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147 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan Maíra Bonafé Sei Paulo Victor Bezerra e Kawane Chudis Victrio Resumo O plantão psicológico é um espaço de escuta e acolhimento da experiência do sujeito a fim de clarificar sua demanda Almejase aqui refletir sobre essa modalidade A aproximação entre o plantão psicológico uma modalidade de atendimento psicoló gico da pósmodernidade e a psicanálise nas instituições interroga o atendimento de plantão como um dos tempos do tratamento psicanalítico a retificação subjetiva A terapêutica em plantão com o auxílio de alguns dispositivos analíticos tais como o convite à associação livre pode possibilitar ao sujeito para além de se queixar tam bém demandar clarificando uma demanda de análise Assim o plantão apresentase como uma possibilidade de porta de entrada para uma análise psicanalítica Palavraschave Plantão psicológico Psicanálise Escuta psicanalítica Possibility of psychoanalysis in psychological emergency attendance service a place of subjective rectification Abstract The psychological emergency attendance is a space for listening and welcoming the sub jects experience in order to clarify their demand The aim here is to reflect on this moda lity The approximation between psychological emergency a modality of psychological emergency attendance of the postmodernity and psychoanalysis in the institutions questions the attendance of emergency as one of the times of the psychoanalytic treat ment the subjective rectification The therapist on the emergency duty with the help of some analytical devices such as the invitation to free association can enable the subject ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 148 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 beyond complaining to also demand clarifying a demand for analysis Thus the psycho logical emergency becomes a possibility of a gateway to a psychoanalytic analysis Keywords Psychological emergency attendance Psychoanalysis Psychoanalytic listening Posibilidad de psicoanálisis en la atención psicológica de emergencia un lugar de rectificación subjetiva Resumen La atención psicológica de emergencia es un espacio de escucha y acogida a la experiencia del sujeto a fin de clarificar la demanda de éste Se busca aquí reflexionar sobre esta moda lidad La aproximación entre la atención psicológica una modalidad de la posmoder nidad y el psicoanálisis en las instituciones interroga la atención de turno como uno de los tiempos del tratamiento psicoanalítico la rectificación subjetiva La terapéutica de la atención psicológica de emergencia con el auxilio de algunos dispositivos analíticos como el recurso a la asociación libre puede posibilitar al sujeto además de quejarse a también demandar aclarando una demanda de análisis De ese modo la atención de emergencia se convierte en posibilidad de puerta de entrada para un análisis psicoanalítico Palabras clave Atención psicológica de emergencia Psicoanálisis Escucha psicoanalítica Possibilité de psychanalyse dans les services durgence psychologique un lieu de rectification subjective Résumé Les services durgence psychologique est un espace découte et daccueil de lexpé rience du sujet afin déclairer sa demande Le but ici est de réfléchir à cette modalité Le rapprochement entre ces espaces une modalité dassistance psychologique de la postmodernité et psychanalyse dans les institutions interroge lassistance à lurgence en tant quun des temps de la cure psychanalytique la rectification sub jective Le thérapeutique en service durgence à laide de certains dispositifs analy tiques tels que linvitation à lassociation libre peut permettre au sujet en plus de se plaindre de demander aussi tout en éclairant une demande danalyse Ainsi lur gence psychologique savère une porte dentrée vers une analyse psychanalytique Motsclés Assistance psychologique durgence Psychanalyse Ecoute psychanalytique Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 149 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Objetivamos com este texto discutir questões concernentes à realização do serviço de plantão psicológico por meio do referencial teórico da psicanálise sistematizando teoricamente uma prática realizada na clínica de psicologia de uma universidade pública Para tanto buscamos focalizar as articulações da psi canálise lacaniana com o plantão psicológico percorrendo alguns conceitos fun damentais e buscando aproximar a experiência psicoterápica dos atendimentos de plantão como sendo um dos primeiros passos rumo à experiência analítica a retificação subjetiva Para iniciar as discussões lembramos da origem do termo clínica que designa o exercício de se inclinar para o paciente Figueiredo 1995 compreendendo que a psicologia clínica é uma aplicação que comporta modalidades diversas tanto no que se refere ao pressuposto teórico ou seja ao entendimento de quem é esse sujeito para quem o psicólogo se inclina quanto naquilo que diz respeito à meto dologia por meio da qual se propõe o tratamento Assim também acontece com o plantão psicológico Embora persistam traços do referencial teórico que primeiro sistematizou essa modalidade a psicologia humanista especialmente no que tan ge à definição de que o objetivo do atendimento realizado no plantão é mobilizar os recursos próprios do sujeito em favor de sua demanda a mirada teórica que orienta esse objetivo é variável O plantão psicológico foi inspirado em um modelo institucional famoso nos Estados Unidos na Europa e no Canadá as chamadas walkin clinics Mozena 2009 Foi no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo em 1960 que a modalidade de plantão se iniciou no Brasil Schmidt 2006 com grande preo cupação com a formação do estudante de psicologia sendo o plantão um dife rencial quanto às múltiplas modalidades de se fazer clínica Rosenberg 1987 Foi reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia CFP em 1988 e por ele definido como um modelo alternativo à prática tradicional de psicoterapia que recebe o sujeito no momento de sua urgência priorizando o espaço de escuta de acolhimento e de intervenção pontual em situações de crise Furigo et al 2008 Notamos atualmente que esse tipo de intervenção clínica é disponibilizado por várias instituições Em universidades tem como públicoalvo tanto a comu nidade interna Pan Zonta Tovar 2015 quanto a comunidade externa Or tolan Sei 2016 Está inserido em equipamentos públicos de saúde segurança assistência e educação tais como Unidades Básicas de Saúde Gonçalves Farinha Goto 2016 Centros de Referência em Assistência Social Mota Goto 2009 Delegacias da Mulher Farinha Souza 2016 distritos policiais Braga Mos queira Morato 2012 sistema penitenciário Guedes 2006 unidades de inter nação para adolescentes em conflito com a lei Costa Carvalho Wentzel 2009 instituições de longa permanência para idosos Ramos 2012 escolas Szymans ki 2004 Campos Cury 2009 ONGs Rasera Issa 2007 e terreiros de um ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 150 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 banda ScorsoliniComin 2014 Quanto às abordagens teóricas ScorsoliniCo min 2015 identificou que o referencial fenomenológicoexistencial seguido da abordagem centrada na pessoa é o que mais se destaca em termos numéricos das produções científicas na área de plantão psicológico A psicanálise nas instituições e o plantão psicológico psicanalítico As discussões acerca da interseção entre psicanálise e plantão psicológico já vêm sendo realizadas nos últimos anos Rosário Kyrillos Neto 2015 Ortolan Sei 2016 Entendemos que o lugar da psicanálise na modalidade de plantão psicológico perpassa pela discussão mais ampla a respeito da psicanálise aplicada em contextos que ultrapassem o enquadre original também trivialmente referido como tradicional A partir desse uso da psicanálise para além de seu espaço originário temse formado um campo da prática analítica fora do campo estrito do dispositivo analítico Dutra Franco 2007 p 272 campo esse denominado psicanálise aplicada Lacan 19641971 Nesse ponto é importante diferenciar uma psicanálise das instituições de uma psi canálise nas instituições Enquanto na primeira podemse tomar os discursos ins titucionais para análise buscando desvelar os jogos de poder internos e inerentes a qualquer organização no segundo caso tratase muito mais de utilizar a psicanálise como uma ferramenta para a realização do propósito institucional Kupfer 2005 Essa ideia de que a psicanálise seria praticada em instituições já estava em Freud 19191976 inclusive com o argumento de que um dos desafios do psicanalista nesse contexto seria adaptar a técnica às novas condições Freud 19191976 p 180 Assim a psicanálise dentro das instituições deve experimentar uma am pliação e modificação em novas contextualizações sem que se perca a referência ao ethos psicanalítico Soares 2005 p 595 Ou seja os serviços institucionais que se propõem fazer psicanálise não têm necessidade de alterar os preceitos da clínica psicanalítica Guirado 2006 muito menos de abandonar os fundamentos da psicanálise Soares 2005 Nesse sentido a prática da psicanálise dentro das instituições apresenta algu mas especificidades importantes de serem esclarecidas Primeiro observase o fato de que as instituições têm clientela e modos de funcionamento específicos Guirado 2006 Consequentemente pensamos que a implementação do referen cial teóricopsicanalítico nas práticas de plantão psicológico traz a marca da ins tituição na qual esse serviço acontece já que é predominantemente ela que esta belece parte dos limites e das metas do serviço como horário de funcionamento disponibiliza seu espaço físico a localização geográfica e por vezes a equipe De modo análogo são esses condicionantes institucionais que determinam os usuá rios do serviço Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 151 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Segundo acreditamos que a psicanálise está também submetida aos princípios da modalidade de plantão psicológico Sendo o plantão psicológico uma concep ção específica que visa a atender a um objetivo delimitado qual seja a clarificação da demanda e o eventual apaziguamento de um sofrimento insustentável para o usuário cabe à psicanálise alinharse a tal objetivo balizandose pois tanto pela instituição na qual o serviço é oferecido quanto pela proposta do plantão No caso específico de nossa experiência isso significa colocar a psicanálise no que lhe for possível sem descaracterizála a serviço do objetivo do plantão sem desconsiderar o espaço institucional da clínica psicológica de uma universidade Proporcionalmente as possibilidades de horários a duração dos atendimentos e a equipe de plantonistas formada majoritariamente por graduandos refletem diretamente aquele espaço institucional Em rigor o que define uma instituição é o conjunto de normas e pactos que a organizam ou seja sua referência à lei Soares 2007 Para Soares 2007 a lei é ainda aquilo que barra o excesso estruturando o que é permitido e o que é proibi do possibilitando um laço social O desafio do plantão psicológico psicanalítico é senão aquele de sustentar uma prática psicanalítica em meio a dois laços sociais que não são psicanalíticos em princípio Compreendemos que essa prática seja possível quando se encara a psicanálise como uma atitude uma conversão do olhar e da escuta Green 2004 Macedo Falcão 2005 Monteiro 2012 Além de seus fundamentos teóricos a psicanálise tem a ofertar nas novas configurações sociais e de trabalho principalmente sua postura ou seja a posição singular que o analista deve ocupar para potencializar o acesso e a escuta do que não está consciente e desencadear um efeito terapêutico Na psicanálise aplicada é perceptível a existência e a insistência dos fenômenos fundamentais dos quais a psicanálise se ocupa como o inconsciente a transferência a associação livre e a resistência Laplanche 1987 Rosa 2004 Kobori 2013 No que se refere aos fenômenos da transferência lembramos que ela já havia sido identifica da por Freud como um componente importante do tratamento desde o conhecido caso de Anna O Já em 1909 Ferenczi observou que a transferência existe em todas as relações humanas como professoraluno médicopaciente etc Roudinesco Plon 1998 O termo faz referência a um dos processos do tratamento psicanalítico ante o qual os desejos inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir no âmbito da relação analítica na pessoa do analista colocado na posição desses diversos objetos Roudinesco Plon 1998 pp 766767 Vários psicanalistas dedicaram textos e exposições acerca desse fenômeno li gandoo principalmente à repetição à resistência e à projeção Lacan fez diversas tentativas de teorizar a transferência até que em seu seminário de 19611962 relaciona esse fenômeno com o engano por parte do paciente de atribuir ao ana ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 152 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 lista um saber absoluto como se ele conhecesse previamente a cadeia de senti dos e as consequências pessoais das vivências do paciente Acreditase que essa perspectiva dos fenômenos transferenciais interessa sobremaneira à modalidade de prontoatendimento uma vez que não há o estabelecimento de um vínculo duradouro entre o usurário e o plantonista de modo que não se chega a expe rienciar ou ter que lidar com a transferência como projeção das figuras parentais Roudinesco Plon 1998 Pensar a transferência no contexto institucional especialmente no plantão psi cológico é portanto tratar o conceito para além da projeção de figuras parentais pensandoo em sua dimensão simbólica que endereça a demanda a um saber a um serviço que supostamente sabe como resolver as demandas do sujeito Ca zanatto Martta Bisol 2016 Trabalhar com uma fala endereçada permite ao plantonista conduzir o atendimento de modo a desdobrar e clarificar as interro gações Coutinho Rocha 2007 Essa dimensão simbólica da transferência aparece com vigor em nossa expe riência Acreditamos que é o fato de oferecermos o plantão na clínica psicológica de uma universidade que intensifica no usuário uma busca de saber sobre seu sofrimento facilitando sobremaneira o acolhimento da orientação fundamental fale na medida em que há também uma valorização daquele que está escutando O clássico método terapêutico e investigativo da psicanálise a associação livre também tem sua importância preservada na modalidade do prontoatendimento Uma vez que o usuário solicita algum saber durante o atendimento a resposta do plantonista referenciado pela psicanálise é muito mais um método de atingir o sa ber do que a comunicação de verdades prévias e de tipos clínicos Assim por meio da escuta e não da proliferação de verdades acadêmicas a tarefa deve ser aquela de dar vazão ao discurso de propiciar o aparecimento do nexo semântico entre os efeitos narrados os sintomas e suas possíveis causas Dessa forma outro conceito caro à psicanálise toma vida na medida em que a proposta é de que o usuário fale sem se preocupar com a censura seja a censura de sentimentos ou de fantasias so cialmente condenáveis e principalmente sem a censura lógica isto é sem a preo cupação de apresentar uma fala racional inscrita na lógica objetiva e unicausal Celes 2005 Foster 2010 Uma fala livre sobretudo da tentativa de atribuir um nome técnicocientífico ao conjunto do sofrimento narrado e comprometida com a história e o sentido singular que culmina em tal sofrimento Na mesma medida a aplicação da regra fundamental possibilita a emergência dos pontos insuportá veis para o sujeito de certas passagens e acontecimentos da vida que mais do que outros exigem defesas excessivas paralisantes ou o perfeito contrário revelam a completa falta de defesas em pontos específicos Foster 2010 Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 153 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 O atendimento de plantão e o tempo da retificação subjetiva O lugar do praticante da psicanálise nos serviços oferecidos por instituições está em constante criação e desenvolvimento e tal movimento criativo atuali zação ou articulação são implementados invariavelmente por meio da ética da psicanálise Moretto Priszkulnik 2014 É a ética da psicanálise que sustenta seus fundamentos teóricos e assegura a produção de determinados efeitos Lacan 19601988 Assim a prática da psicanálise pautada por sua ética pode fazerse presente em modalidades de atendimento como o plantão psicológico O trabalho de um plantonista que se paute pela psicanálise é antes de tudo um trabalho de escuta ativa Colocandose nessa posição ele assegura a emergência de um cenário propício para a produção de efeitos terapêuticos e para o exercício analítico Como explica Silva 2014 p 207 aquele que se dispõe a escutar já se instala automaticamente no lugar do Outro Como se estivesse diante de um orá culo a pessoa fala a quem supõe que poderá ajudála de alguma maneira A aproximação feita aqui entre o atendimento de plantão e a análise psicanalí tica devese a partir da semelhança entre o que de fato ocorre no encontro tera pêutico em plantão e os primeiros tempos do tratamento analítico Há diferentes fases no tratamento analítico como pontua Nasio 1999 separadas pelo critério de relação que o analisante tem com sua fala Como primeira fase no processo de análise há a retificação subjetiva que ocorre nas primeiras entrevistas Nasio 1999 Cremos então que o atendimento de plantão pautado pela prática e pela ética da psicanálise seria muito semelhante às primeiras entrevistas que visam à introdução do usuário em uma primeira localização de sua posição na realidade que ele apresenta Na literatura produzida a respeito do plantão psicológico esse processo seria a clarificação da demanda A fase de retificação subjetiva é um momento no qual o analista identifica a relação que o sujeito mantém com seus sintomas qual a relação de sentido que ele dá a seus sofrimentos Nasio 1999 O autor aponta que nessa fase é importante discernir bem o motivo da consulta e como foi a decisão de recorrer a um outro para a resolução de seus problemas É nesse momento da análise que o analis ta pode dar sua impressão minha impressão quer dizer dar uma resposta que consiste em restituir ao paciente alguma coisa da relação que ele tem com o seu sofrimento Nasio 1999 p 12 Outro ponto a ser explorado na fase de retifica ção subjetiva em uma análise é saber identificar a demanda implícita para além da queixa explícita trazida Nasio 1999 Os processos vistos em uma fase de retificação subjetiva em análise psicanalítica e em um atendimento de plantão psicológico são muito semelhantes ambos dão sub sídio para que o indivíduo conheça de fato seu sofrimento clarifique sua deman da Sob essa perspectiva o plantonista que atender pela psicanálise poderá ouvir o ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 154 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 querer dizer que a narrativa comporta E se o encontro permitir poderá chegar a um segundo momento reenviálo ao sujeito no sentido de implicálo com aquilo que é da ordem de seu desejo e das impossibilidades de enfrentamento e transfor mação dessas condições Lerner Fonseca Sayão Machado 2014 p 201 Esperamos que no encontro entre plantonista que segue a ética da psicanálise e usuário o primeiro possa produzir um efeito no segundo um desprendimen to de identificações e posições já engessadas para que então se tenha a opor tunidade de provocar um movimento de mudança no sujeito Simões 2011 O reposicionamento elementar é oferecer ao usuário uma escuta digna de seu sofrimento Não se ocupa o lugar do Outro para reforçar as faltas e os descami nhos do sujeito mas para reconhecer os efeitos das faltas e descaminhos e tentar enganchálos em palavras Por meio do Outro é possível desinvestir a queixa de sensação de dor e angústia e investila de possibilidade de significação Re pousar o sofrimento muitas vezes paralisante no ouvido do plantonista para poder voltar a moverse e buscar uma solução O sujeito que sofre em sua emergência mostra que algo lhe apontou uma divi são fugiu da ordenação habitual descontinuou Reconhecer essa ruptura pode viabilizar ao sujeito reatar o fio da sua história encontrando uma saída possível para o malestar inerente à condição humana Simões 2011 p 7 A clínica psicanalítica que se propõe no plantão visa a dar visibilidade à subje tividade apostando na singularidade do sujeito e quando possível introduzindo a dimensão do posicionamento subjetivo daquele que fala diante dos fenômenos que o habitam Simões 2011 p 84 a fim de que o usuário perceba o desencadea mento de sua crise localizese diante de sua subjetividade e que essa experiência possa produzir um efeito de divisão no sujeito possibilitandolhe quem sabe a construção de uma questão Simões 2011 p 83 A função do plantonista que age e pensa pela psicanálise quando possibilitada pelo encontro de desenvolverse um pouco mais avança para a configuração do plantão como um potente locus de criação Não sendo um espaço no qual preva lece a posição de mestria não sendo o plantonista o detentor do saber a surpresa pode aparecer a criação é privilegiada A criação de sínteses sobre o sofrimento e a criação de saídas plausíveis quebram a cadeia mortífera de repetições A relação proposta permitirá que o sujeito invente pontos de basta o que também cha mamos pontos de ancoragem Stevens 2007 p 81 e assim possa mesmo que minimamente reconhecer o gozo ao qual está exposto Considerações finais A psicanálise e as diferentes lógicas institucionais podem ter dissonâncias mas têm possibilidades e potencialidades que merecem ser examinadas e divulgadas A psicologia como um instrumento de promoção de saúde está ao alcance da Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 155 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 população principalmente por meio das instituições de modo que nosso esforço em um serviço de plantão psicológico de abordagem psicanalítica é favorecer que o indivíduo tocado seja tratado como sujeito tal como entendido pela psicanálise O que a psicanálise tem de mais importante para contribuir no campo da pro moção de saúde não é sua noção de psicopatologia nem de desenvolvimento psi cossexual mas sua postura respeitosa e extremamente interessada no discurso singular sobre o sofrimento de cada indivíduo Talvez a mais importante con tribuição da psicanálise seja o pressuposto de que o trabalho é sempre singular e de que só acontece no encontro com um outro de maneira que não se trata de simplesmente transpor teorias e técnicas para a prática o trabalho acontece na e pela transferência e a forma como se estabelece dependerá da singularidade de cada sujeitoinstituição e da história de cada tratamento Cazanatto Martta Bisol 2016 p 490 Ao atuar nas instituições o praticante da psicanálise vai depararse com inú meras dificuldades sobretudo em relação a estabelecer o lugar que ocupa naquele contexto O desafio consiste em prosseguir sem perder de vista o específico de sua posição Monteiro Queiroz 2006 p 111 ou seja a possibilidade de localizar e trazer para a cena o que dela está excluído fazendo circular a causa do desejo Consideramos por fim que o plantão psicológico como um dispositivo clínico bastante atual pode ser realizado com o auxílio do saber psicanalítico mostran dose um território privilegiado para o apaziguamento e por vezes a elaboração de acontecimentos insuportáveis do malestar inerente à condição humana Referências bibliográficas Braga T B M Mosqueira S M Morato H T P 2012 Cartografia clínica em plantão psicológico investigação interventiva num projeto de atenção psi cológica em distrito policial Temas em Psicologia 202 555570 Recuperado de httpdxdoiorg109788TP2012220 Campos A P S Cury V E 2009 Atenção psicológica clínica encontros te rapêuticos com crianças em uma creche Paidéia 1942 115121 Recuperado de httpdxdoiorg101590S0103863X2009000100014 Cazanatto E Martta M K Bisol C A 2016 A escuta clínica psicanalí tica em uma instituição pública construindo espaços Psicologia Ciência e Profissão 362 486496 Recuperado de httpdxdoiorg1015901982 3703000742014 Celes L A 2005 Psicanálise é trabalho de fazer falar e fazer ouvir Psychê 916 2548 Conselho Federal de Psicologia 1988 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105433167903832017v38n2p147 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Psychological emergency attendance through a psychoanalytical listening Ana Claudia Broza Daher1 Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan2 Maíra Bonafé Sei3 Kawane Chudis Victrio4 Resumo O plantão psicológico se configura como uma intervenção psicológica implementada no Brasil a partir de um referencial humanista abordagem teórica ainda predominante na literatura sobre o tema Organiza se como um tipo de intervenção clínica que oferta um atendimento pontual realizado o mais próximo possível da necessidade do indivíduo por meio do qual podese fazer além de um acolhimento também um esclarecimento acerca da demanda desta pessoa Tendo em vista a importância e pertinência desta prática buscouse ofertála em 2015 em um serviçoescola de Psicologia de uma universidade pública Diante deste cenário almejouse discutir a prática do plantão psicológico realizada por meio de um projeto de extensão enfatizando a escuta psicanalítica empreendida neste contexto Considerase que no plantão psicológico o plantonista acaba por se deparar com a escuta do inesperado do inconsciente que insiste para que seja ouvido Esperase assim que ao mesmo tempo em que é escutado o próprio sujeito que fala se ouça e que esta escuta possa de alguma forma contribuir para que ele se reposicione ou ressignifique o motivo que o fez procurar o atendimento Palavraschave Plantão psicológico Psicanálise Serviçoescola de Psicologia Abstract The psychological emergency attendance configures itself as a psychological intervention implemented in Brazil from a humanist framework theoretical approach that still prevails in the literature on the subject It organizes itself like a kind of clinical intervention that offers a punctual service accomplished the closest possible to the individuals necessity whereby its possible to make besides a reception also an enlightenment about the persons demand Considering the importance and relevance of this practice it was sought to offer it in 2015 in a psychology school service of a public university In this scenario the objective of this paper was to discuss the practice of psychological emergency attendance held through an extension project emphasizing the psychoanalytical listening undertaken in this context It is considered that in psychological emergency attendance the psychologist eventually is faced with the listening of the unexpected the unconscious that insists to be heard It is expected therefore that at the same time it is heard the individual who speaks can listen to himself and that this listening can somehow contribute to his repositioning or resignifying the reason that made him seek care Keywords Psychological emergency attendance Psychoanalysis Psychological university clinic 1 Psicóloga Especialista em Avaliação Psicológica e em Psicologia Clínica e da Saúde 2 Psicóloga Residente em Saúde da Família pela Universidade Estadual de Londrina Email ortolan78gmailcom 3 Psicóloga Doutorado e PósDoutorado em Psicologia Clínica pelo IPUSP Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina 4 Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina 148 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al Plantão Psicológico Histórico e Panorama Geral O serviço de Plantão Psicológico foi inaugurado no Brasil no início dos anos 1960 por Rachel Rosemberg Tal profissional implantou este tipo de atendimento no Serviço de Aconselhamento Psicológico SAP do Instituto de Psicologia da USP IPUSP tendo a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers como referencial no intuito de oferecer um atendimento diferenciado à clientela que procurava o serviço constituindose como uma alternativa às longas filas de espera FUJISAKA et al 2013 ROCHA 2011 Apresentase como uma modalidade de atendimento de tipo emergencial que almeja acolher o sujeito no momento mais próximo de sua necessidade auxiliandoo a manejar seus recursos e limites BRESCHIGLIARI JAFELICE 2015 Tratase assim de uma intervenção realizada sem agendamento prévio por meio do acolhimento dado por um profissional que se posiciona à espera do interessado em um local e horário previamente determinados Pode ser também intitulado como pronto atendimento psicológico denominação que busca afastar a prática da conceituação adotada no campo médico O plantão ou pronto atendimento psicológico não dá ênfase à sintomatologia do sujeito mas sim às suas potencialidades sua experiência como um todo levando em conta seus variados contextos É importante ressaltar que esta modalidade de intervenção em um serviçoescola de Psicologia não comporta determinadas demandas tais como emergências psiquiátricas surtos psicóticos no caso Destinase ao acolhimento das pessoas que a ele recorrem de maneira espontânea ou por encaminhamento de serviços parceiros em busca de auxílio para questões de caráter emocional GOMES 2012 No que se refere ao trabalho efetuado pelo plantonista entendese que este se vê frente a uma prática complexa haja vista a necessidade de desenvolver uma disponibilidade para se defrontar com o inesperado e com a possibilidade de que o encontro com o paciente seja único CHAVES HENRIQUES 2008 Como se configura como um atendimento frequentemente sem continuidade o plantonista deve estar preparado para acolher variados tipos de demanda sem um planejamento prévio dando um retorno imediato àquele que busca o plantão SCORSOLINICOMIN 2014 Mesmo com esta complexidade notase um início e uma presença posterior deste tipo de intervenção nos serviçosescola de Psicologia DOESCHER HENRIQUES 2012 GOMES 2008 PAPARELLI NOGUEIRAMARTINS 2007 espaços de formação de futuros psicólogos clínicos Um exemplo disto trata da implantação do plantão psicológico realizada no serviçoescola de psicologia em uma universidade pública que será aqui apresentada Nesta Instituição de Ensino Superior o plantão psicológico foi iniciado no ano de 2015 sendo denominado institucionalmente como Pronto Atendimento Psicológico Tendo em vista a dificuldade de se fazer alterações na grade curricular que demandam extensos trâmites institucionais optouse pela inserção deste serviço por meio de um projeto de extensão e não como disciplina obrigatória como foi feito na USP Com isso os acolhimentos acabavam sendo realizados por estudantes de últimos anos do curso de Psicologia vinculados voluntariamente ao projeto mas também poderiam ser realizados por psicólogos graduados vinculados à atividade O plantão psicológico organizavase como uma intervenção clínica oferecida diariamente no período do almoço além de ser oferecido ao longo de todo horário comercial da quartafeira Tendo em vista o caráter de plantão não era necessário o agendamento prévio do atendimento bastando que o interessado comparecesse no horário disponibilizado para esta atividade 149 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Como se organizava como um projeto de extensão visava não só o oferecimento de um serviço psicológico para a comunidade mas também se atentava em proporcionar ganhos no campo da formação do estudante no sentido de aprimorar o raciocínio deste e seu manejo clínico Neste caso entendese que se qualifica o estudante para uma diferente modalidade de atendimento clínico fomentando o papel social desempenhado pelo psicólogo Notase que a prática de plantão psicológico no cenário nacional baseiase mais amplamente na perspectiva humanista SCORSOLINI COMIN 2015 SOUZA SOUZA 2011 com propostas prioritariamente pautadas na Abordagem Centrada na Pessoa SCORSOLINI COMIN 2014 e Abordagem Fenomenológico Existencial GONÇALVES FARINHA GOTO 2016 Tendo em vista este cenário almejase por meio deste trabalho discutir como é o olhar psicanalítico a respeito dessa prática pensando mais especificamente nas contribuições de uma escuta psicanalítica nos atendimentos realizados nos plantões Tratase de um estudo teóricoclínico que visa articular a literatura referente ao plantão psicológico com os pressupostos teóricos da clínica psicanalítica com ilustração clínica sobre o atendimento em plantão psicológico realizado a partir desta perspectiva No que se refere aos aspectos éticos compreendese que este trabalho respeita a Resolução n 5102016 do Conselho Nacional de Saúde BRASIL 2016 que indica não ser necessária a tramitação por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de trabalhos que proponham um aprofundamento teórico de situações que emergem espontânea e contingencialmente na prática profissional Nestes casos entretanto deve haver um cuidado quanto à apresentação dos dados de forma que estes não favoreçam a identificação dos sujeitos Considerações Gerais Sobre a Clínica Psicanalítica Em 1896 Sigmund Freud criou o termo psicanálise para dar nome a um método particular de psicoterapia pautado na investigação dos processos mentais inconscientes ROUDINESCO PLON 1998 Com a psicanálise Freud inventou um procedimento para que a verdade falasse revelar os processos inconscientes que produzem os sintomas ROSA 2004 p 341 Entendese que a psicanálise como método de tratamento é produtora de efeitos terapêuticos MARCOS OLIVEIRA JÚNIOR 2013 Todavia a psicanálise não tem como objetivo uma cura pelo menos não está aos moldes do tratamento clínico médico até porque Freud concebeu a análise como interminável MARCOS OLIVEIRA JÚNIOR 2013 p 19 Podese falar que o processo analítico almeja sim uma cura apenas se esta for ao sentido trazido por Lacan 1998 p 936 com a compreensão desta palavra não como designação propriamente de eliminação de um mal mas em sintonia com a palavra francesa cure vista como sinônimo de tratamento análise ou tratamento analítico Quanto ao processo analítico entendese que em psicanálise o falar corresponde a um escutar O analisando fala o que foi esquecido e o analista escuta de modo que o que falou também escute o que fala o que não sabe ou não quer saber Nesta perspectiva o escutar do analista pressupõe um ato e não uma simples percepção CELES 2005 O processo psicanalítico constituise então por meio da combinação entre as associações livres do analisando e a atenção flutuante do analista No que concerne à associação livre é solicitado ao paciente que este comunique tudo o que lhe ocorre sem deixar de revelar algo que lhe pareça insignificante vergonhoso ou doloroso CELES 2005 MACEDO FALCÃO 2005 Quanto à atenção flutuante esta se relaciona com o desprendimento 150 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al do analista de suas influências conscientes de forma a deixar a atenção uniformemente suspensa e escutar o paciente sem o privilégio a priori de qualquer elemento de seu discurso CELES 2005 MACEDO FALCÃO 2005 A associação livre e a atenção flutuante são processos concomitantes com o que se configura escuta psicanalítica Esta escuta não tem função passiva pois coloca em movimento o sujeito fazendoo falar depararse com o seu não saber com suas dúvidas sobre si e sobre o mundo BASTOS 2009 A escuta psicanalítica é ativa provoca o analisando a se colocar diante de suas próprias palavras levao a examinar e se dar conta de sua própria singularidade e se implicar com ela isto é dar consequências decidir o que fazer com isso BASTOS 2009 ROSA 2004 O escutar demanda uma abstinência do analista implicandoo a suportar aquela relação à transferência no caso Aqui o analista deve ocupar o lugar de supostosaber sobre o sujeito uma estratégia para que o sujeito supondo que fala para quem sabe sobre ele fale e possa escutarse e apropriarse de seu discurso ROSA 2004 p 343 Ao escutar o analista deve voltar o seu inconsciente em direção ao inconsciente do paciente deve se atentar às palavras ditas e silenciadas tendo em vista que há algo além do que foi dito para ser escutado Compreendese que o inconsciente do paciente insiste para que seja escutado funciona assim a partir de um mecanismo de repetição A repetição é movida por componentes psíquicos recalcados que se atualizam num encontro analítico O que se repete é algo que por mais que se tente não se pode recordar é o impossível de se dizer ALMEIDA ATALLAH 2008 Ao repetir a pessoa em análise rodeia suas questões sem conseguir efetivamente localizálas necessitando da ajuda do analista para apontar o caminho Neste sentido o trabalho em análise se desdobra a partir dos componentes contidos neste fenômeno constatado a partir da fala do analisando ALMEIDA ATALLAH 2008 A psicanálise em seu sentido de um conjunto de métodos para que se analise o inconsciente tem então uma potencialidade além da clínica ortodoxa de divãs e settings extremamente específicos Há um movimento possível de praticar a psicanálise em outros contextos e principalmente de fazer psicanálise em outros dispositivos por meio do uso das ferramentas que ela oferta BIRMAN 1999 BUENO PEREIRA 2002 CASTANHO 2009 MORETTO TERZIS 2010 O próprio Freud 1996 p 181 em Linhas de progresso na teoria psicanalítica aponta a possibilidade de em algum momento o método psicanalítico necessitar ser readaptado quando defende que mais cedo ou mais tarde defrontarnosemos então com a tarefa de adaptar a nossa técnica às novas condições Ao refletir sobre o plantão psicológico entendese que este é uma prática clínica da contemporaneidade compreendendo que a psicanálise pode sim ser a teoria por detrás dessa prática REBOUÇAS DUTRA 2010 Tanto o modelo de plantão quanto a análise tradicional embasada no referencial psicanalítico exigem do plantonista ou do analista o mesmo comprometimento com a escuta e com o acolhimento Ainda como semelhança entre estas práticas ambas promovem em suas devidas proporções um espaço de escuta a alguém que apresenta uma demanda psíquica e oferece um momento no qual esse sujeito possa ressignificar o seu estar no mundo REBOUÇAS DUTRA 2010 p 19 Quando às diferenças entre o plantão psicológico e a análise respaldadas na psicanálise têmse questões referentes às dimensões das demandas tratadas durabilidade do tratamento e aprofundamento em relação às questões trazidas pelo sujeito Ao contrário de um tratamento analítico o qual se configura como um processo demorado que almeja mudanças profundas e extensas o plantão psicológico é uma prática na qual operam objetivos e tempo limitados O serviço de plantão psicológico foge aos moldes tradicionais de setting psicanalítico quanto à frequência e continuidade por conta da 151 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica possibilidade do encontro com o paciente ser único Em um plantão psicológico no qual se atue a partir de uma perspectiva psicanalítica fazse necessário a adaptação da técnica à demanda trazida por quem procura este tipo de serviço A questão fundamental delegada ao plantonista seria então estar atento àquilo que o paciente traz de mais urgente focando os esforços ao longo do encontro em auxiliálo a organizar tal aspecto A Escuta Psicanalítica no Plantão Psicológico O encontro no qual plantonista e sujeito em sofrimento psíquico deparamse não deixa de ser um encontro analítico mesmo este sendo único e breve Portanto a escuta psicanalítica destacase como uma questão fundamental no atendimento em plantão psicológico Assim como em um processo de análise o plantonista também tem um espaço que lhe permite dotar da técnica da escuta psicanalítica pressupondo que ele tenha uma atenção às manifestações do inconsciente que se apresentam no decorrer da fala do sujeito BASTOS 2009 A escuta do inesperado no plantão é também a escuta de um nãodito do discurso do sujeito ROSA 2004 Assim naquele encontro que possivelmente será único e breve o plantonista vai mais além do que a investigação sintomatológica quando começou e com que frequência isso ocorre O plantonista tem então a possibilidade de tratar psicanaliticamente aquele sujeito que vem procurar atendimento no plantão psicológico na medida em que por meio da escuta psicanalítica o terapeuta consegue escutar o inconsciente escuta esta possibilitada pela transferência estabelecida ali naquele encontro a fim de produzir um saber junto com o sujeito ROSA 2004 Sobre esse saber que plantonista e sujeito produzem juntos Freud já supunha que há no paciente um saber que nem mesmo ele sabe que tem mas que pode ser desperto por meio da escuta do analista atrelado à regra de associação livre BASTOS 2009 Rosa 2004 p 341 entende que o saber está no sujeito um saber que ele não sabe que tem e que se produz na relação e que o plantonista pratica a escuta do sofrimento e descobre que não deve eliminálo mas criar uma nova posição diante do seu sentido ROSA p 341 O cotidiano do plantão realizado no serviço escola de Psicologia permitiu demonstrar este saber que está no sujeito e lhe é possibilitado realmente saber apenas durante o atendimento Na prática clínica do plantão várias vezes os sujeitos convocam o plantonista a ocuparem lugares de conselheiros na medida em que indagações com caráter afirmativo são feitas pelos sujeitos mas é isso que eu devo fazer não é Vieira e Anjos 2013 encontraram em relatos de experiência de plantonistas da clínica escola da UFPA esta posição em que plantonistas sentiramse colocados a partir do momento em que se propuseram a escutar psicanaliticamente em um só breve encontro os sujeitos em sofrimento posição de legitimação como se realmente fossem sujeitos do saber e não supostos saber A psicanálise então contribui nesse ponto a fim de amparar esse plantonista dandolhe respaldo com a teoria do que seria o escutar psicanalítico no setting de plantão psicológico Neste sentido podese questionar É uma escuta interventiva Que dimensões têm essa intervenção As contribuições de Rosa 2004 ao escrever sobre a pesquisa psicanalítica e sua fundamentação teórica são de grande valia no entrelace entre os apontamentos da psicanálise e a prática do plantão psicológico Entendese que o método adotado no plantão é uma escuta ativa como já dito juntamente com uma interpretação do sujeito do desejo que é pontuado quando se dota desta escuta ativa para a narrativa do usuário do plantão aquele que transparece no não dito do sujeito mas escutado pelo plantonista Quanto ao plantão psicológico pautado na psicanálise em comparação àquele empreendido pela Abordagem Centrada na Pessoa ACP 152 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al considerase que assim como o que é proposto na escuta psicanalítica um fazerse escutar do saber do sujeito a escuta centrada na pessoa entende que o sujeito tem uma capacidade para crescer e se desenvolver na direção de suas potencialidades intrínsecas ZANONI 2008 p 16 Entendese que no atendimento essas ditas potencialidades podem vir a serem escutadas pelo próprio sujeito Além disso a ACP também coloca o quanto o encontro entre plantonista e sujeito pode tornar o cliente mais autônomo para encontrar soluções para suas aflições psicológicas ZANONI 2008 p 16 o que está muito vinculado ao aspecto da abordagem psicanalítica que permite uma responsabilização do sujeito perante seu sofrimento tornandoo assim consciente de seus processos De uma maneira geral as duas escutas psicanalítica ou humanista em modalidade de atendimento em plantão entendem que o encontro plantonista e sujeito pode ser potencializador Na ACP temse que este encontro é um processo de ajudar a pessoa em transição a experienciar e dar sentido ao que se experiencia acreditando na sua própria capacidade de assumir novas situações de vida ZANONI 2008 p 21 E na psicanálise por meio da escuta clínica temse o objetivo de fazer com que os pacientes resgatem suas narrativas tornandose protagonistas de sua própria história MENDES PARAVIDINI 2007 p 114 possibilitando a estes a inserção em um mundo desejante Ilustrações Clínicas Como forma de ilustrar os conceitos teóricos acima discutidos optouse por apresentar uma ilustração clínica por meio de dois casos atendidos no plantão psicológico de um serviçoescola de psicologia sob uma perspectiva de demanda emergencial por meio do referencial psicanalítico Os atendimentos deramse de forma única e foram realizados por uma psicóloga que atuava no referido serviço O primeiro caso clínico referiuse a uma pessoa do sexo feminino identificada como B com aproximados 20 anos de idade Procurou o plantão psicológico por demanda própria com a queixa de ansiedade e pensamentos negativos relacionados à vida e morte Apontou para a presença desses pensamentos negativos que a mesma identificava como pessimistas sic desde a préadolescência Viajou para fora do país em um programa de intercâmbio quando pensou ter diminuído os pensamentos ter visto a vida mais colorida sic Contudo logo após retornar ao país de origem os pensamentos e sensações voltaram com maior intensidade Relatou que no momento encontrava dificuldades em relacionamentos interpessoais Indicou não sentir vontade de sair de casa encontrar pessoas e ir para a faculdade Estava em um relacionamento amoroso mas sinalizava que não sabia por que ainda estamos juntos acho que não sinto mais nada por ele e além disso nós só brigamos sic Depois da descrição da queixa B falou sobre seu relacionamento familiar Relatou que em sua família as mulheres eram vistas como se estivessem abaixo dos homens Devido a isto sua mãe obedecia e admirava o marido sic o que acabava por causar incômodo em B Afirmou que apesar de amar sic tinha um complicado relacionamento com o pai já que este havia se envolvido em problemas que comprometeram toda a família e devido a isto não conseguia perdoálo Contou que falava pouco com o pai e que brigavam muito e que nessas brigas B chegou a dizer para o pai que não o admirava mais e que ele só havia trazido problemas Logo após B disse para a plantonista que iria contar outra coisa porém achava que não era importante A plantonista pontuou sua fala apontando para a importância que tinha B falar todos os pensamentos e sentimentos que lhe vinham à mente De acordo com Macedo e Falcão 2005 isto é o que concerne à associação livre permitindo que o sujeito coloque na fala tudo que ocorre consigo até mesmo o que lhe parece insignificante 153 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Foi então que B relatou comportamentos autolesivos que implicam em atos de arranhar as pernas e usar objetos cortantes para ferilas A plantonista questionou em quais momentos isso acontecia e B expôs que se autolesionava todas as vezes em que sentia raiva e angústia sic descrevendo algumas situações nas quais havia se ferido até provocar machucados À medida que B recordava de certas situações afirmou que agora falando me parece que a dor provocada por mim mesma dói menos do que o que eu sinto sic A escuta de si e a apropriação das próprias palavras tornamse instrumento hábil no desbravamento dos territórios mais desconhecidos uma vez que o saber encontrase no próprio sujeito cabendo a quem oferece a escuta conduzir tal descoberta MACEDO FALCÃO 2005 B falou que decidiu procurar pelo plantão porque havia ficado mal dois dias antes devido ao fato de ter ficado sabendo que uma pessoa foco de sua admiração havia se suicidado A partir de então os pensamentos negativos dominaram e parece que a vida não fazia mais sentido sic A plantonista solicitou a B que falasse mais sobre essa admiração e ela indicou que sentia dificuldades em admirar as pessoas e se recordou de quando era criança e tinha esse sentimento pelo pai algo considerado impossível naquele momento A plantonista então colocou que o que estava sentindo poderia estar relacionado a seu pai pois provavelmente este seria a primeira pessoa que B admirara e a angústia relacionada à falta de sentido na vida na verdade poderia estar ligada à fantasia do que sentiria se fosse o pai quem tivesse falecido Este movimento de construção de um saber do sujeito juntamente com o plantonista é possível mediante a transferência Mesmo que o plantão se caracterize por um único encontro estudos como o de Rosa 2004 já entenderam que para o estabelecimento da transferência não são necessárias várias sessões Outros estudos QUINET 2009 VICTRIO SEI BEZERRA 2016 também citam a transferência prévia por exemplo no qual antes mesmo do encontro e no início dele já haveria um estado de projeção à figura do analista Este conceito de transferência prévia e a não necessidade de várias sessões para o estabelecimento de uma transferência faz com que o dispositivo do plantão psicológico seja possível e eficaz na medida em que a escuta ativa e transferência presentes dão subsídio para o sujeito se impor no mundo do desejo ORTOLAN SEI 2016 p 39 B relatou que fazia terapia há mais de um ano contudo disse sentirse desconfortável com a terapeuta sem contudo conseguir interromper a terapia Alegou não conseguir dizer à terapeuta que não queria mais continuar o trabalho A plantonista questionou o que sentia e pediu para que B falasse mais sobre isso B descreveu a situação como angustiante e disse sentir um misto de raiva e necessidade em relação à terapeuta Toda semana pensava em desmarcar as sessões entretanto eram poucos os dias em que conseguia ligar para desmarcar e quando saia da sessão tinha sentimentos de raiva Porém na semana seguinte mesmo com raiva sentia necessidade em ir à sessão Conforme Palhares 2008 a própria figura do analista no campo psíquico do paciente incita ao mesmo tempo tanto a transferência quanto a resistência e estas oposições acabam por determinar a dinâmica analítica A plantonista apontou os sentimentos de raiva e necessidade presentes na relação que estes poderiam se assemelhar em sua relação com o pai B associou verdade é o que sinto pelo meu pai mistura de raiva ao mesmo tempo em que preciso dele sic No que cabe ao plantão a plantonista pontuou a necessidade de cessar com os comportamentos repetitivos autolesivos afirmando que B precisava redirecionar e ressignificar os sentimentos de raiva e angústia que de certa forma eram responsáveis por isso Foi indicado que B avaliasse melhor a relação com a terapeuta A reavaliação deveria se dar no sentido de percepção se realmente não existia uma identificação positiva com a terapeuta ou se estava ocorrendo uma identificação com o pai E se fosse neste sentido B deveria colocar estas questões 154 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al para a terapeuta e trabalhálas na própria terapia Dessa forma foi orientado que B continuasse seu processo terapêutico com sua terapeuta ou então que procurasse por outra terapeuta haja vista este ser imprescindível para tratar suas questões referentes ao relacionamento com o pai assim como o pensamento e sentimentos negativos imbricados a suas relações familiares O segundo caso referiuse a uma pessoa do sexo feminino identificada como A com aproximados 25 anos de idade Foi encaminhada para atendimento psicológico por um serviço de saúde do município o qual a mesma havia procurado com a queixa de ansiedade extrema taquicardia e sensação de morte eminente A relatou ser a segunda vez em que havia procurado um serviço de saúde com as mesmas queixas A partir de então foi diagnosticada com depressão e começou a fazer o uso de medicação Além das queixas supracitadas A contou ter procurado o plantão psicológico por encontrar dificuldades para estudar aprender e manter o foco principalmente nos afazeres acadêmicos Relatou que antes de procurar ajuda além das crises de ansiedade tinha também dificuldades em sair de casa pois pensava que algo de ruim poderia acontecer tais como um assalto ou um acidente pensamentos que lhe levaram à sensação iminente de morte identificada como tinha medo de morrer sic Ao saber do serviço de plantão psicológico A resolveu procurar pelo serviço porém com dúvidas de sua eficácia justamente por este ser pautado em um atendimento único e breve Tendo em vista que o dispositivo de atendimento em forma de plantão na perspectiva da psicanálise assim como a análise propriamente dita se caracteriza primeiramente como a escuta do inconsciente ROSA 2004 esta é possível de ocorrer em um único encontro também Entendese que a oferta do espaço de escuta para o sofrimento do sujeito mesmo que seja apenas em um único encontro pode promover um reposicionamento do sujeito diante sua queixa fazendoo produzir um saber que lhe seja próprio LERNER et al 2014 Na medida em que este atendimento transcorreu A falou sobre sua família e frisou que era muito próxima da mãe Contou que familiares próximos sofriam de depressão e problemas emocionais gravíssimos sic A colocou que devido a isto pensava que suas crises de ansiedade e depressão eram uma espécie de herança genética A partir de então começou a falar a respeito do relacionamento com o pai Relatou que a mãe havia desenvolvido depressão por causa das traições que sofria por parte de seu marido e ver sua mãe sempre melancólica a deixava mal Recordou que quando ainda criança o pai levava os filhos na casa de amantes como álibi para os questionamentos da esposa A plantonista questionou se em algum momento A havia contado para a mãe A relatou que não contava para a mãe com receio de magoála A disse que as brigas em casa eram constantes e que a mãe sempre soube sobre as traições contudo dizia que não poderia pedir o divórcio em função dos filhos pois não tinha condições de sustentálos sozinha A descreveu sua relação com a mãe como ligação especial sic e chegou a relatar que nem mesmo tinha interesse em relacionamentos amorosos pois namorar alguém implicaria em ficar menos tempo com a mãe A plantonista apontou que a fala da mãe parecia suscitarlhe algo pois dizia de uma situação na qual havia abdicado de seu bem estar em função dos filhos e por isso A parecia também abdicar de algo por ela A falou que nunca havia pensado nisso e que parecia fazer sentido me sinto dessa forma se saio de casa parece que estou abandonando ela sic A interpretação da plantonista e a fala da paciente configuram a escuta psicanalítica o que conforme Bastos 2009 é resultado da associação livre e atenção flutuante que por meio da fala coloca o sujeito em movimento acerca do não saber a respeito de si e do mundo A voltou a dizer sobre a faculdade e disse estar pensando em desistir da graduação Tinha a possibilidade de ampliar o prazo contudo estava em dúvida havia parado e retornado para o curso 155 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica sendo aquele seu último prazo caso não houvesse ampliação A plantonista colocou que dessa forma ela ficaria mais em casa e consequentemente na presença da mãe Foi então que A disse cheguei a pensar que não teria problema se reprovasse assim tenho mais tempo com a minha mãe acho que não queria escutar meus próprios pensamentos sic De acordo com Celes 2005 ao falar não é só o analista que escuta mas o próprio sujeito que fala e escuta ao mesmo tempo o que não sabe ou até mesmo o que não quer saber Quanto aos apontamentos realizados por meio do plantão psicológico foi posto que as dificuldades de aprendizagem e foco não estavam atreladas a algum problema cognitivo mas sim a uma necessidade emocional Em vista disso era importante que A entendesse que tinha parte nesse processo No que tange à abordagem psicanalítica a responsabilização do sujeito pelo seu sofrimento o torna consciente e consequentemente mais autônomo A se posicionou em buscar estender o prazo da graduação e concluí la De acordo com Bastos 2009 a escuta do analista faz desabrochar um saber que já existe no sujeito saber este que proporciona a abertura para ressignificações de experiências ROSA 2004 Isto é percebido na modalidade de plantão psicológico também na medida em que é neste encontro do plantonista com o analista que se faz possível a clarificação de uma demanda e as possibilidades de ação e ressignificação do sujeito frente ao seu sofrimento CAMPOS DALTRO 2015 COIN CARVALHO OSTRONOFF 2014 Diante os apontamentos realizados no plantão psicológico compete aqui enfatizar que sua prática com base no referencial psicanalítico constitui se em uma escuta ativa à medida que busca o sujeito de desejo muitas vezes desconhecido ou ocultado pelo mesmo O acolhimento do sofrimento se dá mediante essa escuta ativa que acaba por amenizar o sofrimento do sujeito com o intuito de abrir caminho para um novo sentido Não se pode esquecer que não importa o modelo de referencial psicanalítico seja este o plantão ou a análise ambos oferecem a escuta e a possibilidade de ressignificação REBOUÇAS DUTRA 2010 A plantonista pontuou no caso de A a necessidade de haver uma reestruturação da relação com a mãe de forma saudável Colocações sobre dar continuidade na graduação e certa independência seriam produtivas para a saúde psíquica da paciente assim como desatrelar sua independência com o abandono da mãe também se apresentaram de suma importância Contudo entendese que estas eram questões que necessitavam de um processo terapêutico que ultrapassavam a abrangência de um único encontro proporcionado pelo plantão psicológico Dessa forma foi discutida a importância da inserção da mesma em terapia O processo de análise favorece a exteriorização das instâncias mais internas do analisando Nesse sentido a análise provoca a perda essencial do sujeito o que mais tarde proporcionará uma reorganização psíquica Em vista disso ao invés de ter a finalidade de cura a psicanálise promove o encontro do sujeito com o estranho que há nele mesmo E é neste estranho no Isso de acordo com Freud que se descortina o eu Agora sim a psicanálise tem um efeito curativo na medida em que ir ao encontro de seu estranho provoca a diminuição do sintoma NASIO 1993 Considerações Finais Entendese a partir do exposto ser possível atuar com base no referencial psicanalítico em outros contextos que não uma clínica ortodoxa de divãs e settings específicos Tal possibilidade pode ser constatada a partir da prática do plantão psicológico na qual o plantonista assim como em uma análise possui um espaço que lhe permite utilizar uma importante ferramenta psicanalítica a escuta Acreditase assim que em um serviço de plantão psicológico embasado em uma vertente 156 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al psicanalítica o plantonista se depara com a escuta do inesperado com a escuta do inconsciente que no centro da repetição insiste para que seja escutado Esperase que ao mesmo tempo em que é escutado pelo plantonista o próprio indivíduo que fala se escute e que esta escuta possa de alguma forma contribuir para que o sujeito se reposicione ou ressignifique o motivo que o fez procurar o plantão psicológico A despeito do potencial de ajuda e de promoção de saúde mental deste tipo de intervenção psicológica por ofertar um cuidado no exato momento de sua necessidade ou muito próximo desta entende se que o plantão psicológico também possui seus limites Como posto há situações que demandam uma abordagem contínua um processo terapêutico mais extenso cabendo à dupla plantonista e pessoa atendida esclarecerem a demanda a partir do referido processo de escuta refletindo sobre os encaminhamentos mais pertinentes para cada situação Referências ALMEIDA L P ATALLAH R M F O conceito de repetição e sua importância para a teoria psicanalítica Ágora Rio de Janeiro v 11 n 2 p 203218 2008 Disponível em httpwww scielobrscielophpscriptsciarttextpidS1516 14982008000200003lngennrmisohttpdxdoi org101590S151614982008000200003 Acesso em 11 dez 2017 BASTOS A B B I A escuta psicanalítica e a educação Psicólogo Informação São Paulo v 13 n 13 p 9198 2009 Disponível em httppepsic bvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS1415 88092009000100006lngesnrmiso Acesso em 11 dez 2017 BIRMAN J Os sentidos da saúde Physis Revista de Saúde Coletiva Rio de Janeiro v 9 n 1 p 712 1999 Disponível em httpwwwscielobrpdfphysis v9n101pdf 2017httpdxdoiorg101590S0103 73311999000100001 Acesso em 11 dez 2017 BRASIL Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016 Diário Oficial da República Federativa do Brasil Brasília 24 maio 2016 Seção 1 p 4446 Disponível em http conselhosaudegovbrresolucoes2016Reso510pdf Acesso em 11 dez 2017 BRESCHIGLIARI J O JAFELICE G T Plantão psicológico ficções e reflexões Psicologia Ciência e Profissão Brasília v 35 n 1 p 225237 2015 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsci arttextpidS141498932015000100225lngennrm iso httpdxdoiorg10159019823703000112014 Acesso em 11 dez 2017 BUENO D S PEREIRA M E C Sobre a situação analítica a experiência da psicoterapia psicanalítica no Hospital Universitário da Unicamp Pulsional Revista de Psicanálise Perdizes v 15 n 157 p 1524 2002 Disponível em 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147 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan Maíra Bonafé Sei Paulo Victor Bezerra e Kawane Chudis Victrio Resumo O plantão psicológico é um espaço de escuta e acolhimento da experiência do sujeito a fim de clarificar sua demanda Almejase aqui refletir sobre essa modalidade A aproximação entre o plantão psicológico uma modalidade de atendimento psicoló gico da pósmodernidade e a psicanálise nas instituições interroga o atendimento de plantão como um dos tempos do tratamento psicanalítico a retificação subjetiva A terapêutica em plantão com o auxílio de alguns dispositivos analíticos tais como o convite à associação livre pode possibilitar ao sujeito para além de se queixar tam bém demandar clarificando uma demanda de análise Assim o plantão apresentase como uma possibilidade de porta de entrada para uma análise psicanalítica Palavraschave Plantão psicológico Psicanálise Escuta psicanalítica Possibility of psychoanalysis in psychological emergency attendance service a place of subjective rectification Abstract The psychological emergency attendance is a space for listening and welcoming the sub jects experience in order to clarify their demand The aim here is to reflect on this moda lity The approximation between psychological emergency a modality of psychological emergency attendance of the postmodernity and psychoanalysis in the institutions questions the attendance of emergency as one of the times of the psychoanalytic treat ment the subjective rectification The therapist on the emergency duty with the help of some analytical devices such as the invitation to free association can enable the subject ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 148 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 beyond complaining to also demand clarifying a demand for analysis Thus the psycho logical emergency becomes a possibility of a gateway to a psychoanalytic analysis Keywords Psychological emergency attendance Psychoanalysis Psychoanalytic listening Posibilidad de psicoanálisis en la atención psicológica de emergencia un lugar de rectificación subjetiva Resumen La atención psicológica de emergencia es un espacio de escucha y acogida a la experiencia del sujeto a fin de clarificar la demanda de éste Se busca aquí reflexionar sobre esta moda lidad La aproximación entre la atención psicológica una modalidad de la posmoder nidad y el psicoanálisis en las instituciones interroga la atención de turno como uno de los tiempos del tratamiento psicoanalítico la rectificación subjetiva La terapéutica de la atención psicológica de emergencia con el auxilio de algunos dispositivos analíticos como el recurso a la asociación libre puede posibilitar al sujeto además de quejarse a también demandar aclarando una demanda de análisis De ese modo la atención de emergencia se convierte en posibilidad de puerta de entrada para un análisis psicoanalítico Palabras clave Atención psicológica de emergencia Psicoanálisis Escucha psicoanalítica Possibilité de psychanalyse dans les services durgence psychologique un lieu de rectification subjective Résumé Les services durgence psychologique est un espace découte et daccueil de lexpé rience du sujet afin déclairer sa demande Le but ici est de réfléchir à cette modalité Le rapprochement entre ces espaces une modalité dassistance psychologique de la postmodernité et psychanalyse dans les institutions interroge lassistance à lurgence en tant quun des temps de la cure psychanalytique la rectification sub jective Le thérapeutique en service durgence à laide de certains dispositifs analy tiques tels que linvitation à lassociation libre peut permettre au sujet en plus de se plaindre de demander aussi tout en éclairant une demande danalyse Ainsi lur gence psychologique savère une porte dentrée vers une analyse psychanalytique Motsclés Assistance psychologique durgence Psychanalyse Ecoute psychanalytique Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 149 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Objetivamos com este texto discutir questões concernentes à realização do serviço de plantão psicológico por meio do referencial teórico da psicanálise sistematizando teoricamente uma prática realizada na clínica de psicologia de uma universidade pública Para tanto buscamos focalizar as articulações da psi canálise lacaniana com o plantão psicológico percorrendo alguns conceitos fun damentais e buscando aproximar a experiência psicoterápica dos atendimentos de plantão como sendo um dos primeiros passos rumo à experiência analítica a retificação subjetiva Para iniciar as discussões lembramos da origem do termo clínica que designa o exercício de se inclinar para o paciente Figueiredo 1995 compreendendo que a psicologia clínica é uma aplicação que comporta modalidades diversas tanto no que se refere ao pressuposto teórico ou seja ao entendimento de quem é esse sujeito para quem o psicólogo se inclina quanto naquilo que diz respeito à meto dologia por meio da qual se propõe o tratamento Assim também acontece com o plantão psicológico Embora persistam traços do referencial teórico que primeiro sistematizou essa modalidade a psicologia humanista especialmente no que tan ge à definição de que o objetivo do atendimento realizado no plantão é mobilizar os recursos próprios do sujeito em favor de sua demanda a mirada teórica que orienta esse objetivo é variável O plantão psicológico foi inspirado em um modelo institucional famoso nos Estados Unidos na Europa e no Canadá as chamadas walkin clinics Mozena 2009 Foi no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo em 1960 que a modalidade de plantão se iniciou no Brasil Schmidt 2006 com grande preo cupação com a formação do estudante de psicologia sendo o plantão um dife rencial quanto às múltiplas modalidades de se fazer clínica Rosenberg 1987 Foi reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia CFP em 1988 e por ele definido como um modelo alternativo à prática tradicional de psicoterapia que recebe o sujeito no momento de sua urgência priorizando o espaço de escuta de acolhimento e de intervenção pontual em situações de crise Furigo et al 2008 Notamos atualmente que esse tipo de intervenção clínica é disponibilizado por várias instituições Em universidades tem como públicoalvo tanto a comu nidade interna Pan Zonta Tovar 2015 quanto a comunidade externa Or tolan Sei 2016 Está inserido em equipamentos públicos de saúde segurança assistência e educação tais como Unidades Básicas de Saúde Gonçalves Farinha Goto 2016 Centros de Referência em Assistência Social Mota Goto 2009 Delegacias da Mulher Farinha Souza 2016 distritos policiais Braga Mos queira Morato 2012 sistema penitenciário Guedes 2006 unidades de inter nação para adolescentes em conflito com a lei Costa Carvalho Wentzel 2009 instituições de longa permanência para idosos Ramos 2012 escolas Szymans ki 2004 Campos Cury 2009 ONGs Rasera Issa 2007 e terreiros de um ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 150 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 banda ScorsoliniComin 2014 Quanto às abordagens teóricas ScorsoliniCo min 2015 identificou que o referencial fenomenológicoexistencial seguido da abordagem centrada na pessoa é o que mais se destaca em termos numéricos das produções científicas na área de plantão psicológico A psicanálise nas instituições e o plantão psicológico psicanalítico As discussões acerca da interseção entre psicanálise e plantão psicológico já vêm sendo realizadas nos últimos anos Rosário Kyrillos Neto 2015 Ortolan Sei 2016 Entendemos que o lugar da psicanálise na modalidade de plantão psicológico perpassa pela discussão mais ampla a respeito da psicanálise aplicada em contextos que ultrapassem o enquadre original também trivialmente referido como tradicional A partir desse uso da psicanálise para além de seu espaço originário temse formado um campo da prática analítica fora do campo estrito do dispositivo analítico Dutra Franco 2007 p 272 campo esse denominado psicanálise aplicada Lacan 19641971 Nesse ponto é importante diferenciar uma psicanálise das instituições de uma psi canálise nas instituições Enquanto na primeira podemse tomar os discursos ins titucionais para análise buscando desvelar os jogos de poder internos e inerentes a qualquer organização no segundo caso tratase muito mais de utilizar a psicanálise como uma ferramenta para a realização do propósito institucional Kupfer 2005 Essa ideia de que a psicanálise seria praticada em instituições já estava em Freud 19191976 inclusive com o argumento de que um dos desafios do psicanalista nesse contexto seria adaptar a técnica às novas condições Freud 19191976 p 180 Assim a psicanálise dentro das instituições deve experimentar uma am pliação e modificação em novas contextualizações sem que se perca a referência ao ethos psicanalítico Soares 2005 p 595 Ou seja os serviços institucionais que se propõem fazer psicanálise não têm necessidade de alterar os preceitos da clínica psicanalítica Guirado 2006 muito menos de abandonar os fundamentos da psicanálise Soares 2005 Nesse sentido a prática da psicanálise dentro das instituições apresenta algu mas especificidades importantes de serem esclarecidas Primeiro observase o fato de que as instituições têm clientela e modos de funcionamento específicos Guirado 2006 Consequentemente pensamos que a implementação do referen cial teóricopsicanalítico nas práticas de plantão psicológico traz a marca da ins tituição na qual esse serviço acontece já que é predominantemente ela que esta belece parte dos limites e das metas do serviço como horário de funcionamento disponibiliza seu espaço físico a localização geográfica e por vezes a equipe De modo análogo são esses condicionantes institucionais que determinam os usuá rios do serviço Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 151 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Segundo acreditamos que a psicanálise está também submetida aos princípios da modalidade de plantão psicológico Sendo o plantão psicológico uma concep ção específica que visa a atender a um objetivo delimitado qual seja a clarificação da demanda e o eventual apaziguamento de um sofrimento insustentável para o usuário cabe à psicanálise alinharse a tal objetivo balizandose pois tanto pela instituição na qual o serviço é oferecido quanto pela proposta do plantão No caso específico de nossa experiência isso significa colocar a psicanálise no que lhe for possível sem descaracterizála a serviço do objetivo do plantão sem desconsiderar o espaço institucional da clínica psicológica de uma universidade Proporcionalmente as possibilidades de horários a duração dos atendimentos e a equipe de plantonistas formada majoritariamente por graduandos refletem diretamente aquele espaço institucional Em rigor o que define uma instituição é o conjunto de normas e pactos que a organizam ou seja sua referência à lei Soares 2007 Para Soares 2007 a lei é ainda aquilo que barra o excesso estruturando o que é permitido e o que é proibi do possibilitando um laço social O desafio do plantão psicológico psicanalítico é senão aquele de sustentar uma prática psicanalítica em meio a dois laços sociais que não são psicanalíticos em princípio Compreendemos que essa prática seja possível quando se encara a psicanálise como uma atitude uma conversão do olhar e da escuta Green 2004 Macedo Falcão 2005 Monteiro 2012 Além de seus fundamentos teóricos a psicanálise tem a ofertar nas novas configurações sociais e de trabalho principalmente sua postura ou seja a posição singular que o analista deve ocupar para potencializar o acesso e a escuta do que não está consciente e desencadear um efeito terapêutico Na psicanálise aplicada é perceptível a existência e a insistência dos fenômenos fundamentais dos quais a psicanálise se ocupa como o inconsciente a transferência a associação livre e a resistência Laplanche 1987 Rosa 2004 Kobori 2013 No que se refere aos fenômenos da transferência lembramos que ela já havia sido identifica da por Freud como um componente importante do tratamento desde o conhecido caso de Anna O Já em 1909 Ferenczi observou que a transferência existe em todas as relações humanas como professoraluno médicopaciente etc Roudinesco Plon 1998 O termo faz referência a um dos processos do tratamento psicanalítico ante o qual os desejos inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir no âmbito da relação analítica na pessoa do analista colocado na posição desses diversos objetos Roudinesco Plon 1998 pp 766767 Vários psicanalistas dedicaram textos e exposições acerca desse fenômeno li gandoo principalmente à repetição à resistência e à projeção Lacan fez diversas tentativas de teorizar a transferência até que em seu seminário de 19611962 relaciona esse fenômeno com o engano por parte do paciente de atribuir ao ana ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 152 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 lista um saber absoluto como se ele conhecesse previamente a cadeia de senti dos e as consequências pessoais das vivências do paciente Acreditase que essa perspectiva dos fenômenos transferenciais interessa sobremaneira à modalidade de prontoatendimento uma vez que não há o estabelecimento de um vínculo duradouro entre o usurário e o plantonista de modo que não se chega a expe rienciar ou ter que lidar com a transferência como projeção das figuras parentais Roudinesco Plon 1998 Pensar a transferência no contexto institucional especialmente no plantão psi cológico é portanto tratar o conceito para além da projeção de figuras parentais pensandoo em sua dimensão simbólica que endereça a demanda a um saber a um serviço que supostamente sabe como resolver as demandas do sujeito Ca zanatto Martta Bisol 2016 Trabalhar com uma fala endereçada permite ao plantonista conduzir o atendimento de modo a desdobrar e clarificar as interro gações Coutinho Rocha 2007 Essa dimensão simbólica da transferência aparece com vigor em nossa expe riência Acreditamos que é o fato de oferecermos o plantão na clínica psicológica de uma universidade que intensifica no usuário uma busca de saber sobre seu sofrimento facilitando sobremaneira o acolhimento da orientação fundamental fale na medida em que há também uma valorização daquele que está escutando O clássico método terapêutico e investigativo da psicanálise a associação livre também tem sua importância preservada na modalidade do prontoatendimento Uma vez que o usuário solicita algum saber durante o atendimento a resposta do plantonista referenciado pela psicanálise é muito mais um método de atingir o sa ber do que a comunicação de verdades prévias e de tipos clínicos Assim por meio da escuta e não da proliferação de verdades acadêmicas a tarefa deve ser aquela de dar vazão ao discurso de propiciar o aparecimento do nexo semântico entre os efeitos narrados os sintomas e suas possíveis causas Dessa forma outro conceito caro à psicanálise toma vida na medida em que a proposta é de que o usuário fale sem se preocupar com a censura seja a censura de sentimentos ou de fantasias so cialmente condenáveis e principalmente sem a censura lógica isto é sem a preo cupação de apresentar uma fala racional inscrita na lógica objetiva e unicausal Celes 2005 Foster 2010 Uma fala livre sobretudo da tentativa de atribuir um nome técnicocientífico ao conjunto do sofrimento narrado e comprometida com a história e o sentido singular que culmina em tal sofrimento Na mesma medida a aplicação da regra fundamental possibilita a emergência dos pontos insuportá veis para o sujeito de certas passagens e acontecimentos da vida que mais do que outros exigem defesas excessivas paralisantes ou o perfeito contrário revelam a completa falta de defesas em pontos específicos Foster 2010 Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 153 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 O atendimento de plantão e o tempo da retificação subjetiva O lugar do praticante da psicanálise nos serviços oferecidos por instituições está em constante criação e desenvolvimento e tal movimento criativo atuali zação ou articulação são implementados invariavelmente por meio da ética da psicanálise Moretto Priszkulnik 2014 É a ética da psicanálise que sustenta seus fundamentos teóricos e assegura a produção de determinados efeitos Lacan 19601988 Assim a prática da psicanálise pautada por sua ética pode fazerse presente em modalidades de atendimento como o plantão psicológico O trabalho de um plantonista que se paute pela psicanálise é antes de tudo um trabalho de escuta ativa Colocandose nessa posição ele assegura a emergência de um cenário propício para a produção de efeitos terapêuticos e para o exercício analítico Como explica Silva 2014 p 207 aquele que se dispõe a escutar já se instala automaticamente no lugar do Outro Como se estivesse diante de um orá culo a pessoa fala a quem supõe que poderá ajudála de alguma maneira A aproximação feita aqui entre o atendimento de plantão e a análise psicanalí tica devese a partir da semelhança entre o que de fato ocorre no encontro tera pêutico em plantão e os primeiros tempos do tratamento analítico Há diferentes fases no tratamento analítico como pontua Nasio 1999 separadas pelo critério de relação que o analisante tem com sua fala Como primeira fase no processo de análise há a retificação subjetiva que ocorre nas primeiras entrevistas Nasio 1999 Cremos então que o atendimento de plantão pautado pela prática e pela ética da psicanálise seria muito semelhante às primeiras entrevistas que visam à introdução do usuário em uma primeira localização de sua posição na realidade que ele apresenta Na literatura produzida a respeito do plantão psicológico esse processo seria a clarificação da demanda A fase de retificação subjetiva é um momento no qual o analista identifica a relação que o sujeito mantém com seus sintomas qual a relação de sentido que ele dá a seus sofrimentos Nasio 1999 O autor aponta que nessa fase é importante discernir bem o motivo da consulta e como foi a decisão de recorrer a um outro para a resolução de seus problemas É nesse momento da análise que o analis ta pode dar sua impressão minha impressão quer dizer dar uma resposta que consiste em restituir ao paciente alguma coisa da relação que ele tem com o seu sofrimento Nasio 1999 p 12 Outro ponto a ser explorado na fase de retifica ção subjetiva em uma análise é saber identificar a demanda implícita para além da queixa explícita trazida Nasio 1999 Os processos vistos em uma fase de retificação subjetiva em análise psicanalítica e em um atendimento de plantão psicológico são muito semelhantes ambos dão sub sídio para que o indivíduo conheça de fato seu sofrimento clarifique sua deman da Sob essa perspectiva o plantonista que atender pela psicanálise poderá ouvir o ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 154 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 querer dizer que a narrativa comporta E se o encontro permitir poderá chegar a um segundo momento reenviálo ao sujeito no sentido de implicálo com aquilo que é da ordem de seu desejo e das impossibilidades de enfrentamento e transfor mação dessas condições Lerner Fonseca Sayão Machado 2014 p 201 Esperamos que no encontro entre plantonista que segue a ética da psicanálise e usuário o primeiro possa produzir um efeito no segundo um desprendimen to de identificações e posições já engessadas para que então se tenha a opor tunidade de provocar um movimento de mudança no sujeito Simões 2011 O reposicionamento elementar é oferecer ao usuário uma escuta digna de seu sofrimento Não se ocupa o lugar do Outro para reforçar as faltas e os descami nhos do sujeito mas para reconhecer os efeitos das faltas e descaminhos e tentar enganchálos em palavras Por meio do Outro é possível desinvestir a queixa de sensação de dor e angústia e investila de possibilidade de significação Re pousar o sofrimento muitas vezes paralisante no ouvido do plantonista para poder voltar a moverse e buscar uma solução O sujeito que sofre em sua emergência mostra que algo lhe apontou uma divi são fugiu da ordenação habitual descontinuou Reconhecer essa ruptura pode viabilizar ao sujeito reatar o fio da sua história encontrando uma saída possível para o malestar inerente à condição humana Simões 2011 p 7 A clínica psicanalítica que se propõe no plantão visa a dar visibilidade à subje tividade apostando na singularidade do sujeito e quando possível introduzindo a dimensão do posicionamento subjetivo daquele que fala diante dos fenômenos que o habitam Simões 2011 p 84 a fim de que o usuário perceba o desencadea mento de sua crise localizese diante de sua subjetividade e que essa experiência possa produzir um efeito de divisão no sujeito possibilitandolhe quem sabe a construção de uma questão Simões 2011 p 83 A função do plantonista que age e pensa pela psicanálise quando possibilitada pelo encontro de desenvolverse um pouco mais avança para a configuração do plantão como um potente locus de criação Não sendo um espaço no qual preva lece a posição de mestria não sendo o plantonista o detentor do saber a surpresa pode aparecer a criação é privilegiada A criação de sínteses sobre o sofrimento e a criação de saídas plausíveis quebram a cadeia mortífera de repetições A relação proposta permitirá que o sujeito invente pontos de basta o que também cha mamos pontos de ancoragem Stevens 2007 p 81 e assim possa mesmo que minimamente reconhecer o gozo ao qual está exposto Considerações finais A psicanálise e as diferentes lógicas institucionais podem ter dissonâncias mas têm possibilidades e potencialidades que merecem ser examinadas e divulgadas A psicologia como um instrumento de promoção de saúde está ao alcance da Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 155 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 população principalmente por meio das instituições de modo que nosso esforço em um serviço de plantão psicológico de abordagem psicanalítica é favorecer que o indivíduo tocado seja tratado como sujeito tal como entendido pela psicanálise O que a psicanálise tem de mais importante para contribuir no campo da pro moção de saúde não é sua noção de psicopatologia nem de desenvolvimento psi cossexual mas sua postura respeitosa e extremamente interessada no discurso singular sobre o sofrimento de cada indivíduo Talvez a mais importante con tribuição da psicanálise seja o pressuposto de que o trabalho é sempre singular e de que só acontece no encontro com um outro de maneira que não se trata de simplesmente transpor teorias e técnicas para a prática o trabalho acontece na e pela transferência e a forma como se estabelece dependerá da singularidade de cada sujeitoinstituição e da história de cada tratamento Cazanatto Martta Bisol 2016 p 490 Ao atuar nas instituições o praticante da psicanálise vai depararse com inú meras dificuldades sobretudo em relação a estabelecer o lugar que ocupa naquele contexto O desafio consiste em prosseguir sem perder de vista o específico de sua posição Monteiro Queiroz 2006 p 111 ou seja a possibilidade de localizar e trazer para a cena o que dela está excluído fazendo circular a causa do desejo Consideramos por fim que o plantão psicológico como um dispositivo clínico bastante atual pode ser realizado com o auxílio do saber psicanalítico mostran dose um território privilegiado para o apaziguamento e por vezes a elaboração de acontecimentos insuportáveis do malestar inerente à condição humana Referências bibliográficas Braga T B M Mosqueira S M Morato H T P 2012 Cartografia clínica em plantão psicológico investigação interventiva num projeto de atenção psi cológica em distrito policial Temas em Psicologia 202 555570 Recuperado de httpdxdoiorg109788TP2012220 Campos A P S Cury V E 2009 Atenção psicológica clínica encontros te rapêuticos com crianças em uma creche Paidéia 1942 115121 Recuperado de httpdxdoiorg101590S0103863X2009000100014 Cazanatto E Martta M K Bisol C A 2016 A escuta clínica psicanalí tica em uma instituição pública construindo espaços Psicologia Ciência e Profissão 362 486496 Recuperado de httpdxdoiorg1015901982 3703000742014 Celes L A 2005 Psicanálise é trabalho de fazer falar e fazer ouvir Psychê 916 2548 Conselho Federal de Psicologia 1988 Quem é o psicólogo brasileiro São Paulo Edicom Costa L S Carvalho M C N Wentzel T R 2009 Intervenção psicológica focal em adolescentes autores de ato infracional Ciências Cognição 142 130146 ORTOLAN Maria Lúcia Mantovanelli SEI Maíra Bonafé BEZERRA Paulo Victor e VICTRIO Kawane Chudis 156 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Coutinho L G Rocha A P R 2007 Grupos de reflexão com adolescentes ele mentos para uma escuta psicanalítica na escola Psicologia Clínica 192 7185 Dutra A G C Franco I F 2007 Um estudo sobre a psicanálise aplicada em um hospital geral Arquivos Brasileiros de Psicologia 592 270282 Farinha M G Souza T M C 2016 Plantão psicológico na delegacia da mulher experiência de atendimento sócioclínico Revista da SPAGESP 171 6579 Figueiredo L C M 1995 Revisitando as psicologias da epistemologia à ética nas práticas e discursos psicológicos São Paulo Educ Petrópolis Vozes Foster M 2010 Associação livre de ideias via régia para o inconsciente a es pecificidade do método Jornal de Psicanálise 4379 201216 Freud S 1976 Linhas de progresso na terapia analítica In S Freud Edição stan dard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Vol XVII pp 171181 Rio de Janeiro Imago Trabalho original publicado em 1919 Furigo R C P L Sampedro K M Zanelato L S Foloni R F Ballalai R C Ormrod T 2008 Plantão psicológico uma prática que se consolida Boletim de Psicologia 58129 185192 Gonçalves L O Farinha M G Goto T A 2016 Plantão psicológico em unidade básica de saúde atendimento em abordagem humanistafenomeno lógica Revista da Abordagem Gestáltica 222 225232 Green A 2004 O silêncio do psicanalista Psychê 814 1338 Guedes M A 2006 Intervenções psicossociais no sistema carcerário feminino Psicologia Ciência e Profissão 264 558569 Recuperado de httpdxdoi org101590S141498932006000400004 Guirado M 2006 A psicanálise dentro dos muros de instituições para jovens em conflito com a lei Boletim de Psicologia 56124 5366 Kobori E T 2013 Algumas considerações sobre o termo psicanálise aplicada e o mé todo psicanalítico na análise da cultura Revista de Psicologia da Unesp 122 7381 Kupfer M C M 2005 Psicanálise e instituições In I B Vita F C B An drade Desfiando a trama a psicanálise nas teias da educação pp 2735 São Paulo Casa do Psicólogo Lacan J 1971 Ato de fundação In J Lacan Outros escritos pp 235264 Rio de Janeiro Jorge Zahar Trabalho original publicado em 1964 Lacan J 1988 O seminário livro 7 a ética da psicanálise Rio de Janeiro Jorge Zahar Trabalho original publicado em 1960 Laplanche J 1987 Novos fundamentos para a psicanálise São Paulo Martins Fontes Lerner A B C Fonseca P F Sayão Y Machado A M 2014 Plantão ins titucional uma modalidade de intervenção face ao malestar contemporâneo na educação Estilos da Clínica 191 199208 Macedo M M K Falcão C N B 2005 A escuta na psicanálise e a psicaná lise da escuta Psychê 915 6576 Possibilidade da psicanálise no serviço de plantão psicológico um lugar de retificação subjetiva 157 Stylus Revista de Psicanálise Rio de Janeiro no 39 p 147158 julho 2020 Monteiro C P Queiroz E F 2006 A clínica psicanalítica das psicoses em instituições de saúde mental Psicologia Clínica 181 109121 Monteiro M P 2012 Novos desafios para a psicanálise Cógito 13 2731 Moretto M L T Priszkulnik L 2014 Sobre a inserção e o lugar do psicana lista na equipe de saúde Tempo Psicanalítico 462 287298 Mota S T Goto T A 2009 Plantão psicológico no CRAS em Poços de Cal das Fractal Revista de Psicologia 213 521529 Recuperado de httpdxdoi org101590S198402922009000300007 Mozena H 2009 Plantão psicológico um estudo fenomenológico em um serviço de assistência judiciária Dissertação de mestrado Pontifícia Universidade Católica de Campinas Campinas Nasio J D 1999 Como trabalha uma psicanalista Rio de Janeiro Jorge Zahar Ortolan M L M Sei M B 2016 Plantão psicológico no serviçoescola de psicologia da Universidade Estadual de Londrina Revista Brasileira de Exten são Universitária 71 2935 Recuperado de httpsdoiorg10243172358 039925Yv7i13079 Pan M Zonta G A Tovar A 2015 Plantão institucional relato de experi ência de uma intervenção psicológica na UFPR Psicologia em Estudo 204 555562 Recuperado de httpdxdoiorg104025psicolestudv20i427594 Ramos M T 2012 Plantão psicológico em instituição de longa permanência para idosos um estudo fenomenológico Dissertação de mestrado Pontifícia Universidade Católica de Campinas Campinas Rasera E F Issa C L G 2007 A atuação do psicólogo em ONGAids Psicologia Ciência e Profissão 273 566575 Recuperado de httpdxdoi org101590S141498932007000300015 Rosa M D 2004 A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos meto dologia e fundamentação teórica Revista MalEstar e Subjetividade 42 329348 Rosário A B Kyrillos Neto F 2015 Plantão psicológico em uma clínica escola de psicologia saúde pública e psicanálise A Peste Revista de Psicaná lise e Sociedade e Filosofia 71 3748 Recuperado de httpsdoiorg105546 pestev7i130463 Rosenberg R L Org 1987 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clínica da urgência subjetiva efeitos da psicanálise em um pronto atendimento Dissertação de mestrado Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte Soares J M 2007 Possibilidades e limites do tratamento psicanalítico da psicose infantil em instituições de saúde mental Dissertação de mestrado Universi dade de São Paulo São Paulo Soares T C 2005 A vida é mais forte do que as teorias o psicólogo nos servi ços de atenção primária à saúde Psicologia Ciência e Profissão 254 590601 Recuperado de httpdxdoiorg101590S141498932005000400008 Stevens A 2007 A instituição prática do ato In Associação do Campo Freu diano Org Pertinências da psicanálise aplicada pp 7685 Rio de Janeiro Forense Universitária Szymanski H 2004 Plantão psicoeducativo novas perspectivas para a prática e pesquisa em psicologia da educação Psicologia da Educação 19 169182 Recebido 14062019 Aprovado 02032020 147 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 DOI 105433167903832017v38n2p147 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Psychological emergency attendance through a psychoanalytical listening Ana Claudia Broza Daher1 Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan2 Maíra Bonafé Sei3 Kawane Chudis Victrio4 Resumo O plantão psicológico se configura como uma intervenção psicológica implementada no Brasil a partir de um referencial humanista abordagem teórica ainda predominante na literatura sobre o tema Organiza se como um tipo de intervenção clínica que oferta um atendimento pontual realizado o mais próximo possível da necessidade do indivíduo por meio do qual podese fazer além de um acolhimento também um esclarecimento acerca da demanda desta pessoa Tendo em vista a importância e pertinência desta prática buscouse ofertála em 2015 em um serviçoescola de Psicologia de uma universidade pública Diante deste cenário almejouse discutir a prática do plantão psicológico realizada por meio de um projeto de extensão enfatizando a escuta psicanalítica empreendida neste contexto Considerase que no plantão psicológico o plantonista acaba por se deparar com a escuta do inesperado do inconsciente que insiste para que seja ouvido Esperase assim que ao mesmo tempo em que é escutado o próprio sujeito que fala se ouça e que esta escuta possa de alguma forma contribuir para que ele se reposicione ou ressignifique o motivo que o fez procurar o atendimento Palavraschave Plantão psicológico Psicanálise Serviçoescola de Psicologia Abstract The psychological emergency attendance configures itself as a psychological intervention implemented in Brazil from a humanist framework theoretical approach that still prevails in the literature on the subject It organizes itself like a kind of clinical intervention that offers a punctual service accomplished the closest possible to the individuals necessity whereby its possible to make besides a reception also an enlightenment about the persons demand Considering the importance and relevance of this practice it was sought to offer it in 2015 in a psychology school service of a public university In this scenario the objective of this paper was to discuss the practice of psychological emergency attendance held through an extension project emphasizing the psychoanalytical listening undertaken in this context It is considered that in psychological emergency attendance the psychologist eventually is faced with the listening of the unexpected the unconscious that insists to be heard It is expected therefore that at the same time it is heard the individual who speaks can listen to himself and that this listening can somehow contribute to his repositioning or resignifying the reason that made him seek care Keywords Psychological emergency attendance Psychoanalysis Psychological university clinic 1 Psicóloga Especialista em Avaliação Psicológica e em Psicologia Clínica e da Saúde 2 Psicóloga Residente em Saúde da Família pela Universidade Estadual de Londrina Email ortolan78gmailcom 3 Psicóloga Doutorado e PósDoutorado em Psicologia Clínica pelo IPUSP Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina 4 Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina 148 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al Plantão Psicológico Histórico e Panorama Geral O serviço de Plantão Psicológico foi inaugurado no Brasil no início dos anos 1960 por Rachel Rosemberg Tal profissional implantou este tipo de atendimento no Serviço de Aconselhamento Psicológico SAP do Instituto de Psicologia da USP IPUSP tendo a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers como referencial no intuito de oferecer um atendimento diferenciado à clientela que procurava o serviço constituindose como uma alternativa às longas filas de espera FUJISAKA et al 2013 ROCHA 2011 Apresentase como uma modalidade de atendimento de tipo emergencial que almeja acolher o sujeito no momento mais próximo de sua necessidade auxiliandoo a manejar seus recursos e limites BRESCHIGLIARI JAFELICE 2015 Tratase assim de uma intervenção realizada sem agendamento prévio por meio do acolhimento dado por um profissional que se posiciona à espera do interessado em um local e horário previamente determinados Pode ser também intitulado como pronto atendimento psicológico denominação que busca afastar a prática da conceituação adotada no campo médico O plantão ou pronto atendimento psicológico não dá ênfase à sintomatologia do sujeito mas sim às suas potencialidades sua experiência como um todo levando em conta seus variados contextos É importante ressaltar que esta modalidade de intervenção em um serviçoescola de Psicologia não comporta determinadas demandas tais como emergências psiquiátricas surtos psicóticos no caso Destinase ao acolhimento das pessoas que a ele recorrem de maneira espontânea ou por encaminhamento de serviços parceiros em busca de auxílio para questões de caráter emocional GOMES 2012 No que se refere ao trabalho efetuado pelo plantonista entendese que este se vê frente a uma prática complexa haja vista a necessidade de desenvolver uma disponibilidade para se defrontar com o inesperado e com a possibilidade de que o encontro com o paciente seja único CHAVES HENRIQUES 2008 Como se configura como um atendimento frequentemente sem continuidade o plantonista deve estar preparado para acolher variados tipos de demanda sem um planejamento prévio dando um retorno imediato àquele que busca o plantão SCORSOLINICOMIN 2014 Mesmo com esta complexidade notase um início e uma presença posterior deste tipo de intervenção nos serviçosescola de Psicologia DOESCHER HENRIQUES 2012 GOMES 2008 PAPARELLI NOGUEIRAMARTINS 2007 espaços de formação de futuros psicólogos clínicos Um exemplo disto trata da implantação do plantão psicológico realizada no serviçoescola de psicologia em uma universidade pública que será aqui apresentada Nesta Instituição de Ensino Superior o plantão psicológico foi iniciado no ano de 2015 sendo denominado institucionalmente como Pronto Atendimento Psicológico Tendo em vista a dificuldade de se fazer alterações na grade curricular que demandam extensos trâmites institucionais optouse pela inserção deste serviço por meio de um projeto de extensão e não como disciplina obrigatória como foi feito na USP Com isso os acolhimentos acabavam sendo realizados por estudantes de últimos anos do curso de Psicologia vinculados voluntariamente ao projeto mas também poderiam ser realizados por psicólogos graduados vinculados à atividade O plantão psicológico organizavase como uma intervenção clínica oferecida diariamente no período do almoço além de ser oferecido ao longo de todo horário comercial da quartafeira Tendo em vista o caráter de plantão não era necessário o agendamento prévio do atendimento bastando que o interessado comparecesse no horário disponibilizado para esta atividade 149 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Como se organizava como um projeto de extensão visava não só o oferecimento de um serviço psicológico para a comunidade mas também se atentava em proporcionar ganhos no campo da formação do estudante no sentido de aprimorar o raciocínio deste e seu manejo clínico Neste caso entendese que se qualifica o estudante para uma diferente modalidade de atendimento clínico fomentando o papel social desempenhado pelo psicólogo Notase que a prática de plantão psicológico no cenário nacional baseiase mais amplamente na perspectiva humanista SCORSOLINI COMIN 2015 SOUZA SOUZA 2011 com propostas prioritariamente pautadas na Abordagem Centrada na Pessoa SCORSOLINI COMIN 2014 e Abordagem Fenomenológico Existencial GONÇALVES FARINHA GOTO 2016 Tendo em vista este cenário almejase por meio deste trabalho discutir como é o olhar psicanalítico a respeito dessa prática pensando mais especificamente nas contribuições de uma escuta psicanalítica nos atendimentos realizados nos plantões Tratase de um estudo teóricoclínico que visa articular a literatura referente ao plantão psicológico com os pressupostos teóricos da clínica psicanalítica com ilustração clínica sobre o atendimento em plantão psicológico realizado a partir desta perspectiva No que se refere aos aspectos éticos compreendese que este trabalho respeita a Resolução n 5102016 do Conselho Nacional de Saúde BRASIL 2016 que indica não ser necessária a tramitação por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de trabalhos que proponham um aprofundamento teórico de situações que emergem espontânea e contingencialmente na prática profissional Nestes casos entretanto deve haver um cuidado quanto à apresentação dos dados de forma que estes não favoreçam a identificação dos sujeitos Considerações Gerais Sobre a Clínica Psicanalítica Em 1896 Sigmund Freud criou o termo psicanálise para dar nome a um método particular de psicoterapia pautado na investigação dos processos mentais inconscientes ROUDINESCO PLON 1998 Com a psicanálise Freud inventou um procedimento para que a verdade falasse revelar os processos inconscientes que produzem os sintomas ROSA 2004 p 341 Entendese que a psicanálise como método de tratamento é produtora de efeitos terapêuticos MARCOS OLIVEIRA JÚNIOR 2013 Todavia a psicanálise não tem como objetivo uma cura pelo menos não está aos moldes do tratamento clínico médico até porque Freud concebeu a análise como interminável MARCOS OLIVEIRA JÚNIOR 2013 p 19 Podese falar que o processo analítico almeja sim uma cura apenas se esta for ao sentido trazido por Lacan 1998 p 936 com a compreensão desta palavra não como designação propriamente de eliminação de um mal mas em sintonia com a palavra francesa cure vista como sinônimo de tratamento análise ou tratamento analítico Quanto ao processo analítico entendese que em psicanálise o falar corresponde a um escutar O analisando fala o que foi esquecido e o analista escuta de modo que o que falou também escute o que fala o que não sabe ou não quer saber Nesta perspectiva o escutar do analista pressupõe um ato e não uma simples percepção CELES 2005 O processo psicanalítico constituise então por meio da combinação entre as associações livres do analisando e a atenção flutuante do analista No que concerne à associação livre é solicitado ao paciente que este comunique tudo o que lhe ocorre sem deixar de revelar algo que lhe pareça insignificante vergonhoso ou doloroso CELES 2005 MACEDO FALCÃO 2005 Quanto à atenção flutuante esta se relaciona com o desprendimento 150 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al do analista de suas influências conscientes de forma a deixar a atenção uniformemente suspensa e escutar o paciente sem o privilégio a priori de qualquer elemento de seu discurso CELES 2005 MACEDO FALCÃO 2005 A associação livre e a atenção flutuante são processos concomitantes com o que se configura escuta psicanalítica Esta escuta não tem função passiva pois coloca em movimento o sujeito fazendoo falar depararse com o seu não saber com suas dúvidas sobre si e sobre o mundo BASTOS 2009 A escuta psicanalítica é ativa provoca o analisando a se colocar diante de suas próprias palavras levao a examinar e se dar conta de sua própria singularidade e se implicar com ela isto é dar consequências decidir o que fazer com isso BASTOS 2009 ROSA 2004 O escutar demanda uma abstinência do analista implicandoo a suportar aquela relação à transferência no caso Aqui o analista deve ocupar o lugar de supostosaber sobre o sujeito uma estratégia para que o sujeito supondo que fala para quem sabe sobre ele fale e possa escutarse e apropriarse de seu discurso ROSA 2004 p 343 Ao escutar o analista deve voltar o seu inconsciente em direção ao inconsciente do paciente deve se atentar às palavras ditas e silenciadas tendo em vista que há algo além do que foi dito para ser escutado Compreendese que o inconsciente do paciente insiste para que seja escutado funciona assim a partir de um mecanismo de repetição A repetição é movida por componentes psíquicos recalcados que se atualizam num encontro analítico O que se repete é algo que por mais que se tente não se pode recordar é o impossível de se dizer ALMEIDA ATALLAH 2008 Ao repetir a pessoa em análise rodeia suas questões sem conseguir efetivamente localizálas necessitando da ajuda do analista para apontar o caminho Neste sentido o trabalho em análise se desdobra a partir dos componentes contidos neste fenômeno constatado a partir da fala do analisando ALMEIDA ATALLAH 2008 A psicanálise em seu sentido de um conjunto de métodos para que se analise o inconsciente tem então uma potencialidade além da clínica ortodoxa de divãs e settings extremamente específicos Há um movimento possível de praticar a psicanálise em outros contextos e principalmente de fazer psicanálise em outros dispositivos por meio do uso das ferramentas que ela oferta BIRMAN 1999 BUENO PEREIRA 2002 CASTANHO 2009 MORETTO TERZIS 2010 O próprio Freud 1996 p 181 em Linhas de progresso na teoria psicanalítica aponta a possibilidade de em algum momento o método psicanalítico necessitar ser readaptado quando defende que mais cedo ou mais tarde defrontarnosemos então com a tarefa de adaptar a nossa técnica às novas condições Ao refletir sobre o plantão psicológico entendese que este é uma prática clínica da contemporaneidade compreendendo que a psicanálise pode sim ser a teoria por detrás dessa prática REBOUÇAS DUTRA 2010 Tanto o modelo de plantão quanto a análise tradicional embasada no referencial psicanalítico exigem do plantonista ou do analista o mesmo comprometimento com a escuta e com o acolhimento Ainda como semelhança entre estas práticas ambas promovem em suas devidas proporções um espaço de escuta a alguém que apresenta uma demanda psíquica e oferece um momento no qual esse sujeito possa ressignificar o seu estar no mundo REBOUÇAS DUTRA 2010 p 19 Quando às diferenças entre o plantão psicológico e a análise respaldadas na psicanálise têmse questões referentes às dimensões das demandas tratadas durabilidade do tratamento e aprofundamento em relação às questões trazidas pelo sujeito Ao contrário de um tratamento analítico o qual se configura como um processo demorado que almeja mudanças profundas e extensas o plantão psicológico é uma prática na qual operam objetivos e tempo limitados O serviço de plantão psicológico foge aos moldes tradicionais de setting psicanalítico quanto à frequência e continuidade por conta da 151 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica possibilidade do encontro com o paciente ser único Em um plantão psicológico no qual se atue a partir de uma perspectiva psicanalítica fazse necessário a adaptação da técnica à demanda trazida por quem procura este tipo de serviço A questão fundamental delegada ao plantonista seria então estar atento àquilo que o paciente traz de mais urgente focando os esforços ao longo do encontro em auxiliálo a organizar tal aspecto A Escuta Psicanalítica no Plantão Psicológico O encontro no qual plantonista e sujeito em sofrimento psíquico deparamse não deixa de ser um encontro analítico mesmo este sendo único e breve Portanto a escuta psicanalítica destacase como uma questão fundamental no atendimento em plantão psicológico Assim como em um processo de análise o plantonista também tem um espaço que lhe permite dotar da técnica da escuta psicanalítica pressupondo que ele tenha uma atenção às manifestações do inconsciente que se apresentam no decorrer da fala do sujeito BASTOS 2009 A escuta do inesperado no plantão é também a escuta de um nãodito do discurso do sujeito ROSA 2004 Assim naquele encontro que possivelmente será único e breve o plantonista vai mais além do que a investigação sintomatológica quando começou e com que frequência isso ocorre O plantonista tem então a possibilidade de tratar psicanaliticamente aquele sujeito que vem procurar atendimento no plantão psicológico na medida em que por meio da escuta psicanalítica o terapeuta consegue escutar o inconsciente escuta esta possibilitada pela transferência estabelecida ali naquele encontro a fim de produzir um saber junto com o sujeito ROSA 2004 Sobre esse saber que plantonista e sujeito produzem juntos Freud já supunha que há no paciente um saber que nem mesmo ele sabe que tem mas que pode ser desperto por meio da escuta do analista atrelado à regra de associação livre BASTOS 2009 Rosa 2004 p 341 entende que o saber está no sujeito um saber que ele não sabe que tem e que se produz na relação e que o plantonista pratica a escuta do sofrimento e descobre que não deve eliminálo mas criar uma nova posição diante do seu sentido ROSA p 341 O cotidiano do plantão realizado no serviço escola de Psicologia permitiu demonstrar este saber que está no sujeito e lhe é possibilitado realmente saber apenas durante o atendimento Na prática clínica do plantão várias vezes os sujeitos convocam o plantonista a ocuparem lugares de conselheiros na medida em que indagações com caráter afirmativo são feitas pelos sujeitos mas é isso que eu devo fazer não é Vieira e Anjos 2013 encontraram em relatos de experiência de plantonistas da clínica escola da UFPA esta posição em que plantonistas sentiramse colocados a partir do momento em que se propuseram a escutar psicanaliticamente em um só breve encontro os sujeitos em sofrimento posição de legitimação como se realmente fossem sujeitos do saber e não supostos saber A psicanálise então contribui nesse ponto a fim de amparar esse plantonista dandolhe respaldo com a teoria do que seria o escutar psicanalítico no setting de plantão psicológico Neste sentido podese questionar É uma escuta interventiva Que dimensões têm essa intervenção As contribuições de Rosa 2004 ao escrever sobre a pesquisa psicanalítica e sua fundamentação teórica são de grande valia no entrelace entre os apontamentos da psicanálise e a prática do plantão psicológico Entendese que o método adotado no plantão é uma escuta ativa como já dito juntamente com uma interpretação do sujeito do desejo que é pontuado quando se dota desta escuta ativa para a narrativa do usuário do plantão aquele que transparece no não dito do sujeito mas escutado pelo plantonista Quanto ao plantão psicológico pautado na psicanálise em comparação àquele empreendido pela Abordagem Centrada na Pessoa ACP 152 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al considerase que assim como o que é proposto na escuta psicanalítica um fazerse escutar do saber do sujeito a escuta centrada na pessoa entende que o sujeito tem uma capacidade para crescer e se desenvolver na direção de suas potencialidades intrínsecas ZANONI 2008 p 16 Entendese que no atendimento essas ditas potencialidades podem vir a serem escutadas pelo próprio sujeito Além disso a ACP também coloca o quanto o encontro entre plantonista e sujeito pode tornar o cliente mais autônomo para encontrar soluções para suas aflições psicológicas ZANONI 2008 p 16 o que está muito vinculado ao aspecto da abordagem psicanalítica que permite uma responsabilização do sujeito perante seu sofrimento tornandoo assim consciente de seus processos De uma maneira geral as duas escutas psicanalítica ou humanista em modalidade de atendimento em plantão entendem que o encontro plantonista e sujeito pode ser potencializador Na ACP temse que este encontro é um processo de ajudar a pessoa em transição a experienciar e dar sentido ao que se experiencia acreditando na sua própria capacidade de assumir novas situações de vida ZANONI 2008 p 21 E na psicanálise por meio da escuta clínica temse o objetivo de fazer com que os pacientes resgatem suas narrativas tornandose protagonistas de sua própria história MENDES PARAVIDINI 2007 p 114 possibilitando a estes a inserção em um mundo desejante Ilustrações Clínicas Como forma de ilustrar os conceitos teóricos acima discutidos optouse por apresentar uma ilustração clínica por meio de dois casos atendidos no plantão psicológico de um serviçoescola de psicologia sob uma perspectiva de demanda emergencial por meio do referencial psicanalítico Os atendimentos deramse de forma única e foram realizados por uma psicóloga que atuava no referido serviço O primeiro caso clínico referiuse a uma pessoa do sexo feminino identificada como B com aproximados 20 anos de idade Procurou o plantão psicológico por demanda própria com a queixa de ansiedade e pensamentos negativos relacionados à vida e morte Apontou para a presença desses pensamentos negativos que a mesma identificava como pessimistas sic desde a préadolescência Viajou para fora do país em um programa de intercâmbio quando pensou ter diminuído os pensamentos ter visto a vida mais colorida sic Contudo logo após retornar ao país de origem os pensamentos e sensações voltaram com maior intensidade Relatou que no momento encontrava dificuldades em relacionamentos interpessoais Indicou não sentir vontade de sair de casa encontrar pessoas e ir para a faculdade Estava em um relacionamento amoroso mas sinalizava que não sabia por que ainda estamos juntos acho que não sinto mais nada por ele e além disso nós só brigamos sic Depois da descrição da queixa B falou sobre seu relacionamento familiar Relatou que em sua família as mulheres eram vistas como se estivessem abaixo dos homens Devido a isto sua mãe obedecia e admirava o marido sic o que acabava por causar incômodo em B Afirmou que apesar de amar sic tinha um complicado relacionamento com o pai já que este havia se envolvido em problemas que comprometeram toda a família e devido a isto não conseguia perdoálo Contou que falava pouco com o pai e que brigavam muito e que nessas brigas B chegou a dizer para o pai que não o admirava mais e que ele só havia trazido problemas Logo após B disse para a plantonista que iria contar outra coisa porém achava que não era importante A plantonista pontuou sua fala apontando para a importância que tinha B falar todos os pensamentos e sentimentos que lhe vinham à mente De acordo com Macedo e Falcão 2005 isto é o que concerne à associação livre permitindo que o sujeito coloque na fala tudo que ocorre consigo até mesmo o que lhe parece insignificante 153 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica Foi então que B relatou comportamentos autolesivos que implicam em atos de arranhar as pernas e usar objetos cortantes para ferilas A plantonista questionou em quais momentos isso acontecia e B expôs que se autolesionava todas as vezes em que sentia raiva e angústia sic descrevendo algumas situações nas quais havia se ferido até provocar machucados À medida que B recordava de certas situações afirmou que agora falando me parece que a dor provocada por mim mesma dói menos do que o que eu sinto sic A escuta de si e a apropriação das próprias palavras tornamse instrumento hábil no desbravamento dos territórios mais desconhecidos uma vez que o saber encontrase no próprio sujeito cabendo a quem oferece a escuta conduzir tal descoberta MACEDO FALCÃO 2005 B falou que decidiu procurar pelo plantão porque havia ficado mal dois dias antes devido ao fato de ter ficado sabendo que uma pessoa foco de sua admiração havia se suicidado A partir de então os pensamentos negativos dominaram e parece que a vida não fazia mais sentido sic A plantonista solicitou a B que falasse mais sobre essa admiração e ela indicou que sentia dificuldades em admirar as pessoas e se recordou de quando era criança e tinha esse sentimento pelo pai algo considerado impossível naquele momento A plantonista então colocou que o que estava sentindo poderia estar relacionado a seu pai pois provavelmente este seria a primeira pessoa que B admirara e a angústia relacionada à falta de sentido na vida na verdade poderia estar ligada à fantasia do que sentiria se fosse o pai quem tivesse falecido Este movimento de construção de um saber do sujeito juntamente com o plantonista é possível mediante a transferência Mesmo que o plantão se caracterize por um único encontro estudos como o de Rosa 2004 já entenderam que para o estabelecimento da transferência não são necessárias várias sessões Outros estudos QUINET 2009 VICTRIO SEI BEZERRA 2016 também citam a transferência prévia por exemplo no qual antes mesmo do encontro e no início dele já haveria um estado de projeção à figura do analista Este conceito de transferência prévia e a não necessidade de várias sessões para o estabelecimento de uma transferência faz com que o dispositivo do plantão psicológico seja possível e eficaz na medida em que a escuta ativa e transferência presentes dão subsídio para o sujeito se impor no mundo do desejo ORTOLAN SEI 2016 p 39 B relatou que fazia terapia há mais de um ano contudo disse sentirse desconfortável com a terapeuta sem contudo conseguir interromper a terapia Alegou não conseguir dizer à terapeuta que não queria mais continuar o trabalho A plantonista questionou o que sentia e pediu para que B falasse mais sobre isso B descreveu a situação como angustiante e disse sentir um misto de raiva e necessidade em relação à terapeuta Toda semana pensava em desmarcar as sessões entretanto eram poucos os dias em que conseguia ligar para desmarcar e quando saia da sessão tinha sentimentos de raiva Porém na semana seguinte mesmo com raiva sentia necessidade em ir à sessão Conforme Palhares 2008 a própria figura do analista no campo psíquico do paciente incita ao mesmo tempo tanto a transferência quanto a resistência e estas oposições acabam por determinar a dinâmica analítica A plantonista apontou os sentimentos de raiva e necessidade presentes na relação que estes poderiam se assemelhar em sua relação com o pai B associou verdade é o que sinto pelo meu pai mistura de raiva ao mesmo tempo em que preciso dele sic No que cabe ao plantão a plantonista pontuou a necessidade de cessar com os comportamentos repetitivos autolesivos afirmando que B precisava redirecionar e ressignificar os sentimentos de raiva e angústia que de certa forma eram responsáveis por isso Foi indicado que B avaliasse melhor a relação com a terapeuta A reavaliação deveria se dar no sentido de percepção se realmente não existia uma identificação positiva com a terapeuta ou se estava ocorrendo uma identificação com o pai E se fosse neste sentido B deveria colocar estas questões 154 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al para a terapeuta e trabalhálas na própria terapia Dessa forma foi orientado que B continuasse seu processo terapêutico com sua terapeuta ou então que procurasse por outra terapeuta haja vista este ser imprescindível para tratar suas questões referentes ao relacionamento com o pai assim como o pensamento e sentimentos negativos imbricados a suas relações familiares O segundo caso referiuse a uma pessoa do sexo feminino identificada como A com aproximados 25 anos de idade Foi encaminhada para atendimento psicológico por um serviço de saúde do município o qual a mesma havia procurado com a queixa de ansiedade extrema taquicardia e sensação de morte eminente A relatou ser a segunda vez em que havia procurado um serviço de saúde com as mesmas queixas A partir de então foi diagnosticada com depressão e começou a fazer o uso de medicação Além das queixas supracitadas A contou ter procurado o plantão psicológico por encontrar dificuldades para estudar aprender e manter o foco principalmente nos afazeres acadêmicos Relatou que antes de procurar ajuda além das crises de ansiedade tinha também dificuldades em sair de casa pois pensava que algo de ruim poderia acontecer tais como um assalto ou um acidente pensamentos que lhe levaram à sensação iminente de morte identificada como tinha medo de morrer sic Ao saber do serviço de plantão psicológico A resolveu procurar pelo serviço porém com dúvidas de sua eficácia justamente por este ser pautado em um atendimento único e breve Tendo em vista que o dispositivo de atendimento em forma de plantão na perspectiva da psicanálise assim como a análise propriamente dita se caracteriza primeiramente como a escuta do inconsciente ROSA 2004 esta é possível de ocorrer em um único encontro também Entendese que a oferta do espaço de escuta para o sofrimento do sujeito mesmo que seja apenas em um único encontro pode promover um reposicionamento do sujeito diante sua queixa fazendoo produzir um saber que lhe seja próprio LERNER et al 2014 Na medida em que este atendimento transcorreu A falou sobre sua família e frisou que era muito próxima da mãe Contou que familiares próximos sofriam de depressão e problemas emocionais gravíssimos sic A colocou que devido a isto pensava que suas crises de ansiedade e depressão eram uma espécie de herança genética A partir de então começou a falar a respeito do relacionamento com o pai Relatou que a mãe havia desenvolvido depressão por causa das traições que sofria por parte de seu marido e ver sua mãe sempre melancólica a deixava mal Recordou que quando ainda criança o pai levava os filhos na casa de amantes como álibi para os questionamentos da esposa A plantonista questionou se em algum momento A havia contado para a mãe A relatou que não contava para a mãe com receio de magoála A disse que as brigas em casa eram constantes e que a mãe sempre soube sobre as traições contudo dizia que não poderia pedir o divórcio em função dos filhos pois não tinha condições de sustentálos sozinha A descreveu sua relação com a mãe como ligação especial sic e chegou a relatar que nem mesmo tinha interesse em relacionamentos amorosos pois namorar alguém implicaria em ficar menos tempo com a mãe A plantonista apontou que a fala da mãe parecia suscitarlhe algo pois dizia de uma situação na qual havia abdicado de seu bem estar em função dos filhos e por isso A parecia também abdicar de algo por ela A falou que nunca havia pensado nisso e que parecia fazer sentido me sinto dessa forma se saio de casa parece que estou abandonando ela sic A interpretação da plantonista e a fala da paciente configuram a escuta psicanalítica o que conforme Bastos 2009 é resultado da associação livre e atenção flutuante que por meio da fala coloca o sujeito em movimento acerca do não saber a respeito de si e do mundo A voltou a dizer sobre a faculdade e disse estar pensando em desistir da graduação Tinha a possibilidade de ampliar o prazo contudo estava em dúvida havia parado e retornado para o curso 155 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Plantão psicológico a partir de uma escuta psicanalítica sendo aquele seu último prazo caso não houvesse ampliação A plantonista colocou que dessa forma ela ficaria mais em casa e consequentemente na presença da mãe Foi então que A disse cheguei a pensar que não teria problema se reprovasse assim tenho mais tempo com a minha mãe acho que não queria escutar meus próprios pensamentos sic De acordo com Celes 2005 ao falar não é só o analista que escuta mas o próprio sujeito que fala e escuta ao mesmo tempo o que não sabe ou até mesmo o que não quer saber Quanto aos apontamentos realizados por meio do plantão psicológico foi posto que as dificuldades de aprendizagem e foco não estavam atreladas a algum problema cognitivo mas sim a uma necessidade emocional Em vista disso era importante que A entendesse que tinha parte nesse processo No que tange à abordagem psicanalítica a responsabilização do sujeito pelo seu sofrimento o torna consciente e consequentemente mais autônomo A se posicionou em buscar estender o prazo da graduação e concluí la De acordo com Bastos 2009 a escuta do analista faz desabrochar um saber que já existe no sujeito saber este que proporciona a abertura para ressignificações de experiências ROSA 2004 Isto é percebido na modalidade de plantão psicológico também na medida em que é neste encontro do plantonista com o analista que se faz possível a clarificação de uma demanda e as possibilidades de ação e ressignificação do sujeito frente ao seu sofrimento CAMPOS DALTRO 2015 COIN CARVALHO OSTRONOFF 2014 Diante os apontamentos realizados no plantão psicológico compete aqui enfatizar que sua prática com base no referencial psicanalítico constitui se em uma escuta ativa à medida que busca o sujeito de desejo muitas vezes desconhecido ou ocultado pelo mesmo O acolhimento do sofrimento se dá mediante essa escuta ativa que acaba por amenizar o sofrimento do sujeito com o intuito de abrir caminho para um novo sentido Não se pode esquecer que não importa o modelo de referencial psicanalítico seja este o plantão ou a análise ambos oferecem a escuta e a possibilidade de ressignificação REBOUÇAS DUTRA 2010 A plantonista pontuou no caso de A a necessidade de haver uma reestruturação da relação com a mãe de forma saudável Colocações sobre dar continuidade na graduação e certa independência seriam produtivas para a saúde psíquica da paciente assim como desatrelar sua independência com o abandono da mãe também se apresentaram de suma importância Contudo entendese que estas eram questões que necessitavam de um processo terapêutico que ultrapassavam a abrangência de um único encontro proporcionado pelo plantão psicológico Dessa forma foi discutida a importância da inserção da mesma em terapia O processo de análise favorece a exteriorização das instâncias mais internas do analisando Nesse sentido a análise provoca a perda essencial do sujeito o que mais tarde proporcionará uma reorganização psíquica Em vista disso ao invés de ter a finalidade de cura a psicanálise promove o encontro do sujeito com o estranho que há nele mesmo E é neste estranho no Isso de acordo com Freud que se descortina o eu Agora sim a psicanálise tem um efeito curativo na medida em que ir ao encontro de seu estranho provoca a diminuição do sintoma NASIO 1993 Considerações Finais Entendese a partir do exposto ser possível atuar com base no referencial psicanalítico em outros contextos que não uma clínica ortodoxa de divãs e settings específicos Tal possibilidade pode ser constatada a partir da prática do plantão psicológico na qual o plantonista assim como em uma análise possui um espaço que lhe permite utilizar uma importante ferramenta psicanalítica a escuta Acreditase assim que em um serviço de plantão psicológico embasado em uma vertente 156 Semina Ciências Sociais e Humanas Londrina v 38 n 2 p 147158 juldez 2017 Daher A C B et al psicanalítica o plantonista se depara com a escuta do inesperado com a escuta do inconsciente que no centro da repetição insiste para que seja escutado Esperase que ao mesmo tempo em que é escutado pelo plantonista o próprio indivíduo que fala se escute e que esta escuta possa de alguma forma contribuir para que o sujeito se reposicione ou ressignifique o motivo que o fez procurar o plantão psicológico A despeito do potencial de ajuda e de promoção de saúde mental deste tipo de intervenção psicológica por ofertar um cuidado no exato momento de sua necessidade ou muito próximo desta entende se que o plantão psicológico também possui seus limites Como posto há situações que demandam uma abordagem contínua um processo terapêutico mais extenso cabendo à dupla plantonista e pessoa atendida esclarecerem a demanda a partir do referido processo de escuta refletindo sobre os encaminhamentos mais pertinentes para cada situação Referências ALMEIDA L P ATALLAH R M F O conceito de repetição e sua importância para a teoria psicanalítica Ágora Rio de Janeiro v 11 n 2 p 203218 2008 Disponível em httpwww scielobrscielophpscriptsciarttextpidS1516 14982008000200003lngennrmisohttpdxdoi org101590S151614982008000200003 Acesso em 11 dez 2017 BASTOS A B B I A escuta psicanalítica e a educação Psicólogo Informação São Paulo v 13 n 13 p 9198 2009 Disponível em httppepsic bvsaludorgscielophpscriptsciarttextpidS1415 88092009000100006lngesnrmiso 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