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Psicologia ·

Psicologia Organizacional

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Saúde Mental e Trabalho Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil O lugar do trabalho O segundo ensinamento que a psicologia trouxe e que precisa destacar aqui é o seguinte falase em saúde mental quando somos capazes de amar e trabalhar falamos de doença mental tomando emprestado o termo da medicina quando uma ou outra ou ambas estiver prejudicada Isso porque se sabe que a capacidade de amar interfere imediatamente na capacidade de trabalhar e viceversa ou seja quando estamos incapacitados para o trabalho nossa capacidade de amar também deteriorase Por que é assim Porque ao produzir estamos reproduzindo e ao reproduzir estamos produzindo ou ainda amar e trabalhar compõem um todo orgânico sinônimo da própria vida humana O amar e o trabalhar são partes indiferenciáveis de um mesmo sistema e preciso reproduzir e viceversa Maturana 1998 perguntase sobre a origem da vida ou ainda que classe de sistema é o ser vivo e ele conclui que sentido da vida de uma mosca é viver como mosca mosquear p 12 o cachorro é um cachorro ou cachorré e que a vida é um sistema autopoético ou seja um sistema cuja função é de manter a si mesmo O que a vida quer é continuar existindo continuar vivendo O que precisamos fazer e têmpo portanto é construir a nós mesmos durante a si mesmo e a continuar a si mesmo Ocorre que ao falar de humanos o indivíduo não se realiza em si mesmo ele somente se constrói quando se espelha no outro no grupo na sociedade Um pai não constituise enquanto pai se não um professor um homem um brasileiro sem re conhece a si mesmo delimitase e se constrói em confronto no cotejo no acolhimento com o outro com outros pais e filhos outros homens e mulheres outros brasileiros e estrangeiros Chegamos assim a uma outra definição saúde mental é a capacidade de construir a si próprio e a espécie produzindo e reproduzindo a si próprio e a espécie Distribuição psicológica sofrimento psicológico ou doença mental são o rompimento dessa capacidade Como já se viu os dois eixos centrais da produção de si mesmo são a reprodução e a produção o amor e o trabalho Sabemos muito mais sobre os modos de amar e trabalhar Durante muitos anos acreditamos que dificuldades com a capacidade de amar trariam problemas à capacidade de trabalhar OS MODOS DE FAZER SAÚDE MENTAL E TRABALHO Já vimos que a Psicologia do Trabalho é uma área jovem No Brasil as publicações começaram a acontecer em meados da década de 1980 Lima 2003 fez uma síntese destas publicações apresentada a seguir no Quadro 81 No Brasil começaram então a se configurar três abordagens mais frequentes e talvez mais profícuas em Saúde Mental e Trabalho estresse psicopatologiapsicodinâmica do trabalho e abordagem epidemiológica Vejamos como operam estas três formas de abordagem sobre o mesmo problema Teorias de estresse Você já ouviu pelas ruas o termo estresse para poder explicar do que se trata de uma forma muito próxima a dois cientistas sendo algo tal como o grau de desgaste total causado pela vida Selye 1965 Por outro lado você sabe também que o trabalho pode provocar estresse Muitas pesquisas abordam muitos trabalhos diferentes e se transformam em lugar comum nos dias de hoje O termo estresse popularizouse a partir de sua uso na medicina de tal forma que ninguém desconhece ou deixa de usálo em algum momento e com os mais variados significados A impressão de termo não é a marca apenas do seu uso popular mas também ocorre no seu emprego na produção de conhecimento científico nas várias áreas que o adotaram inclusive na psicologia A definição precisa da física da qual o conceito se originou referese a uma força de resistência interna oferecida pelos materiais sólidos ante a forças externas cargas mas esta não se mantém nas outras áreas que adotaram o conceito Na medicina e na psicologia assim como no seu uso popular estresse aparece tanto para denominar condições externas ou uma força imposta ao organismo como para fazer referência às respostas desse mesmo organismo ante a estas forças o que está mais próximo ao sentido original A difusão do termo veio tanto para o bem quanto para o mal Porém devemos às pesquisas sobre estresse a popularização do problema de saúde mental no trabalho além disso nos últimos comuns pudem travar contato de certa forma lidar com o problema arriscar ainda que de forma ligeira um diagnóstico QUADRO 81 Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir de 1986 segundo Maria Elizabete Antunes Lima 1986 Edith Seligman escreve um capítulo sobre Saúde Mental e Trabalho para a coletânea Crise trabalho e saúde mental no Brasil 1990 Edith Seligman escreve outro capítulo sobre o tema para a coletânea Cidadania e loucura políticas de saúde mental no Brasil 1993 Wanderley Codo José Jackson Sampaio e Alberto Hitomi publicam Indivíduo trabalho e sofrimento 1994 Edith Seligmann escreve Desgaste mental do trabalho dominado Jaqueline Tittoni escreve Subjetividade e trabalho Maria Inês Rosa escreve Trabalho subjetividade e poder 1995 Wanderley Codo e José Jackson Sampaio organizam a coletânea Sofrimento psíquico nas organizações 1996 Lys Esther Rocha compõe a tese de doutorado Estresse ocupacional em profissionais de processamento de dados condições de trabalho e repercussões na vida e saúde dos analistas de sistemas Seiji Uchida compõe a tese de doutorado Temporalidade e subjetividade no trabalho informatizado Leda Leal Ferreira e Aparecida Mari Guti escrevem O trabalho dos petroleiros perigoso complexo contínuo e coletivo 1997 Maria Elizabeth Antunes Lima escreve Os equívocos da excelência as novas formas de sedução na empresa Alice Itani escreve Subterrâneos do trabalho imaginário tecnológico no cotidiano João Ferreira da Silva Filho e Sílvia Jardim organizam a coletânea A danificação do trabalho organização do trabalho e sofrimento psíquico 1999 Wanderley Codo organiza a coletânea Educação carinho e trabalho 2001 É lido o primeiro número da revista da Federação Nacional dos Psicólogos voltada exclusivamente para o campo da saúde mental e trabalho 2002 Maria da Graça Joaquim e Wanderley Codo organizam a coletânea Saúde Mental e Trabalho leituras temas e autores Iris Barbosa Goulart organiza a coletânea Psicologia Organizacional e do Trabalho teoria pesquisa e temas correlatos Luís Henrique Borges Maria das Graças Moulin e Maristela Dabello Araújo organizam a coletânea Organização do trabalho e saúde múltiplas relações Fonte Lima 2003 sistẽncia e a exaustão As duas primeiras fases serão comuns a todo ser humano ao longo da vida pela demanda constante de ajuste às atividades e necessidade de resistência aos infortúnios da existência Então ninguém pode viver nenhum grau de estresse porque qualquer atividade e qualquer emoção são capazes de provocálo O conceito de estresse que inicialmente referese à reação dos efeitos frente a agentes físicos agressoros pode então ser transporte para tantos outros domínios inclusive para as situações de trabalho As definições de estresse como adaptação às tensões e pressões da existência cotidiana e grau do desgaste total causado pela vida Selye 1965 p 14 abrem caminho para seus vários empregos no campo psicológico Muitos estudos sobre estresse têm sido realizados para identificar quais condições e características do trabalho eou das organizações concorrem para a produção desse estado Estes estudos apesar de partirem de modelos teóricos diferentes têm em comum a definição de estresse envolvendo sempre um estímulo externo produzido a partir das situações de trabalho respostas psicológicas frente àquele estímulo e uma gama de consequências nas quais o bemestar do indivíduo está envolvido Além disso todos concordam parcialmente com a ideia de que a relação entre estímulos externos e estresse pode ser moderada por características individuais e situacionais Kahn e Byosriere 1992 A inclusão dos estressores oriundos do trabalho e do possíveis moderadores num mesmo modelo permite avançar na compreensão das ligações entre trabalho e estresse e suas consequências para outros aspectos da vida do indivíduo bem como para a organização de trabalho Os avanços nos modelos estatísticos o interesse no papel das variáveis moderadoras e os estudos longitudinais permitem testar hipóteses que não poderiam ser contempladas sem esses recursos Holt apud Guimarães e Fadden 1999 Apens 158 dos entrevistados relataram a disponibilidade de equipamentos de proteção individual no trabalho da penitenciária A prevalência de distúrbios psíquicos menores DPM foi de 307 de estresse passageiro 74 de estresse intermediário 74 e de estresse persistente 151 Queixas de doenças foram feitas por 916 dos agentes penitenciários 531 apresentaram até cinco queixas e 385 mais de cinco queixas tradados em grupos de trabalhadores com atividades mais flexíveis e variadas Além dessas alterações fisiológicas a tensão psicológica também aparece como consequência de trabalhos repetitivos e monótonos Da mesma forma a monotonia e a fragmentação das atividades assim como outros aspectos relacionados à organização e ao conteúdo do trabalho tais como sobrecarga conflito e ambiguidade de papel também são apontados como possíveis estressores no trabalho Mas diferente do que é comum pensar alguns estudos mostram que somente a sobrecarga de atributos muito talhado muitas demandas não leva diretamente ao estresse O problema surge principalmente quando está sobrecarregassociase à falta de autonomia e em consequência às alternativas para se lidar com a situação ficam muito restritas Kahn e Byosiere 1992 Uma explicação para esse tipo de resultado é que a possibilidade de controle sobre o trabalho condição fundamental para que o trabalhador desenvolva e utilize suas próprias estratégias para enfrentar as dificuldades e realizar o trabalho podendo contar o desgaste ou pelo menos evitando o sofrimento dele derivado Isso significa que uma mesma atividade realizada sob diferentes condições pode ter diferentes efeitos subjetivos sobretudo em termos de prazer e sofrimento Codo Sampaio e Hitomi 1994 Um exemplo dessa situação é a aquele em que o trabalhador apesar de sofrer e queixarse do excesso de atribuições no emprego faz exatamente o mesmo trabalho em outro contexto num ritmo até mais intenso sem ressentise de consequências do esforço físico e mental despendido Parece emanar das pesquisas sobre estresse um modelo de ser humano que almeja a paz dos comitês Um sofrimento que advém do novo da desaptação provocada pelo novo para dizer de outra maneira o modelo de ser humano que parece estar subentendido nas investigações e na teoria sobre estresse parece fundarse na busca de equilíbrio entre o homem e o meio na homeostase A pergunta que se impõe é a seguinte É possível o equilíbrio entre o homem e o meio A adaptação do ser humano ao seu entorno E assim formo é desejável seríamos mais felizes sem o frisson cotidiano da mudança E isso é só possível e desejável a nãoadaptação e o desequilíbrio seriam geradores do sofrimento Curiosamente as próprias pesquisas sobre estresse apontam ados um outra direção Rotina por exemplo é estressante Enfim é preciso ficar atento O controle sobre o trabalho através da imprevisibilidade da resposta da máquina Em seguida traz para a discussão os efeitos do trabalho sobre a subjetividade no caso o modo de pensar do analista que se transforma nesse encontro com o trabalho Citando o trabalho de Rebechi 1990 se estas características a memória produtiva do computador possibilitam entender as projeções sintromórficas sobre o computador esta memória potencialmente produtiva pode suscitar ao mesmo tempo fantasias perseguitórias fantasias de perda de controle e perigo Por que isto ocorre A partir da fala dos trabalhadores emerge a fonte de conflito que provoca o sofrimento Esta organização do trabalho é extremamente invasiva penetrando na vida privada do indivíduo A vivência da possibilidade do crash ou o próprio crash se põe O analista de produção e se vê agora diante duas fontes de sofrimento que convergem para uma única problema ou seja o sofrimento advindo da imprevisibilidade da produção e o sofrimento originado da possibilidade do crash convergindo para o problema dos limites Em dois níveis ele deve dizer não não a atividade mesmo que vivida A abordagem epidemiológica em saúde mental é herdeira da lógica de epidemiologia geral que tem como preocupação básica a produção de conhecimentos sobre o processo de saúdedoença o planejamento de ações de políticas de saúde e a prevenção de doenças A epidemiologia parte do pressuposto da multicausalidade das doenças e vai em busca de seus determinantes É herdeira e mantémse fiel a metodologia empregada por Le Guillant e busca sua teorização em Leontiev e Marx A preocupação com estudos diagnósticos de saúde e trabalho com características epidemiológicas surge no final do século XVII com Bernardino Ramazzini sendo ele conhecida frase É melhor prevenir que remediar Ramazzini publicou em 1700 o livro As doenças dos trabalhadores no qual apresentava o estudo de patologias de mais de 40 categorias profissionais Apesar de se reconhecer as relações estabelecidas entre trabalho e saúde desde os epígrafes esferas quer pela determinação do saber específico quer pela prática só começaram a ser tratadas de forma mais objetiva após a Revolução Industrial devido à necessidade de manterse um padrão de produção sem perda de mãodeobra muitas vezes considerada especializada pelos padrões da época e pelo crescimento demasido dos centros urbanos Assim a Revolução Industrial gerou um outro capítulo no que se refere à tríade trabalhosaúde pela criação de pólis industriais e pelo crescimento das cidades em função da trajetória de migração do mesmo rural para os centros urbanos a partir do fim do feudalismo Aqui tornase impossível discutir processo de saúdetrabalho sem focarse centralmente a obra de Marx porque foi a partir dele que tal temática mais se desenvolveu No campo da Saúde Mental e Trabalho Le Guillant foi pioneiro ao discutir os aspectos sociais às condições objetivas e subjetivas do trabalho e faz os clínicos na busca dos possíveis determinantes do sofrimento psíquico neste âmbito A concepção de trabalho compatível e essa proposta tem sido encontrada em Marx e em Leontiev para os quais o trabalhoatividade aparecem como fator de construção da individualidade do sujeito sendo o elo entre sujeitosociedade A concepção marxista de homem permite definir a subjetividade como produto da relação do indivíduo com o mundo concreto A psicopatologia pode ser decifrada se remetida aos vínculos concretos do homem na vida As doenças serem consequência da lógica da produção capitalista Enfim a partir de Max fazse necessário reconhecer a natureza social e histórica do processo saudedoença Codo 1994 por sua vez parte de uma definição do psíquico do indivíduo como um produto social em que a individualidade é construída socialmente No campo da Saúde Mental e Trabalho a partir destes referenciais teóricos pretendese compreender os efeitos do trabalho com as características do que o modo de produção capitalista engendra tais como a separação entre produto e produto pela venda e a compra da força de trabalho Tal base teórica por sua vez obriga a certas possíveis metodológicas Há de ser criticamente os estudos quantitativos como os ligados ao estresse e igualmente os qualitativas como a psicanálise aplicada de Dejours há de se considerar o trabalho como um fenômeno objetivo e subjetivo valendose portanto tanto de estratégias semiclínicas como de instrumentos de avaliação baseados em escalas psicométricas Fazse necessária uma metodologia de investigação que permita identificar os efeitos do trabalho sobre a saúde mental tendo como pressuposto a multicausalidade e a percepção de um homem sóciohistórico na qual fatores econômicos e sociais além dos indivíduos façam parte da investigação A metodologia de investigação deve ser interdisciplinar deve reconstruir a totalidade significativa e resgatar a história A metodologia compatível e essas pré pressupostos deve investigar condições objetivas e subjetivas do trabalho o que exige o cruzamento de uma estratégia ligada à a organização de trabalho observação direta e entrevistas sobre o trabalho b uma metodologia ligada a estudos epidemiológicos levantamento de possibilidades de saúde mental e trabalho por meio de inventário psicológico desenvolvido e validado pelo Laboratório de Psicologia do TrabalhoLPTUnB e ao mesmo tempo c uma metodologia clínica estudos de caso Dessa forma o estudo dividese em três momentos que narrativa emenda enfoca o problema por três ângulos complementares No primeiro momento fazse necessário desenvolver atividades que venham a embaçar um conhecimento aprofundado do trabalho na categoria seu cotidiano e as representações que o trabalhador faz de si mesmo Tratase portanto de uma visão da organização pela qual o trabalho será analisado em seus aspectos estruturais Nessa fase procurase apreender aspectos da cultura organizacional estrutura e funcionamento além de procederse a análise de tarefa desenho do trabalho dos cargos ou das categorias funcionais que serão objeto do diagnóstico No segundo momento definido como epidemiológico por meio de medidas quantitativas com a inclusão de escalas relacionadas ao trabalho em si e de personalidade sofrimento no trabalho e saúde geral procurase obter o perfil da categoria para então análise em relação aos dados colhidos no primeiro momento e então instrumentalizar o terceiro momento No terceiro momento por meio de uma metodologia clínica com características de estudos de caso procedese ao aprofundamento do diagnóstico Esses três momentos podem ser melhor visualizados a seguir no Quadro 83 A seguir no Quadro 84 apresentamos a possibilidade de organização de um instrumento diagnóstico que tem como critério a associação integrada do trabalho passando pela lógica social econômica pessoal e clínica Além destas escalas o instrumento diagnóstico inclui o levantamento de dados demográficos como sexo idade estado civil renda familiar e salarialrenda pessoal cargo função tempo de serviço bens etc No Brasil atualmente essa abordagem pode ser identificada nos trabalhos de Maria Elizabeth Lima Maria da Graça Jacques Wanderley Codo entre outros QUADRO 83 Recursos operacionais do modelo teórico Análise objetiva do trabalho 1º momento Observação do trabalho registro da observação e análise documental Análise de tarefas Análise subjetiva do trabalho 2º momento Inventários de condições de trabalho e saúde mental 3º momento Entrevistas estudo de caso QUADRO 84 Modelo esquematizado do inventário de investigação DITDiagnóstico Integrado do Trabalho Homemnatureza Controle Sentido do trabalho Sentido Rotina Importância social do trabalho Sentido do trabalho Homemsociedade No Trabalho Relações sociais de produção Na vida extratrabalho Suporte social Suporte afetivo Conflito trabalhofamília HomemHomem Atitudes frente ao trabalho Carga mental no trabalho Satisfação Comprometimento Tempo Dificuldades Subjetividade do trabalhador Personalidadesofrimento psíquico além das escalas típicas de personalidade e as escalas de risco daquela clientela específica Alcoholismo 291 Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil Nos mesmos moldes das outras duas abordagens anteriores utilizaremos a título de exemplo um estudo que compõe a pesquisa Perfil dos trabalhadores em educação para desenvolver e discutir uma metodologia diagnóstico adotada pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho LPT da Universidade de Brasília UnB O primeiro ponto a ser definido ao procederse um estudo diagnóstico epidemiológico é a amostra a ser utilizada No caso do estudo com os funcionários de educação por ser um estudo nacional o LPT desenhou um quadro amostral em que todos os Estados estivessem contemplados e no qual características específicas de cada Estado pudessem ser sentidas Dessa forma o estudo definiu como regra amostral critérios quanto a condições socioeconômicas das cidades no Estado capital e mais três cidades tamanho das escolas e quantidade mínima de professores por escola mínimo de 10 professores Esses critérios garantiram a representatividade necessária a um estudo nacional com território com tantas diferenças como o nosso País 292 Zanelli BorgesAndrade Bastos cols da escola Em detalhes as tarefas específicas implicam ações de média ou alta complexidade certa tina e padronização com alguma liberdade para criar esforço mental com um nível regular de concentração esforço físico considerando que se trata de um trabalho executado em pé na maior parte do tempo e envolvendo sobrecarga de peso de bandejas e painéis risco de acidentes de trabalho incluindo na maioria das vezes atividades com movimentos repetitivos e exposição a altas temperaturas e umidade que possibilitam a incidência de doenças ocupacionais implica ainda em alta necessidade de empatia havendo inclusive est 293 Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil Um trabalho complexo considerado como rotineiro pelo trabalhador pode ser um sinal de que ele se encontra no lugar errado deveria estar fazendo outra coisa De qualquer maneira é preciso investigar o sentimento das pessoas sobre a rotina e as atividades que elas fazem em relação a esta para podermos chegar a uma análise mais fiel do trabalho alheio Ocorre aqui o que acontece um diagnóstico sobre ele é necessário sua observação entrevistas com trabalhadores inventáriosquestionários que evitem Para realizar a análise dos dados foi criado um grupo de comparação entre as merendeiras e o mesmo número de trabalhadores em outras funções com características semelhantes quanto a sexo idade escolaridade e estado civil e todo o território nacional Esta estratégia permite uma análise mais criteriosa dos dados e proporciona maior confiabilidade dos resultados Os dois grupos merendeiras e comparação foram submetidos a tratamento estatístico capaz de discriminar as características diferenciais e depois como última etapa desta metodologia de análise buscouse investigar quais diferenças no trabalho e na vida destas trabalhadoras poderiam explicar melhor os resultados encontrados Pesado do ponto de vista físico exige ainda das profissionais a capacidade de sorrir entender e receber de forma acolhedora a quem quer que lhes procure empatia e está de muuhumor continue sorrindo seu trabalho depende disso Este é um fator de desgaste importante porque não permite extravasar as emoções é necessário iludir o que se sente quando alguma coisa vai mal O controle do trabalho destas mulheres é realizado por centenas de criações ao mesmo tempo e no mesmo momento o que você acabou de fazer com carinho sacrificou ou seu senso de responsabilidade receita um veredito rigoroso quando não cruel por uma cliente que não estará preocupada em disfarçar as críticas se gostou ou não gosta QUADRO 85 Principais abordagens sobre concepção de trabalho QUADRO 85 Principais abordagens sobre concepção de trabalho Continuação Abordagem Conceção de homem Conceção de trabalho Conceção de doença mental e trabalho O que é um trabalho sadio Psicodinâmica do trabalho O homem organizase a partir de suas experiências na primeira infância A sexualidade libido é sua maior força motriz O trabalho é portador de sofrimento e afasta o homem do prazer o melhor trabalho é o que permite sublimar o sofrimento Quando há sublimação não há desaprazar no trabalho Não pode existir doença mental produzida pelo trabalho esta é produto inconsciente de rupturas ocorridas nos afetos primários Admitese a descompensação que depende da estrutura já definida a partir da primeira infância Todos somos neuróticos o sofrimento ocorre quando não se encontram saídas institucionais para as neuroses Epidemiológica O homem vive e desenvolvese em e pelo conflito com os outros homens a natureza e consigo próprio Sua principal força motriz é o trabalho seu e dos outros hoje e na própria história dos homens O homem é um ser fundamentalmente psicossocial O trabalho é devedor sempre prazeroso pois é forma como o homem constrói a si próprio Se o trabalho não é portador do prazer então há alguma coisa de errado com ele O sofrimento no trabalho deve ser combatido porque é produto de algum tipo de alienação VAMOS CAMINHAR A SEGUIR POR ESSAS TRILHAS Os desdobramentos da concepção de homem sob as teorias do estresse É possível e desejável para os teóricos do estresse um relacionamento do ho nem com a natureza dele com os outros e consigo mesmo sem conflito particularmente no trabalho Para dar um exempl o caricato quando algumas empresas japonesas colocam nos seus sótãos imagens dos bonenos dos patrões para serem agredidos pelos funcionários o que se considera de um lado é que a raiva seja aliada ao passeio o que se busca de outro é eliminála para que as pessoas convivam melhor Curiosamente o estresse geralmente é utilizado como crítica à organização de trabalho moderna Quando as suas mesmas teorias são o melhor produto da organização conduzem a esforços que amiúde desconsideram a organização do trabalho e encontram formas para que o indivíduo maneje a situação como no clássico exemplo das ginásticas laborais Mesmo sendo essa a conduta mais encontrada atualmente é fácil perceber que as pesquisas sobre estresse são um poderoso aliado do administrador do trabalho uma vez que fornecem pistas valiosas sobre os problemas que a organização do trabalho carrega Como em todas as abordagens discutidas aqui o estresse pode e deve ser visto mais como aliado do que como inimigo desde que se abandone a concepção paliativa e consequentemente que não se aspire a paz dos cemitérios Os desdobramentos da concepção de homem sob a psicodinâmica do trabalho O trabalho a família ou o que mais se queira só interessam à psicanálise como estrutura simbólica o que estes representam para o sujeito na trama que as relações afetivas traçam com todas as suas dissonâncias Ao voltar seu ouvido para o trabalho a psicodinâmica quer ouvir o trabalhador e não seu trabalho tal como o clínico que ouviu a metáfora da mãe e não mãe mesma Admitir que o trabalho possa ser portador da saúde ou da doença mental seria admitir uma e um refazer da estrutura básica do sujeito no limite quiçá o seu desaparecimento no mosaico teórico da psicanálise Melhor abandonar a análise do trabalho do que a teia teórica inaugurada por Freud Ao apontar o ouvido treinado por anos de escuta interpretativa para o trabalhador a Psicodinâmica do Trabalho se transformou em um vigoroso semeador de hipóteses para a área de Saúde Mental e Trabalho Como qualquer investigação estritamente qualitativa ela desenha os modos como os fenômenos aparecem mesmo que não possa entender sua etiologia e ou sua incidência Isso não é pouco Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil JACQUES MG CODO W Org 2002 Saúde mental e trabalho leituras Petrópolis Vozes 2002 FERNANDES RCP et al 2002 Trabalho e câncer um estudo com agentes penitenciários da região metropolitana da Salvador Brasil Cad Saúde Púb v18 n3 p807816 maiojun 2002 GANSTER D SCHAUBROECK J Work stress and employee health Journal of Management v17 p235271 1991 GIANNOTTI JA Trabalho e reflexõesensaios para a dialética da sociabilidade São Paulo Brasileiras 1983 GUIMARÃES L FADDEN M Validação para o Brasil do SWS Survey questionário sobre estresse saúde mental e trabalho In GUIMARÃES LAM GRUBITS S Orgs São Paulo Casa da Psicologia 1999 p189208 Série Saúde mental e trabalho JACQUES M Tópicos psicologia e trabalho In GUIMARÃES L Org Tópicos especiais Porto Alegre PósGraduação em Engenharia ProduçãoUFRGS 2003 P 200206 JACQUES MG CODO W Org Saúde mental e trabalho leituras Petrópolis Vozes 2002 KAHN RL et al Occupational stress studies in role conflict and ambiguity New York Wiley 1964 KARASEK RA Job demands job decision latitude and mental strain implications for job redesign Administrative Science Quarterly v24 p285309 1979 KAHN R BYOSIER P Stress in organizations In DUNNETT MA HOUGH LM Handbook of industrial organizational psychology Palo Alto Consulting Psychologists 1992 v3 p571650 LIMA M Palestra proferida no Encontro de Educadores em Belo Horizonte Maio2003 A pesquisa em saúde mental e trabalho In TAMAYO A BORGESANDRADE JE CODO W Orgs Trabalho organizações e cultura São Paulo Cooperativa de autores associados 1996 p2735 LIPP MN MALAGRIS L Manejo do estresse In RANGÉ B Psicoterapia comportamental e cognitiva pesquisa prática aplicações e problemas São Paulo Psy II 1995 p279292 MATURANA H Da biologia à psicologia 3 ed São Paulo Artes Médicas 1998 REBECCCHE O E sujeito frente à inovação tecnológica Petrópolis VozesIBASE 1999 SELYE H Stress a tensão da vida 2 ed São Paulo IBRASA 1965 UCHIDA S Trabalho informatizado e sofrimento psicológico Psicologia USP v9 n2 p179 204 1998