355 Recalcamento O Freud 69 84 97 105 116 171 202 217 281 287 288 292 335 355 356 363 364 367 Recalque ou recalcamento Freud 355 364 Recomendações aos médicos que exercem a psi canálise Freud 159 294 356 Reconhecimento vínculo do 177 356 429 Recordação encobridora Freud 357 Recordar repetir e elaborar Freud 159 287 294 357 Recusa da realidade Freud Lacan 357 Regra fundamental técnica Freud 39 357 358 Regras técnicas Freud 17 160 288 358 404 Regressão como mecanismo de defesa Freud 358 Regressão a serviço do ego Psicólogos do Ego 336 359 Reich Wilhelm 63 64 90 160 185 234 286 307 308 359 360 405 Reik Theodor 166 180 360 Relação objetal M Klein 255 296 360 361 Reparação M Klein 83 172 299 361 Repetição compulsão à Freud 29 76 121 251 272 331 351 353 359 362 412 417 Representação Freud 23 90 104 105 114 117 120 140 216 222 252 282 362 363 Representaçãocoisa Freud 363 Representaçãopalavra Freud 363 Repressão 86 99 107 109 130 150 158 213 214 249 281 286 355 363 364 409 Resistência Abordagem de Freud 19 33 107 109 119 157159 182 190 210 213 216 219 225 227 334 347 353 355 357 364 366 368 391 412 435 Resistência tipos de Abordagem clínica 365 ResistênciaExistênciaDesistência 366 Restauração do simesmo A Kohut 366 367 Restos diurnos Freud 363 367 Retorno do recalcado ou do reprimido Freud 272 367 Rêverie Bion 50 61 62 197 316 367 368 Reversão da função α Bion 368 Reversão da perspectiva Bion 40 118 368 369 395 431 Revisão da dinâmica de grupo Uma Bion 369 Romance ou novela familiar Freud Rank 294 369 Rosenfeld Herbert 99 129 165 196 206 242 272 277 307 317 339 340 341 352 364 369 370 375 413 417 S Sádicoanal fase Freud Abraham 143 371 373 Sádicooral fase Abraham M Klein 371 373 Sadismo Freud 24 91 121 261 262 281 321 331 361 371 372 373 Sadomasoquismo Freud 372 374 Schreber caso Freud 97 153 157 190 191 192 206 277 286 292 315 334 339 373 374 Sedução teoria da Freud 142 354 374 Sedução como conceito clínico 80 142 147 186 189 190 354 374 375 404 416 417 Sedutorseduzido vínculo do tipo 374 375 404 Segal Hanna 92 103 106 122 129 196 242 252 299 339 375 387 394 458 DAVID E ZIMERMAN Seio M Klein 58 92 101 130 172 226 242 255 273 297 304 305 318 375 434 Seio bom pensante Bion 375 Seiolatrina Meltzer 376 Self Hartmann 376 Self falso e verdadeiro Winnicott 27 56 63 82 85 94 138 140 376 377 435 Self grandioso Kohut 38 194 195 203 209 244 256 264 337 367 377 378 414 Selfobjeto Kohut 38 378 Self Escola da Psicologia do 366 378 414 Self psicofisiológico primário Edith Jacobson 379 Segurança Bion 22 100 223 259 310 379 383 Sem memória e sem desejo Bion 41 292 368 379 Seminário clínico 53 61 72 109 134 135 371 380 391 Seminários clínicos e quatro artigos Bion 380 Senso sentido comum Bion 344 380 381 Sentimento de culpa 83 94 116 281 381 398 Sentimento de identidade 115 133 203 205 243 321 340 378 381 385 430 Sentimento de inferioridade 381 Separação M Mahler 84 154 163 280 310 381 382 387 Separação angústia de 34 65 326 381 430 Ser a continuidade de Winnicott 382 Série complementar Freud 180 322 382 Setting 85 119 211 223 247 324 366 382 383 404 416 426 435 Sexuação fórmulas da Lacan 109 262 383 Sexual gênero Stoller 55 150 166 167 181 204 271 383 410 Sexualidade feminina A Freud 144 145 235 249 318 384 Sexualidade infantil Freud 69 91 168 236 248 293 323 324 384 393 412 Significantesignificado Lacan 105 384 Silêncio na situação analítica 39 77 126 131 274 365 381 386 Simbiose Mahler Bion 34 81 104 106 108 214 256 258 278 280 328 336 381 386 387 Simbólica equação H Segal 103 122 252 387 Simbólico registro Lacan 209 212 310 354 387 Símbolo 17 30 69 88 102 115 122 153 154 172 173 185 193 208 209 222 227 236 237 241 247 252 293 318 320 321 368 375 387 388 430 Sinal de angústia ou angústia sinal Freud 381 388 Sintoma Freud 23 78 105 107 186 216 222 287 291 362 388 393 Si mesmo Kahut 114 128 134 277 281 382 388 397 Simetria princípio da Matte Blanco 52 388 Sincrético pensamento 389 Síntese 389 Sistema dedutivo científico Bion 389 Sistêmica teoria 141 176 389 Só capacidade de estar Winnicott 307 390 Sobre alucinação Bion 390 Sobre arrogância Bion 390 Sobre a psicoterapia Freud 391 427 Sobre uma citação de Freud Bion 391 Sobredeterminação Freud 392 Sobreinvestimento ou superinvestimento Freud 392 Sobrenatural O Freud 392 Sobrevivência do objeto Winnicott 392 435 Somática complacência Freud 72 73 392 Sonho Freud 37 39 44 76 84 105 107 117 131 173 174 189 213 222 248 363 367 368 385 388 392395 Sonhos pósFreud 394 Splitting forçado e splitting estático Bion 395 Spitz René 30 37 91 100 104 147 199 255 275 307 336 386 395 399 Squigge Winnicott 395 Standard Edition Obras completas de Freud 39 55 63 68 70 84 91 108 116 123 131 132 150 154 164 188 212 216 222 248 259 277 288 292294 298 299 331 335 338 346 349 355 356 391 395 410 421 Sublimação Freud 97 107 116 158 248 287 396 Sujeito Lacan 396 Sujeito ideal P Aulagnier 397 Sujeito suposto saber Lacan 306 325 397 Superego Freud 25 34 37 63 68 74 79 80 92 94 100 109 115 116 126 138 158 161 201 202 218220 242 259 276 281 296 302 331 335 341 358 364 365 396399 409 Superego pósFreud 399 Superego ou supersuperego Bion 399 Supervisão na formação psicanalítica 400 T T Bion 403 Tânatos Freud 28 123 250 345 403 428 ÍNDICE REMISSIVO 459 Tantalizador objeto 375 403 Tausk Vicktor 404 Técnica psicanalítica 48 57 159 180 221 274 287 300 340 404 405 Técnica ativa Ferenczi 117 147 360 405 Término da análise 94 406 Terror ou pavor sem nome Bion 54 317 406 Textos selecionados da pediatria à psicanálise Winnicott 104 107 407 Thalassa Ferenczi 147 407 408 Tópicas Freud 219 408 Tópica primeira Freud 131 408 Tópica segunda Freud 126 131 201 213 397 408 409 Totem e tabu Freud 142 159 174 212 272 302 334 335 369 409 410 Transacional análise E Berne 33 410 Transexualismo Stoller 181 410 Transferência conceito de 378 411 412 Transferência em Freud 17 19 26 29 31 44 57 69 76 83 108 111 123 145 164 210 223 242 272 274 279 285 287 288 296 299 300 370 411417 436 Transferência pósFreud 412417 436 Transferência tipos de técnica 379 415 Transferência na prática clínica 417 Transformações Bion 40 224 403 413 417 418 Transgeracionalidade 418 Transicionais fenômenos Winnicott 58 145 146 298 407 419 Transtornos afetivos bipolares 419 Trauma Freud 54 70 102 185 352 419 Trauma segundo Ferenczi 80 420 Trauma do nascimento O Rank 280 352 420 Traumatofilia 420 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Freud 143 158 268 278 420 421 Turbulência emocional Bion 35 421 U Umbral da posição depressiva Meltzer 81 423 Unidade psiquesoma Winnicott 423 434 Universo em expansão Bion 90 423 Uso de um objeto Winnicott 424 V Vazio Winnicott 425 Vazio patologia do F Tustin 20 425 Verdade Bion 137 162 163 183 294 295 311 314 380 395 426 427 429 Vértice Bion 94 114 221 278 304 314 321 327 329 352 354 391 427 430 Via di porre e via di levare Freud 427 Vida pulsão de Freud 19 23 80 220 250 345 428 Vínculos conceituação de Bion 428 Vínculos tipos de Bion 429 Vínculo do reconhecimento 429 Vínculos ataques aos Bion 177 356 430 Violência 21 42 52 80 133 134 208 289 311 409 420 430432 Violência primária e violência secundária P Au lagnier 431 Visão binocular Bion 431 Viscosidade da libido Freud 432 Voracidade M Klein 58 226 293 311 315 425 432 Voyeurismo 120 134 432 W Weltanschauung A questão de uma Freud 433 Winnicott Donald W 20 27 29 3335 5658 62 64 66 67 70 8183 85 91 93 94 99 104 124 127 128 135 138 140 145147 173 179 181 182 196 197 208 209 218 225 2333 243 254257 274 276 298 303 307 317 322 330 351 355 368 376 377 381 382 390 392 394 395 407 414 419 423425 433436 Z Zonas erógenas 29 138 158 168 306 324 330 384 412 421 437 Zonas ou áreas livres de conflito Psicólogos do Ego 437