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Psicologia ·
Psicanálise
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PUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL – CÓD. NORM TÉCNICA DA LEI 9.610/1998 E LEI 10.695/2003. BELA S E ADORMECIDAS: A HISTÉRIA, AINDA\n\nAna Luécia Panachão\n\nEste trabalho nasceu de indagações clínicas. Escrever e falar sobre a clínica psicanalítica é sempre uma tarefa muito delicada que nos coloca diante dos limites de uma exposição, e ao mesmo tempo nos impulsiona para a possibilidade de fazer a clínica avançar. É também um trabalho que pretende reafirmar a atualidade da histeria na clínica contemporânea.\n\nNos últimos anos de meu ofício como psicanalista tive oportunidade de escutar um número que considero bastante significativo de jovens histéricas, entre 16 e 20 anos e poucos anos e que ingressaram numa vida sexual ativa, em relação a qual parecem não ter questionado, o que chamou-me bastante atenção.\n\nElas aportam com suas queixas, seus projetos próprios, seus matizes, que variam da exuberância nos gestos, na fala, nas roupas, até o desânimo incoerente expresso nos momentos de depressão. Porém, movidas por angústias muito particulares: após um \"bad trip\", as... (texto continua) INTERLOCUÇÕES SOBRE O FEMININO\n\ncorresponder aos ideais de perfeição vigentes na cultura e estabelecer relações entre essas exigências e o sintoma de frigidez.\n\nAqui interessa-me destacar que embora o sintoma de frigidez não seja nenhuma novidade quando se trata das históricas, não deixa de espantar-me a frequência com que esse sintoma tem apresentado na clínica, principalmente entre as jovens da faixa etária em questão.\n\nIntriga-me o fato de que essas jovens, que poderiam circular, estudar e trabalhar tão livremente, herdeiras dos muitos benefícios da revolução sexual conquistados a duras penas por suas mães, continuam frias.\n\nEssa observação clínica parece-me não combinar com o contexto atual. As mulheres alcançaram uma grande liberdade sexual, propiciada por transformações sociais e históricas que outorgaram-lhes também a possibilidade de ocupar diferentes e importantes lugares no campo social.\n\nA repressão sexual afrouxou e cedeu espaço para novas conquistas. Temos referências a questões sexuais que são amplamente debatidas por vários segmentos sociais, e a sexualidade de gênero exposta na contemporaneidade é amplamente debatida. Contudo, a frigidez se mantém como um enigma que se propõe discutir a clínica com as histéricas hoje, destacando uma de suas faces contemporâneas:\n\n Essas perguntas surgem através das associações, a partir de um fragmento de sonho, de algum personagem de filme, de episódios vividos pelas amigas, enfim, pelas vias associativas próprias da expressão do inconsciente. constrangimento, como que envergonhadas por terem perguntas a esse respeito, pois acreditam que já deveriam saber. Uma dessas jovens diz que é muito bom estar com o namorado, mas não sabe se tem prazer, tem dúvidas sobre o namoro. Outra fala do mal-estar que sente a cada vez que transa com o namorado, por quê é apaixonada; ela não consegue evitar o pensamento de que ele só quer \"come-la\". Pergunta-se sobre o que ela é pra ele, sente-se desvalorizada, como se fosse \"uma qualquer\". Não sente prazer na relação sexual e diz literalmente que sua frigidez é biológica. Essas jovens, ainda que marcadas por singularidades, compartilham aspectos bastante presentes na história: sentem-se desvalorizadas e inferiorizadas na comparação com outras mulheres que elegem como portadoras dos traços dignos de quem se almejam para si. Querem ardentemente ser amadas, escolhidas, prefigurando idealizações. Unicas! Sofrem frente a esta imagem frágil dessa também idealizado. São belas, mas invariavelmente estigmatizadas. Algumas delas estão dispostas a se entender com o crucufixo e o que forma-se não sente prazer e deve, ao que o outro torna-se. Para fazer essa ideia avançar, introduzo uma citação do livro Entre dos siglos, de Maria Cristina Rojas e Susana Sternbach (1994), em que as autoras enfatizam a conexão entre uma determinada psicopatologia e a discursividade social: ... cada discurso sociocultural se acha regido pela aspiração incorrente de adequar os sujeitos ao ideário em vigência, toda época histórica favorece o surgimento de patologias vinculadas a superdotação; isto é, a adequação articula e absolutos os modelos culturais predominantes. Dit as patologias, em certos graves, podem não ser visualizadas como tais, já que respondem ao esperado nesses época e lugar. Guardam a sua vez estreita relação com os modos e formas de alienação próprias de cada período. (p. 13; tradução livre) As autoras definem assim o que chamam \"protótipo são\": um conjunto de modalidades subjetivas em concordância com as ideias predominantes, ao invés de estimular e socialmente reconhecido. (...) Dito protótipo inclui uma ampla gama de traços que devem ser próprios do caráter, como ser ativa, social, empática, podendo que a mencionada se pensa para \"optar\", incorporando alguns deles em distintos gradações e excluir outros de lado. (ibd.) No caso de minhas jovens histéricas, evidencia-se uma enorme preocupação estética. Essa preocupação aproxima a mulher e a histérica. Podemos dizer que aqui elas se esbarram, mas ainda assim não devem ser confundidas. Os apelos estéticos veiculados pela mídia e sustentados pelo discurso da ciência, que promete cada vez mais meios enfaizes de conter a efemeridade da juventude e beleza, são endereçados a mulher, mas é a histérica que fica capturada. O caráter psicopatológico de exaltação a beleza não é notado, uma vez que ela é incentivada como um valor narcístico que corresponde aos ideais estéticos de perfeição, próprios da atualidade. Nesse sentido, a questão do não-prazer fica obscurecida, e cú lugar a preocupação com a imagem da boa forma. O sofrimento psíquico aparece deslocado sob a forma de insatisfação com a imagem do corpo. O corpo todo transforma-se em totem, nesse corpo-falo, miravilhoso, recoberto por todo tipo adorno, destinados a encobrir qualquer sinal de insuficiência. A busca de perfeição radura, pois, a convicção de um própria imperfeição. Todos os vestes, todos os adornos tornam-se má. caras e camuflagens, condicionamentos destinados a converter em sedutora uma mercadoria em si mesmo pouco atraente. (Israel, 1979, p. 74; tradução livre). Num primeiro momento, o que diz respeito à frigidex aparentemente não lhes faz questão. A causa de sofrimento joga-se na imagem do corpo: \"sou gorda, sou feia, minha barriga é grande, meus peitos são pequenos\". Esse corpo não está à par para dar e ter prazer: ele está para ser visto e garantir pela perfeição da forma, o amor do outro. A beleza tem aqui uma função narcísica de sustentação do próprio ser. Interessa-me aqui introduzir a hipótese de que essas jovens estão coladas a um imaginário social, que lhes acessa com a falsa ideia de que o corpo de mulher é que se mulher define-se pela beleza, magreza, andrónea e dade sexual etc. Comungam da ilusão de que aqui este modelo, o qual procuram confiar-se, possa oferecer-lhes uma resposta para o que é ser mulher. Buscam, assim, respostas as quais visam se mudar num ser que não parece ser a resposta para aquilo que deveria ter o estatuto de interrogacão sobre a feminilidade, sobre como tornar-se mulher. É como se elas não tivessem que construir seu saber sobre o sexual porque, supostamente, isso já estaria mais do que sabido. Uma vez que elas têm acesso a todo tipo de informação sobre questões ligadas ao sexo, pelos mais variados meios, além de ter também socialmente todas as possibilidades de viver sua sexualidade com maior liberdade, já que é esperado delas que \"fiquem\", que namorem bastante, que não demonstrem a perder u mvirgindade. Minhas jovens mal-assistidas se referem a sua primeira vez (perda da virgindade) como uma experiência prematura, à qual cederam para não perder a amor do namorado. Ao redor do mas- ordas sociais, participam de um engodo. O legado mais original da psicanálise é o de que a sexualidade não se reduz ao genital, pois a sexualidade humana não está dada a priori pelo sexo biológico, e a posição sexual de um sujeito é um dever. É uma construção histórica, é centro de caminhos pela via inscritos na relação intersubjetiva com o outro, através das vicissitudes implicadas na travessia edipica, isso para ambos os sexos. No entanto, o percurso compreendido pela menina em direção à feminilidade, propôs dificuldades para as quais não há contraparti. para o sexo masculino. Freud já havia afirmado em 1905, nos \"Três ensaios sobre a teoria da sexualidade\", que o primeiro objeto de amor, para ambos os sexos, é a mãe. Mas será somente ao final de seu teorização sobre o complexo de Édipo que essa afirmação ganharia a magnitude necessária para melhor compreensão do que se passa com uma menina, para que esta venha a tornar-se algo da uma mulher.\n\nNo artigo \"Sexualidade feminina\" (1931), Freud sublinha a importância da pré-história edípica entre a menina e sua mãe, salientando as dificuldades que a menina enfrenta em direção à construção de sua feminilidade, uma vez que sua história terá de compreender duas potentes mudanças: uma mudança de objeto, da mãe para o pai (e posteriormente para um homem), e uma mudança de sexo, do clítoris para a vagina abrindo modo de prazer masturbatório, às vezes até então.\n\nConto nada há de natural no movimento onde a menina em direção ao pai como objeto de amor, isso só será possível se as de sua ligação com a mãe, da qual deverá separar-se com hosncilidade e perceber-se ela mesma.\n\nO amor da menina até então era devotado à mãe fálica do pré-edípico. A percepção da castração na mãe faz eclodir o ódio que romperá o idílio amoroso, até então acalentado. Decepcionada com a constatação de que a mãe não porta o falo almejado, volta-se para o pai, na esperança de que ele possa responder-lhe sobre o enigma de seu ser. Porém, como nos assinala Serge André em seu livro O que quer uma mulher? (1998), \"essa passagem compreende uma dificuldade própria da identificação, o elemento que deve ser abandonado a título de objeto de amor\" (p. 182).\n\nTarefa não fácil, uma vez que é justamente nesse momento em que a menina é levada a reijtar a mãe como objeto de amor, momento de exacerbação da hostilidade contra a mãe, que a menina deve, entretanto, identificar-se com ela, para ocupar sua posição feminina em relação ao pai.\n\nAs jovens histéricas a quem tenho estudado demonstram grande admiração por suas mães, descritas como mulheres independentes, ativas, produtivas, para as quais os homens parecem não estar suficientemente invested in establishing fácil codes que poderiam interessar à filha. Investigdes um certo poder. Na tentativa de compreender o papel de mulher veicular no discurso social, precisam saber o que desejam, o que é esse desejo. Ao invés de manterem a sexualidade como enigma, como caminho para a feminilidade, buscam escapar da angústia de não saber \"adaptando-se\" ao que é o modelo oferecido pela cultura. Olhando para o modelo, perdem de vista que na busca pela feminilidade as mulheres se constituem uma a uma.\n\nVoltando ao início deste trabalho, posso afirmar que a história continua a ser um paradigma do modo de funcionamento do inconsciente, à medida que o recalque é sempre da ordem do sexual. Sendo assim, tanto as histéricas da aurora da psicanálise, quanto as jovens histéricas a quem escuto hoje, encarnam a divisão subjetiva que subsiste para além das mudanças históricas, sem desconfiar, porém, que os modos de apresentação dessas formações subjetivas não são alheios aos códigos da cultura. Então, a histórica não deixa de dar uma resposta, através de seu sintoma, à discursividade de sua época.\n\nMais de cem anos separam estas jovens histéricas e as que participaram da criação da psicanálise e os sintomas continuam interrogá-las sobre a feminilidade. Outra, através do corpo \"recolhido\" pelas dores e paralisias nas \"Elizabeths\" dos bosques de Viena. Hoje, através do corpo \"fetichizado\" dessas jovens, que por este. artifício, buscam encobrir a \"dor\" da castração. Elas desfrutam de uma liberdade de movimento e parecem ter adquirido uma grande intimidade com o corpo, que expõem e desfilam. O corpo está em cena, elas não se furtam às relações sexuais, muito pelo contrário, elas transam! O corpo é oferecido, mas o prazer fica de fora.\n\nMinhas jovens histéricas, aparentemente tão livres para viver sua sexualidade, não sabem que estão correspondendo a um mandato da cultura fazendo-se imagem aliada no modelo de perfeição que lhes é indicado, recomendado, e socialmente reconhecido, mas a medida que caminham em suas análises, o sintoma de frigidez revela-se como forma de resistir às demandas contemporâneas. Por um lado, se adaptam; por outro, condicionam. Ao pretendem encarnar a figura da mãe, supondo que sobre isso já deveriam saber, ficam sem saber sobre seu desejo. Se elas já têm que saber, não há perguntas possíveis! Nessa linha não há como fabricar o novo. O que se poderia indagar era a possibilidade de que essas histórias trouxessem algo de novo, coisas em si não podem dar conta de indicar o caminho para o gozo sexual feminino. O acesso a este depende de um trabalho psíquico a ser refeito constantemente.\n\nO sintoma de frigidez, na clínica com minhas histéricas, vem atestar a impossibilidade do acesso ao prazer sexual quando não há possibilidade de interrogar-se sobre a falta. Esse sintoma revela a origem sexual do recalque e denuncia o engodo com que imaginam poderem se livrar.\n\nO sintoma de frigidez denucia as dificuldades de acesso a um gozo propriamente feminino, impedindo pelos imperativos de uma sociedade regida por pautas fáceis.\n\nO trabalho de análise entra para operar um \"furo\" no discurso do já sabido, pois se há uma coisa que posso afirmar de meu lugar de analista, é que tudo o que é sexualidade não pode ser \"tipo normal\"!\n\nREFERÊNCIAS\n\nAlonso, S. L. et al. (Orgs.), Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo. São Paulo: Escuta/Sedes Sapientiae, 2002.\n\nPUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - CÓPIA NOS TERMOS DA LEI 8.961/1998 E LEI 10.973/2004. MISA-REDONDA 5 – ANA LÚCIA PANICUCCI181\n\na\n\nAMADI, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.\n\nBIRMAN, I. Gramáticas do erotismo: a feminilidade e as suas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.\n\nFREUD, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. VII,\n\n(1923). A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XIX.\n\n(1924). A dissolução do complexo de Édipo. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XIX.\n\n(1925). Algumas considerações psíquicas de distinção anatômica entre os sexos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XXII.\n\n(1931). Sexualidade feminina. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XXIII.\n\nISLA, L. La histéria, el sexo y el médico. Barcelona: Toray-Masson, 1979.\n\n— El goce de la histérica. Barcelona/Buenos Aires: Editorial Argonauta/Biblioteca de Psicoanálisis, 1979.\n\nROJAS, M. C.; STURBAUGH, S. Entre dos siglos: una lectura psicoanalítica de la posmodernidad. Buenos Aires: Lugar, 1994.\n\nPUC/RIO/BIBLIOTECA CENTRAL – CÓPIA NOS TERMOS DA LEI 8.961/1994 E LEI 10.695/2003.
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O corpo é oferecido, mas o prazer fica de fora.\n\nMinhas jovens histéricas, aparentemente tão livres para viver sua sexualidade, não sabem que estão correspondendo a um mandato da cultura fazendo-se imagem aliada no modelo de perfeição que lhes é indicado, recomendado, e socialmente reconhecido, mas a medida que caminham em suas análises, o sintoma de frigidez revela-se como forma de resistir às demandas contemporâneas. Por um lado, se adaptam; por outro, condicionam. Ao pretendem encarnar a figura da mãe, supondo que sobre isso já deveriam saber, ficam sem saber sobre seu desejo. Se elas já têm que saber, não há perguntas possíveis! Nessa linha não há como fabricar o novo. O que se poderia indagar era a possibilidade de que essas histórias trouxessem algo de novo, coisas em si não podem dar conta de indicar o caminho para o gozo sexual feminino. O acesso a este depende de um trabalho psíquico a ser refeito constantemente.\n\nO sintoma de frigidez, na clínica com minhas histéricas, vem atestar a impossibilidade do acesso ao prazer sexual quando não há possibilidade de interrogar-se sobre a falta. Esse sintoma revela a origem sexual do recalque e denuncia o engodo com que imaginam poderem se livrar.\n\nO sintoma de frigidez denucia as dificuldades de acesso a um gozo propriamente feminino, impedindo pelos imperativos de uma sociedade regida por pautas fáceis.\n\nO trabalho de análise entra para operar um \"furo\" no discurso do já sabido, pois se há uma coisa que posso afirmar de meu lugar de analista, é que tudo o que é sexualidade não pode ser \"tipo normal\"!\n\nREFERÊNCIAS\n\nAlonso, S. L. et al. (Orgs.), Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo. São Paulo: Escuta/Sedes Sapientiae, 2002.\n\nPUCRS/BIBLIOTECA CENTRAL - CÓPIA NOS TERMOS DA LEI 8.961/1998 E LEI 10.973/2004. MISA-REDONDA 5 – ANA LÚCIA PANICUCCI181\n\na\n\nAMADI, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.\n\nBIRMAN, I. Gramáticas do erotismo: a feminilidade e as suas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.\n\nFREUD, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. VII,\n\n(1923). A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XIX.\n\n(1924). A dissolução do complexo de Édipo. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XIX.\n\n(1925). Algumas considerações psíquicas de distinção anatômica entre os sexos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XXII.\n\n(1931). Sexualidade feminina. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XXIII.\n\nISLA, L. La histéria, el sexo y el médico. Barcelona: Toray-Masson, 1979.\n\n— El goce de la histérica. Barcelona/Buenos Aires: Editorial Argonauta/Biblioteca de Psicoanálisis, 1979.\n\nROJAS, M. C.; STURBAUGH, S. Entre dos siglos: una lectura psicoanalítica de la posmodernidad. Buenos Aires: Lugar, 1994.\n\nPUC/RIO/BIBLIOTECA CENTRAL – CÓPIA NOS TERMOS DA LEI 8.961/1994 E LEI 10.695/2003.