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Relações Internacionais ·
História
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A despeito da importância das causas já mencionadas, a Revolução Industrial teria sido sem dúvida retardada se não fosse a necessidade de melhoramentos mecânicos fundamentais em certos campos de produção. Aí por volta de 1700, a procura de carvão para as fundições de ferro tinha exaurido de tal modo as reservas de lenha que várias nações da Europa Ocidental se viram ameaçadas pelo desflorestamento. Cerca de 1709 uma solução parcial foi encontrada por Abraham Darby, ao descobrir que o coque podia ser utilizado na fundição. Mas, para se obter o coque necessário, era preciso minerar carvão em quantidade muito maior do que até então se tinha feito. Como o principal obstáculo a extração fosse a acumulação de água nas minas, a necessidade do novo combustível levou à procura de uma fonte de energia capaz de acionar as bombas. Vários experimentos relacionados com essa pesquisa resultaram finalmente na invenção da máquina a vapor. Uma necessidade ainda mais premente de mecanização existia na indústria têxtil. Com a crescente procura dos tecidos de algodão nos séculos XVII e XVIII, tornou-se simplesmente impossível fornecer o fio necessário com as rodas de fiar primitivas ainda em uso. Mesmo depois de se porem a trabalhar todas as mulheres e crianças em disponibilidade, a procura não pôde ser satisfeita. Na Alemanha, até os soldados nos quartéis foram postos a fiar algodão. Como a necessidade se fizesse sentir cada vez mais, as sociedades científicas e as empresas industriais ofereceram prêmios a quem apresentasse métodos aperfeiçoados de fiação. Em 1760, por exemplo, a "English Society of Arts" instituiu um desses prêmios para uma máquina que capacitasse uma pessoa a fiar seis fios simultaneamente. O resultado de todos esses esforços foi o desenvolvimento da máquina de fiar e do tear hidráulico, precursores de uma série de importantes inventos na indústria têxtil. Não tardando a ficar demonstrada a viabilidade de tais máquinas, a mecanização não podia deixar de estender-se às demais manufaturas. 2. POR QUE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL COMEÇOU NA INGLATERRA À primeira vista pode parecer estranho que o pequeno reino insular não só se tenha tornado o líder industrial do mundo, mas que haja conservado essa posição por mais de um século. Pretende um filósofo moderno que a Inglaterra, ainda em pleno século XVIII, era "o país mais pobre da Europa Ocidental". É certo que ela não possuía uma grande variedade de produtos dentro das suas fronteiras. Não estava tão perto de bastar-se a si mesma quanto a França ou a Alemanha. Seus recursos agrícolas já não chegavam para satisfazer-lhe as necessidades e o exaurimento das florestas da ilha tinha sido notado desde o tempo dos Stuarts. O carvão e o ferro, geralmente considerados como as suas maiores riquezas, não assumiram grande importância industrial senão no século XIX. Mas, ao lado dessas condições adversas, havia outros fatores que faziam a balança pender decididamente para o lado da Inglaterra. Talvez devamos colocar no cabeçalho da lista de condições favoráveis o fato de ter sido a Inglaterra o país que mais lucrou com a Revolução Comercial. Ainda que a França tivesse, pelas alturas de 1750, um comércio exterior calculado em 200 milhões de dólares anuais, em confronto com os 160 milhões de dólares da Inglaterra, não se deve esquecer que a população francesa era, no mínimo, três vezes maior do que a inglesa. Acresce que a França havia alcançado o limite máximo da sua expansão imperial e que uma parte considerável dos lucros do seu comércio exterior era desviada, através de empréstimos e de impostos, para a manutenção de um exército oneroso e de uma corte frívola e extravagante. A para o seu excesso de riqueza. A princípio essa riqueza podia ser facilmente absorvida pelo comércio, pelos empreendimentos de mineração, pelas especulações bancárias ou pelas construções navais, mas com o correr do tempo as oportunidades em tais campos se tornaram bastante limitadas. Em consequência, havia uma disponibilidade crescente de capitais para o desenvolvimento da manufatura. Mas dificilmente teria ocorrido um desenvolvimento rápido se não houvesse uma procura cada vez maior de produtos industriais. Tal procura deveu-se em grande parte à fundação de impérios coloniais e ao acentuado crescimento da população europeia. Estamos lembrados de que um dos objetivos primários da aquisição de colônias fora o de encontrar novos mercados para os produtos manufaturados na metrópole. Como prova de que tal finalidade fora satisfatoriamente atingida registra-se o fato de, só no ano de 1658, terem sido embarcados da Inglaterra para a Virgínia nada menos de 24.000 pares de sapatos. Ao mesmo tempo, os mercados potenciais da Europa iam-se alargando com rapidez, dada a curva ascendente da população dos países ocidentais. Na Inglaterra o número de habitantes subiu de quatro milhões em 1600 a seis milhões em 1700 e a nove milhões no fim do século XVIII. A população da França elevou-se de 17.000.000 em 1700 a 26.000.000 cerca de cem anos mais tarde. Até que ponto esse aumento foi um efeito dos progressos da medicina no século XVIII e em que medida se deveu ele à maior abundância de alimentos decorrente da expansão do comércio? É uma questão discutível, mas a influência do segundo destes fatores não pode ser desprezada. Finalmente, a Revolução Comercial estimulou o crescimento das manufaturas graças à sua doutrina básica do mercantilismo. A política mercantilista visava, entre outras coisas, aumentar a quantidade de artigos manufaturados disponíveis para a exportação a fim de garantir uma balança de comércio favorável. Inglaterra, por seu lado, mal iniciava ainda a sua idade áurea de poder e prosperidade. Já havia adquirido as mais valiosas colônias do Hemisfério Ocidental e em breve iria consolidar a supremacia imperial e comercial pela derrota dos franceses na Guerra dos Sete Anos. Além disso, uma proporção bem maior dos lucros da Inglaterra no comércio ultramarino ficava disponível para os investimentos produtivos. O seu governo estava relativamente livre de corrupção e de gastos perdulários. Os seus efetivos militares custavam menos que os da França e as suas rendas eram coletadas com muito mais eficiência. Em consequência, os comerciantes e armadores ingleses dispunham de uma margem mais ampla de lucros excedentes, que eles estavam ansiosos por inverter em todos os negócios concebíveis que pudessem tornar-se fonte de proveitos adicionais. À vista de tais fatos, não é de surpreender que a Inglaterra se tivesse alçado à posição de país principal nação capitalista no começo do século XVIII. Em parte alguma haviam as sociedades por ações alcançado tamanho desenvolvimento. As operações sobre valores já eram negócio legal quando foi fundada, em 1698, a Bolsa de Fundos Públicos de Londres. Por volta de 1700, Londres estava capacitada a competir com Amsterdã como capital financeira do mundo. Acrescente-se a isso que a Inglaterra possuía, talvez, o melhor sistema bancário da Europa. No ápice desse sistema achava-se o Banco da Inglaterra, fundado em 1694. Embora estabelecido com o fim de levantar fundos para o governo, a sua organização era a de uma empresa privada. Os seus fundos eram de propriedade particular e a sua direção não estava submetida a qualquer controle oficial. Não obstante, sempre operou em íntima colaboração com o governo e desde os primeiros tempos constituiu importante fator de estabilização das finanças públicas. Asse gurada destarte a estabilidade financeira do governo, os grandes empreendedores comerciais e industriais podiam desenvolver os seus negócios sem o temor de uma bancarrota nacional ou de uma inflação ruinosa. É cabível observar a este propósito que nada ou quase nada de semelhante se verificou nas finanças do país de além-Mancha até a fundação do Banco Francês, durante o período napoleônico. Há indícios de não ter sido pequena a influência dos fatores políticos e sociais na origem da Revolução Industrial inglesa. Embora o governo britânico estivesse longe de ser democrático, era pelo menos mais liberal do que a maioria dos governos continentais. A Revolução Gloriosa de 1688-89 muito fizera para estabelecer o conceito da soberania limitada. Tornara-se geralmente aceita a doutrina de que o poder do estado não deve estender-se além da proteção dos direitos naturais do indivíduo à liberdade e ao gozo da propriedade. Sob a influência de tal doutrina o Parlamento aboliu velhas leis que criavam monopólios especiais e interferiam na livre concorrência. Os princípios mercantilistas continuaram a ser aplicados ao comércio com as colônias, mas na esfera dos negócios metropolitanos foi pouco a pouco revogado um grande número de restrições. Ademais, a Inglaterra já começava então a ser encarada como um asilo para os refugiados de outros países. Mais de 40.000 huguenotes fixaram-se nas suas aldeias e cidades quando foram expulsos da França, em 1685, pela revogação do Edito de Nantes. Frugal, enérgico e ambicioso, esse elemento instilou novo vigor na nação inglesa. Thomas Huxley afirmou, muito mais tarde, que uma gota de sangue huguenote nas veias valia milhares de libras esterlinas. Que a influência desses exilados no progresso industrial não foi insignificante, atesta-o o fato de as manufaturas de cutelaria e de vidro inglesas terem continuado por algum tempo a usar nomes franceses. Também as condições sociais eram nitidamente favoráveis ao desenvolvimento da indústria. A nobreza britânica deixara de ser uma casta exclusivamente hereditária e estava se convertendo com rapidez numa aristocracia da riqueza. Quase todos os que faziam fortuna tinham a possibilidade de elevar-se às mais altas camadas sociais. William Pitt, o moço, afirmava que qualquer homem com uma renda de dez mil libras anuais devia ter direito a ser par do reino, por mais humilde que fosse a sua origem. Tais condições valiam por um prêmio ao sucesso nos negócios. Algumas outras causas devem ser acrescentadas para completar o quadro. Em primeiro lugar, mencionemos o fato de ser o clima úmido das ilhas britânicas especialmente propício à fabricação de tecidos de algodão, não permitindo que o fio se torne quebradiço e se rompa facilmente quando reteseado pelo tear mecânico. E basta lembrar que foi a mecanização da indústria têxtil que inaugurou a era da máquina. Em segundo lugar, o sistema corporativo de produção com as suas complicadas restrições nunca se enraizou tão fortemente em solo inglês como nos países continentais. As próprias regulamentações já estabelecidas tinham sido eliminadas, especialmente nos condados setentrionais, pelos fins do século XVII. Foi esta, diga-se de passagem, uma das razões pelas quais a Revolução Industrial principiou na Inglaterra setentrional de preferência à região mais próxima do Continente. Por último, como a riqueza naquela época estivesse mais uniformemente distribuída na Inglaterra do que na maioria das outras nações, os fabricantes ingleses puderam dedicar-se à produção em larga escala de artigos baratos e comuns, ao invés de produzirem pequenas quantidades de mercadorias de luxo. Este fator influiu consideravelmente na adoção dos métodos fabris a fim de obter um rendimento maior. Na França, ao contrário, havia procura de artigos de luxo para satisfazer os gostos de uma pequena camada de perdulários elegantes. Uma vez que a qualidade da mão-de-obra constituía requisito fundamental desse tipo de produção, era pequeno o incentivo à invenção de máquinas. 3. HOMENS E MÁQUINAS DOS PRIMEIROS TEMPOS A fase inicial da Revolução Industrial, que vai de cerca de 1760 a 1860, testemunhou um desenvolvimento fenomenal da aplicação da maquinaria à indústria, o qual lançou os alicerces da nossa civilização mecânica moderna. Como vimos, o primeiro ramo da indústria a ser mecanizado foi a manufatura de tecidos de algodão. Não era essa uma das indústrias tradicionais dos ingleses, senão um empreendimento recente em que cada empresário podia experimentar quase todos os métodos que desejasse. Além do mais, era um negócio em que os lucros dependiam da produção intensiva. A fim de que a indústria pudesse realizar progressos era necessário encontrar meios de obter um maior volume de fio do que jamais se poderia conseguir com o instrumental primitivo ainda em uso. O primeiro dispositivo que veio atender a essa necessidade foi a spinning jenny ou máquina de fiar inventada por James Hargreaves en 1767. Essa máquina, assim chamada em homenagem à esposa do inventor, cujo nome era Jenny, era na realidade uma roda de fiar composta, capaz de produzir oito fios ao mesmo tempo. Infelizmente, os fios que produzia não eram bastante fortes para ser utilizados como fibras longitudinais, ou urdimento, do tecido de algodão. Só com a invenção do bastidor hidráulico de Richard Arkwright, cerca de dois anos depois, é que se tornou possível a produção intensiva de ambas as modalidades de fio de algodão. Finalmente, em 1779, outro inglês, Samuel Crompton, combinou certos características da spinning jenny e do bastidor hidráulico numa máquina de fiar híbrida que ele, com propriedade, denominou mule (mula). Essa máquina foi sendo progressivamente aperfeiçoada até que, vinte anos mais tarde, tornou-se capaz de produzir simultaneamente quatrocentos fios da melhor qualidade.
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Uma necessidade ainda mais premente de mecanização existia na indústria têxtil. Com a crescente procura dos tecidos de algodão nos séculos XVII e XVIII, tornou-se simplesmente impossível fornecer o fio necessário com as rodas de fiar primitivas ainda em uso. Mesmo depois de se porem a trabalhar todas as mulheres e crianças em disponibilidade, a procura não pôde ser satisfeita. Na Alemanha, até os soldados nos quartéis foram postos a fiar algodão. Como a necessidade se fizesse sentir cada vez mais, as sociedades científicas e as empresas industriais ofereceram prêmios a quem apresentasse métodos aperfeiçoados de fiação. Em 1760, por exemplo, a "English Society of Arts" instituiu um desses prêmios para uma máquina que capacitasse uma pessoa a fiar seis fios simultaneamente. O resultado de todos esses esforços foi o desenvolvimento da máquina de fiar e do tear hidráulico, precursores de uma série de importantes inventos na indústria têxtil. Não tardando a ficar demonstrada a viabilidade de tais máquinas, a mecanização não podia deixar de estender-se às demais manufaturas. 2. POR QUE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL COMEÇOU NA INGLATERRA À primeira vista pode parecer estranho que o pequeno reino insular não só se tenha tornado o líder industrial do mundo, mas que haja conservado essa posição por mais de um século. Pretende um filósofo moderno que a Inglaterra, ainda em pleno século XVIII, era "o país mais pobre da Europa Ocidental". É certo que ela não possuía uma grande variedade de produtos dentro das suas fronteiras. Não estava tão perto de bastar-se a si mesma quanto a França ou a Alemanha. Seus recursos agrícolas já não chegavam para satisfazer-lhe as necessidades e o exaurimento das florestas da ilha tinha sido notado desde o tempo dos Stuarts. O carvão e o ferro, geralmente considerados como as suas maiores riquezas, não assumiram grande importância industrial senão no século XIX. Mas, ao lado dessas condições adversas, havia outros fatores que faziam a balança pender decididamente para o lado da Inglaterra. Talvez devamos colocar no cabeçalho da lista de condições favoráveis o fato de ter sido a Inglaterra o país que mais lucrou com a Revolução Comercial. Ainda que a França tivesse, pelas alturas de 1750, um comércio exterior calculado em 200 milhões de dólares anuais, em confronto com os 160 milhões de dólares da Inglaterra, não se deve esquecer que a população francesa era, no mínimo, três vezes maior do que a inglesa. Acresce que a França havia alcançado o limite máximo da sua expansão imperial e que uma parte considerável dos lucros do seu comércio exterior era desviada, através de empréstimos e de impostos, para a manutenção de um exército oneroso e de uma corte frívola e extravagante. A para o seu excesso de riqueza. 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Ao mesmo tempo, os mercados potenciais da Europa iam-se alargando com rapidez, dada a curva ascendente da população dos países ocidentais. Na Inglaterra o número de habitantes subiu de quatro milhões em 1600 a seis milhões em 1700 e a nove milhões no fim do século XVIII. A população da França elevou-se de 17.000.000 em 1700 a 26.000.000 cerca de cem anos mais tarde. Até que ponto esse aumento foi um efeito dos progressos da medicina no século XVIII e em que medida se deveu ele à maior abundância de alimentos decorrente da expansão do comércio? É uma questão discutível, mas a influência do segundo destes fatores não pode ser desprezada. Finalmente, a Revolução Comercial estimulou o crescimento das manufaturas graças à sua doutrina básica do mercantilismo. A política mercantilista visava, entre outras coisas, aumentar a quantidade de artigos manufaturados disponíveis para a exportação a fim de garantir uma balança de comércio favorável. 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