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Os tons da ESTUPIDEZ A ideia arendtiana de banalidade do mal pode auxiliar na análise da banalização da violência e sua glamourização no tempo presente A sociedade contemporânea tem um talento incrivelmente especial para fazer algo extremamente retrógrado ultrapassado e tradicional parecer uma coisa inovadora Transforma em moda práticas ideias e hábitos absurdamente conservadores Isso ocorre entre outros nos campos da Moral da Política da Estética Um dos casos mais recentes dessa inversão da inovação é o bestseller Cinquenta tons de cinza O enredo é sobremaneira démodé a jovem inocente ingênua e indefesa apaixonase por um homem mais velho sedutor bemsucedido o dominador da relação que é paulatinamente modificado pela bela amante O erotismo e as práticas sexuais não mais antigas que o Kama Sutra exibidos ofuscam o machismo o sadismo e a ideia de dominação sexual masculina presentes tanto no livro quanto no longa campeões de vendas e bilheteria O escritor Jan Gruter 15601627 em sua obra Delícias dos poetas germânicos afirma Tempora mutantur Omnia mutantur nos et in illis mutantur que se traduz como os tempos mudam Todas as coisas mudam e nós nelas também mudamos No entanto as transformações sempre encontram resistência Nesse sentido em contrapartida acerca dessa luta entre o instituinte e o instituído entre o que está posto e o que está por vir o compositor brasileiro Belchior durante os anos da ditadura militar postula os versos que foram imortalizados mormente por meio da voz de Elis Regina Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém Você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem Um exemplo dessa dilemática relação entre o instituído e o instituinte Nos últimos anos vem se fortalecendo no Brasil a exemplo de casos ocorridos na Europa uma visão de mundo que alguns denominam neoconservadorismo novo conservadorismo Tratase MAURO SÉRGIO SANTOS É PROFESSOR DE FILOSOFIA ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO UFSJ MESTRE EM FILOSOFIA ÉTICA E POLÍTICA UFU MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE ARAGUARI MG MEMBRO DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES UBE AUTOR DE CAMALEÃO METAPOESIA HTTP BANQUETEDELETRAS BLOGSPOTCOM MAUROFILOS HOTMAILCOM wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 53 SOCIEDADE AS TESES DO CONSERVADORISMO CONTEMPORÂNEO FAVORECEM A MANUTENÇÃO DOS INTERESSES DAS CLASSES DOMINANTES DE GRUPOS HISTORICAMENTE PRIVILEGIADOS PELO SISTEMA CAPITALISTA O modelo familiar considerado exemplar fundamentase em geral em concepções religiosas que ignoram as diferenças de uma visão arraigada ao senso comum e no entanto coadunada à ideologia das classes dominantes simpatizante do autoritarismo nostálgica de retrocessos e geralmente comprometida com as agendas das elites e dos grupos de direita Esse surto conservador do século XXI embora com roupagens novas encontrase na realidade aliado à defesa de antigos jargões e bandeiras a famigerada moral e os bons costumes os interesses religiosos da tradição da família e da propriedade os direitos dos cidadãos de bem A moral defendida por essa concepção de mundo é na verdade um moralismo enrijecido e hipócrita que nega o dinamismo da História a pluralidade cultural e a diversidade dos homens e mulheres A expressão cidadão de bem revela a noção sobremodo restrita de cidadania que os representantes desse novo conservadorismo reivindicam O cidadão completo nessa perspectiva é apenas o eleitor contribuinte consumidor plenamente incluído no sistema capitalista que por sua boa conduta sente que deveria ser de certa forma beneficiado pelo sistema E como se os direitos humanos não fossem universais sentese afrontado quando grupos historicamente negligenciados são lembrados pelas políticas de Estado como é o caso das ações afirmativas dos sistemas de cotas dos programas assistenciais do acesso ao crédito concedido aos mais pobres da ascensão à classe média etc A defesa da tradição configurase como saudosismo em relação a um mundo que nunca existiu Apresentase revestida de embusteiros aspectos aparentemente inovadores mas todavia absurdamente retrógrados e anacrônicos Por exemplo em nome da democracia defendese o uso da força e o autoritarismo Pela liberdade da maioria tolerase a discriminação das minorias e a violência contra estas Pela igualdade de direitos lutase contra os programas sociais e os direitos humanos Em nome da ordem ignoram o conflito Sob a justificativa falaciosa da meritocracia aceitamse a desigualdade a exploração as relações de expropriação e a injustiça Todos esses aspectos corroboram a ideia de que as teses deste conservadorismo contemporâneo pretensamente apartidário e imparcial favorecem a manutenção do status quo dos interesses das classes dominantes de grupos historicamente privilegiados pelo capitalismo pelo poder político vigente E essa visão de mundo talvez não fosse um problema se não se materializasse por meio da exclusão social da hostilidade em relação ao diferente da 54 filosofia ciênciavida SOCIEDADE HANNAH ARENDT aborda em sua obra a problemática do mal como uma espécie de renúncia à capacidade de julgar e não sob uma perspectiva moral ou religiosa históricos conforme a autora que como mencionado estabelece total ruptura com o passado e abrupta separação entre política e liberdade ambiente favorável ao fenômeno do mal banal Origens do totalitarismo é a primeira obra de Arendt se não levarmos em conta sua tese de doutoramento sobre o conceito de amor em Santo Agostinho 354 dC430 dC orientada pelo filósofo Karl Jaspers Origens do totalitarismo data de 1951 A supracitada obra dividese em três partes quais sejam o antissemitismo o imperialismo e o totalitarismo Publicado ao termo das duas grandes guerras do século XX em um momento em que a expectativa é semelhante conforme Arendt no prefácio à primeira edição à calma que sobrevém quando não há mais esperança4 Configurase portanto como postula a autora na dedicatória em uma análise do seu próprio t Tratase de uma reflexão sobre os fer nos decorrentes desse período de g que resultaram na instauração de nova ordem mundial denominada muitos historiadores Guerra Fria Esta obra estabelece Arendt longe de ser mecanismo de lam ção ou denúncia acerca dos ev relativos ao Totalitarismo Naz e Comunismo para Arendt Or do totalitarismo 1998 é ante tudo um esforço de compreê Nas palavras da autora Este liv uma tentativa de compreender os que à primeira vista pareciam ap ultrajantes Repito compreender significa negar o ultrajante subtr inaudito do que tem precedentes explicar fenômenos por meio de an gias e generalidades tais que se d de sentir o impacto da realidade choque da experiência Significa a examinar e suportar conscientem Relato sobre a banalidade do mal No início da década de 1960 Hannah Arendt publicara Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal Segundo Adriano Correia1 tratase do resultado do acompanhamento do julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann oficial responsável pelo transporte dos judeus para os campos de concentração que permaneceu sob o signo da polêmica Ela passou por vários constrangimentos públicos e a recepção em geral foi tão negativa e amplamente hostil de todos os lados mas principalmente entre os judeus que se tardou a levar a sério a profundidade do conceito de banalidade do mal que aparece no livro uma novidade em relação ao conceito kantiano de mal radical que ela havia utilizado em As origens do Totalitarismo para se referir aos crimes perpetrados pelos nazistas como um mal absoluto Immanuel Kant quando falava de mal radical pensava em uma inata propensão do homem a tomar como motivo de sua ação os seus desejos e não a lei moral Hannah Arendt radical assume o sentido não de enraizado mas extremo E o mal extremo corporific no totalitarismo notadamente nazista se traduzia no pósito de tornar todos os homens supérfluos e porta descartáveis O conceito de banalidade do mal dizia peito a um mal desinteressado por assim dizer realiz por indivíduos que assumiam a obediência como a m festação da virtude No livro sobre Eichmann o mal está ilustrado pela ura de um homem de parca inteligência com uma p sonalidade cujos traços fundamentais eram a incapacid de pensar para além dos clichês e a predisposição à o dência a qualquer voz imperativa O que está em ques no livro e na polêmica subsequente era não apenas o i infinito que pode ser levado a cabo por aqueles que incapazes de julgar e que não têm um objetivo definid realizável mas também a própria recusa de todos a con der a quem quer que fosse a prerrogativa de julgar 56 filosofia ciênciavida o fardo que os acontecimentos colocaram sobre nós sem negar sua existência nem vergara humildemente a seu peso como se tudo o que de fato aconteceu não pudesse ter acontecido de outra forma Compreender significa em suma encarar a realidade espontânea e atentamente e resistir a ela qualquer que seja venha a ser ou possa ter sido5 Nesse sentido a questão que se nos apresenta não é outra senão esta como podem as pessoas consentir com a negação de sua própria liberdade e de outrem suportar indiferente ou mesmo conivente em relação a tal regime6 Para Arendt o princípio político do totalitarismo não é a honra característico das monarquias a virtude relativo às virtudes nem mesmo o medo típico das tiranias conforme a clássica distinção de Montesquieu 16891755 Segundo a pensadora o princípio político do totalitarismo é o terror que esfacela a diferença entre o público e o privado torna dissoluta a esfera pública empreende uma dominação total sobre a vida dos seres humanos indivíduos trabalhadores consumidores cidadãos O totalitarismo captura domina desarticula desinstala dissolve os laços e isola os indivíduos No terror totalitário ninguém está a salvo E são pois estas as condições para o surgimento do indivíduo desprovido da vontade de ter vontade destituído do desejo de julgar despojado da faculdade de pensar aprisionado à condição do animal laborans incapaz de agir 5 ARENDT 1998 pág 21 6 GALLO 2014 págs 214219 IMAGENS SHUTTERSTOCK para Hannah Arendt o totalitarismo é uma negação radical das liberdades individuais dos cidadãos de tomar iniciativas de encetar novos inícios O CASO EICHMANN Na década de 1960 Arendt se oferece para cobrir o julgamento de um burocrata nazista chamado Eichmann um dos responsáveis pela chamada solução final a ideia de extermínio total dos judeus Este trabalho jornalístico desemboca no sobremaneira polêmico livro Eichmann em Jerusalém execrado pelos movimentos judaicos que à época tomam em sua maioria Arendt como uma espécie de traidora do povo judeu Esperavase de Arendt na condição de judia uma reportagem emocional que desvelasse o monstro nazista A autora entretanto no relato do julgamento surpreende a todos demonstrando que Eichmann era tão somente um homem superficial burocrata pai de família que em seu trabalho cumpria ordens sem reflexão e questionamento e que tal superficialidade o levara a fazer parte de uma engrenagem produtora da barbaridade Nesta sorte a hostilidade dispensada à obra e à sua autora obnubilou a novidade da reflexão filosófica empreendida acerca da noção do mal O conceito banalidade do mal se refere para Arendt em sua abordagem tangente aos regimes totalitários a um mal marcado pela abnegação da reflexão pela ausência da capacidade de julgar a que indivíduos massificados à maneira de um rebanho são conduzidos O fenômeno do mal banal não corrobora a vitória da maldade sobre a bondade do vilão sobre o herói É a derrota da reflexão da capacidade de julgar diante do terror do isolamento da wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 57 atinge contingentes enormes das populações humanas em diversos lugares da Terra O mal banal é uma prática sobremaneira promissora em sociedades massificadas portadoras de organizações econômicas políticas e sociais fortes e centralizadoras nas quais os seres humanos tendem a se sentir desprovidos de poder isolados submissos condicionados GLAMOURIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA Conforme a filósofa Hannah Arendt uma das características do mal que atinge determinada sociedade é sua banalidade Jerome Kohn assistente de ensino e intérprete de Hannah Arendt escrevera que a problemática do mal é o principal eixo argumentativo da reflexão política e filosófica da autora dos famigerados tempos sombrios A base da reflexão da pensadora não é outra senão como antanho exposto a experiência totalitária A filósofa defende que uma sociedade superficial facilmente produz o mal que se torna banal corriqueiro cotidiano sem relevância Um determinado sistema social imposto como o regime nazista foi capaz de gerar um comportamento mal em milhares de pessoas O sistema conduz pessoas comuns à prática da barbárie De Arendt até nossos dias passamos da banalização do mal à sua glamourização Nas produções cinematográficas e nas telenovelas por exemplo há uma inversão de valores e papéis das figuras em questão assimiladas pelos telespectadores em face da superficialidade do escopo social Frequentemente o mocinho é apresentado como figura insossa inglória sofredora sófrega taciturna Ao passo que o vilão adquire conotações de protagonista e glamour Não raramente é o centro das atenções bemsucedido bemhumorado etc O herói para ser popular precisa ter nesses enredos certa dose de ironia e malícia sob a pena de ser ridicularizado eou negligenciado Mais grave ainda do que ocorre na ficção são os noticiários pseudoinvestigativos que como abutres vorazes alimentamse da carnificina alheia da exposição da violência da barbárie e do ridículo humano Na busca desenfreada pela audiência de telespectadores atuam como formadores de opinião na reprodução de discursos superficiais e portanto de fácil assimilação tais como Bandido bom é bandido morto Os Direitos Humanos só protegem bandidos As leis brasileiras são fracas Chegamos ao fim do mundo Precisamos de uma legislação mais dura A pena de morte é a única alternativa Tanto na ficção quanto na realidade há a reprodução de discursos ultraconservadores em relação aos direitos humanos escatologias de botequim marcadas por um pessimismo nada despropositado Outrossim percebese amiúde a utilização da exposição exacerbada da violência como instrumento de catarse e entretenimento sim entretenimento O que seguramente promove a propagação da intolerância em relação ao diferente o fortalecimento do elitismo do racismo da homofobia da discriminação e do preconceito Nas sociedades hodiernas o mal se realiza na banalidade na injustiça e nas radicais práticas de violência contra apátridas imigrantes mulheres homossexuais minorias religiosas desempregados índios negros crianças idosos e a natureza O simplismo dos supracitados discursos absorve as massas justamente porque é superficial fluido líquido e sem fundamentação A sua disseminação prescinde da reflexão Aliás a suspensão do juízo é também 7 AGUIAR 2010 pág 1 O livro Eichmann em Jerusalém tema do filme Hannah Arendt é uma importante obra para compreender como cidadãos medíocres puderam se tornar criminosos durante o domínio nazista wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 59 SOCIEDADE a condição de possibilidade da propagação de linhas de pensamento que legitimam a violência simbólica e física O mal banal distinguese pela ausência do pensamento Essa renúncia tem como corolário a privação de responsabilidade O autor do mal banal submetese a uma lógica externa o que o priva de sua responsabilidade nos atos que pratica Age sob a óptica da engrenagem Não se interpela acerca do sentido da sua ação ou dos acontecimentos ao seu redor O mal está relacionado ao vácuo reflexivo A prática do bem exige reflexão O mal é fruto do tacanho e medíocre da irreflexão Quando a racionalidade está suspensa adormecida ou anestesiada os homens e mulheres não reconhecem as atrocidades nas quais estão envolvidos e alienados tornamse por conseguinte insensíveis ao mundo que os cerca acolhendo com normalidade e naturalidade a barbaridade ao seu redor O mal radical o mal banal e a banalização da violência sob a perspectiva arendtiana podem ser evitados impedidos ofuscados ou mesmo extintos a partir de experiências constitutivas do mundo efetivamente humano a vida contemplativa e a vida ativa pensamento e ação Expostas na obra A vida do espírito as atividades do pensar julgar e querer6 deflagram o cuidado com o mundo comum o respeito aos espaços onde os homens podem circular e se sentir amparados pela presença dos outros Nesta direção como apresentado em A Condição Humana no mundo comum no espaço público constituído pelos homens estes por meio da ação atividade política por excelência são os de trazer à baila o inteira te novo encetar novas cac romper com as estrutua produção e reprodução do banal radical e da banalizaçã maldade e da violência O pensamento reflexivo p impedir que o sujeito repro za compacte seja conive ou indiferente ao mal que 1 circunda E no milagre da aç repousa a esperança de inicia vas que impeçam que a bar bái do totalitarismo se repita que prática do mal seja compreendi sob a égide da normalidade que violência e a crueldade adquiram relevância e glamour A reflexão previnenos da estu pidez pressuposto do mal banal É da banalização da violência E a ação dos homens por seu turno pode libertarnos do pesadelo do mal radical e da barbárie 6filo REFERÊNCIAS AGUIAR Odílio Alves Violência e banalidade do mal São Paulo Revista Cult 2008 Disponível em httprevistacultuolcombrhome201003violenciaebanalidadedomal Acesso em 30 out 2015 ARENDT Hannah A Condição Humana 10ª ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2007 A dignidade da política org Antonio Abranches Trad Helena Martins e outros 2ª ed Rio de Janeiro Relume Dumará 1993 p 39 A vida do Espírito 2ª ed Rio de Janeiro Relume Dumará 1993 Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal São Paulo Cia das Letras 1999 Origens do Totalitarismo Trad Roberto Raposo São Paulo Cia das Letras 1998 CORREIA Adriana Hannah Arendt 19061975 Revista Ética Filosofia Política Volume 9 Número 1 junho2006 GALLO Sílvio Filosofia experiência e pensamento São Paulo Editora Scipione 2014 O pensamento qualificado nos permite superar as visões superficiais e medíocres da realidade 60 filosofia ciênciavida ARENDT 1993 SOCIEDADE O CONCEITO BANALIDADE DO MAL SE REFERE A UM MAL MARCADO PELA AUSÊNCIA DA CAPACIDADE DE REFLETIR A QUE INDIVÍDUOS MASSIFICADOS À MANEIRA DE UM REBANHO SÃO CONDUZIDOS propaganda de massa da dissolução da esfera pública A BANALIDADE DO MAL A obra de Arendt diferencia mal radical e mal banal O primeiro é uma referência ao pensamento do filósofo Immanuel Kant 17241804 trazendo à baila a noção de mal radical que faz alusão a certa disposição humana a orientar sua ação mais por desejos e paixões do que pela lei moral Kant aponta para o fato de que o mal pode originarse nas faculdades racionais que o fazem livre Destarte o mal não possuiria dimensão natural ou ontológica mas contingencial Ele acontece a partir da interação e da reação das faculdades espirituais humanas às suas circunstâncias O mal radical em Kant está relacionado a uma rejeição consciente ao bem e por conseguinte acoplado à utilização dos homens como meios mecos instrumentos e não fi em si mesmo Para Hannah Arendt o mal radic afigurase presente no inteiramente nov assombroso e abominável fenômeno de campos de concentração vide as notici sobre Auschwitz chegadas aos Estadc Unidos após 1943 Todavia o acompanhamento do julga mento do oficial nazista Eichmann poss bilita que Arendt perceba um aspect intrigante na prática do mal denomina do banal o que faz que um ser humani normal realize as maiores atrocidades sol a óptica da normalidade Conforme Aguiar o mal banal ten relação com o mal como causa do mal pois não tem outro fundamento O prati cante do mal banal não conhece a culpa Ele age semelhante a uma engrenagem maquínica do mal O mal banal parece ser um fungo cresce e se espalha como causa de si mesmo sem raiz alguma e O mal e a incapacidade de julgar Em 1961 foi realizado o julgamento de Adolf Eichmann por crimes de genocídio contra os judeus durante a Segunda Guerra O julgamento é envolvido por muita polêmica e controvérsia Uma das correspondentes presentes ao julgamento oficial nazista é a filósofa Hannah Arendt Além de crimes contra o povo judeu Adolf Eichmann foi acusado de crimes contra a Humanidade e de pertencer a uma organização com fins criminosos O réu se declarou inocente no sentido das acusações No entanto foi condenado por todas as acusações que pesavam contra ele No livro Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal Arendt retoma a questão do mal radical kantiano politizandoo Reflete acerca do mal na medida em que este atinge grupos sociais ou o próprio Indi Seg u ndo a filósofa o mal não é uma categoria ontológica não é natureza Tratase de um conceito e experiência política e histórica é produzido por homens e manifestase entre estes A banalização da violência corresponde para Arendt ao vazio de pensamento onde a banalidade do mal se instala O que está em questão nesta obra é o mal infinito que pode ser levado a cabo por aqueles que são incapazes de julgar e além disso a própria recusa de todos a conceder a quem quer que seja a prerrogativa de julgar 58 filosofia ciênciavida criminalização dos movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos da marginalização dos beneficiados por programas assistenciais do racismo do elitismo da homofobia da discriminação do preconceito cultural regional e religioso e da intolerância da banalização da indiferença e da superexposição da violência Em redes sociais em conversas cotidianas na imprensa ou mesmo em debates acadêmicos não é raro encontrar tais discursos superficiais e portanto de fácil assimilação O simplismo dessas teses absorve e convence as massas justamente porquê é superficial tacanho medíocre prescinde da inescusável reflexão capaz de trazer à baila a lucidez o bom senso o respeito e a alteridade POR UM EXERCÍCIO DE COMPREENSÃO Hannah Arendt 19061975 pensadora de ascendência judaica nascida em Hannover na Alemanha Em Marburg Heidelberg foi aluna dos filósofos alemães ligados ao pensamento existencialista e fenomenológico Martin Heidegger 18891976 Karl Jaspers 18831969 e Edmund Husserl 18591938 Em 1940 foge da França para os Estados Unidos depois da ocupação alemã E apenas em 1951 tornase cidadã norteamericana pondo fim a um longo período na condição de apátrida Falece em 1975 na cidade de Nova York vítima de um ataque cardíaco Em sua vida e em sua obra Hannah Arendt viveu o sombrio século XX Ao mesmo tempo traduziu o esforço do pensamento para alcançar a compreensão da nossa época em seus movimentos mais extremos e em suas bases mais profundas Ela sempre dizia que buscava antes de tudo compreender¹ E a compreensão em suas palavras é uma atividade interminável por meio da qual em constante mudança e variação aprendemos a lidar com nossa realidade reconciliamonos com ela isto é tentamos nos sentir em casa no mundo2 Diante de sua vasta produção filosóficopolítica podemos destacar Origens do totalitarismo 1998 A condição humana 2007 Entre o passado e o futuro 2000 e Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal 1999 A Condição humana data de 1958 É citada frequentemente como o mais importante trabalho de Arendt Nessa obra a autora debate a dileática relação privadopúblico e apresenta as três dimensões da vida ativa o labor labor o trabalho work e a ação action³ Apresenta também os pilares de sua genuína noção de espaço ou esfera público o espaço da aparência e da visibilidade o mundo comum como artefato ou produto humano e espaço da ação e da palavra lugar da pluralidade e da natalidade Na convergência desses três aspectos a esfera pública se constitui no lugar por excelência da manifestação da liberdade Com efeito Entre o passado e o futuro é publicada em 1954 Tratase de um conjunto de textos redigidos em forma de ensaios e artigos que inicialmente não encontram relação imediata entre si Este trabalho está dividido em oito partes quais sejam 1 A Tradição e a Época Moderna 2 O conceito de História antigo e moderno 3 Que é autoridade 4 Que é liberdade 5 A crise na Educação 6 A crise na cultura sua importância social e política 7 Verdade e política e 8 A conquista do espaço e a estrutura humana Nesses textos Arendt traz à baila especiais reflexões acerca de temas que estão presentes em outras obras suas como por exemplo a relação entre o pensamento político clássico e a época moderna o conceito de história a questão da autoridade as crises da educação e da cultura e a relação entre verdade e política Entretanto a questão do mal pulula precipuamente em Origens do totalitarismo e Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal ORIGENS DO TOTALITARISMO Em 1951 Arendt escrevera Origens do totalitarismo obra na qual discute o fenômeno totalitário acontecimento sem precedentes wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 55 A banalização da violência corresponde para Arendt ao vazio de pensamento onde a banalidade do mal se instala DESCRIÇÃO DA OBRA Inicio essa descrição com a frase nada se cria tudo se copia pois é exatamente disso que se trata o início do texto a ser analisado O autor do texto Mauro Sérgio Santos exemplifica bem isso nos parágrafos seguintes complementando a presença de aspectos conservadores presentes até hoje no século XXI O que pode ser cômico pois levando em consideração a pluralidade cultural e a miscigenação esse prisma conservador já deveria ter caído de pauta há anos Refletir sobre as mudanças sociais e sobre suas limitantes se torna importante no meio social para que não apenas pratiquemos o ato de existir mas que possamos viver nos posicionando Já que nos dias atuais somos absolutamente consumidos e engolidos por mídias sociais e informações a todo momento

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antigos jargões e bandeiras a famigerada moral e os bons costumes os interesses religiosos da tradição da família e da propriedade os direitos dos cidadãos de bem A moral defendida por essa concepção de mundo é na verdade um moralismo enrijecido e hipócrita que nega o dinamismo da História a pluralidade cultural e a diversidade dos homens e mulheres A expressão cidadão de bem revela a noção sobremodo restrita de cidadania que os representantes desse novo conservadorismo reivindicam O cidadão completo nessa perspectiva é apenas o eleitor contribuinte consumidor plenamente incluído no sistema capitalista que por sua boa conduta sente que deveria ser de certa forma beneficiado pelo sistema E como se os direitos humanos não fossem universais sentese afrontado quando grupos historicamente negligenciados são lembrados pelas políticas de Estado como é o caso das ações afirmativas dos sistemas de cotas dos programas assistenciais do acesso ao crédito concedido aos mais pobres da ascensão à classe média etc A defesa da tradição configurase como saudosismo em relação a um mundo que nunca existiu Apresentase revestida de embusteiros aspectos aparentemente inovadores mas todavia absurdamente retrógrados e anacrônicos Por exemplo em nome da democracia defendese o uso da força e o autoritarismo Pela liberdade da maioria tolerase a discriminação das minorias e a violência contra estas Pela igualdade de direitos lutase contra os programas sociais e os direitos humanos Em nome da ordem ignoram o conflito Sob a justificativa falaciosa da meritocracia aceitamse a desigualdade a exploração as relações de expropriação e a injustiça Todos esses aspectos corroboram a ideia de que as teses deste conservadorismo contemporâneo pretensamente apartidário e imparcial favorecem a manutenção do status quo dos interesses das classes dominantes de grupos historicamente privilegiados pelo capitalismo pelo poder político vigente E essa visão de mundo talvez não fosse um problema se não se materializasse por meio da exclusão social da hostilidade em relação ao diferente da 54 filosofia ciênciavida SOCIEDADE HANNAH ARENDT aborda em sua obra a problemática do mal como uma espécie de renúncia à capacidade de julgar e não sob uma perspectiva moral ou religiosa históricos conforme a autora que como mencionado estabelece total ruptura com o passado e abrupta separação entre política e liberdade ambiente favorável ao fenômeno do mal banal Origens do totalitarismo é a primeira obra de Arendt se não levarmos em conta sua tese de doutoramento sobre o conceito de amor em Santo Agostinho 354 dC430 dC orientada pelo filósofo Karl Jaspers Origens do totalitarismo data de 1951 A supracitada obra dividese em três partes quais sejam o antissemitismo o imperialismo e o totalitarismo Publicado ao termo das duas grandes guerras do século XX em um momento em que a expectativa é semelhante conforme Arendt no prefácio à primeira edição à calma que sobrevém quando não há mais esperança4 Configurase portanto como postula a autora na dedicatória em uma análise do seu próprio t Tratase de uma reflexão sobre os fer nos decorrentes desse período de g que resultaram na instauração de nova ordem mundial denominada muitos historiadores Guerra Fria Esta obra estabelece Arendt longe de ser mecanismo de lam ção ou denúncia acerca dos ev relativos ao Totalitarismo Naz e Comunismo para Arendt Or do totalitarismo 1998 é ante tudo um esforço de compreê Nas palavras da autora Este liv uma tentativa de compreender os que à primeira vista pareciam ap ultrajantes Repito compreender significa negar o ultrajante subtr inaudito do que tem precedentes explicar fenômenos por meio de an gias e generalidades tais que se d de sentir o impacto da realidade choque da experiência Significa a examinar e suportar conscientem Relato sobre a banalidade do mal No início da década de 1960 Hannah Arendt publicara Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal Segundo Adriano Correia1 tratase do resultado do acompanhamento do julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann oficial responsável pelo transporte dos judeus para os campos de concentração que permaneceu sob o signo da polêmica Ela passou por vários constrangimentos públicos e a recepção em geral foi tão negativa e amplamente hostil de todos os lados mas principalmente entre os judeus que se tardou a levar a sério a profundidade do conceito de banalidade do mal que aparece no livro uma novidade em relação ao conceito kantiano de mal radical que ela havia utilizado em As origens do Totalitarismo para se referir aos crimes perpetrados pelos nazistas como um mal absoluto Immanuel Kant quando falava de mal radical pensava em uma inata propensão do homem a tomar como motivo de sua ação os seus desejos e não a lei moral Hannah Arendt radical assume o sentido não de enraizado mas extremo E o mal extremo corporific no totalitarismo notadamente nazista se traduzia no pósito de tornar todos os homens supérfluos e porta descartáveis O conceito de banalidade do mal dizia peito a um mal desinteressado por assim dizer realiz por indivíduos que assumiam a obediência como a m festação da virtude No livro sobre Eichmann o mal está ilustrado pela ura de um homem de parca inteligência com uma p sonalidade cujos traços fundamentais eram a incapacid de pensar para além dos clichês e a predisposição à o dência a qualquer voz imperativa O que está em ques no livro e na polêmica subsequente era não apenas o i infinito que pode ser levado a cabo por aqueles que incapazes de julgar e que não têm um objetivo definid realizável mas também a própria recusa de todos a con der a quem quer que fosse a prerrogativa de julgar 56 filosofia ciênciavida o fardo que os acontecimentos colocaram sobre nós sem negar sua existência nem vergara humildemente a seu peso como se tudo o que de fato aconteceu não pudesse ter acontecido de outra forma Compreender significa em suma encarar a realidade espontânea e atentamente e resistir a ela qualquer que seja venha a ser ou possa ter sido5 Nesse sentido a questão que se nos apresenta não é outra senão esta como podem as pessoas consentir com a negação de sua própria liberdade e de outrem suportar indiferente ou mesmo conivente em relação a tal regime6 Para Arendt o princípio político do totalitarismo não é a honra característico das monarquias a virtude relativo às virtudes nem mesmo o medo típico das tiranias conforme a clássica distinção de Montesquieu 16891755 Segundo a pensadora o princípio político do totalitarismo é o terror que esfacela a diferença entre o público e o privado torna dissoluta a esfera pública empreende uma dominação total sobre a vida dos seres humanos indivíduos trabalhadores consumidores cidadãos O totalitarismo captura domina desarticula desinstala dissolve os laços e isola os indivíduos No terror totalitário ninguém está a salvo E são pois estas as condições para o surgimento do indivíduo desprovido da vontade de ter vontade destituído do desejo de julgar despojado da faculdade de pensar aprisionado à condição do animal laborans incapaz de agir 5 ARENDT 1998 pág 21 6 GALLO 2014 págs 214219 IMAGENS SHUTTERSTOCK para Hannah Arendt o totalitarismo é uma negação radical das liberdades individuais dos cidadãos de tomar iniciativas de encetar novos inícios O CASO EICHMANN Na década de 1960 Arendt se oferece para cobrir o julgamento de um burocrata nazista chamado Eichmann um dos responsáveis pela chamada solução final a ideia de extermínio total dos judeus Este trabalho jornalístico desemboca no sobremaneira polêmico livro Eichmann em Jerusalém execrado pelos movimentos judaicos que à época tomam em sua maioria Arendt como uma espécie de traidora do povo judeu Esperavase de Arendt na condição de judia uma reportagem emocional que desvelasse o monstro nazista A autora entretanto no relato do julgamento surpreende a todos demonstrando que Eichmann era tão somente um homem superficial burocrata pai de família que em seu trabalho cumpria ordens sem reflexão e questionamento e que tal superficialidade o levara a fazer parte de uma engrenagem produtora da barbaridade Nesta sorte a hostilidade dispensada à obra e à sua autora obnubilou a novidade da reflexão filosófica empreendida acerca da noção do mal O conceito banalidade do mal se refere para Arendt em sua abordagem tangente aos regimes totalitários a um mal marcado pela abnegação da reflexão pela ausência da capacidade de julgar a que indivíduos massificados à maneira de um rebanho são conduzidos O fenômeno do mal banal não corrobora a vitória da maldade sobre a bondade do vilão sobre o herói É a derrota da reflexão da capacidade de julgar diante do terror do isolamento da wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 57 atinge contingentes enormes das populações humanas em diversos lugares da Terra O mal banal é uma prática sobremaneira promissora em sociedades massificadas portadoras de organizações econômicas políticas e sociais fortes e centralizadoras nas quais os seres humanos tendem a se sentir desprovidos de poder isolados submissos condicionados GLAMOURIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA Conforme a filósofa Hannah Arendt uma das características do mal que atinge determinada sociedade é sua banalidade Jerome Kohn assistente de ensino e intérprete de Hannah Arendt escrevera que a problemática do mal é o principal eixo argumentativo da reflexão política e filosófica da autora dos famigerados tempos sombrios A base da reflexão da pensadora não é outra senão como antanho exposto a experiência totalitária A filósofa defende que uma sociedade superficial facilmente produz o mal que se torna banal corriqueiro cotidiano sem relevância Um determinado sistema social imposto como o regime nazista foi capaz de gerar um comportamento mal em milhares de pessoas O sistema conduz pessoas comuns à prática da barbárie De Arendt até nossos dias passamos da banalização do mal à sua glamourização Nas produções cinematográficas e nas telenovelas por exemplo há uma inversão de valores e papéis das figuras em questão assimiladas pelos telespectadores em face da superficialidade do escopo social Frequentemente o mocinho é apresentado como figura insossa inglória sofredora sófrega taciturna Ao passo que o vilão adquire conotações de protagonista e glamour Não raramente é o centro das atenções bemsucedido bemhumorado etc O herói para ser popular precisa ter nesses enredos certa dose de ironia e malícia sob a pena de ser ridicularizado eou negligenciado Mais grave ainda do que ocorre na ficção são os noticiários pseudoinvestigativos que como abutres vorazes alimentamse da carnificina alheia da exposição da violência da barbárie e do ridículo humano Na busca desenfreada pela audiência de telespectadores atuam como formadores de opinião na reprodução de discursos superficiais e portanto de fácil assimilação tais como Bandido bom é bandido morto Os Direitos Humanos só protegem bandidos As leis brasileiras são fracas Chegamos ao fim do mundo Precisamos de uma legislação mais dura A pena de morte é a única alternativa Tanto na ficção quanto na realidade há a reprodução de discursos ultraconservadores em relação aos direitos humanos escatologias de botequim marcadas por um pessimismo nada despropositado Outrossim percebese amiúde a utilização da exposição exacerbada da violência como instrumento de catarse e entretenimento sim entretenimento O que seguramente promove a propagação da intolerância em relação ao diferente o fortalecimento do elitismo do racismo da homofobia da discriminação e do preconceito Nas sociedades hodiernas o mal se realiza na banalidade na injustiça e nas radicais práticas de violência contra apátridas imigrantes mulheres homossexuais minorias religiosas desempregados índios negros crianças idosos e a natureza O simplismo dos supracitados discursos absorve as massas justamente porque é superficial fluido líquido e sem fundamentação A sua disseminação prescinde da reflexão Aliás a suspensão do juízo é também 7 AGUIAR 2010 pág 1 O livro Eichmann em Jerusalém tema do filme Hannah Arendt é uma importante obra para compreender como cidadãos medíocres puderam se tornar criminosos durante o domínio nazista wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 59 SOCIEDADE a condição de possibilidade da propagação de linhas de pensamento que legitimam a violência simbólica e física O mal banal distinguese pela ausência do pensamento Essa renúncia tem como corolário a privação de responsabilidade O autor do mal banal submetese a uma lógica externa o que o priva de sua responsabilidade nos atos que pratica Age sob a óptica da engrenagem Não se interpela acerca do sentido da sua ação ou dos acontecimentos ao seu redor O mal está relacionado ao vácuo reflexivo A prática do bem exige reflexão O mal é fruto do tacanho e medíocre da irreflexão Quando a racionalidade está suspensa adormecida ou anestesiada os homens e mulheres não reconhecem as atrocidades nas quais estão envolvidos e alienados tornamse por conseguinte insensíveis ao mundo que os cerca acolhendo com normalidade e naturalidade a barbaridade ao seu redor O mal radical o mal banal e a banalização da violência sob a perspectiva arendtiana podem ser evitados impedidos ofuscados ou mesmo extintos a partir de experiências constitutivas do mundo efetivamente humano a vida contemplativa e a vida ativa pensamento e ação Expostas na obra A vida do espírito as atividades do pensar julgar e querer6 deflagram o cuidado com o mundo comum o respeito aos espaços onde os homens podem circular e se sentir amparados pela presença dos outros Nesta direção como apresentado em A Condição Humana no mundo comum no espaço público constituído pelos homens estes por meio da ação atividade política por excelência são os de trazer à baila o inteira te novo encetar novas cac romper com as estrutua produção e reprodução do banal radical e da banalizaçã maldade e da violência O pensamento reflexivo p impedir que o sujeito repro za compacte seja conive ou indiferente ao mal que 1 circunda E no milagre da aç repousa a esperança de inicia vas que impeçam que a bar bái do totalitarismo se repita que prática do mal seja compreendi sob a égide da normalidade que violência e a crueldade adquiram relevância e glamour A reflexão previnenos da estu pidez pressuposto do mal banal É da banalização da violência E a ação dos homens por seu turno pode libertarnos do pesadelo do mal radical e da barbárie 6filo REFERÊNCIAS AGUIAR Odílio Alves Violência e banalidade do mal São Paulo Revista Cult 2008 Disponível em httprevistacultuolcombrhome201003violenciaebanalidadedomal Acesso em 30 out 2015 ARENDT Hannah A Condição Humana 10ª ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2007 A dignidade da política org Antonio Abranches Trad Helena Martins e outros 2ª ed Rio de Janeiro Relume Dumará 1993 p 39 A vida do Espírito 2ª ed Rio de Janeiro Relume Dumará 1993 Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal São Paulo Cia das Letras 1999 Origens do Totalitarismo Trad Roberto Raposo São Paulo Cia das Letras 1998 CORREIA Adriana Hannah Arendt 19061975 Revista Ética Filosofia Política Volume 9 Número 1 junho2006 GALLO Sílvio Filosofia experiência e pensamento São Paulo Editora Scipione 2014 O pensamento qualificado nos permite superar as visões superficiais e medíocres da realidade 60 filosofia ciênciavida ARENDT 1993 SOCIEDADE O CONCEITO BANALIDADE DO MAL SE REFERE A UM MAL MARCADO PELA AUSÊNCIA DA CAPACIDADE DE REFLETIR A QUE INDIVÍDUOS MASSIFICADOS À MANEIRA DE UM REBANHO SÃO CONDUZIDOS propaganda de massa da dissolução da esfera pública A BANALIDADE DO MAL A obra de Arendt diferencia mal radical e mal banal O primeiro é uma referência ao pensamento do filósofo Immanuel Kant 17241804 trazendo à baila a noção de mal radical que faz alusão a certa disposição humana a orientar sua ação mais por desejos e paixões do que pela lei moral Kant aponta para o fato de que o mal pode originarse nas faculdades racionais que o fazem livre Destarte o mal não possuiria dimensão natural ou ontológica mas contingencial Ele acontece a partir da interação e da reação das faculdades espirituais humanas às suas circunstâncias O mal radical em Kant está relacionado a uma rejeição consciente ao bem e por conseguinte acoplado à utilização dos homens como meios mecos instrumentos e não fi em si mesmo Para Hannah Arendt o mal radic afigurase presente no inteiramente nov assombroso e abominável fenômeno de campos de concentração vide as notici sobre Auschwitz chegadas aos Estadc Unidos após 1943 Todavia o acompanhamento do julga mento do oficial nazista Eichmann poss bilita que Arendt perceba um aspect intrigante na prática do mal denomina do banal o que faz que um ser humani normal realize as maiores atrocidades sol a óptica da normalidade Conforme Aguiar o mal banal ten relação com o mal como causa do mal pois não tem outro fundamento O prati cante do mal banal não conhece a culpa Ele age semelhante a uma engrenagem maquínica do mal O mal banal parece ser um fungo cresce e se espalha como causa de si mesmo sem raiz alguma e O mal e a incapacidade de julgar Em 1961 foi realizado o julgamento de Adolf Eichmann por crimes de genocídio contra os judeus durante a Segunda Guerra O julgamento é envolvido por muita polêmica e controvérsia Uma das correspondentes presentes ao julgamento oficial nazista é a filósofa Hannah Arendt Além de crimes contra o povo judeu Adolf Eichmann foi acusado de crimes contra a Humanidade e de pertencer a uma organização com fins criminosos O réu se declarou inocente no sentido das acusações No entanto foi condenado por todas as acusações que pesavam contra ele No livro Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal Arendt retoma a questão do mal radical kantiano politizandoo Reflete acerca do mal na medida em que este atinge grupos sociais ou o próprio Indi Seg u ndo a filósofa o mal não é uma categoria ontológica não é natureza Tratase de um conceito e experiência política e histórica é produzido por homens e manifestase entre estes A banalização da violência corresponde para Arendt ao vazio de pensamento onde a banalidade do mal se instala O que está em questão nesta obra é o mal infinito que pode ser levado a cabo por aqueles que são incapazes de julgar e além disso a própria recusa de todos a conceder a quem quer que seja a prerrogativa de julgar 58 filosofia ciênciavida criminalização dos movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos da marginalização dos beneficiados por programas assistenciais do racismo do elitismo da homofobia da discriminação do preconceito cultural regional e religioso e da intolerância da banalização da indiferença e da superexposição da violência Em redes sociais em conversas cotidianas na imprensa ou mesmo em debates acadêmicos não é raro encontrar tais discursos superficiais e portanto de fácil assimilação O simplismo dessas teses absorve e convence as massas justamente porquê é superficial tacanho medíocre prescinde da inescusável reflexão capaz de trazer à baila a lucidez o bom senso o respeito e a alteridade POR UM EXERCÍCIO DE COMPREENSÃO Hannah Arendt 19061975 pensadora de ascendência judaica nascida em Hannover na Alemanha Em Marburg Heidelberg foi aluna dos filósofos alemães ligados ao pensamento existencialista e fenomenológico Martin Heidegger 18891976 Karl Jaspers 18831969 e Edmund Husserl 18591938 Em 1940 foge da França para os Estados Unidos depois da ocupação alemã E apenas em 1951 tornase cidadã norteamericana pondo fim a um longo período na condição de apátrida Falece em 1975 na cidade de Nova York vítima de um ataque cardíaco Em sua vida e em sua obra Hannah Arendt viveu o sombrio século XX Ao mesmo tempo traduziu o esforço do pensamento para alcançar a compreensão da nossa época em seus movimentos mais extremos e em suas bases mais profundas Ela sempre dizia que buscava antes de tudo compreender¹ E a compreensão em suas palavras é uma atividade interminável por meio da qual em constante mudança e variação aprendemos a lidar com nossa realidade reconciliamonos com ela isto é tentamos nos sentir em casa no mundo2 Diante de sua vasta produção filosóficopolítica podemos destacar Origens do totalitarismo 1998 A condição humana 2007 Entre o passado e o futuro 2000 e Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal 1999 A Condição humana data de 1958 É citada frequentemente como o mais importante trabalho de Arendt Nessa obra a autora debate a dileática relação privadopúblico e apresenta as três dimensões da vida ativa o labor labor o trabalho work e a ação action³ Apresenta também os pilares de sua genuína noção de espaço ou esfera público o espaço da aparência e da visibilidade o mundo comum como artefato ou produto humano e espaço da ação e da palavra lugar da pluralidade e da natalidade Na convergência desses três aspectos a esfera pública se constitui no lugar por excelência da manifestação da liberdade Com efeito Entre o passado e o futuro é publicada em 1954 Tratase de um conjunto de textos redigidos em forma de ensaios e artigos que inicialmente não encontram relação imediata entre si Este trabalho está dividido em oito partes quais sejam 1 A Tradição e a Época Moderna 2 O conceito de História antigo e moderno 3 Que é autoridade 4 Que é liberdade 5 A crise na Educação 6 A crise na cultura sua importância social e política 7 Verdade e política e 8 A conquista do espaço e a estrutura humana Nesses textos Arendt traz à baila especiais reflexões acerca de temas que estão presentes em outras obras suas como por exemplo a relação entre o pensamento político clássico e a época moderna o conceito de história a questão da autoridade as crises da educação e da cultura e a relação entre verdade e política Entretanto a questão do mal pulula precipuamente em Origens do totalitarismo e Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal ORIGENS DO TOTALITARISMO Em 1951 Arendt escrevera Origens do totalitarismo obra na qual discute o fenômeno totalitário acontecimento sem precedentes wwwportalcienciaevidacombr filosofia ciênciavida 55 A banalização da violência corresponde para Arendt ao vazio de pensamento onde a banalidade do mal se instala DESCRIÇÃO DA OBRA Inicio essa descrição com a frase nada se cria tudo se copia pois é exatamente disso que se trata o início do texto a ser analisado O autor do texto Mauro Sérgio Santos exemplifica bem isso nos parágrafos seguintes complementando a presença de aspectos conservadores presentes até hoje no século XXI O que pode ser cômico pois levando em consideração a pluralidade cultural e a miscigenação esse prisma conservador já deveria ter caído de pauta há anos Refletir sobre as mudanças sociais e sobre suas limitantes se torna importante no meio social para que não apenas pratiquemos o ato de existir mas que possamos viver nos posicionando Já que nos dias atuais somos absolutamente consumidos e engolidos por mídias sociais e informações a todo momento

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